Escola Sociológica de Chicago
Escola Sociológica de Chicago
Escola Sociológica de Chicago
TEXTO PARA
DISCUSSÃO 46
ESTUDOS DE CRIME:
a Escola Sociológica de Chicago
Vitória I 2011
Instituto Jones dos Santos Neves
TD – 46
Coordenação Geral
Regis Mattos Teixeira
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e de inteira responsabilidade do(s) autor(es), não exprimindo,
necessariamente, o ponto de vista do Instituto Jones dos Santos Neves ou da Secretaria de Estado de Economia e
Planejamento do Governo do Estado do Espírito Santo.
Sumário
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................... 05
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 06
Ressalva-se que o objetivo do texto é expor o núcleo da teoria em suas premissas e o seu
mecanismo lógico. É nisso que constitui a argumentativa do texto. Passados quase um século de
algumas publicações da Escola de Chicago, os métodos quantitativos não estavam na época
plenamente desenvolvidos, bem como os registros administrativos não se encontram facilmente
disponíveis. Evidentemente, os trabalhos citados podem ser pesquisados, trazendo o contexto
empírico em sua riqueza de detalhes, algo que – em função da prioridade para o plano teórico -
não é possível de explicitar plenamente no presente trabalho.
O presente texto tem sua estrutura dividida em quatro seções. Na primeira serão apresentados
alguns dados da cidade de Chicago, relativo ao crescimento populacional, taxa de homicídios e
expansão da área urbana e o impacto destes fatores na expansão da demanda de serviços públicos
e de planejamento governamental. A segunda seção descreve os problemas decorrentes da
expansão econômica e demográfica e, em especial, os subsequentes problemas de (2.1)
assimilação dos migrantes/ imigrantes, (2.2) a concentração geográfica de pobreza e
criminalidade e o mecanismo social de (2.3) transmissão cultural da criminalidade e da
delinquência.
A terceira seção aborda como (3.1) os problemas sociais e ação governamental frente ao desafio da
assimilação cultural pautou o debate intelectual da época, com implicações diretas sobre as
pesquisas da Escola de Chicago. Na seção 3.2, aborda-se o modo como a articulação entre
governo e redes de ajuda local, ao nível de comunidade, passou a pautar as políticas de redução
de crime e delinquência juvenil. Por fim, a quarta seção finaliza expondo algumas críticas
direcionadas à escola de Chicago.
INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES
1.INTRODUÇÃO
A visão mundial da associação entre a cidade de Chicago e a criminalidade tem sido exemplificada pe-
la imagem dos gangsteres do cinema norte americano para o início do séc. XX. Essa imagem guarda
um forte lastro empírico. Em 1931, a condenação de Al Capone por sonegação fiscal, como parte dos
esforços do grupo de agentes federais coordenados por Eliot Ness, e retratado no filme Os Intocáveis
de Brian de Palma (ver figura 1) - mostrou-se apenas como um capítulo tardio da histórica criminali-
dade na cidade.
Retomando essa trajetória da cidade em fins do séc. XIX, David Ruth afirmou que Chicago já era vista
como uma cidade corrompida, entregue ao crime e imoralidade. Em avaliação que conformaria o coti-
diano marcado por homicídios, estupros, roubos, e incêndios criminosos, o autor afirma que:
A reputação da cidade era tão ruim que muitos viram a punição divina no incêndio de
18711. Chicago assumia a versão moderna de Sodoma e Gomorra2. Após o incêndio,
e não dando razões ao otimismo, a ilegalidade voltou. Conforme declarou um jornal
da época, "A cidade está infestada por hordas de ladrões, assaltantes e cortadores de
garganta, empenhados em pilhagem, e eles não hesitarão em queimar, roubar e até
mesmo matar. " (tradução nossa).
As seis décadas que separam o Grande Incêndio de 1871 da condenação de Al Capone em 1931 le-
vantam a questão sobre quais os fatores que levaram à reputação negativa de uma cidade tão próspe-
ra. A resposta a essa questão pode ser encontrada nos esforços acadêmicos da Universidade de
Chicago (Illinois, EUA, fundada em 1982), notadamente por meio de seu Departamento de
Sociologia3, que contribuiu com importantes estudos de sociologia da criminalidade e para os estudos
de sociologia urbana, e cujo foco principal foi a própria melhoria das condições de vida da cidade de
Chicago.
1
As construções eram em grande parte feitas de madeira. Após um período de grande seca em 1871 e diversos pequenos incêndios ao
longo do mês de setembro e outubro, o fogo começou em estábulo, às 9:00 da manhã de domingo (08/10/1871). Os bombeiros estavam
exaustos dos trabalhos do dia anterior e só chegaram uma hora depois, no qual o fogo já estava incontrolável. O fogo se alastrou destruindo
um terço da cidade de 300 mil habitantes, o que significou 18 mil estabelecimentos e cerca de 300 pessoas mortos. Um ano depois a cidade
se reconstruiu (ver Sawislak (2005[2004])).
2
Conforme o relato bíblico presente na tradição judaico-cristã, Sodoma e Gomorra teriam sido destruídas por Deus - por meio de fogo e
enxofre descido do céu - como punição divina por sua imoralidade (ver livro de Genesis 13-19).
3
Também conhecida como Teoria Ecológica do Crime, Teoria da Ecologia Humana, Teoria das Zonas Concêntricas ou Teoria da
Desorganização Social.
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3 4
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INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES
A prosperidade econômica levou a passagem de um cenário rural para a segunda cidade mais
populosa dos EUA em poucas décadas. A magnitude desta mudança urbana pode ser percebida pelo
crescimento demográfico da cidade de 1850 a 1930 e o consequente aumento do perímetro urbano.
Houve, em função disso, a necessidade de intervenção dos governos nas políticas de controle social
e serviços públicos.
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3.000.000
2.500.000
Nº de hab.
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
Ano
0
1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940
Fonte: http://physics.bu.edu/~redner/projects/population/cities/chicago.html
150%
Variação do crescimento
100%
50%
Ano
0%
1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940
Fonte: http://physics.bu.edu/~redner/projects/population/cities/chicago.html
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14
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Taxa de homicídios
10
2
Ano
0
1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940
Fonte: http://physics.bu.edu/~redner/projects/population/cities/chicago.html
Em função disso, sucessivas administrações públicas (indo dos governos municipais ao federal) se
viram desafiadas a expandirem as funções governamentais, o que significou a criação e expansão de
agências de planejamento e burocracias de serviços urbanos, educação, assistência social,
emprego, controle de crime e delinquência juvenil. Considerando a complexidade e a velocidade com
que cresciam os problemas sociais urbanos, governantes, empresários e comunidade buscaram
soluções que fizeram com que o papel da Universidade de Chicago se tornasse decisivo nesse
processo(Teaford, 2005[2004]). Coube ao Departamento de Sociologia realizar diagnósticos e
informar o formato e o conteúdo de diversas políticas públicas(Abbott e Wurr, 2005[2004]).
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Figura 4 - Limites urbanos da cidade de Chicago (1850-1940)
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Esta separação estrutural entre estabelecidos e “outsiders” – para usar uma terminologia de Elias e
Scotson (2000) – tem paralelos óbvios com o de certas regiões e cidades brasileiras cujo crescimento
se deveu historicamente a intensas ondas migratórias como é o caso do Espírito Santo e da cidade de
Vitória e suas adjacências nos séculos XIX e XX.
Por sua vez, do ponto de vista dos migrantes/ imigrantes, o desafio da assimilação relacionava-se à
emergência de novos estilos de vida, consumo e metas culturais, e isso significava também
oportunidades e situações novas. Entretanto, muitos destes comportamentos e papéis divergiam dos
valores culturais rurais ou provincianos, ou às formas de sociabilidade comuns aos membros dos
diferentes grupos sociais. Muitos dos modelos de comportamento emergente se oporiam aos papéis
tradicionais rurais (poloneses), provincianos (residentes locais), da cultura italiana (negros sulistas).
Problemas sociais e econômicos se somaram ao vazio deixado pela fragilidade das instituições
tradicionais de cada um dos grupos (família, escola, Estado e mercado de trabalho). Esse vazio
provocou atrito entre exigências das novas formas de convivência urbana e a sociabilidade anterior
dos grupos migrantes/ imigrantes. Isso significou também diferenças entre competências, normas,
valores e impessoalidade. É nesse bojo que a preponderância de papéis sociais transitórios e laços
sociais instáveis pautou as relações interpessoais (Thomas e Znaniecki, 1918; Park, Burgess et al.,
1925). No âmbito das comunidades, a fragilidade das relações sociais, e o consequente atrito entre as
novas formas de convivência urbana e as instituições tradicionais dos grupos sociais migrantes/
imigrantes engendraram situações de conflito e criminalidade.
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Neste cenário, a assimilação não seria algo simples, mas ocorreria como parte de um processo
complexo, permeado por mudanças sociais e desvantagens estruturais em certas localidades intra-
urbanas. Dentre o conjunto de problemas, as altas taxas de crime foi o sinal visível da corrosão da
sociabilidade em algumas comunidades de Chicago. É nesse cenário que o problema da assimilação
converge com o problema da escolha de políticas públicas e de métodos de controle social. Embora
divergindo do enfoque conservador da obra de Edward Ross (1995) – sobretudo no que trata aos
posicionamentos racistas - as reflexões desse autor para centralidade do controle social como um dos
problemas centrais da sociologia americana influenciaram fortemente os pesquisadores da Escola de
Chicago nas décadas seguintes.
Em termos empíricos, os mapas mostraram que taxas maiores de crimes ocorreram em comunidades
que contavam com (i) maior concentração de pobreza, precariedade das relações de trabalho e
desemprego; (ii) déficit de saneamento; (iii) doenças (físicas e mentais), (iv) heterogeneidade cultu-
ral/racial e conflitos étnicos; (iv) déficit, precariedade e mobilidade residencial alta; (v) taxas elevadas
de divórcio, mães solteiras e famílias numerosas; (vi) déficit de supervisão parental; (vii) baixos níveis
agregados de educação e desempenho escolar, evasão escolar; (viii) fragilidade das redes sociais
comunitárias (igrejas e grupos sociais), (ix) baixa participação política e (x) reduzida assistência
social (Park, Burgess et al., 1925; Nugent, 2005[2004]). Alguns desses resultados podem ser encon-
trados em cidades - americanas e de outros países (como o Brasil) - que tenham experimentado
transformações similares.
Ao analisarem o processo histórico de expansão territorial da cidade - indo do centro da cidade para a
periferia -, os autores perceberam uma pressão continua sobre o território que apresentou caracterís-
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ticas interessantes. Mais especificamente, é em função desta analogia que Park e associados (1922;
Park e Turner, 1967; Park, 1972) e E. Burges e Mackenzie (1925) usaram os termos dominância,
invasão e sucessão - em sentido análogo ao cunhado originalmente por Darwin e atribuído à disputa
territorial por grupos animais e vegetais - para explicar como diferentes grupos raciais/ culturais
tendiam a se aglomerar em localidades especificas da cidade, migrar, ampliar ou expandir sua influên-
cia.
Todavia, a similaridade de termos guarda diferenças a serem destacadas. Park defendeu que a
cidade comporia um organismo supra-individual influenciado pela ordem moral, aos quais caberiam,
portanto, medidas moralizadoras e políticas públicas de infra-estrutura e assistência social. Em
resumo, a associação dos termos da biologia - dominância, invasão e sucessão - para a sociologia
urbana referiam-se as mudanças ocorridas nos diferentes grupos culturais e étnicos, desautorizando
a interpretação de que a criminalidade na cidade seria anárquica, como uma suposta luta de todos
contra todos.
2. Zona de Transição
** Grupos imigrantes recentes;
-Residências deterioradas; Lag
o
-Manufaturas; Mich
-Prédios Abandonados.
igan
4. Zona Residêncial
5. Zona de Comunidades
-Subúrbios.
Fonte: Originalmente cedida pelo Programa de Justiça Criminal de Calvin College -
http//www.csiss.org/classics/content/66
Exemplo nesse sentido foi observado quando comunidades estáveis - com laços fortes de vizinhança
e associativismo - e ocupando limites anteriores da cidade, modificaram-se por efeito da migração/
imigração. Muitas das comunidades étnico/ culturais deixaram lentamente de existir com a chegada
de novos migrantes/ imigrantes, implantação de empreendimentos imobiliários, residenciais,
comerciais e industriais. Ainda que fizessem parte de um quadro duradouro de instabilidade das
relações sociais, tais processos não ocorriam de um dia para o outro ou como conflitos deflagrados
abertamente entre os diferentes grupos populacionais.
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Shaw e McKay (1929) testaram as hipóteses de Park e Burgess (Park, Burgess et al., 1925; Burgess,
1926) para o efeito de comunidade na saliência da delinqüência juvenil e crime, e encontraram fatores
positivos para dimensões tais como (1) estado físico, (2) status econômico, e (3) status da população.
Variáveis como alta mobilidade residencial da população, (2) habitações abandonadas, precárias ou
condenadas, famílias residindo em coabitação e aluguéis, e (3) e proximidade com a indústria. Tais
resultados corroboraram as hipóteses levantadas em estudos anteriores, consolidando a
interpretação acerca dos efeitos da desorganização social sobre a criminalidade.
Para explicar estas relações estatísticas a proximidade com as fábricas e os aluguéis baratos (na
Zona de Transição) era vista como um fator positivo para as famílias recém chegadas (Philpott, 1991).
Philpott afirma que tais bairros eram formados por habitações precárias, cortiços e aluguéis coletivos,
e conviviam em um cotidiano de negócios ilegais. Faltava, no âmbito comunitário, a infraestrutura
necessária e políticas públicas eficazes para contrabalançar o efeito da fragilidade das instituições
tradicionais da família e da comunidade. Houve um efeito generalizado de redução da influência de
regras sociais compartilhadas com base nas instituições tradicionais, tais como famílias, igreja e
comunidade. A desorganização social se expressava então na maior delinqüência juvenil, desordem
pública e retenção de criminosos (Burgess, 1926; Shaw e Mckay, 1942).
Em resumo, a "desorganização social" e concentração geográfica dos crimes esteve relacionada com
as rápidas mudanças econômicas, culturais e sociais quanto à concentração da pobreza urbana em
algumas localidades. Nos bairros de maior crime, esse fenômeno se associou ao baixo status
econômico, heterogeneidade étnica e alta mobilidade residencial, fatores esses que, segundo os
autores, reduziam a capacidade das comunidades e das famílias em exercerem controle social direto
e indireto sobre os filhos, e de dirigirem ações de conformidade destes para com a sociedade
convencional. Como dissemos, o diagnóstico sobre a cidade apontou para o desajuste das
instituições ao nível de comunidade. Tais fatores cumulativos explicariam, bem como a retensão de
criminosos nessas localidades.
Em função do crescimento radial da cidade, sucessivas levas de migrantes escolhiam bairros cujos
aluguéis das residências fossem baratos e próximos das indústrias. Park e Burgess (1925) avaliaram
que processo de urbanização impactou na conformação dos usos do espaço urbano e na própria
estrutura social. As mudanças levaram a uma conseqüente redução da capacidade das comunidades
e famílias em regularem o comportamento infantil e juvenil, bem como reduziram os meios de
monitoramento de normas e valores dos membros da comunidade.
Algumas áreas passaram a expressar maior concentração de crimes como efeito das condições
precárias de vida dessas comunidades, e também pela tensão entre as novas e antigas estruturas
sociais comunitárias e familiares. Ao mesmo tempo, as novas sociabilidades compatíveis ao meio
urbano não se encontrariam completamente cristalizadas (Burgess e Bogue, 1964). O termo
"desorganização social" foi usado para expressar o efeito adverso das rápidas mudanças ocorridas
no processo de urbanização – sobretudo o enfraquecimento das instituições sociais tradicionais de
controle social (família, religião e comunidade).
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Famílias em mobilidade ascendente que residiam nos bairros da Zona de Transição - saiam dos
bairros. À medida que isso ocorreu, levas recém-chegadas de famílias migrantes/ imigrantes
buscaram na “zona de transição” as mesmas condições tais como aluguéis baratos e proximidade
com empresas. Desse modo, as novas famílias e gerações se adaptariam às condições sociais
preexistentes, reforçando o comportamento social favorável à criminalidade e delinquência. A
mobilidade residencial mantinha o ciclo de precariedade das relações sociais mesmo após mudanças
físicas (infra-estrutura) e populacionais (novas levas de migrantes/ imigrantes e subsequente
mudança de perfil étnico).
Em função destas diferentes pressões para o crime (ver figura 6), diversos grupos
raciais/populacionais residentes nas áreas de transição (afro-americanos, italianos, latinos,
poloneses, exceto asiáticos) apresentaram alta taxa de delinquência frente aos jovens de outras
áreas. Desvantagens estruturais e pressões sociais se relacionaram com o aumento da delinquência
e criminalidade independentemente do grupo analisado, fazendo com que a relação entre
raça/cultura e crime não explicasse a criminalidade.
Complementarmente, Thale (2005[2004]) afirma que, ao lado dos fatores macro-sociais - como o
crescimento da população e da economia formal - ocorreu o crescimento dos negócios ilegais.
Negócios ilegais na cidade variavam desde (ia) vendas não declaradas na contabilidade oficial de
comércio e empresas (ib) trabalho infantil - proibido para menores de 14 anos pela Suprema Corte dos
EUA em 1900 (ver Lindenmeyer, 2005[2004])-, até (ii) atividades explicitamente ilegais tais como (iia)
jogos de azar, (iib) drogas e (iic) prostituição.
De 1920-1930 a proibição do comércio de bebidas alcoólicas fez com que o crime organizado
prosperasse a tal ponto que teriam movimentado cerca de U$ 60 milhões em 1927(Thale,
2005[2004]). Os grupos criminosos detinham alta capacidade de corrupção política, policial e de
juízes, e isto foi usado para manterem seus negócios, expandirem sua influência e aumentarem a
tolerância (e mesmo o apoio explícito) para com o crime tanto ao nível de governos quanto de
comunidades. Como escreveu Thale, essa relação entre pobreza, crime e mercado ilegal fez com que
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Tais negócios moldaram a estrutura de oportunidades em bairros pobres, principalmente nos bairros
onde residiam italianos pobres e nos bairros de afro-americanos. Em ambos os casos, as
comunidades não detinham recursos para se opor às gangues e grupos criminosos, e isso ocorria em
função da capacidade dos grupos criminosos recrutarem jovens pobres das comunidades. O efeito
agregado desses problemas era que, ao lado da divisão administrativa da cidade, parcelas
consideráveis do território - sobretudo na Zona de Transição - eram controladas por gangues (ver
Allsop, 2005[2004]). Ora, uma vez mais, qualquer semelhança com a organização espacial-
desorganização social de certas metrópoles brasileiras é bem mais do que mera coincidência, o que
ressalta a importância da Escola de Chicago para o estudo da criminalidade no Brasil.
Os resultados obtidos pelos pesquisadores da Escola de Chicago revelaram que a criminalidade mos-
trou-se influenciada por pressões ambientais relacionadas ao grau de desorganização social das co-
munidades. Primeiramente, a própria desorganização social ocorreu independente dos grupos racia-
is e culturais que residiam na Zona de Transição (Park, Burgess et al., 1925; Burgess, 1926; Shaw,
Zorbaugh et al., 1929; Shaw e Burgess, 1930). Em segundo lugar, observaram que a mudança popu-
lacional nas áreas de maior criminalidade não levava à redução do número de crimes (Shaw e McKay
(1929). Mesmo após mudanças na infraestrutura, nas políticas públicas e no perfil cultural e étnico da
população, as taxas mantinham-se estáveis por vários anos, e mesmo décadas.
Buscando explicar os fatores associados à manutenção dos índices criminais, Shaw, Burgess e asso-
ciados (Shaw, Zorbaugh et al., 1929; Shaw e Burgess, 1930; Shaw e Mckay, 1942) levantaram a tese
da transmissão cultural. O mecanismo de transmissão cultural resultaria da exposição das comunida-
des recém-chegadas a um contexto de relações sociais previamente deterioradas. O contato com es-
ta dinâmica de relações repetir-se-ia ao longo do tempo, e passaria como padrão de sociabilidade pa-
ra as crianças e jovens, repetindo o processo ao longo das gerações.
O que os pesquisadores detectaram foi que as gangues juvenis emergiam a partir dos laços de vizi-
nhança cultivados ao longo da infância e juventude. Uma vez que os jovens não tinham oportunidades
de desempenho de papéis e responsabilidades convencionais, a delinquência juvenil adquiria uma es-
trutura de valores e se apresentava como modelo de comportamento a ser seguido. Em função disso,
a inserção no crime decorreu da socialização adversa precisamente por que essa socialização já se in-
seriria, à priori, dentro de uma estrutura de oportunidades ilegítimas, em que, para si e para sua comu-
nidade as vias convencionais pelo trabalho e estudo mostravam-se bloqueadas.
Muitos jovens aprendiam que os modelos de recompensa se baseavam em disputa por recursos es-
cassos, e isso em um contexto em que modelos de sucesso individual se ligaram ao crime. Alguns jo-
vens buscaram formar sua própria gangue e/ou adentrar nos grupos ilegais existentes. O próprio Al
Capone havia sido um bem sucedido membro de gangue. E os jovens poderiam ver, igualmente, o ca-
fetão, o agiota, o jogador, o traficante, etc., como os modelos de sucesso mais próximos, facilmente
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Ainda, a desorganização social aumentou a atração dos jovens para modelos de comportamento ba-
seados em gangues juvenis. Além das privações em si mesmas e pressões financeiras para o crime, o
desemprego persistente pode ser interpretado como o fracasso dos modelos de comportamento con-
vencional e parental. Isto era um sinal que a estrutura de valores das instituições tradicionais, tais co-
mo trabalho, família, escola e igreja encontravam-se frágeis para promoverem uma via de inserção se-
gura e monitorada na vida adulta.
Desorganização social, altas taxas de delinquência e crime eram processos que terminavam por
neutralizar a ação de instituições sociais convencionais - tais como família, escola, redes de
vizinhança e assistência social - no controle social informal. E isso pode ser detectado no fato que os
delitos mostraram-se inversamente relacionados com mecanismos informais de controle social dos
filhos, bem como no tempo dedicado ao desenvolvimento de atividades convencionais no âmbito das
comunidades.
Por fim, em um estudo de Shaw e McKay (1942) avaliaram que as taxas de crime entre as diferentes
Zonas eram basicamente equivalentes, havendo também uma redução dos índices (ver figura 3) o
que significou que fatores sociais de crime teriam se atenuado. Em lugar de desorganização social,
algumas variáveis específicas persistiam relacionadas à delinquência, retroalimentando o
mecanismo social (Stinchcombe, 1968). Shaw e McKay detectaram que houve uma relação negativa
(r = 0,69, não significativa) entre posse de casa própria e delinquência, e correlações positivas entre
número de casas abandonadas e delinqüência (índice de Pearson r=0,73, porém não significativo).
De modo mais amplo, um dos resultados mais importantes da Escola de Chicago é são os estudos
que buscaram compreender os efeitos da rápida expansão econômica e populacional na ordem social
ao nível de comunidade, e no impacto desses fatores na expansão da criminalidade. Essas mudanças
podem levar a acréscimos ou redução da criminalidade. No caso dos bairros situados na Zona de
Transição, o efeito detectado foi a redução das relações de vizinhança e o concomitante aumento das
incivilidades, criando um ambiente propício às gangues e à atuação de criminosos.
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Presença de
gangues juvenis/
Crescimento grupos criminosos
populacional
Conflito com Inserção de
jovens pobres
valores e normas no crime
Migração/ convencionais
imigração Controle Expansão do mercado ilegal Entrada/ saída
Alta social (sonegação, trabalho infantil, de residentes
mobilidade inadequado prostituição, jogos de azar,
Expansão do residencial
tráfico de bebidas/ drogas)
perímetro Desorganização
urbano
social
Corrupção Ineficiência Socialização de
Incivilidades Comunidades Estatal Estatal novas gerações
fisicamente
Heterogenei-
Crescimento deterioradas
dade cultural
econômico
Concentração geográfi-
ca de pobreza/ desvan-
tagens estruturais
Na virada do séc. XIX para séc. XX e na cidade de Chicago em particular, tal perspectiva apresentava li-
mites práticos frente à emergência de problemas sociais complexos, em função do crescimento eco-
nômico e populacional. Ao mesmo tempo em que era permeada por grupos de interesse diversos que
se empenharam na luta por “bons governos” (Teaford, 2005[2004]), a cultura política da cidade era pro-
fundamente ambígua. Se alguns buscando o desenvolvimento da cidade e da máquina pública, ou-
tros se empenharam práticas eleitorais corruptas relacionadas ao agenciamento ilegal de votos dos
migrantes/ imigrantes fracamente ligados à política da cidade.Tamanho o conflito que a limitação dos
direitos políticos dos migrantes/ imigrantes chegou a ser debatida (Einhorn, 2005[2004]).
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Em uma cidade que crescia rapidamente, muitas das intervenções governamentais na vida social pas-
savam por avaliação de que o intervencionismo dos governos seria abusivo. Os limites e o papel da in-
tervenção dos governos precisaram ser resolvidos. A filosofia norte-americana da época - denomina-
da “pragmatismo” - com destaque para as contribuições de Dewey (Dewey, Moore et al., 1917; Dewey,
1928; 1935) e George H. Mead (Mead e Morris, 1934; Mead, Morris et al., 1938) – defendeu protago-
nismo dos governos frente aos problemas da cidade, mas mantendo uma responsabilidade crescente
para com a cidade. Ao mesmo tempo, buscou precisar sobre o papel da pesquisa acadêmica em rela-
ção aos problemas da cidade, sobretudo nas chamadas questões sociais.
Para superar estas questões teóricas, três resultados da filosofia pragmática influenciaram subse-
quentemente a Escola de Chicago. O primeiro relaciona-se à defesa dos desdobramentos práticos da
pesquisa social. O segundo aspecto deu relevância às evidências empíricas para as teorias sociais.
No primeiro caso, significou que as reflexões sobre os problemas sociais não poderiam ser separados
das propostas empíricas direcionadas para a solução destes mesmos problemas. O vínculo empírico
dos estudos direcionava-se com a busca das necessárias soluções técnicas para resolvê-los (Abbott
e Wurr, 2005[2004]).
Em segundo lugar, e ao mesmo tempo, os problemas sociais (saúde, educação, emprego, criminali-
dade, imigração, moradia, etc.) possuíam a característica comum que suas soluções excediam o es-
forço individual ou de grupos, e de afetarem o bem estar geral da população, mesmo que alguns indiví-
duos não estivessem diretamente afetados aos problemas. Dewey e Mead avaliaram que problemas
sociais mostravam-se eram entraves ao progresso e desenvolvimento moral da sociedade. Em fun-
ção disso, a ação reformista dos governos era necessária (Mead e Morris, 1934; Leon-Guerrero,
2009).
Esta reflexão tinha repercussões políticas evidentes frente à complexidade dos problemas sociais, e
às necessidades de reforma, construção institucional e assimilação dos migrantes às instituições
sociais e políticas americanas. Ao fazerem isso, as soluções elaboradas resultariam do esforço
conjunto de cidadãos e governos, e atenderiam uma gama populacional ampla. Interesses e
interpretação das soluções dos problemas sociais da sociedade convergiriam quando cada indivíduo,
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autonomamente, compreendesse os problemas dos demais e da sociedade como um todo .
A interpretação da importância das políticas sociais representava também um programa para a ação,
uma meta a ser perseguida tendo em conta a assimilação dos migrantes/ imigrantes. Por isso, em uma
sociedade marcada por fortes clivagens culturais, étnicas, de renda e de oposição entre populações
locais e migrantes/ imigrantes, a orientação filosófica pragmática teria o efeito conjunto de defender a
expressão institucional dos conflitos e diferenças sociais como meio necessário para reduzir tais
conflitos e incorporar social, econômica e culturalmente os novos grupos populacionais que vieram
residir na cidade.
De modo mais amplo, os autores defenderam que sociedade e governos promovessem a missão
reformista, civilizadora, direcionada para a construção de normas, símbolos, identidades e um
horizonte social comum e universalista [Mead(1901) Mead e Park (1922; 1972)]. Adicionalmente,
Mead e Park defenderam que a dinâmica da industrialização da sociedade americana e sua
democracia presumiam que a sociedade se convencesse que essa assimilação era necessária,
possível, e que exigia tanto o ativismo social quanto do Estado. Os migrantes/ imigrantes deveriam ser
assimilados e, como parte deste processo, era necessário vê-los como demandantes de políticas
públicas e como parte integrante da sociedade norte-americana.
A conexão entre iniciativa social e governamental, pugnada por Mead, visava um novo equilíbrio entre
a cultura política estadunidense e a crescente demanda de intervenção dos governos na vida social. A
intervenção dos governos era necessária para a assimilação cultural. E para que essa assimilação
ocorresse, os intelectuais teriam um papel importante. Essa importância abrange a pesquisa dos
problemas sociais, implicando no planejamento urbano e na crescente necessidade de educação das
massas(Dewey, 1928; 1938), e na expansão do papel da opinião pública(Park, 1904; 1922; 1955). Em
muitos aspectos, tal posição reeditou a crença iluminista no progresso e na capacidade humana de
intervenção nos problemas sociais, na mudança social planejada e na construção das instituições
democráticas.
Estas duas linhas de intervenções – macro-social e comunitária - deram relevância para o planeja-
4
Essa posição concordaria com a abordagem feita por Tocqueville(1934; 1964)(1934; 1964) sobre a democracia americana.
Tocqueville(1934; 1964)(1934; 1964) compreendeu de forma otimista o dilema democrático da América. A inevitabilidade democrática teria,
em contrapartida, a estabilidade sob as mãos das massas populares, compostas, nos EUA, por pessoas individualistas e ao mesmo tempo
reunidas em diversos grupos de interesse.
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INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES
mento urbano como método de redução dos problemas sociais ao nível de comunidade (saúde, edu-
cação e infra-estrutura), conjugadas com ações direcionadas a reforçar laços sociais primários (famí-
lia) e de vizinhança. Deveriam agir juntos às instituições como escola, polícia, etc., - e centros comuni-
tários, igrejas, associações esportivas e de lazer. O ativismo comunitário foi defendido como condição
necessária para aumentar o controle social de crianças e jovens, e o monitoramento de atividades ile-
gais.
Por sua vez, em termos de políticas públicas direcionadas aos jovens, Clifford Shaw inaugura, em
1930, o Projeto de Áreas de Chicago (Chicago Area Project - CAP)(Wolcott e Schlossman,
2005[2004]). A ideia era implantar muitas das prescrições de empoderamento juvenil identificadas em
estudos anteriores. Destaque foi dado ao fortalecimento das relações comunitárias e no
monitoramento juvenil(Lindenmeyer, 2005[2004]).
Implantadas as medidas do CAP, a redução de crimes em alguns bairros foi pouco significativa, ou que
retornava a patamares anteriores. O Projeto avaliou que havia um efeito inercial do comportamento
delituoso, bem como a necessidade de intervenções urbanas estruturais. Ocorreu também que, nas
décadas de 30 e seguintes, comunidades brancas, apresentaram mobilidade social ascendente
maior que a dos negros, sendo que esses últimos segregados.
Talvez os resultados do Projeto não devam ser medidos apenas pela taxa de
delinquência juvenil. O projeto revelou talentos latentes dentro das comunidades.
Comitês têm melhorado as relações de pais e professores e compartilhado a
responsabilidade pela frequência à escola e do desempenho.Trouxeram o suporte da
opinião pública sobre os fatores específicos que contribuem para a delinquência
5
http://www.chicagoareaproject.org/historical-look-chicago-area-project.
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TEXTO PARA DISCUSSÃO I N º4 6
Ressalte-se que o Projeto para as Áreas de Chicago ainda existe e atue até o presente em dezenas de
bairros da cidade6. Os objetivos do CAP permanecem iguais, mudando apenas o modo de trabalho
com as novas gerações, exigências institucionais e novas populações migrantes (latinos,
principalmente) que incrementado a força de trabalho na cidade. Por fim, a importância do CAP das
políticas de prevenção ao crime pode ser percebida pela duração do projeto, por capacidade de
conectar diversas esferas de governo e mesmo por se constituir um constante mecanismo de
mobilização política das comunidades.
Embora reconhecendo o caráter inovador da Escola de Chicago, em que os avanços teóricos e meto-
dológicos foram importantes, críticas diversas foram levantadas. A meta dessa seção é expor tais críti-
cas e algumas respostas que lhes foram dadas.
Primeiramente, há a crítica para com o uso do termo “desorganização social” e como mensurá-lo7
(Whyte 2005[1943]), bem como a conexão direta entre "desorganização social", gangues e crime.
Esta relação foi questionada com maior propriedade nos trabalhos etnográficos de Whyte
(2005[1943]). O autor identificou os membros de gangs como adultos jovens com poucas oportunida-
des fora de seu grupo social e de suas comunidades. Esses resultados corroboraram com o que era
prescrito pela teoria.
O autor afirmou que a comunidade italiana de Nort End (Boston-USA) contava com diversos dos pro-
blemas citados pela Teoria da Desorganização Social.Todavia, sua visão – a partir de um olhar interno
das relações sociais da comunidade - divergia do modo como comunidades em situação congênere
eram descritas pelo enfoque da Escola de Chicago. As famílias italianas tinham suas próprias tradi-
ções, hábitos e religião. Mesmo com dificuldades econômicas e problemas sociais diversos, isso não
significava ausência de estrutura, mas sim a existência de uma estrutura social diferenciada em meio
6
http://www.chicagoareaproject.org/
7
Ademais, o termo “desorganização social”, em seu sentido lato, como oposto à “organização social”, relaciona-se diretamente à ideia de
uma “ordem social”, o que não foi claramente definido pelos autores da Escola de Chicago.
8
Mesmo após o crash da bolsa de valores de 1929 e sua influência nas condições de vida dos residentes na comunidade italiana de Nort End
(Boston), o pesquisador descreveu que a pressão direcionada ao comportamento criminal não atinge igualmente todas as pessoas da
comunidade.
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INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES
A imprecisão conceitual do termo “desorganização social” tornou necessário reenquadrar o termo con-
forme a definição de Kornhauser (1978). A autora definiu a desorganização social como a “incapaci-
dade de uma comunidade realizar objetivos comuns relacionados ao controle social de suas crianças
e seus jovens”. Nessa mesma linha, estudos recentes mantiveram conclusões como o efeito da con-
centração de pobreza e crime (Sampson e Wilson., 1995), enquanto outros chamaram a atenção para
o efeito de isolamento social das comunidades pobres (Wilson, 1990), a segregação residencial (Mas-
sey e Denton, 1993).
Entretanto, um ponto ausente na teoria da desorganização social consiste em não explicar por que a
maioria dos jovens pobres não cometeria delitos e por que os jovens de áreas de maior renda
cometeriam delitos. Essas questões foram levantadas por Sutherland para a teoria da Associação
Diferencial/ Aprendizado Social (Sutherland, 1955). A proposta desse autor foi o de inserir em como o
processo de aprendizado social explicaria diversos crimes, independente de serem esses associados
à pobreza.
9
Em termos metodológicos, outro conjunto de críticas apontou que o “efeito de vizinhança” nem
sempre ocorre, e isso tende a levantar questionamentos quanto ao determinismo social das
regiões/zonas da cidade sobre bairros específicos e sobre o comportamento do indivíduo. Em termos
metodológicos, isso significa que o uso de variáveis agregadas pode ser inválido quando forem feitos
testes ao nível de indivíduo, problema esse definido tecnicamente como “falácias ecológicas”
(Piquero e Weisburd, 2009).
Críticas também foram dirigidas ao uso de estatísticas oficiais. Elas expressariam o esforço diferencial
das agências policiais sobre os jovens pobres, deixando descobertos os delitos cometidos jovens de
maior renda (Clayton, 2005; Scott, 2005). Adicionalmente, essa questão expressa à relevância de
estudos de comportamento das agências policiais. E esse tema relaciona-se também com o fato que
as prescrições da Escola de Chicago influenciaram diversas políticas públicas, mas pouco os
trabalhos policiais (Skolnick, 2001).
Por fim, Park e Burgess avaliaram que o crescimento contínuo e radial da cidade seria um padrão
aplicável a outras cidades do mundo. Com o advento de pesquisas, foram desenvolvidos outros
modelos teóricos, tais como o modelo de setores proposto por Hoyt (1939) e a teoria dos núcleos
9
Efeito vizinhança (em inglês “Neighbourhood”) implica que comunidades próximas tendem a assumir características semelhantes. O
“efeito vizinhança” considera comunidades próximas são mais parecidas por que as pessoas que ali residem também se parecem em
termos sociais e econômicos.
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