A Quarta Dimensao Das Relacoes Internaci PDF
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A Quarta Dimensao Das Relacoes Internaci PDF
a dimensão cultural
g"Ãffi
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Copyright @,.2or2 dos autores
REVrSÃO
loenã Milli
32O p.; 23 cm
lncluibibllografia
lSBN 978-85-7/4o-r27-7
r2-€4r8
CDD 306
2012
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SUMÁRIO
Prefácio
Antônio Ca os Lessa
Apresentação
Mônica Leite Lesso e Hugo Rogelio Suppo
\lo final dos anos 1990 os estudos sobre a dimensão cultural nas relações
I ì internacionais eram um dos temas que, junto aos debates ern torno do
papel das instituições internacionais e da legitimidade das teorias de caráter
normativo, dominavam os estudos do sistema político internacional (unnz,
rs97).
Na realidade, o tema vinha sendo desenvolvido há múto mais tempo fora
ò mundo acadêmico anglo-saxão. Por exemplo, em r98o, numa conferência
no México sobre "O papel do fator cultural nas relações internacionais", Mar-
cel Merle já fizera uma proposta revolucionária: a criação de um novo para-
digpa centrado no fator cultural, considerado "o fator determinante que po-
deria explicar todos os comportamentos dos atores internacionais"l (MERLE,
rg5:342).
Segundo o especialista francês, os três grandes paradigmas dominantes
ne área de relações internacionais, ao privilegiaÌ apenÍrs um fator (o político
1na o reústa, o econômico para o liberal, e a revolução tecnológica para o da
itedepêndencia) não conseguiam explicar toda a complexidade da realidade
irrrnacional.
Na reúdade, a questão cultural aparecia em todos os paradigmas, mas de
fuma secundária, em geral como uma espécie de "subproduto da aüüdade
1n&ica e econômica dos Estados, mais dedicados à propaganda eà celebração
13
de contratos benéficos do que à divulgação e troca de ideias"2 (:342). Nesse
sentido, Celestino del ArenaÌ identifrca três enfoques analíticos entre os es-
pecialistas: a dimensão cultural como um subproduto da atividade política e
econômica dos Estados, ou corno um fator com certa autonomia, ou como o
elemento determinante susceptível de explicar o comportamento dos atores
internacionais. Para Arenal, a primeira posição é ainda dominante (ÀRBNÀL,
rgg4i:35).
Mas o que se entende por cultura? Merle a define de uma forma bastante
abstrata, o que permite uma aplicação atemporal e universal: 'conjunto de
sistema de valores e de representações que servem como referência para a
identiâcação de grupos nacionais, subnacionais ou supranacionais"3 (uanlr,
1985:343). A questão principal, para Merle, é descobrir por que esses elemen-
tos culturais, em certos peÍiodos históÌicos, se toÍnam tão imPortantes como,
por exemplo, nos períodos posteriores a uma invasão ou conquista. Nesses
momentos emeÌge o fator cultural, podendo provocü uma volta à situação
anterior de isolamento entÍe as culturas; uma simbiose entre as culturas rivais;
ou a dominapo de um modelo cultural sobre os demais.
O fator cultural, esse conjunto de crenças, mitos e ideologias que configu-
ram preconceitos, estereótipos e paixões mobilizadoras, é uma:
questão política de primeira grandeza porque permite controlar
e direcionar a distância o comportamento dos outros sem ter que
ocupar militaÌmente o espaço. Na espécíe de'no mans\ lant aber'
to entre os diferentes sistemas culturais pela invasão dos meios de
comunicação manobras tendendo a garantiÌ a influência de uma
ou outra potência sobre a rede de comunicação não são a excluir'
O campo cultural, onde se forjam os sistemas de valores, é, portan-
to, um terreno conflitual, em que as relações de força são exercidas
em permanência. Aquele que ignoÍa esses três perigos (padroniza-
ção, revoltas arcaicas e controle ideológico) arriscaria enfrentar sé-
rios inconvenientes.4 (:379)
[...] sous pmiluit de lhctititépolitique et économique dzs EtoÍs pl*s attathes à l4 propa-
gandz et àla conch.rsion de marchés bénefques quà la dífiision et à léchange des íües.
llensemble des systèmes de valeurs et de représentqtíons servant de réÍèrences à
l' ídentíf c ation de groupes natíonautc, infra-nationaux ou su?ranationaux.
[...] enjeu polítique ile première granileur pukqublle permet de contrôler et dbrienter
à dístance les comportements ilhutruí sans avoír à occuper mílitairement son es-
pace. Dans lbspèce de "no mans\ land" ouvert entre les dífércnts systèmes culturels
par l'ínvasion des mass media, des manoeuvres tenda t à sssurer lbmprise de tell.e
ou telle puissance sur le réseau de communícation ne sont pas à exclure. Le champ
culturel, oü sëIqborent les systèmes àe valeurs, est donc un tenain conflíctuel sur le-
quel les rapportsforces sëxercent en permanence. [,..] Quíconqve méconnaìtraít
de
ces troís péríls (celui de luniformísatíon, celui da révoltes archaïques et celui des
emprises idéologiques) rísquerait d'éProuvu de s&ieuses ümnvenues.
A contribuição nessa área, sobretudo a francesa, é muito importante e foi obi€to
de análise parcial em outro trabalho nosso (surro; l,rss.l, zooT). O historiador
Pierre Milza apresenta, por exemplo, influenciado pela antropologia, uma útil e
interessant€ definição de cultura: 'A cultura, compreendida em seu sentido mais
amplo a saber, a produção a difusão e o consumo de objetos simbólicos criados
por uma sociedade, constitui em primeiro lugar um agente ou fator das relações
intemacionais na medida em que forja mentalidades e orienta o sentimento
público. Mas é ao mesmo tempo um desafio ou, se preferirmos, um tetreno de
erfrentamento sobre o qual intervêm diversos grupos e forças antagonistas na
ação que se opera de forma expÌícita, ou, mais comumente, de maneira oblíqua
or.roculta: No originalJ La culture, compríse dans son sens le plus large, à savoir
Ia productíot la difusion et lq consommatíon da objets symbolíques créés par une
société, constitue en preffiíer lieu un agent ou unfacteur des relatíons internationales,
dans la mesure oi
façonne les mentalités et oriente le sentíment Publíc. Mais
elle
Iequel interúennent dfuers groupes íorces antagonistes dont lactíon sbpère soit
et
dc façon explìcite, soit le plus souvent d une manière détournée ou occulte. (llnzl',
r98o:362.)
Por exemplo das 329 obras (artigos e lirros) citadas na bibliogrúa do liwo de
Kenneth N. Waltz, Theoíy oí International Politics (tg7g), fora Tucídides e cinco
refeÉncias a memórías de homens de Estado, apenas r4 liwos e dois artigos sào
ccritos por historiadores (quase todos liwos de síntese, e não de primeira mão).
O paradigma realista
impor estas ideias a outros. Quer dizer então que o poder da propaganda é
ilimitado?
t @ que soít la constance que lbn attríbue aux Français, aux Allemands, aux
QqaoLs, aux Anglais en tant que peuples, un caractère psycho-culturel nlest jamais
d tqonsoble de Ia conduite àiplomatíco-stratégique d'une unitë Polítique.
lmperialismo cultural
'Os principios morais 5ãoparticulaíe5 (não univer5ais) e5ubordinado5 aos interesies da ação potitica.
A visão liberal
O liberalismo da interdependênciar
RecuÍsos mais
força pagamentos instituições Yalores
culture
prováveis
sanções subornos políticas
A cultura, que faz parte do chamado sol power, é a base do poder dos
Estados na chamada "era da informação":
Políticãs
Comportamentos Meios Fundamentais
GoveÍnamentâis
Coerção Ameacas Diplomacia
Restrições Forcas coercitiva
Poder Militar
Proteção Cuerã
Aliança
Fontes de Poder
EUA Rús5ia E uropa Japão China
TangÍveis
Fontes dê Poder
EUA Rússia EuÍopa Japão china
lntangÍveis
y ile afectar las preferencias ìle los demásl' (NyE Jr., 1990: r 85-6)
12 Ali Mazrui, por sua parte, ressalta o processo de'tonvergência normatila", ba-
seado nos valores ocidentais, ao qual foi submetido o Terceiro Mundo pelo capi-
talismo internâcional.
Isto não quer dizer, aleítam esses autoresJ que a natureza pluricultural da
sociedade internacional global seja um elemento que, por si só, prejudique
seu funcionamento:
A história das Ìelações entre comunidades políticas culturalmente
diferentes (um tópico do qual falamos muito neste livro), nos leva
a crer que a percepção dos interesses comuns muitas vezes leva à
irnprovisação de regras mesmo na ausênciâ de uma cultura comum
que já as contenha. Além disso, as culturas não são indestrutiveis e
existem poucas sociedades no mundo de hoje cujas culturas pos-
sâm ser descritâs em outros termos que não os da pluralidade e da
mudança. As instituições internacionais jurídicas, diplomáticâs e
âdministrativas, além disso, se apoiam claramente na cosmopoli-
ta cultura da modernidade, à qual pertencem todos os elementos
constifirtivos da sociedade contemporâneâ, embora muitas vezes
seja estranha às massas,
É verdade, no entanto, que a sociedade internacional contemporânea
não tem aquelâ coesão moral e cultural que tem sustentado a soci€-
dade internacional europeia durante quase um século depois de 1815.
No final dos anos 196o e início dos anos 1970, o contexto é favorável para uma
crítica radical dos pressupostos realistas: a guerra do Vietnam, o âm do sistema
de Bretton Woods, a participação da transnacional rrr e da cn no golpe militar
no Chiie, o primeiro choque do petróleo etc.
O domínio da abordagem realista é desafiado por duas abordagens não
estado-centÍistas: a análise marxista e a perspectiva transnacionústa/socioló-
gica. Para esta última, os indivíduos e a sociedade ciül são o centro das análises,
mas são ressaltados também os laços de interdependência entre os diferentes
atores, estatais e não estatais. É importante Ìembrar que diversas abordagens
setoriais tinham já anteriormente postr.rlado a importancia da interdependência
dos Estados e o papel determinante dos atores não estatais, por exemplo, as teo-
rias Â.rncionalistas (David Mitrany'5, Ernest Hassl6) e cibernéticas já evocadas
(Karl Wolfgang Deutsch'7).
Bertrand Badíe (I)État ímporÍá Essai sur lbccidentalisation de lbrdre po-
litique, r99z; La fn des territoires, ry95; Un monde sans souveraineté, ry99)
coloca como fundamento da desordem internacional atual a cultura. Como
atualmente as sociedades e o mundo são multiculturais, porque ainda não se
e dei popoli non europei come fondamento del loro approccio alle relazioni internazio-
nab. E se cè qualche perinlo dre ln nouya maggiomnza di statí, nel cercare dí rfurmare
la società intemazioflale per proteggere i prcpn tukresí possa fnire per nndure a un
punto di rottun le norme e le ktítuziane vígenti, non è certamente dn meno íl ríschio
che In mínoranm europea od occiãentale non riesm a capire che soltanto adeguandosí
ai mutamenti la societt ìntemaziotale da esss caeata iusciÍà s restare ifl víta.
r5 Há duas fases na integração das nações: 1) processo de coopera$o social, econômica
e cultural; z) processo de cooperação na segura.nça coletira. cf. ry43, A workitgpeace
t'súem. An algument for úe Ârnctional development ofinternational o{ganization.
Desenvolve o conceito de ç/l-over, em çe incorpora a dirnensão política:rãlores, con-
vencimento das elites das !ãntagens de integração e apren,iizâgem dos agentes envolú-
do6. Cf. 1968, The uniting of turcpe - pdincú ncial and economic forces r 9so-r9s7.
r7 Desenyolve o conceito de 'Comunidade de segurança' (integração por meio de redes
de organismos intemacionais). A paz é resultado da cooperação e do p(Bresso técnico.
Cf. tgSl, Nacionalísm and ncial ammunictfioÍ. An inquiry into the foundations
of nationality; :954, Polítícal community at the iítemational level Problems of
definition and measurementi 1968, The analysis of internationl rclatíans.
Contratosocial SobeIania
comunitária!
solidariedâde Solidâriedade
Ìe(hadà/exdusrva lnduslva/aDeftâ
As a nálises marxistas
As abordagens inspiradas no marxismo foram sempre marginais nas teorias das
Relações Internacionais, apesar de terem tido na área da Economia Políúca Inter-
nacionai alguma importância. Tlês enfoques se inspiraram no marxismo: as teo-
rias da dependênciq o "sistema mundd' e â teoria crítica pÍoposta por Robert Cox.
As teorias centradas nos conceitos de centro-periferia utilizam o conceito
de imperialismo cultural de forma similar aos reústas, ou seja, a cultura é para
eles também um instnrmento de poder. Nos ultimos anos, uma nova noção,
surgida sobre a base da teoria da dependência - a de sistema mundo - defen-
de a ideia da existência de um sistema planetário com características píóPrias,
um "império-mundd' independente das unidades nacionais que o constituem
e com seus próprios mecanismos econômicos, políticos e culturais-ideológicos.
fohan Galtrng (rg7r, A structural theory of impuíalism), qte se considera
um estruturalista e não um marxista, abrira a via para o estudo do chamado siste-
ma mundo ao considerar o imperialismo como um fenômeno multidimensional.
Desenvolveu a chamada teoria estrutural do imperialismo e elaborou uma tipolo-
gia de cinco tipos de imperiúsmo: econômico, politicg mütar, comunicacional e
cultural. Para ele, o imperialismo não é uma etapa de algum processo de unificação
do mundq tampouco o estágio final do capitalismo, qu€ tenta retardar seu 6m,
O imperialismo é uma relação de dominaçãg com uso de violência estruturú pela
qual uma entidade coletiva influencia outra entidade coletiva (produção de bens,
instituições políticas, proteção militar, importação de informações e valores).
A teoria crítica
Robert Cox, influenciado pelo historicismo do filósofo italiano G. Vico pelo mar-
xismo de Gramsci e, sobretudo, pela Escola de Frankfurt (Habermas), considera
o sistema internacional como uma construção histórica e não como um dado
objetivo externo. O desenvoÌümento dos meios de comunicação no processo de
globalização atual provoca a homogeneização cultural do mundq alicerçada na
maneira de pensar e nas púticas das elites políücas e empresariais que dominam o
mundo. O papel da cultura/civiÌizaÉo é íornecer coesão e identidade no interior
do bloco histórico (blocco storico), consolidar e manter a hegemoni4 entendida
como normas, instituições e mecanismos universais que estabelecem regras ge-
rais de comportamento para os Estados e para as forças da sociedade civil. Nesse
sentido, o papel dos intelectuais é centrú são eles os que criam e fundamentam as
imagens mentais, as tecnologias e organizações que mantêm a coesão de classe e o
bloco histórico em volta de uma identidade comum.
Segundo Co6 existem três forçâs fundamentais e equivalentes a serem levadas
em conta: as capacidades materiais, as ideias e as insütuições. Estas ultimas, de ca-
ráter intangível são muito importantes porque, sendo elas mesmas produtos da or-
dem mundial hegemônic4 corporficam as regras e legitimam ideologicarnente as
normas que permitem a consolidação dessa ordem hegemônica, cooptando as eli-
tes dos países periféricos e dissolvendo as ideias contra-hegemônicas. Os exempÌos
históricos são a Grã-Bretaúa de 1845 a 1875 e os Estados Unidos de t945 a t967,
Cox pretende com sua teoria crítica emancipar, libertar a humanidade
dos poderes hegemônicos:
A teoria crítica, ao contrário daquela de resolução de problemas,
não dá por certas as instituições nem as relaçóes sociais e de poder;
ao contrário, âs questiona e se ocupâ em estudar suas origens e a
possibilidade de que entraram em um processo de mudança, e de
que forma. (cox, r994:r5r)'8
Conclusão
19 leíacteur déterminant qui pourrait expliquer tous lcs comportements des acteurs
intemationaux-
No entaÍÌto, tropas de outro Estado aiudam uma das partes em quatro conflitos:
Estados Unidos, Àfeganistão, Iraque e Somália.
Les réseaux et industríes de Ia cultuíe et de la communimtíon sont au príncipe dÊ
noutelles Jormes de construction de I'hégémonìe. Cbst pourquoí les conflits autour de
Referências