Mário Ferreira Dos Santos - Entrevista Ao Pe. Stanislavs Ladusãns (Transcrição)
Mário Ferreira Dos Santos - Entrevista Ao Pe. Stanislavs Ladusãns (Transcrição)
Mário Ferreira Dos Santos - Entrevista Ao Pe. Stanislavs Ladusãns (Transcrição)
SANTOS
ENTREVISTA AO PE. STANISLAVS LADUSÃNS
Transcrição feita por Gabriel Coelho Teixeira em 08/04/2020 baseada na gravação
disponível em https://marioeterno.blogspot.com/p/entrevista-do-padre.html
Aviso: Na sexta questão, quando Mário Ferreira dos Santos passa a enumerar diversos
filósofos portugueses, a transcrição dos nomes foi feita conforme apenas a
compreensão auditiva, pois, sofrendo exatamente do mal que ele ali descreve,
deconheço todos os filósofos citados e não consegui encontrar referências externas
para confirmar a grafia correta dos nomes. Peço que relevem essa falha e outras que
porventura apareçam, visto que julgo não afetem a compreensão total da entrevista. No
mais, não pretendo que esta transcrição seja definitiva, mas que sirva como base para
um trabalho mais bem feito.
Passo agora a responder ao inquérito do Pe. Stanislavs.
Vou responder aos itens.
Peço à senhorita que abra para cada capítulo uma forma-número de cada item.
Primeiro vamos responder ao segundo item.
– Qual é a gênese de desenvolvimento do seu pensamento filosófico e a sua
atual estrutura?
O meu pai, português, era Grão-Mestre da Maçonaria e caracterizava-se por
uma tendência marcante anti-clerical. Revelava em todas as ocasiões a sua oposição
ao clero. Entretanto, tendo eu desde cedo, mal aprendera a ler, me interessado por
temas filosóficos – e a consciência que tenho de mim mesmo nasceu da colocação de
um problema de filosofia para mim –, um dia meu pai chamou-me e disse: “Meu filho,
para o teu bem, para que possas ter maior proveito, eu vou fazer uma coisa que vai
escandalizar os meus amigos: tu vais estudar com os jesuítas”. E no dia seguinte
dirigiu-se ele ao ginásio dos jesuítas e lhes disse: “Todos sabem que eu sou um
adversário da Igreja Católica e que eu a tenho combatido desde moço, mas uma coisa
eu sei – que para educar, só vós, os jesuítas, sois os mais capazes. Meu filho revela
propensão para temas filosóficos. Não quero eu exercer sobre ele a minha ação. Acho
que vós sois mais competentes do que eu para guiar no conhecimento. Por minha
parte prometo-vos que em casa respeitarei sempre as suas idéias”. E, declaradas estas
condições, eu fui aceito.
O resultado foi que meu pai passou a ser mal compreendido pelos
companheiros, que julgaram a sua atitude uma verdadeira defecção. O que o levou a
afastar-se da atividade maçônica.
Com os jesuítas, desde início tive uma orientação que me permitiu aproximar-me
da filosofia positiva e dessa filosofia fazer a espinha dorsal da estrutura filosófica hoje
que tenho. Em suma, a minha atual estrutura é a filosofia positiva e concreta. Positiva
no sentido de toda filosofia ter, afirma, constrói e que pertence a todos os grandes
ciclos culturais da humanidade mas que encontrou o seu desenvolvimento máximo no
pensamento grego e a sua coroação no pensamento ocidental sob as linhas, sem
dúvida, da escolástica. Não me considero um escolástico – não sou. Porque tenho
idéias próprias. O que só poderei explicar nas respostas aos outros itens.
Publiquei muitas obras com pseudônimos das quais a maior parte hoje é merda.
Mas há vinte anos para cá o que tenho escrito em filosofia tem sido o pensamento
coerente que não tem sofrindo nenhuma modificação. Creio portanto que a minha atual
estrutura é definitiva.
Abrir agora nova página.
Item 4.
A.
– Qual é a missão da filosofia em relação à vida cultura brasileira odierna ou
quais são os problemas vitais brasileiros de atualidade que aguardam a contribuição da
parte da reflexão filosófica?
Essa pergunta, para mim, para a minha posição, está colocada antes de outras
sem as quais não poderia dar uma resposta cabal. Entretanto, coloco-me na seguinte
posição: nós, brasileiros, por vivermos o universal, por não termos compromissos
históricos que pesem demasiadamente sobre nossos rumos, nem também
compromissos filosóficos, somos um povo apto a apresentar uma filosofia de caráter
ecumênico, ou seja, uma filosofia que corresponda ao verdadeiro sentido com que ela
foi criada desde o início. Parto da posição pitagórica.
Pitágoras dizia que era um amante da sabedoria, da suprema sabedoria, desta
sabedoria que nós co-intuímos com a própria divindade. E este afã de alcançá-la, tudo
quanto nós realizamos para chegar lá, os caminhos que percorremos para alcançar
essa sabedoria suprema, que era a suprema instrução – daí chamar ele “Mathesis
Megiste”: a Suprema Instrução –, todos esses caminhos e todo esse afaná era
propriamente a filosofia. Assim, colocando-nos nesta posição, posso admitir que há
vários caminhos mas só há um caminho certo. E como fundamentava Pitágoras
repetido depois por Aristóteles que a única autoridade na filosofia é a demonstração e
esta deve ser apodítica e se possível com juízos necessários e até exclusivos, a
filosofia construída deste modo só pode ser uma, positiva e necessariamente completa,
que é a posição que tomamos.
Nós podemos viver o universal no sentido puramente quantitativo – os modos de
ver e de sentir dos diversos povos – mas não podemos permanecer na situação de ser
um povo que recebe todas as idéias vindas de todas partes e não possa encontrar um
caminho para si mesmo. Nós temos que encontrar esse caminho. A minha luta é essa.
E sem essa visão positiva e concreta da filosoia não será possível dar uma
solução aos inúmeros problemas vitais brasileiros da atualidade, porque a
heterogeneidade de idéias e de posições facilita a heterogeneidade de soluções das
quais muitas não são adequadas às necessidades do Brasil. O tema é vasto e exigiria
um trabalho todo especial.