Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

A Quarta Dimensao Das Relacoes Internaci PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 38

AQUARTA DTMENSÃO DAs RELAçÕES TNTERNACTONA|S

a dimensão cultural

Hugo Rogelio Suppo


Mônica Leite Lessa
[orcarrzrçÃo]

g"Ãffi
@:xx
Copyright @,.2or2 dos autores

CAPA, PROJETO GRÁFICO E PREPARAçÃO


Contrã Capa

REVrSÃO

loenã Milli

Dados lntern aciona is de Catalogaçâo na Publicação (ClP)


Angéllcã llacque CRB-8/7ot

A quarta dimensão das relações inieÍnâcionais : â dimensão


cultural/Organizado por Hugo Rogelio Suppo, Mônica Leite Lessa, -
RÌo deJaneiro: Contra Capa,2or2.

32O p.; 23 cm

lncluibibllografia
lSBN 978-85-7/4o-r27-7

r.Relaçõet inteínacionait-cultura 2. PolÍticacultural internacional


l. Suppg Hugo Rogelio ll. Lesra, Mõnicã Leite

r2-€4r8
CDD 306

2012
Todos os diÍeitos desta ediçâo rêservados à
Contra Capa Livraria Ltda.
<atendimento@contrâcapa.com.bÍ>
www.contracapa.com.br
Rua de Santana,rgS lCentro
2o2lq-261 | RiodeJaneiro- Rl
ïel (s5 2r) 9764.0533 | Fax 6s 2r) 2so7.9448
SUMÁRIO

Prefácio
Antônio Ca os Lessa

Apresentação
Mônica Leite Lesso e Hugo Rogelio Suppo

13 ICAPITU LO 1] O papel da dimensão cultural nos


diferentes paradigmas das relações internacionais
Hugo Rogelio Suppo

45 ICAPÍTULO 2] O Brasil no lnstituto lnternacional de


cooperação lntelectual (192lF1946): primeiro passo
na constÍução de uma diplomacia cultuÍal
Juliette Dumont

6s ICAPÍTUo 3] Difusão cultural e


projeção internacional: o Brasil na América Latina (1937-45)
Robefto Lima Feïeiru

89 ICAPÍTUtO 4] O Braril na criação da Unesco: 1946 a 1954


Mychelyne BdtÌos Costa Feïeira

ICAPíTULo 5l O ltamaraty e a cultura brasileira: L945-r964


Flavia Ribeìrc crcspo
r39 ICAPÍTULO 6] As partituras da identidade.
O ltamaratye a música brasileira no século XX
Anai\ Fléchet

169 [CAPÍTULO 7] Bens e serviços culturais:


o lugar do Brasil na cena internacional (2001-2006)
Môníca Leite Lessa

193 ICAPÍTULO 8] Recorter culturais:


instrumentos da lusofonia e uma
política para a língua portuguesa
Patisio ciancio

2 ICAPÍTUIO 9] De 8Ésilto Btdzil.


A política cultural como instÍumento de poder:
os casos de França e Estados Unidos no Brasil
na primeira metade do século xx
Femdndo Santomauro

241 [CAPITULO 10] Os Estados Unidos e a


legitimação do inglês como língua internacional
Sandro Martins de Almeidd Sdntos

265 ICAPÍTULo 11] O papel das seleções Reader's Dígest


nâ estratégia da política cultural norte-americana" (f942-L9461
Silvdna de Queircz Nery Mesquita

295 ICAPrTULO 12] Esporte e Relações lnternacíonais:


um balanço bibliográfico e têórico
FIávio Boryes Varejão

313 soBRE Os AUTORÊ5


APRESENTACAO

além de uma coletànea em torno de um tema, ao reunir artigos sobre


f)ara
I cultura e r€lações internacionais, todos de qualidade intrínseca eüdente,
este liwo reflete o avanço dessa temática na produção da pós-graduação em
Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de |aneiro. E, ain-
da, evidencia a colaboração estabelecida entre colegas de outras universida-
des, inclusive estrangeiras, que aportam inestimáveis contribuições especiaÌ-
mente sobre a diplomacia cultural do Brasil ao longo do século xx.
O interesse pela problemática em foco aponta pâra a signiâcativa mudan-
ça do status da cultura no mundo atual e païa âs novâs perspectivas e desúos
colocados para a dimensão cultural nas relações internacionais. É o que os
textos aqui apresentados buscaram analisar. Parte desses artigos são assinados
por antigos orientandos, hoje confirmados profissionais, a quem agradecemos
a confrança depositada ao longo de suas pesquisas e o entusiasmo ao longo da
organização deste lilro. Às colegas francesas, agradecemos â compreensão e o
compromisso inquebrantável. A todos, agradecemos a acolhida da ideia deste
livro e saudamos as incríveis pesquisas realizadas de um lado e de outro do
Ârlântico.

Mônica Leite Lessa


Hugo Rogelio Suppo
O PAPEL DA DIMENSÃO CULTURAL NOS
pRr Ncr pArs PARADTGMAS DAS RELAçÕES r NTERNACtONA|S

Hugo Rogelío Suppo

\lo final dos anos 1990 os estudos sobre a dimensão cultural nas relações
I ì internacionais eram um dos temas que, junto aos debates ern torno do
papel das instituições internacionais e da legitimidade das teorias de caráter
normativo, dominavam os estudos do sistema político internacional (unnz,
rs97).
Na realidade, o tema vinha sendo desenvolvido há múto mais tempo fora
ò mundo acadêmico anglo-saxão. Por exemplo, em r98o, numa conferência
no México sobre "O papel do fator cultural nas relações internacionais", Mar-
cel Merle já fizera uma proposta revolucionária: a criação de um novo para-
digpa centrado no fator cultural, considerado "o fator determinante que po-
deria explicar todos os comportamentos dos atores internacionais"l (MERLE,
rg5:342).
Segundo o especialista francês, os três grandes paradigmas dominantes
ne área de relações internacionais, ao privilegiaÌ apenÍrs um fator (o político
1na o reústa, o econômico para o liberal, e a revolução tecnológica para o da
itedepêndencia) não conseguiam explicar toda a complexidade da realidade
irrrnacional.
Na reúdade, a questão cultural aparecia em todos os paradigmas, mas de
fuma secundária, em geral como uma espécie de "subproduto da aüüdade
1n&ica e econômica dos Estados, mais dedicados à propaganda eà celebração

ú ll lléüment détermínant susceptíblÊ de rendre compte de lbnsemble du comporte-


É des acteuÌs ixternacionaut.

13
de contratos benéficos do que à divulgação e troca de ideias"2 (:342). Nesse
sentido, Celestino del ArenaÌ identifrca três enfoques analíticos entre os es-
pecialistas: a dimensão cultural como um subproduto da atividade política e
econômica dos Estados, ou corno um fator com certa autonomia, ou como o
elemento determinante susceptível de explicar o comportamento dos atores
internacionais. Para Arenal, a primeira posição é ainda dominante (ÀRBNÀL,
rgg4i:35).
Mas o que se entende por cultura? Merle a define de uma forma bastante
abstrata, o que permite uma aplicação atemporal e universal: 'conjunto de
sistema de valores e de representações que servem como referência para a
identiâcação de grupos nacionais, subnacionais ou supranacionais"3 (uanlr,
1985:343). A questão principal, para Merle, é descobrir por que esses elemen-
tos culturais, em certos peÍiodos históÌicos, se toÍnam tão imPortantes como,
por exemplo, nos períodos posteriores a uma invasão ou conquista. Nesses
momentos emeÌge o fator cultural, podendo provocü uma volta à situação
anterior de isolamento entÍe as culturas; uma simbiose entre as culturas rivais;
ou a dominapo de um modelo cultural sobre os demais.
O fator cultural, esse conjunto de crenças, mitos e ideologias que configu-
ram preconceitos, estereótipos e paixões mobilizadoras, é uma:
questão política de primeira grandeza porque permite controlar
e direcionar a distância o comportamento dos outros sem ter que
ocupar militaÌmente o espaço. Na espécíe de'no mans\ lant aber'
to entre os diferentes sistemas culturais pela invasão dos meios de
comunicação manobras tendendo a garantiÌ a influência de uma
ou outra potência sobre a rede de comunicação não são a excluir'
O campo cultural, onde se forjam os sistemas de valores, é, portan-
to, um terreno conflitual, em que as relações de força são exercidas
em permanência. Aquele que ignoÍa esses três perigos (padroniza-
ção, revoltas arcaicas e controle ideológico) arriscaria enfrentar sé-
rios inconvenientes.4 (:379)

[...] sous pmiluit de lhctititépolitique et économique dzs EtoÍs pl*s attathes à l4 propa-
gandz et àla conch.rsion de marchés bénefques quà la dífiision et à léchange des íües.
llensemble des systèmes de valeurs et de représentqtíons servant de réÍèrences à
l' ídentíf c ation de groupes natíonautc, infra-nationaux ou su?ranationaux.
[...] enjeu polítique ile première granileur pukqublle permet de contrôler et dbrienter
à dístance les comportements ilhutruí sans avoír à occuper mílitairement son es-
pace. Dans lbspèce de "no mans\ land" ouvert entre les dífércnts systèmes culturels

14 A quarta dimensão das relaçòes internacionais


Sendo assim, o objetivo deste ensaio é analisar como o fator cultural foi
considerado em algumas das teorias gerais ou globais existentes no âmbito da
disciplina Relaçôes Internacionais. Não será analisada essa questão no âmbito
da História das Relações Internacionais, apesar das contribuições extremâ-
mmte importantes que nela encontramos5, e concordando com Jeân-Baptiste
Dnroselle (:992zo) quando critica os autores6 que consideram que a histó-
ria é negligenciável na elaboração de uma ciência das relações int€rnacionais.
Basear as reflexõ€s teórico-metodológicas na matéria fornecida pela história

par l'ínvasion des mass media, des manoeuvres tenda t à sssurer lbmprise de tell.e
ou telle puissance sur le réseau de communícation ne sont pas à exclure. Le champ
culturel, oü sëIqborent les systèmes àe valeurs, est donc un tenain conflíctuel sur le-
quel les rapportsforces sëxercent en permanence. [,..] Quíconqve méconnaìtraít
de

ces troís péríls (celui de luniformísatíon, celui da révoltes archaïques et celui des
emprises idéologiques) rísquerait d'éProuvu de s&ieuses ümnvenues.
A contribuição nessa área, sobretudo a francesa, é muito importante e foi obi€to
de análise parcial em outro trabalho nosso (surro; l,rss.l, zooT). O historiador
Pierre Milza apresenta, por exemplo, influenciado pela antropologia, uma útil e
interessant€ definição de cultura: 'A cultura, compreendida em seu sentido mais
amplo a saber, a produção a difusão e o consumo de objetos simbólicos criados
por uma sociedade, constitui em primeiro lugar um agente ou fator das relações
intemacionais na medida em que forja mentalidades e orienta o sentimento
público. Mas é ao mesmo tempo um desafio ou, se preferirmos, um tetreno de
erfrentamento sobre o qual intervêm diversos grupos e forças antagonistas na
ação que se opera de forma expÌícita, ou, mais comumente, de maneira oblíqua
or.roculta: No originalJ La culture, compríse dans son sens le plus large, à savoir
Ia productíot la difusion et lq consommatíon da objets symbolíques créés par une
société, constitue en preffiíer lieu un agent ou unfacteur des relatíons internationales,
dans la mesure oi
façonne les mentalités et oriente le sentíment Publíc. Mais
elle

db est en même temps un enjeu, ou si lbn préftre un terroin dhfrontements sur

Iequel interúennent dfuers groupes íorces antagonistes dont lactíon sbpère soit
et

dc façon explìcite, soit le plus souvent d une manière détournée ou occulte. (llnzl',

r98o:362.)
Por exemplo das 329 obras (artigos e lirros) citadas na bibliogrúa do liwo de
Kenneth N. Waltz, Theoíy oí International Politics (tg7g), fora Tucídides e cinco
refeÉncias a memórías de homens de Estado, apenas r4 liwos e dois artigos sào
ccritos por historiadores (quase todos liwos de síntese, e não de primeira mão).

O papel da dimensão cultural r5


evitariâ a construção de abstrações sem relação com o processo real, permiti
ria ressaltar a complexidade do real e seriam evitadas as explicações simples
(a "história compÌô", a explicação por uma 'tausa única" e a "reificação" dos
conceitos). Também deixaremos de lado a análise das chamadas teorias par-
ciais ou debates setoriais clássicos (a condução da política externa, as causas
da guerra e as condições da paz, a noção de segurança) e contemporâneos (os
processos de integração regional, os fenômenos de cooperação, a economia
política internacional). É eüdente que nem sempre será possível realizar esse
objetivq pois, frequentemente, a dimensão setorial é o terreno privilegiado
onde é realizado o debate interparadigmático.
Vejamos agora como o fator cútural foi integrado nos paradigmas mais
importantes,

O paradigma realista

O realismo, paradigma dominante nas Relações Internacionais desde a Se-


gunda Guerra Mundial, é baseado em quâtÍo proposições principais:
a) a guerra é o estado normâl entre os atores internacionais porque nào
há nenhuma autoridade superior central capaz de suprimir o estado
de anarqúa reinante;
b) os atores internacionais principais e determinantes são os Estados
organizados territorialÍnente;
c) os Estados são atores râcionais que tentâm constantemente defender
o interesse nacional, aumentando sua potênciai
d) a única forma de ordem possível no sistema internacional é o equilí-
brio entre as potências, entretanto, ele não assegura a paz.

Os três grandes autores clássicos da escola realista, Edward Hallet Carr,


Hans f. Morgenthau e Ral.rnond Aron, consideram o fator cultural relevante
nos seus paradigmas.
Para Morgenthau o papel da cultura tem três dimensões:
1. o "imperialismo cultural': 'b imperialismo militar procura a con-
quista militar, o imperialismo econômico, a exploração econômica
de outras nações e o imperialismo culturú a substituição d€ umâ
cultura por outra." (uonceNrueu, ry92:83-4). Desses três métodos,
o imperialismo cultural é o mais 'tutilll o mais efetivo, porque per-
segue 'b controle das mentes dos homens como ferramenta para a

16 A quarta dimensão das relações internacionaìs


modificação das relações de poder enúe as naçõesÌ' (rtonceNlneu,
t99z:84). Morgenthau prefere o termo cultura a ideologia, porque
ele engloba todo tipo de influência intelectual com o objetivo de pre-
parar o terreno para a conquista militar ou a penetração econômica.
Dois exempÌos ilustram esse fenômeno de 'luinta coluna'i caracterís-
tica marcante dos sist€mas totalitários:
. A grande influência da ideologia nacional-socialista na Áustria e
na França explica o fato de o governo da primeira ter convidado,
em 1938, o Exército alemão a ocupar o país; e o de a segunda teÌ
organizado um governo de colaboração em Vichy.
. A Internacional Comunista instrumentalizando todos os parti-
dos comunistas do mundo em benefício dos interesses da União
Soviética.
. No entanto, alerta Morgenthau, 'b emprego das simpatias cul-
turais e das afinidades políticas como armas do imperialismo é
quase tão antigo como o próprio imperialismo'i Nesse sentido,
todas as potências utÍlizaram na história esse método: o czar da
Rússia, a religião ortodoxa; a França republicana, sua "mission
ciYilisâtrice':

o "modelo cultural" de cada nação determina um certo 'taráter na-


cional", elemento intangível constitutivo do poder nacional. O 'ta-
ráter nacional" é, junto com a "moral nacional'l as qualidades da
diplomacia e do governo, um dos componentes qualitativos de um
estado. Morgenthau considera importante esse fator, apesar de sua
intangibilidade, e, segundo ele, desconsiderá-lo levou a graves eÍros
de julgamento e políticos, como, por exemplo, ter menosprezado a
capacidade de recuperação aiemã após a primeira guerra mundial ou
ter subestimado o poder russo em t-941-r942.
3. "O problema da comunidade mundial é moral e político, e não in-
telectual e estético." (lronceNfireu, 199z:596). A cultura não cons-
titui um fator de paz no processo de constituição de uma hipotética
comunidade mundial, prelúdio à criação de um Estado mundial: 'o
fato de que membros de diferentes nações compartilham as mesmas
experiências inteÌectuais e estéticas não cria uma sociedade, pois isso
não origina ações morais e politicamente relevantes por parte dos
membros de ditas nações, com respeito a aqueles que não compar-
tem as ditas experiênciasl' (ltoncrNrueu, r99z:594). Nesse sentido,

O papel da dimensão cultural V


. o papel da Unesco, difundindo e fazendo progredir a cultura e a edu-
cação, não tem inÍluência alguma em relação à compreensão interna-
cional e à paz.

Segundo Edward Hallet Carr, o lugar da moral, entendida como o "estoque


internacional de ideias comr:ns" (clnn, zoor:r88), na política internacional "é
o problema mais obscuro e diffcil de todo o campo dos estudos internacionaid'
(cenn, zoor:r89). A abordagem idealista errâ, segundo ele, ao considerar essas
ideias comuns, pairando de certa forma acima dos interesses nacionais como
sustentáculo de uma comunidade internacional, porque as relaçôes entre Es-
tados são baseadas exclusivamente na desigualdade e governadas apenas pelo
poder, não há valores morais acima dele 'Qualquer ordem moral internacional
deve repousar sobre alguma hegemonia de poder" (c,tna, zoor:z16). O poder
político, na esfera internacionaÌ, é baseado, consequentemente, em três pode-
res interdependentes: o mfitar, o econômico e sobre a opinião, que se exerce,
no mundo moderno, através da propaganda de certas ideias. Entretanto, alerta
Carr, essas ideias só tornam-se, de fato, politicamente eficazes quando um po-
der político nacional as encarna e as une ao poder econômico € militar. Foi isso
o que aconteceu com os ideais da Revolução Francesa durante o Império Napo-
leônico, com o livre comércio com a Grá-Bretanha, com o comunismo, com o
stalinismo, com o sionismo pelas grandes potências etc.
O regime soüético foi o primeiro a utilizar, por causa de sua fraqueza
militar e econômica, a propaganda (Internacional Comunista) como um ins-
trumento normal das relações internacionais. A propaganda se tornou, as-
sim, uma "arma política nacional" utüzada no território do inimigo. O exem-
plo será rapÍdamente imitado. Por exemplo, a criação, em 1935, do British
Council teve como objetivo "tornar a vida e o pensamento do povo britânico
mais amplamente conhecidos no exterior'l O enorme poder dessa nova arma
política levou a várias tentativas de regulamentar seu uso entre as grandes
potências. Por exemplo, uma série de acordos bilaterais para eliminação da
propaganda hostil são assinados (Alemanha e Polônia, em 1934; Alemanha e
Áustria, em 1936; Grã-Bretanha e ltália, em r938). Durante a Segunda Guerra
mundiaÌ chegou-se mesmo a impor a censura direta de radiodifusão, cinema
e imprensa.
O poder sobre a opinião é condicionado "pelo status e pelo interesse"
assim como pela superioridade econômica militar, que permitem facilmente
e

impor estas ideias a outros. Quer dizer então que o poder da propaganda é
ilimitado?

A quarta dimensão das relaçòes internacionais


E. H. Carr responde que não, ele é Ìimitado de duas maneiras:
. As ideias tem que conservar um mínimo de veracidade, algum grau
de relacionamento com os fatos.
. A propria natureza humana tende a rejeitar 'ã doutrina de que a força
faz direitol
E. H. Carr conclui:
Uma ordem internacional não pode se basear apenas no poder, pela
simples razão de que ahumanidade, alongo prazo! sempre se revol-
tará contra o poder puro. Qualquer ordem internacional pressupôe
uma dose substancial de consentimento geral. (cann, zoor:3or)

Raymond Âron posiciona-se em t€rmos similares quando define os três ob-


ìetivos perseguidos por todos os Estados na sua política externa: potência, g1ória
e ideia. Toda politìque de puissance, qr]éndo se exerce em tempo de paz, entre dois
países amigos,limitada pela falta de meios econômicos e políticos de pressào, pri-
rilegia ou limita apenas ao uso da persuasão. Nessa situação, entram em jogo,
se
segundo Aron, dois gmndes atores: os diplomatas e os intelectuais, 'bs soldados
dos tempos de paz'Ì Os primeiros procurando sempre "recrutar aliados ou [...]
reduzir o número de seus inimigos" (e.now, r984:ror), e os segundos construindo
ftaçoes profundas, esümulados pela defesa e busca da grandeza e g1ória da pátria.
Âron estabelece, ainda, uma tipologia dos sistemas internacionais basea-
do em valores: homogêneo (Estado do mesmo tipo e concepção política) e o
hcterogêneo (valores contraditórios).
Para Aron, o cultural tem ainda duas outras dimensões:
l- as singularidades do 'taráter nacional' (a cúura) determinâm a con-
duta dÍplomática ou estratégica de um Estado. Há um estilo particular
de política estrangeira que está Ligado, s€gundo as situações, ao cálcu-
lo racional, ou às tendências psicossociais ou do sistema cultural. Por
exemplo, na Grá-Bretanha é a economia, e, no caso da França, é a gló-
ria. Entretanto, alerta Aron: "Qualquer que seja a constânciâ atribuída
aos fianceses, alemães, espanhóis, ingleses como povos, um caráter
psicoculturaÌ jamais é o único responsável pela conduta diplomático-
-ctratégica de uma unidade política"z (lnor, 198+:293). As 'tons-
tâncias" estão mais ligadas a fatores geográficos, técnicos e políticos.

t @ que soít la constance que lbn attríbue aux Français, aux Allemands, aux
QqaoLs, aux Anglais en tant que peuples, un caractère psycho-culturel nlest jamais
d tqonsoble de Ia conduite àiplomatíco-stratégique d'une unitë Polítique.

O papel da dimensão cultural


2. existe uma sociedade internacionâl (antecípando um dos temas cen-
trais da abordagem transnacional dos anos r97o) que 'se manifesta
através dos intercâmbios comerciais, das migrações de pessoas, das
crenças comuns, das organizações que Passam Por cima das frontei-
ras, enfim, das cerimônias ou competiçóes abertas aos membros de
todas as unidades"s (enot.l, r984:rr3).

Em resumo, para os realistas clássicos os Estados, atores unitários e mo-


nolíticos, são as peças centrais no sistema internacional e se comPortam todos
da mesma maneira, procurando racionalmente maximizar seu poder. Nesse
sentido, a cuÌtura não tem nenhuma influência determinante no comPorta-
mento dos Estados. Entretanto, o fator cultural não é descartado como ümos,
muito pelo contrário, ele é um recurso de poder que pode não só influenciar
os meios, a forma e a intensidade pela qual esses estados procurâram aumen-
tar seu poder, assim como também se tornâr um eÌemento que pode até che-
gar a ser, quândo se transforma em ideologia messiânica, o motivo Principal
da guerra entre os Estados.
Em 1929, Kenneth N. Waltz elabora um a resposta, Theory of lnternational
Politrcs, às críticas que vinha sofrendo o realismo. Waltz distingue nesse texto,
que se toÍnaria o manifesto do chamado neorrealismo, dois níveis de análise:
o sistema internacional (o único que lhe interessa) e o comportamento dos
atores (os Estados). Em consequência, Walta na sua ProPosta de "reüsmo
sistêmico", deixa de lado todas as variáveis (regime interno, ideologias, cultu-
ra, sistema econômico etc) que explicam para o realismo clásssico o compor-
tamento e a personalidade dos Estados e concentra unicamente suas análises
na unidade do sistema e no papel das estruturas. O sistema, cuja dinâmica é
baseada em uma única variável independente (a assimetria da configuração
sistêmica), e em uma única variável dependente (a grande probabilidade de
umâ guerra entre as grandes potências, sobretudo quando elas são numero-
sas), é uma totalidade abstrata que impõe aos atores restrições e lhes con-
diciona o comportamento. A estÌutura do sistema internacional determina
o comportamento das unidades que o comPõem, funcionalmente indiferen-
ciadas, na base de três princípios: ordenador (hierárquico ou anárquico), de
diferenciação e de distribuição.

[...] se manìfeste par les échange commerciaut les migrations de personnes, la


cnyances communel les organizations qui Passent Patdessus lcs frontières, enfm
les cérémonies ou compétítions ouvertes aux membres de toutes les unités.

A quarta dimensão das relações inteÍnacionais


O chamado realismo estrutural, situado no aprofundamento das ques-
tões levantadas por Waltz em Theory of International Politics, ignora também
completamente a dimensão cultural, como fica eüdente no liwo Theory of
International Polüics, publicado em 1993, por Barry Buzan, Charles Jones e
Richard Little.
Apresentamos no quadro abaixo um resumo do que foi apresentado so-
bre o papel da cultura na abordagem realista:

Cultura como: Conceitos

lmperialismo cultural

lnstÍumento de luta pelo podel Politica de prestigio


ldeologia
Caráter nacional (elemento imaterial)
Elemento do poder nacional
ldentidade cultural

Moral inteÍnacional* + Opinião pública +


"Limitador" do podeÍ nacional Direito internacionãl

Comunidade mundial/paz (Unesco)

Causa da guerra Messianismos

'Os principios morais 5ãoparticulaíe5 (não univer5ais) e5ubordinado5 aos interesies da ação potitica.

A visão liberal

A disciplina Relações Internacionais, desde seu nascimento, após a Primeira


Guena Mundial, e até o final dos anos r93o, será dominada pela abordagem
internacionüsta lÍberal, na sua variante mais ideaÌista e utópica. As anrílises, em-
;Íricas e centradas sobre a cooperação e a resolução pacífica de conflitos, sempre
cmcluiam que a paz era possível se quatro condições fossem reunidas: Iberdade
de comércig opinião pública educada, elites esclarecidas e um sistema de gover-
nnça baseado no direito internacional (segurança coÌeüva). Normann Angell,
tl.or de A grande ihsão (ryt9), a obra mais representativa dessa abordagem,
Ha provar â irracionalidade e futiìidade da guerra. A explicação encontra-se no
Sno das mentalidades, no plano cuÌtural, uma vez que a história não é conside-
reda como progresso linear, mas como um processo de aprendizagem racional,

O papel da dimensão cu{tural


quer dizer, Ìrm processo cultural Os problemas acontecem quando as mentaÌi-
dades dos dirÍgentes dos Estados não evoluem por falta de insütuigões democrá-
ticas sólidas e pela pressão dos militares e líderes aristocráticos. Os meios essen-
ciais para impedir a guerra seriam, entãg a educação do povo e a regulação das
relações comerciais. Normann Angell afirma em seu liwo:
os problemas da políticâ internacional moderna diferem profunda
e essencialmente dos antigos. Não obstante, essâs ideias estáo domi-
nadas por antigos axiomas e princípios, assim como por terminolo-
gia ultrapassada. (:rv-rvl)

No plano interior dos Estados, as identidades culturais nacionais eram


vistas como fixas e centradas nos indMduos, estes agindo sozinhos de forma
coop€râtiva e râcionaÌ ou em grupo, através do Estado.
Robert fackson e Georg Sorensen (zoo7) distinguem, ademais do referi-
do liberalismo utópico, outros quatro tipos de liberalismo: sociológico, da in-
terdependência, institucional e republicano. Para outros autores, por exemplo
Moravcsik (1997), haveria apenas três variantes da teoria liberal a partir da
competição entre os atores internos dos Estados: idealista, comercial e repu-
blicana. Ou seja, não há consenso entre os especialistas sobre essas tipologias;
alguns autores, e nós também aqui neste trabalho, por exemplo, consideramos
a chamada escola inglesa também uma abordagem liberal. APÍesentaÍemos, a
seguir, o papel da cultura em algumas dessas abordagens.

O liberalismo da interdependênciar

Robert Keohane e foseph S. Nye desenvolveram a chamada Teoria da Inter-


dependência, Power and interdependence: world politícs in transition (1977).

Os precursores desta abordagem são os teóricos da integração dentre eles Karl


Wolfang Deutsch, teórico transnacionalista, com seu conceito de 'tomunidades
de segurança pluralística'l baseada no "eqülíbrio entr€ integração e transações"
- políticas, culturais e econômicas -, através da criação de instituições e o
desenvolvimento de pÍáticas. A política externa é determinada pelas messagens
(demandas, pressões, informâções), muitas vezes contÍaditórias, que recebem os
responsáveis do "sistema nacional de decisãoi Este último é composto de cinco
níveis (elite socioeconômica, elite política, mídia de informação - imPrensa
escrita, rádio e televisão -, os notáveis e o conjunto de cidadãos eleitores)

A quaÍta dimensão das relações internacionais


Segundo os âutores, a "interdependência compÌexa" que prima no atual siste-
ma internacional, desenvolvida a partir de múltiplas redes de interações tangí-
veis intangíveis, elimina as hierarquias entre a chamad â, high politic (qu.estões
e

estratégico-militares) e alow politic (questões econômicas, sociais e culturais).


Os atores principais continuam sendo os governamentais, mas eles coedstem
doravante com outros atores subestatais e nâo estatais estabelecendo-se entre
eles um Ìeque complexo de reÌações de interdependência de carater assimétri-
co. A sensibilidade e a lulnerabilidade de cada um dos atores dependerá da
configuração de força em cada situação particular. Nesse contexto, ter poder
consiste na capacidade de cooperar para ser menos vulnerável que os outros.
Preocupado em encontrar uma solução ao declínio relativo dos Estados
I
Unidos, enunciado por Paul Kenne dy em The rise and fall of the great powers

que tÌarsmitem simultaneamente menssagens e se influenciam mutuamente.


A decisão é fruto da autoregulação dos fluxos de informação e das respostas
às messagens dos outros e os neofunciona.listas tal como Ernest Hass, com
sua noção de spíll-over efect, pela qual a integração não depende de normas,
de altruísmo, nem da crescente interdependência econômica, mas depende da
cooperação entre elites políticas egoístâs que no entanto foram persuadidas
de que a integração era o melhor caminho a partir da cooperação concreta
em algum setor (não fica claro o papel da cultura no processo, nem ele está
preocupado com isso, mas apenas com a criação de instituições formais); e lohn
Burton, ao modelo predominante de "bola de bilhar" das relações internacionais
centrado nas relações entre os Estados ele opõe o modelo da "teia de aranha ou
rede" - ryeü - da sociedade mundial, Workl Society (t972). O centro das análises
não são mais as necessidades dos Estados e seus interesses, mas são as múltiplas
interações que se estabelecem entre os indiüduos dessa sociedade mundial
(ela é organizada a partir de indiúduos e suas interações e necessidades).
As comunicações são a principal influência organizadora da sociedade mundial
(influência de Karl Deutsch), e não o poder. La interacción ile los estados no a
sino uno de los múltíples sistemos de interacción dentro de la sociedad muxdial.
Si analizaramos los sístefias por separado - comunicaciones, turismo, comercio,
ciencía -y los superpusiéramos, crearíamos una estructura de íntera,cciones,
El mapa de la sociedad mundial ser{a uta teleraÃa o red de interacciones puesta
sobre otra, y la ímagen de la socíedad mundial presentaúa concentraciones et
ciertos puntos, así mmo enlaces a tratrés de fonteras nacíonales, amontonados en
algunas zonas, escasos en otras. (runroN, r994:r3r).

O papel da dimensão cultural 2]


(1988), foseph S. Nye elabora a noção de soft power, Soft Power: the means
to success in world politía (zoo4), com o objetivo de permitir que os Estados
Unidos preservem sua dominação:

Hard Powet Sofr Powet

coeÍção convencimento ComDo5ição da asenda


Espectro de - atraçao
comando Cooptação
corÍrPor
<--*"-*--- a a.--------.-.>

RecuÍsos mais
força pagamentos instituições Yalores
culture
prováveis
sanções subornos políticas

A cultura, que faz parte do chamado sol power, é a base do poder dos
Estados na chamada "era da informação":

Políticãs
Comportamentos Meios Fundamentais
GoveÍnamentâis
Coerção Ameacas Diplomacia
Restrições Forcas coercitiva
Poder Militar
Proteção Cuerã
Aliança

lndução Pagamentos Ajuda


Poder Econômico Coerção 5anções Suborno
5anções

Atração Valores Diplomacia


Proposição da culturã pública
SoÍt Powet agenda Políticas Diplomacla
lníituições bilaterale
multilateral

A cultura norte-americana - universal, sincrética e capaz de estabelecer


um conjunto de normas e institúçôes que possaÌn exercer a governança glo-
bal - é, nesse sentido, um pod€roso instrumento. A globalização econômi-
ca e a social não produzem homogeneidade cultural, entretanto, a cultura, a
ideologia e as instituições norte-ameÍicanas continuam a seÌ extÍaordinários
meios de poder intangíveis, capazes de seduzir, persuadir e âtrair:
A cultura americana também é relativamente pouco cara e útil como
recurso de poder brando. Obüâm€nte alguns aspectos da cultura

A quarta dimensão das relações ìnternacionais


âmericâna são pouco âtrâentes para outros povos e há sempre o pe-
rigo de distorção na hora de avaliar as fontes culturais de poder. Mas
a cultura popular americana materializada em produtos e comu-
nicaçóes tem uma atraçâo generalizada. A televisáo nicaragüense
difundia programas americanos enquanto o governo combatia os
guerrilheiros apoiados pelos Estados Unidos. Da mesma forma, os
adolescentes soviéticos usam jeans e procuram discos americanos
e os estudantes chineses que protestaÌam usavam um sírnbolo que
piìrecia ser â Estátua da Liberdade durante os levantes 1989. Eri-
quanto o governo chinês lançava protestos oficiais contra a interfe-
rência dos Estados Unidos, os cidadãos chineses eram "tão interes-
sados como nunca na democracia americana, nos românces ameri-
canos, inclusive o rock." Os jovens japoneses que nunca estiveram
nos Estados Unidos usam jaquetas com o nome das universidades
americanas. Certamente, há um pouco de trivialidade e de moda
no comportamento popular, mas também é verdade que um país
que continua no centro dos canais de comunicação populares têm
mâiores oportunidades que se conheçam suâs mensagens e de afetar
as preferências dos outros.
Não há como escapar à influência de Holllnuood, da cNI.l e da in-
ternet. Os filmes e a televisáo americanos exprimem a liberdade, o
individualismo e a mudança (tanto quanto o sexo e a violência). Ge-
ralrnente, o alcance globaì da cultura dos Estados Unidos contribui
para aumentíìr nosso soft power fpoder brando], ou seiâ, a atração
ideológica e cultural que exercemos." (rve Jr., zooz:r4)10

10 Lq cultura norteamericana también es rel.atìvsmente poco cara y útìl como recurso


blando de poder Obviamente, cíertos aspectos de ln culturq norteamericana son
poco atractilos para otros pueblos y síempre hay peligro de dktorsión a la hora de
ettaluar las fuentes culturales de poder Pero la culturq popular norteamericana
mateializada en proãuctos y comunícaciones tiene una atraccìón generalizada.
La televisíón nícaragiiense eïnitía programas norteamerícanos mientras el gobìer-
no luchaba contra la guerrtlla respaldada por Estados Unidos. De igualforma, los
adolescentes sotiéticos usan jeans y buscan discos norteamericqnos y los estudian-
tes chinos que protestaron utílizaban un símbolo que se parecía a la Estatua de la
Libertad dulante los levantatnientos de ry89 Mientras eI gobíerno chino lanzaba
protestas ofciales contra la interferencía norteatneficana, Ios ciudadanos chinos

O papel da dimensão cultural


Esses recursos de poder brando (atração cultural, ideologiâ e instituições
internacionais) não são novos, mas, no mundo atual, eles são os recursos de
poder mais importantes. Nye chega mesmo a elaborat um quadro comparati-
vo dos recursos de poder tangíveis e intangíveis das principais potências em
r99o (uvr Jr., ry9o:r7z):

Fontes de Poder
EUA Rús5ia E uropa Japão China
TangÍveis

RecuÍsos básicos forte foÍte forte médio forte

Militar foíte forte médio fraco médio

Econômico forte médio forte forte médio

Ciência/Tecnologia forte médio forte forte fraco

Fontes dê Poder
EUA Rússia EuÍopa Japão china
lntangÍveis

coesão nacional foÉe médio fâco fortê forte


culturâluniversal forte médio forte médio médio

lnstituiçóes internacionais forte médio forte médio médlo

A cultura é considerada um instrumento de poder, €m certo sentido


como os realistas já o faziam, mas agora é alçada a elemento principal.
De outro ponto de üsta, internacionalistas liberais como |ames N. Rosenau
(ry69, Linkage polifícs, Essays on the convergence ofnational and international
systems; 1980, Tfte sud.y of fubal interdependencq também consideram a cultura
como um elemento central. Para ele, a origem das'turbulências' no sistema in-
ternacional se €ncontÍâ na multiplicação de Estados e de identidades (fragmen-
tação de solidariedades com a destruição das relações de autoridade que uniam
os indivíduos à coletMdade à qual pertencem P€lo parâmetro relacional).

estaban "tan futeresados como siempre en la democracia noúeamerícana" las nove-


las norteaffierícqnqs, inclusive d rock. Los jólenes japoneses que nunca han estailo
en Estados (Jnidos usan camperas con el nombre de las uníversidades norteafieri-
canas. Por cierto, hal un elemento d.e tril'íalklad y de moda en el comportamiento
popular, pero también es cieÍlo que un país que se mantiene en el centro de los ca-
nales de comunicacíón popular tíene mas ocasíón de que se atiendan sus mensajes

y ile afectar las preferencias ìle los demásl' (NyE Jr., 1990: r 85-6)

26 A quarta dimensão das relações internacionais


A anrílise é centrada no indivíduo, mâs com ênfase nas cinco grandes causas
que provocam as "turbúências": a passagem de uma sociedade industrial a uma

pós-industrial; a compÌexidade dos problemas gerados pelo progresso tecnoló-


gico que exigem soluçóes transnacionais (poluição, terrorismo, drogas); a ca-
pacidade declinante dos Estados; a emergência de uma opinião pública mais
informada sobre os assuntos internacionais. Os indiüduos encontram-se, em
consequência, ante a emergência de uma cútural globaÌ, de novas normas e de
novos grupos/tribos que esvaziam as coleüvidades tradicÍonais. Nesse sentidq
segundo Roseneau, haveria três níveis de análise ou parâmetros: o indMdual
(micro), o macropolítico (estrutural) e o relacional (intermedirírio).
Rosenau cria o conceito de "governança sem governo', um conceito mais
amplo do que regime", porque ordena praticâmente todos os elementos da
sociedade internâcional, inclusive os próprios regimes. São os princípios,
normas, regras e procedimentos 'ãplicados quando dois ou mais regimes se
sobrepõem, conflitam ou de algum outro modo exigem a acomodação entre
int€resses conflitantes" (:zr).
A ordem internacional, segundo Rosenau, é sustentada em numerosas
estruturas organizadas em três níveis fundamentais de atiüdade diacrônica:
l. O nível ideacional ou intersubjetivo: sistemas de crençâ, contextos
mentais, valores, atitudes, percepções etc.
2. O nível objetivo ou comportamental: ameaças, negociações, arma-
mentos, concessões etc.
3. O nível político ou agregado: instituições e regimes.
Esses três níveis são completamente interativos e a mudança de sistema,
com a criação de uma nova ordem, é sempre lenta porque está ligada ao con-
texto histórico (interesses e condições materiais) e porque 'bs fundamentos
ideacionais, comportamentâis e institucionais de uma ordem têm raízes em
hábitos - formas rotineiras, padronizadas e repetitivas de reagir aos aconteci-
mentos -, que são difíceis de alterar" (;4o). Ou seja,'üsta como um processo
de formação de hábitos e de consenso, uma ordem global nova ou reconstitui
da pode muito bem levar décadas para amadurecef' (:4r).

11 Sephen D. Krasne entende os r€gimes, destinados a estruturar e a regulamen-


tar as atividades numa área bem determinada das relações internacionais, como
"conjuntos de princípios implícitos ou explícitos, normas, regras e procedimen-
tos decisórios pâÌâ os quais convergem as expectativas dos atores" (xru,srr aprd
rosgteu, zooo:zo).

O papel da dimensão cultural 21


Mark W Zacher (2ooo) sintetiza assim o ponto de üsta dos internaciona-
listas em relação ao papel da cultura nas relações internacionais:
O crescimento das telecomunicações em todo o mundo, em rapi-
dez e em volume, não pode ser subestimado deúdo ao impacto
sobre os vínculos entre as nações, a rnaior homogeneidade nos
valores e nas práticas que criâ e aos regimes mais amplos e mais
fortes instituídos no próprio setor das telecomunicações. A difu-
são dos valores e das instituições democráticas facilita os laços
entre os Estados, reduz a probabilidade de guerra e fornece uma
base para os regimes de direitos humanos. Finalmente, o movi-
mento gradual no sentido de urna maior homogeneidade dos va-
lores e práticas culturais reduz, de certa forma, o estímulo para
que alguns Estados levantem barreiras destinadas a proteger sua
autonomia e facilita a coordenação das políticas governamentais.
É importante salientar, uma vez mais, que todas essas mudanças
serão lentas e desiguais, e afetarão a qualidade do relacionamento
internacionâl durante um longo período de tempo. A difusão da
democracia e o movimento no sentido de homogeneizar os va-
lores culturais e de outra natureza serão um processo particular-
mente demorado em algumas regiõ€s, contestado, às vezes, por
forças importantes; mesmo assim, no longo prazo, essâs tendên-
cias são prováveis." (:r39)

A "escola inglesa"- a sociedade internacional

A chamada 'escola inglesa" (também conhecida como paradigma racionüsta


ou teoria da sociedade internacional) considera essenciais os fatores cultu-
rais nas suas reflexões sobre as relações internacionais. Ela é classificada por
muitos autores como sendo mais uma abordagem liberal das relações inter-
nacionais por acreditar que os atores sociais são capazes de estipular regras de
forma consciente e de respeitáìas. Para Heddley Bú, um dos seus represen-
tantes mais conhecidos, o rasgo comum de todas as sociedades internâcionais
(sociedade de Estados) históricas "é o fato de que todas se basearam em uma
cultura ou civilização comum, ou pelo menos alguns eÌementos de tal civi-
liztçãol. o idioma, a epistemologia e a üsão do universo, a religião, o código
estético, uma tradição artístic/ (rul4 zooz:zz).

A quarta dimensão das relações ìnternacionais


Essa cultura comum não só facilita a cornunicação e compreensão reci
procas como reforça os interesses comuns 'que impelem os Estados a aceitar
a comunidade de ideias, instituições e valores" (tutt-, zooz:zz). O estado de
anarquia é intrínseco às relações internacionais, mas não leva necessariamen-
te à guerra, como os realistas defendem. Os interesses e valores em comum
permitem, apesar da anarquia, constituir uma sociedade internacional.
As diferentes culturas ou ciülizações (hindu, islâmica, chinesa etc.) fo-
ram o cimento necessário pâÍa a agregação dos diversos sistemas internacio-
nais regionais, a partiÍ de alguns elementos, como por exemplo 'o idioma, a
epistemologia e a visão do universo, a religião, o código estético, umâ tradição
artística" (BULL, zooz:zz, ). A cultura será também mais tarde o elemento cen-
traÌ na formaçáo da sociedâde internacional quando uma cultura dominante
agÌega esses diferentes sistemas internacionais regionais. Mesmo a 'Revolta
contra o Ocidente", os povos descolonizados após a Segunda Guerra Mundial,
é centrada na 'libertação cultural'l
Entretanto, a sociedade internacional contemporânea é, segundo Bull,
culturalmente heterogênea e multicultural, ao contriírio das anteriores (basea-
das em uma cultura ou civilização comum). Hoje assistiríamos ao fim de um
longo processo iniciado com a Revolução Industrial, quando os europeus dei-
xaram de tratar seus interlocutoÍes em condições de relativa igualdade para
começar a impor sua cultura ao mundo. Isto é, 'a sociedade internacional glo-
bal do século xx não se baseia em uma cultura ou civilização comum" (rulq
zooz:zz), Entretanto, o futuro da sociedade internacional está, segundo Bú,
ligado à perspectiva da cultura cosmopolita que hoje já estaÍia presente no seu
funcionamento, ou seja, devemos distinguir dois níveis de cultura:
a) como "fundamento da comunicação entre os estados membros da
sociedadd': "língua, perspectiva filosófica ou epistemológica, a tradi-
ção literáÍia ou artística" (our,l, zooz:354);
b) como valores comtrns (religião ou o código moral), fundamento da
percepção da existência de interesses comuns que unem os Estados
em torno de uma obrigação coletiva.

Dessa forma" haveria, respectivamente, dois tipos de cultura:


1. a 'tultura política intemacional": 'cultura ética e intelectual que de-
termina as atitudes para com o sistema de estados das sociedades que
o compõeÍf (nw;-, zooz:354-5).
z. a "cultura diplomática": 'conjunto de ideias e valores compartilhado
pelos representantes oficiais dos Estados" (rur,l, 2oo23s4).

O papel da dimensão cultural 29


Heddley BuÌl sintetiza assim seu p€nsamento:
Podemos dizer que nesta sociedacle inteÍnacional há pelo menos
uma cultura diplomáticâ, ou de elite, abrangendo a cultura intelec-
tual comum da modernidade as línguâs comuns, principalmente
o inglês; uma compreensão científica do mundo e certas noções e
técnicas comuns que derivam da ac€itação universal do desenvolü-
mento econômico por todos os governos do mundo moderno, as-
sim como o seu enolvimento universal com a tecnologia moderna.
No entanto, essa cultura intelectual comum ú existe na elite. ...Pro-
vavelmente o futuro da sociedade internacional será deterrninado,
entre outros fatores, pela preservação e ampliação de uma culfura
cosmopolita, abrangendo ideias e valores comuns, com raízes nas
sociedades em geral, assim como nas elites; cultura que poderá
proporcionar à sociedade inteÍnacional o tipo de fundanentação
que beneficiou as sociedades do passado, menores e mais homogê-
neas. O que não quer dizer que qualquer cultura cosmopolita possa
toÍnar-se dominante em todo o rnundo, absorvendo os particula-
rismos culturais, ou que esse desenvolvimento seja desejável. Preci-
samos reconhecer também que a cultura cosmopolita nascente que
temos hoje, como a sociedade internacional que ela ajuda a susten-
tar, incÌina-se a favor das culturas dominantes do Ocidente. Como
a sociedade internacional, a cultura cosmopolita de que depende
pode precisar âbsorver elementos não ocidentais em escala muito
maior paÍa que se torne genuinamente universal, e para que propor-
cione base sólidâ a uma sociedade internacional verdadeiramente
universal. (nur,l, zooz:3 55 )

Adda Bozeman, Ronald Dore e Ali Mazruir2, outros três importantes


membros da Escola Inglesa, ressaltam também o papel da dimensão cultural
nos seus trabalhos. Para eles, o sistema internâcional é, em realidade, compos-
to de dois sistemas, o cultural e o político que não coincidem necessariamen-
te. O sistema cultural pode induir viáÌias unidades políticas diferentes e üce-
-versa. Apesar do pÌocesso de ocidentalização, de americanização e de'toca-
-colalizaçãci' do mundo, ainda primam as cuÌturas específicas e a diferença

12 Ali Mazrui, por sua parte, ressalta o processo de'tonvergência normatila", ba-
seado nos valores ocidentais, ao qual foi submetido o Terceiro Mundo pelo capi-
talismo internâcional.

A quarta dimensão das relações internacionais


cultural, impedindo a criação de um verdadeiro sistema internacional e de
uma sociedade internacional global:
a solidez de um sistema internacional é medida pela força do con-
junto dos conceitos que a animam. Por sua vez, os conceitos são
sólidos somente se eles têm o mesmo signifrcado em todas as vá-
rias partes que o compóem. Nós não somos confrontados com um
sistema dotado completamente de signifrcado, já que a sociedade
mundial é composta, hoje como nos sécuÌos ânteriores ao sécúo
xrx, de uma pluralidade de diferentes sistemas políticos, cada um
deles produto de conceitos que se referem a culturas especiflcas.l3
(nozeu.lN, rgg4.qz+)

Isto não quer dizer, aleítam esses autoresJ que a natureza pluricultural da
sociedade internacional global seja um elemento que, por si só, prejudique
seu funcionamento:
A história das Ìelações entre comunidades políticas culturalmente
diferentes (um tópico do qual falamos muito neste livro), nos leva
a crer que a percepção dos interesses comuns muitas vezes leva à
irnprovisação de regras mesmo na ausênciâ de uma cultura comum
que já as contenha. Além disso, as culturas não são indestrutiveis e
existem poucas sociedades no mundo de hoje cujas culturas pos-
sâm ser descritâs em outros termos que não os da pluralidade e da
mudança. As instituições internacionais jurídicas, diplomáticâs e
âdministrativas, além disso, se apoiam claramente na cosmopoli-
ta cultura da modernidade, à qual pertencem todos os elementos
constifirtivos da sociedade contemporâneâ, embora muitas vezes
seja estranha às massas,
É verdade, no entanto, que a sociedade internacional contemporânea
não tem aquelâ coesão moral e cultural que tem sustentado a soci€-
dade internacional europeia durante quase um século depois de 1815.

13 la solìditò di um sístema ínternazionale si misura con la solidità dell'insieme


dei concetti che lo anímano. A loro volta í concetti sono solidi solo se hanno lo
stesso sígniÍcato in tutti í varí organíc he compongono il sistema stesso. Noi flon cí

trovíamo di fronte a un sistema complessiwmente dotato di sígnificado, in quanto


ln socíetà mond.iale è composta, oggí come nei secolí precedenti alJ'Ottocento, di
una pluralità di sistemi politicí diferenti, ciascuno dí ,Jsì prodotto da concetti che

fanno ríferimento a culture specífiche.

O papel da dimensào cultural


Mas também é verdade que o grau de coesão era incomum até mes-
mo na históriâ internacional da Europa: e de fato havia sido prece-
dida, como foi depois seguida, por profundas diüsões idmlógicas e
guerras gerais. Um dos elementos cardeais do mundo de hoje, e uma
das razões para a esperança sobre a preserração da ordem interna-
cional, é o fato de que a sociedade internacional formada na Europa
nesses mesmos séculos em que a Europa ampüou seu domínio sobre
o resto do mundo, não terminou com o fim da dorninação europeia,
mas sim por ter sido âprovadâ pela maioria dos Estados e dos povos
não euÍopeus como o fundamento da sua abordagem das relaçoes
internacionais. E se há algum perigo de que a no'!a maioria dos Estâ-
dos, na tentativa de reformar a sociedade internacional para proteger
seus próprios hteresses, possa acâbar levando a um ponto de ruptu-
ra das normas e das instituições em vigor, não é certamente menor
o risco que a minoria europeia ou ocidental náo consiga perceber
que apenas se adaptando às mudanças da sociedade intemacionaì ela
conseguirá se manter viva:'ra. (BoZEMAN, r994:454-5)

La storia delle relazíoni tra cofiutlità politíche culturalmente dirterse (atgomento di


cui abbiamo parlnto Parccchio in questo libro) ci induce a creilere che la percezíone
degli interessi comuni portí spesso all'ímprovtrísazione dí regole anche in assenza
di una cultura comune che le mntenga di gü. Per ü píü le culture non sono indis-
truttíbili e sono poche le socíetà del mondo attualc Le cui catarreristiche culturalí
possano t eníre descritte ín termini diversi da quellí della pluralítò e del mutamento.
Le istituzioní intemazionali giurfuliche, diphmatiche e amministrative, inoltre, si
appoggiano chíaramente a una appoggiano chíaramente a una msmopolíta cul-
tura dellq modernità, cui appartengono tutti gJi elementi costitutil)i delle società
conteflpoaflee, anche se le masse ne rimangono spesso estrane.
Ìì yero, peraltro, che l.a socíetà intemazionale mondiale contanporanea à priva dí que\la
coesione morale e cubumle úe hq sostcnrÍo ln sociaò internazíonale eurcpea per quasi
un secolo dopo il ú;5,. Ma è altred vero che quel grada di coesione era inusuale persino
nelh storia intemazianale dall'Eutopc e üÍaÍtí eïa stato ptecedut4 così anne fu poi
seguito, dn profondi scismí ideologici e da guere generalí. Lho degJi eletnenti cardinali
del nutro monda attualq e uno deí motivì dí speranza círcala conservazione di un or-
üne iíteflazionale, consiste nelfúto cheh società temqzionalehgginta in EuÍops in
queglí snsi secok in ati I'Europa estue il suo dominio sul resto del mondq non è fnita
con la fne del predominio europeo, ,na è aflzi stota a$oltn àall/t flagioranza degJi stüi

32 A quârta dimensão das relações internacionais


A perspectiva transnaciona lista/sociológica

No final dos anos 196o e início dos anos 1970, o contexto é favorável para uma
crítica radical dos pressupostos realistas: a guerra do Vietnam, o âm do sistema
de Bretton Woods, a participação da transnacional rrr e da cn no golpe militar
no Chiie, o primeiro choque do petróleo etc.
O domínio da abordagem realista é desafiado por duas abordagens não
estado-centÍistas: a análise marxista e a perspectiva transnacionústa/socioló-
gica. Para esta última, os indivíduos e a sociedade ciül são o centro das análises,
mas são ressaltados também os laços de interdependência entre os diferentes
atores, estatais e não estatais. É importante Ìembrar que diversas abordagens
setoriais tinham já anteriormente postr.rlado a importancia da interdependência
dos Estados e o papel determinante dos atores não estatais, por exemplo, as teo-
rias Â.rncionalistas (David Mitrany'5, Ernest Hassl6) e cibernéticas já evocadas
(Karl Wolfgang Deutsch'7).
Bertrand Badíe (I)État ímporÍá Essai sur lbccidentalisation de lbrdre po-
litique, r99z; La fn des territoires, ry95; Un monde sans souveraineté, ry99)
coloca como fundamento da desordem internacional atual a cultura. Como
atualmente as sociedades e o mundo são multiculturais, porque ainda não se

e dei popoli non europei come fondamento del loro approccio alle relazioni internazio-
nab. E se cè qualche perinlo dre ln nouya maggiomnza di statí, nel cercare dí rfurmare
la società intemazioflale per proteggere i prcpn tukresí possa fnire per nndure a un
punto di rottun le norme e le ktítuziane vígenti, non è certamente dn meno íl ríschio
che In mínoranm europea od occiãentale non riesm a capire che soltanto adeguandosí
ai mutamenti la societt ìntemaziotale da esss caeata iusciÍà s restare ifl víta.
r5 Há duas fases na integração das nações: 1) processo de coopera$o social, econômica
e cultural; z) processo de cooperação na segura.nça coletira. cf. ry43, A workitgpeace
t'súem. An algument for úe Ârnctional development ofinternational o{ganization.
Desenvolve o conceito de ç/l-over, em çe incorpora a dirnensão política:rãlores, con-
vencimento das elites das !ãntagens de integração e apren,iizâgem dos agentes envolú-
do6. Cf. 1968, The uniting of turcpe - pdincú ncial and economic forces r 9so-r9s7.
r7 Desenyolve o conceito de 'Comunidade de segurança' (integração por meio de redes
de organismos intemacionais). A paz é resultado da cooperação e do p(Bresso técnico.
Cf. tgSl, Nacionalísm and ncial ammunictfioÍ. An inquiry into the foundations
of nationality; :954, Polítícal community at the iítemational level Problems of
definition and measurementi 1968, The analysis of internationl rclatíans.

O papel da dimensão cultural 33


desenvolveu com a globalização uma cultura global, cada unidade polítÍca é pal-

co de um jogo entre três mundos paralelos, mas interpenetrados. Nesse "jogo


triangular'l um polo é constituído pelas comunidades identitárias baseadas em
laços de fidelidade do tipo primordial e com representação comunitária fecha-
da, nâo inclusiva; outro polo constituído pelo Estado-nação onde a sociedade
ciül se organiza e onde é celebrado o contrâto social entre cidadãos, que institui
ulümq o polo dos atores transnacionais onde a
a representação polítÍca; por
representação é meramente frmcional e a fidelidade é meramente uülitária mas
abertâ a todos. Num mundo onde a soberania dos Estados-nação está progressi-
vamente desaparecendo, os três poÌos mencionados estão em tensão permanen-
te, sobretudo o polo dos Estados-nação com o das comunidades identitárias,
Os Estados-nação tendem a instrumentalizar as identidades, sobretudo os es-
tados de culturas periféricas, tornando-as verdadeiras armas do pobre, instru-
mento de resistência ante as ameaças externâs e internas.
Por outro lado, os rnilitantes identitários tendem a dividir a sociedade
em comunidades particulares e procuram integrálas em conjuntos maiores e
transnâcionâis. Segundo Badie, no mundo globalizado há três estratégias
pÌas que se opõem e que impedem a constituição de uma ordem internaci
a) os Estados tentam difundir suas culturas nacionais para dominar
outras e reagem à penetração da cuÌtura estrangeira;
b) as comunidades identitárias tendem a transformar seus parti
mos em universalismos (religiosos, culturais, étnicos);
c) a importação da cultura dominante provoca resistências no
dos Estados (setores sociais frustrados e alienados orientados
profissionais da contestação). A procura de identidades se
mou em instrumento de ação política antissistêmica.

Badie considera que no mundo atual há duas opções: uniformização


mundo seguindo o modelo ocidental ou proliferação infinita (relatÍüsmo)
culturas reificadas com a criação de guetos. A primeira opção gera ordem
também provoca reações adversas, e a segunda fomenta conflitos sem
Ou seja, ambas as opções impedem a ordem internacional. Badie propoe,
insütucionalizar dentro dos Estados essa pluraÌidade de culturas redefinindo
noções de Estado, nação e território. Este uìtimo é questionado pelo etni
o confessionalismo, o particularismo, o progresso das comunicações, a
dade dos indivíduos e pela modernidade. Os atores individuais devem ser
o alvo principal das estratégias da paz, esta últimâ fiuto de milhões de
cisões (aliar-se, apoiar, cooperar, enfrentar etc.) indiüduais.

34 A quârta dimensão das relações internacionaìs


Podemos sintetizar assim o châmado "jogo triangular" estabelecido:

Contratosocial SobeIania

comunitária!

solidariedâde Solidâriedade
Ìe(hadà/exdusrva lnduslva/aDeftâ

As a nálises marxistas
As abordagens inspiradas no marxismo foram sempre marginais nas teorias das
Relações Internacionais, apesar de terem tido na área da Economia Políúca Inter-
nacionai alguma importância. Tlês enfoques se inspiraram no marxismo: as teo-
rias da dependênciq o "sistema mundd' e â teoria crítica pÍoposta por Robert Cox.
As teorias centradas nos conceitos de centro-periferia utilizam o conceito
de imperialismo cultural de forma similar aos reústas, ou seja, a cultura é para
eles também um instnrmento de poder. Nos ultimos anos, uma nova noção,
surgida sobre a base da teoria da dependência - a de sistema mundo - defen-
de a ideia da existência de um sistema planetário com características píóPrias,
um "império-mundd' independente das unidades nacionais que o constituem
e com seus próprios mecanismos econômicos, políticos e culturais-ideológicos.
fohan Galtrng (rg7r, A structural theory of impuíalism), qte se considera
um estruturalista e não um marxista, abrira a via para o estudo do chamado siste-
ma mundo ao considerar o imperialismo como um fenômeno multidimensional.
Desenvolveu a chamada teoria estrutural do imperialismo e elaborou uma tipolo-
gia de cinco tipos de imperiúsmo: econômico, politicg mütar, comunicacional e
cultural. Para ele, o imperialismo não é uma etapa de algum processo de unificação
do mundq tampouco o estágio final do capitalismo, qu€ tenta retardar seu 6m,
O imperialismo é uma relação de dominaçãg com uso de violência estruturú pela
qual uma entidade coletiva influencia outra entidade coletiva (produção de bens,
instituições políticas, proteção militar, importação de informações e valores).

o papel da dimensão cultural


No 'sistema mundo", proposto por IÍnmanueÌ Wallerstein, o fator cultural
aparece sob três dimensões:

a) o imperialismo cultural: imposição da modernidade/ocidentalização


(wer,lrnsrErx, zoo t:7 t- z)i
b) o nacionalismo cultural: fortaleceu as estruturas do Estado, "e com
elas o sistema interestatal e o capitaÌismo histórico como sistema
mundial' e "frequentemente sustentou a ideologia universalista do
mundo modernd' (:zz -8),
c) movimentos antissistêmicos questionam as premissas da idmlogia
universalista da cultura dominante a civiÌizafo capitalista se en-
caminha para uma época de desordens maciças em todos os níveis.
A fé no progresso está se desintegrando e aparece um novo tema "geo-
cultural': a identidade cultural. Para aquelas culturas, que se sentem
excluídas dos priülégios ügentes, há, segundo Immanuel Wallerstein,
três mecanismos possíveis que não são noyos, mas que estâvam su-
bordinados até hoje 'â tentativa reformista e pseudorrevolucionária de
buscar o poder de Estado como via para as transformações" (:r+o):

a luta pela ' alteralidade radical", isto é, a recusa completa em jogar-se


o jogo segundo as regras do sistema-mundo (a opção Khomeini);
constituição de 'unidades maiores com poder armado efetivol a
criação de Estados supermiÌitarizados, com o propósito de iniciar
uma guerra contra o Norte (a opção Saddam Husseim);
transgressão individual das fronteiras culturais", tentativa de saí-
da através da ascensáo "cultural' indiüdual (a opção b oat people) .

As abordagens ra d ica is/a lte rn ativa s

Em r98r são pubücadas as primeiras críticas radicais contra o neo-realismo


de Kenneth Waltz Inicia-se assim uma série de tentâtivas de contestar a supre-
macia das abordagens dominantes, consideradas positiüstas. Os autores mais
representativos dessa ürada no estudo das Relações Internacionais sáo Robert
Cox e Richard Ashley, cada um deles representando, respectivamente, as duas
abordagens pós-positiüstâs radicais dominantes: a teoria crítica e a corrente
pós-modernista. Outras duas abordagens ditas pós-positiüstas surgem logo de-
pois: o construtivismo e o pós-estruturalismo. Todas elas caracterizadas por um

36 A quarta dimensão das relações internacionais


qu€stionâmento do positiüsmo e seus pressupostos sobre a reúdade, a verdade
e o conhecimento.

A teoria crítica

Robert Cox, influenciado pelo historicismo do filósofo italiano G. Vico pelo mar-
xismo de Gramsci e, sobretudo, pela Escola de Frankfurt (Habermas), considera
o sistema internacional como uma construção histórica e não como um dado
objetivo externo. O desenvoÌümento dos meios de comunicação no processo de
globalização atual provoca a homogeneização cultural do mundq alicerçada na
maneira de pensar e nas púticas das elites políücas e empresariais que dominam o
mundo. O papel da cultura/civiÌizaÉo é íornecer coesão e identidade no interior
do bloco histórico (blocco storico), consolidar e manter a hegemoni4 entendida
como normas, instituições e mecanismos universais que estabelecem regras ge-
rais de comportamento para os Estados e para as forças da sociedade civil. Nesse
sentido, o papel dos intelectuais é centrú são eles os que criam e fundamentam as
imagens mentais, as tecnologias e organizações que mantêm a coesão de classe e o
bloco histórico em volta de uma identidade comum.
Segundo Co6 existem três forçâs fundamentais e equivalentes a serem levadas
em conta: as capacidades materiais, as ideias e as insütuições. Estas ultimas, de ca-
ráter intangível são muito importantes porque, sendo elas mesmas produtos da or-
dem mundial hegemônic4 corporficam as regras e legitimam ideologicarnente as
normas que permitem a consolidação dessa ordem hegemônica, cooptando as eli-
tes dos países periféricos e dissolvendo as ideias contra-hegemônicas. Os exempÌos
históricos são a Grã-Bretaúa de 1845 a 1875 e os Estados Unidos de t945 a t967,
Cox pretende com sua teoria crítica emancipar, libertar a humanidade
dos poderes hegemônicos:
A teoria crítica, ao contrário daquela de resolução de problemas,
não dá por certas as instituições nem as relaçóes sociais e de poder;
ao contrário, âs questiona e se ocupâ em estudar suas origens e a
possibilidade de que entraram em um processo de mudança, e de
que forma. (cox, r994:r5r)'8

r8 La teoría crítica, a diferencia de la de resolucíón de problemas, no da por sentadas


las irctituciones ni las relaciones sociales y de poder; por el contrarío,las cuestiona /
se ocupa de estudíar sus or{genes y la posibilidad de que entraran en un proceso de
cambio, y nmo (cox, r994:r5r)

O papel da dimensão cultural 37


O projeto construtivista

O construtivismo, termo introduzido nas teorias das relações internacionais por


NichoÌas Greenwood Onuf (1989, Wo rld of our making), é müto ambiciosq pois
se propõe a realmente revolucionar os estudos das relações internacionais, epis-
temologicamente questionando os presupostos positiüstas do realismo sobre a
objeüúdade do conhecimento (as ideias como simples reflexo do mundo mate-
riaÌ) e da verificação empíricâ. Entretanto, não se tÌata tampouco de uma abor-
dagem pos-positiüsta (a reúdade só existe na teoria que a estuda), mâs uma
tentativa de fazer uma síntese entre as abordagers positiüstas/racionalistas e as
pós-positiüstas/reflexivistas. A reúdade é, então, desse ponto de üsta, intersub-
jetiva. Metodologicamente são a favor da plurúdade de métodos, e, ontologi-
camente, posicionam-se contra a concepção racionústa da natureza humana.
O construtiüsmo constitui uma abordagem atraente por integrar temas
até então considerados relâtivamente marginais nas outras teorias como, por
exemplo, a identidade, a cultura, os igender studiesi Podemos afirmar que, em
certo sentido, a própria abordagem construtiüsta é cultural, já que, ao recusar
as premissas da abordagem positiüsta pela qual as ideias são simples reflexo
do mundo material, considera as próprias relações internacionais como fatos
culturais, quer dizer, as práticas, os discursos e os valores são uma'tonstrução
social", fruto da inteÍação entre os agentes, entre eles mesmos e entre eles e as
estruturas. Dessa forma, o comportamento dos atores internacionais é deter-
minado pelo contexto social dominante e, inversamente também, as normas
e instituições são dominântes porque os atores as produzem e reproduzem.
Duas ideias são centrais:
l.a necessidade de contextualizar historicamente o lugar onde surgem
as práticas, discursos e valores (eles não são invariáveis, nem essen-
ciais, nem naturais);
2. a intersubjetividade por meio da qual o coúecimento é elaborado.
O exemplo clássico do estado de anarquia imperante no sistema in-
ternacional, base da teoria realista (em caso de ameaça, o Estado só
pode contar com ele mesmo - self-help), analisado por Wendt per-
mite entender a abordagem construtivista: não interessa a existên-
cia real ou não da anarqüa mas como as ameaças são socialmen-
te construídas, como um ato é ou não considerado uma Írmeaça.
A cuÌtura seria então uma espécie de guia para interpretar a realidade,
outorgando significado aos objetos e reduzindo, assim, a margem de
incerteza nas ações.

38 A quarta dimensão das relações internacionais


Por exemplo, AÌexander Wendt não estudâ a construção social interna
dos Estados, nem sua história e política interna. A única questão que lhe in-
teressa é a construção histórica do Estado ao níveÌ do sistema internacional
e o impacto das ideias internacionalmente compartilhadas em relaçào ao que
seria o interesse nacional e a segurança.
Qual é então o lugar da dimensão cultural dentro do construtiúsmo?
O Estado é analisado desde uma optica antropomórfica, ele possui uma cul-
tura que não é constante e fixa, ela evolui em função do contexto histórico e
da intersubjeüvidade. Entretanto, essa cultura só pode ter um dos três tipos
de atributos a seguir: ser baseada na desconfiança no outÍo (hobbesiana), ou
na rivalidade com o outro (lockiana) ou na coÌaboração e amizade (kantiana).
O construtivismo é profundamente otimista em relação ao triunfo, numa
lógica teleológica, de um sistema internacional de tipo kantiano.

Conclusão

Todos os paradigmas analisados neste ensaio consideram o fator cuÌtural de


uma forma ou de outra. Entretanto, é Marcel Merle quem fez, jí em ry85,
como já foi anúsado a proposi@o mais radical de to das. Em Forces et enjeux
dans les relatiots internationales, ele propõe a criação de um novo paradigma
centrado no fator cultural, substituindo os tÍês paradigrnas existentes na épo-
ca no domínio das relações internacionais. Segundo ele, o paradigma realista
(priülegiando o fator politico), o liberal (o econômico) e o da interdependên-
cia (a revolução tecnológica) não davam conta da complexidade da realidade
internacional. Segundo Merle, a dimensão cultural das relações internacionais
era até então anüsada de três formas diferentes: as questões culturais como
uma espécie de subproduto da atividade econômica e política dos Estados,
"mais preocupados com a propaganda e a criação de mercados favoráveis do
que com a difirsão e o intercâmbio de ideias" (1985:342); as relações cúurais
conservariam ceÍta autonomia em relação à política e à economiai a cultura
seria 'o fatoÍ determinante que poderia explicar todos os comportamentos dos
atores internacionais"'e.
Saul Friedlander se perguntava, já em 1977, se ainda se poderia falar de rela-
ções intemacionais como um campo de estudos coerente e se não seria necessário,

19 leíacteur déterminant qui pourrait expliquer tous lcs comportements des acteurs
intemationaux-

O papel da dimensão cultural


doravante, distinguir três relações específicas: as transnacionais, âs interestatais e
as interculturais. Elas teriam, segundo Friedlander, que ser domínios de pesquisa
completamente diferentes, como o são a astronomia e a biologia (:89).
Com os desenvolvimentos teóricos recentes, novas perspectivas se apre-
sentam, e tudo indica que hoje o fator cultural é, como já Merle indicava em
1985, considerado como determinante na explicação da política internacio-
nal. Devemos, então, multiplicar as pesquisas concretas e, sobretudo, não cair
em visões essencialistas das civilizações, como as apresentadas por Samuel
Huntington (1993), baseadas na premissa de que as diferenças entre sistemas
culturais são irredutíveis. De acordo com Huntington, os conflitos entre as
ciülizações teriam suplantado os conflitos ideológicos ou de interesse entre
os Estados, e o eixo principal da política mundial giraria hoje em torno da
resistência de Ocidente ao avanço dos Estados islâmicos e confucionistas.
A emergência atual de tensões identitárias no interior dos Estados-na-
ções e entre eles é devida, em grande parte, ao choque entre a globalização
cultural e o respeito às identidades culturais, aos desafios tecnológicos e às
novas simbologias impostas pela sociedade multimídia. Em zoo8, segun-
do o srpnr - Stockholm International Peace Research Institute, 16 grandes
conflitos armados estavam ativos em r5 localidades ao redor do mundo,
dois a mais que em 2oo7. Porém, esses conflitos eram guerras civis, fre-
quentemente étnico-religiosos, e não conflitos interestatais. Desde zoo3
não há no mundo'tonflitos internacionalizados"2o (http://wwwsipri.org/
yearb ookl zoog I oz I o z A).
O novo sistemâ mÍdiático globalizado da chamada "era da informação" é
um novo campo de enfrentamento onde ocorre o embate entre os Estados, as
empresas transnacionais e os novos moümentos sociais. O poder, num mun-
do dominado pelo sistema midiático, consiste no controle da produção e na
manipuÌação de símbolos que possam seduzir:
Âs redes e as industrias culturais e da comunicação são o princípio de
novas formas de construção da hegemonia. É por isso que os confli-
tos em torno de exceção cultural, os direitos morâis dos autores, da
' governançd' do ciberespaço tornarâm-se estratégicos. (rvrATrBLÀRT;
NBvEAU, 2oo8:1o6-7)21

No entaÍÌto, tropas de outro Estado aiudam uma das partes em quatro conflitos:
Estados Unidos, Àfeganistão, Iraque e Somália.
Les réseaux et industríes de Ia cultuíe et de la communimtíon sont au príncipe dÊ
noutelles Jormes de construction de I'hégémonìe. Cbst pourquoí les conflits autour de

A quarta dÌmensão das reìações internacionais


O imenso poder da indústria cultural, do gJobal democratic marketplace,
provoca nas unidades políticas nacionais fenômenos de "insegurança cultu-
ral" e desencadeia processos de resistência (como, por exemplo, a reiündica-
ção da exceção cultural e a defesa da diversidade cultural como "bem público
comum'i como a âgn, a educação, a saúde e o ambiente), e de aculturações
contraditórias. Por outro 1ado, para muitas dessas unidades políticas a 'eco-
nomia da cultura" (também chamada do saber, da informação ou do conheci-
mento) é um setor aÌtamente estratégico. Portanto, é necessário sair da lógica
puramente econômica e analisar o fenômeno sob a ótica da política, do ponto
de vista da diplomacia cultural, que continua a ser, para praticamente todos
os governos, rtm "afaire d'Ê,tat". AtvalÍnente a diplomacia não pode ignorar
o fator cultural, e a cultura precisa da política para consolidar seu impacto.
É necessário igualmente que esta dimensão seja integrada como tema central,
e de forma pÌuridiscÍplinar, na disciplina Relações Internacionais.

Referências

ÀNGELL, Norman. Á grande ílusão. BrasíJia: Ed. Universidade de Brasília, Instituto de


Pesquisa de Relações Internacionaisi São Paulo: Imprensa Oficiaì do Estado de São
Paulo, zooz.
ÁRBNAL, Celestino del, Introãucción a las relaciones internacionales. Madri: FditoriaJ
Tecnos, r994.
enoN, Ralnnond. Paix. et Guefte entre les natíons,Païü Calmann-Lévy, 1984.
senrÉ, Ësther Relaciones Internacionales. Madri: Tècnos, r995.
s-Artrsrrl,l,À Dario. T, eories des relntiofis íntematinnals.Parts: Presses de Sciences Po, 2006.
nozsÀ.Íalr, Adda. Ìàrdine internazionale in un monde multicvlturale. ln: Lbspansione
delln socíetà internazíonale. LEuropa e il mondo dalla fine del Medioevo ai tempí
nostri (org. Hedley Bull e Adam Watson), Milão: Jaca Book, 1994.
aurr, Hedley; wa.rsor. Adam. Conclusione. Ií; Lespansíone della societò internazio-
nale.fü.uropa e L mondo dalla fine del Medioevo ai tempi nostri (org. Hedley Bull
e Adam Watson), Milãor Jaca Book, 1994.
nur.r., Heddley. Á so cíedadr anórquica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Ins-
tituto de P€squisa de Relaçôes Ìnternacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Es-
tado de São Paulo, zooz.

llexception culturelle, du droit moral des auteurs, de la gouvernatce du cyberupace


ont acquís un lel relieí stralégique.

O papel da dimensão cultural 41


BURroN, John. iRelaciones internacionales o sociedad mundial? In: Relnciones Interna-
cionales. Êl perrsarr';iento de los clíssicos. VASQUEZ, John A. (cornpilador), México:
Editorial Limusa, tgg4,p. r28-39.
CARR, Edward Hallet. Vinte anos de críse: 1939-1945. Uma intÌoduÉo ao Estudo das
Relações Internacionais, Brasília: Editora Universidade de Brasília, zoor.
cox, Robert W Fuerzas sociales, estados y órdenes mundiales: más allá de la teoria de
las relaciones internaciond,es. In: Relnciofles Interna.cíonales. El pensâmiento de los
clássicos. vAseuBz, John A. (compilador), Méúco: Editorial Limusa, L994,P. L5r-9.
orurscu, Karl Woìfgang. Análìse das relações internacíonais Brasília: Editora Univer-
sidade de Brasflia" 1982.
oonr, Ronald. Unità e diversità nella cultura mondiale.In: Ilspansione della società
internazionale.IJEuropa e iÌ mondo dalla fine del Medioevo ai tempi nostri (org.
Hedley Bull e Adam Watson), MiÌão: Jacâ Book, 1994.
DoucHERTY ]ames E.; pFALTzcRÂFF JR., RobertL. Relaçoes ìnternacíonaís. LsleoÀas
em confronto. Urn estudo detalhado. Lisboa: Gradila, zoo3.
DURoSELLE J€an-Bapúste. Tout EmPíre péira. Théorie des relations internationales
Paris: Armand Colin Editeur, 1992.
FRTEDLANDER, Saul. Paradigrna perdu et retour à l'histoire. Esquisse de quelques dé-
veloppements possibles de l'étude des relations intemationales.In: Les ïelatiofls ín-
ternationales dans un monde em mutatíor. Institut Universitaire des Hautes Études
Internationales Genebral Leiàen, gz z.
ner,z, Mônica, Teoria das Relações Intemacionãis no Pós-Guerra Fria. Dados. v.4o,
n.2, t997.
nurrrNcrox. Samuel. The Clash of Civilizati ons. Forcígn Afairl set.-otJL r993,p.22-49.
Jacrsor.r, Robert H.; soRBNsEN, Georg. In trodução às relaçõa intemacÌoflaísi teonas e
abordagens. Rio de Janeiro: lorge Zúar Editor, 2oo7.
KEoHANB, Robed O.; r.rYE, Joseph S. Poder e interdependencia. La políticâ mundiâl en
transición. Buenos Aires: Grupo Editor Latinoamericano, 1988.
xnLsl,rq Sephen D, apud nosaNeu, lames N. Govemança, ordem e trarsformação na
políüca rnundiaÌ. In: Govemança sem govemoi ordem e transformação na política
mundial. Brasflia/São Paulo: Ed. uua/lmprensa Oficial do Estado, 2ooo, P. 20.
lrnnr-n, Marcel. Forces et enjeux darc les relatiofls íntematinnale' Paris: Economica, 1985.
rrrr,zl, Pierre. Culture et relations internationales. In: Relatíons Internationales, n, 24,
Paris, 1980, p. 3ó2.
MoRÁvcsIK, Andrew. Taking Preferences Seriously: A Liberal Theory of International
Poliücs. International Organization, 5 r/4, Outono, 1997,p.54-53
uoncBrrn.ru, Hans J. Política efltre las nacíones. Laludtapor el poder y la paz (1948,
r" ed.). Buenos Aires: Grupo Editor Latinoamericano, 1992.

42 A quarta dimensão das relaçòes internacionais


Nr'E tR., JoseÉ S. La naturale caffibiante del poder norteameficano. Bwenos Ailres;
Grupo Editor Latinoamericano, 1990.
NrÈ ,R., ,oseph S. O paradoxo do poder americano , Por qre a inica supeÍpotência do
mundo não pode prosseguir isolada. São Paulo: Editora ulqesB zooz.
Nre 6., )oseph S. Soft Power: the means to success in worldpolirics, Nova York Publìc
Âffairs, zoo4.
suno, Hugo R; LEssA, Mônica Leite. O estudo da dimensão cultural nas Relações
InteÍnâcionais: contÍibuições teóricas e metodológicâs. Ií: Hlstória das relafres in-
ternacionaisi leona e processos. Rio de Janeiro: Edutnl, zoo7, p. zz3-5o.
wALLBRsrErN, IrÌrmensel, Capitalísmo histórico e civilização capitalista.Rlo deJxteiro:
Contraponto, 2oo1 (ed. original rqgs).
wr.rrz, Kenneú N. (1979) Teoria das relafies internacionais.Lisboa: Gradiva, zooz.
wEND! AlexândeÍ. Social Theory oÍ International Polillcs. Cambridge: Cambridge
University Press, 2oo4,
zÂcÊER, Mark W Os pilares em ruíla do templo de Vestfália. In: Governança sem
governo: ordem e transformação na políúcâ mundial. Brasília/São Paulo: Ed. uns/
Imprensa Oficial do Êstado, 2ooo, p. I 39.

O papel da dimensão cultural 43

Você também pode gostar