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Livro Cadeias Musculares Do Tronco PDF Ed Sarvier

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1

Cadeias Musculares do
Tronco
A Evolução Biomecânica das
Principais Cadeias

Janaína Cintas
Escritora e fisioterapeuta graduada pela Universidade da Cidade de São Paulo, foi monitora no terceiro
e quarto ano da professora e doutora da Universidade de São Paulo, Elisabete Alves Gonçalves
Ferreira. Posteriormente se aperfeiçoou em Gerontologia na Pós-graduação da Universidade Federal
do Estado de São Paulo, e subsequente se especializou em Cadeias Fisiológicas do Método Busquet,
Reeducação postural Global (RPG) de Philippe Souchard e Pilates. Trabalhou como fisioterapeuta no
Hospital Albert Einstein e na Clínica de reabilitação do aparelho locomotor do Dr. Joao Luiz Nobrega
(Reumatologista).foi sócia fundadora da clínica JC Pilates por Atualmente ministra cursos e palestras
sobre a Fisioterapia, faz parte do grupo Voll Pilates e tem interesse de Pesquisa nos temas Saúde,
Postura e Ensino.
2

Cadeias Musculares do Tronco – A Evolução Biomecânica das Principais Cadeias


Janaína Cintas

SARVIER, 1 ª edição, novembro de 2015

Criação da Capa
Beatriz Lobo

Ilustrações
Priscila Castro

Apresentação
Profa. Dra. Elisabeth Alves Ferreira

Colaboração Técnica e Teórica


Ariana de Mello Duo

Colaboração Revisão de Texto


Roberta Castro

Referência de Imagens
Kapandji, I.A. Fisiologia Articular: esquemas comentados de mecânica humana. V – 3. 6. ed.
São Paulo: Guanabara Koogan, 2009.
Kapandji, I.A. Fisiologia Articular: esquemas comentados de mecânica humana. V – 3. 6. ed.
São Paulo: Guanabara Koogan, 2009.
Busquet, Léopold. As Cadeias Musculares – Tronco, coluna cervical e membros superiores. V –
1. Belo Horizonte, 2001.
Souchard, P E. O Diafragma. São Paulo: Summus, 1989.
Blandaime, Calais-Germain. Anatomia para o movimento. V – 2. Barueri, SP: Manole, 2010.
Blandaime, Calais-Germain. Anatomia para o movimento. V – 1. Barueri, SP: Manole, 2010.
Busquet, Léopold. As Cadeias Musculares – Membros Inferiores. V – 4. Belo Horizonte, 2001.
Godelieve, Denys-Struyf. Cadeias Musculares e articulares: o método G.D.S. São Paulo:
Summus, 1995
Beziers, Marie – Madeleine. A coordenação motora: aspecto mecânico da organização
psicomotora do homem. 3 ed. São Paulo: Summus, 1992.
UFPR-CESEC. Materiais Elastoplásticos. Estudo de Caso análise elastoplástica de uma viga
contínua.
Pilates, Joseph H., Sua saúde e Retorno a Vida Através da Contrologia. 1945.
3

Referência Bibliográfica
Kapandji, I.A. Fisiologia Articular: esquemas comentados de mecânica humana. V – 3. 6. ed.
São Paulo: Guanabara Koogan, 2009.
Blandaime, Calais-Germain. Anatomia para o movimento: introdução à análise das técnicas
corporais. 4 ed. Barueri, SP: Manole, 2010.
Busquet, Léopold. As Cadeias Musculares – Membros Inferiores. V – 4. Belo Horizonte, 2001.
Busquet, Léopold. As Cadeias Musculares – Tronco, coluna cervical e membros superiores. V –
1. Belo Horizonte, 2001.
Busquet, Léopold. As Cadeias Musculares – Lordoses, cifoses, escolioses e deformações
torácicas. Belo Horizonte, 2001.
Bertherat, Thérèse. O corpo tem suas razões: antiginástica e consciência de si. 21. ed. São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2010.
Busquet – Vanderheyden, Michèle. As cadeias fisiológicas: a cadeia visceral: abdômen/ pelve:
descrição e tratamento. V – 1. ed 2. Barueri, SP: Manole, 2009.
Busquet – Vanderheyden, Michèle. As cadeias fisiológicas: a cadeia visceral: tórax, garganta,
boca. V – VII. Barueri, SP: Manole, 2009.
Beziers, Marie – Madeleine. A coordenação motora: aspecto mecânico da organização
psicomotora do homem. 3 ed. São Paulo: Summus, 1992.
Binfait, Marcel. Os desequilíbrios estáticos fisiologia, patologia e tratamento fisioterápico. São
Paulo: Summus, 1995.
Godelieve, Denys-Struyf. Cadeias Musculares e articulares: o método G.D.S. São Paulo:
Summus, 1995.
Souchard, P E. O Diafragma. São Paulo: Summus, 1989.
Princípios da Fisiologia do Exercício no Treino dos Músculos do Pavimento Pélvico. Acta
Urológica 2009, 26; 3; 31 – 38. Margarida Ferreira ¹ Paula Santos ²
Lederman, Eyal. O mito da estabilização do tronco. 2010
4

Agradecimentos

A Deus, por todas as oportunidades que me tem concedido, ao Alexandre


Meirelles, Agostinho Meirelles, Luciana Rosa, Beth Nsdsil, Richardson
Guerreiro, aos meus queridos Johnny Altstadt e Ju Altstadt, o meu muito
obrigada por todo acolhimento e amor.

Não temos controle sobre alguns fatos, mas temos dos nossos sonhos, e nesse
momento, gostaria que estivesse aqui meu pai, que junto a minha mãe e meu
irmão, transmitiram todas as questões éticas e morais que me conduzem até
hoje.

A família Cunha Castro por todo carinho e respeito transmitidos.

E em especial ao meu amor, companheirismo e fidelidade eternas, obrigada pelo


encorajamento, sem você não seria possível.

Aos meus pacientes que tanto me ensinaram através de seus corpos e palavras
acolhedoras de gratidão.

Ao Tarcísio por incentivar meus primeiros passos.

A Ariana por toda ajuda e confiança como minha fiel escudeira.

A Larissa, Marjorie, Otto e Melissa, razões maiores da minha existência.


5

Apresentação
Dizem que para seguir em frente é essencial ser grato e fiel ao passado. A ordem dos fatos
e seu contexto é essencial para a compreensão de qualquer tema ou situação. Sendo assim,
devo contar que conheço a Janaína desde a sua graduação em fisioterapia, quando foi
minha aluna. Agitada, inquieta e muito inteligente fazia jus ao provérbio popular que “a
curiosidade é a mãe da sabedoria”. Depois de muitos anos, 20 para ser mais exata, fui
surpreendida com o seu convite para escrever o prefácio desse livro. Talvez seja
desnecessário descrever como fiquei feliz com o convite. Obrigada, Janaína!

O conceito de cadeias musculares faz parte da história da fisioterapia há muito tempo,


mas data de uma época em que a pesquisa científica e o registro escrito eram mais
restritos. Cada método tem suas características, mas é difícil contextualizar todos. Nesse
livro a autora Janaína traça um percurso interessante porque inicialmente propõe ao leitor
uma revisão de conceitos básicos de anatomia e biomecânica e depois apresenta em ordem
cronológica diferentes autores que se dedicaram ao tema de cadeias musculares, cada um
com seu enfoque. É possível visualizar a evolução dos conceitos.

Estabelecer a ponte entre a prática clínica e a pesquisa científica é essencial para o


progresso da fisioterapia. Em relação às técnicas que já existem e se mantêm no mercado
como condutas eficientes há muitos anos, é necessário se aproximar, ler, ouvir, conhecer
essas técnicas utilizadas na clínica. Não é comum encontrar no mesmo livro um pouco do
conhecimento deixado por Andrew Still, Mézières, Thérèse Bertherat, Godelieve Denys-
Struyf, Marie Madeleine Bézieres, Léopold Busquet, Marcel Bienfait, Phillipe Souchard
e Joseph Pilates, autores que de maneira empírica desbravaram caminhos para
interpretação e compreensão da biomecânica humana e do tratamento das disfunções
musculoesqueléticas. Tive o prazer de conviver um pouco com a Madame Godelieve e
me encantar com os efeitos de sua abordagem!

O objetivo do livro não é mergulhar profundamente nos métodos ou no conceito de


cadeias musculares e sim propor um passeio de trem, com janelas abertas, pelos trilhos
da fisioterapia. O trajeto é florido e cheio de árvores...

Boa Leitura, ou talvez, Boa Viagem!

Profa. Dra. Elizabeth Alves Ferreira


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Conteúdo

1 Introdução .................................................................................................................... 7
2 Anatomia e Biomecânica ............................................................................................. 8
3 Coluna Vertebral ........................................................................................................ 10
4 Sinergia Abdomino-Pélvica ..................................................................................... 277
5 Princípio de Pascal ou Lei de Pascal .......................................................................... 38
6 O Diafragma ............................................................................................................ 400
7 A realidade brasileira perante a fisioterapia ............................................................... 57
8 A fáscia muscular....................................................................................................... 61
9 As Cadeias - O que são as Cadeias Musculares? ........................................................ 63
10 Osteopatia ................................................................................................................ 64
Princípios da Osteopatia. ............................................................................................ 665
11 Madame Mézières (1947 - 1991) ............................................................................. 68
12 Marcel Bienfait ...................................................................................................... 722
13 Madame Thérèse Bertherat ...................................................................................... 75
14 Madame Godelieve Denys-Struyf G.D.S. (1960/1970) ............................................ 77
15 Suzanne Piret e Marie-Madeleine Bézieres .............................................................. 87
16 Phillipe Souchard ..................................................................................................... 94
17 Léopold Busquet ................................................................................................. 1023
18 O futuro das cadeias Musculares ........................................................................... 116
19 Josph Pilates - by Vanessa Romo.............................................................................117
Conclusão
7

1
Introdução

O intuito deste livro é abordar o corpo como um todo. Muito se fala em


totalidade, porém para alcançá-la, inevitavelmente, temos que transitar primeiro
por alguns conceitos físicos, biomecânicos, anatômicos e fisiológicos para que
o objetivo final seja compreender muito claramente como manter e ou devolver
a funcionalidade do movimento.

Como podemos reabilitar um corpo doente se não sabemos o funcionamento


desse corpo são? Esse funcionamento para nós fisioterapeutas se traduz em uma
única palavra, biomecânica. Ela nos orientará e nos dará condições de
fecharmos um diagnóstico fisioterápico, coisa que até hoje o fisioterapeuta não
o faz.

Neste livro fazermos uma viagem histórica sobre os principais autores e


métodos, tentando entender qual foi o caminho percorrido por esses autores e
suas contribuições para as cadeias musculares existentes hoje em dia, além de
seus prós e contras. Buscando resgatar a fisioterapia para colocá-la num
patamar de respeito maior, a busca pelo conhecimento é sempre a chave para o
sucesso de nossa profissão.

Abordamos ainda, a polêmica questão que a popularização do Pilates e da RPG,


suas distorções, por consequência da miscelânea que existe hoje no Brasil, e o
quanto de maléficos podem ser ocasionados pelo mau Pilates e pelo mau RPG,
pela má aplicação de qualquer que seja a técnica eleita para nossos pacientes.
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Anatomia e Biomecânica

O primeiro passo a ser dado pelo fisioterapeuta é compreender e dominar


plenamente as disciplinas de Anatomia e Biomecânica.

O estudo dos dados anatômicos e biomecânicos são essenciais para que os


profissionais possam traçar suas condutas de atendimento com o objetivo de
evoluir o quadro de seu paciente e contribuir de forma significativa e qualitativa
para a melhor compreensão das sequências motoras envolvidas.

Necessitamos ver o paciente através de seu corpo fisiológico ou adoecido,


descobrindo o que ele acoberta e quais compensações esconde, e isso só será
possível através de muita dedicação e de estudos.

A anatomia humana é a parte da biologia voltada para o estudo da forma e


estrutura do organismo humano, tornando-se a disciplina base para os cursos da
área da saúde, contendo muitas vezes sua história confundida com o próprio
surgimento da medicina.

A Biomecânica é um estudo de forças que atuam pelo corpo humano, e ela pode
ser considerada como uma parte inerente à fisioterapia, pois todo movimento é
um efeito mecânico (físico) e sempre que uma força diretamente ou
indiretamente atua sobre o corpo humano, esses princípios físicos estarão
envolvidos. Logo, este estudo é fundamental para a compreensão de situações
estáticas e dinâmicas do movimento corporal, seja ele patológico ou são.

Por razões didáticas, primeiro discutiremos a anatomia e biomecânica do


tronco, visto que muitos profissionais preferem estudar protocolos de
atendimentos prontos, e aqui quero convencê-los a serem críticos, a terem boas
bases de discussão e análise diante de um caso. Para tanto não é possível
negligenciarmos a anatomia e a biomecânica. Costumo dizer que a fisioterapia
é feita de detalhes, e a resposta para o caso do seu paciente com certeza estará
no anatômico e/ou biomecânico.
9

É necessário que se compreenda todas soluções engenhosas adotadas pela


biomecânica para que o nosso corpo obedeça a três leis responsáveis pelos
esquemas de comprometimentos funcionais de um organismo:

Lei do Equilíbrio: Em nossa fisiologia, o equilíbrio corporal, em toda sua


dimensão corporal (parietal, visceral, hemodinâmica e neurológico) é sempre
prioridade e as soluções encontradas são sempre econômicas.

Lei do Conforto: O funcionamento de um corpo são, fisiológico é sempre


confortável, já o comportamento de um corpo não fisiológico, estará sempre em
busca da conservação do equilíbrio, tendo como prioridade a ausência de dor.

Lei da Economia: Esse corpo fará tudo para não sofrer, mesmo que esse
esquema adaptativo comprometa a nossa mobilidade, levando a um desgaste
excessivo de energia, e deformações corporais posteriormente.

Entendendo essas três leis, fica lógico os esquemas de comprometimentos


funcionais de um organismo, e principalmente nos atentarmos para a
retroalimentação dessas três leis.
10

Coluna Vertebral

A coluna vertebral é formada por trinta e três vértebras que se articulam entre
si, sendo sete cervicais, doze torácicas, cinco lombares, cinco sacrais fundidas
e três a quatro coccígeas. A coluna vertebral também se articula com a base do
crânio, das costelas e dos ilíacos. As costelas, por sua vez se articulam com a
escápula posteriormente e com o esterno/ clavícula anteriormente. Já a coluna
lombar se articula com a pelve inferiormente.

Figura 1 – Coluna Vertebral

A estabilidade das vértebras é dada pelos músculos, ao contrário do que


pensávamos que eram os ligamentos responsáveis pelas estabilidades das
vértebras, eles somente direcionam os movimentos produzidos e protegem as
11

vértebras de movimentos bruscos ou de forças excessivas aplicadas a coluna.


Os músculos, sobretudo com suas fáscias, extremamente potentes, são os
grandes responsáveis pela proteção do eixo raquidiano. As vértebras, estruturas
fixas, são justapostas e suas ligações se dão pelas articulações interapofisárias,
que servem como guias para os movimentos, e entre as vértebras existe o disco
intervertebral e juntos (articulações e discos) são as estruturas responsáveis pela
mobilidade da coluna. São eles, em conjunto, os grandes responsáveis pela
mobilidade articular, e principalmente pelas distribuições de forças realizadas
na coluna vertebral durante os movimentos, logo entendemos o porquê essas
estruturas são tão agredidas em nossas colunas. Mais adiante detalharemos
melhor o disco intervertebral.

Existe uma vértebra padrão, mas elas sofrem pequenas modificações de acordo
com o nível da coluna em que se encontram e as especificidades de todos os
segmentos da coluna vertebral, que são diferentes.

A coluna é o eixo corporal e constitui um complexo importante de ligação entre


as duas cinturas: a escapular e a pélvica, durante sua função estática a coluna é
simétrica e perpendicular às duas cinturas.

Enquanto na estática, o qual se tem forças sem movimento, uma coluna


saudável terá seus ligamentos e tensores musculares equilibrados, relaxados, só
funcionando para manter o equilíbrio estático, diante do movimento oscilatório
do tronco quando estamos em pé. Como exemplo, contraindo-se, e logo em
seguida relaxando, imediatamente o equilíbrio será reestabelecido. Se os
músculos não puderem relaxar após a contração exercida para o reequilíbrio,
ele adoecerá.

Já exercendo sua função cinética, qualquer movimento ocorrido entre as duas


cinturas gerará uma regulação automática de tônus dos músculos
estabilizadores do tronco e um complexo sistema de compensação postural,
gerando deslocamentos gravitacionais importantes, surgindo assim qualquer
encurtamento, fraqueza muscular ou alterações posturais significativas.

A coluna vertebral sofre constantemente um dilema contraditório que é o de ser


rígida o suficiente para ter um eficiente suporte da compressão axial (exercida
pela força gravitacional), sem perder a mobilidade para que os movimentos
sejam produzidos de forma organizada. Para que isso ocorra a coluna tem que
manter equilibrada suas três funções: a estática, (exercida pelos corpos e discos
vertebrais, principalmente pelas fáscias) musculares, a cinética (feita pelos
músculos) e a de proteção (efetuada pelo canal vertebral.)
12

A manutenção equilibrada da postura estática e um controle dinâmico


adequado, são condições fundamentais para nosso corpo responder de maneira
eficiente às demandas impostas. Conceitualmente, estabilidade pode ser
definida como a habilidade da articulação retornar ao eu estado original, após
sofrer uma perturbação.

Vindo de encontro com as ideias abordadas neste livro, um estudo a respeito da


estabilidade articular da coluna vertebral, diz que o sistema de estabilização da
coluna incorpora três subsistemas: passivo, ativo e neural. O subsistema
passivo, composto pelas estruturas ósseas, articulares e ligamentares, contribui
para o controle próximo ao final da amplitude articular, onde desenvolve forças
reativas que resistem ao movimento. Entretanto, em torno da posição neutra da
articulação, ele não oferece nenhum suporte estabilizador significativo. O
subsistema ativo contempla as estruturas musculares quando desempenhando
suas funções contráteis. Este, diferentemente do primeiro, atua na obtenção
mecânica da estabilidade mesmo a partir da posição neutra, pois é capaz de
modular sua resistência ao longo de toda amplitude de movimento. O terceiro
subsistema, o neural, é aquele que monitora e regula de forma contínua as forças
ao redor da articulação.

Devido ao comportamento não linear das estruturas ligamentares, em torno da


posição articular neutra, encontra-se uma região de elevada frouxidão, ou baixa
rigidez. Essa região, a zona neutra, permite que os deslocamentos ocorram com
o mínimo de resistência interna das estruturas passivas. Lesões nos subsistemas
passivo e/ou ativo levam a aumentos não fisiológicos na amplitude da zona
neutra. Por outro lado, a atividade muscular é capaz de minimizá-las e mesmo
restaurar os limites fisiológicos após lesão ou degeneração das estruturas
passivas, o que representa papel fundamental na busca da estabilidade. A
compreensão dos mecanismos cinesiopatológicos, que envolvem o
desenvolvimento das disfunções musculoesqueléticas, é fundamental para a
definição de estratégias para sua prevenção e tratamento.

Por esse motivo, busca-se o entendimento das instabilidades articulares


apontada como risco para potenciais lesões teciduais, e componente básico de
inúmeros processos degenerativos e álgicos.
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Figura 2 – Núcleo Pulposo

Entre as vértebras existe uma alternância entre cifoses (ligadas à proteção) e


lordoses (ligadas à mobilidade). Por este motivo entendemos o porquê das
frentes das lordoses sempre possuírem músculos longos e potentes, como é o
caso dos flexores do pescoço e do reto abdominal. Enquanto que a frente das
cifoses possuem músculos chatos e profundos, como exemplo o Serrátil
Anterior, que é ligado a função de manutenção postural. Logo as cifoses com
sua pouca mobilidade se tornam pontos fixos para os movimentos realizados
pelas cadeias musculares lordóticas.

Num plano sagital, observamos a lordose cervical (protegendo o cérebro), a


cifose torácica (protegendo os pulmões e coração), a lordose lombar e uma
curvatura sacral côncava (protegendo os órgãos da pelve menor). A presença
dessas curvaturas aumenta de forma considerável a capacidade de resistência às
pressões axiais sofridas pelo eixo raquidiano a partir do momento que estamos
expostos a força gravitacional (descendente) e a força solo (ascendente). Quanto
mais retificada uma coluna mais precário será o equilíbrio desse indivíduo.

Classifica-se quanto às curvaturas vertebrais:

Quanto mais retificada (retilínea) forem as curvaturas, define-se como uma


coluna do tipo funcional estática, ao contrário do que quanto maior forem as
curvaturas vertebrais indicativo de uma coluna do tipo funcional dinâmica.
14

Além disso, quanto mais acentuadas forem as curvaturas mais mobilidade e


quanto menos acentuada maior rigidez.

O recém-nascido apresenta somente uma curvatura corporal que é realizada por


um padrão de flexão global (adequação ao útero materno), logo após o
nascimento, a força gravitacional sempre contínua, obriga o bebê a realizar uma
inversão de algumas dessas curvaturas para se movimentar, e à medida que seus
reflexos inatos vão sendo sobrepostos pelo controle de movimento essas
curvaturas começam a se formar.

A primeira delas é a lordose cervical, já que o desenvolvimento neuro-psico


motor é céfalo-caudal e próximo distal, nada mais lógico que o primeiro
segmento corporal que o bebê consiga controlar é o segmento cervical,
suportando e regulando os movimentos da cabeça, invertendo assim a curvatura
cervical para uma lordose chamada de primeira curva secundária. A segunda
curva secundária é formada quando a criança passa da posição de quadrúpede
para bípede e é chamada de lordose lombar. As curvaturas secundárias são mais
flexíveis, em contrapartida mais frágeis.

Figura 3 - Evolução

O mesmo mecanismo de inversão das curvaturas vertebrais ocorreu durante a


filogênese, quando assumimos a postura bípede. Quando o ser humano assumiu
a bipedestação, houve uma retificação da coluna lombar seguida de uma
inversão da curvatura (lordose lombar). Isso ocorreu para que houvesse uma
extensão do tronco, gerando a manutenção da horizontalidade do olhar e dos
ouvidos internos (para que o labirinto ligado à orientação espacial realizasse
seu importante papel junto ao equilíbrio).

Essa mudança na curvatura lombar provocou toda uma nova distribuição da


força gravitacional. Esse papel foi assumido pela pelve, que de acordo com sua
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retroversão ou ante versão, anterioriza ou posterioriza o Centro Gravitacional


do ser humano, permitindo assim a eretabilidade.

Por consequência, a pelve foi submetida a adaptações ao estresse promovido


pelo aumento da pressão intra-abdominal e pela força da gravidade que
passaram a incidir sobre o seu eixo vertical. Isso resultou em uma mudança
significativa do arco pélvico ósseo, com aumento da resistência dos ossos
ilíacos e púbico. Ocorrendo, concomitantemente, o espessamento dos
ligamentos que servem de suporte à inserção dos músculos mais desenvolvidos.

Figura 4 – Distribuição de Forças na Pelve

Na parte inferior da coluna se situa a pelve, formada pelo sacro e os ilíacos, o


que é comumente chamado de cíngulo inferior, pois é o elo dos membros
inferiores com o tronco. A característica desse conjunto de articulações é a de
possuir muita estabilidade e um sistema de auto bloqueio, extremamente
importante. A pelve é capaz de realizar micro movimentos, porém jamais pode
perder sua continuidade abaulada. Esse cíngulo se une ao tronco através da
articulação lombossacral.

É na pelve também que duas forças contrárias de grande importância se anulam:


a força Gravitacional e a força Solo. Sempre que observar alguma patologia
musculoesquelética na coluna vertebral, seja ela qual for, deve-se antes
pesquisar se há um bom posicionamento da pelve, por ser ela a grande
distribuidora dessas forças.
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Na articulação lombo sacral, o corpo e o disco de LV são mais altos na região


anterior. A base do sacro possui uma discreta inclinação anterior, quando na sua
posição estática, a força gravitacional se divide em duas na quinta vértebra
lombar. Uma descendente pelo corpo vertebral em direção ao solo e a outra se
aplica anteriormente sobre a base do sacro, então quanto mais horizontalizado
se encontrar o sacro essa força pode estar aumentada em muitas vezes,
tracionando a lombar anteriormente.

Figura 5 – Distribuição de Forças no Sacro

Diferenças entre os segmentos vertebrais:

Com exceção do atlas e axis (não palpáveis), as duas primeiras vértebras


cervicais, todas as vértebras da coluna possuem basicamente a mesma
constituição que se dividem em duas partes principais:

 Parte anterior, onde se encontra localizado o corpo vertebral que tem


a função de sustentação.
 Parte posterior, onde se encontra o arco vertebral que é formado por
dois pedículos, duas lâminas, quatro processos articulares (dois
superiores e dois inferiores), os quais são responsáveis pelo contato
articular, o processo espinhoso (responsável pelo controle da
mobilidade local), dois processos transversos, o canal vertebral e o
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forame intervertebral. Esses dois últimos ligados a função de proteção


de nossas estruturas nobres.

Basicamente podemos dizer que a parte anterior da vértebra está associada à


função estática da coluna e a parte posterior ligada à função cinética da mesma.

Figura 6 – Atlas e Axis

A coluna cervical e lombar são as de maior mobilidade. As vértebras conforme


já dito anteriormente possuem basicamente uma mesma conformação com
algumas modificações específicas para algumas funções. O corpo vertebral
normalmente possui uma forma cilíndrica, no caso da região cervical possui
uma forma retangular com as extremidades laterais se prolongando para cima
em forma de um unco e as formas inferiores incisadas para perfeito ajuste
articular. O que possibilita grande estabilidade para essa região, que tem como
característica ser bastante móvel e seus processos espinhosos são maiores nas
porções inferiores da coluna cervical o que imitam consideravelmente os
movimentos de extensão do pescoço. Atingi seu ápice de proteção em C7 que
possui o maior processo espinhoso da coluna cervical.
18

Figura 7 – Vértebra Cervical

Figura 8 – Processo Espinhoso de C7

O atlas e o axis são vértebras atípicas responsáveis somente pela mobilidade da


coluna cervical, já que não possuem disco intervertebral e produzem os
movimentos de rotação, flexo-extensão e lateralização. Um dado
comprobatório disso é a possibilidade de flexionar a cabeça em 35° sem a
participação do pescoço, e isso explica as cirurgias cervicais onde são retirados
ou estabilizados, com hastes, de algumas vértebras. A amplitude de movimento
total fica comprometida, porém é possível fazê-la. Nos discos Entre C2 e C7
são realizados os movimentos de flexo-extensão e lateralização combinados
com uma ligeira rotação.
19

Já na coluna torácica é possível a realização de todos os movimentos, porém


numa menor amplitude de movimento, a limitação é dada pela caixa torácica, a
qual é diminuída entre TI e T VII, onde estão fixadas as escápulas e costelas,
formando um arco costal junto ao esterno anteriormente. Entre TXI e TXII não
existe ligação com o esterno, pois nessa região a mobilidade é significativa.

Figura 9 Coluna Torácica entre TXI e TXII

Os corpos vertebrais são maiores nas vértebras lombares, pois suportam o maior
índice de carga axial de toda coluna. Possuem alguns movimentos como a de
flexo-extensão, inclinação e mobilidade de diminuta para as rotação. Assim
como a transição entre TXII e LI também possui essa rotação, devemos ser
cautelosos com esses movimentos de rotação nessas regiões, caso as cadeias
musculares não estejam completamente livres.
20

Figura 10 – Vértebra Lombar

Como exemplificado anteriormente, possuímos dois tipos funcionais de coluna,


o estático e o cinético, os quais devemos ter uma compreensão íntegra, visto
que em um indivíduo portador de uma coluna predominantemente estática
(retificada) sua mobilidade estará diminuída, e portanto, sua compressão axial
é maior. Esse indivíduo estará mais suscetível a uma dor lombar proveniente de
uma lombociatalgia, já que seus músculos estarão mais retesados e portanto o
nervo ciático estará sofrendo maior compressão. Em um tipo funcional cinético,
a lombalgia provavelmente estará relacionada ao seu aumento de mobilidade,
hiperlordose lombar, horizontalização do sacro e uma força de tração anterior
aumentada, logo o tratamento para lombalgia é diferenciado para os diferentes
tipos de coluna, já que os mecanismos fisiopatológicos são distintos.

O disco intervertebral é o grande contribuinte para uma coluna saudável, o qual


sua estrutura se divide em duas partes: o núcleo pulposo e o anel fibroso.

O núcleo pulposo é a parte central formada de 88% de água e com uma


capacidade hidrófila muito grande, o qual fica protegido por um potente sistema
de contenção conhecido como anel fibroso, formando assim um componente
21

hermeticamente fechado, pois tem a função de suportar as fortes pressões axiais


sofridas pela coluna constantemente, enquanto estamos em bipedestação.

Uma boa noite de sono contribui muito com a saúde da coluna vertebral, pois é
durante a noite que a ação da gravidade cessa sobre a coluna vertebral,
permitindo assim que a água do núcleo pulposo retorne ao seu centro
(capacidade de hidrofilia). Durante o dia o núcleo vai perdendo a água para
reequilibrar as forças sofridas pelos movimentos e a ação gravitacional, além
do estado de atonia proporcionado pela fase REM do sono, fundamental aos
músculos, proporcionando um estado de não contratilidade para o descanso
necessário.

Devemos lembrar que os movimentos articulares em cada segmento vertebral


são muito limitados, mas a somatória da pequena mobilidade de cada segmento
pode dar a coluna sua ampla mobilidade.

Na flexão, a vértebra subjacente se inclina anteriormente, diminuindo assim, o


espaço articular na parte anterior do espaço articular, tendendo a pinçar o anel
fibroso e empurrando o núcleo pulposo posteriormente. Os processos
articulares e espinhosos se afastam e todo sistema ligamentar posterior se
encontra tenso, sendo que durante a extensão a mecânica ocorrida é exatamente
oposta.

Nas inclinações laterais, a vértebra superior báscula lateralmente sobre a


vértebra inferior, com isso há diminuição do espaço do lado côncavo e o núcleo
pulposo se desloca para o lado convexo, onde há também aumento dos espaços
articulares e tensionamento dos ligamentos.

As rotações geram uma torção sobre o disco que produzem uma tensão (força
de cisalhamento) das fibras com a diminuição de todo espaço articular e tensão
no sistema ligamentar, por esse fato as rotações são mais susceptíveis a lesões
caso o movimento não esteja em boa organização.

É importante ressaltarmos que, segundo Leopold Busquet (2010) apenas 5%


das hérnias são verdadeiras, e essas são cirúrgicas. Considerando a segunda Lei
de Pascal, que diz que uma força empregada em um sistema hermeticamente
fechado, no caso dado pelo anel fibroso, gerará uma força e pressão distribuída
de forma coesa, logo o núcleo pulposo é deslocado para um determinado lado
dependendo do movimento, porém aquela visão antiga que tínhamos de que a
pressão também estará aumentada daquele lado é errônea.

Toda essa mecânica estrutural só terá eficácia se a musculatura, seja ela


estabilizadora ou produtora, funcionar de forma coesa, funcional e estruturada.
22

Caso contrário, nosso organismo é inteligente o suficiente para gerar


mecanismos compensatórios importantes que a princípio só funcionarão para a
produção do movimento, mesmo que ele produza uma carga excessiva sobre
determinada estrutura, ou algum enfraquecimento ou encurtamento de
músculos.

Ao longo prazo esse mecanismo, aparentemente efetivo, gerará as mais


diversificadas lesões. Algumas pesquisas afirmam que aos 30 anos de idade
grande parte da população apresenta zonas de hiperpressão óssea nas
radiografias, ou seja, estruturas que começam a apresentar os primeiros sinais
de desgaste mecânico. Caso o ajuste mecânico não seja realizado, serão
estruturas que em médio prazo já apresentarão algum nível de desgaste
articular.

Já pela respiração responsável pelo aporte de oxigênio necessário, para que o


músculo exerça seu trabalho, não podemos deixar de citar o importante papel
exercido pela respiração correta na manutenção da postura. O músculo
diafragma é responsável pelo aumento e diminuição da pressão intratorácica
durante o processo respiratório, isso nada teria haver com a coluna senão pelo
fato do diafragma cortar o tronco, logo abaixo das costelas e ter seus pilares
inseridos nas vértebras lombares. Pode-se afirmar então que uma respiração
limitada, onde o diafragma não consiga imprimir todo seu curso de contração,
teremos por conseguinte o encurtamento dos pilares inseridos na coluna lombar
e como efeito uma tração anterior das vértebras lombares. Favorecendo o
aumento da lordose lombar, além de provocar um aumento de tônus e da tensão
de toda musculatura inspiratória acessória como: escalenos, ECOM, elevador
da escápula e trapézio superior. Por exemplo, aumentando a propensão já
existente no ser humano, que é o da elevação dos ombros, não teremos também
uma diferença de pressão para a entrada e saída do ar eficaz para o bom
funcionamento do estômago, intestinos, entre outros órgãos, pois perdemos a
eficácia da massagem efetuada sobre esses órgãos. Pelo diafragma, logo o que
solicitamos então durante o tratamento, e em todo trabalho muscular, é a ênfase
na expiração durante a fase mais difícil do exercício, sem colocar o reto
abdominal e demais músculos superficiais do abdômen em contração excessiva
para que não haja retificação da pelve. Ou seja, devemos tentar ao máximo
manter o quadril em posição neutra, sem retificação da pelve, mas também sem
permitir que a lombar trabalhe em relaxamento favorecendo a hiperlordose.
Solicitando a contração do serrátil, a todo momento, essa respiração deve se dar
na forma de sucção, trazendo a parede abdominal em direção a lombar, mas
também em direção cefálica (respiração aspirativa). Seja a respiração feita
predominantemente pelo ápice ou pela base pulmonar. Posteriormente
discutiremos mais profundamente o Diafragma.
23

Figura 11 – O Diafragma

Todo esse conjunto mecânico citado anteriormente é mantido por um complexo


sistema muscular e para começarmos a discutir os movimentos, não podemos
deixar de citar que os mesmos acontecem do centro para as extremidades.

Hoje sabemos que antes de iniciarmos qualquer movimento, seja ele dos
membros superiores ou dos inferiores, os músculos estabilizadores de tronco se
contraem cinco milissegundos antes para garantir a qualidade e a estabilidade
do movimento que ocorrerá nas extremidades. Então nada mais indiscutível
darmos suma importância ao Powerhouse do Pilates, ao Core do Treinamento
Funcional, ou simplesmente aos músculos responsáveis pela manutenção
postural, pois serão eles os grandes responsáveis pela eficiência de toda nossa
mobilidade, porém temos uma tarefa inglória se seguirmos essa linha de
pensamento, pois dando ênfase ao Powerhouse aumentamos a pressão intra-
abdominal, no caso de negligenciamos esses músculos estaremos sem
estabilidade e proteção suficiente na coluna para as tarefas mais cotidianas.

O transverso do abdômen é o grande responsável pela manutenção tônica da


coluna, e talvez o músculo mais estudado hoje em dia pela disposição de suas
fibras. Pelo fato da coluna lombar não possuir nenhum músculo eretor, o
transverso abdômen, junto com o diafragma, o multifídeo e os músculos do
assoalho pélvico se tornam os grandes responsáveis pela manutenção tônica
postural como também acarretam no aumento intracavitário.

Como os músculos abdominais possuem relevância na estabilização da região


lombo pélvica, a diminuição da atividade desses músculos faz com que a flexão
do quadril seja realizada sem a estabilidade necessária, permitindo que o
24

músculo psoas exerça tração sobre o aspecto anterior das vértebras lombares,
levando assim a uma anteversão pélvica e um aumento da lordose lombar.

Com o passar do tempo, os tecidos podem se adaptar a essa nova postura que
frequentemente está associada a uma série de disfunções, como a
espondilolistese e as degenerações discais e facetarias.

O multifídeo é o grande responsável pela proteção das vértebras durante todos


os movimentos realizados pela coluna. Aquela dor referida pelo indivíduo
portador de lombalgia nos processos espinhosos é invariavelmente confundida
com o multifídeo, que estará álgico e atrofiado no primeiro episódio de dor
lombar.

O multifídeo se encontra abaixo do semi espinhal e do eretor da espinha na


goteira, entre os processos espinhosos e transversos das vértebras. Em todos os
níveis, sua ação é produzir rotação, bem como extensão e flexão lateral da
coluna em todos os níveis possuindo também um importante papel de
estabilizador vertebral.

O assoalho pélvico é definido como o conjunto de estruturas que fornece


suporte as vísceras pélvicas e abdominais, fechando a pelve óssea
inferiormente. Os músculos do assoalho pélvico são responsáveis pela
sustentação das vísceras e fecham o quadrado de sustentação da coluna, tendo
como sua principal função manter a pelve em fechamento, ou seja, não permitir
a horizontalização do sacro.

Os músculos pélvicos são compostos por fibras tônicas (tipo I) e fásicas (tipo
II). Com uma maior proporção de tônicas, o tipo de fibra muscular é
determinado pela fibra nervosa responsável por sua inervação. As fibras tipo I,
de oxidação lenta, exercem a atividade muscular sustentada, enquanto as fásicas
e glicolíticas estão envolvidas em atividades de disparo rápido.

O músculo do Assoalho Pélvico é constituído por três camadas musculares. A


camada superficial é composta pelos músculos bulboesponjoso,
isquiocavernoso, transverso superficial do períneo e esfíncter anal externo. A
intermediária é composta pelo transverso profundo do períneo, compressor da
uretra e esfíncter uretrovaginal. Essas duas camadas compõem o diafragma
urogenital. A camada profunda, conhecida como diafragma pélvico, é formada
pelos músculos levantadores ou elevadores do ânus: pubococcígeo ou
pubovisceral, que compreende o pubovaginal, o puboperineal, o puboanal
puborretal e ileococcígeo. Além destes, compondo ainda a camada profunda,
existe o isquiococcígeo ou coccígeo.
25

Esses são músculos importantes que podem servir como segunda opção para a
proteção da lombar durante os exercícios. A contração dessa musculatura tem
que estar constantemente ativada para que a região lombar fique estabilizada,
porém como é uma musculatura tônica, sua contração tem que ser intermediária
e contínua sem realizar movimentos rápidos e fortes para que ela não fadigue.

A ativação dessa musculatura gera uma co-contração do transverso do


abdômen, sendo assim nunca podemos ativar esses dois músculos ao mesmo
tempo, pois as forças se anulariam. A contração dos músculos do Assoalho
Pélvico gera uma “tendência” a abertura discreta dos ilíacos, já a contração do
transverso gera uma tendência ao fechamento dos ilíacos. Por isso as forças
competem e se anulam e desta maneira a coluna estaria sem nenhuma proteção
muscular, no momento do exercício. Uma contração errada do transverso do
abdômen ou do assoalho pélvico resulta na contração da musculatura superficial
e na falta de estabilização da lombar, juntamente com a protrusão abdominal.
Todo esse conjunto favorece o aparecimento de incontinência urinária,
conhecida como fugas, hemorroidas, refluxos, hérnias abdominais e vertebrais
pelo excessivo aumento da pressão abdominal.

Figura 12 – Músculos do Assoalho Pélvico


26

Figura 13 – Quadrado de Sustentação

O quadrado de sustentação formado por esses músculos, tem características


muito parecidas, pois são tônicos, de contração lenta, formados por fibras
essencialmente do tipo I, logo entendemos que são músculos estabilizadores do
movimento e que antes de começarmos a falar sobre eles, precisamos entender
claramente a importância do restabelecimento de suas forças, pois são eles que
darão a diretriz de uma mobilidade efetivamente funcional. Se estiverem fracos,
encurtados, tensos ou simplesmente não funcionando de forma efetiva, o
resultado será dor lombar e a reabilitação funcional desses músculos deve ser
precedida por qualquer trabalho de ganho de força abdominal. Pois o abdominal
tradicional aumentará a pressão sobre os discos e aumentará a dor lombar, e
isso se torna o principal responsável por fraturas em vértebras osteopênicas, e
aí está o maior equívoco cometido por muitos profissionais do movimento, pois
quando falamos em músculos abdominais muitos ficam tentados a começar
fortalecendo os músculos superficiais do abdômen, sem antes compreender a
sinergia abdomino-pélvica.
27

Sinergia Abdomino-Pélvica
Diversos estudos discutem a sinergia abdomino-pélvica. Alguns autores
identificaram um aumento da atividade eletromiográfica dos músculos
abdominais durante a contração do assoalho pélvico, sem que fosse observado
qualquer contração da musculatura abdominal. Existe entre eles uma ação de
sincronia, isto é, a contração do músculo abdominal (tosse, espirro), que leva a
uma contração recíproca do músculo pubococcígeo, estabilizando e mantendo
o colo vesical na posição retropúbica, facilitando a igualdade das pressões
transmitidas da cavidade abdominal ao colo vesical e uretra proximal,
mantendo a continência urinária.

A atividade sinérgica entre os músculos do assoalho pélvico e dos abdominais


possibilita o desenvolvimento de uma pressão do fechamento adequada e
importante para manter a continência urinária e fecal, de forma coordenada para
aumentar a pressão no abdômen, como também fornecer suporte aos órgãos
pélvicos. Alguns estudos demonstram que durante a contração voluntária dos
músculos do Assoalho Pélvico, ocorre uma coativação dos músculos
transversos abdominal, oblíquo interno, oblíquo externo e reto abdominal,
ocasionando um aumento da pressão esfincteriana.

Um estudo realizado a respeito da sinergia abdomino-pélvica diz que aumentos


repentinos na pressão intra-abdominal, levam a uma rápida atividade reflexa
dos músculos do Assoalho Pélvico (reflexo guardião). Deve-se considerar que
"o aumento repentino da pressão intra-abdominal se causada por uma manobra
intrínseca (tosse, por exemplo) incluem a ativação via retroalimentação da
musculatura do assoalho pélvico como parte de um complexo padrão de
ativação muscular. Acredita-se que a tosse e o espirro são gerados por um
padrão individual dentro do tronco cerebral, e assim, a ativação dos músculos
do Assoalho Pélvico é uma coativação prévia, e não primariamente uma reação
"reflexa" ao aumento da pressão intra-abdominal. Porém, além disso, pode
haver uma resposta reflexa adicional dos músculos do Assoalho Pélvico em
relação ao aumento da pressão abdominal devido à distensão dos fusos
musculares dentro dessa musculatura.
Outros autores também afirmaram que o aumento da pressão de fechamento da
uretra e do ânus ocorre imediatamente antes do aumento da pressão intra-
abdominal. Nos eventos de tossir e espirrar, o diafragma, os músculos
abdominais e o assoalho pélvico são ativados de forma pré-programada pelo
sistema nervoso central.
28

Este fato parece sugerir que a ativação dos músculos do períneo não acontecem
em resposta ao aumento da pressão intra-abdominal, sendo antes produzida por
mecanismos nervosos centrais que podem ser eventualmente regulados pela
vontade.

Algumas investigações demonstraram que a contração automática dos


músculos do Assoalho Pélvico nas mulheres continentes é precedida ao
aumento da pressão intra-abdominal. A contração prévia desses músculos, antes
do aumento intra-abdominal, indica que essa resposta é pré-programada. A
atividade antecipada não pode ser de uma resposta reflexa a uma entrada
aferente, resultante de um aumento da pressão abdominal.

Vários artigos abordaram sobre o comportamento dos músculos do Assoalho


num esforço de tosse, tanto em mulheres continentes quanto em mulheres
incontinentes, sugerindo que nas incontinentes o padrão de recrutamento
sinérgico se processa de forma diferente em relação à intensidade de ativação
dos músculos.

A ativação dos músculos Perineais é essencial para manter a continência quando


a pressão intra-abdominal aumenta devido à contração dos músculos
abdominais.

Os músculos do Períneo contribuem para continência urinária, através do


incremento da pressão de fechamento uretral e da manutenção da posição do
colo vesical, fornecidos pela sua contração. Em um estudo onde as contrações
foram feitas sem nenhum movimento da coluna lombar, pelve ou caixa torácica,
os autores observaram que existe um recrutamento dos músculos abdominais
quando se realizava uma contração do assoalho pélvico.

Em estudo epidemiológico no Brasil, foi encontrado a prevalência de 35% de


queixa de perda urinária aos esforços, em mulheres entre 45 e 60 anos de idade.
A queixa em mulheres atletas é de 22% a 47%, sofrendo variação de acordo
com a atividade. As causas ainda não estão completamente elucidadas e
algumas ainda são pouco discutidas.

A incontinência urinária de esforço atinge com mais frequência mulheres entre


25 e 49 anos de idade. A atividade física de alto impacto é um fator de risco
para desenvolvê-la, sendo percebida apenas a partir da realização de atividades
que predisponham a perda de urina. Outros fatores de risco incluem
constipação, como a tosse crônica do fumante, a doença pulmonar, obesidade e
ocupações que exigem levantamento excessivo de peso.

De uma forma geral, a incontinência urinária de esforço é atribuída à


incapacidade dos músculos do períneo em assegurar níveis de pressão intra-
uretral superiores ao da pressão intravesical. A fraqueza dos músculos perineais
é entendida como um fenômeno associado a alguns processos, como o de
29

envelhecimento, gravidez, parto vaginal, ao número de gravidezes e partos, ou


até mesmo à redução no número de fibras do tipo I.

Pouco se sabe acerca do funcionamento dos músculos do períneo durante a


prática de exercícios físicos. Os exercícios abdominais aumentam a pressão
intra-abdominal, comprimindo vísceras e distribuindo a carga para o aparelho
locomotor, e os aumentos na pressão intra-abdominal afetam indiretamente a
pressão sobre a bexiga urinária. Esse aumento é condição favorável para haver
perda involuntária de urina em ocasiões os quais as respostas da musculatura
do assoalho pélvico se encontram alteradas. Os achados determinam que a
maioria das atividades físicas não envolve contração voluntária do Assoalho
Pélvico, o que pode acarretar em deficiência funcional por perda ou ausência
da consciência e coordenação das estruturas neuromusculares do aparelho
locomotor, levando à hipotrofia por desuso.

O descondicionamento e a carga repetida sobre o assoalho, concomitante ao


aumento frequente da pressão intra-abdominal, diminuem a eficiência mecânica
do assoalho pélvico e alteram a composição de alguns músculos. Portanto,
mulheres que fazem exercícios físicos não possuem necessariamente músculos
perineais mais fortes do que as que não fazem.

Neste contexto, outra ideia muito divulgada se refere à relação entre condição
física geral e desenvolvimento dos músculos do períneo. De fato está
genericamente aceito que se uma mulher possuir uma boa condição física geral,
isso significa uma musculatura perineal igualmente forte.
No entanto, segundo Nichols & Milley (1978) sabe-se que na ausência de um
trabalho específico para os músculos do pavimento pélvico, a carga repetida
sobre a musculatura perineal, associada a aumentos frequentes da pressão intra-
abdominal, tende a reduzir a eficácia mecânica do ligamento cardinal, já Jozwik
(1993) diz que e/ou produzir alterações na composição de alguns músculos, tal
como a redução no número de fibras do tipo I observada no músculo elevador
do anus. De acordo com estas evidências o exercício intenso pode ser
considerado para algumas mulheres como um fator precipitante da
incontinência urinária de esforço.

Em relação a percepção da contração correta dos músculos do assoalho pélvico,


a The American College of Obstetricians and Gynecologists diz que a melhor
maneira de ensinar a contraí-los de forma correta é solicitar ao paciente parar o
fluxo urinário no meio da micção sem contrair os membros inferiores ou os
abdominais. Bump e colaboradores (1991) demonstraram que uma amostra de
25% de uma amostra de 47 mulheres, não realizavam uma contração efetiva dos
músculos perineais, capaz de aumentar a pressão de encerramento uretral, com
uma instrução verbal. Se existe uma diminuição da força do Assoalho Pélvico
e alteração da posição anatómica das estruturas, não é uma simples instrução
verbal que é suficiente para curar ou melhorar esta condição.
30

A sociedade internacional de continência (2001) concluiu que uma simples


instrução verbal ou escrita não representa uma adequada preparação para a
mulher iniciar o treinamento. O estudo de Parkkinem (2004) demonstrou que
73% das mulheres não conseguiam contrair corretamente os músculos do
Assoalho Pélvico na primeira tentativa. Isso porque algumas mulheres não são
capazes de contrair corretamente os músculos, porque efetuam a manobra de
valsalva, inversão do comando perineal ou contração perineal paradoxal.

Essa prática é corrente e não deve ser negligenciada porque representa um


percentual expressivo de 11% a 30% de mulheres incapazes de efetuar uma
contração correta, as quais contraem os glúteos e adutores exclusivamente ou
em combinação com a contração dos músculos perineais.

Sampselle e colaboradores (2005) concluíram que 68% das mulheres contraíam


o Assoalho Pélvico com uma instrução verbal, no entanto, constatou-se que só
29% contraíam corretamente após uma instrução adicional e 3% eram incapazes
de contraí-los.

O biofeedback e palpação digital são os instrumentos adicionais na


identificação dos músculos e na aprendizagem de uma correta contração. Essa
observação de uma correta contração dos músculos Perineais foi demonstrada
clinicamente através de uma ressonância magnética.

Kari Bø (1990) verificou que durante a contração voluntária desses músculos,


o cóccix descrevia um movimento cranial em direção à sínfise púbica. Essa
contração voluntária é simultaneamente uma contração de todos os músculos
do Assoalho Pélvico e descreve um movimento de elevação, na direção cefálica,
encerrando as aberturas pélvicas, sugerindo um enrolamento da pelve. Essa
contração correta não pode envolver nenhum movimento da pélvis nem a
contração de outros grupos musculares relativamente aos músculos fracos e
destreinados do Assoalho Perineal.

Quando se atinge o limiar de esforço, os músculos fadigados perdem sua


capacidade, principalmente se não estiverem condicionados. Somos unanimes
em dizer que a participação do glúteo máximo, no sinergismo, com os músculos
do Assoalho Pélvico e abdominais, não deve ser estimulada, sendo considerada
inapropriada. Esses resultados parecem demonstrar a importância do treino da
musculatura perineal no tratamento da incontinência urinária de esforço.

As disfunções dos músculos do Períneo, associadas ao aumento brusco da


pressão intra-abdominal, são tidas como as principais causas da mesma. Assim,
o trabalho abdominal da mulher deve respeitar os princípios de contenção
urinária fazendo apelo a contração voluntária da musculatura do Períneo, antes
de qualquer ativação abdominal. Na mulher incontinente ou de elevada
probabilidade de incontinência (pós-parto, idosas etc.), o treino da musculatura
Perineal deverá anteceder o trabalho abdominal.
31

Os músculos abdominais têm papel significativo na atividade respiratória,


principalmente durante a fase expiratória. Isso pode ser observado por meio da
eletroneuromiografia, em que se obteve aumento da atividade elétrica desses
músculos durante a expiração e declínio enquanto ocorria a inspiração. Diante
dos resultados obtidos sobre a resposta sinérgica abdomino-pélvica, observa-se
que tanto a atividade perineal quanto a abdominal, são influenciáveis pelo
padrão respiratório imposto. Assim sendo, a manobra que demonstrou melhor
estimulação a ação sinérgica foi a execução da expiração. Aquela que mostrou
praticamente nenhuma resposta sinérgica entre os grupos musculares estudados
foi a inspiração.

Os músculos do assoalho pélvico podem servir como segunda opção para a


proteção da lombar durante os exercícios. A contração dessa musculatura tem
que estar constantemente ativada para que a região lombar fique estabilizada,
porém como é uma musculatura tônica, sua contração tem que ser intermediária
e contínua, sem realizar movimentos rápidos e fortes para que ela não fadigue.

Já sabemos que ativação dessa musculatura gera uma co-contração do


transverso do abdômen, sendo assim, nunca podemos ativar esses dois
músculos ao mesmo tempo.

Podemos concluir que a melhor forma de trabalho é se contrair o músculos do


aparelho locomotor isoladamente, sem outros músculos associados, uma vez
que existam estudos que não encontraram diferenças significativas nas duas
contrações, uma associada (transverso e assoalho pélvico) e outra somente no
assoalho pélvico, poupando assim a fadiga da musculatura do assoalho pélvico.
Biomecanicamente falando, a contração dos músculos do assoalho pélvico
geram uma “tendência” à abertura discreta dos ilíacos, já a contração do
transverso gera uma tendência ao fechamento dos ilíacos, resultando em forças
que se anulariam, e a coluna estaria sem nenhuma proteção muscular no
momento do exercício.

Em contrapartida, Leopold Busquet (2010) contrário a qualquer trabalho de


fortalecimento, pois acredita que as fugas são causadas pelo excesso de
contração muscular do quadrado de sustentação, tendo como consequência a
fadiga de todo sistema, gerando um aumento da pressão intra-abdominal e por
consequência, um aumento da tensão. Isso significa que ele segue na
contramão, propondo o relaxamento de toda musculatura que envolve os
peritônios.
32

Segundo o artigo The myth of core stability (O mito da estabilização do tronco),


publicado na 14º edição do Journal of Bodywork & Movement Therapies, em
2010, o autor, Eyal Lederman, relata que o transverso do abdômen tem várias
funções na postura ereta. A estabilidade é uma, mas está em sinergia com os
outros músculos da parede abdominal. Ele atua no controle da pressão da
cavidade abdominal para as funções de fonação, respiração, defecação, vômito
etc. Ele também forma a parede posterior do canal inguinal atuando como
válvula e impedindo a herniação das vísceras por este canal.

Na gravidez este músculo é excessivamente alongado e devido a curva


comprimento-tensão tem uma grande perda de força, dissipando sua capacidade
de estabilização.

Em um estudo de Faste et al. (1990) com 318 mulheres grávidas, elaborado


através da avaliação da capacidade destas mulheres realizarem um sit-up
(sentar-levantar), mostrou que 16,6% das grávidas não conseguiam realizar um
único movimento. Porém, sem o aparecimento de dores lombares, logo, a força
abdominal não foi relacionada com o aparecimento de dores na coluna.

Conforme Orvieto et al. (1990) outros fatores foram associados ao caso, dentre
eles o índice de massa corporal, peso do feto, dores lombares anteriores ao
período de gravidez, histórico de hipermobilidade, amenorreia, constipação,
entre outros.

O estudo continuou no pós-parto, o qual foi analisado que os músculos


abdominais levam de quatro à seis semanas para se recuperarem das alterações
sofridas na gestação (força, comprimento, controle motor etc). E oito semanas
para recuperar a estabilidade da pelve.

Ou seja, é de se esperar que neste período ocorra uma mínima estabilização


espinhal devida a “folga” dos músculos abdominais e suas fáscias. Será que isto
aumenta a probabilidade de disfunções na coluna vertebral?

Em um estudo de Bastiaenen et al (2006), foram comparados os efeitos de uma


terapia cognitivo-comportamental aos efeitos da fisioterapia na dor pélvica e
lombar, no período pós-parto. Das 869 grávidas que tiveram dores na coluna
durante a gravidez, 635 foram excluídas da pesquisa devido sua recuperação
espontânea, uma semana após o parto. Como pode ter ocorrido a melhora da
dor em um período que a musculatura abdominal está ineficiente? Por que a dor
lombar imediatamente desapareceu?
33

Ainda existem muitos questionamentos a serem feitos sobre as propostas de


estabilização do tronco. Um fator extremamente importante que não é
considerado, é a avaliação da pressão abdominal. Solicitar contrações mantidas
à pacientes que já possuam pressão intracavitária elevada, pode ser muito
perigoso. Essa elevação acentuada da pressão intra-abdominal, pode gerar um
efeito compressivo sobre os feixes vásculo-nervosos, prejudicando o
funcionamento de todo sistema visceral. O excesso de pressão também se dá
sobre o assoalho pélvico, fato que a longo prazo pode facilitar a instalação de
mecanismos de fuga.

Alguns questionamentos quase nunca são feitos. Por quê esta musculatura está
fraca? Existe um motivo lógico para isso? Essa musculatura está fraca por
desuso ou por excesso de uso? Leopold Busquet e a Osteopatia, talvez sejam as
únicas linhas que se atentam ao aumento da pressão intracavitária.

Em alguns casos encontramos músculos abdominais fracos, com seu


funcionamento inibido e desprogramados. Porém, isso não ocorre simplesmente
pela falta de uso desses músculos e sim devido a uma estratégia inteligente de
proteção do corpo frente a um amento da pressão intra-abdominal. Um
indivíduo que possui hábitos alimentares errôneos, por exemplo, pode gerar um
excesso de gases. O transverso do abdômen vai ficar desprogramado, pois o
corpo precisa abrir espaço nesta cavidade. Qualquer pressão exercida nesta
região seria antifisiológica e provocaria dor. Algumas vísceras não suportariam
pressão e iriam contra o mecanismo de conforto do corpo.

Um músculo também pode perder sua função, pode estar fraco por excesso de
trabalho (fadigado). Quando se mantém em estado de contração constante,
diminui o seu aporte sanguíneo levando ao aumento do depósito de colágeno, o
que faz com que suas fibras sofram um processo de toxemia e sejam substituídas
por estruturas fibrosas. Dessa maneira, o músculo perde sua capacidade elástica
de contrair e relaxar, modifica seu coeficiente de comprimento-tensão,
comprometendo sua função. Segundo Busquet (2010) este músculo terá sua
ação parasitada, pois está fadigado e será interpretado como “fraco”. Mas, será
que realizar exercícios de fortalecimento, solicitando ainda, mais contração é a
melhor estratégia? Sem dúvidas que não.

Portanto uma contração errada do assoalho pélvico pode resultar na fadiga


muscular, perdendo fibras do tipo I, ocasionando perda da capacidade
funcional. Já uma contração errada do transverso do abdômen resulta na
contração da musculatura superficial, na falta de estabilização da lombar,
34

juntamente com a protrusão abdominal. Tudo isso favorece o aparecimento de


incontinência urinária, conhecida como fugas, hemorroidas, refluxos, hérnias
abdominais e vertebrais pelo excessivo aumento da pressão abdominal.

Caso se tenha intenção de fortalecer os músculos do quadrado de sustentação,


sem a clareza necessária, estaremos aumentando a pressão intra-abdominal,
gerando também dor lombar.

Esse quadrado de sustentação é formado por uma musculatura com


predominância de fibras de contração lenta. Logo o melhor trabalho a ser
realizado é o de contração isométrica de longa duração e com contrações
suaves, precedido pelo trabalho de ganho de mobilidade e conscientização de
um bom posicionamento pélvico?

Atualmente alguns artigos relacionados a fisioterapia, com dados de


eletromiografia, levantam a hipótese da solução estar na contração da
musculatura do assoalho pélvico mais a contração do transverso, o que geraria
uma forca sinérgica, cuja estabilização seria realizada de forma correta. Seria
essa a solução para a questão abordada acima? A resposta está na Ioga e na
origem da técnica do Pilates, através da bibliografia de Joseph Pilates.

Joseph preconizava em seus estudos a contração de um outro músculo de


estabilização, o serrátil anterior, logo seu método deve ser praticado com esse
músculo sempre acionado. Já a Escola de Osteopatia de Madrid utiliza hoje em
dia uma proposta vindo da Ioga muito interessante, cuja orientação é da
respiração ser feita de modo aspirativo, o qual o tronco é estabilizado com o
Serrátil, não aumentando a pressão intra-abdominal e evitando a fadiga do
assoalho pélvico.
35

Figura 14 – Expiração com Músculos do Abdômen Contraídos


36

Figura 15 – Expiração com Serrátil Acionado


37

Figura 16 – Expiração com Aspiração Visceral


38

Princípio de Pascal ou Lei de Pascal

O que seria a Lei de Pascal tão citada anteriormente?

Foi comprovado pelo físico e matemático francês Blaise Pascal (1623-1662),


que a alteração de pressão produzida em um fluído, em equilíbrio, transmite-se
integralmente a todos os pontos do líquido e as paredes do recipiente. É claro
que quando aplicamos esse princípio ao corpo humano, devemos observar
alguns fatores, como o princípio só funcionará se algumas propriedades
estiverem sadias. Abaixo segue um exemplo da Lei aplicada à Coluna
Vertebral.

1. A diferença de pressão: força aplicada sobre uma área, logo sabemos,


que se a pressão for muito acima do suportado pelo corpo, os sistemas
de contenção do anel fibroso poderão se romper.
2. A densidade do fluído: logo um núcleo pulposo, desidratado ou
rompido, estará, no mínimo mais sensível a Lei de Pascal.
3. A gravidade: quanto mais alto, em altitude estivermos maiores riscos
sofremos.
4. A diferença em metros: entre as duas colunas do recipiente, vértebra
suprajacente e vertebra subjacente, não podem estar com seu espaço
intervertebral diminuído.

O conjunto, desses quatro princípios funcionando em plenitude, nos darão uma


coluna mais sadia para trabalharmos, consecutivamente com menos riscos de
causarmos com algum movimento, uma hérnia. Pascal provou que o movimento
produzido entre as vértebras (através de seu estudo em recipientes
hermeticamente fechados, como uma bexiga, por exemplo), gerará um aumento
de força e pressão, mas estará distribuída de forma coesa. Logo o núcleo
pulposo é deslocado para um determinado lado dependendo do movimento,
porém aquela visão antiga que tínhamos de que a pressão também estará
aumentada daquele lado é errônea. A pressão no núcleo pulposo se altera
39

durante os movimentos, porém essa pressão está distribuída por todo o


conjunto.
40

O Diafragma

O diafragma é o principal músculo da respiração, o qual já foi muito estudado


sobre sua forma e ação na mecânica respiratória. O diafragma é o único
músculo inspiratório que se divide em duas porções separando no tórax do
abdômen:

Porção Vertebral

Em sua Porção Vertebral é formado por dos pilares musculares de diferentes


comprimentos:

O Pilar Direito, mais longo, insere-se sobre os discos intervertebrais de L1-L2


e L2-L3, podendo chegar, em alguns casos, até L3-L4.

O pilar esquerdo, insere-se em L2-L3.

Os pilares do lado esquerdo cruzam a vertebra anteriormente onde se inserem,


em contrapartida os pilares do lado direito também seguem esse trajeto se
inserindo anteriormente do lado oposto, logo os pilares se encontram perante a
linha média anterior da coluna lombar.

Porção Costal

Insere-se sobre toda a borda das costelas em seu interior, especificamente na 10


ª, 11 ª e 12 ª costelas.

Porção Esternal

Partem da face posterior do apêndice xifoide e se inserem no centro do músculo


diafragma, seu centro tendíneo.

Centro Tendíneo
41

Situa-se na Porção Central do Diafragma.

Na face superior do Diafragma se encontraram o pericárdio e os pulmões, sendo


o folheto de ligação a pleura. Grande parte do peritônio está aderida ao centro
tendíneo do diafragma. Abaixo da cúpula direita do Diafragma se encontra o
fígado. O estômago e o baço também se encontram abaixo da face anteroinferior
do Diafragma. Posteriormente encontramos: as supra renais, pâncreas e a parte
superior dos rins. A veia cava, a aorta e o esôfago cruzam o Diafragma e a ele
se aderem.

Durante a inspiração, o Diafragma toma como ponto fixo suas porções


esternais, costais, vertebrais e abaixa. Esse abaixamento é freado pela pressão
das vísceras abdominais contida nos músculos abdominais e perineais, além de
ser freado também pela tração do pericárdio. O pericárdio então é usado na
forma de uma polia de reflexo, que o fígado e o estômago oferecem, permitindo
assim, a elevação das costelas inferiores.

Se a ação inspiratória for forçada, a contrapressão oferecida ao abaixamento


vigoroso do diafragma é maior, oferecendo um ponto fixo que permite uma
elevação nítida das costelas inferiores e menor do esterno.

Logo entendemos que a função do Diafragma vai muito além de realizar uma
contração para gerar a entrada de ar nos pulmões por diferença de pressão. Seu
bom funcionamento também permite uma ação de pompage permanente sobre
os órgãos auxiliando seus movimentos peristálticos, e uma boa circulação
venosa e linfática pelo mesmo motivo. Logo, um mau funcionamento do
diafragma, tanto influencia na eficácia torácica, fixando e irando a mobilidade
do esterno, costelas, escápulas e clavícula.

Em sua inserção o seu mau funcionamento influencia negativamente: o sistema


de pompage que citamos acima, além de prejudicar a lordose lombar devido a
seus pilares que se prolongam até ela, podendo ser um potente músculo
lordosante lombar.
42

Figura 17 – Pilares do Diafragma

O Psoas

Músculo constituído por duas porções:

A Porção do Psoas que parte da lombar, desde LI até L IV, até o trocanter menor
do fêmur.

A porção Ilíaca que circunda a fossa ilíaca até o trocanter menor de fêmur.

Sua primeira Porção é poliarticular e potente, sendo um músculo de ação bem


complexa. Se tomado como ponto fixo, as vértebras realiza a flexão do fêmur
sobre o tronco. Se tomado como ponto fixo o fêmur, torna-se rotador e flexor
lateral das vértebras, sendo considerado um músculo rotador externo.

Já em um apoio unipodal, como durante a marcha, por exemplo, age em sinergia


com os adutores se tornando um rotador interno.

Sua Porção Ilíaca é responsável pela estabilidade do ilíaco.


43

Figura 18 - Psoas

A Pelve

Na região inferior ao tronco encontramos a Pelve que é formada por dois ilíacos
e o sacro. A mobilidade desses ossos é muito discreta, mas é importante
deixarmos muito claro que elas existem. O que confere a pelve uma
característica de estabilização. Como também é na Pelve que a força do solo e
a força gravitacional se encontram, e para uma boa estática devem se anular.

A Pelve se articula com a coluna lombar formando a articulação lombosacral.


Os dois ilíacos se encontram anteriormente formando a sínfese púbica e
posteriormente com o sacro formando a articulação sacroilíaca.

Teoricamente, a Pelve deveria ser bastante estável devido sua importância de


sustentação do eixo cranial e da coluna vertebral inteira, que são estruturas
nobres do nosso corpo, por onde transitam nosso controle nervoso. Porém a
44

Pelve pode desestruturar toda nossa estática se realizar alguns pequenos


movimentos entre seus ossos que são:

1- Fechamento dos ilíacos: o fechamento dos ilíacos se dá quando há um


aumento de tensão nos músculos: transverso do abdômen que
tracionará a asa ilíaca em direção a linha média, e os adutores que
fortalecem esse sistema de fechamento, trancionando as asas ilíacas
inferiormente lateralmente. A sínfise púbica não pode se romper de
maneira alguma, logo o sacro seguirá a asa ilíaca que se fechou,
causando no paciente o seguinte quadro: a espinha ilíaca antero
superior, crista ilíaca e espinha ilíaca póstero inferior estarão mais
baixas (chamamos de três pontos baixos) do lado de fechamento e o
sacro para que o sistema não se rompa acompanhará o ilíaco que
fechou, inclinando-se.
2- Abertura dos ilíacos: os músculos responsáveis pela abertura dos
ilíacos são os glúteos que tracionarão a asa ilíaca no seu ápice para
fora, e os músculos do assoalho pélvico que por sua vez tracionarão
a parte inferior da asa ilíaca para dentro aproximando os ísquios.
Observaremos o paciente da seguinte maneira com os três pontos
anatômicos altos (EIAS, Crista ilíaca, EIPI) do lado da abertura, o
sacro acompanhará o ilíaco que se abriu, portanto ele se inclinará para
o lado da abertura.
3- Anterioridade: se dá pelo tensionamento do quadrado lombar que
tracionará a asa ilíaca em sua parte posterior para o alto e o reto
femoral, que por sua vez tracionará a parte anterior do ilíaco para
baixo. Encontraremos no paciente EIAS e crista ilíaca mais baixas do
lado ilíaco em anterioridade e EIPI mais alta do mesmo lado,
encontraremos ainda o sacro mais alto e lordótico.
4- Posterioridade: a posterioridade é provocada pelos músculos reto
abdominal e isquiotibiais, que juntos tracionarão a asa ilíaca para
cima em sua parte anterior e para baixo em sua face posterior. No
paciente veremos: EIAS mais alta, crista ilíaca mais alta e EIPI mais
baixa, além da lombar retificada e mais baixa do lado da
posterioridade. Esse tipo de desvio da asa ilíaca impossibilita e
incapacita demais o paciente, pois vai totalmente contra a lógica
corporal, pois nas três distorções anteriores, vão a favor da lógica
corporal em algumas situações.
45

A abertura e o fechamento das asas ilíacas, além da anterioridade é


absolutamente funcional quando no fechamento do momento do parto, e
abertura após o parto, a pelve aos poucos vai retornando ao abrir as asas ilíacas.

Figura 19 – Abertura do Ilíaco


46

Figura 20 - Fechamento do ilíaco

Figura 21 – Anterioridade e Posterioridade do Ilíaco


47

Figura 22 – Adaptação da Coluna e Pelve Durante a Gravidez

Visto isto, conseguimos explicar duas disfunções biomecânicas no quadril, uma


que ocorre com mais frequência que é o mecanismo de formação da coxo-
artrose, e outra menos frequente que é a subluxação do quadril.

Coxo-artrose

Quando o ilíaco encontra-se em fechamento nas suas duas pontas, ele formará
uma convexidade, o que empurrará o acetábulo para um maior contato com a
cabeça femoral, aumentando assim o processo de desgaste da articulação coxo-
femoral. Esse mecanismo se dá pela força excessiva do transverso abdominal
que puxa a asa ilíaca para um fechamento superior e pelos músculos do assoalho
pélvico que puxarão a asa ilíaca em sua parte inferior em fechamento também.
48

Figura 23 – Mecanismo de Formação da Coxo-Artrose

Subluxação do quadril

Nas subluxações do quadril, ocorre que o excesso de força ou tensão do glúteo


médio e máximo, traciona a parte superior do ilíaco para fora e os adutores farão
o mesmo com a asa inferior do ilíaco, formando uma concavidade na asa ilíaca
e diminuindo o contato com o acetábulo. Quando colocamos o fêmur em sua
posição de menor contato, isso se dá sobre a pelve, com uma discreta flexão,
adução e rotação interna do fêmur, sentiremos os famosos estalos no quadril.
Esse mecanismo por si só não é capaz de luxar o quadril, somente um trauma
na altura do joelho de uma força de forma centrípeta será capaz de luxá-lo. Isso
é muito comum em acidentes automobilísticos, quando as mulheres
costumeiramente andam no banco do passageiro com as pernas cruzadas.
49

Figura 24 – Mecanismo de Formação da Subluxação do Quadril

Isso seria muito simples de observar em nossos pacientes se esses minúsculos


movimentos da articulação sacro ilíaca acontecessem separadamente, porém na
clínica raramente encontramos um paciente com única alteração. Na prática
podemos encontrar:

1- Posterioridade do ilíaco Direito


2- Anterioridade do ilíaco Direito
3- Fechamento do ilíaco Direito
4- Abertura do ilíaco Direito
5- Posterioridade do ilíaco Esquerdo
6- Anterioridade do ilíaco Esquerdo
7- Fechamento do ilíaco Esquerdo
8- Abertura do ilíaco Esquerdo
9- Posterioridade dos ilíacos Direito e Esquerdo
10- Anterioridade dos ilíacos Direito e Esquerdo
11- Abertura dos ilíacos Direito e Esquerdo
12- Fechamento dos ilíacos Direito e Esquerdo
13- Posterioridade do ilíaco Direito e anterioridade do ilíaco esquerdo
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14- Posterioridade do ilíaco Esquerdo e anterioridade do ilíaco direito


15- Fechamento do ilíaco Direito e abertura do ilíaco esquerdo
16- Fechamento do ilíaco esquerdo e abertura do ilíaco direito
17- Posterioridade do ilíaco direito e fechamento do ilíaco esquerdo
18- Posterioridade do ilíaco esquerdo e abertura do ilíaco direito
19- Posterioridade e abertura do ilíaco direito
20- Posterioridade e abertura do ilíaco esquerdo
21- Anterioridade e abertura do ilíaco direito
22- Anterioridade e abertura do ilíaco direito
23- Posterioridade e abertura do ilíaco direito
24- Posterioridade e fechamento do ilíaco esquerdo
25- Anterioridade e fechamento do ilíaco direito

Podemos ainda ter um fechamento com posterioridade à direita, com uma


abertura e anterioridade a E; fechamento e anterioridade a D, com abertura e
posterioridade a E. Como perceberam, as combinações são finitas, mas
inúmeras.

Cintura Escapular

A cintura escapular é formada por um conjunto de cinco articulações: a esterno


clavicular que liga o esterno a parte medial da clavícula, a articulação acrômio
clavicular que une o acrômio a parte lateral da clavícula, a articulação costo
vertebral que liga as costelas em sua parte posterior a escápula em sua face
interna (na verdade é um apoio que se dá) e a articulação gleno umeral que une
a cabeça do úmero a escápula. Essas articulações devem estar em completa
harmonia para que o ombro e a caixa torácica funcionem bem.

Sabemos que até 90 graus os movimentos são executados puramente pela gleno
umeral, mas quando elevamos o úmero além de 90 graus é onde os problemas
começam a aparecer, pois a gleno umeral é uma articulação extremamente
móvel, e sem as outras articulações seria impossível que esses movimentos
acima de 90 graus acontecessem sem uma boa fixação das escápulas, costelas,
externo e clavícula.

O ombro é capaz de realizar a flexão, a extensão, a rotação interna, a rotação


externa e a circundução da gleno umeral. Além desses movimentos pode
realizar também a elevação do ombro, o abaixamento do ombro, a adução da
escápula, a abdução da escápula, a rotação medial da escápula e a rotação lateral
da escápula. Movimentos estes que ocorrem a partir do tórax.
51

O principal músculo da articulação costo vertebral é o serrátil e é ele que fixa a


escápula às dez primeiras costelas, permitindo um bom funcionamento das
outras articulações. Pois para todo movimento que precise de uma boa fixação
escapular o serrátil deverá estar acionado, e o outro músculo que trabalha em
conjunto com ele é o trapézio fibras médias, como já sabemos é um músculo
potente.

O serrátil e o trapézio fixam a escápula em oposição, enquanto o serrátil abduz,


o trapézio além do romboide aduz as escápulas. Como sabemos o trapézio,
sendo um músculo forte e potente, facilmente vence essa disputa com o serrátil,
desequilibrando todo esse conjunto. Por isso citamos anteriormente a
importância da ativação do serrátil para qualquer movimento.

Figura 25 – Serrátil Anterior

Além dessa questão, temos mais uma situação a contornar na articulação costo
vertebral, que é a diferença da força dos músculos responsáveis pela elevação e
depressão do ombro:

Músculos da elevação: parte superior do trapézio, extremamente forte e


elevador da escápula, além dos romboides.

Músculos responsáveis pela depressão do ombro: parte inferior do trapézio e


serrátil.

Antes do questionamento que o trapézio funciona nas duas ações, tanto na


elevação, quanto no abaixamento escapular, logo os digo que não podemos nos
52

esquecer de um pequeno detalhe, que as fibras superiores do trapézio,


romboides, além de intercostais, escalenos, esternocleidomastoideo, auxiliam o
diafragma na inspiração, sendo músculos acessórios da respiração, o que os
torna mais forte e tensos. Por essa questão a tendência é a elevação dos ombros.

Figura 26 – Atleta que mostra claramente, com o seu ombro superior direito, a
tendência de elevação dos ombros

Além desses movimentos, a articulação costo vertebral ainda é capaz de realizar


a rotação lateral das escápulas através dos músculos: serrátil que a abduz, parte
superior do trapézio que eleva o acrômio no sentido da cervical, e o trapézio
inferior que traciona a espinha escapular em direção a coluna torácica.

A rotação medial é feita pelos romboides, que por sua distribuição de fibras
oblíquas, roda a escápula, e o levantador da escápula que tem sua inserção na
borda superior interna da escápula a traciona em direção a cervical.
53

Figura 27 – Abaixamento

Figura 28 - Adução
54

Figura 29 – Abdução

Figura 30 – Rotação Medial


55

Figura 31 – Rotação lateral

Figura 32 – Elevação
56

Na articulação gleno umeral, o peitoral maior, quando seu ponto fixo está no
úmero, as fibras superiores abaixam a clavícula enquanto as fibras inferiores
são inspiratórias.

O grande dorsal, com sua porção fibrosa, é o grande elo de ligação entre as duas
cinturas, e por ser um músculo que contém fibras em várias direções e
poliarticular, devemos estar sempre atentos as suas compensações que podem
ser as mais diversas. Tanto limitantes da flexão dos ombros em sua completa
amplitude de movimento, como para o favorecimento da hiperlordose, ou ainda,
as duas compensações juntas quando em encurtado em forma de arco.
57

A realidade brasileira perante a


fisioterapia

Antes de começarmos a elucidar a evolução das cadeias musculares, e o que


temos de melhor dentro da fisioterapia, que são nossas mãos perceptivas e nossa
visão que tudo deve captar numa totalidade, falaremos um pouco, sobre a cruel
realidade no campo fisioterápico no nosso país.

Este capítulo não tem como objetivo entrar em nenhuma discussão política ou
filosófica. Simplesmente alertar os profissionais da nossa triste realidade.

O Brasil por ser um país com grande extensão territorial, com mais de 200
milhões de habitantes, onde o governo não arca com um serviço público de
qualidade, ou no mínimo satisfatório, somando-se a esse quadro possui uma
desigualdade social que beira um abismo sem limites. Quero salientar aqui, que
está situação da saúde atravessa vários governos.

Os brasileiros pertencentes as classes A e B, classes com mais condições


financeiras, têm acesso a um serviço de excelência, pois possuem vários
médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas e
nutricionistas de primeira linha em todas as especialidades com excelentes
hospitais, não ficando nada aquém aos médicos e hospitais dos países de
primeiro mundo.

Já a classe C, sem saída, opta pelo serviço de saúde privado institucionalizado,


contratados através de planos de saúde (seguros de saúde privados), que
oferecem desde um seguro básico até seguros de ótima assistência, que quanto
melhor esse seguro mais custoso. A classe C acaba optando por um seguro
mediano ou básico, muitos desses não oferecem acesso aos hospitais de
referência, já que esses seguros ou planos de saúde, pagam muito pouco aos
profissionais a ele cadastrados, logo esses profissionais da saúde são obrigados
a atender uma demanda muito grande de pacientes por hora de trabalho, não
podendo assim oferecer um bom tratamento.
58

No Brasil, por exemplo, a fisioterapia oferecida por esses planos não passam de
um serviço sem uma avaliação visando a totalidade do indivíduo, limitando-se
a tratar uma parte do corpo, como sugerem os convênios, e muito menos, a um
bom atendimento. Os pacientes são atendidos como produtos de uma fábrica
que se produz carros, de uma maneira protocolada, com vários pacientes juntos.
Esse número de atendimento pode chegar, em alguns casos, em vinte ou mais
pacientes por fisioterapeuta, por vez, isso quando o serviço é oferecido pelo
fisioterapeuta, pois em alguns casos são feitos por assistentes de fisioterapia,
profissão não regulamentada pelo Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional (Creffito), que são pessoas contratadas e treinadas a seguirem o
protocolo proposto pelo fisioterapeuta. Diante do exposto, não preciso deixar
minha opinião sobre essa proposta de trabalho, e a da fisioterapia oferecida a
esses conveniados. Não culpo aqui os colegas fisioterapeutas, que por muitas
vezes, sem muita opção, submetem-se a esse sistema.

As classes D e E, tem duas opções, entrar em um fila que pode demorar anos
para serem atendidas por centros de excelência em pesquisa e ensino ou ficarem
a mercê do péssimo serviço público oferecido pelo governo, que também pode
demorar anos, já que a fisioterapia não é eleita como emergência ou urgência,
aqui no Brasil. As filas para reabilitação dos nossos pacientes, estende-se com
todo descaso. Imagine um amputado numa espera longa para começar sua
reabilitação de seu coto, esses casos de maior urgência tem uma única opção,
os centros de pesquisa e estudos, oferecido pelas universidades brasileiras,
quando o caso é assumido por uma entidade de pesquisa os serviços prestados
são de primeira linha também.

A situação piora muito no eixo norte-nordeste, ou em lugares mais remotos e


periféricos do Brasil, onde os profissionais são praticamente obrigados a rasgar
seus diplomas para trabalharem com o que lhes é possível, andando pelas
periferias da cidade de São Paulo, cidade com o maior PIB brasileiro. Não
raramente, nos deparamos com polias de tração, fornos de Bier, parafina,
turbilhão, por exemplo.

Acredito que a solução para essa grave questão está na nossa consciência: do
aluno, do profissional recém formado, do profissional que foi sugado por esse
sistema e olhando adiante, só vejo uma solução: o estudo seguido após sua
formação básica.
59

A busca pelo saber, uma boa base de conhecimento, mestrado, doutorado,


formação em bons cursos de extensão universitária, aqui gostaria de chamar a
atenção para outro grave problema. Eu disse bons cursos de formação.

No Brasil, com a explosão do RPG o criador da técnica se depara com outros


cursos que lhe são plagiados aos quatro cantos, as vezes por profissionais sem
conhecimento, outras vezes com deturpação da técnica como foi originalmente
criada.

A situação é mais triste quando se trata de Pilates, talvez por seu criador não
estar mais vivo, e ser um método explorado por dois profissionais do
movimento: o fisioterapeuta e o educador físico, tornando a fiscalização quase
inexistente, O que assistimos em Studios de Pilates, mais parecem aulas sem
embasamentos teóricos, sem nenhum respeito ou sem fidedignas aos princípios
do Pilates.

As formações também crescem de forma assustadora sem nenhuma


responsabilidade técnica ou base científica. Como exemplo, aulas de Y
ogilates= Yoga+Pilates, Pilates em Suspensão =Pilates+bambolê+acrobacias,
Fisiumba= Fisioterapia+Zumba, Neo Pilates, Pilates em bases instáveis, entre
tantos outros. Então, quando no início do livro me referi a consciência do
profissional ao escolher seus cursos de extensão universitária, tentava
aconselhá-los a pesquisar a origem da técnica, seus criadores, seus
fundamentos, e principalmente a seriedade e o histórico do profissional que
aplica essa formação.

Podemos também fazer uma comparação aos Fármacos, medicamentos ainda


não aprovados pela Anvisa, que antes de disponibilizados à população passam
por anos de pesquisas, testes em animais, testes em cobaias humanas. Esse
processo pode demorar décadas para chegar ao mercado, fato não existente a
essas novas técnicas de fisioterapia, que são criadas sem embasamentos
teóricos, pesquisas, publicações de artigos e as vezes sem estudos biomecânicos
da técnica.

Falamos tanto nesse livro sobre a unicidade do corpo, logo não caiam também
em formações que caminham na contramão. Como por exemplo: curso que
ensina tratar dor lombar, ou curso que ensina a tratar a condromalácia. O corpo
é um todo e merece ser tratado como tal. Sejamos mais conscientes e tenhamos
um nível crítico antes de nos inscrevermos em qualquer curso que não te levará
60

a lugar nenhum. E pior distorcem as palavras e métodos propostos por seus


criadores.

É como digo, o Brasil possui a melhor e a pior medicina do mundo, depende do


quanto se pode pagar.

Figura 33 – Pirâmide das Classes Econômicas, segundo dados da DataFolha


(2013)
61

A fáscia muscular

“O termo "fáscia" representa o tecido conjuntivo membranoso, um verdadeiro


esqueleto fibroso que inclui o tecido muscular e funciona como peça única”.
Marcel Bienfait

As fáscias são estruturas passivas que transmitem tensões mecânicas geradas


pela atividade muscular e uma de suas funções é diminuir o atrito entre
músculos, vasos, tendões, nervos e ossos. Além disso, a fáscia é a única que
recobre todo o corpo e econômica, pois requer baixo custo energético para sua
manutenção.

Foi a descoberta da fáscia que permitiu essa visão de totalidade e globalidade


corporal que temos hoje em dia, onde estão baseadas as técnicas e métodos que
discutiremos adiante.

O tecido conjuntivo é formado, logicamente por células conjuntivas, os blastos.


Segundo Marcel Bienfait (1995), os blastos em sua fisiologia produzem a
secreção de duas proteínas de constituição: o colágeno e a elastina.

Como em todas as proteínas as duas se renovam, o colágeno é uma proteína de


curta duração, enquanto a elastina é a proteína de longa duração.

O colágeno sendo uma proteína de curta duração se renova durante toda a vida,
e é nela que conseguiremos atuar com efetividade, porque o que estimula a
produção de colágeno é o tensionamento do tecido, e de acordo com o estímulo,
ou seja, a forma do tensionamento, o resultado da secreção é uma.

Se o tecido suporta tensões curtas e repetidas observamos o conjuntivo se


alongar (músculos sadios), pois já vimos que mesmo os músculos tônicos
devem trabalhar em rajadas, somente para reequilibrar o conjunto corporal.
Contrai-se, reequilibra, e logo em seguida relaxa. Em contrapartida se houver
algum desarranjo biomecânico que esteja contribuindo para possíveis
compensações, forçando outros músculos cumprirem a funções desses
músculos que não se relaxam, os músculos necessitam assim realizar uma
62

contração longa, sem o relaxamento. Em sequência o tecido se tornará mais


denso, e perderá sua elasticidade.

Pesquisas recentes apontam para uma nova propriedade da fáscia que é a de se


contrair sozinha, sem ação muscular. O terapeuta Robert Schliep, licenciado em
psicologia, juntou-se ao neurofisiologista Heike Jaeger e desde 2003 na
Universidade de Ulm montaram um laboratório de estudo fascial, onde
descobriram que o estresse pode contrair a fáscia sem os músculos, e estudam
ainda a possibilidade da fáscia possuir seus próprios receptores.
63

As Cadeias

O que são as Cadeias Musculares?

“É um conjunto de músculos de mesma direção e sentido que trabalham como


um só músculo. São geralmente poliarticulares e se recobrem como as telhas
de um telhado”. Madame Mézières

Madame Godelieve acreditava que “o indivíduo se estrutura sobre sua história


de vida. As cadeias musculares irão moldar o indivíduo de acordo com suas
necessidades de expressão corporal”.

Segundo Léopold Busquet (2010) “as cadeias musculares são circuitos


anatômicos através dos quais circulam as forças organizadoras do tronco”.

Já Myers (2014) as descreve como “trilhos anatômicos”.

Cada um dos autores que citarei a seguir, desenvolveram e/ou aperfeiçoaram as


cadeias de acordo com bases anatômicas e mecânicas, seguindo suas
observações clínicas, artigos e exames novos que foram surgindo com o passar
dos anos.
64

10

Osteopatia

Este livro traz uma abordagem dos principais autores da fisioterapia desde
1940, mas não posso deixar de citar a Osteopatia que surgiu antes do século
XIX, e merece o respeito suficiente para aqui ser citada.

A Osteopatia quando criada em 1864 pelo médico americano Andrew Taylor


Still, era considerada uma prática de medicina alternativa, que abordava,
mobilizava e manipulava os sistemas articulares e seus tecidos moles,
acreditando que assim o corpo se curaria sozinho e buscaria a homeostasia. E
que os remédios comprometiam ainda mais esses sistemas.

Still acreditava que todos os sistemas do corpo estavam interligados, sendo


assim a doença de um sistema afetaria todos os outros.

A Osteopatia é uma técnica realizada somente com as mãos e que atua sobre
desordens e disfunções do nosso corpo. Ela se divide em estrutural, craniana e
visceral. A Osteopatia Estrutural visa trabalhar articulações da coluna vertebral
e articulações periféricas (ombro, cotovelo, punho, mão, joelho, tornozelo e pé).
A Osteopatia Craniana trabalha disfunções do crânio e a Visceral trabalha
disfunções das vísceras (gastrites, intestino preso, problemas no útero), mas
falarei somente da Osteopatia Estrutural.

As articulações do nosso esqueleto são justas e firmes graças a ligamentos,


tendões e cápsulas que as cruzam, porém, caso estas estruturas sofram um
acidente ou realizem um movimento incorreto, ainda que simples, ela pode sair
e permanecer fora de lugar causando o que dentro da Osteopatia chama-se de
microlesão.

Para tratar essas micro lesões, Still realizava manipulações, não se sabe
exatamente a origem delas, porem acredita-se que entre os anos 60 e 80 a.C já
eram utilizadas, pois Hipócrates deixou alguns manuscritos descrevendo
combinações de trações para tratamento dos males de coluna.

Na época do renascimento surgiram, por toda a Europa profissionais utilizando


as técnicas de Hipócrates. Esses manipuladores vertebrais eram chamados de
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endireitas, e sua prática foi proibida. Os ensinamentos dos endireitas foram


transmitidos de pai para filho.

Durante a guerra civil americana, Still não se conformava com a perda de tantos
pacientes e resolveu estudar profundamente fisiologia e anatomia para entender
melhor o corpo humano. Durante uma epidemia de meningite em 1864, Still
perdeu vários pacientes, dentre eles, três de seus filhos. Notou também que
todos antes da morte queixavam-se de fortes dores dorsais.

Mais tarde, enquanto tratava uma disenteria hemorrágica notou que o abdômen
do paciente estava frio, enquanto que a parte inferior de suas costas quentes.
Neste momento percebeu uma possível ligação entre o intestino e a coluna,
resolvendo então imobilizar a coluna do paciente e no dia seguinte teve a grata
surpresa do seu paciente estar curado.

Sua fama espalhou-se rapidamente e seus ensinos e inter-relações também.

Still morreu em 1917, deixando sua própria escola a American School of


Osteopathy e várias outras correntes Osteopáticas, dentre elas a Escola
Osteopática de Madri, a British School of Osteophaty e a Escola de Sutherland.
66

Princípios da Osteopatia.

1. A estrutura determina a função

O Ser Humano é um todo indivisível. Suas estruturas são as diferentes partes


de seu corpo (ossos, músculos, pele, glândulas etc.) e a função é a atividade de
cada uma das partes (respiratória, cardíaca, digestóriaetc.). Todas as partes do
corpo tem uma relação entre estrutura e função.

Para Still, se a estrutura está em harmonia, não pode haver doença. Toda doença
se origina de um distúrbio na harmonia da estrutura.

2. A unidade do corpo

O corpo humano tem a capacidade de se autorregular, reencontrando a


harmonia e o equilíbrio em suas estruturas. Para se referir a essa capacidade,
Still usa o termo homeostasia, situando-a no que ele chama de sistema
miofascioesquelético. Tal sistema teria a capacidade de guardar "na memória"
qualquer trauma sofrido.

3. A Autocura

Still afirma que o corpo tem em si mesmo tudo o que é necessário para se curar
e evitar as doenças, porém é necessário que não haja obstruções nos canais
nervosos, linfáticos, vasculares, além da nutrição celular e eliminação de
dejetos.

4. A regra da artéria é absoluta.


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Segundo Still, sendo o mecanismo de envio de nutrientes para as células, a


função arterial é primordial. Se as artérias não funcionarem corretamente, o
sistema venoso será mais lento, o que acumulará toxinas, gerando doenças.

Como vimos a Osteopatia a princípio era de domínio médico e somente agora


é uma prática eleita também pelos fisioterapeutas. Legalizada e com
comprovações científicas.
68

11
Madame Mézières (1947 - 1991)

Como vimos a unicidade do corpo já vinha sendo paquerada antes do século


XX pelos médicos. Mas, para nós fisioterapeutas Mademoiselle Francoise
Mezières foi a grande precursora das cadeias musculares. Nasceu em 1909 em
Hanói, e em 1937 se diplomou fisioterapeuta pela escola francesa Escolei
Francoise d’ Orthopedie. Desenvolveu e ensinou seu método exclusivamente
para fisioterapeutas, por volta de 1947 e faleceu em 1991.

Therése Bertherat sua principal discípula dizia que Mezières era uma mulher
com dons de observação fora da curva habitual. Mezières influenciou vários
alunos, que mais tarde acabaram desenvolvendo seus próprios métodos.

Em 1947, nascia na Franca a técnica proposta por Mademoiselle Francoise


Mezières, através de suas observações clinicas, o método das Cadeias
Musculares.

Como a maioria das teorias, a de Mezières também nasceu de um insight


durante um atendimento. Começou a atender uma paciente para tratamento de
uma cifose dorsal, paciente esta que fazia uso frequente de um colete
estabilizador, a partir daí observou que ao tentar manipular a região dorsal gerou
como resultado uma compensação nos ombros que não estavam sendo
manipulados. A terapeuta então solicitou uma retroversão ativa da paciente para
diminuição de sua lordose lombar, o que gerou o aumento da lordose cervical,
então solicitou que a paciente corrigisse o posicionamento cervical através de
um auto crescimento ativo, o que gerou um bloqueio inspiratório em sua
paciente.

Mézières conclui então que a paciente possuía tal rigidez muscular que seus
segmentos perderam sua autonomia individual, e que quando lhe foi solicitado
a correção local de cada segmento, esse tornou-se impossível de realizar sem o
comprometimento de todo o sistema, aumentando as lordoses por
encurtamento.

Dessa constatação surgem suas primeiras leis:


69

Primeira Lei de Mezières: existem somente lordoses, sendo assim, o crédito de


comprimento ganhado nesta cadeia pode ser enganoso, pois é sempre
recuperado em alguma extremidade.

Segunda Lei de Mezières: a cadeia posterior comporta-se como um único


músculo. O que ordena os demais músculos a trabalharem de forma a seguir os
seus mandatos.

Terceira Lei de Mezières: esta musculatura é sempre forte demais, curta demais,
potente demais. Para ela, a cadeia muscular posterior seria dominante,
estruturalmente profunda e multiarticular, funcionalmente estática (tônica) e de
controle neurológico central inconsciente, estruturada para um trabalho de
sustentação antigravitacional.

Quarta Lei de Mezières: um tratamento global dessa cadeia só poderá ser feito,
se contermos todas as compensações.

Quinta Lei de Mezières: cada cadeia deve aceitar a postura excêntrica, para
além da cadeia posterior, existe também um conjunto de cadeias sinérgicas a
posterior.

Sexta Lei Mezières: um esforço muscular pode gerar um bloqueio na


respiração.

A partir dessas observações, Mezières afirmava que a questão não estava na


fraqueza dos músculos posteriores, mas sim em sua forca excessiva, logo o
tratamento estava baseado em soltar os músculos posteriores para libertar as
vertebras de seu arco côncavo, lembrem-se que Mézières só aceitava as
lordoses.

A nova proposta de Mezières se pautava em sua primeira observação de que


cada vez que tentava diminuir uma curvatura do eixo vertebral, a curva ou
compensação se deslocava para outro seguimento. Surgindo então o conceito
da globalidade. O tratamento se baseava em posturas excêntricas mantidas
durante longo tempo, corrigidas de maneira ativa, enquanto o paciente em
postura lhe era solicitado uma sucessão de inspirações e expirações forçadas,
com expirações lentas e prolongadas, sem apneia e com a insuflação do ventre.

Na tentativa de alongar os pilares diafragmáticos, acreditava que assim


devolveria a fluência dos músculos por dilaceração do tecido conjuntivo e
estimularia o efeito de memória pelo prolongamento da postura, sempre
70

evitando a rotação interna dos membros. Dois anos mais tarde publicou a
“Revolução na Ginástica Ortopédica”, na França, cuja publicação afirmava que
as lordoses participam da origem de todas as deformações, pois estas estão
presentes devido a compensações musculares causadas pelas lordoses.

Mezières criou um método de reeducação postural, que parte do princípio de


que temos músculos posteriores mais potentes do que os anteriores, e que esses
músculos trabalham de uma forma contínua. A esse cadeia deu o nome de
Cadeia Muscular posterior, afirmando que só existem lordoses e que todos os
desvios de postura seriam causados por essa cadeia, sendo assim o alongamento
dessa cadeia seria um tratamento eficaz, desde que se evite todas as
compensações. Além disso, propôs que o desequilíbrio de tensão dos músculos
agonistas e antagonistas, geraria um benefício para a rotação interna, mais
acima cito a ação do músculo Psoas, que se torna nesse caso um importante
rotador interno.

A base de seu tratamento estava no alongamento dos músculos posteriores,


através posturas, principalmente naqueles que causam as lordoses e nos
músculos rotadores internos posteriores, com o objetivo de obter a fluidez das
massas musculares e corporais.

Seu trabalho, por vezes gerava violentas reações, que a indicava e a estimulava
por estar indo no caminho certo. Mezières explicou que a base de seu tratamento
agia, principalmente sobre o sistema simpático e parassimpático, sobre os
sistemas de auto defesa do corpo, que confusos pelas informações aferentes
transmitidas a eles através dos músculos, sentia-se obrigado a abandonar velhos
hábitos, e por não mais se reconhecer, assusta-se, por mais desagradável que
seja sua imagem habitual.

Baseava-se muito no senso inato de beleza, e dizia que qualquer movimento


que enfeie a pessoa não pode estar correto, muito menos ser benéfico.

As cadeias musculares de Mezières, não possuem uma definição específica,


sendo assim, um conjunto de observações clínicas propostas pela mesma,
deixou poucos escritos, pois era puramente clínica, mas se calcula que formou
mais de 1.500 profissionais só na França e influenciou mais tantos outros.
71

Descrição das cadeias de Mezières

Madame Mézières baseada em seus conceitos desenvolveu quatro cadeias


musculares:

1- A cadeia posterior: composta por todos os músculos posteriores.


2- A cadeia braquial: formada músculos anteriores do braço, antebraço
e mão.
3- A cadeia ântero-interna: onde constam os rotadores internos dos
membros inferiores, músculos diafragma e iliopsoas.
4- A cadeia anterior cervical: compreende os músculos escalenos,
peitoral menor, intercostais e diafragma.

Não posso deixar de exprimir aqui minha reverência pela genialidade de


Mezières, pois foi a primeira fisioterapeuta a observar a inter-relação dos
músculos, fáscias e ligamentos.

Ainda que hoje sua técnica tenha sido melhor explicitada, aprimorada, ou até
mesmo possua algumas contradições biomecânicas, foi Madame Mézières a
grande responsável, através de seu olhar clínico, a primeira capaz de ir contra
uma corrente fisioterápica que na época era ensinada nas escolas de formação,
a primeira fisioterapeuta com coragem para ir contra grandes instituições e
divulgar suas próprias ideias, a observar e desenvolver o conceito das cadeias
musculares.
72

12
Marcel Bienfait

Um dos seguidores de Mezières, mas foi um grande estudioso da postura


estática e defendia que a reeducação estática local não poderia ser
negligenciada, como estava sendo a partir do conceito da globalidade.

Acreditava que esse conceito por muitos fisioterapeutas vinha sendo utilizado
de forma indiscriminada, como fator preponderante muitas vezes para esconder
suas deficiências anatômicas e fisiológicas.

Não era contra as posturas de Mezières, mas acreditava que as deformações,


iniciavam-se nos músculos ou mesmo numa disfunção articular, que
posteriormente geraria uma cadeia muscular deficitária e que certas retrações e
encurtamentos só poderiam desaparecer ou melhorar através de tratamentos
localizados.

Sua proposta e trabalho se baseava nas retrações músculo aponeuróticas,


quando ainda em estágio de não fixação, pois acreditava que depois que essas
fixações se transformassem em encurtamentos seria impossível revertê-las,
defendia que a terapia manual tem seus limites.

Todas suas manobras se seguiam de um relaxamento após um tensionamento,


que segundo ele, esse tensionamento provoca um deslizamento das miofibrilas
de actina, no sentido do alongamento dos sarcômeros. Esse tensionamento deve
ser lento, regular e progressivo, nunca ultrapassando a elasticidade do tecido.
Logo não é um alongamento, o paciente não deve sentir dor e a sensação deve
ser de relaxamento. Contraditório? Não.

Bienfait( 1995) usava as seguintes palavras para descrever a sua manobra de


pompage:

O fisioterapeuta deve se portar como um ladrão


ao invadir o corpo (casa) do paciente, de forma
lenta e sútil para não disparar os alarmes da
73

casa, como por exemplo, os Órgãos Tendinosos


de Golgi, pondo a perder todo o ganho de
elasticidade da manobra.

Desenvolveu então um trabalho preparatório progressivo, para só depois


colocar seus pacientes em postura. Esse seu trabalho foi denominado de
fisioterapia estática, e não se considerava o criador de um método. Esse seu
trabalho se baseava em algumas leis:

1- Acreditava que para corrigir alguma deformidade era preciso evitar


suas compensações, assim como Mezières.
2- Defendia que numa compensação fixada era preciso corrigi-la antes
da deformidade, antes de posturar o paciente.
3- Para corrigir, era necessário abrir as concavidades, ou seja alongar o
que está curto demais.

A partir daí criou um postulado para o desenrolar de suas sessões:

1- Contato com o paciente.


2- Exame dos apoios em decúbito dorsal.
3- Educação Respiratória.
4- Posturas de alongamento e manobras de correção manual.
5- Aquisição do trabalho em postura.
6- Trabalho sobre os pés.
7- Retorno a avaliação dos apoios em posição deitada.

Contato com o paciente

Sua sessão sempre começa com uma fase de preparação, uma apresentação das
mãos do fisioterapeuta ao corpo do paciente e deve ser realizada de forma sutil
e relaxante, que propicie a esse corpo aceitar com mais facilidade ao trabalho
que se seguirá. Consta de duas manobras: Pompage Global e Pompage
Torácica.

Exame dos apoios em decúbito dorsal

Acreditava que as compensações presentes e observadas em pé desaparecem


quando o paciente é colocado em decúbito dorsal, permanecendo somente as
deformidades, que devem ser tratadas isoladamente, mas o principal objetivo
era a conscientização do paciente e realizava esse trabalho de percepção a cada
sessão, em seu início e no final.
74

Educação Respiratória

Utilizava em suas sessões o que chamava de expiração relaxante, construída em


cinco fases objetivando o relaxamento durante uma expiração mais prolongada,
sem ação dos músculos abdominais.

Posturas de Alongamento

É somente nessa fase que o trabalho em postura se inicia com alongamentos


simples, porém globais, de cadeia fechada. Realizadas com manobras de
correções manuais desenvolvidas para cada tipo de compensação.

Aquisição e Trabalho em Postura

Nessa fase de aquisição da postura é que o fisioterapeuta procurará eliminar as


compensações, a partir da deformidade inicial em uma posição que torne
impossível a volta dessas compensações, não é possível corrigir uma
deformidade sem antes eliminar suas compensações. O trabalho em postura só
é iniciado quando a postura for possível para a correção do desequilíbrio inicial.
Essas duas fases são tecnicamente semelhantes.

Trabalho sobre os pés

Bienfait acreditava que executar a correção dos pés em postura é muito difícil,
logo desenvolveu uma série de Pompages para tal objetivo.

Marcel Bienfait, como grande estudioso, teve todo o seu mérito ao agregar
diversos conhecimentos e contestar, a ideia da negligencia do tratamento local,
que passou a ser subestimado após a divulgação das cadeias de Madame
Mézières. De forma alguma era contra as cadeias, mas acreditava que até chegar
as posturas, as desorganizações locais deveriam ser corrigidas,
progressivamente de forma sutil com as tensões locais sendo minimizadas, os
desajustes articulares serem trabalhados. Só então era a hora certa para posturar
o paciente. Sugeriu as Pompages usadas até hoje com grande eficiência.
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13
Madame Thérèse Bertherat

A grande sensibilidade pela fisioterapia e de uma sutileza aguçada, os livros de


Madame Thérèse Bertherat nos traz deliciosos deleites, pois mais nos remete a
leituras sobre contos do que propriamente um livro didático sobre fisioterapia.
Em suas valiosas observações, nos ensina, antes de mais nada, a sermos
terapeutas no mais profundo sentimento de curar, e transmite em suas palavras,
ensinamentos poéticos de nossa nobre profissão.

Bertherat se mudou para Paris e logo após a morte trágica de seu marido entrou
em contato com a Sra. Ehrenfried, uma médica que refugiada do nazismo se
instalou em Paris e trabalhava com uma certa ginástica, assim denominada por
falta de um nome mais específico.

Sra. Ehrenfied sempre trabalhava um lado do corpo por vez, pois defendia que
quando um lado do corpo vive plenamente, o outro (lado patológico) não
aguenta mais viver em inferioridade e sucumbe, buscando a simetria e torna-se
disponível ao ensino, que parte da metade mais perfeita. Sua ginástica constava
de movimentos suaves e precisos que ajudavam a soltar os músculos, liberando
assim uma energia até então desconhecida. Não tocava em seus alunos, pois
não queria que eles simplesmente a imitassem e nem que seus corpos seguissem
à pressão de suas mãos, acreditava que seus alunos teriam que chegar por si
mesmos à descoberta sensorial do próprio corpo.

Defendia também que um esforço novo para o corpo, exigia o emprego de


impulsos nervosos nunca empregados antes, e jamais permitia que sua ginástica
fizesse seus alunos suarem, caso isso acontecesse, ela acreditava que haviam
deixado de ouvir o corpo, portanto seu trabalho era delicado e preciso.

Madame Bertherat completamente fascinada com os resultados obtidos em seu


próprio corpo resolveu então se formar em fisioterapia, mas ao fim do curso
ficou completamente decepcionada com os métodos aplicados na época, como
mesas de tração, polias, coletes, entre outros, que pra ela mais soavam como
uma tortura. Foi então apresentada ao trabalho de Madame Mézières.

A partir de então, começa a clinicar com o método de Mezières, sem perder de


vista seus ensinamentos iniciais. Mais tarde criou seu próprio método que ficou
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conhecido como antiginástica, mas que foi concebido como Preliminares.


Método em que antes submetia seus pacientes a descobrir suas tensões
conscientizando-os de que seu corpo é sua morada, e assim, por conseguinte, já
com consciência e com seus músculos relaxados os submetia ao Método de
Madame Mézières.

Não posso encerrar esse capítulo sem citar algumas das palavras de Bertherat
(2010) com sua sensibilidade sem igual:

“Nesse instante, esteja onde estiver, há uma casa


com seu nome. Você é o único proprietário, mas
faz tempo que perdeu as chaves. Por isso, fica de
fora, só vendo a fachada. Não chega a morar
nela. Essa casa, teto que abriga suas mais
recônditas e reprimidas lembranças, é o seu
corpo.

Se as paredes ouvissem: na casa que é o seu


corpo, elas ouvem. As paredes que tudo ouviram
e nada esqueceram são os músculos. Na rigidez,
crispação, fraqueza, dores dos músculos e das
costas, pescoço, diafragma, coração e também do
rosto e do sexo está escrita toda a sua história
desde o nascimento até hoje.”

Como diria Madame Thérese Bertherat (2010), sem perceber, desde os


primeiros meses de vida, você reagiu a pressões familiares, sociais, morais.
Ande assim. Não se mexa. Tire a mão daí. Fique quieto. Faça alguma coisa. Vá
depressa. Aonde você vai com tanta pressa? Atrapalhado, você se dobrou como
pode. Para se conformar, você se deformou. Seu corpo de verdade-harmonioso,
dinâmico e feliz por natureza foi sendo substituído por um corpo estranho que
você aceita com dificuldade, mas que no fundo você rejeita. Nunca é tarde
demais para se liberar da programação do seu passado, para assumir seu próprio
corpo, para descobrir possibilidades até então inéditas.

Bertherat agregou aos ensinamentos de Mezières, a percepção corporal como


base de início para qualquer trabalho postural, e ao longo de sua experiência
clínica, foi se apoderando de algo que até então ninguém havia se atentado, que
os fatores psicossomáticos também eram capazes de interferir drasticamente
nos movimentos.
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14
Madame Godelieve Denys-Struyf G.D.S.
(1960/1970)

Madame Godelieve Denys-Struyf é fisioterapeuta e osteopata, nasceu no antigo


Congo e lá viveu até seus 16 anos em uma fazenda de cacau. Sendo de família
Belga, retornou à Bélgica e matriculou-se na Escola de Belas Artes de Bruxelas,
para refinar seu dom de retratista nata. E como desenhista sempre tentava passar
aos seus alunos mais tarde que já como terapeuta aprender a ver.

Suas Cadeias são musculares e articulares. Denys-Struyf, fisioterapeuta e


retratista, concebeu um conjunto de posturas designativas de estados
psicofísicos, e personalísticos específicos e idiossincráticos, que surgiram
baseados em pressupostos teóricos de alguns métodos, como por exemplo: a
Facilitação Neuro Muscular Proprioceptiva, a linha Mézièrista e a percepção da
coordenação motora, que possuem como ponto em comum de acreditar que o
tecido muscular é um conjunto indissociável: o tecido fibroso.

O Método de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva, foi desenvolvida por


Kabat em meados de 1950, sendo o primeiro a considerar a solidariedade dos
músculos como reestruturação do movimento. Criou vários exercícios
combinados e com bases em espirais baseados em padrões primitivos, e seu
objetivo era através do reflexo de estiramento realizar a estimulação de
mecanismos neuromusculares através da estimulação de seus proprioceptores,
reestruturando o movimento, trabalhava os grupos musculares de forma isolada,
mas já no conceito de globalidade.

As Cadeias Musculares e Articulares GDS acreditam no conceito de que nossa


atitude postural e a forma de nosso corpo deriva de uma multiplicidade de
fatores: desde a genética até o psiquismo e o comportamento. Há seis famílias
de músculos que dão ao corpo a possibilidade de se expressar. A cada uma
dessas famílias corresponde uma tipologia psico comportamental. Entretanto,
elas podem, em consequência de uma constância de tensão, aprisionar o corpo
em uma determinada tipologia, dificultando sua adaptabilidade mecânica e
comportamental e tornando-se, então, fonte de sofrimento. Neste momento,
configuram-se no corpo cadeias de tensão musculares.
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Em seu método considera que os problemas posturais podem não ser iniciados
em músculos isolados, e agregou outros fatores negligenciados por muitos
fisioterapeutas, como fatores ligados a totalidade psicomotora e vivência que é
individual.

As causas de lesões no aparelho locomotor estão associadas a impulsão global


do corpo na eretabilidade e cada impulsão é o que determinam nossos gestos,
por sua vez a repetição desses fixam nossa tipologia, que é única para cada
indivíduo.

Cada um possui sua tipologia morfocomportamental, porém em quantidade e


qualidade variáveis para cada um. Alguns músculos podem expressar um
autêntico impulso interior para expressar um comportamento exigido pelas
circunstâncias. Godelieve, enxergava seu paciente como uma amálgama da
tipologia basal com a tipologia adquirida, nesse amálgama estão: o hereditário,
o genético, o racial, o cultural, o familiar, o profissional e o social. No centro
desse quadro, o projeto pessoal da forma e do comportamento desenvolvidos
ao longo da vida.

O método das cadeias osteoarticulares e músculos aponeuróticas e suas técnicas


de correção foram desenvolvidos entre os anos de 1960 e 1970.

Abordagens de Godelieve:

1- Método de leitura corporal, gestual e das formas para delimitar o


psico fisiológico do indivíduo que proporciona a nós fisioterapeutas
identificar seus pontos fortes e fracos.
2- É um método de conscientização visando a utilização harmoniosa do
corpo para preservação de sua mecânica.
3- Godelieve falava em esculpir um corpo vivo.

Segundo Godelieve, o psiquismo deixa seu sinal num simples gesto, nascendo
daí a forma corporal, e por conseguinte, marcas no corpo. Outro fator de
influência seriam as vivências do indivíduo: trabalho, esporte, cirurgias,
sedentarismo etc.

A biotipologia seria então o resultado entre as características genéticas e a


vivência do indivíduo.

A falta de elasticidade encontrada em determinados músculos pode ser gerado


por excesso de atividade em uma cadeia muscular. Caso apareçam daí
79

movimentos descoordenados, a cadeia dominante fixa essas deformidades


corporais.

As cinco estruturas psicocorporais:

1- Cadeias Anteromedianas- AM

A atividade preferencial das cadeias anteriores e medianas AM estão associadas


à afetividade, ao sensorial, à necessidade de ser amado. As cadeias AM são
responsáveis pelo bom posicionamento de D8 e da ancoragem do corpo. Estas,
com a sua necessidade de toque, tem um papel fundamental na construção do
ego e da consciência corporal.

A cadeia AM é constituída pelos seguintes músculos: períneo, reto abdominal,


peitoral maior em suas porções inferior e média, triangular do esterno,
intercostais médios, subclavicular, escaleno anterior, porção esternal do
esternocleidomastóideo, hióideos anteriores do pescoço, músculos da estrutura
bucal.

Percebam que os músculos citados estão envolvidos com o enrolamento


corporal para poder manter o equilíbrio de um tronco que se encontra inclinado
para trás e a cabeça em protrusão, além do apoio nos calcanhares.

Comportar-se em AM é viver em espera, limitando o imprevisível, se apoiando


na experiência e no bom senso. Constrói seu futuro com base nas suas
aquisições do passado.

AM é afetiva, sentimental e de natureza sensorial. Na postura AM de um


indivíduo pode estar o resultado de sua escolha comportamental, ou pode estar
em defesa, em situação de carência, sem, no entanto, favorecer seu bem-estar.
A postura AM está ligada a busca pela mãe.
80

Figura 34 - AM

2- Cadeias Posteromedianas- PM

A atividade preferencial das cadeias posteriores e medianas PM estão


associadas à necessidade de ação, de realização e desempenho, levando a uma
atitude em propulsão. As cadeias PM tem um papel primordial na manutenção
da verticalidade, freando a queda do corpo para frente.

A cadeia muscular PM tem como seus principais músculos: paravertebrais do


segmento lombar e dorsal: grande dorsal e iliocostal. A cadeia PM termina nas
estruturas aponeuróticas, que se estendem do occípto até a região orbicular. Ao
contrário da cadeia AM, o equilíbrio encontrado empurra o corpo para frente, e
os apoios no ante pé, a coluna lombar se posicionará em hiperlordose, ou pelo
menos uma anteversão da pelve que flexionará o quadril em busca do centro
81

gravitacional. Já a coluna cervical estará em extensão, o que pode leva-la ao


longo prazo em grande sofrimento.

Comportar-se em PM é uma expressão de uma motivação e de uma escolha.


Sentir-se realizada nessa expressão psicocorporal, sendo então projetado para o
futuro, e com escolhas de agir nesse futuro. São pessoas orientadas para o
progresso, o êxito de um projeto, a superação e a competição. Essa
personalidade gera, por outro lado, se o sucesso não for atingido, uma tendência
a dispersar-se e se desconcentrar, desestabiliza-se, torna-se ansiosa, fisicamente
frágil e se dilui psiquicamente.

O passo seguinte será de um corpo basculado para frente, quando a estrutura


oposta AM está em carência, colocando forças antagônicas em ação que não se
coordenam mais. Assim perante PM há AM, o indivíduo entrará em sofrimento.
A proposta de Godelieve é muito honesta e é chamada de igualização das
tensões e uma desescalada das forças que se opõem. Essa cadeia está ligada a
busca pelo pai.
82

Figura 35 – PM

3-Cadeias Posteroanteriores e Anteroposteriores- PA e AP

As três atitudes são subtensionadas muscularmente por uma mesma motivação:


a necessidade de ser, da construção da individualidade e da busca do ideal em
todos os níveis. Dois encadeamentos musculoaponeuróticos se subtensionam
gerando essas três atitudes, que no seu funcionamento fisiológico devem
alternar suas respectivas atividades para manter o ritmo respiratório, o
equilíbrio das massas, o eixo vertical e o centro de gravidade.

As cadeias posteroanteriores PA entram em atividade na fase inspiratória e as


cadeias anteroposteriores AP, na expiratória. Quando essas duas cadeias
perdem a sua alternância fisiológica, é gerada a atitude PA-AP. Essa cadeia é
responsável pela manutenção da postura estática dentro do polígono de
sustentação.
83

3- Cadeia Principal
A. O grupo dos sentinelas do eixo vertical são PA (músculos profundos
da coluna vertebral posteriores) transversários profundos,
intertransversários, interespinhosos, pequenos músculos occipito-
atlas e axiais.
Anteriores: pré-vertebrais, longo do pescoço, reto abdominal,
pequeno reto abdominal. Eles são responsáveis pela extensão axial.
B. O grupo dos músculos respiradores pressores, são PA-AP.
São os músculos que participam diretamente da dinâmica
respiratória, músculos que agem diretamente sob as diferenças de
pressões entre as cavidades torácicas e abdominais: supracostais,
intercostais externos, diafragma, transverso do abdômen, intercostais
internos (PA AP-AL), intercostais médios (PA AP-AL-AM).
C. São os músculos reguladores do centro gravitacional, são
essencialmente AP: esplênios, quadrado lombar (no plano frontal).
Escalenos médios e posteriores, além do psoas (nos três planos).

Figura 36 – PM PA AP AM

D. Grupo dos músculos de transição: pertencem a AP-PL-AL.


São os músculos que ligam PA AP as cadeias musculares horizontais
84

que se prolongam ao longo do tronco, formando um sistema de


socorro respiratório.

PL:
Inspiração forcada
Estabilizam a escápula: angular, romboide e trapézio médio.

Inspiradores:
Serrátil anterior e pequeno serrátil posterior-superior

AL:
Expiração forcada: serrátil menor póstero-inferior, intercostais
internos juntando-se a cadeia AM através dos intercostais médios.

Músculos que ligam a cadeia principal do tronco às cadeias


secundárias do plano horizontal: ilíaco aos membro inferiores e
peitoral menor aos membros superiores.

PA-AP: ereta na inspiração e relaxada na expiração.


Essa dupla de estrutura corporal oferecem ritmo a estática humana
com a respiração.

Em harmonia AP-PA ou PA-AP, conforme uma expressão corporal


estão unidas, e quando separadas, sem oferecer esse ciclo oscilatório,
estarão frágeis.
Por um lado, a aparência de fragilidade em PA-AP, e por outro, a
energia da vida em AP-PA.
Essas cadeias obedecem a lei do mínimo esforço.

Comportar-se em PA isolada, se manifesta por rigidez psico


comportamental. Já uma AP isolada, é manifestada pela falta de
energia, alguém à deriva.
4- Cadeias Anterolaterais

A atividade preferencial das cadeias anteriores e laterais AL está associada a


um modo relacional preferencialmente introvertido, caracterizado por uma
seleção diante das trocas com o meio. Essas cadeias favorecem a adução, a
flexão e a rotação interna da raiz dos membros, gerando uma atitude de
recolhimento e podendo, no excesso, chegar a achatar o corpo no próprio eixo.
85

Como se referem basicamente aos membros superiores e inferiores


discutiremos em um outro momento.

Figura 37 - AL

5-Cadeias Posterolaterais

A atividade preferencial das cadeias posteriores e laterais PL estão associadas


a um modo relacional preferencialmente extrovertido, caracterizado pela
necessidade de entrar em comunicação. Essas cadeias favorecem a abdução e a
rotação externa das raízes dos membros, gerando uma atitude desdobrada.
86

Figura 38 – PL

Tratamento:

Livrar o corpo dessas cadeias de tensão e padrões psicológicos, além de


proporcionar ao paciente a consciência do seu eu corporal.

Madame Godelieve foi mais longe que Bertherat, também dirigiu seus estudos
e toda sua vida clínica para as questões psicossomáticas, porém inovou
completamente as cadeias de Mezières. Foi a primeira a propor que as cadeias
se comportam como espirais e explicou suas ideias com toda interligação
psicológica e psico comportamental, além de incluir em seu método
manipulações sutis de ossos e articulações. Se você leitor gosta dessa
abordagem, é a essa especialização que deve se entregar, pois é o que temos de
mais coerente até hoje. Todos os métodos citam as questões psicológicas, mas
nenhum consegue interferir ou mesmo interligar essas questões ao corpo, com
exceção da Osteopatia, que segue por outra proposta, pois fala de sistemas
(órgãos).
87

15
Suzanne Piret e Marie-Madeleine
Bézieres

Seus estudos começaram na década de 60, mas somente em 70 propuseram seu


método. O método de coordenação motora, compartilha com as ideias do
Método de Facilitação Neuromuscular Proprioceptivo.

Acreditando que os movimentos, talvez nunca ocorram em planos puros de


flexo-extensão, abdução-adução, mas sim em planos diagonais cruzados, sendo
essa a base para a construção de movimentos coordenados. Hoje em dia nos
parece óbvio, caso contrário nos movimentaríamos como robôs. Acredita-se
também que por detrás dos diversos movimentos de um indivíduo psico motor
normal, exista um movimento de base, que descreveram como movimento
fundamental, ligado a ação de músculos biarticulares.

Na visão das autoras, esses músculos do movimento fundamental se organizam


para realizar um movimento, desencadeando através do reflexo miotático a
contração dos músculos subsequentes. Acreditam também que o gestual geram
tensões em alguns segmentos corporais, que, por sua vez induzem a torção
nesse mesmo segmento, influenciando a estrutura e a forma do corpo,
desorganizando o movimento fundamental, sendo capaz dessa desorganização
percorrer vários segmentos através dos encaixes articulares, que deveriam
realizar sua interdependência.

Bases da Coordenação:

1- Transmissão da contração muscular


Os músculos pluriarticulares geram a contração sucessiva dos
músculos monoarticulares, organizando-os entre si e garantindo um
movimento coordenado, sendo assim alguns músculos
pluriarticulares são organizadores do movimento, pois possibilitam o
início do trabalho dos músculos subsequentes, e por conduzirem o
movimento de intervalo a intervalo. São chamados de músculos
condutores.

2- Esfericidade articular
88

Todas as articulações se comportam como esferas que se


movimentam em vários planos. Nenhum movimento se desenvolve
em um único plano.

3- Como se constrói o movimento de flexão-extensão


Tomando como exemplo a flexão e extensão do cotovelo, podemos
generalizar como duas articulações esféricas ou elementos esféricos
que se opõem em suas respectivas rotações no âmbito de favorecer
uma terceira articulação, que realizará a flexão-extensão.

4- Como se constrói o estado de tensão


O estado de tensão é baseado em um tripé: o tônus muscular, a
organização dos músculos dois a dois e a organização de vários
músculos entre si, gerindo a coordenação motora.

5- Unidades de coordenação
O estado de tensão que citamos acima é permitido por unidades de
coordenação, que juntas, tencionam todo o corpo.

6- Construção do corpo em um todo por transmissão do movimento


entre unidades de coordenação
Cada unidade de coordenação é indissociável da unidade de
coordenação vizinha. O movimento gerado em uma unidade de
coordenação coincide com o movimento gerado em uma unidade de
coordenação subsequente através dos músculos condutores.

7- Princípio da coordenação, segundo S. Piret e M. M. Bezières (1992)


A organização mecânica do corpo, fundada no antagonismo
muscular, é construída com base no princípio de elementos esféricos
tensionados pelos músculos condutores que, da cabeça à mão e ao pé,
unem todo corpo em uma tensão que rege sua forma e seu movimento,
constituindo a coordenação motora.
89

Variáveis da Coordenação Motora

Apesar da motricidade ser composta por uma mecânica complexa, a


experimentação repetida e progressiva da motricidade é que possibilitam
o desenvolvimento da auto imagem.

Qualquer movimento acentua o padrão de enrolamento, quando o


indivíduo contrai todos os seus músculos com a mesma intensidade. A sua
sensibilidade profunda, permitirá que ele perceba essa mobilidade estável,
caso seja. Ao contrário, um movimento mal organizado retroalimenta essa
auto imagem errônea, muito notada nos consultórios.

Já que o movimento de enrolamento é realizado por músculos diferentes


do endireitamento, nada mais lógico que o tempo da flexão seja mais
rápido que o da extensão e dependa da qualidade individual de cada
músculo.

Piret e Bézières chamam atenção para a pele, pois ela segue os movimentos
articulares, acompanha nossas formas musculares, sendo que qualquer
movimento é capaz de nutrir uma tensão na pele. Logo a pele cheia de
receptores, forma junto com a sensibilidade profunda nossa noção
corporal.
90

Movimento fundamental no tronco

A riqueza da organização mecânica no tronco é a mais complexa, pois faz


através da unidade de enrolamento reunir duas tensões: flexão e torção,
conservando as características do enrolamento e incluindo um volume vazio: as
cavidades torácicas e abdominal.

O enrolamento do tronco se dá através de duas esferas de coordenação: a cabeça


e a bacia que devem se aproximar e se afastar, por conseguinte. O eixo posterior
permite o enrolamento através de seus ossos e vértebras, unidos por espaços
musculares e fibrosos.

O eixo anterior possui a forca dinâmica com possibilidade de um importante


encurtamento muscular, promovendo a união da cabeça à bacia. Onde o pilar
vertical hio-esterno-abdominal se direciona a bacia. Já na pelve é o movimento
de esfera da bacia que orienta o sacro realizando a retroversão do conjunto. No
plano sagital, o antagonismo estabelecido entre a cabeça e a pelve, garantem o
equilíbrio sagital do tronco através de sistemas cruzados elípticos.

Figura 39 – Movimento Fundamental do Tronco


91

Figura 40 – Movimento Fundamental do Tronco

Descrevem também as linhas de quebra de um enrolamento. Todos somos


capazes de fletir o tronco, a grande questão desenvolvida pelas autoras é como
fazemos esse enrolamento. Às vezes, somos surpreendidos com pacientes
extremamente flexíveis capazes de encostar a mão ao solo, na realização da
flexão do tronco, o que pode nos induzir ao erro de acreditarmos que esse
conjunto posterior descrito por Mezières é flexível o suficiente. Porém as
autoras nos propõem a observar algo de extrema relevância em nossa avaliação
do tronco, as linhas de quebra. São nas linhas de quebra que o profissional deve
atuar, para uma melhora do movimento coordenado.
92

Figura 41 – Movimento Bem Coordenado

Figura 42 – Enrolamento Coordenado e Mal Coordenado com Linhas de Quebra


93

Segundo Piret- Bézières (1992) nesse caso, o essencial para uma reeducação
será dirigido à relação, através da qual se descobrirá o corpo em suas sensações
coordenadas, com as noções que ele traz, o espaço-tempo que o constrói em
uma relação própria e a conquista desse espaço a ser descoberto, que é o outro,
nesse jogo de relação.

Piret-Bézières foram buscar muitas noções para criação de seu método na


coordenação motora, e nos trouxe observações valiosas, contribuindo muito
para entendermos melhor a dinâmica corporal. Ampliaram seus estudos para o
movimento fundamental que é esférico e trouxeram as noções das linhas de
quebra do movimento. Juntas com Godelieve, nos mostrou também a
importância da pele para as orientações dos movimentos, além a importância
do espaço-tempo para reconstruímos nossa coordenação.
94

16
Phillipe Souchard

Também aluno de Madame Mézières, talvez seja quem mais fielmente seguiu
seus ensinamentos em princípio. Obviamente através da evolução dos tempos,
seu método também seguiu essas evoluções, de forma morosa, mas seguiu.
Lecionou durante dez anos no Centro de Madame Mézières, localizado no sul
da Franca, com a técnica criada em 1947.

Em 1981 criou seu próprio método, intitulado de Reeducação Postural Global.


Pouco acrescentou em novidades científicas às cadeias de Mezières, sem nunca
citar a similaridade dos métodos, e ceder créditos as observações de 1947 a sua
professora. A criação da Reeducação Postural Global (RPG) por este fato criou
um tremendo mal estar entre os fisioterapeutas e o meio científico.

Com uma boa técnica e um bom trabalho de marketing, explodiu na mesma


década, caindo no gosto dos médicos brasileiros.

Phillipe Souchard talvez seja o fisioterapeuta francês mais plagiado, existindo


diversas vertentes da RPG, adaptada por fisioterapeutas brasileiros. Hoje em
dia leciona em mais ou menos quinze países.
95

Princípios da Reeducação Postural


Global (RPG)

Músculos Fásicos e Tônicos

Phillipe Souchard classifica e diferencia os músculos entre os músculos fásicos


como sendo cadeias musculares dinâmicas e os músculos tônicos como cadeias
musculares estáticas. Ele acredita nos músculos produtores do movimento
fásicos e nos mantenedores da postura ante a lei gravitacional como
musculatura tônica.

Françoise Mezières não valorizava tanto a questão do “fortalecimento dos


músculos fásicos” - tanto ela quanto Bertherat argumentavam que a força da
musculatura fásica/ anterior fluiria após ter sido inibido o tônus da musculatura
tônica/posterior.

Objetivos e princípios da Reeducação Postural (Global):

1- Só as posturas ativas de alongamento podem devolver aos músculos


hipertônicos, rígidos e dolorosos, a sua força, o seu comprimento e a sua
flexibilidade.
2- Faz-se necessário alongar os músculos da estática e os músculos
suspensores, encurtando-se os músculos da dinâmica.
3- Só as posturas de estiramento progressivo e cada vez mais globais,
permitem alongar todos os músculos rígidos, assim como reencontrar a
retração de origem.

Souchard não acredita em alongamentos de grupos musculares isolados, pois,


como sabemos, os músculos estão dispostos em cadeias musculares, logo não
faz sentido alongarmos os mesmos isoladamente. Esse alongamento tiraria
comprimento de alguma outra musculatura da cadeia gerando compensações.
Ele defende que o alongamento deva ser feito de forma global seguindo a
natureza da cadeia.
96

Cada músculo possui diversas funções e realiza várias funções musculares,


portanto se faz necessário alongar o mesmo músculo em todas as suas funções
simultaneamente.

Compara o alongamento dos músculos aos materiais viscosos e elásticos, e a


essa comparação, utiliza-se da mesma forma física para tal. O princípio da
fluagem muscular, estabelece que a capacidade de alongamento permanente do
músculo é o produto da força do alongamento pelo tempo do alongamento,
divididos pelo coeficiente de elasticidade. Portanto o alongamento de Souchard
depende de um tempo mínimo, que é superior aos alongamentos clássicos.
Além disso, o aquecimento gerado pelo tempo de manutenção do alongamento
aumenta o coeficiente de elasticidade.

Propõe também que os alongamentos da RPG sejam sempre ativos e em


excentricidade da musculatura em questão. E, por fim, garante que a respiração
é fundamental, por motivos já vistos anteriormente, já que o diafragma e o
conjunto dos músculos acessórios da inspiração, constituem uma cadeia
muscular lordosante, sinérgica de todas as outras cadeias musculares. Além
disso, o diafragma, segundo Souchard, trabalha como um musculo esquelético
apresentando as mesmas características estruturais, elétricas e funcionais.
Assim sendo, também se encurtam causando desequilíbrios estruturais na
mecânica respiratória.

Esse alongamento deve ser em relaxamento do diafragma e suas progressões


devem ser realizadas em expiração máxima, como o famoso “estufando a
barriga”, pois só dessa maneira será global. Diferentemente de Madame
Mézières, suas posturas, que originalmente foram propostas com retroversão da
pelve, na RPG são executadas com a pelve neutra, adaptação feita devido ao
avanço dos estudos biomecânicos da pelve.

Ao contrário de outros profissionais do movimento, sobretudo os educadores


físicos, esse alongamento deve ser realizado sem aquecimento anterior, pois só
assim este será verdadeiramente eficaz e global.

Portanto podemos afirmar que a RPG propõe um alongamento que deve ser
feito a frio, de forma excêntrica e global, mantido por períodos longo de tempo,
e conduzido progressivamente ao avanço da amplitude articular, sem
negligenciar a respiração.

A RPG baseia-se em três pilares como princípios fundamentais:


97

1- Individualidade:
Acredita que cada indivíduo é único, portanto demonstra reações
diferentes ao tratamento.

2- Causalidade:
A verdadeira causa do problema pode estar distante do sintoma
apresentado (causa/consequência).

3- Globalidade:
Deve-se tratar o corpo como um todo, afim de, reconhecermos a
responsabilidade das retrações musculares nas patologias
musculoesqueléticas.

A RPG acredita que a função estática dos músculos, que se contraem


permanentemente, podem se encurtarem por quase nunca utilizar de sua
potencialidade, contração-relaxamento. Perdendo assim sua elasticidade,
interferindo na flexibilidade corporal, bloqueando os movimentos, que a longo
prazo provocarão a deformação corporal e dor.

A RPG utiliza-se do alongamento muscular ativo, procurando alongar em


conjunto os músculos estáticos antigravitários, os rotadores internos e os
inspiratórios. Trata-se ainda de uma técnica de energia muscular que busca a
inibição recíproca, com os seguintes objetivos:

1- Estimular a descarga dos Órgãos Tendinosos de Golgi, objetivando


um relaxamento por inibição recíproca, pós isometria do músculo
tratado.
2- Minimizar o tremor muscular.
3- Permitir que o paciente permaneça mais tempo na postura.

A RPG busca o alinhamento corporal ideal proposto por Souchard. Em uma


vista anterior, essa linha de alinhamento deve passar pelo centro do osso frontal,
osso nasal, centro do osso hioideo, centro da fúrcula esternal, no processo
xifoide, na linha alba, na cicatriz umbilical, na sínfise púbica, entre os côndilos
mediais e também nos maléolos medias.

Em uma vista posterior, a linha de referência deve passar na protuberância


occipital externa, em todos processos espinhos da coluna vertebral, na prega
interglútea, entre os côndilos mediais e também entre os côndilos mediais.
98

O alinhamento ideal de perfil, passa ligeiramente posterior ao ápice da sutura


coronal, no lóbulo da orelha, através da maioria dos corpos vertebrais cervicais,
da articulação gleno umeral e dos corpos das vértebras lombares. Ligeiramente
posterior ao centro da articulação do quadril, sobre o trocanter maior do fêmur,
ligeiramente anterior ao centro da articulação do joelho, sobre a articulação
calcâneo cuboide e ligeiramente anterior ao maléolo lateral.
99

Biomecânica das cadeias da RPG

É descrito em duas possibilidades:

1- Linha gravitária posterior: sacro horizontalizado, rotação externa de


quadril, pelve antevertida e larga, joelhos valgos, hiperlordose
diafragmática e curvas sagitais aumentadas.
2- Linha gravitaria anterior: sacro verticalizado, rotação interna de
quadril, pelve retrovertida e estreita, joelhos varos, lordose em L4-
L5.

Os tratamentos são individuais e duram cerca de 1 hora, podendo ser praticados


para prevenção e manutenção através das Auto Posturas. Hoje em dia existem
diversos artigos científicos comprovando a eficácia do método.

As cadeias da RPG:

1- Cadeia Posterior
2- Cadeia Anterior do Braço
3- Cadeia Antero Interna do Quadril
4- Cadeia Inspiratória.

Os músculos da cadeia inspiratória são os escalenos, peitoral menor,


intercostais externos e diafragma, onde se considera todos seus pilares de
inserção.

Hoje em dia sabemos que em função de vários artigos e algumas mudanças


biomecânicas, com a comprovação de outros métodos eficazes, suas cadeias
evoluíram e hoje são compostas por oito cadeias.

No Brasil a popularização do método muito prejudicou o fundamento inicial da


técnica proposta por Souchard, pois muitos fisioterapeutas que fizeram suas
formações com ele, depois de um contratempo existido entre o Souchard e o
Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia ocupacional (Creffito), passaram
a ensinar sua técnica livremente.

Algumas linhas de RPG, por exemplo, citam ainda manobras de correção


articular, pompages, massagens profundas e traços miofasciais posteriores de
100

tronco. Todas essas manobras citadas acima, encontram-se facilmente em


literaturas de Marcel Bienfait, Thérèse Bertherat Piret, Maitland, Mulligan,
massagem reflexa, entre outros.

Fluagem

Os materiais elastoplásticos são representados por ensaios de tração para


identificar um modelo matemático de comportamento elástico material, que é a
capacidade de alongamento produzido pelo tempo, dividido pelo coeficiente de
elasticidade.

Gráfico

Neste estudo realizado em um liga de alumínio, em vários testes com carga axial
monotamente crescente e com a velocidade de deformação controlada (E-cte).
O resultado que se observa na inclinação da segunda curva é sempre positiva,
com velocidade controlada (lenta), mas poderia ser negativa quando se impõem
em uma velocidade constante e intermitente. Logo a RPG se refere a velocidade
de progressão das posturas serem feitas de forma lenta, pois segundo o estudo
se a tensão é mantida constante por um tempo prolongado, a deformação do
músculo é maior. Conhecido como fenômeno de Creep, se a deformação for
mantida de forma constante se observa a relaxação ou redução das tensões com
o tempo.

Por isso, Souchard defende que suas posturas devam ser prolongadas, porque
além do que se diz na Lei da Fluagem, as posturas prolongadas levam a fadiga
dos músculos e a diminuição da descarga fusal sobre o mesmo, acreditando que
assim, seu resultado quanto ao alongamento será mais efetivo.

Obviamente não temos certeza se o músculo vivo se comportaria da mesma


maneira.

Confesso que não fiz minha formação de RPG com Souchard, pois a minha
turma foi a primeira que se formou logo após seu contratempo com o Creffito,
minha frustação foi tamanha, pois estava na fila de espera para a formação há
dois anos, sim essa era a lista de espera nos anos 90 para a formação em RPG,
e sem uma segunda opção o realizei com outros professores. Durante dez anos
da minha carreira trabalhei muito com o método, e me decepcionei por diversas
vezes, talvez por ter feito a formação paralela, quem sabe?
101

A RPG funciona muito bem em casos de tensão que estão instalados na cadeia
posterior e/ou nos rotadores internos, quando a disfunção é gerada nessa cadeia
que Souchard classifica como a principal. O tratamento segue a lógica da
formação da patologia, e portanto, os resultados são bem eficazes. Mesmo
sendo um método que gere mais tensão para colher os frutos do relaxamento,
como resultado, porém quando a origem do problema não está localizado na
lógica da sua principal cadeia, os resultados obtidos não são os mesmos. Além
disso, o método não é bem tolerado por idosos, pacientes com fibromialgia,
labirintite e crianças.

Figura 43 – Gráfico Fluagem 1


102

Figura 44 – Gráfico Fluagem 2


103

17
Léopold Busquet

Para Léopold Busquet as cadeias musculares são as grandes responsáveis para


uma boa relação articular e o equilíbrio das tensões aplicadas a essas cadeias.
Pois se modificamos esses vetores de forças, o corpo é capaz de alterar todas
suas forças estabilizadoras, gerando alterações nessas boa relação articular,
comprometendo sua amplitude de movimento e sua boa relação com a estática.

O homem em bipedestação deve estar pronto para realizar as suas necessidades


de vida diária, lutando sempre contra a gravidade. Os músculos permitem essa
harmonia num corpo são, já uma satisfatória coordenação geral do corpo é
permitido pelas fáscias.

A fáscia envolve todas as estruturas conjuntivas superficialmente através de


suas várias ramificações e engendra no plano profundo das estruturas até a
membrana celular, sem perder sua continuidade, sendo a única e grande
responsável pela ideia da globalidade corporal.

Para Busquet as fáscias ligam as vísceras ao sistema musculoesquelético, e elas


não permitem serem alongadas, mas sim relaxadas. Sendo assim uma disfunção
músculo esquelética comprometerá alguma das funções viscerais, ou vice-
versa, o que ele denomina da relação contentor (músculos, articulações e ossos)
conteúdo (vísceras e tensões cranianas).

Os músculos são envolvidos por bainhas e para Busquet trabalham a serviço da


fáscia. Todo tratamento proposto através das Cadeias Fisiológicas de Léopold
Busquet é realizado sobre o envoltório fascial.

As unidades funcionais:

Busquet descreve que possuímos três unidades funcionais que devem ter o
poder de autogerenciamento individual e são elas:
104

Cabeça: protege o cérebro, e seguindo a proposta de Sutherland, possui seu


próprio diafragma, o diafragma craniano, sendo o osso vômer, seu distribuidor
de forças.

Tórax: protege o pulmão, coração, fígado e rins, que são órgãos com ligação
estrita ao músculo diafragma, tanto discutido por Mézières. A distribuição de
tensão é realizada pelo apêndice xifoide.

Pelve: protege os órgãos genitais e possui o diafragma pelviano, sendo pelo


cóccix que as forças se distribuem.

A principal função desses três diafragmas é permitir a sincronicidade do ritmo


de seus movimentos, harmonizando as três esferas corporais em um corpo são,
mas principalmente a capacidade de se auto gerir, caso um dos diafragmas
apresente seu ritmo bloqueado por alguma tensão. Esse autogerenciamento das
esferas permite que o corpo continue funcionando, mesmo que precariamente,
um dos diafragmas apresente alguma alteração.

As cadeias de Léopold Busquet:

1- Cadeia de Flexão: são divididas em duas, direita e esquerda.


É formada pelos Intercostais médios, reto abdominal e músculos do
períneo. Sua ligação com a cintura escapular é dada pelos seguintes
músculos: transverso do tórax, peitoral menor e trapézio inferior. Já
sua ligação com o membro superior é dada pelo Peitoral maior e
rombóide Maior.
105

Figura 45 – Cadeia de Flexão 1


106

Figura 46 – Cadeia de Flexão 2

2- Cadeia de Extensão: também divididas em direita e esquerda.


É constituída no plano profundo pelo: transverso espinhoso,
supracostal, espinhais, grande dorsal, iliocostal e quadrado lombar.
No plano médio, pelo Serrátil posterior superior e inferior.
Sua ligação com a cintura escapular se faz através do trapézio
Inferior, e com o membro superior através do redondo maior.

Essas duas cadeias retas do tronco, são responsáveis pela flexão e extensão do
tronco. A cadeia de flexão executa o movimento e a cadeia de extensão o
equilibra modulando os movimentos da cadeia de flexão em excentricidade. As
duas cadeias se ligam através do sacro.
107

Caso a cadeia de flexão esteja encurtada ou tensionada, a postura adotada pelo


individuo será a de enrolamento. Ao contrário, se a cadeia de extensão estiver
sob tensão favorecerá a uma postura em extensão. Caso as duas estejam
comprometidas ocorrerá um aumento nas curvaturas lombares e cervicais.

A ação da cadeia de flexão direita e esquerda em conjunto, geram a inclinação


do tronco a direita. Já as duas cadeias de extensão esquerda em conjunto, geram
a inclinação do tronco a esquerda.

Figura 47 – Cadeia de Extensão

3- Cadeia Estática Posterior: é única


Segundo Busquet, nosso equilíbrio estático é baseado em um
desequilíbrio anterior, basta observar que a linha gravitacional passa
a frente dos maléolos e da cabeça, logo fica fácil chegarmos a
conclusão do porquê dos músculos posteriores estarem sempre em
tensão, com esse excesso de trabalho. Partindo dessa observação,
Busquet foi buscar na anatomia a resposta para esse desperdício de
energia corporal, desobedecendo assim, as leis do conforto e
economia. Percebeu então a genialidade da engenharia corporal e se
deparou e se atentou de que os músculos posteriores são músculos
formados de muita aponeurose, criando assim a Cadeia Estática
Posterior. Entendeu que esse desequilíbrio anterior é suportado pelas
potentes fáscias posteriores, junto com as aponeuroses dorsal e
lombar, sem desrespeitar a lei da economia corporal.
108

Figura 48 – Cadeia estática Posterior

Segundo Busquet, uma estática equilibrada depende de quatro


fatores: o esqueleto, as fáscias (sobretudo a cadeia fascial posterior),
a pressão intratorácica e a pressão intra-abdominal.
Busquet coloca os músculos em segundo plano, os quais citamos
anteriormente, que são trabalhadores sob o comando de outras
estruturas. Como por exemplo, as pressões internas.

Busquet compara o corpo a um boneco inflável, que se não possuir


nenhuma tensão nas cadeias musculares e se as pressões internas
estiverem equilibradas com seus três diafragmas (craniano,
abdominal e perineal) e trabalhando num mesmo ritmo, se inflará
como um boneco.
109

Figura 49 – Boneco Posto

Acredita-se ainda que os músculos posteriores estão suscetíveis a


excesso de trabalho e portanto fadigados, não fortes demais como
descrevem os outros autores.

Foto da cadeia

4- Cadeias Cruzadas Anteriores


São compostas pelos músculos oblíquo menor esquerdo, intercostais
internos esquerdo, oblíquo maior direito, intercostais esternos
direitos, serrátil anterior direito, romboide direito, peitoral maior
direito, redondo maior direito.

Existem duas cadeias cruzadas anteriores: a direita que liga a


hemipelve direita ao tórax esquerdo e a cadeia cruzada anterior
esquerda ligando a hemipelve esquerda ao tórax direito.

A cadeia cruzada anterior direita leva o ombro esquerdo e a


hemipelve direita em aproximação. Já a cadeia cruzada anterior
esquerda leva o ombro direito e a hemipelve esquerda em
aproximação.

As cadeias Cruzadas estão ligadas a dinâmica do tronco nos três


planos: torção, flexão e rotação.
110

Figura 50 – Cadeias Cruzadas Anteriores 1


111

Figura 51 – Cadeias Cruzadas Anteriores 2

5- Cadeias Cruzadas Posteriores


Formam-se pelos seguintes músculos: quadrado lombar esquerdo,
fibras iliolombares esquerda, feixe iliolombar esquerdo, massa
comum, quadrado lombar direito, fibras costolombares direita,
serrátil póstero-inferior direito, intercostais correspondentes.

Sua ligação com a cintura escapular se faz através do trapézio


inferior direito à escápula, peitoral menor direito à escápula,
transverso do tórax direito ao esterno, grande dorsal e peitoral maior
ao úmero.

Também são duas as cadeias cruzadas posteriores: a direita, ligando


a hemipelve direita posteriormente ao tórax esquerdo e a esquerda
que liga a hemipelve esquerda ao tórax direito. São responsáveis por
levar a hemipelve e o ombro ao encontro posteriormente.

O ponto de torção se dá na altura do umbigo das cadeias cruzadas


anteriores e em L3 se tratando das cadeias cruzadas posteriores.
112

As Cadeias Cruzadas Posteriores possuem continuidade com as


cadeias cruzadas anteriores e vice-versa. Ou seja, a cadeia cruzada
anterior esquerda tem continuidade com a cadeia cruzada posterior
esquerda. A ação conjunta dessas duas cadeias geram a translação do
tronco a esquerda. O hemicorpo direito também respeita essa
continuidade, sendo que a cadeia cruzada anterior direita segue até a
cadeia cruzada posterior direita. Em sua ação conjunta, as duas
cadeias produzem a translação do tronco a direita. Foto da cadeia

Já a cadeia cruzada anterior direita e a cadeia cruzada posterior


esquerda, em conjunto, geram a rotação do tronco a direita e a cadeia
cruzada anterior esquerda a cadeia cruzada posterior direita juntas
realizam a rotação do tronco a esquerda.

Figura 52 – Cadeias Cruzadas Posteriores


113

Figura 53 – Cadeias cruzadas Posteriores 2

6- Cadeia Visceral
Através de muito estudo anatômico, Busquet trouxe para as suas
cadeias, a visceral, a qual compreende todo o peritônio, o envoltório
de todas as vísceras e órgãos abdominais e da pelve menor. Além das
pleuras pulmonares.

Existem dois peritônios: o parietal, que está em contato com os


músculos e suas fáscias, e o visceral que está em contato com as
vísceras e órgãos. Essa mesma disposição acontece com as pleuras
pulmonares.

Como Léopold Busquet defende o sistema contentor-conteúdo,


imaginem o que acontecerá com a musculatura do reto abdominal no
caso de uma gastrite, na fase aguda da inflamação do estômago. O
órgão aumenta de volume gerando uma congestão abdominal,
desprogramando (relaxando) os músculos da cadeia de flexão, na
altura do estômago. Logo os retos perdem sua eficácia para diminuir
a pressão sobre o estômago gerando assim, conforto pro indivíduo.

Em outro exemplo, o indivíduo sofreu um trauma sobre o rim direito


e o perdeu numa cirurgia por um trauma. Essa cirurgia gerará
aderências e um processo de retração sobre a cadeia cruzada posterior
direita, logo essa cadeia estará superprogramada por essa tensão
114

aumentada, transmitida através da cicatriz gerada e a ausência do


órgão.

Logo, as cadeias musculares podem estar superprogramadas em casos


de retrações viscerais, ou desprogramadas nos casos de congestões
viscerais. Ou seja, o sistema contentor trabalha em função da
harmonia do sistema conteúdo. Claro que essa cadeia é muito mais
complexa do que o descrito aqui, mas daí está a síntese do
pensamento de Leopold Busquet.

Figura 54 – Cadeia Visceral

O método Busquet é composto por nove cadeias:

1- Cadeia de Flexão
2- Cadeia de Extensão
3- Cadeia Cruzada Anterior D
4- Cadeia Cruzada Anterior E
5- Cadeia Cruzada Posterior D
6- Cadeia Cruzada Posterior E
7- Cadeia Estática
115

8- Cadeia Visceral
9- Cadeia Neuromeningea

Leopold Busquet foi muito feliz na criação de seu método, buscando influências
em vários outros autores como: Pirét, Mézières, Bézières, Sutherland, entre
outros. Foi brilhante em buscar suas influências e construir seu método de forma
muito eficaz. Simplificou muito a Osteopatia e com seu método se obtém
excelentes resultados em trabalhos aplicados. Sem dúvida dentre todos os
métodos apresentados anteriormente, o de Busquet é o mais completo e lógico.

Busquet desenvolveu várias manobras e posturas viscerais e musculares, já que


seu método se baseia na relação contentor-conteúdo. Acredita-se que em um
corpo são a função governa a estrutura e em um corpo patológico a estrutura se
deforma passando a governar à função.

Seu método trabalha com o relaxamento das tensões, pois também acredita que
um corpo sem tensões volta a homeostasia, sendo muito bem tolerado pelos
pacientes em geral, tendo como pacientes até em bebês.

Seu método funciona muito bem nas retrações viscerais, porém nas congestões
pouco pode ajudar.
116

18
O futuro das cadeias Musculares

Será que já desvendamos todos os mistérios do complexo sistema


musculoesquelético e neural? Tenho certeza que não, todos os métodos citados
anteriormente, tem seus prós e contras, são eficazes quando bem aplicados, mas
ainda não encontramos os resultados esperados para todos os casos. Com
certeza, esses resultados algumas vezes, ainda nos frustram. Quem de nós não
consegue vencer a luta continua que temos contra algumas escolioses? Muitas
dúvidas ainda circundam nossa mente, mas felizmente a ciência caminha sem
parar.

Para tanto, devo citar a importância de todos pesquisadores apaixonados e


obstinados por essas repostas, dentre eles não posso deixar de citar o Doutor
Leonardo Machado, que lecionou o Método Busquet por treze anos e agora
segue com suas linhas de pesquisas por outros caminhos.

Leonardo Machado acabou de criar o Conceito Sin, onde busca um sistema


integrado de saúde, acreditando que várias especialidades como as
odontológicas, oftalmológicas e nutricionais estão mais interligadas do que
imaginávamos a nossa profissão. Defende que essa visão de integração
propostas por outros métodos devem ser realizadas na prática, pois de fato não
conseguiram sair do modo teórico ainda.

Além disso, preocupa-se com a qualidade do movimento, e não somente com a


quantidade do mesmo. Tendo sua abordagem principal, não sobre as vísceras,
mas sobre o envoltório visceral, o que me parece bem lógico, já que todas
tensões são distribuídas e transmitidas de forma equilibrada por todo
compartimento visceral.

No Conceito Sin, Leonardo Machado tem direcionado suas pesquisas junto a


ortodontistas, oftalmologistas e outros profissionais da saúde, obtendo
resultados assustadores, sobretudo com relação aos dentes. O Conceito Sin
acaba de nascer, mas com resultados quantitativos através de dados
comprobatórios estimulantes. Assim como Leonardo Machado e todos autores
citados anteriormente, muitos cientistas seguem em suas pesquisas na busca da
verdade. É a ciência que segue.
117

19
Joseph Pilates – By Vanessa Romo
(Professora Doutora da Escuela Internacional de Madrid de
Pilates Aéreo)

Quem foi Joseph Pilates?

Joseph Hubertus Pilates criou a “Arte da Contrologia”, que agora é chamado o


método de Pilates. Ele nasceu na Alemanha em 1880, Pilates foi uma criança
frágil e enfermiça. Ele começou cedo a trabalhar o fortalecendo do seu próprio
corpo de dentro para fora, através do estudo de boxe, esqui, ginástica, ioga,
musculação e entre outros. Aos 14 anos ele posava para mapas de anatomia.

Figura 55

Em 1912, ele foi à Inglaterra para se formar como boxeador. Encontrou


emprego como ator de circo e como especialista em autodefesa para os detetives
da Scotland Yard. Com a explosão da primeira guerra mundial, ele foi
confinado em um campo de trabalho da ilha Man. Estando lá, Pilates começou
a experimentar com molas de cama, fixando-as em camas de hospital na
118

tentativa de reabilitar os feridos pela guerra. Os pacientes foram capazes de


aplicar movimento e resistência aos seus músculos enquanto ainda estavam de
cama e Pilates descobriu que isso acelerava em sua recuperação.

Quando voltou à Alemanha depois da guerra, solicitaram sua ajuda para o


treinamento do exército alemão. No entanto, o ambiente político não lhe
agradava e se foi para a América. No barco conheceu Clara, que se tornou a
segunda esposa (não se sabe realmente da informação sobre sua primeira
esposa). Eles residiram em Nova York e abriram um estúdio de Pilates original
em 1923. Após a morte de Joseph Pilates, em 1967, com a idade de 86, sua
esposa, Clara Pilates continuou ensinando no estúdio até sua morte.

Joseph Pilates descreve a Contrologia como a coordenação completa de corpo,


mente e espírito. Com a Contrologia se adquire primeiro um controle completo
sobre seu próprio corpo e então com a correta repetição de seus exercícios, se
obtém de modo gradual e progressivo o ritmo e a coordenação que são naturais,
próprias de todas as atividades inconscientes.

Agora que já sabemos um pouco mais sobre o criador e mestre de todos os que
nos dedicamos a esta arte, tentarei trazer ao leitor baseando-me em suas próprias
palavras, o que o método pode chegar a aportar e em que consiste.

O método Pilates promove um equilíbrio musculoesquelético, uma respiração


adequada e alinhamento da coluna vertebral. Os exercícios combinam o
controle da musculatura abdominal, facilidade de movimentos e um enfoque
mental. Joseph Pilates salientava que o enfoque devolvia ao corpo ao seu
verdadeiro equilíbrio.

Frases como “resolver as doenças humanas com métodos de prevenção e


correção, em vez de métodos de cura. Isso é o que faz o meu método.”

O método Pilates não está focado na cura e sim na prevenção. Através do


movimento controlado e fluído do corpo, gradualmente se recuperará o tônus
muscular, a elasticidade e flexibilidade, a força e resistência. Em suma, o
equilíbrio físico e mental.

Os resultados desta disciplina em todo o corpo serão:

- Resistência
- Eficiência de movimento
- Coordenação
119

- Força
- Amplitude total de movimento
- Fluidez
- Rejuvenescimento
- Consciência Corporal
- Melhora Postural
- Estabilidade Física e Mental

As máquinas de Pilates

Joseph Pilates, ademais dos trinta e quatro exercícios básicos de solo ou esteira,
criou algumas máquinas, que são conhecidas pelos nomes: Reformer, Cadillac,
High Chair, Spine Corrector, Barrell e Ped-O-Pul. Tanto no solo como nas
máquinas os exercícios estão separados pelos níveis que antes comentei.

Figura 56 – Reformer

Figura 57 - Cadillac
120

Foto 58 - Spine Corrector

Foto 59 - Barrell

Foto 60 - Ped-O-Pul

Conhecer a base de Pilates é primordial para aproveitar a técnica.


121

A técnica está dividida em três níveis.

• Iniciante ou Beginner System:


Neste nível vamos aprender a trabalhar o Primer Power House e os princípios
básicos.
Esteira: Consiste de 9 exercícios, duração aproximada dea 10/15 min.
Reformer: 19 exercícios para realizar em 20/25 minutos.
Cadillac: 3 exercícios, 10 minutos junto com High Chair
High Chair: 4 exercícios e finalização em pé na parede, em 5 minutos.

O objetivo é treinar o aluno até que possa executar todo o sistema de exercícios
(em alguns casos isso nunca sucederá pela gravidade de suas limitações). Se
necessário, serão feitas modificações. O ideal é que o aluno execute e o
professor transmita verbalmente no tempo estimado. Para conseguir isso,
devemos trabalhar de menos a mais cada um dos exercícios indicados até
conseguir soltura. Às vezes é o professor e não o aluno que está tão entediado
e não segue como sistema de trabalho. Porém, se o professor marca como
objetivo que o grupo faça a tabela inteira, verá que consegue um resultado muito
bom. Uma vez que consegue isso, pode passar ao nível intermediário e não
antes.

• Intermediário ou Intermediate System


Neste ciclo o primeiro Power House nos ajudará a entender e trabalhar
o segundo, com os princípios básicos já incorporados.
Esteira: 22 exercícios. 10/15 minutos.
Reformer: 22 exercícios. 20/25 minutos.
Barrell: 1 exercício.
Cadillac: 11 exercícios. 10 minutos junto com o High Chair
High Chair: 6 exercícios. Também podemos terminar na parede.
Chegando aqui, os alunos conhecem a perfeição à técnica, os
exercícios se desenvolvem com fluidez em todos os aparelhos.
Controlado todos os princípios básicos e dos seus dois Power House,
sabem quais são suas limitações e podem fazer suas próprias
modificações caso seja necessária. São poucos os alunos que passam
deste nível ao próximo. Às vezes poderemos colocar algum exercício
solto avançado, mas o normal é trabalhar os intermediários que já são
bem exigentes.

• Avançado ou Advanced
Nos encontramos no nível mais exigente de Pilates, aqui já temos
122

que controlar perfeitamente nosso corpo. O primeiro e o segundo


Power House estarão totalmente ativos e trabalhando com todos os
princípios básicos.

Mat: 34 exercícios. 15 minutos

Reformer (neste nível os alunos tem que conhecer a quantidade de molas com
as que vão trabalhar cada exercício): 32 exercícios. 25 minutos.

Cadillac: 2 exercícios. Utilizaremos o tempo restante nas três últimas máquinas.

Spinner corrector: 2 exercícios

Ped-) -Pul (estribos com molas do Cadillac, de pé no solo): 3 exercícios.


Podemos terminar na parede.

Se prestarem atenção estamos falando de fazer 73 exercícios em 55 minutos,


com o controle máximo de corpo e mente. O aluno avançado sabe o nome de
todos os exercícios e ficará diretamente na postura de início sem necessidade
de controle verbal. O professor dirá o nome do exercício, se encarregará dos
tempos e correções verbais e táteis. Será o que marca o compasso, o que dirigem
a coreografia. Assistir uma classe avançada é uma das coisas mais bonitas que
vi, é perfeito. Mágico. Neste nível, o método Pilates será a forma de vida destas
pessoas e seus corpos estarão totalmente transformados, a respiração e Power
House será o normal para eles, sendo difícil se moverem de outra forma.

Espero ter esclarecido o que é um verdadeiro nível Avançado de Pilates. Não


são raras as vezes que encontro em minhas formações de Pilates Aéreo com
alunos que me dizem que eles praticam Pilates Avançado. Nos meus cursos vou
analisando individualmente o aluno fazendo um exercício para ver como se
movem, conhecer suas limitações etc. Em uma dessas ocasiões encontrei uma
aluna "avançada de Pilates", me coloquei a trabalhar com ela o exercício
Hundred, que é um exercício básico, mas puxadíssimo quando executado
corretamente. Quando terminamos me disse entre risos: "Agora sei a diferença
entre iniciante, intermediário e avançado. Definitivamente sou iniciante!"
Rimos muito, foi divertido e o melhor é que humildemente entendeu. Se
entrarmos no jogo de fazer o mais difícil, ainda teremos de sair da técnica de
Pilates. Em nossas mãos fará um Pilates de qualidade.

A união do trabalho de solo pélvico e abdominal com o respiratório nos fará


ativar nosso primeiro Power House (nível iniciante o beginner). O assoalho
123

pélvico será essencial para a ativação do transverso. Para mim, a forma mais
simples de ativá-lo é através do elevador do ânus, musculatura que se ativa
quando temos necessidade de defecar, soltar gases etc. Aguentar a vontade de
ir ao banheiro é algo bem conhecido por todos e mais fácil de entender para os
homens o clássico "aguenta a vontade de urinar'. Se trabalharmos em
profundidade o solo pélvico, poderemos sentir a tração dele até a coluna lombar,
como se os "genitais quisessem se unir ao ânus". Um erro muito comum é
acreditar que para ativar o elevador do ânus é necessário contrair os glúteos e
não é assim. O elevador do ânus é uma coisa e os glúteos é outra. Para ativar o
solo pélvico não é necessário contrair os glúteos, ao contrário, pode ter os
glúteos contraídos e o assoalho pélvico inativo. Todo movimento partirá da
ativação do solo pélvico até conectar com o transverso abdominal, da
musculatura mais profunda até a superficial.

A respiração tridimensional (peitoral, costal e dorsal) será imprescindível para


continuar com essa conexão, pois terá que forçar no superficial, exatamente
como estamos acostumados. Inalar tudo que seja possível e exalar espremendo
os pulmões como se fossem uma laranja é o que nos levará a sentir o transverso.

Foto 61 - Primer Power House

Quando temos o controle do nosso primeiro Power House, o que pode levar
bastante tempo, é hora de passar ao segundo.
124

Foto 62 - Segundo Power House

Na cintura escapular encontramos o segundo Power House. Se entende que para


trabalhar essa parte é porque estamos no nível intermediário e controlamos
perfeitamente nosso primeiro Power House, do contrário não conseguiremos
efetuar os exercícios de uma forma segura, pois requer maior precisão.

Posições da coluna no Pilates

Um dos nossos objetivos é saber qual é e como trabalhar nossa coluna neutra.
A coluna neutra ideal estará formada pela cervical lordótica neutra, dorsal
cifótica neutra e lombar lordótica neutra. Se nos deitarmos em supino, devemos
sentir a base do crânio, a coluna dorsal, costelas flutuantes e a base do sacro no
solo. Isso é o ideal, mas não o normal. O que podemos fazer é nos aproximar a
medida do possível a esse ideal, fazendo os exercícios pertinentes que nos leve
a consegui-lo. Assim podemos começar nosso caminho até a coluna neutra
personalizada em cada um de nós. Para isso precisaremos flexibilizar nossa
coluna, flexionando, estendendo e girando.

Conseguir fazer os exercícios com a pélvis neutra maltratando a coluna dorsal


e cervical não tem muita lógica. Como comentei, temos que partir da coluna
neutra de cada indivíduo. Podemos denominar como "neutra individual'.
Imaginamos uma retificação dorsal. Em sua "neutra individual" é provável que
para poder aproximar as costelas flutuantes ao solo não possa apoiar
completamente o sacro. Se insistirmos, a cervical sofrerá. Vejamos a coluna em
125

seu conjunto. Podemos começar a colocar do centro para fora. Ao estabilizar a


pélvis podemos observar como se ajustam a dorsal e cervical. Uma vez que
conseguimos a coluna vertebral “neutra individual" com que o aluno se sinta
confortável trabalhando, podemos começar com os exercícios. Insisto que o
exercício mais fácil de Pilates pode ser o mais complexo da sua vida se o fizer
corretamente.

A pélvis neutra é uma evolução maravilhosa que particularmente me ajudou


muito a fortalecer a musculatura para vertebral e lombar. É uma posição pélvica
básica na minha técnica, mas considero que os profissionais de Pilates
geralmente não a utilizamos com a atenção necessária.

Coluna Lombar

Por outro lado a coluna lombar também nos oferece a opção de flexionar e
estender entre outros movimentos. Fazer uma retroversão total da pélvis é o que
chamamos de "imprint" no Pilates.

Fazer uma leve retroversão pélvica provoca uma sútil retificação lombar,
enquanto fazer um "imprint" retifica totalmente a coluna lombar e no meu ponto
de vista a submetemos a uma pressão desnecessária. Em trabalho de cadeia
cinética fechada uma leve retroversão pode ser suficiente para não forçar tanto
a lombar. Mas se utilizamos o imprint, centralizaremos o ponto máximo de
apoio a essa região, inutilizando a musculatura para vertebral. Uma pessoa com
alguma patologia lombar, como é o meu caso, pode descrever bem essa
sensação. Quando comecei a praticar Pilates, fazia em imprint e tinha
lombalgias frequentes. Depois comecei a "soltar" a pélvis, segurá-la de outros
pontos e é certo que não aguentava muitas repetições, mas por outro lado
consegui em pouco tempo mais estabilidade lombo pélvica e sem dor.

Em cadeia cinética fechada em alunos iniciantes/intermediários/avançados,


aposto pela pélvis neutra individual. Sempre respeitando o resto da coluna.
126

Foto 63 - Pelve em anteversão, pelve neutra e pelve em retroversão

A coluna cervical neutra

A base do crânio em contato com o solo é o que nos indica que estamos
próximos a cervical neutra, mas assim como a pélvis, temos que encontrar nossa
neutra ideal, que pode ser um pouco mais acima ou abaixo. Uma vez que
encontramos a posição correta, utilizaremos como ponto de partida para a
flexão e a extensão da mesma. A flexão cervical será um leve movimento em
direção ao tronco e a extensão, outro movimento sutil em sentido contrário, mas
o centro sempre será nosso ponto de partida. Não concordo com os comandos
verbais como, queixo ao peito. Queixo ao peito é igual a hiperflexão, ou
"retifica a cervical, por favor". Podemos dizer alonga o pescoço por trás. Se não
trabalhamos, hiperflexionando a lombar, por que o faremos com a cervical? As
duas são curvaturas lordóticas e necessitam fortalecimento neutro. Também
seria em neutro como deveríamos colocá-la em nosso dia a dia. É importante
que durante os exercícios estejamos conscientes do que está acontecendo na
cervical e nos acostumar para que volte a ser como foi um dia: neutra!
127

Foto 64 – Extensão, Neutro e Flexão

Coluna dorsal neutra

Sempre escutamos que devemos estabilizar as escápulas, mas nem sempre


sabemos o que significa isso exatamente. Estabilizar a cintura escapular quer
dizer deixar as escápulas alinhadas com a coluna dorsal ou com a caixa torácica.
Para que vejamos a dorsal totalmente alinhada, desde uma lateral, respeitando
a cifose natural.
128

Foto 65 – Cintura Escapular Estabilizada

Nos casos de coluna dorsal retificada, trabalho todos os planos de movimento


da mesma, incluindo extensão. Uma dorsal retificada é como uma vara, se
quisermos que comece a reviver, temos que movimentá-la bastante.
Normalmente cometemos o erro de mover os ombros para frente e flexionar a
lombar, quando na realidade o que queremos é flexionar a dorsal. Para poder
mover realmente a dorsal devemos praticar afundando o esterno sem deixar que
os ombros e lombar se movimentem. Os retificados sentirão um grande alívio
se além disso combiná-los com uma exalação profunda.

A partir do conhecimento e reconhecimento destes pontos podemos começar a


nos movimentar tentando tê-los sempre em nossa mente. Se levanto um braço
tenho que ser consciente da minha respiração, solo pélvico ativo junto com
transverso. Baseando-se neste exemplo, o levantamento do braço terá a ativação
correta do seu grupo muscular. Se além do braço se alongará uma perna, haverá
o comprometimento de mais grupos musculares, mais exigência física, mental,
controle. Não passará ao próximo exercício se ainda não tiver esclarecido o
primeiro, mas poderá fazer modificações para que entenda como executar o
movimento corretamente.
129

Visto assim, considero que fica esclarecido que chegar a um nível avançado é
realmente muito complexo, já que sabemos que fazer o exercício mais básico
de Pilates nos pode custar horas, dias e meses de treinamento.

Os 34 exercícios básicos de Mat de Joseph Pilates

1. Hundred - Beginner/ Todos os níveis

Foto 66 – Hundred

Joseph Pilates utilizava este exercício como aquecimento. O movimento


continuado dos braços nessa postura faz que o coração bombeie com rapidez.
Cem, esse será o número de bombeios que faremos com os braços. Ademais
leva uma respiração muito peculiar, que pode ajudar bastante as pessoas com
problemas respiratórios. Inala cinco vezes e exala outras cinco. É um exercício
exigente que combina a flexão de coluna dorsal e cervical com o trabalho
concêntrico do reto abdominal, fortalece a cintura escapular, principalmente o
serrátil maior pelo movimento dos braços.

* Para facilitar o exercício flexione os joelhos e apoie os pés no solo.


130

2. Roll up o Half Roll Down – Beginner/Todos os níveis

Foto 67 - Roll up o Half Roll Down

É um exercício de articulação da coluna e que exige um grande esforço


abdominal. Nos casos de coluna dorsal retificada, um exercício deste tipo seria
idôneo para começar a flexibilizar essa parte que requer movimento. Ideal para
o aluno que está começando (com adaptações) porque o ajuda a entender a
ativação abdominal e para o mais experiente se transforma em um desafio.
Joseph Pilates dizia que este exercício estava idealizado para fortalecer o
abdômen e normaliza a coluna.

* Para facilitar o exercício flexione os joelhos e apoie os pés no solo.


131

3. Roll over – Advanced/ Avançado

Foto 68 - Sequência normal do exercício Roll over

É um exercício de articulação e fortalecimento da coluna vertebral que reforça


e estabiliza a região abdominal, pélvica, os extensores das costas, glúteos,
quadríceps, flexores do quadril e parte posterior das coxas.

Na técnica de Pilates, os exercícios têm relação uns com os outros e todos são
preparatórios para os níveis seguintes e/ou posturas cotidianas. Se observarmos
com calma encontraremos muitas semelhanças e curiosidades. São duas flexões
de tronco, duas formas de mobilizar e fortalecer a coluna e o abdômen, mas na
foto 2 há um aumento de dificuldade.
132

4. One leg circle –Beginner/Todos os níveis

Foto 69 – Sequencia do One leg circle

Incrementa a estabilidade pélvica enquanto as extremidades inferiores se


movem. Fortalece os músculos das pernas e os do quadril, além de ajudar a
aumentar a sua mobilização. O exercício consiste em traçar círculos com a
perna alongada tentando manter a pélvis mais estabilizada que puder.

Olhando a imagem é um treinamento para os movimentos em pé, para o


controle da caminhada, corrida ou até mesmo quando estamos parados no
semáforo, por exemplo. Primeiro e segundo Power House estabilizado e
extremidades inferiores fortalecendo e sem deixar que o peso caia com os
calcanhares, pelo contrário, é como se pudéssemos flutuar. Assim é como
devemos nos movimentar.

*Para facilitar o exercício pode flexionar a perna que aparece alongada


apoiando o pé no chão.
133

5. Rolling back/Rolling like a ball –Beginner/Todos os níveis

Foto 70 – Sequência do Rolling Back/ Rolling like a ball

Exercício idealizado para aquecer, flexibilizar e massagear a coluna vertebral.


Fortalece os principais músculos estabilizadores do abdômen, flexores do
quadril, trabalha o diafragma e a musculatura da coluna. Incrementa a
estabilidade escapular e melhora o equilíbrio. Seria a forma correta de nos
levantar da cama ou chão. Quantas pessoas se lesionam ao se levantar da cama?
Muitas. Assim como em um carro vamos mudando de marcha para aumentar a
velocidade, e isso requer um processo, nosso corpo pede o mesmo. Primeiro dê
a partida no motor e depois saia gradativamente. Em uma aula de Pilates para
passar de deitado a sentado, é necessário que seja desta forma. Por isso nem
tudo vale e tudo tem um motivo.

*Para facilitar o exercício pode colocar as mãos atrás das coxas.


134

6. One leg stretch/Single leg stretch – Beginner/Todos os níveis

Foto 71 – Sequência do One leg strech

O objetivo será fortalecer os músculos estabilizadores do abdômen, os flexores


do quadril. Além de estabilizar e fortalecer a cintura escapular, também
aumentaremos a coordenação pelo controle da respiração. Para facilitar faça o
exercício com as pernas a 90º no lugar de 45º.

Observa o movimento que treinamos em Sigle leg stretch. Atualmente não é


trazida a perna até o peito, fica em um ângulo de 90º graus alinhada com o
quadril.
135

7. Double leg stretch – Beginner- Todos los niveles

Foto 72 – Sequência do Double Leg Stretch

O foco deste exercício é fortalecer os principais estabilizadores abdominais


enquanto se desloca o centro de gravidade do corpo. Trabalhar a coordenação
do corpo através do controle de braços e pernas junto com a respiração. Os
flexores do quadril, músculos dos braços e peitorais também serão
protagonistas neste exercício.

O trabalho de pernas que realizamos durante este exercício poderíamos


comparar quando pulamos, agachamos e levantamos.

*Para facilitar o exercício faça com as pernas a 90º no lugar de 45º.

O foco deste exercício é fortalecer os principais estabilizadores abdominais


enquanto se desloca o centro de gravidade do corpo. Trabalhar a coordenação
do corpo através do controle de braços e pernas junto com a respiração. Os
flexores do quadril, músculos dos braços e peitorais também serão
protagonistas neste exercício.

*Para facilitar o exercício faça com as pernas a 90º no lugar de 45º.


136

8. Spine stretch forward – Beginner/Todos os níveis

Foto 73 –Sequência de Spine Strech Forward

O foco deste exercício será o alongamento dos isquiotibiais e a coluna vertebral,


e o fortalecimento abdominal.

Como vemos na imagem, a ideia do exercício é alongar a coluna com a posição


em "C", por isso se recomenda colocar o aluno em cima de uma caixa no caso
de ter os isquiotibiais bem curtos. É um exercício recomendável as pessoas com
retificação dorsal ou hiperlodóticos. Também ajuda a trabalhar e potencializar
a respiração dorsal e costal.

* Para facilitar o exercício, além de sentar em uma caixa, podemos flexionar


levemente os joelhos.
137

9. Rocker with open legs/Open leg rocker- Intermediate/


Intermediário

Foto 74 Sequência Rocker With Open Legs

O objetivo é o trabalho abdominal, a flexibilização da coluna, alongamento


isquiotibial, estabilização pélvica e contribuição do equilíbrio.

Seria uma versão avançada de Rolling like a ball. Muito mais desafiante. As
pernas separadas, alongadas e com as mãos nos tornozelos se acrescenta mais
dificuldade e desequilíbrio. Os estabilizadores terão de permanecer em alerta.
Ideal para pessoas hiperlordóticas que costumam sofrer de encurtamento dos
isquitiobiais. Os exercícios de Pilates que usam esse movimento oscilatório,
138

trabalha de forma efetiva nas limitações ou dificuldades respiratórias. O próprio


movimento faz exalar de forma quase automática na subida.

* Para facilitar o exercício podem flexionar as pernas e colocar as mãos na altura


dos gêmeos.

10 Cork screw – Intermediate/Advanced – Intermediário/ Avançado

Foto 75 – Sequência Cork Screw

Com esse exercício potencializamos o trabalho abdominal, especialmente os


oblíquos, os adutores e abdutores, flexores de quadril, extensores das costas e
glúteos.

Como você pode observar, da soma da dificuldade dos exercícios de intermédio,


obtemos os de avançado. Aqui vemos uma mistura de Roll over com One Leg
Circle agrupado e pélvis elevada. Entram em ação muitos grupos musculares e
vários planos de movimento.

* Para facilitar o exercício não eleve a pélvis.


139

11. Saw – Beginner /Todos os níveis

Figura 76 – Sequência Saw

O objetivo deste exercício é incrementar a rotação e a flexibilização da coluna


vertebral. Alongar os isquiotibiais e a musculatura lateral. Estabilizar os
flexores do quadril. Fortalecer oblíquos, musculatura abdominal em geral e
rotadores da coluna.

Com este exercício aprendemos a girar de forma segura, acrescentando espaço


aos discos intervertebrais para que possam se mover e fortalecer desta forma
toda a musculatura que os protege. É um momvimento que utilizamos milhares
de vezes ao dia, mas não treinamos nunca. A capacidade de rotação vai se
perdendo com o tempo e com Pilates podemos conservá-la e inclusive ampliá-
la. É um exercício muito recomendado para jogadores de golf, tenistas e
qualquer outro esporte que tenha a rotação como um elemento básico.

*Para facilitar o exercício pode sentar em cima de uma Caixa e dobrar os


joelhos.
140

12. Swan dive/Swan prep – Intermediate/Intermediário

Figura 77 – Sequência Swan Dive

O objetivo do exercício é aumentar o tônus muscular principalmente nos


extensores das costas, abdominais e glúteos. Além de flexibilizar a coluna
vertebral com o movimento de extensão.

Este é um exercício básico para poder fazer qualquer tipo de extensão. Exercício
recomendável para hipercifóticos e retificados dorsais.

Há muitas pessoas que tem uma retificação dorsal que se compensa com uma
hiperlodose lombar, neste caso podemos trabalhar com as pernas juntas e
potencializar assim a extensão dorsal e anular a extensão lombar.

É a posição que utilizamos para nadar. É precisamente realizando esse esporte


quando encontramos pessoas que sentem dor lombar depois de praticá-lo.
Costuma ser porque não tem o abdômen ativo e a posição não é a correta. Nestes
casos podemos treinar com este exercício. Desta forma se fortalecerá o
quadrado lombar e abdômen e melhoraria ou desaparecia a dor.
141

* Para facilitar o exercício pode colocar uma almofada debaixo do abdômen e


outra debaixo dos pés.

13. One leg kick/Single leg kick – Intermediate/Intermediário

Figura 78 – Sequência One leg kick/ Single leg Kick

Com este exercício obteremos a flexibilidade e fortalecimento dos músculos


extensores da dorsal, os glúteos, isquiotibiais, abdominais em excêntricos e o
incremento da estabilidade escapular.

Ainda que nesta ocasião temos o apoio dos antebraços no solo que ajuda a
manter a extensão, este exercício é a soma do exercício anterior mais a dupla
pernada para o glúteo.

Mais uma vez é comprovado que para fazer ou ensinar um exercício que resulte
na perfeição do movimento, é necessário praticarmos antes.
142

14. Double kick/Double leg kick – Intermediate/Intermediário

Figura 79 – Sequência Double Kick

Os músculos que serão fortalecidos em maior medida serão os mesmos que os


do exercício anterior, só que somam os adutores, os braços e o alongamento
peitoral.

O trabalho de extensão seguirá sendo o objetivo principal juntamente com o


fortalecimento de glúteos ao estender o quadril e os isquiotibiais ao flexionar
os joelhos. A pélvis se mantém em uma leve retroversão para não arquear a
lombar e a cervical em leve extensão.
143

15. Neck pull – Intermediate/Intermediário

Figura 80 – Sequência Neck Pull

É um exercício muito interessante que combina diferentes posições da coluna,


flexibilizando-a com a articulação. Neste caso vamos trabalhar a coluna neutra
e a retroversão. Os cotovelos abertos potenciando o trabalho de cintura
escapular. A flexão dorsal ativando o reto abdominal em especial e o resto da
musculatura desta região e a posição de tabela até atrás que é bem desafiante
para o aluno ativará os multifídios.
144

16. Scissors – Beginner/Todos los niveles

Figura 81 – Sequência Scissors

É um exercício que realizamos em todos os níveis com suas respectivas


modificações. Cria consciência de dissociação de pélvis com as extremidades
inferiores. A musculatura abdominal e estabilizadora está presente durante todo
o exercício. Nas imagens aparece o nível avançado. Neste caso, o glúteo
também tem um importante papel como extensor e estabilizador do quadril. Um
exercício que nos permite tirar pressão das articulações da parte inferior do
tronco.
145

17. Biclycle – Advanced/ Avançado

Figura 82 – Sequência Biclyce

O exercício se desenvolve igual ao anterior, porém neste caso se aumenta o


nível de esforço, pois os joelhos se alongam e flexionam no movimento, isso
provoca maior desequilíbrio, maior esforço. Pode ser um trabalho interessante
para um hipercifótico, o apoio escapular no solo e a abertura peitoral que requer,
ajuda a melhorar essa região.

*Se tem a necessidade de facilitar este exercício é melhor que continue


trabalhando o anterior até aperfeiçoá-lo.
146

18. Shoulder Bridge – Intermediate/Intermediário

Figura 83 - Sequência Shoulder Bridge

Com este exercício vamos conseguir fortalecer a cadeia posterior. Para poder
manter a pélvis elevada, os glúteos e os isquiotibiais devem estar ativos. O
mesmo com os quadríceps, que trabalham em isometria para realizar a flexão
do membro inferior e dos flexores pelvianos, para manter a perna em 90 º. Com
essa postura de equilíbrio, é a base, e os estabilizadores em geral estarão ativos.
147

19. Spine Twist – Advanced/Avançado

Figua 84 – Sequência Spine Twist

Neste exercício de rotação encontramos algumas semelhanças com outro


exercício anterior, Saw. Nos dois casos trabalhamos a rotação, porém neste as
pernas estão juntas, causando maior desequilíbrio e aumento de alongamento
posterior nas extremidades inferiores. Os grupos musculares mais trabalhados
serão os abdominais, dorsal maior, deltoides, quadrado lombar, adutores e
glúteos.
148

20. Jack knife – Intermediate/ Intermediário

Figura 85 – Sequência Jack Knife

Os abdominais, tríceps, trapézio, músculos do ombro e glúteos serão os


principais músculos que se beneficiam deste exercício. O controle e a precisão
não podem faltar para a sua execução. A pélvis se eleva sem o impulso das
pernas e articulando. Na posição vertical para que o peso não caia sobre a
cervical tem que manter o apoio sobre as escápulas e isso exige maior esforço
abdominal. Ao baixar também o faremos articulando e com a pélvis em leve
retroversão como na subida.
149

21. Side kicks – Intermediate/ Intermediário

Figura 86 – Sequência Side Kicks

O abdômen, flexores de quadril, quadríceps, isquiotibiais e glúteos, são os


grupos musculares que foram idealizados para este exercício. Inclui várias
séries de movimentos além das pernadas para frente.

* Para facilitar o exercício pode deixar um dos braços estendido no solo


apoiando a cabeça sobre ele e o outro com o cotovelo flexionando e apoiando a
palma no solo por diante do umbigo.
150

22. Teaser – Intermediate/Intermediário

Figura 87 – Teaser

Um dos exercícios mais fotografados atualmente. Falam que é um dos mais


desafiantes. Se analisarmos a imagem vemos que o abdômen participa junto
com os eretores espinhais na postura erguida. Pelo lado anterior das
extremidades inferiores, os flexores do quadril, quadríceps e adutores mantém
as pernas elevadas trabalhando em concêntrico, enquanto que pelo lado
posterior trabalham o excêntrico alongando. A pélvis está em retroversão e a
cintura escapular estabilizada.

* Para facilitar o exercício, apoia um pé no solo.


151

23. Hip circles – Advanced/Avançado

Os grupos musculares que potencialmente vamos trabalhar serão o abdômen,


flexores do quadril, abdutores, glúteos, peitorais e dorsal maior principalmente.

Este exercício tem semelhanças com Cork Screw, só que neste caso o tronco
está erguido. Temos menos base de apoio para desenvolvê-lo e isso o torna mais
exigente a nível físico. Pode ser um exercício ideal para preparar o Teaser.
Muito interessante para hipercifóticos, pois os ombros estão girados no externo
e o peito aberto.

*Para facilitar o exercício pode apoiar os antebraços no solo.

24. Swimming – Intermediate/Intermediário

Figura 88 – Sequência Swimming

Em Swimming encontramos outro exercício de extensão que nos faz lembrar a


Swan Prep, só que cada vez com mais elementos que dificultam a sua execução.
Neste caso o movimento de extremidades tanto superiores como inferiores, faz
que além de perder o equilíbrio, nossos pontos de apoio sejam reduzidos a púbis
e as costelas flutuantes, pois o abdômen tem que evitar tocar o chão. Os
extensores, abdominais, isquiotibiais, glúteos, quadrado lombar e paravertebral
são os grupos musculares principais que se trabalham neste exercício. Outro
152

dos objetivos devido ao trabalho de extensão da coluna deste exercício é a


flexibilização.

* Para facilitar o exercício pode deixar uma perna apoiada e depois trocar pela
outra.

25. Leg pull front – Advanced/Avançado

Figura 89 – Sequência Leg Pull Front

O trabalho de quatro apoios reporta diversos benefícios e para tipos de alunos


diferentes. Por exemplo, a quadrupedia em uma mulher grávida dando os
comandos verbais necessários pode ser um trabalho muito beneficente que
acrescente várias coisas em uma mesma posição, como pode ser o trabalho
abdominal não forçado, diminuição da curvatura lombar e tonificação da
cintura escapular, entre outros. No caso de uma pessoa com o nível mais
avançado pode ser um grande desafio se indicamos que os pontos de apoio
sejam apenas uma das mãos e o pé contrário, os estabilizadores entram em ação
e corrigimos as possíveis compensações.

Os grupos musculares mais importantes neste exercício são o abdômen,


peitoral, deltoides, bíceps, tríceps, serrátil anterior, dorsal maior, quadríceps e
glúteos.
153

* Para facilitar o exercício apoie os joelhos no chão.

26. Leg pull – Advanced/Avançado

Figura 90 – Sequência Leg Pull

Neste exercício os glúteos trabalham para manter a pélvis alta junto com os
isquiotibiais, o dorsal maior suporta o tronco junto com os deltoides, peitoral e
abdômen. A coluna dorsal está em leve extensão. E os flexores do quadril e
quadríceps se encarregam de elevar a perna a 90º (é uma variação do exercício).
154

27. Side kick kneeling – Advanced/Avançado

Figura 91 – Sequência Side Kick

Este exercício é a evolução do Side Kicks. É mais complexo porque só existe o


apoio da mão e do joelho. É comum que ao fazer este exercício, inclinemos o
tronco para frente ou para trás. Tem de ser evitado. Como no nível intermédio
se faz diferentes séries de movimentos. Bom exercício para trabalhar o
equilíbrio.

* Para facilitar o exercício pode alongar o braço de cima.


155

28. Side Bend – Advanced/Avançado

Figura 92 – Sequência Slide Bend

Uma peculiaridade que há nos exercícios de equilíbrio é que o corpo se mantém


em alerta. Os estabilizadores geralmente são ativados para manter a posição
enquanto o corpo se flexiona lateralmente e se mantém sobre o apoio de uma
mão e de um pé. Adutores, abdutores, abdominais, deltoides, bíceps, tríceps,
dorsal maior, glúteos e quadrado lombar são os grupos musculares mais
ativados durante o exercício

*Para começar a trabalhar com este exercício tem de aperfeiçoar o Slide Kick.
156

29. Boomerang – Advanced/Avançado

Figura 93 – Sequência Boomerang

Definir os grupos musculares neste exercício assim como em todos do nível


avançado é complicado, devido à complexidade em geral. Como observamos
na imagem vamos conseguir flexibilizar a coluna, articular, ativar o reto
abdominal, os adutores, alongar os ombros, trabalhar o equilíbrio e ativar
eretores vertebrais. É um exercício onde a fluidez predomina, enlaçando os
movimentos. A respiração tem um papel muito importante embora quase
instintivo para seguir o ritmo.
157

30. Seal – Intermediate/Intermediário

Figura 94 – Sequência Seal

Seal seria a progressão de Rolling like a ball. Se torna mais complexo da forma
com que se posicione as mãos, pois ao colocar os braços por dentro das pernas
eliminamos a ajuda que oferece ter as mãos por trás das coxas. Dizemos que
estamos mais limitados. Conseguimos sentir principalmente na volta do
exercício. O abdômen, os flexores do quadril e os glúteos são os mais ativados.

* Para facilitar o exercício, volte ao Rolling like a ball.


158

31. Crab - Advanced/Avançado

Figura 95 - Crab

Dentre os exercícios de rodar o articular, este seria o mais complexo. Uma vez
que rodamos atrás, as pernas se alongam alargando os isquiotibiais
completamente e ao voltar o exercício termina rodando, mas para frente até
apoiar a cabeça sem perder o controle para não se lesionar ao entrar em contato
com o solo. Ao segurar os pés com as pernas cruzadas, imobiliza totalmente as
extremidades, tanto inferiores como superiores. O abdômen fica obrigado a
fazer o trabalho restante, desta forma também podemos calcular qual é o nosso
esforço real abdominal ou o do nosso aluno.
159

32. Rocking – Advanced/Avançado

Figura 96 – Sequência Rocking

Neste exercício aparece o trabalho de abdômen como sempre para proteger e


segurar a coluna lombar. A posição dos braços, com as mãos segurando os
tornozelos potencializa a abertura peitoral e o alongamento dos ombros, além
dos quadríceps no caso das extremidades inferiores. Os glúteos e os
isquiotibiais trabalhando em concêntrico. O quadrado lombar e a musculatura
extensora da coluna também se mantém ativos. Para chegar a executar com
precisão este exercício, devemos treinar primeiro Swan Prep e Double Leg
Kick.
160

33. Control Balance – Advanced/Avançado

Figura 97 – Control Balance

A combinação de articulação e flexão dorsal é o resultado deste exercício. Para


construí-lo podemos observar em outros que vimos anteriormente, Boomerang
e Open Leg Rocker. Com este exercício conseguimos flexibilizar a coluna,
alongar os isquiotibiais e trabalhar os braços. Para manter a flexão erguido do
tronco temos que procurar a ativação do abdômen e dos eretores da coluna. Os
glúteos trabalham para conseguir a extensão do quadril, da perna que se alonga
e o flexor fará o mesmo com a perna que flexiona. Manter o equilíbrio é outro
grande desafio que nos propõe este movimento.
161

34. Push Up – Advanced/Avançado

Figura 98 – Sequência Push Up

A tabela de exercícios que Joseph Pilates desenhou termina com este. Foi criado
para finalizar a aula em pé. Embora se bem é certo que a ideia é que durante a
execução do exercício o esforço muscular se reparte, a cintura escapular e
extremidades superiores jogam um papel destacado. Além de fortalecer vamos
utilizá-lo para alongar tanto a coluna como os isquiotibiais.

* Para facilitar, pode dobrar levemente os joelhos em pé e apoiá-los no solo


quando fizer a tabela.

A palavra “relaxa” e suas consequências


162

É pouco provável que uma pessoa que tende a sobrecarregar uma parte de seu
corpo o relaxe, por isso acredito que a palavra "relaxar" em uma aula de Pilates
não tem sentido, ou pelo menos não é o que fazemos normalmente. Dizemos
"relaxa" quando na realidade queremos que não se tense uma zona muscular. O
corpo pode relaxar quando não necessita se comprimir, estressar o músculo, e
isso acontecerá quando seja o suficientemente flexível, ágil, forte e preciso para
aguentar seu próprio peso mais as cargas diárias físicas, mentais e emocionais.
O relaxamento será uma consequência do trabalho bem feito. Uma vez que
conseguimos isso será desnecessário dizer ao aluno que se relaxe porque já não
o estará fazendo, quero dizer que poderá estar relaxadamente ativo durante a
aula.

Geralmente quando dizemos "relaxa", o que um aluno não treinado com o


método da Contrologia entende é: deixe-se cair, deixe o corpo mole. Mas a
técnica de Pilates é o contrário, é conectar, necessitamos aprender a mandar
ordens novas. É necessário pensar que se sinto dores na cervical, no lugar de
"relaxar", posso estabilizar a cintura escapular, pois é possível que a causa de
uma dor cervical terrível seja uma retificação dorsal (é só um exemplo). Quando
começar a flexionar minha coluna dorsal, a cervical melhorará, até então pode
passar anos tentando " relaxar o pescoço".

Creio que é interessante saber sempre de onde temos que fazer as coisas, por
exemplo, eleva o braço sentindo a cintura escapular estabilizada, ou seja, eleva
o braço sentindo a escápula alinhada com a coluna dorsal, deste modo evitamos
a retificação e a hipercifose dorsal.

Seguindo o método da Contrologia de Pilates há que fazer os exercícios


corretamente como são e as repetições indicadas para cada exercício, do
contrário causaria mais malefício que benefício. A ideia não é cansar os
músculos, se isso acontece, o resto do dia iremos compensando nosso corpo
com má postura.

O professor e o planejamento de uma aula

Pilates também é disciplina. Os grupos de trabalho são reduzidos ou inclusive


individuais, agrupados por níveis e/ou por limitações físicas. Para cumprir com
os princípios básicos da técnica, controle, concentração, centralização,
precisão, fluidez e respiração, todos os alunos devem estar fazendo exatamente
o mesmo movimento na mesma máquina, ao mesmo tempo. É função do
163

professor que isso se cumpra. Assim como os alunos, o professor também estará
aplicando os princípios básicos durante a aula. O controle dos alunos será
responsabilidade do professor, depende de nós a evolução deles. A
concentração é básica para ter os exercícios claros na mente e poder transmiti-
los com soltura.

O trabalho de centro, um professor sempre mantém uma atitude física ativa,


todos os alunos devem sentir sua presença, a energia também sai do centro, o
abdômen e o solo pélvico da pessoa que está dando a aula deve estar cem por
cento. Por isso depois de uma aula, embora o aluno não acredite, estamos bem
esgotados. A precisão é indispensável, não vale dizer qualquer coisa, em uma
aula as palavras tem muito peso. Pois não é o mesmo dizer "umbigo dentro"
que "do solo pélvico ativa o transverso sentindo como a tua cintura fica cada
vez mais fina", por exemplo. Sem fluidez a aula de 55 minutos se converte em
uma de duas horas e meia, fica pesada e entediante. Tem de ser fluida como
uma coreografia, independentemente do nível. O professor também respira, e
muito, e as vezes se esquecem e fadigam. Precisam respirar!

Para conseguir o maior rendimento do grupo, o aluno deveria saber antes de


começar, qual é seu Power House e como exercê-lo. Caso contrário, quando
inicia a aula não entenderá nada do que estamos falando e se não está no grupo
de seu nível pode sofrer alguma lesão ou ter muitos incômodos depois da aula.
Se necessário, o profissional adaptará os exercícios para casos específicos sem
perder a fluidez. A ideia e que durante a aula só se escute a respiração dos alunos
e os comandos do professor, como soldados formando a ordem do general.
Entre os exercícios faremos descansos ativos respeitando os princípios da
técnica.

Acredito que um bom professor de Pilates consegue através dos comandos


verbais que o aluno entre completamente no exercício. Uma aula que flui e
precisa não é tarefa fácil, por isso o professor tem de ser disciplinado e
observador. Interessa-me que saiba transmitir, independentemente de seu nível
executor, já que todos temos limitações físicas. Se nós paramos para demonstrar
um exercício, além de perder a fluidez da aula, não podemos corrigir os alunos.
Estaremos com outro problema, o aluno vai imitar o que o professor execute,
ou seja, pode imitar também a limitação do professor. Pessoalmente quando um
aluno não entende um exercício, procuro mil imagens para me apoiar e seguir
viajando pelo corpo dele.
164

Esta é a forma de ensinar que aprendi e a que tento passar nas minhas
formações. Creio que foi uma das coisas que mais chocou minha técnica no
Brasil, já que geralmente a maneira de ensinar é muito diferente.

Como surgiu Pilates Aéreo

Creio que tudo o que é novo surge da necessidade de mudança, no meu caso foi
em dois aspectos, tanto físico como emocional, assim começa a minha história.

Eu estava em um momento complicado da minha vida, um desses momentos


em que está à beira de um precipício e enxerga a profundidade, nesses
momentos em que sente que já não há nenhum lugar onde se esconder, já não
pode sair correndo, só enxerga o precipício, a solução é lutar contra a caída ou
aceita a voar sem saber onde te levará. Durante uma temporada, lutei
incansavelmente, lutei até esgotar toda a minha energia e por fim soltei e me
deixei voar. Comecei e durante o voo minhas ideias voavam comigo e parecia
que as coisas começavam a tomar forma. Retomei minha querida profissão
como professora de Pilates e naquele momento não podia imaginar até onde me
levaria esse maravilhoso e acertado voo.

A técnica de Pilates me havia ajudado a recuperar fisicamente de algumas


lesões que me limitavam bastante e desta forma era mais fácil entrar no corpo
e na mente dos meus alunos pois eu podia entender o quanto é irritante em todos
os níveis sentir dor.

Comecei a me sentir a melhor professora através dos ensinamentos dos meus


alunos, cada dia eles tinham algo novo para mim e observá-los era um
verdadeiro prazer, algo que se multiplicou quando comecei minha fase de dar
treinamento para profissionais.

Desde praticamente o início via que em muitos casos o conteúdo dos livros não
coincidia com o que relatavam os meus alunos e isso me fez repensar muitas
coisas, como por exemplo, que só o teu aluno pode saber o que sente e que
quando não coincide com o que põe em um livro é necessário escutar e viajar
com esse aluno sem medo de onde leve você, sem complexos por não ter uma
resposta para tudo, só com o objetivo de curar e curar da forma que essa pessoa
necessite.

Um dia uma amiga me disse: “- Vane, eu vi algo que me remeteu a você, é como
um Columpio (balanço), não sei, creio que é para Yoga, mas as pessoas se
penduram. - Penduram-se? Eu perguntei, - isso eu tenho que ver”. E assim foi,
165

conheci o que agora é a minha principal ferramenta de trabalho e através do


Yoga, com postura de Yoga. Em algum momento vi algo a que chamavam
Pilates, mas nunca o que eu entendia por Pilates pensei que seria o meu novo
caminho.

Eu quis saber mais e entre outras coisas descobri que a ideia de balanço saiu do
mestre de Yoga Iyengar, um aparelho rudimentar que no princípio consistia em
uma vara de bambu e duas cordas, ele ademais utilizava umas mantas como
colchão para proteger o corpo do duro material.

Figura 99 – Vanessa Romo no atual Columpio

Houve algo que na prática me chamou a atenção poderosamente e foi o fato de


ver como o balanço me ajudou a desenvolver um mesmo exercício em
detrimento ou em aumento, ou seja, que podia desenvolver uma técnica para
todos os públicos, entendendo como tal, pessoas com limitações físicas ou
mentais. As limitações físicas podem imaginar, mas quando falo das limitações
mentais não me refiro explicitamente a alunos deficientes mentais, e sim me
refiro a alunos deficientes emocionais, pessoas com falta de confiança o que
seja fazer algo que depende delas. Ao longo desses anos vi como muitos alunos
166

superavam a nível emocional barreiras que acreditavam que eram físicas. Posso
colocar o exemplo de uma aluna que tinha pânico de ficar de cabeça para baixo
e que desde o princípio disse que isso ela não iria fazer, ao mesmo tempo olhava
os outros alunos e percebia a luta mental que estava mantendo consigo mesma.
Há uma frase que adoro que diz que “Amar é respeitar o limite” e eu o fiz.
Quando estava preparada me disse: “- Vanessa, quero tentar". Seu corpo todo
tremia, pedi que confiasse em mim, e sobretudo nela mesma. Marquei o
exercício e lá estava ela de cabeça para baixo se liberando da limitação
emocional que ela mesma havia criado. Quando saiu do exercício, chorou, me
abraçou e me disse que havia entendido muitas coisas em relação aos seus
limites.

Creio que os alunos com limitações emocionais são os mais difíceis de tratar e
em nossa profissão abundam, já que toda patologia que diz respeito aos
músculos do esqueleto leva implícita a falta de autoestima da própria pessoa.

Se formos aos extremos também podemos citar o caso de alunos avançados, ou


seja, pessoas que exigem muito de si mesmas. Isso por um lado é uma vantagem
para nós já que nos deixará trabalhar a esquecida sutileza do movimento,
podendo assim “limpar” os exercícios. As desvantagens é que as encontraremos
no plano emocional, que as afetará em outros sentidos, mas creio que esse
assunto é melhor deixar para outro momento. Como exemplo posso citar uma
aluna que sempre pensou que tinha um nível alto e chegou a comentar que
sempre achava as aulas de Pilates tradicional chatas porque já não sentia o
esforço que sentia ao princípio. Bem, coloquei-me a trabalhar com ela,
pendurou-se no balanço para fazer um exercício que visualmente parece é uma
abertura de pernas para estirar adutores. Quando chegou à postura, começamos
a trabalhar a sutileza do movimento, a orientei com comandos verbais a viajar
ao interior do seu corpo, ela começou a sentir como sua musculatura protegia
os seus ossos, como as articulações reagiam ante as contrações musculares e
voltou a sentir o que havia perdido pelo caminho, repito, a sutileza do
movimento, em entender e vivenciar que a técnica que Pilates inventou é
aprofundar no teu corpo de tal forma que tudo esteja conectado. Ao terminar o
exercício, agradeceu-me por recordar o que era Pilates, ela o sabia, só que o
havia perdido pelo caminho buscando a foto de uma postura bonita.

Pilates Aéreo dá como resultados posturas bonitas e faz com que os corpos se
vejam mais esbeltos, alargados e poderosos, mas o que realmente me interessa
é o que está sentindo meu aluno e se a execução do exercício está sendo “limpa”
e efetiva para sua limitação.
167

O estúdio que eu tenho em minha casa foi testemunha das horas, dias, meses de
frustração, estresse, cansaço e as alegrias que tive ao juntar os conhecimentos
de diferentes técnicas e exercícios que havia conhecido para “parir” o meu
manual de Pilates Aéreo por Vanessa Romo. Tudo o que eu entendo como
movimento e as posições que me parecem mais ricas nos aspectos físico e
mental, estão agrupadas no meu curso. A mensagem não era para fazer posições
muito difíceis, a mensagem, era para fazê-las bem, tirar o melhor proveito de
cada uma delas, entendendo o porquê, tal e como Joseph Pilates transmitiu
através de seus livros etc.

Na minha formação, há posturas clássicas de Yoga, Pilates e Balé, mas com


todas as correções de Pilates, o tipo de Pilates que eu aprendi, em que mesmo o
menor movimento tem uma explicação, onde corpo e mente são um conjunto e,
depois, se torna um estilo de vida.

Para uma técnica nova e colorida, eu necessitava começar em um lugar com


uma mentalidade parecida ao meu projeto e pensamos no Brasil, já que Antônio
(meu marido) é brasileiro, mas vive há muitos anos na Espanha. Eu não falava
uma palavra em português, mas magicamente as pessoas me compreenderam,
ou pelo menos deixaram o curso com uma outra visão, o que me fez reafirmar
mais sobre o que estava fazendo. Não demorou muito e comecei a receber e-
mails dizendo que a formação tinha mudado sua maneira de trabalhar com
Pilates Tradicional.

Eu tinha alcançado o meu objetivo do aluno entrar em contato consigo e o


professor também.

Pouco a pouco fui compreendendo e falando o idioma, apesar de que meus


alunos dizem que fazem dois cursos comigo, o de Pilates Aéreo e outro de
espanhol.

A acolhida por parte de fisioterapeutas, educadores físicos, médicos, bailarinos


profissionais etc., foi tão bem sucedida que minha técnica moveu não somente
a eles, mas também a minha família e decidimos mudar uma temporada para o
Brasil.

Nesses três anos, aconteceram mais coisas do que os dez anteriores e ainda
continuam acontecendo.

Lembro do dia em que o Antônio me disse sobre uma revista, muito conhecida
no Brasil, que estava interessada em fazer uma entrevista comigo. Foi um pouco
168

surreal primeiro ver Antônio emocionado me explicando como a revista era


importante no Brasil e então quando já estava sozinha ter a sensação de me
deixar voar e confiar em que Deus que me havia levado até ali.

Embora eu não acredite em certezas e sim em que cada um tem algo com que
contribuir, eu me sentia feliz com o que estava acontecendo.

Não creio que minha técnica é infalível, ou é a melhor, acredito que cada aluno
tem o seu mestre correspondente e os alunos que chegam a mim são os que
necessitam escutar a minha mensagem, assim como eu sigo aqueles que têm
algo a me dizer, algo que inconscientemente me pertence, que reconheço e me
faz vibrar.

Nos meus cursos tento conectar com meus alunos e quando consigo tudo flui
de uma forma inexplicável, eu confesso que às vezes contenho as lágrimas, me
emociono quando vejo as pessoas tendo a vontade de aprender, assim como
quando estou no papel de aluna, como se a minha vida dependesse do que estou
aprendendo.

Eu tive a grande sorte de contar com muitos alunos que abriram suas mentes e
respeitaram a minha visão. Eu entendo que, para muitos deles treinados em
Pilates Clássicos, que lutam para que não se desvirtue a técnica, inicialmente
podia ser difícil, se inscreviam ao meu curso com a suspeita de que poderiam
acabar com muitos anos de trabalho. Quando terminam o curso alguns deixam
a vergonha de lado e comentam muitas vezes que nunca imaginaram que o curso
consiste em outra abordagem, pensam que fariam outras posições sob o nome
de Pilates, ou, agradecem pelo desejo que sentem em continuar dando aulas e
de voltar a amar as suas profissões de forma doce e sútil.

Essas e muitíssimos outros depoimentos dos meus queridos alunos se repetem


na minha mente antes de começar cada curso de formação, dando-me forças e
inspiração.

A técnica

Para começar, os contarei que os movimentos do Columpio são limpos.


Poderíamos dizer que é muito difícil “enganar” o Columpio, pois ele é a criança
dedo duro da classe, no momento em que você sai do seu centro ele te delata.
Por isso eu gosto de utilizá-lo não só para aéreo puro e duro, mas também para
polir os exercícios de Pilates tradicionais. Às vezes o aluno não sabe como
169

enviar a ordem para o cérebro para executar um movimento e meu aparelho não
tem nenhuma piedade neste sentido, é a máquina da verdade.

Minha técnica compartilha e respeita os princípios básicos, dados por Joseph


Pilates. Eles serão os que nos darão o equilíbrio necessário para começar o
caminho para o encontro com a nós mesmos:

- Controle
- Concentração
- Centralização
- Precisão
- Fluidez
- Respiração

Si pulamos um desses princípios não estamos fazendo Pilates.

• Controle

Para controlar é estar presente, viver, gerenciar o movimento, saber onde


começa, para onde se dirige e quando sai do seu controle.

• Concentração

Sem concentração não há ação eficaz. Concentre a sua mente e se funda a seu
corpo, com a maior perda de concentração, a perda de equilíbrio, força e
resistência também serão maiores.

• Centralização

O trabalho é a partir do centro para as extremidades, o seu refúgio, sua casa de


poder (casa de força) será desde onde tem forças. Obtenha forças para realizar
a ação, será o que te manterá ereto e estável, será a origem de todo o movimento.

• Precisão

A precisão é fazer o exercício sem que nenhum dos outros cinco pontos falhe.
É preciso quando está concentrado, com a força centralizada, controlando o
movimento, fluindo naturalmente e respirando para ajudar a desenvolvimento
dos músculos.
170

• Fluência

Viva o exercício como se fosse uma dança, como um efeito dominó, é uma
espiral de energia que cada vez tem mais força e não deixe que te pare.

Alguns dos meus exercícios são estáticos, mas ainda assim mantenho a fluidez,
pois o professor de Pilates nunca deixará de dar comandos verbais que moverá
muito o interior do aluno, sem fluidez só há estagnação.

• Respiração

O seu oxigênio ajuda os seus músculos também respirarem, alongarem e se


fortalecerem. A respiração ajuda o exercício ser mais fácil ou mais complexo,
dependendo das suas necessidades específicas. A respiração será fundamental
para uma aula de Pilates.

Assim escrito parece simples, mas quando começamos o movimento, o conceito


muda.

Meu método consiste em uma série de exercícios que variam de acordo com as
necessidades de cada aluno. Os exercícios começam com o aluno deitado,
depois sentado e finalmente em pé, como nos ensinou Joseph Pilates. Isso se
deve ao momento em que acordamos estamos deitados e o que fazemos a seguir
é finalmente nos colocamos de pé. E como nosso trabalho é reeducar a postura
do aluno, temos que fazê-lo desde suas posturas habituais.

Em Pilates Aéreo também trabalho com posturas invertidas, devido aos grandes
benefícios. Com o aluno suspenso, consigo trabalhar, por exemplo, a rotação,
diminuindo significativamente o risco de lesões em casos de patologias
comparado com que o aluno o fizesse sentado, pois o peso da gravidade faz com
que a coluna vertebral se descomprima.

Se o meu aluno tem uma hérnia lombar, que o incomoda em rotação, creio que
a minha responsabilidade é ensiná-lo a girar e não substituir o movimento.
Recordemos a famosa frase de Joseph Pilates “o movimento cura”. Ademais
entendo que essa pessoa na sua vida cotidiana faz rotações e outros tipos de
movimentos contraindicados para seu tipo de lesão, porém inevitáveis no seu
dia a dia, o mais útil que posso fazer é que aprenda a se mover de forma segura
com exercícios pensados e adaptados. Em um caso assim, a posição invertida
baixará os níveis de tensão lombar que a sua lesão possa produzir.
171

São muitos os benefícios que descobri ao longo desses anos com o Columpio,
mas se eu tivesse que destacar um, seria o assoalho pélvico, tão importante,
especialmente para mulheres com problemas urinários. O assoalho pélvico de
qualquer um de nós suporta o peso visceral, mas o assoalho pélvico feminino é
um pouco mais complexo e tem outros elementos extras. O assoalho pélvico
feminino possui a abertura vaginal que o torna mais frágil do que o dos homens
e além disso durante a gravidez sofre uma carga extra elevadíssima que depois
do parto recomendo ser reestruturada. Eu pessoalmente nestes últimos meses
vivi alguns desajustes no assoalho pélvico devido à minha segunda gravidez, e
embora no começo foi difícil, foi muito útil para eu entender ainda mais àquelas
mulheres que sofrem durante anos. Na minha gravidez anterior, eu tentei um
parto normal mas não foi possível e minha filha Sofia veio ao mundo por
cesariana, me recuperei normalmente. Agora com o Arturo, meu segundo filho,
consegui ter um parto normal. Foram muitas horas de dilatação e o meu
assoalho pélvico desta vez sofreu bastante.

Ao ficar em pé pela primeira vez, todas as alunas com que eu tinha trabalhado
por perda de urina vieram à minha mente. Era impossível controlar minha
bexiga, não tinha nenhuma sensação muscular. Não sentia quando a bexiga
estava cheia e tampouco podia esvaziá-la completamente porque ele não tinha
nenhuma força muscular. Foi muito frustrante. Passavam os dias e parecia que
não melhorava, comecei a pensar no que ensinava não servia para nada e talvez
minhas alunas tinham se sentido como eu naquele momento, uma enorme
impotência. Eu entendi perfeitamente o quanto pode te condicionar algo assim,
deixar de ter sua vida normal, sempre com medo de não poder controlar, é um
verdadeiro horror!

Eu tinha certeza de que isso tinha que melhorar e portanto não deixei de
trabalhar o assoalho pélvico e me pendurar no balanço. Quando eu ficava de
cabeça para baixo no balanço parecia que algo se encaixava de novo dentro de
mim e podia perceber o pouquíssimo tônus muscular no períneo. Confesso que
às vezes perdia a esperança. Mas pouco a pouco fui melhorando, cada vez mais
podia controlar melhor a urina, até que me recuperei completamente. Meu filho
nasceu há quatro meses, e embora eu esteja ainda em fase de pós-parto, em
geral, posso dizer que faço uma vida completamente normal. Agora eu sei por
experiência própria que é possível se recuperar, só temos que nos dar a
oportunidade.

Como em qualquer outro caso de sobrecarga o que nos alivia é diminui-la e com
a minha técnica o fazemos de duas maneiras; fortalecimento dos músculos
172

responsáveis e tirando a pressão usando posturas invertidas. É muito fácil de


identificar o trabalho do assoalho pélvico quando você está de cabeça para
baixo e a melhora é mais notável em poucas classes.

O Columpio nos dá a oportunidade de trabalhar todos os planos de movimento


e podemos usá-lo como um elemento de tração ou como um ponto fixo.

Qualquer pessoa pode praticar Pilates Aéreo?

A resposta seria Pilates Aéreo sim, posições invertidas não.

Sempre temos que ter em conta que é responsabilidade do aluno saber o próprio
estado de saúde com exames médicos e informar ao professor e da mesma forma
o professor deverá fazer as perguntas pertinentes antes de começar uma aula de
Pilates Aéreo, independentemente de que o aluno faça posições invertidas ou
não.

Também faremos uma análise visual do nosso aluno. Eu gosto de ver como eles
se movem, porque eu acho que é diferente a maneira que eles podem se ver da
visão que pode ter um profissional. Eu preciso ver como o aluno se senta, como
articula, como ativa ou não ativa seus músculos e isso eu tenho que ver em
movimento e se é um novo movimento para ele, muito melhor. Uma vez
coletada toda a informação sobre o estado de saúde de nosso aluno, avaliaremos
quais serão os exercícios que melhor convenham e nunca praticam os exercícios
invertidos e o médico contraindica.

O foco de todos os exercícios será alongar, fortalecer, flexibilizar e curar as


partes afetadas ou desestruturadas e se o conseguimos com um sorriso, melhor
para todos.

Saúde e emoção

Como terapeuta emocional eu gostaria de poder contribuir com algo mais, já


que a minha técnica tem muito disso. Em geral, os profissionais do movimento,
fisioterapeutas etc, não somos conscientes de quanto nossos alunos se ajudam
a si mesmos através das nossas diretrizes. E agora que tenho a oportunidade eu
gostaria de dar um toque sobre o assunto.
173

No final todos somos emoção mas as vivemos ou reconhecemos de formas


diferentes. O normal é que a dor que vem da alma não lhe damos importância,
mas é como um menino pequeno que gostaria de cuidado e não irá parar de
chorar até que alguém vá ver o que acontece. Quando uma emoção é deixada
de lado pode produzir uma doença, lesão ou qualquer outra coisa que não nos
deixa estar bem no nosso dia a dia.

Temos que ver o que nos impede e o que é que nos impõe a doença e segundo
a resposta fazer algo a respeito. Tomemos como exemplo uma lesão no
tornozelo, que nos impede andar e nos obriga a parar. Poderíamos nos perguntar
para onde estou andando, e por que não queremos seguir fazendo.

As contraturas são por causa dos movimentos contrários a que não queremos
fazer. Pode ser como uma pessoa que tem que pegar uma bolsa do chão, mas na
realidade ela não quer fazer. Ou abrir uma porta por onde não quer sair. Estar
em uma postura no seu trabalho que não gosta, mas o que não gosta de fazer?
Convido a vocês que pare um momento para se sentir e descobrirá coisas
incríveis. Passamos a vida projetando tudo fora para não sentir. Alguém alguma
vez nos disse que ter sentimentos não é bom porque dói. Alguém alguma vez
quando éramos pequenos nos contou que não deveríamos chorar porque
perdemos nosso brinquedo preferido, e teríamos que ser valentes. E é isso que
continuamos fazendo, bloqueamos a emoção com a razão e deixamos de sentir.
Para evitar o que consideramos sofrimento, racionalizamos tudo e buscamos
solução, mas fazemos com a mente e não com o coração.

O que teria acontecido se tivéssemos sentido e chorado a perda desse brinquedo


tranquilamente? E se alguém tivesse nomeado isso o que sentimos?
Provavelmente hoje conheceríamos melhor nossas emoções sem julga-las.

Quando somos adultos, nos responsabilizamos pelo que sentimos se torna muito
duro e preferimos que a culpa seja de outro e na realidade não existe culpa, e
sim experiências de vida.

Vendo deste ponto de vista, o corpo físico seria uma maneira de projetar para
fora de nós e isso e outra coisa que me preenche no Pilates Aéreo e Tradicional.
E um exercício que trata de buscar desde dentro, do profundo da musculatura
que nunca sentimos. Nos faz ser conscientes de que respiramos e que temos
agilidades naturais.
174

Notas finais

É curioso para mim olhar para trás e ver como meu curso foi tomando a forma
como o Brasil quis. É verdade que não tinha nada bem planejado porque não
sabia com que iria me deparar. Comecei a escutar nas primeiras formações o
que os alunos tinham necessidade de aprender e foi uma surpresa. Chegavam
com a esperança de se pendurarem no balanço e saiam querendo saber mais
sobre os princípios básicos do Pilates. Falavam entre eles e descobriam que a
cada um deles havia sido ensinado os princípios básicos de forma diferentes. O
mesmo acontecia com os comandos verbais ou como estruturar uma aula. Por
isso nas minhas formações começo do zero com um repasso dos princípios
básicos par que todos estejam em igualdade de condições.

Muitas vezes me pediam que eu desse minha opinião publicamente em relação


aos cursos de Pilates no Brasil e quando via as carinhas de decepção que
expressavam, alguns alunos, ao descobrir que o dinheiro que investiram nos
seus cursos não serviram para muito, fico triste. Não creio que o meu papel seja
esse e que gerar conflitos não é a solução. Pode ser que seja a melhor opção
para os que nos dedicamos a formação, escutar e respeitar as pessoas que nos
pagam e confiam em nós para que possamos transmitir nossos conhecimentos
com generosidade. Considero que no Brasil existem maravilhosos profissionais,
gente com muita vontade de ensinar. E são esses que se deve aproximar-se,
ainda que a vezes seja um pouco mais caro e estejam mais longe. Mas afinal é
uma inversão para vocês.

A vocês pode parecer contraditório que eu fale e desfrute de Pilates clássico


quando dou formação de Pilates Aéreo. Para mim é simples, considero que tudo
cabe e acrescenta quando se faz na base do respeito. Estou muito agradecida a
técnica de Pilates por tudo que me enriqueceu durante estes anos e em nenhum
momento pretendi que Aéreo fosse substituto do Tradicional. Simplesmente me
ajuda a poder ensinar como executar melhor os exercícios tradicionais e
contribui na parte das posições invertidas que ao meu ver são muito
interessantes e eficazes.

Como vocês podem ver, há muitas formas de entender as coisas. Com estas
páginas, eu quis aproximá-los da minha. Pode ser que não concordem. Hoje há
muitas formações diferentes e a cada dia as coisas evoluam mais, demonstradas
através de mais estudos. Mas creio que também há algo muito importante que
devemos nos basear, que são as nossas experiências. Como evoluem nossos
alunos, no caso se nos dedicamos a isso. Ou como evoluímos nós mesmos.
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Como comentei anteriormente, não somos de cartilhas. O que digo pode não
funcionar com você, pode ser que não seja a sua linha de trabalho. Embora se
este livro chegou a suas mãos, é porque tem algo novo para aprender ou
reafirmar o que já sabia.

Não quero terminar sem agradecer a todos meus alunos do Brasil pelo carinho
e respeito com que sempre me recebem. Gostaria também de mencionar
especialmente a Janaina Cintas. Nada é por acaso e Janaina esteve por muito
tempo, um ano para ser exato, em quase todos os meus cursos lá estava seu
nome como participante, mas por circunstâncias da vida nunca aparecia. Seu
nome era mencionado e não podia imaginar que essa aluna fantasma se
converteria em uma companheira de escrituras. E a todas as pessoas que
confiaram e confiam em mim porque graças a vocês os meus sonhos continuam.
Especialmente aos meus filhos Sofia e Arturo, como meu amor Antônio.
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Conclusão

Em vista dos argumentos apresentados, pudemos olhar o corpo sob uma nova
ótica, primeiro discutimos a anatomia tentando simplifica-la para elucidar as
propostas que discutiríamos adiante, e observarmos novos estudos
biomecânicos que nos trouxeram muitas mudanças de paradigmas para, só
então elucidarmos a evolução das Cadeias Musculares. Na descrição das
cadeias somos levados a acreditar que se precisássemos categorizar os métodos
apresentados, podemos dizer que todos possuem suas indicações, e que nenhum
é absoluto, melhor que o outro. Equiparam-se dentro de sua verdade, e se bem
aplicados podemos atingir bons resultados se estiverem linkados as indicações
precisas de uma boa avaliação. É imprescindível que todos se conscientizem de
que nem todas as respostas foram encontradas pela ciência, e da suma
importância da continuidade de nossos estudos, em busca da verdade corporal.

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