Descolonizaçao Da Etiópia
Descolonizaçao Da Etiópia
Descolonizaçao Da Etiópia
Introdução
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Estudante da Universidade Licungo, extensão de Quelimane, Moçambique. Licenciando em ensino de história
com habilitação em Documentação. 2020.
Osvaldo Orlando Lino
O processo de descolonização da Etiópia, deu-se no interlúdio das duas grandes guerras, entre
1935-1941. "Quando a Itália declarou guerra a Etiópia, a elite africana e o conjunto das elites
negras de todo o mundo mobilizaram-se, qualificando essa afronta de conflito racial.
Numerosas associações surgiram então, como os Amigos internacionais da Abissínia de
Origem Africana, a Liga de Defesa da Raça negra, o Comité de Defesa da Independência
Nacional da Etiópia." (M’BOCOLO, 2003, p. 552).
Em Paris, os africanos organizaram uma vasta campanha de protesto e boicotaram tudo o que
provinha da Itália. Um pouco por todo lado, os negros mobilizaram-se e tentaram fazer pressão
sobre os impérios coloniais e sobre a Sociedade das Nações. A acção teve resultados que se
sabe e a crise etíope foi certamente um dos golpes mais graves infligidos as esperanças africanas:
da maior cidade do continente até a menor aldeia, todos estavam ao corrente do caso etíope e
comentavam o acontecimento, tomando crescentemente consciência da omnipotência dos
brancos, da impunidade que lhes estava garantida, dos direitos que se arrogavam, do tratamento
desigual reservado aos negros e aos brancos a escala internacional e da extrema fragilidade dos
africanos perante as agressões. (CHENNTOUF, 2010, p. 52).
Os italianos procuraram defender a todo custo a sua colónia, principal bastião de um império
quase imaginário. Nesse processo, receberam a ajuda preciosa de numerosos etíopes, hostis ao
negus e ao seu regresso, como, por exemplo, o ras Hailu e o intelectual Afa-Warq, bem como
de rebeldes e de bandidos que, aproveitando-se dos combates, se entregaram com toda a
impunidade a frutuosas razias, gerando assim uma desordem considerável que retardou o
avanço dos aliados que apoiavam a Etiópia. (M’BOCOLO, 2003, p. 556).
A campanha etíope assemelhou-se mais a uma corrida de perseguição do que a uma verdadeira
guerra: os italianos tinham adoptado o objectivo de se manter no país, mesmo sem poder real,
a fim de conservarem as suas colónias nas negociações globais para a paz.
No entanto, a resistência etíope não se havia deixado abafar; em Adis-Abeba, por exemplo, ela
organizou um ataque a granadas, contra o vice‑rei nomeado pelo governo italiano, além de ter
executado um atentado com gases tóxicos, contra o abuna Abraham, por ocasião da tentativa
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O processo de descolonização da Etiópia
do empossamento deste ultimo a frente da Igreja etíope, acção que lhe custaria a visão,
(MAZRUI, 2010, p. 1097).
A nível externo, o The Voice of Ethiopia, “jornal da vasta comunidade universal dos negros e
amigos da Etiópia, espalhados mundo afora”, desempenhou um papel primordial no processo
de redefinição da africanidade:
“Nos não somos mais negros da Antilhas ou americanos, mas, verdadeiros etíopes”.
“Negros da América, a Etiópia vos pertence”. (…) “Pretos, uni‑vos”, “Nem mesmo um
preto derramara o seu sangue pela Europa enquanto a Etiópia não for libertada”, estes
slogans popularizaram‑se junto ao publico graças ao The Voice of Ethiopia, (HARRIS
& ZEGHIDOUR, 2010, p. 857).
Contudo, foi em finais de 1941, que tiveram de assinar a rendição, dando Victoria a Etiópia.
Ao final do mês de janeiro de 1942, o imperador dirigia novamente o país.
O Leão tinha retornado. Após a sua restauração, um dos primeiros actos de Hailé selassié era
garantir a protecção dos prisioneiros e civis italianos, em seus domínios. Em um tratado de
1947, a Itália reconheceu a sua irregularidade na Etiópia e se comprometeu a pagar essa nação
35 milhões de dólares em reparações, uma soma tolhida por 125 milhões de dólares da Itália
Osvaldo Orlando Lino
Quando Hailé selassié retomou o seu trono, em 1941, o governo etíope patrocinou a criação
da primeira escola mista do país, fundada por Mignon Ford, antilhano de Barbados emigrado
dos Estados Unidos em 1930. Os médicos, pilotos, professores e outros afro‑americanos
vindos a Etiópia após a agressão italiana retornaram aos Estados Unidos, entretanto, graças a
William Leo Hansberry, muitos afro‑americanos puderam dirigir‑se a Etiópia para trabalharem
como professores ou jornalistas, (HARRIS & ZEGHIDOUR, 2010, p. 857).
Referências Bibliográficas
HARRIS, Joseph E. & ZEGHIDOUR, Slimane. “A África e a diáspora negra”. in. MAZRUI
A. Ali. WONDJI, Christophe. História geral da África, VIII: África desde 1935, 6ª ed.
Brasília: Unesco, 2010.
M’BOCOLO, Elikia. África negra historia e civilização. Lisboa: editora vulgata, 2003.
MAZRUI, Ali. A. “O horizonte 2000”. in. MAZRUI A. Ali. WONDJI, Christophe. História
geral da África, VIII: África desde 1935, 6ª ed. Brasília: Unesco, 2010.