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Modelos de Família e Intervenção Terapêutica

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04/06/2020 Modelos de família e intervenção terapêutica

Modelos de família e intervenção terapêutica

Family models and therapeutic approach

Edna Lúcia Tinoco PoncianoI, 1; Terezinha Féres-CarneiroII, 2

I Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Programa de Psicologia Clínica


II Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Psicologia

Endereço para correspondência

RESUMO

A família nuclear é um modelo construído na história da sociedade ocidental. O questionamento desse


modelo torna visível outros tipos de configurações familiares. Na história da terapia de família observamos
a relação existente entre o modelo de família nuclear e a intervenção do especialista. Realizamos um
percurso histórico com o objetivo de referir as diferenciadas práticas terapêuticas à diversidade de
famílias. A partir de definições alguns autores sistêmicos, analisamos relatos de terapeutas de família
entrevistados na cidade do Rio de Janeiro. Concluímos que as variadas perspectivas devem ser
consideradas pelas transformações que produzem, redefinido as práticas terapêuticas.

Palavras-chave: Terapia de família, História, Sociedade ocidental, Modelo de família, Intervenção


terapêutica.

ABSTRACT

The nuclear family is a model constructed in the history of the western society. Raising questions about
this model brings visibility to other types of family configurations. We observed, through the history of
family therapy, a relationship between the nuclear family model and the specialist’s intervention. In order
to relate the different therapeutic practices to the diversity of the families, we traced a historical course.
Based upon definitions of family of some systemic authors, we analyzed the speeches of family therapists
interviewed in Rio de Janeiro. We concluded that the different perspectives should be considered for the
transformations they bring about, thus redefining the therapeutic practices.

Keywords: Family therapy, History, Western society, Family model, Therapeutic approach.

Dividimos este artigo em duas partes com o objetivo de traçarmos uma comparação entre duas histórias.
Na primeira é desenvolvido um panorama histórico da família na sociedade ocidental, culminando com a
hegemonia ideológica do modelo nuclear. A elaboração desta parte inicial permite-nos construir uma
história da terapia de família relacionando dois aspectos: a formação da família nuclear na modernidade e
o surgimento da intervenção do especialista com fins terapêuticos. O mode-lo nuclear, pautado na
intimidade e fechado à sociabilidade pública, constitui a família como algo inteiramente novo, sem
parâmetros anteriores. São os especialistas, aliados ao Estado moderno, com seus modos de intervir e
suas práticas terapêuticas, que irão esclarecer às famílias quais são as normas de funcionamento desse
novo modelo. Na segunda parte do trabalho exemplificamos com o relato de entrevistados. Estes são
terapeutas de família, pioneiros na cidade do Rio de Janeiro, com os quais podemos ilustrar a história da
terapia de família.

Da pesquisa realizada privilegiamos um aspecto: as definições de família oferecidas por esses terapeutas
comparadas às de alguns autores, em diferentes momentos históricos da Abordagem Sistêmica. Essa
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comparação permite-nos apreciar a relação entre o modelo de família nuclear, as definições de autores
sistêmicos e as respostas dos terapeutas entrevistados. Procuramos analisar possíveis compromissos ou
críticas ao modelo nuclear. Nossa perspectiva, portanto, é a da análise e interpretação de como se insere
uma prática terapêutica em um determinado contexto histórico-social, fortalecendo ou transformando o
modelo encontrado.

Transformação das relações familiares: antes e depoisda modernidade


Houve um tempo em que as relações familiares – incluindo pai, mãe, filhos, parentes, agregados,
vizinhos, amigos, entre outros – perdiam-se em meio a uma ampla comunidade. As relações familiares,
como a do casal e a dos pais com seus filhos, eram permeadas por relações comunitárias, consideradas
mais importantes, na maioria das vezes.

Quando as relações extensas faziam parte das relações familiares não existiam poderes especializados ou
seculares, externos a essas relações, que ditassem as normas do comportamento: os papéis eram
definidos “desde sempre”. A comunidade de pertença não deixava dúvidas quanto ao que fazer. A família
era a sociedade, confundindo-se com ela. O indivíduo perdia sua visibilidade em meio às relações. A
hierarquia ditava as regras para as relações familiares, e os conflitos, quando surgiam, submetiam-se ao
rigor da lei. A desobediência equivalia à exclusão e à falta de proteção, que era o mesmo que ser entregue
ao pauperismo e à morte (Ariès, 1986; Shorter, 1995). Nessa configuração não havia necessidade de uma
prática terapêutica, conforme relatam os estudos de Costa (1989) sobre o Brasil, de Donzelot (1986)
sobre a França, e de Lasch (1991) sobre os Estados Unidos, referindo-se à transformação das relações
familiares, que na modernidade caracterizam-se pela intervenção do Estado em aliança com especialistas
da saúde. Nessa mesma direção encontram-se os estudos de Sennett (1993) a respeito da transformação
da sociabilidade pública em domínio privado, com a conseqüente psicologização das relações sociais.

Em um momento anterior havia uma concepção particular da família: a linhagem. Compreendida como
solidariedade estendida a todos os descendentes de um mesmo ancestral, a linhagem constituía proteção
na ausência do Estado, não levando em conta os valores da coabitação e da intimidade. A posição social
era sustentada pelo patrimônio material, pela herança familiar (Casey, 1992).

Todos os membros do grupo familiar deviam obediência e respeito ao pai, aquele que os deveria proteger,
vigiar e corrigir. Nos séculos XVI e XVII, os “sentimentos dolorosos” e “maus” eram os predominantes nas
relações familiares, e não o amor. De acordo com Antoine de Blanchard (apud Flandrin, 1995), eram
vários os sentimentos “maus”, como: inveja, ciúme, aversão, ódio, desejo de morte etc. A moral
caracterizava-se mais pelo pecado do que pelo amor.

Podemos observar a diferença que nos separa da antiga sociedade pela relação pais-filhos e pelos
sentimentos surgidos e expressos na convivência doméstica: de um lado os “maus sentimentos” gerados
pelo poder total, direito de vida e de morte, que era concedido ao pai; de outro, caracterizando o modelo
nuclear, o dever paterno de proteção, baseado no sentimento de amor.

Na antiga mentalidade, o pai tinha todo poder sobre os filhos, como o senhor sobre os seus
escravos; eles pertenciam-lhe em propriedade plena, porque os fizera; ele nada lhes devia.
Na nossa mentalidade contemporânea, pelo contrário, o fato de os ter feito confere-lhe mais
deveres do que direitos para com eles. Eis uma viragem fundamental dos princípios da moral
familiar (Flandrin, 1995, p. 147).

Na Europa, no fim do século XVII e início do XVIII, ocorreu uma mudança marcante no lugar da criança e
da família (Ariès, 1986). A afeição tornou-se necessária entre os cônjuges, e entre os pais e os filhos. O
“sentimento de família” nasceu simultaneamente com o “sentimento de infância”: com o objetivo de
melhor cuidar de suas crianças, a família recolheu-se da rua, da praça, da vida coletiva, em que antes se
encontrava, para a intimidade, fazendo desaparecer a antiga sociabilidade. Paulatinamente, através dos
séculos, o valor social da linhagem transferiu-se para a família conjugal. Quando essa passagem se
consolidou, a família tornou-se a “célula social”, a “base dos Estados”.

A família afastou-se, assim, cada vez mais da linhagem, da integridade do patrimônio, prevalecendo a
“reunião incomparável dos pais e dos filhos”, firmando o modelo nuclear. Passou-se a privilegiar e marcar
as semelhanças físicas entre pais e filhos, inclusive nas situações de adoção. A criança tornou-se a
“imagem viva de seus pais”. A família assumiu uma função moral e espiritual. Os pais tornaram-se
responsáveis pela criação de seus filhos, mudando a concepção de educação (Ariès, 1986).

Quanto à relação conjugal, o casal moderno pauta-se pelo comportamento expressivo, enquanto o casal
tradicional achava-se limitado aos seus papéis, sem “procurar saber se eram felizes”. A partir do século
XVIII, porém, os jovens começaram a considerar os sentimentos para a escolha do cônjuge,
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desvalorizando aspectos exteriores como propriedade e desejo dos pais. Esta, para Shorter (1995), foi a
primeira revolução sexual. O casamento por amor só foi defendido abertamente no século XIX, quando o
essencial do capital herdado passou a ser o capital cultural: as transformações econômicas, advindas da
Revolução Industrial, permitiram as condições materiais necessárias para uma liberação da escolha
conjugal, que não ameaçava mais o patrimônio familiar.

Shorter (1995) estuda o que chamou de um “surto de sentimento”, ocorrido desde o século XVIII, fazendo
desaparecer a família tradicional. Este surto desenvolveu-se em três áreas: primeiramente no namoro,
caracterizado pela busca de felicidade e desenvolvimento individual; depois na relação mãe-bebê, que
passou a se caracterizar pelo bemestar do bebê acima de tudo; e por último na mudança da relação entre
a família e a comunidade circundante, na qual os laços entre os membros da família reforçaram-se,
caracterizando a “domesticidade”.

O namoro transformava-se, incorporando duas características: a substituição de um sistema de valores


baseado na fidelidade, na cadeia de gerações e na responsabilidade perante a comunidade, por um
sistema de valores baseado na felicidade pessoal e no autodesenvolvimento; e com a possibilidade de
escolha, o controle pela comunidade dos encontros dos dois sexos cessa-se. Esta segunda característica
está ligada ao desejo de ser livre, de desenvolver a própria personalidade e de realizar ambições pessoais.
Desse modo, na forma do amor romântico, o sentimento tomou o poder. A espontaneidade permitiu a
substituição dos roteiros tradicionais pelo diálogo, e a empatia iniciou a quebra da divisão sexual do
trabalho, modificando os papéis desempenhados pelos sexos. O casal afastou-se da comunidade,
buscando isolar-se dos “olhares curiosos” e investiu na “experimentação e inovação” dos “jogos do amor”
(Shorter, 1995).

Só é possível entender a formação do que Shorter (1995) denomina “domesticidade”, isto é, a “malha de
privacidade e intimidade que cerca a totalidade da família”, ao entendermos a nova relação surgida entre
mãe e bebê. O autor retoma o estudo de Ariès quanto à indiferença das mães com seus bebês, concluindo
que a família nuclear tomou forma em torno da relação mãe-bebê quando passou a ser predominante o
amor maternal.

Com a difusão das relações igualitárias, a autoridade patriarcal reforçada pela comunidade tornou-se
intolerável. O conceito de “domesticidade” como unidade emocional, constituída pela privacidade e
isolamento da família, foi a terceira área na qual o surto de sentimento na modernidade manifestou-se:
“Os membros da família passaram a sentir muito mais solidariedade uns com outros...” (Shorter, 1995, p.
244). Nas palavras de Sennett, a família deixou de ser vista como uma região “não-pública, e cada vez
mais como um refúgio idealizado, um mundo exclusivo, com um valor moral mais elevado do que o
domínio público” (Sennett, 1993, p. 35).

A família na modernidade, além de ser o lugar privilegiado para o domínio da intimidade, é também o
agente ao qual a sociedade confia a tarefa da transmissão da cultura, consolidando-a na personalidade
(Lasch, 1991). Para realizar sua tarefa a família conta com duas fontes de tensão: uma originada da nova
relação com a infância, e a outra de uma transformação no papel da mulher. As crianças, que ocuparam
um lugar central nessa família, são da responsabilidade dos pais, gerando sobrecarga para estes devido
ao seu isolamento da comunidade. A mulher, ao mesmo tempo “degradada e exaltada” nesse novo
sistema familiar (Donzelot, 1986), precisava ser “educada” para criar seus filhos, precisava ser
companheira de seu marido e executar as tarefas domésticas. Ao domesticar a mulher provocou-se uma
“desordem geral”. Surgiram aspirações ao crescimento pessoal, o feminismo. A estas aspirações a união
conjugal e a família não podiam mais satisfazer, gerando uma crise do casamento no final do século XIX.
Estas tensões no interior da família levaram-na à busca dos especialistas, que consideravam os pais
inaptos e necessitados de suas informações. Os atos mais íntimos passaram a ter uma publicidade sem
precedentes (Lasch, 1991).

Pode-se estabelecer uma relação entre a vida familiar, baseada na intimidade, e a noção de democracia.
Hoje, pela crescente democratização das relações, a intimidade é definida pela via do “relacionamento
puro”, isto é, nada externo – seja a comunidade ou patrimônio familiar, dentre outras possibilidades –
pode determinar o início ou continuidade de um relacionamento (Giddens, 1993). O amor, vinculado ao
direito de escolha, permitiu a contaminação da família pelos valores democráticos. A diversidade
estendeu-se ao casal, aos pais e filhos, aos parentes e amigos, gerando uma multiplicação de novas
relações. Nessa nova configuração, as relações familiares baseiam-se na intimidade, na comunicação livre
e aberta, pautando-se no diálogo e na democracia. Desse modo, novos caminhos são indicados,
caracterizando o que pode ser chamado de pós-modernidade.

Há um paradoxo na construção moderna da família nuclear: é uma imposição modelar, mas não pode
mais ser controlada, já que se advoga o direito à livre escolha. A esse paradoxo segue-se outro: a
liberdade é regulada pelo saber médico-psicológico, prescrevendo as normas do comportamento de todos
os membros da família. Na convivência dessas duas alternativas, aparentemente opostas – a do controle

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pelo saber especializado e a da liberdade de escolhas –, constrói-se a possibilidade de não se seguir a um


modelo único, tal qual o da família conjugal. Surge a imprevisibilidade; surgem inúmeras configurações
familiares, ou pelo menos elas têm a liberdade de se tornarem mais visíveis do que antes. Supondo uma
caracterização para este momento, considerado o da pósmodernidade, a família tende a ser pautada na
idéia da diversidade e da ausência de um parâmetro norteador único. Ainda há, entretanto, uma idéia de
família determinada por valores, os quais pautam as relações, como: o sentimento de amor, a realização
pessoal na convivência com o outro significativo, e por conseqüência a formação da identidade humana
por meio da filiação e da transmissão intergeracional. Embora o modelo nuclear tenha sido questionado, a
família não foi substituída por nenhum outro grupo ou instituição social. Enquanto isso, paralelamente
instaura-se a exacerbação do individualismo, o que leva à flutuação das identidades pessoais e das
relações familiares.

Modelos de família e intervenção terapêutica: relato dosterapeutas de família


Os relatos apresentados compõem uma parte da pesquisa empreendida sobre a história da terapia de
família no Rio de Janeiro (Ponciano, 1999). Entrevistamos oito terapeutas pioneiros, com as seguintes
características quanto ao aspecto da formação profissional e do gênero: T.1 – Psicologia (1976), Mestre
em Psicologia, formação em Terapia de Família em 1987, sexo feminino; T.2 – Medicina – Especialização
em Psiquiatria (Início dos anos 70), Psicanalista, formação em Terapia de Família realizada em grupo de
estudos no início dos anos 80, sexo masculino; T.3 – Psicologia (1976), Psicanalista, formação em Terapia
de Família em 1985, sexo feminino; T.4 – Psicologia (1971), Psicanalista, formação em Terapia de Família
“ao longo do caminho (no exterior)” com início nos anos 70, sexo feminino; T.5 – Psicologia (1975),
Mestre em Comunicação Social (1999), formação em Terapia de Família em 1978, sexo feminino; T.6 –
Psicologia (1972), Psicodramatista, Especialista em Psicologia Social, formação em Terapia de Família no
início dos anos 80, sexo feminino; T.7 – Psicologia (1978), Doutora em Psicologia Clínica (1995),
Psicanalista, formação em Terapia de Família no final dos anos 70, sexo feminino; T.8 – Medicina –
Especialização em Psiquiatria (1974), Psicanalista e Psicodramatista, formação em Terapia de Família com
Andolfi, Minuchin, Whitaker, Haley no final dos anos 70, sexo masculino.

A terapia de família chegou ao Brasil nos anos 70. Foi, porém, no final dos anos 50 que ela começou a
tomar forma nos Estados Unidos, orientando-se principalmente pela Teoria dos Sistemas. Nesse momento
foi forte a presença do modelo de família nuclear, tendo o casal, com uma maior centralidade do que na
sociedade tradicional, a função de constituir um núcleo em torno dos filhos. Esse modelo, característico da
modernidade, tem sido questionado em sua forma nuclear, preservando-se algumas características, como
a intimidade e a privacidade. Nesse sentido, para a terapia de família foi necessário, ao longo de sua
história, posicionar-se de modos diferentes em relação à configuração familiar, constituindo o contexto da
intervenção terapêutica em estreita relação com as transformações histórico-sociais. Uma das principais
fontes de questionamento e transformação, tanto para a família quanto para a terapia de família, foi o
movimento feminista, a partir dos anos 70 (Goodrich, 1990; Perelberg, 1994; Rampage e Avis, 1998).

Começamos com duas das falas dos entrevistados, terapeutas de família cariocas, que se vinculam à
tradição da terapia de família, privilegiando a família nuclear fundada no biológico, na união heterossexual
e na procriação. Para esses terapeutas, pode-se entender o que se convencionou chamar família a partir
de um sentido único, compreendendo que “novas formas” devam receber novas denominações,
diferenciando-as da família conjugal.

“Só acontece família com filho. A estruturação da família para mim necessita ter duas
gerações. (...) Então, para mim, a formação básica da família é: três pessoas,
necessariamente duas gerações diferentes” (T.2).

“Junção de um homem e uma mulher. Não vou entrar nas novas organizações familiares.É
junção de um homem e de uma mulher e o nascimento de um primeiro filho. União deum
homem e uma mulher e o nascimento do primeiro filho. É isso. Nascimento ou adoção do
primeiro filho” (T.8).

Salvador Minuchin, psiquiatra, terapeuta de família da Escola Estrutural, compreende a família pela forma
predominantemente nuclear, fundamentado no biológico, coadunando-se com a posição dos terapeutas
acima referidos. Minuchin é insistente quanto a importância do terapeuta possuir uma definição teórica de
família que permita um nexo com a idéia de intervenção terapêutica, demonstrando assim a forte ligação
entre ambos. Resumimos as idéias de Minuchin, que configuram a relação familiar a partir da relação
conjugal: o casal, ao se constituir, precisa separar-se de suas relações anteriores, principalmente com os
respectivos pais, isto é, “o investimento no casamento é feito a expensas de outras relações”; o
casamento é um primeiro momento em que os participantes irão confirmar ou não suas novas
identidades; “um contexto poderoso para confirmação e desqualificação”; “refúgio para as tensões de

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fora” (Minuchin, 1990b, p. 27). Pelo descrito, percebe-se a necessidade de a constituição familiar, iniciada
pelo casal, separar-se como um núcleo isolado e diferenciado.

A terapia de família, por conseqüência, visa a separar as fronteiras com o exterior, nos casos em que o
casal tenha essa dificuldade específica. Com a chegada dos filhos, o casal adquire uma nova função: a
parental, que caracteriza a família como “uma instituição para educar as crianças”, sendo a vida familiar
dependente “de um sólido vínculode casal” (Minuchin, 1995a, p. 202). É nesse momento que surgem mais
especificamente as tarefas ligadas à socialização; a família exerce seu lugar de “matriz da identidade”,
possibilitando a seus membros a experiência de pertinência a um grupo, assim como a experiência de sua
separação, de sua autonomia. Entre pais e filhos, como entre o casal e o mundo exterior, é preciso que
existam fronteiras bem definidas e reguladas por regras que determinam quem e como se participadas
relações familiares. É indubitavelmente uma definição da família conjugal, constituída na modernidade.

Mais um dos entrevistados faz eco a essas formulações, concordando que família é necessária como grupo
social, com a função de cuidar de um ser dependente biológica e psicologicamente. As mudanças impostas
pelas novas tecnologias de reprodução refletem na família, possibilitando novas transformações, mas sua
participação social como um grupo que cuida de um ser dependente permanece e permanecerá. Outras
formas de cuidado poderão surgir, ainda que os papéis familiares não continuem os mesmos. Mantém-se
assim a idéia de proteção fornecida por esse grupo formador das identidades pessoais, seja ele biológico
ou não. O processo da construção da personalidade permanece localizado no interior da família e da
convivência íntima, apesar das transformações sociais.

“... a gente necessita do relacional pra saber até quem eu sou. No meu referencial a família é
necessária, importante para as organizações sociais. Não acho que é uma coisa falida, eu
acho que ela está mudando as suas formas de constituição. Necessária e importante porque
nós nascemos e a gente vem de um pareamento, se a gente pensar também em termos
biológicos, um pareamento que nos faz ser um serzinho humano que é totalmente
dependente, e ele precisa de um grupo para dar consistência a esse ser dependente, para ele
vir a se desenvolver e poder ser um indivíduo. Então, a existência do grupo constituído para
dar continente pra que esse ser venha a se desenvolver nunca vai deixar de existir, sempre
existiu e sempre vai existir. (...) Então quando a gente pensa agora nessa reprodução
assistida, bebê de proveta, clone, vão existir, talvez, novas estruturas de grupo. (...) o ser
humano precisa de um grupo para provar a existência dele, dar identidade àquela existência.
(...) Então, o núcleo que eu chamo de familiar é um grupo de pessoas que vai receber esse
elemento, e na hora que recebe esse elemento cada um define um papel, um que vai cuidar
dessa forma, um que vai cuidar daquela forma. (...) Talvez no futuro não seja pai, mãe e
filho, possam ser outras coisas. O ser humano precisa dessa estrutura... ela vai mudar, mas
nunca vai sair de foco” (T.6).

Na Abordagem Estrutural visualizamos a ênfase na família nuclear, caracterizando uma concepção


moderna. Minuchin corrobora a afirmação de que a família é a melhor maneira para criar indivíduos
autônomos, gerando estabilidade interior, diante da constante mutação do mundo exterior à família. Ela é,
portanto, o meio mais eficaz de manutenção da sociedade enquanto protege contra o mundo exterior.
Para Minuchin (1990b), a família nuclear pode estar correndo riscos devido à sobrecarga de suas funções.
Outro dos entrevistados apresenta como entende a família, ressaltando esse aspecto nuclear e de
proteção:

“...as pessoas estão dentro dessa cultura... que eu não sei se vai acabar... elas se agregam.É
que precisam de um pacto de solidariedade, cumplicidade, um oásis, do anonimato do mundo,
digamos, fora. Então eu acho que as pessoas vão se vinculando e escolhendo os seus
parceiros por essa jornada. Por essa caminhada ao longo da vida. Eu acho que aí é importante
ter esse núcleo para ir gerando uma outra geração e acompanhar essa outra geração...”
(T.4).

A “família ampla”, por sua vez, é uma forma bem adaptada a situações de estresse e carência, na qual as
funções são compartilhadas envolvendo membros da família extensa. Essa forma de funcionar é entendida
por Minuchin como uma resposta às situações de pobreza, podendo ou não caracterizar estruturas
familiares patogênicas com fronteiras não definidas. Minuchin é conhecido por seu trabalho com famílias
carentes, às quais se atribui uma configuração extensa em oposição ao modelo nuclear, vinculado ao
aburguesamento e à industrialização das grandes cidades. Entretanto, mesmo considerando tipos
diferenciados de família, sua intervenção sempre privilegia uma constituição familiar que defina suas
fronteiras ao constituir-se em separado. Afirma o autor:

Prefiro trabalhar com a família nuclear, algumas vezes modificando a composição do grupo
(diferentes subsistemas: casal, pai e filho, irmãos etc). (...) Em algumas famílias (porém), o

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trabalho com membros significativos da família ampla é importante (Minuchin, 1990a, p.


139).

Em outro texto, ao abordar o trabalho com famílias amplas, Minuchin relativiza a afirmação anterior,
sugerindo ao terapeuta uma maior flexibilidade para não separar completamente uma avó e seu neto,
quando a avó cumpre funções parentais. Pode-se observar a diferenciação das funções sem correr o risco
de uma separação mais prejudicial que terapêutica, e sem transformar essa família necessariamente no
reflexo do modelo nuclear: “a influência da família extensa nas funções da família nuclear nunca deverá
ser subestimada” (1990b, p. 61). A mesma ênfase quanto à delimitação das fronteiras encontra-se na
situação de famílias que se constituem por meio de um segundo casamento, um recasamento. Dessa vez,
porém, as fronteiras referem-se às relações entre pais e filhos.

Os estudos sobre famílias por recasamento mostram a importância crítica de se reforçar os


vínculos entre os parceiros recasados, e não deixar que as clamorosas necessidades dos filhos
destruam a intimidade do novo casamento. Cada novo casal precisa ter um tempo para
namorar sozinho (tempo para as crianças serem crianças e para os casais ficarem sozinhos)
(Minuchin, 1995a, p. 203).

Outro de nossos entrevistados também vê a família como uma união heterossexual visando à procriação,
mas levanta a questão trazida pelas “novas formas” que não se enquadram nessa visão.

“A família sempre se forma com a união de duas pessoas, sendo essa união oficializada ou
não. (...) Tradicionalmente essa união se deu entre diferentes sexos, mas atualmente existem
certas uniões que estão se dando até entre homossexuais que adotam filhos, e que dessa
forma estariam concebendo núcleos familiares... chamados atualmente de novas famílias”
(T.7).

Durante os anos 60 e 70, quando várias escolas já tinham se consolidado, e uma nova revolução sexual
realizava-se na sociedade, as situações de recasamento e de casais homossexuais tornaram-se visíveis, a
partir dos debates advindos do movimento feminista. Uma nova interpretação quanto à ligação entre os
membros da família e o sistema social mais amplo foi oferecida pela Terapia de Família Feminista, que
questionando a família nuclear, centrada no casal heterossexual e na criação de filhos, aponta para outras
formas: famílias monoparentais, famílias compostas por homossexuais e seus filhos etc (Perelberg, 1994;
Goodrich et al, 1990).

A maior parte das outras formas de composição familiar ou era encarada como patológica ou
era simplesmente invisível para eles (terapeutas americanos, homens brancos de classe
média) (Rampage e Avis, 1998, p. 190).

Assegurando a experiência da diversidade, as feministas ressaltam algumas características surgidas do


modelo moderno de família nuclear, como a liberdade de escolha e a intimidade. O estabelecimento de um
modelo fixo deve ser superado, democratizando ainda mais as relações familiares. Os pais devem ter
autoridade sobre seus filhos, e ao mesmo tempo respeitar a igualdade entre os sexos. As relações
familiares devem ser fundamentadas tanto na igualdade quanto no respeito às diferenças. Orientando o
trabalho terapêutico e caracterizando ainda a idéia de um modelo a seguir, as feministas mantêm uma
definição do que seria uma família saudável.

A partir de uma perspectiva feminista, a família saudável é aquela em que seus membros se
encontram comprometidos com o estímulo do potencial de todos, com a evitação de todo tipo
de exploração interpessoal, e com o recíproco oferecimento de apoio, cuidados, assistência e
afeição (Rampage e Avis, 1998, p. 203).

O exemplo seguinte indica como variadas posições podem estar presentes em um mesmo terapeuta,
demonstrando a dificuldade, própria do relativismo pós-moderno, de se buscar uma definição exclusiva de
família. Despontam, por conseqüência, posições paradoxais: ao lado de variadas possibilidades de formas
relacionais permanece uma configuração de família definida pelo surgimento de um filho.

“Família é o sistema que está na minha frente(...). É o sistema de relações que está
acontecendo diante do terapeuta (...), mas acho que existem outras maneiras de ver,
diferentes formas de relação ocorrem (...) família só existe quando tem filho. (...) Não
necessariamente são os genitores que estão com a criança, podem ser pais adotivos, podem
ser outras formas, recasamento... há uma enormidade de relações familiares” (T.1).

Maurizio Andolfi é conhecido por juntar diferentes referências: a Teoria Estrutural, com sua ênfase no
presente, e a Teoria dos Sistemas Familiares de Bowen, voltada para o passado e para a família de
origem, definindo a família como um campo emocional que abarca três gerações (Andolfi, 1980; 1989a;

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1989b; 1996; 1998). Essa conjugação pode ser observada no relato que se segue, e em uma citação de
Andolfi. A família, mesmo quando desconhecida, é um fator determinante, tanto no nível biológico quanto
no simbólico, para a formação do indivíduo, gerando questões a respeito da pertinência ao grupo e da
autonomia individual. Esta é uma visão diferenciada da família nuclear moderna, propondo uma saída e
acentuando a importância da família de origem, porquanto sua influência se faz sentir até na ausência.
Não se diluindo completamente, as relações nucleares são permeadas pelas histórias de gerações
anteriores.

“É... o indivíduo entra para uma família quando nasce e só sai dela quando morre. (...) Então,
você faz o genograma da família, você vai encontrar traços de sua família de origem com
certeza, mesmo que essa família renegue. (...) Mesmo com famílias adotivas é... onde eu
também... quando eu faço o genograma, eu incluo o adotado, a família adotiva e a família
biológica. (...) Mesmo o adotado que teve um contato com a família biológica de repente por
dez minutos, aquela família tem uma influência ali. A família biológica tem uma influência na
vida dessa criança adotada. Não estou dizendo que uma influência negativa nem de problema
não. Mas uma influência que você faz um estudo, você encontra traços” (T.3).

Quando falamos de família não podemos nos limitar a pensarmos em termos de genitores e
filhos, devemos sempre ter uma visão mais ampla que leve em consideração as gerações
anteriores e as regras sociais próprias de cada época. De fato, a história das gerações que
precederam o indivíduo é cheia de significados, mesmo quando não se atinge diretamente: é
possível obter informações a partir das narrações dos próprios genitores, de seus hábitos de
vida e de objetos que clarificam suas relações passadas; além disso, reexaminar a imagem de
uma figura parental, mesmo que física ou emotivamente distante do núcleo familiar e torná-la
viva dentro da dinâmica familiar, pode permitir uma releitura dos eventos (Andolfi, 1996, p.
56).

Para outro entrevistado a família é igualmente vista como formada por um padrão, tanto biológico quanto
simbólico, construído em gerações anteriores. Acrescenta, porém, que esse modelo vem sendo
questionado pelas novas tecnologias reprodutivas, ao permitir a geração de seres com histórias não
convencionais, e que dificilmente poderão ser compreendidos por meio de visões anteriores.

“... eu acho que nós somos herdeiros da história dos nossos antepassados. É... então a gente
carrega essa bagagem. Acho que a família se forma a partir das histórias que as famílias vão
contando não importa por onde. Seja pelo silêncio, seja pelas narrativas. Porque nem todas as
famílias contam. Aliás, a maioria das famílias não conta. Mas isso vem. Vem pelo corpo, vem
pelo inconsciente... não importa qual inconsciente a gente nomeie. Mas eu acho que
teoricamente eu diria que as famílias... as famílias são montadas a partir de um padrão
geracional, da herança. (...) de repente dá um clic e de onde eu vim, de onde eu nasci. Eu
acho que agora a gente já está num momento importante de bebê de proveta, de bebê de
barriga de aluguel, onde a família está questionada em termos dessas premissas que eu estou
trazendo” (T.5).

Na terapia de família hoje existe um movimento acompanhando a propagação do pós-modernismo e do


pós-estruturalismo, que nega qualquer noção de estrutura interna à família (Lax, 1998). Dessa forma,
alguns terapeutas de família formados na Teoria dos Sistemas, como Harlene Anderson, Harry Goolishian
e Lynn Hoffman, passam a ter como referência a Hermenêutica, e a entender a terapia como uma
conversação, um diálogo intersubjetivo (Anderson e Goolishian, 1988; 1998). Originados de diferentes
movimentos, o Construtivismo (vinculado à Biologia) e o Construcionismo Social (oriundo da Psicologia
Social) caracterizam uma mudança que necessita ser mais pesquisada entre nós devido à sua
diferenciação de autores tradicionais como Minuchin e Andolfi.

Salvador Minuchin (1998), ao observar outros terapeutas de família, construtivistas e/ou construcionistas
sociais em ação, pergunta-se onde estão as famílias nessas intervenções terapêuticas. No início, a
importância de uma teoria sobre família era acompanhada de uma proposta de intervenção. A Escola
Estrutural, com sua técnica de delimitar fronteiras, vincula-se a um modelo de família constituído por um
casal e seus filhos, conforme o modelo nuclear. Caso não haja uma delimitação nítida entre as fronteiras,
o terapeuta tem a tarefa de ajudar a família a separar seus subsistemas, para que cada indivíduo cumpra
seu papel, de acordo com seu pertencimento ao grupo familiar.

Hoje pouco se escreve sobre uma noção de família ou sobre uma proposta que se pretenda minimamente
generalista; escreve-se muito sobre as variedades das formas encontradas, caracterizando um relativismo
exacerbado (Minuchin, 1991). Pouco se relaciona à construção da técnica uma idéia generalista de família;
muito se propala a respeito de técnicas específicas, aplicadas às situações familiares específicas, de
acordo com situações e tipos de problemas (Nichols e Scwartz, 1998). A crítica de Minuchin (1991) dirige-
se ao abandono da sistematização de teorias, já que “constatou-se” não haver realidade “em si”. Ao se
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abrir mão da idéia de verdade, não há mais necessidade de produzir sistemas teóricos explicativos.
Restam a experiência, a linguagem e a conversação entre o terapeuta e seus “clientes”. Sucede-se, desse
modo, a transformação do saber especializado em experiência a ser compartilhada, tendo implicações
quanto à construção do conhecimento e à prática clínica. A ênfase anteriormente estava no poder do
terapeuta para gerar a mudança. Este poder sendo questionado é posto de lado, enquanto o poder da
família ou do cliente para dirigir as mudanças que deseja passa a ser enfatizado.

Salvador Minuchin costuma fazer constantes relações entre a autoridade dos pais e a tarefa do terapeuta.
Com o desvanecimento do modelo de autoridade tradicional, o patriarcal, ele é substituído por um modelo
flexível e racional. Aumentam as dificuldades parentais no enfrentamento da “complexidade da educação
infantil”. O reconhecimento dessa mudança ajuda a julgar imparcialmente os pais na execução de sua
tarefa de ao mesmo tempo “proteger e guiar”, enquanto “controlam e reprimem”. Os filhos, por sua vez,
devem crescer e tornar-se indivíduos autônomos, rejeitando e atacando os pais. O processo de
socialização, portanto, torna-se conflitante. O terapeuta deve buscar apoiar todos os membros da família
(1995b). Nesta perspectiva, ele é o responsável pelo sistema terapêutico; assume a liderança e é “fonte
de apoio e cuidados” (1990a). A família convida o terapeuta (especialista)a ajudá-la a mudar. É possível
que haja divergências entre terapeuta e família quanto aos objetivos da terapia, mas o terapeuta, ao
atender um pedido de ajuda – “mude-nos sem nos mudar” –, ampliará as alternativas do sistema
desafiando as regras estabelecidas. Desafia, assim, a família em seu modo de experimentar a realidade.

O autor enfatiza a família como a “matriz da cura e do crescimento de seus membros”. Se, no entanto, o
terapeuta observar que a autonomia dos filhos está sendo tolhida, deverá ajudar a família a ter uma
compreensão sobre as diferenças individuais, reconhecendo diversos estágios de desenvolvimento
(1990a). Concluindo que o terapeuta de família é “um agente de mudança limitado”, Minuchin reconhece
os perigos das imposições dos modelos do terapeuta. Faz parte de seu trabalho de especialista reconhecer
suas imposições e limitações. Seu saber deve conformar-se aos “dramas familiares”, não buscando sua
própria confirmação, e sim a autonomia do sistema familiar.

No primeiro relato, a seguir, o terapeuta intervém a partir de um modelo de família. Para que a terapia
seja efetiva é preciso que a família se adapte a um modelo. No segundo, o terapeuta cumpre sua função
dando lugar à família, tornando a terapia um espaço privado, de proteção e elaboração de conflitos. Em
ambos encontramos a perspectiva da presença ativa do especialista, característica de uma imagem que os
terapeutas de família têm sobre si, principalmente em seu início histórico, que corrobora a visão moderna
da intervenção.

“Eu não posso mexer com uma terapia familiar... sem ajudá-los a criar situações, a fazer
modificações às vezes práticas, reais, dentro das casas, para poder ter essa estruturação de
família” (T.2).

“As famílias estão precisando de espaços onde elas estejam confortáveis, e a Terapia de
Família é um desses espaços. A família perdeu um pouco de espaço na sociedade” (T.1).

As primeiras escolas marcam sua diferença a partir de uma intervenção ativa do terapeuta de família,
criticando a suposta passividade do psicanalista. No exemplo seguinte encontramos as duas posições no
mesmo entrevistado. A expressão do cliente e a ação do terapeuta ganham prioridades diferentes,
dependendo da intervenção a ser realizada. Na primeira posição, a passividade é por vezes confundida
com a idéia de neutralidade; supõe, de qualquer forma, um afastamento do terapeuta. Já na segunda, a
atividade do terapeuta corresponde a sua presença, e em poder para levar a família à mudança desejada.

“Eu faço o seguinte, na psicanálise a situação é a pessoa que percebe os seus sentimentos,
pensa e modifica. Na minha terapia familiar é exatamente o contrário. Eu introduzo uma
modificação. Depois é que vai gerar um pensamento sobre essa modificação (na família)”
(T.2).

A união da pessoa com o especialista é mais um dos temas recorrentes no campo da terapia de família.
Podemos encontrá-la em Minuchin (1990b; 1995a), Andolfi (1996), Elkaïm (1990; 1998), entre outros.
Cada encontro terapêutico cria momentos de participação con-junta. Nossos entrevistados contam essa
história, levando-nos da noção de especialista à idéia de uma pessoa real consolidada com os anos de
experiência. O terapeuta, com seus recursos pessoais, para além de suas técnicas, ajuda a família a
encontrar seus próprios recursos rumo à autonomia na resolução de seus problemas.

“... eu diria que tem muito pouca diferença hoje em dia do que eu sou fora daqui, do que eu
sou aqui dentro. Eu acho que, quando eu comecei, eu era talvez uma terapeuta mais
engomadinha. Hoje em dia eu acho que estou muito confortável nesse lugar. Isso é uma
conquista com a idade” (T.4).

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“Os recursos que eu posso usar, os meus, como pessoa, para ajudar aquela família. E de que
maneiras eu posso, principalmente, ajudar uma família a descobrir os recursos que ela tem,
não os meus técnicos. Os meus técnicos são muito limitados. Terapeuta de família que usa
sua técnica, ele tem... os seus instrumentos muito limitados. Ele tem que ajudar a família a
desenvolver a sua técnica ou os seus recursos pra seguir... porque você não pode fazer
milagre. Numa hora de sessão não consegue transformar as pessoas” (T.3).

A trajetória da noção de especialista é exemplificada na formação de um dos entrevistados: de


interventor, especialista que traz a melhor saída para o problema com seu saber teórico-técnico,
transforma-se naquele que busca com a família uma “narrativa mais útil”. O ápice da relativização do
especialista é exemplificado com um segundo relato, em que a terapia é vista como uma “conversa”. De
um observador objetivo passa-se a um participante de uma conversação que constrói novas histórias.

“Depois da psicanálise, a descoberta da terapia sistêmica, depois a leitura contextual, aí ficar


namorando um pouco aquele fascínio daquela coisa estratégica que tinha um observador tão
objetivo. (...) Hoje em dia eu sou muito mais cada um tem sua narrativa, constrói... Então o
que vai ajudar o paciente é entrar na narrativa que não é útil pra ele e começar talvez a
mexer com ela, e poder criar outra que seja mais útil pra necessidade dele naquele momento”
(T.4).

“Mas, quando você consegue transformar a situação grave numa conversa chata, a terapia de
família está acontecendo. Mais pra linha do construtivismo mesmo” (T.5).

Esses dois últimos relatos permitem-nos finalizar, referindo nova-mente ao movimento mais atual da
terapia de família. Se antes era possível pensar em uma imagem do terapeuta como conhecedor e
especialista, agora a viabilidade do conhecimento – e, portanto, a possibilidade de vinculálo à oferta
terapêutica – encontram-se questionados. A experiência de Lynn Hoffman ajuda-nos a compreender o que
vem ocorrendo no campo.

(...) a evolução de minha posição superou minha capacidade de traduzi-la para a prática. Eu
continuava a “pensar Zen”, mas nem sempre sabia como “agir Zen”. Foi então que um colega
da Noruega, Tom Andersen, surgiu com uma idéia fascinante, embora simples: a Equipe
Reflexiva (Andersen, 1987). O recurso de pedir que a família assista à discussão da equipe
sobre ela e que depois comente o que ouviu mudou tudo subitamente. O profissional não era
mais uma espécie protegida, observando famílias patológicas por trás de uma tela ou falando
sobre elas na privacidade de um escritório. A premissa da Ciência Social normal de que o
especialista tinha uma posição superior a partir da qual poderia ser feita uma avaliação
correta desmoronou. Para mim, pelo menos, o mundo da terapia foi alterado da noite para o
dia (Hoffman, 1998a, p. 24).

Ao enfatizar o papel da linguagem, da conversação, da história e do self, o terapeuta ocupa uma posição
de “não-saber”. O trabalho clínico deixa de estar baseado em narrativas teóricas preexistentes (Anderson
e Goolishian, 1998). Anteriormente, as perguntas do terapeuta refletiam uma compreensão teórica do ser
humano. Perguntando, o terapeuta ia gerando maior entendimento sobre a situação. Nessa nova postura,
também conhecida como “postura narrativa”, as perguntas são geradas pelo “não-saber”, e o terapeuta
deixa-se conduzir pelo conhecimento e experiência de seus clientes (Anderson e Goolishian, 1993). O
sentido é gerado localmente e fundamenta-se no diálogo. O “poder” do terapeuta advém de sua
responsabilidade nos limites do domínio relacional/social, construído em cada sistema terapêutico
(Fruggeri, 1998; Gergen e Warhus, 1999). A posição do especialista vê-se assim transformada tanto
quanto as relações familiares, não exigindo mais uma teoria específica para uma intervenção terapêutica
específica.

Diversidade: algumas reflexões finais


No quadro atual, a terapia de família refuta a busca de uma estrutura universal, cedendo espaço à
pluralidade de idéias. Desde o feminismo e o advento da pós-modernidade mudanças vêm ocorrendo,
principalmente na crença quanto a encontrar uma causa para o sofrimento psíquico no interior das
relações familiares. Hoffman (1998b) descreve seu próprio movimento inicial como a procura de uma
chave adequada que a levava de um modelo a outro. No entanto, um ponto de referência estabelecido
para a avaliação da família e intervenção terapêutica foi se tornando cada vez mais incerto. Ela afirma ter
adquirido um estilo de “livre-flutuação”, e pergunta-se: poderá isto se chamar terapia?

Para Anderson e Goolishian (1998), o termo tratamento, que de-nota uma intervenção para a cura, não
identifica mais sua prática terapêutica. A terapia é redefinida como a criação de um espaço de mútua

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conversação, que pode gerar novas realidades entre parceiros de um processo terapêutico. Baseada na
prática desses autores, Lynn Hoffman (1998b) começa a refletir sobre a possibilidade de deixar de lado a
própria noção de um modelo, preferindo olhar para fora de um enquadramento. Desse modo, a autora
declara descobrir uma “tapeçaria luminosa” de práticas que se estendem para todos os lados. Já não há
mais a necessidade da fixação de um modelo ou de uma resposta definitiva. Estabelece-se a diversidade
como um valor fundamental.

A sociedade tradicional caracterizava-se pela ausência da necessidade de um especialista e pela presença


inquestionável de uma ordem estabelecida. O poder de organização e controle era dado à comunidade e
seus representantes. A sociedade moderna constrói-se com a intensa colaboração de diversos
especialistas, que detendo o poder passam a ditar as regras do comportamento, levando a ordem a
vigorar no plural. Os especialistas promovem novas ordens, livrando os indivíduos e as famílias do ditame
da comunidade de pertença.

Atualmente, ao lado da flutuação das identidades pessoais (Gergen, 1992; Morin, 1996), ocorrem
simultaneamente a flutuação das identidades familiares (Roudinesco, 2003) e a dos terapeutas de família.
Trata-se, porém, de um processo que caracteriza a terapia de família desde seu início. Ackerman já
assinalava para a diversidade quando, em 1971, afirmou que há tantas terapias de família quanto
terapeutas: cada terapeuta contribui com sua trajetória e característica pessoal. A “tapeçaria da
diversidade” vem sendo tecida desde o início da terapia de família, embora nem sempre seja assumida
e/ou discutida na proporção devida. Por isso, gostaríamos de levantar ao menos duas questões para
futuros debates. Como formar terapeutas de família, ressaltando suas características pessoais ao lado da
ausência de um modelo unitário? Como lidar com a diversidade, diminuindo o risco de instaurar uma
desordem mais prejudicial que benéfica? Pensamos que este debate pode ser iniciado com uma discussão
sistemática a respeito de uma proposta de articulação entre diferentes teorias e práticas (Féres-Carneiro,
1994; 1996; Goutal, 1985; Lebow, 1997). E justamente porque as teorias são construções, devemos
esperar que daí floresça a diversidade, e não a uniformidade. Conforme nos indica Falicov (1998): é
possível apreciar similaridades enquanto honramos a diversidade; é possível aproximar os diferentes
modelos em uma fértil região fronteiriça. Neste sentido, ressaltamos a necessidade de considerar as
transformações da família, relacionando-as às transformações das identidades pessoais, que modificam as
formas de intervenção terapêutica.

De acordo com o movimento pós-moderno, defende-se uma solidariedade a ser construída. O poder é
repartido, levando todos, terapeutas e seus clientes, a navegarem no mesmo barco do fazer terapêutico,
em busca de alcançar realidades alternativas (Anderson e Goolishian, 1988; 1998; Gergen, 1999;
Mcnamee e Gergen, 1998). As perguntas, que antes se referenciavam a um saber específico, são vistas
agora como desencadeadoras de novas narrativas. Mudou-se a perspectiva da intervenção terapêutica,
mas a “intervenção” permanece como uma forma de desencadear transformações na vida daqueles que
nos pedem ajuda. Portanto, considerando a diversidade e reconhecendo as particularidades de cada
terapeuta, não podemos abandonar uma discussão que nos ajude a compreender a construção histórica
da terapia de família, de suas teorias e de suas práticas (Ponciano e Féres-Carneiro, 2001). Um bom
caminho para isso é olharmos para a nossa própria história, refletindo sobre ela e identificando
continuidades/descontinuidades de nossas trajetórias, comparando-as com os autores que nos
influenciam.

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Endereço para correspondência


Edna Lúcia Tinoco Ponciano
Praia do Flamengo, 16 / 301 – Flamengo
22220-030 Rio de Janeiro – RJ
Tel.: +55-21 2265-5021
E-mail: ponciano@uol.com.br

Recebido em 27/06/03
Aprovado em 03/11/03

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