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Artigos Diversos Do Blog Dos Espiritas (Autores Diversos) PDF

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Dor e Evolução

23:25 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Amilcar Del Chiaro Filho

As religiões classificam a Terra como um lugar de degredo, de expiação. Marcados pelo pecado original,
arrastamo-nos pela vida, e sacerdotes e ministros das diversas igrejas, afirmam ter os meios de se
alcançar a salvação para o outro mundo, mas as vezes, com a promessa de uma boa cota de felicidade,
ainda para esse mundo.

Por outro lado, são muitas as pessoas que ensinam que se pode ser feliz, desde que se queira, bastando
pensar positivamente. O pensamento positivo ajuda bastante, contudo, não é o suficiente.

Carregando a culpa de um pecado original, e da fragilidade humana, acrescida por um “deicídio”, ou seja,
o assassinato de Deus, pois segundo a teologia cristã, Jesus de Nazaré foi a encarnação de Deus na
Terra, ficamos sujeitos a mil sofrimentos, desnecessários, por incapacidade de vencer os
condicionamentos com os quais reencarnamos, e que introjetaram em nossa mente desde os primeiros
dias da nossa vida aqui na Terra.

Que bom seria se pudéssemos esvaziar a nossa mente de tudo que ali colocaram, desde que éramos
pequeninos, e selecionarmos aquilo que seja realmente útil para a nossa evolução. Numa linguagem de
hoje, precisaríamos deletar os arquivos inúteis, selecionar e criar novos arquivos, usando um bom
antivírus, como o conhecimento espírita, para evitarmos a perda ou distorção do aprendizado.

Os espíritos disseram a Allan Kardec, que a felicidade completa, ou permanente, aqui na Terra, é
impossível, mas pode-se ter momentos felizes.

No entanto os momentos felizes, quando se tem sensibilidade, fraternidade, é empanado pela dor de ver
o sofrimento do próximo. Nossas vitórias quase sempre eqüivalem a derrota de outrem. Um exemplo
simples é uma partida de futebol, basquete ou qualquer jogo esportivo. Enquanto uma torcida delira com
a vitória, a outra amarga a derrota.

Para cada cidadão que consegue um título universitário, existem milhares de analfabetos ou cidadãos de
segunda classe, que mal aprenderam a escrever o próprio nome.
Quantas vezes, alguém está saudável, forte, pleno de alegria, mas tem em sua própria família, um ente
querido doente, paralisado, canceroso, mentalmente obnubilado.

Talvez poucos, ao degustarem um prato sofisticado, caríssimo, com nome estrangeiro complicado, feitos
por cozinheiros famosos em elegantes restaurantes, se lembram de que existem milhões de pessoas no
mundo, e muitas ali por perto, que não comem o suficiente para manter as energias, ou simplesmente não
comem.

Não prezado leitor, esse artigo não é a exaltação do pessimismo. É apenas uma chamada à consciência,
um exame do gozar e sofrer, da felicidade e da infelicidade.

O que queremos dizer é que precisamos ser fraternos, e aplicar aquilo que os espíritos codificadores
disseram a Kardec: Do supérfluo dos ricos, muitos pobres se sustentariam. Mas as riquezas não são
apenas valores amoedadados, mas também, fé, compreensão, amizade, amor, inteligência.

Nascemos para sofrer? Para pagar nossos débitos perante as leis divinas? Somos réprobos neste mundo
que foi classificado como penitenciária e hospital? Estamos sujeitos ao pecado original? Afinal, é possível
ser feliz aqui na Terra?

Cada uma dessas perguntas suscitariam páginas e mais páginas para análises e respostas. Em síntese,
responderíamos que não nascemos para sofrer, mas sofremos! Sofremos porque o nosso mundo é
imperfeito. Nós somos imperfeitos. Sofremos porque erramos, mas erramos porque somos ainda
ignorantes e temos pouca evolução. As desigualdades são aumentadas pela falta de solidariedade,
fraternidade, e pelo império do egoísmo.

A Doutrina Espírita ensina que Deus nos criou simples e ignorantes, e determinou, por meio das suas leis,
que o nosso desenvolvimento se faça através de vidas sucessivas em mundos materiais. Logicamente
esses mundos obedecem a uma escala evolutiva: mundos primitivos para espíritos primitivos. Mundos
angelicais para espíritos angélicos. Mas todos começaram pelo primitivo. Entretanto, porque Deus quis
que fosse assim, ninguém poderá responder.

Porém, prezado leitor, o que queremos dizer realmente nesse artigo, é que a dor, em qualquer uma das
suas formas, tem uma mensagem para nós. Decodificar essa mensagem é tarefa de cada um. Talvez
possamos decodificar aquilo que é comum em todas elas: Evolua! Cresça! Ame incondicionalmente!
Confie na providência divina! Partilhe a sua felicidade, os seus momentos felizes com o seu próximo.
Examine o seu patrimônio moral e intelectual, os seus direitos adquiridos, e ensine todos a conquistá-los.

Podemos dizer que Deus não castiga, se entendermos as dores do mundo como lições preciosas,
aprendizado. Precisamos compreender que a vida num corpo físico é muito importante e devemos
valorizá-la, devemos amar e respeitar esse corpo e não culpá-lo pelos nossos deslizes, pois quem pensa,
ama e sente é o espírito imortal, e não a matéria.

Se você está passando por grandes sofrimentos, não se revolte, nem desanime. Não se julgue, também,
um grande pecador, mas alguém que batalha para evoluir. O peixe, ao lutar para fugir da rede, perde
muitas escamas. Portanto, a rede do sofrimento que te aprisiona, não exigirá menores perdas, mas valerá
a pena. E como valerá a pena, quando compreendermos o que disse o Rabi Nazareno: hecereis a
verdade e ela vos libertará.

Quem seria o meu Espírito Protetor?


23:13 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Maria das Graças Cabral

Comumente no meio espírita, nos deparamos com pessoas tecendo os mais diversos comentários à
respeito de seus Espíritos protetores. Tais companheiros, (principalmente em palestras públicas e livros)
se reportam à presença dos Guias em momentos de intimidade, de dificuldades, de alegria. Relatam
também as opiniões e/ou interferências dos Espíritos protetores em escolhas e decisões tomadas pelo
tutelado. Importante ressaltar, que os referidos companheiros, alegam ver, ouvir, e interagir com seus
protetores, chegando até mesmo a saber o nome do mesmo!

Entretanto, a grande maioria dos encarnados “fica só na vontade”. Pois é fato que vontade e curiosidade
de se ter um contato mais efetivo, saber identidade e nome do Espírito Protetor, é sonho e/ou desejo, que
habita a mente e o coração da grande maioria das pessoas!

Portanto, objetivando serenar os nossos corações, e para que não “morramos de inveja“ daqueles
companheiros que relatam suas experiências com seus Guias Espirituais. Para que saibamos discernir, o
que “procede” e o que “não procede” das experiências fantásticas, relatadas. Para que saibamos
diferenciar um Espírito “Protetor“, de um Espírito “familiar“, ou de um Espírito “simpático“, é que escrevo o
presente artigo. A fonte que saciará nossa sede, e nos confortará será O Livro dos Espíritos, que em seu
Capítulo IX, Item VI, desenvolve o assunto sob o título de “Anjos da Guarda, Espíritos Protetores e
Familiares ou Simpáticos”.

Inicialmente, busquemos saber “quem” são os Espíritos Protetores ou Anjos de Guarda e qual a sua
missão. À esse respeito, nos dizem os Espíritos da Codificação, que os Guias Espirituais, são Espíritos
de “ordem elevada“, que se ligam a um indivíduo em particular, como um irmão espiritual. Quanto a
missão do Espírito protetor, é a missão de um pai para com o filho, ou seja, conduzi-lo pelo bom
caminho, ajudá-lo com os seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, sustentar sua coragem
nas provas da vida. (LE, 491) (negrito)

Importante ressaltar, que o Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde o seu nascimento até a morte,
pois freqüentemente a ligação prossegue no plano espiritual, e mesmo através de várias experiências
reencarnatórias. Isto porque, segundo a Espiritualidade Superior, as vivências no mundo material não são
nada mais do que fases bem curtas da vida do Espírito.

Diante de tais afirmativas, ficamos cientes, que todo Espírito Protetor, é obrigatoriamente um Espírito de
moralidade e intelectualidade elevada, haja vista a complexidade e grandiosidade de sua missão, que é
de conduzir um Espírito imperfeito à perfeição. Conquanto, é profundo conhecedor da alma do seu
protegido, sendo sabedor de seus conflitos, vícios morais, medos, limitações, qualidades, conquistas, e
potencialidades evolutivas, por acompanhá-lo desde existências pretéritas.

São Luís e Santo Agostinho, asseveram que os Anjos da Guarda ou Espíritos protetores, acompanham os
seus protegidos, “nos cárceres, nos hospitais, nos antros do vício, na solidão, nada vos separa desse
amigo que não podeis ver, mas do qual vossa alma recebe os mais doces impulsos e ouve os mais sábios
conselhos.” E acrescentam: “Ah, porque não conheceis melhor esta verdade! Quantas vezes ela vos
ajudaria nos momentos de crise; quantas vezes ela vos salvaria dos maus Espíritos! (...) Ah, interpelai
vossos anjos da guarda, estabelecei entre vós e eles essa terna intimidade que reina entre os melhores
amigos! Não penseis em lhe ocultar nada, pois eles são os olhos de Deus e não os podeis enganar!” (LE.,
Cap. XIX, Livro II, p. 459)

Importante ressaltar, que embora algumas pessoas considerem impossível que Espíritos de alta evolução
fiquem restritos a uma tarefa tão penosa e contínua, asseguram os Mestres Espirituais, que mesmo
estando a anos luz de distância, para os Espíritos Superiores não existe espaço, e mesmo vivendo em
mundos evoluídos, permanecem ligados aos seus protegidos, pois gozam de dons por nós não
concebidos. À esse respeito, Kardec de forma pedagógica esclarece, que os Espíritos dispõem do “fluido
universal” (tema objeto de estudo em O Livro dos Espíritos) que permeia e liga todos os mundos, sendo
portanto veículo da transmissão do pensamento, como o ar é para nós o veículo da transmissão do som.

Acrescentam ainda São Luís e Santo Agostinho, que em razão da comunicação do Espírito Protetor com
o seu tutelado, somos todos médiuns, mesmo que hoje sejamos médiuns ignorados. Inferindo-se que
“todos” nos comunicamos com nosso Guias Espirituais, mesmo que não tenhamos uma mediunidade
ostensiva que nos permita, ver e/ou ouvir de forma objetiva.

Portanto, no que concerne à comunicação com nosso Espírito protetor, esta comunicação se faz através
dos “pressentimentos” que comumente sentimos. São os pressentimentos, o conselho íntimo e oculto de
um Espírito que nos deseja o bem. O Espírito protetor procura advertir seu tutelado no intuito de fazê-lo
viver da melhor forma possível, entretanto, muito freqüentemente, fechamos os ouvidos e as portas do
coração para as boas advertências, e nos tornamos infelizes por nossa culpa.

No que tange à presença constante do Espírito Protetor com o seu protegido, dizem os Espíritos da
Codificação que há circunstâncias em que a presença não se faz necessária. Entretanto, enquanto
estivermos necessitando reencarnar no planeta Terra, (planeta de provas e expiações) não temos
condições de guiar-nos por nós mesmos, precisando portanto da orientação e proteção efetiva do Guia
Espiritual.

Quanto ao contato entre tutelado e Espírito protetor, como falamos no início do artigo, a “grande maioria
das pessoas” não têm experiências ostensivas, que possam lembrar e relatar. Pelo que foi dito
anteriormente pelos Mestres Espirituais, já entendemos, que em razão do elevado grau evolutivo do Anjo
Guardião, ele não tem como ser visto e/ou ouvido objetivamente pelos encarnados no planeta Terra.

Em seguida, Kardec lança o seguinte questionamento aos Espíritos da Codificação: - Por que a ação dos
Espíritos em nossa vida é oculta, e por que, quando eles nos protegem, não o fazem de maneira
ostensiva? A resposta dada foi a seguinte: “- Se contásseis com o seu apoio não agiríeis por vós mesmos
e o vosso Espírito não progrediria. Para que ele possa adiantar-se necessita de experiência, e em geral
é preciso que adquira à sua custa; é necessário que exercite as suas forças, sem o que não seria como
uma criança a quem não deixam andar sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre de
maneira a vos deixar o livre-arbítrio, porque se não tivésseis responsabilidade não vos adiantaríeis na
senda que vos deve conduzir a Deus. Não vendo quem o ampara, o homem se entrega às suas próprias
forças; não obstante, o seu guia vela por ele e de quando em quando o adverte do perigo.” (grifei) (LE.,
Cap. XIX, Livro II, p. 501)

Diante das palavras acima expostas, fica evidente que os Guias Espirituais não interferem
objetivamente na vida de seus tutelados. É fato, que temos como condição “sine qua non” para a
evolução espiritual, a liberdade de fazer escolhas, e responder por estas, advindo daí, o aprendizado e
conseqüente evolução do Espírito. O livre-arbítrio do tutelado jamais será desrespeitado pelos Protetores
Espirituais! O que efetivamente nos dará força e coragem para avançarmos nos caminhos evolutivos, é a
certeza de que se tem um amigo, um irmão, a velar por nós, solidário na dor e na alegria.

Vale ressaltar, que o nosso sucesso, será um mérito a ser levado em conta para o próprio adiantamento
do Espírito protetor, como também para sua própria felicidade. Em contrapartida, sofrerá com os erros do
seu tutelado, e os lamentará. Não obstante, sua aflição não se assemelhe às angustias de um pai e/ou
uma mãe terrenos, pois é sabedor de que há remédio e solução para o mal, pois o que não foi feito hoje,
se fará amanhã - estando ele por perto, sempre que se fizer necessário, para nos impulsionar nas boas
realizações.

Vamos agora tratar de outro aspecto provocador de grande curiosidade, que é a questão de se saber o
“nome” do Guia Espiritual. À esse respeito, é Kardec quem indaga aos Mestres Espirituais na questão 504
de O Livro dos Espíritos, se podemos sempre saber o nome do nosso Espírito protetor ou Anjo da
Guarda. Observemos a resposta dada pelos Espíritos: “- Como quereis saber nomes que não existem
para vós? Acreditais, então, que só existem os Espíritos que conheceis?” (grifei) Logo em seguida, na
questão complementar 504-a, o Codificador questiona, que se não o conhecemos, como vamos
invocá-lo? E mais uma vez, com toda a presteza respondem os Espíritos Superiores, quepodemos dar o
nome que quisermos, sugerindo inclusive, que escolhamos o de um Espírito superior que tenhamos
simpatia e respeito. Asseveram os Mestres que o nosso protetor atenderá prontamente ao nosso apelo,
pois todos os Espíritos elevados são irmãos e se assistem mutuamente.

Não se dando por satisfeito no que tange à questão do nome dos Espíritos protetores, persiste Kardec na
questão 505 indagando, se os Espíritos protetores que tomam nomes comuns seriam sempre os de
pessoas que tiveram esses nomes. Os Mentores respondem categoricamente que não,acrescentando,
que muito comumente, Espíritos simpáticos aos nossos Guias Espirituais, ou, por determinação destes,
podem vir a nos atender.

Para que melhor compreendamos como se dá a substituição, usam os Espíritos da seguinte analogia:
quando nós encarnados, não podemos por alguma razão realizar pessoalmente alguma atividade, ou
missão, enviamos alguém de nossa confiança para que nos represente agindo em nosso nome. Portanto,
a questão do nome é o de menos, pois o que importa é a certeza da existência desse Guia Espiritual que
segundo os Espíritos da Codificação, conheceremos a sua identidade e o reconheceremos quando
estivermos na vida espírita, pois freqüentemente, já o conhecemos de outras encarnações.

Quanto à possibilidade de um pai, ou uma mãe, virem a se tornar o Espírito protetor do filho ou filha
sobrevivente, nos dizem os Mestres Espirituais, que para que um Espírito se torne “protetor” de alguém,
deverá ter um certo grau de elevação, além de um poder e uma virtude a mais, concedidos por Deus.
Portanto, quando o Espírito de pais ou mães, protegem filhos ou filhas, estarão certamente sendo
assistidos por um Espírito mais elevado, pois seu poder é mais ou menos restrito à posição evolutiva em
que se encontram, não lhes sendo permitido sempre, inteira liberdade de ação. (LE., Cap. XIX, Livro II, p.
507/508)

Outra questão a ser aventada, trata da possibilidade de termos vários Espíritos protetores. À esse
respeito, nos dizem os Mestres espirituais que “cada homem tem sempre Espíritos “simpáticos”, mais ou
menos elevados, que lhe dedicam afeição e se interessam por ele, como há também, os que lhe
assistem no mal.” Acrescentam, que esses Espíritos “simpáticos”, “às vezes podem ter uma missão
temporária, mas em geral são apenas solicitados pela similitude de pensamentos e de sentimentos, no
bem como no mal”, posto que, “o homem encontra sempre Espíritos que simpatizam com ele, qualquer
que seja o seu caráter.” (grifei) (LE., Cap. XIX, Livro II, p. 512/513 e 513-a)

Objetivando uma melhor compreensão do que foi exposto, vou me apropriar do fechamento feito por
Kardec, quando assim resumiu as explicações dadas pelos Mestres Espirituais sobre a natureza dos
Espíritos que se ligam ao homem:

- O Espírito protetor, anjo da guarda ou bom gênio, é aquele que tem por missão seguir o homem na vida
e o ajudar a progredir. É sempre de uma natureza superior à do protegido.

- Os Espíritos familiares se ligam a certas pessoas por meio de laços mais ou menos duráveis, com o fim
de ajudá-las na medida de seu poder, freqüentemente bastante limitado. São bons, mas às vezes pouco
adiantados e mesmo levianos; ocupam-se voluntariamente de pormenores da vida íntima e só agem por
ordem ou com permissão dos Espíritos protetores.

- Os Espíritos simpáticos são os que atraímos a nós por afeições particulares e uma certasemelhança
de gostos e de sentimentos, tanto no bem como no mal. A duração de sua relações é quase
sempre subordinada às circunstâncias.

Para finalizar, estejamos cientes e confiantes de que “todos nós” seres humanos encarnados e
desencarnados, enquanto estivermos em uma condição de elevação espiritual sofrível, vinculados aos
mais diversos vícios morais, reencarnando em planetas de provas, expiação, regeneração, teremos por
necessidade de amparo e orientação, um Espírito protetor de alta elevação - por isso não visível. A esse
amoroso Guia Espiritual, poderemos atribuir o nome que quisermos, pois ele nos atenderá sempre,
independentemente de “nomes“ - pois ele não tem nome de Espíritos conhecidos na Terra. Estejamos
atentos aos nossos “pressentimentos“, pois nosso Anjo Guardião, se comunica conosco através de
intuições e pressentimentos. Nosso Guia Espiritual é o amigo que mais nos conhece, por nos
acompanhar em numerosas jornadas reencarnatórias, estando sempre presente nos momentos mais
solitários, infelizes, dolorosos, como nos momentos mais felizes de nossa vida! E por fim, tenhamos a
certeza, que será ele a nos recepcionar quando do nosso retorno ao mundo espiritual, quando para nossa
alegria, o reconheceremos e o identificaremos! Haverá algo mais consolador?

O Espiritismo, a reencarnação e a igreja


09:53 ADMINISTRADOR 1 COMMENT

Por José Reis Chaves

Esta matéria responde, em conjunto, às colocações do católico Sr. Carlos Ramalhete, mostrando a
coerência e as verdades da Doutrina Espírita, as quais se identificam plenamente com a Bíblia, a razão e
a Ciência.

Primeiramente, eis os questionamentos propostos pelo Sr Carlos Ramalhete, e, em seguida, a nossa


matéria em resposta ao missivista:

Reencarnação

Dos erros mais comuns hoje em dia é a crença na chamada "reencarnação", um mecanismo pelo qual
uma pessoa teria várias "vidas" sucessivas, sendo uma pessoa ou outra em uma vida ou outra, vidas
essas passadas por toda parte. Esta crendice é evidentemente incompatível com a Fé Cristã, com a
Razão e com o próprio bom senso.

A crença na reencarnação é incompatível com a Fé Cristã


Ela é incompatível com a Fé Cristã porque sabemos que "Para os homens está estabelecido morrerem
uma só vez e logo em seguida virá o juízo." (Heb 9,27), e a reencarnação pressupõe que cada homem
teria várias mortes sucessivas, nascendo depois com outro nome, filho de outros pais, em outro país...
segundo as crenças de alguns grupos reencarnacionistas , a pessoa poderia nascer com o sexo oposto
ou não, ou até, segundo alguns (como os de tendência hinduísta, oriental), poderia nascer como animal
ou como planta!

Ela é incompatível com a Fé Cristã porque nega o valor dos Sacramentos (uma pessoa seria batizada
novamente em cada "encarnação") , nega Céu, Purgatório e Inferno, nega a criação da alma humana,
nega a união substancial entre corpo e alma, nega a existência de anjos e demônios, nega os privilégios
da Santíssima Virgem Maria, nega o pecado original, nega a graça divina, nega toda a doutrina do
sobrenatural, nega o juízo particular depois da morte, a ressurreição da carne e o juízo final.

Ela é incompatível com a Fé Cristã porque nega a Misericórdia divina e o perdão dos pecados (segundo
Allan Kardec, "Toda falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga; se
não for em uma existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes ." - o pecado, para um reencarnacionista ,
nunca é perdoado!) e prega um deus que se existe não age, e se age não perdoa. Tudo seria um
mecanismo em que estariam presas as pessoas, pagando em uma "encarnação" os pecados cometidos
em "encarnações" anteriores, dos quais não têm lembrança ou conhecimento, sem esperança alguma de
perdão.

A crença na reencarnação é incompatível com a Razão

A crença na reencarnação é também incompatível com a Razão, com o raciocínio lógico mais elementar.
Afinal, para que seja possível aprender com um erro, é necessário que lembremos do erro cometido. Isto
ocorre não apenas com os seres humanos, mas também com os animais. Um cachorro aprende a não
satisfazer suas necessidades fisiológicas no lugar errado sendo castigado quando o fez, ou sentindo o
cheiro do que fez para que se lembre de seu ato. Alguém que tentasse ensinar um cachorro a controlar
sua bexiga esperando a hora em que o animal não mais se lembrasse do ato proibido para, de sopetão ,
castigá-lo, conseguirá na melhor das hipóteses traumatizar o pobre animal, nunca ensiná-lo a segurar a
bexiga. Afinal, o pobre animalzinho não saberá porque terá sido castigado!

A crença na reencarnação pressupõe um deus punitivo e sem misericórdia, ou melhor, um mecanismo


que funciona por conta própria em que as pessoas são punidas em uma vida por pecados de que não se
lembram, por erros que não sabem que cometeram, com o único objetivo de expiar uma falta que
desconhecem totalmente ter cometido. Assim, evidentemente, não pode haver aprendizado. Como
poderia uma pessoa que sofre com conseqüências de um suposto pecado em uma teórica vida passada
aprender a não mais cometer aquele pecado, se ela nunca soube tê-lo cometido?! Como poderia ela
saber que errou, que está sendo punida por aquele erro e que não mais deve cometê-lo, se ela não tem
lembrança alguma desta suposta vida anterior e só vê as misérias que sofre e que lhe parecem
absolutamente desprovidas de valor, já que não tem como ligá-las com aquilo que teria sido a causa
destes sofrimentos e que teoricamente os faria justos?

A crença na reencarnação é também incompatível com a Razão pelo simples fato de que não ajuda em
nada uma pessoa por pecados que ela não sabe ter cometido, como não faz sentido dizer ser a mesma
pessoa (ou dar a ela uma punição!) quando ela nasceu de outros pais, com outro nome, em outro lugar,
sem lembrança alguma de sua suposta vida anterior, de sua personalidade nesta "vida passada", de seus
erros, acertos, ignorâncias e saberes.

Uma pessoa que não fala a mesma língua, não tem a mesma cultura, nasceu de outros pais, em outro
país, não se lembra da "encarnação " anterior, não tem conhecimento algum de nada do que agora o
afetaria, não é nem pode ser considerada a mesma pessoa que uma sua suposta "encarnação" anterior.
Qual seria o ponto em comum entre essas pessoas? Apenas uma espécie de "carnê" de pecados a
pagar, que seria passado de uma pessoa/ " encarnação" para outra pessoa/"encarnação", sem que seja
possível lembrar-se da origem daqueles sofrimentos, sem que seja levado nada de uma "encarnação" a
outra a não ser os pecados a pagar.

Assim, podemos dizer que a crença na reencarnação pressupõe na verdade que os pecados cometidos
por uma pessoa (João da Silva, nascido em Botucatu dia 25.I.65 e falecido em Belo Horizonte em 30.VIII.
97, teria por pura maldade quebrado a perna de uma criança) são pagos por outra (José de Souza,
nascido em 27.IX.97 em Belém do Pará, nascido com a perna aleijada). Ora, isso não apenas é injusto
como é absurdo! Não é a mesma pessoa, já que não há nada (paternidade, nome, personalidade,
naturalidade, cultura, conhecimentos...) em comum, e José de Souza não teria como saber que sofre
pelos pecados de João da Silva, que teria morrido e deixado assim de ser punido pelos seus pecados,
passados a José para que a pobre criança os pagasse!

A crença na reencarnação, além disso, é incompatível com a Razão (ao menos quando os
reencarnacionistas afirmam que todas as "encarnações" ocorrem em seres humanos e na Terra) porque a
população de hoje no planeta é equivalente à soma de todas as pessoas que cá já viveram até o século
passado. Assim, cada pessoa poderia no máximo estar na primeira ou segunda "encarnação".

A crença na reencarnação é também incompatível com o bom senso mais elementar e é facilmente
perceptível como apenas um reflexo do eterno orgulho humano quando percebemos que praticamente
todas as pessoas que acreditam em reencarnação fazem questão de citar imediatamente supostas
"encarnações" anteriores como reis, rainhas, pessoas famosas... conheço umas cinco ou seis Cleópatras!

Hoje em dia, com a queda dos padrões morais da sociedade, está também na moda ter sido uma
prostituta elegante de alguma corte em supostas vidas anteriores. Isto reflete apenas as ânsias das
pessoas, a sua incapacidade de enfrentar a realidade, mas evidentemente não corresponde à realidade.

Os Espíritas e a Igreja

Em 1953 a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil reafirmou o que afirmara em 1915 e em 1948:

"Os espíritas devem ser tratados, tanto no foro interno como no foro externo, como verdadeiros hereges e
fautores de heresias, e não podem ser admitidos à recepção dos sacramentos, sem que antes reparem
os escândalos dados, abjurem o espiritismo e façam a profissão de fé."

Segundo a Lei da Igreja, "chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção do batismo, de qualquer
verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela" (CDC cân . 751).
Ora, "o herege incorre automaticamente em excomunhão" (CDC cân . 1364 §1), ou seja, deve ser
excluído da recepção dos sacramentos (cân . 1331 §1), não pode ser padrinho de batismo (cân . 874),
nem de crisma (cân . 892) e não pode casar na Igreja sem licença especial do bispo (cân . 1071) nem ser
membro de associação ou irmandade católica (cân . 316).

Autor: Carlos Ramalhete - Livre cópia e difusão do texto em sua íntegra com menção do autor.

Contra-argumentos ao texto

O Cristianismo está dividido hoje em um grande número de igrejas ou correntes cristãs. A própria Igreja
Católica Apostólica Romana tem suas divisões. Há católicos que assistem a uma missa todos os dia. E há
católicos que passam anos sem assistir a uma missa. Há aqueles que não crêem na reencarnação, e há
aqueles (a maioria) que a aceitam. Existem aqueles que não crêem no inferno e em outros dogmas
católicos, e outros que, cegamente, aceitam todas as doutrinas católicas e mais as superstições católicas
populares. Para os adversários do Espiritismo, é bom que se lembre aqui que a maioria dos católicos
freqüenta centros espíritas e centros de Umbanda, Candomblé e Quimbanda. E uma prova de que é
verdade o que estamos afirmando é que muitos padres, xingando os seus fiéis católicos, têm dito que
“quando a coisa aperta para os católicos, eles correm para os centros espíritas”. E a própria Igreja afirma
hoje que nela reina a unidade na diversidade. A diversidade é as divergências internas dela.

A Igreja tem muita afinidade com o Espiritismo. O Brasil é a maior nação católica do mundo, e é também a
mais espírita do mundo. As Filipinas é a 2a nação católica da Ásia, e é a 2a nação espírita do mundo. De
fato, a comunicação com os santos da Igreja não é com os cadáveres dos santos, mas com os espíritos
dos santos. E a proibição de Moisés da comunicação com os espíritos (Dt. 18,11) não é de Deus, pois
não está no Decálogo. Ademais, ela prova-nos que existe a comunicação com os espíritos, senão Moisés
não a iria proibir. Não seria ele louco de proibir uma coisa que não existe. Mas Moisés mesmo se
contradiz, com relação a esse assunto, permitindo a Eldade e Medade que recebam espíritos (Nm 11,26-
29). E, se fôssemos obedecer a tudo determinado por Moisés, iríamos contra os Dez Mandamentos. Por
exemplo, ele manda assassinar a pedradas todos os que se comunicam com os espíritos (Levítico 20,27).

Sabemos que Jesus e os apóstolos médiuns Pedro, Tiago e João, na Transfiguração, entraram em
contato com os espíritos de Moisés e Elias. E para aqueles que dizem que Elias foi para o céu vivo, com
seu corpo de carne, lembro-os de que Elias continuou na Terra depois do episódio de ter subido em uma
carruagem de fogo, pois Jeorão, rei de Judá, recebeu de Elias uma carta, alguns anos depois do citado
episódio evolvendo o desaparecimento de Elias numa carruagem de fogo (2 Crônicas 21,12).

Quanto à posição da Igreja em relação não só ao Espiritismo, mas também, a outras religiões, estão
caducas aquelas condenações dos bispos brasileiros, de 1915, 1948 e 1953, como estão caducas as leis
canônicas que regiam a Inquisição. Valem para hoje as decisões constantes da “Lumem Gentium” do
Concílio Vaticano II. E ninguém é mais excomungado porque participa de alguma cerimônia ou evento
não católicos.

Alegam muitos religiosos cristãos fundamentalistas que o pagamento de pecados pelas reencarnações é
incompatível com a razão, porque o indivíduo não se lembra do pecado que está pagando. A criança não
sabe que a panela quente no fogão queima seu dedo, e, no entanto, ela se queima assim mesmo sem
saber o motivo e sem saber sequer que ela está cometendo um erro. Incompatível com a razão é o
indivíduo pagar pelo pecado original de Adão e Eva, e que é também contra a Bíblia. “A alma que pecar,
essa morrerá: o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai a iniqüidade do filho” (Ez 18,20). E Deus
quis que nós ignorássemos nosso passado para o nosso próprio bem. Se o indivíduo tem uma pessoa de
sua família, vizinha ou colega de trabalho ou de estudo, que, no passado, foi um seu desafeto ou grande
inimigo seu, ao saber disso, automaticamente se criaria uma barreira entre os dois. Como, pois, haveria
um relacionamento amistoso, de reconciliação e amizade entre eles? Seria muito difícil acontecer a sua
harmonização. E um outro tipo de problema poderia haver com a lembrança de fatos do passado. Se
surgir uma oportunidade para fazermos o bem a uma pessoa, mas descobrimos que, numa vida anterior,
ela foi um nosso grande amigo ou irmão, avô, filha, esposa ou esposo, certamente lhe daríamos uma
atenção toda especial. Mas não teríamos mérito! E, sem dúvida, ficaríamos perplexos e mesmo
traumatizados, se soubéssemos o que já fizemos de errado no passado! Como se vê, é bom, em todo
sentido, nós ignorarmos o nosso passado, como é bom ignorarmos também o nosso futuro. Aliás, tudo o
que Deus faz é bom e mais do que certo. E, por isso, temos no Velho Testamento um texto
reencarnacionista sobre esse assunto específico que acabamos de ver: “Somos de ontem e nada
sabemos” (Jó 8,9). Esse ontem não é um passado de 24 horas, mas um passado longínquo, como se
pode ver pelo contexto bíblico.

Mas há um outro texto bíblico, agora do Apóstolo Paulo, muito usado contra a reencarnação. É quando
Paulo fala que Jesus morreu uma vez só, como o homem morre uma vez só (Hb 9,27). Esse texto Paulino
nada tem a ver com a reencarnação nem a favor dela nem contra ela. A palavra homem vem do Latim
“humus”, água com terra ou barro, da qual se originou a palavra, também latina, “homo”, homem em
Português. De fato o homem morre uma vez só “e bem morrido”. “Aquele que desce à sepultura, jamais
se levantará” (Jó 7,9). Além de esta afirmação do Livro de Jó nos mostrar como o homem era visto pelos
semitas, ou seja, pelo seu lado fenomênico, material, mostra-nos também que a ressurreição não é do
corpo, mas do espírito, pois jamais subirá o que desce à sepultura, isto é, o corpo, a carne. Realmente, a
ressurreição do corpo é do Credo da Igreja. Mas a da Bíblia é do espírito. “Temos dois corpos, um da
natureza e outro espiritual; ressuscita o espiritual” (1 Co. 15,44). Para um dos maiores teólogos católicos
da Igreja da atualidade, o espanhol André Torres Queiruga, a ressurreição, inclusive a de Jesus Cristo, é
também do espírito (“Repensar a Ressurreição”, Ed. Paulinas). Quando o espírito reencarna, ele
ressuscita (ressurge) na carne. Quando o homem morre, seu espírito ressuscita no mundo espiritual, até
que, um dia, o espírito fique por lá. “Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais
sairá” (Ap. 3,12)

Sobre a nossa personalidade, nós temos duas: uma geral do espírito, a que pertence o inconsciente, e
outra particular para cada vida do espírito na carne, da qual é o consciente. E é o consciente que
funciona, quando estamos em vigília ou estado normal de consciência. O consciente não se lembra de
vidas passadas. E é por isso que só nos lembramos de episódios de outras vidas, quando estamos em
estado alterado de consciência, isto é, o estado em que funciona o nosso inconsciente. O estado de
consciência normal ou não alterado é o de Beta (vigília), quando estamos acordados ou com o consciente
em funcionamento. Já os estados alterados de consciência, em que funciona o inconsciente, são o de
Alfa, isto é, o de quando estamos quase dormindo ou quase acordando (a pessoa fica meio grogue). O
estado de Teta se dá quando temos um sono leve. Delta é quando estamos em sono profundo. E como já
foi dito, as lembranças de episódios de encarnações passadas ocorrem nesses estados alterados de
consciência, muito raramente quando o indivíduo está em Beta (vigília).Neste estado de Beta, as
lembranças só acontecem de modo indireto ou em forma de tendências, inclinações, talentos.
Os adversários fundamentalistas da reencarnação alegam que ela é contrária às doutrinas da Igreja. Em
outros termos, a Igreja não a aceita. Mas nem tudo que não é aceito pela Igreja está errado. E, às vezes,
acontece até o contrário, estando errado o que foi aceito pela Igreja, de que são exemplos a Inquisição,
as Cruzadas e as guerras ou conflitos religiosos do passado, de que a Igreja pede hoje perdão. E eu
gostaria de dizer para os católicos e evangélicos contrários à reencarnação que ela foi aceita pelo
Cristianismo Primitivo, tendo sido só condenada no Concílio Ecumênico (553), por influência do Imperador
Justino e sua esposa Teodora. Como o fenômeno da reencarnação nunca foi condenado por Jesus e a
Bíblia, pelo contrário, em Jesus e nela temos várias passagens que falam direta e indiretamente sobre a
reencarnação, não é, pois, estranho que ela tenha feito parte do Cristianismo dos primeiros séculos. E a
própria condenação dela no citado concílio demonstra que ela era aceita por teólogos cristãos. E entre
eles gostaríamos de destacar São Clemente de Alexandria, Orígenes, São Cirilo, o Papa São Gregório
Magno, São Justino, autor de “Apologia da Religião Cristã”, São Gregório Nazianzeno etc.

E a reencarnação não é uma doutrina só dos espíritas. Ela é universal, tendo hoje o respaldo de vários
segmentos da ciência, como a Terapia de Vivências passadas (TVP), exercida por milhares de médicos,
psicólogos, parapsicólogos e até por físicos, como o francês radicado nos Estados Unidos, Patrick Drouot.
Pode haver falhas nessas regressões. Por exemplo: interferências de entidades, as quais podem
identificar-se falsamente, trazendo confusão de identidade ao inconsciente da pessoa que regride e ao
seu terapeuta. Por isso, os terapeutas da TVP devem ser bem preparados nos seus cursos de Pós-
Graduação. Uma pesquisa feita pela Universidade de Oxford, encomendada pela Igreja Anglicana
(Inglaterra), com base em 2.000, 4.000.000.000 de pessoas, isto é, 2/3 da população da Terra, crêem na
reencarnação. E essa doutrina não é incompatível com a Doutrina Cristã nem com a lógica e a razão. E o
clero católico e os pastores são contra ela, porque ela nos mostra que a salvação depende da vivência do
Evangelho do Cristo, enquanto que o clero católico e os pastores querem “vender” para nós a salvação!
“Os homens não perdoam as doutrinas que lhes fazem perigar os interesses” (Salomon Reinach). Mais
sobre a reencarnação no nosso livro “A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência”.

Jesus Cristo é o nosso Redentor, no sentido de que Ele foi o Enviado do Pai para nos trazer a mensagem
do Evangelho. Mas, se fosse o sangue de Jesus que nos remisse, não precisaríamos fazer nada.
Poderíamos nos esbaldar! E o próprio Jesus disse: “Ninguém deixará de pagar até o último centavo”. Se
fosse, pois, o sangue Dele que nos redimisse, não teríamos que pagar nem o primeiro nem o último
centavo do preço de nossas faltas! E esse ensino do Mestre nos deixa claro, também, que pago o último
centavo, estaremos quites com a Justiça Divina, não tendo nós que pagar mais nada, porquanto, a justiça
divina é perfeita. E isso derruba por completo as chamadas penas eternas.

Quanto aos sacrifícios, Jesus disse: “Basta de sacrifícios!” Destarte, o sangue derramado de um ser
humano ou de um animal não acalma Deus, o Pai, nem faria despertar em Deus sua misericórdia para
nós, pois Deus é imutável. Aliás, a sua misericórdia por ser infinita, não poderia ser aumentada nem
diminuída com nenhuma espécie de sacrifício, muito menos humano e de um homem justo e inocente
como foi Jesus. E Deus não é um espírito de baixo astral, que se compraz com sangue derramado.

Sabemos hoje, também, que não há inferno geográfico eterno, nem de fogo propriamente dito, como o
entendiam (uns fingiam entender), por ignorância os teólogos do passado e muitos ainda de hoje o
entendem. O fogo do inferno bíblico é figurado, é no sentido esotérico e não exotérico. Muitos líderes
religiosos de hoje fingem que crêem ainda nessas coisas, para amedrontarem seus fiéis e, assim,
poderem manipulá-los melhor. Ademais, poucos sabem que o termo “eterno” vem de uma palavra grega,
“aionios”, que quer dizer um período longo, mas que tem fim! E hoje, 150 anos depois do ensino espírita,
a Igreja passou a ensinar também que o inferno não é um local geográfico, mas um estado de
consciência, ou seja, o contrário do reino de Deus, que está dentro de nós, em forma ainda, às vezes, de
semente ou em estado potencial, como diz a filosofia. E, por conseqüência, o Paraíso ou Céus (no plural,
tradução correta de “Caeli”, como consta da Vulgata de São Jerônimo), está também em nós. “O reino de
Deus está dentro de vós mesmos”.

Jesus disse que não veio condenar o mundo, mas salvar o mundo. E, como vimos, Ele salva o mundo
com o seu Evangelho. Uns querem dizer que o Espiritismo e a reencarnação anulam todo o sacrifício de
Jesus. Na verdade, o Espiritismo não aceita o sangue de Jesus como sendo resgate de nossos pecados,
mas valoriza, sim, o sacrifício de sua vinda ao nosso mundo e de sua morte, tudo para trazer para nós a
mensagem do Pai. E tanto é verdade isso, que o Espiritismo incentiva todos a porem em prática essa
mensagem do Pai. Realmente, é vivenciando o Evangelho do Mestre dos mestres, que nós vamos nos
aperfeiçoando em nossa caminhada em direção à perfeição do Pai. “Fora da Caridade não há salvação”
(Allan Kardec). “A fé sem obras é morta” (São Tiago). “Posso ter uma fé que remove montanha, mas se
eu não tiver caridade, não sou nada” (São Paulo). E o Nazareno não ensinou que é crendo em
determinados dogmas criados pelos teólogos, quando eles nem conheciam ainda direito a Bíblia, que nós
nos tornamos seus discípulos e nos salvamos, mas por nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou.

O espírita é aquele, pois, que procura seguir o verdadeiro ensino de Jesus, já que busca, como foi dito, a
vivência do seu Evangelho. E o Espiritismo crê de fato na misericórdia infinita de Deus, pois, para nós
espíritas, essa misericórdia divina é tão ampla, que Deus nos dá quantas chances (reencarnações) forem
necessárias para a nossa salvação. Em outras palavras, para o Espiritismo, a misericórdia divina é infinita
mesmo, ou seja, é incondicional e é para todo o sempre. É como nos mostra a Parábola do Filho Pródigo,
em que o Pai de Misericórdia está sempre com os braços abertos para abraçar a qualquer filho seu, pois
Deus não faz exceção de pessoas. Basta que um filho seu “entre em si”, como diz a Parábola, e queira
voltar para Ele, pois o Pai, que é perfeito, respeita totalmente o nosso livre-arbítrio, para quando
quisermos, como quisermos e onde quisermos despertar para a verdade que liberta, pois somos espíritos
imortais e filhos de um Pai tão amorável, que nos ama mais do que nós mesmos nos amamos!

Chico Xavier: o homem, o médium e o mito


23:06 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT
Por Maria Ribeiro

O primeiro contato com o Espiritismo de uma grande parcela de adeptos se faz através de obras
como Nosso Lar e similares, o que não deve representar nenhum constrangimento, mesmo porque, são
poucos os que podem se vangloriar de terem se iniciado realmente pelo começo – as obras básicas.

Ouve-se falar, principalmente das obras de André Luiz e Emmanuel em parceria com o Chico, as
melhores referências, como se estas não só complementassem, mas substituíssem as obras básicas.
Particularmente, já ouvimos mais de uma vez que o livro Nos domínios da mediunidade é um tratado do
assunto, deixando O Livro dos Médiuns em plano secundário, o que é um atentado violento ao trabalho
de Kardec e às instruções do Espírito de Verdade. Há quem diga que, depois de O Livro dos Espíritos, o
livro Nosso Lar é o segundo mais importante da Doutrina. Uma grande parte acredita que estas obras
sejam basilares para a compreensão do Espiritismo, pois tudo está lá, dizem.

Obras da série André Luiz, as de Emmanuel, bem como as de outros médiuns e Espíritos , se fazem
admirar pela forma muito bem elaborada com que são produzidas, e não há que se retirar-lhes este
mérito: são excelentes escritores. O dilema está quando se compara certos conceitos ditados nestas
obras com os que constam no legado kardequiano, e passa-se a perceber diferenças que jamais se
conciliariam. Nós, particularmente, com as profícuas trocas de idéias com companheiros e maior tempo
dedicado à leitura da Obra Espírita, aos poucos, nos tornamos mais cautelosa e, felizmente, atualmente,
podemos nos dizer uma estudiosa menos imprudente.

Nos últimos tempos surgiram diversos artigos excelentes que analisam obras do Chico e de outros
médiuns à luz da Doutrina Espírita; o que é extremamente oportuno e importante, afinal o Espiritismo
também ensina que não se devem aceitar tudo o que vem dos Espíritos sem o crivo da razão e da lógica,
pois falam segundo seu grau de evolução e em muitos casos, dão informações sem se preocuparem com
a verdade, por pura fanfarrice.

O movimento espírita em vigência consagrou algumas obras sem se utilizar dos critérios estabelecidos
por Kardec, critérios, aliás, resultantes das experiências do grande mestre francês em parceria com o
Espírito de Verdade. Inclusive a FEB recomenda no seu estatuto a obra de Roustaing como objeto de
estudos, esta rechaçada por Kardec. Vê-se que desde o início no Brasil, o Espiritismo sofre ataques
violentos, sendo ultrajado de uma forma abjeta, indecente, execrável.

Segundo a Doutrina Espírita, o médium é sempre responsável pelas comunicações que recebe, daí ser
imprescindível que busque se melhorar intelectual e moralmente, a fim de atrair para si os Bons Espíritos,
e estar menos sujeito a mistificações. É inegável que o Chico Xavier fora grande médium, portador de
muitas faculdades. Mas, como analisá-lo como Ser, como uma pessoa, como um Espírito filho de Deus
igualzinho aos demais? Sem o intuito de polemizar, mas de trazer elementos para que se crie margem a
novas reflexões acerca desta personalidade, recorram-se às questões 100 e seguintes do capítulo
primeiro da segunda parte de O Livro dos Espíritos, que estabelecem uma hierarquia entre eles.

Os Espíritos Puros, classificados como de Primeira Ordem, possuem “superioridade intelectual e moral
absolutas em relação aos Espíritos das outras ordens. Alcançaram a soma de perfeições de que é
suscetível a criatura; não têm mais que suportar provas ou expiações; gozam de inalterável felicidade;
são os mensageiros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal.” Estas
são algumas das suas características, e que, na Terra, só temos notícia de um: Jesus, embora seja
sabido que existam os que lhes são iguais ou superiores, e ainda, sendo perfeitos, lhes são inferiores,
afinal, não se pode esquecer da relatividade nesta hierarquia.

Os da Segunda Ordem, denominados como Bons Espíritos, se distribuem em quatro classes:


Benevolentes, Sábios, de sabedoria e Superiores. Genericamente, e entre outras, são caracterizados por
possuírem “predominância do espírito sobre a matéria; desejo do bem; uns têm a ciência outros a
sabedoria e a bondade. Os mais avançados reúnem o saber às qualidades morais. Não estando ainda
completamente desmaterializados, conservam, mais ou menos, segundo sua categoria, os traços da
existência corpórea, seja na forma da linguagem, seja nos seus hábitos, onde se descobrem mesmo
algumas de suas manias; de outro modo, seriam Espíritos Perfeitos.Quando encarnados, são bons e
benevolentes para com os semelhantes. Não os move nem o orgulho, nem o egoísmo nem a ambição.“

Os da Terceira Ordem são os Espíritos imperfeitos distribuídos em cinco classes. “Predominância da


matéria sobre o Espírito; propensão ao mal; ignorância, orgulho e todas as más paixões que lhe são
conseqüências”, estas algumas de suas características gerais.

O próprio Codificador assinalou que “de um grau para o outro a transição é insensível e sobre seus
limites a pequena diferença se apaga como nos reinos da Natureza, como nas cores do arco-íris, ou
ainda, como nos diferentes períodos da vida do homem.” Assim, fica menos difícil um julgamento mais
apropriado acerca da personalidade em análise.

Para qualquer pessoa sensata é muito óbvio que o Chico não é um Espírito Puro, perfeito. Daí não fazer
sentido o imaginar que ele esteve isento de mistificações; aliás, no Livro dos Médiuns, está esclarecido
que não há médium perfeito na Terra, que “o melhor (médium) é aquele que, não simpatizando senão
com os bons espíritos, foi enganado o menos freqüentemente.”(OLM- cap XX – item 9) Ou seja, todo
médium, mesmo tendo a assistência dos bons Espíritos, não está isento do assédio dos Espíritos
inferiores e nem de ser enganado. No item seguinte está registrado que “os bons Espíritos o permitem,
algumas vezes, com os melhores médiuns, para exercerem seu julgamento e lhes ensinarem a discernir
o verdadeiro do falso...” Ou seja, nem o médium, nem seus editores, nem os adeptos seus leitores,
puderam atender a esta recomendação.

Sobre este aspecto, errou o Chico, e todo o Movimento Espírita com ele, afinal, alguém quis esclarecê-lo?
Porque as editoras que o tutelaram não perceberam os erros gritantes? Das duas uma: ou houve
negligência ou espaço para a ambição, já que o sucesso nas vendas era garantido. Veja-se o que o item
303 de O Livro dos Médiuns traz, em resposta sobre os meios de se preservar das mistificações:“...Os
Espíritos vêm vos instruir e vos guiar no caminho do bem, e não no das honrarias e da fortuna, ou para
servir às vossas paixões mesquinhas...” No item posterior, o Espírito de Verdade adverte:"...Deus permite
as mistificações para provar a perseverança dos verdadeiros adeptos e punir os que dele fazem um
objeto de diversão.”(nm) E em nota, Kardec assinala: ”...somos bastante felizes por termos podido
abrir, a tempo, os olhos a várias pessoas que decidiram pedir nosso conselho, e lhes haver afastado de
ações ridículas e comprometedoras...” Este lembrete é para alertar que o movimento espírita acolhe
outras fontes, menosprezando os ensinos kardequianos e Espíritas, dando ensejo às aberrações que já
foram denunciadas desde tempos atrás pelos grandes estudiosos do passado, e agora, repetidas pelos
do presente, que cada vez encontram mais e mais distorções.

Mas não ser um Espírito perfeito, conseqüentemente não ser um médium perfeito, em nada desabona a
pessoa do Chico, primeiro porque ele jamais se declarou como tal, ao contrário, sempre frisava que ainda
tinha muitas imperfeições; segundo porque, como se encontra em aprendizado, tem o mesmo direito de
errar dos demais.

O Chico sempre trabalhou muito, em dedicação à família e ao próximo; ainda muito jovem sua saúde
começou a ser comprometida, e, com o passar dos anos, foi se debilitando ainda mais. Aos poucos
também foi perdendo a visão, o que o impossibilitava de ler, e talvez isto explique o fato de não ter
passado em revista as psicografias recebidas. Ao que consta, era de uma personalidade doce, delicada,
ingênua mesmo. Definitivamente, não era o tipo de pessoa que tem a sagacidade dos grandes gênios,
tanto que confiara todos os seus originais a uma instituição sem garantia alguma, e tudo isso junto põe
em dúvida a autenticidade do conteúdo das publicações.

Porém, querer classificá-lo na ordem dos Espíritos imperfeitos não parece muito adequado. Apesar de
suas obras serem de conteúdo roustainguista, e isto está mais que provado através de estudos
minuciosos de pessoas muito sérias, mas é preciso separar o homem do médium e o médium do Espírita.
A influência católica esteve presente em toda a sua vida, portanto talvez o Chico nunca tenha sido um
adepto convicto do Espiritismo, o que também não o desmoraliza, pois o título de Espírita jamais
oferecerá benefícios espirituais a alguém. Também, não ter sido fiel aos postulados da Doutrina Espírita,
se deixando influenciar pelo Roustainguismo, não diminuiu em nada suas conquistas morais. O Chico
viveu mais de noventa anos, e ninguém jamais, em tempo algum testemunhou um gesto ou uma palavra
má saída de sua boca. Só os loucos quererão imaginar se alguma vez tenha ele pensado algo indigno,
afinal, só Deus pode apreciar os pensamentos de suas criaturas. Tinha o desejo do bem; seu Espírito
predominava sobre a matéria; era bom e benevolente para com os seus semelhantes; não era movido
nem pelo orgulho, nem pelo egoísmo nem pela ambição. A vida dele demonstra isso: morava numa casa
simples, nunca angariou nada para si mesmo, nunca pretendeu honrarias, vivia de sua aposentadoria que
era de um salário mínimo; sem ter a ciência completa, tinha a bondade. Porque para alguns é tão
desconfortável admiti-lo como um homem bom? Ou será que está reservada somente aos profundos
conhecedores do Espiritismo a capacidade de alcançar a virtude da bondade?! Erro grave, pois as
conquistas intelectivas são muito mais fáceis de ser conseguidas do que as morais. Seria uma
pusilanimidade frisar a passagem do Chico nesta última reencarnação apenas pelo seu lado fraco, pois se
o médium falhou, o homem cresceu, sedimentou valores cristãos. O verdadeiro espírita não tem que se
preocupar apenas com as aquisições intelectuais, mas acima de tudo as morais, cristãs.

Como médium o Chico deixou a desejar, por ter sido muito crédulo em encarnados e desencarnados mal
intencionados ou ignorantes, mas como homem foi e é um exemplo de vida, e querer negar isto é forçar
uma falsa realidade. A mediunidade está desvinculada do Espiritismo, assim como também o está da
Moral. O Espírita sincero tem, necessariamente, obrigações morais a cumprir, especialmente consigo
mesmo, aliás, exclusivamente consigo mesmo. E como negar que moralmente falando o Chico Xavier se
encontrava quites com sua própria consciência por cumprir seus deveres cristãos com seu próximo?

A abundância de publicações com suas histórias sedutoras foram fazendo do Chico um ícone da
mediunidade, um best seller e, claro, renderam muitos milhões, não para ele mesmo, mas para diversas
instituições, inclusive a própria FEB. Outra vez pergunta-se: porque não o esclareceram sobre os
equívocos recorrentes? O que faziam, ou onde se encontravam os que se diziam seus amigos, os que
estavam com ele no trabalho mediúnico incluindo a própria editora de seus livros? Quais os interesses
envolvidos? A quem interessou fazê-lo mito? Há que se considerar, inclusive que, sendo um Espírito em
evolução como qualquer outro filho de Deus, pôde se enganar de boa fé. Isto representa para todos mais
um aprendizado, e não um motivo para execrá-lo. Em seus ensinamentos, Jesus acolheu a todos, e seus
discípulos mais fiéis não eram necessariamente modelos nem de saber nem de virtude. Acolheu em seus
braços amorosos uma prostituta, incluiu um cobrador de impostos no seu grupo discipular, comeu com o
chefe destes; Jesus era o médico que estava sempre ao lado dos doentes. Portanto, questione-se: quem
possui autoridade para querer a exclusão deste trabalhador que até podia não ser Espírita, segundo a
acepção reservada ao termo, mas certamente era cristão, da Doutrina? O movimento espírita vigente
criou um mito como a mídia comum cria os seus mitos, mas com a diferença de que os resultados para o
segundo caso abrangem tanto uma como outros. O Chico não tirou nenhum proveito para si mesmo de
tudo o que ocorreu, do uso que fizeram dele. Há várias estórias que envolvem o seu nome, como que
para imprimir autoridade, justificando atitudes nem sempre sensatas. Tem “causos” que pecam pelo forte
teor fanático não merecendo nenhuma credibilidade. Para nós, particularmente, o Chico foi explorado
tanto por encarnados como pelos Espíritos que ele mesmo tanto respeitava, na sua simplicidade ingênua,
pueril. Foi mistificado principalmente pela instituição que o tutelou. Enganou-se de boa fé, por acreditar
que os que o cercavam eram como ele - desprovido da maldade que azeda o coração; por enxergar em
todos, irmãos credores de seu respeito.

Embora não caiba a ninguém a autoridade para julgar em que patamar evolutivo os outros estão, pode-se
acreditar o Chico como um Ser entrando na quinta classe da segunda ordem – um Espírito benevolente,
cujos caracteres são: “sua qualidade dominante é a bondade. Alegram-se em prestar serviço aos
homens e protegê-los, mas seu saber é limitado. Seu progresso é mais efetivo no sentido moral do que
no sentido intelectual.”

Repitam-se os esclarecimentos da Codificação: ”Quando encarnados, são bons e benevolentes para com
os semelhantes. Não os move nem o orgulho, nem o egoísmo nem a ambição. Não experimentam ódio,
rancor, inveja ou ciúme, e fazem o bem pelo bem.“

Vale também lembrar as palavras indeléveis do Mestre Jesus: “É pelos frutos que se reconhece a
árvore.”

É evidente que os livros, mais de quatrocentos, têm utilidade para muitas pessoas: levam consolo, levam
lições moralizantes, embora algumas repletas de remanescentes católicos; além de desenvolver o gosto
pela leitura, devido à facilidade que muitos encontram de compreensão dessas obras. Há que se
considerar que os adeptos do Espiritismo, não estão todos no mesmo nível de discernimento; há que se
ter tolerância para com aqueles que não conseguem ler e estudar Kardec ainda, mas buscam se melhorar
interiormente. Muitos não dominam o conteúdo Espírita, mas se preocupam em adquirir novos valores
para nortear suas vidas. O cuidado que se tem que ter é com aqueles que, de alguma forma, manipulam
e distorcem pessoas e situações, para tirar algum proveito. Aliás, a leitura por si mesma, é inofensiva: ela
é a ferramenta para se discernir o que é válido ou não, segundo os parâmetros Espíritas, estando o
grande problema na assimilação dos conceitos que ela traz. E enquanto não houver um Movimento
realmente Espírita, dificilmente seu conteúdo será assimilado e compreendido, senão por todos, mas ao
menos por uma maior parcela.

A comunidade espírita está acomodada, dir-se-ia, muito acomodada, numa inação que beira a morbidez,
e como todo estado mórbido é preocupante, pergunta-se: quem realmente está preocupado com este
estado de coisas? Ou por outra: é lícito que isto seja objeto de preocupação? Se cada um cumprir o seu
papel, o que lhes cobra a consciência, não será suficiente para que as coisas se ajeitem? Mas, e o
movimento espírita que só se movimenta usando a antonomásia de espírita sem promover um passo real
rumo ao estudo e divulgação séria do Espiritismo?

Criticar o Chico Xavier ou tomá-lo por bode expiatório não resolverá o problema das mistificações que foi
e é exposto todo o movimento espírita vigente. Outros médiuns publicaram, publicam e publicarão
histórias inverídicas e ensinamentos os mais absurdos se não houver uma real movimentação do
Espiritismo no Brasil, no mundo. Por enquanto, os estudos e investigações isolados é que podem abrir
caminho para que um dia surja um Movimento Espírita de verdade.

Início de Conversa
09:37 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Nazareno Tourinho

Os dislates e disparates da obra de Jean Baptiste Roustaing são tantos, e tão agressivos ao pensamento
lógico, que até hoje, segundo nos parece, nenhum escritor espírita lúcido e coerente, fiel aos ensinos
enfeixados na codificação de Allan Kardec julgou valer a pena se ocupar da maioria deles em termos
minuciosos, detalhando-os e exibindo o lado ridículo de cada um.

Autores respeitáveis, que combateram as teses docetistas através de livros e textos veiculados na
imprensa, preferiram sempre abordar apenas os pontos da obra semi-católica de Roustaing
flagrantemente contrários aos princípios fundamentais da nossa doutrina: a esdrúxula ideia do corpo
fluídico de Jesus e outras ideias à mesma agregadas por via de consequência, de maior peso filosófico
negativo, como a evolução em linha reta do Cristo sem passar por qualquer incômodo encarnatório.

Esses autores, conquanto tenham feito às vezes estudo profundo dos escritos copiosos do célebre
advogado francês que aprendeu Espiritismo com Kardec e depois o traiu, acharam por bem não se
envolver com as miudezas deploráveis de tais escritos, deixando de executar uma varredura neles com o
fim de queimar detritos doutrinários, aparentemente insignificantes. Procederam de modo correto, nas
circunstâncias que enfrentaram. Nós, porém, em face das últimas discórdias vicejantes no seio do
movimento espírita nacional, que a FEB, por capricho e orgulhoso apego ao passado, não está sabendo
conduzir, decidimos pinçar e expor, para os companheiros de crença, uma ponderável parcela de tolices e
pieguices espalhadas ao longo da massuda e indigesta obra de Roustaing.

Vamos, portanto, nesta série de escritos, reproduzindo as palavras do próprio Roustaing mostrar de
maneira irrefutável as invencionices e sandices de Os Quatro Evangelhos tidos e havidos como
“Revelação da Revelação”, isto é, uma revelação superior e mais avançada do que a contida nos livros de
Allan Kardec.

Os leitores decerto vão ficar surpresos verificando os absurdos doutrinários saídos da pena de Roustaing,
um tanto mais porque a Federação Espírita Brasileira os apoia expressamente por dispositivo estatutário
e por habilidosa propaganda em sua tribuna oficial, a revista Reformador.

Como pode uma Entidade que pretende liderar o processo de unificação de nosso movimento ideológico
patrocinar os referidos absurdos doutrinários?

Esta pergunta não nos compete responder. O que se nos impõe, na atual conjuntura, quando começa a
amadurecer a consciência doutrinária do movimento espírita, é simplesmente pôr a verdade diante dos
olhos de quem quiser vê-la para assumi-la. Do resto se encarregará a Providência Divina.

Os rustenistas de tradição, portadores de carteira de identidade expedida pela Secretaria de Segurança


do GRUPO DOS OITO, atuante no Rio de Janeiro com alto poder de fogo para atingir os kardecistas
também de tradição, costumam alardear que criticamos Os Quatro Evangelhos do antigo bastonário de
Bordéus porque ignoramos grande parte de seus conceitos essenciais. Dizem, fiados em que espírita
possuidor de elementar bom senso não perderá tempo com a leitura, terrivelmente enfadonha, de mais de
duas mil páginas repetitivas de evidentes bobagens teológicas:

- Combatem a obra de J. B. Roustaing sem nunca a terem lido integralmente!

Pois bem, nós resolvemos ler. E o resultado de tão desconfortável esforço intelectual os rustenistas roxos
agora vão ter que engolir, depois de nos haverem intoxicado o estômago durante décadas com os seus
refinados sofismas.

A partir do próximo escrito provaremos que nos entregamos à penosa tarefa de estudar toda a obra de
Roustaing desnudando suas tolices e pieguices sem deixar de fornecer a indicação dos números das
páginas onde elas se encontram.
Podem os leitores aguardar essa despretensiosa novidade em matéria de crítica à mistificação
roustainguista. Ela se torna necessária para que neste país, haja um pouco mais de respeito pela obra de
Allan Kardec.

Fonte:

TOURINHO, Nazareno. As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio


crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999

Primeiros Passos de um Ingênuo


10:18 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Nazareno Tourinho

A obra de J. B. Roustaing, que unicamente a Federação Espírita Brasileira continua editando, começa
para nós com um breve escrito do tradutor Guillon Ribeiro na qual é situada na categoria de "obra
incomparável, única até hoje no mundo".

Assevera o referido confrade no arroubo do seu entusiasmo:


"Nela se encerra toda uma revelação de verdades divinas que ainda em nenhuma outra fora dado ao
homem entrever."

Fica, assim, os espíritas cientes de que os livros de Allan Kardec não chegam aos pés das brochuras de
Jean Baptiste Roustaing – nelas estão as verdades divinas que os tomos do emérito codificador do
Espiritismo não conseguem entrever...

O conceituado tradutor faz referência ainda a “"certas inovações" a que se balançou quando verteu para a
nossa língua o texto original, como, por exemplo, a iniciativa de separá-lo em quatro volumes e não em
três, conforme preferiu o autor; julgou-se no direito de agir de tal modo por ser “"de melhor aviso",
esquecendo de informar quem deu o aviso...Mas deixemos de lado este pormenor ético, em homenagem
à biografia do ilustre tradutor.
Passemos para o Prefácio contendo a assinatura de J. B. Roustaing.

Ele principia dando a si mesmo um atestado de ingênuo ou mentiroso. Esta observação é tão grave que
vamos comprová-la através de suas próprias palavras. Preste o leitor muita atenção, sobretudo para as
datas.

Na página 57 escreve:
“No mês de janeiro de 1858 fui acometido de uma enfermidade tão prolongada quão dolorosa...".

Na p.58 prossegue o ilustre advogado, que se tornou proeminente na Corte Imperial de Bordeaux:

“Em janeiro de 1861, completamente restabelecido, cuidei de voltar ao exercício dessa amada
profissão para com a qual era devedor de uma posição independente, adquirida mediante trinta anos
de trabalho no gabinete e nos tribunais. Mas, 'o homem propõe e Deus dispõe', diz a sabedoria das
nações.

Um distinto clínico daquela cidade me falou da possibilidade de comunicações do mundo corpóreo com
o mundo espiritual, da doutrina e da ciência espíritas, como fruto dessa comunicação, objetivando uma
revelação geral. Minha primeira impressão foi a de incredulidade devida à ignorância...".

Na p.59 confessa:
“Li O Livro dos Espíritos."

Na p.60 acrescenta:
“Li em seguida O Livro dos Médiuns...
Depois desse estudo e desse exame, consultei a História, desde a origem das eras conhecidas até nossos
dias...".

Na p.61 aduz:
“Compulsei os livros da filosofia profana e religiosa, antiga e recente, os prosadores e os poetas que
refletem as crenças, bem como os costumes dos tempos."

Na p.64 arremata:
“Na véspera do dia 24 de junho de 1861, eu rogara a Deus, no sigilo de uma prece fervorosa, que
permitisse ao Espírito de João Batista manifestar-se por um médium, que se achava então em minha
companhia e com o qual diariamente me consagrava a trabalhos assíduos. Pedira também a graça da
manifestação do Espírito de meu pai e do meu guia protetor."

Aí está:
Em janeiro de 1861 Roustaing era analfabeto em matéria de Espiritismo, nem sequer ouvira falar de
comunicação mediúnica, e seis meses depois, em junho do mesmo ano, 1861, já se punha diariamente
em “trabalhos assíduos” buscando mensagens do Além, e não apenas do seu genitor, e do seu guia, mas
também de um grande vulto evangélico, nada menos do que o precursor do Cristo...Só podia acabar
sendo vítima de mistificação!

Abstraindo-se o aspecto espiritual e doutrinário do problema, pergunta-se:


- Como foi possível a Roustaing, no curto período de seis meses, em que andou ocupado analisando O
Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, ter tido tempo para consultar a História, desde a origem das
eras conhecidas até os nossos dias (os dias dele, é claro), e afora esse empreendimento fenomenal,
como lhe foi possível ainda ter tido tempo para compulsar os livros da filosofia profana e religiosa, antiga
e recente, não dispensando nem os prosadores e os poetas que refletem as crenças, bem como os
costumes dos tempos???

Responda a essa pergunta, sem rodeios, quem pretender nos acusar de ser injusto levantando suspeita
sobre a competência ou a honestidade intelectual do indigitado autor.

Antes de irmos adiante tem mais um detalhe de natureza moral digno de não passar em branco.

Os trechos da lavra de Roustaing que reproduzimos são do Volume 1 da 6ª edição da FEB, de 1983, de
Os Quatro Evangelhos, de sua autoria.

Os espíritas brasileiros das novas gerações, porém, precisam saber deste fato pitoresco: em 1920 o anjo
Ismael, dado como sempre em rigoroso plantão para orientar a FEB, cochilou desastradamente e a
deixou publicar uma edição da obra de Roustaing onde se lê críticas acerbas, diretas e ferinas, a Allan
Kardec.

Tal edição, que alguns companheiros veteranos guardam, constitui hoje uma espinha na garganta da FEB
porque documenta a insanável divergência entre os seguidores de Roustaing e de Kardec. Provaremos
também isso no próximo texto.

Fonte:

TOURINHO, Nazareno. As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio


crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.

Qual o Futuro do Homem para Lá do Túmulo?


14:41 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Rodolfo Calligaris

Malgrado todos os espiritualistas cristãos (considerados como tais os que concebem a alma como um ser
moral distinto do corpo físico, ao qual sobrevive) apontem as Escrituras Sagradas como base dos
princípios fundamentais de sua fé, várias e contraditórias são as suas teorias acerca dessa magna
questão.

Na opinião de uns, a sorte das almas decide-se no próprio instante da morte. As "eleitas" vão
imediatamente para o céu, e as "rejeitadas", para o inferno. Isso até o dia do juízo universal, ocasião em
que voltarão a unir-se a seus corpos ressurretos, sem os quais (dizem) nem aquelas conseguem ser
completamente felizes, nem estas podem ser convenientemente castigadas.

Segundo outra concepção, além do céu e do inferno, existiria uma estância intermediária: o purgatório,
lugar de expiação para as almas que, não estando inteiramente livres do pecado, tenham algumas penas
a descontar antes de serem recebidas no céu. Também para os partidários desta crença, haverá, no juízo
universal, uma religação das almas a seus antigos corpos para que, juntos, recebam sua sentença de
glória ou de condenação.

No entender de outros, ocorrendo à morte, as almas trespassadas perdem a consciência de tudo e ficam
como que em sono profundo, até o evento do juízo. Somente nesse dia é que os justos ressuscitarão para
a vida eterna, sendo que os considerados maus ou serão destruídos ou descerão para as regiões onde
há choro e ranger de dentes.

Há ainda quem afirme que o céu já está lotado por um número certo de almas santificadas, não havendo
lá mais vaga para ninguém. No final dos tempos, os que merecerem a graça da salvação, terão seu futuro
"habitat" aqui mesmo na Terra, que, devidamente expurgada, transformar-se-á em delicioso paraíso.

Essas doutrinas só se põem inteiramente de acordo em um ponto. E' quando dogmatizam que o homem
vive apenas uma vez (ainda que, em certos casos, por apenas alguns minutos), depois do que sua boa ou
má sorte será definitivamente selada, sem que lhe seja possível, além sepultura, arrepender-se e
emendar-se.

Ora, o que se vê neste mundo é que, do selvagem ao civilizado, os dons se evidenciam assaz
desproporcionados, o mesmo acontecendo com o nível de moralidade. Nem mesmo ao nascerem, as
criaturas se apresentam igualmente dotadas. Assim, se o futuro de cada ser, na eternidade, dependesse
realmente de uma só vida corpórea, então Deus devera ensejar a todos as mesmas aptidões e
oportunidades de instruir-se, assim como igualar a duração da existência humana, porquanto premiar uns
com deleites infinitos e condenar outros a torturas atrozes para todo o sempre, sem lhes haver
assegurado uniformidade de condições para merecerem este ou aquele destino, constituiria a mais
tremenda injustiça.

Outrossim, se os mortos não pudessem, mesmo, arrepender-se de seus erros, nem tomar novas
resoluções, qual a utilidade da pregação do Evangelho feita a eles pelo próprio Cristo, corno se lê em I S.
Pedro, 4 :6?

A Doutrina Espírita responde à indagação que serve de título a estas linhas dizendo que, como filhos de
Deus, criados à Sua imagem e semelhança, todos os homens se destinam à perfeição, o que vale dizer, à
felicidade.

Através das vidas sucessivas, todos hão de assenhorear-se da Verdade e, de progresso em progresso,
vir a "amar o próximo como a si mesmos", conquistando destarte o "reino do céu", que é um estado
(retidão de consciência) e não propriamente um lugar.

Com tal destinação, a alma deve caminhar sempre para frente e para o alto, crescendo em ciência e em
virtude, rumo à Razão Infinita e ao Supremo Bem.

Cada uma das existências terrestres ou nos milhares de mundos que pontilham o Universo, não é senão
um episódio da grande vida imortal. Em cada uma delas, vencemos um pouco da ignorância e do
egoísmo que há em nós, depuramo-nos, fortalecemo-nos intelectuais e moralmente, até que, por
merecimento próprio, adquiramos o acesso aos planos superiores da espiritualidade, moradas de eterna
beleza, sabedoria e amor!

Leitor amigo: não é esta a doutrina que melhor se coaduna com a majestade e os excelsos atributos do
Criador?

Que Fizeste na Vida


14:36 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Léon Denis

Olhai os pássaros de nosso país durante os meses de inverno, quando o céu está sombrio, quando a
terra está coberta com um branco manto de neve, agarrados uns aos outros, na borda de um telhado,
eles se aquecem mutuamente, em silêncio. A necessidade os une. Contudo, nos belos dias, com o sol
resplandecendo e a provisão abundante, eles piam quanto podem, perseguem-se, batem-se e se
machucam. Assim é o homem. Dócil, afetuoso para com seus semelhantes nos dias de tristeza, a posse
dos bens materiais muitas vezes o torna esquecido e insensível.

Uma condição modesta faz mais bem ao espírito desejoso de progredir, de adquirir as virtudes
necessárias para seu progresso moral. Longe do turbilhão dos prazeres fugazes, ele julgará melhor a
vida, dará à matéria o que é necessário para a conservação de seus órgãos, porém evitará cair em
hábitos perniciosos, tornar-se presa das inúmeras necessidades factícias que são o flagelo da
humanidade. Ele será sóbrio e laborioso, contentando-se com pouco, apegando-se aos prazeres da
inteligência e às alegrias do coração.

Fortificado assim contra os assaltos da matéria, o sábio, sob a pura luz da Razão, verá resplandecer seu
destino. Esclarecido quanto ao objetivo da vida e ao porquê das coisas, ficará firme e resignado diante da
dor, que ele aproveitará para sua depuração e seu progresso.

Enfrentará a provação com coragem, sabendo que ela é salutar, que ela é o choque que rasga nossas
almas e que só por este rasgão se derrama tudo quanto de fel e de amargura há em nós.

E se os homens se riem dele, se ele é vítima da intriga e da injustiça, ele aprenderá a suportar
pacientemente seus males, lançando seus olhares para vós; oh! nossos irmãos mais velhos, para
Sócrates bebendo a cicuta, para Jesus crucificado e para Joana na fogueira. Haverá consolação no
pensamento que os maiores, os mais virtuosos e os mais dignos sofreram e morreram pela humanidade.

Após uma existência bem preenchida, chegará a hora solene e é com calma, sem desgostos que virá a
morte, a morte que os homens cercam com um sinistro aparato, a morte, espantalho dos poderosos e dos
sensuais e que, para o pensador austero, é a libertação, a hora da transformação, a porta que se abre
para o império luminoso dos espíritos.

Esse pórtico das regiões extraterrestres será penetrado com serenidade se a consciência, separada da
sombra da matéria, erguer-se como um juiz, representante de Deus, perguntando: “Que fizeste da vida?”
e ele responder: “Lutei, sofri, amei! Ensinei o Bem, a Verdade e a Justiça; dei a meus irmãos o exemplo
do correto e da doçura; aliviei as dores dos que sofrem e consolei os que choram. Agora, que o Eterno
me julgue, pois estou em suas mãos!”

Homem, meu irmão, tem fé em teu destino, porque ele é grande. Confia nas amplas perspectivas porque
ele põe em teu pensamento a energia necessária para enfrentar os ventos e as tempestades do mundo.
Caminha, valente lutador, sobe a encosta que conduz a esses cimos que se chamam Virtude, Dever e
Sacrifício. Não pares no caminho para colher as florezinhas do campo, para brincar com os calhaus
dourados. Para frente, sempre adiante.

Olha nos esplêndidos céus esses astros brilhantes, esses sóis incontáveis que carregam em suas
evoluções prodigiosas, brilhantes cortejos de planetas. Quantos séculos acumulados foram precisos para
formá-los e quantos séculos serão precisos para dissolvê-los.

Pois bem, chegará um dia em que todos esses sóis serão extintos, ou esses mundos gigantescos
desaparecerão para dar lugar a novos globos e a outras famílias de astros emergindo das profundezas.
Nada o que vês hoje existirá. O vento dos espaços terá varrido para sempre a poeira desses mundos,
porém tu viverás sempre, prosseguindo tua marcha eterna no seio de uma criação renovada
incessantemente. Que serão então, para tua alma depurada e engrandecida, as sombras e os cuidados
do presente? Acidentes fugazes de nossa caminhada que só deixarão, no fundo de nossa memória,
lembranças tristes e doces.
Diante dos horizontes infinitos da imortalidade, os males do passado e as provas sofridas serão qual uma
nuvem fugidia no meio de um céu sereno.

Considera, portanto, no seu justo valor, as coisas da Terra. Não as desdenhes porque, sem dúvida, elas
são necessárias ao teu progresso, e tua obra é contribuir para o seu aperfeiçoamento, melhorando a ti
mesmo, mas que tua alma não se agarre exclusivamente a eles e que busque, antes de tudo, os
ensinamentos nelas contidos.

Graças a eles compreenderás que o objetivo da vida não é o gozo, nem a felicidade, porém o
desenvolvimento por meio do trabalho, do estudo e do cumprimento do dever, dessa alma, dessa
personalidade que encontrarás além do túmulo, tal como a tenhas feito, tu mesmo, no curso dessa
existência terrestre.

Fonte: Livro "O Progresso".

O Mundo Espiritual segundo o Espiritismo


17:54 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT

Por Maria das Graças Cabral

Diante dos inúmeros conflitos de entendimento, motivados por escritos e/ou opiniões que contradizem a
existência de ’colônias espirituais’, nos moldes da narrativa do espírito André Luiz, no livro Nosso Lar, o
presente artigo, tratará do Mundo Espiritual, objetivando dirimir alguns equívocos suscitados pelo tema,
com base nos preceitos Espíritas.

Não obstante, antes da abordagem do tema proposto, farei algumas considerações, que entendo de
relevância, para dissipar entendimentos equivocados.

Inicialmente, observo um grande ‘mal-estar’ que se instala ao se questionar a existência das


emblemáticas ‘colônias espirituais“. A razão de tal contrariedade, se dá pelo fato de ser a obra refutada
(Nosso Lar), produto da mediunidade do grande e respeitado médium Chico Xavier. Ou seja, a grande
legião de seguidores e admiradores do médium, entende que ao se questionar a veracidade das
mensagens mediúnicas, em razão da falta de amparo doutrinário espírita, por ’tabela’ se põe em ‘xeque’ a
moralidade, respeitabilidade e confiabilidade daquele que psicografou as obras.

Entretanto, devemos observar, segundo os ensinamentos positivados em O Livro dos Médiuns, que por
ser a Terra um planeta de provas e expiações, os Espíritos que aqui encarnam, são imperfeitos e
suscetíveis às influências espirituais. Por conseguinte, todos os médiuns encarnados no orbe terrestre,
por não serem Espíritos perfeitos, em algum momento de suas vidas e experiências mediúnicas, serão
obsidiados, mistificados ou fascinados, como qualquer outro simples mortal. Cabendo ainda ressaltar, da
grande complexidade que envolve o processo mediúnico, o qual estamos longe de compreendê-lo em
profundidade e alcançar todas as suas nuances.

Conquanto, é inquestionável que Chico Xavier, foi um homem que buscou vivenciar a moral evangélica,
tendo utilizado sua mediunidade como instrumento de consolação aos aflitos. Através das cartas
psicografadas, trazia notícias do mundo espiritual, amenizando as dores acerbas de mães, pais, filhos(as)
e familiares, que vivenciavam a partida de seus entes queridos para o outro lado da vida.

Além de mitigar as dores da saudade, o médium os aconselhava a direcionar suas energias ao amparo
dos desvalidos. Quantas casas de caridade foram instituídas e/ou apoiadas por pais e mães, que
buscaram consolação na mediunidade de Chico?!. Indiscutível a grandiosidade do seu trabalho de
beneficência, favorecendo com a venda de seus livros psicografados, inúmeras instituições de caridade, e
a própria Federação Espírita Brasileira.

No que tange a Doutrina dos Espíritos, os problemas vieram com a produção literária dos Espíritos
Emmanuel e André Luiz. Até porque, foram as obras dos referidos Espíritos, que levaram Chico Xavier a
ser conhecido no Brasil e no mundo como representante do Espiritismo, passando tais livros a serem
catalogados pela própria FEB como Obras Complementares da Doutrina Espírita. Hodiernamente, tais
exemplares são mais afamados e lidos, que as próprias Obras Básicas da Codificação, havendo uma
verdadeira inversão de valores.

Não obstante, vale lembrar que vários ’equívocos’ doutrinários firmados por Emmanuel, foram publicados
no livro O Consolador, de sua autoria. Dentre as incorreções, a que ganhou maior notoriedade foi quando
Emmanuel defendia a existência das “almas gêmeas”, em total desacordo com as Obras Básicas da
Doutrina Espírita. Na oportunidade, foi a própria FEB, quem levantou a questão, em razão do alvoroço
causado no meio espírita (J. Herculano Pires que o diga). Diante do transtorno, qual foi o posicionamento
de Emmanuel? - Transferiu a responsabilidade para o médium Chico Xavier, que prontamente assumiu o
erro.

Destarte, infere-se que, se nas demais obras ditadas pelo Espírito de Emmanuel, ou sobre sua
fiscalização e direção, que é o caso das obras ditadas pelo Espírito de André Luiz, - identifica-se
claramente inúmeras incongruências com a Doutrina Espírita, das duas uma: ou os referidos Espíritos
ditaram entendimentos próprios, embasados em convicções religiosas e filosóficas não
espíritas,“mesclando” com princípios espíritas, principalmente utilizando-se da moral evangélica, para
disfarçar os seus reais objetivos(?!); ou, todas as incompatibilidades serão de responsabilidade do
médium, que transformou ou procurou adequar as mensagens dos Espíritos, às suas próprias convicções
íntimas! Duas possibilidades: mistificação ou animismo.
O mais intrigante, é que Emmanuel, que se apresentava como Guia Espiritual do médium, de
personalidade autoritária, e de grande rigorismo para com seu tutelado; que se mostrava um intelectual
(observemos que na obra O Consolador ele trata das mais diversas áreas do conhecimento humano);
estudioso da Bíblia cristã (ditou várias obras voltadas para mensagens e análises de versículos bíblicos);
além de se colocar perante Chico, como um mestre e defensor dos preceitos Espíritas, teria “deixado
passar” tantos equívocos doutrinários?!

Oportuno ressaltar, que tais incorreções não são sequer questões de grande complexidade, pois quem
quer que estude os preceitos espíritas, com seriedade e atenção, facilmente identificará os sofismas. Isto
posto, vamos iniciar o estudo do mundo espiritual, com base nos preceitos propostos pela Doutrina dos
Espíritos, codificada por Allan Kardec.

É fato que para estudarmos o mundo espírita, devemos abstrair dos conceitos materiais pertinentes ao
mundo corpóreo. Como por exemplo, lugares com espaço definido, tangibilidade, ponderabilidade,
necessidades e/ou sensações físicas. Não podemos ter por paradigma o mundo corpóreo, para
compreender um outro mundo que foge totalmente à materialidade percebida pelos nossos sentidos.

O Espírito em seu processo evolutivo, passa pela encarnação no mundo material para alcançar a
perfeição. Cumprida sua missão no plano físico, o Espírito imortal, retorna ao mundo espiritual, o
qual“preexiste e sobrevive a tudo”. Nos dizem os Espíritos Superiores que, “O mundo corpóreo poderia
deixar de existir, ou nunca ter existido, sem com isso alterar a essência do mundo espírita.”Importante
pontuar, que não é pelo fato de o mundo espiritual preexistir ao mundo corpóreo, que este seja uma cópia
daquele, como muito comumente se propaga. (LE, p. 85 e 86)

No que tange à “localização” do mundo espiritual, esclarecem objetivamente os Mestres da Codificação,


que os Espíritos não ocupam uma região circunscrita e determinada no espaço.Asseveram que “os
Espíritos estão por toda parte; povoam ao infinito os espaços infinitos. Há os que estão sem cessar ao
vosso lado, observando-os e atuando entre vós, sem o saberdes (...) mas nem todos vão a toda
parte, porque há regiões interditadas aos menos avançados.” (LE., p. 87) (grifei)

Observemos, que para tal assertiva, não cabem distorções interpretativas. Os Espíritos Superiores são
enfáticos ao afirmar que os Espíritos não ocupam regiões delimitadas na espiritualidade! Infere-se do
exposto, que obviamente os Espíritos não delimitam espaços construindo nichos, para se abrigarem, se
tratarem, se alimentarem, etc., pois não é assim que ‘funciona’ o mundo espiritual!

Outro aspecto relevante a ser considerado, diante dos ensinamentos acima propostos, diz respeito à
ligação psíquica e emocional do Espírito ao mundo material. Nada mais comum, que o relato feito por
portadores de visão psíquica, de Espíritos que transitam em suas casas, museus, bibliotecas, ruas,
praças, bares, teatros, hospitais, cemitérios, etc., etc. Em contrapartida, muitos outros não sabem onde
estão, afirmam estarem cegos, perdidos, imersos em profunda escuridão. Isto porque, são infinitas as
possibilidades, do ’estar’ no mundo espírita, dependendo do psiquismo de cada indivíduo.

É fato que o Espírito errante, aspirando por um novo destino, poderá passar longos períodos no estado de
erraticidade (no mundo espiritual). E aí asseveram os Mestres da Codificação, que “existem mundos
particularmente destinados aos seres errantes, mundos que eles podem habitar temporariamente,
espécie de acampamentos, de lugares em que possam repousar de erraticidades muito longas, que são
sempre um pouco penosas. São posições intermediárias entre os outros mundos, graduados de acordo
com a natureza dos Espíritos que podem atingi-los, e que neles gozam de maior ou menor bem-
estar.” Acrescentam ainda, que os Espíritos que se encontram nesses mundos transitórios, podem deixá-
los para seguir seu caminho. (LE., p. 234)

À título de esclarecimento, vale pontuar que os referidos mundos transitórios, de superfícies estéreis, se
tornarão oportunamente mundos habitados. (LE., p. 236/236-b) Ressalto o entendimento, para que não
irrompa a concepção de que as emblemáticas ‘colônias espirituais’, se enquadrem nesta categoria.

Dando prosseguimento aos ensinamentos sobre os mundos transitórios, estejamos atentos à resposta
dada pelos Mestres Espirituais, quando Kardec indaga se os mundos transitórios são ao mesmo
tempo habitados por seres corpóreos. Respondem os Espíritos da Codificação que, “Não, sua
superfície é estéril. Os que os habitam não precisam de nada.” (LE., p. 236-a) (grifei)

Diante da resposta apresentada, mais uma vez legitimamos o entendimento de que o espírito errante não
precisa de nada, do que seria imprescindível ao encarnado no mundo material! Não precisa de
nada, repetimos. Ou seja, não precisa de casa, alimentação, hospitais, transportes, etc., porque ele agora
é ESPÍRITO. Sua condição é diversa, e por conseguinte suas necessidades não serão as mesmas de
quando habitava um corpo físico em um mundo material, como já repetimos anteriormente.

Prossegue o Codificador perguntando. - Esses mundos seriam, então desprovidos de belezas


naturais? Observa-se que quando Kardec argüi se tais mundos seriam destituídos de belezas naturais,
estava certamente tendo como paradigma o que consideramos no planeta Terra como belezas naturais.
Ou seja, os nossos bosques, jardins, mares, cachoeiras, enfim, tudo o que encanta aos nossos sentidos
na condição de encarnados. Vejamos então o que respondem os Espíritos Superiores: - “A natureza se
traduz pelas belezas da imensidade, que não são menos admiráveis do que as que chamais belezas
naturais.” (LE., p. 236-b) Outra grande lição dada pelos Mestres da Espiritualidade, quando asseveram
que existem belezas, as quais não correspondem ao nosso ‘padrão’ do que é bonito, agradável e perfeito.

Portanto, constata-se que os Espíritos errantes não precisam de florestas, jardins com flores exóticas,
cascatas, para se sentirem reconfortados com a beleza de um mundo transitório. Na condição de espírito,
a ‘imensidade’ de uma paisagem tem sua beleza própria.

Adiante, mais um questionamento de grande relevância é feito por Allan Kardec, no que concerne ao
mundo espiritual, senão vejamos: - Um lugar circunscrito no Universo está destinado às penas e aos
gozos dos Espíritos, de acordo com os seus méritos?

Vale observar, que mais uma vez o Codificador interroga da existência de um “lugar circunscrito no
Universo”, reservado ao sofrimento, à purgação, ou à felicidade dos Espíritos. Na realidade, Kardec sabia
da nossa carência de ‘visualizar’ um lugar definido, com área delimitada, e se possível com endereço
certo, para que pudéssemos ter uma noção desse mundo que nos foge aos sentidos. Até porque, céu,
inferno e purgatório eram tidos por lugares delimitados no mundo espiritual, fazendo parte da dogmática
católica, e aceita pela maioria cristã. Daí, a oportunidade do questionamento feito por Kardec.

Vejamos então a resposta dada pelos Espíritos Superiores: - “Já respondemos a essa pergunta. As penas
e os gozos são inerentes ao grau de perfeição do Espírito. Cada um traz em si mesmo o princípio de sua
própria felicidade ou infelicidade. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou
fechado se destina a uns ou a outros. (...)” (LE., p. 1011) (grifei)

Oportuno ressalvar que de acordo com o dicionário pátrio, o termo “circunscrito“, significa um lugar
restrito, delimitado, já a palavra “fechado“, significa encerrado, trancado. Faço, tal ressalva para alertar
que os Espíritos Superiores asseveram mais uma vez da não existência de locais delimitados, nem
fechados para se vivenciar a felicidade ou a dor no mundo espiritual. Observe-se quando nos é dito que
“cada um traz em si mesmo o princípio da sua própria felicidade ou infelicidade”.

Daí, Kardec oportunamente nos esclarece dizendo que: A felicidade está na razão direta do progresso
realizado, de sorte que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto o outro, unicamente
por não possuir o mesmo adiantamento intelectual e moral, sem que por isso precisem estar, cada
qual, em lugar distinto. Ainda que juntos, pode um estar em trevas, enquanto que tudo
resplandece para o outro, tal como um cego e um vidente que se dão as mãos: este percebe a luz da
qual aquele não recebe a mínima impressão. Sendo a felicidade dos Espíritos inerente às suas
qualidades, haurem-na eles em toda parte em que se encontram, seja à superfície da Terra, no
meio dos encarnados, seja no Espaço”.(Revista Espírita. Março de 1865, p. 100) (grifei) Em face de tão
claros ensinamentos, mais uma vez encontramos legitimação para contraditar e impugnar, a tese da
existência de ’umbral’, ou ‘colônias espirituais’.

A título de esclarecimento para aqueles que nunca leram a obra Nosso Lar, transcrevo o seguinte trecho
em que o espírito de André Luiz, assevera que o Umbral “começa na crosta terrestre, sendo uma zona
obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados” (...).
(Nosso Lar, p. 79) Acrescenta ainda, que o dito Umbral funciona, como região destinada a
esgotamento de resíduos mentais: uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o
material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo
de uma existência terrena“. (...) “Concentra-se aí, tudo o que não tem finalidade para a vida
superior, ressaltando que a Providência Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal
departamento em torno do planeta”. (grifei) (Nosso Lar, p. 79/81)

Já a colônia espiritual denominada de Nosso Lar é descrita pelo autor espiritual como uma cidade de uma
beleza impressionante, com “vastas avenidas, enfeitadas de árvores frondosas. Ar puro, atmosfera de
profunda tranqüilidade espiritual”. (Nosso Lar, p. 58) Prossegue o autor informando da existência de uma
praça no centro da cidade aonde se erguem o prédio da Governadoria, e os Ministérios. As residências ao
entorno são ocupadas por funcionários dos Ministérios. Uma outra parte dos conjuntos residenciais que
está fora desse circulo é constituída por pessoas ligadas aos funcionários dos Ministérios e podem ser
transmitidos a outros de acordo com a vontade de seus proprietários. Além dessas residências,
protegendo-as estão grandes muralhas protetoras.

Não obstante, diante dos ensinamentos transmitidos pelos Espíritos Superiores, e codificados por Allan
Kardec, não temos como validar, as narrativas acima apresentadas. Vale ressaltar que tais obras seriam
aceitáveis como romances de ficção e/ou de natureza espiritualista, mas nunca como uma obra
complementar espírita.

É fato que caímos nas malhas do absurdo, em razão do materialismo visceral que nos aprisiona,
impedindo vislumbrar um outro mundo, uma outra vida, que não seja nos moldes do mundo material em
que vivemos. Fugimos com medo de uma realidade que não aceitamos e/ou não entendemos, e nos
escondemos nos sonhos que nos oferecem e nos agradam, por não conseguirmos nos distanciar da
materialidade. E assim viajamos e nos perdemos nas utopias.

Não obstante, de acordo com a Doutrina Espírita, quando retornarmos à verdadeira vida, poderemos nos
sentir livres, seguros e felizes, tendo a nos recepcionar, nosso Guia Espiritual, familiares e amigos. Como
também poderemos estar desesperados, cegos, perdidos em uma escuridão sem fim, profundamente
revoltados e infelizes. Tudo dependerá das nossas condições consciênciais, emocionais e psíquicas.

Por fim, asseveram os Mestres Espirituais da Codificação Espírita, que nesse mundo infinito e eterno, que
é o mundo espiritual, “os Espíritos estudam o seu passado e procuram o meio de se elevarem. Vêem,
observam o que se passa nos lugares que percorrem; escutam os discursos dos homens esclarecidos e os
conselhos dos Espíritos mais elevados que eles, e isso lhes proporciona idéias que não possuíam.“ (LE.,
p. 227). Importante ressaltar, que os caminhos que percorre, não serão se arrastando pelo solo, nem
voando como pássaros. Nos dizem os Espíritos Superiores que viajaremos pela força do pensamento e
da vontade. E como se dará isso? Como descrever a luz aos cegos? Só vivendo pra saber.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KARDEC, Allan, O Livro dos Espíritos – 1857. Tradução Ed. Lake, 1995, Herculano Pires

KARDEC, Allan, O Livro dos Médiuns - 1863, Tradução Ed. Lake, 2003, Herculano Pires

KARDEC, Allan, Revista Espírita - março de 1865, Ed. FEB, 2004.

XAVIER, Chico , Nosso Lar - Ed. Feb, 1944 - 45ª edição

A identidade dos Espíritos e o excesso de


credibilidade
12:03 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Maria Ribeiro

A importância capital na distinção dos Espíritos diz respeito, a saber-se se são bem ou mal intencionados,
sábios ou ignorantes, sendo o restante de importância secundária, salvo se tratar-se de identificá-lo como
pessoa desencarnada de nossas relações, onde se faz necessária a comprovação da identidade. A
identificação será mais difícil quando tratar-se de personagens antigas, por isso a orientação em O Livro
dos Médiuns, em que “a apreciação será puramente moral”.

A linguagem é apontada como principal forma de identificação, ao menos moral e intelectual do Espírito.
Aliás, há entre eles, quando há concordâncias de idéias, o costume de assinar com um nome que
imprima mais confiabilidade, sem por isso tratar-se de um Espírito mal intencionado; estes são mais
esclarecidos, que, conservando sua individualidade, vão perdendo aos poucos os caracteres que
distinguem sua personalidade. Também há os que se fazem passar por personagens veneráveis, mas
com o intuito de enganar, e, claro, estes são sempre de ordem inferior.

“A questão da identidade é, pois, como dissemos, quase indiferente quando se trata de instruções
gerais, uma vez que os melhores Espíritos podem se substituir uns aos outros sem que isso tenha
conseqüência. Os Espíritos superiores formam, por assim dizer, um todo coletivo, do qual as
individualidade nos são, com poucas exceções, completamente desconhecidas. O que nos interessa não
é a sua pessoa, mas o seu ensinamento...”(cap XXIV – 256 – OLM)

Analisando estas sábias instruções, testemunha-se outra realidade no meio espírita, visto que grande
parte dos profitentes adoram saber quem é quem. A curiosidade pelo nome do irmão desencarnado é
maior que o interesse em interiorizar o ensinamento deixado por ele.

Não é de nosso costume pessoal, citar nominalmente nenhuma personalidade, antiga ou contemporânea,
mas neste caso particular nos vemos obrigada a este proceder, dada a necessidade de uma análise que
possa trazer novas reflexões acerca do assunto. Que não se entenda nas nominações nenhum laivo de
depreciação, já que não é este o objetivo.

Há exemplos que se tornaram clássicos; um deles diz respeito ao Espírito Bezerra de Menezes, que
segundo uns, foi Zaqueu, contemporâneo de Jesus. Outro exemplo é o de Francisco de Assis, afirmado
como João, discípulo do Cristo. Outra opinião diz que o Espírito Miramez é o mesmo jovem rico de uma
conhecida passagem evangélica. Há os que afirmam ser a Madre Tereza de Calcutá a mesma Maria de
Magdala. Joanna de Angellis teria sido Joana de Cusa, também discípula cristã. Os exemplos mais
difundidos são, entretanto, o de Emmanuel como o controverso Publio Lentullus, e André Luiz, como
sendo Carlos Chagas, um médico sanitarista que viveu na cidade Rio de Janeiro; e com exceção deste,
todos os outros estiveram com o Cristo...

Estas informações surgiram, decerto, através de desencarnados ignorantes ou mal intencionados, e


ganharam credibilidade geral, sem nenhum exame, aliás, como provar que um Espírito nascido no século
XIII como Francisco de Assis tenha animado um homem no tempo de Jesus, como João? Quem se
arriscaria a dar cem por cento de certeza?
Se com os Espíritos que viveram no passado mais distante é impossível comprovar a identidade, com os
que viveram mais recentemente é viável realizar um levantamento histórico e descobrir fatos que tornem
(ou não) a comprovação identificatória algo concreto.

Nada impediria que André Luiz, por exemplo, fosse o Carlos Chagas, não fossem as discordâncias das
informações. Segundo seus biógrafos, Carlos Chagas ficou órfão de pai aos quatro anos; viveu grande
parte de sua vida e desencarnou no Rio de Janeiro, é bem verdade, mas era mineiro de nascimento. Seu
desencarne se deu em 1934, ironicamente, de infarto do miocárdio, aos cinqüenta e cinco anos de idade.
Estes dados estão em flagrante contradição com os oferecidos por André Luiz sobre sua biografia: morreu
aos quarenta e poucos anos, durante uma cirurgia de câncer intestinal. Convivera com o pai, tanto que
relata em Nosso Lar um episódio onde, juntamente com este, repreende um personagem de nome
Silveira, por causa de uma dívida, além de afirmar que o pai desencarnara três anos antes dele, André
(cap. 7); relata ter deixado três filhos, mas ora fala de um primogênito (cap. 6), ora fala de uma
primogênita (cap. 49); enquanto Carlos Chagas teve dois filhos, que na época de seu desencarne já eram
adultos e diplomados. Há também uma dificuldade cronológica, pois, tivesse desencarnado em 1934 e
passado oito anos no umbral, André Luiz jamais teria condições de estar presente quando da explicação
de Lísias em relação ao início da Segunda Guerra Mundial (cap. 24), em 1939. Na ocasião, ele já se
encontrava perfeitamente restabelecido. Não se quer repetir a imprudência das especulações, sempre
pouco ou nada proveitosas, mas aventamos: ou seja, seu desencarne se deu no máximo em 1930 e seu
nascimento entre 1885 e 1888, e não em 1879, como o de Carlos Chagas. Isto, aliás, se forem corretas
tais informações oferecidas na obra.

Sobre a questão moral, também não há registro da vileza de comportamento do grande cientista mineiro,
conforme o autor de Nosso Lar se confessa portador, principalmente na juventude, quando diz ter
enganado uma jovem empregada de sua casa que foi posta na rua por seu pai... Como, se Chagas era
órfão desde os quatro anos, assumindo o papel de “homem da casa” aos quatorze, e passando a viver no
Rio de Janeiro por volta dos dezoito?! São palavras de Eurico Villela, professor e médico, colaborador de
Chagas:

“Sua compaixão pelo sofrimento alheio, sincera e profunda, não era, porém, passiva e resig-nada. Para
atenuá-lo nunca se poupou, tudo dava de si num esforço que não distinguia o dia da noite, torturado na
angústia de remediar o inelutável”.

“A nobreza de caráter e a desambição são outras características da sua personalidade. Quando, em


1919, o governo lhe outorgou um prêmio em dinheiro, no valor de cinquenta contos de réis, elevada
importância para aquela época, abriu mão do mesmo em favor da construção de um monumento a
Oswaldo Cruz. Ao acumular duas funções públicas, a de Diretor do Instituto Oswaldo Cruz e Diretor do
Departamento Nacional de Saúde, aceitou apenas os vencimentos de uma das funções.” (fonte:
Vertentes da Medicina, Joffre Marcondes de Rezende, São Paulo, editora Giordano, 2001)
Ao que consta, Chagas nunca teve nenhum de seus filhos “a praticar loucuras”, (cap. 49). Ao contrário,
foram tão brilhantes quanto ele mesmo. Um deles desencarnou prematuramente, em 1940, aos 35 anos
de idade, deixando várias obras consagradas. Já o filho mais moço que leva seu nome desencarnou no
ano 2000, também um grande cientista e pesquisador. Não consta que sua esposa tenha contraído
segundas núpcias, conforme André afirma que a sua tivera. Dona Íris Lobo desencarnou dezesseis anos
depois do marido, em 1950, não podendo constatar-se que tenha se casado novamente após a viuvez.
Apenas com estas informações vê-se a impossibilidade de tratar-se do mesmo Espírito. Em suma, André
Luiz e Carlos Chagas são duas individualidades distintas. André pode ter sido um admirador, talvez
integrante da mesma equipe de médicos sanitaristas, ou talvez atuasse num outro grupo com os mesmos
objetivos, sem evidentemente o mesmo brilhantismo de Chagas, (embora Emmanuel no prefácio, se refira
a ele como “médico terreno e autor humano”) já que consta que o ilustre cientista mereceu honras,
recebendo prêmios em vários países do mundo.

Com relação às outras personagens, é manifesta a impossibilidade de se fazer o mesmo estudo. Quem
foi Madre Tereza de Calcutá? Maria de Magdala, só porque fora prostituta, regenerou-se e reencarnou
envergando a indumentária de uma freira? Porque isto faria sentido? O personagem Emmanuel já tivera
sua identidade investigada e que, por hora, se encontra sob suspeita. Outros Espíritos têm sido objeto de
investigação, mas definitivamente, as especulações acerca dos supracitados que viveram séculos atrás
se fazem infundadas.

Porque Joanna de Angellis teria sido a mesma Joana de Cusa, discípula de Jesus? Ao que parece ela
mesma traçara sua biografia, partindo daquela personagem; ou seja, ninguém tem como provar que isto
seja real, mas o bom senso tem um peso enorme sobre isto: esta informação deveria ficar engavetada até
sabe-se lá quando, mas jamais ter sido difundida.

Os Espíritos Codificadores alertaram para a importância das instruções advindas dos Espíritos: o que tem
relevância são as características morais que eles denotam, e para isto tem-se que estar atento.
Descrevem tais características, comparando os bons e os maus Espíritos. O 23° princípio, inserto no
capítulo XXIV de O Livro dos Médiuns, diz:

“Não basta interrogar um Espírito para conhecer a verdade. É preciso, antes de tudo, saber a quem se
dirige; porque os Espíritos inferiores, ignorantes eles mesmos, tratam com frivolidade as questões mais
sérias. Também não basta que um Espírito tenha tido um grande nome na Terra, para ter, no mundo
espírita, a soberana ciência. Só a virtude pode, em purificando-o, aproximá-lo de Deus e desenvolver
seus conhecimentos.”

No 25º, completam: “Estudando-se com cuidado o caráter dos Espíritos que se apresentam, sobretudo
do ponto de vista moral se reconhece sua natureza e o grau de confiança que se lhe pode conceder. O
bom senso não poderia enganar.”

Parece claro, mas não é uma aplicação prática no meio espírita. Aliás, os Codificadores deram também
uma receita nem sempre fácil de realizar-se: eles ensinaram que para julgar os espíritos é preciso saber
primeiro julgar a si mesmo. E continuam: “Infelizmente, há muitas pessoas que tomam sua opinião
pessoal por medida exclusiva do bom e do mau, do verdadeiro e do falso; tudo o que contradiga sua
maneira de ver, suas idéias, o sistema que conceberam ou adotaram, é mau aos seus olhos.”

Não é o que se presencia no Movimento Espírita? Cada um se vê no direito de interpretar a obra segundo
o próprio entendimento, não permitindo exames, nem críticas, nem questionamentos, e isto não é um
proceder que se possa chamar Espírita. Há várias décadas que grande parte dos profitentes aprende e
ensina que André Luiz foi Carlos Chagas, embora já existam, desde muito tempo, resultados de
pesquisas que provam tal impossibilidade, não sendo possível se chegar a uma conclusão exata sobre a
personalidade real de André Luiz. Aliás, nenhum dos nomes cotados, como Oswaldo Cruz e outros, se
enquadra no perfil de André. O fato em si, conforme pontuaram os Espíritos, não é relevante. O Espírita,
manda o bom senso, deve aprender com eles o que for bom e útil, não se esquecendo de que, apesar de
demonstrarem bondade e boas intenções, têm ainda limitações do saber, portanto, nem tudo o que
disserem será verdadeiro. Mas, questiona-se: porque um Espírito que se esconde atrás de um
pseudônimo, cujas razões foram explicadas, ao ter sua identidade questionada, não desfaz os equívocos
a que teve que recorrer, justamente para não ser descoberto? E, não sendo Carlos Chagas, porque
permite tal engano? Aqui entra uma nova questão: considerando tal estado de coisas como uma prova,
pode-se concluir pela falência quase total do movimento espírita brasileiro: deslumbre excessivo pelas
manifestações copiosas, fáceis, para as quais se creditou grande valor, sem a preocupação com as
orientações do mestre Kardec. Os Espíritos Codificadores advertiram mais de uma vez sobre as
necessidades básicas do exame sério e frio; traçaram diretrizes seguras para que se evitasse todo o tipo
de equívocos. Coube aos homens colocarem em ação o que aprenderam com a Doutrina Espírita e
exercerem seu poder de raciocínio, sua inteligência e discernimento. E tudo o que fizeram foi cair nas
armadilhas do caminho... Se achando muito espertos.

Cabe, ainda, aos homens colocarem em prática o que aprendem com a Doutrina, exercitar o raciocínio, a
inteligência e o discernimento, reconhecendo que ainda há grande ignorância e tibiez de vistas a vencer
para que se compreenda o Espiritismo na sua grandiosidade e sublimidade.

Os adeptos sinceros devem procurar sempre e acima de tudo a verdade, evitando os pactos com
supostas verdades, as que nascem do orgulho e da vaidade dos modernos “doutores da lei”.
É inútil no atual momento querer repetir-se o mesmo regime repressor dos tempos idos. Os
questionamentos vão se tornar cada vez mais acirrados, as discussões mais vivas, e só restará o
insulamento para os que pretendam intimidá-los, porque, apesar de tudo, os homens evoluem!

Saint Germain, Novo "Governador do Planeta" ou


apenas um Bon Vivant?
12:36 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Artur Felipe Azevedo

Segundo ensina a Doutrina Espírita, Jesus de Nazaré representa "o tipo da perfeição moral a que a
humanidade pode aspirar na Terra" (O L.E., questão 625), sendo que Allan Kardec, com absoluta clareza,
classifica-o, na dissertação IX do cap. XXXI de "O Livro dos Médiuns", como "o espírito puro por
excelência". Já na questão 625 de "O Livro dos Espíritos", Kardec indaga: "Qual o tipo mais perfeito que
Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?", e os Espíritos responderam simplesmente:
"— Vede Jesus".

Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo, logo no primeiro capítulo, nos é ensinado que "O Cristo foi o
iniciador da mais pura, da mais sublime moral, da moral evangélico-cristã, que há de renovar o mundo,
aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações a caridade e o
amor do próximo e estabelecer entre os humanos uma solidariedade comum; de uma moral, enfim,
que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos que hoje a habitam. É
a lei do progresso, a que a Natureza está submetida, que se cumpre, e o Espiritismo é a alavanca de
que Deus se utiliza para fazer que a Humanidade avance.

São chegados os tempos em que se hão de desenvolver as ideias, para que se realizem os progressos que
estão nos desígnios de Deus. Têm elas de seguir a mesma rota que percorreram as ideias de liberdade,
suas precursoras. Não se acredite, porém, que esse desenvolvimento se efetue sem lutas. Não; aquelas
ideias precisam, para atingirem a maturidade, de abalos e discussões, a fim de que atraiam a atenção
das massas. Uma vez isso conseguido, a beleza e a santidade da moral tocarão os espíritos, que então
abraçarão uma ciência que lhes dá a chave da vida futura e descerra as portas da felicidade
eterna. Moisés abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá".

Não obstante tais claros ensinamentos, estabelecendo que a transformação da humanidade, lenta e
gradativa, se dará através da compreensão das Leis de Deus transmitidas a nós por intermédio de
espíritos missionários do quilate de Jesus e da própria Doutrina Espírita, os seguidores do espírito
Ramatis, influenciados, assim como ocorrera com Hercílio Maes, pelas ideias teosóficas, apresentam
Saint Germain como um espírito do mesmo quilate de Jesus, e, o que é ainda mais surpreendente, como
o "novo governador do Planeta Terra". Tal "novidade", bem ao gosto dos "universalistas", que em alto e
bom som propagam aos quatro ventos que a Doutrina estaria "ultrapassada" e carente de
"complementos", é encontrada nos livros de um dos mais recentes médiuns de Ramatis, Roger Bottini, do
Rio Grande do Sul, ao qual já nos referimos nos artigos "Universalismo Crístico ou Misticismo Anti-
Espirítico" e "Insistindo nos Mesmos Erros". Em seu livro "A Nova Era", lemos que "os já aprovados para
a Nova Era ingressarão em uma época de novos aprendizados sob a orientação do mestre Saint
Germain", referindo-se aos indivíduos que sobreviverem às devastadoras catástrofes supostamente
provocadas por um planeta chamado "Absinto", repetindo, assim, as mesmas previsões feitas por
Ramatis a Hercílio Maes e que não se cumpriram nas datas previstas (de 1992 a 1999). Jesus, ao seu
turno, segundo eles, assumiria atividades superiores, pois teria encerrado a sua missão, ficando o planeta
aos cuidados de Saint Germain.

Pois bem, mas quem seria Saint Germain? Segundo a Teosofia e a seita esotérica chamada "Grande
Fraternidade Branca", com base nos escritos de Annie Besant, Charles Leadbeater e Alice Bailey, Saint
Germain seria um "Mestre Ascensionado do Sétimo Raio de Luz Cósmica" ou "Chama Violeta", que, dois
mil anos após a vinda de Jesus, receberia a incumbência de substitui-lo na "Era de Aquário". Ainda
segundo os autores acima citados, Saint Germain teria sido o descobridor do elixir da vida eterna, tendo
se tornado, consequentemente, imortal.
No entanto, da versão acima o que se tem são apenas descrições sem qualquer comprovação ou
documentação histórica, oriunda apenas de relatos de pessoas que sequer o conheceram pessoalmente
e que já possuíam uma inclinação mística bastante acentuada, digamos assim, carecendo de completa
credibilidade. Já o filósofo Rousseau e o político Horace Walpole o conheceram. O "Conde" (de) Saint
Germain chegou à corte francesa em 1743, com passado nebuloso. Muitos chegaram a duvidar da
autenticidade de seu título nobiliárquico. Era um virtuose do violino, mestre da alquimia e de outras
ciências ocultas, um modismo da época. E tinha grande lábia. Não demorou a conquistar a confiança do
rei Luís XV. A sua fama de dom-juan e uma suspeita de falsificação de joias entretanto macularam sua
imagem. Em 1746, teve de sair fugido para não ser preso ou vitimado por alguma vingança. Voltou a
aparecer em Versalhes em 1758. O rei o enviou a missões de espionagem na Inglaterra, Holanda e
Áustria. Na Itália, virou amigo de Casanova, que se transformou em seu parceiro de farra. Para toda bela
mulher, revelava possuir o elixir da eterna juventude. O truque funcionava especialmente com jovens da
corte e criadas crédulas. Acabou, porém, desvirginando a filha de um nobre que o estava hospedando.
Achou melhor sumir de novo. Depois, foi avistado diversas vezes na Europa, sempre com nomes
diferentes: conde de Tsarogy, conde Welldone, marquês de Montferrat. Na época, já estava em
decadência. Foi tido como charlatão na corte do rei Frederico da Prússia ao dizer que transformava
chumbo em ouro. Supostamente, morreu amargurado em 1784.

Na Revista Espírita de fevereiro de 1859, o espírito São Luis é questionado, ao tratar do tema "Os
Agêneres", se o conde de Saint-German não pertencia à categoria dos agêneres. A resposta foi simples e
direta: - Não; era um hábil mistificador.

Caberá ao leitor analisar se alguém com as características citadas acima realmente estaria em condições
de servir de guia e modelo da humanidade... Da mesma forma, sem infantilmente colocarem-se como
vítimas de perseguição, cabe aos auto-intitulados "espíritas universalistas", em especial os seus
representantes e autores dessas obras em tantos pontos em completa oposição ao Espiritismo, darem
explicações para tamanho disparate, que se soma aos outros tantos que já identificamos e mencionamos
em artigos anteriores.

Análise crítica do texto “Alimentação dos


Espíritos” da autoria de Ricardo Di Bernardi, com
base nas Obras Básicas da Doutrina Espírita. (2ª
Parte)
12:17 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT
Por Maria das Graças Cabral

O presente artigo, prossegue na análise crítica ao texto“Alimentação dos Espíritos”, tendo como objeto, as
questões tratadas por Ricardo Di Bernardi, no que concerne ao “perispírito” e “alimentação dos espíritos’.
Serão as Obras Básicas da Doutrina Espírita, que validarão ou não a tese apresentada, a qual tem por
base, entendimentos de Espíritos e/ou médiuns, considerados “confiáveis” pelo autor do texto.

Inicialmente, Ricardo Di Bernardi se reporta à flexibilidade do perispírito, asseverando que: “O corpo


espiritual apresenta-se moldável conforme as emanações mentais do Espírito. Cada espírito apresenta
seu perispirito ou corpo espiritual com aspecto correspondente a elevação intelecto-moral. Seu estado
psíquico vai determinar a sutilização do seu corpo.” (grifei)

No que concerne ao acima exposto, encontramos fundamentação na Doutrina dos Espíritos, posto que,
no livro A Gênese, quando trata da Formação e Propriedades do Perispírito, está expresso que os
Espíritos agem sobre os fluidos espirituais através do pensamento e da vontade. Preceituam os
Mestres Espirituais, que freqüentemente as transformações são o produto de um pensamento
“inconsciente“. É assim, que um Espírito se apresenta perante um encarnado dotado de visão psíquica,
sob a aparência que tinha quando se conheceram, mesmo que depois de várias encarnações. E
prosseguem exemplificando, que se o Espírito foi uma vez negro e outra vez branco, apresentar-se-á
como negro ou como branco, segundo qual das duas encarnações será evocado, e à qual se reportará
seu pensamento. (A Gênese, Cap. XIV, item 14)

Quanto à sutilização do corpo fluídico, determinada pelo estado psíquico do Espírito, prevê a mesma
obra, que “a natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral
do Espírito. Os Espíritos inferiores não podem mudá-lo à sua vontade, e por conseguinte não podem se
transportar à vontade de um mundo para outro.” (A Gênese, Cap. XIV, item 9) (grifei)

Acompanhando o desenvolvimento do trabalho, nos deparamos em seqüência com as seguintes


elucidações, advindas segundo as palavras do autor, de inúmeros autores espirituais. Vale advertir,
que à partir de então, as idéias propostas não encontram mais nenhum respaldo na Doutrina Espírita,
como será demonstrado oportunamente.
Assim se expressa o autor: “O corpo espiritual é estruturado por aparelhos ou sistemas que se
constituem de órgãos; estes órgãos são formados por tecidos que, por sua vez, são constituídos por
células. Há inclusive patologias celulares tratadas em hospitais da espiritualidade. O chamado mundo
espiritual é (no nosso nível) um mundo material de outra dimensão.” (grifei)

Acrescenta Ricardo Di Bernardi, que “as células do corpo espiritual, em nível mais detalhado, são
formadas por moléculas que se constituem de átomos. Os átomos do perispírito são formados por
elementos químicos nossos conhecidos, além de outros desconhecidos do homem encarnado.” Em
seguida, sugere a leitura das obras de Gustave Geley e Jorge Andréa, onde se encontra referências mais
específicas ao corpo espiritual.

Adiante - para justificar a tese da alimentação dos Espíritos - aplica ao perispírito, os mesmos princípios
da física destinados à matéria, assim se expressando: “Sabemos pelos mais elementares princípios da
física, que todo corpo em movimento (vibração) no universo gasta energia, logo precisa repô-la o que
equivale a se alimentar. As leis da física não são leis humanas mas leis divinas (ou naturais) às quais
estão sujeitos todos os elementos do cosmo. Há portanto um desgaste energético natural do corpo
espiritual pelas suas atividades o que o leva a necessidade de ser alimentado por fontes de
energia.” (grifei)

Em seguida, prossegue lançando mão de ‘ensinamentos’ oriundos de Espíritos alienígenas à Doutrina


Espírita, asseverando que “dependendo do nível evolutivo do espírito, e conseqüente densidade do
perispírito, varia a qualidade do alimento ou energia que o mesmo necessita para manter suas
atividades. Espíritos superiores simplesmente absorvem do cosmo os elementos energéticos ("fluídicos")
que necessitam. Ao se colocarem em oração (no sentido mais profundo), sintonizam com níveis
energéticos ainda mais elevados (freqüências mais altas) aurindo para si o influxo magnético
revitalizador, alimentando suas "baterias" espirituais.” (grifei)

Acrescenta que, “com relação aos espíritos mais relacionados com a nossa realidade, ou seja que ainda
apresentam dificuldades em superar as tendências egoísticas, portanto traduzindo na configuração de
seu corpo espiritual uma maior densidade, as necessidades são proporcionalmente mais densas.”(grifei)

Por fim, o autor traz a lume as “novidades” instituídas pelo Espírito André Luiz, através da emblemática
obra Nosso Lar, asseverando que “em colônias espirituais, os espíritos precisam da ingestão de
alimentos energeticamente mais densos, fazendo-o de forma muito semelhante a nós encarnados." E
recomenda “o estudo mais detalhado da obra "Nosso Lar" de André Luiz, que foi precursora de dezenas
de outras onde se faz referência a alimentação, até as mais recentes "Violetas na Janela" etc.” (grifei)

No que tange às obras acima indicadas por Ricardo Di Bernardi para estudo mais detalhado, vale
ressaltar que as mesmas não podem ser consideradas espíritas, pois não se coadunam em vários
aspectos, com os preceitos doutrinários contidos nas Obras Básicas da Doutrina Espírita.

No que concerne à alimentação dos Espíritos, constatamos que tais orientações não encontram validação
nas Obras Básicas da Doutrina Espírita, como veremos a seguir. Inicialmente, para que os leitores e
leitoras tenham uma melhor compreensão do assunto em comento, faz-se por oportuno observar, que o
perispírito exerce funções diferenciadas para o Espírito na condição de encarnado, e quando
desencarnado.

A utilidade do perispírito para o Espírito encarnado, segundo os esclarecimentos de Allan Kardec, na


Introdução de O Livro dos Espíritos (LE), é de “liame que une a alma ao corpo, princípio intermediário
entre a matéria e o Espírito.” A união da alma ao corpo começa na concepção, quando o Espírito se liga
ao corpo por um “laço fluídico“, o qual se prende célula a célula ao corpo carnal em formação. Assim,
transmite as percepções e sensações do corpo físico ao Espírito, e vice-versa. Vale ressaltar, que é no
Espírito que reside a sede da inteligência e das lembranças. Através do perispírito, o Espírito agirá no
cérebro humano.

Já para o Espírito desencarnado, o perispírito deixa de ser liame e passa a ser o envoltório do Espírito,
que tomará a forma ao arbítrio do mesmo, podendo tornar-se visível e mesmo palpável para os
encarnados, conforme previsto em O Livro dos Espíritos. (LE., p. 95)

Reportemo-nos então, ao item III, de o LE, quando os Espíritos Superiores tratam das Percepções,
Sensações e Sofrimentos dos Espíritos. O Codificador da Doutrina Espírita, lança os seguintes
questionamentos: Pergunta 253: - Os Espíritos experimentam as nossas necessidades e os nossos
sofrimentos físicos? Resposta: - Eles o conhecem, porque os sofreram, mas não os experimentam como
vós, porque são Espíritos. (grifei)

Em seguida indaga Kardec na pergunta 254: Os Espíritos sentem fadiga e necessidade de


repouso?Resposta: Não podem sentir a fadiga como a entendeis, e portanto não necessitam do repouso
corporal, pois não possuem órgãos em que as forças tenham de ser restauradas. Mas o Espírito
repousa, no sentido de não permanecer numa atividade constante. Ele não age de maneira material,
porque a sua ação é toda intelectual e o seu repouso é todo moral. Há momentos em que o
seupensamento diminui de atividade e não se dirige a um objetivo determinado; este é um verdadeiro
repouso, mas não se pode compará-lo ao do corpo. A espécie de fadiga que os Espíritos podem provar
está na razão da sua inferioridade, pois quanto mais se elevam, de menos repouso necessitam.(grifei)

Por fim, vejamos a pergunta 255 lançada pelo Codificador: Quando um Espírito diz que sofre, de que
natureza é o seu sofrimento? Resposta: - Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente que os
sofrimentos físicos. (grifei)

Diante do exposto, infere-se que: 1º) As necessidades físicas de que se queixam os Espíritos são apenas
“impressões”; 2º) Os Espíritos não precisam de repouso, nem obviamente de alimento, posto que não
possuem órgãos em que as forças tenham de ser restauradas, nem muito menos aparelho digestivo,
sistema circulatório, nervoso ou genésico; 3º) O sofrimento do Espírito é totalmente moral, e não
físico.
Não obstante, quando leio mensagens mediúnicas positivadas em livros, revistas, artigos, etc., que
fundamentam os mais diversos trabalhos, como o texto sob análise, e não encontro respaldo nos
preceitos espíritas, questiono: - De onde esses Espíritos e/ou médiuns, trariam tais descrições e/ou
informações?

Chego a pensar na seguinte hipótese: - O Livro dos Espíritos, ao tratar da Encarnação em Diferentes
Mundos, apresenta uma explanação feita por Kardec, à respeito da condição dos Espíritos encarnados
em mundos elevados. Identifico “semelhanças” no que é narrado pelos Espíritos/médiuns, aos quais se
reporta o autor do texto sob análise, ao tratar da vida espírita.

Observem as elucidações do Codificador: “À medida que o Espírito se purifica, o corpo que o reveste
aproxima-se igualmente da natureza espírita. A matéria se torna menos densa, ele já não se
arrasta penosamente pelo solo, suas necessidades físicas são menos grosseiras, os seres vivos não
têm mais necessidade de se destruírem para se alimentar. (...) Quanto menos material é o corpo,
está menos sujeito às vicissitudes que o desorganizam; quanto mais puro é o Espírito, menos sujeito
às paixões que o enfraquecem. (...)” (LE., p. 182) (grifei)

Diante do exposto, penso que poderia haver uma ‘distorção’ no relato e/ou interpretação dos Espíritos
e/ou dos médiuns no que concerne às suas respectivas experiências espirituais. Será que na realidade,
tais Espíritos e/ou médiuns não estariam narrando a vida dos Espíritos encarnados em mundos mais
elevados?

Só vislumbro essa possibilidade, pois no que tange à vida espiritual do planeta Terra, conforme o previsto
de forma clara nas Obras Básicas, a realidade é totalmente diversa das notícias trazidas pelos Espíritos
e/ou médiuns, aos quais se reporta o autor do texto em comento!

É fato que, enquanto encarnados na Terra, planeta de provas e expiações, teremos um corpo denso, com
um organismo complexo, suscetível às mais diversas mazelas e prazeres. O elo de ligação entre este e a
alma, como já foi dito exaustivamente, é o perispírito, formado pelos fluídos próprios do planeta.

Não obstante, quando desencarnado, consoante orientações dos Mestres Espirituais, e as mais diversas
comunicações mediúnicas apresentadas pelo Codificador na Revista Espírita e nas Obras Básicas, não
estará o Espírito mais atrelado às carências físicas, exigidas pelo organismo humano. O corpo fluídico do
Espírito, como dito anteriormente, não tem órgãos, pois estes só têm finalidade, para o corpo humano
vivo. O Espírito não enxerga pelos órgãos da visão, não ouve pelo aparelho auditivo, não fala pela boca,
etc. Seus sentidos, estão por todo o corpo fluídico que o envolve! Suas percepções e sensações, se
adequarão a uma outra realidade espaço/temporal, própria da dimensão espiritual onde passa a viver.

O Espírito de volta ao plano espiritual, não lutará mais pela sobrevivência física, de um corpo que já se
decompôs. Sua luta será totalmente voltada às questões de cunho intelecto/moral, que o levará a
profundas reflexões e avaliações sobre tudo o que vivenciou, e o que foi importante para sua evolução.
Analisará seus erros e acertos, objetivando novos propósitos a serem realizados em uma próxima
encarnação. Como somos resistentes a essas verdades!
Isto posto, entendo que os equívocos do texto, ocorrem principalmente, quando Espíritos/médiuns e
autor, recorrem a outras áreas do conhecimento, e/ou a outras filosofias religiosas alienígenas, na busca
de sustentação para mensagens espirituais de teor discutível, tentando a todo custo adequá-las à
Doutrina dos Espíritos, embora tais idéias em nada se coadunem com os preceitos doutrinários espíritas.

Outro aspecto importante a considerar, que muito compromete a seriedade do trabalho objeto da presente
análise - é o critério utilizado pelo autor, para validação das mensagens mediúnicas apresentadas como
fonte de embasamento de sua tese. Ricardo Di Bernardi expressa uma confiança “incondicional” nos
médiuns famosos aos quais se reporta, e nas mensagens dos Espíritos que por eles se manifestam. Não
se atenta à grande lição deixada pelos Espíritos Superiores em O Livro dos Médiuns, quando nos alertam
que no planeta Terra não existem médiuns perfeitos. Os bons médiuns são raros! E portanto, TODOS
são mistificados. Alguns mais, outros menos.

Quais as conseqüências de tantas informações distorcidas? - Inúmeras falsas “revelações“, que se


incorporam aos ensinamentos espíritas como verdades doutrinárias, embora em total desacordo com
princípios propostos na Codificação kardeciana. Como também, sérios conflitos de entendimento, os
quais, tanto o Codificador lutou por evitar, se esmerando no vocabulário, organização, explicações,
esclarecimentos, e controle dos ensinamentos ministrados pelos Espíritos Superiores, e positivados na
Revista Espírita e nas Obras Básicas da Doutrina Espírita.

No que tange à questão das emblemáticas “colônias espirituais“, mencionadas pelo autor do texto
analisado, sugiro aos leitores que confiram o artigo intitulado “Umbral e Nosso Lar - Uma realidade não
existente face a Doutrina dos Espíritos”, publicado no presente blog Um olhar Espírita, quando tratamos
de regiões delimitadas no plano espiritual destinadas ao sofrimento ou à felicidade do Espírito. Faz-se
também imprescindível para um melhor aprendizado, o estudo do Capítulo VI, Vida Espírita,
complementado pelo Ensaio Teórico Sobre a Sensação nos Espíritos, desenvolvido por Allan Kardec,
contido no Livro Segundo de O Livro dos Espíritos; e o Capítulo II, item IX, Paraíso, Inferno, Purgatório.
Paraíso Perdido, do Livro Quarto da mesma obra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNARDI, Ricardo Di. http://medicinaespiritual.blogspot.com/2007/02/alimentao-dos-espritos-ricardo-


di.html
CABRAL, Maria das Graças. Umbral e Nosso Lar - uma realidade não existente face a Doutrina dos
Espíritos.
http://umolharespirita1.blogspot.com/
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Editora LAKE, 62ª edição, SP, 2001.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médius. Editora LAKE, 22ª edição, SP, 2002.
KARDEC, Allan. A Gênese. Editora LAKE, 20ª edição, SP, 2001.
Fenomenologia mediúnica
11:30 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Ricardo Malta

A mente, segundo o Dr. J.B Rhine (foto), não é física. As modernas pesquisas no campo dos
fenômenos théta provaram essa realidade. Sustenta Wathely Caringthon que “a mente é uma estrutura
psicônica, formada de átomos mentais, e depois da morte do corpo pode comunicar-se com as mentes
encarnadas”. [1] Hermínio c. Miranda, em análise aos estudos de J. B. Rhine, esclarece-nos:

Nesta mesma linha de raciocínio, vamos encontrar até homens do calibre do Dr. J. B. Rhine que, num
livro a ser analisado, nos assegura estas coisas muito sérias:

1) Que há no homem um princípio não-físico (a que nós chamaríamos logo de Espírito);

2) Que essa mesma criatura humana é dotada de certa percepção psíquica, a que ele chama extra-
sensorial;

3) Que a aludida capacidade de percepção não está subordinada às limitações de espaço nem às de
tempo, pois que já se demonstrou cientificamente a existência da telepatia – que transcende o espaço,
e a de presciência – que extravasa os limites do tempo.

Qual a conclusão óbvia que daí decorre? Não é preciso ser nenhum gênio, habituado às lides filosóficas e
aos imperativos da lógica, para descobri-la. Basta ter bom senso. Se há no homem um principio imaterial
que escapa ao domínio do tempo e do espaço, não é filosoficamente perfeita a conclusão de que esse
principio (Espírito) sobrevive à morte do corpo físico? [2]

Ao se despojar do corpo somático pelo fenômeno biológico da morte, o ser psíquico permanece revestido
por outro envoltório mais sutil, o qual se denomina psicossoma ou perispírito. É por esse corpo
quintenssenciado, mas ainda material, que o desencarnado se manifesta no plano físico. A importância do
perispírito é tamanha que é correto afirmar que ele constitui “a chave de todos os fenômenos espíritas de
ordem material.” Resta evidente que, para atuar na matéria grosseira, o Espírito também necessita da
matéria. Portanto, sem o perispírito seria impossível para o desencarnado se manifestar no plano material
e estabelecer comunicação com os encarnados.

No que tange ao mecanismo que rege a fenomenologia mediúnica, assevera com propriedade J.
Herculano Pires:
Tudo se passa no plano das emissões energéticas, das conotações por afinidade psicológica, das relações
naturais, entre dois dínamos-psíquicos (segundo a expressão de Gustave Geley) aptos a um processo
indutivo no campo energético. [3]

Podemos dizer, de maneira mais objetiva, que o intercâmbio mediúnico dá-se mediante uma perfeita
sintonia psíquica entre as mentes encarnadas e desencarnadas que, mediante uma forte indução, as
vibrações psíquicas do Espírito atingem o corpo energético (perispírito ou psicossoma) do médium,
provocando uma empatia entre ambos, estabelecendo-se a comunicação mental que aqui denominamos
de fenômeno mediúnico.

Observemos que nada há de sobrenatural ou maravilhoso no âmbito da fenomenologia mediúnica. Não


estamos diante de uma explicação mística ou apoiada em crendices populares, referimo-nos, pois, a
estudos científicos levados a efeito por inúmeros sábios desde o século dezenove. Destacam-se os
estudos de Allan Kardec, William Crookes, Russel Wallace, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano, Alexandre
Aksakof, Gustave Geley, Friedrich Zöellner, Hernani Guimarães, entre outros.

Embora os estudos científicos sejam relativamente recentes, iniciando-se oficialmente apenas em


meados do século dezenove, o intercâmbio com o plano espiritual é tão antigo quanto a própria
humanidade, a história está repleta de fatos espíritas. Corroborando com esse entendimento, nos diz
Leon Denis:

Certas pessoas consideram, mas sem razão, a mediunidade um fenômeno peculiar aos nossos tempos. A
mediunidade, realmente, é de todos os séculos e de todos os países. Desde as idades mais remotas
existiram relações entre a Humanidade terrestre e o mundo dos Espíritos. Se interrogarmos os Vedas da
índia, os templos do Egito, os mistérios da Grécia, os recintos de pedra da Gália, os livros sagrados de
todos os povos, por toda parte, nos documentos escritos, nos monumentos e tradições, encontraremos a
afirmação de um fato que tem permanecido através das vicissitudes dos tempos. [4]

Neste mesmo sentido, com maiores detalhes, encontramos na lavra psicográfica de Francisco Candido
Xavier, numerosos antecedentes históricos dos fenômenos mediúnicos, in verbis:

Acena-nos a antigüidade terrestre com brilhantes manifestações mediúnicas, a repontarem da História.


Discípulos de Sócrates referem-se, com admiração e respeito, ao amigo invisível que o acompanhava
constantemente. Reporta-se Plutarco ao encontro de Bruto, certa noite, com um dos seus perseguidores
desencarnados, a visitá-lo, em pleno campo. Em Roma, no templo de Minerva, Pausânias, ali condenado
a morrer de fome, passou a viver, em Espírito, monoideizado na revolta em que se alucinava,
aparecendo e desaparecendo aos olhos de circunstantes assombrados, durante largo tempo. Sabe-se que
Nero, nos últimos dias de seu reinado, viu-se fora do corpo carnal, junto de Agripina e de Otávia, sua
genitora e sua esposa, ambas assassinadas por sua ordem, a lhe pressagiarem a queda no abismo. Os
Espíritos vingativos em torno de Calígula eram tantos que, depois de lhe enterrarem os restos nos
jardins de Lâmia, eram ali vistos, freqüentemente, até que se lhe exumaram os despojos para a
incineração. [5]

Mais adiante, completa:

Apenas há alguns séculos, vimos Francisco de Assis exalçando-a em luminosos acontecimentos; Lutero
transitando entre visões; Teresa d’Ávila em admiráveis desdobramentos; José de Copertino levitando
ante a espantada observação do papa Urbano VIII, e Swedenborg recolhendo, afastado do corpo físico,
anotações de vários planos espirituais que ele próprio filtra para o conhecimento humano, segundo as
concepções de sua época. [6]

Poderíamos ainda levantar inúmeros antecedentes históricos, mas não se faz necessário. Existe uma
variedade enorme de obras que nos informam sobre esses fatos, não cabendo aqui elencar todos eles.

Cumpre classificar os fenômenos mediúnicos, para efeito metodológico, em dois grandes grupos distintos:

a) Mediunidade de efeitos físicos - Faculdade capaz de produzir efeitos materiais ostensivos, tais como
movimento e levitação de corpos inertes, tiptologia, curas fenomênicas, voz direta, transportes,
materializações, pneumatografia etc.;

b) Mediunidade de efeitos inteligentes - Faculdade capaz de receber e transmitir comunicações


inteligentes, como ocorre, por exemplo, nos fenômenos da psicofonia e psicografia.

A obra mais completa e segura que possuímos na atualidade descerrando os meandros da mediunidade
é O Livro dos Médiuns, publicado em Paris, em 15 de janeiro de 1861, de autoria de Allan Kardec. De
acordo com renomado pesquisador, a obra contém:

O ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de
comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos
que se podem encontrar na prática do Espiritismo, constituindo o seguimento de O Livro dos Espíritos. [7]

O assunto realmente é imenso e requer o estudo sério e contínuo, todavia, embora o caminho seja árduo,
a leitura (estudo) constitui o meio mais seguro contra os escolhos da mediunidade, além de ser conditio
sine qua non para todo candidato à pesquisador espírita.

Bons estudos!
________________________________________

Referências:

[1] PIRES, José Herculano. O espírito e o tempo, 10 ed. São Paulo: Paidéia, 2009, p. 335.
[2] MIRANDA, Hermínio. Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos, 4. ed. Brasília: Federação
Espírita Brasileira, 2002, p. 142
[3] PIRES, José Herculano. O espírito e o tempo, 10 ed. São Paulo: Paidéia, 2009, p. 338
[4] DENIS, Leon. No invisível. 1 ed. Especial. Rio de Janeiro: FEB, 2010, p.97
[5] XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito Andre Luiz.
26 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010, P. 15
[6] XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito Andre Luiz.
26 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010, P. 17-18
[7] KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
Folha de rosto.
O Método Kardequiano
20:55 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Maria Ribeiro

Tudo seria perfeito se entre os adeptos houvesse a concordância de que o método kardequiano ainda é a
forma mais segura de se iniciar e prosseguir nos estudos acerca dos postulados Espíritas.

A exemplo do que aconteceu com os ensinamentos do Cristo, cujos sentidos foram distorcidos ou
alterados, os ensinamentos dos Espíritos também foram e são vítimas de distorções e alterações
criminosas. Palavras criadas pelas férteis imaginações de homens ignorantes ou mal intencionados
comprometem o entendimento verdadeiro da Doutrina Espírita, já que nem todos se prestam à
investigação particular, ao estudo por si mesmos, preferindo se deixar guiar pelos que pensam ser os
mais experientes.

A experiência virá com o estudo, e talvez o primeiro sinal desta será o reconhecimento de que o
Espiritismo fala por si só, não tem porta-voz. Qualquer um que tiver o desejo de estudar o Espiritismo,
basta a leitura das obras kardequianas. Do estudo, certamente, originará a crítica, inimiga número um da
falta de transparência e da falta de coerência. O Espiritismo não teme a crítica, ao contrário, provoca-a.
Os piores críticos da Doutrina dos Espíritos têm sido seus próprios adeptos que, mal informados, trazendo
uma bagagem inconsistente, de origem não-espírita, simplista por demais, tornam os ensinos de uma
qualidade inferior, não correspondente com aqueles trazidos pelos Espíritos Codificadores. Tomam-se
aqui as palavras críticos/crítica não no sentido que Kardec faz alusão, aos detratores, aos que queriam
derrubar a doutrina, mas àqueles que a analisam, e, o que poderia ser feito saudavelmente, acaba por se
tornar uma verdadeira detração, porém feita pelos que deveriam defendê-la. Utilizem-se, entretanto, o que
o nobre mestre lionês argumenta para aqueles, pois cabe com perfeição para estes: “O verdadeiro crítico
deve provar não somente erudição, mas um saber profundo no que concerne ao objeto que trate, um
julgamento sadio, e de uma imparcialidade a toda prova...”; “O Espiritismo não pode considerar como
crítico sério senão aquele que tiver visto tudo, estudado tudo, aprofundado tudo, com a paciência e a
perseverança de um observador consciencioso...”(Parte I, cap. II, item 12 e 14 – O Livro dos
Médiuns) Quantos eruditos conta o Espiritismo, mas nas condições já descritas...Quantas análises torpes
tem-se deparado nos jornais, revistas e outros meios de comunicação intitulados espíritas...Como poderá
o adepto defender a doutrina se ele mesmo lhe é desconhecedor?

Kardec, no capítulo III de O Livro dos Médiuns – Método, diz que o meio mais seguro de se fazer novos
adeptos, obviamente em maior número entre os espiritualistas, é mesmo, em resumo, o estudo teórico.

Mas como se pretende fazer prosélitos apelando para as propagandas, para as formas exteriores, quando
o Espiritismo é todo Moral, todo racional? Examinem-se as palavras de Kardec no referido capítulo, item
32: “O estudo preliminar da teoria tem uma outra vantagem, qual seja a de mostrar, imediatamente, a
grandeza do objetivo e a importância desta ciência; aquele que se inicia por ver uma mesa girar ou
bater está mais inclinado à zombaria, porque dificilmente imagina que de uma mesa possa sair uma
doutrina regeneradora da humanidade...” Muitos irmãos ignoram até hoje esta grave missão da Doutrina
- regenerar a humanidade. E certamente isso não se dará com as manifestações dos Espíritos, com
prodígios, com curas, ou com outras invencionices. Kardec continua: ”Nós sempre mencionamos que
aqueles que creem antes de ter visto, porque leram e compreenderam, longe de serem superficiais, são,
ao contrário, os que refletem mais...” O convite é ao raciocínio, a Doutrina Espírita o exige, senão jamais
faria adeptos conscientes, sensatos, e o poder de fazê-los convictos está na reflexão. “Todo aquele que
reflete, compreende muito bem que se poderia fazer abstração das manifestações, e que a doutrina
não subsistiria menos por isso...”

Infelizmente, grande número de companheiros vê nos fenômenos a base do Espiritismo. Apesar destes
terem aberto o caminho, sozinhos não tocam aqueles que mais fazem uso da razão. Kardec aconselha a
observação e o estudo da fenomenologia, pois sem ela, obviamente, estaria o entendimento da ciência
espírita feito pela metade. E o desejável é o todo.

Outro ponto de reflexão é sobre os noticiários leigos, os programas de tevê de massa, que apresentam
pessoas que se dizem médiuns espíritas, realizando peripécias, adivinhações, recebendo até mensagens
do além, ali, ao vivo. Não se pode duvidar que sejam médiuns, mas, espíritas, é um pouco demais. O
problema é que alguns dos próprios adeptos se deleitam, pensando que assim grande número de
pessoas ficará convencido. Mais uma vez a mensagem kardequiana é veemente e taxativa:“...é preciso,
pois, observar, esperar os resultados e apanhá-los de passagem; também dissemos claramente que todo
aquele que se gabasse de os obter à vontade, não poderia ser senão um ignorante ou um impostor: por
isso ao Espiritismo verdadeiro não se porá jamais em espetáculo, e jamais subirá ao palco.” (item
31). O que ocorre nestas exposições demasiadamente desnecessárias é o uso indevido do termo
Espírita, isto poderia ser considerado falsidade ideológica, que é um crime previsto na lei. Mas ninguém
vai à imprensa leiga tentar desfazer os equívocos. Filmes são lançados, milhares de pessoas assistem,
gostam, saem do cinema maravilhados com as aventuras ficcionistas e histórias mirabolantes de
personagens os mais curiosos. Uma certa parcela de estudiosos espíritas reclama, censura, mas nada
faz para reverter o que se pode considerar já um processo irreversível. O ideal seria se se encontrasse
um meio de revelar ao grande público a história real da Doutrina, como ocorreram e ocorrem os fatos,
tudo baseado nas obras da Codificação. Pois, ainda muitos são movidos pelo interesse de ver retratadas
fantasias que aquele tipo de obra desenvolve muito bem; e não imaginam a real grandeza do Espiritismo
e nem dos fenômenos que este explica irretocavelmente.

Kardec teceu uma recomendação, ordenando as obras que deveriam se suceder na leitura e estudo de
quem pretendesse obter o conhecimento doutrinário. Assim, no item 35, ele prescreve 4 títulos, a saber:
O que é o Espiritismo, O Livro dos Espíritos, neste ele ajunta: “contém a doutrina completa, ditada pelos
próprios Espíritos, com toda a sua filosofia e todas as suas consequencias morais”; O Livro dos médiuns,
complemento de O Livro dos Espíritos; A Revista Espírita.
Se O Livro dos Espíritos contém a doutrina completa, há uma desnecessidade de os adeptos recorrerem
a outras obras. Ou não!? Só que mais adiante, ele prossegue: “Aqueles que querem tudo conhecer numa
ciência devem necessariamente ler tudo o que está escrito sobre a matéria, ou, pelo menos, as coisas
principais, e não se limitar a um só autor; devem mesmo ler o pró e o contra, as críticas como também
as apologias, iniciar-se nos diferentes sistemas a fim de poder julgar pela comparação. Sob esse
aspecto, não preconizamos nem criticamos nenhuma obra, nem queremos influir em nada sobre a
opinião que se pode delas formar; trazendo nossa pedra ao edifício, colocamo-nos nas fileiras: não nos
cabe ser juiz e parte, e não temos a pretensão ridícula de sermos os únicos dispensadores da luz; cabe
ao leitor apartar o bom do mau, o verdadeiro do falso.”

As obras Espíritas mais os volumes da Revista Espírita devem ser considerados como ”as coisas
principais” a que ele se referiu, em relação ao conhecimento do Espiritismo.

Este Espírito que animou a doce personagem do Sr. Rivail é de tamanha grandeza que é impossível citá-
lo sem experimentar uma emoção diferente! Ele diz: “e não se limitar a um só autor”. Ele recomenda
que os adeptos exerçam a liberdade de pesquisa por si mesmos, sem estacionarem somente no trabalho
que ele, Kardec, realizou; e que reflitam e tirem suas próprias conclusões. Kardec, certamente, pensava
em homens realmente sem preconceitos e abertos. Esta recomendação não só é útil, como necessária.
Os homens inteligentes pensam por si mesmos, mas baseados na lógica e na sensatez.

Hoje sabe-se que os que estudaram Kardec estão aptos a lerem outras obras; mas fatalmente, o mestre
francês será sempre requisitado – está-se sempre retornando a Kardec, pois, após seguir sua
recomendação de ler tudo e todos, a decepção dá lugar a nostalgia Kardequiana...

Obviamente não se pode esperar que todos tenham por ele a mesma emoção nem a mesma saudade,
porque encontraram em suas palavras dificuldades que foram e ainda são resolvidas com fórmulas, ritos
e outras anedotas.

Insistindo nos mesmos Erros


20:46 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Artur Felipe de Azevedo

Como já pudemos tratar em dezenas de estudos presentes em dois livros, “Ramatis, Sábio ou Pseudo-
Sábio?” (1997) e “Espiritismo x Ramatisismo”(2010), o primeiro médium a afirmar receber comunicações
advindas de um espírito chamado “Ramatis” foi Hercílio Maes nos anos de 1950, pegando carona em
teses presentes em obras teosóficas e apresentando-as como novidades que deveriam os espíritas
aceitar sem pestanejar, conforme expusemos em "Artigo Investigativo:Ramatis pode nem existir". Afinal,
repetia-se ferozmente, já naquela época: “Kardec está ultrapassado”, “a Doutrina é progressista”, e
algumas outras frases "chavões" sem qualquer consistência.

Depois do desencarne do médium paranaense, alguns outros médiuns, embalados pelo sucesso de
vendas dos livros de Maes e, principalmente, pela aceitação do ramatisismo por parte de um considerável
contingente de simpatizantes, em sua maioria constituída de neófitos no estudo da Doutrina Espírita,
passaram a atribuir a Ramatis a autoria de ditados que, em muitos pontos importantes, contradisseram
algumas das suas principais teses, principalmente aquelas já tidas como ultrapassadas e desmentidas
pelos fatos e pelas Ciências, tais como as retumbantes previsões de catástrofes globais para o fim do
século XX e as descrições equivocadas acerca da topografia do planeta Marte e do cotidiano de seus
supostos habitantes. De modo a amenizar tais discrepâncias e escaparem de críticas e suspeições,
alguns desses médiuns atribuíram tais inconsistências a uma suposta interferência anímica de Hercílio
Maes.

Não obstante a avalanche de equívocos, contraditados pela Doutrina Espírita e pela Ciência, há quem
insista ainda, nos dias atuais, em reviver e reeditar tais teorias sob uma fachada nova, intentando
encontrar nas fileiras espíritas apoio e suporte à divulgação das mesmas.

O primeiro esforço articulado pelas lideranças do movimento ramatisista de modo atingir um maior
número de leitores e angariar mais simpatizantes foi o de reeditar as obras de Ramatis através de uma
editora com fins puramente comerciais, retirando da pequena "Livraria Freitas Bastos", do Rio de Janeiro,
os direitos de exclusividade sob as obras de Hercílio Maes. A partir daí, coincidentemente ou não,
surgiram de várias partes do Brasil novos autores apresentando-se como médiuns de Ramatis, cada qual
apresentando a citada entidade espiritual com uma roupagem diferente e ainda mais exótica de modo a
agradar aos mais variados gostos e tendências religiosas, tudo sob a fachada de um certo “universalismo”
– na verdade, uma inglória tentativa de sincretizar o Espiritismo e, concomitantemente, facilitar a obtenção
dos elevados lucros oriundos da vendagem de livros que de espíritas nada têm, apesar de assim se
intitularem em suas respectivas fichas catalográficas.

Insistindo nos velhos argumentos

Em nosso artigo “Universalismo Crístico ou Misticismo Anti-Espirítico", alertamos para o exotismo das
obras do médium Roger Bottini, do Rio Grande do Sul. Ao lermos e analisarmos um dos seus livros,
intitulado "A Nova Era" (Editora do Conhecimento), deparamo-nos com textos atribuídos ao espírito
Hermes, que se diz pertencente à falange de Ramatis. É o que parece ser, pois as teses anti-doutrinárias
e as cincadas científicas estão lá, presentes. Citemos algumas delas:

1- Afirma o espírito Hermes: "A extinta Atlântida possuía conhecimentos superiores aos da atual
humanidade"

Nosso comentário: Até hoje não há nenhuma prova concreta da existência dessa mitológica civilização.
Caso tenha realmente existido, não faz sentido algum acreditar que ela tenha alcançado, 9.600 anos
antes de Cristo, uma evolução intelecto-moral superior a de hoje. Caso isso fosse verdade, poderíamos
perguntar onde estariam os aviões supersônicos, as naves espaciais, os computadores atlantes e o sem
número de aparatos tecnológicos que temos hoje, advindos da evolução gradativa da inteligência humana
ao longo dos séculos.

2- Em nota de rodapé, consta a antiga previsão de Ramatis sobre um suposto Presidente da República
que se elegeria passando por cima de partidos e instituições e que "salvaria" o Brasil. Já tratamos deste
assunto no artigo "Ramatis e o Presidente do Brasil". Primeiramente, segundo a nossa Carta Magna, a
Constituição, só podem concorrer e eleger-se para cargos do Poder Executivo pessoas filiadas a partidos
políticos. Em segundo, Ramatis "profetizou" a ascensão dessa figura ao poder em 1970, sendo que o
espírito afirmou, à época, que o mesmo já teria percorrido mais da metade do caminho até a Presidência.
No entanto, mais de 40 anos se passaram, e nada aconteceu.

3- Utilizando-se de um expediente surrado e vazio, o espírito Hermes ousadamente afirma que os


"universalistas" são vítimas de perseguição e que aqueles que não concordam com suas propostas são
obsidiados governados por "espíritos da Trevas" ou "magos negros": "Outra forma de atuação é
fascinando os líderes religiosos para crerem-se os únicos detentores da verdade e, assim, lutarem contra
seus irmãos no campo das ideias. Vemos claramente essa posição entre alguns encarnados que
respondem pela própria Doutrina Espírita. Eles trabalham ferrenhamente contra o processo de união
religiosa até mesmo com relação aos espíritas universalistas, seus irmãos de crença.Esses pobres
fascinados rechaçam livros espíritas que contestam as suas posições dogmáticas, acreditando serem os
donos exclusivos da verdade. Os espíritos das Trevas então realizam um trabalho de indução mental para
que eles acreditem que seus irmãos, que pensam de forma mais abrangente e menos sectária, estão
fascinados ou envolvidos por entidades maléficas, em uma total inversão do que realmente ocorre. O
objetivo dos magos negros é sempre prejudicar os trabalhadores da Espiritualidade, os quais consideram
seus "inimigos mortais". Logo, atividades que visem a prejudicar o trabalho de união das crenças
religiosas, de conscientização para o período de transição planetária e do trabalho de esclare¬cimento
para a Nova Era, são a meta principal desses irmãos ainda dominados pelas forças do mal".

Realmente já tratamos do tema no artigo "Nos Descaminhos da Fascinação". O leitor poderá ver quais
são alguns dos sintomas desse tipo de obsessão, e certamente notará que indivíduos que creem na
existência de crianças índigo, planeta chupão, apometria, poder curador de cristais e objetos materiais,
profecias mirabolantes e aterrorizantes, intraterrestres, ETs que implantam chips em seres humanos,
terapias exóticas e milagreiras, entre outras teorias esdrúxulas e sem qualquer respaldo, realmente só
podem abrir brechas a espíritos galhofeiros e mistificadores que se esforçam em afastar o indivíduo da
realidade, alienando-o e expondo-o a uma posição ridícula, levando de roldão a própria Doutrina Espírita
perante a opinião pública.

Acredito que, ao invés de alegarem perseguição gratuita, deveriam os "universalistas" aceitar o debate e
análise dessas teorias, pois só quem realmente considera-se "dono da verdade" se fecha ao debate e
enfeza-se quando questionado. Ademais, jamais um espírito superior agiria de tal forma, pois, segundo
nos ensina a Doutrina Espírita, "Os maus Espíritos temem o exame; eles dizem: 'Aceitai nossas palavras
e não as julgueis.' Se tivessem a consciência de estar com a verdade, não temeriam a luz. O hábito de
escrutar as menores palavras dos Espíritos, de pesar-lhes o valor, distancia forçosamente os Espíritos
mal intencionados, que não vêm, então, perder inutilmente seu tempo, uma vez que se rejeite tudo o que
é mau ou de origem suspeita. Mas quando se aceita cegamente tudo o que dizem, que se coloca, por
assim dizer, de joelhos diante de sua pretensa sabedoria, fazem o que fariam os homens - disso
abusam." (Allan Kardec, Escolhos dos Médiuns, Revista Espírita, fevereiro de 1859)

4- Insistindo na divulgação de mensagens atemorizantes sobre hecatombes causadas pela suposta


aproximação de um astro intruso, o espírito Hermes corrige a data do "fim dos tempos". Enquanto
Ramatis, nos anos de 1950, asseverou que o mundo não passaria do ano 2000 sem que dois terços da
humanidade perecesse e a Terra fosse destruída por uma série de eventos catastróficos, o espírito
Hermes, através de Roger Bottini, afirmou em 2002: "Esses períodos de transição abrangem em torno de
cem anos do calendário terreno, sendo que o atual iniciou-se na segunda metade do século passado e
deverá ser concluído até o final deste século". Vemos, daí, que como as previsões não se cumpriram,
tratou-se logo de mudar as datas, empurrando-as para frente - bem típico das seitas apocalípticas.

5- Não satisfeito em demonizar os espíritas que não concordam com as ideias excêntricas que divulga, o
espírito "universalista" Hermes não perdoa sequer uma grande personagem: Maria Madalena. Segundo
ele, a discípula de Jesus, também conhecida como Maria de Magdala, teria sido usada pelo que os
"universalistas" chamam de "Astral Inferior" e por "magos negros" - termos não aceitos e não constantes
da Doutrina Espírita - para tentar seduzir e desvirtuar Jesus, com a intenção de "prejudicar os sagrados
projetos do Alto".

Essa teoria não encontra respaldo nem nos textos bíblicos, nem em estudos sobre o Jesus histórico.
Consta dos Evangelhos que Maria Madalena acreditava que Jesus Cristo realmente era o Messias.
(Lucas 8:2; 11:26; Marcos 16:9). Madalena esteve presente na crucificação e no funeral de Cristo,
juntamente com Maria de Nazaré e outras mulheres. (Mateus 27:56; Marcos 15:40; Lucas 23:49; João
19.25) (Mateus 27:61; Marcos 15.47; Lucas 23:55). No sábado após a crucificação, teria saído do
Calvário rumo a Jerusalém com outros crentes para poder comprar certos perfumes, a fim de preparar o
corpo de Cristo da forma como era de costume funerário. Teria permanecido na cidade durante todo o
sábado, e no dia seguinte, de manhã muito cedo, "quando ainda estava escuro", foi ao sepulcro, achou-o
vazio, e recebeu de um anjo a notícia de que Cristo havia ressuscitado e foi-lhe dito que devia informar tal
fato aos apóstolos. (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-5,10,11; Lucas 24:1-10; João 20:1,2; compare com
João 20:11-18). Em Lucas 8:2, faz-se menção, pela primeira vez, de "Maria, chamada Madalena, da qual
saíram sete demônios". No entanto, não há qualquer fundamento bíblico para considerá-la como a
prostituta arrependida dos pecados que pediu perdão a Cristo; também não há nenhuma menção de que
tenha sido prostituta.Este episódio é frequentemente identificado com o relato de Lucas 7:36-50, ainda
que não seja referido o nome da mulher em causa. Há, inclusive, "O Evangelho de Maria Madalena", que
traz uma nova interpretação de quem teria sido Maria de Magdala. Segundo este evangelho, ela teria sido
uma discípula de suma importância à qual Jesus teria confidenciado informações que não teria passado
aos outros discípulos, sendo por isso questionada por Pedro e André. Ela surge ali como confidente de
Jesus, alguém, portanto, mais próximo de Jesus do que os demais. Em trechos do citado evangelho,
consta o que é um claro desmentido à tese dos "universalistas": "O apego à matéria gera uma paixão
contra a natureza. É então que nasce a perturbação em todo o corpo; é por isso que eu vos digo: Estejais
em harmonia… Se sois desregrados, inspirai-vos em representações de vossa verdadeira natureza. Que
aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça. Após ter dito aquilo, o Bem-aventurado saudou-os a todos
dizendo: Paz a vós – que minha Paz seja gerada e se complete em vós! Velai para que ninguém vos
engane dizendo: Ei-lo aqui. Ei-lo lá. Porque é em vosso interior que está o Filho do Homem; ide a Ele:
aqueles que o procuram o encontram. Em marcha! Anunciai o Evangelho do Reino."
"Pedro disse: "O Salvador realmente falou com uma mulher sem nosso conhecimento? Devemos nos
voltar e escutar essa mulher? Ele a preferiu a nós?". E Levi respondeu: "Pedro, você sempre foi
precipitado. Agora te vejo lutando contra a mulher como a um adversário. Se o Salvador a tornou digna,
quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece muito bem. Foi por isso a amou mais que
ama a nós"."

6- Ainda incorrendo nos caminhos tortuosos das pseudorrevelações na tentativa de passar uma pretensa
superioridade espiritual, o espírito Hermes, discípulo de Ramatis, afirma que "a velocidade da luz é
entendida pelos cientistas humanos como o meio mais rápido de se viajar no espaço sideral. E eles estão
corretos, dentro dos limites físicos". Em setembro de 2011, no entanto, foi descoberta a existência de
partículas sub-atômicas (neutrinos) mais rápidas do que a luz.

7- Quando são citados trechos dos livros da Codificação Espírita, o desconhecimento parece ser ainda
maior. O espírito Hermes, no capítulo XII, afirma que o espírito é criado "puro e ignorante", e não "simples
e ignorante", o que é totalmente diferente. Mais adiante, diz que foi Kardec o criador da definição de
"perispírito", enquanto que, na verdade, foram os Espíritos que a transmitiram a Kardec no item 93 de "O
Livro dos Espíritos". Aliás, esse é um erro comum por parte dos "universalistas", que para reforçarem a
tese de que o Espiritismo estaria ultrapassado, geralmente imputam ao Codificador a autoria dos
ensinamentos, e não aos Espíritos Superiores que, de fato, responderam aos questionamentos
elaborados pelo professor francês.

Prosseguiremos, em novos artigos, a analisar as proposições "universalistas" à luz do Espiritismo.


Aguardem.

A Lei de Destruição
10:27 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Maria Ribeiro

A parte terceira de O Livro dos Espíritos é reservada a esclarecer sobre as leis morais, classificadas por
Kardec com a permissão dos Espíritos em dez partes; aliás, a mesma divisão mosaica e que, segundo os
Orientadores do Plano Maior, abrangem todas as circunstâncias da vida. (648)

Dentre as leis morais, a lei de destruição parece ser a menos compreendida, também pouco abordada. O
capítulo VI representando a quinta lei - lei de destruição – aborda: destruição necessária e destruição
abusiva; flagelos destruidores; guerras; homicídio; crueldade; duelo e pena de morte. Na questão 728,
Kardec argúi aos Instrutores do Além se a destruição é uma lei da Natureza ao que eles prontamente
respondem:

“- É preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar, porque o que chamais destruição não é
senão uma transformação que tem por objetivo a renovação e melhoramento dos seres vivos.”

Na Gênese, no capítulo III, lê-se:

“Para aquele que não considera senão a matéria, que limita sua visão à vida presente, isso parecerá,
com efeito, uma imperfeição na obra divina.”

Entre os animais forma-se a cadeia alimentar que promove na natureza um equilíbrio ao qual ninguém se
dá conta. Entre os seres inferiores, desprovidos de senso moral, a mais imperiosa necessidade é a da
nutrição - lutam para viver. “É nesse primeiro período que a alma se elabora e se ensaia para a vida.”

O homem passa por uma fase de transição e, nas primeiras idades, o que prevalece é o instinto animal;
depois, este se contrabalança com o sentimento moral e agora a necessidade é satisfazer o desejo de
domínio; somente muito depois, com o desenvolvimento do senso moral começa a surgir uma maior
sensibilidade e “o homem passa a lutar contra as dificuldades e não mais contra seus semelhantes.” Na
atualidade o homem se transformou no principal consumidor de alimento animal, e as pesquisas
gastronômicas lançam sempre suas novidades; e não se pode crer, que isto se dê com o cruel intuito de
massacrar os pobres bichinhos. O hábito de consumir carne parece incomodar um grupo formado dentro
do Movimento Espírita que quer a todo custo demovê-lo, lutando contra a condição que a Natureza, ao
menos provisoriamente, os colocou: de um lado, os animais, que desde a gênese mosaica foram dados
aos homens para sua provisão; e de outro, os homens, cuja constituição orgânica exige proteína de
origem animal. Isto se deve ao fato de alguns adeptos pouco convictos e superficialmente conhecedores
de fato do Espiritismo, se deixarem seduzir pelas informações vindas de Espíritos mais facínoras do que
sérios. Ainda no capitulo anterior que trata da lei de conservação, Allan Kardec, na questão 723 questiona
se “a alimentação animal, entre os homens, é contrária à lei natural” e os Espíritos Codificadores
objetam, muito claramente:

”- Na vossa constituição física a carne nutre a carne, de outra maneira o homem enfraquece. A lei de
conservação dá ao homem um dever de entreter suas forças e sua saúde para cumprir a lei do trabalho.
Ele deve, pois, se alimentar, segundo o exige a sua organização.”

Conclui-se que o primeiro dever do homem é zelar pela própria saúde e bem estar físico, o que, durante
os estágios primitivos, ele procura fazê-lo instintivamente. De outra forma, ele não encontrará subsídios
para desenvolver outros deveres, cumprir outras leis. Voltando à Gênese, no item 21 do referido capítulo,
em destaque, está declarado:

“- A verdadeira vida, do animal, tal como a do homem, não se encontra no envoltório corporal, como
também não se encontra em seu vestuário; ela está no princípio inteligente, que preexiste, e que
sobrevive ao corpo.”
Daí, cabe perguntar, de onde estes companheiros tiraram tanta coragem para contradizer de forma tão
aberrante aos insignes Codificadores: Kardec e os Espíritos adjudicados de tamanha missão. Seja
coragem, seja estupidez, fato é que se trata de uma insolência absurda, pois que não há ninguém
encarnado ou desencarnado à altura daqueles que trouxeram a Doutrina Espírita, ao menos agora.
Demorará ainda talvez alguns séculos para que os missionários ressurjam para acrescentar na
Codificação o que o próprio Kardec, na sua simplicidade, afiançou. Isto vai depender do avanço moral dos
homens, que na atualidade ainda se encontram num tal estado entusiasta que chega ao ponto de
negligenciar e desmentir a Verdade proposta pela Doutrina Espírita.

Quer estas colocações Espíritas dizer que tal destruição é necessária. Recorram-se às palavras
Kardequianas:

“Uma primeira utilidade que se apresenta nesta destruição, utilidade puramente física, certamente, é
essa: os corpos orgânicos não se alimentam senão com a ajuda de matérias orgânicas, uma vez que
estas matérias são as únicas que contêm os elementos nutritivos necessários à sua transformação. Os
corpos, instrumentos de ação do princípio inteligente, têm necessidade de ser incessantemente
renovados; a Providência os faz servir a seu mútuo alimento; é por isso que os seres se nutrem uns dos
outros; então é o corpo que se nutre do corpo, porém o Espírito não se aniquilou, nem se alterou;
apenas, despojou-se de seu invólucro.”

Outro aspecto relevante relacionado a isto é que é na luta que o Espírito se desenvolve: ele adquire
habilidades e exercita sua inteligência, para enfim, adquirir conhecimentos e experiência, distanciando-se
cada vez mais dos sinais de animalidade.

Dentro desta destruição que Kardec denomina necessária, remeta-se a uma prática imensamente útil a
Humanidade, que é a sujeição de determinadas espécies animais para experimentos científicos. Por mais
avançada esteja a tecnologia, seria impossível prescindir da participação destes nossos irmãos de ordem
inferior na Criação* nas pesquisas de fármacos, ou para provar a eficiência das drogas farmacológicas, e
em outras pesquisas onde a existência de um organismo perfeitamente vivo é um imperativo. Isto só tem
trazido benefícios; aliás, existem regras éticas que regulam estas práticas. Sobre este particular, os
Espíritos já haviam dito que o direito de destruição é regulado pela necessidade de provisão, e que o
abuso jamais foi um direito. (734) Ou seja, não é só para a alimentação que os homens precisam dos
animais, mas para o desenvolvimento de parte de sua Ciência, e principalmente da Ciência que preserva
sua saúde e sua vida física. Pergunta-se: o que aconteceria hoje se ficasse terminantemente proibido a
utilização dos animais nos experimentos científicos? Como seriam divididos os espaços físicos entre os
homens e os animais, se ficasse proibido o consumo de carne? E se todos se tornassem vegetarianos, a
demanda de vegetais atenderia prontamente a todos? São questões que precisam ser pensadas, antes
da propaganda de que a Doutrina Espírita proíbe o consumo de carne, palavras dos seguidores de
Espíritos orientais. Está reservado o direito de excluir o alimento de origem animal do cardápio aos que
voluntariamente despertarem o desejo do vegetarianismo. Mas que não esteja vinculado a esta escolha o
atendimento a qualquer recomendação doutrinário-Espírita.

Com base no que as Excelsas Entidades afirmam nas obras fundamentais do Espiritismo, infere-se que,
até chegar a um estado cuja nutrição independa da proteína animal, o homem tem muita carne a comer.
A esta idéia não se associe uma motivação para os exageros, afinal, o exagero em tudo é maléfico.
Aliás, a constituição orgânica tem por base substâncias inorgânicas encontradas praticamente em tudo na
natureza, tais como, oxigênio, hidrogênio, carbono e nitrogênio, entre outros, que, ao contato do fluido
vital, ganham vida e, ao se combinarem entre si, adquirem a forma de aminoácidos, que são as unidades
formadoras de proteínas. Proteínas e vida andam juntas, pois além de serem fundamentais para a
construção dos organismos, também funcionam como enzimas e, nos vertebrados, funcionam como
anticorpos. Muitas destas descobertas se realizaram após a Codificação, provando que os Espíritos
sabiam perfeitamente do que falavam, enquanto que para o homem comum os informes científicos ainda
representam grandes incógnitas...

À medida que o homem evolui moralmente, seu corpo exigirá alimentos menos densos. Quanto mais
material é o mundo onde habita, mais material será sua alimentação. Quando atingir esferas menos
atrasadas, sua constituição física sendo mais sutil, obviamente exigirá igualmente alimentos mais sutis.
Não se deve esquecer que o Espírito retira do ambiente onde vai estagiar, os elementos (fluidos) para
formação de seu perispírito (na verdade, sua condição Espiritual é que atrairá tais elementos), e a partir
deste, a formação do corpo físico de acordo com os elementos (materiais) desse globo. Portanto, nada
impediria que um Espírito muito elevado encarnado na Terra, por exemplo, utilizasse para sua nutrição,
as iguarias de origem animal, já que seu corpo físico é de constituição idêntica ao dos demais, tendo as
mesmas exigências.

Kardec se preocupou em trazer esclarecimento sobre os flagelos de que o homem muitas vezes se torna
vítima, e na questão 737 pergunta qual o objetivo destes para os homens. E a resposta diz que é para
fazer a humanidade avançar mais depressa. Na questão seguinte, os Espíritos afirmam que Deus oferece
aos homens outros meios de progredir, mas eles não os aproveitam, pois não utilizam o discernimento do
bem e do mal, ou seja, praticam o mal e deixam de praticar o bem, mesmo com conhecimento de causa.
São provas que farão o homem exercitar alguns valores, como inteligência, paciência, resignação,
abnegação, desinteresse e amor ao próximo; valores imprescindíveis para seu progresso. Além disso,
têm os flagelos uma utilidade sob o ponto de vista físico: regiões sofrem alterações que trarão benefícios
para as gerações futuras. (739/740)

De uma forma ou de outra, também o corpo do homem sofre a destruição. Dada a morte física, suas
vestes carnais darão início ao espetáculo da total desorganização. As transformações post-mortem se
iniciam em média duas horas após a morte. Microrganismos encetam o trabalho destruidor, mesmo antes
da inumação. Não será exagero defender esta empreitada de que foram dotadas as bactérias -
transformar um corpo em elementos menores, até que estes, recombinando-se entre si ou com outros
elementos, dêem origem a outras formas de vida. Por isso não há o que se chama destruição no sentido
de aniquilamento. Na verdade, deixa-se de existir uma forma para continuar existindo em outra, tanto o
homem como tudo o que Deus criou.

Os Espíritos não assemelharam o instinto de destruição com a crueldade, alegando que aquela às vezes
faz-se necessária, e essa nunca o é. E concluem a questão 752: “ela é sempre o resultado de uma
natureza má.” O que leva a estes eventos infelizes entre os homens é a predominância da natureza
animal sobre a espiritual, onde a satisfação das paixões fala mais alto; das paixões levadas ao exagero,
pois que, equilibradamente, podem levar o homem a grandes coisas. (907/908) Quando um indivíduo age
mal, porém para se preservar e preservar a sua espécie obedece ao instinto de conservação, do qual
todos os seres são dotados. Então não se classifica como cruel ao liquidar outro com este fim. Mas à
medida que se desenvolve, adquire noções sobre o bem e o mal, e agora, se age de idêntica forma, já
responderá mais severamente, porque racionalmente, obedecendo ao seu egoísmo, faz o mal, o mesmo
que ele fazia quando não podia ter noção mais exata das coisas, portanto, é um sujeito cruel. Mas é claro
que estes julgamentos pertencem somente Àquele que a tudo e todos conhece. Cada qual que se julgue
a si mesmo e reflita se ainda tem atitudes cruéis ao invés de querer buscar classificações para os outros.

O planeta Terra testemunha ocorrências absurdas que se sucedem uma sempre mais cruel que a
anterior, causando sensações de derrota pessoal e coletiva; local onde permanecem vinculados Espíritos
ainda afins com o mal, onde ainda existe a pena de morte, legal ou veladamente, como estimar uma data
para um mundo melhor, ou por outra, para advento do mundo de regeneração? Nem Jesus se atreveu a
demarcar uma data para o estabelecimento do equilíbrio no planeta: ”Porém daquele dia e hora ninguém
sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente meu Pai. (Mt 24,36)” Obviamente, porque tal
evento depende unicamente da evolução humana. Em O Livro dos Médiuns, em resposta à pergunta 11ª
do item 298, lê-se: ”... Os Espíritos levianos que não têm nenhum escrúpulo em vos enganar, indicam os
dias e as horas sem se inquietarem com o resultado. Por isso, toda previsão circunstanciada, deve vos
ser suspeita.”

Mas o Cristo também alertou: ”Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por
dignos de evitar todas essas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do Homem.”
(Lc 21, 36), como a dizer que está ao alcance do homem evitar muitas tragédias, materiais ou morais, e
entende-se por “orando”, não simplesmente no sentido literal, mas no sentido ativo do termo. Orar
também é pensar sempre no bem, em qualquer circunstância, e no bem da coletividade, trabalhando e
investindo para a melhoria das instituições, que infelizmente, só funcionam muito precariamente. Há que
se atender às atuais necessidades sociais, com a revisão de leis; com o repensar sobre os atuais
modelos implementados que já não funcionam.

Enquanto aguarda-se ansiosamente pelo mundo de regeneração, milhões de irmãos morrem de fome,
outros tantos morrem nas guerras, seja nas regiões do mundo envolvidas culturalmente com as guerras
(se assim se pode expressar), seja nas guerras das metrópoles: trânsito, assassínios motivados por
diversas razões, latrocínios, drogas... Outros milhões anseiam pelo carnaval, pelas festividades, pela
copa do mundo, como se nada tivesse acontecendo. Há muito recurso pecuniário envolvido em tudo isso,
mas não há um tostão para atender as necessidades básicas das pessoas. Não seria isto um duelo, aliás,
um terrível duelo? São homens contra homens: de um lado, homens poderosos e afortunados, do outro
homens miseráveis e esquecidos. E no meio? No meio tem-se uma espada afiada representada por
outros homens, presunçosos e egoístas que não tomam partido, já que seus interesses não sofrem danos
nesse duelo.

Aqui não haveria necessidade da aplicação desta lei? Destruir os costumes bárbaros, que igualam o
homem ao bruto; pois os costumes bárbaros também se modernizaram e tomam corpo entre nós.

Ao que parece é o mundo de regeneração que aguarda pelos homens. Ele já é uma realidade para todos
os que trabalham ou trabalharam por conquistá-lo. É uma outra promessa do Cristo que se cumpre para
estes porque não será algo milagroso, um acontecimento inusitado, maravilhoso, repentino... O mundo
de regeneração será resultado de uma construção coletiva, partindo de atitudes individuais. E para que
ele seja efetivamente instaurado, será preciso destruir o atual sistema de coisas, romper com os valores
vigentes, e que, de uma forma ou de outra, recebem o aval de todos.
Esta Lei de destruição analisada pelos Espíritos faz que se reflita sobre como as transformações ocorrem
após o declínio de algo, que pode ocorrer sutil ou bruscamente. Alguns sistemas de governo só mudaram
após muitas comoções, até mesmo após revoluções sangrentas, por exemplo. Os eventos inovadores
chegam para transformar um certo estado de coisas, e, à primeira vista, seus resultados podem ser
considerados negativos ou ruins, dada a visão superficial e imediatista dos homens. Estes eventos
acabam incitando os indivíduos para o trabalho, pois que deles exigirá o exercício da inteligência através
das pesquisas e descobertas.

No mundo material tudo se transforma sempre visando o bem e um mais perfeito estado de coisas, na
tentativa de redirecionar o homem para uma visão toda Moral. Nada ocorre sem uma legítima utilidade.
Deus, supremo Bem e Amor, todo Bondade e Justiça, conhece as reais necessidades de cada Ser da
Criação, e todas as leis que estabeleceu são solidárias entre si, cabendo aos homens, se instruírem e se
moralizarem para compreendê-las na sua integridade, na sua utilidade, na sua grandiosidade.

*Imitando os Espíritos e Kardec, utilizamos este termo, mas, na nossa


indigna condição, por falta de um mais adequado, reconhecendo-se
grandeza em todas as obras da criação.

Análise das Mensagens do "Anjo" Ismael


11:24 ADMINISTRADOR NO COMMENTS

Por Artur Felipe de A. Ferreira

O Surgimento do "Anjo" Ismael

No dia 02 de agosto de 1873, um grupo de pioneiros fundou a Sociedade de Estudos Espíríticos Grupo
Confúcio, sob a direção de Antônio da Silva Neto e de Francisco Leite de Bittencourt Sampaio. Ismael deu
ali sua primeira comunicação, proclamando-se diretor espiritual do Brasil.

Sob a determinação de Ismael, o grupo Confúcio se transforma na Sociedade de Estudos Espíritas Deus,
Cristo e Caridade.

Depois de muitas brigas e dissensões entre os membros do grupo, Bittencourt Sampaio, Sayão e
Frederico Jr. resolvem afastar-se e formam um núcleo isolado, o Grupo Espírita Fraternidade. O espírito
Ismael os acompanha e os instrui todo o tempo incentivando o estudo de Os Quatro Evangelhos de J-B.
Roustaing, o que fez com que os grupos dessem prioridade ao aspecto religioso da Doutrina, que nada
mais era que incorporar ao Espiritismo os conceitos neo-docetistas.

A Confirmação de Luciano dos Anjos

Percebemos que o espírito Ismael passa a dirigir os trabalhos, tendo se auto-proclamado "dirigente
espiritual do Brasil". Tal postura de Ismael é confirmada pelo maior representante do rustenismo no Brasil,
o sr. Luciano dos Anjos, que é concordante com as obras da época no que concerne ao estímulo dado
por Ismael ao estudo metódico da obra "Os Quatro Evangelhos", de J.B. Roustaing:

"Os trabalhos de desobsessão foram entregues a um grupo excelente, que auferiu resultados
maravilhosos. Passou-se imediatamente ao estudo metódico da obra Revelação da Revelação, de Jean-
Baptiste Roustaing, em cumprimento ao desejo de Ismael." (pag. 127 - O Atalho", de Luciano dos Anjos)

O espírito Ismael interferia na escolha dos dirigentes do Grupo Confúcio e das instituições espíritas que o
sucederam. Nas obras "Grandes Espíritas do Brasil" e "Trabalhos do Grupo Ismael", encontramos várias
passagens em que isso fica evidente.

"Ao segundo (Dr. Geminiano Brasil) tocou ascender, naturalmente por indicação dos Guias espirituais da
oficina do Anjo glorioso, ao posto que ocupara o velho trabalhador (Sayão) que havia concluído a sua
tarefa, exemplarmente desempenhada. Houve ele, porém, de repartir com o primeiro, José Ramos, o
encargo que lhe fora deferido, ficando com o de explicador do Evangelho e o outro com o de
doutrinador."

Ismael passou décadas ditando a conduta e direcionamento dos trabalhos dos núcleos que, no futuro,
teriam seus membros como fundadores da Federação Espírita Brasileira, tais como Sayão, Bittencourt
Sampaio, entre outros expoentes do roustainguismo. Este último tendo, inclusive, escrito uma obra que
comentava "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing, chamada "Elucidações Evangélicas".

Já de volta à vida espiritual, foi autor de dois grandes clássicos da literatura espírita: "Jesus Perante a
Cristandade" e "Do Calvário ao Apocalipse", esta última o complemento para a obra "Os Quatro
Evangelhos", de João-Baptista Roustaing.

Passados alguns anos, Ismael volta a influenciar os rumos do movimento, quando presta
"ajuda" ao então secretário da FEESP, Edgard Armond:

"Em 1941 (Armond) recebe espontaneamente mensagem de Ismael convocando-o a trabalhar pela
difusão do Espiritismo em seu aspecto religioso. O plano espiritual, assegurou-lhe Ismael, daria toda a
cobertura à federação para implantar programas que atendessem às massas, esclarecendo-as e
motivando-as pelo esforço de evangelização.

"Armond aceitou a incumbência e partiu para a organização dos trabalhos. Inicialmente formou um
Conselho de espíritas que pudesse com ele partilhar o trabalho. Para formar esse Conselho, Armond
anotava, em folhas de papel, nomes de pessoas ilustres que ele achava reunir condições para a tarefa.
Colocava esses papéis na gaveta de sua mesa na FEESP, e, no dia seguinte, encontrava assinalados
com uma cruz - feita pelo plano espiritual -os nomes que eram considerados mais capacitados para
ajudá-lo a desenvolver o programa." ("Simpósio Nacional do Pensamento Espírita", Valentim Lorenzetti)

Resultado do trabalho: um programa de estudos que mesclava Kardec, Roustaing, Ubaldi e doutrinas
orientais.

O que mais salta aos olhos é a ingerência do "anjo" Ismael em todos os trabalhos dos centros e depois da
FEB e da FEESP de Armond, inclusive incentivando o estudo de "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing.

Aí nós nos perguntamos: como Kardec veria essa atitude? Qual foi a opinião de Kardec em relação aos
grupos que se deixam guiar pelos espíritos, ao ponto de submeter aos espíritos a escolha de seus
dirigentes e colaboradores?

Vejamos, então, a posição de Kardec sobre isso:

"Propuseram que a designação dos candidatos fosse feita pelos Espíritos em cada grupo ou sociedade
espírita. Além de esse modo de proceder não prevenir todos os inconvenientes, haveria alguns
inconvenientes especiais que a experiência já tem demonstrado e que seria supérfluo lembrar aqui.
Convém não esquecer que a missão dos Espíritos é instruir-nos, melhorar-nos, mas não tomar o lugar do
nosso livre-arbítrio... Além disso, esse meio suscitaria mais embaraços do que se pensa, pela dificuldade
de fazer todos os grupos participarem da eleição. Traria complicações no mecanismo, que, quanto mais
simplificado, menos suscetível é de desorganizar-se." (Obras Póstumas, "O Chefe do Espiritismo")

Mas alguns poderiam objetar: "puxa, mas qual é o problema de se estudar e divulgar "Os Quatro
Evangelhos" de J-B. Roustaing? Será que lá não encontramos ensinamentos bons? Não fala em Jesus,
em Evangelho? Afinal, esse livro teria sido escrito pelos evangelistas e por Moisés, segundo o próprio
Roustaing!

Mas, antes, vejamos algumas das (graves, consideramos) discordâncias entre o Espiritismo
e o Roustainguismo:

1 - No Roustainguismo, a encarnação se dá por castigo - Os Anjos Decaídos

"Atingindo o ponto de preparação para entrarem no reino humano, os Espíritos se preparam, de fato, em
mundos ad-hoc, para a vida espiritual consciente, independente e livre. É nesse momento que entram
naquele estado de inocência e ignorância. (...)

"Chegado deste modo à condição de espírito formado, de espírito pronto para ser humanizado se vier a
falir, o Espírito se encontra num estado de inocência completa, tendo abandonado, com os seus últimos
invólucros animais, os instintos oriundos das exigências da animalidade". (1º Vol., 5ª ed., pág. 295).

Para Roustaing, portanto, a encarnação humana não é uma necessidade; o Espírito só será humanizado
se vier a falir, isto é, a encarnação humana se dá por castigo.

"Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode
preceder a culpa".

"O Espírito não é humanizado, também já o explicamos, antes que a primeira falta o tenha sujeitado à
encarnação humana. Só então ele é preparado, como igualmente já o mostramos, para sofrer as
conseqüências". (1º Vol., 5ª ed., pág. 317)

Comparem com o que ensina a Doutrina Espírita:

P. 132 de „O Livro dos Espíritos‟ (LE): "Qual é a finalidade da encarnação dos Espíritos?"

R.: Deus a impõe com o fim de levá-los à perfeição: para uns, é uma expiação; para outros, uma missão.
Mas, para chegar a essa perfeição, eles devem sofrer todas as vicissitudes da existência corpórea; nisto é
que está a expiação. A encarnação tem ainda outra finalidade, que é a de pôr o espírito em condições de
enfrentar a sua parte na obra da criação. É para executá-la que ele toma um aparelho em cada mundo,
em harmonia com a sua matéria essencial, a fim de nele cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de
Deus. E, dessa
maneira, concorrendo para a obra geral, também progride."

P. 133: "Os Espíritos que, desde o princípio, seguiram o caminho do bem, têm necessidade da
encarnação?".

R.: Todos são criados simples e ignorantes e se instruem através das lutas e tribulações da vida corporal.
Deus, que é justo, não podia fazer felizes a alguns, sem penas e sem trabalhos e, por conseguinte, sem
mérito".

Mais um ponto de discordância. O Espiritismo rejeita peremptoriamente a metempsicose, enquanto


Roustaing ( e os espíritos que se comunicaram) a defende, especialmente no caso de o espírito descrer
da existência de Deus.

2 - Espíritos "falidos" encarnariam como lesmas

"Queda pelo ateísmo, levando à encarnação primitiva"

"Até o ateísmo - por mais impossível que pareça - até o ateísmo não raro se manifesta naqueles pobres
cegos colocados no centro mesmo da luz. E nunca, como aí, o ateísmo nasce tão diretamente do orgulho.
Não vendo aquele de quem tudo emana, negam-lhe a existência e se consideram a base e a cúpula do
edifício. Nesse caso, sobretudo nesse caso, mais severo é o castigo. É um dos casos de primitiva
encarnação humana. Preciso se torna que os culpados sintam, no seu interesse, o peso da mão cuja
existência não quiseram reconhecer." (1º vol., pág. 311)

Esses ateus sofrem o castigo da "primitiva encarnação humana" transformando-se em lesmas, a que
Roustaing dá o nome de "criptógamos carnudos":

"São corpos rudimentares. O homem aporta a essas terras no estado de esboço, como tudo que se forma
nas terras primitivas. O macho e a fêmea não são nem desenvolvidos, nem fortes, nem inteligentes".
"Mal se arrastando nos seus grosseiros invólucros, vivem, como os animais, do que encontram no solo e
lhes convenha. As árvores e o terreno produzem abundantemente para a nutrição de cada espécie. Os
animais carnívoros não os caçam. (...)

"O Espírito vai habitar corpos formados de substâncias contidas nas matérias constitutivas do planeta.
Esses corpos não são aparelhados como os vossos, porém os elementos que os compõem se acham
dispostos por maneira que o Espírito os possa usar e aperfeiçoar. Não poderíamos compará-los melhor
do que a criptógamos carnudos."

Heresia científica: "Criptógamo carnudo" jamais poderia ser utilizado para designar um animal, uma vez
que a palavra "criptógamo" serve para designar certas plantas cujos órgãos reprodutores não aparecem,
são ocultos.

Herculano Pires comenta:

"Essa é a revelação da revelação. Roustaing copia e desfigura Kardec acrescentando aos seus ensinos
os maiores absurdos. Note-se que essas criaturas estranhas, em forma de larvas e lesmas, são
encarnações de espíritos humanos que haviam atingido alta evolução sem passar pela encarnação
humana. Depois de desenvolverem a razão em alto grau e de haverem colaborado com Deus nos
processos da Criação, chegando mesmo a orientar criaturas humanas, voltam à condição de criptógamos
carnudos(...)"

Em resumo, a tese rustenista conflita com um princípio basilar da Doutrina Espírita, o da Não-Retrogração
do Espírito, e defende a metempsicose.

É claro que o grupo que estudava Roustaing foi alvo de toda sorte de crítica face aos absurdos
detectados por vários espíritas que estudavam e defendiam a Codificação.

Ismael e seus simpatizantes reagiram e se disseram incompreendidos e perseguidos pelos "espíritos das
trevas" (termo corrente entre os rustenistas).

Proclamando-se representantes do Cristo na Terra, declararam:

"São as escutas da Treva. Por trás delas comandam os maiorais. A cada um que aqui aporta corresponde
um novo acesso de fúria daqueles que vêem inutilizados os seus propósitos, pelos soldados do Cristo de
Deus, sob o comando de Ismael." ("Trabalhos do Grupo Ismael")

"Peçamos ao divino Pastor que defenda a Casa de Ismael, que lhe coloque às portas as sentinelas do
seu amor, a fim de que a treva não assalte de surpresa, derrubando os pobres calcetas, que na carne
procuram servi-la."

Percebam que os rustenistas fazem o papel de vítimas, enquanto posicionam seus adversários
ideológicos como "agentes da trevas" e obsidiados.

"Pensa (Vinícius) que ao demônio da cizânia, esforçada e continuamente aplicado à obra nefasta da
discórdia, da separatividade, da divisão, se devem imputar as hostilidades de que é alvo a Federação. Só
a esse demônio se pode atribuir que alguns irmãos que militam nas nossas fileiras sejam levados a ver
grandes disparidades entre a obra do Mestre e a de Roustaing e a combater esta última, que para todo
aquele que aprecia, de ânimo desprevenido e sem idéias preconcebidas, se apresenta como
complementar da outra, pelo zelo extremo que a primeira lhe inspira."

J.B. Roustaing foi contemporâneo de Kardec e residia na cidade de Bordéus (ou Bordeaux). Militou no
movimento espírita nascente daquela cidade.

Kardec chegou a visitar Bordéus, sendo recebido festivamente por todos. Roustaing não compareceu
para receber Kardec, possivelmente irritado com a indiferença com que Kardec se reportou à sua obra.

Foi então durante a permanência de Kardec junto aos espíritas bordelenses que Erasto fez a seguinte
advertência, como jamais havia feito antes e jamais haveria de fazer depois, coincidentemente na mesma
cidade em que surgia "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing:

(...) Se não tivésseis dado o exemplo de uma fraternidade sólida; se, enfim, não fosseis um centro sério e
importante da grande comunhão Espírita francesa, eu teria deixado esta questão na sombra. Mas, se a
levanto, é que tenho plausíveis razões para vos convidar a manter, entre os vossos diversos grupos, a
paz e a unidade de Doutrina (...)

Não ignoro, e não deveis ignorar não mais, que se empregará de tudo para semear a divisão entre vós;
que se procurará armar-vos emboscadas; que se semeará, sobre o vosso caminho, armadilhas de toda
sorte; que vos oporão uns aos outros, a fim de fomentar uma divisão e levar a uma ruptura sob todos os
aspectos lamentáveis; mas sabereis evitar isso, praticando primeiro diante de vós mesmos, e em seguida
diante de todos, os sublimes preceitos da lei de amor e caridade. (...)

"Vossos excelentes guias já vos disseram: tereis de lutar não só contra os orgulhosos, os egoístas, os
materialistas e todos esses infortunados que estão imbuídos do espírito do século; mas ainda, e
sobretudo, contra a turba de Espíritos enganadores (...) que virão logo vos atacar : uns com dissertações
previamente combinadas onde, à custa de algumas piedosas tiradas, insinuarão a heresia ou algum
princípio dissolvente; os outros com comunicações abertamente hostis aos ensinamentos dados pelos
verdadeiros missionários do Espírito de Verdade. Ah! Crede-me, não temais nunca então em
desmascarar os patifes que, novos Tartufos, se introduzirão entre vós sob a máscara da religião; sede
igualmente
sem piedade para com os lobos devoradores que se escondem sob peles de ovelhas. (...)

A mensagem acima de Erasto merece toda nossa atenção. Leiam não só uma vez, mais quantas forem
necessárias, e perceberão facilmente a firmeza que Erasto sugere que se tenha para lidar com essa
classe de espíritos. E notem e meditem sobre a seguinte frase:

"Crede-me, não temais nunca então em desmascarar os patifes que, novos Tartufos, se introduzirão entre
vós sob a máscara da religião; sede igualmente sem piedade para com os lobos devoradores que se
escondem sob peles de ovelhas. (...)

"Devi vos falar como o fiz, porque me dirijo a pessoas que ouvem a razão, a homens que perseguem
seriamente um objetivo eminentemente útil; a melhoria e a emancipação da raça
humana; (...) Devi vos falar assim, porque era preciso vos premunir contra um perigo, vo-lo assinalando:
era meu dever; vim cumpri-lo."

A FEB, quando relata essas histórias, nunca deixa claro do porquê de tantos conflitos. Mas, nos
aprofundando melhor, vemos claramente que o motivo da cizânia foi um só: a adoção, por parte de um
grupo, da obra de Roustaing.

Isso dividiu o movimento entre místicos e científicos. Os místicos, que defendiam a predominância do
aspecto religioso com a adoção de "Os Quatro Evangelhos", e os científicos, defendendo tão-somente o
estudo da Codificação e o tríplice aspecto - ciência, filosofia e moral. O interessante é que, quando os
místicos fundavam grupamentos, esses logo também se dissolviam - duravam no máximo dois anos -
devido a desentendimentos.

Eu me pergunto como um grupo que defendia tanto esse lado "religioso" se envolvia com tanta freqüência
em problemas dessa monta, ao ponto de colecionarem inimizades e adversários...

Para que todos aqui tenham uma confirmação do que aqui foi dito sobre os embates entre místicos (em
sua maioria adeptos de Roustaing) e os científicos (que rejeitavam o Roustainguismo), transcreveremos
palavras do historiador espírita Canuto Abreu, em que ele relata a predominância dos roustainguistas,
guiados pelo "anjo" Ismael:

"(...) Esses prepostos (espíritos), chefiados por Ismael, sustentavam que o Brasil era a terra eleita do
Evangelho e, portanto, nenhum Espiritismo poderia dar frutos se não tivesse como base a Palavra Eterna.
Muitos aceitaram essa revelação. Outros a recusaram, considerando- a sectária e oposta e oposta à
finalidade universalista da doutrina espírita. Os que a

aceitaram, apegaram-se ao estudo dos Evangelhos. E como o "Evangelho Segundo o Espiritismo", de


Kardec, era um comentário, não aos evangelhos, mas aos princípios basilares da doutrina de Jesus mais
conformes aos ensinos dos Espíritos, e não era, além disso, um comentário feito pelos espíritos e sim
uma aplicação devida ao gênio do autor,buscaram uma obra mais vasta e mais espirítica." (cont.)

Sabe vocês o que fica claro nesse trecho? Que a idéia de ser o Brasil a pátria do Evangelho é anterior ao
livro "Brasil - Coração do Mundo...", psicografado por F.C. Xavier, e já era então defendida pelo grupo
roustainguista. Essa "revelação" teria sido passada pelo "anjo" Ismael àquele grupo. Isso nos ajuda a
entender do porquê da obra "Brasil - Coração do Mundo..." ser tão cara à FEB e aos roustainguistas.
Lembrando a vcs que os originais do livro foram destruídos, e que o médium Chico Xavier chegou a se
sentir um pouco mal com o ocorrido, já que há, no livro, a afirmativa de que Roustaing teria sido coadjutor
de Kardec, o que causou muita polêmica entre os espíritas brasileiros. Chico pediu os originais do livro,
mas foi informado que os mesmos haviam sido inutilizados.

Muito estranho, não acham?

Continua o dr. Canuto Abreu:

"O livro de Roustaing chegara ao Brasil muito cedo, quase ao mesmo tempo que os livros de Kardec. Os
espíritas evangélicos mais cultos, à frente dos quais se achava o mais erudito de todos - Bittencourt
Sampaio - tomaram "Os Quatro Evangelhos" como vade mécum e o levaram à altura de última palavra
sobre a doutrina de Jesus. O livro de Roustaing apresentava o mesmo valor doutrinário de "O Livro dos
Espíritos", isto é, ambos atribuíam o que estava escrito a uma revelação ditada. Mas tinha sobre a obra
de kardec uma vantagem para o crente: todas as explicações eram dadas como advindas dos próprios
evangelistas, assistidos pelos apóstolos e estes, a seu turno, assistidos por Moisés. Os crentes
dispensam em regra as provas. Contentam-se com a presunção de boa-fé. O rustanismo pôde, assim,
graças à tolerância dos Espíritos evangélicos, ganhar adeptos entre os místicos".

"Se jamais os prepostos e muitos menos seu Chefe afirmaram que na obra de Roustaing estava o
verdadeiro sentido da vida e doutrina de Jesus, também jamais fizeram uma assertiva em contrário.
Mesmo porque, se tal fizessem, perderiam o tempo e simpatia do fanático, e apagariam uma fé
bruxoleante, que cumpre alimentar cuidadosamente. A obra de Roustaing concorreu, entretanto, para
dividir os crentes e criar dificuldades invencíveis á desejada harmonia de vistas: os Espíritas cristãos
passaram a formar dois grupos distintos: os kardecistas e os rustanistas.

"Os primeiros (kardecistas) tinham Deus como único Senhor, causa primeira de todas as coisas, e
recebiam Jesus como irmão, a quem denominavam Espírito Verdade. Não davam ao Cristo quaisquer
característicos de deidade, não consideravam, absolutamente, como os rustanistas, "a maior essência
espiritual depois de Deus". Os outros, porém, consideravam Jesus o Senhor, igualando-o a Deus.
Distinguiam o Pai e o Filho, mas lhes atribuíam uma única deidade, ainda que rejeitando a
consubstanciação dos teólogos. Veneravam, além disso, uma Senhora, a cuja intercessão apelavam de
preferência. Além dessa divergência capital alimentavam outras, entre as quais avulta a que discutia a
natureza da carne de
Jesus. Os kardecistas negavam e os rustanistas aceitavam a hipótese dos docetas."

Origem das idéias rustenistas:

Dentre às várias seitas que surgiram ou foram popularizadas na época, a que deu maior dor de cabeça à
Igreja, foi sem dúvida nenhuma, o docetismo, que afirmava que Jesus não teve corpo verdadeiro,mas que
descera do céu em corpo aparente, passando pelo seio da Virgem Maria como a água por um canal, sem
que dela tivesse recebido a mínima partícula. Com essas idéias foi combatida e condenada pelos
partidários do dogma da Encarnação e da Presença Real. Os docetistas (hoje roustanguistas), julgavam
por demais realista, senão chocante, a noção de Encarnação e propunham uma interpretação do
problema da salvação pela qual o elemento carnal não viesse a comprometer o espiritual. O docetismo foi
combatido por Santo Ireneu, Tertuliano e Santo Agostinho, sendo definitivamente condenado pelo concílio
da Calcedônia (451). Seus vestígios são encontrados em escritos de autores cristãos até o séc. VI.

Kardec em "A Gênese", comentando sobre o "desaparecimento do corpo de Jesus",no item


65, deixa bem claro:

"Após o suplício de Jesus, seu corpo se conservou inerte e sem vida; foi sepultado como o são de
ordinário os corpos e todos puderam ver e tocar. Após a sua ressurreição, quando quis deixar a Terra,
não morreu de novo, seu corpo se elevou, desvaneceu e desapareceu, sem deixar qualquer
vestígio,prova evidente de que aquele corpo era de natureza diversa do que pereceu na cruz; donde
forçoso é concluir que, se foi possível que Jesus morresse, é que CARNAL era o seu CORPO."
E agora José?

Kardec não caiu na falácia roustainguista e prudentemente adverte os espíritas, para que
tomem cuidado com os plágios de idéias antigas, no item 67:

"Não é nova essa idéia sobre a natureza do corpo de Jesus. No quarto século, Apolinário, de Laodicéia,
chefe da seita dos apolinaristas, pretendia que Jesus não tomara um corpo como o nosso, mas um corpo
impassível, que descera do céu ao seio da santa virgem e que não nascera dela; que, assim, Jesus não
nascera, não sofrera e não morrera, senão em aparência. Os apolinaristas foram anatematizados no
concílio de Alexandria, em 360; no de Roma, em 374; e no de Constantinopla, em 381.

Tinha a mesma crença os Docetas (do grego dokein, aparecer), seita numerosa dos Gnósticos, que
subsistiu durante os três primeiros séculos."

Tentando desviar a atenção do leitor, eis que aparece uma nota da editora febeana, com a
dialética maquiavélica de sempre:

"Não somente foram anatematizados os apolinaristas, mas também os reencarnacionistas e


os que se põem em comunicação com os mortos."

Ora bolas! a reencarnação e a comunicação com os mortos são realidades comprovadas pela Ciência
Espírita, por isso são princípios básicos da doutrina. Quanto ao apolinarismo é bem diferente, porque não
passa de uma idéia absurda. Kardec coloca os apolinaristas em pé de igualdade com os docetistas e é
claro que os febeanos não gostaram, pois os roustainguistas são filhotes dos apolinaristas e dos
docetistas.

"Ora, como a Federação ia ficar nas mãos dos adeptos do rustanismo, compreenderam os kardecistas e
os espiritistas puros que teriam, mais cedo ou mais tarde, de se retirar e lutar contra ela por causa da
desinteligência de princípios. A plataforma foi, por essa razão, recebida como um sinal de guerra. Com a
promessa de formar um novo Espiritismo baseado no Evangelho, o que naturalmente os místicos iriam
impor com o tempo pela propaganda sistemática e regulamentada seria, nem mais nem menos, o
rustanismo".

Vamos analisar o que esse Kardec-espírito da FEB teria ditado em sua mensagem através do médium
rustenista Frederico Júnior e espertamente publicada no livreto "A Prece", como para referendar a
"missão" do anjo Ismael, a da FEB como "casa-máter" , a do Brasil como "coração do mundo, pátria do
Evangelho" e do roustainguismo.

Analisem vocês mesmos:

"Sendo assim, a esse pedaço de terra, a que chamais Brasil, foi dada também a Revelação da
Revelação...", pág. 13 (Revelação da Revelação é sub-título de "os Quatro Evangelhos").

"Ismael, o vosso guia, tomando a responsabilidade de vos conduzir ao grande templo do amor e da
fraternidade humana, levantou a sua bandeira, tendo inscrito nela - Deus, Cristo e Caridade. Forte pela
dedicação, animado pela misericórdia de Deus. que nunca falta aos trabalhadores, sua voz santa e
evangélica ecoou em todos os corações, procurando atraí-los para um único agrupamento onde,
unidos..., onde enlaçados num único sentimento - o do
amor - pudessem adorar o Pai em Espírito e Verdade..."

A expressão "em espírito e verdade" é exaustivamente repetida nos livros de Roustaing, e na mensagem
a puseram na boca de Kardec...

Mais referências do Kardec-espírito da FEB enaltecendo o anjo Ismael:

"... todos os espíritas tinham o dever sagrado de vir aqui se agruparem - ouvir a palavra sagrada do bom
Guia Ismael - único que dirige a propaganda da Doutrina nesta parte do planeta e único que tem a
responsabilidade de sua marcha e desenvolvimento." (págs. 14/15)

O pseudo-Kardec da FEB renuncia á sua condição de Codificador do Espiritismo ao declarar que a


Doutrina Espírita está contida nos "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing - A Revelação da Revelação:

"... tudo converge para a Doutrina Espírita - Revelação da Revelação". (pág. 16)

O "templo" de Ismael é exaltado:

"Disciplinai-vos pelos bons costumes no Templo de Ismael..." (pág. 19)

Como se vê, num centro doutrinariamente roustainguista, a mensagem atribuída a Kardec não poderia ser
de outra forma. Os espíritos, adeptos do Docetismo (que pregava o corpo aparente de Jesus),
ressuscitado por Roustaing, a cuja falange pertence Ismael, forjaram um Kardec para atestar a suposta
missão do "anjo" Ismael e a importância da "Revelação da Revelação".

Um Kardec irreconhecível, que sai em defesa desesperada de Ismael e diz:

"Assim, quando os inimigos da Luz - quando o espírito da trevas julgava esfacelada a


bandeira de Ismael, símbolo da Trindade Divina..." (pág. 14)

Vemos dois erros graves: a expressão "espírito das trevas", que Kardec jamais usou, por ser errada e
inadequada (ver pergunta 361-A de O LE), e a defesa da trindade divina, inaceitável para o Espiritismo.

O Kardec da FEB é místico

Vejam só:

"Se fora possível, a todos os que estremecem diante desses quadros horrorosos, praticar o jejum de que
falava Jesus aos seus apóstolos; se fora possível a cada um compreender o papel do verdadeiro
sacerdote, de que se acha incumbido, quando procura repartir a hóstia
sagrada, no altar de Jesus, com seus irmãos na Terra." (p.250)

O pseudo-Kardec da FEB enaltece a caridade sem discernimento:


"A caridade que exclui a razão, a prudência e o bom-senso - a verdadeira caridade - é
instintiva!" (p.29)

E se contradiz mais adiante:

"Assim pois, o bem deve ser feito indistintamente, seja qual for o terreno em que houvermos de praticar.
Mas, nem o próprio bem pode excluir a nossa razão, quando, tratando-se da justiça de Deus,
pretendemos contrariá-la." (p.36)

No livro "Brasil - Coração do Mundo...", de Humberto de Campos, médium Chico Xavier, ed. FEB, se lê
que Allan Kardec "contaria com a cooperação de uma plêiade de auxiliares, da sua obra, designados
particularmente para coadjuvá-lo, nas individualidades de Batista Roustaing, que organizaria o trabalho da
fé; de León Denis, que efetuaria o desdobramento filosófico; de Gabriel Delanne, que apresentaria a
estrada científica e de camille Flamarion,
que abriria a cortina dos mundos..."

A inclusão de Roustaing nessa "plêiade de auxiliares" de Kardec causou surpresa e decepção aos
espíritas estudiosos e conhecedores do Espiritismo, que manifestaram de público seus protestos.

Humberto de Campos cita Kardec de passagem, como pessoa distante no tempo, num retrato
emoldurado, empalidecido, empoeirado, suspenso na parede, e de quem se tem apenas uma lembrança
saudosista.

Sem conhecer, na Terra, Allan Kardec, que equivale a dizer, o Espiritismo, foi temeridade de Humberto de
Campos (se é que foi ele mesmo o autor), então desencarnado há apenas quatro anos, escrever sobre a
implantação do "Espiritismo" no Brasil, dando-lhe total feição rustenista febeana, consequência do seu
envolvimento, no plano espiritual, como a seguir demonstraremos, por seu mestre Pedro Richard-espírito,
febeano e roustainguista, e pelas lições que Humberto de Campos-espírito presenciou nas reuniões nas
reuniões do "Grupo Ismael" da FEB, onde se estudam com exclusividade "Os Quatro Evangelhos" de
Roustaing.

Numa mensagem sua no "Grupo Ismael", em 06/03/1940, Humberto de Campos manifesta


seu agradecimento a Pedro Richard-espírito, a quem chama de "mestre":

"Agradeço ao mestre, Pedro Richard, a sua caridade para comigo, a sua assistência, o seu esforço
prodigioso e imenso cabedal evangélico com que me tem beneficiado." (Fonte: "Trabalhos do Grupo
Ismael, ed. FEB, 1941, pág. 130)

Além das aulas ministradas pelo seu mestre Pedro Richard (espírito), Humberto-espírito também se
instruiu nas reuniões do "Grupo Ismael", que se realizavam às quartas-feiras, na
FEB, com o que ele se transformou em mais um discípulo de Ismael:

"Se é verdade que as reuniões das quintas-feiras, na Academia Brasileira de Letras, eram o último
encanto intelectual dos derradeiros dias de minha vida, agora a minha nova alegria verifica-se às quartas,
quando de nossas assembléias deliciosas e amigas, no Templo de
Ismael ("Novas Mensagens", médium Chico Xavier, ed. FEB, 1978, pág.51)
Nos primórdios de 1900, nas páginas de "Reformador", de 01/07/1904, na função de administrador dessa
revista na FEB, Richard já criava polêmica com os espíritas por ele divulgar a doutrina rustenista. Através
da revista, debateu com outros dois jornais espíritas, um deles chamado "O Espírita Alagoano", com o
qual discutiu acerca da personalidade de Jesus, sustentando ter sido Jesus um agênere e Maria a virgem
imaculada.

Pedro R. permaneceu na FEB até o seu desencarne, em 23/10/1918, aos 65 anos de idade, estando na
direção do "Grupo Ismael". Na gestão de Aristides Spínola, em 1917, participou de uma comissão
encarrregada de fazer com que retornasse ao Estatuto da FEB o estudo obrigatório das obras de
rustenistas, que vale até hoje.

Pedro Richard-espírito desmerece o trabalho dos centros espíritas não ligados à FEB:

"Digo-vos, meus caros companheiros, não comn autoridade, mas com o testemunho da minha visão como
espírito, que pouco se aproveita do que por aí vai em matéria de arregimentação espírita. Há um grande
númenro de núcleos e agremiações, é verdade, mas sem direção, nem organização baseada na
fraternidade e na disciplina, peculiar aos que compreendem a verdadeira finalidade da doutrina e do
homem. Todo um trabalho está por fazer-se, a fim de se aproveitarem tantos esforços despendidos, de
modo a se congregarem todos sob a bandeira de Ismael.

E deixa clara a sua convicção rustenista:

"A doutrina diz que o Espírito aprende no infinito, de acordo com sua mentalidade e com a necessidade
do seu progresso; que, frequentemente, enriquecido o seu cabedal, ele se julga capaz de alguma
coisafazer por si mesmo. É o rogulho que nasce e ao qual se seguem a falência e o castigo da
encarnação. Creio bastante clara á vossa compreensão o que a lição de hoje ensina, porque,
considerando-se que a encarnação é sofrimento, não parece justo que o Espírito fosse a ela condenado
sem culpa".

A doutrina a que se refere Richard não é a espírita e sim a de Roustaing, segundo a qual a encarnação
humana se dá por castigo.

E aí vem o ataque, cheio de sofisma, com a usual tática de fazer a FEB e seus diretores vítimas da
intolerância dos "kardecistas":

"Há quem ataque a Casa de Ismael, pela sua orientação cristã em Jesus Cristo. Mas, que será o
Espiritismo sem o Evangelho? Simples intercâmbio de vicos e mortos? Apenas o fenômeno da mesa
falante ou das materializações e outros, sem que deles se tirem ilações que aproveitem á educação moral
do homem? Direi então que aí é que está a fantasmagoria, a palhaçada". (pág. 193)

Linguagem sofística a de Richard, porque o espírita reconhece a moral cristã para nortear- lhe os passos.
E o que se contestava na FEB (aliás, até hoje) é o seu pseudo-Espiritismo- cristão, inspirado na ideologia
roustainguista, divergente de Kardec (leia-se "Codificação/Espíritos Superiores).

À sua pergunta: "Que será o Espiritismo sem o Evangelho?", nós responderíamos: O Espiritismo possui
um código de moral, que são as "Leis Morais" contidas em "O Livro dos Espíritos", que dão ao Espiritismo
identidade própria. A moral cristã, diga-se, é a moral universal, está toda ela embasando os ensinamentos
dos Espíritos veiculados nos livros de Allan Kardec.

Bem, diante desses fatos, conclui-se que Humberto de Campos, recebendo cultura evangélica de Pedro
Richard (seu mestre!), roustainguista na terra e no além, e ainda nas reuniões do "Grupo Ismael", na sede
da FEB, onde se estudam com exclusividade "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing, não teve outra
alternativa senão a que seu livro "Brasil - Coração do Mundo..." apresenta: uma história de ficção literária,
tendo por herói o "anjo Ismael", promovido a responsável pela implantação do "Espiritismo" roustainguista
no Brasil, que conversa descontraído com um Jesus alienado que ignora a localização do Brasil

e se informa com "Helil": "onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do qual se enxerga, no
infinito, o símbolo da redenção humana?" (pág. 23)

E assim Roustaing surge no livro: por iniciativa do próprio autor espiritual ou a pedido da FEB, com o
consentimento do médium e seu guia, tudo na mais santa harmonia. E não se pode provar qualquer
interpolação de textos mediúnicos por parte da FEB, por não ter respaldo legal: a escritura de cessão de
direitos autorais dos livros do médium Chico Xavier é ampla, irrestrita e geral: o Chico assume a
responsabilidade de todas as alterações porventura feitas nos textos mediúnicos.

Os co-partícipes

Emmanuel, prefaciando o livro "Brasil - Coração...", diz que "os dados que ele (Humberto de Campos)
fornece nestas páginas, foram recolhidos nas tradições do mundo espiritual..."
(Tradição: transmissão oral de lendas, fatos, etc.)

A história desse livro está mais para lendas do que para fatos...

Vamos lá: qual, afinal, seria a ligação de Emmanuel com o rustenismo, além do prefácio do
livro de propaganda rustenista "Brasil - Coração do Mundo..."?

Pelo que já lemos do que escreveu Emmanuel e de opiniões pessoais de Chico Xavier, ficou-nos a
impressão de que a simpatia de um e outro por Roustaing se prende apenas à personalidade de Jesus,
que, segundo eles, é de tal magnitude que foge à nossa compreensão humana. Chico e Emmanuel não
deram a Jesus a conotação espírita de espírito criado simples e ignorante. Assim é que Emmanuel, no
seu livro "O Consolador", segunda parte, V - Evolução-Dor, ed. FEB, respondendo às perguntas
formuladas capciosamente por dirigentes da FEB, deu respostas que deixaram exultantes os febeanos:

P.243 - Todos os espíritos que passaram pela Terra tiveram as mesmas características evolutivas, no que
se refere ao problema da dor?

R.: - Todas as entidades espirituais encarnadas no orbe terrestre são espíritos que se resgatam ou
aprendem nas experiências humanas, após as quedas do passado, com exceção de Jesus-Cristo,
fundamento de toda a verdade neste mundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus, e em
cujas mãos angélicas repousa o governo espiritual do planeta,
desde os seus primórdios."
A expressão "em linha reta" é própria dos roustainguistas para designar os "espíritos infalíveis", que
atingiram a perfeição sem nunca terem errado e que, portanto, nunca "sofreram" a encarnação humana.

Emmanuel dá respostas roustainguistas às perguntas 205, 248, 249 e 277.

E mais! O que poucos sabem é que Emmanuel prefaciou um livro ESCANCARADAMENTEroustainguista


chamado "Vida de Jesus", escrito pelo rustenista

professo Antônio Lima. Nesse prefácio, Emmanuel faz rasgados elogios ao autor e sua
sapiência e capacidade, e ainda confirma sua opinião de que Jesus não viveu as amarguras e
inquietações das existências. Ele diz que as teses inseridas no livro são as mais elevadas possíveis.

Vamos ver que teses são essas, assim tão "elevadas".

Bem, bastante resumidamente, porque infelizmente não dá pra transcrever o livro inteiro, no cap.
"Sabedoria Antiga", o primeiro do livro, Antônio Lima simplesmente deprecia Krishna, Buda, Zoroastro e
praticamente todos os líderes religiosos orientais, para
unicamente exaltar a Jesus. Vejamos alguns trechos:

1 - Demonstrando total desconhecimento da cronologia histórica, ele diz:

"Quem não vê nesta salgalhada (Os Vedas) uma torpe imitação da gênesis bíblica,
deturpada e envilecida com disparates..."

Para o autor, foram os Vedas que imitaram a Genesis bíblica, sendo que, na verdade, os
Vedas são muito mais antigos que a Bíblia!!!

Ele se refere ao Bramanismo da seguinte maneira:

"... o Bramanismo ainda ocupa a atenção de milhares de criaturas, que se dão a ingrata preocupação de
lhe revolver as cinzas mortas, e de onde se evola um cheiro acre de cadáver putrefato".

Diz lá Antônio Lima, que tantos elogios recebeu de Emmanuel:

"Não menos pretensioso é o Nosso Senhor o Buda, como lhe chamam os seus turiferários, que o
veneram acima de todas as coisas, não dando confiança aos raptos da oração, nem a
outro qualquer autor dos mundos. Para eles, Deus é figura somenos."

Após comentar sobre princípios do Budismo, comenta:

"E é somente com esse pouco que N.S. o Buda logrou conquistar até hoje setecentos milhões de
adeptos..."

"Ser budista, assim mesmo é na verdade bem menor estultícia que ser ateu."
Diz ainda que Krishna imitou Jesus, porque nasceu de uma Virgem (Deváqui) sem o
Espírito Santo e dispara:

"Como se dá com os espíritos mistificadores, que deixam sempre a cauda de fora, o Krishna, que até o
nome quiseram aproximá-lo ao do Cristo,depois de muito recomendar tolerância, perdão, humildade e o
resto que se faz preciso para imitar Jesus..." e passa a contar uma passagem onde Krishna tem um
entrevero com uma rainha chamada Nysoumba.

E conclui:

"Aí fica a Sabedoria Antiga" os indigestos caroços do dessaborido fruto, que apesar disso parece
agradarem alguns. Não tem faltado quem se irrite por considerar incompleta a obra de Jesus, o
Cristianismo, entendendo que se deve invocar a Sabedoria Antiga como
contingente complementar do seu apostolado."

Bem, paramos na análise do livro "Vida de Jesus", do rustenista Antônio Lima, que recebeu de
Emmanuel, através de Chico Xavier, em prefácio, elogiosas considerações, como sendo um livro que
contém as mais elevadas teses possíveis, e onde Emmanuel diz que a compreensão acerca da natureza
do corpo de Jesus é uma questão de "zona de compreensão de cada criatura", dando a entender que
quem não concorda é quem ainda não está em condições de compreender...(???)

O livro todo, praticamente, é voltado para a defesa de Jesus como o único que conduz a Deus, sendo que
os outros reveladores lhe são inferiores e até falsários. Mas a questão central do livro é sair em a defesa
das idéias rustenistas.

Um dos capítulos se chama "Supremacia de Jesus", e outro se intitula "Natureza de Jesus". Neste último
capítulo, Antônio Lima corrobora a hipótese bíblica de que "Jesus nascera de uma virgem, que não havia
conhecido varão".

Agora vejam o que autor diz:

"... há quem exija da pureza imácula do seu Espírito (o de Jesus) a torpe imposição de o envolver na
matéria, de o misturar à sordidez do coito, tal qual se opera com o criminoso
violador das leis divinas e com o irracional enfurnado nas brenhas inóspitas"

O ato sexual para o autor, portanto, é pecaminoso, sujo, sórdido, e não poderia ter servido para ensejar a
concepção de Jesus! Analisem e vejam se isso faz algum sentido...

O autor ainda procura de todo modo achar em Kardec e na Codificação, ensinos soltos que
representariam a confirmação desses postulados.

Além de arrastar o leitor para que conclua que a tese rustenista é puro Espiritismo, ou melhor, um "curso
superior de Espiritismo", Antônio Lima confirma o fato de ter sido Bezerra de Menezes um rustenista
professo. Em nota de rodapé, na pág. 229, consta o seguinte:

"A um confrade que o consultou sobre o mérito desta obra (a de Roustaing), assim respondeu o saudoso
Bezerra de Menezes pela Gazeta de Notícias de 22 de abril de 1897:

"A Allan Kardec sobreviveram outros missionários da verdade eterna que, sem destruir a obra feita,
porque esta é firmada na lei e a lei é imutável, darão mais luz para mais largo conhecimento das facetas
mais obscuras daquela verdade. "Eis aí que apareceu Roustaing, o mais moderno missionário da lei, que
em muitos pontos VAI ALÉM DE ALLAN KARDEC, porque é inspirado como este, mas teve por
missão dizer o que este não podia, em razão do atraso da humanidade."

Lembramos que há aí um erro crasso, que é dizer que Roustaing veio revelar o que Kardec
não pôde em razão do atraso da humanidade. Ora, como? - Kardec e Roustaing foram
contemporâneos seus livros vieram à lume na mesma época!

E Bezerra prossegue e confirma o erro:

"Roustaing confirma o que ensina Kardec, porém adianta mais que este, pela razão que já foi exposta
acima".

"É, pois, um livro precioso e sagrado o de Roustaing..."

No capítulo "Terra da Promissão", Antônio Lima deixa bem claro que o autor da tese de ser o Brasil
coração do mundo, pátria do Evangelho não é Humberto de Campos, mas sim o "anjo" Ismael.

Isso mais uma vez confirma que Humberto de Campos (se é que é ele mesmo) aprendeu direitinho com
as aulas dadas pelo seu "mestre" Pedro Richard nas reuniões de estudos de "Os Quatro Evangelhos" na
sede da Federação, ao lançar o livro "Brasil - Coração do Mundo, Pátria do Evangelho".

A. Lima escreve no capítulo citado:

"Já disseram - e Ismael o confirmou - o Brasil é a Terra prometida, a Pátria dos Evangelhos,
o seio de Abraão."

Realmente, autores não espiritualistas, encantados com as belezas naturais do Brasil, como Zweig,
poeticamente elegeram o Brasil o paraíso antes de Ismael declarar ser o Brasil a terra escolhida.

Antônio Lima no capítulo "Terra de Promissão" segue os mesmos passos que Humberto de Campos viria
a seguir dois anos depois. Ele inicia ressaltando as maravilhas naturais do solo brasileiro e "pula"
imediatamente para a questão de o Brasil ser a terra escolhida para que fosse plantada (ou replantada) a
"árvore do Evangelho".

Um dos indícios que ele se utiliza para sustentar esta tese é que foi justamente aqui que a obra de
Roustaing encontrou guarida e aceitação, por parte da FEB e ilustres espíritos, como Bezerra de
Menezes e Bittencourt Sampaio, além do estímulo dado pelo "anjo" Ismael, enquanto na França a obra
encalhou nas prateleiras.

Antes de partirmos para a análise de vários trechos da obra "Brasil - Coração do Mundo...", gostaríamos
de fazer as seguintes considerações:
"O Mito do Brasil - Coração do Mundo, Pátria do Evangelho‟"

O mito do "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" vez por outra renasce das profundezas do
inconsciente coletivo espírita-cristão. Agora mesmo, com as ainda recentes tragédias do World Trade
Center e do Pentágono, não faltaram vozes ufanistas identificando o grande momento do resgate da
Terra do Cruzeiro, qual nova Canaã ou Jerusalém redimida, sendo promovida a centro do mundo, em
cumprimento à promessa feita por Jesus, naquele passeio a que foi levado, "no último quartel do século
XIV", quando "o Cordeiro de Deus", procedendo "do coração luminoso das esferas superiores", conduzido
por "anjos e tronos que lhe formavam a corte maravilhosa", surpreso e entristecido por ver na Terra
somente "veredas escuras, cheias de lama da impenitência e do orgulho", avistou aquela extensão de
"matas virgens e misteriosas", ao sul do continente ainda não descoberto, identificado pelo anjo Helil, que
fazia parte de sua Corte, como o território futuro do Brasil.

Fascinado pela magia daquele paraíso terrestre, Jesus ali mesmo abençoou e elegeu aquele "solo
dadivoso e fertilíssimo", como sede de uma futura pátria onde "todos os povos da Terra aprenderão a lei
da fraternidade universal".

A Terra Prometida

Para o Espiritismo "cristão" (leia-se roustainguista), cultivado no Brasil, os trechos acima colocados entre
aspas, extraídos da obra mediúnica ditada pelo escritor Humberto de Campos, não são mera expressão
ficcionista de um excelente literato brasileiro que, desencarnado, passou a escrever pela pena de Chico
Xavier, elegendo o filão espiritualista como sua nova temática preferencial. Ao contrário, o livro é visto,
literalmente, como uma profecia celeste, ambientada em clima de extremo misticismo, onde abundam
querubins e serafins percorrendo o espaço em carruagens de luz, símbolos tão do gosto da tradição
evangelista que também herdou do judaísmo o mito da Terra Prometida, onde correrão o leite e o mel.
Para o espiritismo cristão e evangélico rustenista, essa obra é muito mais importante que "O Livro dos
Espíritos". Suspeito, até, que sua venda seja bem superior à da obra fundamental de Kardec. O exemplar
que compulso no momento em que alinhavo este comentário, por exemplo, é da 12ª edição, em 1979.
Pelos dados técnicos ali constantes, a reedição, somada às anteriores, atingiu 92 mil exemplares.
Decorridos mais de 20 anos, quantos milhares mais já terão sido comercializados?

Decididamente, o Jesus apresentado nesta obra nada tem a ver com o Jesus de Kardec, de inteira
dimensão humana, "guia e modelo da humanidade". O ali retratado é um Jesus mítico, nem homem, nem
Deus, que mora no céu e que, no século XIV, resolveu visitar as regiões próximas da Terra, da qual, a se
julgar por sua surpresa ao ver o que aqui acontecia, dela se mantivera por 1.300 anos sem qualquer
notícia. Logo ele, apontado pelos mesmos cultivadores dessa doutrina, como o "Governador do Planeta!"
Na pressa de reassumir a Governadoria de que se havia descuidado por tanto tempo, o "Cordeiro de
Deus", elegeu a futura Terra do Cruzeiro para ser o coração do mundo e a pátria do evangelho, ali mesmo
designando o anjo que lhe dava as informações que ele não possuía, para encarnar em Portugal,
preparando com o futuro concurso de Jean Baptiste Roustaing, Bezerra de Menezes e outros, o ambiente
que faria do Brasil a Terra por ele abençoada e predestinada.

Segundo o Espírito Humberto de Campos, em seu famoso "Brasil - Coração do Mundo, Pátria do
Evangelho", Jesus Cristo, em viagem com sua corte celestial, teria ficado muito triste e resolveu
transplantar a árvore do evangelho, da Palestina para o Brasil. Não é um conto de fadas. É crença,
alimentada pela costumeira alienação dos místicos, diante da realidade político-econômica e social da
nação.

Trata-se da reedição do mito da Terra Prometida e ilusão de ser o povo escolhido, que sustentou a cultura
hebraica. Seguindo esse esquema, parece justo pensar que os febeanos acreditem que também a
"árvore" do Espiritismo teria sido transferida de Paris para o velho casarão da Avenida Passos, no Rio de
Janeiro. Nessa fantasia não faltou nem um anjo, o Anjo Ismael, cujo primeiro decreto foi: "a missão do
Espiritismo é evangelizar", negando a origem e proposta universalista da Doutrina.

Retirado Kardec do centro do Espiritismo, seguiu-se, como se sabe, a inclusão do roustainguismo com
sua doutrina da queda do Espírito, da reencarnação punitiva e da liderança papal, com seu cajado. Uma
espécie de volta à Igreja. Esse imbróglio todo acabou por ser aceito, nem sempre conscientemente, pelos
espíritas aculturados ao catolicismo, sem condições de perceber que o Espiritismo não vinha se constituir
numa Igreja, mas trazer uma nova visão do homem e do mundo.

Discutir se o Brasil é ou não é a "Pátria do Evangelho" é polemizar em terreno alheio ao Espiritismo. O


assunto pertence ao Catolicismo.

O Brasil é tido como o maior país católico do mundo e sendo o Catolicismo essencialmente evangélico,
não há dúvida de que o galardão é dos católicos: a bandeira "Pátria dos Evangelhos" deve tremular nas
torres das igrejas católicas, a estender-se nos templos protestantes.

Quando afirmamos que o Brasil é o maior país espírita do mundo, nesse caso estamos levantando uma
tese que nos diz respeito e que, de fato, nos incumbe defender.

Os roustainguistas levantaram essa bandeira de "Pátria do Evangelho" porque admitem que a Igreja
Católica, no futuro, será verdadeiramente a "Igreja do Cristo", o que acarreta sérias implicações, porque já
se está vaticinando o fim do Espiritismo, tendo-se em mente que este é a extensão e complemento do
Cristianismo, o Consolador que Jesus prometera à humanidade. Na melhor das perspectivas para o
Espiritismo, nesse quadro visionário roustainguista, a Igreja católica incorporará à sua filosofia os
princípios doutrinários espíritas. Mas tudo isso é mera especulação.

Eis o que se lê sobre a Igreja CATÓLICA nos "Os Quatro Evangelhos', de Roustaing:

"A mediunidade dos que, entre vós, servem de instrumentos aos Espíritos está apenas em começo. Mas,
contrariamente ao que sucedeu na época dos discípulos, os vossos médiuns só entrarão no gozo
completo de suas faculdades mediúnicas quando estiver entre os homens o Regenerador, Espírito que
desempenhará a missão superior de conduzir a humanidade ao estado de inocência, isto é: ao grau de
perfeição a que ela tem de chegar. Até lá, obterão somente fatos isolados, estranhos à ordem comum dos
fatos."

"O chefe da Igreja Católica, nessa época em que este qualificativo terá a sua verdadeira significação, pois
que ela estará em via de tornar-se universal, como sendo a Igreja do Cristo, o chefe da Igreja católica,
dizemos, será um dos pilares do edifício. Quando o virdes, cheio de humildade, cingido de uma corda e
trazendo na mão o cajado do viajante, podereis dizer: 'Começam a despontar os rebentos da figueira;
vem próximo o estio." (3º Vol., pág. 65)

Já sabemos que o roustainguismo não encontrou receptividade na pátria de Kardec, a França, porém
encontrou guarida na Pátria do Cruzeiro, hoje conhecida no MEB como "Pátria do Evangelho".

Aqui no Brasil, com a cruz de Cristo estampada nas caravelas, vieram os portugueses, ostentando no
peito, orgulhosamente, a imagem de Cristo.

Ao lado dos colonos, chegaram os sacerdotes com o crucifixo na mão e aqui foram logo sendo
construídas as primeiras igrejas, que se multiplicaram em ricas catedrais.

Em toda parte, nos engenhos de açúcar e nas fazendas de criação havia uma sacristia e um padre á
disposição da família patriarcal dos senhores de terra e de escravos. Estes, índios ou negros,
amedrontados pelas ameaças dos feitores desumanos, foram convertidos à força ao catolicismo romano,
sem, contudo, abandonarem as crenças nativas e os rituais fetichistas.

Enfim, toda a população do Brasil era católica, apostólica, romana, por força da tradição e da legislação
em vigor.

Desta forma, quando, em meados do século passado, aqui chegaram os Evangelhos de Roustaing,
encontraram um terreno propício para se desenvolver. Quem lançou a semente, em 1880, foi o advogado
Antonio Luiz Sayão, que, "tendo sido católico fervoroso, espírito fascinado pelos mistérios teológicos,
apaixonou-se pelas histórias alucinatórias de "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing", como nos informa
Jorge Rizzini, em "O Corpo Fluídico" de Wilson Garcia (p.23)

Luciano Costa, um grande espírita que escreveu o livro "Kardec e não Roustaing" disse muito bem que a
obra de Roustaing "é uma obra jesuítica de combate à verdade." (p.96/97) e "é uma revelação jesuítica,
incursa no crime de fraudar o Espiritismo."(p. 196)

O padre Nóbrega, como sabemos por informação de Emmanuel, foi aquele que, no séc. I da Era Cristã,
ou seja, no tempo do apostolado de (São) Paulo e do seu discípulo Erasto, foi o rico, poderoso e influente
patrício romano, senador do Império, defensor do paganismo e aliado dos fariseus que dominavam a
Judéia, responsáveis pela crucificação de Jesus. Seu nome era Públio Lentulus Cornelius.

No séc. XVI, reencarnou e vestiu a sotaina de um jesuíta, alistando-se, portanto, no grande e poderoso
exército criado por Inácio de Loyola, para combater a Reforma Luterana. Foi, pois, um bravo soldado da
Contra-Reforma como padre Manuel da Nóbrega.

Nascido em 1517, bem moço ainda Nóbrega se filiou à Companhia de Jesus, fundada em 1534. Aí
recebeu uma educação requintada dentro do melhor espírito do Renascentismo. Por isso, ao ordenar-se,
ficou logo conhecido pelo seu imenso saber e sua cultura humanística. Era tratado pelos seus
companheiros como o "ermano Manuel", e, ele próprio, nos documentos oficiais da Igreja, se identificava
como E. Manuel, abreviando seu nome.

Em 1549, quando D. João III cogitou de mandar para o Brasil o primeiro Governador Geral, pensou logo
em alguém que viesse chefiando um grupo de sacerdotes jesuítas. Como Nóbrega já era um nome muito
conhecido e conceituado na corte do "piedoso" monarca (assim chamado por ter introduzido em Portugal
a Santa Inquisição), a escolha real recaiu sobre sua pessoa.

Nóbrega veio para o Brasil, ou Terra de Santa Cruz, como superior dos jesuítas. Mais tarde, quando o
Brasil foi elevado à categoria de Província da Companhia de Jesus, ele passou a exercer o elevado cargo
de provincial. Mas foi ainda como superior dos jesuítas, que acompanhou o Governador Geral.

Essa predileção que D. João III demonstrou para com Nóbrega decorria também, em grande parte, do
fato de ele gozar então de um ótimo conceito entre os fidalgos da corte, que o consideravam "um padre
ilustre com vocação de estadista, na simplicidade de pastor de almas", como informa Pedro Calmon
(História do Brasil, vol. I, p. 219)

Segundo o livro "Brasil - Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", a encarnação de Nóbrega e seu
apostolado no Brasil tinham sido programados no mundo invisível. A decisão se deu numa "grande e
augusta assembléia": os jesuítas viriam com a missão de
encetar a obra de edificação da "Pátria do Cordeiro de Deus". (p.45)

Nóbrega chegou ao Brasil em 1549, e, uma das primeiras providências que tomou foi escrever ao rei de
Potugal, que mandasse logo para cá muitos escravos negros retirados da África, porque os índios viviam
se rebelando constantemente contra a escravidão e os colonos precisavam muito de mão-de-obra para
tocar para frente seus engenhos e fazendas de criação. E isso foi logo conseguido pelo ilustre jesuíta. De
fato, vieram muitos negros escravizados.

Foi também devido à influência de Nóbrega junto ao rei e ao Papa que se fiou o Bispado da Bahia e a
Diocese de Salvador, que recaiu na pessoa de D. Pero Fernandes sardinha, amigo íntimo de Nóbrega.

Outra prova do prestígio de Nóbrega está na criação das 'missões', onde os índios pasrama a viverem
segregados na sociedade colonial, debaixo de um regime disciplinar semelhante ao das casernas,
transformados em verdadeiros autômatos dos jesuítas, como informa o historiador Caio Prado Jr., em
"Formação do Brasil Contemporâneo, p. 86/87). A razão disso é muito simples: os jesuítas pretendiam
criar aqui "um imenso império temporal da Igreja católica sob sua direção" (idem)

Mas não foram somente estes os serviços prestados pelo Padre Nóbrega e os jesuítas. Eles também
colaboraram muito, "com intensidade, na guerra contra o invasor, os franceses hereges calvinistas, pois a
catolicidade corria perigo". Nessa ocasião, "Nóbrega, normalmente tão pacífico e sereno, mostrou-se
então um chefe hábil e ativo", um grande soldado da Contra-Reforma. Sua colaboração foi tão eficiente
que "sem o apoio dos missionários da Companhia de Jesus", a expedição militar de Estácio de Sá teria
esbarrado
nas dificuldades de uma resistência esparsa e bravia dos índios tamoios", como informa Pedro Calmon na
obra já citada.

Finalmente, depois de tão relevantes serviços prestados à sua Santidade, o Papa, ao Geral da Cia. de
Jesus (o Papa Negro), à Contra-Reforma, acabou desencarnando o padre jesuíta Manuel da Nóbrega, no
dia 18/10/1570. Cinquenta anos depois, reencarnou novamente como padre Damiano, Vigário de Ávila,
na Espanha.
Pois bem, no séc. XIX eclodiu, como se sabe, o movimento provocado pelo fenômeno das mesas girantes
e falantes, que culminaram com o aparecimento do Espiritismo, ou Doutrina Espírita, devido à obra
missionária de Allan Kardec, em cujos livros básicos aparece constantemente o nome de Erasto, discípulo
de Paulo, com suas mensagens e epístolas de grande conteúdo doutrinário.

Ao contrário, o nome do padre Manuel da Nóbrega não aparece nenhuma vez e nunca a ele se referiu o
próprio Codificador. E nada prova que aquele "Emmanuel" que ditou em Paris, em 1861, uma
comunicação sob o título "O Egoísmo", foi do padre Nóbrega ou do vigário de Ávila.

Na verdade, ao que tudo indica, o espírito do padre Nóbrega só voltou a aparecer no Brasil, no séc. XX, a
partir dos anos 30. Foi, todavia, numa sessão pública, realizada no dia 8/07/1927 que esse espírito deu
seus primeiros sinais, através da mediunidade de dona Carmem Perácio, que confessou:

"Ouvi uma voz suave, doce, tão cativante, que logo reconheci não pertencer a qualquer criatura
encarnada. A voz declara ser de Emmanuel, amigo espiritual de Chico."

"Depois surgiu à minha frente uma bela entidade, com vestes sacerdotais..."

Achamos necessário fazer essa introdução e ligeiro apanhado histórico para que todos possam ter uma
melhor compreensão do que virá a seguir (amanhã). Não é possível chegar a uma conclusão de algo com
apenas algumas poucas informações, aliás muito mal fornecidas pelo MEB. Faz-se necessário um
cruzamento de informações para que se tenha condições de avaliar.

Bem, estamos fazendo um apanhado histórico sobre o espírito que hoje conhecemos como Emmanuel,
que Chico Xavier dizia ser seu guia espiritual.

Para quê isso?

Bem, demonstramos anteriormente que Emmanuel andou referendando dois livros com CLARO
CONTEÚDO ROUSTAINGUISTA: "Vida de Jesus", de Antônio Lima (rustenista confesso), e "Brasil -
Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", de Humberto de Campos (ateu enquanto encarnado e aprendiz
das reuniões de estudos rustenistas do Grupo Ismael na FEB depois de desencarnado).

Como isso se explica? É a essa resposta que estamos pretendendo chegar.

Segundo informações, o amigo espiritual do médium Chico Xavier já o vinha acompanhando, desde
quando ele era pequeno e deu os primeiros passos na mediunidade. Mas foi somente em 1931m quando
Chico completara a maioridade, que esse ser invisível
lhe apareceu pela primeira vez, como ele próprio contou:

"Primeiramente vi uma cruz muito bela, iluminada (...) Em seguida, surgiu o Mentor
Espiritual, envergando a túnica dos sacerdotes."

Antes disso, porém, no dia 18/1/1929, numa sessão em Pedro Leopoldo, esse "Amigo Invisível" do Chico
já tinha dado a entender qual era a missão que lhe cabia nesta
encarnação:
"...nesse dia me foi mostrado uma quadro fluídico: mediunicamente vi que, do teto, estava chovendo livros
sobre a cabeça do Chico e de todos os membros do grupo que ali estavam reunidos", declarou d.
Carmem Perácio.

Portanto, deveria desabar sobre o mundo espírita, nacional e internacional, uma "tempestade' em forma
de livros psicografados. Entretanto, só bem mais tarde é que Chico veio a tomar conhecimento da
verdadeira identidade do seu Amigo Espiritual, como ele
próprio declarou:

"Só mais tarde, no dia 12/1/1949, foi que veio a revelação, ainda em Pedro Leopoldo: Emmanuel havia
sido mesmo o padre jesuíta Manuel da Nóbrega, o Apóstolo do
Brasil".("Folha Espírita em revista", p. 95)

Isto foi confirmado pelo próprio Chico durante entrevista no programa "Pinga-Fogo", da TV Tupi de SP,
canal 4, às 22h do dia 27/7/1971.

Confirmara-se que havia sido antigo militante da Companhia de Jesus, criada por Inácio de Loyola para
defender a Contra-Reforma.

Vejamos o que ensinava a Companhia de Jesus e os jesuítas:

"Os jesuítas foram fundados no seguimento da reforma Católica (também chamada Contra- Reforma), um
movimento reacionário à Reforma Protestante, cujas doutrinas se tornavam cada vez mais conhecidas
através da Europa, em parte graças à recente invenção da imprensa. Os Jesuítas pregaram a obediência
total às escrituras e à doutrina da igreja, tendo
Inácio de Loyola declarado:

"Eu acredito que o branco que eu vejo é negro, se a hierarquia da igreja assim o tiver determinado".

Uma das principais ferramentas dos Jesuítas era o retiro espiritual de Inácio. Neste, várias pessoas
reúnem-se sob a orientação de um padre durante uma semana ou mais,

permanecendo em silêncio enquanto atendendo a palestras e submetendo-se a exercícios


para se tornarem pessoas melhores.

Também pregavam que as decorações e a ostentação em geral nas cerimônias do catolicismo


(desprezadas pelos Luteranos) deviam ser acentuadas e abundantemente
financiadas."

Mais sobre os jesuítas

"Os jesuítas conseguiram obter grande influência na sociedade nos períodos iniciais da idade moderna
(séculos XVI e XVII) porque os padres jesuítas foram por muitas vezes os educadores e confessores dos
reis dessa altura. Os jesuítas foram uma força líder da Contra- Reforma, em parte devido à sua estrutura
relativamente livre (sem os requerimentos da vida entre a comunidade nem do ofício sagrado), o que lhes
permitiu uma certa flexibilidade operacional. Em cidades alemãs, por exemplo, os jesuítas tiveram um
papel batalhador, contribuindo para a repressão de quaisquer revoltas inspiradas pela doutrina de
Martinho
Lutero."

A FEB se aproxima de Chico Xavier

Quem achou muito interessante o reaparecimento, por assim dizer, do antigo jesuíta em plagas nacionais
foram os dirigentes da FEB (Fed. Espírita Brasileira), empolgados com as mensagens recebidas pelo
médium mineiro. Logo tomaram para si a responsabilidade de editar os livros por ele recebidos. Em troca
foram-lhe cedidos pelo médium os seus direitos
autorais, como o próprio Chico declarou:

"Todos os livros recebidos, de 1931 até hoje (1977), forma entregues à Federação espírita
Brasileira". ("Folha Espírita em revista", p. 26)

Fontes bibliográficas:

"Conscientização Espírita", de Gélio Lacerda (Editora Opinião E.)


"Erasto, Discípulo de São Paulo", de Erasto de Carvalho Prestes (Editora Mandarim)
"Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" - F.C.Xavier (Editora FEB)

A Mediunidade e as evocações
11:34 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT

Por Maria Ribeiro

Allan Kardec definiu mediunidade como sendo uma “faculdade inerente ao homem”, esclarecendo que
não é privilégio exclusivo de ninguém. As palavras do nobre Codificador desfazem a antiga crença de que
alguns possuíam “dons” especiais, merecendo a bajulação, a adoração e o respeito dos outros por causa
disso. Médium, no dizer Kardequiano, “é toda pessoa que sente, em um grau qualquer, a influência dos
Espíritos”, deixando a qualificação específica, aplicável apenas “àqueles nos quais a faculdade
medianímica está nitidamente caracterizada, e se traduz por efeitos patentes de uma certa
intensidade”.

A mediunidade não é um dom, no sentido que se dá a esta palavra, pois que Deus é justo e imparcial. É o
meio de comunicação entre os Seres, onde as palavras se fazem desnecessárias, pois é através do
pensamento que os Espíritos se aproximam ou se afastam. A Doutrina Espírita é muito clara quando diz
que qualquer pessoa pode entrar em comunicação com qualquer Espírito, mesmo porque esta
comunicação não é dependente das conveniências ou de regras humanas - é lei natural. Aliás, a
comunicação se faz a todo o tempo pelo pensamento. Ou seja, uma vez que todos os homens são
médiuns em algum grau, segue-se que pelo pensamento, podem entrar em comunicação com outro
Espírito, seja encarnado ou desencarnado. Sendo o fluido universal o veículo do pensamento, e este
sempre dirigido pela vontade do Espírito que determina sua direção, segue-se que quando se pensa em
alguém deste ou de outro plano, faz-se uma evocação, que será ou não atendida de acordo com vários
fatores observados por Kardec e esclarecidos pelos Espíritos. Na pergunta de número 5 do item 282 do
capítulo XXV de O Livro dos Médiuns, os Espíritos assinalaram: “... O que vos posso dizer é que o
Espíritos que evocais, por distante que esteja, recebe, por assim dizer o impacto do pensamento como
uma espécie de comoção elétrica que chama sua atenção para o lado de onde vem o pensamento que se
dirige a ele . Pode-se dizer que ouve o pensamento, como na Terra ouvis a voz.” Ou seja, a palavra é
algo material, sendo desnecessário pronunciar o nome daquele que se quer evocar para que este
responda. Parece ser este o sentido que alguns adeptos entendem por evocação, estando no momento
atual proibida segundo normas ditadas por alguns que se vêem no direito de, a esta altura dos
acontecimentos, tentarem castrar o que os Espíritos Codificadores libertaram, dada a naturalidade do
fenômeno.

A própria obsessão é o atestado de tal veracidade: não se vê ou se ouve o obsidiado chamar pelo seu
obsessor, pois é através do pensamento que ocorrem tais ligações. Neste como em todos os casos, ao
contrário do que alguns adeptos pensam, o intercâmbio não se dá somente do plano espiritual para o
físico, mas, inclusive, inversamente, e também do plano espiritual para espiritual e do físico para físico.
(Para maiores informações leia-se o capítulo oitavo da segunda parte de O Livro dos Espíritos;bem como
o item 284 de O Livro dos Médiuns).

Os dons, aliás, referidos pelo apóstolo da gentilidade na sua primeira epístola aos coríntios, ao longo dos
capítulos XII e XIV, nasceram com o Homem e com ele se desenvolvem no tempo. Por isso vê-se alguma
impropriedade no termo “desenvolver a mediunidade” quando se refere unicamente à freqüência do
médium nas reuniões mediúnicas, pois estas podem até constituir poderoso instrumento para se
desenvolver os poderes psíquicos, mas nem sempre por si mesmas farão que os médiuns direcionem
estes poderes para uma ordem mais elevada de coisas, que é o que se espera.

Infelizmente, muitos grupos mediúnicos se formaram sem dispor de um conhecimento mais profundo das
orientações Kardequianas, daí as confusões de obsessão com mediunidade, de mediunidade com
doença; e diversos comportamentos e atitudes que negam a Doutrina Espírita sob qualquer ângulo que se
analise.

Mas, voltando a Paulo, no capítulo XII da referida epístola, são apresentados alguns dos diversos tipos da
faculdade; e no XIV é sugerida uma estrutura para o que hoje conhecemos por reunião mediúnica.
Encontram-se ricas referências à ordem que deve permear o ambiente mediúnico, que pode estender-se
além dos domínios materiais, e aí se refere à intimidade de cada participante. Vai ver que por isso o
apóstolo dedica o capítulo XIII para dissertar sobre a caridade: “Ainda que eu falasse as línguas dos
homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda
que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que eu tivesse
toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria...”(Vs 1 e 2)
Buscando na Doutrina dos Espíritos o significado da palavra caridade, na questão 886 encontra-se: “
Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? – Benevolência para com
todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas.” Os Espíritos falam de uma
construção moral melhor; o que Paulo de Tarso tentou instruir ao povo de corinto, falando de caridade,
colocando-a não como uma forma de aperfeiçoar os seus dons, mas a única.

A proibição mosaica das evocações e comunicações com os Espíritos se deve aos abusos do povo de
então. A transfiguração de Jesus no monte Tabor, o dia de pentecostes narrado por Lucas no segundo
capítulo de Atos dos Apóstolos, desfazem a proibição, que retorna com força total durante toda a idade
média. Restabelecidos alguns paradigmas, “as vozes do céu” ecoam nos quatro cantos da Terra, e, por
via mediúnica, a Humanidade recebe novas orientações para seguir seu curso evolutivo, desta vez,
possuidora de intensa liberdade.

Kardec e as Entidades Superiores trazem estas questões de forma muito tranqüila para que os homens
percebam que trata-se de ocorrências naturais e que, através dos estudos, encontrem forças para vencer
os preconceitos e as superstições. Esclarecem logo no início do capítulo XXV de O Livro dos
Médiuns que “essas duas maneiras de operar (evocação/comunicações espontâneas) têm cada uma suas
vantagens, e o inconveniente não estaria senão na exclusão absoluta de uma das duas.”

Por isto é de se estranhar que no Movimento Espírita haja tanta restrição a respeito da evocação, ao
passo que é aceita qualquer comunicação que venha espontaneamente, sem muitos critérios. No item VI
da introdução de O Livro dos Espíritos, fica esclarecido que “...Os Espíritos se manifestam
espontaneamente ou por evocação. Podem-se evocar todos os Espíritos...e com isso obter, por
comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre sua situação no além-túmulo, sobre
seus pensamentos a nosso respeito, assim como as revelações que lhes são permitidas nos fazer.”

Questiona-se porque os Espíritos Codificadores sancionaram a evocação à época de Kardec e outros


Espíritos tomaram a dianteira para proibi-la algum tempo após; se esses têm maior autoridade que
aqueles; e também, como é que Espíritos tão elevados, incumbidos de trazer à Humanidade o
Consolador anunciado pelo Cristo puderam se enganar tanto... Óbvio que o erro está nas mentes fracas e
entusiastas de encarnados e desencarnados sistemáticos, preconceituosos e cheios de si, cujos objetivos
é tentarem destruir, seja por ignorância ou inveja, o trabalho, não de Kardec, mas do Cristo. Kardec é a
figura do servo fiel...

Allan Kardec na sua introdução em O Livro dos Médiuns, muito tranquilamente, esclarece:

“... Um desejo bem natural, entre as pessoas que se ocupam com o Espiritismo, é o de poderem entrar,
elas mesmas, em comunicação com os Espíritos; é para lhes aplainar o caminho que esta obra está
destinada, em as fazendo aproveitar o fruto dos nossos longos e laboriosos estudos, porque far-se-ia
uma idéia muito falsa pensando que, para ser perito nesta matéria, basta saber colocar os dedos sobre
uma mesa para fazê-la girar, ou tomar do lápis para escrever.”
“Enganar-se-se-iam, igualmente, quem cresse encontrar, nesta obra, uma receita universal e infalível para
formar médiuns. Conquanto cada um encerre em si mesmo o germe das qualidades necessárias para
tornar-se médium, essas qualidades não existem senão em graus muito diferentes, e seu
desenvolvimento provém de causas que não dependem de ninguém fazê-las nascer à vontade. As regras
da poesia, da pintura e da música não fazem nem poetas, nem pintores nem músicos daqueles que não
lhes têm o gênio: elas guiam no emprego de faculdades naturais. Ocorre o mesmo com o nosso trabalho;
seu objetivo é indicar os meios de desenvolver a faculdade medianímica tanto quanto o permitam as
disposições de cada um, e, sobretudo, dirigir-lhe o emprego de maneira útil quando a faculdade existe.
Mas nisso não está a finalidade única a que nos propomos.”

“Ao lado dos médiuns propriamente ditos, há a multidão, que aumenta todos os dias, de pessoas que se
ocupam com as manifestações espíritas; guiá-las em suas observações, assinalar-lhes os escolhos que
podem e devem, necessariamente, encontrar em uma coisa nova, iniciá-las na maneira de conversar
com os Espíritos, indicar-lhes os meios de terem boas comunicações, tal é o círculo que devemos
abranger, sob pena de fazermos uma coisa incompleta. Não será, pois, surpreendente encontrar em
nosso trabalho informações que, à primeira vista, poderiam parecer-lhe estranha: a experiência
mostrará sua utilidade. Depois de havê-lo estudado com cuidado, compreender-se-á melhor os fatos
que se vier a testemunhar; a linguagem de certos Espíritos parecerá menos estranha. Como instrução
prática, não se dirige, pois, exclusivamente, aos médiuns, mas a todos aqueles que são capazes de ver e
de observar os fenômenos espíritas...”

Kardec realizou um trabalho primoroso ao longo de muitos anos avaliando, ajuizando, abonando ou
descartando instruções oriundas do plano espiritual para elaborar uma obra que pudesse guiar todo
aquele que tivesse o interesse em se aprofundar na ciência Espírita. Ele diz: “... é para lhes aplainar o
caminho que esta obra está destinada, em as fazendo aproveitar o fruto dos nossos longos e laboriosos
estudos...”, ou seja, tudo o que se tem que fazer é seguir-lhe os passos, pois ele próprio dá garantia de
segurança. Adiante o mestre lionês continua: “... Não será, pois, surpreendente encontrar em nosso
trabalho informações que, à primeira vista, poderiam parecer-lhe estranha: a experiência mostrará sua
utilidade. Depois de havê-lo estudado com cuidado, compreender-se-á melhor os fatos que se vier a
testemunhar...” Quer dizer que seu trabalho está fundamentado em bases muito firmes, em última
análise, na Verdade; e que só a experiência pode fundamentar uma idéia, uma doutrina.

Falando-se dos intercâmbios devidamente estabelecidos, há que se reservar um ambiente e um horário


para tal, afinal, alguma organização é necessária. Ao longo de O Livro dos Médiuns, Kardec e os Espíritos
Instrutores delineiam o caminho correto para que qualquer pessoa que se interesse pelos fenômenos
espíritas, obviamente com um fim útil, possa percorrer com uma maior segurança. De forma didática,
como não poderia deixar de ser, são explanadas as orientações capazes de prover os estudiosos que
queiram se aprofundar nas investigações do plano espiritual. E, seguidas à risca, ter-se-á base firme,
evitando-se num maior grau a mistificação e a obsessão.

Desta forma, poder-se-iam formar grupos mediúnicos, subentendendo-se cada indivíduo devidamente
consciente de seu papel de inveterado estudioso da Doutrina Espírita.

Apesar de muito extensa, a bibliografia Espírita conta com um número muito menor do que se pensa de
obras genuinamente doutrinárias- Espíritas. Grande parte dos erros disseminados é oriunda de obras que
semearam orientações baseadas no misticismo e nas superstições; alimentaram a fantasia e a ilusão
através de revelações que jamais serão comprovadas, visto que não passam da imaginação de médiuns
fascinados e Espíritos pseudo-sábios ou zombeteiros.

Espera-se que o Movimento Espírita adquira maturidade para reavaliar obras há muito consagradas como
subsidiárias da Doutrina, e que serão aceitas, desde que os conceitos que têm fugido aos parâmetros
Kardequianos sejam devidamente revisados. Para uma parcela destas obras não haverá revisão capaz
de desfazer os erros profundos que proclamam, restando-lhes apenas a exclusão sumária. Agindo assim,
o Movimento Espírita provará que não perdeu de todo a sanidade.

Não há conciliação possível entre a Doutrina dos Espíritos e a grande maioria de obras que mereceram
publicação e credibilidade não se sabe por quê. Fato é que, para se compreender de forma completa e
mais exata qualquer que seja o assunto, os adeptos terão que dispor de algum tempo e de alguma boa
vontade para dedicarem-se ao estudo continuado das obras fundamentais, com exclusão total de todas
as que, seja por presunção, seja por descuido, se intitulam espíritas.

Universalismo crístico ou Misticismo


antiespirítico?
09:35 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Artur Felipe Azevedo

Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos
profetas se têm levantado no mundo. (1 João 4)

O Espiritismo, consubstanciado na Doutrina Espírita, teve e tem como principal missão reestabelecer a
Verdade e revelar ainda outras tantas, só capazes de serem hoje compreendidas em conformidade com o
progresso intelecto-moral alcançado pela humanidade após séculos de lutas contra as trevas da
ignorância.

A História nos conta que a Igreja Católica lutou por muito tempo para que seus dogmas de fé não fossem
atingidos pelas descobertas e avanços da Ciência, o que poderia comprometer o domínio sobre os fiéis e
desmantelar sua influência e privilegiada posição econômica e política.

Com o Renascimento, período marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, que
assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, houve ruptura com as estruturas
medievais, marcando grandes avanços nas artes, na filosofia e nas ciências.

O pensamento iluminista, a seu turno, durante o século XVIII, marcou o fim do obscurantismo,
inaugurando uma nova era, iluminada pela razão e respeito à humanidade. As novas descobertas da
ciência, a teoria da gravitação universal de Isaac Newton e o espírito de relativismo cultural fomentado
pela exploração do mundo ainda não conhecido foram também importantes para a eclosão do Iluminismo.

Entre os precursores, destacaram-se os grandes racionalistas, como René Descartes e Spinoza, e os


filósofos políticos Thomas Hobbes e John Locke. Na época, é igualmente marcante a fé no poder da
razão humana. Chegou-se a declarar que, mediante o uso judicioso da razão, seria possível um
progresso sem limites. Porém, mais que um conjunto de idéias estabelecidas, o Iluminismo representava
uma atitude, uma maneira de pensar. De acordo com Immanuel Kant, o lema deveria ser "atrever-se a
conhecer". Surge o desejo de reexaminar e pôr em questão as ideias e os valores recebidos, com
enfoques bem diferentes, daí as incoerências e contradições entre os textos de seus pensadores. A
doutrina da Igreja foi duramente atacada, embora a maioria dos pensadores não renunciassem totalmente
à ela.

A França teve destacado desenvolvimento em tais ideias e, entre seus pensadores mais importantes,
figuram Voltaire, Montesquieu, Diderot e Rousseau. Kant, na Alemanha, David Hume, na Escócia, Cesare
Beccaria, na Itália, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, nas colônias britânicas, figuram entre os
maiores expoentes.

Tempos depois, já com a Igreja Romana em pleno declínio na Europa e com a Inquisição dando seus
últimos suspiros, surge Allan Kardec, descortinando o mundo espiritual, sem fantasias, sem mistérios,
sem hermetismo, desvelando ao mundo a realidade de além-túmulo, e apresentando uma Doutrina
eminentemente racional e lógica, filtrando todo e qualquer arroubo místico advindo da fé cega, seja de
origem dogmática ou advinda de puras concepções humanas de cunho fantasista.

Não obstante os esforços da Espiritualidade Superior para que fossem atingidos tais elevados objetivos,
muitos indivíduos, talvez confundindo a nova situação de liberdade do pensamento, partiram para a
revivescência de mitos e crendices, em sua maioria advindos das priscas eras do paganismo, na tentativa
de conduzir à ausência de dogmatismos ou estruturas religiosas padronizadas.

Alguns partidários dessas teorias, a qual podemos chamar de "neopagãos", nos tempos modernos,
acreditam ter encontrado, surpreendentemente, no Espiritismo, a confirmação de suas crenças.
Utilizando-se de alguns postulados espíritas, como a comunicabilidade dos espíritos e a reencarnação,
passam tais indivíduos a transmitirem informações e a escreverem obras que acabam por cair no gosto
de alguns "espíritas", obviamente ainda pouco versados na Doutrina, ou seja, que pouco ou nada
estudaram (e entenderam) da Codificação.

O espírito Ramatis pode ser apontado como espírito mais citado pelos propagadores do neopaganismo
no meio espírita. Defensor daquilo que chama de "universalismo crístico", o espírito Ramatis tem se
utilizado de médiuns ideologicamente adeptos de concepções neopagãs que, bem intencionados ou não,
se servem do Espiritismo e do movimento espírita para divulgarem suas ideias. Entre eles, podemos citar
o médium Roger Bottini, que escreve obras romanceadas que versam sobre temáticas no mínimo
exóticas, tais como: era de Peixes, civilização atlante, fim dos tempos, etc. Ao mesmo tempo, o médium
diz receber revelações sobre personagens famosas da antiguidade, como faraós egípcios, legisladores
hebreus do porte de Moisés, assim como outros em que não encontramos registros, já que teriam vivido
na Atlântida, Lemúria ou alguma civilização lendária qualquer. Tudo isso entremeado por relatos de
existência de dragões, magos negros, energias desconhecidas, seres interplanetários, e tudo que possa
atiçar a imaginação do leitor. Como de costume, a fim de angariar confiança, o citado autor chega a
declarar que foi filho de Allan Kardec em uma encarnação passada, como se tal informação, pura e
simples, sem qualquer indício e confirmação, pudesse lhe conferir alguma autoridade extra. Confira o que
afirma o citado "médium" em seu sítio na internet:

"Além de ter vivido na personalidade de Akhenaton, Allan Kardec foi, também, Atônis, o sacerdote do
sol na Atlântida, e Andrey era seu filho. Logo, por mais incrível que isso possa parecer, Allan Kardec
foi meu pai na extinta Atlântida e um inesquecível amigo no antigo Egito, durante seu reinado como o
faraó filho do Sol."
E para dar peso à sua ousada afirmação, trata de creditar tais informações ao auxílio de um espírito, já
que, para muitos desavisados, basta ser espírito para possuir toda a sabedoria e conhecimento
universais:

"Logo, sei o que estou dizendo. Essas informações são obtidas através de um processo de regressão de
memória conduzido por Hermes, que é o mentor espiritual de todos os nossos livros."

Em outro trecho do mesmo sítio, o sr. Bottini ainda "revela":

" (...)Como eu era o próprio Natanael, e vivi próximo a Moisés desde os tempos da Atlântida, quando
ele viveu como Atlas, posso ter "defendido" de forma exagerada as suas atitudes nos eventos da
libertação do povo judeu da escravidão no Egito."

O mais estarrecedor e surpreendente de tudo isso é que tais teorias são apresentadas como oriundas da
evolução do pensamento espírita, embora colidam frontalmente com os métodos e objetivos da Doutrina e
não tenham recebebido, nem de perto, a confirmação proveniente do controle universal.

Frente a tudo isso, a advertência de Erasto, constante em "O Livro dos Médiuns", cresce em importância,
já que, em matéria de Espiritismo, o benfeitor espiritual afirma que "é preferível rejeitar dez verdades a
aceitar uma única mentira". Tal assertiva denota prudência e critério para a avaliação de qualquer
conteúdo, mais notadamente os de origem mediúnica.

Como já tratamos em outras oportunidades, a fascinação de origem mediúnica é um problema recorrente,


e decorre das próprias dificuldades do médium, tornando-o presa fácil de pseudossábios e mistificadores
da erraticidade. Listemos algumas delas:

1) vaidade (desejo imoderado de atrair admiração dos homens);


2) orgulho (conceito elevado ou exagerado de si próprio);
3) narcisismo (amor excessivo a si mesmo);
4) egoísmo (exclusivismo que faz o indivíduo referir tudo a si próprio);
5) presunção (ato ou efeito de presumir; de vangloriar-se; de formar de si grande opinião);
6) arrogância (tomar como seu; atribuir a si);
7) ambição (desejo veemente de fortuna, de glória, de honrarias, de poder; cobiça.)

No que tange especificamente ao item 7, pudemos recentemente verificar que há médiuns (ou
pseudomédiuns) inclusive organizando excursões pagas ao Egito e outros locais tidos como "especiais" e
"místicos" com o fito de alcançarem vantagens pecuniárias, o que é certamente algo lamentável, sob
todos os pontos-de-vista. O Espiritismo nada tem a ver com eles, que se valem da condição de médiuns
para adquirirem fama, dinheiro e poder.

O papel do verdadeiro espírita é o de esclarecer, orientar e, inclusive, desmascarar toda e qualquer


iniciativa que vise a iludir, a enganar ou mistificar, uma vez que tais atitudes são reprováveis e atrasam a
marcha evolutiva, tanto de suas vítimas como de seus executores, assim como colaboram para o
descrédito e ridicularização da própria Doutrina Espírita, utilizada por indivíduos inescrupulosos como
pano de fundo para encobrir uma série de interesses espúrios.

Não só leiamos, mas acima de tudo estudemos a Doutrina Espírita, para que nosso discernimento se
amplie e possamos nos imunizar dessas e outras tantas influências perniciosas que lutam, nas sombras,
para a derrocada desse clarão de conhecimento e sabedoria que ressuma do Espiritismo.

Competições
09:25 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Octávio Caúmo Serrano

O mal do mundo são as disputas. Para que alguém vença sempre há outro, ou muitos outros, que
perdem. Isso significa que a alegria e o riso de alguém são sempre conquistados à custa da tristeza e do
choro dos demais. Não somos educados para competir, mas para ganhar.

Embora as competições possam parecer um estímulo para que o homem vença e se supere cada vez
mais, o ideal seria que ele lutasse contra si próprio, combatendo tenazmente os seus defeitos,
principalmente no sentido de ser mais humano, mais fraterno, mais tolerante e olhasse o semelhante
como alguém igual a ele mesmo, com os mesmos sentimentos, com as mesmas necessidades e com os
mesmos desejos de ser feliz.

Além disso, geralmente, o vencedor tripudia sobre o perdedor, como se não lhe bastasse o fato de haver
vencido. Vejam o que acontece num campo de futebol. Fora simplesmente um extravasar de alegria e até
poderíamos compreender, mas estabelece-se uma rivalidade tal que chega à agressão física, muitas
vezes, com graves conseqüências.

Quando levamos a competição para o campo religioso, aí fica incompreensível. A pretensão de certas
igrejas de terem o monopólio da salvação é algo que não podemos aceitar em se tratando de analisar
Deus, o Pai de extrema misericórdia, que julga seus filhos apenas pelos atos e não pelos rótulos
religiosos de seitas criadas por homens para seus próprios interesses.

Por isso é que o Evangelho do Cristo, que nada mais é do que a orientação e explicação da Lei Maior, é
alvo de tantas interpretações. Já se diz popularmente que cada um lê o Evangelho no versículo que lhe
convém, dando interpretação conforme suas conveniências.

Fora tão simples chegar ao chamado Reino dos Céus pela simples adesão a uma doutrina, seja qual for,
e o problema das dores na Terra estariam resolvidos. Todos nós nos converteríamos à tal igreja
milagrosa e seríamos salvos. Ainda que fosse necessário dar o dízimo. Afinal a salvação tem seu preço.
Pena que o valor da salvação não seja pago com dinheiro, mas com obras. Em favor do próximo e em
favor de nós mesmos. Caridade com todos sem desprezar a auto-caridade. Quem não se ama não pode
amar o próximo.

Isto tudo acontece porque somos espíritos atrasados, habitantes de um planeta de provas e expiações.
Enquanto perdurar esse estado de coisas, inútil esperar pela paz na Terra. A paz só existirá quando
pensarmos mais nos outros do que em nós. Utopia? Fantasia? Não. Alternativa única para conquistarmos
a felicidade.

Se quisermos entender porque isso acontece é fácil. Porque esse tipo de ação nos deixa de consciência
tranqüila. Enquanto magoarmos alguém, não seremos plenamente felizes; enquanto nos omitirmos diante
da dor do semelhante não curaremos nossas próprias dores.

Jesus já nos ensinou esse mecanismo com tanta clareza. Entretanto, continuamos incapazes de
entender. Que pena!... O prejuízo é somente nosso e a Terra continuará sendo esse vale de lágrimas!

Estes tempos de festas são um belo período para meditação e análise de nossas vidas e o que devemos
mudar em nós para apressar a nossa evolução na direção da espiritualidade e assim voltar para casa em
melhores condições do que aqui chegamos.

Dia-a-Dia do Jornal O Clarim de dezembro de 2011

Discussão reflexiva sobre pena de talião, lei de


ação e reação e causa e efeito
08:02 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Maria Ribeiro

Propõe-se, desta feita, organizar pensamentos e as reflexões deles decorrentes, com a finalidade de
acender discussões acerca de um exame mais maduro dos conceitos: pena de talião, ação e reação e
causa e efeito que, com o passar do tempo, foram se tornando objeto de polêmica (mais uma) no seio
doutrinário-Espírita.

É do saber geral que a missão de Moisés era educar e disciplinar um povo bruto, bárbaro; para isto
estabeleceu leis de acordo com o caráter dos homens. Recebeu o Decálogo, síntese das Leis Divinas,
mas o medo e o pavor de um Deus violento e vingativo foram como um freio para conter os instintos
animalizados vigentes.

No primeiro capítulo de O Evangelho segundo o Espiritismo, Kardec assinala:

“Esta lei (o decálogo) é de todos os tempos e de todos os países, e tem, por isso mesmo, um caráter
divino. Todas as outras são estabelecidas por Moisés, obrigado a manter, pelo temor, um povo
naturalmente turbulento e indisciplinado, no qual tinha que combater os abusos enraizados e os
preconceitos hauridos na servidão do Egito. Para dar autoridade a suas leis, ele deveu atribuir-lhes
origem divina, assim como o fizeram todos os legisladores de povos primitivos; a autoridade do homem
deveria se apoiar na autoridade de Deus;... as leis mosaicas, propriamente ditas, tinham, pois, um
caráter essencialmente transitório.”

A pena de talião era um castigo imposto a todo aquele que infringisse as normas; era aplicada
imediatamente ao infrator com idêntica proporcionalidade à infração cometida. Ao que parece, havia a
permissão do Alto, devido às circunstâncias. Em Êxodo 4, v.12 lê-se: “Vai, pois, agora, e eu serei com a
tua boca e te ensinarei o que hás de falar”, resposta de “deus” a Moisés num diálogo sobre a missão
que lhe caberia no mundo. As leis mosaicas eram transitórias devido ao fato de que, uma vez atingido o
objetivo de educar minimamente o povo, não haveria necessidade de permanecer.

Mas é preciso que se penetre na essência mesma de tal pena: olho por olho, dente por dente, mão por
mão, pé por pé. Para isso, analise-se a questão 764 de O Livro dos Espíritos, onde eles esclarecem:

“Jesus disse: quem matou pela espada, perecerá pela espada. Essas palavras não são a consagração da
pena de talião? A morte infligida ao homicida não é a aplicação dessa pena? - Tomai cuidado! Tendes
vos enganado sobre essa palavra, como sobre muitas outras. A pena de talião é a justiça de Deus e é ele
que a aplica. Todos vós suportais, a cada instante, essa pena, porque sois punidos pelo que pecastes,
nesta vida ou em uma outra. Aquele que fez sofrer seus semelhantes, estará numa posição em que
sofrerá, ele mesmo, o sofrimento que causou. É o sentido das palavras de Jesus; mas vos disse também:
perdoai aos vossos inimigos e vos ensinou a pedir a Deus perdoar as vossas ofensas, como vós mesmos
tiverdes perdoado; quer dizer, na mesma proporção que tiverdes perdoado: compreendei-o bem.”
(n.m.)
Os Espíritos Superiores disseram que a pena de talião é a justiça de Deus e é ele que a aplica. Ou seja,
não parece que esta pena tenha sido apenas mais uma lei disciplinar mosaica, mas sim de caráter divino,
essencialmente falando. Daí a impropriedade de se querer fazer justiça pelas próprias mãos, o que
caracteriza ódio e vingança, e que está contra a Lei Divina e nega o ensino do Cristo:

“amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que
vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu
sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.” (Mt 5, 44 e 45).

No livro “O céu e o inferno” no capítulo VIII - Expiações terrestres, há um relato intitulado por Kardec
como “Enterrado vivo – A pena de talião”, onde o Espírito evocado dialoga com Kardec. Eis um trecho:

“-Dissestes: cruel punição de uma feroz existência; mas a vossa reputação, até este dia, não faria supor
nada semelhante. Podeis explicar-nos isso? - R...Sabei, pois, uma vez que é necessário vo-lo dizer, que
numa existência anterior eu murara uma mulher, a minha! Toda viva numa pequena adega! Foi a pena
de talião que devia aplicar-me. Dente por dente, olho por olho.” “- É certo que fostes enterrado vivo
por engano? – R. Isso deveria ser assim, porque a morte aparente teve todas as características de uma
morte real; estava quase exangue (privado de sangue). Não se deve imputar a ninguém um fato previsto
desde antes do meu nascimento.” (n.m.)

O guia do médium esclarece que o próprio Espírito solicitara tal fim com o propósito de evoluir mais
depressa; sua vítima o perdoara e o esperava num mundo melhor. Kardec indaga e obtém resposta de
Erasto:

”- Que proveito pode tirar a humanidade de semelhantes punições? – R. Os castigos não são feitos para
desenvolver a Humanidade, mas para castigar o indivíduo culpado. Com efeito, a Humanidade não tem
nenhum interesse em ver os seus sofrerem. Aqui a punição foi apropriada à falta. Por que os loucos?
Por que os cretinos? Por que as pessoas paralíticas? Por que os que morrem no fogo? Por que aqueles
que vivem anos nas torturas de uma longa agonia, não podendo nem viver nem morrer? Ah! Crede-me,
respeitai a vontade soberana e não procureis sondar a razão dos decretos providenciais; sabei-o! Deus é
justo e faz bem o que faz.”

Na questão 621 de O Livro dos Espíritos, o nobre Codificador indaga as Entidades Excelsas onde está
escrita a lei de Deus, ao que estas respondem: na consciência. Uma vez que as leis Divinas estão na
consciência do homem, ele mesmo é que aplica a própria pena, a própria condenação, com a permissão
da Divindade que julga útil para o crescimento e amadurecimento de cada criatura. Se num tempo as
expiações são impostas, noutro pode ser uma escolha do próprio Espírito, agora consciente de sua
destinação.

Em Obras póstumas Kardec volta a repetir: “... Eis porque há famílias, povos e raças sobre os quais cai a
pena de talião. “ Quem matou pela espada perecerá pela espada”, disse o Cristo; estas palavras podem
ser traduzidas assim: Aquele que derramou sangue verá o seu derramado, aquele que passeou a tocha
do incêndio em casa de outrem, verá a tocha do incêndio passear em sua casa; aquele que despojou,
será despojado; aquele que subjugou e maltratou o fraco, será fraco, subjugado e maltratado, por sua
vez, quer seja um indivíduo, uma nação ou uma raça, porque os membros de uma individualidade
coletiva são solidários do bem como do mal que se faz em comum.” (Perguntas e problemas. As
expiações coletivas)

O fato é que a pena de talião como Lei Divina foi confirmada pelo Cristo: “quem matou pela espada,
perecerá ela espada”. Jesus ensinou e exemplificou o perdão, mas não que a culpa do agressor seria
atenuada por causa disso. Quando disse “a cada um segundo as suas obras”, repetia com outras palavras
a mesma lei.

A lei de ação e reação é uma lei física, material, que estabelece uma reação igual e proporcional à ação.
Nada impede que, por comparação, seja referida às questões morais; afinal ações e reações não
precisam ser, necessariamente, materiais. A não ser que se entenda por bem ou por mal somente ações
(ou reações) perfeitamente materiais, palpáveis, perceptíveis. Um pensamento mau em relação ao
semelhante é uma ação má, por exemplo, e uma prece é uma ação boa, sendo as sensações agradáveis
que se sentem após uma prece, reações igualmente boas. O ato de perdoar, que não é palpável, é uma
ação no bem.

Pena de talião vista nas circunstâncias da época de Moisés e esta lei de Newton, comparativamente, são
muito semelhantes. Levadas para as questões morais-espirituais, não perdem a semelhança, se forem
consideradas sob o aspecto essencial, as entrelinhas. O recado é: “faça aos homens o que desejaríeis
que os homens vos fizessem.”

Causa e efeito não é, propriamente falando, uma lei, mas uma decorrência da lei de liberdade, (tratada no
capítulo X da terceira parte de O Livro dos Espíritos); aliás, a causa é que decorre do livre arbítrio, pois o
efeito está sob o controle das Leis Universais.

É preciso que se ressalte que o livre arbítrio oferece ao homem total responsabilidade sobre seus atos,
portanto, a causa, a raiz, a origem dos males se encontra no homem, que tem a liberdade de escolher
não fazê-los, mas os efeitos estão sob a guarda, ou melhor, sob o domínio da lei Divina; ou seja, a causa
depende do homem e o efeito, que é dependente da causa, será aplicado segundo a vontade de Deus.
(n.m.)

As Letras Espíritas oferecem todo o ensino da Verdade que os homens hoje têm condições de
compreender. Preconceitos, idéias e opiniões particulares só complicam o que Allan Kardec simplificou.
Entende-se que por se tratar de coisas tão transcendentes, para muitos de nós, alguns temas ainda se
façam obscuros, mas deve-se a todo custo evitar que interpretações equivocadas se disseminem em
nome da Doutrina Espírita. Neste caso específico, muito se publicou a respeito, tentando-se estipular uma
separação tão grande sobre estes três conceitos, quando, essencialmente, falam sobre a mesma coisa. A
pena de talião, da forma que era feita, sim, é reprovável; mas entendido que foi que a ocasião evolutiva o
exigia, não há razão para que seja rechaçada e desconsiderada como se representasse algo remoto para
um povo específico; agora vê-se que trata-se de uma lei, em sua essência, toda Divina.

O Espírita na sociedade
22:48 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Maria Ribeiro

“Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus não deu inutilmente ao homem a palavra e todas as
outras faculdades necessárias à vida de relação.” (O Livro dos Espíritos, 766) Esta é a primeira questão
do capítulo VII da terceira parte intituladoLEI DE SOCIEDADE, onde os Espíritos Codificadores afirmam
ser a vida social uma lei natural.

Todas as sociedades são organizadas por leis e normas estabelecidas pelos homens ou seus
representantes. O que se espera, é que os homens se adequem às leis, e estas se aperfeiçoem à medida
que os próprios homens também se melhorem.

Estas leis nem sempre estão de acordo com uma verdadeira justiça; nem sempre atendem ou agradam a
todos, e, em muitos casos, isto acontece pela falta de vontade política agregada à indiferença de toda
uma sociedade, que por medo ou ignorância, não reage contra os abusos que se sucedem.

É comum nos estudos ou palestras ouvirem-se de alguns confrades colocações desfavoráveis acerca das
questões políticas, como se o assunto fosse antidoutrinário.

Os homens hoje não deveriam se comportar como simples instrumentos alienados e marginalizados na
sociedade em que vivem e os Espíritas deveriam discutir mais sobre política, afinal é um Espírito
encarnado e integrante da mesma engrenagem político-social.

O Espiritismo não sugere o distanciamento das questões do mundo, mas a proximidade com estas para a
promoção do aperfeiçoamento em conjunto. Esta evasão só reforça o quanto o atraso moral-espiritual
ainda prevalece. Os adeptos do Espiritismo precisam tirar as vendas dos olhos para enxergarem que as
soluções dos problemas sociais virão da sociedade unida num propósito. Mas como saber este propósito
se ninguém se une para discuti-lo? No item XIII da introdução de O Livro dos Espíritos, Kardec
anunciou: “Portanto, não nos enganemos: o estudo do Espiritismo é imenso, toca em todas as questões
da metafísica e da ordem social, e é todo um mundo que se abre diante de nós”.

Jesus, em inúmeras passagens narradas nos Evangelhos, fez questão de deixar bem claro que conhecia
muito bem os valores reinantes na sociedade de sua época, aos quais repudiava. Como exemplos, a
passagem da expulsão dos mercadores do templo (Mt 21, 12 e seg.) e todo o sermão do cenáculo (Mt
23). A postura de um Jesus ingênuo e passivo não coaduna com a sua condição missionária de tão
elevada envergadura.

Ao se exercer o papel de eleitor, delega-se a alguns o poder de representação sócio-política, mas a


maioria não percebe que se coloca como apenas um instrumento de fazer politiqueiros, corruptos e
enganadores do povo. Muitos Espíritas sequer teriam coragem de se referir a esta classe com tais
palavras, por acharem que ofendem a “nossos irmãos equivocados”. Com certeza, são nossos irmãos e
também equivocados. Porém isso não faz deles menos responsáveis pela ambição desmedida em nome
da qual permitem que milhares de outros irmãos morram de inanição, não tenham assistência médica e
moradia decente. Isto é só para falar do básico, pois enquanto se gastam milhões de reais com viagens
para o exterior, ou mesmo com o vai e vem dentro do próprio território brasileiro, há pessoas que não têm
sequer o dinheiro para pagar um cinema. Ninguém, nem os Espíritas, precisam se fazer de cegos, mudos
e surdos para que se demonstre uma superioridade moral ainda não atingida. Aliás, o ato de fingir, em si
mesmo, é sinal de inferioridade.

Não se pode permitir que os homens eleitos estejam acima de normas éticas, mas ninguém toma
conhecimento do que fazem, muito menos obriga-os a cumprirem seus deveres de homens públicos, que
gerenciam os recursos financeiros devendo prestar contas à sociedade, fazendo cumprir que os direitos
sejam iguais.

A questão 932 de O Livro dos Espíritos esclarece: “- Por que, no mundo, os maus, tão freqüentemente,
sobrepujam os bons em influência?” – Pela fraqueza dos bons; os maus são intrigantes e audaciosos, os
bons são tímidos. Quando estes o quiserem, dominarão”. Os Espíritos não afirmam que os habitantes do
mundo são bons, pois em várias outras colocações deixaram bem claro a real situação moral-intelectual
destes. Certamente fazem uma comparação dos que dominam sem escrúpulos e dos dominados que não
apresentam nenhuma reação para que se reverta o quadro de abusos que culmina nas misérias físicas e
morais. Pois muito bem: os Espíritos afirmam que pode ocorrer uma mudança significativa quando as
pessoas pararem de baixar a cerviz diante das situações em que são colocadas, e, pacificamente,
reivindicar seus direitos. No capítulo terceiro de A Gênese, item 8, o mestre lionês definiu assim o mal: “O
mal é a ausência do bem, como o frio é a falta de calor. ..o mal provém unicamente do homem.”

Num movimento espírita como o que se tem, onde se prega que o mal não merece comentário, não se
formam adeptos conscientes de seu papel social, sequer moral, uma vez que não se aprende a
reconhecer, ajuizar e julgar o que é o mal.

O comportamento servil e submisso não caracteriza sinal de elevação ou sequer de disciplina e também
não representa elemento promovedor de paz ou o que quer que seja. Atente-se a estas palavras do
Mestre Jesus: “A seara é grande, e poucos os seareiros. Vou orar e pedir ao pai da seara que mande
mais seareiros para a sua seara”. Ou seja, muitos irmãos acreditam que a seara está só na Casa Espírita.
O universo é a grande seara; cada orbe é uma seara e seus habitantes estão incumbidos de fazê-lo
avançar. O mesmo se dá com as sociedades - a nossa sociedade carece de seareiros, de trabalhadores
que visem o bem comum. Jesus se refere a transformadores, a pessoas promotoras de mudanças. Como
é que se pode pensar num mundo melhor se as pessoas não conseguem sequer registrar uma queixa
contra uma propaganda enganosa; ou cobrar pontualidade dos ônibus coletivos?

Ser Espírita implica, necessariamente, compreender que os mecanismos das leis Divinas estão presentes
para que a vontade do Pai seja feita. Queira-se ou não, isto acontece independente da aceitação humana,
ou mesmo, do conhecimento humano. Ao compreender tais mecanismos, o homem se situa como sujeito,
não mais como objeto, e passa a perceber que a ele cabe determinada quota de obrigações individuais,
que ele pode julgar inexpressivas, mas que, no coletivo, representarão grandes feitos. A vida social impõe
ao homem dinamismo, atividades; não pode se tornar um ser passivo diante de um mundo onde ainda há
pessoas que morrem de fome, onde ainda existem analfabetos, onde cresce o número de viciados em
drogas, quadro, aliás, considerado pandêmico pela Organização Mundial de Saúde. A Doutrina Espírita é
o chamamento do Cristo a convocar a humanidade ainda uma vez para a remoção do egoísmo, individual
e coletivo. Permanecer alheio às maldades que existem só piora as coisas.

Não se pode ficar aguardando por um mundo de regeneração, acreditando que as tarefas assumidas nas
Casas Espíritas, ou trabalhos voluntários que se assumem nas diversas instituições de caridade sejam
suficientes para que esta regeneração aconteça. Crença bastante pueril! Ouçam-se as palavras dos
dignos Codificadores dos dois planos, na questão 1018 de O Livro dos Espíritos: “O bem reinará sobre a
Terra quando, entre os Espíritos que vêm habitá-la, os bons vencerem sobre os maus. Então farão nela
reinar o amor e a justiça que são a fonte do bem e da felicidade...Todos vós, homens de fé e de boa
vontade, trabalhai, portanto, com zelo e coragem na grande obra da regeneração, porque colhereis
centuplicado o grão que houverdes semeado. Infelizes aqueles que fecham os olhos à luz, porque se
preparam para longos séculos de trevas e decepções...”

Com estas palavras, ficam os adeptos convidados a estudar as Letras Espíritas e delas retirar a lição que
falta para uma efetiva ação no bem – o legítimo bem é o bem comum.

A Passagem
11:11 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Allan Kardec

A confiança na vida futura não exclui as apreensões da passagem desta para a outra vida. Muitas
pessoas não temem a morte por si mesma; o que temem é o momento da transição. Sofre-se ou não se
sofre na travessia? Aí está o que as inquieta; e a coisa vale tanto mais apenas porque ninguém dela pode
escapar. Pode-se dispensar de uma viagem terrestre; mas aqui, ricos como pobres devem transpor o
limiar e, se for doloroso, nem a classe nem a fortuna podem abrandar-lhe a amargura.

Ao ver a calma de certos mortos, e as terríveis convulsões da agonia de alguns outros, já se pode julgar
que as sensações não são sempre as mesmas; mas quem pode nos informar a esse respeito? Quem nos
descreverá o fenômeno fisiológico da separação da alma e do corpo? Quem nos dirá das impressões
desse instante supremo? Sobre esse ponto a ciência e a religião são mudas.

E por que isso? Porque falta, a uma e a outra, o conhecimento das leis que regem as relações do Espírito
e da matéria; uma se detém no limiar da vida espiritual, a outra no da vida material. O Espiritismo é o
traço de união entre as duas; só ele pode dizer como se opera a transição, seja pelas noções mais
positivas que dá quanto à natureza da alma, seja pelo relato daqueles que deixaram a vida. O
conhecimento do laço fluídico que une a alma e o corpo é a chave desse fenômeno, como de muitos
outros.

A matéria inerte é insensível: isso é um fato positivo; só a alma experimenta as sensações do prazer e da
dor. Durante a vida, toda desagregação da matéria repercute na alma, que dela recebe uma impressão
mais ou menos dolorosa. É a alma quem sofre e não o corpo; este não é senão o instrumento da dor: a
alma é o paciente. Depois da morte, estando o corpo separado da alma, pode ser impunemente mutilado,
porque não sente nada; a alma, estando dele isolada, não recebe nenhum dano da desorganização deste
último; ela tem as suas sensações próprias cuja fonte não está na matéria tangível. O perispírito é o
envoltório fluídico da alma, da qual não está separado nem antes, nem depois da morte, e com a qual não
faz, por assim dizer, senão um, porque um não se pode conceber sem o outro.

Durante a vida, o fluido perispiritual penetra o corpo, em todas as suas partes, e serve de veículo às
sensações físicas da alma; é também por esse intermédio que a alma atua sobre o corpo e dirige-lhe os
movimentos. A extinção da vida orgânica provoca a separação da alma e do corpo, pela ruptura do laço
fluídico que os une; mas essa separação jamais é brusca; o fluido perispiritual se separa pouco a pouco
de todos os órgãos, de sorte que a separação não é completa e absoluta senão quando não reste mais
um único átomo do perispírito unido a uma molécula do corpo. A sensação dolorosa, que a alma sente
nesse momento, está em razão da soma dos pontos de contato que existem entre o corpo e o perispírito,
e da maior ou menor dificuldade e lentidão que apresente a separação. Não é preciso, pois, dissimular-se
que, segundo as circunstâncias, a morte pode ser mais ou menos penosa. São estas diferentes
circunstâncias que iremos examinar.

Coloquemos primeiro, como princípio, os quatro casos seguintes, que podem ser consideradas as
situações extremas, entre as quais há uma multidão de nuanças:

1º Se no momento da extinção da vida orgânica o desligamento do perispírito estivesse completamente


operado, a alma não sentiria absolutamente nada;
2º se, nesse momento, a coesão dos dois elementos está com toda sua força, produz-se uma espécie de
dilaceramento que reage dolorosamente sobre a alma;
3º se a coesão é fraca, a separação é fácil e se opera sem abalo;
4º se, depois da cessação completa da vida orgânica, existem ainda numerosos pontos de contato entre o
corpo e o perispírito, a alma poderá sentir os efeitos da decomposição do corpo, até que o laço esteja
inteiramente rompido.

Disso resulta que o sofrimento, que acompanha a morte, está subordinado à força de aderência que une
o corpo e o perispírito; que tudo o que pode ajudar na diminuição dessa força e na rapidez do
desligamento torna a passagem menos penosa; enfim, que se o desligamento se opera sem nenhuma
dificuldade, a alma não sente nenhuma sensação desagradável.

Na passagem da vida corpórea para a vida espiritual, produz-se, ainda, um outro fenômeno de
importância capital: o da perturbação. Nesse momento, a alma sente um entorpecimento que paralisa,
momentaneamente, as suas faculdades e neutraliza, pelo menos em parte, as sensações; está, por assim
dizer, cataleptizada, de sorte que quase nunca testemunha consciente o último suspiro. Dizemos quase
nunca porque há um caso em que pode dele ter consciência, assim como o veremos daqui a pouco. A
perturbação pode, pois, ser considerada como estado normal no instante da morte; a sua duração é
indeterminada; varia de algumas horas a alguns anos. À medida que ela se dissipa, a alma está na
situação do homem que sai de um sono profundo; as idéias estão confusas, vagas e incertas; vê-se como
através de um nevoeiro; pouco a pouco a visão se ilumina, a memória retorna e ela se reconhece. Mas
esse despertar é bem diferente, segundo os indivíduos; nuns é calmo e proporciona uma sensação
deliciosa; noutros, é cheio de terror e ansiedade, e produz o efeito de um horrível pesadelo.

O momento do último suspiro não é, pois, o mais penoso, porque, o mais comumente, a alma não tem
consciência de si mesma; mas antes, ela sofre pela desagregação da matéria durante as convulsões da
agonia, e depois, pelas angústias da perturbação. Apressemo-nos em dizer que esse estado não é geral.
A intensidade e a duração do sofrimento, como dissemos, estão em razão da afinidade que existe entre o
corpo e o perispírito; quanto mais essa afinidade é grande, mais os esforços do Espírito, para se libertar
de seus laços, são longos e penosos; mas há pessoas nas quais a coesão é tão fraca que o desligamento
se opera por si mesmo e naturalmente. O Espírito se separa do corpo como um fruto maduro se destaca
de seu caule; é o caso das mortes calmas e de sonhos pacíficos.

O estado moral da alma é a causa principal que influi sobre a maior ou menor facilidade do desligamento.
A afinidade entre o corpo e o perispírito está em razão do apego do Espírito à matéria; está em seu
máximo no homem cujas preocupações todas se concentram na vida e nos gozos materiais; ela é quase
nula naquele cuja alma depurada está identificada por antecipação com a vida espiritual. Uma vez que a
lentidão e a dificuldade da separação estão em razão do grau de depuração e de desmaterialização da
alma, depende de cada um tornar essa passagem mais ou menos fácil ou penosa, agradável ou dolorosa.
Isto posto, ao mesmo tempo como teoria e como resultado da observação, resta-nos examinar a
influência do gênero de morte sobre as sensações da alma no último momento.

Na morte natural, a que resulta da extinção das forças vitais ou da doença, o desligamento se opera
gradualmente; no homem cuja alma está desmaterializada, e cujos pensamentos se separaram das
coisas terrestres, o desligamento é quase completo antes da morte real; o corpo vive ainda a vida
orgânica, e a alma já entrou na vida espiritual, e não se prende mais ao corpo senão por um laço tão fraco
que se rompe, sem dificuldade, ao último batimento do coração. Nessa situação, o Espírito já pode ter
recobrado a sua lucidez, e ser testemunha consciente da extinção da vida de seu corpo, do qual está feliz
por ter-se livrado; para ele, a perturbação é quase nula; não é senão um momento de sono pacífico, do
qual sai com inefável impressão de felicidade e de esperança. No homem material e sensual, aquele que
viveu mais para o corpo do que para o Espírito, para quem a vida espiritual nada é, nem mesmo uma
realidade em seu pensamento, tudo contribuiu para apertar mais os laços que o ligam à matéria; nada
veio relaxá-los durante a vida. À aproximação da morte, o desligamento se opera também, gradualmente,
mas com esforços contínuos. As convulsões da agonia são o indício da luta que o Espírito sustenta, que
por vezes quer romper os laços que o resistem, e de outras vezes se aferra ao seu corpo do qual uma
força irresistível o arranca violentamente, parte por parte.

O Espírito se prende tanto mais à vida corporal quanto nada vê além dela; sente que lhe escapa e quer
retê-la; em lugar de se abandonar ao movimento que o arrasta, resiste com todas as suas forças; pode
assim prolongar a luta durante dias, semanas e meses inteiros. Sem dúvida, nesse momento, o Espírito
não tem toda a sua lucidez; a perturbação começou muito tempo antes da morte, mas com isso não sofre
menos, e o vago em que se encontra, a incerteza do que lhe advirá, se juntam às suas angústias. A morte
chega e tudo não está acabado; a perturbação continua; sente que vive, mas não sabe se é vida material
ou vida espiritual; ele luta ainda até que os últimos laços do perispírito estejam rompidos. A morte pôs um
termo à doença efetiva, mas não lhe deteve as conseqüências; tanto que existam pontos de contato entre
o corpo e o perispírito, deles o Espírito sente os golpes e sofre-os.

Bem diferente é a posição do Espírito desmaterializado, mesmo nas mais cruéis doenças. Os laços
fluídicos que o unem ao corpo, sendo tão fracos, se rompem sem nenhum abalo; depois, a sua confiança
no futuro, que já entrevê pelo pensamento, algumas vezes mesmo em realidade, fá-lo encarar a morte
como uma libertação, e seus males como uma prova; daí, para ele, uma calma moral e uma resignação
que abrandam o sofrimento. Depois da morte, estando esses laços agora mesmo rompidos, nenhuma
reação dolorosa se opera nele; sente-se, em seu despertar, livre, disposto, aliviado de um grande peso, e
todo alegre por não mais sofrer.

Na morte violenta, as condições não são exatamente as mesmas. Nenhuma desagregação parcial pôde
trazer uma separação preliminar entre o corpo e o perispírito; a vida orgânica, em toda a sua força, é
subitamente detida; o desligamento do perispírito não começa, pois, senão depois da morte, e, nesse
caso como em outros, não pode se operar instantanemente. O Espírito, apanhado de improviso, está
como atordoado; mas, sentindo que pensa, se crê ainda vivo, e essa ilusão dura até que tenha se
conscientizado de sua posição. Esse estado intermediário entre a vida corporal e a vida espiritual é um
dos mais interessantes a se estudar, porque apresenta o singular espetáculo de um Espírito que toma o
seu corpo fluídico por seu corpo material, e que experimenta todas as sensações da vida orgânica.
Oferece uma variedade infinita de nuanças segundo o caráter, os conhecimentos e o grau de
adiantamento moral do Espírito. É de curta duração para aqueles cuja alma está depurada, porque neles
havia um desligamento antecipado, do qual a morte, mesmo a mais súbita, não fez mais que apressar o
cumprimento; em outros, pode se prolongar durante anos. Esse estado é muito freqüente, mesmo nos
casos de morte comum, e não tem, para alguns, nada de penoso segundo as qualidades do Espírito;
mas, para outros, é uma situação terrível. É no suicídio, sobretudo, que essa situação é mais penosa. O
corpo preso ao perispírito por todas as suas fibras, todas as convulsões do corpo repercutem na alma,
que delas experimenta atrozes sofrimentos.

O estado do Espírito no momento da morte pode se resumir assim: O Espírito sofre tanto mais quanto o
desligamento do corpo seja mais lento; a prontidão do desligamento está em razão do grau de
adiantamento do Espírito; para o Espírito desmaterializado, cuja consciência é pura, a morte é um sono
de alguns instantes, isenta de todo sofrimento, e cujo despertar é cheio de suavidade.

Para trabalhar pela sua depuração, reprimir as más tendências, vencer as paixões, é preciso ver-lhes as
vantagens no futuro; para se identificar com a vida futura, dirigir-lhe as suas aspirações e preferi-la à vida
terrestre, é preciso não só nela crer, mas compreendê-la; é preciso se representá-la sob um aspecto
satisfatório para a razão, em completo acordo com a lógica, o bom senso e a idéia que se faz da
grandeza, da bondade e da justiça de Deus. De todas as doutrinas filosóficas, o Espiritismo é a que
exerce, sob esse aspecto, a mais poderosa influência pela fé inabalável que ele dá.

O espírita sério não se limita a crer; ele crê porque compreende, e compreende porque se dirige ao seu
julgamento; a vida futura é uma realidade que se desenrola sem cessar aos seus olhos; ele a vê e a toca,
por assim dizer, em todos os instantes; a dúvida não pode entrar em sua alma. A vida corporal, tão
limitada, se apaga para ele diante da vida espiritual, que é a verdadeira vida; daí o pouco caso que faz
dos incidentes do caminho e sua resignação nas vicissitudes, das quais compreende a causa e a
utilidade. Sua alma se eleva pelas relações diretas que mantém com o mundo invisível; os laços fluídicos
que o ligam à matéria se enfraquecem e, assim, se opera um primeiro desligamento parcial que facilita a
passagem desta vida para a outra. A perturbação, inseparável da transição, é de curta duração, porque
logo o limiar transposto, ele se reconhece; nada lhe é estranho; tem consciência de sua situação.

O Espiritismo, seguramente, não é indispensável a esse resultado; também não tem a pretensão de só
ele assegurar a salvação da alma, mas a facilita pelos conhecimentos que proporciona, os sentimentos
que inspira e as disposições nas quais coloca o Espírito, a quem faz compreender a necessidade de se
melhorar. Dá, além disso, a cada um, os meios de facilitar o desligamento de outros Espíritos no
momento em que deixam o seu envoltório terrestre, e de abreviar a duração da perturbação pela prece e
pela evocação. Pela prece sincera, que é uma magnetização espiritual, provoca-se uma desagregação
mais pronta do fluido perispiritual; por uma evocação conduzida com sabedoria e prudência, e com
palavras benevolentes e de encorajamento, tira-se o Espírito do entorpecimento em que se encontra,
ajudando-o a reconhecer-se mais cedo; se é sofredor, excita-o ao arrependimento, que somente pode
abreviar-lhe os sofrimentos.

Fonte: O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo - Capítulo I - Segunda Parte.

A Fascinação Segundo o Espiritismo


09:51 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Maria das Graças Cabral

Para fazer uma abordagem sobre o tema “Fascinação” segundo os preceitos Espíritas, precisa-se
primeiramente considerar que os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e ações, pois segundo
preceituam os Espíritos Superiores “a influência é maior do que supomos, porque muito
freqüentemente são eles que nos dirigem“. (questão 459, LE) Inferindo-se que é pela afinidade de
pensamentos que se dá a influência efetiva dos Espíritos na vida dos encarnados, pois os mesmos são
portadores dos mesmos vícios e virtudes que tinham quando portavam a veste carnal.

Isto posto, no que concerne à comunicabilidade entre estes e aqueles, me aproprio dos ensinamentos do
Codificador, quando estabelece que: “Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer
grau de intensidade é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui
privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. (...)
Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica
bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma
organização mais ou menos sensitiva.” (LM., Cap. XIV, 159)

Ao tratar da mediunidade, é fato que a Doutrina Espírita lança um olhar diferenciado e de elevada
importância sobre a mesma, por entendê-la como instrumento de educação, esclarecimento, auxílio e
progresso, para os Espíritos encarnados e desencarnados.

Daí, exigir-se dos médiuns Espíritas, o estudo profundo e efetivo de O Livro dos Médiuns, em razão das
orientações, métodos e esclarecimentos trazidos pela voz dos Espíritos Superiores, sob a égide de O
Espírito da Verdade.

Entende-se portanto temerário, que o médium espírita descarte o estudo de O Livro dos Médiuns para
dedicar-se à obras alienígenas, muito comumente portadoras de informações equivocadas à respeito da
mediunidade, por serem oriundas de outras filosofias religiosas que vêm o trabalho mediúnico com
objetivo diverso daquele preconizado pela Doutrina Espírita.

No que concerne aos percalços da prática mediúnica, um dos maiores escolhos para aqueles que
vivenciam a mediunidade é a obsessão. Segundo O Livro dos Médiuns “a palavra obsessão é um termo
genérico pelo qual se designa um conjunto desses fenômenos, cujas principais variedades são a obsessão
simples, a fascinação e a subjugação.” (LM., Cap. XXIII, 238)

Na realidade, como preceitua a obra em comento, o processo obsessivo simples pode se dar sempre que
houver a interferência de um Espírito voltado ao mal a se intrometer contra a vontade do médium nas
comunicações recebidas. Podendo inclusive, o médium ser enganado sem estar obsedado, pois o que
caracteriza a obsessão simples é a tenacidade do Espírito do qual não se consegue desembaraçar.

Já a fascinação, objeto deste estudo, segundo O Livro dos Médiuns, tem conseqüências mais graves por
se tratar de uma ilusão criada diretamente pelo Espírito no pensamento do médium, chegando a
“paralisar” a sua capacidade de discernir e julgar as comunicações.

Importante observar que o médium fascinado não se considera enganado, pois o Espírito consegue
inspirar-lhe uma confiança cega, impedindo-lhe de ver e compreender que a mensagem muitas vezes se
contrapõe aos ensinamentos da Codificação, que é o paradigma para a avaliação de qualquer mensagem
mediúnica.

Muito comumente os mistificadores fascinam os médiuns, utilizando-se de vocabulário prolixo, para


trazerem falsas “revelações”, acobertadas pelo manto de mensagens evangélicas, assinadas por nomes
respeitáveis, objetivando não levantar suspeitas quanto à sua moralidade e elevação.

Asseveram os Espíritos Superiores que na fascinação “para chegar a tais fins o Espírito deve ser
esperto, ardiloso e profundamente hipócrita. Porque ele só pode enganar e se impor usando máscara e
uma falsa aparência de virtude. As grandes palavras de caridade, humildade e amor a Deus servem-lhe
de carta de fiança.” (LM., Cap. XXIII, 239)

À título de exemplo transcrevo a seguinte mensagem publicada por Kardec, em O Livro dos Médiuns,
objetivando apreciar a avaliação do Codificador:
“A criação perpétua e incessante dos mundos é para Deus como uma espécie de gozo perpétuo, porque
ele vê continuamente seus raios se tornarem cada dia mais luminosos em felicidade. Eis porque
centenas ou milhões não são mais nem menos para ele. É um pai, cuja felicidade se forma
dafelicidade coletiva de seus filhos. A cada segundo da criação ele vê uma nova felicidade vir se fundir
na felicidade geral. Não há parada nem suspensão (?) nesse movimento perpétuo, nessa
grandefelicidade incessante que fecunda a terra e o céu. Não conhecemos no mundo mais do que uma
pequena fração, e tendes irmãos que vivem em latitudes que o homem ainda não conseguiu atingir.
Que significam esses calores terríveis e esses frios mortais que paralisam os esforços dos mais
audaciosos? Acreditais simplesmente haver chegado aos limites do vosso mundo, quando não mais
podeis avançar com os vossos precários recursos? Podeis então medir com precisão o vosso planeta? Não
acrediteis nisso. Há no vosso planeta mais regiões desconhecidas do que conhecidas. Mas como é inútil
propagar ainda mais as vossas más instituições, todas as vossas leis imperfeitas, ações e modos de vida,
há um limite que vos detém aqui ou ali e que vos deterá até que possais transportar as boas sementes
que o vosso livre-arbítrio produzir. Oh, não, vós não conheceis o mundo que chamais Terra. Vereis na
vossa existência um grande começo de provas desta comunicação. Eis que a hora vai soar, em
que haverá uma outra descoberta além da última que foi feita; vereis que vai se alargar o círculo da
vossa Terra conhecida, e quando toda a imprensa cantar essa Hosana em todas as línguas, vós pobres
crianças que amais a Deus e procurais o seu caminho, o sabereis antes mesmo que aqueles que darão o
seu nome á nova terra.” VICENTE DE PAULO. (LM., Comunicações Apócrifas, XXIX) (grifei)

Oportuno que aprendamos com o comportamento de Kardec, quando com muita propriedade se
posiciona afirmando que a mensagem apresenta incorreções, pleonasmos e vícios de linguagem, (até
porque Kardec era um grande gramático) embora argumente que tais imperfeições poderiam advir da
insuficiência do médium.

Entretanto, no que concerne às “revelações” à respeito do planeta, assevera Kardec que “isso é para um
Espírito que se diz superior, dar prova de profunda ignorância, posto que não há dúvida que se podem
descobrir regiões desconhecidas além das regiões geladas, mas dizer que Deus as ocultou aos homens a
fim de que eles não levassem as suas más instituições, é ter demasiada confiança na cegueira daqueles
que recebem semelhantes absurdos.” (LM., Comunicações Apócrifas, XXIX)

Observa-se que o Codificador não se deixava impressionar por nomes famosos nem por palavras
rebuscadas, pois buscava o “cerne” da mensagem, e aí identificava a fraude, e prontamente a rechaçava.

Voltando à questão do médium objeto da fascinação, nos dizem os Espíritos Superiores que “graças à
essa ilusão o Espirito dirige a sua vítima como se faz a um cego, podendo levá-lo a aceitar as doutrinas
mais absurdas e as teorias mais falsas, como sendo as únicas expressões da verdade“. (LM., cap. XXIII,
239) (grifei)

No que concerne às doutrinas absurdas e teorias falsas, faz-se por oportuno analisarmos a seguinte
mensagem mediúnica, obedecendo o critério kardeciano, e tendo como paradigma as Obras da
Codificação, por trazerem os ensinamentos dos grandes Mestres da Espiritualidade. A mensagem narra a
chegada de Espíritos oriundos de um lugar denominado “umbral” (criação do Espírito comunicante) à
“colônia espiritual” (também criação do Espírito comunicante), senão vejamos:
“(...) Identifiquei a caravana que avançava em nossa direção, sob a claridade branda do céu. De
repente, ouvi o ladrar de cães, a grande distância. - Que é isso? - interroguei assombrado. - Os cães -
disse Narcisa - são auxiliares preciosos nas regiões obscuras do Umbral, onde não estacionam somente
os homens desencarnados mas também verdadeiros monstros, que não cabe agora descrever. (...) Fixei
atentamente o grupo estranho que se aproximava devagarzinho. Seis grandes carros, formato
diligência, precedidos de matilhas de cães alegres e barulhentos, eram tirados por animais que, mesmo
de longe, me pareceram iguais aos muares terrestres. Mas a nota mais interessante era os grandes
bandos de aves, de corpo volumoso, que voavam a curta distância, acima dos carros, produzindo ruídos
singulares. (...)” ANDRÉ LUIZ (Nosso Lar, 2003 p. 217) (grifei)

Para a devida análise buscar-se-á confrontá-la com os ensinamentos propostos em O Livros dos
Espíritos, Capítulo XI, item II, quando asseveram os Mestres Espirituais nas questões de número 598 e
600 que: I - A alma dos animais conserva sua individualidade depois da morte, mas não a consciência de
si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente; II - A alma do animal sobrevivendo ao corpo
fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. Mas não é um Espírito errante. O
Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma
faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal
é classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso e utilizados quase que imediatamente; não
dispõe de tempo para se pôr em relação com outras criaturas. (grifei)

Reforçando o entendimento proposto pelos Espíritos Superiores em O Livro dos Espíritos, buscar-se-á
subsídios em O Livro dos Médiuns, Cap. XXV, item 283, sub item 36, quando trata da questão da
“Evocação dos Animais“, e Kardec indaga da possibilidade de evocar-se o Espírito de um animal.
Resposta: - “O princípio inteligente que animava o animal fica em estado latente após a morte. Os
Espíritos encarregados desse trabalho imediatamente o utilizam para animar outros seres, através dos
quais continuará o processo de sua elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos, não há Espíritos errantes
de animais, mas somente Espíritos humanos“. (grifei)

Portanto, a narrativa do Espírito autor da mensagem em comento, é falsa e seria obviamente rechaçada
por Kardec por desvirtuar preceitos Espíritas, gerando por conseguinte conflitos no entendimento da
Doutrina.

Aliás, ao tratar do exame feito às milhares de comunicações mediúnicas que lhe eram enviadas com
pedidos de publicação na Revista Espírita, comenta o Codificador que “em grande número encontramo-
las notoriamente más, no fundo e na forma, evidente produto de Espíritos ignorantes, obsessores ou
mistificadores e que juram pelos nomes mais ou menos pomposos com que se revestem. Publicá-las
teria sido dar armas à crítica. (...) Só a fascinação poderia levá-los a ser tomados a sério e impedir se
visse o lado ridículo. (...)” (RE, maio de 1863, p. 217) (grifei)

No que concerne à publicação de mensagens de Espíritos, Allan Kardec assevera que (...) “Quanto mais
alto o nome, maior o cuidado. Ora, é mais fácil tomar um nome que justificá-lo; eis por que, ao lado de
alguns bons pensamentos, encontram-se muitas vezes, idéias excêntricas e traços inequívocos da mais
profunda ignorância. É nessas modalidades de trabalhos mediúnicos que temos notado mais sinais de
obsessão, dos quais um dos mais freqüentes é a injunção do Espírito de os mandar imprimir; e alguns
pensam erradamente que tal recomendação é suficiente para encontrar um editor atencioso que se
encarregue da tarefa. (...) Toda precaução é pouca para evitar as publicações lamentáveis. Em tais
casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa.” (RE, maio de 1863, p. 220)
(grifei)

Não obstante, transcrevo as palavras de J. Herculano Pires, em Nota do Tradutor, de O Livro dos
Médiuns, quando nos alerta dizendo que “a fascinação é mais comum do que se pensa. No meio espírita
ela se manifesta de maneira ardilosa através de uma avalanche de livros comprometedores, tanto
psicografados como sugeridos a escritores vaidosos, ou por envolvimento de pregadores e dirigentes de
instituições que se consideram devidamente assistidos para criticarem a Doutrina e reformularem seus
princípios”. (LM. Cap. XXIII, p. 217)

Para finalizar o estudo, oportuno ressaltar os ensinamentos dos Espíritos Superiores quando nos alertam
para o fato de não existir médium perfeito, por não haver perfeição sobre a Terra. Asseveram os Mestres,
que até mesmo os bons médiuns, que são raros, jamais seriam tão perfeitos, para estarem imunes às
mistificações por terem todos um lado fraco, pelo qual podem ser atacados. (LM., Cap. XX, 9)

Portanto, estejamos atentos ao analisarmos as mensagens provindas do plano espiritual catalogadas


como ‘espíritas“. Precisamos nos ater ao estudo da Codificação Espírita para que identificando as fraudes
possamos rechaçá-las.

O tempo segue em frente


17:25 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Octávio Caúmo Serrano

Seria o tempo que passa ou nós que passamos pelo tempo? Lá se vai o primeiro ano da segunda década
do terceiro milênio. E tudo continua como antes. Em meio ao Apocalipse, nós, os atores desta triste
novela do final dos tempos, insistimos em continuar vivendo.

Há alternativa? Não, não há. Temos de viver porque a nossa vida não pertence a nós, mas ao Pai que
nos criou. Se tentarmos abandonar o barco no meio da tormenta, teremos problemas futuros piores do
que os atuais. Se quisermos nos matar, não conseguiremos porque somos imortais. Que fazer, então?

Só nos resta uma opção: seguir em frente, aproveitando a oportunidade e compreender que os males do
mundo são produzidos pelos homens. Deus nos criou para a felicidade e se não a encontramos é porque
a buscamos de maneira e em lugar errados. Já diz o poeta santista Vicente de Carvalho, em um de seus
sonetos, “Velho Tema”, que “essa felicidade que supomos, árvore milagrosa que sonhamos, toda arreada
de dourados pomos, existe, sim: mas nós não a alcançamos, porque está sempre apenas onde a pomos
e nunca a pomos onde nós estamos”.

Falta ao homem descobrir que a felicidade só pode ser obtida quando produzida no interior do coração é
nos labirintos da consciência. Inútil buscá-la do lado de fora, nas coisas do mundo porque elas podem nos
trazer alegria efêmera, mas nunca a felicidade. O prazer que nos dão o carro novo, o diploma de doutor, a
casa na praia ou a viagem ao exterior, são pequenos quando comparados à felicidade que o Plano Divino
tem para nós. Já disse Jesus “vós sois deuses”, mas nós não entendemos o que Ele afirmou ou não
acreditamos por sermos ainda crianças espirituais!

Queremos a paz no mundo e enquanto ela não vem também não conseguimos ter a nossa própria.
Condicionamos nossa paz interior à paz coletiva e na ausência dela esquecemos que podemos ter a
nossa, independente da paz do mundo.

Vivemos presos à aflição, medrosos e assustados. Sentimo-nos vítimas da corrupção, da poluição, do


tráfico, da insegurança e do abandono diante das enfermidades. Isto impede que tenhamos serenidade,
paciência e esperança, o que demonstra nossa pouca fé. Temos a impressão que o barco está à deriva
em meio à procela e que o timoneiro perdeu o controle. Todavia quem dirige o barco é Deus e Ele nunca
deixa o leme.

A Doutrina dos Espíritos diz-nos que somos espíritos imortais em provação e expiação num planeta
inferior que está, como nós, progredindo também. Será brevemente um mundo de regeneração, habitado
por espíritos um pouco melhores do que os atuais. E a seleção já está se processando.

Todos nós podemos nos qualificar a viver no novo mundo desde que construamos nossa própria história
de vida. Ela se faz pelas obras que executamos e também pela aceitação da vida que temos atualmente.
Sabedores de que nossa história não começou na Terra, nesta encarnação, entenderemos que muitos
mistérios envolvem nossa caminhada espiritual. Se estamos vivendo mais uma experiência concedida
pela misericórdia divina, tratemos de aproveitar a oportunidade para ser melhor do que já somos. Por isso
devemos agradecer a Deus pelos testes porque é superando barreiras que crescemos como espíritos.

Muitas outras coisas tiram a nossa paz: a enfermidade, o parente difícil, a dificuldade financeira, o amigo
ingrato. Observem que tudo isto são defeitos do mundo que é habitado por espíritos em aprendizado. Uns
mais outros menos, somos todos alunos de uma escola primária em se tratando de graduação espiritual.
Por isso não conseguimos administrar nossa mente que geralmente se liga às coisas inferiores. Um
mínimo de contrariedade provoca total desequilíbrio, fazendo-nos errar contra os outros e contra nós
mesmos. Habitualmente dizemos que alguém nos fez perder a paciência. Mas como podemos perder o
que não temos? O verdadeiro paciente jamais perde a paciência. Somos, no máximo, controlados que
nos esforçamos para ser polidos, educados, camuflados sob um verniz de superioridade que na verdade
não mostra o qu e somos.

Para ter paz é preciso que a construamos individualmente. Para tanto é preciso vencer nossas
inferioridades, numa luta titânica de nós contra nós próprios. O maior inimigo do homem mora dentro dele.
Ninguém pode lhe fazer mal a não ser ele mesmo. Os desastres do mundo são experiências necessárias
e somente encarando-os com fé e serenidade poderemos vencê-los.
O Espiritismo nos ensina que é preferível ser vítima a ser réu. Quando somos vítimas o erro é do outro e é
ele que terá de responder pelo que fez. Quando somos nós o carrasco, o erro é nosso e nós é que
teremos que prestar contas. Não é preferível ser vítima agora sem ter de carregar para a espiritualidade
uma consciência manchada que poderá custar-nos séculos de escuridão e provações?

O tempo na Terra é um átimo quando comparado ao tempo da espiritualidade. Se lá séculos são


segundos, imaginemos o que representam noventa ou cem anos de encarnação no corpo físico.

Vamos construir a nossa própria paz, esperando que possamos ser exemplos de fé para os que nos
rodeiam. Entre as definições de paz no dicionário Aurélio, há uma que diz: “paz é a ausência de conflitos
íntimos; tranquilidade de alma; sossego”. Só quando as partes forem boas é que o todo será bom. Não se
pode esperar um planeta feliz se seus habitantes são pessoas desventuradas. Já diz o cancioneiro Nando
Cordel que “a paz do mundo começa em mim; se eu tenho amor com certeza eu sou feliz!”

RIE - Revista Internacional de Espiritismo - Dezembro de 2011

A Bíblia e a fundamentação espírita


17:10 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Ricardo Malta

O leigo geralmente questiona por qual motivo nós, espíritas, utilizamos determinados textos Bíblicos e,
algumas vezes, rejeitamos outros. A primeira vista parece incoerência, mas isso não passa da aplicação
do princípio da fé raciocinada. Paulo de Tarso, o apóstolo dos Gentios, certa vez afirmou: "Examinai tudo
e retendes o que for bom". Parece-nos que, mesmo naquele tempo, a fé raciocinada já encontrava
suporte. Para o espírita não basta crer, é necessário saber. “A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na
lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza
senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente
a razão, em todas as épocas da Humanidade.” (ESE, Cap.19, Item 7)

“Aprendei a discernir,” – exorta Leon Denis – “a separar as coisas imaginárias das reais. Abstende-vos de
combater a Ciência e renegar a razão, porque a razão é Deus dentro de nós, e o seu santuário é a nossa
consciência.” (Cristianismo e Espiritismo)

O grande problema é que as pessoas enxergam a Bíblia como um todo unitário. Não conseguem
diferenciar o que é de origem humana e, portanto, mutável, daquilo que é origem divina e imutável. “A
palavra Bíblia vem do grego (biblia=plural de biblion ou biblios= livro), portanto é um conjunto de livros”,
escritos por diversos autores, muitos deles desconhecidos. Ressaltamos, por exemplo, que a Bíblia
Protestante contém 66 livros, a Católica possui 73 e a Hebraica apenas 24. Onde estaria, neste caso, a
tão proclamada “palavra de Deus” (expressão de origem judaica)?

Nem iremos adentrar na questão das adulterações, mas destacamos e indicamos o estudo da obra
“Analisando as traduções Bíblicas” de autoria do Dr. Severino Celestino. As revelações são
surpreendentes. “É um trabalho original, de fôlego, com muita força analítica”, diz o prefaciador.

Reconhecemos nos textos Bíblicos a existência de ensinamentos sublimes que, provavelmente, têm suas
origens inspiradoras nas esferas mais elevadas da espiritualidade, por outro lado, há também aberrações
e barbaridades que nos fazem pensar na inferioridade moral e espiritual dos seus autores e co-autores
(Espíritos malévolos). Vejamos, por exemplo, o quadro de atrocidades e bobagens Bíblicas que nos traz
Richard Simmoneti:

“Os filhos devem pagar pelos pecados dos pais (Êxodo, 20:5); Quem trabalhar no sábado será morto
(Êxodo, 35:2); Animais e aves serão sacrificados, sangue espargido sobre altares, atendendo a variados
objetivos (Levítico, caps. 1 a7); Quando morrer um homem sem deixar descendentes, seu irmão deve
casar-se com a viúva (Deuteronômio, 25:5); Os filhos desobedientes e rebeldes, que não ouçam os pais e
se comprometam em vícios, serão apedrejados até a morte (Deuteronômio 21: 18-21); È proibido comer
carne de porco, lebre ou coelho (Levítico, 11: 5-7); O homossexualismo será punido com morte
(Levítico, 20:13); A zoofilia sexual será punida com morte (Levítico, 20:15-16); Deficientes físicos estão
proibidos de aproximar-se do altar do culto, para não profaná-lo com seu defeito (Levítico, 21: 17-23);
O hanseniano deve ser segregado da vida social, vivendo no isolamento (Levítico, Cap. 13); Os adúlteros
serão apedrejados até a morte (Deuteronômio, 22:22); A blasfêmia contra Deus será punida com o
apedrejamento, até a morte (Levítico, 24: 16-16).”
Afirmar que tudo isso é a “palavra de Deus” seria, no mínimo, uma ofensa para com a divindade.
Portanto, não consideramos a Bíblia por esse foco dogmático, mas encontraremos nela, assim como em
inúmeros outros livros ditos "sagrados", uma série de fatos e postulados espíritas. Ora, sendo a moral
divina universal e os fatos espíritas (reencarnação e fenomenologia mediúnica) fenômenos naturais, nada
mais lógico do que encontrarmos o registro desses ensinamentos e eventos em todos as épocas da
humanidade, em diversos livros “sagrados”, entre os filósofos da antiguidade, nas mais diversas culturas
e tradições.

A fundamentação espírita encontra suas raízes no que há de mais lógico, racional, pautada no bom senso
e, principalmente, na universalidade do ensino dos Espíritos. Não precisaríamos buscar o apoio Bíblico
para confirmar aquilo que é um fato, mas como dizer que Saul não se comunicou com o Espírito Samuel
(I Samuel 28:7 a 17) e que Jesus não conversou com os Espíritos Elias e Moises (Mateus 17:3)? Como
defender que João Batista não era a reencarnação de Elias (Mateus 11:14; 17: 10-13)? Enfim, como
negar tantos fatos espíritas que saltam aos olhos em diversas passagens Bíblicas (indicamos a leitura do
artigo “A Bíblia: um Livro de origem mediúnica” de autoria de Francisco Amado)? Não foram os espíritas
que inventaram tudo isso. Está tudo lá na Bíblia, basta ter olhos para ver. O fanático religioso não
consegue entender isso, “porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem.”
(Mateus 13:13)

Assim, fazemos coro às palavras de José Reis Chaves: “respeitamos a Bíblia, mas com moderação, com
uma visão racional dela, pois ela é tal como uma rosa que tem pétalas e perfume, mas tem também
espinhos, obviamente humanos, e não divinos.” (Revista Espiritismo e Ciência, nº 64)

Tradutor, Traidor
08:57 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

Fiel à sua condição estatutária de integrante da “escola” rustenista e demonstrando


concordar com o opúsculo Os Quatro Evangelhos de J.-B. Roustaing — Resposta a seus Críticos e a
seus Adversários (1883), a Federação Espírita Brasileira ousou contrariar o Codificador neste ponto de A
Gênese: cap. XV, n. 66. Fez registrar em nota de rodapé à tradução de G. Ribeiro os seguintes dizeres,
ainda dados a público em novas edições:

(1) Nota da Editora: Diante das comunicações e dos fenômenos surgidos após a partida
de Kardec, concluiu-se que não houve realmente vão simulacro, como igualmente não houve simulacro
de Jesus, após a sua morte, ao pronunciar as palavras que foram registradas por Lucas (24:39): — “Sou
eu mesmo, apalpai-me e vede, porque um Espírito não tem carne nem osso, como vedes que eu tenho.”

Os inimigos de Kardec sempre insistem em que logo após a sua morte algo de
revolucionário apareceu em termos de fenômenos e de comunicações mediúnicas. Todavia, para
qualquer estudioso da codificação kardeciana e, sobretudo, do vasto acervo enfeixado nos tomos
daRevista Espírita, isto não é uma verdade absoluta.
A F.E.B. não hesitou em usar o seu parque editorial para contestar o pensamento de
Kardec, e sucessivas diretorias hão dado aval a este acinte, pois, como já disse, a contestação há sido
reeditada. O texto consignado em Lucas 24:39 não há de ser fiel. Em nada se assemelha aos demais
relatos da ressurreição de Jesus. Mesmo assim, a F.E.B. o ressalta para repreender Kardec. Trata-se da
antilógica rustenista de que as Escrituras seriam infalíveis. Sob este império, os adeptos de Roustaing
rejeitaram também, ainda no século 19, a tese dos espíritas para explicar o desaparecimento do corpo
físico de Jesus no sepulcro:

O corpo de Jesus era um corpo terrestre qual os nossos e, como tal, produzido pelo
concurso dos dois sexos; os anjos ou espíritos superiores, tornando-o invisível, podiam subtraí-lo e o
subtraíram do sepulcro no momento preciso em que, despedaçados os selos que lhe tinham sido apostos,
a pedra que o fechava fora atirada para o lado.[1]
O fato, entretanto, é que esta hipótese decorre do verdadeiro n. 67 do cap. XV de A
Gênese. Kardec, ali, falou de fenômenos de transporte e de invisibilidade. E quando recomenda, já
em 1869, a leitura deste seu livro para contra-argumentar a tese do corpo fluídico de Jesus, diz
claramente no seu Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita: “Sobre essa
teoria, vide A Gênese segundo o Espiritismo, capítulo XV, ns. 64 a 68”.[2] Kardec menciona, portanto,
para o capítulo XV de sua obra, a existência dos números 64 a 68. Por que a quase totalidade das
traduções registra apenas os ns. 64 a 67? Curiosamente, a nova edição febiana de A Gênese,[3]assinada
pelo mesmo tradutor do Catálogo supracitado, também só inclui os ns. 64 a 67.
Em 1884, na Revista Espiritismo, de Gabriel Delanne, o biógrafo Henri Sausse já
lançara questionamentos acerca da não coincidência de duas edições que cotejara de A Gênese.
Leymarie disse apenas que o fato se verificou por Sausse haver-se baseado numa edição anterior à
definitiva.[4] O incontestável, no exemplo aqui tomado, é que o verdadeiro n. 67 foi retirado e o n. 68,
renumerado. Por isso, não creio também na explicação do antigo secretário de Kardec, A. Desliens,[5]que
atribui ao próprio mestre lionês, já quinze anos após a morte deste, essas alterações cirúrgicas em A
Gênese.
Como quer que haja sido, isto demonstra que, se não foi G. Ribeiro o mentor de tais
modificações, outro decerto as fez bem antes dele. Consta que a 4.ª edição de A Gênese teve sua
distribuição impedida pela morte repentina de Kardec em 31 de março, acabando a cargo da Livraria
Espírita e das Ciências Psicológicas. Esta edição, revisada, corrigida e aumentada pelo autor, é que
contém o texto definitivo. Impressa nas oficinas gráficas de Rouge Fréres e Cie., foi entregue em abril de
1869. Segundo F. Barrera, “uns meses mais tarde sai à venda, sob a responsabilidade de M. A. Desliens,
diretor da Revista Espírita”, de comum acordo com “M. Bittard, gerente da livraria, e M. Tailleur”.[6]
Desliens, em 1885, estava pressionado, decerto, não só por H. Sausse (1884), mas
também pela ambiência de francos dissabores causados pelo cisma rustenista, declarado abertamente
em 1883, na obra Os Quatro Evangelhos de J.-B. Roustaing — Resposta a seus Críticos e a seus
Adversários, e que abrigava as mais ferinas ofensas e desleais críticas ao fundador da filosofia espírita, a
quem nunca Roustaing se dirigiu senão por escrito.
O próprio Desliens confessa ao final de seu texto que, ali, quer “eliminar da família
espírita uma causa de desunião”.[7] Só não nos explica por que as alterações identificadas em A
Gênese têm tanto em comum com o rustenismo. No que concerne ao exemplo aqui tomado, Kardec não
poderia eliminar justamente a explicação a que se propôs sobre o desaparecimento do corpo de Jesus no
túmulo, até porque o mestre a menciona como integrante de sua obra, ao indicar a leitura contra-
argumentativa dos números 64 a 68 do cap. XV de A Gênese. F. Barrera, no sumário referente a este
livro kardeciano, registra sem equívoco: “Desaparição do corpo de Jesus, 64-68”.[8]
Quanto à nova edição febiana desta obra (10 mil exemplares, 02/2009), por Evandro
Noleto Bezerra, cujo nome estampa mesmo a primeira capa, simplesmente não se sabe que edição
francesa lhe serviu de base. Nada se diz ali a este respeito. Também não registra, insisto, o verdadeiro n.
67 do cap. XV de A Gênese, no que só seguiu a cartilha de G. Ribeiro. Isto, porém, não é de admirar, pois
E. Bezerra considera os trabalhos deste último “irrepreensíveis”, como diz na introdução da suaRevista
Espírita. Por que então os corrigiu nisto que naquilo? Qual dos dois é mais irrepreensível?
A edição comemorativa dos 150 anos de O Livro dos Espíritos, aliás, no seu índice
geral, consegue até relacionar a palavra “colônia”, inexistente na obra; remete, porém, o leitor aos ns. 234
a 236, que disto em absoluto não falam, e sim de mundos, sem vida física, servindo de habitação
transitória a espíritos errantes. Intenta-se forçar a confirmação da existência, incerta para muitos, das
“colônias espirituais”, como “Nosso Lar”, por exemplo.
O Espírito São Luís referiu-se a algo que encontra um análogo nas “colônias
espirituais”. Reportou-se a “mundos intermediários”, que não se confundem com os “transitórios” aqui
acima comentados, porque são, segundo o presidente espiritual da S.P.E.E., “viveiros da vida eterna”, de
onde os espíritos vêm à Terra para progredirem. Por sinal, o tradutor febiano E. N. Bezerra preferiu
registrar “centros de formação”, ainda que “pépinières” signifique literalmente “viveiros”.[9]
O mesmo esforço inglório se verifica no atinente à expressão “centros de força”, listada
como referente ao n. 140 de O Livro dos Espíritos, onde Kardec só se reporta ao fluido vital repartido
entre os órgãos físicos, havendo mais nos que são “centros ou focos de movimento” [centres ou foyers du
mouvement]. Onde a locução “de força”? Ora! André Luiz, por duvidosa analogia aos chacras hindus, fala
de “centros de força” no perispírito, mas isto absolutamente não corresponde ao assunto em tela.
Na Revista Espírita de março de 1868, Instruções dos Espíritos, a consoladora
exortação que um Espírito pôs nos lábios espirituais de Jesus foi alterada de “Bem-aventurados os que
conhecerem meu novo nome!” para “Bem-aventurados os que conhecerem meu nome de novo!” Sempre
advoguei a tese de que esse “novo nome” de Jesus é “O Espírito de Verdade”. Terá ocorrido na tradução
febiana algum erro material? O fato é que “mon nouveau nom” nunca será “meu nome de novo”.
Tradutor, traidor. Já era a antiga dita latina.
Eis aqui abaixo, então, o verdadeiro n. 67 do cap. XV de A Gênese, desde sempre
ausente das edições da F.E.B. e das demais que, em vez de traduções dos originais franceses, mais
parecem ter oferecido ao rentável mercado meras versões das publicações febianas, exceção feita a esta
honrosa citação:

67. A que se reduziu o corpo carnal? Este é um problema cuja solução não se pode
deduzir, até nova ordem, exceto por hipóteses, pela falta de elementos suficientes para firmar uma
convicção. Essa solução, aliás, é de uma importância secundária e não acrescentaria nada aos méritos
do Cristo, nem aos fatos que atestam, de uma maneira bem peremptória, sua superioridade e sua missão
divina. Não pode, pois, haver mais que opiniões pessoais sobre a forma como esse desaparecimento se
realizou, opiniões que só teriam valor se fossem sancionadas por uma lógica rigorosa, e pelo ensino geral
dos espíritos; ora, até o presente, nenhuma das que foram formuladas recebeu a sanção desse duplo
controle. Se os espíritos ainda não resolveram a questão pela unanimidade dos seus ensinamentos, é
porque certamente ainda não chegou o momento de fazê-lo, ou porque ainda faltam conhecimentos com
a ajuda dos quais se poderá resolvê-la pessoalmente. Entretanto, se a hipótese de um roubo clandestino
for afastada, poder-se-ia encontrar, por analogia, uma explicação provável na teoria do duplo fenômeno
dos transportes e da invisibilidade. (O Livro dos Médiuns, caps. IV e V).[10]

Este número de A Gênese consta igualmente de sua primeira edição, como pode ser
verificado em fotocópia do original, disponível na internet.[11]
Nada disto, porém, inocenta Guillon Ribeiro, porquanto ousou, sim, em função do
rustenismo, suas próprias alterações à obra de Kardec.
1 - Registrou, em A Gênese, I, 56, que os ensinos espíritas “completam as noções
vagas que SE tinham da alma”, pois, como rustenista, era bibliólatra, e lhe pareceu errada e injusta a
expressão original de Kardec, que não tinha os mesmos pruridos, afinal, as noções dadas por Jesus
sobre a alma foram vagas mesmo, em função de não poderem ser de outra forma. O fato é que
“complètent les notions vagues qu'IL avait données de l'âme” jamais poderá ser traduzido de forma
indeterminada.

[“ELE”, e não “SE”.]

2 - Chamou Jesus de “Senhor” e “Salvador” pelo mesmo motivo acima aduzido,


distorcendo a postura kardeciana nos textos de A Gênese XV, 61; em XVII, 37, e no n. 671 de O Livro dos
Espíritos. Eu não confiaria tanto num tradutor que registra “voyaient JÉSUS et le touchaient” como “viam o
SENHOR e o tocavam”... “le sens de SES paroles” como “o sentido das palavras DO SENHOR”... ou “SA
doctrine” como “doutrina DO SALVADOR”...

[“Jesus”, e não “Senhor”; “suas palavras”, e não “as palavras do Senhor”; “sua doutrina”,
e não “a doutrina do Salvador”.]
3 - Acrescentou a inexistente palavra “moral” à expressão “absoluta perfeição”, no item
VI da Introdução de O Livro dos Espíritos, porquanto o rustenismo assegura que só a absoluta perfeição
moral pode ser atingida, não ocorrendo o mesmo, segundo ele, com a perfeição intelectual. G. Ribeiro
quis, portanto, corrigir Kardec. A nova tradução de Evandro Bezerra acertou isso, apesar de este dizer, na
Introdução da Revista Espírita, que o trabalho de Guillon é irrepreensível.

[la perfection absolue: “a perfeição absoluta”, e não “a absoluta perfeição MORAL”.]

4 - Registrou que o arcanjo começou “por ser átomo”, e não “pelo átomo”, no n. 540
de O Livro dos Espíritos, para acomodar o texto à noção monista substancial da queda angélica, de P.
Ubaldi, do qual G. Ribeiro foi tradutor e adepto entusiasta. Ora! Se digo que o arcanjo começou PELO
átomo, sou dualista. O arcanjo, princípio inteligente, é espírito, e o átomo é matéria. Se digo que o arcanjo
começou por SER átomo, sou monista substancialista, e creio que o arcanjo, o princípio inteligente,
congelou-se no evento da queda, e passou a ser o próprio átomo, a própria matéria mais não seria,
assim, que o espírito condensado pela queda. Alguns ubaldistas modernos já citam essa tradução
tendenciosa de Guillon para fundamentar o ubaldismo e suas teses como compatíveis com o Espiritismo.
De mais a mais, por que traduzir “par l´atome” como “por ser átomo”?

[“começou PELO átomo”, e não “começou por SER átomo”.]

5 - Em O Evang. Seg. o Espiritismo, XX, 5, a informação precisa de que “CHEGASTES


ao tempo” se tornou em “APROXIMA-SE o tempo” porque o rustenismo defende o “final de ciclo” por
catástrofes anunciadoras da volta de Cristo. Como “nada” assim tinha ocorrido, Ribeiro quis corrigir agora
o Espírito de Verdade. “Vous touchez au temps” jamais poderá ser traduzido por “Aproxima-se o tempo”.

[“atingistes, ou chegastes ao tempo”, e não “Aproxima-se o tempo”.]

Mas não falemos apenas dos livros com chancela da “Casa-Máter”. Também houve
modificações na tradução adotada pelo I.D.E. para um texto da Revista Espírita de abril de 1869, no qual
Kardec, na verdade, diz que “a alma humana, emanação divina, traz em si o germe ou princípio do bem
[...]”.[12] Contudo, o Sr. Salvador Gentile se arrogou a condição de mais douto em matéria de Espiritismo
do que o Codificador da doutrina e acresceu ao original três palavras, transformando a sábia instrução do
mestre nesta aberração filosófica: “A alma humana, emanação divina, leva nela o germe ou princípio do
bem e do mal [...]”. (Grifo meu.)
Eis o francês: “L'âme humaine, émanation divine, porte en elle le germe ou principe du
bien qui est son but final”. Ante o pensamento completo de Kardec, não há dúvidas: “A alma humana,
emanação divina, traz em si o germe ou princípio do bem, que é o seu objetivo final”. Como poderia o mal
ser objetivo final da alma, sendo esta proveniente de Deus?
De tudo isto, resta o aparente bem de os originais franceses se encontrarem disponíveis
em meios de acesso digital pela internet a fora e, pasmem, a F.E.B. e o I.D.E. contribuíram para tanto.
Mas estejamos atentos, pois esses “originais” não constituem imagens das edições francesas, e sim
digitalizações, o que pode ensejar erro material ou até manipulação.[13]

[1] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 66.


[2] O Espiritismo na sua expressão mais simples e outros opúsculos de Kardec. F.E.B., Evandro Noleto
Bezerra.
[3] 10 mil exemplares, 02/2009.
[4] Cf. BARRERA, F. Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: U.S.E./Madras, 2003, p.
81.
[5] Revista Espírita, 1885, 15 de março, n.º 6, ano 28.º, pp. 169-171.
[6] Cf. Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: U.S.E./Madras, 2003, p. 80.
[7] Revista Espírita, 1885, 15 de março, n.º 6, ano 28.º, p. 171.
[8] Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: U.S.E./Madras, 2003, p. 92.
[9] Cf. Revista Espírita. Julho/1862. Hereditariedade Moral. ALEIXO. Ensaios da Hora Extrema. Sobre
André Luiz. 2.1 Aspectos Terrenais do Além-
Túmulo. http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010_09_02_archive.html.)
[10] Rio de Janeiro, Léon Denis - Gráfica e Editora, 2.ª ed., março de 2008, 1.ª tiragem, do 1.º ao 3.º
milheiro. Do original francês: LA GENÈSE. Les Miracles et Les Prédictions Selon Le Spiritisme.Quatrième
Édition, 1868.
[11] http://books.google.com/books?id=ehc-
AAAAcAAJ&dq=kardec+miracles+et+les+Productions&lr=&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s
[12] EDICEL. Vol. XII. p. 102-103. Trad.: Júlio Abreu Filho.
[13] Meus cumprimentos, aqui formalmente consignados, aos bons amigos Caio Cardinot, Lair Amaro
Faria, Rodrigo Luz, Tiago de Lima Castro, Luciano Ferreira e Sílvia R. O. por valiosas contribuições ao
corpo de informes deste capítulo.

Fonte: O Primado de Kardec - http://oprimadodekardec.blogspot.com/2011/02/capitulo-9-tradutor-


traidor.html

Rustenismo não é Espiritismo


08:36 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

O Estatuto da Federação “Espírita” Brasileira reza que, “o estudo e a difusão do Espiritismo


compreenderão, também, a obra de J.-B. Roustaing e outras subsidiárias e complementares da Doutrina
Espírita” (art. 1.º, § único); assim como registra que “o Conselho [Federativo Nacional da F.E.B.] fará
sentir a todas as sociedades espíritas do Brasil que lhes cabe pôr em prática a exposição contida no
livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de Francisco Cândido Xavier” (art. 63), servindo,
desta forma, ao assim chamado “Pacto Áureo”(05/10/1949), o qual prevê que “cabe aos espíritas do
Brasil porem em prática a exposição contida no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de
maneira a acelerar a marcha evolutiva do Espiritismo”.

Entre outras piadas de além-túmulo, no capítulo I desta obra, “a amargura divina” de


Jesus “empolga”toda uma “formosa assembleia de querubins e arcanjos” e ele, que dirige este Globo,
não sabe sequer onde é o Brasil. Não bastasse isto, no capítulo XXII, o confuso Roustaing emerge do
estatuto da F.E.B. para ser equiparado a L. Denis e a G. Delanne, figurando adiante destes na condição
de cooperador de Kardec para “o trabalho da fé”. Deve ter ocorrido erro material, e não foi publicada a
palavra “destruição”; sim, trabalho de “destruição” da fé, pois, em Os Quatro Evangelhos, entre outras
estranhezas, se diz o seguinte...

Jesus “não nasceu do homem; a matéria perecível não entrou por coisa alguma no conjunto das suas
perfeições”; “não esperou, sepultado no seio de uma mulher, a hora do nascimento; tudo foi aparência,
imagem, no ‘nascimento’ do mestre, na ‘gravidez’ e no ‘parto’ de Maria”; “o aparecimento de Jesus na
terra foi uma aparição espírita tangível”; portanto, não nasceu, não viveu e não morreu, senão
aparentemente, “de maneira a produzir ilusão”; começou enganando a própria mãe, que “teve
completa ilusão do parto e da maternidade”. (1.º vol., n. 47, p. 166/67 e 243/44.)

Jesus revestia, “aos olhos dos homens, as aparências da infância, da adolescência e da idade viril na
humanidade terrestre”; lactente ainda, ele era, apenas “na aparência, pequenino”, e, portanto, não era
mentalmente infantil, permanecendo neste absoluto despudor, segundo a tese rustenista, “até contar a
criança dois ou três anos”. (1.º vol., n. 47, p. 166/67 e 243/44.)

Jesus, na sua estada em Jerusalém, “ao abrir-se o templo, entrava com a multidão e com a multidão
saía, quando o templo se fechava; uma vez fora e longe dos olhares humanos, desaparecia, despojando-
se do seu invólucro fluídico tangível e das vestes que o cobriam, as quais, confiadas à guarda dos
Espíritos prepostos a esse efeito, eram transportadas para longe das vistas e do alcance dos homens; ao
reabrir-se o templo, reaparecia entre os homens, retomando o perispírito tangível e as vestes, que o
faziam passar por um homem aos olhos humanos”. (1.º vol., n. 47, p. 251/52.)

A evolução espiritual se dá em duas linhas: a dos Espíritos que se desviaram para o mal no início de suas
jornadas e, portanto, ficaram sujeitos às reencarnações humanas, e a dos Espíritos que nunca se
afastaram do bem e, por isto, evoluem pelos mundos etéreos, em linha reta, após superarem os reinos
inferiores, como se o homem não fosse acontecimento natural, mas desastre espiritual. Estes mesmos
Espíritos bons, contudo, são passíveis de cometer um destes três “pecados”: o ciúme, a inveja e o
ateísmo; quando, então, cometem um deles, são obrigados a encarnar em “substâncias
humanas”, descritas — pasmem — como “larvas informes” e chamadas “criptógamos carnudos”,
“uma massa quase inerte, de matérias moles e pouco agregadas, que rasteja ou antes desliza, tendo os
membros, por assim dizer, em estado latente”. (1.º vol., n. 57 a n. 59, p. 307-313.)

“A encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo; [...] em princípio, é apenas consequente
à primeira falta, àquela que deu causa à queda”. (1.º vol., n. 59, p. 317 e 324.) Por isto, Roustaing
submete um texto de Kardec, da Revista Espírita de junho de 1863 (Do Princípio da Não-Retrogradação
do Espírito), ao exame dos seus “evangelistas” espirituais, que concluem dizendo que os que pensam ser
a encarnação uma necessidade geral (Kardec à frente) “ainda não foram esclarecidos, ou não refletiram
bastante”. (1.º vol., n. 59, p. 321.)
Espíritos que já “trabalham na constituição de planetas” podem ser “dominados pelo orgulho, que os
leva a desconhecer a mão diretora do Senhor, ou a duvidar do seu poder, duvidando de suas próprias
forças”. Então “soa a hora da encarnação humana correspondente ao delito” e, “em tal caso, o planeta,
que não pode ficar sujeito a perecer por lhe faltar o primitivo obreiro, continua sua marcha progressiva
sob os cuidados e a ação de um Espírito superior que vem substituir aquele que faliu”. (1.º vol., n. 59, p.
325-326.)

E os reveladores de Roustaing decretam aqui seu maior delírio conceitual: “[...] vossos médiuns só
entrarão no gozo completo de suas faculdades quando estiver entre os homens o Regenerador, Espírito
que desempenhará a missão superior de conduzir a humanidade ao estado de inocência, isto é: ao grau
de perfeição a que ela tem de chegar. Até lá, obterão somente fatos isolados, estranhos à ordem
comum dos fatos. [...] Não nos cabe fixar de antemão a época em que tal se verificará. [...] Debaixo da
influência e da direção do Regenerador, caminhará o chefe da Igreja católica, a qual, repetimos, será
então católica na legítima acepção deste termo, pois que estará em via de tornar-se universal, como
sendo a Igreja do Cristo”. (3.º vol., n. 196, pp. 65-66.)

Os fenômenos mediúnicos, perfeitamente integrados à ordem natural das coisas pelo Espiritismo, são
apresentados, então, como “fatos isolados, estranhos à ordem comum”. No que respeita ao chefe da
Igreja católica, quanto ao Regenerador, melhor eu não dizer nada. E é esta obra que a F.E.B. considera,
em seu Estatuto, complementar e subsidiária de Kardec... Quando uma casa é, pois, adesa ao
movimento “espírita organizado”, uma de duas: concorda com tais ensinos e os divulga, ou se torna
descumpridora de deveres estatutários. Algo precisa ser feito para restituir ao movimento espírita sua
legitimidade. Até os textos de Kardec foram alterados pelo rustenismo federativo.[1]

A fé pelas obras e a conduta espiritista


09:05 O BLOG DOS ESPÍRITAS 3 COMMENTS

Por Ricardo Malta

“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu
tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas
obras.“ (Tiago 2:17, 18)

O Espiritismo ensina que se reconhece o verdadeiro cristão pelas suas obras (ESE, Cap.18, Item 16).
Não adianta adorar e idolatrar a figura de Jesus: É necessário vivenciar a mensagem da qual ele foi
portador e exemplificador. O próprio nazareno elucida: “E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não
fazeis o que eu digo?“ (Lucas 6:46). Com estas palavras, dirigidas aos hipócritas e adoradores
comodistas, ele evidenciou a necessidade de vivenciar o evangelho sem as amarras da idolatria pueril.

A beatice é comum dentro das igrejas cristãs, contudo, notamos a infiltração desta atitude em alguns
setores espíritas, indo de encontro aos postulados doutrinários. Há indivíduos que se tornam adeptos do
Espiritismo, mas, infelizmente, não conseguem se desassociar totalmente dos conceitos teológicos
medievais. Na realidade, a “principal causa da deturpação e desvio das grandes idéias filosóficas e
concepções religiosas é que os homens, não se esforçando o suficiente para compreendê-las, passam a
adaptá-las ao seu modo de ser e de agir. Não conseguindo mudar a si mesmos, empreendem pelos seus
pontos de vista a mudança dos princípios que não conseguiram assimilar.”(Nova História do Espiritismo –
Dalmo Duque)

É natural que os Espíritos de escol exerçam sobre nós, seres ainda imperfeitos, um “ascendente moral
irresistível” (L.E, Q.274), mas o desejo deles é de nos auxiliar na conquista do nosso progresso intelecto-
moral, e não serem levianamente adorados como mitos.

Ao escrever em seu frontispício o lema “Fora da caridade não há salvação”, a doutrina espírita restaura a
moral cristã em sua expressão mais pura. Não existem mais dogmas, rituais, cerimônias, sacerdócio,
imagens, ou qualquer ação que evidencie a pratica do culto exterior e do formalismo institucional.
Verificamos na questão 886 de O Livro dos Espíritos qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como
entendia o próprio Jesus: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos
outros, perdão das ofensas.”

Conforme observamos, o sentido da palavra caridade, empregada pelo Espiritismo, é bastante amplo e
não se limita a assistência social, como alguns falsamente interpretam. Os dogmas, que foram se
infiltrando nos ensinamentos evangélicos, abafaram essa grande máxima do Cristianismo nascente. Aos
poucos os cristãos foram abandonando a essência do evangelho, trocando-o pelo culto exterior que nada
exige do homem a não ser a hipocrisia dos fariseus.

Ocorre que, entre os cristãos protestantes e católicos, há um predomínio da teologia paulina da


justificação pela fé, que, segundo as palavras de Paulo de Tarso, a “salvação” (salvar-se de que?) viria
pela fé e não pelas obras. De acordo com dados históricos, Tiago, o irmão de Jesus, foi o verdadeiro
coordenador do Cristianismo nascente, sendo a sua epístola uma verdadeira contestação para com a
doutrina da justificação pela fé ensinada pelo apóstolo dos Gentios.

Todavia, defende Hermínio C. Miranda que o apóstolo Paulo “não prega a fé sem obras, como entendem
muitos de seus intérpretes até hoje; ele não faz outra coisa senão ensinar que a fé, a nova concepção
do relacionamento do homem com Deus, dispensa a ritualista da lei antiga, consubstanciada no velho
testamento e na tradição” e que “jamais encontrou apoio no pensamento de Paulo de que a fé passiva e
sem obras levar-nos-ia à salvação.” (As marcas do Cristo - Paulo, o apóstolo dos Gentios). Por sua vez,
Severino Celestino aduz que “não podemos esquecer é que Paulo não é Jesus. Sua mensagem foi
dirigida aos Gentios ou pagãos e ele facilitou muita coisa para conquistar aqueles a que dirigiu sua
mensagem, em nome de Jesus.” (O evangelho e o Cristianismo primitivo)

Tal pensamento faz sentido, bastaríamos citar o capítulo 13 da primeira epístola de Paulo aos Coríntios,
considerada um verdadeiro hino à caridade. Outras passagens também evidenciam que Paulo não
pregava a fé sem as obras: 2 Coríntios 5:10, 2 Timóteo 4:14, 1 Coríntios 3:8, entre outras.

Não sabemos se a intenção de Paulo de Tarso era pregar a salvação gratuita ou se os teólogos
interpretaram mal (má-fé?) as suas palavras, entretanto, são nas suas epístolas que a igreja se
fundamenta para defender o dogma do salvacionismo gratuito, donde podemos dizer que há mais
paulinos do que cristãos dentro das igrejas.

Nas palavras de Jesus o salvacionismo jamais encontrou respaldo. Ele coloca como regra áurea a Lei do
amor (Mateus 22: 36-39). A síntese do evangelho está toda contida no Sermão da Montanha, nele
encontramos toda pureza de uma verdadeira moral universal, a exortação é sempre em prol da
benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e o perdão das ofensas. Para
Huberto Rohden “o Sermão da Montanha é a alma do evangelho”. O que também levou Gandhi a
dizer: “Se por acaso se perdesse todos os livros sagrados do mundo e restasse apenas o Sermão da
Montanha, nada estaria perdido”.

Numa de suas belíssimas parábolas, com conteúdo extremamente significativo, “Jesus coloca o
samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta
com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação,
mas como a condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que
coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a
brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc.” (ESE, Cap.15, Item 3)

Renasce a essência da moral [universal] cristã com o advento do Espiritismo. Semelhante ao apóstolo
Tiago, também afirma: “assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é
morta.” (Tiago 2, 26) Esta é a verdade que devemos resguardar. Cultivar os atavismos religiosos dentro
do movimento espírita é inaceitável.

Não podemos permitir que, em nome de uma tolerância irresponsável, desnaturem a mensagem do
Espiritismo, silenciar ante as deturpações é o mesmo que compactuar com o erro. O adepto sincero tem o
dever de zelar pela pureza doutrinária e denunciar toda tentativa de institucionalização igrejeira.“Não há
mais lugar para comodismos, compadrismos, tolerâncias criminosas no meio espírita. Cada um será
responsável pelas ervas daninhas que deixar crescer ao seu redor. É essa a maneira mais eficaz de se
combater o Espiritismo na atualidade: cruzar os braços, sorrir amarelo, concordar para não contrariar,
porque, nesse caso, o combate à doutrina não vem de fora, mas de dentro do movimento
doutrinário.” (J. Herculano Pires - Curso Dinâmico de Espiritismo.)

O indivíduo que busca vivenciar o evangelho não é (ou não deveria ser) um beato piegas, mas apenas
um homem que luta para conquistar sua transformação moral e dominar suas más inclinações (ESE, Cap.
17, Item 4). A moral cristã não visa criar condutas artificiais, convida-nos, conforme afirmou J. Herculano
Pires, a “evoluir, não por fora, mas por dentro”.
Lei de Ação e Reação não é o axioma de Causa e
Efeito
10:39 O BLOG DOS ESPÍRITAS 2 COMMENTS

Por Maria das Graças Cabral

É muito comum ouvirmos de espíritas, ou lermos em obras intituladas espíritas, quando tratam das razões
que levam ao sofrimento humano, e muitas vezes ‘inexplicáveis’, a aplicação da chamada “Lei de Ação e
Reação“, preconizada pelo Espírito André Luiz através da psicografia do médium Chico Xavier.

Primeiramente faz-se por oportuno termos a lucidez para observar que o Espírito André Luiz, quando na
sua última encarnação, segundo sua própria narrativa no livro Nosso Lar, foi médico sanitarista no início
do século XX, exercendo sua profissão no Rio de Janeiro, Brasil, e tendo passado "mais de oito anos" nas
regiões umbralinas de sua consciência.

Enquanto encarnado, não foi um homem religioso, vivendo voltado exclusivamente para o seu trabalho de
médico. Era temperamental, bebia e fumava, vindo a morrer de um câncer intestinal. Daí, a sua total
incompreensão diante do fenômeno ‘morte‘, e de sua resistência em buscar Deus para socorrê-lo dos
pesadelos vivenciados dentro do seu estado exacerbado de perturbação.

Ao lermos suas obras, devemos considerar que suas percepções sobre o mundo espiritual retratados nos
seus romances, trazem o viés de um cientista leigo nas questões espirituais, em processo inicial de
aprendizado, usando de um vocabulário técnico bem próprio da sua profissão. Inferindo-se que, o Espírito
André Luiz não era um estudioso da Doutrina Espírita, não teve tempo suficiente enquanto ditava suas
obras do plano espiritual para conhecê-la através de um estudo aprofundado, posto que, se tomarmos por
analogia a nós mesmos enquanto encarnados, não chegamos durante uma encarnação relativamente
profícua no estudo doutrinário, ao verdadeiro conhecimento de O Livro dos Espíritos, que é a primeira
obra da Codificação.

Daí, o porquê quando no seu romance intitulado “Ação e Reação” - vai buscar nos seus conhecimentos
de física a ‘Lei de Ação e Reação“ - Terceira Lei de Newton - que é uma restrita lei física, para adequá-la
por analogia às causas dos sofrimentos humanos.

Define Newton, em sua obra Principia, o princípio da ação e reação asseverando que: A qualquer ação se
opõe uma ação igual, ou ainda, as ações mútuas de dois corpos são sempre iguais e se exercem em
sentidos opostos.
Se um corpo A, exerce uma força em um corpo B, o corpo B simultaneamente exerce uma força da
mesma magnitude no corpo A - ambas as forças possuindo mesma direção, contudo sentidos contrários.

Aplicado ao pé da letra a lei de Newton, em todas as situações ocorreriam da mesma forma; p. ex., se
uma pessoa te feriu, ela deverá ser, por você, ferida da mesma forma e com a mesma intensidade. Outra
questão é que a lei de ação e reação atua em corpos diferentes e nunca se anulam. A reação sendo
“positiva ou negativa” nunca poderia anular a ação.

No referido romance intitulado ‘Ação e Reação’, o Espírito André Luiz também se reporta a questão do
‘carma’ quando o Ministro Sânzio atendendo às suas interrogações ansiosas diante do que observa nas
instituições visitadas, lhe explica o que seja a questão do ‘carma’, ou ‘choque do retorno’. Nota-se
perfeitamente a confusão de informações que o Espírito André Luiz recebe e repassa, constatando-se
claramente, que seus instrutores não seriam também espíritas conhecedores da Codificação Espírita, daí
recorrerem a outras terminologias.

À esse respeito, vale pontuar que “carma” é uma palavra oriental que significa ação. No dicionário
encontra-se a seguinte definição: do sânscrito karman; nas filosofias da Índia, o conjunto das ações dos
homens e suas conseqüências - (bem semelhante à Lei de Ação e Reação).

Na concepção hindu, carma quer dizer “destino” (canga) determinado ou fixo, ou seja, aqueles cujos atos
foram corretos, depois de mortos renascerão através de uma mulher brâmane (virtuosa), ao passo que
aqueles cujos os atos foram maus, renascerão de uma mulher pária (castas inferiores) e sofrerão
muitas desgraças, acabando como simples escravos. (J. Herculano Pires)

No que concerne à Codificação Espírita, se formos pesquisar em todas as Obras Básicas incluindo a
Revista Espírita, não encontraremos em nenhuma delas, em momento algum, os Espíritos Superiores, ou
mesmo Kardec tratando ou estabelecendo uma Lei de Ação e Reação, ou Lei de Causa e Efeito. Nem
muito menos usando do termo ‘carma’.

Isto porque Kardec logo na Introdução da gigantesca obra sobre o qual se ergue a Doutrina Espírita - que
é O Livro dos Espíritos - assevera que: “Para as coisas novas necessitamos de palavras novas, pois assim
o exige a clareza de linguagem, para evitarmos a confusão inerente aos múltiplos sentidos dos próprios
vocábulos”. (Introdução de O Livro dos Espíritos) (grifei)

Portanto, não existe formalmente na Codificação ou na Revista Espírita a definição de Lei de Causa e
Efeito - mas a menção de um axioma utilizado pelos Espíritos Superiores, quando esclarecem a origem
das dores dizendo que para todo o efeito existe uma causa e não há causa sem efeito.

Mais precisamente em “O Evangelho Segundo o Espiritismo“, este axioma é aplicado quando trata da
“Justiça das Aflições” e os Espíritos Superiores discorrem sobre as Causas Atuais e Anteriores das
Aflições.

No que concerne às causas atuais das aflições nos é dito que: “Remontando à fonte dos males terrenos,
reconhece-se que muitos são a conseqüência natural do caráter e da conduta daqueles que os sofrem.
Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho
e de sua ambição! Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por mau
comportamento ou por não terem limitado os seus desejos”. (ESE, Cap. V, 4)

No item seguinte quando são tratadas as causas anteriores das aflições, assim se expressam: “Mas se há
males, nesta vida, de que o homem é a própria causa, há também outros que, pelo menos em
aparência, são estranhos à sua vontade e parecem golpeá-lo por fatalidade. Assim, por exemplo, a
perda de entes queridos e dos que sustentam a família. Assim também os acidentes que nenhuma
previdência pode evitar; os revezes da fortuna; os flagelos naturais; doenças de nascença;
deformidades, a idiotia, a imbecilidade, etc. (ESE. Cap. V, 6)

Adiante, esclarecem a problemática utilizando-se do axioma anteriormente mencionado


asseverando:“Entretanto, em virtude do axioma de que todo efeito tem uma causa, essas misérias são
efeitos que devem ter a sua causa, e desde que se admita a existência de um Deus justo, essa causa
deve ser justa. Ora, a causa sendo sempre anterior ao efeito, e desde que não se encontra na vida
atual, é que pertence a uma existência precedente”. (ESE. Cap. V, 6)

Diante do exposto infere-se que em razão de uma justiça divina rigorosa precisamos ‘aprender’ para
evoluir. Mas não aplicando-se uma Lei de Ação e Reação que seria uma versão modernosa da Lei de
Talião, ou seja, do ‘olho por olho e dente por dente’. Na realidade a Lei que transmudará as dores num
estado interior de felicidade e paz, é a preconizada por Jesus quando nos asseverou que “o Amor cobre a
multidão de pecados”.

Oportuno ressaltar, como nos asseveram os Espíritos Superiores que nem todo o sofrimento que se
passa nesse mundo é advindo necessariamente de uma determinada falta, pois pode tratar-se muito
“freqüentemente” de simples provas escolhidas pelo próprio Espírito, para acelerar seu processo
evolutivo. (ESE. Cap. V, 9)

Portanto, na condição de espíritas, estejamos atentos para não cairmos nas malhas da anfibologia, que
tanto Kardec combateu em relação à Doutrina Espírita, evitando a utilização de palavras que já têm um
sentido próprio, e usadas analogicamente geram interpretações equivocadas no que concerne ao corpo
doutrinário.

Inteligência Cósmica
09:20 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT

Por Ricardo Malta


Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. (L.E, Q.1)

Não podemos conceber, em pleno século XXI, a imagem de um Deus antropomórfico, personificado na
imagem de um velhinho sisudo, de barbas longas e com um cajado nas mãos. As religiões ancestrais
limitaram a Divindade a ponto de transformá-la neste ser humanóide. Ainda existem aqueles que afirmam,
ingenuamente, que Deus habita nas igrejas. Esquecem que o “Deus que fez o mundo e tudo que nele
há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens.” (Atos 17:24)

O ateísmo se faz justo com essa imagem primitiva do Criador. Não podemos negar que essa teologia
medieval colaborou muito para a proliferação da descrença. Voltaire, o filósofo iluminista, afirmou quenão
acreditava no Deus que os homens criaram, mas no Deus que criou os homens. Com razão ele fez
tal afirmativa, da qual o Espiritismo apóia, pois a causa primária de todas as coisas não poderia ser essa
figura limitada e pintada pelos teólogos.

A visão espírita, descrita na primeira questão de O Livro dos Espíritos, é, talvez, a melhor concepção que
podemos ter do Criador. Falta-nos a percepção necessária para defini-Lo com maior exatidão, sendo toda
tentativa neste sentido infrutífera. Ora, como poderá o limitado definir aquilo que é ilimitado?
Inconcebível. “Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair.”
(L.E, Q.14)

“Deus não é uma forma humana, não é uma figura mitológica, não é um símbolo. Deus é a realidade
fundamental, a Inteligência suprema, a fonte de que surgem todas as coisas, assim como da inteligência
finita do homem surgem as coisas que constituem o seu mundo finito. Não é possível dar forma a Deus,
limitá-lo, restringi-lo, dominá-lo pela nossa razão, como não é possível dar forma à nossa própria
inteligência.” (J. Herculano Pires. O Espírito e o Tempo.)

Entretanto, observando suas obras, que se encontram escritas no universo cósmico, conseguimos ter
uma idéia de seus atributos. Por isso, a doutrina espírita nos ensina que só podemos conceber
Deus:eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom. (L.E,
Q.13)

Com razão afirmou J. Herculano Pires que o espiritualismo simplório e o materialismo atrevido são os dois
pólos da estupidez humana. Claro, negar o Deus criado pelos teólogos é aceitável, mas negar a
existência de uma inteligência cósmica que preside todo o universo é, no mínimo, faltar com o bom senso.

Extraímos a certeza da existência de Deus num axioma lógico: Não há efeito inteligente sem uma
causa inteligente, e a grandeza do efeito corresponde à grandeza da causa.

Não conseguimos, por questão de lógica e bom senso, imaginar que o universo seja obra do acaso.“Viu-
se alguma vez o arremesso ao acaso das letras do alfabeto produzir um poema? E que poema o da vida
universal! [...] Inconscientes e cegos, os átomos não poderiam tender a um fim. Só se explica a
harmonia do mundo pela intervenção de uma vontade.” (Leon Denis. Depois da morte.)

Com sabedoria, utilizando-se de uma analogia brilhante, nos diz Allan Kardec: “A existência do relógio
atesta a existência do relojoeiro; a engenhosidade do mecanismo lhe atesta a inteligência e o saber.
Quando um relógio vos dá, no momento preciso, a indicação de que necessitais, já vos terá vindo à
mente dizer: aí está um relógio bem inteligente? Outro tanto ocorre com o mecanismo do Universo:
Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras.” (GE, Cap.2, Item 6)

Ora, ao lançar o olhar para o universo, torna-se impossível aceitar que a dança cega dos átomos seja
capaz de compor esse poema cósmico de que nos fala o ilustre filósofo Leon Denis. Alias, nas palavras
de Herculano Pires, "as coisas evidentes se impõem pela própria evidência. Não podemos negar a
existência de Deus, porque como dizia Descartes, isso equivale a negar a existência do sol em nosso
sistema planetário." (J. Herculano Pires. O Espírito e o Tempo.)

Ante o exposto, conclui-se, por racionalidade e não por crendice, que “Deus existe; disso não podeis
duvidar e é o essencial” (L.E, Q.14). Assim, da mesma forma que Voltaire, declaramos: Morro adorando
a Deus!

Verdade Espírita e Teoria Quântica - Perspectiva


Possível?
12:18 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Maria Ribeiro

A Verdade, sabe-se, é representada no Pentateuco Espírita, no qual ainda, sobre muitas questões, as
inteligências tropeçam e se confundem, dadas as imperfeições nas quais estas estão revestidas. Durante
muito tempo o legado Kardequiano será investigado e analisado, sem que todas as informações sejam
assimiladas totalmente, e aquele que se crê detentor de grande cabedal de tal conhecimento, que deixe a
encargo do tempo que tratará de requisitá-lo para as lides missionárias de maior porte.

Está-se numa fase ainda bem inicial da Doutrina, afinal 154 anos não são tanto tempo assim, pelo menos
para os Espíritos. Poderia dizer-se, talvez arriscadamente, que o Espiritismo se encontra na segunda
geração de adeptos reencarnados. As cogitações e as hipóteses ainda são perfeitamente cabíveis, aliás,
devem ser incentivadas com o objetivo de se ativarem os raciocínios, na busca interminável pela
Verdade. Porém devem ser impedidas as formas suspeitas com as quais as coisas têm sido conduzidas.
O fato de a autoridade da Doutrina ser-lhe intrínseca, faz com que alguns queiram materializar esta
autoridade imprimindo a própria digital: com seus conselhos paternalistas se tornam guia e modelo para
aqueles que se sentem desamparados; alguns mais ousados tentam criar sistemas incompatíveis com o
Espiritismo, como se ignorassem este perfeitamente estabelecido pelas mentes mais sensatas que se
tem noticia; e como se não bastasse, também geram axiomas e máximas que se tornam sempre
lembradas por companheiros despreocupados com a Verdade Espírita. Geralmente não se dão ao
trabalho de sequer assistir a estudos e palestras de outros colegas, e, lendo obras pueris, bastas vezes
anti doutrinárias, se dizem estudiosos da Doutrina, sem cogitarem da lógica na qual esta é fundamentada.

Todos os que querem divulgar o Espiritismo conforme ele é, a primeira coisa a ser feita, é a procura da
compreensão do processo evolutivo humano. Se para alguns tudo se faz muito claro, para outros há uma
obscuridade, uma névoa que os impede de enxergarem com a mesma clareza. Uma coisa é analisar de
forma crítica atitudes que desvirtuam e ridicularizam a Doutrina por parte de pessoas de má fé. Outra é
fazer o mesmo com pessoas bem intencionadas, mas ainda ignorantes, incipientes, Espíritos que não
atingiram determinada maturidade intelecto-espiritual que lhes dê maior noção das coisas. Para as
primeiras, cuja revisão de valores morais não encontram eco em seu íntimo, pois que se utilizam de
cargos assumidos, não para servir, mas para permanecerem vaidosos, orgulhosos e hipócritas, faz-se
necessário pulso mais firme, para que se freiem os abusos, afinal não se pode admitir que os erros se
perpetuem, pois tendem a se alastrar e todos vão responder pela ação ou pela omissão; para as
segundas, maior acolhimento, atenção e respeito. Mas a paciência é a melhor solução em todos os
casos.

Para alguns ainda é difícil entender os princípios da Verdade mesmo à luz das Letras Espíritas. Muitas
vezes tem-se que recorrer a comparações por demais grosseiras para que se consiga que a mensagem,
ou ao menos parte dela, atinja as pessoas. Mas vale tanto a pena perceber-se que uma pessoa entendeu
o que é reencarnação depois de se ter comparado o homem a um telefone celular velho, estragado, que
foi substituído por um outro novinho, porém conservou-se o chip do celular antigo, com todas as
informações de que precisa...Todo mundo conhece o celular e o chip do celular...é uma comparação
grotesca, mas a pessoa entendeu parte do processo e é isto que importa. O contato se faz com pessoas
de todos os graus instrutivos, sociais, culturais e espirituais e é necessário que se recorra a métodos os
mais variados para que as pessoas fiquem cada vez mais interessadas dos estudos. Cada uma no seu
tempo fará germinar a semente. Porém não se pode negar que imaginações por demais férteis insistam
em se apresentar, seja ousada ou veladamente, semeando propostas que, infelizmente, furam as
barreiras do bom senso e extravasam em todas as direções com a veste fascinante da verdade. As
invencionices que campeiam têm que ser impedidas; as alusões sem fundamento têm que ser banidas;
as certezas que se baseiam em obras discutíveis têm que ser barradas. Não se pode permitir que uma
informação circule e ganhe indumentárias de verdade se vem de uma fonte duvidosa. Aliás, todas as
fontes são duvidosas, até que passem pelo crivo da razão e da lógica kardequianas. O incrível e perigoso
é que há equívocos clamorosos sendo veiculados por toda a parte, recebendo uma ou outra nuance
verdadeiramente doutrinária, e acabam passando despercebidas.

A atualidade é pródiga no que tange a informações de toda ordem, e faz-se preciso ficar atento às
novidades, para que se possa tirar proveito daquilo que for bom e útil a um entendimento maior. Kardec
se posicionou assim sobre o caráter científico do Espiritismo: “O Espiritismo tem por objeto o estudo do
elemento espiritual em suas relações com o elemento material e encontra na união desses dois
princípios, a razão de uma multidão de fatos até então inexplicados”. (Obras Póstumas - Curta carta
aos detratores do Espiritismo). N’A Gênese, o mesmo mestre lionês registra: “Se a religião se recusar a
caminhar com a ciência, a ciência prosseguirá sozinha”; donde se conclui que aquele que se faz avesso
às perspectivas científicas, será um adepto retrógrado, contrariando a recomendação de ajuste entre
ambas; aliás, o próprio Kardec prosseguiu: “Somente as religiões estacionárias podem temer as
descobertas da ciência; essas descobertas não são funestas senão aos que se distanciam das idéias
progressistas, imobilizando-se no absolutismo de suas crenças; eles fazem em geral uma idéia tão
mesquinha da Divindade, que não compreendem que o fato de se assimilarem às leis da Natureza
reveladas pela ciência, é glorificar Deus em suas obras...” (cap. IV,itens 9 e 10)

Nestes pouco mais de 150 anos, várias descobertas se fizeram, invenções se desenvolveram, e é de
enorme utilidade se apegar com mais afinco ao estudo do Pentateuco Espírita, com análises linha após
linha, sem perder de vistas as novas informações científicas que chegam. Ora, exatamente quatro
décadas após o lançamento de O Livro dos Espíritos (1897) foram descobertos os elétrons, que são as
partículas negativas do átomo; dois anos antes (1895) entraram os raios X no cenário cientifico, aliás,
descoberta revolucionária. No ano de 1900, surge o marco inicial da teoria quântica com os postulados de
Planck, posteriormente comprovados por Einstein em seus experimentos.

A descoberta dos infinitamente pequenos por Pasteur só foi possível graças à outra descoberta fantástica
que foi o microscópio. Tudo no mundo é solidário e caminha harmonicamente, obedecendo à dinâmica
estabelecida pela Divindade. Aquele mundo microscópico existia ativamente independente do
conhecimento dos homens. Possivelmente ainda existam os que rejeitem esta idéia, pelo simples fato de
não se ver uma bactéria carcomendo um alimento. O microscópio eletrônico trouxe grandes novidades
para as pesquisas, mas a reflexão inquieta leva algumas almas a se perguntarem: e se alguém descobrir
uma forma de potencializar a visão eletro-microscópica, quantas novas organelas celulares não seriam
descobertas? Quantos novos detalhes não seriam desnudados? O próprio átomo poderia ser
desmembrado, e quem sabe, não se testemunhariam os elétrons, jamais vistos pelos olhos humanos,
saltitando nos orbitais... Que sonho!

Os postulados de Planck em 1900 e os avanços conquistados por seus continuadores promoveram a


compreensão de fenômenos que, embora inapreciáveis visivelmente, se acham no campo da
materialidade, desabrocham na atualidade para uma vertente totalmente oposta – a mente, que mesmo
ainda não considerada em seu aspecto moral, também não se configura como entidade dependente do
agregado encefálico, conforme conclusões dos próprios cientistas. Pode-se presumir que dentro de mais
algum tempo a mente como Ser Moral alcance o interesse destas investigações, e então ter-se-á a
comprovação científica de Deus, do Espírito, de Reencarnação, de Mediunidade. Os conceitos quânticos
chamaram a atenção do campo filosófico para suas ilações. E apesar da mocidade desta teoria, os
resultados positivos e objetivos são admiráveis. Em todo o mundo cientistas se voltam para as pesquisas
quânticas, não havendo razão para que esta seja hostilizada. Todas as descobertas científicas são
Divinas. Os cientistas são também missionários que vêm à Terra para fazê-la avançar, e conscientes ou
não, acabam por demonstrar aos que tem olhos de ver, a Excelsa Magnitude e Sabedoria do Criador. Se
eles mesmos não se convencem disso, não cabe a ninguém julgá-los, pois que se encontram em
processo evolutivo como quaisquer outros homens, e empregam seus altos valores intelectivos à serviço
da Obra Divina.

A teoria quântica pode trazer respostas e preencher algumas lacunas, não deixadas pela Codificação,
conforme acreditam alguns confrades, lacunas essas surgidas por causa da estreiteza de vistas do
homem que apenas desabrocha para um entendimento mais elevado. Naturalmente não se poderá
conceber um conceito muito alto para os princípios da teoria quântica, ou outra qualquer, sem antes
estudá-los minuciosamente, utilizando-se da lógica e da racionalidade, a fim de se constatar se há um
consórcio perfeito, ou ao menos conciliável entre ambos. Retirar o mérito de qualquer outra teoria por
causa de convicções pessoais e conseguintemente, orgulhosas, antes que se façam as devidas
investigações, colocando à prova as conclusões encontradas, talvez seja atitude tão precipitada quanto
imprimir credibilidade demasiada sem qualquer exame prévio. Observar demoradamente, estudar
detidamente e aguardar o tempo, que é o único incumbido de avalizar ou não, pois “só a verdade pode
dar raízes a uma doutrina.”(O Livro dos Médiuns – cap XXXI – item XXVIII)

Todas as vastas conquistas tecnológicas e científicas alcançadas têm por fundamento os postulados da
teoria quântica, sendo possível perceber o desencadear de um processo, o desenvolvimento paulatino e
constante. Sem a mecânica quântica, ou seja, a física dos componentes da matéria, tais como átomos e
moléculas, por exemplo, seria impossível a concepção de microcomputadores, aparelhos CD, controle
remoto, e nas aplicações médicas, os equipamentos de Ressonância Magnética. Também a Biologia
conheceu o DNA e a Genética.

Há algum tempo ninguém imaginaria ser possível um exame diagnóstico, por exemplo, em três
dimensões e certamente sejam infinitas, quem sabe... Aliás, os Espíritos já elucidaram na Obra Máxima
legada à Humanidade, que o espaço e o tempo são infinitos.

Pergunta-se porque alguns confrades são contrários ou antipáticos à teoria quântica. Os argumentos de
que esta versa apenas para o campo físico/material não convence, porque sabe-se através da Doutrina
Espírita que “os dois mundos se interpenetram”. Os Espíritos desencarnados, tanto podem se encontrar
tranqüilos, felizes, serenos como apáticos, sofredores, aborrecidos. No livro O céu e o inferno um Espírito
classificado na categoria de Espíritos Felizes faz o seguinte relato ao ser questionado se tinha a visão dos
Espíritos presentes naquela reunião: “Vejo sobretudo Lázaro e Erasto; depois, mais afastado, o Espírito
de Verdade planando no espaço, depois uma multidão de Espíritos amigos que vos cercam(...)”(O Céu e
o inferno – cap.II, item 9)

Na questão 278 de O Livro dos Espíritos Kardec indaga das Entidades Excelsas se “Os Espíritos das
diferentes ordens estão misturados?” e elas respondem: -“Sim e não; quer dizer, eles se vêem, mas
distinguem-se uns dos outros. Eles se evitam ou se aproximam segundo analogia ou antipatia de seus
sentimentos, como acontece entre vós. É todo um mundo do qual o vosso é um reflexo obscuro. Os
Espíritos da mesma categoria reúnem-se por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias de
Espíritos unidos pela simpatia e pelo objetivo que se propuseram: os bons pelo desejo de fazer o bem,
os maus pelo desejo de fazer o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se encontrarem
entre os que se lhe assemelham.” E segue o comentário Kardequiano: ” Tal uma grande cidade onde os
homens de todas as categorias e de todas as condições se vêem e se encontram sem se confundirem;
onde as sociedades se formam pela analogia de gostos; onde o vício e a virtude convivem sem se
falarem.” (grifos meus)

A consciência quântica moralmente falando se refere a uma realidade subjetiva: lugar, tempo, espaço,
não determinam o estado interior de um Ser, ao contrário, o Ser é que, de algum modo, reveste o lugar, o
tempo e o espaço com o que alimenta em si mesmo, na intimidade, e emana para o exterior. Isto não
significa que este “exterior” será contaminado, por assim dizer, com as emanações menos agradáveis
desta criatura, pois uma outra poderá estar ali em condição espiritual mais feliz; o contrário também pode
se operar. Pode-se remontar a outra dimensão e naquele mesmo ambiente encontrarem-se entidades
num grau evolutivo como o dos selvagens, por exemplo... Numa outra dimensão, poderão ser
encontrados Espíritos mais nobres, e assim por diante. Sobre a questão de luz e trevas, Kardec registra
em “O céu e o inferno”, no capítulo IV da segunda parte, as seguintes palavras do Espírito São Luís: “O
perispírito possui, por sua natureza, uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o império da
atividade e das qualidades da alma... O brilho da luz está em razão da pureza do Espírito; as menores
imperfeições morais a obscurecem e a enfraquecem.” Ou seja, não há Espíritos em trevas, pois, ainda
que obscurecida e enfraquecida, a luz não deixa de existir para ninguém. Prossegue São Luís: “... todos
os Espíritos inferiores não estão nas trevas,... o mesmo Espírito pode se encontrar, alternativamente,
na luz e na obscuridade... a luz é um castigo para certos Espíritos imperfeitos. Se a obscuridade na qual
estão mergulhados certos Espíritos fosse inerente à sua personalidade, ela seria permanente e geral
para todos os maus Espíritos, o que não é, uma vez que os Espíritos, da maior perversidade, vêem
perfeitamente, ao passo que outros, que não se pode qualificar de perversos, estão temporariamente
mergulhados nas profundas trevas.”

Nesta linha de raciocínio, baseado ainda na questão 278, poder-se-ia inferir que não existem regiões
espirituais conforme se entende, uma vez que o universo íntimo é que determinará a posição agradável e
feliz ou amargurada e nebulosa do Ser. Considerando a perfeição absoluta da Divindade, não se pode
concluir que sua Criação seja menos perfeita, portanto os estados acabrunhados, tristes e tudo o mais
são criação da própria individualidade cujos conceitos permanecem materializados; estando este quadro
sujeito a se alterar mediante mudança de pensamento desta individualidade. Portanto, a crença de que,
ao desencarnar, o homem vai para este ou aquele ambiente, não passa de um elemento remanescente
da superstição, pois ao perder a indumentária física, que é o que, a princípio o separa do mundo real – o
mundo espiritual - o homem percebe a sua realidade nua e crua, tal qual ele mesmo construiu durante
seu estágio na Terra. Ou seja, ele sempre esteve naquele ambiente, com a diferença de que este mundo
era-lhe ocultado pelo corpo.

Vejam-se o que declara Kardec n’ A Gênese nos itens 14, 15 e 16 do capítulo XVI: ”...mas seu
pensamento entrando em relação com a época em que isto se dava, seu perispírito toma
instantaneamente aquela forma, a qual também deixa instantaneamente , desde que o pensamento
cesse de agir... Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os mesmos como o som atua
sobre ao ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer, com toda a
verdade, que em tais fluidos há ondas e raios de pensamentos, os quais se cruzam sem se confundir,
como no ar há ondas e raios sonoros... Sendo os homens Espíritos encarnados, têm, em parte, as
atribuições da vida espiritual, pois vivem essa vida no sono, e freqüentemente no estado de vigília. O
Espírito, ao encarnar-se, conserva seu perispírito com as qualidades que lhe são próprias, e que, como
se sabe, não é circunscrito ao corpo, porém irradia-se em derredor, envolvendo-o como uma
atmosfera.” Mais adiante, no item 20, Kardec afirma que “o pensamento produz pois uma espécie de
efeito físico, que reage sobre o moral...” Ora, se ao encarnar o Espírito conserva as qualidades que lhe
são próprias, ao desencarnar ocorre identicamente. Perdendo o veículo físico, aí está a sua realidade, o
seu mundo espiritual.

Os espaços infinitos compreendem dimensões de que não se é capaz de conceber. Os pensamentos e


imaginações humanos não encontram vocábulos para serem perfeitamente descritos e se fazerem
compreender... Quem sabe não poderiam os estudiosos, utilizando do aspecto filosófico do Espiritismo,
procurar fundamentos da teoria quântica? Pois, ao que parece, a teoria quântica encontra fundamentos
no Espiritismo...

A Física clássica torna conhecidas as leis que regem a matéria objetiva, visível, palpável. A Física
quântica estuda e esclarece sobre as leis que governam o mundo subjetivo, invisível, etéreo, e que, aliás,
está na natureza. Os termos ‘subjetivo’ e ‘invisível’ talvez não exprimam com clareza o real significado do
que se intenciona dizer, visto que os efeitos se manifestam perfeitamente materializados. O arco-íris, por
exemplo, deixa-se contemplar por apenas algumas cores, as outras estão na ordem de luz invisível, e são
conhecidas pelos efeitos incontestes.

Estão registradas no Evangelho de João as palavras de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
Ninguém vem ao Pai senão por mim”. O Cristo usa uma colocação verbal de ir, fazendo entender que Ele
vivia uma realidade diferente daquela em que era visto pelos demais. Falava da sua condição e realidade
espiritual de pureza, graça e felicidade, indefiníveis e também inalteráveis, mesmo num planeta habitado
por homens hipócritas e perversos.(g. m.)

Correlacionando as palavras de Jesus em João com a supracitada questão 278, percebe-se que
possivelmente o Cristo quisera remeter à condição quântica da Vida. Os Espíritos disseram “tudo está
em tudo”, na questão 33 de O Livro dos Espíritos, respondendo a uma questão que versa sobre as
propriedades da matéria e o comentário de Kardec assinala o oxigênio, o hidrogênio, o nitrogênio (que ele
chama de azoto) o carbono e outros como podendo continuar a ser considerados simples até nova
ordem”. Ora, o átomo já foi dissecado e nele, por causa dos efeitos que se observam, encontram-se
pósitrons, négatrons, neutrinos, anti neutrinos e mésons dividindo o mesmo espaço com os conhecidos
elétrons, prótons e nêutrons.(g.m.)

Assiste-se, infelizmente, a dois extremos em que querem posicionar a Doutrina Espírita: de um lado, os
que visam torná-la uma Ciência- o que a tornaria dura, fria. E de outro, os que ambicionam fazê-la uma
religião vulgar, cheia de quesitos perfeitamente dispensáveis, o que de um modo ou de outro resultaria
numa doutrina incompleta, como centenas de outras. José Herculano Pires assim a definiu:“... Doutrina
complexa, que abrange todo o campo do Conhecimento, apresenta-se enquadrada na seqüência
epistemológica de: a) ciência – como pesquisa dos chamados fenômenos paranormais dotada de métodos
próprios, específicos e adequados ao objeto que investiga...; b) filosofia- como interpretação da
natureza dos fenômenos e reformulação da concepção do mundo e de toda a realidade segundo as novas
descobertas científicas...;c) religião – como conseqüência das conclusões filosóficas, ...considerado
como Religião em Espírito e Verdade, anunciada por Jesus, anunciada pelos Evangelhos; religião
espiritual sem aparatos formais, dogmas de fé ou instituição igrejeira, sem sacramentos...”( Curso
Dinâmico de Espiritismo - O grande desconhecido)

O presente artigo não intenciona demonstrar uma veracidade irrefletida quanto às novas teorias
científicas, nem tampouco tomar partido e sair em defesa da teoria quântica. Sabe-se que a hora é a de
desfazer equívocos e, para isso, as obras básicas são o farol de todo estudioso sério. Desta forma poder-
se-á averiguar mais profundamente o que vem surgindo, o que exigirá reflexão filosófica, alheia aos
argumentos vazios ou às idéias pré concebidas. A proposta é que se observem sem preconceitos em
que pé se acha o progresso científico e filosófico. É preciso que mentes abertas, judiciosas, austeras,
perspicazes, se posicionem a frente da investigação mais acurada, conforme Kardec ensinou, para que
haja efetiva continuidade na ciência Espírita. Lembrando a questão 19 de o Livro dos Espíritos:

“Pelas investigações científicas, não pode o homem penetrar alguns dos segredos da Natureza? – A
ciência lhe foi dada para o seu adiantamento em todos os campos, mas ele não pode ultrapassar os
limites fixados por Deus.” E Kardec comenta, como sempre, lucidamente: “Quanto mais é dado ao
homem penetrar nesses mistérios, mais cresce sua admiração pelo poder e sabedoria do Criador; mas,
seja por orgulho, seja por fraqueza, sua própria inteligência o faz joguete da ilusão. Ele amontoa
sistemas sobre sistemas e cada dia que passa lhe mostra quantos erros tomou por verdades e quantas
verdades rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho.” (g. m.)

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Reencarnação como processo educativo


20:56 O BLOG DOS ESPÍRITAS 2 COMMENTS

Por Ricardo Malta

A reencarnação, ao contrário do que vulgarmente se propaga, não é um processo punitivo. È, em


verdade, um sistema educativo de evolução espiritual, regulado por Leis que foram instituídas por Deus.
Portanto, o Espírito não retorna ao corpo físico no intuito de sofrer punições, a sua volta à vestimenta
carnal faz parte da pedagogia divina.

A própria expiação, que o leigo confunde com punição, é na realidade o resultado da Lei de Causa e
Efeito. Para melhor entender essa dinâmica, devemos nos utilizar de uma analogia: suponhamos que um
adolescente, em virtude de sua desídia nos estudos (causa), se vê obrigado a repetir o ano escolar
(efeito). Neste caso, podemos dizer que o colégio estará aplicando uma punição ao aluno? Não.
Enquanto o estudante não atingir as metas estabelecidas pela instituição de ensino, ele jamais poderá
progredir para o período ulterior. Não se trata de uma punição, mas faz parte de um processo
pedagógico. Nesta situação especifica, só podemos culpar o próprio aluno pelo seu fracasso.

De modo semelhante, guardadas suas devidas proporções, ocorrem com as expiações. Deus não pune,
Ele institui Leis que regulam o universo, cabendo ao transgressor arcar com a responsabilidade de suas
ações.

Todavia, devemos ressaltar que reencarnação não é sinônimo de expiação. Mesmo não havendo faltas a
serem reparadas, o Espírito poderá retornar ao educandário terrestre no intuito de auferir novos
conhecimentos no campo intelecto-moral ou, em se tratando de Espíritos de escol, com o fim especifico
de desempenhar tarefas que auxiliem no desenvolvimento evolutivo da humanidade. Portanto, além da
expiação, podemos estabelecer que a reencarnação tem por objetivo omelhoramento progressivo da
Humanidade. (L.E, q.167)
Contudo, mesmo não sendo conditio sine qua non para o processo de reencarnação, a expiação constitui
um fator quase que unanimidade entre os Espíritos encarnados, isso se explica pela baixa condição
evolutiva dos habitantes do orbe terrestre. Desta forma, havendo transgressões da legislação divina, de
acordo com o mestre nazareno, de maneira nenhuma sairás dali [do orbe terrestre] enquanto não pagares
o último ceitil (Mateus 5:26), ou seja, o infrator deverá retornar à esfera carnal até que restabeleça o
equilíbrio natural das coisas, isto é, até que repare os seu erros de outrora.

A doutrina da reencarnação não é peculiar ao nosso tempo, trata-se de um ensinamento milenar, dos
filósofos, das mais diversas culturas e tradições. Não faz parte de um dogma religioso, mas de uma Lei
natural. Revela-se como a forma mais pura, lógica e coerente das verdades espirituais. Infelizmente,
devido a influência de um sistema religioso medieval, comum as seitas dogmáticas ocidentais, o crente
simplista não consegue se desassociar da idéia teológica da existência una subordinada ao
salvacionismo gratuito. São, por sinal, esses mesmos grupos que, dogmatizados e fanatizados pela
teologia dos castigos divinos e das penas eternas, buscam infiltrar, por ignorância ou má-fé, a falsa idéia
de que a reencarnação é um processo de punição.

No que tange a ultrapassada concepção de Céu e Inferno, assinala Gabriel Delanne:

As antigas concepções do Céu e do Inferno caducaram, porque não mais se compreende a eternidade do
sofrimento como punição de uma existência, que, em relação à imensidade do tempo, é menos de um
segundo, assim como não se concebe a felicidade ociosa e beata, cuja monotonia seria um verdadeiro
suplício.

Isso sim é punição! Como o erro cometido durante uma existência efêmera poderá acarretar a
desproporcionalidade de uma penalidade eterna? Ilógico. Até mesmo o suposto Céu que, segundo a
teologia igrejeira, deveria ser um lugar de alegria, torna-se um suplicio de ociosidade. A sã razão nos diz
que a vida do Espírito é trabalho e progresso incessante!

Qual a filosofia espiritualista ou religião que consegue explicar racionalmente, pela teologia da existência
única, por exemplo, as desigualdades sociais, as desigualdades de aptidões, a existência de crianças que
já nascem com deficiências físicas e mentais, o motivo da dor e do sofrimento, a morte de um nascituro
ou de criança de tenra idade, etc.? Nenhuma delas é capaz de responder essas e outras complexidades
da vida humana. Só existe justiça divina com a reencarnação!

A respeito da moral Paligenésica, elucida, com razão, o metapsiquista Gustave Geley:

Se, no decurso da sua evolução, na série das suas vidas sucessivas, o ser é o produto de suas próprias
ações e reações, segue-se que a sua inteligência, o seu caráter, as suas faculdades, os seus bons ou
maus instintos são obra sua e cujas conseqüências terá de sofrer, infalivelmente.

Todos os seus atos, trabalhos, esforços, angústias, alegrias e sofrimentos, erros e culpas têm
repercussão fatal e reação inevitável, numa ou noutra de suas existências.

Assim, não há qualquer necessidade de julgamento divino, nem de sanções sobrenaturais.


Muito longe de ser uma punição, é a doutrina das vidas sucessivas uma prova da misericórdia, da justiça
e da bondade divina. As possibilidades se ampliam ao infinito, não existem deserdados ou abandonados
às penas eternas, todos nós estamos subordinados ao determinismo do progresso, nada é por acaso,
todo efeito tem uma causa de origem atual ou remota. Essa é a síntese da pedagogia divina.

Profissão de fé espírita raciocinada


21:48 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

§ I. DEUS
1. Há um Deus, inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.

A prova da existência de Deus está no axioma: Não há efeito sem causa. Vemos incessantemente uma
multidão inumerável de efeitos, cuja causa não está na Humanidade, uma vez que a Humanidade está
impossibilitada de reproduzi-los, e mesmo de explicá-los: a causa está, pois, acima da Humanidade. É a
essa causa que se chama Deus, Jeová, Alá, Brama, Fo-hi, Grande Espírito, etc., segundo as línguas, os
tempos e os lugares.

Esses efeitos, de nenhum modo, não se produzem ao acaso, fortuitamente e sem ordem; desde a
organização do menor inseto, e do maior grão, até à lei que rege os mundos circulando no espaço, tudo
atesta um pensamento, uma combinação, uma previdência, uma solicitude que ultrapassam todas as
concepções humanas. Essa causa é, pois, soberanamente inteligente.

2. Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.

Deus é eterno, se tivesse tido um começo, alguma coisa teria existido antes dele; teria saído do nada, ou
bem teria sido criado, ele mesmo, por um ser anterior. Assim é que, de passo a passo, remontamos ao
infinito na eternidade.

Deus é imutável; se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma
estabilidade.
É imaterial, quer dizer que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, de outro modo estaria
sujeito às flutuações e às transformações da matéria, e não seria imutável.

É único, se houvesse vários deuses, teria várias vontades; e desde então não teria uma unidade de
vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.

É onipotente, porque é único. Se não tivesse o soberano poder, haveria alguma coisa mais poderosa do
que ele; não teria feito todas as coisas, e as que não tivesse feito, seriam a obra de um outro Deus.

É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores coisas,
como nas maiores, e essa sabedoria não permite duvidar nem da sua justiça, nem da sua bondade.

3. Deus é infinito em todas as suas perfeições.

Supondo-se imperfeito um só dos atributos de Deus, se se diminui a menor parcela da eternidade,


daimutabilidade, da imaterialidade, da unidade, da onipotência da justiça e da bondade de Deus, pode-se
supor um outro ser possuindo o que lhe faltaria, e esse ser, mais perfeito do que ele, seria Deus.

§ II. A ALMA
4. Há no homem um princípio inteligente que se chama ALMA ou ESPÍRITO, independente da
matéria e que lhe dá o senso moral da faculdade de pensar.

Se o pensamento fosse uma propriedade da matéria, ver-se-ia a matéria bruta pensar; ora, como jamais
se viu a matéria inerte dotada de faculdades intelectuais; que quando o corpo está morto ele não pensa
mais, é necessário disso concluir que a alma é independente da matéria, e que os órgãos não são senão
instrumentos com a ajuda dos quais o homem manifesta o seu pensamento.

5. As doutrinas materialistas são incompatíveis com a moral e subversivas da ordem social.

Se, segundo os materialistas, o pensamento fosse segregado pelo cérebro, como a bile é segregada pelo
fígado, disso resultaria que, na morte do corpo, a inteligência do homem e todas as suas qualidades
morais reentrariam no nada; que os parentes, os amigos e todos aqueles aos quais se tivesse afeiçoado,
estariam perdidos sem retorno; que o homem de gênio seria sem mérito, uma vez que não deveria as
suas faculdades transcendentais senão ao acaso de sua organização; que não haveria, entre o imbecil e
o sábio, senão a diferença de mais ou de menos cérebro.

As conseqüências dessa doutrina seriam que, não esperando o homem nada além desta vida, nenhum
interesse teria em fazer o bem; que seria muito natural que procurasse se proporcionar o mais de gozos
possíveis, fosse memo às expensas de outrem; que haveria estupidez em disso se privar pelos outros;
que o egoísmo seria o sentimento mais racional; que aquele que fosse teimosamente infeliz sobre a
Terra, nada melhor teria a fazer do que se matar, uma vez que, devendo cair no nada, isso não seria nem
mais e nem menos para ele, e que abreviaria os seus sofrimentos.

A doutrina materialista é, pois, a sanção do egoísmo, fonte de todos os vícios, a negação da caridade,
fonte de todas as virtudes e base da ordem social, e a justificação do suicídio.

6. A independência da alma está provada pelo Espiritismo.

A existência da alma está provada pelos atos inteligentes do homem, que devem ter uma causa
inteligente e não uma causa inerte. A sua independência da matéria está demonstrada de maneira
patente pelos fenômenos espíritas que a mostram agindo por si mesma, e sobretudo pela experiência de
seu isolamento durante a vida, o que lhe permite se manifestar, pensar e agir na ausência do corpo.

Pode-se dizer que, se a química separou os elementos da água, se ela colocou por aí as suas
propriedades em descoberto, e se pode à vontade fazer e desfazer um corpo composto, o Espiritismo
pode igualmente isolar os dois elementos constitutivos do homem: o espírito e a matéria, a alma e o
corpo, separá-los e reuni-los à vontade, o que não pode deixar dúvida sobre a sua independência.

7. A alma do homem sobrevive ao corpo e conserva a sua individualidade depois da morte.

Se a alma não sobrevivesse ao corpo, o homem não teria por perspectiva senão o nada, do mesmo modo
se a faculdade de pensar fosse o produto da matéria; se ela não conservasse a sua individualidade, quer
dizer, se ela fosse se perder no reservatório comum chamado grande todo, como as gotas de água no
Oceano, isso não seria menos para o homem o nada do pensamento, e as conseqüências seriam
absolutamente as mesmas de que se não tivesse alma.

A sobrevivência da alma depois da morte está provada, de maneira irrecusável e de alguma sorte
palpável, pelas comunicações espíritas. Sua individualidade está demonstrada pelo caráter e pelas
qualidades próprias de cada uma; essas qualidades, distinguindo as almas umas das outras, constituem a
sua personalidade; se elas estivessem confundidas num todo comum, não teriam senão qualidades
uniformes.

Além dessas provas inteligentes, há ainda a prova material das manifestações visuais, ou aparições, que
são tão freqüentes e tão autênticas, que não é permitido contradizer.

8. A alma do homem é feliz ou infeliz depois da morte, segundo o bem ou o mal que fez durante a
vida.

Desde que se admite um Deus soberanamente bom e justo, não se pode admitir que as almas tenham
uma sorte comum. Se a posição futura do criminoso e do homem virtuoso devesse ser a mesma, isso
excluiria toda a utilidade de se fazer o bem; ora, supor que Deus não faz diferença entre aquele que faz o
bem e aquele que faz o mal, seria negar a sua justiça. Não recebendo o mal sempre a sua punição, nem
o bem a sua recompensa durante a vida terrestre, disso é necessário concluir que a justiça será feita
depois, sem isso Deus não seria justo.

As penas e os gozos futuros estão, por outro lado, materialmente provados pelas comunicações que os
homens podem estabelecer com as almas daqueles que viveram e que vêm descrever o seu estado, feliz
ou infeliz, a natureza de suas alegrias ou de seus sofrimentos, e dizer-lhes a causa.

9. Deus, a alma, sobrevivência e individualidade da alma depois da morte do corpo, penas e


recompensas futuras, são os princípios fundamentais de todas as religiões.

O Espiritismo vem acrescentar, às provas morais desses princípios, as provas materiais dos fatos e da
experimentação, e interromper os sofismas do materialismo. Em presença dos fatos, a incredulidade não
tem mais razão de ser; assim é que o Espiritismo vem dar de novo a fé àqueles que a perderam, e
levantar as dúvidas entre os incrédulos.

§ III. CRIAÇÃO
10. Deus é o criador de todas as coisas.

Esta proposição é a conseqüência da prova da existência de Deus.

11. O princípio das coisas está nos segredos de Deus.

Tudo diz que Deus é o autor de todas as coisas, mas quando e como as criou? É a matéria de toda a
eternidade como ele? É o que ignoramos. Sobre tudo o que não julgou oportuno nos revelar, não se pode
estabelecer senão sistemas mais ou menos prováveis. Dos efeitos que vemos, podemos remontar a
certas causas; mas há um limite que nos é impossível transpor, e seria, ao mesmo tempo, perder seu
tempo e se expor e desviar-se querendo ir além.

12. O homem tem por guia, na pesquisa do desconhecido, os atributos de Deus.

Na procura dos mistérios, que nos são permitidos sondar, pelo raciocínio, há um critério certo, um guia
infalível: são os atributos de Deus.

Desde que se admite que Deus deve ser eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente
justo e bom, que é infinito em suas perfeições, toda doutrina ou teoria, científica ou religiosa, que
tendesse a lhe tirar uma parcela, de um único de seus atributos, seria necessariamente falsa, uma vez
que tenderia à negação da própria divindade.
13. Os mundos materiais tiveram um começo e terão um fim.

Que a matéria seja de toda a eternidade como Deus, ou que ela haja sido criada numa época qualquer, é
evidente, segundo o que se passa diariamente sob os nossos olhos, que as transformações da matéria
são temporárias, e que dessas transformações resultam os diferentes corpos, que nascem e se destroem
sem cessar.

Sendo os diferentes mundos os produtos da aglomeração e da transformação da matéria, devem, como


todos os corpos, ter tido um começo e ter um fim, segundo as leis que nos são desconhecidas. A ciência
pode, até um certo ponto, estabelecer as leis de sua formação e remontar ao seu estado primitivo. Toda
teoria filosófica em contradição com os fatos mostrados pela ciência, é necessariamente falsa, a menos
que se prove que a ciência está em erro.

14. Criando os mundos materiais, Deus também criou seres inteligentes, a que chamamos Espíritos.

15. A origem e o modo de criação dos Espíritos nos são desconhecidos; sabemos somente que são
criados simples e ignorantes, quer dizer, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas
perfectíveis e com uma igualdade de aptidão para tudo adquirir e tudo conhecer com o tempo. No
princípio, estão numa espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua
existência.

16. À medida que o espírito se afasta do ponto de partida, as idéias se desenvolvem nele, como na
criança, e com as idéias, o livre arbítrio, quer dizer, a liberdade de fazer, ou não fazer, de seguir tal ou tal
caminho, para o seu adiantamento, o que é um dos atributos essenciais do Espírito.

17. O objetivo final de todos os Espíritos é alcançar a perfeição, da qual a criatura é suscetível; o
resultado dessa perfeição é o gozo da felicidade suprema, que lhe é a conseqüência, e à qual chegam,
mais ou menos prontamente segundo o uso que fazem de seu livre arbítrio.

18. Os Espíritos são os agentes do Poder Divino; constituem a força inteligente da Natureza e concorrem
ao cumprimento dos objetivos do Criador para a constituição da harmonia geral do Universo e das leis
imutáveis da criação.

19. Para concorrerem, como agentes do poder divino, na obra dos mundos materiais, os Espíritos
revestem, temporariamente, um corpo material.

Os Espíritos encarnados constituem a Humanidade. A alma do homem é um Espírito encarnado.

20. A vida espiritual é a vida normal do Espírito; ela é eterna; a vida corpórea é transitória e passageira;
isso não é senão um instante na eternidade.
21. A encarnação dos Espíritos está nas leis da Natureza; é necessária ao seu adiantamento e ao
cumprimento das obras de Deus. Pelo trabalho que a sua existência corpórea necessita, aperfeiçoam a
sua inteligência e adquirem, em observando a lei de Deus, os méritos que devem conduzi-los à felicidade
eterna.

Disso resulta que, todos concorrendo para a obra geral da criação, os Espíritos trabalham pelo seu
próprio adiantamento.

22. O aperfeiçoamento do Espírito é o fruto de seu próprio trabalho; ele avança em razão de sua maior ou
menor atividade, ou de boa vontade, para adquirir as qualidades que lhe faltam.

23. Não podendo o Espírito adquirir, numa só existência corporal, todas as qualidades morais e
intelectuais que devem conduzi-lo ao objetivo, ele o alcança por uma sucessão de existências, em cada
uma das quais dá alguns passos à frente na senda do progresso, e se purifica de algumas de suas
imperfeições.

24. A cada nova existência, o Espírito traz o que adquiriu em inteligência e em moralidade em suas
existências precedentes, assim como os germes das imperfeições das quais ainda não se despojou.

25. Quando uma existência foi mal empregada pelo Espírito, quer dizer, se ele não fez nenhum progresso
no caminho do bem, é sem proveito para ele, e deve recomeçá-la em condições mais ou menos penosas,
em razão de sua negligência e de sua má vontade.

26. A cada existência corpórea, o Espírito devendo adquirir alguma coisa de bem e se despojar de
alguma coisa de mal, disso resulta que, depois de um certo número de encarnações, ele se encontra
depurado e chega ao estado de Espírito puro.

27. O número das existências corpóreas é indeterminado: depende da vontade do Espírito abreviá-lo
trabalhando ativamente pelo seu aperfeiçoamento moral.

28. No intervalo das existências corpóreas, o Espírito está errante e vive a vida espiritual. A erraticidade
não é de duração determinada.

29. Quando os Espíritos adquiriram, sobre um mundo, a soma do progresso que o estado desse mundo
comporta, eles o deixam para se encarnarem num outro mais avançado, onde adquirem novos
conhecimentos, e assim por diante até que a encarnação em um corpo material, não lhes sendo mais útil,
eles vivem exclusivamente a vida espiritual, onde progridem ainda num outro sentido e por outros meios.
Chegados ao ponto culminante do progresso,gozam da suprema felicidade; admitidos nos conselhos do
Onipotente têm o seu pensamento e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos para o governo
dos mundos, tendo sob as suas ordens os Espíritos de diferentes graus de adiantamento.

Fonte: Obras Póstumas

A Indignação dos Espíritas


09:23 O BLOG DOS ESPÍRITAS 3 COMMENTS

Por Maria das Graças Cabral

Em face do artigo intitulado “Considerações acerca da Veracidade e da Historicidade da assim


denominada Carta de Públio Lêntulo”,tendo como autor o pesquisador Sr. José Carlos Ferreira
Fernandes,publicado no Blog intitulado “Obras Psicografadas”, desenvolvo o presente trabalho intitulado
“A Indignação dos Espíritas“.

Importante esclarecer aos leitores que o autor do artigo em comento, desenvolve um trabalho de pesquisa
de cunho histórico, tendo como objeto de estudo os dados apresentados no livro “Há Dois Mil Anos”, de
autoria do Espírito Emmanuel, e psicografado pelo médium Chico Xavier.

Segundo as palavras apostas na apresentação do referido trabalho, é dito tratar-se de pesquisa que
“procura demonstrar de forma fortemente convincente que o livro “Há Dois Mil Anos”, “psicografado” por
Chico Xavier, não passa de uma completa ficção. Em suma, é uma fraude histórica“. Em seguida, é
afirmado que “há problemas desde a completa ignorância da construção dos nomes romanos, passando
pela aceitação de documentos comprovadamente falsos e culminando na completa inexistência da
entidade que teria ditado o livro, no caso, Emmanuel/Públio Lêntulo“ - acrescentando o texto que “as
conseqüências disso para o kardecismo brasileiro, desnecessário dizer, são gravíssimas“. (Blog Obras
Psicografadas) (grifei)

No que concerne à pesquisa histórica do artigo em comento, nada tenho a discutir, nem como questionar
as fontes apresentadas pelo autor, a correlação de documentos ou entendimentos com o fato histórico
aventado, pois não é minha área de conhecimento e pesquisa. Portanto, respeito minhas limitações e
procuro não ser inconseqüente com avaliações despropositadas diante do trabalho alheio.
Entretanto, no que concerne ao comentário do autor quando assevera “das conseqüências disso para o
kardecismo brasileiro“, não vejo onde, como ou porque, tal constatação iria atingir a Doutrina Espírita,
caso o mesmo entenda que “kardecismo brasileiro” seja sinônimo de Espiritismo.

Primeiramente é fato que o Espiritismo tem suas bases estruturadas em cinco livros que compõem as
Obras Básicas da Doutrina Espírita, e que nada têm a ver com o romance “Há Dois Mil Anos“ de
Emmanuel/Chico, objeto de estudo do autor.

Em segundo lugar, o Espiritismo nada tem a ver com as opiniões pessoais do Espírito de Emmanuel, ou
de seu médium Chico Xavier, como individualidades que são, e portanto livres para expressarem seus
pensamentos, entendimentos e opiniões.

À esse respeito faz-se por oportuno pontuar que grande parte de tais pensamentos e opiniões não
comungam em absoluto com os ensinamentos presentes nas Obras Básicas da Doutrina Espírita.

Nunca é demais ressaltar que todas as mensagens publicadas na Codificação, passaram pelo crivo do
gênio racional e científico de Allan Kardec, que aplicou o sistema do Controle Universal dos Ensinos
Espíritas, sob a supervisão efetiva de O Espírito da Verdade!

Portanto, se o autor do artigo em comento conhecesse da personalidade séria e investigativa de Kardec,


saberia que este, prontamente ao se deparar com as mensagens psicográficas de Emmanuel e/ou André
Luiz, teria feito um sério trabalho de pesquisa histórica, e iria com toda a seriedade e imparcialidade, na
busca da veracidade ou não, das informações passadas pelo(s) Espírito(s). Quanto aos resultados,
fossem eles quais fossem, seriam publicados sem a menor sombra de dúvida na REVISTA ESPÍRITA,
com os devidos esclarecimentos e ensinamentos do insigne Codificador.Vale lembrar que Kardec, nunca
deixou de publicar na referida revista, tudo o que pudesse ser objeto de análise, estudo e aprendizado
para os novos Espíritas.

Confirmando esse entendimento, me reporto ao O Livro do Médiuns, quando o grande Mestre apresenta
cinco “Comunicações Apócrifas”, esclarecendo que: “Há muitas vezes comunicações de tal maneira
absurdas, embora assinadas por nomes respeitáveis, que o mais vulgar bom senso demonstra sua
falsidade. Mas há aquelas em que o erro é disfarçado pela mistura com princípios certos, iludindo e
impedindo às vezes que se faça a distinção á primeira vista. Mas elas não resistem a um exame
sério.” (L.M, Cap. XXXI, COMUNICAÇÕES APÓCRIFAS, p. 343) (grifei)

Portanto, podemos assegurar que o artigo em comento em nada poderia abalar, ou muito menos por em
risco a Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec.

Entretanto, o que realmente choca, entristece, e preocupa aos Espíritas estudiosos da Codificação, foram
as DUZENTAS E CINQUENTA E NOVE, contestações indignadas, ensandecidas, desrespeitosas, irreais,
infundadas, e superficiais (com raras exceções), postadas por pessoas que se auto intitulavam
ESPÍRITAS!

À título de exemplo, transcrevo algumas “pérolas”, para que os leitores analisem e avaliem a quantas
anda o Movimento Espírita Brasileiro, ou melhor dizendo, no que se tornou o Movimento Espírita
Brasileiro, senão vejamos:
1 - “Benditas sejam as fraudes do Chico e as falsas personalidades de seus guias, – seus alteregos – que
conseguiram colocar milhões de desesperançados no caminho da luz, da esperança e da renovação!” (...)
“Benditos sejam os mentirosos do Chico, que com seus teores de altíssima energia e vibrações,
permearam maravilhosamente a todos que dele se acercavam , – eu inclusive, – e que deram graças a
Deus dele ter nascido junto a nós, no Brasil! Volte, Chico, por favor, volte com suas trapaças, milhões o
aguardam ansiosamente, irão comemorar o seu retorno à Terra e de seus falsos guias! Quantos outros
irmãos serão curados espiritualmente e renovados na fé pela luz-fantasia de Emmanuel, André Luiz e
tantos outros!” (Carlos Magno) (Blog Obras Psicografadas)

Observe-se que o artigo em comento, trata-se de uma pesquisa de cunho histórico, e não religioso!

2 - “Olhe, conheci o Chico e convivi com pessoas que o conheceram melhor do que eu, e ninguém jamais
falou dele com esse veneno que você destila. Você o conheceu mesmo, se aproximou dele algum dia?
Cresceu no espiritismo? Desculpe, não acredito, senão você teria aprendido um mínimo! Ou então dormia
nas cadeiras!” (Carlos Magno) (Blog Obras Psicografadas)

Observe-se que o artigo em comento, trata-se de uma pesquisa de cunho histórico, e não religioso!

3 - “Ah, meu. Isso que é perder tempo, mesmo! Eu até admiro o trabalho todo para provar a inexistência
de Emmanuel. Já que estamos falando de personagens inexistentes, que tal você postar o livro eletrônico
da ateus.net que prova fatalmente a inexistência de Jesus? Daí matamos a pau tudo de uma vez! É o fim.
Do Cristianismo e do Espiritismo. Um forte abraço! E coragem: porque nesse país quem fala o que quer,
ouve o que não quer. Bem, você já deve ter notado isso. Mas tudo bem! A vida segue. E mais
“Emmanuéis” aparecem. Boa diversão!”(Codename V.) (Blog Obras Psicografadas)

Em dado momento os ditos “Espíritas” resolvem “atacar” a moral do autor do artigo, senão vejamos:

4 - “O Sr. José Carlos Ferreira Fernandes por um acaso é aquele da SECRETARIA DE


ADMINISTRAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, que foi acusado de gastar R$ 315.902,75 do
dinheiro público sem justificatívas plausíveis, e também recentemente intimado a comparecer a depor na
CPI a respeito do vazamento do dito Dossiê…..Em caso positivo, vemos que trata-se de um trabalho com
lastro não é…. Abraços fraternos……” (André) (grifei) (Blog Obras Psicografadas)

No que concerne à supra citada postagem o intermediador responde:

5 - “Não, não é. E mesmo que fosse, isso em nada macularia seu estudo. O raciocínio que você faz é
falacioso, conhecido como ad-hominem, em que ao invés de criticar a obra, critica o autor.” (Vítor)(Blog
Obras Psicografadas)

Vejamos agora o posicionamento desta opositora:

6 - (...) “Os “filhotinhos” aos quais me referi são todos brasileiros e, logicamente, mais novos do queChico
Xavier, que foi para os médiuns, o que o Papa é para os católicos. Nenhum médium que se prezasse,
debutaria sem pedir a sua bênção“. (...) (Sônia) (grifei) (Blog Obras Psicografadas)
Agora a “Espírita” “ataca” o Sr. José Carlos, através do catolicismo, que parece ser a religião professada
pelo dito pesquisador:

7 - (...) “Ah! meu caro José Carlos, o Catolicismo Romano e o Vaticano não merecem isso de mim e de
ninguém. Bastam-lhes o horror que semeiam e a peçonha que espalham ao longo de 1.600 anos de
dominação e manipulação, tanto de “nobres”, quanto “burgueses”. Com a mesma determinação,
desprezam e mantêm propositalmente, na ignorância e na miséria, as massas incontáveis de injustiçados,
através de “tratados”, “concordatas” “bulas”, “encíclicas” e outras invenções, com a finalidade principal do
enriquecimento ilícito e do poder que vem com o dinheiro. Sem contar, os “milagres” inventados com a
mesma vil finalidade.” (...) (Sônia) (Blog Obras Psicografadas)

E assim foram se posicionando os quase DUZENTOS E CINQUENTA E NOVE opositores ESPÍRITAS,


diante de um artigo de cunho histórico que procura provar através de uma pesquisa bibliográfica a não
existência de um documento e/ou de um personagem dito histórico!

Observem que não compareceu dentre os DUZENTOS E CINQUENTA E NOVE opositores, um único
pesquisador, ou intelectual Espírita, que se posicionasse de forma coerente, elegante, equilibrada,
acatando ou pondo em xeque, não a Doutrina Espírita, que nada tem a ver com o objeto de estudo do Sr.
José Carlos, mas o método de investigação em si mesmo, já que o referido autor só se ateve a pesquisa
bibliográfica - ou seja - a única discussão cabível ao caso seria no âmbito científico da pesquisa e só!!!!

Em contrapartida, o leitor depara-se com uma enxurrada de opositores fanáticos, dogmáticos,


despreparados que podem ser tudo no mundo menos Espíritas! Pois como se auto intitular Espírita se
não estudamos a Doutrina que dizemos abraçar?

De que adianta se apegar ao discurso “piegas” de “meus irmãos vamos nos amar, fazer caridade, ser
humildes, perdoar os inimigos, etc.,”, bem próprio do Espírita preguiçoso, da turma do “deixa disso”, (bem
diferente de JESUS ou de KARDEC, que nunca tiveram medo de demonstrar sua indignação) e que não
têm coragem nem disposição para se debruçar sobre o manancial de ensinamentos trazidos nas Obras
da Codificação Espírita?

Se todos os que se auto intitulam Espíritas, se dessem ao trabalho de estudar no mínimo, O Livro dos
Espíritos e O Livro dos Médiuns, a Doutrina Espírita não teria tomado os rumos mistificados que tomou,
tornando-se uma seita dogmática, que tem segundo a “Espírita Sônia“, um PAPA que seria o médium
Chico Xavier; já que todo o Espírita que se preze deve saber no mínimo que o Espiritismo não é uma
religião institucionalizada com hierarquia!

Diante do exposto, entendo que precisamos URGENTEMENTE de um movimento em prol do estudo das
Obras Básicas da Codificação, para que a Doutrina Espírita não se perca em seus princípios, como
aconteceu com os ensinamentos de Jesus.

Diante dos rumos que estão sendo tomados, é fácil imaginar que daqui a um século (ou menos que isso)
a humanidade não terá mais que uma remota idéia dos princípios espíritas, posto que as Obras Básicas
já estarão totalmente alteradas (como já se tentou fazer com o Evangelho Segundo o Espiritismo), seus
princípios desvirtuados, a figura de Allan Kardec obviamente esquecida, e quem assumirá a total
representatividade da Doutrina Espírita, será o médium Chico Xavier, e as OBRAS COMPLEMENTARES
ditadas pelo Espírito de Emmanuel e/ou André Luiz, serão as obras de referência para o estudo do
Espiritismo.

Portanto Espíritas, “despertemos” para realidade que se afigura aos nossos olhos! Ainda é tempo de nos
debruçarmos e estudarmos a Codificação Espírita trazida a tão pouco tempo pelos Espíritos Superiores,
sob a égide do Espírito da Verdade, para que possamos ter a segurança e a coragem de rechaçar as
fraudes.

Precisamos resgatar a Doutrina Espírita, salvando-a da crueldade que se faz quando a deturpam e
distorcem seus princípios, objetivando a Morte de sua própria essência! Sim, isso é uma espécie de
morte! O extermínio da Doutrina dar-se-á pelo desvirtuamento de seus princípios, privando-se assim as
próximas gerações do acesso às verdades consoladoras e libertadoras da Doutrina que veio em meados
do século XIX, para alavancar a humanidade de seu estado de ignorância e sofrimento.

Outro aspecto importantíssimo que não se pode relegar a segundo plano, é o momento do retorno ao
plano espiritual, quando nos defrontaremos com o Tribunal de Nossa Consciência. Como será
desesperador assumirmos que participamos de forma ativa ou omissiva de uma “teia” ardilosamente
arquitetada para destruir os Preceitos Espíritas!

Nesse sentido, não poderemos nem sequer argüir em nossa defesa a “ignorância“, pois tivemos em
nossas mãos as armas para nos defendermos dela, que eram as Obras Básicas.

Daí, enfrentaremos a vergonha e o remorso no âmago de nosso Espírito imortal! Primeiramente diante de
Deus e de nós mesmos. Em seguida, perante Jesus, perante nosso Guia Espiritual, perante Allan Kardec,
e toda a plêiade de Espíritos Superiores, como tantos outros que trabalharam na condição de encarnados
como médiuns da Codificação, dando tudo de si em benefício do progresso da humanidade!

E nesse momento de dores acerbas, certamente Chico, Emmanuel e André Luiz não estarão presentes
para interceder por ninguém, pois estarão provavelmente como todo Espírito errante, prestando suas
próprias contas e avaliando seus atos. Se estiverem encarnados, estarão provavelmente, trabalhando
pela reconstrução da Doutrina dos Espíritos. Essa é a Lei.

Fonte: Blog Um Olhar Espírita - http://umolharespirita1.blogspot.com/2011/11/indignacao-dos-


espiritas.html

Considerações acerca da Veracidade e da


Historicidade da Assim Denominada “Carta de
Públio Lêntulo”
11:16 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Artigo escrito pelo pesquisador Sr. José Carlos Ferreira Fernandes, demonstra que o livro “Há Dois Mil
Anos”, psicografado por Chico Xavier, não passa de uma completa ficção, apresentando problemas desde
a completa ignorância da construção dos nomes romanos, passando pela aceitação de documentos
comprovadamente falsos e culminando na completa inexistência da entidade que teria ditado o livro, no
caso, Emmanuel/ Públio Lêntulo.

Eis algumas palavras do Sr. José Carlos sobre seu trabalho:

Meu trabalho nada tem a ver com a existência, ou a não existência, da mediunidade. Também não tem
nada a ver com a existência, ou a não existência, duma entidade que se autodenomina “Emanuel”. Meu
trabalho procura simplesmente responder à seguinte indagação: esse tal “Emanuel” (seja uma
“entidade”, seja um ET, seja o inconsciente do sr. Francisco Cândido Xavier, seja o que for), pelas
coisas que narra em “Há Dois Mil Anos”, se encaixa no perfil que ele próprio apresenta de si – o do
senador romano Públio Lêntulo, contemporâneo de Cristo, testemunha ocular de fatos importantes
ligados à vida de Jesus, fatos esses que registrou a partir do médium Francisco Cândido Xavier? Sim ou
não? Eu, por mim, estou firmemente convencido de que NÃO. Esse “Emanuel” pode ter sido tudo, mas
não foi um senador romano Públio Lêntulo, contemporâneo de Cristo, testemunha ocular de fatos
importantes de sua vida, etc. Se se trata de uma “entidade”, é uma entidade mentirosa, ou galhofeira,
ou absurdamente esquecida – ou seja, em qualquer hipótese, não confiável. Que pôde se impor ao
“maior médium do mundo”, e passar as suas “mensagens” a toda uma comunidade sem que nenhum
intelectual espírita exercitasse o lado “científico” do Espiritismo e as analisasse “cientificamente”; e
sem que nenhum espírito “superior” sequer se desse ao trabalho de avisar Xavier, ou o próprio meio
espírita, que “Emanuel” era uma fonte, no mínimo, duvidosa.

Porque (infelizmente) não é só a mensagem que importa. Joio se mistura facilmente com trigo,
madeiras de terceira com madeiras de lei, e o conjunto nem sempre é facilmente separável. Se a
“entidade” (se é que se trata de uma entidade) pôde se enganar, ou mentir, acerca de sua identidade –
onde mais se enganou, onde mais mentiu? Não poderia passar mensagens falsas, agasalhando-as no meio
de mensagens verdadeiras? Quem é capaz de se enganar, ou mentir, acerca de sua própria identidade,
do que mais é capaz?

Adaptado do blog "Obras Psicografadas".

O artigo está disponível para download no formato PDF e possui 52 páginas. Clique aqui para
baixá-lo.
Ainda o Andreluizismo
10:56 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo


No texto Sobre André Luiz, demonstrei não ser novidade luizina a
menção a “regiões similares à Terra” no post-mortem. Erasto,
na Revista Espírita (maio/1863), reporta-se a isso, e São Luís (junho/1862),
consoante, já revelara os “mundos intermediários”, “viveiros da vida eterna”,
uns mais adiantados, outros menos, de onde os espíritos vêm para se
reencarnarem.[1] Pensam alguns, no entanto, haver aí total confirmação a
André Luiz, bem como nisto que disse o sábio espírito Mesmer:

O mundo dos invisíveis é como o vosso. Em vez de ser material e grosseiro, é


fluídico, etéreo, da natureza do perispírito, que é o verdadeiro corpo do
Espírito, haurido nesses meios moleculares, como o vosso se forma de coisas
mais palpáveis, tangíveis, materiais. O mundo dos Espíritos não é o reflexo do
vosso; o vosso é que é uma imagem grosseira e muito imperfeita do reino de
além-túmulo.[2]

O problema está na conclusão apressada dos andreluizistas de


que só haveria mudança pura e simples de densidade, sendo tudo o mais
igualzinho depois da morte. Eis aí o engano letal. Não lhes permite sequer bem
ler Mesmer. Nosso mundo é uma imagem grosseira emuito imperfeita do além,
não o contrário! Na Terra é que se precisa, portanto, de comida, de bebida, de
reprodução, etc.
Com efeito, não há espíritos urinando, defecando, comendo,
tomando banho, casando, senão na ilusão a que “legiões” deles se apegam
após a morte, como ensina Kardec. Não nega, desse modo, a existência de
regiões com feição terrenal no além; todavia, o enquadramento a que o mestre
submete essa vida que lá se fruiria diverge de André Luiz. Kardec esclarece
que, sim, “a ilusão das necessidades da carne se faz sentir” e, por isso, “se tem
todas as angústias de uma necessidade impossível de satisfazer”.[3]
Na obra luizina, entretanto, não existe tal angústia senão fora dos
“muros” deNosso Lar. Na “colônia”, ao contrário, todos se empanturram de
sopa, sucos, frutas e, os menos elevados, “ligados às ciências matemáticas”,
chegaram até a conseguir, a certa altura, “carboidrato” e “proteína”, à custa de
“intercâmbio clandestino”.[4]
[...] não quer dizer que somente nós, os funcionários do Auxílio e da
Regeneração, vivamos a depender de alimentos. Todos os Ministérios,
inclusive o da União Divina, não os dispensam, diferindo apenas a feição
substancial. Na Comunicação e no Esclarecimento há enorme dispêndio de
frutos. Na Elevação o consumo de sucos e concentrados não é reduzido, e, na
União Divina, os fenômenos de alimentação atingem o inimaginável [...] o
alimento FÍSICO, mesmo AQUI, propriamente considerado, é simples problema
de materialidade transitória, como no caso dos veículos terrestres,
necessitados de colaboração da graxa e do óleo.[5]

Segundo Kardec, o espírito “cujo perispírito é mais denso”


percebe os sons e sente os odores, “mas não por uma parte determinada do
seu organismo, como quando vivo”, porquanto "não possui órgãos sensoriais".
O perispírito, pois, não tem órgãos, até porque já constitui o órgão sensitivo do
espírito; donde Kardec afirmar que, “destruído o corpo, as sensações se
tornam generalizadas”, isto é, não mais “se localizam nos órgãos que lhes
servem de canais”. A desculpa de que haveria órgãos no perispírito de alta
densidade não se sustenta perante as lições kardecianas.[6]
Portanto, a revelação luizina é mero equívoco, não propriamente
quanto à eventual aparência das coisas no além, e sim no que respeita às
temerárias conclusões das narrativas em prol da fruição de uma vida assim dita
tão normal para toda uma turma de espíritos, no mínimo, em estado de
completa ilusão, mesmo de alucinação. E os bichos? Deus meu! A codificação
kardeciana assegura peremptoriamente que não os há no mundo espírita. De
onde vêm, pois, todo aquele zoológico luizino?

O Espírito do animal é classificado após a morte, pelos Espíritos incumbidos


disso, e utilizado quase imediatamente: não dispõe de tempo para se pôr em
relação com outras criaturas.[7]

O princípio inteligente que animava o animal fica em estado latente após a


morte. Os Espíritos encarregados desse trabalho imediatamente o utilizam para
animar outros seres, através dos quais continuará o processo da sua
elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos não há Espíritos errantes de
animais, mas somente Espíritos humanos.[8]

No que toca à transcomunicação instrumental, tida e havida como


prova das verdades luizinas, apenas constitui mais um meio de contato com o
mundo espírita. Não basta que algo oriundo do além seja registrado em meio
digital ou eletrônico para saltar à condição de princípio doutrinário. Também aí
importa se efetuem confrontos e consequentes enquadramentos em justos
limites, nos clássicos moldes kardecianos.
O sectarismo mediunista só evidencia total desprezo por mais
este conselho do mestre lionês: “O espírita esclarecido repele esse entusiasmo
cego, observa com frieza e calma, e, assim, evita ser vítima de ilusões e
mistificações”.[9]
A Erraticidade
10:42 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Léon Denis

Enquanto as almas desprendidas das influências terrenas se constituem em grupos simpáticos, cujos
membros se amam, se compreendem, vivem em perfeita igualdade, em completa felicidade, os Espíritos
que ainda não puderam domar as suas paixões levam uma vida errante, desordenada, e que, sem lhes
trazer sofrimentos, deixa-os, contudo, mergulhados na incerteza e na inquietação. É a isso que se chama
erraticidade; é a condição da maioria dos Espíritos que viveram na Terra, nem bons nem maus, porém
ainda fracos e muito inclinados às coisas materiais.

Encontram-se na erraticidade multidões imensas, sempre agitadas, sempre em busca de um estado


melhor, que lhes foge. Numerosos Espíritos aí flutuam indecisos entre o justo e o injusto, entre a verdade
e o erro, entre a sombra e a luz. Outros estão sepultados no insulamento, na obscuridade, na tristeza,
sempre à procura de uma benevolência, de uma simpatia que podem encontrar.

A ignorância, o egoísmo, os vícios de toda espécie reinam ainda na erraticidade, onde a matéria exerce
sempre sua influência. O bem e o mal aí se chocam. É de alguma sorte o vestíbulo dos espaços
luminosos, dos mundos melhores. Todos aí passam e se demoram, mas para depois se elevarem.

O ensino dos Espíritos sobre a vida de além-túmulo faz-nos saber que no espaço não há lugar algum
destinado à contemplação estéril, à beatitude ociosa. Todas as regiões do espaço estão povoadas por
Espíritos laboriosos. Por toda parte, bandos, enxames de almas sobem, descem, agitam-se no meio da
luz ou na região das trevas. Em certos pontos, vê-se grande número de ouvintes recebendo instruções de
Espíritos adiantados; em outros, formam-se grupos para festejarem os recém-vindos. Aqui, Espíritos
combinam os fluidos, infundem-lhes mil formas, mil coloridos maravilhosos, preparam-nos para os
delicados fins a que foram destinados pelos Espíritos superiores; ali, ajuntamentos sombrios, perturbados,
reúnem-se ao redor dos globos e os acompanham em suas revoluções, influindo, assim,
inconscientemente, sobre os elementos atmosféricos. Espíritos luminosos, mais velozes que o relâmpago,
rompem essas massas para levarem socorro e consolação aos desgraçados que os imploram. Cada um
tem o seu papel e concorre para a grande obra, na medida de seu mérito e de seu adiantamento. O
Universo inteiro evolui. Como os mundos, os Espíritos prosseguem seu curso eterno, arrastados para um
estado superior, entregues a ocupações diversas. Progressos a realizar, ciência a adquirir, dor a sufocar,
remorsos a acalmar, amor, expiação, devotamento, sacrifício, todas essas forças, todas essas coisas os
estimulam, os aguilhoam, os precipitam na obra; e, nessa imensidade sem limites, reinam
incessantemente o movimento e a vida. A imobilidade e a inação é o retrocesso, é a morte. Sob o impulso
da grande lei, seres e mundos, almas e sóis, tudo gravita e move-se na órbita gigantesca traçada pela
vontade divina.
Sobre André Luiz
09:56 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

1. O Critério Espírita

Por ser a boa moral, sobretudo a cristã, de inegociável importância ao progresso da alma, nem por isso é
o único aspecto a considerar nos ditados mediúnicos. Esta boa moral constitui, aliás, o que mais
facilmente pode neles ser julgado e, claro, aceito; todos a aclamam, e só espíritos nada sutis a contrariam
abertamente, razão pela qual nos ensinou Kardec: “[...] fora das questões morais, não se deve acolher o
que vem dos espíritos senão com reservas e, em todos os casos, jamais aceitá-las sem
exame”.[1] Temerário, pois, acolher tudo que um espírito diga simplesmente por ser pura a moral que
aconselhe, até porque, segundo ainda o mestre:

Há espíritos obsessores sem maldade, que são até mesmo bons, mas dominados pelo orgulho do falso
saber [...] São os mais perigosos porque não vacilam em sofismar e podem impor as mais ridículas
utopias. [...] Procuram fascinar por uma linguagem empolada, mais pretensiosa do que profunda, cheia
de termos técnicos e enfeitada de palavras grandiosas, como Caridade e Moral. Evitam os maus
conselhos, porque sabem que seriam repelidos, de maneira que os enganados os defendem sempre,
afirmando: bem vês que nada dizem de mau. Mas a moral é para eles apenas um passaporte, é o de que
menos cuidam. O que desejam antes de mais nada é dominar e impor as suas ideias, por mais absurdas
que sejam.[2]

Todo cuidado, então, será pouco no que toca aos ditados dos espíritos; com mais forte motivo, quando
não se limitam a comunicados concisos, vazados em poucas laudas, e sim, produzem obras de fôlego, de
numerosos volumes, recebidos, ao demais, por um único médium, em linguagem pouco acessível e, ao
Espiritismo, muito imprópria. Kardec nos avisou:

No mundo invisível, como na Terra, não faltam escritores, mas os bons são raros. Tal espírito é apto a
ditar uma boa comunicação isolada, a dar excelente conselho particular, mas incapaz de produzir um
trabalho de conjunto completo, passível de suportar um exame [...].[3]

Este é o caso não só de André Luiz, mas de boa parte da “literatura” mediúnica que se acotovela nas
estantes de muitas casas espíritas e livrarias leigas, oriunda de espíritos que podem dar excelentes
conselhos particulares, mas são incapazes de produzir um trabalho de conjunto completo, passível de
suportar um exame.
Clique aqui para continuar a leitura, baixando o artigo na íntegra, em formato PDF. Assim o
disponibilizamos por este possuir 17 páginas.

Como Kardec obteve as comunicações?


17:25 ADMINISTRADOR 1 COMMENT

Por Orson Peter Carrara

Método de seleção seguiu critérios científicos

Eis aí uma pergunta interessante. Como foram obtidas as comunicações, objeto de O LIVRO DOS
ESPÍRITOS? Deixemos que o próprio Kardec responda. Basta uma consulta à REVISTA ESPÍRITA(tomo
I, ano 1858, 2ª edição IDE - 1993, página 36) para meditarmos nas próprias palavras do Codificador:

"Freqüentemente, se nos dirigem perguntas sobre a maneira pela qual obtivemos as comunicações que
são objeto de O Livro dos Espíritos. Resumimos, aqui, tanto mais voluntariamente, as perguntas que
nos fizeram a esse respeito, pois isso nos dará ocasião de cumprir um dever de gratidão para com as
pessoas que quiseram nos prestar seu concurso.

Como explicamos, as comunicações por pancadas, dito de outro modo, pela tiptologia, são muito lentas
e muito incompletas para um trabalho de longo fôlego; também não empregamos, jamais, esse meio;
tudo foi obtido pela escrita e por intermédio de vários médiuns psicógrafos. Nós mesmos preparamos as
perguntas e coordenamos o conjunto da obra; as respostas são, textualmente, as que nos foram dadas
pelos Espíritos; a maioria foi escrita sob nossos olhos, algumas foram tomadas de comunicações que nos
foram dirigidas por correspondentes, ou que recolhemos, por toda parte onde estivemos, para estudá-
las: os Espíritos parecem, para esse efeito, multiplicar, aos nossos olhos, os sujeitos de observação.

Os primeiros médiuns que concorreram para o nosso trabalho foram: a senhorita B***, cuja
complacência nunca nos faltou; o livro foi escrito, quase por inteiro, por seu intermédio e na presença
de um numeroso auditório que assistia às sessões e nelas tomavam o mais vivo interesse. Mais tarde, os
Espíritos prescreveram-lhe a revisão completa em conversas particulares, para fazerem todas as
adições e correções que julgaram necessárias. Essa parte essencial do trabalho foi feita com o concurso
da senhorita Japhet, que se prestou, com a maior complacência e o mais completo desinteresse, a
todas as exigências dos Espíritos, porque eram eles que determinavam os dias e as horas de suas lições.
O desinteresse não seria, aqui, um mérito particular, uma vez que os Espíritos reprovam todo o tráfico
que se possa fazer com sua presença; a senhorita Japhet, que é, igualmente, sonâmbula muito notável,
tinha seu tempo utilmente empregado; mas compreendeu que era, igualmente, dele fazer um emprego
aproveitável, consagrando-o à propagação da Doutrina. Quanto a nós, declaramos, desde o princípio, e
nos apraz confirmar aqui, que jamais entendemos fazer, de O Livro dos Espíritos, objeto de uma
especulação, devendo os produtos serem aplicados em coisas de utilidade geral; é, por isso, que
seremos, sempre, reconhecidos para com aqueles que se associaram, de coração, e por amor ao bem, à
obra à qual nos consagramos." (ALLAN KARDEC).

A página transcrita encontra-se inserida após transcrição de duas cartas selecionadas por Kardec e
recebidas por ele desde a publicação de O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Ambas as cartas destacam e
resumem a impressão que a publicação do livro causou, principalmente no fim essencialmente moral dos
princípios da obra. Remeto o leitor à leitura das duas cartas, às páginas 35 e 36 da citada Revista. A
leitura dessas cartas selecionadas pelo Codificador levará o estudioso das letras espíritas à constatação
do que já percebemos por nós mesmos em nossas vidas: a vibrante e forte mensagem espírita que
orienta a evolução humana, trazendo coragem, consolação e verdadeiro roteiro de vida. Entusiasmando-
nos com a perspectiva de evolução ou com os ideais de fraternidade, sentimo-nos todos fortalecidos e
mais felizes !

Cabe-nos divulgar O LIVRO DOS ESPÍRITOS, estudando-o amplamente e incentivando mais ampla
valorização desse estudo em nossas Casas Espíritas, para que todo o trabalho de Allan Kardec, de seus
colaboradores e dos Espíritos Codificadores, continue a iluminar o caminho humano.

Fonte: Portal do Espírito

Kardec e os conselhos de Erasto


11:44 O BLOG DOS ESPÍRITAS 2 COMMENTS

Por Anderson Santiago

Considerado por Allan Kardec como um Espírito que produziu comunicações que traziam o cunho
incontestável da profundeza e da lógica, Erasto é um daqueles Espíritos a quem podemos chamar de
sábio e profundo conhecedor da fenomenologia mediúnica. Não por acaso são encontradas muitas
comunicações de sua autoria em um capítulo de O Evangelho segundo o Espiritismo e por todo O
Livro dos Médiuns.

O capítulo XX, Influência Moral do Médium, é um destes. Tendo por objetivo aprofundar o conhecimento
sobre a influência moral do médium na produção dos fenômenos espíritas, este capítulo é rico em
informações para os espiritistas. Nele, Kardec desejava precaver os adeptos do Espiritismo contra o
perigo de subestimar ou superestimar a influência dos médiuns na transmissão dos despachos de além
túmulo.

Ele deve ser estudado atendendo ao sábio conselho dado pelo codificador, quando alerta que “o estudo
prévio da teoria é indispensável, se o médium pretende evitar os inconvenientes inseparáveis da falta de
experiência” [1]. Aprendemos neste capítulo que não existem médiuns perfeitos na Terra, mas bons
médiuns, o que segundo os Espíritos já é muito, pois eles são raros! Até porque,

“O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa
de enganar. O melhor é o que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido
enganado menos vezes”.

É importante observar este trecho com atenção. Primeiro, porque não existe médium infalível. O que nos
leva à certeza de que não há comunicação isenta de falhas, muito menos inquestionável. Segundo,
porque se o melhor médium é o que tem sido enganado menos vezes, como supor que exista algum
‘intocado’ pelos Espíritos inferiores? Por exemplo: justamente pelo valor da sua história e da sua
importância para o movimento espírita brasileiro e mundial, supor ser o Chico Xavier perfeito e isento de
falhas seria demonstrar ignorar os mais básicos princípios do Espiritismo. Condenar uma análise crítica
feita sobre alguma das suas obras psicografadas seria ignorar as insistentes recomendações feitas por
Kardec e principalmente por São Luís quando afirma que

“Por mais legítima confiança que vos inspirem os Espíritos [...], há uma recomendação que
nunca seria demais repetir e que deveis ter sempre em mente ao vos entregardes aos
estudos: a de pesar e analisar, submetendo ao mais rigoroso controle da razão TODAS as
comunicações que receberdes; a de não negligenciar, desde que algo vos pareça suspeito,
duvidoso ou obscuro, de pedir as explicações necessárias para formar a vossa opinião”(Grifos
nossos). [2]

A questão 10, do capítulo supracitado é valiosíssima por afirmar que

“Os Espíritos bons permitem que os melhores médiuns sejam às vezesenganados, para que
exercitem o seu julgamento e aprendam a discernir o verdadeiro do falso. Além disso, por
melhor que seja um médium, jamais é tão perfeito que não tenha um lado fraco, pelo qual
possa ser atacado. Isso deve servir-lhe de lição. As comunicações falsas que recebe de
quando em quando são advertências para evitar que se julgue infalível e se torne
orgulhoso. Porque o médium que recebe as mais notáveis comunicações não pode se
vangloriar mais do que o tocador de realejo, que basta virar a manivela de seu instrumento
para obter belas árias”.
É incrível observar que se a maioria dos médiuns se propusesse a estudar esta magnífica obra de forma
séria e metódica, a prudência teria evitado que diversas obras de conteúdo duvidoso tivessem sido
publicadas, o que tornaria o movimento espírita brasileiro muito mais sério, respeitado e livre dos
pseudossábios e mistificadores que entravam a sua obra de emancipação de consciências.

Entretanto, por mais sublimes e indispensáveis sejam estas informações, não são as únicas pérolas
encontradas neste capítulo. Existe ainda uma advertência de Erasto com relação às comunicações
repletas de ideias heterodoxas, “espiriticamente falando” que possam vir dos Espíritos e que poderiam ser
insinuadas em meio às coisas boas junto a fatos imaginados, asserções mentirosas, com tamanha
habilidade que poderiam enganar as pessoas de boa fé. Ele ainda estimula a eliminação sem piedade de
toda palavra e toda frase equívoca, conservando-se na comunicação somente o que a lógica aprova
ou o que a doutrina já ensinou; afirma que “onde a influência moral do médium se faz realmente sentir é
quando este substitui pelas suas ideias pessoais aquelas que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir. É
quando ele tira da sua própria imaginação, as teorias fantásticas que ele mesmo julga, de boa
fé [mas nem sempre], resultar de uma comunicação intuitiva” (Grifos nossos). Erasto também alerta
ser necessário aos dirigentes espíritas possuírem um tato apurado e uma rara sagacidade para poder
discernir as comunicações verdadeiras e não ferir o amor próprio daqueles que se permitem iludir com
jóias falsas.

É neste momento que ele nos oferece um de seus mais famosos e importantes conselhos:

“Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos provérbios. Não admitais, pois, o que não for para
vós de evidência inegável. Ao aparecer uma nova opinião, por menos que vos pareça
duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica. O que a razão e o bom senso
reprovam rejeitai corajosamente. MAIS VALE REJEITAR DEZ VERDADES DO QUE
ADMITIR UMA ÚNICA MENTIRA, UMA ÚNICA TEORIA FALSA. Com efeito, sobre essa teoria
poderíeis edificar todo um sistema que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um
monumento construído sobre a areia movediça. Entretanto, se rejeitais hoje certas verdades,
porque não estão para vós clara e logicamente demonstradas, logo um fato chocante ou
uma demonstração irrefutável virá vos afirmar a sua autenticidade”.

Embora ela tenha se tornado uma regra de ouro [a frase destacada em maiúsculo], conforme J.
Herculano Pires afirmou, devendo ser constantemente observada nos trabalhos e estudos espíritas,
isolada do seu contexto ela perde a sua riqueza, o seu caráter especial, ficando deslocada e nem sempre
parecendo justa. Analisemos a sua estrutura.

Primeiro reencontramos um sábio provérbio: “na dúvida, abstém-te”. Pois quem nunca duvidou não pode
afirmar que encontrou a verdade, que adquiriu a convicção. O codificador é um belo exemplo de como a
dúvida, sem exageros, conduz à verdade. É valiosíssimo o depoimento de Kardec encontrado em Obras
Póstumas, onde ele afirma que um dos primeiros resultados das suas observações foi saber que os
Espíritos nada mais são que as almas dos homens, possuindo conhecimentos limitados à sua condição
evolutiva e que por isto as suas opiniões tinham o valor de uma opinião pessoal, nada mais. Foi esta
verdade, compreendida desde o início que o protegeu de acreditar ingenuamente na infalibilidade dos
Espíritos e de elaborar teorias prematuras com base nos ditados de uns ou de alguns [5]. Quantas teorias
não são construídas dentro desta perspectiva? Os vários corpos do perispírito, em gritante oposição ao
conceito formulado pelo codificador, a magia, as informações e afirmações sobre Física Quântica
relacionados com o Espiritismo são alguns exemplos de ‘teorias’ edificadas em informações pessoais dos
Espíritos como se fossem absolutamente verdadeiras. Elas não foram observadas, analisadas, criticadas,
reavaliadas para serem aceitas como verdades verificadas. Aqui é onde entra a importância da
abstenção. Pois se não possuo a firme convicção oriunda da análise sistemática, racional e
eminentemente lógica e da experiência, como posso supor que uma determinada informação é
verdadeira? Não podemos agir por achismos dentro do movimento espírita.

Em segundo lugar encontramos a importância de passar toda opinião, por menos duvidosa que pareça,
pelo crivo da razão e da lógica. Como afirma Erasto, “é incontestável que, submetendo-se ao cadinho da
razão e da lógica todas as observações sobre os Espíritos e todas as suas comunicações,será
fácil rejeitar o absurdo e o erro” [6]. As palavras destacadas dão um valor importantíssimo à citação.
Primeiro porque ressalta a importância de que haja um exame severo sobre os Espíritos comunicantes e
suas comunicações. Segundo por que para Erasto, quem assim procede, não encontra dificuldades em
perceber a ponta da orelha do mentiroso, do pseudossábio, do fanfarrão. Até porque estes Espíritos
mistificadores podem, fingindo amor e caridade, semear a desunião e retardar o progresso da
humanidade e da Ciência Espírita ao propagarem seus sistemas absurdos, muitas vezes com a ajuda não
só de médiuns imprevidentes, mas de casas espíritas que se julgam privilegiadas, ou onde reinam a
superstição e a falta de um estudo sistemático da Codificação. Não é à toa que Herculano Pires escreve
que a

“confiança de Kardec na análise racional das comunicações é acertada, mas depende


do critério seguro de quem analisa. Por isso mesmo é conveniente fazer a análise em
conjunto e recorrer, no caso de dúvida, a outras pessoas de reconhecido bom senso. O
Espírito farsante pode influir sobre um indivíduo e sobre um grupo, o que tem ocorrido
com freqüência em virtude da vaidade, da pretensão ou do misticismo dominante.
Comunicações avulsas e até obras mediúnicas alentadas, evidentemente falsas, têm sido
publicadas, aceitas e até mesmo defendidas por grupos e instituições diversas”. [3]

Terceiro, após as considerações acima expostas, compreendemos que o conselho do Erasto visa antes à
prudência que o exagero. E isto fica muito claro quando ele desenvolve seu raciocínio, no fim deste
parágrafo, ao afirmar que se hoje rejeitamos certas verdades, pelo fato de não estarem devidamente
demonstradas amanhã um fato “chocante” poderá afirmar a sua autenticidade. E este é o ponto chave
da sua afirmação, pois se não temos certeza de uma opinião, como podemos provar a sua autenticidade?
Por mais respeitável que seja o nome que subscreva a comunicação, por mais atraente que seja uma
teoria, só o tempo e uma metodologia de pesquisa adequada poderão provar que ela está correta. É por
isto que não devemos ter medo de rejeitar uma ideia, sem, no entanto, ignorar que ela pode, se for
testada e averiguada, provar estar certa. Esta observação é confirmada por Kardec da seguinte forma:

“Se é certo que a utopia de hoje se torna muitas vezes a verdade de amanhã, deixemos que o
futuro realize a utopia de hoje, mas não enredemos a Doutrina com princípios, que possam ser
considerados quimeras e a tornem rejeitada pelos homens positivos” [4].

Como pudemos ver nesta sucinta análise, não é absurdo rejeitar dez verdades para não ter que aceitar
uma mentira porque não estão clara e logicamente demonstradas. E é justamente por conselhos como
estes, compreendidos em seu contexto, que Kardec considerou Erasto um Espírito Superior, pois só um
poderia ensinar tanto com tão pouco. O estudo das suas mensagens deve ser obrigatório nas casas
espíritas. E diferente de outros “espíritos famosos” da atualidade, muito verbosos e prolixos, com suas
dezenas de perispíritos e magos, este sim é um ilustre desconhecido que precisa ser redescoberto!

[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 23ª Ed. SP – LAKE, 2004. Cap. XVII, p. 177
[2] ______. Idem. Cap. XXIV, item 266, p. 236
[3] ______. Idem, ibidem
[4] ______. Obras Póstumas. 14ª Ed. SP, LAKE – 2007. Segunda parte, Dos Cismas, p. 282
[5] ______. Idem, p. 218
[6] ______. O Evangelho segundo o Espiritismo. 61ª Ed. SP – LAKE, 2006. Cap. XXI, item 10, p. 265
Fonte: Blog "Análises Espíritas" - http://analisesespiritas.blogspot.com/2011/08/kardec-e-os-
conselhos-de-erasto.html

Um Jesus Nefelibata
10:10 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT

Por Sérgio Aleixo

Onde ficou o Cristo? Numa posição intermediária do mito irracional da Trindade, dando origem a toda a
mitologia cristã. Transformado em parte intrínseca de Deus, Jesus de Nazaré perdeu a sua
personalidade própria, ensanduichado entre Deus e o Espírito Santo. (Herculano Pires. Revisão do
Cristianismo, II.)

A satanização de toda e qualquer análise, de toda e qualquer atitude crítica, como se fossem
necessariamente um fator de dissolução do rebanho, bem como as influências mistificadoras que
grassam no movimento espírita, fomentou, pouco a pouco, a visão de um Jesus absolutamente nefelibata.

Trata-se de um Jesus que andava nas nuvens, divorciado da realidade imediata e incapaz dos
testemunhos varonis de que os evangelistas nos dão conta. No entanto, foram tais exemplos que se quer
esquecer que consagraram a figura ímpar do mestre como ego ideal de nossa mais elevada consciência
moral.

Este Jesus todo o tempo melífluo, o “meigo” nazareno de alguns, aquele que não expulsou os vendilhões
do templo e nunca admoestou a hipocrisia dos fariseus, há de ter morrido numa bem curtida velhice, não
como jovem vítima das instituições humanas fundadas no desprezo pela verdade. Muito seguro, Kardec
nos preveniu contra os perigos de uma visão assaz mitificada, mesmo quanto a Jesus:
[...] toda gente, em geral, faz dos homens apenas conhecidos por seu espírito um ideal que cresce com
o afastamento dos tempos e dos lugares. Eles são como que despojados da humanidade; parece que não
devem falar nem sentir como o mundo; que sua linguagem e seus pensamentos devem estar
constantemente no diapasão da sublimidade, sem cuidar que o espírito não poderia estar
constantemente em estado de tensão, e num perpétuo estado de superexcitação. No contato diário da
vida privada se vê demasiado o homem material, que nada distingue do vulgar. O homem corporal, que
impressiona os sentidos, apaga quase o homem espiritual, que impressiona o espírito [...]. (A Gênese,
XVII, 2.)

Assim é que, atento às lições dos Evangelhos e certo da validade histórica destes relatos neles contidos,
o mestre lionês nada encontrou de avesso à pureza do Espírito Jesus nos passos que vim de mencionar,
tanto que deste modo os comentou:

Jesus expulsou os vendilhões do templo, e assim condenou o tráfico das coisas santas, sob qualquer
forma que seja. Deus não vende a sua bênção, nem o seu perdão, nem a entrada no reino dos céus. O
homem não tem, portanto, o direito de cobrar nada disso. (O Evangelho segundo o Espiritismo, XXVI,
6.)

Estarão todas [as seitas cristãs] isentas das apóstrofes que [Jesus] dirigia aos fariseus de seu tempo?
Todas, enfim, em teoria assim como na prática, são a expressão pura de sua doutrina? (A Gênese, XVII,
26.)

Por que não seriam sublimes e mesmo serenas as severas admoestações do mestre? Mentes e corações
obstinados na inércia intelecto-moral não teriam necessidade disso? As crianças não entendem a
precisão da energia, de quando em vez, empregada por seus pais para adverti-las, mas, passado algum
tempo, reconhecem-lhe a sabedoria. Não atribuamos a Jesus o descaso que nossa falsidade até apelida
de “educação”, institucionalizando a tibieza de caráter, o descomprometimento fantasiado de virtude
cristã. Ouçamos a advertência de Herculano Pires:

Há mais serenidade no homem que defende com entusiasmo e calor os seus princípios do que no
indivíduo falacioso, que procura serenamente as suas evasivas. É mais sereno o murro de uma verdade
na mesa do que o palavreado untuoso da mentira na boca de um santo de artifício. (O Ser e a
Serenidade, II.)

Quanto ao episódio evangélico da expulsão dos exploradores do Templo, vejamos os comentários do


erudito Prof. Carlos J. Torres Pastorino:

O fato da expulsão dos exploradores do Templo, bem aceito pela teologia católica, quer romana, quer
reformada, sofre grandes restrições no ambiente espiritista. Convictos da bondade de Jesus, de seu
amor para com os pecadores e humildes, não querem admiti-lo violento. Parece-nos haver confusão
entre violência e energia, entre bondade e complacência. Pode e deve haver bondade enérgica,
frequentemente indispensável na educação de crianças rebeldes, sem que haja violência. A moleza de
caráter (muitas vezes chamada benevolência) pode em certos casos constituir até crime. Cruzaríamos
os braços diante de um bandido que estivesse para assassinar um bando de crianças, e se tivéssemos
força capaz de detê-lo sem matá-lo? E nossa conivência, sob a capa cômoda da caridade, não seria
cumplicidade?
Não se alegue que Jesus perdeu a linha, porque nenhum evangelista deixa supô-lo. Repreender com
severidade, derrubar uma mesa de cambista, pegar um feixe de pequenas cordas para enxotar animais,
é um gesto de justa indignação que supõe grande elevação espiritual diante da profanação de um lugar
sagrado. Vem isto provar-nos que não devemos — nem podemos — pactuar com o abuso, sobretudo de
negociar nos lugares destinados à oração.

Quanto ao chicote de cordéis, não é necessário supor-se uma figura, dizendo que era o chicote da
palavra. Não se diz no Evangelho que Jesus espancou os exploradores, mas apenas que fez o chicote,
com ele espantando os animais, que não podiam entender as palavras candentes que dirigiu aos
homens.

O episódio não pode ser posto em dúvida, quando vem narrado nos quatro evangelistas. E em muitas
outras ocasiões podemos observar o retrato de um Jesus másculo e forte. Jamais o vemos fraco e
covarde. Seria inadmissível que um Espírito, com a autoridade de Jesus, que criou o planeta, aqui
chegasse com um caráter mole e efeminado. A força moral de Jesus, assim como sua energia, é bem
confirmada pelas palavras duras com que enfrentava os enganadores do povo, que faziam da religião
simples degraus para subir no conceito popular e para adquirir prestígio e honrarias, ou posição
política, ou riquezas e isenção de obrigações. (Sabedoria do Evangelho. Vol. 1. Expulsão dos
exploradores.)

Fonte: O Metro que melhor mediu Kardec -


http://ometroquemelhormediukardec.blogspot.com/2010/06/capitulo-4.html

Artigo investigativo: Ramatis pode nem existir


15:31 ADMINISTRADOR 1 COMMENT

Por Artur Azevedo


Não é de hoje que muitos que acompanharam e ainda acompanham os ditados atribuídos a um espírito
conhecido como "Ramatis" cogitam da hipótese do mesmo sequer ter existido. Tal possibilidade,
inicialmente, não nos pareceu digna de análise, mas como temos a obrigação de investigar em constante
busca pela verdade, fomos atrás dos possíveis sinais que indicassem ser esta uma hipótese provável.

Surpreendentemente, na medida que fomos avançando em nossa pesquisa, verificamos que há muitas
evidências que indicam ser Ramatis e seus ditados, especialmente aqueles constantes das obras do
"médium" Hercílio Maes, um reflexo, uma cópia das ideias abraçadas pelo citado médium.

Vejamos alguns pontos importantes a serem analisados:

1 - Hercílio Maes, o primeiro indivíduo a afirmar receber mensagens desse "espírito oriental"(?), veio a se
dizer "espírita" somente após a publicação dos livros atribuídos a Ramatis, em cujas fichas catalográficas
constam como sendo "espíritas". Antes disso, o mesmo afirmava que era adepto daTeosofia, doutrina
que, mais adiante, verificaremos que possuirá todos os seus principais postulados defendidos nas obras
atribuídas ao espírito Ramatis.

2 - Hercílio Maes adotou, enquanto esteve encarnado, uma postura perante as religiões e doutrinas
idêntica àquela propugnada por Ramatis: além de Teosofista, como dissemos, também era Rosacruciano,
depois tornando-se "espírita", promovendo uma miscelânea idêntica a que Ramatis incentiva em seus
livros a título de "universalismo".

3 - Hercílio Maes era um vegetariano radical, daqueles que considerava grave delito espiritual o consumo
de carne. Tal noção foi igualmente repetida à exaustão em seus livros "psicodatilografados", o que não
verificamos nas obras de outros médiuns que afirmam ser intermediários de Ramatis.Leadbeater, um dos
autores teosóficos mais mencionados por ele nos rodapés de seus livros, era igualmente radical defensor
do vegetarianismo.

4 - Tal qual informamos acima, Hercílio Maes dizia receber as mensagens de Ramatis através da
inspiração, sendo que não se utilizava de lápis e papel, e sim de uma máquina datilográfica, para
transcrever tais mensagens advindas, segundo ele, de sua mediunidade inspirativa.

No entanto, segundo "O Livro dos Médiuns" (cap. XV, item 182), "médium inspirado é toda pessoa que
recebe, seja no estado normal, seja no estado de êxtase, pelo pensamento, comunicações estranhas a
suas ideias pré-concebidas. Ora, assim sendo, falta em Hercílio Maes justamente esta característica
fundamental da mediunidade inspirada, modalidade de mediunidade intuitiva, que é a desconexão entre
as ideias do médium e as do espírito comunicante. Não é possível distinguir, como verificaremos mais
adiante, o pensamento de um e de outro, porque o segundo repete ipsis literis as opiniões e ideologias do
primeiro, o médium. Os ditados atribuídos a Ramatis, ao contrário do que se prevê e espera na
mediunidade inspirada, não estavam fora dos limites dos conhecimentos e capacidades do médium. (Ver
LM, Cap. XV, item 180)

5 - Outro fator digno de estranheza é o histórico atribuído às pregressas encarnações de Ramatis.


Afirmava Hercílio Maes que Ramatis teria sido um instrutor em um santuário iniciático na Indochina do
século X d.C, falecendo ainda cedo. Em vida no século IV teria participado dos acontecimentos narrados
no poema hindu Ramaiana, o que não parece fazer sentido uma vez que esses contos épicos hindus são
puramente alegóricos, não se ocupando nem de fatos, nem de personagens reais. Além disso, não há
qualquer registro histórico ou tradição que sequer mencione a existência do suposto grupo iniciático
fundado por um instrutor chamado Rama-tys. Este, portanto, ao que parece, nada mais seria do que o
alterego (do latim alter=outro, egus= eu) de Hercílio Maes, que para dar credibilidade e anonimato à
autoria de seus escritos, em dado momento, propositalmente ou não, "cria" uma entidade espiritual ao
qual delega sua representação.
Notemos, agora, as notáveis semelhanças entre o que afirma Ramatis e os conceitos da Teosofia,
doutrina abraçada pelo médium Hercilio Maes.

1 -A tese da elevação do eixo da Terra

Um dos carros-chefe dos livros de Hercílio Maes/Ramatis, que praticamente nem é abordado em livros de
outros médiuns daquele espírito, é a tese de que a Terra sofreria uma elevação de seu eixo, causando
uma série de calamidades e transformações nas condições de vida na Terra. Tal teoria não é nova. A
obra intitulada "A Doutrina Secreta" (1888), de Helena Blavatsky, co-fundadora da Sociedade Teosófica,
já a defendia e atribuía sua origem a "ensinamentos antigos". Tal qual Ramatis reproduziria em seus
livros, Blavatsky relata que acontecimentos igualmente assombrosos no passado teriam dado fim às
mitológicas Atlântida e Lemúria, berços de sociedades hiper evoluídas.

2 - Jesus e Cristo como entidades distintas

A afirmação de Ramatis, inteiramente contrária ao que ensina a Doutrina Espírita, de que Jesus fora um
médium de Cristo, não é nova. Novamente verificamos que é no Teosofismo que originalmente
encontramos a defesa dessa tese. O Teosofismo afirma que Jesus e Cristo são pessoas distintas e que
Cristo usou o corpo de Jesus quando este abandonou o seu corpo. Infelizmente, como boa parte dos
"espíritas" não conhece a Codificação, a "revelação" de Ramatis pareceu, nos idos dos anos 50,
inteiramente crível e doutrinariamente correta.

3 - Vocábulos utilizados na Teosofia

Todos os termos consagrados pela Teosofia estão presentes nas obras de Ramatis, em detrimento dos
termos espíritas, comprovando aí a intrínseca relação do médium com a Teosofia, e não com o
Espiritismo. Alguns desses termos são: "chakra", "karma", "corpo astral", "plano astral", "miasmas
astralinos", etc. O mesmo ocorre com relação a algumas concepções relativas à Criação, como o
"Manvantara" (período de tempo do ciclo de existência dos planetas em que ocorre atividade que dura,
segundo o cômputo dos Brâmanes, 4.320.000.000 de anos), e o "Ciclo de Brahma", mencionados e
descritos no livro "Mensagens do Astral" e em outras obras atribuídas a Ramatis escritas por Hercílio
Maes. Uma repetição sistemática daquilo que se estuda na Teosofia.

4 - Bibliografia indicada

É comum verificarmos nos rodapés dos livros de Hercílio Maes/Ramatis menções e estímulo à leitura de
livros teosóficos, como os de C.W. Leadbeater e Annie Besant. Vemos daí, mais uma vez confirmada, a
ligação entre o médium e as ideias teosóficas, reproduzidas em suas obras e atribuídas a um espírito de
nome Ramatis.

5 - Superioridade Oriental

Também está presente nas obras de Hercílio/Ramatis uma constante alusão à uma pretensa
superioridade das doutrinas orientais e de seus adeptos e representantes, tal qual nas obras teosóficas.
Ramatis, da mesma maneira, chega a afirmar que o Espiritismo desaparecerá caso não sorva os
inesgotáveis ensinamentos dos movimentos orientalistas.
6 -A Vida no Planeta Marte

Mais um carro-chefe das obras de Ramatis em que verificamos enorme semelhança com obras
teosóficas. Mais uma vez, a suposta dupla Hercílio-Ramatis expõe uma posição teosófica e a apresenta
como uma verdade espírita e/ou científica. Hercílio-Ramatis mais uma vez retira das obras do teósofo
Leadbeater o conteúdo para seus escritos psicodatilografados, e, o que é pior, apresentando-as como
suas e confundindo o meio espírita, principalmente os que não aprofundaram conhecimentos na
Codificação. A descrição de Marte feita por Hercílio/Ramatis é idêntica àquela dada anos antes por
Leadbeater no livro "Vida em Marte segundo a Teosofia". Confiramos:

1 - Marte não seria um planeta inóspito; tão pouco seria desabitado. Menor que a Terra, Marte seria mais
avançado em termos "astrofísicos" (vemos que até a terminologia utilizada é a mesma);

2 - Seu solo seria fértil e teria exuberante vegetação. A população atual, pouco numerosa, ocuparia as
regiões equatoriais, onde a temperatura seria mais elevada e ainda existem reservas de água. O grande
sistema de canais que pode ser observado pelos astrônomos da Terra seriam muito antigos, estaria
desativado e teria sido construído, por gerações passadas, a fim de aproveitar o degelo anual das
camadas de gelo que ocorria na antiguidade marciana. Os canais ativos, segundo Leadbeater e Hercílio-
Ramatis, atualmente, não são visíveis para os telescópios terrenos. Eventualmente, um cinturão verde
poderia ser visto ao longo da área habitada, na estação em que a água flui pelos dutos. A vida em Marte
dependeria dessa estação tal como o Egito dependeu, no passado e ainda hoje, das enchentes do Nilo.
Esta parte do planeta possuiria florestas e campos cultivados que somente podem ser debilmente
visualizados pelos terráqueos quando a posição de Marte se torna relativamente mais próxima da Terra.
Leadbeater afirma, ainda, que em Marte o Sol parece ter a metade do tamanho que tem quando visto da
Terra. Apesar disso, na porção habitada do planeta o clima seria agradável com temperaturas diurnas em
torno de 70 graus Fahrenheit (33º Centígrados) e noites frias. Nos céus de Marte, quase nunca há
nuvens. Também seriam raríssimas as chuvas ou precipitação de neve. As variações climáticas
praticamente não existiriam. Tudo isso é repetido quase que ipsis literis na obra de Hercílio Maes;

3 - Hercílio-Ramatis simplesmente repetem as "informações" de Leadbeater na obra "A Vida no Planeta


Marte e os Discos Voadores", e afirmam que a aparência dos marcianos não seria muito diferente da
nossa a não ser pela estatura. Os mais altos chegariam a 1,65m de altura e teriam a caixa torácica muito
desenvolvida. Toda a população marciana seria constituída de uma só raça sem grandes diferenças
aparentes exceto, como entre nós, o fato de alguns serem louros e outros morenos. Alguns possuem a
pele amarelada e os cabelos negros; a maioria, porém, tem cabelos louros e olhos de tonalidade azul ou
violeta. Suas roupas seriam coloridas e brilhantes e ambos os sexos trajam vestimentas semelhantes,
túnicas longas feitas de material leve. Geralmente, andam descalços mas, ocasionalmente, usam
sandálias metálicas fixadas por tiras na altura dos tornozelos.

Tal qual lemos na obra de Leadbeater, Hercílio-Ramatis afirma que os marcianos apreciam as flores que
existiriam em grande variedade no planeta; as cidades seriam planejadas nos moldes de um jardim. Suas
casas, estruturadas em módulos padronizados, seriam cercadas de canteiros floridos e possuiriam
paredes transparentes e coloridas, feitas de material semelhante ao vidro que permitiriam a visão das
flores no exterior embora, do lado de fora não se possa ver o que acontece dentro das residências. As
portas seriam feitas de metal. Uma única língua seria falada em todo o planeta.
Assim como Hercílio-Ramatis afirmam na obra "A Vida no Planeta Marte...", Leadbeater disse ter obtido
suas informações com visitas ao local, feitas "espiritualmente". Em nosso ponto-de-vista, uma afirmação
feita com o fito de passar credibilidade.

Conclusão

O prezado leitor tirará suas conclusões, sendo que apresentamos esse tese tendo em vista as enormes e
evidentes semelhanças entre as ideias teosóficas, particularmente as contidas nas obras de Leadbeater,
e os conceitos e informações contidas nas obras cuja autoria é atribuída ao espírito Ramatis. Cabe notar,
também, que boa parte de tais ideias não são repetidas em livros psicografados por outros médiuns de
Ramatis, que inclusive já fizeram análises atribuindo tais discrepâncias a uma suposta interferência
anímica de Hercílio Maes.

Portanto, ao que parece, não é possível saber, ao certo, a quem pertence a autoria dos livros de Hercílio
Maes: se ao médium, que teria passado para o papel, coincientemente ou não, opiniões suas advindas da
leitura de obras teosóficas, ou se ao Espírito, que, de qualquer forma, teria feito o mesmo, atribuindo a si
toda a autoria. Poderíamos, inclusive, chegar ao ponto de duvidar que realmente exista um espírito
chamado Ramatis, já que não há qualquer traço indicativo ou registro histórico que aponte que o mesmo
tenha alguma vez passado pela Terra.

Creio estar na hora de não perdermos mais tempo com suposições e teorias que em nada acrescentam
ao Espiritismo. Pelo contrário, tais teorias meramente individuais e personalistas, advindas de certos
espíritos e médiuns, que contrariam a Codificação Espírita e que não respeitam o princípio da
concordância, só promovem a confusão e lançam o Espiritismo ao ridículo, tornando-o alvo fácil das
investidas de seus inimigos ocultos e declarados.

Não fosse pelo esforço de alguns verdadeiros apóstolos do Espiritismo no passado a alertar para os
perigos de se aceitar tudo que venha do mundo espiritual, com certeza teríamos um Movimento Espírita
ainda mais afastado das suas bases e envolto em um emaranhado de distorções e desvios.

Trabalhemos, pois, para que o Espiritismo passe a ser melhor compreendido, começando de nós mesmos
com a tarefa que temos de sermos divulgadores fiéis e responsáveis.

As obras básicas da Doutrina Espírita já estão


ultrapassadas?
11:24 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT
Por Maria das Graças Cabral

É muito comum ouvirmos nestes novos tempos por parte de uma legião de espíritas, que as Obras
Básicas estão ultrapassadas, por não haverem acompanhado aos avanços da humanidade.

Em contrapartida, as denominadas '"obras complementares", tornaram-se dignas de toda a credibilidade,


merecedoras de todo o respeito, formando uma verdadeira legião de seguidores, em detrimento das
'ultrapassadas' Obras Básicas.

Vale lembrar que as referidas obras 'complementares', são comunicações de origem mediúnica, advindas
de um único Espírito, sob a supervisão de um outro Espírito (mentor do médium), através de um único
médium. Tal análise se estende a todas as outras milhares de obras literárias que abarrotam as
prateleiras das livrarias do Brasil e do mundo, e que se auto intitulam espíritas.

Já a Obra considerada pelos companheiros como "ultrapassada", ao contrário das "complementares", foi
ditada por uma plêiade de Espíritos de alta evolução moral e intelectual, do porte de São João
Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin,
Swedenborg, dentre outros, sob o comando nada mais nada menos de O Espírito da Verdade.

Oportuno ressaltar, que as comunicações dos Espíritos Superiores que deram origem à Codificação
Espírita, aconteceram através de milhares de médiuns, nos mais diversos grupos espíritas espalhados
pelo mundo, submetidas todas ao Controle Universal das Comunicações Espíritas, conforme palavras de
Allan Kardec, o Codificador, na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Deve-se também levar em conta, no que concerne às 'ultrapassadas' Obras Básicas, que o referido
Codificador (Allan Kardec), tratava-se de um homem de elevada intelectualidade e moralidade, que não
tendo o dom mediúnico, utilizava-se de todo o seu intelecto, conhecimento, racionalidade e bom senso,
para analisar, avaliar e organizar as comunicações recebidas através dos médiuns, sob a fiscalização dos
Espíritos Superiores, as quais vieram compor o "corpo doutrinário" da Codificação Espírita.

Mas voltemos à questão das emblemáticas 'obras complementares'. Percebe-se a confusão que se faz
entre, avanço tecnológico do mundo contemporâneo, e evolução moral do espírito humano.

No que concerne às já "ultrapassadas" Obras Básicas, podemos indagar aos que assim a consideram, em
quais dos seus aspectos as mesmas já foram ultrapassadas ou estão incompletas?
Seria em seu aspecto Filosófico, devidamente organizado em "O Livro dos Espíritos"?

Segundo Allan Kardec "O Livro dos Espíritos é o compêndio dos ensinamentos dos Espíritos Superiores.
Foi escrito por ordem e sob ditado dos Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma
filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do
seu pensamento, e não tenha sofrido o controle dos mesmos. A ordem e a distribuição metódica das
matérias assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem a única obra daquele
que recebeu a missão de o publicar" , ou seja, de Allan Kardec. (L.E, p. 52)

Pergunta-se: - Quais as áreas do conhecimento tratadas em O Livro dos Espíritos, que já está
ultrapassada, precisando de complementação? - Quais dos mais variados e vastos assuntos tratados na
referida obra, que vai da "Teologia Espírita" às "Esperanças e Consolações", já não atendem aos
"avanços" do Espírito humano?

No que concerne à importância da obra, oportuno transcrevermos Herculano Pires, quando assim se
expressa: - "O Livro dos Espíritos não é, apenas, a pedra fundamental ou o marco inicial da nova
codificação. Porque é o próprio delineamento, o seu núcleo central e ao mesmo tempo o arcabouço
geral da doutrina. Examinando-o, em relação às demais obras de Kardec, que completam a codificação,
verificamos que todas essas obras partem do seu conteúdo". (L.E, p. 12)

Em nota de rodapé de O Livro dos Espíritos, assevera o referido autor: "Os Espíritos aludem à eternidade
espiritual da doutrina, de sua permanente projeção na Terra. Mas devemos distinguir entre as suas
manifestações falseadas, no passado, e a manifestação pura que se encontra neste livro. Os traços da
doutrina espírita marcam o roteiro da evolução humana na Terra, mas só com este livro ela se
apresentou definida e completa. Por isso, o Espiritismo é, na Terra, uma doutrina moderna". (L.E, p.
116)

Na realidade, pode-se constatar que a cada momento, quando retomamos o estudo de O Livro dos
Espíritos, nos deparamos com novos ensinamentos e questionamentos que nos passaram despercebidos
em leituras anteriores. Entende-se portanto improvável e inadmissível, que em uma única encarnação,
consigamos alcançar e apreender em profundidade, toda a grandiosidade dos ensinamentos dos Espíritos
Superiores, aplicando-os por conseguinte em nossas vidas. Aliás, tal constatação é feita por vários e
respeitados estudiosos da Doutrina Espírita, tais como J. Herculano Pires, Divaldo Pereira Franco, Raul
Teixeira, dentre outros.

Bem, então seria a Ciência que demonstrou a superação da Doutrina Espírita? Ou seja, conseguiu provar
a inexistência dos Espíritos ou dos fenômenos Espíritas? A esse respeito ninguém melhor que Kardec
quando assim se expressa:

"As ciências comuns se apóiam nas propriedades da matéria, que podem ser experimentadas e
manipuladas à vontade; os fenômenos espíritas se apóiam na ação de inteligências que têm vontade
própria e nos provam a todo instante não estarem submetidas ao nosso capricho. As observações,
portanto, não podem ser feitas da mesma maneira, num e noutro caso". (L.E, p. 36)

Adiante assevera o codificador: "A ciência propriamente dita, como ciência é incompetente, para se
pronunciar sobre a questão do Espiritismo: não lhe cabe ocupar-se do assunto e seu pronunciamento a
respeito, qualquer que seja, favorável ou não, nenhum peso teria". (L.E, p. 36)

Se a ciência tradicional não tem "competência" para considerar "ultrapassada" a Doutrina Espírita - seria
então o seu aspecto religioso que estaria ultrapassado, precisando de "obras complementares"?

Mas o aspecto religioso da Doutrina Espírita está amparada na moral do Cristo! Então esta moral está
ultrapassada? A esse respeito, vale ressaltar, que embora transcorridos dois milênios da passagem de
Jesus pelo planeta Terra, seus ensinamentos embasados na Lei de Amor, ainda estão por acontecer.

Então, qual o grande problema que vem causando a cizânia no Movimento Espírita? De um lado, aqueles
que defendem o "resgate" do estudo das Obras Básicas da Codificação, sendo considerados por parte
dos defensores das "obras complementares" de "ortodoxos" ou "puristas".

De outro lado, os que se consideram "avançados", ou "evolucionistas" os quais entendem que realmente
a Doutrina Espírita está "ultrapassada" e precisa de "obras complementares" com informações mais
"avançadas" que acompanham a evolução científica (?), e a evolução do pensamento humano (?).

Estes companheiros que se consideram "livres" e "avançados', não sujeitos ao "dogmatismo" dos
"ortodoxos" entendem que a humanidade agora já está preparada para receber as novas "revelações"
trazidas nas "obras complementares"!

Entretanto é sabido que uma obra filosófica e/ou científica e/ou religiosa, só poderia ser considerada
"ultrapassada", quando seus conceitos e princípios estivessem em total desacordo com as provas
científicas, ou que ultrapassassem os limites da razão e do bom senso. Foi o que ocorreu por exemplo,
com certas crenças do catolicismo que foram contestados e comprovados pela ciência tradicional, e
tornaram-se para os seus seguidores dogmas de fé, (portanto inquestionáveis).

No que concerne à Doutrina Espírita isto não acontece, por ser uma doutrina evolucionista, racional e não
dogmática. Por outro lado, devemos por em pauta que as novas revelações trazidas por companheiros do
plano espiritual, objetivando "complementar" as " já ultrapassadas" Obras Básicas, não poderiam em
hipótese alguma estar em desacordo com qualquer dos princípios doutrinários das obras às quais se
propõem "complementar"!

Entretanto, no que concerne ao acima exposto, basta que nos proponhamos com a mente e o coração
abertos a um estudo sério e efetivo das Obras Básicas, para que facilmente identifiquemos nas ditas
"obras complementares", vários aspectos contraditórios aos princípios doutrinários espíritas. Portanto, tais
novidades não poderiam ser considerados "ensinos complementares".

Para uma melhor compreensão, façamos uma analogia com a Constituição Federal que é a Lei Maior de
um país. Esta Lei Maior estabelece os princípios fundamentais sobre os quais se erguerá todo o
ordenamento jurídico de uma nação. As leis "complementares" advindas, deverão obrigatoriamente para
efeitos de validade estarem plenamente acordes com os princípios constitucionais.

Da mesma forma, as Obras Básicas como o próprio nome sugere, trazem os princípios fundamentais, ou
seja, a base da Doutrina dos Espíritos, devendo portanto serem respeitados por qualquer obra posterior
que se queira considerar espírita!
Isto posto, gostaria de deixar claro que não defendemos uma ortodoxia reacionária, objetivando a criação
de um INDEX de obras a serem queimadas por não serem as Obras Básicas, ou por estarem em
desacordo com estas.

Defendemos sim, o estudo sério das Obras da Codificação, objetivando o conhecimento e discernimento,
para uma segura avaliação e identificação do que não pode e nem deve ser considerado obra espírita. E
o mais temerário - que é a atribuição e titulação de "obra complementar" da Doutrina Espírita!

É fato que o Espiritismo vem vivenciando uma ortodoxia e um grande dogmatismo. Mas não por parte de
uma minoria que busca resgatar o estudo dos princípios doutrinários postulados nas Obras Básicas, posto
que, estas estão relegadas ao total descaso pela grande maioria dos espíritas, sob alegativa de estarem
as mesmas ultrapassadas; ou por serem consideradas de leitura difícil, cansativa e chata.

Entendo que a grande ortodoxia e dogmatismo que desperta as mais exacerbadas reações, vem sendo
praticada por parte de uma verdadeira legião de espíritas de comportamento intolerante e agressivo, que
de forma enceguecida defendem ferozmente não só as chamadas "obras complementares", mas
principalmente as figuras que as representam, em detrimento dos Espíritos Superiores que nos trouxeram
os Princípios Espíritas, e do próprio Codificador, Allan Kardec.

Aliás, no que diz respeito a Kardec, já ouvi por parte de espíritas defensores das "obras complementares",
referências de profundo desprezo, como - Quem é Kardec? Por acaso é o "dono" do Espiritismo? Não é
"apenas" o Codificador?

Bem, para finalizar, é fato que realmente ocorreu um "racha" no Movimento Espírita, onde os seguidores
das "obras complementares", infelizmente formaram uma verdadeira "seita" saída das hostes espíritas,
adotando como verdades inquestionáveis e absolutas tudo o que preconiza as referidas obras. É uma
pena!

Mas, como todos acreditamos que o Espírito é imortal, sabemos que tudo é uma questão de tempo...
Desencarnaremos e estaremos diante de nós mesmos, sob as Lei imutáveis de Deus. Vamos então
confirmar por nós mesmos tudo o que nos dizem as Obras Básicas da Doutrina Espírita!

Afinal, nos dizem os Espíritos que uma encarnação é menos que um minuto diante da eternidade. Paz!

Porque Não Considerar o Espiritismo Como


Religião
22:51 O BLOG DOS ESPÍRITAS 2 COMMENTS
Por Jorge Muta, do blog "Espiritismo com Profundidade"

Artigo baseado em trechos do livro "O Laço e o Culto" de Krishnamurti Carvalho Dias.

A questão de saber se o espiritismo é ou não uma religião, mais que todas as outras questões, não é
matéria meramente opinativa, pois depende de apreciação de muitos fatos, mas conduz a posições
opinativas, a radicalizações. Irei nesse tópico apenas elencar fatos históricos e etimológicos trazidos por
Kardec sobre a questão "religião", na Revista Espírita.

Sentindo Kardec que as palavras se revestem de imensa importância, cuidou de garantir, assegurar, que
o espiritismo, todo um novíssimo universo de idéias e fatos, pudesse ser traduzido, vazado, por um
elenco de palavras perfeitamente explícito, com um mínimo risco de confusões e obscuridade possível.

A codificação é, no seu contexto, tão explicita, tão clara, que me pergunto como pode haver alguma
dúvida sobre as transparentes colocações de Kardec.

Para ler o artigo na íntegra, baixe o pdf aqui. O disponibilizamos para download e não o postamos
na íntegra por este possuir 12 páginas.

Umbral e Nosso Lar - Uma realidade não


existente face a Doutrina dos Espíritos
08:13 O BLOG DOS ESPÍRITAS 2 COMMENTS
Por Maria das Graças Cabral

Desde a publicação do livro Nosso Lar pelo espírito André Luiz, psicografado pelo médium Chico Xavier,
que o inferno católico transvestiu-se em ‘umbral’, alimentado pelo imaginário dos ‘espíritas’ ainda
arraigados à dogmática católica. Por outro lado, a “cidade espiritual” denominada de “Nosso Lar“, tornou-
se o céu, cujo destino é almejado por todos aqueles que sonham com a felicidade quando do retorno ao
plano espiritual.

Logo no início da obra em comento, nos deparamos com o ‘umbral’, por ser neste lugar de tormentos que
se encontrava André Luiz em estado de profunda perturbação.

Diante de seu relato, identifica-se de pronto a incontestável semelhança com o ‘inferno’ católico, ao ser
aquele descrito, como uma região tenebrosa, com seres diabólicos, e sofrimentos acerbos.

O autor espiritual assevera que é informado por Lísias (seu orientador) que a localização do
‘umbral’começa na crosta terrestre, sendo uma zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a
atravessar as portas dos deveres sagrados” (...). (Nosso Lar, p. 79)

Esclarece o companheiro de André Luiz, que o Umbral funciona, como região destinada a esgotamento
de resíduos mentais: uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material
deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma
existência terrena“. (...) “Concentra-se aí, tudo o que não tem finalidade para a vida superior, ressaltando
que a Providência Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento em torno do planeta”.
(grifei) (Nosso Lar, p. 79/81)

Ao ser ‘retirado’ do umbral por Clarêncio, depois de oito anos de sofrimento e loucura, relata André Luiz
ter sido conduzido a uma cidade espiritual, denominada Nosso Lar. A referida cidade tinha sua
organização política efetivada através de um Governador e de seus Ministros.

Reportando-se ao atual Governador da cidade, André Luiz é informado por Lísias, que o mesmo havia
conseguido colocar ordem nos distúrbios e cisões que turbavam a cidade, em razão de questões que
envolviam a “distribuição de alimentos” entre os Espíritos moradores de Nosso Lar.

Segundo sua narrativa, a cidade era de uma beleza impressionante, com “vastas avenidas, enfeitadas de
árvores frondosas. Ar puro, atmosfera de profunda tranqüilidade espiritual”. (Nosso Lar, p. 58)

O autor espiritual não se furta em descrever as belezas de Nosso Lar, desde a arquitetura de seus
prédios, seus imensos bosques e jardins com flores exóticas e fontes de águas cristalinas, a beleza das
obras de arte e a elegância do mobiliário que guarneciam seus Ministérios e casas, até as melodias
sublimes ouvidas por todos os moradores no final da tarde, ou quando das reuniões e preces.

Diante de tal cenário, a referida cidade tornou-se um paradigma de céu para os “espíritas“, posto que, lá
chegando, além dos cuidados ministrados em seus excelentes hospitais, posteriormente tem-se a
possibilidade de morar em belas e confortáveis casas, juntamente com os entes queridos, todos
devidamente protegidos pelas altas e seguras muralhas defensivas desta maravilhosa cidade, que tem o
sugestivo nome de ‘Nosso Lar‘.
Entretanto, na condição de espíritas, somos sabedores da necessidade de um estudo constante e
sistemático das Obras Básicas, para que possamos de forma justa e lúcida avaliar as informações que
nos chegam do plano espiritual, através de mensagens mediúnicas, como é o caso da obra em comento.

Para este intento, precisamos avaliar as informações recebidas tendo como paradigma as Obras Básicas,
posto que estas, passaram pelo Controle Universal das Comunicações Espíritas, como bem nos
esclarece Allan Kardec, o insigne Codificador da Doutrina dos Espíritos, na parte introdutória de O
Evangelho Segundo o Espiritismo.

Inicialmente, faremos uma breve análise do que nos dizem os Espíritos Superiores em O Livro dos
Espíritos, quando em seu Capítulo VI, trata da “Vida Espírita“. Faremos a transposição literal de algumas
perguntas feitas por Kardec aos Espíritos Superiores, com suas respectivas respostas, e em seguida
teceremos comentários e conclusões pertinentes ao assunto proposto.

Comecemos pela pergunta 224 do LE, quando Kardec indaga aos Espíritos Superiores, o que é a alma
nos intervalos das encarnações. A reposta dada é a seguinte: - Espírito errante, que aspira a um novo
destino e o espera.

Portanto, André Luiz, estava na condição de Espírito errante, aguardando uma nova encarnação segundo
a resposta dos Espíritos.

Em seguida, vejamos a pergunta 227 formulada pelo Codificador: - De que maneira se instruem os
Espíritos errantes; pois certamente não o fazem da mesma maneira que nós? Resposta: -
Estudamo seu passado e procuram o meio de se elevarem. Vêem, observam o que se passa nos
lugares que percorrem; escutam os discursos dos homens esclarecidos e os conselhos dos
Espíritos mais elevados que eles, e isso lhes proporciona idéias que não possuíam”. (grifei e coloquei
negrito)

Observa-se portanto, que a proposta para o Espírito na erraticidade não é o trabalho braçal de lavar chão,
limpar enfermarias, etc., mas de trabalhar sua mente e esclarecer o seu ‘eu‘, objetivando uma melhor
preparação intelectual e moral, para enfrentar os embates de sua próxima encarnação.

Analisemos ainda o que propõe a pergunta 230 de o LE: - O Espírito progride no estado errante?
Resposta: Pode melhorar-se bastante, sempre de acordo com a sua vontade e o seu desejo; mas é na
existência corpórea que ele põe em prática as novas idéias adquiridas. (grifei)

Diante do exposto, é fato que:

1º) A vida espiritual não é igual à vida material, posto que a condição consciencial e emocional do
indivíduo é outra, o meio é outro, a realidade é outra, a dimensão tempo/espaço é outra, as percepções e
sensações são outras.

2º) A Instrução dos Espíritos errantes não se faz da mesma maneira que a dos encarnados;

3º) O progresso efetivo do Espírito só se dá através da existência corpórea, que é quando ele põe em
prática as novas idéias adquiridas no Espaço.

No entanto, no que se depreende de Nosso Lar, os Espíritos errantes vivem na espiritualidade uma vida
semelhante à vida dos encarnados, posto que:

a) os Espíritos moram em casas com suas famílias;


b) trabalham e são remunerados (bônus-hora);
c) têm relacionamentos amorosos, noivado e casamento;
d) comem, bebem, tomam banho e dormem;
e) viajam de aerobus, vão a festas, cinemas, concertos e reuniões;
f) obedecem a um regime político sob as ordens de um Governador que administra a cidade através de
seus Ministérios.

Ou seja, têm uma verdadeira vida social, com todas as implicações geradas pelas relações humanas que
envolvem família, amigos, inimigos, trabalho e política.

Pergunta-se: - Prá que reencarnar, se o Espírito já vive todas as possibilidades oriundas da vida em
sociedade, considerada por Kardec, como a “pedra de toque” para a evolução humana?!

Mas prossigamos nosso estudo agora analisando a questão 234 de O Livro dos Espíritos, que trata dos
Mundos Transitórios, e Kardec faz o seguinte questionamento aos Espíritos Superiores: - Existem, como
foi dito, mundos que servem de estações ou de lugares de repouso aos Espíritos errantes? Resposta: -
Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que eles podem habitar
temporariamente, espécie de acampamentos, de lugares em que possam repousar de erraticidades muito
longas, que são sempre um pouco penosas. São posições intermediárias entre os outros mundos,
graduados de acordo com a natureza dos Espíritos que podem atingi-los, e que gozam de maior ou
menor bem-estar. (grifei)

E a pergunta 236 - Os mundos transitórios são, por sua natureza especial, perpetuamente destinados aos
Espíritos errantes? Resposta: - Não, sua superfície é apenas temporária.

Oportuno ressaltar o desdobramento da pergunta 236, na 236-a: - São eles ao mesmo tempo habitados
por seres corpóreos? Resposta: - Não, sua superfície é estéril. Os que o habitam não precisam de
nada. (grifei, e coloquei negrito)

Diante de tão importantes informações, infere-se que:

1º) há possibilidade dos Espíritos errantes se acomodarem em “Mundos Transitórios”;

2º) tais mundos são de superfícies estéreis, ou seja, sem prédios, bosques, fontes etc.;

3º) o Espírito não precisa de nada disso na erraticidade.

Passemos agora à análise do item III, de o LE, que trata das Percepções, Sensações e Sofrimentos dos
Espíritos. Kardec lança o seguinte questionamento na pergunta 253: - Os Espíritos experimentam as
nossas necessidades e os nossos sofrimentos físicos? Resposta: - Eles o conhecem, porque os
sofreram, mas não os experimentam como vós, porque são Espíritos. (grifei)

Pergunta 254: Os Espíritos sentem fadiga e necessidade de repouso? Resposta: Não podem sentir a
fadiga como a entendeis, e portanto não necessitam do repouso corporal, pois não possuem órgãos em
que as forças tenham de ser restauradas. Mas o Espírito repousa, no sentido de não permanecer numa
atividade constante. Ele não age de maneira material, porque a sua ação é toda intelectual e o seu
repouso é todo moral. Há momentos em que o seu pensamento diminui de atividade e não se dirige a um
objetivo determinado; este é um verdadeiro repouso, mas não se pode compará-lo ao do corpo. A espécie
de fadiga que os Espíritos podem provar está na razão da sua inferioridade, pois quanto mais se elevam,
de menos repouso necessitam. (grifei)

Pergunta 255: Quando um Espírito diz que sofre, de que natureza é o seu sofrimento? Resposta: -
Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente que os sofrimentos físicos. (grifei)

Diante do exposto constatamos que:

1º) As necessidades físicas de que se queixam os Espíritos são apenas “impressões”;

2º) Os Espíritos não precisam de repouso, nem obviamente de alimento, posto que não possuem
órgãos em que as forças tenham de ser restauradas, nem muito menos aparelho digestivo, sistema
circulatório, nervoso ou genésico;

3º) O sofrimento do Espírito é totalmente moral, e não físico.

Para finalizar o presente estudo no que concerne à vida espiritual, ninguém melhor que Kardec, que com
muita propriedade assim se expressa: “Existem, portanto, dois mundos: o corporal, composto dos
Espíritos encarnados; e o espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal,
devido mesmo à materialidade do seu envoltório, estão ligados à Terra ou a qualquer globo;o mundo
espiritual ostenta-se por toda parte, em redor de nós como no Espaço, sem limite algum
designado. Em razão mesmo da natureza fluídica do seu envoltório, os seres que o compõem, em lugar
de se locomoverem penosamente sobre o solo, transpõem as distâncias com a rapidez do
pensamento. A morte do corpo é a ruptura dos laços que o retinham cativos”. (Revista Espírita. Março
de 1865, p. 99) (grifei)

Adiante acrescenta o Codificador: “A felicidade está na razão direta do progresso realizado, de sorte
que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto o outro, unicamente por não possuir o
mesmo adiantamento intelectual e moral, sem que por isso precisem estar, cada qual, em lugar
distinto. Ainda que juntos, pode um estar em trevas, enquanto que tudo resplandece para o
outro, tal como um cego e um vidente que se dão as mãos: este percebe a luz da qual aquele não
recebe a mínima impressão. Sendo a felicidade dos Espíritos inerente às suas qualidades, haurem-na
eles em toda parte em que se encontram, seja à superfície da Terra, no meio dos encarnados, seja
no Espaço”.(Revista Espírita. Março de 1865, p. 100) (grifei)

Diante das palavras esclarecedoras de Allan Kardec, podemos asseverar da inexistência de lugares
determinados no plano espiritual, destinados à purgação de penas, como o ‘umbral‘, ou lugares
semelhantes às cidades materiais terrenas, com belezas naturais e construções, para abrigar Espíritos
errantes aos moldes de Nosso Lar.

Como muito bem preceitua Kardec, a dor ou a felicidade é vivenciada pelos Espíritos, seja na superfície
da Terra no meio dos encarnados, seja no Espaço. Como também dois Espíritos, um feliz e outro infeliz
não precisam estar em regiões diferentes para vivenciarem suas realidades espirituais distintas, podendo
estar lado a lado.

Vale ressaltar, que o assunto não se exaure nesta simples abordagem, mas que nos desperte a rever
certos conceitos através de um estudo sério e efetivo das Obras Básicas, para que nos emancipemos da
ignorância que nos aflige, e nos faz escravos das informações mais absurdas, que tomamos como
verdade pelo simples fato de virem do plano espiritual através de um determinado Espírito, às vezes
utilizando-se de nome respeitável, ou pela consideração devida ao médium através do qual se deu a
comunicação.

Seria interessante diante das considerações propostas uma releitura da Escala Espírita - questão 100
de O Livro dos Espíritos, como também um estudo mais aprofundado dos processos de obsessão,
mistificação e fascinação, brilhantemente tratados pelos Espíritos Superiores em O Livro dos Médiuns.

Finalizando, precisamos introjetar que na condição de Espíritos errantes estaremos trabalhando questões
intrínsecas à nossa individualidade, no que concerne ao nosso intelecto e à nossa moralidade, posto que,
como nos disseram muito significativamente os Espíritos Superiores, o repouso do Espírito é totalmente
mental.

Tomemos consciência, que o retorno à verdadeira vida nos levará a conhecer a obra inenarrável do nosso
Criador. Nossa casa somos nós mesmos, livres, viajando pela força do pensamento através de todo esse
imenso cosmos, conhecendo mundos, assistindo a formação de galáxias, e admirando a perfeição dessa
obra, que nem o maior de todos os artistas da Terra poderá reproduzir!

Fonte: Blog Um Olhar Espírita - http://umolharespirita1.blogspot.com/2011/10/nosso-lar-e-umbral-uma-


realidade-nao.html

Meio Espírita ou o quê?


19:12 O BLOG DOS ESPÍRITAS 2 COMMENTS
Por Maria Ribeiro

O orgulho ainda é um mal que carece cuidados muito especiais. Encontrado em infinitas gradações, e
sob as mais variadas formas, também ganhou um nome mais sofisticado – suscetibilidade.

Está invariavelmente acompanhado da vaidade, e esta dupla que sozinha já causa desgraças para
inúmeras reencarnações, requer a terceira e mais cruel chaga humana – o egoísmo. Estas três
características dominam a mente humana, que parece não ter pressa nem interesse em delas se livrar.
Entre nós Espíritas, às chameias se encontram homens incautos que se tornam presas fáceis, no afã de
também serem mestres e terem seus seguidores. Mas graças ao legado Kardequiano pode-se penetrar
no mundo da verdade, já que cada um tem a sua verdade particular e um sonho imenso de se tornar
referência, nem que seja na Casa Espírita em que atua.

Enumeram-se, não por ordem de importância, alguns ocorridos que se pode vivenciar no meio. Um deles
diz respeito à afirmação, baseada em obras de evidente cunho personalista, de que o Passe deve ser
aplicado somente na Casa Espírita, uma vez que esta possui o suporte espiritual necessário para tal.
Ficaram esquecidas as palavras de Jesus “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei
no meio deles”.

Admitem a transgressão por até duas ou três vezes, após isso, o interessado tem que ir mesmo à Casa
Espírita. Nos seus ensinos, Jesus nunca insinuou lugar apropriado para sua generosa “imposição das
mãos”: na beira do caminho, nas ruas, perto dos montes, em casas; ou seja, onde houvesse um
necessitado, Ele fazia sua tarefa. Mas Jesus era um anti-burocrata – ensinou como viver de maneira
simples, sem complicações, sem convencionalismos. Resta saber por que os homens contemporâneos
apresentam tanta resistência em seguir os mesmos passos, demonstrando imatura compreensão à
questão 625 de O Livro dos Espíritos.

Com esta postura, fica muito claro que o desejo é de se fazer adeptos à base de chantagens: “você só vai
receber o passe, se for à casa Espírita.” Isto representa uma forma infantil, e porque não dizer barata de
se fazer proselitismo, que nem é objetivo da Doutrina Espírita.

Mas, se o Cristo não estabeleceu lugar sagrado para isto ou para aquilo, o que a Doutrina Espírita
recomenda? Nada. Não existe lugar melhor ou pior, pois os fluidos ambientes terão o teor dos
pensamentos que ali estiverem. Onde o segredo? Onde o oculto? Onde a complicação? Que estranho
poder é este que estão investidas as Casas Espíritas que nenhum outro lugar possui? Aos ignorantes não
se pode duvidar, mas será que os Espíritos possuidores do mínimo entendimento que seja, fazem
questão disso? Tarefeiros preparados estão aptos para servir em qualquer lugar.

E, que dizer dos tais “passe em equipe”? Segundo uns, o Passe se torna mais eficiente quando recebido
por uma equipe de passistas encarnados. Isto vai de acordo com a condição da pessoa, ou conforme
“indicação espiritual(?)”. Outro fator questionável deste procedimento se encontra no fato de toda a
equipe atuante fazer um círculo ao redor do paciente, de mãos estendidas, numa autêntica postura
católica, ou sabe-se lá o quê, recomendando-se que este também estenda as suas, geralmente sobre os
joelhos, atos que denunciam o pouco ou nenhum conhecimento doutrinário.

Uma terceira observação concerne sobre a abstenção de alimento animal, tendo a carne se tornado uma
ré. Quanto a isto defendem com unhas e dentes baseados em literatura anti espírita, às quais consideram
como novas revelações que complementam o Espiritismo. Argumentam que os efeitos poderão ser
comprometidos. Muito fácil perceber a insipiência destes, uma vez que nem seriam necessários os
esclarecimentos de O Livro dos Espíritos* e de A Gênese*, já que o Tratado Universal de Mediunidade, a
saber - O Livro dos Médiuns, sequer tocou no assunto. Desta forma, com seu poder persuasivo, homens
mantêm reféns outros homens, que infelizmente, parecem se comprazer na condição de submissos ao
falso saber; quando a Doutrina Espírita é a Verdade que liberta, preferem permanecer anestesiados na
ignorância, sob a tutela orgulhosa de irmãos que se deixam seduzir mais por crenças absurdas do que
pela lógica kardequiana.

Também tem seu lugar reservado nas cabines de Passe, a lúdica idéia da cromoterapia utilizada pelos
orientais desde a antiguidade, desde algum tempo, novidade para alguns Espíritas ainda não convictos.
Então é recomendado aos futuros passistas que não se assustem acaso vejam a “aura” dos pacientes,
desta ou daquela cor, e prosseguem a ladainha(para usar um termo bem católico) fazendo as fantásticas
adjetivações relacionadas às cores.

Imaginemos, por exemplo, o paciente desencarnado sentar-se numa cadeira espiritual. Outra: numa
pessoa que nunca tomou passe, deve-se concentrar bastante energias no “chacra” coronário, para limpar
bem, afim de que os fluidos penetrem melhor.(?)

Declarações como estas mereceriam ser compiladas, com todo o respeito, num livro de piadas. Alguém
que use os termos “chacras”, “Karma”, “aura”, deveria freqüentar, no mínimo, os encontros do ESDE. Há
um esforço para “não ferir suscetibilidades”, esta é a nova ordem. É por isso que as vagas para
coordenadores de cursos, de tarefas de modo geral, já têm os nomes determinados. E assim, são sempre
as mesmas pessoas investidas dos mesmos discursos errôneos, confusos, onde querem fazê-los descer
goela abaixo, muitas vezes, com atrevidas referências supostamente kardequianas.

E por falar em livros, que se encontra nas bibliotecas? Onde deveriam ter destaque as obras da
Codificação, e dos continuadores na área científica, filosófica etc, há obras de pessoas que nunca foram
espíritas, mas de outras correntes espiritualistas, desprovidas do ensinamento Kardequiano que é ímpar.

Nos eventos de uma suposta divulgação doutrinária pode-se dizer o mesmo. As amostras nas prateleiras
são de causar vexame. Sem menosprezar o trabalho e a dedicação de tantos companheiros, mas é
necessário que se estabeleçam parâmetros para que a Doutrina Espírita seja divulgada da maneira mais
pura possível.
Cabe perguntar a razão de se manterem perpetuamente as mesmas pessoas em ocupações de vulto
numa instituição Espírita, inclusive dirigentes, contrariando as normas de seus próprios estatutos.

Curioso, chocante ou talvez inusitado, seja o fato de se reservarem lugares da primeira fila para, quem
sabe, parentes e amigos, ou para a “nata” do meio espírita, especialmente quando se trata de
palestrantes ilustres. Recentemente num famoso espaço cultural, aqui em BH, pôde-se constatar que
existe este “apartheid”, algo que deve ser objeto de nossas reflexões. Não se pode afirmar que isto ocorra
freqüentemente, ou se trata-se de um caso isolado, mas que gera um certo desconforto, não se tenha
dúvida.

Estabeleceu-se uma confusão de sentimentos. De repente, a omissão e a conivência passam por respeito
e caridade. Permitir que o erro germine é tão grave quanto jogar a semente que dá origem aos erros. Em
nada está-se a exercer qualquer auxilio a alguém.

O que ocorre é muito simples: para alguns irmãos falta a convicção, para outros, excede o orgulho e a
vaidade, e para ambos, a ignorância está exagerada.

Para os que mais freqüentemente se valem da razão, jamais aceitarão a Doutrina Espírita como terceira
revelação, uma vez que vêem práticas estranhas nesta incorporadas; e, se não puderam se convencer
em outras seitas ou religiões que adotam as mesmas, porque se convenceriam melhor no Espiritismo?

Está aí uma boa maneira não só de não fazer adeptos, como criar novos opositores. O poder de derrotar
o Espiritismo se acha nas mãos destes companheiros que querem adequá-lo ao gosto de uma maioria
que se diverte ainda com os contos fabulosos, sem querer encarar a realidade de fatos aos quais o
Espiritismo pode solucionar, pois que neste se encontram as diretrizes eficazes para os problemas
humanos, de caráter inclusive social.

Tudo isto demonstra que há uma preferência da parte de alguns em continuar com o velho sistema
instituído pelo catolicismo, onde há uma autoridade maior na figura ou nas figuras de pessoas “antigas na
Doutrina”, argumento que tem oferecido credenciais para que este fale o que bem entenda, divulgue suas
idéias à vontade, independentemente do que diga o Espiritismo.

O efeito do orgulho está aí: o pensar-se que todo o conhecimento já “está no papo”, e se investir da
incumbência de tentar transmiti-lo aos outros.

Estude-se Kardec verdadeiramente, sem espírito de preconceito. É hora de esquecer “as revelações” que
confrontam a Doutrina, para que esta, sim, resplandeça sua luz diante dos homens.

Referências bibliográficas:
*O Livro dos Espíritos – questão 723
*A Gênese – cap. III
Revista Superinteressante e a “Ciência Espírita”
09:53 ADMINISTRADOR 2 COMMENTS

Por Dora Incontri

Mais uma vez, a Revista Superinteressante perdeu uma ótima oportunidade de se revelar imparcial, ou
pelo menos, respeitosa. Referimo-nos à matéria de capa, do número de outubro de 2011: Ciência
Espírita.

Imparcialidade, sabemos, é uma utopia jornalística, que nunca será alcançada e talvez nem seja
desejável, pois cada órgão da mídia representa fações sociais de pensamento, está aí para dar voz a
determinado grupo e a certos interesses. O problema é que esses interesses não são explícitos, e mais,
atualmente, todos os órgãos de comunicação são hegemônicos e representam apenas uma forma de
pensar e ver o mundo. Num sistema capitalista como o nosso, os grandes órgãos são grandes empresas
e, como grandes empresas, muitas delas detentoras de monopólios de informação e de formação da
opinião pública, não abrem espaço de manifestação para pensamentos alternativos, críticos ao sistema,
dissidentes dos monopólios.

O pior de tudo é a forma manipuladora com que as matérias são conduzidas, para darem uma ilusão de
imparcialidade, mas que induzem a um pensamento único, hegemônico.

Um dos monopólios ideológicos contemporâneos é o materialismo – ou ainda mais radical – o nihilismo.


Qualquer tendência, pesquisa, ideia ou proposta, que ameace esse paradigma deve ser estigmatizada,
ridicularizada, rechaçada a priori. É proibido duvidar de que somos meros produtos biológicos,
determinados geneticamente e que nossa mente é um subproduto da química neural. Embora a ciência
(juntamente com a filosofia, pois esse não é apenas um problema científico) esteja longe de ter fechado
algum ponto de vista a respeito do conceito de mente – há uma unanimidade imposta, que não pode ser
questionada. E a mídia é justamente a patrona das unanimidades dogmáticas.

Vejamos a matéria em questão. Comecemos pelo título de capa: a ciência não é espírita ou católica ou
budista – a ciência é ciência e ponto. Ao assumir na capa o adjetivo de espírita – como ficará comprovado
no final da reportagem – a revista desqualifica os cientistas que estão pesquisando os fenômenos de
quase-morte e reencarnação, sendo que dos pesquisadores citados, são espíritas apenas os brasileiros,
mas não os autores de fora, aliás respeitados internacionalmente.

Para os espíritas desavisados, o título Ciência Espírita pode soar como música, pois nós, espíritas,
defendemos a existência de uma ciência iniciada por Kardec, com métodos próprios, para investigar os
fenômenos que evidenciam a vida pós-morte. Entretanto, para a maioria das pessoas, chamar uma
ciência de espírita, já a desqualifica de pronto, porque parece uma ciência pré-concebida, que parte de
pressupostos já assentados. E para os pesquisadores como Sam Parnia, Erlendur Haraldsson ou Peter
Fenwick, trata-se de uma afronta chamá-los de espíritas, pois pertencem a culturas onde o espiritismo de
Kardec, tão difundido no Brasil, não tem nenhuma ressonância.

Como se trata de um assunto ainda polêmico, seria natural que os jornalistas ouvissem os dois lados: os
pesquisadores de tais fenômenos e os críticos. As explicações de um lado e as explicações do outro. Isso
é feito em certa medida, dando a sensação no decorrer da matéria de que a revista está sendo imparcial
– apesar do diabo da maldade revelar a ponta da orelha em certos trechos, como quando ao tratar das
experiências mediúnicas investigadas por Frederico Leão, lemos: “Para a maioria dos cientistas, uma
coisa dessas soaria como um espetáculo circense, uma farsa.” Ou quando, os jornalistas acrescentam
sarcasmo a um erro grave de informação (coisa muito comum na imprensa atual). Dizem: “O jargão
(mente e cérebro) serviu para batizar o primeiro evento brasileiro dedicado às pesquisas sobre o além, o I
Simpósio Internacional Explorando as Fronteiras da Relação Mente e Cérebro, em (de novo) Juiz de
Fora.” Esse evento foi em São Paulo, no Centro de Convenções Rebouças.

Além das ironias, o problema central é que a matéria não coloca os dois lados e deixa a questão em
aberto – o que seria mais honesto. Os jornalistas (ou os editores, porque, muitas vezes, os editores
remexem a matéria e imprimem o tom que a revista impõe) fecham com a negativa total, usando a
seguinte tática: tanto dos fenômenos de quase morte, quanto dos casos sugestivos de reencarnação são
narradas apenas algumas histórias isoladas. Isso em ciência não vale muito. Não se menciona que há
uma casuística abundante. Por exemplo, em nenhum momento se fala que Stevenson, de que os citados
Jim Tucker e Haraldsson foram colaboradores, coletou e investigou mais de 2500 casos de crianças com
memórias de vidas passadas. A impressão que dá é que três ou quatro casos impressionaram homens
ingênuos e com tendência a uma fé cega.

O tom final é que demonstra o que a Revista pretende que o leitor pense (pois é isso, ela quer impor um
ponto de vista, sem nenhum respeito aos entrevistados, aos leitores e aos fatos): todos esses
pesquisadores, brasileiros e estrangeiros, não passam de um bando de crédulos, homens de fé, que
estão tentando provar o improvável. O mais incrível é a leviandade com que os jornalistas (que, diga-se
de passagem, não são cientistas) pretendem derrubar a pesquisa de vidas inteiras: em apenas dois
parágrafos, eles se referem a “evidências contra”. Quais? Não são sequer mencionados outros cientistas
que critiquem o trabalho dos colegas. O texto é dos próprios jornalistas; um texto,confuso, tendencioso,
com argumentos fracos e que termina da forma mais acintosa possível: “é difícil não acreditar que os
pesquisadores de reencarnações, EQMs e afins, se movam mais pela fé que pela curiosidade científica.”

E assim, estamos conversados. Está dita a última palavra. Com meia-dúzia de frases, pensa-se garantir
que o paradigma materialista, pelo qual a mídia zela com tanto fervor, permaneça intacto aos olhos dos
leitores.
O Espiritualismo Experimental
23:30 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Léon Denis

Em nossos dias, mais do que nunca, o Espiritismo chama a atenção do público. Fala-se com freqüência
em casas mal-assombradas, em fenômenos de telepatia, em aparições e materializações de espíritos.

A Ciência, a Literatura, o Teatro e a Imprensa deles se ocupam constantemente, porquanto as


experiências do Instituto Metapsíquico, os testemunhos do grande escritor inglês Conan Doyle e as
averiguações feitas por alguns jornais parisienses dão a esta questão um caráter de atualidade
permanente.

Examinemos, pois, este problema, e averigüemos por que o Espiritismo, tão freqüentemente sepultado,
sempre reaparece, crescendo, dia a dia, o número de seus partidários.
Não é, por acaso, uma coisa estranha?

Talvez, na História, jamais se tenha produzido nada igual.

Nunca se viu um conjunto de fatos, considerados impossíveis a princípio, cuja idéia provocava, em geral,
antipatia, receio, desdém; fatos que excitavam a hostilidade de várias instituições seculares, acabarem
por se impor à atenção e até à convicção de homens cultos, competentes, autorizados por suas funções e
por seu caráter.

Esses homens, inicialmente céticos, terminaram por reconhecer e afirmar a realidade dos aludidos
fenômenos, depois de os estudar, investigar e experimentar.

O ilustre sábio inglês William Crookes, conhecido no mundo inteiro pelo descobrimento do estado radiante
da matéria, e que durante três anos obteve, em sua casa, materializações do espírito Katie King, em
condições de controle rigoroso, falava, a propósito dessas manifestações: “Eu não digo que isto seja
possível, eu digo: isto é".
Oliver Lodge, reitor da Universidade de Birmingham, membro da Sociedade Real, escreveu:

“Fui levado, pessoalmente, à certeza da existência futura, por provas que repousam sobre uma base
estritamente científica”.

Frederico Myers, professor de Cambridge – a quem o Congresso Oficial Internacional de Psicologia de


Paris, em 1890, elegeu Presidente de Honra – em seu admirável livro A Personalidade Humana, chega à
conclusão de que vozes e mensagens nos vêm do Além-Túmulo.

Falando da médium Sra. Thompson, Myers escreve: “Creio que a maioria dessas mensagens vêm de
espíritos que se servem, temporariamente, do organismo dos médiuns para transmiti-las a nós.”

O célebre professor Césare Lombroso, de Turim, diz na Leitura: “Os fatos observados nas casas
freqüentadas por fantasmas, nas quais, durante anos, se reproduzem aparições e ruídos, de acordo com
o relato de mortes trágicas, e sem a presença de nenhum médium, atestam em favor da ação dos mortos.
Com freqüência, trata-se de casas desabitadas, onde esses fenômenos se produzem durante várias
gerações e, muitas vezes, durante séculos.”

O Sr. Boutroux, filósofo bem conhecido, dissertava, em suas brilhantes conferências, acerca dos espíritos
e as comunicações medianímicas, assegurando que: “A porta do subconsciente é a abertura por onde o
divino pode entrar na alma humana.”

“Às vezes, – dizia, – as revelações espíritas são tão estranhas que parece, efetivamente, estar, o
médium, em comunicação com diferentes seres dos que lhe são acessíveis normalmente.”

William James, reitor da Universidade de Harvard, New York, eminente psicólogo falecido há alguns anos,
afirmava a verossimilhança das comunicações com os mortos, em seu estudo publicado no ano de 1909,
no Proceedings, acerca de seu amigo Hodgson, já falecido, que vinha conversar com ele pela
mediunidade da senhora Piper. James escrevia que: “Estes fenômenos dão a impressão irresistível de
que é realmente a personalidade de Hodgson, com suas características próprias” e, mais adiante: “O
sentimento dos assistentes era de que conversavam com o verdadeiro Hodgson”.

A origem do Espiritismo, o Espiritualismo Moderno, está na América.

Na realidade, os fenômenos do Além-Túmulo se encontram na base de todas as grandes doutrinas do


passado. Em quase todos os tempos, o mundo dos vivos manteve relação com o Mundo Invisível. Porém,
na Índia, no Egito e na Grécia, esses estudos eram privilégio de um pequeno número de investigadores e
de iniciados, e os seus resultados se ocultavam cuidadosamente.

Para que esse estudo fosse acessível a todos, e se conhecessem as verdadeiras leis que regem o Mundo
Invisível; para ensinar os homens a ver nesses fenômenos, não uma ordem de coisas sobrenatural, mas
um domínio ignorado da natureza e da vida, era necessário o trabalho enorme dos séculos, todos os
descobrimentos da Ciência, todas as conquistas do espírito humano sobre a matéria.
Era preciso que o homem conhecesse seu verdadeiro lugar no Universo, que aprendesse a medir a
debilidade de seus sentidos e a sua impotência para explorar, por si mesmo e sem ajuda, todos os
domínios da natureza viva.

A Ciência, com seus inventos, atenuou essa imperfeição de nossos órgãos.

O telescópio abriu aos nossos olhos os abismos do espaço, o microscópio nos revelou o infinitamente
pequeno: assim surgiu a vida, tanto no mundo dos infusórios como na superfície dos globos gigantes que
giram na profundidade dos céus.

A Física descobriu as leis que regulam a transformação das forças e a conservação da energia e,
também, as leis que mantém o equilíbrio dos mundos.

A radioatividade dos corpos revelou a existência de poderes desconhecidos e incalculáveis: raios X,


ondas hertzianas, irradiações de todas as classes e de todos os graus.

A Química nos fez conhecer as combinações da matéria. O vapor e a eletricidade vieram revolucionar a
superfície do globo, facilitando as relações entre os povos e as manifestações do pensamento, para que
as idéias resplandeçam e se propaguem a todos os pontos da esfera terrestre.

Hoje, o estudo do Mundo Invisível vem completar essa magnífica ascensão do Pensamento e da Ciência.
O problema do Além-Túmulo se ergue frente ao espírito humano com poder e autoridade.

Nos fins do século XIX, o homem, desenganado de todas as teorias contraditórias e de todos os sistemas
incompletos que se lhe apresentavam, abandonava-se à dúvida; perdia, cada vez mais, a noção da vida
futura.

Foi então que o Mundo Invisível veio até ele e o perseguiu até sua própria morada. Por diversos meios, os
mortos se manifestaram aos vivos. As vozes do Além-Túmulo falaram. Os mistérios dos santuários
orientais, os fenômenos ocultos da Idade Média, após um largo silêncio, reapareceram.

O Espiritismo nasceu.

As primeiras manifestações do Espiritualismo Moderno se produziram além dos mares, num mundo
jovem, rico de energia vital, de expansão ardente, menos exposto que a velha Europa ao espírito de
rotina e aos prejuízos do passado. Dali as manifestações se espalharam por todo o globo.

Essa eleição foi profundamente sensata, pois a livre América era, com efeito, o ambiente mais propício
para uma obra de difusão e de renovação. Por isso ali se contam, hoje, vinte milhões de “espiritualistas
modernos”. Mas, tanto de um lado do Atlântico quando do outro, embora com intensidades diferentes, as
fases de progresso da idéia espírita têm sido idênticas.

Em ambos os continentes, o estudo do magnetismo e dos fluidos havia preparado certos espíritos para a
observação do Mundo Invisível.

A princípio, se produziram fatos estranhos em todas as partes, fatos dos quais ninguém se atrevia a falar,
senão em voz baixa, na intimidade. Depois, pouco a pouco, se foi elevando o tom. Sábios, homens de
talento, cujos nomes são garantia de honorabilidade e de sinceridade, se atreveram a falar desses fatos
em voz alta, afirmando-os.

Falou-se de hipnotismo, de sugestão; depois, vieram a telepatia, os casos de levitação e todos os


fenômenos do Espiritismo. Agitavam-se mesas em louca rotação; deslocavam-se objetos, sem nenhum
contato, ressoavam golpes nas paredes e nos móveis. Todo um conjunto de fatos se produzia;
manifestações, vulgares na aparência, mas perfeitamente adaptadas às exigências do meio terrestre, ao
estado de espírito positivo e cético das sociedades modernas.

O fenômeno falava aos sentidos, porque os sentidos são como aberturas por onde o fato penetra até o
entendimento.

As impressões produzidas no organismo despertam surpresas, incitam à busca, e conduzem à convicção.


Daí o encadeamento dos fatos, a marcha ascendente dos fenômenos.
Com efeito, depois de uma primeira fase material e grosseira, as manifestações tomaram um aspecto
novo. Os golpes se fizeram mais regulares e se converteram em um meio de comunicação inteligente e
consciente; a escrita automática se divulgou.

A possibilidade de estabelecer relação entre o mundo visível e o invisível apareceu como um fato imenso,
derrubando as idéias herdadas, derrubando os ensinamentos habituais, mas abrindo sobre a vida futura
uma saída que o homem não se atrevia ainda a transpor, deslumbrado pelas perspectivas que se
apresentavam a ele.

Ao mesmo tempo que se propagava, o Espiritismo via numerosas oposições levantarem-se contra si.
Como todas as idéias novas, teve que enfrentar o menosprezo, a calúnia, a perseguição moral.

Tal qual o Cristianismo, em seu começo foi sobrecarregado de amargura e de injúrias. Sempre acontece
assim. Quando novos aspectos da verdade aparecem aos homens, sempre provocam assombro,
desconfiança, hostilidade.

É fácil compreendê-lo. A humanidade esgotou as velhas formas de pensamento e de crença; e quando


formas inesperadas da verdade se revelam, não parecem corresponder muito ao antigo ideal, que está
debilitado, mas não morto.

Por isso se necessita de um período bastante longo de estudo, de reflexão, de incubação, para que a
nova idéia abra caminho na opinião. Daí as lutas, as incertezas, os sofrimentos da primeira hora.
Riu-se muito das formas que tomava o Novo Espiritualismo. Os poderes invisíveis, que velam sobre a
humanidade, são melhores juízes que nós dos meios de ação e de adestramento que convém adotar,
segundo os tempos e os ambientes, para fazer com que o homem tome consciência do seu papel e do
seu destino, sem, por isso, travar seu livre-arbítrio. Porque isto é o essencial: que a liberdade do homem
fique intacta.

A Vontade Superior sabe ajustar-se às necessidades de uma época, de uma raça, e às novas formas da
eterna revelação.

Ela suscita, no seio das sociedades, os pensadores, os experimentadores, os sábios que indicarão o
caminho a seguir e colocarão os primeiros marcos. Sua obra se desenrola lentamente. Os resultados são,
a princípio, débeis, insensíveis, mas a idéia penetra pouco a pouco nas inteligências. O movimento, por
ser imperceptível, não é, por si, menos seguro e profundo.

Em nossa época, a Ciência se elegeu em dona soberana, em diretora do movimento intelectual. Cansada
das especulações metafísicas e dos dogmas, a humanidade reclamava provas sensíveis, bases sólidas
sobre as quais pudesse assentar suas convicções.

Fazia-se o estudo experimental, a observação dos fatos, como uma tábua de salvação. Daí o grande
critério dos homens da Ciência, na atualidade. Por isso a revelação adquiriu um caráter científico. Com
fatos materiais, chamou-se a atenção dos homens que se haviam materializado.

Os fenômenos misteriosos, que se achavam disseminados na História, se renovaram e se multiplicaram


ao nosso redor, sucederam-se em ordem progressiva, que parece indicar um plano preconcebido, a
execução de um pensamento, de uma vontade.

À medida que o Novo Espiritualismo ganhava terreno, os fenômenos se iam transformando. As


manifestações, grosseiras no começo, se aperfeiçoavam, tomando um caráter mais elevado. Certos
médiuns recebiam por meio da escrita, de uma forma mecânica ou intuitiva, mensagens, inspirações de
fonte estranha. Instrumentos musicais tocavam sozinhos.

Ouviam-se vozes e cantos: penetrantes melodias pareciam baixar do céu e turvavam o ânimo dos mais
incrédulos. A escrita direta aparecia no interior de lousas justapostas e lacradas.

Os fenômenos de incorporação permitiam aos mortos possuírem o organismo de um médium adormecido,


e conversar com quem haviam conhecido na Terra.

Gradualmente, e como conseqüência de um desenvolvimento calculado, apareciam os médiuns videntes,


falantes, curadores.

Enfim, os habitantes do espaço, revestindo-se de envoltórios temporários, vinham reunir-se com os


humanos, vivendo, por uns instantes, sua vida material e terrestre, deixando-se ver, tocar, fotografar;
dando impressões de suas mãos e de seus rostos e desvanecendo-se logo para prosseguir sua vida
etérea.

Assim é que se tem produzido uma série de fatos, durante mais de meio século, desde os mais inferiores
e vulgares até os mais sutis, segundo o grau de elevação das inteligências que intervêm; toda uma ordem
de manifestações se desenrolou sob o olhar atento de observadores.

Por isso, e apesar das dificuldades de experimentação, apesar dos casos de fraudes e dos modos de
exploração, em que esses fatos serviram muitas vezes de pretexto, a apreensão e a desconfiança se
atenuaram paulatinamente, e o número de investigadores cresceu.

Há quase cinqüenta anos, em todos os países, o fenômeno espírita tem sido objeto de freqüentes
investigações empreendidas e dirigidas por comissões científicas. Sábios céticos, professores célebres de
todas as grandes universidades do mundo, submeteram esses fatos a um exame profundo e rigoroso.
Sua intenção primeira foi sempre esclarecer o que eles acreditavam tratar-se do resultado de enganos
deliberados ou de alucinações. Mas quase todos, depois de anos de estudos conscienciosos e de
experimentações perseverantes, abandonaram suas prevenções e sua incredulidade, e se inclinaram
ante a realidade dos fatos.

As manifestações espíritas, comprovadas por milhares de pessoas em todos os pontos do globo,


demonstraram que, ao nosso redor, se agita um mundo invisível, um mundo onde vivem, em estado
fluídico, aqueles que nos precederam na Terra, que lutaram e sofreram, e que constituem, além da morte,
uma segunda humanidade.

O Novo Espiritualismo se apresenta hoje com um acompanhamento de provas e um conjunto de


testemunhos tão imponentes, que já não é possível a dúvida para os investigadores de boa-fé. Isto
mesmo expressava o professor Challis, da Universidade de Cambridge, nos seguintes termos:

“Os atestados têm sido tão abundantes e tão perfeitos, os testemunhos têm vindo de tantas fontes
independentes entre si e de um número tão grande de testemunhas, que se faz necessário ou admitir as
manifestações tal como se nos apresentam, ou renunciar à possibilidade de atestar, por um depoimento
humano, qualquer fato que seja.”

Por essa razão, o movimento de propagação se foi acentuando cada vez mais.

No momento atual, estamos assistindo a um verdadeiro florescimento das idéias espíritas. A crença no
Mundo Invisível se estendeu por sobre toda a face da Terra. Por toda parte, o Espiritismo tem suas
sociedades de experimentação, seus vulgarizadores, seus periódicos.

Embora a filosofia, em suas mais atrevidas especulações, tenha conseguido elevar-se à concepção de
outro mundo de existência, depois da morte do corpo, a ciência humana, não obstante, não havia logrado,
experimentalmente, a certeza do fato em si.

O valor do Espiritismo consiste, precisamente, em nos proporcionar essas bases experimentais,


provando-nos a possibilidade de comunicação entre os vivos e as inteligências que viveram entre nós
antes de transpor o umbral da vida invisível. Essas almas puderam dar, em certos casos, a demonstração
de sua identidade e de seu estado de consciência.

Para não citar senão um caso entre mil: o doutor Richard Hodgson, falecido em dezembro de 1906,
comunicou-se depois com seu amigo J. Hislop, professor da Universidade de Columbia, entrando em
minuciosos detalhes, acerca das experimentações e trabalhos realizados pela Sociedade de
Investigações Psíquicas, de cuja seção americana era presidente.

Explicou como teriam que dirigi-los, provando sua identidade com todos esses pormenores. Essas
comunicações se transmitiram por intermédio de diferentes médiuns, que não se conheciam entre si,
servindo de mútua confirmação. Nelas se reconhecem as palavras e as frases familiares do comunicante
durante sua vida.

Embora o início do Espiritismo tenha sido difícil e sua marcha, lenta e cheia de obstáculos, há quase vinte
anos ele conquistou direito de cidadania. Converteu-se em uma verdadeira ciência e, no tempo certo,
num corpo de doutrina, uma filosofia geral da vida e do destino, cimentada em um conjunto imponente de
provas experimentais às quais, a cada dia, se agregam fatos novos.

Essa ciência, essa doutrina, nos tem demonstrado, cada vez melhor, a realidade de um mundo invisível,
incomensurável, povoado de seres viventes, que até agora haviam passado despercebidos aos nossos
sentidos. Novos horizontes se nos abriram. A perspectiva de nossos destinos se nos ampliou.

Nós mesmos pertencemos, por uma parte de nosso ser – a mais importante – a esse Mundo Invisível,
que se revela cada dia mais aos observadores atentos.

Os casos de telepatia, os fenômenos de desdobramento, as exteriorizações de pessoas vivas, as


aparições à distância, tantas vezes descritas por F. Myers, C. Flammarion, Charles Richet, Dr. Dariex, Dr.
Maxwell, etc., o demonstram experimentalmente. As atas da Sociedade de Investigações Psíquicas, de
Londres, são ricas em fatos desse gênero.

Os espiritistas crêem que essa parte invisível, imponderável de nosso ser, registro inalterável de nossas
faculdades, de nosso “eu” consciente, em uma palavra, o que os crentes de todas as religiões chamaram
“alma”, sobrevive à morte. Prossegue sua evolução, no decorrer do tempo e do espaço, até estados
sempre melhores e mais iluminados através de raios de justiça, de verdade e de amor. Essa alma, esse
“eu” consciente, tem como invólucro indestrutível, como veículo, um corpo fluídico, envoltório do corpo
humano, formado de matéria sutil, radiante, invisível, sobre o qual a morte não tem ação alguma.

Achamo-nos aqui em presença de uma teoria, de uma concepção suscetível de reconciliar as doutrinas
materialistas e espiritualistas, que durante tanto tempo se combateram sem se poderem derrubar, nem
destruir mutuamente.

A alma já não seria uma vaga abstração, mas um centro de força e de vida, inseparável de sua forma
sutil, imponderável, embora ainda material.

Há nela uma base positiva para as esperanças e as aspirações elevadas da humanidade. Tudo não
termina com esta vida: o ser, indefinidamente aperfeiçoável, recolhe em seu estado psíquico – que sem
cessar se refina – o fruto do trabalho, as obras, os sacrifícios de todas as suas existências.

As dores, o grito de chamada que se eleva para o céu, desde as profundezas da humanidade, não ficam
sem resposta.

Aqueles que viveram entre nós, e que continuam no espaço sua evolução indefinida, sob formas mais
etéreas, não se desinteressam de nossos sacrifícios e de nossas lágrimas.
Desde os cumes da vida universal caem, sem cessar, sobre a humanidade, correntes de força e
inspiração. Dali procedem os relâmpagos do gênio; dali os sopros poderosos que passam sobre as
multidões nas horas decisivas; dali o consolo para os que sucumbem sob a pesada carga da existência.

Um laço misterioso une o visível ao invisível.

Nosso destino se desenvolve sobre a cadeia grandiosa dos mundos e se traduz em aumentos graduais
de vida, de inteligência e de sensibilidade.
Mas, o estudo do universo oculto não se faz sem dificuldades. Lá, como aqui, o bem e o mal, a verdade e
o erro se misturam segundo o grau de evolução dos espíritos com os quais entramos em relação.

Por isso é necessário abordar o terreno da experimentação com uma prudência extremada, depois de
estudos teóricos suficientes.

O Espiritismo é a ciência que regula essas relações e nos ensina a conhecer, a atrair, a utilizar as forças
benéficas do Mundo Invisível; a separar as más influências e, ao mesmo tempo, a desabrochar os
poderes escondidos, as faculdades ignoradas que dormem no fundo de todo ser humano.

Do livro "Espíritos e Médiuns"

Da Obsessão e da Possessão
09:21 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT

Por Allan Kardec

A obsessão é o império que maus Espíritos tomam sobre certas pessoas, tendo em vista dominá-las e
submetê-las à sua vontade, pelo prazer que sentem em fazer o mal.

Quando um Espírito, bom ou mau, quer agir sobre um indivíduo, ele o envolve, por assim dizer, com o seu
perispírito, como um manto; os fluidos se penetram, os dois pensamentos e as duas vontades se
confundem, e o Espírito pode, então, se servir desse corpo como do seu próprio, fazê-lo agir segundo a
sua vontade, falar, escrever, desenhar, tais são os médiuns. Se o Espírito é bom, a sua ação é doce,
benfazeja; ele não leva a fazer senão boas coisas; se é mau, leva a fazê-las más; se é perverso e mau,
constrange-o, como numa rede, paralisa até a sua vontade, o seu julgamento mesmo, que abafa sob o
seu fluido, como se abafa o fogo sob uma camada de água; fá-lo pensar, falar, agir por ele, impele-o,
apesar dele, a atos extravagantes ou ridículos, em uma palavra, o magnetiza, o cataleptiza moralmente, e
o indivíduo se torna um instrumento cego de suas vontades. Tal é a causa da obsessão, da fascinação e
da subjugação, que se mostram em graus de intensidade muito diferentes. É ao paroxismo da subjugação
que se chama vulgarmente de possessão. Há a se anotar que, neste caso, freqüentemente, o indivíduo
tem a consciência de que o que faz é ridículo, mas é constrangido a fazê-lo, como se um homem mais
vigoroso do que ele fizesse mover, contra a sua vontade, os seus braços, as suas pernas e a sua língua.
Uma vez que os Espíritos existiram de todos os tempos, de todos os tempos também eles
desempenharam o mesmo papel, porque esse papel está na Natureza, e a prova disso está no grande
número de pessoas obsidiadas ou possuídas, querendo-se, antes que fosse posta a questão dos
Espíritos, ou que, em nossos dias, jamais ouviram falar de Espiritismo nem de médiuns. A ação dos
Espíritos, bons ou maus, é, pois, espontânea; a dos maus produz uma quantidade de perturbações na
economia moral, e mesmo física, que, por ignorância da causa verdadeira, atribuía-se a causas errôneas.
Os maus Espíritos são os inimigos invisíveis tanto mais perigosos quanto não se suponha a sua ação. O
Espiritismo, pondo-os a descoberto, vem revelar uma nova causa para certos males da Humanidade;
conhecida a causa, não se procurará mais combater o mal pelos meios que doravante se sabem inúteis,
procurar-se-ão os mais eficazes. Ora, o que fez descobrir essa causa? A mediunidade; foi por meio da
mediunidade que esses inimigos ocultos traíram a sua presença; ela fez para eles o que o microscópio
fez para os infinitamente pequenos: revelou todo um mundo. O Espiritismo não atraiu, de nenhum modo,
os maus Espíritos; ele os descobriu, e deu os meios de paralisar-lhes a ação e, conseqüentemente,
afastá-los. Ele não trouxe, de nenhum modo, o mal, uma vez que o mal existia de todos os tempos:
trouxe, ao contrário, o remédio ao mal mostrando-lhe a causa. Uma vez reconhecida a ação do mundo
invisível, ter-se-á a chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos, e a ciência, enriquecida com
esta nova lei, verá se abrir diante dela novos horizontes. QUANDO CHEGARÁ ELA A ISSO? Quando ela
não professar mais o materialismo, porque o materialismo detém o seu vôo e lhe coloca uma barreira
intransponível.

Uma vez que se há maus Espíritos que obsIdiam, há bons que protegem, pergunta-se se os maus
Espíritos são mais poderosos do que os bons.

Não é o bom Espírito que é mais fraco, é o médium que não é bastante forte para sacudir o manto que se
lança sobre ele, para se livrar do constrangimento dos braços que o enlaçam e nos quais, é necessário
dizê-lo bem, algumas vezes se compraz. Neste caso, compreende-se que o bom Espírito não possa ter a
superioridade, uma vez que se lhe prefere um outro. Admitamos agora o desejo de se desembaraçar
desse envoltório fluídico, do qual o seu está penetrado, como uma vestimenta está penetrada pela
umidade, o desejo não bastará. A própria vontade nem sempre bastará.

Trata-se de lutar contra um adversário; ora, quando dois homens lutam corpo a corpo, é aquele que tem
músculos mais fortes que derruba o outro. Com um Espírito é necessário lutar, não corpo a corpo, mas de
Espírito para Espírito, e é ainda o mais forte que domina; aqui, a força está na autoridade que se pode
tomar sobre o Espírito, e essa autoridade está subordinada à superioridade moral. A superioridade moral
é como o Sol que dissipa o nevoeiro pela força de seus raios. Esforçar-se para ser bom, tornar-se melhor
sendo-se já bom, purificar-se de suas imperfeições, em uma palavra, se elevar moralmente o mais
possível, tal é o meio para adquirir o poder de dominar os Espíritos inferiores, para afastá-los, de outro
modo eles zombarão de vossas imposições. (O Livro dos Médiuns, nº 252 e 279.)

Entretanto, dir-se-á, por que os Espíritos protetores não lhes ordenam para que se retirem? Sem dúvida,
eles o podem e o fazem algumas vezes; mas, permitindo a luta, deixam também o mérito da vitória; se
deixam se debaterem pessoas merecedoras sob certos aspectos, é para provar a sua perseverança e
fazê-las adquirir mais força no bem; é para elas uma espécie de ginástica moral.

Certas pessoas, sem dúvida, prefeririam uma outra receita para expulsar os maus Espíritos: algumas
palavras a dizer, ou alguns sinais a fazer, por exemplo, o que seria mais cômodo do que corrigir os seus
defeitos. Com isso estamos descontentes, mas não conhecemos nenhum meio eficaz para vencer um
inimigo senão de ser mais forte do que ele. Quando se está enfermo, é necessário resignar-se em tomar
um medicamento, embora amargo que seja; mas também, quando se teve a coragem de bebê-lo, como
se porta bem e como se é forte! É necessário, pois, bem se persuadir de que não há, para alcançar esse
objetivo, nem palavras sacramentais, nem fórmulas, nem talismã, nem quaisquer sinais materiais. Os
maus Espíritos deles se riem e se divertem, freqüentemente, indicando-os, que têm sempre o cuidado de
dizerem infalíveis, para melhor captar a confiança daqueles que querem enganar, porque então estes,
confiantes na virtude do processo, se entregam sem receio.

Antes de esperar domar o mau Espírito, é necessário domar a si mesmo. De todos os meios para adquirir
a força para lá chegar, o mais eficaz é a vontade secundada pela prece, entenda-se a prece de coração,
e não de palavras, para as quais a boca toma mais parte do que o pensamento. É necessário rogar seu
anjo guardião, e os bons Espíritos, para nos assistir na luta; mas não basta lhes pedir para expulsarem o
mau Espírito, é necessário se lembrar desta máxima: Ajuda-te, e o céu te ajudará, e lhes pedir, sobretudo,
a força que nos falta para vencermos os nossos maus pendores, que são para nós piores do que os maus
Espíritos, porque são essas tendências que os atraem, como a corrupção atrai as aves de rapina.
Pedindo também para o Espírito obsessor, é restituir-lhe mal com o bem, e se mostrar melhor do que ele,
o que já é uma superioridade. Com a perseverança, freqüentemente, acaba-se por conduzi-lo a melhores
sentimentos e de perseguidor se faz um agradecido.

Em resumo, a prece fervorosa, e os esforços sérios para se melhorar, são os únicos meios para afastar
os maus Espíritos que reconhecem seus superiores naqueles que praticam o bem, ao passo que as
fórmulas os fazem rir, a cólera e a impaciência os excitam. É necessário deixá-los se mostrando mais
pacientes do que eles.

Mas ocorre, algumas vezes, que a subjugação aumenta ao ponto de paralisar a vontade do obsidiado, e
que não se pode dele esperar nenhum concurso sério. É então, sobretudo, que a intervenção de terceiros
torna-se necessária, seja pela prece, seja pela ação magnética; mas a força dessa intervenção depende
também do ascendente moral que os intervenientes podem tomar sobre os Espíritos; porque se não
valem mais, a sua ação é estéril. A ação magnética, nesse caso, tem o efeito de penetrar o fluido do
obsidiado de um fluido melhor, e de livrá-lo do Espírito mau; ao operar, o magnetizador deve ter o duplo
objetivo de opor uma força moral a uma força moral, e de produzir sobre o sujeito uma espécie de reação
química, para nos servirmos de uma comparação material, expulsando um fluido por um outro fluido. Por
aí, não somente ele opera um desligamento salutar, mas dá força aos órgãos enfraquecidos por uma
longa e, freqüentemente, vigorosa opressão. Compreende-se, de resto, que a força da ação fluídica está
em razão, não só da energia da vontade, mas sobretudo da qualidade do fluido introduzido, e, segundo o
que dissemos, que essa qualidade depende da instrução e das qualidades morais do magnetizador; de
onde se segue que um magnetizador comum, que agiria maquinalmente para magnetizar pura e
simplesmente, produziria pouco ou de nenhum efeito; é preciso, de toda a necessidade, um magnetizador
espírita agindo com conhecimento de causa, com a intenção de produzir, não o sonambulismo ou uma
cura orgânica, mas os efeitos que acabamos de descrever. Além disso, é evidente que uma ação
magnética, dirigida nesse sentido, não pode ser senão muito útil no caso de obsessão comum, porque
então, se o magnetizador é secundado pela vontade do obsidiado, o Espírito é combatido por dois
adversários ao invés de um.

É necessário dizer, também, que se acusam, freqüentemente, os Espíritos estranhos de danos dos quais
são muito inocentes; certos estados doentios, e certas aberrações que se atribuem a uma causa oculta,
por vezes, devem-se simplesmente ao Espírito do próprio indivíduo. As contrariedades, que mais
comumente cada um se concentra em si mesmo, sobretudo os desgostos amorosos, fazem cometer
muitos atos excêntricos que se estaria errado em levar à conta da obsessão. Freqüentemente, pode ser-
se obsessor de si próprio.

Acrescentemos, enfim, que certas obsessões tenazes, sobretudo nas pessoas de mérito, algumas vezes,
fazem parte das provas às quais estão submetidas. "Ocorre mesmo, por vezes, que a obsessão, quando
é simples, é uma tarefa imposta ao obsidiado, que deve trabalhar para a melhoria do obsessor, como um
pai pela de um filho viciado."

(Para maiores detalhes, remetemos a O Livro dos Médiuns.)

A prece, geralmente, é um meio poderoso para ajudar na libertação dos obsidiados, mas não é uma prece
de palavras, dita com indiferença e como uma fórmula banal, que pode ser eficaz em semelhante caso; é
necessária uma prece ardente que seja, ao mesmo tempo, uma espécie de magnetização mental; pelo
pensamento pode-se levar, sobre o paciente, uma corrente fluídica salutar, cuja força está em razão da
intenção. A prece não tem, pois, somente por efeito invocar um socorro estranho, mas de exercer uma
ação fluídica. O que uma pessoa não pode fazer só, várias pessoas unidas pela intenção, numa prece
coletiva e reiterada, freqüentemente o podem, sendo a potência da ação aumentada pelo número.

A ineficácia do exorcismo nos casos de possessão está constatada pela experiência, e está provado que,
a maior parte do tempo, aumenta o mal antes que o diminua. A razão disso é que a influência está
inteiramente no ascendente moral exercido sobre os maus Espíritos, e não num ato exterior, na virtude
das palavras e de sinais. O exorcismo consiste nas cerimônias e fórmulas das quais se riem os maus
Espíritos, ao passo que eles cedem à superioridade moral que se lhes impõe; vêem que se quer dominá-
los por meios impotentes, que se pensa intimidá-los por um vão aparelho, e tratam de se mostrar os mais
fortes, por isso é que redobram; são como o cavalo assustado, que lança por terra o cavaleiro inábil, e
que se submete quando encontra o seu senhor; ora, o verdadeiro senhor aqui é o homem de coração
mais puro, porque é este que é o mais escutado pelos bons Espíritos.

O que um Espírito pode fazer sobre um indivíduo, vários Espíritos podem fazê-lo sobre vários indivíduos,
simultaneamente, e dar à obsessão um caráter epidêmico. Uma nuvem de maus Espíritos pode invadir
uma localidade, e ali se manifestar de diversas maneiras. Foi uma epidemia desse gênero que maltratou
a Judéia ao tempo do Cristo; ora, o Cristo, pela sua imensa superioridade moral, tinha sobre os demônios,
ou maus Espíritos, uma superioridade moral tal que lhe bastava ordenar-lhes para se retirarem, para que
eles o fizessem, e não empregava para isso nem sinais, nem fórmulas.

O Espiritismo está fundado sobre a observação dos fatos resultantes das relações entre o mundo visível e
o mundo invisível. Estando esses fatos na Natureza, produziram-se em todas as épocas, e são muitos
sobretudo nos livros sagrados de todas as religiões, porque serviram de base à maioria das crenças. Por
falta de compreendê-los, foi que a Bíblia e os Evangelhos oferecem tantas passagens obscuras e que
foram interpretadas em sentidos tão diferentes; o Espiritismo é a chave que deve facilitar-lhes a
inteligência.
Fonte: Obras Póstumas

Para saber mais:

Artigos de Sérgio Aleixo dividem leitores do blog


18:57 O BLOG DOS ESPÍRITAS 3 COMMENTS

Os artigos de Sérgio Aleixo, vice-presidente da ADE-RJ (Associação de Divulgadores do Espiritismo do


Rio de Janeiro), palestrante e escritor espírita publicados em "O Blog dos Espíritas" tem mexido com a
cabeça de vários leitores.

A maioria concorda com a posição adotada por Aleixo, defensor da Doutrina Espírita tal qual foi codificada
por Kardec em parceria com os Espíritos Superiores, assim como a utilização do Controle Universal do
Ensino dos Espíritos - CUEE, detalhado minuciosamente por Allan Kardec em O Evangelho Segundo o
Espiritismo, para a aceitação ou não de comunicações como doutrinárias.

A minoria é composta por espíritas cristãos que defendem o ponto de vista do Espiritismo ser uma
religião, a infalibilidade dos médiuns e suas comunicações, a crença em André Luiz e suas colônias
espirituais.

Alguns leitores entram em contato conosco de forma gentil e ponderada, acerca de seus pontos de vista
doutrinários, outros, mais exaltados, discordam radicalmente de Aleixo e da posição do blog, que ratifica o
posicionamento do vice-presidente da ADE-RJ.
Não é objetivo de "O Blog dos Espíritas" impor seu ponto de vista a ninguém. Respeitamos quem acredita
ser o Espiritismo uma religião, embora discordemos dessa afirmação e de tantas outras que estão em
clara contradição com os princípios espíritas. Pedimos, então, àqueles que discordam do posicionamento
do blog e do escritor Sérgio Aleixo que, se o quiserem, exponham seu ponto de vista dentro da razão e do
embasamento doutrinário. Que defendam suas idéias sem ofender o contrário. Argumentem. Criticar a
pessoa ou pessoas que defendem a pureza doutrinária do Espiritismo é mostrar desconhecimento da
Doutrina Espírita e de argumentos. Pois o que se deve combater são as idéias, e não os indivíduos.

Este blog permanecerá na sua linha de esclarecimento do Espiritismo para aqueles que não conhecem a
doutrina e tampouco creem no que leram ou assistiram em livros/filmes como Nosso Lar.Apesar do nosso
pouco tempo online, temos certeza que fizemos com que muitos espíritas, simpatizantes e até mesmo
opositores da Doutrina refletissem sobre ela de forma honesta e sincera, possibilitando que imagens
errôneas veiculadas pela mídia fossem desmistificadas.

“Segue-se que a opinião de um Espírito sobre um princípio qualquer não é considerada pelos espíritas
senão como uma opinião individual, que pode ser justa ou falsa, e não tem valor senão quando é
sancionada pelo ensino da maioria, dado sobre os diversos pontos do globo”. (Revista Espírita, 1865)

“Mas nunca será demasiado repetir: não aceiteis nada cegamente. Que cada fato seja submetido a um
exame minucioso, aprofundado e severo.” (O Livro dos Médiuns – Kardec – item 98)

Mística Marciana e Segurança Doutrinária


10:45 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

Ressaltam a seu favor, os que reclamam atualizações doutrinárias, a dita de Kardec que afirma que, se
uma verdade nova se revela, o Espiritismo a aceita; todavia, omitem a condição estabelecida pelo mestre
para que tal ocorra. De ordem física ou metafísica, novos informes que venham a integrar-lhe o cômputo
de ensinos, necessariamente, já se devem encontrar no “estado de verdades práticas e saídas do
domínio da utopia, sem o que o Espiritismo se suicidaria”.[1] E esta praticidade consiste em quê? Análises
rigorosamente filosóficas respaldadas, até onde seja possível, em pesquisas demonstradamente
científicas. Tal é o espírito da doutrina.
Leia-se mais atentamente a nota ao n. 188 de O Livro dos Espíritos: “De todos os globos que constituem
o nosso sistema planetário, segundo os espíritos, a Terra é daqueles cujos habitantes são menos
adiantados, física e moralmente; Marte lhe seria ainda inferior, e Júpiter, muito superior, em todos os
sentidos”.

Kardec apresenta o ensino dos espíritos que lhe fora dado registrar até aquele momento, a este particular
respeito, em caráter transitório, pois o relega ao patamar de mera hipótese, razão por que se valeu da
forma verbal francesa correspondente ao futuro do pretérito do nosso idioma pátrio: “seria”, e posta, ao
demais, numa nota de rodapé, não no texto principal.

Atualizar, pois, o quê, se não foi consignado ali grau absoluto de certeza? Nada mais adequado da parte
do codificador, sobretudo quando não se refere propriamente ao princípio em si da pluralidade dos
mundos habitados, mas a um assunto de interesse secundário: a vida neste ou naquele planeta, que não
reclama sequer a chancela da universalidade de ensino.

A única garantia segura do ensino dos espíritos está na concordância das revelações feitas
espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos
lugares. Compreende-se que não se trata aqui de comunicações relativas a interesses secundários, mas
das que se referem aos próprios princípios da doutrina.[2]

De mais a mais, o que parece ignorado é que a verdadeira atualização foi perpetrada pelo próprio Kardec,
em O Evangelho Segundo o Espiritismo, III, 8 a 12. O texto é considerado parte das Instruções dos
Espíritos, mas quem o redige, à guisa de “Resumo do ensinamento de todos os espíritos superiores”
sobre “Mundos superiores e mundos inferiores”, é Allan Kardec! O mestre não declina, ali, o nome de
nenhum planeta sequer, como quem sinaliza para o fato de que só as generalidades interessavam à
chancela da universalidade do ensino, devendo ser abandonados os méritos das circunscrições, na certa,
por absoluta falência dos instrumentos e meios de aferição.

Logo, um suposto apêndice atualizador, como querem alguns, converter-se-ia em foco de confusão
acerca do assunto, seja por não contemplar o real tratamento que a matéria recebeu já na codificação
espírita, seja no que respeita às pseudossoluções apresentadas, como a infalibilidade dos conteúdos da
obra psicografada por Chico Xavier, o que seria um acinte.

Em termos espíritas, nada que venha de uma única fonte mediúnica, seja qual for, jamais poderá ser
considerado “inquestionável”. Seria um retorno à ancestral infalibilidade divinatória sem qualquer
justificativa à luz da doutrina. A codificação kardeciana assegura que “o melhor [médium] é o que,
simpatizando somente com os bons espíritos, tem sido enganado menos vezes”, assim como preconiza
que, “por melhor que seja um médium, jamais é tão perfeito que não tenha um lado fraco, pelo qual
possa ser atacado”.[3]

Por outro lado, se Kardec publicou em A Gênese ditados recebidos de um só médium, sobre Uranografia
Geral, é porque se fiou noutras fontes mediúnicas concordantes de que dispunha, aferidas por lógica
severa e esmerada cultura de época; esses ditados, aliás, talvez tivessem sido rejeitados por Kardec, no
todo ou em parte, se os dados positivos adquiridos até aquele ano já atestassem, por exemplo, que, sim,
Marte possui satélites.[4]
De qualquer forma, a presença ou ausência de corpos celestes, bem como sua constituição, não é
matéria afeta à Doutrina Espírita em si. Kardec disse certa vez que, no domínio científico, nada cabe ao
Espiritismo resolver de forma definitiva, “naquilo que não é essencialmente de sua alçada”.[5]

Portanto, nenhum precedente há nisto que enseje a atualização sugerida, ainda menos nos termos
pretendidos. E alegar a existência de um ensino concordante de alguns poucos espíritos na produção de
Chico Xavier fora esquecer que tal situação é aquela em que várias entidades se comunicam por um
único médium, o que só se aproxima do que seria, para Kardec, a concordância de ensino “menos segura
de todas”.[6] Não seria prudente aplicar tão franzino acordo.

O informe de O Livro dos Espíritos era de interesse evidentemente secundário, não reclamando sequer
universalidade e, ainda assim, foi afastado por um Kardec posto ante os dados concordantes desta
mesma universalidade, que não alcançaram segurança que permitisse ao codificador afirmar o mérito das
circunscrições a respeito, sendo suficientes, todavia, para chancelar as generalidades, as probabilidades,
como o prova o procedimento do gênio lionês em O Evangelho Segundo o Espiritismo, III, 8 a 12.

Além do mais, devemos crer cegamente nisto que, na verdade, parece um conto ficcional de moral
vegetariana, que a humanidade marciana evoluiu mais rapidamente que a terrena e, desde a formação
dos seus núcleos sociais, nunca precisou destruir para viver, diversamente das “concepções” dos homens
na Terra, cuja vida não prossegue sem morte? Na Terra, a vida não prossegue sem morte só por força
das concepções humanas, mas, antes disso, pelo imperativo das leis naturais.

Doutra forma, que teria sido feito das fases marcianas de mundo primitivo, de provas e expiações, ou
mesmo de regeneração? A vida só transcorre sem morte, fora da universal lei de destruição, quando o
espírito está desencarnado, de posse tão só de seu corpo espiritual. Os marcianos acaso não precisaram
da matéria densa para evoluir de início? Seria um convite a teses não espíritas.

De mais a mais, supor que haja seres inteligentes em Marte só porque lá existe água é muito precipitado.
Mais ainda quando se imagina que habitem “em outra dimensão física” do planeta. Que quer isto dizer em
termos espíritas? Fale-se em dimensão física ou em dimensão extrafísica. Numa ou noutra. A água
serviria a seres inteligentes de constituição orgânica, e destes não há qualquer vestígio. Até segunda
ordem, a química física do Universo é uma só.

A situação de Marte é mais compatível com a de um “mundo transitório” de O Livro dos Espíritos, 234 a
236. Sua superfície é estéril porque os que o habitam de nada precisam; são espíritos errantes, que ali se
encontram com o fim de instruir-se e de repousar de erraticidades muito longas e um pouco penosas,
gozando de maior ou menor bem-estar conforme a natureza de cada um. Como disse Kardec: “Ninguém
poderá negar que há, nesta ideia dos mundos ainda impróprios para a vida material, e entretanto
povoados de seres apropriados ao seu estado, alguma coisa de grande e sublime, onde talvez se
encontre a solução de muitos problemas”.

Poderiam ser espíritos de antigas civilizações marcianas? Quem sabe? Neste caso, ainda assim, não hão
de ter evoluído ao arrepio da universal lei de destruição; não poderiam ter chegado à civilização e à
espiritualização sem haver galgado o progresso que os tirou da barbárie inicial. O Livro dos Espíritos,742,
prevê que, na barbaria, a guerra “é um estado normal”, e que, à medida que o homem progride, menos
frequente ela se torna, porque lhe evita as causas, mesmo lhe adicionando humanidade, quando “se faz
necessária”.

Por estas e outras é que um vulto gigantesco como J. Herculano Pires [1914-1979], cuja ausência carnal
já completou trinta e uma das nossas translações planetárias, sempre deve ser lembrado em suas
advertências ao movimento espírita “organizado”, para que a codificação kardeciana seja mais respeitada
e perquirida em suas muito específicas e mais altas razões.

Não, portanto, à atualização em forma de apêndice que, desde junho de 2008, intenta-se impor à nota ao
n. 188 de O Livro dos Espíritos. A solução dada por Kardec, já na codificação, é a que mais convém à
higidez doutrinária. Quando muito, que pequeno aditamento editorial remeta o leitor a um confronto
com O Livro dos Médiuns, 296, observação à 32.ª pergunta; e com O Evangelho Segundo o
Espiritismo,III, 8 a 12.

[1] A Gênese, I, 55.

[2] KARDEC. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução, II.

[3] O Livro dos Médiuns, 226, 9.ª e 10.ª

[4] Cf. A Gênese, VI, 26: “Alguns planetas como Mercúrio, Vênus e Marte não deram origem a nenhum
astro secundário; enquanto que outros, como a Terra, Júpiter, Saturno, etc., formaram um ou mais”. Como
digo no ensaio seguinte, Kardec e os Exilados, é verdade que Fobos e Deimos foram descobertos apenas
depois dessas psicografias, em 1877. Não surpreende que os espíritos deixem de revelar o que só aos
homens compete descobrir, mas quando prestam informações falsas, o caso é outro.

[5] « ...en ce qui n'est pas essentiellement de son ressort ». In : Revista Espírita. Jul/1868. A Geração
Espontânea e “A Gênese”.

[6] O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução, II.

A Pedagogia de Jesus
23:43 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Dora Incontri

"(...) Ninguém melhor do que a figura de Jesus para mostrar o modelo máximo de estatura moral, aliada à
confiança no ser humano e a uma prática educativa libertadora. Mas as polêmicas em torno da
personalidade do Cristo têm sido tão acirradas em dois mil anos de história cristã, que não se pode deixá-
las à parte, antes de aventar qualquer interpretação a seu respeito.

Não poderíamos assim ignorar a questão da divindade de Jesus, pois que é justamente a tomada de
posição em relação a esse tema que vai nos colocar na via de demonstrar que a sua pedagogia é de fato
a pedagogia pleiteada pelo paradigma do espírito. Nos primeiros três séculos de Cristianismo, andava
longe uma unanimidade a respeito da divindade de Jesus." (Pág. 108 à 109)

"(...) Durante esses primeiros séculos, várias interpretações a respeito da natureza do Cristo lutaram pela
preponderância, mas as mais significativas foram justamente a católica- vigente até hoje - e a ariana. A
primeira considera o mistério da encarnação divina, e, portanto, a existência de um Deus uno e trino,como
dogma fundamental da crença cristã. A segunda admitia que:

"O Pai apenas é eterno e merece em sentido próprio o nome de Deus. Tirado do nada, o filho é a
primeira, mas a mais excelente das criaturas; ele foi instrumento do Pai para a criação do mundo. Ele se
encarnou em Jesus Cristo."

Ora, a vitória da versão católica deu-se por obra de Atanásio e Constantino. Este último, o imperador
cristão, patrocinou o Concílio de Nicéia, no qual foi arbitrariamente declarado o dogma da divindade de
Jesus. "A existência de Atanásio se concentra numa luta gigantesca contra o arianismo. (...)"" (Pág. 109)

"(...) Ora, Jesus veio ao mundo como mediador para redimir o homem e oferecer-se em sacrifício diante
de Deus (ou seja, diante de si mesmo!), para restaurar a integridade humana. Pela queda de um homem,
perdemo-nos todos. Pelo sacrifício de um Deus, redimimo-nos todos. Esta doutrina, reconhecidamente,
não é de Jesus, mas de Paulo." (Pág. 112)

"Não sendo o Ser Supremo do Universo (desde a época da formulação do dogma da Trindade, esse
universo se expandiu infinitamente e se aceitamos a existência de Deus, e a sua presença, governo e
poder entre bilhões e bilhões de galáxias e em meio a prováveis inúmeras humanidades, fica mais difícil
aceitar a idéia de uma encarnação sua na Terra), Jesus Cristo não se vulgariza com isso,tornando-se
apenas mais um homem entre outros tantos. Ele seria o Espírito que já atingiu a perfeição como todos
nós atingiremos um dia, segundo a lei da evolução. Portanto ele é a realização daquilo de que somos
ainda potência. É a meta a ser atingida, por um processo de educação do espírito, nas sucessivas
existências." (Pág. 113 à 114)

“Revelando um otimismo intrínseco em sua pregação e em sua ação, Jesus consegue enxergar o fio de
conexão com o outro ser humano, para chamá-lo à realização da vida moral”. Desencadeia processos de
regeneração, sem qualquer imposição externa. Conquista Madalena para fora da vida de desregramento,
desperta em Zaqueu a consciência de ser menos avarento, e, mesmo depois da morte, aproveita o
ímpeto destrutivo de Saulo de Tarso, canalizando-o para a divulgação apostólica do Cristianismo.

Realiza, pois, de forma mais eficaz e elevada, a idéia de Sócrates, de restituir o homem a si mesmo, pela
prática de um diálogo informal, que transcorre à beira dos lagos, no alto dos montes ou no meio das
praças. E o faz estabelecendo um vínculo amoroso com os discípulos, ao mesmo tempo em que apela
para a sua autonomia racional." (Pág. 115)
“Que pedagogia era essa que praticava Jesus”? Herculano Pires refere-se a uma Pedagogia da
Esperança:

"A educação não era mais o ajustamento do ser aos moldes ditados pelos rabinos do Templo, a
imposição de fora para dentro da moral farisaica, mas o despertar das criaturas para Deus através dos
estímulos da palavra e do exemplo. A salvação pela graça não era um privilégio de alguns, mas o direito
de todos. Jesus ensinava e exemplificava e seus discípulos faziam o mesmo. Chamava as crianças a si
para abençoá-las e despertar-lhes, com palavras de amor, os sentimentos mais puros. Nem os apóstolos
entenderam aquela atitude estranha: um rabi cheio da sabedoria da Torá a perder tempo com as
crianças. (.) Cada criatura humana é para ele um educando, um aluno (...) Assim, a Terra não é mais o
paraíso dos privilegiados e o inferno dos condenados. É a grande escola em que todos aprendemos, em
que todos nos educamos. A Pedagogia da Esperança oferece a todos a oportunidade de salvação, porque
a salvação está na educação."

A visão da vida na Terra como processo educativo faz sentido à luz da reencarnação, em que as almas
estão em permanente aprendizagem. Por isso mesmo o cristão, que admite essa idéia, vê em Jesus
muito mais o pedagogo da humanidade que o salvador." (Pág. 116 à 117)

"A natureza humana não corrompida, o livre-arbítrio como apanágio de cada alma individual e uma
propensão natural ao aperfeiçoamento e à ascensão emprestam à educação cristã, proposta por Jesus,
um ar refrescante de liberdade e naturalidade. Jesus não se impõe, não usa de coerção, nem mesmo de
persuasão. Convida, exemplifica, serve e ama." (Pág. 117)

"Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve" (Lc. 22, 27) - aí se resume seu método
pedagógico. Quem mais serve, por amor, é quem mais é capaz de fazer brotar o impulso do bem na alma
humana. Quem mais se sacrifica, por amor, é quem mais alcança a intimidade do outro, para fazê-lo
melhor." (Pág. 118)

"As duas vertentes do Cristianismo têm coexistido no decorrer da história - de um lado, a visão do
homem, herdeiro do Criador, como capaz de projetar-se para a transcendência, de fazer-se santo,
perfeito, e, nesta linha, propostas libertárias, igualitárias de educação. Do outro, a visão do pecado, da
tragédia da queda, da corrupção inata, da necessidade de disciplinar e reprimir. Evidentemente, em
muitas doutrinas e práticas, ambas as visões se conjugam, em nuanças intrincadas. A tese aqui
levantada, entretanto, é a de que Jesus, propondo um modelo de educação humana, é o fundador da
primeira tendência, que combina perfeitamente com a de Sócrates." (Pág. 118)

"Recuperado como mensagem de fraternidade, liberto do dogmatismo sectário, encarando-se Jesus como
um pedagogo divino, que veio propor um programa de educação do espírito, em parâmetros de liberdade
e amor, o Cristianismo é revisto pelo paradigma do espírito. O Espiritismo assim se anuncia como mais
um ensaio histórico de retorno à essência cristã, ofuscada pelas instituições humanas, de poder e de
dominação. E na raiz desta revisão, renasce a pedagogia de Jesus, como pedagogia da esperança: quem
já realizou em si a divindade intrínseca de todas as criaturas, trabalha para despertá-la em seus irmãos
de humanidade, confiando em sua capacidade de aperfeiçoamento autônomo. E daqueles que já pisaram
no mundo, certamente Jesus foi quem a realizou de maneira mais completa e por isso sua mensagem e
seu exemplo exercem poderoso influxo de mudança e ascensão."(Pág. 120)
INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita - um projeto brasileiro e suas raízes. Bragança Paulista - SP.
Editora Comenius, 2004.

Obsessão e auto-cura
23:32 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Heloísa Pires

O professor, jornalista, filósofo, poeta, conhecedor da doutrina espírita, Herculano Pires, escreveu o
"pequeno grande" livro, Obsessão, Passe e Doutrinação. Baseado em sua experiência de mais de
quarenta anos no trabalho de desobsessão, Herculano explica como resolver os problemas das
influências de espíritos inferiores. Com muita autoridade, o professor pode falar sobre o assunto, pois sua
vida foi um exemplo de capacidade e superação das dificuldades. Viveu a doutrina, não apenas a
teorizou. Calmo, alegre, humilde; homem culto, doutor em Filosofia, jornalista respeitado e escritor
premiado, enfrentou problemas com muita tranqüilidade.

Foi eleito várias vezes presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo; diretor da
cadeira de filosofia da Faculdade de Filosofia de Araraquara. Autor de 81 obras de valor reconhecido.
Desenvolveu grande experiência no sentido de auxiliar os que, nesse difícil planeta Terra, se perdem no
cipoal das próprias angústias ou rebeldia, que entram em lamentável estado de esquizofrenia temporária,
do qual não conseguem sair sem o auxílio externo.

O professor realizava sessões chamadas de desobsessão, onde mentes encarnadas eram auxiliadas.
Nos últimos quinze anos de sua existência, Herculano, com o auxílio do doutor Antonio João Tadesco-
Marchese, neurologista e do doutor Laércio Saudini, realizavam as sessões nas quais muitos obsedados
encontraram a cura.

Nos casos de desajuste, o indivíduo, expelindo de si mesmo pensamentos de depressão, liga-se a


mentes encarnadas ou desencarnadas, que aumentam suas sombras interiores; a esse fenômeno
convencionamos, os espíritas, chamar de obsessão.

Obsessão

Obsessão, como diz Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, é "o domínio que os espíritos
inferiores exercem sobre determinadas pessoas".
A obsessão é sempre produto de uma auto-obsessão. O desequilíbrio tem início na mente do indivíduo
encarnado. Telepaticamente, por questão de sintonia vibratória, entra em contato com outros indivíduos
que vibram no mesmo teor e o processo se inicia. Não há mistério, há apenas ligação mente a mente,
comunicação. O indivíduo estabelece laços com pensamentos desfavoráveis, entra em ondas
desagradáveis e colhe os frutos de seu próprio desequilíbrio.

Todos nós, encarnados, em momentos de desânimo, de falta de "oração e vigilância", notamos que
vamos nos enredando em uma teia de aranha, que faz os problemas parecerem insolúveis. É a hora do
basta, da reação interior, do uso da vontade para sair de um estado desfavorável e entrar num equilíbrio
maior com a harmonia universal; sintonizar melhor sua onda mental, mudar o teor vibratório.

Somos os construtores do nosso destino. Temos sempre o direito de optar pelo que nos convém;
indivíduos fortes enfrentam os problemas que surgem e, devido à força interior, sintonizam com outros
indivíduos encarnados ou não, que vibram positivamente; lutam, vencem e se tornam cada vez mais
equilibrados.

Indivíduos frágeis, deslizam a todos os instantes pelos difíceis caminhos do pessimismo e entram em
desajustes que podem causar até doenças físicas. Pensamentos de ódio, revolta, pessimismo são tóxicos
que envenenam o corpo e desajustam a mente. O Mestre de Nazaré no convida ao perdão e à fé em
Deus; disse "Olhai os lírios do campo, que não tecem nem fiam e nem Salomão se vestiu como eles em
toda a sua glória". Não fez um convite à preguiça, mas à serenidade. Centelhas divinas, fomos criados
por Deus para um progresso infinito. Ou, como disse Jesus: "sois deuses, sois luzes...".

O nosso livre-arbítrio permite escolhermos caminhos mais rápidos para a evolução, ou labirintos
dolorosos dos desequilíbrios. Mas nosso destino, dentro do determinismo das leis de Deus, é a
angelitude.

Causas das obsessões

A causa primeira é a nossa incapacidade para utilizar a nossa força interior e resolver os problemas que
aparecem.

As encarnações passadas devem ser levadas em conta. O doutor Ian Stevenson, em seu livro Vinte
Casos Sugestivos de Reencarnação, explica como o indivíduo traz no inconsciente o arquivo do passado,
que às vezes aflora no presente. Os conteúdos subliminares afloram na consciência supraliminar.
Desafetos do passado aproveitam os nossos momentos de descuido, a quebra de defesa psicológica e
nos afetam até onde o permitimos.

Cura da obsessão

É necessário se manter dentro de um equilíbrio psíquico gerado por bons pensamentos.

O Mestre de Nazaré explica na história O Espírito Mal como se livrar dos obsessores. O indivíduo precisa
povoar a sua casa mental com bons pensamentos; necessita entender a finalidade da existência, o
sentido da vida.
"Vivemos", diz Herculano, "para desenvolver as potencialidades psíquicas de que somos dotados. Nossa
existência tem por fim a transcedência, a superação de nossa condição humana".

Sartre, o grande filósofo materialista, diz que o Ser deve assimilar as aquisições dos que antecederam e
deixar o produto de suas experiências para os que vierem depois. Embora diga que o homem é "uma
paixão inútil" reconhece a necessidade da transcendência.

Keerkgard conta a história do homem e do cachorro que estão na porta de um bar. O cachorro vive
apenas; come, satisfaz as necessidades biológicas da espécie. O homem só Existe quando cresce
espiritualmente, raciocina, é um elemento indutor ao progresso. Muitos apenas vivem, raros Existem.

O destino do homem não é ser escravo dos vícios, das seduções da carne, da matéria. É caminhar ereto,
na vertical, em busca de mundos melhores. É fazer da terra um mundo de Justiça e de Amor.

O mundo é lindo. Há uma música suave, que só os mais sensíveis conseguem captar, que embala
nossos corações, que é produto da harmonia universal. Deus nos criou para a felicidade e alegria. DizA
Gênese, de Allan Kardec: "Se o homem agisse sempre de acordo com a lei de Deus seria feliz sobre a
terra e evitaria para si mesmo os males mais amargos". É o homem que, contrariando as leis de Amor,
cria problemas: fome, desemprego, guerras, doenças. Aos poucos ele vai se saturar do mal moral e
procurar remédio no bem.

O mundo apresenta problemas que não nos agradam; vamos resolvê-los. Se nosso próprio interior nos
parece deprimente, vamos modificá-lo. Possuímos forças incríveis, é necessário utilizá-las.

Sabemos hoje, através das experiências do casal Paul Vase, na França, que o pensamento divide gotas
d’água, acende lâmpadas, intensifica o crescimento de plantas. Com a força de nosso pensamento,
podemos nos modificar para melhor e modificar o mundo em nossa volta. Certeza de vencer nos dará
vitória. Ghandi, igualmente frágil, conseguiu mudar a face de seus país.

As dimensões da vida

No século XX é fácil ser espírita; não praticar a doutrina, mas entendê-la. A matéria se dissolveu em
energia; experiências provam que, como dissera Platão, "O mundo sensível é ilusório". A Gênese de Allan
Kardec disse, há mais de cem anos, que matéria é apenas condensação de energia.

Os físicos atuais são metafísicos. Falam em buracos negros e em elétrons positivos que viriam de um
submundo. A mente do homem se abre para outras dimensões, outras formas de existência. O grande
Einstein fala sobre a relatividade. Popper confirma que tudo é efêmero e relativo. Um mundo novo surge,
os preconceitos científicos ou religiosos não tem mais razão de ser.

O corpo bioplásmico dos russos confirma que o Ká dos egípcios é o perispírito da doutrina espírita.

Uma nova compreensão do universo, uma nova ordem de valores surgiu. A existência de dois mundos, o
material e o espiritual, é uma realidade. O homem cresce para a conscientização de que é uma pequena
peça, importante quando inserida na grande engrenagem universal. Mas, assim como um parafuso
sozinho não tem grande utilidade, sendo indispensável ao funcionamento de uma máquina, o indivíduo é
útil quando se integra na Harmonia Universal. Sozinhos somos pontinhos frágeis perdidos num universo
luminoso. A nossa força está na união de nossas mentes, para a construção de um mundo melhor.

Nessa nova dimensão, convém ouvir Herculano: "Reformule o conceito de si mesmo. Você não é um
pobrezinho abandonado no mundo. Tire da mente a idéia de pecado e de castigo. O que chamam pecado
é o erro, que pode e deve ser corrigido. Corrija-se". A idéia de pecado e o complexo de culpa arrasam o
indivíduo.

Tratamento médico

Herculano lembra que "Deve haver uma orientação médica, tendo ou não o profissional conhecimento da
doutrina espírita".

O médico espírita contará com as armas maiores da compreensão da reencarnação e do intercâmbio


entre encarnados e desencarnados; isso facilitará sua tarefa.

Além do tratamento médico, o obsedado recorrerá às casas espíritas onde, através de passes de sessões
de desobsessão, conseguirá fortificar sua vontade e esclarecer não só sua mente como as demais
envolvidas no processo para a sua libertação.

Recorrendo aos especialistas do campo da matéria e ao auxílio dos que tratam dos problemas do espírito,
o indivíduo conseguirá modificar o seu modo de vida e organizar ao redor de si "a couraça da fé e da
caridade" aconselhada pelo apóstolo Paulo.

Se pensamentos dissemelhantes não sintonizam, o indivíduo que emitir sempre bons pensamentos
afastará toda a inferioridade e perturbação. Preocupado em ser útil, esquecerá seus problemas e será
mais feliz. Madre Tereza de Calcutá não devia sentir tédio, desânimo, ou angústia existencial. Suas
energias eram dedicadas aos sofredores.

É hora de crescer. Devemos nos lembrar que nenhum julgo resiste a uma vontade firme. "Só fica
obsedado aquele que, consciente ou inconscientemente o desejar. É uma espécie de auto-punição". "A
cura da obsessão é uma autocura...", diz Herculano Pires.

O Espiritismo e as Curas Espirituais


21:34 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Maria Ribeiro

Seria compreender muito pouco o propósito real da Doutrina Espírita o pensar que curas espirituais são
uma de suas especialidades, desobedecendo a uma irrevogável ordem natural de coisas.

A busca pelo bem estar é um princípio do instinto de conservação, que é uma lei natural. Portanto não
existe nada mais justo que procurar-se recursos capazes de restaurar a saúde, entrando esta em estado
de debilidade.

O que se propõe é uma reflexão mais racional a respeito do tema.

É considerável o número de indivíduos que, ao longo dos tempos, tiveram, uns mais, outros menos, o
poder de curar. Um deles, claro, é o nosso Mestre Jesus, profundo conhecedor de todas as ciências, não
o seria menos quanto à ciência do magnetismo.

“A faculdade de curar pela influência fluídica é muito comum e pode desenvolver-se mediante o exercício;
porém, a de curar instantaneamente pela imposição das mãos é mais rara, e seu apogeu pode ser
considerado como excepcional. Entretanto, tem sido observada em diversas épocas, e em quase todos os
povos têm surgido indivíduos que a possuíam em grau elevado. Nestes últimos tempos, tem-se visto
diversos exemplos notáveis, cuja autenticidade não pode ser contestada. Dado que estas espécies de
curas repousam sobre um princípio natural, e que o poder de produzi-las não é um privilégio, é que elas
não saem da natureza e apenas têm de miraculosa, a aparência.” (A Gênese, capítulo XIV – Curas).

Esta declaração kardequiana traz o entendimento de que esta, como todas as faculdades humanas não
se desenvolvem de outra forma. Kardec faz que se remeta à vida eterna do Espírito, onde as aquisições
paulatinas de encarnação em encarnação, com o trabalho constante no Bem purificam os fluidos
constituintes do Ser, que tem seus recursos aumentados para que possa promover o auxílio que se faça
necessário.

“...A faculdade de curar instantaneamente pela imposição das mãos é mais rara” porque é preciso um
grau de pureza que não se faz sequer uma idéia aproximada. Domiciliados no planeta Terra, que
segundo os Espíritos Superiores é um lugar ainda apropriado a receber seres imperfeitos, como esperar
certos prodígios? O estado moral atrasado representa óbice para tal. Embora nada impeça que a
Providência Divina se manifeste através de homens imperfeitos que buscam sinceramente se
reajustarem com as Leis Maiores, não se pode desprezar que haja fatores que determinam que tal
evento ocorra ou não.
Neste caso específico, Kardec enfatiza tratar-se de um tipo de faculdade mediúnica rara, e previne contra
as ciladas que possam aparecer.(O Livro dos espíritos- 556)

O item 18 do mesmo capítulo, ainda em A Gênese, Kardec deixa evidente: “O pensamento do Espírito
encarnado age sobre os fluidos espirituais como também o dos Espíritos desencarnados; transmite-se de
Espírito a Espírito, pela mesma via, e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos
circundantes.” Em outras palavras, é através do pensamento que os fluidos são manipulados e dirigidos
de uma pessoa para outra, estejam encarnadas ou não. Isto quer dizer que os fluidos dos Espíritos não
são mais poderosos do que os dos encarnados pelo simples fato de serem Espíritos. E que os fluidos são
emitidos de todo o Ser, da mesma forma que são recebidos, e não necessariamente pelas mãos,
conforme crença vigente. Estas declarações confirmam que gesticulações e sincronismos, posturas ainda
tão freqüentes, devem diminuir à medida que se compreendam a inutilidade das formas. Por enquanto é
bom que se fique atento ao que mais possa surgir.

É sabido que no passado houve companheiros no labor mediúnico que se utilizaram de formas materiais,
e até bizarras, para realizar curas e cirurgias espirituais. Caíram no gosto de Espíritas entusiasmados,
que criam ser estas práticas o que havia de mais extraordinário que a Doutrina podia oferecer. Mais do
que proporcionar aos pacientes o alívio de seus males, aquelas práticas provaram que as Entidades
desencarnadas agem verdadeiramente através de um médium com o qual se afinizam. Resta saber se
isto provocou avanços morais em alguém, uma vez que as manifestações por si mesmas não tornam um
ser mau em bom, nem um ignorante em sábio.

Quando a terapia do Passe não oferece os efeitos esperados, costumam-se recorrer a outras, que se
podem contar às dezenas, mas que não têm vínculo doutrinário. Assim, tem-se incorporado cromoterapia,
florais, pirâmides, reike e outras como “menu” doutrinário-espírita.

Analisando-se a terminologia da locução – cura espiritual – pode-se entender CURA DO ESPÍRITO, muito
embora se deseje a cura do corpo, pois é ele que se sente massacrado, torturado e combalido. Quando
se é chamado ao testemunho da enfermidade, são poucos os que não murmuram, esquecidos da
resignação, do conceito de causa e efeito, da vida futura.

Admitindo-se – CURA POR ESPÍRITOS - recorra-se ao último parágrafo do comentário da questão 70 de


O Livro dos Espíritos que diz que “O fluido vital se transmite de um indivíduo para outro. Aquele que tem o
bastante pode dá-lo àquele que tem pouco e, em certos casos, restabelecer a vida prestes a se apagar.”
Kardec assinala, assim, que a solidariedade é um bem que deve permear entre os seres, uns amparando
os outros, na medida de suas forças. O desejo e a boa vontade de servir e de ser útil estabelecem a
harmonia necessária para a engrenagem do universo íntimo, que se expande a distâncias que não se
ousa mensurar. No parágrafo anterior, ele diz que este “fluido se renova pela absorção e assimilação das
substâncias que o contêm.” O indivíduo precisa não somente absorver, mas assimilar as substâncias que
contêm este fluido. Isto quer dizer que podem ser absorvidos, mas não necessariamente assimilados, ou
seja, tornarem-se compatíveis com os fluidos próprios do receptor, para que ajam beneficamente. É o que
ocorre no organismo humano em relação às proteínas de origem animal: elas sofrem processos de
“quebra” até atingirem formas que são assimiláveis pelo organismo humano.

Entretanto, deve-se, pois, perceber que a cura espiritual é um processo individual que escapa ao controle
de outrem. O corpo adoece por razões morais-espirituais relacionadas à história de cada um, portanto é
de responsabilidade individual e intransferível a cura efetiva, que aliás é o que se espera. “A tua fé te
salvou”, disse Jesus. Os mecanismos de transformar os fluidos malsãos para fluidos salutares estão em
cada indivíduo. A Gênese, tratando do assunto, diz que “os fluidos não têm qualidades sui generis, mas
sim as que adquirem no meio onde são elaborados; modificam-se pelos eflúvios desse meio...Os fluidos
...trazem a impressão dos sentimentos do ódio, da inveja, do ciúme,...da benevolência, do amor, da
caridade...” . O desejo ardente de trazer um alívio para um irmão sofredor, ou para si mesmo, representa
um apelo fortíssimo para as Entidades Benfazejas. O auxílio magnético terá sempre um efeito, segundo
circunstâncias que bastas vezes não estão sob domínio da compreensão humana. Na narrativa de Lucas
9, vs11, encontra-se: “...E ele os recebeu, e falava-lhes do Reino de Deus, e sarava os que necessitavam
de cura”, ou seja, Jesus reconhecia os que se curariam, pois Ele não veio derrogar Leis Divinas: Ele sabia
que muitos ainda necessitavam permanecer enfermos. A necessidade é então algo relativo: uns
necessitam da cura para a franca realização de projetos idealizados durante o processo de doença;
enquanto outros necessitam continuar doentes, porque o Espírito não atingiu a consciência do seu estado
real.

Há pessoas dotadas do dom de curar, segundo a Codificação, com um toque, com um simples olhar.
Kardec os diferencia dos magnetizadores, mas o que ele pretende é deixar claro duas ordens de coisas
oriundas do mesmo princípio. O tratamento magnético comum segue em sessões continuadas,
metódicas, e não requer que o magnetizador seja necessariamente médium, mesmo porque este
processo é anímico; enquanto que com um médium curador ocorre espontaneamente, com a intervenção
de Espíritos somada ao apelo através da prece. (O Livro dos Médiuns – cap.XIV – 175)

No item 32 do capítulo XIV de A Gênese o sábio francês esclarece que “os efeitos da ação fluídica sobre
os doentes são extremamente variados, segundo as circunstâncias; esta ação é algumas vezes lenta, e
reclama um tratamento seguido, como no magnetismo comum; outras vezes é rápida como uma corrente
elétrica. Há pessoas dotadas de tal poder, que operam sobre certos doentes curas instantâneas por uma
só imposição das mãos ou mesmo por um só ato de vontade. Entre os dois pólos extremos de tal
faculdade, há infinitas variações. Todas as curas desse gênero são variedades do magnetismo e não
diferem senão pela potência e a rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo; é o fluido que
desempenha o papel de agente terapêutico, e cujo efeito é subordinado à sua qualidade e a
circunstâncias especiais.” No item seguinte Kardec especifica cada uma das ações magnéticas, a saber:
magnetismo humano, magnetismo espiritual e magnetismo humano-espiritual.

Curas instantâneas por um simples gesto, ou por um olhar, são formas para que se compreendam
mecanismos que ocorrem, não exatamente por causa do olhar ou do gesto, que são materiais. Mas pelas
disposições íntimas do Ser que se propõe doar algo bom de si mesmo, secundado por Entidades
Benfeitoras, esteja com ou sem o conhecimento disso. Há uma prática denominada de “passe de coluna”
que mais se aproximaria realmente de aplicações magnéticas não contivesse uma pitada de ritual e
palavras sacramentais.(O Livro dos Médiuns – cap. XIV- item 176, 9). Existe também uma proposta
conhecida por “passe de sopro”, que deixa dúvidas sobre seu fundamento. Os Evangelistas não citaram
nenhuma passagem onde Jesus tivesse curado alguém através do sopro; a Codificação também não
falou sobre o assunto. O que se pretende é continuar mantendo as formas de se fazer as coisas, e formas
são materiais, não são essenciais. Jesus se utilizou de alguns recursos materiais para realizar algumas
curas; mas certamente não foi com o propósito de fazer com que se tornassem elementos de superstição.
Mas também realizou benefícios curadores à distância. De maneira alguma pretendeu que se substituísse
o necessitado por um interventor, transmitindo fluidos a este para que o doente os receba. Afinal a
intervenção é puramente mental.

É razoável que se reconheça o quanto a Medicina terrena tem aumentado cada vez mais os recursos de
tratamento e prevenção de doenças. Os Benfeitores Espirituais também têm se reencarnado com o
propósito de manifestar materialmente, claro que dentro dos limites que o planeta oferece, os recursos
necessários para minimizar as mazelas humanas, pois isto representa oportunidades de trabalho no Bem
e crescimento moral-espiritual e intelectual também para eles. As suas descobertas atendem não a um
número limitado de indivíduos, mas a uma coletividade inteira. O trabalho no Plano Espiritual não se
restringe a estas facetas tacanhas às quais o homem se acostumou a crer. Ou será que a magnânima
atividade Divina está circunscrita aos “templos sagrados”?!

A cura espiritual se dá, entenda-se bem, quando o Ser Imortal estiver se depurado de suas imperfeições
por ter compreendido melhor as Leis Imutáveis da natureza.

Chiquismo - a doença infantil do Espiritismo


15:38 ADMINISTRADOR NO COMMENTS

Por Randolfo*

O título é uma paródia a uma grande obra de crítica ao esquerdismo em detrimento do socialismo. E
também nem guarda real proporção, pois o Espiritismo não gera nenhuma doença - os espiritualistas que
se dizem espíritas é que fazem isso.

Temos observado a derivação do movimento dito "espírita" no Brasil na direção contrária às


recomendações da codificação e mesmo as particulares de Kardec. O Espiritismo no Brasil não se
orienta, na prática, pelas obras codificadoras e sim pelas obras de um único autor - Chico Xavier.

Infelizmente, esse autor não prezou pelos aspectos cientificos ou filosoficos do Espiritismo, preferindo
enveredar por um caminho roustanguista fácil, o do religiosismo místico. E como a FEB privilegiou esse
autor que tão bem serviu aos seus propósitos (vide "Conscientização Espirita", de Gélio Lacerda).

Nós temos um companheiro que costuma dizer que o problema não é o que se lê e sim o que se faz com
o que se lê. A derivação religiosista, visando implementar uma verdadeira instituição religiosa no meio
espírita, é mais fácil de ser seguida e compreendida, pois não requer maiores reflexões, tanto como
também não estimula investigações, aferições. Mas, a culpa é de quem lê e não compara com a
codificação, pois a codificação tem "linguagem dificil", ou é "muito complicada", nos dizeres de muitos que
se dizem "espíritas".

Foi instituida, então, uma ditadura no meio espírita - o "chiquismo". É uma ditadura, pois foi massificada e
assimilada pela maiora e absolutamente quase não há foruns de debate sobre ela. Nota-se: em
lugar NENHUM, seja congresso, seminário, simposio que sejam "espiritas", abre-se espaço para se
questionar NENHUMA obra de Chico Xavier. Muito pelo contrário - quem contesta esse autor é
segregado, atacado e humilhado.

Não há como deixar de avaliar que o chiquismo possui instrumentos próprios para sua manutenção: tem
base literária, coerência com seus principios místico/religiosa e uma vasta rede de instituições, tanto
como editoras e midia que o suporta.

Conforme verificamos que o eixo de compreensão do Espiritismo, segundo esse movimento, move-se
exclusivamente na direção das obras de Chico Xavier e considerando o detrimento em que passa a se
situar a codificação espirita, tanto quanto as clarissimas contradições existentes, eis que temos, agora, de
fato, a instituição de uma religião. Mas, não se chama Espiritismo, pois não se torna uma religião o que
não se é.

Inaugura-se no Brasil o "Chiquismo", uma religião sincrética, que por mera questão de marketing
intelectual assume as feições do Espiritismo, sem o ser.

Nota-se que mesmo os autores que seguem essa tendência são sempre ofuscados pela pressão desse
grupo, que substituiu Roustaing (que a maioria estranhamente alega nem conhecer...) por Chico Xavier.
Kardec ficou absolutamente em segundo plano.

Nota-se como no meio espirita se homenageia o citado autor, como se lhe enchem de julgamentos
morais, enquanto o codificador do Espiritismo jaz esquecido. Nunca é citado como exemplo moral
(alguém mais notou isso?), nunca é citado como exemplo intelectual (também notou-se isso?). Aliás,
Kardec nunca é citado como modelo de espírita. Para os chiquistas, modelo de espírita é quem
contradisse o Espiritismo - Chico Xavier.

Nós, defensores do Espiritismo, precisamos amadurecer e aceitar os fatos: há uma religião, ela é
majoritária e o culto à personalidade é prepondeante. E não se pode ignorar a comparação com os
iniciantes anos do cristianismo: os ensinamentos de Jesus foram logo deturpados e ele, que não fundou
religiao nenhuma, viu seu nome ser utilizado para desvios absolutos, que culminaram até na perda de
vidas.

E hoje Kardec é utilizado apenas de fachada para agredir-se justamente quem defende seus ideais...

A realidade impõe aos espíritas (uma classe bem mais minoritária do que imaginamos) não o combate a
essa seita chiquista, mas o esclarecimento ao nosso povo.

A função do Espiritismo é o esclarecimento. Nosso dever é prosseguir nisso. E como se faz? Divulgando
a codificação e fazendo principalmente o que Chico Xavier nunca fez, nem tampouco seus
defensores: BUSCAR A VERDADE.

Enquanto assistimos a essa nova seita afirmar que os dizeres desse autor são verdades absolutas, não
assistimos à busca pela verdade, mas seremos cumplices se ficarmos parados.

A luta pelo propriedade da expressão "Espiritismo" não existe e nem pode existir. A luta pela verdade,
sempre.

Queremos a verdade, queremos as obras mediunicas submetidas a aferição, queremos a investigação


dos fenomenos espirituais, queremos fazer novas perguntas para obtermos novas e verdadeiras
respostas dos espíritos superiores. Queremos o Espiritismo nos ESCLARECENDO e isso somente se dá
por meio de informações fideldignas. O fanatismo em prol de uma unica pessoa, um unico espirito, um
único autor continua possuindo as mesmas caracteristicas em todas as eras e momentos históricos.
Quem seguia Hitler, por exemplo, o considerava infalível...

O Chiquismo não precisa ser combatido. É mais uma religião e nada mais, perdida no meio de tantas
outras - e a mais inexpressiva, pelo número de pessoas que a adotam. Enquanto evangelicos, que
eclodiram somente a partir dos anos 60 no Brasil, hoje são metade da população do país, o Chiquismo,
essa doença infantil fruto da idolatria, que conta com a mesma idade, possui pífios 1% de nossa
população. O Chiquismo, então, só possui importancia para os chiquistas - não para a imensa maioria do
povo brasileiro.

Urge que façamos diferente e levemos o Espiritismo verdadeiro a esse povo, carente de esclarecimento e
do consolo que só vem pela verdade.

*Randolfo é moderador da comunidade "Eu sou Espírita - Espiritismo" do Orkut.

A figura de Rivail perante a Codificação


18:51 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Maria Ribeiro

Muito se fala em Allan Kardec como codificador do Espiritismo, porém é muito pouco levada em
consideração a história precedente desta personalidade, e são quase nulas as reflexões a respeito de sua
individualidade como Espírito reencarnado. Existe um sem número de pessoas que ignoram fatos
importantes de sua vida, acreditando que se tratava de um intelectual francês que um dia dá início a uma
conversação com uma mesa, que depois ele descobre estar sob o comando de “espíritos”, o que culmina
no aparecimento de uma série de livros e muita discussão.

Allan Kardec foi um sacerdote druida que viveu no século I a.C, na região das Gálias, atual França,
mesmo período em que viveu Júlio César. Da sabedoria celta, herdou conceitos como reencarnação e
inexistência de penas eternas. Os druidas ocupavam várias funções, além a de guardiões da sua cultura,
como também a de médicos, professores e conselheiros, no que compartilhavam com as druidesas. Por
causa da perseguição do Imperador, suas práticas que se davam ao ar livre, passaram a se realizar de
forma oculta. Aceitaram as idéias cristãs, porém, com o surgimento do catolicismo e perseguições
acirradas de ambos os lados, acabaram desaparecendo*.

Hippolyte Leon-Denizard Rivail nasceu na França dezenove séculos depois; estudou dos 10 aos 18 anos
na Suíça sob os cuidados de outro grande mestre, o Sr John Heinrich Pestalozzi. Dada sua inteligência
singular, por várias vezes substituiu o mestre Pestalozzi na instituição de ensino. Contrariou a tradição
familiar de magistratura, optando pelas ciências e filosofia. Oferecia cursos gratuitos em sua própria casa
de diversas disciplinas. Publicou inúmeras obras, todas voltadas para a educação, sendo seu foco,
democratizar a educação. E somente após os cinqüenta anos de idade, é que terá notícias de certas
mesas girantes, o que, de início, não o impressiona, visto conhecer profundamente o magnetismo e lhe
atribuir esses efeitos. Os relatos entusiasmados de um amigo, mais lhe aumentam as dúvidas do que de
convencimento. (“Minha primeira iniciação no Espiritismo” – Obras póstumas).

Algum tempo depois abordado outra vez, desta, por um antigo amigo, na verdade um reencontro com o
Sr. Fortier, em casa de amigos comuns, Rivail testemunha os fenômenos pela primeira vez. O Sr. Fortier
era um magnetizador que vinha desenvolvendo experiências com a Sra Roger, uma sonâmbula. Rivail
ouviu de pessoas muito lúcidas a respeito dos fenômenos que se davam, imprimindo-se na sua
inteligência aguçada e precavida, dose de intenso interesse.

Era maio de 1855, e, a partir de então, aquelas reuniões jamais seriam as mesmas. Cerca de um ano
depois, recebe a revelação de que tinha uma missão: ser ”o obreiro que reconstruirá o que foi demolido”.

Há dois mil anos, nas palavras de João, Jesus nos traz a promessa do Consolador, disse que este estaria
eternamente conosco, nos ensinando todas as coisas... Então nem de longe se pode supor ser Rivail este
consolador, mas com a mesma certeza se pode afirmar ser ele o mais capacitado, o mais apto dentre
todos para ser o receptor do Paracleto. O que desperta ciúmes em algumas pessoas até hoje...

Jesus intencionou que cada um construísse dentro de si mesmo um “reino” a partir do conceito de Amor
que Ele próprio ensinou, da forma mais pura possível. Trouxe para os homens uma forma aprimorada de
enxergar o mundo, ao demonstrar que existia uma outra opção. Demonstrou que através da simplicidade,
que é uma expressão do Amor, o homem consegue penetrar seu mundo interior e melhorá-lo, obtendo
recursos para disseminar à sua volta idêntica parcela de entendimento, o que culmina num bem estar
social generalizado.

Só que a ambição de alguns homens transgrediu por longo tempo a lei do progresso, fazendo a
humanidade permanecer na ignorância, da qual se servia para manipular, ultrajar e coagir.

Solidária e atenta, a Espiritualidade Superior esteve presente, enviando de tempos em tempos,


mensageiros sob nomes que muitas vezes permaneceram no anonimato, e outros que se destacaram por
razões que desconhecemos, sendo registrados pela História como figuras idealistas que dedicaram suas
vidas em prol de uma causa que julgavam justa. Anônimos ou ilustres, tinham em comum o ideal da
Verdade e por ele viveram e morreram.

De acordo com estudos contidos na obra Meu novo nome, do escritor Sérgio Aleixo, Rivail esteve
encarnado na Terra em momentos muito decisivos para o desencadear do progresso necessário do
planeta. Deu testemunhos dolorosos da verdade que o coroariam para sempre, na personalidade de Jan
Huss. Anteriormente, esteve sob nomes como João Batista, Allan Kardec, como já referido, Elias e Josué.
Este último foi discípulo de Moisés, que representa a primeira revelação. João Batista, o precursor,
presente na segunda revelação. Elias foi um grande profeta, que estava sempre em intercâmbio com
Iahweh, permanecendo admirado e se tornando referência ainda muitos séculos após.

Após aquela noite de maio, foram certamente muitas e muitas outras, quiçá madrugadas adentro, em
investigações e análises, das informações chegadas do plano espiritual, até compilar a primeira edição
de O Livro dos Espíritos, vindo a público em abril de 1857. Sob a recomendação de um guia espiritual,
adota o pseudônimo de Allan Kardec, sua antiga identidade, com o propósito de não se confundirem seus
trabalhos didáticos com a Doutrina Espírita. Seguidamente, outras obras compuseram o nosso velho
“conhecido” Pentateuco Espírita: O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O céu e o
inferno e A Gênese. Obras complementares de muita importância também são O que é o Espiritismo,
Viagens Espíritas, os 12 volumes de A revista Espírita e Obras póstumas.

Dos Espíritos que comporiam “as vozes do céu”, uns reencarnaram, porque seria um contra-senso afirmar
que os Espíritos poderiam realizar um evento desta natureza sozinhos, e prescindir da participação
humana. Neste número, encarnaram-se, então, cientistas, filósofos, intelectuais e também, inclusive
médiuns; cada um cooperando de acordo com a evolução de que dispunha.

O fato de Rivail estar encarnado à época do advento do Espiritismo, para muitos, infelizmente, tira-lhe ao
menos metade do mérito, pois para estes, a grandeza está nas manifestações, e em revelações inéditas
que vez ou outra teimam em penetrar nas nossas bibliotecas. Têm verdadeira paixão por Espíritos,
dando-lhes toda a credibilidade, esquecidos das recomendações de todos os missionários quanto ao
perigo que o excesso de confiança pode representar. Pois para estes, diz-se muito convictamente: Sem
Rivail não existiria Doutrina Espírita, não com a coerência que lhe é intrínseca. Aliás seria menoscabar
demais o Espiritismo conjeturar-se que o Consolador enviado pelo Cristo, estando Este à frente de sua
elaboração e execução, tivesse como responsável encarnado alguém de superioridade remota à de si
próprio. De idêntica forma, é nula a possibilidade de Espíritos outros estarem de posse de Verdades
comparáveis às contidas no Pentateuco Kardequiano. Seria esperado que ao menos a comunidade
Espírita demonstrasse-lhe o mínimo de gratidão.

O século XIX trouxe novamente à Terra este Ser de grandeza moral-espiritual superior. Houve uma
previsão de retorno para o século XX, que parece não ter sido levado a efeito, por razões ignoradas.
Porém, de forma ou de outra, trata-se de um Ser revelando suas conquistas individuais ao mundo,
realizadas ao longo de muitos séculos, a custo de muita abnegação, muito embora a idéia de uma
santificação súbita através de “uma graça divina” ainda persista entre nós.

Rivail é apontado como o missionário responsável por esta reconstrução do Cristianismo que fora
desnaturado e a razão leva a concluir ser a Doutrina Espírita a mensagem viva do Cristo. Compilar algo
de tão grande porte requer Espíritos fortes, austeros, racionais. Não se trata apenas de organizar
informações, mas, sobretudo saber avaliá-las, julgando-as sem o entusiasmo passional que poderia
obscurecer o real objetivo. Muitas foram descartadas por se encontrarem destoantes da proposta
colimada. Recebendo o título de “mestre” pelos próprios Espíritos codificadores, e de “companheiro de
antanho”, pelo Espírito de Verdade, não se pode sonhar um Rivail falível, desprovido do Conhecimento
Maior que caracteriza um Espírito realmente Superior.

*(Portal do Espírito - espírito.org.br)

Ação do Homem sobre os Espíritos Infelizes


09:18 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Léon Denis

A nossa indiferença para com as manifestações espíritas não nos privaria somente do conhecimento do
futuro de além-túmulo, pois nos desviaria também da possibilidade de agir sobre os Espíritos infelizes, de
amenizar-lhes a sorte, tornando-lhes mais fácil a reparação de suas faltas. Os Espíritos atrasados, tendo
mais afinidade com os homens do que com os Espíritos puros, em virtude de sua constituição fluídica
ainda grosseira, são, por isso mesmo, mais acessíveis à nossa influência. Entrando em comunicação com
eles, podemos preencher uma generosa missão, instrui-los, moralizá-los e, ao mesmo tempo,
melhorarmos, sanearmos o meio fluidico em que todos vivemos. Os Espíritos sofredores ouvem o nosso
apelo e as nossas evocações. Os nossos pensamentos, simpáticos, envolvendo-os como uma corrente
elétrica e atraindo-os a nós, permitem que conversemos com eles por meio dos médiuns. O mesmo dá-se
com as almas que deixam este mundo. As nossas evocações despertam a atenção dos Espíritos e
facultam-lhe o desapego corpóreo; as nossas preces ardentes são como um jato luminoso que os
esclarece e vivifica.
É-lhes agradável perceber que não estão abandonados a si próprios na Imensidade, que há ainda na
Terra seres que se interessam pela sua sorte e desejam a sua felicidade. E, quando mesmo esta não
possa ser alcançada por preces, contudo elas não deixam de ser salutares, arrancando-os ao desespero,
dando-lhes as forças fluídicas necessárias para lutarem contra as influências perniciosas e ajudando-os a
subirem mais alto.

Não devemos, entretanto, esquecer que as relações com os Espíritos inferiores exigem uma certa
segurança de vistas, de tato e de energia; daí os bons efeitos que se podem esperar. É preciso uma
verdadeira superioridade moral para dominar tais Espíritos, para reprimir os seus desmandos e dirigi-los
ao caminho reto; e essa superioridade não se adquire senão por uma vida isenta de paixões materiais,
pois, em tal caso, os fluídos depurados do evocador atuam eficazmente sobre os fluídos dos Espíritos
atrasados. Além disso, é necessário um conhecimento prático do mundo invisível para nos podermos
guiar com segurança no meio das contradições e dos erros que pululam nas comunicações dos Espíritos
levianos. Em conseqüência da sua natureza imperfeita, eles só possuem conhecimentos muito restritos;
vêem e julgam as coisas diferentemente; muitos conservam as opiniões e os preconceitos da vida
terrena. O critério e a clarividência tornam-se, portanto, indispensáveis a quem se dirigir nesse dédalo.

O estudo dos fenômenos espíritas e as relações com o mundo Invisível apresentam muitas dificuldades e,
mesmo, perigos ao homem Ignorante e frívolo, que pouco se tenha preocupado com o lado moral da
questão. Aquele que, descuidando-se de estudar a ciência e a filosofia dos Espíritos, penetra
bruscamente no domínio do Invisível, entregando-se, sem reserva, às suas manifestações, desde logo se
acha em contacto com milhares de seres cujos atos e palavras ele não tem meio algum de aferir. Sua
ignorância entregá-lo-á desarmado à Influência deles, pois a sua vontade vacilante, Indecisa, não poderá
resistir às sugestões de que se fez alvo. Fraco, apaixonado, sua imperfeição faz com que atraia Espíritos
Iguais a si, que o assediam sem o menor escrúpulo de enganar. Nada sabendo sobre as leis morais,
insulado no seio de um mundo onde a alucinação e a realidade confundem-se, terá tudo a temer: a
mentira, a Ironia, a obsessão.

A princípio, foi considerável a parte que os Espíritos inferiores tomaram nas manifestações, e isso tinha
sua razão de ser. Em um meio material como o nosso, só as manifestações ruidosas, os fenômenos de
ordem física poderiam impressionar os homens e arrancá-los à Indiferença por tudo que não diga respeito
aos seus interesses imediatos. É isso que justifica o predomínio das mesas giratórias, das pancadas, das
pedradas, etc. Esses fenômenos vulgares, produzidos por Espíritos submetidos à Influência da matéria,
eram apropriados às exigências da causa e ao estado mental daqueles de quem se queria despertar a
atenção. Não se os deverá atribuir aos Espíritos superiores, pois estes só se manifestaram ulteriormente
e por processos menos grosseiros, sobretudo com o auxílio de médiuns escreventes, auditivos e
sonambúlicos.

Depois dos fatos materiais, que se dirigiam aos sentidos, os Espíritos têm falado à inteligência, aos
sentimentos e à razão. Esse aperfeiçoamento gradual dos meios de comunicação mostra-nos os grandes
recursos de que dispõem os poderes invisíveis, as combinações profundas e variadas que sabem pôr em
jogo para estimular o homem no caminho do progresso e no conhecimento dos seus destinos.

Livro: Depois da Morte


O Carma no Espiritismo
10:35 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por José Herculano Pires

Este termo não deve ser utilizado dentro do Espiritismo, por não se encontrar em nenhuma das Obras de
Allan Kardec. A palavra carma foi “introduzida” recentemente no Espiritismo através das chamadas obras
subsidiárias, ou seja, os livros psicografados “escritos por espíritos através de um médium”, mas não é
utilizado em nenhum momento nas obras de Kardec. A palavra carma (em sânscrito karmaou karman e
em pali kamma) utilizada na Índia e por muitas correntes filosóficas religiosas, significa em primeira
instância “ação”, “trabalho” ou “efeito”. No sentido secundário, o efeito de uma ação, ou se preferirmos, a
soma dos efeitos de ações (vidas) passadas se refletindo no presente.

Na concepção hindu, carma quer dizer “destino” (canga) determinado ou fixo, ou seja, aqueles cujos atos
foram corretos, depois de mortos renascerão através de uma mulher brâmane (virtuosa), ao passo que
aqueles cujos atos foram maus, renascerão de uma mulher pária (castas inferiores) e sofrerão muitas
desgraças, acabando como simples escravos. Inclusive uma pessoa nascida numa casta impura (um
varredor de ruas, um auxiliar de crematório, por exemplo) deve permanecer na profissão herdada.
Cumprindo o melhor possível e de maneira ordenada a sua função, tornar-se-á um perfeito e virtuoso
membro da sociedade. Por outro lado, ao interferir nas tarefas de outras pessoas, ele será culpado de
perturbar a ordem sagrada. (...), mesmo a prostituta, que dentro da hierarquia da sociedade está aquém
da virtuosa dona de casa, pode participar – caso cumpra com perfeição o código de sua desprezível
profissão – do supra-humano e transindividual Poder Sagrado que se manifesta no cosmo. Ela pode até
fazer milagres que desconsertam reis e santos.

Sabemos, por orientação dos Espíritos, que quando reencarnamos não escolhemos um destino e sim um
gênero de prova que cabe a cada um enfrentar ou recuar. Desta forma, não devemos usar a
palavraCarma dentro do Espiritismo e sim Causa e Efeito, porque os detalhes dos acontecimentos da vida
estão na dependência das circunstâncias que o homem provoca, com os seus atos. Se encararmos o
carma como um fim total e irredutível, teremos um problema sério quando falamos de existência e
sofrimento.

O carma foi “inventado” pelos arianos, quando estes invadiram a Índia pelo rio Indo, trazendo consigo sua
religiosidade e “criando” as castas para se diferenciarem dos párias e rebaixá-los a posições subalternas.
Se pensarmos no carma como um fim último estagnamos o homem, da mesma forma quando aprovamos
ou aceitamos a salvação apenas pela justificação da fé ou através da predestinação. O carma na época
surgiu para os indianos como uma possibilidade de explicar e entender o mundo, o homem e sua
existência. Se realmente existe os deuses ou um Deus bom, por que algumas pessoas nascem gênios e
outras idiotas? Como os deuses julgarão em um suposto juízo final os homens que não tiveram
oportunidade de conhecê-los? Se Deus é onisciente e onipresente, então não possuímos livre-arbítrio,
estamos encurralados em uma predestinação ou carma. Se não utiliza sua onisciência não pode ser
Deus. Estas são perguntas simples que qualquer senso laico já se fez, ou ainda faz, de sua existência.

Foram estas e muitas outras perguntas muito mais elaboradas que o sistema carma veio “resolver” ou
tentar explicar. Explicar o mal e encontrar o meio de fazer que os homens o aceitem, se não com alegria,
pelo menos com paz de espírito, têm sido a tarefa da maior parte das religiões. Para os ocidentais a
palavra carma não deve ser levada ao pé da letra, mas de forma a entender que o indivíduo passa por
situações difíceis e seu futuro é de sua responsabilidade. No Brasil poucas correntes filosóficas ou
religiosas utilizam a palavra carma como os indianos, ou seja, um fim em si mesmo. Os esotéricos e os
místicos, neste ponto, não se enquadram nos pensamentos esotéricos e místicos judeus, cristãos ou
islâmicos, apesar de alguns filósofos destes pensamentos aceitarem ou discutirem a possibilidade da
reencarnação. Os pensamentos cármicos estão mais próximos dos ensinos esotéricos e místicos por
seguirem e utilizarem boa parte dos ensinos e da filosofia indiana, como é o caso do Shankya, do
Vedanta, do Yoga e alguns outros, ou similares como é o caso dos pensamentos de Blavatsky que possui
grande influência no meio esotérico e teosófico.

O Homem Como Ser Único


10:27 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Jaci Régis

O título desta crônica é o de uma palestra desenvolvida no Centro Espírita Allan Kardec, em Santos-SP.

A princípio questionei a partícula “único”. Por que único? O que denota exclusividade? Certamente não
podia ser aplicado ao ser individual, que é multiplicado na população terrena.

Mas é possível analisar o ser humano enquanto “único” num mundo diversificado, considerando sua
individualidade e também enquanto gênero.
O ser humano, pela teoria espírita, é o resultado de um longo processo de maturação de um princípio
espiritual que evoluiu da simplicidade e da ignorância para o estágio da razão e do sentimento. Essa tese,
no aspecto físico e ambiental, está mais ou menos conforme a teoria darwiniana da seleção das espécies,
embora sob um novo ângulo.

Mas difere substancialmente das crenças espiritualistas e religiosas que atribuem à criação divina o
surgimento do homem e depois da mulher, como seres acabados, mais ou menos na forma atual.

Já a ciência, descompromissada com a ideia de Deus, atribui a existência do ser humano a uma
combinação aleatória de fatores genéticos, na cadeia de mamíferos.

Sociológica e politicamente, o ser humano vem caminhando em alternativas de criação, recriação,


reformulação de sistemas econômicos, políticos e sociais, alcançando etapas progressivas, com
desníveis consideráveis no conjunto da sociedade humana, matizada por ideologias, crenças religiosas,
superstições e disputa pelo poder.

Examinando esse “ser único”, podemos dizer que ele é, simultaneamente, um ser do ser, um ser físico e
um ser psicológico, mantendo-se, todavia, uno.

O ser do ser é a essência do ser em si mesmo e define sua estrutura íntima, reduzida à sua natureza
natural. Ou seja, em relação ao ser humano, é o Espírito em si mesmo, sem nenhuma designação, nome
ou forma. Isso pode, sob certas condições, aplicar-se também ao animal que, sendo um princípio
espiritual em transição para tornar-se um Espírito é, também, um ser do ser.

O ser físico é a condição da relação do ser do ser, ou Espírito ou princípio espiritual, com formas
orgânicas e corporais, no desencadeamento de seu desenvolvimento.

Já o ser psicológico é uma condição exclusiva do ser humano.

Entendemos como “psicológico” o conjunto de qualificações humanas relativamente à razão e ao


sentimento. Aí temos a formação de uma tríade ou triângulo, em que os lados se completam, formando
uma unidade.

Examinando as exclusividades humanas, temos que destacar duas posições importantes.

O ser humano é único na sua solidão.

O ser do ser, embora trabalhado pelo processo que o transforma de um princípio num Espírito é, por sua
natureza, solitário. Ou seja, as emoções, pensamentos, ideias que lhe habitam a mente são exclusivas,
intrínsecas e imperscrutáveis.

As relações eu/tu, que definem a natureza social, estabelecem um elo, um liame de comunicação, mas
não eliminam a natureza solitária da pessoa. Esta solidão é atenuada quando as ligações são
afetivamente compensatórias, seguem para uma completude, uma parceria e uma cumplicidade,
descobrindo caminhos semelhantes, idênticos, ao nível das vibrações específicas no campo da
integração mente a mente.
Mas isso é um processo que, na etapa evolutiva atual, nem todos conseguem. Ainda assim, permanece a
intimidade indevassável da pessoa, na sua estrutura que, segundo a Psicanálise, ela mesma
desconhece.

Mas existe outra condição em que o ser humano é único.

Trata-se da sua exclusiva competência e necessidade de estabelecer e desenhar o próprio destino.

Nos reinos anteriores o princípio espiritual segue, na sua condição de ser físico, uma linha determinística
inexorável, tipificada pela repetição de comportamentos e formas de atuação no ambiente.

Mas quando o ser do ser atinge o nível humano, conquista o livre-arbítrio, que o torna capaz de utilizar de
forma racional e consciente os recursos que já possui no campo dos automatismos comportamentais e de
apreender, ordenar, utilizar e concluir sobre novas experiências vivenciais.

Na verdade, o livre-arbítrio é a condição básica sem a qual seria impossível haver o “ser psicológico”.

Nesse sentido, não é possível desconhecer o gênio de Freud ao propor uma estrutura para o ser
psicológico. De um lado, com o conjunto do id, representando o acervo pulsional, instintual do ser, o ego,
sua atuação no mundo real, na busca da relação com o outro e o superego, que é a sua imersão no
mundo moral, dos valores e que o torna um ser psicológico. De outro lado, o inconsciente, depósito de
emoções recalcadas, porém vivas, o pré-consciente, sede da memória e o consciente, a face atual da
pessoa na sua relação com o ambiente.

Essa complexidade de situações é que tornam o ser humano único, porque tem condições de lidar com
uma multiplicidade de pressões, realizar operações mentais simultâneas e atuar no ambiente de forma
positiva, transformando-o.

Os fatores que se combinam, na medida de avanço de sua ascensão, usando seu livre-arbítrio, detém-se
nos valores morais que, a partir de um dado momento, decidem sua felicidade ou infelicidade, dentro de
um quadro diverso e, não raro, conflitante.

Mas esses fatores, que parecem muitas vezes adversos e imprevisíveis, são justamente os que lhe
garantirão, no desenrolar de sua vida imortal, o equilíbrio básico que chamamos de perfeição, palavra
que, entretanto, não qualifica exatamente o que será alcançado, pois são condições que escapam ao
nosso conhecimento e sentimentos atuais.

Continua obscuro o objetivo da criação humana, sob o ponto de vista de sua destinação. Claro que a
existência das criaturas humanas é justificada pela sua atuação no ambiente, modificando-o e também,
pelo relativo progresso constantemente alcançado pelo uso da inteligência, criatividade e engenhosidade.

Mas qual o objetivo da Divindade ao criar o universo, dotá-lo de condições de agasalhar seres vivos cada
vez mais avançados até a criatura humana, prossegue incógnito.

Por fim, parece justo também afirmar que o ser humano é único na possibilidade de sobreviver ao corpo
físico, mantendo sua identidade e voltar a encarnar-se sem perder seu acervo evolutivo, embora se
submetendo a um novo processo vivencial, diferenciado do anterior e assim sucessivamente.

Fonte: Jornal de cultura espírita “Abertura”, julho de 2001, ano XIV, nº 160 - Santos-SP.

Retirado do site Pense - http://viasantos.com/pense/arquivo/1343.html

Infância Mágica de Jesus


10:10 ADMINISTRADOR NO COMMENTS

Por José Herculano Pires

“Quando Maria, sendo Jesus na aparência pequenino, lhe dava o seio, o leite era desviado pelos
espíritos superiores que o cercavam, de um modo bem simples: em vez de ser sorvido pelo menino, que
dele não precisava, era restituído à massa do sangue por uma ação fluídica que se exercia sobre Maria,
inconsciente dela”.

“Eis o que fez Jesus nos três dias que esteve em Jerusalém. Ao abrir-se o templo, entrava com a
multidão e com a multidão saía quando o templo se fechava. Uma vez fora e longe dos olhares
humanos, desaparecia, despojando-se do seu invólucro fluídico tangível e das vestes que o cobriam, as
quais, confiadas à guarda dos espíritos prepostos a esse efeito, eram transportadas para longe das
vistas e do alcance dos homens. Voltava para as regiões superiores onde pairava e paira ainda, nas
alturas dos esplendores celestes, como espírito protetor e governador da Terra. Ao reabrir-se o templo,
reaparecia entre os homens, retomando o perispírito tangível e as vestes que o faziam passar por um
homem aos olhos dos humanos”.
(Os Quatro Evangelhos - Tomo I, cap. 2.° – Jesus no Templo)

A infância mágica de Jesus, contada na obra de Roustaing, faz lembrar certos Evangelhos apócrifos que
descreveram a vida do menino através de incríveis peripécias. Nos trechos acima vemos a descrição
anedótica da amamentação aparente de Jesus. Maria, mais uma vez, continuava iludida. O menino
fingia mamar. A transformação do sangue em leite é um ato de magia, digno de figurar nas estórias para
adolescentes.

A permanência de Jesus em Jerusalém, nos três dias em que esteve perdido para os pais, caberia num
enredo de aventuras infantis. Os “ministros de Deus” que deram a nova revelação criaram uma nova
categoria angélica: a dos anjos guarda-roupas. Seria difícil imaginar-se maneira mais adequada de
ridicularizar o Espiritismo aos olhos das pessoas de bom senso. A aceitação de uma obra como esta pelos
espíritas e a sua divulgação só pode explicar-se pela falta de discernimento.

Roustaing é o anti-Kardec. Se Kardec é o bom senso, Roustaing é a falta de senso. A esta altura do
exame dos textos já não se pode permanecer em atitude neutra diante dos absurdos que surgem a cada
passo. Estamos em pleno mar da imaginação, flutuando ao sabor das ondas. Mas há uma intenção
evidente – a de lançar o ridículo sobre o Espiritismo.

Quando falamos de magia não estamos nos referindo à magia natural que decorre das funções
mediúnicas, mas sim da magia primitiva ou anímica, bem definida por Malinowski, que tanto existe nas
selvas como nos meios mais civilizados. É esse o tipo de magia que constitui a essência do
Roustainguismo, na mesma linha do pensamento mitológico que gerou a teoria grega do corpo fluídico
de Jesus na era apostólica, contra a qual se ergueram os apóstolos, como vemos nas epístolas de Pedro
e João.

A anedota da amamentação de Jesus exemplifica bem esse tipo de magia. Jesus menino não aparece ali
como um ser real, mas como um ser artificial, um deus mitológico que se disfarça numa criatura
humana, como o faziam os deuses gregos e romanos para iludirem os homens e pregar-lhes as suas
peças. Usando o poder mágico da transmutação (alquimia) ou transubstanciação (teologia) o menino
mitológico (e, portanto, anticristão) mudava o leite materno em sangue e o devolvia à circulação no
corpo de Maria. É uma adaptação ao Espiritismo do dogma católico da eucaristia.

Pode-se alegar que isto seria possível por meio da ação mediúnica. O caso da transformação da água em
vinho, citado no Evangelho, poderia justificar essa teoria. Mas não podemos es-quecer as seguintes
diferenças: quando Jesus operou a transformação da água, não o fez para iludir ninguém, mas para
demonstrar os seus poderes e despertar a fé nos que deviam ouvi-lo; foi, portanto, uma ação
moralmente lícita, como todas as suas ações; essa transmutação (química e não alquímica) não foi uma
encenação, mas um fato real, ainda hoje constatável na atividade mediúnica. A transmutação do leite
de Maria implica problemas morais inadmissíveis numa personalidade espiritual elevada, tanto mais que
por trás dela encontra-se todo o complexo fantasioso e absurdo do nascimento fingido. Estaríamos
diante desta contradição que minaria os alicerces do Cristianismo e de todo conceito espiritual: a
Verdade revelada através da mentira.

Não podemos separar os princípios éticos do contexto de nenhum problema espiritual. Alega-se também
que Jesus ensinava em parábolas. Mas as parábolas não são mentiras, são formas alegóricas, simbólicas
de transmissão da Verdade. A própria Psicologia materialista constatou essa necessidade de sermos
verdadeiros no ensino das coisas mais corriqueiras, condenando as explicações fantasiosas do
nascimento das crianças. Se a lenda ingênua da cegonha é um mal por ser mentirosa, que dizer do mito
absurdo do nascimento fingido de Jesus? O uso da alegoria é válido e prepara o advento da verdade, mas
o uso do fingimento é próprio dos mistificadores, dos embusteiros, das criaturas falsas e não de espíritos
esclarecidos.

O mesmo se aplica ao episódio ridículo da permanência de Jesus menino em Jerusalém. O menino não
era menino, mas um espírito adulto disfarçado em criança. Enganava os doutores da lei com suas
respostas astuciosas e enganava o povo com suas fugas para o Céu, deixando as roupas em mãos dos
anjos que o ajudavam na mistificação. E por que tudo isso? Porque em Jerusalém, justificam os
“ministros de Deus” era difícil encontrar lugar para um menino permanecer três dias sozinho. Desculpa
tola, como se vê, que só tem uma justificativa: uma mentira puxa a outra.

Bem precário seria o poder divino se estivesse submetido à condição de recorrer aos ardis humanos, às
espertezas comuns dos passadores de conto do vigário, para poder trazer a Verdade à Terra. Não são os
mestres espirituais que se utilizam dessas formas grosseiras de mistificação, mas os espíritos
mistificadores, os embusteiros vulgares. Justifica-se, pois, o ardor de João, o evangelista, e de Pedro, o
apóstolo, ao repelirem a teoria do corpo fluídico, bem como o ardor de Paulo ao nos advertir contra as
fábulas que desfiguram a Doutrina do Cristo.

A frase do último trecho acima citado: “Voltava para as regiões superiores onde pairava e paira
ainda...” encerra uma malícia diabólica. Afirmando que Jesus retornava aos esplendores celestes, como
espírito protetor e governador da Terra, ela pretende encobrir com essa declaração enfática o ridículo
da esperteza do menino. Os corações ingênuos se comovem com essa falsa abnegação de um deus
mitológico, obrigado a participar entre os homens de uma pantomima celeste, e o raciocínio enganado
justifica o mito.

O Corpo Fluídico de Jesus


10:01 ADMINISTRADOR NO COMMENTS

Por José Herculano Pires


A teoria central do Roustainguismo é a do corpo fluídico de Jesus, que não possuiu corpo carnal como
nós. Vejamos como se explica nos textos [de Os Quatro Evangelhos] a formação desse corpo:

“Jesus houvera podido, unicamente por ato exclusivo da sua vontade, atraindo a si os fluídos ambientes
necessários, constituir o perispírito ou corpo fluídico tangível que vestiu para surgir no vosso mundo
sob o aspecto de uma criancinha. Maria, porém, antes da sua encarnação, pedira, por devotamento e
por amor, a graça de participar da obra de Jesus, atraindo, pela emanação de seus fluidos
perispiríticos, os fluidos ambientes necessários à constituição daquele perispírito”.

“Dessa maneira se tinha que verificar a sua cooperação, mas de forma para ela inconsciente, porquanto
o estado de encarnação humana lhe não permitia lembrar-se. Assim, ao aproximar-se o momento final
da sua gravidez aos olhos dos homens, ela, inconscientemente, mas ardendo no desejo de cumprir a
missão que o Senhor lhe revelara por intermédio do anjo ou espírito superior que lhe fora enviado,
estabeleceu, pela emanação dos fluídos do seu perispírito, uma irradiação simpática que atraiu os
fluídos necessários à formação do corpo fluídico de Jesus”.

“Nenhum efeito, entretanto, teria produzido a ação inconsciente de Maria, sem a intervenção da
vontade daquele que ia descer ao vosso mundo. Jesus, pois, constituiu, ele próprio, pela ação da sua
vontade, o perispírito tangível e quase material que se tornou, tendo-se em vista o planeta que
habitais, um corpo relativamente semelhante ao vosso”.
(Tomo I – cap. I – Anunciação)

Este pequeno trecho revela uma ingenuidade assustadora. O que fez Maria nesse episódio? Encarnou-se
na Terra para fingir de mãe, esqueceu-se do papel que ia desempenhar – pois era médium inconsciente...
– mas agiu inconscientemente atraindo os fluídos na esperança de representá-lo. Entretanto, no momento
decisivo, Jesus teve de intervir e constituir ele mesmo o seu corpo fluídico, pois só ele podia fazer tal
coisa. Só restou a Maria, em todo o drama, uma “pontinha” à Hollywood para a entrada em cena da falsa
gravidez.

No ponto culminante da revelação, o que nos é revelado é o papel de tola desempenhado pela falsa mãe
do Messias. Tem-se a impressão de um artista piedoso admitindo uma jovem inexperi-ente ao seu lado
para não desgostá-la. O artista não precisava da jovem, mas aceitou o seu pretenso concurso e acabou
fazendo tudo por si mesmo. O público não percebeu nada. E a jovem muito menos. Mais adiante a
veremos sendo lograda pelo nenezinho esperto que lhe suga o seio sem sugá-lo.

Poderíamos encerrar aqui a nossa análise. Não há mais o que analisar. A revelação da revelação abortou
nesse episódio lírico-burlesco, ainda nas primeiras páginas do primeiro tomo da obra roustainguista de
duas mil páginas. Mas acontece que o Roustainguismo é uma crença e os seus adeptos não aceitarão a
nossa conclusão. Precisamos de paciência e coragem. Iremos além...

Por sinal que além desse ato lírico-burlesco só nos resta, no trecho acima, constatar o decalque da teoria
do perispírito que Roustaing absorveu na leitura de O Livro dos Espíritos, de Kardec. Lemos acima que o
perispírito é um corpo fluídico tangível. A expressão corpo fluídico é de Kardec. Mas Kardec mostra que
esse corpo fluídico pode tornar-se tangível no fenô-meno das aparições tangíveis. Roustaing misturou as
coisas e formou “aparentemente” essa nova expressão.
Outro aspecto curioso de utilização das teorias kardecianas é o do trecho médio da transcrição acima,
quando Roustaing (ou seja, os espíritos que ditaram a obra) dizem que Maria produziu uma irradiação
simpática do seu perispírito para atrair os fluidos necessários. É essa a teoria explicativa das
manifestações medi-únicas. O espírito comunicante produz irradiações do seu perispírito que afetam o
perispírito do médium, provocando o fenômeno semelhante em forma de reação. A mistura dos fluidos
espirituais do espírito com os fluidos materializados do médium produz o elemento necessário,
semimaterial, que permite a ação do espírito no plano material.

Estamos praticamente diante de um ato de apropriação indébita. Não há nada de novo em tudo isso, a
não ser o falso emprego da teoria.

Mas vamos a outro trecho básico, relativo à gravidez de Maria. E juntemos a ele o trecho referente ao
parto. Vejamo-los:

“A gravidez de Maria foi obra do Espírito Santo, porque foi obra dos Espíritos do Senhor, e, como tal,
aparente e fluídica, de maneira a produzir ilusão, a fazer crer numa gravidez real”.

“Os espíritos prepostos à preparação do aparecimento do Messias na Terra reuniram em torno de Maria
fluidos apropriados que lhe operaram a distensão do abdômen e o intumesceram. Ainda pela ação dos
fluídos empregados o mênstruo parou durante o tempo preciso de uma gestação, contribuindo esse fato
para a aparência da gravidez, pela intumescência e pelos incômodos causados. Maria, sob a inspiração
do seu guia e diante desses resultados, que para ela eram o cumprimento da anunciação que lhe fizera
o anjo ou espírito enviado, acreditou na realidade do seu estado”.

“Seu parto foi igualmente obra do Espírito Santo, porque também foi obra dos Espíritos do Senhor, e só
se deu na apa-rência, tal como a gravidez, por isso mesmo que resultava desta, que fora simplesmente
aparente. Tanto quanto da gravidez, Maria teve a ilusão do parto, na medida do que era necessário, a
fim de que acreditasse, como devia acontecer, num nascimento real”.

Aqui a intenção do ridículo se torna clara. O episódio lírico-burlesco perde todo o lirismo. A análise
emperra diante do absurdo, pois o absurdo não pode ser analisado. Temos de saltar por cima do abismo
e encarar o texto por outro ângulo. Os espíritos reveladores empregam neste momento os ingredientes da
magia para fascinar o leitor. Estamos no plano do irracional. Mas não nos enganemos. Por trás dos
bastidores estão estirados e ativos os cordéis da mágica teatral. O embuste é evidente. Não se trata da
magia natural, mas da artificial. Numa palavra: do ilusionismo mal intencionado. Não é à-toa que o texto
inclui a expressão: “de maneira a produzir ilusão”. Os ilusionistas, seguros do efeito do seu truque,
sentem-se à vontade para empregar as palavras certas.

Todos carregamos conosco os resíduos do animismo tribal, da magia primitiva que antecedeu a religião.
A mágica de teatro excita em nós esses resíduos que sobem do inconsciente ao consciente e determinam
a regressão psicológica. Voltamos à tribo, ao tabu, ao totemismo, ao animismo dos primórdios. Isso pode
acontecer com o homem rude e simples ou com o homem ilustrado e ingênuo. E só essa regressão pode
explicar a aceitação das teorias roustainguistas acima por criaturas que ostentam o verniz da civilização.
É o mesmo caso dos resíduos mágicos das nossas religiões chamadas positivas. A fé ingênua da selva
desperta no coração do homem atual e o leva a aceitar, emocionado, os dogmas do absurdo.
Apesar dessa explicação, podemos perguntar como admitir-se a utilização desses truques ou passes de
mágica por Espíritos Superiores. Como aceitar-se o papel de Jesus, sob a permissão, pelo menos, de
Deus, nesse processo de trapaça espiritual em nome da verdade? Se Descartes já não houvesse
aniquilado o Gênio Maligno nas suas reflexões do Discurso do Método, ainda poderíamos recorrer a ele.
Mas nesta altura dos tempos já não nos sobra mais essa possibilidade.

Fonte: O Verbo e a Carne

Espiritismo: Filosofia, Ciência ou Religião?


00:00 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Maria Ribeiro

Ainda atualmente, há dúvidas entre os adeptos do Espiritismo quanto à sua real natureza. Afinal, é o
Espiritismo religião, ciência ou filosofia?

Sem pretensões descabidas, gostaríamos de examinar as Letras Espíritas, com a finalidade de buscar a
luz para tal impasse.

No capítulo I, item 17 de A Gênese, Kardec elucida que ”...todas as ciências se encadeiam e se sucedem
numa ordem racional; elas nascem umas das outras, à medida que encontram um ponto de apoio nas
idéias e conhecimentos anteriores.”

Já no item anterior, o lúcido mestre lionês faz paralelo entre os objetos de estudo de ambos, a ciência
ordinária e o Espiritismo, sendo o primeiro o das leis do princípio material e o segundo, o das leis do
princípio espiritual. É do conhecimento geral que, para constituir-se uma ciência é necessário que haja um
objeto de estudo. O Espiritismo, sob este aspecto investigativo, é, portanto, Ciência, com seus próprios
métodos e postulados, explorando ao máximo o uso da observação, da lógica, da racionalidade.

Entende-se que a ciência Espírita dá prosseguimento a pesquisas que a ciência comum está
impossibilitada de atuar. Ao menos pelos mesmos meios, pois, dentro do seu campo de ação, também
participa da grande obra divina, que é trazer informações e disponibilidades nas mais diversas áreas para
os homens. São palavras do magno codificador em Obras Póstumas, no capítulo intitulado ’Perguntas e
problemas’: “...(O Espiritismo) não repudia nenhuma das descobertas da ciência, tendo em vista que a
ciência é a compilação das leis da Natureza, e que, sendo essas leis de Deus, repudiar a ciência seria
repudiar a obra de Deus.”

E quanto as ciências têm progredido! Em todos os setores, os aprimoramentos vão surgindo com novas
roupagens nos fazendo acreditar que são criações inéditas. Os avanços na medicina nos deixam na
expectativa do aparecimento de curas, ou ao menos tratamentos mais eficazes e ao mesmo tempo
menos agressivos, para doenças como o câncer e mesmo para a AIDS. A tecnologia disparou criando
mecanismos e aparatos cada vez mais modernos em praticamente todos os níveis. Não se pode negar o
quanto o progresso tem promovido maior bem estar para a vida humana.

“O Espiritismo é uma doutrina filosófica que tem conseqüências religiosas, como toda doutrina
espiritualista”¹. Encontramos na Doutrina Espírita os mais elevados valores, que desde tempos
imemoriais vêm sendo apregoados por diversas personalidades que visitaram o planeta. Muitas vezes
considerados como loucos, desordeiros e subversivos, tiveram suas grandezas de alma reconhecidas,
somente após o desencarne.

Com este curto período, Kardec não deixa espaço para a separatividade de Espiritismo, filosofia e
religião, uma vez que a Filosofia é que deu origem às religiões e às ciências. Por isso, é incompreensível
a forma de enxergar o Espiritismo sem filosofia, sem ciência e sem religião, já que o texto Espírita nos
sugere ser a Doutrina a fusão harmônica de um trio que, por causa da ignorância dos homens, esteve
disperso por longos séculos.

Há, obviamente, que se considerar, em como os homens constituíram suas crenças, organizando-as
segundo um entendimento limitado perfeitamente inteligível. Surgindo dissidências, o que pode parecer
natural, surgem também novas formas de adoração ao ser superior, novos dogmas, novos rituais, e outra
vez novas dissidências, formando grupos muito heterogêneos somente em determinados aspectos. A
Doutrina Espírita não se compara a nada disso, porque não é uma dissidência de nenhuma outra, mas
sim, a soma de todas as verdades contidas esparsamente nas diversas expressões religiosas, nada
menos que o consolador prometido pelo Cristo. “Mas aquele consolador, O Espírito Santo, que o Pai
enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho
dito”(João, 14, 26).

Ora, Jesus fala em “todas as coisas” – vos ensinará todas as coisas. Se reconhecemos o Espiritismo
como o cumprimento desta promessa de Jesus, é necessário atribuí-lo o mérito que ele merece. Não
pode ser reduzido à uma ou outra esfera de ação. Examinemos o que o item XIII da introdução de O
Livro dos Espíritos assevera: “Portanto, não nos enganemos: o estudo do Espiritismo é imenso, toca
em todas as questões da metafísica e da ordem social, e é todo um mundo que se abre diante de
nós.”Em outras palavras, não é o mesmo que Jesus pronunciou? Em todos os aspectos – científico,
filosófico e religioso, precisa ser investigado, compreendido e divulgado, sob pena de reforçarmos a já
existente idéia de que Espiritismo é diferente de religião, que é diferente de ciência. Uma coisa é utilizar
formas didáticas para melhor compreensão de sua complexa transcendência, outra é querer deturpar
palavras e esclarecimentos de Espíritos que estão muito além de nós, como o próprio Codificador, apenas
para atender a uma fração de orgulho audacioso.

Por outro lado, “o Espiritismo, essencialmente positivo em suas crenças, repele todo
misticismo”,conforme assinala Kardec, (Obras Póstumas, Perguntas e problemas). E, sem sabermos
ainda se felizmente ou infelizmente, existe uma vertente para este lado, mas sem sombra de dúvida, é
anti doutrinário. O que pode haver de errado em uma pessoa oferecer ou receber uma aplicação de reike,
ou de fazer tratamentos cromoterápicos, ou de se submeter às terapias com cristais, pirâmides e florais?
Será que é errado alguém tomar um banho de sal grosso, ou acender incensos e velas ou praticar coisas
afins? Certamente que errado não é, tendo em vista as boas intenções com que são feitas, mas sustentar
que isso tem a ver com o Espiritismo é erro grave, pois entre ambos vai uma distância galáctica.

Sendo ’essencialmente positivo em suas crenças’, o Espiritismo é baseado nos fatos e na experiência; é
um objeto de caráter prático e objetivo. Dirige a fé do homem para o raciocínio. Daí o não parecer racional
acreditar-se que a queima de um incenso seja capaz de espantar os maus Espíritos e fluidos
“carregados”, esquecidos do item 13 do nono capítulo de O Livro dos Médiuns. Também é apalermante
ver-se a confiança que se depositam no tratamento dos tais florais, que garantem interferência benéfica,
segundo alguns, no perispírito, quando sabe-se que sem reformulações de valores levadas a efeito
cotidianamente, não existe outra forma de se adquirir bem estar físico e/ou psíquico.

A reflexão que se faz importante é que o respeito pelas diversas formas de crenças precisa existir, já que
somos parte de um grupo heterogêneo de Espíritos em diferentes graus evolutivos. Daí, o concluir-se
que, entre os Espíritas haverá aqueles em estado de transição, onde a total convicção ainda não surgiu e
só o fará gradualmente, como é natural. Entretanto, não será por causa disso que se deixará de
esclarecê-los, preservando sempre e a todo custo, a pureza doutrinária.

Sob a identificação de Um Espírito, um companheiro da pátria espiritual nos elucida ainda em Obras
Póstumas, no capítulo cujo título é ’O futuro do Espiritismo’: “O Espiritismo está chamado a desempenhar
um papel imenso sobre a Terra; será ele que reformará a legislação tão freqüentemente contrária às
leis divinas; será ele que retificará os erros da história; será ele que reconduzirá a religião do Cristo
que, nas mãos dos sacerdotes, se tornou um comércio e um vil tráfico; instituirá a verdadeira religião,
a religião natural, a que parte do coração e vai direto a Deus, sem se deter nas franjas de uma batina,
ou no escadote de um altar(...)”

O Irmão fala de uma ’religião do Cristo’, de uma ’religião natural que parte do coração e vai direto a Deus’,
removendo de nós qualquer pensamento de forma ligado à questão religiosa, ressuscitando seu real
significado.

O que se entendeu por religião, na realidade, jamais o foi. Do latim religare assume significação
comprovadamente diversa. O “religar” o homem a Deus jamais pôde fazer entender práticas exteriores
eivadas de uma caprichosa superstição, abstração feita para homens ainda de entendimentos
elementares, e aos abusos que se registraram, principalmente no período dantesco da Idade Média.

A Doutrina Espírita veio restaurar o cristianismo que ao longo da história sofreu deturpações, mutilações e
abusos de toda sorte. Como eximi-la de qualquer de seus aspectos, sem repetir os mesmos erros do
passado?

Necessidade urgente é que os Espíritas assumam logo o seu papel, já que tantas responsabilidades
estão reservadas ao Espiritismo, que só agirá mediante ação efetiva de seus adeptos. Estes parecem
esperar algo extraordinário acontecer por si mesmo, enquanto pequenas divergências ameaçam intimidar
a disseminação das idéias veramente Espíritas. Ainda bem que o notável codificador garantiu: ”Que
importam, aliás, algumas dissidências que estão mais na forma que no fundo! Observai que os
princípios fundamentais são os mesmos por toda parte e devem vos unir num pensamento comum: o
amor de Deus e a prática do bem. Quaisquer que sejam, portanto, o modo de progressão que se admita,
ou as condições normais da existência futura, o objetivo final é o mesmo: fazer o bem; ora, não há
duas maneiras de fazê-lo.”(O Livro dos Espíritos – Conclusão, item IX)

Amigos Invisíveis
23:09 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por José Herculano Pires

Teremos realmente amigos invisíveis, que nos seguem na vida terrena com a ternura e a dedicação de
verdadeiros anjos da guarda, segundo ensina a Doutrina Espírita? Para responder a esta pergunta,
devemos lembrar, primeiramente, que a existência dessas entidades benignas não foi inventada pelo
Espiritismo. Desde as aulas de catecismo, nas igrejas católicas, ouvimos falar nos anjos da guarda, e na
maioria das grandes religiões universais encontramos essa teoria, sob diferente formas, mas sempre
idêntica no conteúdo.

Nas religiões clássicas, do mundo greco-romano, eram os deuses mitológicos que velavam pelas
criaturas. Nas chamadas religiões orientais, que no fim dos tempos invadiram o Império Romano, e entre
elas o Cristianismo, a teoria dos anjos guardiões estava presente. E tanto na Mesopotâmia quanto na
China ou na Índia antiga, na Grécia arcaica ou na Roma camponesa, que antecederam o mundo clássico,
assim como na Palestina e entre os povos selvagens da América, da Ásia, da África e de todo o mundo, o
culto dos ancestrais sempre existiu. Os manes, penates e deuses lares, ou deuses familiares, dos
romanos e dos egípcios, dos babilônios e dos assírios, dos fenícios e dos cananitas, dos judeus e dos
macedônios, nada mais eram do que espíritos amigos, que velavam pelas pessoas e pelas famílias.

Por toda parte e em todas as épocas, no mundo inteiro, a investigação histórica e a pesquisa
antropológica nos mostram a existência invariável dessa crença nos espíritos protetores. Entre os povos
selvagens e no seio das maiores e mais esplendentes civilizações, ela se faz sentir como uma espécie de
convicção universal, de intuição natural, que o homem carrega consigo em todas as latitudes do globo.
Sócrates, na Grécia, e Joana D’Arc, na França, ouviam as vozes amigas dos seus protetores. Descartes,
o filósofo que se considerou inspirado pelo Espírito da Verdade, também tinha o seu protetor. A existência
dos amigos invisíveis é uma realidade incontestável. Mesmo que a consideremos como simples crença, é
impressionante o fato de a encontrarmos em toda parte e em todos os graus de cultura.

O Espiritismo é a primeira doutrina que não apenas afirma a existência dos espíritos protetores, mas
também procura demonstrá-la e ao mesmo tempo explicá-la à luz da razão. Para os espíritas, essa
existência não constitui uma crença, mas uma certeza, comprovada pela experiência. Essa posição
espírita diante do problema dos amigos invisíveis é confirmada pela de outras doutrinas espirituais, como
a Teosofia, que surgiu pouco depois da doutrina espírita e estuda com profundidade o problema dos
“auxiliares invisíveis”.

É curioso que as demais doutrinas recusem o meio natural de comprovação da existência dos amigos
invisíveis, que é a mediunidade. A própria doutrina teosófica, que em muitos pontos se aproxima da
espírita, admite a prova mediúnica, mas ao mesmo tempo evita empregá-la. Isso porque há velhos
preconceitos, formulados pelas antigas ordens ocultistas, que consideram a mediunidade perigosa, em
vez de considerarem os benefícios que ela produz e tem produzido em todos os tempos. O Espiritismo
estudou profundamente a mediunidade e nada tem a temer da sua utilização. Pelo contrário, só tem a se
beneficiar com ela, beneficiando ao mesmo tempo o mundo.

Através da mediunidade, a teoria espírita dos espíritos protetores foi dada a Kardec, segundo a podemos
ler em “O Livro dos Espíritos”, no capitulo nono da primeira parte. E ainda através da mediunidade, essa
teoria consoladora e bela vem se confirmando, em todo o mundo, e ao mesmo tempo se enriquecendo
com episódios maravilhosos, nos quais a verdade das relações espirituais entre os homens e seus
amigos invisíveis transparece cada vez mais. Procuremos estudar essa teoria, examinando-a em seus
vários aspectos. Mais do que nunca, o mundo angustiado de hoje necessita desse esclarecimento e
desse conforto, que a teoria dos espíritos protetores nos oferece, com a garantia de sua veracidade, pela
prova dos fatos mediúnicos.

Chico Xavier: definitivamente, outra religião!


22:53 O BLOG DOS ESPÍRITAS 2 COMMENTS
Por Sérgio Aleixo

Faz algum tempo, afiancei que caducaram por completo os prognósticos ao final do capítulo XXV do
livro A Caminho da Luz (F.E.B., 1939), de Emmanuel.[1] O jesuíta assegurava ali, evidentemente em
falso, que eram chegados os tempos em que as forças do mal seriam compelidas a abandonar as suas
derradeiras posições de domínio nos ambientes terrestres; que se vivia na Terra, à época, um crepúsculo,
ao qual sucederia ainda profunda noite, e que, ao século XX é que competiria a missão do desfecho
desses acontecimentos espantosos.

Justo agora, num jornal “espírita” de grande circulação, entrevistado pela festejada Dr.ª Marlene Nobre, o
Ilmo. Sr. Geraldo Lemos Neto participa as revelações que, em 1986, Chico Xavier lhe fez sobre o futuro
reservado ao nosso planeta e seus habitantes nos próximos anos, finalizando com esta pérola
emmanuelina: “As profecias são reveladas aos homens para não serem cumpridas”. De fato, as do
suposto ex-senador de Roma, sem dúvida advogando aí em causa própria, nunca se cumpriram.

Kardec já advertira em A Gênese, XVI, 16, que “os espíritos realmente sábios nunca predizem nada com
épocas determinadas”, bem como “se pode ter por certo que, quanto mais circunstanciadas as predições,
mais elas são suspeitas”. Portanto, definitivamente, nada tem que ver com o Espiritismo, doutrina
codificada por Allan Kardec, essa nova religião, essa nova Igreja chamada Federação Espírita Brasileira,
que sempre teve por ícones mui dóceis de sua propaganda antidoutrinária o médium Chico Xavier e todos
os seus guias e congêneres, agora erigidos em profetas apocalípticos.

De acordo com as tais revelações,[2] surpreendentemente não por decisão própria, mas ouvindo o apelo
de outros seres angelicais de nosso sistema solar, Jesus convocou, em julho de 1969, reunião destinada
a deliberar, na atmosfera terrestre, sobre o futuro de nosso planeta. Fico a imaginar se a convocação foi
mediante algum satélite por ali disponível... A razão do apelo, pasmem: a chegada do homem à Lua
naquele mês.

Jesus, pelo visto, não se abalou. Foi atendendo aos seus pares do sistema solar que marcou o conclave
celeste. Depois de muitos diálogos, debates e sugestões, mesmo ante o receio e a indisposição de
algumas potências angélicas presentes, o Mestre concedeu-nos uma “última chance” e “todas as
injunções cármicas previstas para acontecerem no final do século XX” (eufemismo empolado para o fim
do mundo) “foram suspensas”. Mais não parecem desse modo, pelo evidente conflito, deuses mitológicos
que espíritos puros?

Pois bem. Revogadas assim, de improviso, as disposições anteriores, Emmanuel estaria livre da
acusação de falso profetismo. Contudo, neste caso, menos interessa que suas profecias não se hajam
cumprido do que o simples fato de haver predito acontecimentos espantosos para época determinada, o
que espíritos verdadeiramente sábios nunca, nunca fazem. Além do mais, em A Gênese, XVIII, 26,
aprende-se:

A Terra, no dizer dos espíritos, não deve ser transformada por um cataclismo que aniquilaria
subitamente uma geração. A geração atual desaparecerá gradualmente, e a nova a sucederá da mesma
maneira, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas. Tudo, pois, se passará,
exteriormente, como de hábito [...] Assim, aqueles que esperam ver a transformação ocorrer através
de efeitos sobrenaturais e maravilhosos ficarão decepcionados.

Mas voltemos ao monte Olimpo. Para tranquilizar as potências angélicas receosas e indispostas com a
dilação que obteve do prazo para o fim do nosso mundo em mais 50 anos além do antes previsto, Jesus
impôs às nações mais desenvolvidas e responsáveis da Terra (impôs como?) que não lançassem a III
Guerra. Basta evitarem isso até 2019 e nosso mundo será admitido no sistema solar na condição de
planeta de regeneração. Oras! Se um espírito apenas sábio nada prediz com época marcada, que se dirá
de um espírito puro como Jesus, a fazê-lo em meio à indisposição receosa de alguns de seus pares.

Daí por diante, apesar de Chico Xavier dizer a G. L. Neto que “nenhum de nós pode prever os avanços
que se darão a partir dessa data de julho de 2019”, o próprio Chico, pasmem, instado pelo interlocutor,
passa a enumerá-los, desde a erradicação da pobreza, passando pelo fabrico de aparelhos para
conversas com desencarnados, até a permissão expressa de Jesus aos extraterrestres, a fim de que nos
ofertem tecnologias inimagináveis.

O mais assombroso, porém, são as previsões para a hipótese de o homem iniciar a III Guerra até 2019,
que será, nesse caso, terminada por uma reação colossal das forças telúricas do planeta, inviabilizando a
vida no hemisfério norte e abrindo um período de reconstrução de mais de mil anos. Isso levaria, pasmem
de novo, a uma invasão autorizada pela O.N.U. ao hemisfério sul. Parece o filmeO Dia Depois de
Amanhã.

E restará aos brasileiros, além de só um quarto do seu território, a obrigação de “exemplificar a verdadeira
fraternidade cristã”, ensinando aos invasores os mais altos valores de espiritualidade. Aprenderão com os
norte-americanos o respeito às leis, o amor ao direito, à ciência e ao trabalho; com os europeus, o amor à
filosofia, à música erudita; com os asiáticos o respeito ao dever, etc. Um povo que precisa aprender o
respeito às leis e o amor ao direito com invasores norte-americanos irá ensinar-lhes, em contrapartida, os
mais altos valores de espiritualidade... Surreal!

Outra providência dos deuses gregos, agora na atmosfera do nosso planeta travestidos de seres
angélicos, foi que, desde 2000 (suposto ano da volta de Emmanuel), só permitem reencarnar aqui
mansos, brandos, amorosos e pacíficos, sendo os recalcitrantes no mal encaminhados a mundos
atrasados, o maior deles, Quírom, ou Kírom. Todos os que hoje têm no máximo 11 anos integrariam, pois,
esse exército de brandos. Matemática canhestra. Decerto, se trata de outra profecia a não se cumprir. E
tudo bem. Afinal, é para isso que as profecias, segundo Emmanuel, são reveladas, sobretudo as dele.
Toda essa mixórdia ridícula integra outra religião, um divinismo oracular abrasileiradamente sincrético;
não é Espiritismo, mesmo porque nada conseguiu sê-lo após o passamento, em 31/03/1869, do Gênio
Lionês ao mundo espírita, de onde ainda contempla o cumprimento desta profecia do Espírito de
Verdade: “[...] as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas”.[3]

Assim, profecias são verdadeiras predições e se cumprem com rigor, exceção feita às mistificações de
espíritos pseudossábios, como Emmanuel, Ramatis e assemelhados, que julgam saber mais do que
realmente sabem, ou simplesmente insistem sobre aquilo que deve permanecer oculto, a fim de darem a
impressão de que conhecem os segredos de Deus.[4]

[1] Revista “Espiritismo e Ciência” n. 53. Kardec e os Exilados. Cf. texto atualizado:
http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010_03_29_archive.html; Kardec Versus Emmanuel em 12
Passos, http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2011_06_12_archive.html, bem como esta palestra:
http://www.youtube.com/user/sergiofaleixo#p/c/F40B80DEDC8DE9CF/0/4h4r6CxP8Rs
[2] Cf. http://www.vinhadeluz.com.br//site/noticia.php?id=760
[3] KARDEC. Obras Póstumas. 12 de junho de 1856. Em casa do Sr. C.; médium: Srta. Aline C. Minha
Missão.
[4] Cf. O Livro dos Espíritos, 104. O Livro dos Médiuns, 300.

Fonte: http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2011_06_06_archive.html

Imprensa Espírita e Mercado


22:49 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

Muito justo que se denuncie a incompatibilidade da tese das assim chamadas “crianças índigo” com o
Espiritismo. Mas até parece, ultimamente, que este é o único caso de infiltração de doutrina estranha no
movimento espírita. Denuncia-se esta historinha que vem de fora e cujos fundadores, aliás, nunca a
apresentaram como espírita e, por outro lado, silencia-se quanto a inúmeras outras doutrinas cujos
criadores, há décadas, e aqui no Brasil, apresentam-nas como complementares ou superadoras do
Espiritismo. Denuncia-se a tese das crianças índigo como não espírita, mas publica-se propaganda de
página inteira das obras do Sr. Pietro Ubaldi.[1]

Urge compromisso a esta imprensa que se pretende espírita, a fim de que haja pelo menos coerência no
que faz. Se uma revista diz que é espírita, não pode propagandear, a título de Espiritismo (mesmo
subliminarmente), o que avilte os postulados espíritas. Mas quem está a mandar? Os donos de cotas de
publicidade. Alguns deles, vampiros históricos do bom conceito do adjetivo espírita. E se os americanos
das crianças índigo fizessem propaganda em revistas “espíritas”? Seria o fim da cruzada contra a seita
new age? Ou será que tudo é contra o médium Divaldo Franco? Infelizmente, ele vem de publicar A nova
geração: A visão espírita sobre as crianças índigo e cristal (2007), a reboque do best-seller Crianças
Índigo (de 1995; no Brasil, 2005), cujos conceitos provêm de exótica seita norte-americana que pretendia
até mudar o DNA das pessoas mediante sessões pagas de “energização”.

Só é certo que por trás disto tudo está o “capetalismo” de falsos espíritas, meros escravos dos donos das
cadernetas de publicidade de suas revistas e jornais muito pouco doutrinários um sem número de vezes;
mas tudo nos conformes jurídicos, é claro. Conversas capitalistas, legalistas, porém, não nos eximem de
responsabilidade perante o Mestre Maior, que veio dar testemunho da Verdade! Não deveríamos estar
falando de negócios, mas de Espiritismo!

O resultado é que se acaba depreendendo de certas publicações “espíritas” que haveria mesmo diversas
correntes filosóficas no Espiritismo. Editores, escritores e articulistas não têm registrado suficiente
preocupação em distinguir eventuais incongruências no movimento espírita daquilo que é propriamente o
Espiritismo. E a título de defesa da ética jornalística e da liberdade de consciência e do amor ao próximo,
findam por conferir a adeptos de escolas espiritualistas distintas da doutrina codificada por Allan Kardec o
suposto direito de se proclamarem espíritas.

Em face desta situação inaceitável, se pessoas comprometidas apenas com a Doutrina Espírita ousam
colocar as coisas nos seus devidos lugares, não mais que de repente, tréplicas manobristas aparecem
tratando de problemas completamente alheios ao estrito esclarecimento dos conceitos em exame;
geralmente, fixadas em vieses comportamentais do tipo: “Podemos discordar deles, mas os irmãozinhos
têm direito de pensar como quiserem”. O fato resulta mesmo num lavar de mãos de estilo individualista
pós-moderno, numa defesa cínica e inócua de direito inalcançável e consagrado, peculiar a quem teme,
no caso, desagradar integrantes de partidos opostos, ou mercado consumidor mais amplo.

No âmbito da liberdade de consciência, é indiscutível que qualquer um pode acreditar no que quiser, se
benignamente, não deixando de merecer por este motivo toda amizade e consideração dos demais,
sobretudo dos espíritas sinceros. Todavia, a exposição de outras doutrinas espiritualistas por adeptos ou
meios de comunicação social do Espiritismo exige a maior precisão e o mais firme engajamento.

Há que existir liberdade de expressão e de discussão; a imprensa espírita deve expor e mesmo debater
ensinos contrários a Kardec ou dele destoantes, mas nunca lhes franquear livre acesso, direta ou
indiretamente, ao título Doutrina Espírita, porque a este não têm direito, assim como os adeptos daqueles
ensinos nunca se dirão espíritas com acerto. Constitui verdadeiro crime de responsabilidade a falta de
determinação de espíritas esclarecidos ante a insistência histórica de alguns espiritualismos em se
proclamarem Espiritismo. Este aval declarado ou mesmo subliminar, concedido por editores, escritores e
articulistas agrilhoados a conveniências mercadológicas, custa muito caro ao presente e ao futuro da
Doutrina codificada por Allan Kardec.

Certas publicações “espíritas” hão estampado, por exemplo, ricas propagandas das obras de Pietro
Ubaldi; nalgumas, o culto escritor italiano, falecido no Brasil em 1972, recebe um epíteto no mínimo
intrigante em face dos espaços “espíritas” onde figura assim proclamado: “o arauto da nova civilização do
espírito”. E Kardec? Foi o quê? Ubaldi é apreciado pela dissidência rustenista não só por sua reedição, no
séc. 20, da equivocada tese da queda do espírito, mas porque pretendeu salvar o Espiritismo do “nível
Allan Kardec”. Do mesmo modo, no séc. 19, Roustaing e seus discípulos quiseram “criar o livre
pensamento espiritualista”, pois, segundo eles, Kardec não passava de um “autoritário senhor”, do “chefe”
de um “espiritismo de fantasia”, de uma “igrejinha com seus corrilhos, entregue a lutas liliputianas”.[2]

Mas há que abafar estes inconvenientes históricos; não contá-los a ninguém, sob pena do estigma da
intolerância... Devemos esquecer também que Jesus não morreu por causa do amor a que exortava, mas
pelas verdades que proclamava... Estaremos prontos, então, para entrar no céu dos indiferentes,
liderados pelos defensores do direito dos lobos diante do rebanho de ovelhas incautas...
Até que a militância viril de um titã como Herculano Pires seja levada a sério e constitua modelo
efetivamente seguido pelos espíritas devotados, haveremos de nos deparar ainda muitas vezes com
pareceres como este, do filósofo Luiz Felipe Pondé, professor do programa de estudos pós-graduados em
Ciências da Religião da PUC-SP:

Apenas uma prova definitiva, empírica, poderia desmistificar a morte. Ou uma mistura de teorias como o
kardecismo com viagens a vidas passadas. Não creio nessa possibilidade, pelo menos até onde temos
evidências. O kardecismo permanece um discurso pararreligioso, um frankenstein positivista, que tende a
assimilar todo tipo de literatura oportunista (energias de todo tipo) e de massa, além de dados imprecisos
da indústria da ufologia.[3]

[1] Cf. Revista Internacional de Espiritismo. Novembro de 1963. Por “Irmão Saulo” [J. Herculano Pires].
Confira o texto completo do mestre paulista aqui: http://sites.google.com/site/aderj2/torre-de-vigia-
doutrinaria/j-herculano-pires/texto-4.
[2] Cf. A Queda do Espírito e o Problema das Origens e Liberdade e Consciência no Espiritismo.
[3] O Globo, Prosa e Verso, 04/11/2005.

"Sou Espírita, ignoro as ciências"... É possível?


22:38 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Randolfo

Quando aprendemos pelo Livro dos Espíritos que a evolução moral decorre da evolução intelectual
ficamos assustados com duas posturas encontradas no MEB (Movimento Espírita Brasileiro):

1) Pessoas que discordam veementemente disso, mas sem fundamentação doutrinária;

2) Pessoas que ignoram isso.

O primeiro caso não é o tema deste artigo. Se uma pessoa discorda de uma proposição lógica tem por
obrigação demonstrar cientificamente outro sistema lógico que derrogue o anterior. E ainda não vimos
isso.

De fato, sem conhecimento intelectual não há capacidade de julgamento de valores que favoreçam as
melhores decisões morais. Uns poucos ainda teimam em confundir evolução intelectual com aquisição
cultural, o que seria uma base de argumentação pueril.

Mas... E o segundo caso?... O sujeito vem a esse planeta no século XXI com acesso por meios diversos,
em todos os níveis sociais a livros, jornais, revistas, internet, televisão, rádio e etc... São meios de
aquisição cultural? Sim, são. Mas, aquisição cultural é modo catalisador de evolução intelectual, um
instrumento útil para que o espírito cresça em sabedoria e discernimento.

Daí o sujeito tem acesso a tudo isso e... Assiste aos “reality shows”, novelas, lê as fofocas de Caras, limita
sua internet a chats, e quando compra livros são os de auto-ajuda ou do Harry Potter.

A aquisição cultural ele limitou aos bancos escolares e de uma forma utilitária: aprende o que é suficiente
para passar de ano, ou em concursos. Ou na verdade, não aprendeu, mas condicionou lembranças de
informações estratégicas para fins específicos. Passada a fase, foi-se embora a aquisição cultural.

Eis, portanto, um bom exemplo onde a aquisição não se transforma em evolução intelectual.

Tudo bem, esse é o sujeito comum, aquele que compõe 98,6% de nossa população.
Só que sobraram 1,4% de espíritas. E como o sujeito é espírita e SABE que precisa evoluir
intelectualmente, o que se espera dele? Que avidamente busque aquisição cultural em todas as áreas ou
ao menos onde se afinize e que transforme isso em instrumento de cognição filosófica para elevar sua
capacidade de discernimento.

Pergunta: é o que vemos?

Onde está o amor pela beleza magnânima da Astronomia? Sua aplicação está contida no Livro dos
Espíritos e no livro A Gênese.

Onde o apreço pela Biologia e suas inumeráveis informações presentes e perspectivas futuras? Sua
aplicação está contida no Livro dos Espíritos, no Livro dos Médiuns e no livro A Gênese, na compreensão
das ligações perispirituais, no processo de reencarnação.

Cadê o amor pela Física, esta nobre ciência que pode conter a chave final do elo entre plano material e
espiritual?

Por que não nos enveredamos pelos caminhos da Sociologia, Psicologia, Antropologia, para
compreendermos melhor quem somos e o que podemos coletivamente e individualmente?

Por que ignorar a História, enfim, para aprender onde erramos, por que erramos e como podemos
continuar errando?

São tantas as ciências e tantas suas aplicações práticas perante a Doutrina Espírita que nem é possível
enumerá-las com suas subdivisões.

O que importa é que a maioria de nós as ignora.

Passamos ao largo, desligamos a TV, pulamos aquela Home Page, ignoramos aquela revista e nossas
conversas em reuniões sociais acabam sendo sobre novela, futebol, programas ao vivo e... Como é legal
combater o misticismo - ou na versão mística - como é legal combater a ortodoxia. Mas, evitamos
programas de ciência, documentários, revistas cientificas e conversas cientificas.

Entendemos que as pessoas possuem níveis diferentes de compreensão científica.

Entendemos que algumas expressões, conceitos e teorias tornam-se difíceis para serem assimilados.

Mas, em que custa o sujeito buscar lá atrás a base que perdeu? Não entendeu o que é a importância do
Obama? Vamos lá às Cruzadas... Vamos buscar informações que estão aqui mesmo, na internet, em
linguagem de fácil compreensão.

Temos SKY, TV a cabo?... legal... vamos nos limitar ao Sport TV e nem tomar conhecimento do Discovery
e History Channel?

Ah, não temos TV a cabo... Bom!... Vamos, então, evitar o Globo Repórter? Vamos deixar de assistir a um
telejornal? Quando o Fantástico fala em ciência vamos ao banheiro, por não estarmos interessados nessa
programação?

Ou então somos pobres e não temos acesso a TV. Mas, temos o rádio... Que tal evitarmos um pouco as
niilistas FM e ouvir um pouco de noticiário?

Não temos dinheiro para comprar jornal? Que bom que pelo menos lamentamos isso, pois demonstra que
queremos ler jornal. Que se pare nas bancas, que se leiam as manchetes e as chamadas, ou que se peça
emprestado o jornal do chefe, mas não para saber que o Vasco dançou no campeonato e sim que foi
descoberta água em Marte..., oras!

No entanto, que desculpa tem o espírita com acesso à internet?... Vamos verificar nossos perfis? Vamos
conferir nossas comunidades?... Ah, temos comunidades de nossos ídolos, de nossos times de futebol,
temos nossa série "eu odeio alguma coisa"?... Ok... Mas, por que não acessar a comunidade de Filosofia?
Que tal a de Astronomia? E a de Medicina? Por que não a de Engenharia Genética? Qual o grande
problema em apenas passar os olhos, ver as perguntas, ler as respostas e até arriscar um
questionamento ou outro?

É até possível que nós não tenhamos acesso a tudo e que nem gostemos de tudo. Mas, é uma prova de
falta de evolução intelectual, de fato, sequer procurar saber se há algo mais que possa nos interessar
além do cotidiano maçante e mecanizado.

"Ah, eu não curto esse papo de Biologia"... Ok... Mas, se o Livro dos Espíritos fala em abiogênese, como
você fica?... Que diabos - que não existem - de espírita é você que lê uma coisa no Livro dos Espíritos,
não compreende e não procura compreender? Que diabos - que ainda continuam não existindo - de
espírita é você que, com isso, não consegue compreender a Doutrina que você "alega" seguir?

O comportamento tipificado acima é uma das chaves letais para a disseminação do misticismo no meio
espírita.

Ao estimularmos a alfabetização damos um instrumento para o indivíduo se aproximar do Espiritismo.


Mas, ao estimular a busca pelo conhecimento científico é que estaremos, de verdade, formando espíritas,
pois é inconcebível seguir algo que não se compreende.

E é impossível conhecer a Doutrina Espírita sem um mínimo de base de conhecimento científico. E ouso
dizer, é vergonhoso fingir o contrário.

No entanto, o fingimento é a regra vigente.

Fonte: NEFCA - Núcleo Espírita de Filosofia e Ciências Aplicadas

Fraternidade sim, Sincretismo não


09:50 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Artur Felipe Azevedo

Vez por outra surge alguém ou algum grupo atacando a coerência espírita e defendendo certas ideias de
fundo ecumenista dentro e fora do movimento espírita. Alegam eles que o Espiritismo - e
consequentemente os espíritas - devam estar "abertos" a outras concepções e ensinos, sem o qual
correm o risco de tornarem-se intolerantes e antifraternos, e, portanto, em dissonância com o que prega a
Doutrina.

Nada mais falacioso.

Não devemos confundir fraternidade e tolerância com ecumenismo, ao qual os ramatisistas, aliás, deram
erroneamente outro nome, o de "universalismo". O que chamam eles de "universalismo" não passa
de sincretismo, fenômeno bastante presente e comum na cultura brasileira. A definição de sincretismo é
de "uma fusão de doutrinas de diversas origens, seja na esfera das crenças religiosas, seja nas
filosóficas", exatamente aquilo estimulado por Ramatis e seus simpatizantes.

No caso da Doutrina Espírita, obviamente reconhecemos alguns pontos em comum com outras correntes
filosóficas e até mesmo com algumas crenças religiosas, porém analisando com mais profundidade tais
similitudes, veremos que a visão espírita possui nuances próprias que as ligam a outros princípios não
abraçados por essas outras filosofias e religiões. Evocar semelhanças sem considerar a Doutrina Espírita
como um todo, mas em partes, certamente conduz a essas frustradas tentativas de comparação e
adaptação.

Verifica-se daí que a confusão geralmente ocorre entre aqueles que ainda não compreenderam a
Doutrina Espírita em profundidade, assim como não abarcaram em detalhes todos os seus princípios,
confundindo-os com suas próprias concepções pessoais advindas de suas vivências em movimentos
religiosos, geralmente no Catolicismo e na Umbanda.

A falta de leitura e estudo sistemático dos livros da Codificação Espírita, somado ao fato de que boa parte
da população brasileira é constituída de analfabetos funcionais com grande dificuldade de interpretação
de textos simples, só agravam a situação e dão armas àqueles que insistem que deva o Espiritismo
assimilar ideias, práticas e conceitos estranhos ao seu corpo doutrinário.

Conscientes dessa realidade, espíritos pseudossábios e muitas das vezes mal intencionados,
interessados na disseminação da confusão e do divisionismo, insistem nessa absurda proposta de
desfiguração do Espiritismo, através de ditados repletos de sentimentalismo piegas e sem conteúdo,
induzindo o leitor à ideia de que o espírita deva aceitar enxertias, à prática espírita, de ritualismos e cultos
exteriores sem nenhuma fundamentação doutrinária e lógica, sob a alegação de que devamos estar
"abertos" e dispostos a contribuir com o progresso e com uma suposta evolução do ideário espiritista.
Mas, que evolução é essa que acaba por incentivar o retorno e/ou permanência das mentalidades em
torno do pensamento mágico? "Pensamento mágico" significa interpretar dois eventos que ocorrem
próximos como se um tivesse causado o outro, sem qualquer preocupação com o nexo causal. Por
exemplo, se a pessoa acredita que cruzar os dedos trouxe boa sorte, ela associou o ato do cruzamento
de dedos com o evento favorável subsequente e imputou um nexo causal entre os dois. Psicólogos já
observaram que grande parte das pessoas é propensa ao pensamento mágico e, assim, o pensamento
crítico fica frequentemente em desvantagem. O que se vê, mais comumente nas religiões cristãs
dogmáticas tradicionais, são lideranças religiosas explorando essa tendência a fim de auferir vantagens,
na medida em que estimulam os seus fiéis a procurarem resolver seus problemas por meio de
promessas, ofertas em dinheiro, sacrifícios, etc. Já no espiritualismo esotérico e nas práticas feiticistas
dos cultos afro-brasileiros, a solução da maioria dos problemas hodiernos estaria nas oferendas, no uso
de talismãs, amuletos, realização de rituais, consagrações, etc. Embora, pois, se diferenciem quanto à
forma, todas essas práticas são oriundas do pensamento mágico, ou, como diriam alguns, do misticismo.

Já asseverava Ary Lex que “no movimento espírita costuma haver uma certa condescendência para com
as pequenas deturpações, condescendência essa rotulada como ‘tolerância cristã’. Estão errados.
Tolerância deve haver para as falhas das pessoas, que devem ser esclarecidas e apoiadas, ajudando-as
a saírem do ciclo erro-sofrimento. Tolerância com as pessoas, sim, com as deturpações, jamais”. E
conclui: “É urgente e fundamental que todos aqueles que tiveram a ventura de entender o Espiritismo
lutem, dia a dia, pela manutenção da pureza doutrinária.”

O alerta de Ary Lex nada mais representa do que uma tentativa de convidar os espiritistas a manterem o
pensamento mágico distante das práticas espíritas dentro e fora dos Centros.

A questão 554 de “O Livro dos Espíritos” corrobora essa posição. Confiramos:

P.: “Que efeito podem produzir fórmulas e práticas mediante as quais pessoas há que pretendam dispor
do concurso dos Espíritos?”

R.: “(...) Todas as fórmulas são mera charlatanaria. Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum
sinal cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porquanto estes são só
atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais”. E continua mais adiante: “Ora, muito
raramente aquele que seja bastante simplório para acreditar na virtude de um talismã deixará de colimar
um fim mais material do que moral. Qualquer, porém, que seja o caso, essa crença denuncia uma
inferioridade e uma fraqueza de ideias que favorecem a ação dos espíritos imperfeitos e
escarninhos”.

Em “O Livro dos Médiuns”, é perguntado aos Espíritos Superiores:

“Certos objetos, como medalhas e talismãs, têm a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos conforme
pretendem alguns?

R.: “Esta pergunta era escusada, porquanto bem sabes que a matéria nenhuma ação exerce sobre os
Espíritos. Fica bem certo de que nunca um bom espírito aconselhará semelhantes absurdidades. A
virtude dos talismãs, de qualquer natureza que sejam, jamais existiu, senão, na imaginação das
pessoas crédulas”.

O Codificador Allan Kardec comentou, concluindo e reiterando a total desvinculação do Espiritismo com o
pensamento mágico propalado pelas religiões e crenças fetichistas:

“Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento e não por objetos materiais (...). Em todos os
tempos os Espíritos superiores condenaram o emprego de signos e de formas cabalísticas; e todo
Espírito que lhes atribui uma virtude qualquer ou que pretende dar talismãs que denotam magia,
por aí revela a própria inferioridade, quer quando age de boa-fé e por ignorância, (...) quer quando
conscientemente (...). Os sinais cabalísticos, quando não são mera fantasia, são símbolos que
lembram crenças supersticiosas na virtude de certas coisas, como os números, os planetas e sua
correspondência com os metais, crenças nascidas no tempo da ignorância e que repousam sobre erros
manifestos, aos quais a ciência fez justiça, mostrando o que há sobre os pretensos sete planetas, os sete
metais, etc. A forma mística e ininteligível de tais emblemas tem o objetivo de os impor ao vulgo (...),
aquilo que não compreende.”

A seu turno, verificamos nas obras de Ramatis uma proposta inversamente contrária, constantemente
presente em seus ditados, como podemos notar abaixo e em inúmeras passagens dos livros
psicografados pelo médium Hercílio Maes:

“Rituais, mantras, sincronizações entre adeptos ou despertamento da vontade; o comando nas quais
podereis alcançar o Cristo Planetário!”

"Os amuletos e talismãs, quando realmente dinamizados por magos experientes, obedecem aos mesmos
princípios dos minerais radioativos, mas a sua ação é mais vigorosa e específica no campo etéreo-astral
invisível aos sentidos humanos."

"Há fundamento lógico e científico no preparo de amuletos e talismãs, quando isso é feito por meio de
magos autênticos (...)"

"Há certos tipos de ervas cuja reação etérica é tão agressiva e incômoda,que torna o ambiente
indesejável para certos espíritos, assim como os encarnados afastam-se dos lugares saturados de
enxofre ou gás metano dos charcos."

"Só as pessoas rudes ou confusas podem considerar a defumação benfeitora uma superstição ou
dogma."

"Os espíritos subversivos ou obsessores fogem espavoridos do ambiente onde atuam, quando a queima
de pólvora é feita por médiuns ou magos experientes, pois alguns deles são bastante escarmentados em
tais acontecimentos."

Em outras passagens, Ramatis procura rebaixar o Espiritismo frente às crenças orientalistas:

“Da mesma forma, reconhecemos que há, entre o neófito espírita, exclusivamente submerso na sua
doutrina, e o espiritualista afeito ao conhecimento iniciático, um extenso abismo de compreensão.”

Abaixo, vemos claramente a intenção de incentivar o sincretismo:

“Sem dúvida, apesar de o Espiritismo ser doutrina corporificada para libertar os homens das superstições
e dos tabus infantis, ele pode estacionar no tempo e no espaço, tal qual acontece com a Igreja Católica. É
acontecimento fatal, caso seus adeptos ignorem deliberadamente o progresso e a experiência de outras
seitas e doutrinas vinculadas à fonte original e inesgotável do Espiritualismo Oriental.”

Herculano Pires, à época, reagiu corajosamente a esse tipo de proposta:

"Só um setor do conhecimento, nesta hora de transição, não necessita renovações, e esse setor é
precisamente o Espiritismo. O que ele exige de nós não é renovação doutrinária, mas apenas expurgo de
infiltrações espúrias nos Centros, produzidas pela leviandade de praticantes que se desvairam da
orientação doutrinária, adotando atitudes, fórmulas e práticas antiquadas. (...) O terror místico proveniente
de um longo passado religioso de mistérios e ameaças não tem mais razão de ser. Não obstante,
encontramos no meio espírita um pesado lastro desse terror em forma de traumatismos inconscientes que
geram comportamentos antiespíritas".

Já dizia Bossuet: "O maior desregramento do espírito é crer nas coisas porque se quer que elas existam".

Por nossa vez, diríamos que a superstição e as crendices são exemplos desse desregramento, doenças
da alma, autênticas amarras que prendem o espírito às trevas da ignorância, conduzindo-o aos
descaminhos advindos da fuga da realidade. Se há uma maneira dos falsos profetas da erraticidade e
espíritos pseudossábios atacarem o Espiritismo é justamente desfigurando-o através do estímulo ao culto
exterior, do pensamento simplista, da crendice, todos representantes do caminho mais fácil, porém
inócuo, que tanto atrai aqueles indivíduos desinteressados em promover em si aquilo que realmente
interessa, que é a transformação moral, que advém justamente do esforço e do avanço da inteligência,
conforme puderam claramente ensinar os Espíritos Superiores nas questões 192, 365, 780 e 780a de "O
Livro dos Espíritos".

Os Evangelhos explicados pelo Sr. Roustaing


23:42 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Allan Kardec

Esta obra(1) compreende a explicação e a interpretação dos Evangelhos, artigo por artigo, com ajuda de
comunicações ditadas pelos Espíritos. É um trabalho considerado, e que tem, para os Espíritas, o mérito
de não estar, sobre nenhum ponto, em contradição com a doutrina ensinada por O Livro dos Espíritos e o
dos médiuns. As partes correspondentes àquelas que tratamos em O Evangelho Segundo o Espiritismo o
são num sentido análogo. De resto, como nos limitamos às máximas morais que, quase sem exceção,
são geralmente claras, elas não poderiam ser interpretadas de diversas maneiras; também foram o
assunto de controvérsias religiosas. Foi por esta razão que começamos por ali a fim de ser aceito sem
contestação, esperando para o resto que a opinião geral estivesse mais familiarizada com a idéia
espírita.

O autor dessa nova obra acreditou dever seguir um outro caminho; em lugar de proceder por graduação,
quis alcançar o objetivo de um golpe. Tratou, por certas questões que não julgamos oportuno abordar
ainda, e das quais, conseqüentemente lhe deixamos a responsabilidade, assim como aos Espíritos que
os comentaram. Conseqüente com o nosso princípio, que consiste em regular a nossa caminhada sobre o
desenvolvimento da opinião, não daremos, até nova ordem, às suas teorias, nem aprovação, nem
desaprovação, deixando ao tempo o cuidado de sancioná-las ou de contradizê-las. Convém, pois,
considerar essas explicações como opiniões pessoais aos Espíritos que as formularam, opiniões
que podem ser justas ou falsas, e que, em todos os casos, têm necessidade da sanção do controle
universal, e até mais ampla confirmação não poderiam ser consideradas como partes integrantes
da Doutrina Espírita.

Quando tratarmos essas questões, o faremos sem cerimônia; mas é que, então, teremos recolhido os
documentos bastante numerosos, nos ensinos dados de todos os lados pelo Espíritos, para poder
falar afirmativamente e ter a certeza de estar de acordo com a maioria; é assim que fazemos todas
as vezes que se trata de formular um princípio capital. Nós os dissemos cem vezes, para nós a
opinião de um Espírito, qualquer que seja o nome que traga, não tem senão o valor de uma opinião
individual; nosso critério está na concordância universal, corroborada por uma rigorosa lógica,
para as coisas que não podemos controlar por nossos próprios olhos. De que nos serviria dar
prematuramente uma doutrina como uma verdade absoluta, se, mais tarde, ela devesse ser combatida
pela generalidade dos Espíritos?

Dissemos que o livro do Sr. Roustaing não se afasta dos princípios de O Livro dos Espíritos e o dos
médiuns; nossas observações levam, pois, sobre a aplicação desses mesmos princípios à interpretação
de certos fatos. É assim, por exemplo, que dá ao Cristo, em lugar de um corpo carnal, um corpo
fluídico concretizado, tendo todas as aparências da materialidade, e dele faz um agênere. Aos
olhos dos homens que não teriam podido compreender, então, sua natureza espiritual, teve que
passar EM APARÊNCIA, essa palavra é incessantemente repetida em todo o curso da obra, para
todas as vicissitudes da Humanidade. Assim se explicaria o mistério de seu nascimento: Maria não
teria tido senão as aparências da gravidez. Este ponto, colocado por premissa e pedra angular, é a base
sobre a qual se apoia para explicação de todos os fatos extraordinários ou miraculosos da vida de Jesus.

Sem dúvida, não há aí nada de materialmente impossível para quem conhece as propriedades do
envoltório perispiritual; sem nos pronunciar pró ou contra essa teoria diremos que ela é ao menos
hipotética, e que, se um dia ela fosse reconhecida errada, a base sendo falsa, o edifício
desmoronaria. Esperamos, pois, os numerosos comentários que ela não deixará de provocar da parte
dos Espíritos, e que contribuirão para elucidar a questão. Sem prejulgá-la, diremos que já foram feitas
objeções sérias a essa teoria, e que, na nossa opinião, os fatos podem perfeitamente se explicar sem sair
das condições da Humanidade corpórea.

Estas observações, subordinadas à sanção do futuro, não diminui nada a importância dessa obra que, ao
lado das coisas duvidosas do nosso ponto de vista, delas encerra, incontestavelmente, boas e
verdadeiras, e será consultada proveitosamente pelo Espíritas sérios.

Se o fundo de um livro é o principal, a forma não é de se desdenhar, e entra também por alguma coisa no
sucesso. Achamos que certas partes são desenvolvidas muito longamente, sem proveito para a clareza.
Na nossa opinião, se, limitando-se ao estrito necessário, ter-se-ia podido reduzir a obra em dois, ou
mesmo em um único volume, teria ganhado em popularidade.

1) Os quatro Evangelhos, seguidos dos mandamentos explicados em espírito e verdade pelos


evangelistas assistidos pelos apóstolos. Recolhidos e colocados em ordem por J.B.Roustaing,
advogado da corte imperial de Bordeaux, antigo chefe da ordem dos advogados. - 3 vol. in-12. -
Preço: 10 fr. 50. - Paris, Livraria Central, 24, bulevarde dos Italianos. - Bourdeaux, todas as
livrarias.

Fonte: Revista Espírita, Nono ano - 1866. Tradução: Salvador Gentile, revisão: Elias Barbosa. IDE,
1993.

Leitora Maria Ribeiro comenta artigo "O


Espiritismo não morreu com Kardec"
10:15 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Maria Ribeiro

Gostaria de comentar sobre o artigo intitulado "O Espiritismo não morreu com Kardec", publicado no
último dia 13.

Infelizmente nossa cultura tende para este lado do místico, do fantástico, e a realidade é que até mesmo
entre os Espíritas há os que simpatizam com isto, dando origem a um sincretismo que, no mínimo,
ridiculariza a Doutrina Espírita.

De repente, já não se pode comer carne nos dias de reunião mediúnica, nem nos dias da tarefa do
passe... Isto graças a Espíritos como Ramatis, que nunca leram a questão 723 de O Livro dos Espíritos,
muito menos o capítulo que fala da Lei de Destruição na terceira parte, nem o terceiro capitulo de A
Gênese. Lidamos, e muito de perto, com companheiros que pensam que são Espíritas. Pensam que são
grandes conhecedores do Espiritismo porque leram alguns romances, ditos espíritas porque ditados por
Espíritos, e não pela fidelidade ao Espiritismo.

Criaram dogmas aos quais chamam de "disciplina"; alguns rituais a que dão o nome de "organização" ou
coisa parecida. Mas há os que não fazem nem questão de esconder e admitem: um raminho de arruda
atrás da orelha, mal não vai fazer. Alguns Espíritas creem no poder das cores, das pirâmides e similares.
Tem Espírita que faz até promessa... Repito: pensam que são Espíritas, pois o esclarecimento que a
Doutrina dos Espíritos oferece é tão óbvio, tão simplificado que ainda não abriu-lhes os olhos. Precisam
de coisas mais "concretas", uma arruda, uma pirâmide, ou então uma aplicação de reike. Continuam com
a visão que tinham antes, só que agora acreditam em reencarnação, possibilidade de intercâmbio com
desencarnados e que vão morar em Nosso Lar qu ando desencarnarem. Este sonho é dividido por uma
enormidade de irmãos nossos... Creio, e tomara que assim seja, que estamos numa fase ruim(?) do
movimento Espírita. Embora a fenomenologia seja tão antiga quanto a humanidade, a Doutrina só tem
pouco mais de um século e meio. As pessoas ainda estão deslumbradas demais, como se não tivesse
"caído a ficha". Estão mais para o Senhor Carlotti do que para Kardec.

Porém, não podemos julgar, porque, o que para uns parece claro, para outros pode representar uma
nebulosa gigantesca. Mas não se pode, em tempo algum, sob nenhum pretexto, ser omisso para parecer
caridoso. (Porque também é o pensamento de alguns que mentir para encobrir erros de outrem é
caridade. Em nenhum momento Jesus exemplificou a hipocrisia, ao contrário, combateu-a
veementemente). A verdade precisa prevalecer a qualquer custo, pois por ela muitos deram a vida física,
inclusive o próprio Cristo.

Quando falou-se que ao se tocar em Filosofia, leem-se o Evangelho segundo o Espiritismo, ahhh, que
bom, então nem tudo está perdido! Quem dera se todos os Espíritas lessem mais o ESE. Precisamos
muito, muitíssimo aprender a Filosofia Cristã, afinal Jesus foi o maior de todos os Filósofos. Quando Ele
curava, por exemplo, utilizava o conhecimento científico do que a Doutrina chama de fluidos; quando fala
em perdão, em amor, Ele está filosofando.

Mas, enfim, já que temos Kardec, estudemos Kardec avidamente.

O Espiritismo não morreu com Kardec


09:49 ADMINISTRADOR 1 COMMENT

Por NEFCA*

O Espiritismo não morreu com Kardec...mas, também, não prosseguiu no Brasil após ele...

Para compreender esta acepção é necessário um pensamento simples: o de que o Espiritismo foi
concebido como ciência e como filosofia. E como ciência e filosofia, ele possui método.

A ciência é algo que deve ser permanentemente exercitada. No conceito cientifico se pesquisa, se
investiga, se afere, se confere. Uma informação qualquer em uma ciência somente é válida após
extensos testes e verificações para avaliação da verdade. Se é assim com toda ciência, não seria
diferente com o Espiritismo. Qualquer informação, para ser considerada válida no Espiritsmo, necessita
ser AFERIDA. E para aferir, Kardec estabeleceu um método, que, por todos os critérios possíveis, ainda é
o melhor - mesmo porque não existe e ninguém inventou nenhum outro: o CUEE- Controle Universal dos
Ensinos dos Espíritos.

Sem o CUEE, sem essa confirmação, sem aferição, não podemos dizer que uma informação é
verdadeira. O problema no Brasil em especifico - e agora se alastrando pelo resto do mundo - é que muita
gente abdicou da verdade, pois não se preocupa em aceitar qualquer informação sem essa confirmação.
Leva-se em conta as emoções do momento e a "fama" de um ou outro autor.

Contudo, qualquer pessoa sabe que uma ciência só avança quando seus axiomas são provados. Como o
método de aferição do Espiritismo não é aplicado no Brasil e ainda como os avanços cientificos de outras
áreas são ignorados pela maioria dos espiritas, então, no Brasil, o Espiritismo parou. E parou em um
período paradoxalmente ANTERIOR a Kardec - dentro do religiosismo cego que aceita tudo sem
questionar.

Já o aspecto filosófico deve ser sempre exercitado, estimulado. O pensamento, o modo de pensar espírita
deve extrapolar nas áreas de comportamento humano visando o beneficio moral individual - e
consequentemente coletivo (já que o coletivo começa no individuo). Infelizmente, se abdicou disso
também no Brasil.

O exercicio da filosofia no meio espirita brasileiro se limita a reprodução de textos de autores famosos, de
citações do Evangelho Segundo o Espiritismo. E quando se pensa que ele parte para alavancar novos
horizontes, começam as digressões que fogem de qualquer lógica prevista na codificação e mesmo no
bom senso, resultando em obras que mais se parecem com livros de auto-ajuda.

Então, filosoficamente também o Espiritismo no Brasil se estagnou nas exigências de um mercado


editorial comercial ávido por "mensagens bonitas", mas nulas de conteudo doutrinário e real.

Quando alguém afirma que algumas pessoas defendem a codificação e que isso paralisa o Espiritismo,
pratica a falácia de que é justamente a codificação que nos incita à avançar. E é um real avanço, pois se
baseia na BUSCA PELA VERDADE.

O espírita deve, segundo a codificação, investigar, pesquisar, raciocinar, inquirir, ir campo, divulgar
corretamente e não permitir de forma nenhuma que inverdades prevaleçam. Que avanço seria esse
defendido por grupos majoritários que se baseia em coisas que não se podem comprovar nem mesmo
pelo método do CUEE ou pela ciência? Onde há avanço na falta de verificação das informações?

Onde há avanço no fanatismo cego que leva a maior parte do movimento espirita a abandonar
exatamente o texto que nos pede para buscar a verdade, em troca de seguir fascinadamente um ou outro
autor individual, que supostamente psicografa livros também de um único espírito?

Onde existe a verdade sem aferição?

E fica a grande dúvida - qual é a grande resistência à se verificar se uma informação é verdadeira ou
não? Qual o grande motivo que impele pessoas a aceitarem coisas sem questionarem, apenas levando
em conta nomes de autores famosos e que jamais buscaram essa mesma verdade?

O Espiritismo não morreu com Kardec. O Espiritismo está vivo. Mais vivo nos corações de todos aqueles
que o levam a sério e que buscam o que é certo e correto. Foi para isso que nasceu a codificação
espírita.

*NEFCA - Núcleo Espírita de Filosofia e Ciências Aplicadas

O Ato Mediúnico
11:36 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por José Herculano Pires

O ato mediúnico é o momento em que o espírito comunicante e o médium se fundem na unidade psico-
afetiva da comunicação. O espírito aproxima-se do médium e o envolve nas suas vibrações espirituais.
Essas vibrações irradiam-se do seu corpo espiritual atingindo o corpo espiritual do médium. A esse toque
vibratório, semelhante ao de um brando choque elétrico, reage o perispírito do médium. Realiza-se a
fusão fluídica. Há uma simultânea alteração no psiquismo de ambos. Cada um assimila um pouco do
outro. Uma percepção visual desse momento comove o vidente que tem a ventura de captá-la. As
irradiações perispirituais projetam sobre o rosto do médium a máscara transparente do espírito.
Compreende-se então o sentido profundo da palavra intermúndio. Ali estão, fundidos e ao mesmo tempo
distintos, o semblante radioso do espírito e o semblante humano do médium, iluminado pelo suave clarão
da realidade espiritual. Essa superposição de planos dá aos videntes a impressão de que o espírito
comunicante se incorpora no médium. Daí a errônea denominação de incorporação para as
manifestações orais. O que se dá não é uma incorporação, mas uma interpenetração psíquica, como a da
luz atravessando uma vidraça. Ligados os centros vitais de ambos, o espírito se manifesta emocionado,
reintegrando-se nas sensações da vida terrena, sem sentir o peso da carne. O médium, por sua vez,
experimenta a leveza do espírito, sem perder a consciência de sua natureza carnal, e fala ao sopro do
espírito, como um intérprete que não se dá ao trabalho da tradução.

O ato mediúnico natural é esse momento de síntese afetiva em que os dois planos da vida revelam o
segredo da morte: apenas um desvestir do pesado escafandro da matéria densa.

O ato mediúnico normal é uma segunda ressurreição, que se verifica precisamente no corpo espiritual
que, segundo o Apóstolo Paulo, é o corpo da ressurreição. O espírito volta à carne, não a que deixou no
túmulo, mas a do médium que lhe oferece, num gesto de amor, a oportunidade do retorno aos corações
que deixou no mundo. A beleza do reencontro de um filho com a mãe, que estreita o médium nos braços
ansiosos e o beija com toda a efusão da saudade materna, compensa de muito a impiedade dos que o
acusam de praticar bruxarias. Nos casos de materialização, nada mais belo que Lombroso com sua mãe
materializada através da mediunidade de Eusápia Paladino, na sessão a que fora levado pelo Prof.
Chiaia, de Milão. Eusápia era uma camponesa analfabeta e mil vezes caluniada. Lombroso, o fundador
da Antropologia Criminal, retratou-se na revista Luce e Ombra de seus violentos artigos contra o
Espiritismo, e declarou comovido: "Nenhum gigante do pensamento e da força poderia me fazer o que me
fez esta pequena mulher analfabeta: arrancar minha mãe do túmulo e devolvê-la aos meus braços!".
Frederico Fígner, introdutor do fonógrafo no Brasil, levou sua esposa desolada a Belém do Pará, na
esperança de um reencontro com a menina Rachel, sua filha, que haviam perdido, o que quase os levara
à loucura, a ele e à esposa. Procuraram a médium Ana Prado, também mulher do campo, e numa sessão
com ela a menina apareceu materializada, estimulando os pais a enfrentarem o caso com serenidade,
pois ali estava viva, e falava e os beijava, e, sentava-se em seus colos, provando que não morrera.
Fígner, ao voltar para o Rio de Janeiro, dedicou-se dali por diante ao Espiritismo, com a chama da fé
acesa em seu coração e no coração da esposa, mas agora uma fé inabalável, assentada na razão e nos
fatos.

Quando o ato mediúnico é assim perfeito e claro, iluminado por uma mediunidade esclarecida e devotada
ao bem, não há gigante — como no caso de Lombroso — que não se curve reverente ante o mistério da
vida imortal. O médium se torna o instrumento da ressurreição impossível, provando aos homens que a
morte não é mais do que lapso no intermúndio que separa os vivos na carne dos vivos no espírito.
Compreende-se então o fenômeno da Ressurreição de Jesus, que não foi o ato divino de um Deus, mas o
ato mediúnico de um espírito que dominava, pelo saber e a pureza, os mistérios da imortalidade.

Quando o ato mediúnico não tem a pureza e a beleza de uma comunicação amorosa, tem o calor da
solidariedade humana e é iluminado pela caridade cristã. Numa sessão comum de socorro espiritual, os
médiuns sentados ao redor da mesa, os doutrinadores a postos, espíritos sofredores e espíritos maldosos
e vingativos, sob controle dos orientadores espirituais, são aproximados de médiuns que desejam servi-
los. O quadro é bem diferente dos que apresentamos acima. Não há beleza nem serenidade nos espíritos
comunicantes, nem resplendor ou transparência em suas faces. Há desespero, dor, expressões de
rebeldia ou ímpetos de vingança. Os médiuns sentem-se inquietos, não raro temerosos. A aproximação
dos comunicantes é incômoda, desagradável. As vibrações perispirituais são ásperas e sombrias. O
vidente se aturde com aquelas figuras pesadas e escuras que transtornam a fisionomia dos médiuns.
Mas, na proporção em que os doutrinadores encarnados dão o socorro de suas vibrações e de seus
argumentos fraternos aos necessitados, o quadro se modifica com as luzes vacilantes que se acendem
nas mentes conturbadas. Os guias espirituais manifestam-se em socorro dos doutrinadores e suas
vibrações acalmam a inquietação do ambiente. O trabalho é penoso. Criaturas recalcitrantes no mal
recusam-se a compreender a realidade negativa em que se encontram. Espíritos vencidos pelas dores de
encarnações penosas mostram-se revoltados. Os que trazem o coração esmagado por injustiças e
traições exigem vingança e fazem ameaças terríveis. Mas a palavra fraterna, carregada de bondade e
amor, iluminada pelas citações evangélicas, vai aos poucos amortecendo as explosões de ódio. Às vezes
a autoridade do dirigente ou de um espírito elevado se faz sentir, para que os mais rebeldes
compreendam que estão sob um poder persuasivo, mas enérgico. Uma pessoa que desconheça o
problema dirá que se encontra numa sala de hospício sem controle ou assiste a um psicodrama de
histéricos em desespero. Psicólogos sistemáticos ririam com desdém. O dirigente dos trabalhos parece
um leigo a brincar com explosivos perigosos. Fanáticos de seitas dogmáticas julgam assistir a uma cena
de possessão diabólica. Mas a sessão chega ao fim com a tranqüilização total do ambiente. Um espírito
amigo comunica-se com palavras de agradecimento. Em silêncio, todos ouvem a prece final de gratidão
aos espíritos bondosos que ajudaram a socorrer as sombras sofredoras. É estranho que todos estejam
bem e satisfeitos com o resultado dos trabalhos. As pessoas beneficiadas comentam suas melhoras. O
ambiente é de paz, amor e satisfação pelo dever cumprido.

Numa sessão de desobsessão para casos graves, com poucos elementos, sem a assistência numerosa
do socorro geral, as comunicações são violentas os médiuns sofrem, gemem, gritam e choram. O
dirigente e os doutrinadores permanecem tranqüilos, aparentemente impassíveis, e os doutrinadores
usam de palavras persuasivas, de atitudes benignas. Nada de ameaças e exprobações violentas, como
nas práticas antiquadas do exorcismo arcaico, vindo das profundezas do Egito, da Mesopotâmia, da
Palestina. Nada de velas acesas, de símbolos sacramentais, de expulsão de entidades diabólicas. A
técnica é de persuasão, de esclarecimento racional. Uma menina de quinze anos chega carregada pelos
pais. Há uma semana dormia em estado cataléptico. As primeiras tentativas de despertá-la agitam-se e
levanta-se furiosa, aos gritos. Quatro ou cinco homens não conseguem contê-la, parece dotada de força
indomável. Mas pouco a pouco se acalma, chora baixinho e volta ao seu estado natural de menina
graciosa e frágil. Retira-se da reunião como se nada demais tivesse acontecido. Despede-se alegre.
Corre para a rua e toma o automóvel que a trouxe como se voltasse de um passeio. O ato mediúnico foi
violento, assustador'. Mas o resultado da prece, dos passes, das doutrinações amorosas foi
surpreendente. Poucos perceberam que, naquele corpinho de menina as garras da vingança estavam
cravadas, tentando rasgar a cortina piedosa que vela os ódios do passado.

No ato mediúnico a criatura humana recupera os tempos esquecidos e se revê na tela das experiências
mortas. E mais uma vez a morte lhe aparece como pura ilusão sensorial, pois tudo quanto havia
desaparecido numa cova renasce de repente nas águas amargas da provação. A mediunidade funciona
como um radar sensibilíssimo voltado para os caminhos perdidos. Nem sempre a tela da memória
consegue reproduzir as imagens distantes, mas nas profundezas do inconsciente recalques
antifreudianos esperam a catarse piedosa da comunicação absurda, em que os diálogos da caridade
parecem brotar de terríveis mal-entendidos. Uma mulher não entendia porque o espírito comunicante a
acusava de atrocidades que jamais praticara e a chamava de Condessa. Achou que tudo aquilo não
passava de uma farsa ou de um momento de loucura. Mas quando, aconselhada pelo doutrinador, pediu
perdão ao espírito algoz e chorou sem querer e sem saber por qual motivo o fazia, sentiu profundo alívio
e nos dias seguintes os seus males desapareceram. As lágrimas de uma criatura que a amnésia tornou
inocente podem comover um coração embrutecido no desejo de vingança. Mas quem fará o encontro
necessário para o ajuste dos velhos erros e crimes, se o médium não se oferecer na imolação voluntária
de si mesmo para apaziguar com a palavra do Mestre?

A responsabilidade espiritual do médium reflete-se no espelho de cada um dos seus atos de caridade
mediúnica. O mediunato não é uma sagração ritual inventada pelos homens. Nasce das leis naturais que
regem consciências no fluir do tempo, no suceder das gerações e das reencarnações. Um ato mediúnico
é o cumprimento de um dever assumido perante o Tribunal de Deus instalado na consciência de cada um.
Quando o médium se esquiva a esse cumprimento engana a si mesmo, pensando enganar a Deus. Sua
própria consciência se incumbirá de condená-lo quando soar a hora do veredicto irrecorrível. Nada
justifica a fuga a uni compromisso forjado à custa do sacrifício alheio. As leis morais da consciência têm a
mesma inflexibilidade das leis materiais da Natureza. Nossa consciência de relação capta apenas a
realidade imediata em que nos encontramos. Mas a consciência profunda guarda o registro indelével de
todos os compromissos assumidos no passado e de todas as dívidas morais que pensamos apagar nas
águas do Letes, o rio do esquecimento das velhas mitologias. O rio Letes secou nas encostas áridas do
Olimpo, o cenáculo vazio dos antigos deuses. Hoje só temos um Deus, que não precisa vigiar-nos do alto
de um monte nem ditar-nos suas leis para serem inscritas em tábuas de pedras. Essas leis estão
gravadas a fogo em nossa própria carne. Nossos atos determinam no tempo as situações em que nos
encontraremos em cada existência. E o mediunato é o passaporte que Deus nos concede para a
liberação do passado através de um só ato, o mais belo e mais honroso de todos, que é o ato mediúnico.

A responsabilidade mediúnica não nos foi imposta como castigo. Nós mesmos a assumimos na
esperança da redenção, que não virá do Céu, mas da Terra, da maneira pela qual fizermos as nossas
travessias existenciais no planeta, num mar de lágrimas ou por estradas floridas pelas obras de sacrifício
e abnegação que soubermos semear. Temos o futuro em nossas mãos, o futuro imediato do dia-a-dia e o
futuro remoto que nos espera nas translações da Terra em torno do Sol. Chegamos assim à conclusão
inevitável de que o presente passa depressa, mas o passado reponta em cada esquina do presente e do
futuro.

Fonte: Livro "Mediunidade"

A Doutrinação
11:24 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por José Herculano Pires

Psicologia da doutrinação

O doutrinador deve ler e reler, com atenção e persistência a Escala Espírita (Livro dos Espíritos) para
bem informar-se dos tipos de espíritos com que vai defrontar-se nas sessões. A escala nos oferece um
quadro psicológico da evolução espiritual, que podemos também aplicar aos encarnados. No trato com os
espíritos o conhecimento desse quadro facilita grandemente e doutrinação. Os espíritos inferiores usam
geralmente de artimanhas para nos iludirem e se divertem quando conseguem, prejudicando-se a si
mesmos e fazendo-nos perder tempo. Temos de encará-los sempre como necessitados e tratá-los com o
desejo real de socorrê-los. Mas precisamos de psicologia para conseguirmos ajudá-los. A tipologia que a
Escala nos oferece é de grande valia nesse sentido. Por outro lado, a leitura dos casos de doutrinação
relatados por Kardec na Revista Espírita nos oferece exemplos valiosos de como podemos nos conduzir,
auxiliados pelos espíritos protetores da sessão, para atingir bons resultados.

A prática da doutrinação é uma arte em, que o bom doutrinador vai se aprimorando na medida em que se
esforça para domina-la. Enganam-se os que pensam que basta dizer aos espíritos que eles já morreram
para os sensibilizar. Não basta, também, citar-lhes trechos evangélicos ou fazê-los orar repetindo a nossa
prece. É importante também explicar-lhes que se encontram em situação perigosa, ameaçados por
espíritos malfeitores que podem dominá-lo e submetê-los aos seus caprichos. A ameaça de perda da
liberdade os amedronta e os leva geralmente a buscar melhor compreensão da situação em que se
encontram. Mas não se deve falar disso em tom de ameaça e sim de explicação pura e simples. Muitos
deles já estão dominados por espíritos maldosos, servindo-lhes de instrumentos mais ou menos
inconscientes. O médium que recebe a entidade sente as suas vibrações, percebe o seu estado e pode
ajudar o doutrinador, procurando absorver os seus ensinos. Através da compreensão do médium o
espírito sofredor ou obsessor é mais facilmente tocado em seu íntimo e desperta para uma visão mais
real da sua própria situação. Doutrinador e médium formam um conjunto que, quando bem articulado, age
de maneira eficiente para a entidade.

O doutrinador deve ter sempre em mente todo esse quadro, para agir de acordo com as possibilidades
oferecidas pela comunicação do espírito. Com os espíritos rebeldes, viciados na prática do mal, só a
tríplice conjugação da autoridade moral do doutrinador, do médium e do espírito protetor poderá dar
resultados positivos e quase sempre imediatos. Se o médium ou o doutrinador não dispuser dessa
autoridade, o espírito se apegará a fraqueza de um deles ou de ambos para insistir nas suas intenções
inferiores. Por isso Kardec acentua a importância da moralidade na relação com os espíritos. Essa
moralidade , como já dissemos, não é formal, mas substancial, decorre das intenções e dos atos morais
dos praticantes de sessões, não apenas nas sessões, mas em todos os aspectos de suas vidas.

Os espíritos sofredores são mais facilmente doutrinados, pois a própria situação em que se encontram
favorece a doutrinação. Se muito erraram na vida terrena, permanecendo por isso em situação inferior, o
fato de não se entregarem à obsessão depois da morte já mostra que estão dispostos a regenerar-se. Só
a prática abnegada da doutrinação, com o desejo profundo de servir aos que necessitam, dará ao
médium e ao doutrinador a sensibilidade necessária para distinguir rapidamente o tipo de espírito com
que se defrontam. O doutrinador intuitivo aprimora rapidamente a sua intuição, podendo perceber, logo no
primeiro contato, a condição do espírito comunicante. A psicologia da doutrinação não tem regras
específicas, dependendo mais da sensibilidade do doutrinador, que deverá desenvolvê-la na prática
constante e regular. Mesmo que o doutrinador seja vidente, não deve confiar apenas no que vê, pois há
espíritos maus e inteligentes que podem simular aparências enganadoras, que a percepção psicológica
apurada na prática facilmente desfará. Não é preciso ser psicológo para doutrinar com eficiência, mas é
indispensável conhecer a Escala Espírita, que nos dá o conhecimento básico indispensável.

A Vida no Espaço
09:49 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Léon Denis

Segundo as diferentes doutrinas religiosas, a Terra é o centro do Universo e o céu estende-se como
abóbada sobre nós. É na sua parte superior, dizem, que está a morada dos bem-aventurados; o inferno,
habitação dos condenados, prolonga suas sombrias galerias nas próprias entranhas do globo.

A ciência moderna, de acordo com o ensino dos Espíritos, mostrando-nos o Universo semeado de
Inumeráveis mundos habitados, deu golpe mortal nessas teorias.

O céu está por toda parte; por toda parte, o incomensurável, o insondável, o infinito; por toda parte, um
fervilhamento de sóis e de esferas, entre as quais o nosso planeta é apenas mesquinha parcela.

No meio dos espaços não existem moradas circunscritas para as almas. Tanto mais livres quanto mais
puras forem, estas percorrem a imensidade e vão para onde as levam suas afinidades e simpatias. Os
Espíritos inferiores, sobrecarregados pela densidade de seus fluídos, ficam ligados ao mundo onde
viveram, circulando em sua atmosfera ou envolvendo-se entre os seres humanos.

As alegrias e as percepções do Espírito não procedem do meio que ele ocupa, mas de suas disposições
pessoais e dos progressos realizados. Embora com o perispírito opaco e envolto em trevas, o Espírito
atrasado pode encontrar-se com a alma radiante cujo invólucro sutil se presta às delicadas sensações, às
mais extensas vibrações. Cada um traz em si sua glória ou sua miséria.

A condição dos Espíritos na vida de além-túmulo, sua elevação, sua felicidade, tudo depende da
respectiva faculdade de sentir e de perceber, que é sempre proporcional ao seu grau evolutivo.

Aqui mesmo, na Terra, vemos os gozos intelectuais aumentarem com a cultura do espírito. As obras
literárias e artísticas, as belezas da civilização, as concepções sublimes do gênio humano são
incompreensíveis ao selvagem e também a muitos dos nossos concidadãos. Assim, os Espíritos de
ordem inferior, como cegos no meio da natureza resplandecente, ou como surdos em um concerto,
permanecem Indiferentes e insensíveis diante das maravilhas do Infinito.

Esses Espíritos, envolvidos em fluídos espessos, sofrem as leis da atração e são inclinados para a
matéria. Sob a Influência dos apetites grosseiros, as moléculas do seu corpo fluídico fecham-se às
percepções externas e os tornam escravos das mesmas forças naturais que governam a Humanidade.

Não há que insistir neste fato, porque ele é o fundamento da ordem e da justiça universais.

As almas colocam-se e agrupam-se no espaço segundo o grau de pureza do seu respectivo invólucro; a
condição do Espírito está em relação direta com a sua constituição fluídica, que é a própria obra, a
resultante do seu passado e de todos os seus trabalhos. Determinando a sua própria situação, acham,
depois, a recompensa que. merecem. Enquanto a alma purificada percorre a vasta e fulgente amplidão,
repousa à vontade sobre os mundos e quase não vê limites ao seu vôo, o Espírito impuro não pode
afastar-se da vizinhança dos globos materiais.

Entre esses estados extremos, numerosos graus permitem que Espíritos similares se agrupem e
constituam verdadeiras sociedades do invisível. A comunhão de sentimentos, a harmonia de
pensamentos, a Identidade de gostos, de vistas, de aspirações, aproximam e unem essas almas, de
modo a formarem grandes famílias.

Sem fadigas, a vida do Espírito adiantado é essencialmente ativa. As distâncias não existem para ele,
pois se transporta com a rapidez do pensamento. Seu Invólucro, semelhante a ténue vapor, adquiriu tal
sutileza que o torna Invisível aos Espíritos inferiores. Vê, ouve, sente, percebe não mais pelos órgãos
materiais que se interpõem entre nós e a Natureza, mas, sim, diretamente, sem intermediário, por todas
as partes do seu ser. Suas percepções, por isso mesmo, são muito mais precisas e aumentadas que as
nossas. O Espírito elevado desliza, por assim dizer, no seio de um oceano de sensações deliciosas.
Constante variedade de quadros apresenta-se-lhe à vista, harmonias suaves acalentam-no e encantam;
para ele, as cores são perfume, são sons. Entretanto, por mais agradáveis que sejam essas impressões,
pode subtrair-se a elas, e, se lhe aprouver, recolher-se-á, envolvendo-se num véu fluídico e insulando-se
no seio dos espaços.

O Espírito adiantado está liberto de todas as necessidades materiais. Para ele, não têm razão de ser a
nutrição e o sono. Ao abandonar a Terra, deixa para sempre os vãos cuidados, os sobressaltos, todas as
quimeras que envenenam a existência corpórea. Os Espíritos inferiores levam consigo para além do
tümulo os hábitos, as necessidades, as preocupações materiais. Não podendo elevar-se acima da
atmosfera terrestre, voltam a compartilhar a vida dos entes humanos, intrometem-se nas suas lutas,
trabalhos e prazeres. Suas paixões, seus desejos, sempre vivazes e aguçados pelo permanente contacto
da Humanidade, os acabrunham; a impossibilidade de os satisfazerem torna-se para eles causa de
constantes torturas.

Os Espíritos não precisam da palavra para se fazerem compreender. O pensamento, refletindo-se no


perispírito como imagem em espelho, permite-lhes permutarem suas idéias sem esforço, com uma
rapidez vertiginosa. O Espírito elevado pode ler no cérebro do homem e conhecer os seus secretos
desígnios. Nada lhe é oculto. Perscruta todos os mistérios da Natureza, pode explorar à vontade as
entranhas do globo, o fundo dos oceanos, e assim apreciar os destroços das civilizações submersas.
Atravessa os corpos por mais densos que sejam e vê abrirem-se diante de si os domínios impenetráveis à
Humanidade.

Fonte:
DENIS, Léon. Depois da Morte: explicação da doutrina dos espíritos: solução científica e racional dos
problemas da vida e da morte; Natureza e destino do ser humano; as vidas sucessivas/Léon Denis;
Tradução de Maria Lucia Alcantara de Carvalho. - 3 ed. - Rio de Janeiro: CELD, 2008.

O Espiritismo Esotérico
11:46 ADMINISTRADOR NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

O que pensar das propostas de um Espiritismo esotérico, de feição new age, diluído no chamado “livre
pensamento espiritualista”?[1] Mas livre de quê, afinal? De toda lógica, de todo rigor; mesmo porque este
“livre” pensamento não passa, o mais das vezes, de ressurreição dos residuais míticos, místicos e
mágicos do passado ancestral. Esta, a razão de nosso Herculano Pires haver lembrado que a intensa e
comovente batalha de Léon Denis, na França e em toda a Europa, foi contra as infiltrações de doutrinas
estranhas, de espiritualismos rebarbativos, no meio espírita, para mostrar que o Espiritismo é uma nova
concepção do homem e da vida, que não se pode confundir com as escolas espiritualistas ancestrais,
carregadas de superstições e princípios individualmente afirmados, ou provindos de tradições longínquas,
sem nenhuma base de critério científico.[2] Acerca da mais cara das concepções do ocultismo, a dos sete
corpos, disse o nosso querido ex-teósofo:

A concepção espírita do homem, como unidade trina, tanto se opõe ao dualismo religioso quanto ao
monismo materialista e ao pluralismo ocultista. Não obstante, como essa concepção é uma síntese
estética, nela encontramos os elementos opostos reduzidos ao equilíbrio da fusão. Assim, quando
Kardec define a alma como sendo o espírito encarnado, temos a dualidade alma-corpo; quando define o
corpo como produção ou projeção do próprio espírito, temos o monismo; e quando define o espírito
como entidade independente, possuindo as diversas funções da consciência e sendo capaz de projetá-las
por várias maneiras, no plano espiritual e no plano material, temos o pluralismo. Os vários corpos da
concepção septenária do ocultismo apresentam-se como simples peças do mecanismo de manifestação
do espírito.

As pessoas que consideram simplista a concepção trinária do homem, e preferem a septenária, tendem
para o pluralismo afetivo. As que, ao contrário, a consideram complexa, e preferem a concepção monista,
de tipo heckeliano ou marxista, tendem para o monismo materialista. O homem trino é, portanto, uma
concepção típica do Espiritismo, resultante da síntese dialética que se processou no desenvolvimento
histórico da humanidade. Uma concepção que assinala a maturidade espiritual do homem, pois apresenta
a superação das fases de sincretismo afetivo e de egocentrismo racional, tanto existentes no indivíduo
quanto na espécie.[3]

Ante a mais completa ignorância destes tão vastos alcances da doutrina, Herculano dizia mais: que a
passividade da massa espírita, anestesiada pelo sonho da salvação pessoal, do valor mágico da
tolerância bastarda, da crença ingênua do valor sobrenatural das esmolas pífias, vai minando em silêncio
o legado de Kardec. Corajoso, o filósofo de Avaré assegurava ainda que o medo do pecado que sai da
boca, da pena ou das teclas é que faz desaparecer do meio espírita o diálogo do passado recente,
substituindo o coro dos debates pelo silêncio místico das bocas de siri. Para Herculano, ninguém fala para
não pecar e peca por não falar, por não espantar pelo menos com um grito as aves daninhas e agoureiras
que destroem a seara.[4] E sobre os periódicos espíritas, afirmava o ex-presidente do Sindicato dos
Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo:

A imprensa espírita, que devia ser uma labareda, é um foco de infestação, semeando as mistificações
de Roustaing, Ramatis e outras, ou chovendo no molhado com a repetição cansativa de velhos e
surrados slogans [...].[5]

Por força da acertada referência de Herculano, assim como foram vistas as principais estranhezas da
doutrina rustenista, eis aqui abaixo algo sobre as estranhezas do ensino de Ramatis; aliás, dissecado de
forma definitiva no livro Ramatis: Sábio ou Pseudossábio?, do Prof. Artur Felipe de Azevedo Ferreira.

1.º Influência astrológica na vida e no destino dos homens, sendo que o próprio Jesus só pôde “baixar” à
Terra, segundo Ramatis, “sob a influência do magnetismo suave do signo de Peixes”, para “estabelecer
um novo código espiritual de libertação dos terrícolas”. (O Sublime Peregrino, p. 32.)

2.º Jesus aprendeu com as doutrinas dos essênios, os quais estão, segundo Ramatis, reencarnando para
“organizar elevada confraria de disciplina esotérica em operosa atividade no mundo profano, para a
revivescência do cristianismo nas suas bases milenárias”. (O Sublime Peregrino, p. 278 e 294.)

O Espiritismo, portanto, teria falhado. Estaríamos a depender destes confrades de disciplina esotérica,
mas — pasmem — em operosa atividade no mundo profano... Tomara que tanta operosidade não se
traduza em serviço a dois senhores.

3.º Invertendo a ordem natural das coisas, Ramatis afirma que o Espiritismo vai “parar no tempo e no
espaço caso seus adeptos ignorem deliberadamente o progresso e a experiência de outras seitas e
doutrinas vinculadas à fonte original e inesgotável do espiritualismo oriental”. (A Vida Humana e o Espírito
Imortal, p. 276.)

Inesgotável? Ora! Por que os espíritos não instituíram o Espiritismo na China, ou na Índia, ou no Japão,
ou no Oriente médio? Por que os espíritos que viveram naquelas regiões orientais não fizeram o que O
Espírito de Verdade e sua milícia celeste realizaram na França? Este último afirmou: “Como um ceifeiro,
reuni em feixes o bem esparso pela Humanidade e disse: — Vinde a mim, todos vós que sofreis”. (O
Evangelho Segundo o Espiritismo. VI, 5). Ou seja, a doutrina de Jesus era uma síntese superadora de
tudo o que de melhor já havia acontecido, viabilizando o indivíduo, a democracia e a emancipação da
mulher, glórias do Ocidente. O mundo evoluiu rumo ao Oeste! Devemos agora aviar-nos pela contramão?
Vinho novo em odre velho?

4.º Incensos e defumadores, segundo Ramatis, são eficazes, pois funcionam como “detonadores de
miasmas astralinos”. (Magia de Redenção.) Sem comentários... Leia-se o cap. XIV de A Gênese.

5.º Como registradas igualmente em Roustaing, há em Ramatis a presença de mensagens atemorizantes,


cuja fixação absurda de datas se revelou totalmente quimérica; afinal, o mundo sobreviveu ao ano de
1999. (Mensagens do Astral.) Sem comentários... Leiam-se os caps. XVII e XVIII de A Gênese.

6.º Esdrúxula profecia de um presidente brasileiro que elevaria o nível de espiritualidade do povo... Em
1970, o tal já havia percorrido, segundo Ramatis, “metade do caminho rumo ao cargo supremo do País”.
(A Vida Humana e o Espírito Imortal, p. 298.) Que bom seria se fosse verdade!

7.º Referência a naves marcianas “ultravelozes”, vindas de um planeta cuja geografia já se provou ser
inteiramente diversa da que fora descrita pelo Espírito Ramatis e, além disto, sem nenhum vestígio das
raças físicas que este afirmara lá viverem. (A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores.) Excesso, por
certo, de ficção científica e de teorias conspiratórias.

8.º Jesus não seria o Cristo, mas um anjo encarnado para ser seu médium. Este outro Espírito, mais
elevado que o Messias de Nazaré, é que seria, segundo Ramatis, o cristo planetário, inferior, por sua vez,
a outros cristos mais evoluídos, o solar, o galáctico, etc. (O Sublime Peregrino, p. 62.)

O fato é que, enquanto o cientificismo e o religiosismo não se entendem, o sincretismo vai sobrevivendo
no movimento espírita, à sombra da estrutura conceitual da codificação kardeciana, à custa de aviltá-la
quanto possa, simulando uma compatibilidade fictícia, como no caso do ramatisismo, para o qual também
nos advertia Herculano Pires:

Além das confusões habituais entre Umbanda e Espiritismo, Esoterismo, Teosofia, Ocultismo e
Espiritismo, há outras formas de confusão que vêm sendo amplamente espalhadas no meio espírita. São
as confusões de origem mediúnica, oriundas de comunicações de espíritos que se apresentam como
grandes instrutores, dando sempre respostas e informações sobre todas as questões que lhes forem
propostas. Um exemplo marcante é o de Ramatis, cujas mensagens vêm sendo fartamente distribuídas.
Qualquer estudioso da doutrina percebe logo que se trata de um Espírito pseudossábio, segundo a
“escala espírita” de Kardec. Não obstante, suas mensagens estão assumindo o papel de sucedâneos das
obras doutrinárias, levando até mesmo oradores espíritas a fazerem afirmações ridículas em suas
palestras, com evidente prejuízo para o bom conceito do movimento espírita.

Não é de hoje que existem mensagens dessa espécie. Desde todos os tempos, espíritos mistificadores,
os falsos profetas da erraticidade, como dizia Kardec, e espíritos pseudossábios, que se julgam grandes
missionários, trabalham, consciente ou inconscientemente, na ingrata tarefa de ridicularizar o Espiritismo.
Mas a responsabilidade dos que aceitam e divulgam essas mensagens não é menor do que a dos
espíritos que as transmitem. Por isso mesmo, é necessário que os confrades esclarecidos não cruzem os
braços diante dessas ondas de perturbação, procurando abrir os olhos dos que facilmente se deixam
levar por elas.

O Espiritismo é uma doutrina de bom-senso, de equilíbrio, de esclarecimento positivo dos problemas


espirituais, e não de hipóteses sem base ou de suposições imaginosas. As linhas seguras da doutrina
estão na codificação kardeciana. Não devemos nos esquecer de que a codificação representa o
cumprimento da promessa evangélica do Consolador, que veio na hora precisa. Deixar de lado a
codificação, para aceitar novidades confusas, é simples temeridade. Tanto mais quando essas novidades,
como no caso de Ramatis, são mais velhas do que a própria codificação.[6]

[1] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. FEB, 1920, p. 74.


[2] Cf. O Espírito e o Tempo. 4.ª Parte, cap. III, item 5.
[3] O Espírito e o Tempo, 3.ª Parte, cap. I, item 2.
[4] O Espírito e o Tempo. 4.ª Parte, cap. III, item 5.
[5] O Espírito e o Tempo. 4.ª Parte, cap. III, item 5.
[6] O Infinito e o Finito. 36. Cuidado dos dirigentes de centros em face das confusões doutrinárias.

Fonte: O Primado de Kardec - http://oprimadodekardec.blogspot.com/2011/02/cap-19-o-espiritismo-


esoterico.html

[OLE] - Guerras
11:17 ADMINISTRADOR NO COMMENTS

O Livro dos Espíritos - Allan Kardec


Capítulo 6 - Lei de Destruição

742. Qual a causa que leva o homem à guerra?

— Predominância da natureza animal sobre a espiritual e a satisfação das paixões. No estado de


barbárie, os povos só conhecem o direito do mais forte, e é por isso que a guerra, para eles, é um. estado
normal. A medida que o homem progride, ela se torna menos freqüente, porque ele evita as suas causas
e, quando ela se faz necessária, ele sabe adicionar-lhe humanidade.

743. A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?

— Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Então todos os povos
serão irmãos.

744. Qual o objetivo da Providência ao tornar a guerra necessária?


— A liberdade e o progresso.

744 – a) Se a guerra deve ter como efeito conduzir à liberdade, como se explica que ela tenha geralmente
por fim e por resultado a escravização?

— Escravização momentânea para sovar os povos, a fim de fazê-los andar mais depressa.

745. Que pensar daquele que suscita a guerra em seu proveito?

— Esse é o verdadeiro culpado e necessitará de muitas existências para expiar todos os assassínios de
que foi causa, porque responderá por cada homem cuja morte tenha causado para satisfazer a sua
ambição.

Kardec e os Exilados
23:37 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

Em A Caminho da Luz, lê-se: “Há muitos milênios, um dos orbes da Capela, que guarda muitas afinidades
com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos. As lutas
finais de um longo aperfeiçoamento estavam delineadas, como ora acontece convosco, relativamente às
transições esperadas no século XX, neste crepúsculo de civilização”.[1]

Mas em termos kardecianos: “Toda teoria em contradição manifesta com o bom-senso, com uma lógica
rigorosa, com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que a assine,
deve ser rejeitada”.[2]

O bom-senso, a princípio, não afasta o que se lê em A Caminho da Luz. Entretanto, isto não ocorre
quanto à “lógica rigorosa”, pois esta, no caso, exige “os dados positivos que possuímos”, isto é, o que diz
a ciência sobre Capela, não importando se esse conhecimento é limitado, até porque qualquer
conhecimento o é por natureza. A Doutrina Espírita, porém, estará sempre com a ciência naquilo que
compete a esta, sob pena de obscurantismo.

Segundo especialistas, Capela não tem planetas, e mesmo que algum fosse encontrado, nenhuma
estabilidade apresentaria que possibilite (ou mesmo que tenha possibilitado em bilhões de anos
passados) o surgimento de vida. Eles têm ainda por certo que só estrelas simples ocasionam
probabilidades para o desenvolvimento de formas orgânicas. Capela, porém, é um sistema de nove
estrelas (duas principais e mais sete) com tremendas instabilidades de várias ordens.

Assim, em nome do Espiritismo, não se poderia sustentar que há ou que houve vida num planeta que não
existe nem nunca existiu no sistema Capela, menos ainda se “guarda muitas afinidades com o globo
terrestre”, na culminância de um ciclo evolutivo cujas lutas finais teriam ocorrido como as nossas, em
relação às transições que eram “esperadas no século XX”. Eram... Pois o século 20 acabou sem que
houvesse mudança alguma na ordem natural das coisas, como asseguraram, desde sempre, Kardec e os
espíritos superiores da sua magna Codificação.

Num conto de ficção que nada tem a ver com este assunto do exílio, Flammarion chegou a supor os
capelinos como seres dotados de faculdades de percepção elevadas, por não estarem encarnados em
corpos grosseiros como os nossos. Mas ouviu do codificador que, embora houvesse concordância de
muitos pontos com o Espiritismo, a obra representava apenas uma “hipótese” ilustrativa.[3] Vai longe o
tempo em que a doutrina era tratada com tamanha prudência.

Diante do texto de A Caminho da Luz, entretanto, em seu antigo habitat, a vida dos capelinos só podia ser
como a vida aqui na Terra: orgânica. De outra forma, o texto não faria o menor sentido; tanto assim, que
fala de mundos capelinos que “já se purificaram física e moralmente”,[4] numa clara indicação de que
aquele orbe de onde teriam vindo os exilados não se houvera depurado. O texto, aliás, apesar de se
referir a uma ação ocorrida “há muitos milênios”, diz que esse mundo “guarda muitas afinidades com o
globo terrestre”. Emmanuel, pois, asseverou que o planeta ainda estava lá, no tempo em que lá o quis
sediar: 1938. Sem dúvidas, trata-se de ambiente físico, e não de um mundo indetectável.

De qualquer modo, a ideia que Kardec admitiu como Espiritismo — porque “aceita pela maioria dos
espíritas como a mais racional e a mais de acordo com a soberana justiça de Deus” e, sobretudo,
“confirmada pela generalidade das instruções dadas pelos espíritos sobre esse assunto” —[5] foi a de que
houve um exílio, não “há muitos milênios”, e sim, como se aprende no n. 51 de O Livro dos Espíritos, há
alguns milênios, “cerca de 4.000 anos antes do Cristo”. Espíritos foram mandados para a Terra a fim de
que os habitantes desta, mais atrasados, progredissem com este contato, e para que os exilados
expiassem suas faltas, porquanto se haviam rebelado contra a lei de Deus num mundo “feliz”, “mais
adiantado e menos material do que o nosso”. É o que se lê, sem apelação, em A Gênese, XI, 36 (ou 38),
e XII, 22 (ou 23).

36 (ou 38). Segundo o ensino dos espíritos, foi uma dessas grandes imigrações, ou, se quiserem, uma
dessas colônias de espíritos vinda de outra esfera, que deu origem à raça simbolizada na figura de
Adão, e, por essa razão mesma, chamada de raça adâmica. Quando ela chegou aqui, a Terra já estava
povoada desde tempos imemoriais, assim como a América, quando os europeus chegaram lá. A raça
adâmica, mais adiantada do que aquelas que a haviam precedido na Terra, é, com efeito, a mais
inteligente, é ela que impele todas as outras ao progresso.

22 (ou 23). Admitamos, ao demais, que [Adão e Eva] tenham vivido em um mundo mais adiantado e
menos material do que o nosso, onde o trabalho do espírito substituía o do corpo, e que, por sua
rebelião contra a lei de Deus, simbolizada pela desobediência, tenham sido, por punição, afastados de
lá e exilados para a Terra, onde o homem, pela natureza do globo, é constrangido a um trabalho
corporal, e reconheceremos que Deus tinha razão em lhes dizer: ‘No mundo onde ireis viver daqui por
diante, cultivareis a terra e dela tirareis o alimento com o suor da vossa fronte’, e em dizer à mulher:
‘Parirás com dor’, porque esta é a situação desse mundo. O paraíso terrestre, cujos vestígios se têm
procurado inutilmente na Terra, era portanto a representação do mundo feliz onde Adão havia vivido,
ou melhor dizendo, a raça dos espíritos da qual ele é a personificação. [...]

Não foi, portanto, indicada a localização cósmica do planeta original dos exilados, nem se falou que tinha
muitas afinidades com a Terra. Se o movimento espírita considerasse como palavra de ordem os
conteúdos e, sobretudo, a criteriologia da obra de Kardec; se fosse capaz de obedecer às determinações
do velho mestre pelos méritos que indiscutivelmente possuem, deveria rejeitar a ideia de que os exilados
vieram de um orbe da Capela portador de “muitas afinidades” com o nosso mundo, num momento em que
suas lutas eram como as nossas, no séc. 20 (bem materiais então!), porque a ciência, em assunto que é
da sua estrita competência, nunca ofereceu subsídios para essa indicação. Só um eventual futuro
respaldo da astrobiologia pode ocasionar mudança de postura espírita quanto a este assunto. Até lá, deve
prevalecer para os adeptos sinceros e devotados a dita de Erasto:

Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos antigos provérbios. Não admitais, pois, o que não for para vós
de evidência inegável. Ao aparecer uma nova opinião, por menos que vos pareça duvidosa, passai-a pelo
crivo da razão e da lógica. O que a razão e o bom-senso reprovam, rejeitai corajosamente. Mais vale
rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa. Com efeito, sobre
essa teoria poderíeis edificar todo um sistema que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como
um monumento construído sobre a areia movediça.[6]

Edgar Armond e similares, imbuídos das melhores intenções, mas driblando Kardec para estabelecer
seus sistemas pessoais, apenas fizeram exatamente isto: edificaram sobre a areia movediça de A
Caminho da Luz, em cujo “Antelóquio” se lê, com surpresa, que “não deverá ser um trabalho histórico”, o
que contraria seu subtítulo: “História da Civilização à Luz do Espiritismo”. E o que dizer daqueles
prognósticos ao final do capítulo XXV? Caducaram por completo. O século 21 aí está, com “as forças do
mal” em “posições de domínio” e as “ovelhas” ainda bem misturadas. Mas o suposto livro complementar
de A Gênese assim profetizou:

São chegados os tempos em que as forças do mal serão compelidas a abandonar as suas derradeiras
posições de domínio nos ambientes terrestres [...]. Vive-se agora [1938], na Terra, um crepúsculo, ao
qual sucederá profunda noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses acontecimentos
espantosos. [...] O século que passa efetuará a divisão das ovelhas do imenso rebanho.

Como A Caminho da Luz poderia ser um livro complementar à Gênese de Kardec se lhe descumpre esta
orientação fundamental:
[...] os espíritos realmente sábios nunca predizem nada com épocas determinadas; eles se limitam a
nos prevenir sobre a sequência dos fatos que nos seja útil conhecer. Insistir em obter detalhes precisos
é expor-se às mistificações dos espíritos levianos, que predizem tudo o que se quer, sem se importarem
com a verdade, e se divertem com os terrores e as decepções que causam. [...] Pode-se ter por certo
que, quanto mais circunstanciadas [as predições], mais elas são suspeitas.[7]

Quanto àquela pretensa confirmação de vida em Capela desde a Revista Espírita, os textos devem ser
lidos mais atentamente, sem precipitações apaixonadas. Como disse acima, logo no primeiro artigo,
Kardec é bem claro: “O autor imagina um diálogo entre um indivíduo vivo chamado Sitiens”. E aduz então:
“A teoria que ele dá da visão da alma é notável”. [8] Mais adiante, assevera o mestre: “[...] não podendo
essa experiência ser feita diretamente pelos homens, o autor supõe um espírito que dá conta de suas
sensações, e colocado em condições de poder estabelecer uma comparação entre a Terra e o mundo
que habita [um dos planetas de Capela]”. Ainda que Kardec haja reconhecido ao texto de Flammarion
“uma importância capital”, no segundo artigo, reafirmou:

[...] não se deve perder de vista que esta história não passa de uma hipótese, destinada a tornar mais
acessíveis à inteligência e, de certo modo palpáveis pela entrada em ação, da demonstração de uma
teoria científica, como fizemos observar em nosso artigo precedente.[9]

Em nenhum momento ficou estabelecido que o conto literário de Flammarion era portador de um princípio
espírita no que respeita ao sistema Capela. Kardec apenas viu méritos na maneira pela qual a separação
entre alma e corpo e as faculdades daquela foram tratadas no relato ficcional de seu famoso “amigo”
astrônomo. Em mais dois anos, esse “amigo” acusaria o velho mestre, em pleno funeral deste, de haver
suscitado rivalidades e de haver feito escola de forma um pouco pessoal, como se houvesse nisto alguma
falha;[10] além de já ter presenteado Kardec com o “favor” de psicografar um “Galileu” que ignorava a
existência dos satélites de Marte. É verdade que Fobos e Deimos foram descobertos apenas depois
dessas psicografias, em 1877. Não surpreende que os espíritos deixem de revelar o que só aos homens
compete descobrir, mas quando prestam informações falsas, o caso é outro.[11]

Na ficção do astrônomo, ao demais, o espírito Lumen diz que os capelinos não seriam encarnados num
invólucro grosseiro, o que os dotaria de “faculdades de percepção elevadas num eminente grau de
poder”.[12] Caso se tratasse de elevar à condição de princípio doutrinário do Espiritismo a localização
desses seres em Capela (e Kardec não o fez!), ainda assim tal ideia estaria em conflito com a informação
emmanuelina de que viviam num orbe que guarda muitas afinidades com o nosso globo, em meio às lutas
finais de um longo aperfeiçoamento, como nos acontecia no séc. 20.

Por fim, diga-se em alto e bom som que, na negação de que os exilados teriam vindo de Capela, nenhum
princípio sequer do Espiritismo está em litígio, e sim uma tradição espiritual improvável de que há ou de
que houve vida orgânica num suposto mundo desse sistema estelar sem planetas. Emmanuel, aliás, já
fizera declarações temerárias não só de caráter intergaláctico, mas acerca mesmo do nosso sistema
planetário:

Assim como Marte ou Saturno já atingiram um estado mais avançado em conhecimentos, melhorando as
condições de suas coletividades, o vosso orbe tem, igualmente, o dever de melhorar-se, avançando, pelo
aperfeiçoamento das suas leis, para um estágio superior, no quadro universal.[13]
Coletividades em melhores condições? É... Evoluíram tanto que sumiram da face desses planetas,
fisicamente estéreis e desabitados.[14] O movimento espírita precisa entender que a simples opinião, por
si só, deste ou daquele espírito, seja qual for, por que médium o for, não constitui Espiritismo quando se
desalinha em relação a Kardec. Este e outros assuntos precisam ser tratados em termos kardecianos. É a
hora da codificação espírita! Ou nos tornaremos uma trupe de fascinados, presas dos mais lamentáveis
obscurantismos.

[1] A Caminho da Luz. III. As raças adâmicas. Um mundo em transições. p. 34.


[2] O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução, II.
[3] Revista Espírita. Mar/1867. Notícias Bibliográficas. Lumen. E mai/1867, Lumen.
[4] A Caminho da Luz. III. As raças adâmicas. O sistema de Capela, p. 34.
[5] A Gênese, XI, 42, nota 173.
[6] O Livro dos Médiuns, 230.
[7] A Gênese, XVI, 16.
[8] Revista Espírita. Março/1867. Notícias Bibliográficas. Lumen.
[9] Revista Espírita. Maio/1867. Lumen.
[10]Obras Póstumas. Discurso pronunciado sobre o túmulo de Kardec.
[11] Cf. A Gênese, VI, 26: “Alguns planetas como Mercúrio, Vênus e Marte não deram origem a nenhum
astro secundário; enquanto que outros, como a Terra, Júpiter, Saturno, etc., formaram um ou mais”.
[12] Revista Espírita. Março/1867. Notícias Bibliográficas. Lumen.
[13] Emmanuel. A Tarefa dos Guias Espirituais.
[14] Veja-se neste meu trabalho o texto Kardec Versus Emmanuel em 12 Passos.
http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2011_06_12_archive.html.

A Doutrina Espírita não é a única a sofrer


distorções
23:24 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT

Por Lilia do Canto

Há pessoas fora do Espiritismo que já estão conhecendo a ortodoxia espírita. Pessoas que não
conhecem nada sobre a DE, mas já ouviram falar. E aí eles percebem que esse pensamento ortodoxo é
muito diferente do que eles conhecem do Espiritismo famoso, aquele que aparece na televisão e fala de
Chico Xavier. Diante disse, alguns disseram: “que tipo de ciência é essa que tem tantas discordâncias
entre si?”. Mas acontece que a Doutrina Espírita não é a única.

“Não é a única o que?”, você deve estar se perguntando. Não é a única ciência a sofrer distorções, não é
a única ciência que é divulgada erroneamente. Percebe-se isso quando vemos muitas ideias científicas
deturpadas se espalhando, e também ocorre igualmente com o Espiritismo.

Acessando os seguintes links, você perceberá como cientistas tentam desmentir ideias populares. Com
eles também há essas discordâncias, afinal elas são mais do que necessárias. Sem o debate, tudo fica na
mesma. E com os espíritas, não é diferente: quem estuda pouco, ou não estuda, acaba divulgando ideias
equivocadas.

Esses links são apenas para mostrar que também existem essas "guerras" no meio científico (apesar de
que para nós não há guerra nenhuma). Não estou pró nem contra, afinal não posso simplesmente
escolher um lado se não sou especialista nesses assuntos.

Primeiro, um físico argumentando que Einstein nunca disse aquela famosa frase "Tudo é relativo".

http://clickeaprenda.uol.com.br/mostraConteudo.action?nivel=m&codigoPagina=NOT1012060201

Na Psicologia, não é diferente. Muitas ideias do senso comum são atribuídas a ela, essa é uma delas:

http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/conselhos-errados-que-as-pessoas-dao-
extravasar-raiva-faz-bem/

E por último, o famoso aquecimento global. O climatologista abaixo mostra argumentos de que não há
nada que prove que o CO2 define o clima mundial:

http://www.youtube.com/user/Willian1982spfc#p/u/0/JxC_JIwat9s

Ideias científicas são deturpadas o tempo todo. Ideias de tudo, na verdade. Acredito que seria impossível
impedir isso, pois as pessoas falam o que ouvem, e quem poderia saber que o que você aprendeu o
tempo todo estava errado? Alguém comum, no dia-a-dia, que disse uma mentira sobre alguma ciência
porque ouviu falar, não é tão culpada quanto aquela que se diz especialista no assunto. Quando todo
mundo fala a mesma coisa, nós acabamos pensando que é verdade, por isso há aqueles que caem mais
por causa disso do que por má fé. Claro que isso não impede de termos cuidado com o que falamos, mas
isso é comum. Só que com o Espiritismo, o caso está muito pior.

O problema é que a própria FEB é a principal em criar essas distorções, quando ela deveria ser quem
divulga corretamente o Espiritismo. Um livro muito bom sobre as deturpações do MEB (Movimento
Espírita Brasileiro) é o Conscientização Espírita, que mostra como começou tudo isso, com Roustaing, e
como continua até hoje.

Portanto, essas divergências não tiram o crédito do Espiritismo. A discussão é uma das melhores formas
de se buscar a verdade.
Léon Denis, Emmanuel e as Almas Gêmeas
11:50 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

Disse Kardec em O Livro dos Espíritos, 202: “Os espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não
têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas e
deveres especiais, e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só
saberia o que sabem os homens”. E mais, 303-a: “A teoria das metades eternas é uma imagem que
representa a união de dois espíritos simpáticos. É uma expressão usada até mesmo na linguagem vulgar,
e que não deve ser tomada ao pé da letra. Os espíritos que dela se servem não pertencem à ordem mais
elevada. A esfera de suas ideias é necessariamente limitada, e exprimem o seu pensamento pelos termos
de que se teriam servido na vida corpórea”.

Entretanto, Léon Denis e Emmanuel discordaram de Kardec e dos guias da humanidade. Em O


Problema do Ser, do Destino e da Dor, XIII, aduziu o primeiro: “Cremos de preferência, de acordo com os
nossos guias, que a mudança de sexo, sempre possível para o espírito, é, em princípio, inútil e perigosa.
Os espíritos elevados reprovam-na. [...] Quando um espírito se afez a um sexo, é mau para ele sair do
que se tornou a sua natureza”.

O druida da Lorena tentou justificar sua tese de que a mudança de sexo não seria uma necessidade (só a
admite por expiação) alegando que essa troca prejudicaria as “almas-irmãs, criadas aos pares,
destinadas a evoluírem juntas, unidas para sempre na alegria como na dor”, almas que, segundo ele,
“realizam a forma mais completa, mais perfeita da vida e do sentimento e dão às outras almas o exemplo
de um amor fiel, inalterável, profundo”. Léon Denis assegurou ainda que o número dessas “almas-irmãs”
seria “mais considerável do que geralmente se crê”.

A tese das almas gêmeas, ou irmãs, é mera variante da teoria das metades eternas, por lhes ser ínsito o
mesmo fatalismo da predestinação. Denis veiculou uma ideia injusta, além de haver incidido em mais uma
doutrina contrária ao Espiritismo: almas seriam criadas aos pares, cujo amor serviria de exemplo a outras
almas, portanto as últimas não teriam seus respectivos pares, já que o número das primeiras seria mais
considerável do que geralmente se crê, ou seja, esse número, de uma forma ou de outra, não constituiria
a totalidade das almas criadas, segundo Denis.
De outro lado, sem negar a necessidade da mudança de sexo para que os espíritos progridam em tudo,
Emmanuel confirmou a doutrina das almas gêmeas, tão só com a diferença de havê-la generalizado,
estendendo o número delas à totalidade das almas humanas (exceto Jesus). Assim, ensinou que “cada
coração possui no Infinito a alma gêmea da sua, companheira divina para a viagem à gloriosa
imortalidade”. Essas almas, segundo Emmanuel, foram “CRIADAS UMAS PARA AS OUTRAS”, no que só
repete Denis.[1]

Trata-se de mera variante da teoria das metades eternas. Inútil fora defendê-los com eufemismos que
distorçam o que propalaram e façam supor que só se hajam reportado à intensa afinidade entre certas
almas. Denis e Emmanuel afirmam uma predestinação desde sempre rejeitada pelo Espiritismo. Eis o
fato!

Se não, vejamos ainda mais O Livro dos Espíritos, 298: “As almas que devem unir-se estão predestinadas
a essa união, desde a sua origem, e cada um de nós tem, em alguma parte do universo, a sua metade, à
qual um dia se unirá fatalmente? – Não; não existe união particular e fatal entre duas almas”. E arremata
Kardec na obra-base, 303-a: “É necessário rejeitar esta ideia de que dois espíritos, CRIADOS UM PARA
O OUTRO, devem um dia fatalmente reunir-se na eternidade, após terem permanecido separados
durante um lapso de tempo mais ou menos longo”.

A concepção, portanto, de almas criadas pela metade, ou aos pares, mas sempre ou eventualmente
umas para as outras, com a prévia finalidade de um dia se unirem eternamente, conservem ou não a
individualidade após isso, não é aceita pelo Espiritismo. Não importa o viés lexical! Sejam metades
eternas, ou almas gêmeas, subsiste em ambas as teses o mesmo vício de uma suposta predestinação
mútua de dois seres desde a sua origem, o que foi repelido por O Livro dos Espíritos.

Emmanuel ainda foi mais além. Condicionou o amor que sentiremos um dia pela humanidade inteira à
prévia realização desse amor de almas gêmeas, que define como uma união, uma dada integração no
plano espiritual, em que, por fim, elas “se reúnem para sempre na mais sublime expressão de amor
divino, finalidade profunda de todas as cogitações do ser, no dédalo do destino”.[2]

O indagador da Federação Espírita Brasileira, menos preocupado com o fato de essa doutrina carecer de
fundamento em Kardec do que por não ter base nem mesmo em Roustaing, perguntou, então, sobre a
alma gêmea de Jesus. A resposta evasiva de Emmanuel foi que seria “injustificável” um paralelismo entre
o Cristo e “os meios humanos”, porque “observamos em Jesus a finalidade sagrada dos gloriosos
destinos do espírito”.[3] Mas se é também essa a nossa própria destinação, por que seria injustificável o
paralelismo entre Jesus e os meios humanos? Como Jesus chegou a ser quem é? Não foi por
encarnações humanas, ainda que noutros mundos há muito preexistentes ao nosso?

Emmanuel advogou que o Mestre só teria enlaçado, “no seu coração magnânimo, com a mesma
dedicação, a humanidade inteira, depois de realizar o amor supremo”.[4] Todavia, que amor foi esse,
depois da realização do qual Jesus passou a amar a humanidade inteira com a mesma dedicação? Como
previsto no número 326 de O Consolador: “O amor das almas gêmeas é aquele que o espírito sentirá um
dia pela humanidade inteira”.

Dir-se-ia que Emmanuel admitiu, assim, a prévia realização do amor de Jesus e de sua alma gêmea;
depois disso, o Cristo passou a sentir esse amor pela humanidade toda. Mas não! O guia de Chico Xavier
excepcionou Jesus de tal situação; entende que ele evoluiu “em linha reta” e, por isso, em meios não
humanos, o que, indubitavelmente, faz parte do programa de crenças rustenistas.

Sobre o Cristo, o que diz a Doutrina Espírita? — l'Esprit pur par excellence: “o Espírito puro por
excelência”, portanto, de “superioridade intelectual e moral absoluta, em relação aos espíritos das outras
ordens”.[5] Em Espiritismo, todos os seres têm o mesmo “ponto de origem” e o mesmo “destino”.[6] Jesus
não foi exceção. Mas quem poderia saber se cometeu erros na estrada evolutiva? E que importância
afinal teria agora isso, se os que chegam ao grau supremo, mesmo passando pelo mal, são
contemplados com idêntico olhar por Deus, que a todos ama igualmente?[7] Possível é que o Mestre seja
daqueles espíritos que, desde o princípio, seguiram o caminho do bem.[8] Mas O Livro dos
Espíritos chama isso de evolução “EM LINHA RETA”? O que nos autoriza a supor que essa expressão
equivale ao que ensinou a obra-base? O que quer dizer: “desde o princípio”?

Essa expressão usada por Emmanuel pertence a Os Quatro Evangelhos, de Roustaing: “avançar com
passo firme e EM LINHA RETA para a perfeição”,[9] o que ratifica a identidade do guia de Chico Xavier
com essa obra defensora de uma progressão espiritual que dispensaria a vida na matéria aos que só
fazem o bem nos mundos fluídicos próprios à humanização da alma, chamados ad-hoc. A encarnação
não passaria de excepcional castigo aos culpados que por lá faliram: seria uma “queda”.

A Doutrina Espírita, porém, ensina que seguir “desde o princípio” o caminho do bem “não isenta os
espíritos das penas da vida corporal”, porque “TODOS são criados simples e ignorantes e se instruem
através das lutas e atribulações desta vida; Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem penas e
sem trabalhos, e por conseguinte sem mérito.”[10] A palavra “princípio” não se refere, pois, só aos
mundos materiais, antes da suposta queda do espírito, nem tampouco se distinguiria, por isso, de
“origem”, como querem as ginásticas verborrágicas de alguns rustenistas fanatizados.

Kardec diz que “os espíritos, na sua ORIGEM, se assemelham a crianças, ignorantes e sem
experiência”.[11] Questiona como podem, “em sua ORIGEM, quando ainda não têm a consciência de si
mesmos, ter a liberdade de escolher entre o bem e o mal”, e se lhe responde que “o livre-arbítrio se
desenvolve à medida que o espírito adquire consciência de si mesmo”.[12] Neste ínterim, pergunta
Kardec “por que Deus permitiu que os espíritos pudessem seguir o caminho do mal”[13] e, sem solução
de continuidade, indaga logo após: “Havendo espíritos que, desde o PRINCÍPIO, seguem o caminho do
bem absoluto, e outros o do mal absoluto, haverá gradações, sem dúvida, entre esses dois extremos?”.
Resposta: “Sim, por certo, e constituem a grande maioria”.

“Princípio” e “origem” são utilizados como sinônimos, e relacionados, é claro, ao “início” da


fasehumana de evolução da alma. O Livro dos Espíritos, 133, repele, assim, a tese da queda, ao
assegurar que seguir desde o princípio o caminho do bem não isenta os espíritos das penas da vida
corporal, entendimento confirmado mais adiante, 634: “É necessário que o espírito adquira experiência, e
para isso é necessário que ele conheça o bem e o mal; eis por que existe a união do espírito e do corpo”.
Incluída aí está a dualidade espírito-matéria, sem a qual não se desenvolveria o livre-arbítrio e a
consciência de si no espírito.

A doutrina de O Livro dos Espíritos, portanto, não abriga de nenhuma forma o conceito rustenista de
evolução “em linha reta”, porque esse simplesmente dispensa a vida na matéria, razão pela qual teria sido
meramente fluídico o corpo de Jesus, doutrina repelida por Kardec.[14] Quando Emmanuel diz que o
Cristo evoluiu em meios não humanos, nega, indubitavelmente, a materialidade do corpo que Jesus
assumiu na Terra; trata-se de uma profissão de fé neodocetista e, portanto, rustenista.

Emmanuel também revela seu rustenismo quando diz que, exceto Jesus, somos “espíritos que se
resgatam ou aprendem nas experiências humanas, após as quedas do passado”.[15] As quedas
pretéritas, assim atribuídas tanto aos que “aprendem”, como aos que “se resgatam”, é uma generalização
errônea, pois “a expiação serve sempre de prova, mas a prova nem sempre é uma expiação”.[16] Nem
todos os que aprendem em meio a provas têm, pois, erros a resgatar. Se Emmanuel advoga que todos os
têm, confirma as quedas que precipitariam na matéria os falidos da concepção de Os Quatro Evangelhos.
E isso mais se evidencia na sua ideia sobre provação: seria para o “rebelde” e “preguiçoso”, e a expiação,
para o “malfeitor que comete um crime”.[17] Quanto à expiação, vá lá, que seja; mas se é impossível
chegar à perfeição sem provas, seríamos, de antemão, rebeldes e preguiçosos pelo simples fato de sofrê-
las?

Outra evidência do rustenismo de Emmanuel está na pergunta sobre a queda do espírito. Diz que a alma
é “colocada por Deus no caminho da vida como discípulo que TERMINA os estudos básicos”.[18]Como
pode ser isso se O Livro dos Espíritos, 190, leciona que, em sua primeira encarnação, a alma “ensaia
para a vida”? Trata-se, pois, do início dos estudos básicos da alma, não de seu término. Emmanuel,
então, imagina que iniciamos nossos estudos básicos sem o concurso da matéria, nos mundos ad-hoc de
Roustaing, nos quais falimos e, por essa razão, na matéria agora nos encontramos, só para terminá-los,
como se isso fosse uma excepcionalidade punitiva.

Só o pressuposto rustenista da queda original do espírito na matéria, por castigo, explica certos ensinos
de O Consolador. Como podem, assim, ter base em Kardec? Foi mesmo Emmanuel quem tanto
discordou da codificação espírita? Mas é o nome dele, bem como o de Chico Xavier, que está nas capas
dos livros. De mais a mais, se a evolução em linha reta e a queda são rustenismo, a existência de almas
gêmeas,[19] a procedência “capelina” do exílio espiritual que deu origem à raça adâmica
“hámuitos milênios”, a superioridade do planeta Marte sobre a Terra, etc., não foram ensinadas a
Roustaing.[20]

Estranho é que se clame pela autoridade do mestre francês e se publiquem obras mediúnicas cujos
conteúdos lhe subvertam acintosamente os princípios codificados. Extrema é a hora espírita neste
mundo. Valha-nos O Espírito de Verdade!

Realmente, consta que Emmanuel teria dito a Chico Xavier que deveria permanecer com Jesus e Kardec
caso lhe aconselhasse algo em desacordo com as palavras de ambos.[21] Mas nenhum ensino contrário
a Kardec deixou de ser publicado por essa razão. Eis o fato.[22] Como eu disse noPrimado de Kardec,
cap. 13, é de mais consistente lógica e de melhor proveito à clareza analítica que se atribua ao próprio
Emmanuel tudo aquilo que dos seus livros conste. Só Chico Xavier teve o poder de dirimir as dúvidas,
mas nunca o fez, nunca levantou uma suspeita sequer sobre a F.E.B.; ao contrário, não é difícil encontrar-
lhe pronunciamentos com os mais efusivos aplausos à Casa do “Anjo” Ismael, assim como ao grande J.
Herculano Pires, maior opositor do rustenismo febiano. O médium sempre aparece ao lado de todos os
partidos.

Aprendizes em Espiritismo sabem que o primeiro critério da verdade é submeter as comunicações dos
espíritos ao controle severo da razão, do bom-senso e da lógica. Só espíritos enganadores, que não
podem senão perder com esse exame sério, é que evitam a discussão e querem ser acreditados sob
palavra.[23]

Aprendizes em Espiritismo igualmente sabem que o segundo critério da verdade está na concordância, na
universalidade do ensinamento espiritual, no fato de um princípio ser ensinado em vários lugares, por
diferentes espíritos e médiuns estranhos uns aos outros, “e que não estejam sob a mesma influência”.[24]

A única expressão de universalidade desse ensino espiritual sempre foi a Obra de Kardec. Depois dela,
tudo mais são opiniões isoladas. Na falta em que nos encontramos, desde 31/03/1869, de um foco
legítimo de apuração e controle, tais opiniões devem sofrer detidas avaliações lógicas, firmemente
amparadas nos ensinos codificados pelo mestre lionês.

Quanto às almas criadas umas para as outras, Emmanuel tentou em vão defender-se, dizendo que não
se referiu a metades eternas; contudo, pediu para ser conservada no livro “a humilde exposição relativa à
tese das almas gêmeas”, na qual assevera que os ascendentes do amor entre elas, por serem mais
profundos, diferenciam-se daqueles entrosados nas humanas concepções, que se modificam na esteira
evolutiva. Segundo Emmanuel, trata-se de “tese mais complexa do que parece ao primeiro exame”, que
“sugere mais vasta meditação às tendências do século”, no que concerne ao “divorcismo”, ao
“pansexualismo”, etc.

A verdade é que não basta modificar a terminologia “metades eternas”, para conservar, ainda assim, o
núcleo vicioso de sua doutrina, que é a noção de predestinação mútua de duas almas desde a sua
origem. Aprende-se na obra-base que “a simpatia que atrai um espírito para outro é resultado da perfeita
concordância de suas tendências, de seus instintos, e da igualdade dos seus graus de elevação”,[25] o
que explica o entrosamento incomum entre certos casais e torna desnecessária a ideia das almas
gêmeas, cujo erro não está em serem almas afinadas, mas em terem sido, segundo Emmanuel, “criadas
umas para as outras”.[26] Quanto a isso ser um preventivo contra o divorcismo, o pansexualismo, etc.,
bastaria a compreensão das leis morais da Parte III de O Livro dos Espíritos.

A tese de que teríamos uma alma preposta à nossa, criada especialmente para nos acompanhar na
jornada evolutiva, nada tem a ver, portanto, com os termos kardecianos do Espiritismo, e Deus nos acuda
se os termos do Espiritismo não puderem mais ser os kardecianos! Léon Denis e Emmanuel, nesse caso,
formularam hipóteses pessoais, meras opiniões sem qualquer fundamentação mais consistente e que não
se enquadram, de forma nenhuma, na Doutrina Espírita.

Por essas e por outras é que Kardec não voltou mesmo; não pode ter voltado! Ao sairmos da leitura
kardeciana para a de outros autores, encarnados ou não, o sentimento é de abismal queda. O gênio de
Lyon não foi excedido por ninguém! Até “sucessores” desfiguraram noções espíritas as mais legítimas.
Cumpre-nos distinguir esses pontos em nossas leituras, que não deixam, só por isso, de serem
obrigatórias. A identidade doutrinária kardeciana do Espiritismo, porém, é a única hígida o suficiente para
mantê-lo em certeira rota.

[1] O Consolador, 323.


[2] O Consolador, 325.
[3] O Consolador, 327.
[4] O Consolador, 327.
[5] O Livro dos Médiuns. XXXI, IX. O Livro dos Espíritos, 112.
[6] A Gênese, I, 30.
[7] O Livro dos Espíritos, 126.
[8] O Livro dos Espíritos, 133, 124.
[9] ROUSTAING. Os Quatro Evangelhos. Tomo III, n. 255.
[10] O Livro dos Espíritos, 133.
[11] O Livro dos Espíritos, 115-a.
[12] O Livro dos Espíritos, 122.
[13] O Livro dos Espíritos, 123.
[14] A Gênese, XV, 66.
[15] O Consolador, 243.
[16] O Evangelho Segundo o Espiritismo. V, 9.
[17] O Consolador, 246.
[18] O Consolador, 248.
[19] Cf. O Consolador, 323 e nota à primeira edição.
[20] Cf. A Caminho da Luz. Cap. 3. Emmanuel. A Tarefa dos Guias Espirituais.
[21] Diálogo dos Vivos [em parceria com Herculano Pires], cap. 23: Permanecer com Jesus e Kardec.
[22] Vejam-se neste meu trabalho os textos Kardec e os Exilados; Sobre André Luiz; Chico Xavier:
Definitivamente, Outra Religião! e Kardec Versus Emmanuel em 12 Passos.
[23] KARDEC. O Que é o Espiritismo, 99.
[24] KARDEC. O Que é o Espiritismo, 99.
[25] O Livro dos Espíritos, 301 e 302.
[26] O Consolador, 323.

"Autoridade da Doutrina Espírita está


esquecida", afirma leitora do blog
14:24 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
A leitora de "O Blog dos Espíritas", Maria Ribeiro, em contato
conosco através de e-mail, parabeniza os estudiosos da Doutrina Espírita que lutam para divulgá-la sem
os misticismos que são divulgados como "Espiritismo". Ficamos felizes em constatar que cada vez mais,
mais pessoas passam a conhecer a Doutrina Espírita tal qual ela é, de acordo com suas obras
fundamentais (e não básicas) legadas por Allan Kardec e pelos Espíritos Superiores.

Abaixo, o e-mail de nossa leitora, em itálico e na íntegra:

É muito bacana observar quantos estudiosos da Doutrina Espírita se dedicam a realmente fazê-la
prevalescer, já que muitos irmãos acabaram se perdendo numa crença cega carregando consigo outros
companheiros incautos, que ainda dão a impressão de precisar de uma autoridade de "carne e osso". A
autoridade da Doutrina ficou esquecida, enquanto a palavra de médiuns e Espíritos ignorantes é que
fazem a festa.

Os questionamentos é que dão impulso ao desenvolvimento em todos os niveis. O Espiritismo veio nos
consolar através do esclarecimento, não veio apenas nos dar respostas, mas suscitar outras perguntas.
Muitos de nós permanecemos num casulo de crenças. Já não devíamos estar no estágio do
Conhecimento? Conhecer é muito diferente de crer.

Gostaria de parabenizar ao companheiro Sérgio Aleixo por sua dedicação à divulgação da Doutrina
Espírita que tanto amamos.

Grande abraço.
Maria/BH

Colônias espirituais
13:40 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Thiago S. Argolo e Riviane Damásio

Desde a chegada do Espiritismo no Brasil, há décadas, vem se acumulando assustadoramente livros e


livros de espíritas e espíritos que estão na prateleira do Espiritismo. Entretanto, basta um leitor mais
cuidadoso confrontar o conteúdo com a base da Doutrina Espírita, O Livro dos Espíritos, que veremos o
choque de conceitos, claramente expressos entre um e outro. Ao cúmulo deste confronto ideológico de
conceitos dá-se o nome de “Colônias Espirituais”.

Os incautos podem então afirmar que tanto numa quanto noutra obra são transcritas palavras de espíritos
e nada há para validar ou invalidar as afirmações. Contudo, ao curioso e atento leitor que pretenda se
denominar Espírita, não há de ter passado despercebido bem no início de O Evangelho Segundo o
Espiritismo – outra obra considerada básica no cerne doutrinário espírita – a referência ao Controle
Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE). Temos ali, revelados numa linguagem relativamente simples e
inteligível, o caminho das pedras para a validação de uma obra espírita, inclusive e principalmente, o
caminho de aferição da própria Doutrina Espírita, que não “caiu do céu” simplesmente, como acontece
com tanta literatura fácil no meio.

O CUEE mostra a preocupação dos Espíritos, acatada por Kardec em todo o seu trabalho, do uso de
metodologia, razão e bom senso. O cuidado no aceitar qualquer coisa que venha de um médium ou de
um espírito está refletido no alerta do CUEE e também em toda a obra O Livro dos Médiuns.

Deparamo-nos então com dois tipos de erros: a preguiça de aferir pelo método aquilo que supostamente
é revelado como novo e o descaso com o rico conteúdo doutrinário que, apesar de não estar fechado,
ainda é jovem e fonte preciosa de estudos e revelações. E não raras vezes, a doutrina é rechaçada pela
prática espírita vigente, virando mero objeto de ilustração, inspirando por aí, seus supostos “filhos” ou
afiliados, mas que não trazem em suas obras, observações e práticas doutrinárias - o fruto que
comprovaria seu DNA, se é que assim se pode dizer.

No mais, ainda na referência ao Controle Universal do Ensino dos Espíritas, temos o alerta tão
especialmente registrado:

Os Espíritos Superiores procedem, nas suas revelações, com extrema prudência. Só abordam as grandes
questões da doutrina de maneira gradual, à medida que a inteligência se torna apta a compreender as
verdades de uma ordem mais elevada, e que as circunstâncias são propícias para a emissão de uma
ideia nova. Eis porque, desde o começo, eles não disseram tudo, e nem o disseram até agora, não
cedendo jamais à impaciência de pessoas muito apressadas, que desejam colher os frutos antes de
amadurecerem. Seria, pois, inútil, querer antecipar o tempo marcado pela Providência para cada coisa,
porque então os Espíritos verdadeiramente sérios recusam-se positivamente a ajudar. Os Espíritos
levianos, porém, pouco se incomodando com a verdade, a tudo respondem. É por essa razão que, sobre
todas as questões prematuras, há sempre respostas contraditórias.

Como é vida após a morte? Seria a pergunta chave que culmina em tanta controvérsia entre espíritas
diversos.

Defensores do relato dos Espíritos Superiores, laboratório de estudos psíquicos de Kardec, e outras obras
mais ligadas ao Espiritismo sério acham graça dos mitos que permeiam as crenças: umbrais, colônias,
hospícios, hospitais, verdadeiros ‘elefantes brancos’ espirituais, que, em suma, se existissem, não
justificariam a encarnação, pois sendo cópia do mundo terrestre, desnecessário seria aos espíritos deste
mundo encarnarem para sua evolução.

O choque materialista trava a batalha entre razão e emoção por evitar conceber um mundo espiritual sem
os acessórios terrenos.

Na instrução dos Espíritos da Codificação concluímos, após leitura atenta, que a Terra não é uma cópia
do plano espiritual, sendo este o principal, e o material, secundário, que poderia até mesmo nem existir.

O mundo espiritual é fruto das nossas necessidades materiais e orgânicas enquanto espíritos
encarnados, desnecessário, portanto, ao espírito desencarnado, cujo foco é o seu progresso intelectual e
moral.

O ambiente terrestre também pode ser concebido como o laboratório onde iremos colocar em ação
vivencial os nossos avanços. Se na erraticidade tivéssemos uma cópia da terra, encarnar seria supérfluo
e desnecessário. Não haveria motivo para encarnar, se o mundo espiritual apresenta as mesmas
condições materiais para se evoluir.

Em certa literatura que se denomina espírita lemos:

O Umbral – continuou ele, solícito – começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo
não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no
vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos. [...] O Umbral funciona, portanto, como região
destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima, a
prestações, o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o
sublime ensejo de uma existência terrena.

Entra então o conceito de existir. Será existência "real/material" ou "psíquica"?

Segundo O Livro dos Médiuns, nos redutos espirituais não há existência concreta, são de curta duração,
transitórios, fluídicos... O Livro dos Espíritos afirma que não existe purgatório e nem local destinado a
penas ou sofrimentos, mas aglomerações por afinidades de Espíritos ainda apegados à matéria.
Necessidades materiais apenas são contempladas em mundos materiais e não num contexto espiritual.

Os espíritos na erraticidade se encontram numa dimensão invisível ao nosso olhar racional, mas
tecnicamente podem estar aqui do nosso lado, se ainda apegados aos nossos impulsos primários e muito
distantes, se avançados em sua evolução.

Cabe-nos entender principalmente que o caminho evolutivo é longo e penoso, não só para os que
desligados do corpo terrestre, caminham para o fim destinado a todos os espíritos – o da purificação –
como também aos que se encontram neste intervalo encarnatório, em lutas quixotescas contra as páginas
de Kardec e dos Espíritos da Codificação que tão bem ilustram nossas dúvidas e anseios do porvir.
Duvidas estas embaçadas pelos nossos olhos que se recusam a ver e por nosso orgulho que se recusa a
entender.

REFERÊNCIAS

KARDEC, Allan, O Livro dos Espíritos – 1857. Tradução Ed. Lake, 1995, Herculano Pires

KARDEC, Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo - 1863, Tradução Ed. Lake, 2003, Herculano Pires

XAVIER, Chico , Nosso Lar - Ed. Feb, 1944 - 45ª edição

Fonte: NEFCA - http://www.nefcateste.com/novo/node/225

O que realmente é a ortodoxia?


12:50 O BLOG DOS ESPÍRITAS 2 COMMENTS

Por Lília do Canto

Se você, por preguiça ou falta de tempo, até agora não leu nada sobre a ortodoxia espírita e mesmo
assim tenta combatê-la, sem saber o que é, esse diálogo vai esclarecê-lo. Peço que tenha a mente aberta
e tire suas próprias conclusões, sem se deixar levar pelo o que ouviu falar ou pelo que pensa a maioria.
Diálogo 1: Astrônomo e astrólogo

Astrônomo: então, o que você tem feito da vida?

Astrólogo: nesses últimos anos eu tenho estudado astronomia.

Astrônomo: sério? Eu também! Amanhã vou fazer uma palestra sobre pulsares e...

Astrólogo: também vou fazer uma palestra!

Astrônomo: sobre o que?

Astrólogo: as crianças do signo de gêmeos.

Astrônomo: mas isso não é astronomia!

Astrólogo: muitos astrônomos pensam assim, mas sabe porque? É que alguns têm a mente muito
fechada, não aceitam novas ideias. Isso se chama intolerância e é um desrespeito.

Astrônomo: Eu não estou desrespeitando a sua profissão. Você, ao contrário, que está confundindo
astronomia com astrologia.

Astrólogo: o que importa é a caridade. E no momento em que você exclui a astrologia dos seus estudos,
está faltando amor, pois está sendo desrespeitoso. Vocês astrônomos acham que são os únicos donos da
verdade? Como vocês poderiam progredir sem aceitar ideias de outros grupos?

Astrônomo: e como nós poderíamos progredir aceitando qualquer ideia de qualquer grupo, sem
verificação nenhuma? Nós temos métodos para saber se uma afirmação é verdadeira, ou não. Se algo
não está dentro desse método e mistura achismos com misticismos, não é aceito. Ponto. Eu não preciso
dizer as falhas da astrologia, porque é o que você trabalha. Você pode continuar com suas crenças, não
quero desrespeitar, mas não confunda com o meu trabalho.

Astrólogo: Qual é o problema de errar um detalhezinho? Eu só disse que os signos eram da astronomia,
tudo bem, eu errei, mas não precisa fazer um discurso, isso não tem importância.

Astrônomo: é por esses pequenos detalhes que uma grande confusão se faz. Cada um diz o que acha,
mas não tem certeza, e fica por assim mesmo. Logo, todo mundo pensa erroneamente. Quem tenta
esclarecer as pessoas, é chamado de intolerante, dono da verdade. E não fuja da discussão, você deve
se responsabilizar pelas palavras. Quem começou falando nisso? Você. E, se for do seu interesse, posso
mostrar como a astrologia é falha.

Astrólogo: não, não quero saber o que você tem a dizer. E você sabe o porquê? Porque você esqueceu
uma das máximas da caridade: BENEVOLÊNCIA AOS DEFEITOS DOS OUTROS E PERDÃO. Você não
aceita que pensem diferente de você. Minha opinião é essa: astrologia e astronomia não tem diferença.

Astrônomo: isso não é questão de opinião. Ou é, ou não é, e a verdade é que têm muita diferença.
Astrólogo: está vendo como você não aceita ideias diferentes? Você só sabe criticar tudo. Espero que um
dia você mude e saiba ser HUMILDE. Você não merece minha atenção, pode continuar falando mal da
astrologia, mas não vai me convencer.

Astrônomo: você nem ouviu o que eu tenho a dizer.

Astrólogo: não vou escutar nada. Se eu quiser eu continuo com meus signos e símbolos, não importa se
você fizer outro discurso, já é um desrespeito quando você exclui a astrologia da sua ciência. ESTOU
INDO EMBORA, MUITO OBRIGADO.

Vocês enxergam alguma semelhança disso com o Movimento Espírita Brasileiro atual?

Diálogo 2: Espírita e místico

Místico: mas o que esse diálogo do astrônomo e astrólogo tem a ver com o Espiritismo?

Espírita: simples, a astrologia está para astronomia assim como a alquimia e o misticismo está para o
Espiritismo.

Místico: acho injusto chamar as obras dos médiuns famosos, como chico xavier, de misticismo. Elas são
grandes complementos da codificação.

Espírita: o erro está quando elas são vistas como verdades absolutas. Por exemplo: na codificação, os
espíritos dizem que metades eternas não existem, pois não há determinismo, ou seja, não há almas
gêmeas. Mas Emmanuel diz que existem. Na codificação, as informações passaram pelo crivo do CUEE.
E no livro de Emmanuel, é apenas uma opinião individual, mesmo assim há pessoas que preferem segui-
lo.

Místico: Se Emmanuel é opinião individual, porque a codificação também não é? Não estou entendendo.
Isso é fanatismo, pois Kardec não é o dono da verdade!

Espírita: a codificação não é de Kardec. Ele compilou as informações de vários espíritos, de vários
médiuns, de lugares diferentes. É o CUEE, Controle Universal do Ensino dos Espíritos. Um método de
averiguar qualquer informação vinda dos espíritos. Nenhuma comunicação mediúnica é perfeita, e na
maior parte das vezes é animismo (vem do próprio médium, sem ele saber). Por isso, com várias
comunicações, aumentam as chances de serem verdadeiras. Kardec irá te explicar melhor.

Allan Kardec:
[...]as revelações que cada um possa receber terão caráter individual, sem cunho de autenticidade; que
devem ser consideradas opiniões pessoais de tal ou qual Espírito e que imprudente fora aceitá-las e
propagá-las levianamente como verdades absolutas [...]

[...] A concordância no que ensinem os Espíritos é, pois, a melhor comprovação. Importa, no entanto,
que ela se dê em determinadas condições. A mais fraca de todas ocorre quando um médium, a sós,
interroga muitos Espíritos acerca de um ponto duvidoso. É evidente que, se ele estiver sob o império de
uma obsessão, ou lidando com um Espírito mistificador, este lhe pode dizer a mesma coisa sob
diferentes nomes. Tampouco garantia alguma suficiente haverá na conformidade que apresente o que
se possa obter por diversos médiuns, num mesmo centro, porque podem estar todos sob a mesma
influência.

Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações
que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e
em vários lugares. [...]

Místico: mas como o Espiritismo pode progredir se a única verdade está em livros que foram escritos no
século passado?

Espírita: quem disse isso? Hoje quase não há pesquisas, pois como consideram o Espiritismo uma
religião, e em religião ninguém pesquisa nem há averiguação da verdade, tudo fica na mesma. E foi por
causa disso que foi criado o NEFCA, Núcleo Espírita de Filosofia e Ciências Aplicadas, onde estão
fazendo novas pesquisas sem o misticismo impregnado no MEB (Movimento Espírita Brasileiro). Mas é
claro que o NEFCA não é o único. Há grupos que estudam também a Doutrina Espírita, aliás qualquer
grupo pode fazer isso, desde que não faça uma mistureba como a maioria dos grupos. Pois a maioria
está mais preocupada em criar estátuas do Chico Xavier, vender camisetas "Nosso Lar" e espalhar o falso
Espiritismo pelo mundo. Por isso há aqueles que estão fazendo de tudo para esclarecer as pessoas.

Místico: tudo bem, mas não entendi quando você disse que Espiritismo não é religião. É sério?

Espírita: me mostre um trecho da codificação onde fale que Espiritismo é religião. Nós não temos cultos,
nem santos, nem velas, nem símbolos, nem palavras sagradas, nem hierarquia, nem sacerdotes, nem
rituais, nem rezas, nem simpatias, nem nada. Não vou entrar a fundo nesse assunto agora, o objetivo
aqui é que você saiba o que realmente é o Espiritismo ortodoxo, e se quiser saber mais sobre isso é só
dar uma pesquisada na internet.

Místico: mas a maioria dos espíritas pensa diferente.

Espírita: por isso eu disse: não vá pela maioria, nem pela minoria, vá por si mesmo. Aliás, há pessoas que
até concordam com a ortodoxia espírita, mas se mantém em silêncio, com medo de serem excluídas. Mas
para convencermos alguém de uma ideia, com certeza o caminho não é fácil, mas não divulgar uma ideia
por causa disso é covardia. Você foi uma exceção por ter me escutado, pois a maioria fecha os ouvidos e
diz que queremos ser donos da verdade. O que você acha? Será que você mudou de ideia a nosso
respeito, ou vai continuar com os mesmos pensamentos?

O óbolo da viúva
18:36 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Octávio Caúmo Serrano

Diz o Evangelho, que estando Jesus no templo, diante do gazofilácio, fez observação aos discípulos
mostrando que os que depositavam grandes somas, doavam menos que a viúva que dava a única moeda
que possuía.

Essa advertência é bastante importante, porque é comum darmos nada porque não podemos dar muito.
De que serve um simples pão que eu ofereça, diante da enorme fome do mundo, indagamos muitas
vezes?

Para entender a importância desse pão, lembremos Madre Teresa a benfeitora de Calcutá, que afirmou
certa vez que seu trabalho não passava de uma gota no oceano. Completou, no entanto, que sem essa
gota o oceano seria menor. Madre Teresa jamais foi vaidosa do seu trabalho, mas também aproveitava
para ensinar sempre que tinha oportunidade.

O mesmo dizemos do pequeno pão. Não acabará com a miséria do mundo, mas, pelo menos nesse dia,
uma criança passará menos fome.

Quando observamos o movimento espírita percebemos que poucas pessoas dão o óbolo da viúva.
Sentem-se incompetentes para os grandes trabalhos, com medo da responsabilidade e sem disposição
para o estudo e preparo para a tarefa, e, por isso ficam de braços cruzados. Sem poder executar
trabalhos que julgam relevantes não se dispõem a realizar os serviços modestos.

O óbolo da viúva não precisa ser necessariamente a oferenda material. O abraço carinhoso, a palavra de
estímulo, a oferta do ombro para o alívio do outro, a prece silenciosa em favor do que sofre, o auxílio
ao velho que vai atravessar a rua, a educação no trânsito e o uso rotineiro do faz favor, obrigado, dá
licença, desculpe.

O que dificulta o entendimento do Evangelho trazido por Jesus é o nosso exagerado apego ao mundo
material, a ponto de esquecermos o significado espiritual das orientações.

Quando fazemos uma compra, se faltar um real não conseguimos pagá-la. Essa ninharia que damos sem
ter convicção da sua utilidade é a migalha que falta para completar um conjunto maior. Quando
tomamos um remédio, se em vez de dez gotas tomarmos nove ou oito ou sete, o remédio não fará
efeito. Uma máquina para pela quebra de um minúsculo parafuso ou de um componente eletrônico
imperceptível.

Temos de nos convencer que não há inutilidade e que ninguém é sem valor. Todos temos nossa parte na
sociedade e, por menor que pareça, sempre é algo relevante. O soldado não tem a importância
hierárquica do capitão, mas é ele que enfrenta o delinquente e corre risco de morte na defesa da
população.

Seja qual for a nossa posição na vida podemos praticar algum tipo de caridade: material ou espiritual.
Não percamos a oportunidade porque a recompensa é sempre grande; a mil por um.

Que Deus nos ajude!

As implicações revolucionárias do Espiritismo


13:05 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Randy*

Quando se combate a visão religiosa sobre o Espiritismo deixa-se sempre a impressão de que trata-se de
uma questão de preferências pessoais ou de leitura preconceituosa sobre a história das religiões.

Mas, retira-se a expressão "preconceituosa" e atingimos o âmago de tudo. A leitura histórica das religiões
é desastrosa. Em todos os momentos da humanidade a religião nada mais fez do que dividir, mitigar,
humilhar, aprisionar, reprimir, tolher, retardar o avanço da humanidade.

Vale lembrar que religiões são criações humanas. E absolutamente nenhum dos criadores de religiões
eram espíritos puros, perfeitos, superiores. Não existem homens superiores com autoridade bastante para
afirmarem que tal doutrina representa o pensamento de Deus sobre a Terra. Nenhuma religião, portanto,
absolutamente nenhuma, possui autoridade divina. E o agravante de serem criadas por seres imperfeitos
é que a imperfeição não cria perfeição.

A imperfeição das religiões tem seu foco principal quando confrontadas com o Espiritismo na sua
capacidade de colocar homens uns contra os outros e de imporem condições de cerceamento da
capacidade crítico-racional de seus seguidores. Piora quando as religiões se imiscuem na sociedade de
forma a influenciar a cultura, a convivência social e a política. Com esse aspecto, acabam influenciando
pessoas não-seguidoras, causando-lhes constrangimento ou impondo resignação cívica. Isso não é
atributo apenas de países muçulmanos como se queira crer. No Brasil toda a cultura está voltada para a
influência católica, incluindo a imposição de feriados religiosos para idolatria de seus santos, ao arrepio
dos direitos dos evangélicos, judeus, ateus, etc.

Em todos os sistemas onde a religião prevaleceu, prevaleceu também o atraso social e intelectual.
Consequentemente, por uma lei natural a nós trazida pela codificação espirita, onde há atraso intelectual
existe evidente atraso moral. Isso destrói a falácia de que as religiões contribuíram para a ordem moral de
forma decisiva. Sim, houve momentos históricos onde a imposição da disciplina religiosa evitou malefícios
de ordem moral por um lado, mas impuseram outros igualmente danosos por outro. E tudo isso porque o
papel das religiões nunca foi de compreender as divindades e sim satisfazer os pontos de vista de quem
se arrogava ao direito de representá-las na Terra.

O próprio Jesus jamais criou uma religião. Muito ao contrário, manteve-se na religião de seus pais, sendo
até coerente com seus ensinamentos de ordem moral, mas completamente afastado da instituição, ao
ponto de tecer-lhe severas críticas. Isso lhe valeu a perseguição pelos próprios judeus.

No entanto, impossível é fazer desaparecer a existência da religião no passado humano. Ao contrário, a


codificação enxergou nela alguma importância histórica. Mas, a mesma codificação não elege nenhuma
das religiões. Não estabelece nenhuma como racional ou verdadeira. Tece críticas também. Porém, na
Lei de Adoração, começamos a entender realmente o que vem a ser essa "religião" de que fala o
Espiritismo. Não se trata de uma instituição, de uma estrutura. A Lei de Adoração faz prevalecer a lógica
do "pensamento religioso", de natureza essencialmente intima e pessoal. Isso não se nega e nem se pode
negar. A codificação conceitua o pensamento religioso ou religiosidade neste paradigma - um movimento
do individuo na compreensão das leis divinas e dos mecanismos que são regidos por Deus. Ponto e
acabou-se. O Espiritismo não é uma religião e os espíritas podem manter um pensamento religioso na
sua relação com Deus, em adoração absolutamente pessoal e reservada, ressalvadas as exceções
coletivas para fins especiais. Isso não requer estrutura, nem instituição.

De resto, a codificação nos fala o tempo todo em entendimento intelectual e moral e prática evolucionária.
Mas, ora, essa mensagem cabe para toda a humanidade. Então, como repetimos sempre ao longo dos
tempos, não há como se estabelecer o Espiritismo como mais uma religião, pois a visão histórica e
cultural sobre as instituições religiosas não agrega pessoas - ao contrário, as separa, as estigmatiza.
Bastam haverem implicações de natureza religiosa em um discurso para um outro grupo repudiar de
imediato. Um "espiritismo religioso", por exemplo, seria repudiado em países islâmicos ou de influência
helênica, ou eslava, ou orientais.

Desapegar o Espiritismo do conceito de religião tão falsamente imposto por influências roustanguistas e
de autores idolatrados no Brasil passa a ser uma questão estratégica para a prática do Bem. Se o espírita
se sente confortável com as lições que aprende, deve, por dever de caridade para com o próximo,
propagar essas lições. Mas, o terreno deve ser da neutralidade das paixões. E religiões são causadoras
de paixões, ou mesmo consequências delas.

Um Espiritismo desalojado do conceito religioso será capaz de motivar mentes especulativas e


investigativas em sua direção. Isso incrementaria o poder científico da Doutrina Espírita, trazendo-lhe
provas de verdade com impactos inexoráveis sobre a sociedade humana. Na verdade, as provas dos
axiomas espíritas revolucionariam todo o conceito que os homens possuem de sua própria existência,
trazendo implicações notórias sobre as relações sociais, sobre a politica e sobre a economia.

Na prática, podemos dizer que se o mínimo axioma for comprovado, passaria a ser de interesse formal de
governos o fomento à pesquisa. Ou não... Não se pode esquecer que qualquer princípio revolucionário
atinge interesses antagônicos. Mas, sabemos que a mudança, quando colocada de forma verossímil e
evolutiva, é inevitável.

Podemos aludir ao impacto cultural que revelações espíritas devidamente comprovadas trariam para
todas as estruturas da sociedade mundial. Muito possivelmente poderia haver confronto com o velho
pensamento. Mas, não é possivel um confronto prolongado com fatos comprovados e científicos. Não foi
possivel a Igreja Católica impedir a realidade da Terra redonda, por exemplo.

Na verdade, o Espiritismo traz um imenso poder que jaz oculto pela inação dos espíritas. Podemos até
mesmo imaginar que a influenciação católica sobre os espiritas não foi fruto do acaso e sim um
movimento bem orquestrado - e eficaz - de se evitar essa revolução cultural, intelectual, moral sobre a
humanidade. É mais uma vez um sistema religioso institucional promovendo o atraso, a estagnação.

Quando espiritas são cúmplices nisso fica a preocupação. Não de estabelecerem-se campos de conflito,
mas da percepção de que a mais poderosa arma para o avanço rápido da humanidade fica enterrada e
enferrujada por quem cedeu ao seu maior inimigo. Sim, as religiões são as maiores interessadas em que
o Espiritismo não se propague. E numa releitura do processo histórico, governos influenciados por
religiões também não poderiam se interessar pela correta divulgação da Doutrina Espirita. Ninguém quer
revoluções quando a situação se adequa aos seus interesses. Quem promove revoluções é quem não se
satisfaz com essa adequação. Deveriam ser os espíritas a promoverem essa revolução, tal qual os
primeiros cristãos. Apenas não precisamos repetir seus erros e cair nos apelos do poder religioso.
Durante 300 anos os cristãos foram poderosos e revolucionários, até o momento em que se enxergou
nisso poder. Daí foi criada a Igreja Católica e tudo ruiu. O sistema revolucionário foi substituído por um
sistema repressor e contra-revolucionário.

A responsabilidade do espírita sempre foi maior do que a superfície permite entrever. Nenhuma revolução
serve para o proprio individuo. Ela se estende obrigatoriamente por todos que estão em volta.
Considerando os avanços possiveis com o Espiritismo, não promover essa revolução é falta de caridade
para com toda a humanidade.

Espiritismo é ciência e filosofia. O Espírita deve se ater a estes terrenos de neutralidade. Estudar,
investigar, instigar, questionar, refletir, buscar a verdade, repudiar os falsos escritos de falsos espíritas,
disciplinar-se na metodologia, traduzir tudo isso na sua prática moral cotidiana na medida de seu
entendimento - isso é fazer a revolução espírita.

Revolução espírita é ato de caridade mundial. Não tem fronteiras. Nem aquelas das próprias limitações
pessoais.

Randy é moderador da comunidade "Eu sou Espírita - Espiritismo" do Orkut e idealizador do NEFCA -
Núcleo Espírita de Filosofia e Ciências Aplicadas.
O Espiritismo está cientificamente demonstrado
12:50 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Egydio Régis

De vez em quando voltamos a ler os velhos compêndios que registram os notáveis trabalhos realizados
por homens de valor histórico, a respeito dos fenômenos espíritas.

É uma pena que nós, os espíritas, não valorizamos como deveríamos, um verdadeiro arsenal de provas
irrefutáveis sobre a realidade desses fenômenos. Ao invés de divulgá-los maciçamente, de modo a
chamar a atenção dos pesquisadores modernos, escondemos esse tesouro sob uma pretensa e
arrogante posição de que esses trabalhos não têm valor científico, porque não foram aplicados métodos e
recursos tecnológicos que hoje são exigidos pelos cartesianos de plantão. Quem teve a coragem de
afirmar que o espiritismo está cientificamente provado? Algum fanático, maluco ou talvez analfabeto?

William Crookes, célebre químico e físico inglês, foi uma das mais vigorosas e fecundas mentalidades
contemporâneas. Nascido em Londres, em 1832, faleceu na mesma cidade em 4 de abril de 1919, tendo
sido nomeado em primeiro escrutínio, em 1863, membro da “Real Sociedade de Londres”. Aos 20 anos,
escreveu trabalhos de grande mérito sobre a luz polarizada; pouco tempo depois descreveu
detalhadamente o espectroscópio, publicando seus estudos sobre os espectros solar e terrestre. Publicou
outros sobre as propriedades ópticas das opalas e deu a conhecer um microscópio espectral; ocupou-se
da densidade da luz e a física lhe é devedora de um fotômetro de polarização. Astrônomo do
“Observatório de Radcliffe”, em Oxford, seus trabalhos sobre meteorologia são notáveis e não o são
menos os de fotografias celestes.

Em 1855, quando apenas tinha 23 anos, fez trabalhos fotográficos sobre a luz, então reputados os
melhores, honrando-o a “Real Sociedade de Londres” com um prêmio em dinheiro, como estímulo para
prosseguir os estudos. Em 1879, expôs no “Bakerian Lecture”, o trabalho sobre a “Iluminação de linhas de
pressão molecular e trajetória das moléculas”, dando-nos a conhecer um estado da matéria de tenuidade
excessiva e do qual apenas se podia formar ideia.

Escreveu, além disso, sobre medicina, higiene e o tratamento da peste bovina, popularizando o uso do
ácido fênico; e várias outras obras, entre as quais “Experiments or Repulsion from Radiation”, “Vacuum
Molecular Physics” e “Select Methods of Chemical Analisys”. Publicou um tratado de análise química, que
é hoje clássico; descobriu o processo de amalgamação com o sódio. Descobriu o “thalium”, novo corpo
simples (elemento químico) levando cerca de oito anos a investigar seu peso atômico. Seus estudos
sobre o quarto estado da matéria ou estado radiante e o radiômetro, bastariam para dar-lhe a reputação
de sábio, que com tanta justiça lhe pertence. Foi presidente da “Royal Society” durante o peíodo de 1913-
1915.” (Afinal Quem Somos? de Pedro Granja - 9ª edição - Edicel).

Reproduzindo acima uma breve biografia de William Crookes, quisemos registrar que o homem que teve
a dignidade de afirmar em pleno Congresso da Associação Britânica, em 1898: “Trinta anos se passaram
desde que publiquei as atas das experiências tendentes a mostrar que, fora dos nossos conhecimentos
científicos, existe uma força posta em atividade por uma inteligência diferente da inteligência comum a
todos os mortais. Nada tenho de que me retratar em relação a essas experiências e mantenho as minhas
verificações já publicadas, podendo a elas acrescentar muita coisa.” E sentencia, do alto de sua
sabedoria e respeitável importância na história da ciência: “O espiritismo está cientificamente
demonstrado” (Trechos citados por Pedro Granja, extraídos da Revue Spirite de fevereiro de 1899 e de
“No Invisível” de Léon Denis). Ele não era nenhum zé ninguém, nenhum pseudocientista ou algum
ficcionista maluco. Quem, no mundo científico de ontem ou de hoje, tem maior gabarito para desmenti-lo?
Quem estudou, pesquisou, procurou reproduzir os mesmos fenômenos e comprovou que os fenômenos
não existiam?

Todos aqueles que tentaram reduzir os fenômenos a embustes, ilusões etc. nunca fizeram trabalhos
sérios de pesquisa. Porque os registros históricos demonstram isso. Grandes sábios dos séculos 19 e 20,
que se puseram a pesquisar os chamados fenômenos espíritas, mesmo com o intuito de “desmascará-
los”, acabaram por se convencer da sua realidade. E, o que é mais importante, não se furtaram em dar
publicamente seu testemunho. São exemplos notáveis: Charles Richet, Cesare Lombroso, Sir Oliver
Lodge, Frank Podmore, Benjamin Franklin, Thomas Alva Edison, Karl du Prel, Frederich Zölner, Alfred
Russel Wallace e tantos outros. Somam-se a mais de uma centena a quantidade de autores que
pesquisaram e escreveram sobre os fenômenos espíritas.

Partindo de uma missão de que foi incumbido pela Royal Society de Londres, por ser ele o mais ilustre
dos componentes dessa entidade científica, William Crookes deveria pulverizar definitivamente os
chamados fenômenos de origem extrafísico, em nome de todo o mundo científico.

Três anos depois das pesquisas com o espírito de Katie King, contrariando todas as expectativas de seus
pares, da imprensa, dos religiosos e dos materialistas, entrega seu relatório à Society, afirmando
categoricamente que os fenômenos investigados são verdadeiros. A repercussão foi, evidentemente, a
mais infame possível. Tentaram ridicularizar e até inventaram uma paixão platônica do sábio pela
médium/espírito. O curioso é que nada conseguiu abalar o prestígio de Crookes, apesar de a Society ter
arquivado o relatório e sobre ele ter deitado um silêncio absoluto. Não houve, ao que consta, nenhum
desmentido ou pronunciamento desautorizando o trabalho do pesquisador. William Crookes continuou
respeitado como cientista e realizou seus notáveis trabalhos após esse episódio.

Charles Richet, fisiologista francês, prêmio Nobel de 1913, estudou e pesquisou os chamados fenômenos
espíritas, com o objetivo de reduzi-los a fenômenos meramente anímicos, isto é, produzidos pelo próprio
indivíduo sem interferência de agentes externos ocultos. Fundador da Metapsíquica, em sua obra
“Tratado de Metapsíquica”, comentando as pesquisas de Crookes afirmou: “Não se pode distinguir o
Crookes do thalium e dos raios catódicos, do Crookes de Katie King”.

Mas, será que as pesquisas de Crookes foram realmente conduzidas com todo o rigor científico? O que
ele era? Um poeta, um filósofo? Era cientista, logo, como procederia um cientista nessas investigações?
Vejamos alguns detalhes do seu trabalho com a médium Florence Cook e com o espírito de Katie King,
extraídos de seu livro “Fatos Espíritas”:

“A médium era a jovem Florence Cook, de 16 anos, baixa, franzina, trigueira, de cabelos quase pretos e
de saúde muito delicada. A aparição tomava o nome de Katie King e revela-se, em plena luz, sob formas
de uma mulher formosa, alta, de tez branca e cabelos loiros, em parte cobertos com uma espécie de
turbante de cor branca que lhe servia de complemento às roupagens habituais. A médium trajava-se
quase sempre de veludo preto.”

Enquanto a aparição passeia livremente pela reluzente sala de jantar, apoiada ao braço de Crookes,
conversando com este, com os filhos, esposa e demais assistentes e convidados, o médium
rigorosamente controlado, jaz no quarto contíguo às escuras, em estado letárgico, deitado sobre um sofá
e separado da sala de jantar por uma cortina ou reposteiro. Em algumas experiências, por exemplo, o
médium estava isolado, fechado num círculo elétrico cujas variações de resistência eram indicadas
pelo galvanômetro que se encontrava junto dos experimentadores. Outras vezes se empregavam
delicados aparelhos, balanças sensivelmente equilibradas, ligadas a alavancas com mecanismo de
relojoaria, controladores elétricos idealizados por Cromwell Varley e outros. Certo dia, quando a
materialização de Katie King surgiu, Crookes pediu-lhe inesperadamente, que metesse as mãos numa
tina preparada com mercúrio onde havia enérgico corante. O galvanômetro, que indicava uma
diminuição na resistência do circuito, à medida que o espírito se formava, não sofreu qualquer
desvio pela imersão das mãos deste na tina com mercúrio, nem as mãos do médium apresentaram
os mais leves vestígios do corante. Observou-se, contudo, que em várias partes do corpo do
médium havia manchas do corante, o que comprova que a materialização é efetuada também à
custa do seu corpo, hipótese esta perfeitamente admitida pela diminuição de peso que ele
experimenta durante a produção de tais fenômenos e pela diminuição da resistência do
circuito.” (Afinal Quem Somos? de Pedro Granja - 9ª edição – Edicel - Grifos nossos.).

“Na semana que precedeu à desaparição definitiva de Katie King, o que se realizou a 21 de março de
1874, Katie deu sessões em casa de Crookes, quase todas as noites, a fim de permitir fotografá-la à luz
artificial. Cinco máquinas, colocadas em diversos ângulos da sala, foram simultaneamente
empregadas para fotografar Katie King no momento em que fazia a aparição. O preparo e
revelação das chapas eram cuidadas pelo próprio Crookes, auxiliado por um assistente. Desta
forma pôde obter quinze chapas, por noite, perfazendo ao todo quarenta e quatro negativos,
alguns excelentes e outros regulares ou medíocres. (Grifos nossos) De todos os presentes, o único
que podia estar de pé e andar por onde lhe aprouvesse era Crookes; os demais deviam permanecer
sentados. Seguia-a, diz Crookes, muitas vezes para o gabinete e vi por várias vezes Katie e o seu
médium simultaneamente; o mais das vezes, porém, só encontrava o médium em estado letárgico; Katie
e o seu fato branco haviam desaparecido. Frequentemente vezes levantei um canto da cortina, quando
Katie estava de pé junto dela. As sete ou oito pessoas que assistiam às experiências viram, então,
nitidamente e ao mesmo tempo, Katie e o médium sob o jato brilhante da luz elétrica. Tenho, afirmou
Crookes, uma prova fotográfica de Katie King e Florence Cook (o médium) em grupo.”

Finalizando este rápido repasse sobre as experiências de Crookes, descrevemos o episódio da despedida
de Katie, fato capital para provar que médium e espírito eram realmente duas personalidades distintas:
“Terminadas as instruções, Katie convidou-me a entrar no gabinete com ela, permitindo-me ficar até o fim.
Cerrada a cortina, conversou comigo algum tempo; depois atravessou a sala para ir ter com o médium,
que jazia inanimado. Inclinando-se sobre ele, Katie tocou-o e disse-lhe: — Desperta, Florence! desperta!
É mister que eu te deixe agora! Miss Cook acordou e, lacrimosa, suplicou a Katie King que ficasse mais
algum tempo. — Não posso, querida, a minha missão está cumprida. Durante alguns minutos
conversaram juntas , até que as lágrimas de Miss Cook lhe embargaram a voz. Seguindo as instruções de
Katie, corri a segurar Miss Cook, prestes a cair, que soluçava convulsivamente. Olhei a seguir em torno,
mas a linda Katie King e o seu vestido branco haviam desaparecido “ (William Crookes – Fatos Espíritas -
editora FEB).

Eloquente e arrasador, como prova inconteste da materialização de Katie, é o depoimento de Florence


Marryat, autora inglesa que escreveu “ There is no Death! e que com Crookes assistiu a última sessão em
que Katie se despediu: “Nessa noite, Katie saiu do gabinete e veio sentar-se nos meus joelhos,
proporcionado-me o ensejo de verificar o quanto era mais graciosa e mais pesada que seu médium. Mas
como em certas ocasiões ela se assemelhava a este último, eu lho observava, e ela, encolhendo os
ombros, respondeu:

— Sei disso, mas não posso impedi-lo. De qualquer modo, fui bem mais formosa na minha última
existência terrena. Logo mais provar-te-ei. Reentrou no gabinete: depois espreitou, às furtadelas, pela
fenda das cortinas, pedindo que me aproximasse. Assim fiz e ela me conduziu para o seu interior.
Observei que os reposteiros eram muito transparentes, de modo que permitiam, à luz a gás, iluminar
suficientemente o interior. O médium jazia sobre um acolchoado, imerso em profundo sono e Katie
desejava ansiosamente que me assegurasse de sua identidade, insistindo para que a tocasse, apalpasse,
apertasse as mãos e lhe puxasse os cabelos. Em seguida, perguntou:

— Estás bem certo de encontrar-te em presença de meu médium? Respondi-lhe que disso estava
absolutamente convicto e ela assim continuou: — Agora, observa-me. Observa o meu rosto, tal qual fui
em vida. Dirigi o olhar para a forma que, momentos antes estivera sentada nos meus joelhos e,
extremamente extasiado, distingui o corpo de uma jovem formosíssima, de grandes olhos azuis ou
cinzentos, pele alvíssima, abundante cabeleira dourada. Katie parecia enlevada com minha surpresa e
sorria, dizendo: — Porventura não sou mais bonita do que minha Florence (o médium)? Levantou-se a
seguir, apanhou uma tesoura sobre a mesa, cortou uma madeixa de seus cabelos e outra dos do
médium e entregou-mas. Ainda as possuo. Os cabelos de Florence são quase negros e parecem
macios como seda; porém, os de Katie são de um vermelho dourado e áspero ao tato.” (Afinal
Quem Somos? de Pedro Granja - 9ª edição – Edicel - Grifos nossos.).

Como podemos ver, não é um bando de malucos, iludidos, que deram seu testemunho baseado em
pesquisas longas, sérias e incontestáveis. Como ainda afirma o próprio Crookes: “Supor que uma espécie
de loucura ou de ilusão domina subitamente um grupo de pessoas inteligentes e sensatas, que estão de
acordo sobre as menores particularidades e detalhes dos fatos, parece-me mais incrível do que os
próprios fatos que atestam.”

Por tudo isso, não temos a menor dúvida em admitir tranquilamente que está mais do que provado
científicamente a existência do espírito independente da matéria , bem como da sua sobrevivência à
morte do corpo. Por que os espíritas, que não devem ter nenhuma dúvida a respeito, porque então não
seriam espíritas, estão preocupados com os outros? Por que preocuparmo-nos com o reconhecimento
dos meios científicos atuais? Ora eles ignoram o trabalho de seus colegas dos séculos passados porque
querem. Após os grandes conflitos mundiais, a primeira e a segunda guerra, praticamente silenciaram as
vozes do além. A comunidade científica dirigiu seus interesses para outras prioridades, quem sabe muito
mais importante para a Humanidade no momento, do que a comprovação do espírito.Necessário se fez,
desenvolver a tecnologia, conhecer mais profundamente o corpo humano de modo a descobrir meios de
cura e melhora de vida. Importante avançar os meios de comunicação, integrar a Humanidade de todo o
globo. O que resolveria proclamar agora a descoberta do espírito? Só para satisfazer o ego dos espíritas?

Hoje, sem dúvida, temos meios tecnológicos infinitamente mais avançados para a realização de um
grande trabalho de pesquisa sobre o espírito. E isso virá a seu tempo, talvez mais rápido do que se possa
imaginar.Mas é preciso pensar qual a utilidade disso, nos dias atuais. Para a economia mundial, não há
maior interesse em investir nessa pesquisa, porque não há retorno , não há lucro. O que dá lucro, é
investir na indústria farmacêutica, na indústria da informática,das telecomunicações, nos transportes,
etc.Como convencer os grandes capitalistas a investir em alguma coisa que não lhes dará retorno
material? Os cientistas de hoje estão engajados e financiados para o desenvolvimento tecnológico e para
os lucros industriais. Alguns físicos, químicos e de outras áreas de projeção, não se arriscam em
trabalhos que não lhe garantam publicação e prêmio Nobel e, infelizmente, esse negócio de espírito é
coisa para religiosos ou místicos.

Leio alguns artigos e escutam alguns jovens espíritas formados em áreas de ciências exatas,
choramingando suas mágoas porque os Centros Espíritas não abrem espaço para pesquisas sobre o
espírito.Desejam descobrir técnicas e métodos científicos atuais, desprezando o que já foi realizado, por
dois motivos, segundo minha opinião: nunca se aprofundaram nos trabalhos já efetuados e citados aqui;
dão mais ouvido aos Quevedos da vida, aos cientístas materialistas, professores cínicos, acomodados ou
submissos ao ranço religioso. É preciso, pois, ter opinião própria, ter coragem de enfrentar os “donos da
verdade”, retomando o trabalho dos antigos, publicando-os, estendendo-os. Procurem médiuns de efeitos
físicos e de materialização, independentemente de centro espírita e façam suas experiências utilizando os
meios tecnológicos modernos. De nada adianta acusar e ficar de braços cruzados. Quer queiram ou não,
a única forma de provar a existência do espírito é através da materialização, já exaustivamente realizada
por sábios do mais alto gabarito.

Termino este modesto trabalho para que sirva de exemplo aos que temem assumir suas convicções,
reproduzindo a magistral resposta de Sir William Crookes aos repórteres que o entrevistaram,
perguntando se ele ainda admitia a possibilidade dos fenômenos, muitos anos depois das pesquisas e no
auge de seu prestígio: “Mas eu não disse que esses fenômenos eram possíveis; o que eu disse e
afirmo é que são verdadeiros”.

Egydio Regis é orador espírita e estudioso do espiritismo. Foi presidente da União Municipal Espírita de
Santos, fundador da Associação dos Centros Espíritas da Baixada Santista e presidente do Centro
Espírita Allan Kardec, de Santos. Atualmente mantém uma coluna sobre a Revista Espírita no jornal de
cultura espírita Abertura, de Santos-SP.

E-mail: egyregis@uol.com.br

Retirado do site PENSE - http://viasantos.com/pense/arquivo/1243.html


Sobre Primeira Geração de Espíritos
12:33 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Nelson Free Man

Quando pensamos em primeira geração de Espíritos, vem-nos à mente qual a condição que estes teriam
para progredir e evoluir na sua escalada para a perfeição. Essa dúvida até é pertinente, ao considerarmos
que o Espírito é criado "simples e ignorante" segundo o esclarecimento que nos deram aqueles que se
manifestaram na elaboração da Doutrina dos Espíritos.

Ao termos a informação de que Deus cria desde sempre, implica associar à criação de espíritos?

Se considerarmos que o Espírito é uma criação Divina, o que é, não implicaria em sua criação desde o
sempre, visto que levaria ao entendimento de infinito, ou seja, concomitantemente com qualquer primeira
criação Divina. A lógica diz que um Espírito, para ser criado, deverá ocupar um lugar qualquer para o seu
progresso. E esse lugar, se refletirmos, é o Universo, necessário ao Espírito criado.

Ao termos a informação de que o Princípio Inteligente é elaborado, sendo, em alguns casos, considerado
como alguma coisa criada, implica que esse Princípio Inteligente, caso fosse criado, o fosse antes do
espírito?"

Essa proposição está interligada, e a resposta estaria no entendimento do que é antes e do que é depois.
Alguns entendem o Espírito como o Princípio Inteligente, o que é um equívoco; são ambos distintos.
Somente depois de elaborado esse Princípio Inteligente, o Espírito passa a ser identificado como o
Princípio Inteligente do Universo.

Ao termos a informação de que os espíritos trabalham nos elementos da Natureza, implica que sejam,
antes, encarnados?"

Podemos fazer uma correlação com o assunto, e julgar esse tão pertinente, quanto entender o trabalho
do Espírito no mundo Espiritual. No mundo espiritual, a lógica nos aponta o início da sua caminhada
progressiva, como espírito simples e ignorante que é, e que não foi criado para a ociosidade, já que está
submetido às Leis Divinas e Naturais.

Como dito no comentário anterior, o Espírito não é o Princípio Inteligente, mas está intimamente a ele
interligado. Com o atributo da inteligência a manipulação de tudo que cerca o Espírito concorre para o seu
progresso. Manipular os elementos da Natureza, com capacidade e observância às Leis Divinas, prepara-
o, por lógica, às encarnações que se sucederão. Entende-se dessa maneira, o porquê dos Espíritos
Superiores delegarem essas tarefas aos espíritos inferiores, o que pressupõe aqueles “simples e
ignorantes”.

Perguntemo-nos, ainda, se a imutabilidade de Deus se desvanece, ao ordenar (por em ordem),


progressivamente suas criações, sendo uma delas, o espírito?

A imutabilidade Divina está nas suas Leis, e a criação é gradativa e progressiva, obedecendo a essas
mesmas Leis. Exemplo disso são as sementes, que após germinarem, geram árvores frondosas, que
darão frutos e mais sementes.

A gradação e o progresso da criação, por obedecerem a leis perfeitas, não alterariam a imutabilidade
Divina, pois tudo está contido nessas mesmas Leis. E assim, nos leva a lógica a entender também a
criação do Espírito. Ele é um processo dentro das Leis Divinas. O que podemos e devemos compreender
é que não há um Deus (antropomórfico) numa fábrica, criando Espíritos.

Perguntaríamos, estudando a codificação Espírita, se a primeira geração de espíritos não tinha, como
todos os demais posteriores, gravados em sua consciência (individualidade) as Leis Divinas e, portanto,
as Leis Morais?

Como a resposta a essa pergunta é unânime pelo "sim", uma vez que essa informação encontra-se ditada
pelos Espíritos da codificação, podemos inferir a possibilidade do progresso e do avanço para a evolução
da primeira geração de Espíritos criados. E, com isso, deixaremos de alimentar a premissa de que um
Espírito de primeira geração não reunisse as condições necessárias para progredir e evoluir.

Outra pergunta que nos vem à mente é se, contemplados pela Doutrina Espírita, já não temos a
informação de que o espírito, pela primeira vez encarnado, não habita um mundo compatível com o seu
nível de conhecimento? Sendo simples e ignorante, a lógica não diz que o seu meio será esse?"

Nesse tema, há que se compreenderem as gradações dos mundos habitados. A inferioridade de um


Espírito, pela lógica, não está circunscrita ao seu progresso moral, somente. Como simples e ignorante,
ele necessita passar pelas tribulações mundanas (físicas e morais).

E isso não implica presumir que a sua encarnação deva ser juntamente com Espíritos que já tenham
experiências reencarnatórias, tampouco que o Mundo no qual ele encarnará tenha os recursos humanos
já produzidos. Bastam-lhe os recursos naturais.

Fonte: NEFCA - Núcleo Espírita de Filosofia e Ciências Aplicadas


Foto: Caverna de Lauscaux na França
Quando o mundo despertou
14:51 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Octávio Caúmo Serrano

Embora os fenômenos sempre fossem abundantes, havia um total desconhecimento das leis da natureza
e as ações do plano divino eram tomadas por sobrenaturais. Tudo muito místico e apavorante. Com a
chegada do Espiritismo, iniciado na obra que conhecemos como “O Livro dos Espíritos”, tudo passou a
ser natural e analisado pela lógica do pensamento. Evidentemente, dentro das possibilidades de cada um,
ainda restritos que somos pelas limitações humanas.

O pouco que já sabemos, contudo, enaltece e explica a assertiva de Jesus que nos orientou dizendo que
o conhecimento da verdade seria a libertação. Por isso cientistas do porte de Isaac Newton dizem que “o
que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano”.

Com a chegada do Espiritismo, apesar das limitações que nos impedem a sua total compreensão,
sabemos, ao menos, que Deus não comete injustiças e que ninguém no solo do planeta está pagando
dívidas que não contraiu. Cada um deve ressarcir a lei individualmente, para quitar suas contas passadas
e incorporá-las como experiência de aprendizado, a verdadeira sabedoria que o homem conquista e que
quase nunca pode ser obtida nos bancos acadêmicos. Esses dão a informação, o conhecimento, mas não
a sapiência, porque ela é produto da experimentação pessoal e cada um deve buscá-la por si próprio.

Com as revelações espíritas, o pânico da morte foi amenizado, embora ainda não estejamos em
condições de compreendê-la por inteiro. Mas a morte, como perda do bem mais precioso – a vida – e a
separação definitiva daqueles a quem amamos, já é crença do passado. A morte espírita é o prêmio que
recebemos por cumprir a pena que nos competia no vale das aflições purificadoras neste purgatório da
encarnação. É o final da pena da clausura que nos dá direito à liberdade. Numa expressão comum, é a
volta para casa depois de perigosa viagem ao covil dos habitantes dos mundos atrasados.

Com a chegada do Espiritismo, passamos a ser o primeiro herdeiro de nossa herança, o primeiro médico
para a nossa doença e o primeiro doutrinador para as nossas perturbações espirituais. A função do
Espiritismo, basicamente, é o combate ao materialismo, para que possamos produzir com os bens da
Terra os tesouros do céu, aquele que o ladrão não rouba. O nosso real acervo e a nossa verdadeira
propriedade, conforme consta do capítulo XVI, item 9 de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

Com a chegada do Espiritismo, riqueza e pobreza, inteligência e idiotia, beleza e fealdade passaram a ser
simples consequências de encarnações que já vivemos, nas quais fomos descuidados quanto ao que nos
competia no progresso individual e também no coletivo. Como herança do passado, vivemos o presente.
Tomara tenhamos cuidado para fazer do presente um mais agradável futuro.

Ao aprender que somos um espírito eterno que nada pode destruir, e que todo o conhecimento que
acumulamos é patrimônio inalienável e jamais nos será tirado, seja qual for o regime de governo, a luta
vale mais a pena e deve ir até o último dia de vida na matéria, independente dos obstáculos a serem
vividos. Se conseguirmos adquirir uma virtude nesta encarnação, por exemplo, a paciência, seremos
criaturas pacientes por toda a eternidade.

A confirmação do que dizemos está na questão 894 de “O Livro dos Espíritos”. Quando indagaram dos
superiores: “As pessoas que fazem o bem espontaneamente, sem que tenham de lutar contra nenhum
sentimento contrário, têm o mesmo mérito que as que têm de lutar contra sua própria natureza e superá-
la?, a resposta foi que “Só não precisam lutar os que já progrediram; lutaram anteriormente e triunfaram.
Por isso os bons sentimentos não lhes custam nenhum esforço e suas ações parecem tão simples; para
eles, o bem se tornou um hábito. Portanto, deve-se honrá-los como a velhos guerreiros que conquistaram
suas graduações”.

“Como vocês ainda estão longe da perfeição, esses exemplos os assustam pelo contraste e tanto mais
admiram quanto mais raros são. No entanto, saibam que nos mundos mais adiantados que o seu o que
entre vocês é exceção lá é regra. Nos mundos adiantados, o sentimento do bem se encontra por toda
parte, de maneira espontânea, porque são mundos habitados apenas por Espíritos bons e uma única má
intenção seria uma monstruosa exceção. Esta é a razão porque lá os homens são felizes. E assim será a
Terra quando a humanidade for transformada e quando compreender e praticar a caridade em sua
verdadeira acepção.”

Aprendemos que nossos erros são nosso carrasco e nossos acertos o nosso advogado no dia do
julgamento final, independente das alegrias ou problemas que nos causem já nesta mesma encarnação.
Para quem não acredita na continuidade da vida e na necessidade da volta reparatória pelo verdadeiro
perdão de Deus que é a reencarnação, o caminho é mais penoso, embora todos um dia compreenderão
essas verdades porque têm no íntimo de sua alma a centelha que os identifica como filhos do Criador.
Para nós, todavia, o caminho pode ser mais suave se além de crermos nos decidirmos a viver de acordo
com o que já conhecemos.

18 de abril de 1857, data da proclamação da independência da humanidade. Ninguém mais está preso a
algo que não queira, a menos que insista em sofrer apesar de toda a liberdade que tem para ser feliz. O
missionário francês que fez a ligação entre Deus e os homens, com a intermediação dos Espíritos
Superiores, num gesto de humildade usou o pseudônimo Allan Kardec para assinar “O Livro dos
Espíritos”, esta extraordinária obra que é a carta de alforria para todas as criaturas. Que Deus o abençoe
e o recompense.
A Emancipação da Mulher e o Espiritismo
22:23 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Jaci Regis

Os avanços na emancipação da mulher foram conquistados por elas mesmas, a custo de muita
controvérsia, ataques e incompreensões. Estamos falando da cultural cristã, ocidental.

Como foi possível pensar-se que haveria harmonia no mundo, que atingiríamos um patamar de civilização
superior, deixando de lado, excluindo, mais da metade dos seres humanos?

As conquistas das mulheres rompem com um paradigma ignóbil, secular, através de todas as culturas.
Todavia, a Igreja cristã não rompeu com as pressões culturais e o cristianismo não criou, quando se
implantou, condições para que as mulheres tivessem acesso à cultura, ao poder e ao saber. Ao contrário,
as reprimiu.

A mulher, sob o ponto de vista da moral cristã e, certamente, também pela cultura islâmica, é considerada
a serpente que instalou o pecado no mundo. Adão, na teologia, foi influenciado por Eva e esta é quem,
afinal, precipitou a expulsão do Paraíso pelo administrador, Jeová. A Igreja chegou a duvidar se a mulher
tinha alma.

A sexualidade está no meio dessa tragédia. Objeto sexual dos homens, as mulheres sempre estiveram
presentes na história, ora como heroínas, ora como prostitutas, a mais das vezes como prostitutas,
mesmo sem sê-lo, sempre que rompiam certos primados moralistas e colocavam em cheque o poder
masculino.

Os marcos do processo de emancipação feminina no Ocidente:


1. Direito a votar
2. Educação em todos os graus
3. Profissionalização, a princípio para determinadas profissões e, hoje, sem barreiras.
4. Liberação sexual
5. Participação política, social e empresarial.

As estruturas culturais estabelecem certos primados que se cristalizam nas mentes e permanecem
através dos tempos, produzindo comportamentos que tornam o injusto em justo, os insensatos em
sensatos. A divisão do trabalho entre homens e mulheres, embora não uniforme em todas as culturas,
privilegiou o homem e concebeu uma forma de dominação a qual, devido às pressões culturais e
religiosas, foi absorvida, aceita e transmitida, mesmo pelas próprias mulheres.

Por isso, sempre que esse modelo é rompido, instala-se a inquietação; as mudanças de paradigmas
confundem e abrem, para a maioria, em determinado momento, um abismo de dissolução social, de
perda de limites.

Com o tempo, quase sempre, as coisas se acomodam, com largo período de transição em que o
rompimento se transforma em transgressão, dando oportunidade à exaltação de certos instintos
reprimidos.

Hoje, nos regimes muçulmanos, a mulher é objeto sexual e reprimida, inclusive com chicotadas, com a
obrigação de cobrir o corpo.

Mas a cultura ocidental também discriminou o corpo. Objeto de censura pela Igreja, estabeleceu uma
dicotomia entre alma e corpo. Este, devido a ser veículo da sexualidade, foi considerado objeto de
concupiscência, de pecado. Escondê-lo, não tocá-lo mesmo, em algumas situações, era providência de
salvaguarda do pecado.

O corpo da mulher, especialmente, foi objeto de ordenações moralistas, incluídas em livros sagrados das
religiões.

A partir do término da Segunda Guerra Mundial, todavia, o corpo da mulher foi cada vez mais exposto, até
chegar à nudez completa em teatros, televisão, cinema e revistas, quando não em público comum.

A emancipação de grande parte das mulheres ocidentais, porque há muitas ainda sob o regime
repressivo, direto ou indireto, aceito e concedido por sociedades específicas, marca o desenvolvimento da
cultura dos países do Ocidente.

Fatalmente chegará às culturas islâmicas e, mais tarde, à africana, incluindo aí também o mundo asiático,
tão cheio de nuanças e labirintos comportamentais.

Lembremo-nos de que na China, por exemplo, nascer mulher é um estorvo que justifica o sacrifício de
meninas ou seu abandono. No resto da Ásia, a mulher perambula entre o Islamismo e crenças múltiplas,
que chamaremos para simplificar, de budistas, onde o casamento é um negócio entre famílias e a mulher
objeto, precisando, em muitos casos, de dotes para conseguir um marido.

Na África, a mutilação do clitóris nas meninas é produto da ignorância e da negação do prazer às


mulheres. Aliás, a negação do prazer sexual da mulher foi prática adotada também pela cultura ocidental,
que pregava que o orgasmo feminino era sinal de inferioridade moral.

A emancipação da mulher, como vimos, não é simples questão de progresso social e libertação de uma
grande parte do gênero humano. Implica em mudanças radicais nas estruturas sociais, familiares,
religiosas e humanas. Resulta na inclusão e modificação de costumes, leis, formas de relação, direitos e
deveres.
PODERIA SER PIONEIRO, MAS...

O Livro dos Espíritos, em 1857, consagrou a emancipação da mulher como sinal de progresso da
civilização. Mas, poderemos afirmar que a emancipação da mulher é que produz o progresso, pelo menos
em grande parte.

822-a – De acordo com isso, para uma legislação ser perfeitamente justa deve consagrar a igualdade de
direitos entre o homem e a mulher?

– De direitos, sim; de funções, não. É necessário que cada um tenha um lugar determinado; que o
homem se ocupe de fora e a mulher do lar, cada um segundo a sua aptidão. A lei humana para ser justa
deve consagrar a igualdade de direitos entre o homem e a mulher; todo privilégio concedido a um ou a
outro é contrário à justiça. A emancipação da mulher segue o processo da civilização, sua escravização
marcha com a barbárie. Os sexos, aliás, só existem na organização física, pois os Espíritos podem tomar
um e outro, não havendo diferenças entre eles a esse respeito. Por conseguinte, devem gozar dos
mesmos direitos.

A questão 822-a deve ser analisada em duas partes. A primeira é contextual. Refere-se ao momento
social, político e religioso da época, pois ao estabelecer as funções do homem e da mulher de forma tão
radical, está superada pelos fatos.

A segunda, ao contrário, é permanente, universal. Trata da emancipação da mulher como direito


adquirido a ser reconhecido, necessariamente, como sinal de progresso e civilização.

Infelizmente o movimento espírita, cuja identidade jamais foi realmente libertadora, por copiar, absorver e
aceitar as diretrizes da cultura cristã, não promoveu, pioneiramente, a emancipação da mulher. Basta ver
alguns exemplos.

Em 1939, respondendo a uma série de questões, o espírito Emmanuel, tido como o orientador do
movimento espírita brasileiro, deu respostas que integraram o livro “O Consolador”, no qual sedimenta o
desejo, de roustainguistas e cristãos, em transformar o Espiritismo numa religião e onde, de modo geral,
desconhece a orientação de Kardec.

Inquirido sobre o movimento feminista, na questão 67, ele afirma: “A ideologia feminista dos tempos
modernos, porém, com suas diversas bandeiras políticas e sociais, pode ser um veneno para a mulher
desavisada dos seus grandes deveres espirituais na face da Terra. Se existe um feminismo legítimo esse
deve ser o da reeducação da mulher para o lar, nunca para uma ação contraproducente fora dele. É que
os problemas femininos não poderão ser solucionados pelos códigos do homem, mas somente à luz
generosa e divina do Evangelho.”

Seguindo essa orientação, o movimento espírita, em geral, fixou-se em pontos hoje superados e o foram
pela força da opinião pública, pelo esforço de “materialistas” e contra as pressões da Igreja e outras
religiões, inclusive o Espiritismo cristão.

Na questão 189 do mesmo livro, respondendo sobre “O que deve fazer a mãe terrestre para cumprir
evangelicamente os seus deveres, conduzindo os filhos para o bem e para a verdade?” Emmanuel,
depois de enumerar algumas das tarefas sacrificiais e superlativas que a mãe deveria desempenhar,
conclui: “Buscará na piedosa Mãe de Jesus, o símbolo das virtudes cristãs, transmitindo aos que a
cercam os dons sublimes da humildade e da perseverança, sem qualquer preocupação com as glórias
efêmeras da vida material.”

A figura da Virgem Maria foi tomada pela Igreja como símbolo de perfeição, de virtudes excelsas, enfim,
como o exemplo maior a seguir, sexual e mundanamente.

Esse modelo infelicitou as mulheres e foi usado machistamente pelos poderes da religião católica para
sufocá-las, tanto quanto o Alcorão tem sido usado para mantê-las à margem da sociedade, sob o tacão
do homem.

Vejamos algumas posições do movimento espírita sobre a questão feminina:

Divórcio – Embora Kardec já o aceitasse, os religiosos espíritas sempre foram contra. Alegaram que
todos os casamentos eram preparados antes da encarnação e tinham no bojo o compromisso de resgatar
erros do passado, devendo, pois, serem mantidos a qualquer custo.

Controle da Natalidade – Os religiosos espíritas se postaram contra, por ferir a lei divina e acreditavam
que o número de filhos teria sido combinado antes da encarnação e que o casal não temesse que fora
desse limite não teria filhos. Por isso a pílula anticoncepcional foi rejeitada. Só passou a ser aceita
quando Frâncico Cândido Xavier, no famoso programa da TV Tupi, Pinga Fogo (1971), foi a favor.

Sexualidade em Geral e da Mulher em Especial – As análises são geralmente moralistas e fora do


contexto real. Vicejaram nos meios doutrinários as mesmas histórias sobre o papel da mulher como
regeneradora do homem.

Lembro-me de uma historiazinha, creio que num folheto editado pela Federação Espírita Brasileira (FEB),
na qual a cena se passa numa estrada onde um homem preguiçoso estava deitado, enquanto uma
mulher passava levando um fardo. Um observador perguntou ao Instrutor qual seria o destino daquela
mulher. E ele disse: casar-se com o preguiçoso para regenerá-lo.

Poderíamos chamar o movimento espírita de machista e as mulheres espíritas, até algum tempo atrás (e
quantas já se libertaram?) de acomodadas com as histórias dos erros da vida passada, com a
conformação com casamentos castradores em nome do resgate de dívidas.

Esse engessamento da vontade é contrário à Lei Divina.

Claro que sempre se falou do livre-arbítrio, mas com o dedo em riste sobre as consequências da
liberdade. Por isso, ainda hoje se diz que é melhor aguentar o peso da frustração para gozar no Além ou
em outras encarnações.

ENSINO ATUAL, MAS...

Os ensinos espíritas, de modo geral, são muito atuais. O problema tem sido a sua interpretação, muito
conforme os princípios do cristianismo, por sua natureza castradora da mulher. Na Igreja, só os padres
têm o poder divino. As mulheres eram servas e, muitas, desterradas pela falsa fé aos conventos
carmelitas onde se privaram do ar, da vida, da sexualidade, do amor, para perder-se em orações
infindáveis por onde tentavam canalizar a energia vital reprimida.

Não podemos esquecer o quadro das realidades espirituais que as múltiplas vidas nos apresentam. Mas
aprisionar o Espírito a possíveis erros e “pecados” do passado é castrá-lo e é, por fim, uma atitude
negativa.

De modo geral, o movimento espírita é conservador no sentido de que se separa da realidade existencial,
política e humana, centrando-se no comércio com os mortos, na assistência social e na evangelização, no
seu sentido mais estrito de salvação e superação pela privação dos problemas da alma.

As palestras são de modo geral superficiais e doutrinantes.

Allan Kardec disse que pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de
suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer
outra doutrina a secundar o movimento de regeneração. (A Gênese - cap. XVIII, item 25).

Das duas uma: ou Kardec estava delirando, pensando num Espiritismo atuante, progressista e
revolucionário ou os dirigentes espíritas não têm capacidade, disposição ou cultura para entender o que
ele pretendeu para a Doutrina.

Fonte: Jornal de Cultura Espírita “Abertura” - dezembro de 2001, ano XIV, nº 166 - Santos-SP.

Jaci Regis (1932-2010), psicólogo, jornalista, economista e escritor espírita, foi o fundador e presidente
do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS), idealizador do Simpósio Brasileiro do Pensamento
Espírita (SBPE), fundador e editor do jornal de cultura espírita “Abertura” e autor dos livros “Amor,
Casamento & Família”, “Comportamento Espírita”, “Uma Nova Visão do Homem e do Mundo”, “A Delicada
Questão do Sexo e do Amor”, “Novo Pensar - Deus, Homem e Mundo”, dentre outros.

Retirado do site Via Pense - http://viasantos.com/pense/arquivo/1318.html

O Rustenismo nas obras de Chico Xavier


13:45 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT
Por Sérgio Aleixo

O rustenismo é deturpação perigosa, porque se alastra sorrateiro, não em suas obras principais, mas
mediante livros psicografados por Chico Xavier. Conforme prevê o assim chamado “Pacto Áureo”
(05/10/1949), “cabe aos espíritas do Brasil porem em prática a exposição contida no livro Brasil, Coração
do Mundo, Pátria do Evangelho, de maneira a acelerar a marcha evolutiva do Espiritismo”. Pois bem! Isto
passou ao art. 63 do estatuto da Casa-Máter do rustenismo no mundo, que registra:

O Conselho [Federativo Nacional da F.E.B.] fará sentir a todas as sociedades espíritas do Brasil que lhes
cabe pôr em prática a exposição contida no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de
Francisco Cândido Xavier.

Entre outras piadas de além-túmulo, no capítulo I desta obra, “a amargura divina” de Jesus “empolga”
toda uma “formosa assembleia de querubins e arcanjos” e ele, “que dirige este globo”,[1] não sabe sequer
onde é o Brasil. Não bastasse isto, no cap. XXII, o confuso Roustaing emerge do estatuto da F.E.B. para
ser equiparado a L. Denis e a G. Delanne, figurando adiante destes na condição de cooperador de Kardec
para “o trabalho da fé”. Subsiste ainda o questionamento levantado por Julio Abreu Filho em O Verbo e a
Carne, isto é, por que Humberto de Campos se referiu a Roustaing, Denis e Delanne em Brasil, Coração
do Mundo, Pátria do Evangelho de 1938 e, no livro Crônicas de Além-Túmulo, de 1937, reportou-se tão só
a Denis e Delanne?

Em O Consolador, de Emmanuel, há, igualmente, certas estranhezas. Será que houve, então, uma
afronta à integridade conceitual do movimento espírita, do tipo “pílula dourada”, sob a chancela do
trabalho do médium de maior projeção dos últimos tempos? Foi isto à revelia dele ou, por outra, com sua
anuência? Mas como provar qualquer hipótese? Da própria F.E.B., em 1942, Chico Xavier recebeu a
informação de que seus originais, após publicação, eram inutilizados por aquela instituição.[2]

A contradição seguinte parece mesmo sugerir o douramento da pílula rustenista na obra de Chico Xavier:
o problema do Espírito Santo, expresso nos ns. 303 e 312 de O Consolador. O Espírito Santo não pode
ser “a centelha do espírito divino, que se encontra no âmago de todas as criaturas” e, a um só tempo,
uma “falange de Espíritos”. Só a primeira resposta, à questão 303, faz sentido à luz do Evangelho e da
codificação kardeciana. Já a segunda, à pergunta 312, reflete o rustenismo e, se for interpolação febiana,
que ironia, porque se esmera em elucidar outra interpolação, mas bíblica.
O texto oferecido pelo interlocutor da F.E.B. (negritado abaixo), conforme parecer insuspeito do tradutor
da Bíblia de Jerusalém (Paulinas, 1985), apresenta “um inciso ausente dos antigos manuscritos gregos,
das antigas versões e dos melhores manuscritos da Vulgata, [...] uma glosa marginal introduzida
posteriormente” em 1.ª João, cap. 5, vv. 7-8, onde se lê: “Porque há três que testemunham [no céu: o
Pai, o Verbo e o Espírito Santo, e esses três são um só; há três que testemunham na terra]: o espírito,
a água e o sangue, e esses três são um só”.

Portanto, o interlocutor febiano, no n. 312 de O Consolador, driblou a parte do texto bíblico que se refere
ao testemunho de Jesus em “espírito, água e sangue”, para só se referir à glosa marginal, ensejando a
Emmanuel esta interpretação da Trindade: “Pai” => Deus, “Verbo” => Jesus, e “Espírito Santo” => “legião
dos Espíritos redimidos e santificados que cooperam com o Divino Mestre, desde os primeiros dias da
organização terrestre”. Definição tipicamente rustenista do Espírito Santo, assim como, por vezes, do
Espírito da Verdade e mesmo do Consolador: “conjunto dos Espíritos puros, dos Espíritos superiores e
dos bons Espíritos”; ou “falange sagrada dos Espíritos do Senhor”.[3]

Há, no entanto, um prefácio amistoso de Emmanuel ao livro Vida de Jesus, de Antonio Lima (F.E.B.) Na
obra é defendida a tese do corpo meramente fluídico do Cristo. Da mesma forma em relação a Brasil,
Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que menciona Roustaing ao lado de Delanne e Denis como
cooperador de Kardec, e que é prefaciado por Emmanuel. Sobre A Grande Síntese, de P. Ubaldi, escritor
que reeditou a queda angélica e a involução como pressuposto para a evolução, postulados afins do
rustenismo, o jesuíta disse:

Aqui, fala a Sua Voz [de Jesus] divina e doce, austera e compassiva. [...] é o Evangelho da Ciência,
renovando todas as capacidades da religião e da filosofia, reunindo-as à revelação espiritual e
restaurando o messianismo do Cristo, em todos os institutos da evolução terrestre. Curvemo-nos diante
da misericórdia do Mestre e agradeçamos de coração genuflexo a sua bondade. Acerquemo-nos deste
altar da esperança e da sabedoria, onde a ciência e a fé se irmanam para Deus.[4]

Ante um comunicado destes, natural é que alguns mais exaltados digam que Kardec foi superado por
Ubaldi. Quanto a este pensador italiano, ao indigesto Roustaing e até ao excêntrico Ramatis, será que
adeptos de suas doutrinas heterodoxas podem ter pleiteado para publicações afins o “aval” dos já
cultuados instrutores de Chico Xavier, na intenção de facilitar a infiltração de tais obras no movimento
espírita? E Chico? Analisava tudo? Infelizmente, não. Ele dizia que não era da sua competência entrar na
apreciação sequer dos livros que psicografava, sendo um simples “animal de carga”.[5] E os Espíritos que
davam os “avais”? Eram mesmo os seus guias? Em caso positivo, são confiáveis?

Normal é que o estudioso se reserve o direito de duvidar, até porque a codificação kardeciana assegura
que “o melhor [médium] é o que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido enganado menos
vezes”, assim como preconiza que, “por melhor que seja um médium, jamais é tão perfeito que não tenha
um lado fraco, pelo qual possa ser atacado”.[6] Kardec já advertira também: “Pelo próprio fato de o
médium não ser perfeito, Espíritos levianos, embusteiros e mentirosos podem interferir em suas
comunicações, alterar-lhes a pureza e induzir em erro o médium e os que a ele se dirigem”. Consignara o
mestre que este é, sim, “o maior escolho do Espiritismo” e que o meio determinante para evitá-lo é o
“discernimento”; e por quê? Kardec assim responde:
As boas intenções, a própria moralidade do médium nem sempre são suficientes para o preservarem da
ingerência dos Espíritos levianos, mentirosos ou pseudossábios, nas comunicações. Além dos defeitos de
seu próprio Espírito, pode dar-lhes guarida por outras causas, das quais a principal é a fraqueza de
caráter e uma confiança excessiva na invariável superioridade dos Espíritos que com ele se
comunicam.[7]

O problema, todavia, é mais complexo, transcende a simetria óbvia entre a F.E.B. e a obra de Roustaing.
Não constitui rustenismo a doutrina das almas gêmeas, que, segundo Emmanuel, são criadas umas para
as outras e umas às outras destinadas na eternidade, contrariando o comentário kardeciano ao n. 303-a
de O Livro dos Espíritos, que diz: “É necessário rejeitar esta ideia de que dois espíritos, criados um para o
outro, devem um dia fatalmente reunir-se na eternidade”. A F.E.B. até questionou o ensino das almas
gêmeas na obra O Consolador, ali o deixando, contudo, a pedido do próprio jesuíta.[8]

Quanto a isto, já não faz o menor sentido a hipótese de interpolação da Casa-Máter por força do
rustenismo, que nunca professou a existência de almas gêmeas, assim como jamais disse, por exemplo,
que Marte é mais avançado em civilização do que a Terra, ou que os exilados adâmicos vieram de um
suposto orbe não purificado física e moralmente, que guarda muitas afinidades com nosso mundo e
orbitaria o “magnífico sol” Capela; na verdade, segundo a astronomia, um sistema de sóis com ausência
de planetas.[9]

De fato, consta que Emmanuel teria dito a Chico Xavier que deveria permanecer com Jesus e Kardec
caso lhe aconselhasse algo em desacordo com as palavras de ambos.[10] Mas nenhum ensino contrário
a Kardec deixou de ser publicado por essa razão. Eis o fato.[11] De mais consistente lógica e de melhor
proveito à clareza analítica, portanto, é que se atribua ao próprio Emmanuel tudo aquilo que dos seus
livros conste. Só Chico Xavier teve o poder de dirimir as dúvidas, mas nunca o fez, nunca levantou uma
suspeita sequer sobre a F.E.B.; ao contrário, não é difícil encontrar-lhe pronunciamentos com os mais
efusivos aplausos à Casa do “Anjo” Ismael, assim como ao grande J. Herculano Pires, maior opositor do
rustenismo febiano. O médium sempre aparece ao lado de todos os partidos.

De tudo, restam os objetos, milhares de milhares de livros, o papel e a tinta, a confusão nas estantes,
sempre bem acessível aos neófitos que chegam às casas espíritas e aos incautos leitores em busca de
um Consolador que lhes dê milagrosas respostas. Só se pode julgar do que foi publicado. Eis a verdade.
Cabe, pois, aos espíritas atentos a apreciação rigorosa de toda obra mediúnica, segundo os padrões de
Kardec. Este deve ser o procedimento dos adeptos estudiosos, e a produção atribuída a qualquer Espírito
não pode nem deve escapar a isso, seja quem for ou quem se diga ser.

Não passa de temeridade, com lamentáveis consequências já em curso, a ideia de que não se deve agir
deste modo para não confundir ou chocar os simples. Na prática, isto é licitar ao Espiritismo que erros
manifestos sejam arrolados à conta de patrimônio das consolações que prodigaliza a seus adeptos.

Encaminhemos os simples à segurança e pureza da fonte original do Espiritismo, à codificação


kardeciana, em vez de entretê-los com equívocos que, mais tarde, os surpreenderão desprevenidos e,
quem sabe, os convidarão à apostasia. O que disse Erasto a Kardec?

Deve-se eliminar sem piedade toda palavra e toda frase equívocas, conservando no ditado somente o
que a lógica aprova ou o que a Doutrina já ensinou. [...] Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos
antigos provérbios. Não admitais, pois, o que não for para vós de evidência inegável. Ao aparecer uma
nova opinião, por menos que vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica. O que a
razão e o bom-senso reprovam, rejeitai corajosamente. Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir
uma única mentira, uma única teoria falsa. Com efeito, sobre essa teoria poderíeis edificar todo um
sistema que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento construído sobre a areia
movediça.[12]

Para o movimento espírita, no entanto, isto não há passado de meras frases de efeito, inseridas em
retóricas quase sempre desmentidas pelo cotidiano institucional da maior parte dos adeptos do
espiritismo à moda da Casa-Máter do rustenismo. Sobre o assunto espinhoso deste capítulo, decerto que
muito a propósito são as reflexões de nosso valoroso confrade Artur Felipe de A. Ferreira, em seu artigo
“De Que Lado Está Emmanuel?”.[13]

[1] Revista Espírita. Jan/1864. Um Caso de Possessão. Senhorita Júlia. Nota: O sábio Hahnemann é
quem afirma ali que o Espírito de Verdade dirige este globo, ou seja, a Terra.
[2] Cf. SCHUBERT, Sueli Caldas. Testemunhos de Chico Xavier, p. 23-24. Apud DA SILVA, Gélio
Lacerda. Conscientização Espírita. Chico Xavier, Emmanuel e a F.E.B.
[3] Os Quatro Evangelhos. Vol. I, n. 9; Vol. II, n. 187; Vol. IV, n. 1. Nota: Quanto ao Espírito da Verdade, é
curioso, o rustenismo muito se divide, porque subsiste na obra a instrução dos bons Espíritos que, em
Bordéus — na casa de Roustaing e na de Sabo —, chegaram a revelar que se tratava de Jesus, como o
próprio advogado fez questão de consignar a Kardec, bem antes do cisma que promoveria. (Cf. Revista
Espírita. Jun/1861. Correspondência.) Evidentemente, os Espíritos que passaram a substituir os
Iniciadores se valeram de uma autêntica revelação destes para impor aos bordeleses mais incautos
lamentáveis sistemáticas a título de comandos do Cristo, de Moisés, dos evangelistas, de Maria e dos
apóstolos. J.-B. Roustaing, infelizmente, faliu ante provável missão que não chegou a cumprir, tornando
um pouco mais árdua a gigantesca tarefa do gênio lionês. Não foi sem motivo que disse o mestre sobre o
livro rustenista: “[...] ao lado de coisas duvidosas, em nosso ponto de vista, encerra outras
incontestavelmente boas e verdadeiras, e será consultada com proveito pelos espíritas sérios [...]”.
(Revista Espírita. Jun/1866. Os Evangelhos Explicados.)
[4] Ob. cit. 18.ª ed. Trad.: Carlos Torres Pastorino e Paulo Vieira da Silva. Vol. II.
[5] Cf. Emmanuel. 15.ª ed., F.E.B., Prefácio, p. 21. Cf. DVD Pinga-Fogo 2. Clube de Arte. Cf. ALEIXO.
Ensaios da Hora Extrema. Não Há Médiuns Infalíveis.
http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2011_02_21_archive.html.
[6] O Livro dos Médiuns. XX, 226, 9.ª e 10.ª
[7] Revista Espírita. Fev/1859. Escolhos dos Médiuns.
[8] Cf. n. 323 e nota à primeira edição.
[9] Cf. Emmanuel, “A Tarefa dos Guias Espirituais”. A Caminho da Luz, cap. 3. Cf. ALEIXO. Ensaios da
Hora Extrema. Kardec e os Exilados.
http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010_03_29_archive.html
[10] Diálogo dos Vivos [em parceria com Herculano Pires], cap. 23: Permanecer com Jesus e Kardec.
[11] Cf. ALEIXO. Ensaios da Hora Extrema. Léon Denis, Emmanuel e as Almas Gêmeas; Mística
Marciana e Segurança Doutrinária; Kardec e os Exilados; Sobre André Luiz.
http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/.
[12] O Livro dos Médiuns, 230.
[13] http://coerenciaespirita.blogspot.com/2008/10/de-que-lado-est-emmanuel.html
Fonte: O Primado de Kardec - http://oprimadodekardec.blogspot.com/2011/02/capitulo-13-o-
rustenismo-nas-obras-de.html

A Postura de Kardec
13:39 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

Pode-se ler em Os Quatro Evangelhos de J.-B. Roustaing — Resposta a seus Críticos e a seus
Adversários [1883] que o próprio advogado de Bordéus admitiu ser a análise de Kardec, na Revista
Espírita de junho de 1866, “o mais belo enterro de primeira classe que se pudera desejar” para a
Revelação da Revelação.[1]

O parecer de Kardec julgou prolixo o livro que o advogado bordelês lhe remetera já desde sua
apresentação original, em três volumes. O mestre disse: “A nosso ver, se a obra se tivesse limitado ao
estritamente necessário, poderia ter sido reduzida a dois, ou mesmo a um só volume, com isso ganhando
em popularidade”. E ainda assim a F.E.B. houve por bem publicá-la em quatro tomos. Prova do quanto
valiam para alguns de seus diretores as sábias orientações de Allan Kardec.

Em face da crítica meridiana do mestre lionês, os volumes em exame foram considerados pela quase
totalidade dos espíritas, no dizer do próprio Roustaing, “uma obra inútil”.[2] Este, o real motivo do
descontrole do advogado bordelês e de seus discípulos ao acusarem o Codificador da Doutrina Espírita
— pasmem — de autoritarismo, ostracismo, infalibilidade e até falsa sabedoria, ignorância.[3]

Em janeiro do ano de publicação da Resposta rustenista a seus críticos e adversários desencarnou a


viúva de Kardec. Nem estas ilustres memórias os discípulos de Roustaing foram capazes de respeitar. O
advogado bordelês partira já em 1879. Quatro anos antes. Enquanto entre os vivos estiveram Kardec e
sua doce Gabi, aqueles dissidentes declarados não ousaram enfrentar-lhes o que teria sido a merecida
réplica, que coube, por fim, ao Jornal Le Spiritisme, da União Espírita Francesa, com a edição de J.-B.
Roustaing perante o Espiritismo — Resposta a seus discípulos.

Esta réplica do Le Spiritisme se encontra sem tradução para o vernáculo porque, aos viajados rustenistas,
não interessou tal publicação, a eles que se dizem tão interessados na grandeza da Causa Espírita. Que
publiquem este histórico contraditório da União Espírita Francesa e mostrem ao menos esta nesga de
amor à História do Espiritismo sem o vil desejo de reescrevê-la a favor de sua seita dissidente.

O debate sério era procedimento habitual do Codificador; ao contrário do que acontece nos meios
paroquianos do movimento espírita, esquecidos do Kardec histórico. Os seguintes tópicos bem o
lembram:

Nossa Revista será, assim, uma tribuna livre, em que a discussão jamais se afastará das normas da mais
estrita conveniência. Numa palavra: discutiremos, mas não disputaremos.[4]

[...] jamais daremos satisfação aos amantes do escândalo. Entretanto, há polêmica e polêmica; uma há,
diante da qual jamais recuaremos: é a discussão séria dos princípios que professamos. [...] É a isso que
chamamos polêmica útil, e o será sempre quando ocorrer entre pessoas sérias que se respeitam
bastante para não se afastarem das conveniências. Podemos pensar de modo diverso sem, por isso,
deixar de nos estimarmos.[5]

O Espiritismo quer ser claro para todos e não deixar aos seus futuros adeptos nenhum motivo para
discussão de palavras. Por isso todos os pontos susceptíveis de interpretação serão elucidados
sucessivamente.[6]

Por maior, mais bela e justa que seja uma ideia, é impossível que reúna, desde o princípio, todas as
opiniões. Os conflitos que dela resultam são a consequência inevitável do movimento que se processa, e
são mesmo necessários, para melhor fazer ressaltar a verdade. É também útil que eles surjam no
começo, para que as ideias falsas sejam mais rapidamente desgastadas.[7]

Achar os espíritas em falta e em contradição com seus princípios seria uma boa sorte para os seus
adversários; assim, vede como se empenham em acusar o Espiritismo de todas as aberrações e de todas
as excentricidades pelas quais não poderia ser responsável. A doutrina não é ambígua em nenhuma de
suas partes; é clara, precisa, categórica nos mínimos detalhes; só a ignorância e a má-fé podem
enganar-se sobre o que ela aprova ou condena. É, pois, um dever de todos os espíritas sinceros e
devotados repudiar e desaprovar abertamente, em seu nome, os abusos de todo gênero que pudessem
comprometê-la, a fim de não lhes assumir a responsabilidade. Pactuar com os abusos seria acumpliciar-
se com eles e fornecer armas aos adversários.[8]

Somos absolutos demais em nossas ideias? Somos um cabeça-dura com quem nada se pode fazer? Ah!
meu Deus! cada um tem os seus pequenos defeitos; temos o de não pensar ora branco, ora preto; temos
uma linha traçada e dela não nos desviaremos para agradar a quem quer que seja. É provável que
sejamos assim até o fim. [...]

Falar dessas opiniões divergentes que, em última análise, se reduzem a algumas individualidades, e em
parte alguma formam corpo, não será, talvez digam algumas pessoas, ligar a isto muita importância,
assustar os adeptos fazendo-os crer em cisões mais profundas do que realmente o são? não é, também,
fornecer armas aos inimigos do Espiritismo?

É precisamente para prevenir esses inconvenientes que disto falamos. Uma explicação clara e
categórica, que reduz a questão ao seu justo valor, é mais adequada para assegurar do que para
amedrontar os adeptos; eles sabem como proceder e aí encontram argumentos para a réplica.[9]

Em sua análise de Os Quatro Evangelhos,[10] Kardec mostrou a elegância de um verdadeiro missionário:


lúcido, equilibrado, leal, mas firme, decidido, ciente da justeza de suas razões. O mestre deixou aos
Espíritos que ditaram a suposta Revelação da Revelação a responsabilidade pelas coisas “duvidosas”
que disseram, como as adjetivou o próprio Codificador. Ainda assim, recomendou sua leitura aos
conscienciosos.

Confiante na razão, Kardec não negou ao discernimento dos espíritas sérios a capacidade de rejeitar as
teses rustenistas. Deixou claro, porém, que, “até mais ampla confirmação, não poderiam ser consideradas
como partes integrantes da Doutrina Espírita”. E já em 1868, no livro A Gênese, XV, 66, Kardec
demonstrou que não houve endosso, e sim contradita.[11]

O Codificador desejava que tudo estivesse sob a mais intensa luz. Jamais adotou a providência
inquisitorial da imposição de silêncio sobre o quer que fosse. Todavia, muitos espíritas, julgando-se mais
cautelosos que o mestre o foi, afirmam não falarem de assuntos polêmicos porque não querem divulgar “o
mal”.

Mas o que falta à maioria destes tais é a segurança que só o conhecimento das razões doutrinárias lhes
poderia proporcionar. Isto, entretanto, somente se consegue ao preço de intensos estudos, nunca ao
baixíssimo valor de memorizações de frases de efeito, fundadas em retóricas piegas, de todo ignorantes
do que seja realmente o sentimento do bem.

[1] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 47.


[2] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 47.
[3] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, pp. 47 e 49.
[4] Revista Espírita. Jan/1858. Introdução.
[5] Revista Espírita. Nov/1858. Polêmica Espírita.
[6] Revista Espírita. Jun/1863. Do Princípio da Não Retrogradação dos Espíritos.
[7] O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução, II.
[8] Revista Espírita. Jun/1865. Nova Tática dos Adversários do Espiritismo.
[9] Revista Espírita. Abr/1866. O Espiritismo Independente.
[10] Cf. Revista Espírita. Jun/1866. Os Evangelhos Explicados.
[11] Cf. Cap. 8: Jesus Não Era Um Agênere.

As Irmãs Fox
22:55 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Arthur Conan Doyle

No mês de março de 1848, aconteceram, no pequeno povoado de Hydesville, nos Estados Unidos da
América do Norte, os primeiros fenômenos espíritas dos tempos modernos, o que representou o prelúdio
do advento da Doutrina Espírita, consumado com a Codificação Kardequiana.

Hydesville é um pequeno povoado típico do Estado de New York e, quando da ocorrência desses
fenômenos, contava com um pequeno número de casas de madeira, do tipo mais simples. Numa dessas
cabanas, habitava a família de John D. Fox, composta dos pais e vários filhos, dentre outros Margareth,
de quatorze anos, Kate de onze anos, além de Leah, que residia noutra cidade.

A família Fox havia passado a morar nessa casa no dia 11 de dezembro de 1847. Algum tempo após
essa mudança, seus ocupantes passaram a ouvir arranhões, ruídos insólitos e pancadas, vibradas no
forro da sala, no assoalho, nas paredes e nos móveis, os quais passaram a constituir verdadeira
preocupação para aquela humilde família.

Todos ficaram abalados com os acontecimentos. Numa semana a senhora Fox ficou grisalha. E, como
tudo sugeria que os fenômenos estivessem ligados às duas meninas, Margareth e Kate, estas foram
afastadas de casa. Mas, em casa do seu irmão, David Fox, para sonde foi Margareth, e na casa de sua
Irmã Leah, cujo nome de casada era Sra. Fish, em Rochester, onde Kate ficou hospedada, os mesmos
ruídos se fizeram ouvir. Esforços inauditos foram dispendidos para que o público ignorasse essas
manifestações; logo, porém, elas se tornaram conhecidas. Leah, a irmã mais velha, teve que interromper
as aulas de música, pois, passando também a ser intermediária dos fenômenos, embora em menor
escala, foi levada a não continuar com as lições.

Os fenômenos se produziam com tal intensidade que, da casa das irmãs Fox, passaram a ser ouvidos na
residência do Rev. A.H. Jervis, ministro metodista residente em Rochester. Logo, após, eles também se
fizeram sentir na residência do Diácono Hale, de Greece, cidade vizinha de Rochester.

Na noite de 31 de março de 1848, descobriu-se um meio de entrar em contato com a entidade espiritual
que produzia os fenômenos. A filha menor do casal, Kate, disse, batendo palmas: Sr. Pé Rachado, faça o
que eu faço. De forma imediata, repetiram-se as palmadas. Quando ela parou, o som também parou em
seguida. Em face daquela resposta, Margareth, então, disse, brincando: "Agora faça exatamente como
eu. Conte um, dois, três, quatro, e bateu palmas." O que ela havia solicitado foi repetido com incrível
exatidão. Kate, adiantando-se, disse, na sua simplicidade infantil: "Oh! mamãe! eu já sei o que é. Amanhã
é primeiro de abril e alguém quer nos pregar uma mentira."

A senhora Fox lembrou-se, então, de fazer uma tentativa concludente: solicitou à entidade que desse as
idades de todos os seus filhos, o que foi feito com notável precisão.

Havia-se estabelecido, desta forma, um sistema de comunicação com o mundo espiritual. Criou-se um
alfabeto convencional, por meio de pancadas e, por intermédio desse sistema bastante rudimentar,
descobriu-se que o Espírito comunicante era um antigo vendedor ambulante de nome Charles Rosna,
que, daquele modo, procurava revelar a sua presença e entrar em contato com as pessoas da casa. O
indivíduo portador desse nome fora, anos antes, assassinado na casa de Hydesville, na qual, sem o
saber, viera posteriormente residir a família Fox. O assassinado revelou que havia sido morto com uma
faca de açougueiro, cinco anos antes; que o corpo tinha sido levado para a adega; que só na noite
seguinte é que havia sido sepultado; tinha passado pela despensa, descido a escada, e enterrado a três
metros aproximadamente do solo. Adiantou, também, que o móvel do crime fora o dinheiro que possuía,
cerca de quinhentos dólares.

Na noite de 1.° de abril, começaram a escavar o solo na adega, atingindo um lençol de água.
Procedendo-se a nova pesquisa no verão do mesmo ano, foram descobertos uma tábua, carvão e cal,
cabelos e ossos humanos, entretanto, somente no dia 22 de novembro de 1904, com a queda de uma
parede, descobriu-se o esqueleto. Também foi achado um baú que pertenceu ao mascate.

Após estabelecer esse sistema de intercâmbio com o mundo espiritual, de que os fatos narrados foram
apenas o prelúdio, outras entidades espirituais entraram a manifestar-se, fazendo entre outras a
revelação de que as duas filhas de John Fox — Margareth e Kate — eram médiuns, por cuja inconsciente
e involuntária intervenção se produziram os fenômenos. A elas estava reservada a missão de cooperar no
importante movimento de idéias o qual, por semelhante forma, não tardaria a atrair a atenção do mundo.

Os acontecimentos tiveram inusitada repercussão em Hydesville, em Rochester, e em outras cidades


circunvizinhas.

Ao transferir a sua residência para Rochester, a família de John Fox deparou com o primeiro óbice: o
pastor da igreja, a que pertenciam, intimou as meninas, sob pena de expulsão, a abjurarem tais práticas.
Essa imposição foi repelida pelas irmãs Fox e, por isso, elas foram expulsas daquela comunidade
religiosa.

Surgiram, posteriormente, as comissões nomeadas para averiguarem a veracidade dos fenômenos e se


pronunciarem acerca da sua natureza. A primeira, depois de longa e minuciosa pesquisa, concluiu por
reconhecer a veracidade da intervenção espiritual, na produção dos fatos que o público se obstinava em
atribuir a artifício daquelas humildes meninas sem considerar que nisso não havia para elas interesse
algum. A segunda comissão foi nomeada, chegando ao mesmo resultado, com desapontamento para
todos.
Nomearam por fim uma terceira comissão, composta de pessoas notáveis e insuspeitas e, quando
terminou ela o seu rigoroso inquérito, grande parte da população de Rochester se reuniu no maior salão
da cidade, conhecido por Corinthian Hall, com o fito de ouvir o resultado.

Deu-se, então, um fato incrível: como a conclusão a que haviam chegado os membros da comissão,
confirmava, definitivamente, as pesquisas anteriores, o público, indignado pelo que teimava em ser uma
burla por parte das jovens médiuns, que, ao lado de seus pais, aguardavam serenamente o veredicto,
levantou-se em atitude hostil e, numa onda ululante, pretendeu invadir o recinto, com o intuito de
massacrá-las. Foi necessária a pronta intervenção do venerando quaker George Willets, para evitar
aquele linchamento. Willets chegou ao extremo de dizer que, se quisessem matar as meninas, os
fanáticos teriam que passar sobre o seu cadáver.

As meninas sofreram nas mãos dos investigadores. No decurso das pesquisas, das comissões, que
também tinham algumas senhoras entre os seus membros, estas despiram as meninas, submetendo-as a
investigações brutais e aflitivas. Seus vestidos foram amarrados, apertados nos corpos, e elas colocadas
sobre vidros e outros isolantes. A comissão se viu obrigada a referir que, Quando elas se achavam de pé
sobre as almofadas, com um lenço amarrado à borda dos seus vestidos, amarradas pelas cadeiras, todos
nós ouvimos as batidas distintas nas paredes, no assoalho e em outros objetos". Por fim, essa comissão
declarou, enfaticamente, que as suas perguntas, das quais algumas feitas mentalmente, tinham sido
respondidas corretamente.

As perseguições sofridas pelas irmãs Fox foram inenarráveis. Um jornal denominado Rochester Democrat
havia tirado uma edição com a manchete "Exposição Completa da Mistificação das Batidas". O resultado
das pesquisas obrigou o seu editor a sustar a distribuição do jornal.

Um dos pesquisadores afirmou que, senão se descobrisse qualquer fraude, ia atirar-se nas Cataratas do
Genesse. Ele teve que mudar de opinião em sua afirmação.

Em 1850, foram recebidas em duas salas separadas, em Rochester, duas mensagens simultâneas, do
Espírito de Benjamim Franklin, cujo teor era o seguinte:

"Haverá grandes mudanças no século dezenove. Coisas que, atualmente, parecem obscuras e
misteriosas, para vós, tornar-se-ão claras aos vossos olhos. Os mistérios vão ser revelados. O mundo
será esclarecido."

Fonte: A História do Espiritismo

A Segunda Vista
22:51 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Allan Kardec

Conhecimento do Futuro. Previsões.

Se, no estado sonambúlico, as manifestações da alma se tornam, de alguma sorte, ostensivas, seria
absurdo pensar que, no estado normal, ela estivesse confinada em seu envoltório de maneira absoluta,
como o caracol está encerrado em sua concha. Não é, de nenhum modo, a influência magnética que a
desenvolve; essa influência não faz senão torná-la patente pela ação que exerce sobre os nossos órgãos.
Ora, o estado sonambúlico não é sempre uma condição indispensável para essa manifestação; as
faculdades que vimos se produzirem nesse estado, se desenvolvem, algumas vezes, espontaneamente
no estado normal de certos indivíduos. Disso resulta, para eles, a faculdade de ver além dos limites de
nossos sentidos; percebem as coisas ausentes por toda a parte onde a alma estende a sua ação; vêem,
se podemos nos servir desta expressão, através da visão comum, e os quadros que descrevem, os fatos
que contam, se apresentam a eles como o efeito de uma miragem, e é o fenômeno designado sob o
nome de segunda vista. No sonambulismo, a clarividência é produzida pela mesma causa; a diferença é
que, nesse estado, ela está isolada, independente da vida corpórea, ao passo que lhe é simultânea,
naqueles que dela são dotados no estado de vigília.

A segunda vista quase nunca é permanente; em geral, esse fenômeno se produz espontaneamente, em
certos momentos dados, sem ser um efeito da vontade, e provoca uma espécie de crise que modifica,
algumas vezes, sensivelmente o estado físico: o olho tem alguma coisa de vago; parece olhar sem ver;
toda a fisionomia reflete uma espécie de exaltação.

É de notar-se que as pessoas que dela gozam, não suspeitam disso; essa faculdade lhes parece natural
como aquela de ver pelos olhos; para elas, é um atributo de seu ser, e que não lhes parece, de nenhum
modo, fazer exceção. Acrescentai a isso que o esquecimento segue, muito freqüentemente, essa lucidez
passageira, cuja lembrança, cada vez mais vaga, acaba por desaparecer como a de um sonho.

Há graus infinitos no poder da segunda vista, desde a sensação confusa, até a percepção tão clara e tão
limpa como no sonambulismo. Falta-nos uma palavra para designar esse estado especial, e sobretudo os
indivíduos que dele são suscetíveis: tem se servido da palavra vidente, e embora não dê exatamente o
pensamento, adotá-la-emos até nova ordem, por falta de melhor.

Se aproximamos agora os fenômenos da clarividência sonambúlica e da segunda vista, compreende-se


que o vidente possa ter a percepção das coisas ausentes; como o sonâmbulo, ele vê à distância; segue o
curso dos acontecimentos, julga de sua tendência e pode, em alguns casos, prever-lhes o resultado.

É esse dom da segunda vista que, no estado rudimentar, dá a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma
espécie de segurança em seus atos, e que se pode chamar a justeza do golpe de vista moral. Mais
desenvolvida, desperta os pressentimentos, mais desenvolvida ainda, mostra os acontecimentos
realizados, ou no ponto de se realizarem; enfim, chega ao seu apogeu, é o êxtase desperto.

O fenômeno da segunda vista, como dissemos, é quase sempre natural e espontâneo; mas parece se
produzir, mais freqüentemente, sob o império de certas circunstâncias. Os tempos de crise, de
calamidade, de grandes emoções, todas as causas, enfim, que superexcitam o moral, provocam-lhe o
desenvolvimento. Parece que a Providência, em presença dos perigos mais iminentes, multiplica, ao
nosso redor, a faculdade de preveni-los.

Houve videntes em todos os tempos e em todas as nações; parece que certos povos a isso estejam mais
naturalmente predispostos; diz-se que, na Escócia, o dom da segunda vista é muito comum. Encontra-se,
assim tão freqüentemente, entre as pessoas do campo e os habitantes das montanhas.

Os videntes foram diversamente olhados segundo os tempos, os costumes e o grau de civilização. Aos
olhos das pessoas céticas, passam por cérebros desarranjados, alucinados; as seitas religiosas deles
fizeram profetas, sibilas, oráculos; nos séculos de superstição e de ignorância, eram feiticeiros que se
queimavam. Para o homem sensato, que crê na força infinita da Natureza, e na inesgotável bondade do
Criador, a dupla vista é uma faculdade inerente à espécie humana, pela qual Deus nos revela a existência
de nossa essência material. Qual é aquele que não reconhece um dom dessa natureza em Jeanne d’Arc
e numa multidão de outros personagens que a história qualifica de inspirados?

Tem-se falado, freqüentemente, de cartomantes que dizem coisas surpreendentes de verdade. Estamos
longe de nos fazer apologistas de ledores de sorte, que exploram a credulidade de espíritos fracos, e cuja
linguagem ambígua se presta a todas as combinações de uma imaginação ferida; mas não há nada de
impossível em que, certas pessoas, fazendo esse ofício, tenham o dom da segunda vista, mesmo com o
seu desconhecimento; desde então as cartas não são, em suas mãos, senão um meio, senão um
pretexto, uma base de conversação; elas falam segundo o que vêem, e não segundo o que indicam as
cartas que apenas olham.

Ocorre o mesmo com outros meios de adivinhação, tais como as linhas das mãos, o resíduo de café, as
claras de ovo e outros símbolos místicos. Os sinais da mão, talvez, tenham mais valor do que todos os
outros meios, de nenhum modo por si mesmos, mas porque o suposto adivinho, tomando e apalpando a
mão do consulente, se está dotado da segunda vista, encontra-se em relação mais direta com este último,
como ocorre nas consultas sonambúlicas.

Podem colocar-se os médiuns videntes na categoria das pessoas gozando da dupla vista. Como estes
últimos, com efeito, os médiuns videntes crêem ver pelos olhos, mas, em realidade, é a alma que vê, e é
a razão pela qual vêem tão bem de olhos fechados, quanto de olhos abertos; segue-se, necessariamente,
que um cego poderia ser médium vidente tão bem quanto aquele cuja visão está intacta. Um estudo
interessante a fazer seria saber se esta faculdade é mais freqüente nos cegos. Seríamos levados a crer,
tendo em vista que, assim como se pode disso se convencer pela experiência, a privação de se
comunicar com o exterior, em razão da ausência de certos sentidos, em geral, dá mais poder à faculdade
de abstração da alma e, por conseguinte, mais desenvolvimento ao sentido íntimo pelo qual ela se põe
em relação com o mundo espiritual.

Os médiuns videntes podem, pois, ser comparados às pessoas que gozam da visão espiritual; mas seria,
talvez, muito absoluto considerar estes últimos como médiuns; porque a mediunidade consistindo
unicamente na intervenção dos Espíritos, o que se faz por si mesmo não pode ser considerado como um
ato mediúnico. Aquele que possui a visão espiritual vê pelo seu próprio Espírito, e nada implica, no
desenvolvimento de sua faculdade, a necessidade do concurso de um Espírito estranho.

Isto posto, examinemos até que ponto a faculdade da dupla vista pode nos permitir descobrir as coisas
ocultas e de penetrar no futuro.

De todos os tempos, os homens quiseram conhecer o futuro, e poder-se-iam escrever volumes sobre os
meios inventados pela superstição para levantar o véu que cobre o nosso destino. A Natureza foi muito
sábia no-lo escondendo; cada um de nós tem a sua missão providencial na grande colmeia humana, e
concorre à obra comum na sua esfera de atividade. Se soubéssemos, antecipadamente, o fim de cada
coisa, ninguém duvide que a harmonia geral com isso sofreria. Um futuro feliz assegurado tiraria do
homem toda atividade, uma vez que não teria necessidade de nenhum esforço para chegar ao objetivo
que se propôs: seu bem-estar; todas as forças físicas e morais seriam paralisadas, e a marcha
progressiva da Humanidade seria detida. A certeza da infelicidade teria as mesmas conseqüências pelo
efeito do desencorajamento; todos renunciariam lutar contra o decreto definitivo do destino. O
conhecimento absoluto do futuro seria, pois, um presente funesto que nos conduziria ao dogma da
fatalidade, o mais perigoso de todos, o mais antipático ao desenvolvimento das idéias. É a incerteza, do
momento de nosso fim neste mundo que nos faz trabalhar até a última batida de nosso coração. O viajor
arrastado por um veículo abandona-se ao movimento que deve conduzi-lo ao objetivo, sem pensar em se
fazer desviar, porque sabe da sua impossibilidade; tal seria o homem que conhecesse o seu destino
irrevogável. Se os videntes pudessem transgredir essa lei da Providência, seriam os iguais da divindade;
também, tal não é, de nenhum modo, a sua missão.

Nos fenômenos da dupla vista, estando a alma em parte desligada do envoltório material que limita as
nossas faculdades, não há mais, para ela, nem duração, nem distâncias; abarcando o tempo e o espaço,
tudo se confunde no presente. Livre de seus entraves, ela julga os efeitos e as causas melhor do que não
podemos fazê-lo: vê as conseqüências das coisas presentes e pode nos fazer pressenti-las; é nesse
sentido que se deve entender o dom da presciência atribuído aos videntes.

Suas previsões não são senão o resultado de uma consciência mais clara do que existe, e não uma
predição de coisas fortuitas sem laço com o presente; é uma dedução lógica do conhecido para chegar ao
desconhecido, que depende, muito freqüentemente, de nossa maneira de fazer. Quando um perigo nos
ameaça, se somos advertidos, estamos no caso de fazermos o que é preciso para evitá-lo: com a
liberdade de fazê-lo ou não.

Em semelhante caso, o vidente se encontra em presença do perigo que se nos acha oculto; ele o
assinala, indica o meio de afastá-lo, senão o acontecimento segue o seu curso.

Suponhamos um carro conduzido numa estrada terminando num abismo, que o condutor não pode
perceber; é bem evidente que, se nada vem fazê-lo desviar, irá nele se precipitar; suponhamos, por outro
lado, um homem colocado de maneira a dominar a estrada em linha reta; que esse homem, vendo a
perda inevitável do viajor, possa adverti-lo para desviar-se a tempo, o perigo será conjurado. De sua
posição, dominando o espaço, vê o que o viajor, cuja visão está circunscrita pelos acidentes do terreno,
não pode distinguir; pode ele ver se uma causa fortuita vai pôr obstáculo à sua queda; conhece, pois,
antecipadamente, o resultado do acontecimento e pode predizê-lo.

Que esse mesmo homem, colocado sobre uma montanha, perceba ao longe, no caminho, uma tropa
inimiga se dirigindo para uma aldeia que quer incendiar; ser-lhe-á fácil, calculando o espaço e a
velocidade, prever o momento da chegada da tropa. Se, descendo à aldeia, diz simplesmente: A tal hora
a aldeia será incendiada, o acontecimento vindo se cumprir, ele passará, aos olhos da multidão ignorante,
por um adivinho, um feiticeiro, ao passo que, muito simplesmente, viu o que os outros não podiam ver, e
disso deduziu as conseqüências.

Ora, o vidente, como esse homem, abarca e segue o curso dos acontecimentos; não lhe prevê o
resultado pelo dom da adivinhação; ele o vê! Pode, pois, vos dizer se estais no bom caminho, vos indicar
o melhor, e vos anunciar o que encontrareis no fim do caminho; é, para vós, o fio de Ariadne que vos
mostra a saída do labirinto.

Há distância daí, como se vê, à predição propriamente dita, tal como a entendemos na acepção vulgar da
palavra. Nada é tirado ao livre arbítrio do homem, que permanece sempre senhor para agir ou não agir,
que cumpre ou deixa de cumprir os acontecimentos pela sua vontade ou pela sua inércia; se lhe indica o
meio para chegar ao objetivo, cabe-lhe dele fazer uso. Supô-lo submetido a uma fatalidade inexorável
pelos menores acontecimentos da vida, é deserdá-lo de seu mais belo atributo: a inteligência; é assimilá-
lo ao animal. O vidente não é, pois, de nenhum modo, um adivinho; é um ser que percebe o que não
vemos; é para nós o cão do cego. Nada, pois, aqui, contradiz os objetivos da Providência sobre o segredo
de nosso destino; é ela mesma que nos dá um guia.

Tal é o ponto de vista sob o qual deve ser encarado o conhecimento do futuro nas pessoas dotadas de
dupla vista. Se esse futuro fosse fortuito, se dependesse do que se chama o acaso, se não se ligasse em
nada às circunstâncias presentes, nenhuma clarividência poderia penetrá-lo, e toda previsão, nesse caso,
não poderia oferecer nenhuma certeza. O vidente, e por isso entendemos o verdadeiro vidente, o vidente
sério, e não o charlatão que o simula, o verdadeiro vidente, dizemos, não diz nada do que o vulgo chama
a boa sorte; ele prevê o resultado do presente, nada mais, e isso já é muito.

Quantos erros, quantas falsas deligências, quantas tentativas inúteis não evitaríamos, se tivéssemos
sempre um guia seguro para nos esclarecer; quantos homens estão deslocados no mundo por não terem
sido lançados no caminho que a Natureza traçou para as suas faculdades!

Quantos fracassos por ter seguido os conselhos de uma obstinação irrefletida! Uma pessoa poderia lhe
dizer: "Não tenteis tal coisa porque as vossas faculdades intelectuais são insuficientes, porque ela não
convém nem ao vosso caráter, nem à vossa constituição física, ou bem ainda porque não sereis
secundado segundo a necessidade; ou bem ainda porque vos enganais sobre a importância dessa coisa,
porque encontrareis tal entrave que não prevedes." Em outras circunstâncias, ter-lhe-ia dito: "Triunfareis
em tal coisa, se a tomardes de tal ou tal maneira; se evitardes tal deligência que pode vos comprometer."
Sondando as disposições e o caráter, ter-lhe-ia dito: "Desconfiai de tal armadilha que se quer vos
estender;" depois teria acrescentado: "Estais prevenidos, meu papel está findo; eu vos mostro o perigo; se
sucumbirdes não acuseis nem a sorte, nem a fatalidade, nem a Providência, mas só a vós. Que pode o
médico, quando o enfermo não tem em nenhuma conta os seus conselhos?"

Fonte: Obras Póstumas

Contribuições do Espiritismo para uma Nova


Família
23:56 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Jaci Regis

A família atual sofre ataques profundos em sua estrutura, apressando as mudanças, no conjunto das
mutações que revoluciona o comportamento social, abalando velhas estruturas e tradições.

Como conceituar a família atual, comparativamente à tradição? Como executar as funções de pai e mãe
num momento tão inseguro como atualmente? Como encaminhar os filhos ou ensiná-los ao autogoverno,
em meio a tantas variáveis e da imaturidade natural?

Teria o Espiritismo contribuição objetiva para encaminhar a questão familiar de maneira a ajudar os pais e
a família a encontrar um caminho de realização?

Pretendo analisar as questões relativas ao núcleo familiar, na procura de indicações que formulem uma
filosofia espírita da família, contribuindo para a dar ao núcleo doméstico a eficiência afetiva que é
fundamental para o bom encaminhamento dos Espíritos que reencarnam.

EM BUSCA DE UM NOVO MODELO

Após 1945, a estrutura moral e de valores da sociedade foi definitivamente balada. Após os horrores da II
Guerra Mundial do século 20, o modelo que vinha sendo corroído mais aceleradamente com a queda da
moral vitoriana do século 19 e pelos efeitos da I Guerra Mundial de 1914-1918, mostrou-se inadequado,
falso e hipócrita.

Desde então buscam-se novas formas de relacionamento, sem encontrar um novo rumo. O que se vê é
um não-modelo ou um modelo a procura de um sentido, moral e social, com fundas repercussões na
instituição da família.

A família nuclear de hoje, na cultura ocidental e cristã, com seu reduzido numero de participantes, é o
retrato atual de um longo e diversificado processo de depuração da instituição familiar.

O modelo de relação familiar que herdamos decorre da implantação do cristianismo no mundo ocidental.
Analisando a conceituação básica do pensamento cristão, sob a ótica espírita, devido a visão de homem
e de mundo adotada, podemos dizer que o cristianismo jamais entendeu a criatura humana, sua estrutura
espiritual, medos e ansiedades. Centralizado na obsessão de salvar a humanidade, criou um sistema
moralista baseado na negação do ser e na repressão sexual.

A figura paterna passa por revisão avassaladora tanto pelos filhos, como pelo próprios pais. A mãe já não
quer ser a rainha do lar, mas deseja participar social e profissionalmente e assumir a condição de mulher
desejante, enfim, uma pessoa com direito à busca de si mesma, sem a tutela paterna ou do marido.

Balançam as opções. Persistir no não-modelo , isto é, abandonar e desprezar todo o acervo histórico e
moral existente e deixar as coisas correrem ao sabor das casualidades ou manter o modelo a procura de
um sentido, resgatando parte do passado e buscando novas orientações, que é o que permanece no
limbo das transições em curso.

É verdade que não há como abandonar os fundamentos morais mais substanciais da doutrina cristã. O
que incomoda e torna frágil a estrutura familiar é a falta de uma base conceitual límpida, sem coerção e
pré-conceitos que se mostram antinaturais.

MUTAÇÕES

Analisarei alguns itens que transformaram o velho modelo familiar.

A - Liberação Sexual da Mulher

Nada mais justo que a mulher tivesse conquistado o direito a sua sexualidade. Seria absurdo persistir no
parâmetros que a Igreja cristã estabeleceu para a mulher, seja sexual, humana ou socialmente.

As mulheres têm agora a liberdade de usar sua sexualidade conforme sua consciência. No uso do livre
arbítrio, essa liberação será legítima conforme for utilizada de maneira equilibrada e responsável, de
maneira a manter a dignidade da pessoa.

É inegável que essa liberação abalou profundamente os alicerces da antiga família . Não apenas por essa
elevação social e humana da mulher, mas por todas as transformações que daí decorreram e decorrem
para as instituições do casamento, da divisão do trabalho no lar e pela eliminação do poder legal e
institucional do homem na estrutura da família. Ou seja o rompimento da base sobre a qual a Igreja
edificou o instituto da família.

B - Questionamento do Casamento

A indissolubilidade do casamento, pregada secularmente pela Igreja é um contrassenso, felizmente


erradicada pela maioria dos países cristãos. As pessoas até nominalmente cristãs, sem dar importância à
posição das igrejas em geral, casam e descasam.

O Espiritismo sempre foi favorável ao divórcio. Kardec disse-o claramente.

Muitas vezes os casamentos são desfeitos pelo voluntarianismo, pelo egoísmo e pela impaciência na
adaptação. Outras, entretanto, são decorrentes de situações dramáticas, de sofrimentos e
comportamentos que atingem a dignidade. Nesses casos, não há porque mantê-los. Eis o que diz O Livro
dos Espíritos:

940 . A falta de simpatia entre os seres destinados a viver juntos não é igualmente uma fonte de
sofrimento, tanto mais amarga quanto envenena toda a existência?

- Muito amarga, de fato: mas é uma dessas infelicidades de que, na maioria das vezes, sois a primeira
causa. Em primeiro lugar as vossas leis estão erradas, pois acreditais que Deus vos obriga a viver com
aqueles que vos desagradam?

A própria instituição do casamento formal, legal, é questionada por muitos. Todavia, o anseio de construir
uma família e a procura de uma convivência duradoura, dominam o cenário. Novas formas no
relacionamento entre os cônjuges decorrerão do nivelamento mental, moral e até profissional dos
parceiros. A antiga família contemplava a supremacia do homem, o “cabeça da família”, o que saía para
prover os recursos e a submissão da mulher que devia ficar na casa para os serviços domésticos. O novo
panorama exige a mudança desse modelo, com funções compartilhadas pelo casal. O casamento do
futuro será baseado no afeto e no amor.

C - Sexualidade Sem Compromisso

Em virtude da liberação sexual da mulher, a sexualidade teve novos contornos na sociedade atual. Muitas
máscaras caíram, muita hipocrisia desfez-se e também muito exagero e mesmo libertinagem se instalou.
O alastramento da Aids é uma consequência dessa desestruturação moral. “Transar” já é normal. A
virgindade feminina não é considerada fundamental. Entretanto, as famílias bem estruturadas deverão
criar um clima de confiança e equilíbrio, de compreensão dos fatores sexuais, de modo a induzir os filhos
a iniciar-se na sexualidade de maneira consciente, no seu tempo adequado, com apoio e
acompanhamento dos pais.

D - Limitação dos Filhos

Na onda de transformações, as famílias encolheram. Dificuldades naturais e outros fatores levaram os


casais na sociedade cristã a pensarem numa família nuclear reduzida. O problema da limitação dos filhos
repercute na produção de remédios e métodos anticonceptivos. Alguns notadamente insensíveis e
perniciosos, como a utilização do aborto como método anticoncepcional, o que não se pode aceitar.
Parece-me, dentro da lei do livre arbítrio, que a decisão de limitar o número de filhos pertence ao casal. O
planejamento, entretanto, não será legitimado se for baseado no egoísmo ou na futilidade.

A paternidade realça o valor do homem para si mesmo, tanto quanto a maternidade eleva a mulher no
seu próprio conceito. São estados de consciência que gratificam o Espírito, preparando-o para
movimentar energias e possibilidades. (Amor, Casamento & Família, Jaci Regis, pág. 69).

REESTRUTURAÇÃO MENTAL

A introdução de um modelo renovador deve começar pela mudança da estrutura mental da pessoa e,
posteriormente, pela reestrutura mental da sociedade. Sabemos que a sociedade cria sua própria moral
que atua de forma condicionadora sobre o indivíduo. Logo a organização familiar estabelecida pela Igreja,
séculos após séculos de indução, criou modelos mentais fixos, a custos reorganizados na mente.

Quando Allan Kardec queixava-se da inexistência de um vocabulário específico para as idéias espíritas,
sabia que uma palavra de significado consagrado em tradição secular correspondia a fixações mentais
condicionadas.

Assim, a palavra família, por exemplo, embora designe uma estrutura bem conhecida, essencialmente,
tem entendimento diferente e contraditório quanto a sua real significação.

No sentido de criação de uma mentalidade mais aberta, devemos considerar que tanto a concepção
espiritualista univivencial, como também a materialista, entendem que a família é uma reunião fortuita e
circunstancial de pessoas corporais dotadas, para os espiritualistas, de uma alma, criada no momento da
concepção e para os materialistas apenas como um organismo vivo.

A concepção espírita é totalmente diferente, uma vez que concebe a vida corpórea como um segmento
da vida espiritual dinâmica e imortal. Isto é, que a sociedade humana atual é composta de Espíritos
reencarnados, ou seja, seres inteligentes perfeitamente definidos e delineados, dentro da lei da evolução,
da qual a reencarnação é instrumento.

Dessa forma, postula que a família, antes de tudo, é um encontro de Espíritos. A família, na visão
kardecista, é uma reunião de Espíritos afinizados em níveis de moralidade e evolução.

Na visão cristã e materialista, os filhos, por exemplo, não escolhem a família. São gerados aleatoriamente
pelos pais e têm que sofrer suas influências, sem poder dela se esquivar, imposta que foi, pelo azar ou
pelo destino, a convivência com eles.

Na compreensão kardecista, dentro de uma possível programação pré-reencarnatória, muitos filhos


escolheram as famílias em que se encarnam, dentro da relação afetiva e sintônica que estabelece as
ligações emotivas das pessoas.

Na visão cristã e materialista, a criança é um ser inocente criada na gestação, entregue aos azares do
destino, cujo futuro dependerá de situações aleatórias, que da qual ao crescer se exigirá caráter ilibado,
bom. No caso materialista desembocando na finitude da existência e no cristão, para garantir, depois da
morte, um lugar no céu ou condenação. ao inferno.

Na visão kardecista a criança é, essencialmente, um Espírito com acervo evolutivo específico, que se
submete a um processo de aprimoramento, na encarnação, da qual sairá mais experiente, em trânsito
para a continuidade de seu projeto evolutivo, que recebemos como companheiro de jornada evolutiva.

NOVO MODELO

Primeiro é necessário definir como o Espiritismo analisa a vida corpórea.

Aí a compreensão espírita permeia uma posição de extremo equilíbrio. Embora enfatizando a natureza
imortal do ser, apoiada na visão evolutiva e da reencarnação, de modo algum a doutrina despreza ou
diminui a vida terrena. Nem poderia, uma vez que ela não é uma exceção, nem castigo ou exílio, como às
vezes se propala, dando seguimento à afirmação cristã da precariedade da vida humana, como mera
transição para o céu ou o inferno.

Em outras palavras, o Espiritismo dá grande ênfase à vida terrena. Para o espírita a encarnação não é um
constrangimento.

No nosso nível evolutivo, ela é uma decorrência natural, desejada e imprescindível. Na medida que o
Espiritismo nos liberta das velhas contradições do cristianismo a respeito da ação divina e do pecado,
vamos compreendendo que encarnar representa uma condição necessária e que cada vida corpórea,
matizada pelo esquecimento do passado, representa uma aventura, um caminho a ser percorrido com
surpresas, vitórias, fracassos.

Nessa vida o Espírito exprime seus sentimentos, medos, desvios e acertos. Mas é também da sabedoria
divina, que a encarnação promove um processo de desvinculação das personalidades anteriores e,
embora guardando, como é compreensível, o imo de si mesmo, apresenta-se no mundo aberto,
desguarnecido, pronto para receber influenciações que são decisivas para definir.

Isto é, o esquecimento das vidas passadas é, justamente, o instrumento capaz de permitir ao


reencarnado viver a vida como se fosse a primeira e única vez que o faz.

Por isso esse modelo não cria qualquer diferença ou condena as manifestações comuns e naturais, sejam
sexuais ou afetivas que geralmente constroem as relações familiares.

Não encontro base para engessar o pensamento em formas expiatórias relativas a erros do passado. Ou
seja, não considero que todas as agregações familiares sejam previamente combinadas antes da
encarnação. Não descarto essa possibilidade, mas não a tomo como básica na compreensão das
relações afetivas entre o casal e os filhos e no conjunto familiar em geral.

Isso é necessário para libertar a mente de fantasmas e evitar justificar comportamentos agressivos, ódios,
apegos excessivos ou outras formas que constituem uma grande parte da relação familiar, sempre com
consequências funestas.

O amor, a afeição são forças interiores da estrutura espiritual e não precisam de justificativas sobre
possíveis ligações anteriores para se consolidarem.

Vivendo intensamente a realidade do presente, embora com a visão ampla e libertadora da doutrina
espírita, construiremos a família dentro de modelos dinâmicos, exercendo as funções paternais com
desembaraço e consciência.

O NÓ DOS CONFLITOS

Os mecanismos da reencarnação são dispostos de modo que ao encarnar o Espírito, desvincula-se de


suas personalidade, embora mantendo o acervo próprio de sua individualidade.

Com isso, o Espírito pode reiniciar seu aprendizado terreno, como se fora a primeira vez que o fizesse. O
esquecimento do passado é um instrumento básico para permitir a reciclagem das personalidades,
condição indispensável à criação de oportunidades de crescimento e refazimento.

Essa realidade nos livra de permanecer na relação humana na posição dúbia de querer ver além do
tempo, a motivação pessoal de certos conflitos.

Diante do cônjuge de difícil convivência não há como vê-lo como alguém que nos cobra a culpa por erros
do passado, a pretexto de pagar dívidas passadas. Amá-lo, suporta-lo ou tolerá-lo ou não, será fruto da
consciência dos fatores que cada um tem que analisar para a tomada de decisões. Da mesma forma o
filho rebelde e difícil não tem que ser olhado como uma desafeto que volta para cobrar alguma coisa.

São desafios difíceis, mas que podem ser enfrentados, a partir de uma visão menos utilitarista da vida

Essa diversidade de visão caracteriza formas muitos diferentes de analisar a vida terrena e deveria
desencadear motivações pedagógicas e comportamentais profundamente positivas na relação familiar,
considerando a posição espírita.

Muitos pais reclamam das dificuldades em criar um ambiente doméstico equilibrado e basicamente
positivo. Dizem, com certa razão, que existem, hoje em dia, concorrentes poderosos à conivência familiar.
A inserção da mulher no mercado de trabalho, por exemplo, tirou o papel de dona de casa . Se o casal
trabalha fora, há de haver uma concentração mental e moral capaz de suprir a ausência com a criação de
uma psicosfera familiar segura, de modo que os filhos se sintam importantes, notados e amados, ainda
que sem a presença constante dos pais.

Essa circunstância obriga a entregar os filhos em mão de terceiros, sejam parentes, empregados ou
instituições, mas isso, como se pode comprovar, não afasta os filhos dos pais desde que, como disse, se
deem aos filhos de maneira consistente.

Na verdade, a maioria dos problemas dos filhos é decorrentes do abandono devido a futilidades e
egoísmos materno ou paterno, de modo que vibracionalmente eles sentem que são deixados de lado, que
não são importantes ou amados.

A concorrência da televisão pode e deve ser contornada com a formação do hábito da conversa positiva,
do diálogo e da união familiar em torno de tarefas de ideal, de serviço ao próximo, de utilidade humana,
ao lado da merecida e equilibrada cota de laser, recreação, conforme as condições permitirem.

Verificamos que a função paterna e materna, não se complica, mas exige uma atuação mais próxima,
mais constante e uma abertura mental dos genitores para olhar os filhos com novo olhar.

A visão imortalista produz efeitos benéficos na estrutura do ser. No caso de uma gravides, por exemplo, a
mãe e, ao seu lado o pai, acompanharão o desenvolvimento do feto com ternura e expectativa, sabendo
embora que aí se está gerando um corpo que servirá de expressão viva de um Espírito vivido, que virá ao
encontro de seu lar para receber amor, compreensão, diretrizes.

Certamente ele será um bebê, criança e viverão a realidade da convivência. Os pais chorarão por ele, se
preocuparão com as doenças, com os problemas e o futuro dele. Mas tudo isso dentro de uma ótica mais
equilibrada e compreensiva.

CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS

Bem compreendido o Espiritismo é instrumento de libertação e expansão da consciência. A


reencarnação, como vimos, é um instrumento do processo evolutivo do ser imortal. É um segmento
repetitivo, na nossa fase atual, de aprendizado e reajustamento psicológico, emotivo e moral.

No vocabulário espírita, as expressões castigo, punição, expiação, provas , relativamente ao ser e à vida
corpórea, devem ser entendidas, sobretudo, como oportunidades . Ou seja, a divindade não pune,
oportuniza.

Devido às realidades espirituais dos habitantes deste planeta e as implicações culturais, o lar só será o
doce lar, conforme forem cultivados pelos seus componentes valores positivos. Isso não significa uma
homogeneidade total, pois, pragmaticamente, a família é um polo de conflitos. De conflitos porque reúne
em seu espaço afetivo todas as paixões e aspirações humanas. Nele reúnem-se Espíritos vivenciados,
em busca de uma nova oportunidade de crescimento que a encarnação permite.

Essa visão espírita é extremamente moral, mas não moralista. O Espiritismo baseia-se nos fundamentos
da moral de Jesus de Nazaré. Todavia, a filosofia de vida é determina o comportamento. As informações
e mesmo o conhecimento formal e intelectual das coisas, nem sempre consegue mudar os impulsos
afetivos, nem direcionar convenientemente as emoções.

O sentimento é que estabelece a forma de vivenciar.

E o sentimento é produto de um complexo de percepções do Espírito, que tem que manipular, entretecer-
se com variáveis afetivas que incluem o medo, o desejo, a rejeição e o amor, este compreendido, antes
de tudo, como uma forma de sentir-se aceito, protegido, sustentado afetivamente.

É a partir dessa matriz que o comportamento se realiza na relação, pois podemos saber que não
devemos fazer algo mas fazemos, temos conhecimento que certas formas de agir são prejudicais e
mesmo assim as executamos.

Dito isto, consideremos a base moral das relações. É certo que existe uma moral social, coletiva, cultural.
São crenças, costumes e leis que estabelecem os limites da relação entre as pessoas, nas quais a família
se insere. Pois a moral, em resumo, é a maneira como cada um se relaciona consigo mesmo e com os
outros.

Todavia, é também da concepção espírita que existe uma Lei Natural que estabelece limites e
canalizações da afetividade, de modo a que a pessoa se encaminhe, pelo melhor caminho possível, para
encontrar uma relativa harmonização com a Lei.

Essa compreensão será a baliza da moralidade.

Fonte: Jornal de cultura espírita Abertura, maio de 2000, ano XIII, nº 148 - Santos-SP.

Jaci Regis (1932-2010), psicólogo, jornalista, economista e escritor espírita, foi o fundador e
presidente do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS), idealizador do Simpósio Brasileiro do
Pensamento Espírita (SBPE), fundador e editor do jornal de cultura espírita “Abertura” e autor dos
livros “Amor, Casamento & Família”, “Comportamento Espírita”, “Uma Nova Visão do Homem e do
Mundo”, “A Delicada Questão do Sexo e do Amor”, “Novo Pensar - Deus, Homem e Mundo”, dentre
outros.

Retirado do site PENSE - http://viasantos.com/pense/arquivo/1338.html

Parapsicologia e Espiritismo
23:50 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Francisco Amado

Os adversários do Espiritismo desconhecem tudo a respeito e fazem tremenda confusão. Os próprios


Espíritas, por sua vez, na sua esmagadora maioria estão na mesma situação. Por quê? É fácil explicar.
Os adversários partem do preconceito e agem por precipitação. Os espíritas, em geral, fazem o mesmo:
formulam uma idéia pessoal da Doutrina, um estereótipo mental a que se apegaram. Esquecendo que a
Doutrina está nas Obras Básicas.

Não há razões sensatas para o combate tão veemente e ríspido a uma doutrina - tal qual se dá contra o
Espiritismo - que segue o Evangelho de Jesus Cristo em toda a sua moral, baseada no bem e no amor a
Deus e ao próximo, discordando apenas no que tange certas convicções filosóficas de algumas outras. A
intolerância religiosa é fruto das idéias preconcebidas e da presunção de se ser o dono da verdade. O
combate ao Espiritismo se deve, na imensa maioria dos casos, ao desconhecimento das suas idéias e à
confusão que é semeada no meio por aqueles que não se dispõem a examiná-las com racionalidade e,
mesmo assim, lançam seus julgamentos. Contudo, a doutrina do Cristo frutificou apesar da falsa
interpretação e oposição daqueles que não a compreendiam. Se as pessoas que detratam o Espiritismo
seguissem o ensinamento do apóstolo Paulo, quando nos exorta a examinar tudo e reter o que é bom,
certamente teriam outro posicionamento diante de determinadas idéias que repudiam sem conhecimento
de causa.

"Há verdadeiramente duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ciência consiste em saber; em
crer que se sabe reside a ignorância" - (Hipócrates).

Conheça melhor algumas idéias pré-concebidas por muitas pessoas com relação ao Espiritismo:

1)O Espiritismo faz uso de bolas de cristal, prática de quiromancia, astrologia, hipnotismo, magia
ou parapsicologia?

Dentre uma série de práticas rotuladas erroneamente como espíritas, estão estas e também outras como
a terapia regressiva a vidas passadas (TRVP), a transcomunicação instrumental (TCI), a cristalterapia, a
cromoterapia, ufologia etc. A maioria delas não possui fundamentação doutrinária lógica, e não encontram
respaldo nas obras de Allan Kardec, portanto, não são práticas espíritas.

Qualquer Centro Espírita que se utilize de tais práticas está se desviando dos seus verdadeiros e nobres
objetivos. As notícias freqüentemente veiculadas pela mídia em geral de que os espíritas previram o
futuro, fizeram oferendas a Iemanjá, estão ligados a culto demoníaco, dentre outras, comprovam o
desconhecimento que existe sobre a doutrina espírita, apesar da sua atual expansão e crescente número
de adeptos. O Espiritismo não é responsável pelos que abusam do seu nome e o exploram. Assim como
a ciência médica não o é pelos charlatões que vendem suas drogas ou como a religião também não o é
pelos sacerdotes que abusam do seu ministério.

2) O Espiritismo faz macumba, despacho ou qualquer outro ritual?

O Espiritismo não tem culto material e nem tem rituais, não prescreve qualquer vestimenta, nem função
sacerdotal, não usa imagens, nem faz sacrifícios de animais ou seres humanos, não tem símbolos ou
sinais cabalísticos, não faz cerimônias matrimoniais, ou de batismo, nem exorcismo.

Resumindo, a doutrina espírita, tendo como principal objetivo o cultivo dos valores do Espírito, é
totalmente isenta de atos exteriores. Sua nomenclatura se baseia nas obras da codificação e suas
práticas mediúnicas são executadas dentro de um ambiente evangélico de harmonia e oração, sem
qualquer culto exterior ou movimentos e palavreado estereotipados. Suas reuniões mediúnicas são
fechadas ao público e conduzidas com rigor, onde não existem velas, cantos, danças, cigarro, bebida ou
cobrança de taxas. Compreende-se, portanto, que qualquer culto que contenha tais práticas, não pode e
não deve receber a designação de espírita. "Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem
em espírito e em verdade" - (João, 4:24).
3) Qual a diferença do Espiritismo Kardecista para os outros? O que é Espiritismo de mesa
branca?

A doutrina espírita não comporta nenhuma ramificação. Como já colocado na questão '02', por suas
convicções dispensa qualquer ritual ou aparato. A designação popular de mesa branca pode ter advindo
do fato de que as reuniões mediúnicas espíritas ocorrem, para simples acomodação, com os participantes
dispostos ao redor de uma mesa, algumas vezes, com uma toalha branca recoberta sobre ela, o que é
absolutamente dispensável. Como tais reuniões tem caráter íntimo e privado, disciplinado e beneficente, o
termo mesa branca surgiu para diferenciar o Espiritismo de outros cultos, sendo este termo utilizado
popularmente também como sinônimo de Kardecista. Trata-se de um equívoco generalizado, uma vez
que só há um Espiritismo - termo criado pelo próprio Allan Kardec -, o qual tem sua base fundada nas
obras básicas codificadas por ele, a saber: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho
Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. O Espiritismo não adota práticas exteriores para
ser diferenciado. Assim, nem mesa branca, alto ou baixo Espiritismo, Espiritismo elevado, etc, são
sinônimos de doutrina espírita.

4) Todos os médiuns são espíritas?

A mediunidade é uma faculdade inerente a qualquer pessoa. Nem todos os que têm a capacidade de
estabelecer um contato mediúnico são, por esse motivo, espíritas. Esse falso julgamento faz com que
muitas pessoas tenham uma idéia errônea do que seja o Espiritismo e dela se afastem sem buscar
conhecê-la.

5) Para ser espírita tem que ser médium?

Espírita é aquele que crê, estuda e segue a doutrina espírita. É reconhecido pelo esforço que faz em
aprimorar-se dentro dos princípios cristãos, não tendo necessariamente que trabalhar com a
mediunidade. A faculdade mediúnica como missão, ou mediunato, como todas as demais faculdades, não
deve ser imposta. Uma vez detectada e em acordo com o desejo do médium, deve ser desenvolvida em
sessões espíritas apropriadas, com dedicação sincera e humildade, para ser verdadeiramente produtiva .

6) Por quê confundem o Espiritismo com umbanda?

A umbanda é um culto religioso respeitado pelos espíritas como todos os outros o são, até mesmo porque
está amparado no princípio geral da liberdade de crença contido na Constituição do Brasil. Contudo, ela
não é Espiritismo. Seu acervo de símbolos, objetos, instrumentos, práticas, etc, não se ajustam de
maneira alguma à doutrina espírita. Aqueles que confundem umbanda com Espiritismo se apegam às
seguintes afirmações: a umbanda é espiritualista, rende culto a Deus, fundamenta-se em fenômenos
produzidos por espíritos desencarnados, aceita a reencarnação e faz caridade. Todavia, a umbanda tem
culto material, rituais, vestimentas específicas, imagens, altares, pontos riscados e denominações
totalmente especiais para médiuns (cavalos) e espíritos (exús, pretos-velhos, caboclos, ibegis), que não
existem no Espiritismo. Além dessas abismais diferenças, a umbanda não se rege pela codificação de
Allan Kardec. Portanto, está claro que, embora espiritualista e tendo características mediúnicas, a
umbanda não constitui variante nem modalidade do Espiritismo. Essa confusão se dá pelo
desconhecimento do que seja a doutrina espírita e conseqüente interpretação errônea dos fenômenos da
mediunidade.

O Espiritismo é definido por Kardec como “a ciência que estuda a origem, a natureza e a destinação dos
Espíritos, bem como sua relação com o mundo corpóreo. É ao mesmo tempo, uma ciência de observação
e uma filosofia de conseqüências morais”

É o pensamento debruçado sobre si mesmo para reajustar-se à realidade.

O Rustenismo e a Infalibilidade Bíblica


14:07 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

Roustaing e seus discípulos ainda não haviam chegado à Era da Razão, porque se mostraram por
demais entusiastas de teorias mirabolantes, vertidas na linguagem prolixa de Espíritos enganadores, que
só fizeram lançá-los às vagas místicas dos tempos mágicos da antiga Era Mitológica.

Eles julgavam que textos bíblicos, como os versículos da revelação do anjo a Maria e depois a José, por
exemplo, “não podem e não devem ser recusados”.[1] E por esta pseudorrazão, para eles, “o que de
Maria nasceu se formou por obra do Espírito Santo”; entendiam que a concepção, a gravidez e o parto
“não podiam ser e não foram reais”, mas “apenas aparentes”, porque, “se reais tivessem sido, estaríamos
em presença de um fato contrário às leis naturais que presidem à geração dos corpos no seio da
humanidade terrena”.[2]

Bem se vê a opção do misticismo roustainguista: desumanizar o Cristo, “coisificar” Jesus (“o que” de
Maria nasceu). Roustaing e seus discípulos, pois, rejeitaram a ordem natural biológica, criada por Deus e
atestada pela Ciência, em favor da infalibilidade das Escrituras, dogma humano. Não surpreende que
tenham a concepção delirante de que, até que se verifique a chegada de um certo “Espírito
Regenerador”, bem como sua influência sobre o Papa, os médiuns “obterão somente fatos isolados,
estranhos à ordem comum dos fatos”.[3]

Ao oposto da racionalidade do Espiritismo, a “escola” de Roustaing acredita que, por estar escrito na
Bíblia, um texto possui valor de dogma, abrigando necessariamente um suposto significado espiritual.
Seria o caso das palavras bíblicas que dizem não ter Jesus pai, ou mãe, ou mesmo genealogia.[4]
Evidentemente, foram escritas numa preocupação com a tese do pecado original. Como subtrair Jesus a
uma tal maldição? Negar-lhe a genealogia, a natureza biológica.

Acreditando que se empenhava em autenticar o texto evangélico, Roustaing afirmou que a influência
“magneto-espírita” produziu “ilusão completa na mulher virgem e em todos os que testemunharam o fato”,
ou seja, que “a concepção, a gravidez, o parto podem ser imitados”.[5] O magnetizador, segundo ele, foi o
próprio Jesus, que “se serviu da faculdade mediúnica da Virgem Maria para, fluidicamente, simular nela a
gravidez”; e esta ideia absurda foi justificada — pasmem — pela necessidade de o Messias vir ao planeta
Terra “respeitando as tradições e os preconceitos da nação judaica”.[6]

Então, diziam Roustaing e seus discípulos que “Jesus Cristo não foi um homem carnal, revestido de um
corpo material humano, qual o do homem terreno, sujeito como este à morte; não, ele não morreu
efetivamente no Gólgota”.[7]

Ensinavam estas excrescências e depois acusavam Kardec e os espíritas de ser-lhes “indispensável um


Jesus sangrento, choroso, gemebundo, andrajoso e ofegante”; invertendo a ordem natural, a “escola” de
Roustaing afiançava que “há dois mil anos o populacho e os crentes tudo sacrificam para gozar desse
espetáculo fictício e legendário, mas que para um e outros é real”; e decretava que “o Cristo, natureza
superior, não podia sofrer segundo o nosso modo de entender material e terra a terra, eis o que, daqui por
diante, devemos aceitar como verdade”. [8]

Herdeiros do melhor do Iluminismo, acostumados à análise crítica e ao raciocínio lógico-naturalista de


Allan Kardec e de seus elevados Protetores, os espíritas deveriam preferir, segundo os rustenistas, a
impostura à verdade; deveriam considerar como realidade histórica a mal-acabada reedição de um
simples mito delirante concebido por longínqua seita gnóstica.

Aliás, risível é que se diga no opúsculo rustenista que “a tradição mais bela e generosa é a que nos
legaram os grandes missionários da humanidade, sacrificando suas vidas”,[9] pois o rustenismo nega o
sacrifício do maior de todos estes missionários ao dizer que Jesus “não morreu efetivamente”; que, neste
sentido, tudo não passou de “um espetáculo fictício e legendário”, destinado a entreter “o populacho e os
crentes”. Tática semelhante à do ladrão astuto que grita: “Pega ladrão!”.

[1] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 58.


[2] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 59.
[3] Os Quatro Evangelhos. Vol. III, n. 196, F.E.B., 5.ª ed., 1971, pp. 65-66.
[4] Hebreus 7:3.
[5] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 55.
[6] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 61.
[7] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 59.
[8] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 68.
[9] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 76.

Origem da crença nos demônios


10:35 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Allan Kardec

1. - Em todos os tempos os demônios representaram papel saliente nas diversas teogonias, e, posto que
consideravelmente decaídos no conceito geral, a importância que se lhes atribui, ainda hoje, dá à questão
uma tal ou qual gravidade, por tocar o fundo mesmo das crenças religiosas. Eis por que útil se torna
examiná-la, com os desenvolvimentos que comporta.

A crença num poder superior é instintiva no homem. Encontramo-la, sob diferentes formas, em todas as
idades do mundo. Mas, se hoje, dado o grau de cultura atingido, ainda se discute sobre a natureza e
atributos desse poder, calcule-se que noções teria o homem a respeito, na infância da Humanidade.

2. - Como prova da sua inocência, o quadro dos homens primitivos extasiados ante a Natureza e
admirando nela a bondade do Criador é, sem dúvida, muito poético, mas pouco real. De fato, quanto mais
se aproxima do primitivo estado, mais o homem se escraviza ao instinto, como se verifica ainda hoje nos
povos bárbaros e selvagens contemporâneos; o que mais o preocupa, ou, antes, o que exclusivamente o
preocupa é a satisfação das necessidades materiais, mesmo porque não tem outras.

O único sentido que pode torná-lo acessível aos gozos puramente morais não se desenvolve senão
gradual e morosamente; a alma tem também a sua infância, a sua adolescência e virilidade como o corpo
humano; mas para compreender o abstrato, quantas evoluções não tem ela de experimentar na
Humanidade! Por quantas existências não deve ela passar!

Sem nos remontarmos aos tempos primitivos, olhemos em torno a gente do campo e perscrutemos os
sentimentos de admiração que nela despertam o esplendor do Sol nascente, do firmamento a estrelada
abóbada, o trino dos pássaros, o murmúrio das ondas claras, o vergel florido dos prados. Para essa gente
o Sol nasce por hábito, e uma vez que desprende o necessário calor para sazonar as searas, não tanto
que as creste, está realizado tudo o que ela almejava; olha o céu para saber se bom ou mau tempo
sobrevirá; que cantem ou não as aves, tanto se lhe dá, desde que não desbastem da seara os grãos;
prefere às melodias do rouxinol, o cacarejar da galinhada e o grunhido dos porcos; o que deseja dos
regatos cristalinos, ou lodosos, é que não sequem nem inundem; dos prados, que produzam boa erva,
com ou sem flores.

Eis aí tudo o que essa gente almeja, ou, o que é mais, tudo o que da Natureza apreende, conquanto
muito distanciada já dos primitivos homens.
3. - Se nos remontarmos a estes últimos, então, surpreendê-los-emos mais exclusivamente preocupados
com a satisfação de necessidades materiais, resumindo o bem e o mal neste mundo somente no que
concerne à satisfação ou prejuízo dessas necessidades.

Acreditando num poder extra-humano e porque o prejuízo material é sempre o que mais de perto lhes
importa, atribuem-no a esse poder, do qual fazem, aliás, uma idéia muito vaga. E por nada conceberem
fora do mundo visível e tangível, tal poder se lhes afigura identificado nos seres e coisas que os
prejudicam.

Os animais nocivos não passam para eles de representantes naturais e diretos desse poder. Pela mesma
razão, vêem nas coisas úteis a personificação do bem: dai, o culto votado a certas plantas e mesmo a
objetos inanimados.

Mas o homem é comumente mais sensível ao mal que ao bem; este lhe parece temor suplanta o
reconhecimento.

Durante muito tempo o homem não compreendeu senão o bem e o mal físicos; os sentimentos morais só
mais tarde marcaram o progresso da inteligência humana, fazendo-lhe entrever na espiritualidade um
poder extra-humano fora do mundo visível e das coisas materiais. Esta obra foi, seguramente, realizada
por inteligências de escol, mas que não puderam exceder certos limites.

4. - Provada e patente a luta entre o bem e o mal, triunfante este muitas vezes sobre aquele, e não se
podendo racionalmente admitir que o mal derivasse de um benéfico poder, concluiu-se pela existência de
dois poderes rivais no governo do mundo. Daí nasceu a doutrina dos dois princípios, aliás lógica numa
época em que o homem se encontrava incapaz de, raciocinando, penetrar a essência do Ser Supremo.

Como compreenderia, então, que o mal não passa de estado transitório do qual pode emanar o bem,
conduzindo-o à felicidade pelo sofrimento e auxiliando-lhe o progresso? Os limites do seu horizonte
moral, nada lhe permitindo ver para além do seu presente, no passado como no futuro, também não lhe
permitia compreender que já houvesse progredido, que progrediria ainda individualmente, e muito menos
que as vicissitudes da vida resultavam das imperfeições do ser espiritual nele residente, o qual preexiste
e sobrevive ao corpo, na dependência de uma série de existências purificadoras até atingir a perfeição.

Para compreender como do mal pode resultar o bem é preciso considerar não uma, porém, muitas
existências; é necessário apreender o conjunto do qual - e só do qual - resultam nítidas as causas e
respectivos efeitos.

5. - O duplo princípio do bem e do mal foi, durante muitos séculos, e sob vários nomes, a base de todas
as crenças religiosas. Vemo-lo assim sintetizado em Oromase e Arimane entre os persas, em Jeová e
Satã entre os hebreus. Todavia, como todo soberano deve ter ministros, as religiões geralmente
admitiram potências secundárias, ou bons e maus gênios. Os pagãos fizeram deles individualidades com
a denominação genérica de deuses e deram-lhes atribuições especiais para o bem e para o mal, para os
vícios e para as virtudes. Os cristãos e os muçulmanos herdaram dos hebreus os anjos e os demônios.

6. - A doutrina dos demônios tem, por conseguinte, origem na antiga crença dos dois princípios. Compete-
nos examiná-la aqui tão-somente no ponto de vista cristão para ver se está de acordo com as noções
mais exatas que possuímos hoje, dos atributos da Divindade.

Esses atributos são o ponto de partida, a base de todas as doutrinas religiosas; os dogmas, o culto, as
cerimônias, os usos e a moral, tudo é relativo à idéia mais ou menos justa, mais ou menos elevada que se
forma de Deus, desde o fetichismo até o Cristianismo. Se a essência de Deus continua a ser um mistério
para as nossas inteligências, compreendemo-la no entanto melhor que nunca, mercê dos ensinamentos
do Cristo. O Cristianismo racionalmente ensina-nos que: Deus é único, eterno, imutável, imaterial,
onipotente, soberanamente justo e bom, infinito em todas as perfeições.

Foi por isso que algures dissemos - (1ª Parte cap. VI, "Doutrina das penas eternas") "Se se tirasse a
menor parcela de um só dos seus atributos, não haveria mais Deus, por isso que poderia coexistir um ser
mais perfeito." Estes atributos, na sua plenitude absoluta, são, pois, o critério de todas as religiões,
estalão da verdade de cada um dos princípios que ensinam. E para que qualquer desses princípios seja
verdadeiro, preciso é que não encerre um atentado às divinas perfeições. Vejamos se assim é, de fato, na
doutrina vulgar dos demônios.

Os demônios segundo a Igreja

7 . Satanás, o chefe ou o rei dos demônios, não é, segundo a Igreja, uma personificação alegórica do mal,
mas uma entidade real, praticando exclusivamente o mal, enquanto que Deus pratica exclusivamente o
bem.

Tomemo-lo, pois, tal qual no-lo representam. Satanás existe de toda a eternidade, como Deus, ou ser-lhe-
á posterior? Existindo de toda a eternidade é incriado, e, por conseqüência, igual a Deus. Este Deus, por
sua vez, deixará de ser único, pois haverá um deus do mal. Mas se lhe for posterior? Neste caso passa a
ser uma criatura de Deus. Como tal, só praticando o mal por incapaz de fazer o bem e tampouco de
arrepender-se, Deus teria criado um ser votado exclusiva e eternamente ao mal. Não sendo o mal obra de
Deus, seria contudo de uma das suas criaturas, e nem por isso deixava Deus de ser o autor, deixando
igualmente de ser profundamente bom. O mesmo se dá, exatamente, em relação aos seres maus
chamados demônios.

8. - Tal foi, por muito tempo, a crença neste sentido. Hoje dizem (1): "Deus, que é a bondade e santidade
por excelência, não os havia criado perversos e maus. A mão paternal que se apraz imprimir em todas as
suas obras o cunho de infinitas perfeições, cumulara-os de magníficos predicados. As qualidades
eminentíssimas de sua natureza, juntara as liberalidades da sua graça; em tudo os fizera iguais aos
Espíritos sublimes de glória e felicidade; subdivididos por todas as suas ordens e adstritos a todas as
classes, eles tinham o mesmo fim e idênticos destinos. Foi seu chefe o mais belo dos arcanjos. Eles
poderiam até ter alcançado a confirmação de justos para todo o sempre, e serem admitidos ao gozo da
bem-aventurança dos céus. Este último favor, que deverá ser o complemento de todos os outros,
constituía o prêmio da sua docilidade, mas dele desmereceram por insensata e audaciosa revolta."

(1) As citações seguintes são extraídas da pastoral de Monsenhor Gousset, cardeal-arcebispo de


Reims, para a quaresma de 1865. Atentos ao mérito pessoal e à posição do autor, podemos
considerá-las a última expressão da Igreja sobre a doutrina dos demônios.
"Qual foi o escolho da sua perseverança? Que verdade desconheceram? Que ato de adoração, de fé,
recusaram a Deus? A Igreja e os anais das santas escrituras não no-lo dizem positivamente, mas certo
parece que não aquiesceram à mediação do Filho de Deus, nem à exaltação da natureza humana em
Jesus-Cristo."

"O Verbo Divino, criador de todas as coisas, é também o mediador e salvador único, na Terra como no
Céu. O fim sobrenatural não foi dado aos anjos e aos homens senão na previsão de sua encarnação e
méritos, pois não há proporção alguma entre a obra dos Espíritos eminentes e a recompensa, que é o
próprio Deus. Nenhuma criatura poderia alcançar tal fim, sem esta maravilhosa e sublime intervenção da
caridade. Ora, para preencher a distância infinita que separa a sua essência das suas obras, preciso fora
reunisse à sua pessoa os dois extremos, associando à divindade as naturezas ou do anjo, ou do homem:
e preferiu então a natureza humana. Esse plano, concebido de toda eternidade, foi manifestado aos anjos
muito antes da sua execução: o Homem-Deus foi-lhes mostrado como Aquele que deveria confirmá-los
na graça e guiá-los à glória, sob a condição de o adorarem durante a missão terrestre, e para todo o
sempre no céu. Revelação inesperada, arrebatadora visão para corações generosos e gratos, mas -
mistério profundo - humilhante para espíritos soberbos! Esse fim sobrenatural, essa glória imensa que
lhes propunham não seria unicamente a recompensa de seus méritos pessoais. Nunca poderiam atribuir
a si próprios os títulos dessa glória! Uni mediador entre Deus e eles! Que injúria à sua dignidade! E a
preferência espontânea pela natureza humana? Que injustiça! que afronta aos seus direitos!"

"E chegarão eles a ver esta Humanidade, que lhes é tão inferior, deificada pela união com o Verbo,
sentada à mão direita de Deus em trono resplandecente? Consentirão enfim que ela ofereça a Deus,
eternamente, a homenagem da sua adoração?"

"Lúcifer e a terça parte dos anjos sucumbiram a tais pensamentos de inveja e de orgulho. S. Miguel e com
ele muitos exclamaram: "Quem é semelhante a Deus? Ele é o dono de seus dons, o soberano Senhor de
todas as coisas. Glória a Deus e ao Cordeiro, que tem de ser imolado à salvação do mundo." O chefe dos
rebeldes, porém, esquecido de que a Deus devia a sua nobreza e prerrogativas, raiando pela temeridade,
disse: "Sou eu quem ao céu subirá; fixarei residência acima dos astros; sentar-me-ei sobre o monte da
aliança, nos flancos do Aquilão, dominarei as nuvens mais elevadas e serei semelhante ao Altíssimo." Os
que de tais sentimentos partilharam, acolheram essas palavras com murmúrios de aprovação, e
partidários houve em todas as hierarquias. A sua multidão, contudo, não os preserva do castigo."

9. - Esta doutrina suscita várias objeções:

1ª - Se Satã e os demônios eram anjos, eles eram perfeitos; como, sendo perfeitos, puderam falir a ponto
de desconhecer a autoridade desse Deus, em cuja presença se encontravam? Ainda se tivessem logrado
uma tal eminência gradualmente, depois de haver percorrido a escala da perfeição, poderíamos conceber
um triste retrocesso; não, porém, do modo por que no-los apresentam, isto é, perfeitos de origem.

A conclusão é esta: - Deus quis criar seres perfeitos, porquanto os favorecera com todos os dons, mas
enganou-se: logo, segundo a Igreja, Deus não é infalível! (1)

(1) Esta doutrina monstruosa é corroborada por Moisés, quando diz (Gênese, cap. VI, vv. 6 e 7):
"Ele se arrependeu de haver criado o homem na Terra e, penetrado da mais intima dor, disse:
Exterminarei a criação da face da Terra; exterminarei tudo, desde o homem aos animais, desde os
que rastejam sobre a terra até os pássaros do céu, porque me arrependo de os ter criado." Ora, um
Deus que se arrepende do que fez não é perfeito nem infalível; portanto, não é Deus. E são estas
as palavras que a Igreja proclama! Tampouco se percebe o que poderia haver de comum entre os
animais e a perversidade dos homens, para que merecessem tal extermínio.

2ª - Pois que nem a Igreja e nem os sagrados anais explicam a causa da rebelião dos anjos para com
Deus e apenas dão como problemática (quase certa) a relutância no reconhecimento da futura missão do
Cristo, que valor - perguntamos -que valor pode ter o quadro tão preciso e detalhado da cena então
ocorrente? A que fonte recorreram, para inferir se de fato foram pronunciadas palavras tão claras e até
simples colóquios? De duas uma: ou a cena é verdadeira ou não é. No primeiro caso, não havendo
dúvida alguma, por que a Igreja não resolve a questão? Mas se a Igreja e a História se calam se a coisa
apenas parece certa, claro, não passa de hipótese, e acena descritiva é mero fruto da imaginação. (2)

(2) Encontra-se em Isaías, cap. XIV, Vv. 11 e seguintes: "Teu orgulho foi precipitado nos infernos; teu
corpo morto baqueou par terra; tua cama verterá podridão, e vermes tua vestimenta. Como caíste do Céu,
Lúcifer, tu que parecias tão brilhante ao romper do dia? Como foste arrojado sobre a Terra, tu que ferias
as nações com teus golpes; que dizias de coração: Subirei aos céus, estabelecerei meu trono acima dos
astros de Deus, sentar-me-ei acima das nuvens mais altas e serei igual ao Altíssimo! E todavia foste
precipitado dessa glória no inferno, até o mais fundo dos abismos. Os que te virem, aproximando-se,
encarar-te-ão, dizendo: "Será este o homem que turbou a Terra, que aterrou seus remos, que fez do
mundo um deserto, que destruiu cidades e reteve acorrentados os que se lhe entregaram prisioneiros?"
Estas palavras do profeta não se relerem à revolta dos anjos,' são, sim, uma alusão ao orgulho e à queda
do rei de Babilônia, que retinha os judeus em cativeiro, como atestam os últimos versículos. O rei de
Babilônia é alegoricamente designado por Lúcifer, mas não se faz aí qualquer menção da cena supra
descrita. Essas palavras são do rei que as tinha no coração e se colocava por orgulho acima de Deus,
cujo povo escravizara. A profecia da libertação do povo judeu, da rainha de Babilônia e do destroço dos
assírios é, ao demais, o assunto exclusivo desse capítulo.

3ª- As palavras atribuídas a Lúcifer revelam uma ignorância admirável num arcanjo que, por sua natureza
e grau atingido, não deve participar, quanto à organização do Universo, dos erros e dos prejuízos que os
homens têm professado, até serem pela Ciência esclarecidos. Como poderia, então, dizer que fixaria
residência acima dos astros, dominando as mais elevadas nuvens?!

É sempre a velha crença da Terra como centro do Universo, do céu como que formado de nuvens
estendendo-se às estrelas, e da limitada região destas, que a Astronomia nos mostra disseminadas ao
infinito no infinito espaço! Sabendo-se, como hoje se sabe, que as nuvens não se elevam a mais de duas
léguas da superfície terráquea, e falando-se em dominá-las por mais alto, referindo-se a montanhas,
preciso fora que a observação partisse da Terra, sendo ela, de fato, a morada dos anjos. Dado, porém,
ser esta em região superior, inútil fora alçar-se acima das nuvens. Emprestar aos anjos uma linguagem
tisnada de ignorância, é confessar que os homens contemporâneos são mais sábios que os anjos. A
Igreja tem caminhado sempre erradamente, não levando em conta os progressos da Ciência.

10. - A resposta à primeira objeção acha-se na seguinte passagem:

"A escritura e a tradição denominam céu o lugar no qual se haviam colocado os anjos, no momento da
sua criação. Mas esse não era o céu dos céus, o céu da visão beatifica, onde Deus se mostra de face aos
seus eleitos, que o contemplam claramente e sem esforço, porque aí não há mais possibilidade nem
perigo de pecado; a tentação e a dúvida são aí desconhecidas; a justiça, a paz e a alegria reinam
imutáveis, a santidade e a glória imperecíveis. Era, portanto, outra região celeste, uma esfera luminosa e
afortunada, essa em que permaneciam tão nobres criaturas favorecidas pelas divinas comunicações, que
deveriam receber com fé e humildade até serem admitidas no conhecimento da sua realidade essência
do próprio Deus."

Do que precede se infere que os anjos decaídos pertenciam a uma categoria menos elevada e perfeita,
não tendo atingido ainda o lugar supremo em que o erro é impossível. Pois seja: mas, então, há manifesta
contradição nesta afirmativa: - Deus em tudo os tinha criado semelhantes aos espíritos sublimes que,
subdivididos em todas as ordens e adstritos a todas as classes, tinham o mesmo fim e idênticos destinos,
e que seu chefe era o mais belo dos arcanjos. Ora, em tudo semelhantes aos outros, não lhes seriam
inferiores em natureza; idênticos em categorias, não podiam permanecer em um lugar especial. Intacta
subsiste, portanto, a objeção.

11. - E ainda há uma outra que é, certamente, a mais séria e a mais grave.

Dizem: - "Este plano (a intervenção do Cristo), concebido desde toda a eternidade, foi manifestado aos
anjos muito antes da sua execução." Deus sabia, portanto, e de toda a eternidade, que os anjos, tanto
quanto os homens, teriam necessidade dessa intervenção. Ainda mais: - o Deus onisciente sabia que
alguns dentre esses anjos viriam a falir, arcando com a eterna condenação e arrastando a igual sorte uma
parte da Humanidade. E assim, de caso pensado, previamente condenava o gênero humano, a sua
própria criação. Deste raciocínio não há fugir, porquanto de outro modo teríamos que admitir a
inconsciência divina, apregoando a não presciência de Deus. Para nós é impossível identificar uma tal
criação com a soberana bondade. Em ambos os casos vemos a negação de atributos, sem a plenitude
absoluta dos quais Deus não seria Deus.

12. - Admitindo a falibilidade dos anjos como a dos homens, a punição é conseqüência, aliás justa e
natural, da falta; mas se admitirmos concomitantemente a possibilidade do resgate, a regeneração, a
graça, após o arrependimento e a expiação, tudo se esclarece e se conforma com a bondade de Deus.
Ele sabia que errariam, que seriam punidos, mas sabia igualmente que tal castigo temporário seria um
meio de lhes fazer compreender o erro, revertendo alfim em benefício deles. Eis como se explicam as
palavras do profeta Ezequiel: - "Deus não quer a morte, porém a salvação do pecador." (1)

(1) Vede 1ª' Parte, cap. VI, nº 25, citação de Ezequiel.

A inutilidade do arrependimento e a impossibilidade de regeneração, isso sim,importaria a negação da


divina bondade. Admitida tal hipótese, poder-se-ia mesmo dizer, rigorosa e exatamente, que estes anjos
desde a sua criação, visto Deus não poder ignorá-lo, foram votados à perpetuidade do mal, e
predestinados a demônios para arrastarem os homens ao mal.

13. - Vejamos agora qual a sorte desses tais anjos e o que fazem:

"Mal apenas se manifestou a revolta na linguagem dos Espíritos, isto é, no arrojo dos seus pensamentos,
foram eles banidos da celestial mansão e precipitados no abismo. Por estas palavras entendemos que
foram arremessados a um lugar de suplícios no qual sofrem a pena de fogo, conforme o texto do
Evangelho, que é a palavra mesma do Salvador. Ide, malditos, ao fogo eterno preparado pelo demônio e
seus anjos. S. Pedro expressamente diz: que Deus os prendeu às cadeias e torturas infernais, sem que lá
estejam, contudo, perpetuamente, visto como só no fim do mundo serão para sempre enclausurados com
os réprobos. Presentemente, Deus ainda permite que ocupem lugar nesta criação, à qual pertencem, na
ordem de coisas idênticas à sua existência, nas relações enfim que deviam ter com os homens, e das
quais fazem o mais pernicioso abuso. Enquanto uns ficam na tenebrosa morada, servindo de instrumento
da justiça divina contra as almas infelizes que seduziram, outros, em número infinito, formam legiões e
residem nas camadas inferiores da atmosfera, percorrendo todo o globo. Envolvem-se em tudo que aqui
se passa, tomando mesmo parte muito ativa nos acontecimentos terrenos."

Quanto ao que diz respeito às palavras do Cristo sobre o suplício do fogo eterno, já nos explanamos no
cap. IV, "O Inferno".

14. - Por esta doutrina, apenas uma parte dos demônios está no inferno; a outra vaga em liberdade,
envolvendo-se em tudo que aqui se passa, dando-se ao prazer de praticar o mal e isso até o fim do
mundo, cuja época indeterminada não chegará tão cedo, provavelmente. Mas, por que uma tal distinção?
Serão estes menos culpados? Certo que não, a menos que se não revezem, como se pode inferir destas
palavras: "Enquanto uns ficam na tenebrosa morada, servindo de instrumento da justiça divina contra as
almas infelizes que seduziram."

Suas ocupações consistem, pois, em martirizar as almas que seduziram. Assim, não se encarregam de
punir faltas livre e voluntariamente cometidas, porém as que eles próprios provocaram. São ao mesmo
tempo a causa do erro e o instrumento do castigo; e, coisa singular, que a justiça humana por imperfeita
não admitiria - a vitima que sucumbe por fraqueza, em contingências alheias e porventura superiores à
sua vontade, é tanto ou mais severamente punida do que o agente provocador que emprega astúcia e
artifício, visto como essa vitima, deixando a Terra, vai para o inferno sofrer sem tréguas, nem favor,
eternamente, enquanto que o causador da sua primeira falta, o agente provocador, goza de uma tal ou
qual dilação e liberdade até o fim do mundo.

Como pode a justiça de Deus ser menos perfeita que a dos homens?

15. - Mas, ainda não é tudo: "Deus permite que ocupem lugar nesta criação, nas relações que com o
homem deviam ter e das quais abusam perniciosamente." Deus podia ignorar, no entanto, o abuso que
fariam de uma liberdade por ele mesmo concedida? Então, por que a concedeu? Mas nesse caso é com
conhecimento de causa que Deus abandona suas criaturas à mercê delas mesmas, sabendo, pela sua
onisciência, que vão sucumbir, tendo a sorte dos demônios. Não serão elas de si mesmas bastante fracas
para falirem, sem a provocação de um inimigo tanto mais perigoso quanto invisível? Ainda se o castigo
fora temporário e o culpado pudesse remir-se pela reparação!... Mas não: a condenação é irrevogável,
eterna! Arrependimento, regeneração, lamentos, tudo supérfluo!

Os demônios não passam portanto de agentes provocadores e de antemão destinados a recrutar almas
para o inferno, isto com a permissão de Deus, que antevia, ao criar estas almas, a sorte que as
aguardava. Que se diria na Terra de um juiz que recorresse a tal expediente para abarrotar prisões?
Estranha idéia que nos dão da Divindade, de um Deus cujos atributos essenciais são: - justiça e bondade
soberanas!
E dizer-se que é em nome de Jesus, dAquele que só pregou amor, perdão e caridade, que tais doutrinas
são ensinadas! Houve um tempo em que tais anomalias passavam despercebidas, porque não eram
compreendidas nem sentidas; o homem, curvado ao jugo do despotismo, submetia-se à fé cega, abdicava
da razão. Hoje, porém, que a hora da emancipação soou, esse homem compreende a justiça, e,
desejando-a tanto na vida quanto na morte, exclama: - Não é, não pode ser tal, ou Deus não fora Deus.

16. - "O castigo segue por toda a parte os seres decaídos: o inferno está neles e com eles: nem paz nem
repouso, transformadas em amargores as doçuras da esperança, que se lhes torna odiosa. A mão de
Deus desferiu-lhes o castigo no ato mesmo de pecarem, e sua vontade galvanizou-se no mal.

"Tornados perversos, obstinam-se em o ser e sê-lo-ão para sempre.

"São, depois do pecado, o que é o homem depois da morte. A reabilitação dos que caíram torna-se
também impossível; a sua perda é, desde então, irreparável, mantendo-se eles no seu orgulho perante
Deus, no seu ódio contra o Cristo, na sua inveja contra a Humanidade.

"Não tendo podido apropriar-se da glória celeste pelo desmesurado da sua ambição, esforçam-se por
implantar seu império na Terra, banindo dela o reino de Deus. O Verbo encarnado cumpriu, apesar disso,
os seus desígnios para salvação e glória da Humanidade. Também por isso procuram por todos os meios
promover a perda das almas pelo Cristo resgatadas: o artifício e a importunação, a mentira e a sedução,
tudo põem em jogo para arrastá-las ao mal e consumar-lhes a perda.

"E como são infatigáveis e poderosos, a vida do homem com inimigos tais não pode deixar de ser uma
luta sem tréguas, do berço ao túmulo.

"Efetivamente esses inimigos são os mesmos que, depois de terem introduzido o mal no mundo,
chegaram a cobri-lo com as espessas trevas do erro e do vício; os mesmos que, por longos séculos, se
fizeram adorar como deuses e que reinaram em absoluto sobre os povos da antigüidade; os mesmos,
enfim, que ainda hoje exercem tirânica influência nas regiões idólatras, fomentando a desordem e o
escândalo até no seio das sociedades cristãs. Para compreender todos os recursos de que dispõem ao
serviço da malvadez, basta notar que nada perderam das prodigiosas faculdades que são o apanágio da
natureza angélica. Certo, o futuro e sobretudo a ordem natural têm mistérios que Deus se reservou e que
eles não podem penetrar; mas a sua inteligência é bem superior à nossa, porque percebem de um jacto
os efeitos nas causas e vice-versa. Esta percepção permite-lhes predizer acontecimentos futuros que
escapam às nossas conjeturas. A distância e variedade dos lugares desaparecem ante a sua agilidade.
Mais prontos que o raio, mais rápidos que o pensamento, acham-se quase instantaneamente sobre
diversos pontos do globo e podem descrever, a distância, os acontecimentos na mesma hora em que
ocorrem.

"As leis pelas quais Deus rege o Universo não lhes são acessíveis, razão por que não podem derrogá-las,
e, por conseguinte, predizer ou operar verdadeiros milagres; possuem no entanto a arte de imitar e
falsificar, dentro de certos limites, as divinas obras; sabem quais os fenômenos resultantes da
combinação dos elementos, predizem com maior ou menor êxito os que sobrevêm naturalmente, assim
como os que por si mesmos podem produzir. Daí os numerosos oráculos, os extraordinários vaticínios
que sagrados e profanos livros recolheram, baseando e acoroçoando tantas e tantas superstições.
"A sua substância simples e imaterial subtrai-os às nossas vistas; permanecem ao nosso lado sem que os
vejamos, interessam-nos a alma sem que nos firam o ouvido. Acreditando obedecer aos nossos
pensamentos, estamos no entanto, e muitas vezes, debaixo da sua funesta influência. As nossas
disposições, ao contrário, são deles conhecidas pelas impressões que delas transparecem em nós, e
atacam-nos ordinariamente pelo lado mais fraco. Para nos seduzirem com mais segurança, costumam
servir-se de sugestões e engodos conformes com as nossas inclinações. Modificam a ação segundo as
circunstâncias e os traços característicos de cada temperamento. Contudo, suas armas favoritas são a
hipocrisia e a mentira."

17. - Afirmam que o castigo os segue por toda parte; que não sabem o que seja paz nem repouso. Esta
asserção de modo algum destrói a observação que fizemos quanto ao privilégio dos que estão fora do
inferno, e que reputamos tanto menos justificado por isso que podem fazer, e fazem, maior mal. É de crer
que esses demônios extra-infernais não sejam tão felizes como os bons anjos, mas não se deverá ter em
conta a sua relativa liberdade? Eles não possuirão a felicidade moral que a virtude defere, mas são
incontestavelmente mais felizes que os seus comparsas do inferno flamífero. Depois, para o mau, sempre
há um certo gozo na prática do mal, de mais a mais livremente. Perguntai ao criminoso o que prefere: se
ficar na prisão, ou percorrer livremente os campos, agindo à vontade? Pois o caso é exatamente o
mesmo.

Afirmam, outrossim, que o remorso os persegue sem tréguas nem misericórdia, esquecidos de que o
remorso é o precursor imediato do arrependimento, quando não é o próprio arrependimento. "Tornados
perversos, obstinam-se em o ser, e sê-lo-ão para sempre." Mas desde que se obstinam em ser perversos,
é que não têm remorsos; do contrário, ao menor sentimento de pesar, renunciariam ao mal e pediriam
perdão. Logo, o remorso não é para eles um castigo.

18. - "São, depois do pecado, o que é o homem depois da morte. A reabilitação dos que caíram torna-se,
portanto, impossível."

Donde provém essa impossibilidade? Não se compreende que ela seja a conseqüência de sua similitude
com o homem depois da morte, proposição que, ao demais, é muito ambígua.

Acaso provirá da própria vontade dos demônios? Porventura da vontade divina? No primeiro caso a
pertinácia denota uma extrema perversidade, um endurecimento absoluto no mal, e nem mesmo se
compreende que seres tão profundamente perversos pudessem jamais ter sido anjos de virtude,
conservando por tempo indefinido, na convivência destes, todos os traços da sua péssima índole e
natureza.

No segundo caso, ainda menos se compreende que Deus inflija como castigo a impossibilidade da
reparação, após uma primeira falta. O Evangelho nada diz que com isso se pareça.

19. - "A sua perda é desde então irreparável, mantendo-se eles no seu orgulho perante Deus." E de que
lhes serviria não manterem tal orgulho, uma vez que é inútil todo o arrependimento? O bem só poderia
interessá-los se eles tivessem uma esperança de reabilitação, fosse qual fosse o seu preço. Assim não
acontece, no entanto, e pois se perseveram no mal é porque lhes trancaram a porta da esperança. Mas
por que lhes trancaria Deus essa porta? Para se vingar da ofensa decorrente da sua insubmissão. E,
assim, para saciar o seu ressentimento contra alguns culpados, Deus prefere não somente vê-los sofrer,
mas agravar o mal com mal maior; impelir à perdição eterna toda a Humanidade, quando por um simples
ato de demência podia evitar tão grande desastre, aliás previsto de toda a eternidade!

Trata-se, no caso vertente, de um ato de demência, de uma graça pura e simples que pudesse
transformar-se em estimulo do mal? Não, trata-se de um perdão condicional, subordinado a uma
regeneração sincera e completa. Mas, ao invés de uma palavra de esperança e misericórdia, é como se
Deus dissera: "Pereça toda a raça humana antes que minha vingança." E com semelhante doutrina ainda
muita gente se admira de que haja incrédulos e ateus! E é assim que Jesus nos representa seu Pai? Ele
que nos deu a lei expressa do esquecimento e do perdão das ofensas, que nos manda pagar o mal com o
bem, que prescreve o amor dos nossos inimigos como a primeira das virtudes que nos conduzem ao céu,
quereria desse modo que os homens fossem melhores, mais justos, mais indulgentes que o próprio
Deus?
Os demônios segundo o Espiritismo

20. Segundo o Espiritismo, nem anjos nem demônios são entidades distintas, por isso que a criação de
seres inteligentes é uma só. Unidos a corpos materiais, esses seres constituem a Humanidade que povoa
a Terra e as outras esferas habitadas; uma vez libertos do corpo material, constituem o mundo espiritual
ou dos Espíritos, que povoam os Espaços. Deus criou-os perfectíveis e deu-lhes por escopo a perfeição,
com a felicidade que dela decorre. Não lhes deu, contudo, a perfeição, pois quis que a obtivessem por
seu próprio esforço, a fim de que também e realmente lhes pertencesse o mérito. Desde o momento da
sua criação que os seres progridem, quer encarnados, quer no estado espiritual. Atingido o apogeu,
tornam-se puros espíritos ou anjos segundo a expressão vulgar, de sorte que, a partir do embrião do ser
inteligente até ao anjo, há uma cadeia na qual cada um dos elos assinala um grau de progresso.

Do expresso resulta que há Espíritos em todos os graus de adiantamento, moral e intelectual, conforme a
posição em que se acham, na imensa escala do progresso.

Em todos os graus existe, portanto, ignorância e saber, bondade e maldade. Nas classes inferiores
destacam-se Espíritos ainda profundamente propensos ao mal e comprazendo-se com o mal. A estes
pode-se denominar demônios, pois são capazes de todos os malefícios aos ditos atribuídos. O Espiritismo
não lhes dá tal nome por se prender ele à idéia de uma criação distinta do gênero humano, como seres
de natureza essencialmente perversa, votados ao mal eternamente e incapazes de qualquer progresso
para o bem.

21. - Segundo a doutrina da Igreja os demônios foram criados bons e tornaram-se maus por sua
desobediência: são anjos colocados primitivamente por Deus no ápice da escala, tendo dela decaído.
Segundo o Espiritismo os demônios são Espíritos imperfeitos, suscetíveis de regeneração e que,
colocados na base da escala, hão de nela graduar-se. Os que por apatia, negligência, obstinação ou má-
vontade persistem em ficar, por mais tempo, nas classes inferiores, sofrem as conseqüências dessa
atitude, e o hábito do mal dificulta-lhes a regeneração. Chega-lhes, porém, um dia a fadiga dessa vida
penosa e das suas respectivas conseqüências; eles comparam a sua situação à dos bons Espíritos e
compreendem que o seu interesse está no bem, procurando então melhorarem-se, mas por ato de
espontânea vontade, sem que haja nisso o mínimo constrangimento. "Submetidos à lei geral do
progresso, em virtude da sua aptidão para o mesmo, não progridem, ainda assim, contra a vontade."
Deus fornece-lhes constantemente os meios, porém, com a faculdade de aceitá-los ou recusá-los. Se o
progresso fosse obrigatório não haveria mérito, e Deus quer que todos tenhamos o mérito de nossas
obras. Ninguém é colocado em primeiro lugar por privilégio; mas o primeiro lugar a todos é franqueado à
custa do esforço próprio.

Os anjos mais elevados conquistaram a sua graduação, passando, como os demais, pela rota comum.

22. - Chegados a certo grau de pureza, os Espíritos têm missões adequadas ao seu progresso;
preenchem assim todas as funções atribuídas aos anjos de diferentes categorias.

E como Deus criou de toda a eternidade, segue-se que de toda a eternidade houve número suficiente
para satisfazer às necessidades do governo universal. Deste modo uma só espécie de seres inteligentes,
submetida à lei de progresso, satisfaz todos os fins da Criação.

Por fim, a unidade da Criação, aliada à idéia de uma origem comum, tendo o mesmo ponto de partida e
trajetória, elevando-se pelo próprio mérito, corresponde melhor à justiça de Deus do que a criação de
espécies diferentes, mais ou menos favorecidas de dotes naturais, que seriam outros tantos privilégios.

23. - A doutrina vulgar sobre a natureza dos anjos, dos demônios e das almas, não admitindo a lei do
progresso, mas vendo todavia seres de diversos graus, concluiu que seriam produto de outras tantas
criações especiais. E assim foi que chegou a fazer de Deus um pai parcial, tudo concedendo a alguns de
seus filhos, e a outros impondo o mais rude trabalho. Não admira que por muito tempo os homens
achassem justificação para tais preferências, quando eles próprios delas usavam em relação aos filhos,
estabelecendo direitos de primogenitura e outros privilégios de nascimento. Podiam tais homens acreditar
que andavam mais errados que Deus?

Hoje, porém, alargou-se o circulo das idéias: o homem vê mais claro e tem noções mais precisas de
justiça; desejando-a para si e nem sempre encontrando-a na Terra, ele quer pelo menos encontrá-la mais
perfeita no Céu.

E aqui está por que lhe repugna à razão toda e qualquer doutrina, na qual não resplenda a Justiça Divina
na plenitude integral da sua pureza.

NEFCA - Núcleo Espirita de Filosofia e Ciências


Aplicadas
19:47 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Randy*

NEFCA é a sigla de "Núcleo Espirita de Filosofia e Ciências Aplicadas", uma entidade cientifico/filosófica
fundada em São Paulo em 14/11/2010.

Tal entidade reune pessoas de todo o país e tem as caracteristicas da Sociedade Parisiense. O acesso
como associado é restrito às pessoas que comungam de seus interesses.

O objetivo do NEFCA é prosseguir as pesquisas cientificas sobre a fenomenologia espiritual e estimular


as digressões filosóficas iniciadas com a codificação espírita por Kardec e outros que o seguiram.

Podemos dizer que este objetivo se desenvolverá em duas frentes:

1) Investigação científica - onde serão utilizadas metodologias cientificas acadêmicas através do


estabelecimento de convênios com as instituições de pesquisa governamentais e privadas. A intenção é
comprovar ou não diversos axiomas contidos na Doutrina Espírita que resultam em fenomenos descritos
pela literatura: mediuindade, magnetismo, efeitos físicos, etc. Para tanto, a entidade utilizará o Método
Científico acadêmico para impor o viés da neutralidade em experimentos e observações.

2) Aplicação do CUEE - por meio de seus diversos núcleos regionais criados e a serem criados e
também por meio de aliança com outros grupos espíritas de diversas interpretações, a intenção é
submeter algumas questões fundamentais e não respondidas ao critério do Controle Universal dos
Ensinos dos Espiritos. Esta frente segue unicamente a metodologia descrita na codificação e será
realizada unicamente por entes espíritas.

A primeira frente terá seus resultados publicados para todo o público. Já a segunda frente terá vazão
restrita ao público interno espírita. E isso se explica: não se pode expor resultados do CUEE a um publico
cético que questiona a própria existencia da mediunidade. NO futuro, quando a mediunidade for
comprovada cientificamente, os resultados do CUEE pertencerão a toda a humanidade.

Importante frisar que somente são Associados Efetivos aqueles espiritas que comungam do mesmo
pensamento contido na nossa Carta de Principios. Associado Aspirante será aquele que pretenda
consolidar sua posição no quadro social participando do trabalho e evoluindo internamente como membro
eficiente.

Contudo, o NEFCA abre espaço para a participação de pessoas não espiritas por meio de seu Conselho
Técnico Consultivo, ou CTA. A função deste organismo é o de gerenciar o sistema cientifico da entidade e
para tanto prevê-se a participação de cientistas, pesquisadores e outras demais pessoas interessadas e
aplicadas historicamente ao método científico acadêmico. Também poderão fazer parte do CTA quaisquer
outras pessoas que se revelem importantes em sua capacidade analítica, gerencial e provedora no
campo da pesquisa cientifica.

Como linha estratégica, o NEFCA pretende se consolidar como entidade empreendedora em seu primeiro
momento e estender a participação de qualquer outro ente que comungue o desejo de manter a pesquisa
e estimular a filosofia. A participação de instituições espiritas externas que consigam assimilar a
metodologia não está descartada.

O NEFCA é entidade privada, associação civil espirita independente e não se submete a qualquer outra
instituição espirita, senão perante o que determina a lei.

Em seu cronograma, o NEFCA não faz proposta de apresentação de resultados finais. Toda a
programação cientifica será gestada pelo CTA e aplicada por sua Diretoria e os prazos a serem
obedecidos serão somente aqueles que o CTA designar.

Vale lembrar que, embora tenha nascido no Orkut, o NEFCA faz parte da realidade e o Orkut hoje é mero
instrumento adicional, não essencial.

A Fantasia Espírita
13:57 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Riviane Damásio

A relação "amigo-invisível" lembra em muito os relatos infantis, quando a criança com seu amiguinho
invisível, conversa, brinca, ri e divide seu lanche.

A questão é que este convívio tão fácil, vulgar e estreito não está relatado desta forma nem na Doutrina
Espírita nem mesmo na quase-doutrina (espiritismo à moda da casa). Ouve-se isto nos diálogos, nos
causos, nas biografias de médiuns "famosos", etc...ou seja, nos "offs" da vida.

Somado a isto, vem aquela idéia de que tudo é fenômeno espiritual, não no sentido do fenômeno espírita
sério, mas TUDO mesmo.

A luz que apaga de repente foi detonada por energias carregadas do pobre coitado que passou sob o
poste. O cão ameaçador que voltou e estancou de repente foi parado pelo mentor que deu um “stop”
espiritual (embora diariamente milhares de pessoas sejam vitimadas por assaltos, balas perdidas,
mordeduras de cães - e tudo sem a ajudinha básica de espíritos de plantão). O despertar súbito às 3 da
madrugada... nossa, uma hora bem significativa, que deve ter um sentido oculto! A dor de cabeça é coisa
do obsessor... Se bocejar no Centro Espírita, a coisa está brava.

Se a pressão cair então, fica logo internado no Pronto Socorro espiritual.

Caiu a panela, foi espírito; o telefone tocou e parou, foi espírito; tinha uma manchinha na foto, era um
espírito; briga na família, é espiritual, no trabalho, idem; sensação de “deja vu”, não pode ser estresse,
são vidas passadas.

O acidente foi reajuste, o vendaval também, até o bolo que murchou no forno foi a lei da "ação e reação".

Cheiro de flores? Não foi o vento que trouxe, foram os espíritos, a página abriu justamente naquele
capítulo do Evangelho Segundo o Espiritismo que se encaixa... com o que, mesmo? Ufa!

A água do Evangelho no Lar deu bolinhas, então os espíritos intervieram. Foram eles também que
induziram aquele sonho esquisito que deve ter sido uma visita assistencial ao Umbral (quem sonha com o
lendário Umbral, está sempre fazendo trabalho solidário, nunca vai visitar amigos), ou então uma colônia
desenvolvidíssima que fica às margens de Saturno (deu até para ouvir a música que vinha da casa
daquele compositor famoso).

Nada disso isolado, me soa surpreendente, mas tudo junto me parece mais uma viagem de Dorothy ou de
Alice ao país das maravilhas espirituais... e o pior, a maioria nem médium "ostensivo" é, e vive nestas
fantasias encarnatórias (plagiando as fantasias da erraticidade que nos brindou Iso Jorge).

É tanto fenômeno junto cercando algumas pessoas, que não dá para entender o porque de terem
encarnado, pois nesta altura, o véu do esquecimento já foi arrancado há muito tempo e vivem numa
verdadeira nudez espiritual que se mescla com a vida terrena.

Eu confesso, tenho muito medo de fantasia espiritual. Dizem que pega e a vacina se chama Kardec, mas
aqui no Brasil, deixaram de utilizar.

"Os Quatro Evangelhos ", de J. B. Roustaing


23:04 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Gélio Lacerda da Silva

Propusemo-nos analisar partes dos livros de Jean Baptiste Roustaing intitulados "Os Quatro Evangelhos",
denominados também "Revelação da Revelação" e "Espiritismo Cristão", editados pela Federação
Espírita Brasileira e por ela adotados para estudo, ininterrupto, desde a sua fundação.

Apontar todos os conceitos antidoutrinários dos quatro grossos volumes seria necessário escrever outros
tantos livros.

Aos títulos acima se sucedem as palavras "Seguidos dos mandamentos explicados em espírito e verdade
pelos Evangelistas assistidos pelos Apóstolos e Moisés". Tradução de Guillon Ribeiro (ex-presidente da
FEB). Temos a 5ª edição, 1971.
De início, uma "Nota da Editora" enaltecendo as qualidades intelectuais do tradutor Guillon Ribeiro e
informando que ele foi presidente da Federação Espírita Brasileira durante 26 anos consecutivos,
desencarnado em 26 de Outubro de 1943.

Na folha seguinte há uma "RECOMENDAÇÃO":

"Para que o leitor melhor possa compreender e assimilarás ensinamentos contidos nesta obra, necessário
se torna que primeiramente leia as seguintes obras de Allan Kardec:

"O Livro dos Espíritos"

"O Livros dos Médiuns"

A EDITORA."

Esclareça-se, desde já, que Roustaing transplantou para os seus livros a terminologia espírita dos livros
de Kardec, motivo por que a FEB faz essa recomendação. Tão só, porque, com relação à essência da
doutrina espírita, Roustaing modificou-a completamente, como adiante se verá, introduzindo assim o
primeiro cisma no Espiritismo.

Nas páginas 9 à 12, sob o título "DUAS PALAVRAS", o tradutor se revela deslumbrado com a obra de
Roustaing e se confessa "muito aquém do encargo recebido".

Eis pequena mostra das "DUAS PALAVRAS", que ocupam quatro páginas do livro:

"De nenhum modo pretendemos realçar aqui, em duas palavras, o valor e a importância
verdadeiramente extraordinários desta obra incomparável, única até hoje no mundo, onde, dia a dia, à
medida que for sendo calmamente estudada e meditada, avultarão a sua grandiosidade e a sua
profundeza. Para o fazermos, talvez nada menos de um volume houvéramos de escrever, quando nos
não faltasse capacidade".

Note-se o fascínio do tradutor, julgando necessário escrever pelo menos um volume, a título de prefácio
da obra de Roustaing, se não Ihe faltasse capacidade. Se realizasse o seu intento, estaria apenas
seguindo o estilo prolixo do seu mestre Roustaing, já mencionado por Kardec, quando este, na sua crítica
a "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing, afirmou que "a obra poderia ter sido reduzida a dois, ou mesmo
a um só volume e teria ganho em popularidade." ("Revista Espírita", Edicel, junho/1866).

E acrescenta o tradutor:

"Nela se encerra toda uma revelação de verdades divinas que ainda em nenhuma outra fora dado ao
homem entrever. Ela nos põe sob as vistas, banhados numa claridade intensíssima, que por vezes ainda
nos ofusca os olhos tão pouco acostumados à luminosidade das coisas espirituais, esse código de
sabedoria infinita que se há de tornar o código único dos Homens - os Evangelhos de Jesus. Tanto basta
para que a sua preciosidade assinalada fique."

O tradutor, por certo, conhecia os livros de Kardec, mas o seu fascínio pelos livros de Roustaing dá a
medida exala do pouco ou nada que para ele representaram os ensinos da Codificação Kardequiana.
Diante da "claridade intensíssima" da obra roustainguista, que Ihe ofuscou os olhos, vemos o tradutor
imitando Paulo quando, na estrada de Damasco, ficou temporariamente cego pela luminosidade de
Jesus.

Concluindo o resumo das "Duas Palavras":

"Se, apesar dessa assistência e dessa misericórdia, ficamos muito aquém do encargo recebido, como é
nossa convicção, que nos perdoem os que lerem esta tradução da obra imorredoura dos "Quatro
Evangelhos explicados em espírito e verdade"..."

Por questão de respeito, não diremos que a "verdade" roustainguista é uma grosseira mentira, mas
afirmamos, convicto, e o leitor constatará, que a verdade de Roustaing não é a verdade espírita.

É curioso ressaltar que, nos livros de Roustaing, o tradutor enaltece apaixonadamente a obra. No "O
Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, edições FEB, também traduzido por Guillon Ribeiro,
este não escreve sequer uma palavra sobre o livro. Em lugar disso, na 77ª edição, por exemplo, lêem-se
elogios da Federação Espírita Brasileira à erudição do tradutor.

No seu "Prefácio", às páginas 57/67, Roustaing explica o porquê de "Os Quatro Evangelhos":

"Li o Livro dos Espíritos. Nas páginas desse volume encontrei: uma moral pura, uma doutrina racional,
de harmonia com o espírito e progresso dos tempos modernos, consoladora para a razão humana; a
explicação lógica e transcendente da lei divina ou natural, das leis de adoração, de trabalho, de
reprodução, de destruição, de sociedade, de progresso, de igualdade, de liberdade, de justiça, de amor
e caridade, de aperfeiçoamento moral, dos sofrimentos e gozos futuros.

"Em seguida, deparei com explicações judiciosas acerca da alma no estado de encarnação e no de
liberdade; do fenômeno da morte, da individualidade e das condições de individualidade da alma após
a morte; do que se chamou anjo e demônio; dos caminhos e meios, dos agentes secretos ou ostensivos
de que se serve Deus para o funcionamento, o desenvolvimento, o progresso físico dos mundos; do
progresso e desenvolvimento físico, moral e intelectual de todas as suas criaturas.

"Encontrei ainda a explicação racional da pluralidade dos mundos; da lei do renascimento presidindo,
pelo progresso incessante não só da matéria como da inteligência, à vida e à harmonia universais, no
infinito e na eternidade.

"Compreendi, mais do que nunca, diante da pluralidade dos mundos e das humanidades, assim como de
suas hierarquias; da pluralidade das existências e da respectiva hierarquia, que os homens, no nosso
planetas são de uma inferioridade moral notória; de uma inferioridade intelectual acentuada
relativamente às leis a que estão sujeitos na Terra os diversos reinos da Natureza e às leis naturais a
que obedecem os mundos e as humanidades superiores, por meio das quais aquelas leis se conjugam na
unidade e na solidariedade.

(- - -)
"Li em seguida o Livro dos Médiuns..., consultei a História,... Per lustrei os livros das duas revelações, o
Antigo e o Novo Testamento...

"Mas, se por um lado a moral sublime do Cristo resplandeceu a meus olhos em toda a sua pureza, em
todo o seu fulgor, como brotando de uma fonte divina, por outro lado, tudo permaneceu obscuro,
incompreensível e impenetrável à minha razão, no tocante à revelação sobre a origem e a natureza
espirituais de Jesus, sobre a sua posição espírita em relação a Deus e ao nosso planeta, sobre os seus
poderes e a sua autoridade.

"Quanto à revelação sobre uma origem, uma natureza ao mesmo tempo humanas e extra-humanas de
Jesus, sobre o modo de sua aparição na Terra, tudo, como antes, se conservou igualmente obscuro,
incompreensível e impenetrável à minha razão.

" .. senti a impotência da razão humana para penetrar as trevas da letra e, desde então, a necessidade
de uma revelação nova, de uma revelação da Revelação "

( )

Como se vê, "Os Quatro Evangelhos" foram ditados a Roustaing para atendê-lo nas suas dúvidas quanto
à origem e natureza de Jesus. Os espíritos mistificadores, contudo, foram além da expectativa de
Roustaing: satisfizeram-no com a teoria de um Jesus de natureza extra-humana, não gerado por Maria,
enfim, um agênere, ressuscitando a ideologia docetista do corpo aparente de Jesus, surgida logo após a
sua morte, que o apóstolo João denunciou de "Anticristo" (João, lª Ep. Univ., 4: l a 3, e 2ª Ep., 1:7), e
ainda, nesses livros de Roustaing, a falange de espíritos embusteiros contesta vários ensinos espíritas
contidos nos livros de Allan Kardec.

Há, também, no 1° volume de "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing, uma "Introdução" por ele escrita, da
pág. 69 à 126: são 58 páginas com repetidas referências ao "corpo fluídico" de Jesus ou à sua "natureza
extra-humana", e à "virgindade de Maria", expressões que se estendem, exaustivamente, ao longo dos
quatro grossos volumes.

O deslumbramento de Roustaing pela tese docetista "de que Jesus não veio em carne", condenada pelo
apóstolo João, é de tal monta que, enquanto o Espiritismo diz "Fora da Caridade não há Salvação",
Roustaing coloca como pedra angular de sua doutrina "a natureza extra-humana de Jesus". Se o
espiritismo se preocupa com a essência dos ensinos de Jesus, Roustaing se fascina com a teoria do
Jesus de apenas "corpo fluídico".

*Retirado do livro "Conscientização Espírita"

André Luiz existiu?


22:55 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT
Por Randy*

O famoso e suposto autor espiritual André Luiz, que dispensa apresentações, nos é apresentado por
Francisco Xavier como um espirito inferior que, sem mais nem menos, o movimento espirita elevou à
categoria de espírito puro.

Sim, espirito puro, pois aos espiritos puros é dado tudo saber e André Luiz aparenta ter respostas para
tudo. Mas, somente sob o seu unico ponto de vista, sem consolidação nenhuma com nenhum tipo de
aferição ou consolidação.

E quando uma informação não é aferida e quando não há o menor interesse em aferi-la, somos
obrigados, por plena compreensão do conteúdo do Livro dos Médiuns, a questionar a própria identidade
do espírito.

Não há provas - nenhuma - da identidade desse espirito. Estranhamente, quando Kardec compilou a
codificação, os espiritos comunicantes faziam questão de se identificar - e com nomes que utilizaram
encarnados e que eram plenamente conhecidos. A lista é grande e extremamente significativa. Claro que
os nomes em si não dizem nada, mas o conjunto de informações com identidade também auxiliam na
credibilidade de uma informação após, é claro, aferida pelo CUEE.

Mas... quem era André Luiz?... Qual sua importância para a história da construção do pensamento
filosófico? Vamos apelar - qual sua importância para a construção do pensamento cristão? Que grande
cientista teria sido para aprimorar a ciência espírita? Que lastro intelecto/moral ele possuía para, mesmo
sem considerar o CUEE, alguém lhe dar crédito?

Não sabemos. O que sabemos são as estranhas palavras de Waldo Vieira, co-autor de diversos livros
assinados por André Luiz, no sentido de que Chico Xavier fraudou comunicações. Isso é grave e isso é
muito sério. Temos ainda comprovações de plágio de obras cientificas em sites de análise cética. E temos
pareceres de cientistas destruindo as fantasiosas teorias cientificas daquele suposto autor espiritual.

Então, esse suposto espirito, realmente existiu?

Que provas temos disso? Basta a palavra de UM médium? O mesmo acusado de fraude por seu
parceiro?

Surgiram lendas de que seria um médico brasileiro famoso. Até quadros já foram pintados. Mas... onde a
comprovação? Se um Erasto chega para um medium e dita um compendio de gloriosos axiomas
cientifico/morais e diz: sou Erasto, por que o suposto espírito mais lido do país nunca disse: sou fulano?

Vamos nos lembrar que esse mesmo suposto espirito, segundo as proprias palavras de seu suposto autor
encarnado, acabava de sair do inexistente Umbral. Bem, se saiu de lá, era inferior... Afinal, embora seja
possivel evoluir no plano espiritual, a reencarnação é compulsória para essa evolução. Então, um suposto
espirito sai do Umbral e logo em seguida vira um sábio com milhares de seguidores encarnados?

De onde teria saido, então, S. Agostinho, S.Luiz, Erasto?

E esse mesmo suposto espirito, saido do Umbral, dita impiedosamente uma nova doutrina simulando ser
Espiritismo e... as pessoas seguem??? Então, estamos a seguir imperfeitos e os superiores são deixados
ao lado?

Vamos fazer outras indagações, todas sem resposta:

- Por que Francisco Xavier nunca recebeu comunicação de um espirito da codificação?

- Por que este mesmo autor jamais recebeu uma unica comunicação de Kardec?

- Por que jamais se leu a partir dele uma unica comunicação do Espirito de Verdade?

- Quais, de fato, foram as comunicações de espiritos de fato superiores recebidos por este autor?

- E por que, afinal de contas, as pessoas em geral não tentam responder a essas perguntas sem a paixão
da idolatria?

Quem é André Luiz, então? Teria mesmo existido? Ou foi apenas o fruto de animismo de seu autor
encarnado - acusado de fraude por seu sócio?

OBS: estamos totalmente abertos à contestação destas idéias, desde que devidamente embasadas.
Afinal, são perguntas. Talvez nós mesmos desconheçamos respostas importantes. Vamos ver... Sempre
tem alguém que responde. Quando não é aqui**, são as maricotas de outros lugares que não tiram os
olhos daqui pelo ibope pessoal...

O porvir e o nada
14:52 ADMINISTRADOR NO COMMENTS
Por Allan Kardec

(Fonte: O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo)

1. - Vivemos, pensamos e operamos - eis o que é positivo. E que morremos, não é menos certo.

Mas, deixando a Terra, para onde vamos? Que seremos após a morte? Estaremos melhor ou pior?
Existiremos ou não? Ser ou não ser, tal a alternativa. Para sempre ou para nunca mais; ou tudo ou nada:
Viveremos eternamente, ou tudo se aniquilara de vez? É uma tese, essa, que se impõe.

Todo homem experimenta a necessidade de viver, de gozar, de amar e ser feliz. Dizei ao moribundo que
ele viverá ainda; que a sua hora é retardada; dizei-lhe sobretudo que será mais feliz do que porventura o
tenha sido, e o seu coração rejubilará.

Mas, de que serviriam essas aspirações de felicidade, se um leve sopro pudesse dissipá-las?

Haverá algo de mais desesperador do que esse pensamento da destruição absoluta? Afeições caras,
inteligência, progresso, saber laboriosamente adquiridos, tudo despedaçado, tudo perdido! De nada nos
serviria, portanto, qualquer esforço no sofreamento das paixões, de fadiga para nos ilustrarmos, de
devotamento à causa do progresso, desde que de tudo isso nada aproveitássemos, predominando o
pensamento de que amanhã mesmo, talvez, de nada nos serviria tudo isso. Se assim fora, a sorte do
homem seria cem vezes pior que a do bruto, porque este vive inteiramente do presente na satisfação dos
seus apetites materiais, sem aspiração para o futuro. Diz-nos uma secreta intuição, porém, que isso não é
possível.

2. - Pela crença em o nada, o homem concentra todos os seus pensamentos, forçosamente, na vida
presente.

Logicamente não se explicaria a preocupação de um futuro que se não espera.

Esta preocupação exclusiva do presente conduz o homem a pensar em si, de preferência a tudo: é, pois,
o mais poderoso estimulo ao egoísmo, e o incrédulo é conseqüente quando chega à seguinte conclusão:
Gozemos enquanto aqui estamos; gozemos o mais possível, pois que conosco tudo se acaba; gozemos
depressa, porque não sabemos quanto tempo existiremos

Ainda conseqüente é esta outra conclusão, aliás mais grave para a sociedade: Gozemos apesar de tudo,
gozemos de qualquer modo, cada qual por si: a felicidade neste mundo é do mais astuto.
E se o respeito humano contém a alguns seres, que freio haverá para os que nada temem?

Acreditam estes últimos que as leis humanas não atingem senão os ineptos e assim empregam todo o
seu engenho no melhor meio de a elas se esquivarem.

Se há doutrina insensata e anti-social, é, seguramente, o niilismo que rompe os verdadeiros laços de


solidariedade e fraternidade, em que se fundam as relações sociais.

3. - Suponhamos que, por uma circunstância qualquer, todo um povo adquire a certeza de que em oito
dias, num mês, ou num ano será aniquilado; que nem um só indivíduo lhe sobreviverá, como de sua
existência não sobreviverá nem um só traço: Que fará esse povo condenado, aguardando o extermínio?

Trabalhará pela causa do seu progresso, da sua instrução? Entregar-se-á ao trabalho para viver?
Respeitará os direitos, os bens, a vida do seu semelhante? Submeter-se-á a qualquer lei ou autoridade
por mais legitima que seja, mesmo a paterna?

Haverá para ele, nessa emergência, qualquer dever?

Certo que não. Pois bem! O que se não dá coletivamente, a doutrina do niilismo realiza todos os dias
isoladamente, individualmente.

E se as conseqüências não são desastrosas tanto quanto poderiam ser, é, em primeiro lugar, porque na
maioria dos incrédulos há mais jactância que verdadeira incredulidade, mais dúvida que convicção -
possuindo eles mais medo do nada do que pretendem aparentar - o qualificativo de espíritos fortes
lisonjeia-lhes a vaidade e o amor-próprio; em segundo lugar, porque os incrédulos absolutos se contam
por ínfima minoria, e sentem a seu pesar os ascendentes da opinião contrária, mantidos por uma força
material.

Torne-se, não obstante, absoluta a incredulidade da maioria, e a sociedade entrará em dissolução.

Eis ao que tende a propagação da doutrina niilista. (1)

Fossem, porém, quais fossem as suas conseqüências, uma vez que se impusesse como verdadeira, seria
preciso aceitá-la, e nem sistemas contrários, nem a idéia dos males resultantes poderiam obstar-lhe a
existência. Forçoso é dizer que, a despeito dos melhores esforços da religião, o cepticismo, a dúvida, a
indiferença ganham terreno dia a dia.

Mas, se a religião se mostra impotente para sustar a incredulidade, é que lhe falta alguma coisa na luta.
Se por outro lado a religião se condenasse à imobilidade, estaria, em dado tempo, dissolvida.

O que lhe falta neste século de positivismo, em que se procura compreender antes de crer, é, sem
dúvida, a sanção de suas doutrinas por fatos positivos, assim como a concordância das mesmas com os
dados positivos da Ciência. Dizendo ela ser branco o que os fatos dizem ser negro, é preciso optar entre
a evidência e a fé cega.
(1) Um moço de dezoito anos, afetado de uma enfermidade do coração, foi declarado incurável. A
Ciência havia dito: Pode morrer dentro de oito dias ou de dois anos, mas não irá além. Sabendo-o,
o moço para logo abandonou os estudos e entregou-se a excessos de todo o gênero.

Quando se lhe ponderava o perigo de uma vida desregrada, respondia: Que me importa, se não tenho
mais de dois anos de vida? De que me serviria fatigar o espírito? Gozo o pouco que me resta e quero
divertir-me até ao fim. Eis a conseqüência lógica do niilismo.

Se este moço fora espírita, teria dito: A morte só destruirá o corpo, que deixarei como fato usado, mas o
meu Espírito viverá. Serei na vida futura aquilo que eu próprio houver feito de mim nesta vida; do que nela
puder adquirir em qualidades morais e intelectuais nada perderei, porque será outro tanto de ganho para
o meu adiantamento; toda a imperfeição de que me livrar será um passo a mais para a felicidade. A
minha felicidade ou infelicidade depende da utilidade ou inutilidade da presente existência. É portanto de
meu interesse aproveitar o pouco tempo que me resta, e evitar tudo que possa diminuir-me as forças.
Qual destas doutrinas é preferível?

4. - É nestas circunstâncias que o Espiritismo vem opor um dique à difusão da incredulidade, não
somente pelo raciocínio, não somente pela perspectiva dos perigos que ela acarreta, mas pelos fatos
materiais, tornando visíveis e tangíveis a alma e a vida futura.

Todos somos livres na escolha das nossas crenças; podemos crer em alguma coisa ou em nada crer,
mas aqueles que procuram fazer prevalecer no espírito das massas, da juventude principalmente, a
negação do futuro, apoiando-se na autoridade do seu saber e no ascendente da sua posição, semeiam
na sociedade germens de perturbação e dissolução, incorrendo em grande responsabilidade.

5. - Há uma doutrina que se defende da pecha de materialista porque admite a existência de um princípio
inteligente fora da matéria: é a da absorção no Todo Universal.

Segundo esta doutrina, cada indivíduo assimila ao nascer uma parcela desse princípio, que constitui sua
alma, e dá-lhe vida, inteligência e sentimento.

Pela morte, esta alma volta ao foco comum e perde-se no infinito, qual gota dágua no oceano.

Incontestavelmente esta doutrina é um passo adiantado sobre o puro materialismo, visto como admite
alguma coisa, quando este nada admite. As conseqüências, porém, são exatamente as mesmas.

Ser o homem imerso em o nada ou no reservatório comum, é para ele a mesma coisa; aniquilado ou
perdendo a sua individualidade, é como se não existisse; as relações sociais nem por isso deixam de
romper-se, e para sempre.

O que lhe é essencial é a conservação do seu eu; sem este, que lhe importa ou não subsistir?

O futuro afigura-se-lhe sempre nulo, e a vida presente é a única coisa que o interessa e preocupa.

Sob o ponto de vista das conseqüências morais, esta doutrina é, pois, tão insensata, tão desesperadora,
tão subversiva como o materialismo propriamente dito.
6. - Pode-se, além disso, fazer esta objeção: todas as gotas d'água tomadas ao oceano se assemelham e
possuem idênticas propriedades como partes de um mesmo todo; por que, pois, as almas tomadas ao
grande oceano da inteligência universal tão pouco se assemelham? Por que o gênio e a estupidez, as
mais sublimes virtudes e os vícios mais ignóbeis? Por que a bondade, a doçura, a mansuetude ao lado da
maldade, da crueldade, da barbaria? Como podem ser tão diferentes entre si as partes de um mesmo
todo homogêneo? Dir-se-á que é a educação que a modifica? Neste caso donde vêm as qualidades
inatas, as inteligências precoces, os bons e maus instintos independentes de toda a educação e tantas
vezes em desarmonia com o meio no qual se desenvolvem?

Não resta dúvida de que a educação modifica as qualidades intelectuais e morais da alma; mas aqui
ocorre uma outra dificuldade: Quem dá a esta a educação para fazê-la progredir? Outras almas que por
sua origem comum não devem ser mais adiantadas. Além disso, reentrando a alma no Todo Universal
donde saiu, e havendo progredido durante a vida, leva-lhe um elemento mais perfeito. Dai se infere que
esse Todo se encontraria, pela continuação, profundamente modificado e melhorado. Assim, como se
explica saírem incessantemente desse Todo almas ignorantes e perversas?

7. - Nesta doutrina, a fonte universal de inteligência que abastece as almas humanas é independente da
Divindade; não é precisamente o panteísmo.

O panteísmo propriamente dito considera o principio universal de vida e de inteligência como constituindo
a Divindade. Deus é concomitantemente Espírito e matéria; todos os seres, todos os corpos da Natureza
compõem a Divindade, da qual são as moléculas e os elementos constitutivos; Deus é o conjunto de
todas as inteligências reunidas; cada indivíduo, sendo uma parte do todo, é Deus ele próprio; nenhum ser
superior e independente rege o conjunto; o Universo é uma imensa república sem chefe, ou antes, onde
cada qual é chefe com poder absoluto.

8. - A este sistema podem opor-se inumeráveis objeções, das quais são estas as principais: não se
podendo conceber divindade sem infinita perfeição, pergunta-se como um todo perfeito pode ser formado
de partes tão imperfeitas, tendo necessidade de progredir? Devendo cada parte ser submetida à lei do
progresso, força é convir que o próprio Deus deve progredir; e se Ele progride constantemente, deveria
ter sido, na origem dos tempos, muito imperfeito.

E como pôde um ser imperfeito, formado de idéias tão divergentes, conceber leis tão harmônicas, tão
admiráveis de unidade, de sabedoria e previdência quais as que regem o Universo? Se todas as almas
são porções da Divindade, todos concorreram para as leis da Natureza; como sucede, pois, que elas
murmurem sem cessar contra essas leis que são obra sua? Uma teoria não pode ser aceita como
verdadeira senão com a cláusula de satisfazer a razão e dar conta de todos os fatos que abrange; se um
só fato lhe trouxer um desmentido, é que não contém a verdade absoluta.

9. - Sob o ponto de vista moral, as conseqüências são igualmente ilógicas. Em primeiro lugar é para as
almas, tal como no sistema precedente, a absorção num todo e a perda da individualidade. Dado que se
admita, consoante a opinião de alguns panteístas, que as almas conservem essa individualidade, Deus
deixaria de ter vontade única para ser um composto de miríades de vontades divergentes.

Além disso, sendo cada alma parte integrante da Divindade, deixa de ser dominada por um poder
superior; não incorre em responsabilidade por seus atos bons ou maus; soberana, não tendo interesse
algum na prática do bem, ela pode praticar o mal impunemente.

10. - Demais, estes sistemas não satisfazem nem a razão nem a aspiração humanas; deles decorrem
dificuldades insuperáveis, pois são impotentes para resolver todas as questões de fato que suscitam. O
homem tem, pois, três alternativas: o nada, a absorção ou a individualidade da alma antes e depois da
morte

É para esta última crença que a lógica nos impele irresistivelmente, crença que tem formado a base de
todas as religiões desde que o mundo existe.

E se a lógica nos conduz à individualidade da alma, também nos aponta esta outra conseqüência: a sorte
de cada alma deve depender das suas qualidades pessoais, pois seria irracional admitir que a alma
atrasada do selvagem, como a do homem perverso, estivesse no nível da do sábio, do homem de bem.
Segundo os princípios de justiça, as almas devem ter a responsabilidade dos seus atos, mas para haver
essa responsabilidade, preciso é que elas sejam livres na escolha do bem e do mal; sem o livre-arbítrio
há fatalidade, e com a fatalidade não coexistiria a responsabilidade.

11. - Todas as religiões admitiram igualmente o principio da felicidade ou infelicidade da alma após a
morte, ou, por outra, as penas e gozos futuros, que se resumem na doutrina do céu e do inferno
encontrada em toda parte.

No que elas diferem essencialmente, é quanto à natureza dessas penas e gozos, principalmente sobre as
condições determinantes de umas e de outras.

Daí os pontos de fé contraditórios dando origem a cultos diferentes, e os deveres impostos por estes,
consecutivamente, para honrar a Deus e alcançar por esse meio o céu, evitando o inferno.

12. - Todas as religiões houveram de ser em sua origem relativas ao grau de adiantamento moral e
intelectual dos homens: estes, assaz materializados para compreenderem o mérito das coisas puramente
espirituais, fizeram consistir a maior parte dos deveres religiosos no cumprimento de fórmulas exteriores.

Por muito tempo essas fórmulas lhes satisfizeram a razão; porém, mais tarde, porque se fizesse a luz em
seu espírito, sentindo o vácuo dessas fórmulas, uma vez que a religião não o preenchia, abandonaram-na
e tornaram-se filósofos.

13. - Se a religião, apropriada em começo aos conhecimentos limitados do homem, tivesse acompanhado
sempre o movimento progressivo do espírito humano, não haveria incrédulos, porque está na própria
natureza do homem a necessidade de crer, e ele crerá desde que se lhe dê o pábulo espiritual de
harmonia com as suas necessidades intelectuais.

O homem quer saber donde velo e para onde vai. Mostrando-se-lhe um fim que não corresponde às suas
aspirações nem à idéia que ele faz de Deus, tampouco aos dados positivos que lhe fornece a Ciência;
impondo-se-lhe, ademais, para atingir o seu desiderato, condições cuja utilidade sua razão contesta, ele
tudo rejeita; o materialismo e o panteísmo parecem-lhe mais racionais, porque com eles ao menos se
raciocina e se discute, falsamente embora. E há razão, porque antes raciocinar em falso do que não
raciocinar absolutamente.

Apresente-se-lhe, porém, um futuro condicionalmente lógico, digno em tudo da grandeza, da justiça e da


infinita bondade de Deus, e ele repudiará o materialismo e o panteísmo, cujo vácuo sente em seu foro
intimo, e que aceitará à falta de melhor crença.

O Espiritismo dá coisa melhor; eis por que é acolhido pressurosamente por todos os atormentados da
dúvida, os que não encontram nem nas crenças nem nas filosofias vulgares o que procuram. O
Espiritismo tem por si a lógica do raciocínio e a sanção dos fatos, e é por isso que inutilmente o têm
combatido.

14. - Instintivamente tem o homem a crença no futuro, mas não possuindo até agora nenhuma base certa
para defini-lo, a sua imaginação fantasiou os sistemas que originaram a diversidade de crenças. A
Doutrina Espírita sobre o futuro - não sendo uma obra de imaginação mais ou menos arquitetada
engenhosamente, porém o resultado da observação de fatos materiais que se desdobram hoje à nossa
vista -congraçará, como já está acontecendo, as opiniões divergentes ou flutuantes e trará gradualmente,
pela força das coisas, a unidade de crenças sobre esse ponto, não já baseada em simples hipótese, mas
na certeza. A unificação feita relativamente à sorte futura das almas será o primeiro ponto de contacto dos
diversos cultos, um passo imenso para a tolerância religiosa em primeiro lugar e, mais tarde, para a
completa fusão.

Como se forma um magnetizador?


15:02 ADMINISTRADOR 1 COMMENT

Por Randy*

Frequentemente temos dito que não existe o "passe espirita" e somos muito especificos quando dizemos
isso.

A codificação não prevê esse tipo de coisa que se vê por aí: gente dançando, estalando dedos, "alisando"
o ar e etc. E se criaram diversas teorias para esse tipo de coisa, deram nomes aos passes, deram
direções, mas tudo baseado em...

Não sabemos no que se baseia esse tipo de coisa.

A codificação fala em cura mediunica e magnetização. Não vamos falar em cura mediunica, posto que
esta é rara. Mas, sobre a magnetização... O que é isso? Seriam os "passistas" magnetizadores? Aliás,
qualquer um pode ser um magnetizador?

Vemos nos CE´s que qualquer um pode ser "passista". Mas, em alguns há até "curso de passes",
baseados em Jacob de Mello e em Edgar Armond. Isso suplantaria o que seria necessário para tornar
alguém um magnetizador?

Não vemos como isso seria possível. O magnetizador, no conceito clássico, também é o hipnotizador. E
foi sobre o conceito clássico que Kardec trabalhou, já que ele conheceu Mesmer (o "codificador" da
magnetização). Além disso, o problema é que não existem manuais confiáveis de como perceber a
capacidade magnetizadora e tampouco como desenvolvê-la.

A maior parte do material sobre o assunto não fala sobre esta questão e sim sobre a confusão que reside
com o "passe".

A nossa questão sobre o passe espírita, suposto que seja, mas inexistente enquanto conceito, está no:

- conceito

- método

- treinamento

O conceito é o clássico. O método...

O método, segundo a codificação é unicamente a imposição de mãos.

O treinamento... Bem, para começar, a magnetização só surte efeitos positivos quando realizada por
pessoas que possuem elevada moral, posto que a qualidade do magnetismo diz respeito a essa
qualidade.

Portanto, NÃO, nem todo mundo pode ser magnetizador espirita e NÃO, o povo que anda por aí dando
passes que não conheça os mecanismos de magnetização e elevada moral não poderiam estar aplicando
os tais "passes".

Então, o passe, por conta disso, não existe, não é eficaz e não atua sobre sólida estrutura cientifica.

Mas, permanece a pergunta: como se forma um magnetizador espirita?

Vamos à codificaçao para verificar algumas coisas:

32. São extremamente variados os efeitos da ação fluídica sobre os doentes, de acordo com as
circunstâncias. Algumas vezes é lenta e reclama tratamento prolongado, como no magnetismo
ordinário; doutras vezes é rápida, como uma corrente elétrica. Há pessoas dotadas de tal poder, que
operam curas instantâneas nalguns doentes, por meio apenas da imposição das mãos, ou,
até,exclusivamente por ato da vontade. Entre os dois pólos extremos dessa faculdade, há infinitos
matizes. Todas as curas desse gênero são variedades do magnetismo e só diferem pela intensidade e
pela rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo: o fluido, a desempenhar o papel de agente
terapêutico e cujo efeito se acha subordinado à sua qualidade e a circunstâncias especiais.

Observem os destaques. A magnetização pode ser feita sem a imposição de mãos. Nesse caso, por que
todos os passistas que conhecemos bailam com suas mãos? Resposta - porque não são magnetizadores
- apenas repetem o que lhe foi repassado sem o devido estudo, SELEÇÃO MORAL e treinamento DE
MAGNETIZAÇÃO.

Notem ainda que se fala em "fluidos subordinados à qualidade". Então, não há mais uma vez, como
imaginar que qualquer um poderia ser um magnetizados (ou passista, como dizem os equivocados).

E finalmente, diz-se de "circunstancias especiais". Mas... oras... Nos CE´s sempre há filas de pessoas que
se obrigam a tomar passes e dezenas de "mediuns" misteriosamente escolhidos que aplicam os tais
passes indiscriminadamente. Então, onde estão as circunstancias especiais de que fala a codificação?

Vamos ainda a outros conceitos...

33. A ação magnética pode produzir-se de muitas maneiras:

1º pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou magnetismo humano,


cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do fluido;

2º pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um encarnado, seja para o
curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja para exercer
sobre o indivíduo uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade
está na razão direta das qualidades do Espírito;

3º pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para esse
derramamento. É o magnetismo misto, semi-espiritual, ou, se o preferirem, humano-espiritual.
Combinado com o fluido humano, o fluido espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Em
tais circunstâncias, o concurso dos Espíritos é amiúde espontâneo, porém, as mais das vezes, provocado
por um apelo do magnetizador.

Nota-se a questão da "qualidade" sendo insistentemente colocada. Quando não se fala da qualidade de
um magnetizador, fala-se da qualidade do espirito. Mas... a qualidade do espirito que se utiliza de um
medium também se liga por afinidade MORAL ao medium, salvo, como diz o Livro dos Mediuns, em
"casos especiais". Casos especiais não podem ser frequentes, ou não seriam especiais.

Vamos prosseguir:

34. É muito comum a faculdade de curar pela influência fluídica e pode desenvolver-se por meio do
exercício; mas, a de curar instantaneamente, pela imposição das mãos, essa é mais rara e o seu
grau máximo se deve considerar excepcional. No entanto, em épocas diversas e no seio de quase todos
os povos, surgiram indivíduos que a possuíam em grau eminente. Nestes últimos tempos, apareceram
muitos exemplos notáveis, cuja autenticidade não sofre contestação. Uma vez que as curas desse
gênero assentam num princípio natural e que o poder de operá-las não constitui privilégio, o que se
segue é que elas não se operam fora da Natureza e que só são miraculosas na aparência.

Vejam... diversas pessoas entram numa "câmara de passe" com dores aqui, ali e dizem sairem dali
curadas. Mas, é evidente que dores de cabeça ou musculares ou em outras partes do corpo não
constituem cura, mas amenização de efeitos. E nesse ponto, como diz o trecho acima sobre a
excepcionalidade, até onde vai a autenticidade, tanto do passista, quanto do suposto doente?

Porém, o mais importante aqui é o trecho que inspirou este tópico: a faculdade magnétizadora pode se
desenvolver por meio do exercicio.

Mas... nao se fala que tipo de exercicio seria esse.

Já captamos que o magnetizador precisa ter moral elevada. Já captamos que nem todos são
magnetizadores natos. Mas, não elaboramos como, se fato, de exercita um magnetizador.

Eis a raiz da questão. A magnetização surgiu como ciência e veio ainda conjugada com a hipnose. Quase
sempre o magnetizador é um hipnotizador. Sendo assim, não há como dizer que os passistas sejam
magnetizadores, nem que o que eles aplicam - o passe - seja magnetização. O passe - essa coisa que se
faz por aí - não existe. É um placebo realizado por uma maioria de pessoas que desconhecem conceitos
e treinamento.

No entanto, permanece a questão de cunho cientifico para nós:

- Como descobrir e treinar um magnetizador?

* Moderador da comunidade Eu Sou Espírita - Espiritismo do Orkut

Reencarnação no Contexto Histórico


14:21 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Paulo da Silva Neto Sobrinho


“Pois não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não existe nada de
oculto que não venha a ser conhecido”. (JESUS, Mt 10,26).

A cada dia que desenvolvemos nossos estudos sobre o tema reencarnação estamos vendo que,
infelizmente, muitas coisas foram expurgadas das Sagradas Escrituras, a verdade pouco lhes importa,
com o objetivo de justificar a manutenção de dogmas religiosos. Dogmas esses que ainda servem aos
interesses das lideranças religiosas, que buscam de todas as formas fazer com que seus fiéis
permaneçam na ignorância e assim sigam acreditando nessa teologia “Adão e Eva”.

Assim, é que já em Êxodo 20, 5, mudaram a preposição, que fatalmente nos levaria à conclusão
da existência da reencarnação, quando trocam o “na” por “até”, vejamos:

“... porque eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniqüidade dos pais sobre os filhos
até a terceira e quarta geração dos que me odeiam”.

Só que, com essa mudança, o texto entra em conflito com outra passagem bíblica:

“Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais. Cada um será executado
por seu próprio crime”. (Dt 24, 16) [ [1] ].

Entretanto, se colocarmos a preposição “na” em lugar da usada no texto, ficaremos perfeitamente


coerentes com essa passagem anterior e a justiça divina não puniria um inocente, mas o próprio espírito
culpado que nasceria como neto ou bisneto dele mesmo, ou seja, o próprio criminoso reencarnado como
um de seus descendentes.

Sempre lemos, de outros autores, que a idéia da reencarnação existia no cristianismo primitivo e existe no
judaísmo, como por exemplo, Dr. Severino Celestino da Silva, em Analisando as Traduções Bíblicas, H.
Spencer Lewis, F.R.C, Ph.D., no livro A Vida Mística de Jesus e o teólogo alemão Holger Kersten, autor
de Jesus Viveu na Índia, do qual transcrevemos:

“Até agora, quase todos os historiadores da Igreja acreditaram que a doutrina da


reencarnação foi declarada herética durante o Concílio de Constantinopla em 553. No
entanto, a condenação da doutrina se deve a uma ferrenha oposição pessoal do imperador
Justiniano, que nunca esteve ligado aos protocolos do Concílio. Segundo Procópio, a
ambiciosa esposa de Justiniano, que, na realidade, era quem manejava o poder, era filha
de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio. Ela iniciou sua rápida ascensão ao
poder como cortesã. Para se libertar de um passado que a envergonhava, ordenou, mais
tarde, a morte de quinhentas antigas ‘colegas’ e, para não sofrer as conseqüências dessa
ordem cruel em uma outra vida como preconizava a lei do Carma, empenhou-se em abolir
toda a magnífica doutrina da reencarnação. Estava confiante no sucesso dessa anulação,
decretada por ‘ordem divina’”.

“Em 543 d.C. o imperador Justiniano, sem levar em conta o ponto de vista papal,
declarou guerra frontal aos ensinamentos de Orígenes, condenando-os através de um
sínodo especial. Em suas Obras De Principiis e Contra Celsum, Orígenes (185-235 d.C), o
grande Padre da Igreja, tinha reconhecido, abertamente, a existência da alma antes do
nascimento e sua dependência de ações passadas. Ele pensava que certas passagens do
Novo Testamento poderiam ser explicadas somente à luz da reencarnação”.

“Do Concílio convocado pelo imperador Justiniano só participaram bispos do Oriente


(ortodoxos). Nenhum de Roma. E o próprio Papa, que estava em Constantinopla naquela
ocasião, deixou isso bem claro”.

“O Concílio de Constantinopla, o quinto dos Concílios, não passou de um encontro, mais


ou menos em caráter privado, organizado por Justiniano, que, mancomunado com alguns
vassalos, excomungou e maldisse a doutrina da pré-existência da alma, apesar dos
protestos do Papa Virgílio, com a publicação de seus Anathemata”.

“A conclusão oficial a que o Concílio chegou após uma discussão de quatro semanas
teve que ser submetida ao Papa para ratificação. Na verdade, os documentos que lhe
foram apresentados (os assim-chamados ‘Três Capítulos’) versavam apenas sobre a
disputa a respeito dos três eruditos que Justiniano, há quatro anos, havia por um edito
declarado heréticos. Nada continham sobre Orígenes. Os Papas seguintes, Pelágio I (556-
561), Pelágio II (579-590) e Gregório (590-604), quando se referiram ao quinto Concílio,
nunca tocaram no nome de Orígenes”.

“A Igreja aceitou o edito de Justiniano – ‘Todo aquele que ensinar esta fantástica pré-
existência da alma e sua monstruosa renovação será condenado’ – como parte das
conclusões do Concílio. Portanto, a proibição da doutrina da reencarnação não passa de
um erro histórico, sem qualquer validade eclesiástica”. (pág. 240-241).

E especificamente quanto ao judaismo podemos comprovar pelo historiador judeu Flavius Josephus,
citado por Dr. Hernani de Guimarães Andrade, no livro Você e a Reencarnação, à página 28. Dr. Hernani
em referência a WHISTON (The Works of Flavius Josephus, trad. Willian Whiston, M.A., London: War, Loc
& Co. Limited.), diz-nos:

Flavius Josephus (37 a 95 a.D.), intelectual e historiador judeu, em sua famosa obraDe
Bello Judaico, faz a seguinte advertência aos soldados judeus que preferiam desertar,
suicidando-se:
"Não vos recordais de que todos os espíritos puros que se encontram em conformidade
com a vontade divina vivem no mais humildes dos lugares celestiais, e que no decorrer do
tempo eles serão novamente enviados de volta para habitar corpos inocentes? Mas que as
almas daqueles que cometeram suicídio serão atiradas às regiões trevosas do mundo
inferior?" (Josephus, 1910).

Entretanto, até nessa clássica obra desse autor da antiguidade modificaram o texto para, obviamente,
fugir da idéia da reencarnação, conforme podemos comprovar pela tradução de Vicente Pedroso,
publicada no livro História dos Hebreus, (CPAD, 7ª ed., 2003), que diz o seguinte (pág. 600):

Não sabeis que Ele difunde suas bênçãos sobre a posteridade daqueles, que depois de
ter chamado para junto de si, entregam em suas mãos, a vida, que, segundo as leis da
natureza, Ele lhes deu e que suas almas voam puras para o céu, para lá viverem felizes e
voltar, no correr dos séculos, animar corpos que sejam puros como elas (*) e que ao invés,
as almas dos ímpios, que por uma loucura criminosa dão a morte a si mesmos são
precipitados nas trevas do inferno.

(*) Parece, segundo estas palavras, que Josefo acreditava na metempsicose.

Observar que apesar dos textos serem bem semelhantes, mudaram todo o sentido do original
para fugir da idéia da reencarnação. Dúvida que envolveu até o próprio editor: “Parece, segundo estas
palavras, que Josefo acreditava na metempsicose”, querendo dissimular o pensamento sobre a
reencarnação.

Mas se esqueceu de modificar o que disse Josephus, quando fala no que acreditavam os
fariseus:

“Eles julgam que as almas são imortais, que são julgadas em um outro mundo e
recompensadas ou castigadas segundo foram neste, viciosas ou virtuosas; que umas são
eternamente retidas prisioneiras nessa outra vida e que outras voltam a esta”. (op. cit., pág.
416).

Entretanto, o mesmo não aconteceu com a tradução do livro Atos dos Apóstolos 23, 8, onde se diz que os
fariseus sustentam “a ressurreição”, quando, na verdade, deveria ser “a reencarnação”, conforme nos
informa o historiador judeu.

Podemos ainda acrescentar as informações contidas no livro As Rodas da Alma, onde o Rabino Philip S.
Berg desenvolvendo o tema dentro da ótica cabalista, diz a certa altura (pág. 29):

“Entre todos os que aceitam a doutrina da reencarnação, talvez os cabalistas sejam os


únicos que acreditam que uma alma pode retornar num nível inferior daquele que deixou
em uma vida anterior. Efetivamente, se o peso do tikun (correção) for suficientemente
pesado, uma alma humana poderá se encontrar reencarnada no corpo de um animal, de
uma planta ou até mesmo de uma pedra”.

“A Cabala é o significado mais profundo e oculto da Torá, ou Bíblia”, diz Berg, o que confirma que é um
conhecimento do judaísmo místico, segundo suas próprias palavras.

Trazemos também a opinião de Sérgio F. Aleixo, escritor e estudioso da Bíblia, que em seu
livroReencarnação – Lei da Bíblia, Lei do Evangelho, Lei de Deus, diz o seguinte (pág. 21):

“Neste trabalho, queremos demonstrar que a cultura judaico-cristã tem precedentes


reencarnacionistas incontestáveis, a despeito de as políticas igrejeiras, sustentadas pelos
mais absurdos teologismos, se obstinarem ainda em negá-los”.

É comum a certas pessoas advogarem que devemos, para interpretar a Bíblia, levar em conta o contexto
histórico, mas quando o fato é reencarnação não seguem a sua própria recomendação. Os fatos
históricos estão aí relatados, e não há como mudá-los. Resta então aos fanáticos a humildade de
mudarem de posicionamento em relação ao assunto. Embora sinceramente achamos isso muito difícil,
pois são completamente cegos, cuja única verdade que aceitam é a que lhes ensinaram, pouco importa
se corresponde à realidade ou não. Todos os que pensam diferente deles são “heréticos” que precisam
ser combatidos.
Aos que ainda nos dias de hoje perseguem os Espíritas por causa desse princípio doutrinário do
Espiritismo, recomendamos que leiam mais, mas saiam da literatura de autores “recomendados” e
busquem a verdade em outras obras, principalmente de outros autores, estudiosos e pesquisadores da
reencarnação, que não os de sua corrente religiosa. Somente os que temem a verdade é que proíbem a
leitura de obras fora do “nihil obstat” de sua liderança religiosa.

Referências Bibliográficas:

ALEIXO, S.F. Reencarnação – Lei da Bíblia, Lei do Evangelho, Lei de Deus, Niterói, Lachâtre, 2003.

ANDRADE, H.G. Você e a Reencarnação, Bauru, CEAC, 2002.

BERG, P. S. As Rodas da Alma, São Paulo, Centro de Estudos da Cabala, 1998.

CHAVES, J. R. A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência, São Paulo, 2002.

DIVERSOS. Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002.

KERSTEN, H. Jesus Viveu na Índia. São Paulo, Best Seller, 1988.

LEWIS, H.S. A Vida Mística de Jesus, Curitiba, AMORC, 2001.

SILVA, S. C. Analisando as Traduções Bíblicas. João Pessoa; Idéia, 2001.

Os Milagres Segundo O Espiritismo


15:27 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Allan Kardec - A Gênese

Os milagres no sentido teológico - O Espiritismo não faz milagres - Faz Deus milagres? - O sobrenatural e as religiões
Os milagres no sentido teológico

1. - Na acepção etimológica, a palavra milagre (de mirari, admirar) significa: admirável, coisa
extraordinária, surpreendente. A Academia definiu-a deste modo: Um ato do poder divino contrário às leis
da Natureza, conhecidas.

Na acepção usual, essa palavra perdeu, como tantas outras, a significação primitiva. De geral, que era, se
tornou de aplicação restrita a uma ordem particular de fatos. No entender das massas, um milagre implica
a idéia de um fato extranatural; no sentido teológico, é uma derrogação das leis da Natureza, por meio da
qual Deus manifesta o seu poder. Tal, com efeito, a acepção vulgar, que se tornou o sentido próprio, de
modo que só por comparação e por metáfora a palavra se aplica às circunstâncias ordinárias da vida.

Um dos caracteres do milagre propriamente dito é o ser inexplicável, por isso mesmo que se realiza com
exclusão das leis naturais. É tanto essa a idéia que se lhe associa, que, se um fato milagroso vem a
encontrar explicação, se diz que já não constitui milagre, por muito espantoso que seja. O que, para a
Igreja, dá valor aos milagres é, precisamente, a origem sobrenatural deles e a impossibilidade de serem
explicados. Ela se firmou tão bem sobre esse ponto, que o assimilarem-se os milagres aos fenômenos da
Natureza constitui para ela uma heresia, um atentado contra a fé, tanto assim que excomungou e até
queimou muita gente por não ter querido crer em certos milagres.

Outro caráter do milagre é o ser insólito, isolado, excepcional. Logo que um fenômeno se reproduz, quer
espontânea, quer voluntariamente, é que está submetido a uma lei e, desde então, seja ou não seja
conhecida a lei, já não pode haver milagres.

2. - Aos olhos dos ignorantes, a Ciência faz milagres todos os dias. Se um homem, que se ache
realmente morto, for chamado à vida por intervenção divina, haverá verdadeiro milagre, por ser esse um
fato contrário às leis da Natureza. Mas, se em tal homem houver apenas aparências de morte, se lhe
restar uma vitalidade latente e a Ciência, ou uma ação magnética, conseguir reanimá-lo, para as pessoas
esclarecidas ter-se-á dado um fenômeno natural, mas, para o vulgo ignorante, o fato passará por
miraculoso. Lance um físico, do meio de certas campinas, um papagaio elétrico e faça que o raio caia
sobre uma árvore e certamente esse novo Prometeu será tido por armado de diabólico poder. Houvesse,
porém, Josué detido o movimento do Sol, ou, antes, da Terra e teríamos aí o verdadeiro milagre,
porquanto nenhum magnetizador existe dotado de bastante poder para operar semelhante prodígio.

Foram fecundos em milagres os séculos de ignorância, porque se considerava sobrenatural tudo aquilo
cuja causa não se conhecia. À proporção que a Ciência revelou novas leis, o círculo do maravilhoso se foi
restringindo; mas, como a Ciência ainda não explorara todo o vasto campo da Natureza, larga parte dele
ficou reservada para o maravilhoso.

3. - Expulso do domínio da materialidade, pela Ciência, o maravilhoso se encastelou no da


espiritualidade, onde encontrou o seu último refúgio. Demonstrando que o elemento espiritual é uma das
forças vivas da Natureza, força que incessantemente atua em concorrência com a força material, o
Espiritismo faz que voltem ao rol dos efeitos naturais os que dele haviam saído, porque, como os outros,
também tais efeitos se acham sujeitos a leis. Se for expulso da espiritualidade, o maravilhoso já não terá
razão de ser e só então se poderá dizer que passou o tempo dos milagres. (Cap. I, nº 18.)
O Espiritismo não faz milagres

4. - O Espiritismo, pois, vem, a seu turno, fazer o que cada ciência fez no seu advento: revelar novas leis
e explicar, conseguintemente, os fenômenos compreendidos na alçada dessas leis.

Esses fenômenos, é certo, se prendem à existência dos Espíritos e à intervenção deles no mundo
material e isso é, dizem, o em que consiste o sobrenatural. Mas, então, fora mister se provasse que os
Espíritos e suas manifestações são contrárias às leis da Natureza; que aí não há, nem pode haver, a
ação de uma dessas leis.

O Espírito mais não é do que a alma sobrevivente ao corpo; é o ser principal, pois que não morre, ao
passo que o corpo é simples acessório sujeito à destruição. Sua existência, portanto, é tão natural depois,
Como durante a encarnação; está submetido às leis que regem o princípio espiritual, como o corpo o está
às que regem o princípio material; mas, como estes dois princípios têm necessária afinidade, como
reagem incessantemente um sobre o outro, como da ação simultânea deles resultam o movimento e a
harmonia do conjunto, segue-se que a espiritualidade e a materialidade são duas partes de um mesmo
todo, tão natural uma quanto a outra, não sendo, pois, a primeira uma exceção, uma anomalia na ordem
das coisas.

5. - Durante a sua encarnação, o Espírito atua sobre a matéria por intermédio do seu corpo fluídico ou
perispírito, dando-se o mesmo quando ele não está encarnado. Como Espírito e na medida de suas
capacidades, faz o que fazia como homem; apenas, por já não ter o corpo carnal para instrumento, serve-
se, quando necessário, dos órgãos materiais de um encarnado, que vem a ser o a que se chama médium.
Procede então como um que, não podendo escrever por si mesmo, se vale de um secretário, ou que, não
sabendo uma língua, recorre a um intérprete. O secretário e o intérprete são os médiuns de um
encarnado, do mesmo modo que o médium é o secretário ou o intérprete de um Espírito.

6. - Já não sendo o mesmo que no estado de encarnação o meio em que atuam os Espíritos e os modos
por que atuam, diferentes são os efeitos, que parecem sobrenaturais unicamente porque se produzem
com o auxílio de agentes que não são os de que nos servimos. Desde, porém, que esses agentes estão
na Natureza e as manifestações se dão em virtude de certas leis, nada há de sobrenatural, ou de
maravilhoso. Antes de se conhecerem as propriedades da eletricidade, os fenômenos elétricos passavam
por prodígios para certa gente; desde que se tornou conhecida a causa, desapareceu o maravilhoso. O
mesmo ocorre com os fenômenos espíritas, que não são mais aberrantes das leis naturais do que os
fenômenos elétricos, acústicos, luminosos e outros, que serviram de fundamento a uma imensidade de
crenças supersticiosas.

7. - Entretanto, dir-se-á, admitis que um Espírito pode levantar uma mesa e mantê-la no espaço sem
ponto de apoio; não está aí uma derrogação da lei da gravidade? - Sim, da lei conhecida. Conhecem-se,
porém, todas as leis? Antes que se houvesse experimentado a força ascensional de alguns gases, quem
diria que uma pesada máquina, transportando muitos homens, poderia triunfar da força de atração? Ao
vulgo, isso não pareceria maravilhoso, diabólico? Aquele que se houvera proposto, há um século, a
transmitir uma mensagem a 500 léguas e receber a resposta dentro de alguns minutos, teria passado por
louco; se o fizesse, teriam acreditado estar o diabo às suas ordens, porquanto, então, só o diabo era
capaz de andar tão depressa. Hoje, no entanto, não só se reconhece possível o fato, como ele parece
naturalíssimo. Por que, pois, um fluido desconhecido careceria da propriedade de contrabalançar, em
dadas circunstâncias, o efeito da gravidade, como o hidrogênio contrabalança o peso do balão? É,
efetivamente, o que sucede, no caso de que se trata. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. IV.)

8. - Uma vez que estão no quadro dos da Natureza, os fenômenos espíritas se hão produzido em todos
os tempos; mas, precisamente, porque não podiam ser estudados pelos meios materiais de que dispõe a
ciência vulgar, permaneceram muito mais tempo do que outros no domínio do sobrenatural, donde o
Espiritismo agora os tira.

Baseado em aparências inexplicadas, o sobrenatural deixa livre curso à imaginação que, a vagar pelo
desconhecido, gera as crenças supersticiosas. Uma explicação racional, fundada nas leis da Natureza,
reconduzindo o homem ao terreno da realidade, fixa um ponto de parada aos transviamentos da
imaginação e destrói as superstições. Longe de ampliar o domínio do sobrenatural, o Espiritismo o
restringe até aos seus limites extremos e lhe arrebata o último refúgio. Se é certo que ele faz crer na
possibilidade de alguns fatos, não menos certo é que, por outro lado, impede a crença em diversos
outros, porque demonstra, no campo da espiritualidade, a exemplo da Ciência no da materialidade, o que
é possível e o que não o é. Todavia, como não alimenta a pretensão de haver dito a última palavra seja
sobre o que for, nem mesmo sobre o que é da sua competência, ele não se apresenta como absoluto
regulador do possível e deixa de parte os conhecimentos reservados ao futuro.

9. - Os fenômenos espíritas consistem nos diferentes modos de manifestação da alma ou Espírito, quer
durante a encarnação, quer no estado de erraticidade. É pelas manifestações que produz que a alma
revela sua existência, sua sobrevivência e sua individualidade; julga-se dela pelos seus efeitos; sendo
natural a causa, o efeito também o é. São esses efeitos que constituem objeto especial das pesquisas e
do estudo do Espiritismo, a fim de chegar-se a um conhecimento tão completo quanto possível, assim da
natureza e dos atributos da alma, como das leis que regem o princípio espiritual.

10. - Para os que negam a existência do princípio espiritual independente, que negam, por conseguinte, a
da alma individual e sobrevivente, a Natureza toda está na matéria tangível; todos os fenômenos que
concernem à espiritualidade são, para esses negadores, sobrenaturais e, portanto, quiméricos. Não
admitindo a causa não podem eles admitir os efeitos e, quando estes são patentes, os atribuem à
imaginação, à ilusão, à alucinação e se negam a aprofundá-los. Daí, a opinião preconcebida em que se
acastelam e que os torna inaptos a apreciar judiciosamente o Espiritismo, porque parte do princípio de
negação de tudo o que não seja material.

11. - Do fato, porém, de o Espiritismo admitir os efeitos, que são corolário da existência da alma, não se
segue que admita todos os efeitos qualificados de maravilhosos e que se proponha a justificá-los e dar-
lhes crédito; que se faça campeão de todos os devaneios, de todas as utopias, de todas as
excentricidades sistemáticas, de todas as lendas miraculosas. Fora preciso conhecê-lo muito pouco, para
pensar assim. Seus adversários julgam opor-lhe um argumento irreplicável, quando, depois de haverem
feito eruditas pesquisas sobre os convulsionários de Saint-Médard, sobre os camisardos das Cevenas, ou
sobre os religiosos de Loudun, chegaram a descobrir fatos patentes de embuste, que ninguém contesta.
Mas, essas histórias serão, porventura, o Evangelho do Espiritismo? Já terão seus adeptos negado que o
charlatanismo haja explorado em proveito próprio alguns fatos; que a imaginação os tenha criado; que o
fanatismo os haja exagerado muitíssimo? Ele é tão solidário com as extravagâncias que se cometam em
seu nome, como a Ciência o é com os abusos da ignorância e a verdadeira religião com os abusos do
fanatismo. Muitos críticos julgam do Espiritismo pelos contos de fadas e pelas lendas populares, ficções
daqueles contos. O mesmo seria julgar da História pelos romances históricos ou pelas tragédias.

12. - Os fenômenos espíritas são as mais das vezes espontâneos e se produzem sem nenhuma idéia
preconcebida da parte das pessoas com quem eles se dão e que, em regra, são as que neles menos
pensam. Alguns há que, em certas circunstâncias, podem ser provocados pelos agentes denominados
médiuns. No primeiro caso, o médium é inconsciente do que se produz por seu intermédio no segundo,
age com conhecimento de causa, donde a classificação de médiuns conscientes e médiuns
inconscientes. Estes últimos são os mais numerosos e se encontram com freqüência entre os mais
obstinados incrédulos que, assim, praticam o Espiritismo sem o saberem, nem quererem. Por isso
mesmo, os fenômenos espontâneos revestem capital importância, visto não se poder suspeitar da boa-fé
dos que os obtêm. Dá-se aqui o que se dá com o sonambulismo que, em certos indivíduos, é natural e
involuntário, enquanto que noutros é provocado pela ação magnética. (1)

(1) O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. V. - Revue Spirite; exemplos: dezembro de 1865, pág. 370, agosto
de 1865, pág. 231.

Resultem, porém, ou não esses fenômenos de um ato da vontade, a causa primária é exatamente a
mesma e não se afasta uma linha das leis naturais. Os médiuns, portanto, nada absolutamente produzem
de sobrenatural; por conseguinte, nenhum milagre fazem. As próprias curas instantâneas não são mais
milagrosas, do que os outros efeitos, dado que resultam da ação de um agente fluídico, que desempenha
o papel de agente terapêutico, cujas propriedades não deixam de ser naturais por terem sido ignoradas
até agora. É, pois, totalmente impróprio o epíteto de taumaturgos que a crítica ignorante dos princípios do
Espiritismo há dado a certos médiuns. A qualificação de milagres emprestada, por comparação, a esta
espécie de fenômenos, somente pode induzir em erro sobre o verdadeiro caráter deles.

13. - A intervenção de inteligências ocultas nos fenômenos espíritas não os torna mais milagrosos do que
todos os outros fenômenos devidos a agentes invisíveis, porque esses seres ocultos que povoam os
espaços São uma das forças da Natureza, força cuja ação é incessante sobre o mundo material, tanto
quanto sobre o mundo moral.

Esclarecendo-nos acerca dessa força, o Espiritismo faculta a elucidação de uma imensidade de coisas
inexplicadas e inexplicáveis por qualquer outro meio e que, por isso, passaram por prodígios nos tempos
idos. Do mesmo modo que o magnetismo, ele revela uma lei, senão desconhecida, pelo menos mal
compreendida; ou, melhor dizendo, conheciam-se os efeitos, porque eles em todos os tempos se
produziram, porém não se conhecia a lei e foi o desconhecimento desta que gerou a superstição.
Conhecida essa lei, desaparece o maravilhoso e os fenômenos entram na ordem das coisas naturais. Eis
por que tanto operam um milagre os espíritas quando fazem que uma mesa se mova sozinha, ou que os
mortos escrevam, como um milagre opera o médico, quando faz que um moribundo reviva, ou o físico,
quando faz que o raio caia. Aquele que pretendesse, com o auxílio desta ciência, fazer milagres seria ou
um ignorante do assunto, ou um enganador de tolos.

14. - Pois que o Espiritismo repudia toda pretensão às coisas miraculosas, haverá, fora dele, milagres, na
acepção usual desta palavra?

Digamos, primeiramente, que, dos fatos reputados milagrosos, ocorridos antes do advento do Espiritismo
e que ainda no presente ocorrem, a maior parte, senão todos, encontram explicação nas novas leis que
ele veio revelar. Esses fatos, portanto, se compreendem, embora sob outro nome, na ordem dos
fenômenos espíritas e, como tais, nada têm de sobrenatural. Fique, porém, bem entendido que nos
referimos aos fatos autênticos e não aos que, com a denominação de milagres, são produto de uma
indigna trampolinice, com o fito de explorar a credulidade. Tampouco nos referimos a certos fatos
lendários que podem ter tido, originariamente, um fundo de verdade, mas que a superstição ampliou até
ao absurdo. Sobre esses fatos é que o Espiritismo projeta luz, fornecendo meios de apartar do erro a
verdade.

Faz Deus milagres?

15. - Quanto aos milagres propriamente ditos, Deus, visto que nada lhe é impossível, pode fazê-los. Mas,
fá-los? Ou, por outras palavras; derroga as leis que dele próprio emanaram? Não cabe ao homem
prejulgar os atos da Divindade, nem os subordinar à fraqueza do seu entendimento. Contudo, em face
das coisas divinas, temos, para critério do nosso juízo, os atributos mesmos de Deus. Ao poder soberano
reúne ele a soberana sabedoria, donde se deve concluir que não faz coisa alguma inútil.

Por que, então, faria milagres? Para atestar o seu poder, dizem. Mas, o poder de Deus não se manifesta
de maneira muito mais imponente pelo grandioso conjunto das obras da criação, pela sábia previdência
que essa criação revela, assim nas partes mais gigantescas, como nas mais mínimas, e pela harmonia
das leis que regem o mecanismo do Universo, do que por algumas pequeninas e pueris derrogações que
todos os prestímanos sabem imitar? Que se diria de uni sábio mecânico que, para provar a sua
habilidade, desmantelasse um relógio construído pelas suas mãos, obra-prima de ciência, a fim de
mostrar que pode desmanchar o que fizera? Seu saber, ao contrário, não ressalta muito mais da
regularidade e da precisão do movimento da sua obra?

Não é, pois, da alçada do Espiritismo a questão dos milagres; mas, ponderando que Deus não faz coisas
inúteis, ele emite a seguinte opinião: Não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus,
nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo, como
são, perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que
ainda nos faltam os conhecimentos necessários.

16. - Admitido que Deus houvesse alguma vez, por motivos que nos escapam, derrogado acidentalmente
leis por ele estabelecidas, tais leis já não seriam imutáveis. Mesmo, porem, que semelhante derrogação
seja possível, ter-se- á, pelo menos, de reconhecer que só ele, Deus, dispõe desse poder; sem se negar
ao Espírito do mal a onipotência, não se pode admitir lhe seja dado desfazer a obra divina, operando, de
seu lado, prodígios capazes de seduzir até os eleitos, pois que isso implicaria a idéia de um poder igual
ao de Deus. E, no entanto, o que ensinam. Se Satanás tem o poder de sustar o curso das leis naturais,
que são obra de Deus, sem a permissão deste, mais poderoso é ele do que a Divindade. Logo, Deus não
possui a onipotência e se, como pretendem, delega poderes a Satanás, para mais facilmente induzir os
homens ao mal, falta-lhe a soberana bondade. Em ambos os casos, há negação de um dos atributos sem
os quais Deus não seria Deus.

Daí vem a Igreja distinguir os bons milagres, que procedem de Deus, dos maus milagres, que procedem
de Satanás. Mas, como diferençá-los? Seja satânico ou divino um milagre, haverá sempre uma
derrogação de leis emanadas unicamente de Deus. Se um indivíduo é curado por suposto milagre, quer
seja Deus quem o opere, quer Satanás, não deixará por isso de ter havido a cura. Forçoso se torna fazer
pobríssima idéia da inteligência humana para se pretender que semelhantes doutrinas possam ser aceitas
nos dias de hoje.

Reconhecida a possibilidade de alguns fatos considerados miraculosos, há-se de concluir que, seja qual
for a origem que se lhes atribua, eles são efeitos naturais de que se podem utilizar Espíritos
desencarnados ou encarnados, como de tudo, como da própria inteligência e dos conhecimentos
científicos de que disponham, para o bem ou para o mal, conforme neles preponderem a bondade ou a
perversidade. Valendo-se do saber que haja adquirido, pode um ser perverso fazer coisas que passem
por prodígios aos olhos dos ignorantes; mas, quando tais efeitos dão em resultado um bem qualquer, fora
ilógico atribuir-se-lhes uma origem diabólica.

17. - Mas, a religião, dizem, se apóia em fatos que nem explicados, nem explicáveis são. Inexplicados,
talvez; inexplicáveis, é questão muito outra. Que sabe o homem das descobertas e dos conhecimentos
que o futuro lhe reserva? Sem falar do milagre da criação, o maior de todos sem contestação possível, já
pertencente ao domínio da lei universal, não vemos reproduzirem-se hoje, sob o império do magnetismo,
do sonambulismo, do Espiritismo, os êxtases, as visões, as aparições, as percepções a distância, as
curas instantâneas, as suspensões, as comunicações orais e outras com os seres do mundo invisível,
fenômenos esses conhecidos desde tempos imemoráveis, tidos outrora por maravilhosos e que
presentemente se demonstra pertencerem à ordem das coisas naturais, de acordo com a lei constitutiva
dos seres? Os livros sagrados estão cheios de fatos desse gênero, qualificados de sobrenaturais; como,
porém, outros análogos e ainda mais maravilhosos se encontram em todas as religiões pagãs da
antigüidade, se a veracidade de uma religião dependesse do numero e da. natureza de tais fatos, não se
saberia dizer qual a que devesse prevalecer.

O sobrenatural e as religiões

18. - Pretender-se que o sobrenatural é o fundamento de toda religião, que ele é o fecho de abóbada do
edifício cristão, é sustentar perigosa tese. Assentar exclusivamente as verdades do Cristianismo sobre a
base do maravilhoso é dar-lhe fraco alicerce, cujas pedras facilmente se soltam. Essa tese, de que se
constituíram defensores eminentes teólogos, leva direito à conclusão de que, em breve tempo, já não
haverá religião possível, nem mesmo a cristã, desde que se chegue a demonstrar que é natural o que se
considerava sobrenatural, visto que, por mais que se acumulem argumentos, não se logrará sustentar a
crença de que um fato é miraculoso, depois de se haver provado que não o é. Ora, a prova existe de que
um fato não constitui exceção às leis naturais, logo que pode ser explicado por essas mesmas leis e que,
podendo reproduzir-se por intermédio de um indivíduo qualquer, deixa de ser privilégio dos santos. O de
que necessitam as religiões não é do sobrenatural, mas do princípio espiritual, que erradamente
costumam confundir com o maravilhoso e sem o qual não há religião possível.

O Espiritismo considera de um ponto mais elevado a religião cristã; dá-lhe base mais sólida do que a dos
milagres: as imutáveis leis de Deus, a que obedecem assim o princípio espiritual, como o princípio
material. Essa base desafia o tempo e a Ciência, pois que o tempo e a Ciência virão sancioná-la.

Deus não se torna menos digno da nossa admiração, do nosso reconhecimento, do nosso respeito, por
não haver derrogado suas leis, grandiosas, sobretudo, pela imutabilidade que as caracteriza. Não se faz
mister o sobrenatural, para que se preste a Deus o culto que lhe é devido. A Natureza não é de si mesma
tão imponente, que dispense se lhe acrescente seja o que for para provar a suprema potestade? Tanto
menos incrédulos topará a religião, quanto mais a razão a sancionar em todos os pontos. O Cristianismo
nada tem que perder com semelhante sanção; ao contrário, só tem que ganhar. Se alguma coisa o há
prejudicado na opinião de muitas pessoas, foi precisamente o abuso do sobrenatural e do maravilhoso.

19. - Se tomarmos a palavra milagre em sua acepção etimológica, no sentido de coisa admirável, teremos
milagres incessantemente sob as vistas. Aspiramo-los no ar e calcamo-los aos pés, porque tudo então é
milagre em a Natureza.

Querem dar ao povo, aos ignorantes, aos pobres de espírito uma idéia do poder de Deus? Mostrem-no na
sabedoria infinita que preside a tudo, no admirável organismo de tudo o que vive, na frutificação das
plantas, na apropriação de todas as partes de cada ser às suas necessidades, de acordo com o meio
onde ele é posto a viver. Mostrem-lhes a ação de Deus na vergôntea de um arbusto, na flor que
desabrocha, no Sol que tudo vivifica. Mostrem-lhes a sua bondade na solicitude que dispensa a todas as
criaturas, por mais ínfimas que sejam, a sua previdência, na razão de ser de todas as coisas, entre as
quais nenhuma inútil se conta, no bem que sempre decorre de um mal aparente e temporário. Façam-lhes
compreender, principalmente, que o mal real é obra do homem e não de Deus; não procurem espavori-los
com o quadro das penas eternas, em que acabam não mais crendo e que os levam a duvidar da bondade
de Deus; antes, dêem-lhes coragem, mediante a certeza de poderem um dia redimir-se e reparar o mal
que hajam praticado. Apontem-lhes as descobertas da Ciência como revelações das leis divinas e não
como obras de Satanás. Ensinem-lhes, finalmente, a ler no livro da Natureza, constantemente aberto
diante deles; nesse livro inesgotável, em cada uma de cujas páginas se acham inscritas a sabedoria e a
bondade do Criador. Eles, então, compreenderão que um Ser tão grande, que com tudo se ocupa, que
por tudo vela, que tudo prevê, forçosamente dispõe do poder supremo. Vê-lo-á o lavrador, ao sulcar o seu
campo; e o desditoso, nas suas aflições, o bendirá dizendo: Se sou infeliz, é por culpa minha. Então, os
homens serão verdadeiramente religiosos, racionalmente religiosos, sobretudo, muito mais do que
acreditando em pedras que suam sangue, ou em estátuas que piscam os olhos e derramam lágrimas.

Dossiê Espírito de Verdade


12:26 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

(In: O Espírito das Revelações, Lachâtre,


2001.)
Por Sérgio Fernandes Aleixo

“(...) discutiremos, mas não disputaremos. (...) há polêmica e polêmica; e há uma diante da qual
não recuaremos jamais, que é a discussão séria dos princípios que professamos”. Allan Kardec
(Revista espírita. Janeiro de 1858. Introdução. Novembro de 1858. Polêmica espírita.)

Observação: Esta matéria, publicada no livro, de nossa autoria, O ESPÍRITO DAS REVELAÇÕES (Lachâtre, 2001), constitui
uma resposta a um artigo que na imprensa espírita foi certa vez publicado. Pela extensão deste nosso material, aquele órgão
de comunicação julgou por bem publicá-lo apenas em parte. Como nosso objetivo é sempre tão-só esclarecer, e convicto de
que respondemos aqui a muitas indagações acerca do assunto, entregamo-lo ao leitor. Não identificamos o articulista a que
nos referimos, bem como o periódico. Nosso intuito é apenas a produção de conhecimento espírita, e nada mais.

Qualquer estudo reclama perseverança, máxime no âmbito da doutrina espírita. Não há razões para
hesitarmos no que respeita à individualidade e à identidade do Espírito de Verdade. A obra de Kardec é a
fonte impoluta a que devemos recorrer para dirimir quaisquer dúvidas em matéria de espiritismo. Assim
também deve ser neste caso.

Necessário considerarmos primeiramente que o Espírito de Verdade não é uma falange. Esse conceito,
aliás, não é da codificação. Para Kardec, em definitiva, o Espírito de Verdade é “inspirador” e “presidente”
do “ensino” de uma “doutrina soberanamente consoladora”, personificada no Evangelho segundo João
sob o nome de “Consolador”. (Cf. A gênese, XVII:39 e 40. O evangelho segundo o espiritismo, VI:4.)

Portanto, trata-se de um espírito, não de vários. A tal respeito, o mestre de Lyon assim se exprimiu: “A
qualificação de Espírito de Verdade não pertence senão a um e pode ser considerada como nome
próprio; ela é especificada no Evangelho. De resto, esse espírito se comunica raramente, e somente em
circunstâncias especiais; deve-se manter em guarda contra aqueles que se apoderam indevidamente
desse título”. (Revista espírita. Julho de 1866. Qualificação de santo aplicada a certos espíritos. IDE,
Tomo IX, p. 222.)

O Espírito de Verdade, ao demais, assina O livro dos espíritos juntamente com outras individualidades
espirituais; fosse ele o nome de uma coletividade de espíritos e tornaria inúteis as demais assinaturas.
(Cf. Exposição Preliminar, ou Prolegômenos.)

Superada esta questão da individualidade do Espírito de Verdade, elucidemos o problema crucial de sua
identidade.

Em 25 de março de 1856, o guia espiritual do mestre lionês disse-lhe: “Para ti chamar-me-ei a Verdade”.
(Cf. Obras póstumas.) Evidente, para nós, que é Jesus, o único espírito que se pode declarar dessa forma
sem prejuízo à sua honestidade. (Cf. João 14:6.) Mas, a fim de confirmarmos isso em termos
rigorosamente kardecianos, basta uma consulta ao item 48 de O livro dos médiuns, no qual, ao refutar o
sistema unispírita, o codificador trata Jesus por “o Espírito da Verdade”, “o Espírito do bem por
excelência”, “santo entre todos”. Este texto não permite ambigüidades. É inapelável. Não podemos
desmenti-lo sem desmentir o próprio Allan Kardec. Poderíamos encerrar aqui este assunto. O Espírito de
Verdade é Jesus!
Porém, na mesma obra, devemos perscrutar ainda a nota do mestre lionês à dissertação IX do capítulo
XXXI. Tal dissertação, que em O livro dos médiuns aparece assinada por “Jesus de Nazaré”, figura em O
evangelho segundo o espiritismo (VI:5) como de autoria de “o Espírito de Verdade”, o que constitui prova
inconcussa de que ambos são a mesma individualidade.

Diz Kardec que o espiritismo “é obra do Cristo, que preside, conforme também o anunciou, à regeneração
que se opera e prepara o reino de Deus na Terra”. (O evangelho segundo o espiritismo, I:7.) Ao mesmo
tempo, afirma também o codificador, indistintamente, que “o Espírito de Verdade preside ao grande
movimento da regeneração”, e que esse espírito “é o verdadeiro Consolador” (A gênese, I:42), decerto, o
mesmo “Cristo Consolador” do capítulo VI de O evangelho segundo espiritismo.

Se ainda hesitarmos, é só conferirmos o que é dito ao mestre quando escreve, em Ségur, O evangelho
segundo o espiritismo: “Acaba a tua obra e conta com a proteção do teu guia, guia de todos nós (...)
Conta conosco e conta sobretudo com a grande alma do mestre de todos nós, que te protege de modo
muito particular”. (Obras póstumas, 9 de agosto de 1863.)

Além destas provas, há outras ainda.

Na Revista espírita de outubro de 1861, o prudentíssimo Erasto revela em sua epístola aos espíritas
lioneses: “(...) o Espírito de Verdade, nosso mestre bem-amado (...)”. (IDE, Tomo IV, p. 303.) Já na
Revista espírita de janeiro de 1864, o sábio Hahnemann afirma: “(...) o Espírito de Verdade, que dirige
este Globo (...)”. (Um caso de possessão. Senhorita Julie. IDE, Tomo VII, p. 16.)

Em maio de 1864, o Espírito de Verdade comunicou-se em termos reveladores, dizendo, entre outras
coisas, o seguinte: “Há dezoito séculos eu vim, por ordem de meu Pai (...). Hoje, por ordem do Eterno, os
bons espíritos, seus mensageiros, vêm sobre todos os pontos do globo fazer ouvir a trombeta retumbante.
Escutai as suas vozes; são aquelas destinadas a vos mostrar o caminho que conduz aos pés do Pai
celeste. Sede dóceis aos seus ensinos; os tempos preditos são chegados; todas as profecias serão
cumpridas (...)”. (Revista espírita. Dezembro de 1864. Comunicação espírita. A propósito de A Imitação do
Evangelho. IDE, Tomo VII, p. 399.)

Em sua nota à citada comunicação, Kardec mostra a circunspecção, a cautela e a modéstia que sempre o
caracterizaram, ressaltando, porém, que, descartadas as evidentemente apócrifas, em muitas
comunicações que trazem o nome Espírito de Verdade, ou o nome Jesus, “(...) embora obtidas por
médiuns diferentes e em épocas diferentes, nota-se entre elas uma analogia evidente de tom, de estilo e
de pensamentos que acusa uma fonte única.” (Ibidem, p. 400.)

Numa comunicação de 9 de abril de 1856, o guia espiritual de Kardec dizia ao então futuro codificador do
espiritismo, entre outras coisas: “Nesse mundo, a vida material é muito de ter-se em conta; não te ajudar
a viver seria não te amar”. Em nota que bem mais tarde apôs a essa comunicação, o próprio mestre
lionês demonstra ter vindo a saber quem era esse guia, e demonstra ainda ter-se surpreendido bastante
com isso: “A proteção desse espírito, cuja superioridade eu então estava longe de imaginar, jamais, de
fato, me faltou”. (Obras póstumas. 25 de março de 1856.)

Ora! Em termos rigorosamente kardecianos está dirimida esta dúvida quanto à individualidade e à
identidade do Espírito de Verdade. Ele é único! Ele é Jesus! A menos que não confiemos em Kardec e
nos espíritos da codificação.

Resta então apenas o problema da exegese escriturística, e esse é outro departamento, mas que também
pode ser elucidado pela aplicação adequada do conhecimento espírita.

Quando Jesus disse que enviaria o Consolador, o Espírito de Verdade, se referiu simbolicamente à
doutrina, nada obstante a, por outro lado, afirmar: “A vós convém que eu vá, porque, se eu não for, não
virá a vós o paráclito (...) Não vos deixarei órfãos, voltarei a vós outros (...) Tenho ainda muito que vos
dizer, mas vós não o podeis suportar agora (...) Estas cousas vos tenho dito por meio de figuras; vem a
hora em que não vos falarei por meio de comparações, mas vos falarei claramente a respeito do Pai”.
(João 14:18; 16:7,12 e 25.) Isto já nos convida ao entendimento de que o próprio Jesus se encarregaria,
mais tarde, de ensinar espiritualmente aquilo que não pudera quando encarnado.

Não há contradição. Há simbologia. Não nos informou João Evangelista que, pela compreensão do
espiritismo, explicados, os “erros” se tornariam verdades? (Cf. O evangelho segundo o espiritismo,
VIII:18.)

Por ser o Espírito de Verdade o próprio Jesus e por esse fato constituir o cumprimento das profecias
acima citadas é que o mestre lionês assegurou, convicto: “Jesus reservou para si a completação ulterior
de seus ensinamentos”. (A gênese, XVII:37.) Claro que o Cristo não estava sozinho, fez-se acompanhar
de numerosa coletividade superior, a qual, por ter o seu comando direto, foi chamada “falange do Espírito
de Verdade”, ou “do Consolador”. O Espírito de Verdade (segundo Kardec, “o verdadeiro Consolador”)
não é, portanto, a falange em si, mas o comandante dela, o que é muito diferente.

Se o Espírito de Verdade fosse uma coletividade de espíritos, razão não haveria para que a promessa de
sua vinda não houvesse sido cumprida no dia de pentecostes, como afirmam as igrejas ter acontecido,
pois o que ocorreu naquele dia foi justamente um encontro mediúnico entre o apostolado cristão primitivo
e uma excelsa coletividade de espíritos. (Cf. Atos, 2.)

Allan Kardec, porém, diz em A gênese (cf. XVII:42) que, no pentecostes, não se cumpriu o que Jesus
profetizara do Consolador. E por quê? Porque as características declinadas pelo Cristo não se referiam
propriamente a uma coletividade de espíritos, mas a uma doutrina; a chefia dessa coletividade e a
responsabilidade maior pelo advento de tal doutrina é do Espírito de Verdade: inapelavelmente, Jesus.
Kardec e os espíritos superiores é que o asseguram.

Ora! Se a codificação a define tão claramente, não podemos considerar esta verdade como simples
conjectura. Ou será que estamos nos esforçando em cumprir aquela profecia do Espírito de Verdade, a
qual adverte para o fato de que as melhores instruções de Kardec seriam desprezadas e falseadas? (Cf.
Obras póstumas, 12 de junho de 1856.)

Ouçamos, por fim, o que nos diz o instrutor espiritual Alexandre, em Missionários da luz, obra ditada por
André Luiz ao médium Francisco Cândido Xavier: “Por que audácia incompreensível imaginais a
realização sublime sem vos afeiçoardes ao Espírito de Verdade, que é o próprio Senhor?”. (Cf. 21ª ed.,
FEB, 1988, p. 99). Alguma dúvida, leitor amigo?

No que tange às objeções ao fato de ser Jesus o Espírito de Verdade, nós as respeitamos enquanto
expressão das possibilidades de estudo e compreensão daqueles que as utilizam... Entretanto, repetimos
a frase com que iniciamos este artigo: Qualquer estudo reclama perseverança, máxime no âmbito da
doutrina espírita.

Fonte: Revista Internacional de - Março/2000


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As Advertências de Kardec a Roustaing e a


Profecia de Erasto
21:17 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Sérgio Aleixo

Na Revista Espírita de junho de 1863 há um artigo kardeciano sobre a não retrogradação dos Espíritos.
Este texto foi citado pelo advogado de Bordéus e submetido ao exame dos autores espirituais de Os
Quatro Evangelhos no número 59 da obra. Os guias da pretendida Revelação da Revelação concluíram
que os que pensam ser a encarnação uma necessidade geral “não foram esclarecidos, ou não refletiram
bastante”.

Kardec diz em seu artigo de junho de 1863 que a ideia rustenista de que “os Espíritos não teriam sido
criados para encarnarem”, que “a encarnação seria tão somente o resultado de sua falta”, constitui um
sistema “especioso à primeira vista”, e que “tal sistema cai pela mera consideração de que, se nenhum
Espírito tivesse falido, não haveria homens na Terra, nem em outros mundos”.

Segundo o Codificador, o homem “é uma das engrenagens essenciais da criação” e, por esta razão,
“Deus não podia subordinar a realização desta parte de sua obra à queda eventual de suas criaturas, a
menos que contasse para tanto com um número sempre suficiente de culpados para fornecer operários
aos mundos criados e por criar”. Para Kardec: “O bom-senso repele tal ideia”.
Mas a isto responderam os guias de Roustaing: “A última frase deve ser riscada”. E mesmo confessando
que era “cedo” para resolver a “origem do Espírito” — em relação ao quê, aliás, Kardec já recomendara
máxima cautela[1] —, os guias rustenistas exortaram a vaidade da sensitiva e do próprio jurisconsulto
assim:

Utilizai-vos do que vos dizemos [sobre a origem das coisas], porquanto, ao tempo em que este
vosso trabalho aparecer aos olhos de todos, os Espíritos encarnados já se acharão mais
dispostos a receber o que então [quando, em O Livro dos Espíritos, foi dito que o Espírito era criado
simples e ignorante], e mesmo hoje [abril de 1863], tomariam por uma monstruosidade, ou por uma
tolice ridícula.[2]

Kardec reafirmou em seu artigo de junho de 1863 a doutrina de O Livro dos Espíritos e negou a tese
rustenista que assegura que a reencarnação é ocasionada por castigo a Espíritos faltosos. Isto prova
irrefutavelmente que não é verdadeira a propaganda centenária da F.E.B., a qual sempre deu conta de
que Kardec e Roustaing só divergiam quanto à natureza do corpo de Jesus, concordando em tudo mais.

O Codificador disse em alto e bom som que o estado primitivo do Espírito não é o de “inocência
inteligente e raciocinada”. Estes termos utilizados pelo mestre lionês em junho de 1863 resumem com
precisão as teses “especiosas” da Revelação da Revelação que, no entanto, somente seria publicada três
anos depois. Se não, vejamos:

Atingindo o ponto de preparação para entrarem no reino humano, os Espíritos se preparam, de fato, em
mundos ad-hoc, para a vida espiritual consciente, independente e livre. É nesse momento que entram
naquele estado de inocência e de ignorância. A vontade do soberano Senhor lhes dá a consciência de
suas inocência e faculdades e, por conseguinte, de seus atos, consciência que produz o livre-arbítrio, a
vida moral, a inteligência independente e capaz de raciocínio, a responsabilidade. Chegado deste modo à
condição de Espírito formado, de Espírito pronto para ser humanizado se vier a falir, o Espírito se
encontra num estado de inocência completa, tendo abandonado, com os seus últimos invólucros animais,
os instintos oriundos das exigências da animalidade. [...] Os que se conservam puros também
desenvolvem atividades e inteligência, a fim de progredirem, no estado fluídico, por meio dos esforços
espirituais que necessitam fazer para, da fase de inocência e de ignorância, de infância e de instrução,
chegarem, sem falir, à perfeição![3]

Esta flagrante coincidência de vocábulos e a citação, no número 59 de Os Quatro Evangelhos, da


absoluta negativa de Kardec à tese da “queda” evidenciam que, de alguma sorte, já em 1863, o
Codificador havia tomado ciência do material que estava sendo compilado por Roustaing desde dezembro
de 1861. Ponderava o saudoso confrade Gélio Lacerda da Silva, ex-presidente da Federação Espírita do
Estado do Espírito Santo:

Para entender como Kardec contestou, em 1863, um assunto que Roustaing veiculou no seu livro,
publicado em 1866, tudo leva a crer que Roustaing, antes do seu livro vir a público, já divulgava o seu
conteúdo. Foi em abril de 1863 que os Espíritos mistificadores ditaram a Roustaing, através de Mme.
Collignon, o ensino antidoutrinário de que o Espírito só será humanizado se vier a falir, conforme nota de
rodapé da pág. 295, 1.º volume, 5.ª ed. de Os Quatro Evangelhos; portanto, não há dúvida de que
Kardec, em junho de 1863, no seu referido artigo, se louvou na mensagem ditada a Roustaing em abril de
1863.[4]
E aduzo a isto um fato relevante. O Codificador, certa vez, publicou carta da médium Émilie Collignon
encaminhando a si ditados espirituais. Acreditara a sensitiva que um desses comunicados era de um
espírito que, antes, se apresentara a Kardec em substituição ao de Gérard de Codemberg. Rebatidos os
argumentos da médium, o gênio lionês diz-lhe que o texto “apresenta todos os caracteres de uma
comunicação apócrifa.”[5]

A seguir, Kardec publica mensagem do Espírito Bernardin à mesma sensitiva, na qual se apregoa na
conta de “pensamento filosófico”, “cheio de sabedoria”, o suposto fato de que “somos uma essência
criada pura, mas decaída; pertencemos a uma pátria onde tudo é pureza; culpados, fomos exilados por
algum tempo, mas só por algum tempo”. Já era a doutrina rustenista da queda do espírito!

Em clara reparação, o mestre recomenda, entre parênteses, a leitura de seu aclamado artigo de janeiro
de 1862, sobre a doutrina dos anjos decaídos, bem como, em sua observação final, adverte para o perigo
de, em certas comunicações, espíritos não muito elevados emitirem opiniões pessoais, que refletem
apenas sistemas e ideias nem sempre justos acerca dos homens e das coisas. Segundo Kardec:

Publicadas sem corretivo, essas ideias falsas apenas lançarão descrédito sobre o Espiritismo, fornecerão
armas aos seus inimigos e semearão a dúvida e a incerteza entre os neófitos. Com os comentários e as
explicações dados a propósito, o próprio mal por vezes se torna instrutivo. Sem isto poderiam
responsabilizar a doutrina por todas as utopias enunciadas por certos Espíritos mais orgulhosos que
lógicos. Se o Espiritismo pudesse ser retardado em sua marcha, não seria pelos ataques abertos de seus
inimigos declarados, mas pelo zelo irrefletido dos amigos imprudentes. Não se trata, pois, de fazer
coletâneas indigestas, onde tudo se acha amontoado confusamente e cujo menor inconveniente seria
aborrecer o leitor; é preciso evitar com cuidado tudo quanto possa falsear a opinião sobre o Espiritismo.
Ora, tudo isto exige um trabalho que justifica a demora de tais publicações.[6]

A situação não era de todo boa para a médium, que já estava recebendo a pretensa Revelação da
Revelação desde de dezembro de 1861, o que se estenderia até maio de 1865,[7] e em clima, agora,
quem sabe, de provável melindre, em função destes pareceres desfavoráveis de Kardec. Anote o
estudioso que o mestre lionês fala, em sua observação, sobre “Espíritos mais orgulhosos que lógicos”,
“zelo irrefletido dos amigos imprudentes” e “coletâneas indigestas, onde tudo se acha amontoado
confusamente e cujo menor inconveniente seria aborrecer o leitor”. Não resta dúvida! O material
rustenista foi enviado a Kardec já em 1862, mas o mestre logo lhe percebeu as inconsistências e perigos.

Roustaing, portanto, pôde contar com a prévia advertência do Codificador, que se dignou até poupá-lo do
ridículo, dada sua distinção social, não lhe mencionando o nome naquele artigo de junho de 1863, sobre a
não retrogradação dos Espíritos. Elegante, mas firme, Kardec definiu a tese rustenista da queda como
“um sistema que tem algo de especioso à primeira vista”, argumentado da forma que já destaquei de
início.

O jurisconsulto bordelês, portanto, deveria ter acatado o entendimento do seu “muito honrado chefe
Espírita”. Foi dada a Roustaing a oportunidade de desistir daquele trabalho, todavia não o interrompeu; na
certa, por orgulho ferido. Um ex-presidente da Ordem dos Advogados, membro do Tribunal Imperial de
Bordéus, a ser “desacatado” por um professor lionês radicado em Paris. Não, isto não podia ser, ainda
mesmo que se tratasse de um autor pedagógico aclamado.
A médium Collignon e o advogado Roustaing. Ambos em situação de evidente mágoa por não haverem
obtido de Kardec o respaldo que ambicionavam para seus trabalhos mediúnicos. Combinação explosiva
que gerou o primeiro cisma no movimento espírita, cujos ecos, infelizmente, se podem ouvir ainda.

Não bastassem estas advertências de Kardec, Espíritos orientadores haviam expedido alertas a respeito
de um ataque de entidades mistificadoras na cidade de Bordéus. Durante a sessão geral lá ocorrida a 14
de outubro de 1861, Kardec leu, após o seu discurso, uma epístola de Erasto aos espíritas daquela
localidade. [8]

Em voz um tanto mais severa, o amigo espiritual da codificação kardeciana assegurou ser necessário
premunir os espíritas bordeleses contra um perigo que era seu dever lhes assinalar. Erasto avisou-os,
então, do iminente assalto de uma turba de Espíritos enganadores, cuja finalidade seria fomentar a cisão,
a divisão, e levar a uma ruptura por todos os títulos lamentável. Repetindo o que os próprios guias
espirituais do movimento em Bordéus disseram aos espíritas daquela cidade, Erasto esclareceu que
haveria dois tipos de mistificadores no ataque. Um tipo viria com combinações abertamente hostis aos
ensinos dos legítimos missionários do Espírito de Verdade, este, o presidente da regeneração planetária
e guia pessoal de Kardec e do Espiritismo. Outro tipo de mistificadores, porém, apresentar-se-ia com
dissertações sabiamente combinadas, nas quais, graças a tiradas piedosas, insinuariam a heresia ou
algum princípio dissolvente.

Roustaing tomou conhecimento da epístola por terceiros? Ou, como adeptos seus afirmam hoje sem
provas, esteve presente à sessão geral? De qualquer forma, não foi por falta de mais este aviso que
cometeu o erro de publicar sua pretensa Revelação da Revelação, cujos ditados começariam a aparecer
já em dezembro daquele ano, dois meses depois da sessão geral, insinuando exatamente a heresia
gnóstico-docetista do Jesus fluídico e o princípio dissolvente da reencarnação como resultado de uma
suposta queda, espécie de falência, verdadeira retrogradação que, segundo os guias rustenistas, seria
aplicável até a Espíritos com responsabilidades planetárias.[9]

Tudo se deu tal qual a predição. Foi um vaticínio de Erasto; na ocasião, mensageiro do Espírito de
Verdade; este último, aliás, alguns Espíritos ligados à Igreja dos primeiros tempos já haviam identificado
como Jesus, em casa do Sr. Roustaing e do Sr. Sabo, a quem Kardec recomendou o primeiro, para que
se iniciasse no Espiritismo. Ao lado do mal, vê-se que Deus pusera o remédio, mas não foi usado.[10]

A nomenclatura criada por Kardec — a palavra Espiritismo, inclusive — estava em toda a suposta
Revelação da Revelação, mesmo no título: “Espiritismo cristão”. Como se nunca fora dito por Kardec: “O
ponto essencial é que o ensinamento dos Espíritos é eminentemente cristão: ele se apoia na imortalidade
da alma, nas penas e recompensas futuras, no livre-arbítrio do homem, na moral do Cristo, e portanto não
é antirreligioso”.[11]

O fato é que Roustaing, infelizmente, se apoderou do nome e dos termos de uma doutrina cuja
codificação nunca lhe coube. Além disto, nem ele nem seus discípulos jamais demonstraram em quê,
afinal de contas, a tese basilar de sua “escola” se distingue da antiga tese dos gnósticos docetistas. No
dizer autorizado de E. Pagels, a antiga seita postulava que “Jesus não era um ser humano, e sim um ser
espiritual que se adaptara à percepção humana”,[12] ou seja, conforme no Espiritismo se diz: um
agênere.
Não se trata, claro, de o agênere desenvolver percepção física, mas, isto sim, de adaptar-se à percepção
humana, isto é, de terceiros, a fim de que o possam notar, mesmo desencarnado; tanto assim, que os
rustenistas apregoavam que Jesus não tinha “corpo material humano, sujeito à morte”, que “não podia
sofrer segundo o nosso modo de entender material” e que — pasmem — “não morreu efetivamente no
Gólgota”.[13] Oras! Diz o Espiritismo mui contundentemente:

[...] o Espírito que não tem corpo material não pode experimentar os sofrimentos que são o resultado da
alteração da matéria, de onde também é forçoso concluir que, se Jesus sofreu materialmente, do que não
se pode duvidar, é porque tinha um corpo material de natureza semelhante à dos corpos de toda a
gente.[14]

Acresça-se a isso o flagrante de que, para o rustenismo, na prática, a carne humana é mesmo um efeito
“do mal”; apenas a assumem os Espíritos que são punidos por faltas cometidas no “estado fluídico”. E o
docetismo, segundo Pastorino, entendia exatamente isto: “[...] tudo o que é material é imperfeito e impuro,
pois é obra do Princípio do Mal; como Jesus apresentara o Princípio do Bem, o Pai, não podia ter-se
submetido ao Princípio do Mal e, portanto, não poderia ter tido corpo físico carnal”.[15]

De fato, neste texto de Os Quatro Evangelhos, dentre outros, pode-se constatar o horror dos guias
docetistas ao corpo humano, vinculando-o à “lama”, ao “sofrimento”, à “falibilidade”; tornando-o efeito
inerente à condição de “culpado”:

Maior ainda era a diferença entre esse corpo de Jesus e os vossos corpos de lama. [...] não o esqueçais:
todo aquele que reveste a carne e sofre, como vós, a encarnação material humana é falível. Jesus era
demasiadamente puro para vestir a libré do culpado. Sua natureza espiritual era incompatível com a
encarnação material, tal como a sofreis. (Vol. I, n. 14.)

Possível seria concluir então, com os guias rustenistas, que Jesus não cometeu imperfeições morais
quando esteve na Terra não só porque nunca as praticara nos planos do Espírito, mas também porque
não estava revestido da carne humana. A instrução 625 de O Livro dos Espíritos caducaria.

Sim, pois que valor possuiria para nós o guia e o modelo de uma perfeição que lhe foi conferida por
processo evolutivo diferente daquele em que nos encontramos? Seria um guia errado, um modelo errado
para uma humanidade errada, porque nada saberia de nossa vida terrestre, com a qual sua pureza
sempre teria sido incompatível.

E mais: Jesus teria mentido quando disse a Nicodemos: “Falo do que sei; dou testemunho do que vi”,
porquanto nada conheceria nem nada teria visto acerca da nossa experiência humana. O rustenismo, por
estas e outras, é um insulto à autoridade moral e espiritual do Mestre de Nazaré, a despeito de supor
exaltá-la.

[1] “São essas opiniões pessoais que os Espíritos orgulhosos nos dão como verdades absolutas. É
sobretudo a respeito do que deve permanecer oculto, como o futuro e o princípio das coisas, que eles
mais insistem, a fim de darem a impressão de que conhecem os segredos de Deus. E é também sobre
esses pontos que há mais contradições.” (O Livro dos Médiuns, 300.)
[2] Os Quatro Evangelhos. Vol. I, n. 56. F.E.B, 5.ª ed., 1971, p. 295. Entre colchetes, palavras minhas.
[3] Os Quatro Evangelhos. Vol. I, ns. 56 e 59.
[4] Conscientização Espírita. Do Princípio da Não Retrogradação dos Espíritos.
[5] Revista Espírita. Jun/1862. Princípio Vital das Sociedades Espíritas.
[6] Revista Espírita. Jun/1862. Ensinos e Dissertações Espíritas. O Espiritismo Filosófico. Bordeaux, 4 de
abril de 1862. Médium: Sra. Collignon. Observação [de Kardec].
[7] Cf. Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 5.ª ed., 1971, pp. 64 e 66.
[8] Revista Espírita. Nov/1861. Primeira Epístola de Erasto aos Espíritas de Bordéus.
[9] Os Quatro Evangelhos. Vol. I, n. 59. F.E.B, 5.ª ed., 1971, p. 325-326. Cf. Cap. 14: Estranhezas do
Ensino Rustenista.
[10] Cf. Revista Espírita. Jun/1861. Correspondência.
[11] O Livro dos Espíritos, 222.
[12] Os Evangelhos Gnósticos, IV.
[13] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 59.
[14] KARDEC, Allan. A Gênese, XV, 65.
[15] Sabedoria do Evangelho. Vol. 3. Jesus Anda Sobre a Água.

Os Criptógamos Carnudos de J.B.Roustaing


22:09 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT

Por José Herculano Pires

Essa é a revelação da revelação. Roustaing copia e desfigura Kardec acrescentando aos seus ensinos os
maiores absurdos. Note-se que essas criaturas estanhas, em forma de larvas e lesmas, são encarnações
de espíritos humanos que haviam atingido alta evolução sem passar pela encarnação humana. Depois de
desenvolverem a razão em alto grau e de haverem colaborado com Deus nos processos da Criação,
chegando mesmo a orientar criaturas humanas, voltam à condição de criptógamos carnudos.

Mas por que falam os reveladores em substâncias humanas? Por que não simplificam as coisas dizendo
simplesmente que esses espíritos decaídos vão encarnar-se em lesmas? Porque é preciso enganar os
espiritistas que aceitam Kardec e sabem que a evolução espiritual é irreversível, que o espírito
humanizado não pode regredir ao plano animal. É o mesmo processo de sofisma, de tapeação, usado na
questãodo corpo aparente de Jesus, quando falam em encarnação fluídica para escaparem ao anátema
de João contra os que dizem que o Cristo não veio em carne. As substâncias humanas dos criptógamos
carnudos são uma invenção absurda e tola. E tanta gente a defender essas bobagens dentro do
Espiritismo!

Mas o que são criptógamos carnudos? Por que esse nome estranho? Tudo tem a sua razão na
máquina infernal do ilogismo roustainguista, embora seja sempre a anti-razão que entra em cena.
Apreciemos o assunto à luz da razão para tentar esclarecê-lo.

A palavra criptógamos é empregada cientificamente para designar certas plantas cujos órgãos
reprodutores não aparecem, são ocultos. A origem do termo é grega: kryptos, que quer dizer oculto,
egamos, que quer dizer casamento, união. Assim, criptógamo é um exemplar de espécie vegetal que tem
os seus órgãos reprodutores escondidos. Os "reveladores" roustainguistas acrescentaram a palavra
carnudo para adaptar a designação ao reino animal. Assim, criptógamo carnudo seria uma espécie de
animal (mas não animal porque formado de substâncias humanas) em que se encarnam espíritos
humanos que regrediram ao plano vegetal e animal.

Atenção para isto: quando dizemos que eles regrediram ao plano vegetal e animal não estamos forçando
a interpretação. Cientificamente os animais semelhantes a plantas estão localizados na linha divisória dos
reinos vegetal e animal, são desenvolvimento de plantas. Se existissem essescriptógamos carnudos a
Ciência os catalogaria como formas de passagem dos criptógamos vegetais para o reino animal.

Temos assim a teoria da Metempsicose, tão seguramente refutada pela lógica de Kardec, devolvida ao
meio espírita pelo ilogismo roustainguista. Bastaria esse triste episódio, colhido no caldeirão diabólico dos
absurdos de ‘Os Quatro Evangelhos’, para nos provar, sem a menor sombra de dúvida, que essa obra é
de autoria das trevas e que a sua finalidade é confundir os espiritistas pouco habituados a passar as
coisas pelo crivo da razão.

Mais do que isto, porém, o objetivo evidente é o de ridicularizar o Espiritismo para dele afastar as pessoas
de bom senso.

(O Verbo e a Carne, Júlio Abreu Filho e J. Herculano Pires, edições Cairbar, SP, 1ª ed., 1973, págs.
43/45)

Retirado do livro "Conscientização Espírita", de Gélio Lacerda da Silva.

Questão de vida ou morte para o Espiritismo


14:00 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Manuel S. Porteiro

O que somos? Seres incapazes de autodeterminação, arrastados pela fatalidade ou totalmente


comandados por fatores externos? Seres completamente livres, donos absolutos do nosso destino? Ou
criaturas humanas dotadas de livre-arbítrio e responsabilidade, segundo nosso grau de evolução
espiritual, e subordinadas às leis naturais e ao meio social em que vivemos?

Ao abordar o tema que me proponho desenvolver, não abrigo a pretensão de responder satisfatoriamente
às exigências filosóficas às quais, sem dúvida, tem direito o culto leitor. Não pretendo, tampouco, em um
simples trabalho, abarcar em todos os seus aspectos um ponto de doutrina tão vasto e complexo, tão
difícil e, sobretudo, tão superior às minhas forças intelectuais como é o livre-arbítrio e sua antítese, o
determinismo, quando ilustres psicólogos, esclarecidos espiritistas têm escrito muito a respeito sem haver
esgotado o tema. E creio que a solução satisfatória de problema tão escabroso corresponde à psicologia
do porvir, refletida nas luzes do Espiritismo.

Esta afirmação parecerá estranha, evidentemente, aos partidários do espiritualismo clássico, que crêem
que o livre-arbítrio é um ponto de doutrina perfeitamente esclarecido, que não pode nem deve ser posto
em dúvida, porque tem sido considerado por filósofos e teólogos como um dogma indiscutível, fundado na
consciência universal. Também parecerá estranho aos deterministas, que crêem haver resolvido o
problema da liberdade humana, negando-a e afirmando o determinismo com as elaborações da
fisiopsicologia, com o materialismo histórico ou com a lei de causalidade universal.

O Espiritismo, ainda que sustente como fundamento de sua moral o livre-arbítrio, não faz dele um dogma
infalível nem põe travas à inteligência de seus adeptos, impedindo-os de refletirem, analisarem e
esclarecerem esta questão, do mesmo modo que não exclui da análise os seus fenômenos, embora
aceitos em grande parte como produzidos por entidades espirituais que viveram na Terra. Pelo contrário,
a experiência, o livre exame, o raciocínio são, para o Espiritismo, a base de sua filosofia, e para o
espiritista o fundamento de suas convicções, ainda que, como em toda doutrina racionalista, se diferencie
em detalhes na apreciação dos fatos e dos postulados que deles se depreendem.

Nós, espiritistas, não queremos vencer sustentando um “preconceito”, como mais de um sábio mal-
intencionado já disse. Buscamos a verdade e, crendo estar na posse de uma partícula desta, desejamos
ilustrar com ela, na medida de nossos conhecimentos. Sabemos muito bem que não há verdades
absolutas, que todas são relativas ao grau de capacidade e instrução de cada indivíduo, ao
desenvolvimento científico de cada época e ao limite traçado à inteligência humana.
Deste ponto de vista abordaremos o tema, não sem antes entrarmos em algumas considerações
preliminares sobre a relativa importância que, a nosso ver, tem para o Espiritismo a solução de tão árduo
problema.

O materialismo tem pretendido tornar o livre-arbítrio uma questão de vida ou de morte para o Espiritismo,
e é por isso que sobre ele foram dirigidos seus melhores ataques, opondo-se-lhes o determinismo em
suas diversas formas, inclusive o fanatismo. E não poucos espiritistas, fazendo desta uma questão
fundamental, têm respondido às impugnações, acreditando sem dúvida que, se não somos livres nem
responsáveis por nossos atos, a causa do Espiritismo está perdida e seu conceito moral aniquilado.

Longe de nós pretender debilitar a tese da liberdade, tal como se a depreende da filosofia espírita.
Cremos que, com o livre-arbítrio ou sem ele, com a responsabilidade ou sem ela, o Espiritismo não sofre
nenhum enfraquecimento e que o ser humano, tanto hoje como ontem e amanhã, seguirá igualmente o
curso de sua evolução ascendente até seu destino superior, acredite ou não em sua liberdade moral e no
mérito ou demérito de suas ações. Isso porque o que ele não fizer por sua livre vontade o fará apesar
dela e, sem dúvida, com mais acerto, já que o Ser onisciente, que rege os destinos do Universo e de suas
criaturas, sabe melhor do que estas o que convém a seus fins. E, ainda que o homem filosoficamente não
o queira, lhe dará eternamente a satisfação pelas boas ações e o remorso pelas más; e onde e quando
queira que este faça bem, tal bem será, tarde ou cedo, meritório à sua consciência e à de seus
semelhantes, recebendo a justa e natural sanção por todas as suas ações, seja libertista, determinista ou
fatalista.

É curioso observar a divergência e o ilogismo que existem no campo da filosofia e das religiões. Sócrates
e Platão, as maiores figuras do espiritualismo clássico, cuja sublime moral se identifica com a moral
espírita, sequer mencionam a vontade e o livre-arbítrio. Epicuro, filósofo sensualista e de certo modo
materialista, posto que nega a imortalidade da alma, é partidário do livre-arbítrio: “Ainda que o acaso o
persiga com as coisas mais molestas, as enfermidades e os padecimentos – disse –, o homem reto e
bom permanece livre, independente, feliz, pois pode evitar tudo isso com um movimento para diante ou
para trás, escapando assim à dor e à perturbação, como o átomo ao seu destino.”

Trecho de Conferência proferida na Sociedade Constância, no dia 5 de junho de 1929, e publicada


pela revista “La Idea”, em 1936. Tradução de Ciro Pirondi.

Edição Digital
PENSE – Pensamento Social Espírita
www.viasantos.com/pense

Fonte:
Caderno Cultural Espírita - nº 1
Santos - Licespe – 1987

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Questão de vida ou morte para o Espiritismo


14:00 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Manuel S. Porteiro

O que somos? Seres incapazes de autodeterminação, arrastados pela fatalidade ou totalmente


comandados por fatores externos? Seres completamente livres, donos absolutos do nosso destino? Ou
criaturas humanas dotadas de livre-arbítrio e responsabilidade, segundo nosso grau de evolução
espiritual, e subordinadas às leis naturais e ao meio social em que vivemos?

Ao abordar o tema que me proponho desenvolver, não abrigo a pretensão de responder satisfatoriamente
às exigências filosóficas às quais, sem dúvida, tem direito o culto leitor. Não pretendo, tampouco, em um
simples trabalho, abarcar em todos os seus aspectos um ponto de doutrina tão vasto e complexo, tão
difícil e, sobretudo, tão superior às minhas forças intelectuais como é o livre-arbítrio e sua antítese, o
determinismo, quando ilustres psicólogos, esclarecidos espiritistas têm escrito muito a respeito sem haver
esgotado o tema. E creio que a solução satisfatória de problema tão escabroso corresponde à psicologia
do porvir, refletida nas luzes do Espiritismo.

Esta afirmação parecerá estranha, evidentemente, aos partidários do espiritualismo clássico, que crêem
que o livre-arbítrio é um ponto de doutrina perfeitamente esclarecido, que não pode nem deve ser posto
em dúvida, porque tem sido considerado por filósofos e teólogos como um dogma indiscutível, fundado na
consciência universal. Também parecerá estranho aos deterministas, que crêem haver resolvido o
problema da liberdade humana, negando-a e afirmando o determinismo com as elaborações da
fisiopsicologia, com o materialismo histórico ou com a lei de causalidade universal.

O Espiritismo, ainda que sustente como fundamento de sua moral o livre-arbítrio, não faz dele um dogma
infalível nem põe travas à inteligência de seus adeptos, impedindo-os de refletirem, analisarem e
esclarecerem esta questão, do mesmo modo que não exclui da análise os seus fenômenos, embora
aceitos em grande parte como produzidos por entidades espirituais que viveram na Terra. Pelo contrário,
a experiência, o livre exame, o raciocínio são, para o Espiritismo, a base de sua filosofia, e para o
espiritista o fundamento de suas convicções, ainda que, como em toda doutrina racionalista, se diferencie
em detalhes na apreciação dos fatos e dos postulados que deles se depreendem.

Nós, espiritistas, não queremos vencer sustentando um “preconceito”, como mais de um sábio mal-
intencionado já disse. Buscamos a verdade e, crendo estar na posse de uma partícula desta, desejamos
ilustrar com ela, na medida de nossos conhecimentos. Sabemos muito bem que não há verdades
absolutas, que todas são relativas ao grau de capacidade e instrução de cada indivíduo, ao
desenvolvimento científico de cada época e ao limite traçado à inteligência humana.
Deste ponto de vista abordaremos o tema, não sem antes entrarmos em algumas considerações
preliminares sobre a relativa importância que, a nosso ver, tem para o Espiritismo a solução de tão árduo
problema.

O materialismo tem pretendido tornar o livre-arbítrio uma questão de vida ou de morte para o Espiritismo,
e é por isso que sobre ele foram dirigidos seus melhores ataques, opondo-se-lhes o determinismo em
suas diversas formas, inclusive o fanatismo. E não poucos espiritistas, fazendo desta uma questão
fundamental, têm respondido às impugnações, acreditando sem dúvida que, se não somos livres nem
responsáveis por nossos atos, a causa do Espiritismo está perdida e seu conceito moral aniquilado.

Longe de nós pretender debilitar a tese da liberdade, tal como se a depreende da filosofia espírita.
Cremos que, com o livre-arbítrio ou sem ele, com a responsabilidade ou sem ela, o Espiritismo não sofre
nenhum enfraquecimento e que o ser humano, tanto hoje como ontem e amanhã, seguirá igualmente o
curso de sua evolução ascendente até seu destino superior, acredite ou não em sua liberdade moral e no
mérito ou demérito de suas ações. Isso porque o que ele não fizer por sua livre vontade o fará apesar
dela e, sem dúvida, com mais acerto, já que o Ser onisciente, que rege os destinos do Universo e de suas
criaturas, sabe melhor do que estas o que convém a seus fins. E, ainda que o homem filosoficamente não
o queira, lhe dará eternamente a satisfação pelas boas ações e o remorso pelas más; e onde e quando
queira que este faça bem, tal bem será, tarde ou cedo, meritório à sua consciência e à de seus
semelhantes, recebendo a justa e natural sanção por todas as suas ações, seja libertista, determinista ou
fatalista.

É curioso observar a divergência e o ilogismo que existem no campo da filosofia e das religiões. Sócrates
e Platão, as maiores figuras do espiritualismo clássico, cuja sublime moral se identifica com a moral
espírita, sequer mencionam a vontade e o livre-arbítrio. Epicuro, filósofo sensualista e de certo modo
materialista, posto que nega a imortalidade da alma, é partidário do livre-arbítrio: “Ainda que o acaso o
persiga com as coisas mais molestas, as enfermidades e os padecimentos – disse –, o homem reto e
bom permanece livre, independente, feliz, pois pode evitar tudo isso com um movimento para diante ou
para trás, escapando assim à dor e à perturbação, como o átomo ao seu destino.”

Trecho de Conferência proferida na Sociedade Constância, no dia 5 de junho de 1929, e publicada


pela revista “La Idea”, em 1936. Tradução de Ciro Pirondi.

Edição Digital
PENSE – Pensamento Social Espírita
www.viasantos.com/pense

Fonte:
Caderno Cultural Espírita - nº 1
Santos - Licespe – 1987

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Centros Espíritas - Identificação, Estrutura e


Funcionamento
23:42 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Nícia Cunha

Centradas no entendimento religioso da Doutrina Espírita, sofrendo influências de diversas religiões,


especialmente as cristãs, africanas e indígenas, as casas espíritas tradicionalmente ostentam nomes que
remetem ao conceito de lugar sagrado.

Assim, acompanhando a adjetivação espírita, não é incomum encontrar termos como: templo,
congregação, sinagoga, tenda, casa de pai fulano, centro de irmão beltrano, etc. Existem ainda
instituições que reverenciam ícones católicos, homenageiam pessoas já mortas ou ainda vivas, que se
destacaram no meio espírita e que são consideradas quase “santas”.

Incorrem em erro, pois essa nomenclatura nega, altera ou reduz a identidade espírita e suas propostas
originais. É contraproducente também em termos de comunicação social, pois utilizam signos e
linguagem que não a especificam ideologicamente, não esclarecem qual seja sua visão, suas metas, ou
como atuam.

Deveria haver no âmbito espírita, um movimento de conscientização sobre essas impropriedades, visando
eliminar essas denominações, substituindo-as por outras que melhor definissem a atividade, o caráter e o
propósito da doutrina.

A estrutura funcional e as práticas da maioria dos centros espíritas são tão inadequadas quanto os
nomes. A rigor, inexistem instituições nos moldes do Instituto Parisiense de Estudos Espíritas, fundado
por Kardec, que atuava sob enfoque filosófico e com metodologia científica de pesquisa.

A descoberta (e não uma revelação, no sentido místico) da realidade do espírito e do intercâmbio entre
encarnados e desencarnados, impôs um conceito ético e moral, que, entretanto não justifica o
desenvolvimento de uma religião. Não é necessário seguir um credo, para se viver com moralidade e
ética.

A maioria dos espíritas brasileiros, e conseqüentemente, a sociedade em geral, acha que Kardec
recomendava práticas evangelizadoras por haver escrito o livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
Kardec não escreveu ou compilou obras de pregação religiosa, não visava fazer apologia e proselitismo
cristão. Seu objetivo era o de explicar o pensamento de Jesus sob o enfoque espírita. Por isso, naquela
obra, endossou apenas o aspecto moral de seus ensinamentos, não sancionou sua biografia divinizada e
seus milagres, alertando para a falta de comprovação histórica desses relatos dos evangelhos canônicos.

Nem mesmo a máxima espírita mais conhecida – “Fora da caridade não há salvação”, escapou de
desvirtuamento, pois não é uma recomendação explícita, mas uma paráfrase. O movimento espírita fixou-
se em atividades de consolo espiritual e distribuição de bens materiais, distanciando-se do cerne da
proposta doutrinária, que privilegia a educação individual e coletiva, única saída para a elevação
qualitativa da sociedade. Seria o caso de se perguntar a que se dedicarão os espíritas, quando não mais
houver pobres no planeta. Ou de que se ocupam as criaturas que habitam orbes mais avançados do
Universo, que não tenham tais desníveis sociais.

Há casas espíritas cujos nomes enfatizam essa distorcida noção de caridade: Pão dos Pobres,
Socorristas de Maria, Amantes da Pobreza, etc. Inclusive, nestes dois últimos exemplos, além de
incorrerem no erro conceitual, o fazem também no semântico, pois as denominações podem ter dupla
significação: pessoas que socorrem a santa católica; amor à pobreza, propriamente dita.

Discriminam os carentes já a partir dos nomes, mantêm atividades assistencialistas sem desenvolver
trabalhos educativos que despertem potencialidades e firmem noções de cidadania, para conscientizá-los
sobre seus direitos e deveres, tanto individuais como coletivos.

Dessas e de outras interpretações incorretas derivam-se os problemas de caracterização e


funcionamento de um centro espírita. A obra kardequiana afirma que a Doutrina Espírita não possui
dogmas, hierarquias e cultos. Causa espanto, o fato de os espíritas repetirem essa definição, mas não
assumirem que, na prática, há hierarquização e ritualização.

De fato, a federativa nacional é vaticanista, as estaduais funcionam como arcebispados e os centros


como paróquias. Em todos os níveis, a quase totalidade dos dirigentes é vitalícia, ou promovem
alternâncias periódicas entre os integrantes de grupos fechados e inamovíveis.

No Brasil, o Centro Espírita já virou igreja. É um fato sociologicamente definido. A sua estrutura funcional
repete rituais de outras religiões cristãs. As missas católicas adotam módulos entremeados de cânticos e
responsórios: Introdução, Ofertório, Leitura do Evangelho, Consagração da Hóstia, Comunhão, Bênção
Final, com água benta aspergida sobre a assistência ou individualmente colhida à saída do recinto.

Na casa espírita, sempre de maneira solene e mística, acontecem: prece de abertura, pequena leitura ou
preleção religiosa, palestra/sermão de caráter evangélico, oração final, passes e ingestão de "água
fluidificada". Algumas instituições até adotam coros e cantorias. A coincidência não é fortuita. É atavismo
e desconhecimento do que realmente seja a filosofia espírita.

Para os espíritas religiosos, está tudo correto, embora a divergência com o que Kardec ensinou e
praticou. Segundo esse segmento, o espírita deve mesmo ser um pregador do Evangelho, ainda que em
nítida desvantagem em relação aos católicos e protestantes que estudam teologia para bem
desempenhar seu trabalho, que além do mais, é profissão.

Excetuando algumas pessoas que usam seus conhecimentos gerais e acadêmicos para embasar suas
prédicas, a grande maioria é composta por pessoas comunicativas, imbuídas de espírito missioneiro, não
raro vaidosas e/ou fanáticas, que embora bem intencionadas, não possuem preparo intelectual ou
doutrinário.

Disso, resulta empirismo, interpretações pessoais ou de grupos. Não há estudos, mas sim, catequese.
Paradoxalmente, onde deveria haver livre exame de conteúdos, só ocorre veiculação de conceitos
repetidos. Os líderes das instituições não se questionam e nem permitem questionamentos sobre a
correção do teor daquilo que divulgam. Ficam ofendidos quando isso ocorre, procuram afastar, disfarçada
ou ostensivamente, a pessoa que provoca o debate ou diverge. Com poucas exceções, o ensino
doutrinário é uma balbúrdia sem metodologia aplicada, tem caráter limitado e reducionista, é feito por
tradição oral, tem apenas enfoque evangelizador. Quando muito, os monitores usam apostilas mal
compiladas, com pouca base na Codificação, mas que reproduzem idéias de autores encarnados e
desencarnados de obras denominadas “literatura complementar”.

O espírita se jacta, afirmando que a doutrina, além de ser religião, é filosofia e ciência. Mas não se faz
ciência nos centros espíritas. Não há pesquisas ou experiências metodologicamente estruturadas, ou
efetiva comprovação de fenômenos. É só crença, visão estratificada, dedução empírica ou simplesmente,
vôos da imaginação. Onde a ciência, então?

Na França, depois de Kardec, o Espiritismo morreu. Muitas razões são apontadas, sendo a mais
consistente, os entraves decorrentes das duas grandes guerras do Século XX, que assolaram a Europa.
Curiosamente, elas não mataram outras idéias vigentes ou introduzidas à época, que ainda hoje honram
e destacam os franceses, ciosos da racionalidade aprendida com seus proeminentes pensadores (René
Descartes à frente) e magistralmente utilizada por Kardec.

É muito provável que o aniquilamento da doutrina Kardecista na França tenha ocorrido devido às
influências místicas, pois impulsionada por Roustaing, caiu na vala comum da religiosidade crédula. Há
uma real possibilidade de ali ter sido esquecida porque deixou de ter o apelo da razão e da lógica, sob as
quais nasceu.

No Brasil, firmou-se o avesso dessa gênese: a liderança mística adotou, expandiu e sedimentou a visão
religiosa, sem raciocinar que, se Deus é perfeito, portanto despido de prepotência e vaidade, não impõe e
nem precisa de nossas súplicas, reverências e bajulações, dispensando dogmas, ritos e crendices no
trajeto de sua criatura em direção à perfeição relativa que pode alcançar.

A Destinação do Espiritismo
23:00 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Carlos Antonio de Barros

Quando entregou as obras básicas da codificação para o mundo, Allan Kardec imaginava que o
Espiritismo se tornaria uma crença comum e que a aceitação dos seus princípios científico, filosófico e
moral transformassem em um tempo relativamente curto as concepções de vida material da sociedade
terrena.

E não foi bem isso que ocorreu ao longo de mais de 150 anos de existência da Doutrina dos Espíritos.

A assimilação do Espiritismo por parte da coletividade parece lenta e vem criando uma situação de
indiferença para muitas pessoas envolvidas com a doutrina, até mesmo entre espíritas que consideram a
imortalidade da alma "uma ficção para se ver no cinema".

Ocorre que se a filosofia espírita fosse integralmente aceita e se tornasse uma questão de sobrevivência,
a sociedade terrena iria mudar positivamente em diversos aspectos.

No entanto, essa aceitação se torna uma utopia na medida em que ainda não se percebe sincero
interesse dentro do movimento para fazer uma divulgação educativa abrangente, capaz de renovar
hábitos e atitudes dessa sociedade ainda muito materialista.

Além disso, o Espiritismo é tido e visto como uma religião que vem sendo manipulada por lideranças,
"espiritualmente ligadas à Igreja Católica", que querem a todo custo negar a sua identidade com o
conjunto de princípios baseados em leis naturais.

A Doutrina dos Espíritos poderá efetivamente contribuir para promover profundas transformações na
sociedade, mas isso levará ainda muito tempo já que carece de uma sensata avaliação, uma definição de
caminhos e estratégias que se identifiquem com a atual realidade social e espiritual do nosso conturbado
mundo.

Entre os mais de dois milhões de adeptos do Espiritismo existentes no Brasil, é bem provável que um
terço ainda permaneça psquicamente atrelado a outras seitas espiritualistas, acendendo velas, incensos,
cantando mantras e fazendo "promessas" aos "santos espíritas e católicos" para resolverem seus
mesquinhos problemas existenciais.

Muitos cansaram de buscar "consultas espirituais" em suas próprias instituições. Agora recorrem aos
"guias" de outros terreiros...

O Verbete Vazio
23:22 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Eugenio Lara

Em “Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas”, opúsculo lançado em 1858, Allan Kardec
inseriu um glossário espírita, vocabulário com termos, com palavras e verbetes concernentes ao
entendimento da Doutrina Espírita. Foi a primeira tentativa de elaboração de um dicionário, de uma
enciclopédia espírita. Publicado posteriormente, de modo bastante resumido, em “O Livro dos Médiuns”,
podemos observar o cuidado que ele teve para com a nova terminologia que criou, a fim de orientar a
ciência espírita nascente, complementada por palavras e termos esclarecedores, correlacionados ao
Espiritismo.

Nesse pequeno léxico espírita, elucidário interessante, instrutivo para os iniciantes e estudiosos do
Espiritismo, salta aos olhos o famoso verbete Religião sem nenhuma definição. Ora, por que Kardec
deixou este verbete vazio? Por que saiu assim na única edição, somente reimpressa 65 anos depois, por
Jean Meyer, seu sucessor na direção da “Revista Espírita” e de todo seu legado?

Em 1923, Jean Meyer, percebendo a importância dessa obra, relançou-a, mas suprimindo o verbete, sem
nenhum tipo de explicação. Nas edições posteriores, em francês, o verbete vago também não aparece.
Naquele mesmo ano, o grande espírita de Matão-SP, Cairbar Schutel (1868-1938), traduziu e publicou
esse interessante opúsculo, com autorização expressa de Jean Meyer. A reedição francesa e a brasileira
foram simultâneas. Mais tarde, foi relançado pela editora O Clarim, de Matão, por iniciativa de seu editor,
Wallace Leal V. Rodrigues, em 1968, posteriormente incluído na coletânea “Iniciação Espírita” (1970), ao
lado de duas outras obras introdutórias de Kardec, pela Edicel, com apresentação e notas do jornalista e
filósofo espírita Herculano Pires.

Do ponto de vista editorial, soa muito estranha a publicação desse opúsculo com o verbete vazio. Teria
sido um problema de revisão? Seria um lapso na composição, dadas as condições técnicas da época,
isso do ponto de vista gráfico-editorial? Não nos esqueçamos de que na segunda edição de “O Livro dos
Espíritos” (1860) ocorreu um pequeno erro na numeração das questões. O que seria a pergunta 1011,
está em branco, suprimida, ou seja, não é numerada, o que totaliza 1019 questões e não 1018. O erro
passou batido e não foi corrigido por Kardec, possivelmente em função da imensa quantidade de tarefas e
projetos a serem realizados por ele, que sozinho, não pôde completá-los na sua totalidade, em função de
sua desencarnação súbita.

Allan Kardec poderia ter corrigido o suposto lapso do verbete vazio numa segunda edição do opúsculo,
jamais publicada, pois, como ele próprio afirmou: “Esta obra está inteiramente esgotada e não será
reimpressa. Será substituída pelo novo trabalho, ora no prelo, que sairá muito mais completo e obedecerá
a um outro plano.” (“Revista Espírita”, agosto de 1860). Este novo trabalho no prelo, a que ele se refere, é
“O Livro dos Médiuns”, lançado em 1861 e que era para ter o título de “O Espiritismo Experimental”, a
continuação, o “Lado B” de “O Livro dos Espíritos”.

Supondo que era mesmo para ter saído assim, com o verbete vago, qual então a real intenção de Kardec
ao fazer isso? O que ele desejou exprimir com tal atitude editorial? Não sabemos. Todavia, seria muito
estranho atribuir, no lançamento dessa obra, algum tipo de enigma intencional, uma trívia, como um jogo
de computador, um jogo mental, talvez uma charada que deveria ser posteriormente decifrada. Algo que
destoa bastante do perfil psicológico e biográfico do fundador do Espiritismo. Não combina com ele tal
atitude.

O mais provável é que, devido a um erro de composição gráfica, a primeira edição do opúsculo saiu
assim mesmo, com o verbete Religião vazio.

Por sua vez, a nota explicativa, contida na edição lançada pela Edicel nada esclarece, pelo contrário,
confunde ainda mais. Há uma referência ao célebre Discurso de Abertura de Allan Kardec, proferido por
ocasião do Dia dos Mortos, data magna para os espíritas da época, publicado na “Revista Espírita”, em
dezembro de 1868. Kardec aí conclui que o Espiritismo não é religião e que essa palavra deveria,
segundo ele, ser evitada para definir a doutrina nascente. Em seguida, é citada a justificativa de
Herculano Pires, “forçando a barra”, acoplando tal definição kardequiana ao conceito de religião dinâmica
do filósofo espiritualista francês Henri Bergson: um razoável equívoco, muito bem esclarecido pelo
escritor espírita Krishnamurti de Carvalho Dias, no ensaio “Análise do Pensamento de Allan Kardec de
1855 a 1869”, exposto por ele no I Simpósio Nacional do Pensamento Espírita, realizado de 11 a 13 de
agosto de 1989, em Santos-SP.

A existência desse famoso verbete vazio não causa nenhum prejuízo para o entendimento conceitual do
Espiritismo. Quem tiver alguma dúvida quanto ao Espiritismo ser religião ou não, basta ler a polêmica de
Allan Kardec com o abade Chesnel (“Revista Espírita”, maio e julho de 1859), o Discurso de Abertura já
citado e a definição enfática e radical contida no preâmbulo de “O Que é o Espiritismo”.

Quem tem olhos que veja, quem tem ouvidos que ouça: Allan Kardec jamais concebeu o Espiritismo
como religião, jamais ele o definiu e conceituou como doutrina religiosa. Nunca passou pela cabeça
do Druida de Lyon fundar uma doutrina dogmática, uma nova religião, uma espécie de neocristianismo, o
cristianismo redivivo ou qualquer tipo de confissão religiosa. Sua pretensão, declarada e manifesta,
sempre foi fazer do Espiritismo uma ciência de observação, uma ciência filosófica, uma doutrina filosófico-
científica e moral.

Sob uma análise mais sociológica, antropológica, histórica, hermenêutica, se Kardec fundou (sem querer,
querendo) uma nova religião, em função da aceitação da linguagem cristã, de sua atitude supostamente
tácita, conciliatória frente à Igreja e da tentativa de reinterpretar os dogmas católicos sob a ótica espírita
em suas três últimas obras, é uma questão que não cabe aqui ser analisada, mas sim, em outra
oportunidade...

Eugenio Lara, arquiteto, jornalista e designer gráfico, é fundador e editor do site PENSE - Pensamento
Social Espírita [www.viasantos.com/pense], membro-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação
Espírita (CPDoc) e autor dos livros em edição digital: Racismo e Espiritismo; Milenarismo e Espiritismo;
Amélie Boudet, uma Mulher de Verdade - Ensaio Biográfico; Conceito Espírita de Evolução; Os Quatro
Espíritos de Kardec e Os Celtas e o Espiritismo.

Fenômenos espíritas e suas consequências


filosóficas
22:05 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Cairbar Schutel

Os fatos espíritas manifestam-se, hoje, em toda a parte; eles constituem uma voz que parte de todos os
pontos do globo e repercute, de quebrada em quebrada, despertando o homem da letargia e animando-o
a marchar, desassombradamente, pela estrada da espiritualidade que conduz à Vida Eterna. Pode-se
dizer que não há uma só cidade do mundo, uma só aldeia, ainda nos mais longínquos recantos do
planeta, em que manifestações extraordinárias não sejam verificadas, com a admiração de uns, e má
vontade e repulsa de outros. Nos meios humildes, como na alta sociedade, nas zonas científicas, como
entre os elementos clericais, os fenômenos espíritas de caráter ostensivo se constituíram a grande luz
que vem iluminar aos homens o porto de salvamento. Não há uma só família que não conte um fato
“extranormal” com ela ocorrido.

Isso vem nos provar que os fenômenos espíritas têm um caráter verdadeiramente providencial. E nem de
outro modo pode-se ver esses fatos ostensivos, espontâneos, independentes de toda a vontade humana
e de todos os poderes terrestres, fatos, digamos de passagem, que assinalam uma inteligência superior
às inteligências da terra, cheia de previsão, de concisão e altamente científica.

Quem ler com atenção os relatos das sessões de materializações, de moldagens, de apports, de
fotografias, testemunhadas por homens como William Crookes, Russel Wallace, Oliver Lodge, Paul
Gibier, César Lombroso, Ernesto Bozzano e centenas de outros sábios de responsabilidade moral e
científica, não pode negar o grande valor moral e científico dessas manifestações, fenômenos tão
transcendentes que todos esses sábios unidos – físicos, químicos, fisiologistas, anatomistas, etc., são
incapazes de os reproduzir em sua mínima parte.

Em vista disso, poderão esses fatos serem recebidos como ocorrências simplesmente anormais, sem
uma causa-mestre que tem intuitos superiores, determinativos a um fim moral e de alta relevância
espiritual?

Certamente não se pode concluir que um efeito inteligente deixe de ter, a seu turno, uma causa
inteligente e um intuito qualquer, digno da nossa observação, do nosso estudo e da nossa meditação.
Todos os fenômenos da vida intelectual, ainda os mais rudimentares, têm uma causa e um objetivo, como
verificamos na vida dos seres que povoam o nosso mundo. Não se acende uma luz sem que um fator não
se mova, um intermediário não apareça e não se veja o fim a que aquela luz se destina.

A fenomenologia espírita, verificada em todas as épocas e em todos os países, por todas as gerações
que viveram neste mundo, tem sido, em todos os tempos, o princípio básico da fé que dignifica o ser
humano.

Antigamente, devido à deficiência da inteligência para julgar as coisas espirituais, ela foi atirada para a
classe das coisas sobrenaturais, e os “espertos” que tomaram a si a missão de guiar os homens
guardaram-na na “urna dos milagres” para, mais comodamente, manterem o seu domínio sobre as
massas.

Os filósofos e os sábios, adstritos a uma psicologia retardatária que havia cristalizado todos os seus
métodos de ensino, não puderam compreender o alcance desses fatos que só eram recebidos,
religiosamente, pelos filhos do povo.

Percorrendo a obra dos estudos fisiológicos, embora desde tempos idos os fenômenos psíquicos
tivessem larga extensão, ficamos na obscuridade sobre a existência ou não existência da alma, o que
prova que a antiga psicologia não fornecia aos sábios de então os elementos precisos para a resolução
do maior de todos os problemas que deve resolver a sorte do destino humano.

Foi preciso que novas mentalidades viessem desbravar o campo do Animismo, forçando, depois, as
barreiras do sobrenatural e do mistério, para que a luz raiasse nos horizontes, e um novo método de
estudo desse criação à Psicologia Experimental, que estendeu a sua área às regiões inexploradas da
alma humana, nesta fase da vida, alongando a sua ação ao mundo ultrassensível que nos rodeia e para
onde teremos que ir.

E, desse estudo experimental, chegou-se à conclusão dos intuitos morais e científicos dos fenômenos
psíquicos, base fundamental do Animismo e do Espiritismo, que se acham em íntima ligação com todas
as ciências, dando-lhes um cunho superior de progresso, completando-as com as novas verdades que
vêm tirá-las das dificuldades em que se acham, para resolverem certos problemas, cuja obscuridade veda
a sua ação progressiva na perfeição das gentes, na evolução de todos os conhecimentos que devem
constituir e proporcionar o bem-estar dos povos. Oferecendo a todos as insígnias inconfundíveis da alta
Moral Cristã, com todos os Ensinos filosóficos do seu Instituidor, os fenômenos espíritas, parte integrante
da Revelação sobre a qual Jesus disse haver fundado a sua Igreja, são, de fato, as demonstrações
claras, legíveis e palpáveis da Imortalidade, única base verdadeira da Fé, do Amor e da Sabedoria.

Sem os fatos, não há religião, nem ciência que possa prevalecer. À química se pede reações; à
matemática, números; à física, leis de equilíbrio. Para merecer o nome de ciência, é preciso que se
demonstre esta ou aquela com provas positivas.

Os fenômenos psíquicos, não há, absolutamente, dúvida, trazem à destra a luz que ilumina e a verdade
que salva. Só por eles, podemo-nos convencer da sobrevivência espiritual, ou seja, da sobrevivência
individual e, consequentemente, dos nossos deveres para com os nossos semelhantes e para com Deus.

As consequências filosóficas dos fatos espíritas trazem-nos, como contribuição de progresso e bem-estar,
leis olvidadas pelos homens e destinadas a estabelecerem na Terra o reinado da Fraternidade, sob a
Paternidade de Deus.

Não queiram os nossos adversários transviar os objetivos da Fenomenologia Espírita, atribuindo-lhes


teorias malsãs que não se coadunam com os seus fatos. Lembre-se bem de que todas as teorias
aventadas para darem explicações dos fenômenos caíram por terra por insustentáveis.

“Os fatos são persistentes” – como disse o Prof. Lombroso e, em face dos fatos, o investigador perspicaz
e inteligente há de verificá-los de natureza anímica e de natureza espírita, mas, sejam uns ou sejam
outros, nenhuma explicação eles podem ter, sem a existência da alma e sua sobrevivência à morte do
corpo carnal. Essa é a verdade que ninguém, com bons fundamentos, ousará contestar.

Publicado na RIE em julho de 1934

Conversando com Espíritos


22:39 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Alamar Régis Carvalho

Já que o Espiritismo não admite, em hipótese alguma, a fé cega, o fanatismo, o crer por crer, o aceitar
com base na influência dos outros e a prática religiosa sem racionalidade, cumpre ao espírita sério
orientar as pessoas acerca dessa questão de falar com espíritos, falar com pessoas que “já morreram”,
participar de uma “sessão espírita”, de um “trabalho mediúnico”, que é coisa que muita gente tem
curiosidade em saber.

Em princípio, a pessoa não deve se deixar levar por certas argumentações baseadas em “a Bíblia diz”,
porque determinadas pessoas, “conselheiras” religiosas, se referem muito ao “a Bíblia diz” sem
analisarem profundamente o mesmo questionamento em várias outras passagens da mesma Bíblia.

Por exemplo: Dizem que Moisés proibiu a comunicação com os “mortos”. Todavia ele mesmo, que já
havia morrido, apareceu e comunicou-se com Jesus, Pedro e Tiago, no Tabor, para deixar bem claro que
a história foi mal contada ou mal interpretada. Detalhe: Jesus concordou, porque conduziu a comunicação
normalmente, com a testemunha dos apóstolos.

O Vaticano, recentemente, através de longa entrevista do Cardeal Gino Cosseti, no “Oservatore


Romano”, órgão oficial da Santa Sé, afirmou categoricamente que existe, que é possível e que deve ser
feita a comunicação com os chamados “mortos”, desde que feita com responsabilidade, com motivos
úteis, com seriedade e sem brincadeira ou má intenção.

É exatamente isso que o Espiritismo ensina, há mais de 150 anos.

Apesar da seriedade com que a Doutrina Espírita apresenta a questão e recomenda aos praticantes do
Espiritismo, infelizmente existe ainda muita gente em busca de notoriedade às custas dela, querendo
aparecer de qualquer maneira, fazendo do Centro Espírita um verdadeiro picadeiro de circo.

É aí quando você vê em alguns centros, rotulados com o nome de “espírita”, médiuns fungando, batendo
nas mesas, sacudindo as pessoas, dando puxões nos braços dos frequentadores, aperta aqui aperta ali,
gesticula, fala alto, sacode a cabeça, respira forte e faz um monte de trejeitos.

É Espiritismo isso?
Não! É palhaçada mesmo. Exibicionismo! É a necessidade de ser o centro das atenções para os
frequentadores da casa.

Quando o centro “espírita” coloca um monte de gente para participar do trabalho mediúnico, inclusive
pessoas que vão à casa pela primeira vez, maioria por curiosidade e abrindo esse trabalho para o público;
com todo respeito aos dirigentes dos centros que praticam isso, a verdade é que estão cometendo um ato
de muita irresponsabilidade, desconsideração ao frequentador e desrespeito para com a Doutrina
Espírita.

Em determinados “centros”, quando o freqüentador tem dinheiro, é alguém de certo destaque na


sociedade, todas as atenções são voltadas para essa pessoa, que é convidada a participar da sessão e
sentar na tal mesa que muitas casas adotam, sempre forradas com toalhas brancas (não sei porque
insistem tanto em ter que ser branca).

Aí aparece um monte de “espíritos” com mensagens para o “ilustre” visitante e toda aquela xaropada.

É bom salientar que esse puxa saquismo existe também em tudo quanto é religião, principalmente
naquelas que adoram os cifrões.

Repito que o Centro Espírita não pode ser apresentado como se fosse um picadeiro de circo.

O Centro Espírita não é lugar para curiosos. Ele aceita, sim, a visita de pessoas que desejam pesquisar,
observar, checar, perguntar e questionar, sem problema algum, desde que com seriedade e
responsabilidade, jamais com deboche.

Para participar de um trabalho mediúnico, a pessoa deve já estar, indispensavelmente, orientada sobre o
que é o Espiritismo, qual a sua razão, os seus objetivos, as suas propostas, quais os seus postulados,
como vivem os espíritos, como se processa uma comunicação de um desencarnado com um encarnado
etc.

Essas coisas só podem ser conhecidas com a leitura das obras básicas do Espiritismo, a começar por “O
Livro dos Espíritos” e em seguida pelo “Livro dos Médiuns”.

Quero esclarecer que são livros de mais de 400 páginas, cada um. Se você tem preguiça de ler, não
gosta de ler, não está disposto a ler, é melhor esquecer que existe alguma coisa que você chama de
“sessão espírita”. Não vá!

Alguém que não quer, de forma alguma, aprender a dirigir, não pode querer pegar no volante de um carro
e sair por aí, porque correrá o sério risco de se ferir e até se matar, além de ferir ou matar os outros.

Ao contactar com o espírito no Centro, em primeiro lugar é bom checar se é um espírito desencarnado
mesmo que está se comunicando ou se é o médium que está mistificando ou praticando animismo. Isso
você só vai saber o que é, estudando os livros propostos. Identificar espíritos e suas intenções é fácil
demais. Só mesmo quem não tem qualificação racional e é possuidor de inteligência de minhoca, é capaz
de dizer que todos os espíritos são demônios ou que todos são bons orientadores.
Espírito verdadeiramente bom e honesto jamais ficará aborrecido se você questioná-lo, duvidar, recusar
determinadas orientações e conversar naturalmente com ele, como se fosse com uma outra pessoa
qualquer.

Se começar a se irritar, pode ter certeza de que é mistificação, desequilíbrio do médium e palhaçada
mesmo.

Enfim, gente. Espiritismo é coisa séria, ética, sensata, racional e de muita responsabilidade.

Principais Fatores que Impedem o


Desenvolvimento da Ideia Espírita
22:09 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Humberto Mariotti

Porque se Mantém Vigente o Velho Mundo Espiritual e Social

O mundo contemporâneo é um mundo adequado ao tipo de sensibilidade que responde aos interesses
das instituições atuais, mantidas por aqueles que participam “interessadamente” deste mundo “estanque”
do presente. Existem acordos gerais consistentes em não permitir a transformação dos organismos
sociais, sejam estes filosóficos ou religiosos. Por exemplo, em religião só se admite o que diz a Igreja
visto que, no atual estado de coisas, ela é a verdade e nenhum outro princípio religioso é permitido, já que
a verdade religiosa, para a situação social contemporânea, é a católica (atualmente também um pouco a
protestante).

Se aparece um pensador ou escola que apresente ao mundo de hoje um novo tipo de religião, é de
imediato rechaçado e perseguido por ser atentatório à “única verdade religiosa” que é a que representa o
dogma, uma vez que, para a ordem atual, o dogma é tão sustentável quanto a lei da gravidade e, por
essa razão, o homem religioso-dogmático fala de Deus trino, do Inferno, do diabo etc., como se estivesse
tratando de questões tão reais e positivas como a eletricidade. Para comprovar o que afirmamos, basta
falar com qualquer membro da Igreja e constataremos a anquilose mental (1) em que se encontra.

Todavia, qual ê a causa essencial desta situação neste mundo “estanque” do presente? Cremos que tudo
isso ocorre em razão do que esses dogmas representam para os interesses materiais da sociedade, uma
vez que apóiam espiritual e psicologicamente a ordem geral e particular do atual estado de coisas.
Uma ideia de Deus como a que apresenta o conceito espírita determinaria um grande estremecimento na
ordem eclesiástica e derrubaria tudo quanto agora se conhece no seio da Igreja, como “sistema de
hierarquia”. De modo que o mais conveniente é manter de pé esse “sistema” e não a verdade religiosa
que o Espiritismo revela ao pensamento do homem. Por esse motivo a ideia espírita, tanto para a Igreja
como para a presente ordem espiritual e social, é um perigo e uma ameaça para as velhas instituições
eclesiásticas, que durarão até que as forças do progresso não as substituam por uma nova visão do
Universo.

No mundo contemporâneo o avanço da verdade, em todos os aspectos, está paralisado pelos interesses
comuns das velhas instituições sociais. Vem daí que a evolução, ao ser detida em seu processo normal,
se torna violenta até converter-se em revolução agressiva.

A causa do extremismo comunista tem sua origem neste fenômeno repressivo da evolução, já que a
transformação das estruturas sociais são necessárias em virtude da própria evolução do indivíduo e
também porque o que deveria operar-se insensivelmente se vê na necessidade de ocorrer violentamente.
Por tal motivo, em Allan Kardec lê-se a reflexão seguinte:

“Sendo o progresso uma condição da natureza humana, não está no poder do homem opor-se-lhe.
É uma força viva, cuja ação pode ser retardada, porém não anulada por leis humanas más.
Quando estas se tornam incompatíveis com ele, despedaça-as juntamente com os que se esforcem
por mantê-las. Assim será até que o homem tenha posto suas leis em concordância com a justiça
divina, que quer que todos participem do bem e não a vigência de leis feitas pelo forte em
detrimento do fraco.” (2)

Pois muito bem: todos sabemos que estamos vivendo em uma época de total transformação. Os sistemas
e valores seculares deverão ceder ante o novo espírito da humanidade. Entretanto, o mundo atual se
aferra às velhas instituições, tratando de convencer o homem que tudo já foi oferecido definitivamente e
que as estruturas atuais são inamovíveis e imutáveis. Mas esta atitude dos que assim sentem, ao mundo
é antinatural, dando com isso origem à violência revolucionária.

Esta é a causa pela qual o comunismo nega a Deus e a toda ideia transcendente do homem e da história,
apresentando-nos um Estado totalmente naturalista, baseado no que se denomina “Materialismo
Histórico”. A força revolucionária do comunismo passa por cima de toda concepção ideológica espiritual
por considerá-la um sustentáculo da propriedade privada. Mas se os que dizem representar a democracia
facilitassem o curso da evolução, esse fenômeno de violência que vemos na tática comunista seria
interrompido sem dúvida alguma, uma vez que a modificação das coisas se daria com naturalidade e sem
alterações bruscas nem dolorosas.

Pelo que vemos podemos dizer que o comunismo é a consequência da repressão da evolução natural por
parte dos que pretendem manter o estado atual do mundo. O próprio Espiritismo, que não emprega a
violência para a propagação de seus ideais, sofre também a reação da velha ordem, pois que sua
concepção religiosa e filosófica determina modificações radicais nesse aspecto. E aqueles que vivem
como altos hierarcas, ocupando suntuosas posições no temporal e espiritual, tão pouco podem aceitar o
Espiritismo como uma ideia amiga e como expressão da verdade. A respeito, vejamos o que diz “O Livro
dos Espíritos”, na questão 798:
O Espiritismo se tornará crença comum ou ficará sendo partilhado como crença apenas por
algumas pessoas?
— Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque
está na natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos. Terá,
no entanto, que sustentar grandes lutas, mais contra o interesse do que contra a convicção,
porquanto não há como dissimular a existência de pessoas interessadas em combatê-los, umas por
amor-próprio, outras por causas inteiramente materiais. Porém, como virão a ficar insulados,
seus contraditores se sentirão forçados a pensar como os demais, sob pena de se tornarem
ridículos.

Nos parágrafos transcritos encontra-se a causa da tergiversação que se faz em torno da ideia espírita,
desfigurando-a ante a opinião pública, a qual lamentavelmente é guiada e governada pelos que
representam a antiga ordem do mundo. Por tal motivo o poder material atual nunca admitirá o Cristo tal
como ele era, aceitando, em contrapartida, um Cristo-Deus vinculado a um representante terreno. E este
tipo de Cristo-Deus é o único real para o poder oficial; os demais são heréticos ou, quando não,
inspirados por Satanás, até mesmo o Cristo de amor e de verdade que a filosofia espírita nos apresenta.

Mas, para que exista um monarca religioso na Terra, é necessário aceitar um tipo de Cristo como o que
nos apresenta o dogma. Para que haja involução e imutabilidade espiritual e social, é preciso negar a
pluralidade de existências; e para que nosso planeta seja o centro do universo, como ainda o aceitam os
escolásticos e ortodoxos, é necessário negar a pluralidade dos mundos habitados. Sem estas duas
pluralidades o Universo, o Ser e a História permanecerão fixos e a antiga ordem não correrá o risco de
ser alterada em nenhum ponto de vista.

Por esse motivo, o Espiritismo explode como um vulcão, resultando disso como que uma constrição
através da qual se manifestam as forças reprimidas da evolução, ainda que desfiguradas pela violência.
Daí sucede que toda ideia evolucionista é ocultada e não se lhe dá acesso nas universidades nem nos
grandes órgãos de publicidade pois, para a cultura contemporânea só e aceitável aquilo que não afete o
dogma nem a sociedade presente, já que estas duas instituições deverão manter-se indefinidamente tal
como são, uma vez que representam os grandes interesses dos poderosos, os quais sem solução de
continuidade, transmitem de família a família os bens e benefícios que os povos produzem para todos em
geral.

A velha ordem do mundo é o fato determinante do estado caótico em que vivem os povos de nossa
época. Quando as leis de evolução sofrem reação, alteram-se os cursos naturais do progresso e
sobreveem as mais terríveis catástrofes, as guerras e os procedimentos chamados totalitários e
imperialistas. Enquanto a velha ordem não se decida a evoluir com o espírito do homem e da
humanidade, haverá comoções sociais e revoluções violentas. É necessário que a velha ordem
reconheça que deve promover a evolução da religião e da sociedade e, com elas, todas as estruturas
materiais e espirituais.

Enquanto existir um organismo mundial que pretenda representar a verdade divina, os valores religiosos e
filosóficos do Espiritismo serão considerados ilegais, errôneos e inspirados pelo demônio. A massa de
crentes, educada e conduzida por esse organismo eclesiástico mundial, como é lógico, levá-lo-á mais em
conta do que a palavra dos que divulgam as verdades espíritas. Dir-se-á o contrário de tudo quanto o
Espiritismo é e representa. Dir-se-á que os espíritas conversam com os mortos e que este ato é herético e
sacrílego, já que para a Igreja os mortos são intocáveis, pertencem-lhe e são de sua absoluta
incumbência. E a massa de crentes acreditará antes em seus pastores religiosos do que nos espíritas, no
que respeita à verdadeira situação que ocupam os mortos na vida do mais além.

A Igreja e os agora denominados “irmãos separados” (3) sabem impressionar bem os seus fiéis no que se
refere aos mortos. Para eles são seres totalmente distanciados da Terra e recolhidos alhures, na
ultratumba. Daí este conceito carente de toda base filosófica: “os mortos não falam nem se comunicam
com os vivos” o que é arma indispensável na prédica antiespírita que realizam. Argumentam, ante os fiéis,
que os mortos só podem comunicar-se com os vivos no seio da Igreja, pois que fora dela, não têm
nenhuma relação com o homem como indivíduo, nem com a sociedade como instituição histórica e
espiritual. E, desta forma, o Espiritismo é apresentado como “coisa repugnante” ante os que vivem mental
e espiritualmente dentro da velha ordem, supondo que não passa de necromancia praticada por pessoas
alienadas e cultores da magia negra.

Eis aqui, pois, onde se situa a origem da resistência que o Espiritismo encontra na cultura
contemporânea. Mas não nos esqueçamos de que toda “cultura” só merece aprovação quando não
diverge do dogma e da sociedade presente. E também assim ocorre relativamente à democracia: esta é
apenas “democrática” quando as liberdades que outorga não afetam o dogma e os interesses do
sociedade. Mas, nem bem as liberdades concedidas denunciam os fenômenos contraditórios da ordem
imperante, a democracia retira a livre expressão de pensamento por considerá-la atentatória à
estabilidade social e religiosa. E passa, então, a ser julgada comunista.

Mas, por que o Espiritismo, como movimento social, goza da liberdade em quase todos os países de
caráter cristão? A resposta é fácil: o Espiritismo é tolerado em sua ação porque tende a aliviar a situação
das massas trabalhadoras que os referidos países cristãos não se decidem solucionar. Pois, enquanto o
Espiritismo secunda o Estado nesta tarefa de auxiliar aos indigentes e trabalhadores, mas sem entrar na
análise da origem da miséria social, será bem visto, especialmente nos países chamados
subdesenvolvidos. Entretanto, nem bem o Espiritismo inicie uma investigação de visu (4) no que respeita
à origem da pobreza e da miséria que sofrem os povos, reclamando uma solução ante tão pavoroso
problema, e a ideia espírita passará a ser perseguida, proibida e até mesmo qualificada de comunista.
Pois que, ao fazer uma análise dos fenômenos sociais, bem como a do homem e do pauperismo em
todos os aspectos, o Espiritismo se colocaria contra o dogma e a sociedade. Se duvidarmos, recordemos
o episódio da crucificação de Jesus.

Tenha-se presente que a ideia espírita forma no homem uma nova mentalidade, por meio da mais pura
essência cristã da verdade e da justiça. Se bem que seja certo que a escola espírita ensina a tolerância,
isto não impede que o homem espírita faça uso do sentido crítico no que respeita ao curso normal ou
anormal da evolução e do progresso. E, este sentido crítico, não obstante a prática da tolerância, é o que
impulsionará o espírita a refletir sobre os diversos fatos sociais e espirituais, para verificar que fatores
favorecem ou não seu desenvolvimento.

De maneira que as condições unilaterais que caracterizam a ordem atual não são as mais adequadas
para o conhecimento da verdade, nem para um normal desenvolvimento da evolução e do progresso.
Enquanto a cultura contemporânea só considerar como direitos sociais o conhecimento oficial, isto é, o
que respeita ao dogma e sociedade antigos, a ideia espírita deverá desenvolver-se à margem da cultura
do Estado, pois que, em caso de ser adotada pela Universidade como verdade real e demonstrada, seria
recusada e rechaçada pelos interesses do dogma e da sociedade atuais, cujas bases se consideram as
únicas reais e válidas.

Não obstante, por que motivo o mundo está em plena comoção espiritual e social? Assim se encontra
porque o processo histórico da evolução não pode ser detido pelos interesses terrenos de classes e
castas que se arremetem obstinadamente contra a lei do progresso. E o que deveria realizar-se, sobre a
base da compreensão e da paz, se realiza por meio de ásperas lutas, entre o passado e o futuro. A
cultura oficial, o “realismo católico” e o “realismo socialista”, bem como o “realismo oficial” combatem o
Espiritismo e isto tendo em vista a nova dimensão que ele descobre no Ser, na História e no Universo.

Tanto para o “materialismo ateu” como para o “espiritualismo eclesiástico”, o Espiritismo não é uma
verdade, já que sua visão difere tanto de um como de outro. E porque não enxergamos como
“materialistas ateus” e “espiritualistas dogmáticos”, ambos se unem na negação dos princípios espíritas.
Pois tanto em um como em outro setor existe uma mentalidade de classe social que vê neles fatores
inadequados para a manutenção de suas respectivas posições ideológicas. Daí, pois, que o Espiritismo,
através de seu movimento, deveria organizar-se mediante a união internacional dos espíritas, sobre a
base dos postulados kardecistas. Esta união internacional lhe daria um poder espiritual e social, com o
que se lhe abriria espaço para caminhar por entre a cultura contemporânea, cujo único interesse consiste
em manter de pé o dogma e a sociedade presentes.

Visto que o Espiritismo, por ser a verdade, não se mescla com nenhuma doutrina de nosso tempo; sua
visão do mundo é completamente distinta tanto do capitalismo e do comunismo quanto do catolicismo,
uma vez que cria um novo tipo humano, isto é, o Novo Homem, sobre a base firme da evolução, a qual
dará nascimento ao mesmo tempo a uma nova ordem social onde o amor e a verdade, cristãos, serão
seus mais sólidos alicerces.

Buenos Aires, abril de 1968.

NOTAS

(1) O mesmo que ancilose: falta de movimento em alguma articulação, rigidez de ideias.
(2) “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec. Comentário à questão 783.
(3) “Irmãos Separados” é uma frase usada pelos católicos para se referirem aos cristãos adeptos das
igrejas reformadas ou protestantes.
(4) “De visu” é uma expressão latina que significa “de vista”. Aplica-se à pessoa que presenciou o fato, à
testemunha ocular, denominada testemunha “de visu”.

Fonte: RIE - Revista Internacional de Espiritismo, Matão-SP.

Humberto Mariotti (1905-1982), poeta, escritor, jornalista, conferencista e intelectual espírita argentino.
Presidiu a Confederação Espírita Argentina em 1935/1937 e 1963/1967. Esteve, junto com Manuel S.
Porteiro, no Congresso Espírita Internacional de Barcelona (1934). Foi também vice-presidente da
Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA) em duas gestões. Escreveu, dentre outras obras:
Dialéctica y Metapsíquica; Parapsicologia y Materialismo Histórico; El Alma de los Animales a Luz de la
Filosofia Espírita; En Torno al Pensamiento Filosofico de J. Herculano Pires; Victor Hugo, el Poeta del
Más Allá.
Cultura Espírita
21:25 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por José Herculano Pires

A Cultura Espírita, como observou Humberto Mariotti, filósofo e poeta espírita argentino, é uma realidade
bibliográfica, edificada no plano das pesquisas e dos estudos. Socialmente se reduzia uma parte mínima
do movimento espírita mundial, pois a maioria dos espíritas a desconhece. Compreende-se que isso
acontece em conseqüência das campanhas deformadoras e difamatórias das Igrejas e das Instituições
Científicas, especialmente as de Medicina, contra o Espiritismo. Mas grande parte da culpa cabe aos
próprios espíritas cultos, que, em sua maioria, se mostraram displicentes, por acomodação indébita ou
preguiça mental. Por outro lado, a vaidade e o pedantismo intelectual de muitos espíritas os afastaram
das pesquisas sobre os mais importantes aspectos da doutrina, para se entregarem a elucubrações
pessoais gratuitas, dispersivas e não raro absurdas. O desejo vaidoso de brilhar aos olhos vazios do
mundo levou muitos deles a querer adaptar o Espiritismo às conquistas científicas modernas, ao invés de
mostrarem a subordinação dessas conquistas ao esquema doutrinário. Outros quiseram atrevidamente
atualizar a doutrina e outros ainda se aventuraram a corrigir Kardec. Essas atitudes não deram o proveito
pessoal que desejavam e serviram apenas para incentivar as mistificações.

Toda nova cultura nasce da anterior. Das culturas anteriores nasceu a cultura moderna, carregada de
contribuições antigas. Mas o aceleramento da evolução cultural a partir da II Guerra Mundial fez eclodir
quase de surpresa a Era Tecnológica. O materialismo atingiu o seu ápice e explodiu para que as
entranhas da matéria revelassem o seu segredo. E esse segredo confirmou a validade da Cultura Espírita
marginalizada no plano bibliográfico. Começou assim o desabrochar de uma Nova Civilização, que é a
Civilização do Espírito. “A finalidade da Educação — escreveu Hubert — é instalar na Terra, pela
solidariedade de consciências, a República dos Espíritos”. Essa foi a proclamação da Nova Era, feita na
França de Kardec, na Paris da sua batalha pelo Espiritismo.

Mas para que uma civilização se desenvolva é necessária a integração dos homens nos seus princípios e
pressupostos. Uns e outros se encontram nos livros de Kardec, mas se esses livros não forem realmente
estudados, investigados na intimidade profunda dos textos e transformados em pensamento vivo na
realidade social, a civilização não passará de uma utopia ou de uma deformação da realidade sonhada.
Por mais frágil e efêmero que seja o homem na sua existência, é ele que dá vida ao presente e ao futuro,
é ele o demiurgo que modela os mundos. Para o homem espírita construir a Civilização do Espírito é
necessário que a viva em si mesmo, na sua consciência e na sua carne, pois é nesta que a relação
da consciência com o mundo se realiza. E para isso não bastam os livros, é necessário o concurso
de todos os meios de comunicação: a palavra, a imprensa, o rádio, a televisão, e mais ainda, a
prática intensiva e coletiva dos princípios doutrinários de maneira correta e fiel. Se o homem
espírita de hoje não compreender isso e dormir sobre os louros literários, a Civilização Espírita abortará
ou será transformada numa simples caricatura da fórmula proposta, como aconteceu com o Cristianismo.
É disto que os espíritas precisam tomar consciência com urgência. Ou acordam para a gravidade do
problema ou serão esmagados pelo avanço irrefreável dos acontecimentos no tempo.

A idéia comodista de que Deus faz e nós desfrutamos ou suportamos não tem lugar no Espiritismo. Pelo
contrário, neste se sabe que o fazer de Deus no mundo humano se realiza através dos homens capazes
de captar a sua vontade e executá-la. Não há milagres nem ações mágicas na Natureza, onde a vontade
de Deus se cumpre através dos Espíritos, desde o controle das formações atômicas até o crescimento
dos vegetais. Dizia Talles de Mileto, o filósofo vidente, que o mundo está cheio de deuses que trabalham
em toda a Natureza, e deuses, para os gregos, eram espíritos. Kardec repetiu em outros termos e de
maneira mais explícita e minuciosa essa mesma verdade. No mundo humano os Espíritos se encarnam,
fazem-se homens para modelá-lo. Cada espírito encarnado trás consigo sua tarefa e a sua
responsabilidade individual e intransferível. O que não cumpre o seu dever, fracassa. Não há outra
alternativa. O fracasso da maioria dos cristãos resultou na falência quase total do Cristianismo. O
que se salvou foi o pouco que alguns fizeram. E a partir desse pouco, dois mil anos depois da
pregação do Cristo e do seu exemplo de abnegação total, foi que Kardec partiu para a arrancada
espírita. O exemplo da França é uma advertência aos brasileiros. A hipnose materialista absorveu os
franceses no imediato e o Espiritismo quase se apagou de todo nos campos arroteados por Kardec,
Denis, Flammarion, Delanne e tantos outros. A intensa e comovente batalha de Léon Denis, na França
e em toda a Europa, nos congressos espíritas e espiritualistas de fins do século XIX e primeiro
quarto do nosso século foi contra as infiltrações de doutrinas estranhas, de espiritualismos
rebarbativos, no meio espírita. Foi gigantesco o esforço do famoso Druida da Lorena, como Conan
Doyle o chamava, para mostrar que o Espiritismo era uma nova concepção do homem e da vida,
que não se podia confundir com as escolas espiritualistas ancestrais, carregadas de superstições
e princípios individualmente afirmados ou provindos de tradições longínquas, sem nenhuma base
de critério científico. O mesmo acontece hoje entre nós, sob a complacência de instituições
representativas da doutrina e o apoio fanático de lideres carismáticos, piegos espirituais e
alucinados mentais a dirigir multidões de cegos.

Todas as tentativas de correção dessa situação perigosa se chocam com a frieza irresponsável dos que
se dizem responsáveis pelo desenvolvimento doutrinário. E a passividade da massa espírita, anestesiada
pelo sonho da salvação pessoal, do valor mágico da tolerância bastarda, da crença ingênua do valor
sobrenatural das esmolas pífias (o óbolo da viúva dado por casais de contas comuns nos bancos), vai
minando em silêncio o legado de Kardec. O medo do pecado que saí da boca, da pena ou das
teclas — enquanto se come e bebe à farta, semeiam-se migalhas aos pobres e dorme-se na bem-
aventurança das longas digestões — faz desaparecer do meio espírita o diálogo do passado recente,
substituindo o coro dos debates pelo silêncio místico das bocas-de-siri. Ninguém fala para não
pecar e peca por não falar, por não espantar pelo menos com um grito as aves daninhas e
agoureiras que destroem a seara.
A imprensa espírita, que devia ser uma labareda, é um foco de infestação, semeando as
mistificações de Roustaing, Ramatis e outras, ou chovendo no molhado com a repetição cansativa
de velhos e surrados slogans, enquanto as terras secas se esterilizam abandonadas. O óbolo da viúva
não cai nos cofres do Templo, mas nos desvãos do chão rachado pela secura maior dos corações, como
lembrou Constâncio Vigil.

À margem dessa imprensa paroquial, feita para alimentar a família, os jornais que surgem em condições
de mostrar ao grande público a grandeza e o esplendor da Doutrina morrem de inanição, enquanto jornais
mistificadores, preparados com os condimentos da imprensa sensacionalista e louvaminheira, ou
temperados com bocas-de-siri (quanto mais fechadas, mais gostosas) são mantidos pela renda de
instituições comerciais ou por interesses marginais.

As escolas espíritas marcam passo na estrada comum. Os programas de rádio são sufocados por
adulteradores e substituídos por improvisações acomodatícias. A televisão só se abre para
sensacionalismos deturpadores. Os recursos financeiros se são empregados na caderneta de poupança
da caridade visível, que no invisível rende juros e correções monetárias. As iniciativas editoriais corajosas
morrem asfixiadas pelo encalhe, ante o desinteresse de um público apático. Os hospitais Espíritas trans-
formam-se em organizações comuns, mantidos pelas verbas oficiais de socorro a doentes que podem
carreá-las aos seus cofres, a antiga e legítima caridade espírita de anos atrás, sustentada por alguns
abnegados que já passaram para o Além, murcha como flor de guanxuma em pastos ressequidos.
Restam apenas, nessa paisagem desoladora, alguns pequenos oásis sustentados pelos últimos e pobres
abencerragens (*) de uma velha estirpe desaparecida.

É necessário que se diga tudo isso, que se escreva e semeie essa verdade dolorosa, para que
toque os corações, na esperança de uma reação que talvez não se verifique, mas que pelo menos
se tenta despertar. Na hora decisiva da colheita, as geadas da indiferença e as parasitas do comodismo
ameaçam as mínimas esperanças de antigos e cansados lavradores. Apesar disso, os que ainda resistem
não podem abandonar os seus postos. É necessário lutar, pois o pouco que se possa salvar poderá ser a
garantia de melhores dias. O homem, as gerações humanas morrem no tempo, mas o espírito, não. O
tempo é o campo de batalha em que os vencidos tombam para ressuscitar. Quem poderia deter a
evolução do espírito no tempo? A consciência humana amadurece na temporalidade. A esperança
espírita não repousa na fragilidade humana, mas nas potencialidades do espírito, que se atualizam no
fogo das experiências existenciais. Curta é a vida, longo é o tempo, e a Verdade intemporal aguarda a
todos no impassível Limiar do Eterno. O homem é incoerência e paixão, labareda esquiva que se apaga
nas cinzas, mas o espírito é a centelha oculta que nunca se apaga e reacenderá a chama quantas vezes
for necessário, para que a serenidade, a coerência e o amor o resgatem na duração dos séculos e dos
milênios.

Todas as Civilizações da Terra se desenvolveram, numa assombrosa sucessão de sombra e luz, para
que um dia — o Dia do Senhor, de que falavam os antigos hebreus — a Civilização do Espírito se instale
no planeta martirizado pelas tropelias da insensatez humana. Então teremos o Novo Céu e a Nova Terra
da profecia milenar. Os que não se tornarem dignos da promessa continuarão a esperar e a amadurecer
nas estufas dos mundos inferiores, purgando os resíduos da animalidade. Essa é a lei inviolável da
Antropologia Espírita.

(*) Indivíduos que se mostram de extrema dedicação a uma causa; são os derradeiros paladinos de uma
idéia.
O Espírito e o Tempo. 7. ed. Sobradinho: Edicel, 1995.
4.ª Parte. III — Antropologia Espírita.
5. CULTURA ESPÍRITA.

O Espiritismo é Subversivo?
21:14 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Jacques Peccatte

Ao contrário da idéia comum que torna o Espiritismo uma religião, os espíritas do Cercle Spirite Allan
Kardec, da França, não aceitam os conceitos demasiado simples, que não permitem refletir sobre a
evolução do mundo atual.

O Espiritismo deve integrar-se à vida de nosso tempo, a fim de questionar os eventos culturais, sociais e
políticos à luz de nosso conhecimento espírita.

Tudo o que acontece no planeta merece interesse e reflexão por parte de todos os seres humanos,
sobretudo hoje, porque vivemos mais ou menos conscientemente, num modo transnacional dentro do
qual a situação de cada país é interdependente dos outros. A globalização econômica é uma realidade
atual e a exploração dos países pobres pelos ricos segue, como nos tempos da colonização.

O Espiritismo de Allan Kardec nunca aceitou esse processo de injustiça nem a resignação diante das
misérias. É essencial que, dentro da atualização do Espiritismo, levemos em conta as evoluções coletivas
de nossas sociedades.

Vemos que no neoliberalismo atual, todas as partes da Terra são dependentes desse sistema mundial,
incapaz de procurar o bem-estar de todos. As desigualdades se ampliam a cada dia, desigualdades entre
os países e entre os indivíduos. A riqueza global aumenta consideravelmente e, paralelamente, a pobreza
é cada vez maior.

A filosofia espírita incorpora conceitos de solidariedade e de fraternidade que estão totalmente ausentes
das sociedade humanas, apenas na forma de organizações caritativas. Desgraçadamente a caridade é o
único meio de solidariedade que deve preencher as deficiências das sociedades fundadas no egoísmo. O
objetivo de cada sociedade deve ser o desenvolvimento econômico, o que é perfeitamente normal e
evidente, mas os países pobres estão condenados a abastecer os países ricos, sem benefícios nem
desenvolvimento. É um intercâmbio de sentido único.

Existe uma estratégia dos países desenvolvidos, em particular dos Estados Unidos, que consiste em
dirigir o mundo segundo seus próprios interesses e benefícios. É uma política muito evidente, por
exemplo, no tocante ao continente africano.

A geopolítica mundial não é estabelecida ao acaso. Não existe fatalidade, mas vontades muito bem
calculadas por parte dos poderes econômicos.

Como espírita, não posso calar-me diante dessas realidades. Se os habitantes da Terra são irmãos, como
aceitar tais diferenças? Penso que esses problemas fazem parte da filosofia espírita em seu aspecto
moral.

Não podemos nos contentar com uma moral individual dentro da qual cada um se preocupa com sua
família e de seu vizinho (que é, sem embargo, muito bom). Mas devemos também, como espíritas,
considerar o enfoque espírita dentro de uma moral universal. A famosa evolução intelectual e moral
definida por Kardec significa que não devemos esquecer o aspecto intelectual, quer dizer, uma
compreensão real do mundo atual, a fim de situar-se moralmente frente a um conjunto humano que sofre
de sua inferioridade geral.

Pensamos, aqui na França, que o papel do espírita moderno é refletir, falar, denunciar eventualmente e
participar da luta contra o mal, seja qual for a sua forma. Nesse sentido, segundo o título deste artigo,
penso que os espíritas podem ser subversivos, não aceitando uma resignação comum e nenhuma
fatalidade. Creio que o Espiritismo é uma luta contra todas as injustiças que constatamos na condição
humana, participando das mudanças e progresso do mundo.

Nos séculos passados, o poder foi essencialmente das religiões. Depois despertaram-se sistemas laicos,
um pouco mais democráticos. No século 19 foi fundado o Espiritismo por Allan Kardec. Mas,
lamentavelmente, constatamos que atualmente o Espiritismo não tem uma verdadeira influência cultural
intelectual e moral dentro das sociedades.

No conjunto, as religiões mantém uma influência preponderante em certos países. E os sistemas sociais e
políticos não avançam no sentido da participação. Qual poderia ser o papel do Espiritismo diante da
evolução das sociedades atuais no mundo? É uma pergunta que merece ser considerada e eu a
proponho a todos os espíritas preocupados com o futuro do planeta.

Fonte: Jornal de cultura espírita “Abertura”, maio de 2000, ano XIII, nº 148, Santos-SP.

Jacques Peccatte, líder espírita francês, um dos fundadores e dirigentes do Círculo Espírita Allan
Kardec, de Nancy, França, é diretor-responsável e redator do periódico trimestral “Le Journal
Spirite”.

Retirado do site: http://www.viasantos.com/pense/arquivo/1321.html


Questões da mediunidade
16:00 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Amílcar Del Chiaro Filho

A Doutrina Espírita ensina que todas as pessoas são médiuns, porém, com graus diferentes de
sensibilidade e produtividade. Todos somos médiuns, mas médiuns ostensivos, capazes de transmitir as
comunicações dos espíritos, faladas, escritas, ou produzir fenômenos de ordem física, é um número bem
menor.

Ao tempo de Kardec surgiram algumas teorias sobre sinais físicos que indicassem as pessoas que
possuem mediunidade ostensiva. Kardec, depois de observar e se aprofundar nessas teorias, desmentiu-
as, dizendo que não existe nenhum sinal físico que indique a mediunidade das pessoas. Afirma ele que
somente a experimentação pode determinar se uma pessoa tem ou não faculdades mediúnicas
ostensivas, ou mediunato, conforme ele classificou em O Livro dos Médiuns.

Ele comenta, ainda, sobre a instabilidade das faculdades mediúnicas, que podem aparecer ou serem
suspensas num dado momento, quando a pessoa menos espera. Diz o Mestre, que fisicamente a
faculdade mediúnica depende da assimilação mais ou menos fácil, dos fluidos perispirituais do encarnado
e do espírito desencarnado. Moralmente, está na vontade do espírito em se comunicar, e ele se comunica
quando lhe apraz, e não pela vontade do médium.

Concluímos que, teoricamente, todos os médiuns podem se comunicar com espíritos de todas as ordens,
contudo, é preciso que exista afinidade fluídica e vontade do espírito, assim como disponibilidade, pois o
espírito pode estar impossibilitado de se comunicar por estar ocupado em outras tarefas ou impedido por
outras causas.

Abordamos este assunto porque as vezes, espíritas dedicados, nos perguntam por que familiares
queridos desencarnados, nunca se comunicaram com eles, nunca enviaram uma mensagem por algum
médium. Outros querem saber por que espíritas que realizaram grandes trabalhos aqui na Terra, que
foram líderes destacados, não se comunicam após a desencarnação.
Acreditamos que pela exposição que fizemos já estão respondidas as duas questões. Entretanto,
gostaríamos de salientar que não vemos motivos para suspeitar de espíritas conhecidos não se
comunicarem porque estão em dificuldades no plano espiritual, por terem conduta excursa aqui na Terra,
ou duplicidade de comportamento, dentro e fora do centro.

Logicamente deve existir os que estão nessas condições, mas generalizar é perigoso. Se aqui na Terra é
difícil ajuizarmos sobre a conduta moral das pessoas que conhecemos, imaginem como é muito mais
difícil conhecermos as condições morais de quem já reside em outro plano vibratório.

Mediunidade é ferramenta de trabalho para produzir em benefício de todos e não para atender caprichos
deste ou daquele. Méritos e deméritos é algo muito difícil de ser avaliado por nós, mas pode ser avaliado
pelos espíritos superiores.

Esta matéria está baseada no livro, O Que É O Espiritismo — segundo diálogo — O Céptico — item –
Meios de Comunicação – 3ª pergunta.

"Movimento Espírita e Capacidade Crítica", por


Sérgio Aleixo
10:18 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Artur Felipe Azevedo


Prezados amigos leitores, leiam com atenção e reflitam acerca do conteúdo deste precioso artigo escrito
pelo confrade Sérgio Aleixo, que consideramos muito pertinente ao estudos que nós aqui desenvolvemos
e, principalmente, em total concordância com os critérios adotados por Allan Kardec, sob a supervisão
do Espírito da Verdade.

"Em função de nossos posicionamentos críticos (do grego kritiké: análise, apreciação), somos
frequentemente acusado de intolerância e prática excludente. Porém, nenhum de nossos
pronunciamentos jamais é realizado sem o devido respeito à identidade conceitual do Espiritismo,
sempre com superlativa importância dada à obra de Kardec, o qual fazemos questão de citar, em
referendo a toda ideia que damos a lume.

Ante essas acusações, o que pensarmos? Que muitos espíritas não conhecem obra do mestre de Lyon e,
assim, se equivocam em seus julgamentos; ou, então, que não fazem caso do que disseram ou deixaram
de dizer o codificador e seus excelsos orientadores espirituais. Um erro dos mais lamentáveis é
confundirmos o discurso viril de paz, amor e tolerância, próprio do corajoso exercício da verdadeira
Boa Nova, com esse simplismo comprometedor, do qual Jesus, aliás, nunca foi partidário, que vive a
dizer tão comodamente: “Vamos deixar de fofoquinhas, crianças! Vamos amar o próximo!”.

Não seremos nós os que se oporão à necessidade de amarmo-nos. Todavia, no que concerne a nossa
atitude de repúdio ao roustainguismo, ao ramatisismo, ao laicismo e a outros focos de evidente
mistificação, que grassam em nosso movimento espírita sob a complacência ingênua de uns e
interesseira de outros, insistimos em que é a exemplo de Kardec que a tomamos, e em nome do próprio
Espírito de Verdade, o qual disse também: “Instruí-vos!”.

Contudo, salientemos que nosso repúdio é às falsas doutrinas, não a seus profitentes, que
consideramos nossos irmãos e a quem amamos, embora a recíproca nem sempre tenha sido verdadeira,
o que prova a fonte malsã de tais proposituras. Citado nominalmente, já fomos tachado de
irresponsável, antiético e mesmo agredido em nossa juventude, como se fosse desdouro não contar
ainda, pelo menos, cinqüenta anos... Pobre de nós, que mal passamos dos trinta! São traços, não há
dúvida, de um patriarcalismo completamente arcaico.

Seguro, entretanto, de nossa atitude, estamos, como dizíamos, ao lado do próprio codificador, que
instruiu os verdadeiros adeptos do Espiritismo da seguinte forma:

'Falar dessas opiniões divergentes que, em definitivo, se reduzem a algumas individualidades, e não
fazem corpo em nenhuma parte, não é, talvez dirão algumas pessoas, dar-lhes muita importância,
amedrontar os adeptos em lhes fazendo crer em cisões mais profundas do que elas o são? Não é também
fornecer armas aos inimigos do espiritismo? É precisamente para prevenir esses inconvenientes que
delas falamos. Uma explicação clara e categórica, que reduz a questão ao seu justo valor, é muito mais
própria para tranqüilizar do que para amedrontar os adeptos; eles sabem a que se prenderem, e nisto
encontram ocasião dos argumentos para a réplica. Quanto aos adversários, eles muitas vezes exploram
o fato, e é porque lhe exageram a importância, que é útil mostrar o que ele é'.(Revista Espírita. Abril
de 1866. O espiritismo independente. Tomo IX. 1. ed. p. 116. Araras: IDE, 1997.)

A nossa postura é, então, a do próprio codificador do espiritismo; e nunca tão necessária foi, pois
assumida numa época em que existe o agravante de essas opiniões divergentes da codificação não mais
se reduzirem a algumas individualidades. Efetivamente, elas fazem corpo e ameaçam-nos a integridade
conceitual, aumentando a distância entre o Espiritismo — a obra de Kardec e o que a essa obra de fato
se possa articular — e aquilo que o movimento espírita vem professando em geral.

Estamos acuados por um institucionalismo igrejificante, muito centralizador, que cerceia o pleno
exercício da capacidade crítica, elemento fundamental à proposta de uma fé realmente raciocinada.
Por isso, muitos espíritas não chegam a desposar com a coragem que se esperaria os fundamentos
doutrinais kardecianos. Apenas para não desagradarem a “a”, “b” ou “c”. Mas esquecem de que, para
contemplarmos a Divindade, teremos de ser capazes de reconhecer sua dupla face: o Amor, sem dúvida;
mas também, inapelavelmente, a Verdade.

Mestre e doutora em Educação pela USP, com dissertação e tese espíritas proclamadas em alto e bom
som em pleno meio acadêmico — coragem que poucos têm! —, citemos aqui a ilustre confreira Prof.ª
Dora Incontri, para que nos convençamos de que criticar não é fundamentalmente um vício, e sim
uma virtude:

'A capacidade crítica é o preventivo contra a dominação mental de outras inteligências, encarnadas ou
desencarnadas. É o discernimento justo para avaliarmos o bem e o mal e percebermos o que se esconde
por trás das aparências. É a disposição de questionarmos pessoas e situações, sem medo de
enxergarmos a verdade, pois por trás da descoberta e da justa avaliação de um problema, vem
necessariamente o compromisso de nos engajarmos até o sacrifício para saná-lo. Assim, o espírito
crítico, em relação a nós mesmos, a pessoas à nossa volta, a circunstâncias sociopolíticas, a respeito de
formas de relacionamentos humanos ou de instituições e poderes constituídos é um desestabilizador do
comodismo egoísta'. (A educação segundo o espiritismo. Cap. XVII. A educação intelectual.
Potencialidades a serem desenvolvidas. O espírito crítico e a autonomia de pensamento. 4. ed. p. 171-
172. São Paulo: Comenius, 2000.)" (Artigo do site http://www.sergioaleixo.hpg.ig.com.br)

Portanto, como pudemos apreender das justas explicações do amigo articulista, epistemologicamente
falando, criticar é uma faculdade do ser humano em conjecturar, analisar, apreciar e exercer
julgamento de uma determinada matéria ou assunto, emitindo posteriormente uma opinião pessoal sobre
as impressões apuradas.

Em termos filosóficos, crítica é uma atitude que consiste em separar o que é verdadeiro do que é
falso; o que é legítimo do que é ilegítimo; o que é certo do que é verossímil.

A crítica é comum a todas as pessoas, pois se trata de uma das mais fortes expressões da cognição
humana. A partir do momento em que se vê, escuta ou sente-se algo, imediatamente o nosso senso de
juízo delibera pareceres sobre o ocorrido a partir das reações psicológicas trazidas por essas sensações,
o próximo estímulo é verbalizar e socializar essas idéias formadas.

E, finalmente, a partir de tais premissas, podemos verificar que a análise crítica se faz necessária em
tudo, dentro e fora dos arraiais espíritas. Infelizmente, contudo, tem sido vista por boa parte do Movimento
dito Espírita como um mal, confundindo-a com falta de caridade, intolerância, etc., conceitos esses que,
em momento algum, encontram-se presente nas obras da Codificação Espírita, como aqui e alhures
temos procurado demonstrar.
Os Efeitos do Ecletismo e da Heterodoxia no
Movimento Espírita Francês
10:06 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Artur Felipe Azevedo

Como bem sabemos, o Espiritismo surgiu na França em 1857, com a publicação de "O Livro dos
Espíritos" pelo professorHippolyte Léon Denizard Rivail, que utilizou-se do pseudônimo "Allan Kardec"
para que ficasse bem marcada a distinção daquele seu trabalho com outros oriundos de sua profissão
como respeitado pedagogo, discípulo de Pestalozzi.

Com o sucesso alcançado pela primeira obra da Codificação Espírita, base de todo o edifício doutrinário,
Allan Kardec decidiu fundar, em Paris, a 1 de abril de 1858, a "Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas", cuja existência justificou da seguinte maneira:

"A extensão por assim dizer universal que tomam diariamente as crenças espíritas faziam desejar
vivamente a criação de um centro regular de observações. Esta lacuna acaba de ser preenchida. A
Sociedade cuja formação temos o prazer de anunciar, composta exclusivamente de pessoas sérias,
isentas de prevenções e animadas do sincero desejo de esclarecimento, contou, desde o início, entre os
seus associados, com homens eminentes por seu saber e por sua posição social. Estamos convictos de
que ela está chamada a prestar incontestáveis serviços à constatação da verdade. Sua lei orgânica lhe
assegura uma homogeneidade sem a qual não haverá vitalidade possível; está baseada na experiência
dos homens e das coisas e no conhecimento das condições necessárias às observações que são o objeto
de suas pesquisas. Vindo a Paris, os estranhos que se interessam pela doutrina espírita terão um centro
ao qual poderão dirigir-se e comunicar suas próprias observações".

De acordo com o relatório de abril de 1862, publicado na Revista Espírita, a Sociedade experimentou
considerável crescimento em seus primeiros anos de funcionamento, com 87 sócios efetivos pagantes,
contando entre os membros: cientistas, literatos, artistas, médicos, engenheiros, advogados, magistrados,
membros da nobreza, oficiais do exército e da marinha, funcionários civis, empresários, professores e
artesãos. O número de visitantes chegava a quase 1500 pessoas por ano, considerável para a época.

Kardec, que desempenhava o cargo de presidente desde a criação da entidade, fatigado com o excesso
de trabalho e aborrecido com as querelas administrativas, por várias vezes, externou o desejo de
renunciar. Instado, porém, pelos Espíritos coordenadores do trabalho, continuou no exercício da
presidência até a data de sua desencarnação.

Conforme se pode claramente notar em escritos, documentos e depoimentos da época, o Codificador era
rigoroso no cumprimento das disposições estatutárias e na disciplina na condução das atividades aí
realizadas. Exigia de todos os participantes extrema seriedade e isso contribuiu para dar muita
credibilidade à instituição e aos seus pronunciamentos acerca dos assuntos tratados. Era extremamente
prudente e austero nos pareceres exarados e nunca permitiu que a Sociedade se tornasse arena de
controvérsias e debates estéreis, geralmente fomentados por indivíduos interessados em desviarem o
Espiritismo dos rumos estabelecidos nas obras da Codificação.

Com o desencarne de Allan Kardec em 1869, vitimado por um aneurisma, um de seus colaboradores
mais diretos, Pierre Gaëtan Leymarie, passou a exercer as funções de redator-chefe e diretor da "Revue
Spirite" (1870 a 1901) e gerente da "Librairie Spirite" (1870 a 1897). No entanto, sem as mesmas
credenciais do Codificador e por seu excessivo espírito de tolerância, não foi capaz de obstruir a ação de
(pseudo)adeptos que desvirtuaram a finalidade da Revista, abrindo suas páginas à propaganda de
filosofias espiritualistas, inclusive à de Roustaing, que diverge do Espiritismo. Houve, ao mesmo tempo, o
desvirtuamento das finalidades da Revista Espírita, em que foi oferecido "terreno livre a lutadores de
todas as correntes com a condição de que defendessem causas espiritualistas ou de ordem
essencialmente humanitária e moral, expondo-se assim às críticas acirradas de uns, às acusações ou
descontentamento de outros... ", conforme conta na obra "Processo dos Espíritas" (ed. FEB, 1977, págs.
22/23 da 2ª edição). Nesses "lutadores de todas as correntes" incluíam-se adeptos do Orientalismo,
como teosofistas, budistas, ocultistas, esotéricos, etc., como consta da obra "Allan Kardec" (FEB, vol.
III) de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen.

Esta é, portanto, a causa do desaparecimento do Espiritismo na França. O sincretismo, a miscelânea


do Espiritismo com outras correntes espiritualistas, desfigurando por completo a prática espírita, queaté
hoje é confundida, na França e em praticamente toda a Europa, com toda a sorte de superstições,
como a astrologia, quiromancia, feitiçaria, bruxaria, etc.

No Brasil, na atualidade, o que podemos claramente verificar é que a história se repete, sendo que a
tática dos inimigos velados do Espiritismo continua a mesma: a de propor e forçar a sorrateira entrada de
questionáveis práticas e ideias no seio do movimento espírita brasileiro.

Por um lado, tivemos a adoção das obras de Roustaing pela Federação Espírita Brasileira, tendo seus
membros apelidado-as de "Curso Superior de Espiritismo", "Quarta Revelação" e "Revelação da
Revelação". Graças a isso, até hoje sentimos o reflexo dessa política febeana, na medida em que no
movimento instaurou-se uma mentalidade piegas, subserviente e igrejeira, erroneamente confundida com
postura caritativa e tolerante, devido a toda uma série de obras, mediúnicas ou não, que, embora não
mencionassem Roustaing ou suas obras, conseguiram incutir, subrepticiamente, o ideário neo-docetista
no seio do Movimento.
Por outro lado, e adotando ideias diferentes das do rustenismo, os simpatizantes do orientalismo insistem,
com base principalmente nos ditados do espírito Ramatis ao médium espiritualista Hercílio Maes, em dar
ao Espiritismo uma faceta mística calcada nas religiões orientalistas do passado e na Teosofia,
julgadas capazes de enriquecer o Espiritismo. Para tanto, não se furtam em chamar Kardec (e,
consequentemente, as obras da Codificação Espírita) de ultrapassado, e a Doutrina de carente de
remendos, considerando como principal artífice dessa "missão" o próprio espírito Ramatis e seus
confusos ditados, sob a fachada de "universalismo", termo geralmente utilizado para encobrir ideias
sincretistas e práticas fetichistas. A lista de "inovações" propugnada por esses redutos seitistas é
extensa: adoção da astrologia, da apometria, de rituais, de terminologias estranhas ao Espiritismo,
crença em profecias de destruição do planeta, crença em extra e intraterrenos com missão de
salvar o planeta, e toda sorte de divagações místicas sem o menor embasamento lógico ou factual,
geralmente induzindo a uma alienação místico-religiosa que em nada fica a dever às religiões dogmáticas
tradicionais, só que com um faceta diferente, de cunho essencialmente esotérico.

Portanto, enquanto encararmos tudo isso de braços cruzados, vitimados pela falsa ideia de que
estaremos sendo intolerantes e antifraternos ao (nos) esclarecermos e não compactuarmos com essa
tentativa de desvirtuamento do entendimento e da prática espírita dentro e fora dos centros espíritas e
federações, tudo ficará como está, com tendência a piorar, tal qual aconteceu com o próprio Cristianismo,
hoje uma autêntica colcha de retalhos devido aos mesmos fatores que hoje ameaçam o Espiritismo.

A articulista Vanda Simões, atenta à essa realidade, escreveu certa feita um interessante artigo intitulado
"Nossos Espíritas Imperfeitos" que nós aqui transcrevemos e utilizamos para concluir nossas
considerações:

"Allan Kardec afirmou certa vez, que os piores inimigos do Espiritismo estariam entre seus pares. Pode
parecer declaração demasiadamente dura e radical, mas veio dele mesmo e ele sabia do que estava
falando. Hoje, nesse mundo de tanta confusão, o Movimento Espírita se vê envolto em umemaranhado
de parvoíces que deixam os espíritas sérios preocupados com o destino da doutrina no mundo.
Custa-se a acreditar que uma filosofia tão racional e desbravadora possa ter gerado pessoas com visão
tão estreita e engessada da vida.

De duas uma: ou a Doutrina Espírita é defeituosa ou os espíritas não compreenderam seu alcance
moral. Sabendo-se da inverdade da primeira hipótese, resta-nos curvar à realidade da segunda. A prova
disso está na forma como a Doutrina é praticada nos centros espíritas do país inteiro, com réplicas
perfeitas no exterior (principalmente em Portugal e nos Estados Unidos), "formando" adeptos que de
espíritas só têm o nome. São os espíritas imperfeitos, de que está cheio o movimento, como por
exemplo, os que vêm a público afirmar que Kardec está ultrapassado e que precisa ser
reinterpretado, quando ainda nem se conhece a fundo dez por cento do seu pensamento.
Consideram-se doutos em Espiritismo por terem lido as obras básicas, e toda a literatura acessória,
psicografada ou não. E ler é uma coisa. Estudar, entender e compreender é outra bem diferente. (...)

(...) Os espíritas "modernos" parecem desconhecer tal coisa. E, se conhecem, não dão a menor
importância, pois defendem idéias esdrúxulas e contrárias aos fundamentos kardequianos, baseados
em escritos ditados por Espíritos enganadores e pseudo-sábios. Essas idéias infiltram-se com
facilidade em nosso meio, porque encontram o terreno fértil da ingenuidade e da falta do estudo que
faz com que tudo se aceite sem exame, sem critério. É tempo de mudanças. O milênio termina e se
inicia uma nova fase para o planeta. Os centros espíritas precisam se preparar para amparar o homem
dentro de uma filosofia de vida melhor, mais justa e mais plena de compreensão das coisas divinas.

Para isso, necessita de espíritas sérios, que compreendam o verdadeiro sentido do Espiritismo, que
possam trazer para dentro das casas espíritas uma nova ordem de práticas e metas, formando
verdadeiramente homens de bem. Que possam retirar dos centros tudo o que não serve para a
edificação do ser. Enfim, mostrar aos fariseus modernos a verdadeira face da Doutrina Espírita como
agente modificador da humanidade e não como instrumento de gloríolas, de mera promoção pessoal e
fábrica de fantasias".

Retirado do blog "Ramatis, Sábio ou Pseudosábio?"

O Espiritismo e a Investigação Científica


11:24 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT

Por Deolindo Amorim

Já ouvimos dizer, mais de uma vez, que "o Espiritismo parou no século XIX", em matéria de estudos
científicos. Depois de uma fase realmente notável, fase em que refulgiram os nomes de CROOKES,
AKSAKOF, ZOELLNER, por exemplo, nunca mais se fez um trabalho de cunho científico, na acepção
exata. É o que se diz. Até certo ponto, sinceramente, honestamente, devemos reconhecer que a crítica
tem alguma procedência, não há duvida. Das últimas décadas do século passado ao começo do nosso
século[1], é inegável, houve experiências rigorosas, comunicações e relatórios de alto teor científico. De
certo tempo em diante, parece que se deu uma espécie de arrefecimento do espírito científico no campo
mediúnico. Isto não quer dizer que não haja material. Há, sim.

Bons médiuns existem por toda parte, ocorrem fenômenos relevantes, mas a impressão que se tem, hoje
em dia, é de que não há mais investigadores do tipo de Crookes, Gibier, Bozzano e outros. Quase não se
fazem registros nos trabalhos experimentais, nem há certos cuidados, na maioria dos casos. Muito
fenômeno importante fica sem anotação, sem documento para exame ou verificação.

Queremos crer que haja homens de envergadura intelectual para investigações sérias, mas talvez não
haja condições, ambiente favorável, em grande parte, pois nem todas as pessoas que se dedicam a parte
experimental do Espiritismo tem mentalidade científica. Há muita diferença entre mentalidade científica e
cultura científica. É certo que a cultura abre horizontes largos e pode contribuir muito para a formação da
mentalidade, mas é preciso não perder de vista que muitas pessoas adquirem boa cultura científica, tem
muita leitura, fazem cursos especializados, etc., etc., mas não tem a verdadeira mentalidade científica.
Pode parecer um contra-senso. Quem, por exemplo, fica logo deslumbrado diante de um fenômeno ou de
uma comunicação "sensacional" sem qualquer análise, não tem mentalidade científica, pois está
procedendo apenas emocionalmente, não analiticamente. E quanta gente há, por aí, que procede assim,
apesar de possuir currículos universitários?... Há pessoas que são muito rigorosas noutros campos de
pesquisa, mas quando entram no campo mediúnico procedem mais como místicos do que propriamente
como homens de ciência. Não basta, portanto, ter a formação científica dos livros ou dos cursos de
Universidade, é preciso ter atitudes científicas diante dos fenômenos. E é o que muita gente não tem. Há
pessoas, no entanto, que não fizeram uma cultura científica regular, não dispõe de certos instrumentos de
pesquisa, mas apresentam reações diferentes, dando a impressão de que tem muito mais espírito
científico do que muitos laureados. Mas não se pode dizer que não haja, atualmente, gente capaz de
realizar trabalhos científicos.

Talvez essas pessoas não encontrem compreensão nem apoio para certos tipos de sessões. É outro
problema. Em que sociedade, em que ambiente organizar uma sessão com médiuns preparados para
determinadas experiências? Não é fácil, digamos a verdade. Por isso mesmo, e sem analisar o problema
também por outros ângulos, é que algumas pessoas dizem que "o Espiritismo parou no século passado".
Não parou, pois a mediunidade não se acabou, mas a preocupação científica, em grande parte, está
sendo prejudicada pelas atitudes devocionais, atitudes que pretendem muito mais divinizar os espíritos e
santificar os médiuns do que, a rigor, procurar a verdade pelo fio da razão esclarecida.

O problema comporta ainda outras considerações, não pode ser colocado apenas dentro de uma faixa de
crítica. Aqui mesmo, no Brasil, onde o Espiritismo não ficou apenas na pura comprovação mediúnica, já
se deram fenômenos de grande valor científico, mas não se fez relatório, não se deu divulgação, a bem
dizer. Indiscutivelmente, nós nos descuidamos de anotar, confrontar, registrar em ata, testemunhar. Tudo
isso faz parte do legítimo espírito científico, que é sempre cauteloso. Nosso temperamento geralmente
não dá muito para esperar com paciência, aguardando que as primeiras impressões se confirmem.

Somos indiferentes em determinadas coisas e, ao mesmo tempo, somos precipitados noutras coisas: ou
não damos a devida importância a manifestações realmente significativas ou somos capazes de nos
arrebatar com pouca coisa... A experiência que o diga. O lado místico, por sua vez, também pesa muito
na prática mediúnica e, por isso mesmo, não é fácil imprimir uma orientação metódica em determinados
grupos, ainda que haja médiuns de possibilidades aproveitáveis. A legião de sofredores é muito grande,
em todas as camadas sociais, e a maior parte do público, por isso mesmo, recorre aos "canais
mediúnicos" simplesmente como fonte de consolações ou à procura de esclarecimentos imediatos para
suas situações; nunca, porém, como elemento de pesquisa, com visão científica ou filosófica.

Tudo isso, afinal-de-contas, deve ser objeto de consideração, pois há vários fatores confluentes no campo
mediúnico. Então, voltemos ao ponto de partida: o Espiritismo não parou, mas as condições, hoje, são
bem diferentes das condições em que pontificaram certos homens de ciência. Não se pode pensar em
investigação científica sem pensar, necessariamente, no material humano que deve ser utilizado em
trabalhos de tal natureza, muito específica e de muita complexidade.

No século passado[2] - vejamos bem - havia uma preocupação dominante, absorvente: provar ou negar a
comunicação dos espíritos. Não havia outra alternativa. O Espiritismo enfrentava o desafio da ciência,
muito mais relevante do que a sistemática oposição religiosa. Alguns homens de ciência entraram nesse
campo exclusivamente para tirar a limpo a questão da comunicação entre vivos e mortos. Não tinham
outro fito. E, por isso mesmo, empregaram todos os meios, forraram-se de cuidados especiais, amarraram
médiuns, fiscalizaram sessões com vigilância implacáveis, mediram, pesaram, confrontaram, fizeram
tudo.

E era necessário. Chegaram às provas. A maioria deles ficou apenas no terreno experimental, deu
testemunho, colocando-se corajosamente acima de preconceitos e conveniências, mas verdade é que
não se dedicou à especulação filosófica, não chegou à Doutrina, em suma. Grande contribuição,
indiscutivelmente, no campo experimental. Não foi o caso, entretanto, de Gabriel Delanne. Este, sim, tinha
embocadura de experimentador, era homem de formação científica, mas também fez obra doutrinária, na
linha intelectual de ALLA KARDEC, LÉON DENIS, por exemplo.

DELANNE partiu do fenômeno, como vários outros, mas entrou na indagação, fez estudos filosóficos,
tirou conclusões válidas e lúcidas. A todos, no entanto, de um lado e do outro lado, isto é, tanto do lado
puramente fenomênico quanto do lado doutrinário, muito deve o movimento espírita, pois todos eles são
figuras clássicas na história do Espiritismo.

De certo tempo em diante (devemos compreender bem a situação), uma vez provada e comprovada a
comunicação entre vivos e mortos, naturalmente já não havia tanto interesse pelo campo experimental,
diante dos depoimentos de homens de projeção científica, sem qualquer compromisso de ordem
sentimental, religiosa ou doutrinária. Passou, até certo ponto, a fase das experiências objetivas, porque a
própria expansão das idéias espíritas começou a provocar interesses de outra natureza, devido às
necessidades humanas.

Abriram-se, na realidade, dois focos de atenção: o fenomênico e o doutrinário. A divulgação da Doutrina


criou a bem dizer uma polarização muito intensa, justamente porque muita gente queria mensagem,
reclamava uma filosofia de vida, não se contentava somente com a prova direta das comunicações. Os
estados de angústia, a desorientação espiritual, a falta de segurança interior, a deficiência de cultura
religiosa, tudo isso, realmente, levou o homem, depois de algum tempo, a procurar a mensagem espírita
em estado de quase sofreguidão e, por isso, deixou de se concentrar muito nas experiências científicas.

Veio, daí, a popularização do Espiritismo, trazendo certos prejuízos, é inegável, porque se desprezou
muito o estudo sério, a pesquisa, o raciocínio analítico para enveredar pela simples crença nos espíritos,
como que abrindo caminho para a formação de mais uma seita... Esse desvirtuamento, convenhamos,
afastou certos homens afeitos a estudos científicos. Tudo isto é aceitável na consideração do problema.

Há, porém, outro aspecto, e este deve ser levado em conta. É justamente o aspecto humano. O
Espiritismo, hoje em dia, não é apenas um campo de experiências mediúnicas, é uma doutrina de vida,
representa a solução de muitos problemas do homem moderno. As necessidades humanas vão
aumentando cada vez mais, na medida em que a sociedade se torna mais complexa. E o Espiritismo,
para boa parte da sociedade atual, é a "última esperança", é a grande resposta, que o homem não
encontra noutras doutrinas, apesar de haver batido em muitas portas... É uma realidade diferente daquela
realidade, que, na segunda metade do século XIX, viveram grandes experimentadores da fenomenologia
mediúnica.

Justamente por isso, o problema, não pode ser apresentado apenas por um prisma, seja qual for, mas
através de vários angulos de observação, sobretudo quanto às peculiaridades de cada país. Podemos,
pois, chegar a estas sumárias conclusões:

Em primeiro lugar, pelo fato de não haver, hoje, ao que conste, experiências do tipo de Crookes, Geley,
Lombroso e outros, isto não significa que não haja médiuns nem tampouco nos permite concluir que o
ciclo experimental do Espiritismo tenha deixado de ser necessário;

Em segundo lugar, se é verdade, até certo ponto, que a falta de interesse pela investigação científica é
prejudicial à compreensão e ao conceito do Espiritismo, também é verdade que o homem atual é
absorvido por uma série de problemas prementes e, por isso, o aspecto doutrinário tem, para ele, maior
interesse no momento, por causa da mensagem, que vai ao sentimento, aliviando as feridas da alma.

De tudo isso, afinal, podemos inferir que é necessário encarecer e estimular as pesquisas, a experiência
científica, que teve sua razão de ser no século passado[2] e ainda se faz indispensável nos dias atuais,
mas não devemos perder de vista o lado verdadeiramente humano do Espiritismo diante do sofrimento e
da profunda decadência moral que se observa em todos os níveis sociais. Não nos esqueçamos de que o
Espiritismo atende, ou deve atender, ao mesmo tempo, a necessidades diversas: necessidades
científicas, necessidades sociais, necessidades emocionais e assim por diante.

Texto publicado no Anuário Espírita 74 do "Instituto de Difusão Espírita" de Araras, São Paulo,
Brasil.

Observações:

[1] Deolindo Amorim escreveu este texto em 1974 assim ele se refere ao período que vai das
últimas décadas do século XIX ao início do XX.

[2] Século XIX

Você pode consultar os espíritos para mim?


22:39 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT
Por Orson Peter Carrara

Esta pergunta é muitas vezes dirigida aos espíritas. Imaginam, os que desconhecem o Espiritismo, que os
centros espíritas são autênticos consultórios do além. Meros equívocos.

Vamos por partes. Diz o Codificador da Doutrina Espírita que toda pessoa que sente, em qualquer grau, a
influência dos espíritos, é por esse fato, médium. Está correto, pois a mediunidade é um dom humano
presente em todas as criaturas humanas e não exclusiva dos espíritas.

Ocorre que, por mera questão de entendimento, são considerados médiuns aqueles que ostensivamente
são utilizados pelos espíritos como intermediários de suas manifestações. Vale dizer que essas
manifestações ocorrem de inúmeras formas (psicografia, psicofonia, vidência, audiência, etc) e que os
espíritos nada mais são do que as criaturas humanas antes e depois da morte, guardando consigo suas
conquistas morais e intelectuais. Este fato, por si só, já indica que os espíritos se apresentam nas
manifestações de acordo com a moral e intelecto que possuem.

Portanto, o processo de consulta aos espíritos é algo que requer muita prudência, bom senso e
redobrados cuidados. Afinal, eles não estão aí para satisfazer curiosidades ou resolver problemas
materiais. Aconselham sim, sempre com muita reserva, atendem muitas vezes cuidados com a saúde,
mas abstêm-se de informações de cunho material. Somente respondem a estas questões espíritos
ignorantes, estouvados ou propensos a brincadeiras

Por outro lado, é preciso sempre lembrar que os médiuns, espíritas ou não, são pessoas comuns, apenas
dotados da faculdade de intercâmbio com o mundo espiritual. A mediunidade é uma autêntica ferramenta
de trabalho para o bem da coletividade. Seu uso independe da idade, sexo, crença ou condição social,
mas o fator moral de seu portador é fator determinante para sua prática equilibrada e condizente com sua
autêntica finalidade de auxílio aos seres humanos.

Seu desenvolvimento obedece a programação prévia estabelecida antes da reencarnação, mas é aqui
mesmo, no plano terreno, que a dedicação, a disciplina, a fidelidade aos princípios humanitários e
cristãos, a farão grandiosa e a constituirá em benção para seu portador e beneficiados de sua atuação.

Por estas razões todas, a consulta aos espíritos é questão absolutamente secundária. Já temos a teoria à
disposição, para estudar e compreender. E ao mesmo tempo, o comportamento ético e moralizado darão
guarida à sua expansão e uso correto.
Os espíritos vivem ajudando as criaturas humanas. Fazem-no pela intuição, através dos sonhos, pela
presença constante ao nosso lado – desde que com eles estejamos sintonizados pelo bom
comportamento e pelos bons pensamentos ou pela aquisição permanente de virtudes – e pelo próprio
entendimento que já possuem (os esclarecidos), da importância da solidariedade...

Kardec e Darwin
22:15 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT

Por José Reis Chaves*

Kardec e Darwin foram dois grandes cientistas que vieram ao mundo no alvorecer do Século 19. O
primeiro, um médico francês e aluno de Pestalozzi, foi o Codificador do Espiritismo, o segundo era um
naturalista e fisiologista inglês. Kardec pesquisou a evolução dos espíritos, Darwin, a dos corpos
biológicos.

Nós somos espíritos imortais. E o Nazareno disse que nós devemos buscar a perfeição de Deus, o Pai.
Nós somos hoje os espíritos dos homens de ontem, inclusive os dos homens das cavernas. E depois de
inúmeras reencarnações, chegamos à evolução e perfeição em que nos encontramos atualmente. Se não
houvesse evolução e as reencarnações que a possibilitam, seríamos forçados a pensar que Deus foi
muito injusto com aqueles espíritos de outrora dos homens da caverna, que só teriam vivido mais como
bichos do que como seres humanos propriamente ditos! A evolução é, pois, uma lei natural tão real como
o é a da Gravidade, e é até sagrada.

A Igreja, como afirma o sábio francês padre François Brune, acredita na vida após a morte, ou a chamada
vida eterna, mas na prática, tem agido como se ela não existisse, pois não a estuda, e é até contrária ao
seu estudo. A mesma coisa se pode dizer dos nossos irmãos protestantes. Isso nos faz lembrar do que o
Mestre afirmou, ao referir-se aos sacerdotes judeus de sua época: "Não entram no reino dos céus, e não
deixam outros entrarem!". É necessário, pois, que os católicos e protestantes despertem também para o
estudo do espírito, e não só do corpo, como vêm fazendo há séculos, pois o espírito é mais importante do
que o corpo. "A carne para nada aproveita, o que importa é o espírito que dá vida" (João 6, 63).

Foi revolucionário o livro de Darwin: "Da Origem das Espécies" (1859), principalmente porque ele entrou
em choque com as idéias da interpretação literal da Bíblia, quando a exegese e a hermenêutica ainda
eram muito elementares e tímidas. A Igreja estava, pois, sem força moral para enfrentar aquele poderoso
materialismo efervescente, após a Revolução Francesa, o que se agravava mais ainda pelo fato de ela
estar, justamente naquela época, deixando a Inquisição. Foi quando surgiram também os não menos
revolucionários livros científicos e espiritualistas de Kardec, entre eles o "O Livro dos Espíritos" (1857), os
quais deram um verdadeiro "chega-pra-lá" nas idéias materialistas e anti-religiosas de Darwin e de seus
contemporâneos Marx e Compte. Por isso dizemos com o escritor e pastor presbiteriano do Rio de
Janeiro, Neemias Marien": "O maior reformador do Cristianismo não é Lutero, mas Allan Kardec." De fato,
até Kardec, não se tinha feito ainda um estudo racional e científico da Bíblia.

Darwin foi um dos grandes cientistas da evolução da vida material, e Kardec o foi da evolução da vida do
espírito na matéria e fora da matéria!

*Autor do livro "A Face Oculta das Religiões" (Ed.Martin Claret)

Um Apelo de Kardec
09:56 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Artur Azevedo

A 15 de janeiro de 1862, Kardec publicou a brochura intitulada “O Espiritismo na sua mais simples
Expressão", e fez um apelo:

“Contamos com o zelo de todos os verdadeiros espíritas para ajudar na sua propagação.”

Já em "O Livro dos Médiuns", segundo livro da Codificação Espírita, verificamos a importância dada a
questões que hoje têm sido ignoradas e relegadas por boa parte daqueles que se dizem espíritas nos
dias de hoje, facilitando a ação nefasta de espíritos pseudossábios e/ou mistificadores, que não só
poderão enganar a esses com suas falsas ideias como também a muitas outras pessoas, disseminando e
rapidamente promovendo toda uma série de noções contrárias aos elevados propósitos do Espiritismo.

O resultado disso tem sido a desinteligência entre os espíritas e a consequente formação de redutos
seitistas, com interpretações próprias e muitas das vezes demasiado exóticas e heterodoxas sobre a mais
variada gama de questões que a Codificação, por sua vez, ensina com cristalina clareza, dispensando os
adereços advindos das paixões e arroubos de imaginação de caráter puramente terreno e especulativo.

Leiamos alguns comentários a esse respeito proferidos por Allan Kardec constantes da Revista Espírita
de janeiro de 1861:

"A primeira edição do Livro dos Médiuns, publicada no começo deste ano, esgotou-se em alguns meses,
o que não é um dos traços menos característicos do progresso das ideias espíritas. Nós mesmo
constatamos, em nossas excursões, a influência salutar que essa obra exerceu sobre a direção dos
estudos espíritas práticos. Assim, as decepções e mistificações são muito menos numerosas do que
outrora, porque ela ensinou os meios de descobrir as astúcias dos Espíritos enganadores. Esta segunda
edição é muito mais completa que a precedente. Ela encerra numerosas instruções novas muito
importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à
identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, às contradições,
aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, à formação de reuniões espíritas, às fraudes em
matéria de Espiritismo recebeu desenvolvimentos muito notáveis, frutos da experiência. No capítulo
das dissertações espíritas adicionamos várias comunicações apócrifas acompanhadas de observações
adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores que se apresentam com
falsos nomes.

Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações
do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles, tanto quanto nossa.

Recomendamos com instância esta nova edição, como o guia mais completo, quer para os médiuns, quer
para os simples observadores. Podemos afirmar que seguindo-a pontualmente evitar-se-ão os escolhos
tão numerosos contra os quais se vão chocar tantos neófitos inexperientes. Depois de a ter lido e
meditado atentamente, os que forem enganados ou mistificados certamente não poderão queixar-se
senão de si mesmos, porque tiveram todos os meios para se esclarecerem."

Há, de fato, a necessidade de "atualizar" a


Doutrina Espírita?
19:24 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
O Blog dos Espíritas

Recebemos neste sábado (15), contato eletrônico de nossa leitora Simone de Almeida Prado, que se
posiciona quanto à uma velha polêmica que afirma a necessidade de "atualização" do Espiritismo através
de obras tidas por "complementares" e técnicas espiritualistas que batem de frente com a Codificação
Espírita. Eis a mensagem:

"Como dizia J. Herculano Pires, quem acha que o espiritismo deve se atualizar, deve se atualizar
primeiro no espiritismo. Num país de pessoas que se recusam a estudar, a inteirar-se acerca de pontos
fulcrais de um determinado assunto,o que se espera é nada mais que isso: propostas completamente
sem sentido. O espiritismo não precisa ser atualizado. Precisa é ser bem compreendido. Quem se
propõe a atualizá-lo não o conhece. Sim, o espiritismo evolui, Kardec estava convicto disso. Todavia,
evoluir não é menosprezar conceitos que compõem o corpo da doutrina espírita. Conceitos esses
indispensáveis, pedras de toque contidas nas obras básicas de Kardec, sem os quais se fugiria à
essência, à substância do espiritismo."

Lembramos aos nossos leitores que Allan Kardec previu a necessidade de atualização do Espiritismo,
que caminha de mãos dadas com as descobertas da Ciência. Contudo, isso não significa que práticas
estranhas e alheias à Doutrina Espírita devam ser por ela incorporadas. Eis aí o erro de quem defende a
"atualização" do Espiritismo. Para que uma nova verdade seja aceita pela Doutrina Espírita, esta deve
estar de acordo com o crivo da razão e do CUEE - Controle Universal do Ensino dos Espíritos.

Assim, desta forma, o Espiritismo poderá evoluir mantendo sua pureza doutrinária.

Mediunidade – relações horizontais e verticais


10:51 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por Dora Incontri

A mediunidade é uma abertura na percepção que temos de nós mesmos e do outro. Bem cultivada,
assentada sobre o desenvolvimento de valores morais sólidos, ela nos põe em estado de lucidez
permanente. É possível captar melhor quem somos, pelas intuições mais ou menos claras de nosso
passado espiritual, pelos insights do nosso eu integral. Sabe-se que a consciência do Espírito fora do
corpo é sempre maior que a consciência mergulhada na matéria. Além da possibilidade de comunicarmo-
nos com outras mentes, a mediunidade é a abertura para si, o acesso ao próprio eu. Diz J. Herculano
Pires: “A mediunidade não é apenas uma comunicação com os Espíritos. Ela é comunicação plena,
aberta para as relações sociais e para as relações espirituais. No capítulo destas, figura em destaque,
pela importância que assume em nosso comportamento individual e social, a atividade mediúnica interior,
em que a essência divina do homem se comunica com sua essência humana. É esse o mais belo ato
mediúnico, o fenômeno mais significativo da mediunidade, aquele que mais distintamente nos revela a
nossa imortalidade pessoal.” (Pires, J. Herculano. Mediunidade, Vida e Comunicação, São Paulo: Paidéia,
2004, p 121.)

Esse tipo de percepção mais lúcida da existência e da possibilidade de acessarmos — mesmo que na
forma de intuição — a bagagem do nosso eu integral, pode ser cultivada, pela elevação de pensamento,
pela oração e por um estado mental de alerta e observação. Viver mediunicamente, assim, é estar mais
acordado, menos condicionado pelas limitações da matéria.

E nesse sentido, a percepção não aumenta apenas em relação a nós mesmos, mas ao outro, às relações
humanas, às circunstâncias da vida. A mediunidade é também a capacidade de captar com maior
precisão o tônus vibratório dos que nos cercam (encarnados e desencarnados), conhecer suas intenções,
com certo grau de certeza, e enxergar a face espiritual do ser, por trás das máscaras sociais.

O médium bem afinado pode perceber as forças positivas e negativas de um dado ambiente e identificá-
las depois de certa análise. Desse modo, pode se situar melhor no labirinto das situações e das pessoas
e dispor de mais elementos para atuar corretamente.

Até agora, estamos nos referindo ao plano da intuição e da percepção extra-sensorial, ou seja, à
mediunidade usada pelo próprio dono, como instrumento de captação do real. Mas também devemos
lembrar a mediunidade ativa, em que Espíritos desencarnados usam do médium, para comunicar-se com
os vivos. Então, as relações humanas se estendem mais claramente além das barreiras da carne. O
médium é veículo — nunca passivo — do diálogo entre dois mundos.
Nessa ocasião, apresenta-se-lhe uma oportunidade estimulante de entrar numa mente alheia. O ato
mediúnico, principalmente o da psicografia ou da psicofonia, é sempre uma união telepática, uma sintonia
momentânea de duas inteligências. Ao receber, portanto, um Espírito, obsessor ou iluminado, um sofredor
ou um mestre da Espiritualidade, a mente do médium como que se vê apropriada pela mente do
desencarnado. Ao final de anos de mediunidade ativa, o médium guardará um arquivo mental fascinante
de personalidades — que conheceu mais intimamente. Cada ser é único no universo e a singularidade
humana é uma das facetas mais ricas da Criação. E o médium tem o privilégio de vivenciar
telepaticamente outras singularidades (que estão acima ou abaixo de seu grau evolutivo), mas todas elas
portadoras de experiências e sentimentos únicos.

Se ele bem souber aproveitar esse manancial de estudos psicológicos, ele aumentará sua capacidade de
compreender o ser humano e mesmo sua capacidade de amá-lo — pois sempre poderá constatar,
mesmo nas consciências mais criminosas, a centelha divina, o germe do amor universal, a ânsia de
perfeição, que estão latentes em todos os seres.

Condições éticas da mediunidade

Kardec dedicou um capítulo inteiro do Livro dos Médiuns à questão da “influência moral do médium”,
(Cap. XX), estudando as condições éticas, necessárias para a prática mediúnica. É bem verdade que a
capacidade mediúnica independe do grau de moralidade do médium. Mas não se dá o mesmo quanto aos
resultados e quanto ao uso dessa capacidade.

Dividamos essa questão em três partes:

1) O compromisso sério de auto-aperfeiçoamento do médium e a posse de certos valores morais


básicos facilitam a comunicação dos Espíritos superiores e garantem a sua proteção constante, não por
uma questão de privilégio, mas por uma afinidade vibratória natural entre os que estão no Bem e o
médium que está procurando o Bem. De fato, a própria lucidez para discernir os Espíritos e as situações
depende de uma sintonia fina, que só se alcança mediante a elevação de sentimentos e a serenidade
existencial. Quem se rende ao orgulho, é facilmente mistificado por Espíritos bajuladores e dominadores.
Quem se rende à sensualidade desenfreada procura comparsas no plano espiritual, que lhe acompanhem
as preferências. Estamos, por toda parte, buscando as companhias que desejamos, de acordo com
nossas atitudes, palavras e pensamentos. Por isso, a moralização do médium é o melhor caminho para
que seus acompanhantes espirituais — ou a nuvem de testemunhas, a que se referia Paulo — sejam
também moralizados. É evidente que essa moralização está longe de significar a adoção de atitudes de
fachada, de voz mansa, humildade pretensiosa e santidade forçada. O médium é um ser humano normal
e deve agir com naturalidade e bom senso. Atitude ética é firmeza de princípios e aplicação na própria
melhoria e não pretensão à santidade.

2) Não basta a intenção séria, porém. É preciso certo equilíbrio emocional, para que a mediunidade
flua como deve, no seu exercício existencial. O médium é invadido diariamente por avalanches de
emoções desencontradas, vindas de todas as partes. Pode captar a depressão de alguém, a irritação de
outros, a obsessão de terceiros… além do ataque de seus próprios inimigos espirituais, ligados ao seu
passado ou adversários gratuitos de sua tarefa. Se ele mesmo não estiver centrado em si, se não possuir
um reduto íntimo de serenidade e usar a cada instante as armas da oração e da vigilância, acabará sendo
levado de roldão. Por isso, ao mesmo tempo em que a mediunidade propicia o autoconhecimento, é
preciso que o médium esteja constantemente analisando a si próprio, para distingüir o que é seu do que
vem de fora e saber edificar uma fortaleza interior.

3) O engajamento do médium num processo de auto-educação significa também que ele usará as
suas potencialidades psíquicas de forma responsável e benéfica. O Livro dos Médiuns fala em
“desejar o bem e repelir o egoísmo e o orgulho”. (Cap. XX, ítem 226, n. 11). Ora, o uso responsável da
mediunidade pressupõe o abandono de todo interesse pessoal e isso engloba dinheiro, poder, fama ou
mesmo retribuição psíquica e afetiva. É importante frisar esse aspecto, porque a tentação diária a que o
médium se vê submetido é muito grande. Dado o atavismo milenar da humanidade de procurar gurus e
agarrar-se a pajés, oráculos e ledores de sorte, existe a tendência de se projetar esses anseios de
dependência para os médiuns contemporâneos — e alguns se comprazem nisso. Pelo fato de possuírem
um conhecimento mais preciso de dadas situações ou pessoas ou mesmo do passado e do futuro, esse
conhecimento muitas vezes é usado como meio de manter os outros em dependência psíquica ou em
estado de idolatria. O médium e seu cliente entram num jogo de vampirismo mútuo, em que o primeiro se
alimenta da adoração servil e o segundo se vicia nas orientações e conselhos para sua vida particular.
Portanto, uma relação de poder, em que o orgulho e o egoísmo entram como atores principais. Para se
evitar esse tipo de desvirtuamento das relações sociais mediúnicas, propomos alguns cuidados para
reflexão dos médiuns e dos espíritas em geral:

 Nem tudo que se percebe deve ser dito. É preciso considerar as circunstâncias, as pessoas e as
situações. O médium pode ajudar com dicas, orações e ações concretas, mas não deve interferir
na liberdade alheia.

 É preciso evitar os laços de dependência. Se observado algum traço de fanatismo ou idolatria


entre aqueles que convivem com o médium, alertá-los e chamar atenção para o fato de que
ninguém é infalível. Se preciso for, usar de franqueza contundente para afastar a bajulação, ao
invés de incentivá-la com acolhimento piegas. Melhor a humildade rude que a vaidade
sorridente.

 Usar a mediunidade sempre em sentido educacional. Através dela, podemos consolar, aliviar,
curar, orientar moralmente, mas jamais devemos satisfazer curiosidades, interferir na vida alheia,
traçar diretrizes impositivas ou deixar pessoas perplexas, assustadas ou confusas com
informações que elas não podem ainda digerir.

 O médium não deve fazer da mediunidade sua única atividade na vida (mesmo obedecendo à
Ética espírita da gratuidade mediúnica), mas deve dedicar-se a várias atividades e desenvolver
diversas potencialidades, para afastar-se do fanatismo e ser uma pessoa integral.

 Se o médium vier a construir uma liderança pessoal num dado ambiente, que essa liderança não
seja baseada na mediunidade. Diz O Livro dos Médiuns que “um médium é um instrumento que,
como indivíduo, importa muito pouco” (Cap. XX, ítem 226, n. 5). Observe-se que Kardec, na
maioria das vezes, nem revelava o nome dos médiuns que atuavam na Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas. Ao contrário, no Brasil, lideranças são construídas com fundamento na
mediunidade. O valor do líder deve estar no próprio líder e não no fato de ele servir de
intermediário entre dois mundos. Um líder pode ser médium, mas não deveria ser líder por ser
médium.
 É preciso sempre e em tudo conservar a autonomia de julgamento. Os Espíritos podem nos
trazer idéias, orientações; os médiuns podem vislumbrar algo por meio de uma percepção
extrafísica, mas o julgamento e a ação cabem ao homem encarnado, que está na Terra
justamente para desenvolver-se, usando sua liberdade de pensar e de agir e afinal de construir a
si mesmo.

A Dificuldade de Aceitar o Novo


11:42 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Jaci Régis

A ciência conseguiu, neste século 20, proezas antes não sonhadas. Em qualquer aspecto da vida e do
conhecimento, as proposições, investigações e pesquisas científicas revisaram os conceitos consagrados
nos séculos passados.

Apesar desse avanço científico, queimando etapas e ganhando terreno em tempo cada vez menor, a
repercussão social parece longe de abalar os velhos conceitos espiritualistas.

Para a grande maioria das pessoas, as descobertas científicas só têm sentido imediato quando produzem
remédios e desenvolvem tecnologias para curar doenças, resolver problemas físicos e mentais.

Por isso, permanece o espiritualismo difuso de nossos dias. Principalmente no âmbito das religiões e
crenças, sejam do mundo ocidental como do oriental.

A fé da massa não é abalada por essas descobertas, a não ser a longo prazo, pois a pressão dos fatos
modela a cultura, levada a aceitá-los e mudar.

E ainda que a crença em Deus seja obscura e baseada em temor, para a maioria deixar de crer num
deus, seja o Alá do Islã ou Jeová dos cristãos e judeus, precipita a pessoa num vazio e num vácuo de
insegurança.

No cenário confuso da atualidade, coexistem, paralelamente, com os avanços jamais sonhados da


ciência, ledores de mãos, jogadores de búzios, adivinhadores, salvadores carismáticos. As igrejas
continuam com seus rituais, pessoas participam de sessões de macumba, vudu, umbanda, quimbanda e
outras formas sinergéticas e animastes de crenças, ao lado de aparelhos de ressonância magnética,
viagens interplanetárias, teorias sobre o início do Universo e na era da cibernética, da comunicação por
satélites, enfim, como diria o humorista, um verdadeiro ”samba do crioulo doido”.

É Preciso Atualizar a Doutrina

Diante dessa realidade insofismável, como o Espiritismo se posiciona? Sua mensagem, sua postura, sua
forma de atuar está compatível com as novas perspectivas não apenas científicas, mas humanas do
mundo atual ?

Falamos de uma quantidade de exigências morais, de valores que foram deixados de lado, principalmente
após a 2ª Guerra Mundial. Seriam esses valores apenas repressores? Todas as doutrina religiosas teriam
falhado ?

É preciso atualizar o Espiritismo?

Essa pergunta, óbvia para quem segue o pensamento de Allan Kardec, é rechaçada pelo sistema
doutrinário. Por que essa proposta de Kardec permanece no limbo das proibições? Será que o projeto de
um Espiritismo dinâmico capaz de evitar o imobilismo, sujeito ao progresso era um sonho irrealizável, uma
proposta sem sentido?

Ao dizer que foi Jesus Cristo quem elaborou a Doutrina, com o pseudônimo de Espírito da Verdade,
reduzindo o papel de Kardec a um escrevente inteligente, imobilizou-se o pensamento doutrinário,
porque, então, como afirmou o Conselho Federativo Nacional, ninguém pode atualizar o que veio do
“alto”.

Engessou-se o Espiritismo ficando semelhante aos evangélicos que se fixaram nas letras sagradas da
Bíblia e do Novo Testamento e dali não arredam o pé. O que está escrito não pode ser mudado, porque
os livros bíblicos foram inspirados por Deus e quem pode desdizer Deus? E a Igreja Católica, que, apesar
de encíclicas e perdões históricos, mantém sua doutrina com persistência, para justificar o seu alegado
legado de representante de Deus na Terra.

A recusa em aceitar que a Doutrina Espírita é capaz de modificar certos conceitos sem perder sua base,
mostra como foi descaracterizada, desviada do sentido que lhe deu seu fundador.

A partir do momento que o Espiritismo foi institucionalizado, começou sua descaracterização,


transformado numa seita ligada ao modelo judaico cristão do pecado e do castigo.

A descaracterização básica do Espiritismo iniciou-se bem no começo, pela introdução do roustainguismo.


Este está muito mais enraizado do que se supõe, pois até os mais ferrenhos anti-roustanguista, mesmo
que não o admitam, foram influenciados pelo apelo cristolatra, base do pensamento de Roustaing,
referendado pelo Espírito Emmanuel, um adorador de Jesus Cristo.

Calcado nessa cristolatria, que Allan Kardec jamais admitiu, os egressos do catolicismo encontraram um
movimento espírita, de modo geral, tão parecido, em termos, com as características das igrejas, que não
precisaram de muito esforço para adaptar-se.

Isso pode ser constatada na prática. Presidentes de Mocidades e Centros Espíritas casam-se no ritual
católico, fazem missa de sétimo dia, alguns chegam a batizar seus filhos na Igreja. Não se trata de
sectarismo, mas de definição. E centenas de freqüentadores assíduos, participantes e médiuns, na hora
“h “correm para os braços da Madre Igreja, de onde, estruturalmente, nunca saíram.

O Espiritismo para eles é uma grande capa que os agasalha, mas jamais o aceitaram como uma
mudança revolucionária na visão de homem e de mundo.

A idéia de atualizar irrita e amedronta os que estão mergulhados nessa visão cristã do Espiritismo.

Artigo de Julho de 2000

A Bíblia: um Livro de Origem Mediúnica.


13:30 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Francisco Amado

Sem dúvida que os religiosos literais ficarão escandalizados com esta afirmação, mas, terão que reler a
Bíblia, pois, esta afirmação está lá.

São fatos registrados na própria Bíblia que denuncia ser este, um livro cheio de fenômenos mediúnicos.

A verdade é que aqueles que adoram gritar de Bíblia em punho, que a reencarnação não tem bases
Bíblicas e nem a sobrevivência da alma, na verdade não conhecem uma coisa nem outra.

Ignoram o que seja a Bíblia e não fazem a mínima noção do que seja Doutrina Espírita, prova é que
confunde espiritismo com todos os ramos espiritualistas.
Todo espírita é espiritualista, mas nem todo espiritualista é espírita.

O que encontramos na Bíblia? Temos materialização de espíritos, levitação, clarividência e todos os


fenômenos estudados pela doutrina espírita, e classificados posteriormente pela ciência parapsicológica.

Entretanto, quem declarou que a Bíblia é de origem Mediúnica foi o apóstolo Paulo. Atos;7:53 Vós que
recebestes a lei por ministério de anjos. Confirmado em Hebreus 1:14 Não são todos eles espíritos
ministradores enviados para serviço.

O que é um fenômeno mediúnico?


A mediunidade é o nome atribuído a uma capacidade humana que permite uma comunicação entre
homens e espíritos. Ela se manifestaria independente de religiões, de forma mais ou menos intensa em
todos os indivíduos.

Assim, um espírito que deseja comunicar-se entra em contato com a mente do médium e, por esse meio,
se comunica oralmente (psicofonia), pela escrita (psicografia), ou ainda se faz visível ao médium
(vidência).

Vamos aos fenômenos mediúnicos. Deuteronômio cap. 4 :22 a 31 aqui temos ectoplasma
(Materialização) “no monte, do meio do fogo, da nuvem e da escuridade”. Este fenômeno foi estudado por
William Crooks quando fotografou a materialização do espírito de Katin King, por um período de 3 anos
ele documentou seu estudo com 44 fotografias.

Atos 8:26 e 29. Então disseram o espírito a Felipe aproxima-se deste carro e acompanha-o. Daniel 5:5No
mesmo instante apareceu uns dedos de mão de homem, e escreviam, defronte.

Atos 12:7 Eis, porém que sobreveio um anjo do senhor, e uma luz iluminou a prisão.

O que temos aqui nestas passagens: vidência, psicofonia e materialização.

Mas o que salta ao olhos é que os espíritos eram considerados anjos, como hoje são considerados
santos. Entretanto são apenas espíritos, os mesmos espíritos como os que provocaram uma onda de
fenômenos que acabou por dar origem à ciência espírita.

Na verdade, nem anjos, nem demônios; muito menos santos, apenas espíritos.

As maiorias das pessoas não conhecem a Bíblia através de uma leitura crítica, mas apenas pela
interpretação de terceiros, e são levadas a acreditar em todo tipo de interpretação esdrúxula e aceitam
sem cogitar de sua veracidade.

O que é a Doutrina Espírita?

O Espiritismo é a ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas
relações com o mundo corporal.
Não é nem pretende ser uma religião social, visto que não disputa lugar entre as igrejas e seitas e muito
menos adeptos, vem apenas auxiliar as religiões na obra de espiritualização dos homens.

Pois, a finalidade das religiões é arrancar o homem da animalidade e leva-lo à moralidade.Nisto que a
doutrina espírita vem contribuir com seus estudos e suas pesquisas sobre a mediunidade.

Todavia muito antes de Kardec escrever O Livro dos Médiuns, a Bíblia já ensinava como proceder em
uma reunião Espírita. ( I corintios cap.14 a 15).

Clarividência na Bíblia encontra-se em (Ezequiel cap.22 v.8), mais adiante levitação (Ezequiel cap.3 v.
14 e 15).

Materialização e Escrita direta se encontram em (Daniel cap.5 v.4,5 e 6).

A Doutrina Espírita foi a primeira a estudar todos os eventos mediúnicos que aparecem por toda a Bíblia,
os quais ocorrem por toda a história da civilização, e que foram classificados ora por sobrenaturais, ora
por obra do demônio.

Cabia ao espiritismo como doutrina cientifica e filosófica, revelar que não existem anjos e nem demônios,
e que o sobrenatural era apenas a ignorância de certas leis até então desconhecidas.

Mas, e a proibição de evocar os mortos? Esta proibição por si já é a prova que os espíritos poderiam
se comunicar, pois como proibir algo que não existe?

( Deuteronômio cap.18 ), o que a Bíblia condena, também o Espiritismo condena.

O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Não soliciteis milagres nem prodígios ao Espiritismo porque ele
declara formalmente que não os produz”.

Todavia vamos indo mais adiante, se existia a proibição de evocar os mortos que são espíritos como na 1
epistola de João cap4 v1, a recomendação é a seguinte; “Amados, não deis crédito a qualquer espírito:
antes, provai os espíritos se procedem de Deus”.

Porque esta recomendação se existia uma proibição de consultar os mortos?

Em A Gênese, e em O Livro dos Espíritos, Kardec esclarece que a finalidade da prática espírita é
moralizar os homens e os povos; E quem conhece o Espiritismo sabe que todo o interesse pessoal,
particular, é rigorosamente condenado. Adivinhações, agouros, feitiçaria, encantamentos, consultas
interesseiras, são praticas de magia antiga, que Moisés condenou, como o Espiritismo condena hoje.

Na verdade, é que aqueles que declaram de Bíblia em punho, que o Espiritismo é condenado na
bíblia, não conhecem uma coisa nem outra, pois existe uma diferença enorme entre a capacidade de
reconhecer palavras, e a capacidade de ler compreensivamente.

O que se percebe com facilidade é a multiplicação de seitas forjadas por videntes e profetas de ultima
hora ungidos pelo Deus mamon, na sua maioria leigos, que se apresentam como missionários de olhos
mais voltados para os bens terrenos do que para os tesouros do Céu.
São míopes conduzindo cegos para o precipício da ignorância e do fanatismo, no qual fatalmente cairão.

O que todos devem ter em mente é que quando não existe questionamento e crítica, quando não há
debate transparente, certamente haverá dominação, ignorância, apatia e graves entraves à autonomia da
razão humana e ao desenvolvimento espiritual da humanidade.

O Livro dos Espíritos e a História


13:15 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS

Por Amílcar Del Chiaro Filho

Poucas vezes avaliamos a luta heróica para se divulgar e implantar uma idéia. Por exemplo: quando
lemos O Livro dos Espíritos não fazemos idéia da extraordinária jornada do pensamento humano para
chegar até este ponto.

Esta jornada teve início com a chegada do homem na Terra, desde as épocas mais recuadas, passando
pelas várias idades da humanidade, como a idade da pedra polida, pré-história, a invenção da escrita,
pelas outras fases como a litolatria, a fitolatria, a zoologia, o politeísmo, o Código de Hamurabi, o
Monoteísmo de Moisés com o seu código de Talião - olho por olho - dente por dente, trazendo os
princípios da justiça, e a defesa do mais fraco contra a força do mais forte, com o Torá.

Surge, então, a era dos profetas hebreus, com suas linguagens austeras, implantando a justiça pelo medo
do castigo. A história foi pisada pelas patas dos cavalos dos bárbaros, como Tarmelão, Gengis Khan, e
brilhou no ferro das espadas de grandes conquistadores, como Alexandre, Amílcar Barca, Anibal, Júlio
César.

Espalhou-se pelo mundo com as legiões romanas, e consagrou altares nos sacrifícios de vários cultos, de
Baal a Jeová, de Zeus a Júpiter. Passou por corações mansos e pacíficos como Buda, Confucio,
culminando numa manjedoura com Jesus de Nazaré, que, ao caminhar pelas estradas do mundo, deixou
desprender-se de suas sandálias poeira de estrelas, que nunca mais puderam ser apagadas.

Veio depois a diáspora e os judeus se espalharam pelo mundo, levando em seus corações as esperanças
de uma pátria. Maomé surge no Levante e ergue o estandarte do islamismo.

Depois aconteceu a terrível nódoa das cruzadas, e mais à frente a negra noite da idade média, com o
Tribunal da Santa Inquisição, quando, em nome de Jesus de Nazaré, que deu sua própria vida para
iluminar o mundo, torturou-se e matou-se em defesa da fé e da salvação das almas.

Coisa maravilhosa foi a invenção da imprensa e a reforma protestante, marcos indeléveis desta
caminhada, pois, sem elas, não haveria o Espiritismo.

Nesta caminhada fabulosa veio a revolução francesa, os Iluministas e grandes inteligências. Infelizmente
houve, também, a mancha da escravidão negra e o colonialismo explorador das nações fortes sobre as
fracas, até que o plano espiritual determina que os espíritos invadam a Terra, e surge a primeira ponta de
lança desta invasão a aldeia de Hidesvylle, com as meninas Fox e o espírito Charles Rosma.

É chegado o momento! Em abril de 1857 é lançada em Paris a primeira edição deste livro que agora
compulsamos e consultamos em nossa língua, com todas as facilidades e toda a liberdade. Mas para
chegar a esse direito de ser livre, quanto sangue foi derramado, quantos morreram, quantas fogueiras da
intolerância foram acesas e alimentadas com a carne humana, e com os ideais daqueles que caminham à
frente da humanidade.

Por tanto, meu amigo e minha amiga; reverencie este livro! Ame-o profundamente, pois ele não é
somente um livro impresso, é toda uma história apaixonante e de extrema coragem. Se você penetrá-lo
com o seu olhar, além das suas páginas, verá todo esse caminhar da humanidade. Depois dele ainda
aconteceram muitas guerras, e duas conflagrações mundiais, mas com certeza, você que o leu e meditou
nos seus ensinamentos, já não é mais o mesmo.

Agora você sabe de onde veio, o que faz na Terra e para onde vai quando deixá-la. Hoje você sabe que a
morte não existe, pois esse livro matou a morte, e agora você sabe que é imortal, e porque, mas
sobretudo para quê.

Apure a sua audição parapsiquica, encoste seus ouvidos espirituais na capa deste livro e ouvirá os
gemidos da história, o sibilar das flechas, o tropel dos cavalos, o bater das ondas no casco dos navios de
Colombo, o troar dos canhões, as terríveis explosões atômicas sobre Iroshima e Nagazaki, o lamento dos
negros nos porões dos navios negreiros, os discursos de Sócrates e Platão, o cântico dos anjos: Glória a
Deus Nas Alturas e Paz na Terra, e Boa Vontade para com os homens. Mas sobretudo o Sermão da
Montanha, as bem aventuranças...

Você ainda pode ser o mesmo? NÃO! Nunca mais!


Sonhos Premonitórios
12:30 O BLOG DOS ESPÍRITAS 1 COMMENT

F. Altamir de Lima*

Discute-se, frequentemente, sobre a possibilidade de se conhecer o futuro. Dizem alguns que o futuro a
Deus pertence. Entretanto, existem situações através das quais algumas pessoas entram numa
determinada faixa vibratória, por revelação feita díretamente por Espíritos, sonhos ou claravidência
sonambúlicas (o espírito fica parcialmente liberto do corpo físico), e elas têm acesso a informações sobre
o futuro.

Não é tão raro quanto se imagina. Embora a maioria desses fenômenos não seja divulgada, quando
acontece entre pessoas ilustres despertam mais interesse e divulgação.

Como exemplo, lembramos dois casos bastante conhecidos: o de Martin Luther King e o de Abraham
Lincoln.

a) Martin Luther King

Revela o jornal parisiense France-Dimanche em seu número 1.130, que dois dias antes de ser
assassinado, o líder negro tivera um sonho em que se via estendido em um caixão mortuário e cercado
de milhares de pessoas. Impressionado como sonho chamou seu amigo Andy Young e telefonou para a
sua esposa informando sobre o acontecido.

Na véspera da tragédia, ele se encontrava discursando para os membros das associações sanitárias em
Memphis, quando surpreendeu a todos falando: "muitas vezes penso na minha morte e no meu enterro.
Se um dia alguém de vós falar sobre a minha campa, diga que Martin Luther King deu a vida pelos seus
irmãos, para vestir os pobres e aliimentar os esfomeados". Parecia sem sentido o que falara. Porém, a
previsão tornou-se realidade; algum tempo depois, ele foi assassinado.

b) Abraham Lincoln

Alguns dias antes de ser assassinado, Lincoln teve um sonho que o deixou impressionado. Numa
oportunidade onde se encontrava com algumas pessoas, Inclusive a sua esposa, ele contou:

"Há-uns dez dias recolhi-me muito tarde. Pouco tempo depois de estar deitado, caí em sonolência, pois
estava fatigado e, em breve, comecei a sonhar. Parecia haver, à minha volta, um silêncio de morte.
Subitamente ouvi soluços convulsivos, como se muitas pessoas estivessem chorando. Julguei ter deixado
a cama e que vagueava pelo andar inferior. Aí o silêncio foi quebrado por dolorosos soluços, embora a
pessoa que assim se lamentava estivesse invisível. Andei de sala em sala. Não havia à vista qualquer
pessoa viva, mas, onde quer que passassse, esperavam-me os mesmos lamentos de dor, todos os móveis
me eram familiares. Onde estávam, contudo, aquelas pessoas que assim se lamentavam como sê seus
corações estivessem dilacerados? Sentia-me em verdade, confuso e alarmado. Que significaria tudo
aquilo? Decidido a descobrir a causa do mistério, continuei deambulando até a sala oriente.

Ali me esperava uma surpresa macabra.

Diante de mim erguia-se um cadafalso, no qual repousava um cadáver envolto em vestes fúnebres. Em
volta perfilavam-se soldados, fazendo guarda, e uma enorme multidão. Outros contemplavam
lamentosamente o corpo cuja face estava coberta. Outros soluçavam piedosamente.

- Quem morreu na Casa Branca? - perguntei a um dos soldados. - O Presidente - foi a resposta.

- Ele foi assassinado.

"Da multidão veio, então, uma explosão ruidosa de dor que me despertou do sonho. Não dormi mais
naquela noite e, se bem que se trate de um sonho; desde então encontro-me estranhamente
indisposto".

Não demorou mais do que alguns dias, em 14 de abril de 1865, no Teatro Ford, de Washington, Abraham
Lincoln, era alvejado por um tiro de pistoola, vindo a falecer no dia seguinte.

Sejam quais forem as definições dadas para os sonhos, se não se considera a participação do Espírito,
tornam-se estas sem consistência.

Para uma explicação mais lógica, que elucide este mistério dos sonhos (inalcançável pela Ciência
materialista), trazemos a lume definição de Allan Kardec: "Os sonhos são efeito da emancipação da alma,
que mais independente se torna pela suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de
clarividência Indefinida que se alonga até os mais afastados lugares, até mesmo a outros mundos" (O
Livro dos Espíritos, p. 216).

Neste estado de liberação, provisória (pelo sono), também o Espírito poderá ter acesso aos arquivos do
inconsciente, onde se encontram registrados episódios importantes de sua vida, tanto com relação ao
passado, como ao planejamento com relação ao futuro. Como parte integrante deste, a data e o gênero
de morte.

Conceito de mediunidade por José Herculano


Pires
11:50 O BLOG DOS ESPÍRITAS NO COMMENTS
Por José Herculano Pires

Médium quer dizer medianeiro, intermediário. Mediunidade é a faculdade humana, natural, pela qual se
estabelecem as relações entre homens e espíritos.

Não é um poder oculto que se possa desenvolver através de práticas rituais ou pelo poder misterioso de
um iniciado ou de um guru. A Mediunidade pertence ao campo da comunicação. Desenvolve-se
naturalmente nas pessoas de maior sensibilidade para a captação mental e sensorial de coisas e fatos do
mundo espiritual que nos cerca e nos afeta com as suas vibrações psíquicas e afetivas. Da mesma forma
que a inteligência e as demais faculdades humanas, a Mediunidade se desenvolve no processo de
relação. Geralmente o seu desenvolvimento é cíclico, ou seja, processa-se por etapas sucessivas, em
forma de espiral. As crianças a possuem, por assim dizer, à flor da pele, mas resguardada pela influência
benéfica e controladora dos espíritos protetores, que as religiões chamam de anjos da guarda. Nessa
fase infantil as manifestações mediúnicas são mais de caráter anímico; a criança projeta a sua alma nas
coisas e nos seres que a rodeiam, recebem as intuições orientadoras dos seus protetores, às vezes vêem
e denunciam a presença de espíritos e não raro transmitem avisos e recados dos espíritos aos familiares,
de maneira positiva e direta ou de maneira simbólica e indireta. Quando passam dos sete ou oito anos
integram-se melhor no condiciona-mento da vida terrena, desligando-se progressivamente das relações
espirituais e dando mais importância às relações humanas. O espírito se ajusta no seu escafandro para
enfrentar os problemas do mundo. Fecha-se o primeiro ciclo mediúnico, para a seguir abrir-se o segundo.
Considera-se então que a criança não tem mediunidade, a fase anterior é levada à conta da imaginação e
da fabulação infantis.

É geralmente na adolescência, a partir dos doze ou treze anos, que se inicia o segundo ciclo. No primeiro
ciclo só se deve intervir no processo mediúnico com preces e passes, para abrandar as excitações
naturais da criança, quase sempre carregadas de reminiscências estranhas do passado carnal ou
espiritual. Na adolescência o seu corpo já amadureceu o suficiente para que as manifestações
mediúnicas se tornem mais intensas e positivas. É tempo de encaminhá-la com informações mais
precisas sobre o problema mediúnico. Não se deve tentar o seu desenvolvimento em sessões, a não ser
que se trate de um caso obsessivo. Mas mesmo nesse caso é necessário cuidado para orientar o
adolescente sem excitar a sua imaginação, acostumando-o ao processo natural regido pelas leis do
crescimento. O passe, a prece, as reuniões para estudo doutrinário são os meios de auxiliar o processo
sem forçá-lo, dando-lhe a orientação necessária. Certos adolescentes integram-se rápida e naturalmente
na nova situação e se preparam a sério para a atividade mediúnica. Outros rejeitam a mediunidade e
procuram voltar-se apenas para os sonhos juvenis. É a hora das atividades lúdicas, dos jogos e esportes,
do estudo e aquisição de conhecimentos gerais, da integração mais completa na realidade terrena. Não
se deve forçá-los, mas apenas estimulá-los no tocante aos ensinos espíritas. Sua mente se abre para o
contato mais profundo e constante com a vida do mundo. Mas ele já traz na consciência as diretrizes
próprias da sua vida, que se manifestarão mais ou menos nítidas em suas tendências e em seus anseios.
Forçá-lo a seguir um rumo que repele é cometer uma violência de graves conseqüências futuras. Os
exemplos dos familiares influem mais em suas opções do que os ensinos e as exortações orais. Ele toma
conta de si mesmo e firma a sua personalidade. É preciso respeitá-lo e ajudá-lo com amor e
compreensão. No caso de manifestações espontâneas da mediunidade é conveniente reduzi-las ao
círculo privado da família ou de um grupo de amigos nas instituições juvenis, até que sua mediunidade se
defina, impondo-se por si mesma.

O terceiro ciclo ocorre geralmente na passagem da adolescência para a juventude, entre os dezoito e
vinte e cinco anos. É o tempo, nessa fase, dos estudos sérios do Espiritismo e da Mediunidade, bem
como da prática mediúnica livre, nos centros e grupos espíritas. Se a mediunidade não se definiu
devidamente, não se deve ter preocupações. Há processos que demoram até a proximidade dos 30 anos,
da maturidade corporal, para a verdadeira eclosão da mediunidade. Basta mantê-lo em ligação com as
atividades espíritas, sem forçá-lo. Se ele não revela nenhuma tendência mediúnica, o melhor é dar-lhe
apenas acesso a atividades sociais ou assistenciais. As sessões de educação mediúnica (impropriamente
chamadas de desenvolvimento) destinam-se apenas a médiuns já caracterizados por manifestações
espontâneas, portanto já desenvolvidos.

Há ainda um quarto ciclo, correspondente a mediunidades que só aparecem após a maturidade, na


velhice ou na sua aproximação. Trata-se de manifestações que se tornam possíveis devido às condições
da idade: enfraquecimento físico, permitindo mais fácil expansão das energias perispiríticas; maior
introversão da mente, com a diminuição de atividades da vida prática, estado de apatia neuropsíquica,
provocado pelas mudanças orgânicas do envelhecimento. Esses fatores permitem maior desprendimento
do espírito e seu relacionamento com entidades desencarnadas. Esse tipo de mediunidade tardia tem
pouca duração, constituindo uma espécie de preparação mediúnica para a morte. Restringe-se a
fenômenos de vidência, comunicação oral, intuição, percepção extra-sensorial e psicografia. Embora seja
uma preparação, a morte pode demorar vários anos, durante os quais o espírito se adapta aos problemas
espirituais com que não se preocupou no correr da vida. Esses fatos comprovam o conceito de
mediunidade como simples modalidade do relacionamento homem-espírito. Kardec lembra que o fato de
o espírito estar encarnado não o priva de relacionar-se com os espíritos libertos, da mesma maneira que
um cidadão encarcerado pode conversar com um cidadão livre através das grades. Não se trata das
conhecidas visões de moribundos no leito mortuário, mas de típico desenvolvimento tardio de
mediunidade que, pela completa integração do indivíduo na vida carnal, imantado aos problemas do dia-
a-dia, não conseguiu aflorar. A sua manifestação tardia lembra o adágio de que os extremos se tocam. A
velhice nos devolve à proximidade do mundo espiritual, em posição semelhante à das crianças.

Na verdade, a potencialidade mediúnica nunca permanece letárgica. Pelo contrário, ela se atualiza com
mais freqüência do que supomos, passa de potência a ato em diversos momentos da vida, através de
pressentimentos, previsões de acontecimentos simples, como o encontro de um amigo há muito ausente,
percepções extra-sensoriais que atribuímos à imaginação ou à lembrança e assim por diante. Vivemos
mediunicamente, entre dois mundos e em relação permanente com entidades espirituais. Durante o sono,
como Kardec provou através de pesquisas ao longo de mais de dez anos, desprendemo-nos do corpo
que repousa e passamos ao plano espiritual. Nos momentos de ausência psíquica de distração, de
cochilo, distanciamo-nos do corpo rapidamente e a ele retornamos como o pássaro que voa e volta ao
ninho. A Psicologia procura explicar esses lapsos fisiologicamente, mas as reações orgânicas a que
atribui o fato não são causa e sim efeito de um ato mediúnico de afastamento do espírito. Os estudos de
Hipnotismo comprovam isso, mostrando que a hipnose interfere constantemente em nossa vigília,
fazendo-nos dormir em pé e sonhar acordados, como geralmente se diz. A busca científica de uma
essência orgânica da mediunidade nunca deu nem dará resultados. Porque a mediunidade tem sua
essência na liberdade do espírito.

Chegando a este ponto podemos colocar o problema em termos mais precisos: a mediunidade é a
manifestação do espírito através do corpo. No ato mediúnico tanto se manifesta o espírito do médium
como um espírito ao qual ele atende e serve. Os problemas mediúnicos consistem, portanto,
simplesmente na disciplinação das relações espírito-corpo. É o que chamamos de educação mediúnica.
Na proporção em que o médium aprende como espírito, a controlar a sua liberdade e a selecionar as suas
relações espirituais, sua mediunidade se aprimora e se torna segura. Assim o bom médium é aquele que
mantém o seu equilíbrio psicofísico e procede na vida de maneira a criar para si mesmo um ambiente
espiritual de moralidade, amor e respeito pelo próximo. A dificuldade maior está em se fazer o médium
compreender que, para tanto, não precisa tornar-se santo, mas apenas um homem de bem. Os objetivos
de santidade perseguidos pelas religiões, através dos milênios, gerou no mundo uma expectativa
incômoda para todos os que se dedicam aos problemas espirituais. Ninguém se torna santo através de
sufocação dos poderes vitais do homem e adoção de um comportamento social de aparência piedosa. O
resultado disso é o fingimento, a hipocrisia que Jesus condenou incessantemente nos fariseus, uma
atitude permanente de condescendência e bondade que não corresponde às condições íntimas da
criatura. O médium deve ser espontâneo, natural, uma criatura humana normal, que não tem motivos para
se julgar superior aos outros. Todo fingimento e todo artifício nas relações sociais leva os indivíduos à
falsidade e à trapaça. A chamada reforma - íntima esquematizada e forçada não modifica ninguém,
apenas artificializa enganosamente os que a seguem. As mudanças interiores da criatura decorrem de
suas experiências na existência, experiências vitais e consciências que produzem mudanças profundas
na visão íntima do mundo e da vida.

Essa colocação dos problemas mediúnicos sugere um conceito da mediunidade que nos leva às próprias
raízes do Espiritismo. A Mediunidade nos aparece como o fundamento de toda a realidade. O momento
do Fiat, da Criação do Cosmos, é um ato mediúnico. Quando o espírito estrutura a matéria para se
manifestar na Criação, constrói o elemento intermediário entre ele e a realidade sensível ou material. A
matéria se torna o médium do espírito. Assim, a vida é uma permanente manifestação mediúnica do
espírito que, por ela, se projeta e se manifesta no plano sensível ou material. O Inteligível, que é o
espírito, o princípio inteligente do Universo, dá a sua mensagem inteligente através das infinitas formas da
Natureza, desde os reinos mineral, vegetal e animal, até o reino hominal, onde a mediunidade se define
em sua plenitude. A responsabilidade do Homem, da Criatura Humana, expressão mais elevada do
Médium, adquire dimensões cósmicas. Ele é o produto multimilenar da evolução universal e carrega em
sua mediunidade individual o pesado dever de contribuir para que a Humanidade realize o seu destino
cósmico. A compreensão deste problema é indispensável para que os médiuns aprendam a zelar pelas
suas faculdades.

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