Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Psicologia Social - Jorge Vala e Maria Benedicta Monteiro

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 278

PSICOLOGIA SOCIAL

JORGE VALA • MARIA BENEDICTA MONTEIRO


COORDENADORES

PSICOLOGIA SOCIAL

Centro de Recurso.
Prior Velho

FUNDA~Ao CALOUSTE GULBENKIAN


Servi<;a de Educa<;aa e Balsas
Apresento<;QO do 4. 9 edi<;Qo

Seis anos de uso e a dupla reedi~ao da Psicologia Social ao longo desse perfodo mostraram 0
valor deste volume, mas tambem algumas das suas lacunas e Iimita~oes que agora vern preencher-se
por ocasiao da publica~ao da sua 4." edi~ao.
Para isso foram importantes tanto a experiencia docente de todos os seus autores como as
sugest6es de colegas e de estudantes, a quem aqui deixamos 0 nosso agradecimento.
o novo texto e os textos renovados que integram esta edi~ao tiveram como objectivos comple-
tar, actualizar e integrar mais e nova informa~ao dos varios dominios da Psicologia Social. Manteve-
-se, no entanto, a estrutura inicial, que organizava os textos em torno de cinco questoes: I. A historia
da disciplina - desde a sua origem no seculo XIX, a par das restantes ciencias sociais, ate as princi-
pais fases da sua constru~ao ao longo do seculo XX - e as suas orienta~oes metodologicas; 2. Os fen¢-
menos e processos que intervem em vastas areas do comportamento, nas suas dimensoes intrapessoal
e interpessoal; 3. Os fenomenos e processos que intervem no comportamento, nas suas dimensoes de
grupo e das rela~oes entre grupos; 4. Os processos de constru~ao colectiva dos significados sociais,
e 5. Questoes de epistemologia e de validade ecologica na investiga~ao em psicologia social.

Esta 4: edi~ao contem nao so urn novo capitulo sobre processos cognitivos e estereotipos
sociais, como significativas a1tera~oes em dez dos restantes capftulos e ainda urn Indice tematico que
fac ilite a procura de temas e de conceitos ao longo de todo 0 volume.
Vejamos, entao, em sintese, essas novas contribui~oes, que tern lugar a partir da segunda area
de questoes.
No capitulo V, sobre 0 tema cJassico da forma~ao de impressoes, Antonio Caetano introduz as
teorias irnplfcitas da personalidade e apresenta urn modelo recente que explora 0 processamento
paralelo da informa~ao. Com 0 objectivo de facilitar a pluraJidade de propostas nesta area, 0 texto
adianta ainda uma sintese integrada dos diferentes modelos sobre forma~ao de impressoes.
o capitulo VI, sobre atrac~ao interpessoal, sexualidade e rela~oes intimas, de Valentim Alferes,
alarga a apresenta~ao da investiga~ao, nomeadamente ao topico da amizade.
No capitulo VII, que versa os processos de atribui~ao causal, Elizabeth Sousa desenvolve
sobretudo a discussao sobre a especificidade dos processos de atribui~ao social.
As atitudes, no capitulo VIII, sofrem nesta edi~ao urn alargamento importante Luisa Lima inte-
gra neste capitulo as teorias da persuasao, complementando assim a ultima parte, que tratava das pro-
Reservados todos os direitos de harmonia com a lei postas teoricas sobre os processos de mudan~a de atitudes.
Edi~lio da A fechar este conjunto de capitulos, e fazendo a transi~ao para a terceira area de questoes,
FUNDA<;AO CALOUSTE GULBENKIAN Leonel Garcia Marques estende 0 capitulo IX sobre a influencia social, as teorias que releem os fen6-
Av. Bema I Lisboa menos classicos de influencia a luz de novos processos, como 0 de auto-categoriza~ao ou 0 do con-
2006 fl ito sociocognitivo.
Dep6sito Legal: 249493/06 Os processos de grupo, tema do capitulo X, apresentam tambem altera~oes de relevo. Jorge
ISBN 972-31-0845-3 Correia lesuino mostra agora de forma mais alargada fenomenos especfficos da situa~ao grupal,
4

tais como a polariza~ao e 0 pensamento de grupo, e as suas repercussoes sobre a tomada de


decisao. Prefacio 6 primeira edi<;do
Os estereotipos sociais e os processos socio-cognitivos que os originam e mantem e uma area
de investiga~ao que atravessa toda a psicologia social do seculo xx, com amplas ramifica~oes e
entrosamentos com muitos outros conceitos e areas da interac~ao social, constituindo, a partir do
final do seculo xx uma das areas fortes da Cogni~ao Social. Constitufa, nas tres primeiras edi~oes da Em 1982 realizou-se em Lisboa, na Fundariio Calouste Gulbenkian, um simposio sobre
Psicologia Social, uma lacuna que desde 0 infcio urgia colmatar. Jose Marques e Dario Paez, no capf- «Mudanra e Psicologia Social». Este simposio teve 0 apoio da European Association of Experi-
tulo XI, sistematizam 0 percurso da investiga~ao neste domfnio, apresentando os processos c~gni­ mental Social Psychology e nele participaram, entre outros psicologos socia is portugueses e
tivos da constru~ao dos estereotipos e a articula~ao contextual que lhes confere significado social. estrangeiros, W. Doise, H. Ta.ifel e J. Ph. Leyens. Na sequencia deste encontro, iniciaram-se laros de
o capftulo sobre a identidade social e as rela~oes entre grupos, de Lfgia Amancio, e agora 0 colaborariio estdveis entre os psicologos sociais portugueses e os seus colegas que, desde 1963,
capftulo XII. A par da exposi~ao crftica das propostas teoricas mais classicas, as extensoes contem- vinham procurando uma refundariio da Psicologia Social na Europa. Este manual de Psicologia
poraneas do modelo das rela~oes de poder simbolico aparecem agora com novos desenvolvimentos Social reflecte os resultados dessa colaborariio e e, em larga medida, uma expressiio das questoes
decorrentes do cruzamento dos nfveis de analise situacional e cognitivo, ilustrados com investiga~ao que, pelo menos desde entiio, tem sido objecto de pesquisa teorica e emp{rica pOl' parte dos investi-
recente, nomeadamente na area das rela~Oes de genero. gadores e docentes em Psicologia Social no nosso pa{s.
Ainda no domfnio das rela~oes entre grupos, 0 capftulo XIII, de Maria Benedicta Monteiro, A expansiio do ensino da Psicologia Social criou a necessidade da elaborariio de um manual
apresenta novas contribui~oes, sobretudo em dois pontos teoricos da resolu~ao de conflitos: 0 que e que apoiasse a formariio dos estudantes do ensino superior que, nas mais variadas licenciaturas,
expresso pel a teoria da identidade social e das rela~oes entre grupos e 0 que e estudado no quadro da seguem cursos desta disciplina. A diversidade dos interesses destes estudantes e a variabilidade dos
negocia~ao formal.
graus de profundidade exigida na abordagem da Psicologia Social a n{vel de licenciaturas tiio
A quarta questao que estrutura a organiza~ao deste volume - os processos de constru~ao colec- d{spares constitu{ram um dos constrangimentos que orientaram a programariio desta obra. POI'
tiva dos significados sociais - continua, nesta edi~ao, a ser tratada no capitulo sobre as representa~Oes outro lado, pretendia-se fazer um manual que reflectisse os interesses e as orientaroes da Psicologia
sociais, agora 0 capitulo XIV. Jorge Vala alargou a sua apresenta~ao especial mente no dominio dos Social no nosso pars. Niio se trata, assim, de uma obra que abrange todas as temdticas desta
processos sociocognitivos que pres idem a forma~ao dessas representa~oes - a ancoragem e a objec- disciplina, mas cuja preocupariio e a de reflectir a especificidade do olhar psicossociologico nas
tiva~ao - tambem eles agora ilustrados por investiga~ao mais recente.
diversas temdticas que siio abordadas. Ora, uma das caracter{sticas deste olhar e a sua pluridirec-
Por fim, 0 capitulo XV continua, com altera~oes sobretudo de actualiza~ao da literatura rele- cionalidade com uma coerencia que the e conferida pela procura constante de novas articularoes.
vante, a propor-nos uma reflexao de contomos epistemologicos sobre 0 olhar e 0 pensar da psicolo- Este objectivo foi prosseguido atraves da colaborariio de diversos autores. A diversidade dos espe-
gia social, dividida entre as matrizes positivista e sistemica da sua forma de interrogar a interac~ao cialistas que colaboram nesta obra procura garantir a diversificariio teorica, a par de uma profun-
social. A sistematiza~ao das teorias e da investiga~ao sobre contextos territoriais, sobre densidade didade equivalente ao longo dos diversos cap{tulos, 0 que dificilmente seria poss{vel caso a sua
populacional e distancia~ao interpessoal em meio urbano, a partir da qual Lufs Soczka ilustra e redacriio tivesse cabido apenas a um ou dois autores.
defende a instaura~ao de uma perspectiva ecologic a em psicologia social, remata de novo este
volume em jeito de desafio. Os organizadores deste manual vem ensinando Psicologia Social ao longo de quase vinte anos.
o gosto com que agora trazemos ao publico de Ifngua portuguesa esta 4." edi~ao da Psicologia Para os estudantes, cujo esp{rito cr{tico e cuja criatividade os estimularam na sua progressiio inte-
Social e aquele que esperamos que os nossos leitores partilhem connosco ao le-Io. Gosto pela lectual, viio os primeiros agradecimentos. Agradecemos tambem aos colegas que desde a primeira
reflexao, pela pesquisa e pelo confronto crftico. Gosto existencial pelo perguntar. Ate porque, como hora nos apoiaram neste projecto e que aceitaram colaborar nele, conferindo, assim, a este trabalho
diz 0 Consul Honorario, de Graham Greene, «as unicas perguntas importantes sao as que 0 homem o que nele hd de positivo. 0 nosso papel foi 0 de simples gestores de uma ideia - a distancia que
faz a si proprio». separa a qua/idade poss{vel da qualidade conseguida e responsabilidade nossa.

Jorge Vala
Lisboa, Novembro de 1999 Maria Benedicta Monteiro

Maria Benedicta Monteiro Fevereiro de 1993


Jorge Vala

Apresento<;oo do primeiro edic;oo

A Psicologia Social e uma disciplina animada pela paixao da investiga~ao e pela preocupa~ao
com a interven~ao.
Pode dizer-se que a paixao pela investiga~ao e uma caracterfstica forte desta disciplina, na
medida em que 0 seu saber se oferece c\aramente como urn saber em constru~ao, sujeito a reformu-
la~oes contfnuas, em dialogo com a analise empfrica. Para alguns, pon!m, isso nao e uma manifes-
ta~ao de maturidade epistemologica, mas de inconsistencia teorica. Fora maior a solidez teorica desta
disciplina, e seria menor 0 seu recurso a investiga~ao empfrica. Para outros, a presen~a forte da inves-
tiga~ao empfrica em Psicologia Social teria vantagens, sim, mas nao para esta disciplina - ela nao
seria mais do que urn laboratorio das ciencias sociais mais nobres, que daf retirariam as ilustra~oes
de que carecem sobre a dimensao individual dos fenomenos colectivos. Quanto a Psicologia Social,
ela propria, seria urn epifenomeno que desapareceria com a matura~ao an unci ada das demais cien-
cias sociais e humanas.
Nao e este 0 lugar para descortinar as razoes da elevada produ~ao empfrica desta disciplina,
nem para discutir 0 significado e 0 futuro des sa produ~ao. Mas, tratando-se de apresentar 0 primeiro
manual de Psicologia Social escrito por autores portugueses, vale a pena sublinhar que aquela foi
uma das caracterfsticas desta disciplina a que se quis dar destaque. A apresenta~ao de cada problema
sera, assim, pautada por referencias a estudos empfricos. Neste sentido, as referencias a investiga~oes
empfricas ou, por vezes ate, a sua apresenta~ao detalhada servem dois objectivos - ilustrar a analise
de urn problema e ilustrar a estrategia de constru~ao de conhecimentos nesta disciplina.
E nosso proposito que este manual possa ser urn pedagogo do jogo que consiste em lutar contra as
hipoteses que se soube formular e, de uma forma mais geral, que possa contribuir para uma pers-
pectiva nao doutrinal e nao opinativa em ciencias sociais.
Dissemos que a Psicologia Social era uma disciplina animada pela preocupa~ao com a
interven~ao. Este objectivQ cedo a associou a ideia de tecnologia social e em muito contribuiu para
a identifica~ao desta disciplina com os mecanismos de gestao dos sistemas dominantes. Dispen-
sarno-nos de entrar na polemica sobre a Psicologia Social como disciplina subversiva ou repressiva.
Mas pretendemos que esta obra reflectisse a relevancia social desta disciplina. Ora, pod era parecer
que esta preocupa~ao esta ausente na medida em que nao existe nenhum capftulo dedicado as apli-
ca~oes da Psicologia Social. Em nosso entender, dedicar urn capftulo as aplica~oes desta disciplina
estaria em contradi~ao com a sua propria logica. Na sua historia, sempre que questoes relativas a
problematicas sociais relevantes dominaram a Psicologia Social, a abordagem dessas questoes fez-se
nurna perspectiva que nao dissocia a investiga~ao e a interven~ao. Foi nessa perspectiva que traba-
lhararn investigadores como os que, a partir de 1944, se reunem a K. Lewin e fundam 0 Research
Center for Group Dynamics, num programa de investiga~oes on de a preocupa~ao com a democracia
era urn problema e urn pressuposto importante. Ou os investigadores que, a partir de 1945, traba-
lharam com Hovland sobre a influencia social e a comunica~ao persuasiva, animados pela preo-
cupa~ao de esc\arecer os mecanismos que haviam alimentado a for~a da propaganda durante a
8
• 9

Segunda Guerra Mundial. Ou ainda aqueles que, a partir de 1954, na esteira de Allport, estudaram a problema da medida como aquele a partir do qual reflecte sobre as orientarroes metodologicas em
hipotese do contacto como meio de contribuir para a fundamentarrao das poifticas de dessegregarrao. Psicologia Social.
Na Europa, nao e possfvel separar a teoria de Tajfel, sobre a categorizarrao e a identidade social, das Apos estes capitulos introdutorios, dois capftulos abordam urn problema nuclear na pesquisa
preocuparroes com a xenofobia e os preconceitos contra grupos culturais minoritarios. Da mesma psicossociologica - a perceprrao do outro e as rela~oes interpessoais. No capItulo sobre a forrna~ao
forma, a teoria de Moscovici sobre a influencia social dos grupos minoritarios e das minorias acti- de impressoes esta em causa a compreensao dos mecanismos basicos que nos pelmitem construir urn
vas, iniciada no dealbar de Maio de 1968, esta fortemente ligada as preocuparroes com a eficacia dos retrato estavel e coerente acerca de outrem, nomeadamente quando a inforrnarrao de que se dispoe e
novos movimentos sociais e com a mudanrra social. A relevancia social desta disciplina encontra-se escassa.
inscrita na sua propria teoria, e os seus perfodos de desenvolvimento tern sido, simultaneamente, Mas sera mesmo necessaria qualquer inforrna~ao para que seja posslvel formar uma impressao
perfodos de aumento da sua relevancia social e, consequentemente, da sua maturarrao teorica. e predizer 0 comportamento futuro de uma outra pessoa? E este 0 tipo de questoes analisadas por
Importancia da investigarrao e relevancia social foram dois dos eixos que organizaram a pro- Antonio Caetano no capitulo V. Valentim Alferes propoe-nos, no capitulo seguinte, uma analise dos
gramarrao deste manual. 0 terceiro foi a atenrrao a produrrao nacional. A Psicologia Social e uma dis- factores que estao na base de modalidades especfficas de relarr6es interpessoais - as rela~oes de
ciplina com uma historia breve entre nos. Como as demais ciencias sociais, esteve congelada pelo amizade e de amor e 0 seu contexto emocional.
regime ditatorial que, ate 1974, marcou a vida quotidiana, mas tambem a vida cientffica, do nosso Avaliar e explicar sao duas actividades que povoam a nossa vida quotidiana. Avaliamos e
pafs. Por via das suas implica~oes na gestao das organiza~oes, algumas das preocuparr6es da explicamos fenomenos sociais, comportamentos de outros e os nossos proprios comportamentos.
Psicologia Social puderam ser ensinadas no perlodo pre-25 de Abril de 1974, quando 0 regime de A Psicologia Social dedicou muita da sua investigarrao a analise destas actividades quotidianas, nao
entao esbo~ou uma inten~ao de reforma administrativa e se verificaram ensaios de modernizarrao da so porque elas se repercutem na programarrao dos comportamentos individuais e colectivos, mas
gestao ao nlvel do sector privado. Mas essa vertente da Psicologia Social, que hoje, em larga medida, tambem porque constituem urn lugar privilegiado de compreensao do funcionamento cognitivo.
esta na base dos estudos sobre 0 comportamento organizacional, nao e toda a Psicologia Social. Para o conceito de atribuirrao, abordado por Elizabeth Sousa no capitulo VII, e aquele que tern apoiado a
alem do mais, muita da utilizarrao dos conhecimentos da Psicologia Social a esse nlvel so podia ser compreensao dos factores que regem as imputa~oes de causalidade. 0 conceito de atitude, por sua
feita numa perspectiva de reprodurrao, dado 0 ensino universitario desta disciplina se encontrar limi- vez, e aquele que da conta da dimensao avaliativa presente na apreensao de qualquer objecto. As ati-
tado e as condirroes para a investigarrao serem nulas. Com 0 advento da democracia, foi possivel tudes sao analisadas no capItulo VIII por Maria Luisa de Lima.
aIterar este estado da disciplina - 0 seu ensino expandiu-se e dao-se os primeiros passos na investi- Praticamente no centro deste manual, 0 leitor en contra urn capItulo sobre a influencia social, da
garr ao . Uma parte importante dos trabalhos emplricos e da reflexao teorica realizados entre nos autoria de Leonel Garcia-Marques. Trata-se de uma tematica tambem central na Psicologia Social.
reflecte-se na programarrao enos conteudos deste manual. E evidente que nem essa produrrao e tanta Em sentido lato, poder-se-ia ate definir esta disciplina como 0 estudo da influencia social e
que pudesse marcar de forma clara 0 manual, nem 0 seu caracter de introdurrao a uma disciplina 0 poder-se-ia dizer que este problema esta presente em todos os capltulos. Mas exactamente porque
deveria perrnitir, caso tal fosse possfvel. Procurou-se, assim, urn equilibrio aceitavel entre as preo- esta tematica e de tao grande importancia para este ramo de conhecimento, ela foi-se especificando
cuparr oes pedagogicas, as necessidades de uma certa coerencia transversal e a atenrrao a produrrao e assumindo progressivamente uma autonomia propria. E na sua dimensao restrita, embora percor-
nacional e as orientarroes de cada autor. rendo varios paradigmas, que a influencia social e abordada no capItulo IX.
Exa~inemos agora a estrutura do manual. Os tres primeiros capitulos sao dedicados a historia Nos ultimos anos, 0 paradigma da cognirriio social tern sido dominante em Psicologia Social e
da Psicologia Social. As rafzes desta disciplina na filosofia social europeia e no movimento intelec- orientou 0 interesse desta disciplina para duas tematicas presentes em capitulos ja apresentados- a
tual que, nos finais do seculo passado, permitiu a emergencia das diferentes ciencias sociais sao ana- formarrao de impressoes e a atribuirrao causal. Mas estes ultimos vinte anos de pesquisa ainda nao
lisadas por Alvaro Miranda Santos. Se tivessemos que eleger uma questao-chave nesse debate, a atingiram os niveis de divulga~ao e popularidade alcan~ados por temas como as atitudes e os pro-
oprr ao recairia na tensao entre 0 individual e 0 colectivo. Esta e, alias, uma das questoes retomadas cessos grupais. Alias, para alguns teoricos da Psicologia Social, iremos entrar numa nova era no
por Orlindo Gouveia Pereira ao relatar os pontos de ancoragem da Psicologia Social nos Estados estudo das atitudes e no renascer do interesse pela analise da vida dos grupos. No capitulo X, Jorge
Unidos. E e ainda em torno da resposta a esta mesma questao que Jorge Correia Jesuino situa a Correia lesulno apresenta os aspectos mais centrais na pesquisa sobre 0 funcionamento dos grupos,
distintividade da nova Psicologia Social europeia. Estes tres primeiros capitulos contam-nos, afinal, tomando como problema a relarrao entre estruturas grupais, processos grupais e eficacia dos grupos.
como se foi constituindo 0 objecto da Psicologia Social e quais as orientarroes basicas das respostas Na sua heterogeneidade, os quatro ultimos capltulos estao ligados por uma clara mudanrra de
desta disciplina as perguntas que foi formulando. nlvel de analise relativamente aos precedentes. A interac~ao desloca-se dos niveis interpessoal e
Como qualquer disciplina, a Psicologia Social caracteriza-se pela natureza dos problemas que intragrupal para objectos de analise mais macrossociais. 0 manual termina, assim. com uma analise
aborda e nao pelos seus metodos. Mas a abordagem metodologica de urn problema e ela propria con- das pripcipais tematicas da Psicologia Social da vida social.
figuradora desse problema. Este livro nao poderia, por isso mesmo, deixar de conter urn capitulo o desenvolvimento das teorias das rela~6es entre grupos, 0 significado das rupturas teoricas que
dedicado aos metodos. Combinando questoes epistemologicas e tecnicas, Jorge da Gloria escolheu 0 tern pautado 0 seu discurso e a analise crftica do seu alcance explicativo sao desenvolvidos no capf-
10

tulo XI, apresentado por Ugia Amancio. Uma saliencia especial e ai dada ao modelo da identidade
social e as suas extensoes contemporaneas .
As areas mais especfficas do conflito e da cooperac;ao entre grupos sao 0 tema do capitulo XII,
de Maria Benedicta Monteiro. A identiflcac;ao dos sucessivos niveis de analise que tern sido adopta-
dos para explicar a genese dos conflitos entre grupos, bern como a forma de os reduzir, constitui,
neste capitUlo, 0 flo de ligac;ao das diferentes hip6teses que se desenrolam ao longo de meio seculo
de investigac;ao.
Num campo tensional entre 0 macrossocial e 0 psicol6gico, a analise dos processos atraves dos
quais as pessoas constroem teorias sobre os objectos sociais, configurando assim 0 seu pr6prio
campo de signiflcados e de praticas, integra desde os anos 60 urn conceito e urn paradigm a da
AUTORES
Psicologia Social que Jorge Vala apresenta no capitulo XIII - as representac;oes sociais. Nele se passa
em revista a literatura mais consensual neste dominio, mas tambem a mais polemica, tentando
traduzir a perspectiva de que estamos perante uma area de conhecimento em que se vivem as con- • Alvaro Miranda Santos, professor jubilado da Faeuldade de Psieologia e de Ciencias da Edueafiio da Universidade
tradic;oes e a fragiJidade de urn saber em construc;ao. de Coimbra.
No quadro do debate epistemol6gico entre 0 positivismo e 0 construtivismo social, Luis Soczka • Antonio Caetano, professor auxiliar do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa, Lisboa.
apresenta, no capitulo XIV, uma perspectiva ecol6gica da Psicologia Social. Da densidade popula- • Elizabeth Sousa, professora associada do Instituto Superior de Psieologia Aplieada, Lisboa.
• Jorge Correia Jesuino, professor eatedrdtieo do Instituto Superior de Cieneias do Trabalho e da Empresa, Lisboa.
cional a proxemica, percorre as tematicas classicas e contemporaneas que nos chegam dos estudos
• Jorge da Gloria, professor da Universidade Lusafona.
ambientais. E encaminha-nos dialecticamente, bern ao seu jeito, para uma nova discussao. • Jorge Vala, professor eatedrdtieo do Instituto de Ciencias Socia is da Universidade de Lisboa.
Convidamos 0 lei tor a utilizar este manual como quem usa urn caleidosc6pio: 0 movimento de • Leonel Garcia-Marques, professor auxiliar de Psieologia e de Ciencias da Edueariio da Universidade de Lisboa .
uma leitura atenta e critica produzira combinac;oes e articulac;oes de teorias e problemas que, espe- • Ligia Amancio,professora associada do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa, Lisboa.
ramos, serao nao s6 agradaveis como tambem estimulantes da pesquisa. • Luis Soczka,professor associado do Instituto Superior de Psieologia Aplieada.
• Maria Benedicta Monteiro, professora eatedrdtiea do Instituto Superior de Ciencias do TraballlO e da Empresa .
• Maria Luisa Pedroso de Lima, professora al/xiliar do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa.
Jorge VaLa
• Orlindo Gouveia Pereira, professor eatedrdtieo da Faeuldade de Eeonomia da Universidade Nova de Lisboa.
Maria Benedicta Monteiro • Valentim Rodrigues Alferes, professor auxiliar da ' Faellldade de Psieologia e de Ciencias da Edueafiio da
Fevereiro de 1993 Uni versidade de Coimbra.
• Jose Marques, professor associado da Faeuldade de Psieologia e de Ciencias da Edueafiio da Universidade do Porto.
• Dario Paez, professor eatedrdtieo da Faeuldade de Psieologia da Universidade de San Sebastian.

CAPiTULO I

Os primordios de uma disciplina


- curso e percurso

Alvaro Miranda Santos

A psicologia social realizou varios percursos suas variantes (Comte,1828; Quetelet, I 869), ate
ao longo do seu caminhar em direc~ao asua defi- a «psicoffsica social» (Lilienfeld, 1896; Braga,
ni~ao epistemol6gica. Quase se poderia falar de 1908). Urn outro percurso mais ou menos para-
caminhos e descaminhos da psicologia social. lela e bastante significativo iria da «Iingufstica»
Nao seria valido, no entanto. Com efeito, mesmo (Lazarus,1882; Steinthal,1877; Waitz,1849) ate
os descaminhos nao sao descaminhos. Se bern a «psicologia dos povos ou popular» (Wundt,
reflectidos, se convenientemente reelaborados, 1960; Le Bon, 1894). Com McDougall (1908) e
em convergencia, podem constituir etapas vali- Ross (1908), enfim, «psicologia social» ou a «psi-
das para a rigorosa afirma~ao da validade episte- . cologia social» no fim? Seguramente duma certa
mol6gica da pratica te6rica e da pratica aplicada, imagem ou ideia dessa mesma psicologia social.
da psicologia social em constante renova~ao Haveria, portanto, urn novo percurso, centrado em
perante novos dados, encontrados na observa~ao torno da convergencia polemic a entre as «repre-
experimental. senta~6es» (Durkheim, 1898)e a«interpsicologia»
Em consequencia, na medida em que se nos (Tarde, 1890). Urn ultimo ou urn primeiro per-
deparam caminhos e descaminhos, 0 tecido desta curso seria 0 duma psicologia social em moldes
breve apresenta~ao vai patentear malhas que se Ji- «cientfficos»: Lundberg (1936), Kantor (1922),
gam entre si, umas de forma mais rigorosa, outras Mead (1934), entre os mais significativos.
de forma menos rigorosa, e algumas seguramente Esta possfvel pre-hist6ria, talvez proto-hist6-
sem liga~ao aparentemente nenhuma, vistas duma ria, da psicologia social quer evitar a todo 0 custo
forma isolada. Perspectivadas no seu conjunto ate cair no ]ugar-comum de ir buscar 0 infcio da
podem apresentar urn tecido relativamente acei- ciencia ou das ciencias aos Gregos. Em primeiro
lavel ou, mesmo, com subido interesse por deixar lugar, essa ida «sugere» uma confusao entre 0
uma ou outra malha capaz de provocar urn alarga- objecto sensorial e 0 objecto experimental ou
mento, uma diversifica~ao, urn aprofundamento. cieritffico. Para 0 caso presente, seria felcil remon-
Situando-nos no seculo XIX, por razoes facil- tar ate ao dito «pai da hist6ria», Her6doto, para
mente compreensfveis, poderfamos apontar urn encontrar alusOes, apenas alusOes, a tematica da
primeiro percurso, que iria da «ffsica social» e psicologia social, ja nao falando de contempora-
15
14

neos e posteriores, como Hesfodo, Demostenes, obra leva por titulo: «As caracterfsticas mentais do 2. 0 indivfduo e a sociedade vincado em contraste com 0 colectivismo de qual-
SMocies Eurfpides e principal mente Aristoteles. humano (sao) de primeira importancia para a sua quer cor que seja. Ideia de individual que apre-
No mundo romano seria de real~ar Tito Llvio, vida na sociedade». E a segunda realc;a: «A inci- Ainda hoje se encontram estereotipias. mais ou senta 0 indivfduo como c1aramente independente
CIcero, particularmente Plfnio. 0 MOfo. Mesmo dencia das tendencias primarias do pensamento menos avatares, da antinomia tradicionalista entre - certas ideias de liberdade - , como podendo viver
nos medievais, Agostinho de Hipona. Ibn Sinna humano na vida das sociedades» . McDougall e o indivfduo e a sociedade. Trata-se de antinomias isolado na sua «torre de marfim». fora de qual-
e Ibn Kaldum. Tomas de Aquino e Anselmo, e dado como psicologo. Ross. apresentado como variadas que Palante (1913) resume do seguinte quer tipo de sociedade. Ora, como refere Palante,
mesmo Herbert de Salisbury. Entre os modernos, sociologo. publica no mesmo anD urn outro livro: modo: a antinomia psicologica, na vida intelec- tal indivfduo nao se encontra em lado nenhum.
os portugueses das cronicas e dos relatos de via- Social P!.~vchology, an Outline and Source Book. tual, na vida afectiva e na actividade voluntaria; E aquele autor conc1ui com esta retlexao: «Tor-
gens e. entre os estrangeiros, tantas vezes apoia- Ao contrario da forma tradicional «simpatia, imi- e as antinomias: estetica, religiosa, pedagogica, na-se indispensavel reconhecer que a conscien-
dos nos relatos portugueses. como e 0 caso de tac;ao. sugestiio», Ross propoe como que unidade economica, poiftica, jurfdica, sociologica e moral. cia individual e sempre, numa parte razmlvel, 0
Montaigne. mesmo de Rousseau, de Campanella de prfncipio a «sugestao-imitac;ao», assim como Tais antinomias encontram-se mais ou menos retlexo das opinioes e dos costumes do seu meio,
ou Th. Morus. McDougall propoe como unidade de princfpio esquecidas ou, ao menos, postas de lado . Trata-se mesmo que se encontre em reacc;ao contra essas
Vamos ten tar compreender a historia da psi- o «instinto». E aqui se encontra a base para uma mesmo duma linguagem que, em algumas das opini6es e esses costumes» (Palante, 1913, n. 2).
cologia social. desfiando os seus percursos. Por distanciac;ao com interesse. Por outras palavras, suas modalidades, ja nem sequer se encontra em- Por aqui se pode adivinhar quais vao ser os
outras palavras: vamos procurar construir uma his- aqui se encontra 0 fim da ambiguidade em psico- pregue. A urn olhar mais atento para a actualidade, conteudos culturais presentes no vocabulo socie-
toria da psicologia social. inventariando algumas logia social. ambiguidade que durou demasiado na sua manifestac;ao global, encontra-se c1ara- dade. Nao somente nem principalmente 0 Estado.
das suas diversas «imagens» ou «representac;6es». tempo. No entanto, alternativas varias foram de- mente presente e, mais do que isso, c1aramente ex- mas 0 conjunto dos «cfrculos sociais» nos quais
sabrochando ao longo dos anos, umas menos e tensiva a dicotomia criada pela dialectica actual: a participa urn indivfduo e as consequentes relac;oes
outras mais dominadas pelo bissubstancialismo, antinomia entre personalidade e cultura. Esta anti- complexas, nas quais se encontra envolvido pelo
1. A primeira possihilidadl' na forma particular que Ihe imprimiu Comte nomia domina em muitas retlex6es acerca da pre- facto mesmo da participac;ao. Em qualquer
(1828): 0 humano era perspectivado em divisao, sen~a e interac~ao de culturas diferentes, acerca da hipotese, convem procurar evitar os dois extre-
Em 1908. McDougall publica An Introduction entre 0 biologo - instintividade - e 0 sociologo - aprendizagem escolar e, insensivelmente, passou mos principais: «divinizar e anatematizar» a soc ie-
to Social Psychology. A primeira secc;ao desta institucionalidade. Colocando em nomes, seria de para 0 linguajar do dia-a-dia. E nao admira: facil se dade (Palante, 1913, n. I), pois pode-se verificar
dizer entre McDougall e Ross. toma observar a tal respeito uma quase unifor- sempre urn sem-numero de intluencias, as quais
William McDougall ora se adicionam e se refonram, ora se op6em e
1871-1938
Em consequencia, esta primeira possibilidade midade de certos dizeres e de certas perspectivas
tern uma caracteristica muito especial: higienica. em meios de comunicac;ao social, quer escrita, ate se neutralizam. Estamos numa certa actuali-
Comporta c1aramente 0 seu papel especffico, quer falada, quer televisiva. Toma-se, portanto, dade, razoavelmente ambfgua: «0 homem e pro-
embora reforc;ando ora urn biologismo estreito operacional situar a antinomia de fundo e como e duto e produtor da sociedade e/ou da cultura».
na sequencia da struggle for life, ora urn socio- que se pensa supera-Ia. E, em primeiro lugar, de Seria de perguntar, nesta sequencia: tudo se
logismo sistematico de «as massas fabric am a que constara ela na sfntese praticada por Palante. equivale? E a resposta surge: nao, propriamente.
historia». ora uma junc;ao curiosa das duas pers- As retlexoes de Palante sintetizam bern urn Com efeito, ha uma diferenc;a aprechivel entre as
pectivas num «darwinismo social» de largas certo numero de ideias correntes nos fins de XIX e antinomias que se podem enumerar e 0 realc;ar
aplica~oes e de considenivel divulgac;ao. infcios de XX. Assim. para os conteudos do voca- mais forte mente das antinomias entre 0 indivfduo
Neste ponto, vamos ficar por esta primeira bulo indivfduo, con vern superar 0 que ainda hoje e a sociedade. A primeira a ser equacionada vai
parte dos caminhos e descaminhos, lobrigando ao e vulgar, ou seja: nao se trata do indivfduo dito ser a antinomia psicologica, pois constitui «a
longe a possibilidade definitiva da psicologia primitivo, da natureza, a Rousseau (<<ideia pri- antinomia fundamental». Compreensivelmente:
social como ciencia e conteudo cientffico especf- meira de bondade natural, c1aramente peregrina» todas as outras nada mais sao do que extensoes
ficos. 0 ponto seguinte ira demonstrar. adentro (Palante. 1913, n. 2). Menos ainda se pode tratar ou aplicac;6es dessa. E torna-se interessante, para
das perspectivas dos seus autores, como e que ela da individualidade, especie de unidade absoluta, a analise que aqui me proponho, perspectiva-Ias
foi acontecendo. Aqui ficara como e que ela se foi essencia espiritual, mais ou menos universal como algo na dependencia da antinomia psi-
mostrando. ao menos no que diz respeito a gran- (Kant e Fichte). 0 mais frequente e a ideia de indi- cologica: 0 sujeito e 0 ponto de partida dos fac-
des linhas ou a gran des espac;os da sua tematica. vidual , vindo do individualismo, particularmente tos, no que ao humano diz respeito. assim como
16
• 17

das leituras de tudo 0 resto e dele proprio. Acon- pode e deve dobrar-se perante 0 poder e/ou a res ulta da vida social. A consciencia sera urn epi- entre os jufzos acerca das coisas; a verdade em
tece ate uma leitura particularmente significativa clareza das ideias. Ate porque, segundo os mes- fenomeno, nao do organico mas do social. Afir- perspectiva pragmatista apareceria com as carac-
e mesmo representativa a este respeito. As anti- mos, a sensibilidade e uma especie de forma warn textual mente: «A condi~ao essencial que terfsticas de utilidade e de eficiencia. Em ambos
nomias sao inevitaveis. Com efeito, quanto mais inferior da «inteligencia», como que uma razao estabelece a diferen~a entre 0 homem e os animais os casos, porem, comporta sempre uma fun~ao
diversificada e a sociedade mais se torna compli- confusa e escondida. Com efeito, segundo vcirios deve-se ao facto de 0 homem se desenvolver em social: unifica~ao das inteligencias, disciplina
cado favorecer um mfnimo de «ordem», a partir autores, referidos por Palante (1913), encqntra- sociedades em crescimento, enormes, ao passo que intelectual e, consequentemente, factor de coesao
da ac~ao rotineira, mais ou menos imposta, e da mos: «A razao nada mais e do que urn sistema o animal se encontra a maior parte do tempo iso- social. Basta lembrar ter sido sempre ela, a ideia
regulamenta~ao crescente com vista a uma certa de categorias impostas a priori ao indivfduo lado ou tambem pode viver em bandos, mas desde de verdade, a cidadela dos dogmatismos, a pedra
conformidade, por maior ou menor premencia. pela consciencia social» (n. 74). Por conseguinte, sempre estacionarios e restritos» (1913, p. 9). angular das ortodoxias ideologicas, desde a cien-
afirma 0 primado e a preponderancia do «espfrito Por outro lado, 0 seu cepticismo em rela~ao a cia a moral, desde a filosofia a religiao. Dos
A vontade do indivlduo aspira a diversidade e ao poder,
11 independencia a sociedade esfor~a-se por reprimir este social» sobre a «alma individual». hereditariedade, a ra~a, em suma, relativamente racionalismos correntes, claramente dogmaticos,
trlplice esfor~o da vontade individual, ( ...) unicidade, inco- Como se pode depreender a questao funda- aos elementos fisiologicos, corresponde a um o mais forte hoje e 0 racionalismo «cientista»,
municabilidade, instantaneidade, insaciabidade humana mental, em termos de antinomia, e para Palante acto de fe no factor unico que e a socialidade, entendamos, experimentalista. E ele que hoje
evidentemente impropria para uma sociabilidade perfeita a seguinte: «As rela~oes entre a vida espiritual e atraves da actividade educativa. Daqui, para 0 aspira a hegemonia social, quer sob a forma de
ou mesmo urn pouco aperfei,¥oada ...corrigir 0 mais pos- o estado da sociedade. A vida espiritual no seu condicionamento em yoga, a behaviourista ou a exclusiva verdade, quer sob a forma de eficiencia
slvel a unidade pelo conformismo, a espontaneidade pela
trfplice aspecto, inteligencia, sentimento e von- reflexiologista, e um passo de palavra. A base da ou «racionalismo tecnico» (Palante, 1913, p. 38).
regra, a instantaneidade pelo seguidismo, a instabilidade do
desejo pelo apelo a resigna~iio e pelas perspectivas dos tade e redutfvel as influencias sociais? E favore- explica~ao e 0 paralelismo, estabelecido entre a Finalmente, haveria a considerar 0 usa e os
paralsos humanitarios (Palante 1913. p. 80). cida ou contrariada por elas e em que medida?» evolu~ao social, dum lado, e, do outro, 0 grau de objectivos da inteligencia depois de a termos
(1913, pp 75-80). aperfei~oamento e afina~ao das inteligencias. considerado na sua origem ou genese e no
Igualmente no que diz respeito a afectividade. Torna-se compreensfvel, na ciencia psicologica Apos uma longa analise e do debate sobre a objecto. Aqui encontra-se a mesma antinomia
Duas perspectivas opostas e dois tipos de expres- actual, que na vontade, que e actividade-manifes- realidade do social e a realidade do individual, entre socialidade e individualidade.
soes van aparecer com uma certa nitidez. Dum ta~ao de afectividade, assim como no sentimento Palante sintetiza: «As razOes que nos levaram Uma pergunta final: tratar-se-a mesmo de
lado, vai surgir a perspectiva sociologista, segundo e na em~ao, igualmente expressoes afectivas, se a conceder ao indivfduo uma certa realidade antinomias? A resposta e faci!, se tomarmos 0
a qual 0 facto social e, tem de ser, preponde- encontrem oposi~Oes, mais ou menos vincadas, fisiologica e psicologica, independente da socie- vocabulo antinomia no seu sentido mais viven-
rante no que toca a expressao dos sentimentos e entre 0 indivfduo e a sociedade. Mas torna-se dade, arrastam como con sequencia a possibili- cial do que logico. Com efeito, em term os de
em~Oes, tendo em vista a possibiJidade duma fortemente problematica a compreensibilidade da dade teorica duma antinomia entre 0 indivfduo e pares de n~oes contraditorias, acontece uma
uniformiza~ao, por uma socializa~ao progressiva oposi~ao ou conflito ou antinomia entre as duas a sociedade» (1913, p. 27). Mas isto no que diz exclusao recfproca. Em tal senti do nao e plau-
das «sensibilidades». Do outro lado, encontramos realidades que sao a inteligencia e a sociedade. respeito a forma de manifesta~ao da inteligen- sfvel tal antinomia, pois nao so nao ha sociedade
a perspectiva individualista, por vezes dita psico- No entanto, para Palante, trata-se dum facto cia, 0 que a tom a menos compreensfvel hoje, a sem indivfduo, nem acontece indivfduo humano
logista, em forma tradic:ional, evidentemenle, a bern caracterizado. Com efeito, os partidarios do nao ser para aqueles que advogam a «dissonan- algum a nao ser que seja em grupo humano
qual afirma a sensibilidade de cada urn constituir monismo sociologico - Durkheim e Daghicesco - cia cognitiva» (Festinger, 1957). Mas, se focar- mais ou menos extenso. Em perspectivas con-
urn fundo irredutfvel a qualquer influencia social tentam reduzir tudo, fisiologia, hereditariedade mos 0 modo como essa inteligencia se exerce, traditorias, torna-se admissfvel a antinomia. Com
Impossfvel se tom a , portanto, acabar com as e ra~a, ao determinismo social. Diferentemente, encontramos um novo tipo de antinomia, a qual efeito, a exclusao recfproca nao e total nem de
diferen~as no que toca a expressao dos sentimen- por seu lado, critic am directamente 0 epifenome- consistiria no conflito entre a intui~ao e a no~ao, totalidade 10gica nem de totalidade vivencial.
tos e/ou das em~oes. 0 fundamento desta dife- nismo de Maudsley e Ribot (Palante, 1983, 8 sendo esta constitufda pelo sen so comum ou Trata-se apenas duma totalidade didactica e/ou
ren~a encontra-se na sua base: 0 individualismo. e 9 g.), os quais fazem derivar as formas supe- «0 espfrito social» e aquela pelo senso proprio pedagogica, cujo objectivo consiste em real~ar
Com efeito, os individualistas tentam apoiar-se riores da intelectualidade humana do viver em ou «espfrito individual» (1913, p. 30). os factos e as perspectivas ou em real~ar a afir-
nas reflexOes fisiologicas, segundo as quais se sociedade. A cerebralidade e um produto do meio Resta 0 problema da verdade. Este problema ma~ao pessoal, a proposito ou a pretexto do
torna quase impossfvel a unifica~ao sentimental. social. Em boa tradi~ao lamarckiana, afirmam: reveste, por sua conta, duas facetas: a verdade tema. Restaria uma ultima hipotese: a exclusao
Pelo contrano, os sociologistas apoiam-se nas o meio e a necessidade de se adaptar tansformam em perspectiva racionalista ou intelectualista, 0 dos dois termos da antinomia. Aqui encontra-
afirma~Oes daqueles, poder-se-ia dizer intelectua- e como que criam 0 orgao. Nao e a sociabilidade mesmo e dizer, de clareza e distin~ao entre as mo-nos perante certas tom ad as de posi~ao em
Iistas, segundo as quais a sensibilidade individual que resulta da cerebralidade, e a cerebralidade que ideias, concordancia entre as ideias e as coisas e que se procura proclamar 0 niilismo dos factos,
18 19

ou das perspectivas, ou dos domfnios do saber. interesse. No entanto, e desviada do nos so objec- -cultura. Este ultimo a tocar-nos muito mais de dros dum labirinto embrenhado, em direc~ao a
E aqui vern com particular prop6sito: seria a tivo por ser desviante, na medida em que nega perto e muito rapidamente. Vamos ver porque. ciencia psicol6gica, capaz de abarcar 0 humano
posiyao das antinomias em torno da psicologia validade epistemologica a psicologia social, por a Toda a hist6ria da ciencia, como, alias, a na sua especialidade e na sua globalidade.
para impor a ideia da impossibilidade da ciencia negar mesmo a propria psicologia. hist6ria em geral, encontra-se em maior ou Neste contexto adquire particular relevo a
psicologica em moldes experimentais. Neste sen- Convem notar que 0 pretenso conflito entre menor proporyao circunscrita a urn grupo, a uma psicologia social apesar da sua tao propalada
tido: como e impossfvel objectivar 0 subjectivo, individuo e sociedade, muito antes do advento da organizayao ou a urn Estado (Na~ao), com mais «infancia» (Allport, 1954), declarada e mesmo
nao pode haver psicologia, diz-se (Santos, 1972). sociologia, ja era urn dos temas preferidos dos ou menos ramifica~oes. reclamada por diversos autores com responsabi-
No que ao texto de Palante se refere, temos mais variados exercicios de retorica. Por isso sub- Toda a hist6ria da ciencia, muito particular- lidades. Adquire ainda, e para 0 caso, particular
que a antinomia entre indivfduo e sociedade siste, ainda hoje, uma razao a mais para 0 denun- mente, apresenta-se como uma hist6ria apolo- relevo 0 seu caminhar, feito de caminhos e des-
acontece em perspectiva mais predominante- ciar no contexto desta reflexao sobre os caminhos getica das «conquistas do espirito humano», isto carninhos, os quais, em sintese, poderao cons-
mente vivencial, de vivencia das pessoas, a par- da psicologia social . Gurvitch, no entanto, acres- e, das grandes descobertas cientificas. Claro e tituir fonte inesgotavel de problematicas diver-
tir da opyao efectuada concretamente por urn centa algo de interessante: imlmeros tecnicos, pen- perfeitamente compreensivel. Como e igual- sas e permitir ampliar, aprofundar, diversificar
dos dados da antinomia. Por outras palavras, sadores, filosofos e cientistas «agarravam» essas mente claro e compreensivel que, pela novidade e, principalmente, especificar cada vez mais 0
como 0 refere Palante: antinomia pode significar realidades como se fossem entidades abstractas, da sua apresentayao, pelo realce que recebeu em humano, como objecto cientffico.
que duas coisas se encontram numa relayao tal perfeitas e irredutiveis, facilmente utilizadas em termos de divulga~ao, principal mente pelo brilho
que 0 desenvolvimento duma acontece a custa «teses» ora individualistas ora colectivistas, ora das suas aplicayOes tecnicas, cada descoberta
do da outra, uma tende a destruir, a diminuir ou nominalistas ora realistas, ora contratualistas, ora ofusque com a sua fulgurancia outras verdades 4. Uma segunda possihilidade
a enfraquecer a outra (palante, 1913, p. 272). institucionalistas. Num passado proximo, encon- ou outras realidades, outras pesquisas ou outras
tramos Comte, Spencer, Tonnies, Spann, etc., em possibilidades de ir mais longe, ou mais diversi- Por todo 0 seculo XIX, cresce em grande for~a
perspectiva anti-individualista; Tarde, Mill, Ward, ficada ou diferentemente, na capta~ao de qual- o interesse votado a linguagem, factor de base
3. Uma pergunta-chave quer outra realidade em qualquer outro campo da e para a comunicayao. Nessa medida ve-se
Giddings, etc., em perspectiva individualista.
Intermediariamente, veem interdependencia - ou ramo do saber. Quase seguro, encontra-se crescer 0 interesse em torno da manifesta~ao
Neste ponto ou momenta seria de perguntar Simmel, Van Wise, Weber, Park, Burgess, Mac aqui em forya a lei dos «tres estados» (Comle) a psicossociol6gica, ou seja, da interac~ao. Sem 0
singelamente: em qualquer hipotese e em termos Iver e muitos outros, ao pas so que Durkheim e <~ogar» no sentido dum progressivismo de per- nome, apenas. Em realidade, claramente. 0 nome
epistemologicos, sera legftimo falar de anti no- tantos dos seus discfpulos, em Franya, Cooley e feita rectilineidade, colocando como paradigma a era, na designa~ao de Ribot (1876), psicoiogia
mia entre indivfduo e sociedade? Tal pergunta sua escola, nos EVA, se afmnam pela indepen- realidade mais facilmente observavel, mais facil- etnogrdfica. E foi na AIemanha que aconteceu
pode justificar-se se tivermos presente uma ou- dencia do facto social, irredutivel aos indivfduos, mente sujeita a aplicayOes tecnicas. Por conse- esse relevo especial dado ao tema. Waitz (1849,
tra, subsequente e antecedente ao mesmo tempo. exercendo uma coeryao, maior ou menor, sobre quencia, parece querer impor-se mesmo decidida- 1859) centrou a aten~ao sobre povos em «estado
Por outras palavras, uma pergunta radical: se a eles (Gurvitch, 1957, p. 36). mente ao que e do foro humano, ou em modo de natureza», quase por oposi~ao ao estado de
antinomia nao se manifesta ou nao encontra Se antinomias existem, sao-no mais na pers- exclusivo de analise experimental em tudo 0 que cultura. Sem aquela ponta de nostalgia por esse
apoio nas vivencias, a vivencia de cada perso- pectiva do que na vivencia. No entanto, poderia- representa investig~ao sobre 0 humano. Apesar «estado de graya» , chegando-se a acusar a «civi-
nalidade ou indivfduo traduz 0 que? mos formular a pergunta: a vivencia e vivencia da divulga~ao de vocabulos como progresso e/ou liza~ao» senao mesmo a «cultura» ou a «socie-
Comecemos pelo princfpio. Qual sera 0 funda- de que, manifesta, traduz 0 que? Sem a menor evolu~ao, quase esvaziados do seu conteudo e dade» de 0 destruir (Moscovici, 1972; Roszak;
mento que leva G. Gurvitch (1957) a apelidar sim- duvida que a vivencia traduz e manifesta uma grandemente devedores a uma esp&:ie de destino 1967; Steiner, 1971). Waitz e mesmo Bastian
plesmente de «falso problema» aquilo que consti- «leitura». Se de «leitura» se trata, partindo da cego, hoje, pouco ou muito pouco sentido podem (1881) tentavam compreender os povos «avan-
tui 0 problema de fundo em Palante, como resumo perspectiva de que a pr6pria realidade e a leitura ler. Ainda que se encontrem a imperar em for~a yados», recorrendo aos «primitivos», quase
de tantos manuais de sociologia e de antropolo- que dela efectuamos, ha que a tomar como tal ate dentro duma «mem6ria colectiva» bastante tipica. como aconteceu com Mead (1970). Caracteri-
gia, de psicologia e mesmo de psicossociologia? que consigamos transforrna-Ia duma forma capaz Evidentemente, insustentavel (Santos, 1991). zavam, no entanto, 0 humano do seguinte modo:
Gurvitch, por sua conta, e frontal no subtitulo de corresponder a totalidade do real em observa- A altemativa consiste numa es¢cie de hist6ria domina a natureza pelo trabalho; serve-se da
que aduz: «0 pretenso conflito entre individuo e yao, na fundamentayao duma «leitura» diferente. da ciencia em genese. Tal «hist6ria em genese» linguagem articulada (verbal); constr6i noyoes
sociedade» (Gurvitch, 1957, n. 36). E em hip6tese Vai ser 0 caso do bin6mio individuo-sociedade e por observayao para descoberta do «real» vai que sao a base das rela~oes pessoais e grupais;
de reflexao a este prop6sito, a sua alternativa tern do outro, mais actual, 0 bin6rnio personalidade- constituir 0 fio de Ariane, a conduzir pelos mean- estrutura concepyOes religiosas e/ou miticas,
20
21

a sua outra forma de presenlYa no mundo ffsico diversas formas de expressao verbal na respec- colectivas. Haveria que considerar ainda as diver- mais quanta particularmente esteticas e duma
e humano. tiva epoca. Particularmente as que se seguem: a as actividades intelectuais, os trabalhos e as pro- faceta pedagogica» (Bastian, 1868, p. 45) De tudo
Oeste modo a «psicologia etnica» procurava Volksseele nao constitui, portanto, uma personal i- sdUyoes que dal decorrem: «A I'mgua, as artes, a isso sao prova ou demonstrayao os variados com-
uma descrilYao do homem social, do humano e dade real, mas apenas uma palavra para exprimir tecnica repercutem-se na "alma do povo" e ao portamentos humanos a permitirem uma psicolo-
seus grupos, na sua faceta de interaclYao. Esta inte- urn conjunto de estados e fenomenos (Reich, mes mo tempo manifestam-na e desenvolvem-na». gia comparada ou uma comparayao das expres-
raclYao encontrava-se igualmente presente nessa 1876, pp. 25 e 41). Duma forma curiosa, 0 autor Interessa considerar ainda como importante a soes pessoais, referenciadas a grupos diversos.
outra problematica, designada por Volksgeist, e propoe uma sequencia de actividades e perspec- moral na sua faceta de manifesta~ao duma «von- Este estudo comparativo permite a qualquer in-
aqui a Ifngua adquire mais importancia e mesmo tivas para conseguir conhecer a alma do povo, tade» , ja individual, ja colectiva, particularmente vestigador libertar-se proveitosamente de «esque-
especificidade como manifestalYao que e de da qual fa lou entre nos, mais recentemente, J. pela sua possibilidade de afrontamento ou choque mas» de observayao e de analise, tao «correctos»
grupo cultural. A Ifngua consiste, efectivamente, Cortesao (1914): «Para que todos os portugueses com as paixOes. Com efeito, 0 estado moral dum quaD parciais, permitindo-Ihe atingir 0 humano,
num conjunto de elementos a constituir 0 instru- se possam inteirar da sua alma». Do mesmo povo varia com a organizayao ffsica, a ra~a, 0 tanto quanta possfvel na sua globalidade. Em Der
mento basico da comunicalYao adentro do grupo modo, e numa vasta gama de informalYoes direc- modo de viver, 0 exemplo das classes dirigentes, Volkergedanke im Aujbau einer Wissenschaft vom
e, consequentemente, objecto de aprendizagem tas sobre 0 viver popular e sobre a bibliografia a vida em famflia, as variadas form as de religiao. Menschen (0 pensamento do povo na construlYao
da parte dos membros. Por este lado, a psicologia acerca da «alma popular» encontramos T. Braga Finalmente, 0 estado social e polftico traduz e ao duma ciencia dos humanos), Bastian (1881) pro-
etnica ganhou impacte a partir de 1859. Este foi (1885) com os seus dois volumes 0 Povo Portu- mesmo tempo inc ide sobre a Volksseele, as leis, poe que, muito para alem de museus etnologicos
o ana da fundalYao da Zeitschrift fuur Volkerpsy- gues. Em qualquer destes casos sempre houve a os regulamentos, as normas, a seguranya e as pos- completos onde penduramos vestes, armas e uten-
chologie und Sprachenwissenschaft, por obra de preocupalY ao de descobrir, por urn lado, 0 estado sibilidades de exercer a Iiberdade individual. sflios variados nos «preocupemos com estudar as
Lazarus e Steinthal. Foi este que, a partir de estu- dos indivfduos e, pelo outro, as manifestalYOes Torna-se vantajoso insistir noutras «represen- diferen~as inventariadas, em termos de Ifnguas,
dos diferenciais em historia, em geologia, em que resultam da sua aglomera~ao, as quais con- tayOes» . Assim, acontece que urn pouco antes de costumes, tradiyoes, instituiyOes, leis, religiOes»
antropologia, em etnologia e, principalmente, em tribuem para a definilYao da Volksseele. Reich, aparecia um outro som, embora mais ou (Bastian, 1881, p. 28). Oeste modo nao corremos
lingufstica, estabeleceu as leis psicologicas da A pergunta e simples: a aglomeralYao dos in- menos no mesmo sentido sob proposta de Bastian o risco de perder tudo 0 que duma forma ou
linguagem. A psicologia etnica-preparava a psi- divfduos incide na «alma do poVO», como? Ha (1968) , revestindo-se de particular interesse para doutra nos pode falar do humano, no passado e no
cologia social atraves da interaclYao, cujo instru- que real~ar, entretanto, os elementos, constituin- o presente propos ito: Beitrage zur vergleichenden presente. Esta sim, seria a psicologia dos povos,
mento e a Ifngua. No entanto, alem ou aquem tes possiveis, dessa «alma do poVO». Sao eles, Psychologie (Contributo para Uma Psicologie para melhor compreender a personalidade em
desse instrumento encontram-se as mais diversas entre outros: a ra~a e 0 seu caracter primordial, Comparada). Urn tal contributo em termos com- grupo e assim chegar a psicologia, simplesmente,
formas vivenciais e vivenciadas para cada urn as influencias hereditarias sao tambem de consi- parativos vai incidir sobre os dados da etnografia enquanto analise cientlfica do humano. Especifi-
em si mesmo considerado, assim como em grupo derar com rigor. Ainda a considerar seria essa o subtftulo 0 confirma: «A Alma e Suas Mani- camente,ou seja, nao apenas a partir da vivencia
ou grupos, dentro e fora das «organizaIYOes». variedade importante de modos de viver, parti- festa~oes e Aspectos na Etnografia». A retlexao do contacto com esses produtos em grupo. Por
E daqui podemos apontar para urn outro passo no cularmente, os ritos, rituais e habitos alimentares. distribuiu-se por tres partes principais as quais outras palavras, a psicologia pode ser, correcta-
caminho para a psicologia social: a psicologia E ainda os cuidados exteriores do corpo na cidade permitem a Bastian demonstrar 0 caminho per- mente, uma ciencia experimental, a tirar proveito
dos povos. E 0 caminhar da psicologia da lin- e no campo, habita~ao e sol e sombra, assim como corrido pela ideia de seele: 0 conceito dum ele- desta galaxia de informa~oes no sentido de ir
guagem ou da psicolingufstica para a psicologia os climas. Quanto mais se pormenoriza mais mento psfquico; os antepassados e os manes; construindo uma «ideia» mais adequada sobre 0
dos povos. claro fica que os componentes exteriores recebem a patologia dos obsessivos e os curandeiros. humano que somos: psicologia social.
Em 1876, Reich publicou Studien ueber der uma importancia consideravel na forma de anali- Nao e facil supor, a partir do que fica dito, qual Neste sentido, 0 serviyo a prestar pela psi-
Volksseele (Alma Popular ou do Povo) , obra sar a Volksseele. Por outro lado, havera que lan- o caminho seguido por Bastian. Com efeito, ha cologia social ja se pode adivinhar. Desde ha
onde procura demonstrar que «assim como ~ar urn breve olhar para as manifesta~Oes do «ani- urn facto mais relevante a apontar segundo este bastante tempo, no entanto, A. Schaeffle (1881)
entendemos por alma 0 conjunto das manifes- mador» da «alma do poVO». Em primeiro lugar, autor. E0 seguinte: «Encontramo-nos rode ados de sugeriu algo com bastante interesse . Num tftulo a
talYoes da vida intelectual e moral dum sujeito, do observa-se 0 tipo de temperamento na medida em maravilhas varias, cujas explica~Oes nos escapam. deixar-nos indiferentes pela sua generosidade,
mesmo modo compreendemos sob a designalY ao que ele tern influencia directa na historia desse Bau and Leben des socia/en Koerpers (Orga-
Deste modo, ao longo dos seculos, na variedade
de Volksseele 0 conjunto das manifestalYOes da povo. Em segundo lugar, ha que ter em conta 0 dos espa~os, foram inventados, transmitidos e/ou nizariio e Vida do Corpo Socia/), retlecte duma
vida intelectual e moral duma nalYao, duma casta caracter, 0 qual se encontra directamente rela- transformados usos vanos, rituais diversos pra- forma interessante. Apesar de tratar da «organ i-
ou duma classe de pOvO». Ha que situar estas cionado com 0 tipo de govemo e as actividades zayao da vida», curiosamente, do «corpo social»,
ticas curiosas e "narrativas" interessantes, tanto
• 23
22

mais contrastante ainda, apela em vanas pas- transfonna~ao. Curiosa fonna de falar do que mostra uma ausencia notoria de born humor, de ma~ao a psicologia social. encontramos algo de
sagens para a importancia da psicologia social. mais tarde foi, entre outras coisas, a «estrutura aleg ria de viver e de domfnio da inquieta~ao . As mais expHcito e de mais significativo, ao menos
Para 0 autor, a sociedade compreende dois ele- basica da personalidade» (A. Kardiner, 1939) e ideias sao coerentemente ligadas e os actos apon- historicamente. Antes de todos os autores, seria
mentos - um passivo e outro activo, ou sejam, as ainda a «sociogenese» (Santos, (987). tam para valores que dao a moral a fonna de algo de focar com urn certo relevo Lilienfeld (1873):
coisas e as pessoas. Por outro lado, 0 humano Por este lado. poderia dar-se rea Ice a outro a cumprir. Esta, por sua vez, vai incidir sobre a Gedanken Ulber die Social Wissenschqft del'
nasce numa sociedade e para uma sociedade. Por autor. Vierkandt ( 1896) incJina-se mais cJaramente religiao. Toda a ordem parece divina quando e Zukun!t (RejZexoes sobre a Ciencia Social do
isso, e sociavel, cria novas fonnas de sociedade para a psicologia social do que para a psicologia moral. Economia polltica previdente, arte criativa, Futuro). Que 0 autor «olhe» a sociedade como
para caracterizar novas formas de interac~ao. dos povos. Com efeito, nao Ihe interessam os ciencia explicativa, consciencia escJarecida pelo urn organismo, aceita-se embora se discuta.
Schaeffle utiIiza mesmo uma compara~ao: os «tra~os» comuns as «consciencias» individuais, valor e uma religiao-moral constituem a predomi- Apesar disso, no segundo tomo da sua obra as
seres vivos compoem-se de moleculas materiais; duma na~ao, duma ra~a. 0 que pretende e dispor, nancia da vontade sobre 0 instinto. Leis Sociais, ja aponta para urn sentido diferente
no entanto, as moleculas enquanto tais nao sao regularmente, em tomo dum centro psicologico, Vierkandt nao pretende, esta bern de ver, que do direito e da sua consagra~ao em tennos de pre-
vivas. Do mesmo modo, a sociedade e composta a diversidade dos factos sociais. Urn tal centro existam efectivamente estes dois grupos, nem ceitos. No terceiro torno, no entanto, a come~ar
de indivfduos e de coisas. Nem uns nem outros e constitufdo por actividades, particularmente por apenas estes dois grupos . Trata-se mais propria- pelo tftulo ha algo de significativo: Psicoftsica
sao sociedade, mas, ou por isso, intennediaria- estas duas: 0 instinto ou actividade irretlectida mente de prototipos, a permitirem todos os Social. Desde 0 infcio, adentro das tentativas de
mente, apareceu 0 grupo quer de referencia, quer e a vontade ou actividade retlectida. A primeira matizes, quer neles mesmos quer entre os dois. atribuir a psicologia urn lugar no domfnio dos
de perten~a ou os dois . Consequentemente, e con- seria ados selvagens e a segunda ados civiliza- Edeste modo que poderfamos analisar a grande saberes experimentais, logo apareceu urn esb~o
tinuando a comparacao, assim como no corpo ha dos. Esta perspectiva constitui 0 fundo do Iivro variedade de manifesta~oes societais e culturais. de perspectiva psicologica. Se Fechner (1860),
fibras e ganglios, etc., no grupo as fibras sao as Naturvoelker und Kulturvoelker (Povos Primiti- A passagem entre estes dois extremos depende qualquer que seja 0 significado da sua obra Ele-
fonnas e os meios de comunica~ao, os quais, em vos e Povos Civilizados). E em subtftulo: «Ein da dominancia do instinto ou da vontade. Domi- mente del' Psychophysic (Elementos de Psicoft-
vez de movimentos nervosos, transmitem sfm- Betrag zur Socialpsychologie» (<<Contributo para nando 0 instinto, factor de atrac~ao e de uniao sica), se propos realizar algo de diferente no domf-
bolos, vefculos das ideias, diversificadas quase a Psicologia Social»). Nesta perspectiva, mais ou entre os humanos, 0 sentimento social encontra- nio da investiga~ao sobre 0 humano, em plena
ate ao infinito. Por isso e que os indivfduos e/ou menos dicotomica, se podem compreender as va- -se no maximo. Dominando a vontade, factor de euforia da antropologia fisica, amplificada com a
os grupos podem trocar ideias. ria~6es dos costumes, dos usos, das ciencias e das desuniao ou de separa~ao entre os humanos. a divulga~ao das perspectivas de Darwin e outros,
E assim se fonna a «vida psicologica da artes, assim como das religi6es: em confonnidade sociedade que se civiliza caminha para 0 suicfdio. do mesmo modo e logo no infcio alguem se propos
sociedade». com as actividades fundamentais dos humanos. perspectivar a psicossociologia, qualquer que seja
o homem e urn animal social nao e urn animal civilizado. o valor da sua obra. Importa, isso sim. real~ar que
Estamos em psicologia. Mais propriamente, Vierkandt, ao enumerar as caracterfsticas do o instinto une. a vontade separa: onde domina 0 instinto ,
em psicologia da vida social ou «na vida psi- instinto, define 0 tipo de vida dos povos instin- a sociedade e forte e temos a barbarie: onde a vontade
a perspectiva psicossociologica brota espontanea
cologica da sociedade». Por outras palavras: tivos: vida apaixonada, sem fins previstos, do que domina, na civiliza"ao, a sociedade enfraquece-se. Eclara em momentos de observa~ao do humano. lndu-
existe uma «consciencia social de que emanam, resulta a sua fonna de deixar correr, a pennitir a antinomia entre a sociedade e a civiliza"ao e a harmonia bitavelmente trata-se dum esbo~o, cJaramente real,
ao menos em parte, as consciencias individuais» uma fonna de jogo de que resulta uma alegria con- entre a moral e a civiliza"ao . A civiliza"ao e uma nor rara do que pode vir a ser a psicologia social, quer
e efemera, na Historia da humanidade. como a actividade quanto ao objecto de estudo, a interac~ao, quer
(Schaeffie, 1881, p. 105). No entanto, estas nao fiante, despida de preocupa~6es, agindo ao sabor
voluntaria do indivfduo (Vierkandt. 1896. pp . 5, 24 e 26).
sao monadas independentes. Desta fonna toma-se das circunstancias, ffsicas e sociais. Por outro quanto ao metodo rigorosamente cientffico,
facil explicar certos fenomenos do genero «epi- lado, a actividade de analogia e de metaforas, base Algo con vern reter nesta caminhada: na adentro dos quadros representacionais da epoca,
demias morais», a falsear ou perverter as von- das mitologias e-Ihes familiar, assim como uma diversidade das formas de interac~ao e dos con- facilmente identificados no sentido da sua propria
tades, a favorecer resolu~oes comuns. ajuizamen- pratica moral voltada para 0 exterior. 0 civilizado teudos interactivos em foco, 0 humano encon- supera~ao. Como sera praticado na sequencia.
tos partilhados sobre os outros, sobre as coisas ou sera algo em contraste total com 0 selvagem. tra-se todo, por inteiro, a justificar, pela sua cria- Ja antes de Lilienfeld (1873) e mesmo de
sobre os acontecimentos, sobre os gostos publicos De actividades livres, fonna projectos VaDOS para tividade, a diversidade das manifesta~oes. Fechner (1860). algo de interessante, mesmo de
ou sobre os costumes (Schaeftle, 1881, p. 78). objectivos de interesse e, por isso, age indepen- Apesar de toda esta retlexao, com urn certo curioso, ao menos para 0 nosso olhar de hoje,
Encontra-se aqui uma perspectiva ainda hoje dentemente das circunstancias, vive ocupado, interesse, enfermar de generalidade pronuncia- estava acontecendo. Ventilou-se, duma forma
corrente, a do contagio social. No entanto, e born sobretudo preocupado com 0 futuro na maior da, e born coloca-Ia em foco, pois encontra-se inedita ou significativa, no tftulo e no conteudo
notar, as consciencias, por si mesmas, encon- parte dos domfnios, capitalizando sob as mais com certa frequencia, sem as pessoas dela se duma obra: 0 Humano e 0 Desenvolvimento das
tram-se abertas as ideias e, consequentemente, a diversas fonnas para 0 depois. Em consequencia, darem conta. E, neste contexto duma aproxi- Suas Potencialidades (Quetelet 1835). A sua
24 25

Wilhelm Wundt resultados do que a observa9iio interior, engana- rnodelo s ... as realidades que vemos, levamo-las a que fazem parte. Wundt atribui mesmo como
1832-1920
dora e, ainda, impraticavel. Mesmo limitando-nos conta de selvajaria, para com desprezo lralannos objecto cientffico a psicologia etnica: a) os
ao simples domfnio dos factos, nada ha a temer. o negro e chegarmos a triste e erronea conclusao problemas do mito, a pensar nos comec;os das
A sua vasta Volkerpsychologie encontra-se ao que queremos fa~,a eco no mundo civilizado: de religioes; b) os problemas dos costumes a pen-
alcance de todos e apta a demonstrar que a vida, que os povos da Africa sao brutos e como tais so sar na origem, fonna~iio e desenvolvimento
os costumes, as tradic;6es, as crencras, a propria a tiro se podem submeter aos nossos usos e cos- da cultura; c) os problemas da Iinguagem, a pen-
linguagem dos «povos selvagens» oferecern uma tumes; ou entao que deles nada se pode fazer por sar nos movimentos de expressao (criticando
materia demasiado vasta a investiga9ao cientffica. serem rebeldes ao ensino» (Carvalho, 1890, p. 45). Darwin e Spencer para realc;ar as express6es de
Wundt vai mais alem e quase preanuncia, insis- Tinha afinnado paginas antes: «Se ha estudo que intensidade, de qualidade e de representac;ao das
tindo que 0 estado psfquico destes povos e 0 exija mais sossego de espfrito e maior impar- emoc;oes), a pensar na Iinguagem gestual, com
resultado de circunstancias tao complexas que cialidade de opiniao e, sem contestacrao alguma, 0 a
particular realce para a faceta simbolica, pen-
podem escapar - escapam e escaparam - a obser- das tribos african as com que se logra estar em sar nos sons, na sua faceta natural e na sua trans-
vac;ao desarmada. E acrescenta: e lamentavel que contacto; e, sem este estudo despreocupado, a forma~ao cultural, e a pensar finalmente na
ate hoje nao se tenha arrancado a estes documen- etnografia nao pode progredir nem fixar-se em palavra, particularmente na sua faceta especffica
tos urn unico facto em perspectiva psicologica. bases seguras» (Carvalho, 1890, p. 4). Propostas de linguagem, constitufda pela lingua (Wundt,
E, no entanto, encontram-se elementos dum ele- preciosas contra 0 etnocentrismo, seja de qual cor 1880). Este realce dado a linguagem tem urn
vado interesse psicologico nas «cosmogonias» for ou mesmo de cor neutra, este a negar validade significado especial: a Iingufstica pode ajudar
tradicionais dos «selvagens», assim como nas e valiosidade a ciencia e a pratica psicologicas, a psicologia a atingir urn ideal claro de objec-
«mitologias» dos povos civilizados. Em ambos os particularmente de psicologia social. tividade, do qual beneficiaria, por sua vez, a
proposta, expressa no subtftulo «Ensaio de casos, quanta ha a esperar duma releitura desses Em Volkerpsychologie, Wundt real~a a propria lingufstica. Quem for capaz de analisar
Ffsica Social», consistia em aplicar a estatfstica dados arqueologicos vistos nao apenas como pro- grande vantagem que pode trazer para a com- a historia duma palavra, ao longo de milhares
aos fenomenos «morais», para implementar a dutos mortos, mas como vivencias vivas de pes- preen sao da personalidade a analise dos feno- de anos, con segue captar a historia duma ideia
teoria do «homem medio». soas e de grupos. Tais dados foram desconsidera- menos que resultam da ac~ao psicologica recf- enquanto fenomeno cultural. Isto prende-se com
Neste contexto e sem afinnar nem infinnar a dos, desprezados por vezes, mesmo destrufdos, proca. Consiste nisto 0 papel da «psicologia a importancia atribufda por Wundt (1885) a
validade - para aqui irrelevante - con vern praticar ate material mente , sob pretexto de inutilidades etnica»: «Observar cuidadosamente os fenome- representa~ao (Vorstellung). Esta constitui, com
uma breve referencia a Wundt. 0 menos con he- supersticiosas, para uns e para outros, de cren~as nos psicologicos que se encontram na base do efeito, a faceta objectiva (curiosamente) em
cido talvez mesmo simplesmente desconhecido obscurantistas. No entanto, a partir duma inter- desenvolvimento geral das sociedades humanas rela~ao ao sentimento, oposto, por sua vez, a
pelas historias da psicologia, tendo presente a preta9ao lucida e aprofundada ou diversificada de e do aparecimento dos produtos colectivos dum sensac;ao (ou impress6es sensoriais directas), a
divulga~ao, atraves do paradigma ffsico-mate- todos esses velhos documentos Iiterarios - orais valor geral» (190 I) . A seguir avan~a mais esta constituir a faceta subjectiva. Ao contrario de
matico e biofisiologico, da sua obra: Grundzuge e/ou escritos - tao importantes se nao mais, tao ideia curiosa: a psicologia etnica diz respeito a Herbart (Ribot, 1876), 0 qual faz derivar 0 sen-
der Psysiologischen Psychologie (Princfpios Oll ricos se nao mais do que os monumentos em alma e nao ao espfrito. A ideia de alma, com timento da representac;ao, Wundt ve nas duas
Elementos na Psicologia Fisiol6gica) (Wundt, materia dura, revelar-se-a algo bern desconhecido. efeito, e de fenomenos psicologicos comporta express6es humanas fenomenos coordenados
1874). No entanto, basta e e fundamentallembrar Toda essa literatura, oral e/ou escrita, muito sempre a relac;ao a urn corpo, os fenomenos psi- dum so e mesmo processo. A dificuldade sub-
a Voelkerpsychologie (Psicologia do Povo) podera contribuir para mais adequada leitura- cologicos sao-nos dados, ligados a urn corpo. siste em clarificar as diferen~as entre fuhlen
(Wundt, 1900) para se nos deparar uma contra- -interpreta~ao, isto e, para mais especffica obser- E a alma colectiva (Volksseele) e tao real como (sentir), begehren (desejar) e wollen (querer)
partida notavel a essa divulga9ao maci~a por e vac;ao cientffica, do humano e dos humanos, atra- a alma individual. Observa~ao mais pertinente e, consequentemente, a rela~ao de cada uma
para uma ideia inadequada da psicologia e, no yes da analise da linguagem e dos seus conteudos ainda e esta: os fenomenos sociais nao sao nada dessas actividades com a representac;ao . Pro-
caso, redutora dum pensamento e de perspectivas mais do que das suas fonnas, adentro da comu- que possa acontecer fora das almas individuais blema que se encontra em Novikov (1897) com
largas e diversificadas. 0 proprio Wundt 0 afinna nidade humana e de cada comunidade humana. '" e a alma colectiva e assim urn produto (nao a chamada «consciencia social» e, particular-
mais ou menos por estas palavras: sao inumeras e Ja antes, convem frisa-lo, se exprimia urn por- urn somatorio) das almas individuais de que mente, a «vontade social». Social, como? Soma
ricas as fontes de infonna9ao objectiva que se tugues lucido, em contacto com as populac;oes se compoe (nao e mistura); estas, por sua vez, ou sfntese ou outra coisa? Assunto para outro
oferecern a psicologia, a prometerem melhores kiokas que 0 maravilhavam: «Tendo-nos como sao igualmente produto das almas colectivas de espa~o (Santos, 1978).
26
27

5. A terceira possibilidade ou poh~mica ~ ub~trato respectivo. No entanto. esta aproxima<;ao. longe de


Em resumo, podfamos recorrer de novo a posi~ao de Durkheim: «Sempre que urn fen6-
radical justiticar a concep<;ao que reduL a sociologia a ser apenas
Durkheim e as suas preciosas Regles de la me- menD social e explicado por urn fen6meno psf-
urn colonirio da psicologia individual, acentuarJ. pelo con-
Encontramo-nos uma vez mais com 0 voca- tnirio. o realce da independencia rclativa destes dois mundos thode sociologique (1895-1968): quico, podemos estar certos de que a explica~ao e
e destas duas ciencias (Durkheim, ~898. pp. 273-4) . errada» (Durkheim, 1897, p. 128). E pratica-se
bulo representarao. A variedade dos seus conteu- Eis uma ordem de factos que apresentam caracterfsticas
dos pode receber alguma c1arifica~ao, se nos ati- muito especiai<;; consistem em modos de agir, de pensar tanto esta atitude como a inversa: urn fen6meno
Muito mais facil se toma, deste modo,libertos e de sentir, exteriores ao indivfduo e que se encontram pessoal aparecer explicado por urn fen6meno
vermos a sua primeira grande aplica~ao nestes
das estereotipias do passado, ainda cultivadas no dotados dum (lOder de coerr;ao em virtude do qual se Ihe sociol6gico,0 que, consequentemente, nao deixa
domfnios, obra ou iniciativa de Durkheim (1898). impoem; nao poderao ser confundidos , por conseguinte.
presente, por anacronismo, evidenciar a especi- de ser menos errada. E tao frequente! Ao passar a
Sugeriria que se trata duma reflexao fundamental com fenomenos organicos, pois consistem em represen-
ficidade da psicologia social, especificidade ja enumera~ao dos mesmos, Durkheim afirma: «Do
para 0 nosso prop6sito. A psicologia social nao tar;oes e acr;oes; nem com os fenomenos psfquicos, pois
real e ainda a tomar muito mais real no futuro. nao existem fora da consciencia individual e por meio dela . mesmo modo que os povos antigos eram coagidos
tern aqui nem caminho nem descaminho. Pelo
Se tivermos presente que as representa~6es conti- Esses factos constituem, portanto. uma nova especie e a pela necessidade de fe comum para viver, n6s
contnirio, encontra aqui uma rampa de lan~a­
nuam a existir, ja porque se pode demonstrar essa eles apenas deve ser dada e reservada a qualificar;ao de somo-Io pela necessidade de justi~a» (1897,
mento para muita da sua originalidade . E isto por
persistencia, ja porque agem umas sobre as ou- sociais (1 968, p. 17, sub!. do autor). p. 382). E assim se toca directamente num dos gru-
varias razoes. A primeira, por exemplo, aqueJa
tras, autonomamente em rela~ao ao estado dos pos de conteudos: as praticas, as realidades e os
que ressalta das posi~oes de Durkheim (1898), Deste modo, e muito mais faci! e significativa
centros nervosos ... ou seja, a vida representativa, a enfase dada por Durkheim aos fen6menos valores religiosos que Ihes dao consistencia, quer
dizendo nao ao socioJogismo biol6gico, ao biolo-
porque nao e inerente «8. natureza intrfnseca da «sociopsfquicos». Em que sentido? sejam organizados quer nao, quer se encontrem
gismo psicol6gico e ao psicologismo biossocio-
materia nervosa», subsistindo por suas pr6prias institueionalizados quer nao. Vejamos outros
16gico (Durkheim, 1998, pp. 296-7 e 302). Quanto as suas manifestar;6es particulares , participam de
for~as ou caracterfsticas, possui, consequente- exemplos de factos sociais, alem dos religiosos:
Mas ainda se encontra tanta gente a racio- algo de social, pois reproduzem em parte urn modelo colec-
mente, modos de ser que Ihe sao pr6prios. ti vo; no entanto, cada uma delas depende tambem e numa fala de templos e de monumentos, refere-se aos
cionar dentro destes esquemas tradicionalistas!
Por outro lado, se os factos sociais sao, ate larga medida da continua<;ao organo-psfquica do indivfduo, Iivros e aos c6digos, evidencia os mitos ao lado
E tudo isto, porque? Por causa do abuso das ana-
certa medida, independentes dos indivfduos e das circunstancias particulares em que se encontra colocado. dos ritos, os formularios ao lado das institui~6es .
logias, por outras palavras, por virtude de conver-
exteriores as «consciencias» individuais, .0 reino Nao sao, portanto, fenomenos propriamente sociologicos. E avan~a: assim como a psicologia contempo-
ter a analogia em demonstra~ao. Claramente: Dizem respeito. simultaneamente, aos dois reinos; poder-
social estrutura-se por si pr6prio como 0 reino ranea, alargando a no~ao tradicional de realidade
A sem-razao dos sociologos biologistas nao consiste. -se-iam apelidarsociopsfquicos (Durkheim, 1968, pp. 1-17).
psfquico. A sociedade comporta como substrato psfquica, reconhece existencia positiva ao incons-
portanto, em usarem da analogia, mas de a terem usado
rna!. Quiseram, nao controlar as leis da sociologia pelas da
o conjunto dos indivfduos associados , como 0 in- Embora numa linguagem da epoca, encontra- eiente, do mesmo modo a sociologia deve admi-
biologia . mas induzir as primeiras das segundas . Tais infe- divfduo 0 conjunto de celulas nervosas. Mas nem -se aqui algo de muito mais adequado e, porque tir urn modo de existencia pr6pria, ainda que num
rencias nao possuem qualquer valor; com efeito , se as leis o indivfduo nem a sociedade sao constitufdos nao?, Weido se compararmos com 0 que ainda sentido inexpressavel, seja na linguagem do me-
da vida se encontram na sociedade. e sob formas novas e pelo simples somat6rio dos seus componentes hoje por af circula. Num outro escrito, diz com canismo biol6gico, seja na Iinguagem da cons-
com caracterlsticas especfficas que a analogia nao permite (Durkheim, 1898, p. 294) . uma certa ponta de humor: eiencia clara ou da reflexao, as representa~oes
sequer conjecturar e que, por outro lado, so podem atingir
por observar;ao directa (Durkheim , 1898, p. 273) .
As representa~6es colectivas sao algo de dife- Nao vemos 0 mfnimo de inconveniente em que se diga da colectivas, as tendencias, as cren~as e as regras
rente das representa~6es individuais . Cada uma sociologia que e uma psicologia se se toma 0 cuidado de ajun- sociais . Resumindo: «0 mundo novo que assim
Uma segunda reflexao coloca-nos no objectivo delas e outra «coisa». Urn composto qufmico con- tar que e psicologia social, com as suas leis pr6prias, muito se abre a eieneia ultrapassa todos os outros em .
que directamente procuro atingir, apoiando-me centra, unifica elementos e, pelo facto mesmo, diferentes da psicologia individual (Durkheim, 1897, p. 352). complexidade e nao e apenas uma forma ampliada
em Durkheim: transforma-os. E sabido: as propriedades do com- Anteriormente ja tinha dito algo de semelhante dos reinos inferiores» (Durkheim, 1968, p. 302).
e
Mas ainda muito mais natural procurar as analogias posto nao sao as propriedades dos elementos e, e diferente: Esta preocupa~ao de preservar a especificidade
que podem existir entre as leis sociologicas e as leis psico- muito menos pelo facto mesmo, 0 seu somat6rio.
Quando dizemos simplesmente psicologia. entendemos dos fen6menos sociais - 0 vocabulo encontra-se
logicas porque estes dois reinos encontram-se muito mais
As representa~6es colectivas nao sao as individuais, psicologia individual e conviria, para a c1areza das discus- neste espa~o a qualificar a eiencia psicol6gica -,
imediatamente vizinhos urn do outro. A vida colectiva.
como a vida mental do indivfduo, consiste em representa- nem 0 seu somat6rio. A sociologia nao e a biologia soes, restringir deste modo 0 sentido do vocabulo. A psi- nao permitindo, sob nenhum pretexto, que sejam
r;oes; consequentemente, e presumfvel que representar;oes e vice-versa; nem a biologia a psicologia e vice- cologia colectiva e simplesmente a sociologia (Durkheim, reduzidos a algo nao social, encontra-se refor~ada
individuais e representar;6es sociais sejam. ate certa medida. -versa; nem a psicologia a sociologia e vice-versa. 1898. p. 302) .
com outra ideia: a obrigatoriedade e pro va pro-
companiveis . Vamos, efectivamente. tentar mostrar que umas Do mesmo modo, a psicologia social nem e psi- vada de haver factos, resultando de modos de
Relativamente aos conteudos da cieneia, en-
e outras comportam 0 mesmo tipo de relar;oes com 0 seu
cologia nem e sociologia (Durkheim, 1898, p. 302). quanto objecto cientffico, apresenta-se clara a pensar e agir, que nao sao apenas obra do sujeito
• 29
28

ou, por outro modo, tudo 0 que e obrigatorio tern constituem os seus propflOS factores. que elas existem . de I'imitation, encontramos claramente: mente no fisiologico. E levanta-se a pergunta: e
independentemente das pessoas humanas, que elas gover- US lOIS d 'd . - a invencrao? A inven~ao, como manifesta~ao ex-
a sua origem fora do indivfduo. d as semelhan~as sao eVl as a repetlcr oes »
nam despoticamente. projectando sobre as pessoas a sua clusiva do individuo, so se toma social na medida
A coerriio: eis 0 que se en contra total mente fora «Todas 1890 pIS). A repeticrao e a lei do mundo:
sombra opressiva (Tarde, 1898. p . 142) . (Tar e, " em que for imitada. E assim se compreende que
das perspectivas de Tarde (1890). Muito longe.
emelhan9as que podemos observar no mundo
o fenomeno social por excelencia, cujas leis per- Haveria, no entanto, uma reserva a realcrar
"
Tod as as S
fisico, astronomico (atomos dum mesmo corpo.
estas duas manifestacroes humanas, antiteticas e
mitem compreender a maior parte dos fenomenos adentro do pensamento de Tarde: para ele, nao qUllI1lCO , mesmo raio luminoso, camad as concentncas
- ' de essenciais, a invencrao e a imita~ao e, subsequen-
comporta 0 minimo significado nem 0 sociobiolo- oodas _dum ' f ) - temente, as duas disciplinas, a psicologia e a
colectivos, e a imitariio. As leis da psicologia indi- das quais cada globo celeste e 0 oco, etc. tern por
gismo, ou biossociologismo, nem 0 sociopsicolo- atra, C9ao 11'cadio e causa possivel mOVlmentos
. pen'00'lCOS e, sociologia, se misturam e se provocam recipro-
vidual bastam para dar conta da psicologia social, \1nlca exp T , '

a qual constitui, no fundo, toda a sociologia: gismo ou 0 psicossociologismo. Apenas, que ha , 'aim
pnnC1P ente ,
vibratonos (Tarde, 1904. p, \5), camente (Tarde, 1895, pp. IX e 9, e 1998, p. 36).
sempre manifestacroes em grupo e manifestacroes Daqui se pode avancrar: Tarde, com 0 seu
Existe urn feiti90, urn deus ex machina de que todos os Qual sera 0 cientista q~imico ou . ~isico que
individuais para toda e qualquer personalidade: magnifico artigo de 1904, lan~ou uma perspec-
novos sociologos usam como urn "Sesamo, abre-te", de odera aceitar esta reflexao, ou 0 blOlogo que
tiva mista mais adequada ao titulo de iniciador
cada vez que se encontram embara9ados. E tempo de Como e que. repito. estas realidades sociais se auto-rea- ~odenl aceitar estoutra: iniciante na psicologia social do que os dois
denunciar este abuso que se torna real mente inquietante. lizam? Vejo com facilidade que. uma ou outra vez, 0 foi por
Este talisma explicativo e 0 meio. Quando esta palavra e coer9lio, a maior parte das vezes por persua<;ao, por sugestlio, Todas as semelhan9as no mundo vivo resultam da trans- homens, Ross e McDougall, comprometidos em
largada, tudo fica dito. 0 meio e a formula que serve para pclo prazer singular de que gostamos, desde 0 ber90. de nos missao heredit:iria. da gera9uo quer intra, quer extra-orga-
atavismos culturais, negadores na especificidade
todos os fins e cuja ilusoria profundidade serve para enco- impregnar dos exemplos dos nossos modelos circundantes, nica. E atraves da parentidade das celulas e das especies
que se explicam hoje as analogias ou as ~omologias de
desta perspectiva cientifica.
brir 0 vazio da ideia (Tarde , 1898, p. 80) . como a crian9a aspira ao leite da mlie. Vejo tudo isso clara-
mente . Ma<; como e que estes monumentos prestigiosos de uaiquer tipo, inventariadas pela anatorrua comparada
E exactamente 0 que afirma Durkheim, inver- que falo foram construfdos e por quem. a nlio ser por homens
q
entre , Iogla
especies e pela hlStO ' entre os eIementos corpo-
tendo, no entanto, a ordem: «Sem duvida, todo 0 e por esfor90s humanos? Quanto ao monumento cientffico. rais (Tarde, \ 904. p, 15). 6. Abcrtura ao futuro
facto social e imitado, tern, como 0 acabamos de talvez 0 mais grandioso de todos os monumentos humanos,
nlio pode haver Ii menor duvida (Tarde. \898. p. 143).
E os psicologistas, os educadores, os pedago-
demonstrar, uma tendencia a generalizar-se, mas
gistas ainda hoje aceitam 0 vocabulo imita~ao, E voltarnos a data celebrada por todos, 1908,
porque e social, isto e, obrigatorio. 0 poder de Tarde concluiu: glosando-o em termos de identifica~ao, empre- e aconsideravel ambiguidade das perspectivas na
expansao de que se encontra dotado constitui nao clareza dos titulos: Social Psychology. Ao passo
Durkheim formula e sublinha a regra seguinte. que Ihe gando-o como a explicacrao mais objectiva sob
a causa mas a consequencia da sua caracterfstica parece capital: deve-se procurar a causa determinante do que McDougall se contenta com urn titulo pru-
a forma de pedagogia ou de educacrao pelo
sociologica ( ...). Alem disso, podemos interro- facto social entre os factos sociais antecedentes e nlio entre dente Introduction, Ross procura afirmar, An
exernplo. Ate na psicologia do desenvolvimento
gar-nos se 0 vocabulo imita~ao e, ao certo, aquele os estados de consciencia individual. Vamos as aplica90es: a outline and SourceBook. Segundo Allport (1954,
causa determinante da rede de caminhos - de ferro - deve
(Guillaume, 1968, p. 1926).
que convem para designar uma propagacrao, p.44), das duzias de textos public ados nos EUA,
ser procurada. nlio nos estados de consciencia de Papin, de Para Tarde, as caracteristicas da imita~ao sao as
devida a uma influencia coercitiva ( ...). Como urn pouco mais de metade foi escrito por psicolo-
Watt. de Stephenson e outros. nlio na serie logica das con- rnesrnas que se encontram no hipnotismo. Trata-
estamos longe da definicrao que serve de base ao gos e urn pouco menos de metade por sociologos.
ceP90es e das descobertas que inspiram estes grandes espfri- -se de algo automatico: «0 estado social como
engenhoso sistema de Tarde» (1895, p. 12). tos. mas sim na rede das estradas enos caminhos de mala- Seria de perguntar: que psicologia, que sociolo-
o estado hipnotico nao passam duma forma de
E a polemica, para 0 presente proposito, sobe posta que existiam anteriormente (Tarde, 1898, p. 80). gia? Ambas se apresentarn de grande pendor
sonho, urn sonho de ordem e urn sonho de accr ao »
de tom: Tarde come~a pelo largo, com notoria biofisiologico. McDougall, ao fazer depender 0
Aqui nos encontramos num tema frontal acerca (Tarde, 1898). Socialmente, a imitacrao manifesta-
aplicabilidade urn seculo depois. social da actividade instintiva, e Ross, ao inter-
do qual as posicroes se extremizam com facilidade, -se sob duas formas: atraves do tempo, duma gera-
Des~amos, no entanto, urn pouco. Ao quase pretar os factores situacionais e sociais, pendem
tomam mesmo os antfpodas. Se a perspectiva de crao para outra, irnperiosa e indiscutida, principio
sensorial: para uma leitura corrente, real~ando a base orga-
psicologia social, actualizada, estivesse presente, de irnobilidade e de conserva~ao. Toda-poderosa
Quando se considera uma destas grandes coisas sociais, dificilmente aconteceriam estes extremismos. nas sociedades restritas e isoladas, e a tradicrao. mca. Significativamente, ja antes, Galton tinha
uma gramatica, um codigo, uma leologia, 0 espfrito indi- Com efeito, nem a personalidade e contra a cul- Atraves do espacro, entre contempodineos, mais estabelecido uma distincrao clara entre Nature
vidual parece tao pouca coisa por compara9ao com estes tura nem vice-versa, nem a personalidade e nada fugitiva e passageira, divers a e multipla, princi- and Nurture (1874). E, em 1911, Baldwin volta
grandes monumentos que a ideia de ver nele 0 unico pe- a afirmar algo de interessante em termos ambi-
especificamente sem a cultura (grupo sociocul- pio de rnudancra e muitas vezes de progresso,
dreiro destas catedrais gigantescas parece ridiculo a certos
tural), nem a cultura e nada sem a personalidade. dOminante nas sociedades vastas e moveis, e a guos, para a nossa epoca - The Individual and
sociologos ( .. .). Daf para diante e so um passo para pre-
tender, como 0 meu eminente adversario, Durkheim, que, Outra e a orienta~ao da reflexao de Tarde, em moda. E assim se explica tudo em termos de se- Society. Sera 0 prenuncio claro de algo notorio
muito longe de se tratar duma fun9ao dum indivfduo, elas contraposicrao a de Durkheim. Se olharmos a melhancras, excepto aquelas que radicam directa- e notavel com Kardiner: The Individual and His
30

CAPiTULO II
Society (1939), assim como The Psychological aCI(Oes, musicas, gentes, jogos, deuses, etc. Algu-
Frontiers of Society (1945). mas das instituil(oes sao coisas, outras sao aCI(Oes;
Seria de referenciar, porque significativa, a algumas possuem uma base fisica ou estrutural
reflexao do pr6prio McDougall (1922). Uso e
Abuso de Instinto em Psicologia Social, a pre-
e muitas outras sao exclusivamente culturais.
Todas, no entanto, apelam a uma resposta indi-
A emergencia
ceder a pergunta, mais interessante ainda, Can
Sociology and Social Psychology Dispense with
vidual em referencias grupais. Daf esta reflexao
final: «To be a science social, psychology must
do paradigma americano
Instinsts ? (McDougall, 1924). E a pergunta radi- become the study of responses to institutional
cal aconteceu urn pouco antes: How is a Science stimuli, and the origin and development of such
of Social Psychology Possible? (Kantor, 1922). phenomena must be investigated as the operation
E aqui encontra-se a observa~ao seguinte, em of mutual interchanges in social responses of Orlindo Gouveia Pereira
dupla vertente: primeira, «a base de todos estes persons to specific stimuli» (Kantor, 1922, p. 77).
preconceitos de inumeras ramifica~oes consiste Em suma: estes carninhos e descaminhos da
na conce~ao fisiol6gica da psicologia»; segunda, psicologia social podem sintetizar-se em tres
«tal conce~ao, recordamo-Io, com~ou a ser momentos: primeiro, uma certa sintese hist6rica;
desenvolvida e elaborada por meados do seculo segundo, uma certa sintese epistemol6gica; ter- Nos Estados Unidos da America, na primeira A psicologia, com Galton (1869, 1875), no
passado» (Kantor, 1922, p. 62). E conclui: <<.4 for- ceiro, uma tentativa de constru~ao progressiva metade do seculo xx, a psicologia social tor- Reino Unido, e com Fechner (1860) e Helmholtz
tiori, se as ciencias fisicas podem ser e sao, efec- certa. Convem reall(ar, finalmente: ao insistir na nou-se uma disciplina cientlfica aut6noma. Por (1853, 1878), na Alernanha, toma-se urn campo
tivamente, disciplinas que investigam e avaliam atenl(ao aos conteudos vivenciais, propus-me su- isso mesmo, tern uma curta existencia e uma de pesquisa em que os efeitos de aspectos da
factos como ocorrem na natureza, sinto-me em blinhar que todo 0 agente age a partir de conteu- longa hist6ria I. OS problemas a que procura dar realidade, traduzidos pelos parametros fisicos
confian~a para afirmar que a psicologia social dos vivenciais, manifestados atraves de formas de resposta sao interrogal(oes perenes da humani- (intensidade, frequencia, altura, etc.), sao pro-
pode tomar 0 seu lugar apropriado no dorninio interacl(ao, criados pelo agente ou pelos intera- dade, surgem nos ditos da sabedoria oriental, sao curados na inflexao que produzem em aconteci-
das ciencias positivas» (Kantor, 1922, p. 78). gentes. Desse modo, toma-se inevitavel insistir precis ados nos prim6rdios da filosofia grega, res- mentos mentais (estar consciente de sentir ou
E responde a pergunta titular do seguinte modo: na atenl(ao ao humano como 0 unico capaz de soam na ret6rica romana, surgem nos escritos dos nao sentir varial(oes, por exemplo). Este radical
«Para fazer da psicologia social uma ciencia ha agir. E nao por qualquer humanismo, ate porque padres da Igreja, reformulam-se na Renascenl(a e, reducionismo do estimulo a sensal(ao e aos seus
que abjurar vigorosamente duas concep~oes: se reveste de pouco interesse apelar para 0 huma- a partir dai, dividem-se e intersectam-se nos mais correlatos neurol6gicos, nao obstante 0 indis-
a) estamos a tratar com causas no sentido de que nismo. Tantos se julgam humanistas!... Mesmo diversos ramos de conhecimento humano e social. cutivel sucesso e consequente respeitabilidade,
os fen6menos sociais dependem de condil(oes aqueles que reduzem os humanos ao nao humano o seculo XIX e 0 momento em que, como que se alicerl(ava tambem na capacidade de uti-
inevitaveis; b) estas causas residem nos consti- ou a parcel as do humano atraves de «leituras» afmna Gordon Allport (1954, 1968, 1985) no lizar a estatistica e modelos matematicos, cedo
tuintes estruturais e funcionais do individuo, a mais ou menos metafisicizantes. texto chissico que tern sobrevivido a todas as foi denunciado como tal. Outras dimensoes, in-
saber, todos os complexos fen6menos sociais sao, Iosistir no humano, enquanto realidade especi- reedil(oes do Handbook of Social Psychology, clusive a social, pareciam indispensaveis a cons-
meramente, 0 desenvolvirnento e 0 cumprimento fica em manifestal(Oes especificas, procura dizer as «teorias simples e soberanas» competem para trul(ao de uma psicologia humana.
dos impulsos e necessidades inatas do humano». que a observal(ao praticada sobre ele nao pode a1can~ar urn principio unitario de explica~ao Nos Estados Unidos da America, a psicologia
Toma-se indispensaveI uma boa purga, higienica, esquecer nem as semelbanl(as nem as diferen~as. comurn a psic6logos, soci6logos, antrop610gos, adquiriu uma marc ada oriental(ao funcionalista
destes preconceitos. Pela positiva: todos os fen6- A observal(ao devera ter em conta a globalidade economistas, polit610gos e eticistas. Mas este e (W. James, 1890) e pragmatista (Dewey, 1886,
menos, adentro da psicologia social, constituem na sua complexidade, em perspectiva de obser- tambem 0 ponto em que os saberes de referencia 1922) e cedo se envolveu, em grau muito mais
expressOes comuns de sujeitos particulares, a par- val(ao experimental. Futuro da psicologia social: se separam e os metodos de cada urn se espe- marc ado que no Velho Continente, com a neces-
tir da sua elaboral(ao pessoal das mensagens, em prestar servil(o aos humanos em comunidade e cializarn, com claro pendor para privilegiar 0 sidade de a aplicar a dorninios como a educal(ao,
interacl(ao. Na linguagem do autor, ha estimulos contribuir, secundariamente, embora importante, canone da ciencia positiva. a industria, a opiniao publica, a medicina, etc.
institucionais - objectos, aCl(oes ou circunstan- para a especifical(ao da psicologia, pela especifici-
cias - que chamam a resposta do sujeito enquanto dade da perspectiva sobre 0 humano, qual seja, I Disse-o Ebbinghaus (1908) da psicologia. Aplicou-o. entre outros. R. Farr (1991) 11 psicologia social. desirnpli-

membro dum grupo. Por exemplo: edificios, a sociabilidade por intermedio da culturalidade. cando os prec(mceitos positivistas latentes na afinna~ao.
• 33
32

Foram estes dois aspectos dominantes da psi- refinamentos metodologicos, estas novas disci- mo (fenomenos colectivos). Para alem consenso intragrupal, dirigem segmentos impor-
e a sugeS tantes e decisivos das rela~Oes intergrupais.
cologia transatlfultica - 0 funcionalismo e a apli- plinas sao hoje e mais do que ha quarenta anos 0 lassicos, na linha que leva de W. James a
~sc I ., d Nao obstante 0 pioneirismo de McDougall e
ca~ao - que melhor explicam que a America «motor» principal das investiga~oes psicosso-
MeOOUgall, encontramos 0 evo uClOrusmo• e Ross, foi 0 livro de Baldwin, The Individual and
reunisse as melhores condi~oes para que, ai, a ciologicas. Falta na lista acima a etica social. . os estudos de Galton e dos naturallstas
psicologia social se autonomizasse. Em boa ver- A. Comte (1830) e 0 positivismo contribuiram
oacW lD , . '
.tanicos sobre 0 comportamento arumal e a PSI- Society, publicado em 1919, que deu foro a psi-
dade, as principais figuras que vieram a desta- para que os psicologos sociais se sentissem, bn .a eomparahva. . E esta vIa . que rra
"desemb0- cologia social no seio das ciencias sociais. (Alias,
coIogI . , Baldwin parece ter sido 0 primeiro americana a
car-se no fundo americano e a fomecer os im- durante quase urn seculo, envergonhados por se o comportamenhsmo, que se mantera hedo-
pulsos fundamentais para que tal se produzisse debaterem por tais questOes, mas certos desen- car
. tan e associaciorusta . ~I')
. (tal como a pSlcanCl lse . usar a expressao «psicologia sociah>, numa con-
volvimentos da propria disciplina (manipula~ao O1S . ' d ' 1 ferencia em 1897.)
foram urn ingles, Bartlett (atraves de urn livro Mas 0 comportame~hsmo, ato~smo e estimu 0
sempre republicado, desde 1932, Remembering), experimental de sujeitos), bern como mudan~as e res posta, tinha sldo precedldo pelas demons- Presente nos escritos dos tres primeiros auto-
urn turco emigrado, Sherif, urn alemao fugido ao significativas das rela~Oes sociais e da propria cul- tra~Oes da Escola de Wuertz~ur~ sobre 0 ~ensa­ res espelha-se uma outra controversia, que parte
nazismo, Lewin, urn austriaco emigrado, Heider, tura, questOes proprias da interven~ao sobre fami- mento sem imagens e a tendencla deterrrunante. de Galton, e que opOe explica~oes sociais em
e urn polaco, tambem emigrado, Asch. Todos lias, grupos etnicos, minorias, etc., estao a pressio- Watt (1905) eAch (1905) demonstraram que toda termos de factores biologicos (hereditariedade e
eles contribuiram para que urn objecto especffico nar a psicologia social para que volte a confrontar a ac~ao finalizada e determinada por urn esquema instinto) ou em tennos de factores sociais (apren-
da psicologia social emergisse das hesita~oes a interdependencia do comportamento moral. dinfunico, Einstellung 2, que re1aciona, ordena e dizagem e desenvolvimento pessoal social e
entre, por urn lado, tentar explicar 0 dominio faz entrar em ac~ao os diversos comportamentos culturalmente condicionado), the nature versus
socioeconomico-cultural postulando mecanis- necessanos para que ela possa ser levada a cabo. nurture controversy. 0 exito do comportamen-
mos psicologicos e, por outro, ao inves, a fazer 1. Os Iivros e as correntes Ora 0 instinto, 0 habito, a imita~ao, a atitude, tismo na America ira fazer pender a balan~a para
do psicologico uma mera decorrencia daquele sao, antes de mais, modelos de ac~ao, embora o prato da aprendizagem social. Esta mesma pos-
dominio. Ao demonstrarem que a interdepen- Como foi referido no capitulo precedente, em postulem processos fonnativos diversos. As ati- tura ira influenciar a sociologia americana (teoria
dencia do comportamento podia ser estudada e, 1908, curiosa coincidencia ou, como diria Boring tudes iraQ aparecer como 0 constructo central da do papel social) e a antropologia cultural (influen-
mais do que isso, podia fomecer explica~oes (1950), 0 historiador americana cia psicologia, psicologia social nascente por congregarem ciada pela psicanalise). Em sintese:
praticas, novas e relevantes, aquelas figuras con- emana~ao do Zeitgeist, urn psicologo de origem num so 0 conceito, a percep~ao e a cren~a sobre - 0 papel social - modelo de desempenho
tribuiram para que urn objecto, singular e inde- inglesa, W. McDougall, e urn sociologo, E. Ross, uma realidade social (componente cognitivo), a ligado a uma posi~ao social - e igualmente uma
pendente, se tomasse 0 foco da psicologia social. publicam livros intitulados Social Psychology. sua atractividade ou repulsa (componente afec- disposi~ao comportamental adquirida. Na sua
A quesmo do metoda levou muito mais tempo Nestes dois livros pioneiros, podemos ver 0 tivo) e a propensao para agir sobre ela de uma origem encontramos tres autores: G. H. Mead
a estabilizar e resultou, por urn lado, do processo reflexo de duas orienta~Oes dominantes nos pri- maneira especffica e com certo empenho (com- (1912), que, em conjunto com Dewey, foi 0 ul-
negativo de «nonnaliza~ao» da ciencia, operado meiros anos da psicologia social americana, cen- ponente volitivo). timo dos psic610gos-fil6sofos americanos, com
pelos professores universitarios, candidatos a trada sobre a possoa e sobre a situa~ao social. A constru~ao de metodos fiaveis para avaliar as Mind Self and Society, publicado em 1934; Mer-
doutoramento e directores de revistas, fazendo Contudo, se repararmos que W. James e J. Dewey atitudes permitara uma rapida aplica~ao ao diag- ton, com Social Theory and Social Structure, pu-
exigencias fonnais cada vez mais estritas, e, por usaram como constructo explicativo da ac~ao n6stico e interven~ao sobre a realidade social. Esta blicado em 1957, e Goffman, com The Presenta-
outro, do processo positivo de autonomiza~ao social 0 habito e se atentarmos que por esta altura tradi~ao culminara num livro decisivo que sinte- tion of Self in Everyday Life, publicado em 1959.
de psicologias sociais aplicadas a gesmo (com- se iniciam os estudos sobre as atitudes, podemos tiza os estudos de G. H. Allport e colaboradores, - A decada de 30 e dominada pelos antrop6-
portamento organizacional), engenharia (factores verificar que todos os autores tendiam para utilizar The Nature of Prejudice, publicado em 1954, e logos. Em 1935, Ruth Benedict publica Patterns
humanos), saude (psicologia clinica) , politica o que Campbell (1963) vira a chamar disposifoes que alguem ja disse dever ser «leitura obrigatoria» of Culture, de matriz estruturalista, e Margareth
(opiniao publica e interven~ao social), jurispru- comportamentais adquiridas como fundamento para qualquer ser humano. Os preconceitos, como Mead, Sex and Temperament in three Primitive
dencia (comportamento no processo judicial e teorico das explica~Oes funcionalistas. disposi~oes comportamentais adquiridas, que Cultures, muito mais funcionalista. A obra de G.
desviacionismo), preserva~ao do ambiente (psi- Compreende-se 0 peso das teorias simples assentam em forte e repetidamente actualizado Bateson (1971), que com ela foi casado, e se dedi-
cologia social ecological, economia (comporta- soberanas de que G. Allport falava: 0 hedonismo
mento economico), educa~ao (psicopedagogia (prazer e dor), a simpatia (rela~Oes de amor), 0 2 Em ingles set. Em portugues mio ha vocabulo consagrado. «Tendencia detenninante» e outro modo de os autores
social), antropologia (etoopsicologia e cultural, egoismo (poder), a imita~ao (empatia, condicio- referirem Einstellung. «Plano comportamental» enquadra-se na moda dos computadores, mas «atitude» tambem podera ser
etc. Exigindo novos desenvolvimentos teoricos e namento, estrutura~ao cognitiva, identifica~ao) usado, pois eS'a e mais uma disposi~ao comportamental adquirida.
34
35

PSICOLOGIA SOCIAL 1920 -Herry Head introduz a no~iio de «esquema».


1921 -Teste de Rorschach e tipologia de Kretschmer. Testes alfa e beta do exercito americano. Detector de mentiras.
OSFACTOS
1922 -L. Levy Bruhl cstuda a mentalidade primitiva.
1759 - Adam Smith publica Teoria dos SeJ:!timentos Morais, em que discute 0 papel dos motivos humanos na estru- J923 -DisC£pulos de Pavlov definem a ncurose experimental.
IUra social. _ J. Piaget estuda a linguagem e 0 pensamento das crian~as .
1779 - Anton Mesmer, «magnetismo» e hipnotismo. _ F. C. Bartlett defende que 0 estudo das culturas primitivas csclarece a psicologia social contemporiinea.
1789 - Jeremy Bentham publica lntrodufiio aos Prillcipios da Moral e da Lei, em que defende 0 hedonismo em bases 1924 - Floyd Allport publica Psicologia Social.
~ticas e sociais. 1925 - Komilov funda a psicologia materialista dialectica.
1793 - Philippe Pinel funda a psiquiatria modema. _ Burt estuda as causas da criminalidade juvenil.
1798 - Robert Malthus publica «Urn Ensaio sobre 0 Principio da Popula~lio» . 1926 - B. Malinowski estuda 0 sexo e repressilo nas sociedades primitivas.
1809 - Karl F. Gauss descobre a curva nonnal dos erros. 1927 - BJuma Zeigarnick dcfende a tese sobre a mem6ria da~ tarefas incompletas, sob a orienta~iio de K. Lewin.
- Jean B. Lamark apresenta a teoria da hereditariedade das caracterfsticas adquiridas. _ Heidcgger publica 0 Ser e 0 Tempo.
1813 - Robert Owen cunha os tennos «ambiencialismo» e «socialismo». 1929 - Moreno desenvolve a tecnica psicodramatica.
1838 - Isaac Ray publica Urn Tratado de JurisprudDnciaMedica sobre alnsa/lidade, urn dos primeiros sobre psi- _ Szondi funda a amilisc do destino.
cologia social. - Fenomenologia de Husserl.
1846 - Soeren Kierkgaard publica as bases do existencialismo. - Lasker estuda as atitudes sociais nas crian~ .
1834-1850 - Weber, Fechner e Helmholtz lan~am as bases da psicologia experimental. 1930 - Teoria da homeostasia de Cannon.
1852 - Herbert Spencer usa a palavra «evolu~iio». 1932 - Zucherman estuda 0 comportamento social dos simios.
1855 - D. Noble publica Elementos de Psicologia Medica. - F. C. Bartlett estuda a mem6ria individual e social.
1859 - Conceito de meio intemo de Claude Bernard. 1933 - Desenvolvimento da escala de distancia social de Bogardus.
- Teoria da evolu~ao de Charles Darwin. - A Universidade de Yale funda 0 Instituto de Rela~oes Humanas.
- Teoria dos instintos sociais de John Stewart Mill. - C. G. Jung publica 0 Homem Modemo em Busea da Alma.
- Teoria da determina~o social de consciencia de Karl Marx. 1934 - Desenvolvimento de diversas escalas de medida.
1869 - Teoria da hereditariedade da inteligencia de Francis Galton. 1935 - Suspcnsilo da publica~ao de revistas de psicologia social na URSS.
1872 - Darwin publica Expresstio das EmOfoes nos Homens e /lOS Animais. - Desenvolvimento do thematic apperception test (TAT), por C. Morgan e H. Murray.
1876 - Galton introduz 0 dilema «natureza versus cria~iio» . - Kurt Lewin publica Uma Teoria Dim11nica da Personalidadee. no ano seguinte, Prilldpios de Psieoiogia TopolOgica.
1877 - Galton utiliza a correla~iio estatfstica. 1936 - Leucotomia de Egas Moniz.
- Alexander Bain lan~a as bases da psicologia da educa~iio. - Forma~iio da Sociedade para 0 Estudo Psicol6gico das QuestCies Sociais.
1879 - Funda~iio do primeiro laborat6rio de psicologia experimental por Wilhelm Wundt. William James fundara urn 1938 - B. F. Skinner introduz 0 condicionamento operativo.
laborat6rio de documenta~iio, em Harvard, em 1874. - Desenvolvimento da cibemetica pOl' N. Wiener.
1883 - Nosologia piquiatrica de F. Kraeplin. 1940 - H. S. Sullivan propOe a teoria interpossoal da psiquiatria.
1890 - James Frazer trata as culturas primitivas em termos de psicologia social; 1941 - Visiio social da psicamilise de E. Fromm.
- Gabriel Tarde publica-As Leis da lmitartio. 1942 - Desenvolvimento da psicoterapia centrad a sobre 0 cliente, de C. Rogers.
1895 - Gustave Ie Bon publica A Muitidtio, teorizando sobre a sugestiio no grupo e a mente grupal. 1943 - J. P. Sartre desenvolve a psicanalise existencial.
1897 - Havelock Ellis publica Estudos sobre PSicologia Sexual. - Desenvolvimento da terapia de grupo.
- Theodor Lipps introduz 0 tenno empatia. 1945 - Harvard funda 0 Departamento de Rcla~oes Sociais, 0 Massachusetts Institute of Technology (Mm e 0 Centro
1898 - E. L. Thomdicke estabelece as leis de efeito e do exercfcio, fundamentos do comportamentismo modemo. de Investiga~iio de Dinllmica de Grupos, sob a direc~iio de K. Lewin.
- Descoberta da droga psicoactiva, mescalina; - M. Mer/eau-Ponti publica A Fellomen%gia da Pereep~iio.
- E. B. Titchener desenvolve a psicologia estrutural, em confronto com 0 funcionalismo (James, Dewey). 1946 - V. Frankl introduz a logoterapia e a n~iio de inten~iio paradoxal.
1900 - Publica~iio da PSicoiogia dos Povos (dez volumes) por Wundt. - Primeiros estudos sobre engenharia de factores humanos.
- Publica~iio, por Sigmund Freud, da lnterpretaftio dos Sonhos. 1947 - G. Allport publica os estudos sobre boatos realizados durante a guerra.
- Publica~iio, por A. Binet, de Sugestionabilidade. - Publica~ao do Relatorio Kinsey sobre a sexualidade masculina nos Estados Unidos.
1901 - Defini~iio dos reflexos condicionais por Ivan P. Pavlov. - C. Shanson publica a Teoria Matel1u1tica da Comullicar;ao. desenvolvida durante a guerra.
1904-1905 - Na Escola de ~uerzburg, Watt e~. Ach estabelecem a no~iio de Einstellung (tendencia deterrninante), que - Um psicologo e elevado a par do reino (F. C. Bartlett).
tera lugar dorrunante no estabeleclmento da no~iio de atitude em psicologia social. 1950 - A teoria do stress. de H. Selye, expande-se no campo psicol6gico.
1908 - William McDougal e Edward Ross publicam livros com 0 tftulo Psicoiogia Social. 1951 - K Lewin publica A 7'eoria do Campo em Ciencias Sociais.
1909 - Publica~iio de A VOlltade de Poder, de Friedrich Nietzche. 1952 - Descoberta da c1oropromazina, 0 primeiro neuroleptico.
- Maria Montessori desenvolve urn sistema de educa~iio. - Solomon Asch publica Psicologia Social, estudo do comportamento de grupo do ponto de vista da psicologia
- Funda~iio da psicoJogia da configura~iio por Max Wertheimer. da configura~iio.
1913 - S. Freud publica Totem e Tabu.
1953 - Desenvolvimento da psiquiatria social.
- J . Watson publica 0 «manifesto» do comportamentismo.
- Primeiro c6digo deontol6gico dos psic6logos.
- Hugo Muensterberg aplica a psicologia Aindustria.
1954 - Desenvolvimento de teorias comportamentistas sociais.
1916 - Primeiro professor de psicologia apJicada nos EUA, Walter D. Scott.
1956 - Descnvolvimento das teorias do duplo la~o da esquizofrenia, por Gregory Bateson e colaboradores, em Palo Alto.
1919 - Primeira empresa americana de psicologia industrial.
1960 - Expansiio dos estudos de engenharia de factores humanos e ergonomia.
36
• 37

cou sucessivamente a biologia, antropologia, psi- (colectadas ern 1890, nos Principles of Psycho- este fundo funcional-pragmatico constitui 0 Bartlett toma como exemplos de referencia
Se 1.
quiatria, teoria dos jogos e comunica~ao, pro- logy), mas nao deixava de a criticar, opondo-se «caldo de cultur~» id~al p~a 0, ~esen~o. ~1~ento as suas observa~oes ern Africa, sobre 0 povo
curando estabelecer uma interdisciplinaridade Suazi, e procura estabelecer a continuidade ne-
sistemica, so muito mais tarde se tomou influente.
- Ern 1932, F. C. Bartlett pulica ern Inglaterra
ao elementismo de Wundt. Por exemplo, quando
exarnina a corrente do pensamento, James afuma
que a consciencia e pessoal, isto e, cada pensa-
;:b6
d ma psicologta SOCIal pSlcologlca-uhhtana, ele
m, por representar ~m optimismo social, im-
diu os psicologos amencanos de encararem cer-
cessaria entre a psicologia cognitiva, na qual 0
seu livro e ainda urn marco fundamental, e a psi-
Remembering, livro de uma originalidade notoria mento e «perten~a de alguem». Alem disso, a pe aspectos estruturrus. e certas tensoes
- e confl'ItOS cologia social. Na sua optica, tres tipos de areas
e que, atraves de sucessivas reimpressOes, viria a consciencia esta sempre a mudar: «Nenhum esta- tOS ' 1 '
. erentes a vida SOCIa e a sua namtca. M esmo a
diA
' de estudo se abrem a esta disciplina:
influenciar tanto a psicologia cognitiva quanto a do de consciencia pode alguma vez recorrer e ser l~icologia social sociologica-racionalista, por ter - Todos os os tipos de conduta indirectamente
social, ern diversas gera~Oes de americanos. identico ao que foi antes». Mas a mudan~a opera- ~scolhidO a minima unidade possivel de anaJise deterrninados por factores sociais, detecta-
- Na dec ada de 40, a psicologia social deu os -se na «continuidade» (mesmo depois de dorrnir, _ 0 papel social-, acabou por estar demasiado ~n­ dos no interior do grupo e nao fora dele e em
pass os decisivos para a sua independencia por a possoa reconhece-se a si propria). Finalmente, vol vida em si propria e sofreu da mesma ceguerra. que 0 grupo «implica definitivamente conti-
for~a dos emigrados europeus, fundamental- e essencialmente, a consciencia e selectiva, isto Isto tomou-se particularmente evidente quando a nuidade fisica».
mente Kurt Lewin, que, mais que uma escola ou e, «escolhe». Tal escolha nao tern como referente psicologia social foi aplicada ao mundo do traba- - Todos os tipos de conduta indirectarnente
uma ortodoxia, sempre procurou estimular os tanto a liberdade quanta a aten~ao. Esta e ditada Ibo. Coube apsicologia social europeia corrigir de deterrninados pela sociedade, mas em rela-
discfpulos a que explorassem vias proprias de pela «relevancia» dos estfmulos. algum modo esta distor~ao, embora, por vezes, 0 ~ao as quais a referencia ao grupo nada mais
investiga~ao. Por isso criou muitas amizades e Quem ler 0 original, mais que por este resumo, tenha feito a custa de cedencias evidentes a ideo- significa que «aces so directo» a cren~as, tra-
muitos «seguidores independentes», tomando- apreciara 0 cruzamento do pensamento antigo, logia (estas tomaram-se bern evidentes apos 1989, di~oes, sentimentos e institui~oes caracteris-
-se 0 homem mais influente neste campo. pre-socratico, com as sugestoes de modemidade, com a desideologiza~ao da psicologia sovietica). ticas de uma organiza~ao social particular.
- 0 livro de S. Asch, Social Psychology, que so muitos anos depois deram fruto. A teoria - Situa~Oes em que dois grupos sociais dife-
publicado em 1952, sera 0 ultimo dos grandes do proprium aparece aqui esbo~ada, bern como rentes entram ern contacto urn com 0 outro e
c1assicos influenciado por uma corrente, a psi- o conceito fundamental de psicologia cognitiva 3. As figuras nas quais os mlcleos de cren~as, tradi~oes,
cologia da configura~ao (Gestalt). A sua eru- e, para alem dela, a implfcita resposta ao porque costumes e institui~Oes sofrem modifica~Oes.
di~ao e originalidade experimental assegurar- da escolha atentiva.
3.1. 0 individual e 0 colectivo Mas Bartlett, ainda em Remembering, atraves
-lhe-ao sucessivas reedi~oes. John Dewey (1986), discfpulo e amigo de
- Finalmente, com C. Murchisson (1935) e, James, ira, em Chicago, aliar 0 funcionalismo ao dos metodos utilizados, faz propostas implicitas
F. C. Bartlett
a partir de 1954 e com novos editores, Lindzey pragmatismo e, por esta via, a psicologia ameri- e explicitas, de largo alcance.
e Aronson, ern 1968 e 1985, sera 0 Handbook cana, no dealbar do seculo, ira lidar com a mente No Reino Unido, F. C. Bartlett, ern 1932, no Para estudar a recorda~ao, Bartlett apresentava
of Social Psychology a referencia fundamental em ac~ao e nao corn urn mero sujeito passivo livro que mais 0 celebrizou, Remembering, cri- a urn sujeito urn estimulo complexo (urn desenho,
da area. Come~a a era dos livros especializados que responde a estimulos. tica a orienta~ao de McDougall, ingles de nas- uma pequena historia, urn ensaio) e pedia-lhe que
sobre assuntos especfficos. Os manuais de psi- Por vezes, sao as figuras secundarias que cimento: «Nao obstante a sua notoria originali- o reproduzisse de memoria. 0 resultado da repro-
cologia social pass am a ser, antes de mais, tex- melhor resumem as linhas de for~a de uma cor- dade e valor, tern tido uma rna influencia, uma du~ao ia servir de estimulo ao sujeito seguinte
tos didactic os para uso universitcirio. rente. Assim, Angell (1904), discfpulo de James vez que toma a psicologia social urn exemplo e assim sucessivamente. Fica implicito que as
e Dewey, define os princfpios da psicologia de batalha entre psicologos instintivistas e todos transforrna~oes que 0 material original sofre, de
funcionalista. Ela e «uma psicologia das opera- os outros, impedindo deste modo a produ~ao de sujeito para sujeito (reprodu~ao da cadeia social),
2. 0 fundo ~oes mentais em contraste corn a psicologia dos investiga~oes significativas». e que sao condensa~ao, destacamento e raciona-
elementos mentais». 0 que ela visa sao «as uti- Bartlett (1932) considera a psicologia social J.iza~ao, sao homologas das que sofre na memoria
A psicologia social constituiu-se nos Estados lidades fundamentais da consciencia, isto e, os como sendo «0 estudo si:;tematico das modifica- individual. Urn so sujeito a recordar 0 mesmo
Unidos, como se referiu, a partir de uma psicolo- actos psicologicos que sao acomodatorios» e ~oes da experiencia e respostas individuais direc- material, em diversos momentos temporais, pro-
gia que era fundamentalmente funcionalista. «medeiam entre 0 ambiente e as necessidades tarnente devidas a perten~a a urn grupo» e avan~a duz semelhantes transforrna~Oes. Por outro lado,
William James, que nao era urn experimenta- do organismo. Pode mesmo dizer-se que se trata a ideia de que urn grupo, como tal, como «unidade cada grupo cultural (etnico, de classe, etc.) pro-
lista, reconheceu a importancia da linha alema e de uma psicofisica, por abranger a totalidade organizada», deve ser considerado como a «ver- duz inflexoes proprias ao material. Entao, os
descrevia-a corn muito porrnenor nas suas aulas organic a mente-corpo». dadeira condi~ao da reac~ao humana». schemata e as atitudes, atraves dos quais a memo-
38
• 39

ria elabora os estimulos, sao, simultanea e homo- estes, ao fim de pouco tempo, viam a luz mover- ue se obtem atraves de inqueritos (explfcita), Kurt Lewin
aq ~.
tal tera,.IIIfl uenCla . &lorte e perdurave
' 1 1890-1947
logamente, sociais e individuais. -se (efeito autocinetico), e desenvolviam sobre a malS
eCo rno
Explicitamente, Bartlett, que come~ara os seus situa~ao uma «norma» pessoal (pertinente a am- bre 0 comportamento.
ensaios em 1914, assume uma atitude propria plitude do movimento aparente). Quando expos- SO McClelland interessou-se primeiro pelo motivo
relativamente ao metoda experimental quando tos a juizos de grupo (por vezes, constitufdos por de exito (achievement) e depois pelos do poder e
aplicado a pessoas (e nao a objectos ffsicos). cumplices do experimentador), os sujeitos con- afiliayao, completando, finaimente, 0 quadro dos
o fundamental 15 que os sujeitos sejam todos vergiam para uma «norma» de grupo. otivos sociais com 0 motivo de inibi~ao da ac~ao.
examinados nas mesmas condi~6es psicologicas. Sherif introduz assim uma tecnica de manipu- rn 0 estudo do motivo do exito fomece uma
Para se atingir esta finalidade, 0 que importa nao la~ao dos sujeitos de experimenta~ao e defende linha de explica~6es que teria a ver com 0 espf-
15 garantir que os sujeitos sao colocados nas mes- que «a base psicologica das normas sociais esta- rito ernpreendedor, a nivel individual, e com 0
mas condi90es objectivas (como ainda hoje tao belecidas, tal como os estereotipos, as conven- deseDvolvimento economico, a Divel colectivo.
acerbamente se defende). Pelo contnmo, nao ~Oes, os costumes e os valores, e a forma~ao de Esta ultima inferencia foi documentada com
hesitou em variar a apresenta~ao do material «de quadros de referencia comuns, sao produto de estudos historicos dos seus discfpulos em que se
pessoa para pessoa, de momenta para momento, contactos entre indivfduos» (Sherif, 1936, p. 91). correlacionaram dados relativos a grandes cen-
e adaptar as condi~6es da sua apresenta~ao, se o lugar central que as rela90es entre indivfduos tros de desenvolvimento economico de diversos
me parecesse que, fazendo assim, poderia obter ocupam tanto na explica~ao da vivencia indivi- povos e a motiva~ao avaliada na literatura popu-
melhores condi~6es comparaveis do ponto de dual quanta dos fenomenos colectivos, e que lar da gera~ao anterior (e. g., Pereira, 1981).
vista subjectivo» (Bartlett, 1932, p. 30). Bartlett e Sherif tao energicamente defenderam, Com a anruise do motivo do poder, os estudos
Pela mesma ordem de ideias, Bartlett, tal como tal como depois deles Kurt Lewin e os seus dis- corne~aram a conhecer uma inflexao clinica (por logia da crian~a. Contudo, iguaimente, desde 0
os psicologos da configura~ao, atribuia urn valor cfpulos, nunca foi suficientemente apreciado pela exemplo. 0 alcoolismo) e uma teoriza~ao mais infcio da sua carreira, Lewin da particular relevo a
secundano ao uso da estatistica. 0 que importava psicologia social, influenciada pela sociologia e directamente influenciada por Freud. Actual- psicologia aplicada, isto 15, a psicologia inserida na
era colher varia~6es suficientemente demonstrati- pela antropologia cultural de cariz psicanalitico. mente, 0 desenvolvimento das investiga~6es vida quotidiana, nos «verdadeiros» problemas hu-
vas de que certo processo mental tinha actuado. centra-se sobre doen~as psicossomaticas. manos e na solu~ao das questOes sociais. Guerra,
Finalmente, anote-se a posi~ao de Bartlett rela- David McClelland o aspecto central a real~ar na contribui~ao de trabalho, minorias, grupos sao ja encarados na
tivamente ao valor da investiga~ao das culturas McClelland refere-se ao uso do mesmo corpo Alemanha, muito antes dos desenvolvimentos,
primitivas (que ele proprio realizou em Africa). A psicanruise tomou, nos Estados Unidos, te6rico para explicar tanto 0 comportamento mais conhecidos, que virao a ter na America.
Considerava-as mais propicias para 0 estudo das urn caminho algo inesperado. H. Murray (1938, individual quanta 0 colectivo. A experiencia como soldado na Grande Guerra
interac~6es sociais, uma vez que nestes contex- 1948) foi 0 primeiro psicologo americana a leva-o a escrever «A paisagem da guerra» (1917,
tos sao mais simples e mais evidentes. adoptar Freud. Numa tentativa de sistematizar 0 cit. in Marrow, 1969), no qual define as n~6es de
rico manancial oferecido pelas multiplas impli- 3.2. Da teoria it pratica barreira, espa~o vital e direc~ao de zona, que virao
M. Sherif ca~6es oferecidas pela clfnica, procura estabe- e da pratica it teoria a integrar-se na sua teoria topolOgica. Em 1920,
lecer urn quadro das necessidades humanas e publica urn artigo sobre 0 taylorismo, no qual
Pouco depois da saida do livro de Bartlett, construir urn instrumento para as avaliar, 0 the- Kurt Lewin defende que as pessoas produzem para viver e nao
que continuou sempre a ser republicado e a ser matic apperception test (TAT), urn teste projec- vivem para produzir. Por is so mesmo, 0 bem-estar
lido pelas sucessivas gera~6es de estudantes bri- tivo que usa como estimulo figura~Oes ambiguas. Kurt Lewin nasceu em Mogilno, na provincia do trabalhador e a sua satisfa~ao nao resultam so
tanicos e americanos, M. Sherif (1935, 1936, o seu discfpulo McClelland (1961) apreciou prussiana de Posen, em 1890, e faleceu em de dirninui~ao das horas de trabalho e da organi-
1937), de origem turca, demonstrou que os qua- plenamente 0 facto de esta tecnica fomecer urn Newton, Massachusetts, nos EUA, em 1947, natu- za~ao da tarefa, mas, fundamentalmente, da sua
dros de referencia culturais eram determinantes novo metoda de avaliar a motiva9ao humana ralizado americano. Duutorou-se na Universidade postura psicologica, do aumento do «valor
fundamentais do modo como os indivfduos inter- atraves da anruise de produ~6es fantasiosas de de Berlim, 0 bastiao da Gestaltpsychologie, e foi a intrinseco» do proprio trabalho (Lewin, 1920).
pretavam os acontecimentos. sujeitos (escritos, desenhos, etc.) ou dos povos figura cimeira da sua segunda gera~ao. Os seus Por esta mesma altura, Lewin envolve-se com
Colocando sujeitos numa sala escura onde (literatura popular). A motiva9ao avaliada atra- interesses primeiros dizem respeito amem6ria e a a filosofia da ciencia. Dois artigos assumem pon-
eram expostos a urn ponto de luz estacionano, yeS da fantasia sera impUcita, por contraste com percep~ao (Lewin, 1926) e, por extensao, a psico- tos de vista fortes e anunciam uma revolu~ao epis-
40
• 41

tol6gica. Sao eles: «0 conceito de genese em os quais urn numero not6rio de mulheres, e tinha tico e autoritano (uma vez que subjacente ainves-
da maxima que regula a vida acadernica ame-
fisica, biologia e hist6ria natural» (Lewin 1922) e por habito reunir-se com eles num cafe onde dis- , a to publish or to perish. pubI'lcar ou perecer,
-se tiga~ao psicol6gica havia uma clara preocupa~ao
[lean , , I' . , al
«0 conflito entre as modalidades de pensamento cutiam muitas vezes problemas cientfficos. Neste d dicou-se a edl~ao do lvro, ongm mente em de contrastar sistemas politicos, dernocraticos e
aristotelico e galileico na psicologia contempo- como em qualquer outro cafe da epoca, as pessoas :emao , Uma Teoria Diniimica da Personalidade totalitarios). S6 mais tarde se reconheceu a neces-
ranea» (Lewin,1931). Para ele, as ciencias sociais iam e vinham, sentavam-se e levantavam-se, pe- (Lewin, 1935) e a ~repara~a? ?e uns n~vos Prin- sidade de avaliar 0 papel da lideran~a laissez-
e, particularmente, a psicologia devem abando- diam urn cafe, urn bolo, ou qualquer outra coisa. , 'os de Psicologza Topologlca (Lewm, 1936),. jaire (laxista). Por outro lado, por influencia de
Clpl
nar a compara~ao entre «dicotornias absolutas e Urn discipulo comentou que era extraordinano No anO seguinte, teve de se rnudar para a UIll- Lewin, foram Lippitt e White que desempenha-
estaticas», tais como branco e preto, e adoptar como, ao fim de algumas horas, 0 criado ainda se rsidade de Iowa, onde conseguiu ram, cada urn deles, os vanos papeis de lideran~a
ve , reagrupar
, al-
«a mudan~a galileica», que pensa em termos de lembrava de tudo 0 que todos tinham tornado e guns dos seus antigos alunos e atrarr mUltos outros. dos grupos de escuteiros. Lewin afastava-se aqui
sequencias dinamicas. Consequentemente, branco apresentava a conta sempre certa. Lewin, enta~, R. Lippitt e L. Festinger realizaram aqui os seus da postura classica do investigador de fisica, como
e preto nao sao opostos, mas partes correspon- chamou 0 criado e, mais uma vez, a conta estava doutoramentos, em 1940 e 1942, respectivamente. observador independente dos fen6menos, come-
dentes do mesmo domfnio continuo. S6 assim se certa e ele pagou-a. Ao fim de uma hora, chamou Lewin come~ou por trabalhar na clinica psi- ~ando a estruturar a sua ideia de observador par-
podem perceber varia~6es e estados de transi~ao. de novo 0 criado e, com uma desculpa qualquer, quiatrica da universidade, em psicologia infantil, ticipante e de investigafQO-aCfQo (Lewin, 1951).
De Galileu, Lewin parece adoptar tambem, pediu-lhe que especificasse a conta. 0 criado fi- e no seu primeiro estudo comparou as persona- Nestes estudos os grupos de rapazes eram
pelo menos, a no~ao de representa~ao matema- cou indigado: «Eu ja nao sei 0 que eque os senho- lidades em duas culturas, a alema e a americana. avaliados em termos de produtividade (executa-
tica da realidade: «S6 atraves do todo concreto res tomaram. Os senhores ja pagaram a conta»! Seguidamente, Lippitt publica a tese «Urn yam tarefas tipicas de escuteiros), de satisfa~ao
que compreende 0 objecto e a situa~ao se podem Em termos psicol6gicos, esta resposta demons- estudo experimental das atrnosferas de grupo de- e de comportamento emergente, tanto em cada
definir os sectores que determinam a dinamica trava que 0 sistema de tenSQO que se tinha cons- rnocratiea e autoritana». Em 1939, junta-se-lhes uma das situa~oes como quando mudavam de
do acontecimento» (Lewin, 1935, p. 30). Por tituido e aumentado amedida que 0 criado ia rece- R. White, publicando os tres, «Padroes do com- umas para outras.
influencia da postura gestaltica fundamental, vai bendo ordens (para que pudesse vir a receber urn portamento agressivo em climas sociais experi- Se a lideran~a democratic a e a que induz maior
pensar a psicologia em termos de fisica, adop- pagamento que nao 0 prejudicasse), ao ser des- rnentalmente criados» (1939). Esta linha de satisfa~ao e coopera~ao, nao e a que leva a maior
tan do as no~oes de campo de for~as, de fontes carregado, nao tinha deixado tra~os na mem6ria. pesquisa ira convergir no livro de Lippitt e White, produ~ao. Isto acontece na situa~ao autocratic a,
de energia, de sistemas de tensao, etc. S6 atra- Era isto mesmo que Bluma Zeigamik (1927), estu- de 1960, Autocracia e Democracia: Uma lnves- mas com muito menor satisfa~ao. Ne1a os escutei-
yes da aprecia~ao do campo psicol6gico total dante russa, estava a investigar na tese de doutora- tigafQO Experimental (precedida de: Lewin e ros perdem a iniciativa, tornam-se inquietos, des-
(espa~o vital), num dado momento e num caso mento, em que concluiu que as tarefas inacabadas Lippitt, 1938; Lewin, Lippitt e White, 1938). confiados e agressivos e criam bodes-expiat6rios.
concreto, e possivel preyer 0 comportamento. (em que 0 sistema nao e descarregado) sao muito Estes estudos, em que come~aram por usar A situa~ao laxista e a que produz piores resulta-
Lewin (1935) intui que topologia e a disci- mais bern recordadas que as tarefas terrninadas. grupos de escuteiros como sujeitos e procuraram dos em ambas as avalia~oes.
plina matematica que mais con vern ao estudo do Uma serie de novas teses se seguiram, transi- avaliar 0 papel da lideran~a e das atmosferas de Quando os rapazes sao transferidos da situ a-
comportamento, mas, por falta de conhecimen- tando-se pouco a pouco dos problemas relativos a grupo, marcaram a transi~ao de uma psicologia ~ao laxista para a autoritana, ficam assustados
tos, nunca levara tal intui~ao para alem do uso perce~ao e mem6ria para 0 estudo das ac~oes e centrada no individuo para uma psicologia cen- e perturbados e distraem-se da finalidade do tra-
de esquemas nas aulas. Igualmente, as metciforas val ores de substitui~ao, em rela~ao com a questao trada no grupo: «Em vez de se observarem pro- balho em grupo. Lewin escreveu que 0 que mais
fisicas sao mais expedientes para passar, com a das necessidades e com os efeitos da frustra~ao, priedades dos individuos, sao as propriedades o impressionou nestes estudos foi ver a cara dos
facilidade que the era inerente, da teoria a pra- isto e, demonstra~ao de que nao e possivel estu- dos grupos que sao observadas», uma vez que rapazes no primeiro dia dessa transi~ao.
tica e da pratica a teoria. dar a cogni~ao isoladamente da motiva~a03. «realidade» para urn individuo e, em certo grau, Verificou-se tambem que a mudan~a da situa-
Uma anedota da sua biografia (Marrow, 1969), Ao assistir aos primeiros sinais da expansao do detectada pelo que e socialmente aceite «como ~ao autocratica para a democratica, que e
ilustra bern como procedia 0 homem que adoptou nazismo na Alemanha, Kurt Lewin foi dos pri- tal». «A realidade difere de acordo com 0 grupo bem-vinda, demora mais tempo a estabilizar que
olema: «Nada e mais pratico que uma boa teo- meiros cientistas judeus a ernigrar para os EUA, a que 0 individuo pertence.» a inversa. A este prop6sito, Lewin comenta que
ria»: Na Universidade de Berlim, Lewin, cujas onde, nao obstante a sua fama como psic610go da Einteressante notar que estas investiga~6es nao «a autocracia e imposta ao individuo, mas a
aulas eram muito vivas e apreciadas, congregava crian~a, encontrou certa dificuldade em ser contra- Partiram de urna hip6tese completa e que se foram democracia tern de ser por ele aprendida».
a sua volta urn grupo distinto de discipulos, entre tado pela Universidade de Cornell. Apercebendo- desenvolvendo, ao longo do tempo, de acordo Urn outro estudo em que a importancia da
com as intui~oes de Lewin. De infcio apenas dois diniimica de grupo - termo cunhado por Lewin -
3 Vide lista completa das teses e resumos em Marrow (1969), tipos de lideran~a foram considerados, democra- se manifestou teve a ver com a incumbencia do
42 43

Govemo americano, a ele e outros cientistas, o mesmo principio dominou a intervencrao teristica essencial do grupo como tal. Sem - Comunicar;iio e difusiio da influencia social
para que 0 ajudassem a modificar habitos ali- social. Por solicitacrao das autoridades ou de gru- ela, nao seria licito falar-se de grupo. (Festinger, Schachter e Deutsch).
men tares, sanitaria e economicamente nefastos, pos de cidadaos, Lewin participou, na cidade de _ UIll dos factores que mais contribuiram para - Percepr;iio social. que levou aos estudos de
da populacrao americana na altura da guerra Nova Iorque, em estudos sobre 0 comportamento a coesao e a verificacrao individual de que, atribuicrao causal (mais influenciados por
(relutancia em dar sumo de limao, laranja e oleo dos ianques, a integracrao dos caixeiros negros no grupo, se tern mais probabilidades de F. Heider).
de fig ado de bacalhau aos bebes; nao consumir nas lojas, a lealdade de grupo, 0 problema da in- atingir as proprias finalidades. Por isso, os - Relar;oes intergrupais. que acabaram por
visceras de animais, como 0 figado, 0 rim, a tegracrao dos diversos grupos etnicos, judeus e grupos formam-se espontaneamente sempre ser mais desenvolvidas na Europa (ver sub-
dobrada e certas carnes, como a de coelho, etc.). negros, em novos bairros de caracter social e em que ha dificuldades em resolver tarefas capitulo seguinte).
Uma vez que os metodos tradicionais, como a procedimentos para uma comunidade se estudar colectivas e nao ha barreiras a sua formacrao. - Participar;iio no grupo e ajustamento indi-
propaganda patriotica, nada tinham conseguido a si propria. Neste ultimo aspecto, Lewin (1948) _ Com 0 tempo e com as interaccroes no grupo, vidual. que justificou a psicossociologia
e que a abordagem individual nao produzia re- defendeu com fervor que 0 psicologo (bern como desenvolvem-se finalidades e padrOes de organizacional.
sultados, Lewin comecrou a fazer experimenta- o cientista social) deve actuar, relativamente a accr ao comuns. Entao, os membros sao leva- - Treino de lfderes, que comecrou com os gru-
croes com grupos, concluindo que nestes pode comunidade, apenas como consultor. Para ele, dos a reformular as suas proprias finalidades pos T e se estendeu em diversas direccroes,
residir a forcra necessaria para modificar atitudes nao e ao psicologo que compete estabelecer 0 pessoais. A partir de enta~, pertencer a urn mesmo fora da psicologia social, na situa-
individuais, mesmo as mais arreigadas e tradi- diagnostico e prescrever a cura. Se 0 grupo de grupo significa aderir aos seus padroes, isto crao clinica ou nas organizacroes.
cionais (Lewin, 1948). cidadaos interessados nao trabalhar empenhada- e, ao c6digo do grupo. Pela mesma razao urn
A partir desta base, os discfpulos de Lewin, mente para a descoberta das causas, das curas grupo pode servir de referencia.
3.3. A interdependencia
Bavelas e French, comecraram a intervir com e dos remedios dos diversos problemas sociais, _ Qualquer grupo de trabalho para a resolu-
sucesso em organizacroes produtivas, relancrando nunca 0 psicologo podera ter exito na sua missao. crao de problemas oscila sempre entre duas
do comportamento
em bases solidas a psicologia das organizar;oes. Nao obstante Lewin ter sido, como se tentou modalidades de accrao, incompativeis no nas relafoes intergrupais
Em 1945, Lewin funda no Instituto de dar a entender, mais uma personalidade incenti- mesmo momenta: um grupo ou trabalha
F. Heider e S. Asch
Tecnologia de Massachusetts (MIT), 0 Centro de vadora de novos desenvolvimentos que urn teo- para a coesiio ou trabalha para a resolu-
Investigacrao de Dinamica de Grupo, onde reune rico de referencia, a sua contribuicrao, mormente r;iio do problema. Fritz Heider, natur..al de Viena, nascido em
a nata dos psicologos americanos, e no ana da sua no que respeita a dinamica de grupo, pode ser - Os grupos bern organizados e produtivos 1896 e doutorado pela Universidade de Graz, apos
morte, 1947, publica «As fronteiras da dinamica resumida assim: tern membros muito diversos. Nao e a simi- ter estado com K. Lewin em Berlim, foi, em 1930,
de grupo», em que sintetiza a sua contribuicrao. laridade entre pessoas que manrem urn grupo, trabalhar com Koffka no Smith College, tendo
Os seus discipulos Lippitt, Bradsorth e Bene - Sempre que urn homem se junta a urn grupo mas sim a interdependencia. Em termos de passado, em 1947, para a Universidade de Kansas.
tinham-se lancrado, entretanto, noutra direccrao, e, significativamente, mudado e induz mu- grupo, 0 todo nao e apenas mais que a soma Heider denvolveu uma teoria configuracional
com implicacrao na area clinica e organizacional, dancras nos outros membros. Quanto mais das partes, e qualitativamente diferente. das relacroes interpessoais, que elabora em A Psi-
os grupos de encontro ou grupos T. atractivo for urn grupo, mais pressao exerce cologia das Relar;oes lnterpessoais (1958). Para
Mantendo-se fiel as suas preocupacroes epis- sobre os seus membros; urn grupo fraco nao Em resumo, a psicologia de grupo demonstra ele, uma relacrao entre duas pessoas e uma confi-
temologicas, Lewin cria, tambem, 0 Grupo da exerce este poder. que uma psicologia que procure elucidar os proble- guracrao (Gestalt), uma vez que qualquer pessoa
Topologia, que reunia anualmente e no qual - Para se conseguir uma mudancra num grupo mas atraves do estudo da personalidade e incom- «reage ao que ela pensa que a outra pessoa esta
foram feitas importantes comunicacroes nao so e indispensavel alterar 0 seu equilibrio. pleta, visto que e claro e facilmente demonstravel a perceber, sentir ou pensar, para alem do que
na linha lewiniana mas, tambem, nos dominios Tentar isto apelando individualmente para que 0 comportamento de grupo e tanto funcrao ela esta a fazer» (Heider, 1958, p. 107). Por isso
psicanalitico, antropologico, fenomenologico e cada urn dos seus membros e muito pouco das pessoas individuais quanta da situacrao social. uma pessoa desenvolve «atitudes relativamente
sociologico. Alias, ele proprio nunca pretendeu eficiente. 0 comportamento de urn grupo A partir desta base, Lewin definiu seis areas as outras pessoas» que sao reguladas por urn prin-
ter seguidores nem criar uma ortodoxia, insis- como urn todo pode ser mais facilmente de estudo na psicologia de grupo, que acabaram dpio de equiltbrio (Heider, 1958, p. 167).
tindo que a sua preocupacrao era desenvolver alterado que 0 dos seus membros isolados. por ser desenvolvidas pelos seus continuadores: Gostar ou nao gostar de uma pessoa (ou de urn
linhas de accrao e instrumentos de investigacrao - 0 desejo de se manterem juntos, ou coesiio objecto) constitui uma relar;iio unitdria de per-
que pudessem ser comuns a divers as escolas e de grupo (resultante das forcras de atraccrao - Produtividade de grupo (Lippitt, French e tencra, uma configuracrao, que tern de se manter
nunca competir com qualquer delas. e repulsao entre os membros), e a carac- Festinger). em equilibrio cognitivo, isto e, modificacroes na
. 45
44

percept;ao induzem mudant;as em todo 0 sistema Uma das ultimas personalidades directamente xuberantemente, a sua preocupat;ao, este cologia social. Entre todas domina, sem margem
menoS e
de pens amen to, sentimento e act;ao, de modo a influenciadas pela Gestalt psychologie foi Asch. . perante 0 dilema de dizer 0 que real mente de duvida, 0 cognitivismo social.
v~$ . '
que ele seja de novo equilibrado. «A ideia central Nascido em Varsovia, em 1907, doutorou-se na . u dizer 0 que os outros tmham dlto e 0 expe- Cuidado, contudo! A adit;ao do social e muito
VIa, 0
e que algumas destas configurat;oes sao prefe- Universidade de Columbia, em 1932, e influen- . entado r havia confirmado. mais que adjectiva9ao. As proprias correntes de
rid as e que, permitindo-o as circunstancias, elas ciou mais de uma gerat;ao com 0 livro Psicolo- nmUrn extenso grupo de expenmentat;oes,
' - com base sao alteradas nos fundamentos. Esta psi-
serao realizadas pel a pessoa quer em fantasia gia Social (1952), no qual evidencia, em para- . 'rneros sujeitos e incontaveis variat;oes, de- canalise nao e a de Freud, pois, agora, 0 homem ja
Inu
(wishful thinking) quer como mudant;as reais lelo, uma profunda cultura humanistica e 0 gosto monstroU que, globalmente, 67 por cento das nao e produto da natureza mas da sociedade (e daf
atraves da act;ao» (Heider, 1958). pel a experimentat;ao. essoas optam pela solut;ao conformista de ne- a abertura Ii antropologia cultural) e esta nao e ja
Esta psicologia social «cognitiva» veio a ser Os princfpios da Gestalt. fonnulados por Von Par a propria evidencia sensorial e de dizer 0 que necessariamente repressiva (daf 0 deslize para os
desenvolvida formalmente por Cartwright e Ehrenfels (1890) e M. Wertheimer (1912,1959), g outrOS d'Isseram.I
os freudo-marxismos). Por seu lado, 0 comporta-
Harary) (1956), na Universidade de Michigan, na foram transpostos para 0 estudo experimental de mento social tern de se haver com «disposi90es
teoria dos grafos. E, por esta via, por Abelson e pressiio em grupo. comportamentais adquiridas», em cuja constitui-
M. Rosenberg (1958), na Universidade de Yale, «Para percebennos uma pessoa devemos en- 4. 0 tempo e os modos 9ao como conceito entram pressupostos cogni-
na teoria do equilfurio da mudant;a de atitudes, e cara-Ia no contexto da sua situat;ao e do problema livos. Mesmo 0 sociocognitivismo nao e uma psi-
ainda por Newcomb (1961), na Universidade de que defronta» e devemos exercer cautela no modo Nas decadas que mediaram desde os aconteci- cologia em que os estfmulos sao sociais; e, antes,
Winsconsin, na teoria dos actos comunicativos. como observamos, uma vez que, «quando 0 feno- mentos assinalados ate ao presente, a psicologia urn mentalismo social que defende que e 0 que se
Heider influencia tambem a teoria da dissonancia menD observado tern ordem e estrutura, e peri- social manteve-se, nos Estados Unidos, funda- sabe da sociedade que guia a nos sa actua9ao nela!
cognitiva de Festinger (1957) e constitui a base goso concentrarmo-nos nas pessoas e perdennos mentalmente como uma subdisciplina da psicolo- Pelas mesmas razoes apontadas - necessi-
das teorias da atribuit;ao causal (Heider, 1944). de vista as suas relat;oes» (Asch, 1952, p. 9). gia. A influencia inicial da sociologia, da antro- dade de uma referencia de base - as ciencias
Para alem destas influencias, directas e indi- Asch levou estes princfpios, bern como a lei pologia e da psicologia cllnica, que constituiram sociais contribufram para 0 desenvolvimento de
rectas, Heider, cuja simpatia, bonomia e espirito da praegnanz. Ii propria estruturat;ao das situa- os outros tres pilares do programa da Universidade duas outras correntes em psicologia social, 0
de finura ainda hoje sao lendarios na America, t;oes experimentais sociais, como aconteceu nos de Harvard, ao criar 0 Departamento de Relat;Oes interaccionismo simbolico e a teoria do papel
ajudou a descentrar 0 foco da psicologia social estudos sobre 0 conjonnismo, constituindo urn Sociais, em 1946, foi diminuindo ao longo do social. Em ambas se parte da premissa de que
das pessoas para as relat;oes interpessoais. paradigma que ainda hoje e utilizado e discutido. tempo. Os proprios considerandos epistemologi- a estrutura social e imprescindfvel ao desenvol-
F. Helder Nas experimentat;Oes originais, Asch (1951, cos que apontaram para uma disciplina autonoma vimento da pessoa social e Ii manifesta9ao do
1896-1988 1956) convocava sujeitos para uma experimen- centrada nas relat;Oes interpessoais tambem nao comportamento social.
tat;ao sobre discrirninat;ao perceptiva. Sem que conseguiram desviar a corrente dominante. 0 exito As bases desta ultima premissa podemos ir
disso se apercebesse, cada sujeito experimental dos sucessivos desenvolvimentos de aplicat;ao a busca-Ias Ii emergencia da sociologia, em Fran9a,
era sentado num lugar, previamente escolhido, no campos cada vez mais alargados (problemas so- com A. Comte e Durkheim (<<0 facto social e
contexto de urn grupo constitufdo por confedera- ciais,organizat;Oes complexas, saude e medicina, extemo e coactivo»), ou, contemporaneamente,
dos do experimentador. Depois, era pedido a cada direito, etc.) mais acentuaram aquela tendencia. nos Estados Unidos, a Cooley e, depois, a Mead.
urn dos sujeitos, por ordem do seu lugar na sala, o estreitamento do campo originado pela Contudo, mesmo considerando os desenvolvi-
que dissesse qual de duas rectas, muito proximas especializat;ao clama sempre por urn alarga- mentos actuais, ambos os casos continuam a ser
em comprimento, era maior. 0 experimentador, mento das referencias de base. Uma vez que os mais metaforas teatrais que teorias formais, 0
apos cada uma das respostas, dizia se estavam paradigmas emergentes na psicologia social se que as toma pouco atractivas para a «ciencia
certas ou erradas. De infcio tudo corria nonnal- caracterizaram quase sempre por urn alcance normal» americana.
mente, mas, a certa altura, os sujeitos, sentados limitado, so a psicologia geral foi capaz de Pode encarar-se, altemativamente, 0 desen-
antes do verdadeiro sujeito experimental, davam oferecer arquitecturas de fundo suficientemente volvimento da psicologia social americana
respostas erradas (que a recta menor era maior) e estruturadas, como a psicanalise, 0 condutismo como a aplica9ao de urn metoda com fraca
que 0 experimentador considerava como certas. ou 0 cognitivismo. Se lhes acrescentarmos 0 referencia a teoria. Tal metodo tern sido, pre-
Chegada a vez do sujeito cujo comportamento, adjectivo social, encontraremos as designat;oes dominantemente, quantificante e tern benefi-
nos momentos anteriores, demonstrava, mais ou das linhas mestras dos corpos teoricos da psi- ciado dos progressos da estatfstica multivariada.
46 47

De urn lado, ha que ser capaz de operacionalizar em algo mais complexo que 0 comportamento . tados foram parte integrante da sua busca. pioneiros foram fortemente contestados.) 0 pa-
tudo 0 que, genericamente, se refere por «estf- m~n .' .
observavel, isto e, sempre visaram mais dispo- apacidade mvenllva, a come«s:ar em Lewm pel de Lewin neste domfnio foi tambem, como
mulos sociais». Do outro. buscam-se procedi- si«s:6es comportamentais persistentes (atitudes , ACm Festinger, permltma. . . esta ble ecer meta' dos se viu, decisivo.
mentos para dar conta das «respostas sociais». cren«s:as, motivos, valores, etc.) que aquilo que e e ecfficos e e 0 seu exito na situa«s:ao de labo- Quem comparar as duas edi«s:oes do livro de
Contudo, 0 estado da arte nunca pareceu Hio simplesmente os sujeitos fazem e dizem. Por . exp I'Ica a d
esp, ' 0 que ainda hOJe '
ommanCIa
A d0

Roger Brown (1965 e 1985), separadas por vinte
simples como aqui se esquematizou. Os psicolo- outro lado, e tam bern desde sempre, os estfmu- raton .
gnitivismo socIal. anos, nao tera dificuldade em se aperceber desta
gos sociais estiveram desde sempre interessados los sociais virtuais, antecipados, imaginados ou CO pode, ainda, encarar-se 0 desenvolvimento da vertente (caixa 2). 0 mesmo se diga das edi«s:oes
psicolog ia social americana como uma resposta do Handbook of Social Psychology. Na passa-
SUMARIO DO «MANUAL DE PSICOLOGIA SOCIAL», DE ROGER BROWN, s ecffica e articulada para resolver problemas gem dos cinco volumes anteriores aos dois da
esociais
p . Esta vertente, mals . I'Igad'
a a re Ievancla da
A •
presente edi~ao (Lindzey e Aronson, 1985), 0
NAS EDIC;OES DE 1965 E DE 1985
disciplina que a sua generalidade, e mais ligada primeiro retem as teorias e os metodos e os
(Roger Brown. 1965) ao metodo que a teoria, foi acentuada por suces- dezassete capftulos do segundo tratam dos cam-
sivas crises, por diversos movimentos sociais, pos especfficos e aplica~oes.
- Uma base de compara~ilo - Personalidade e sociedade Para on de vai a psicologia social americana?
entre os quais 0 feminista e 0 estudantil no final
o componamento social dos animais o motivo do exito Nada faz preyer, nos proximos anos, uma infle-
DimensOes blisicas das rel~Oes interpessoais
dos an os 60, pela necessidade de captar fundos
A personalidade autoritliria e a organiza~ao das ati-
Estratifica~o tudes
para a investiga«s:ao e ainda pela preocupa«s:ao xao estrategica. Contudo, assinale-se a progres-
Papeis e estere6tipos crescente com questoes eticas. (Os procedimen- siva comunica~ao com a psicologia social euro-
tos manipulatorios dos sujeitos praticados pelos peia, da qual se trata no capftulo seguinte.
- A socializa~o da crian~a
o desenvolvimento da inteligencia - Processos psicol6gicos sociais
Linguagem: 0 sistema de aquisi~ilo: o principio da consistencia na mudan~a de atitudes
I - Fonologia e gramatica ImpressOes da personalidade. inclusive da propria
II - Linguagem. pensamento e sociedade dinAmica de gropo
Aquisi~ao da moralidade. Comportamento colectivo e a psicologia da multidiio

Roger Brown, 1985

- Fo~as sociais na obediencia e rebeliao - Algumas quest15es da Iiberta~iio sexual


A personalidade andrigina
- Trocas, equidade e altruismo
Fontes de orienta~iio er6tica
Trocas e equidade
ImpressOes da personalidade *
Altrufsmo e areeto

- Teoria da atribui~lio - Linguagem e comunica~iio *


o leigo como cientista ingenuo As origens da Iinguagem
Vies sistematicos na atribui~lio Linguagem e pensamento *
Comunica~iio nilo verbal e registos de discursos
- Algumas questOes psicol6gicas
Identific~iio por testemunha - Conflito etnico
Numero de pessoas no jUri e a regrd de decisiio Etnocentrismo e hostilidade
Estere6tipos '"
Resolu~1io do conflito
Saude e comportamento social.

* Quest15es com alguma continuidade.


48

CAPiTULO III

A psicologia
social europeia

Jorge Correia Jesuino

Os capftulos precedentes permitem ilustrar a mos aduzir vanas razoes para manter a desigfla-
muito citada observa~ao de Ebbinghaus (1908) ~ao de PSE.
sobre a psicologia e que, por mais forte razao, se Em primeiro lugar, ela e corrente na literatura
poderia aplicar a psicologia social: urn longo da especialidade, sobretudo europeia. Nao se
passado e uma breve hist6ria. trata duma categoria inventada por n6s, mas
Neste capftulo centramo-nos nos desenvolvi- a expressao duma pratica que a tradi~ao ja con-
mentos mais recentes da psicologia social, pro- sagrou. Em seguida, aPSE corresponde a urn
curando situar af a corrente da psicologia social movimento que se institucionalizou, ou seja, se
europeia, que constitui 0 quadro de referencia preferirmos a terminologia de Moscovici, e uma
basico, embora nao exdusivo, das contribui~Oes representa~iio social ja objectivada. Essa objec-
para este manual. tiva~ao teve lugar atraves da cria~ao duma asso-
cia~ao - a Associa~ao Europeia de Psicologia

1. Uma psicologia social europeia? Social Experimental. A Associa~ao edita uma


revista, 0 European Journal of Social Psycho-
o conceito de psicologia social europeia Logy (EJSP), promove a publica~ao duma serie
(PSE) e, de certo modo, controverso e houve de monografias, organiza reunioes peri6dicas
mesmo alguma hesita~ao em adopta-lo. Faz, frequentes - reunioes plenanas, reuniOes Leste-
com efeito, pouco sentido admitir que uma dis- -Oeste, seminanos especializados e ainda cursos
ciplina cientffica possa estar submetida a cri- de Verao, dirigidos a estudantes que preparam
terios de geografia. Mas se isso e valido para teses de doutoramento.
as ciencias forte mente paradigmaticas, como a Esta actividade institucional tern contribufdo
ffsica, sensu lato, 0 mesmo nao acontece no de forma significativa para a forma~ao dum
dO~fnio das ciencias sociais, on de as questOes espfrito de grupo e para a defini~ao duma iden-
e~lstemol6gicas estao mais sujeitas as influen- tidade social. Tambem aqui se aplicam concei-
Clas culturais e sociais. tos desenvolvidos no ambito da PSE, designada-
No caso que aqui nos ocupa, e sem entrar mente por Tajfel e associados. De acordo com
em complexas questoes epistemol6gicas, pode- esta perspectiva, os grupos nao estao isolados,
• 51
50

nao existem no vacuo, pelo que a sua identidade as praticas dos seus colegas europeus na repre- logoS norte-americanos adopta a perspectiva
e, em grande parte, formada mediante meca- senta~ao restritiva , mas com valor universal, do de que a ciencia e universal e nao ideologica, QUADRO I
nismos de diferencia~ao relativamente a outros que de va entender-se por psicologia social . pelo que nao teria _sentido recorrer a crite~ios Popularidade dos temas
grupos. No caso vertente, os psicologos euro- regionais em questoes de natureza substantlva. no JESP e EJSP entre 1970 e 1980
peus teriam adquirido a sua identidade reivindi- 2. Oricnta~oes da psicologia social Ern contrapartida, os seus colegas europeus re- (Jaspars, ) 986)
cando uma especialidade que os diferencia da na Europa c nos EVA vel arn -se mais sensfveis a influencia do factor
psicologia social praticada pelos seus colegas ideologico, determinando os temas, as teorias JESP> 2 EJSP JESP = EJSP JESP > 2 EJSP
norte-americanos. APSE fornece urn quadro Scherer (1990), numa comunica~ao recente, e OS rnetodos adoptados na investiga~ao em Teoria da atribui~o Desvio para 0 risco Influ8ncia social
de referencia teorico que permite explicar e le- apresentada numa conferencia sobre 0 tema «As ciencias sociais. E aquilo que aos olhos dos Ajuda (helping) (risky-shift) Processos
Atrac~o interpessoal Agressao intergrupo
gitimar 0 seu proprio movimento enquanto tal. Ciencias Sociais na Europa Ocidental», que se psicologos americanos parece constituir ciencia Teoria da cquidade Mudan~ de
E essa e tam bern outra razao, porventura a mais realizou em Berlim, em Abril de 1990, reporta universal revela-se, como procuram mostrar os Auloconsci8ncia atitude
forte, para utilizar 0 conceito da PSE. Uma con- que enviou urn questiomirio a cerca de oitenta seus colegas europeus, tributario de pressupos- (Self awareness)
Compara~o de teorias
firma~ao indirecta da identidade social da PSE psicologos dos Estados Unidos e da Europa, tos irnplfcitos decorrentes do sistema de valores Correla~o atilude-
e dada pelo facto de serem sobretudo os psico- seleccionados a partir das listas de endere~os e representa~oes que determinam as suas pniti- -comportamenlo
logos europeus a recorrerem ao conceito. Nos da Society for Experimental Social Psychology cas disciplinares.
textos norte-americanos, a expressao nao apa- (SESP) e da European Association of Experi- De acordo com esta perspectiva, aPSE nao
rece por via de regra, nem tao-pouco se reco- mental Social Psychology (EAESP) e onde lhes se limita assim a urn papel de diversifica~ao ou ciada ao nome de Moscovici, e os processos
nhece na pnitica dos psicologos europeus qual- pedia que identificassem os desenvolvimentos de especializa~ao subdisciplinar. Ela vai mais intergrupo, associados ao nome de Tajfel. Sao,
quer semelhan~a de estilo ou de preferencia mais importantes bern como algumas das princi- longe, ja que, dessa forma, reivindica urn maior alias, os dois polos da PSE. No que se refere a
tematica . A psicologia social americana (PSA), pais insuficiencias identificaveis na psicologia alcance e urn maior rigor epistemo16gico para influencia social, ha que observar que se trata
enquanto grupo dominante e homogeneo, tende social nos ultimos vinte anos, ou seja, a partir da o produto que oferece. Sob esse aspecto, aPSE dum tema que fora anteriormente desenvolvido
a classificar, a ancorar como diria Moscovici, decada de 70. 0 questionario inclufa igualmente e nao apenas uma psicologia diferente mas tam- no ambito da PSA por psicologos de origem e
uma questao sobre as diferen~as entre a PSA e a bern uma psicologia social alternativa. forma~ao europeia. E tradicional incluir nos pro-
PSE, em que medida reconheciam os inquiridos Com vista a especificar urn pouco mais este cess os de influencia social 0 fenomeno da con-
Henry Tajfe/
urn papel especial para a PSE, tanto no passado aspecto vamos analisar quais os temas predomi- formidade, estudado por Asch, e 0 fenomeno
1920-1982
como no presente e no futuro. As respostas obti- nantes na PSA e PSE nos ultimos vinte anos. da convergencia, estudado por Sherif. Moscovici
das por Scherer sao elucidativas: cerca de metade Recorremos para 0 efeito a compara~ao estatfs- veio enriquecer este domfnio introduzindo urn
dos respondentes norte-americanos nao reconhe- tica feita por Jaspars (1986) com base na analise terceiro processo - 0 processo de inova~ao.
ciam a existencia ou a necessidade dum papel de duas publica~oes - 0 European JournaL of o que hl1 de revolucionario na perspectiva de
especial para aPSE, enquanto praticamente todos SociaLPsychoLogy (EJSP) e 0 JournaL of Expe- Moscovici foi ter relativizado os conceitos de
os representantes europeus concordavam forte- rimentaL SociaL PsychoLogy (JESP). escolhidos maioria e de minoria em fun~ao do contexto
mente tanto com a sua existencia como pela sua por virtude das suas semelhan~as no que se re- social em que se inserem. Sendo assim, as expe-
necessidade. Quanto a natureza das pniticas, veri- fere a ritmo de publica~ao e enfase no metoda riencias conduzidas por Asch prestavam-se a
ficou-se acordo em que aPSE adoptava uma experimental. Jaspars agrupou os temas que apa- uma reinterpreta~ao: 0 jufzo do sujeito ingenuo
orienta~ao menos individualista, mais filosofica reciam, com uma frequencia dupla ou superior, isolado, enquanto representante do senso comum,
e mais consciente da historia, e que se revelava n~ma e outra publica~ao e aqueles com frequen- e 0 jufzo da maioria, enquanto 0 jufzo do grupo
particularmente forte no domfnio das relacoes Cl~ sensivelmente identica em ambas. 0 quadro I de comparsas, que emite urn parecer obviamente
intergrupo . Na melhor das hipoteses, 0 seu papel da os resultados obtidos (Jaspars, 1986, p. II). discordante de senso comum, passa a constituir,
limitar-se-ia a dar diversidade cultural e lingufs- Esta compara~ao, nao obstante as limita~oes por isso mesmo, 0 jufzo da minoria. E esta con-
tica e a moderar alguns dos excessos da PSA. de POSslvel falta de representatividade, fornece textua1iza~ao do laboratorio que permite uma

As diferen~as apuradas por Scherer sugerem algumas oportunidades de comentario. Os topi- reinterpreta~ao do fenomeno da conformidade e,
de forma muito clara que a maioria dos psico- ~os fortes da PSE sao a influencia social, asso- ao mesmo tempo, uma reorienta~ao dos estudos

Centro de Recursol
PrlorVelho

-1-
52 53

Serge Moscovlci curso ao metoda experimental funcionou aqui para~ao ser estabelecida em term os de psico-
como processo de legitima~ao. permitindo a assi- QUADRO II logia social experimental. Jaspars (1986). no
mila~ao das contribui~Oes de Tajfel e seus associa- Popularidade dos temas depoimento pessoal que nos deixou sobre este
dos pela psicologia social da corrente dominante. no JESP e EJSP entre 1981 e 1989 tema. tambem acabara por concluir que as duas
Note-se que a PSE tern uma hist6ria ainda (Scherer, 1990) psicologias sociais sao mais interdependentes
mais curta que a PSA. muito embora se invoque do que antag6nicas. Iimitando-se 0 papel social
por vezes que esta beneficiou da contribui~ao dos - JESP> 2 EJSP JESP =EJSP JESP >2 EJSP da PSE a contribuir para criar uma maior diver-
psic610gos europeus que emigraram para os EUA -
Mudanc;a de atitude Cogni!jiio social Processos
sidade tematica e analftica.
na altura da Segunda Guerra Mundial. enquanto AtraC~O interpessoal Teoria da atribui- intergrupo Tais conclusoes poem novamente em causa
aPSE. precisamente por isso. se interrompia. s6 AutoConsciencia !jilo Comunjca~o a inova~ao duma PSE enquanto orienta~ao epis-
Correla!jao atitude- Influencia social Agressao
voltando a readquirir expressao a partir dos anos _comportamento Percep~o de grupo
temol6gica especffica e concorrente com a psi-
6O.ou seja. na altura em que come~am a ganhar EmO!jio e cologia social normal. praticada nao apenas
forma os mecanismos de institucionaliza~ao que motiva~o I pelos psic610gos sociais americanos mas por
referimos atras. todos aqueles que adoptam exclusiva ou pre-
Curiosamente. deve-se sobretudo ainiciativa de dominantemente 0 metodo experimental.
psic610gos sociais americanos, e designadamente Yarios aspectos poderao ser aqui salientados. Esta dificuldade tern as suas rafzes numa
de John Lanzetta. a constitui~ao da Associa~ao Em primeiro lugar 0 abandono de temas como ambiguidade que percorre aPSE desde 0 seu
Foto: LUIs CarvalholExpresso Europeia (Tajfel. 1972; Jaspars. 1980; Doise, o risky-shift, a equidade e 0 comportamento de infcio e que consiste justamente na tendencia de
1982; Nuttin, 1990). pelo que por vezes se observa. ajuda. iIustrando 0 fen6meno da moda. sempre conciliar 0 metoda experimental com uma
de influencia social centrados. a partir de entao. ironicamente. que tambem aqui 0 cao veio a mor- muito referido como urn dos ca1canhares de psicologia social mais social. Tal concilia~ao. a
nos processos de mudan~a veiculados pelas mi- der a mao do dono. Esta emergencia tardia da PSE AquiIes da psicologia social. Nao e de excluir avaliar pela evolu~ao que se verifica em
norias activas. Ha todavia que notar que esta con- ajuda. por outro lado. a expJicar que. nao obstante que os temas da comunica~ao e agressao. predo- psicologia social. parece todavia cada vez mais
tribui~ao de Moscovici viria a ser amplamente as zonas de distintividade relativa. haja iguaJmente minantes neste perfodo na PSE. reflictam igual- problematica.
reconhecida pela PSA. Ela inscreve-se no para- uma serie de temas que mobilizam aten~ao iden- mente tendencias apenas conjunturais. Note-se. com efeito. que a pr6pria Associa-
digma da ciencia normal sobretudo pela meto- tica aos psic610gos sociais de ambos os lados do Em seguida. e talvez seja este 0 aspecto mais ~ao Europeia adoptou 0 qualificativo de expe-
dologia experimental sofisticada que adoptou. AtHintico. E mesmo quanta aos temas predomi- relevante. os dados parecem sugerir uma certa rimental. a exemplo do que se veri fica com a
A unica voz europeia na terceira edi~ao do consa- nantemente desenvolvidos sobretudo no ambito da aproxima~ao, se nao mesmo convergencia. entre a sua congenere norte-americana. 0 mesmo nao
grado Handbook of Social Psychology. editado PSA. como designadamente a teoria da atribui~ao. PSA e aPSE. Muito embora os processos inter- se verifica na publica~ao European Journa,l of
por Lindzey e Aronson (1985). e justamente a a atrac~ao interpessoaJ e outros. tambem na PSE grupo continuem a construir urn tema forte na Social Psychology, mas e bern conhecido que
de Moscovici e precisamente no capftulo sobre se encontram numerosos estudos utilizando para- PSE. tal como a atrac~ao interpessoal e a autocons- a poHtica editorial privilegia 0 metoda experi-
«Influencia social e conformidade». Quanto aos digmas e metodos identicos aos dos seus colegas ciencia parecem interessar sobretudo os psic61o- mental. E tentador fazer aqui urn processo de
processos intergrupo. tema desenvolvido sobre- norte-americanos. Urn tra~o que todavia marca gos americanos. 0 que entretanto se veri fica e uma inten~ao: os psic610gos sociais europeus preten-
tudo a partir dos trabalhos de Tajfel. tambem os toda ou pelo menos grande parte da PSE. mesmo area alargada de convergencia e sobretudo uma deriam. por urn lado. beneficiar das vantagens
podemos inserir numa Iinha de investiga~ao ini- quando aborda temas como a atribui~ao causal. e a aten~ao igualmente partilhada para com os pro- que 0 metoda experimental oferece. e desde
cialmente centrada nos processos interindividuais preocupa~ao em inserir a explica~ao num contexto cessos cognitivos. evidenciando a aceita~ao gene- logo. duma maior aceita~ao pela comunidade
- 0 chamado movimento do New Look. prota- social mais alargado. centrada nos grupos e na ralizada da revolu~ao cognitiva (Markus e Zajonc. cientffica. mas procurariam evitar, por outro
gonizado por Bruner. e que progressivamente se sociedade (Doise. 1982). Numa palavra. uma psi- 1985). Identica convergencia se verifica no tema lado. os inconvenientes duma inevitavel perda
desloca para nfveis de analise mais societais. c%gia social mais social (Tajfel. 1984). da influencia social. af porventura com a contri- em termos de pertinencia e relevancia do seu
A teoria da identidade social. a que ja fizemos o quadro comparativo de Jaspars foi recente- bui~ao dos psic610gos europeus. mas. insistimos. objecto de estudo. A chamada crise da psico-
referencia anteriormente. e uma teoria centrada mente actualizado por Scherer (1990) por forma sem que tal signifique mudan~a de paradigma. logia social. que periodicamente atormenta os
nos processos intergrupais. designadamente nos a cobrir 0 perfodo de 1981 a 1989. Os resultados Esta convergencia entre psic610gos sociais psic610gos sociais dos dois lados do Atlantico.
conflitos intergrupos. Mas, da mesma forma. 0 re- constam do quadro II. pode, todavia. deriva. em grande parte. das duvidas que se
, . explicar-se pelo facto de a com-
54

55

colocam quanta a adequa~ao do metodo expe- lela (p. 342). Moscovici e Doise sao dois nomes eriencia inteligente. Estes trabalhos de Para nao falar da propria psicologia, cujas prin-
eXP
rimental as exigencias do objecto, demasiado mais do que consagrados e, juntamente com 0 Mosco vici foram aceltes.
et urb'I et orb'I e, para cipais teorias foram proclamadas com base num
complexo, da disciplina. falecido Tajfel, constituem os pais fundadores psicologo social americano, seria bizarro con- numero limitado de protocolos ou de observa-
da PSE. ~idera-los como exemplo da psicologia social r;oes de pacientes hipnotizados. A extrapolar;ao
3. Os pontos de dehate A posi~ao por eles sustentada neste recente uropeia. Podera argumentar-se que, em ambos e justificada desde que se mantenham trocas
debate sobre a crise da psicologia social vern e s casos, 0 tra~o distintivo residiria numa maior com outras disciplinas que levantem as mesmas
Recentemente, 0 EJSP editou urn mlmero c1aramente ilustrar e confirmar a ideia duma oreocupa~ao em situar 0 fenomeno a nfveis mais questoes, forner;am urn conjunto de dados e
especial dedicado ao problema da crise e que tentativa de supera~ao de posi~oes antagonicas ~ociais, mas nem sequer e 0 caso. De acordo deem algumas orienta~oes teoricas» (Moscovici,
constitui urn documento importante para uma atraves duma sfntese conciliando as vantagens com Doise, «a explicar;ao da influencia minori- 1989, p. 411).
melhor c1arifica~ao da situa~ao da PSE face a epistemologicas de ambas as orientar;oes. Nao e, tana dada por Moscovici envolve os dois pri- A obra que Moscovici escreveu sobre as mi-
PSA (EJSP, 1989, 19,5).0 debate foi organi- todavia, claro que tais posi~oes estejam isentas meiros nfveis de analise. Mais precisamente, a norias activas (Moscovici,1976) documenta de
zado por Rijsman e Stroebe, e nele intervem, de ambiguidades. Urn exame, necessariamente influencia minoritaria teria a sua origem na con- forma eloquente esta coragem em extrapolar a
segundo a ordem dos artigos, Zajonc, Nuttin, muito breve, dos projectos desenvolvidos no sistencia diacronica ou intra-individual (repeti- partir da reduzida evidencia empfrica colhida no
Doise, Moscovici, Harre e Gergen, e inclui igual- ambito da PSE, e designadamente por estes dois \(ao no tempo da mesma res posta ou do mesmo laboratorio. Na edi~ao em frances inclui inclusi-
mente comentarios de Lemaine, Crano, Semin, autores e seus associados, mostra, com efeito, sistema de respostas) e na consistencia sincro- vamente urn apendice com 0 tftulo «A dissiden-
Gergen, Gardner, e Stroebe e Kruglanski. Num que 0 compromisso epistemologico e precario e nica ou inter-individual (consenso dos membros cia dum so», onde aplica a sua teoria a figura
comentario de sfntese da autoria dos organiza- instavel, se nao mesmo insustentavel. Por outras da minoria)>> (Doise, 1982, p. 99). de Soljenitsyne. Os psicologos sociais de ser-
dores, concluiu-se que 0 panorama actual da dis- palavras, entre objecto e metoda existiria uma E, todavia, de referir que a linha desenvolvida vir;o dirao, certamente cheios da razao que lhes
ciplina se caracteriza por dois paradigmas anta- solidariedade e uma determina~ao recfprocas, posteriormente por Mugny e associados (Mugny, assiste, que ja nao estamos no domfnio da psi-
gonicos: 0 velho paradigma, exemplificado por diffceis de contornar. Vejamos em primeiro 198 1, e Mugny et al., 1984) procura ir urn pouco cologia social, mas possivelmente 0 proprio
investigadores como Nuttin e Zajonc, baseado lugar 0 caso de Moscovici. Em termos da sua mais longe na explicar;ao da influencia minori- Moscovici tera consciencia disso, sendo 0 seu
na perspectiva da psicologia social como ciencia contribuir;ao, imensa, para a psicologia social, taria ao articular processos interindividuais com objectivo ir alem dos limites estritos que a disci-
natural. De central neste paradigma a orienta~ao poderemos indicar em primeiro lugar os estudos representa~oes ideologicas. Independentemente plina impoe. Tal como a passagem acima trans-
hipotetico-dedutiva e a cren~a nos mecanismos que levou a efeito sobre 0 fenomeno do risky- do nfvel do fenomeno, bern como dos processos crita sugere, 0 que importa e estabelecer pontos
causais internos que podem ser detectados atra- -shift, que revolucionou, ao mostrar que este era psicologicos envolvidos, 0 que po de todavia com outras disciplinas que sobre 0 mesmo feno-
yes duma investiga~ao empfrica rigorosa. No apenas urn caso particular dos grupos para adop- salientar-se aqui e 0 partido que Moscovici vai menD possam fornecer interpreta~oes conver-
outro extremo, os representantes do novo para- tarem posi~oes mais extremas do que a media tirar das experiencias que realizou neste domf- gentes ou alternativas.
digma, como Harre e Gergen que, embora dife- das posir;oes individuais (Moscovici e Zavalloni, nio, extrapolando para fenomenos sociais com- Mas, por muita simpatia que este ponto de
rentes sob muitos aspectos, concordam em rejei- 1969). Em seguida, os estudos sobre as minorias plexos, como sejam a introdu~ao de novas teo- vista nos inspire, continua a nao ser muito clara
tar 0 modelo hipotetico-dedutivo, a cren~a nos activas e a influencia social que elas podem rias cientfficas ou de novas form as sociais e a necessidade do proprio recurso ao laboratorio.
mecanismos causais internos e a ideia de que exercer sobre as maiorias. Deve-se a estes estu- poifticas. No artigo que redigiu para 0 mlmero o que e que 0 laboratorio acrescenta, em rigor,
as leis da psicologia social ten ham de ser desco- dos a abertura duma linha de investigar;ao extre- especial do EJSP, afirma, a dado passo, que con- a uma teoria cujos contornos ultrapassam larga-
bertas atraves duma investiga~ao empfrica rigo- mamente importante sobre os processos de ino- sidera a psicologia social como uma «antropolo- mente os resultados experimentais? Este pro-
rosa (p. 341). va~ao e mudanr;a social (Moscovici, 1976), que gia da cultura moderna», e a este respeito acres- blema vai colocar-se com maior acuidade ainda
Quanto as posi~oes de Moscovici e de Doise, culminaram na formular;ao da teoria da con- centa: «Dir-nos-ao que os nossos metodos sao ao passarmos a terceira linha de investiga~ao
a conclusao global que se extrai, e tam bern aqui versao (Moscovici, 1980). Nestes dois grandes inadequados e que as nossas hipoteses foram lanr;ada por Moscovici relativa as representa-
salvaguardadas as diferen~as, e a de uma tenta- domfnios de investigar;ao - e limitamo-nos aos exclusivamente verificadas a escala do labora- r;oes sociais (RS). Cronologicamente corres-
tiva de compromisso, uma posi~ao a meia distan- mais salientes - Moscovici adoptou 0 metoda torio. E que seria, pois, nao cientffico extrapo- ponde, alias, ao seu primeiro trabalho de fundo
cia entre os dois paradigmas extremos. Tfpico experimental. No que se refere designadamente la-los para uma maior escala. Mas sera conce- - La Psychanalyse, son Image et son Public
de ambos e a sua adesao a experimentar;ao e a aos estudos sobre as minorias activas, sao de bfvel 0 progresso sem tais saltos? Nao e isso (1961), reeditado em 1976. Desta obra, nao
investigar;ao de campo. Ao seu construtivismo relevar a notavel engenhosidade dos protocol os o que se faz constantemente na ciencia, seja obstante a sua reconhecida importancia, nao
teo rico nao corresponde uma metodologia para- utilizados, constituindo urn exemplo tfpico da na cosmologia, na economia ou na biologia? existe ainda versao em ingles, enquanto 0 livro
56 57

sobre as minorias activas foi primeiro editado entendida esta como uma soci%gia do conheci- e psfquicos». E os fen6men~s._que tern em que «a observarrao desempenha urn papel proe-
em ingles e so cinco anos depois vertido para mento prdtico (Munne, 1989, p. 250). Reticente mente, acrescenta, sao: «A rehg~ao, 0 poder, a minente no estudo das representarroes sociais.
frances . Isto constitui urn sintoma de audiencia Liberta-nos duma quantificarrao e experimenta-
quanto a sua definirrao, con forme explica na cO rnunicarr ao de massas, os movlmentos_ colec-
. .
e penetrarrao nao s6 das teorias mas dos objectos sua replica a Jahoda (Moscovici, 1988, p. 239), tivos, a linguagem e as representarroes socIals» rrao prematuras, as quais fragmentam os factos
e metodos que Ihes esHio associados. A teoria Moscovici aceita todavia as definirroes propos- (Moscovici, 1989, p. 410). em perras minusculas e levam a resultados sem
das RS tern tido uma difusao ate agora Iimitada tas por outros autores, e designadamente a pro- Urna outra ligarrao disciplinar que pode estabe- significado. Por vezes, podera ser uma especie
aos investigadores com acesso e familiaridade posta por Doise: «As representarroes sociais sao lecer-se, admitida pelo proprio Moscovici (1989, de observar;ao-do-voo-das-aves, sem duvida,
com a Ifngua francesa - para uma bibliografia princfpios geradores de tomadas de posirrao liga- p. 409), e a que se refere ao interaccionismo mas pode dar lugar a progressos importantes ...
actualizada veja-se Jodelet (1989) - e urn acolhi- das a posirroes especfficas no conjunto de rela- simbOlico, desenvolvida no ambito da microsso- Esta orientarrao pode ocupar urn lugar na psico-
men to tfmido, e nem sempre favonivel, dos in- rroes sociais e organizam os processos simboli- ciologia americana (Mead, 1934; Blumer, 1969; logia social (Von Cranach, 1980) comparavel
vestigadores britanicos (Potter e Wetherell, 1987; cos que intervem nessas relarroes» (1986, p. 85) . striker e Statham, 1985). Tal como observa Farr, a posirrao ocupada pela orientarrao etol6gica em
Jahoda, 1988). A definirrao de Doise estabelece convergencias «tanto 0 behaviourismo social de Mead como biologia, e exactamente pelas mesmas razoes»
Se compararmos dois manuais europeus de e complementaridades entre RS e as norroes de o interaccionismo simb6lico de Blumer sao (1988, p. 241).
psicologia social, urn editado por Moscovici disposiroes e hdbitos propostas por Bourdieu consonantes com a versao forte da investigarrao Mas, por outro lado, acrescenta, nada impede
(1984) e outro por urn conjunto de dois autores (1972), acentuando, porem, Doise que os soci6- francesa contemporanea sobre representarroes o recurso a metodos quantitativos, tais como 0
britanicos, urn autor alemao e urn autor frances logos nao se preocupam, por via de regra, com a sociais» (Farr, 1984, p . 147). Por versao forte uso de escalas e questionanos, bern como 0 re-
(Hewstone, Stroebe, Codol e Stephenson, 1988), descrirrao dos processos psicologicos subjacen- entende-se aqui a representarrao social na sua curso a tecnicas estatfsticas como a analise facto-
podemos verificar que neste ultimo a referencia tes e necessarios para que urn indivfduo possa aceP9ao durkheimiana. Para alem disso, e nao rial ou 0 MDS (multidimensional scaling), como,
as RS ocupa apenas duas paginas. Curiosamente, participar na vida social e que, por seu turno, obstante os paralelismos e convergencias que alias, muitas das investigarroes levadas a efeito
e ainda neste ultimo manual, 0 unico capftulo a «os psicologos tern todavia tendencia para des- possam estabelecer-se entre RS e interacrroes claramente ilustram (Mugny e Carrugati, 1985;
cargo de autores de Ifngua frances a e 0 que res- crever esses processos duma forma quase auto- simbolicas, os cientistas sociais que trabalham Di Giacomo, 1980; Soczka, 1985; Vala, 1981).
peita a cognirrao social (Leyens e Codol, 1989). noma, abstraindo da sua insen;ao num contexto nestes domfnios parecem preferir trilhar vias Identicamente, «nao ha qualquer dificuldape
Em contrapartida, 0 manual de Moscovici dedica social concreto» (Doise, 1986, p. 91). paralelas, por vezes com programas conceptual- em usar 0 metodo experimental e, de facto, fo-
uma das quatro partes em que esta organizado ao Com a teoria das RS a psicologia social apro- mente identicos e apenas separados por diferen- ram conduzidas numerosas experiencias, sempre
tema do «Pensamento e vida social» e nele se xima-se mais da sociologia e , nessa medida, esta rras meramente terminologicas. que surgiu uma hipotese que a elas se prestas-
incluem varios capftulos sobre RS, entre eles urn mais perto da sua vocarrao inicial interdiscipli- No caso vertente, a incorporarrao dos proces- sem» (Moscovici, 1988, p. 240). Exemplos tfpi-
redigido por Jaspars e Hewstone sobre a teoria nar, evitando tornar-se mera subdisciplina da sos de sociaIiza9ao, tao caros ao interaccionismo cos de tais experiencias acham-se inelufdos no
da atribuirrao. A cognirrao social surge, assim, psicologia. E esta subalternidade da psicologia simb6lico, poderiam contribuir para enriquecer volume editado por Farr e Moscovici, tais como
nesta perspectiva, subordinada as RS. social que Moscovici se recusa a aceitar. o quadro de referencia, porventura demasiado as de Abric (1984) , Codol (1984) e Flament
A edirrao recente do volume Social Repre- Tal como escreve, «na medida em que a psi- lewiniano, que caracteriza a teoria das RS. ( 1984). Mas e justamente esta abertura a todos os
sentations, por Farr e Moscovici (1984), na serie cologia social tende, cada vez mais, a tornar-se Para completar 0 exame, falta, porem, con- azimutes que levanta problemas. No que con-
dos «Estudos Europeus em Psicologia Social», urn ramo subsidiario da psicologia, ve-se for- siderar urn aspecto basico - 0 da metodologia. cerne aos metodos de inquerito, e por sofisticada
correspondente a urn col6quio sobre este tema rrada a ter cada vez mais em conta os factos bio- E sobretudo aqui que vaG colocar-se as maiores que seja a estatfstica utilizada, e dificil captar os
realizado em Paris, podera, todavia, contribuir logicos e a afastar-se dos fenomenos sociais. Em ambiguidades. Na sua formularrao actual, a teo- processos que definem 0 nueleo da representarrao
para sensibilizar urn publico mais alargado e vez de criar uma continuidade da origem a uma ria das RS nao impoe quaisquer restrirroes e con- social. Claro que e sempre possfvel extrapolar
eventual mente despertar 0 interesse dos cfrculos descontinuidade, cortando, por assim dizer, 0 sidera que todos os metodos de investigarrao, e, sob esse aspecto, 0 ceu e 0 limite, mas nao
norte-americanos. ramo em que estava sentada» (Moscovici, 1989, incluindo 0 laboratorio experimental, sao nao faltarao obviamente guardioes do templo para
Mais do que uma teoria entre outras, as RS p. 409). A esta tendencia negativa, Moscovici apenas compatfveis mas todos eles importantes denunciar as arbitrariedades interpretativas. Para
constituem urn programa de investigarrao e urn contrapoe urn lugar central e inclusivamente para a obtenrrao de resultados e de hipoteses. evitar tais arbitrariedades, so resta a verificar;ao
quadro de referencia te6rico. Levado as suas uma funrrao unificadora para a psicologia social, E certo que Moscovici parece privilegiar a experimental.
extremas consequencias , 0 conceito de RS pro- «destinada a estudar a ligarrao entre a cultura e a orientarrao observacional a orientarrao experi- Mas quando se envereda por esta via de pro-
poe-se como uma psicologia social alternativa, natureza , bern como entre os fen6menos sociais mental. Na replica a Jahoda, observa, com efeito, curar detectar os mecanismos causais explicati-
58 59

vos, recorrendo ao metodo experimental, cai-se mentos estudados da sua localiza«;ao no espa«;ol . 'nal - 0 construtivismo genetico, que con- referencia, a causalidade devera ser considerada
no terreno armadilhado da cogni«;ao social. Por ongl d .. b como bidireccional, e tambem os efeitos das con-
Itempo no interior duma cultura particular» . a e prolonga os estu os ptagetlanos so 0
outras palavras, a analise desce para os nfveis (Farr, 1984, p. 141). A isto gostarfamos de dunu ..
senYOlvimento cogmtlvo. Neste u'1 tlmo
. doml-
' sequencias antecipadas devem ser tidos em con-
individuais e interindividuais e a psicologia acrescentar que as exigencias de rigor levam ~ e de salientar a investiga«;ao
nl O, .
reunida sob
,
sidera~ao» (1989, p. 397).
social regressa ao seu estado de subdisciplina da for«;osamente a delimitar segmentos cada vez tftulo de marcafiio soctal e que se refere as Esta analise, muito breve, das actuais orien-
psicologia ou, se se preferir, das cit~ncias cogni- mais moleculares dos processos psicologicos, oorrespondencias que poderao existir entre, por ta~oes e tensoes na psicologia social leva-nos
tivas. Moscovici parece aperceber-se disso ao mudando sucessivamente de escala numa pro- ern lado, as rela«;oes sociais que presidem a assim a concluir por uma versiio fraca da PSE
citar, a proposito, 0 ponto de vista de Neisser: gressao que, no limite, torna problematica a ~nterac~ao de pessoas, real ou simbolicamente e a diagnosticar uma progressiva polariza~ao
«0 desenvolvimento da psicologia cognitiva nos fronteira entre processos psicologicos e proces- presentes numa dada situa«;ao e, por outro, as dos paradigmas. 0 exame a que procedemos
liltimos anos tem-se revelado desapontadora- sos biologicos. Nestas condi«;oes, parece-nos rela~oes cognitivas derivadas de certas proprie- sugere, com efeito, que 0 espa~o interdisciplinar
mente estreito, voltando-se para dentro da ami- de facto diffcil sustentar a possibilidade duma dades dos objectos atraves dos quais essas re- articulando a psicologia e a sociologia comporta
lise de situa«;oes experimentais especfficas em psicologia social que consiga estabelecer uma la~oes sociais se materializam» (Doise, 1989, problemas epistemologicos cuja solu~ao nao
vez de se voItar para fora, para 0 mundo alem do sfntese entre paradigmas opostos. As grandes p. 395). Numerosas experiencias tern sido con- parece, de forma alguma, evidente. A PSE, alias,
laboratorio» (Neisser, 1976, p. XII, citado por ambiguidades da teoria das RS, como, alias, de duzidas neste domfnio, confirmando 0 papel como vimos, muito dividida no seu interior, e,
Moscovici, 1988, p. 240). toda aPSE enquanto projecto autonomo, deri- dum metassistema de regula«;oes sociais contro- como foi sugerido por laspars (1986), menos
Moscovici rejeita, alias, com veemencia, a yam desse dilema. Nao nos parece, porem, e af lando as opera~oes cognitivas (De Paolis, Doise uma aIternativa do que urn estilo traduzido em
recomenda~ao de lahoda segundo a qual «seria estamos novamente de acordo com Farr, que e Mugny, 1987). preferencias tematicas e formas de verifica«;ao
mais realista Iigar (as RS) ao corpo crescente «os psicologos sociais franceses contempora- Esta hipotese de metassistemas reguladores empfrica. Qualquer leitor medianamente experi-
do trabalho em cogni«;ao social do que reclamar neos tenham descoberto 0 segredo, que confun- fora ja formulada por Moscovici na sua teoria mentado e capaz de reconhecer que urn artigo
a existencia nao verificada de domfnios espe- diu Wundt, de serem capazes de facilmente se das RS (1976, p. 254). Tais liga«;6es deixam que tenha entre maos foi produzido par urn autor
ciais» (Jahoda, 1988, p. 207). Para Moscovici, a movimentarem entre 0 laboratorio e 0 terreno, entrever possfveis desenvolvimentos, articulando norte-americano, britanico ou frances.
«cogni«;ao social» constitui 0 tipo de psicologia mantendo-se fieis a natureza do seu objecto de o construtivismo genetico com as representa~oes Dum modo geral, os psicologos sociais euro-
social que ele nao se cansa de denunciar e que, estudo» (1984, p. 145). sociais. Mas convem acentuar que, do ponto de peus, em contraste com os seus colegas norte-
a seu ver, conduz inexoravelmente a subalter- No interior da PSE a teoria RS representa sem vista metodologico, a orienta~ao de Genebra e -americanos, e possivelmente isso tam bern se
niza«;ao da psicologia social. Em estreita coeren- dlivida a tentativa mais radicalizada de rompi- inequivocamente experimentalista. Se e certo verifica noutras disciplinas sociais, manifestam
cia, haveria que ir mais longe, renunciando ao mento com a psicologia social normal e a cons- que Doise sempre procurou estabelecer articula- uma maior preocupar;ao com os problemas do
laboratorio como meio de investiga«;ao das RS. titui«;ao duma disciplina altemativa, estabele- ~6es interdisciplinares, sobretudo com a sociolo- conflito e do papel que ele podera desempenhar
E 0 que sugere , alias, Farr ao recordar toda cendo a Iiga«;ao entre a psicologia e a sociologia, gia francesa, de que e lei tor atento e conhecedor na mudan~a social. Esta tonica esta presente na
uma linha que remonta a Wundt e a Durkheim. entre 0 indivfduo e a sociedade. As posi«;oes (Doise,1985; Doise e Cioldi,1989), tambem, por escola de Bristol, com a Iinha que desenvolveu
e segundo a qual a experiencia adequada aos defendidas por outros autores, como e 0 caso de outro lado, as suas reservas quanta as orienta~oes sobre as rela90es intergrupo, esta igualmente
processos individuais nao seria, porem, ao nfvel Doise, que igualmente contribui para 0 debate mais recentes da psicologia social, e designada- presente no construtivismo genetico da escola
colectivo. organizado por Rijsman e Stroebe (1989), ape- mente a revolufiio cognitivista. sao mais miti- de Genebra, atraves do lugar central atribufdo ao
«0 laboratorio», observa Farr, «e um dispo- nas refor«;am a conclusao que tiramos. Doise, gadas do que as de Moscovici. Enquanto este, conflito sociocognitivo como motor do desen-
sitivo para isolar os fenomenos dos contextos ou, antes, como prefere Munne (1989), a escola nas suas interven~oes mais recentes, vai ao ponto volvimento, e esta ainda presente, e af duma
sociais em que eles naturalmente ocorrem, 0 de Genebra, que reline uma serie de investiga- de por em causa que uma ciencia hlbrida. como forma insistente, em todas as linhas de investi-
«mundo real», la fora. Os acontecimentos histo- dores de prestfgio agrupados em torno de Doise, e 0 caso da psicologia social, possa ser explica- ga~ao desenvolvidas por Moscovici.
ricos que ocorrem entre tie t 2 no decurso da tern procurado desenvolver e compatibilizar tiva (1989, p. 428), Doise, nesse mesmo debate, Recorde-se que Moscovici nao se cansa de
experiencia amea«;am a sua "validade interna" varias linhas de investiga«;ao, sendo de sa lien tar defende sem ambiguidade 0 recurso ao metodo definir a psicologia social e em varios momen-
e, se nao forem controlados, podem ser confun- as rela«;oes intergrupo. iniciada em Bristol por experimental, admitindo todavia - e essa e uma tos da sua vasta produ~ao, como 0 conflito entre
didos com os efeitos da variavel independente. Tajfel, as minorias activas e 0 efeito de inova- ressalva .importante - uma maior flexibilidade o indivfduo e a sociedade. Por outro lado, na
Um bom controlo experimental e, pois, virtual- 9ao, na linha de Moscovici, as representa«;oes do jogo entre variaveis independentes, ou seja, replica a lahoda pode ler-se: «Quem tenha tido
mente sinonimo do isolamento dos aconteci- sociais e ainda - e esta e a sua contribui9ao mais uma causalidade circular: «Num tal quadro de a paciencia suficiente para seguir os meus escri-
60

tos notan! que 0 seu fio condutor e 0 enigma da polizar por seu tumo a psicologia social na CAPiTULO IV
mudan~a e da criatividade» (Moscovici, 1988, Europa, erigindo-se, como traduz a linguagem
p.223). das suas institui~oes e de muitos dos seus au-
E possivel especular que esta preocupa~ao tores, em representantes da psicologia social,
com 0 conflito e a mudan~a na psicologia social, quando na realidade e apenas uma psicologia Orienta90es metodologicas
se nao mesmo nas ciencias sociais europeias, social» (Munne, 1989, p. 244).
comporta a sua pr6pria psicologia social ou, se E, todavia, urn facto que entre varias psico- na psicologia social
preferirmos, corresponde a uma representa~ao logias sociais identificadas por este autor, tais
social condicionando a orienta~ao tematica dos como a psicanalise social, 0 behaviourismo so-
cientistas sociais europeus. Tambem num domi- cial, 0 interaccionismo simb6lico e tendencias
nio muito pr6ximo da psicologia social, e para afins, nas quais poderiamos incluir as represen- Jorge da GI6ria
alguns uma sua aplica~ao possivel - 0 das ta~oes sociais na sua versao forte e a psicologia
organiza~oes, mas onde nao existe qualquer social marxista, e, sem duvida, 0 sociocogniti-
reivindica~ao de especificidade epistemol6gica vismo que mais mobiliza hoje em dia a aten~ao
regional -, e todavia detectavel uma maior sensi- dos investigadores e e tam bern neste dominio 1. Metodo e teoria dos experimentais, que caracteriza a psicologia
bilidade dos investigadores europeus, em con- que se veri fica uma produ~ao significativa e enquanto projecto de conhecimento cientffico,
traste com os seus colegas norte-americanos, para consistente. E nesta tradi~ao que 0 presente Tal como outros dominios da psicologia, a psi- mas sim a elabora~ao de urn discurso relativo a
o papel desempenhado pelo conflito na mudan~a manual igualmente se inscreve. cologia social caracteriza-se pela natureza dos determinados aspectos do real, seleccionados de
tanto intema como extema as organiza~oes. Poderao, sem duvida, identificar-se metassis- temas que aborda e nao pelo uso de metodos espe- tal forma que fique assegurada a corresponden-
Mas a psicologia social de tais especificida- temas de regula~ao que detemminam que esta cfficos. 0 recurso a algumas tecnicas pr6prias cia entre as observa~oes destes e os termos e pro-
des culturais remeter-nos-ia para outras altema- seja de facto a ciencia normal praticada pela para alem das utilizadas em psicologia geral, por posi~oes do discurso te6rico. E nesta concep~ao
tivas que nos projectariam para alem do quadro grande maioria dos psic610gos sociais. exemplo, sociogramas (Moreno, 1949) ou proto- que se fundamenta a constru~ao de urn padraq
da PSE, com a sua adesao, na melhor das hip6- E possivel que minorias activas venham urn colos de observa~ao de interac~6es sociais (Bales, de validade unico do discurso cientffico, aplica-
teses hesitante, ao experimentalismo. Tal como dia a revolucionar este estado de coisas e a 1950), situa-se no enquadramento metate6rico e vel tanto as observa~oes experimentais como aos
adverte judiciosamente Munne, «0 sociocogni- impor urn paradigma altemativo. Mas nem sem- epistemol6gico do metodo das ciencias naturais. dados da observa~ao passiva. Segundo esta posi-
tivismo europeu, quando poe em causa 0 mono- pre, nao obstante 0 optimismo de Moscovici, as Se bern que 0 dominio da psicologia social esteja ~ao, a articula~ao essencial entre 0 real e 0 dis-
p6lio norte-americano, tende de facto a mono- minorias tern uma vida facil. balizado por uma vasta literatura metodol6gica curso te6rico, a qual constitui a pedra-de-toque
aparentemente aut6noma, esta impressao de au- do metoda cientffico, e a no~ao de medida, quer
tonomia deve-se essencialmente a circunstancias esta seja entendida num sentido primitivo ao
hist6ricas da forma~ao da disciplina e nao deve, qual a linguagem corrente nao atribui sequer
de modo algum, conduzir a conclusao da existen- a acep~ao de medida, pois consiste na mera iden-'
cia de urn terreno metodol6gico independente, por tifica~ao de aspectos discriminaveis do real, per-
urn lado, das elabora~oes te6ricas concretas e, por mitindo efectuar contagens, quer num sentido
outro, do metodo das ciencias naturais. derivado, consistindo na avalia~ao de grandezas
Apesar de 0 aspecto mais saliente do metodo s6 indirectamente acessiveis a observa~ao.
das ciencias naturais residir na realiza~ao de expe- Dois aspectos do projecto de conhecimento da
riencias em laborat6rio, na psicologia como nes- psicologia social tomam a medida uma tarefa par-
tas, simples observa~oes passivas e experiencias ticularmente ardua neste campo: por urn lado,
fora do laborat6rio constituem instrumentos de o psic610go social interessa-se, em geral, por fen6-
conhecimento validos e produtivos. Assim, nao menos complexos, tais como os comportamentos
sera tanto a realiza~ao de experiencias em labo- dos agentes sociais, cuja unidade e linhas de cli-
rat6rio, ou simplesmente a realiza~ao de estu- vagem naturais assentam sobre uma determinada
62 63

cultura, ela propria resultante de uma evolw;ao his- sando de moda na pnitica cientffica geral sem numa escala eventualmente diferente. Duas das dicos especializados, foram alvo de crfticas tanto
torica; por outro lado, os comportamentos sociais afectar esta de modo nota vel. Nao sera talvez este dimensoes ao longo das quais se opera com mais de pesquisadores afectos a uma orienta~ao his-
traduzem significa~oes para os agentes sociais, o lugar proprio para uma avalia~ao crftica da dis- frequencia a redu~ao de escala - a dimensa.o tem- torica e sociologica (Gergen, 1984; Lubek, 1979)
as quais nao se identificam necessariamente com cussao sobre a validade da psicologia social expe- poral e a dimensao valorativa dos objectivos pro- como de pesquisadores Iigados a uma orienta~ao
os factores explicativos desses comportamentos, rimental, mas convem, no entanto, extrair duas postaS aos sujeitos experimentais - geram dificul- cognitivista (Tedeschi, Smith e Brown, 1974) ou
factores cuja identifica~ao constitui justamente 0 conclusoes desta discussao: em primeiro lugar, dades que constituem ilustra~oes claras do tipo neobehaviourista (Da Gloria e Duda, 1979). Apesar
objectivo do psicologo. Estas dificuldades tern sido uma parte importante das crfticas dirigidas a psi- de mal-entendido reinante neste domfnio. Dada a desta variedade de orienta~oes teoricas, todos estes
objecto de uma acesa polemic a e levaram mesmo, cologia social experimental pelos partidarios da natureza diferente dos processos mnemonicos que autores estao de acordo quanta ao facto de que 0
por vezes, a por em duvida a possibilidade do perspectiva historica e sociologica dizem respeito intervem a curto, medio e longo prazo, a generali- ponto de partida da no~ao cientffica de agressao
conhecimento dos fenomenos sociais por meio de a rela~ao entre os fenomenos sociais naturais e zayao frequente de conclusoes tiradas de observa- nao e mais de que uma palavra da linguagem cor-
aplica~ao do metodo das ciencias naturais. Alguns as representa~oes teoricas e empfricas destes na yoes fazendo intervir a memoria a curto prazo a rente exprimindo urn julgamento relativo a uma
anos atnis, esteve na moda a discussao daquilo pratica cientffica, pondo em causa praticas de fenomenos que natural mente implicam a memoria conduta. Este termo teria sido abusivamente trans-
que enta~ se chamou a «crise da psicologia social». inferencia que, do ponto de vista do metoda cien- a longo prazo constituem abusos de interpreta~ao formado numa no~ao descritiva de urn comparta-
Criticava-se entao a psicologia social, e sobretudo tffico, constituem, muitas vezes, se nao erros pelo que nada justifica. Paralelamente, sao conhecidas mento observavel, por via de uma defini~ao ar-
a psicologia social experimental, por esta abordar menos procedimentos discutfveis; em segundo as modifica~oes introduzidas na percep~ao e na bitrana privilegiando injustificadamente uma das
fenomenos de natureza cultural e historica formu- lugar, esta discussao deu azo a uma reflexao sobre avaliayao intrfnseca das tarefas, em funyao do va- dimens6es do comportamento que intervem no
lando-os num quadro conceptual que, ao ignorar a as fronteiras da psicologia social, a partir da dis- lor das recompensas extrfnsecas propostas aos su- processo natural de julgamento. Estes consideram
significa~ao e a historicidade (Gergen, ]973), con- tin~ao entre factos culturais enquanto produtos de jeitos para a execu~ao destas. Em ambos os casos, ainda que, nao tendo esta n~ao cientffica urn re-
duziria a urn formalismo artificial, desinserido do uma evolu~ao historica e enquanto resultados do se 0 que interessa ao experimentador e urn fen6- ferente ex acto nos comportamentos observados
mundo pnitico. Dados os limites do metoda expe- processo de socializa~ao, cujas implica~6es estiio, menD natural a longo termo ou implicando recom- nos estudos experimentais em que hipoteses rela-
rimental, esses problemas deveriam ser estudados por hora, longe de terem produzido os seus frutos. pensas extrfnsecas elevadas, a unica experimen- tivas as suas determina~oes sao postas a prova,
por metodos de investiga~ao de caracter historico tayao que pode permitir a extrac~ao de conclusoes sao, portanto, infundadas as generaliza~oes dos
e sociologico. Ao serem aplicadas a fenomenos 1.1. 0 problema da redufiio da escala aplicaveis e a que implica recompensas elevadas e resultados daqueles aos fenomenos usual mente
sociais, essencialmente historicos, as exigencias se situa numa escala temporal implicando a inter- chamados agressoes. A partir deste ponto, as posi-
do metodo experimental levari am a simplifica~oes Em muitos dos casos citados nas discussoes venyao dos mesmos mecanismos de memoria que ~oes destes autores divergem, mas este acordo ini-
abusivas, dando origem a redu~6es arbitranas de relativas a validade das pesquisas de psicologia os implicados no fenomeno natural visado. Em cial significa que uma noyao teorica nao pode ser
variaveis culturais e historicas a «miniaturas», as social, por exemplo na polemica sobre 0 conflito muitos casos, uma tal experimentayao pode ser constitufda por uma simples explicitayao dos refe-
quais, em virtude desta redu~ao de escala, perde- e a sua representa~ao nos chamados jogos expe- praticamente irrealizavel. Resta entao ao psic6- rentes na Iinguagem convencional de urn termo
riam a sua natureza propria. Segundo os crfticos rimentais, a redu~ao de escala dos fenomenos logo renunciar a abordagem experimental do supostamente denotativo, desembocando 0 seu es-
da psicologia social, este seria 0 pre~o a pagar pela naturais estudados experimental mente nao parece problema, ou, se os conhecimentos dispanfveis 0 tudo sobre uma reprodu~ao controlada de alguns
possibilidade da abordagem experimental dos pro- assentar de facto sobre uma teoria coerente explf- permitem, reformular aquele em termos tais que a aspectos desses referentes. Urn autor classico, que
blemas postos pelos experimentadores.Conclufam cita das rela~oes entre fenomenos de escalas dife- memoria a longo prazo ou as varia~oes do valor em seu tempo se apercebeu desta dificuldade
entao os crfticos, a psicologia social experimental rentes, mas antes reflectir predilec~6es e suposi- intrfnseca das tarefas propostas aos sujeitos cessem (Brunswik, 1956), propos uma solu~ao consis-
nao pode constituir nem urn modo de conheci- ~oes dos investigadores. de ter incidencias sabre as explicayoes propostas. tindo numa amostragem aleatoria dos referentes
mento de utiliza~ao pratica, nem uma constru~ao No entanto, uma tal teoria constitui urn pas so Os estudos sobre os comportamentas agressi- implicados pela no~ao teorica, solu~ao infeliz-
cientificamente valida, pois, por urn lado, os seus indispensavel para uma utiliza~ao criteriosa do ~os realizados no quadro da psicolagia social expe- mente irrealista dada a indefini~ao das fronteiras
objectos de estudo sao factfcios e, por outro, a metoda experimental; com efeito, uma redw;ao de n.mental constituem uma excelente i1ustra~ao das da noyao teorica, quando construfda por esta via.
constru~ao desses objectos assenta em distor~6es escala so pode ser justificada quando e possfvel dlficuldades com as quais e confrontado 0 psic6- Este genero de dificuldade comporta, contudo,
ideologicas do real, traduzindo nao as proprieda- demonstrar que os mecanismos implicados por logo social ao tentar traduzir as representa~6es na- outra solu~ao: quando uma n~ao teorica pro vern
des deste, mas idiossincrasias dos investigadores. urn fenomeno natural mente situado numa deter- turais em na~oes cientfficas. Os estudos sabre este do agrupamento de observa~6es empfricas manifes-
Como outros temas, a crftica da psicologia so- minada escala sao identicos aos implicados pelo tema, nUmerosos ao ponto de constituir durante tando a ac~ao de determina~6es homogeneas, ainda
cial tomou-se urn domfnio de especialistas, pas- fenomeno estudado experimentalmente situado alguns anos a principal conteudo de alguns perio- que deste modo esta no~ao perca eventual mente 0
65
64

seu referente natural imediato, cessa, no entanto, de As fronteiras entre a psicologia, a psicologia so- da disciplina. sem que 0 psicologo se improvise parte. As Iiga~6es entre variaveis independentes
reflectir os processos ideologicos presentes na lin- cial e a sociologia sao. em geral, pouco marcadas, ea
socio1ogo • antropo'1 ogo ou h"lstonad or. e dependentes. cuja existencia ou forma nlio slio
guagem natural, e as realiza~6es empfricas dessa e nem sempre e facil determinar se urn determi- conhecidas mas parecem plausiveis ao pesquisa-
n~lio estlio garantidas contra a facticidade que nado modo de abordar urn problema. ou urn deter- dor, constituirlio 0 objecto das hipoteses que este
2 , '"rhh eis dcpcndcnte!o. pora posteriormente a prova das observayOes.
amea~a as miniaturiza~6es dos fenomenos naturais. minado problema, constitui ou nlio urn procedi- . c indepcndcntcs. hipMc~es
mento proprio da psicologia social. Em princfpio, A distinylio entre variaveis dependentes e inde-
a distinylio e facil de levar a cabo: enquanto a Quer a questlio a qual 0 psicologo social pre- pendentes refere-se a posi~lio das variaveis na
1.2. Problemas e leoria economia da explica~lio de urn determinado feno-
psicologia tern por objecto a identificaylio e a tende responder por meio de uma pesquisa se si-
o genero de dificuldade que acabamos de evo- descri~lio dos mecanismos que intervem no com- tue na pnitica social. quer ela provenha de exigen- menD proposta pelo pesquisador. Qualquer varia-
car e porventura mais sensfvel no caso da psico- portamento dos indivfduos, qualquer que seja 0 cias intemas ao processo de constru~lio do saber, vel pode desempenhar urn papel explicativo num
logia social que noutros domfnios da psicologia. contexto social em que estes sao produzidos. a OS eriterios de validade em relaylio aos quais essa deterrninado modelo, e ser ela propria 0 objecto
Com efeito, 0 psicologo social dispOe frequente- psicologia social visa 0 comportamento dos indi- resposta sera avaliada sao identicos. No entanto, que outro modelo se prop6e explicar, desempe-
mente de uma menor margem de liberdade na fi- vfduos enquanto determinado pelo contexto social a abordagem de questOes tendo por origem a pra- nhando nesse caso 0 papel de uma variavel depen-
xa~lio da natureza das suas observa~6es que 0 psi- proximo. independentemente da especificidade tiea social pode levar a definir estrategias de pes- dente. Certas caracterfsticas sociologicas, como a
cologo do desenvolvimento ou 0 psicologo das historica e cultural do grupo social em que esse quisa que comportam objectivos intermedicirios idade ou 0 sexo dos individuos, as quais. por nlio
fun~6es. Isto deve-se, por urn lado, ao facto de que, contexto estci presente. Quanto a sociologia. 0 seu especfficos, implicando opyoes metodologicas serem susceptiveis de manipulaylio experimental
frequentemente, a actividade do psicologo social domfnio proprio seria justamente 0 das determi- diferentes das que e levado a fazer 0 pesquisador por parte do investigador serno mais propriamente
intervem em resposta a problemas de ordem pra- na~Oes exercidas pelos factores que constituem a confrontado com urn problema proveniente de designadas Jactores de classifica~ao, parecem, a
tica postos por agentes sociais exteriores ao mundo especificidade historica e cultural das sociedades. exigencias intemas da constru~lio do saber. primeira vista possuir uma vocaylio exdusiva para
cientffico: administra~6es, empresas, etc., os quais As dificuldades de aplica~ao desta reparti~lio Para que estas o~6es possam ser tomadas com o papel de variaveis independentes: as respostas
definem implicitamente 0 nfvel de abordagem da de competencias. traduzidas na indecislio dos mo- conhecimento de causa, a primeira tarefa do pes- a urn questioncirio ou a frequencia de determinado
questlio; por outro lado, os fenomenos que inte- delos teoricos da psicologia social. traem 0 carac- quisador face a urn problema oriundo da pratica tipo de comportamento podem ser explicaveis. em
ressam ao psicologo social, quando a iniciativa da ter meramente convencional da distinylio entre os social consiste em elaborar urn modelo teorico certos casos. pela idade ou pelo sexo dos indivf-
definiylio do objecto da pesquisa pertence a este, niveis individual. interindividual e social. Na me- deste. A partir do enunciado do problema deve 0 duos interrogados ou observados. enquanto estas
dizem respeito a comportamentos ou a factores dida em que os dados empfricos ilustrando cada pesquisador escolher 0 comportamento ou com- caracterfsticas nlio parecem ser explicaveis por
do comportamento que, pela sua natureza social, urn destes niveis nlio slio realmente distintos, e ra- portamentos sobre os quais deve incidir 0 estudo. qualquer tipo de observa~lio adisposi~lio do inves-
comportam uma definiylio implfcita de origem cul- ramente 0 slio, a multiplicidade dos modelos teori- Em certos casos, deve ainda decidir quais os as- tigador, Contudo. em estudos tendo por objectivo
tural. Se, no primeiro caso, 0 estabelecimento dos cos aplicaveis, e portanto dos nfveis de explica~ao pectos das situayoes nas quais esses comporta- avaliar, por exemplo, diferentes modos de cons-
objectivos do estudo pode e deve passar por uma e dos domfnios de generaliza~ao com os quais se mentos sao observados que deverno ser encarados tituiylio de grupos sociais. a idade ou 0 sexo dos
negociaylio em que compete ao psicologo uma defronta 0 investigador, obrigam-no a uma decislio enquanto factores deterrninando varia~Oes quanti- indivfduos que constituem cada grupo podem ser
fun~lio de diagnostico em rela~lio aos objectivos cujo fundamento nlio pode ser senlio arbitrcirio. tativas desse ou desses comportamentos. 0 com- compreendidos em fun~ao dos diferentes modos
praticos dos agentes sociais, os quais nem sempre Se, em geral, nlio compete ao psicologo social portamento ou comportamentos sobre os quais de constituiylio desses grupos, desempenhando
slio melhor servidos por uma conceptualizaylio do experimental estudar 0 conteudo dos sistemas cul- incide 0 estudo constituem as varidveis dependen- neste caso 0 papel de variaveis dependentes.
problema situado ao nfvel que estes entendem ser turais, mas sim as caracterfsticas operacionais dos les, e os factores que determinam as variayoes des-
o mais apropriado, no caso em que 0 psicologo individuos, as quais slio parcial mente determina- ses comportamentos constituem as varidveis inde- 2.1. Conslrufao das variaveis
tern uma total liberdade de definiyao da sua pro- das por elementos culturais, a aCyao destes ultimos pelldentes do modelo elaborado pelo experimenta- independentes
blematica con vern que este nlio perca de vista 0 e dificH de separar das condi~6es da sua aquisi~lio. dor. Em geral, as pesquisas que tern por objectivo
facto de que 0 estudo dos sistemas sociais concre- ela propria control ada por parametros culturais . responder a questoes levantadas pelo proprio pro- Sendo as variaveis independentes a instancia
tos, incluindo os mecanismos de determinaylio dos Os problemas do mundo social natural, dos quais cesso de constru~lio do saber encontram-se em explicativa posta a prova pelo pesquisador, a rela-
comportamentos que Ihes slio proprios; consti- o psicologo social parte na maior parte dos casos, terre no ja parcial mente balizado. variaveis depen- ~ao entre estas e a noyao teorica a qual a explica-
tuem 0 objecto da sociologia e nao sao, as mais das supoem uma abordagem multidisciplinar, preser- dentes e independentes estlio ja parcialmente iden- ylio proposta se refere condiciona a validade do
vezes, susceptfveis de observayao experimental. vando a particularidade dos metodos proprios de tificadas. e as suas rela~oes slio conhecidas em modelo proposto. Em primeiro lugar. a variavel ou
66
. 67

variaveis independentes devem constituir uma re- tos abstractos criados a priori. discutimos alguns oslO pelo investigador, e que diferentes situa- podendo resultar do efeito de urn detenninado
presenta~ao valida do conceito teorico ao qual 0 sup d" factor numa dada situa~ao e do efeito de urn outro
dos problemas levantados por este tipo de proce- ~ s deste tipo afectam a manelra prevista outros
~oe
investigador se refere. Nalguns casos, esta exigen- dimento. Como se tomou claro no decorrer dessa indicadores desse estado. factor numa outra situa~ao. Por esta razao, ao con-
cia nao levanta problemas de maior na medida em discussao, a variavel independente teorica e aqui, trmo do que e frequente, a constru~ao de urn con-
que a varia vel independente manipulada ou obser- de facto, uma variavel dependente, comportando ceito fundamental deve partir indutivamente da
vada e 0 proprio fenomeno no qual 0 experimenta-
2.2. Construfiio das varitiveis
como tal varia~6es aleatorias que uma variavel in- certeza da homogeneidade das detennina~6es de
dor esta interessado. lncluem-se neste caso os fac-
dependentes
dependente nao comporta geralmente, e 0 estudo urn dado numero de comportamentos concretos
tores de c1assifica~ao, tais como 0 sexo, a idade, ou deste tipo de observa~6es exige 0 recurso a mode- Dada a natureza relativa da distin~ao entre va- para chegar a constru~ao de urn conceito global
a especie taxonomica, quando estas caracteristicas los estatfsticos que levem em conta este facto. riaveis independentes e dependentes, muitas das abrangendo esses comportamentos.
nao sao consideradas indicadores de outras varia- Toda a observa~ao empfrica, experimental ou considera~6es relativas as primeiras aplicam-se
veis. Do mesmo modo, as caracterfsticas dos in- nao, tendendo a por a prova rela~6es entre urn con- igualmente as segundas. 2.3. Comportamentos e condutas
dividuos que correspondem a medidas ditas de ceito abstracto ou latente, representado por urn de- A selec~ao do ou dos comportamentos a obser-
potencia: nivel de inteligencia, acuidade visual ou terminado acontecimento observavel, pOe a prova var deve respeitar simultaneamente exigencias de Na grande variedade das observa~6es que e pos-
auditiva, etc., sao validas por si proprias, indepen- simultaneamente a rela~ao que interessa ao experi- ordem teorica e metodologica. Em numerosos ca- sfvel realizar a partir do comportamento dos indi-
dentemente do facto de 0 instrumento gra~as ao mentador e 0 criterio de selec~ao do acontecimento sos, urn conceito fundamental unico, por exemplo, vfduos e dos grupos, convem distinguir dois nfveis
qual estas sao aferidas ser mais ou menos valido. estudado. Na medida em que este criterio for pro- conduta altrufsta, comporta manifesta~6es compor- de observa~ao: comportamentos e condutas. Urn
Noutros casos, 0 conceito teorico ao qual 0 expe- blematico, a conclusao do investigador estara su- tamentais concretas extremamente diferentes em comportarnento e uma modifica~ao do estado de
rimentador se refere designa uma no~ao abstracta, jeita a crftica. Verifica-se em muitos trabalhos publi- fun~ao das numerosas circunstancias nas quais e urn organismo, considerada do ponto de vista de
comportando diferentes modalidades de realiza~ao cados que as duas Fontes de incerteza quanta a observado. A par dessas diferen~as, todas as mani- uma rela~ao parametrica com urn estfmulo apli-
concreta: agressao, grau de credibilidade de uma validade das variaveis independentes estao simulta- festa~6es concretas desse comportamento tern em cado a este. Uma conduta consiste em sequencias
detenninada Fonte de infonna~ao, pressao social, neamente presentes no mesmo estudo: a varia vel conjunto a propriedade que leva a considera-Ias finalizadas de comportarnentos. Entre estas, e usual
etc. A validade de n~6es teoricas deste tipo pres- independente teorica e, ao mesmo tempo, uma cate- manifesta~6es de urn mesmo comportarnento. Se, distinguir as que sao encaradas pelo investigador
sup6e a homogeneidade das determina~6es dos goria abstracta e urn estado nao observavel. A abun- em alguns casos, as caracterfsticas comuns as dife- enquanto condutas efectoras e as que sao encaradas
factos concretos aos quais estas no~6es se referem. dancia de situa~6es de inferencia comportando urn rentes manifesta~6es de urn mesmo comportarnento enquanto comunica~6es ou condutas simb6licas.
Uma situa~ao aparentada com esta encontra-se tal nfvel de risco de erro sera porventura uma das consistem em meras semelhan~as, noutros casos Observa~6es relativas a condutas constituem
cada vez que a variavel teorica visada pelo inves- explica~6es do caracter fracamente cumulativo do essas caracterfsticas correspondem a existencia de tradicionalmente a materia de base da psicologia
tigador nao pocle ser directamente observada ou saber, num dominio caracterizado simultaneamente urn mecanismo unico de produ~ao e de controlo social. Na grande maioria dos casos essas obser-
experimental mente manipulada, 0 que acontece por uma reprodutibilidade aceitavel das obseva~6es. das diferentes manifesta~6es do comportarnento. va~6es sao de car:kter simbolico: 0 inquirido ou
quando esta e, por exemplo, urn estado intemo dos o problema consiste em demonstrar que 0 A utilidade de urn conceito fundamental ba- o suje!to experimental diz ou escreve uma men-
indivfduos, como a culpabilidade, a colera ou a estado nao observavel dos indivfduos, 0 qual cons- seado sobre meras semelhan~as, sem correspon- sagem, aceita ou recusa deterrninada escolha pro-
insatisfa~ao profissional. Neste caso, 0 investigador titui de facto a variavel independente teoricamente dencia ao nfvel dos mecanismos de detennina~ao posta pelo experimentador. Noutros casos sao
selecciona uma detenninada situa~ao observavel definida, e de facto aquele que 0 investigador do comportamento, e limitada. Nem semelhan~as observadas ac~6es; 0 sujeito experimental envia
ou experimental mente realizavel e infere 0 estado sup6e. No caso de estudos observacionais, urn mf- dos comportamentos, nem a existencia de catego- a urn outro urn choque electrico ou uma determi-
intemo dos indivfduos colocados nesta situa~ao. nimo de certeza requer a observa~ao de vcirios rias naturais englobando diferentes comportarnen- nada recompensa. Estas ac~6es sao consideradas
o investigador pode assim seleccionar urn grupo de indicadores da variavel nao observavel, paralela- tos concretos constituem garantias suficientes da COl!lo condutas, na medida em que constituem
indivfduos aos quais foi recusada uma prom~ao mente ao comportamento que constitui a variavel homogeneidacte das detennina~6es desses com- manifesta~6es observaveis de uma decisao tomada
pro fissional , urn grupo de indivfduos insultados por dependente observada pelo investigador. A logica portamentos. Com efeito, quando 0 comporta- pelo sujeito quanto aos resultados da sua ac~ao.
urn comparsa do experimentador, etc., e considerar global da prova, aplicavel tanto no caso de estudos men to estudado num certo numero de situa~6es Para alem da frequencia, outros aspectos das
que 0 estado intemo correspondente a situa~ao em experimentais como no de estudos observacionais, pode provir da ac~ao de diferentes mecanismos, condutas sao, muitas vezes, avaliados no decorrer
questao esta presente nos indivfduos observados. consiste em demonstrar que a varia~ao registada as varia~6es do comportamento registadas entre de uma experiencia ou de uma observa~ao: inten-
No subcapftulo anterior, a proposito das dificul- pelo investigador e observada em mais de uma as diferentes situa~6es nao podem ser atribufdas sidade ou amplitude, dura~ao, etc. A escolha do
dades de interpreta~ao de dados relativos a concei- situa~ao capaz de gerar 0 estado nao observavel com seguran~a as diferen~as entre as situa~6es, aspecto a registar devera ser, em geral, ditada por
68 69

2 4 A descrifiio das condutas: uma nota obtida a partir da soma das cota<;oes atri-
COMPORTAMENTOS E CONDUTAS . . escalas e medidas bufdas as diferentes respostas. Outras vezes, estas
sao tratadas pela tecnica estatfstica chamada and-
o estudo do comportamento motor tem uma vasta hist6ria que, em larga medida, se confunde com a da psi- lise factorial, a qual constitui urn meio de represen-
cologia ellperimental: 0 estudo dos tempos de reac~ao. ou investiga~ao cronometrica dos comportamentos. recebeu Tern sido proposto urn grande numero de meta-
urn fundamento te6rico nos trabalhos de Donders (1868) e constitui desde essa data urn dos principais meios de dos cujo objectivo e fomecer urn fundamento te6- ta<;ao das cota<;6es atribufdas a urn grande numero
investigayao no domfnio da percepyiio e do tratamento da informa~iio. No estudo cronometrico do comportamento. rico e urn procedimento pratico para este exame. de respostas num numero reduzido de coordenadas.
o tempo de reac~iio e considerado como resultado da soma das durayOes de diferentes processos de aquisi~iio e trata- Alguns desses metodos sao especial mente con-
mento da informa~ao. Estes processos podem desenrolar-se em serie , em paralelo, ou segundo diferentes configu-
cebidos para uso com material simb61ico, outros 2.5. Validade e fidelidade das medidas
ra~Oes cronol6gicas de tratamentos em serie e em paralelo. 0 estudo dos tempos de reac~i!o a determinados estlmu-
los em condiyoes especial mente concebidas pelo ellperimentador para alongar ou reduzir certos processos permite podern ser utiIizados tanto com material simb61ico
por a prova hip6teses relativas a organiza~ao das diferentes etapas do tratamento dos estfmulos . Podem deste modo como com ac<;oes. 0 princfpio de todos estes Os procedimentos gra<;as aos quais 0 pesquisador
ser ellperimentados modelos de tratamento da informayiio em que 0 resultado de uma dada opera~iio constitui 0 ponto rnetodos e que a variavel ou variaveis te6ricas ultrapassa as dificuldades de tradu<;ao da sua va-
de partida da opera~ao seguinte, e modelos em que as duas operayOes se desenrolam paralelamente. As intervenyoes correspondem a uma ou varias grandezas latentes riavel te6rica em observa<;6es constituem medidas.
ellperimentais nestes processos revestem a forma de tarefas a realizar pelos sujeitos durante 0 tratamento dos estf-
ou genotfpicas, as quais determinam a probabili- Este passo da pesquisa constitui a pedra angular de
mulos, sendo essas tarefas escolhidas de modo tal que a sua ellecuyao contraria determinada operayao de tratamen-
to dos estfmulos, ou. pelo contnirio, a facilita . 0 estudo cronometrico pode incidir tanto sobre 0 tempo decorrido dade da ocorrencia de uma determinada resposta e
todo 0 trabalho explicativo, pois ele 0 elo de Iiga-
entre a apresenta~iio ao sujeito de um estfmulo e 0 infcio da sua resposta. tempo de reac~iio, como sobre parametros que constitui a observa<;ao manifesta ou fenotfpica. <;ao entre 0 modelo te6rico, do qual constitui por-
temporais caracterizando a ellecuyao dcsta: velocidade do movimento; por ellemplo . Alguns metodos preconizam formatos de recolha ventura 0 aspecto mais importante, e as proprieda-
o estudo do comportamento motor nao se Iimita a perspectiva cronometrica. Variliveis de caracter qualitativo das observa<;6es que imp6em a estas uma relativa des do real que esse modelo se prop6e representar.
podem tambem ser observadas. como acontece com a observayao de posturas corporais ou ellpressoes faeiais, cujo
unidimensionaJidade, esc alas de Thurstone (Thurs- Medir consiste em estabelecer uma correspon-
estudo constitui urn aspecto importante da pesquisa sobre 0 comportamento social. 0 estatuto destas observa~Oes e,
no entanto, distinto do das respostas recolhidas na perspectiva cronometrica: enquanto nestas a forma especffica da tone, 1931), e Likert (Likert,1932), outros consti- dencia entre urn conjunto de sfmbolos e urn con-
resposta e independente da fun~iio efectora desta. as posturas e ellpressoes faeiais nao siio independentes das suas tuem algoritmos destinados a recuperar essa uni- junto de acontecimentos discriminaveis traduzindo
fun~oes efectoras. Na perspectiva cronometrica. 0 ellperimentador escolhe arbitrariamente lima reacyiio a ser pro- dimensionalidade latente a partir de respostas e propriedades do real, de tal modo que as opera<;6es
duzida pelo sujeito em resposta ao estfmulo: carregar num botiio ou levantar uma chave telegrMica . No estudo das comportamentos manifestos eventual mente hete- realizadas sobre os sfmbolos correspondam a ope-
posturas corporais e das ellpressoes faeiais, estas sao escolhidas pelo sujeito no conjunto de outras que poderiam ser
produzidas em resposta a detelminadas condi~oes de estimula\;iio. Assim. por ellemplo. a emissiio do sorriso particular
rogeneos: escalas de Guttman (Guttman, 1950), ra<;oes sobre essas propriedades. Os conjuntos de
designado por sorriso de Duchenne (Ekman. Davidson e Friesen, 1990) em resposta a apari\;ao de determinada pes- analise de estrutura latente (Lazarsfeld, 1950), sfmbolos podem ser simples nomes corresponden-
soa, sera conceptualizada em rela~ao aemissao de outros tipos de sorriso ou a apresentayao de outros estfmulos. Deste escalonamento multidimensional (Shepard, Rom- tes a classes de equivalencia, como sucede quando
ponto de vista. estas observar,:oes nao constituem comportamentos mas sim condutas . na medida em que a forma ney e Nerlove, 1972). Enquanto os metodos de as respostas dadas por urn determinado grupo de
que revestem e detenn inada pela sua funr,:iio efectora ou pelo papel que desempenham na comunicayiio simbOlica. indivfduos a uma pergunta formulada pelo experi-
constru<;ao de escalas estao essencialmente voca-
cionados para a recolha de material simb6lico, os mentador sao contabiIizadas segundo 0 numero de
considera<;oes de ordem te6rica. Uma tradi<;ao que balhos empfricos demonstram ser falsa: a frequen- metodos de analise tanto podem ser aplicados a respostas de cada tipo, «nunca», «raras vezes»,
vern dos tempos do domfnio absoluto das teorias cia e a dura<;ao dos choques emitidos por urn su- comportamentos como a respostas simb6licas. «frequentemente»,ou podem ser ainda conjuntos
da aprendizagem leva a interpretar muitos destes jeito sao determinados por mecanismos distintos , Na pratica, sobretudo em trabalhos experimen- de numeros dotados de determinadas proprieda-
aspectos enquanto indicadores diferentes da ten- identificados por certos autores (Donnerstein e lais, os pesquisadores contentam-se com uma un i- des, inteiros, reais positivos, etc., como os obtidos
dencia dos indivfduos a executar urn determinado Donnerstein, 1973) como constituindo formas res- dimensionalidade aparente, obtida atraves de res- quando 0 experimentador mede, por exemplo,
acto. Assim, em experiencias cujo objectivo con- pectivamente directas e indirectas de agressao, e postas a perguntas muito simples escolhidas de tal o tempo de reac<;ao a urn estfmulo ou a amplitude
siste em avaliar as condutas agressivas de urn indi- por outros autores (Baron e Bell, 1974; Berkowitz, modo que a sua interpreta<;ao pelos sujeitos seja 0 de urn movimento efectuado pelo sujeito.
vfduo que cre administrar choques electricos a urn 1974) como sendo formas respectivamente preme- menD,> variavel possfvel. Esta formula<;ao eobtida, Concretamente. efectuar uma medi<;ao consiste
outro sao por vezes registados simultaneamente a ditadas e impulsivas de agressao. A multiplicidade em geral, por ensaios repetidos de diferentes for- em realizar urn certo numero de opera<;oes ffsicas
dura<;ao, 0 numero e a intensidade dos choques de interpreta<;6es denota, ao mesmo tempo, a insu- mula'r6es junto de amostras da mesma popula<;ao, ou simb61icas no decurso das quais uma certa
escolhidos, sendo todas estas grandezas cons ide- ficiencia do quadro te6rico sobre 0 qual assenta a da qual sera extrafda a popula<;ao experimental. a
margem de variabilidade vern juntar-se grandeza
radas como manifesta<;6es concretas de uma varia- escolha das observa<;6es e anecessidade de exami- Quando e usado este tipo de medida, chamado efectivamente medida. Assim, a execu<;ao repe-
vel unica, «instiga<;ao para a agressao». Trata-se de nar a estrutura das inter-rela<;6es entre os diferen- escala de cota<;ao, 0 pesquisador contenta-se fre- tida de opera<;oes de medida de uma mesma
uma suposi<;ao sem fundamento te6rico, que tra- tes parametros caracterizando os comportamentos. quentemente com 0 facto de atribuir aos sujeitos grandeza da origem a uma distribui<;ao de val ores
71
70

dessa grandeza oscilando a volta de urn determi- protocolos de medida diferentes, mas que se sup6e , ta sera obtida quando uma nova experiencia no caso da experimentarQo, 0 pesquisador aplica
a1trU IS , urn determinado tratamento experimental, con-
nado valor. chamado por vezes 0 valor verda- que avaliam uma mesma grandeza; b) com urn mostrar que urn outro cornportarnento, que
deiro . Uma medida sera considerada superior a mesmo protocolo e 0 mesmo instrumento de me- vemce tambem " 1I ustrar a conduta aI trulS,'ta por sistindo numa accrao ffsica ou simbolica sobre cer-
uma outra. dizendo-se entao mais fiel ou de fide- dida repetidas vezes; c) entre medidas aleatoria- paremplO , ajudar urn indivfduo na execuc;ao de urna tos aspectos da situac;ao, registando em seguida
lidade superior, quando se aproxima de mais perto mente escolhidas num conjunto de medidas de uma e"e rminada tare f a, e" Id '
entIcamente ~&
(1Jectad0 peIos os efeitos resultantes desta accrao. Em ambos os
dete ' d~ . casos, 0 objectivo do investigador consiste em
do valor verdadeiro. mesma grandeza, efectuadas com urn mesmo pro- s factores postos em eVI encla no caso em
rnes mo pOr em evidencia determinadas relacroes entre as
Urn segundo aspecto importante para a avalia- tocolo e 0 mesmo instrumento. Estas tres opcroes a conduta estudada consiste em dar esrnolas.
que d' observac;oes, as quais deverao manifestar-se caso
crao da qualidade das medidas e 0 da validade des- correspondem a concepcroes ligeiramente dife- Este tipo de validacrao foi sistematizado no proce I-
tas. Esta nocrao refere-se genericamente ao facto rentes da n09ao de fidelidade. Para a n09ao de fide- nto de validacrao cruzada proposto por Campbell o modelo proposto para 0 fenomeno seja valido.
de urn conjunto de operac;oes de medida de uma Iidade que considera que a homogeneidade fun- m;iske (1959), e recorre a uma logica anaJoga a Observacr6es e dados experimentais tern em co-
determinada grandeza avaliar efectivamente essa cional das observac;6es constitui, ao mesmo tempo, e recedentemente exposta a propOsito da medida mum muito mais do que 0 que se poderia pensar
grandeza. Para alem da mera validade aparente, uma condicrao de validade e de fidelidade, a terce ira ~os estados nao observaveis. Urn conceito teorico a luz da acalorada discussao a que tern dado azo
consistindo em que uma determinada medicrao pa- destas oPC;6es constitui a pedra-de-toque da fidel i- evalido se diferentes comportamentos reflectindo a escolha entre estes dois tipos de procedimento.
rece reflectir razoavelmente as propriedades de dade. Na realidade, se urn conjunto de medidas esse conceito teorico, avaliados gracras a protocolos A interpretacrao causal dos dados da observacrao
real as quais ela supostamente se refere, e usual representa 0 efeito de urn dnico factor ou conjunto e instrUmentos distintos, manifestam entre si uma exige que sejam aceites certos postulados porven-
distinguir a validade extema, preditiva ou con cor- de factores, sendo 0 erro de medida independente dependencia mais forte que a observada entre esses tura de mais diffcil aceitac;ao que os exigidos no
rente, da validade intema ou heurfstica. Os dois das grandezas medidas, a correlac;ao observada comportamentos e as variaveis extemas considera- caso de dados experimentais, mas tambem estes
tipos de validade extema referem-se ao facto de entre duas amostras aleatorias da populacrao de das pelo experimentador como factores afectando dltimos nao sao interpretaveis, enquanto validacrao
que uma determinada medida permite efectiva- medidas so difere da correlacrao perfeita por uma o comportamento visado pelo conceito teorico. de modelos causais, na ausencia de suposiC;6es em-
mente preyer 0 efeito dos diferentes valores por quantidade correspondente ao erro de medida. piricamente inverificaveis. Mau grado a argumen-
ela tornados sobre outras variaveis medidas con- Das diferentes tecnicas de avaliacrao da fideli- tacr ao apresentada por opositores e defensores da
3. \ 'alida~ao dos modelos: abordagem experimental na psicologia social, obser-
correntemente ou futuramente . A nocrao de vali- dade que tern sido propostas con vern mencionar
ob~erva-;ao e experimenta-;ao
dade intema refere-se ao facto de as variac;oes de a analise de variancia, pela sua importancia pra- vacrao e experimentacrao constituem instrumentos
determinados factores, que, em certas condicr6es. tica no caso da utilizacrao de jufzes aos quais sao Uma vez formulada a questao a qual se pre- de conhecimento vaJidos e produtivos, quando devi-
de vern afectar 0 valor da grandeza medida, se tra- pedidos julgamentos de v3.rios objectos ou pessoas tende responder, identificadas as variaveis perti- damente empregues, no respeito das condicroes de
duzirem real mente por variacr6es dessa grandeza. e pelo papel que este modelo desempenha nas teo- nentes e elaborado urn modelo das relacroes entre validade proprias a cada procedimento. No entanto,
Con vern notar que fidelidade e validade corres- rias modemas da medida psicoffsica. 0 processo est as , encontra-se 0 pesquisador perante a neces- cada urn destes metodos corresponde a condicr6es
pondem a noc;oes muito proximas, cuja indepen- de avaliac;ao da fidelidade das medidas baseado sidade de recolher informacroes que Ihe permitam distintas de elaboracrao do saber. A escolha entre
dencia so se manifesta em certos tipos de estrategia nos modelos de analise da variancia autoriza uma avaliar a verosimilhanc;a desse modelo. eles deve, pois, resultar de uma analise dessas
de conhecimento: uma medida fiel e uma medida avaliac;ao comparativa das diferentes fontes de Em geral, uma pesquisa tern por objectivo va- condicr6es e nao de posicrOes filosoficas que pouco
do conceito global representando 0 comportamento erro de uma medida e permite uma investigacrao lidar urn modelo causal de urn determinado fen6- tern a ver com a actividade real do pesquisador.
ou os comportamentos que a compoem. quer este da natureza destas. meno. ou descrever caracterfsticas tanto operatorias A primeira vista podeni parecer que experi-
corresponda ou nao a n09ao que 0 investigador tern Em numerosos casos, sobretudo quando se trata como estruturais de certos objectos: indivfduos, mentacrao e observacrao estao cada uma calibradas
desse conceito global, quer aquele possua ou nao de trabalhos experimentais. 0 investigador consi- grupos ou instituicr6es. Em funcrao do objectivo que para a validacrao de modelos teoricos distintos:
urn valor heurfstico ultrapassando 0 ambito das ob- dera que as observac;6es de urn determinado com- se prop6e atingir, 0 pesquisador concebe uma estra- enquanto a experimentacrao constituiria 0 metodo
servac;oes que parecem ilustni-Io. Mais ainda. urn portamento sao validas porque 0 comportamento tegia de pesquisa, combinando eventualmente dife- apropriado de por a prova relac;oes de caracter
conceito global so pode ser valido. isto e, so pode em questao Ihe parece intuitivamente ilustrar 0 rentes procedimentos e tecnicas de investigacrao. causal entre as variaveis tomadas em consideracrao
revelar correlacroes estaveis com medidas de outros conceito teorico que a ele interessa. Por exemplo, Dois tipos de procedimento podem ser utiliza- pelo investigador, a observacrao seria particular-
conceitos, na medida em que·for fielmente medido. o facto de' dar. esmolas podera parecer em muitos dos para a colheita de dados: no caso da observa- mente indicada quando este deseja obter uma des-
Os processos c1assicos de avaliacrao da fideli- casos urn cornportarnento apropriado para rnedir faa, 0 pesquisador limita-se a manter urn registo cricrao estrutural ou funcional dos objectos que
dade consistem em estudar 0 grau de correlacrao a conduta altrufsta. A validacrao da suposicrao feita dos acontecimentos ou dos aspectos pertinentes se propoe investigar. No entanto, nao so modelos
entre medidas efectuadas: a) com instrumentos e pelo investigador, a qual diz respeito a conduta destes que ocorrem numa determinada situac;ao; causais de fenomenos que por diferentes razoes
72
• 73

escapam a uma abordagem experimental sao por gencias, quer se trate de pesquisas observacionais como OS impropriamente chamados pIanos quase sera aplicado 0 tratamento, decisao essa que de-
vezes validados por meio de estudos observa- quer de pesquisas experimentais. experimentais propostos por Campbell e Stanley terminara a interpreta~ao feita por aquele dos
cionais, como tambem modelos que pouco tern de Duas caracterfsticas dos estudos experimentais (1966). A logica global dos pIanos propostos por resultados da experiencia.
causal, como os da psicoffsica, exigem a interven- diferenciam estes dos estudos observacionais: por estes autores consiste em obter series temporais Com efeito, se, apos a aplica9ao do tratamento
9ao de tratamentos experimentais para que sejam urn lado, a interven9ao efectiva do experimentador de observa90es dos mesmos indivfduos ou grupos experimental, 0 experimentador regista uma dife-
reveladas as caracterfsticas funcionais do processo por via da aplica9ao do tratamento experimental, antes e depois da interven9ao do acontecimento ren9a entre as duas unidades que constituem a ex-
sobre 0 qual incide a investiga9ao. por outro, a independencia entre os valores da va- que realiza a variavel independente. As series periencia, antes de poder concluir que essa dife-
Com bastante frequencia, 0 modelo causal riavel independente e os objectos sobre os quais assim obtidas sao comparadas as conseguidas com ren9a provem real mente do tratamento aplicado a
constitui a meta final do pesquisador, sendo a des- aqueles sao realizados. Do ponto de vista da eco- outros grupos seleccionados de modo a excluir uma delas, deve assegurar-se de que essa diferen9a
cri9ao apenas urn primeiro passo. Assim, a fase nomia da expIica9ao, a primeira destas caracterfs- interpreta~Oes altemativas das varia90es observa- nao existia ja antes da aplica9ao do tratamento.
inicial do estudo de urn terreno inexplorado pode ticas tern por consequencia garantir a precedencia das da varlavel dependente. A solU9ao desta dificuldade encontra-se na apli-
visar uma descri9ao de urn comportamento ou dos temporal da causa em rela9ao ao efeito, enquanto a ca9ao da tecnica de aleatorizapio, a qual constitui
comportamentos que se registam numa ou varias segunda assegura ao experimentador que as varia- 3.2. Experimentafiio: nOfoes gerais o aspecto mais saliente da concep9ao con tempo-
situa90es recorrentes. Esta fase constitui ja 0 pri- 90es da variavel dependente registadas sao devidas ranea da experimenta9ao. Se 0 tratamento tiver sido
meiro pas so de uma pesquisa que posteriormente aos val ores tornados pela variavel independente e Aleatoriza~ao e erro experimental atribufdo aleatoriamente as duas unidades experi-
teni como objectivo a identifica9ao dos factores nao a caracterfsticas dos objectos sobre os quais Na sua forma mais elementar, uma experiencia mentais, isto e, se cada unidade experimental tiver
e dos mecanismos que intervem na Produ9ao do sao registadas essas varia90es. Do ponto de vista consiste na apIica9ao de urn tratamento experi- igual probabilidade de receber 0 outro tratamento,
ou dos comportamentos observados. As varia90es do modelo estatfstico, a independencia dos trata- mental a uma de duas unidades experimentais, as supondo que, a partida, 0 experimentador nao dis-
de comportamentos registadas entre as diferentes mentos e dos objectos aos quais estes sao admi- quais sao em seguida comparadas, a fim de avaliar pOe de qualquer informa9ao a respeito das caracte-
situa90es em que estes sao observados a partida nistrados assegura que a experiencia efectivamente a diferen~a introduzida entre elas pela aplica9ao rfsticas de cada unidade experimental, a probabili-
constituem frequentemente uma fonte de infor- realizada pade ser considerada como uma amostra desse tratamento. A essa diferen9a chama-se 0 dade de este atribuir erroneamente ao tratamento
ma9ao capaz de conduzir 0 pesquisador a formu- de uma popula9ao de experiencias, 0 que constitui efeito do tratamento. Urn tratamento experimental experimental diferen9as existentes entre estas an-
la9ao de hipoteses respeitantes a interven9ao de uma condi~ao indispensavel para urn caJculo ade- consiste numa aC9ao ou urn conjunto de aC90es tes da aplica9ao do tratamento sera tao pequena
determinados factores na produ9ao do ou dos quado do erro afectando 0 conjunto das observa- deliberadamente exercidas pelo experimentador quanta passfve\. E claro que esta garantia relativa
comportamentos a estudar. Por seu turno, estas 90eS. Ora, gra9as a urn planeamento apropriado da sobre as unidades experimentais ou sobre as con- e insuficiente para servir de base a conclusoes por
hipoteses levarao a realiza9ao de estudos experi- colheita dos dados, nao so e posslvel, em muitos di90es da experiencia. Por razoes que mais adiante parte do experimentador. A este interessa, antes de
mentais tendo por objectivo, numa primeira fase, casos, medir num estudo observacional as varia- serno expostas, nem diferen9as entre as unidades mais, avaliar 0 grau de certeza das suas conclu-
confirmar 0 papel desempenhado pelos factores veis independentes de tal modo que a precedencia experimentais que nao resultam da interven9ao sOes. A atribui9ao aleatoria das unidades experi-
considerados e, numa fase posterior, medir os temporal dos valores destas em rela9ao aos da va- do experimentador, como 0 sexo ou a idade dos mentais aos diferentes tratamentos cria justamente
efeitos destes a fim de chegar a urn modelo pre- riavel dependente seja assegurada, 0 que acontece indivfduos, nem as que resultam de aC90es invo- as condi90es necessarias para que nao so 0 grau de
ciso das determina90es do comportamento origi- quando se efectuam observa90es diacronicas , luntariamente exercidas por este, constituem tra- certeza das conclusoes extrafdas pelo experimenta-
nariamente considerado. como tambem e possfvel organizar a recolha destas tamentos experimentais, mesmo quando essas dor seja 0 mais elevado possfvel, como tambem
de tal maneira que 0 erro que as afecta possa ser diferen9as sao explicitamente consideradas pelo toma viavel avaliar esse grau de certeza.
3.1 . Estudos observacionais estimado sobre a base dos mesmos modelos esta- experimentador enquanto factores susceptfveis de Gra9as a aleatoriza9ao, as observa90es efec-
tfsticos que os apIicaveis a observa90es experimen- afectar 0 resultado de uma experiencia. A apJica- tuadas estarao protegidas contra djstor~oes sis-
Con vern desde ja excluir a ideia segundo a qual tais nao independentes. 9ao de urn tratamento experimental a uma unidade tematicas ligadas as caracterfsticas intrfnsecas
a observa9ao constituiria uma forma menos rigo- Eprecisamente a aplica9ao da teoria dos pIanos constitui urn ensaio e a realiza9ao de urn ensaio da das unidades experimentais, e poderao constituir
rosa da experimenta9ao. Observar nao consiste experimentais a situa90es de recolha de dados totalidade dos tratamentos estudados numa expe- a base para inferencias estatfsticas tendo por
em registar sem hipoteses e sem regras aquilo que observacionais que, submetendo os dois procedi- riencia constitui uma replica desta. objectivo medir 0 grau de confian9a que mere-
se passa numa determinada situa9ao. A constru- mentos a exigencias de validade amilogas, permite A experiencia elementar acima descrita im- cern as conclusoes extrafdas dessas observa90es.
9ao das variaveis dependentes obedece aos mes- a elabora9ao de pIanos de colheita de dados obser- plica uma decisao da parte do experimentador Se na experiencia anteriormente considerada
mos princfpios e deve satisfazer as mesmas exi- vacionais autorizando uma interpreta9ao causal, quanto a escolha da unidade experimental a qual tfnhamos uma probabilidade de 0,50 para que a
74
..
75

unidade experimental favorecendo eventualmente casuais, como a ordem de chegada dos sujeitos ao s da aplica~ao dos tratamentos e 0 erro experi- Em numerosas situa~oes praticas, a dura~ao
o efeito da aplica~ao de urn dado tratamento fosse ante ,.. .
laboratorio ou a posi~ao destes numa lista cuja ntal; a outra tecOica conslste em agrupar as UOl- da aplica~ao dos tratamentos experimentais ou 0
efectivamente atribufda a esse tratamento, se reali- ordem nao foi aleatorizada previamente. Uma tira- me experimentals
dades . antes da ap I'lca~ao
- dos trata- grande numero destes torna impossfvel a realiza~ao
zannos uma replica da experiencia com novas gem aleatoria implica a realiza~ao de uma opera- ntoS em blocos de unidades semelhantes, de tal de uma replica completa da experiencia num pe-
unidades experimentais a probabilidade para que ~ao ffsica garantindo uma igual probabilidade de me do que cada replica seja efectuada sobre un ida- rfodo de tempo suficientemente curto para que seja
esse facto se produza nas duas replicas baixa para ocorrencia dos acontecimentos possfveis, procedi- :~ experimentais menos heterogeneas, limitando mantida uma normaliza~ao suficiente das condi-
0,25, e, se realizannos cinco replicas, ela e apenas mento diffcil de por em pratica excepto nos casos des te modo a contribui~ao das diferen~as entre as ~6es de aplica~ao dos tratamentos. A solu~ao desta
de 0,03. Por isso, quando as unidades experimen- mais simples, e cujos resultados estao justamente nidades experimentais para 0 erro experimental. dificuldade reside na constitui~ao de blocos com-
tais sao atribufdas aleatoriamente aos tratamentos, registados nas tabelas. Muitos pIanos experimen- u 0 agrupamento das unidades experimentais em postos por uma parte do numero total de tratamen-
urn dos meios de aumentannos a certeza das nos- tais complexos requerem a realiza~ao de mais de blocos relativamente homogeneos constitui uma tos, escolhidos de tal modo que as diferen~as entre
sas conc1usoes relativas ao resultado de uma expe- uma tiragem, de acordo com determinadas regras solu~ao utiIizavel em todos os casos em que dife- os tratamentos que constituem 0 centro de interes-
riencia consiste na realiza~ao de numero crescente precisas. Antes de utilizar este tipo de plano, deve ren~as importantes entre as unidades experimen- ses da experiencia sejam calculadas no interior dos
de replicas. A medida que formos realizando no- o experimentador estudar cuidadosamente estas tais ou entre as condi~6es de administra~ao dos blocos, e as diferen~as menos importantes sejam
vas replicas, a diferen~a observada entre as unida- regras, que podera encontrar, por exemplo, no c1as- tratamentos, cujo efeito e pertinente para os objec- confundidas com as diferen~as entre os blocos. Esta
des experimentais que recebem 0 tratamento e as sica Experimental Designs (Cochran e Cox, 1952). tivos da experiencia, podem ser determinadas. tecnica, chamada confusdo (confusao de efeitos
outras vai tender para urn dado valor, em torno do Assim, por exemplo, urn dado metoda de ensino experimentais e de diferen~as entre blocos de un i-
qual se distribuem os valores observados. A varia- Tecnicas de redu~ao do erro experimental deve ser comparado com urn outro, utilizando dades experimentais), e relativamente pouco usada
~ao das observa~6es em torno desse valor constitui A unica fonte de erro experimental que encara- para isso efectivos escolares disponfveis em esta- na experimenta~ao em psicologia social, apesar das
o erro experimental. mos ate aqui reside na heterogeneidade das unida- belecimentos diferentes. 0 agrupamento em blo- suas vantagens evidentes num terreno caracterizado
o objecto dos metodos de inferencia estatfstica des experimentais. Oeste modo, 0 unico metoda de cos dos alunos provenientes de urn mesmo esta- pela complexidade dos tratamentos experimentais e
consiste precisamente em obter estimativas do va- redu~ao do erro experimental que fomos levados a belecimento eliminara do erro experimental os pela heterogeneidade das unidades experimentais
lor do erro experimental e, dada essa estimativa, mencionar consiste na realiza~ao de urn maior nu- efeitos de diferen~as de nfvel escolar, motiva~ao, (indivfduos ou grupos de indivfduos) estudadas.
determinar a probabilidade de ocorrencia de uma mero de replicas. Se as unidades experimentais sao ou habitos de aprendizagem entre os alunos dos o agrupamento das unidades experimentais em
diferen~a entre unidades experimentais tao grande fortemente heterogeneas, como e geralmente 0 caso diferentes estabelecimentos. 0 agrupamento e par- blocos homogeneos quanta a uma caracteristica
como a que foi observada quando 0 tratamento na psicologia, 0 ganho de precisao obtido pela mul- ticularmente util num caso que se apresenta com destas constitui uma tecnica que pode ser gene-
aplicado nao exerce qualquer efeito. tiplica~ao das replicas tende a ser pequeno, e urn frequencia na pratica em experiencias nas quais ralizada a duas ou mais caracterfsticas. Assim,
A importiincia crucial da aleatoriza~ao e frequen- grau de precisao suficiente para fornecer uma ga- urn comportamento elaborado do comparsa cons- os indivfduos chamados a participar numa expe-
temente subestimada pelos autores de textos de rantia suficiente a conclusoes por parte do experi- titui 0 tratamento experimental. Neste tipo de riencia podem ser caracterizados simultaneamente
metodologia destinados aos psicologos e ignorada mentador pode exigir a realiza~ao de urn numero experiencia, dados os efeitos de pratica que se pela sua ordem de nascimento na fratria e pela sua
por estes no seu trabalho. Convem sublinhar que os proibitivo destas. Urn outro meio para melhorar a exercem sobre 0 comparsa, uma diferen~a entre as idade. Se a experiencia comporta, por exemplo,
modelos de inferencia estatfstica utilizados na ami- precisao da experiencia torna-se neste caso neces- primeiras unidades tratadas e as tratadas posterior- tres tratamentos experimentais, podemos estrati-
lise dos dados experimentais exigem estritamente sano. Esse meio consiste na explora~ao de conhe- mente torna-se muito provavel. Para alem de uma ficar os indivfduos segundo a sua ordem de nasci-
urn tal procedimento enquanto condi~ao de vali- cimentos do experimentador relativos as unidades escrupulosa normaliza~ao da tecnica de adminis- mento: primeiro, segundo, terceiro e posterior ao
dade das conc1usoes tiradas. Com efeito, e a alea- experimentais obtidos antes da aplica~ao dos trata- tra~ao dos tratamentos experimentais, 0 experimen- terceiro nascimento, e, de novo, estratificar cada
toriza~ao que pode garantir nao so a independencia mentos. Este princfpio constitui 0 fundamento de tador pode obter ganhos de precisao substanciais urn destes tres grupos segundo a idade dos indivf-
das observa~6es como tam bern a homogeneidade duas tecnicas cujo objectivo consiste em aumentar por meio do agrupamento das replicas em fun~ao duos, por exemplo, menos de trinta anos, mais de
do erro experimental, isto e, a comparabilidade das a precisao de uma experiencia sem multiplicar 0 nu- da ordem de administra~ao. Oeste modo as dife- trinta e menos de sessenta anos, mais de sessenta
diferentes condi~6es experimentais. Do ponto de mero de replicas. Uma dessas tecnicas, a analise de ren~as entre as replicas realizadas em perfodos di- anos. Os tratamentos serao aplicados aos nove
vista pnitico, a atribui~ao aleatoria das unidades co-variancia, utiliza urn processo de ajustamento ferentes serao adicionadas as diferen~as entre os grupos assim constitufdos, de tal modo que cada
experimentais devera ser feita por meio de tabelas dos efeitos dos tratamentos experimentais por meio blocos em que foram agrupadas as replicas, em vez tratamento seja aplicado uma so vez a cada grupo
de numeros ou de permuta~6es aleatorias, e, em de coeficientes que traduzem a rela~ao entre certas de contribufrem para aumentar 0 erro experimen- de indivfduos caracterizados por uma dada ordem
caso algum, por meio de decis6es aparentemente caracterfsticas das unidades experimentais medidas tal, 0 qual condiciona a precisao da experiencia. de nascimento e uma dada idade.
• 77
76

Este tipo de agrupamento e chamado urn qua- ou a compreensao dos objectivos do experimen- experimentador, deve afectar a manifesta~ao de urn Num grande numero de casos, porem, ele esta
drado latino, e a sua generaliza~ao a urn agrupa- tador pelos sujeitos. deterrninado fenomeno. Quando a teoria a qual 0 interessado em avaliar os efeitos de mais de urn
mento segundo tres caracterfsticas das unidades Por vezes, a normaliza~ao das condi~6es objec- experimentador se refere constitui uma descri~ao factor. Nesse caso, 0 experimentador pode esco-
experimentais constitui urn quadro greco-Iatino. tivas pode opor-se a normaliza~ao das condi~6es do real em termos quantitativos, os diferentes trata- Iher entre a realiza~ao de experiencias diferentes
Estes tipos de agrupamento sao, por vezes, utiliza- subjectivas: instru~6es identicas para todos os su- mentoS experimentais podem corresponder, por para avaliar 0 efeito de cada factor, ou encarar
dos na experimenta~ao em psicologia, a fim de eli- jeitos, fomecidas, por exemplo, por meio de grava- exemplo, a doses variaveis de urn determinado in- a possibilidade de aplicar a cada unidade experi-
minar distor~6es sistematicas Iigadas a ordem de ~6es, nao garantem, e podem por vezes impedir, grediente administrado as unidades experime~~is, mental rnais de urn tratamento, reunindo nurna so
aplica~ao dos tratamentos experimentais em expe- uma identica compreensao dessas instru~6es por ou, mais frequentemente, a aspectos das condl~oes experiencia os diferentes factores experirnentais
riencias nas quais mais de urn tratamento experi- parte de cada urn destes. Neste caso, convem, em da experiencia que variam quantitativamente nas cujos efeitos Ihe parecem dever ser elucidados.
mental e aplicado a cada unidade experimental. geral, tentar a normaliza~ao das condi~6es subjec- diferentes situa~6es experimentais, como 0 grau As experiencias nas quais rnais de que urn trata-
Paralelamente a heterogeneidade das unidades tivas, tendo, no entanto, presente que, quando isto de intensidade com que urn determinado estfmulo mento experimental e aplicado a cada unidade sao
experimentais, duas outras Fontes contribuem e feito, 0 plano experimental deve comportar meios e apresentado aos sujeitos, ou 0 nfvel de comple- chamadas multifactoriais. Este tipo de experiencia
significativamente para a grandeza do erro experi- que permitam avaliar 0 grau de validade da ma- xidade de uma mensagem que lhes e dirigida. permite avaliar, paralelamente aos efeitos de cada
mental: 0 erro de medida presente nas observa- nipula~ao experimental dos factores subjectivos. Noutros casos, a teoria refere-se a aspectos factor, os que resultam da cornbina~ao de dois ou
~6es efectuadas e as varia~6es involuntariamente De urn modo geral, esta o~ao implica a realiza~ao qualitativos do real, e cada situa~ao experimental rnais factores. 0 efeito especffico da combina~ao de
introduzidas pelo experimentador na aplica~ao de tratamentos experimentais especificamente con- realiza uma determinada modalidade de uma rnais de urn factor experimental e chamado efeito
dos tratamentos. cebidos para este fim. 0 simples questionano pOs- no~ao teorica que comporta aspectos qualitati- de interacriio, enquanto 0 efeito diferencial da apli-
Como ja tivemos ocasiao de ver anteriormente, -experimental, muitas vezes usado para avaliar do vamente diferenciados. Assim, uma mensagem ca~ao dos diferentes nfveis de urn factor, quaisquer
o processo de medi~ao contribui com uma certa grau de sucesso deste tipo de interven~ao, esrn su- pode ser proposta a urn grupo de sujeitos como que sejam os de outros factores presentes na expe-
dose de variabilidade na avalia~ao das grandezas, jeito a distor~6es importantes ligadas a necessidade reflectindo a posi~ao de urn grupo maioritirio em riencia, e chamado efeito principal desse factor.
a qual e tanto menor quanta a medida utilizada de coerencia da parte dos sujeitos, os quais tendem rela~ao a determinada questao e ser proposta a urn Urn efeito de interac~ao de dois factores e re-
possuir urn grau de fidelidade mais elevado. a dar ao questionano respostas inspiradas da sua outro grupo de indivfduos como reflectindo uma gistado cada vez que 0 efeito de urn determinado
Assim, urn dos modos de aumentar a precisao de representa~ao normativa da experiencia e do papel posi~ao minoritana. factor nao eidentico em cada nfvel de urn outro fac-
uma experiencia consiste em aperfei~oar as ope- que julgam desempenhar nesta. o conjunto dos tratamentos experimentais que, tor aplicado em combina~ao com aquele. Se, por
ra~6es de medi~ao, de maneira a melhorar a fide- de acordo com a hipotese formulada pelo expe- exernplo, nurna determinada experiencia, diferen-
lidade das medidas estudadas. Tratamentos e facto res experimentais rimentador, exercem efeitos discriminavelmente tes recornpensas forem oferecidas pelo experi-
Por maior que seja 0 cuidado com que 0 expe- No caso mais elementar, a teoria posta a prova diferentes sobre as unidades experimentais atraves mentador quando os sujeitos executam urna dada
rimentador procede a realiza~ao dos ensaios, di- pelo experimentador Iimita-se a postular que urn de urn mecanismo unico, quantitativamente ou resposta, e essas recornpensas oferecerem valores
feren~as na aplica~ao dos tratamentos de uma re- determinado tratamento experimental exerce urn qualitativamente caracterizado, e chamado urn diferentes para os sujeitos de sexo masculino e fe-
plica para outra tendem a produzir-se. No caso da efeito. Nestas condi~6es, 0 experimentador lim i- factor e os diferentes tratamentos experirnentais minino, a probabilidade de execu~ao dessa respasta
experimenta~ao em psicologia social, em que urn tar-se-a a aplicar 0 tratamento em questao a urn que 0 constituem sao chamados os niveis desse dependera nao so das recornpensas oferecidas, e
grande numero de unidades experimentais sao grupo de sujeitos, abstendo-se de 0 aplicar a urn factor, quer eles sejarn quantitativa ou qualitativa- eventualrnente do sexo dos sujeitos, mas tambern
tratadas sucessivamente por urn mesmo experi- outro grupo. Este ultimo grupo, chamado por vezes mente distintos. 0 efeito de umfactor corresponde, da combina~ao de urna determinada recornpensa
mentador e nas quais comparsas deste tern papeis grupo controlo, servira de termo de compara~ao pois, as diferen~as criadas entre as unidades expe- e do sexo dos sujeitos aos quais esta e oferecida.
predeterminados a desempenhar no contexto destinado a por em evidencia a diferen~a introdu- rimentais as quais foram aplicados os tratarnentos Assirn, quando 0 experirnentador detecta urn efei-
experimental, e necessario urn cuidado extremo zida pelo tratamento experimental. No entanto, no que constituem os diferentes nfveis desse factor. to de interac~ao de dois ou rnais factores, e levado a
na normaliza~ao das condi~6es de aplica~ao dos caso mais comum, os tratamentos experimentais conduir que a ac~ao exercida par cada urn deles nao
tratamentos. Estes cuidados devem incidir nao so cujo efeito se pretende avaliar numa dada pesquisa Experiencias multifactoriais: e independente da exercida pelos outros, nao po-
s6bre os factores objectivos de heterogeneidade tern entre si uma rela~ao logica mais ou menos efeitos aditivos e interac~oes dendo 0 efeito total dos diferentes factores ser obti-
- instru~6es, material, interven~6es dos compar- explfcita, a qual deriva do facto de que cada trata- Na experiencia elementar que consideramos do pela simples adi~ao dos efeitos de cada urn deles.
sas - mas tam bern sobre os factores subjectivos, mento experimental realiza concretamente uma das a~e este ponto, 0 objectivo do experimentador con- Interessa neste caso considerar 0 efeito exercido
como 0 c1ima social da aplica~ao dos tratamentos condi~6es que, segundo a teoria posta a prova pelo Slste em avaliar 0 efeito de urn dado factor. por urn determinado factor a cada urn dos nfveis
to
78 79

dos outros factores presentes na experiencia. interessado no estudo simultaneo de dois ou mais diferen~as entre g~pos de tratamentos que_Ievam ~ao com coeficientes polinominais ortogonais e
A este efeito e dado 0 nome de efeito simples do factores. tecnicas de analise de dados discutiveis e definir compara~oes ou contrastes que nao cor- aplica~ao it variaveldependente de transforma~6es
factor. E possfvel, em geral, calcular os efeitos interpreta~6es erroneas de resultados experimen- a spondem a efeitos de interac~ao tal como estes matematicas constitui, em geral, urn auxilio inter-
simples. tanto principais como de interac~ao, cha- tais sao extremamente frequentes em trabalhos pu- r:o habitualmente definidos. As compara~6es a pretativo precioso. As transforma~6es da escala de
sa .
mados respectivamente efeitos simples principais blicados. A fim de evitar estas dificuldades e indis- efecW ar sao eVldentemente
. as. que correspondem
_ a medida das observa~6es tern sido largamente apli-
e efeitos simples de intera~iio. Quando urn factor pensavel uma boa compreensao do significado dos diferen~as teoncamente pertmentes e nao as que cadas na solu~ao deste tipo de problema no quadro
estudado numa experiencia exerce 0 seu efeito in- diferentes valores que caracterizam os resultados dizem respeito a urn modelo estatfstico escolhido dos trabalhos sobre a percep~ao. Convenciona-se,
dependentemente dos valores tornados pelos res- obtidos quando da aplica~ao de pianos multi facto- sobre a base de urn procedimento rotineiro. neste terreno, que, se urn efeito de interac~ao per-
tantes factores, a soma dos efeitos simples desse riais. 0 procedimento frequentemente observado a s problemas de interpreta~ao dos efeitos de siste para alem da aplica~ao it variavel dependente
factor. calculados no interior de cada nfvel dos em artigos publicados. consistindo em efectuar interac~ao sao particularmente complexos em ra- de transforma~6es monotonas, este reflecte uma
outros factores. e igual ao efeito principal desse compara~oes de medias de tratamentos quando zao da variedade das situa~6es nas quais estes se nao Iinearidade da rela~ao entre variaveis depen-
factor. Nao sendo esse 0 caso, aos efeitos simples uma interac~ao e detectada a fim de identificar as manifestam e das causas que Ihes dao origem. dentes e independentes nao imputavel it escolha da
principais de urn dado factor sera necessano juntar «fontes de interac~ao», denota uma interpreta~ao Uma interac~ao tanto pode provir das caracterfsti- medida da variavel dependente. Se urn dos facto-
todos os efeitos simples de interac~ao associados inexacta da n~ao estatfstica de interac~ao e con- cas metricas da variavel observada como da nao res implicados num efeito de interac~ao e quanti-
a esse factor para obter 0 seu efeito principal. duz frequentemente a inferencias infundadas. Urn Iinearidade da rela~ao entre essa variavel e a va- tativo e 0 outro e qualitativo, 0 exame do perfil dos
As considera~6es precedentes permitem indicar efeito de interac~ao e medido por parametros que riavel independente. Certos efeitos de interac~ao resultados do factor quantitativo a cada urn dos
quais as condi~6es mais apropriadas para urn re- provem nao de diferen~as entre tratamentos mas implicam apenas dois factores nao comportando nfveis do factor ou dos factores qualitativos por
curso aos pianos multifactoriais: as fases iniciais da de diferen~as entre diferen~as entre tratamentos , mais que dois nfveis cada urn, outras implicam urn meio de contrastes polinominais ortogonais faci-
elabora~ao de uma quesmo. no decurso das quais caracterizando assim rela~6es entre factores e nao maior numero de factores comportando, por ve- lita em geral a compreensao do fenomeno estu-
numerosas variaveis dependentes e independentes rela~6es entre tratamentos. podendo perfeitamente zes, factores com mais de dois nfveis. Em certos dado, sendo, no entanto, utilizadas, por vezes, tec-
de contomos indecisos sao encaradas enquanto existir sem que para isso seja necessano que exis- casos, os nfveis de urn ou mais factores tern entre nicas de ajustamento mais rigorosas. M. G. Cox
altemativas de formula~ao, constituem 0 domfnio tam diferen~as entre tratamentos. si rela~6es c1aras, constituindo, por exemplo, uma ( 1952) indica sumariamente solu~6es aplicaveis
privilegiado da utiliza~ao deste procedimento. Os efeitos de interac~ao, juntamente com os c1assifica~ao ordinal, noutros casos as rela~6es a este genero de problema.
Ao contrano do que e frequentemente praticado. outros. especificam urn determinado modelo da entre os nfveis sao insuficientemente explfcitas Interac~oes entre factores qualitativos com
as experiencias multifactoriais devem comportar reparti~ao da variancia dos valores observados para autorizarem urn raciocfnio em termos de fac- mais de dois nfveis podem sempre ser reduzidas
numerosos factores, eventualmente relacionados numa experiencia, e e esse modelo. 0 qual inclui tores. como e tipicamente 0 caso de factores cujos a urn conjunto de compara~6es ortogonais de
por interac~6es de primeiro ou segundo grau. cujos os postulados necessanos para que 0 calculo dos nfveis sao c1assifica~6es naturais, como a idade ou diferen~as entre tratamentos, procedimento par-
efeitos sobre urn numero limitado de replicas sao, estimadores dos diferentes parametros possa ser o sexo dos indivfduos. Algumas vezes 0 compor- ticularmente util no caso de interac~oes desor-
deste modo, submetidos a urn primeiro exame. realizado. que e posto it prova. Se 0 efeito de in- tamento observado pelo experimentador e directa- denadas entre factores comportando numerosos
Numa fase posterior, os mesmos factores. suficien- terac~ao observado numa experiencia nao satisfaz mente aquele a cuja teoria se refere, noutros casos, nfveis. Este tipo de procedimento deve ser uti-
temente isolados por meio de uma selec~ao das as exigencias do modelo teorico ao qual 0 experi- porventura os mais frequentes, 0 comportamento lizado com 0 maior cuidado no que respeita it
unidades experimentais. ou reformulados de modo mentador se refere. compete a este transformar os observado e urn mero indicador da variavel teorica inferencia estatfstica, na medida em que, sendo
a nao implicarem rela~6es nao aditivas, serao sub- seus dados a fim de neutralizar o. efeito de interac- visada pelo experimentador e pode ou nao estar particularmente vulneravel it heterogeneidade do
metidos a urn exame mais detalhado tendo em vista ~ao e. correlativamente. modificar 0 seu modelo Iinearmente relacionado com esta. erro experimental, supoe urn controlo rigoroso de
uma elucida~ao mais completa das rela~6es entre a teorico para nele acomodar a transforma~ao efec- A enorme variedade de casos concretamente todos os factores susceptfveis de afectar este em
variavel ou variaveis dependentes e os factores hi- tuada. Nao sendo isso possfve\, convira abandonar encontrados impede de fomecer mais que indi- determinados tratamentos experimentais.
poteticamente implicados na determina~ao destas. o modelo estatfstico comportando 0 efeito de in- ca~6es gerais aplicaveis em muitos desses casos.
Medi~oes repetidas das mesmas
terac~ao e analisar os dados a partir de urn modelo Interac~oes verificadas entre factores quantita-
Interpreta~ao dos efeitos de interac~ao unidades ex peri menta is
estatfstico apropriado ao modelo teorico que se tivos devem levar 0 experimentador a encarar a
Apesar da existencia de uma literatura estatfs- deseja par it prova. Em muitos casos, este novo possibilidade de rela~6es nao lineares entre as va- Do ponto de vista do plano experimental,
tica vastfssima consagrada aos procedimentos a modelo conduz a hipoteses relativas a diferen~as riaveis teoricas ou entre estas e as observa~6es experiencias em que cada unidade experimental e
empregar no caso em que 0 experimentador esta entre tratamentos considerados dois a dois. ou a delas efectuadas. 0 recurso a contrastes de interac- observada mais que uma vez, contrariando 0 prin-
..
80 81

'das para evitar distor~6es sistematicas provoca- Controlo experimental no caso


PLANOS MULTIFACTORIAIS bl par este tipo de dependencia. Estas medidas de medi~oes repetidas das mesmas
A introdu~ao dos pianos multifactoriais no arsenal metodol6gico posto a disposi~ao dos psic61ogos foi sau- d~uzern-se, em geral, pela necessidade de inc1uir unidades experimentais
dada em seu tempo como um progresso capital. Com efeito, 0 usa de pianos multifactoriais leva nao 56 a uma econo- tra plano experimental factores tecnicos suple-
mia consideravel de material experimental - um mesmo numero de unidades experimentais permitindo por a prova no o meio mais simples, e, por vezes, 0 unico apli-
rnentareS , tais como a ordem de ad mmlstra~ao
.. - de
varias hip6teses em vez de uma 56 - mas tambem amplifica consideravelmente 0 valor heurfstico da experimenta~ao.
d terrninado tratamento, anulando deste modo a cave I, consiste em aleatorizar, independentemente
Com efeito, quando os factores experimentais pelos quais 0 experimentador se interessa nao tem efeitos aditivos,
experiencias distintas, estudando cada uma um s6 factor, forneceriam informa~oes aparentemente contradit6rias, earente vantagem do uso repetido das mesmas para cada unidade experimental, a ordem de apli-
ap .,
a partir das quais seria impossfvel, ou, em todo 0 caso extremamente diffcil , deduzir a nalUrezCJ, da rela~ao entre os nidades expenmentals. ca~ao dos diferentes tratamentos aos quais esta
factores estudados. A realiza~ao de experiencias estudando simultaneamente varios factores facilita a identifica~iio u Con vem distinguir dois tipos de experiencia e submetida. Urn exemplo deste procedimento,
dos mecanismos impJicados na intcrdependencia entre os factores estudados, autorizando a reformula~ao da teoria o qual deveria constituir pratica constante, reside
ue daD origem a medi~6es repetidas das mesmas
original em termos tais que os factores cuja nlio dependencia foi experimental mente posta em evidencia venham q . ,
unidades expenmentals: em certos casos, urn na aleatoriza~ao independente para cada inquirido
a ser representados por novas varitiveis, conduzindo a considera~ao de factores independentes .
o paradoxo implicado por esta afirma~iio, segundo a qual convem identificar as interac~oes entre factores para mesmo tratamento e aplicado repetidamente ou da ordem das perguntas que comporta urn ques-
melhor se desembara~ar destas, e apenas aparente. Com efeito, quando isso e possfvel, uma formula~ao te6rica nao perrnanentemente durante urn certo perlodo de tionano. Nestas condi~6es, os efeitos eventuais
comportando efeitos de interac~ao e de longe preferfvel a uma formula~iio que admite numerosas excep~Oes ou casos tempo as mesmas unidades experimentais, sendo da ordem em que cada pergunta e colocada aos
particu Iares , correspondentes a combina~oes especfficas de factores . A existencia de rela~oes aditivas entre as inquiridos sao adicionados ao erro experimental.
o seu efeito repetidamente avaliado; noutros
variaveis primitivas de uma teoria e uma condi~ao importante para que os elementos de conhecimento fornecidos
casos, diferentes tratamentos experimentais sao Na eventualidade mais desfavoravel, 0 aumento
por cada experiencia se adicionem, permitindo deste modo obter 0 resultado esperado da aplica~ao do metodo cien-
tffico - 0 saber cumulativo. De um modo geral, uma teoria comportando rela~oes nao aditivas entre as variaveis que sucessivamente aplicados a uma mesma unidade. do erro experimental pode anular os ganhos em
a constituem pode ser transformada numa teoria expressa por relac;:oes aditivas , ou por meio de transforma~oes da o primeiro caso encontra-se, em geral, quando 0 precisao ligados a utiliza~ao repetida das mesmas
escala de medida das variaveis, ou gra~as a uma conceptualiza~ao apropriada da variavel ou variaveis implicadas . experimentador p6e a pro va hip6teses relativas a unidades experimentais. Urn segundo meio, utili-
di stribui~ao de urn dado fenomeno no tempo, 0 zavel quando 0 numero de tratamentos e reduzido,
cfpio da independencia das observa~6es, nao dife- mais de uma medi~ao de cada unidade experimen- segundo caso quando a razao principal do recurso consiste em construir todas as sequencias pos-
rem das experiencias em que cada unidade con- tal existe indiscutivelmente quando 0 mecanismo a medi~6es repetidas das mesmas unidades reside sfveis da ordem de aplica~ao dos tratamentos ou
tribui para 0 resultado com uma so observa~ao: os que interessa ao experimentador so pode ser estu- no desejo do experimentador de reduzir 0 erro uma amostra representativa destas, e aleatorizar
pIanos de recolha das observa~6es sao identicos dado atraves deste tipo de observa~6es. Urn outra experimental, eliminando deste as eventuais dife- a atribui~ao das unidades experimentais as dife-
em ambos os casos. No entanto, do ponto de vista boa razao para efectuar mais de uma observa~ao ren~as entre unidades experimentais. No primeiro rentes ordens de administra~ao dos tratamentos.
da analise dos resultados, as experiencias em que sobre cada unidade experimental pode por vezes caso, 0 experimentador esta em geral interessado Neste caso, os efeitos ligados as diferentes ordens
cada unidade e observada mais do que uma vez ser a necessidade de abordar processos em que em fenomenos de pratica, fadiga, aprendizagem de aplica~ao nao vern adicionar-se ao erro experi-
obrigam a ajustamentos, a fim de eliminar 0 efeito a variabilidade interindividual dos resultados em ou extin~ao de urn determinado comportamento, mental. A ordem de aplica~ao constituira urn fac-
da nao independencia das observa~6es por meio rela~ao a grandeza dos efeitos experimentais que e e a dependencia estocastica das medi~6es suces- tor suplementar, 0 qual tera tantos nfveis quantas
da co-varicincia, a qual constitui uma medida da posslvel obter nas melhores condi~6es realizaveis sivas constitui justamente 0 objecto que ele se as ordens em que sao aplicados os tratamentos,
liga~ao entre as diferentes series de observa~6es e tao importante que esta op~ao se toma inevitavel. prop6e elucidar. Tecnicas de analise analogas as sendo os efeitos deste factor avaliados separada-
feitas sobre as mesmas unidades. Como todos os No entanto, a razao porventura mais frequente para apropriadas ao estudo de factores experimentais mente. A cria~ao deste novo factor podera ter, no
metodos que implicam ajustamentos das observa- recorrer a observa~6es repetidas das mesmas uni- quantitativos serao neste caso empregues para entanto, consequencias adversas no que respeita
~6es, a analise de dados experimentais nao inde- dades - diminuir 0 numero de unidades experi- descrever e medir essa dependencia. No segundo a precisao da estimativa do erro experimental,
pendentes baseia-se sobre postulados restritivos mentais necessario para por a prova as hipoteses caso, a dependencia estocastica das diferentes a qual pode eventual mente perder em precisao
quanto a natureza do erro experimental e a forma que interessam ao experimentador - nao e, na series de observa~6es constitui urn obstaculo ao o que foi ganho pela inc1usao na experiencia
da liga~ao entre as series de observa~6es . Mau maior parte dos casos, uma boa razao. 0 uso repe- desejo do experimentador de avaliar os efeitos dos do tratamento suplementar. Assim, se 0 efeito da
grado a existencia de modelos de analise impli- tido de unidades experimentais dotadas de memo- diferentes tratamentos, e toma-se necessario urn ordem de aplica~ao dos tratamentos for impor-
cando postulados menos diffceis de satisfazer que ria, fazendo com que 0 resultado de urn determi- planeamento adequado da experiencia, tendo em tante, esta solu~ao sera preferfvel a aleatoriza~ao;
os utilizados num passado recente, este tipo de pro- nado tratamento experimental depend a do ou dos vista 0 controlo experimental dos efeitos da apli- se, pelo contrario, este for pouco importante, esta
cedimento nao deve ser utilizado sem que para isso tratamentos anteriormente aplicados a essa me sma ca9ao de urn determinado tratamento sobre os tra- tecnica podera constituir uma solu~ao menos
existam boas raz6es. Uma boa razao para realizar unidade, obriga a medidas especificamente conce- tamentos posteriormente aplicados. vantajosa que a aleatoriza~ao. Convem, neste
82 83

ponto, estabelecer uma distin-rao entre dois tipos Dada a sua frequente utiliza-rao na experimen_ argumenta-rao por vezes pouco clara, proble- parte urn dia do corpo dos conhecimentos cientf-
de dependencia entre as series de medi-roes efec- ao
ta-r no terreno da psicologia, con vern mencionar numade ordem epistemo
. I"oglca e de ordem etlca.
' . ficos - , mas urn modo especffico de elabora-rao
tuadas sucessivamente: na maior parte das expe- urn procedimento que tern por con sequencia trans_ mastaremOS assim c1arificar as rela-r6es entre estes do saber. Os inqueritos de opiniao, mesmo sendo
riencias deste tipo encontra-se presente urn efeito fonnar uma experiencia comportando medi-r6es Thnis domfnios de JU hn~
. Igamento e es~ar afectados pelas Fontes de erro que se Ihes conhe-
uma pros-
da ordem de apJica-rao dos tratamentos: primeiro, repetidas de uma mesma unidade experimental do tiva das d'Irec-roes
- da evo Iu-rao - em cad a urn cern, sao preferfveis, do ponto de vista cientffico,
segundo, terceiro, etc., e, simultaneamente, em numa outra produzindo observa-roes independen_ r~tes campos. Com efeito, nao s6 as crfticas diri- aos relatorios de polfcia, por vezes mais verfdicos,
efeito de sequencia destes, urn detenninado tra- tes. Sendo urn mesmo tratamento repetidamente ~das apsicologia social tocam muitas vezes aque- porque os primeiros autorizam compara-r6es de
tamento pode ser precedido por uma detenninada aplicado as unidades experimentais e 0 resultado f's pontos que constituem as dificuldades mais dados normalizados em lugares e epocas distintas,
sequencia de outros tratamentos; enquanto a medido ap6s cada aplica-rao, 0 experimentador cal- .e portantes com as quais se defrontam as op-r6es que os segundos nao pennitem.
aleatoriza-rao adiciona ao erro experimental estas cula a frequencia com a qual detenninado compor- 1metodol6gicas, mas tamb'em as d ' - tomadas
eClsoes
duas Fontes de varia~ao dos resultados, a tecnica tamento foi observado, ou 0 valor medio de deter- m 10 investigador no que respeita a metodologia 4.1 . Banalidade e facticidade
de constitui-rao do conjunto das ordens de admi- minada grandeza medida ap6s cada aplica-rao do ~nstituem uma escolha implfcita entre orienta-r6es
nistra-rao possfveis pennite avaliar separada- tratamento, submetendo, em seguida, a analise epistemol6gicas globais. As objec<;oes mais frequentemente dirigidas
mente os efeitos de ordem e os efeitos Jigados estatfstica os valores assim obtidos. Em geral, este Ao longo deste capftulo esfor<;<lmo-nos por real- contra a psicologia social dizem respeito ao carac-
a sequencia. procedimento tern por objectivo aumentar a fideli- <;ar a unidade da elabora-rao te6rica e ~~todol~­ ter banal das hipoteses elaboradas neste campo e
Na maior parte das situa-r6es pniticas, 0 mlmero dade das observa-r6es, partindo do princfpio de que gica. Os obstaculos de natureza metodologlca mals a facticidade das observa<;6es que sao efectuadas
de tratamentos torna impossfvel a administra-rao perturba-r6es fortuitas que afectam a medida efec- importantes a transpor pelo investigador reflectem, com 0 fim de as validar. Certos crfticos, porven-
destes em todas as sequencias possfveis. Tres trata- tuada em detenninados ensaios sao anuladas por muitas vezes, insuficiencias ou deficiencias dos tura mais acertadamente, notam que 0 processo de
mentos podem ser aplicados em seis ordens dife- outras perturba-r6es fortuitas de sinal oposto afec- modelos te6ricos e talvez nao seja infundado pen- elabora<;ao do conhecimento e, neste campo, par-
rentes, quatro tratamentos em vinte e quatro ordens tando outros ensaios. Na medida em que este pos- sar que algumas das objecr;oes eticas aexperimen- ticularmente pouco cumulativo, parecendo a evo-
e cinco em cento e vinte ordens. Assim, 0 experi- tulado e satisfeito pelas condi-roes experimentais, ta~ao neste terreno estao tambem enraizadas em lu-rao da tematica vogar mais ao sabor de mod as
mentador e obrigado, na pnitica, a utilizar uma sera de facto este 0 resultado obtido. Assim, antes suposi<;6es teoricas discutfveis . A metodologia da que navegar com urn rumo c1aramente tra-rado.
amostra do conjunto das sequencias possfveis. Se de tomar a decisao de tratar este tipo de dados em psicologia social nao pode constituir apenas uma Note-se, em primeiro lugar, que hip6teses ba-
bern que esta amostra possa ser constitufda por vez das observa-r6es originais, toma-se necessario caixa de ferramentas onde cada urn vern buscar 0 nais e conhecimento nao cumulativo sao duas faces
meio de tiragem aleat6ria, 0 metodo geralmente examinar estas ultimas a tim de detenninar se estao instrumento que Ihe parece proprio para resolver de uma mesma medalha. Sendo 0 saber pratico
utilizado consiste em escolher propositadamente as ou nao livres de varia-roes sistematicas no tempo, urn problema teorico fonnulado em termos quantas pouco cumulativo e de diffcil generaliza<;ao, a par
sequencias que tern como propriedade 0 facto de, denotando uma heterogeneidade dos mecanismos vezes irredutfveis a qualquer especie de vaJida<;ao deste desenvolve-se uma indagar;ao norteada por
no conjunto das replicas efectuadas, urn detenni- que intervem na produ-rao do comportamento empfrica. Do mesmo modo que as hipoteses expli- princfpios diferentes daqueles em que ele se funda-
nado tratamento ser aplicado em cada ordem urn observado. Os procedimentos aplicaveis a este tipo citamente formuladas pelo investigador, as tecnicas menta. Esta indaga<;ao leva a conhecimentos que,
mesmo numero de vezes e ser precedido por cada de exame sao amilogos aos indicados para por a utilizadas e os modelos que Ihes servem de justi- permitindo uma descri-rao cada vez mais fina e
urn dos oUlros tratamentos urn mesmo numero de prova a existencia de varia<;6es sistematicas asso- fica~ao, incluindo as suposi<;6es implicitamente mais parcimoniosa do real, conduzem, por seu
vezes. Este tipo de procedimento, chamado qua- ciadas aos nfveis de factores quantitativos. implicadas por estes, sao postos a prova dos factos, turno, a urn afastamento progressivo das concep-
drado latino, pennite avaliar, paralelamente aos experimentais ou nao. Nao existem escolhas meto- -r6es naturais relativas a este e levam, portanto, a
efeitos dos tratamentos, 0 efeito da sua ordem de dol6gicas absolutamente preferfveis a outras, mas formular hipoteses cada vez menos banais. Que, na
4. Prohlt·llla ... t''''pt'dfico ...
aplica-rao e as diferen-ras entre as sequencias em
cia t'"pt'rimt' nta~'ao tiio-somente escolhas melhores que outras dentro psicologia social, tal nao suceda com a frequencia
que estes foram aplicados. Se estes dois efeitos sao de um detenninado quadro global, 0 qual nao e desejavel, significa, portanto, que devemos inter-
t'1ll ... t'rt· ... hl1ll1ano~
importantes relativamente adiminui-rao de precisao nem mais nem menos valido que urn outro, mas rogar-nos quanta as raz6es que tomam diffcil a
da estimativa do erro experimental que a introdu- Nao sera, sem duvida, este 0 quadro mais apro- simplesmente preferfvel por conter em germe pos- acumula-rao de conhecimentos nesta area. Contra-
r;ao do quadrado latina acarreta, este procedimento priado para uma discussao aprofundada dos meri- sibilidades de desenvolvimento superiores as deste. riamente a uma opiniao por vezes expressa, a expli-
pennite a realiza-rao de uma experiencia mais efi- tos e dos resultados da psicologia social experi- Nao e 0 caracter verfdico dos conhecimentos que ca-rao do camcter fracamente cumulativo do co-
caz do que a que seria obtida pela simples alea- mental. Convem, no entanto, pelo menos, esb~ar Confere a estes 0 estatuto de conhecimento cientf- nhecimento psicossocial nao reside na dificuldade
torizar;ao da ordem de aplica-rao dos tratamento. as grandes linhas de uma problematica que abarca, fico - as hipoteses rejeitadas pela ciencia fizeram em reproduzir resultados anteriormente obtidos.
85
84

Replicas exactas de expenencias sao relativa- xima~oes entre modelos correspondentes a feno- . _ s experimentais basicas para 0 estudo de geral sobre dissimula~oes ou enganos. constituem
mente raras, mas, quando efectuadas, sao geral- menos diferentes. sltU:~:omeno. constituindo por assim dizer «pre- o fundamento da maior parte das objec~Oes de
mente coroadas de sucesso. 0 mesmo nao pode Esta dificuldade, por vezes reconhecida na Iite- cad _ s» tendo por objecto a sua produ~ao em caracter etico a psicologia social.
dizer-se das chamadas replicas conceptuais, nas ratura (Carl smith , Ellsworth e Aronson, 1976), Parar;oe . .
. QeS normalizadas. parece constttUtr uma A objec~ao de facticidade comporta sentidos
d
con Ir; , t..-" d' multiplos e tanto pode visar os estudos experi-
quais realiza~Oes concretas diferentes dos mesmos ilustra 0 paradoxo do pensamento cientffico, deba- . ~ cia inevitavel. No entanto, e tamut;m m IS-
eXlgen . . I' mentais como os observacionais, se bern que essa
conceitos teoricos sao experimental mente postas tendo-se com problemas analogos aos que con- pensavel reconhecer que os mecantsmos Imp Ica-
a prova. Neste caso, nao so as tentativas se tomam frontam 0 pensamento natural, e revela 0 caracter r um determinado comportamento devem objecqao tenha sido sobretudo avan~ada em rela-
~s~ . . d ~ao a investiga~oes experimentais. Num primeiro
mais frequentes como, por vezes, nao reproduzem intuitivo da reflexao teorica dominante na psicolo- conceptualizados no mtenor esse contexto e
os resultados originalmente observados. gia social. Ultrapassar este nfvel de reflexao obriga ser I'
. licam nfveis de exp Ica~ao - d·1.'
herentes dos I.'10r- sentido. esta em causa a possibilidade de observar,
Imp . I - . t' d experimental mente ou nao. seres humanos sem
A razao pela qual as replicas conceptuais sao, a distinguir as variaveis dependentes e indepen- necidos pelas mantpu a~oes expenmen al.s 0 c~n-
no entanto, relativamente raras e a mesma que as dentes susceptfveis de serem estudadas fora de urn to em que sao observados. As mantpula~oes que os seus comportamentos que constituem 0
tex rimentais levadas a cabo num determma ' d0 objecto da observa~ao sejam afectados pelo facto
condena, por vezes, ao fracasso. As realiza~Oes contexto global das que exigem a considera~ao pe
concretas das variaveis dependentes e indepen- deste, e obriga tambem a reconhecer que 0 con- ex . I" d
contexto sao necessanamente Imlta as em exten- de estes se saberem objectos de observa~ao. Esta
dentes estudadas numa determinada experiencia texto global, geralmente normativo, faz parte da sao e em interpretabilidade. Com efeito, por urn preocupa~ao incide sobre varios aspectos, que vao
encontram-se embebidas num contexto global, 0 defini~ao das variaveis, devendo ser como estas . lado. sao limitadas em muitos casos por exigencias desde a possibilidade de urn efeito global da situa-
qual condiciona a representa~ao da situa~ao expe- objecto da reflexao teorica e dj;! varia~Oes experi- praticas ou por razoes de etica. por outro lado, a ~ao de observa~ao - 0 comportamento do sujeito
rimental que 0 sujeito e levado a elaborar a partir mentais ou de observa~Oes diferenciais. N~Oes sua interpretabilidade e comprometida pela am- observado seria especffico de qualquer situa~ao de
das informa~oes e indfcios fomecidos pelo expe- como conduta agressiva ou altrufsta sao insepara- biguidade que afecta a interpreta~ao de urn dado observa~ao e nao generalizavel a situa~oes nas

rimentador. Outras realiza~oes concretas dos veis de urn contexto que constitui determinados comportamento enquanto resultado de obriga~Oes quais 0 sujeito nao se sente observado - a possi-
conceitos teoricos que a este interessam exigem actos de determinados agentes enquanto realiza- normativas para 0 sujeito. fmplicita ou explicita- bilidade de efeitos de suposi~Oes especfficas do
uma mudan~a completa da situa~ao experimental ~Oes concretas destas n~Oes. Pelo menos tao mente contidas na situa~ao experimental ou sujeito quanto aos factores pelos quais 0 investi-
global, a qual vern alterar os processos de repre- importante como 0 estudo dos factores que contro- enquanto produto de urn mecanismo psicologico gador se interessa. Num segundo sentido. esta em
senta~ao da situarrao utilizados pelos sujeitos . lam estes actos no interior de determinado contexto constitutivo do sujeito. Ora, estes dois nfveis de causa a possibilidade de produzir no quadro expe-
Assim, na replica conceptual, sao ao mesmo e a delimita~ao da extensao do contexto que cons- explicaqao nao devem ser confundidos: enquanto rimental condi~oes capazes de determinar varia-
tempo manipuladas as realiza~oes concretas das titui 0 domfnio de aplica~ao do modelo posto a a explicaqao da ocorrencia de urn dado compor- ~oes de natureza identica as observadas natural-
variaveis que interessam ao experimentador e a prova. Urn passo tao importante como identificar tamento por uma norma presente no guiao expe- mente. Este ultimo ponto foi ja examinado em
interpreta~ao destas pelos sujeitos. Oeste modo, as os factores que fazem com que, num determinado rimental significa simplesmente que 0 sujeito pormenor nas paginas anteriores. tendo sido esbo-
diferentes realiza~oes concretas das variaveis contexto global, a recep~ao de estimula~ao aver- adquiriu. no decorrer da sua socializa~ao. os meca- ~ados os contomos do espa~o teorico capaz de
independentes nao podem constituir varia~Oes siva de ou nao lugar a uma resposta agressiva por nismos de resposta correspondentes a essa norma. expressao experimental valida. 0 primeiro ponto
experimentais facilmente individualizaveis. As parte da vftima sera identificar os contextos globais a sua explica~ao psicologica leva-nos a interrogar- exige urn exame mais aprofundado.
discrepancias eventualmente observadas entre os que afectam a produ~ao desta resposta. A compara- mo-nos sobre os mecanismos de tratamento da
resultados da experiencia original e os das suas ~ao das reac~Oes da vftima de uma rasteira num informaqao e de controlo da actividade impJicados 4.2. A influencia do quadro
replicas nao podem, portanto, ser atribufdas com jogo de raguebi, num jogo de futebol, ou na entrada pelas variaqOes da conduta do indivfduo num con- experimental
certeza a uma variarrao teoricamente interpretavel do metropolitano, explica sem duvida uma parte texto normativo constante.
entre as experiencias, podendo resultar de qual- mais importante das varia~oes destas do que as li- A concep~ao intuitiva dos determinismos psi- o efeito global do processo de observa~ao
quer difcren~a entre os guioes experimentais. mitadas manipula~Oes de variaveis intra-situacio- cossociais. ignorando a distin~ao entre os dois nf- tanto pode afectar os sujeitos experimentais como
Dado 0 caracter global da diferenrra entre as situa- nais realizaveis no estudo das condutas agressivas . veis de explica~ao esbo~ados. da origem a algu- indivfduos observados sem interven~ao do inves-
~oes experimentais, observa~oes discrepantes ten- Nao pretende est a argumenta~ao negar que 0 mas das dificuldades metodologicas com que se tigador, desde que estes saibam que estao a ser
dem a surgir frequentemente, constituindo entao estudo dos factores e dos mecanismos implicados debate 0 psicologo social: facticidade, indu~ao de objecto de observa~ao. Na situa~ao experimental,
obstaculos intransponfveis a uma integra~ao teo- por urn determinado comportamento num deter- respostas. desconfian~a dos sujeitos. Por sua vez. como na de observa~ao, 0 indivfduo assume urn
rica das duas series de observa~oes, tomando im- minado contexto constitui urn objecto de conhe- algumas das soluqOes correntemente utilizadas papel global. 0 qual define as condutas apropria-
possfvel a inferencia teorica que permitiria apro- cimento valido. Antes pelo contrario, a cria~ao de para ultrapassar estas dificuldades. baseadas em das a execu~ao de uma determinada estrategia

86 87

comportamental que parece ao indivfduo adaptada frequente quando a concep~ao teorica leva a cons_ dos no quadro da psicologia sensorial, trans- tratamentos experimentais de tal modo que, du-
as circunstancias. Esse papel nao so con tern truir uma situa~ao experimental como uma minia_ bOra a um terre no caracterizado por medidas de rante os perfodos de interac~ao social nao norma-
implicitamente prescri~oes e proscri~6es como tura de uma situa~ao natural. Na maior parte das fO~ha
co
num terre no balizado por investiga~6es lizada, 0 experimentador ignora a que condi~ao
tambem confere significa~ao as condutas proprias situa~oes naturais 0 comportamento do sujeito eS metricas ou me d·d
I as de processos d '
e memo- experimental pertence 0 sujeito. Praticamente, a
e dos outros agentes e aos diferentes aspectos da consiste, do ponto de vista dos agentes, em toma_ crono . . - d ~ ..
. muito menos sUJeltas a acusa~oes e lactlcl- primeira tecnica consiste em comunicar ao sujeito
rIa, .. _, . .
situa~ao. Do mesmo modo que a pessoa que res- das de decis6es e, dentro da perspectiva miniatu_ dade. A doutnna aqUl prop~st.a, nao so constltUl as instru~6es por meio de documentos escritos
ponde a urn questiomirio pode modular a resposta rista da experimenta~ao, e natural que 0 interesse a protec~ao contra a factlcldade das observa- ou nao, limitando 0 contacto do sujeito com 0
a cada nova pergunta em fun~ao de uma con- do investigador incida sobre os aspectos da tomada u~ s como tambem reduz algumas das fontes de experimentador a recep~ao e instala~ao daquele.
cep~ao global do objecto visado pelo investigador de decisao, os quais constituem as suas dimensoes ~oe d' ·1·
distor~ao frequentemente aponta as a PSICO ogla A segunda tecnica implica que a determina~ao do
construfda passo a pas so a partir das perguntas subjectivamente salientes na situa~ao natural. ocial. Do mesmo modo, 0 recurso a algumas tec- tratamento experimental a apJicar ao sujeito seja
ja conhecidas, 0 sujeito experimental controla 0 Se a facticidade escapa as provas de validade ~icas experimentais de estatuto etico discutlvel, feita depois da recep~ao e instala~ao deste. Em
seu comportamento de modo a fomecer uma ima- interna da medida, 0 processo de valida~ao extema tornado necessario pela natureza do processo de certos casos, 0 experimentador intervem na apli-
gem coerente de si proprio, apropriada a represen- mencionado nurn subcapftulo precedente acabani medida, perde a sua razao de ser, tornando-se ca~ao dos tratamentos e nao pode, portanto, igno-
ta~ao da situa~ao experimental elaborada a partir por detectar, ao pre~o de numerosos ensaios e superfl uo . rar que tratamento sera aplicado a estes . Quando
dos indfcios e informa~oes fomecidas por esta e erros, essa fraqueza de uma medida. A fim de evi- Das duas fontes de distor~ao habitual mente esta situa~ao, potencialmente geradora de distor-
pelo investigador. Este tipo de distor~ao e tanto tar este processo oneroso de valida~ao, convem, consideradas na experimenta~ao psicossocial, in- ~6es, nao pode ser evitada, torna-se indispensavel
mais de recear quanto, contrariamente a distor- pois, a partida, assentar a constru~ao teorica sobre fluencia involuntaria do experimentador (Rosen- recorrer a procedimentos rigorosamente norma-
~6es provenientes de outras fontes, 0 seu efeito e alicerces solidos. A discussao precedente mostra thal, 1966, 1969) e condi~6es indutoras de res- lizados na interac~ao com os sujeitos, utilizando,
de aumentar a fidelidade das observa~6es e nao de que para isso e necessario ultrapassar a concep~ao postas (Orne, 1962, 1969), a doutrina pro posta na medida do posslvel, experimentadores que des-
a diminuir, podendo assim nao ser detectada pelos intuitiva dos modelos teoricos e a perspectiva tende a reduzir a prime ira e a facilitar 0 emprego conhecem as hipoteses em estudo e que, sendo
metodos usuais de avalia~ao da fidelidade das da experimenta~ao enquanto miniatura do mundo dos controlos experimentais destinados a elimi- mantidos na ignorancia dos restantes tratamentos
medidas. social natural. Uma das solu~oes, de limitada apli- nar a segunda. aplicados na experiencia, dificilmente podem infe-
Ede notar que 0 problema da facticidade se pOe cabilidade, consiste na escolha de variaveis depen- Toda a experiencia com seres humanos com- rir estas. Em alguns casos, este procedimento po-
de modo por assim dizer exclusivo no estudo de dentes fisiologicas ou comportamentais escapando porta possibilidades de influencias involuntanas dera exigir mais de que urn experimentador.
respostas implicando uma escolha baseada em cri- ao controlo dos sujeitos. A outra, mais geraimente por parte do experimentador, capazes de afectar
terios subjectivos. Medidas de potencia, como os aplicavel, consiste em formular os problemas teo- as observa~6es a realizar. Este tipo de influencia e 4.3. lndufiio de respostas
testes de inteligencia ou de motricidade, nao sao ricos sobre uma base nao intuitiva, eliminando ou tanto mais provavel quanto 0 contacto pessoal do
em geral criticaveis por factfcias. Medidas que, se reduzindo assim 0 recurso a medidas de criterios experimentador com os sujeitos e mais extenso. A indu~ao de respostas resulta essencialmente
bern que nao constituam testes das aptid6es dos subjectivos de decisao a favor de medidas de po- Nas experiencias de psicologia social, a comple- da elabora~ao pelo sujeito de uma estrategia de
sujeitos, sao interpretadas enquanto medidas de tencia. Pode parecer, a primeira vista, que a mar- xidade do guiao, fazendo muitas vezes intervir, a comportamento tendo por objecto controlar por
potencia, caso dos tempos de reac~ao numa pers- gem de liberdade deixada ao investigador na ela- par do experimentador, comparsas deste, e impli- via do seu comportamento na situa~ao experi-
pectiva de abordagem cronometrica dos processos bora~ao dos seus modelos teoricos sera deste modo cando interac~6es sociais complexas com ambos, mental a interac~ao social com 0 experimentador.
mentais, estao igualmente isentas da acusa~ao de severamente reduzida. Nao e, no entanto, esse 0 cria condi~6es em que este tipo de distor~ao e Essa estrategia pode ter por objectiv~ satisfazer
facticidade. Do mesmo modo, medidas de proces- caso e, ainda que assim fosse, 0 pre~o a pagar naol particularmente de recear. Uma experiencia bern ou contrariar hipoteses que 0 sujeito cre serem
sos escapando ao controlo dos sujeitos normais, seria tao elevado como 0 que e correntemenle conduzida devera, portanto, comportar procedi- as formuladas pelo experimentador, ou comunicar
como os diferentes indicadores fisiologicos de pago pela cria~ao de urn corpo de conhecimentos mentos apropriados para evitar as influencias in- a este uma impressao favoravel de si mesmo.
actividade neurovegetativa, tambem nao sao sus- desconexos e de validade duvidosa. Para escolher voluntarias do experimentador ou dos comparsas Diferentes medidas sao em geral tomadas pelo
peitas de facticidade. Parece, pois, que as acusa- urn exemplo num terre no dos mais propicios a deste, susceptfveis de afectar os resultados. Duas experimentador para neutralizar estas estrategias
~6es de facticidade incidem sobre medidas que se colheita de dados factfcios, a representa~ao pro- tecnicas permitem em geral obter este resultado: dos sujeitos. Estas incluem a dissimula~ao da
baseiam na significa~ao diferencial para os sujei- pria dos indivfduos - Markus (1977) - ilustra a minimizar a interac~ao social nao normalizada situa~ao experimental como tal, a da hipotese vi-
tos das op~6es possiveis de uma tomada de de- elabora~ao de urn modele teorico que, apoiando-se entre 0 sujeito e 0 experimentador ou entre 0 sada pelo investigador ou a da medida da variavel
cisao. Ora este tipo de medida e particularmente sobre modelos de tratamento da informa~ao e1a- sujeito e os colaboradores daquele, e aplicar os dependente. Em alguns casos, 0 experimentador
88

vai ate a cria~ao deliberada de representa~oes fal-


de avalia~ao aplicaveis a experimenta~ao sobre CAPITULO V
sas da situa~ao ou das hip6teses por parte dos
o homem actualmente em curso. Estas crfticas
sujeitos. A introdu~ao no guiao experimental de
incidem com especial acuidade sobre experien_
procedimentos tendo por objectivo enganar os
cias que comportam enganos ou dissimula~oes.
sujeitos, alem de aspectos eticamente discutfveis,
pode ter consequencias negativas no que respeita
Se e certo que, por vezes, parece diffcil Con_ Formo<;oo de impress6es
ceber experiencias sobre 0 comportamento social
a qualidade das observa~oes, suscitando uma ati-
escapando total mente a necessidade de dissimu_
tude de suspeita generalizada ou especffica por
la~ao e de engano, no entanto, esta op~ao naa
parte dos sujeitos, a qual introduz, por seu tumo,
deve ser tomada sem uma avalia~ao cuidados a
distor~oes identicas as que 0 experimentador pro-
das suas vantagens e dos seus inconvenientes Antonio Caetano
curava evitar. As soIU~6es geralmente preconiza-
tanto eticos como cientfficos. Por urn lado, 0 Usa
das para esta dificuldade consistem em revelar ao
de enganos e de dissimula~ao pode ser contrario
sujeito que a experiencia comporta enganos, indi-
a prescri~oes legais relativas a experimenta~ao
cando, por exemplo, que urn falso sujeito, com-
existentes em certos pafses (em muitos casos,
parsa do experimentador, intervem na experiencia,
estas exigem a obten~ao por parte do experimen-
e que sera esse 0 papel do sujeito, quando, na ver- Quando se trata de primeiras impressoe~,
tador de consentimento inform ado escrito dos 1. Introdut;ao
dade, 0 verdadeiro comparsa do experimentador uma componente fundamental dessa orgam-
indivfduos participantes em experiencias, 0 qual
e urn outro indivfduo que 0 sujeito e levado a
deve ser precedido de informa~ao completa por Para cn'armos uma impressiio acerca de outra. za~iio I e a categoria avaliativa. Embora a av~­
tomar por urn verdadeiro sujeito nao informado. lia~ao possa ser de tipo afectivo (gostar / nao
parte do experimentador quanta as modalidades essoa, nao necessitamos, em geral, de mUIta
Se este procedimento indica uma engenhosidade
nota vel por parte dos investigadores, mais nao faz
da experiencia). Por outro lado, a necessidade fnforma~ao. A informa~ao pode obter-se de gostar), moral (born / mau) e inst~umental
de recorrer a simula~ao e a dissimula~iio mais forma directa, atraves da interac~ao, observando (competente / incompetente), a generahdade da
que elevar ao quadrado os inconvenientes eticos
niio faz, em numerosos casos, que traduzir uma 000 mp ortamento verbal e nao verbal, e de forma . pesquisa sobre forma~ao de impr~sso~s tern
e cientfficos dos guioes experimentais, compor-
teoriza~ao superficial, conduzindo a uma expe- indirecta, como, por exemplo, atraves do «OUVlr incidido essencialmente sobre 0 pnmelro e 0
tan do largas doses de enganos e dissimula~ao.
rimenta~ao cuja validade puramente local con- di zer». Contudo, frequentemente, basta-nos segundo tipo. No entanto, a pri~eir~ impress~o
dena a partida toda a possibilidade de desenvol- percepcionar pequenos indfcios do seu .comporta- e mais vasta do que essa pnmelra reac~ao
4.4. Aspectos eticos vimento posterior. Quer isto dizer que 0 criterio mento para rapidamente nos sentlrmos em avaliativa. Efectivamente, a partir do momenta
de avalia~ao principal do procedimento expe- condi~oes de podermos fazer jufzos acerca de em que fica estabelecida a avalia~iio po~itiva ou
No plano etico, a observa~ao de seres huma-
rimental comportando enganos e dissimula~ao uma serie de atributos que, supostamente, carac- negativa, e sem mais informa~ao, sentimo-I) os
nos, durante longos anos praticada em psicologia
deve ser nao 0 interesse que 0 investigador ou terizam essa pessoa. 0 facto de nao termos obser- capazes de fazer inferencias «6bvias» ~c:rca da
geral experimental sem levantar objec~oes de
os seus comanditarios possam ter em verificar vado real mente qualquer desses atributos em inteligencia, da integridade, da ambl~ao, do
maior, tomou-se em tempos mais recentes urn
uma dada hip6tese, mas a contribui~ao para 0 nada abala a nossa convic~iio. E, apesar de uma sucesso profissional, etc., da pessoa em causa.
motivo de crfticas do domfnio da psicologia
processo de acumula~iio do saber que a verifica- pessoa poder revelar caracterfsticas diferentes,?u A facilidade com que se tende a ir alem da
social, antes mesmo da revisao geral de criterios
~iio dessa hip6tese constitui. mesmo contradit6rias, nao hesitamos em cnar informa~ao especffica de que se dispoe revela
del a uma impressiio unificada (Asch, 1946). que esta niio e processada no vacuo e q~~ as pes-
Formar uma impressiio significa orga- soas utilizam as suas estruturas cogmtlvas, ou
nizar a informariio disponfvel acerca de uma esquemas, para a completarem e tomarem coe-
pessoa de modo a podermos integrd-Ia numa rente (Hamilton et al .. 1980). De facto, 0 per-
categoria significativa para nos. cepcionador social apenas consegue decifrar e

urn rocesso de organiza~ao da informa~ao, sendo mais


I Cognitivamente, a «forma~1io de impressoes» e, e acto,
- . d f
p..... 0 art'lgo pl'oneiro de Asch (1946), intitu-
adequada a expressao «orgamza~ao
. - de Impressoes».
. .- No entanto • por re.erencla
._ a .
lado «Forming impressions of personality», a Iiteratura consagrou aquela deslgna~ao.
• 91
90

interpretar os estfmulos verbais e nao verbais mais recentes adoptam, na sua maioria, uma pers- Abordagen~ da forma-;ao de pares de adjectivos opostos e pedir-lhes que,
relativos it outra pessoa, e ao contexto em que se pectiva mista, assumindo que 0 processamento 2. de impresso es a partir da descri~ao inicial, assinalassem nessa
encontram, com base nas estruturas de conheci- pode realizar-se dos dois modos (e . g., Brewer, Iista os adjectivos que, em cada par, melhor
mento que ja possui e que incluem represen- 1988; Fiske e Neuberg , 1989; Hastie et al., 1980; caracterizariam, em seu entender, a pessoa
2.1. Abordagem configuracional
ta~oes de tra~os, de comportamentos, de este- Zebrowitz, 1990). descrita.
reotipos e de situa~oes sociais assim como das Do ponto de vista historico , podem identifi- com base em alguns princfpi~s da psico- Assim, numa primeira experiencia, dois gru-
suas inter-rela~oes. car-se tres grandes perfodos na pesquisa sobre a . da Gestalt, Asch (1946) pos de sujeitos (A e B) ouviram uma !ista de
logla _ . conslderou
_ .que 0
As primeiras impressoes tornam-se impor- informa~ao de impressoes: urn primeiro perfodo rocesso de forma~ao de Impressoes tena urn caracterfsticas, constitufda por sete tra~os, que
tantes porque constituem como que uma grelha entre 1946 e fins dos anos 50, inteiramente p !icter holfstico, ou seja, os tra~os que carac- supostamente descrevia uma pessoa particular.
que permite ao percepcionador filtrar a variabi- dominado pela abordagem «gestalica» ou confi- ., d
car'zam uma pessoa orgamzar-se-Iam etaImod0 A tarefa dos sujeitos consistia em procurar
lidade imensa do comportamento da outra pes- guracional de Asch; urn segundo perfodo entre 0 ten d . I formar uma impressao da pessoa descrita depois
que 0 todo seria diferente a simp es soma
soa e fixar determinados tra~os assumidos como princfpio dos an os 60 e meados dos anos 70, de ouvirem a !ista, a qual era igual para os dois
das partes .
estaveis. Esta estabilidade atribufda permite, basicamente influenciado pela abordagem Dado que a simples observa~ao empfrica grupos, excepto num tra~o, que foi objecto de
por sua vez, percepcionar a coerencia e a conti- «linear» ou de integra~ao da informa~ao desen- Sugere que nem todas as caracte~sticas conhe- manipulayao experimental.
nuidade da pessoa, assim como predizer inclu- volvida por Anderson; e, desde os fins dos an os cidas sobre uma pessoa contnbuem com 0 Lista A: inteligente - habil - industrioso -
sivamente 0 seu comportamento futuro (e . g., 70, entrou-se num novo perfodo em que grande mesmo peso para a forma~ao de impressoes, - caloroso - determinado - pratico - cauteloso;
Schneider et al. , 1979). parte das pesquisas se insere no quadro da abor- Asch (1 946) colocou a hipotese de que algumas Usta B: inteligente - habil - industrioso -
Do ponto de vista teorico, 0 processo de dagem da memoria de pessoas ou cogni~ ao caracterfsticas serao mais centrais enquanto - frio - determinado - pratico - cauteloso.
forma~ao de impressoes tern sido analisado social (e. g., Hastie et al., 1980). outras serao secundarias. Para testar essa Como se ve, a diferen~a esta apenas no facto
essencialmente a partir de duas perspectivas dis- A abordagem «gestalica» supoe que, na for- hipotese, realizou urn conjunto de experiencias de ao grupo A se descrever 0 indivfduo como
tintas relativas ao processamento humano da ma~ao de impressoes, as pessoas integram os com estudantes universitarios. «caloroso» e, ao grupo B, como «frio».
informa~ao: uma construtivista ou de «processa- varios elementos informacionais, reinterpretan- Antes de estudarmos algumas dessas ex- Depois de ouvir a !ista respectiva, cada
men to conceptual mente guiado» e outra associa- do-os, se necessario, de modo a constitufrem urn periencias, vejamos qual a metodologia geral sujeito realizava duas tarefas: a) escrevia um
cionista ou de «processamento guiado pelos todo coerente. 0 significado de cada elemento e utilizada por Asch (1946) no estudo da for- breve comentario sobre a pessoa descrita e b)
dados» 2. Do ponto de vista construtivista, supoe- construfdo em fun~ao das suas rela~oes contex- ma~ao de impressoes. Depois de apresentar aos seleccionava, numa lista constitufda por dezoito
-se que a forma~ao de impressoes e basicamente tuais com os restantes. sujeitos urn conjunto de atributos que suposta- pares de trayos, na maioria opostos, 0 adjectivo
determinada pelas estruturas e pelos processos A abordagem da integra~ao da informa~ao mente caracterizariam uma determinada pessoa, que em eada par mais se ajustava it dimensao
cognitivos e afectivos do percepcionador. Eesta a sustenta que cada elemento de informa~ao tern Asch (1946) utilizou tres metodos distintos para que tinha formado.
orienta~ao predominante nas primeiras experien- urn valor proprio, contribuindo independen- estudar 0 processo de forma~ao de impressoes. Os resultados foram muito claros. As impres-
cias sobre forma~ao de impressoes realizadas por temente, it medida que e conhecido, para a im- Urn desses metodos consistia em pedir aos soes provocadas pela lista A foram, em geral,
Solomon Asch (1946). Segundo a perspectiva do pressao geraJ. A impressao sera 0 resultado da sujeitos que escrevessem algumas aprecia~oes muito mais positivas do que as impressoes face
processamento guiado pelos dados, sao funda- combina~ao dos valores de cada item, sem aeerea da pessoa descrita. A analise do conteudo it lista B, ou seja, «a caracterfstica caloroso-frio
mental mente as caracterfsticas ffsicas e compor- subordina~ao ao contexto. desses comentarios permitia extrair temas produziu diferenyas de impressao notaveis e
tamentais da pessoa-alvo que determinam a pro- A abordagem baseada na memoria de pessoas especfficos , que depois eram comparados com a consistentes» (Asch, 1946, 262). Vejamos, a
du~ao de uma impressao especffica. No estudo procura analisar os processos relativos it aqui - lista-estfmulo inicial. Urn outro metodo, iden- tftulo de exemplo, duas descri~oes represen-
da forma~ao de impressoes , esta abordagem, si~ao , armazenamento e recupera~ao da infor- tieo a este, consistia em solicitar aos sujeitos que tativas de cada grupo.
designada por «linear» ou integra~ao da infor- ma~ao. Formar uma impressao aparece, assim . fi zessem uma Iista de palavras que Ihes oeor- Descriyao feita por urn sujeito que ouviu a
ma~ao, foi sobretudo desenvolvida por N. H. como urn actividade estreitamente dependente ressem a partir dos atributos inicialmente !ista A (<<caloroso»):
Anderson (e. g ., 1965, 1974) . As abordagens destes processos de memoria. analisados , com 0 objectivo de se encontra-
rem temas consistentes con forme 0 grupo dos E uma pessoa que acredita que certas coisas estlio
bem, quer que os outros vejam como ele pensa, e sin-
~ Na literatura angl6fona. estas pcrspectiva~ sao geralmente designadas. respectivamente. como theory -driven . ou sujeitos. Urn terceiro metodo consistia em apre- cero na argumenta'rlio e gosta de ver as suas ideias
TOp-down, e data-driven. ou bottom-lip. senlar aos sujeitos uma lista com urn conjunto vencerem (p. 263).
92 93

Descri~ao feita por urn sujeito que ouviu a Asch (1946) realizou uma outra experiencia, 2. Tanto 0 contelido cognitivo de urn trar;o como 0
lista B (<<frio»): QUADRO I m 0 mesmo padrao, mas, desta vez, a palavra seu valor funcional sao determinados pela relar;1io com
o seu contexto;
CO aIoroso» aparecia integrada numa sequencia
E urna pessoa com talenlO e rnuito arnbiciosa que «C . d . 3. Alguns trar;os determinam 0 conte lido e a funr;1io
Caracteristicas inferidas (percentagens) d quaIidades dlferentes as antenores. de outros trar;os. Aos prirneiros cham amos centrais e
nao adrnite que ninguern se atravesse no seu carninho
para atingir 0 objectiv~ que pretende. Quer as coisas ii
(Adaptado de Asch, 1946) e A lista A era constitufda pelos termos «obe- aos segundos perifericos (p. 270).
sua rnaneira. esta deterrninada a nao ceder, aconter;a 0 diente - fraco - superficial - caloroso - nao
Experiencia 1 Experiencia 3
que acontecer (idem). ambicioso - frfvolo». As experiencias realizadas por Asch influen-
A lista B era constitufda por «frfvolo - astuto ciaram de tal modo 0 primeiro perfodo da
Caloroso Frio Polido Rude
As respostas a lista de tra~os revelaram igual- _ sem escrupulos - caloroso - superficial- inve- pesquisa sobre a forma~ao de impress6es que,
mente muitas diferen~as entre os grupos A e B N=90 N=76 N=20 N=26
joso». ate finais dos anos 50, os estudos efectuados por
(ver Quadro I). Para alguns tra~os, as diferen~as a s resultados mostram que, tanto na situat;ao outros autores (e. g., Kelley, 1950; Luchins,
entre 0 grupo A e 0 grupo B sao extremas. Por Generoso 91 8 56 58 A como, sobretudo, na situa~ao B, «caloroso» 1957) se caracterizam por serem fundamental-
exemplo, na condi~ao «caloroso», 91 por cento Ponderado 65 25 30 50
foi dassificado como uma qualidade completa- mente replicas ou extensoes de algumas dessas
dos sujeitos escolheram «g~neroso» e apenas mente secundana (ou periferica), subordinan- experiencias. Kelley (1950), por exemplo, adap-
Feliz 90 34 75 65
nove por cento escolheram «nao generoso», do-se totalmente ao conteudo de outras quali- tou uma das experiencias de Asch (1946), na
Sociavel 91 38 83 68
enquanto na condi~ao «frio» apenas oito por cento dades consideradas como mais centrais. qual, em vez de utilizar como esnmulo uma pes-
escolheram «generoso» e 92 por cento escolheram Popular 84 28 94 56 Deste modo, pode conc\uir-se que «uma soa fictfcia, apresentou aos sujeitos uma pessoa
o oposto. Diferen~as identicas, e no mesmo sen- Importante 88 99 94 96 qualidade, quando central, tern urn conteudo e real. Kelley informou os alunos que, em virtude
tido, verificaram-se tambem com os tra~os Serio 100
um peso diferente do que quando e subsidiana» de 0 seu professor estar ausente, a aula seria
99 100 100
«ponderado, feliz, afavel, bem-humorado, socia- (p. 268) e determina 0 conteudo e 0 valor orientada por urn outro professor convidado
Forte 98 95 100 100
vel, popular, humano, altrufsta e imaginativo». funcional dos trayos perifericos na impressao para 0 efeito. Antes de este entrar na sala, foi
Contudo, relativamente a outros tra~os nao Honesto 98 94 87 100 total. Asch sublinha que nao se trata de uma fomecida aos estudantes uma curta nota bio-
houve diferen~as entre os dois grupos. Estao neste influencia meramente quantitativa, mas, sobre- grafica acerca do professor. Entre outros aspec-
caso os tra~os «de confian~a, importante, atraente, tudo, de urn processo qualitativo de mutua tos, a nota biografica referia 0 seguinte: «Tern
persistente, serio, calado, forte e honesto». Numa outra experiencia, concebida com 0 influencia dos vanos tra~os (Asch, 1946). Isto 26 anos, e veterano e casado. As pessoas que 0
Assim, Asch (1946) descobriu que, por urn objectivo de anaIisar a influencia de caracterfs- quer dizer que urn tra~o nao tern sempre urn conhecem consideram-no urn indivfduo frio,
lado , «ha caracterfsticas predominantemente ticas secundarias ou perifericas na forma~ao de sentido fixo que entra na forma~ao da im- industrioso, crftico e determinado» (p. 43).
atribufdas a pessoa «calorosa», enquanto os seus impressoes, Asch (1946) substituiu na !ista a pressao. Pelo contrano, 0 seu conteudo pode ser A manipula~ao experimental consistia exac-
opostos sao atribufdos a pessoa «fria» e, por ser ouvida os termos «caloroso» e «frio» por central numa impressao e tomar-se periferico tamente nessa nota biografica. Sem os sujeitos 0
outro lado, ha urn conjunto de qualidades que «polido» e «rude». Os dois grupos deram res- noutra (Asch, 1946). saberem, foram distribuidas nao uma, mas duas
nao e a'fectado pel a transi~ao de «caloroso» para postas muito semelhantes. Perante estes resul- as trat;os nao teriam, pois, urn valor indepen- notas biograficas em tudo iguais excepto na
«frio», ou apenas 0 e «muito ligeiramente» . tados, Asch (1946) conc\uiu que a «mudan~a de dente do contexte onde se inserem, estando, por- palavra «frio», que numa delas fora substituida
Confrontando estes resultados com as hipo- urn tra~o periferico produz urn efeito mais fraco tanto, segundo Asch, sujeitos a uma mudanfa de por «caloroso». Depois da leitura desta infor-
teses inicialmente enunciadas, verifica-se que na impressao total do que a mudan~a de urn significado. ma~ao previa, a pessoa-estimulo entrou na sala
a mudan~a de urn tra~o provocou uma trans- trat;o central» (p. 266) . A partir das vanas experiencias realizadas, e conduziu urn debate com os alunos durante
forma~ao das outras caracterfsticas, alterando Na opiniao de Asch, estas experiencia Asch (1 946) tirou as seguintes conclusoes: vinte minutos, apos 0 que saiu.
assim a impressa,o global. Segundo Asch provam que ha qualidades que sao tomadas Pediu-se entao aos estudantes que exprimis-
(1946), isto sugere que as «caracterlsticas I. Ha urn processo de discriminar;ao entre trar;os sem a sua impressao fazendo uma descriyao
como centrais e outras como perifericas. Colo-
dadas nao tern todas 0 mesmo peso para 0 centrais e perifericos. Nem todos os trar;os ocupam 0
ca-se entao a questao de saber se urn tra~o e cen- mesmo valor na impressao final. A mudanr;a de urn
livre do «professor» e classificando-o numa lista
sujeito» (p . 264), sendo necessario considerar a tral (ou periferico) por si proprio ou se a sua com quinze escalas.
trar;o central pode alterar completamente a impressao,
existencia de qualidades centrais e de qual i- centralidade depende das suas rela~oes contex- enquanto a rnudanr;a de urn trar;o periferico tern urn Os resultados foram identicos aos obtidos por
dades perifiricas. tuais com os outros tra~os. efeito mais fraco; Asch (1946), sendo as descriyoes muito dife-
94 95

rentes consoante os sujeitos tivessem recebido a rosa» e «inteligente», eram capazes de COn_ . as a domfnios que estao fora do seu dade» revelam tambem urn caracter normativo
informa~ao «frio» ou «caloroso». A pessoa foi c1uir que ' essa pessoa possuia tam bern uma elatlV .
(Paicheler, 1984), pois, uma vez estabelecida a
r 0 perceptivo no momento. Asslm, as «teo-
descrita de uma maneira mais favonivel na serie de outras caractensticas como, por exem_ c.acoPiCOplfcitas da personalidade» constituem liga~ao de que, por exemplo, «quem e inteli-
condi~ao «caloroso» do que na condi~ao «frio». plo, «generosa», «sociavel», etc.? Ou seja, como !'las que urn mapa cognitivo interno que, de gente» e «honesto», fica delimitado 0 dominio
Mas, mais curioso e importante ainda, e 0 e que os sujeitos estavam em condi~6es de cocoo . . - t
o coodo, onenta a mterac~ao en re as pessoas dessa regra, ou seja, e assim que «deve sen>,
facto de 0 pr6prio comportamento dos sujeitos realizar tais inferencias a partir de informacrao cert ida quoudlana.
.. ' d'ISSO, ao es t ru t urarem
Al em mesmo, ou principalmente, quando nao se tern
durante 0 debate ter sido bastante diferente, pois tao limitada? na vonjunto de re 1a~oes
- posslvels
, . de uns t ra~os outros dados informativos especfficos sobre a
56 por cento dos sujeitos da situa~ao «caloroso» Segundo Asch, is so era possivel porque, como o c outros as «teorias implfcitas da personali- pessoa.
participaram na discussao com 0 «professor», COCO '
vimos, com base nos tra~os-estimulo iniciais, os
enquanto apenas 32 por cento daqueles que sujeitos criavam uma impressao geral da peSSoa
tinham recebido a informa~ao «frio» 0 fizeram. e era a partir dessa impressao geral que, poste-
ASCH REVISITADO
Segundo Kelley (1950), estes resultados suge- riormente, efectuavam inferencias particulares
A generalidade das experiencias sobre a fonnayao de impressoes, realizadas por Asch e por outros autores,
rem que a mudan~a de «caloroso» para «frio» para cada urn dos outros tra~os. No entanto, esta utilizam, quer como variaveis independentes quer como variaveis dependentes, adjectiv~s ou trayos que tern uma
nao provoca apenas mudan~as ao nivel percep- perspectiva sugere que os sujeitos tomariam con- ferencia abstracta a pessoas completamente descontextuaIizadas. Assim, alguns autores (e. g., Semin, 1989) colo-
tivo, mas tambem ao nivel comportamental. Na tacto com os tra~os-estimulo num vacuo, como se :am a questao de saber ate que ponto as inferencias que os sujeitos efectuam das listas-estrmulo para as listas de
realidade, tanto ao nivel perceptivo como com- nao tivessem quaisquer pre-concep~6es acerca resposta serao resultado de processos efectivamente psicol6gicos ou simplesmente de convenyoes lingufsticas, dado
portamental, os sujeitos foram consistentes com desses tra~os-estimulo nem do modo como estes que as palavras que se utilizam para descrever os atributos tern relayoes ~bstractas, 16gicas e sem~ti~as e.ntre si.
as expectativas criadas a partir da nota biogni- Estas relayoes sao expressoes de convenyoes socioculturais e estao fonnallZadas, por exemplo, nos diclOnanos. Ou
se relacionam com muitos outros tra~os.
seja, 0 trayo «sociaveh>, nurn dicionano escolar, por exemplo, remete para «civilizado», «urbano» e «delicado»,
fica que teni induzido uma primeira impressao Bruner e Tagiuri (1954) propuseram uma con- independentemente de se referir a quem quer que seja. E usual distinguir-se entre 0 significado pragmatico de urn
acerca do professor. cep~ao diferente. Segundo estes autores, as pes- tenno, dependente do contexto em que e utilizado, e 0 seu significado semantico, independente do contexto.
Para alem desta experiencia, a hip6tese da soas estao em condi~6es de efectuar inferencias Naturalmente, e para este que os dicionanos remetem, indicando relayoes possfveis de uma determinada palavra.
mudan~a de significado atnis referida recebeu como aquelas que aparecem nas experiencias de Ora, 0 paradigma metodol6gico acima referido utiliza os trayos descontextualizadamente, 0 que pode implicar que
apoio experimental de vanos autores (Asch e Asch porque possuem «teorias implfcitas da per- os sujeitos das experiencias tenham de se socorrer do significado semantico dos adjectiv~s que Ihes sao apresenta-
Zuckier, 1984; Hamilton e Zanna, 1974; Zanna dos, significado esse culturaImente partilhado por eles. Se for esse 0 caso, entao, as meras convenyoes lingufsticas,
sonalidade». Este conceito foi introduzido na psi-
que sociocultural mente estabelecem associayoes entre os tennos dos trayos, podem, eventualmente, contribuir para
e Hamilton, 1977; Wyer, 1974). No entanto, foi cologia social por aqueles autores quer para refe- a explicayao da varifulcia das inferencias efectuadas pelos sujeitos. Nesse sentido, S6min (1989), replicando duas
igualmente contestada por outros investigadores rir «as categorias usadas pelas pessoas comuns na experiencias de Asch, realizou urn estudo em que procurou testar a hip6tese de que «as respostas em tarefas de inf~
(Anderson, 1974, 1981), que sustentam que ha vida quotidiana para descreverem outras pes- rencia de atributos, como as que se encontram nas tarefas experimentais tipo Asch, sao mediatizadas por referencias
uma constancia de significado, como veremos soas», em termos das suas capacidades, atitudes e intensionais (i. e, sobreposiyao de significado), abstrafdas entre os estfmulos e cada item na lista da varilivel depen-
ao analisar os modelos lineares. dente, por outras palavras [sao mediatizadas] por urn valor de associayao de dicionano geral entre 0 significado do
caractensticas, quer para referir as «cren~as sobre
estimulo e cada medida dependente» (p. 89).
Pesquisas posteriores (e. g., Rosenberg et ai., as rela~6es entre atributos de personalidade» S6min (1989), por urn lado, reproduziu as experiencias 1 e 3 de Asch e, por outro, recorreu a uma nova
1968; Semin, 1989; Wishner, 1960) vieram pre- (pag. 649). Sao consideradas «teorias» porque metodologia, criando urn fndice de associayao de trayos a partir de sin6nimos, an8.logos, contrarios e ant6nimos dos
cisar a concep~ao da centralidade dos tra~os. consistem num conjunto estruturado de catego- trayos tal como surgem no dicionano. Por exemplo, para 0 trayo «honesto» tenamos, entre outros, 0 sin6nimo
rias e de cren~as sobre as suas inter-rela~6es, e «justo», 0 an8.logo «franco», 0 contr8.rlo «mentiroso» e 0 ant6nimo «desonesto».
Centralidade dos tra~os e teorias sao «implfcitas» ou «ingenuas» porque as pes- Relativamente It reproduyao das experiencias 1 e 3, os resultados foram muito identicos aos obtidos por Asch
quarenta anos antes, verificando-se correlayoes entre os dois estudos de 0,90 e 0,93 para «caloroso» e «frio», respec-
impIicitas da personalidade soas nao as apresentam formal mente nem forne~
tivamente, e de 0,68 quer para «rude» quer para «polido». Contudo, ao analisar a relayao entre as respostas dos
cern criterios objectivos da sua validade. sujeitos, tanto do seu estudo como do de Asch, e 0 fndice lingufstico que construfra, S6min detectou que. 0 «fndice
Na base dos estudos realizados por Asch As «teorias implfcitas da personalidade» da associayao entre tennos-trayos derivados de urn dicionano explica uma proporyao substancial da variancia que
(1946) esta urn outro problema fundamental que desempenham urn papel importante na vida quo- esta envolvida nos processos de mediayao responsliveis pelas inferencias» (p. 94), concretamente a variancia expli-
s6 depois veio a ser explicitamente conceptua- tidiana porque permitem aos individuos nao s6 cada para cada uma das quatro listas das experiencias I e 3 vai de 79 por cento a 92 por cento.
lizado: como e que os sujeitos das suas expe- seleccionar e codificar a informa~ao relativa as Estes resultados sugerem, pois, que na an8.lise da fonnayao de impressOes e da cogniyao social se toma
riencias, conhecendo apenas alguns tra~os necessano dar tambem atenyao aos factores lingufsticos, de modo a poder destrinyar-se a contribuiyao dos proces-
outras pessoas, mas, tambem, a partir de poucos
sos psicol6gicos da contribuiyao das convenyoes lingufsticas.
respeitantes a uma pessoa, por exemplo «calo- elementos informativos, realizar inferencias
• 97
96

As teorias implicitas da personalidade desen- os seis atributos comuns as listas A e B Se


volvem-se no quadro da socializa~ao geral dos situam todos em tomo do polo positivo da FIGURA I
individuos, com destaque para as dimensoes dimensao de desejabilidade intelectual, enquanto
semantic as e simbolicas dessa socializa~ao, que os tra~os «caloroso/frio» se situam perto do . 'onamento nas dimensoes de «deseiabilidade social» e «desejabilidade intelectual»
poslel "
se traduz na consistencia interindividual de ponto neutro nesta dimensao. Tambem os tra~os de alguns tra~os, incluindo «caloroso / frio». (Adaptado de Rosenberg et al. 1968
muitas cren~as, mas constroem-se tam bern a da lista de res posta que nao foram afectados pela Intelectual
partir da experiencia pessoal de cada urn que se mudan~a de «caloroso» para «frio» se situam bom
exprime em diferen~as individuais relevantes e mais ou menos no lado positivo desta dimensao.
mesmo em teorias implicitas de urn dado indi- Por sua vez, relativamente a dimensao de des e-
intcligentc
viduo (e.g., Kim e Rosenberg, 1980; Leyens, jabilidade social, os tra~os «caloroso» e «frio»
1997; Paicheler, 1984). situam-se nos seus pol os opostos, verificando-se serio
No quadro desta abordagem, procurou-se ainda que, na lista de respostas, os antonimos importantc
frio
averiguar 0 modo como se organiza nas teorias socialmente desejaveis se agrupam em tomo de insociavel
implicitas a imensidao de tra~os que esrn linguis- «caloroso», enquanto os social mente indese- Social mau impopular irritAvcl
ticamente disponivel para descrever as pessoas. javeis estao mais proximos de «frio». Natural- -
Wishner (1960) realizou urn estudo em que
mostrou que a centralidade de qualquer tra~o
mente, fica evidente que foram os tra~os loca-
lizados nesta dimensao de desejabilidade social
~UID:;el~iz~-------- ____ -:;;~~~::::~ ____ ~~~
nesto
_______

dependia, por urn lado, da restante informa~ao os mais afectados, nas listas-estimulo, pel a Social bom

acerca da pessoa que era apresentada aos sujeitos mudan~a de «caloroso» para «frio».
e, por outro lado, do tipo de julgamento que lhes Estes resultados permitem, pois, ir alem da
feliz popular
era pedido. Assim, por exemplo, verificou que os analise intuitiva de Asch: «Urn tra~o e central na irrcsponsavel sociAvel
tra~os «caloroso/frio» estao fortemente correla- medida em que ele tenha urn valor extremo caloroso
cionados com tra~os que dizem respeito a dimen- numa dimensao. Assim, «caloroso» e «frio» sao
sao «sociabilidade», mas, se se questionarem os tra~os sociais centrais, tal como feliz, popular,
Intelectual
sujeitos acerca da «honestidade» da pessoa, sociavel, etc.» (Rosenberg et al., 1968, p. 293). mau
aqueles tra~os nao sao relevantes, isto e, centrais, A literatura sobre as teorias implicitas da
enquanto «polido/rude» apresentam forte corre- personalidade procurou, pois, identificar as
la~ao com aquela categoria. dimensoes que as pessoas utilizam ao percep- Estimulos naO verbais aparencia ffsica de uma pessoa nos leva a inferir
Por sua vez, Rosenberg e colaboradores cionarem os outros, assumindo que, com poucas na forma~ao de impressoes urn conjunto de tra~os e de atitudes atribuidos a
(1968) realizaram urn estudo com urn conjunto dimensoes, e possivel dar conta de urn numero essa pessoa.
de tra~os que, entre outros, integrava a maioria elevadissimo de tra~os-estfmulo. A aparencia fisica e outros sinais comporta- De entre os elementos nao verbais que in-
dos tra~os utilizados por Asch. Utilizando uma Embora a pesquisa sobre as teorias implf- mentais tern sido longamente investigados na fluenciam a forma~ao de impressoes, salientam-
tecnica de analise multidimensional, aqueles citas se tenha baseado fundamentalmente em area da interac~ao social, nomeadamente -se a cor da pele, a atractividade do rosto e do
autores estudaram as rela~oes entre tra~os em tra~os de personalidade, alguns autores (e.g., enquanto factores decisivos para a eficacia da corpo, a expressao facial, 0 contacto atraves do
termos de distancias procurando identificar as Schneider, 1973) chamaram a aten~ao para a comunica~ao interpessoal. Ao nivel da forma- olhar, 0 modo de andar, a postura corporal, a
dimensOes em que os tra~os se posicionavam. necessidade de se considerarem tambem outros 9iio de impressoes, os estfmulos nao verbais ocupa~ao do territorio, 0 tom de voz, 0 odor cor-
Os resultados revelaram duas dimensoes estfmulos, como 0 vestucirio, a aparencia ffsica e ocupam tambem urn papel importante, na medida poral e 0 contacto tactil 3. Por exemplo, enquanto
basicas ao longo das quais se distribuiam os o comportamento nao verbal da pessoa alvo, em que, frequentemente, a mera percep~ao da a «cor da pele» leva, geralmente, a activa~ao de
tra~os: uma de desejabilidade social e outra de uma vez que, frequentemente, na vida quoti-
desejabilidade intelectual (ver Figura 1). diana, e a partir deste tipo de estfmulos que se
Analisando 0 posicionamento dos tra~os utiliza- inferem outras caracteristicas e se emitem julga- 3 Para uma analise mais detalhada consultar, por exemplo, Bull e Rumsey (1988), Eakman e Friesen (1975),

dos por Asch na experiencia I, verifica-se que mentos sociais. Knapp (1980), Mehrabian (1972), Zebrowitz (1990).
..
98 99

estereotipos SOCIalS, atribuindo a pessoa uma ou lineares, foram desenvolvidos como alter-
serie de caracteristicas relativas ao grupo em que nativa a perspectiva holfstica, e baseiam-se no QUADRO II
e categorizada, ja a «atractividade fi'sica» desen- pressuposto associacionista de que cada item
cadeia, habitual mente, uma impressao positiva de informa~ao da uma contribui~ao propria Exemplo de palavras utilizadas por Anderson para descrever tra~os de personalidade
acerca da pessoa. A influencia dessa atractivi- para a formac;:ao da impressao. Cada item, e respectivas cota~oes de favorabilidade
dade parece atravessar todas as idades. De facto, com 0 seu valor independente, combina-se (Extrafdas da lista de 555 palavras de Anderson, 1968a)
urn estudo efectuado por Stephan e Langlois com os outros itens segundo regras aditivas,
(1984) revelou que os bebes mais atraentes sao multiplicativas ou de media. No domfnio da Ordem palavm cotafi:ilo
Ordem palavra cotafi:ilo
percepcionados como mais simpaticos e mais forma~ao de impress6es, tem-se procurado (escala de (escala de
faceis de tratar do que os menos atraentes. Num analisar a combina~ao dos itens essencial- o a6) o a6)
outro estudo, sobre pessoas com idades com- mente atraves da regra da media e da regra Alto (A) Medio-(M-)
sincero 5,73 297 dependente 2,54
preendidas entre 60 e 95 anos, Johnson e Pitten- aditiva. 1
honesto 5,55 300 indeciso 2,49
ger (1984) detectaram que os mais atraentes eram Os modelos lineares diferenciam-se do 2
compreensivo 5,49 303 ansioso 2,46
3
percepcionados como sendo mais simpaticos do mode10 de Asch nao apenas ao nivel dos pres- leal 5,47 326 passiv~ 2,23
4
que os seus pares menos atractivos. supostos mas tambem na metodologia uti- de confianfi:a 5,45 328 impopular 2,22
5
Num estudo realizado por Reece e Whitman Medio+ (M+) Baixo (B)
Iizada. Assim, 0 metoda mais frequentemente
persuasivo 3,74 510 abusivo 1,0
(1962) sobre uma rela~ao «calorosa» e uma utilizado nas pesquisas que seguem os mode- 205
obediente 3,73 530 desrespeitoso 0,83
rela~ao «fria» verificaram que a mudan~a de
206
los Iineares (Anderson, 1965, 1974, 1981) rapido 3,73 532 egoista 0,82
207
postura face a outra pessoa, 0 sorriso, e 0 con- consiste em apresentar aos sujeitos uma lista 208 sofisticado 3,72 534 vulgar 0,79
tacto visual directo eram considerados compor- de adjectivos que supostamente caracterizam 235 delibemdo 3,45 536 insolente 0,78
tamentos nao verbais «calorosos», enquanto que urn determinado individuo (tal como no metodo
olhar para urn e outro lado da sal a, tamborilar de Asch) e pedir-lhes que assinalem numa
com os dedos e nao sorrir eram vistos como escala qual a sua impressao geral sobre esse
expressao de comportamentos «frios». indivfduo. A escala utilizada e geralmente Para se compreender a aplica~ao destas regras, imagine-se 0 «cenario» descrito na caixa
Naturalmente, os elementos nao verbais do bipolar, com sete ou mais intervalos, tendo abaixo.
comportamento de uma pessoa, so por si, nao num dos extremos a expressao «muito favo-
nos fornecem quaisquer informa~oes acerca das ravel» ou «gosto muito» e no outro «muito
caracterfsticas dessa pessoa nem indicam 0 sen- desfavoravel» ou «nao gosto nada». Como
tido da impressao que vamos formar. E a partir material de estfmulo utilizam-se frequente- CENARIO
do contexto em que esUio inseridos, e da even- mente atributos extrafdos duma lista de 555
tual saliencia que af tern, que, se 0 percepcio- tra~os elaborada e testada por Anderson (1968
loaD acaba de chegar a uma empresa cliente onde vai ter uma reuniao com alguns tecnicos para analisar em
nador estiver motivado para os interpretar, esses pormenor as questoes surgidas relativamente a lima proposta de fornecimento de material que a sua empresa fizera.
a). Esta !ista (ver Quadro II) apresenta 555
Joao vai a esta reuniiio em sllbstitui~ao do director comercial, que se encontra ausente no estrangeiro. Ao chegar,
elementos vao ser descodificados com a ajuda tra~os decrescentemente ordenados em rela~ao e-Ihe apresentado 0 Sr. Ramalho, que vai conduzir a reuniao. Enquanto os outros participantes nao chegam, Joao
das teorias implfcitas de personalidade, tal como a sua «favorabi!idade» gera!. Anderson (1968 con versa informalmente com 0 Sr. Ramalho e apercebe-se de que se trata de urn indivfduo inibido, inteligente. edu-
acontece quando nos sao fornecidos apenas a) diferenciou quatro grandes grupos de 32 ad- cado. respollsavei e ego{sta. Joao vai criar uma impressao do Sr. Ramalho em fun~ao do sentido que estas carac-
tra~os de personalidade. jectivos cada urn, de acordo com a respecti va terfsticas tem para si.
Suponhamos que, ao analisar essas caracterfsticas, utiliza uma esc ala que vai de -5 (muito negativo) a
pontua~ao: alto (A), medio + (M +), medio -
+5 (muito positivo). Assim, Joao considera que ser-se «relativamente inibido» e algo de negativo, por exemplo (-2),
(M-) e baixo (8). E assim possivel construir mas «inteligente» e muito positivo, e «educado» e positivo (+3); por sua vez, «responsavel» e bastante positiv~ (+4),
2.2. Abordagem da illtegrafiio listas-estfmulo, com as mais variadas combi- enquanto «ego{sta» e fortemente negativo (-5). Com vista a definir uma estrategia de actua~ao na reuniao, Joao vai
da illformafiio na~oes e sequencias, de adjectivos positivos e rapidamente combinar estas aprecia~oes formando uma impressao gera\ do Sr. Ramalho. Que impressao ~a loaD
negativos, e analisar as regras que orientam a construir?
Os modelos da integra~ao da informac;:ao, forma~ao de impressoes.
• 101
100

Modelo da media simples e ponderada mais importante do que «inibido»; neste caso QUADROID
ele atribuira urn peso maior aquele trar;o (pO;
Segundo 0 modelo da media simples (An- exemplo, 0,5), urn peso menor a este (por exelU_ Forma-;ao de impressoes segundo os modelos lineares
derson, 1965), formar uma impressao consiste plo, 0,1) e pesos intermedios as outras carac_ (Dados ficticios elaborados a partir de Anderson, 1968 a)
em somar as pontua~oes e dividir 0 total pelo teristicas, como se mostra no quadro III-B.
mimero de caracteristicas consideradas. Deste Deste modo, 0 valor positivo ou negativo de
A. Modelo da media simples
modo, no quadro do cemmo descrito, loaD fara cada caracteristica sera multiplicado pelo peso
uma avalia~ao (ver Quadro III-A) ligeiramente que essa caracteristica tern para lOaD e a Tra<.;os Valor atribuido
positi va (+ 1) do Sr. Ramalho. Efecti vamente, impressao geral sera 0 resultado da media assilU + -
conhecendo a valora~ao (pontuar;ao na escala ponderada e nao apenas da media simples. No -2
Inibido
utilizada) que urn indivfduo atribui a determi- caso hipotetico que estamos a analisar (ver Inteligente +5
nadas caracterfsticas, este modelo permite predi- Quadro III-B), a impressao geral acerca do Educado +3
zer a impressao que ele vai criar acerca de outra Sr. Ramalho seria bastante positiva (+2,8). Organizado +4
Egoista -5
pessoa (Anderson, 1974).
No entanto, 0 modelo da media simples supoe Modelo aditivo 12 + (-7)=515 = 1
que as varias caracterfsticas tern a mesma
importancia para 0 sujeito. Ora, na realidade, o modelo aditivo (Fishbein e Hunter, 1964; Impressiio geral = +1
acontece frequentemente que uns atributos sao Triandis e Fishbein, 1963) supoe que, na forma-
mais importantes do que outros. Isto significa r;ao de impressoes, os sujeitos vao adicionando B. Modelo cia media ponderada

que, para se compreender 0 processo de for- os valores de cada caracteristica. Assim, no caso Peso Valor ponderado
Tra!;Os Valor atribuido
mar;ao de impressoes, e preciso ter em cons ide- do cenano descrito, a impressao global seria de + -
rar;ao nao urn mas sim dois parametros: 0 valor +5 num continuum que teoricamente iria de -25 -2 x 0,1 = -0,2
Inibido
(positivo/negativo) que os sujeitos atribuem a +25 (ver Quadro III-C). Segundo este modelo, Inteligente +5 x 0,5 = +2,5
x 0,2 = +0,6
numa determinada esc ala as caracteristicas em a impressao acerca do Sr. Ramalho seria ligeira- Educado +3
+4 x 0,1 = +0,4
causa, e 0 peso ou importancia que cada uma mente positiva e, aparentemente, nao haveria Organizado
-5 x 0,1 = -0,5
Egoista
dessas caracteristicas tern para 0 indivfduo que diferenr;as com 0 modelo da media. No entanto,
+2,8
forma a impressao. estas aparecem imediatamente se considerarmos
Segundo Anderson (1974), «0 conceito de situar;oes em que as varias caracteristicas sao Imprcssio geral = +2,8
peso torna-se tao importante como 0 conceito de valorizadas todas do lado positivo ou do lado
valor da escala» (p. II). Neste sentido, a im- negativo, assim como casos em que umas sao
c. Modelo aditivo
pressao final sera uma media ponderada: 0 valor mais extremas do que outras.
atribufdo a urn trar;o especffico sera combinado Suponhamos, por exemplo, que lOaD via Tra<;os Valor atribuido
com 0 peso que esse mesmo trarro tern para a outro participante da reuniao, 0 Sr. Fragoso, + -
forma~ao da impressao. Para se obter a ponde- como simpatico (+5) e met6dico (+1). Segundo
Inibido -2
rarrao, 0 modelo exige que os pesos dos adjec- o modelo aditivo, a impressao global seria bas- Inteligente +5
tivos sejam calculados de modo a que a sua tante positiva (+6), enquanto, pelo modelo da Educado +3
soma seja igual a urn (Anderson, 1981), con- media, seria urn pouco menos positiva (6/2 = 3), Organizado +4
Egoista ·5
sistindo esse calculo em dividir 0 peso de cada pois +3 e inferior relativamente a pontuar;ao
atributo pelo somat6rio dos pesos de todos os atribuida a «simpatico» (+5). 0 modelo aditivo 12+(-7)=5
atributos considerados. prediz, assim, que uma impressao vai sendo
Imaginemos, por exemplo, que, no cenario cada vez mais favoravel ou mais desfavoravel Impressio geral = +5
descrito, para Joao 0 atributo «inteligente» e con forme se vao acrescentando respectivamente

Centro de Recunol
Prior Velho

-1-
• 103
102

caracteristicas positivas ou negativas a uma tente com 0 modelo da media» (Anderson, 1968 3' Neiss er, 1976). A psicologia social, aMm recordem os comportamentos que lhes foram
impressao ja positiva ou negativa. a, p. 359). 191 ,r construido varios modelos sobre os apresentados e s6 depois se lhes da a tarefa de
Uma questao, directamente relacionada com Para explicar estes resultados, Anderson de tessos sociocognitivos (cf. Markus e Zajonc, formarem uma impressao.
proce Noutras pesquisas criam-se condiyoes para
esta, que tern animado a controversia entre 0 (1968 b, 1974) propos uma modificayao do 84' Marques, 1986; Yzerbyt, 1990), tern
modele aditivo e 0 modele da media, diz res- modele da media, sugerindo que os primeiros 19 ~rado adaptar e aplicar a percep~ao de pes- que os sujeitos formem uma impressao previa a
peito ao chamado «efeito da quantidade de adjectiv~s criam urn factor, a que chamou «im-
proc . dl
alguns dos conceltos e mo e os cogmtIvos
.. apresenta~ao dos comportamentos, informan-
a5 do-os de que a pessoa-alvo possui determinados
tra~os». Este efeito implica que, quando vaG na pres sao inicial», que vai fazer media com a infor_ sOb e a memoria (e. g., Brewer, 1988; Fiske e
SO r . trayos. Nestes desenhos, os epis6dios compor-
mesma direc~ao (positiva ou negativa), 0 mayao seguinte. Desse modo, a polaridade da Neuberg, 1989; Hastie ef al., 1980; Ostrom,
aumento do numero de adjectiv~s provocara resposta sera negativamente acelerada em 984; Scull e Wyer, 1989; Wyer e Srull, 1986), tamentais podem ter uma rela~ao congruente,
uma resposta mais extrema por parte dos funyao da quantidade de trayos. ~ ortando da psicologia cognitiva, entre ou- incongruente ou neutra com os trayos atribuidos
sujeitos (Anderson, 1974, 1981). unp os conceltos
. re latIvos
' a, co difilcm;ao,
- arma- a pessoa. Conforme os objectiv~s especificos da
Sao inumeras as experiencias que, no con- tr°,S _ .I _ pesquisa, 0 mlmero de tra~os e/ou de comporta-
Fishbein e Hunter (1984) realizaram uma texto dos modelos lineares, tern side realizadas nomenta e recuperafaa da mforma~ao.
experiencia em que utilizaram conjuntos de urn, com 0 objectivo de testar a validade quer do ze Resurnidamente, a «codificayao» diz respeito mentos pode ser variado.
dois, quatro e oito adjectivos positivos mas com modele aditivo quer do modele da media sim- ao S processos atraves dos quais a informa~ao No quadro geral da cogni~ao social, tern sido
uma polarizayao diferente. A media da avalia- ples e ponderada. Apesar de os resultados nem einterpretada e organizada, 0 «armazenamento» propostos varios modelos explicativos da
trao que os sujeitos fizeram diminufa a medida sempre terem side conclusivos (Brewer, 1968; refere-s e aos processos de retenyao da infor- forma~ao de impressoes, como, por exemplo, os
que a quantidade de trayos aumentava. Por sua Rosnow e Arms, 1968), aceita-se geralmente macr ao ja codificada, e a «recuperayao» diz res- sugeridos por Brewer (1988), Fiske e Neuberg
vez, outros autores (Anderson, 1968 b; Brewer, que a capacidade preditiva do modelo aditivo e peito aos processos que permitem a u~ sujeito (1989), Hastie (1980), Kunda e Thagard (1996),
1968) descobriram que, com adjectivos de valor menor do que a do modelo da media, havendo encontrar a informa~ao que urn dla arma- Srull e Wyer (1989), Wyer e Carlston (1979),
igual, 0 aumento da quantidade de trayos resul- situa~oes em que 0 resultado final e mesmo
Wyer e Scull (1986). A maioria desses modelos
zenou.
tava, efectivamente, em jufzos mais extremos, contrario a preditrao. A abordagem da memoria de pessoas utiliza tern procurado integrar e explicar os resultados
confirmando assim 0 efeito referido. uma metodologia substancialmente diferente de imlmeras pesquisas parcelares e dispersas
Contudo, Anderson (1968 b) comparou tam- daquela em que se baseavam as abordagens que incidem sobre a memoria de pessoas e a for-
ma~ao de impressoes. Embora se inscrevam no
bern a impressao formada a partir de urn con- 2.3. Abordagem da memoria anteriormente referidas. Assim, 0 metodo geral
junto de tres adjectivos altamente positivos utilizado consiste em apresentar aos sujeitos quadro de uma abordagem global identica, os
de pessoas
(AAA) com a criada a partir de urn conjunto uma serie de comportamentos realizados por modelos apresentam certas divergencias entre
constitufdo por tres adjectiv~s muito positivos e Para formarmos uma impressao acerca de uma determinada pessoa, os quais sao habitual- si, quer ao nivel de alguns pressupostos teoricos,
por tres adjectiv~s moderadamente positivos outra pessoa, mesmo que seja a primeira vez que mente apresentados sob a forma escrita ou fil- quer ao nivel da interpreta~ao e integrayao de
(AAAM+M+M+). Concretizando, considere com ela contactamos, temos de nos socorrer de mada (e. g., Hastie et al., 1980), sendo-Ihes alguns dados experimentais, quer ainda no grau
hipoteticamente que 0 primeiro conjunto des- conhecimentos e informa~oes anteriores. Toda a pedido que formem uma impressao da pes so a de alcance explicativo dos processos de for-
crevia 0 indivfduo atraves dos adjectivos «sin- nova informayao que recebemos s6 pode ser em causa. Dado que esta abordagem procura mayao de impressoes.
cero, feliz e leal», e que 0 segundo 0 descrevia interpretada em termos daquilo que ja conhece- explicitar as fases que ocorrem no processo de Dada a sua relevancia na literatura mais
como «sincero. feliz, leal, rapido, persistente mos. Alem dis so, a matriz e a dinihnica das nos- formayao de impressoes, e tambem frequente- recente, analisaremos sumariamente os model os
e meticuloso». Pelo facto de se acrescentar sas relatroes sociais requerem que se retenha mente pedido que realizem outros julgamentos propostos por Scull e Wyer (1989), por Brewer
informayao positiva aos tres adjectiv~s ja forte- informatrao acerca das outras pessoas de modo nao relacionados com as impressoes e que (1988), por Fiske e colaboradores (e. g., Fiske e
mente positivos, 0 modele aditivo preve que a a facilitar a interac~ao com elas quando sao recordem a informayao apresentada, ou seja, por Neuberg, 1989) e, mais recentemente, por
impressao no segundo caso sera mais favoravel. (re)encontradas. Isto significa que os processos vezes, os julgamentos baseiam-se na memoria Kunda e Thagard (1996).
A pesquisa de Anderson (1968 a) revelou, con- de mem6ria desempenham urn papel fundamen- de informayao previamente adquirida acerca da
tudo, que a impressao criada no segundo caso tal na forma~ao de impress6es. pessoa-alvo. Scull e Wyer (1989) propuserarn urn modelo
era significativamente menos favoravel do que a Estes processos foram essencialmente estu- Em alguns desenhos experimentais, a tarefa relativamente complexo, que pretende integrar
formada a partir dos tres adjectiv~s fortemente dados no quadro da psicologia cognitiva (e. g., «recorda~ao» e anterior a tarefa «forma~ao de a maioria das pesquisas efectuadas nesta area
positivos. Este resultado e, por sua vez, «consis- J. R. Anderson, 1976, 1983; Anderson e Bower, impressao», isto e, pede-se aos sujeitos que da cogniyao social. 0 modelo, constituido por
• 105
104

quinze postulados, procura dar conta das vanas caso, haveni uma liga~ao entre cada comporta~
fases do processo de forma~ao de impressoes, mento e 0 tra~o em questao (ver Figura 2-a). Por FIGURA II
tendo como pressuposto basico a concep~ao exemplo, 0 comportamento (e 2) «fala facilmente
metaf6rica da mem6ria como rede associativa em publico» poderia ser igualmente codificado Codifica~ao e organiza~ao da informa~ao
(1. R. Anderson, 1983)4. Assume que «as carac- com 0 tra~o «extrovertido». Alem disso, se a a) Agrupamentos comportamento-tracso
teristicas» duma pessoa sao representadas por mesma pessoa manifestar comportamentos muito b) FormaCSao do conceito avaliativo (adaptado de Srull e Wyer, 1989)
nodulos na mem6ria e que as rela~oes entre elas diversos, estes podem ser codificados em tennos
sao representadas por liga~oes associativas de tra~os diferentes, isto e, constituir-se-ao vanos a)
(Srull e Wyer, 1989, p. 59), as quais sao desig- agrupamentos comportamento-tra~o. Imaginemos Comportamento e 1 Comportamento i 1
(<<resolve rapidamcnte urn puzzle»)
nadas por caminhos. Mais concretamente, que a pessoa ficticia de quem temos estado a falar (<<fala expansivamente»)
assume-se que os comportamentos duma pessoa revela tambem 0 comportamento (Ll) «resolve inteligente Comportamento i 2
Extrovertido
sao espontaneamente interpretados pelo sujeito rapidamente urn puzzle». Este comportamento ( «argumenta com rigOT»)
em termos de conceitos-tra~os que esHio pode ser codificado em termos do tra~o «inteli-
Comportamento i 3
armazenados na memoria. Por exemplo, como gente», 0 qual pode ser igualmente utilizado para Comportamento e 2
(<<fala facilmente em publico») ( «faz analises objectivas»)
se mostra na Figura 2, 0 comportamento (u) codificar os comportamentos (i 2) «argumenta
«fala expansivamente» pode ser codificado com rigor» e (i]) «faz anaIises objectivas».
como «extrovertido». Deste modo, 0 comportamento de uma pes- b)

Naturalmente, muitos comportamentos podem soa pode ficar descritivamente representado el----P+ ----i3
ser codificados em mais do que urn tra~o, num espa~o da memoria a longo prazo, inte-
dependendo esta liga~ao tra~o-comportamento grado num ou em vanos agrupamentos tra~o­
de uma serie de factores contextuais. Desta -comportamento (ver Figura 2-a), os quais
e2 i1 i2
forma, 0 comportamento que referimos poderia, seriam armazenados na memoria independente-
por exemplo, ser codificado como «agitado». mente uns dos outros.
Urn dos factores que tern maior influencia nessa Alem dis so, quando os sujeitos tern como o conceito avaliativo geral, uma vez forma- Este modelo supoe, por conseguinte, que,
codifica~ao e a acessibilidade dos tra~os na objectivo formar uma impressao acerca de outra relativamente ao comportamento duma pessoa,
do, fica por sua vez localizado na memoria a
memoria. 0 modelo prediz que «quando mais pessoa, os comportamentos desta serao tambem longo praza num «espa~o proprio» respeitante ba duas representa~Oes distintas armazenadas na
do que urn conceito e aplicavel para interpretar interpretados em termos avaliativos. Isto e, con- a pessoa a quem se refere e vai determinar a memoria a longo prazo: uma representa~iio des-
urn comportamento, os sujeitos irao usar 0 forme os comportamentos que descrevem uma interpreta~ao de quaisquer comportamentos critiva e uma representa~iio avaliativa.
primeiro conceito que lhes vern ao espirito» pessoa estejam associ ados a caracteristicas (tra- dessa pessoa. Esses comportamentos podem Se, depois de terem construido e armazenado
(Srull e Wyer, 1989, p. 66). Alguns estudos ~os) favoraveis ou desfavoniveis, assim se ira
revelar-se consistentes, neutros ou inconsis- estas representa~oes, se pedir aos sujeitos que
(Bargh, 1984; Higgins eKing, 1981) tern reve- construir urn conceito geral positivo ou negativo tentes com 0 conceito avaliativo. No caso de realizem processos de inferencia, como, por
lado que urn conceito se toma mais acessivel dessa pessoa. Retomando os exemplos compor- se mostrarem consistentes sao «facilmente exemplo, fazerem juizos sobre a «honestidade»
imediatamente depois de ter sido utilizado, tamentais que acabamos de referir, e as respecti- codificados em termos das suas caracteristicas da pessoa ou tomarem uma decisao sobre se
podendo esta acessibilidade ser ainda influen- vas codifica~oes em termos de tra~os, podere- e tornam-se mais fortemente associados com 0 aceitariam essa pessoa na sua equipa de trabalho,
ciada por factores de ordem motivacional (Wyer mos conceber que 0 conceito geral da pessoa em conceito do que os outros» (Srull e Wyer, estes irao desencadear urn processo de recupe-
e Srull, 1986). causa seria de caracter positivo - supondo que 1989, p. 69) . ra~ao da informa~ao 5. Para conseguirem recupe-
Por outro lado, 0 mesmo tra~o pode ser usado os atributos «extrovertido» e «inteligente» rece-
para codificar vanos comportamentos. Neste beriam uma avalia~ao positiva (ver Figura 2-b). ~ Relativamente a recupera~1io da informa~ao, foram propostos dois modelos gerais altemativ~s . Urn dos. modelos
assume que ha uma busca sequencial, isto e, ap6s a activa~ao de urn n6dulo progride-se .para ~utro n~dul~, e aSSlm suces-
4 Embora 0 seu modelo anterior de mem6ria (Anderson e Bower. 1973) estivesse pr6ximo de uma perspectiva as so- sivamente (d. Hastie, 1980).0 outro modelo assume que h8 uma busca paralela, ou ~eJa, apos a actl:acsao de urn n6dulo
ciacionista. Anderson (1983) pas sou a assumir uma posi~ao de maior convergencia entre associacionismo e construti- desencadeia-se uma busca simultanea atraves de todos os caminhos que a ele estao hgados (cf. Collins e Loftus, 1975).
vismo. considerando que, para explicar a mem6ria humana, sao necessarios os dois process os (cf. Landman e Manis. 1983). Srull e Wyer (1989) seguem aqui 0 modelo sequencia!.
106 • 107

rar a informa~ao, os sUJeltos vao procurar urn pressupoe que 0 processo se pode desenrolar ern m sintes e , 0 modelo. de. Brewer (1988) Contudo, se a pessoa-alvo for real mente interes-
trar;o geral ou urn conceito avaliativo respeitante quatro etapas: identificac;ao inicial, categoriza~a E a l'ntervenc;ao de dots tIpos de processa- sante ou relevante, passa-se a dar atenr;iio a
a pessoa que seja adequado it questao concreta . 'fi
/ tiPl lca~ao, personaliza~ao e individualiza~ao
0
aSs
ume
da informa~ao social: processamento informa~ao disponfvel sobre os seus atributos,
que Ihes e colocada (jufzo, decisao, etc.). No caso
As etapas realizam-se sequencialmente e ne~ ....
." ento .
.(t·co nao consclente, na etapa d'd
e 1 entI'fi\- de modo a confirmar a categorizar;iio inicial.
de encontrarem urn conceito relevante para, por tom" \ ,
sempre tern de ocorrer todas, ou seja, 0 processo aU. e processamento mais controlado nas A confirmac;ao verificar-se-a no caso de essa
exemplo, ernitirem um jufzo sobre a pessoa, uti-
termina quando, em qualquer das etapas, a cavao't s etapas. 0 seu aspecto dual reside no informa~ao se revelar consistente com a cate-
Iizarao as implica~oes desse conceito «sem res tan e
impressao ficou criada. Segundo Brewer (1988), de assumir urn processamento baseado nas goria inicial, ou nao tiver caracter diagnosti-
reverern os comportamentos nos quais se baseia» facto , d
«0 modelo assume que a mera apresentac;ao de erfsticas do estImulo, na etapa e perso- cante. Se isso nao acontecer, passa-se, enta~, a
(Srull e Wyer, 1989, p. 59), ou seja, nao terao uma pessoa-estfmulo activa certos processos de carac t .
· ~ao e urn processamento categonal, nas quarta etapa do contfnuo, de modo a efectuar
necessidade de recordar os cornportamentos con- cIassifica~ao que ocorrem automaticamente e
aI
n ]za T ' • d '1'
tes 0 modelo pressup6e am a que a uti \- uma recategorizarriio. Esta etapa ocorre quando
cretos da pessoa que um dia foram codificados. res tan . .
sem inten~ao consciente» (p. 5). Nesta etapa de ·0 de urn ou outro destes tlpos de processa- a pessoa-alvo e categorizavel, mas nao em ter-
Tanto na fase de codifica~ao como na fase de identificar;iio produz-se uma prime ira categoriza_ g~ d .
menta esta basicamente depe~dente as motI- mos da categoria inicial que foi automaticamente
recupera~ao, podern surgir situa~oes especfficas
c;ao em fun~ao de dimens6es bern estabelecidas oes e objectivos do percepclOnador. utilizada. Toma-se enta~ necessario aceder a
mais complexas do que aquelas que acabam de
ser referidas, como e 0 caso, muito frequente, em
nas estruturas cognitivas dos percepciona_ va~iske e colaboradores (e. g., Fiske e Neuberg, urna subcategoria, ou a urn exemplar, ou a uma
dores, como, por exemplo, sexo, idade, ra~a, 1989; Fiske e Pave1chak, 1986) tern vindo a pro- nova categoria que se mostre mais adequada as
que os cornportamentos e os tra~os das pessoas etc., ficando a pessoa-estfmulo cIassificada em por urn modelo de forma~ao. de impr~ssoes, caracterfsticas da pessoa-estfmulo. Os autores
revelam algum tipo de inconsistencia descritiva tais categorias. 0 processo pode terminar aqui, ligeiramente diferente do antenor, que mtegra (e. g., Fiske e Neuberg, 1989) fazem notar que 0
ou avaliativa. 0 modelo procura dar conta dessas
criando-se uma impressao com base nessas cate- nao so as perspectivas holfsticas e as Iineares, processo de recategorizac;ao nao se baseia excIu-
situa~oes, predizendo os processos cognitivos
gorias estereotipicas, ou, em determinadas con- mas tambem as teorias sobre esquemas desen- sivamente no processamento categorial, nem
especificos que entao serao desencadeados. dic;oes, 0 sujeito pode ser levado a efectuar um volvidas no contexto da cogni~ao social. Este esta totalmente dependente da categoria inicial: a
o modelo preve ainda os processos envolvidos na tratamento mais controlado, isto e, menos modelo supoe urn processo continuo que vai da nova categoria e, em larga medida, determinada
recupera~ao da informa~ao armazenada, sendo
automatico, da informa~ao. Neste caso, 0 sujeito cria~ao de impressoes a partir de teorias e pelos atributos particulares da pessoa-alvo. Se
esses processos distintos conforme se trate de
tern de fazer uma escolha crftica entre dois modos conceitos preexistentes (theory-driven), a pro- estas etapas nao tiverem sido bern sucedidas, no
recordar representac;oes ou de fazer inferencias.
de processamento altemativos: passa ao modo cessos de combinac;ao linear, pe~a a pec;a, dos sentido de permitirem categorizar adequada-
Em sfntese, 0 modelo proposto por Srull e categorial ou ao modo pessoal. 0 criterio que atributos da pessoa-alvo (data-driven). A pas- mente a pessoa-alvo, e se «0 percepcionador
Wyer (1989) baseia-se na concepc;ao da me-
orienta essa escolha e de ordem motivacional: se sagem do extremo holfstico ao extrema elemen- tiver tempo suficiente, recursos e motivac;ao para
moria enquanto rede associativa na qual ficam
a pessoa-alvo nao for muito relevante para 0 per- tar, no processamento da informac;ao, realiza-se compreender aquela pessoa particular, entao ele
representadas as caracterfsticas das pessoas.
cepcionador, a informac;ao sera processada atra- de urn modo continuo tanto em fun~ao das carac- deve integrar a informa~ao disponfvel segundo
o modelo procura explicar os process os cogni- yes da categoriza~'iio ou tipificar;iio. que consiste terfsticas do estfmulo como das condi~6es moti- urn modo pec;a a pec;a, atributo por atributo»
tivos que se desenvolvem nas fases de codi-
em procurar deliberadamente uma categoria vacionais do percepcionador (cf. Figura 3). (Fiske e Neuberg, 1989, p. 8). Ou seja, a quinta
ficac;ao, armazenamento e recuperac;ao da infor-
mac;ao social. Relativamente ao comportamento
apropriada para a pessoa-estfmulo. Mas, no caso o modelo sup6e a existencia de cinco etapas etapa, a integrar;iio perra a perra, exprime 0 ex-
de a adequac;ao da categoria apessoa-estfmulo ser entre os dois extremos. Em face da pessoa-estf- tremo elementar do contfnuo, no qual 0 percep-
de uma pessoa-alvo, 0 modelo supoe que ficam
insuficiente, passa-se it etapa de individualiza- mulo, verifica-se uma categorizar;iio inicial. que cionador teni de integrar a informa~ao de acordo
armazenadas na memoria a longo prazo duas
r;iio. que consiste numa diferenciac;ao intracatego- ocorre automaticamente. Esta categorizac;ao ini- com alguma das regras discutidas nos modelos
representac;oes distintas: uma de cankter des-
rial, criando-se sUbtipos ou subcategorias que se cial baseia-se em indfcios ffsicos e caracterfsti- lineares atras apresentados.
critivo e outra de cankter avaliativo.
mostrem apropriadas ao estfmulo. Contudo, logo cos obvios, ou em qualquer outra informac;ao Em sfntese, este modelo assume que as pes-
Brewer (1988) propos urn modelo dual de for-
a seguir a primeira etapa, se 0 sujeito se «sentir imediatamente disponfvel que permita activar soas utilizam varias estrategias cognitivas para
ma~ao de impress6es de acordo com 0 qual a
muito relacionado ou interdependente, isto e, quaisquer estere6tipos ou preconceitos. Se a formarem impressoes, sendo possivel localiza-
impressao sera resultado de urn processamento da
auto-envolvido, com a pessoa-estfmulo» (Brewer, pessoa-estfmulo nao tiver urn interesse minima -las num continuo de processamento «catego-
informac;ao baseado quer em categorias (top-
1988, p. 9), 0 processamento sera baseado na ou for irrelevante para 0 percepcionador, a for- rial/pe~a a pe~a». A ocorrencia das vcirias etapas
-down ou theory-driven) quer em representac;oes pessoa, efectuando-se enta~ a partir dos dados ma~ao da impressao pode terminar aqui, sem nesse continuo esta essencialmente dependente
de pessoas (bottom-up ou data-driven). 0 modelo (bottom-up) a etapa de personalizar;iio. necessidade de processar mais informa~ao. da adequac;ao entre as categorias utilizadas pelo
108
109

FiGURA ill cionador e as caracteristicas do estimulo, posslvels interpretaqoes (empurriio violento e


percep ..
oti va\=ao do sUJelto para processar a roque jovial), e as categorias estereotlpicas
. _ Modelo continuo de forma~ao de impressoes (simpIificado): ~a~ ;::'a\=iio, dos seus recursos cognitivos e da (Negro e Branco)>> (p. 286). Por sua vez. ao nlvel
tOlO . d . d das inter-relac;oes, as linhas mais grossas
da unpressao baseada em categorias (etapa I) it impressao baseada em atributos (etapa II) interdependenclU 0 percepcl~na or com a
(Adapta~ao de Riley e Fiske, 1991) oa-alvo. 0 modelo assume amda que 0 pro- traduzem conexi5es excitatorias, no sentido em
pess d . . .
cessamento basea 0 em ca~egonas tern pnor~- que uma categoria levara a outra, enquanto as
d de sobre 0 baseado em atnbutos, sendo 0 mals linhas a tracejado indicam conexi5es inibitorias,
Encontro da pessoa-alvo isto e, se se escolhe uma interpretac;ao, por
fa quentemente utilizado.
reComo ja se referiu acima, nas abordagens da exemplo, toque jovial, exclui-se outra interpre-

,
- ogni\=ao social tern sido discutidos dois mode- taqao, por exemplo, agressivo. Os sinais «mais»
~os gerais altemativos (sequencial ou paralelo), e «menos» indicam a forqa da conexao. Assim,
A pessoa tern urn nomeadamente no que se refere ao processo de de acordo com os autores, naquele exemplo,
Etapa I - Categoriza~ao inicial ~I «agressivo tern uma Iiga\=ao excitat6ria positiva
interesse minimo recupera\=ao da infonna\=ao na mem6ria. No que

, \
ou c rclcvante I diz respeito a fonnac;ao de impressoes, a maio-
ria dos modelos propostos, como acontece
com os que acabamos de apresentar, assumem
explicitamente que se efectua urn processa-
com empurriio violenro e uma conexao negativa,
inibit6ria, com toque jovial. Por conseguinte,
quando agressivo e activado, ira activar empur-
riio violento e desactivar toque jovial. Toque
Etapa II - Alcn~ao mento sequencial da infonnac;ao. jovial ira ainda ser desactivado porque tern uma
Contudo, mais recentemente, Kunda e ligaqao negativa com empurriio violento, de tal
Thagard (1996) propuseram urn modelo que modo que quanto mais se activar empurriio vio-
, pressupoe 0 processamento paralelo e simuWi- lento, mais se desactivani toque jovial» (idem).
Sim
... Etapa III - Catcgoriza~ao confirmatoria
neo da informac;ao quando se percepciona uma
pessoa . Este modelo nao s6 parte de pressupos-
Continuando a recorrer a Figura 4, note-se
que 0 modelo assume que a infonnaqao directa-
tos diferentes para explicar a formaqao de mente observada se distingue do conhecimento
Nao impress6es, como procura dar conta dos fen6- inferido e condiciona a impressao que se fonna
, menos descritos pelos modelos sequenciais. acerca da pessoa. Assim, naquele exemplo, ha
Sim
Antes de se descrever brevemente 0 modelo, dois elementos infonnativos directamente obser-
-- Etapa IV - Rccatcgorizac;ao vejamos os seus principais pressupostos rela- vados: urn relativo ao comportamento (em-
tivos ao processamento paralelo da informaqao. purrar alguem) e 0 outro relativo a cor da
Nao o modelo assume que os estere6tipos, os tra- pele, categorizado num estere6tipo (Negro ou
, ~os e os comportamentos podem ser representa- Branco). Os restantes elementos da figura,
dos como n6dulos interconectados numa rede de assim como outras posslveis interpretaqoes
Etapa V - Intcgrac;ao pe~a a pc~a activaqao geral e que a extensao da activac;ao daqueles elementos, nao sao directamente
entre n6dulos e constrangida por associac;oes observados mas sim inferidos de acordo com as
, quer positivas quer negativas. Utilizando a
exemplificaqao dos pr6prios autores, a Figura 4
associaqoes definidas na estrutura cognitiva pre-
existente (teorias implfcitas, estere6tipos, pro-
apresenta a il ustrac;ao de urn posslvel segmento t6tipos) do percepcionador.
Impressiio bascada Impressiio baseada da rede de conhecimento que se activa quando se Resumindo, este modelo «assume que a for-
em catcgorias
observa uma pessoa de raqa negra ou branca a maqao da impressao ocorre holisticamente
em atributos
elllpurrar alguem. Nessa figura, os rectangulos atraves da satisfac;ao de constrangimentos para-
exprimem os n6dulos que «representam 0 com- lelos realizada por uma activaqao geral. Por
POrtamento (empurrar alguem) , algumas da suas outras palavras, as associaqoes da infonnaqao
110 •
III

o nlvel dos tra<;os e dos comportamen- descritos na literatura empfrica (e.g., Fiske
mes m
FIGURA IV aO De acordo com Kunda e Thagard (1986) «a e Neuberg, 1990), que influenciam quais
lOS . ~ cia dos estereotipos sobre a forma<;ao de os elementos infonnativos que sao activa-
Exemplifica~ao de processamento paraIelo da inf'orma~ao illf1 uen -es tal como a de mUltas .In f'01'-
.outras dos, como a saliencia contextual do este-
. presSO , .
na forma~ao de impressoes 1m _ s depende dos seus padroes de assocI a- reotipo , a activa<;iio previa de constructos
mayoe ,
(Adaptado de Kunda e Thagard, 1996) _ m outras caracterfsticas» (p. 286). e os objectivos do percepcionador.
r.ao co .
,. ~lendo em conta os pressupostos do funclOna-
.
2. A activa<;ao expande-se das observa<;oes
activadas para urn numero fixo das suas
ment0 cognitivo acima resumidos, veJamos
(aparancia fisica - 0 modo como este modelo descreve a for- associa<;oes imediatas, sendo que as liga-
(comportamento)
lester.otipo) ell iao
<;oes excitat6rias ou inibit6rias, e a respec-
maya-0 de impressoes . . De acordo com aqueles
tiva intensidade, provem da base de conhe-
press upo stos ' consldera-se que «para cada .
caracterlstica observa~a numa pessoa, se cna cimento preexistente. Assim, assume-se
rna Iiga yao entre a u/lldade que representa essa que nem 0 estere6tipo nem a inforrna<;ao
u acterfstica e uma unidade especial «observa- individualizante. uma vez aetivados, tern
car . "
da» que esta sempre activa. Deste modo , a InlOr- urn estatuto especial, pois sera 0 conheci-
adio observada distingue-se do conhecimento
J1l ,. .
mento previo que determinara a for<;a e a
inferido e fica garantido que recebe uma actJ- direc<;ao das conexoes, embora os autores
valfao forte » (idem, p. 287) . Dado este estatuto eonsiderem que os eomportamentos estao
especial da informa<;ao observada, considera-se muitas vezes mais fortemente associados
que a rede cogniti va funciona atraves de varios com os tra~os do que 0 estao os estere6tipos.
observada siio activadas e desactivadas simul- factores situacionais e contextuais , 0 que im- ciclos repetidos de ajustamento da activa<;ao, e 3. A informa<;ao e integrada atraves da actua-
taneamente e condicionam conjuntamente a plica que 0 significado de qualquer informa<;iio que em cada cicio «a activa<;ao de todas as liza<;ao repetida de todos os nodulos ate
impressiio que se cria da pessoa alvo» (Kunda e observada varian! em fun<;ao daqueles faetore s. un idades se ajusta em paralelo. sendo a acti- que a rede estabilize .
Thagard, 1996. p. 2R6). Por conseguinte, este De facto, a literatura sobre a percep<;iio de pes- vayao de cada unidade actualizada na base da 4. Inferencias adicionais poderao ser feitas,
modelo niio considera percursos sequenciais no soas tem ilustrado um eonjunto de faetores con-
tratamento da informa<;iio. activa<;ao das unidades com as quais esta conee- se for nece sario. Uma vez que 0 processo
lextuais que influenciam a interpreta<;iio que os tada. atraves de liga<;oes excitatorias e ini- descrito traduz somente a procura relativa-
De acordo com este modelo, 0 significado sujeitos fazem dos mesmos comportamentos ou bit6ria~. A actualiza<;ao repete-se ate que todas mente automatica do significado da infor-
dos constructos sociais nao esta definido na tra<;os. Por exemplo , a interpreta<;ao dos tra<;os as unidades tenham atingido nfve is de activa<;ao ma<;ao observada, e posslveJ que, em cer-
rede de conhecimento mas emerge con forme a podia variar em fun<;ao de outras caracterfslicas estavel», quer dizer, ate que as mudan<;as dos tas condi<;oes, 0 percepcionador efectue
sua locali7a~iio nessa rede . Assim , elllpurrar da pessoa, como liC viu na'\ experiencias de Asch seus nfveis de activa<;ao entre um e outro cicIo processos inferenciais mais controlados
a/guelll niio tem um significado preciso em si ( 1946), a interpreta~ao da expres~ao facial pode sejam mfnimas. Assim, «a impressao geral for- como, por exemplo, quando nao con segue
proprio. Esse significado re~ultara do subcon- variar con forme a situarrao (Trope. 19R6) e a
junto das suas associac;oe~ que for activado num mada acerea da pessoa consiste na combina~ao chegar a uma impressao coerente, quando
intcrprcta~iio dos estcre6tipo~ aplicados a uma do conjunto de caracterfsticas que se cre que
determinado momento . Em ultima analise, a informa<;ao e muito surpreendente. ou
pcssoa pode variar em fun<;iio dos seu~ tra<;os pes- caracterizam a pessoa» (ibidem ). quando esta motivado para analisar mais
«todos os nodulos na rede estao con ectad os com soais. assim como em fun<;5,o de outra~ categorias
todos os outros, eo significado total de um dado De acordo com Kunda e Thagard (1996, detalhadamente a pessoa-alvo. Tambem
u que simultaneamente a pessoa pertence (e.g. p. 287). 0 processo de forma<;ao de impressoes aqui 0 processamento da informa<;ao seni
constructo apenas poden! obter-se atraves do Deaux c Lewi!l. 19R4; Kunda ef a/ .. 199O) realizar-se-a . entao, do seguinte modo: realizado em paralelo.
conhecimento total de toda a rcde. a qual, con- Assim, contrariamente ao que vimos n o~
tudo. nunca e toda activada» (idem). Em cada I. A informa<;ao observada e activada. Natu- 5. Os resultados dessas inferencias sao inte-
modelos sequenciai!l. ljue pressupoem 0 predo- ral mente , nem toda a informa<;iio dispo-
momento apenas se activa um pequeno subcon- grados no conhecimento previamente acti-
mfnio dos e s tcre6tipo~, neste modelo nao ~e
junto das associa<;oes po~sfveis de um cons- nfvel sobre a pessoa-alvo e observada e vado, tambem atraves do processamento
atribui nenhum papcl especial aos estereotipos activada. Assume-se , a exemplo dos mode-
tructo e a natureza des se subconjunto depende em paralelo, para chegar a uma impressao
na forma<;iio de impressoes, sendo considcrados los sequenciai s , que ha varios factores, final da pessoa. Segundo os autores, 0
112
• 113

grau em que nessa impressao se assume como principal caracterfstica comum que Os ndo observados ao mesmo tempo. serao acti- cando-se a combina<;ao linear sobretudo quando
quados paralelamente tam b'em ao mesmo tempo. a pessoa-alvo e interessante ou pessoalmente
que a pessoa possui cada caracterlstica identifica como modelos produzidos no Con_
depende do nivel de activa~iio ultimo de texto da cogni\ao social 0 facto de todos eles va do maior influencia 0 tipo de informa~ao que, relevante para 0 percepcionador e este nao con-
ten . . . _
cada caracteristica. serem modelos dinamicos que procuram expli_ a situa~ao concreta, actlvar mms assocla~oes no segue integrar os seus atributos numa catego-
car mais 0 processo de forma~ao de impressoes ~ecorrer de urn ou mais cic10s inferenciais. riza~ao inicial.
Como decorre da descri~ao anterior, este
do que descrever os resultados das impressoes Os model os construfdos no contexto das
modelo focaliza-se, principalmente, nos chama-
como acontecia com os modelos c1assicos' abordagens da memoria de pessoas supoem uma
dos processos automaticos de tratamento da
Qualquer dos modelos assume que, geralmente' 2.4. Confrontando as abordagens conceplj:ao mista, embora ainda se discuta se
informa~ao. isto e, processos que se realizam
sem interven~ao consciente ou intencional, a forma\ao de impressoes se desencadei~ existe urn predominio e uma antecedencia do
atraves de processamento automatico da infor_ Apes ar de 0 modelo configuracional e 0 processamento de informa~ao guiado concep-
requerendo. por isso. pouco esfor~o cognitivo ao
ma~ao e postula a interven\ao de processamento mo delo da integralj:ao da informa~ao serem tualmente (e.g., Fiske e Neuberg, 1990) ou se
percepcionador (ver os capitulos de Sousa e de
controlado em certas condi~oes. Todos eles con- geralm ente considerados como antagonicos, este se realiza em paralelo com 0 processamento
Marques e Paez). Contudo, os autores conside-
sideram que 0 processamento da informa~ao interess a precisar. por urn lado, em que medida guiado pelos dados (Kunda e Thagard, 1996).
ram tambem a possibilidade de realiza~ao de
sera influenciado por factores contextuais como slio divergentes e. por outro. ate que ponto sao fazendo-se simultaneamente a integra~ao dos
processos controlados. isto e, que requerem
a motiva~ao e objectivos do percepcionador, a conciJiciveis. Como se referiu na introdu~ao. dois e obtendo-se 0 seu ajustamento atraves de
esfor~o especifico e interven~ao consciente e
natureza da informalj:ao sobre a pessoa-alvo e a uma divergencia de base manifesta-se logo ao urn ou mais ciclos paralelos de processamento.
intencional do percepcionador, em fun~ao de
natureza do julgamento a efectuar. nfvel dos pressupostos relativos aos processos Outro aspecto impOltante a considerar diz
determinadas condi~oes, como sejam a natureza
Contudo. existem diferen\as entre os mode- cognitivos: 0 primeiro considera que 0 processa- respeito as proprias preocupa~oes e objectivos
do julgamento a realizar, a natureza da infor-
los base ados no processamento de informa~ao mento de informa~ao e guiado conceptual mente , subjacentes aos varios modelos.
ma~ao a lratar e a motiva~ao do percepcionador.
sequencial e paralelo. Assim, os modelos basea- enquanto 0 modelo da integra~ao da informa~ao Asch (1946), ao realizar as suas experiencias,
Assim, quando 0 julgamento a realizar requer
dos no processamento sequencial (e.g., Brewer, assume que esse processamento e guiado pelos estava fundamental mente interessado em com-
explicitamenle que se fa~am certas inferencias.
1988; e Fiske e Neuberg, 1990) pressupoem a dados. preender e analisar os processos cognitivos que
como. por exemplo. determinar a culpa ou
existencia de fases ou etapas multiplas. embora Esta divergencia levou a que os dois modelos se verificavam quando os sujeitos formavam
inocencia de urn arguido. ou quando a infor-
nao coincidentes. Alem disso, estes modelos fossem vistos como aiternativos, em bora uma impressao global e coerente da outra pes-
ma~ao recebida e muito surpreendente, ou con-
supoem que a formalj:ao de impressoes se inicia nenhum tenha sido capaz de confirmar a sua soa, procurando captar 0 desenvolvimento da
traria as expectativas. como. por exemplo. uma
com urn processamento de informa~ao catego- superioridade relativamente ao outro. dado que impressao. os malizes a que estava sujeita em
pessoa ter urn comportamento oposto ao do
rial (theory-dril'en) , geralmente a partir da os fenomenos produzidos pelo modelo configu- fun~ao da interac~ao dos estfmulos. A meto-
estereotipo de urn dos seus grupos de perten\a,
activa\ao de urn estereotipo social, fazendo-se racional sao explicaveis a partir do modelo dologia que utilizou. dada a sua simplicidade,
os processos automaticos serao complementa-
posteriormente, noutra fase, a integra\ao da linear e vice-versa. Relativamente a este aspecto, nao Ihe permitiu. contudo, superar as analises
dos por processos mais controlados. 0 mesmo
informa\ao individualizante, como, por exem- a divergencia nao parece hoje inconciliavel. intuitivas nem captar cabal mente a complex i-
sucedera quando 0 percepcionador estiver moti-
vado para analisar e interpretar mais detalhada- plo. 0 comportamento especffico da pessoa- Efectivamente. tern sido realizados imensos dade daqueles processos.
mente 0 comportamento de uma pessoa. -alvo. trabalhos experimentais que evidenciam a Anderson (e. g .. 1974) tern como objectivo
Por sua vez, 0 modelo base ado no proces- existencia dos dois modos de processamento de principal desenvolver modelos algebricos de
Processamento de informalt30 sequencial samenlo paralelo nao considera a existencia de informa~ao . sendo a predominancia de urn ou de integralj:ao da informa\ao relativos a variados
versus processamento paralelo fases discretas nem atribui qualquer estatuto outro resultado de varios factores. entre os dominios, surgindo 0 problema da forma~ao de
especial a informa~ao estereotfpica, conside- quais se salienta a maior ou menor estrutura~ao impressoes apenas como mais urn campo de
Embora os modelos que acabamos de resumir rando os estereotipos 6. os tra\os e os comporta- do proprio objecto estfmulo (e. g., Lindsay e aplica~ao das regras algebricas. Dai que na
sejam relativamente diferentes. apresentam mentos ao mesmo nivel, no sentido em que. Norman. 1977). E. pois. possivel conciliar os maioria das experiencias se proponha analisar
dois modelos como. alias, propoem as aborda- nao a natureza das impressoes, no sentido de
(, A literatura sobre afn/"llwrc/o cle illlprc.\·s(ie.\· constitui apenas um t6pico da tematica mais ahrangente da percep~ao gens da me moria de pessoas. uma concep~ao global da outra pessoa como 0
dep~ssoas e grupo~. na qual ocupam um papel relevante as pesquisas sohre cSlerecilipos que aqui sao apenas brevemente Segundo estas, as impressoes sao com mais entendia Asch. mas apenas 0 aspecto avaliatil'o.
refendas. Para uma revisiio global da Iiteratura sobre csterc6tipos veja-se. nestc volume, 0 capitulo de Marques e Paez. frequencia guiadas conceptualmente, verifi- numa unica escala, como se referiu aquando da
• lIS
114

s terminologicas , permanecem duas com maior exactidao do que a outra: uma


metodologia utilizada. Estes dois modelos cI,b- pos , os constructos pessoais , os esquemas de s'
d'feren~a
proprio, as expectativas, as heurfsticas e o~ I ias gerais que Leyens e Fiske (1997) estrategia de sujiciencia e outra de IIecessidade.
sicos tinham, assim, urn cankter essencialmente or
categ lam em objectivos de exactidiio e objec- Em geral, utilizar-se-ia a estrategia suficiente,
descritivo dos resultados da forma<;:ao de im- enviesamentos que Ihes estiio associados, fae_
refo rmu . que privilegia a informa~ao conjirmatoria, no
pressoes. tores de ordem afectiva, e factores demogra_ . direccio/1Qls.
avos objectivos d ' d ao
e exactt - serao
- 'lmport an t es. sentido de perscrutar os indfcios que reforcem a
Por sua vez, na abordagem da memoria de ficos, como a idade e os papeis sociais .
pessoas, a generalidade dos modelos esta funda- Recorde-se, no entanto, que formar uma illl-
as do em situa<;:oes- de d'lugnostlco
" fi
pro IS- primeira impressao. Por sua vez, a estrategia de
sobre tu . - necessidade daria maior importancia a infor-
mentalmente preocupada em explicar a dina- pressiio consiste em , a partir de pouca informa_ . 1 como e 0 caso em entrevlstas de selec~ao
slon a , . . ma<;:ao injirmatoria, no sentido de se perscrutar
mica da forma<;:ao de impressoes, procurando <;:ao, criar em direcfO (on-line) uma representa~ao oal em que mteressa urn Julgamento 0
depe ss " . indfcios que rejeitem a primeira impressao. Esta
analisar os processos cognitivos que conduzem cognitiva coerellfe de uma pessoa. Para se con- . preciso posslvel sobre 0 entrevlstado, na
mals estrategia seria activada em situa~oes de perigo
a uma concep<;:ao global da outra pessoa (Hamil- seguir essa coerencia, e natural que 0 processa- dida em que a impressao que se forma pode
ton et al .. 1980). Libertos de algumas limita<;:oes
me 'd d ,.
ter efeitoS relevantes na VI a 0 propno perc~p-
como, por exemplo, quando 0 erro na impressao
mento de informa<;:ao esteja sujeito quer aos
da psicologia da Gestalt e fortemente apoiados ionador (0 entrevistador). Por sua vez, os obJec- formada tivesse consequencias gravosas para 0
objectivos concretos do percepcionador, quer a
na psicologia cognitiva, estes modelos estao alguns factores especfficos, classicamente estu- c. s direccionais implicam que a impressao que percepcionador.
n~ • . ldealmente, a pessoa poderia estar motivada
hoje mais proximos de uma analise rigorosa da dados na forma<;:ao de impressoes, como e 0 o ercepcionador tern de formar estara subordl-
complexidade daqueles processos, revelando, ao caso dos efeitos de ordem, do efeito de halo e n~a a outros objectivos mais importantes, para utilizar as duas estrategias em todas as
mesmo tempo, capacidade para integrar alguns como, por exemplo, evitar conflitos, dominar situa<;:oes. Contudo, na vida social quotidiana, 0
das distor<;:oes de positividade e de negatividade .
contributos dos modelos cJassicos. A ideia de uma negocia<;:ao, dar urn impressao especffica recurso as duas estrategias alem de ser muitas
processamento aUfonuitico e de processamento de si proprio, etc. Neste caso, mais do que a vezes imltil teria urn custo muito elevado. Prag-
comrolado ocupa hoje urn lugar privilegiado na 3.J . Estrategias na formafiio hipotetica precisao epistemica da impressao, maticamente, a maioria das vezes, as pessoas
optam por uma dessas estrategias. com as suas
explica<;:ao dos processos de forma<;:ao de de impressoes isto e, a sua adequa<;:ao a pessoa-alvo, aquilo que
impressoes. Tambem a influencia do contexto e interessa e uma impressao pragmaticamente vantagens e desvantagens, em fun~ao dos con-
das condi<;:oes motivacionais do percepcionador Na vida social, e, natural mente, muito maior ajustada aos objectivos principais do percep- textos em que se encontram.
sobre esses processos tern vindo a assumir urn a quantidade de e~tfmulos que nao chega a ser cionador na i nterac~ao social em que esta en-
papel importante na analise da forma<;:ao de processada por nos do que aquela com que nos volvido. Os dois tipos de fins podem ser con-
impressoes. ocupamos. E mesmo os estfmulos sociais que vergentes ou divergentes e, nessa medida, 3.2. Problemas de exactidiio na for-
process amos nao atingem todos a mesma pro- orientarem as estrategias dos sujeitos na for- mafiio de impressoes
fundidade ou durabilidade, nao so devido as ma<;:ao de impressoes, nomeadamente, no que se
3. Moti\"CI\'ao t' t''\actidao possfveis limita<;:oe~ dos nossos recursos cogni- refere a fazerem maior ou menor esfor~o para Seja qual for a estrategia que se adopte, a for-
na forl1la~a() dt' imprt'~~ol'~ tivos, mas tambem devido a no~ s a motiva<;:ao processar informa~ao individualizante ou para ma~ao de impressoes est a sujeita, como referi-
para 0 fazer. realizar inferencias adicionais. mos, a urn conjunto de factores dos quais desta-
Como resulta das abordagens antcriormente Ao nfvel da forma~ao de impressoes , a Iite- Frequentemente, os objectivos de exactidao camos os efeitos de ordem, 0 efeito de halo e 0
apresentadas, formar impressoes requer uma ratura tern identificado dois grandes factores desencadeiam urn julgamento que corresponde efeito de positividade e negatividade.
actividade cognitiva intensa, que, por urn lado, motivacionais para 0 processamcnto da infor- mais adequadamente a pessoa-alvo, mas nem
esta natural mente sujeita aos condicionantes de ma<;:ao relacionados com os objectivos com que sempre assim acontece, podendo os objectivos Efeitos de ordem
toda a percep<;:ao social e, por outro, e influen- se forma a impressao . A~s im, enquanto Snyder direccionais levar a julgamentos mais precisos
ciada por factores especfficos. (1992) diferencia «motiva<;:oes de conhecimento (Snyder, 1992). Assim, 0 facto de se ter objec- Considerando que a impressao final sera
Embora a sua amilise nao caiba no ambito e de entendimento», Kunda (1990) fala em tivos de exactidao nao implica que a impressao resultante da conjuga~ao dos varios atributos
deste capftulo , e importante recordar que, de urn «motiva<;:ao ou nao para chegar a concJusoes criada seja mais valida do que no caso de se ter apresentados, coloca-se imediatamente a ques-
modo geral, enquanto percep<;:ao social, a for- desejaveis», Hilton e Darley (1991) distin- objectivos direccionais. Neste sentido, Leyens e tao de saber em que medida a contribui<;:ao de
ma<;:ao de impressoes e genericamente influen- guem «situa<;:oes de avaliw;iio e de ac<;:ao» e Fiske (1997), baseando-se em Lewicka (1988), urn determinado atributo para essa impressao e
ciada por factores de ordem cognitiva , como, Kruglanski (1989) diferencia a «necessidade sugerem que, em vez daquelas motiva~6es, se ou nao afectada pela ordem em que este e apre-
por exemplo, as teorias implfcitas, os estereoti- elevada ou baixa de conclusao». Diluindo as considerem duas estrategias diferentes, nenhuma sentado. Ou seja, sera que a mesma informa~ao,
116
• 117

isto e. 0 mesmo conjunto de caracterfsticas. direclfao ja estabelecida e tendem a adaptar-se_ Jim era primeiro apresentado como extro- zida por Zanna e Hamilton (1977) 0 tra~o «ou-
(6]) . . 'd sado» era associado a «corajoso» OU a «impru-
apresentada segundo ordens diferentes. pode -Ihe: eo efeito de precedencia. vert ido e depOiS co~o mtrov.ertl 0 e. ~o outro
produzir respostas diferentes? De acordo com Asch (1946). este factor de m prirneiro como mtrovertldo e depOis como dente» consoante tivesse aparecido integrado
Urn dos resultados mais interessantes das precedencia nao se refere tanto a «posi~ao tem- (I tr~vertidO. Os sujeitos deviam redigir num numa descrierao que inclufa outros traeros avalia-
eX rag . - b J' f d dos como fortemente positivos ou como forte-
experiencias de Asch (1946) diz exactamente poral do item mas sim a relalfao funcional do seu rafo a sua Impressao so re 1m. azen 0
respeito a intluencia que os primeiros adjectivos conteudo com 0 conteudo dos itens seguintes parnbem algumas predi~oes sobre 0 comporta- mente negativos.
ta ento deste em vanas
, .. -
sltuaeroes. 0 s resu Itad os 19ualmente interactiva e a explicalfao do
da lista tern na forma~ao da impressao global. (p.272).
Numa das suas experiencias. Asch (1946) uti- Desde Asch. 0 efeito de precedencia tern sido :rnprovaram que 0 primeiro conjunto de infor- efeito de precedencia atraves da hip6tese
lizou duas listas (A e B) constitufdas pelos mes- obtido em inumeras experiencias. Num estudo ~aerao teve mais intluencia do que 0 segundo na da desvalori:ariio da inconsistencia. Esta
mos adjectivos. mas com a ordem por que cl<issico efectuado por Luchins (1957). foram forrna~ao da impressao. Assim, por exemplo, 0 explicaerao sup6e que os ultimos adjectivos da
lista sofrem uma mudanera nao no seu signifi-
apareciam invertida: utilizados como estfmulo. nao tra~os. mas duas grupo EI considerou.que , Jim era urn indivfduo
descrieroes comportamentais de uma pessoa sociavei, expanslvo e amlstoso, enquanto 0 cado nem no seu valor, mas no padimetro peso.
Lista A: inteligente - industrioso - impulsivo - Jim. Numa das descri~oes (E), Jim era apre- grupO IE 0 considerou solitario, tfmido e nada por se revelarem inconsistentes com os primei-
- crftico - teimoso - invejoso; sentado como sendo urn indivfduo amavel e ex- arnistos o . ros (Anderson. 1981). A importancia ou peso
Lista B: invejoso - teimoso - crftico - impul- trovertido. enquanto na outra (I) mostrava um A explicaerao do efeito de precedencia tern dos ultimos adjectivos diminuiria porque. ao
sivo - industrioso - inteligente. comportamento mais introvertido. sido alvo de controversia. Basicamente, a dis- serem percepcionados como inconsistentes,
cussiio tem-se centrado em torno de tres hip6te- seriam integrados na impressao ja criada pelos
A inversao da sequencia de qualidades dava Descrilfao I: ses explicativas (Anderson, 1974): a mudanra primeiros. Por exemplo. na sequencia «honesto,
origem a que na lista A se progredisse de carac- Depois da~ aulas. Jim saiu sozinho da escola. Ao sair
de significado. a desvalorizariio da inconsisten- simpatico. educado. intolerante. egofsta. vul-
terfsticas muito positivas para outras negativas. come~ou 0 seu longo caminho para casa . A rua brilhava ao cia e a diminlliriio da atenriio. gan) , 0 adjectivo «intolerante». inconsistente
enquanto na lista B se come~ava por caracterfs- sol. Jim desceu a rua pelo lado da sombra. Viu descer a rua. A hip6tese da l1ludanra de significado. como com os anteriores. seria integrado numa impres-
ticas negativas e se terminava com positivas. na sua direc~ao. uma bonita mo~a que conhecera na noite referimos atras, foi proposta por Asch (1946) e sao resultante da agregaerao dos tres primeiros
Se se assumir que as impressoes resultam da anterior. Jim atravessou a rua e entrou numa pastelaria. supoe que os adjectivos mudam de sentido adjectivos. acontecendo 0 mesmo com os
Esta estava eheia de estudantes. e viu alguns seus conheci-
soma dos efeitos de caracterfsticas separadas. a conforme 0 contexto em que estao integrados. seguintes.
dos. Esperou silenciosamente que 0 empregado 0 atendesse
impressao provocada por cada uma das listas fazendo entao 0 seu pedido. Sentou-se numa mesa lateral o efeito de precedencia resultaria do facto de os Em alternativa as explicaeroes interactivas.
nao deve mudar (Asch. 1946). Ora. contraria- para beber um refresco. Depois foi para casa . primeiros termos criarem uma «impressao diri- alguns autores (Anderson. 1965, 1981: Ander-
mente a esta hip6tese. os resultados revelaram gida», que iria intluenciar a conotarrao atribufda son e Barrios. 1961) tern argumentado que 0
uma grande diferen~a nas impressoes formadas Descrierao E: aDs adjectivos seguintes. de modo a constituir-se efeito de precedencia resulta sobretudo da
a partir da lista A e da lista B. De facto. a lista A uma impressao unificada. diminui~ao do peso dos ultimos adjectivos. Esta
Jim saiu de casa para comprar uns papeis . Foi pela rua
produziu uma impressao mais positiva da pes- ensolarada com dois amigos. aquecendo-se ao sol enquanto Esta hip6tese apresenta-se. pois. como uma diminui~ao nao seria provocada pela incon-
soa descrita do que a lista B e isso verificou-se caminhava. Entrou na papelaria. que estava cheia de gente . explica~ao interactiva. baseando-se na supo- sistencia nem por quaisquer outras relaeroes
tanto nas descri~oes livres feitas pelos sujeitos Conversou com urn conhecido. enquanto esperava que 0 si~iio de que as relaeroes entre os traeros estabele- entre os traeros: resultaria duma progres-
como nas inferencias realizadas na lista de pares empregado 0 atendesse. Ao sair. parou para falar com um cern configuraeroes que determinam as respecti- siva diminuiriio da atellfiio (Anderson, 1981).
amigo da escola que acabava de chegar a loja. Ao deixar
opostos. vas conotaeroes. Cada adjectivo tern urn leque de A partir dos resultados de varias experiencias,
esta. dirigiu-se para a escola e encontrou a mo~a a quem
Segundo Asch (1946). estes resultados fora apresentado na noite anterior. Conversaram urn pouco significados e, conforme a interaclfiio com os Anderson (1968. 1974) sustenta que a «dimi-
«sugerem que os primeiros term os criam na c. dcpois. Jim foi para a escola. outros adjectivos. havera uma mudan~a de urn nui~ao da aten~ao dada aos ultimos adjectivos
maioria dos sujeitos uma direc~ao que vai par<\ outro dos seus posslveis significados. assim faz com que estes tenham pesos mais baixos
exercer urn efeito continuo nos ultimos termos. Constitufram-se quatro grupos de sUJeltos: como no valor que se Ihe atribui. na sequencia, e isso produz urn efeito de
Quando 0 sujeito ouve 0 primeiro termo. surge urn grupo (E) recebia apenas a descri~ao de Jim Esta explicaerao tern recebido confirmaerao precedencia» (1974, p. 71). Os adjectivos con-
uma impressao global. nao cristalizada, mas como «extrovertido». outro grupo (I) recebia a experimental em varias pesquisas (Hamilton e servariam os seus significados pr6prios, sim-
dirigida» (pp. 271-272). As caracterfsticas descrierao «introvertido»; os outros dois grupos Zanna. 1974; Wyer. 1974; Zanna e Hamilton. plesmente nao Ihes seria dada importancia e, por
seguintes. ao surgirem, relacionam-se com a recebiam as duas descrieroes. mas num deles 1977). Por exemplo. numa experiencia condu- conseguinte. 0 efeito de precedencia apareceria
118
• 119

em qualquer tipo de sequencia independente- tais de um hipotetico indivfduo e dividiram Os ·arn ente » que e um indivfduo honesto, posltlvas do que negativas relativamente aos
mente da maior ou menor inconsistencia entre ob VI ,
sujeitos em tres grupos com tarefas distintas: a) .(Ote II·gente e afavel... outros (e. g., Matlin e Stang, 1978; Sears, 1983).
. .
os adjectivos. formar uma impressao; b) memorizar a infor_ o efeito de halo pode venficar-se a partIr da Numa pesquisa realizada em meio universitario,
Nesta hipotese, ficam, por sua vez, por esclare- macrao; e c) compreender a informacrao,julgando cepriio de comportamentos verbais, mas tam- Sears (1983) procurava saber em que medida os
cer as razoes da diminuicrao da atencrao. Anderson per '3' • d . d' estudantes faziam uma avaliacrao positiva ou
as descricroes do ponto de vista gramatical. Nurna bern, e frequentemente, a partir e meros m I-
(1974, 1981) sugere que isso pode dever-se ao condicrao, a lista de descricroes foi construfda de . S nao verbais. Uma pesquisa efectuada por negativa dos seus professores. Os resultados
facto de a impressao se cristalizar logo com os modo a que as primeiras fossem agradaveis e as ~~on, Berscheid e Walster (1972), alem de revelaram que 97 por eento dos professores
primeiros adjectivos, levando assim a que a infor- ultimas desagradaveis, invertendo-se a ordern ostrar 0 funcionamento de estereotipos cultu- eram vistos positivarnente. Sears (1983) sugere
macrao seguinte seja negligenciada (Anderson, noutra condicrao. Entre outras tarefas, pediu-se m·s que os indivfduos sentem que as outras pessoas
ral , 1·lustra igualmente a facilidade com que este
1974). Esta explicacrao e, por sua vez, consistente aos sujeitos que fizessem um julgamento avalia- feno rneno se veritica. Nessa pesquisa, mostra- sao semelhantes a eles, levando essa simila-
com a hipotese dos dois sistemas de memoria tivo - gostar/nao gostar - acerca do indivfduo rarn- se aos sujeitos fotografias de homens e de ridade percebida a que se seja relativamente
sugerida por Anderson e Hubert (1963): um para descrito. mulheres previamente avaliados segundo a generoso na formacrao de impressoes.
a propria impressao e outro para as palavras. Os resultados revelaram um efeito de pre- atraecr ao ffsica. As fotografias correspondiam a Esta tendencia para formar irnpressoes posi-
Assim, a medida que os tracros sao conhecidos, 0 cede,lcia nos julgamentos efectuados quer treS tipos de pessoas: muito atraentes, nada tivas das outras pessoas tern sido rotulada de
seu conteudo e integrado na impressao, que fica pelos sujeitos cujo objectivo era formar urna atraentes e de atraccrao media. A tarefa dos «efeito de brandura» (Bruner e Tagiuri, 1954), de
memorizada, e as palavras sao armazenadas impressao quer pelos que tinham como objec- sujeitos eonsistia em c1assificarem cada uma das «distorcrao de positividade» (Sears, 1983) e de
noutro local da memoria. Esta explicacrao esta tivo a memorizacrao, e um efeito de rece,lcia pessoas relativamente a sete caraeterfsticas que «efeito de Pollyanna» (Boucher e Osgood, 1969)
muito proxima do modelo propos to por Srull e quando 0 objectivo era a compreensao. A abor- nao tinham nada aver, directamente, com a por referencia a herofna da literatura infantil
Wyer (1989), como vimos acima. dagem da memoria de pessoas vem assim atraccrao ffsiea, como, por exernplo, a desejabili- que tinha uma visao cor-de-rosa do rnundo.
A pesquisa experimental tem revelado a demonstrar que, para se conseguir explicar 0 dade social da personalidade da pessoa-estfmulo, A tendencia para percepcionar 0 mundo
existencia geral de um efeito de precedencia. problema da precedencia/recencia, nao basta o seu status profissional e a sua felicidade social como moderadamente positivo teria assim urn
Contudo, este efeito nem sempre se veritica, analisar apenas as relacroes dos estfmulos entre e profissional. Os resultados revelaram que as caracter normativo, constituindo uma «ancora
dando lugar, em certas condicroes, a um efeito de si. Como referem Devine e Ostrom (1988), para pessoas mais atraentes foram cIassificadas num pereeptiva» a partir da qual se fariarn jufzos
recencia. Algumas dessas condicroes tem sido se compreender a maior influencia de alguns nfvel eonsideravelmente mais alto em seis relativamente as outras pessoas.
estudadas experimental mente. Por exemplo, se itens numa determinada impressao e preciso ter das sete earacterfsticas. Pelo facto de percep- Contudo, essa tendencia pode ceder facil-
os primeiros comportamentos de que 0 sujeito tambem em consideracrao a maneira como esses cionarem urn tracro - beleza Hsiea - como posi- mente quando, no processo de formacrao de
tem conhecimento forem avaliativamente neu- estfmulos estao representados na memoria dos tivo ou negativo, os sujeitos faziam inferencias impressoes, se tern conhecimento de earacterfs-
tros, ou se tiverem implieacroes ambfguas, nao sujeitos e, por conseguinte, e preciso atender acerca de outras qualidades supostamente pos- ticas negativas e positivas da outra pessoa,
terao influencia decisiva na formacrao do con- as relacroes dinamicas entre os processos de sufdas pelas pessoas-estfmulo. Na opiniao dos nomeadamente, se se trata de fazer avaliacroes
ceito avaliativo. codificacrao, de armazenamento e de recupe- sujeitos , as pessoas atraentes teriam empregos afectivas ou morais. Nesses casos, a informacrao
Alem disso, se no momenta em que conhecem racrao da informacrao. mais importantes do que as nao atraentes, e negativa toma-se, geralmente, mais importante
a informacrao os sujeitos nao tiverem como seriam mais felizes a nfvel social e a nfvel profis- do que a positiva, verifieando-se frequente-
objectivo formar uma impressao, e esta Ihes for sional. Alem disso, teriam caracterfsticas de per- mente uma «distorcrao de negatividade»: 0
Efeito de halo
pedida a seguir, a avalia~ao pode, em certos sonalidade mais desejaveis do ponto de vista sujeito nao vai gostar da pessoa-estfmulo, ou
casos, basear-se nos ultimos comportamentos, Consoante se crie uma primeira impressao social como, por exemplo, ser altrufsta, interes- seja, a informacrao negativa vai determinar uma
verificando-se assim um efeito de recencia. Por imediatamente positiva ou negativa da outra sante, estavel, auto-afirmativo, etc. primeira impressao desfavoravel (Anderson,
exemplo, numa experiencia realizada por pessoa, ha tendencia a percepcionar nela carac- 1965; Hamilton e Zanna, 1972).
Lichtenstein e Srull (1987), procurou-se estudar terfsticas que sejam consistentes com a im- Distor~oes de positividade De urn ponto de vista cognitivo, dado que
em que medida diferentes objectivos de proces- pressao formada. Esta tendencia foi, c1assica- e de negatividade habitualmente percepcionamos sobretudo carac-
samento de informacrao influenciam a recordacrao mente, rotulada de efeito de halo. Oeste modo, terfsticas positivas nos outros, um tracro nega-
e a formacrao de impressOes. Utilizaram como se, ao conhecermos alguem, 0 considerarmos Varios estudos tern revelado que as pessoas tivo, ao ser detectado, toma-se mais saliente, por
estfmulo trinta e seis descricroes comportamen- simpatico, nao teremos dificuldades em «ver estao mais predispostas para fazerem avaliacroes contraste ou por novidade, e adquire um maior
.. 121
120

ficani reduzida. na medida em que a normativi-


valor informacional (e. g., Fiske, 1980) . Nesse 3.3. Julgabilidade social .' (Leyens et al., 1992). qualquer jufzo
sentido, as pessoas nao s6 atribuem mais peso it SO(i~a:s ara alem de ter de atender a real idade dade social considera que aquela informa~ao.
informa~ao negativa como, habitualmente, con- Como acabamos de ver.o problema da exac_ soola ; fca a que se refere. devera tambem ser por si s6, nao e adequada para julgar indivfduos
ontOlog. do em fun~ao do seu va Ior socm . I' , especfficos (Yzerbyt et al., 1994). Contudo.
fiam mais nesta do que na informa~ao positiva tidao, quer dizer. da validade epistemica dos JUI_ , IStO e.
ecla . fl uenCla,
apr f n~ao da sua III A'd'Irecta ou III. d'Irec ta. verificam-se situa~oes em que as pessoas trans-
(Hamilton e Zanna, 1972), tomando-se, assim, gamentos, tern ocupado urn lugar privilegiado
mais diffcil mudar uma primeira impressao des- nos estudos empfricos enos modelos sobre a ern u rocessOs de comunica~ao e de interac- ooridem esta norma social, embora suponham
favonivel do que uma primeira impressao forma~ao de impressoes. Subjacente a estas
nos P
_ social em que 0 seu autor esta, envo I VI'd o. que estao a cumpri-Ia. De acordo com os resul-
favonivel. Contudo. alguns estudos tern reve- perspectivas esta, em grande parte, a ideia de ~ao do se trata de emitir jufzos sobre pessoas. tados experimentais obtidos por Yzerbyt et al.
Quan . d ( 1994), quando alguem supoe que possui infor-
lado que a predominiincia da informa~ao nega- que formar uma impressao consistiria basica_ rimeiro problema que 0 percepclOna or
tiva sobre a positiva nem sempre se verifica. mente em resolver urn problema cognitivo urn P . b
de resolver conslste em sa er se a pessoa- ' macr ao individualizante sobre outra pessoa.
nomeadamente quando se trata de fazer avalia- Contudo, como decorre das considera~oes sobre tern e efectivamente jU . Igave,
' I 'IstO e.
, se, d0 ainda que real mente nao tenha acedido a essa
-aIv0 informacrao, considera que pode validamente
~oes instrumentais, como, por exemplo. emitir as estrategias na forma~ao de impressoes (vide o de vista pragmatico, tendo em conta 0
pon t 'd emitir julgamentos acerca dela, mostrando-se
jufzos sobre a competencia da pessoa-alvo (e. g ., supra), na vida quotidiana, nem sempre 0 per- ontexto de interac~ao em que esta envolvl 0,
Skowronski e Carlston, 1987). cepcionador esta preocupado com a exactidao ~Ie sente legitimidade social para julgar esse mais confiante e assumindo que detem infor-
De urn ponto de vista sociocognitivo, as dis- dos seus julgamentos sobre as outras pessoas. ma~ao especffica.
al vo .
tor~oes de positividade e de negatividade podem Alias, relativamente a percep~ao de pessoas nao Um pressuposto basico desta abordagem Estes estudos experimentais real~am, pois,
tambem estar dependentes da normatividade existe uma verdade unica que possa impor-se consiste exactamente em considerar que as que a posse, real ou fictfcia, de informacrao in-
social que rege os contextos relacionais em que aos diversos percepcionadores. Qualquer cri- pessoas s6 emitem ju.lg_amentos .quando sente.m dividualizante sobre a pessoa-alvo permite
se desenvolve a interac~ao. De facto. verifi- terio para distinguir 0 certo do errado, no que diz que estao numa posl~ao para julgar, ~u s.eja, aumentar a julgabilidade desta (e.g., Leyens
cou-se experimental mente (Drodza-Senkowska respeito a percep~ao de pessoas, teni ele pr6prio quando sentem esses julgamentos sUbjectlva- et al., 1992).
e Personnaz, 1988) que 0 efeito de positividade de ser considerado adequado, isto e, tera de mente validos. Tambem a posi~ao social ocupada pelos per-
e significativamente menor quando os sujeitos resultar de consensos mais ou menos partilhados A abordagem dajulgabilidade social focaliza, cepcionadores influencia a validade social dos
preveem ter uma rela~ao de competi~ao do que no quadro do contexto social em que os julga- pois, a aten~ao nao no problema da exactidao seus julgamentos acerca de outra pessoa. Num
quando esperam ter uma rela~ao de coopera~ao. mentos sobre pessoas sao emitidos. dos jufzos, nem nas estrategias de procura e de estudo experimental (Caetano, 1996), verificou-
Culturalmente. embora as normas e os valo- Este aspecto do processo da forma~ao de processamento de informa~ao, mas sim na -se que os sujeitos que tin ham urn status mais
res sociais nos apontem a positividade nos impressoe~ tern side analisado pela abordagem relariio entre os ju(:es e os seus julgamentos. alto, na rela~ao interpessoal, se sentiam em
contextos cooperativos, ja nao fazem 0 mesmo da ju/gabilidade social a qual desloca a anal ise o modele propoe-se analisar os processos que melhores condi~oes do que os outros para julgar
quando se trata de contextos. por exemplo, dos jufzos sociais da questao da articu la- intervem nessa rela~ao, os quais permitem a urn a pessoa-estfmulo. Isto e, os sujeitos com status
competitivos. Alem disso. as estrategias de in- ~ao entre os dados e as teorias, e do seu valor indivfduo determinar a validade subjectiva dos mais alto sentiam-se de posse da informa~ao
terac~ao dos sujeitos podem igualmente in- epistemico. para 0 terreno do contexto social seus julgamentos (Schadron, 1991). A analise necessaria para julgarem, mostrando-se, por
fluenciar a sua percep~ao no sentido da positivi- e da funcionalidade e validade social desses desses processos pretende explicitar os factores isso. mais confiantes na emissao dos seus julzos.
dade ou da negatividade . Alguns autores (e. g., mesmos jufzos . que condicionam a emissao de julgamentos Resumindo, de acordo com esta abordagem, a
Kanouse, 1972) sugerem que. ao detectar tra~os Segundo esta abordagem, urn problema sabre pessoas e os factores que levam os jufzes racionalidade dos jufzos sociais nao pode ser
negativos no outro indivfduo, 0 sujeito ficaria importante a considerar na analise da emissao a au men tar 0 sentimento da julgabilidade de apreciada apenas por confronto com criterios
alertado para possfveis dificuldades na rela~ao de julgamentos sobre pessoas diz respeito a sua uma determinada pessoa-alvo (Yzerbyt, 1990). estritamente 16gicos, probabilfsticos ou episte-
com ele e. ao formar uma impressao negativa, validade subjectiva . A emissao de julgamentos De acordo com esta abordagem, 0 percep- micos. De facto, na produ~ao de julgamentos
estaria ja a evitar deixar-se surpreender. Se voce sociais nao resultara apenas de urn processo de cionador apenas se sente em condi~oes de sociais. a racionalidade ou irracionalidade resul-
come~ar por saber que alguem e «vigarista», vai integra~ao da informa~ao individualizante e emitir urn julgamento valido quando dispoe de tante do processo de integra~ao da informa~ao
dar. naturalmente. muita importancia a essa categorial sobre a pessoa a julgar. Atendendo a informa~ao individual sobre a pessoa-alvo. sobre a pessoa a julgar sera mediatizada pela
«qualidade» ao formar a sua impressao acerca que os jufzos sociais nao s6 dizem respeito a Quando 0 percepcionador tern consciencia de normatividade social em que 0 percepcionador
dessa pessoa, e. em princfpio. tomara as suas alvos sociais, como sao emitidos em contextos que apenas dispoe de informa~ao categorial ou esta enredado. a qual determina a maior ou
precau~oes ... socialmente definidos e obedecem a normas estereotipada sobre 0 alvo, a julgabilidade deste menor julgabilidade da pessoa-alvo.
122
• 123

4. Principios da forma<;3o jacentes e fundamentais, pelo que procura fazer , no facto de as pessoas percepcionarem, midos , dado 0 seu nlvel de generaliza9ao, por
de impressocs infert?llcias correspelldentes de tra90s e julga_ be~lt11ente. maior consistencia e prcvisibilidade qualquer daqueles modelos. Ja no que diz
mentos avaliativos acerca do nueleo central da ge t11portamento dos outros do que nos seus rcspeito as motiva90es do percepcionador e as
no CO • • caracterfsticas da informa9ao sobre a pessoa-
Apesar da multiplicidadc de abordagens e de sua personalidade. Estas inferencias sao geral_ , rios comportamentos.
roP
P Princfpio 3: «0 percepclOna . d -alvo, nomeadamente do que se refere ao papel
modelos que tem vindo a ser propostos. ainda mente feitas espontaneamente e em directo (on- or procura
nao se dispoe hoje de uma teoria suficiente- -line) a medida que 0 percepcionador observa 0 volver uma impressao organizada da pes- dos estereotipos e da informa9ao individuali-
des en zante, assim como aos processos de integ ra 9ao
mente articulada e consensual acerca dos pro- comportamento da outra pessoa ou recebe infor_ soa-al vo » (Hamilton c Sherman, 1996, p. 338).
cessos envolvidos na forma9ao de impressoes. ma90es sobre ela. De acordo com Hamilton e Como resulta do .modelo de As~h e das suas desta, para a cria9ao da impressao unitaria, 0
Contudo, e possfvel come9ar a sistematizar Sherman (1996), 0 facto de estas inferencias eriencias antenormente descntas, 0 percep- debate teorico e a pesquisa empfrica sao menos
eXp . d' consenSUals.
alguns princfpios gerais com base nos resultados serem feitas em directo implica que, mesmo cionado r procura mtegrar os 1versos tra90s
das inumeras pesquisas empfricas que tem sido quando 0 julgamento e feito mais tarde no um todo coerente e dinamico, de tal modo que
conduzidas tanto no quadro das abordagens tempo, nao e necessario recuperar a informa9ao :s proprios tra90s ganham si~nificados especf~­
classicas como no da cogni9ao social. Numa factual especffica observada, bastando ao per- cos em fun9ao do todo orgalllzado que se supoe RcsmllO
revisao recente, Hamilton e Sherman (1996) cepcionador recuperar as inferencias e os julga- ser a personal idade da pessoa-alvo.
identificaram quatro princfpios gerais que mentos feitos aquando da observa9ao (vide princfpio 4: «0 perccpcionador procura Para se formar uma impressao, geralmente
decorrem de um postulado basico que tem sido modelo de Srull e Wyer supra). Alem disso, e resolver inconsistencias na informa9ao adqui- nao e necessaria muita informa9ao: a partir de
assumido na generalidade da literatura sobre igualmente esse processamento em directo que rida acerca da pessoa-alvo» (idem). A cren9a na pequenos indfcios comportamentais, verbais ou
este problema. produz 0 efeito de precedencia descrito mais a unidade e na coerencia da personalidade e de tal nao verbais, cria-se facilmente uma ideia global
o postulado basico enuncia os pressupostos frente. modo forte, que, quando detecta discrepancias e coerente acerca das outras pessoas. As pri-
do percepcionador acerca das pessoas: «0 per- Princfpio 2: «0 percepcionador espera con- nas caracterfsticas ou no comportamento da pes- meiras impressoes organizam-se fundamental-
cepcionador assume unidade nas personalidades sistencia nos tra90s e comportamentos da pes- soa-alvo,o perccpcionador procura activamente mente em fun9ao duma categoria avaliativa,
dos outros. e as pessoas sao vistas como enti- soa-alvo» (p. 338). Como decorre, desde logo, interpreta-Ias de modo a formar uma impressao afectiva ou moral, mas a impressao geral e mais
dades coerentes; por conseguinte. a impressao das experiencias iniciais de Asch, depois de unitaria. Neste sentido, a pesquisa empfrica no vasta do que essa avalia9ao, permitindo fazer
de uma pessoa acerca de outra deve retlectir conhecer um tra90 da pessoa-alvo, 0 percep- quadro da cogni9ao social (e.g., Srull e Wyer, inferencias para outras dimensoes ou categorias.
essa unidade e coerencia» (p. 337). Assim. qual- cionador espera que esta revele outros tra90s 1989; Stangor e McMillan, 1992) tem ilustrado o estudo experimental das primeiras impres-
quer percepcionador tem a expectativa de que a consistentes com aquele. Do mesmo modo, profusamente que os sujeitos consomem mais soes tem sido realizado no contexto de tres
outra pessoa e uma entidade organizada que se quando se tenha observado um comportamento, tempo a processar informa9ao inconsistente grandes abordagens: «gestaltica» ou configura-
mantem estavel ao longo do tempo. Ao formar espera-se que a pessoa manifeste outros com- com as expectativas ou com uma primeira cional, integra9ao da informa9ao e memoria de
uma impressao. 0 percepcionador procura, pois, portamento~ consistentes com aquele. Assim, ao i mpres~ao geral da pessoa-alvo do que a proces- pessoas. Estas abordagens diferenciam-se essen-
descobrir as caracterfsticas principais da essen- observar os comportamentos presentes nu ma sar informa<;ao consistente. De facto, perante cialmente ao nfvel dos pressupostos teoricos
cia ou da natureza da outra pessoa. dada situa9<l0, 0 pcrcepcionador utiliza um informa<;ao incon sistente, 0 percepcionador relativos aos processos cognitivos que orientam
Com base neste postulado. Hamilton e «modelo guiado pela expectativa» (Hirt, 1990) pode envolver-sc, inclusivamente, em processos a forma9ao de impressoes, ao nfvel da meto-
Sherman (1996) enunciam quatro princfpios que de consistencia para fazer um conjunto de infe- mais ou menos elaborados de atribui9ao causal, dologia utilizada e ao nfvel dos problemas basi-
orientam as pessoas na forma9ao de impressoes. rt~ncias acerca da outra pessoa. A pesquisa no sentido de se descobrir a razao da incon- cos que procuram resolver.
Princfpio I: «0 percepcionador procura fazer empfrica tem revelado que a generalidade dos gruencia. Este trabalho cognitivo mais intenso Para alem de a forma9ao de impressoes estar
inferencias acerca das propriedades disposi- sujeitos tem uma «teoria impifcita de estabil i- podeni ser um dos factores que justificam 0 sujeita aos princfpios gerais que regem a per-
cionais que constituem 0 nueleo da personal i- dade» (Ross, 1989) da personalidade dos outro~, facto de os sujeitos, geralmente, recordarem cep9ao social, a literatura tem identificado e ana-
dade da outra pessoa» (p. 337). Como muita da a qual Ihes permite fazer inferencias, consi ~­ mai~ facilmen te a informa9ao incongruente. Iisado alguns factores que afectam a motiva9ao
informa9ao que 0 percepcionador obtem acerca tentes com os tra90s ou comportamentos ja Como se viu pela descri9ao dos diversos do percepcionador e a exactidao das suas im-
da outra pesSO(l e vista como sendo superficial, conhecidos, quer relativamente ao passado, quer modelos de forma9ao de impressoes, estes pressoes, salientando-se, neste caso, os efeitos de
ele assume implicitamente que 0 comporta- relativamentc ao futuro da pessoa percepcio- princfpios , embora bastante vinculados a abor- precedencia e de recencia, 0 efeito de halo e as
mento desta retlecte as suas caracterfsticas sub- nada. Esta cren9a de estabilidade traduz-se tam - dagem de Asch, facilmente poderao ser assu- distor90es de positividade e de negatividade.
124

Apesar dos progressos efectuados desde que respeitantes a uma determinada pessoa a partir d CAPITULO VI
Asch publicou os seus trabalhos. a pesquisa sobre qual os sujeitos devem formar uma impressa a
a forma<;ao de impressoes revela ainda algumas privilegiando. assim, nao so a forma indirecta dO'
Iimita<;oes, em grande parte decorrentes dos pres- obter informa<;iio. como a descontextualizal'~ e
supostos paradigmaticos que a tern orientado.
Do ponto de vista teorico, a generalidade da
. . I
PSlcossocla quer do alvo quer do actor. Na int
... ao
rac<;iio social. os comportamentos dos indivfdu e-
Atracc;ao interpessoaL
pesquisa tern incidido fundamental mente sobre
problemas de cankter estritamente cognitivo,
-
sao apenas urn dos elementos informativos qUe
podem entrar no processo de forma<;ao de illl_
~
sexua/idade e re/ac;6es intimas
niio integrando nem os aspectos emocionais que pressoes em conjuga<;iio ou em confronto Co
intervem no processo de forma<;iio de impres- uma sene " d e outros elementos de inforrnal'i\III
soes. nem, 0 que nos parece mais surpreendente. . Igualmente processaveis, que dizem respeito
.. °
os aspectos socionormativos que atravessam . d'
In Icadores grupais. ideologicos e estrategico
a
' . s Valentim Rodrigues Alferes
todos os contextos de interac<;iio social nos quais dos vanos actores, tomando-se necessario desen_
as impressoes siio formadas. De facto, a per- volver uma abordagem mais psicossocial e COn-
cep<;ii.o de pessoas realiza-se, geralmente, em textual da forma<;ii.o de impressoes. Apesar das
contextos nos quais varios indivfduos manifes- limita<;oes referidas, e, hoje, posslvel identificar A elucida<;iio dos modos de influencia e de evidenciando a diversidade dos processos psi-
tam varios comportamentos identicos. diferentes, alguns princfpios gerais que procuram explicar a interdependencia social passa pe\a investiga<;iio cologicos envolvidos; c) no deslocamento da
contraditorios ou complementares, sendo a «uni- cren<;a largamente partilhada pelos indivfduos de de urn tipo particular de re\a<;oes interpessoais investiga<;iio dos factores de atrac<;iio, tornados
dade perceptiva» nao a «pessoa» mas a «pessoa- que as pessoas tern uma personalidade coerente e dotadas de significa<;iio especial e valor diferen- isoladamente, para as estrategias de auto-apre-
-em-situa<;iio», interagindo com os outros, e estavel, devendo a impressiio que formam expri- cial no contexte global das interac<;oes huma- sentarao (valoriza<;ao do papel do indivfduo
estando envolvida num processo de comunica<;ao mir essa pressuposta coerencia e unidade. Tam- nas. Tais rela<;oes, que podemos definir generi- como actor social) e para a natureza das situa-
extremamente complexo. Ora. como vimos, a bern a valida<;iio social dos julgamentos constitui eamente como relaroes de amizade e de amor, roes geradoras de atracrao (valoriza<;ii.o do
maioria dos pIanos experimentais apresenta urn factor importante no processo de forma<;ii.o de fundam-se na capacidade de discriminar e papel dos contextos interpessoais e das normas
como estfmulo urn conjunto de informa<;oes impressoes. avaJiar, positiva ou negativamente, as situa<;oes sociais que estruturam as interac<;oes humanas).
de interac<;iio e traduzem 0 caracter selectivo o primeiro objectivo do presente capitulo
dos eomportamentos sociais. E, precisamente, consiste, precisamente, em apresentar a litera-
esta dimensiio avaliativa que especifica 0 domi- tura relevante, pondo em evidencia as mudan<;as
nio da atrac<;iio no contexte mais geral do paradigmaticas acima referidas. Assim, na
estudo das rela<;oes interpessoais: os fenomenos Sec<;ao I, depois de uma analise dos problemas
de atracrao dizem respeito aos componentes conceptuais e dos modelos teoricos, debru<;ar-
afectivos das relaroes socia is, em particular as -nos-emos sabre os factores pessoais e rela-
atitudes. emoroes e sentimentos positivos que cionais que estiio na base da atrac<;iio interpes-
experimentamos na relarao com os outros. soal e na genese das rela<;oes de amizade e de
a estudo da atrac<;iio interpessoal, iniciado no amor. Urn tipo particular de atrac<;ao - 0 amor
final dos anos 50, constitui urn dominic classico passional - sera objecto de discussao por-
da psicologia social. Contudo, desde a dec ada de menorizada (ponto 1.3), dado que a especifici-
70, assistimos a algumas mudan<;as paradigma- dade das respectivas condi<;oes antecedentes se
tieas que se traduziram: a) na maior importancia reveste de importancia primordial para 0 estudo
atribufda ao estudo das interac<;oes no quadro de das dimensoes emocionais das interac<;oes
reiaroes continuadas; b) na necessidade de dis- humanas. Os aspectos estruturais e dinamicos
tinguir as diversasformas de atracrao, especifi- das relaroes intimas, bern como os diferentes
cando as respectivas condiroes antecedentes e modelos de amor/amizade, que constituem a
t
126 127

sequencia logica da atrac~ao nos estados iniciais truir os aspectos estruturais e dinamicos das os elaboradas. mais ou menos contra- vado grau de automonitoriza~ao) as manifes-
das rela~oes interpessoais, serao analisados na rela~oes afectivas no seio de urn grupo. rJlen
ta~oes comportamentais de atrac~ao, ha que ter
sec~ao 3. dit6ri as . .
A intluencia da sociometria no estudo da o que distingue as respostas da psicologla em considera~ao que a probabilidade de ocor-
o segundo objectivo deste capftulo consiste atrac~ao interpessoal conjugou-se com a dag 'al e fundamental mente, a metodologia uti- rencia de urn dado comportamento e fun~ao do
na articula~ao do estudo da atrac~ao interpessoal SOCI '
teorias da consistencia cogllitiva emergentes nos · ada para as obter (cf. Capftulo IV). Contudo, proprio contexto social: por muito atraente que
com 0 estudo psicossocial da sexualidade. Na IIZ d' .
an os 50. Em 1961, Newcomb publica urn estudo esar do relativo consenso no que IZ respelto A possa ser, nao farei nada para me aproximar
Sec~ao 2, insistiremos, de modo especial, nos de campo sobre a intluencia da semelhan~a de apOS aspectos metadl" ,
0 OglCOS, as respostas a dele se os indices situacionais de que disponho
processos de construriio social da sexualidade atitudes no desenvolvimento das amizades ern aues tao do porque da existencia de rela~oes me levam a concluir que serei rejeitado; inver-
Ilumana. sublinhando 0 papel desempenhado grupos de estudantes universitarios que pani- samente, apesar de B nao ser particularmente
;ociais preferenciais nem sempre coincidem.
pelos scripts culturais, interpessoais e intra- Iharam a mesma residencia durante dois anos. para all!m das divergencias de base. situadas ao interessante. aproximar-me-ei dele, pois nao dis-
psfquicos na organiza~ao dos comportamentos As preocupa~oes teoricas subjacentes a investi_ nlvel dos grandes sistemas explicativos do com- ponho, de momento, de outras alternativas.
sexuais. A sexualidade e perspectivada, simul- ga~ao de Newcomb ligavam-se directamente a portarnento, 0 proprio estatuto teorico do con- Em contraste com a conceptualiza~ao estrita-
taneamente, como uma das principais situa~oes valida~ao do modelo heideriano do equillbrio ceito de atrac~ao permanece uma questao em mente comportamental, a generalidade dos in-
motivantes das interac~oes humanas e como urn (cf. ponto 1.1). aberto. Comecemos pela analise das seguintes vestigadores optou por assimilar 0 conceito de
dos principais vectores na estrutura~ao das Embora os trabalhos pioneiros de Moreno e afi rma~oes: • . atrac~ao ao de atitude. Para alem das razoes de
rela~oes fntimas. Newcomb se situem no domfnio dos processos - a atracriio do indivfduo A pelo indivfduo B natureza hist6rica (0 estudo das atitudes domi-
grupais, 0 estudo da atrac~ao interpessoal, a e uma disposiriio relativamente estdvel de A nou a psicologia social ate aos finais da decada
avaliar pela maior parte das investiga~oes que para responder e avaliar positivamente B; de 50 - Moscovici, 1982), 0 conceito de atitude,
1. AtraCf.;3o interpessoal Ihe dao corpo, centra-se, sobretudo, nas reiaroes - a atracriio de A pOl' B consiste no COIl- que basicamente implica a localiza~ao de urn
duais (Berscheid, 1985; Berscheid e Reis, 1998; junto de emoriJes e sentimentos positivos que A «objecto do pensamento» numa «dimensao ava-
Imagine que numa das primeiras aulas de psi- Huston, 1974). Mais especificamente, a pro- experimenta na interacriio com B; Iiativa» (McGuire, 1985), constituia urn molde
cologia social 0 seu professor Ihe solicita que blematica da atrac~ao interpessoal identifica-se - a atracriio de A pOl' B traduz-se nas acroes ideal para a conceptualiza~ao da atrac~ao inter-
responda as seguintes questoes: quem escolhe- com a elucida~ao da genese, desenvolvimento e de A que objectivamellte 0 aproximam de e/ou pessoal. Bastava especificar que 0 «objecto do
ria, entre os seus colegas, para trabalhar consigo ruptura das rela~oes preferenciais que estabele- favorecem B. pensamento» era urn outro indivfduo. E assim
num pequeno projecto de investiga~ao? Com cemos no interior da(s) rede(s) sociais em que Na primeira afirma~ao, a atrac~ao e concep- que a atrac~ao interpessoal e definida como uma
quem nao gostaria de realizar esse trabalho? nos movemos. tualizada como uma atitude. Na segunda, como «orienta~ao avaliativa» de A relativamente a B
Quem pensa que 0 escolheria para organizarem urn estado emocional ou afectivo. Na ultima, (Newcomb, 1961). Os tres componentes (cogni-
conjuntamente uma viagem de fim de curso? como urn comportamento directamente obser- tivo, afectivo e comportamental), tradicio-
Quem pensa que nao desejaria viver consigo no 1.1. Dos problemas conceptuais
vavel. nalmente inclufdos sob a no~ao de atitude (cf.
mesmo apartamento de uma residencia univer- aos modelos te6ricos
Na sua aparente simplicidade, a terceira afir- Capitulo VIII), passaram a constituir as tres
sitaria?
ma~ao levanta mais problemas do que resolve. dimensoes da atrac~ao.
Com eventuais altera~oes de ordem formal, e Conceptualiza~oes da atrac~ao interpessoal
Com efeito, avaliar a atrac~ao exclusivamente De acordo com Berscheid (1985), as vanta-
desde que fossem especificados determinados Quem atrai ou se sente atrafdo por quem? pelas suas manifesta~oes comportamentais e gens desta assimila~ao (nomeadamente a possi-
criterios para a obten~ao das suas respostas Fazendo, parecendo ou dizendo 0 que? Em que claramente insuficiente. Em primeiro lugar, tais bilidade de «capitalizar» os resultados das
(v.g., determina~ao do numero de escolhas e circunstancias nasee 0 amor? E a amizade? Em manifesta~oes dependem das normas sociais investiga~oes sobre as atitudes que utilizaram a
rejei~oes a efectuar, privacidade das respostas, que e que se distinguem? Como evoluem? A res- que definem 0 tipo de rela~ao entre A e B e atrac~ao interpessoal como variavel depen-
etc .). as questoes enuneiadas constituem 0 posta a estas e a outras questoes nao interessa especificam as form as social mente apropriadas dente) tiveram como contrapartida a transferen-
nucleo da sociometria - tecnica de avalia~ao das exclusivamente a p icologia social ou as cien- e 0 nfvel de intensidade que pode revestir a cia das dificuldades teoricas e metodologicas
escolhas e percep~oes sociais - introduzida por cias sociais em gera\. Da literatura a religiao, da expressao dos afectos (Huston. 1974). Em inerentes ao estudo das atitudes para 0 domfnio
Moreno (1934) numa obra que marcou 0 infcio filosofia as ideologias prdticas da vida quoti- segu ndo lugar, para alem de determinadas varia- da atrac~ao. Assim, a correspondencia entre os
do estudo sistematico da atrac~ao interpessoal. diana, e po sfvel recensear uma multiplicidade veis de personalidade susceptfveis de suprimir componentes cognitivo (crenras sobre 0 objecto
Moreno tinha como objectivo principal recons- de resposta , mais ou menos originais, mais ou (v.g. , baixa auto-estima) ou amplificar (v.g., ele- de atrac~ao), avaliativo (sentimentos e emo~oes
,
129
128

positivas por ele provocados) e comportamental da organiza[iio cogllitiva. A tonica e colocada do de equilibrio sempre que as rela~oes de pies antecipar;ao de uma rela9ao de compdior.''l.\)
(an,'oes de aproximar;ao) foi mais postulada que nas relar;oes entre cognir;oes e sentimentos e a es ta'd de e de sentlmento
. A
tem 0 mesmo sma, • I' pode induzir sentimentos hostis, em contrastc
o~ a . com a antecipa9ao de uma relar;ao de coopera-
dCnlol1strada, A medir;ao da atracr;ao limitou-se atracr;ao e explicada pela necessidade de consis_ ontnirio (v.g .• se P estlver casado com 0 e,
caso C 9ao , que geraria sentimentos de atracrrlio ( Klein e
~IS tecnicas habitual mente utilizadas no domfnio tencia interna entre estes elementos. 0 segundo . oltaneamente, 0 detestar) estamos perante
d;.ls atitudes. descurando a possfvel heterogenei- e 0 das teorias da troca social e do rejorfo. SI(1l rel a9ao desequl'l'b I ra d a. Se 'mtrod '
UZlrmos 0
Kunda, 1993; Lerner. Dillehay e Sherer. 1967).
o(1la . A semelhan9a de Heider, tambem Newcomb
dade de sentimentos que parece caracterizar A tonica e colocada na relar;ao entre os compo_ ceiro termo (i.e., no caso em que eXlstem
alguns fenomenos tfpicos de atracr;ao (v. g., nentes avaliativo e comportamental e a atracr;ao tertaroeS de unidade entre P, 0 e X) ,lz-se d' que 0 (1961, 1968) e Festinger (1957) desenvolveram
L1l1/or passional). Por ultimo, e ainda segundo e explicada pela inevitavel interdependencia re T d- teorias da consistencia cognitiva com impli-
. tema P-O-X esta equilibra 0 sempre que nao
Ber~cheid (1985), a importancia atribufda ao comportamental e afectiva que caracteriza as SIS .
se verifique qualquer mcompatl 'b'l'd d t
1 1 a e en re as
ca90es directas no estudo da atracr;ao inter-
componente Hvaliativo das atitudes, contraria- relar;oes interpessoais. tres relar;oes de sentimento (v.g., P gosta de 0 e pessoal. No caso de Newcomb. trata-Se dum
mente ao que seria de esperar, nao levou a inves- ambos sao militantes do partido X, ou ambos prolongamento da teoria de Heider que perrnite
tigar clirectamente a dinamica emocional da detestam ir ao cafe do bairro). Em termos for- integrar os processos de equilibra[clo an nfvel
As teorias da organiza~ao cognitiva I
atracr;ao interpessoal. (1lais, as incompatibilidades que especificam os dos proprios grupos. Alem disso, Newcomb
Com efeito. foi necessario esperar pela reva- A teoria do equiUbrio de Heider (1958) cons- estados de desequilfbrio resultam da coexis- procedeu a uma diferencia9ao entre os estados
loriza~iio dos estudos sobre as emor;oes, nos anos titui 0 paradigma das explica90es cognitivas da tencia de duas rela~oes de sentimento positivas ditos de desequilfbrio, atribuindo um valor
60 (nomeadamente os trabalhos de Schachter, atrac9ao interpessoal. A constru9ao e manu- com uma negativa (v.g., P ama 0 e e correspon- diferencial a rela9ao de unidade entre P e 0: so
11)64). para que a dimensao especificamente tenr;ao de um sistema coerente de representar;oes dido; contudo, 0 gosta de X, que e, por sua vez, se veri fica uma tendencia para 0 equiUbrio nos
afectiva/emocional da atracr;ao interpessoal do mundo e das relar;oes sociais constitui 0 prin- detestado por P) ou de tres negativas (P, 0 e X casos em que a rela9ao de sentimento COiTes-
fosse tomada em devida considerar;ao. A con- cipal motivo do comportamento humano. A dina- detestam-se reciprocamente) 2. pondente e
positiva. Nos casos em que nao
ceptualizar;ao da atracr;ao como emor;ao e senti- mica da atrac9ao interpessoal e fun9ao das neces- Heider afirma que os estados de desequilfbrio gosto do outro e-me indiferente a concordancia
mento, para alem de constituir uma via de sidades de organiza9ao cognitiva. De acordo sao psicologicamente desagradaveis e que existe dos nossos sentimentos relativamente a um
e,tudo complementar, permitiu uma diferen- com Heider, urn sistema de cogni90es comporta uma tendencia generalizada para 0 restabeleci- terceiro objecto ou pessoa.
cia~ao mais adequada das diversas form as de tres elementos principais: as cogni90es relativas mento do equilibrio. As implica~oes para a As implicar;oes para 0 estudo da atrac<;ao
atracr;-iio e contribuiu para deslocar a investi- ao proprio sujeito (P), as relativas a urn outro compreensao da atrac9ao interpessoal sao evi- decorrentes da teoria da dissonancia cogllitil'£l
g.wvo <.los fenomenos de atracr;ao do domfnio indivfduo (0), que entre em interac9ao com 0 dentes: a) a simples existencia de uma rela9 ao de Festinger (1957) sao, em termos genericos,
das re/nUJes elltre desconhecidos nwn contexto sujeito, e as que se referem a qualquer objecto, de unidade implica uma rela9ao de sentimento identicas as do modelo do equilibrio. Contudo, a
/Ilhonlforia/ para 0 domfnio das re/afy'<Jes con- acolltecimento ou indivfduo exterior (X). Dentro positiva; b) inversamente, a existencia de uma sua teoria da compara[iio social (Festinger,
tilll/adas (cf. Secr;ao 3). deste sistema distinguem-se dois tipos de relar;ao de sentimento negativa podera conduzir 1954) reveste-se de particular importancia.
Ainda que nao exista uma correspondencia relar;oes: as re/(l(;:oes de unidade (cognir;oes aruptura da rela9ao de unidade; c) de um modo nomeadamente quando se trata de responder a
tcrmo a termo entre as conceptualizar;oes da respeitantes ao facto de dois elementos serem mai geral, a dinamica da atrac9ao consiste nas propria questao da existencia da atrac<;ao. De
atracr;-a(l c as principais teorias explicativas, percepcionados como fazendo ou nao parte da modific a 90es correlativas dos componentes acordo com a referida teoria, todos os seres
poclemos afinnar que estas se podem c\assiticar mesma unidade funcional: Pesta casado com 0) cognitivo (rela~oes de unidade) e emocional humanos tern uma necessidade basica de auto-
em fU[l(;,ao dos componentes atitudinais que e as reiaroes de sentimento (cognir;oes relativas (rela90es de sentimento) das atitudes do sujeito conhecimento e auto-avalia~ao das suas apti-
rrivilcgiam e da maior ou menor importancia a dimensao avaliativa ou emocional duma em rela9ao aos outros elementos do sistema trian- does, opinioes e atitudes. Na ausencia de um
que atrihuem aos aspectos afectivos. Assim, relar;iio, expressas em termos de gostar/nao gular. A teoria de Heider pode, por exemplo, termo de compara~ao objectivo, a unica soluc;ao
podcmos considerar que existem duas grandes gostar, agradavelldesagradavel: P ama 0). preyer que a semelhan~a de atitudes (relativas a e a compara9ao com outros indivfduos. E, de
categorias ou grupos de teorias da atracr;ao Considerando apenas a liga9ao entre dois ele- urn objecto X) contribui para a atrac~ao reci- entre os possfveis termos de comparac;ao social,
il1tPrpessoal. 0 primeiro grupo e 0 das teorias mentos do sistema, diz-se que este esta num proca entre P e 0 (cf. ponto 1.2), ou que a sim- sao aqueJes indivfduos que na dimensao consi-

I I) kilnr dever<i wnsultar os diversos capflUlos do presente manual em que se daD expliea90es aprofundadas das 2 Uma regra simples para a determina~iio do estado de urn sistema cognitivo consiste em mul.tiplic~r u~ uh ~illai.~
l<iria, 1l'lIrias aqui mencionadas. A exposi9ao que aqui se faz e selectiva e centra-se exclusivamente nos aspectos perti- das rela9 0es de sentimento. Se 0 produto for positivo. 0 sistema diz-se em equilibrio; se for negatlvo. dIZ-S\! d<'·~L'(I",h -
'IO'n\(" para a compreensav da atrac'riio interpessoal. brado (cf. Caixa Bases da Teoria do EqlliUbrio. Capitulo VIII).
130
131

derada se encontram mais pr6ximos do sujeito


estar associ ados as atitudes e os sentimentos
que possibiJitam uma avalia~ao mais valida. No !- princfpio da maximizafiio/minimiza- directamente a atrac9ao. De acordo com 0
caso concreto das atitudes, a unica estrategia
positivos (atrac~ao) desencadeados pela satis. damentafirma que, no ambito das . _
mterac~oes em princfpio da justifa distributiva (Homans, 1961)
fa~ao da necessidade primaria que especifica a ~o - a I
~a e se en volvem, todos os indivfduos tern
A

possivel e a valida~iio consensual (Sedikides, situa~ao refor~ante. . . como


. ou da equidade (Adams, 1965; Walster, Walster
1993). Nao e, pois, de estranhar que procuremos qU . maximizar os «ganhos» e mmlmlzar e Berscheid, (978), apenas as rela90es em que
aqueles cujas atitudes e opinioes sao semelhan-
o modelo de Byrne (1971, 1992; Clore e biecUVO ,- .
o ~ erdas». Aplicado a atrac9ao mterpessoa ,
I
existe proporcionalidade entre «investimentos»
tes as nossas e que na pr6pria interac~ao se
Byrne, 1974) e basicamente identico, ainda qUe as te«P 'nelpio traduz-se na proposi~ao segundo a (que podem ser conceptualizados como 0 soma-
recorra ao mecanismo do condicionamento clas. esua!pn
gerem as condi~oes conducentes a atrac~ao (cf. OS individuos se sentem atrafdos pelas t6rio das «puni90es» e das recompensas des-
ponto 1.2). sico. A atrac~ao e definida como uma respOsta ~ em que os «beneffcios» ultrapassam
q !a~oes os
_ perdi9adas) e «Iucros» (recompensas o~tidas
afeeliva implfeila a urn est{mulo, inicialmente
Ainda que claramente cognitivista, a teoria da re
«custos» e tendem
, a afastar-se
. das re!a90es em mais puni90es evitadas) para cada urn dos mter-
neutro, progressivamente associ ado a urn estf.
compara~ao social estabelece a liga~ao com 0 o «sa!do» e negatlvo. venientes seriam geradoras de atrac9ao. Note-se,
mulo incondicional positivo. A resposta afec. queCon tudo , nao seriam os va!ores individuais
outro grande grupo de teorias explicativas da . . ainda, que a pr6pria natureza das rela90e.s tern
tiva mediatiza a avalia9ao positiva do outro,
atrac~ao interpessoal: as teorias da troea social dos «ganh os» e das «perdas» que determmanam incidencia no modo como os intervementes
enquanto manifesta~ao comportamental da atrac_
e do reforfo. Com efeito, a ideia central destas
~ao. Contudo, urn dado individuo pode ver-Se
teorias reside na interdependencia comportamen-
associado com diversas situa~oes positivas e ATRAC<;AO INTERPESSOAL E HETERO-AVALIA<;OES
tal e afectiva. Festinger, por sua vez, acentuou
negativas. Neste caso, Byrne e Nelson (1965)
a importiincia da interdependencia cognitiva na
defendem que a resposta afectiva implicita
genese dos fen6menos de atrac~ao. Para testarem a hip6tese segundo a qua . _ . ~" Arons on e Linder (1965) criaram uma situatyao
I as «flutua OeS» ou modificatyoes dos padroes de refoft;o tern
(atrac~ao) de X relativamente a Y sera 0 resultado - ~ 1'0 e a pumtyao slstematlcoS,
mais impacte na atractyao do que 0 re or" . . nv'ldado a conversar com urn comparsa do
. I na qual cada sUjetto era co
ponderado do numero e magnitude de refor90s experimental relatJvamente comp e~a, I " Estas breves interactyOes repetiam-se durante
As teorias do reforc;o e da troca social experimentador sobre diversos t6PICOS, durante a guns mmutos.
positivos e p uni 90es experimentados por X nas
situa~oes a que Yesta associado. sete sessoes experimentais. . t dor as impressoes que 0 sujeito Ihe causou.
Para este segundo grupo de teorias, 0 pri-
Esta «lei da atrac~ao» foi questionada por No final de cada sessao, 0 comparsa r~latava ao. expen men ~ 't s que se encontravam na sal a adjacente.
mado da (inter)dependencia tern como corolario fi d . I podia ser ouvldo pe los sUjel 0 , .
Este dialogo, supostamente con I enCla, . d oe-s de avalial'ao previamente defimdos.
uma celebre investiga~ao de Aronson e Linder . . ntador obedeclam a quatro pa r "
a regra da reciprocidade: «gosto de quem gosta As impressoes comumcadas ao expenme
. .. ( d' -0 ganho») as Impressoes e
. _ xpressas pelo comparsa eram negativas durante
(1965). Contrariamente as previsoes decorrentes
de mim». A explica~iio paradigmatica da atrac- Na condityao lIegatlVa-pOSlflva con Itya«.
. - ( " t eram descntos como In IVI
. d' 'duos vuloares nlio muito inteligentes, etc.). A par-
<>,
dos modelos comportamentalistas, nao e 0
~ao no contexto das teorias comportamentalistas as tres primelras sessoes os sUjel os
-
.
mel'ava progresslvamente, a mu
dar de opinilio acabando por apresentar uma
, . ,.
numero absoluto de refor~os e puni~Oes que
e exemplificada pelos modelos de LOll e LOll tir da quarta sessao, 0 comparsa
-<vel noco decorrer
" ' da u'I tlma
. s e_s sNa o . " positiva-positiva (refortyo Sistematico),
acondil'lio "
deterrnina a atrac~ao, mas as «flutua~oes» ou 0
•• C
descrityao mtelramente ,avo,,, . _ s Os padrOes de avaliatyao nas condltyoes POS1-
(1968,1974) e Byrne (1971,1992; Clore e Byrne, . . te favonlvels durante as sete sessoe . . , .
padrao especffico de aprecia~oes positivas e as descrityoes eram slstematlcamen . . d' _
tiva-negativa (condityao «perda») e lIegatlva-negatlva (con Ityao pumty
. ao sistematica) eram rigorosamente slmetncos
1974). Lou e Loll generalizam os princfpios hul-
negativas de que urn individuo e alvo (cf. Caixa).
lianos ao dominio das atitudes e concebem a aos das condityoes precedentes. . . d' sujeitos que indicassem, numa escala de tipo Likert,
atrac~ao como uma resposta anteeipatoria do
o modelo dos ganizos e perdas (Mettee e A medida da variaveJ dependente ~onslstJa em ~e Ir aos . Os resultados sao os que se indicam abaixo:
Aronson, 1974) constitui, na expressao dos seus o grau de atractyao (entre -10 e +10) sentldo em relatyao ao comparsa.
objeetivo (ou meta) adquirida pelo mecanismo
pr6prios autores, uma «miniteoria» que acentua
do refor~o secundario: qualquer pessoa asso- Descri90es do comparsa Atrac9iio (medias)
a importancia dos processos perceptivos e cogni-
ciada com uma situa~ao refor~ante torna-se alvo Positiva-negativa 0,87
tivos na avalia~ao das situa90es refor~antes.
de atrac~ao, independentemente de ter ou nao Negativa-negativa 2,52
A cOnjuga9ao da «16gica» eomportamellfa- Positiva-positiva 6,42
contribuido directamente para a produ~ao da Negativa-positiva 7,67
/ista, nomeadamente a importancia atribu{da as
situa~ao em causa. Nao e, pois, necessario que
eOllfingbzcias de resposta (a execu9ao de urn
urn individuo gratifique directa (v.g., elogiando) . - eJo com arsa e major na condityao «ganho» do que na condityao
comportamento e fun~ao do respectivo resul- Como se pode venficar, a atractyao p p . h tTdade do que a condityiio «punityao
ou indirectamente (v.g., sendo instrumental na «refortyo sistematico»; de igual modo, a condityao «perda» desperta mals os I I
tado), com 0 recurso a metMoras de natureza
obten~ao do refor~o) 0 outro. Basta-Ihe a sim- sistematica». . quotJ'd'lana s a-o eloquentes'
econ6mica constitui 0 ponto de partida das teo- . . - d t resultados para a Vida . para alem das amizades e inimizades .
ples presen~a para que possa vir a funcionar Assao
Imphcatyoes
rias da troea social (Blau, 1964; Homans, 1961; estaveis, os elogios es es esperados,
menos . . das, que mms
ou as crfticas nao anteclpa . 'Influenciam a atractyiio que sentl-
como urn refof(;o secundario ao qual passam a mos pelos outros.
Thibaut e Kelley, 1959). 0 seu pressuposto fu n-
• 133
132

reagem a iniquidade: nas rela~oes em que ex.iste OU cOllsiderariio social em funcrao do qual s ausencia de distin~oes precisas entre tos atraves da publici dade e dos meios de comu-
e . 'ca(ll a
uma «orienta~ao comunal>~ (Fiske, 1992), as especificaria a natureza dos reforcros (Jo nes coli 05 tipos de atrac~ao. Com efeito, tanto nica~ao social.
divers Apesar da convergencia referida, con vern
reac~Oes afectivas negativas aos ganhos diferen- 1974). Outra solu~ao consistiria em identific~ oS ndi~oes antecedentes como pelas carac-
ciais sao menos intensas do que nas rela~oes as possiveis classes de recursos susceptfveis de e1as CO
P . as estruturais e processos PSICO . I"OglCOS notar que a avalia'rao da beleza ffsica nao
mais orientadas para os «valores do mere ado» serem transaccionados nas rela~oes sociais (Foa terlstllC'dOs nao e legitimo tratar indiferenciada- depende exclusivamente dos atributos objecti-
VOVI ' vos, sendo, igualmente, influenciada por facto-
(Buunk, Doosje, laos e Hopstaken, 1993). e Foa, 1980). en rela roes tao dispares como aquelas que se
mente T • res de natureza situacional (v.g., efeitos de
Por sua vez, a teo ria da illterdependencia Tal como noutros domini os da psicologia, a tabel ecem entre palS e filhos, entre amantes
social de Thibaut e Kelley (1959; Kelley e oposi~ao entre os dois grandes grupos de teorias es. XO nados ou entre simples colegas de traba- contraste: em geral os individuos subavaliam a
apaI . beleza de uma fotografia depois de terem obser-
Thibaut, 1978) afirma que a determina~ao das tende, cada vez mais, a atenuar-se. Como nota Contudo, e possfvel identificar urn determl-
«perdas» e dos «ganhos» e, consequentemente, Berscheid (1985), na sequencia de Newcoomb
~~
o numero de factores que, em malOr ou
. vado uma serie de fotografias de individuos
o grau de atrac~ao de uma rela~ao depende dos (1968), a consistencia cognitiva pode ser concep_ nad "
au sao responsavels peIas «preleren-
£" A mais atraentes - Kenrick, Gutierres e Goldberg,
me no r gr ' . . 1989; Wedell, Parducci e Geiselman, 1987) e
pr6prios padroes de avalia~ao utilizados pelos tualizada como uma classe particular de situa~Oes . relacionais» que especlficam a generahdade
Clas mediatizada por estados emocionais e/ou moti-
individuos. Mais exactamente, urn individuo refor~antes. Em contrapartida, os mecanismos fen6menos de atraccrao. Entre esses factores,
avalia os resultados de uma rela~ao comparan- subjacentes ao funcionamento do refor~o e ao
doS
ara alem da familiaridade e do moUvo . de afil'
I la-
vacionais (v.g., a activa~ao fisiol6gica conduz a
do-os com aquilo que pensa serem os «ganhos» estabelecimento de interdependencias compOrta- P-o contam-se a beLeza fisica, as semeLhanr;as sobreavalia~ao da beleza - White, Fishbein e
~a , /. _ ( . _ )
e «perdas» que, em media, caracterizam uma mentais dependem, inevitavelmente, do processa- interpessoais e as ava wfoes apreczaroes Rutstein, 1981).
rela~ao semelhante (n{vel de comparapio). mento cognitivo da informacrao social. Quais sao os processos explicativos dos
positivas.
Apenas nas situa~oes em que a percep~ao dos efeitos da beleza na atrac~ao interpessoal? Para
resultados se situa acima do nivel de compara- alem da evidencia dos efeitos directos, a resposta
A beleza t'isica
~ao, a rela~ao em causa e considerada como 1.2. A diniimica da atracfiio: a esta questao passa pel a verificacrao da existen-
satisfat6ria. Contudo, a manuten~ao de uma determinantes da atracfiio A beleza fisica constitui urn dos factores ou cia generalizada de estereotipos socia is asso-
rela~ao menos atraente depende, igualmente, do e genese das reiafoes interpessoais atributos pessoais cuja influencia na genese das ciados a variaveis morfol6gicas. Mais exacta-
numero de altemativas disponiveis num dado rela~6es interpessoais tern sido sistematica- mente, os individuos tendem a associar a beleza
momento. E preciso que 0 n(vel de comparariio A atrac~ao entre duas pessoas depende, antes mente investigada durante as duas ultimas deca- a tracros de personalidade positivos. 0 este-
para as altemativas (definido como 0 nivel de mais, da respectiva proximidade fisica e dos das. De acordo com a generalidade dos estudos re6tipo segundo 0 qual «0 belo e born» foi real-
mais baixo de «satisfa~oes» que urn individuo mecanismos mais gerais que tal proximidade (Berscheid, 1985, 1986; Berscheid e Reis, 1998; ~ado por urn conjunto impressionante de estudos
esta disposto a aceitar em compara~ao com as pOe em jogo, a come~ar pela simples familia- Berscheid e Walster, 1974a), os efeitos positivos empfricos (Eagly, Ashmore, Makhijani e Longo,
«satisfa~oes» que julga possivel obter numa ridade. Desde 0 trabalho pioneiro de Zajonc da beleza ffsica sobre a atrac~ao revelam-se con- 1991; Jackson, Hunter e Hodge, 1995). Sao as
rela~ao altemativa) seja atingido para que 0 (1968) que tern vindo a demonstrar-se os efeitos sistentes atraves das idades, dos sexos e das educadoras de infancia, e os professores em
indivfduo ponha termo a rela~ao. da mera exposiriio na atrac~ao interpessoal, categorias socioecon6micas. E 6bvio que os geral, que tendem a valorizar e a tratar dife-
A principal dificuldade das teorias do refor~o sendo que tais efeitos se verificam mesmo padroes de beleza apresentam uma variabilidade rencialmente os alunos (Dion, 1972); as pr6prias
e da troca social reside na especifica~ao da quando os individuos nao tern plena «conscien- historica (Silverstein, Perdue, Peterson e Kelly, maes das crian~as atraentes a dispensarem-lhes
natureza dos refor~os sociais. 0 que e que e cia» dos estimulos geradores de atrac~ao (Bor- 1986) e uma relatividade cultural bastante acen- mais afecto e aten~ao (Langlois, Ritter, Casey
refor~ante para urn dado indivfduo, numa dada nestein, Leone e Gallet, 1987). De igual modo, tuadas. Contudo, dentro duma mesma cultura e Sawin, 1995); os jufzes que tendem a ser mais
situa~ao? Sem respondermos a esta questao cor- entre as condi~oes conducentes a atrac~ao, ha e numa mesma epoca, existe uma convergen- indulgentes para com os reus mais atraentes
remos 0 risco de cair em explica~oes circulares: que considerar 0 motivo de ajiliar;iio, concebido cia notavel, expressa nas elevadas correla~oes (Efran, 1974), salvo se as suas caracterfsticas
define-se a atraccrao de A por B em funcrao dos como a necessidade de estarmos pr6ximo dos «interjulzes» obtidas nas investiga~oes cen- fisicas foram directamente instrumentais na
reforcros/gratificacroes proporcionados por B e, outros e de obtermos satisfa~ao e suporte emo- tradas na avalia~ao das dimensoes morfo16gicas prossecu~ao do crime (Sigall e Ostrove, 1975);
reciprocamente, a atraccrao de A e 0 criterio para cional (Murray, 1938; Schachter, 1959; Winter, do rosto (Berscheid e Walster, 1974a; Cunnin- sao, enfim, e entre outros exemplos posslveis, os
afirmar 0 caracter reforcrante do comportamento 1996). gham, Roberts, Barbee, Omen e Wu, 1995) e entrevistadores que fazem da aparencia fisica urn
de B. Vma das possfveis solu~oes consiste em Na revisao que fazem da literatura sobre a ilustrada pelas caracteristicas mais ou menos criterio de selec~iio profissional (Cash, Gillen e
postular urn motivolnecessidade de aprovariio atrac~ao interpessoal, Marlowe e Gergen (1969) invariantes dos «model os» que nos sao propos- Bums, 1977).
135
134

Cabe perguntarmo-nos qual e a verdadeira sido relati vamente descurado, se comparado ._ s dos interesses, dos tra\os de personalidade, atrac~ao. Apesar de a maioria das investiga~6es
oe
natureza e 0 modo de funcionamento destes com 0 estudo dos seus efeitos no outro. Se eVer. Ill c~mpetencias cognitivas e socioemocionais empfricas favorecer a tese da semelhan~a, con-
estereotipos. Em rigor, nao existe nenhuma dade que existem numerosas investiga~oes qUe das de qualquer outra dimensao das actividades vern acentuar, como 0 fazem Gergen e Gergen
razao plausfvel para que os mais «priviJegiados» poem em evidencia processos de empare. ou an as (Cann. Calhoun eBanks, 1995; Hogg, ( 1981), que a op~ao entre semelhan\a e comple-
hum mentaridade implica a considera\ao de diversos
fisicamente sejam, tambem, os mais dotados ao Ihamento heterossexual (v.g., os individuos oper-Shaw e Holzworth, 1993).
nivel de competencias cognitivas e sociais. tendem a estabelecer rela~oes amorosas ou a CoEntre os dlVersos. d "
OmInlOS estudd
a os, a factores, nomeadamente 0 tipo da dimensao em
Contudo, existe uma parte substancial de ver- casar com aqueles cujo grau de beleza fisica e . 'de~ncia da semelhan~a de atitudes na atrac- estudo, as significa~oes sociais que Ihe estao
tO el .
dade nos estereotipos em causa. Assim, e pos- relativamente proximo do seu - Murstein, 1972·
ya
_ o
e aquel e que se encontra mms amplamente associadas e os motivos subjacentes aos com-
sivel que, durante 0 processo de socializa~ao, 0 Feingold, 1988) ou mecanismos compensa~ documentado (Cappella e Palmer, 1990). Com portamentos individuais no quadro da rela\ao.
tratamento diferencial de que sao alvo os indi- torios (v.g., as assimetrias na beleza sao Com. [! ito, desde os anos 60 que Byrne (1971) tern Num artigo recente, Rosenbaum (1986a)
ee . ,. d contesta a importancia atribuida a semelhan\a,
viduos mais atraentes possa contribuir para pensadas por assimetrias de sinal contrario ao . do a desenvolver urn programa sistematico_ e,
vJJ1
aumentar a auto-estima e, simultaneamente, nivel do estatuto socioeconomico ou das pr6- . vestiga~6es que mostra que 0 grau de atrac\ao e procurando uma explica\ao alternativa para os
JJ1 . d' I resultados de Byrne. Segundo 0 autor, nao e a
condicionar 0 desenvolvimento efectivo de prias caracteristicas da personalidade - Bers. funya o directa do grau de semelhan~a atltu Ina.
competencias e caracteristicas de personalidade cheid e Walster, 1974a), tambem nao e menos o paradigma experiment~ (dit~ do [also de~co­ semelhan\a de atitudes em si mesma que gera
socialmente valorizadas. Trata-se do processo verdade que 0 problema das estrategias de «ren. nhecido) utilizado nestas mvestlga~oes conslste, atrac\ao, mas a dissemelhan~a que leva ao afas-
mais generico da auto-realiza~iio das expectati- dibiliza~ao» dos atributos ffsicos no ambito das fundamental mente, em solicitar a cada individuo tamento/repulsao. Em termos concretos, numa
vas, descrito inicialmente por Merton (1948) e interac~oes humanas tern sido insuficientemente que avalie urn outro indivfduo em duas escalas de primeira fase da rela~ao, a dissemelhan~a de ati-
demonstrado nas mais diversas esferas da estudado (Alferes, 1997). sete pontos (indicando em que grau gosta dele e tudes geraria desconforto, levando os individuos
interac~ao humana (Darley e Fazio, 1980; A segunda questao refere-se a maior ou menor em que medida gostaria de trabalhar com ele) a diminuir os contactos. A semelhan~a seria,
Snyder e Swann, 1978). Contrariamente a outros importancia que a beleza ffsica pode assumir depois de ter tido acesso a urn questionario de ati- apenas. uma situa~ao neutra ou, na melhor das
estereotipos (v.g., os ligados aos papeis socios- em fun~ao do tipo de rela~ao e dos objectivosl tudes pretensamente preenchido pelo segundo. hipoteses, facilitadora das interac~6es compor-
sexuais), os estereotipos Iigados a beleza fisica Inecessidades dos individuos nela envolvidos. Na realidade, e 0 proprio experimentador que tamentais. As verdadeiras razoes da atrac~ao
desenvolvem-se e funcionam em contextos bas- o problema do peso relativo dos varios atributos preenche 0 questionario fazendo variar, de modo relacionar-se-iam com os diversos acontecimen-
tante informais, tornando-se mais di ffci I deli- (v.g., inteligencia, sociabilidade) que concorrem sistematico, a propor~ao de atitudes semelhantes tos ocorridos na interac~ao para alem da con-
mitar-Ihes a influencia ou atenuar-Ihes as com a beleza para determinar 0 grau de atrac~ao entre os dois sujeitos, com base nas respostas vergencia de atitudes. A potemica permanece
consequencias negativas (Dion, 1986). social so pode ser resolvido se se especificar a dadas pelo primeiro individuo a urn questionario em aberto (Byrne, Clore e Smeaton, 1986;
A importancia da beleza fisica em fun~ao do natureza da rela~ao em causa (v.g., amizade ver- identico previamente preenchido. Rosenbaum, 1986b; Smeaton, Byrne e Murnen,
sexo foi igualmente objecto de investiga~ao. sus amor) e os objectivos subjacentes as estrate- Byrne (1971; Clore e Byrne, 1974) interpreta 1989) e a sua com pi eta elucida~ao exigi ria uma
Ainda que diversos estudos (Walster, Aronson, gias individuais de aproxima~ao/sedu~ao (v.g., a rela\ao funcional entre semelhan~a de atitudes referencia extensa a pormenores metodologicos
Abrahams e Rottman, 1966; Berscheid, Dion, procura de uma «aventura ocasional» versus e atracr;ao interpessoal integrando a no~ao de incompativel com a natureza do presente capi-
Walster e Walster, 1971; Feingold, 1991; Spre- projecto de uma rela~ao continuada). validariio consensual, derivada da teoria da tulo. Por isso, remetemos 0 lei tor interessado
cher, Sullivan e Hatfield, 1994) indiquem que os compara~ao social de Festinger (1954), com 0 para a bibliografia citada neste paragrafo.
homens, comparativamente as mulheres, dao As semelhan~as interpessoais conceito cIassico de refor~o. Mais exacta-
maior importancia aos atributos ffsicos do sexo mente, a verifica~ao da convergencia atitudinal Hetero-avalia~oes, auto-estima
oposto, tais diferen~as podem vir a atenuar-se a Paralelamente a beleza fisica, a inteligencia ou e uma situar;ao intrinsecamente refor~ante, na e «estrategias de sedu~ao»
medida que se assiste ao decIfnio do duplo a outros atributos pessoais, e possivel identificar medida em que a valida~ao consensual satisfaz a
padrao sexual. urn segundo tipo de condi~6es antecedentes da necessidade de organiza~ao logica do mundo o corolario das teorias do refor~o e da troca
Duas questoes finais sobre as rela~6es beleza/ atrac~ao interpessoal, que nao se situa no plano social. social, «gosto de quem gosta de mim», traduz a
latrac~ao merecer-nos-ao uma nota especial, dada individual, mas no da propria rela~ao (cf. ponto A posi~ao de Byrne contrasta com a assumida importiincia de uma terceira categoria de con-
a sua pertinencia em fun~ao da investiga~ao 3.1). Estas condi~oes relacionais da atrac~ao pelos defensores da teoria da complemen- di~oes antecedentes da atrac~ao interpessoal: as
actual. Em primeiro lugar, 0 estudo das conse- dizem respeito, prioritariamente, as semelhan~as taridade (Winch, 1958), segundo a qual sao as ap,.ecia~oes positivas dos outros. Apesar de
quencias da beleza para 0 proprio indivfduo tern interindividuais ao nivel das atitudes, das opi- assimetrias em diferentes atributos que geram amplamente documentado (Blau, 1964; Byrne,
136 137

1971 ; Homans, 1961), 0 fen6meno da reciproci- vfduos cujo grau de auto-estima era previamente do gostar» e, pelo menos em parte, moderada atribui~ao que 0 actor procura induzir no inter-
dade da atrac~ao coloca alguns problemas ao conhecido foram distribufdos por duas condi. el a auto-estima do sujeito que e avaliado. locutor e precisamente a de que «ele (actor) e
nfvel da interpreta~ao. Obviamente que a necessi- ~oes experimentais: aprovariio e desaprovariio p UI11 outro conjunto de circunstancias suscep- uma pessoa de quem se gosta». Mas, ao procurar
dade de considera~ao positiva (Rogers, 1959) No final de uma discussao com urn grupo d~ tiV el de relativizar a importancia da recipro- cair nas «boas gra~as» do outro (autodescre-
constitui urn dos motivos basicos do comporta- estudantes era-Ihes comunicado que os outros cidade liga-se directamente a eventual contra- vendo-me de modo positivo, manifestando opi-
mento humano, pelo que nao e de estranhar que aprovaram (condif;ao I) ou nao (condirao 2) as di~ao entre as auto e hetero-avalia~oes. Se nao nioes semelhantes, elogiando-o ou fazendo-lhe
os elogios ou comentarios positivos do outro suas posi~oes (claro que 0 sentido das comuni. ha consonancia entre os elogios que me fazem e «favores»), corro 0 risco de ser visto como im-
relativamente ao meu comportamento me levem ca~oes era «manipulado» pelo experimentador). aquilo que efectivamente pen so de mim, sou postor, conformista ou subserviente e, em vez de
a gostar dele: «As amizades sao sociedades de Em seguida, tinham oportunidade de indicar 0 levado a duvidar do meu interlocutor, ou porque despertar afei~ao, induzir desprezo ou descon-
admira~ao mutua». Contudo, mesmo que se con- grau de atrac~ao que sentiram pelo «avaliador» passo a julga-Io como menos «lucido», ou, mais sidera~ao. E nisto que consiste 0 dilema do sedu-
sidere, na sequencia de Homans (1961), que a Os resultados sao os que se apresentam na importante, porque sou levado a pensar nos tor: quanta mais intensos sao os motivos que me
aprova~ao social constitui urn refor~o general i- Figura I. Como se pode verificar, a atracc;ao e verdadeiros motivos subjacentes ao seu com- levam a aliciar 0 outro, maior e a probabilidade
zado (transituacional), ha que reconhecer que a mais elevada na condirao aprovarao. Contudo, portamento. Esta ultima circunstancia poe em de que ele se questione sobre as verdadeiras
sua eficacia depende da especificidade das situa- os indivfduos com alta auto-estima sao menos evidencia a contradic;ao entre duas grandes razoes do meu comportamento.
~oes e/ou da presen~a de variaveis moderadoras afectados pelas aprecia~oes em qualquer das estrUturas motivacionais: a considerarao social Em termos formais, Jones e Pittman (1982)
associadas a tra~os de personalidade. duas condic;oes (i.e., manifestam menor atracc;ao e a consistencia cognitiva. Simultaneamente, afirmam que os comportamentos de seduc;ao sao
Entre estas variaveis, cabe referir 0 papel cen- na condirao aprovarao e maior na condiriio levanta 0 problema da manipula~ao nas rela~oes determinados por tres factores principais: a) valor
tral da auto-estima. Num estudo de Jones, desaprovarao). Esta interacc;ao entre auto- interpessoais. Mais exactamente, numa situac;ao incentivo ou importancia atribufda ao facto de 0
Knurek e Regan (1973 , cit. in Jones, 1974), indi- -estima e aprova~ao revela que a «reciprocidade em que somos alvo de aprecia~oes positivas, outro vir a gostar de mim; b) probabilidade sub-
procuramos fndices que nos permitam decidir jectiva de que as minhas acc;oes sejam bern
sobre a «sinceridade» dos elogios. Trata-se, no sucedidas na indu~ao das atribui~oes esperadas;
FIGURA 1 fundo, de urn processo de atribui~ao, no qual as e c) legitimidade percebida ou apreciac;ao indi-
«estrategias» utilizadas pelo «avaliador» seriam vidual de que tais acc;oes sao compatlveis com
A atrac-;ao interpessoal como fun-;ao da auto-estima e da aprova-;ao dos outros escrupulosamente analisadas para alem do seu os padroes morais do actor. A contradi~ao reside
(Dados originais: Jones, 1974. p. 145) valor facial. no facto de que, por exemplo, a dependencia
Se e indiscutfvel que a necessidade de consi- face a outro aumenta 0 valor incentivo, mas,
derac;ao social coloca qualquer indivfduo numa simultaneamente, a probabilidade subjectiva de
7 posic;ao vulnenlvel perante aprecia~oes positi- o influenciarmos, atraves do elogio, ve-se dras-
Auto-estima vas, e, igualmente, verdade que as «estrategias ticamente reduzida na medida em que tal indivf-
• Baixa
• Alta de seduc;ao» nem sempre atingem os objectivos duo tern «motivos» mais que suficientes para
6 que se propoem. Jones e Pittman (1982; Jones e procurar certificar-se da veracidade das nossas
Wortman, 1973) designam por estratigias de ac~oes .
0
·ra auto-apresentariio os comportamentos motiva-
0-
t.>
t!!
5 dos pelo desejo de manter ou aumentar 0 poder
< sobre 0 outro atraves da indufiio de atribuiroes 1.3. Um caso especial de atracfiio
sobre caracteristicas disposicionais do actor. interpessoal: 0 amOT passional
4 Estes autores distinguem cinco estrategias prin-
cipais: aliciamento/seduc;ao (ingratiation), inti- A paixao, tema recorrente de poetas e
midac;ao, autopromo~ao, exemplaridade e su- romancistas, constitui urn caso especial entre os
3~--------~------ ____-L________ ~ plica. A primeira das estrategias - aliciamento - diversos tipos de atrac~ao interpessoal. Com
Aprovac;;ao Oesaprovac;;ao reveste-se de particular importancia no contexto efeito, a intensidade do amor passional dis-
da atracc;ao interpessoal, na medida em que a tingue-o facilmente da amizade e de outras for-
t
139
138

mas intermedias de atrac~ao. 0 seu care/eter medida em que parece questionar 0 mOdel ~ cogllitiva do est ado de activa~ao com base Os resultados obtidos indicam-se na Figura 2.
efemero e vulnenlvel contrasta com a estabili- dominante das teorias do refor~o. Com efeitoo lafa~ dices situacionais disponfveis, no campo Como pode verificar-se, as avalia~oes dos indi-
dade e durabilidade das experiencias de vincula- enquanto a simples atracc;ao esta associ ada co~ oo~ 1~6gico do sujeito. Assim, na investiga~ao vfduos na condirao forte aetivarao sao mais
~ao infantil ou com a aparente continuidade do refor~os positivos, existem diversas situa~oes pSICOutton e Aron (1974), na ausencia de outros extremadas: sobreavaliam 0 «modelo» atraente
amor conjugal. A idealizarao do ser amado. ou aparentemente aversivas, que facilitam a erner~ de ~ S os sujeitos na cOlldirao experimental, e subavaliam 0 «modelo» menos atraente.
mais exactamente a antecipa~ao fantasiada de gencia do amor passional. Como paradig ma IodIce, ·b . . I Contudo, Kendrick e Cialdini (1977) colocam
do activados pelo medo, atn umam ta
ao .
qU . nao a sltua~ao - 0 b·· , algumas reservas a explica~ao pela falsa
gratifica~oes ilimitadas na rela~ao com 0 outro, destas situa~oes podemos referir, entre outras, a ~ectlva, mas a presen~a
parece excluf-Io do campo do deve e haver das experiencia de Dutton e Aron (1974). Os autores efel to ars do expenmentador.
. A expI'Ica~ao
- atribui~ao. Para estes autores, os erros de atri-
da CO rnp a bui~ao so sao susceptfveis de ocorrer quando a
trocas sociais e afectivas. Por ultimo, a genese procuraram testar a hipotese segundo a qual a arnor passional dentro do modelo da falsa
do . ' . - fonte de activa~ao, ainda que presente, nao se
da paixao, associ ada a presen~a de urn conjunto ansiedade (medo) gera atrac~ao. Para isso urna ibuiriio encontra apOlo nas mvestlga~oes
heteroclito de emoroes positivas e negativas. entrevistadora atraente (comparsa dos experi_ afr 's recentes de WhoHe, F'IS hb em . e Rutstem . revista de particular saliencia. Ora, nao e este 0
opoe-a as forrnas de atrac~ao em que as con- mentadores) abordou sujeitos do sexo rnas- mm . d -
(1981). as autores reglstaram 0 grau e atrac~ao caso da experiencia de Dutton e Aron (1974), em
di~oes antecedentes desempenham, quase exclu- culino em duas situa~oes geradoras de nfveis or uma comparsa (observada em registo vfdeo) que as condi~oes ffsicas seriam suficientemente

qu e, em metade das situa~oes, se apresentava de


sivamente, urn papel refor~ante. diferenciados de activa~ao fisiologica. Na p salientes para que os sujeitos as identificassem
Seguindo urn percurso diferente das aborda- primeira situa~ao (condirao activarao) era-lhes modo atraente e, na outra metade, de modo como fonte de activa~ao. Nesta perspectiva, exis-
gens de inspira~ao clinica (Fromm, 1956; solicitado que preenchessem urn questionario menos atraente. Na condirao forte QctiVQrao. os tiria uma atribui~ao correcta da activa~ao e a
Maslow, 1954), Rubin (1970, 1974) procurou apos atravessarem uma ponte estreita e oscilante sujeitos faziam a sua avalia~ao apos terem cor- atrac~ao pel a comparsa seria explicada pelo
distinguir 0 amor do simples gostar de com base suspensa sobre urn desfiladeiro a cerca de setenta rido durante 120 segundos; na eondirao fraca modelo do reforro negativo. Mais exactamente,
em duas escalas psicometricas (love scale e metros de altura; na segunda (eondirao niio- acfivar ao corriam apenas durante 15 segundos. a presenc;a da comparsa reduzia a ansiedade e
liking scale). A analise das respostas aos dife- -activarao), 0 cemirio da entrevista consistia na
rentes itens permitiu ao autor identificar as prin- travessia de uma outra ponte baixa e s6lida.
cipais dimensoes subjacentes a cada uma das Apos 0 preenchimento do questionario, a entre- FIGURA 2
escalas. Assim, a vineularao. a preoeuparao vistadora fomecia aos sujeitos 0 seu mimero de
com 0 outro e a intimidade caracterizariam 0 telefone e convidava-os a ligarem, na eventuali- Grau de atrac~io em fun~io da activa~io fIsiol6gica e da beleza flsica
a1ll01; ao passo que 0 simples gostar de remete- dade de estarem interessados em obter informa- (Fonte: White, Fishbein e Rutstein, 1981, p. 59)
ria fundamentalmente para 0 respeito e a afeirao. ~oes adicionais sobre a investiga~ao em causa.
Outros estudos (Steck, Levitan, McLane e A analise dos resultados indicou que a percenta- 35 ~---------------------------------'
Beleza frsica
Kelley, 1982; Swensen, 1972), com Iigeiras gem dos sujeitos que contactaram a entrevista- . / III Mcdelo aireente
divergencias, apontam no mesmo sentido. dora foi significativamente superior na condirao 30 / • Mcdalo nllo aireenle

Contudo, a primeira analise sistematica do J


aetivarao. Alem disso, as respostas aos ques-
am or passional deve-se a Walster e Berscheid tionarios dos sujeitos nesta condi~ao apresen- 25
(1971; Berscheid e Walster, I 974b). Hatfield e tavam, com maior frequencia, conteudos de
Walster, privilegiando a dimensao especifica- natureza sexual.
mente emocional da paixao, definem 0 amor Berscheid e Walster (1974b; Hatfield e
passional como «urn estado de desejo intenso de Rapson, 1987), com base nos resultados desta e 15
uniao com 0 outro. 0 amor retribufdo (uniao de outras investiga~oes, procuraram inter-
com 0 outro) esta associado a satisfa~ao e extase. pretar a genese da paixao no quadro da teoria 10
o amor nao retribufdo (separa~ao) a sensac;ao bifactorial das emo~oes de Schachter (1964).
de vazio, ansiedade ou desespero. Urn estado de A semelhan~a doutros estados emocionais, a 5 L-________ ~ ___________ L_ _ _ _ _ _ _ _ ~

profunda activa~ao fisiologica» (1978, p. 9). experiencia da paixao pressuporia duas condi- Fraca Forte
Neste contexto, 0 estudo das condi~oes ante- ~oes: primeira, aetivarao fisiol6gica intensa, mas ActivayAo
cedentes da paixao merece especial relevo, na relativamente indiferenciada; segunda, roW-
141
140

seria este facto que a tomaria mais atraente para Duas questoes fundamentais parecem eSlar . 'duos se devem apaixonar (Jankowiak e pal causa desta situa~ao reside, fundamental-
. dl VI mente, na aceita~ao generalizada da dicotomia
os sujeitos na condiriio forte activariio. ausentes da reflexao que temos vindo a faZe I~ hef, 1992). 0 amor passional aparece cada
Esta controversia entre as explica~oes pela sobre 0 amor passional. Em primeiro lugar, a~ fiSC ais como uma condi~ao previa para 0 instinto/norma (Alferes. 1987a). Por urn lado, os
falsa atribui~ao e pelo refor~o negativo foi recen- semelhanya do que se passa com 0 estudo das veZ J1lenta (Campbell e Berscheid. 1976; Sim- comportamentos sexuais sao analisados numa
temente retomada por Allen. Kenrick, Linder e condi~oes antecedentes de outras form as de
casaJ1lCaJ1lpbell e Berscheid. 1986). perspectiva psicobiologica. prisioneira da sexua-
McCall (1989). Os autores continuam a defender atrac~ao. as investiga~oes tem-se centrado Prj. Pson,
'ferminaremos est~ sec~ao com uma br~ve A
lidade natural e dos mecanismos filogeneticos
a interpretayao pelo refor~o da experiencia de mordialmente em atributos pessoais, descurando -0 aD caracter efemero do arnor romantIco. que the dao forma; por outro. as perspectivas
alus a estritamente antropol6gicas e/ou sociol6gicas. ao
Dutton e Aron. Contudo, reconhecem que tal o papel do sujeito na constru~ao das proPrias aco rdo com Blood (1967), os «casarnentos de
De 'A •
insistirem excessivamente nos relativismos cul-
modelo nao funciona no caso das investigayoes situa~oes de interac~ao. Em segundo lugar, ha r» e OS «casamentos de convemenCla» apre-
.&. d
de White et al. (1981; White e Kight, 1984), na que reconhecer que a compreensao do amor Pas- aJ1l0taJ1l padroes dherenCla os no que d'IZ respel't0 turais ou nas regularidades normativas, ignorarn
sen . o papel do sujeito na gestao que faz das suas
medida em que 0 decrescimo de atrac~ao pel a sional nos remete inevitavelmente para as nOr- as «J1lanifestayoes amorosas» entre os parcelros.
comparsa menos atraente, ap6s activa~ao gerada mas culturais e para os scripts sociais. Aborda_ EstaS declinariam mais rapidamente (sobretudo experiencias e do seu corpo e na significayao que
por uma fonte neutra, e imprevisfvel a partir remos sucessivamente estes dois aspectos. partir do segundo ano) nos «casamentos de atribui aos seus comportamentos.
da teoria do refor~o negativo: «E contrano ao No que diz respeito ao primeiro, cabe referir ~onveniencia». Contudo, ao fim de dez anos nao Na perspectiva da psicologia social. a sexual i-
modelo preyer que uma pessoa possa simulta- a Iinha de investiga~ao de Snyder (1987) sobre existiriam diferenyas significativas. A evolu~ao dade constitui um caso particular das interacyoes
nearnente actuar como reforyo negativo e tomar- o papel dos sujeitos na constru~ao de cemirios do arnor passional e a sua relayao com outros humanas, pelo que a sua compreensao nos remete
-se menos atraente» (Allen et al. 1989, p. 262). romanticos na escolha dos potenciais parceiros. tipos de amor sera objecto da Sec~ao 3. directamente para os mecanismos gerais que
Os autores acabam por propor urn terceiro mo- Por exemplo, Snyder, Berscheid e Glick (1985) regulam tais interacyoes. Alem disso. 0 estudo
delo, estruturalmente identico ao da facilitariio mostrararn que os indivfduos com elevado grau dos padroes de comportamento sexual e indis-
social de Zajonc (1968), que designam porfacili- de automonitorizariio (capacidade de controlar 2. A construc;ao social da sexualidade socilivel das representa~oes sociais da sexuali-
tariio de resposta. Tal modelo afirma que a acti- o comportamento expressivo) sao mais suscep- dade que orientarn e dao significado a acyao.
va~ao, independentemente da saliencia e do tfveis de iniciar uma rela~ao romantic a com base Aceita-se, sem grande dificuldade, que 0
canicter positivo, negativo ou neutro da fonte que na aparencia exterior do potencial parceiro, ao desejo sexual constitui urn dos componentes 2.1. Encenafoes culturais,
a gerou. funciona como factor motivacional indi- passo que os indivfduos com baixa automo- principais das relayoes passionais (Berscheid, interpessoais e intrapsiquicas
ferenciado (semelhante ao impulso hulliano) em nitoriza~ao dao maior importancia aos atributos 1988). Contudo, a sexualidade nao se circuns-
presenya do qual 0 indivfduo executa a resposta «internos». A automonitorizayao esta igual- creve as situayoes romanticas ou amorosas. Nesta perspectiva, os comportamentos
dominante na situayao actual. Exemplificando: mente relacionada com a escolha das situayOes A conjuga~ao amorlsexo nao e uma necessidade sexuais. a semelhanya de quaisquer outros, sao
em estado de activa~ao e perante uma mulher apropriadas para iniciar uma relayao amorosa. biol6gica. nem urn imperativo social, mas, ape- conceptualizados como resultando de urn pro-
atraente, a resposta dominante e a atrac~ao, veri- De acordo com urn estudo de Glick (1985), nas, uma das possfveis soluyoes hist6rico- cesso de construriio social e nao como a mani-
ficando-se 0 contnirio na situa~ao inversa. Na os sujeitos com elevada automonitoriza~ao, -culturais para 0 problema da articula~ao entre festayao de uma motivayao ou instinto especial
sua aparente simplicidade, 0 modelo da facili- quando confrontados com a possibilidade de reprodu~ ao biologica e vinculayao social. interiores ao organismo. Gagnon e Simon (1973;
ta~ao de resposta nao implicaria a fraca saliencia optar entre urn ambiente romantico (v.g., jantar Apesar de a generalidade dos investigadores Simon e Gagnon, 1986. 1987) introduziram 0
da fonte de activa~ao, pressuposta pela teoria da num restaurante agradavel) e outro menos afinnarem explicitamente 0 caracter psicossociai conceito de script sexual para dar conta do carac-
falsa atribui~ao, nem teria dificuldades a Iidar rom anti co (v.g .• lanchar no bar da universidade), da sexualidade, esta so muito recentemente se ter construfdo da sexualidade. Os scripts sexuais,
com as situa~oes neutras, em que 0 «objecto» escolhiam 0 primeiro com maior frequencia do veio a constituir como probiematica especffica que constituem um caso particular dos scripts
de atrac~ao se ve impossibilitado de funcionar que os sujeitos com baixa automonitofiza~ao. em psicologia social (Byrne, 1977; Hatfield e sociais. podem ser definidos como esquemas
como refon;:o negativo. Quanto ao segundo aspecto acima referido Rapson, 1987). Para alem das habituais razoes de (socialmente construfdos) de atribuiyao de sig-
Entre as condi~6es antecedentes da paixao con- - 0 papel dos factores sociocuIturais na genese ordem moral ou de prestfgio cientffico, a princi- nificayao e de orienta~ao (direc~ao) da ac~a03.
tam-se, tam bern, acontecimentos emocionalmente da paixao -, e importante acentuar a existencia
positivos: excita~ao e gratifica~ao sexual ou satis- (pelo menos no que se refere as sociedades oci- 3 Script significa literalmente «manuscrito de uma pe~a de teatro ou de urn filme, ou do papel de urn actor» (The
fa~ao de necessidades em geral (Berscheid e dentais contemporaneas) de normas e expectati- Lnicon Webster Dictionary) e poderia ser traduzido pelo portugues guiiio. Optamos. contudo, pel a manuten~iio do origi-
Walster, 1974b; Hatfield e Rapson, 1987). vas culturais de acordo com as quais todos os nal, tendo em considera~iio 0 seu uso generalizado para alem das fronteiras da literatura psicol6gica anglOfona.
142 t
143

Para os autores. 0 conceito de script «e essen-


- encenaroes culturais 4 - encontramo comunica~ao representa urn dos aspectos do conhecimento previo do parceiro, e exem-
cialmente uma metafora para conceptualizar a . . s «Os A .' . ,
gums gerais» da ac~ao tal como se expr ais nos SCripts InterpessoaIs, uma vez que e plarmente ilustrada por uma investiga~ao expe-
produ'rao de comportamentos no interior da vida " ' essa tr
no plano das slgmfica~oes e normas colect' III cel1 yeS dela que «urn encontro sexual potencla . I rimental em «meio natural» realizada por Clark e
social~> (1986. p. 98). Pelas suas fun~oes. 0 N ass, L"Ibby e FIsher (1981) consideram 1Vas . . atratransforma numa troea sexual explicita» Hatfield (1981. cit. in Hatfield. 1982). Os autores
concelto de script aproxima-se do conceito de . .... Cinco
representaplo social (Moscovici, 1976; cf.
tlpOS pnnclpals de SCripts: 0 «script reli .
t d" I gloso s~. on e Gagnon, 1987, p. 366). Em contextos pediram a comparsas dos dois sexos que contac-
Capitulo XIV). Com efeito, a semelhan~a das
ra IClona », 0 «script romantico», 0 «script d ( laJ1rn dardizados, 0 problema da comunica~ao e tassem informalmente. em diferentes locais do
re Ia~oes sexuals aseadas na amizade» as
- . b est .
lativamente menor e os SCripts transformam- campus universitario, colegas deseonhecidos do
representa~oes sociais, os scripts referem-se a
modalidades de conhecimento pratico. social-
«script da infidelidade ocasional» e 0 « '. 0
'1' , . SCrtPt re em simples rotinas de interac~ao (Goffman. sexo oposto. Oepois de uma breve frase em que
UtI Jtano/predador». DeLamater (1987) fal -se
m.ente elaboradas e partilhadas. constituindo, . _ '. a de 1967). Contudo, em situa~oes menos conven- manifestavam que ja ha algum tempo vinham a
onenta~oes
. ou Ideologlas sexuais (v.. g ., aSCe_ ionai s, a propria «entrada num script sexual» e reparar neies, os comparsas convidavam os
slmultaneamente, sistemas de interpretariio e de
categorizariio do real e modelos ou guias de
tIsmo, sexo reprodutivo, relacional, hldico ~bjecto de negocia~ao ao nivel da atribui~ao de sujeitos para: a) urn encontro futuro; b) visitarem
terapeutico) Jigadas. directa ou indirectamen~U significa~oes e .da confirma.~ao das identidades o seu apartamento e c) irem para a cama. Sinto-
acriio. De modo mais especffico, os scripts sao
a quatro grandes institui~oes sociais (religi- e, sociais e sexualS. McCormIck e Jesser (1983), maticamente, 75% dos homens aceitaram ir para
estrutu.ras cognitivas (cf. CapItulo XI) que ~ fl " ao,
,amI la, economla e medicina). ao analisarem as situa~oes de enamoramento, a cama, 69% dispuseram-se a visitar 0 aparta-
«orgamzam a compreensao das situa'roes basea-
Num segundo nlvel - scripts interpessoais _ concluem que, apesar do relativo declinio do mento da comparsa e 50% encararam a pos-
das em acontecimentos», incluindo expectativas
sobre a respectiva ordem de ocorrencia (Abel- a sexualidade e perspectivada em fun~ao das duplo padrao sexual, os rapazes. mais do que as sibilidade de urn futuro encontro; no caso das
son. 1981, p. 717). respostas• concretas dos actores sociais itS ). raparigas, continuam a utilizar estrategias mulheres, nenhuma quis ir para a cama com 0
expectahvas normativas decorrentes das ence- activas de sedu~ao. Shotland e Craig (1988) comparsa desconhecido, 6% prestaram-se a visi-
No. interior. de uma dada cultura. os scripts
sexuals especlficam: a) quem sao os possiveis na~~es culturais. Mais exactamente, no quadro rnostraram experimentalmente que tanto os tar 0 respectivo apartamento e, finalmente, 56%
parceiros sexuais; b) em que circunstancias das. Interac~oes sociais, os indivfduos procuram, homens como as mulheres sao capazes de dife- aceitaram marcar urn encontro.
recJProca~ente, articular os seus desejos e pla- renciar entre «inten~oes amigaveis» e «inten~oes E ao nivel dos scripts interpessoais que se
- onde e quando - e apropriado comportarmo-
-nos sexualmente e que tipo de actividades _ nAos .sexuals. Esta tarefa e facilitada pela exis- sexuais», ainda que os primeiros manifestem desenvolvem as estrategias de sedu~ao e que os
te?c~a de scripts interpessoais que organizam limiares mais baixos para atribui~ao de signifi- atributos, ou factores pessoais de atrac~ao. sao
o q~e e como - nos e «permitido»; c) quais os
motlvos ou razoes - porque - que nos levam a tals I~terac~oes, fomecendo aos sujeitos pistas car;oes sexuais. Muehlenhard e Hollabaugh susceptiveis de utiliza~ao estrategica. Por exem-
~ara mterpretarem e coordenarem os respec- (1988) assinalam que 39.3% das mulheres ja plo. Snyder. Simpson e Gangestad (1986) mos-
comportar de modo sexual (Gagnon, 1977). Por
tIvos comportamentos, reduzindo, deste modo reeusaram, pelo menos uma vez, ter rela~oes traram que urn elevado grau de automonitori-
outras palavras, enquanto significa~oes parti-
a ambiguidade das situa~oes. Para os actore~
Ihada~ pelos actores sociais, os scripts sexuais sexuais, ainda que 0 desejassem. A prevalencia ZQ~iio esta associ ado a urn maior numero de
em presen'ra, os scripts interpessoais cons- deste script ehlssieo (Women sometimes say no experiencias sexuais e a atitudes mais permissi-
o~gamzam os comportamentos sexuais, defi-
tituem a interpreta~ao comum e contextuali- when they mean yes) esta associada a adesao a vas relativamente a sexualidade. Outras varia-
m~do as situ~~oe~ de interac~ao, gerando expec-
t~tIvas relaclOnaIs e sinalizando as respostas
z~da das encena'roes culturais pertinentes. estere6tipos tradicionais dos papeis sexuais e veis de natureza disposicional. como 0 «humor
«mcongruentes». Slf~on e Gagnon definem os scripts interpes- a dimensoes atitudinais como a erotofobia- de momento» (Forgas, Bower e Krantz. 1984)
soals como «as representa~oes do eu e das
A importancia dos scripts na regula~ao dos -erorofilia. Note-se que esta investiga~ao incidiu ou 0 «estilo competitivo» (Laner, 1989), podem
"imagens implicitas" does) outro(s) que facili- sobre estrategias de recusa concomitantes com 0 influenciar a «entrada nos scripts sexuais».
comportamentos sexuais pode ser perspectivada
a tres niveis distintos. Num primeiro nivel tam a ocorrencia de trocas sexuais» (1987, desejo de se envolver numa rela~ao sexual e nao Forgas e Dobosz (1980) analisaram as represen-
p.365).
em situar;oes ditas de «assedio sexual». Entre as ta~oes de vinte e cinco epis6dios interpessoais
razoes invocadas para a incongruencia entre heterossexuais (v.g., umflirt sem consequencias
4 N ..
o ongmal cultural scenarios. 0 termo scenario e virtu I " . . . comportamentos e desejos contam-se, para alem durante uma festa de amigos, uma situa~ao de
enredo de urn trabalho dramatico em que s d~ a ,mente smommo de scrzpt e refere-se ao: «I, Esbo~o do
e ao pormenores vanados d . das de ordem pratica, as relacionadas com infidelidade, urn casamento de trinta anos, etc.)
manuscrito de urn filme em que e dada a s ' . d _' . e cenas. personagens e sltua~6es; 2, Esborro ou
equencla a ac~ao a descnrrao das
aparecer no ecra» (The Lexicon Webster DI'Ct' ) C • I .. cenas e personagens e 0 material escrito a factores de inibi~ao e com a utiliza~ao de estra- e chegaram a conclusao de que os sujeitos clas-
IOI/arv. omo ta dlstlOgue se d ' ) "
tugues «cenario»). que se aplica com prop ' d d . • .- 0 109 es scenary (correspondente ao por- tegias de manipula~ao. sificam os scripts interpessoais em fun~ao de
• ne a e. aos aspectos decoratlvos d i N .
tradu<;ao mais apropriada para scenario e «encena~ao». 0 pa co. este contexto. Julgamos que a A maior «disponibilidade» dos homens para tres dimensoes: sexualidade (sexo ffsico versus
entrarem num script sexual, independentemente mero envolvimento afectivo), valorizariio e
145
144

equilfbrio das relaroes (rela~oes frustrantes ver- Assim, na gam a de idades estudada, a taxa
sus satisfat6rias; relalfoes simetricas versus de virgindade masculina e sempre menos ele. FIGURA 3
desiguais) e amor e compromisso (relalfoes vada do que a feminina. Enquanto esta desce
efemeras versus rela~oes duradoiras). abaixo dos 50% (48.1%) na classe 20-21 anos Sexualidade e duplo padrao em estudantes universitarios portugueses
Por ultimo, ha que considerar 0 nlvel intra- a taxa masculina e, nesta mesma cIasse etaria' (Oados origillais: Alferes, 1997)

pSlquico dos scripts. Ainda de acordo com de 16.7%, verificando-se, igualmente, que ao~
Simon e Gagnon, enquanto os scripts interpes- 18-19 anos apenas urn ter~o dos rapazes Contra

-
soais facilitam a ocorrencia de comportamentos aproximadamente tres quartos das raparigas j ' , i •••• ,i l·····,'·'ii ••• 1"'T'T'T1 Pslx~o pelo 1° psrcalro sexual
sexuais, os scripts intrapsiquicos constituem sao virgens. Em media, a primeira relalfao o Mulheres

I
Mulhafes [JEstava apaixonado
• Homens • Nlio estava apalxonado

-
uma encenap'io privada do desejo e referem-se sexual dos homens precede de cerca de urn ano concomltantes iIt Homens
Idsde do 1° psrce/ro sexusl
a «sequencia de significa~oes (Jigadas a actos, a das mulheres (17.7 versus 18.8 anos). Os [J Mals velho

posturas, objectos, gestos) que induz e mantem homens tiveram mais parceiros sexuais, quer
one night stsnds ~

;'iiiiiiiiiiiiiiijjj_
Mulherss

Homens I [J Os mesma Idade

• Mals novo
Idsde ns l' re/a>'o sexuel
a activa~ao sexual, conduzindo eventual mente no ultimo ano, quer durante todo 0 ciclo de UIUmo ana [J 20 anos ou rnais

ao orgasmo» (1987, p. 366). Os scripts intra-


psfquicos dizem, pois, respeito a liga~ao entre
vida; de igual modo, tiveram mais «aventuras
de uma s6 noite», mais parceiros concomitantes
Tode a vida \.-iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii-------
Mulheres

Homans
I [J 18 ou 19 anos

• 17 anos ou menos

fantasias e actividades sexuais, a articu)a~ao com 0 actual parceiro (cf. Figura 3A), dese- o 1 2 3 4 5 o 10 20 30 40 50 60 70 eo 90 100
B _Idade e clrcunsUincias da primelra relacAo sexual (percentagens)
entre imaginano e comportamento (cf. ponto jando relacionar-se sexualmente com urn maior A - Numero mMio de parceiros sexuals

2.2), podendo ser conceptualizados como mapas numero de parceiros e esperando vir a faze-Io
amorosos individualizados (Money, 1988). no futuro. Pensam mais sobre sexo, mastur-
Qutros metodos •
Num inquerito recente sobre valores, atitudes bam-se mais e tern maior experiencia do
pnula . . . . . . . . . . . .•
e comportamentos sexuais (Alferes, 1997), orgasmo (cf. Figura 3C). Do ponto de vista ati- Colto

tudinal, revelam-se mais permissivos, admi- preservativo • • • • • • • • •· -


procuramos definir os contomos e evidenciar as
figuras centrais da sexualidade, a partir das tindo mais facilmente 0 sexo ocasional, 0 sexo Automasturba~o 1iII••iil.•••••- Coito interrompldo ~

respostas de 587 estudantes universitarios. Os sem compromissos e 0 sexo impessoal (cf. Metodos naturais -

resultados obtidos indicam que. tanto no Figura 3F). Por sua vez, as mulheres mostram
orgasmo ~• • • • • •iiiiii.~. Nanhum metodo . . . . . ..

domfnio comportamental como nos domfnios urn maior conhecimento da eficacia dos meto- o 10 20 30 40
atitudinal e normativo. os dois sexos estao de dos contraceptivos e, ao nfvel das atitudes, o 20 40 60 80 100
o _Metodos contraceptivos utllizados nas ultimas
C _Achvldades e experil!ncias sexuals realizadas. pelo menos
acordo no que diz respeito a sexualidade pre-
dez relacaes sexuals (percentagens)
manifestam-se mais sensibilizadas para a edu- uma vez. durante 0 ultimo mas (percentagens)
-matrimonial orientada para 0 prazer e vivida no ca~ao sexual e planeamento familiar (factor
quadro de uma rela~ao emocional duradoira. responsabilidade na Figura 3F). I"""" j'i'TTTTT'I'i""'i'jt ••• ,;, " "~" ~Ulheres
o Mulheres
o script do «sexo com afecto» e, pois, urn script No que respeita a primeira rela~ao sexual, os
Motivas negslivos
FuncionaHdade • Homens Responsabllldade ~iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii_;r:::.===:J
III • Homans

maioritariamente partilhado. Em contrapartida, homens declaram-se menos apaixonados pelo Conservadorismo F=-
Olnculdades relamonsls Sexo Impessoal ~iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii---.
a adesao ao «sexo pelo sexo» continua a ser parceiro do que as mulheres, ainda que em
Motivos poslIIVOS
Medo Prazer fislco ~iiiiiii__iiiiiiiiiiiiiiiijjjil
quase exclusivamente masculina. Por outras ambos os casos as percentagens ultrapassem os Reprodu~o

palavras, as respostas dos inquiridos permitem- 50% (62.7% para os homens e 88.5% para as Palxao Comunhao ~iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii-"
Nonnatividade
-nos concIuir pela existencia de urn duplo mulheres). Nas situa~oes em que existe paixao, Hedonismo
padriio sexual cOlldicional (Reis, 1967; Spre- a idade do primeiro parceiro e, igualmente, con- Interdependencia relsciona I permiSSiVIdade[: .. " ...... I .... , ... " ............. d ........ .!
-0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6
cher, McKinney e Orbush, 1987), por oposi~ao forme aos padroes c1assicos: 0 homem mais 1 2 3 4 5
F _ Atitudes sexuais (pontu8caes factorlais na adaptacA o
ao duplo padrao chissico, no qual. independen- velho do que a mulher (cf. Figura 3B). Note-se, E - Motivos para nao ter (motivos negativos) e para ter (motlvos positiv~s) da Escala de Hendrick & Hendrick. 1987)
relacoes sexuais (pontuacoes numa escala de 1 a 5)
temente da tonalidade afectiva da rela~ao, a contudo, que os homens e as mulheres aplicam
sexualidade pre-matrimonial estaria exclusiva- uma «norma igualitana» a idade considerada
mente reservada aos homens. apropriada para a primeira rela~ao sexual, se
• 147
146

bern que·os primeiros a antecipem de cerca de /sujeitos se envoi vern em trocas sexuais Cui. odes tas , ou como urn acontecimento decepcio- mulo sexual externo. Em particular, determi-
urn ano para os dois sexos. turalmente esperadas, reladonalmente possfveis (11 te para os que se erigem outros padroes de nadas «regioes» possuem valor erotico diferen-
A convergencia e, ainda, manifesta em rela- e individualmente significativas? Basicamente (lall l'Ollarnento sexual. De igual modo, os actos cial (v.g., as zonas ditas erogenas ou certas
fu lle . .
~ao as atitudes face a comunhao e ao prazer tais sequencias podem ser descritas como reac~ . tramentals conducentes ao orgasmo mscre- partes do rosto como os labios) 6. Contudo, a
",5 . ,
ffsico (cf. Figura 3F) e ao principal motivo ~oes fisiologicas e comportamentos manifestos rn- se , contranamente ao que e comum pensar- propria percep~ao do corpo como «excitante» e
para ter rela~6es sexuais: a paixao (cf. Figura regulados pelos respectivos resultados, mediati~ 'Ie em scripts sexuais cuja significa~ao e esta- influenciada pelos scripts sexuais. Numa inves-
3E). Contudo, as probabilidades de «entrada zados por processos internos, que sustentam e -S~~cida por aprendizagem directa ou vicariante. tiga~ao de Byrne e DeNinno (1973, cit. in
be . . d
num script sexual concreto», a avaliar pela mag- modulam a activa~ao sexual, e, tendencial_ o corpo e os mOVlmentos expresslvos 0 Baron, Byrne e Griffitt, 1974) era pedido a indi-
nitude dos motivos, sao superiores para 0 sexo mente, desencadeados por condi~oes extemas outrO constituem, obviamente. 0 principal estf- vfduos de ambos os sexos que indicassem 0
masculino. De urn modo geral, quando se trata de estimula~ao (Byrne, 1977, 1986; Przybyla e
de inventariar razoes para ter rela~oes sexuais, Byrne, 1981).0 esquema da sequencia do eoOl-
os homens ultrapassam as mulheres; ao inves, portamento sexual, proposto por Byrne (1986) e FIGURA 4
quando se trata de encontrar razoes para evitar reproduzido na Figura 4, servir-nos-a de fio
ter rela~oes sexuais, as mulheres mostram-se condutor para uma breve analise dos «aeon- A sequencia do comportamento sexual
mais «produtivas» (cf. Figura 3E). Por ultimo, tecimentos» que caracterizam as actividades (Fonte: Byrne, 1986, p. 8)
registe-se que, no plano das pnlticas contra- e/ou trocas sexuais. Em rigor, 0 esquema apre-
ceptivas e de preven~ao da SIDA, os dados sentado refere-se a uma sequencia comporta-
recolhidos sao algo preocupantes: 0 uso do pre- mental individual, aplicando-se, como tal, a COMPORTAMENTOS'ABERTOS'
ESTiMULOS EXTERNOS PROCESSOSINTERNOS
servativo 'corresponde aproximadamente a urn actividades auto-eroticas. 0 estudo das rela~oes
ter~o das rela~6es sexuais relatadas, cabendo sexuais entre dois indivfduos exige, obviamente, Processos
Estimulos: Processos 1 t - - - - - - - t I
outro ter~o a pflula e 0 restante a ausencia a articula~ao de duas sequencias comporta- com alectivos
de contracep~ao ou a metodos ineficazes (cf. mentais. propriedades
Figura 3D). Uma sequencia de comportamento sexual er6ticas
RaO baseadas
Uma crftica frequente as teorias construtivis- implica modificaroes jisiol6gicas eventual- na
tas da sexualidade (entre as quais se inclui ados mente conducentes ao orgasmo. Desde 0 traba- aprendizagem
scripts sexuais) diz respeito a nega~ao do com- Iho pioneiro de Master e 10nhson (1966) que I
I • Actos Respostas
ponente biologico da sexualidade. Contudo, 0 conh~cemos com algum pormenor a fisiologi a Processos It----¥-----II
r----o instrumentaisl-----II 'meta'
inlormativos
que esta em jogo na analise psicossocial da da res posta sexual humana e as modifica~oes
sexualidade nao sao as potencialidades reprodu- corporais correlativas 5. Do ponto de vista da
Estimulos:
livas ou as capacidades eroticas, que assentam psicologia social, e importante sublinhar, para com
inevitavelmente num corpo biologico filogeneti- alem da media~ao eognitiva da estimula~ao
camente condicionado, mas a gestao desse sexual, 0 papel dos scripts e d~s representa~oes ertiticas
baseadasna Processos
corpo no quadro das trocas sexuais. E sobre esta sociais da sexuaIidade enquanto sistemas de aprendizagem imaginais
questao que incidira 0 ponto seguinte. referencia em fun~ao dos quais os indivfduos (Iantasias)

avaliam os resultados da sua propria aetividade


2.2. As experiencias sexuais sexual. Como nota Fisher (1986), urn simples Resultados

orgasmo durante 0 coito pode ser sentido como


Quais sao as sequencias de actos, posturas, uma experiencia transcendente, para aqueles
objectos e gestos atraves das quais os corpos/ cujas expectativas e fantasias sao relativamente
6 Os et610gos falam de estimulos desellcadeadores e de exibiroes sexuais para se referirem ao papel que as carae-
~ Para uma discussao da fisiologia da resposta sexual humana. podem consultar-se. para alem da obra de Master e terfsticas morfol6gicas ou movimentos instintivos ritualizados desempenham na indu~ao de comportamentos sexuais
10nhson (1966). os seguintes trabalhos: Zuckerman (1971). Heiman (1977). Rosen e Beck (1986) e Bancroft (1989). (cf. Wickler. 1967).
t
148
149

nlvel de activa~ao sexual apos observarem dois interac~ao entre sexo do respondente e tipo d . f1 enciada pelas respostas emocionais posi- com diversas investiga~6es (Giambra e Martin,
tipos de filmes eroticos (urn casal integralmente actividade sexual: ignorando 0 tipo de rela~aoe eIn U .
u negativas (v.g., ansleda de, cu Ipa b'l'
I 1- 1977; Wilson, 1978), existe uma correla~ao posi-
nu mantendo rela~6es sexuais inciuindo sexo s B
nas. situa~.6es ~e carfcias os homens manifesta~ tiva 0 . h
d ) associadas ao sexo. FIs er, yrne e WhO Ite tiva entre 0 numero e a diversidade de fantasias
oral-genital - condirao coito - versus urn casal
malOr actlva~ao do que as mulheres, verifiean_ da ~3) afirmam que, do ponto de vista biolo- e a frequencia de actividades sexuais. Alem
parcial mente vestido praticando cancias multi-
plas - condirao carfcias). Em termos globais, os
do-se 0 inverso nas situa~6es de coito. (~ 9 0 sexo estaria inicialmente associ ado a
gICO,
disso, as fantasias sexuais nao estao associadas a
Note-se que, no contexto da activa~ao sexual -es positivas. Contudo, as expenenclas
'A •

dificuldades no funcionamento sexual, nem a


sujeitos indicaram maior activa~ao na condi~ao erno~o " d d'
o corpo nao e so urn objecto de perce~ao. Entr~ uais e as normas SOCialS po em con UZlr ao perturba~6es de personalidade (Hariton e Singer,
coito. Mas, mais interessante, os autores mani- sel( envolvimento d e sIstemas
. , ·F.'b·ICOS ou
os principais estfmulos sexuais conta-se, obvia_ erotlco-JO 1974). Pelo contrario, parece existir uma rela-
pularam, igualmente, as cren~as dos sujeitos: na mente, a hetero ou auto-estimula~ao tactiI das des ... dd'
erotico-fflicos que constltulflam ver a elros ~ao positiva entre a quantidade de fantasias e
condirao re/arao amorosa era-Ihes dito que as zonas erogenas. Cabe aqui sublinhar, a seme_ dores emocionais dos comportamentos certos tra~os de personalidade, como a criativi-
imagens se referiam a indivlduos apaixonados ~p la . .
Ihan~a das tecnicas corporais (Mauss, 1936_ uais. Para alem das respostas emOClOnalS em dade (Hariton e Singer, 1974) e a independencia
recentemente casados; na condirao relar ao sel( I' . .
-1978) identificadas noutros domlnios da interae_ tido estrito, as orienta~oes ava Jatlvas ou atl- (Brown e Hart, 1977). Para alem da diversidade
ltidica. as mesmas imagens eram apresentadas sen . . .
~ao humana, a existencia de «tecnicas de gestao des relativas a sexualidade (v.g., permlSSlVl- de conteudos e de eventuais diferen~as Ii gad as
como relativas a individuos que acabavam de se erotica do corpo» socialmente aprendidas e mais :ade) condicionam, igualmente, a probabilidade ao sexo (Arndt, Foehl e Good, 1985; Wilson,
conhecer e tinham como unico motivo 0 prazer
ou menos generalizaveis em fun~ao dos grupos e de ocorrencia dos comportamentos sexuais. 1978), as fantasias funcionam como estimu-
sexual. Os resultados (cf. Figura 5) indicam que, das situa~6es sociais (Alferes, 1987b). As informaroes. «objectivas» ou «distorci- los (internos) desencadeadores das actividades
tanto para os homens como para as mulheres,
A «encena~ao do desejo» depende, iguaJ- das», que os individuos tern sobre a sexualidade sexuais, desernpenhando, igualmente, urn papel
quer se tratasse de coito ou de cancias, 0 script mente, de componentes internos de natureza sao susceptfveis de moldar os seus comporta- preponderante na manuten~ao da excita~ao no
relarao ltidica produzia maior activa~ao. Urn afectiva e atitudinal. Mais especificamente, a mentos, gerando expectativas positivas ou nega- decurso dessas mesmas actividades (Sue, 1979).
outro resultado interessante diz respeito a probabilidade de ocorrencia de respostas sexuais tivas relativamente as eventuais consequencias E ao nivel dos processos irnaginais e das fan-
das suas ac~6es . Entre essas informa~oes, con- tasias, i.e., do modo como 0 sexo e organizado
tam-se as que se referem ao usa de contracep- pelos scripts intrapsiquicos, que podemos dar
FIGURA 5
tivos, as relativas ao proprio desenrolar dos conta do caracter inovador das praticas indivi-
actos sexuais e aos «riscos» que comportam. duais. A inova~ao depende, obviamente, da
Activa~ao sexual em fun~ao do sexo e do tipo de conteudos de filmes er6ticos
A generalidade dos terapeutas sexuais (v.g., margem de liberdade que e dada aos sujeitos
(Dados originais: Baron, Byrne e Griffitt, 1974, p. 479)
Kaplan, 1979; Masters e Johnson, 1970) insiste, pelas codifica~oes culturais e interpessoais da
de modo particular, na modifica~ao das cren~as sexualidade. Esta margem tende a alargar-se a
30 r-----------------------------______~ dos respectivos clientes. A poHtica de preven~ao medida que diminui a eficacia dos processos
Filma
• Ludico/coito da SIOA, que tern vindo a ser desenvolvida simbolicos e se dilui 0 caracter imperativo das
• Amor/coito desde 0 inicio da decada de 80, tern como urn normas societais.
25 a Ludico/caricias
o Amor/caricias dos principais componentes 0 fornecimento de Se os processos imaginais e as fantasias
i'ii
informa~6es destinadas a permitir 0 chamado podem estar na origem de varia~oes e inova~6es
;:)
)(
Q)
I/)

0 «sexo sem risco». ao nivel das «tecnicas er6ticas» e dos «cenanos»


oro 20
0-
ro Na sua defini~ao c1assica de psicologia social, que envoi vern as interac~6es sexuais, eles nao
~
«
Allport (1968) sublinhava que, nas interac~oes esgotam, contudo, 0 papel dos sujeitos na en-
humanas, 0 «outro» pode ser real, implfcito ou cena9ao do sexo. A distancia em rela~ao as
15
imaginano. Os processos imaginais e as fan- encena~6es culturais traduz-se, igualmente, na
tasias sexuais contam-se, efectivamente, entre os possibilidade de utilizar 0 sexo com finalidades
10 ~-----------L __________~~__________~
principais componentes da sexualidade humana. distintas das prescritas pelas grandes orien-
Homens
Ao contrario do que Freud (1908/1962) afir- ta~oes normativas. Eprecisamente aqui, ao nivel
Mulheres
maya, as fantasias nao sao necessariamente urn da «ret6rica dos motivos» sexuais, que se situam
sUbstituto das actividades sexuais. De acordo as fic~6es pessoais da sexualidade que podem
• 151
150

cional (v.g., atitudes semelhantes), socia.' (v.g.,


transformar as interaClj:oes rotineiras em novos funda reciprocidade, passando por estadios inter_ , deias de P e O. A estrutura destas ligat;oes
dlls ea s propriedades da .mterac~ao - . normas societais) ou ambiencial (v.g., clrcun~­
scripts sexuais. Este processo e descrito por medios de conhecimento. De acordo com uill a (v.g., mten-
fine . .
de d frequencia dlversldade das conexoes - tancias ffsicas e espacio-temporais). A determl-
Simon e Gagnon (1987) como a passagem do estudo de Rands e Levinger (1979), a probabili_ ·da e, ' - 'fi d nat;ao da infiuencia destes factores (des~gnados
51 .) Por sua vez os padroes especl ICOS e
registo simb6lieo (a sexualidade culturalmente dade de ocorrencia de diversos comportamentos au salS . ' .) genericamente por condi.(:o~~ caU~aIS! nos
e -0 sao condicionados (La(:os eausalS
codificada) ao registo meta/6rieo (a sexualidade (actividades sociais, contacto fisico, auto-reve_ . teract; a padroes de interac~ao constltU1~la 0 ?~Jec~vo da
III f tores mais ou menos estaveis de natureza
como expressao de motiva~oes e significados la~ao, elogios, criticas, etc.) e directamente of ac .) I analise causal, situando-se a Identlflcac;ao das
pessoalmente construfdos). condicionada pelo tipo de rela~ao (conhecimento ~iSposicionaL (v.g., atributos pessoaIs, re a-
ocasional, relat;ao de amizade, casamento, etc.).
A intimidade pode, pois, ser perspectivada
FIGURA 6
3. Estruturas rclacionai~ como urn padrao especffico de interact;oes que

o contexto causal das interac~oes diadica~. Astsetas(ogmve~~~:s~:::::~: ::::;!~:ntOS)


da sexualidadc c modclus de amor caracteriza determinadas relat;oes. Mas Como
definir tais rela~6es, ou, mais exactamente,
- tam liga~oes entre acontecunen os c ~, ~ .
as fenomenos de atrac~ao estudados na como distingui-Ias das reIat;oes humanas toma- iDterac~ao, represen , s re resentam as conexOes entre as respectivas
Sec~ao 1 sao susceptiveis de gerar rela~oes das na acept;ao mais ampla? Hinde define as que ocorrem em P .ou em O·AAS set:~ ~b!I:::sais ~e natureza ambiental sao indicadas pelas
interpessoais prolongadas e (relativamente) rela~oes pessoais como «uma serie de interac- cadeias de aconteclmentos. s con I~oe . _. raficas)
siglas As (condi~oes sociais) e Afis. (condi~oes ilSlCas e geog •
estaveis. As trocas sexuais, codificadas pelos t;oes entre dois indivfduos conhecidos urn do oc. (Fonte: Kelley et al., 1983, p. 57)
diversos scripts referidos na Sec~ao 2, ocorrem outro ( ... ) em que a interac~ao e afectada pelas
geralmente, ainda que nao de modo necessario, interact;oes passadas ou e susceptivel de influen-
no quadro de relat;oes duradoiras. a sexo cons- ciar as futuras» (1979, p. 2). Por outras palavras, Condl¢escausais
titui urn dos principais reeursos ou fonte de tais rela~oes pressupoem uma historia e impli-
~---------------~
gratificat;ao/frustrat;ao das rela~oes humanas. cam expectativas relacionais mais ou menos pOP x0 Asoc.4- Ails.
Nesta sec~ao, debru~ar-nos-emos precisamente
sobre as rela~oes interpessoais intimas, de
generalizaveis.
Numa tentativa de sistematiza~ao do campo
'---"
molde a evidenciarmos a dinamica evolutiva da das relac;oes pessoais, Kelley et al. (1983) pro-
atrac~ao e a identificarmos as estruturas rela- poem que se distingam dois pianos de analise: 0
cionais da sexualidade. plano deseritivo (identifica~ao dos padroes Intera~o p-a
especfficos de interact;ao) e 0 plano explieativo
(explicita~ao dos mecanismos de interde-
3.1. Relafoes intimas: aspectos
estruturais e dinamicos
pendencia). Mais exactamente (cf. Figura 6),
os autores come~am por definir a interac~ao
1 .. ~
Durante as decadas de 70 e 80, os psicologos
e outros cientistas sociais comec;aram a estudar,
como urn padrao de acontecimentos interpes-
soais. Por aeontecimento designam qualquer 1----1
de modo sistematico, urn tipo particular de
relat;oes interpessoais: as rela(:oes intimas. Se
modificac;ao que ocorre a nfvel individual, no
plano cognitivo (pensamentos, crent;as), emo-
----..... 1
1
bern que a capacidade de construir e manter
relat;oes interpessoais intimas constitua urn dos
principais criterios de «saude mental» e de satis-
fa~ao interpessoal, nao e facil definir 0 conceito
de intimidade. Levinger e Snoek (1972) afirmam
que todas as relat;oes humanas se podem carac-
cional ou da propria act;ao. Para que possamos
falar de interact;ao e necessario que as modifi-
cat;oes ocorridas em P estejam directamente
relacionadas com as ocorridas em 0, i.e., para
alem das liga~oes internas, as duas cadeias de
acontecimentos devem estar interconectadas. as
1 ----
1--~"J,
terizar pelo respectivo grau de intimidade, desde autores utilizam a expressao eonexoes causais
a ausencia de qualquer contacto ate a mais pro- para definir as ligat;oes entre acontecimentos

Centro de Recurao.
Prior v .. l1,~
152 •
153

p~opriedades no plano descritivo propriamente


dtto. «acontecimentos privados» ou as sign'fi contrapartida na possibiJidade de 0 va<;ao fisiologica e aos sistemas cognitivos de
. . , I ICa '
do mundo «obJectlvo e social». E aind ~oes contra;i1izar as informa~oes para adquirir con- interpreta\=ao das situa~oes, e recorrendo ao con-
Neste contexto, as relaroes interpessoais {nti- d I a atrav'
e a que control amos avaliativamente es ou tro oder no seio dessa rela~ao (Derlega,
m.as define~-se como aquelas em que as cone- o Co ceito de sequencias de comportamentos supra-
portamento do outro, que gerimos os conf/.Ill- 010 e P . d .
xoes causQ/s entre P e 0 sao simuItaneamente tr Refira-s e . am a, que tals comportamen- -organizados (Mandler, 1975), Berscheid propoe
intel1sa~ (i.e., P tern capacidade de afectar os
ou construimos, em boa parte, a imagem Itos 1984)'dern ser utilizados de modo estrategico que se estudem os processos emocionais no
damos de nos mesmos. qUe
aconteclmentos
. . fi
de 0 e vice - versa) ,requentes, lOS pO objectivo de validar 0 conceito-de-si. quadro da grelha de Kelley et al. (1983) acima
a esta u'I tlma
. questao
. co Iocam-
Entre as diversas func;:oes 8 da cornu . corn
dlversificadas (i.e., na~ se limitam a aconteci- , nlca~'
0
Relativarnente descrita: «Os fenomenos afectivos que ocorrem
mentos especfficos) e duradoiras (Kelley et al.,
verbal, ha uma que merece especial reJ ao Iguns problemas de natureza conceptual. numa rela\=ao sao uma fun\=ao directa, e por
~on
d
qua ro das rela~oes intimas. Trata-se dafun ,0
1983). Esta defini\=ao esta na base de uma escala -se a articular, e dificil discriminar entre auto- vezes previsivel, das varias propriedades de
auto-referencial: «troca de informaroes fao Ern P riio e estrateglas " de auto-apresenta~ao,

~e avalia\=ao do grau de intimidade das rela~oes ~ ' . T qUe Se _reve laT , • •
interdependencia que caracterizam a rela<;ao»
mterpessoais recentemente desenvolvida por re erem ao eu, mclumdo estados pess . . objectivo ultImo conslste no aumento e/ou (Berscheid, 1983, p. 118).
d' '. oals
Berscheid, Snyder e Omoto (1989). ISposlc;:oes, acontecimentos do passado pJ ' cUJo d d . fl ' Mais especificamente, Berscheid afirma que,
' anos eserva\=ao do po er e In uenclar os outros e
Subjacente a este modelo ou grelha de analise para 0 f uturo» (Derlega e Grzelak, 197 prontrol 0 amblente . socia ' I (J ones e P'Ittman, para que P possa despertar/induzir emo\=oes em
ar
das :e~a~oes interpessoais, de inegavel valor
p. 152). Os psicologos sociais, na sequencia d 9, ~ 982). Fisher (1984), numa tentativa de siste- 0, e necessario que as respectivas cadeias de
trabaJhos pioneiros de Jourard (1964) d Os
heun~tlco, encontramos a teo ria da interde- . e a teo_ matizac;:ao conceptual, propoe que se defina a acontecimentos intrapessoais estejam interconec-
na da penetrariio social de Altman e 1; I
pe~dencia de Thibaut e Kelley (1959; Kelley e auto-reve!a\=ao em fun\=ao dos seguintes atribu- tadas. Caso se verifique esta situa9ao, qualquer
(1973), designam este tipo de comunicac;:a;y Or acontecimento na cadeia de P. que interfiralinter-
Thlbaut, 1978). De acordo com estes autores lOS: veracidade das informa~oes, sinceridade
todas as rela~oes interpessoais se caracteriza~ auto-;evela~.:iio. Os conteudos assim partiJha~~; relativa aos motivos subjacentes a comunica\=ao, rompa a sequencia organizada dos aconteci-
contnbuem para intensificar 0 grau de I'nt' . intencionalidade, novidade e caracter privado mentos/comportamentos na cadeia de 0, e sus-
peJa capacidade recfproca de controlar os recur- d d . Iml-
sos materiais e simboIicos do outro atraves de a e cnando estruturas cognitivo-mnesicas dos conteMos comunicados. A Quto-revelarao ceptivel de gerar emo~oes em O. 0 sinaI positivo
comuns (Wegner, Giuliano e Hertel, 1985). distinguir-se-ia, pois, de outros comportamentos ou negativo das emo~oes geradas depende do
comp?rtamentos especfficos e/ou pela expressao
de atltud,es ou outros atributos disposicionais. De acordo, com diversas investigac;:oes (cf. de auto-referencia. Pela sinceridade relativa aos tipo de interrup\=ao (desencadeador de activa~ao
Nos paragrafos que se seguem, abordaremos Derlega, 1984), 0 primeiro aspecto relevante nos motivos contrastaria com a auto-apresentarao; fisiologica, que, por sua vez, constitui urn sinal
algu~s ?OS principais processos de interde- ~om~orta~entos de auto-revelac;:ao diz respeito a privacidade dos conteudos sepani-Ia-ia da sim- para que 0 sistema cognitivo-interpretativo entre
pendencla c?g.nitiva, emocional e comportamen- a ~eclprocldade: se A informa B sobre os con- ples autodescrirao e a intencionalidade dos lap- em ac~ao). Em rigor, nao e 0 valor aversivo ou
tal caractenstlcos das rela~oes de intimidade. teudos do seu mundo privado, B geralmente sos. Finalmente, pela novidade das informa\=oes, gratificante da interrup~ao em si mesma, mas a
resp~nde fazendo revela~oes identicas (Collins distinguir-se-ia da mera repetiriio e, pel a veraci- expectativa de que ela facilite ou iniba a sequen-
e MIlle~, 1994). Contudo, este efeito parece dade, da mentira. cia organizada de aC9ao, que determina 0 carac-
Comunica-;ao e auto-revela-;ao caractenzar principal mente os estad os mlClalS
....
. . . ter positivo ou negativo da emo9ao.
Numa reJa~ao intima, independentemente da de .I~tlmldade; em fases mais avanc;:adas a retri- o modelo proposto perrnite definir 0 inves-
Processos emocionais
sua na~ureza institucional e dos recursos nela b~I~~o das auto-revelac;:oes e frequentemente timento ernocional numa rela~ao como a exten-
dlfenda (Miller e Berg, 1984).
~nvoJvldos, .a comunica~ao entre os parceiros e, Por razoes de natureza teorica e metodolo- sao em que cada urn dos actores tern 0 poder
n:
ante~ d: als , uma condi\=ao indispensavel para As vantagens dos comportamentos de auto-
-~evela~ao, nomeadamente 0 aumento do con he-
gica (cf. ponto 1./), 0 estudo empirico dos pro- de interromper as sequencias de acriio do outro
~ eXlste~cJa da propria rela~ao (Brehm, J984). cessos emocionais nas rela~oes interpessoais ou, inversamente, 0 grau em que cada urn
E atraves da paJavra 7 que partilhamos os clm~nt~ recfpr.oco e a consequente redu~ao da tern sido relegado para segundo plano. Uma das deles e vulneravel as interrup~oes do outro. Esta
amblguldade (mcerteza) inerente a rela~ao, en- tentativas mais recentes - pelo menos em termos interpreta~ao liga 0 investimento emocional a

7 Limitam' '.. ' _


de defini<;ao de uma grelha conceptual suficien- dependencia relacional: quanto maior e 0 pri-
os a nos sa exposl~ao a aspectos especfticos da co
_ ,
na~ verbals da comunica~iio no quadro das reI' _ . ' '
' _ ,
mumca~ao verbal. 0 lellor intere~sado nas dimensoes
temente abrangente - para colmatar esta lacuna e
rneiro, maior a segunda.
" a~oes intimas poder'· · 'I ' ., deve-se a Berscheid (1983). Procurando arti-
d e DePaulo e Friedman (1998), '. a consu tar. entre outra~. as ~fnteses de Argyle (1983) e Shaver e Hazan (1985), ao avaliaram a teoria
.' R Para alem das fun~oes referenciais. emotivas etc' ,_, , , cular os aspectos consensuais de diversas teorias de Mandler-Berscheid, consideram que, apesar
intima: as declara~oes reiteradas de amor e t ' " '. a~lII~ao jarlca caractenza um tipo particular de comunicarao das emo~oes (v.g., Mandler, 1975; Schachter, de correcta, eIa con tern algumas fraquezas, prin-
n re apalxonados vlsam slmplesmente 'b T
. manter a erto 0 callal de COl1lllllicar{io, 1964), nomeadamente 0 relevo concedido a acti- cipalmente porque negligencia 0 papel dos fac-
154
• 155

tores de natureza motivacional (motivos, neces- rela~oes intimas partindo da distin~ao entre tres das rela~6es conjugais (baseado no poder legi-
tegias utilizadas pelo actor; d) a magnitude
sidades, desejos) na emergencia das emo~oes. tra
termos correlacionados: influencia (niveis 0 eS rnodifica~'oes m'd UZI'd os no .md"IVI d uo-a Ivo; timo) e 0 modelo que designaremos como inter-
U
Apoiando-se na teo ria da gerar;iio das emor;oes da~ consequblcias (sucesso ou fracasso) para 0
• A ' •

mstanclas de mterconexao entre os aconteci_ activo (que se apoia na utilizac;ao diferencial dos
de Roseman (1984), os autores defendem que e) as
mentos nas cadeias de P eO); domilliincia (a restantes recursos).
todos os estados emocionais podem ser concep- actor.
influencia de P sobre 0 e assimetrica relativa_ Se os conteudos dependem da rela~ao e a A gestao dos recursos e as estrategias de
tualizados pel a convergencia ou nao entre resul- mente a de 0 sobre P em diversas areas de fun_ exercicio do poder no ambito das relac;6es inter-
, te ncionalidade constitui urn criterio funda-
tados esperados (desejos) e resultados obtidos. cionamento) e poder (conceito explicativo rela_
m
ental para caracterizar uma rela~ao de poder, pessoais intimas dao geralmente lugar a contli-
No Quadro I, exemplificam-se estas eventuali-
dades.
tivo a urn tipo particular de influencia exercida ~ as estrategias podem ser classificadas em tos, circunstanciais ou estruturais, caso as
por P de modo control ado e com vista a J rrnos de grandes categorias de ac~ao. Como condic;6es causais que estiveram na sua origem
obten~ao de determinados objectiv~s ou benefi_ ~:emplo, refira-se a tipologia das estrategias de nao sejam removidas ou modificadas (Peterson,
Poder e conflito cios no quadro da rela~ao). Em rigor, 0 conceito auto-apresenta~ao (Jones e Pittman 1982), ante- 1983). Remetendo 0 leitor para 0 Capitulo XIII,
de poder nao se refere a urn atributo pessoal riorrn ente mencionada, ou a classifica~ao das em que os conflitos sociais sao abordados de
Do que ficou dito anteriormente, po de facil- (Foucault, 1976), nao e uma caracteristica do mensagens verbais de influencia (amea~as, modo sistematico, centrar-nos-emos, aqui, num
mente depreender-se que a capacidade de gerar actor, mas uma rela~ao instrumental, nao transi- tipo particular de conflitos, cujas condi~oes
promessas, prev,isoes de b?as. consequencias e
emo~oes positivas no outro constitui uma das tiva e desequilibrada (Crozier, 1977). previsoes de mas conse.quenclas) proposta por antecedentes se relacionam directamente com a
diversas condiroes causais relevantes para a Seguindo a conceptualiza~ao de Huston experiencia do citime.
Tedeschi, Schlenker e Lmdskold (1972).
analise do poder no interior de uma rela~ao. (1983), e admitindo a natureza relacional do Revestindo ou nao caracter patol6gico, justi-
No caso especifico das relac;oes intimas hete-
Para alem da dependencia emocional, a depen- poder, os principais parametros a considerar na ficado ou nao pelos comportamentos objectiv~s
rossexuais, Falbo e Peplau (1980) solicitaram a
dencia informativa e a dependencia comporta- sua analise referem-se: a) aos contelldos ou do parceiro, 0 ciume constitui uma das princi-
duzentos adolescentes de ambos os sexos que
mental (em sentido estrito) expressam as duas natureza das actividades que mediatizam 0 exer- descrevessem 0 modo como obtinham do par- pais causas de disrupc;ao das rela~oes intimas
outras grandes categorias de condi~oes causais cicio do poder; b) as inten~'oes do actor (a inten- estruturadas em tome da sexualidade e regu-
ceiro 0 que desejavam nas mais diversas situa-
das rela~oes de poder. cionalidade pressupoe que P antecipe as conse- C;6es. Os autores identificaram treze estrategias ladas normativamente pelos padroes de conju-
Huston (1983), com base na grelha de Kelley quencias dos seus comportamentos na rela~ao de influencia que classificaram de acordo com galidade heterossexual. Buunk e Bringle defi-
et al. (1983), propoe-se analisar 0 poder nas com 0); c) ao modo de influencia ou tipo de dois parametros: directas (v.g., pedir, conversar) nem 0 ciume como «uma reac~ao emocional
versus indirectas (v.g., sugerir) e interactivas aversiva despertada por uma relac;ao envol-
(v.g., negociar, persuadir) versus solitcirias (v.g., vendo 0 nosso actual ou anterior parceiro com
QUADRO I
afastamento), Falbo e Peplau verificaram que os uma terceira pessoa. Tal relac;ao pode ser real,
homens utilizam preferencialmente estrategias imaginada ou esperada, ou po de ter ocorrido no
Conjuga~oes entre resultados desejados e resultados efectivamente obtidos
directas e interactivas, ao passo que as mulheres passado» (1987, p. 124). Conceptualizado como
na determina~ao dos estados emocionais, segundo a teoria das emo~oes de Roseman
privilegiam as indirectas e solitarias. uma amea~a contra uma rela~ao existente, 0
(Adaptado de Shaver e Hazan, 1985, p. 169)
Urn outro aspecto relevante para a compreen- ciume pressupoe a existencia de uma situa~ao
sao das estrategias diz respeito ao tipo de recur- triangular (A mantem uma rela~ao com B e qual-
Resultados sos (condi~oes causais) que elas mobilizam. quer tentativa para que se estabele~a uma
Obtidos Nao obtidos A teoria de French e Raven (1959) sobre as bases rela~ao entre B e C gera ciumes em A) e dis-
do poder social (cf. Capitulo X), ao permitir dis- tingue-se das no~oes correlativas de inveja (C
Desejos
Resultados Alegria
tinguir entre seis tipos de relac;oes de poder po de invejar a rela~ao entre A e B) ou rivalidade
Tristeza
desejados Prazer Pena (Iegitimo, de recompensa, coercivo, de refe- (A e C lutam para estabelecer uma rela~ao com
rencia, de especialista e informativo), pode fun- B) (Bryson, 1977, cit. in Brehm, 1984, 1985).
Resultados Angustia Alfvio cionar como dispositivo heuristico para a analise Brehm (1984, 1985), ao rever a Iiteratura
niio desejados Ansiedade
Desconforto
do poder nas rela~oes intimas. Como nota sobre 0 ciume, sublinha os seus determinantes
Huston (1983), esta tipologia permite-nos dis- culturais (importfincia das normas sociais que
tinguir, por exemplo, entre 0 modele normativo prescrevem a exclusividade das relac;6es, em
156

157
particular das rela~oes sexuais) e interroga-se
sobre 0 papel da auto-estima na sua genese. Mais tipos de atrac<;ao com as caracteristicas estrUtu.
gorizados em fun9ao de tres componentes, principal limita<rao do modelo. de Sternberg
exactamente, «0 que esta em causa no ciume e rais das rela<;oes a que eventual mente dao 0ri. elite &onnariam os vertIces
,. de urn tn' ang ulo'.
resu Ita do 1,'"acto de nao se basear dIrectamente• na
A

gem? Qual e 0 lugar e/ou importancia da sexua. qUe l' . 'd d • •


menos 0 am or do que 0 amor-proprio» (La _ a intimidade: sentimentos de proxmu a ~, analise dos processos evolutivos e PSIcossocIrus
Rochefoucauld, cit. in Brehm, 1984). Contudo, lidade (e da paixao) no seio de tais rela<;oes'>
vincula<rao ao outro (componente predomI- envolvidos nas rela<roes amor~sas . Contudo, d~s
tanto no que diz respeito as reac~oes afectivas A resposta a estas questoes passa pela identifi~ deantemente emOClOna
. 1) ;
pontos de vista descritivo. e .heuristico, a teona
como as estrategias de Iidar com 0 ciume, pare- ca<;ao de modelos globais das rela~oes interpes. II _ a paixiio: impulsos relacionados c~m 0 triangUlar pode vir a con.stItu~-se com? ponto_de
cern existir, pelo men os na nossa cultura, dife- soais intimas. De acordo com Kelley (1983), tais
«romance», a atracrao T ffsica e• •sexuahdade partida para 0 estudo sistematIco de trus rela<roes
ren~as associadas ao sexo. De acordo com White modelos - designados por mode/os de al1lor _
onente essencialmente motIvacIonal); (Sternberg, 1997).
( 1981), as reac~oes emocionais, subordinadas a consistem num conjunto articulado de no<;oes a (COrnP d . - rto
_ a decisiio/compromisso: eCIsao a cu
dependencia da propria relar;iio, seriam predo- respeito das condi<;oes causais e da evolu9iio
prazO de que amamos 0 outro; a longo. prazo, A tematica abordada no presente capitUlo
minantes nas mulheres, enquanto a dependencia temporal do amor, do modo como tais condi<;oes
acel'taT ra-o do compromisso .. de contlOuar a pode sintetizar-se em sete pontos: ..
auto-avaliativa (relacionada com a diminui<;ao afectam e sao afectadas pela propria interac<;iio
rela9ao (componente cogrunvo). . 1. 0 estudo da atrac~iio interpessoal cOlOcl~e
da auto-estima) assumiria maior relevancia nos elou pelos acontecimentos exteriores.
A combina<rao destes tres comp~ne~tes POSSI- com a problematica da genese,. ~esenvolvl­
homens. Esta dicotomia encontraria paralelo na Como Kelley (1983) sublinha, entre as Con_
bilitaria construir uma taxonomIa/sIstema de mento e ruptura das rel(l~oes SOClGlS .pre/eren-
categoriza~ao das estrategias de esconjura<;ao do di<;oes causais do amor devem ser referidas as
classifica<rao dos diferentes modelos de. ~mor ciais, em particular das rela90es de amlzade e de
ciume sugerida por Bryson (1977): tentativas de proprias concep~oes (representa~oes/cren~as)
e/ou tipos de atrac<rao interpessoal. AdmItI~do amor. , .
preservar e/ou aperfei<;oar a rela~ao versus tenta- que os individuos tern a esse respeito. Tais con-
apenas a presen<ra ou ausencia das e~o<roes, 2. A atrac9ao interpessoal, enquant~ dOmI~o
tivas de salvaguardar 0 amor-proprio. cep<;oes teriam como causas distais os modelos
motiva<r0es e cogni90es ligadas aos tr~s c?m- classico de investiga9ao em psicoiogla SO~Ial,
Remetendo 0 leitor para os trabalhos referi- e normas culturais, social mente construfdos e
ponentes, estariamos na presen<ra dos O1tO tIpos tern sido objecto de diferentes conceptualIza-
dos, terminaremos esta sec<;ao transcrevendo 0 historicamente dataveis (v.g., amor cortes,
sumariados no Quadro II. <roes nomeadamente em tennos de atitudes, de
«conselho» final de Brehm: em todas as rela<;oes romantismo, etc.). Kelley propoe que se dis-
tingam tres grandes model os: 0 amor passional,
A semelhan<ra do que acontece com o~tras emo~oes e de comportamentos directamen~e
intimas deveria poder lerose 0 seguinte aviso: «E teorias psicometricas do arnor (v.g., Hendrick e observaveis. Mais do que mutuamente exclusI-
perigoso para a sua saude e para a do seu par- o amor pragmalico e 0 amor altruista. Com
Hendrick, 1993; Lee, 1976; Rubin, 1970), a vas, estas conceptualiza<r0es tendem a comple-
ceiro nao saber - seguramente, claramente e base nas suas proprias investiga<;oes sobre os
para alem de quaisquer duvidas - que voce e urn componentes do amor e do goslar nas escalas de
Rubin, Kelley (J 983; Steck et al. 1982) afirma QUADROn
ser humano digno e com valor com ou sem 0
amor do seu parceiro» (1985, p. 276). que a necessidade do outro constitui 0 nucleo
do primeiro modeJo; a conjianr;a e a tolerancia Classifica~o dos tipos de amor/atrac\,cao
..;; segund 0 a presen~r- (+) on
° ausencia (-)
.
seriam os componentes centrais do amor prag- dos componentes m o timi°dade, DAivAO
y-- e decisio/comprolDlSSo
3.2. Modelos de amor matico; por ultimo, a preocupar;iio/cuidado com (Adaptado de Sternberg, 1986, p. 119)
o outro especificariam 0 amor altruista.
Componente
o estudo das rela~oes Intimas, de que temos A analise sistematica das diferentes teoriasl
vindo a referir alguns dos principais aspectos /taxonomias do amor e incompatfvel com as Tipo de amor/atract;iio Intimidade Paixiio Decisiio/eompromisso
estruturais e dinamicos, prolonga a analise dos dimensoes desejaveis deste capitulo. Remetendo
"lnexistencia de amor" (nonlove)
fenomenos de atrac<;iio interpessoal com que ini- o leitor para a excelente sintese de Sternberg
"Amizade" (liking) +
ciamos 0 presente capitulo. Em rigor, a atrac<;iio (1987), limitar-nos-emos, aqui, a apresentar, de
"Amor a primeira vista" (infatuated love) +
nao constitui mais do que uma das varias con- modo esquematico, a teO/'ia triangular do amor
"Amor vazio" (empty love) +
di<roes antecedentes ou iniciais daquelas rela- que 0 mesmo autor tern vindo a desenvolver
"Amor romandeo" (romantic love) + +
desde 0 infcio dos anos 80.
<roes. De igual modo, a sexualidade constitui "Amor conjugal" (companioTUlte love) + +
Basicamente, Sternberg (1986, 1987; Stern-
urn dos principais vectores ou organizadores da "A~or irreflectido" (fatuous love) + +
intimidade. De que modo se articulam os varios berg e Grajek, 1984) defende que os fenomenos
"Amor consumado" (consumate love) + + +
englobados sob 0 rotulo de amor podem ser
t

158

CAPiTULO VII
mentar-se. 0 avan~o recente da investiga~ao domfnio privilegiado para 0 confronto entre Os
sobre as emo~oes constitui uma alternativa diversos modelos explicativos da atrac~ao inter_
credive) para as abordagens cl<issicas centradas pessoal.
no conceito de atitude.
3. Os modelos explicativos dos fenomenos de
6. A sexualidade constitui um componente
central de diversos tipos de atrac~ao e funciona
Atribuic;oo causal.' da inferencia
atrac~ao podem agrupar-se em duas grandes como um dos principais recursos no interior de
categorias: as teorias da organiza(,:iio cognitiva urn numero considenlvel de rela~oes intimas 6 estrategia de comportamento
e as teorias do reJorr;o e da troca social. Algu- Do ponto de vista da psico)ogia social, os com~
mas das oposi~oes entre as duas perspectivas sao portamentos sexuais podem ser perspectivados
mais aparentes do que reais, uma vez que, por como situa~oes de interac~ao estruturadas POr
urn )ado, e possive) conceptualizar a consistencia scripts culturais, interpessoais e intrapsfquicos.
cognitiva como uma classe particular de refor~os Os processos cognitvos, emocionais e fisiologi_ Elizabeth Sousa
e, por outro, as explica~oes actuais do meca- cos envolvidos numa sequencia de comporta_
nismo do reJon;o fazem ape)o a processos cogni- mentos sexuais tem como matriz os scripts
tivos de tratamento da informa~ao social. acima referidos. A sexualidade humana - para
4. Pela natureza das respectivas condi~oes alem, ou apesar, da realidade biologica - e
antecedentes e pela diversidade dos processos socialmente construfda. Vivemos num mundo em que aquilo que 1. Explica~oes causais e percep~ao
psiculogicos envolvidos, os diferentes tipos de 7. Os fenomenos de atrac~ao dao lugar a fazemos e objecto de avalia~ao por n6s pr6prios
e pelos outros. Os desempenhos e actos numa Os psic610gos sociais desde ha muito se inte-
atrac~ao interpessoal nao podem agrupar-se rela~oes duradoiras, cujas propriedades estrutu-
sal a de aula, num processo judicial, numa res sam pela tematica da percep~ao das rela~oes
numa unica rubrica. Contudo, e possivel identi- rais as distinguem das rela~oes interpessoais em
audiencia de tribunal, numa empresa, num cen- interpessoais e da percep~ao de pessoas (person
ficar urn conjunto de Jactores antecedentes que, gera!. Tais rela~oes organizam-se em tomo da
em maior ou menor grau, sao comuns aos v<irios intimidade e caracterizam-se por modos especffi- tro de saude, no seio de um grupo de amigos sao
tipos de atrac~ao. EsHio nestas condi~oes a cos de comunicaf,;'iio e de Juncionamento emo- nao raras vezes objecto de reflexao e/ou de dis-
beleza flsica, as semelham;as interpessoais e as cional A interdependencia cognitiva, afectiva e cussao. Frequentemente, os comentarios tradu-
apreciar;6es (avaliar;6es) positivas. comportamental traduz-se em formas diferen- zem-se num questionamento das razoes que
5. 0 amor passional constitui urn caso parti- ciadas de exercfcio do poder e de resolu~ao dos levaram a tal desempenho/acto, e, numa avalia-
cular de atrac~ao interpessoal. A especificidade conj1itos interpessoais. Este conjunto de proprie- ~ao das possibilidades ffsicas, capacidades inte-
das suas condi~oes antecedentes, nomea- dades estruturais e de processos psicossociais lectuais, afectivas ou artistic as dos diferentes
damente a mistura heteroclita de estados permite-nos caracterizar as re!ar;6es fntimas pe)os intervenientes, dos constrangimentos associados
emocionais positivos e negativos, faz dele um modelos de amor que the estao subjacentes. asua realiza~ao. Apesar de alguns de nos esta-
rem eventualmente mais orientados para uma
procura de verdade do que outros, todos sofre-
mos das limita~oes pr6prias ao ser humano, e
dificilmente somos impermeaveis a desvios a
racionalidade prescrita por alguns teoricos.
Facto importante e 0 de que estas aprecia~oes/
linterpreta~oes de desempenhos/actos tem
consequencias ao nivel dos comportamentos e
das interac~oes sociais dos diferentes interve-
nientes.
Este capitulo aborda os processos subjacentes
ao raciocfnio causal do homem no dia-a-dia.
t
160 161

perception), nomeadamente pela forma como as 2. Heider e a psicologia ingenua s a concordarem com ele C...), 0 cidadao tamento positivo e 0 percipiente nao gosta dele.
pessoas explicam 0 seu comportamento e 0 dos DutrOurn tern urn conheClmento . pro f und0 de Sl.
0

Nestes casos pode-se dar uma reavaIia~ao de


outros (cf., por exemplo, Bruner e Tagiuri, corn
, rio e dos outros ( ... ), 0 que lhe permlte. .mter- toda a configura~ao de estimula~ao por forma a
Fritz Heider foi 0 fundador de urn dos tres
1954; Heider, 1944, 1958a, 1958b; Ichheiser, maiores campos de investiga~ao na pSicologia pr~P corn os outros de uma forma adaptativa» torna-Ia sem~lhante as outras cogniyoes. Nal-
1949). A este campo da psicologia social diri- social. Foi 0 primeiro a sublinhar a importancia a~ider, 1958a, p. 2). 0 processo de atribuiyao e gumas situa~6es, 0 resultado da apreensao do
gido para os processos de imputa~ao de causa- do prindpio da consistencia cognitiva, do equi. ~ encadeado pel a necessidade Ode avaIia~ao. outro esta proximo do padrao de estimula~ao.
lidade convencionou chamar-se de atribuifiio IIbrio cognitivv, e a de que este depende eltl ;~der sustenta que muitos dos principios sub- Noutras, porem, 0 trabalho inferencial do per-
causal. A sua emergencia como dominio de grande parte de processos intelectuais (Heider . centes a percepyao dos objectos sociais (enten- cipiente gera realidades longinquas deste.
investiga~ao, os seus desenvolvimentos nos 1944), inscrevendo-se assim na corrente cogniti~ :a-se rela~oes interpessoais e nao so pessoas) Heider (1944) distingue tres aspectos na
anos 70 e as suas recentes extensoes para 0 vista da psicologia social (cf. a teoria do equi_ ern paralelo na percep~ao de objectos nao apreensao da realidade: (a) 0 sujeito-actor, Cb) 0
campo da cogni~ao social influenciaram muitos librio de Heider, 1946). A sua obra, PSicologia t ociais. 0 percipiente procura regularidades sub- Outro, e (c) 0 destino, posteriormente designado
outros dominios de investiga~ao aplicada, como das Relafoes lnterpessoais, de 1958, vocacio. s'acentes aos fenomenos
, por tiorma a torna-'1os de sorte CHeider, 1958b). A aprecia~ao e feita
sejam a psicologia clinica, atraves de trabalhos nada para a explica~iio de alguns dos principios ~revisiveis e con~?laveis, ainda qu~, ~o domi~io com base numa ancilise factorial implicita, que
como os de Abramson (1983) e Fosterling implicitos a actividade do senso comum, real~a dos objectos SOCialS, 0 resultado seJa Imperfelto. conjuga aspectos do actor, do contexto e do
(1988); a psicologia do desenvolvimento (cf. os o processo de atribuifiio. A percep~iio de urn objecto social implica a imprevisto associado a ac~ao. Esta classifica~ao
trabalhos de Fincham e Jaspars, 1979; Frieze, Por oposi~ao a uma visao mecanicista popu- atenyao do percipiente, e, a semelhan~a do que esta no ceme da distin~iio causas internas/estci-
1981; Miller, 1989, por exemplo); a psicologia lar na epoca, Heider centra a sua ancilise em dois ocorre na percep~ao de outros objectos, a pessoa veis e externaslcircunstanciais. 0 percipiente,
educacional (nomeadamente com os trabalhos aspectos: a) a forma como os individuos ajustam com todos os seus processos psicologicos, as utilizando urn procedimento do tipo 'experimen-
de Weiner, 1986), a psicologia e lei (Lloyd- intemamente as suas cogni~Oes por forma a suas emoyoes, maneira de ser, constitui a reali- tal', procura as raz6es que motivaram 0 compor-
-Bostock, 1979, 1990, Sousa, 1992, 1997; Sousa, estar em equilibrio consigo proprios, e, b), os dade exterior, com propriedades perceptiveis tamento ou urn deterrninado efeito social, ques-
Martins e Fonseca, 1993), a psicologia organi- ajustamentos que fazem ao meio social em que por todos. Este estimulo - distal - nao afecta tionando-se sobre as capacidades pessoais e
zacional (Dobbins, 1985). se inserem. Nas suas palavras, «0 homem (... ) directamente 0 percipiente. 0 contacto com a inten~oes do actor, 0 contexto especifico em que
Para alem do factor puramente quantitativo no sabe evitar deterrninados pedidos e levar os realidade externa e feito atraves do estimulo a ac~ao se desenrolou, a desejabilidade social e
que respeita ao mlmero de trabalhos publicados, (padrao auditivo, visual ou outro) fisicamente os desejos pessoais do actor. Este raciocinio per-
que assume dimensOes monumentais (Hewstone, proximo. E com base nele que 0 percipiente mite distinguir situa~oes em que as modifica~oes
1989; Pleban e Richardson, 1979; Sousa, 1988), atribui urn significado ao estimulo distal. Os comportamentais sao percebidas como espon-
o dominio da atribui~ao causal e tambem urn aspectos principais da configura~ao de estimu- taneas Cimputciveis ao actor da situa~ao) e situa-
marco historico porque corresponde a uma das ,, " layao sao representados cognitivamente e ~6es em que os constrangimentos situacionais
primeiras tentativas de abordagem dos processos
. '"
I,' . sujeitos a uma interpreta~ao (ver tambem os deterrninam os efeitos observados. Curiosa-
mentais subjacentes ao comportamento do indi- ,1 '" capitulos de Alferes, de Pereira e de Vala, neste mente, no texto de 1944, Heider assinala a exis-
viduo no ambito da psicologia social. Por exem- ",', / volume). Esta tern por base uma preferencia por tencia de uma tendencia para exagerar a influen-
,,
",' I

plo, as teorias da atribui~iio vieram mostrar que a s estados de equilibrio ou harmonia. Se a pessoa cia dos factores pessoais e subestimar a influen-
adequa~ao do individuo ao meio ambiente passa A tiver tido urn comportamento de car,kter posi- cia dos outros factores nos efeitos observados no
pela simplifica~ao da informa~ao e que, fre- tivo e 0 percipiente gostar de A, interpreta 0 seu processo de atribui~iio de causas. 0 autor sugere
quentemente, isso e possivel atraves da catcgo- comportamento em consonancia com a imagem ainda que, de entre os factores pessoais, 0
riza~iio dos comportamentos em tra~os de per- positiva. Se, pelo contrano, A tiver tido urn com- esfor~o, a motiva<;ao e a capacidade sao os mais
sonalidade (Marques, 1986). portamento de caracter negativo e 0 percipiente importantes. No que respeita aos constrangimen-
A atribui~ao de causas para 0 comportamento nao gostar de B, a sua aprecia~ao sera negativa. tos ligados a propria situa~ao, 0 percipiente
foi fonte de inspira~ao da abordagem da cogni- Ambas as situayoes se caracterizam pel a seme- raciocina em termos do grau de dificuldade da
~ao social (ainda que esta ultima se tenha auto- lhanya de valencia das cogni~oes. 0 conflito tarefa e de circunstancias momentaneas. Por ou-
nornizado com a forte influencia dos paradigmas surge se A teve urn comportamento negativo e 0 tras palavras, Heider distingue condi~oes estaveis
da psicologia cognitiva experimental). percipiente gosta dele ou se A teve urn compor- e instaveis para a ocorrencia de urn efeito.
162 163

Este autor postula ainda a existencia de uma tamentos it simpatia/antipatia do actor, 0 iIll_
rela~ao entre a capacidade e esfor~o (posterior- pacte das primeiras impressoes negativas nas
mente confirmada de modo empfrico). Se urn interac~oes subsequentes, a ilusao de invarHin_
destes elementos for nulo, a for~a dos factores cia da personalidade ou das motiva~oes de ou-
pessoais por si nao explica 0 efeito. Neste caso, trem que persiste por detras da variabilidade
ele e explicado em termos dos factores situa- comportamental, a tendencia para negligenciar 0
cionais. Assume-se tambem uma rela~ao directa peso dos factores situacionais e para integrar Os
entre dificuldade da tarefa e esfor~o, na medida dados comportamentais em falsas cren~as, per-
em que urn elevado grau de dificuldade da mitem ao percipiente perpetuar a cren~a de Con_
tarefa teni de ser acompanhado de elevado es- trolo e adequa~ao ao meio arnbiente. No texto
for~o para que 0 resultado seja obtido. 0 esfor~o de 1944, Heider considera 0 percipiente iludido
aparece como uma fun~ao da vontade de, ou com 0 que pensa ter aprendido sobre a pessoa_
moti va~ao para. -alvo da sua aprecia~ao a partir de uma foca- esfor~o de Heider, mais abrangente. Estes inves- Poderemos inferlr que A nao gosta de B, eagres-
Urn exemplo podeni ilustrar as ideias ex- liza~ao momentanea nesta, eventualmente tigadores procurararn saber como e que 0 per- sivo e que teve inten~ao de 0 ofender. Poderemos
postas. Se eu tiver a capacidade de ligar 0 apare- conducente a uma leitura distorcida. Contudo, a cipiente passa do nivel superficial do compor- ainda inferir que A e uma pessoa intratavel, cen-
lho de televisao mas nao estiver motivado(a) coordena~ao de perspectivas com outros perrni- tamento observado ao seu nivel mais profundo trada em si mesmo. E igualmente possivel
para 0 fazer, nao verei televisao, excepto se te-Ihe uma constru~ao da realidade que se ajusta sugerindo que 0 comportamento e informativo assumir que nao houve inten~ao: apesar do seu
alguem 0 fizer por mim. Por outro lado, eu posso it sua necessidade de equilibrio (Sousa, 1988). sobre 0 actor na medida em que 0 percipiente comportamento, A e urn grande amigo de B, nao
ter vontade para ver televisao, mas se nao tiver Muitas das ideias em materia de atribui~iio possa estabelecer uma correspondencia entre os havendo hostilidade entre estas pessoas. Como
as capacidades ou perfcias necessanas nao verei sistematizadas por Heider foram posteriormente dois nfveis do comportamento. decidir entao entre estes raciocinios altemativos?
televisao, a menos que alguem 0 fa~a por mim. desenvolvidas. Perdeu-se, no entanto, a articula- A correspondblcia diz respeito ao grau de De acordo com a teoria das inferencias corres-
Nestes casos, 0 peso do factor situacional e ~ao com 0 principio da consistencia cognitiva, semelhan~a com que 0 comportamento e a carac- pondentes, a desejabilidade social e 0 numero de
maior que 0 pessoal. Por outro lado, a capaci- que teve desenvolvimentos posteriores indepen- teristica disposicional subjacente sao descritos efeitos nao comuns it escolha comportamental
dade e esfor~o nao esgotam os factores pessoais. dentes (para uma excep~ao, ver os trabalhos de pela inferencia, ao seu extremismo quando com- sao os criterios basicos de uma escolha.
Potencialidades indi viduais como 0 dinheiro Inglehart, 1991). No ambito de uma teoria geral parado com 0 posicionarnento medio de outras
que se possui, a perten~a a urn grupo social, do processo de atribui~ao de causas para 0 com- pessoas no atributo disposicional inferido, e a
permitem e restringem 0 leque de ac~oes do portamento, Jones e Davis (1967) e Kelley varia~Oes no grau de informatividade do compor- 3.1. A desejabilidade social
individuo sendo sentidas como uma caracterfs- (1967, 1972, 1973) foram sem duvida os inves- tamento. A ideia e que 0 percipiente tern de dis-
tica pessoal (Heider, 1946, 1958a, 1958b; tigadores que mais marcaram este campo da psi- cemir uma inten~ao e atraves del a uma predis- Segundo Jones e Davis, 0 percipiente possui
Ischeiser, 1949, 1970). cologia social. posi~iio para 0 comportarnento por parte do actor. urn esquema de procedimento para interpretar 0
Agindo sem a priori. centrado na procura de Se tal for possivel, 0 percipiente produz uma real e uma base de dados sobre a probabilidade
invariancias no meio ambiente, 0 leigo compor- atribui~iio com elevado grau de confian~a, deri- de urn acontecimento ter sido causado pela situa-
ta-se como urn profissional da ciencia. Heider 3. Jones e Davis: processamcnto vando expectativas sobre comportarnentos futu- ~ao ou pelas caracterfsticas do actor. Esta base
nao ignora, no entanto, que alguns factores de informac,;ao c inferencias fOS do actor. Nos casos em que tal nao e possivel, de dados e composta pelas expectativas do
restringem 0 leque de situa~oes de precisao do correspondentes o percipiente precisa de recolher informa~ao percipiente relativamente ao comportamento.
julgamento. As expectativas, desejos, afectos e adicionaI sobre a situa~iio, ou, se pressionado a Quanto menor a desejabilidade social e mais
emo~oes do percipiente determinam nao raras Jones e Davis (1965) procuraram compreen- explicar 0 comportarnento, produz julgarnentos inesperado 0 comportamento for, mais informa-
vezes a sua reac~ao it configura~ao de estimu- der como se desencadeia 0 processo de atribui- funcionais sem, no entanto, ter a certeza quanto tivo sera sobre 0 actor e maior a probabilidade
la~ao, podendo mesmo 0 resultado pautar-se por ~ao, propondo urn modelo centrado nos ganho S as verdadeiras causas que the subjazem. de que sejam privilegiados os factores pessoais.
ausencia de correla~ao entre os dados da situa- informacionais do percipiente. Em boa verdade, Imaginemo-nos observadores da interac~ao Se, no nosso exemplo, A tiver criticado B em
~ao e 0 objecto projectado. 0 efeito de halo, a ao centrar-se na percep~ao de pessoas (person seguinte: A critica B, nao the dando sequer a frente de colegas e amigos deste ultimo, podere-
tendencia para associar a valencia dos compor- perception), este modelo marca uma inflexao aO Oportunidade de responder e deixando-o abatido. mos inferlr com alguma confian~a sobre faccLas
164 165

negativas da personalidade do primeiro, 0 ma~ao com base na desejabilidade do compOr_


4 A teoria revista efeito cujos pontos extremos seriam + 1,
mesmo nao acontecendo se a ocorrencia tiver tamento. Que op~oes comportamentais tern 0 3.. extremamente desejavel, e -I, extremamente
acontecido no escritorio em privado. actor num determinado momento? Quais Os Na versao de 1965, a teoria nao permite a indesejavel. Se a valencia for -1, a probabilidade
Urn exemplo chlssico do papel das expecta- efeitos comuns a diferentes escolhas? No nosso ridio do processo de inferencia de carac- de que as pessoas em geral (e 0 individuo em
tivas sociais nas atribui~Oes do percipiente e-nos exemplo, a escolha da crltica ou do conselho des CT ... ,. 'd
, tl'cas disposlclonals estavelS a partir a particular) queiram evitar 0 efeito e maxima. Se
fornecido por Jones, Davis e Gergen (1961). podem ter como efeito comum a preocupa~ao tenS .
bserva~ao de actos, sendo malS correcto afir- a valencia for positiva (de +"1), a probabilidade
Estes investigadores mostraram aos sujeitos para com 0 outro, sendo este dado pouco in- o ar que descreve 0 processo de inferencia de de que todos queiram obter 0 efeito (incluindo 0
entrevistas de selec~ao gravadas. 0 entrevistado formativo. Analisemos entao os efeitos nao ~ten~oes. Uma predisposi~ao para algo en- actor) e maxima. Os ganhos informacionais
candidatava-se a urn lugar de astronauta ou de comuns. Quanto menor 0 numero de efeitos mlye a repeti~ao da ocorrencia da inten~ao em sobre 0 actor sao minimos em ambos os casos.
tripulante de submarino. Os requisitos desejaveis nao comuns associ ados a urn acto, maior a vo
diferentes contextos. D' .
al a lmportancla
A ' de No que respeita as expectativas baseadas no
para 0 posto de trabalho eram descritos em deta- probabilidade de 0 percipiente efectuar urna alargar 0 ambito da teoria por form~ a incluir actor, Jones e McGillis sugerem que os ganhos
lhe na primeira parte da entrevista: 0 tripulante de inferencia correspondente com confian~a condi~oes de ocorrencias multiplas. E de subli- informacionais sao maximos quando 0 conhe-
urn submarino deveria gostar de conviver com (Newtsen, 1974). Quanto maior (' numero de nhar, pois, duas fases no processo de atribui<;ao. cimento que detemos do actor nos levaria a
pessoas, enquanto 0 astronauta deveria ser inde- efeitos nao comuns, maior a dihculdade em Em primeiro lugar, 0 percipiente tern de inferir esperar determinado efeito e 0 seu comporta-
pendente. 0 entrevistado (urn comparsa dos inferir algo sobre 0 actor e menor a confian~a que houve inten<;ao no acto. A inferencia de mento e inesperado. No entanto, valores extre-
investigadores) comportava-se de forma consis- no julgamento (Ajzen e Holmes, I 976. Por inten<rao ocorrera mais provavelmente se 0 mos na discrepancia entre expectativa e efeito
tente ou inconsistente com 0 perfil psicologico outro lado, quanta maior a semelhan~a entre as comportamento se desviar daquele que outras torn am 0 percipiente mais ceptico relativamente
requerido para a fun~ao. Era enta~ pedido aos escolhas comportamentais, maior a dificuldade pessoas teriam na situa<;ao. Nesta fase, 0 perci- ao valor do conhecimento adquirido.
sujeitos do estudo que estimassem em que em estabelccer uma inferencia correspondente. piente recorre a informa~ao sobre consenso E de notar que a teoria das inferencias cor-
medida 0 comportamento do candidato era deter- A escolha de atribuir factores pessoais e/ou base ado em expectativas sobre 0 conheci- respondentes esta vocacionada para explicar 0
minado por factores pessoais ou situacionais. pode, no entanto, ser afectada por factores de mento da popula~ao em termos da frequencia raciocinio do percipiente leigo em situa~oes em
A analise dos resultados veio mostrar que os caracter motivacional. Jones e Davis (1965) do comportamento nesta, por forma a decidir se que 0 actor tern: a) liberdade de escolha; b)
sujei-tos esperaram mais respostas consistentes retem dois: a relevancia hedonic a e 0 perso- se trata de algo a imputar a pessoa ou situa- capacidades necessarias para produzir 0 efeito; e
com 0 perfil do que respostas inconsistentes. nalismo. <rao/estimulo. Na segunda fase, 0 percipiente c) as pressoes extern as nao justificam 0 efeito.
o candidato a astronauta deveria definir-se como tem de decidir se esta na posse de dados que Ficam ainda em aberto situa~oes de auto-
bastando-se a si mesmo, por exemplo, se queria 0 indiciem a presen<;a de uma predisposi<;ao sub- -atribui<;ao.
lugar. Deste modo, as respostas que se desviaram jacente a inten<;ao da pessoa-alvo da sua apre- Em suma, 0 modelo de Jones e Davis concebe
do valor esperado indiciaram factores pessoais, 3.3. Relevancia hedonica, personalismo
cia<rao. Para isso tern de poder observa-Ia em o atribuidor causal como urn utilizador de
caracterlsticas distintivas do candidato. Por opo- e inferencias correspondentes
van as ocasioes por forma a averiguar da con- cren~as sociais sobre a probabilidade de emer-
si~ao, as respostas consistentes com as expectati-
sistencia do seu comportamento e da distintivi- gencia de comportamentos observados, racional
vas deram origem a atribui~Oes mais ambiguas, Urn determinado efeito pode beneficiar ou dade deste. Esta e a fase do processo de infe- nas suas op~oes excepto quando 0 comporta-
conjugando factores pessoais e situacionais. As prejudicar 0 percipiente, assumindo relevancia rencia de predisposi~oes. Apos este trabalho mento observado interfere com as suas neces-
respostas inconsistentes com as expectativas hedonica. Por outro lado, 0 efeito pode ser inferencial e possivel ao percipiente adquirir sidades epistemicas. No entanto, ao hipostasiar
(com 0 perfil psicologico da fun~ao neste caso) pcrcebido como intencional ou nao. Se 0 perci- uma expectati va baseada no conhecimento que a inten~ao e necessaria para a inferencia de
emergem assim como mais informativas sobre 0 piente inferir que 0 comportamento do actor lhe da pessoa-alvo. atributos de personalidade, negligencia atributos
actor do que as respostas consistentes. foi dirigido, seja para 0 prejudicar seja para 0 Na revisao posterior da teoria, Jones e que se caracterizam precisamente pela ausencia
favorecer (personalismo), nao esta motivado ~cGiIIis (1976) distinguem claramente dois de inten<;ao (Eiser, 1983). Para alem disso, ao
para uma analise precisa da situa~ao porque 0 tipos de expectativas: expectativas baseadas em centrar-se nos ganhos informacionais, esta teo-
3.2. Os efeitos niio comuns self esta em jogo. A correspondencia percebida categorias sociais e expectativas derivadas do ria assume 0 primado do puro processamento de
entre comportamento e inten~ao aumenta com a conhecimento adquirido sobre 0 actor (0 que informa~ao, relegando para segundo plano a
A identifica~ao e a analise das op~oes com- relevtmcia hedonica e/ou 0 personalismo do pode pressupor interac<;oes multiplas). Os au- determina<;ao afectiva dos comportamentos, que
portamentais do actor complementam a infor- comportamento. tores van definir urn continuo de valencia do aparece mais como fonte de distor~ao. A este

166 167

nivel, a teoria representa tambem uma viragem saber como e que ele se tern comportado nesta ~ ·a Foi pedido aos inquiridos para faze- 4.1. Configurafiio,
·stenel .
no modelo de investiga~ao relativamente a prova ao longo dos tempos (consistencia), como 51 tribui~oes sobre 0 estimulo, as circunstan- esquemas causais, principios
Heider. ele se comporta noutras provas (distintividade)
. e
r~rn a(ternpo e modalidade), as caracteristicas do desconto e do aumento
como outros desportlstas se comportam nesta elas etor e as com b·ma~oes - d estes f·actores.
prova A (consenso). do ~edidas permitiam assim a investigadora Reconhecendo as Iimita~oes do modelo de co-
Assim, este modelo - tambem designado As .fiear os efeitos principais e as interac~oes -varia~ao, Kelley (1972) propoe, posteriormente,
4. Kelley: processamento por cuba ANOYA - pressupoe uma estru_ vert OS factores. A · bUl~oes
s atn · - em termos d e urn mecanismo orientado para a estrutura do
entre . . f ~
de informat;ao {' eo-\"ariat;ao tura sequencial temporal nas rela~oes interpes_ lOres pessoa1s ocorreram com malS requen- raciocfnio causal por configura~ao - 0 esque11Ul
soais. fae
. nas situa~oes d e f raco consenso, f raca d··
lstln- causal. Entende-se por esquema causal uma estru-
. ~
o contributo de Kelley para 0 campo da atri- o modelo de Kelley tern sido empiricamente Cia . I d A ·b·-
.vidade e conslstencla e eva a. s atrl Ul~oes tura cognitiva representando rela~5es de causa-
bui~ao e 0 corohirio logico duma abordagem
testado desde os anos 70 e os resultados foram ~tuacionais foram mais frequentes na situa~ao -efeito previamente armazenadas em memoria,
51 . I
racionalizante das condutas humanas. 0 modelo muitas vezes interpretados como consistentes de fraca consistencla do comportamento e a ta ou, de forma mais simples, cren~as causais.
centra-se no processo atribucional global, apli- com as predi~oes. McArthur (1972) e uma das distintividade. Por fim, os efeitos relativos do Estes esquemas seriam activados quando 0
cando-se quer a actores quer a observadores de autoras que fomeceram suporte empirico para a cons enso e da distintividade diminuiram quando percipiente dispoe apenas de informa~ao sobre
teoriza~ao de Kelley. Ela pediu a sujeitos para associados a fraca consistencia do comporta- urn efeito e uma ou van as causas. Note-se, no
urn determinado efeito social. Curiosamente,
trata-se de uma teoriza~ao com caracter pres- analisarem questionanos supostamente preen- menlO. No que conceme aos efeitos principais, a entanto, que a no~ao de esquema nao elimina
critivo, sendo a que mais sublinha 0 facto de as chidos por determinadas pessoas que referiam fral,a eonsistencia do comportamento conduziu nem os pressupostos sobre 0 processo de
pessoas serem racionais nas suas escolhas, logi- emo~oes, opinioes, ac~oes e resolu~oes tomadas a urn maior numero de atribui~oes situacionais atribui~ao de causas nem as limita~oes do modelo

cas e reflectidas (cf. Kelly, 1955). no ambito das suas vidas. A informa~ao fome- contemporizando 0 tempo e 0 espa~o. Por outro inicial. 0 esquema causal tern por base processa-
Em Kelley os conceitos de base para a con- cida por estes questionanos variava de acordo lado, valores elevados de consenso, distintivi- mentos do tipo Anova, cujos resultados 0 indivf-
ceptualiza~ao do processo de atribui~ao sao: as
com 0 grau de consenso, distintividade e con- dade e consistencia traduzem-se em atribui~oes duo foi armazenando ao longo da sua existencia.
pessoas, 0 cenano e a situa~ao (Kelley, 1991). ao estimulo por oposi~ao aos valores baixos A no~ao de esquema causal permitiu a Kelley
o procedimento do percipiente baseia-se no destes tres criterios que induzem atribui~oes em definir dois mecanismos com fortes implica~oes
principio da co-varia~ao entre causas possiveis e termos pessoais (cf. tam bern Hansen e Lowe, para a atribui~ao causal: desconto e aumento.
efeitos. 0 efeito e atribuido ao(s) factor(es) 1976). o primeiro afirma que: na existencia de multi-
causal(is) com que co-varia I. 0 seu raciocinio A questao, no entanto, coloca-se. Ate que plas causas suficientes para a produ~ao de urn
conjuga tres tipos de informa~ao: a consistencia, ponto funcionam as pessoas no seu dia-a-dia efeito, a presen~a de uma dessas causas toma
a distintividade ou clareza e 0 consenso. A con- nestes termos, que sem duvida requer esfor~o, ambfguo 0 papel de qualquer outra que esteja
sistencia refere-se ao conhecimento que 0 informa~ao disponivel e tempo? Assumindo que igualmente presente no contexto em que 0 efeito
percipiente tern da historia do comportamento eu estou interessado(a) em tentar discemir as tenha ocorrido. 0 grau de confian~a com que a
do actor. A distintividade ou cIareza refere a causas do comportamento do meu colega de inferencia e feita diminui se outras causas
forma como 0 actor se relaciona com outras trabalho, do meu(minha) companheiro(a), como plausiveis para 0 efeito puderem ser conside-
entidades. Por fim, 0 consenso diz respeito a proceder se 0 conhecer ha pouco tempo? Como radas. 0 principio do aumento refere situa~oes
forma como outros actores reagem a entidade preencher os val ores ausentes na minha mente, de julgamento em que existem multiplas causas
em questao. que implicam saber como outros se comportam provaveis e em que uma facilita a emergencia do
Suponhamos que Albano, urn desportista, na situa~ao como ele se tern comportado neste e efeito enquanto outra 0 inibe. Nestes casos, a
tern urn resultado X numa determinada prova A. noutro tipo de situa~oes, se eu tiver de me cen- causa facilitativa do efeito tern mais peso do que
Para que nos, percipientes, possamos interpretar trar no trabalho que estou a desenvolver? teria se nao existisse a causa inibitoria do efeito.
correctamente este desempenho e necessario Mesmo que me encontre na posse desta infor- Ou seja, na perspectiva do percipiente, se 0
ma~ao estarei disposto(a) a· analisa-Ia em toda a efeito ocorreu apesar da for~a em sentido con-
sua extensao so porque disponho de mais uma trano entao e porque a potencial for~a propul-
I Tradur;:ao do metodo das diferenr;:as, de 1. Stuart Mill. observa~ao ? sora do efeito e de considenivel peso.
168
• 169

4.2. Taxonomia de esquemas causais cipiente raciocinou a luz de urn esquema de 'bui~ao efacil e exaustiva, 0 que eextrema- (cf. Marques e Sousa, 1982). A ideia de base e a
causalidade multiplo e suficiente. Este tipo de l! a~.. controverso (cf., por ex., G.-Marques, de que 0 percipiente procura resolver problemas
situa~ao envolve efeitos que se registam cOlll
men...,. existenciais e esta preocupado em compreender
Heider (1958) havia sugerido que a expli-
ca~ao do comportamento pode conduzir a iden- alguma frequencia. 198K8).lley sustenta que as pnmerras
"'b . -
atn Ul~oes os seus comportamentos em resposta ao meio.
tifica~ao de uma ou mais causas, podendo estas Mas 0 raciocfnio pode ser ainda outro. 0 per- ~s sao detenninantes na estrutura~ao do
ter peso diferencial. Neste ambito, Kelley cipiente pode considerar que 0 comportamento caUs ..
nhecUnento do perclplente na medid a em que
(1972) sugere a existencia de esquemas de de agressao resultou do facto de que X nao gosta CD dicionam decis6es posteriores (cf. a este 5. A teoria da autopercep~ao
causas necessanas (MNC) e suficientes (MSC). de pessoas como Y, do facto de ele estar com urn con 6sito Kelley, 1991; Thibaut e Kelley, 1959).
Quando 0 percipiente acredita que 0 comporta- grupo de amigos e de todos terem bebido de ~O~ntanto, dado 0 caracter racional destas, que Nao e raro darmos connosco pr6prios a ques-
mento observado e a con sequencia de uma mais. 0 percipiente pode acreditar ainda que a o ai aferindo nas diferentes situa~Oes e cena- tionar porque tivemos tal comportamento, atitude
se. v 0 risco de distor~ao
. ~ minim A . ou em~ao, concluindo por vezes que, quer quei-
detenrunada configura~ao de factores neces- agressao se efectuaria, mas que, nao fora 0 c o. s aprecla-
nOS, . .
sanos para que 0 efeito ocorra, ele esta a basear- efeito extremo do alcool ou do facto de X estar ~ S causais serao tanto mills preclsas quanto ramos ou nao, deve haver qualquer coisa em n6s
-se num esquema de causalidade multipla e ne- em grupo, 0 efeito nao assumiria as propor~oes P
maior 0 numerode ' - e os cent1UOS
sltua~oes ~ que justifica 0 efeito. Este e 0 ponto de partida de
cessaria. Por outro lado, quando 0 percipiente observadas. Neste caso, 0 percipiente raciocina conbecidos. Isto e, a atribui~ao realizada num Bem (1967, 1972). Ele nao fomece postulados no
raciocina em termos de que cada uma das dife- em termos de urn esquema de causalidade Com- determinado momenta podera ser armazenada que concerne aos processos cognitivos envolvidos
rentes causas envolvidas e suficiente para pensat6rio. em mem6ria mas nao se substitui a uma nova na atribui~ao causal. 0 ponto central da sua con-
desencadear 0 comportamento (apesar de outras A extensao te6rica acima descrita, ja presente busca em mem6ria. e
tribui~ao e 0 de que 0 indiv(duo capaz de gerar
causas estarem associadas) ele esta a utilizar urn no trabalho de Heider (1958), sugere de novo a Na realidade, 0 trabalho de Kelley no ambito signijicafoes quando activado por est(mulos
esquema de causalidade multiplo mas sufi- pertinencia da questao: «Utilizam as pessoas da atribui~ao visa 0 raciocinio reflectido, 16gico, extemos que lhe suscitam reflexOes aprofundadas
ciente. Por fim, quando 0 raciocfnio e 0 de que a procedimentos do tipo Anova?». A introdu~ao do percipiente, sendo limitativo no que respeita a sobre si proprio e 0 seu meio ambiente.
situa~ao envolve 0 efeito aditivo de urn conjunto da ideia de esquema causal sugere que 0 perci- articula~ao entre em~Oes, factores motivacio- Em ilustra~ao do seu ponto de vista, Bem
de causas res pons ave I pel a for~a com que ele se piente se pode basear em cren~as e expectativas nais e processos 16gico-racionais de imputa~ao (1965) pediu a um grupo de sujeitos para que
manifesta, 0 percipiente esta a basear-se num previas sobre co-varia~ao de causas e efeitos. de causalidade. Convem, no entanto, notar que avaliasse as atitudes de um certo nllmero de
esquema de causas compensatorias. o verdadeiro problema e, assim, apenas iludido historicamente 0 seu contributo para uma teoria actores relativamente a uma tarefa e comparou
Ilustremos os raciocfnios alternativos tomando e a sua discussao adiada, na medida em que as geral dos processos atribucionais deve ser enqua- estes julgamentos com os fomecidos pelos
como ponto de partida a situa~ao de agressao de pessoas nao necessitam de informa~ao sobre co- drado no seu trabalho sobre fen6menos de inter- pr6prios actores, verificando que actores e obser-
urn individuo X a urn individuo Y e tres causas -variantes por forma a desenvolver inferencias depen~ncia. Destes ressalta nomeaOamente a vadores convergiram na forma como interpre-
plausiveis: X nao gosta de pessoas como Y, causais. A capacidade de detec~ao de co-varia- ideia de que 0 efeito que os outros tem num indi- taram a situa~ao. Esta semelhanfa de perspecti-
estava em grupo quando se deu a agressao, ~ao e limitada no ser humano (Nisbett e Ross, vfduo depende da forma como ele interpreta as vas parece, no entanto, ser tfpica de situ~Oes em
todos beberam de mais. Se 0 percipiente consi- 1980). Para alem dis so, as matrizes sociais 8ituaq6es em que se encontra envolvido, das suas que os constranginlentos situacionais sao suscep-
derar que foi a configura~ao de causas que fomecem elas pr6prias aos seus membros urn pr6prias escolhas e das escolhas destes. tiveis de inibir a capacidade de escolha dQs sujei-
esteve na base do efeito e que a presen~a de conjunto de cren~as sobre 0 funcionamento em Comparativamente a Jones e Davis, poder- tos. Neste caso, 0 comportamento e exp1icado
todas foi necessaria, entao ele estara a funcionar sociedade e rela~oes causais nele existentes. -se-' dizer que, em Kelley, a base de dados do per- em termos situacionais. Quando na situa~iio e
na base de urn esquema multiplo necessario. Urn aspecto extremamente interessante, nao cipiente e fun~ao da experiencia previa, podendo percebida a possibilidade de escolha do com-
Este tipo de raciocfnio e frequente em situa~oes obstante as critic as formuladas, e 0 de que com ocorrer distor~Oes devidas a inter{erencia das portamento, actores e observadores divetgem.
em que 0 efeito observado ultrapassa as expecta- o postulado de esquema causal 0 percipiente e are~ do percipiente (Kelley e Michela, 1980). Os actores tern tendencia a ve-lo como adequado
tivas do percipiente, seja porque 0 efeito e perce- de novo visto como detendo urn modelo de Mas Dio selia estas cren~as que guiam a nos sa Ii situa~ao, enquanto os observadores tendem a
bido como extremo ou como pouco frequente. processamento de informa~ao causal. Este mo- actividade inferencial numa grande parte das perceb8-10 como indicador de caracterfsticas do
o percipiente pode, no en tanto, raciocinar delo implfcito pressupoe que: a) a codifica~ao, silual;5es? actor. Estas diferen~as parecem resultar do facto
que todas estas causas sao importantes para a recupera~ao de informa~ao e atribui~ao saO A margem da abordagem do cientista inge- de que 0 actor tern urn conhecimento cronol6-
emergencia do efeito, mas que cada uma delas e fases do processamento cuja ordem e inaltefl1- nuo, desenvolveu-se uma outra perspectiva com gico sobre a sua hist6t;i.a compoFtamental, infor-
suficiente para 0 desencadear. Neste caso, 0 per- vel; b) a recupera~ao da informa~ao que precede fortes imp1ica~Oes para 0 dominio da atribui~ao ma~ao que os observadores nao possuem.
170 171

Saliente-se, no entanto, que, para Bern, esta era dos observadores: infonnar;iio historica, info". Uma outra distin<;ao importante introduzi~a McArthur (1970) pediu a urn grupo de sujei-
uma situa<;ao de excep<;ao. mar;iio sobre os efeitos e informar;iio sob"e Cunningham, Kanouse e Starr (1979) dlz tos que participasse numa discussao sobre deter-
o espectro de aplica<;ao da teoria da auto- as causas. por eito aD papel activo ou passivo do obser- minada materia e, a outro grupo, que lesse urn
percep<;ao encontra-se reduzido a situa<;oes em A infonna<;ao historica diz respeito ao conhe. red'o.r Ten!. urn _observador directamente impli- texto descrevendo essa discussao. Em seguida, a
va . _
que os indfcios intemos sobre 0 comportamento cimento que os actores tern acerca das sUas do na sltua~ao a mesma posl~ao que urn investigadora pediu aos actores da situa<;ao e aos
ou outros estados sao fracos ou ambfguos, quando respostas no tempo e ao longo das situa<;oes c~ ervador nao implicado - urn observador pas- observadores que explicassem 0 comportamento
nao existem feedbacks extemas, ou quando 0 infonna<;ao que os observadores raramente pos~ o. s ? A investiga~ao empfrica parece indicar dos participantes na discussao. Curiosamente,
SIVO.
comportamento e percebido como pertinente para suem. Neste senti do, a perspectiva e semelhante que na-o. Os observadores activos tendem a ter os participantes na discussao (actores) atribuf-
a atitude ou caracterfstica subjacente, quando ao modelo Anova: os actores usam informa~ao rspectivas convergentes com as do actor em ram a sua participa<;ao ao facto de ser pertinente
o actor tern comportamentos nao planeados e, idiossincratica relativa a distintividade e consis_ permos do peso dos factores pessoais e diver- a participa<;ao neste estudo, enquanto os obser-
~ .
devido a determinadas circunstancias, tern de os tencia do comportamento enquanto os obser_ entes dos observadores passlvos. Isto sugere 0 vadores a atribufram a tendencia destes sujeitos
justificar. Ainda que nao fosse 0 seu objectivo, vadores se baseiam no consenso. gapel moderador d0 envoIvlmento. '-
na sltua<;ao. em participar neste tipo de discussao. E obvio
Bern sugere, assim, a existencia de dois tipos de A infonna<;ao sobre os efeitos refere 0 cOnhe. p Lembremos, no entanto, que a perspectlva . de que actores e observadores nao tiveram acesso
processamento cognitivo: urn, reflectido, impli- cimento sobre as consequencias de uma deter. Jones e Nisbett e basicamente a de que, se os ao mesmo tipo de informa<;ao. No entanto, ou-
cando esfor<;o de articula<;ao dos vanos aspectos minada ac<;ao. Ainda que actores e observadores indivfduos tiverem acesso aos mesmos dados, tros trabalhos posteriores vieram mostrar que
da situa<;ao, con sequencia de urn pedido do meio possam ter acesso a este tipo de infonna<;ao, os nao deverao apresentar diferen<;as ao nfvel mesmo possuindo informa<;ao identic a os obser-
ambiente, control ado, e, urn outro de caracter actores valorizam-na mais que os observadores. atribuicional. Se aceitarmos que ao nfvel per- vadores preveem que 0 actor tenha 0 mesmo
mais automatico, com pouco esfor<;o cognitivo. Nao e, no entanto, claro se 0 «valor» diz respeito ceptivo a situa<;ao nao e identica para actores e tipo de comportamento noutras situa<;oes (causas
Esta ideia vern posterionnente a ser desenvolvida as consequencias afectivas da realiza<;ao do observadores, bastaria inverter as perspectivas pessoais), enquanto os actores preveem ter 0
pelos psicologos sociocognitivistas Winter et aI., objectivo ou aos efeitos cognitivos do terceiro de ambos para mudar as suas perspectivas. mesmo tipo de comportamento se 0 pedido lhes
1985. tipo de divergencia de infonna<;ao entre actores Seguindo este raciocinio, Storms (1973) apre- voltar a ser feito (causa situacional).
e observadores. A infonna<;ao sobre as causas sentou a sujeitos que tinham anteriormente sido Estes estudos parecem indicar que na base
salienta 0 foco de aten<;ao de actores e obser· actores num determinado contexto urn filme das divergencias estao factores perceptivos e
6. Jones e Nisbett: diferem;a vadores. Os primeiros centram a sua aten<;ao nos sobre 0 seu proprio comportamento tal como tambem factores cognitivos. Tal facto levou
de perspectivas e familiaridade constrangimentos situacionais potencialmente este seria visto por urn observador. Em paralelo, Ross (1977) a propor a designa<;ao de erro fun -
com 0 objecto indutores das respostas, enquanto os segundos mostrou a sujeitos que tinham anteriormente damental da atribui<;ao.
estao centrados no actor. Isto conduz a que 0 observado a situa<;ao urn filme de como esta
Jones e Nisbett (1972) centraram a sua aten<;ao observador atribua maior peso as caracterfsticas teria sido vista pelo actor dessa situa<;ao. Em
nas razoes para a divergencia de perspectivas pessoais do actor do que a propria situa<;ao. Este seguida pediu a todos os sujeitos que explicas- 7. 0 erro fundamental da atribui~ao
entre actor e observador. Estes autores sugeriram fenomeno presume-se que e devido a saliencia sem 0 comportamento do actor. Consistente com
que os actores tendem a perceber 0 seu compor- diferencial dos indfcios do estfmulo no campo a perspectiva defendida por Jones e Nisbett, os A enfase dada pelo percipiente aos factores
tamento como uma resposta adaptativa as for<;as perceptivo, verbal e semantico. primeiros utilizaram a perspectiva do obser- pessoais e ja abordada nos anos 40 por Heider
situacionais, enquanto os observadores tendem a Jones e Nisbett sugeriram igualmente a pos- vador, enquanto os segundos responderam como (1944; 1958a), sendo considerada uma distor<;ao
inferir as causas do comportamento do actor a sibilidade de as divergencias actores-observa- o fari a 0 actor da situa<;ao. perceptiva. Ichheiser (1949, 1970), posterior-
partir das suas caracterfsticas pessoais. dores serem mais acentuadas em situa<;oes em Poder-se-a assim dizer que a divergencia mente, interpreta-a como sendo propria de uma
que exista interferencia de factores motiva- entre actores e observadores de uma situa<;ao matriz de pensamento liberal (Vala, neste vol.).
cionais. Por exemplo, quando tanto 0 actor como corresponde a urn tipo de situa<;ao bern especi- Contudo, so nos anos 70 esta distor<;ao tom a a
6.1. 0 processamento de informafiio o observador tentam aumentar a sua auto-estima, fico: os intervenientes da situa<;ao nao detem a designa<;ao de erro fundamental. Segundo Ross
como causa da divergencia e possfvel que 0 primeiro polarize os seus julga- Olesma quantidade de informa<;ao. Este parece (1977), 0 erro fundamental corresponde a
mentos atribucionais em termos de factores situa- ser frequentemente 0 caso, e as consequencias tendencia para sobrestimar 0 papel dos factores
Jones e Nisbett consideraram tres razoes para cionais, enquanto 0 segundo ponha ainda maior Para a comunica<;ao entre as pessoas sao consi- pessoais disposicionais e a subestimar 0 impacte
a discrepancia entre as atribui<;oes dos actores e enfase nos factores pessoais. deraveis. dos factores da situa<;ao na determina<;ao do
172
• 173

comportamento do sujeito por parte do perci- efeito, em sociedades como a chinesa e a indian ctores (os entrevistados) e observa- respeito a influencia volitiva do actor sobre a
piente 2. _I uns a causa (esforyo, por exemplo).
nao tern sido observada a preponderancia de f II IIlg s incorreram no erro fundamental ao
ac
Urn estudo de Jones e Harris (1967) ilustra tores pessoais na explica~ao dos comport;! .... e ' do re razoes pessoais para 0 comportamento Weiner centra fundamentalmente a sua aten-
. -"1 n, '~p~~ .
magistralmente esta distor~ao. Neste estudo, tos, contranamente ao que acontece em soc'ie, b" trevistados, outros actores (os entrevIsta- ~ao nas consequencias afectivas das atribuiyoes
inquiridos com atitudes anti Fidel Castro leem dades ocidentais como a nossa (cf., por exempl dos e~ nao cometeram esse erro, considerando para 0 sucesso e fracasso, e, destas, para 0 com-
es
urn texto a favor ou contra Fidel Castro. Metade Miller, 1984). Jellison e Green (1981), POr s;' dor sua superioridade era situacional e arti- portamento subsequente. No entanto, van as cn-
dos inquiridos e levado a acreditar que 0 autor lado, sublinham 0 valor social de uma norma dU que a ticas tern sido apontadas. A prime ira diz respeito
do texto tinha liberdade de escolha ao redigi-Io, internalidade (cf. tambem Beauvois e DUboi:
tidal. aforma como 0 processo de atribui~ao se desen-
enquanto a outra metade dos inquiridos e dito 1988). ' cadeia. 0 autor defende que ele se inicia com 0
que 0 autor do texto 0 escreveu sob pressao. Na Ainda que 0 erro fundamental seja caracte, A atribui«;ao em contextos caracter inesperado ou negativo de urn evento
realidade, os textos haviam sido escritos pelos nstico dos observadores, ele pode igualmente 8. (Weiner, 1985). Em boa verdade, nao fornece
de realiza~ao
investigadores. Poder-se-ia esperar que os inqui- operar nos actores, como 0 ilustra urn estudo de nenhum indicador dos processos subjacentes
ridos fossem sensfveis a situa~ao em que 0 texto Ross, Amabile e Steinmetz (1977). Estes inves_ o quadro tradicional da atribuiyao considerou que possa explicar as razoes para a existencia de
havia sido redigido, e que, portanto, nao pudes- tigadores constitufram dois grupos de sujeitos emo~oes especificas quando determinadas
s factores motivacionais como interferencias
sem inferir nada sobre 0 seu autor a partir de urn com 0 hipotetico objectivo de participar nurn atribui~oes sao feitas. Para alem disso, 0 carac-
o m efeitos imprevisfveis. 0 trabalho de Weiner
texto escrito sob pressao. Neste caso, os factores estudo sobre conhecimento geral. A um dos CO . ter abrangente da teoria que defende e de dificil
sobre a relayao entre motivayao para a reahza-
situacionais seriam suficientes para explicar 0 grupos foi dada a tarefa de entrevistar 0 outro transposiyao para outros contextos que nao 0 de
~iio e a atribuiyao causal e uma excep~ao.
comportamento do autor do texto. Nao foi isso, grupo de sujeitos, sendo-Ihe fornecido um con- realiza~ao.
Seguindo de perto a proposta te6rica de
no entanto, que aconteceu. Os inquiridos recor- junto de questoes sobre cultura geral e corn
Heider, Weiner reafirma a pertinencia das pro-
reram a inferencias disposicionais para aMm do graus de dificuldade variados. Destes, os entre-
du~oes discursivas em termos de capacidade,
que seria esperavel e 16gico. vistadores escolheriam questoes diffceis e ques- 9. Atribui~oes para 0 sucesso
esforyo, dificuldade da tarefa e sorte nos con-
lnicialmente, 0 erro fundamental foi enten- tionariam os entrevistados, que responderiam e fracasso: cognitivas
textos de realiza~ao, e explicita, num primeiro
dido a luz duma concep~ao heideriana: 0 com- em voz alta. A cada resposta do entrevistado, 0
momento, uma taxonomia atribuicional segundo ou motivacionais'!
portamento domina 0 campo perceptivo, redu- entrevistador fornecia a res posta correcta. Em
dois factores: locus de causalidade (interno ver-
zindo as condi~oes necessanas para 0 evento a seguida, foi pedido aos entrevistadores e aos sus externo) e estabilidade (estavel versus Urn dado extremamente importante dos traba-
uma s6: a pessoa com inten~ao que, apesar dos entrevistados uma estimativa do grau de cultura instavel). Segundo Weiner, a tarefa do perci- lhos de Weiner e a assimetria nas atribui~oes para
constrangimentos situacionais, tern 0 controlo geral dos ultimos. Os resultados mostraram que o sucesso e fracasso. Assim, em contextos tao
piente e determinar em qual dos quadrantes se I

sobre uma multiplicidade de for~as requeridas . os entrevistados atribufram a sua falta de cul-
enquadra a situa~ao observada. Posteriormente, variados como 0 da educa~ao, mais concre-
para a cria~ao do evento. Subjacente a esta tura geral a factores pessoais, enquanto os entre- Weiner (1979) incorpora urn terceiro factor tamente 0 sucesso e insucesso escolar, e 0 da
explica~ao esta a tese da incompetencia em vistadores levaram em considera~ao 0 facto de na taxonomia - a controlabilidade -, que diz interacyao clinico-cliente, os individuos parecem
materia cognitiva por parte do percipiente. que a falta de cultura geral dos entrevistados era privilegiar factores situacionais em situa~6es de
Nao e, no entanto, claro se 0 erro fundamen- devida ao leque de questoes dificeis que Ihes fracasso e factores pessoais no caso dos sucessos.
tal da atribui~ao e apenas fun~ao de factores tinha sido colocado. Por fim, os investigadores V anas explica~oes tern sido fornecidas para
FIGURA 1
perceptivo-cognitivos. Alguns investigadores pediram a urn terceiro grupo de sujeitos que este padrao de comportamento. Uns consideram
defendem a determinayao de factores motiva- observasse a interac~ao entre entrevistadores e que ele decorre dos padroes de refor~o a que 0
entrevistados e estimasse as razoes do compor- Eslabilidade
cionais, enquanto outros sublinham 0 seu carac- individuo e exposto ao longo da sua vida e que
ter cultural (cf., por exemplo, Beauvois e tamento (fracasso) dos entrevistados. A analise cognitivamente elaborado se transforma neste
Instavel Eslavel
Dubois, 1988; Howard, 1989). Os estudos trans- dos dados revelou uma posi~ao convergente Locus tipo de cren~a, enquanto outros se inclinam mais
culturais sao elucidativos a este prop6sito. Com com ados entrevistados. Neste caso, enquan to de Inlerna Esfor~o Capacidade para uma explica~ao em termos de conformismo
caUSalidade
a uma norma social que define 0 caracter inde-
EXlcrna Azar/sorle Dificul.larefa
sejavel do fracasso e 0 caracter desejavel do
2 Este vies atribuicional e i1ustrado pelo vies da correspondencia ou pelo efeito da sobre atribui~ao. sucesso na sociedade.
174
• 175

10. 0 cerne do debate Em seguida, foi dada a possibilidade aos SUje' . 'dade no fracas so foram mais frequente- por demais evidentes quando os resultados dos
. UVI
tos de escolherem entre dois medicament~' un irnputados a falta de sorte, enquanto a desempenhos tern consequencias para 0 proprio
..,ente _
Inicialmente, os vieses auto-atribuicionais supostamente facilitadores ou inibidores d S ,•.. t'vI'dade elevada nos sucessos nao afectou sujeito. Para aMm disso, se e verdade que a
. . as d's un I
foram imputados a preocupa~oes dos percipien- capacidades. E, por fim, os sUJeltos voltavam I 'bui yao a capacidade. 0 consenso gerou controversia motivacional versus cognitivo con-
tes com a sua auto-estima. Ao procurar negar a responder ao teste. Em suporte da hipotese 0 a ~ ::rnente padr6es de atribui~ao diversos em tinua por resolver, 0 facto e que no ambito da
culpa pelos resultados indesejaveis, e ao dar individuos que tinham sido confrontados ~O~ Ig ~o do resultado do desempenho - sucesso atribui~ao os investigadores come~aram a ques-
funya ..
credito ao proprio merito, estariam a proteger e anagramas sem solu~ao escolheram 0 medica, fracasso. Os sUJeltos que fracassaram nas tionar a etiqueta de cientista ingenuo.
\IersuS .
simultaneamente a exibir a sua auto-estima. mento que ficticiamente Ihes inibia a capacidade
efas e foram mformados do fracasso dos
Esta perspectiva nao foi, no entanto, parti- de resolu~ao, permitindo-Ihes assim eliminar tar es atribufram 0 desempenho a dificuldade da
Ihada pelos investigadores cognitivistas, defen- causas pessoais para 0 fracasso, enquanto Os par fa as sujeitos que tiveram sucesso na 10.1. Limitafoes das perspectivas
sores da racionalidade humana. outros individuos (confrontados com problemas taredi~ao
. de consenso e Ievad0 atn'b utram-no
'
con
tradicionais
A perspectiva cognitivista sustenta que: sohlveis) escolheram a «droga» que suposta, lllais a factores pessoals que a laCl 1 ade da
T . , s: 'l'd
mente lhes facilitaria 0 seu sucesso na tarefa. tarefa. Na realidade, 0 resultado do desempenho De entre as varias facetas dos modelos aqui
a) Os individuos esperam geralmente 0 Ainda urn outro exemplo ilustrativo do nosso revelo u-se como 0 grande factor de varia~ao de apresentados importa distinguir dois paradig-
sucesso (nao 0 fracasso) e parecem mais ponto de vista e fomecido por Stevens e Jones respostas. Consistente com a perspectiva de mas no estudo da atribui~ao: urn racionalista e
predispostos a imputar factores pessoais (1976). Estes investigadores pediram aos Weiner, 0 sucesso foi atribufdo a capacidade, urn hedonista. 0 primeiro, dominante na lite-
em caso de sucesso do que em caso de sujeitos que participassem numa serie de tarefas enquanto 0 fracasso se deveu a falta de sorte. ratura, encara 0 esfor~o do percipiente como a
fracasso, considerado como 0 resultado de discrimina~ao sensorial das quais iriam A dificuldade da tarefa nao se revelou, no en- de procura rigorosa das causas reais do proprio
de factores instaveis ou extemos; recebendo retroac~ao (na realidade uma falsa tanto, pertinente para discriminar sucessos e comportamento e dos outros. 0 segundo, mais
b) Os indivfduos percebem uma maior co- retroac~ao) nao so sobre 0 seu desempenho mas fracassos. Facto curiosa e 0 de que os resultados controverso, menos estudado, centra-se na
-varia~ao entre comportamento e resultado tambem sobre 0 dos outros. Com esta instru~lio slio igualmente inconsistentes com 0 modelo de necessidade hedonic a de 0 percipiente por em
obtido no caso de sucessos consecutivos pretendiam os investigadores testar 0 modelo Jones e Davis (1965) ja anteriormente referido. evidencia 0 seu valor e 0 de alguns outros.
que no caso de fracassos repetidos em que Anova (manipulando para este efeito 0 grau de Este modelo prediria que resultados partilhados Enquadrando-se no paradigma racionalista, 0
as altera~oes do comportamento nao sao consenso, distintividade e consistencia). Quais por outros sujeitos fossem imputados a factores trabalho desenvolvido por Jones e Davis (1965),
associadas a altera~Oes nos resultados; seriam as predi~oes do modelo Anova (expoente extemos, contrariamente ao que aconteceu na Kelley (1967,1972), Bern (1967,1972), Jones e
c) Os individuos tendem a ter uma concep- maximo da perspectiva cognitivista)? situayao de consenso elevado. Nisbett (1972), e em menor grau Weiner (1974),
~ao erronea de contingencia entre respos- Em primeiro lugar, nao prediriam diferen~as Em suma, os resultados obtidos nao susten- possibilitou novas forrnas de conceptualizar 0
tas e consequencias, 0 que os leva a asso- em fun~ao do resultado do desempenho. Em tam 0 quadro teorico tradicional da atribui~ao. processo de atribuis:ao de causas.
ciar 0 controlo com a ocorrencia de urn segundo lugar, este seria atribufdo a capacidade A capacidade aparece como uma fun~ao da con-
resultado desejado (0 sucesso). na condi~ao de distintividade elevada e baixo sistencia (0 que e corente com 0 modelo ANOVA) I . 0 que desencadeia 0 processo atri-
consenso; 0 esfor~o e a sorte seriam as explica- mas nao como uma fun~ao do consenso e da dis- buicional?
No entanto, as explica~oes puramente cogni- ~oes privilegiadas na condi~ao de fraca distin- tintividade. 0 esfor~o nao e fun~ao das variaveis A necessidade de avalia~ao, afirrna Heider.
tivistas nao sao consistentes com alguns dados tividade, fraca consistencia e fraco consenso; e a do modelo Anova. A dificuldade da tare fa e uma Jones e Davis bern como Kelley nao especifi-
observados, nomeadamente nos casos em que 0 dificuldade da tarefa seria 0 factor causal mais fun~lio da consistencia mas nao na direc~ao cam as condi~oes da sua emergencia. Weiner,
desempenho acarreta consequencias negativas saliente na situa~ao de consenso e consistencia prevista pelo modelo. A rela~ao entre sorte/azar nos anos 80 defende que e 0 caracter inesperado
para 0 indivfduo. elevados. Quais foram os resultados obtidos por e distintividade prevista no modelo tambem do evento/ocorrencia e a nao obten~ao de urn
Por exemplo, Berglas e Jones (1978), sob Stevens e Jones? Diferentes das predi~6es deri- nlio se observa. As limita~6es ao funcionamento objectivo, os factores que estao na base do
pretexto de urn teste de capacidade de resolu~ao vadas do modelo Anova. Os sujeitos que rece- cognitivo em termos da teoria da atribui~ao sao processo atribuicional. 3 A assun~ao de base
de problemas, confrontaram os sujeitos com beram inforrna~ao inconsistente ao longo das
problemas solucionaveis ou sem solu~ao, sob a tarefas atribufram-no a varia~oes na dificuldade -------
3 Schachter (1964), no ambito de uma teoria das emor;:oes, sustenta que e activar;:ao; no entanto, 0 autor nao e abor-
hipotese de que estes escolheriam a estrategia da tarefa mesmo quando os nfveis de distintivi-
dado neste capitulo, dado 0 fraco peso que teve no desenvolvimento do quadro tradicional da atribuir;:ao de causas para 0
que Ihes permitisse justificar 0 seu desempenho. dade eram semelhantes. Niveis elevados de dis- comportamento,

176 177

de Heider foi assim negligenciada pelos seus piente leigo toma decisoes em materia de Hcito no sentido de Kelley) (cf., a este sicos negligenciam a mediyao da confianya na
sucessores. imputayao de causalidade com base nUlll proposito , Hewstone e Jaspars, 1988).
(e"P inferencia disposicional, sendo a explica~ao
Jones e Davis, centrados na percepyao pes- co-variayao de causas e efeitos. Os criterio: fornecida mera especulayao.
soal, propuseram que 0 percipiente tenta inferir informacionais a que recorre sao a distintivi_ 3. A explicayao cognitivista fornecida para 0
uma contingencia entre aCyoes e caracteristicas dade, 0 consenso e a consistencia do compona_ fundamental, criticada por varios investi- 4. A abordagem de Weiner (1974) aparece
ertO . I. - &
mais como urn quadro de referencia para a
estaveis no actor tendo em atenyao os objectivos mento. Jones e Nisbett nao se afastam desta dores, teve Imp Icayoes para a lorma de
prosseguidos com os comportamentos possiveis linha de pensamento ao considerarem a infor_ ~;nceptualizar a atribuiyao. Jones (1979), inau- analise de situayoes de realizayao do que uma
numa determinada situayao, as expectativas do mayao sobre os efeitos, a informayao sobre as urando uma nova forma de conceptualizar 0 teoria da atribuiyao. S6 em 1985, Weiner desen-
percipiente, bern como da desejabilidade social causas e a informayao hist6rica. Os postulados g oces So de atribuiyao, vern sublinhar a im- vol vera uma teoria, efectuando a analise mais
dos resultados. No entanto, ao considerarem a genericos sao os de que, ao terem de produzir P~rtancia da saliencia nao do comportamento aprofundada das dimensoes atribucionais que
uma apreciayao, os observadores se basei~ p
mas do elo de I·Igayao - comportamento-actor. hoje conhecemos.
intenyao urn mediador necessario a imputayao
de uma causalidade disposicional, restringem 0 mais no consenso, enquanto os actores estao Minai de contas, nao ha aCyao sem actor. Na versao de 1974, que ficou celebre, as
ambito da teoria, nao fornecendo prediyoes para mais sensibilizados para a distintividade e Con- E"plicar a aCyao pela situayao e demasiado principais prediyoes adequam-se facilmente
a inferencia de disposicionalidade que nao sistencia do comportamento devido ao facto de abstracto pelas implicayoes que 0 percipiente ao senso comum. Por outro lado, pelo modelo
envolva comportamento intencional (exemplo: possuirem mais informayao sobre 0 seu compor_ da! retira. Assim, num primeiro momento, para de investigayao utilizado, extremamente ape la-
«x e urn esquecido») (Kruglanski, 1975). Por tamento. fundamentar a sua apreciayao da situayao ele e tivo, muitos investigadores e praticos terao
outro lado, ao postularem que 0 percipiente cen- Alguns investigadores tern, no entanto, vindo levado a considerar 0 comportamento como eventualmente produzido dados que esquecem
tra a atenyao nas alternativas comportamentais a criticar este modelo indutivo. Hilton (1988), reflexo de uma predisposiyao subjacente. Num o caracter criativo das construyoes mentais do
nao escolhidas, negligenciam 0 facto de que fre- por exemplo, sugere que 0 raciocfnio causal segundo momento, corrige a sua apreciayao ser humano. Por exemplo, numa serie de estu-
quentemente 0 percipiente nao tern tempo nem se baseia em estruturas de conhecimento levando em considerayao os factores situ a- dos sobre a percepyao das causas do insucesso
interesse num esforyo epistemico de precisao previas. Por outro lado, alguns estudos apontam cionais. Mas, como 0 sublinham Tversky e escolar em diferentes escolas do pais, junto
no raciocfnio (cf., por exemplo, a este prop6sito, para 0 facto de que 0 consenso nao e tao rele- Kahneman (1974), esta segunda etapa e realiza- de alunos com ou sem experiencia de fra-
Leyens, 1983; Higgins e Bargh, 1987). Para vante aos olhos do percipiente como 0 modelo e
da de modo pouco cuidado, prevalece 0 peso casso escolar, verificou-se que as causas tradicio-
alem disso, ao colocar a enfase no valor infor- de Kelley deixa supor (cf., por exemplo, Major, da fundamentayao (anchor). nalmente consideradas - capacidade, esforyo,
mativo do comportamento inesperado, ') modelo 1980). Ilustrativo das limitayoes do modelo Seguindo urn raciocinio diferente, Quattrone dificuldade da tarefa e sorte - sao demasiado
nao permite explicar como e que 0 percipiente Anova e urn estudo realizado por n6s pr6prios (1982) sustenta que 0 processo de atribuiyao genericas, nao esgotando sequer as razoes forne-
infere atributos de personalidade no actor com (Sousa, 1990). A pretexto de urn estudo sobre se traduz na sobrevalorizayao dos factores pes- cidas pel os inquiridos quando Ihes e dada a pos-
quem interage no dia-a-dia. Por fim, 0 suporte decisao em selecyao de pessoal, analisou-se 0 soais em detrimento dos situacionais devido sibilidade de raciocinar espontaneamente sobre
emplrico para a teoria baseia-se, na maior parte peso dos tres criterios informacionais de Kelley a situayao experimental criada pelo investi- o assunto (Sousa, 1992). Por exemplo, 0 insu-
dos casos, em estudos que nao ineluem atribui- e a articulayao destes com variaveis de canlc- gador. As instruyoes fornecidas aos sujeitos con- cesso e atribuido pel a generalidade dos alunos
yoes causais mas sim atributos de personalidade. ter social. Os resultados vieram mostrar que duzem-no a perceber uma unidade predis- dos primeiros anos do secundario it incom-
Neste ambito, alguns trabalhos de investigayao os inquiridos relegaram para segundo plano posi~ao-comportamento e a por em jogo as suas preensao dos textos dos livros em determinadas
vieram mostrar que a atribuiyao de trayos de o criterio informacional consenso do cubo cren~as, de forma faseada. Num primeiro materias e a forma como os professores expoem
personalidade e a atribuiyao causal implicam ANOVA, decidindo na base da distintividade do momento, 0 individuo fundamenta 0 seu racio- essa materia: «Nao percebo 0 que e1es dizem.»
processamentos distintos (este ultimo mais lento comportamento do candidato e na base de c!nio na base da direcyao e da intensidade do Estes dados sao consistentes com uma investi-
- cf., por exemplo, Smith e Miller, 1983). variaveis de caracter social, como seja a con- comportamento. Em seguida, avalia em que gayao levada a cabo por Leyens e por mim
gruencia de pertenya de candidato e seleccio- ~edida e que 0 comportamento e diagnos- pr6pria (Sousa e Leyens, 1987) que visava a
2. Afastando-se dos modelos humanos e de nador a urn mesmo grupo universitmo. Na rea- ticavel e ajusta a sua apreciayao sobre a atitude comparayao de metodologias no ambito dos
investigayao de Heider (centrados no principio lidade, Kassin (1979) sugere a necessidade de SUbjacente a ac~ao. No entanto, a correcyao estudos da atribuiyao. Foi pedido a individuos
da consistencia cognitiva), a ideia de cientista distinguir dois tipos de consenso: aquilo que oS ~rova ser incompleta, conduzindo-o a uma do sexo masculino e feminino que explicassem
ingenuo, enunciada por Jones e Davis, e brilhan- outros fariam se estivessem na situayao (impU- I~ferencia disposicional. Devine (1989) vai livremente 0 desempenho bern ou mal sucedido
aInda .
temente desenvolvida por Kelley. 0 perci- cito), e 0 comportamento de uma dada amostr8 mals longe ao afirmar que os estudos elas- de urn individuo do sexo masculino ou feminino
178

179

em dois contextos culturais diferentes. As samento de infonna~ao, Os estudos no amb' No ambito da at~bui~ao, em trabalh~s, mais constrangimentos situacionais e SOCialS (Des-
', Ito
respostas foram analisadas de duas formas: tal d as estruturas cogmtlvas e processos mostrara tes, a dicotomla entre fases automatlcas e champs, 1977; Hewstone, 1983; Marques e
como tinham sido dadas e, apos codifica~ao, ha muito que 0 estabelecimento de uma relaC'~ recenoladas constitui urn eixo organizador dos Sousa, 1982; Sousa, 1987).
em tennos do seu canicter interno / externo e I: ' " ,
causa-elelto na me mona e apenas uma Parte d
l'aO
con~menos de percep~ao social (com paralelo
no
processamento de informa~ao, que impli fe estudos sobre fonna~ao de impressoes).
0
estavel / instavel. Os resultados puseram em
c 10.3. A dimensiio estrategica
evidencia 0 facto de a taxonomia tradicional principios muito claros de organiza~ao dos Co a nos e (1986), por exemplo, propoe urn modelo
teudos em memoria. A teoria da atribUi~~
nao ser sensfvel a dimensao social dos julga- Trop ,"
joferencia dlSposlclona I em duas etapas: uma das atribuiroes
mentos, nem a fonna como eles sao verbali- causal nao propos a integra~ao do processo d de ele designa de I'dentl'fiIca~ao
- (automatlca
") e
zados, podendo obscurecer facetas interes- atribui~ao num conjunto mais vasto de process~ qU~a designada de inferencia (controlada). Como referimos anterionnente, a aten9aO do
santes dos dados obtidos e dar lugar as proprias e estruturas, ou fe-Io em apenas alguns casos ~ sume-se que 0 percipiente identifica 0 com- percipiente centra-se no actor por fonna a com-
teorias dos investigadores na materia. Igual- Poder-se-ia mesmo dizer que a falta de um ll1o~ Srtamento e a situa~ao, 0 comportamento e preender a situa~ao, mas frequentemente acaba
mente consistente com este raciocfnio e urn delo descritivo e a maior fraqueza do quadro ~:entificadO em tennos de categorias comporta- por incorrer em julgamentos distorcidos. As in-
estudo de Val a, Leyens e Monteiro (1989). Estes tradicional da atribui~ao, Actualmente, existem I lentais (por exemplo, manifesta~ao de c6lera) e terpreta90es abordadas ate aqui tern por base
investigadores compararam as respostas dos ja propostas teoricas neste sentido (cf., POr r d e categonas
OS estfmulos em tennos
' ,
sltua- a ideia de que as coisas sao 0 que parecem.
sujeitos a dois tipos de instrumento de medida exemplo, Abelson e Lalljee, 1988; Smith e cionais (por exemplo, urn caso de provoca~ao). No entanto, muitas vezes os indfcios comporta-
das atribui~oes causais, tendo chegado a con- Miller, 1979; Trope, 1986). Cada aspecto serve de contexto para a interpre- mentais podem ser intencionalmente produzi-
clusao de que as dimensoes causais espontaneas Por outro lado, 0 facto de as pessoas se com- ta~iio do outro. Esta e uma etapa relativamente dos. A aprendizagem no seio de uma sociedade
nao correspondem as dimensoes teoricas portarem, em determinadas situa~oes, de forma automatica em tennos do reduzido esfor~o inclui 0 treino da «fonna». Quantos de n6s nao
tradicionalmente consideradas no ambito da consistente, com as predi~oes do paradigma do cognitivo implicado, tendo as cren~as do perci- agradeceram ja, com urn sorriso nos labios, pre-
atribui~ao, cientista ingenuo nao quer dizer que elas sejam piente um papel importante. Numa segunda fase sentes de que nao gostam? Quantos nao obser-
cientistas ingenuos. Seguindo uma abordagem _ de inferencia - a disposi~ao identificada no varam ja interac90es extremamente agradaveis
alternativa, na senda de Heider e Lewin, defen- primeiro momenta e de novo examinada e even- entre pessoas que se detestam? 0 individuo tern
10.2. 0 cientista ingenuo? Procura demos a tese de urn indivfduo, sobrecarregado tualrnente corrigida quando a analise em tennos de levar em considera9aO a imagem que pre-
epistemica racional «versus» de estimula~ao pelo meio ambiente, que, de automaticos se revelar injustificada. Esta fase tende dar aos outros presentes, ffsica ou sim-
hedonismo num vacuo social fonna consciente ou nao, selecciona a infor- implica urn maior esfor~o cognitivo, Na maior bolicamente, e a fonna como os outros 0 per-
ma~ao do meio ambiente e the atribui peso parte dos casos, no entanto, 0 percipiente e cepcionam (cf. Shlenker, 1980; Weary-Bradley,
Daquilo que vimos ate aqui ressalta que os diferencial. Este indivfduo procura reconhecer levado a privilegiar as respostas de caracter 1978). Wapner e Alper, nos anos 50, sugeriam:
modelos classicos da atribui~ao causal nao per- configura~oes de estimula~ao em fun~ao do automatico e a basear-se nas suas cren~as. «An audience may serve to threaten self-status
mitem uma compreensao clara das componentes conhecimento ja annazenado em mem6ria mais A analise minuciosa da infonna~ao, que requer (need to be thought well of by others). The au-
do pensamento do sen so comum nem dos proces- do que induzir as verdadeiras causas dos even- esfor~o significativo, tempo e disponibilidade dience, after all, is a potencial interpreter of the
sos subjacentes as atribui~oes causais, Por outro tos observados. Esta perspectiva e consistente de recursos cognitivos, e levada a cabo em choices made by the individual» (1952, p. 227).
lado, estes modelos sao claramente insatisfatorios com os resultados das investiga~oes nas areas cia situa~6es em que a infonna~ao e surpreendente, Vma audienci" pode servir para amea9ar 0
quando se procura compreender a rela~ao entre percep~ao de pessoas e da mem6ria para pes- incongruente com as expectativas, ou quando estatuto do self (necessidade de que os outros
estes processos e as estruturas mentais que, em soas, Os estudos realizados sob esta egide a situa~ao exige uma analise ponnenorizada e pensem bern de si). Em suma, a audiencia e urn
principio, deveriam estar na sua base. Com efeito, mostram que os indivfduos podem produzir jul- precisa, Vma das facetas interessantes deste interprete potencial das escolhas feitas pelo
e salvo raras excep~Oes, 0 processo de atribui~ao gamentos sobre outros ou sobre si proprios na modelo e mostrar que uma mesma infonna~ao proprio individuo.
causal foi abordado em tennos individuais, como base de indu~oes previas, como resultado de pede ter efeitos diversos nas diferentes etapas do Ao comportamento motivado pel a neces-
se ele ocorresse num vacuo. Num vacuo teorico, processos de codifica~ao «inconsciente» da prOCesso de atribui~ao. sidade de comunicar algo sobre 0 self ou sobre
porquanto os investigadores descreveram ape- infonna~ao que tern muito pouco a ver corn ~m outro aspecto que emerge da teoria da uma irnagem desse self a outrem se convencio-
nas urn leque reduzido de mecanismos sem esta- inferencias complexas (cf., por exemplo, Gilbert atribui~3.o e a sua evolu9aO num vacuo social, a nou chamar de auto-apresenta9ao (Baumeister,
belecer uma rela~ao entre 0 conhecimento que et ai., 1988; Higgins e Bargh, 1987; Quattrone, ~ua incapacidade de articular 0 processo de 1982; Schlenker, 1980). Toda uma linha de
os individuos detem e as capacidades de proces- 1982; Trope, 1986). Imputa93.0 de causalidade com 0 contexto e os investiga9ao (que nao iremos aprofundar por
180
• 181

ultrapassar os limites do capitulo) se tern actor conseguir convencer os observadores d ecisos - 0 de afirmar;ao do estatuto de dois dicionanos. Nesse momenta 0 sujeito era
debru~ado sobre este fenomeno. Dessa linha de 'VOS pr entao questionado sobre as razoes que teriam
seu sentido de responsabilidades e modest' 0 tI 'oridade por parte do outro grupo.
, la
investiga~ao iremos reter alguns aspectos. Em provavelmente 0 seu sucesso sera total, social ' SU~~e estudo convida-nos igualmente a ques- levado os outros dois a devolver os dicionanos,
primeiro lugar, se 0 actor estiver sozinho, fixar- intelectualmente. Nao se trata, no entanto de s 0 caracter social das respostas atribuicio- possibilitando-Ihe assim levar a cabo a sua tare-
-se-ao objectivos mais modestos, como 0 baixar a s~a auto-~stima mas sim de uma a~to~ tio~~actor negligenciado nas abordagens ate aqui fa. Curiosamente, as explica~oes mudaram em
demonstra a evidencia empirica. Ilustrativo lIal S, d . & • •
fun~ao do estatuto do comparsa: 0 comporta-
apresenta~ao conslstente com as expectativas d 'deradas centra as nos aspectos lnlerenClaJS.
nst
audiencia (cf. tambem Babkok, 1989), mOde~
deste ponto de vista e urn estudo levado a cabo co ' mento do com pars a de alto estatuto social foi
por House (1981). Os individuos tern tendencia rada por val ores culturais. Se ele fracas sa nesta explicado em term os de factores pessoais (<<boa
para atribuir 0 fracasso numa tarefa a falta de tarefa, 0 seu desempenho e «infeliz», dado qUe 10.4. A dimensiio social vontade em ajudar»), enquanto 0 do comparsa de
esfor~o quando acreditam que as respostas serao nao consegue levar os outros a coordenar pers_ das atribuifoes estatuto social baixo 0 foi em termos dos factores
divulgadas a uma audiencia, mas nao quando pectivas consigo no senti do do seu valor ell! situacionais (a pressao exercida pelo sujeito para
sao informados de que as suas respostas sao dimensoes socialmente valorizadas. Isto nao Heider sugeria ja nos anos 50 que os termos reaver 0 dicionano). Da mesma forma, urn com-
confidenciais. Urn outro exemplo e dado pelos quer dizer, no entanto, que 0 percipiente fun- traves dos quais se compreende 0 mundo sao portamento que c1aramente prejudica 0 individuo
individuos que tern urn born desempenho numa cione sempre de forma descentrada. Como 0 atoduto de trocas entre pessoas situadas histo- pode ser interpretado como «li~ao merecida» ou
modalidade, mas que nao the associam capaci- sublinham Ross, Green e House (1977), «0 indi- ~camente em funr;ao de pertenr;as e possessoes «imprudencia que merece li~ao» (Heider, 1958).
dade. Estes individuos tern tendencia para esco- viduo tern tendencia para acreditar que as suas ~ssoais. Urn acto negativo e facilmente com- Numa situa~ao de desigualdade de posi~oes que
lher posteriormente situa~oes que compro- posir;oes em determinada materia sao par- panvel com urn pers?nagem antip.atico,.sentindo desfavore~a 0 percipiente, ele pode ser levado a
metam 0 real teste das suas capacidades. Esta tilhadas pelos outros, independentemente dos o percipiente necessldade de se dlstanclar deste. aceitar passivamente urn acto ou a rebelar-se
estrategia tern como con sequencia 0 facto de ao dados da situa~ao, que com frequencia se reve- por outro lado, 0 mesmo acto desempenhado contra 0 autor do acto.
individuo se impor a necessidade de projectar a lam inconsistentes. A este vies se convencionou por individuos com caracteristicas diferentes Criticando 0 caracter universal do erro funda-
existencia de factores constrangedores dos seus chamar efeito do falso consenso». (tais como 0 estatuto social) tern interpretar;oes mental, Pettigrew (1979) sugere que a sua emer-
desempenhos, dispersando a aten~ao e justifi- Urn estudo realizado em contexto escolar e diferentes. gencia depende do beneficio que 0 percipiente
cando desempenhos de qualidade inferior igualmente ilustrativo da funr;ao de negociar;ao Thibaut e Riecken (1955) ganhararn 0 merito retira da situar;ao. Ja nos anos 40, Ischeiser
(Arkin e Baumgardner, 1985). No entanto, nesta de imagens das atribuir;oes. Nesta investigarr ao de ter ilustrado de forma con vincente a influen- sugeria que ele servia a auto-estima dos social-
como noutras materias, varhiveis pessoais (Sousa, 1993) pedimos a professores do ensino cia de variaveis sociais na imputa~ao de uma mente favorecidos (cf., a este proposito, Vala,
moderam as auto-apresenta~oes. secundano do quadro e provisorios que avalias- causalidade. Neste estudo, cada sujeito era infor- 1991). 0 enviesamento nao seria tao funda-
Alguns investigadores tern sugerido que na sem e explicassem 0 comportamento de repreen- mado de que iria realizar uma tarefa de cons- mental quanto irrevogavel (ultimate attribution
base destas estrategias atribuicionais estao dife- sao de urn professor do quadro a urn professor trurrao de palavras cruzadas com outros dois error). Urn comportamento socialmente dese-
ren~as nos niveis de auto-estima (cf., por exem- provisorio que havia deixado sair alunos antes individuos (na realidade comparsas dos investi- javel do endogrupo ou urn comportamento
plo, Brockner, 1983). No entanto, nao e menos do fim da aula por ocasiao de urn teste. A urn gadores). Num dos indivfduos foi salientado 0 socialmente indesejavel do exogrupo tende a ser
verdade que as diferen~as observadas desapare- ter~o dos inquiridos foi dito que 0 comporta- estatuto social elevado numa serie de dimensoes, explicado em termos de factores pessoais,
cern quando as respostas sao dadas em privado mento de repreensao havia ocorrido em privado, enquanto no outro se sublinhou 0 seu baixo enquanto 0 comportarnento socialmente indese-
(Baumeister, Tice e Hutton, 1989), 0 que vern a urn outro ter~o que tinha ocorrido em reuniao estatuto social. A triade assim constituida devia
refonrar a ideia de que as atribuir;oes causais tern de grupo e ao resto dos inquiridos que este acto trabalhar separadamente e partilhar a informa~ao
uma funr;ao pragmatica. fora levado a cabo em frente dos alunos. existente - dois dicionanos que ficavam na posse FIGURA 2
Que pensaria uma audiencia de urn actor se Os resultados vieram mostrar que, se os pro- dos comparsas. Pouco depois do inicio da expe-
Positivo Negativo
este, apos urn born desempenho, enveredasse fessores efectivos consideravam importante riencia, os comparsas recusavam passar 0 seu
por urn discurso que salientasse 0 seu merito repreender 0 provisorio em presen~a de outreOl, dicionano ao sujeito e, em paralelo, 0 experi- Exogrupo
Fact. situa~iiol
Fact. pessoais
como factor exc1usivo ou que, apos urn mau por forma a corrigir urn elemento desviante, os mentador enviava ao sujeito uma mensagem Icaso excepcionaI
desempenho, negasse 0 seu papel na situar;ao? provisorios consideravam que este tipo de situa- escrita que requeria a utiliza~ao de dicionano. Endogrupo Fact. pessoais Fact. situa~iio
Nao chega ao indivfduo acreditar no seu valor, e r;oes devia ser resolvido em privado e que a Bsta mensagem podia ser enviada aos comparsas
preciso que os outros lho reconher;am. Se 0 resolur;ao da questao em publico tinha objec- qUe, ao fim de algum tempo, the devolveram os
182

183

javel do endogrupo ou desejavel do exogrupo e enquanto os de estatuto social baixo favorecelll incidencia entre categoria de pertentra do do sexo masculino. Este e avaliado de forma
perspectivado em termos de factores situacionais. outro grupo em detrimento do seu. 0 dll CO e do percipiente, ou nao, e do estatuto mais positiva pelos homens do que pel as mulhe-
A primeira investigatrao empiric a no ambito Algumas consequencias dramaticas deste ti IIct~alr Esta perspectiva e inaugurada por Des- res. Em termos intergrupais, poderemos dizer
das atribuitroes intergrupais e atribuida a Taylor e O oCI •
de distortrao ressaltam de urn estudo de Dun/ s ps (1977) na Europa. Deschamps mostra, que se os homens tentam discriminar 0 seu grupo
Jaggi (1974). Estes investigadores pediram a urn (1976). Este investigador pediu a urn grupo i cbllfllxemplo, que a saliencia da categorizatrao do outro grupo, as mulheres tentam assimila-Ios
grupo de sujeitos hindus habitando a india (pais sujeitos brancos que visionasse uma discuss~ e por eda em estatutos d'l' llerentes determma
' urn (cf. Deschamps, 1977; Skevington, 1981). Em
com uma longa historia de conflitos religiosos) . .md'IVI'd uos, urn negro e outro branco
entre d O1S ao badrse~o de atribuitroes que exprime a assimetria ambos os casos os sujeitos tentam avaliar as
que descrevesse os hindus e os mutrulmanos pll a .
De acordo com as conditroes experimentais . d relayao mtergrupal. mulheres enquanto sujeitos minoritarios e os
. . , Os
numa serie de atributos e explicasse uma situa- sUJeItos observaram uma agressao ligeira POr II Os estudos sobre as diferentras de genero homens enquanto sujeitos maioritarios na matriz
tr ao hipotetica envolvendo-os a si proprios e a parte do actor branco ao actor negro ou vice_ ual nas atribuitroes causais em situatrao de social. Em resumo, 0 homem tern tendencia
urn outro individuo do seu grupo religioso ou do -versa. Contrariamente a preditrao do erro fun- seXmpeti , - 'I'd a discriminar-se positivamente da mulher, en-
yao mtergrupos sao I ustratIvos este
outro grupo. A metade dos sujeitos foi solicitado damental - maior peso dos factores pessoais _ ;onomeno (Deaux, 1985; Deaux e Major, 1987; quanta esta procura reduzir a distancia entre os
que imaginassem uma situatrao de interactrao o comportamento agressivo do actor branco fot ;eschamps, 1977; ver tam bern Amancio e grupos e avalia os desempenhos em termos do
positiva entre si proprios e urn outro membro do explicado em termos situacionais, enquanto a Monteiro neste volume). Homens e mulheres seu merito (cf. tambem Amancio, 1989 a;
seu grupo ou do outro grupo. Aoutra metade dos agressao do actor negro ao actor branco foi convergem no que respeita as explicatroes Deschamps, 1977; Skevington, 1981).
sujeitos com as mesmas caracteristicas foi pe- imputada a, factores pessoais, isto e, a predis- fomecidas para 0 desempenho duma tarefa: urn A questao mantem-se, no entanto, porquanto
dido que imaginassem uma situatrao de caracter positr ao do actor negro para este tipo de com- bom desempenho masculino e imputado a fac- em determinadas situatroes os grupos podem
negativo envolvendo urn outro personagem portamento. Resultados semelhantes foram tores pessoais, enquanto 0 seu mau desempenho assumir a sua inferioridade. Nesse caso, onde
hindu ou mutrulmano. Em seguida, foi-Ihes soli- obtidos por Greenberg e Rosenfield (1979): e percepcionado como resultado de factores esta 0 esfortro de positividade dos individuos,
citado que explicassem essas situatroes. Os resul- inquiridos etnocentricos de ratra branca atribuem situacionais; urn born desempenho feminino e linha de fortra do nosso raciocinio? Sera que os
tados vieram revelar que os inquiridos eram o born desempenho de urn actor negro a factores atribuido a factores situacionais e 0 mau a fac- individuos se servem apenas de uma dimensao
sensiveis a pertentra social do hipotetico interve- circunstanciais e urn mau desempenho deste it tores pessoais. avaliativa na sua busca de positividade? Vma
niente. 0 comportamento frustrante de urn mem- falta de competencia (cf. tambem Hewstone e Que significatrao dar ao padrao atribuicional estrategia altemativa para os sujeitos consiste
bro do proprio grupo foi explicado em termos Jaspars, 1982). Neste ambito Vala, Monteiro e de desvalorizatrao do proprio grupo? Identidade em derivar a sua positividade de diferentes
situacionais, enquanto 0 mesmo comportamento Leyens (1988) colocaram a hipotese de que a negativa? Auto-apresentatrao? Leyens e eu dimensoes social mente valorizadas. Tal feno-
levado a cabo por urn membro do outro grupo 0 imputatrao de causalidade varia em funtrao da propria (op. cit.) procuramos mostrar que os meno, ja posto em evidencia por diferentes
foi em termos de urn conjunto de caracteristicas ideologia do percipiente e da pertentra catego- estudos c1assicos no dominio da atribuitrao nao autores (e.g., Lemaine e Kasterzstein, 1972;
pessoais, vindo assim fomecer suporte empirico rial do actor. Estes investigadores pediram a permitem destrintrar a necessidade de suporte Mummendey e Schreiber, 1984), tern sido negli-
para a tese de Pettigrew (1979). sujeitos conservadores e radicais que explicas- social dos intervenientes (bern conhecida na psi- genciado, no entanto, nomeadamente no ambito
Apesar do interesse do estudo de Taylor e sem uma agressao personalizada por policias cologia social, mas negligenciada no ambito da da investigatrao sobre 0 genero sexual. Amancio
Jaggi (op. cit.), poder-se-a argumentar que 0 con- (actores institucionais) ou delinquentes (actores atribuitrao). Para tal, comparamos as respostas (1989 a) vern sugerir a necessidade de uma
texto da resposta induziu competitrao entre os anomicos). Os resultados vieram mostrar 0 dos sujeitos de ambos os sexos em termos das redefinitrao de si proprio e do comportamento
grupos (avaliados previamente numa serie de efeito destas variaveis nos padroes atribui- quatro categorias tradicionalmente utilizadas de desejavel em funtrao do contexto nos grupos
atributos). Por outro lado, os investigadores nao cionais dos inquiridos. Os individuos ideologi- esforyo, capacidade, dificuldade da tarefa e sorte dominados. Numa exemplificatrao do raciocinio
consideraram sujeitos hindus e mutrulmanos, nao camente conservadores explicaram 0 comporta- (apos codificatrao do lexico) com as suas que vimos a desenvolver, pedi a sujeitos de
sendo assim possivel destrintrar limitatr0es ao mento de agressao de fortras policiais em termos respostas livres. A utilizatrao das categorias veio ambos os sexos que explicassem 0 «desem-
erro irrevogavel. Numa replicatrao conceptual de factores extemos. Os inquiridos ideologica- revelar 0 padrao de resultados tipico na litera- prego» masculino e feminino. Todos os sujeitos
deste estudo, Hewstone e Ward (1985) demons- mente radicais privilegiaram uma causalidade tura. Por opositrao, a analise das atribuitroes conheciam alguem nessa situatrao e esperavam
tram diferentras nos padroes atribuicionais dos intema. 0 padrao foi 0 inverso quando os acto- espontaneas dos sujeitos veio revelar algo de encontrar trabalho a medio prazo (eram estu-
inquiridos em funtrao da positrao que ocupam na res foram apresentados como delinquentes. diferente. Homens e mulheres partilham 0 dantes do ensino superior nos dois primeiros
matriz social. Os individuos de estatuto social A imputatrao de uma causalidade depende, rnesmo ponto de vista excepto quando se trata anos). Os resultados mostraram homogeneidade
elevado tern urn comportamento etnocentrico, portanto, dos fenomenos de categorizatrao social, de avaliar 0 desempenho bern sucedido do actor de perspectivas no que conceme ao desemprego
t
184 185

masculino, mas divergencia de posi~oes relati- tos podem ser prejudiciais ao indivfduo, Co 7) as atribui~oes podem ser mediadas por causas dos acontecimentos. 0 paradigma racio-
vamente ao desemprego feminino. As mulheres vimos acima. E necessano accionar uma estra~() 1~8 e~tes preocupa~oes epistemicas: uma que nalista comum aos modelos tradicionais da
fazem apelo a uma outra dimensao - a esfera gia que leve os outros indivfduos a coorde - difer a a procura de validade no conhecimento, atribui~ao da-nos a imagem de urn indivfduo
familiar - para restabelecer a sua positivi dade.
.
perspectivas com 0 actor, mas, contrariament
nar acenWutra que inclui a procura de conclusOes isolado dos outros e do seu meio ambiente.
o self aparece assim submetido a uma serie de . . que defendernea
. dores, a I·dela urnaecffi
0 .
o paradigma hedonista deixa-nos a imagem
outros 10vestIga cas , e uma tercerra envolvendo a neces-
constrangimentos, que levam a que urn indivf- aqui e a de que 0 indivfduo sofre constran ~s e~: de de manter a estrutura do conhecimento de urn indivfduo limitado, para quem os outros
duo procure a sua positividade ao longo de mentos ligados a sua inser~ao social, pelo qU~­ Sl a xistente. A necessidade de validade corres- sao fonte de refor~o e cujas fun~oes cognitivas
diferentes dimensoes. escolha adequada varia em fun~ao da configu~ Preede a tendencla . d0 10·di'd .
VI uo para construrr sao as de reinterpretar os seus desempenhos de
Importa ainda analisar as identifica~oes PoD representa~ao _. ' l b
ra~ao de perten~as sociais. Por outro lado 0 mats exacta posslve so re fonna a que elas confrrmem 0 seu sentimento de
sociais, postuladas no ambito da atribui~ao posi~ao estrutural das categorias sociais condi~ urn~adeias de causalidade existentes no mundo positividade. Por outro lado, a inser~ao da neces-
intergrupos. Sera que os indivfduos se identifi- ciona as op~oes comportamentais. Por firn, e aSa! as modelos classicos da atribui~ao poem sidade de valida~ao social no estudo da atribui-
re .
cam com urn grupo de fonna «automatica», nao menos importante, a op~ao de fundo e ~ evidencia este tipo de processo, pressupondo ~ao aponta para urn terceiro paradigma no es-
especialmente se ele nao contribui para 0 seu ern d f . .. tudo desta. Ele considera a atribui~ao enquanto
grande desafio para 0 futuro (porque insuficien_ que 0 indivf uo unClOna como urn empmsta
A _

sentimento de positividade (postulado da teoria temente trabalhado) e a articula~ao atribui~ao_ sernpre pronto a por em questao as suas cren~as. estrategia de comportamento socialmente deter-
da identidade social - cf., a tal respeito, 0 capf- -procura de consistencia cognitiva, tal Como Toda uma via de investiga~ao se tern centrado minada sem, no entanto, negar os aspectos
tulo sobre rela~oes intergrupos)? A este prop6- Heider assumia. nesta necessidade epistemica, nomeadamente inferenciais que estao na base das preocupa~oes
sito e ilustrativa uma serie de estudos sobre 0 COlD 0 estudo dos processos heurfsticos de jul- do quadro tradicional da atribui~ao. Na base
papel da identifica~ao ao grupo nos julgamentos gaIDento (cf. Kahneman e Tversky, 1973; deste quadro de analise estao, por urn lado, os
atribuicionais. Num dos estudos (Sousa, 1993, Nisbett e Ross, 1980). Os resultados apontam, trabalhos no ambito da epistemologia ingenua,
1996), os sujeitos tinham de avaliar a importan- no entanto, para a tendencia dos indivfduos para nomeadamente de Kruglanski e colaboradores
cia de uma serie de razoes para 0 fen6meno confinnarem as suas expectativas e para man- (1978, 1987), por outro, a investiga~ao sobre os
«crise», expressar os seus pontos de vista sobre terem a estrutura das suas cren~as. Os resultados comportamentos intra e intergrupais (cf. Sousa,
Portugal e os seus sentimentos relativamente IDostram que 0 vector orientador das respostas 1988). Nesta 6ptica, a negocia~ao de imagens
a perten~a a este grupo. Curiosamente, obser- dos indivfduos e a perten~a do alvo a categorias esta dependente da posi~ao do indivfduo na
vou-se uma correla~ao entre a valencia dos sociais e nao factores cognitivos como a com- matriz social, da sua perten~a a grupos sociais e
atributos espontaneamente verbalizados e 0 tipo plexidade representacional. do seu estatuto no interior dos grupos, para alem
de identifica~ao ao grupo (em tennos das suas Oeste modo, 0 comportamento atribuicional de ser influenciada, pelo contexto em que
dimensoes afectiva e cognitiva). Por outro lado, pode resultar de: a) urn processo envolvendo ocorre, por factores situacionais. Neste ambito,
e mais relevante para 0 nosso raciocfnio, os indi- esfor~o dirigido para uma aprecia~ao precisa da a desvaloriza~ao do grupo nao aparece como
vfduos cognitiva mas nao afectivamente iden- realidade; b) urn processo do mesmo tipo, mas reflexo de uma identidade negativa mas como
tificados ao grupo imputaram a crise mais a com urn objectivo diferente: aprecia~ao deseja- uma estrategia de positividade atraves de uma
factores intemos do que os indivfduos cognitiva vel dessa mesma realidade; e c) urn processo desidentifica~ao afectiva com 0 grupo e/ou do
e afectivamente ligados ao grupo. Estes pro- que envolva urn esfor~o cognitivo reduzido com recurso a outras dimensoes valorizadas social-
duziram atribui~oes depreciativas desse grupo. o objectivo de fomecer uma opiniao em deter- mente (Sousa, 1996). Isto e, nao basta ao indivf-
Poder-se-ia argumentar que os resultados deri- Resumo rninada materia, sem ter de por em questiio as duo seleccionar/distorcer a infonna~ao com
yam da categoria social considerada; no entanto, pr6prias teorias do percipiente em causa (cf. a vista a preservar ou aumentar a sua auto-estima,
estudos junto de outros grupos sociais ilustram 0 Em consequencia dos considerandos expos- este Prop6sito, por exemplo, Trope, 1986). e necessano que ele obtenha suporte social para
mesmo fen6meno. tos, nao nos parece correcto falar de ul1I Talvez por se preocuparem tao directamente a posi~ao que se confere na matriz social
o self aparece, assim, submetido a toda uma processo de atribui~ao, ainda que os modelos :m ~ s~n~o comum, as primeiras abordagens (Heider, 1958; Thibaut e Kelley, 1959). Neste
apresentem este unico processo sob r6tul oS atribuI~ao causal mantiveram-se muito liga-
serie de constrangimentos situacionais e sociais.
Frequentemente, necessidades ligadas a manu-
ten~ao de auto-estima ou de rigor nos julgamen-
diferentes ou sob perspectivas diferentes. Corno
o sugerem Kruglanski e colaboradores (1978 ,
::uas r~gras do pensamento fonnal na concep-
za~ao da fonna como as pessoas inferem as
contexto, a atribui~ao causal tern urn papel fun-
damental, independentemente das considera~oes
que se possam tecer em materia de frequencia de
,
186

ocorrencia destas cogni~oes. Como dissemos grupal dos individuos, tern sido realizados s CAPiTULO VIII
anterionnente, continua por explorar a sua arti- '·de de atn·bU1~ao
a egl . - SOCia f H eWsto ob
. I (c.
1983). No entanto, esta designa~ao parece_: ,
e
cula~ao com 0 principio da consistencia cogni-
tiva, que the subjaz. carenciada de fundamento, pois que a dete~~
A influencia dos afectos volta a agenda 50 na~ao social dos julgamentos sempre estev Atitudes: Estrutura e mudanc;a
anos depois. 0 seu efeito de colora~ao nas presente no espirito dos diferentes autore e
cogni~oes e pouco contestado, mas ele emerge desde Heider a Kelley, passando por Jones s,
fora do campo da atribui~ao, no contexto da Davis. Nao houve, e certo, uma abordagem sis~
cogni~ao social que nos anos 90 revela 0 carac- tematica do fenomeno da atribui~ao aos nivei
ter complexo e construtivo das aprecia~oes gru~al e cultural e a designa~ao de atribUi~a~ Luisa Pedroso de Lima
sobre os outros (cf., por ex., Forgas, 1994). socIal corresponde a uma mudan~a de nivel de
Uma nota final. Alguns dos estudos des- analise como 0 reconhecia recentemente 0
critos neste capitulo, ilustrativos da importan- proprio Hewstone (1989), no seu livro CaUsal
cia dos constrangimentos proprios a inser~ao Attribution.

Introdm;ao entre arnigos, quer seja feito em campanhas


publicas. Neste capitulo vamos abordar a fonna
Quando abrimos as paginas de urn jornal como a Psicologia Social encara estas divergen-
encontramos sempre declara~oes que nos reme- cias, isto e, vamos falar de atitudes.
tem para posi~oes diferentes face a diversos
assuntos: sao pessoas que estao a favor ou con-
tra a despenaliza~ao do aborto, pessoas que
estao a favor ou contra a constru~ao de determi- Perspectivas sobre 0 conceito
nado empreendimento, a favor ou contra 0 paga- de atitude
mento de propinas nas universidades publicas, 0
agravamento das penas por crimes sexuais, 0 o conceito de atitude e urn dos mais antigos
realojamento for~ado de uma comunidade de e mais estudados em Psicologia Social. Pri-
ciganos, etc. Tambem quando falamos com os meiro, 0 conceito de atitude (fazendo a ponte
nossos amigos, confrontamos posi~oes relativa- entre disposi~oes individuais e ideias social-
mente a outras pessoas, ao seu comportamento mente partilbadas), e, depois, as suas fonnas de
ou a detenninados acontecimentos sociais. avalia~ao (as escalas de atitudes) serviram para
Qualquer destas divergencias de opiniao se dar identidade a Psicologia Social. Desde 0
refere a situa~oes face as quais e impossivel principio do seculo ate agora, este conceito foi
determinar qual e a posi~ao «correcta» ou «ver- sobrevivendo aos diferentes paradigmas e
dadeira». No entanto, cada posi~ao e sustentada niveis de explica~ao dorninantes na Psicologia
com base em valores, sentimentos, cren~as e Social, embora, como acontece em qualquer
expe·A . .
nenClas dlferentes, e muitas vezes tradu- processo de desenvolvimento, tenha tido as suas
:m-se tambem em comportamentos diferencia- fases de apogeu e as suas crises. A consequen-
os. Para alem disto, assistimos frequentemente cia da historia rica deste conceito foi a difi-
a e~for~os no sentido de difundir determinada culdade de encontrar uma defini~ao consensual
POsI~iio ou de mudar as opinioes das pessoas para ele. A Caixa da p. seguinte apresenta
qUer is .. . _. .'
so seJa felto em dlscussoes mfonnrus defini~oes que apareceram na literatura, e que
• 189
188

essoa que requisita sistematicamente no (por exemplo, «quero estudar melhor isso ,
ulfl a P video filmes de artes marciais (com- porque a despenaliza~ao das drogas e uma coisa
DEFINI~()ES CLAsSICAS DE ATITUDE de
cl ube ento) podemos inferir que essa pessoa que me assusta imenso»). Assim, a atitude
r1llrt aiT1 . . ( . d)
r- de artes marCiaiS atltu e . expressou-se no primeiro exemplo por meio de
Por atitudes entendemos urn processo de consciencia individual que determina actividades reais ou poss[veis
do individuo no mundo social. - Thomas e Znaniecki, 1915, p. 22. gO~:gIY e Chaiken (199~) ~xpli~ita~ ~inda que urn comportamento e no segundo exemplo por
'tudes sao uma tendenclG pSlcologlca, 0 que intermedio de uma emorrao. No primeiro caso, 0
Atitude e urn estado de preparar;ao mental ou neural, organizado atraves da experiencia, e exercendo uma as aU emite dlstmgUlr
. . . as atltu . des de outros cons- comportamento indicava uma atitude favoravel
nospe toS hipotetlcos . 0 exempI0 que demos
,. N
influencia dinfunica sobre as respostas individuais a todos os objectos ou situar;Oes com que se relaciona. - G. W. e no segundo uma atitude desfavoravel. Esta
Allport, 1935. C
trU. a podiamos mlenr• ~ • d b diferenrra refere-se a uma das tres caracterfs-
0 comportamento 0 ser-
Atitude face a urn objecto consiste no conjunto de scripts relativos a esse objecto. Esta perspectiva combi. aCllll . d ( d
do nao uma atltu e gosta e artes marClals) .. ticas deste julgamento avaliativo: a sua direc~ao
nada com uma teoria abrangente acerca da formar;ao e da selecr;ao dos scripts daria 0 significado funcional ao con. vaas urn trarrO de personalidade (e uma pessoa (favoravel vs. desfavoravel). Outra caracte-
ceito de atitude que outras definir;oes nao possuem. - Abelson, 1976, p. 41. IfI ess iva , violenta), que tambem e urn constructo ristica e a sua intensidade e opoe posirroes
Atitudes sao predisposir;oes para responder a determinada cIasse de estimulos com determinada c1asse de agr
hipoteticO. Por .tend encla PSICO I"oglc~ ~nten d e-se
A
"
extremadas a posirroes fracas. Assim, e possivel
respostas. - Rosenberg e Hovland, 1960, p. 3. IfI estado intenor, com alguma establhdade tem- conceber duas pessoas com posirroes favoraveis
A varia vel dependente nos estudos de dissonfmcia cognitiva e, com muito poucas excepr;Oes, a afirmar;ao de
uoral (e dai a sua diferen~a relativamente aos relativamente a despenalizarrao do consumo de
autodescrir;ao de atitudes ou crenr;as. Mas como e que se adquirem estes comportamentos autodescritivos? A aflf· ~90S de personalidade que seriam mais estaveis drogas (isto e, que tenham atitudes com a mesma
mar;iio de determinada atitude pode ser vista como uma inferencia a partir da observar;ao do seu pr6prio compocta· e aos estados emocionais que seriam mais pas- direc~ao), mas em que urna defenda posi~oes
mento e das variaveis situacionais em que ocorre. Desta forma, as afirmar;oes de urn individuo sao funcionalmente sageiros ). A grande maioria dos autores considera mais radicais do que a outra (isto e, tenham
equivalentes as que qualquer observador exterior poderia fazer sobre ele. Quando a resposta a pergunta «Gosta de as atitudes como aprendidas e portanto alteraveis. intensidades diferentes de atitude): uma pessoa
plio de milho?» e «Acho que sim, visto que estou sempre a come-Io, parece desnecessano invocar uma fonte de
As atitudes expressam-se sempre atraves de que defenda a despenalizarrao do consumo de
conhecimento pessoal privilegiada para dar conta da resposta». - Bern, 1967, pp. 75-78.
um julgamento avaliativo. A importancia da qualquer droga, enquanto a outra defende apenas
As atitudes sao vistas geralmente como predisposir;Oes comportamentais adquiridas, introduzidas na analise dimensao avaliativa foi, alias, urn dos poucos a das drogas ligeiras. A ultima caracteristica das
do comportamento social para dar conta das variar;oes de comportamento em sitllar;oes aparentemente iguais. Como pontos consensuais ao longo das divers as atitudes e a sua acessibilidade, isto e, a probabi-
estados de preparar;iio latente para agir de determinada forma, representam os residuos da experiencia passada que lidade de ser activada automaticamente da
defini90es que este conceito ja teve. Por exem-
orientam, enviesam ou de qualquer outro modo influenciam 0 comportamento. Por definir;iio, as atitudes nao podem
plo, podemos abordar a despenalizarrao do con- memoria quando 0 sujeito se encontra com 0
ser medidas directamente, mas tern de ser inferidas do comportamento. - Jos Jaspars, 1986, p. 22.
sumo de drogas sem manifestar atitudes se, objecto de atitude (Fazio, 1986, 1989, 1995).
Atitude e uma predisposir;iio para responder de forma favoravel ou desfavoravel a urn objecto, pessoa, insti- eventualmente, quisermos saber se existem ou Esta dimensao das atitudes esta associada a sua
tuir;ao ou acontecimento. - 1. Ajzen, 1988, p. 4. nao efeitos do con sumo de drogas leves para a for~a, a forma como foi aprendida e a frequencia
sande. Mas as atitudes acerca deste tema expres- com que e utilizada pelo sujeito. Assim, pode-
especifica» (p. 1). Analisemos enta~ em por- sam-se logo, porque e muito dificil manter uma mos ter uma atitude muito favoravel em relarrao
ligam as atitudes a diferentes perspectivas teori-
menor os diferentes elementos desta defini9 ao: posirriio neutra relativamente a urn tema tao a produrrao de milho geneticamente manipulado,
cas. Em 1993, Eagly e Chaiken apresentam no
A defini~ao atitudes como urn constructo debatido socialmente. Logo, nas fontes que es- que formamos com base num artigo que lemos
livro The Psychology of Attitudes urn trabalho
hipotetico indica que as atitudes nao sao directa- colhennos para obter essa informa~ao podemos num jomal. No entanto, como e urna atitude que
impressionante de analise e sistematiza~ao da
mente observaveis, isto e, sao uma variavel estar a expressar as nossas atitudes (como sabe- usamos raramente, 0 tempo de acesso ao nos so
vasta literatura das atitudes, e procuram encon-
latente explicativa da relarrao entre a situa9 ao ~os, 0 consumo de drogas leves foi despena- proprio posicionamento atitudinal e mais lento
trar uma defini~ao que se ajustasse as divers as
em que as pessoas se encontram e 0 seu co~­ hzado na Holanda ha anos' assim se formos do que 0 de uma outra atitude com a qual ja nos
perspectivas existentes sobre este tema. Desde
portamento. Trata-se, assim, de uma inferencla pedir informarrao a Embaix'ada H~landesa em tivemos de confrontar mais vezes ou que adqui-
entao, a literatura consagrou esta defini~ao, a
sobre os processos psicologicos intemos de ulll POnugal, estamos a enviesar a informa~ao que rimos por experiencia directa (por exemplo, a
qual vamos tambem utilizar neste capitulo. obtemos ' provaveImente devldo . a uma atltude
.
individuo, feita a partir da observarrao dos seUS atitude face ao pagamento de propinas nas uni-
De acordo com Eagly e Chaiken (1993),atitude favoravel ' d ' -
comportamentos (verbais ou outros). Este pr,: . a espenallza~ao); ou podemos estar versidades publicas).
e urn constructo hipotetico referente a «tenden-
cia psicologica que se expressa numa avalia- cesso e semelhante ao processo de inferen
c1a ~~a a expressar as nossas atitudes atraves da Vimos que a atitude se expressa sempre por
JUshficarrao - que damos para procurar informa~ao respostas avaliativas, e vimos tambem que estas
rr ao favoravel ou desfavoravel de uma entidade que fazemos na nossa vida quotidiana: se virrnos
190

191

respostas avaliativas podem ser de varios tipos. atitudes que se referem a objectos que tem illl . 'ecto , e que a forma mais directa de ace- sensa~oes psicol6gicas que ele produz (tal como
E habitual encontrar a separa~ao de tres moda- - I' . ( . d f . Ph. 0 b~
ca~oes po lt1cas as atltu es ace aos ImpOsto Oil do a estes conteu' os
d '.
cogmtIvos e, atraves
, da por exemplo no caso da audi~ao, os atributos
lidades de respostas avaliativas. que correspon- policia, a democracia) ou se referem a gru &, a os
derJTl criyao do posicionamento individual. fisicos das ondas sonoras se relacionam com a
dem a outras tantas formas de expressao das sociais especfficos (atitudes face aos cigano& Pos
I D . . d ,aos
Ilut~·de:e desenvolveram na Psicologia Social forma como sao percepcionados auditivamente).
atitudes: cognitivas. afectivas e comportamen- negros) . eSlgnam-se por atltu es organi MSI.m s de papel e lapis que, ancoradas em Toda a tecnica (ver Caixa nesta pagina para uma
tais. No primeiro caso. referimo-nos a pensa- cionais as que se referem a objectos de fnd~~' tecnlcla s de medi~ao diferentes, se cristalizaram descri~ao sumaria) se centra na procura de
mentos. ideias. opinioes. cren~as que Iigam 0 organizacional (satisfa~iio com a empresa, Sal' e ....
,..odedor0
de quatro proced'Imentos de constru~ao - objectividade na selec~ao das frases (os estimu-
. IS·
objecto de atitude aos seus atributos ou conse- fa~ao com a chefia, etc.). As atltudes relativ ern ~:calas que iremos referir de seguida. As los) face as quais os sujeitos apenas tern de
quencias e que exprimem uma avalia~ao mais ou mente a pessoas especfficas sao nOm\alrnen~ de alas intervalares de Thurstone foram pro- assinalar aquelas com que concordam. Com esta
menos favoravel (por exemplo. a manipula~ao enquadradas dentro do campo de estudos que Se eSC par este autor em 1928, e consistiam tecnica, pretende-se garantir a constru~ao de
genetica dos cereais permite resolver a fome no designa atraq:iio interpessoal (e, assim, 0 arnor pastas tecnica que Jaspars (l 978) deSlgna ' por uma escala intervalar e que os estimulos esco-
mundo) . As respostas avaliativas afectivas refe- seria urn caso extremo de atitude positiva face a num a , I ., . ,
trada 00 estlmu 0», IStO e, caractenza a atI- lhidos correspondam a diversidade possivel das
rem-se as emo~oes e sentimentos provocados urn indivfduo). Por fim, as atitudes face ao pro.. «ceO 'd"
do sujeito atraves 0 seu poslclOnamento posi~oes, 0 que e feito atraves do trabalho de
pelo objecto de atitude (por exemplo. s6 de pen- prio costumam designar-se por auto-estima. tU de .
~ e a estimulos prevlamente cotados. 0 modelo cota~ao das frases por urn grupo de juizes. No
sar na manipula~ao genetica de cereais fico lac , b
de medi~ao que the esta na ase e 0 mo e 0
' d I entanto, este tipo de escala (ver a Caixa da
assustado). As respostas avaliativas comporta- sicoffsico, em que se procura encontrar uma pagina seguinte para urn exemplo), revolu-
mentais reportam-se aos comportamentos ou as 1\'l edi~ao das atitudes ~Ia~iio entre os atributos do mundo ffsico e as cionana na altura da sua descoberta, tern sido
inten~oes comportamentais em que as atitudes se
podem manifestar (por exemplo. se houver urn A longa hist6ria das atitudes na P1>icologia
abaixo-assinado contra a manipula~ao genetic a Social permite que se tenham desenvolvido for. PASSOS NA CONSTRU<;AO DE UMA ESC ALA DE THURSTONE
de cereais nao tenciono assinar) . mas estruturadas de as avaliar atraves de diver-
Por fim. a defini~ao que apresentamos expli- sos tipos de respostas observaveis relativamente 1. Obter (atraves dos meios de comunicat;:ao social, da Iiteratura, etc.) urn conjunto de cerca de 100 frases
cita que as atitudes se referem sempre a objectos que manifestem opinioes acerca do objecto de atitude, e que tenham as seguintes caracterfsticas: sejam
a esse constructo inferido. Iremos neste capftulo
curtas e c1aras, e que no seu conjunto manifestem todos os posicionamentos posslveis face ao objecto de
especificos. que estao presentes ou que sao lem- dividir as tecnicas de medi~ao das atitudes em atitude, desde 0 muito favoravel ate ao muito desfavoravel.
brados atraves de urn indfcio do objecto. Assim. tres grupos, correspondentes a formas de ex- a
2. Proceder avaliat;:ao de cada uma destas frases por urn conjunto de sujeitos (100 ou uma amostra repre-
quando encontro uma fotografia ou uma carta de pressao cognitiva, afectiva e comportamental a
sentativa da populat;:ao qual vai ser aplicada a escala), numa escala de II pontos. Os sujeitos, design ados
urn amigo que ja nao vejo ha muito tempo, e acti- das atitudes . por jufzes , deverao esquecer a sua posit;:ao pessoal e indicar, para cada frase, se ela representa uma atitude
vada a minha atitude face a essa pessoa, tal como favon1vel ou desfavonivel face ao objecto de atitude, lembrando-se sempre que a distancia entre cada ponto
quando a encontro pessoalmente. Quase tudo da escala e igual (I=posi~ao completamente desfavoravel; II=posit;:ao completamente favoravel) .
3. Calcular 0 valor de escala de cada item atraves do caIculo de uma medida de tendencia central (media ou
pode ser objecto de atitudes . Temos atitudes face Medit;ao das atitudes mediana) a partir das pontuat;:5es dadas pelos jufzes.
a entidades abstractas (a democracia) ou concre- atraves de respostas cognitivas 4. Seleccionar as frases que constituirao a futura escala de atitudes (normalmente entre 20 e 30 frases) de
tas (testes de escolha multipla), temos atitudes acordo com os seguintes criterios:
face a entidades especfficas (0 cao da vizinha) ou A forma mais comum de medir atitudes e • criterio de ambiguidade: devem ser exclufdos os itens com maior variancia, isto e, aqueles em que ha
gerais (os caes) , temos atitudes face a com- atraves do que se designou escalas de atitudes. menor consenso entre os juizes quanta asua classificat;:ao;
• criterio de irrelevancia: devem ser exclufdos os itens que nao apresentem variat;:ao entre sujeitos com
portamentos (praticar muscula~ao) ou a classes Esta tecnica parte do princfpio que podemos
atitudes diferenciadas, 0 que querera dizer que nao e urn item opinativo ou que e urn item irrelevante
de comportamentos (praticar desporto) . E cos- medir as atitudes atraves das cren~as , opinioes e para 0 objecto de atitude que estamos a medir;
tume designar por atitudes sociais e politicas as avalia~oes dos sujeitos acerca de urn determi- • criterio de sensibilidade: os itens finais da escala deveriio situar-se entre 0 leo II, cobrindo igualmente
toda a gama de atitudes possfveis face ao objecto.
5. Apresentar aos sujeitos as frases constantes da versao final da escala, pedindo que assina:lem aquelas com
I De acordo com esta perspectiva, os tres tipos de expressao das at itudes face a urn grupo social corresponde~am que estao completamente de acordo.
aos estereotipos (expressao cognitiva, rclativa lis crcnt;:as acerca dos atributos do grupo) , preconceitos (expres~ao afecU va) 6. Calcular 0 valor individual da atitude atraves da media dos valores de escala dos itens assinalados pelo
e discriminat;:ao (expressao comportamental) . Estao no entanto por f azer mUltas. das I'Igat;:oes
- posslvels I eratura dns
, . entre a I't sujeito.
relat;:oes intergrupais e a das atitudes, que tern vindo a desenvolver-se como areas separadas de conhecimento .
t
192 193

veZ menos utilizada por motivos de ordem A perspectiva que parece mais heurfstica neste
c8d~ a metodologica e de ordem cientffica. momenta e a que e sustentada pela equipa de
ESCALA DE THURSTONE PARA MEDIR ATITUDES FACE A IGREJA ~~, .
p riJ11eiros prendem-se com a morosldade do Eiser, em tomo da teoria da acentua~ao, que
(THURSTONE E CHAVE, 1929) as p sso de constru~ao da escala e com a neces- preve que se de a polariza~ao das avalia~6es
P~;e de estar permanentemente a reaferir os apenas quando a dimensao em que esta a ser
Este estudo pretende analisar as atitudes face a igreja. Ira encontrar 24 frases que expressam atitudes dift _
rentes face a igreja. Fa~a urn visto (v) se concordar com a frase. Fa~a uma cruz (x) se discordar da frase. Se nao ;
sl~a reS de escala dos diferentes itens, uma vez feita a avalia~ao (dimensao focal) co-varie com
conseguir decidir pode marcar a frase com urn ponto de interroga~ao (1). Isto nao e urn exame. Nesta questao as pes~ 'lOse pressupoe que as mudan~as sociais afec- outra dimensao com valor para 0 juiz (peri fe-
soas tern posi~Oes diferentes acerca do que esta certo ou errado. Por favor. indique a sua atitude fazendo urn vistQ que a avalia~ao das opinioes (por exemplo, os rica). (Para uma discussao da explica~ao deste
quando concordar e uma cruz quando discordar. ~aITls de uma_ escala. de atitudes face ao comu- efeito, ver Eiser, 1986; para uma explica~ao

Valor
da Escala* Item
- Iten
. rno nao sao avahados da mesma forma antes
nlsdepois do fim da U'-mao SOVletlca.
. ,. ) 0 s segun-
mais pormenorizada da teoria da acentua~ao,
ver Eiser eVan der Pligt, 1984).
edos prendem-se com a contesta~ao - d as capacl-. Uma outra tecnica de constru~ao de escalas
3.3 a Gosto da minha igreja porque ha hi urn espfrito de amizade.
5.1 a Gosto das cerim6nias que se realizam na minha igreja. mas nlio sinto a falta delas quando estou dades dos juizes para situarem as frases numa de atitudes foi proposta mais ou menos na
fora. scala de intervalos iguais, considerando as mesma epoca por Likert (1932), permitindo aos
8.8 a Respeito as cren~as dos membros de qualquer igreja. mas acho que e tudo «treta». :valia~oes apenas como uma medida ordinal, e, investigadores prescindir da tarefa de avalia~ao
6.1 a Sinto necessidade da religilio. mas nlio encontro 0 que quero em nenhuma igreja.
nesse sentido, seria escusado urn processo tao dos jUlzes, e centrando 0 processo nos sujeitos
8.3 a Acho que os ensinamentos da igreja slio demasiado superficiais para terem algum significado
moros O de constru~ao, podendo-se optar imedia- respondentes. Neste caso, 0 modelo de medi~ao
social.
11.0 a Acho que a igreja e urn parasita da sociedade. tarnente por escalas sem pretensoes intervalares deixava os pressupostos psicofisicos, para se
6.7 a Acredito na sinceridade e na bondade sem nenhumas cerim6nias religiosas. (e.g., esealas de Likert). Por fim, os motivos de basear no modelo claramente psicometrico: e a
3.1 a Nlio compreendo os dogmas ou credos da igreja, mas acho que a igreja me ajuda a ser mais ordem cientffiea para 0 afastamento dos investi- propria resposta do indivfduo que a localiza
honesto e respeitavel. gadores da utiliza~ao deste tipo de escala pren- directamente em termos de atitude, e nao existe
9.6 a Acho que a igreja e urn obstaculo it reJigilio. porque ainda depende da magia. da supersti~lio e de
dem-se eom a demonstra~ao empfrica da impos- nenhum escalonamento a priori dos estfmulos.
mitos.
9.2 a Acho que a igreja tenta impor uma serie de dogmas ultrapassados e de supersti~Oes medievais. sibilidade de os sujeitos se abstrafrem da sua A principal diferen~a da tecnica de constru~ao
4.0 a Quando yOU it igreja gosto de assistir a uma bela cerim6nia ritual acompanhada de boa musica. pr6pria posi~ao na avalia~ao dos itens. Assim das escalas de Likert (que explicamos em deta-
0.8 a Acho que a igreja perpetua os valores que sao mais importantes para a sua filosofia de vida. como as atitudes dos sujeitos, atraves do pro- lhe na Caixa da pagina seguinte) esta no facto de
5.6 a As vezes acho que a igreja e a religilio sao necessarias. mas outras vezes duvido disso. cesso de categoriza~ao, influenciam a pereep~ao a selec~ao das frases que compoem a escala ser
7.5 a Acho que se gasta demasiado dinheiro com a igreja. em compara~lio com os beneffcios que dar de estfmulos ffsicos, eomo foi demonstrado pela feita pelo investigador procurando frases que
derivam.
perspeetiva do New Look (Bruner e Goodman, manifestem claramente apenas dois tipos de ati-
10.7 a Acho que a igreja organizada e urn inimigo da verdade e da ciencia.
2.2 a Gosto de ir a igreja, porque fico com ideias importantes para reflectir e cheio de bons pensa- 1947) e depois reanalisado por Tajfel e eolabo- tude: uma atitude claramente favoravel e uma
mentos. radores, tambem na avalia~ao de estfmulos atitude claramente desfavoravel em rela~ao a
1.2 a Acho que a igreja e urn importante agente de prom~iio tanto da rectidiio individual como social. sociais este fenomeno se verifiea. Assim, logo urn mesmo objecto, eliminando assim todas as
7.2 a Acho que as igrejas estlio demasiadamente divididas em fac~Oes para serem uma for~a de rectidiio. em 1952 Sherif e Hovland mostram que jUlzes posi~oes neutras ou intermedias. A medi~ao da
4.5 a Acredito no que a igreja diz. mas com reservas mentais.
negros e jUlzes brancos com atitudes pro-negros atitude do sujeito e dada pelo seu posiciona-
0.2 a Acho que a igreja e a maior institui~iio da America actual.
classifieavam a maioria dos itens de uma escala mento face ao conjunto destas frases radicais.
4.7 a Eu tenho descuidado as minhas re1a~oes com a religilio e a igreja. mas nlio gostava que a minha
posi~lio fosse gera\.
referente a atitudes raciais na categoria «extre- Podemos ver na Caixa da p. 195 urn exemplo de
10.4 a A igreja representa superficialidade, hipocrisia e preconceito. mamente desfavonivel», enquanto que os jUlzes escala de atitudes acerca do ambiente (Soczka,
1.7 a As cerim6nias religiosas inspiram-me e ajudam-me a dar 0 meu me1hor durante 0 resto da semana. braneos antinegros os classificavam predomi- 1983). Sendo muito mais economica de cons-
2.6 a A igreja faz com que os negocios e a polftica tenham uma posi~lio importante, que de outra fonna nantemente na categoria «extremamente favo- truir e mais rapida de aplicar (uma vez que
nlio teriam.
ravel». Este efeito explicado por estes' autores necessita de menos itens), este tipo de escala
* 0 valor da escala encontra-se aqui com fins meramente i1ustrativos. Na v.erslio a apresentar aos respondente5 co~o. uma «ancoragem» na posi~ao individual tomou-se muito mais popular na avalia~ao das
estes valores nlio estlio impressos. d~ JUIZ (modelo da assimila~ao-contraste) tern atitudes. apesar de nao garantir a partida a
Sido POster'lormente 0 b'~ecto d e 'mvestlga~ao.
. - medi~ao numa escala intervalar.
194
• 195

PASSOS NA CONSTRU';AO DE UMA ESCALA DE LIKERT EXEMPLO DE ESCALA DE LIKERT:


ESCALA DE ATITUDES FACE AO AMBIENTE (SOCZKA, 1983)
I . Obler (atraves dos meios de eomuniea~iio social, da Iileratura, etc.) urn eonjunto de eerca que manifest
opinioes acerca do objeeto de atitude, e seleccionar aquelas que manifestem claramente uma posi~iio f~voraern Em seguida encontra algumas frases relativas a questoes ambientais. Para cada uma delas indique, por favor,
ou desfavonivel face ao objecto de atitude. vel araU de concordancia, utilizando a seguinte escala:
2. Pedir a uma amostra representativa da popula~iio a qual vai ser aplicada a esc ala para se posicionar face a Cad o seU t: Concordo totalmente ......................... 5
uma das frases escolhidas, numa escala com cinco posi~oes: a Concordo. .......................................... 4
«Concordo em absoluto» Nem concordo nem discordo ............ 3
«Concordo parcialmente» Discordo ........................................... 2
«Niio concordo nem discordo» Discordo totalmente .. .......... .......... .... 1
«Diseordo em parte» 1 Grande parte do que se diz aeerca da crise ecol6gica que 0 mundo atravessa e
«Discordo em absoluto». exagerado e alarmista. o
3. Eliminar as frases sem varia~iio, ou em que 0 posicionamcnto da amoslra nao se assemelhe a uma distribui~iIo 2 Os males provocados pela eonstru\=ilo de uma central nuclear no nosso paIs nlio
normal. eompensam os seus eventuais beneffcios. o
4. Cotar as respostas as frases favor9.veis atribuindo 0 valor 5 a resposta «Concordo em absoluto» e 0 valor I a 3 A com ida que se consome nos pafses industrializados ja nlio oferece seguran~a
resposta «Discordo em absoluto». Cotar as frases desfavoniveis relativamente ao objecto de atitude da forma para a satide por estar contaminada por pesticidas e doen~as. o
invertida: atribuir 0 valor I a res posta «Concordo em absoluto» e 0 valor 5 a resposta «Discordo em absoluto» 4 0 mundo acaban'i no prazo de algumas decadas se nlio se travar imediatamente
A cota~iio final e encontrada atraves da soma dos va!ores atribufdos As respostas a todas as frases seleccionadas: o crescimento industrial e tecnol6gico de todos os parses industrializados. o
5. Proceder a uma amilise de consistencia interna da escala, atraves da correla~lio entre cada item e a pontua~lio final. 5 Todas as modemas sociedades urbanas e industriais slio antinaturais: s6 pelo
Eliminar os itens que apresentem fracas correla~Oes, uma vez que mediriam aspectos marginais da atitude que regresso A terra e a natureza e que a humanidade podera sobreviver e evitar 0
procuramos avaliar. Sujeitar a versilo final da escala a urn teste de fiabilidade psicometrico. 0 mais comum e0 caos eeol6gico. o
coeficiente Alfa de Cronbach (Nunnally, 1978) que, variando entre 0 e + I , procura avaliar a correla~iio entre a 6 As pessoas que protestarn contra 0 crescimento econ6mico e industrial em nome
presente escala e uma escala hipotetica com 0 mesmo mimero de ilens: da ecologia slio idealistas que nlio sabem 0 que dizem e nlio tern 0 sentido das
kr realidades. o
=---- Nota: A cota~lio da escala e dada pela media das respostas dadas, invertendo os itens 1 e 6. Valores elevados
I+(k-I)r
(maiores que 4) indicam atitudes muito ambientalistas e valores baixos (inferiores a 2) indicam atitudes pouco
em que k e 0 mimero de itens da escala,
ambielltalistas .
rea correla\=ilo media entre os itens.
6. Calcular 0 valor individual da atitude atraves da soma dos valores dos itens que a constituem.

correla~oes mostram que 0 significado se orga- (Factor 1 na Caixa da pag. seguinte e 0 exemplo
As escalas de atitudes conhecidas como dife- grandes eixos que caracterizam 0 significado niza sistematicamente em torno de tres grandes na Caixa da p. 197), como fonnas privilegiadas
renciadores semanticos nasceram nos fins dos dos conceitos que utilizamos. Para tal, estes dimensoes: uma dimensao avaliativa, a que de medir as atitudes. A vantagem principal da
anos 50 dos estudos dos psicologos da Univer- autores procuraram obter uma amostra diversifi- aparece como explicando a maioria da variancia tecnica do diferenciador semantico e 0 facto de
sidade de Illinois que, no quadro das teorias da cada de 50 dimensoes (encontradas atraves da das respostas e que junta adjectivos como bom- o mesmo conjunto de adjectivos servir para
aprendizagem, tentavam c1arificar 0 processo de associa~ao livre de palavras), que foram trans- -mau, agradavel-desagradavel; uma dimensao avaliar qualquer objecto de atitude. Mas, por
linguagem, e, especificamente, 0 processo de formadas em escalas bipolares de 7 pontos de potencia, composta por pares de adjectivos outro lado, ao centrar-se unicamente na dimen-
atribui~ao de significados, etapa essencial no (variando entre -3 e +3) de modo a poderem como grande-pequeno, forte-fraco; e uma ter- sao avaliativa, torna-se urn exercfcio abstracto e
processo de codifica~ao e descodifica~ao dos definir 0 espa~o semantico de urn conjunto hete- ceira dimensao de actividade, composta por descontextualizado, por exemplo, das cren~as
sinais lexicais. Partindo do pressuposto de que 0 rogeneo de palavras (Caixa na p. 196). As anali- pares como activo-passivo e rapido-Iento. que sustentam a atitude.
significado de cada palavra e urn ponto num ses efectuadas das respostas dos sujeitos a estas Considerando as atitudes como varlaveis inter- Qualquer deste tipo de escalas pressupoe,
espa~o semantico (a n dimensoes num espa~o escalas bipolares permitiram detectar inter- medias de caracter avaliativo, estes autores explfcita ou implicitamente, que as atitudes sao
euc1idiano) definido por dimensoes bipolares correla~oes importantes e sistematicas entre consideraram a sua tecnica de diferenciador unidimensionais, isto e, que a posi~ao do sujeito
(adjectivos antagonicos), Osgood, Tannenbaum determinados pares de adjectivos, e as anal ises ~mantico, e especificamente os pares de adjec- se pode situar num continuum. Guttman (1944)
e colaboradores (1957) pretendiam encontrar os factoriais efectuadas sobre estas matrizes de 1VOS que se englobam na dimensao avaliativa desenvolveu urn modelo matematico que per-
• 197
196

mite testar este pressuposto (a analise de eScal


Estrutura factorial do significado de gramas). e passaram-se a designar por Escal~: EXEMPLO DE ESCALA TIPO DIFERENCIADOR SEMANTICO:
de Guttman ou Escalas Cumulativas as escal ESC ALA DE ATITUDES FACE APOLicIA
vinte palavras estimulo, encontrada por . , . , as
Osgood, Suci e Tannenbaum (1957) de atitudes em que este pnnclplO e aplicad pretendemos saber a sua opiniiio sobre a polfcia , Encontra a seguir uma serie de adjectivos opostos, e pedi-
Apesar de a tecnica de analise das respOstas d o. s-Ihe para assinalar a sua pos i~iio nos espa~os que estiio entre os dois. Use a casa do meio quando achar que
Factor I Factor 2 Factor 3 - d Os
JT\Ohum dos adjectivos se aplica. ou se a sua posi~lio for media:
sujeitos que sustenta a construcr ao este tipo de nen
good-bad 0 .88 0 .05 0 .09 escalas ser complexa. os pressupostos em que Se POLICIA
nice-awful 0 .87 -0 .08 0 .19 baseia sao faceis de compreender. Guttman Boa -
·'-
.
'-
.' - .' - .' - .' - Ma
beautiful-ugly 0 .86 0 .09 0.01
prop5e que os itens de uma escala de atitudes Simpatica · . . . . .
- ·'- .'- .'- .'- .'- .'- Antipatica
honest -dishonest 0.85 0.07 -0.02 Honesta Desonesta
-0 .04 -0.11 sejam construfdos tal como as bonecas russas - ·'- .'- .'- .'- .'- .'-
fragrant-foul 0.84 Justa Injusta
fair-unfair 0 .83 0.08 -0.07 de modo que, ao aceitar urn item da escala, s~ - '- '- '- '- '- '-
· . . . . .
Agradavel - ·'- '- Desagradavel
sweet-sour 0 .83 -0 .14 -0.09 aceita tambem todos os seus nfveis inferiores, Prestavel - '-
.'- ''-. -'.'-- .'-' - .'-' - Cruel
pleasant-unpleasant 0.82 -0 .05 0.28 Isto implica que. na construcrao dos itens, Se pro- +3 : +2 : + I: 0 :- 1 : -2 : -3
kind-crucl 0.82 -0.10 -0.18 cure tematicas extremamente restritas e 0 seu Nota: A cota~iio da escala e pela soma das respostas dadas. de acordo com a pontua~iio indicada na Iinha de
clean-dirty 0.82 -0.05 0.03 baixo. Valores positivos indicam atitudes favoraveis face a policia. enquanto que valores negativos indica~ 0
conteudo acabe por ser muito repetitivo. de
sacred-profane 0.81 0.02 -0.10
forma a garantir a unidimensionalidade da contmrio.
bitter-sweet -0.80 0.11 0.20
tasty-distasteful 0.77 0.05 -0.11 escala, Urn exemplo bern connecido de escala
happy-sad 0.76 -0.11 0.00 cumulativa, apesar de ter sido construfda antes
large-small 0.06 0.62 0.34 do aparecimento da tecnica de Guttman, e a Todas estas tecnicas de papel e lapis, apesar exemplo) e todos OS efeitos de contexto (a ordem
strong-weak 0.19 0.62 0.20 escala de distancia social de Bogardus (1925, de serem as mais usuais na avaliacrao das atitu- de apresenta~ao das questoes, por exemplo)
heavy-light -0.36 0.62 -0.1 I 1933; ver Caixa na p, 198), , apresentam alguns problemas que nenhum nas respostas a questionarios (Bradburn, 1983;
thick-thin -0.06 0.44 -0.06 Uma outra forma de medir as atitudes. muito tipos de construcrao de escalas que referimos Schuman e Kaiton, 1985), A pesquisa neste
fast-slow 0.01 0.00 0.70 utilizada em estudos de opiniao. mas tambem resolver, Trata-se em primeiro lugar de domfnio tern evolufdo muito nos ultimos anos,
active-passive 0.14 0.04 0.59 em areas aplicadas da psicologia, utiliza nao se a resposta do sujeito corresponde a sua ligada a psicologia cognitiva (Tourangeau e
sharp-dull 0.23 0.07 0.52
escalas, mas apenas uma pergunta, em que a real au se ele tentou, atraves das respos- Rasinski, 1988; lobe e Mingay, 1991). Sao estas
hot-cold -0.04 -0.06 0.46
0.08 0.43 posicr ao do sujeito e avaliada directamente, Por dar uma boa imagem de si, agradar ao inves- algumas das razoes que lev am a que alguns
angular-rounded -0.17
exemplo, Lima, Vala e Monteiro (1989), ao ,E assim que se explica, por exemplo, 0 autores optem por medidas mais indirectas das
Nota 1: Os valores referem-se aos pesos facto- avaliarem a atitude geral dos quadros de uma de os trabalhadores menos qualificados atitudes, que tambem se podem situar a nfvel
riais dos adjectivos ap6s uma rota~iio ortogonal. empresa face ao seu trabalho, utilizaram 0 empresas apresentarem sistematicamente cognitivo. Por exemplo, ha indicadores cogni-
Apresentamos aqui apenas 23 dos 50 pares de
seguinte item: «Tudo somado, e considerando de satisfacrao mais elevados do que os tivos de atitudes que utilizam os enviesamentos
adjectivos utiIizados pelos autores, aqueles que
apresentam satura~oes apenas num dos 3 factores. todos os aspectos do seu trabalho e da sua vida tecnicos. Urn autro problema prende-se da percePcrao derivados de atitudes diferentes
Niio efectmimos tradu~oes dos adjectivos de modo a na empresa, diria que esta ...» (I = extre~a­ a relevancia da atitude para 0 sujeito: a para aceder a elas. Assim, em perguntas que a
mantennos os significados originais dos eixos. mente insatisfeito a 7 = extremamente sat~s­ corresponde a uma posicrao bern partida nao sao opinativas, mas de resposta certa
Nota 2: Os estfmulos que produziram as respostas feito) 2, Trata-se de uma metodologia mUlto por parte do sujeito, ou foi urn tema ou errada, podemos inferir a atitude dos sujeitos.
aqui analisadas foram os seguintes: Senhora, Pedra,
menos fiavel e mUlto . mats . rnaleave
' 1 a estrate- que se viu confrontado apenas naquele Por exemplo, se utilizarmos a seguinte pergunta:
Pecado. Pai. Lago. Sinfonia, Russo. Pena. Eu, Fogo, ca1
gias de auto-apresentacrao do que as es : IIKlT1npn',,,, isto e, qual 0 grau de centralidade «Qual foi a media no liceu do Prof. Cavaco
Bebe. Fraude. Deus, Patriota. Tornado. Espada. Miie.
Esultua. Pollcia. America.
de atitude, mas que permite obter resultados atitude para 0 sujeito? Como iremos ver mais Silva?», com duas possibilidade de resposta: 12
uma forma rapida, , esta variavel e relevante na resposta e 16. Se a media real deste politico tiver sido de
comunicacrao persuasiva, Uma outra quesHia 14, ambas as alternativas estao igualmente
scala de resolver envolve a propria linguagem erradas. No entanto, ao escolher a primeira urn
. 0 . I ' m tambem ums e
No trabalho referido, 0 indicador citado era apenas uma medlda resumo. s autores JOC ula
2 . colegSS, que e formulada a questao, a escala de indivfduo indiciaria uma atitude desfavoravel
onde eram avaliadas as diversas dimensoes da satisfa~iio organizacional (satisfa~ao com 0 trabalho em 51, com os
(se deve ou nao ter ponto medio, por em relacrao a este politico, enquanto que ao
com 0 salario. etc.) .

198 199

'onais extremos. A sociopsicofisiologia tema nervoso simpatico. A RGP e medida pela


eJflOClvo lveu quatro t1pos
. d e tecmcas
,. de avaI'Ia- aplica~ao de uma corrente electrica muito fraca
EXEMPLO DE ESCALA TIPO GUTTMAN: de_sendas atitu des atraves
' de smalS
" .
corporrus: entre dois electrodos ligados a palma da mao.
ESCALA DE DISTANCIA SOCIAL DE BOGARDUS (1933)
~ao ostas naturais manifestas e escondidas, res- Este indicador psicofisiologico do afecto e uti-
Pedimos-Ihe que se de a maior Iiberdade posslveJ. De facto, quanto mais Iiberdade tiver, melhores serllo Os resp condicionadas e as falsas respostas psi- lizado desde os primordios da Psicologia Social.
pOstas ,. Syz, no princfpio do seculo, mostrou a modifi-
resultados. Responda apenas com cruzes . ofisiologlC~S. . .
Sao dados 7 tipos de contactos sociais. C Na primelra categona, as respostas naturalS ca~ao da RGP em sujeitos confrontados com
Responda com as suas primeiras reac90es e rapidamente. Quanto mais «parar para penslID>, menos validos estfmulos verbais com carga emocional (por ex.,
manifestas, encontramos os estudos que sao nor-
serITo os resultados. Escreva as suas reac90es para cada uma das ra9as, ocupa90es ou religioes que Ihe apresentar.
mos . ( ...) Niio pense no melhor nem no melhor membro do grupo, mas no grupo como urn todo.
almente referidos como do comportamento «prostituta») . Outros tipos de estudo que apre-
Para cada grupo indicado, ponha tantas cruzes nas colunas quantas as que as suas reac90es imediatas the ~o verbal, isto e, aqueles em que as atitudes sao sentam aos sujeitos frases retiradas de escalas de
ditarem . ~aferidas atraves dos sinais posturais ou das atitudes mostram sistematicamente que existe
• • dos mter
10 ress6es faCIals . 1ocutores . Por exem- maior RGP quando os sujeitos sao confrontados
Casaria com urn membro deste grupo exP d ' . . com itens contrarios a sua propria posi~ao atitu-
10 os estudos os smalS posturals que mos-
Aceitaria como amigo Intimo
~-.n.ceitaria como vizinho do lado
~,para 0 caso das atitudes interpessoais, que dinal. Noutras investiga~oes em que se procura
Aceitaria como colega de escrit6rio existe uma correla~ao negativa entre a distancia avaliar a reac~ao dos sujeitos a membros de gru-

r-n
ceitaria como conhecido a que se situam dois interlocutores e a atitude pos raciais diferentes do seu, verificou-se que os
~APenas como turista no paIs positiva que manifestam (Mehrabian, 1968), ou sujeitos brancos com atitudes radicais antinegros
• ,Exc!ur-Ios-ia do paIs uma correla~ao positiva entre a frequencia do tinham maior RGP ao serem assistidos por urn
contacto visual e 0 grau de atrac~ao que duas experimentador negro do que sujeitos menos
1 2 34567
pessoas sentem uma pela outra (Argyle e Dean, preconceituosos (Rankin e Campbell, 1955).
Franceses o 1:1 o 0 DOD
1965). Outro tipo de estudos ligados a persuasao Apesar do caracter sistematico destes resultados,
Indianos o 0 o0 0 0 0
Judeus o 0 00000 mostra que os movimentos espontaneos de o problema com a utilizacrao da RGP e que pode
Chineses 1:1 0 o 0 DOD cabe~a (verticais e horizontais) constituem urn nao ser urn indicador de atitude, mas apenas
Ingleses o 0 o 1:1 DOD bom indicador do grau de concordancia da de uma reaccrao mais gerai de orienta9ao face a
Negros o 0 o 1:1 DOD assistencia em rela9ao a comunica~ao . No urn estfmulo novo, inesperado ou que requer
Nota: Os grupos eram apresentados por ordem alfabetica, e inclulam, alem dos que acima indicamos:
entanto, aquelas que seriam as respostas naturais atencrao. De facto, alguns autores consideram a
Armenios, Finlandeses, Alemiies, Gregos, Holandeses, indios, Americanos, Irlandeses, Italianos, Japoneses, manifestas mais obvias sao tam bern as mais difi- RGP como urn dos componentes do reflexo geral
Japoneses-Americanos, Canadianos, Coreanos, Mexicanos, Mexicanos-Americanos, Filipinos, Noruegueses, ceis de av ali ar: as express6es faciais. 0 pro- de orientacrao e, segundo esta perspectiva, as
Polacos, Russos, Escoceses, Espanh6is, Suecos, Turcos. blema com este tipo de respostas e 0 facto de as respostas da pele que citamos acima podem ser
A cota9iio de urn sujeito em rela9iio a urn determinado grupo e 0 nlvel mais baixo da escala que tiver assina- pessoas, se souberem que estao a ser obser- explicadas como uma reaccrao de estranheza,
lado (0 nlvel de maior intimidade que aceitasse) . vadas, as poderem falsear, tal como acontece surpresa ou chamada de aten~ao pelo facto de
com as respostas verbais , uma vez que se encon- ouvir palavras tabu na situa~ao controlada de
tram sob 0 seu controlo voluntario . laboratorio, de ouvir frases radicais da boca de
escolher a segunda indiciaria uma atitude Medi~ao das atitudes atraves o estudo das respostas naturais escondidas experimentadores tao atinados ou de se ver con-
favonivel. Urn outro indicador cognitivo das ati- refere-se a altera~6es corporais de nivel fisio- frontado com urn membro de urn grupo mino-
de respostas afectivas
tudes permite-nos conhecer a sua acessibilidade. 16gico que sao dificilmente observaveis a olho ritario numa posi9ao de estatuto elevado.
As tecnicas de avalia9ao da acessibilidade recor- Embora possamos expressar aquilo que senti- nu e que nao estao ao alcance do controlo volun- Uma outra resposta fisiologica associ ada as
rem sistematicamente aos tempos de latencia da mos atraves de palavras, 0 nos so corpo e, muitaS rano do sujeito. A medida mais frequente utili- atitudes e a resposta pupilar, isto e, 0 aumento
resposta, quer sejam em perguntas feitas pelo vezes, urn relator mais verdadeiro dos nossos zada e a que se refere a resposta galvanica da ou diminui~ao do tamanho da pupila. Esta
telefone (Bassili, 1996; Bassili e Fletcher, 1991) sentimentos. 0 corar, 0 suor nas maos, 0 cora~ao ~~ (~GP), isto e, a mudan~a na condutibilidade resposta ocorre automaticamente com as varia-
ou em escalas de atitudes informatizadas (Fazio, a bater mais depressa sao respostas involuntari as das triea da pele devida a actividade diferencial ~6es de luz mas, uma vez que a dilata~ao e
oS glandulas soporfferas, controladas pelo sis-
1990; Fabrigar et al., 1998). e espontaneas que bern conhecemos a estad coman dada pelo sistema nervoso simpatico e a

200 201

contraclYao pelo sistema nervoso parassim- calYao de dois electrodos na superffcie da ta~ao de frases com as quais concordava tionarios de atitudes. Por exemplo, no estudo de
sen
patico, permite tambem obter uma resposta ati- sobre urn determinado grupo de muscUloPele ,pee no s face as frases de que discordava Jones e Sigall. os sujeitos apresentam atitudes
tudinal fisiologica bidireccional. A tecnica de regista-se a soma da actividade electrica do s', e JTle mais racistas face aos negros na situar;ao de res-
e a 1953). Em estudos mais recentes, 0
O d0 mals. utI'1 Iza
' d ' h
medilYao da resposta pupilar e mais complexa culo num perfodo determinado de tempoIl1Us.. (\"olle " ,'Incondlclona
., 0 e 0 c 0- postas psicofisiol6gicas do que na condilYao con-
do que a da RGP, porque implica fotografar as , Ios re Ievantes para ava I'IalYao
muscu - das atitud
. Os tl'JTlU I0 trolo. Este resultado pode ser interpretado como
es elect rico , e a resposta condicionada a RGP, 0
pupiIas com pelfcula infravermelha, projectar seriam os que determinam as expressoes fac ' ~s que como "imos, levanta alguns problemas de uma inibir;ao da desejabilidade social da res-
a imagem num ecra e medir 0 seu tamanho. de acordo com a hipotese de retroaclYao fal~ls ~ue, reta~ao dos resultados (ver Tursky e posta produzida pelo aparato experimental, mas
. Claj
A dificuldade, para alem da questao tecnica de (Tomkms, 1984): corrugator (move as sObran .nteTP 1982 para uma revisao da investigar;ao e sempre imposslvel decidir quais as respostas
manter constante a distancia entre a objectiva e lhas para cima e para baixo), zigotico (moveCeo Jarnner, que sao mais verdadeiras . Para alem deste incon-
a"aliar;ao de atitudes atraves de respostas
a pupila, esta na necessidade de esperar que, . b . Os sobre a ..
cantos da boca para clma e para alxo) e depfe . . 16g icas condlclonadas). veniente, a respostas psicofisiol6gicas apresen-
o
sor (queixo, abre a concavidade da boca~.
apos a apresentalYao de urn estfmulo, a pupila fisl . , . d ta-se como uma tecnica pouco econ6mica de
por fim, refenr-nos-emos. ~ uma tecmc~ .e
volte ao seu estado normal antes da apresen- Schwartz e colaboradores (1976) mostraram qu rarao das atitudes que utlhza urn falso mdl- recolher os dados e, para continuar a ser eficiente,
ava. T . , 'd d
talYao do estfmulo seguinte. A experiencia pio- quando se pedia as pessoas para pensarem e e dor fisiologico para garantlr a autentlcl a e necessita que os sujeitos continuem ingenuos
neira neste campo foi efectuada por Hess e Polt • dO< . III ca . . •
aconteclmentos agra <tvelS, as pessoas contrafam respostas dos sUJeltos as respostas a uma face a manipulacrao, isto e, que nao sejam infor-
das
(1960) que mostraram que os sujeitos masculi- mais os musculos zigomaticos (sorriso) e menos cal a de atitudes: as falsas respostas pSI.co f 1- ' mados da falsidade do feedback da maquina
nos apresentavam uma maior dilatalYao ao serem os musculos corrugadores (apreensao) do qUe :~oI6gicas. Este procedimento. fOi. iniciado por (0 que vai contra os princfpios deontol6gicos
confrontados com imagens de mulheres nuas, ao quando imaginavam acontecimentos negativos. Jones e Sigall (1971) que 0 JustJficam da se- da experimentar;ao em Psico\ogia Social).
passo que com sujeitos femininos a mesma Num estudo efectuado por Cacioppo e Petty guinte forma.: «0 para~igma experi.men~al Deste modo , parece que as medidas corporais
res posta era contingente a figuras de homens (1979) verificou-se um padrao semelhante de baseia-se na sImples premlssa de que nmguem das atitudes, embora sejam urn campo fascinante
nus e de maes com bebes. Mais tarde, alguns respostas face a apresentalYao de estfmulos pOO- quer ser desmentido por uma maquina. Se con- de investiga~ao, nao tern produzido tecnicas e
investigadores conseguiram mostrar a relalYao -atitudinais e contra-atitudinais: ao ouvirem 0 seguirmos convencer uma pessoa de que temos resultados tao importantes como de infcio se
da aversao a contraclYao pupilar: Barlow (1969) primeiro tipo de mensagens os sujeitos contraiam uma maquina que me de com precisao a intensi- supunha. Este facto deve-se a dificuldade de
mediu a resposta pupilar de sujeitos conser- mais os musculos zigoticos e depressores, e ao e a direcr;ao das suas atitudes, assumimos interpretar univocamente as respostas psicofisio-
vadores e liberais apos a apresentalYao de slides ouvirem mensagens anti-atitudinais contraiam ela esta motivada para predizer aquilo que a 16gicas dos sujeitos e as dificuldades praticas de
de tres Ifderes polfticos : Lyndon Johnson, mais os musculos corrugadores. Este tipo de maquina vai dizer acerca dela» (p. 349). aceder a este tipo de material para 0 registo das
George Wallace e Martin Luther King. Os resul- resposta parece ser mais utiI do que os anteriores Assim, os estudos que utilizam este procedi- respostas . As respostas afectivas podem ainda ser
tados mostram que os sujeitos Iiberais apresen- na deteclYao de atitudes, porque, ao contrano dos mento costumam fazer os sujeitos entrar para abordadas atraves de tecnicas de papel e lapis ,
taram diIatalYao da pupiia as imagens de Luther outros indicadores, nao esta dependente do sis- laborat6rios sofisticados, Jiga-Ios a electrodos e em que os indivfduos descrevem as suas emolYoes
King e Johnson e contraclYao face a de Wallace, tema nervoso autonomo, mas do sistema nervoso coloca-Ios face a urn mostrador que varia entre, relativamente a urn determinado objecto. Este
enquanto que os conservadores manifestaram central, apresentando-se, portanto, livre da con- por exemplo, -3 e +3. Os sujeitos sao informa- tipo de tecnica assemelha-se em muito ao que
urn padrao de resposta inverso . No entanto, estes taminacrao de outros sintomas de atenlYao , e, por de que a maquina a que estao Jigados con- dissemos acima para as escalas de atitude .
resultados nao sao replicados em todos os estu- outro lado, permite diferenciar claramente os preyer as suas respostas atraves de indi-
dos, e, tal como acontecia com a RGP, a res- afectos positivos dos afectos negativos. psicofisiologicos, e podem verificar que
Medi~ao das atitudes atraves
posta pupilar tern sido associada a outros tipos Urn outro conjunto de estudos, embora em assim se passa durante alguns ensaios com a
de situalYoes: fadiga, stress, excitalYao sexual, numero muito reduzido, refere-se a atitudes, pre- maquina (durante os quais sao utilizadas as
de respostas comportamentais
esforlYo mental e ainda ao mesmo reflexo geral tendendo superar a diversidade de interpreta~5es respostas dadas pelos sujeitos a urn questionario Urn outro tipo de medida das atitudes refere-se
de orientacrao a que pertence a RGP. possfveis das respostas escondidas. 0 primeiro Interior). Uma vez convencidos de que nao a avaliacrao dos comportamentos. Este tipo de
Urn terceiro indicador fisiologico das atitudes estudo deste genero foi efectuado na Uni8~ POdem enganar a maquina, os experimentadores indicadores possibilita, por urn lado, superar a
pode ser a actividade electromiognifica facial, Sovietica, na linha classica pavloviana: con~­ apresentam en tao aos sujeitos os estfmulos face falta de sinceridade que e possfvel nas medidas
isto e, a contraccrao das fibras musculares ava- cionou-se urn rapaz a salivar face a apresenta~80 quais Ihes interessa saber a opiniao dos de autodescri~ao. e por outro produzir obser-
liada atraves da mudanlYa de potencial electrico da palavra russa «born», e, por generaliza~ao, ele Bujeitos A
. - . s respostas produzldas .
nestas con- var;oes em meio natural, imposslvel atraves das
dl~oes - d'
que a acompanha. A medilYao e feita pela colo- produzia significativamente mais saliva face a sao Iferentes das respostas a ques- medidas corporais . Deste modo, as tecnicas com-

Centro de Recureo.
Prior Velho
202
• 203

portamentais mais importantes neste domfnio mente nas maos do experimentador. E, par fi as como propoe Fazio (1986, 1989) com mesmo neutra, nao porque nao fa~am avaliaQoes
referem-se a observa~oes de comportamentos como veremos mais adiante, nao e linear n Ill, diversnum ' concep~ao
a
-retlcu
' Iar d a memOrIa ' . -, sobre 0 objecto (os indiferentes), mas porque as
elll
reveladores de atitudes, mas observa~oes que simples que 0 comportamento das pesso base sultado da soma das expectativas associa- crenQas que suportam a sua atitude sao mistas (os
are
passam completamente despercebidas aos su- correspon da a' sua atltu
. de. as
OU aO objecto de atitude pesadas pelos seus ambivalentes). A pesquisa mais recente tern per-
jeitos. Estas medidas, tambem conhecidas por daS eS _ como propoem os diversos modelos de mitido encontrar form as de avaliar esta ambi-
medidas nao obstrutivas, foram utilizadas muitas valor tativa-valor d ' no d
os quaIs, "
ommlo d as atl-
. valencia (Thompson, Zana e Griffin, 1995), que,
vezes nas investiga~oes dos anos 60 em Psico-
logia Social. Por exemplo, Campbell, Kruskal e
A estrutllra das atitudes e"t C
0 mais conhecido e 0 de Fishbein (1967).
IU es~ de muito diferentes noutros aspectos,
no entanto, e mais a excep~ao do que a regra no
padrao de consistencia entre cren~as e atitudes.
Wallace (1966) e Macrae, Milne e Bodenhausen Nas duas primeiras partes deste capftulo iIudi_ AP~S uer destas duas visoes nao dimensionais As rela~oes entre as outras expressoes emocional
(1994) avaliaram as atitudes raciais de estudantes qua q d - e comportamental das atitudes e a avalia~ao que
mos alguns dos grandes debates no domfnio das atitudes concor a que as representa~oes
brancos atraves da distancia a que se sentavam de atitudes, como forma de simpli,ficar a introdu~ao . mas nao podem ser resuml'd as a uma umca
das ' . esta na base deste conceito tern tido uma investi-
indivfduos de ra~a negra. Milgram, Mann e ao tema. Vamos agora aborda-Ios brevemente (Ote I' , . I' ga~ao muito mais reduzida, mas ela parece exis-
ala interior. A tas, mUttos autores sa lentam 0
Hartner (1965), num outro estudo celebre, ava- o primeiro grande debate prende-se com ~ eSC d . d"d f ,. tir, embora de forma men os acentuada.
facto de as cren~as. os 10 IVI. uos ~voravels a
Iiaram as atitudes polfticas de cidadaos de dife- dimensionalidade das atitudes, isto e, com a m determinado obJecto de atttude nao serem 0
rentes partes de uma cidade americana deixando forma como os diferentes teoricos das atitudes ~nverso das dos indivfduos com atitudes con-
no chao, como perdidas, cartas seladas dirigidas respondem a seguinte questao: a representa~ao ~as (e.g., van der Pligt e Eiser, 1984). Por As flln~oes das atitudc40i
a diferentes agrupamentos polfticos. Atraves do mental da atitude reproduz 0 continuum de exemplo, num estudo sobre as atitudes face a
numero de cartas dirigidas a cada entidade rece- favorabilidade/desfavorabilidade por que ela se constrUQao de uma incineradora, Lima (1997) Sendo urn produto cognitivo tao comum,
bido num apartado alugado pelos investigadores expressa? 0 apoio empfrico para as visoes mos trou que os indivfduos que eram favoraveis podemos perguntar-nos, de urn ponto de vista
para 0 efeito, foi possfvel desenhar urn mapa das dimensionais das atitudes vern do facto de 0 ao empreendimento consideravam como mais pragmatico, para que servem as atitudes.
atitudes polfticas dos residentes dessa cidade. tempo de processamento de afirma~oes radicais provllveis e mais importantes consequencias A resposta para esta pergunta tern sido encon-
Esta «tecnica da carta perdida» continua a ser uti- ser inferior ao tempo de processamento de afir- o aumento do emprego na zona ou a melhoria trada por quatro vias: as teorias que salientam as
Iizada como uma metodologia privilegiada na ma~oes mais neutras (Judd e Kullik, 1980) e dos dos acessos rodoviarios ao local, enquanto que fun~oes motivacionais das atitudes, as teorias
avalia~ao de atitudes sobre objectos polemicos. estudos que sustentam a teoria da avali a~ao os que estavam contra valorizavam 0 aumento que salientam as fun~oes cognitivas das ati-
Assim, Kuntz e Fernquist (1989) utilizaram uma social proposta pelo casal Sherif e colaboradores da poluiQao e a di minui~ao da qualidade de vida tudes, as teorias que salientam 0 papel de orien-
varia~ao desta tecnica, deixando em locais publi- (1965). Esta ultima perspectiva pressupoe dos residentes. ta~ao para a ac~ao e as teorias que salientam as
cos bilhetes-postais dirigidos a organiza~oes a mesmo a existencia de uma escala de referencia A segunda grande questao no domfnio das ati- fun~oes sociais das atitudes.
favor ou contra 0 aborto (dependendo das interna, que cada pessoa divide em tres zonas tudes prende-se com a consistencia entre a atitude
condi~oes experimentais), em que se anunciava a consoante a sua propria posi~ao: zona de e as suas tres form as de expressao, isto e, ate que
Fum;oes motivacionais das atitudes:
decisao de contribuir para a causa. aceita~ao, que incIui as cren~as que 0 indivfduo ponto ha uma correspondencia entre a atitude do
considera aceitaveis; zona de rejei~ao, que indivfduo e as suas diversas formas de expressao
Atitudes e necessidades
Estas formas de medir as atitudes sao nor-
mal mente defendidas por serem mais «puras», incIui as que sao inaceitaveis; e zona de nao (afectiva, cognitiva e comportamental). Muita da o primeiro tipo de abordagens teve origem
mais proximas da realidade. No entanto, nao de- comprometimento onde se encontram as crenQas pesquisa neste domfnio tern analisado a con- em autores de forma~ao psicanalftica como Katz
vemos esquecer que esta avalia~ao das atitudes que nao sao consideradas nem aceitaveis nem Sistencia entre a atitude e as cren~as, verificando- (1960), e foi depois continuado por outros
nao esta isenta de influencias, mas apenas que inaceitaveis. As visoes nao dimensionais das ati- :e ~ormalmente uma boa consistencia entre elas, autores (e.g., McGuire, 1969) que salientaram a
apresenta enviesamentos diferentes das tecnicas tudes nao assumem esta representa~ao intema Ulto bern documentada nos trabalhos baseados importancia de estudarmos as atitudes no con-
de autodescri~ao. Em primeiro lugar, a Psi co- das atitudes, mas consideram que as expressOes :.s modelos de expectativa-valor que referimos texto das fun~oes que tern para 0 indivfduo. Nas
logia Social tern mostrado muitas vezes a das atitudes num continuum sao ou 0 resultado Ima. No entanto, os trabalhos de Kaplan (1972) palavras de Katz (1960), a sua perspectiva, que
influencia das condi~oes situacionais na deter- da recupera~ao em memoria das associaQO:s sabre as indoIVI'd uos cUJa ..atltu de se centra no designa como funcionalista, «representa a tenta-
mina~ao do comportamento social. Depois, a relativas aos objectos de atitudes - sendo entaD POnto medl'o d I d . des vleram
a esc a a e atltu . . . .
mlclar tiva de compreender as razoes que levam as pes-
rela~ao entre 0 comportamento do sujeito e a a atitude 0 resultado das associa~oes entre 0 ~~a linha nova de pesquisa. De facto, h:i indivf- soas a manter as suas atitudes. As razoes, no
inferencia da sua atitude e deixada completa- objecto de atitude e avalia~oes ou proposiQOeS Os que tem uma posi~ao pouco extremada ou entanto, estao ao nfvel das motiva~oes psicolo-
204
• 205

gicas e nao ao nfvel do acaso de acontecimentos actuais enrafzam-se nos estudos dos aut s seus sentimentos se ajustam sem ten- que salientam a importancia das atitudes como
.. . . d 0 de pOre~
d os anos 50 , que, partin '0 eo sinalizadores da realidade: conhecendo duas
e circunstancias exteriores. A menos que conhe- cogmtlVlstas ~~ (p. 205) . Assim, postula, em termos de
. . . res.
c;amos as necessidades psicologicas que susten- supostos motlvaclOnms, procuraram mostrar sa~)) fpio organizador da construyao do am- relayoes entre as entidades que constituem uma
tam uma atitude, estamos em rna posic;ao para importancia de determinados princfpios ger .a p~II1Ce subjectivo, que as situar;oes equilibradas trfade, tendemos a completar a situac;ao de
predizer 0 quando e como da sua medic;ao»
" "
na lorma como se orgamza a cogmyao hurna
_ als
b~el11 referidas a situar;oes desequilibradas, par forma equilibrada; as situayoes organizadas de
(p. 170). Katz e outros autores definiram urn nomeadamente as atitudes. Referir-nos_e~a. sao p forrnas perceptivas e por evitarem a ten- uma forma equilibrada seriam mais estaveis e
grande numero de func;oes especfficas que as ati- aqui a dois desses princfpios, que provem ~s se•refllA aplicar;ao
- deste pnnclplO
" ' 1evou dd es e mais resistentes a mudanr;a, man tendo uma
e tendencia a constancia das posir;oes cognitiva-
tudes podem cumprir, que outros investigadores duas das mais importantes teorias em PSicOlogi saO. ao aparecimento de consequencias praticas
mais recentes (Herek, 1986) sistematizaram em Social: a princfpio do equilibria e a principio da IOgOtermOs de processamento de informayao, mente mais simples .
e(ll
duas grandes categorias: func;oes instrumentais reduc;ao da dissonancia. a
ou avaliativas e funr;oes simbolicas ou expres- o principio do equilihrio foi formulado par BASES DA TEORIA DO EQUILIBRIO (HEIDER, 1958)
sivas. As primeiras prendem-se com uma avalia- Heider (1958-1970) para definir a principia
c;ao de custos e beneffcios da atitude, optando 0 organizador do «ambiente subjectivo» do indi. Na descri~iio do arnbiente subjectiv~ dos sujeitos, Heider utiliza tres conceitos basicos:
indivfduo pela atitude que Ihe permita obter 0 vfduo , isto e, a forma como ele percepciona a • 0 de indivfduo que percepciona, aquele que constr6i 0 arnbiente subjectiv~ e que activamente procura dar
melhor ajustamento social, maximizando as re- meio em que vive. Podemos hoje considerar qUe sentido ao que 0 rodeia - este indivfduo e depois representado nas representa~oes graficas como p.
compensas sociais e minimizando as punic;oes. a teoria do equillbrio se refere a forma como as • 0 de entidade, isto e, a pessoa ou 0 objecto ffsico ou social existente no rneio que envolve 0 sujeito
_ representado graficamente como 0 (se for urna pessoa) ou x (se for urn objecto).
Por exemplo, podemos manifestar atitudes am- indivfduos articulam diferentes atitudes. A teo.
• 0 de rela~lio, isto e, a atitude positiva ou negativa que une duas pessoas ou urna pessoa e urn objecto
bientalistas face a uma pessoa que queremos ria pressupoe que este ambiente subjectivo pode _ representada graficamente por urn sinal + ou por urna Iinha contInua no caso de ser urn sentirnento posi-
impressionar favoravelmente, e que sabemos ser representado graficamente sob a forma de tivo (gosta de; concord a com; possui) ou por urn sinal - ou urna Iinha tracejada no caso de urn sentirnento
fazer parte da Liga de Protecc;ao da Natureza. As trfades (ver Caixa na p. 19). No entanto, nem negativo (nao gosta de; discorda de; nao possui). Esta rela~ao pode assurnir a forma de urna atitude favora-
func;oes expressivas tern que ver com a utilizac;ao todas as trfades tern 0 mesmo valor para 0 indi. vel ou desfavoravel de p face a x.
das atitudes enquanto forma de transmitir os vfduo. Na Iinha de cima da figura desta Caixa o ambiente subjectiv~ do sujeito e descrito por esta teoria como urn conjunto de entidades e das suas rela~Oes,
valores ou a identidade do sujeito, permitindo- podemos ver situayoes que Heider considera tal como sao percepcionadas por urn indivfduo. Cada situa~ao pode entao ser descrita graficarnente em terrnos de
-Ihe proteger-se contra conflitos internos ou equilibradas, isto e, em que a indivfduo percebe trfades, situando as rela~Oes percebidas pelo indivfduo entre si pr6prio e duas entidades, 0 que, em teoria, permite a
defini~iio das seguintes 8 situa~oes que se representarn em seguida. Na Iinha de cirna encontrarn-se as u'fades equi-
externos, e preservar a sua imagem. Assim, uma concordancia de posiyao em relac;ao a alguem de
Iibradas e na Iinha de baixo as trfades desequilibradas.
atitude moral muito conservadora podera quem gosta, au discordancia em relac;ao a alguem
cumprir a func;ao de disfarc;ar a dificuldade de de quem nao gosta (por exemplo: «A Maria o o o o
relacionamento social, mantendo alta a auto- gosta de ouvir a sua amiga tocar piano» e uma +
-estima. Esta perspectiva nao se tern manifestado ilustrac;ao do caso 1. Na linha de baixo, as situa-
muito heurfstica, porque funciona apenas como c;oes sao designadas desequilibradas, e repre- p ~_ _ _ _-> X P L -_ _ _ _-----" X P L -_ _ _ _-----" X P L -_ _ _ _- - " X
descritora de resultados individuais, mas nao sentam casos em que a indivfduo percebe
permite a predic;ao de respostas a urn nlvel mais discordancia em relayao a pessoas de quem + +
caso 1 caso 2 caso 3 caso 4
geral, em bora Herek prometa desenvolver tecni- gosta au concordancia em relayao a pessoas de
cas para medir as funyoes das atitudes. quem nao gosta (urn exemplo produzido pelo
proprio Heider que ilustra a situar;ao: «0 Carlos
Fun~oes cognitivas das atitudes: acha que 0 loao e muito estupido e urn chato de o o o o
atitudes e processamento da informa~ao primeira classe. Urn dia a Carlos Ie uma poesia
+
de que gosta e procura saber quem e a seu autor,
Autores mais recentes tern vindo a salientar para 0 felicitar. Verifica que foi 0 loao quem P "--___ .___-' X
p - _ ____-"' X P L - _._ _ __ x P _ _ _-----" X
as func;oes cognitivas das atitudes, ligadas a escreveu os poemas»). Heider (195 8-1 970)
forma como elas influenciam 0 modo como e define estado equilibrado como urn «eslado har- + +
caso 5 caso 6 caso 7 caso 8
processada a informac;ao. Estas perspectivas monioso em que as entidades que estao na situa-
206 • 207

o principio da redu~ao da dissonancia importancia das cogni~oes consonantes e/o


cognitiva foi definido por Festinger (1957) para diminui~ao do numero ou da importancia U na CONCEITOS FUNDAMENTAlS NA TEORIA DA DISSONANCIA COGNITIVA.
explicar a necessidade que existe em todos os cogni~oes dissonantes. Oeste modo, 0 procedas
indivfduos de encontrarem consonancia entre as de redu~ao da dissonancia apresenta-se cOlllo sso }-Is dois conceitos fundamentais nesta teoria: cogni~ao e dissonfincia.
diversas cogni~oes que tern a respeito de urn por cogni~iio, Festinger entende tanto os pensamentos, atitudes e cren~a~ dos indivlduos, como os seus
exemplo da forma como as atitudes influen/Ill
. l' (alll ortamentos, desde que sejam conscientes, isto e, que tenham uma representa~lio cognitiva. Sao exemplos de
mesmo objecto. Ao contnirio da perspectiva de -
o processamen t 0 da mlorma~ao, especifj coJTIPi iio as segumtes
. f rases:« Sou uma pessoa atenclosa»,«
. Ac h0 que as esco Ias sao
- 'mstltut~oes
. . - represslvas»,
.
Heider, a quesHio de Festinger nao se prende mente, atraves da procura activa de informa c~_ cogn :eci-me dos anos da minha mulher», ou «Sei que fumar provoca 0 cancro nos pulmoes» .
tanto com a questao da rela~ao entre diferentes relevante acerca do objecto de atitude. ~ao _ESQ por dissonfulcia entre as cogni~Oes, Festinger entende a exist!ncia simuldlnea de cogni~Oes que nao se ajus-
atitudes, mas com a consistencia intema de uma As consequencias das atitudes para 0 proc entre si, isto e, em que a existencia de uma cogni~iio implica a presen~a do contnirio da segunda cogniyao. Por
s
mesma atitude . A dissonancia cognitiva refere-se samento da informa~ao tern sido c1arifi c ada: - tlunJTIplo, se urn homem se considerar uma pessoa atenciosa e verificar que se esqueceu dos anos da sua mulher,
e
assim a rela~ao entre duas cogni~oes incom- testadas empiricamente nos ultimos anos "'" e
ex ntra se numa situaylio de dissonfincia cognitiva. Se uma pessoa sabe que vive numa zona sfsmica e nao tomou
patfveis da mesma pessoa face ao mesmo , "'as en~~quer- aCyao preventiva, encontra-se numa situayao de dissonancia cognitiva. Ou, pard citar 0 mais chissico dos
traduzem-se todas num enviesamento selectivo queJTIplos da teoria da dissonfincia cognitiva, se eu acreditar que fumar provoca 0 cancro dos pulmoes e se fumar tres
objecto: «Eu pago propinas elevadas nesta congruente com a atitude, que se faz sentir tant ex os de cigarros por dia, estou numa situa~iio de dissonancia cognitiva (desde que nao esteja a tentar cometer suicf-
Universidade» e «Esta Universidade e pouco ao nfvel da exposi~ao a informa~ao, como d~ ;:~ claro) . Nu ma perspectiva pragmatica, Brown (1965) indica que algumas utiliza~oes das conjunyOes adversati-
prestigiada». 0 princfpio basico da teoria (ver percep~ao e da memoria. v~'(mas, pocem, todavia, contudo) slio indicadoras da existencia de dissonancia cognitiva, alertando 0 receptor da
Caixa na pag. 207) tern, como a perspectiva de mensagem de que 0 que se segue vai contra 0 que seria de esperar a partir da primeira parte da frase: «Lisboa e uma
A exposi~ao selectiva refere-se ao facto de
Heider, bases motivacionais e postula que urn zona sIsmica, mas 0 bairro em que eu vivo nunc a sofreu nada com os tremores de terra».
indivfduos com uma atitude definida relativa_ A redu~iio da dissonfulcia pode assumir as seguintes forrna~:
estado de dissonancia cognitiva e psicologica- mente a determinado objecto procurarem expor_
mente desagradavel, constituindo uma moti- -se a informa~ao que confirme a sua atitude 1. Diminuir 0 mlmero ou a importancia dos argumentos dissonantes. Se 0 marido se esqueceu do aniversario
va~ao, uma activa~ao do organismo no sentido inicial, evitando a informa~ao contraria. Assim da mulher, pode reduzir a sua dissonancia convencendo-se de que nao tern sentido a celebrayiio dos anos,
da redu~ao ou da elimina~ao da dissonancia (ver urn apoiante de urn partido poiftico procura mai~ ou de que a sua mulher ate tera ficado agradecida por nao Ihe lembrarem que ela esta mais velha. Se uma
Fazio e Cooper, 1982, para uma analise da pessoa vive numa zona sfsmica, poder reduzir a sua percep~ao de risco se acreditar que os fen6menos SIS-
assiduamente seguir a campanha eleitoral desse
evidencia empfrica da activa~ao psicofisiologica micos sao regulares. previslveis pelo homem ou controlaveis por Deus. Urn fumador evita cuidadosamente
partido do que a dos que nao apoia. Este feno- a sua exposiyao a inforrnayao sobre os maleffcios do tabaco, e quando nao a pode evitar (por exemplo, ao
da dissonancia cognitiva) . Esta activa~ao e tanto meno foi explicado pel a teoria da dissonancia ler 0 aviso existente em todos os mayos de cigarros nacionais) contesta a relevancia da fonte, ou salienta 0
maior quanta maior for a dissonancia cognitiva, cognitiva, como uma busca de cogni~6es con- caraeter hipotetico da rela~lio entre 0 tabaco e 0 prejulzo da saude.
e a dissonancia e vista como fun~ao de: gruentes, e, embora possa haver factores situa- 2. Aumentar 0 numero ou a importancia dos argumentos consonantes. Se 0 marido esquecido pretende man-
cionais que limitam a exposi~ao a informa\=iio ter a sua imagem de pessoa atenciosa, vai aumentar 0 numero de vezes que convida a sua mulher para sair,
que Ihe traz prendas, ou que Ihe leva 0 pequeno-almo~o a cama. 0 Iisboeta que pretende continuar a viver
Imponancia x Ntlmero de Cognir;6es Dissonanles contraria a atitude (Freedman e Sears, 1965), a
=- - - - - - na sua terra apesar de ser uma zona sIsmica, aumenta a sua perce~ao das vantagens de viver num grande
Dissonancia exposi~ao selectiva teve urn grande apoio centro urbano. Urn fumador conhece sempre imensos casos de medicos e de centagemirios que fumam
Importiincia x Ntlmcro de Cognir;oes Consonantes
empfrico com a pesquisa desenvolvida por Frey muito mais cigarros do que ele.
Oeste modo podemos perceber que nem todas (1981, 1986) que mostrou que ela esta parti-
as cogni~oes incompatfveis nos produzem cularmente presente em situa~oes em que a dis-
dissonancia. Para tal e preciso que as cogni- sonancia cognitiva e maior, ou em que as fontes atitudes anteriores dos sUJeltos face aos can- efeito, que parecia claro ate aos anos 50, tern
~oes sejam percebidas como importantes (a de informa\=ao sao credfveis. didatos se correlacionavam significativamente mostrado, nos estudos empfricos mais recentes,
nossa saude, a auto-imagem, 0 nosso futuro, por A percep~ao selectiva refere-se a uma fase com a percep\=ao acerca do seu desempenho nos resultados contraditorios, embora as pesquisas
exemplo) e e preciso que nos vejamos como posterior do processamento de informa\=iio, debates na televisao. No entanto, este efeito e sejam diffceis de comparar porque utilizam
responsaveis pelas situa~oes que nos causam caracterizado por uma distor~ao da percep\=iio. tanto mais nftido quanta mais acessfvel diferentes tarefas para 0 teste da memoria, e
dissonancia (isto e, percebendo liberdade na de modo a avaliar de forma mais positiva a (~OUston e Fazio, 1989) e mais elaborada for a tam bern porque a importancia da atitude para os
escolha do comportamento dissonante). Para informa~ao congruente com a atitude e a des va- atttude (Cacioppo, Petty e Sidera, 1982). sujeitos e muito diversa. Zan a e Olson (1982)
sair de urn estado desagradavel de dissonancia, lorizar a informa~ao incongruente. Por exemplo. A memoria selectiva refere-se tambem a utilizaram urn procedimento experimental em
Festinger propoe, dentro do mesmo modelo, Fazio e Williams (1986) mostraram que naS maior facilidade de memoriza~ao da informa~ao que os sujeitos nao eram levados a preyer a
duas estrategias: aumento do numero ou da con'
elei~6es presidenciais american as de 1984 as Ststente com a atitude. No entanto, este necessidade de qualquer tipo de memoriza~ao
208
• 209

do material apresentado, e escolheram sujeitos depois foi enviada uma carta a cada um d As fras es que constituem as escalas de ati- mentos pro-ambientais do que com 0 de compor-
. eSte es
com urn elevado grau de envolvimento em estabeleclmentos, perguntando se aceita ' S ILld . esentam 0 objecto de atitude a urn nfvel tamentos especfficos (reciclagem, assinar uma
rela~ao a atitude estudada (apenas sujeitos com chineses como clientes. Dos 81 restaurantes r1alll ILldes ap~eTlte geral (urn born exemplo pode ser peti~ao a favor de causas ambientais). Estes estu-
atitudes fortes pro ou contra 0 aborto). Oeste hoteis que responderam, 92 por cento disse~a4? eJ{tr
erna
caixa da pagina 198, com as instru90es dos vern mostrar que niio siio apenas as atitudes
modo, confirmaram a existencia de uma rela~ao que nao, tendo os restantes afirmado que de III 'stO na especfficas face a comportamentos que permitem
I osta na escala de Bogardus) e quando refe-
entre atitude e memoria, mas apenas para os · d
d la '
as clrcunstancIas.
A' E stes resu Itad os mOSt
Pen. de res~ ar6es elas sao descritas de uma forma a previsao das aC90es, mas que as atitudes gerais
sujeitos com determinadas caracterfsticas de ram que e possfvel haver uma manifestarrao ra. rn Situ l' '
re . plificada que nao tem nada de concreto. face a objectos se relacionam sistematicamente
·0 Slrn
personalidade. Assim, os indivfduos com maior to Ierancla ao mve I comportament aIe '
A' ,
slmuItan de la emplo, no estudo de LaPiere, perguntava-se com os fndices comportamentais.
auto-estima e os indi vfduos com urn locus de mente uma expressao de intolerancia ao nrea. poreJ{ arta se aceitanam. c h'meses como c I'lentes, 0 Vma outra via de resposta as diferen9as entre
controlo interno sao aqueles que manifestam . d'ma,I pe I0 que l"loram mterpretados COil!
atltu vel
na c orn a sua formula9ao geral, envia os res- o nfvel de especificidade entre atitudes e com-
mais facilidade na memoriza~ao de frases cor- reflectindo uma inconsistencia entre atitudes 0 c
que,dentes ,. de ch'mes e, a I'em d0
para 0 estereotIpo A
portamentos tern sido procurada noutras pers-
respondentes a sua atitude. Este resultado parece comportamentos. Esta discrepancia entre ati~ po~ podia ser utilizada pelos respondentes de pectivas. Fishbein e Ajzen (1975) afirmam que
apontar para a importancia das varhlveis de tudes e comportamentos esta bern ilustrada em. roalS, . ., I d b
a a dar uma Imagem respeltave 0 esta e- as atitudes sao importantes factores na previsiio
form .
personalidade na verifica~ao da hipotese da piricamente, quer por replicas do estudo de irnento, de acordo com as normas vlgentes. do comportamento humano, mas distinguem
LaPiere (Kutner, Wilkins e Yarrow (1952) com Iec I" ,
memoria selectiva. A situa~iio observada, pe 0 contrano, e extrema- entre as atitudes gerais face a urn objecto (ati-
negros, por exemplo), quer por estudos de mente especffica: os chineses encontravam-se tudes em rela~ao aos chineses, atitude religiosa)
orienta~ao psicometrica, relativos a validade acompanhados por urn branco, provavelmente e as atitudes especfficas face a urn comporta-
Fun~oes de orientaf.;30 para a aC~30: preditiva de escalas de atitudes (por exemplo. aparentavam urn born estatuto socioeconomico, mento relacionado com 0 objecto de atitude (ati-
atitudes e comportamento relacionar os resultados de uma escaia de ati- e tinham aspecto de saber comportar-se correcta- tude em rela~ao a servir urn casal de chineses de
tudes religiosa com a frequencia a igreja). Face mente, e encontravam-se de passagem. Isto e, classe media num restaurante acompanhados
a isto, a posi~ao de alguns autores e a de salien- nao tinham nada a ver com 0 chines que os fun- por urn branco; atitude em rela~ao a ir a missa
Impacto das atitudes no comportamento tar a inutilidade pratica do estudo das atitudes do restaurante visualizaram quando no proximo domingo): enquanto estas ultimas
como previsores do comportamento humano. responderam a escala de atitudes. A generalidade seriam uteis na previsao de urn comportamento
No infcio do estudo das atitudes, estava interessando-se apenas pelo seu papel na justifi- do indicador das atitudes e a especificidade da especffico, as primeiras so 0 influenciariam de
implfcita na perspectiva dos seus autores a ca~ao posterior do comportamento (na linha da I, SltilaCliO observada parece mesmo, neste estudo, uma forma indirecta, como uma tendencia para
coerencia entre atitudes e comportamentos, e daf teoria da dissonancia cognitiva). Nas palavras funcionar de modo a maxi mizar a discrepancia a ac~ao tal como e expresso na defini~ao de
a grande enfase dada pelos psicologos sociais a de Abelson (1972), «estamos muito bern treina- atitude e comportamento. Eagly e Chaiken (1993). Na teoria da ac~iio
constru~ao de escalas de atitudes. A questao do dos e somos realmente muito bons a encontrar A tentativa de compatibilizar 0 grau de reflectida, Fishbein e Ajzen (1975) consideram
poder preditivo das atitudes avaliadas por ques- razoes para aquilo que fazemos, mas nao somos especificidade do comportamento e das atitudes que todo 0 comportamento e uma escolha, uma
tiomirios foi claramente colocada por LaPiere grande coisa a fazer aquilo para que temos boas foi conseguida por duas vias diferentes. Assim, op~ao ponderada entre varias alternativas, pelo
(1934), num estudo cllissico nesta area. Nos razoes» (p. 25). do ponto de vista psicometrico, parece incorrecto que 0 melhor preditor do comportamento sera a
anos 30, em que havia urn forte preconceito con- No entanto, a psicoiogia social de orienta~iio procurar-se a rela~iio entre atitudes gerais nor- inten~ao comportamental, sendo a atitude
tra os Chineses nos EVA (havia lojas com uma cognitivista nao podia aceitar esta perspectiva malmente medidas por escalas de atitudes com especffica apenas urn dos dois factores impor-
placa a porta com a seguinte inscri~ao: «E proi- de corte radical entre pensamento e ac~iio, e multiplos itens e comportamentos especfficos, tantes na decisao (ver Figura 1). Esta atitude
bida a entrada a chineses e a caes» ), LaPiere, urn desenvolveu esfor~os no sentido de explicar a medidos apenas com urn unico indicador. Oeste face ao comportamento e vista neste modelo, de
psicologo social de ra~a branca, viajou pelos discrepancia entre atitudes e comportamentoS, modo, alguns autores procuraram compatibilizar acordo com as perspectivas de expectativa-valor
Estados Vnidos acompanhado por urn casal de procurando daf colher ensinamentos que penni- tambem 0 nfvel de generalidade do comporta- que referimos atras, ou seja, como 0 resultado
chineses, anotando as reac~oes dos funcionarios tissem aumentar a correla~ao entre estas duas mento, estendendo as observa~oes a diversos do somatorio das cren~as acerca das consequen-
dos diversos estabelecimentos hoteleiros que variaveis. comportamentos associados a atitude. Por exem- cias do comportamento (expectativa) pesadas
E assim que se salienta 0 diferente grau de plo W·
utilizaram. Nesta viagem foram atendidos em 66 . a .' legel e Newman (1976) mostram que as pela avalia~iio dessas consequencias (valor).
hoteis e em 184 restaurantes e cafes, tendo ape- generalidade com que, nos estudos que aCilTl. attt~des ambientais se correlacionam de forma o outro factor importante na defini~ao da
maJs ' . .
nas sofrido uma recusa num hotel. Algum tempo citamos, se avalia 0 comportamento e as aU- slgOificatlva com urn fndice de comporta- inten~ao comportamental tenta integrar as
210 211

pressoes sociais e refere-se a norma subjectiva teoria da aC'rao reflectida ve a atitude esPec' odel o da aC'rao reflectida teve urn enorme t;ao, mas tambem de uma forma menos ponde-
face ao comportamento, isto e, as pressoes de como urn dos preditores do compona 'fic~ .0 : rTIPiriCo, tendo sido aplicado com sucesso rada, directamente sobre 0 comportamento. Esta
outros significantes que afectam a realiza'rao do podendo, em certos tipos de componame mento e~I(O uito S domfnios, desde a psicologia da extensao da teoria inicial tern permitido aumen-
comportamento. Tambem esta norma subjectiva em certas popula'roes, a norma subjecti °u
nt08
e~d:(COnner e Norman, 1995) ate a psicologia tar significativamente a capacidade preditiva
e vista como 0 resultado do somat6rio das mais peso na determina'rao da inten'rao CoVa tet all, . a No entanto, muitos estudos posteriores do modelo em muitas situa'roes (por exemplo,
cren'ras normativas (expectativas acerca do com- tamental (por exemplo, Kashima et aL mPot. PohtlCrn .rTIostrar a .Importancla de l'lactores exte-
A'
veja-se na Caixa da p. 213 0 trabalho de Vina-
., 1993 gre, 1995), mas parece ainda insuficiente a
portamento que os outros significantes preten- mostram que 0 melhor preditor da inte _. v.i;;:s ao modelo da predi'rao dos comporta-
dem que 0 indivfduo adopte), pesado tambem de utilizar 0 preservativo nao e a atitude n~ao rt (OS. Bentler e Speckart (1979), testando 0 alguns autores. Terry e Hogg (1996), por exem-
pelo valor destas cren'ras (a motiva'rao para ·, fi
norma su b~ectJVa re erente ao parceiro se
mas a JII~elo da act;ao reflectida atraves da analise de plo, criticam a forma Iimitada como a norma
seguir cada urn dos referentes). Os trabalhos que Por isto, 0 modelo da aC'rao reflectida ~uaJl. JII ad;es estruturais, mostram que a previsiio de subjectiva e conceptualizada. A partir da teoria
. , I mterme
. d a uma vanave ' 'd'la, referente aoInclul eqU T d d d ,. . da autocategoriza'rao, mostram que a norma
operacionalizaram este modelo (ver Eagly e am portamentos e consumo e rogas e slgnt-
Chaiken, 1993 para uma revisao), encontram relativo das atitudes e das norm as na defi ~e~ ::ivamente melhorada com a introdu'riio de subjectiva nao deve ser concebida apenas em
. ,_ nl~ao
termos interpessoais, mas que a sua reconcep-
correla'roes bastante elevadas entre a inten'rao e da mten'rao comportamental. Esta var"laVe) a variavel extema ao modelo: 0 compor-
o comportamento (entre .75 e .96), variando, no remete para os estudos empfricos a defini~ao d ~:ento anterior do sujeito. Tambem Eiser e tualiza'rao em termos grupais e de influencia
entanto, com a proximidade temporal do com- importancia relativa destes dois componentea colaboradores (1989), num estudo acerca do social permite uma melhor compreensao do com-
portamento, da especificidade da situa'rao apre- no caso especffico de cada situa'rao e de cadS consumo de tabaco na popula'rao adolescente, portamento. Por outro lado, Manstead (1996)
a
sentada, e da experiencia anterior do sujeito na popula'rao a analisar. Por exemplo, Manstead RlOstram que 0 comportamento anterior (0 facto salienta que a introdu'rao de variaveis emocio-
situa'rao . As atitudes gerais do sujeito, tal como Proffitt e Smart (1983) mostram que a inten~a~ de fumar ou de nao fumar) e 0 melhor preditor nais na predi'rao da inten'rao comportamental
outras varhiveis de nfvel mais global, como 0 seu de am amen tar 0 be be e principalmente deter. da intent;ao comportamental (tencionar fumar (nomeadamente a experiencias emocionais
estatuto socioecon6mico , por exemplo, apare- minado pela norma subjectiva nas maes primi. no futuro). Face a estas crfticas, os autores cos- esperadas) aumenta 0 poder preditivo do modelo.
cern no modelo como fracos preditores do com- paras, mas que e a atitude face a amamenta~ao WRlam salientar que a teoria se aplica a situa- Mas todos os modelos que referimos acima
portamento especffico, relativamente a norma que tern urn papel decisivo na inten~ao com. de tomada de decisao (daf 0 seu nome de pressupoem algum grau de controlo do pensa-
subjectiva e a atitude especffica. Oeste modo, a portamental das maes do segundo filho . reflectido) e nao a comporta- mento atitudinal. No entanto, desde os anos
Rlentos habituais, onde a componente de decisao oitenta que os trabalhos de Fazio tern vindo a
muito menor. Numa tentativa de alargar a mostrar que as atitudes muito acessfveis orien-
FIGURA 1
Ieoria a comportamentos que estavam fora do tam 0 comportamento atraves da activa'rao de
c:ontrolo volitivo dos sujeitos, Ajzen (1988) processos automaticos. Os seus trabalhos come-
Modelo da ac~lio refletida (Fishbein e Ajzen, 1975)
reformula 0 modelo. Mantendo a sua estrutura 'raram por mostrar a importancia da forma como
Cren~ basica, acrescentou como determinante da a atitude tinha sido formada na predi~ao do
de que 0 oomportamento IDten~ao comportamental uma nova variavel - 0 comportamento. Por exemplo, Fazio e Zana
provoca delennIn.dos resultados \. Atitude
c:ontrolo percebido sobre 0 comportamento (1981), num estudo realizado com estudantes
/'~
face 80 comportamcuto \
(Figura 2) . Esta variavel, que corresponde adifi- universitarios sobre as condi~oes ' de instala'rao
culdade percebida na realizat;ao do comporta- nos dormit6rios, mostraram que as atitudes que
dos resultados esperad05
1...-_ _ _- - . : _ _ _ Importilncia relativ8 IlnteOl'liO 1-.1 I mento, corresponde em grande parte ao conceito se formam com base na experiencia directa (ter
Cren~
dos beta... atiludioais
c normativo! no comportamento
.... Comportameoto d~ a~to-eficacia (Bandura, 1977, 1982), e per- dormido em dormit6rios de beliches) sao mais
~Ite tncluir, indirectamente, a experiencia ante-

\.r--No-m-8-~-~-.~-u-.v-a~~
de que iodlvCd.ao au lIJUPOI'
cspcclficos pensam que. pessaa
preditoras do comportamento (assinar uma
dcve ou nio dcvc concretizar 0 nor com 0 comportamento. Assim, cOl7lporta- petit;aot relativa Ii falta de alojamentos univer-
comportameDto

~
~entos habituais sao percebidos como faceis d~ sitarios), do que as que se baseiam em experien-
Motiv8!fiO relativa .0 camportamcnto par em pratica e portanto com elevados nfveis cia indirecta. Este resultado foi, primeiramente,
para ..guiJ a que os glUp05 de COntrolo percebido. Esta percept;ao de con- expJicado pelos autores salientando a maior con-
c!rolo sobre 0 comportaf2ento parece, e ltao, ter
au Indivlduas especf1!cos
peasam sobre 0 camportamenla fian~a e certeza dos .sujeitos cujas atitudes se
onsequeAncl'a mottvaclonals
. . . ao ntve , I d a mten-
. baseiam em experiencia directa. Contudo, mais
212 • 2 13

FIGURA 2 APLICA~AO DA TEORIA DA AC~AO PLANEADA A PREVEN~AO


DOS ACIDENTES DOMESTICOS NAS CRIAN~AS (VINAGRE, 1994)
Representa~io esquematica da teoria da ac~o reflectida
e da teoria da ac~o planeada Os acidentes constituem ainda actual mente em Portugal uma das maiores amea~as II vida e asaude das crian~as
dos jovens. Enquanto os acidentes de via~ao sao mais frequentes nas crian~as em idade escolar e na adolescencia,
e acidentes domesticos predominam nos primeiros anos de vida. sendo uma das principais causas de mortalidade e
Teoria da ac~ao reflectida (Fishbein e Ajzen, 1975)
oSorbili dade • sobretudo no grupo etano do laos 4 anos. As interven~oes educacionais junto dos pais no sentido da
rn venyiio nao tern revel ado a eficacia desejada. e a incidencia mantem-se elevada, como e particularmente 0 caso das
~7oxicayoes infantis. Como sao os pais que controlam 0 espa~o domestico e definem as regras de seguran~a em casa,
In revenyao dos acidentes domesticos na crian~a depende sobretudo da importancia que eles atribuem a esta questao.
~~rdando 0 comportamento preventivo dos pais numa perspectiva cognitivista. pretendeu a autora neste estudo com-
reender os factores sociocognitivos que mediatizam os comportamentos de seguran~a das maes relativos II intoxi-
~a~o domestica nos seus filhos. 0 enquadramento te6rico do seu trabalho abrange as variaveis preditoras da inten~ao
comportamental incluidas na Teoria da Ac~ao Reflectida (Fishbein e Ajzen, 1975) e na Teoria do Comportamento
Planeado (Ajzen & Madden, 1986): atitude face ao comportamento, norma subjectiva e controlo comportamental
percebido . Participaram neste estudo 186 maes de crian~as dos 9 aos 15 meses de idade.
Teoria da ac~ao planeada (Ajzen, 1987) o questionario utilizado no estudo foi construido com base nos conceitos te6ricos dos modelos de partida.
o contetido dos itens foi influenciado por pesquisas efectuadas neste ambito e por entrevistas explorat6rias efectua-
das a miles com condi~oes semelhantes as da amostra. Para alem de informa~oes relativas II caracteriza~lio socio-
demografica dos pais, crianya e condi~oes habitacionais, 0 questionario incluiu:
• a variavel dependente (inten~ao comportamental) que foi avaliada pela questiio «Pen so colocar os produtos
de uso domestico em armarios altos e com fechos de seguran~8», com uma escala de resposta de 7 pontos ,
desde <<nada provavel» a «muittssimo provavel»;
• as variliveis que dizem respeito aTeoria da Ac~lio Reflectida - cren~as comportamentais (beneficios para a
mae, como, por exempl0, «menor preocupa~lio quando 0 filho esta sozinho»; beneficios para a crianya, por
exempl0, «maior liberdade para brincar»; custos percebidos para a mae, como: por exemplo, «faz perder
tempo», «complica as tarefas domesticas»), a avalia~lio das crenyas comportamentais, a atitude, as crenyas
normativas (referentes considerados foram 0 pai do filho, a sua pr6pria mae, a melhor amiga, 0 medico e a
educadora da crian~a), a motiva~lio para seguir os referentes, a norma sUbjectiva;
• a varia vel suplementar inclufda na Teoria do Comportamento planeado: 0 controlo comportamental percebido
(por exemplo: «colocar os produtos de usa domestico em armanos altos e com fechos de seguran~a e facih.).
Os resultados que se apresentam no quadro seguinte mostram que 0 controlo comportamental percebido
aUmenta significativamente a variiincia explicada relativamente ao modelo da ACyao Reflectida.

tarde a explica~ao centrou-se na acessibilidade naturalmente , Fazio e outros autores a mos- Tabela 1 - Correla~iies e regressiio mtiltipla; variavel dependente: inten~iio de adoptar 0 comporta·
mento de preven~iio
das atitudes . De facto, Fazio . Chen . McDonel e trarem que ha uma activa~ao automatica das
Sherman ( 1982) mostraram que os indivfduos atitudes altamente acessfveis na presen~a do Varhiveis r Beta p
que tern as suas atitudes baseadas na experiencia objecto de atitude (e.g., Fazio . SanbonmatsU, I. Atitude .65*** 5lJ 752 .0001
directa respondem em escalas de atitudes Powell e Kardes , 1986), 0 que levaria , atra ves 2. Controlo comportamental percebido 38*** .247 3.84 .0002
informatizadas com urn tempo de latencia me- da centra~ao da aten~ao selectiva nos aspectoS 3, Norma subjectiva .39*** .196 2.97 .0035
nor, e apresentam uma maior correspondencia congruentes com a atitude, a uma defini~ao
entre atitudes e comportamentos (Fazio e da situa~ao de forma a tomar altamente provlivei
(ajust. R2 =.485 ; F (3,129) =42.47; p = .0001)
(***p < .001)
Williams, 1986). Esta linha de estudos levou. a ocorrencia do comportamento (Fazio. 1990)·
• 215
214

Consideremos urn exemplo de como, de acordo complementares, porque, apesar de Paz' caricatura de si proprios . Mas 0 trabalho guerra da Coreia» e «Eu estive a convencer pes-
. . 10 t soas a apoiarem a guerra da Coreia». Urna vez
com 0 modelo MODE (Motivation and Opor- mostrado convmcentemente a actlva~ao et OJflIl assinalou de forma mais evidente a
tunity as Determinants, ver Figura 3) propos to matica das atitudes e a sua importancia na ~Ut(). qlle ortancia do comportamento contra-atitudi- que se trata de dois elementos cognitivos incom-
por Fazio (1990), as atitudes influenciam os nicrao da situacrao, desde esta ate ao comp efI. ,Jfli na modifica~ao das atitudes foi pubIicado patfveis, provocariam no sujeito uma sensa~ao
comportamentos. Suponhamos que vemos na mento podem intervir muitas variaveis, e ~~. (Ill Jan is e King em 1956. Tratou-se de urn de desconforto (dissonancia cognitiva) que gera
televisao uma notfcia acerca do infcio da cons- entao af que 0 modelo de Fishbein e Ajzen p el"\a por do c1aramente no dommlO " das atltu ' des, em uma motiva~ao para mudar algum dos dois
tru~ao de uma incineradora na zona onde vive- ria ser uti I. De qualquer modo, a articul~d:. es tll oS sujeltos,
. d . ' , .
estu antes umversltanos, eram argumentos, de modo a diminuir a dissonancia.
mos . Esta notfcia activa a nossa atitude negativa entre estas duas perspectivas sera, certam ~ao qllerotados para urn estu d 0 supostamente so b re Como os comportamentos passados sao im-
no futuro, alvo de trabalho teorico e en-.p:~te
C
relativamente a incineradora, fazendo-nos lem- re ua capacidade de falar em publico. Num possfveis de mudar, tenderia a verificar-se uma
. H, Inco a 'mS I' mudan~a de atitude para repor a consonancia.
brar das consequencias da incineradora para a Importante. eiro momento, todos lam urn texto que
polui~ao do ar e para a saude publica (crencras ~
defendia a ida de soldados .par~ ~ . guerra d. a Esta interpreta~ao do comportamento contra-
congruentes com a atitude). Oeste modo, a cons- o impacto do comportamento nas atitudes coreia, ati~ude claramen.te mmonta~l~ no melO -atitudinal situa-se cIaramente dentro da teoria
trucrao da incineradora e vista como perigosa Mas a rela~ao entre atitudes e comportam iversitano. Em segulda, os sUJeltos eram da dissonancia cognitiva proposta por este autor
en· em 1957 . Para provar a aplicacrao da inter-
para 0 proprio (definicrao do acontecimento), tor- tos nao foi sempre concebida da forma qu uOlocados perante uma audiencia e aleatoria-
~ .
nando provavel a adesao a urn comportamento acabamos de expor. Desde os anos 50 que dife~ eo te designados para uma de duas condl~oes pretacrao da teoria da dissonancia cognitiva
de protesto, por exemplo, a adesao a urn abaixo- m
experimentais: .
ou improvisavam urn d'Iscurso ao caso do comportamento contra-atitudinal,
rentes autores saIientavam a importancia da
-assinado contra a incineradora. A definicrao do realizacrao de comportamentos como forma de com base no texto que tinham acabado de ler, Festinger e Carlsmith (1959) realizaram urn dos
acontecimento pode ainda ser influenciada pelas mudar atitudes. As tecnicas de role-playing ou ou liam 0 texto em voz alta. Finalmente, era estudos mais famosos de Psicologia Social em
normas dos grupos em que 0 indivfduo se insere jogo de papeis (Hovland, 1950) foram muito avaliada a atitude face a participacrao na guerra que constroem uma situacrao que expoe 0 sujeito
(por exemplo, se os amigos partilharem valores utilizadas em psicoterapia para promover da Coreia nos dois grupos. Os resultados voluntariamente a urn comportamento contra-
ambientalistas). Ao saIientar a importancia da mudancras de atitudes. Por exemplo, num con. mostraram que os sujeitos que tinham de impro- -atitudinal. Este estudo, descrito em pormenor
activacrao automatic a das atitudes, Fazio esta flito conjugal, 0 psicoterapeuta pode pedir ao visar apresentavam, no fim, uma atitude mais na Caixa da p. 216, mostra que e apenas quando
bern longe da perspectiva racionalista dos mode- casal para representar a ultima discussao que favonivel face a guerra da Coreia do que os que o indivfduo nao tern outra forma de reduzir a
los da tradicrao dos de Fishbein e Ajzen, e apre- teve, mas invertendo os papeis (isto e, 0 marido apenas tinham tido de ler 0 texto. Janis eKing dissonancia que mud a de atitudes. Oeste modo,
senta-se mesmo como alternativo a estes. No representa 0 papel da mulher e a mulher 0 papeJ (1 956) interpretaram esta mudan~a de atitudes a teoria da dissonancia cognitiva permite preyer
entanto, como notam Eagly e Chaiken (1993), as do marido), obrigando as partes a verem 0 como resultado de urn processo de autoper- que nao sao so as atitudes que orientam os com-
duas perspectivas apresentam-se antes como mundo pelos olhos do outro e a assistirem a suasiio: a improvisa~ao exigiria uma maior portamentos, mas que tambem os comportamen-
reflexiio sobre urn tema, uma elaboracrao de tos voluntarios levam a mudancra de atitudes.
novos argumentos e final mente estes argumen- Por exemplo, Pallak , Cook e Sullivan (1980)
FIGURA 3 tos tornar-se-iam mais salientes para 0 sujeito utilizaram esta perspectiva num estudo quase-
que era levado a reconsiderar a sua posi~ao -experimental no terreno para incentivarem 0
Modelo MODE (Fazio 1990) inicial. Trata-se, assim, de uma explicacrao cogni- comportamento de poupancra de energia elec-
tiva para a mudancra de atitudes derivada do trica. Anunciaram nos jornais locais uma cam-
comportamento contra-atitudinal. panha de poupancra de energia em duas locali-

Activa~iio

da atitude
.. Percep~iio

selectiva

Percep~ao

imediata
do objecto
.. Defini~iio

acontecimento
do
• Comportarnento
Esta interpretacrao dos resultados e, no en-
tanto, contestada por Festinger (1959). Este
autor defende que a mudancra de atitudes nao se
dades dos Estados Unidos, com caracterfsticas
sociodemograficas e de consumo de energia
semelhantes. Anunciava-se que os agregado~
familiares que poupassem mais energia durante

/
verifica pelo efeito persuasivo dos argumentos,
mas pela necessidade basica de consonancia o perfodo de urn mes teriam 0 seu nome publi-
Normas .. Defini~iio
da situa~iio
Cognitiva. Assim, seria inaceitavel para os
S~jeitos na situa~ao de improvisa~ao pensar
cado no jornallocal. Numa das localidades. esta
promessa foi cumprida, mas na outra nao ,
SlmuItaneamente «Eu nao concordo com a colocando assim as pessoas numa situacrao de
216

217

1\'l udan~a de atitudes em 1940 urn documento de sfntese intitulado


COMPORTAMENTO CONTRA·ATITUDINAL E MUDAN(:A DE ATITUDE «Research in Communication» que foi extrema-
(FESTINGER E CARLSMITH, 1959) mente importante para 0 desenvolvimento da

Festinger e Carlsmith (1959) realizaram urn estudo em que procuravam mostrar que 0 comportamento Contra.
propaganda e mudan~a de atitudes pesquisa sobre a persuasiio. Influenciado pelas
ideias positivistas europeias, e tentando junta-
-atitudinal s6 leva ~ mudan9a de atitudes quando 0 indivfduo nao tern outra forma de reduzir a dissonancia. Para tal
criaram urna complexa situa9lio experimental para que 0 sujeito se exponha voluntariamente a urn comportamen~ Nas duas secc;oes anteriores referimo-nos ja a -las com a tradic;iio empirista americana, Lazars-
contra-atitudinal. A situa~lio e a seguinte: 0 sujeito e convocado para urn estudo sobre desempenho de tarefas bordagens da mudanc;a de atitudes . De facto, feld resumia 0 problema da investigac;iio sobre
mecanicas. Durante uma hora executa urn trabalho propositadamente rotineiro e des interessante. No firn do trabalho a 00 modelo da acc;iio reflectida indicava for- os temas da comunicac;iio a quatro grandes cate-
o experimentador agradece-lhe a participa91io e explica-lhe que 0 estudo em que ele participou pretendia medir 0 log de mudanc;a d e atltu
mas . des que tm. ham que ver gorias: (I) quem (2) disse 0 que (3) a quem e (4)
efeito das expectativas acerca das tarefas no desernpenho. Ele tinha sido colocado numa condi~lio de controlo, em m a mudanc;a das crenc;as que a sustentam: com que efeito? E este foi de facto urn para-
que nlio era criada nenhuma expectativa sobre a tarefa, mas a outros colegas eram induzidas expectativas positivas CO A • d
renC;as acerca das consequenclas 0 comporta- digma muito usado na pesquisa posterior sobre a
face a tarefa. Durante esta explica~o, 0 experimentador mostra-se ansioso, olha para 0 rel6gio e para a porta.
E explica por fim ao sujeito que js esta Is fora outra pessoa para participar no estudo mas que 0 assistente que Cos. C ento e crenc;as acerca da importancia das con- comunicac;iio persuasiva.
tuma induzir as expectativas positivas no sujeito ests atrasado. Pede-l he entao que substitua 0 assistente dizendo a :quencias. Assim, de acordo com os resultados Em termos de estudos empfricos desenvolvi-
pessoa que esta 111 fora que 0 estudo em que vai participar e divertido e intrigante (comportamento contra-atitudinal). ~o estudo de Vinagre (1995) que referimos na dos na altura, 0 livro editado por Lazarsfeld e
Apenas 3 dos 51 sujeitos experirnentais recusaram 0 comportamento contra-atitudinal, e deixaram portanto de fazer Caixa da p. 213, para sensibilizar mais as miies Stanton (1944) e urn born exemplo do tipo de
parte da experiencia. Para refof9ar a dissonancia dos sujeitos, era ainda manipulado 0 pagarnento ao «assistente»: 20
para a seguranc;a domestic~ dO.s filhos. ~ever-se­ trabalho exploratorio feito nesta Iinha. Por
d6lares (condi~lio baixa dissonancia) e 1 d6lar (condi~iio dissonancia elevada). 0 sujeito era entao instrufdo sobre 0
que devia dizer ao pr6xirno participante no estudo, que era urn comparsa do experimentador. Assim, depois de 0
-irun salientar as consequencIas posltlvas dos exemplo, Steiner e Ottis analisaram 0 conteudo
sujeito the dizer que a tarefa era «divertida e intrigante» 0 comparsa dizia-lhe que achava isso estanho, porque um comportamentos de prevenc;iio e a sua importan- das emissoes de radio alemas dirigidas a Franc;a.
colega js the tinha dito que era urn trabalho rnuito rnon6tono. 0 sujeito experimental via-se entao na necessidade de cia (par exemplo, 0 facto de a miie poder estar Merton e Lazarsfeld analisaram os filmes,
improvisar comentanos elogiosos ~ tarefa. A variavel dependente do estudo era recolhida em seguida, no limbito de mais descansada quando 0 filho esta a brincar panfletos e program as de radio da propaganda
uma entrevista sobre a cadeira que inclufa trSs perguntas sobre 0 estudo em que acabara de participar: «Ate que ponto longe dela) . Tambem a teoria da dissonancia americana. Estes estudos inclufam tanto a ana-
considera a tarefa que realizou como agradavel e interessante (-5 = nada +5 = muitfssimo)? Ate que ponto considera
cognitiva se referia a mudanc;a de atitudes como lise de conteudo aos programas e aos seus temas,
=
que 0 estudo em que participou tern importancia em termos cientfficos (I nenhum; 7 = muitissimo)? E ate que
ponto estaria disposto a participar nurn estudo sernelhante no futuro (-5 = nunca; +5 = de certeza)>> . Os resultados resposta a situac;6es de dissonancia. como aos efeitos destes program as sobre a
obtidos mostram que na situa~ao de maior dissonancia (isto e, em que houve livre escolha do comportamento No entanto, a pesquisa sistematica sobre as audiencia. Por exemplo, 0 filme feito apos 0 ata-
contra-atitudinal, envolvirnento pessoal no comportamento durante a improvisa9ao de argumentos favoraveis, e nao fonnas atraves das quais as atitudes podem que de Pearl Harbor pelos americanos procurava
havia urna justifica~lio econ6mica para 0 comportamento) se veri fica uma atitude mais positiva face ao estudo. Na mudar como resultado de urn processo de comu- salientar as potencialidades de resposta dos EU
condirrao pagamento de 20$, as aprecia~Oes nao diferem significativamente das do grupo controlo, em que os sujeitos nicac;iio nasceu durante a Segunda Guerra para combater 0 derrotismo e a forc;a dos adver-
nao tinham de realizar 0 comportamento contra-atitudinal. Festinger e CarJsrnith interpretam estes resultados como
Mundial, como resultado da consciencia de que sarios para evitar a sobreconfianc;a. Os resulta-
consequencia do processo de redu~ao da dissonancia.
a maquina de guerra alemii usava os meios de dos mostraram que os filmes reforc;avam as
Condi~ao Tarefa Importancia Voltaria comunicac;iio social como forma de propaganda respostas anteriores dos ouvintes: os que esta-
interessante cientffica a participar das ideias nazis. Esta tomada de consciencia yam derrotistas, ficavam mais por causa das
veio suscitar uma duvida importante na soc ie- referencias ao poder do inimigo; os que estavam
Controlo -0,45 5,60 -0,62 dade enos cientistas sociais americanos: ate que confiantes na vitoria ainda ficavam mais pelo
20$ -0,05 5,20 -0,03
6,45
POnto as atitudes mudam por exposic;iio a estas argumento das potencialidades americanas.
1$ +1,35 +1,20
mensagens persuasivas? Qual 0 efeito da con- Na mesma Iinha, a Secc;iio de Investigac;ao do
lrapropaganda? Como deve ser construfda uma Departamento de lnformac;ao e Educac;ao do
mensagem para que leve de facto a uma Exercito Americano encomendou estudos espe-
dissonancia (<<privei-me de ar condicionado, terminar a campanha os nfveis de consumo de mUdanc;a de atitudes? Como se podem usar os cfficos sobre a mudanc;a de atitudes, tendo
tive cuidado a desligar todas as luzes» e «niio energia na primeira localidade tinham reg re - media para construir atitudes? elaborado filmes cujos efeitos foram analisados .
ganhei nada com isso») que foi resolvida inte- ssado aos iniciais, na segunda localidade eles de Paul ~ass~ell, urn sociologo da Universidade Por exemplo, Frank Capra foi convidado para
riorizando a necessidade de poupar energia. continuavam tiio baixos como durante 0 perfodo 8 ColUmbia, que presidia nessa altura ao fazer uma serie de filmes didacticos e foi defi-
Oeste modo, enquanto que urn mes depois de experimental. ureau of Applied Social Research, produziu nida uma equipa de psicologos sociais para
218

219

avaliarem os impactos destes filmes que Relativamente as caracterlsticas da fOnte argumentos da fonte. Hovland e Mandell votar favoravelmente num dado referendo,
.. . . - qUe
inclufam, entre outros, Anderson, Hovland e permltJam maxlmlzar a persuasao, 0 estud dOS ) mostraram tam bern que a persuasao e primeiro deve tentar conseguir a atenyao da sua
Janis. Sao estes os primeiros estudos sistema- classico de Hovland e Weiss (1951) ilustra be 0 S2
(19. quando a conclusao e deixada implfcita audiencia (por exemplo, utilizando fontes
urn dos atributos mais estudados: a sua credib'l~
Or
ticos, onde se analisaram os efeitos do tipo de ,,, ue quando eI
",al a 'e exp I"ICltada, especla
. I mente atraentes, aumentando 0 volume do som em que
atitude anterior, das capacidades intelectuais da dade. Os sujeitos recebiam para ler urn anigo Idl. do q maS simples. Hovland et al. (1949) demons- e emitida a campanha eleitoral, ou despertando a
audiencia, do tipo de mensagem, etc. Estes estu- jornal em que se defendia a constru9ao de SUb~ e(11 te 0 maior poder persuasivo de uma men- curiosidade da audiencia atraves de imagens
dos mostraram que os meios de comunica9ao marinos nucleares atribufdo ora a urn presti. 1f8(11m que apresente apenas urn dos lados da inesperadas), depois desenvolver argumentos
social tinham efeitos Iimitados e nao universais giado ffsico americana (Robert Openheitner) ageta~o comparativamente com mensagens em adequados as capacidades de compreensao da
na forma9ao e mudan9a de atitudes. ora a uma fonte pouco credfvel (0 jomal So vie. ques se apresentam argumentos para as duas audiencia, e finalmente leva-Ia a aceitar a sua
Na mesma altura, Lazarsfeld (1940) condu- tico Pravda). Os resultados obtidos nUtna queiqoes em confronto, embora isso apenas se conclusao. Oepois da exposi9ao a mensagem, ela
ziu urn estudo sobre a forma9ao de atitudes face medi9ao da atitude acerca da energia nuclear pos e paFa os individuos ja com atitudes deve ser suficientemente forte para que a audien-
aos candidatos presidenciais da elei9ao de 1940, mostraram que os textos atribufdos a uma fonte pass ., . d d - F' I
t voraveis e balxos mvels e e uca9ao. ma- cia se lembre dela e que vote depois a seu favor
mostrando que, mais do que a campanha elei- pouco credivel tendiam a ser vistos como tnais aente, OS atributos da audiencia foram tam bern quando forem as elei90es. Normalmente, nos
toral dos media, as pessoas utilizavam as con- enviesados do que os que eram atribufdos a :nsiderados, desde a analise de variaveis socio- estudos tipicos de persuasao so sao analisadas as
versas que tinham com amigos como forma de fontes crediveis, cujo texto leva a uma tnaior demognifIcas como 0 genero (Hovland e Janis, tres primeiras etapas descritas por McGuire.
criar atitudes. Produziram entao 0 modelo das mudanya de opiniao, mas que, no entanto, nlio 1959), ate variaveis psicologicas como a auto- Mais tarde, este autor (1972) combinou as duas
duas etapas (Two step flow) sobre os efeitos da durava mais do que algumas semanas. Mas estima (Janis, 1954). primeiras etapas numa unica que designou
comunica9aO, em que defendem que os media neste caso a manipulay30 da credibilidade da o modelo teorico de que partiram para a sis- recepriio da mensagem, e que seria uma impor-
influenciam primariamente os Ifderes de opi- fonte confundia dois dos seus atributos, que tematiza~ao destes resultados (Hovland, Janis e tante variavel mediadora no processo de per-
niao, que depois divulgam a mensagem junto mais tarde foram estudados separadamente: 0 Kelley, 1953) pressupoe que 0 impacto da comu- suasao, facto que tern sido confirmado, especial-
dos outros membros do grupo. Este modelo foi facto de se ser ou nao especialista no tema por nicaqiio se de em tres fases sucessivas: aten9ao a mente em contextos laboratoriais (Eagly e
mais tarde elaborado no multi-step flow model, urn lado (Aronson, Turner e Carlsmith, 1963) e mensagem, com preen sao do seu conteudo e Chaiken, 1993).
no qual se postula que as pessoas expostas aos o facto de se ter ou nao confian9a na fonte aceita~ao das suas conclusoes. A mudanya de Uma outra preocupa9ao da escola de Yale foi
media VaG depois confirmar e validar as suas (Walster, Aronson, Abrahams e Rottman, 1966). atitude estaria assim dependente de processos estudar factores de resistencia a mudan9a de ati-
ideias junto dos Ifderes de opiniao. Para alem da credibilidade da fonte, outros dois anteriores (aten9ao, memoria, com- tudes. Lumesdain e Janis (1953) verificaram que
factores tern sido estudados como importantes preensao). Alguns anos mais tarde, McGuire conseguiam mudar as atitudes de estudantes uni-
no processo de persuasao: 0 grau de atrac9ao da (1968) desenvolve estes processos identificados versitarios expostos a mensagens persuasivas,
o modelo da comunica~ao persuasiva fonte e 0 seu estatuto social. Assim, tal como pela escola de Yale numa sequencia do processa- mas que esta mudan9a so se mantinha face a
vimos no caso da atrac9ao interpessoal, comuni- mento da informa9ao em 5 etapas, em que a falha posi9ao contraria quando a mensagem inicial
No seu conjunto, os resultados vindos de uma cadores bonitos (ate porque sao considerados em qualquer delas faria terminar 0 processo: (I) inclufa argumentos bilaterais. Nas palavras de
serie de grupos de investigadores independentes mais inteligentes, como mostraram Clifford e aten~lio, isto e, para haver persuasao a audiencia Hovland et al. (1953), «Parece que quando e
permitiam concluir que 0 efeito da comunica9ao Walster, 1973) sao mais influentes do que cornu- tern de estar atenta a mensagem; (2) compreen- feita uma apresentarrao bilateral, 0 ouvinte e
persuasiva nao e imediato nem tao simples como nicadores menos atraentes (Chaiken, 1979); os sao, isto e, para haver persuasao, a audiencia tern levado a aderir a uma posi9ao que toma em con-
parecia no infcio. E neste contexto de menoriza- comunicadores semelhantes a nos (Brock, 1965) ~e compreender os argumentos que ouviu e iden- siderayao os argumentos contrarios. Oeste modo,
9ao da influencia da comunica9ao persuasiva na ou pertencentes ao mesmo grupo que nos hficar 0 significado da mensagem; (3) ace ita9ao, esta-se-Ihe a dar uma base para ele ignorar ou dar
forma9ao e mudan9a de atitudes que, apos a (Kelley, 1955) tambem nos influenciam mais do Isto e, a audiencia tern de concordar com as urn desconto aos argumentos contrarios, ficando
guerra, urn grupo de investigadores de Univer- que fontes muito distantes. As caracterfsticas conc\usoes apresentadas; (4) reten9ao, isto e, a assim inoculado contra comunica90es que advo-
sidade de Yale, coordenados por Carl Hovland, da propria mensagem persuasiva tambem foraJ1l ;udan9a de atitude deve manter-se na memoria guem uma posiyao contraria» (p. 143). McGuire
desenvolveu, de uma forma estruturada, urn muito estudadas, e apresentamos apenas algU- d:ante alg~m tempo; (5) aC9ao, isto e, a mu- (1964) vern mais uma vez desenvolver estas
conjunto de estudos experimentais em que se mas das variaveis estudadas pelo grupo de Yale. ~a de atltudes deve ter consequencias com- ideias, identificando duas formas atraves das
Janis e Feshbach (1953) mostram que 0 apelo aO partatn .
tenta mostrar os efeitos da fonte, do canal, da
medo, quando moderado, aumentava a aceitaqa
~o
se Urn entals.
I"
Isto quer dizer, por exemplo, que quais a nossa experiencia passada pode forta-
mensagem e do tipo de audiencia. po ItlCO quiser convencer os eleitores a lecer a resistencia a mudan9a de atitude. Utili-
..
220 221

zando como metafora 0 que se passa com 0 discriminar os processos cognitivos que ew . eira, que aprendemos durante a nossa vida (maior no video de que na mensagem escrita)
nosso organismo, podemos fortalecer-nos contra base da persuasao. Chaiken (1980, 1987) e ~o na ,Iglb OS evitam ter de dar muita aten<rao ao que determina a radicaliza~ao da mudan<ra de
uma doen<ra fazendo exercfcio e tomando vitami- e Cacioppo (1981, 1986) vern exactamente etty e qlle nta a ser dito. Por exemplo: «podemos atitudes. Outra heurfstica bern conhecida dos
nas ou entao introduzindo no nosso organismo por uma nova forma de abordar 0 process:ro. oS eS . 1· tecnicos de publicidade e a do tamanho da men-
II (jar nas afirma<roes dos especIa Istas» ou
uma pequena dose do ViruS para que 0 corpo crie persuasao, obrigando a uma re-Ieitura da in de con ditaIIl0S nas pessoas de que go stamos» ou sagem: interven~oes mais longas, grandes lista-
cce
anticorpos (que e 0 que acontece quando nos tiga<rao anteriormente produzida. A ideia b _v~s. lIa to rnais argumentos mais forte e a posi- gens de argumentos para usar urn determinado
aSlca "quaIl ,._
vacinamos). Igualmente para tomar as nossas e comum a estes dois grupos de autores e qu oU ainda «as estatIstIcas nao mentem». produto impressionam a audiencia, ate porque
atitudes mais fortes e resistentes a mudan<ra, persuasao nem sempre e 0 resultado de e a diO»
'J
h ,. 1
tiva~ao destas regras ou eunstIcas eva a aprendemos na nossa vida que temos mais argu-
C
seria posslvel usar uma destas duas estrategias: longo caminho cognitivo, esfor<rado e racio UIll A a se possa dispensar urn processamento do mentos para defender posi<roes mais consis-
dar mais argumentos favoniveis a opiniao do como as etapas I·dentt·fiIcadas por M cGuire sunal ' queteudo da mensagem, para que ela seja rapi- tentes. Vma outra heurfstica relativa a men-
' ge.
indivlduo (criar defesas atraves do apoio) ou - e rem. I sto e, nem sempre mudamos de opiniao con ente aceite. A publicidade faz muitas vezes sagem prende-se com a utiliza<rao de graficos e
esta estrategia seria mais eficiente - expondo as por termos ouvido com aten<rao os argument dan;o a heurfstica do especialista, vestindo as estatisticas como forma de validar 0 discurso e
pessoas a opinioes contnirias, de modo que ela que nos sao- d ados, yen·f·Icarmos a sua validadOs apetes de batas brancas, ou salientando a sua activar uma heurfstica de que «os numeros nao
fortale<ra a contra-argumenta<rao e crie inocula- aceitarmos a posi<rao, e retendo a mudan~e, fon . - ·al D d
~ rma~ao ou posl~ao SOCI . este mo 0, mUltos
. mentem» (Chaiken, 1987). Todas estas heurfsti-
<rao contra a mudan<ra (defesa atraves de refuta- Muitas vezes somos persuadidos porque a pe~ dO s faetores que se relacionavam com a credi- cas tern uma base de constru<rao racional. De
<rao). Numa serie de experiencias em que man i- soa que nos esta a tentar influenciar e bonita b~lidade da fonte nos estudos c1assicos (e.g., facto, os especialistas podem mais facilmente
pulam 0 tipo de defesas criadas (nenhumas, de parece-nos honesta, e persistente, 0 tema na~ Hovland e Weiss, 1951) induziriam uma salien- dizer-nos a verdade do que urn cidadao comum,
apoio ou de refuta<rao), McGuire e Papageorgis nos interessa assim muito, etc. Nestas situa~oes. do caracter de especialista da fonte credivel, assim como quando se tern muitos argumentos
(1961) mostram que embora 0 apoio estabilize a nao nos damos ao trabalho de elaborar cogni- esDIeraI1QU por isso que lhes dissessem a verdade normalmente se tern urn born caso, ou 0 recurso
atitude, a inocula<rao e muito mais eficiente na tivamente as mensagens e, em vez de percorrer- et aI., 1978) levando os individuos a a graficos e numeros indica urn maior aprofun-
cria<rao de defesas face a mudan<ra de atitude. mos todo 0 percurso cognitivo desde a aten~ao o seu conteudo sem grande esfor~o. Mas damento do problema. 0 que se passa e que
Os estudos sobre persuasao tiveram, a partir ate a aceita<rao, optamos por urn atalho que nos sao apenas estes indicios de estatuto ou de generalizamos a partir destas regras e activamo-
dos trabalhos pioneiros da escola de Yale, muitos evita a fase da compreensao e elabora<riio da que activam a heurfstica do especia- -las noutras situa~oes quando somos confronta-
continuadores. As variaveis identificadas, quer mensagem e nos leva directamente para a A velocidade com que a fonte fala, urn dos com estes casos na publicidade. 0 processa-
no modele de amilise da persuasao (fonte, men- aceita<rao. Estes autores caracterizam assim dois IDdilcadc)r de seguran~a no discurso, leva tam- mento sistematico da informa~ao pressupoe
sagem, audiencia, contexto), quer no processo tipos de processamento cognitivo das men- aactiva~ao desta heurfstica (Erickson et ai., uma forma controlada de pensamento e a pas-
cognitivo que permite a persuasao, foram depois sagens cognitivas: urn processamento heurfstico A simpatia da fonte e tambem uma sagem pelas diversas fases de processamento da
estudadas e explicitadas por muitos autores. No (na linguagem de Chaiken, 1980) ou superfi- que salienta a heurfstica de que informa<rao. Neste caso, 0 seu resultado esta
entanto, nos anos 80, esse enorme corpo empi- cial ou periferico (na linguagem de Petty e pessoas de quem eu gosto nao me enga- fundamentalmente dependente da qualidade dos
rico apresenta resultados contradit6rios. Petty e Cacioppo, 1981), que exige menor envolvi- . Chaiken & Eagly (1983) expuseram estu- argumentos e nao do seu numero, do numero de
Cacioppo (1986) afirmam mesmo que «a lite- mento cognitivo; urn processamento sistematico universitanos a uma mesma mensagem fontes independentes e nao da sua simpatia, etc.
ratura existente apoiava a ideia de que pratica- (na Iinguagem de Chaiken, 1980) ou central (na . (menos indices heurfsticos) ou video o modele da probabilidade de elabora<rao
mente qualquer variavel independente estudada linguagem de Petty e Cacioppo, 1981), que indices heurfsticos) em que a fonte era (Petty e Cacioppo, 1986) define tambem dois
aumentava a persuasao em algumas situa<r0es, envolve a elabora<rao cognitiva da mensagem e como. simpatica (a pessoa que fazia 0 tipos de processamento da informa~ao: 0
nao tinha efeito noutras e ainda baixava a per- que seguiria mais de perto as etapas previstas era supostamente uma pessoa da admi- processamento central e 0 processamento peri-
suasao noutros contextos» (p. 125). nos modelos mais racionalistas da tomada de da universidade que manifestava ferico, que em grande parte se sobrepoem aos
decisao. a sua preferencia pel a Vniversidade dois tipos propostos pelo modele heurfstico.
o Modelo Heuristico-Sistematico do proces- que os sujeitos estudavam) ou antipatica A grande diferen<ra entre os dois modelos
Duas vias para a mudan~a de atitudes samento da informa<rao persuasiva (Chaiken. va preferencia pel a universidade em prende-se com 0 caracter automatico do pensa-
1980, 1987; Chaiken et at., 1989) salienta que. trabalhara antes). Os resultados suportam a mento menos elaborado cognitivamente: en-
Esta constata<rao vern estimular a procura de em muitas situa<roes de persuasao fazemos a fonte simpatica e sempre mais influente quanta 0 Modelo Heurfstico-Sistematico pres-
variaveis de nivel mais geral que permitissem avalia<roes base ad as em regras simples, de qUe a antipatica, mas a saliencia da fonte supoe a activa~ao automatica das heurfsticas, a
222

223

teoria da probabilidade da elabora~ao apenas materia, e mais provavel 0 recurso a uma III .
- .. alor FiGURA 4
salienta que a via periferica para a persuasao e Iabora~ao cogmhva.
recorre a uma menor elabora~ao cognitiva das De acordo com a (muita) investiga~ao efl
mensagens, sem recorrer (mas tambem sem tuada neste dominio, a motiva~ao mostr ec, Representa~ao esquematica do modelo de probabilidade de elabora~o
a's
excluir) ao processamento automatico. 0 con- importante em pelo menos tres aspectos E e (Petty e Cacioppo, 1986)
ceito fundamental neste modelo e entao 0 de primeiro lugar, quando e importante ser pr'e . ill
CISO
elabora~ao, isto e, 0 grau em que a pessoa pensa no julgamento que se faz (quando se e resp
, I pe Ia deClsao,
. Comunic~ao persuasiva
nos argumentos relevantes existentes na men- save se tern de prestar contasOn, MUDAN~A
sagem. Oeste modo, a via central de processa- alguem pela escolha ou quando ha divergenci a PERIFERIA
mento que implica uma elevada elabora~ao da grandes sobre a decisao a tomar), 0 proc as de atilUdes
mensagem pressupoe que a pessoa avalie a samento da informa~ao e mais elaborado. ;~.
informa~ao relevante sobre 0 objecto, de acordo exemplo, Petty, Harkins & Wiliams (1982; Sim
com 0 conhecimento que ja possui dele, e mostraram que quando os sujeitos eram 1evado
s
chegue, de forma ponderada mas nao necessa- a acreditar que tinham responsabilidade pessoaJ
riamente objectiva, a uma atitude que integre a na avalia~ao de urn texto eram mais sensiveis a
informa~ao obtida. A via periferica, implicando qualidade dos argumentos do que quando
uma menor elabora~ao cognitiva, vai mini mizar achavam que a sua avalia~ao ia ser dilufda nUIll
a informa~ao escrutinada, e a mudan~a de ati- conjunto de mais nove juizes. Uma outra forma
tudes da-se com base em processos cognitivos de concretizar elevados niveis de motiva~ao e0
que exijam fraca elabora~ao. tema em analise ter relevancia pessoal OU
De acordo com qualquer destes dois model os, incidencias grandes para os individuos. Petty e Nao
uma mudan~a de atitude semelhante em dois Cacioppo (1984) apresentam a estudantes uni-
individuos pode ter sido efectuada por vias versitarios urn texto escrito por urn admi-
completamente diferentes. Vejamos entao em nistrador da Universidade. Os sujeitos eram Sim
MANTEMa
que condi~oes cada uma destas modalidades de informados de que este administrador pertencia atilUde inicial
processamento e utilizada, e depois quais as a urn grupo que estava a trabalhar em modifi- Mudanya
da estrutura
suas consequencias. ca~oes na Universidade, que teriam efeito no cognitiva
o modelo apresentado por Petty e Cacioppo ana seguinte (condi~ao de alto envolvimento) ou
(1986; ver Figura 4) identifica duas condi~oes daqui a dez anos (condi~ao de baixo envolvi-
basicas que influenciam a probabilidade de mento). Urn dos temas que discutem actual-
MUDAN~A
elabora~ao das mensagens persuasivas: capaci- mente nesse grupo seria a cria~ao de urn exame
CENTRAL
dade e motiva~ao. Assim, em temas que tenham final antes da obten~ao do grau de licenciado. de atilUdes
pouco interesse para os sujeitos, em que eles Os sujeitos eram depois confrontados com urn
estejam pouco envolvidos, ou para as quais eles texto em que 0 autor defendia estas provas uti-
tenham poucos conhecimentos e possivel que lizando tres ou nove argumentos, pre-testados pode estar dependente de algumas caracteristi- nivel de automonitoriza~ao. As pessoas com
muita da comunica~ao persuasiva seja proces- como fortes ou fracos. Os resultados mostram Cas da personalidade do individuo. Pessoas com urn elevado nivel de automonitoriza~ao, ou seja,
sada de forma pouco elaborada (processamento que quando 0 envolvimento e baixo ha urn efeito elevadas necessidades de cogni~ao, isto e, pes- dando muita importancia ao que os outros
periferico ou heuristico), desde que estejam pre- simples do numero de argumentos apresentados, sOas que gostam de pensar sobre os problemas, possam pensar, sao mais sensiveis a indices
sentes indices perifericos (se a fonte e atraente, mas quando 0 envolvimento e alto, os sujeitoS realizar quebra-caberas, etc., estao mais dispo- heuristicos, a publicidade baseada em imagens e
ni . T
urn especialista, se da muitos argumentos, etc.). diferenciam claramente os bons dos maus argu- VelS para gas tar tempo e esfor~o a processar emo~oes, do que os individuos com urn nivel
No entanto, quando 0 envolvimento e maior, ou mentos e nao se deixam influenciar pelo numero Illensagens de uma forma sistematica (Cacioppo baixo de automonitoriza~ao (Snyder e DeBono,
. '0
quando os individuos tern conhecimentos na de argumentos. Por fim, esta maior mouvaya et al., 1983). Outra dimensao importante e 0 1985).
224
• 225

colTlPortamento. De facto, atitudes formadas pesquisa realizada noutros dominios tao dife-
a niveis de elabora~ao elevados tenderao a ter
O
rentes, como 0 das rela~oes intergrupais, das
DAR 0 GOLPE NAS FOTOC6PIAS
co(1l tido e incorporado contra-argumentos, e rela~oes interpessoais, do comportamento orga-

Muitos estudos se centraram na mudan~a de atitudes e de comportamentos como resposta a mensagens pe reb: lTlodo teriam inoculado 0 individuo (na lin- nizacional, do self ou da influencia social,
suasivas e nas caracterfsticas que deveriam ter estas mensagens para aumentar 0 seu poder de influSncia sobre Os
c- deseelTl de MG')c urre e sen.am Slmu. 1taneamente devera ser compatibilizado com a literatura das
alvos. gu~gS acessfveis (na linguagem de Fazio). Pelo atitudes. Esta tarefa nao e simples porque temos
Num trabalho muito simples, Langer e colaboradores (1978) estudaram um dos aspectos que poderiam in- [JIaI
trMio atitudes formadas com base numa ela- vindo a assistir a uma especializa~ao grande por
fluenciar a persuasao: a existencia de uma boa justifica~ao para 0 pedido. Assim, criaram condi~i5es experimentais con dio cogmtIva
' ., f raca, atraves
' da uti'1'lza~ao
- de areas de investiga~ao e nao e evidente que quem
que aplicaram na fila de espera para as fotoc6pias numa universidade Americana. Na condi~ao controlo pediam ape- bOraT d ' b 'fi' . ,
nas ao sujeito que estava afrente na fila: «Deixa-me passar it frente s6 para tirar estas c6pias?». Na primeira condilriio uris ou e atn utos pen encos a argumen- domine uma destas areas especificas domine
be ticas ., , . . d
experimental acrescentavam uma justific~ao irrelevante: «Deixa-me passar it frente s6 para tirar estas capias -O seriam mrus mstavelS e menos assocla os tambem as atitudes. No entanto, no caso das
laya ,
porque tenho de tirar estas c6pias?», enquanto que na segunda condi~ao experimental a justific~ao era relevantc; s comportamentos, porque 0 seu processo de rela~oes intergrupais, esta ponte esta a ser ini-
"Deixa-me passar A frente s6 para tirar estas c6pias, porque estou com pressa? Havia ainda uma outra varibeI aO .' 1 ciada e podera revelar-se frutuosa para ambos os
elaborayao fOl mUlto menos comp exo.
manipulada - 0 envolvimento do sujeito: 0 estudante que fazia 0 pedido ora tinha 5 c6pias para fazer (condilriio de dominios. Outro aspecto que desafia a investi-
baixo envolvimento) ora tinha 20 c6pias (condi~ao de alto envolvimento). Tal como 0 modelo da probabilidade de
ga~ao neste. tema e a questao do caracter auto-
elabora~iio preve, no caso de baixo envolvimento encontraram um ntlmero maior de respostas favoniveis quando
o pedido era acompanhado de umajustific~ao (qualquer que eia fosse) do que quando nao haviajustifica~ao . Mas Conclus30 matico ou controlado do pensamento atitudinal.
no caso de haver um alto envolvimento, isto e, quando 0 pedido implicava custos maiores para 0 sujeito, os sujeito~ Se nos ultimos dez anos esta area de pesquisa
discriminavam entre os dois argumentos e acediam mais frequentemente ao pedido acompanhado de uma justifi- o dorninio das atitudes, apesar de ser dos muito apoiada na psicologia cognitiva tern per-
c~ao relevante. roais antigos e estudados em Psicologia Social, mitido grandes avan~os na compreensao quer da
encerra ainda muitos desafios para a investi- rela~ao entre atitudes e comportamentos quer na
gayao nos pr6ximos anos. 0 acentuar do seu mudan~a de atitudes, ha ainda muito trabalho
Tambem a capacidade dos sUJeltos inc1ui dos mostram que os individuos com mais conhe- carlz avaliativo na fonna como e actualmente para reaIizar. Espero que este capitulo interesse
diversos aspectos, desde a possibilidade de con- cimentos, apesar de estarem sempre mais contra defmido 0 conceito veio saIientar que muita da alguns dos leitores a dedicar-se a ele.
centra~ao, os conhecimentos ou a capacidade de a mensagem do que os que tinham menos conhe-
processamento da infonna~ao. Assim, Petty, cimentos sobre 0 tema, discriminavam melbor
Wells e Brock (1976) mostraram que a existen- entre as mensagens com argumentos fracos e
cia de distractores fazia com que os sujeitos nao fortes do que entre os que tinham baixos nlveis
discriminassem entre a quaIidade dos argumen- de conhecimentos. Por fim, a capacidade cogni-
tos, enquanto que quando 0 Divel de distrac~ao tiva dos individuos (nomeadamente 0 desen-
era mais baixo a persuasao s6 se dava quando os volvimento cognitivo) e 0 seu treino a ler e
sujeitos eram confrontados com argumentos interpretar infonna~ao tecnica (quadros, grati-
fortes. Os estudos sobre os conhecimentos ante- cos, f6nnulas) influenciam muito 0 tipo de pro-
riores dos sujeitos mostram que quanta maior e cessamento da mensagem: crian~as, e pessoSS
o nivel de conhecimentos sobre urn tema, maior com menor treino tecnico, tendem a uma baixa
e a discrimina~ao da qualidade dos argumentos, elabora~ao da mensagem.
e, deste modo, mais a persuasao esta dependente
de urn processamento por via central. Wood, Relativamente as consequencias destas duss
Kallgren e Priesler (1985) identificaram 0 nivel ionnas de processamento para a mudan~a de ati-
de conhecimento sobre questoes ambientais tudes, a pesquisa tern mostrado sistematica-
de estudantes universitanos e posterionnente mente que as atitudes fonnadas ou mudadaS
expuseram-nos a mensagens contra a conser- utilizando urn processamento sistematico sao
va~ao de espa~os verdes, utilizando argumentos mais estaveis, resistentes a mudan~a e a contra-
pre-testados como fortes ou fracos. Os resulta- -argumenta~ao e mais consistentemente ligadas
CAPITULO IX

o inferno sao os outros:


o estudo da influencia social
Leonel Garcia-Marques

1. Introdu~ao partlclparam em experiencias de influencia


social fizerem e disseram coisas assim (Campos,
Caro lei tor: tenho urna serie de perguntas a Folgado, Neves e Roda, 1986; Allen e Wilder,
que gostaria que respondesse. Nao se importa? 1980; Milgram, 1963; Tuddenham e.McBride,
Entio vamos c0ll!e~ar: 1959). E sobre a explica~ao destas e doutras
Se the dessern a escolher entre urn vinho bizarrias que versa este capitulo.
razoavel e urn vinho no qual houvesse vinagre
misturado, qual escolheria? Tern a certeza?
Se the perguntassem se frequentar a escola 1.1. 0 que i a influencia social
e ou nao algo de benefico, que responderia?
De certeza? A influencia social foi definida por Secord e
Se lhe dissessem que a esperan~a de vida de Backman (1964) como ocorrendo quando «as
urn adulto do sexo masculino em ~ortugal e de ac~oes de uma pessoa sao condi~ao para as
25 anos e que 65 por cento da popula~ao tern ac~oes de outra» (p. 59). Ou seja, podemos dizer
mais de 65 anos de idade, concordaria? que 0 comportamento de alguem foi influen-
E se lhe dissessem que 0 ditado popular «de ciado socialmente quando ele se modifica em
pequenino e que se torce 0 pepino» quer dizer presen~a de outrem. E preciso notar que para
que oao se aprende nada a seguir a infancia, que esta defini~ao se adeque ao campo .da psi-
apoiaria tal interpreta~ao? Nao? cologia social onde se originou e necessario
E se estivesse a participar numa experiencia acrescentar que esta «presen~a de outrem» nao e
de aprendizagem, chegaria ao ponto de punir os necessariamente real. Esse outrem pode ser ape-
erros de alguem com choques electricos que nas imaginado, pressuposto (Crutchfield, 1955)
PU~ssem em risco a vida dessa pessoa? Nunca, ou antecipado (Allport, 1954) sem que os fen6-
POlS nao? menos sobre os quais nos debru~aremos cessem
Se eu fosse a si nao estaria tao seguro, e sabe de ocorrer. De resto, esta defmi~ao, se bern que
POrque? Porque grande parte dos sujeitos que consiga abarcar perfeitamente as areas de estudo
228
• 229

da influencia social como· 0 confonnismo, a tennos cada vez menos vagos (Kuhn, 1970) 'acentes aos paradigmas experimentais mais refere-se a tendencia generalizada que os indi-
inovaffao, a polarizaffao de grupo, a obediencia, E se essa redefiniffao e, algumas vezes, gUiad' SU~ecidOS. So para i1ustrar este ponto, bastara vfduos apresentam para organizar as suas
etc., tambem conseguini facilmente abranger os conceptual ou estrategicamente, muitas OUtt a ~o rrogarmO-nOS sobre a razao pela qual a experiencias, estabelecendo relaffoes, em cada
temas tratados nos outros capftulos deste livro, sucede a partir de uma analise minuciosa de pat~ ~nflte encia social tern sido quase sempre estudada momento, entre estfmulos internos ou externos,
ou seja, uma boa parte da Psicologia Social. Se digmas experimentais bern aceites e estabeleci.
,n U criando unidades funcionais que fomecem limi-
contextos de mudanffa de comportamentos,
tal facto e, por urn lado, indicaffao de que esta dos na investigaffao de urn dado problema. Da' em. des ou crenffas. N ao -tera
" 0 concelto de tes e significado aquilo que e experimentado.
definiffao e, talvez, demasiado lata, e, por outro, que, se, na infancia de muitas areas de estudo 1 aUtu . 1 1 ~ . - Urn simples e conhecido exemplo sera sufi-
'nfluencia sOCia re evancla para a compreensao
sinal da prioridade do conceito de influencia delimitaffao de uma tematica segue de pe~~ ~os fenomenos de estabilidade dos comporta- ciente para compreender 0 que estamos a aludir.
social na constituiffao da propria Psicologia aquela que poderia ser feita por urn leigo inte. menWs, das atitudes e das crenffas? Provavel- Se colocannos uma mao em agua fria e depois a
Social (Sherif, 1936). ligente, na sua maturidade essa delimita9iio ente tera, mas, como veremos, so a mudanffa e mergulhannos em agua morna, a agua morna
Conservando esta definiffao por aquilo que prende-se, quase sempre, ao conjunto de meto. ~gnificativa nas situaffoes criadas por Asch, parecer-nos-a quente. Se colocannos uma mao
indicia, e, no entanto, util dispor de uma dologias que vieram a ser usadas para a estudar. ~ilgram e Moscovici. Por isso, implicitamente, em agua quente e depois a mudannos para agua
definiffao suplementar, uma «definiffao de traba- Por isso, muitas vezes, a experimentaffao tern a infiuencia social e considerada, muitas vezes, morna, a agua mom a parecer-nos-a fria. Por-
Iho», que nos pennita delimitar mais pragmati- urn papel mais central do que a teoria (Hacking, comO algo que necessariamente opoe indivfduo e que? Basicamente, porque as sensaffoes nao
camente esta area de pesquisa. Essa definiffao, ja 1984; Kuhn, 1978), desenvolvendo-se uma dis- grupo. E, contudo, e quase certo que 0 grupo dependem apenas das qualidades da estimulaff ao
apresentada noutro lugar (Garcia-Marques, ciplina nao apenas pela investigaffao de urn pode contribuir em muito para a estabilidade das mas tambem, em muito, da situaffao de cada sen-
1987 a), e a seguinte: «Na pratica [... ], 0 problema mas tambem pel a investigaffao dos orenyas individuais ... saffao num dado quadro de referencia subjec-
cabeffalho "Influencia Social" em trabalhos de problemas criados pelos metodos utilizados para tivo, onde se relaciona com outras experiencias
psicologia social indica a sua inclusao nas linhas o estudar. relevantes e acessfveis do indivfduo. Neste caso,
de investigaffao experimental iniciadas por Em influencia social foi muitas vezes isso que a sensaffao da temperatura da agua depende
Sherif e Asch» (p. 1). E por isso daremos prio- aconteceu. As questoes a estudar nao tern sido 2. A intluencia social as escuras: sempre de uma comparaffao implicita com a
ridade a apresentaffao destas duas grandes linhas tanto «0 que e a influencia social», que processos as cxperiencias de M usafer Sherif experiencia imediatamente anterior.
de investigaffao, acrescentando-lhes a discussao psicologicos Ihe sao inerentes, que fenomenos se Este fenomeno da organizaffao da experiencia
dos paradigmas experimentais em que surgiram, podem explicar recorrendo a este conceito, etc., a volta de urn quadro de referencia e tao geral
em Psicologia Social, 0 estudo da inovaffao e da mas antes, por exemplo, «como se pode expli- 2.1. Introdu fiio que Sherif nao teve dificuldade em inventariar
obediencia 1. car 0 que ocorreu nas experiencias de Asch». dados empfricos relevantes em areas de estudo
Enecessario acrescentar que, apesar disto, alguns Apesar de 0 conjunto de experiencias que ire- tao divers as como a percepffao, a estimativa de
investigadores tern tornado estes paradigroas mos discutir seguidamente ser uma contribuiffao grandezas ffsicas, a memoria, 0 afecto ou a per-
1.2. A influencia socia.l: como tem sido experimentais como analogi as ou modelos siro- decisiva para 0 estudo da influencia social, nao sonalidade.
estudada plificados da realidade social (e.g., Moscovici, deixa de ser curioso verificar que as razoes que o autor, tornado este ponto de partida, estava
1976; Mugny, 1981; Sherif, 1936). Tais analogias as motivaram sao muito mais gerais do que uma interessado em tornar mais claro este processo,
A definiffao pragmatic a acima apresentada tern, contudo, sido alvo de intensa crftica meta- simples tentativa de abordagem desta tematica. i1ustrando 0 mais precisamente possfvel 0 papel
pode parecer demasiado restritiva. E, sem du- dologica (McGuire, 1983; Turner, 1981). De facto, Sherif procurava lanffar as bases para da actividade subjectiva de cada indivfduo na
vida, restrita, mas essa sua caracterfstica nao faz De qualquer modo, as consequencias deste uma verdadeira psicologia social, procurando criaffao destes quadros de referencia. Este era 0
mais do que reflectir 0 modo como a influencia processo sao evidentes na evoluffao desta area Partir de process os psicol6gicos basicos e bern seu problema psico16gico basico, mas Sherif
social tern sido estudada em Psicologia Social. de estudo, a quantidade de investigaffao sobre documentados na investigaffao do comporta- nao se quedava por aqui, considerava este
De facto, nada de mais comum existe na determinados temas nao reflecte apenas 0 seU rnento dos indivfduos para a compreensao das processo como 0 fundamento psicologico que se
evoluffao de uma disciplina cientffica do que a interesse substantivo, reflecte tambem a relevan- suas consequencias ou transfonnaffoes em con- encontrava na base da fonnaffao de nonnas
redefiniffao ciclica do seu objecto de estudo em cia destes para a compreensao dos processos textos sociais (Sherif, 1936, 1937). culturais como fen6meno generalizado (Sherif,
Nestas experiencias, Sherif tomou como 1935, 1936). Quer dizer, e evidente que as
I Topicos afins aos apresentados neste capitulo. como. por exemplo. a polariza~ao grupal e 0 pensamento grupal p?nto de partida urn conceito central da psi colo- regras de conduta e os costumes variam imenso
(groupthink) sao discutidos em lesufno (neste volume). gIa, 0 de «quadro de referencia». Este conceito de povo para povo, de regiao para regiao, mas
,
230 231

nao e menos evidente que existe algo de cons- mentos nao podiam possuir realidade fisica. E j) quando 0 experimentador fomece indi- mento dos outros como padrao organi-
tante nesta varia~ao, e esse algo e a existencia de verifica~ao nao foi dificil, bastou demonstrar Sta DeS sobre a correc~ao das estimativas. zador do seu pr6prio comportamento.
regras de conduta e de costumes em todos os ·s:
dllerentes '
astronomos b
0 servavam ao Ines
qUe Cay
.s: . rna 2. Que efeito ~ode, t~r a sugesUio na direc~ao Para alem destas hip6teses mais ou menos
povos e em todas as regioes. A uniformidade de tempo dllerentes movlmentos na mesma estrel
Illovirnentos dusonos percebidos? explicitas, Sherif (1935, 1936, 1937) enunciou
padroes dentro de uma mesma cultura, que vai Se este fen6meno nao reflectia nenhuma reaJ.~· dosAs bipoteses d on d ' eram as seguintes:
e partla urn conjunto de questoes que iremos apresen-
desde a maneira de usar os talheres a mesa ate as dade fisica, 0 que era? Era evidentemente U 1-
a) Urn indivfduo colocado s6 numa situa~ao tando ao falar de cada modalidade de experien-
formas que 0 enamoramento assume, e algo que fen6meno perceptivo, alias bastante faci} :
(e. g., exposi~aoao efeito autocinetico) cias realizadas pelo autor.
desde ha muito chamou a aten~ao dos cientistas reproduzir. Basta colocar urn individuo nUrne
sociais. Ora, segundo Sherif, esta universalidade sala completamente escura (de preferencia and: em que nao disponha nem de conheci-
era sintoma de urn fundamento psicol6gico ele nunca esteve) e acender uma luz fraca durante mento anterior relevante nem de urn qua- Experiencias individuais
comum. Dai que 0 autor, ao estudar a forma~ao urn momento. Este vera a luz mover-se. Se repe_ dro objectivo de referencia ira organizar a Serie um
de quadros de referencia, pretendesse aclarar 0 tirmos a experiencia por vanas vezes, 0 individua sua experiencia a partir do seu pr6prio
modo como as atitudes e cren~as (quadros de vera a luz mover-se por diversos pontos da Sala e comportamento; o estimulo luminoso era urn pequeno ponto
referencia individuais) se inter-relacionam, em divers as direc~Oes. 0 que e interessante e qUe b) se urn grupo for colocado na mesma situa- de luz que podia ser visto atraves de urn
desde a sua genese, com as normas grupais e isto acontece enquanto a luz esteve sempre Uno. ~ao, cada individuo adoptara 0 comport a- pequeno orificio de uma caixa de metal (ver
culturais (quadros de referencia sociais). E tanto vel. E se pedissemos a esse sujeito para estimar a
que Sherif queria ac1arar 0 assunto que achou extensao do movimento da luz? Born, nesse caso FIGURA I
por bern apagar as luzes do laborat6rio. obteriamos precisamente a situa~ao em que nao
existem regras anteriores aplicaveis nem con- Esquema da saIa das experiencias
sistencia objectiva de que Sherif necessitava! (Sherif)
2.2. No laboratorio as escuras E foi isso mesmo que Sherif (1935, 1936) fez,
1-----3.3a-----I'1 EscaIa: um metro
usando sempre 0 mesmo dispositivo experi- I I

Sherif precisava de uma situa~ao em que nao mental (ver Figuras 1 e 2), mas fazendo as B - Bolio sinalizador
fossem aplicaveis regras anteriormente aprendi- adapta~oes necessanas para abordar diversas E - lixpenmcuiador
K - Tecla
das, que fosse instavel e ambigua. Porque? questoes, que foram principalmente ~s seguintes: Ms - Ecri m6vcl
Porque pretendia demonstrar 0 mais c1aramente S - SujeilO
1. Como varia a extensao do movirnento Sc - Ecri
possivel a ac~ao da tendencia para a organiza~ao Sg - Luz sinalizHdora
ilus6rio percebido em vanas condi~oes? A saber: Sh - Tamplo
das experiencias em quadros de referencia. Dai St - Luz~ulo

que nada melhor do que colocar individuos numa a) ao longo das estimativas sucessivas de urn T - Mucador
W - Cron6metro
situa~ao onde lhes faltassem tanto padroes apren- individuo isolado;
didos de conduta como consistencia objectiva b) numa situa~ao de grupo;
- se assim mesmo 0 comportamento destes indi- c) quando urn individuo e trazido para urn
viduos exibisse coerencia, esta s6 poderia advir situa~ao de grupo, depois de ter experi- E
desta tendencia subjectiva para a organiza~ao . mentado a situa~ao sozinho; '"
Ora, existe urn fen6meno perceptivo que caia que d) quando urn indivfduo e deixado so na
nem sopa no mel: 0 efeito «autocinetico». situa~ao, depois de a ter experienciado em
Este efeito foi, pel a primeira vez, identificado grupo;
na astronomia. Humboldt, ao observar 0 firma- e) quando urn indivfduo e colocado na situa-
mento do alto de uma enorme montanha, notou ~ao em conjunto com sujeitos que rece-
movimentos nas estrelas ate ai desconhecidos. beram indica~oes do experimentadOr
o entusiasmo por esta descoberta esmoreceu para fomecerem determinados tipos de
quando Schweizer demonstrou que estes movi- estimativas;

232 233

Figura I). A luz era apresentada ao sujeito lizadas. Por exemplo: «Comparei com a distanc. . a~iio, desenvolveram quadros de referencia
, . . . 1 la
quando se levantava uma portinhola que se preVia», ou «comparel JU gamentos sucessivos ~I~ ssincniticoS e estaveis, definindo implici- QUADRoI
encontrava em frente do oriffcio. A distancia que ou ainda «primeira estimativa como padrao» » IdiOente um padrao (urn ponto medio) e urn
mediava entre 0 sujeito e 0 estfmulo luminoso ~aIll rvalo aroda desse padrao. Fica assim Estrutura das series de grupo
era de cinco metros. 0 sujeito estava sentado a Inte ons trado que a ten dencla PSICOI'·
A
• •
oglca para a
Experiencias individuais (Sherif)
uma mesa onde se encontrava uma tec1a de tele- deIl1 . - ' · d0 que urn simp
to_organlza~ao e mms
· 1es
Serie dois aU • - d
grafo. Era-Ihe explicado que depois de a sala fIel o da orgamza~ao 0 contexto em que os Situaliio inicial
ficar completamente escura, ser-lhe-ia mostrado A segunda serie de experiencias pretende ~divfduos coexistem. Finalmente, e de real~ar
urn ponto luminoso. A sua tare fa era a de premir In e a estabilidade destes quadros de referencia Ordcm das sessOes Individual Grupo
apenas aferir a estabilidade deste fenomenoU qu . - ,. , I ,. d
a tec1a assim que esse ponto luminoso surgisse e Com esse fim levaram-se os sujeitos a realiz~ . dividuaIS nao e Imutave - urn comentano 0
que, logo apos 0 seu desaparecimento, estimasse trezentas estimativas em diversos dias da mesilla :perimentador pode levar a sua reconstru~ao. I Individual Grupo
a distancia que esse ponto luminoso tinha per- semana. Os resultados demonstraram que, ullla {I, 2,3}
corrido. Os sujeitos fomeciam em voz alta a sua vez criado urn intervalo subjectivo e urn ponto Experiencias de grupo
estimativa (em polegadas), que era registada de II Grupo Grupo
medio dentro desse intervalo, existe uma fone Serie urn
imediato pelo experimentador. Cada sujeito tendencia para a sua manuten'rao. III Grupo Grupo
fomecia cern estimativas. No fim dessas estima- Os procedimentos utilizados foram basica-
tivas cada sujeito respondia a tres perguntas: mente as mesmos das series anteriores. A prin- N Grupo Individual
Experiencias individuais
«Foi diffcil fazer uma estimativa da distan- cipal diferen~a foi a utiliza~ao simultanea de {I, 2, 3}
cia? Se sim, exponha as razoes. Serie tres
vanos sujeitos em grupos de dois ou de tres.
Mostre com urn diagrama como se moveu Assim, as instru~oes incluiam tambem urn
a luz. Nesta terceira serie (Sherif, 1937) foram
pedido aos sujeitos para que fossem alterando a
Tentou usar algum metoda proprio para aper- seguidos os mesmos procedimentos experimen- ordem em que respondiam. Experiencias de grupo
fei'roar as suas estimativas?» tais, mas introduziu-se uma varia'rao impor- AMm destas ligeiras modifica'roes no procedi- Serie dois
Os resultados mais interessantes foram que, tante: a certa altura da sucessao de estimativas. mento experimental, algumas perguntas foram
apesar de se registar uma enorme varia'rao inter- o experimentador dizia que as estimativas esta- acrescentadas ao questionano pos-experimental. Esta segunda serie de experiencias so diferia
individual nas estimativas apresentadas, cada yam a ser demasiado altas (ou baixas). Os resul- Referiarn-se, no essencial, a consciencia de que da primeira no conteudo das quatro sessoes.
sujeito definiu urn intervalo idiossincratico para tados desta modifica'rao foram bastante nota- Nesta segunda serie, cada indivfduo partici-
dispunharn tanto do seu quadro de referencia
os seus jufzos, oscilando a volta de urn ponto veis. Os sujeitos alteravam consideravelmente 0 como da influencia que os outros tiveram no seu pava primeiro numa sessao individual e poste-
seu quadro de referencia (ponto medio e inter- estabelecimento. Foi tambem omitido 0 pedido riormente em tres sessoes em grupo (ver qua-
medio cedo encontrado. Por exemplo, as media-
nas das estimativas dos dezanove sujeitos valo) na direc'rao sugerida pelo comentario do de urn diagrama do movimento que a luz dro 1). Neste caso, procurava-se verificar ate
utilizados foram de 0,36 a 9,62 polegadas, en- experimentador. descrevera. para diminuir a possibilidade de que que ponto urn padrao individual, que sabemos
quanta os intervalos variaram em extensao os sujeitos se dessem conta da ilusao. de grande estabilidade, se mantem em situa-
desde 1,25 polegadas ate as treze polegadas. Experiencias individuais Nesta primeira serie de experiencias, os 'roes de grupo.
Os dados relativos as respostas fornecidas as Conclusoes su~eitos, depois de experienciarem a situa~ao
perguntas mostraram que os sujeitos acharam a aClIDa descrita em tres sessoes de cern estimati- Experiencias de grupo
tarefa diffcil precisamente pela ausencia de ponto As principais conc1usoes destas duas series vas, em diferentes dias, eram submetidos a uma Resultados e conclusOes das series urn e dois
de referencia (por exemplo, urn sujeito afinnou de experiencias podem sintetizar-se do seguinte qUatta sessao, esta individual (ver quadro I).
na sua primeira resposta que a tarefa era diffcil modo: Procurava-se assim verificar nao so a influencia Os resultados foram extremamente interes-
Colocados numa situa'rao ambfgua e nao queo . d·
porque «nao existiam objectos proximos», outro s In Ivfduos tinham uns nos outros durante santes e sao apresentados nas Figuras 2 e 3.
porque «nao existia urn ponto fixo pelo qual jul- dispondo de aprendizagem anterior relevante, oS as sessoes de grupo, mas tambem ate que ponto Ai se toma facil verificar que:
essa inflA •
gar a distancia»). Ainda mais interessantes foram sujeitos das experiencias de Sherif, ao inves de uencla se estendia para situa'roes em a) quando os indivfduos come~am as suas
a
as respostas a pergunta sobre as estrategias uti- reflectirem a desorganiza~ao inerente a ess qUe 0 indivfduo se encontra isolado. estimativas em sessoes individuais os seus

235
234

padroes (pontos medios) e intervalos Experiencias de grupo


Serie tres FIGURA 2 FIGURA 3
variam muito mais do que quando a
primeira sessao em que participam e de
Nesta serie (Sherif, 1937), 0 autor proCUro Impacte do grupo nas estimativas individuais
grupo; estudar directamente a importancia do prestigjU (Experiencias de Sherif)
b) a variac;ao nas sessoes individuais reduz-
na assimetria da convergencia individual para o0
-se muito se os individuos a experimen- Medianas dos grupos de dois sujeitos Medianas dos grupos de tres sujeitos
padrao grupal. Com esse fim, Sherif criou Uln
tam depois de passarem pelas sessoes de Come~ndo individualmcnte Comcc;ando com grupo Comec;ando individualmcnte Comcc;ando com grupo
situac;ao de grupo com dois individuos. Um dele: 0 0

grupo; (sempre 0 mesmo) era urn comparsa do experi.


c) a convergencia que se verifica nas sessoes I 9 .,r-=l:::::::=~

1,~ ~ I~P~ ~ ~ -i~-~-~ ~ "=~


mentador, alguem de' prestigio (assistente ern Prillltliro grupo ! - Prillleiro grupo- e Prillleiro grupo
1- 7
de grupo diminui se os sujeitos ja pas-
.. " :--...
e e
Psicologia na Universidade de Columbia), qUe +-..
..
..--
~ b
saram por sessoes individuais; "7" ~

d) a convergencia que se verifica nas sessoes


enunciava as suas estimativas de acordo corn •3 P ~
----- ---~
3 - r---- !
e
1__~

Z
indicac;oes previas do experimentador. 0 outro 1 , I I
I I
de grupo nao acontece aroda da media o o o
desconhecia total mente essa combinac;ao e nao
dos vanos padroes individuais. Os indivi-
dispunha de uma tal posi~ao de prestigio (0 ,
I0
10
, f---
S
10,.---...,----.-----.
cr--~----~-~ ,
10

SegUDcIo grupo 61----+ SeguDdO grupo e r-- Scga.do grupo


~
SeguDdo grupo
duos variam na sua contribuic;ao para 0 f
, 7 . t---t----t'-..:.....j 7
chamado sujeito critico). A indica~ao previa do 1

padrao do grupo; experimentador variava de sessao para sessiio


"' --- ~ ~-- I
,
II 1----+----1-----1
)1--+---1----1
"
~

•3 ", " .. 1----+----1-----1 •3 1'';:-'"


e) a assimetria de convergencia assinalada , ) :I 1--+---1----1

.
'"':0..
(ver Quadro Il). Os sujeitos criticos participavam 2
~ ~-~.5.~~_~_.~.~
..!:!~.!!:.•:::M=~. Z
-_w
em d) nunca e absoluta. Quer dizer, apesar
ainda numa segunda sessao, esta individual. .!fO' .. I
.!i! 0
I
~o~-~-~-~ :::0
x
I

de alguns individuos convergirem mais do ~I:


,
",0
, "10
ih, ~I 0
5
que outros, isso nao quer dizer que 0 . Tcrc:eiro grupo " TCll'CeilO~upo e Ten:eilO grupo 6 Tercelro grupo
Experiencias de grupo
padrao do grupo seja apenas 0 padrao de
Resultados e conclusoes da serie tres
.1 1
I e
7 7
e
urn dos seus membros: a convergencia .~ )
~
~

......
"3 .......
b
..
verifica-se em todos os individuos. Urn exame do Quadro II permitir-nos-a, facil-
,~

I
0
",
:I
2
1
0
I Z
1
o
............,... ..
1
I

o
, ...
"",.-
-
mente, chegar a algumas conclusoes valiosas:
Resumindo:
.,
10 10
, 10
»
10,.---...,.---,.----.
'I---+--~----I
a) comparsa do experimentador teve uma
0 e Quarto grupo e Q'!8rto grupo 6 i--- Quarto grupo e Quarto grupo
Os sujeitos de Sherif, ao serem expostos, em enorme importancia no estabelecimento
7
(
---- ... .- ,
1
,7 71---+--........;;.....;:......J
Ir--~-~-~
grupo, a uma situac;ao ambigua e sem conheci- .. ) )
_Sujeilo 1 ..1 ." . )I:;::;~~::::::S~~
dos padroes individuais; "I:I
mentos anteriores aplicaveis, utilizaram 0 com- b) a influencia do comparsa referida em a)
3
,, -_•• SUjeito 2 :I
2. ~
1
portamento dos outros na construc;ao dos seus foi muitas vezes maior na segunda sessao O~l-~n~-~-~ n
quadros de referencia individuais, quadros de (em que 0 sujeito critico estava s6) do que
6c:.SIONS

referencia que continuaram a ser usados mesmo na primeira (ver grupos urn, dois, tres, seis ~eaJiza'"~o de estimativas em grupo promove a convergencia das estimativas individuais (figura 2) e 0 seu impacte
na ausencia do grupo . Pelo contrario, os -se senhr mesmo quando os individuos sao posteriormente levados a fazer estimativas isoladamente (figura 3).
e sete).
sujeitos de Sherif que experimentavam as
sessoes de grupo depois de terem construido 0 De notar ainda que., no questionano pos,
seu quadro de referencia individualmente -experimental, os sujeitos afirmaram, regra 2.2. No laborat6rio e as escuras: social. Valeram a pena? Primeiro debrucemo-
faziam convergir as suas estimativas na direc- geral, ter experienciado 0 movimento da luz de -nos sobre as conclusoes do proprio autor,
conclusoes
c;ao das dos outros, embora essa convergencia acordo com as estimativas do compars a. No depois veremos 0 que poderemos acrescentar.
fosse menos forte do que quando os individuos entanto, apesar de muitos sujeitos terem reco' As principais conclusoes de Sherif (1936)
nhecido a influencia do comparsa, limitaram-
na c D~POis de digerirmos todas estas experiencias
nao partiam de nenhum quadro de referencia. onvlfli crt · podem ser sintetizadas do seguinte modo:
a primeira sessao - isto embora, como ja sabe' e amente mterrogarmo-nos acerca
De notar, finalmente, que a convergencia indi- do seu I a) ficou demon strada a tendencia que os
mos, ela fosse sempre maior (ou pelo menos cOnh . va or no desenvolvimento dos nossos
vidual em sessoes de grupo, apesar de variar em eC1mentos sobre 0 fen6meno da influencia indivfduos possuem para organizar a sua
extensao, foi universal. igual) na segunda sessao.
,
236
237

. divfduos. Vemos tam bern que urn con- para a cria~ao de uma norma pode parecer
QUADRO II ;~nto de indivfduos em interacr;ao constr6i, indicar a emergencia espontanea de lideres
espootaneamente, normas que regulam em situa~oes sociais de incerteza. No
Resultados de Sherif, em 1937, nos experimentos em que urn comparsa to 0 seu comportamento como a sua
t no , entanto, e de notar que estes «lideres» ape-
do experimentador emitia estimativas previamente combinadas percepr;ao da situar;ao. E de notar que 0 nas necessitaram de consistencia nas esti-
faz em espontaneamente, quer dizer, que 0 mativas 2. Eduvidoso que essa seja a unica
faz em mesmo quando nao existe qualquer caracterlstica necessaria para que alguem
Estimativas Estimativas Numero de
do comparsa do sujeito julgamentos dentr
sugestao ou premencia em faze-Io; surja como lider.
crftico d . 0 j) apesar de sugestiva, esta analogia tern limi-
prescritas pelo o mtervaIo Que poderemos acrescentar?

-
experimentador prescrito les. Nomeadamente, e preciso lembrarmo- Por urn lado, nao ha duvida de que a
-oos de algumas diferenr;as. A saber: em demonstrar;ao de como urn grupo pode

--
Grupo Grupo Individual Grupo Individual
primeiro lugar, neste conjunto de experien- servir para organizar a percep~ao e 0 com-
Experimental Norma Intervalo Norma Intervalo Norma Intervalo cias oao existia nenhum problema crucial a portamento dos individuos e preciosa, e
resolver. Em situa~oes extralaborat6rio, talvez urn dos mais fortes argumentos
1 2 1-3 3,36 1-5 2,62 1-4 41/50 47/50 pelo contnmo, as normas grupais ou as ati- empfricos jamais apresentados a favor da
2 3 2-4 4,25 1-10 3,77 1-5 30/50 43/50 tudes individuais formam-se como resposta necessidade de urn nivel de explicar;ao
3 4 3-5 4,61 2-8 4,57 3-6 43/50 a problemas com consequencias directas e psicossocial do comportamento humano.
49/50
decisivas para os individuos. Esta diferen~a Por outro lado, as conc1usoes relativas ao
4 5,20 3-6 5,21 3-6 47/50
5 4-6 46/50 ebastante importante na medida em que, se uso da analogia do laborat6rio com a rea-
5 6 5-7 5,50 3-7 5,42 3-7 34/50 35/50 as norm as e atitudes sao tentativas de lidade social sao merecedoras de maior
6 7 6-8 5,94 3-8 (i,lS 4-8 24/50 27/50
solur;ao de problemas, a pressao para a uni- cepticismo. As simplifica~oes envolvidas
fonnidade sera provavelmente ainda maior. - algumas das quais reconhecidas, como
7 8 7-9 7,40 4-12 7,89 6-9 17/50 40/50 Isto porque 0 exito de uma solu~ao para urn vimos, pelo proprio Sherif - sao provavel-
problema grupal depende, muitas vezes, da mente inumeras. E pi or que isso: nao
conjugar;ao dos esforr;os. Por outro lado, no temos maneira de saber quais sao. Por is so,
laborat6rio nao existia nenhum criterio de e prefenvel tomar estas analogi as nao
expenencia, mesmo quando a situa~ao mente. De facto, a influencia dos outros
validar;ao dos quadros de referencia indivi-
parece ser igual ou maior quando se como conhecimentos mas como fontes de
nao oferece qualquer fundamento para duais e grupais. Pelo contrmo, fora do labo- novas formas de adquirir conhecimentos.
essa organiza~ao; ausentam (ver a sec~ao «Experiencias de rat6rio esse criterio existe - e a capacidade Quer dizer, «heuristicamente».
b) essa tendencia para a auto-organiza~ao grupo, serie tres»); que a adopr;ao de urn dado quadro de refe-
baseia-se no proprio comportamento de e) estes resultados podem parecer ainda mais renda possui na resolur;ao de urn dado
urn individuo isolado ou no comporta- informativos se se .utilizar uma analogia. problema. Oaf que, ao contrario do que
mento dos outros, quando tal e possivel; Este conjunto de situa~oes pode ser COD- acontece no laborat6rio, 0 principal factor 3. A influencia social as claras
c) apesar de as fontes de auto-organiza~ao ceptualizado como ilustrando 0 process~ que governa a estabilidade de urn quadro de
citadas em b) serem ambas importantes, a geral como os individuos e grupos orgaru- referencia no universo social e, provavel- 3.1. Introdufiio
referencia ao comportamento dos outros zam uma realidade incerta num todo cae- mente, a sua eficiencia.
parece mais decisiva (ver as sec~oes rente. Basta tomar 0 padrao individual Em segundo lugar, a assimetria verifi-
Quando Solomon Asch se debru~ou sobre os
«Experiencias de grupo, series urn e dois»); como urn amilogo de uma atitude e 0 cada na contribui~ao dos varios individuos
fen6menos da influencia social ja a procissao ia
d) a importancia dos outros na cria~ao de padrao grupal como 0 analogo de uJ1la
quadros de referencia individuais nao norma. Vemos assim que as atitudes t~l.O ) .
- E de nOlar a circularidade da afuma~ao: «os Ifderes influenciaram mais os outros porque foram mais consislenles».
implica, neste caso, que eles exer~am podem basear-se em experiencias indiv1- verda~e, Urn indivfduo s6 e considerado como «Ifden> se modificar menos as suas resposlas do que os outros. Por isso, um
s
qualquer coer~ao, implicita ou explicita- . como em mterac~oes
d ums . - com outrO nao pode, nestas circunstancias, ser inconsislente. Daf que a afirma~ao acima indicada nao passe de uma taulologia.
t

239
238

no adro. Quer isto dizer que 0 interesse pela utilizam docilmente para substituir a prop' actividade interpretativa parece estar na tante ponto de viragem nesta area de
tematica que temos vindo a abordar era um dado razao como sonambuIos. AI"las, nao
A - d'elXa de I'\a base dos resultados acima citados. Isto investigalYao;
Set
adquirido da psicologia social e da sociologia curioso que autores como Tarde e LeBon porque a interpretalYao sonambulista des- c) final mente 0 sonambulismo nao pennite
inspirem no concelto . da sugestao - h'lpnotica dSe
pre-Asch. No entanto, apesar do sem-numero. de tes estudos partia do principio de que os uma analise funcional plausivel do con-
." e
demonstra~oes experimentais que ja tinham sldo Charcot para descreverem os lenomenos d efeitos encontrados se deviam apenas a senso social. Porque se teria desenvolvido
. . a
realizadas, Asch senti a uma enonne insatisfalYao influencia social. 0 mats mteressante acere passiva aceitalYao da opiniao de uma enti- a necessidade de consenso social? Sera que
com 0 conhecimento ate ai acumulado, sobre- deste conceito de sugestiio e que ele descrev: dade de prestigio, quando, pelo contrano, este tern algum valor intrfnseco de sobre-
tudo com a perspectiva geral que enquadrava uma situa~ao em que «era aparentemente pos- ebern possivel que essa opiniao fosse uti- vivencia? Tal nao parece muito provavel.
esse conhecimento. sivel produzir experiencia~ e crenlYas sell! lizada sobretudo para interpretar 0 alvo do Nao e muito plausivel que uma comu-
Essa perspectiva geral era comum a autores correspondencia com 0 melO» (Asch, 1952 julgamento em causa. Por exemplo, seria nidade africana que acreditasse consensua-
tao divers os e decisivos como Lorge (1936), p. 400). Ora, a perspectiva do sonambUliStn~ minimamente estranho saber que urn feroz lissimamente que os leoes sao inofensivos
LeBon (1896), McDougall (1928), Miller e sociaL tomava essa situalYao nao como exce~ao esquerdista discordava da afinnalYao de tivesse muitas hipoteses de sobreviver.
Dollard (1941), Tarde (1903) ou Thorndike mas como regra. E, de facto, todos conhecemos Salazar «enquanto houver um portugues o consenso social so e funcional se nao
(1935), entre outros - um estranho casamento episodios da nossa historia recente em qUe sem pao, a revolulYao continua»? De modo conduzir a uma aprecia~ao insensata da
entre sociologos c1assicos, psicologos compor- nalYoes inteiras se mostram capazes de aetos nenhum! E porque? Porque e evidente que realidade. Quer dizer, se for valido. Se for
tamentalistas e pioneiros da psicologia social. dignos dos mais horripilantes zombies. a «revolulYao» de que falava Salazar nao valido sim, e evidente que 0 consenso per-
Um bom epiteto para este enquadramento geral Esta perspectiva conseguiu, com bastante era a mesma que 0 nosso hipotetico mite maior coopera~ao e coordena~ao de
da influencia e-nos, sem duvida, oferecido pel0 exito, alias, ilustrar em laboratorio 0 poder cia esquerdista almejava. Por isso nao seria de esfor~os, mas para ser valido 0 consenso
proprio Asch: 0 sonambulismo social. sugestao (ver, por exemplo, Lorge, 1936, ou espantar que ele apoiasse calorosamente social tern de ser baseado na diversidade
As principais caracterfsticas do sonambu- Moore, 1921}. Os paradigmas utilizados eram essa afinnalYao se ela saisse dos labios de de perspectivas 4. Daf que, se e certo que a
lismo social eram as seguintes: dois. Urn, em que se comparava 0 grau de apre~o Lenine e a apupasse se a sou be sse profe- necessidade social de consenso gera pres-
ou de acordo com as mesmas afinnalYoes ora rida por Salazar. Sonambulismo? Decerto soes nonnati vas para a unifonnidade, nao
• A realidade social e conceptualizada como atribuidas a alguem admirado pelos sujeitos, ora que nao - pelo menos no senti do que e menos certo que a necessidade social
relativa e as nolYOes de «certo» e de «errado» a alguem por e1es detestado (Lorge, 1936; Sherif, temos vindo a referir. Pelo contrano, a de urn consenso valida gera pressoes nor-
como convenlYoes. 1935). Outro, em que se comparavam os julga- padecer de alguma coisa, 0 nosso esquer- mati vas no sentido contrano. Por isso,
• Os processos de imita~ao sao basicos tanto mentos dos sujeitos sobre diversas materias, dista padece de espertina... Quer dizer, pressupor que os individuos resistem as
para 0 funcionamento da sociedade como feitos sem 0 beneficio da opiniao dos outros, com nao se soube limitar a utilizar a infor- sugestoes nao implica mini mizar 0 impacte
para a aprendizagem de urn reportorio com- os que eram feitos com esse beneficio (Moore, ma'rao que Ihe foi dada, foi para alem que 0 comportamento dos outros tern no
portamental basico. 1921). Em ambos os paradigmas, os resultados dessa informalYao no seu julgamento, comportamento de cada urn;
• Os individuos imitam 0 comportamento mostraram como a sugestao de fontes presti- reconstruindo-a como resultado da sua d) por tudo isto, torna-se crucial, ao contrano
dos membros dos grupos a que pertencem giadas ou de grupos pode, per se, modificar apre- actividade interpretativa; do que considerava 0 sonambulismo, levar
e, em especial, dos seus lfderes porque a ciavelmente 0 comportamento individual. b) por outro Iado, a perspectiva sonambulista em considera~ao nao so as qualidades dos
experiencia ensinou-os a associarem imi- No entanto Asch encontrou razoes de sobra ignora tambem 0 facto de que a influencia emissores de infIuencia (grupos sociais,
talY ao com recompensa 3. para se sentir 'insatisfeito com tanta sonoLencia. nao e uma via de urn so sentido. Como individuos prestigiados ou lideres) mas
o homem social e alguem que vive numa A saber: 'aI Sherif demonstrou enos discutimos no tambem 0 conteudo do julgamento em
realidade que adquiriu por emprestimo de enti- a) esta perspectiva ignora 0 papel essen.cI .. ponto anterior, 0 processo de influencia causa e as circunstancias em que ocorre.
dades poderosas como os lfderes, os grupos e os mente activo e interpretativo que os ln~­ pode ser urn processo de concessoes Caso contrano, dificilmente se revelara a
, oa
costumes. Daf que 0 comportamento emitido vfduos tern na construlYao da sua prop reciprocas. Asch considera, alias, que os actividade interpretativa do sujeito, factor
. stante
por essas entidades seja algo que os individuos realidade social. De facto, essa con estudos de Sherif constituiram urn impor- que a esta nova luz se mostra tao decisivo.

" d'd em que pretendc


3 Esta caracterizac;:aa. que segue de perta a realizada par Asch. e necessanamente vaga. na me I a 4 A lentidao das autoridades sovieticas em tomar as medidas necesslirias aquando do acidente de Chemobyl pode
abstrair 0 que de comum existe em autores muito diversos. "Juuar.n.n. facilmente, a compreender este argumento.
• 241
240

Mas Asch nao se Iimitou a realiza'rao desta Essa rubrica era real mente curiosa. ... Os priJlleiros estudos Antes de tentarmos imaginar as varias possi-
, Consist"la
analise, efectuou urn conjunto de experiencias h
em pequenos filmes em que os erOis eram pes_ bilidades que 0 lei tor teria para reagir, vamos
(Asch. 1951. 1952. 1955. 1956) dos mais impor- soas vulgares «apanhadas» em situa90es invUJ_ Imagine 0 leitor que e estudante de uma uni- completar a descri'rao das primeiras experien-
tantes realizados em Psicologia Social ate hoje. gares, sagazmente encenadas pelos coJabo_ t rsidade americana e que aceitou participar cias de Asch com alguns pormenores impor-
Ie11n£1 experlenclQ
.• . de um ta I senhor proJessor
.r. tantes.
Nessas experiencias. Asch procurou criar uma radores do programa. Vma dessas . situa~5es 111 lomon AhU . . . so b re per-
situa'rao com as seguintes caracterfsticas: vai-nos servir para apreender malS comPleta_ sc. ma expenenclO
So d d
mente 0 que os participantes nas experiencias de ceprtao . No a e mUlto entusia,~,~ante... A' port~
.
Caracteristicas da situa~io experimental
a) seria pedido julgamento para 0 qual a
UI11 do sola encontram-se outros sUJeaos como voce.
Asch sentiram. Foi assim 5:
informarrao necessaria estaria con stante- A cena passa-se numa sapataria. Uma senhora Seis, mais exactamente. 0 experimentador chega Em primeiro lugar, convem referir algo sobre
mente disponfvel; acabou de provar uns sapatos e preparava_se manda entrar toda a gente. 0 experimentador os estimulos que estavam a ser julgados e as
b) 0 julgamento versaria urn conjunto de emanda-os sen tar a, roda da mesa. e diz: condi~oes gerais em que esse julgamento era
para .'Ie levantar e sair quando da conta da falta
estfmulos totalmente nao ambiguos; dos seus proprios sapatos. Pergunta a empregada (£sta tarefa envolve a discrimina~iio do com- feito. as estimulos eram, como ja foi referido,
c) os sujeitos seriam. durante a realiza'rao primento de linhas. A I'ossa frente encontra-se trios de linhas negras que deveriam ser com-
onde [hos pos. que os mio encontra. A empre_
desse julgamento, expostos a influencia de gada. muito calma. aJinna: «Os sells sapatos?! //In par de cartoes. 0 da esquerda so tem uma parados com uma linha-padrao. No Quadro III
urn grupo de indivfduo~. Essa influencia /inha; 0 cartiio a vossa direita tem Ires linhas de sao apresentadas as dimensoes dessas linhas.
Oh. minha senhora. a senhora niio entrou nesta
opor-se-ia a evidencia; loja cal~ada! Eu ati notei logo que a senhora niio diferentes comprimentos; elas estiio numeradas: Como se pode ver, 0 julgamento era particular-
d) seria possivel quantificar 0 efeito da um, dois e tres. Uma dessas tres lin has e igual mente faci!o Para ilustrar essa facilidade, a
tinha sapatos. porque. como deve calcular, uma
influencia. coisa dessas da logo nas vistas... » em comprimento a linha-padriio do cartiio da Figura 4 apresenta urn exemplo pertencente ao
Asch procurava assim demonstrar como a A senhora niio quis acreditar, como e.fdcil de esquerda. Cabe a cada um de voces decidir, em material utilizado. De notar que os dezoito
mudan~a de urn individuo por urn grupo nao supor, mas outras empregadas cm~finnaram que rela~ao aos varios pares de cartiio que vos ensaios se dividiam em ensaios neutros - em
pode realizar-se arbitrariamente. E mais especi- ela tinha entrado descal~a e ate clientes qlle se serDo exibidos. qual das linhas do cartiio da que os comparsas davam respostas certas - e
ficamente que. quando nao e possivel uma rein- metiam na conversa a.firmaram 0 me.l'mo. direita e igual a linlza-padriio do cartiio da ensaios cr{ticos - em que os com pars as davam
terpreta<;ao dos estlmulos relevantes, a influen- A senhora so dizia: «Mas ell niio estou lIIa/uca! esquerda. Comllnicar-me-iio 0 vosso ju/f.:amento respostas com diversos graus de erro (ver
cia do grupo e minimizada. Asch pretendia, no If imposs{vel! Eu Iliio vinha descal~'a para a dizendo 0 Il umero da linha. Existiriio dezoito Quadro III). as julgamentos eram feitos com os
fundo. demonstrar a incapacidade do sonambu- rua ... » Mas a pouco e POLICO ate os outros compararoes no total. Agrade~'o qlle sejam 0 sujeitos sentados a roda de uma mesa que dis-
/ismo em fomecer uma explica~ao adequada clientes se metiam na conversa e corroboravam mais exacfos poss{vel. Dar-me-iio as v()ssas tava cerca de cinco metros dos estimulos.
para os fenomenos sobre que se debru'rava (ver a empregada. para desespero da senhora. E ela respostas por on/em. comerando, por exemplo, Em segundo lugar, e preciso referir urn deta-
Asch, 1990; Campbell. 1990). lronicamente, la se foi convencelldo. Por Jim ja dizia: «Bom, da direifa para a esquerda.» Ihe da situa'rao - dos sete sujeitos presentes na
quando, cic1icamente. 0 sonambulismo desperta, devo-me ter esquecido dos sapatos na outra A experiencia come~·ou. E mesmo .facil ver sala, s6 urn, 0 chamado sujeito critico, nao e
e a estas exp~rienda~ l}ue se refere. sapataria. Mas que distran;iio, a minha... », e qual ea linha igual a linha-padriio. e. como eo comparsa do experimentador. Todos os outros
ria-se nervosamellte. penullimo 1I responder. vai podendo ver(ficar foram instruidos peJo experimentador a respon-
Mas e claro que a pobre senhora tinha sido que ninguelll tem dificuldade em 0 fazer. Oleitor der de determinada maneira (ver Quadro III para
3.2. A injluellcia social as claras: vitima dos «Apanhados)) - uma das empregadas responde e ludo bem. Segundo julgamento: uma descri'rao das respostas sucessivas dos
o paradigma de Asch tinha-lhe escondido os sapatos e as outras muito fdci!. Chega a sua vez e responde outra comparsas). as comparsas agiam sempre de
«testemunhas) (coJegas e clientes) eram com- vez. Terceiro julgamento: e faci/. 0 que? forma a que 0 sujeito critico se sentasse no
Introdm;io parsas da encena'rao. o primeiro que respondeu deve estar doido!! pen ultimo lugar. Falta ainda referir que os com-
Este pequeno epis6dio e espantoso. Demons - o.leitor verifica facilmente que a resposta dele pars as foram instrufdos a mostrarem-se tao inex-
tra como os outros nos podem fazer duvidar jo/ complelamente errada. Mas ... Todos os ou- perientes sobre a situa'rao como 0 sujeito critico
Ha uns anos atras, existia urn programa tele-
visivo chamadn «Tal & Qual». Nesse program a das certezas mais evidentes. No fundo, trata- se tros estiio a dar a mesma resposta. 0 que e isto? (para isso, efectuavam no inicio perguntas sobre
existia uma rubnca chamada «as Apanhados». de influencia social as claras ... A SUa vez de responder esta a chegar, leitor, 0 o procedimento) e a nao exibirem quaJquer
qUe e que vai responder? Vai dar a resposta reac'rao Fosse qual Fosse 0 comportamento desse
cena ou fiazer 0 que os outros fizeram? sujeito.
5 A reconstrucrao deste episodio e provavelmente inexacta. porquanto e feita de memoria.
242

243

facto, 0 antagonismo de opinioes quer dizer que


QUADROID FIGURA 4 alguem esta errado.
Em segundo lugar, desenvolveria esfon;os
Dimensao dos estfmulos-respostas maiorimrios as Iinhas-padrao Amostra dos estfmulos usados para restabelecer 0 equil(brio. Quer dizer, inter-
e de compara~ao, nos ensaios sucessivos nas experiencias originais rogar-se-ia, por exemplo, se nao teria pcrcebido
(Asch 1958) mal as instruyoes. Poderia ate pergunta-Io aos

Ensaios Comprimento-padriio Comprimento das Iinhas de comparac;iio Erros Tipo


- seus vizinhos mais pr6ximos ou mesmo directa-
mente ao experimentador, interrompendo a
sucessao de respostas. De qualqucr modo, ten-

-
(em polegadas) (em polegadas) maioritarios de erro
taria achar uma explicayao simples e banal para
r- o desacordo, algo que pudesse indicar que
a* 10 8,75 10 8 0 aquele desacordo sobre materias de facto se
b* 2 2 1 1,50 0 resolveria brevemente.
I 3 3,75 4,25 3 +0,75 moderado Em terceiro lugar, e muito provavel que
II 5 5 4 6,50 -1 moderado fizesse a atribui~iio da raziio de ser da divergen-
c· 4 3 5 4 0 cia a si proprio. Ou seja, tomasse a seu cargo
III 3 3,75 4,25 3 + 1,25 extremo 1 2 3 explicar porque e que divergia do grupo e nao
IV 8 6,25 8 6,75 - 1,25 moderado
Linha-padrao porque e que 0 grupo divergia de si.
V 5 5 4 6,50 + 1,50 extremo
Em quarto lugar, e quase certo que desenvol-
VI 8 6,25 8 6,75 - 1,75 extremo
veria esfor~os para alcan~ar uma solu~iio. Quer
d* 10 8,75 10 B . 0
rimental), usou ainda outro tipo de grupos (con- dizer, construiria explica~Oes que tentavam tornar
e* 2 2 1 1.50 0
di~iio de controlo) em que sujeitos da mesma compreensivel a situayao em que se encontrava.
VII 3 3,75 4,25 3 +0,75 moderado
popula~iio julgavam os mesmos estfmulos sem Por exemplo: poderia pensar que era tudo devido
VIII 5 5 4 6,25 -1 moderado
4 3 5 4 0 conhecimento das respostas dos outros. Daf que a uma ilusao de 6ptica, ou ate que 0 primeiro a
f*
3 3,75 4,25 3 + 1,25 extremo se possa usar a diferenya entre 0 numero de responder era mfope e que os outros todos eram
IX
X 8 6,25 8 6,75 - 1,25 moderado erros efectuados na condiyao controlo e experi- influenciados por ele. E quase certo tambem que
Xl 5 5 4 6,25 + 1,50 extrema mental como urn simples indice quantitativo do nenhuma dessas explicayoes 0 satisfaria ...
XlI 8 6,25 8 6,75 -1 ,75 extremo grau de influencia social verificada. Em quinto lugar, prestaria provavelmente total
aten~iio ao objecto de julgamento. Concentrar-

ResUltados - como reagiria 0 lei tor? -se-ia tanto nele que teria vontade de se levantar
• As letras da primeira coluna designarn ensaios «neutrais», aos quais a maioria respondeu corrcctamente. Os ensaios assin.·
lados por letra romana sao os considcrados «criticos», isto e, aos quais a maioria respondeu incorrectamentc. e de observar as linhas mais de perto (talvez ate
Os mlmeros sublinhados realc;am as respostas maioritariamente incorrectas. Em primeiro lugar, ser-lhe-ia imposs(vel bruscamente 0 fizesse, quem sabe?), como se isto
Note-se que os ensaios d a doze sao identicos aos cnsaios a a scis; cles sucedem-sc sem pausa. ignorar as respostas do grupo. E isto apesar de, resolvesse a questao. Se as pudesse medir...
de acordo com as instruyoes, a presenya do Em sexto lugar, 0 leit~r sentiria um crescendo
rpo .ser irrelevante para a realizayao da tarefa. de duvidas sobre si proprio. Seria possivel que
Em terceiro lugar, e importante esclarecer lado 0 facto de os outros serem comparsas do ObVlO, contudo, que 0 facto de 0 lei tor saber todos estivessem errados, excepto 0 lei tor? As
que a experiencia nao se limitava a esta sessao experimentador). Seguia-se uma entrevista a s~s qUe os outros respondiam em condiyoes identi- suas respostas parecer-lhe-iam estar certas, mas
de estimativas. Existia ainda uma segunda fase com 0 experimentador. No final, era-lhe expb: Cas as suas torna essas respostas como fonte como poderiam estar se todos os outros respon-
em que todos os sujeitos eram entrevistados . - e os 0 b"~ectlvos com que fOI
cada a sltua~ao ~ compara~ao dos seus pr6prios julgamentos. diam de maneira diferente? Estara 0 leitor a
acerca das suas impressoes sobre a situa~ao. construida. dir desacordo que se verifica tern implicayoes responder bern?
Participavam, primeiro, numa discussao com Em quarto e ultimo lugar, e de salientar que rn e~tas para a validade de cada julgamento na Em setimo lugar, born, em setimo lugar
os outros membros do grupo (sem lhes ser reve- Asch, alem deste tipo de grupos (condi~ao eXpe- edlda em que 0 leitor sabe que, em materias de depende .... Ate aqui limitei-me a descrever uma
• 245
244

especie de retrato-robo realizado por Asch a par-


tir das respostas aos questiomirios e as entrevistas FIGURA 5 QUADRO IV
pos-experimentais. Quer dizer, limitei-me aquilo
que foram os pensamentos privados e os senti- Amostra dos estlmulos usados Distribui~o dos erros nos grupos experimental e de controlo
mentos mais comuns dos sujeitos criticos, de nas experiencias originais (Asch, 1956)
acordo com as suas proprias palavras. Mas, e
quanta aos julgamentos anunciados em voz alta... .--- Grupo controlo Grupos expcrimentais
que teria feito 0 leitor? Deixo-lhe a si a tarefa de 0 Num ero
preyer. Como pista leia os resultados das sec- -- ---
de
t;6es apresentadas a seguir e con suite a Figura 5. Grupo I Grupo II Grupo III Todos os grupos
erros (N =37) (N =70) (N =25) (N = 28) (N = 123)

Resultados: analise dos erros I------ - 1- ---- ------- - -


0 35 17 5 7 29
I 1 4 2 2 8
a) As respostas dos sujeitos da condit;ao de 1 7 1 2 10
2
controlo foram basicamente isentas de erros (os 3 12 1 4 17
resultados completos sao apresentados no 4 3 1 2 6
quadro IV) 6 ; 5 5 2 0 7
6 2 4 1 7
b) em contraste, na condit;ao experimental e
7 3 0 1 4
visivel a influencia da maioria (os comparsas do 8 7 4 2 13
experimentador). Por urn lado, apenas 24 por 9 3 2 1 6
cento dos sujeitos criticos realizaram a sucessao 10 4 1 1 6
de estimativas livre de erros (enquanto na 11
12
2
1
II 0
2
2
3
4
6
condi~ao de controlo essa percentagem foi de 95
por cento). Por outro lado, no total das estimati- Media 0,08 4,01 5,16 4,71 4,41
vas a condit;ao experimental apresenta 33 por f--

cento de erros, enquanto na condit;ao de con- Mediana 0,00 3,00 5,50 3,00 3,00
---- -
trolo esse numero e inferior a urn por cento. E de Media
notar que existem individuos na condit;ao expe- percentual 0,7 33,4 43,0 39,3 36,8
rimental que atingem os doze erros (tantos quan- I
tos os ensaios criticos), ao passo que na con-
di~ao de controlo nenhum sujeito ultrapassa os
dois erros. Finalmente, saliente-se que nos cometidos. Em segundo lugar, se consideranno s d) a Figura 6 demonstra que nao existiu qual- ficativa estatisticamente para uma assocla~ao
ensaios neutros 0 numero de erros da condi~ao que a situa~ao representa, no essencial, urn can- quer rela9ao sistematica entre a sucessao de positiva): tanto se encontra urn grande numero
experimental e inferior ao da condi~ao de con- flito entre duas tendencias - a de seguir os dados ensaios e 0 numero de erros cometidos; de erros em estimativas em que a maioria
trolo (ver 0 Quadro IV); dos sentidos e dar respostas certas e a de seg~ir e) como sabemos, os erros que a maioria ia comete erros de grande magnitude (por exem-
c) de notar que, embora considenivel, 0 a maioria e dar respostas erradas - , e precJS~ cOmetendo variavam de magnitude. Qual a plo, no ensaio critico 12) como no caso con-
impacte da maioria esta longe de ser absoluto. reconhecer que a primeira dessas tendencias f~J rela~ao entre essa varia~ao e 0 numero realizado trmo (ensaio crftico 7);
s
Em primeiro lugar, e necessario registar a quantitativamente mais forte (duas vezes maJ pelos sujeitos criticos? 0 Quadro V responde a J) A considera~ao da magnitude do erro da
enorme varia~ao individual no numero de erros forte, para ser exacto); esta pergunta. Nao existe, de facto , qualquer maioria permite-nos ainda uma outra ana-
rela~ao sistematica entre os dois factores (ape- lise bastante interessante. Repare-se que, nos
6 Recorde-se que os ensaios neutros sao aqueles em que a maioria (os comparsas) da respostas certas. nas se regista uma ligeira tendencia nao signi- casos em que a maioria dava erros extremos, os

246 247

sujeitos critic~s dispunham da ?ossibilidade de Assim:


FIGURA 6 urn compromlsso entre 0 que Vlam e aquila q QUADRO VI
ue Sujeitos independentes
a maioria respondia, quer dizer, poderiam ete
Estimativas correctas c-
tuar urn erro moderado. Para verificar se isso El'fOS cometidos em fun~ao de erros I) Sujeitos «verdadeiramente independentes» -
em ensaios criticos sucessivos para grupos aconteceu, basta comparar a percentagem d Ploderados e extremos da maioria Foram c1assificados assim aqueles que se mos-
experimental e de controlo erros moderados realizados pelos sujeitos Crfti~ traram inabahiveis na sua convic~ao de estarem
(Experiencias de Asch) cos quando eram confrontados com um eno
Maioria moderada Maioria extrema Total
certos e de responderem de acordo com 0 que
extremo da maioria com a percentagem de viam. De notar que essa atitude nao queria dizer
erros extremos do sujeltos critic os quando a Erros Erros Erros que nao tivessem sido afectados pelo conflito entre
~ N Erros
:r. 100
maioria comete urn erro moderado. Note-se roodcrados extremos moderados extremos
a evidencia perceptiva e a influencia da maioria.
'"
U Grupo de controlo que em ambos os casos 0 sujeito, apesar de dar Muitos destes sujeitos indicaram ter preferido
"0
....
.... 150 0 33 98 131
uma resposta errada, da uma resposta dife- 1~.J-__- -~-----r-- ceder a maioria, simplcsmente consideraram mais
u 75
:r. rente da maiorta (chamaremos, por isso, a 100 o 19,3 80,7 100 importante seguir a sua propria opiniao porque,
'"
.~
:; estas respostas, respostas divergentes incorrec_

em caso contrano, sabiam que estariam a errar.
v..., 50 tas). Se a referida tendencia para 0 compro_ II) Falsos independentes - Couberam nesta
OJ
"tJ
Grupo experimental misso se verificar, os sujeltos deverao exibir categoria aqueles que adrnitiam estar errados e a
..,....
C
25
respostas divergentes incorrectas, sobretUdo Resultados: varia~ao individual maioria correcta - se nao a seguiam era porque
E nos casos em que essa estimativa pode repre-
' ::l
Z
achavam que deviam seguir a rise a as instru~6es
sentar urn comprornisso (0 primeiro dos casos Com base tanto nos resultados das entrevistas do experimentador. Quer dizer, conformavam-se
acima citados). A observa~ao do Quadro VI como nos resultados quantitativos acima referi- ao experimentador.
2 3 4 5 6 7 g 9 10 II 12 oferece-nos uma resposta cabal a esta questao: dos, Asch procurou esc1arecer melhor a varia~ao
Julgamentos criticos so se registam respostas divergentes incorrec- individual registada neste paradigma. Para isso, Sujeitos conformistas
tas neste caso! construiu uma tipolologia dos sujeitos criticos,
que passaremos a discutir. 0 primeiro criterio I)Conformistas a n(vel perceptivo - Estes
usado foi 0 numero de erros cometidos por cada sujeitos nao reconheciam que algo de estranho
sujeito. as sujeitos que nao cometiam mais do se tinha passado na situa~ao experimental.
QUADRO V que dois erros (0 maximo de erros verificado na Simplesmente afirmaram que haviam respon-
condi~ao de controlo) foram c1assificados como dido de acordo com 0 que tinham visto. Esta
Rela~ao entre a magnitude do erro emitido pela maioria independentes. Os que cometeram entre tres e categoria foi pouquissimo frequente 8.
e 0 nmnero de erros cometidos pelos sujeitos criticos doze foram classificados como conformistas 7. II)Conformistas a n(vel do julgamento - Estes
(Ensaios criticos) Dentro de cada categoria distinguiram-se os sujeitos reconheciam que haviam dado respostas
sujeitos de acordo com as raz6es que apresen- em desacordo com 0 que tinham visto. No en-
! taram na entre vista para 0 seu comportamento. tanto, justificavam-se dizendo que, se todos os
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

7 De notar que essa designa~ao de sujeitos «basicamente» conforrnistas ou independentes pretende ser apenas
Magnitude
1,75 deScritiva do seu comportamento nesta situa~ao. Nao se pretende dizer que esses sujeitos apresentassem 0 mesmo tipo
do erra 0,75 1 1,25 1,25 1,25 1,75 0,75 1 1,25 1,25 1,25
da maiaria de reac~Oes noutras situa~oes. Para Asch (1956), a questao de saber se existia alguma rela~ao entre certos tipos de perso-
nalidade e 0 comportamento na situa~ao por si criada era uma questao em aberto. No entanto, a investiga~ao posterior
Numero demonstrou que a consistencia individual no grau de resistencia a pressao de urn grupo, em diferentes tipos de situa~oes, e
21 51 fraca (ver Allen, 1975).
de erros 44 30 67 45 53 43 45 44 63 36
g Con vern nao esquecer que estas entrevistas foram feitas antes de ser exp/icado ao sujeito 0 teor da situa~ao em que
dos sujeitos
- •
ttnha Participado. Por isso, e concebivel que alguns sujeitos procurassem mini mizar 0 seu confonnismo. Daf que 0 numero
de conformistas a nfvel perceptivo pudesse ser ainda mais reduzido.
248
• 249

outros respondiam de forma diferente, tinha de pode dispensar a considerac;ao da actividade Co 'vas a generalidade destes resultados. Quer do julgamento pedido (Asch, 1956). Para isso,
ser ele aquele que estava a realizar julgamentos nitiva dos alvos dessa influencia, ao contrario:' r~laU 0 autor pretendeu descobrir quais as numa experiencia 0 autor utilizou dois grupos
errados - caso contnirio, poderiam «interferir» que se poderia pressupor sonambulamente. 0 dl. zer ,
ndiyoes que, no seu parad '"
19ma ongma I, eram de discos coloridos. A tarefa do slIjeito era ape-
corn 0 desenrolar da experiencia. Esta foi a cate- CD nS;lveis tanto pelo conformismo como pela nas a de escolher 0 mais brilhante, tare fa que,
goria mais frequente dos sujeitos conformistas. Conclusoes ~edsPo endencia. Com esse fim, Asch manipulou como se podeni supor, era extremamente faci!o
IJI)Conformistas a nfvel comportamental - 10 ep ., . h Em tudo 0 resto, a situac;ao experimental era
serie de vanavelS que supun a terem
Eram classificados nesta categoria aqueles Limitar-me-ei a uma breve sfntese deste uIlla
. acte directo na mtensl " dade das ten d~' enClas identica ao paradigma descrito. Os resultados
sujeitos que indicavam saber estarem e\es certos resultados, deixando a discussao mais geral dS !I11P nicas SlI b'~acentes a, sua sltlla~ao
. - expen- . foram tambem praticamente identicos aos da
an ta g6
e a maioria errada, justificando 0 seu comporta- seu significado para quando dispusermos d~ mental. A seguir serao apresentadas algumas situac;ao original. 0 autor demonstrou, assim,
mento com a vontade de «nao sobressair». Esta outros dados. des sas variac;oes (Asch, 1952, 1955, 1956). que os seus resultados nao eram dependentes da
categoria teve uma frequencia intermedia (entre a Ern primeiro lugar, foi evidente, tanto quanti, utilizac;ao dos objectos de julgamento originais.
da categoria I e a da II dos sujeitos conformistas). tativa como qualitativamente, que os sujeitos Se No entanto, os seus continuadores nao esgo-
E importante completar a discussao destes encontraram num conflito entre 0 conformislllo A hnportancia do objecto de julgamento
taram aqui a sua curiosidade - no fundo, 0
dados qualitativos com os resultados de uma per- (seguir a resposta da maioria) e a independencia efeito apenas tinha sido replicado para estfmu-
Ate que ponto os resultados que Asch obteve
gunta inclufda na entrevista pos-experimental. (seguir 0 que lhes era ditado pelo que vialll). los visuais. Oaf que se tenham realizado
e devem ao material utilizado? 0 que aconte-
Nesta se pedia uma estimativa do mlmero de
vezes em que 0 proprio sujeito tinha respondido
Esse conflito resultou, na maior parte dos casos,
em independencia. No entanto, a illj7uellc:ia da
~eria se, com base no mesmo tipo de paradigma, milhares de experiencias com todo 0 tipo de
objecto de julgamento (ver a caixa para a refe-
se usassem objectos de julgamento muito dife-
erradamente. Os resultados mostram que maio ria foi indiscutfvel. rencia a algumas dessas variac;oes). Os resulta-
rentes? Asch tentou responder a essa pergunta
enquanto os sujeitos independentes realizam Em segundo lugar, os sujeitos crfticos nao Se dos, no geral, foram coincidentes com os da
fazendo variar os objectos de julgamento, mas
estimativas aproximadas da realidade, os con- limitaram, como agentes passivos, a ignorar uma experiencia original.
conservando 0 caracter absolutamente objectivo
formistas subestimam consideravelmente os seus das fontes do conflito. Os sujeitos crfticos tentaram
proprios erros. Ern media, a diferenc;a entre as explicar e interpretar esse conflito. Tal verificou-se
estimativas e a realidade atinge os quatro erros! tanto para os sujeitos basicamente conforrnistas
De notar, em primeiro lugar, como, de acordo como para os basicamente independentes. o CONTEUnO DO OBJECTO DE JULGAMENTO E 0 CONFORMISMO
com esta analise, a adopc;ao da perspectiva da Ern terceiro e ultimo lugar, a percentagem Niio tem fim as experiencias que fizeram variar 0 objecto de julgamento a partir do paradigma de Asch. Mas
maioria e acontecimento raro (conformistas a do~ errOl> dos sujeitos crfticos nao dependeu as
talvez as mais interessantes digam respeito varia~1ies que versaram cren~as. Seni possfvel encontrar 0 mesmo grau
nfvel perceptivo). No entanto, 0 numero de apreciavelmente da magnitude do erro cometido de conformismo em rela~ao a cren~as que envolvem conhecimentos quotidianos e relevantes fora do laborat6rio?
desacordos entre 0 sujeito crltico e a maioria e pela maioria. No ellfanto, as respostas diver- A resposta e indubitavelmente «siro». Leia-se, por exemplo, urn conjunto de afinna~Oes sobre os Estados Unidos cia
apreciavelmente subestimado. ge11les incorreccw, Sf} .I"urgiram quando pode- America que Tuddenham (1958) - utilizando a tecnica de Crutchfield - toroou como objecto de julgamento. produ-
Em segundo lugar, e evidente 0 modo como os zindo 0 grau habitual de conformismo: «50 a 70% da populafiio tem idade superior a 65 anos de idade», ..A espe-
riam sign({icar compromisso.
dados qualitativos podem emprestar nova riqueza
e
ranfa de vida para uma crianfa do Sf!X() masculino de 25 anos», .. 0 numero medio die/rio de refeifoes por habi-
e e
tante 6» ou .. 0 numero medio ditirio de horas de sono por habitante de 4 ou 5».
a analise quantitativa. Isto porque se demonstra Variac;oes do paradigma de Asch (I) Quanto a opinioes gerais, os sujeitos de Tuddenham (1958) tambem concordaram com afuma~Oes curiosas.
como 0 mesmo comportamento pode esconder Por exemplo: <<.4 maior parte das pessoas estaria melhor se nunca tivesse frequentado a escola.».
diferentes interpretar;6es da mesma situa~iio. Tal A partir do paradigma que acabamos de di~­ Mas talvez ainda mais curioso e 0 facto de afinna~5es absurdas ou pejorativas sobre n6s pr6prios puderem
facto implica que nenhuma explicac;ao compreen- cutir, Asch realizou diversas variac;oes ex pen- registrar os mesmos efeitos (Tuddenham, 1958). Por exemplo: «Niio sou capaz de fazer nada bem.».
siva dos fenomenos relativos a influencia social mentais 9 que procuraram esclarecer questoes Por outro lado, usando ainda ftens de opiniao, Allen & Wilder (1980) demonstraram, engenhosamente. como
a influencia dos outros pode levar a uma reestrutura~ao cognitiva (reinterpreta~ao) do objecto de julgamento. Usando
a tecnica de Crutchfield, os autores demonstraram que os sujeitos a quem foram apresentadas afuma~oes impopu-
'I Algumas da~ experiencia~ a seguir citadas nao sao realizadas nos parametros exactos do paradigma origi nal. Antes,
lares. subscritas por urn grupo unlinime de indivfduos. atribuiram significados invulgares a essas afuma~oes. Esse
utilizam a tecnica de Crutchtield ( 1955). De acordo com essa tecnica. os sujeitos critico~ respondem sos num cubicul o• efeito anulava-se quando 0 grupo nao tinha sido unlinime nas suas respostas (ver sec~1io 3.2.5). Obtinha-se, assim,
tendo aces so as respo~tas dos «comparsa~» por Illeio de um painellulllinoso. Este~ «comparsas» nao existem e a~ luzes silo confrrma~ao para a ancUise de Asch das investig~Oes que fundamentaram 0 sonambulismo.
manipuladas pelo experimentador. Esta tel' nica perlllite hasicamente uma grande economia de tempo e de «comparsas». ~ Niio parecem restar grandes duvidas quanto a generaIidade desconcertante dos efeitos da influencia social
seus resultados sao, no entanto. apesar de mai~ atenuados. estruturalmente identicos aos obtidos no paradigma de Asch. D detectaveis em experiencias que utilizam 0 paradigma de Asch.
que essas experiencias estejam incluidas nesta ~ec«;ao .
250
• 251

Manipula~ao das caracteristicas .dentica ao paradigma original de Asch. aumentaria? Asch (1951) manipulou sistema-
dos estimulos usados QUADRO VII era I Itados demonstraram que essa hip6tese ticamente 0 numero de comparsas na condi~ao
as res u ..
. ouquissimo usada pelos sUJeltos e que ... 0 experimental para responder a esta questiio
Na discussao dos resultados da experiencia Rela~ao entre magnitude do erro fO
I
i rIllis mo aumentou! Porque? Provavel- (foram usados grupos de urn, dois, tres, quatro,
original verificamos que nao existia nenhuma da maioria e quanti dade
mente
°
con porque, ao dotarmos 0 sujeito critico da
. 0 b'~ectIvl
"dadenos seus
oito e dezasseis). Os resultados demonstraram
rela~ao sistematica entre 0 numero de erros 'bilidade de maJOr que, com urn comparsa apenas, 0 conformismo e
de erros cometidos pelo sujeito critico
b' ~ I
cometido pelo sujeito critico e a dimensao do (Varia~ao experimental) . i aIllentos, estamos tam em a f aze-
P OSS!
0 em praticamente anulado, com dois aumenta bastante
erro cometido pela maioria. No entanto, como Juig aD aDS julgamentos dos comparsas. Ora, e com tres atinge aproximadamente 0 seu limite
essa varia vel nao foi manipulada directamente, re a~o 0 sujeito era 0 penu'1 tImo
. a respon der, na maximo. Daqui retirou 0 autor a concJusao de que

--.
Magnitude lIos crros da maioria coIll . ., 'nh
esse resultado pode ter ocultado essa possivel 'or parte dos ensaJOs Ja os comparsas tI am nao e a dimensao da maioria 0 factor explicativo
rela~ao. Para corrigir esse estado de coisas, Asch mat'!izado a regua e com ISSO
. ganh '
0 maJOr capacI-
. essencial para 0 conformismo 10.
(1956) realizou uma nova varia~ao ao seu para- 75 50 25 un - 'D . d
dade de persuasao. e notar am a que se regls- .
digma. Nesta experiencia, foi directamente mani- polegadas polegadas polegadas am casos de sujeitos criticos que depois de A importancia do contexto de enuncia~ao
tar ,. , Ios ( partl-
me d'Ir os estImu .
pulada a discrepancia entre a estimativa da maio-
ria e a realidade. Os resultados demonstraram a Total dos erros
'- jrem, eles propnos,
cularmente nos casos em que, antes deies, os
do julgamento: vicios publicos
versus virtudes privadas
existencia de uma rela~ao negativa entre a mag- dos sujeitos 37 48 82 comparsas tinham feito outro tanto) deram res-
criticos
nitude do erro da maioria e 0 numero de erros postas erradas. Tal s6 refor~a a convic~ao de que Nas entrevistas p6s-experimentais, muitos
cometidos pelos sujeitos criticos (ver Quadro a existencia de respostas conformistas nao dos sujeitos criticos afirmaram existir uma
VII), corrigindo assim a concJusao anterior. Percentagem
de erros
26 33 57 necessita de convic~ao na veracidade destas divergencia entre aquilo que afirmaram publica-
respostas (tal como Asch ja tinha demonstrado mente e aquilo que julgavam certo. Se assim foi,
na analise das justifica~oes dos sujeitos con- entao e de esperar que uma das razoes do con-
o mimero das alternativas de resposta formistas). formismo seja 0 caracter publico do contexto em
A possibilidade de avalia~ao De qualquer modo, estes resultados indi- que as respostas eram dadas. Para estudar direc-
o numero de altemativas de resposta nos objectiva posterior cam que dotar os sujeitos de possibilidades tamente esta questao, Asch (1956) criou uma
primeiros estudos de Asch era, como sabemos, para aumentar a objectividade dos seus julga- situa~ao em que os sujeitos criticos, por
tres. Como sabemos tambem, foi possivel detec- Asch (1956) tentou refor~ar a objectividade mentos pode nao diminuir 0 conformismo, se chegarem «atrasados» a experiencia, nao pode-
tar a presen~a de respostas «de compromisso». do julgamento, avisando os sujeitos, numa o mesmo for fei to para os julgamentos dos riam participar nela. Apenas deveriam observar
o que aconteceria se os sujeitos s6 dispusessem varia~ao experimental do seu paradigma, de que comparsas. e registar as suas respostas num papel e, como
de duas altemativas? Qual seria 0 efeito da no fim da serie de estimativas os objectos de a experiencia estudava a influencia das rela-
impossibilidade de compromisso? Asch estudou julgamento seriam medidos com uma regua. A dimensao do grupo ~oes temporais nos julgamentos, 0 sujeito critico
esta questao numa outra experiencia (Asch, Deste modo, os sujeitos criticos passariam a deveria assentar a sua resposta no papel apenas
1956). Os resultados demonstraram que a saber que 0 desempenho de todos seria avaliado Como sabemos, os erros cometidos no para- quando 0 experimentador 0 assinalasse. Claro
impossibilidade de compromisso, embora nao objectivamente. Os resultados foram identicos digma original de Asch sao devidos apresen~a de que 0 sujeito respondia sempre em pemlltimo
afectando significativamente 0 numero total de aos do paradigma original. Numa varia~ao desta urn grupo de sujeitos que dao respostas erradas. lugar - sentado como estava na sua posirrao habi-
erros cometidos, teve algum impacte na dis- situa~ao (Bello, Campos, Navalho, Ingles e Mas sera que esse efeito se deve a dimensao do tual. Os resultados foram extremamente interes-
tribui~ao desses erros. Quer dizer, aumentou Carapeto, 1986) tomaram disponivel uma regua &ru.po? Quer dizer que, com urn grupo menor, 0 santes: em primeiro lugar, verificou-se, como
tanto 0 numero de individuos que se mostraram durante a sucessao de estimativas, dizendo que 0 efeno deixaria de existir ou, com urn maior, ele previsto, uma diminuirrao apreciavel no numero
independentes como 0 numero de erros que cada mais importante era nao errar, e, como tal, se
sujeito conformista cometia. Isto significa que houvesse duvidas, cada pessoa era livre de se 10 D
e e no tar que esta concIusao parece estar empiricamente errada, Gerard, Wilhelmy & Connolley (1968) nao
tanto os sujeitos potencial mente conformistas levan tar e medir os estimulos antes de responder
s~~ntraram tal ~ecto e Bib Latane desenvolveu uma teoria (que tern registado grande sucesso empfrico) em que a dimen-
como os independentes recorrem a uma estrate- (e, de facto, os comparsas faziam-no alterna~' 1987°, grupo vana nao Iinearmente com 0 seu impacto (para revisoes des sa perspectiva, ver, por exemplo, Garcia-Marques,
• r.aO
gia de compromisso quando tal e possivel. mente em certos ensaios). De resto, a sltua,. a, Latane, 1981; Wolf, 1987).
252

253

pars a foi nula. Mais interessante do que isso ~ . E tra 0 aIiado ... ou da importancia damente : sera que a redu~ao do conformismo
de erros cometidos pelos sujeitos crfticos (de 33
para 12,5 por cento); em segundo lugar, esse
numero de erros continuou a diferir significati-
a reac~ao dos sujeitos cnticos aos erros Co 01
tidos pelo comparsa. Tanto pela observa~'
d:se nao ser uma ilha ocorreu porque 0 sujeito crftico deixou de estar
exposto a urn grupo unanime, conseguindo por
vamente do cometido na condi~ao de controIo; ·
d lrecta ' - como pe Ios resultados ~ao
d a sltua~ao a) A descoberta da importancia do aliado isso libertar-se e responder autonomamente? Ou
d
em terceiro lugar, verificou-se que a influencia entrevistas p6s-experimentais, Asch pade Ve ~s Na mais importante das varia~6es experimen- sera que essa redu~ao se deveu a urn novo con-
da maioria s6 se registava em reIa~ao a erros ficar que os sujeitos crfticos encararam os Co 11· . do seu paradigma basico, Asch introduziu formismo - a submissao ao aliado? Para distin-
. Ill· [81S , . d
moderados da maioria, nao em rela~ao a erros parsas com humor (nam-se em coro das su . sUJ'eitos cntlcos em vez e urn. Embora os guir entre estas alternativas, Asch (1951, 1955)
dOI S
respostas), com desprezo (<<devia estar a ten~
. ,
extremos. De notar que muitos sujeitos afir- resultadoS fossem bastante IOteressantes (0 nu- instruiu urn comparsa para, num caso, fornecer
maram na entrevista p6s-experimental que alguma brincadeira estupida»), e nao lhes Par • ro de respostas erradas baixou para cerca de apenas respostas de compromisso (a maioria
me . .
tinham pressuposto que 0 experimentador iria cia conceptivel que alguem no seu perfeito jUf: d ze par cento), surglU urn problema: mUltas cometia erros extremos em todos os ensaios
comparar as suas respostas com as do grupo, desse tais respostas. Born, mas talvez nao se'~ ~zes, um dos sujeitos cnticos adoptava as res- crfticos), e, noutro, para cometer erros extremos
mas que isso nao teria afectado as suas res- assim tao inconcebfvel, nao acha, leitor? J vostas da maioria e a situa~ao torna-se no habi- (enquanto a maioria s6 cometia erros modera-
postas. ~ual- uma minoria de urn contra uma maioria de dos). Repare-se que, se a redu~ao de confor-
Que concluir deste conjunto de resultados? Urn grupo de comparsas versus seis ou sete. Como Asch queria estudar 0 efeito da mismo anteriormente referida ocorreu por
Basicamente duas coisas: a) que a influencia da urn grupo de sujeitos criticos quebra da una~imid~de n~s re~postas dos sujei- submissao ao aHado, nestas duas novas con-
maioria se faz sentir diversamente, em intensi- tOS crfticos, a sltua~ao aSSlm cnada estava longe di~6es essa redu~ao nao deveria ocorrer - ja que
dade, ao nivel publico e privado II; e b) as varia- A mesma anula~ao do conformismo veriti. de ser idea\. Como resolver 0 problema? Asch em ambas 0 aliado comete erros nos ensaios
veis que afectam urn dos nfveis (e. g., grau de cou-se quando Asch (1952) utilizou no seu (1951) voltou ao ponto de partida, urn sujeito cn- crfticos .
distor~ao da norma grupal) podem nao afectar 0 paradigma urn grupo com nove comparsas e tico e sete comparsas, mas com uma diferen~a Os resultados mostram uma redu~ao no
outro da mesma forma. onze sujeitos crfticos. No entanto, as reac~oes essencial: urn dos comparsas - 0 que respondia mlmero de erros em ambas as condi~6es, em-
dos sujeitos cnticos aos erros dos comparsas em quarto lugar - respondia sempre correcta- bora muito mais acentuada quando 0 aliado
Varia~oes no paradigma de Asch (II): deixaram de ser tao despreocupadas como no mente, opondo-se, por isso, nos ensaios crfticos cometia erros extremos do que quando este
e quem nos Iivra dos outros? Os outros! caso anterior. Apesar de se nao registarem res- amaioria. Passaremos a designar este comparsa «contemporizava» (ou seja, dava respostas de
postas conformistas, os sujeitos crfticos desen- como 0 «aliado», na medida em que responde de compromisso) - respectivamente 9 e 22 por
Vamos continuar a apresentar algumas das volveram esfor~os para compreender e explicar acordo com 0 que 0 sujeito crftico ve. cento de erros. E, assim, claro que a quebra da
varia~6es experimentais do paradigma de Asch, seriamente a divergencia de respostas. Estes Os resultados foram espantosos: 0 con for- unanimidade eo factor decisivo para explicar a
centrando-nos, agora, sobre uma muito impor- resultados demonstram que a existencia de urn mismo baixou de 33 para 5,5 por cento, anulando-se redufiio do conformismo promovida pelo aliado
tante categoria de varia~6es: a que manipuIa 0 grupo de x pessoas que da respostas erradas nao assim quase completamente 0 impacte da maioria! - urn aliado que fome~a respostas ainda mais
apoio social para 0 nao-conformismo. e condi~ao suficiente para 0 aparecimento de Epais facil concluir que enquanto variapJes na erradas do que a maioria e praticamente tao efi-
conformismo - nesta situa~ao esse grupo de x dimensiio da maioria tem um impacte nulo ou no ciente como urn que responda de acordo com 0
o paradigma ao avesso: comparsa isolado pessoas existe e, no entanto, nao se verifica con- mlnimo modesto. a quebra da unanimidade na que 0 sujeito crftico ve 12 .
versus grupo de sujeitos criticos formismo. Para que seja possfvel preyer se se maioria. seja qual for a dimensiio da dissidencia.
verificara ou nao conformismo numa dada edecisiva para a manifestafiio de conformismo. c) 0 efeito da consistencia do comporta-
Asch (1952) inverteu a situa~ao experimental situa~ao, torna-se indispensavel esclarecer as mento do aliado
habitual numa importante, mas muitas vezes condi~6es existentes de apoio social para 0 b) Redufiio do conformismo: quebra da
Ate que ponto e necessaria consistencia da
esquecida, experiencia. Introduziu urn comparsa nao-conformismo, mas os dados que confirmaIn unanimidade ou submissiio ao aliado?
parte do aliaqa para garantir a sua eficiencia na
num grupo de quinze sujeitos cnticos. Os resul- esta conclusao nao se ficam por aqui, como
~ Eevidente que os resultados

----
acima descritos redu~ao do conformismo? Quer dizer, sera que,
tados demonstraram que a influencia do com- veremos a seguir. sao passfveis de varias interpreta~6es. Nomea- uma vez quebrada a unanimidade. 0 aliado se

II Luchins & Luchins (1955 ; 1961) demonstraram que a presen~a do grupo parece ser necessaria para obter efeitoS da Ira
12 A I"
genera Idade desta conclusao e discutivel. Usando a tecnica de Crutchfield , Allen & Levine (1969) demons-
influencia social a mvel privado. Se 0 sujeito cntico escreve 0 seu julgamento na presen~a dos comparsas, 0 efeito eenco ntrl1do• drn
(n: que a eficiencia de urn comparsa mais errado do que a maioria s6 se regista em rela9iio a certos tipos de estfmulos
se
mas se, depois de passar pelo paradigma de Asch, 0 sujeito responde aos mesmos estimulos sozinho, a efeito desvanece- . rneadamente, estfmulos perceptivos). .
254

255

torna dispensavel? Para responder a esta esclarecer urn grande numero de quest6e .ficuldades. A primeira, e a de validar ou imita~ao da fonte de influencia mais poderosa.
l
questao, Asch (1951) criou uma situa~ao em .
ncas ,
nesta area, las veremos adiantSleo..
como aI·' (illas .d 1 uma perspectiva tao geral e tao lata- Quer dizer, era como se os indivfduos entrassem
que, depois de responder correctamente durante e.
Illvaltd:efinida como e 0 sonambulismo comba- num estado de sugesliio. Seria diffcil encontrar
metade dos ensaios crfticos, 0 aliado adere a ,.,e nte Asch. A segunda, e 0 facto de muitos dos uma descri~ao mais irreal dos processos psi-
norma da maioria. Neste caso, 0 conformismo 3.3. Conclusiio: a contribuifiio de t1 lido par efectuados no ambito geral desta perspec- cologicos desencadeados nestas experiencias!
,I ,I • iff 8ch
restabelece-se imediatamente e a nfveis supe- para 0 estuuo ua In uencia So •
A

tOdoS terem deficiencias metodologieas graves, Em primeiro lugar, porque as entrevistas pos-
riores ao habitual. Quand.o , pelo contrario, 0 clQl va con d· d . , .
II bitualmente nao Isporem e urn cnteno -experimentais demonstraram que os sujeitos
comparsa come~a por aderir e depois diverge, a As experiencias de Asch representaram e de harmina~ao do peso relativo das tendencias procuraram activamente compreender a situa-
sua eficiencia na redu~ao do conformismo enorme avan~o nao -, so na acumu Ia~ao de n urn de dele conformismo e para a In . d d~·
epen encla ~ao, considerando explicitamente as consequen-
. " . oVos O
emerge rapidamente. Como explicar estes resul- con heClmentos mas ate na propna defini~ao d para h 1948,1952). Daf que se tome diffcil tanto cias das alternativas comportamentais que
tados quando sabemos que os sujeitos crfticos limites da influencia social. Asch demonstrou Os (AS~ .~ao ou aceita~ao desta perspectiva como a tinham disponfveis .
nao se conformam pura e simplesmente ao alia- o comportamento In IVI ua I pode variar qUe
. d··d d II reJel T
tarao entre os resultados de Asch e os dos Em segundo lugar, porque a magnitude do
, e confr0 n T
do? Asch (1955) defendeu que a explica~ao se acordo com a pres sao de urn grupo, mesmo e ••
erro cometido pela maioria esta associada nega-
estud0 S anteriores. Tendo em conta estes_ itmltes,
encontra na «trai~ao» de que os sujeitos crftieos condi~oes em que 0 indivfduo dispoe de ind~ eremos responder a esta questao? tivamente com 0 numero de respostas erradas
se sentem vftimas. Quer dizer, se 0 sujeito crf- ca~oes objectivas que, em princfpio, dispensariarn
como pod
Se uma das teses oferecidas pelo sonambll- fomecidas pelos sujeitos crftieos. Tal e pura e
tieo, depois de ter aces so ao apoio social fome- o recurso a considera~ao do comportamento dos r mo era a de que urn indivfduo po de ser sujeito simplesmente inexplicavel, de acordo com a
cido pelo aliado, se visse de novo so, mas nao
«trafdo», 0 conformismo nao seria resta-
outros. Mais: 0 comportamentos dos outros Pode
introduzir ambiguidade na realiza~ao de tarefas
;s mudan~as comportamentais arbitnirias pro- perspectiva sonambulisla.
por urn grupo ou por outra fonte de Em terceiro lugar, porque, quando os sujeitos
belecido. Asch (1955) criou uma tal situa~ao: em circunstancias total mente nao ambfguas. Daf lnfluencia, entao os resultados de Asch con fir- crfticos dispunham de apoio social para 0 nao-
o aliado, depois de responder correctamente em que as experiencias de Asch forne~am um mam, no geral, esta ideia - se admitirmos que -conformismo - mesmo que a sua opiniao con-
metade dos ensaios crfticos, abandona a sala complemento inesperado as conclusoes de Sherif. mudan~a nem e total nem atinge todos os tinuasse minoritaria -, 0 «poderoso» grupo
com urn pretexto, e a serie de julgamentos con- Mais concretamente, os resultados de Asch mdivfduos da mesma forma. Sera entao que deixava de ser capaz de promover a sua mu-
tinua com 0 sujeito crftico de novo so face a uma demonstraram como uma norma grupal arbi- Asch confirmou 0 que pretendia desconfirmar? dan~a. E mais, nessas circunstancias, 0 sujeito
maioria unanime. Os resultados mostram que, traria pode fazer com que os sujeitos realizem Born, 0 proprio Asch se mostrou preocupado crftico nao se limitava a ser sugestiollado pelo
nestas condi~oes, 0 conformismo se nao resta- urn numero bastante apreciavel de erros de jul- com a tendencia revel ada pelos seus sujeitos aliado - se este divergisse do grupo efectuando
belece! Isto significa que a experiencia de uma gamento. Demonstram ainda que, apesar desse para se demitirem da sua obriga~ao social de julgamentos errados, 0 sujeito crftico nao 0 imi-
qllebra de 1Illanimidade, desde que 0 responsd- impacto indiscutfvel, os julgamentos dos sujeitos mdependencia (Asch, 1955) 13. Mas se entrar- taria a ele nem 0 grupo!
vel por essa quebra niio Jraqueje na sua mantem-se maioritariamente correctos. Demons- mos em considera~ao com outros dados desta Em quarto lugar, e importante reafirmar que a
resistencia, e suficiente para a redufiio do con- tram final mente como esse impacte pode ser questao, a resposta so po de ser negativa. adop~ao privada da norma arbitraria foi uma
Jormismo. Estes resultados parecem indicar minimizado atraves do apoio social para 0 nao Senao vejamos: outra das teses do sonambu- rara excep~ao, como verificamos pelos resulta-
ainda que 0 aliado niio e apenas importanle por conformismo. Assim. se nos nao limitarmos a lismo prendia-se ao como e porque da mudan~a dos das entrevistas pos-experimentais 14.
quebrar a unanimidade mas tambem por servir considerar 0 impacto da pressao do grupo em ter- do indivfduo pelas Fontes de influencia . Ora, Os resultados de Asch deveriam, assim, ter
de exemplo na resislencia ao cOl~formismo. Para mos do numero de erros cometidos pelos sujeitos segundo 0 sonambulismo, os indivfduos muda- contribufdo para 0 abandono da perspectiva
maior elabora~ao e mais dados sobre esta crfticos, e levarmos tambem em considera~ao as Yam de comportamento (ou de cren~as, ou de sonambulisla. Ten! sido isso que aconteceu?
questao,o lei tor e aconselhado a consultar Allen autodescri~oes do que estes pensaram e senti- ideais) porque queriam evitar uma considera~ao Sim e nao. Se nao resta duvida de que a crftica a
(1975). De qualquer modo, mais adiante forne- ram, entao temos de avaliar esse impacte como pensada das situa~6es, preferindo, em troca, a esta perspectiva se apresenta hoje mais vigorosa
ceremos elementos adicionais rel'evantes sobre ainda mais geral e significativo.
este assunto . Esta rellexao traz-nos de volta ao problema ini-
Como remate desta sec~ao, acrescentarei que 0 cial de Asch. Ate que ponto e que estes resultad~~ IJ Lembremo-nos de que estas experiencias foram realizadas numa epoca imediatamente posterior aSegunda Guerra

estudo do efeito do apoio social para a resistencia podem contribuir para a aferi~ao da validade daJa MUndial. As preocupar;6es sobre 0 confonnismo eram «<eram»?) muito naturais. Repare-se que se 0 sonambulismo fossc
verdadeiro, a conversao das massas a ideais arbitrarios ou desumanos era algo que poderia acontecer a qualquer momento.
a inlluencia de urn grupo (majoritario ou mino- tao mencionada perspectiva sonambulisla? Antes
d 14 Compara-se tal resultado com a adopr;ao individual da norma grupal que sistematicamente ocorre no paradigma
ritario) se tern revel ado da maxima utilidade para de tentarmos responder e necessario reconhecer e Sherif. A razao de ser da diferenr;a sera discutida mais adiante.
256 • 257

do que nunca - e a contribui~ao de Asch e fre- frutuoso 0 desenvolvimento de urna teo' struturas sociais. Mas a obediencia tam- «Presentemente sabemos muito pouco acerca
s
quentemente reconhecida -. nao e menos certo que explicasse tanto 0 padrao dos jUl l1a pleJ{a e res enta urn perigo para a democratici- do efeito da puni~ao na aprendizagem, por se
que 0 sonambulismo continua bern vivo nos mentos efectuados como os resultados gao dm
\}<'
rep
e humalll'd a d e d a nos sa CIVI
. '1'Iza~ao.
- nao terem realizado praticamente nenhuns estu-
noticiarios da televisao ou nos jomais. em certos entrevistas p6s-experimentais. Tal c ~as dade s crimes. massacres. perseguiroes foram dos verdadeiramente cientfficos com sujeitos
. olsa
discursos politicos ou em determinados idearios. em muitos aspectos, d elxou Asch ' Qllo~tOdOS por pessoas comuns que obedeciam a humanos. Por exemplo, nao sabemos que quan-
Nao seria talvez muito arriscado dizer que a fazer. .. Por ,eOIIZO ? Milgram pretendeu estudar em labo- tidade de puni~ao e mais benefica para a apren-
vitalidade do sonambulismo se deve basica- rdens .
o ,. ate on de sao capazes de ir pessoas nor- dizagem - e tambem nao sabemos que impor-
mente a ressonancia que tern no senso comum e ratortO
. ue se limitam a obedecer. tancia tern 0 tipo de pessoa que pune, se urn
as necessidades ideol6gicas que. ainda hoje e mals q d' ,
4. 0 respeitinho e muito honito: Mas antes de descrever estes estu os. convlra adulto aprende melhor com alguem mais novo
infelizmente. pode suprir. res ente a defini~ao que Milgram fomece do ou mais velho do que ele - e muitas outras
o que nao deixa de ser ir6nico e que alguns as experiencias de Milgram ter p 'to de «0bed'lenCla»:« Se y segue 0 man da-
A
'
coisas do genero. Por isso, neste estudo, estamos
coneel
dos actuais crfticos do sonambulismo nomeiem mento de x. diz-se que y obedeceu ax. Se y 0 nao a juntar uma serie de adultos com diferentes
Asch como urn dos seus alvos preferenciais (por 4.1. I ntrodufiio diremos que ele desobedeceu a x. ocupa~oes e idades, e estamos a pedir a alguns
exemplo: Moscovici. 1976). fiIze,r deles que sejam professores e a outros que sejam
Os termOs obedecer e desobedecer. como foram
Mas como nao ha bela sem senao. nao Fora da pr6pria Psicologia Social, as expe_ sados nestes estudos, referem-se apenas a aprendizes. Queremos saber que efeito pessoas
podemos rematar esta sec~ao sem apontar riencias de Milgram foram, certamente, das mais ~c~Oes manifestas do sujeito, e nao contem qual- diferentes tern umas nas outras, enquanto pro-
alguns dos Iimites a estes estudos de Asch. amplamente discutidas: em igrejas e associa~oes quer imp~ic.a~ao sobre as razoes ou e~tados fessores e aprendizes, equal e 0 efeito que a
E YOU discutir apenas dois: clvicas, na comunica~ao social e em inumeros experienclals que acompanhem a ac~ao.» 15 puniriio tera nesta situa~ao. Portanto, pedirei a
a) Asch. como vimos. concluiu que a ado~ao livros dirigidos ao grande publico. Os filmes da Assim podemos. sem duvida, considerar a «obe- urn de v6s para ser "professor" e a outro para ser
privada da norma grupal foi muito rara.Isso experiencia foram dos mais vendidos da psico- diencia» como uma manifesta~ao da influencia "aprendiz". Alguem tern alguma preferencia?»
ter-se-a verificado nos seus estudos. Come- logia cientffica e ate surgiram excertos deles em social. o sujeito crftico e 0 comparsa tiravam a
terfamos urn erro se generalizassemos filmes de Hollywood. Porque este tao grande sorte, e ao primeiro «calhava» sempre ser pro-
excessivamente esta conclusao. Israel sucesso? Por varias razoes . Por urn lado, porque fessor. Imediatamente a seguir ao «sorteio».
(1963) demonstrou como 0 paradigma de sao surpreendentes e ate assustadores. Por outro. 4.2. A situafiio experimental ambos os participantes eram levados para uma
Asch pode ser utilizado para promover a porque, superficialmente, parecem companiveis de Milgram sala contfgua e 0 aprendiz era at ado a uma
adop~ao privada da atitude uniinime. mas a acontecimentos terrfveis da hist6ria recente da «cadeira electrica» - as correias eram justifi-
arbitrana. de urn grupo (para uma discussao humanidade. E, finalmente, porque cal ham as No estudo original (Milgram, 1963) partici- cadas pela necessidade de 0 «aprendiz» se nao
desta quesi3.o. consul tar Allen. 1965); mil maravilhas as teses do nosso famigerado param quarenta sujeitos com idades compreen- mover demasiado enquanto Ihe fossem admi-
b) se e justo reconhecer a utilidade dos dados sonambulismo. didas entre os vinte e os cinquenta anos, que se nistrados os choques electricos. Urn electrodo
que Asch recolheu nas entrevistas p6s- o pr6prio Stanley Milgram nao pareceu apresentaram em res posta a urn amlncio no era preso a urn pulso do «aprendiz» e outro
-experimentais, nao e menos justo criticar muito longe desta perspectiva ao filiar 0 seu jomal. As suas profissoes iam desde carteiro e Jigado a urn gerador situado numa sala
a forma como 0 autor, imimeras vezes, pr6prio interesse pelo estudo da obediencia na professor liceal ate engenheiro e vendedor. adjacente (ver Figura 7). Para aumentar a credi-
usou esses dados como substitui~ao de aten~ao que a psicologia social e clfnica deu aos A experiencia decorreu na Universidade de bilidade da situa~ao, 0 experimentador respon-
uma teoria. Por exemplo, dizer «quando 0 fen6menos da sugestiio (Milgram. 1963)! Yale, nos EUA, num modemo laborat6rio. Uma dia a uma pergunta feita pelo «aprendiz»,
aliado. a meio da serie de julgamentos. Seja como for, Milgram (1963,1965 a, 1974) vez af chegados. 0 sujeito crftico e uma «vftima» afirmando que «em bora os choques possam ser
adere a norma grupal. 0 conformismo explicou claramente os objectivos dos seus estu- (um comparsa do experimentador) recebiam a extremamente dolorosos, nao irao causar danos
restabelece-se porque 0 sujeito crftico se dos e e referindo-me a eles que terminarei este seguinte explica~ao: permanentes nos tecidos epidermicos».
sente trafdo» e mais duvidoso do que subcapftulo.
descrever os resultados das entrevistas. Segundo 0 autor, a obediencia e urn feno-
• 15 Convenhamos que esta defini~ao afasta-se muito pouco do significado da palavra obediencia. E onde se afasla e
Parece, portanto, que, algumas vezes, 0 meno tanto comum como util das sociedades
na SlInplifica~ao que introduz. Assim. nao deixa de ser absurdo considerar que alguem que nao voe, apesar de outrem a isso
autor usou as entrevistas como explica~ao humanas. Fen6meno util porque garante 0 fun- o ellonar, esteja a «desobedecer» ou que alguem a quem se mande respirar esteja a «obedecer» quando respira. No enlanto .
dos julgamentos. Ora, teria sido bern mais cionamento rapido e eficaz das nossas com- eSla falha conceptual nao tom a mais diffcil a compreensao dos trabalhos que iremos discutir.
258 •
259

fa de aprendizagem mais frequente- gerador era falso - 0 unico choque capaz de


7 tare . . . - d
FIGURA tilizada conslstla na memonza~ao e administrar era 0 de 45 volts!
Usociados de palavras. 0 «professor» lia No decorrer da experiencia alguns elementos
Fotografias do filme Obedience as lista de pares de palavras e depois lia a eram constantes:
uma .
. palavra de cada par, Juntamente com a) as respostas da vftima-«aprendiz» (que
elra
pfl'm altemativas. 0 «aprendlz» . .
tmha de esco- cometia urn terr;o de erros) ;
qu atro . que t1vesse
.
uela alternatlva Sl'd0 prevla-
. b) as reacr;6es da vftima - ate aos trezentos
Ih a~mparelhada com a palavra respectiva - 0
er volts nao reagia, aos trezentos volts batia
a) Gerador da experiencia de Milgram. QUinze do JIIente .
ndizl> fazia ISSO carregando num de quatro audivelmente na parede com a mao livre c
trinta interruptores jet tinJuun sido ligados. S ICapre upto d' d' l" I
res que acen lam lIerentes uzes a partir daf nao surgiam mais respostas
IO terr <caixa de resposta» sHua. da na parte supe- sinalizadas na «caixa de respostas» . Nessa
numa (
. do gerador de choques. altura, 0 experimentador indicava ao
noro gerador dis . pun ha de urn pame . I'mstrumen- sujeito crftico que deveria considerar a
I com trinta interruptores numerados de quinze ausencia de respostas como urn erro;
tn I . . d c) em varios momentos no decorrer da
quatrocentos vo ts e com etlquetas apropna as
aue iam desde «choque ligeiro» ate «perigo: experiencia era natural que 0 sujeito crf-
~hOque severo» 420 volts. Os interruptores tieo protestasse ou se aconselhasse com 0
b) 0 «aprendiz» eamarrado a cadeira. numerados com 435 e 450 volts continham eti- experimentador. Cada vez que isso acon-
quetas dizendo apenas «XXX». Quando urn tecesse,o experimentador realizava urn de
interruptor era accionado, acendia-se uma luz- uma serie de incitamentos-padrao que
-piloto, ouvia-se urn zumbido electrico e urn eram feitos na seguinte ordem: «Por favor
voltfmetro marcava a intensidade do choque. continue», «a experiencia requer que con-
Cada «professor» era submetido a urn choque de tinue» «e absolutamente essencial que
45 volts «para testar 0 gerador». continue», «nao tern alternativa, tern de
o experimentador explicava ao «professor» continuar» . Se, ap6s estes quatro incita-
que este deveria administrar urn choque ao mentos, 0 sujeito crftieo se recusasse a
«aprendiz» sempre que este desse uma resposta continuar, a experiencia terminaria;
c) 0 sujeito cr(tico recebe urn pequeno choque para
aumentar a credibilidade da encenafcio experimental.
errada, aumentando a intensidade em quinze d) se 0 sujeito crftico dissesse que 0 «apren-
volts por cada novo erro. Era ainda pedido que, diz» nao queria continuar, 0 experimen-
antes de administrar 0 choque, corrigisse 0 erro tador respondia: «Queira ou nao, voce
do «aprendiz» e anunciasse em voz alta a sua tern de continuar, ate que ele aprenda
voltagem . todas as palavras correctamente» (e depois
o sujeito crftico e 0 experimentador encon- seguiam-se, se necessario, os quatro inci-
a
tram-se numa sala contfgua do comparsa preso tamen tos-padrao );
it «cadeira electrica» e 0 «aprendiz» pode ouvir e) se 0 sujeito crftico perguntasse quem
o «professor» atraves de urn altifalante, embora assumia a responsabilidade pelas even-
d) 0 sujeito cr(tico recusa-se a continuar. ~6 possa emitir as suas respostas a partir dos tuais consequencias nociva~ dos choques,
IOterruptores que acendem as luzes no painel de o experimentador responderia que a res-
comando situado no cimo do gerador. ponsabilidade era inteiramente sua.
Depois de dez ensaios-treino (onde nunca A principal variavel dependente consistia na
(Fonte: Roger Brown. Social Psych%y) se Ultrapassavam os 110 volts), a verdadeira intensidade maxima dos choques que cada
exp .~ .
enencla comer;ava. Ah, e verdade, leitor, 0 sujeito crftico administrava. A situar;ao era gra-
260
• 26\

vada ou filmada e, posteriormente, 0 sUJelto qualificados psiquiatras concordou com tal . 0 demonstraram que os sujeitos viveram a
ISS ,
crftico era entrevistado. Finalmente, explicava- visao, considerando que 0 mlmero de pe Pre. que aOnum estado de extrema tensao - facto FIGURA 9
-se-Ihe 0 teor da situa~ao em que tinha partici-
.
dlspostas a chegar aos 450 volts nao ultr
q~ ItUll~e resto, e, evidente nas varias filmagens das
. apas que, ienci as de Milgram. Mais concretamente, os
pado e os seus objectivos. sana os 0,2 por cento - visto ser essa a perce . Resultados da manipula~ao da variavel
gem media de psicopatas na popula~ao. ~ta. e~~:os que participaram nesta experiencia «proximidade da vitima» nas experiencias
uJe l .
tremiam, nam nervosamente, mord'lam
Resultados (intensidade dos choques) realidade qual foi? a va rn ' (Milgram, 1963)
ua
S I 'bios e murmuravam continuamente. Muitas
A realidade foi bern diferente! Consultern
Born, leitor, ate onde e que acha que iria na oSo oSli diziam que tm 'h am de parar... e contl-- JO,-----------------------------~
Quadro VIII. Nada menos nada mais do qUe 2 veZes
intensidade dos choques? Se as suas intui~6es
dos quarenta sujeitos crfticos foram ate ao ,6 ouavarn .
foram identicas as de duas amostras do sujeito a . d rna·
xlmo 0 choques e 35 dos quarenta ultrap
quem se pediu a mesma previsao, 0 leitor ten! as· - 2S
'5"
saram os trezentos volts! Surpreendente, nao e? ."E
pensado em 150 volts, talvez urn pouco mais, 4.3. Variafoes experimentais
Para vermos ate que ponto isto e verdade , con·.
mas nunca ultrapassani os trezentos volts na sua
suite a Figura 8.
previsao. E de facto, uma amostra de quarenta A partir desta situa~ao de base, Milgram
reaJizou diversas replica~6es e varia~6es experi-
Resultados (entrevista e observa~ao) '-'
mentais (Milgram, 1965 a, 1965 b, 1974), algu- "
QUADRO VIII ~ IS
Os resultados das entrevistas confirmaram que mas das quais irei referir sucintamente.
os sujeitos crfticos nao se aperceberam do teor da
Distribui~o da intensidade de choque
a partir da qual os sujeitos se recusam
simula~ao envoi vida. Mas, mais importante do a) A proximidade da «vitima» O-Lf_-t---t--t·_ -t'_--J
Cnnllll:1U VOl Prnximidude ('nnlncil. de
a continuar a experiencia Milgram fez variar 0 grau de contacto do remnln uudivel prn~ i midad.
Aumenln dn prnximidudc
(Milgram, 1963) FIGURA 8 sujeito crftico com a vftima. A situa~ao que ('(I",fi~ilC' cxpcrimenl;li~

acima discutimos serviu de condi~ao de con-

Numero de sujeitos
o comportamento predito pelos psiquiatras taeto remoto, sendo acrescentadas tres novas
e 0 obtido nas experiencias condi~6es. A saber: condiriio voz aud(vel - a
Indicacslio pard os quais esta
Designacsao da foi a vollagcm (Milgram, 1963) vCtima fazia-se ouvir, protestando com veemen- b) A proximidade da autoridade
verbal voltagem maxima cia crescente dos 150 aos trezentos volts; a par-
100-,.::::----.......- - - - - - - - - -
tir daC tudo decorria como na primeira condi~ao; Se a proximidade da vCtima fez diminuir a
Comp0rlamCnlU uhlido
Choque fraco 15-60 0 obediencia, a proximidade da autoridade talvez
condirlio proximidade - esta condi~ao diferia da
Choque moderado 75-120 0 '" 80
~
devesse faze-Ia aumentar. E foi isso mesmo que
Choque forte 135-180 0
~
-!! anterior apenas na medida em que vftima e
Choque muito forte 195-240 0
"0
1l sujeito crftico eram colocados na mesma sala, Milgram (1965 a) verificou numa nova varia~ao
060
Choque intense 255-285 0 passando a vftima a ser, alem de audfvel, tam- experimental. As condi~6es desta experiencia
-g'" variavam da seguinte forma: 0 experimentador
-a bern visfvel; condifiio proximidade contacto -
300 5 B"0 sentava-se perto do sujeito crftico (condi~ao
('ompurlamcnlU prcvislo nesta condi~ao a vCtima s6 recebia 0 choque se
315 4 'il
":;-
colocasse a mao «numa placa de choque»; como urn); 0 experimentador, depois de dadas as
Choque de extrema 330 2 til
intensidade 345 1 ---'0
~. se recusasse a faze-Io a partir dos 150 volts, 0 instru~6es, ausentava-se e comunicava com 0
3.73 U.f!.~
360 1 O,M
sujeito crftico tinha de for~ar a mao da vftima a sujeito crftico apenas pelo telefone (condi~ao
------- 0
I I I colocar-se sobre a placa. dois); 0 experimentador nunca aparecia na situa-
Perigo: 375 1 0 10 IS 2S 10
~ao - as instru~6es eram fornecidas por uma
Os resultados mostraram que a manipula~ao
20
choque severo 390-420 0
--- da ~encionada variavel «proximidade» teve urn grava~ao (condi~ao tres). Os resultados mos-
(\I I 450 volts
traram existir uma fortfssima rela~ao positiva
XXX 435 0 efeuo impressionante. A obediencia decresceu
Inlcnsidadc cresccnle
450 26 Grau de choquc sUbstancialmente a medida que a proximidade entre proximidade da autoridade e os nfveis de
aumentou (ver Figura 9). obediencia alcan~ados.
262
• 263

c) 0 prestigio da autoridade e) A consistetlcia da autoridade 'yola') (Milgram, 1965 a, p. 75). Eo homem de oito em oito horas durante dez dias. E prova-
lIle
rJl . I como uma Bela Adormecida, continua vel que obedecesse no primeiro easo (mesmo
Urn factor que poderia ter contribufdo para Noutras experiencias, Milgram (1974) ~ llI
. . ,.
num caso, com que 0 sUJelto cntlco se confr '
ez SoC ~bulamellte aespera, e em vao, do beijo do que nao visse nenhum sinal de estacionamento
estes resultados e 0 prestfgio de que a Uni- so/la1 d
. . d
tasse com dOls ex pen menta ores com opini~
On. , .
, eipe Teo nco que 0 esperte ... proibido) e desobedecesse no segundo. E os
versidade de Yale dispoe nos EUA. Se assim
·
dIvergentes so bre a conttnuaerao
. - da adrnin·Oes PfI;oderemos subscrever com confian9a a inter- sujeitos de Milgram? Born, e na verdade espan-
tivesse sido, a replicaerao desta experiencia num IS·
laboratorio de menor prestfgio deveria, com traerao dos choques; noutro, as funeroes do expen.. retll~ao que Milgram fa~ dos ~eus r~s~ltados? to so que estejam dispostos a cumprir determi-
mentador foram delegadas num sujeito (corn. P .ficilmente ... Isto por tres motlvos baslcos: na90es que podem, aparentemente, por em
certeza, atenuar 0 grau de obediencia verificado. DI . I . _.
parsa do experimentador). Em ambos os casos Em primelro ugar, a tnterpreta9ao aClma perigo a vida de outrem. Mas e muito duvidoso
Milgram (\ 965 a) testou esta hipotese num
nfvel de obediencia baixou consideravelrnen; 0 bo~ada envol ve uma apreciavel generaliza9ao que estejam dispostos a obedecer, «qualquer que
«laboratorio» com aspecto velho e desleixado,
situado num ediffcio normal do centro da cidade
e. ~~s resultados de u~ conjunto de experi~ncias seja 0 conteudo do acto». Nao e muito crfvel que,
de Bridgeport, em nome de uma organizaerao
am a realidade socIal. Ora, tal generahza9ao se 0 experimentador os mandasse pegar numa
desconhecida: a Research Associates of
4.4. Conclusoes Pnyolye urn sem-numero de incognitas, e e por pistola e matar 0 am ante da mulher, eles pronta-
Bridgeport. Os resultados foram novamente sur- ~sso altamente discutfvel que se possa aceitar 0 mente obedeeessem 16. De notar que, neste caso,
preendentes, na medida em nao demonstraram
E provavelmente facil de compreender 0 laboratorio como urn modelo do mundo social a autoridade - 0 experimentador - exeree a sua
exito «mundano) dos trabalhos de Stanley (Tumer, 1981; ver tambem Da Gloria, neste autoridade num domfnio de delimita9ao parti-
nenhuma apreciavel reduerao do grau de obe-
Milgram sobre obediencia. Sao impressio_ volume). A generaliza9ao dos resultados de uma cularmente diffcil para os sujeitos em causa - 0
dil~ncia. E, no entanto, muitos sujeitos reve-
nantes, inesperados, com consequencias eticas experil~ncia tern de ser mediada teoricamente - laboratorio (ver Darley, 1995, para uma interpre-
laram, nas entrevistas pos-experimentais, ter
evidentes, reveladores de algo sobre a «natureza easo eontrario, e impossfvel seleccionar aquelas ta9ao semelhante da situa9ao de Milgram). Quer
grandes duvidas sobre a credibilidade da tal
humana» - e se os usarmos como urn dos termos que, das inumeras diferen9as que existem entre dizer, num domfnio em que 0 seu grau de expe-
Research Associates of Bridgeport.
de uma analogia, em que 0 outro se chama uma dada situa9ao de laboratorio e uma dada riencia anterior e mfnimo - mfnima sera tam-
«nazismo», sao assustadores. situa~ao natural, sao essenciais no condiciona- bern, consequentemente, a sua capaeidade de
d) A influencia dos outros e 0 peso do apoio Mas, exactamente, 0 que e que nos e dito por mento de tal generaliza9ao. Ora, neste caso, a apreensao das caracterfsticas basicas dessa situa-
social para a desobediencia estes resultados? 0 proprio Milgram assevera- posi~ao teorica do autor e tao vaga que qualquer ~ao. E ineerto que se atinjam, em eondieroes
Milgram ( 1965 b) realizou ainda outras varia- -nos que «uma propor9ao substancial de pessoas generaliza9ao feita a partir dela sera de validade menos incomuns, e sem coer~ao, os nfveis dra-
er oes , em que foram introduzidos novos partici- faz 0 que lhes mandam, qualquer que seja con-° indeterminavel. maticos de obediencia aqui verificados.
pantes (comparsas do experimentador). Numa teudo do acto e sem entraves de consciencia, Em segundo lugar, Milgram afirma que uma Em terceiro e ultimo lugar, notemos que
experiencia, a sessao de aprendizagem com- desde que considerem 0 comando como emitido autoridade, desde que considerada como legf- a explica~ao em termos de urn sentimento
preendia tres «professores», dos quais apenas por uma autoridade legftima» (Milgram, 1965 a, tima, pode induzir obediencia, qualquer que seja de desresponsabilizaerao experimentado pelos
urn era «crftico)). A meio da experiencia, os dois p. 75). A chave destes resultados seria, para 0 o conteudo do acto em causa. Isto e relativa- sujeito nao e satisfatoria. Isto porque na expe-
«professores» comparsas do experimentador autor, 0 facto de os sujeitos disporem de uma mente paradoxal, porquanto uma autoridade riencia em que 0 experimentador fornecia as
recusavam-se a continuar a administraerao dos autoridade que se responsabiliza pel as conse- legftima exerce-se tipicamente dentro de uma instru~oes pelo telefone (responsabilizando-se
choques. Mais de noventa por cento dos sujeitos quencias do seu comportamento, sentindo-se area mais ou menos restrita de competencia. Urn na mesma por todas as consequencias), a obe-
crfticos 0 fez tambem (Milgram, 1965 b). estes «desresponsabilizados». Milgram confes- polfcia agira na sua area de competencia se me diencia baixou eonsideravelmente.
Noutra experiencia identica a anterior, os sa-se perturbado com as suas experiencias que mandar sair de urn local de estacionamento Que conciuir entao destes estudos? Conser-
comparsas continuavam obedientemente a indicam estar ao alcance de urn agente social oU Proibido, mas, pelo contrario, exorbitara essa vemos, sem duvida, a demonstra~ao de que indi-
seguir as instrueroes ate aos 450 volts (Milgram, institui9ao investido de autoridade. Resumindo: competencia se me mandar tomar urn antibiotico vfduos normais em condi90es particulares sao
1965 b). A obediencia aumentou apenas muito «Estes resultados levantam a possibilidade de
ligeiramente. Portanto, a intluencia dos outros que a natureza humana, ou mais especifiea- -------
mente 0 tipo de caracteres produzido na demO- 16 Vem a propos ito 0 episodio ocorrido com um jovem assistente de Charcot (neurologista frances e grande pioneiro
foi mais eficaz na facilitaerao da desobediencia ~o e~tudo do hipnotismo), que, aproveitando-se da ausencia do mestre, pretendeu induzir hipnoticamente uma pacientc a
do que na promoerao da obediencia. Note-se, eratica sociedade americana, nao possa imunizar
e.~plr-se em pUblico . Tudo 0 que conseguiu, contudo, roi um bom par de estalos! Como Charcot Ihe explicou posterior-
mais uma vez, 0 impacte «libertador» do apoio os seus cidadaos da brutal idade e do tratam ento :ente,o seu erro tinha ~ido 0 de nao ter sugerido um contexto on de 0 facto de tirar as roupas fosse natural... Ate 0 poder
e
social. desumano sob a direeerao de uma autoridad n SUgestao hlpnotica nao parece ser de exercer-se sem restri,,6es e conteudo.
264
• 265

capazes de actos objectivamente crueis e desu- episodios excepcionais, tais exemplos na . descritos anteriormente). Pelo menos Kiesler e Kiesler, 1969; Krech, Crutchfield e
manos. Mas nao esque~amos tambem como, xam de constituir urn born argumento 0 dei. lter.l!iITIente, essa visao unilateral deve-se ao Ballachey, 1962).
noutras condi~oes, em especial quando dispoem considera~ao da possibilidade de que Um ~~ta a plll'CI te uso de comparsas - que, como
Uen .
de apoio social para a desobediencia (ver ponto influencia se possa tomar urn emisso r bem 0 de freq in stru~oes preclsas sobre 0 compor- e) 0 consenso almejado pelos interciimbios
cebeITI . nao
- podem ser
4.3) , os mesmos indivfduos sao capazes de cons- d I'd O. Essa consl'd era~ao - sena,. passa POr sUce. re ue devem assumlr, de influencia e baseado na norma da
rnento q ..
cienciosamente desobecer (ver Brown, 1985; explica~ao das razoes pelas quais existem t ullla III
enc
iados pelo comportamento dos sUJeltos objectividade
. IIIf\u
Gamson , Fireman e Rytina, 1982) . S\!ja como «seltas» poI'Itlcas
. e re I'Iglosas
. antas
e tantas teo'
_crI'ticos». Quer isto dizer que a busca da uniformidade
for, nao parece, mais uma vez, 0 sonambulismo cientfficas de que 0 leitor nunca, ou s6 m~as
. u~ social se faz com referencia a realidade e, como
capaz de , na sua simplicidade, fomecer uma vagamente, OUVIU falar, enquanto algumas d Afiunfao da influencia social ea de man-
b) ler e reJoTf;ar 0 contro I0 socIa
•I tal, 0 consenso alcan~ado tern de ser urn reflexo
adequada explica~ao para estes resultados. nossas mais banais concep~oes foram tam be as
dessa realidade.
no passado, apenas defendidas, e arduame Ill,
. d"d . Iad os. nte, E um facto que~ m.uitas reflexoes sob~e os
por In IVI UOS ISO 'menDS de influencla (Hare, 1962; Festmger,
fen o... _ j) Todos os processos de influencia sao vis-
A explfcita considera~ao destas questoe
5. A influencia social de pernas para 1950; Secord e Ba.ck~an, 1964) pressupo~~ los sob a perspectiva do conformismo, e 0
devemo-Ia a Serge Moscovici , autor que, a Parti~
oar: 0 paradigma experimental de ue alcan9ar os obJectlvos de urn grupo so e conformismo, por si, e tido como sub-
Moscovici
do fim dos anos 60, desenvolveu urn prograllla ~ossfvel se existir unanimidade ou pelo menos jazendo as caracteristicas essenciais
de investiga~ao sobre urn aspecto negligenciado
grande consenso nesse grupo. destes processos
na area da influencia social: a inova~ao, qUer
dizer, a mudan~a das norm as de urn grupo pra- c) As relafoes de dependencia determinam a Este pressuposto e apenas uma consequencia
5.1 I ntrodUfiio movidas por uma minoria (Faucheux e dos anteriores (em especial dos tres primeiros).
direcfao e a quantidade de influencia
Moscovici, 1967; Moscovici, Lage e Naffre. social exercida num grupo Estes cinco pressupostos promoveram a urn
Ate agora temos discutido situa~oes em que choux, 1969; Moscovici e Lage, 1976, 1978; lugar central, segundo 0 autor, variaveis secun-
urn sujeito exposto a urn emissor de influencia Moscovici e Neve, 1971 , 1973; Moscovici e Por exemplo, os indivfduos conformam-se darias como a dependencia e a incerteza, e fize-
(grupo , autoridade, etc .) se confronta com duas Personnaz, 1980). aos grupos porque dependem deles tanto para ram negligenciar as fun~oes que a divergencia
altemativas: manter a independencia ou confor- Tal como Asch, tam bern Moscovici firmou 0 mterpretar a realidade como para satisfa~ao ocupa na vida normal dos grupos humanos e das
mar-se. Mas sera que, na realidade , 0 alvo da seu proprio terreno numa crftica a perspectiva das suas necessidades de afilia~ao (Deutsch e sociedades. De notar que esta atribui~ao de urn
influencia social so dispoe destas alternativas de vigente em influencia social - aquela que ele Gerard, 1955; Jones e Gerard, 1967; Thibaut e lugar subordinado as variaveis acima referidas e
ac~ao? A ser assim , as questoes sao as de saber designou por «funcionalismo». Esta perspectiva Strickland,1956)17. das posi~oes mais discutfveis de Moscovici
porque e e como e que os grupos humanos assenta, segundo 0 autor (Moscovici, 1976; (para uma crftica, ver Gerard, 1985; Levine,
mudam e passam a misterios de diffeil solu~ao . Moscovici e Faucheux, 1972), nos seguintes d) Os estados de incerteza e a necessidade 1980, 1989). Por razoes de conveniencia de
Mas talvez nao sejam a manuten~ao da inde- pressupostos: de reduzir a incerteza determinam exposi~ao, adiaremos, no entanto, a discussao
pendencia e 0 conformismo as unicas alterna- as formas tomadas pelo processo de da sua importancia para 0 ponto 6.1 18.
tivas para a ac~ao ... Pelo men os em certas injluencia Por contraste com esta perspectiva, desen-
a) A influencia social e desigualmente dis-
condi~oes parece conceptfvel que 0 alvo da De facto, desde Sherif ate hoje, a maior volveu Moscovici uma nova abordagem dos
tribuida e exercida de forma unilateral
influencia considere uma terceira altemativa: a parte dos teoricos da urn lugar central ao grau fenomenos de influencia que designou por teo-
tentativa de fazer 0 grupo mudar. De facto, a esmagadora maioria dos trabalhos de incerteza experimentada pelos alvos da ria genetica (Faucheux e Moscovici, 1967;
E, de facto, a historia esta repleta de exem- realizados ate entao debru~ava-se sobre a inves- influencia na determina~ao dos respectivos Moscovici, 1980; Moscovici, 1976; Mosco-
plos de pensadores e de cientistas e de politicos tiga~ao dos efeitos que urn emissor de influencia processos. (Allen, 1965; Hollander, 1960; vici e Faucheux, 1972; Moscovici, Lage e
que se nao conformaram a dependencia, e que , (grupo, especialista, autoridade) tinha em deter-
ousadamente, se esfor~aram , com exito, por minado alvo. Quase nunca se considerava a pos- . 17 Mais adiante discutiremos as rela..6e!'. entre diferentes tipo!'. de «dependencia» (normativa e informativa) e a
modificar as opinioes do seus colegas e contem- sibilidade de que uma entidade pudesse s~r, Inf\uencia ~ocial.
poraneos. Mesmo sabendo que a historia e simultaneamente, emissor e alvo de influencl8 • 18 Por outro lado e evidenle que esta amilise deve muito 11 crftica que Asch realizou do sonambll/ismo . em bora tal

sobretudo representada a partir da colec~ao de (como excep~ao, relembremos os trabalhos de nao seja eXplicitamenle reconhecido por Moscovici.
266

267

Naffrechoux, 1969). Esta abordagem pode ser parariio em que a minoria compara 0 de sucesso ou de insucesso de urn dado da minoria. Moscovici (Faucheux e Moscovici,
sintetizada da seguinte forma (Garcia-Marques, comportamento com 0 da maioria. Ao segU Sell de influencia? A proposta do autor 1967), no entanto, chama a aten~ao para 0 facto
1987 a): esta subjacente urn processo de validaraondo obre 0 que ele designou por «estilo de que essa «maioria» laboratorial e considerada
que a maioria tenta adquirir nova inforrna e~ s mental». Estilo comportamental e como uma «minoria» relativamente a totalidade
i) A distin~ao entre realidade objectiva e que valide 0 seu comportamento. ~ao za~ao intencional dos sinais verbais dos outros seres humanos. Porque? Porque a
social e negada - a realidade e perspectivada _ verbais, que exprime 0 significado do grande maioria dos sujeitos crfticos continua
nao
como uma constru~ao social . Daqui derivam algumas consequencias: res ente e a evolu~ao futura daqueles provavelmente convene ida da correc~ao da sua
ii) A influencia social nao e necessariamente Devido a possibilidade de desestabiliza
r o e~ibem (Moscovici, 1979). Como toda a percep~ao da situa~ao e que, portanto, «Ia fora»,
resultado de informa~ao objectiva insuficiente realidade social vigente a partir da contesta _a de comportamentos comporta dois o resto do mundo estaria de acordo consigo e
~ao
ou ambfgua, necessidade de aceita~ao ou medo das normas que a fundamentam, uma minoriad : 0 seu aspecto instrumental fornece nao com aquela estranha «maioria de labo-
de rejei~ao pelo grupo. A influencia social e indivfduos e capaz de, sem poder, competen/ informa~ao sobre 0 objecto que e julgado; ratorio» . Oaf que 0 sujeito «crftico» seja
.. I la
uma forma de negocia~ao, a partir da qual se ou qua Iquer estatuto especlals, evar a mOd'fj seU aspecto simbolico informa-nos sobre a minoritario naquela situa~ao, mas «represen-
II·
conserva ou modi fica uma dada defini~ao mais ca~ao dessas mesmas normas . Esta inova~ao ' que adopta esse estiJo» (Doms e Mos- tante» de uma «maioria de facto» (extralabo-
ou men os consensual da realidade. possfvel mesmo em condi~6es de complete 1984, p. 64). ratorio). So assim se compreende, segundo
iii) As fun~6es qa influencia nao sao apenas ausencia de ambiguidade objectiva do jUIga~ Os ~stilos comportamentais mais estudados Moscovici, a nao aceita~ao privada da influen-
de controlo social, sao tambem as de mudan~a mento requerido, A ambiguidade nao e, para sido a f1exibilidade mas sobretudo a cia dos comparsas manifestada nos resultados
social. Moscovici, uma condi~ao necessaria para a _ .. ,,,n,,,,,,· , definida em termos da repeti~ao das entrevistas pos-experimentais de Asch.
iv) Esta negocia~ao envolve tres processos de influencia social, mas sim urn resultado poS- afirma~6es , evitamento de contradi- Mas a que se deve, entao, a impacte dessa
gestao do conflito que ocorrem na genese, sfvel da sua ac~ao (veja-se 0 caso das experien_ etc. 20 «minoria de facto»? De acordo com Moscovici,
manuten~ao e desenvolvimento dessa defini~ao cias de Asch), partir desta perspectiva, Moscovici esse impacto fica a dever-se Ii consistencia sin-
da realidade: a) Normalizariio - 0 conflito advem Por outro lado, em virtude de v), as diferen~as .;ntpmrp.tclil as i nvestiga~6es de Asch e desen- cronica do seu comportamento, quer dizer, Ii
da cria~ao de uma norma, e a sua resolu~ao faz-se entre inova~ao e conformismo conduzirao a que uma serie de estudos que procuraram unanimidade das suas respostas. Note-se que
atraves de concess6es recfprocas (como exemplo, a aten~ao do alvo de influencia esteja centrada a realidade de fenomenos que ate se basta que 0 indivfduo disponha de urn aliado (ou
tomemos as experiencias de Sherif); b) Confor- no comportamento da maioria, no caso da ino- considerar ocultos: os relativos aos seja, que a consistencia sincronica seja que-
mismo - 0 conflito gera-se na manuten~ao da va~ao, e no objecto de julgamento Oll estimulo. "",,,,Q • •" . de inova~ao. brada) para que 0 impacte dessa «minoria de
defini~ao de uma dada norma e e resolvido no caso do conformismo. Oaf que Moscovici facto» se reduza dramaticamente.
atraves da submissao do indivfduo ao grupo (1980) preveja que a aceitariio pliblica da Seria entao Asch, sem 0 saber, 0 primeiro
(experiencias de Asch). Este processo ocorre influencia seja maior no conformismo do que na A influencia social de pernas para investigador a demonstrar que urna rninoria con-
principalmente nos casos em que a maioria e inova~ao, mas que suceda 0 contrario em rela- oar: a reinterpretariio das investi- sistente pode modificar 0 cornportarnento de
nomica e a minoria (ou 0 indivfduo isolado) e ~ao a aceitariio privada. No cerne do confor- gafoes de Asch uma rnaioria (ou, pelo rnenos, de urn seu «repre-
Clnomica 19; c) Inovariio - 0 conflito surge a partir mismo estara, portanto, a sllbl11issiio. enquanto a sentante» ).
da contesta~ao por parte de uma minoria nomica inova~ao implicara conversiio. Como sabemos, Asch criou uma situa~ao em Nao custa conceder a Moscovici merito,
das normas vigentes e e frequentemente resolvido Mas se nao sao nem a dependencia nem a uma minoria de indivfduos (urn, mais exac- engenho e originalidade nesta sua reinter-
atraves da mudan~a das normas grupais. ambiguidade objectiva das situa~6es as varia- ) era submetida a pressao implfcita preta~ao de urn conjunto de trabalhos tao irn-
v) Os processos psicossociais subjacentes ao veis cruciais na explica~ao dos fenomenos de pelo comportamento de uma maioria portante e conhecido como e a de Asch. No
conformismo e a inova~ao sao distintos. Ao inlluencia, qual e entao, para Moscovici, a (comparsas do experimentador) . Os entanto, existem raz6es para contestar esta
primeiro, esta subjacente urn processo de COI11- variavel decisiva na determina~ao das con- . demonstraram que essa maioria tern reflexao de Moscovici (ver caixa na pagina
tmpacto significativo no comportamento seguinte).
'ndivi·
)9 Esta dislinc;ao, original mente feita por Durkhcim. e desenvolvida por Moscovici (1976). entre grupos e I a
"
d uos nomlcos "
e anomlcos b "
ase.a-se. • ' d a posse d e «urn co'd'Igo com.
respecllvamente. na posse ou na ausencla urn uma nannII'
reconhecida. uma resposta dominante. ou urn consenso identificado» (p , 75) , Quer dizer. urn padrao organizador percep
20
vel do seu comportamento, A enOrme latitude desta definic;ao ira, como veremos, tmzer problemas a csta abordagem.

268 269

'd de visual. Desses, dois 21 eram com- Este teste era aplicado individualmente. A fun~ao
acU1doaexperime?tad~r. E. s~a f ase tm
. ha como desta terce ira fase consistia em verificar ate que
RAZOES DE INSATISFA<;lo EM RELA<;AO A. REINTERPRETA<;lo
ao s6 elimmar mdlVlduos com proble- ponto e que as respostas da minoria faziam modi-
DAS EXPERIENCIAS DE ASCH REALIZADA POR MOSCOVICI
~isiiO como fazec saber aos sujeitos que ficar 0 Iimiar de diferencia~ao entre 0 azul e 0
de , . - b verde - correspondendo esse resultado, a ser
1.a razao oS participantes possUlam uma Vlsao a so-
Seg~ndo Moscovici, os sujeitos crfticos de Asch sao confrontados com urn estranho grupo de indivfduos ( normal. obtido, tanto a uma reestrutura~ao perceptiva
«maioria de labomtorio» mas «minoria de facto»). Qual podenl ser 0 criterio subjectivo (quer dizer, do <<sujeitou~. .....'ffit:iu.-
como a aceita~ao privada da inova~iio. As res-
tieo») para a inclusao de urn individuo nesse grupo? E evidente que s6 pode ser 0 comportamento que exibe en. postas a este teste constitufam, assim, a segunda
assim se compreende a delimita~ao que Moscovici realiza, em nome dos sujeitos «crrticos», em maiorias e min -.s6 segunda Jose
variavel dependente desta investiga~iio.
«de facto». Se assim e, como sera c1assificado 0 aHado nas condi~Oes de apoio social pam 0 nilo-conformismo~r~ am projectados diapositivos com dois tipos
«maioria de labomt6rio/minoria de facto» nunca, porque exibe urn comportamento antag6nico a ela. Se nao perten a Ee
tiltros: urn com a gama d '
ommante azu I, e que
a ela, como pode tormi-Ia, entao, inconsistente ou menos do que unlinime, como defende Moscovici? ce
1 a passagem dos raios luminosos, e QuartaJase
Note-se que este argumento atinge nao s6 a reinterpreta~ilo dos resultados de Asch, mas tamMm a viabilidad
da explica~ao destes resultados baseada na importancia do estilo comportamental sincronamente consistente ado e
que reduzia a intensidade luminosa. Nesta fase, os sujeitos crfticos respondiam a
tado pelos emissores de influencia. 0 mesmo aconteceni no que diz respeito It proxima mzilo. P- us ados 24 diapositivos variando em dois urn questionario pas-experimental e era-Ihes
de luminosidade. Eram pedidos dois jul- fornecida uma explica~ao sobre 0 teor da situa-
2.· raziio .a",,~n[{JS aos sujeitos: para indicarem a cor do ~ao. Existia tambem uma condi~ao de controlo
Se e a consistencia comportamental que promove os niveis de influSncia verificados nos experiencias de Asch e para estimarem a luminosidade em tudo igual a condi~ao experimental, excepto
como explicar que urn grupo consistente de comparsas quase nao produza impacto nas respostas publicas dos sujeito;
«crfticos», quando estes os enfrentam em grupo? (ver sec~ao 32.5).
escala de urn a cinco. Os julgamentos quanto a ausencia de comparsas - os grupos
anunciados publicamente e sempre na eram assim constitufdos por seis sujeitos
3.a raziio ordem. Os comparsas (que intervinham «crfticos» .
Admitindo, sem conceder, que as experiencias de Asch revelam tao-s6 influencia minoritaria, como e que a primeiro e em segundo ou em primeiro e em
abordagem de Moscovici pode explicar 0 baixfssimo nrvel de aceita~ilo privada da influencia que af se registou? lugar) anunciavam sempre a mesma
Resultados
E 0 apreciavel grau de aceitayao publica? Tais resultados contradizem c1aramente 0 pressuposto v) da sfntese d. em rela~ao a cor: «verde». Quanto ao
Teoria Genetica que anteriormente discutimos. Quer dizer, se a reinterpreta~ao estiver certa, a sua teoria estad
1l2ameillto de luminosidade, respondiam como Os resultados foram decisivos. Enquanto na
provavelmente errada ...
parecia. A primeira variavel dependente
condi~ao de controlo s6 se registaram 0,25 por
4.· razao pois, 0 numero de respostas «verde» dadas
cento de respostas «verde», na condi~ao experi-
Ests ultima mzao e empirica. Numa experiSncia realizada por Doms & Van Avermaet (1985), em que foi uti· sujeitos crfticos.
mental essa percentagem atingiu os 8,4 por
Iizado 0 paradigma de Asch, pediu-se aos sujeitos «crfticos» , no fim da sucessao de julgamentos, que eSlimassem.
percentagem de pessoas que julgaria os estfmulos como os emissores de influencia (os comparsas) fizemm . A media cento. Esta diferen~a entre as condi~oes experi-
das estimativas atingiu os 47.8 por cento. Demonstra-se assim que a experiencia da situa~ao tern um impacto nilo 86 mental e de controlo constitui uma medida da
nas respostas dos sujeitos mas tambem na representatividade percebida dessas respostas. No fim dos 24 pares de julgamentos era dito aceita~ao publica da influencia da minoria. Esta
sujeitos que urn colega do experimentador influencia pode ainda ser visfvel no facto de
Resumindo: embora muitos dos argumentos de Moscovici sejam 6ptimos em si, quando tornados em conjunto
aplicar uma «contraprova» para estudar os que, enquanto na condi~ao experimental mais de
sao de validade duvidosa.
da fadiga na percep~iio das cores. Essa 95 por cento de sujeitos responderam inva-
a:orltr",run. era 0 teste de Farnsworth sobre riavelmente «verde» a todos os diapositivos,
5.3 A influencia social de pernas para construiu 0 seu mais conhecido paradigma expe- !JWfc:ep\;ao de cores. Este teste contem series de essa percentagem baixou para 43 por cento na
oar: 0 paradigma experimental de rimental: 0 descrito em Moscovici, Lage e Naffi'e variando ligeiramente em colora~ao. Os condi~ao controlo.
choux (1969) . A situa~ao era apresentada co~ relevantes eram aqueles em que as series Mas mais importante ainda: verificou-se uma
Moscovici. Os primeiros estudos
urn estudo sobre perce~ao das cores e a condl .dn'~,,~_ gradual mente do azul para 0 verde e os diferen~a significativa nos Iimiares de diferen-
~ao experimental desenrolava-se em quatro fases: tinham de nomear a cor de cada drculo. cia~ao entre 0 azul e 0 verde dos sujeitos das
Descri~ao da situa~ao experimental
Primeira Jase
Foi sa depois do primeiro estudo realizado por res 21 Moscovici usou uma minoria de dois individuos em vez de apenas urn, para impedir que se pudessem ignorar
Faucheux e Moscovici (1967), que Moscovici · m
Sels . d IVI
' 'd uos eram submetl'd os a urn teste POstas da minoria sob 0 pretexto de que a divergencia que se iria verificar se devia a factores idiossincratieos.
270

271

condi90es controlo e experimental. Mais con- apreciados do que os outros membros ~ . ria respondia sempre «verde-azuh) - , e interessante verificar que os sUJeltos criticos
, lOra nO
cretamente, os sujeitos criticos que participaram considerados menos competentes na perce ~ J1I1ndi~aO «aIeatona»
' . - a mmona. . respon d'la percepcionaram os comparsas menos desfavo-
na condi9ao experimental designavam, no teste das cores mas mais autoconfiantes. Quer di:~ao CO de das vezes «azub) e a outra metade ravel mente na condi9ao «correlayao) do que nas
J1Ietade») em sucessao - a Ieaton
,. a - , con d'19ao
- «cor-
de Farnworth, urn maior numero de cfrculos da .
mmona, . apesar de reIallvamellle
' eficienteer' a outras. Resumindo: uma minoria respondendo de
er . , respon d'la metade das vezes
«v aO»)' - a mmona
gam a azul/verde como «verdes)) do que os promofiio de inovafiio, foi negativamente na forma diversificada, embora coerente, foi mais
rela~
sujeitos da condi9ao controlo. Esta diferen9a Uada pelos sujeitos crfticos, considerada aVa_ ul» e a outra metad e «verde)), mas eXlstla . . eficaz do que uma minoria que manteve conti-
. aUto_
«lIZ correla9ao perfeita entre a utiliza9ao de nuamente a mesma res posta ou do que uma
entre condi90es deve ser considerada como uma conrfitante ... mas mcompetente.
medida da aceita9ao privada da influencia da u~: uma das cores e a luminosidade dos 28 dia- minoria que apresentou sempre uma res posta que
minoria. Merece realce urn outro resultado C8
ositivOS - e con d'lyaO
- «contro I0» - sem III . fl uen- A
indicava compromisso. Portanto, uma minoria
Algumas varia'toes experimentais
obtido por Moscovici et al. (1969): nao existi- p. minoritaria (sem comparsas do experimenta- niio deve a sua ejicieneia a sua eapacidade do
CIa
ram diferen9as no desempenho do referido teste d r). as resultados sao apresentados no Quadro conflito nem a sua capacidade de compromisso,
Consistencia e conflito
entre os sujeitos criticos pertencentes a urn I~. Neste quadro e facil verificar que a influen- mas a habilidade que liver de induzir a per-
grupo com relativamente grande aceita9ao Moscovici, Lage e Naffrechoux ( 969) cia minoritaria foi maior na condiyao «corre- cepfiio da sua consistencia 13.
publica da influencia e os que participaram em realizaram uma experiencia identic a em tudo a 18~ao» do que nas outras. Por outro lado, na
grupos em que essa aceita9ao foi mais pequena. anteriormente citado, excepto num pormenof' 0 condi~ao onde 0 conflito entre a resposta mino- A autoconfianfa percebida da minoria
Quer isto dizer que a aceita9ao privada revelou rninoria, em vez de fomecer apenas respos~ ritliria e a percepyao dos sujeitos crfticos atingia
os seus efeitos independentemente da aceita9aO «verde), fomecia respostas «verde») e «azuh) em o maximo (condiyao «verde»), os resultados Moscovici e Lage (1976), numa experiencia a
publica da influencia da minoria. igual numero. Os resultados mostraram que, foram basicamente identicos aos da condiyao que voltaremos adiante, obtiveram urn resultatio
Resumindo: estes resultados demonstram que nessa circunstancia, a rninoria nao teve qualquer «controlo», enquanto na condiyao de compro- curioso: uma minoria de urn so indivfduo tem
uma minoria de indivfduos pode ter um impacto impacto nas respostas dos sujeitos criticos. misso (condiyao «verde-azul») se registaram os impacto muito mais reduzido numa maioria
(moderado) nas respostas publicas de uma Moscovici et al. (1969) interpretaram esse facto efeitos da influencia dos comparsas. Finalmente, (sujeitos criticos) do que 0 de urn subgrupo millo-
maioria em relafiio a um objeeto de julgamento como demonstrando que a consistencia sincro-
que se pode considerar como objectivamente nica e condi9ao necessaria para a rninoria exercer
niio ambfguo 11. Mais: estes resultados demons- influencia, na medida em que essa consistencia QUADRO IX
tram que, ao eontrario do que aeonteee gera/- de respostas promove a intensifica9ao do conflito.
mente no paradigma de Aseh. um emissor Mas sera a consistencia, definida como repe- Numero mCdio de respostas «verde» nas varias condi~oes
ti9ao da mesma resposta, realmente necessaria? (Nemeth, Swedlund e Kanki 1974)
minoritdrio pode /evar {I aceita~'ii(l privada da
Slla influencia. independentemellle da sua Parece que nao. De facto, 0 que parece essen- Condi~Oes
aceitafiio pl/bUca. cial e a consistencia percebida de dada sequencia Medias de respostas Verde Verde-azul i Controlo Correlac;iio Aleat6ria
Por outro lado, os questiomirios p6s-experi- de comportamentos minoritarios - mesmo se j - - - - - - - - - - - I- . - - -... - -.- - - - - i- - - - - + -- . - - - - - -1
«Verdes» por sitjeilo 0,69 4,00 0,00 5,84 0,06
mentais revelaram que os sujeitos na condi9ao isso implicar variabilidade de respostas. Nemeth,
experimental nao julgaram mais aceitavel (ou Swedlund e Kanki (1974) realizaram uma varia- Nas duas primeiras condic;ocs, a minoria da 28 rcspostas iguais (<<verde» ou «verde-azul» respcctivamentc).
menos inaceitavel) do que na condi9ao controlo 9ao do paradigma de Moscovici, em que eram Nas duas ultimas, a minoria fornece catorze respostas «azul» e calorze «verde», associadas sislematicamenle ou
niia com a luminosidade dos diapositivos.
a resposta «verde)) como designa9ao da cor dos possfveis nao s6 as respostas «azub) e «verde»,
diapositivos, embora considerassem essa cor mas tambem uma res posta intermedia: «verde-
como resultante de urn maior numero de cam- -azub). Nemeth et al. introduziram cinco tipos de
biantes. Por outro lado, os comparsas do expe- condi90es: condi9ao «verde») - a minoria s6 dava 23 Mugny e seus colaboradores desenvolveram urn programa de investigar;ao sobre influencia minoritaria em qut'

rimentador (a minoria) foram sempre menos respostas «verde» -, condi9ao «verde-azul») - a uma das variaveis cruciais era 0 «estilo de negociar;ao». A partir de sse program a, baseado num diferente paradigllla experi-
llIental e conceptual, foi possivel verificar que uma minoria f1exfvel na discussao conseguia promover llJudan\'a de alilULic'l
~cren~a.~. enquanto que uma minoria rigida 0 nao conseguia. Este resultado nao e necessariamente contradit6rill WIl111~ J"
22 0 grande nivel de consenso verificado na condir;ao controlo e disso prova. A questlio que fica em aberto e. a: e
emeth er al. (1 974). na medida em que a «tlexibilidade negociah) de Mugny nlio e exactamenle equivalente as rl!~post.lS
saber ate que ponto os sujeitos «cnticos» antecipariam esse consenso. Esta dificuldade nao poe em causa a existenCla e ; compromisso» de Nemeth. Seja como for. as posir;oes minoritarias utilizadas por Mugny sao ~empre peT\:ebida~ como
inovar;lio - s6 nos traz incerteza sobre 0 grau de ambiguidade percebida. necessaria para que esta se verifique. Ilerentes.
272

273

ritario de dois indivfduos. Os autores interpre- Maiorias, minorias e aceitafiio PrivQda Os resultados foram muito interessantes. percebida pelos sujeitos cnticos como mais
taram este resultado em termos da possibilidade ou publica da sua influencia niV el da aceitacrao publica, foi evidente 0 competente do que eles pr6prios, embora com
que 0 eomportamento de urn individuo isolado A erior impacto da maioria unanime (ver igual confianr;a nos seus julgamentos,
tern de ser explieado em termos de faetores Como vimos, Moscovici, Lage e Naffrecho SIIPadro X). No entanto, tanto a condir;ao
. Ux Resumindo: segundo estes resultados. uma
idiossineniticos. Seni entao que urn individuo (1969) demonstraram como uma nunoria POd Q~noritaria i como a condir;ao majoritana em minoria consistente. embora percebida como
isolado esta condenado a incapacidade de inovar? levar a aceitacrao privada 24 da sua influencia e J1lle 0 sujeito cntico dispoe de urn aliado poten-
,. d d '. ,ao incompetente (mas autoconftante J. i capaz niio
Nao, necessariamente. Nemeth e Wachtler contrano 0 que suce e com a malOna de Asch q~a1 (condicrao v) fizeram aumentar significativa-
Cl so de produzir uma aceitariio publica da sua
(1974) demonstraram que, se urn individuo iso- Numa variacrao do seu paradigma, MosCOVic: mente 0 numero de respostas «verde», Foram influencia mas tambim urna aceita{'{jo privada,
lado consegue transmitir uma impressao de (Moscovici e Lage, 1976) tentou comparar direc~ sim replicados os resultados tanto de Asch Pelo contrario, uma maio ria. embora tenha
grande autoconfiancra (nomeadamente esco- tamente influencia majoritana e rninoritana em ~951) como os de Moscovici et al. (1969). muito maior impacto nas respostas publica.\· dos
lhendo urn lugar de destaque a cabeceira da mesa, termos tanto de aceitacrao publica COmo de o mais interessante e que s6 a minoria consis- sujeitos crfticos. niio produz ac.:eita{'{jo privada.
aroda da qual 0 grupo se vai sentar), con segue ter aceitacrao privada dessa influencia. tente (condicrao i) foi capaz de ter urn impacto na Vma outra investigacrao relevante para esta
urn impaeto nas respostas dos sujeitos cnticos. Mantendo 0 paradigma basico de Moscovici diferenciar;ao entre as cores azul e verde no teste diseussao e a de Moseovici e Personnaz (1980).
Parece, entao, que a transmissao dessa impressao et af. (1969), os autores construiram tres Con- de Farnworth. Quer dizer, so a minoria consis- Esta investigar;ao afastou-se. em certa medida,
de autoconfiancra e urn outro factor decisivo no dicroes «minoritanas» (com grupos de seis indi- tente produziu aceita~iio privada da sua do paradigma de Moscovici et al. (1969), Assim,
exito de uma tentativa de inovacrao. Se assim e, a viduos) - duas condicroes «maioritanas» (com injluencia! numa situacrao em que eram projectados diapo-
pr6pria desproporcrao de uma posicrao rninoritana grupos de quatro e seis individuos) e uma con- o questionano p6s-experimental demonstrou sitivos de cor azul, urn sujeito cntico era con-
pode facilitar, ate certo ponto, 0 seu exito, na dicrao de control0. que a minoria (condir;oes i, ii e iii) era sempre frontado com as respostas de urn comparsa que
medida em que quanta mais rninoritana for uma Na condicrao i (grupos de seis sujeitos), dois percebida como ineompetente, mas as minorias respondia sempre «verde», Antes do inicio desta
posicrao, mais indicadora e da confiancra que nela comparsas davam respostas «verde». consistentes (condir;oes i e ii) eram percep- situacrao, 0 experimentador informava 0 par de
tern os individuos que a defendem. Na condicrao ii (seis sujeitos), a minoria era cionadas como denotando elevado grau de auto- sujeitos de que os resultados de urn grande
Tentando estudar esta questao, Nemeth, apenas constituida por urn individuo que contiancra, Pelo contnirio, a maioria unanime foi numero de estudos anteriores demonstravam
Wachtler e Endicott (1977) fizeram variar a respondia como na condicrao anterior.
dimensao da minoria, mantendo constante 0 Na condicrao iii (seis sujeitos), dois com-
numero de sujeitos cnticos em cada grupo. Os parsas forneciam aleatoriamente respostas QUADRO X
resultados foram bastantes interessantes. Por urn «azul» e «verde».
lado, quanta maior a minoria, maior a sua com- Na condicrao iv (quatro sujeitos), uma maioria Influencia minoritaria e maioritaria
petencia percebida e menor a autoconfiancra de tres comparsas respondia sempre «verde», (Resultados de Moscovici e Lage, 1976)
pereebida. Por outro lado, foi demonstrado que Na condicrao v (seis sujeitos), quatro com-
ambas as variaveis, se tomadas simultaneamente, pars as fomeciam sistematicamente a resposta indices de influencia
preveem 0 impacto da rninoria (a sua influencia «verde» - neste caso, cada sujeito cntico dispoe
Condi~oes N2 de % de respostas
cresce ate aos tres individuos e decresce a partir de urn aliado potencial para 0 nao-conforrnismo % degrupos % de sujeitos
experimentais grupos «verde» influenciados
dai). Resumindo: 0 impacto de uma minoria i na pessoa do outro. influenciados
determinado cOlljuntamente pela consistencia Na condir;ao controlo, as respostas eram Minoria consistente
dadas por escrito, sem conhecimento das res- de dois individuos 10 10,07
percebida do seu comportamento e pela auto- ._-- 50 42,50
Indivfduo consistente
confian{'a percebida nas .mas respostas. postas dos outros membros do grupo.
isolado 22 122 14
Minoria inconsistente -15 ---
_~ndividuos 11 0,75 27
Moscovici prefere a distin"lio latente/manifesta aquela que apresentamos, devendo-se a principal diferenp ao 1------ 11
2-1
G~o controlo 50 indiv.
------
, fl'
facto de que. habituaImente, «aceita"lio latente da m ' Imp
uencla» ' I 'Ica ausencla
. ' d Id
e contro "
0 os sUjeltos so bre essa influen'
e 1,22 - 6
cia, e «aceita"lio privada» nlio, Se contmuamos a manter a nossa Isttn"ao e porque e a e mals gera men te ac eite e porqu ,
, d' , - , I" I Maioria unanime 24 40,16 50 50
,
na maior parte dos experimentos relevantes, nlio e determmado , fl' 'a sobre 0
0 grau de controlo pessoal dos alvos de m uenCI Maioria nlio unanime 13 12,07 31 35
impacto desta,
274 •
275

que, segundo as condi90es experimentais, 81,8


a ernergencia do efeito. De notar que Asch como ao de Milgram, 0 apoio social foi
por cento das pessoas (condi9ao «influencia
QUADRO XI & Personnaz (1991) reformularam uma variavel determinante na resistencia a
majoritaria») ou 18,2 por cento (condi9ao
a sua posi9ao, aceitando que a influencia social. E quanta ao de Moscoviei,
«influencia minoritaria») davam respostas iguais
Influencia minoritaria e maioritarj na cor residual percebida se deve a uma sera que 0 apoio social contra a inova9ao nao
as do comparsa. A diferen9a entre 0 numero de (Resultados de Moscovici e Personnaz 1119 ten~ao ao diapositivo, mas mantem que promove diferen9as na sua aceita9ao? Reflicta-
respostas «verde» dos sujeito crfticos das ' 80)
aas fontes minoritaIias (e nao as majo- mos urn pouco.
condi90es experimentais e das de controlo (em
Condi!<iio Comparsa presente Comparsa a ,penas de influencia suscitam tal intensifica9ao No paradigma de Asch, seis comparsas do
que 0 experimentador nao fornecia qualquer ----t------- - -- _____Usenle ao Os resultados acima citados nao experimentador fornecem unanimemente res-
informa9ao sobre anteriores estudos e as Influencia .Ie aten~ . h" d
uP • rn eorroborar, no entanto, a Ipotese e um postas erradas, e 0 seu irnpacto num sujeito crf-

:::~--:- I ~
respostas eram dadas em privado) constituiu a
r: . ,gio das fontes mmontanas na capac I'dade
IlArece . ., .
tico isolado e bastante grande. No paradigma de
medida de aceita9ao publica da influencia. Numa pnvile . . R . d
de l110bilizar recursosdatenclOna.ls· eS~lm. m _0, Moscovici, dois comparsas forneeem respostas
fase posterior, era pedido aos sujeitos (primeiro
na presen9a e depois na ausencia do comparsa)
Controlo -236 ~ deseo bertas realiza as a partir da ~tl Iza9ao divergentes, e 0 seu irnpacto nas respostas publi-
aradigma parecem depender baslearnente cas de quatro sujeitos crfticos e relativamente
que nomeassem por escrito a cor de outra serie
de diapositivos, e ainda que estimassem, numa
Os resultados apresentados referem-se a um
mo- in:u~ao de uma maior aten9ao aos diaposi- pequeno. E depois? Born, em primeiro lugar,
deI 0 das respostas dad as por cada sujeito na es I (seja a partir da exposi9ao a uma resposta uma eompara9ao directa entre minoria e maio-
escala de nove pontos, variando entre amarelo '
«amareIo-purpura». ca a
1Ii~(lref,anILC minoritaria, majoritaria ou a partir de ria unarumes nao e cornpletamente legitirna na
(urn) e purpura (nove), a cor que vi am aparecer
faetores extra-influencia social, como por medida em que as duas situa90es diferem no
no ecra, nos interval os entre os diapositivos. Isto
B CilU."",
de suspeitas sobre a veracidade dos apoio social facultado aos sujeitos crfticos e nao
porque, se, depois de olharmos atentamente uma mente 0 mesmo paradigma experimental, - e DaO II"OCledirneIlllOs experimentais). apenas nas caracteristicas dos emissores de
cor, fixarmos os olhos numa superffcie branca, o conseguiram. Doms eVan Avermaet (1980) Por outro lado, usando paradigmas bastante influencia! Ora, nos sabemos que, quando no
veremos durante breves momentos uma «cor encontraram aceita9ao privada tanto na condi~ao os resultados tern muitas vezes paradigma de Asch se encontrarn dois sujeitos
residual», que e a complementar da cor que de influencia majoritaria como na condi9ao de iIoun,rp('mo a distin9ao proposta por Moscovici, crfticos e nao apenas um, os resultados sao
observamos anteriormente. Neste caso, s6 nos influencia minoritaria, tendo interpretado estes tambem tenham surgido resultados fre- completarnente diferentes (0 irnpacto da maioria
interessa saber que a complementar do azul e 0 efeitos de mudan9a da cor residual percebida roerltenrlen.re eontradit6rios (para revisoes desta reduz-se para cerca de urn ter90). Sabendo que
amarelo-Iaranja e a complementar do verde e 0 como sendo resultado da maior aten9ao prestada eonsultar Chaiken e Stangor, 1987; no paradigma de Moscovici 0 sujeito crftico nao
vermelho-purpura. Portanto, a aceita9ao privada aos diapositivos induzida pelo contraste com "'n.,'nVl I" e Mugny, 1987; e Wolf, 1987; para se encontra isolado, qual estara a ser 0 efeito
(ou latente, como prefere Moscovici) da influen- uma resposta discrepante (quer de origem revisao quantitativa ou metanalitica desta desse «apoio social para a nao inova9ao»?
cia pode ser medida pela diferen9a entre as majoritaria ou minoritaria). Sorrentino, King e ver Wood, Lundgren, Ouellette, Foi a partir desta questiio que Matcheld Doms
respostas na escala «amarelo-purpura» dadas nas Leo (1980) encontraram urn efeito curioso: ape- & Blackstone, 1994). (1983, 1987; Doms eVan Avermaet, 1985) rea-
condi90es controlo e experimental. nas os sujeitos que manifestaram desconfian~a Dada a irnportancia desta distin9ao entre sub- lizou urn conjunto rnuito irnportante de investi-
Os resultados demonstraram que. apesar de relativamente ao contexto experimental apresen- e eonversao na constru9ao de uma teoria ga90es. PIimeiramente, Doms compreendeu que
a in.f7uencia m{~ioritdria produzir maior taram mudan9as na cor residual percebida (quer voltaremos a ela mais adiante. os efeitos do apoio social para a nao inova9ao s6
aceita~'iio publica. a in.f1uetu:ia minoritaria pro- tivessem participado na condi9ao de influencia se tornariam visiveis se nao se tomassem em
duziu maior m:eitar{/O privada - .wbretudo majoritaria ou minoritaria). E provavel que os bioco as respostas dos quatro sujeitos crfticos
quando (}s.iu/~Q/nel1to.\"foramfeit()s na ausencia participantes «desconfiados» prestassem maior que participarn no paradigma de Moseovici. Isto
do comparsa (ver Quadro XI). aten9ao aos diapositivos. Mais recentemente, E quem nos livra da inovafiio? Pois
porque? Porque, como habitual mente, se os
Este resultado e, sem duvida, urn forte argu- Martin (1998) corroborou as descobertas de eoo. Dutra vez, os outros! A impor- eornparsas respondem nos dois primeiros luga-
mento para a distin9ao entre submissao e con- Sorrentino et al. (1980) relativamente ao papel tancia do apoio social para a niio res, 0 sujeito que se encontra a responder em ter-
versao, proposta por Moscovici, entre os proces- da desconfian9a e pas em evidencia outrOS deta- inovQriio ceiro lugar esta numa posi9ao muito especial.
sos subjacentes a influencia majoritaria e Ihes no procedimento experimental (mlmero de Por um lado, porque, quando come9a a respon-
minoritaria. No entanto, alguns estudos tenta- exposi90es ao slide crftico pre e pas-fase de Em subcapftulos anteriores verificamos que der foi confrontado apenas com dois individuos
ram replicar estes resultados, usando exacta- influencia social) que contribuem provavelrnente em rela~ao ao paradigrna experimental de que respondem erradamente (exactamente: uma
t
276 277

maioria!); por outro, porque e incapaz de preyer manipulada sistematicamente a ordem . I i muito maior se 0 emissor dessa cutfvel. Analisemos sumariamente a viabilidade
as respostas dos indivfduos que se the iraQ este respondia e os resultados mais imp el1l qlle SoCIa . ,. d I fi
for minontarlO 0 que se e e or das varias propostas de Moscovici:
seguir. Ora, nessas condicroes, ja foi demons- foram que: a) 0 numero de erros nao di~:~ntes
trado que a susceptibilidade ao conformismo condicrao controlo; b) na condicrao ern l1u ~ Itimpossfvel compr~en~er os proc.essos - A capacidade de illova~lio de uma minoria
aumenta (Allen, 1975). Daf que nao seja de sujeito crftico respondia em terceiro lugar:e 0 ~A.pn£:aaeW:lVoJ por uma mmona sem analtsar 0 depellde da sua capacidade de intensificar 0
espantar que, por vezes, 0 sujeito crftico se sub- teram-se 5,45 por cento de erros, naquel Ille. cial para a nlio inovac;lio que 0 alvo conjlito com a maio ria. Como vimos anterior-
meta a pressao dos comparsas do experimenta- que 0 sujeito crftico respondeu em sexto ~ ell} ~:fluencia tenha disponfvel em cada mente, Nemeth, Swedlund e Kanki (1974)
dor. Nas vezes em que ele se submeter, 0 sujeito cometeram-se 2,3 por cento de erros. Qgar demonstraram que tal afirmacrao nao e neces-
que responde em quarto lugar esta a ser sub- ·
d lzer: - so
nao , se demonstra que a posi~'ii uer sariamente verdadeira (ver ponto 5.4).
metido a pres sao dos dois comparsas e de mais que 0 sujeito crftico responde tem urn im 0 ellt - A capacidade de inovac;lio de uma minoria
urn sujeito crftico (ao todo, tres indivfduos), e .. na acelta{'ao
deCISlVO . - pu'bl'lca da tnovar;iio
. Pacta
Co depende da adopc;lio de um estilo comportamell-
A injluencia social de pernas para
assim sucessivamente. Repare-se que, quanto que essa aceitac;lio depende nlio s6 da lito tal consistente. Embora este factor seja impor-
maior 0 mlmero de sujeitos crfticos a responder, • A d
• d Con. oar: conclusiio tante, ha que contrapor algumas reservas. Em
slstenCta 0 comportamento a minoria
' d . mas
mais provavel e que pelo menos urn deles que- tam bem a conslstenCta comportamentai d
A •

primeiro lugar, e preciso acrescentar que, mais


como de certeza Ja reparou, carD lei tor, as
bre a unanimidade. Esta analise traz uma pre- outros indivfduos que slio submetidos a Os importante do que 0 comportamento de uma
. if! E . levantadas pela teorizacrao de Mos-
minoria, e a forma como este comportamento e
A • eSSQ
visao empfrica: 0 sujeito crftico que responde m uencta. ,no entanto, as prevlsoes, que a ui
. d ',. q sao bastante complexas e de diffcil res-
em terceiro lugar deve fornecer urn maior se con filrmaram, partIam 0 pnnclplo, Contrlirio interpretado pelos alvos de influencia (Kaiser e
Alias, esta preferencia de Moscovici por
mlmero de respostas erradas do que 0 que a teoria de Moscovici, de que confonnismo e Mugny, 1987; Mugny e Papastamou, 1984;
tipo de questoes nao deixa, ela propria, de
responde em ultimo! inovacrao sao manifestacroes de um unico pro- Nemeth, Swedlund e Kanki, 1974; Papastamou,
inovadora, numa area de investigacrao tantas
Doms (1983) realizou uma investigacrao, uti- cesso ... De notar, de resto, que em condicroes de 1987). Em segundo lugar, e preciso reconhecer
caracterizada pelo gosto da realizacrao de
lizando material semelhante ao de Asch, em que comparavel apoio social, Doms eVan Avermaet que tern sido feitas diversas e nem sempre coin-
Iemloni, tra1cr()es experimentais de grande impacto
dois comparsas respondiam nos dois primeiros (1985) demonstraram que influencia majoritliria cidentes operacionalizacroes do conceito de
popularidade, e tao poucas vezes, por urn
lugares 25 e quatro sujeitos crfticos respondiam a e minoritaria atinge aproximadamente 0 mesmo estilo comportamental (Levine e Ranelli, 1978;
mais arduo de reflexao. Esta «torrente»
seguir. 0 resultado principal foi que os sujeitos impact0 26 . Levine, Saxe e Harris, 1976; Levine, Sroka e
de Moscovici e, no entanto, tambem, em
crfticos que responderam em terceiro lugar Snyder, 1977; Wolf, 1979).
ocasioes, muito pouco sistematica
cometeram, em media, 14 por cento de erros, Resumindo: - A capacidade de inovacrao de uma minoria
crftica sobre este ponto, ver Garcia-
e~quanto os que responderam em sexto lugar i) 0 impacto publico de uma minoria (no depende da atribuicrao, realizada pelos alvos de
, 1987 a; Gerard, 1985; Levine, 1980,
cometeram apenas 2,5 por cento de erros. paradigma de Moscovici) parece depender de influencia, de autoconfiancra na correccrao do seu
Mais: numa outra experiencia, Doms (1983) processos semelhantes aos que condicionam 0 comportamento. Moscovici e Nemeth aven-
como conclusao?
controlou directamente 0 comportamento dos impacto publico de wna maioria (IlO paradigma Dt:glllmt~S pontos: taram tam bern esta possibilidade (Moscovici e
ali ados potenciais de cada sujeito crftico. Desta de Asch). 0 que nlio quer dizer que nlio existam Nemeth, 1974; Nemeth e Wachtler, 1974). Por
vez, dois comparsas forneciam respostas erradas diferen{'as entre conformismo e inovaflio. Isto a) 0 fenomeno da injluencia minoritdria e urn lado, e certo que parece existir essa associa-
e outros tres forneciam respostas certas, fun- porque, fora do laboratorio, a probabi/idade indiscutfvel numa diversidade de paradig- crao entre inovacrao efectiva e atribuicrao de auto-
cionando como ali ados do sujeito crftico. Foi que um alvo de injluencia tem de dispor de experimentais (para revisoes, ver Maass e confiancra as minorias; por outro, a analise
1984; Moscovici, Mugny eVan atribuicional em que se baseia e, provavelmente,
2S Na verdade, Doms utilizou a h~cnica de Crutchfield, daf que as resposta~ dos «comparsas» que apareciam no Avermaet, 1985, Wood et aI., 1994). Tal facto incorrecta (Chaiken e Stangor, 1987; Garcia-
painel de cada «sujeito cntico» eram sempre fornecidas pelo experimentador. Manterei, no entanto, a referencia aoS , uma grande contribuicrao de Moscovici na -Marques, 1987 a; Jaspars e Hewstone, 1985;
«comparsas» por facilidade de exposir;ao. ~edida em que, antes dele, os fenomenos de Maass e Clark, 1984). Finalmente, nao e claro
26 Os autores conseguiram esta identidade de condir;5es de apoio social de uma forma bastante engenhosa: nB
Infl.uencia foram quase so estudados no ambito porque e que, mesmo que exista de facto, a
condir;ao de influencia maiuritaria, dois comparsas respondiam erradamente na presenr;a de urn «sujeito cntiCol>, no
condir;ao de influencia minoritana, depois de alguns ensaios em que urn «sujeito cntico» as respostas tanto de dois co~'
IUfiuencia majoritaria. atribuicrao de autoconfiancra possa levar por si so
. ss(vel S .b) A qUestlio do porque e como da influencia ao exito de uma tentativa de inovacrao (isto e,
parsas que respondiam erradamente como de outros dois que 0 faziam correctamente, 0 experimentador tornou mace
as respostas destes dois ultimos comparsas.
""n .,
Ontaria, pelo contrdrio, ebastante mais dis- existem n seitas, religiosas ou outras, as quais

278 279

nos nao e diffcil atribuir confian~a na justeza do alguns dos alicerces dessa teoria em COnst ' • ia a desempenhar urn mais importante reducrao do conformismo porque 0 sujeito critico
seu comportamento, mas nao estamos condena- E isso que passarei a fazer. ru~aQ. enc
iI! Ou de vido a se nao - utI'1'lzarem, nestes para- passa a dispor de alguem com quem dividir a
dos, por isso, a aceita~ao da sua influencia). papel. grupos reais. Tal facto leva a que nao responsabilidade da divergencia e, como tal, a
c) A razao de ser da distincrao qualitativa dl~mas'ito u
provavel que os sujeitos criticos que reaccrao de rejei~ao do grupo toma-se mais im-
entre os efeitos do conformismo (submissao) e 6.1 A distinfiio entre injluencia soc' ~a m neste tipo de investigacroes temes- provavel. Se assim e, qualquer aliado com quem
da inova~ao (conversao) e uma questao ainda por informativa e injluencia social n lQl articularmente, a rejeicrao daquele grupo seja possfvel dividir a responsabilidade da
• 0,...
decidir. De facto, embora promissora, esta ques- mativa p pareceria, portanto, das duas categorias divergencia. mesmo se incompetente, deve ser
hoC. j: . • . , I' h
tao e, ainda hoje, bastante polemica. Vma razao dependencia mlormatIva a vanave -c ave na eficiente na reducrao do conformismo. Allen e
para este estado de coisas e, sem duvida, a que A distin~ao entre os varios tipos de In . de do que acontece nestes casos. Levine (1971) criaram exactamente essa situa-
. Qh·
advem da nao equivalencia de divers as opera- va~oes que podem levar urn mdividuo a No entanto, All~n .( 1975) c?nse~uiu demons- ~ao: se ao sujeito crftico e dado saber (a ele e so
cionalizacroes de aceitacrao privada de influencia m . d0 por outros tern SI'd0 uma das preSer
. fl uenCla ue a influencla mformatIva nao pode ser 0 a ele) que urn dos outros participantes (com-
(Garcia-Marques, 1988; Maass e Clark, 1984; cupa~oes c1assicas nesta area de estudos e ~ ,rae q tipo de III . fl uenCIa em causa. FAe- I0 ap I'1-
A •
parsas) na experiencia ve tao mal que e aconse-
Wolf, 1987). Dai que, se parece seguro afirmar bern urn dos pontos de maior convergencia (ver, este conceito na explicacrao da eficiencia Ihado pelo experimentador a responder ao acaso,
que maiorias e minorias dependem, em termos por exemplo, Kelley, 1952; Kelman, 1958' um aliado do sujeito cntico tern na redu~ao esse indivfduo vai ser precisamente 0 seu aliado.
do seu impacto publico, dos mesmos processos Jones e Gerard, 1967; Thibaut e StrickIan~ confonnismo (paradigma de Asch). Allen Note-se que, nestas condi~oes. 0 aliado pode ser
(ver sec~ao 5.5.), nada e possivel afmnar com 1956; Raven e Kruglanski, 1970). A distin~ao .. m'U~lI'~~ da seguinte forma: a eficiencia do uti! na divisao da responsabilidade de uma
seguran~a quanto a aceita~ao privada dessa mais geral e mais conhecida e, sem duvida, a de dever-se-a, dentro deste enquadramento, potencial divergencia, visto que os outros parti-
influencia com igual segurancra. Adiante discuti- Deutsch e Gerard (1955). Basicamente, estes possibilidade de 0 seu comportamento comu- cipantes nao sabem da sua incompetencia.
remos uma nova visao sobre 0 assunto. autores defendem que 0 grau de influencia que ao sujeito crftico que a divergencia com a E, no entanto, inutil na confirma~ao de que exis-
Em suma, 0 contributo de Moscovici foi urn emissor tera sobre urn alvo e mediado peia tern razao objectiva de ser. Se assim e, tern razoes objectivas de divergencia (redu~ao
muito importante nao so no que mostrou como relacrao de dependencia que se estabelece entre 0 ser possivel obter a mesma eficiencia da dependencia informativa). Os resultados
no que nos fez pensar. As deficiencias que apon- primeiro e 0 segundo. redu~ao do conformismo numa situacrao em demonstram que 0 aliado nao e, nestas circuns-
tamos aos seus trabalhos devem-se, em grande Deutsch e Gerard distinguem dois tipos de o sujeito entico dispusesse, privadamente, tancias, eficiente na reducrao do conformismo.
parte, a ausencia de uma teoria compreensiva influencia social: influencia social Ilormativa e respostas de alguem que tivesse respondido Daf que fique demonstrado que a influencia
dos fenomenos de influencia social. E se essa influencia social informativa. A concep~ao de No en tanto, tal conhecimento social normativa nao pode ser a unica categoria
ausencia se pressente, infelizmente, nesta area, influencia social informativa, inspirada na teoria nao se mostrou suficiente e, como tal, a de influencia relevante para a explicacrao do con-
pressente-se tambem que passos muitos impor- da compara~ao social de Festinger (1954), au u'.. II.. '·,U social informativa nao pode ser a formismo. E nao e absolutamente nada provavel
tantes nessa direccrao foram ja dados. E desses abrange as situacroes em que 0 comportamento categoria de influencia em causa (Allen, que 0 seja, no caso da inovacrao. visto que a sua
passos que falaremos na ultima seccrao deste dos outros individuos, em relacrao a urn estf- ). Note-se que outro tanto pode ser dito em influencia aumenta com a ausencia ffsica dos
capitulo. mulo, pode servir para a apreensao das suas ainfluencia minoritaria. Lembremo-nos emissores dessa influencia (Moscovici e Neve,
qualidades ou, dizendo de outro modo, as situa- que, se urn sujeito cntico se ve isolado no 1971; Moscovici e Personnaz, 1980).
~oes em que 0 comportamento dos outros e com uma minoria, submete-se a ela Resumindo: a distin~ao entre influencia
aceite como prova de verdade. 0 conceito de mais, mesmo que consiga preyer que as informativa e normativa nao pode ser cons ide-
6. Alguns dos alicerces de uma teo ria influencia social normativa refere-se as situa- da maioria estao a ser coincidentes rada como definindo duas categorias mutua-
geral dos fenomenos de influencia ~oes em que a susceptibilidade de urn indivfd~O as sUas (Doms eVan Avermaet, 1985; ver mente exclusivas de influencia.
social a influencia de urn grupo se explica pelo deseJo 5.5). o facto de, em muitas situa~oes, se poderem
de evitar a sua rejeicrao por esse grupo. Rejei~ao Por outro lado, Allen tam bern demonstrou verificar simultaneamente as duas categorias
Embora, presentemente, a area da influencia que e mais provavel para aqueles que nao se a inf)uencia social normativa nao pode ser a de influencia nao quer dizer que se nao possam
social nao disponha de teoria geral do seu ob- conciliam com as expectativas ou nonnas de ulJl razao para 0 conformismo. E fe-lo apli- identificar as variaveis que mais condicionam
jecto de investigacrao, e possivel neste momento, grupo (Schachter, 1951). .. mais uma vez, este conceito a explica~ao especificamente os efeitos de uma outra.
sem excessivo risco, nomear urn certo numero .
Nos paradlgmas . Asc h eO
de Shenf, M SCO V1C1
. de• efeito do apoio social para 0 nao-confor- No caso da influencia informativa, a variavel-
de factores que constituirao, provavelmente, seria sobretudo a primeira a categ orta Do seguinte modo: urn aliado promove a -chave parece ser 0 grau de incerteza em que urn
t
280 281

individuo se encontra na realizalj:ao do julga- Quanto a influencia social nonnativa ~ es tar normativamente dependente de uma 6.2 Influencia social e categorizafiio
mento. De facto, tanto Krech, Crutchfield e causa surpresa (em virtude da sua defi~i ~ao p~e ria _ basta pensarmos numa situalj:ao em social
.fi .'(.. . 'taO)
Jf1In: reg ra de decisao grupal e a unanimidade .
Ballachey (1962) como Coleman, Blake e yen lcar que as Van<1VeIS mats Importantes
Mouton (1958) apresentam resultados que determinalj:ao da sua magnitude sejam: a atr na que as condilj:oes, uma minoria pode possuir urn Temos vindo a discutir os fenomenos de
indicam fortis simas correlalj:oes entre incerteza e - b
~ao que 0 grupo em causa exerce so re 0 i d.
a~ Ne~s r negocial desproporcionalmente elevado influencia num contexto em que tanto os emis-
conformismo (da ordem de 0,89). Por outro viduo (Lott e Lott, 1961), a expectativan ;- pO elus & Garcia, 1991). sores como os alvos de influencia pertencem a
lado, numa perspectiva urn pouco diferente, interac~ao futura e 0 grau em que 0 compo e (pa~J1l termOs de influencia informativa, e evi- urn mesmo grupo. Sent que, quando existe uma
Willis e Levine (1976) defendem a existencia de mento dos individuos e do conhecimento ~ te que urna minoria pode fazer aumentar bas- clivagem, em termos de pertenlj:a grupal, entre
urn continuo de certeza no julgamento que vai grupo (Deutsch e Gerard, 1955). dente 0 estado de mcerteza
· em que e's:.
lelto urn emissores e alvos tudo se passa do mesmo
dos julgamentos imediatamente verificaveis (a Ate aqui tenho vindo a iludir uma dificUldad ~ amento, antes tido como nao encerrando modo?
cor do ceu), passando pelos mediatamente veri- De facto, como vimos anteriormente, MosCOVi e: JUalgquer ambiguidade, na medida em que 0 seu A teoria da identidade social de Tajfel (ver
(1976) centra a sua crftica as abordagens clas' ~I
qu d . , o capitulo sobre a identidade social, neste vo-
ficaveis (quem foi 0 setimo rei de Castela), ate comportamento esmente, por Sl so, a expecta-
Sl-
aos inverificaveis (Bach e melhor compositor do cas da influencia social na utilizalj:ao do conceito ova (oU, para usar urn termo de Gerard, 1985, a lume) preveria que nao. Quer dizer, uma analise
que Handel), sendo a influencia informativa de dependencia. Argumenta ele que 0 conceito « rojec~ao social») de grande consenso que os base ada nesta teoria preveria que urn emissor de
maxima para 0 segundo tipo de julgamentos. de dependencia (normativa ou informativa) !mbros da maioria possuiam. A questao esta influencia so teria urn impacto num dado alvo se
Refira-se que, c1assicamente, a incerteza num nunca podera explicar como e posslvel a Uma em que 0 comportamento divergente de uma mi- ambos pertencessem a urn mesmo grupo social,
julgamento tern sido discutida como estando minoria sem dotes especiais de competencias lef noria irnplica uma revisao das caracterfsticas do relevante nesse contexto.
dependente da ambiguidade objectiva do estf- urn impacto numa maioria que possui quer objecto de julgamento que se supunham induzir E, de facto, urn grande numero de investi-
mulo. 0 proprio Festinger (1954) considerava maiores recursos informativos quer maior poder um consenso quase absoluto. Nesse sentido, uma galj:oes tern demonstrado que, quando urn emis-
que urn individuo so usaria 0 comportamento de rejeilj:ao. Sera que, entao, a explicalj:ao da maioria pode tomar-se informativamente depen- sor e categorizado no grupo dos outros, 0 seu
dos outros como criterio de verdade em influencia em termos da distinlj:ao apresentada e dente de uma minoria. impacto directo diminui drasticamente, provo-
condilj:oes de urn certo grau de ambiguidade - incapaz de fomecer 0 contributo que the temos No paradigma de Moscovici, esta segunda cando quer indiferentra quer afastamento. Isto,
isto e, situalj:oes em que os individuos nao estado a atribuir? Ou, no minimo, sera que e categoria de dependencia parece muito mais tanto no impacto publico dos emissores nos
disponham de criterios objectivos de validalj:ao irrelevante na explicalj:ao da inovalj:ao? relevante (no entanto, ver 0 que se disse acima paradigmas de Sherif (Abrams, Wetherell,
do seu julgamento. Contudo, os resultados de Parece-me que nao. Em termos de influencia obre as consequencias de urn alvo isolado face Cochrane, Hogg e Turner, 1990; Berg, 1966;
Asch indicam, como argumentou convincente- normativa, e decerto diffcil de conceber porque a urn emissor minoritario). E, alias, se fizermos Lemaine, Lasch e Ricateau, 1972; Sampson e
mente Moscovici, que urn dos resultados da e que urn indivfduo, integrado na maioria, deve- as plausfveis associa~oes entre dependencia Insko, 1964), de Asch (Abrams, Wetherell,
influencia social pode ser 0 aumento da incer- ria estar normativamente de pendente de urna informativa e aceitalj:ao privada dessa influen- Cochrane, Hogg e Turner, 1990; Garcia-
teza relativamente a urn julgamento que, objec- minoria. No entanto, e facil de ver que urn indi- cia, e entre dependencia normativa e aceitalj:ao -Marques, 1987 a; Lavado, Saraiva, Marques,
tivamente, nao contem qualquer ambiguidade. viduo possa estar dependente normativamente publica (como faz Allen, 1965), chegamos a Mourato e Coelho, 1986; Correia, Bastos e
Por outro lado, como sabemos, Allen e Wilder de urn grupo que 0 inc1ui a ele e a minoria diver- uma consequencia curiosa. Eque, nestes termos, Santos, 1986) e de Moscovici (Clark e Maass,
(1980) demonstraram como a influencia dos gente. Ora, em certas condilj:oes, e perfeitamente a distinlj:ao feita por Moscovici entre os proces- 1988; Maass, Clark e Haberkorn, 1982; Mugny
outros pode levar a uma reinterpretalj:ao da possivel que a rejeilj:iio da minoria possa por em subjacentes a influencia majoritaria e e Papastamou, 1982; Rodrigues, Carvalho,
natureza do objecto de julgamento (ver caixa da causa quer a imagem publica quer a pr6pria minoritaria nao quer dizer mais do que afirmar Correia, Rocha e Fernandes, 1987), como na
pag. 249). Dai que seja preferfvel considerar 0 existencia do grupo. Nessas condilj:oes e prova- que as maiorias provocam maior dependencia eficiencia de urn aliado do grupo dos outros
estado de incerteza em que urn individuo se vel que uma rnaioria se tome dependente, nor- nOrmativa e as minorias maior dependencia (Boyanowsky e Allen, 1973; Correia, Bastos e
encontra ao realizar urn julgamento como deter- mativamente, de uma minoria (Gerard, 1985; mformativa. Santos, 1986). Este menor impacto parece ser
minado nao so pel a dificuldade objectiva deste e Levine, 1989; Levine e Moreland, 1985; Wolf, 13., par isso, de encarar com optimismo a pos- devido, pelo menos em parte, ao facto de os
pel os conhecimentos aplicaveis de que 0 indivi- 1979). Por outro lado, a propria conceplj:ao de ~ de 0 enquadramento aqui apresentado membros do grupo dos outros serem cognitiva-
duo dispoe mas tambem pelo comportamento Moscovici de influencia social como nego- ornecer uma contribuilj:ao para 0 desenvolvi- mente representados de forma menos diferen-
dos outros individuos com quem seja relevante cialj:ao (Facheux e Moscovici, 1967) sugere:n~: Inento de urna teoria compreensiva dos feno- ciada, 0 que diminuiu 0 seu impacto (Vala,
situalj:oes de negocialj:ao em que uma rnal
OO ~ .
Inenos de·10fl UenCla.
a comparalj:ao. Garcia-Marques, Gouveia-Pereira & Lopes,
282

283

1998; Wilder, 1990). Quanto a aceitayao privada cias sao os individuos que fornecem infonna~a 6.3 ]nj1uencia social indirecta Urn segundo aspecto a sublinhar e 0 ambito
de uma mensagem persuasiva originada no o
crftica sobre as normas do grupo proprio (hab' da teoria. De facto, a teoria do Contexto / Com-
grupo dos outros, os resultados sao menos claros tualmente, eles proprios ~embros desse grup~; o interesse pel os efeitos mais subtis da p~rayao fornece uma taxonomia compreensiva
(Aebischer, Hewstone e Henderson, 1984; - e nao aqueles que detem 0 poder de recOIl)_ . f1uencia social e bastante antigo (ver, por ex., de situayoes de influencia social, taxinomia
Maass, Clark e Haberkorn, 1982; Mugny e pensar ou castigar ou aqueles que dete ~herif, 1935). No entanto, e, sem duvida, com 0 essa, caracterizada por varias dimensoes con-
Papastamou, 1982; Martin, 1987; Volpato, conhecimentos objectivamente mais va1ido~ abalho de Moscovici (Moscovici, Lage e ceptualmente importantes. A saber: 0 grau de
Maass, Mucchi-Faina & Vitti, 1990), embora o processo psicologico subjacente e a identi~ ~affrechoux,1969; Moscovici & Personnaz, investimento ou importancia atribuido a atitude
comece a ser evidente a vantagem do grupo ficayao social (a tomada de consciencia de 1980) que 0 tema ganha urn impulso decisivo. critica, a natureza objectiva ou subjectiva do jul-
proprio, tam bern nesse domfnio, invertendo-se uma dada identidade social em funy1io d como vimos acima, muitos dos resultados obti-
, . a gamento, a natureza inter- ou intragrupal da
essa tendencia apenas em circunstancias muito pertenya a urn grupo propno correspondente),_ dos tem-se revelado polemicos. Concomitan- fonte de influencia e a natureza minoritaria ou
restritas (ver Crano & Chen, 1998; Maass & e nao a submissao a pressao do grupo ou a temente, 0 surgimento de inumeras dicotomias majoritaria dessa fonte (Alvaro & Crano, 1997;
Volpato, 1994). necessidade de comparayao social. As condi_ difusas e parcialmente sobreponiveis (influencia Crano, 1994; Crano & Alvaro, 1988).
Por outro lado, Allen (1985) argumentou que yoes que promovem a influencia sao aquelas elll social manifesta vs. latente, publica vs. privada, Urn terceiro aspecto e 0 ceme da teoria do
os proprios paradigmas experimentais utilizados que a identidade social e mais saliente e nao imediata vs. retardada, directa vs. indirecta) nao Contexto/Comparayao - 0 contrato de benevo-
no estudo da influencia promovem categoriza- aquelas em que a resposta individual e vigiada tem contribufdo para a clarificayao da natureza lencia. Assim, segundo esta teoria, e 0 estatuto
yoes sistematicas dos intervenientes, e que 0 pelo grupo ou em que a definiyao da realidade de tais efeitos. Recentemente, porem, registou- intra- ou intergrupal do emissor da mensagem
impacto dos emissores parece de pender directa- social ou nao-social e ambfgua. Finalmente, as -se uma evoluyao bastante positiva: a emergen- persuasiva que leva a urn processamento mais ou
mente dessa construyao da situayao (por exem- normas a que os alvos da influencia se subme_ cia da teoria do Contexto/Comparayao (Alvaro menos profundo dessa mensagem, e e 0 grau de
plo, Allen, 1985, apresentou dados que sugerem tern nao correspondem necessariamente ao & Crano, 1996, 1997; Crano, 1994, Crano & elaborayao que determina 0 extensao e a estabi-
que a introduyao de urn aliado no paradigma de comportamento observavel dos outros mas a Alvaro, 1998; Crano & Chen, 1998; Crano & lidade de uma mudanya de atitude. Assim, fontes
Asch induz a categorizayao da maioria num representayao cognitiva da norma do grupo Hannula-Bral, 1994), uma nova teoria de grande do grupo proprio conduzem a uma maior elabo-
outro grupo em confronto com 0 sujeito critico e proprio. valor heurfstico e que pode ser considerada, em rayao da mensagem persuasiva e, geralmente, a
o aliado). Merecera alguma atenyao 0 facto de Mosco- certa medida, como urn desenvolvimento do urn impacto maior e mais duradoiro dessa men-
Mais recentemente, as relayoes entre catego- vici ter defendido que uma das condiyoes para 0 modelo da Conversao de Moscovici (1980). sagem (De Dreu & De Vries, 1996; De Vries, De
rizayao e influencia social tern beneficiado do sucesso da influencia minoritaria e a apresen- Um primeiro aspecto a sublinhar e a propria Dreu, Gordijn & Schuurman, 1996; Mackie,
interesse dos teoricos da chamada teoria da tayao, por parte da minoria, de urn conjunto de definiylio operacional de influencia social indi- Worth & Assuncion, 1990; Wilder, 1990). Pelo
autocategorizayao (Abrams, et al., 1990; Hogg normas alternativas as da maioria. Estes resulta- recta. Assim, influencia social indirecta mani- contrario, 0 estatuto majoritario ou minoritario
& Turner, 1987; Turner, 1991). dos implicam, no entanto, que a proposta dessas festa-se quando uma mudanya de atitudes ou de da fonte de influencia toma-se decisivo em situa-
A abordagem da autocategorizayao con- normas alternativas so promova inovaylio se crenyas se verifica nao sobre 0 objecto focal da yoes mais restritas. A saber: situayoes caracteri-
sidera que a influencia social resulta de urn levar a maioria a classificar a minoria no seu mensagem persuasiva (por ex., a interrupyao zadas por urn forte investimento na atitude
processo de autocategorizayao pelo qual 0 alvo proprio grupo (Allen, 1985; Garcia-Marques, voluntaria de gravidez) mas sobre urn outro crftica, 0 julgamento a realizar e de tipo subjec-
de influencia se percepciona como membro de 1987 a, 1987 b; Hogg e Turner, 1987; Maass e objecto com ele relacionado no sistema de tivo e a relayao entre a fonte e 0 alvo e de natu-
urn grupo, atribuindo-se as mesmas caracte- Clark, 1984; Mugny, Kaiser, Papastamou e cren~as ou atitudes dos recipientes da men- reza intragrupal. Nestes casos, se a fonte do
rfsticas e comportamentos que aos outros Perez, 1984; Tajfel, 1984; Turner, 1987; Tumer, sagem persuasiva (por ex., a educayao sexual apelo persuasivo se apresenta como maioritario,
membros do grupo. Este modo de influencia e 1991; Turner e Oakes, 1989; para uma visao n~s escolas). Essa relayao entre dois objectos de o apelo persuasivo levara a uma maior elabo-
designado por Turner (1982) como intluencia alternativa ver Nemeth, 1986). atltude diz-se indirecta quando: i) as atitudes rayao da mensagem (Mackie, Worth & Assun-
social referente. A influencia social referente Como concluslio: a uma teoria compreensiva concementes aos dois objectos se encontram cion, 1990; Wilder, 1990) e, consequentemente,
distingue-se quer da influencia social normativa da influencia social sera impossivel ignorar quer C?rrelacionadas, ii) essas atitudes ou crenyas a uma mudanya manifesta da atitude, fazendo
quer da influencia social informativa em termos as identificayoes grupais de emissores e al,v oS, nao estlio necessana ' . ou I '
oglcamente relacio-
ea nadas ...) . com que 0 alvo se aproxime atitudinalmente da
das fontes, do processo psicologico que lhe esta quer os processos de categorizayao espontiUl . ,Ill as atltudes em causas nao sao percep-
clonada ' fonte de influencia, preservando-se deste modo
subjacente, das condiyoes que a promo vern e que os paradigmas experimentais possam pro- & C s como sendo interdependentes (Alvaro a coerencia do grupo proprio. Se a fonte do apelo
das normas de referencia. As fonte da influen- mover. rano, 1997; Crano & Chen, 1998). persuasivo se apresentar como minoritaria, 0
• 285
284

apelo persuasivo nao levani a qualquer aproxi- tudes criticas). Vma recente revisao quantitat' Corno notou Allen (1985), estes resultados Mugny, 1993; Perez, Mugny, Butera. Kaiser &
IVa
macr ao atitudinal entre alvo e fonte de influencia da literatura (Wood, Lundgren, Ouellett · Iiearn que, no fundo, e posslvel interpretar Roux, 1994).
(caso contrario correr-se-ia 0 risco de uma maior Busceme & Blackstone, 1994), assim co;' 1[11~ ovacr ao como uma especie de «confor- Segundo esta teoria, as tarefas crfticas podem
cisao atitudinal no grupo proprio). No entanto, estudos especificamente delineados para 0 te 0
, Ste a .I~O antecipatorio» em que uma minoria ser concebidas em fun~ao das expectativas ou
dado 0 seu estatuto intragrupal, apesar de inefi- do modelo (Alvaro & Crano, 1996, 1997; Crano [111~e a seu impacto a capacidade que tiver de pre-constru~oes que suscitam da parte dos alvos

caz, 0 apelo persuasivo sera elaborado s~m levar & Chen, 1998; Crano & Hannula-Bral, 1994) de suadir os alvos de que as posicroes que de influencia. Essas pre-constru~oes podem ser
a denegricrao do ernissor desse apelo. E essa a produziram resultados bastante consistentes pe~endem cedo passarao a ser maioritarias. E, sistematizadas atraves de duas dimensoes taci-
com as propostas do modelo da ConteXtol de ,., I b tas: a pertinencia do erro e a ancoragem social.
natureza do contrato de benevo!encia: os apelos facto, nao e mUlto cnve conce er que urn
de . _ . .
persuasivos de faccroes minoritarias do grupo IComparacr ao . · divfduo se converta a uma posl~ao mmon- A primeira dimensao diz respeito ao estatuto de
In, 'a sern estar persuad'd
I 0 d e que essa posl~ao
. - objectividade que Ihe e atribufdo pelos alvos de
proprio nao levam a qualquer mudancra mani-
larl b b'I'd d .
· , com alguma pro a I I a e, mals tar e ou d influencia. Assim, as tarefas podem ser classifi-
festa da atitude critica; em troca, a mensagem Ira, h'd' . .
sera elaborada profundamente e os emissores 6.4. lnfluencia social e normas sociais ais cedo, ser recon eCI a malOntanamente cadas em termos da pertinencia do erro - tarefas
[11 • • d em que 0 erro tern alta pertinencia (isto e, tare-
desses apelos nao serao denegridos. Ora, a com- o mais Justa ou mats correcta 0 que as
GO m
binacrao entre a inibicrao de pensamentos neg a- A maior parte da investiga~ao nesta area tern nOrm as vigentes. Caso contnirio, para que ten- fas objectivas) ou tarefas em que 0 erro tern
tivos relativos a urn apelo persuasivo e a manu- dado, sobretudo conceptualmente, pOuca rele- tar convencer os outros? baixa pertinencia (isto e, tarefas nao-objectivas).
tencr ao da atitude critic a cria uma tensao na vancia a natureza dos objectos de julgamento e De qualquer modo, estes resultados ensinam- A segunda corresponde a sua relevancia para 0
estrutura geral das atitudes dos alvos de influen- das respectivas mensagens persuasivas. Talvez -nos urna li~ao bastante mais geral e bastante posicionamento dos indivlduos numa estrutura
cia levando a urn resultado curiosissimo - a ainda uma indesejavel heran~a do sonambu- mais sirnples. A de que 0 impacto de uma men- intergrupal. Assim, as tarefas podem ser cJas-
mudancr a de uma atitude indirectamente rela- lismo. Vma honrosa excep~ao e 0 trabalho de sagem objectivamente persuasiva de urn emis- sificadas em tarefas ancoradas ou nao-ancoradas
cionada com a atitude critica. lmaginemos urn Paicheler (1976, 1977). Esta auiora defendeu sor de influencia nao depende apenas de uma social mente consoante sao ou nao relevantes para
defensor da penalizacrao da interrupcr ao vol un- que a capacidade de uma minoria ser influente contabiliza~ao de quantos estao a favor e de o posicionamento intergrupal. Como se pode ver
taria de gravidez que e sujeito a apelos persua- depende da «direccrao» das suas propostas. Quer quantos estao contra 0 que essa mensagem na Figura 10, a combina~ao destas duas dimen-
sivos de uma faccrao minoritaria de urn grupo dizer, uma minoria so tera impacto se os seus advoga. Depende tambem do que essa men- soes faz emergir quatro tipos basicos de tarefas
com 0 qual se identifica forte mente (por ex., argumentos forem na direcr;ao da evolu~iio sagem afirma ... E quase inacreditavel que algo crfticas: tarefas de aptidoes (TAP), tarefas objec-
uma organizacrao catolica de esquerda). A venfi- mais provavel de uma norma (0 que a autora tao simples pudesse ser esquecido durante tanto tivas nao-ambfguas (TONA), tarefas de opinHio
cacr ao do estatuto minoritario dessa fonte pode designou de Zeitgeist). Paicheler, para estudar (TOP) e tarefas nao-envolventes (TANE).
levar 0 alvo deste exemplo a manter a sua atitude esta questao, usou 0 paradigma de Moscovici, Cada urn destes tipos de tarefas crfticas pos-
face a despenalizacrao inamovivel. 0 reconheci- em que 0 objecto de julgamento era a atitude sui urn conjunto de caracterfsticas unicas. Daf
mento da natureza intragrupal da fonte desse face a posi~ao da mulher na sociedade. A mino- que se tome posslvel identificar diferentes
ria defendia sempre posi~oes igualmente 6.5 Influencia social e a natureza da
apelo pode, no entanto, conduzir a inibicrao objectivos dos alvos, diferentes atributos cru-
geral de pensamentos ou avaliacroes negativas divergentes da maioria da popula~ao a que os tarefa critica ciais da fonte e diferentes formas de elabora~ao
sobre essa faccrao minoritaria e essa mensagem. sujeitos «criticos» pertenciam. So que, numa do conflito entre alvo e fonte de influencia, cor-
o resultado final pode muito bern vir a ser a condicr ao , a minoria divergia na direc~ao da A natureza da tarefa em que alvo e Fonte de respondendo a cada urn dos quatro tipo's basicos
mudancr a de uma atitude indirectamente rela- atribuicrao de urn papel social ainda mais central tnfluencia estao empenhados condiciona forte- de tarefas crfticas (ver as caixas seguintes, nas
cionada com a atitude critica - a atitude face a a mulher (minoria pro-Zeitgeist) e noutra ~a mente quer as modalidades da sua interac~ao paginas 286 e 287/288 para uma sfntese destes
educacrao sexual nas escolas. direc~ao da sua secundariza~ao (minori a anti: Os resultados dessa interac~ao. Tal pressu- pressupostos).
Assim se explica que fontes maioritarias do -Zeitgeist). Os resultados demonstraram que s~ POsto pade ser encontrado desde 0 inlcio do A Teoria da Elabora9ao do Conflito pretende
grupo proprio lev em a mudancras manifestas das a minoria pro-Zeitgeist teve impacto nas aU: 19 da influencia social (Asch, 1948, Sherif, agrupar muita da investiga~ao ate aqui realizada
atitudes criticas, enquanto que fontes mino- tudes dos sujeitos crfticos. Este resultado fOI 37). No entanto, a natureza da tarefa crftica a partir de quadros teoricos muito fragmentados,
Clark e e, apesar do seu aparecimento relativamente
ritarias do grupo proprio conduzem a mudancr as replicado , entre outros, por Maass, arae rccentemente mereceu urn desenvolvi-
Haberkorn (1982) e Pinto, Agostinho, RaV mento teor'ICO Sistematico,
. ,. .
com 0 surglmento da recente, tern inspirado novas linhas de pesquisa
indirectas de atitudes (isto e, mudancras em ati-
tudes indirectamente relacionadas com as ati- Sarmento (1986). da Elabora~ao do Conflito (Perez & de resultados frutuosos e muitas vezes surpreen-
286
• 287

A TEORIA DA ELABORA(:AO DO CONFLITO


FIGURA 10

Teoria da Elabora~ao do Conflito: TAREFAS TAREFAS TAREFAS TAREFAS


Os quatro tipos de tarefas criticas e as dimensoes que Ihes sao subjacentes DE OBJECTIVAS DE NAO-

--
APTIOOES NAO-AMBjGUAS OPINIAO -ENVOLVENTES

ALTA PERTINENCIA DO ERRO


EXEMPLOS Estima~iio da Paradigma Avaliaflio de Indicaflio de
TAREFAS TAREFAS disle/llcio entre de Asch urn candidato preferencia
DEAPTIDOES OBJECfIVAS duas cidades o uma eleiflio par ullla cor
NAO-AMBIGUAS
- I. Julgamentos de 1. Julgamentos de facto. I. Julgamentos de I. Julgamentos de
2. S6 existe uma resposta preferencia.
aptidiio. atitude.
correcta e e conhecida 2. Pluralidade plau-
TAREFAS TAP TONA TAREFAS 2.S6 existe uma 2. Expectativa de
pelos alvos. sfvel dos julga-
ANCORADAS --------------~------------- NAO-ANCORADAS resposta correcta pluralidade de
PRE- mentos.
SOCIALMENTE TOP TANE SOCIALMENTE mas nlio e conhe- 3. Expectativa de con- julgamentos.
CONSTRUC;OES 3. Expectativas de
cida pelos alvos. senso absoluto. 3. Expectativa de
E consenso nlio per-
4. Diferencia9iio social consenso no
EXPECTATIVAS 3. Expectativa de tinentes.
baixo consenso. irrelevante. grupo proprio.
4. Fracas conse-
4. A resposta re- 4. A resposta posi-
quencias sociais
flecte a aptidiio. ciona 0 indivf-
TAREFAS TAREFAS duo num grupo.
DEAPTIOOES NAO-ENVOLVENTES
Aumentar Exp/icar Procllrara Fracomente
OBJECfIVOS
correc9iio dos ausencia de diferenci89iio definidos ou
BAIXA PERTINENCIA DO ERRO DOS ALVOS
julgamentos consenso intergrupal idiossincniticos

dentes (ver Perez & Mugny, 1993). E, por isso, utiliza~iio


de grupos reais . E, no entanto, como ATRmUTO Compet8ncia Estatuto Natureza Capacidade de
CRUCIAL (maioritario (intra ou induzir acordo
provavel que esta teoria, ou, pelo menos, a elu- Levine e Moreland (Levine e Moreland, 1985;
DA FONTE ou minoritano) intergrupal) por processos
cida~iio do papel das variaveis que a teoria Moreland e Levine, 1982, 1989) e Gerard (1985) nlio-conflituais
tomou como cruciais, venha a ganhar cada vez tern convincentemente argumentado, a utili-
mais relevo na teorizar;ao dos fen6menos da za~iio de grupos reais com uma hist6ria de
influencia social. desenvolvimento e interac~iio poderia mostrar Fonte Fonte Fonte do grupo
aspectos doutro modo invisfveis. Por exemplo, competente: maioritliria: proprio:
Conflito reduzido Conflito relacional Conflito normativo Evitamento
Levine e Moreland (1985) chamaram a aten~iio ELABORAC;AO do conflito
para a possibilidade de a interac~iio entre os dis- DO
6.6. Influencia social, estrutura sidentes e os outros membros de urn grupo CONFLITO Fonte Fonte Fonte do grupo
e processos grupais poder sofrer modifica~oes ao longo da evolu~iiO incompetente: minoritaria: dos outros:
dos processos de socializar;iio que 0 grupo Conflito de Conflito Conflito
realiza dos seus membros. Ora, sem estudos lon- incompetencias epistemico intergrupal
Outra das lacunas da investigar;ao que tende,
modemamente, a ser corrigida e a quase nao gitudinais de grupos reais nao e posslvel inves-

288 289

o desenvolvimento de investiga~ao nesta espantar que tenham tentado explica~6es dos


A TEORIA DA ELABORA(::AO DO CONFLITO ' ea sera tambem de grande importancia para os fenomenos atribuicionais baseadas nas teorias
iii' SOS con heClmentos
' 27 .
atribuicionais (ver Sousa, neste volume).
nO S
Ross, Bierbrauer e Hoffman (1976) reali-
TAREFAS TAREFAS TAREFAS TAREFAS zaram uma importante analise atribuicional da
DE OBJECTIVAS DE NAO- 6.7 0 contexto da recepfiio actividade cognitiva registada no paradigma de
APTIDOES NAO-AMBIGUAS OPINIAO -ENVOL VENTEs

-
da influencia Asch . Segundo estes autores, 0 sujeito crftico
defronta-se com dois problemas atribuicionais
Fonte Fonte Fonte do grupo Durante este capftulo ficou bern patente a basicos: 0 de explicar 0 porque das respostas dos
competente: maioritaria: proprio: iJTlPortancia decisiva que 0 contexto de recep- comparsas do experimentador e 0 de preyer a
~ao de influe~cia (quer dizer', ~ d~sponibilid~de sua reac~ao no caso da sua divergencia. Oa
lmita~iio Submissiio do alvo Conformismo Dependente de
de apoio social) tern na medlac;ao dos efeltos solu~ao do primeiro dependeria a aceita~ao pri-
RESULTADO variaveis niio
MANIFESTO Fonte Fonte Fonte do grupo contempladas des sa influencia. Isto, quer no caso da obedien- vada da influencia, do segundo dependeria a
PRovAvEL competente: maioritaria: proprio: pela teoria cia, quer no caso da influencia majoritaria e aceitac;ao publica. Concretizando, a aeeita~ao
JTlinoritciria. Mais: como 0 trabalho de Ooms privada dar-se-ia sempre que 0 comportamento
Distin~iio IndependSncia Discrimina~iio dernonstrou, diferentes categorias de influencia dos comparsas fosse atribufdo ao objecto de
podem diferir, sobretudo em virtude da maior julgamento, e a aceita~ao publica quando fosse
oU menor probabilidade de ocorrerem em con- prevista rejei~ao em caso de divergencia. E de
Fonte Fonte Fonte do grupo
competente: maioritliria: proprio: textos em que 0 apoio social se possa ou nao sublinhar 0 modo como esta analise coincide
verificar. com 0 que acima se afirmou aeerea das eatego-
Generaliza~iio Autonomiza~iio Interioriza~iio Dependente de Daf que qualquer teoria compreensiva nao rias normativa e informativa de influencia
RESULTADO variaveis niio possa almejar a explica~ao dos processos de social. Estes investigadores mostraram que,
LATENTE Fonte Fonte Fonte do grupo contempladas influencia social centrando-se apenas nas carac- quando existem condi~6es para uma atribui~ao
PRovAvEL competente: maioritaria proprio: pela teoria
terfsticas dos emissores dessa influencia. Tera do comportamento dos comparsas a faetores que
Resolu~iio Reconstru~iio Conversiio tambem, fon;osamente, de se debru~ar sobre 0 nao 0 objeeto de julgamento, a aeeita~ao priva-
da teoria do objecto de contexto de apoio ou menor apoio social para da da sua influencia e minimizada - sao os
julgamento resistir ao impacto desses emissores . efeitos da ehamada «psicologiza~ao» 28 (Mugny,
1982; Mugny e Papastamou, 1984; Papasta-
moo., 1987). Este fenomeno refere-se ao facto
tigar esta quesHio. 0 estudo de grupos reais per- Moreland, 1985) . Como exemplo vejamos 0 6.8 Injluencia social de que urn aumento da disponibilidade de uma
mitir-nos-a, tambem, analisar mais direetamente que, num estudo pioneiro, Torrance (1959) e atribuifiio causal atribui~ao do eomportamento da minoria as
as relac;6es entre estrutura de grupo e influencia demonstrou, utilizando como popula~ao expe- suas partieularidades psicol6gieas anula 0
social. Questao importante, na medida em que rimental tripula~6es de bombardeiros: que a Como vimos , Asch ja tinha chamado a seu impaeto, 0 mesmo nao aeonteeendo se 0
pareee evidente que a posic;ao estrutural que urn probabilidade de uma tripulac;ao resolver urn atenlfiio para a intensa actividade cognitiva a que emissor de influencia for majoritario (Papas-
membro inovador ocupe tern consequencias problema depende do estatuto de quem detem a ~s .sujeitos crfticos se dedicavam enquanto par- tamou, 1986). Pareee que se eonfirma 0 facto de
tanto na possibilidade de ser elassificado como solu~ao. Quando 0 experimentador fomecia a tlclpavam no seu paradigma. Oaf que nao e de a atribui~ao do eomportamento do emissor ao
«marginal», como na capacidade de produzir solw;ao de urn diffcil problema ao piloto, 94
impacto (Levine e Moreland, 1985; ver tam- por cento das tripula~6es atingiam a solu~ao,
27 Pa ' d'Iscussiio da aplica~iio dos resultados da investigar;ao em lnfluencia Social em contextos
bern Hollander, 1958, 1964). Inversamente, a mas, se a fomecia ao navegador, a percentag ern e~lra-labo I
ra uma mteressante
'. consulte-se Nemeth & Staw (1989) .
, ra onalS,
posi~ao estrutural que urn membro ocupa num baixava para oitenta por cento, e, se fosse 0
atrib . -~ 0 faCIo de a "psicologiza~ao" niio funcionar em rela~iio a emissores maioritarios tem uma evidente explica~iio
grupo atenua ou intensifica 0 impacto do grupo artilheiro a dispor dela, baixava ainda mais: 63
Po UIClonal. 0 facto de serem maiorilarios fomece informa~ao de alto consenso incompatfvel com uma alribuir;iio do com-
no seu comportamento (Allen, 1965; Levine e por cento! namento dos. emlssores
' >.
"s ' •
suas caractenstlcas pessoals• •
(ver Garcia-Marques, 1987a).
290
• 291

objecto de julgamento e nao as suas idios- Em primeiro lugar. ha que referir qu tre nessas circunsHincias aceita ou rejeita inumeras «excep~6es» a essa «regra» (Mackie,
' d .
sincrasias ser urn factor decisivo para 0 im- gran d e numero e expenencIas estudoue ull) ellcon inada posi~ao atitudinal em virtude da 1987; Mugny, 1984; Wolf, 1985).
A •

pacto de esse emissor se verificar (Jaspars e questao em paradigmas em que os julgal11e eSta dete[1l1~a oU ausencia de fndices persuasivos. Por Este estado de coisas levou Chaiken e Stangor
sen
Hewstone, 1985). pedidos eram atitudes relativas a uma gr ntos pre 10 se eu ouvir urn discurso de urn polftico, (1987) a propor que se deviam considerar multi-
Por outro lado, como ja vimos, Moscovici diversidade de questoes sociais (para ande e~ernPdo ,detectar contrad'I~oes,
- .
menl1ras ou f ra- plas motiva~Oes e multip10s modos de processa-
revisao ver Maass, 1987; Maass e Clark, 1~~~
[e lltaIl . ,
e Nemeth (1974) defenderam que 0 impacto az6es - estou em «processamento slstema- mento como intervindo, em diferentes condi-
de uma minoria se devia, pelo menos em parte, Maass, West e Cialdini, 1987). Em alguns d 4,
. . es_
,as
,C0»
r. se 0 ouvir pensando que parece sincero na ~Oes, tanto para 0 caso da influencia majoritada
a realizar;ao de uma atribui~ao de confian~a ses estu dos os sUJeltos eram expostos sil11UI II "ra de falar ou na atitude que os meus cole- como para 0 da influencia minoritaria. Dife-
a minoria. Mas porque deveria essa atribui~ao
.
neamente a mensagens persuaslvas maioritari
ta- maneltem face a ele - estou em «processamento ren~as entre influencia majoritaria e minori-
produzir qualquer impacto? Provavelmente e minoritarias (Maass e Clark, 1983; Macki~ g~rfstiCO». Para distinguir, em dada situa~ao, Iliria poderiam ser tanto quantitativas (quando
porque indiciaria uma associa~ao entre 0 com- 1987). Em quase todos eram recolhidas medid ' he e OS dois tipos de processamento pede-se operam as mesmas motiva~6es) como qualitati-
portamento minoritario e as qualidades do ta~t~ de aceit~~ao priva?a como de aceita~~ entr .. I'
habitual mente aos sUJeltos que Istem os pensa- vas (quando operam diferentes motiva~Oes)29.
objecto de julgamento. Esta interpreta~ao esta, publIca. E vanos contmham uma inova~iio mentoS que Ihes ocorreram durante a recep~ao da
alias, bern mais proxima do modelo de Kelley metodologica importante: incIufam medidas de ensagem , os argumentos e contra-argumentos Em segundo lugar, e necessario referir 0 tra-
(ver 0 capftulo sobre atribui~ao, neste volume; «processo» (quer dizer, medidas que apOntarn ;e desenvolveram, e e medida a memoria da balho recente de Nemeth (1986, 1987). Esta
ver tam bern Garcia-Marques, 1987 c, 1988) em para 0 que acontece enquanto a mensagem per- mens age!l1. Tem-se verificado que 0 processa- autora tomou uma nova perspectiva no estudo
que Moscovici e Nemeth explicitamente se suasiva esta a ser processada). Esta inclusiio mento sIstematico promove maior actividade das diferen~as entre influencia majoritaria e
baseiam (para uma discussao mais aprofundada deve-se a urn facto muito importante. Sabemos cognitiva (produ~ao de maior numero de argu- minoritaria. Fixando-se no estudo das questoes
desta questao ver Chaiken e Stangor, 1987; que Moscovici (1980) fez a proposta de que urn mentos e contra-argumentos) e melhor memoria da resolu~ao de problemas e tomada de decisoes
Eagly e Chaiken, 1984; Garcia-Marques, 1987 processo de compara~ao do alvo com 0 emissor da mensagem (para revisOes ver Chaiken e em grupo, Nemeth passou a estar interessada nao
a; Maass e Clark, 1984). estaria subjacente a influencia majoritaria, e de Eagly, 1989; Petty e Cacciopo, 1988). na aceita~ao da influencia (privada ou publica)
De qualquer modo, e evidente que as rela~oes que urn processo de (re)validar;ao das quaJi- o que a proposta de Maass conseguiu foi que mas nas consequencias dessa influencia na qua-
entre atribui~ao causal e influencia social sao dades do objecto de julgamento estaria subja- se passasse a incIuir as medidas de processo Iidade dos produtos grupais. Assim, Nemeth
uma das mais importantes avenidas que 0 desen- cente a influencia minoritaria. Pois bern, Maass acabadas de referir em estudos de influencia defende que a influencia minoritaria promove
volvimento dos nossos conhecimentos sobre os desenvolveu esta proposta (Maass, 1987; Maass social. Os resultados nao sao completamente urn pensamento divergente e original, e a majo-
fenomenos implica percorrer. A uma esquina e Clark, 1984; Maass, West e Cialdini, 1987), claros. Por exemplo, enquanto Maass e Clark ritaria urn pensamento convergente e conven-
talvez reencontremos a reflexao de Asch sobre 0 considerando que estes dois processos reflecti- (1983) encontraram indica~oes que apontam cional. Os resultados de vadas investiga~oes
papel da reinterpreta~ao do objecto de julga- riam dois tipos de prof essamento da informa~iio para uma associa~ao entre processamento sis- (ver, por exemplo, Nemeth e Kwan, 1985; e
mento na mediar;ao do impacto da influencia centrais na area da persuasao: sistematico e tematico e influencia minoritaria e outra entre Nemeth e Wachtler, 1983) mostram que uma
social (Asch, 1948; ver tambem a referencia a heurfstico (Chaiken, 1980, 1987; Chaiken, processamento heurfstico e influencia majo- minoria, sem provocar aceita~ao da sua influen-
experiencia de Allen e Wilder feita na caixa da Liberman e Eagly, 1989). ritaria, Mackie (1987), num estudo extrema- cia (em termos de uma aproxima~ao do compor-
pag.249). o conceito de process amen to sistematico mente bem control ado , encontrou a rela~ao tamento do alvo), e capaz de ter urn impacto
refere-se as situa~6es em que urn indivfduo se inversa. Quanto a rela~ao entre aceita~ao significativo na qualidade e originalidade da
esforr;a por avaliar e integrar 0 conteudo de uma privada ou publica e estatuto minoritario ou solu~6es dos problemas que urn grupo alcan~a.

6.9 Influencia social: mensagem persuasiva. Este tipo de processa- majoritario do emissor de influencia, os resulta- (Para uma extensao deste trabalho ao domfnio
um unico processo? mento, se produzir mudan~a de atitude, provoca dos parecem favorecer a distin~ao submissaol especffico da persuasao, ver Maass & Volpato,
uma mudanr;a estavel e que se generaliza a con- Iconversao de Moscovici, embora existam 1994; Martin, 1996; Muchi-Faina, Maass &
A pressuposi~ao dos mesmos ou de diferentes teudos relacionados com 0 objecto dess a
processos subjacentes aos contextos maio- mudan~a. 0 conceito de prucessamento heurfs-
29 De notar que Kluglanski & Mackie (1990) apresentaram uma terceira e interessante altemativa, A de que as dife-
ritarios e minoritarios foi ja urn tema da nossa tico refere-se as situa~oes em que urn indivfduo ren~as geralmente verificadas entre influencia majorilliria e minoritaria sao diferenrras ({picas (quer dizer, que ocorrem no
discussao no ponto 5.4. Aqui, vamos apenas se centra mais no contexto persuasivo do que na IllUndo
d'~ natur'aI,comf ' ' mas que pod em nao
requenclR, - ocorrer em certas con d'Irroes
- ) mas nao
- necessanas
" (quer d'Izer, nao
-- sao
acrescentar alguns elementos a essa discussao. mensagem ou no seu conteudo. Urn alvo que se I eren~as intrinsecamente constitutivas destas duas modalidades de influencia).
t
292

Volpato, 1991). lnvestigar;ao mais recente tern, 6.10 Influencia social e persuasiio CAPiTULO X
alias, demonstrado como a influencia mino-
ritaria promove 0 processamento mais profundo Uma das lacunas mais graves no desenvol .
e detalhado da informar;ao disponfvel (Nemeth,
Mayseless, Sherman & Brown, 1990). Parece,
mento da influencia social tern sido 0 seu af VI.
• I
tamento de uma area a tamente relevante
a~ Estruturas e processos de grupo
portanto, que a divergencia minoritaria num mudanr;a de atitudes e persuasao (ver Li~ a
grupo cumpre nao so funr;oes de actualizar;ao neste volume) . No entanto , a interpenetra~,a,
das suas normas (quando provoca aceitar;ao da destas areas seria mutuamente benHica ao
sua influencia), mas tambem de aperfeir;oa- 'd . . A na
me d I a em que na pnmelra se tern estudad
mento dessas mesmas norm as que contesta principalmente processos interpessoais, negl~ Jorge Correia Jesufno
1
(mesmo que a sua influencia nao seja aceite). genciando-se os processos intrapessoais 0
Mais recentemente, Nemeth demonstrou cognitivos, e na segunda se tern passado 0 con~
como a influencia minoritaria pode ter outra trario. Felizmente, como ja vimos no POnto
consequencia indirecta interessante - a de pro- anterior, regista-se modernamente uma tenden.
mover a resistencia ao conformismo. De facto, cia para ultrapassar esta separar;ao debilitante
numa experiencia bastante curiosa, Nemeth e (Chaiken e Stangor, 1987; De Vries, De Dreu
Chiles (1988) demonstraram que urn indivfduo Gordijn & Schuurman, 1996; Eagly, 1987: 1. Introdu~ao processos intrapsfquicos e nas interac90es des-
que tivesse experimentado uma situar;ao de Eagly e Chaiken , 1984; Mackie, 1988; Macki~ contextualizadas. Sucedem-se assim a epoca '
influencia minoritaria era capaz de resistir & Skelly, 1994, Zanna, Olson e Herman Em 1974 Steiner pubJicou urn artigo com 0 lewiniana em primeiro lugar a teoria da dis-
melhor a influencia majoritaria. 1987). ' titulo polemico - «0 que aconteceu ao grupo na sonancia cognitiva de Festinger (1957), a seguir
Sintetizando: apesar de polemica, a invest i- Psicologia Social», dando voz a uma perplex i- a teoria da atribuipio (Jones e Davis 1965;
gar;ao dos processos subjacentes (diferentes ou dade que, cic1icamente , recoloca 0 problema da Kelley 1967) e, finalmente, a cogni~iio social
nao) as influencias majoritaria e minoritaria e voca9ao especffica da propria disciplina . Steiner (Wyer & Srull, 1984) que constitui hoje em dia
indispensavel no esforr;o teorico de com preen- Conclusao referia-se ao dec1fnio que ja entao se anunciava, o paradigma dominante.
sao da nosso objecto de estudo. E de registar no estudo dos processos de grupo, urn tema que , Note-se, todavia, que 0 interesse pelos feno-
ainda uma recente proposta de Kluglanski & Voltando finalmente as questoes com que em princfpio, parecia constituir 0 objecto por menos de grupo nao se desvaneceu, fenomenos
Mackie (1990) que apresentaram uma terceira e comer;amos. Que seria 0 lei tor capaz de fazer ou excelencia da Psicologia Social. que foram continuados por outras tradi~oes de
interessante alternativa aos modelos uni- e bi- dizer sob 0 impacto da influencia social? E assim foi de facto, se recuarmos a decada pesquisa. Por urn lado 0 estudo dos processos
-processuais. A de que as diferenr;as geralmente Quem sabe ... No entanto, ha algo que posso de trinta e a acr;ao pioneira e fundadora de Kurt de inj7uencia social (ver Cap. IX), iniciado por
verificadas entre influencia majoritaria e mino- garantir: a sua resposta a esta pergunta e urna Lewin (ver Cap. II) . E em grande medida a este investigadores europeus emigrados nos Estados
ritaria sao diferenr;as tfpicas (quer dizer, que coisa que interessa a muito boa gente. Poifticos, autor que se devem os primeiros estudos sis- Unidos durante a Segunda Guerra Mundial,
ocorrem no mundo natural , com frequencia , mas vendedores, padres, publicitarios, professores e, tematicos e cientfficos sobre a «dinamica dos permanece na agenda dos investigadores nos
que podem nao ocorrer em certas condir;oes) e claro, a si ... grupos», na dupla vertente teorica e pnitica, arti- dois lados do Atlantico, em grande parte devido
mas nao necesscirias (quer dizer, nao sao dife- Epor isso, leitor, que Ihe recomendo que con- culando metodo experimental com aplica9ao a a renova9ao introduzida por Moscovici com 0
renr;as intrinsecamente constitutivas destas duas tinue a interessar-se por este assunto. Vale a problemas social mente relevantes como, por estudo da inj7uencia minoritciria (ver Caps. III
modalidades de influencia). pena. exemplo, a lideran9a, a frustra~ao e a mudan~a e IX). Por outro lado, deve-se igualmente a
de atitudes. investigadores europeus e designadamente a
Paradox almente,ou talvez nao, como adiante Tajfel e continuadores 0 interesse pelos proces-
~e~a sugerido, e a partir do proprio movimento sos, estreitamente interligados, de identidade
1~lciado por Lewin e continuado pelos seus social e relaroes intergrupo (ver Cap. XII),
dlscfpulos proximos, que a Psicologia Social bern como ao conj7ito e cooperariio intergrupo
none-americana se centra cada vez mais nos (ver Cap. XIII). Estas referencias aos diferentes
294
• 295

capftulos deste Manual permitem mostrar que 0 2. Tipos de grupos h (1984, p. 9), os indivfduos «nao per- todavia interagirem uns com os outros (Rabbie
.ACGra t .
Grupo continua a constituir urn tema central (Y' aos grupos no sentldo de serem partes e Horwitz, 1969; Tajfel et al., 1971).
ncern
[e . ) mas antes no sentI·0 d ' . de
da Psicologia Social, pelo menos como a dis- Ha muitas defini~oes de grupo (Hare, 1976. matematlco Os grupos mfnimos tornam-se grupos sociais
'glcas> ,
Io bros de urn conjunto». Nestas circunstan-
ciplina e entendida e praticada nos centros Shaw, 1981). De urn modo geral, acentuarn ' quando os membros tomam consciencia duma
europeus. ideias de interaq:iio, interdependencia e con:~ «~e~les podem ser simultaneamente membros «interdependencia de destino» (Lewin, 1948) ou
Acresce ainda, para voltar a questao de ciencia l1uitlla (Deutsch, 1968). Uma solu'riio clas'arios grupOS e a sua inser~ao e identifica~ao duma «condi~ao comum» (Sherif, 1966).
Steiner, que 0 estudo dos grupos nos Estados proposta por McGrath (1984) para evitar d~ vcada um deles ser tambem uma questao de Em seguida, urn grupo social torna-se grupo
Unidos, se de algum modo perdeu centralidade embara~o da defini~ao consiste em adoptar ~ e e nao uma questao de tudo ou nada. compacto (Lewin, 1948) quando alguns ou todos
na agenda dos psic610gos sociais, tornou-se em metMora derivada do conceito matematico de gra~rnbora com fronteiras imprecisas, 0 objecto os seus membros cooperam uns com os outros a
contrapartida prioritario em disciplinas como a conjllntos vagos que define 0 grupo em terrnos analise acha-se suficientemente caracterizado fim de alcan~arem objectivos interdependentes
Psicologia das Organiza~oes, Teoria dos Siste- de grau. Assim, urn agregado sera tanto rnais deOS casoS situad '·
os proxlmos d os I··
Imltes d as (Deutsch, 1973; Horwitz e Rabbie, 1989).
mas e Ciencias da Gestao. grupo: a) quanta menor for 0 seu numero de ~.ferentes dimensoes apontadas poderao servir Com 0 tempo, os grupos compactos podem
Na revisao a que procedem sobre a investi- membros; b) quanta maior for a interac~ao entre ~a distinguir e articular os diferentes nfveis de evoluir para grupos organizados, caracterizados
ga~ao neste domfnio, Levine & Moreland os seus membros; c) quanta mais longa for a sua P d
analise ao longo · .
0 contmuum em que se sltuam por uma estrutura hierarquica do poder, esta-
(1990), sensfveis, por urn lado, as orienta~oes hist6ria; d) quanta menos 0 seu futuro se reduz ao OS fenomenos de grupo. tutos e papeis, bern como por urn conjunto de
europeias e, por outro, aos desenvolvimentos horizonte pr6ximo da interac~ao corrente. Urna Variando as dimensoes e os criterios em que normas e valores implfcitos ou explfcitos que
operados noutros campos disciplinares, vern caracteriza~ao deste tipo, presumivelmente inspi- etas se baseiam, natural sera que igualmente se regulam as interac~oes entre os membros (Sherif
assim a concluir, em resposta a Steiner, que os rada na teoria da categoriza~ao de Rosch (1978), verifiquem v aria~oes ao nfvel das tipologias. 1966; Rabbie e Lodewijkx 1994).
grupos «estao de boa saude» (alive and well), elimina 0 sempre dificil problema das fronteiras. Rabbie e Lodewijkx (1994) propoem urn conti- E finalmente uma organizariio social pode
embora tenham emigrado para outras bandas. Por exemplo, nao se estipulam limites minimos nuO que vai da «categoria social» as «organiza- ser definida como urn sistema social hierarquico
Na ultima decada verifica-se, contudo, urn ou maximos quanta ao numero de membros. ~6es sociais». de grupos organizados por vezes em intercom-
novo interesse pelo estudo dos grupos, sobre- Desde Simmel (1950) que se debate se 0 numero Por categoria social, definida a partir da peti~ao quanta a defini~ao dos objectivos ou a
tudo estimulado por Joseph McGrath (1991, minimo para que urn grupo seja considerado perspectiva dum observador externo, entende-se reparti~ao dos recursos (Pfeffer e Salancik,
1993), urn consagrado veterano neste e noutros como tal deve ser tres ou dois. Como tambem uma colec~ao de dois ou mais indivfduos que 1978).
domfnios da Psicologia Social. McGrath e nao e muito claro qual deva ser 0 numero a par- tern pelo men os urn atributo em comum que os McGrath (1984) propoe uma tipologia mais
colaboradores (McGrath 1993; Hollingshead et tir do qual urn agregado social seja c1assificado distingue dos membros de outras categorias simplificada distinguindo entre grupos naturais,
al., 1993), a que alias iremos recorrer com fre- nao como grupo mas como publico, multidiio, (Deutsch, 1973, Horwitz e Rabbie, 1982). grupos artificiais e quase-grupos. Os grupos
quencia neste capftulo, retomam a tradi~ao comunidade ou sociedade. Depara-se-nos aqui 0 Passando a perspectiva interna, os membros naturais, por vezes tambem designados por gru-
lewiniana de aliar 0 rigor cientffico a relevancia problema ja colocado por Wittgenstein: onde duma categoria social podem transformar-se pos intactos, sao definidos como aqueles que
social e, nesse sentido, iniciaram urn ambicioso acaba a cidade e come~am os arredores. num grupo psicologico quando se auto-percep- existem independentemente dos interesses dos
programa de investiga~ao em que grupos de Tambem nao se prescreve que a interac~iio cionam como pertencendo a mesma categoria investigadores que os estudam. A grande maio-
laborat6rio sao examinados ao longo do tempo, seja uma condi~ao necessaria para que urn indi- social (Turner, 1982). Quando os indivfduos sao ria dos grupos organizados que integram as
por forma a melhor reconstituir as condi~oes vfduo se identifique com urn grupo, como sera 0 classificados com base em caracterfsticas socio- organiza~oes, tais como as sec~oes e departa-
dos grupos naturais. Por outro lado, este mesmo caso do grupo mlnimo estudado por Tajfel e 16gicas semelhantes, tais como idade, genero, mentos, os grupos de trabalho e as comissoes, os
autor e a sua equipa introduziram 0 estudo associ ados (1971). Tambem nao se exc1uem profissao, habilita~oes, cor da pele, etc., sao cfrculos de qualidade, as comissoes de traba-
dos grupos electronicos ou seja, dos grupos em as situa~oes dos grupos sem passado nem definidos social mente como membros duma Ihadores, etc., caem nesta categoria. E habitual
que a interac~ao e mediada por computadores. futuro, como os grupos laboratoriais ad-hoc, e, categoria sociologica (Merton, 1957). distinguir quando se trata de grupos nas organi-
Dada a revolu~ao operada pela Internet e ao tambem, 0 caso do grupo dos jurados solicitado A situa~ao a seguir - 0 grupo mfnimo - za~oes entre gruposformais e grupos informais,
correia electr6nico a ela associada, este tipo de a pronunciar-se sobre a culpabilidade e inocen- ocorre quando os sujeitos sao c1assificados alea- estes ultimos constitufdos a margem da estru-
t .
estudos assume uma importancia 6bvia, que se cia de urn arguido. . orJamente como membros duma categoria tura formal do poder e ainda entre grupos per-
acha, alias, atestada pelo seu crescimento expo- o mesmo criterio pode, em seguida, ser aph- social ou categoria sociol6gica e se cre que manentes, com continuidade no tempo, e grupos
nencial. cado aos membros dum grupo. Tal como observa actuarn em fun~ao duma tal identifica~ao, sem temporarios, com urn tempo de actua~ao Iimi-
t
296 297

tado, como e, por exemplo, 0 caso dum grupo de enquanto grupos quando ha interdepe d~ . itOS e apenas de (80)5 = . 33. Segundo esquemas de decisiio social para estudar as
n en . decisoes dos jurados no sistema de justi~a norte-
trabalho ou de uma comissao ad-hoc. entre os membros e, sendo assim, torna_s CI~ 5 sUJerno autor, 0 menor entusiasmo registado
No contexto do trabalho, McGrath e blematica a atribuic;ao de representaroes e ~t(). rnes
, . as decadas pelo estudo dos grupos -americano. Os model os fonnais utilizados sao,
SOc I .
1I1U~a em grande medida a esta dificuldade
T
O'Connor (1996) distinguem ainda entre grupo enquanto produtos da interacc;ao dos rnernb als regra geral, de tipo matematico, visando fonnu-
, . , ros lar predi~oes sobre as diferentes possfveis com-
de traba/ho, equipa e guarni~iio consoante a grupos taxonomicos, como e 0 caso dos ,a de recrutamento de sujeitos para as expe-
importancia relativa dos factores - 0 projecto, os . . e dos grupos SOCIO
SOCialS . I'oglcos.
. gruPo
Acres ce por outro lado que as instala- binatorias dos jufzos previos a discussao de
membros ou a tecnologia. E sobretudo neste Esta questao e central para a Teoria d 'ueridas para a observa~ao sistematica de grupo. De qualquer fonna, a valida~ao das hipo-
domfnio dos grupos naturais, contextualizados, Grupos . Mais uma vez - mas voltarernos OS .-lieS req
ry- .
e necessanamente d'lspen d'losa pe Ios teses nao dispensa 0 recurso, por exemplo, a
. a eSIe jurados artificiais mas, e af reside a economia
que se tern verificado urn interesse crescente dos ponto -, a dlficuldade atenua-se se considerarrn . tecnicos que exige - sala de visao num
especialistas. que as distin~oes entre categorias e metacat OS /lie lOS t'do equipamento de registo de vfdeo e tanto te6rica como pratica, torn a dispensavel a
. d e grupos sao -malS
' d'f , sen I , observa~ao do processo interactivo. De certo
Em contraste, os grupos artificiais ou labora- nas I usas do que radiego. so . mais recentemente, para os grupos elec-
toriais sao grupos especialmente constitufdos mente d Iscontmuas. artlcu Iarmente util ncal.
· , P ' , ud lo e, d . - . d modo, e um retorno it caixa preta dos beha-
, . OS «salas de eClsao» eqUJpa as com
' . IroniC , d' .. d
pelo experimentador para efeitos de observa~ao de bate e, aSSlm, a d"Istm~ao
-
recentemente eSIe . informaticos em rede e ISPOSltlVOS e viouristas. Um outro recurso metodologico e a
Pro melos simula~ao das interac~oes de grupo por com-
sistematica ou de manipula~ao de variaveis . Na posta por Moscovici e Doise (1991) entre gru • 'ec~ao «inteligentes» e todo 0 «software»
pos
medida, porem, em que os membros interagem fechados e grupos abertos e que equivale a nA ::~ciado. Enfim, a propria equipa de investi- putador com base em regras e modelos teoricos
- d !"ur apriorfsticos. Um exemplo recente, que adiante
uns com os outros na resolu~ao dos problemas em causa a no~ao e que 0 grupo tende natu. no caso dos grupos, tera de ser refor~ada
experimentais que lhes sao colocados, estes gru- ralmente a estruturar-se, fechando-se sobre si virtude da multiplica~ao e coordena~ao das se examinara, e dado pelas investiga~oes de Bib
pos sao tao reais como os grupos naturais. Ha, proprio, bern como a atenuar importancia e pre. tare fas em jogo tanto na recolha como posterior- Latane (1996) e associados, base ad as na teoria
todavia, situa~oes em que os experimentadores valencia do conflito endogrupo - exogrupo na no tratamento e analise dos dados. do impacto social.
procuram estudar e que implicam limita~oes a forma~ao da identidade do grupo. Se 0 laboratorio e diffcil, 0 grupo natural nao A simula~ao dos processos de interac~ao a
interacc;ao espontanea - por exemplo, so podem e menos por virtude das dificuldades de acom- partir de modelos formais abre novas perspecti-
utilizar determinados canais de comunicac;ao, ou sistematico a que se acrescentam as vas de colabora~ao interdisciplinar, nomeada-
devem realizar a tarefa obedecendo a sequencias 3. Aspectos metodologicos limitacoeS teoricas dos estudos de campo. Tal mente entre a Ffsica e a Psicologia Social. Um
predeterminadas. A tais grupos, de certo modo observa McGrath (1984), nao e possivel outro exemplo deste tipo de aproxima~ao e dado
semelhantes aos grupos mfnimos no sentido de Para 0 estudo dos grupos sao aplicaveis os iar simultaneamente os tres objectivos a pelos trabalhos de Galam (1996) e de Galam e
Rabbie e de Tajfel, da McGrath a designac;ao de princfpios e recomenda~oes relativos a utiliza· toda a investiga~ao cientffica aspira: a) gene- Moscovici (1991, 1994 e 1995) sobre os feno-
quase-grupos. ~ao do metoda cientffico em ciencias sociais e, b) rigor e c) relevancia social. Na me- menos colectivos, enquanto articula~ao de nfveis
Por ultimo, con vern mencionar, sobretudo mais particularmente, em Psicologia Social (ver lhordas hip6teses sacrifica-se urn dos objectivos micro e macro, com base em modelos desen-
pelas implicac;Oes decorrentes para a Teoria das Cap. IV). 0 estudo dos grupos recOrre aos meta- favor dos dois restantes. volvidos no ambito da mecanica estatfstica.
Representac;oes Sociais (ver Cap. XIV), a meta- dos comuns nos outros domfnios, tais como os Nestas condi~oes, e e ainda McGrath que
distinc;ao proposta por Harre (1981, 1984) entre metodos experimentais, quase-experimentais e , 0 princfpio fundamental, na investi-
grupos taxonomicos cobrindo as categorias correlacionais. Urn aspecto importante a salien- sobre grupos como urn qualquer outro 4. Quadro de referencia
sociais e categorias sociologicas, e grupos estru- tar reside na dificuldade da sua aplica~ao , dado io cientffico, reside na consistencia ou para 0 estudos dos grupos
turados, cobrindo os grupos sociais, grupos com- o numero de sujeitos que 0 estudo dos grupos convergellcia das provas obtidas atraves de
pactos e grupos organizados, tal como foram for~osamente implica. Urn plano experimental tstudos au de dados baseados em diferentes o quadro conceptual que, regra geral, e
definidas por Rabbie e Lodewijkx (1994). A dife- vulgar de 2 x 2 com 20 sujeitos por celula, 0 qu.e e metados (McGrath 1984, p. 31). referido na I iteratura , distingue entre factores
renc;a residiria fundamentalmente no grau de significa uma amostra de 80 sujeitos, se for aph- a
. As dificuldades praticas associadas inves- antecedentes e resultados mediados pelos
consciencializac;ao e de identificac;ao dos mem- cado a grupos de 5 membros implica uma tlga~iio dos grupos tem, todavia, estimulado 0 processos de interac~ao (McGrath, 1964, 1984;
bros relativamente aos seus grupos de pertenc;a amostra de 400 sujeitos. Acresce, e a observa~ao engenho dos cientistas no sentido de desen- McGrath e Altman, 1966; Hackman e Morris,
e/ou de referencia. Para Harre, como para Rabbie deve-se a Davis (1996) que, se a probabilidad~ vOlverem metod os mais economicos como e, 1978; Hackman, 1987).
e Horwitz (1988), alias na sequencia de Deutsch de os sujeitos comparecerem for de 80, 0 que e ~esignadamente, 0 caso dos modelos formais Nao se trata de uma teoria mas apenas duma
(1968) e de Sherif (1967), os grupos so existem considenlvel, a probabilidade de form ar grupos lntroduzidos por Davis (1979) com a teoria dos classifica~ao de conjuntos de variaveis com pos-
• 299
298

sfveis impactos nos resultados das tarefas que os peito ao desempenho do grupo. mas tall1be . tes. Verificar-se-ia, assim, uma ligeira tenden- duma bilheteira sao urn aglomerado, um grupo
g.en ara serem fiISlcamente
grupos devem levar a efeito. satisfa~ao dos membros e sobretudo a aprend~ qq . . a Itos e PSICO
mats . Iogl-
. serializado na terminologia de Sartre (1960).
. . , 'd d IZ • Ola Pente matS. 'mte I'Igentes. Por outro lad0, os Urn incidente que Ihes confira urn destino
Por factores antecedentes entendem-se as gem colectlva, ou seJa , a capaci a e de 0 g
. rupo comum pode transformar esse simples agregado
variaveis que influenciam os processos de in- vir a desempenhar sucesslvamente melho camrnbros mais inteligentes seriam em geral mais
. 'd~ . res
terac~ao. Compreendem os indivfduos que com- taretas futuras de natureza I entlca. me.vos rnais populares e menos confonnistas. num grupo. Qualquer aglomerado, qualquer que
~.
poem os grupos, as caracterfsticas estruturais
acttNo que
' se rei1"ere a competencla e capac I'd ade, seja a sua dimensao, multidao, publico ou
dos grupos, tais como a dimensao, as modal i- indivlduos mais habilitados para a tarefa de audiencia, constitui urn grupo potencial ou, pelo
dades de distribui~ao do poder, papeis e estatu- 5. Factores antecedentes OS po seriam em geral mais activos, dariam menos, e posslvel identiticar neles a emer-
tos, as formas de comunica~ao e as rela~oes de ~iS contribui~oes e teriam mais influencia na gencia, sempre latente, de fenomenos de grupo.
atrac~ao e rejei~ao interpessoais, e ainda 0 con- 5.1. Caracteristicas dos membros decisiio do grupo. . No que se refere aos limites mlnimos, autores
texto em que 0 grupo opera, ou seja. qual a No que se refere a personaltdade, os auto- como Bales (1950) ou Hare (1976) admitem que
tarefa que realiza, qual a sua envolvente especf- As caracterfsticas sociodemograficas e psi. ritario s seriam autocraticos e exigentes, mas as dlades (grupos de dois) ja exibem caracterlsti-
fica, qual 0 ambiente fisico, bern como cultural. cologicas dos membros que compoem um grupo tamb ern rnais conformistas. Os indivlduos mais cas de grupo. Para outros autores (Simmel, 1950,
tern certamente influencia nos processos de positivamente orientados para os outros tende- Mills, 1953, Caplow, 1956) so, pon!m, a partir de
politico e economico.
Por processos de interacrao entendem-se as interac~ao e nos resultados deles decorrentes. riarn a real~ar a interac~ao social, a coesao e 0 tres e posslvel considerar a fonna~ao de coli-
Trata-se, todavia. dum aspecto menos prioritcirio moral, enquanto os mais positivamente orienta- ga~oes e isso constituiria, segundo eles, uma
trocas que se fazem entre os membros do grupo.
Compreendem tanto a forma como 0 conteudo na agenda dos investigadores, talvez por virtude dos para as coisas tenderiam a inibir a interac~ao condi~ao minima para se poder falar de grupo.

da comunica~ao. A forma diz respeito as regu- das reservas dos psicologos sociais, ou pelo social, a reduzir a coesao e a baixar 0 moral do A dimensao do grupo tern influencia nos
laridades, tanto sincronicas como diacronicas; e menos de alguns, quanta ao valor explicativo grupo. Enfim, os sujeitos pouco convencionais e processos de interac~ao e consequentemente nos
o contelido refere-se as modalidades especfficas deste tipo de variaveis. Dispoe-se. contudo, de os ansiosos dificultam 0 funcionamento eficaz resultados. Bales et al. (1951 b) mostraram que
de que as formas se revestem em fun~ao do con- informa~ao nao muito sistematica sobre algu- do grupo, enquanto que os indivlduos bern ajus- a medida que a dimensao do grupo aumenta
texto, assumindo aqui particular relevancia a mas das rela~oes mais comummente observadas tados e que inspiram confian~a facilitam a pro- maior e a diferencia~ao na participa~ao relativa
natureza da tare fa. e resumidas por Shaw (1981) na revisao de lite· gressao do grupo para os seus objectivos. dos membros. Mais especificamente, quanta
As consequencias dos processos de interac- ratura que levou a efeito. Embora empiricamente fundamentadas, todas maior 0 grupo, maior a tendencia para que uma
~ao traduzem-se na eficacia da ac~ao colectiva. No tocante a idade cronologica, a participa9ao estas rela~oes sao avulsas e precarias e por isso minoria tenda a dominar e maior, por isso
ou seja, no grau em que 0 grupo logra atingir os social aumenta com a idade e toma-se, por outro mesmo devem ser aceites com reservas. mesmo, a percentagem das comunica~oes dirigi-
objectivos para que foi constitufdo. lado. mais diferenciada e complexa; verifica-se As caracterfsticas dos membros podem, toda- das por essa minoria ao grupo como urn todo.
As articula~oes posslveis entre estes varios tam bern uma tendencia para 0 Ifder ser mais via, constituir uma dimensao a nao negligenciar, Urn corolario imediato e 0 da maior probabi-
nlveis de analise sao, todavia. muito mais com- velho; e que a conformidade aumentaria ate aos sobretudo na constitui~ao de grupos naturais bern lidade de emergencia dum Ifder com 0 aumento
plexas por virtude, por urn lado, dos efeitos de doze anos, decrescendo a partir de entao. como no recrutamento de novos membros. da dimensao do grupo (Bass e Norton, 1951).
retroac~ao que as interac~oes introduzem nas No que se refere ao genero, os dados empf- A influencia da dimensao do grupo no
variaveis antecedentes. sobretudo ao nfvel dos ricos sugerem que, num contexto grupal, as desempenho depende da tarefa mas, em termos
5.2. Caracteristicas do grupo genericos, a curva da eficiencia tende a aumen-
factores estruturais mas tam bern nas atitudes e mulheres sao menos assertivas e menos compe·
motiva~oes dos membros, e, por outro lado. pela titivas do que os homens. usam 0 contacto visu~1 tar ate urn certo ponto vindo em seguida a
Dimensao
emergencia de factores latentes ao proprio pro- com mais frequencia, falam mais e sao mal diminuir. Compreende-se que assim seja por
cesso de interac~ao, ou seja, a factores de in- conformistas. Nos estudos sobre jurados verifi- Referiu-se anteriormente nao ser consensual virtude do acrescimo quase exponencial das
fluencia social (ver Cap. IX) que, como recurso, cou-se, por outro lado, que as mulheres tendetn nem porventura desejavel definir fronteiras no interac~6es posslveis a medida que 0 numero de

vaG moderando os resultados finais. a enviesar mais do que os homens. no sentido de qUe se refere a dimensao dos grupos. A titulo participantes aumenta. Esse aumento progres-
o quadro propos to depende igualmente do urn veredicto de «nao culpado». , . as e
convencional, os pequenos grupos sao aqueles sivo do numero de interac~oes nao corresponde
tipo de grupo e do tipo de metodologia. Para gru- No que se refere a caracterlsticas flSIC elm que os membros podem interagir entre si, em todavia, a uma maior produtividade de ideias.
bre-
pos naturais e de acordo com Hackman (1987), psicologicas, as rela~6es encontradas dizern SO r- n01110 de pro bl emas comuns. Os passageiros De acordo com Gibb, (1951), a produ~ao de
as variaveis consequentes nao dizem apenas res- tudo respeito as caracterfsticas dos Ifderes eme uma fila de espera dum transporte publico ou ideias e uma fun~ao negativamente acelerada

300 301

em relarrao a dimensao do grupo, ou seja, a cada de resolurrao de problemas. Por seu t 'nteracrrao e estes, por seu turno, tern membro central, pelo que as mensagens deverao
Rosenberg et al . (1955) conclufram que ernUrll o•
de I
acrescimo na dimensao do grupo corresponde sa naS estruturas.
S. passar todas pelo centro da roda.
urn acrescimo progressivamente menor do fas mecanicas a homogeneidade do tare. efeltOS trUturas indicam 0 grau de diferenciarrao Outro dispositivo utilizado e 0 cfrculo, em
. d fi . " Ases
numero de ideias emitidas. Este efeito e devido estava aSSOCIa a a e eltos slgmficativa
grupo
po No caso durn grupo temporarlo, , .
sem que cada membro esta ligado a dois outros, urn
as restrirroes que se verificam no padrao de superiores. Na revi sao que efectuou da lite~ellte do ~~ ~s estruturas reduzem-se as diferencia- a montante e outro a jusante. Ha outros padroes
comunicarrao com 0 aumento do numero poten- Shaw (1981) concluiu que os grupos Co a1Ura h~stOoa, ....,ergentes, tanto no que se refere as con- como 0 Y, a cadeia e todos os canais (Fig. 1).
cial das interacrroes. 0 acrescimo das interacrroes tfveis, no que se refere a motivarroes e cmPa. oeS .e..oe~· s instrumentals. para a reaI'lzarrao
- da Os principais resultados obtidos nestas expe-
,. de persona I'd d arac. 'bUly
produz tam bern efeitos na propria natureza das tenstlcas I a e, consagram rn IrJ fa especffica, como no que se ref~re as r~la- riencias sao bastante consistentes. Este e um dos
trocas. Slater (1958) realizou experiencias em energia as interacrroes socioafectivas e pOr ~nos tare afectivas entre os membros. A medlda. raros domfnios em Psicologia Social onde a
grupos cuja tare fa consistia em discutir proble- .
atmgem os 0 b"~ectlvos de fiorma mais eficaz SSO
d re que 0 grupo adquire continuidade, 0 que investigarrao parece ter atingido uma relativa
mas de relarroes humanas. Os grupos, num total que os grupos incompatfveis . Por outro lado 0
' . ,Os
pora ~~aso do grupo que trabalha em permanen- perfeirrao.
de 24, variavam na sua dimensao entre dois. a mem bros dos grupos compatlvels declaram_ ~ ou eJll sessoes intermitentes, 0 grupo vai Em primeiro lugar. as redes ,d e comunica~ao
sete membros. 0 autor concluiu que os mem- mais satisfeitos com 0 desempenho do grupo ;e C l8
{tcan . d d- centralizadas sao mais vulneraveis a saturarrao
do cada vez mals estrutura 0 e os pa roes
bros dos grupos de cinco exprimiam maior que os membros dos grupos incompatfveis. N~ actuarr ao tendem por seu turno a exercer do que as descentralizadas. Por saturarao
satisfarrao e que acima desse numero surgiam que se refere a qualificarroes e diversifica~ao. e . ..fllIl:lll"... nos processos de interacrrao subse- entende-se a carga total, em termos de tarefa e
comportamentos competitivos indesejaveis. favoravel desde que as tarefas assim 0 requei_ de papel, exigida ao sujeito que ocupa uma
possfvel, e as regras praticas apontam nesse ram. Finalmente, no que se refere ao genero. OS podemos distinguir varias dimensoes estrutu- determinada posi~ao (Shaw, 1964. 1978). No
sentido, que a dimensao ideal do pequeno grupo grupos heterogeneos tendem a obter melhores As dimensoes de diferenciar;ao mais fre- caso duma rede centralizada, a pessoa que ocupa
se nao afaste do «magico numero 7, mais ou resultados mas tambem a exibirem maior con- lUerlten1ente referidas na literatura sao a comu- a posirrao central satura mais rapidamente. Em
menos 2» (Miller, 1956). formidade. , 0 poder e a atracfiio interpessoal. seguida, as redes de comuni<;arrao descentra-
Urn outro aspecto, apurado por Bales e lizadas sao mais eficientes quando 0 grupo tem
Borgatta (1955), tambem em observarroes efec- Estruturas de grupo de resolver problemas complexos, enquanto que
Estruturas de comunicarao, redes e modali-
tuadas em grupos de dimensao variando entre as redes centralizadas sao preferfveis para os
dois e sete, seria que os grupos de dimensao par De acordo com Collins e Raven (1968), a problemas simples. Por problemas simples
chegam menos rapidamente a urn acordo do que estrutura de grupo pode ser caracterizada em ter- o estudo das estruturas comunicacionais nos entendem-se os que exigem apenas recolha de
os grupos de dimensao fmpar. mos da regularidade das relarroes interpessoais e sobrepoe-se em grande parte aos aspec- informarrao; logo que se disponha de toda a
das relarroes pessoa-tarefa, que transcedem as relativos ao contexto flsico e organizacional, informarrao a solurrao e obvia. Por problemas
personalidades e as relarroes idiossincraticas dum que e este que introduz constrangimentos e complexos entendem-se aqueles que requerem,
Homogeneidade
determinado grupo. Uma estrutura social pode. a interacrrao. As redes de para alem da recolha de infonnar;ao. 0 seu trata-
A composirrao do grupo, ou seja, 0 seu grau de pois. ser definida como a relarrao entre elementos ~mumca~:ao foram um dos primeiros topicos a mento posterior a fim de encontrar a solurrao.
homogeneidade ou de heterogeneidade, tanto no duma unidade social, pod en do os elementos ser ,.... ~L. .UIl"JIII 0 objecto de investigarrao experi- Tal como sustenta Flament (1961). 0 desem-
que se refere a caracterfsticas demograficas, socio- indivfduos ou posirroes . nos grupos (Bavelas, 1948; Leavitt, penho dum grupo e optimo quando ha homo-
logicas ou psicologicas , tern tam bern influencia As estruturas sao, em regra, contrastadas com I) , Posteriormente, muitos outros investi- morfismo entre a rede de comunicar;ao e 0 tipo
nos processos de interacrrao e, consequentemente, os processos. referindo-se estes a mudanrras de conduziram experiencias identicas. de tarefa a efectuar.
no desempenho do grupo . Mas tambem aqui nao actividade ao longo do tempo. Mas a distinrr iioe tres a cinco sujeitos, e operando em Faucheux e Moscovici (1960) compararam
e facil apontar efeitos principais, havendo sempre apenas conceptual ja que estruturas e processos com graus diversos de restrirroes nos grupos cuja tarefa consistia em resolver proble-
que conjugar com outras variaveis tanto estrutu- estao intimamente ligados, implicando-se mutua- (Shaw, 1964, 1978, 1981; Glanzer e mas (figuras de Euler) com grupos cuja tarefa
rais como contextuais , devendo ainda ter-se em mente. .1959, 1961). era de natureza criativa (arvores de Riguet),
conta os processos dinamicos . No quadro de referencia que se propos. istO A rede adoptada como base de compararr ao verificando que a tarefa de resolu~ao de proble-
Hoffman (1959). por exemplo, apurou que a significa que as estruturas se devem situar tantO estudos e. em geral, a roda, que corres- mas favorece a emergencia de estruturas cen-
heterogeneidade na composirrao dos grupos a montante como a jusante dos processos de a uma estrutura centralizada on de os tralizadas. enquanto que a tarefa de criatividade
ces
oferece vantagens em tarefas intelectuais do tipo mteracrrao. As estruturas tern eleltos nos pro -
• - A j:'
s6 podem comunicar atraves dum favorece as estruturas homogeneas (todos os
I Cen:r~ de Recur. a. I
,
302 303

fas puramente cognitivas, em que a dimen- «a resultante de todas as jorfas que actuam /lOS
FIGURA I I~ socioafectiva pode ser mais nociva do que membros para permanecerem no grupo»
~1I~1 OS canais de comunica«;ao mais «frios» ou (Festinger, 1950, p. 274). Urn aspecto central na
1111 's' , d'10 ou mesmo a men- teoriza«;ao de Festinger e que os grupos tendem a
Redes de comunica~ao «pobres», como 0 au
mal .
ern por escnto, oferecern vantagem sobre os produzir pressoes para a conformidade entre os
sag ais mais «quentes» ou «ricos», como e 0 membros, sobretudo relativamente a questoes
carta da comunica«;ao «face-a-face» (Daft e em que 0 teste de objectividade e problematico,
C~ngel, 1986, Hollingshead et al., 1993). Em ou seja, questoes que dependem do consenso
L ntrapartl'd a, em tare f as como a negocla~ao,
. - intersubjectivo. Uma consequencia que pode
c~ que a redu~ao da incerteza depende dum derivar-se consiste em supor que tais press6es se
e ax imo de informa«;ao, tanto verbal como nao dirijam prioritariamente para os dissidentes, com
Circulo Roda Homogenea ~rbaI, a comunica«;ao atraves de canais mais o exacto objectiv~ de os persuadir e que, no caso
v . fi'
,ricos revela-se mals e lClente. de tais tentativas falharem, 0 grupo tendera a
(centralizada)
marginalizar os membros nao conformistas.
As hip6teses de Festinger foram em grande parte

y
Estrutura sociometrica: coeSQO de grupo
confinnadas tanto atraves de estudos experimen-
Dutra estrutura de grupo, condicionante e tais como de campo. Verificou-se, com efeito,
o~-ee~~.'-~e~-o condicionada pelos processos de interac«;ao, diz que ha mais interac~ao nos gropos mais coesos
respeito as rela«;oes afectivas entre os varios do que nos grupos de menor coesao (Back, 1957;
membros do grupo. Como tal, tern a ver com Lott e Lott, 1961). Nos grupos altamente coesos
lIS caracterfsticas dos indivfduos mas tam- os membros tendem a ser amigaveis e coopera-
Cadeia Redeem Y
bern depende das caracterlsticas do meio tivos, enquanto que nos menos coesos tendem a
ambiente. funcionar mais como indivlduos do que como
D programa de investiga~ao levado a efeito membros dum grupo. No que se refere a satis-
por Festinger e colaboradores, nos finais dos fa~ao, varios estudos de campo indicam igual-
anos 40 num bairro residencial e complemen- mente que os membros dos grupos coesos se
canais). Posterionnente, Abric (1975) mostrou membros e menor, com excep«;ao dos que !ado por experiencias de laborat6rio, veio, com sentem em geral mais satisfeitos do que os mem-
que nao e tanto a natureza objectiva da tarefa ocupam as posi«;oes centrais. efeito revelar que a simples proximidade ffsica bros dos grupos pouco coesos (Gross, 1954;
mas a representa~ao que os membros dela Uma linha de investiga~ao mais recente, era suficiente para incrementar a comunica~ao e Marquis, et ai., 1951; Van Zelst, 1952). Por fim,
tern que detennina a emergencia da estrutura: desenvolvida sobretudo em Inglaterra, procurou a atrac«;ao interpessoal (Festinger, Schachter e os grupos com elevada coesao exercem maior
quando 0 grupo considera que a tare fa requer detenninar quais os efeitos produzidos restrin- Back, 1950, Festinger, Back, Schachter, Kelley influencia sobre os seus membros do que naque-
criatividade, tende a recorrer a estruturas des- gindo as modalidades de comunica«;ao, ou seja, e Thibaut, 1952). les com baixa coesao, designadamente no que se
centralizadas, e quando a representa em tennos pennitindo aos sujeitos comunicarem atraves de A partir da estrutura sociometrica (Moreno, refere a tendencia para a confonnidade, ou seja,
de resolu~ao de problemas tende a favorecer as canais audio e/ou vIdeo (William, 1977). Algu- 1934) e posslvel identificar quais os sujeitos para aceitar a opiniao da maioria (Bovard, 1951;
estruturas hienirquicas. mas das experiencias efectuadas utilizaram tare- rnais populares - as estrelas, quais os mais Lott e Lott, 1961; Wyer, 1966).
Outro aspecto reportado na literatura diz fas de negocia«;ao (Morley e Stephenson, 1977). rejeitados - os bodes-expiatorios, bern como Mas a coesao nem sempre e funcional para a
respeito a emergencia dos lfderes, mais provavel Estes estudos trouxeram contribui«;oes impo~­ subconfigura«;oes, como «cliques» e coliga~oes. qualidade da decisao de grupo. Urn efeito per-
nas redes ' centralizadas do que nas redes tantes que constitulram uma primeira apro XI- Urn aspecto relacionado com a estrutura verso da coesao identificado por Janis (1972;
. ~o
descentralizadas (Leavitt, 1951). Enfim, nas ma«;ao ao estudo dos processos de mteracya sOciometrica que tern side objecto de particular Janis e Mann, 1977) e0 efeito do pensamento gru-
redes centralizadas a organiza~ao desenvolve-se mediados por computador. aten~ilo e 0 que se refere a coesao de grupo, pal. De acordo com estes autores, a tendencia para
mais rapidamente do que nas redes descentra- As principais conclusoes apontam, uma veZ ~nq~anto factor de produtividade dos grupos. a confonnidade pode na verdade conduzir a urn
lizadas, mas em contrapartida a satisfa«;ao dos mais, para 0 efeito moderador da tarefa. 8111 eSlinge r de f'me a coesao
- de grupo como exame superficial dos problemas e a aceitar solu-
,
304 305

~6es precipitadas e ruinosas para 0 grupo. Janis Nas observa~oes sistematicas que efectuou ·s e designadamente em contextos organi- o poder, ainda que na sua expressao mais
ilustra 0 seu diagnostico atraves duma serie de pequenos grupos, Bales ( 1950 b) verificou ell1 (oJ1l1aJ .
atenuada de poder pessoal, actua como urn mo-
exemplos de «fiascos historicos», que envolveram dI·tierencIa~ao
. - vertic . aI ocoma. re I·
atIvamente qUe a cion als .
tB anto ao poder pessoal, e como a designa- derador dos processos de influencia que ocor-
· cedo
a Administra~ao norte-americana, tais como a no decurso dos processos de mterac~ao. n • QUugere, consiste na influencia que e exer- rem no grupo. Este efeito toma-se sobretudo
rllO s
invasao de Cuba, 0 desastre de Pearl Harbor, a acordo com as observa~oes, os Iideres emerg e '. por virtudd ,.
e as caractenstlcas . e
pessoals saliente atraves da observa~ao da dinamica do
Guerra da Coreia ou a escaIada no Vietname. tes eXI·bem, por Via . de regra, comp0rtamenen_ cldll . . d
'0 necessanamente assocla as a uma posl~ao
. -
grupo, a qual nao e facil detectar atraves dos
Para Janis, 0 pensamento grupal nao e apenas tipicos como dirigirem-se ao grupo como tos n~ rarquica. Modalidades de poder pessoal, tal metodos experimentais.
consequencia da coesao do grupo. Sera uma todo, sendo eles que recebem mais informaC'aurn e
bl 0 sugere French e Raven (1959) sao a com- Deve-se todavia a Kurt Lewin e colabora-
- . T 0 e
condi~ao necessaria mas nao suficiente. Outros que, por seu tumo, d ao mrus sugestoes. EIll te corn . ti - _. I
tc~ncia, a m orma~ao e a atrac~ao emOClOna dores (Lewin, 1938; Lewin e Lippit, 1938;
factores que contribuem para a sindrome des- mos lewinianos, retomados por Festinger 0950;- pe der de referencia). Lewin, Lippit e White, 1939) a introdu~ao do
crita sao a Iideran~a autoritaria, por urn lado e, sao estes actos de influencia que ajudam 0 gru • (POHa ainda urn terceiro tipo de poder - 0 poder metoda experimental aplicado ao estudo da lide-
por outro, a pres sao derivada da urgencia em a progred Ir· para os seus 0 b·~ectIvos.
. Po
I (timo,ou seja, de acordo com Weber (1947), ran~a. Nesses estudos os autores utilizaram gru-
decidir. A evidencia experimental aponta, alias, Bales verificou, por outro lado, que os Iideres :!utoridade. 0 poder legitimo articula poder pos de rapazes de dez anos de idade submetidos
nesse sentido. De acordo com os resultados emergentes nao sao necessariamente os Illem_ osicional e poder pessoal. Por outras palavras, a diferentes estilos de Iideran~a. Para 0 efeito
duma experiencia de laboratorio conduzida por bros mais populares, no sentido de serem os ~ poder posicional e I~giti~ado, ou seja, e ~anto treinaram monitores adultos a exercerem tres
Flowers (1977) com grupos de estudantes uni- mais preferidos em termos afectivos pelos ou- mais aceite pel os destmatarios sobre os quais ele estilos diferentes: o· estilo autocrdtico, consis-
versitarios «coesos» e «nao coesos» e cuja ta- tros membros do grupo. E dai a consagrada dis- eexercido, quanta mais 0 detentor da posi~ao tindo na fixa~ao de objectivos especificos e nao
refa consistia em resolver uma situa~ao de crise, tin~ao entre lMeres instrumentais e [(deres atraves da qual ele e exercido e reconhecido pela permitindo quaIquer interac~ao entre os mem-
veio a concluir-se que era sobretudo 0 tipo de socioemocionais ou expressivos. Cinquenta sua competencia tecnica ou pelo seu carisma. bros, aliado a urn controlo estrito da disciplina;
Iideran~a, ou seja, 0 grau em que a discussao anos depois sao estas as duas dimensoes funda- Nos grupos nao hierarquicos, 0 processo de legi- o estilo democrdtico, que permite as trocas inter-
era ou nao encorajada, e nao a coesao, que se mentais que os estudos sobre Iideran~a conti- tima~ao dos Iideres emergentes podera igual- pessoais, ou seja, trabalho cooperativo e menor
relacionava com a decisao tomada. Estudos nuam a identificar. mente, caso nao se trate dum grupo temporario, controlo da disciplina; 0 estilo laissezfaire (ou
posteriores, tanto de laboratorio como de campo Note-se que os grupos observados por Bales conduzir a institucionaliza~ao dos Iideres, ou permissivo) em que 0 Iider se demitia das suas
(Cartwright, 1978; Vinokur et al .• 1985), apon- sao grupos de laboratorio, constituidos por estu- seja, It emergencia duma hierarquia informal fun~oes de coordenador do grupo, quer quanta it
tam igualmente no mesmo sentido. De acordo dantes universitarios, todos eles com 0 mesrno (Jesuino, 1996). forma como ao conteudo. A tarefa consistia em
com os dados de que se dispoe, tanto os grupos estatuto e sem qualquer diferencia~ao em termos Note-se que a emergencia dum Iider nao e executar trabalhos manuais como mascaras e
muito coesos como os pouco coesos sao capazes de poder posicional. A emergencia dum Iider a uma condi~ao necessaria nem suficiente para modelos de avioes. Cada grupo efectuou tres
de tomar boas decisoes desde que 0 processo de partir dos processos de interac~ao sugere, deste a locorno~ao do grupo para os seus objectivos. reunioes ao longo dum perfodo de seis semanas.
tomada de decisao seja adequado. Talvez, como modo, que 0 «poder pessoal» e, neste caso, urna o factor decisivo e que as interac~oes instru- As sessoes foram cuidadosamente observadas
sugere Steiner, nao seja tanto a coesao mas antes con sequencia da Iideran~a, ou seja, depende das mentais, ou seja, aquelas que contribuem para a pelos experimentadores, registando numerosos
«0 desejo de coesao» 0 facto primariamente suas competencias especificas, pelo menos no referida locomo~ao do grupo, nao sejam obsta- dados utilizados na interpreta~ao dos resultados.
responsavel pelo pensamento grupal, sendo a que se refere it tarefa que 0 grupo deve levar a culizadas pelas interac~oes tendentes a reduzir Note-se que neste plano experimental os grupos
coesao mais uma con sequencia do que uma efeito (Jesuino 1996). as conflitualidades entre os membros do grupo. observados sao grupos hierarquicos, com Iider
causa da incapacidade de examinar todos os «Poder posicional» versus «poder pessoal» e Grupos em que se verifique urn elevado nivel de designado e exercendo urn poder posicional.
aspectos dum problema duma forma «desa- uma distin~ao proposta por French e Raven conflito podem ficar operacionalmente bloquea- Sob esse aspecto, as experiencias de Lewin cons-
paixonada» (Steiner, 1982, p. 521). (1959). 0 poder posicional ou poder fonnal e0 ~os, embora seja certo que a emergencia dum tituem tam bern 0 primeiro estudo sobre tide-
poder que esta associ ado a uma posi~ao hierar- hdertome tal eventualidade menos provavel. As ranra organizacional. Apenas que esse poder
Estruturas de poder e injluencia - Lideranra quica e que se traduz na capacidade de exercer Competencias do Iider estao assim relacionadas posicional e aqui manipulado ao longo dum con-
de grupo influencia com base na atribui~ao de recompen- nao apenas com a tarefa especifica mas tambem tinuum de legitima~ao por forma a examinar
. IegaImente . . 'd as. 0 poder
sas ou pum~oes mstItUl d c~m a sua capacidade para coordenar as interac- quais os seus efeitos na influencia social exer-
As estruturas de poder e influencia emergem formal e estrutural e anterior aos processos e ~oes a fim de reduzir as perdas por processo cida. De qualquer forma, trata-se duma dina-
do processo de diferencia~ao vertical dos grupos. interac~ao, situa~ao que se veri fica nos grupos (Hackman, 1987; Steiner, 1972). mica descendente, do Iider para a lideran~a, e
,
306 307

nao da lideran~a para 0 Ifder que se veri fica nos Por urn lado manipula-se 0 comportament NeW todos os grupos sao, todavia, grupos de experiencia que os membros do grupo tern da
grupos nao hienirquicos. Os resultados das Ifder a boa maneira aristotelica, em te...... 0 do
• •liaS d
pOSt A famnia, por exemplo, e urn grupo natu- tarefa a executar.
experiencias de Lewin mostraram que a lide- variavel independente, procedimento qu e Inred~ficilmente caracterizavel nesses termos tal o criterio dimensional oferece a possibili-
ran~a democnitica nao era menos eficaz em proprio Lewin critica no celebre artigo ern e 0 raJ I acontece grupos terapeuticos. Ambos os dade de operacionaliza~ao utilizando variaveis
termos de produtividade do que a lideran~a distingue entre os modos de pensamento q~e como -
plos, nao abordados neste Manual, sao tra- contfnuas,o que e vantajoso para efeitos de rela-
autocnltica. Os grupos democniticos produziam totelico e galileiano (K. Lewin, 1935; Jesu~~S' e~~mnalmente objecto de analises mais especf- cionamento com outras variaveis, designada-
menos modelos mas a diferen~a nao era sign~­ 1992 a). Por outro lado, 0 grupo e observ 0, dl clO ainda que nao -seJam
' de exc IUlr
. trocas mente com indicadores de desempenho. A lista
ficativa. Em contrapartida, as solu~oe,s dos gru-
· " ado fiCas, .,' d'
enquanto Gesta It mteracttva, ou seja, enqua , rdisciplinares ou slstematlcas, e mteresse sugerida por Shaw e contingente do contexto, ou
. de vanavels
" . .mterdepen dentes e nto lote .' . ,
pos democniticos eram mais imaginativas, mais sistema 'IUD. 0 obJecttvo que aqUl se pros segue e, seja, da tarefa especffica. Ou, por outras pala-
sob . I' . d ' d
criativas e alt~m disso os jovens mostravam-se fllu
• A' '

esse aspecto, em p'erf~lta coerencla com a teo' loda via , mms lmlta 0, Clrcunscreven o-se ao vras, cada tarefa comporta. em graus variciveis,
mais satisfeitos " mais descontr'afdos. Acresce de ~ampo. Esta u'ItIma
. ' -
onenta~ao constiiui u
na e dos factores que contribuem para 0 algumas ou a totalidade daquelas dimensoes.
exa m
ainda que 0 nfvel de tensao intefI)a no clim~ altemativa ao estudo da lideran~a e p'odeni c:'~ elhor desempenho do grupo na progressao para Este criterio e utilizado com frequencia na
n
Ciempcnitico' era significativamente menor do tribuir para uma melhor articula~ao . ent re ~ fins para que foi constitufdo. Psicologia das Organiza~oes.
que no clima autocratic;o. Atraves duma' pre: process?s de grupo e pro;essos organizacionais o As caracterfsticas das tarefas sao operacio-
tensa necessidade de ausenc.ia do Ifder por Tipologia de Hackman
(Jesufno, 1987; 1996). E certo, porem, que a oalizadas em termos das variaveis psicos-
alguns rrtinutos, a fim de atender uma chamada passagem ao' contexto organizacional introduz sociol6gicas mobilizadas para a sua realiza~ao, Hackman (1968, 1976; Hackman e Morris
telefonica, verificaram os experimentadores que novas dimensoes, inserindo os grupos numa OU seja, em termos de processos cognitivos, 1975, 1978) propos urn criterio misto combi-
enquanto no clima democnitico nao havia prati- rede relacional mais va:sta e implicando estrate- afectivos e avaliativos. nando tipos e dimensoes.
camente altera~ao no~ compor,t amentos, no gias de amplia~ao , das bases do ,poder a partir de o recurso a estes criterios tern dado origem a Da investiga~ao empfrica que efectuou e que
clima autocnitico a ausencia do Jfder ,dava lugar recursos exteriores ao proprio grupo ou mesmo diversas tipoJogias das tarefas de grupo, algu- consistiu em factorizar urn vasto conjunto de
'a uma explosap das tensoes acumuladas atraves a propria organiza~ao. mas das quais sao referidas a seguir. tarefas, identificou tres tipos de tarefas: as que
de gritaria, agressOes ' mutuas e interrup~ao das envoI vern produ~ao, as que envoI vern discussao
tarefas. Tipologia de Shaw e as que envolvem a resolu~ao de problemas.
Entretal)to, no clim~ laissez{aire os resuJtados 5.3. Ctiracteristicas contextuais Shaw (1981) distinguiu entre criterios tipo- Note-se que Hackman limitou a analise a tarefas
negativos acumulam-se. Em tal clima a produtivi- logicos e criterios dimensionais. Enquanto intelectuais, ou seja, aquelas que se traduzem
dade observada era significativamente inferior a Os factores do ' contexto compreendem todos aqueles classificam as tarefas em categorias, 0 em produtos escritos.
dos outros grupos, as solu~oes rotineiras e 0 grau os factores externos com influencia nos proces- criterio dimensional, por ele preconizado, clas- No que se refere as dimensoes identificou seis
de satisfa~ao igualmente baixo. sos de interac~ao tais como 0 ambiente f{sieo, sifiea as tarefas em termos de caracterfsrticas caracterfsticas: orienta~ao para a ac~iio, exten-
Kurt Lewin era urn judeu alemao refugiado tarefa especffica a realizar, organiza~ao de que 0 independentes umas das outras. A diferen~a sao, originaLidade, optimismo, qualidade de
nos Estados Unidos com 0 advento do nazismo, grupo faz parte e culturas envolventes, a suees- reside no grau de diferencia~ao, ja que a cada apresenta~ao e pertinencia. Estas seis dimensoes
ou seja, numa epoca em que a democracia era sivos nfveis de generalidade. Limitar-nos-emos !arefa e atribufda uma posi~ao em cada dimen- podem ser avaliadas examinando 0 resultado
acusada pelos problemas economicos e sociais aqui a examinar 0 contexto da tare fa remetendo 0 sao. As dimensoes propostas por Shaw sao: difi- escrito da tarefa, independentemente do tipo.
que assolavam as sociedades ocidentais. Ele leitor interessado pelo problema dos «grupoS nas culdade - esfor~o requerido para completar a
estava interessado em mostrar que as democracias larefa; multiplicidade de solu~oes - grau em que Tipologia de Steiner
organiza~oes» a volumosa e crescente literatura
funcionam e que tern vantagens sobre os regimes neste domfnio (veja-se como ponto de partida 0 ~a mais de uma solu~ao correcta; interesse Steiner (1972, 1976) utiliza tres criterios de
autoritarios. A propria terminologia que utiliza recente Handbook of Work Group Psychology, Intr(nseco - grau de interesse da tarefa, ou seja, c1assifica~ao. 0 primeiro corresponde a questao
nas suas experiencias exprime tais preocupa~oes. editado por Michael West, em 1996), em que medida e motivante e atractiva para os de saber se a tarefa pode ou nao ser subdividida
Nao obstante 0 pioneirismo e engenho das l11embros do grupo; coopera~ao - grau em que a em subcomponentes, ou seja, se e divislvel Gogo
experiencias pode observar-se, como sugere aC~iio integrada dos membros do grupo e neces- de futebol, constru~ao duma casa, prepara~ao
Tarefas
Graumann (1986) que 0 proprio Lewin nao teria sana para completar a tarefa; requisitos intelec- duma refei~ao) ou unitdria (puxar a corda, ler
sido inteiramente consistente, pelo menos no que A tarefa constitui urn dos factores centrais no 'uGis e manipulativos _ racio dos requisitos urn Jivro, resolver urn problema matematico).
se refere a sua teoria (construtivista) de campo. estudo do funcionamento e desempenho dos gru- l11entais e motores; familiaridade - grau de o segundo criterio distingue entre quaJidade e
308 309

quantidade, comparando optimizapio (gerar a dois tipos de perdas: as perdas por motiva '
melhor ideia, identificar a resposta correcta, relativas ao nfvel de esfor~o aplicado fao, FIGURA 2
resolver um problema matematico) com maxi- membros, e perdas por coordena~iio, relati~lo~
miza~iio (gerar muitas ideias, levantar um peso, eficiencia na combina~ao e conjugat;iio as a Circumplexo de tarefas
dos
obter 0 maior numero de pontos). 0 terceiro esfor~os. As perdas por processo aumentarj Fonte: Adaptado de McGrath (1984)
criterio diz respeito it forma como os membros
do grupo combinam as suas contribui~oes indi-
viduais para produzir 0 resultado final. Sob
com 0 aumento da dimensao dos grupos.

Tipologia de Laughlin
all!
-
esses aspectos as tarefas podem ser: a) disjunti- Laughlin (1980) da uma nova contribui ' Cognitivo 1--------------------..
..... Comportamental
vas - que requerem uma decisao do tipo «ou- para a tlpo . d as tare f as, d"Istmgumdo
. I ogla . 'Yao
entr
QUADRANTEI: GERAR
-ou»,ou seja, 0 grupo tem de aceitar uma de duas tarefas competitivas e tarefas cooperativQ e
altemativas; b) conjuntivas - que requerem que compreendendo estas ultimas, por seu turno, ~
Colabora~o
cada elemento execute a tare fa, como por exem- situa~oes com solu~ao correcta e demonstnivel
plo, escalar uma montanha, tomar uma refei~ao - as tarefas intelectuais e as situa~oes sem solu-
ou tocar uma marcha militar; c) compensatorias ~ao demonstravel- tarefas de decisiio, em que 0
- em que a decisao do grupo e tomada com base problema para 0 grupo consiste em chegar a urn
na media das solu~oes individuais, como por consenso.
Coordena~o
exemplo, a estimativa media do mlmero de fei-
joes numa jarra, do peso dum objecto ou a tem- Tipologia de McGrath
QUADRAN'I'E QUADRANTE
peratura duma sala, situa~oes identic as ao efeito McGrath ( 1984) procurou sintetizar estas n: IV:
autocinetico de Sherif examinado no Cap. IX); diferentes tipologias propondo uma categoriza- ESCOLHER EXECUTAR
d) aditivas - em que 0 resultado depende da ~ao das tarefas em termos do que designa por
colabora~ao de todos os elementos, como, por circumplexo, termo que procura traduzir e cruza-
Coordenar,:Ao
exemplo, puxar uma corda, fechar sobrescritos, mento de diferentes criterios utilizados. porven-
limpar a neve; e) discriciondrias - em que sao tura a classifica~ao mais clara e que melhor
permitidas altemativas, ou seja, a op~ao entre permite caracterizar a diversidade de tarefas de
estrategias disjuntivas, conjuntivas ou aditivas, grupo (ver Fig. 2).
como, por exemplo, a decisao de limpar a neve o modelo proposto articula 0 criterio de
em conjunto, votar a melhor solu~ao dum pro- Hackman, que distingue quatro tipos de pro-
Resol~o de Conftitos
blema matematico ou delegar no Ifder a decisao. cesso: gerar ideias e pianos, escolher, Ilegociar
A tipologia de Steiner e uti! porque permite e executar. Urn segundo criterio distingue entre
fazer predi~oes sobre a produtividade dos gru- situa~oes que envolvem coopera~iio ou conflito, QUADRANTE m ; NEGOCIAR
pos, expressas sob forma matematica, a partir da e um terceiro criterio entre tarefas conceptuais e
compara~ao entre produtividade real observada, tarefas comportamentais. A conjuga~ao destes
produtividade potencial e produtividade real. criterios permite introduzir distin~oes nos qua-
Como regra, a produtividade real e inferior it tro quadrantes de partida. Assim as tarefas do
produtividade potencial por virtude das perdas Quadrante II - Escolher podem ser, de acordo ao Quadrante I conjuga-se 0 criterio da coope- embora mutuamente exclusivas, se acham logi-
por processo. Por outras palavras, 0 processo de com Laughlin, tarefas intelectuais ou tarefas de ra'Yiio com as distin~oes entre tarefas concep- camente relacionadas umas com as outras,
decisao no caso de se tratar de tarefas concep-
tu·
interac~ao leva com frequencia a resultados que alS e tarefas comportamentais, e no Quadrante podendo ser percorrido num ou noutro sentido
sao inferiores aos que seriam teoricamente pos- tuais e ~o caso de se tratar de tarefas executi vas , ~I estes dois tipos de situadlo sao articulados no dos ponteiros do relogio. Ha, todavia, maior
Int . T
sfveis a partir das competencias e capacidades podem ser tarefas de desempenho psicomotor OU enor dum contexto de conflito. 0 modelo proximidade entre as tarefas no interior de cada
ente
disponfveis no grupo. Steiner identifica ainda tarefas de competi~ao ffsica. Relativarn reveste-se da virtude de conjugar situa~oes que, quadrante.
• 311
310

a) Tarefas de Escolha. Tarefas intelectuais e sao distribufdos aleatoriamente pela condip~ . grupOS teoricamente construidos aos quais se de tais problemas largamente utilizados nas
tarefas de decisiio
· -
individual e peIa con d19ao grupo, enquanto q
TaO seJ~~ui um resultado correcto desde que incluam experiencias com grupos sao os problemas de
num plano experimental intra-sujeitos os III Ue " detentor da so1-
atrt10 menos urn sUJelto u9 ao . sobrevivencia - no deserto, no mar, na lua, etc.
. d ' . es- o problema consiste em ordenar uma serie de
As tarefas de escolha correspondem as tare- mos sujeitos sao examma os pnmelro corn pe Esta comparac;:ao, feita experimentalmente por
fas disjuntivas de Steiner (1972), as quais, de individuos e depois em grupo) verificando qUO Marquart (1955), v~io .re,vel~ que os grup~s ~ao objectos em func;:ao da sua importancia para a
acordo com Laughlin (1980), podem ser intelec- os grupos, embora mais lentos (cerca de I; _ superiores aos mdlvlduos. A mesma tecmca
sao .
sobrevivencia dum grupo. 0 plano experimental
adoptado e, em geral, ~ntra-sujeitos: os mesmos
tuais ou decisOrias. minutos em media contra os 10 minutos gastos [oi utiIizada , por . Faust. (1959) com p~oblemas
Mas as tarefa's intelectllais podem ainda distin- em media pelos individuos) eram superiores aos 'paciais e ve~bals, venficando-s~ que nos .pro- sujeitos procedem primeiro a ordena9ao indivi-
guir-se entre . problemas cuja solU9ao, uma vez indivfduos, possivelmen~e pelas possibilidades :~en1as espaciais nao havia di~eren9as, enquanto dualm,ente, em 'seguida discutem em · grupo
enc'ontrada, se impoe pela sua evidencia irrecusa- acresCidas de corrigirem os erros e de rejeitarelll. OS prob_lemas verbais os resultados eram mis- procurando chegar a urn consenso, e acabam
vel - tipo eureka, enquanto que outras requerem solU90es incorrectas. Os resultados obtidos POr ~os. Com base nesta hip6tese, pode ~a\Cular-se 0 par proceder a uma ordena9ao individual. Para
demonstra90es tanto de caracter 16gico como M. Shaw mostraram, com efeito, que enquanto des ein pe!1ho potencial dum gr~po a partir da urna aplica9ao pormenorizada; veja-se Jesuino
baseadas na experienci~ de especialistas. Uma J)enhum dos sujeitos foi capaz de chegar a Ulll.a probabilidde 'de esse grupo incluir pelo menos (1987). .
tarefa tipo eureka estudada por Marjorie Shaw solu9ao correcta, 3 dos 5 grupos (com 4 sUjeitos 'UITl membro capaz de resolver 0 problema. Essa Regra geral, os resultados obtidos revelam
(1932) e 0 famoso problema dos missiomirios e por grupo) foram bern sucedidos. probabili.dade aumentaria ·com. a dimensao do que os grupos s6 muito raramente obtem siner-
dos canibais I, que vira a ser retomado na Psico- Atendendo a natureza do problema, basta que grupo: quanto maior e 0 grupo maior a proba- gia, ou seja, urn resultado superior ao melhor
logia Cognitiva (Newell e Simon, 1972) e na urn sujeito do grupo descubra a soluc;:ao correcta bilidade de incluir urn membro competente. resultado individual. Mas, mais uma vez, quando
Psicologia do Desenvolvimento (Inhelder e de para que de imediato ela se imponha a todo 0 Assim, se conhecermos a IJropor9ao de indivi- se procede a uma 'compara9ao com grupos
Caprona, 1992, p. 84) (ver caixa em baixo) . grupo. Sendo assim, pode argumentar-se que a duos numa popul ac;:ao capazes de resolver a esta~isticos, os . resultados sao muito menos
Marjorie Shaw (1932) utilizou urn plano compara9ao se 'fac;:a nao entre individuos e grupos tarefa, segue-se que 0 desempenho potencial claros. Aqui os ganhos e perdas dependem nao
experimental entre sujeitos (diferentes sujeitos mas entre grupos reais e grupos estatisticos, ou pode ser predito pela f6rmula Pg = l-Q", em que apenas da influencia informativa mas tam bern da
Q e a propor9ao de indivfduos que nao conhe- influencia normativa que se exerce no gnipo
cern a solu9ao e it 0 numero de pessoas do grupo (Deutsch e Gerard, 1950, ver'Cap. IX).
Problema dos Missionarios e dos Canibais (Steiner, 1972). Este aspecto torna-se ainda mais salient~
Consideremos, por exemplo, que a percen- quando pass amos a situa90es sem solU9ao
SitlUlfiio tagem media dos individuos capazes de resol- objecti~a, como sera 0 caso do veredicto a pro-
Tre.l' m;ss;oll£ir;o.l' e Ires C{III;ba;s est{i.o IW marge.1Il dum rio e querem atral'essar para a oulra nwrgem ul;-
ver urn problema e de 14 por cento, ou seja, 86 nunciar pelos jurados, ou da decisao a tomar por
lizando tllli barco que .W} pode lransportar dUlls pessoas de cada l'e 7 • Todos os lIIissiollcirios e UIII clInibal sabem
rel/wr. Por ra'l.oes de segul'Gnfa ill/fiCa pode Itaver lIIa;s can;bu;s do que m;ssiollar;os, excepto quanc/o estes lIao por cento nao e capaz de resolver 0 problema. urn conselho de administrac;:ao sobre urn investi-
e.l'tcio presellfes. Para grupos de quatro sujeitos a prodlitividade mento, ou dum ' gabinete politico sobre uma
potencial seri a neste caso de .46 e para grupos opera9ao militar. Urn importante desenvolvi-
Problema
Quantas IraveS.\;lIS sercio Ilecesscir;as pClra transporlar CIS se;s pessolls duma margem pal'Cl a OI1Ira ?
de cinco sujeitos de .53. mento neste dominio deve-se ateoria dos esque-
A predi9ao de que 0 desempenho do grupo mas de decisiio social introduzida por Davis
nas tarefas disj untivas aumenta com a dimensao (1969,1973). A ideia basica consiste em postu-
do grupo e, em geral, confirmada pela investi- lar model os te6ricos formalizados a partir de
ga~iio (Marquat, 1955; Lorge e Solomon, 1955; hipoteticos criterios de tomada de decisao apIi-
Bray et al., J978). cados a todas as possiveis distribuic;:oes das
I Problema dos missiomirios e dos canibais
o problema toma-se diffcil de resolver por virtude dos erros diffcei de detectar. Como os missionarios nunca pode~ Quando os problemas nao sao do tipo eureka, posic;:oes iniciais dos sujeitos e para diferentes
estar em maioria e necessario recorrer a um procedimenlo aparentemente paradoxal : primeiro ha que transportar as canl- embora se saiba que ha uma solU9ao correcta ou dimensoes dos grupos. Exemplos de esquemas
- e
bais para a outra margem para voltar a transporta-Ios para a margem .IOICla
. . I. Representan d 0 os cam'b als
. por C , ocanibalqu7) pelo menos melhor, dado que nao se dispoe de de decisao social sao: a verdade ganha, que cor-
sabe remar por R e os missionarios por M, temos a seguinte sequencia: (I) CR, (2) R, (3) CR, (4) R, (5) MM , (6) MC, ( criterio para reconhecer a evidencia, a tarefa responde as situac;:oes eureka, em que basta urn
MR. (8) MC, (9) MM, (10) R, (II) RC, (12) R, (13) RC. de aprox ima-se neste caso do tipo decis6rio no sujeito conhecer a solU9ao para que 0 grupo a
Os trajectos fmpares de (I) a (13) slio efectuados da margem inicial para a margem de destino e os trajectos pares
sentido de Laughlin (1980). Urn exemplo tfpico adopte; outro esquema e a verdade ganha com
(2) a (12) slio trajectos de retorno.
,
312 313

apoio, que corresponde a uma situa~ao em que na~ao de esfor~os adequada e da motiva~ao rirnentador) que se limitavam a simular a cia (Harkins e Petty, 1982) ou mesmo tarefas de
pelo menos dois sujeitos conhecem a solu~ao membros do grupo. Essa e a situa~ao que Co dos e~pe aO acorda. Este artiffcio permitiu comparar natureza intelectual como a "Tempestade de
correcta. Nas situa~oes sem solu~ao objectiva os ponde as tarefas de desempenho. Em Co rres. tf8c~ . separan d 0 ideias" (brainstorming) que examinaremos
dogruPOS com grupos reals,
u
pse'01 as perd as por motJva~ao,
esquemas mais frequentemente estudados sao a partl'd a, nas tarelas
4" de competJ~ao
. - ffsica ntra. . - d etectavels
, . nos adiante (Harkins e Petty, 1982; Jackson e
corn
maioria, simples ou qualificada, a unanimidade outros grupos 0 problema fundamental COn . jlSSI dogruPOS, das perdas por coordena~ao a Harkins, 1985) ou 0 julgamento (Weldon e
u
e a equiprobabilidade. A aplica~ao as tarefas
• • • C • d I
em mlOlmlzar os eleltos os e ementos me
SISte Pse adicionadas em grupos reals..
Os resultados Gargano, 1988) tern vindo a confirmar de forma
· . nos elas . C"'fi' d
intelectuais disjuntivas aponta para a predomi- capazes, 0 b~ectlvo que corresponde as taref btidos indlcam urn elelto slgm Icatlvo as per- consistente este efeito que Latane et al., (1979)
. . as
nancia do esquema a verdade com apoio. Em conJuntlvas. ~as por rnotiva~ao (ver Fig. 3? designaram por inercia social. Para explicar este
situa~oes como os problemas da sobrevivencia, Comecemos pelo caso das tarefas aditiv Latane et al., (1979) obtlveram resultados efeito tern sido invocadas varias hipoteses, tais
em que a verdade corresponde ao consenso dos unitdrias de que 0 exemplo classico e a trac~ao~ 'd8ntico s com sujeitos experimentais cuja tarefa como a situa~ao de anonimato, a redundancia
especialistas, e de presumir, como sugere corda. Neste tipo de ~arefas as contribui~oes rnd'. I nsistia em gritarem 0 mais alto possivel e dos esfor~os, ou a falta de coesao dos membros
McGrath (1984), que dois sujeitos nao bastem e viduais adicionam-se, pelo que 0 grupo e nece~_ COcorrendo Igua
• Imente ao artl'f"ICIO d os pseud o- do grupo (Jackson e Williams, 1985). A ser
que 0 esquema referido seja do tipo vefdades
re 'A • • •

assim, 0 efeito poderia ser reduzido tomando as


sariamente superior aos individuos. Equant gropos. Expenenclas postenores, tals como a
com apoio substancial. maior for 0 grupo melhor 0 resultado. 0 que inte~ bombagem de ar (Kerr e Brunn, 1981), vigilan- tarefas mais identificaveis ou encorajando 0
Quando as situa~oes envoi vern decisoes a ressa, porem, e verificar em que medida ha per- envolvimento pessoal dos membros (Brickner,
tomar consensualmente pelo grupo, os esque- das nos esfor~os conjugados, ou seja, em que FIGURA 3 et al., 1986).
mas utilizados consistem em variantes da regra medida 0 total corresponde a soma das Partes. Confirma~ao nesse sentido foi obtida por
da maioria. Verifica-se, por exemplo, nos estu- A experiencia foi feita pela primeira vez entre Holt (1987), que replicou a experiencia de
Perdas por coordena~ao e por motiva~ao
dos com jurados que 0 esquema da unanimi- 1882 e 1887 por Ringelman, na altura professor Ringelman dando, todavia, oportunidade a todos
em grupos de trac~ao acorda
dade, exigido pela lei, e substituido, em geral, de Agronomia em Fran~a (ver Krovitz e Martin , (Ingham et ai., 1974)
os grupos a que os membros interagissem antes
pela regra dos dois ter~os. Trata-se duma 1986). Para 0 efeito, utilizou jovens puxando urna da experiencia e, em alguns deles, procurou
solu~ao pnitica, ja que a unanimidade poderia corda, isolados e em grupos de dois, tres ou oito A-IlGrupos reais mesmo refor~ar a identidade, encorajando-os a
conduzir com frequencia a situa~6es de impasse membros, medindo previamente a for~a momen- ..- __a Pseudogrupos criarem urn nome para os designar. Embora nao
(Davis et al., 1975, 1977). Acerca deste desfasa- tanea que eram capazes de exercer mediante urn encontrasse diferen~as entre os dois tipos de
mento entre a solu~ao teorica ideal, determinada dinamometro a que a corda se achava ligada. Produtividade potencial grupo verificou, porem, que do total dos trinta
pel a estrutura logica da situa~ao e a solu~ao Quando os individuos trabalhavam isoladamente Perdas grupos de tres sujeitos cada, apenas quatro
mais pragmatica, adoptada pelos grupos reais e a for~a media exercida era em media de 63 kg. devidas ficaram aquem da sua produtividade potencial.
que se veri fica tanto nas tarefas intelectuais Dois jovens nao puxavam, porem, 126 kgs nern amoti- Em media os grupos excediam a soma dos
como nas decisorias, sugere McGrath (1984) tres 189 kgs e assim sucessivamente. A rela~iio 10- : val,(ao esfor~os individuais em 19 par cento, 0 que e
que talvez nao se trate de perdas devidas a defi- inversa entre 0 mlmero de sujeitos no grupo e 0 Perdas urn resultado estatisticamente significativo. Isto
ciencias de' processo, mas antes da aplica~ao esfor~o individual veio a ser designada por efeito devidas apesar de eventuais perdas par coordena~ao. Se
duma estrategia geral de defini~ao de limites de Ringelman. De acordo com a teoria de Steiner 20- : acoor- a tarefa de trac~ao a corda for de tipo competi-
para os casos extremos, permitindo solu~oes (1972), estas perdas por processo seriam devidas denal,(iio tivo, envolvendo dais grupos, a situa~ao envolve
praticas mais eficazes. a deficiente coordena~ao dos esfor~os. outro tipo de dinamica e outros processos psi-
Uma outra possivel fonte seria, por hipotese, 30-: cossociais. A tarefa seni, neste caso, uma tarefa
urn decrescimo na motiva~ao dos membros, a conjuntiva em que todos as membros con-
b) Tare/as de execufiio /isica
qual recebeu confirma~ao atraves duma expe- tribuem para a sua execu~ao, sen do 0 exito do
As tarefas de execu~ao ffsica de McGrath riencia conduzida por Ingham et al., (1974). grupo determinado pela eficacia do membro
(1984) correspondem as tarefas aditivas e con- Para 0 efeito, os autores usaram em vez de gru- :- : - -: - - : - - : - - : - - : - - - - - menos capaz.
1 2 3 4 5 6
juntivas de Steiner (1972). 0 problema funda- pos reais, sujeitos ingenuos (experimentais) De acordo com Steiner, (1972), a produtivi-
mental das tarefas aditivas consiste em reduzir sempre colocados na primeira posi~ao, sendo as Dimensao do grupo dade potencial do grupo nao pode exceder a
as perdas por processo atraves duma coorde- restantes ocupadas por comparsas (cumplices do produtividade do membro menos competente,
314
• 315

embora possa ser inferior devido a perdas por efeito de Otto Killer descrito por este pSiC 610 . num a interac~ao em que os membros do processos. Os sujeitos produzem ideias isola-
· .. go slsle I' . d .. . ,
processo. Dado que a probabilidade de haver urn em 1926 e 1927, 0 qua I conslstma na produ ~ gfUPO sao so IClta os a emltlr 0 malOr numero damente mas tern a possibilidade de reco-
_ ~ao
membro incompetente aumenta com a dimensao de «ganhos por processo», nao em terrnos d 'deias de que forem capazes sobre urn deter- lher nova inspirar;ao consultando as listas de
do grupo, segue-se que a medida que 0 numero compensa~ao social mas por virtude de acresCI_,e ~I . ado topico num d ' d0 mtervalo
etermma . de ideias produzidas pelos outros. E na verdade os
de membros aumenta, a produtividade do grupo mos de motiva~ao por parte dos membros rna' mtnpo Nao devem, todavia, avaliar ou criticar resultados, tam bern aqui de grande consistencia,
I' • IS "'d
terner as. suas propnas . quer as d os outros.
diminui. Seguindo a mesma logica aplicada as fracos. Decerto que e Ies eSlor~ar-se-lam rnais n I ems confirmam a superioridade dos grupos elec-
tarefas disjuntivas, se grupos de dimensao n grupo do que individualmente a fim de eVitare 0 qU 0 fica para mais tarde. Mas sao encorajados a tronicos relativamente aos grupos nomimais e
forem aleatoriamente constitufdos a partir duma a situa~ao embara~osa de serem responsabiliz: IsSmar em consl'd era~ao- as I'd' ems d os outros e mais acentuada ainda relativamente aos grupos
determinada popula~ao, a probabilidade de urn dos pelo decrescimo do resultado do grupo. 0 faz er assocla~oes a partIr e as. Se, por exem-
to . - . dl face-a-face.
grupo ter pelo menos urn membro incompetente autores replicaram as experiencias de Khler co~ 10, 0 tema for a procura dum nome para urn Se as tarefas de criar;ao de ideias se situam na
e de I-P" em que Pea propor~ao de sujeitos levantamento de pesos em dfades e trfades poVO produto e urn membro sugere urn nome dimensao conceptual, as tarefas de planeamen-
voltando a confirmar 0 efeito identificado po; n , . b
incapazes de realizar a tarefa. Por exemplo, se duma flor e vantaJoso que os restantes mem ros to, que the sao adjacentes no circumplexo de
considerarmos grupos de quatro indivfduos aquele psicologo alemao ha cerca de setenta evoquem outros nomes de flores. Pouco tempo McGrath, implicam uma dimensao comporta-
numa situa~ao dificil - escalar uma montanha, anos. Stroebe e associados propoem como depois foi, porem, apurado que a tecnica nao mental e estao proximas da execur;ao. Vma
em que apenas 20 por cento sao capazes de hipotese explicativa as teorias de compara~ao contribui para 0 aumento da criatividade dos tare fa de planeamento, de acordo com McGrath,
chegar ao fim, a percentagem provavel de gru- social (Festinger, 1954). Quando os indivfduos grupos (Taylor et al., 1958; Dunnette et ai., «nao inclui a produ~ao de objectivos ou poUti-
pos que seria incapaz de realizar a tarefa seria de trabalham em grupo comparam 0 seu desem- 1963). A evidencia empfrica e esmagadora a cas alternativas, mas a produ~ao de ac~6es ou
100 (1-204)= 99,84, ou seja, muito reduzida. penho com ados restantes membros do grupo. favor do grupo nominal que consiste numa pri- vias alternativas, como tam bern nao inclui 0
Note-se que se trata de tarefas unitarias, em que Quando os grupos sao formados por indivfduos meira fase de produ~ao de ideias pelos indivf- desempenho ou mesmo 0 seu acompanhamento
todos ~s membros tern de executar as mesmas com desempenhos identicos, concluem que os duos isoladamente e em seguida a sua avalia~ao ou avalia~ao» (McGrath, 1984, p. 127).
fun~oes. Em geral as tarefas conjuntivas sao seus nfveis se acham validados pelos dos outros. e selecr;ao em conjunto. Procedendo-se a com- As tarefas de planeamento beneficiam do
divislveis,o que permite uma divisao do traba- Se, todavia, os desempenhos sao desiguais, os para~ao das ideias produzidas em grupo com 0 recurso a tecnicas como 0 metodo Delphi ou 0
lho em fun~ao das competencias especfficas dos processos de compara~ao social tendem a total das ideias produzidas separadamente pelos grupo nominal ja referido. As tecnicas sao
membros, e dessa forma melhorar a produtivi- exercer pressao para reduzir as discrepancias, 0 indivfduos verifica-se, e trata-se dum resultado semelhantes, na medida em que recorrem am bas
dade do grupo. que tanto pode ser conseguido atraves dum altamente consistente, que estas ultimas sao nao a produ~ao individualizada e a uma posterior
De acordo com Shaw, (1982) dispoe-se de decrescimo do desempenho dos membros mais apenas mais numerosas mas tambem de maior avalia~ao. No metoda Delphi a avaliar;ao e
pouca evidencia empfrica sobre os efeitos das fortes como por urn acrescimo do desempenho qualidade avaliada, designadamente em termos igualmente feita em varias fases limitando-se os
tarefas conjuntivas no desempenho do grupo. dos membros mais fracos. A adop~ao de uma ou de originalidade e exequibilidade. membros do «grupo nominal» a reagirem por
McGrath (1984) sugere, por seu tumo, que 0 outra estrategia dependeria da importancia A tentativa de explica~ao de tais resultados escrito, em sucessivas fases, aos processos dos
esquema de decisao social mais adequado nas atribufda a tarefa. deu origem a numerosos estudos, aceitando-se outros membros. Para uma descri~ao detalhada
tarefas conjuntivas sera, muito provavelmente, a hoje a hipotese proposta por Diehl e Stroebe destas tecnicas consulte-se Delbecq, Van de Ven
de evitar 0 erro. Por exemplo, em tarefas de (1992) segundo a qual 0 brainstorming de grupo e Gustafson (1975).
c) Tare/as de produfao: ideias e pianos
competi~ao desportiva ou de confronto militar provoca urn «bloqueio a produr;ao». Ao terem o planeamento e, todavia, ou deveria ser, uma
seria nesse caso mais importante evitar os erros As tarefas de cria~ao de ideias incluem-se na de aguardar a sua vez e dadas as limita~oes da fase previa fundamental do trabalho de grupo,
do que ter vedetas. categoria das tarefas intelectuais de tipo aditivo. memoria de curto prazo, os sujeitos acabam por qualquer que seja a tarefa e que se aplica incJu-
Mais recentemente tern sido propostas estra- Dada possivelmente a importancia de que ~e perder muitas das ideias que poderiam propor. sivamente as proprias tarefas de planeamento.
tegias de caracter mais positivo. Williams e revestem, tern sido objecto de muita invest!- No grupo nominal tal inconveniente nao existe, Neste caso 0 problema consiste em saber como
Karan (1991) sugeriram que em tarefas conjun- ga~ao, sobretudo desde que Osborn (1957) embora neste caso nao se tire partido dos efeitos delinear 0 planeamento.
tivas os membros mais capazes podem esfor~ar­ introduziu a famosa tecnica do brainstorming de associa~ao de ideias. Os autores que mais tern investido e teorizado
-se mais no sentido de compensar os desempe- separando a cria~ao das ideias da selecr;lio das A mais recente investiga~ao neste domfnio sobre este requisito do trabalho de grupo sao
te
nhos dos membros menos capazes. Por seu tumo, mais validas. Esta ultima tarefa cai no quadran tern sido desenvolvida com «grupos electroni- Hackman e associados (Hackman e Morris, 1975,
Stroebe, Diehl e Abakoumbin (1996) evocam 0 da «escolha». A tecnica do brainstorming con- cos», os quais reunem as vantagens de ambos os 1978; Hackman, Brousseau e Weiss, 1976;
316 • 317

Hackman, 1987).0 modelo adopt ado por estes tribufdos por tres condi~oes: a) condi~a (tarefas tipo 4) e na pior das hip6teses, evolui
autores e urn modelo nonnativo, dado que con- estraregica em que os membros deviam con~ FIGURA 4 para a competi~ao ou mesmo confronta~ao entre
tern prescri~oes para urn melhor desempenho de sagrar cerca de cinco dos trinta e cinco minutos as partes (tarefas tipo 7). Por outro lado, as fron-
grupo. Adoptando uma observa~ao de Katzell et requeridos para a execu~ao da tarefa a exailli. Produtividade dos grupos teiras que aqui se estabelecem entre conflitos
DO estudo de estrategia
al. ( 1970), segundo os quais 0 elevado numero de narem os objectivos e a discutirem a forma de cognitivos e conflitos de interesse e certamente
factores que pode afectar 0 desempenho de grupo maximizar a produtividade; b) na condi~ao (Hackman et al., 1976) artificial ja que em situa~oes reais os dois aspec-
torna inviavel 0 seu exame simultaneo, tanto con- antiestrategica indicava-se aos grupos que nao tos estao provavelmente presentes, ainda que em
IntelVen~o
ceptualmente como experimental mente , recorrem perdessem tempo em discussoes estrategicas $40 propor~oes variadas.
antiestralegica
iniciando desde logo 0 trabalho; c) na condi~ao

.~
.
a variaveis s(ntese nas q~ais se concentrariam os $38
As situa~oes de grupo envolvendo confli-
efeitos dos processos de interac~ao, bern como de controlo nao eram dadas quaisquer instrurroes tos cognitivos tern vindo a ser estudadas no
dos factores antecedentes que os afectam. A ideia para alem da exorta~ao, comun a todas as con. $36 ./ . ·Inte""n<•• ambito da teoria do ju(zo social proposta inicial-
das variaveis sfntese e analoga ao conceito das di~oes, para procurarem maximizar os resulta. mente por Hammond, Brehmer e colaboradores
_/ "" estrategica
dos. A tarefa a executar consistia em montar 534
varhiveis latentes dos model os das equa~oes (Brehmer, 1976, Hammond et al., 1966, 1986) e
estruturais. varios tipos de componentes ehktricos, cada um $32 mais recentemente retomada por Hastie e cola-
deles com urn detenninado valor em d61ares '---------:Grupo de controlo
Hackman e Morris (1975) identificaram tres boradores (Hastie et al., 1983; Gigone e Hastie,
variaveis sfntese: a) 0 esforro que os membros sendo a produtividade medida pelo total e~ $30 1993, 1996). A teoria foi elaborada a partir do
do grupo aplicam no desempenho da tarefa; d61ares dos componentes produzidos pelo «modelo da lente» de Brunswick (1955) sobre 0
b) os conhecimentos e competencias que os grupo . as membros dos grupos eram infonna- Informar,;ao Informar,;ao jufzo individual,.esquematizado na Fig. 5.
membros do grupo detem para a realiza~ao da dos de que, como nao poderiam completar todos desigual igual No modelo da lente, 0 objecto sobre 0 qual se
tarefa; c) as estraregias de desempenho, ou seja, os componentes no perfodo de tempo fixado, deve emitir urn jufzo tern urn valor objectivo .
as decisoes colectivas sobre a fonna como os teriam de tomar decisoes sobre quais os compo- (Ye) na envoi vente em que se acha inserido.
membros do grupo consideram que a tare fa nentes a produzir. A tarefa basica era identica resultados quando as tarefas eram de molde a Esse valor pode nao ser conhecido pelo sujeito
devera ser realizada. em todas as condi~oes, ou seja, 0 valor de cada exigir a coordena~ao e partilha entre os mem- que ajufza como tam bern podera ser uma situa-
o modelo proposto aplica ao nfvel do grupo a tipo de componentes era 0 mesmo em todas as bros do grupo; quando a tarefa podia ser exe- ~ao futura a predizer. Embora 0 valor objec-
ideia de que 0 desempenho e urn efeito multi- listas e cada grupo recebeu 0 mesmo total de cutada igualmente bern sem tal coordena~ao, a tivo nao seja conhecido pelo juiz, ele dispoe de
plicativo da competencia e da motiva~ao, mas componentes. A forma como a infonna-rao foi discussao sobre a estrategia tinha efeitos nega- alguma infonna~ao a partir de multiplos ind(cios
no caso do trabalho em grupo a componente distribufda entre os membros dos grupos foi tivos no desempenho. (XI' X 2, ... Xn)' Cada urn desses indfcios tern
estrategica e considerada como urn factor adi- manipulada experimentalmente. Assim , na con- Oaqui concluem os autores que e na verdade alguma rela~ao verdadeira com 0 valor objec
cional, independente da competencia, por vir- di~ao informariio desigual, as listas continham passfvel e desejavel criar nonnas novas com tivo, ou seja, tern uma validade indicial (re,I'
tude de implicar a coordena~ao das contribui- quantidades diferentes dos varios tipos de efeitos positivos na produtividade. re.2' ... re,3)' Assim, a realidade a ajuizar pode ser
~oes individuais, minimizando as perdas por equipamentos que podiam ser produzidos, descrita pelo valor dum criterio e pelo corijunto
processo. enquanto que na condi~ao de informariio igua/ das rela~oes verdadeiras entre esse criterio e urn
as quantidades eram as mesmas. Esta manipu- d) Tare/as de negociafiio
As estrategias de desempenho correspondem, conjunto de indfcios observaveis. Como 0
assim, a urn planeamento previo do trabalho de la~ao visava introduzir dois tipos de tarefa: a Nas tarefas de negocia~ao, seguindo 0 cir- sujeito nao pode observar 0 criterio directa-
grupo. Segundo Hackman e Morris (1975), os primeira beneficiando da discussao estrategl ca cumplexo de McGrath (1984), incluem-se situa- mente, tera de enunciar umju(zo (Ys) com base
grupos raramente se preocupam com a defini~ao (infgnna~ao desigual) e a outra permitindo que ~oes de conflito sociocognitivo, de caracter na informa~ao fomecida pelos indfcios. Tal
das estrategias a adoptar para 0 desempenho da cada sujeito pudesse decidir por si quanto aos conceptual, e situa~oes de conflitos de interesse, como para a fase «objectiva» da <<iente», cada
tarefa. Daf pode resultar a utiliza~ao de praticas componentes a produzir. as resultados obtidos ~e canicter comportamental. Comum a ambas, a urn dos indfcios tern alguma rela~ao com 0
menos adequadas e consequentes perdas por acham-se resumidos na Fig. 4. Ideia de que 0 resultado e fruto duma negocia- jufzo, ou seja, uma utilizariio indicial (rs,I' rS ,2'
processo. De acordo com os resultados, verifico u-se , ~ao, ou seja, dum compromisso que, na melhor ... , rs ]).0 conjunto destas uti1iza~oes constitui 0
Numa experiencia conduzida por Hackman et com efeito, que a discussao previa sobre as das hip6teses, podera ser consensual, e, nesse que ~s autores designam de po/(tica ou estra-
al. (1976), grupos de quatro sujeitos foram dis- estrategias melhoravam significativamente oS caso, a dinamica e do tipo da decisao de grupo regia de julgamento. 0 grau em que esta
• 319
318

. a~iio linear dos valores dos indlcios informa- (Jesufno, 1992, p. 7). Podemos distinguir entre
bin . .
FIGURA 5 . nais relevantes, as optnloes dos membras do varias situa90es: I) os conflitos de soma zero, ou
~~po e a agrega9 ao da informa9ao . A opiniao seja, em que os ganhos de uma das partes sao as
o «modelo da lente» de cada membra e hipotetizada como uma com- perdas da outra; 2) os conflitos de soma mista
bina91iO linear ponderada dos indfcios existentes em que as partes em presen9a podem simulta-
emoria dos membros do grupo. As dife- neamente competir e cooperar. No primeira caso
Sujeito on m
Envolvente Indicios rentes pondera90es nas equa.~oes do modelo a negocia9ao e de tipo distributivo, ou seja, na
podem ser afectadas por dlversos factores. melhor das hipoteses chega-se a urn com pro-
ioc1uindo as diferen9as de papeis, as diferen9as misso atraves duma reparti9ao das diferen9as
de irnporti'mcia ou saliencia dos indfcios e a dis- por ambas as partes, a partir duma soma ou
lribui~ao da informa~ao pelos membros do solu(:iio fixa . No segundo caso 0 conflito tern
grupo (Gigone e Hastie, 1996 p. 247). potencial illfegrativo, ou seja, 0 objecto de con-
Esta linha de investiga~ao reveste-se de inte- flito comporta nao apenas uma dimensao, 0 que
----~y. resse nao apenas teorico mas tambem pratico, na permite que am bas as partes cooperem na busca
medida em que pode contribuir para treinar os de compensa90es recfprocas. 0 exemplo c1as-
jUlzes a tornarem-se conscientes das suas sica sugerido por Follet (1940) ilustra clara-
estrategias de julgamento. Ensaios feitos nesse mente a diferen9a entre as duas situa90es. Se
sentido sugerem, alias. efeitos complexos e duas irmas negoceiam a posse duma laranja, a
paradoxais , como por exemplo 0 facto de os melhor solu9ao distributiva e partir a laranja ao
sujeitos conseguirem chegar facilmente a meio. Mas se apurarmos que uma esta apenas
acordo quanto as pondera90es dos indfcios mas interessada no sumo e a outra apenas interessada
sem que tal contribua para melhorar 0 acordo na casca, significa que 0 conflito passou de uma
final por virtude de aumentarem as inconsis- a duas dimensoes e entao e possfvel uma
r. lencias nas rela90es estabelecidas com 0 criterio solu9ao integrativa satisfazendo integralmente
(Brehmer, 1976). Com os progressos que se am bas as partes. Claro que a satisfa9ao integral
verificam na psicologia cognitiva e com os e uma situa9ao limite. Mas desde que 0 pro-
modelos de si mula9ao computacionaI (Gigone e blema contenha potencial integrativo e teorica-
Este modelo prolonga os esquemas de Hastie, 1996) e de presumir que nov os desen- mente possfvel melhorar a solU9ao distributiva
estrategia se ajusta ao conjunto das validades
decisiio social que vimos aplicados a decisoes volvimentos venham a contribuir para urn baseada numa unica dimensao. Para urn melhor
indiciais da a medida da exactidao do jufzo (ra )·
melhor esclarecimento deste domfnio. desenvolvimento veja-se Jesufno (1992).
o modelo da lente e em seguida aplicado a situa- de grupo e exemplificados pelos veredictos dos
Os conflitos cognitivos estao certamente Uma terce ira situa9ao envolve dilemas de
~oes em que varios sujeitos sao solicitados a jurados. A Teoria do JUIZO Social procura , toda-
via, ir mais longe examinando as condi~oes em presentes em todas as tarefas que implicam a motivos mistos, em que as partes sao confran-
emitir urn jUlzo sobre 0 mesmo objecto ou acon-
que os conflitos cognitivos, resultantes das forrnul a9ao de jufzos que precedem as decisoes. tadas com 0 dilema de competir ou cooperar.
tecimento. Apesar de os interesses poderem ser
diferentes form as como os membros do grupo N~ situa90es de conflitos de interesse predo- o paradigma classico para este tipo de situa90es
identicos ou nao haver qualquer interesse em
avaliam uma situa~ao, poderao ser superados ml~am todavia outros process os psicologicos. eo dilema do prisioneiro, introduzido por Luce
causa, isso nao significa que cada urn deles ela- . . Ie
bore uma versao apenas parcial mente sobre- conduzir a urn acordo. Na sua formula~iio imcla , ongor do jufzo e aqui sacrificado as estrategias e Raifa (1957) (Fig. 6). Consiste num jogo ins-
Hammond e colaboradores examinaram apenas de poder visando melhores resultados para pirado numa fic9ao em que dois criminosos
ponfvel com as dos outros observadores. Isso
«grupos» de dois sujeitos mas nos desenvolv!- as partes em presen9a. A negocia9ao e urn sao presos e sem a possibilidade de comuni-
porque cada observador (juiz) elaborara a sua ue prOcesso de grupo que Imp. I'Ica no mlnlmo
,. d'
propria estrategia de julgamento atraves das mentos mals eVI os a G'19one e Has
. recentes d'd OIS carem entre si. 0 juiz tern a certeza de que eles
r do
(1993, 1996) propoe-se urn modelo forma Iza
panici pantes e pode ser defimda . como «lim sao culpados mas nao tern pravas suficientes
diferentes pondera~oes que atribui aos indivf-
duos bern como ao modelo a que recorre para os aplicavel a grupos de n sujeitos. 0 JUIZO d~ ~rocesso de romada de decisiio Illim contexro de para os condenar. Coloca a cada urn deles a
Illterac -
grupo e operacionalizado em termos duma corn rao esrrategica ou de inrerdependencia» alternativa de confessar ou nao 0 crime come-
combinar numa estrutura coerente .
320

321
tido. Se nenhum deles confessar, serao condena- adoptarem chegam a urn resultado inferior ao a tenta/tao de trair a fim de beneficiar do lucro
dos por uma infrac~ao menor - nao terem que obteriam se ambos confessas.sem . Claro obtido. ' Na sec~ao anterior examinaram-se os conteu-
licen~a de porte de arma. Se ambos confessarem que 0 ideal seria a coopera~ao mas .ISSO Implica dos das interac/toes nos diferentes tipos de
Existe uma Iiteratura vastfssima sobre 0 di-
serao condenados pela falta comet ida mas c~m o risco da trai~ao do outro conduzlr a um ma- tarefas. Nesta sec/tao examinam-se os aspectos
lema do prisioneiro, bern como modelos sofis-
atenuantes. Mas se urn confessar e 0 outro nao, ximo de perdas. 0 paradigma do dilema do relativos as modalidades de participa~ao e sua
ticados para analise da melhores estrategias a
o que confessa recebeni urn tratame~to. de prisioneiro condens~ em . t~rmos abstractos distribui~ao ao longo do tempo.
utiIizar. 0 jogo pode, alias, consistir de urn unico
excep~ao por virtude de colaborar com a JUStl~~, muitas situa~oes da Via quoudlana. Por exemplo Devem-se sobretudo a Bales e associ ados
ou de urn numero indeterminado de lances.
enquanto que 0 outro sera julgado com a. ma- duas empresas poderiam beneficiar economi_ (Bales, 1950, 1953; Ba'les e Slater, 1955; Bales
E pode envolver 2 ou n jogadores. Neste ultimo
xima severidade. Em termos de penas, a sltua- zando custos de publicidade dum produto, 0 qUe e Strodtbeck, 1951; Borgatta e Bales, 1953) os
caso ilustra as situa/toes igualmente correntes
~ao traduz-se na seguinte matriz: implicaria uma coopera~ao da qual nao ha garan- primeiros estudos sistematicos sobre observa~ao
dos dilemas sociais de que 0 caso tfpico e 0
das interac~oes de grupos. Para 0 efeito montou
A estrategia mais racional para cada urn tia. E mesmo que as partes possam comunciar «viajante a borla» , eloquentemente ilustrado
dos sujeitos seria confessar mas se ambos a entre si isso nao garante que uma delas nao tenha pela fuga aos impostos. na Universidade de Harvard urn dos primeiros
dispositivos de observa~ao, utilizando uma sala
o paradigma do dilema do prisioneiro reves- de observa~ao num s6 sentido, que ficou como
FIGURA 6 te-se de interesse mostrando que 0 modelo da
modelo e que ainda hoje se utiliza no estudo dos
decisao racional nem sempre conduz as solu/toes
grupos. Trabalhou com estudantes de psicolo-
Matriz do dilema do prisoneiro mais eficientes, detectando-se efeitos perversos
gia, as cobaias de sempre, que periodicamente
Da logica da aC/tao colectiva. Axelrod (1984), urn
eram convocados para a resolu~ao de diversas
dos investigadores que muito tern contribuido
tarefas como, por exemplo, a resolu~ao de pro-
B para este domfnio de investiga~ao, mostra,
Nao confessa Confessa blemas de xadrez, ou a discussao de problemas
porem, em primeiro lugar, que e possivel «apren-
humanos. A descoberta fundamental de Bales
der a cooperar», e, em segundo lugar, que a
Nao confessa consistiu em identificar dois tipos principais de
coopera~ao e eficaz a longo prazo. Num jogo de
n lances, se a princfpio os contendores tendem a interac~oes correspondentes aos dois tipos de
A problemas que se colocam aos grupos: as in-
competir, a medida que 0 jogo se desenrola
Confessa terac~oes instrumentais relativas a tarefa ou
teDdem a cooperar. Deve-se a Rapoport a«desco-
objectivo a realizar, e as interac~oes expressivas
berta» da estrategia para «ensinar» a outra parte
ou sOcioemocionais, referentes as rela~oes entre
a optar pela coopera~ao, por ele designada tit-
10r-lal que poderiamos traduzir por olho por
os membros do grupo. 0 sistema desenvolvido
Em termos abstractos olho, dente por dente. Consiste em come/tar por comporta doze categorias estreitamente rela-
cionadas entre si, representadas, de forma sim-
adoptar a coopera/tao e responder exactamente na
B plificada, no Quadro I.
Compete (N) mesma moeda sempre que 0 parceiro, optando
pela competi~ao, "trai" (ver Jesuino, 1992). As doze categorias cobrem as areas instru-
Para as situa~oes de conflito intergrupo invo-
mentais (4 a 9) e as areas socioemocionais (I a
Coopera(S)
cahdo outros paradigmas, vejam-se os Capftulos 3 e lOa 12); as seis categorias instrumentais
A Xu e XIII. subdividem-se em tres categorias passivas ou
Compete (N) reactivas (7, 8 e 9) e tres categorias pr6-activas
(4, 5 e 6). As seis categorias reactivas subdivi-
6. Processos de interac~ao dem-se tambem em dois conjuntos: urn positivo
(1,2 e 3) e urn negativo (10, II e 12).
Bales utilizou estas categorias na observa~ao
SendoT>R>P>S 2R>S+T o Processo de interac~ao refere-se as trocas sistematica dos grupos. Para 0 efeito, a cada dois
,,.<ISlaocorrem
ao d
entre os membros do grupo com membros do grupo atribufa urn observador
esempenho da tarefa. treinado a codificar as interac~oes: quem fala a
322

323

de amilise que atende nao apenas aos aspectos diferen~as entre os diversos membros tendem a sivos: a) orientariio, que corresponde a escolha
QUA ORO I formais mas tam bern aos conteudos das interac_ diminuir. 0 nfvel de interac~ao e, por seu turno, e classifica~ao da infonna~ao relativa a tarefa;
~oes. Esse novo sistema tern a designa~ao de afectado pela posi~ao que eles ocupam no b) avaliariio da infonna~ao recolhida; c) con-
o sistema de categoria de Bales SYMLOG - acronimo de Systematic MultiPle grupo. cobri~do 0 conceito de posi~ao diferentes tr% da decisao a tomar. Estas tres fases corres-
Level Observation of Groups e, em bora teorica_ aspectos, tals como: a) a posi~ao na rede de pondem aos tres pares de categorias centrais do
Areas Categorias mente mais complexo, permite uma utiliza~ao comunica~ao - urn sujeito numa posi~ao central IPA. A medida que 0 grupo progride, as percen-
mais pratica, tlexfvel e economica, dado que a tende a intervir mais do que os que ocupam tagens relativas das interac~oes nestes tres pares
Expressivas I - Mostra solidariedade «observa~ao» do grupo pode ser feita retrospec_ posi~oes perifericas; b) 0 lugar ffsico - numa de categorias vao-se alterando em confonni-
2 - Reduz as tens6es tivamente e, a partir das descri~oes dos proprios sala de aula, numa mesa de reunioes; c) a dade: a) a orientac;ao e rnais elevada no infcio e
Positivas 3 - Concorda membros do grupo (Bales e Cohen. 1979). Neste posi~ao estatutaria; d) a competencia, a moti- declina no final da reuniao; b) a avaliaC;ao e mais
novo sistema utilizam-se, para alem das dimen_ vac;ao ou mesmo a atitude relativamente ao elevada entre 0 infcio e 0 meio da reuniao, decli-
lnstrumentais 4 - Da sugestiio soes instrumentais e expressivas, mais dois problema ou questao a resolver pelo grupo, ou nando em seguida; c) 0 controlo e baixo no
5 - Da opiniao pares de dimensoes: dominancia-submissao e relativamente aos outros membros do grupo. infcio e atinge 0 seu maximo no final. Por outro
Activas 6 - Da orienta!;80
- ------ -- positivo-negativo. Para uma descri~ao mais por- Outro tipo de regularidades identificadas a lado, a medida que 0 grupo se aproxima da fase
menorizada e exemplos de aplica~ao veja-se partir do sistema de categorias de Bales e 0 que de avalia~ao e da tomada de decisao a tensao
lnstrumentais 7 - Pede orienta!;ao Jesufno, (1987). Note-se que 0 metodo SYM- se refere a distribui~ao das interac~oes. Cerca de aumenta. Este aumento da tensao retlecte-se
8 - Pede opiniao rnetade das interacc;oes num grupo sao pr6-acti-
LOG foi recebido com indiferen~a pela comu- num aumento das reacc;oes negativas contraba-
Passivas 9 - Pede sugcstao vas, ou seja, correspondem a iniciativas para
nidade dos psicologos sociais, limitando-se a lan~adas, por seu turno, pelas reacc;oes positi-
r-- resolver a tarefa, e a outra metade e constituida
sua utiliza~ao ao cfrculo restrito dos colabo- vas. Oaf que tanto as reac~oes positivas como as
Expressivas 10 - Discorda
radores proximos de Bales. por interacc;oes reactivas. Em tennos do sistema negativas aumentem do principio ao fim, em-
11 - Aumenta tensao
Voltando ao sistema IPA (Interaction IPA, as categorias 4, 5 e 6 (das orientac;oes, bora constituam urna pequena propor~ao da
Negativas 12 - Mostra antagonismo
Process Analysis), Hare (1976) e McGrath opinioes e sugestoes) sao pro-activas. Estas tres totalidade das interac~oes, sendo tam bern as
( 1984) resumem alguns dos aspectos mais categorias abrangem 56 por cento das interac- interacc;oes positivas rnais frequentes do que as
6 c 7 - Problemas de orienta~ao; 5 e 8 - Problemas
de avaJia~o; 4 e 9 - Problemas de controlo; 2 e importantes que dessa forma foram identifica- c;6es, sendo 6 por cento reactivas. Cerca de negativas: ambas atingem 0 seu maximo na
10 - Problemas de decisao; 2 e 12 - Problemas dos, tais como: alguns dos membros do grupo metade das interac~6es reactivas, ou seja, 25 por ultima fase, embora as reac90es positivas,
emocionais; 1 e 12 - Problemas de integra~1io. falam mais do que os outros e sao igualmente cento do total das interacc;oes, sao positivas expressas para aHvio da tensao e aumento da
alvo de maior numero de interac~oes; por outro (categorias I, 2 e 3), cerca de metade das res- solidariedade, predominern no final da sessao.
lado, 0 membro que fala mais dirige a maior tantes, isto e, 12,5 por cento do total sao reac- Note-se que esta sucessao de fases diz apenas
quem e qual a categoria de interac~ao - se pede parte da comunica~ao ao grupo como urn todo e c;Oes negati vas, 6 por cento ou 7 por cento do respeito a uma sessao completa do grupo. Ao
ou da infonna~ao, se pede ou da opiniao, etc ., etc . eo unico, no grupo, a proceder dessa forma. Os total sao perguntas (categorias 7,8 e 9) e respos- longo de sucessivas sessoes, como sera 0 caso
Os observadores tinham igualmente que registar restantes dirigem a maior parte das suas cornu- tas directas a essas questoes, ou seja, os 6 por mais frequente dos grupos fonnais, ha outras
nao apenas a comunica~ao verbal mas tambem a nica~oes a membros especfficos do grupo. cento a 7 por cento das respostas reactivas acima regularidades a ter em conta. Este problema
comunica~ao nao verbal, alias indispensavel para Ordenando os membros dum grupo quanto as dos 52 por cento pro-activas completam 0 total. corresponde ao conceito de desenvolvimento do
uma capta~ao mais fina dos aspectos socio- percentagens das comunica~oes totais que ini- Para uma revisao bastante cornpleta destes estu- grupo e tern dado origem a consideravel inves-
-emocionais. Urn tal dispositivo de observa~ao e ciam, obtem-se uma curva proxima do perfil de dos ver Bales e Hare (1965) e Hare (1976). tiga~ao.
pesado e envolve custos consideraveis. Mas foi a uma fun~ao exponencial decrescente: 0 membro . Dutro tipo de regularidades nos padroes de Muito resumidamente verifica-se, em tennos
partir desse trabalho pioneiro que se obtiveram os mais activo podera iniciar cerca de 40 por cento, Interac~ao diz respeito as mudanc;as de configu- das categorias de Bales, uma tendencia para
primeiros dados sobre os padr6es de comuni- a 45 por cento, das comunica~oes, 0 seguinte 17 rac;ao ao longo do tempo, ou seja, as varias fases uma reduc;ao da actividade instrumental e urn
ca~ao nos grupos de tare fa e que, em grande
. sucesslvamen
por cento , e asslm . te . A medida
, qUe 0 grupo atravessa durante a execuc;ao da
tarefa. aurnento correspondente da actividade socio-
medida, pennanecem ainda validos. que 0 grupo aumenta de dimensao e tambe~ -emocional. Por seu turno, este aumento de
Consciente das 1imita~oes do sistema, poste- maior a propor~ao de comunica~ao iniciada pe 0 De acordo com Bales (1953), 0 grupo tern actividade socioemocional inclui urn Iigeiro
rionnente Bales veio a desenvolver urn sistema membro que mais intervem, enquanto que as necessidade de resolver tres problemas suces- decrescimo nas concordancias e urn acrescimo

325
324

No que se refere aos grupos que observou, a ue irnplicam julgamento poderao induzir a ideia Ha, todavia, que acentuar que as normas nao
substancial no aHvio da tensao e no refor~o da
solidariedade, sobretudo nas reunioes finais. autora identificou uma primeira fase, que vai ate ~e que a debate contribuira para a descoberta da sao apenas regras sobre 0 comportamento no
Urn outro aspecto importante e 0 aumento sig- cerca de metade do tempo total programado (os solu~iiO e desse modo estimular uma maior par- grupo mas tambem expectativas sobre as tipos
nificativo das reac~Oes negativas na segunda oito grupos observados efectuaram urn mfnilllo ticipa~ao. A agenda acha-se em aberto, sugerindo de comportamento. Urn membro duma equipa
de quatro e urn maximo de vinte e cinco que as apreensoes de Steiner (1974) estao pos- cientlfica aprende que a forma de vestir tern
reuniao, passando duma media de 12 por cento
reuniOes, entre urn mfnimo de sete dias e ull} sivelrnente a ser ultrapassadas. pouca importancia para os colegas e que, por
para 18 por cento.
A teoria de desenvolvimento de grupo que maximo de seis meses) e na qual a orienta~iio isso mesmo, pode andar descontraldo. Mas
ten}, porventura, mais popularidade deve-se a global fica definida logo no final da primeira aprende tambem que em actos publicos, como
Tuckman (1965) que distingue quatro fases, cada reuniao. A meio do calendario os grupos sofrell} 7. Factores consequentes: provas ou concursos, deve apresentar-se com
uma delas composta de dois aspectos: estrutura uma transi~ao, definindo uma nova orienta~iio influencia social maior formalidade. 0 significado dum acto nao
de grupo e comportamento instrumental. As qua- para a segunda fase. A primeira e a uitillla e 0 acto em si mas 0 significado que 0 grupo Ihe
tro fases identificadas por Tuckman sao desig- reunioes sao especialmente importantes : a As consequencias dos processos de interac- atribui. E esse significado pode mudar con-
nadas por: jormarao (forming); confrontarao primeira pelas orienta~oes que estabelece para a ~iio sao multiplas e complexas e foram ja em soante 0 sujeito da ac~ao e consoante as circuns-
(storming); estabelecimento de normas (nor- fase inicial e a ultima pela acelera~ao que im- grande parte descritas nas sec~oes anteriores. tancias em que tern lugar. Desta experiencia,
ming); execurao (performing). Posteriormente, prime para completar a tarefa. Quando se examinam processos e sempre pro- resultante da interac~ao do grupo, emergem as
acrescentou uma quinta fase - adiamento A analise do processo de interac~ao readquire blematico isolar a que esta antes do que vern ideias compartilhadas, aquilo que poderfamos
(adjourning). Na fase da forma~ao os problemas actual mente urn novo interesse por parte dos depois. A influencia social possivelmente ja designar como a cuLtura de grupo. Quando as
estruturais centram-se nas condutas interpessoais especialistas, como este ultimo estudo alias do- estara presente antes dos processos de interac- expectativas se referem ao comportamento dum
aceitaveis e a tarefa consiste na sua identifica~ao, cumenta. Isto deve-se, em grande medida, Ii ~ao atraves das expectativas que os membros determinado membro sao designadas por expec-
modo de a realizar, informa~ao necessaria e possibilidade de recurso a ttknicas mais sofisti- trazem para a grupo que vao integrar. Ao longo tativas de papeL. 0 conceito (polissemico) de
como obte-Ia. Na segunda fase, ao nfvel da estru- cadas, como 0 registo em vfdeo associado a ter- do processo e todavia de presumir que se papel e sobretudo aplicavel no contexto dos
tura aumenta a hostilidade entre os membros do minais de computadores, ao recurso a modelos reforcem, atenuem ou modifiquem. Os feno- grupos formais - uma organiza~ao pode ser con-
grupo e para com 0 lfder e 0 grupo divide-se; ao formais e ainda a simula~ao computacional ha menos de influencia social nao ocorrem apenas siderada como urn sistema de papeis (Katz e
nfvel da tarefa aumentam as reac~oes emocionais muito preconizada por Abelson (1968) mas que nos grupos, sao co-extensivos a vida de rela~ao Kahn, 1976) mas 0 seu uso tende a generalizar-se
e as resistencias a tarefa. Na terce ira fase, em ter- s6 recentemente com~ou a ser utilizada no es- e, nessa qualidade, sao objecto dum capftulo como alias se viu a propos ito da emergencia do
mos estruturais, 0 grupo converte-se numa enti- tudo dos grupos (Penrod e Hastie, 1980; Stasser e especffico deste Manual. Por isso mesmo Iimi- papeL de lfder, nas observa~oes de Bales.
dade, surgem norm as e mantem-se a harmonia e, Davis, 1981; Hastie, Penrod e Pennington, 1983; tar-nos-emos aqui a alguns aspectos comple- Ao nlvel de grupo as normas sao as expecta-
ao nfvel instrumental, trabalha-se sobre a infor- Stasser, 1988; Stasser e Vaughan, 1996). mentares mais directamente ligados aos proces- tivas compartilhadas sobre 0 desempenho do
ma~ao disponfvel de forma produtiva. Na quarta
Uma questao que actual mente mobiliza os sos de interac~ao e aos seus efeitos, tanto na grupo, sobre a forma como devera progredir
fase, ao nfvel da estrutura, 0 grupo converte-se investigadores consiste na identifica~ao dos fae- qualidade como na quantidade, do trabalho de para os seus objectivos. As norm as tanto podem
num instrumento para a resolu~ao do problema e tores que explicam a hierarquia da participa~ao grupo. ser formais, expHcitas, como informais e incons-
emergem as solu~oes, ou seja, ha coincidencia nas discussOes de grupo. Admite-se que factores cientes, so perceptIve is quando sao violadas.
entre estrutura do grupo e actividade da tarefa. antecedentes, tais como caracterfsticas de perso- As normas, uma vez estabelecidas. tendem a
nalidade, estatuto social, competencia especifica 7.1. Normas institucionalizar-se. E mesmo quando informais
Recentemente, Gersick (1988, 1989), basean-
do-se na observa~ao de grupos naturais e em ou acesso a informa~ao estrategica possam estar sao invocadas para corrigir urn comportamento
relacionados com uma maior capacidade de inter- Ao nfvel individual as normas de grupo sao desviado. Thibaut e Kelley (1959) observa-
estudos de laborat6rio, propos urn modelo alter-
nativo de desenvolvimento de grupo. 0 modelo venrao que tende em seguida a auto-refor~ar-se. as expectativas que os membros tern sobre 0 que Yam, na sua teoria dos grupos enquanto frocas
y ~m

utiliza urn conceito da hist6ria natural- a equi- Muito provavelmente os membros que ~e deve e nao deve ser permitido a urn determi- sociais, que as normas funcionam como media-
Ifbrio intermitente (punctuated equilibrium), preferencias firmes por determinadas altematlv~ nado
A memb ro e em clrcunstanCIaS
. A'
especi'fiIcas. dores das interac~oes, evitando 0 recurso ao
tambem estarao motlva . dos a .mtervlr. com maJ s s .normas sao aprendidas e constituem urn dos poder pessoal. Sob esse aspecto as normas cons-
segundo 0 qual os sistemas evoluem atraves de
frequencia ou mesmo a tomar a Imcla " ' t'IV a . Por :a18 importantes mecanismos de controlo social tituem urn princfpio de eficiencia, ou seja,
longos perfodos de inercia, pontuados por
perfodos revolucionarios de mudan~a quantica. outro lado, as tarefas intelectuais mais do que as o comportamento dos indivfduos. envolve menos custos invocar uma norma parti-
326 •
327
Ihada para comunicar a urn membro do grupo came de primeira. rejeitando as vfsceras (ffgad
que ele pode actuar de determinada forma do que rins, etc.). 0 problema que se colocava era corn~ FIGURA 7
recorrer a retorica persuasiva. Ha varios tipos de convencer as donas de casa enquanto «contro..
normas subjacentes ao funcionamento dos gru- ladoras das entradas» (gatekeepers) a adoptar 0 Variaveis sintese e factores antecedentes
pos, tais como as normas relativas as interac~oes, novos habitos. A escassez provocada pela guerr s (Hackman e Morris 1975)
normas relativas aos comportamentos, normas constitufa a condi~ao de desequilfbrio - a neces~
relativas as recompensas ou a distribui~ao dos sidade de mudan~a. Lewin recorreu a dois meto.. Factores antecedentes
recursos, tais como as normas de equidade ou de dos para as convencer a a~quirir os alimentos
igualdade. enfim, norm as relativas a cren~as,
Nonnas Tarefa
menos populares. Umas OUVlram palestras sobre
atitudes e valores. sobre 0 que e verdadeiro, 0 o valor alimentar das vfsceras dos animais (infor_ Estrategias
que e correcto, 0 que e valido (McGrath, 1984). ma~ao); outras participaram em discussoes de Variaveis
As normas formam-se nos grupos de forma grupo, implicando informa~ao e compara~ao Sintese Esforyo
progressiva, silenciosa, sendo simultaneamente social. Apos a discussao de grupo, os sujeitos
causa e efeito dos processos de influencia social, deviam chegar a urn consenso e comprome_ Competencia
tais como as pressoes para a conformidade e para terem-se publicamente a executar a decisao
a convergencia (ver Cap. IX). Se as normas sao - aquisi~ao dos nov os produtos alimentares. Os
compatfveis com as suas normas e objectivos, os . resultados da experiencia revelaram que a mu-
sujeitos tendem a conformar-se e a adoptar as dan~a operada era maior e mais continuada na
normas de grupo. Quando assim nao sucede, os situa~ao de decisao de grupo. Estas experiencias
sujeitos poderao tentar mudar as normas, man- de Kurt Lewin estao na origem de duas dife-
da tarefa e se as competencias dependem da
terem-se marginais ou abandonar 0 grupo. rentes orienta~oes da diniimica de grupos: uma responderem a urn questionario sobre situa~oes
composi~ao do grupo, as estrategias dependem
que se prolonga atraves dos seus continuadores e envolvendo risco, mostravam uma tendencia
das normas do grupo. Actuar nas normas de
que procura aprofundar os processos de influen- p~ra a~optar posi90es mais arriscadas apos terem
grupo por forma a tomar os seus comportamen-
7.2. Mudanfa das normas cia no interior dos grupos, examinados nas dlscuhdo a situa~ao em grupo (plano intra-
tos mais planeados e fundamental mente urn
sec~oes anteriores. e uma outra que aqui nao e -suje~tos). Post~riormente veio a verificar-se que
processo de Iideranra (Jesufno. 1987, p. 262).
Devem-se a Kurt Lewin (1948, 1953) os examinada. relacionada com aplica90es de o efelto era mals geral e nao apenas em situa90es
Implica que 0 grupo se tome consciente das suas
primeiros estudos sistematicos e experimentais caracter terapeutico. envolvendo risco. Se a tendencia geral do grupo
normas de trabalho impIfcitas e reconhe~a que
sobre os processos de mudan~a que ocorrem nos Do trabalho pioneiro de K. Lewin e impor- for para uma decisao mais prudente, nesse casu 0
elas sao inadequadas. comprometendo a eficacia
grupos e, desde logo, nas suas normas. Lewin tante reter que a mudan9a do comportamento de qu~ se veri fica e urn desvio para uma posi~ao
do desempenho.
identificou tres fases no processo de mudan~a: grupo pressupoe a mudan~a das normas. mals prudente. Moscovici e Zavalloni (1969)
descongelamento, mudanra e recongelamento. Fez-se anteriormente referencia ao modelo in- mostraram que 0 fenomeno tam bern se verifi-
Em primeiro lugar deve existir ou ser criada troduzido por Hackman e Morris (1975) vi sando 7.3. Po/arizafao de grupo cava com simples atitudes . Passando uma escala
uma situa~ao de desequilfbrio, por virtude do urn melhor desempenho de grupo. Uma das sobre atitudes para com os americanos a estu-
qual as pessoas tomam consciencia da necessi- variaveis-resumo do modelo e a estrategia uti- dantes franceses, que em seguida discutiam os
Urn outro fenomeno identificado nos proces-
dade de mudar. No segundo momenta introduz- Iizada pelo grupo para 0 desempenho da tarefa. 50s de . Iarrnente no que se refere a
grup 0, e partlCU resultados em grupo, verificaram que a discussao
-se a mudan~a desejada e, por fim, consolida-se Mas a estrategia do grupo esta estreitamente tornada de d tinha 0 efeito de extremar as posi~oes iniciais.
. eClsao, e, 0 e fi'
. - elto de polarizarao. ou
o processo. relacionada com as normas do grupo (ver Fig. 7). ~Ja, a tendencia para 0 grupo adoptar uma deci- o fenomeno reveste-se de grande robustez
o exemplo - hoje c1assico - consistiu na A tese central diz que cada uma destas va- sao final . sendo facilmente observavel tanto em labora~
_ . mals extrema do que a media das deci-
mudan~a dos habitos alimentares dos ameri- riaveis sfntese, resultantes dos processOs ~e s
soe I~dividuais previas 11 discussao de grupo. torio como no terreno, dando origem a uma abun-
canos durante a Segunda Guerra Mundial, urn interac~ao, e manipuhivel atraves de variavedls O efeIto fi " . " . dante literatura, sobretudo na decada de setenta
. ~ 0 (19 01 IOlclalmente detectado por Stoner
projecto em que Kurt Lewin esteve envolvido. antecedentes especfficas. Se a aphca~ao 61, 1968) com a deSlgna~ao
" - de desvio para 0 e meados dos an os oitenta (Jesufno. 1987).
ri
Os Americanos estavam habituados a comer esfor~o depende fundamental mente do desenho Seo (risky hift") .
s I • ao venficar que os indivfduos,
Ta!vez por constituir urn efeito paradoxal, a
polanza~ao de grupo tern dado lugar a diversas
328

329

tentativas de explica~ao, constituindo uma dos argumentos persuasivos apoia-se exclusiv . terpares) e que consiste justamente nesta prototipica e, regra geral, mais extrema do que a
ocasiao privilegiada para 0 confronto das «gran- mente na influencia informacional (ver Caa-
m .
ndencia para as pessoas se conslderarem a si media das posiyOes individuais. A polarizayao
,. f p. . ,a me'd'la d0 grupo. E
Ie..oprias como supenores
des teorias» correntes em Psicologia Social, IX). Por outras paIavras, 0 umco actor consi_ nao e, pois, senao a convergencia dos membros
aplicadas aos processos de grupo. derado para explicar 0 efeito de polariza~iio ~uando tern de confrontar as suas posi~oes com para a posiyao prototfpica do grupo. Para que a
Uma das teorias que maior aceita~ao gran- consiste apenas na natureza e distribuiyao do as dos outros, num contexto de grupo, procedem polariza9ao ocorra e, todavia, condi9ao neces-
jeou foi a teoria dos argumentos persuasivos argumentos disponfveis. Outras causas POSsfveiss a revisoes que vao no mesmo sentido. Com vista saria que os indivfduos se autocategorizem
(Burnstein, 1982; Burnstein e Vinokur, 1977; como a coesao do grupo, pressoes para a con: a detenninar qual 0 peso relativo de cada uma em termos de grupo. Se se autocategorizarem
Vinokur e Burnstein, 1974). E uma teoria de formidade, ou normas sociais predominantes des tas teorias para explicar 0 efeito de polariza- apenas enquanto indivfduos arriscados ou pru-
inspira~ao essencialmente cognitivista. Sustenta nao sao aqui consideradas. Tal como os proprio~ ~iiO, Isenberg (~986) .pro~edeu a uma metamilise dentes, a polariza9ao nao se verifica. Para que tal
que os sujeitos nao conhecem muito provavel- autores sustentam, «a polariza~ao e urn feno_ cobrindo 2 I artlgos Clentlficos. 0 resultado desse suceda, os indivfduos terao de se autocategorizar
mente a totalidade dos argumentos a favor ou menD fundamentalmente informacional; as estudo mostrou que ambas as hip6teses sao subs- enquanto membros dum grupo arriscado ou pru-
contra uma determinada questao ou causa social. influencias normativas sao relativamente remo_ tancialmente confirmadas, embora os efeitos da dente. Sob certos aspectos, a teoria da autocate-
Todavia, a sua posi~ao e determinada pelo ml- tas e operam na polarizayao atraves da cogni- teoria dos argumentos persuasivos sejam parti- goriza9ao e uma variante que permite introduzir
mero e for~a dos argumentos que eles sao capa- ~ao» (Burnstein e Vinokur, 1977, p. 317). Esta cularmente fortes (correlayao media de 0,766 ver- precisOes na teoria da compara9ao social. Dis-
zes de invocar. Ao confrontarem em seguida, conclusao nao e, obviamente, subscrita pelos sus 0,436) relativa a teoria da comparayao social. tingue-se, todavia, pelo acento que coloca na
num contexto de grupo, as suas posi~oes com defensores da teo ria da contpararao social, os Uma outra explicayao altemativa para 0 diferenciayao enquanto processo nao apenas
as dos restantes membros, tern oportunidade quais colocam em primeiro plano a injluencia efeito de polariza~ao de grupo e proposta pela individual mas de grupo.
de se familiarizar como novos argumentos cuja normativa (ver Cap. IX) que se exerce nos teoria da autocategorizarao desenvolvida por Moscovici e Doise (199 I, 1992) sao outros
qualidade persuasiva seria, de acordo com processos de grupo. Segundo sustenta esta linha Turner e colaboradores (Tajfel e Turner, 1986; autores que analisam longamente 0 fenomeno da
Burnstein, fun~ao de dois factores: validade,ou altemativa, os individuos sao motivados pelo Turner, 1982, 1991; Tumer,etal .. 1987). Segundo polariza9ao de grupo, adoptando-o como refe-
seja, conteudo logico e novidade relativa. Se desejo de serem diferentes uns dos outros mas esta teoria os individuos referem-se nao apenas rencia paradigmatica para «uma teoria geral das
esses novos argumentos contribufrem para numa dimensao social mente aceite e valorizada a norm as societais gerais, mas a norm as especi- decisoes colectivas». 0 argumento desenvolvido
refor~o da posi~ao inicial, os sujeitos tenderao a (Lamm e Myers, 1978; Myers, 1982; Sanders e ficas relativas aos grupos a que pertencem ou a e complexo e qualquer resumo sera inevitavel-
emitir posi~oes mais extremas. E caso a maioria Baron, 1977). Por exemplo, se for socialmente que se referem. Turner parte da teoria da identi- mente redutor. A ideia basica parece, todavia,
dos sujeitos se situe do mesmo lado da barreira, desejavel (norma social) que os empresarios ou dade social atribuindo particular relevo as igualmente centrada na especificidade colectiva
por exemplo, todos favoniveis a interrupyao os cientistas sejam arriscados, estes tenderao a relaroes intergrupo (ver Cap . XII). A identidade do fenomeno de polarizayao, enquanto processo
voluntaria da gravidez, apos a discussao 0 grupo adoptar a norma e a considerarem-se a si social ou, para utilizar a sua terminologia, a de mudan~a e inova9a.o social. Numa linha que
tendera a favorecer uma posiyao mais extrema, proprios como acima da media. Face a urn pro- forma como os individuos se autocategorizam, poderfamos fazer remontar a Kurt Lewin, a
mais radical, do que seria de antecipar conhe- blema especifico sobre 0 qual sejam consulta- depende ou pode depender da forma como sao «dinamica do grupo» provoca nos individuos
cendo as posi~oes dos diferentes membros antes dos, os sujeitos fazem as suas opyoes iniciais representadas as posi~oes do proprio grupo face uma maior implica9a.o: «Cada qual toma-se,
da discussao. procurando situar-se urn pouco acima daquilo as posi~oes reais ou imaginadas do grupo que se assim, 0 defensor ardente dos seus juizos e ati-
Dispae-se de considenivel evidencia empfrica que consideram ser a media, ou seja, a norma do Ihe opoe. Os individuos tendem a conformar-se tudes pessoais face aos outros e implica-se quase
para esta teoria. As consequencias logicas que seu grupo de referencia. Se todos procederern de com a norma do proprio grupo, distinguindo-se sem se dar conta disso. Por isso mesmo, participa
dela podem derivar tern recebido confirmayao forma identica com a passagem ao grupo, os da norma do exogrupo. A norma do endogrupo de maneira mais intensa e sente-se mais impli-
experimental . Por exemplo, se todos os membros sujeitos verificam que aflnal nao estao tao acirna e definida em termos da posirao protot(pica. cado na sua posiyao do que antes. Os argumen-
dispuserem dos mesmos argumentos, ou caso da media, 0 que provoca reajustamentos e dar 0 "ao necessariamente coincidente com a media tos que cada urn faz valer no debate publico
nao haja oportunidade de os discutir, nao se veri- efeito de polariza~ao de grupo. do grupo. A posi~ao prototfpica e definida, por contribuem para refor~ar 0 empenhamento, mas
fica polariza~ao. Identicamente, se as posiyoes Dispoe-se tam bern de consideravel evidencia urn lado, pelo grau da sua semelhan~a com a tambem a convicyao de que os seus jufzos, as
dos membros se acharem divididas, havendo tan- empfrica a confirmar esta tendeilcia psicolog ica "?fma intema, e, por outro, pelo grau em que suas atitudes, tern 0 mesmo valor para os outros
tos argumentos contra como a favor, 0 fenomeno para a diferencia~ao nornica, ou seja, reforyando dlfere da norma extema (metacontraste). Nos membros do grupo que tern para si proprio»
que a teoria prediz e que a experimenta~ao con- uma norma social. Codol (1976) introduziu 0 eXemplos que tern sido habitual mente utilizados (Moscovici e Doise, 1971, p. 231). A dinamica
firma e urn efeito de despolarizayao. A teoria que ele designou como efeito PIP (primurn para estudar a polariza~ao de grupo, a posiyao subjacente ao efeito de polariza~ao resulta, antes
t
330
331
de mais, do conflito sociocognitivo traduzido 7.4. A teoria do impacto social A lei expressa inspira-se, todavia, nas leis psi-
pela diversidade de posi~oes, ainda que nao do numero de pessoas presentes. Por outras
coflsicas estabelecidas inicialmente por Fechner
necessariamente divergentes ou antag6nicas. Ele Deve-se a Bibb Latane (1981) a propOsta palavras, ha urn decrescimo marginal ou dife-
e e1egantemente condensadas por Stevens (1957)
e suficiente para desencadear urn processo de duma teoria, ou antes, duma metateoria do rencial a medida que 0 numero de Fontes de
a f6nn ula lJI = K </> I~, em que a intensidade
°Sicol6gica subjectiva (lJI) e uma fun~ao da
resolu~ao do conflito e urn subsequente aprofun- impacto social que permitiria explicar os Illlllti_ influencia aumenta. Latane aplica a teoria a
algumas das situa~oes referidas neste capftulo,
damento e mobiliza~ao de novos argumentos e plos fen6menos observados no domfnio da ~tensidade ffsica objectiva do estfmulo (</»/3 urn
de revisao e reajustamento das posi~oes iniciais. influencia social. ~actor potencial e Kuma constante. tais como os efeitos de conformidade de Acsh ,
mas tambem da influencia minoritaria de
A mesma dinamica e observavel nos processos A teoria acha-se formal mente enunciada eill Hi urn claro paralelismo entre esta lei psi-
de influencia minoritaria (ver Cap. IX). dois princfpios. Moscovici. os efeitos de inercia social e difusao
coffsica e a lei (psicossocial) proposta por
Parcial confirma~ao deste tipo de explica~ao, De acordo com 0 primeiro princfpio: de responsabilidade. de desvio para 0 risco e de
Latane: I = s N As pessoas inseridas num
C

polariza~ao, ou ainda os efeitos do pensamento


embora dela se nao reclame, e dada pelas pes-


(I) I = f (S / N). campo de for~as multiplicativo experimentam grupal.
quisas recentes de Brauer e Judd (1996) sobre a
urn irnpacto social (1) que e fun~ao do numero
polariza~ao de grupo. fen6meno que 30 anos o impacto social (I) exercido sobre urn alvo e das Fontes de influencia (N) afectadas por uma
Recentemente (Latane 1996), a teoria tern
depois continua a despertar a aten~ao dos psic6- uma fun~ao (f) multiplicativa da for~a (s- sido testada, com bastante sucesso, recorrendo a
potencia (t) e por uma con stante escalar. 0 facto
logos sociais . -Strenght), proximidade (I-Immediacy) e do simuJa~6es por computador, podendo eventuaJ-
de 0 valor do expoente ser menor do que I
Brauer e Judd propoem que 0 simples facto numero (N) das fontes presentes. mente vir a confirmar-se como uma grande
significa que 0 acrescimo de influencia exer-
de os sujeitos terem de defender os seus pontos Por for~a entende-se a saliencia, poder, teoria estabelecendo a ponte entre efeitos psico-
cido pelas Fontes e proporcional a uma raiz
de vista num contexto de grupo produz polariza- importancia ou intensidade duma dada Fonte ffsicos e efeitos psicossociais.
~ao.Isso seria provavelmente devido ao facto de sobre 0 alvo. Por exemplo, 0 estatuto, a idade, 0
a repeti~ao dos mesmos argumentos levar a sua prestfgio e outros factores de natureza identica.
simplifica~ao e subsequente radicaliza~ao. Na Por proximidade entende-se a distancia no
verdade, sustentam os autores, inicialmente os espa~o e no tempo, bern como a ausencia de bar-
sujeitos tendem a apresentar os seus argumentos reiras ou filtros. E por numero a quantidade de
duma forma cautelosa maximizando a infor- pessoas presentes.
ma~ao que fomecem. Posteriormente, porem, o autor, para i1ustrar este princfpio, recorre a
reduzem-na ao essencial tomando-a dessa forma metcifora da lampada electrica, em que a super-
mais extrema. E quanta maior a frequencia da flcie por ela iluminada e tambem uma fun9iio
repeti~ao mais extrema sera a posi~ao final, multiplicativa da intensidade da lampada, da
predi~ao apoiada pela evidencia experimental proximidade da superffcie e do numero de lam-
reunida. padas.
Enfim, resta ainda referir que 0 efeito de E de certo modo intuitivo e quase releva do
polariza~ao pode ser moderado pelos processos sen so comum admitir que urn indivfduo seja
de Iideran~a. Experiencias realizadas por mais ou menos influenciavel consoante 0
Wheman et al. (1977) e por Jesufno (1986) numero de pessoas envolvidas, 0 seu estatuto e
levaram. com efeito. a concluir que a influencia proximidade.
duma lideran~a formal de tipo autocratico tende o segundo princfpio exprime-se na seguinle
a induzir normas mais consensuais, enquanto f6rmula:
que a lideran~a democralica bern como a ausen-
(2) I = S N', t > I.
cia de Ifder formal tendem a encorajar solu~oes
mais ousadas. Tais efeitos sao logicamente pre- , aqUI
Tambem . se recorre " . ,ora do valor
a metal
ditos pelo maior ou menor grau de interac~ao marginal estabelecido pelos econorni~tas.
permitido pelo Ifder. o primeiro d61ar vale malS. do que 0 cen tesuno.
t

CAPiTULO XI

Processos cognitivos
e estere6tipos sociais

Jose Marques e Dorio Pael

As vezes apetece-nos responder a outrem: ceira parte, analisaremos alguns processos cogni-
«Isso e urn estere6tipo!», para mostrarmos que tivos Iigados ao modo como os estere6tipos, sim-
discordamos ou que achamos exagerado. Mas plificando, por urn lado, a nossa tarefa quotidiana
isso nao nos impede, noutras ocasiOes, de recOf- de compreendermos os outros, acabam tam bern
rer a maximas do tipo «os portugueses sao hos- por interferir na informalrao que processamos
pitaleiros», os «ingleses sao snobes », os «suf~os acerca das pessoas. Na quarta parte, centrar-nos-
sao pontuais». A palavrajapones faz-nos imagi- -ernos directamente sobre as estruturas cogniti-
nar alguem com caracterfsticas ffsicas orientais vas atraves das quais se organizam as nossas
a sair, com tres maquinas fotograficas a tiracolo, crenlras estereotfpicas. Finalmente, discutiremos
de urn autocarro de turismo. Os estere6tipos algumas das implicalroes dos estere6tipos nos
sao estruturas cognitivas que contem os nossos processos de avalialrao e julgamento social.
conhecimentos e expectativas, e que determinam Mas nao vend amos gato por lebre. A abor-
os nossos j ulgamentos e avalia~oes, acerca de dagem apresentada neste capftulo e fundamental-
grupos humanos e dos seus membros (Hamilton mente cognitiva, ou seja, estamos mais preocupa-
& Trolier, 1986). Estes julgamentos e avalia~oes dos com os processos intrapslquicos associ ados
estao geral mente associados a caracterfsticas aos estere6tipos do que com as suas incidencias e
como a «ra<;a», 0 genero, a aparencia ffsica, a antecedentes sociais. Parece-nos essencial que 0
origem geografica ou social, ou algum aspecto leitor esteja consciente deste facto, dado que os
associado, por exernplo, a identidade religiosa, estere6tipos sao, por definilrao, 0 resultado do
polftica, etnica, sexual, de alguem (Miller, 1982). cruzamento de factores ligados ao processamento
Neste capItulo vamos debrulrar-nos sobre de informalrao, de factores motivacionais e de
alguns aspectos Iigados ao estudo dos estere6ti- identidade, de factores Iigados a dinamica social
pos. Comelraremos por recordar alguns momen- das relalroes entre os grupos, e de factores ideol6-
tos-chave da evolulrao deste domfnio de estudo gicos. 0 facto de nos centrarmos fundamental-
em PSicologia Social. Em seguida, veremos algu- mente na organiza~ao mnem6nica da informalrao
mas explicalr0es acerca do que nos leva a incluir sobre os membros dos grupos sociais (a sua
uma pessoa num qualquer estere6tipo. Na ter- estrutura~ao esquematica en termos exemplares
334
• 335

ou abstractos, 0 tratamento diferido da informa- Ashmore & Del.Boca, 1981; ?akes , Haslam & sitiva ou negativamente) . Assim , atraves dos Apos terem obtido uma lista de trac;os de perso-
c;ao, e os process os inferenciais decorrentes dessa Turner. 1994; MJller, 1982). Lippmann (\firmav pOtereotipos, para alem de simplificarmos a infor- nalidade tfpicos de dez grupos (norte-ame-
organizac;ao, etc.) e deixarmos em segundo plano que, no quotidiano, nao reagimos directamenta eSarao provelllente
. d e uma estlmu
' I - h umana
ac;ao ricanos , alemaes , ingleses, turcos , italianos,
as necessidades individuais de autodefinic;ao e
, . I
as pessoas e aos aconteclmentos ta como Se n
e rn. aT e comp Iexa, que cu Imma
. necessanamente
. irlandeses, japoneses, judeus, negros, chineses e
r~ generalizac;oes abusivas, tambem justifica-
. _ . Os
de valorizac;ao (autocategorizac;ao, identificac;ao apresentam. mas slm a representac;oes simpl ifica_ turcos) junto de uma primeira amostra, Katz e
social, favoritismo em relac;ao ao endogrupo, etc.), das da realidade . Os estereotipos, que Lippman e OS, OU racionaliza11los as posic;oes objectivas Braly (1933) pediram a outra amostra de 100
os contextos imediatos da interacc;ao social (com- definia como «fotografias dentro das nossas ca~ :0 5 grupos na dinamica social. estudantes universitarios que indicassem, de
petic;ao, cooperac;ao, conflito, saliencia cognitiva bec;as» , resultariam dessa simplificac;ao da rea_ Ao mesmo tempo que evolufam as con- entre 84 trac;os positivos (por exemplo, «inteli-
das diferenc;as entre grupos, relevancia das di- Iidade. As ideias de Lippmann eram inovadoras ceptualizac;oes teoricas sobre os estereotipos, gente») e negativos (por exemplo, «ignorante») ,
mensoes de comparac;ao social para a identidade numa epoca em que os estereotipos eram Visto~ desenvolvia-se igualmente a sua abordagem os cinco mais tfpicos de cada urn dos grupos . Em
social dos indivfduos, etc .), as caracterfsticas como uma forma inferior de pensamento (Huici empfrica. Bogardus ( 1925) , por exemplo, cons- seguida, seleccionaram os 50 por cento de trac;os
objectivas das relac;oes sociais (estatutos sociais e Moya, 1994): para os primeiros psicologos tra- trU iu uma medida dos preconceitos atraves da mais frequentes, e, destes, convencionaram que
dominantes ou dominados , canicter numerico tava-se de projecc;oes de fantasias indesejaveis e5cal a de distancia social (Quadro I), reveladora os 12 atribufdos por mais sujeitos a urn grupo re-
maioritario ou minoritario dos grupos, etc.), e 0 ou deslocamentos de tendencias agressivas para do grau de intimidade ou de tolerancia que os tratavam 0 estereotipo desse grupo. Num segundo
fundamento ideologico dos estereotipos (estru- os membros de outros grupos, ou de subprodu_ sujeitos se dispoem a adoptar em relac;ao a estudo, Katz e Braly (1935) pediram a uma
turas de crenc;as de mobilidade ou de mudanc;a tos de certas sfndromes de personalidade asso- membros de diversos grupos sociais. Eis um amostra independente que respondesse a medi-
social , colectivismo, individualismo), nao signi- ciadas ao racismo, ao autoritarismo, ou a xeno- exernplo: das de distancia social em relac;ao aos grupos-alvo
fica que estes factores nao desempenhem urn fobia (Adorno, Frenkel-Brunswick, Levison & Se considerarmos as definic;oes que demos e de desejabilidade social dos trac;os fomecidos na
papel essencial na construc;ao e na dinamica dos Sanford, 1950; Rockeach, 1948; ver revisoes da acima (estereotipo =atribuic;ao de trac;os a mem- /isla de adjectivos. Os resultados mostraram, por
estereotipos. De facto , qualquer tentativa de ex- Iiteratura feitas por Billig, 1976; Brown & Tur- bros de grupos), vemos que as medidas de dis- exemplo, que a generalidade dos sujeitos consi-
plicac;ao dos estereotipos, das suas consequencias ner, 1981; LeVine & Campbell, 1972; Sherif & tancia social correspondem menos a observac;ao derava os chineses como «supersticiosos», ou
e dos seus antecedentes, em termos de apenas urn Sherif, 1979). de estereotipos do que de preconceitos (ver Mil- os turcos como «crueis», ou ainda os japoneses
desses factores, seria urn puro reducionismo (cf. Retomando a perspectiva de Lippmann, Allport ner, 1981 ). Mas a relac;ao entre estes dois con- como «inteligentes». Ja os negros eram conside-
Doise, 1976; Lorenzi-Cioldi & Doise, 1990). (1954) (ver Monteiro neste volume) reagiu a ceitos ficou c1aramente estabelecida com os rados como «preguic;osos», por exemplo, e os
Mas a nossa escolha foi ditada, por urn lado, esta visao «sociopatologica», afirmando que os estudos de Katz e Braly (1933, 1935) . italianos como «impulsivos», ou «imaginativos»,
pela falta de espac;o, e, por outro, pelo facto de estereotipos sao um processo nao apenas normal enquanto os ingleses eram vistos como «despor-
outros colegas que participam neste manual refe- como tam bern necessario. Como todas as cate- tivos» ou «convencionais», e os judeus, como
rirem de uma forma ou de outra 0 papel desses gorias cognitivas, afirmava este autor, tam bern «avarentos», ou «trabalhadores» . Alem disso, a
1.2. Estereotipos como crenfas socio-
factores (ver os capftulos de L. Amancio , M. B. as categorias de pessoas se baseiam inicialmente correlac;ao entre a distancia social e a desejabili-
Monteiro, e J . VaIa). numa correspondencia entre etiquetas psicolo- culturais sobre os trafos comuns dade social dos trac;os considerados como tfpicos
gicas (por exemplo, «brancos», «negros» , «ho- aos membros de um grupo dos grupos era muito forte (r = 0.89).
mens», «mulheres») e indfcios perceptual mente Replicac;oes dos estudos de Katz e Braly,
1. Genese da perspectiva cognitiva salientes (por exemplo, a pigmentac;ao, 0 modo Para Katz e Braly (1933,1935), os estereoti- realizadas na decada de 1950, confirmaram mui-
de vestir, etc.). No entanto, os indfcios estereo- pos sao crenc;as que n,os sao transmitidas pelos tas das ideias destes autores (Gilbert, 1951 ; Kar-
no estudo dos estereotipos
tfpicos de tipo perceptivo associam-se a outroS agentes de socializac;ao (os pais, a escola, os Iins, Coffman & Walters, 1969; Stroebe & Insko.
marc ados por valores sociais (por exemplo, meios de comunicac;ao social, etc.), 0 que expli- 1989). Por exemplo, Buchanan e Cantrill (1953) ,
1.1. Estereotipos, preconceitos «preguic;oso» , «agressivo», «hospitaleiro» , etc.), caria 0 consenso existente em relac;ao aos grupos num estudo acerca dos estereotipos recfprocos
e racionaliZllfiio das relafiies sociilis acabando por tomar a categorizac;ao social inde- sociais, a sua independencia do conhecimento de nove pafses, observaram que todos os respon-
pendente da estrutura do mundo ffsico (para um real dos membros desses grupos e a sua depen- dentes estavam de acordo quanto ao facto de 0
Lippmann (1922) e considerado como 0 ini- racista, a cor da pele de uma pessoa deixa de dencia do contexto historico e cultural. A meto- seu pafs ser 0 mais «pacffico» de entre todos os
ciador da concepc;ao contemporanea dos este- traduzir uma simples diferenc;a de pigmenta~ao dologia utilizada par estes autores e conhecida pafses avaliados. Outro caso ilustrativo do carac-
reotipos e das suas func;oes psicossociais (ver e passa a traduzir um estatuto social valoriz ado como «/ista de adjectivos» (adjective checklist). ter sociocultural dos estereotipos sao as crenc;as
336
• 337

. rninadas na nossa sociedade, segundo as dos observadores, distor~oes cognitivas, etc.) e


EXEMPLO DE ESCALA DE DISTANCIA SOCIAL e
d1ss. as mulheres sao afectuosas, emotivas, sub- uma componente «verfdica» (as informa~6es
ulllS obtidas nos contactos com os membros dos gru-
sim nlio q. as ou dependentes, enquanto que os homens
1 casar-me-ia com um(a) marciano(a) - ~ssrnais audaciosos, desinibidos, desorganiza- pos estereotipados). Quando 0 contacto e insufi-
sao ou autoritarios (Amancio, 1994; Ashmore, ciente para formar urn estereotipo «verdadeiro»,
2 nlio me importava de ter amigos marcianos
- dO~'t). 0 metodo de Katz e Braly revelou igual- o estereotipo e construfdo ou complementado
3 nao me importava de ter colegas de trabalho marcianos
19 nte que os estereotipos nao sao impermeaveis com base em cren~as social mente transmitidas
4 nlio me importava de ter vizinhos marcianos · · As a1
[lieJlludan~as socials. - 0 bservadas sobre 0 grupo estereotipado (Campbell, 1967;
tera~oes
5 aceitaria apenas a falar a urn marciano LeVine e Campbell, 1972). No entanto, 0 con-
a 6s a Segunda Guerra Mundial nos estereoti-
6 aceitava que os Marcianos visitassem 0 meu planeta ap s de alemaes e japoneses, medidas atraves do tacto em si mesmo nao garante a atenua~ao dos
7 expulsaria os Marcianos do meu planeta POetodO de Katz e Braly, mostraram que este me- estereotipos e dos preconceitos (ver Stephan,
:do esensfvel a evolu~ao sociocultural (Oakes, 1985, 1989) (ver Caixa).
Mas existem altemativas para a mensura~ao da distAncia social. Urn de n6s (Marques, 1986) pediu a estu- Haslam & Turner, 1994). Para ser eficaz, 0 contacto entre grupos
dantes de nacionalidade belga, num campus universitario multinacional, que escolhessem os companheiros de dOmi_ Os estudos de Katz e Braly tiveram conse- deve ser profundo e variado (Amir, 1976), deve
cflio para 0 ano lectivo seguinte, de entre as seis regioes do mundo (Africa Central, Africa do Norte, America do quencias importantes no desenvolvimento da fazer-se entre pessoas de estatuto social seme-
Norte, America do SuI, Europa Central e Europa Meridional) mais bern representadas nesse campus. Muitas residen- lhante (idem; Allport, 1954; Brown, 1984), deve
investiga~ao sobre os estereotipos ate aos nossos
cias universitarias eram apartamentos comunitanos com cinco quartos individuais. A questiio colocada aos sujeitos
era a seguinte: «No campus, a maioria das residencias universitdrias tern 5 quartos. Se,para 0 ano, tivesse que par- dias. por exemplo, a independencia entre os con- ser cooperativo e ocorrer num contexto normativo
tilhar uma dessas residencias com quatro outros estudantes provenientes, cada urn, de uma regiao diferente do teudos estereotfpicos e 0 conhecimento real dos que suporte uma interac~ao positiva (Deutsch,
mundo, que nacionalidades escolheria e que nacionalidades rejeitaria?» Os sujeitos deviam ordenar as suas pre- membros dos grupos levou alguns autores a cen- 1949; Pettigrew, 1981; Sherif, 1967) (ver Cap.
ferencias e rejei~Oes por ordem decrescente. As nacionalidades mencionadas pelos sujeitos foram, em seguida, trarem-se no papel do contacto entre grupos na XIII). Mas tambem e possfvel que, afinal, a
classificadas segundo as regioes mencionadas acima. Uma segunda questiio pedia-se-Ihes que indicassem em que veracidade dos estereotipos nao provenha do
transforma~ao dos estereotipos e na atenua~ao
medida consideravam os estudantes belgas como semelhantes ou diferentes dos estudantes de cada uma dessas
dos preconceitos (Amir, 1976; Fishman, 1956; facto de traduzirem uma percep~ao correcta das
regi5es. Os resultados obtidos figuram abaixo:
ver Hewstone & Brown, 1986; Brewer & Miller, caracterfsticas dos grupos, mas sim do facto de
Regiiio Preferencia Semelhan~a 1984; ver Monteiro, neste volume). A ideia de traduzirem, pelo menos em parte, as suas rela~6es
Atrac~ao Europa Central 1,91 6.60 base destes autores era a de que os estereotipos objectivas (Fishman, 1956; Oakes, Haslam &
America do Norte 1,89 5.43 tem uma componente «projectiva» (motiva~oes Turner, 1994; Word, Zanna & Cooper, 1974).
Europa Meriodional 1.57 5.14

1
Rejei~iio
America do Sui
Africa Central
Africa do Norte
1.33
-0.006
-2.43
3.69
3.03
2.64
CONTACTOS INTERGRUPAIS E REFOR<:O DOS ESTEREOTIPOS

Numa analise das rela~5eS inter-raciais numa escola norte-americana recentemente dessegregada, em que os
alunos brancos consideravam os colegas negros como agressivos, Schofield (citado por Stephan & Rosenfield, 1978,
Aceitac;:iio: valores negativos=rejeic;:iio p. 118) relatava que:
Semelhanc;:a: I=«totalmente diferentes»; 7=«totalmente semelhantes»
Muitos rdos alunos brancosJ tem tanto medo dos negros que niio sc afirmam mesrno em encontros nada
amea~adores. Esta falta de vontade de af1rma~iio e de protecc;:iio dos seus direitos quando interagem com os negros torna os
Os resultados mostram uma clara rela~ao entre distiincia social, etnocentrismo, e perce~ao de diferenrras
brancos em alvos atmctivos [de assedio por parte dos negros], ja que 0 seu comportamento e refor~ador dessas tentativas
entre os grupos. As respostas dos sujeitos ba.o;earam-se em criterios geograficos (Norte-SuI) relacionados com uma
de dominaC;:iio.
dimensao etnica. De facto, 0 valor da cOlTelarriio produto-momento de Pearson entre distiincia e perce~iio de seme-
lhan~as era de 0.82. Para al6m disso, a categoria dos estudantes do Centro da Europa era a mais preferida e con- Por outro lado, os alunos negros viam os brancos como preconceituosos, enquanto estes se viam a si mesmos
siderada como mais semelhante a categoria dos sujeitos. A categoria dos estudantes norte-africanos era nao s6 a como generosos e sem preconceitos. oferecendo-se mesmo para ajudar os alunos negros nas tarefas escolares.
mais rejeitada como tambem cOhsiderada como menos semelhante a categoria dos sujeitos. A ideia segundo a qual
Os alunos negros viarn muitas vezes estas ofertas de ajuda como mais urna prova dos sentimentos de superioridade
os estudantes universitarios sao pessoas 8vidas de trocas de experi!ncias transculturais, pode nao passar de ... um
e da vaidade dos bmncos. Os alunos broncos que niio se viam a·si mesmos como tal scntiam-sc enganados e zangados quando
estere6tipo! aquilo que lhes pnrecia serem aberturas amigaveis em rejeitado (Idem. p. 119).
338
• 339

1.3. Acentuariio perceptiva, rfsticas proprias de cada pessoa em particular ciais e a organiza~ao dessas categorias em dimensoes de categoriza~ao altemativas podem
exageramos as que as torn am semelhantes ,e s°[1T10Sde di ferenciais valorativos. No entanto, a ser seguidas para inc1uir uma pessoa numa cate-
assimilariio de valores e procura
estereotipos dos seus grupos (ver Quadro tos Ie resenta~ao cognitiva das rela~oes entre gru- goria? Feminino-Masculino? Adulto-Crian~a?
de coerencia
A estrutura do mundo real, que esta Or IJ~.
rePs SOCials
.' de fime Igua
. Imente a nossa propna
' . Portugues-Espanhol? De direita-De esquerda?
Outros autores, como Secord (1959), Vinacke
· - , ganl_
zad a em t ermos d e d Imensoes contmuas , paSSa ~ agem enq uanto membros
1m _ de urn ou de varios Benfiquista-Portista? Alfacinha-Tripeiro? Negro-
(1957), ou Campbell (1967), contribufram para ser compreendida em termos de categoriag d' a do s grupOS que compoem essa estrutura, uma -Branco? Psicologo-Sociologo? E urn facto que,
Is- 'dentidade social (Tajfel, 1969; ver tam bern Tur- quando interagimos com alguem, certas catego-
o desenvolvimento da perspectiva iniciada por cretas . Este processo de acentua~ao percept'
Allport (ver revisoes feitas por Ashmore & correspon de a'b ase cogmtlva
.. da teoria dos IVa ~er, 1975). Assim, urn dos nossos objectivos fun- rias parecem ter uma maior probabilidade de
DelBoca, 1981; Hogg & Abrams, 1988; Oakes, tereotipos proposta por Tajfel. Mas a categor' es- darnentais e proteger essa imagem e 0 sistema de serem utilizadas. Porque? Na Iiteratura sobre os
Haslam & Turner, 1994). Mas foi Henri Tajfel ~ao baseia-se tambem em jufzos de valor que ~a­ val ores e de rela~oes entre categorias em fun~ao estereotipos, podemos encontrar varias respos-
que, em 1969, num primeiro esbo~o da teoria sao transmitidos no infcio do desenvolvimen~s do qual ela se define. Trata-se de garantir uma tas para esta questao. Relataremos as tres que
da identidade social , elaborou urn modelo geral moral e cognitivo (ver, por exemplo, os estudo~ (Joererlcia entre uma imagem satisfatoria e a nos parecem mais interessantes: (I) 0 estatuto
sobre os mecanismos e as fun~oes dos estereo- de Tajfel e colegas , acerca do desenvolviment manutenqao da estabilidade da estrutura das nos- primitivo de certas categorias; (2) a normativi-
tipos. de cren~as na~ionalistas nas crian~as; Tajfe~ sas cren~as sobre os grupos sociais em fun~ao dade das categorias; (3) a c1areza das fronteiras
Na sequencia dos trabalhos de Bruner e cole- 1984, 1985). E nesta fase que: (1) aceitamos dos acontecimentos que observamos e em que categoriais.
gas (por exemplo, Bruner, 1957), Tajfel (1969) como dados objectivos esses jufzos de valor (<<os participamos .
propos que a percep~ao se organiza em termos ciganos sao desonestos», os «judeus sao avaren_ Em !'uma, Allport, Tajfel, e Katz e Braly
de urn processo de acentua~ao: 0 exagero de tOS», os «alentejanos sao pregui~osos», os «Iis- lan9aram as bases do estudo dos estereotipos. 2.1.0 recurso a categorias «primitivas»
semelhan~as entre os membros de uma mesma boetas sao vaidosos»); (2) atribufmos importan- Mas os seus trabalhos levantaram tam bern
categoria (assimila~ao intracategorial) e de cia e veracidade a uma mensagem menos em muitos dos problemas conceptuais que procura- Fiske e Neuberg (1990; ver Capftulo V) pro-
diferen~as entre membros de categorias opostas fun~ao do seu conteudo do que em fun~ao do mos resolver atraves da investiga~ao actual. puseram que ao deparar-se-nos pela primeira
(diferencia~ao intercategorial) (Doise, Des- estatuto do emissor; (3) estamos expostos a urn vez uma pessoa recorremos de modo automatico
champs & Meyer, 1978; Tajfel & Wilkes , 1963; menor numero de fontes de informa~ao. A assi- a categorias cr(ficas, ou primitivas. Estas cate-
ver Amancio , neste volume). No decurso do mila~ao e a cristaliza~ao dos valores associados 2. 0 que deterrnina a inclusao gorias seriam 0 genero, a idade e a rara. Imagi-
processo de socializa~ao, aprendemos que as aos grupos sociais cristalizam e perduram na de urna pessoa nurn estereotipo? nemos que passeamos num mercado arabe. As
pessoas se dividem em categorias: «homens» e vida adulta (ver Doise, 1992). pessoas X, Y, e Z, todas do sexo masculino, tam-
«mulheres», «espanhois» e «portugueses», «cris- A acentua~ao perceptiva e a assimila~ao de Uma conc1usao fundamental a que podemos bern . Sem problemas, e de forma involuntana,ja
taos» e «hindus», etc. Ao utilizarmos estas cate- valores correspondem, respectivamente, acons- chegar desde ja e que os estereotipos sao essen- as categorizamos como «homens», como «adul-
gorias no dia-a-dia, negligenciamos as caracte- tru~ao cognitiva de distin~oes entre categorias ciais pam a vida social. Como 0 afirma Brown tos», e como «negros». Mas X, Y, e Z chamam
(1994), a nossa aten~ao, e procuramos saber mais sobre
eles. Se estivermos suficientemente motivados
ESTEREOTIPOS E ILUSAO DE CORRELA{:AO Mesmo que fOssemos capazes [de responder a cada pes- para continuarmos a processar essa informa~ao,
soa ou objeeto que encontramos, como se fossem unicosJ, procuraremos, em seguida, confirmar a catego-
Recordemo-nos de que uma correla~iio positiva total entre dois fen6menos (<<ser portugues» e «ser hospi- seria extremamente disfuneional faze -Io, dado que cada
riza~ao inicial. Parecem ser «arabes» (uma cate-
taleiro») implica que, sempre urn fen6meno est!! presente (<<Fulano e portugues) ) 0 outro tamb~m esta presente estfmulo possui muitas earacteristicas em eomum com ou-
goria nao-primitiva, segundo Fiske e Neuberg).
(<<Pulano e hospitaleiro)) , ma~ lambem que, quando urn esta ausente (<<Fulano nlio e portugues» 0 outro tambem eslli tros, assim como atributos que os distinguem de outros.
ausente (<<Fulano niio e hospitaleiro»). Uma eorrela~fio negativa total ocorre sempre que urn fen6meno esta presente e Inc~uindo-o~ em categorias baseadas nas suas semelhan~as X chama-se Ahmed e veste uma djellaba. Esta
o outro esn1 ausente e vice-versa. Imaginemos. par exemplo, que urn artigo no jomal nos informa que, dos ciganos re- e dlferen~a~. podemos Iidar com eles de forma mais eeo- forte consistencia entre os indfcios observados
gistados no Arquivo de Identifica~ao de Lisboa, IO por cenlo tern cadastro 0 que podemos concluir desta informa~ao? n6mica. (p. 227). na pessoa e as expectativas associadas a cate-
Que os ciganos se caracterizam par uma forte marginalidade? Se 0 fizessemos, estarfamos a pressupor que existe uma goria confirma a categoriza~ao. Y chama-se Oli-
fOlte correlayao entre 0 facto de ser cigano e a facto de ter sido apanhado a infringir a lei. Mas nao podemos inferir . Mas quais sao os criterios que nos permitem veira de Figueira e tambem veste uma djellaba.
essa correlayiio. De facto, a «informayfio» apenas estabelece que dos membros do grupo citado, IO par cento apresen -
tncluir alguem numa dada categoria? Mesmo a Ou seja, apresenta indfcios inconsistentes
tam essa caracleristica e que 90 par eento nao a apresentam. No entanto, nada sabemos sobre 0 resto da populayiio.
E possivel, pOl' exemplo, que dos portugueses nao-ciganos registados nesse arquivo, tambem 10 por eento tem cadas- um nfvel dicotomico muito simplista, quantas (0 nome) e indfcios consistentes (a djeUaba)
tro. Ou seja, e possivel que. de facto, nfio exista eorrela~iio entre os aeontecimentos «ser cigano» e «ter eadastro».
340
• 341

com a categoria. Se a categoria for suficien- ra~a sao as categorias mais heurfsticas, POr ith e Zarate, esta norma depende da prepon- diam mais rapidamente «sim» para as fotografias
temente forte, provavelmente a categoriza~ao reflectem distin~oes fundamentais ao nfvelque Sfl1' ncia numerica e da domina~ao sociopolftica. de homens do que de mulheres. Ou seja, tratando-
. do a
inicial persistini (<<este negro cirabe tern urn comportamento e, aSSlm, tornam-se adaptar derEsta exp I'Ica~ao
- reso Ive em pa rt e uma questao
- -se de verificar urn criterio racial («negro»), a
nome portugues») . Z e «sorridente». 0 indlcio e . d' IVas _ respond ida pela no~ao de categorias primi- inexistencia de outra categoria minoritaria
porque permltem pre Izer com urn grau eleVad
oao ,
irrelevante para a categoria. Nesse caso, tal de certeza 0 comportamento dos seus memb
- d ,.
°
ros. u.vaS. Imaginemos que encontravamos urn casal
(<<mulher»), facilitava a decisao dos sujeitos. No
como no anterior, e a for~a da categoria que M as nao correspon era IStO a urn estere6ti ') ultirracial (marido negro, mulher branca). Que mesmo sentido, quando se tratava de verificar a
determina a categoriza~ao de Z. Se a categoria Nao existe evidencia empfrica para 0 f..cto !o. ;mensao categorial teria 0 maior peso na nossa dicotomia homem-mulher, a decisao era tomada
tiver pouca for~a activacional, geraremos sub- genero (ver Eagly, 1987), a idade, e, menos ain; I rcep~ao? A ra~a ou 0 genero? De forma auto- mais rapidamente quando nao surgia a possibili-
tipos da categoria inicia\. Se esta recategoriza- a ra~a serem naturalmente mais preditivas d~ peatica, tanto poderia ser «urn homem e uma mu- dade alternativa minoritaria ou dominada negro» .
~ao se confirmasse, operarfamos uma diferen-
rn b ., Em suma, a ideia de «norma cultural» per-
comportamento dos seus membros do que Outr Iher» , como «urn ranco e .um negro», ~a que. ta~t.o
cia~ao no seio da categoria (arabes com nomes categorias aIternativas (Hamilton & Shenna~ o generO como a ra~a senam categonas pnmltl- mite-nos predizer que uma categoria maioritaria
portugueses res arabes com nomes arabes) . Se a 1994). Poderfamos ainda admitir que 0 genero ,a' vaS. A explica~ao baseada na norma cultural, ou dominante gera uma percep~ao do alvo do
recategoriza~ao fosse infirmada, passariamos a idade, e a ra~a sao categorias que correSpondem pel o contrario, permite-nos predizer que, de am- estereotipo em termos de categorias supra-orde-
encarar a pessoa em termos dos seus atributos a atributos perceptivamente muito salientes. No bas, a mais saliente seria a menos frequente ou a nadas, ou mais gerais: para 0 observador, urn
individuais e nao em termos de uma inclusao entanto, a evidencia empfrica demonstra que em rneno s dominante em termos sociopoifticos. As- homem branco corresponde a uma «pessoa» em
categoria\. Neste caso, safamos do domfnio dos certas circunstancias, a curto ou a medio prazo sim, se partilhassemos a norma cultural, seria gera\. Por outro lado, uma categoria minoritaria
estereotipos e entravamos no da «forma~ao de quando possufmos conhecimentos suficiente~ mais provavel vermos este casal imediatamente ou dominada gera uma percep~ao em termos
impressoes». acerca de outras categorias, ou quando recorre- como uma mulher e urn negro do que como uma subordinados: uma mulher branca seria inclufda
A categoriza~ao em termos de categorias mos repetidamente a estas ultimas, as categorias branca e urn homem, por exemplo. 0 criterio de na categoria das «mulheres», e urn homem negro
primitivas seria 0 caso mais geral dos estereoti- primitivas perdem a sua supremacia. Como pode- categoriza~ao fornecido pela norma cultural au- seria inclufdo na categoria dos «negros».
pos, aquele que requer menor esfor~o cognitivo, rao, nesse caso, ser consideradas como automa- mentaria a saliencia das caracterfsticas proprias
e que so e posto em causa por uma conjuga~ao ticas e universais? da categoria (minoritaria ou dominada) «negro»,
de factores que levarao ou a uma nova catego- em detrimento das caracterfsticas associadas a 2.3. 0 principio do metacontraste
riza~ao em termos de outra categoria primitiva, categoria (maioritaria ou dominante) «homem».
ou a uma subcategoriza~ao no seio da primeira 2.2. A diferenciafiio Pelo contrario, ao deparar-se uma mulher branca, Voltemos ao mercado arabe. Imaginemos que,
categoria activada, ou, mais dificilmente, a uma em relafiio as normas as caracteristicas associadas a categoria minori- ao virar de uma esquina, nos encontramos no
impressao individualizante (ver tambem Brewer, taria e/ou dominada «mulher» sobrepor-se-iam meio de uma concentra~ao de pessoas. Podemos
1988). Mas esta explica~ao suscita uma serie de Segundo Zarate e Smith (1990), as categorias as caracterfsticas proprias da categoria maiori- distinguir algumas munidas de capacetes, bastoes
problemas. E verdade que podem existir catego- sociais mais salientes sao aquelas que se des- laria e/ou dominante «branca». e escudos de plastico transparente, e outras que
rias mais acessfveis (por exemplo, a ra~a) do viam da tendencia central daquilo que os obser- Num dos seus estudos, Zarate e Smith (1990) transportam cartazes e gritam palavras de ordem.
que outras (por exemplo, a altura): se encontrar- vadores consideram como uma norma cultural. expuseram os sujeitos a uma etiqueta (branco, Neste primeiro caso, nao existem duvidas em cate-
mos urn indivfduo do sexo masculino, de pig- Por exemplo, quando utilizamos a expressao negro, mulher ou homem). Essa etiqueta era gorizar os intervenientes como «manifestantes»
menta~ao escura e com dois metros e dez, e «aquilo que os observadores consideram como seguida por uma serie de fotografias que podiam e «poifcias». Mas, eis que surge urn novo grupo.
provavel que 0 vejamos a priori mais como urn uma norma cultural», como representamos estes representar homens brancos ou homens negros, Neste grupo, as pessoas nao transportam qualquer
«negro» do que como uma pessoa «alta». Mas, observadores? Como mulheres negras? Prova- mulheres brancas ou mulheres negras. A tarefa panoplia militar, sao tambem portadores de car-
na logica deste modelo, nada permite saber se 0 vel mente nao. Quando nos referimos a uma pes- dos sujeitos era a de confirmarem ou negarem a tazes, e gritam igualmente palavras de ordem. S6
veremos primeiro como urn «homem» ou como soa sem mencionarmos as suas caracterfsticas, e adequa~ao entre a etiqueta e a fotografia, car- que, enquanto os primeiros manifestantes trajam
urn «negro», ja que ra~a e genero sao categorias porque, implicitamente, nos referimos a alguem regando 0 mais rapidamente possfvel num botao de fato negro e de chapeu, tern tran~as e longas
igualmente primitivas. Para alem disso, como que «esta dentro das normas». Nas sociedades «sim» ou «nao». Ou seja, a velocidade de reac~ao barbas, os segundos trajam de djelabba e apre-
explicar que certas categorias sejam universal- europeia e norte-americana, a norma cultural e a dos sujeitos indicaria 0 criterio de categoriza~ao sentam uma serie de atributos tipicamente arabes.
mente dominantes sobre a nossa percep~ao? do homem branco: e mais «normal» ser-se branco dominante. Os resultados mostraram que os sujei- o comportamento e aparencia dos primeiros
Poderfamos admitir que 0 genero, a idade e a do que negro ou homem do que mulher. Para tos que haviam recebido etiquetas raciais respon- poderia nao mudar. Mas, enquanto que, no caso
342
• 343

anterior, foi suficiente categoriza-Ios como nova inforrna~ao. A investiga~ao mostra


«manifestantes» (por oposi~ao a «polfcias»), para esses efeitos se prendem com a selec~ao qUe PRlNciPIO DO METACONTRASTE
darmos sentido a situa~ao observada, no caso informa~ao, com a sua codifica~ao e recu de
presente categoriza-Ios-emos ja como judeus (por ra~ao, e com os processos de infereneia qu Pe. Como explicar, agora, a inclusao categOlial de Urn individuo? Irnaginemos que assistfamos a urn debate poll-
e du" 'co entre 10 pessons, e que, no fim do debate, ns posi~oes defendidas pOl' essas pessons podiam ser esquematizadlls
oposi~ao a poifcias e a palestinianos, por exem- deeorrern. I
t~(1undO a tahela apresentada abaixo. Provavelmente, no contexto da discussiio 0 metacontraste levar-nos-ia a inferir
plo). Ou seja, categorizarfamos as pessoas da 5 u~ os participantes na disCLlssiio se organizam em dois grupos. A vista desarmada, estes grupos sao compostos,
forma mais heurfstica possfvel, aquela que me- !spectivamente, pelas pessoas A,B,C, e D (os «pro») e F,G,H,I,J (os «anti»).
Ihor contribui para a compreensao do contexto 3.1. Distorfoes na seleCfQo
social em que a categoriza~ao ocorre (Haslam & e recuperafQO Z::> pr6 Z::> anti
Turner, 1992; Turner, Hogg, Oakes, Reicher e o Nazismo... PESSOA GRUPO MCR anti MCRpr6 MCRanti MCR pr6
de informafQO estereotipica
Wetherell, 1987) . Dito de outro modo, segundo 7. e urn crime hediondo J anti - 3.68 -- 3.13
os diversos contextos, a nossa tarefa enquanto
observadores e maximizar cognitivamente a
Urna das consequencias dos estereotipos e
. u
6. einaceitlivel GHI anti -- 7.20 -- 5.00
denos levarern a prestar mals aten~ao aos indl_ 5. euma ditadura indesejavel F anti -- 2.08 -- 2.50
probabilidade de que as diferen~as grupais se
cios eonsistentes com as expectativas que deft. 4. euma ideologia Z ? 1.00 -- -- 1.00
tornem claras. Esta ideia, inspirada em trabalhos
anteriores (por exemplo, Bruner, 1957), pode ser
nern esses estereotipos do que a outros indfcios. 3. nito IS for<;osamente mau 0 pr6 2.40 -- 2.01 --
formalizada atraves do princfpio de metacon-
Por exemplo, Cohen (1981) pediu a urn primeiro 2. e bom dentro de certos Iimites Be pr6 4.00 -- 5.48 -
traste (Turner et ai, 1987; ver tam bern Hogg,
grupo de sujeitos que avaliassem a probabilidade 1. ea melhor solu<;iio A pr6 2.86 -- 3.51 --
de urna ernpregada de balcao ou uma biblio-
1992; Hogg & McGarty, 1990) (ver Caixas desta
tecaria possufrern cada uma de 90 caraeterfs.
pagina e da pagina seguinte). Os valores numericos correspondem as razoes de melacontrnste cnlcu)adas , segundo a f6rmuln dada acima,
tieas. Com base nas respostas destes sujeitos, a para cada membro. Podemos traduzir estes valores pelos seus grdus de perten~a ou de tipicalidade na categoria. As
autora eonstruiu urn filrne de 20 rninutos que duas colunas mnis adireita correspondern aos valores obtidos se Z fosse incluldo na categoria «anti». Os valores das
rnostrava urna con versa entre urna mulher e 0 duas co)unas anteriores correspondem aos val ores obtidos se considerassemos que Z pertence Ii categoria «pro».
3. Estereotipos e distoq;oes rnarido, em que ela Ihe contava 0 que tinha feito Assim, por exemplo, pant a pessoa A 0 metacontmste. considerando Z como pertencente aos <<pr6-nazismo», corres-
no processamento durante 0 dia. No filme, a rnulher apresentava 0 ponde a:
de nova informa~ao mesrno nurnero de caraeterfsticas tfpicas de uma
MCRz
[(1 -5)+3(1 -6)+(1 -7)1]/5
= 2.86
biblioteearia e de urna ernpregada de baldo. [12(1 -2)+(1 -3)+(1-4)1] /4
Uma segunda questao e saber quais sao os Urn segundo grupo de sujeitos devia, entao, ver Como se pode ver, independentemente da categoria em que incluirmos Z, os membros Bee, por urn lado, e
efeitos dos estereotipos no processarnento de o filrne. Mas, enquanto uns eram informados G, H, e I, por outro, sao sempre os mais tfpicos dlls suns respectivas categorias. au seja, sao estes os que se encon-
tram 0 mais proximos posslve) de todos os outros membros das suas categorias e 0 mais afastados posslvel dos mem-
bros da outra categorin. Provavelmente, se nos perguntassem em que acreditam, na sua generalidade, os membros
CALCULO DO METACONTRASTE
dog grupos X e Y, generalizarfamos para as categOJ;as a partir destas posi~Oes prototipicas, e dirlamos que os
primeiros acreditam que «0 nazismo e born dentro de certos Iimites», enquanto que os segundos acreditam que
«0 nazismo e inaceitavel». Ou seja, assimilamos os membros de cada categoria aos seus respectivos prot6tipos.
E em que grupo incJuirfamos Z?
MCRk=------~n~-------­ Vma vez que as duas categorias estivessem estahelecidas, a probabilidade de incluirmos urn novo membro
L m I= 1 IIk - Iii numa delas viria da adequa~ao entre os seus atributos e 0 prot6tipo da categoria, tal como definido pelo metacon-
traste e, logicamente, tambem do seu contributo para a diferenci1l9iio categorial. Se inclufssemos Z na categoria
m-l «anti», isso contribuiria mais para a diferencia~ao entre as duas categorias (os seus prot6tipos corresponderiam a
em que: posi~Oes mws diferenciadas: 4.00 e 720) do que se 0 incJul.c;semos na categoria «pr6» (respectivamente 5.00 e 5 .48).
Ik = posi~iio do indivfduo k na dimensiio
0i = posi~Oes dos membros de outras categorias na mesma dimensiio
o Contexto de categoriza~ao e a nossa tend!!ncia para construirmos perceptivamente uma c1areza cognitiva entre as
categorias (cf. Oakes, Haslam & Turner, 1994; Turner etal., 1987) Jevar-nos-ia a considerarZ como Urn membro do
Ii = posi~Oes dos restantes membros da categoria de perten~a de I
m total de membros da categoria de I grupo anti-nazi, mesmo se, ainda assim, 0 considerassemos relativamente atfpico do seu grupo.
n = total de membros da outra categoria
344
• 345

antes de que se tratava de uma bibliotecaria, os -intelectuais (n = 3); soliddrios (n = 17)· n~ a


menta enviesados da informa~ao obtida. Mas semelhantes as dos outros membros do endo-
outros eram informados de que se tratava de 'd"
-soI1 arlOs n = ; sem re arao com Os ' Qo.
( 3 ) I - Il ditorqaes observadas no processamento de grupo e diferentes das cren~as dos membros do
uma empregada de baldio. 0 objectivo era saber, .
nores n =
( 10) 0 .. ante.
. s sUJeltos estavam dividid ~SfOr!11aqao sobre os grupos podem funeionar exogrupo. Por exemplo, Wilder e Allen (1978)
no fim do filme, de quais caracterfsticas se recor- · -
em duas con dI~oes, segund 0 a 'mlorma~ao
l; Os III rn objectivos bern definidos e, nomeadamente, categorizaram os sujeitos em grupos mfnimos,
d d
recebiam acerca do grupo (grupo com obieq~e
CO • ,.
davam os sujeitos dos dois grupos. Os resultados rn objecUVOS A

proxlmos a procura e coeren- supostamente com base nas suas preferencias


. I' . J Ct!.
C?a de que falava Tajfel (1969). Nos estudos que artfsticas. Em seguida, os sujeitos responderam
mostraram que estes se recordavam melhor das vos. mte ectualS, gr~po c.om obJectivos de soli.
caracterfsticas consistentes com 0 estereotipo que danedade). Para alem dISSO, os sujeitos for ~~screvemos de seguida, os sujeitos distorceram a urn questionario de atitudes e foram depois
havia sido induzido a partida e, mesmo, que am. d a d'IVI'd'd
I os em d uas outras condi~oes earn inforrna~ao sempre no sentido de preservar a informados acerca das semelhan~as e diferen~as
faziam confusoes de reconhecimento, afirmando fun~ao do momenta em que recebiam a in~ rn ~iferencia~ao entre os grupos com que se identi- entre as suas proprias atitudes e as dos membros
ter visto caracterfsticas que, na realidade, nao ma~ao acerca dos objectivos do grupo (antes~- fica vam (endogrupo) e os grupos opostos (exo- do endogrupo e do exogrupo. Quando Ihes foi
tinham visto, mas que eram consistentes com apresenta~ao
- dos comportamentos, depois daa grtlpo). pedido que ordenassem as suas preferencias pelas
Howard e Rothbart (1980) dividiram os seus informa~6es recebidas, os sujeitos preferiram as
aquele estereotipo. Ou seja, se estivermos a apresenta~ao dos comportamentos). Os resulta_
sujeitos em grupos mfnimos (Tajfel, Billig, Bundy informa~aes que os assemelhavam ao endogrupo
observar urn indivfduo que, antes, inclufmos dos mostraram que, tanto para 0 grupo «solida_
numa categoria, poderemos, posteriormente, rio», como para 0 grupo «intelectual», os sujei_ & Flament, 1971; ver Amancio, neste volume), e os diferenciavam do exogrupo (ver tam bern
esquecer informa~oes inconsistentes com a tos se recordavam melhor dos tra~os consistentes apresentando-lhes uma folha de papel cheia de Wilder, 1981).
categoria, ou mesmo nem sequer nos aperceber- com os objectivos do grupo do que de tra~os pontos e pedindo-lhes que dessem uma estima-
mos dessas informa~oes. Pelo contrario, podere- inconsistentes ou irrelevantes. Para alem disso tiva do numero de pontos existentes no papel.
mos mesmo pensar que vimos caracterfsticas os sujeitos que ja conheciam os objectivos d~ Em seguida, os sujeitos foram divididos (sem 0 3.3. Codijieafiio dis toreida
que, na realidade, nao vimos, mas que se ade- grupo, antes de terem recebido os tra~os, reeor- saberem, de forma totalmente aleatoria) em sobre- de informafiio
quam bern ao estereotipo. davam melhor os tra~os consistentes e pior os -estimadores e sub-estimadores. Os sujeitos reee-
Noutro estudo classico, Snyder e Uranowitz tra~os inconsistentes com 0 grupo, do que os beram, entao, uma lista de tra~os positivos e Os estudos anteriores mostram que podemos
(1978; ver tambem Snyder, 1981) apresentaram sujeitos que so eonheceram os objectivos do negativos, devendo atribuir estes tra~os ao endo- ignorar ou esqueeer informa~ao de modo a que
aos seus sujeitos urn relato sobre diferentes grupo depois de terem recebido os comporta- grupo e ao exogrupo. Os resultados mostraram essa informa~ao nao ponha em causa as nossas
aspectos da vida de uma jovem, Betty K. Uma mentos. Este ultimo resultado demonstra que a que, embora nao tivessem qualquer informa~ao expectativas estereotfpicas e a diferencia~ao entre
semana mais tarde, alguns sujeitos foram infor- distor~ao nao ocorreu na fase de recupera~ao. objeetiva nesse sentido, os sujeitos atribufam categorias. Mas talvez exista uma forma ainda
mados de que ajovem era lesbica, outros, de que De facto, se fosse este 0 caso, tanto os sujeitos mais tra~os positivos e menos tra~os negativos mais sofisticada de tratarmos essa informa~ao: a
era heterossexual, e outros ainda nao receberam da condi~ao «antes» como os sujeitos da con- ao endogrupo do que ao exogrupo. Este feno- distor~ao interpretativa (ver Quadro V).

qualquer informa~ao acerca das suas preferen- di~ao «depois» mostrariam 0 mesmo numero de meno, que corresponde ao classico favoritismo Urn exemplo dos efeitos de distor~ao dos
cias sexuais. Posteriormente, os sujeitos deviam erros. Mas so os sujeitos da primeira condi~iio 0 em rela~ao ao endogrupo, revela uma tendencia, estereotipos na codifica~ao de informa~ao esta
recordar-se das atitudes da jovem em rela~ao fizeram. Ou seja, uma vez activada a etiqueta por parte do sujeitos, para organizarem a infor- patente num estudo de Darley e Gross (1983).
aos pais, de informa~oes sobre as suas amizades categorial, a informa~ao inconsistente ou irrele- ma~iio de forma consistente com 0 valor que Estes autores mostraram que as expectativas
e frequenta~oes, das suas atitudes em rela~ao a vante foi, de imediato, filtrada e, provavelmente, atribuem a urn estereotipo. Num outro estudo, estereotfpicas podem distorcer as avalia~oes dos
pessoas de ambos os sexos. Os sujeitos recor- nem chegou a ser integrada na memoria. com earacterfsticas semelhantes, Howard e comportamentos dos membros dos grupos
davam-se melhor de informa~oes consistentes Rothbart (1980) mostraram que os sujeitos se estereotipados, mesmo quando esses comporta-
com as cren~as estereotfpicas que Ihes tinham reeordavam melhor dos tra~os positivos do que mentos nao tern, objectivamente, nada aver
sido veiculadas. negativos atribufdos ao endogrupo e melhor dos com 0 estereotipo. Nesse estudo, os sujeitos
3.2. Distorfoes eognitivas
Rothbart, Evans e Fulero (1979) forneceram tra~os negativos do que positivos atribui'dos ao viam urn pequeno filme que mostrava uma
e «proeura de eoerencia» exogrupo.
uma lista de 50 comportamentos aos seus crian~a a desempenhar urn teste de inteligencia.

sujeitos, de tal forma que cada comportamento Wilder e eolegas conduziram uma serie de Mas, enquanto alguns sujeitos eram informados
Os estudos referidos acima mostram que OS
era associado a urn membro de urn grupo. Esses estudos demonstrativos de que 0 simples facto de a crian~a provinha de urn estatuto social
estere6tipos funcionam como mecanismos que
comportamentos tinham sido, antes, classifica- de categorizar os sujeitos em dois grupos os leva baixo, outros sujeitos eram informados de que 0
auxiliam 0 tratamento de informa~ao, embora esse
= a esperar que as suas proprias cren~as sejam seu estatuto social era elevado. Quando Ihes
dos em 5 categorias: intelectuais (n 17); nao- auxflio tenha urn pre~o: a selec~ao e 0 arrn aze -
• 347
346

tiVarnente 69 por cento e 75 por cento, no caso rela~ao ilusoria (Hamilton & Gifford, 1976).
DISTOR(::OES INTERPRETATIVAS BASEADAS EM ESTERE6TIPOS pee ..., agred ido negro e de urn agredido branco. Uma correla~ao ilusoria ocorre quando temos a
de UI" .
eornportamentos conslstentes com 0 estereo- impressao de que dois acontecimentos (por
Competi~fio de velocidade entre um famoso ciclista espanhol (Jose Marquez) e urn famoso ciclista portugue AS
. 0 eram atn'bUl'd os a causas d · · · · en-
ISposlclonals, exemplo pertenra a um grupo e ocorrencia de
(Dario Pais). Final da competi~ao com a vit6ria de Dario Pais. Dia seguinte. TItulo de A Ga:eta dos De~pol7os~ tiP
«Fantastica competi~iio Luso-Espanhola: Portugal em primeiro! Espanha em ultimo!» Tfnllo de La Gazeta de Ias.
anto que os comportamentos .mconslstentes
.
0 um traro) estao associados, embora na realidade
Deportes: «Fantastic a competici6n Hispano-Portuguesa: Espana en segundo! Portugal en penultimo!» ~~ a causas situacionais (ver tam bern Bode- nao 0 estejam. A que e devida esta ilusao? (ver
nhausen & Wyer, 1985; Sagar & Schofield, 1980). Caixa).
Note- se que estes estudos demonstram que os As ilusoes de correla~ao provem de uma
stereotipos funcionam como filtros ou princf- interac~ao entre as caracterfsticas de certos estf-
e·os reinterpretativos de informa~oes inconsis- mulos e os processos de tratamento de infor-
pi ,
ten tes . E verdade que outros estudos, geralmente ma~ao que uti1izamos. No que diz respeito as
nao no domfnio dos estereotipos, mostram, pelo caracterfsticas dos estfmulos, os estfmulos
co ntraDO, que a informa~ao inconsistente pode menos frequentes sao geralmente os que mais
gerar viol a~oes de expectativas, por sua vez sobressaem do conjunto dos estfmulos a que
geradoras de surpresa, aten~ao, maior esfor~o de estamos expostos (Hamilton & Gifford, 1976).
codifica~ao e, logo, melhor recupera~ao (ver Has- No que respeita ao modo como tratamos a infor-
tie, 1981, 1983). No entanto, estes ultimos estudos ma~ao, temos tendencia para negligenciar 0
manipulam as expectativas dos sujeitos acerca caracter informativo das nao-ocorrencias (por
de indivfduos isolados e/ou utilizam categorias exemplo, a ausencia de informa~ao sobre a per-
artificiais que nao incluem 0 proprio sujeito centagem de nao-ciganos com registo criminal),
(Hamilton & Sherman, 1994). que sao ainda menos salientes, embora funda-
mentais para 0 estabelecimento de correla~oes
(idem). au seja, para alem de negligenciarmos
3.4. Estereotipos e ilusoes de correlariio as nao-ocorrencias, discriminamos tambem
foi pedido que avaliassem 0 desempenho da significativamente superior com 0 entrevistado melhor as ocorrencias pouco frequentes (ex is-
crian~a, os primeiros sujeitos consideraram-no do que quando pensavam tratar-se de urn negro. Outra explica~ao da codifica~ao de infor- tern menos portugueses ciganos do que por-
inferior aos segundos, embora 0 desempenho Num outro estudo (Duncan, 1976), sujeitos ma~oes estereotfpicas baseia-se na no~ao de cor- tugueses nao-ciganos em Portugal, por exem-
fosse sempre 0 mesmo. brancos deviam assistir, atraves de urn monitor
Urn outro exemplo deste processo de dis- de vfdeo, a realiza~ao de uma tarefa por dois
indivfduos. Segundo as condi~oes, tratava-se de ESTERE6TIPOS E ILUSAO DE CORRELA(::AO
tor~ao esta patente num estudo de Dienstbier
(\ 972). Neste estudo, sujeitos de ra~a branca dois brancos, de dois negros, ou de urn branco e
Recordemo-nos de que uma correla~ao positiva total entre dois fen6menos (<<ser portugues» e «ser hospi-
deviam assistir a uma entrevista atraves de urn de urn negro. No decurso da tarefa, urn dos dois
taleiro») implica que, sempre urn fen6meno esta presente (<<Fulano e p011ugueS») 0 outro tambem estli presente
monitor de televisao. Mas a imagem do entre- agredia 0 outro. as sujeitos deviam indicar em (<<Fulano e hospitaleiro»), mas tambem que, quando urn esla ausente (<<Fulano nao e portugues» 0 outro tambem esta
vistado aparecia distorcida de modo a tomar que medida essa agressao tinha sido motivada aU5ente (<<Fulano nao e hospitaleiro»). Vma corre]a~fio negativa total OCOire sempre que urn fen6meno esta presente e
irreconhecfveis as suas caracterfsticas ffsicas. por caracterfsticas disposicionais do agressor ou o outro esta ausente e vice-versa. Irnaginemos. por exemp]o, que urn artigo no jomal nos infOima que, dos ciganos re-
por caracterfsticas situacionais (Capftulo VII). gistados no Arquivo de Identifica~iio de Lisboa, 10 por cento tern cadastro 0 que podemos concluir desta informa~ao?
Na apresenta~ao, os sujeitos eram inform ados
Que os ciganos se caracterizam por uma forte marginalidade? Se 0 fizessemos, estarfamos a pressupor que existe uma
de que se tratava de urn indivfduo de ra~a Quando 0 agressor era branco, 13 por cento dos
fOite correla~ao entre 0 facto de ser cigano e 0 facto de ter sido apanhado a infringir a lei. Mas nao podemos inferir
branca ou de ra~a negra. A entrevista prosseguia. sujeitos e 17 por cento dos sujeitos interpr~­
essa correla~i!o. De facto, a «infOlma~ao» apenas estabelece que dos membros do grupo citado. 10 por cento apresen-
No final, os sujeitos deviam indicar em que taram a agressao como devida a causas dispOSI- tam essa caracterlstica e que 90 por cento nao a apresentam. No entanto, nada sabemos sobre 0 res to da poPllla~ao.
medida partilhavam as opinioes expressas pelo cionais, respectivamente no caso em que 0 agre- Epasslvel, por exemplo, que dos portugueses nao-ciganos registados nesse arquivo, tambem 10 por cento tern cadas-
entrevistado. Quando pensavam tratar-se de urn dido era branco ou era negro. Mas, quandO 0 tro. Ou seja, e possivel que. de facto, nao exista correla~ao entre os acontecimentos «ser cigano» e «ter cadastro».
branco, os sujeitos manifestavam urn acordo agressor era negro, esse numero subiu para, reS-
348

349

plo). Estas ocorrencias tornam-se, assim, mais ficar, a propor~ao de tralt0s positivos e negaf que afirmam Hamilton e Gifford. a ilusao de fundidade do tratamento dessas informa~oes.
, 1Vos
acesslveis a percep9ao e mais disponlveis em dentro de cada grup? e sempre a.meSma (8/1 8::::: dOrrela9ao nao depende exclusivamente da inca- Imaginemos que vamos encontrando esses turis-
memoria quando recuperamos informa~ao sobre =419 = 0.44). Ou seJa, a correla9ao entre 0 gr cOcidade dos sujeitos para estabelecerem a ver- tas vezes suficientes para os conseguirmos dis-
uma categoria (Hamilton, 1981). Aliadas a A ou B e a ocorrencia de traltos POSitivoUPO psdeira correla~ao existente entre a positividade tinguir uns dos outros. Urn esta sempre a ler,
s da a negatlV1
. 'dade da .mJorma~ao
negligencia de nao-ocorrencias as sobrestima- negativos e nula. No entanto, os resultados rn e C •
e os grupos aos outro esta sempre a beber cerveja, outro esta
~oes de ocorrencias pouco frequentes produzem traram que os sujeitos sobrestimaram a 0 Os- OU · c • ,
uais essa mJormaltao esta assocla'd a. PI
e 0 me-
d . COr_
sempre a mergulhar na piscina. Se nos pergun-
tarem 0 que pens amos destes turistas, e prova-
A •

ilusoes de correla~ao. rencla e comportamentos negatlvos no gru q[10.


s quando a identidade dos sujeitos esta em
E posslvel que, tam bern no caso dos estereo- minoritario, confirmando, assim, a hipotese ~o susa (0 caso do endogrupo no estudo de Schaller vel que digamos que «uns gostam de ler. outros
tipos estabele~amos correla~oes falsas entre correla9ao ilusoria. No segundo estudo l.r a c Maass), a ilusao de correla~ao pode corres- sao grandes apreciadores de cerveja, e outros
• na-
os grupos e certas caracterfsticas. 0 raciocfnio milton e Gifford reproduziram estes resultados eonder mais a uma estrategia de salvaguarda de gostam de dar mergulhos». Mas imaginemos
seguido por Hamilton e colegas e 0 seguinte: mas invertendo as propor9 0es de tra~os POsi~ p idenU'dade poslliva
uma . . d 0 que a uma mera que 0 autocarro chegou na vespera da nos sa par-
Certos grupos fornecem-nos mais informaltoes tivos e negativos. Os sujeitos sobreavaIiararn a i[lcapacidade cognitiva dos sujeitos (ver tam- tida e que nao tivemos tempo de distinguir os
do que outros, ou por serem real mente predomi- ocorrencia de tra~os positivos no grupo rnino_ b6m Maass & Schaller, 1991). Eis, portanto. membros do grupo uns dos outros. Se nos per-
nantes em termos numericos, ou por contactar- ritario. rnais uma ilustra~ao da «procura de coerencia» guntarem 0 que pensamos deles, e provavel que
mos mais frequentemente e em situa90es mais No entanto, a correlaltao ilusoria corresponde [lOS julgamentos estereotfpicos. digamos que se trata de urn grupo de indivfduos
variadas com os seus membros. Outros grupos , a algo mais do que uma simples distorltao cog- que, «quando nao estao a ler, e porque estao a
numericamente inferiores ou que observamos nitiva, ja que nao ocorre de forma arbitniria beber cerveja ou a mergulhar na piscina». Ou
com menos frequencia tornam-se, assim, mais quando os sujeitos fazem julgamentos acerca de 4. Organiza~~o cognitiva seja, enquanto no primeiro caso organizamos a
discrimimiveis. Neste ultimo caso, todas as ocor- grupos a que pertencem. Por exemplo, SchaUer informa~ao sobre 0 grupo em termos de pessoas,
dos estereotipos em termos
rencias adquirem urn peso relativo superior ao e Maass (1989) categorizaram arbitrariamente no segundo organizamo-la em termos de carac-
das ocorrencias nos primeiros. Para alem disso, os seus sujeitos em dois grupos. Outros sujeitos
de «abstrac~oes» ou de «exemplares»
terfsticas ou atributos gerais do grupo. Enquanto,
as normas sociais levam-nos a esperar encontrar foram inclufdos numa condiltao de controlo em no primeiro caso, essa organiza~ao nos levara a
comportamentos social mente desejaveis, mais do que nao eram categorizados. Em seguida. os ver os grupos em termos de subtipos (ver caixa
que comportamentos social mente indesejaveis. sujeitos receberam informa9ao positiva e nega- 4.1. Organizariio abstracta da pagina seguinte), no segundo, tratar-se-a de
Esta expectativa torna qualquer comportamento tiva acerca dos membros do endogrupo e do e individualizada urn unico estereotipo, mais geral e abstracto do
ou caracterfstica negativos mais salientes aos exogrupo, de tal modo que a correlaltao entre 0 das crenras estereotipicas que 0 primeiro. A nossa percep~ao do grupo
nossos olhos. Assim, se nos apresentarem urn grupo e a positividade da informaltao estava sera, neste caso ... mais estereotipada!
grupo que nao nos e familiar, e dentro desse controlada. Os sujeitos deviam, posteriormente. Debrucemo-nos agora sobre outra questao. Este exemplo ilustra a ideia defendida por
grupo ocorrerem comportamentos ou caracterfs- julgar cada urn dos grupos no gera!. Os sujeitos Irnaginemos que estamos a passar ferias numa Rothbart (1981): uma maior familiaridade com
tic as negativos, tenderemos a exagerar a ocor- avaliaram sempre 0 endogrupo mais positiva- aldeia turfstica algarvia, e que, nesse dia, chega os membros de urn grupo toma a informa~ao
rencia desses comportamentos ou caracterfsticas mente do que 0 exogrupo. No entanto, ao desem- urn autocarro de turistas oriundos de urn pafs de mais facilmente codificavel em termos indivi-
no grupo . penharem uma tare fa de reconhecimento das que nunc a tfnhamos ouvido falar. Com 0 tempo, duais. Pelo contrario, uma menor familiaridade
Num dos seus estudos, Hamilton e Gifford informaltoes que tinham recebido, os sujeitos vamos observando 0 comportamento destes tu- resulta na sua organiza~ao em termos de tralt0s
(1976) mostraram aos sujeitos 39 frases descriti- mostraram recordar-se melhor da infonna~iio ristas, e e provavel que acabemos por construir abstractos. Este facto tern consequencias nos jul-
vas de comportamentos positivos ou negativos, desfavoravel ao endogrupo do que os sujeitos da algumas cren~as gerais sobre eles - urn este- garnentos grupais. Se a informa~ao tiver sido
referentes, cada uma, a uma pessoa identificada condi9ao de controlo. Aparentemente , ao avalia- reOtipo. Mas esse estereotipo pode ser criado de processada de forma estereotipada, 0 julgamento
pela sua pertenlta a urn grupo A ou B. 0 grupo rem 0 seu proprio grupo, os sujeitos seleccio- ~ormas diferentes. Para Rothbart (1981), as do grupo dependera sobretudo da frequencia de
A (maioritario) era descrito por 26 comporta- naram apenas a informa~ao conveniente para IOforma~oes sobre os grupos sociais podem or- apresentaltao de urn tra'to ao sujeito. Ou seja,
mentos, dos quais 18 eram positivos e 8 eram uma imagem positiva do grupo, embora tive:- ~anizar-se - ou em termos de tralt0s de persona- urn sujeito que receba 0 tralt0 inteligente dez
negativos. 0 grupo B (minoritario) era descrito sem armazenado em memoria toda a infonna~ao Idade ou em termos de pessoas. Isto depende, vezes e 0 tralt0 estupido uma vez, ten!. maior
por 13 comportamentos, dos quais 9 eram posi- (positiva e negativa) que )hes tinha sido fo~~­ r-r um lado. da quanti dade de informa~6es rece- tendencia a considerar 0 grupo como inteligente
tivos e 4 eram negativos. Como podemos veri- cida. Este facto pode significar que. ao con trMlO Idas, e, por outro, das oportunidades e da pro- do que como estupido, rnesrno se cada tra~o
t
350
351

. ter~os de tra~os negativos e urn ter~o de una e abstracta, passando a poder ser visto como
ORGANIZA<;AO DA INFORMA<;AO
dOISOS positivos (grupo negativo). Os sujeitos de- uma colec~ao de caracterfsticas de pessoas que
BASEADA EM TRA<;OS OU EM PESSOAS
u:a~ avaliar 0 grupo em geral e recordar-se dos pertencem ao grupo, mas que podem apresentar
"lOS apresentados. Os resultados mostraram diferen~as entre si. Se acreditassemos, por exem-
Para compreendermos as implica~oes do ponto de vista de Rothbart (1981) para a organiz~~~o da inform a~iio
estereotipica na memoria, atentemos no quadro seguinte. Esse quadro represent a as caractenstlcas de polfticos. tJ1Iy quando expostos a uma forte quantidade de plo, no estereotipo sociocultural e anedotico se-
que,
Pedimos ao leitor que fa~a de conta que e urn experimentador e que pe~a a dois sujeitos (S I e S2, ma~ mais Sujeitos . forrna~ao (64 tra~os associ ados a 64 pessoas), gundo 0 qual os «alentejanos sao calmos», nada
seria melhor) que olhem para 0 quadro durante 30 segundos, e que, em seguida, se recordem das caracterfsticas qUe III sujeitos baseavam os seus julgamentos na fre- nos impediria de acreditar ao mesmo tempo
viram. Mas, para S I, tapando a coluna da esquerda, e, para S2, deixando a coluna da esquerda a descoberto e OS encia de apresenta~ao-d 'd
os tra~os, In epen den- que existem alentejanos extremamente nervo-
qU .
""ente de estes estarem assoclados ou nao a
tell' sos. E possfvel igualmente dizermos que os
arios dos seus membros. Mas, se expostos a alentejanos sao «calm~s» por acreditarrnos que
"ouca informa~ao, os sujeitos baseavam os seus
82 81=> Ling KhendoJ. Husnie Harold
.u. UmenTirkh Fenny Massad Lifte o sUbtipo dos alentejanos «calm~s» e 0 mais fre-
P
·u1gamentos sobre 0 grupo, nao- na &..
uequencIa com
A'

quente (por exemplo, 40 por cento), mas que a


activista corajoso pacifista idealista Jque os tra~os eram apresentad
M. Luther King
os mas. Slm no soma das frequencias de alentejanos «hiperac-
John F. Kennedy mulherengo sorridente democrata firme lIumero de pessoas associadas a esses tra~os. Ou tivos» (30 por cento), de alentejanos «nervosos))
Sadam Hussein sizudo agressivo tenaz inteligente seja, quando tinham maior facilidade em proces- (+20 por cento), e de alentejanos «excitados))
Adolf Hitler fanatico militarista arrogante mrstico saT a informa~ao, os sujeitos organizavam-na em (+10 por cento), seja maior (= 60 por cento) do
termOs individualizantes, mas quando 0 proces- que aquela. Assim, a variabilidade percepcio-
tapando a primeira linha. samento de i nforma~ao implicava urn maior es- nada num grupo depende, pelo menos em parte,
A nossa hip6tese e que S 1 dara uma impressao mais negativa dos politicos do que S2, e que S2 se recordani foryo cognitivo, a informa~ao organizava-se em da familiaridade que temos com os seus mem-
melhor das caracterfsticas do que Sl. S2 teve a possibiJidade de organizar a informa~ilo em termos da pessoa
termos colectivos. bros. Ou seja, da quantidade de informa~ao que
conhecida que corresponde a cada )jnha, e recordar-se-a dessa informa~ao com a ajuda heurlstica desses casos fami-
liares. S 1, se nao for perito na resolu~ao de anagramas ou se nilo tiver feito alguma confusao com outros politicos,
Este estudo pode explicar, por exemplo, nos transmitem os seus membros e da oportu-
deparou-se, pelo contrario, com pessoas que nao Ihe sao familiares. Assim, 0 mais provavel e ter codificado a infor- porque temos cren~as mais estereotipadas ou nidade de tratarmos essa informa~ao, da dife-
ma~ao em termos dos tra~os. Como existem mais tra~os negativos (9) do que positivos (7), a sua impressilo podeni menos diferenciadas a proposito de grupos sobre rencia~ao interpessoal que ela traduz.
ter sido mais negativa. Para alem disso, S2 pade subcategorizar os polfticos em duas classes (os democratas e os os quais temos poucas oportunidades de trata- Uma das consequencias da ausencia de fami-
totalitarios), 0 que Ihe permite codificar a informa~ilo a luz deste novo criterio. Por sua vez, 0 encontro de atributos mento de i nforma~ao ou urn conhecimento liaridade sao as distorfoes taxonomicas e as
de valor contraditorio com a avalia~ao geral dos polfticos conhecidos (<<Kennedy era mulherengo», «Luther King
pouco profundo. Neste caso, a informa~ao sobre distorfoes situacionais (Quattrone, 1986). No
agitador», «Hitler decidido», e «Hussein inteligente») poderao ter gerado em S2 urn processamento mais profundo
o grupo e codificada de forma abstracta, porque caso dos exogrupos as informa~oes que recc-
prestamos aten~ao a frequencia absoluta em bemos sao muito frequentemente relativas a urn
detrimento da frequencia relativa das informa- tipo particular de membro e frequentemente
tiver side sempre associado com as mesmas aos sujeitos tra~os positivos e negativos sobre 90es sobre os seus membros. numa situa~ao unica. Por exemplo, a nossa
duas pessoas. Pelo contnmo, se a informa~ao membros de urn grupo ficticio (por exemplo,
representa~ao dos norte-americanos e, muito
tiver side organizada de modo individualizado, «Andre e generoso»; «Maria e trabalhadora»).
provavelmente, determinada por urn tipo de
o julgamento do grupo sera influenciado pelo Para metade dos sujeitos, cada tra~o estava sem- 4.2. Percepfiio de variabilidade e fami-
membros des sa categoria: os actores de
mlmero de pessoas com quem 0 tra~o estiver pre associado a uma pessoa diferente (exposi~ao liaridade com os grupos estereoti- Hollywood que vemos nos filmes e series tele-
associado, independentemente da frequencia com unica). Para a outra metade, 0 mesmo tra~o apa- pados: homogeneidade relativa do visivas. Mas os norte-americanos nao se limi-
que essa associa~ao tiver side apresentada: urn recia varias vezes associado a mesma pessoa. exogrupo tam provavelmente a esse tipo de pessoas e 0
tra~o apresentado dez vezes sempre associado Para alem disso, alguns sujeitos viam 64 tra~Os
tipo de pessoas que vemos nos filmes nao se
com uma pessoa X e urn tra~o apresentado uma (carga de memoria forte), enquanto outros viam Urn aspecto importante do estudo descrito e comportam do mesmo modo em todas as situa-
so vez associado com uma pessoa Y terao igual apenas 16 (carga de memoria fraca). Finalmente, demonstrar que podemos percepcionar urn ~oes. Urn estudo de Quattrone e Jones (1980)
peso no estereotipo. alguns sujeitos viam cerca de dois ter~o~ de gTupo como algo que admite urn determinado ilustra bern esta ideia. Os sujeitos participavam
Para testarem esta ideia, Rothbart, Fulero, tra~os posi~ivos e urn ter~o de tra~?s negat1v~~ gr~u de variabilidade. Ou seja, urn estereotipo num estudo sobre tomada de decisdo on de
Jensen, Howard e Birrell (1978) apresentaram (grupo positivo), enquanto outros Viam cerca delxa de ser necessariamente uma representa~ao observavam urn vfdeo no qual urn estudante
I Cen:ro de RecursoB I
352

353

participava noutro estudo sobre «biofeedback». urn, ja nao podera ser considerado como rn pe forma mais esquematica, poderemos re- organizam-se de acordo com uma dimensao hori-
Numa condi~ao, esse estudante escolhia esperar bro dessa categoria, e sera incJufdo noutra ell}. resentar as tres perspectivas na figura abaixo zontal e uma dimensao vertical. A dimensao hori-
sozinho pela sua vez de ser submetido ao teste. respeite os atributos apresentados. No dia_~!~e r or uma questao de simplicidade, utilizamos zontal corresponde a segmenta~ao das categorias
Noutra condi~ao, escolhia esperar acompa- raramente seguimos os criterios fonnais p la !tegorias naturais como exemplo). Na parte existentes a urn mesmo nivel de abstrac~ao (por
nhado de outros. Os sujeitos eram, entao, infor- critos pela perspectiva aristotelica. A invest~es. inferior do esquema, podemos ver a que corres- exempl0, os espanhois, os portugueses). A dimen-
mados de que 100 outras pessoas tiveram que ~ao no domfnio dos estereotipos tern mOstr:da• onderiam as representa~oes das categorias sao vertical refere-se a taxonomia hierarquica e
tomar uma decisao em condi~oes identicas a da que estes correspond em malS · a categorias p 0 ~Ave», «Mamffero» e «Peixe» segundo as tres inc1usiva dos diferentes niveis de abstrac~ao das
pessoa mostrada no vIdeo. A sua tarefa era babilfsticas ou exemplares. roo perspectivas: na optic a aristotelica, todos os categorias (por exemplo, os ibericos dividem-se
darem uma estimativa da percentagem dessas Na perspectiva probabilfstica, a perten~a membros da categoria tern 0 mesmo estatuto, ja em espanhois, e portugueses; os portugueses divi-
pessoas que teriam escolhido esperar sozinhas uma categoria define-se atraves do nivel d: que OS atributos que os definem sao apenas aque- dem-se em lisboetas, beiroes, alentejanos, etc.).
ou acompanhadas. Segundo as condi~oes, as semelhan~a dos membros com uma Sfntese do les que, por defini~ao, sao partilhados por todos A no~ao central do modelo de Rosch e a de
100 pessoas eram apresentadas como alunos da atributos dos membros da categoria. Ou seja, nii~ OS membros da categoria (urn objecto que nao diagnosticidade (cue-validity), que corresponde
universidade dos sujeitos ou como membros de existem atributos que definem de forma neces_ apresente um desses atributos, nao podera fazer ao principio essencial da organiza~ao categorial,
outra universidade. Os resultados mostraram sana e suficiente a perten~a a urn grupo. As cate. parte da categoria); na optica probabilfstica, cer- tanto na dimensao vertical como na horizontal
que os sujeitos generalizavam mais a partir da gorias sociais sao conjuntos com contomos tOS membros sao mais membros da categoria (por (Rosch, Mervis, Gray, Johnson & Boyes-
decisao da pessoa-alvo quanto ela pertencia ao pouco definidos (fuzzy sets), cujos membros exemplo, cao, pardal, ou truta) do que outros (por -Brahem, 1976). A diagnosticidade esta ligada a
exogrupo do que quando pertencia ao endo- variam segundo 0 grau em que sao mais ou exemplo, morcego, pinguim, ou peixe-voador), saliencia perceptiva (no caso de categorias
grupo. Dito de outro modo, para os sujeitos, os menos representativos do grupo. Por exemplo, porque apresentam atributos forte e excJusiva- directamente baseadas na percep~ao, como por
membros do endogrupo eram mais diferentes uma pessoa vestida a sevilhana sera provavel. mente associados a categoria (atributos prototipi- exemplo, as cores) e a acessibilidade cognitiva
uns dos outros (menos homogeneos) do que os mente incJufda na categoria «espanhola», dado cos, ou com urn forte valor diagnostico; ver (no caso de categorias mais abstractas). Para
membros do exogrupo·. que a sua indumentana e tipicamente espanhola. Quadro VIn), enquanto os outros apresentam estas ultimas (as que correspondem mais direc-
Como se organizam, entao, mentalmente, as Se a pessoa estiver a cantar 0 flamenco, a sua atributos comuns com outras categorias (atributos tamente aos estereotipos), podemos definir a
nossas cren~as acerca dos grupos sociais, de perten~a aquela categoria sera ainda mais pro- atipicos); na optica exemplar, estao representados diagnosticidade da forma seguinte:
forma a admitirem estas percep~oes de variabi- vavel. Mas, se a pessoa estivesse a cantar 0 fado, os membros e/ou os grupos de atributos que, no
lidade? E sobre esta questao que nos debru~are­ apresentaria caracteristicas tipicas de duas cate- momenta em que desenhamos 0 esquema, nos ... A diagnosticidade de urn indlcio x como preditor de
mos agora. gorias contrastantes (espanhola e portuguesa), e eram mais acessiveis em memoria. Recordamo- uma categoria Y (a probabilidade condicional de Y/x)
aumenta com a frequencia de associa\=lio entre x eYe
seria vista como urn membro at(pico da catego- -nos, por exemplo, de que os marniferos «bebem
diminui na razlio directa da frequencia de associa\=ii , de x
ria da qual urn dos atributos fosse 0 mais t{pico. leite», e de que «Silvestre» (para aJem de ser urn com outras categorias alternativas (Rosch, 1978, p. 30)
4.3. Perspectivas sobre a organizariio Na perspectiva exemplar, uma categoria cogni- desenho animado) e urn mamifero. (ver caixas da p. 23) .
cognitiva dos estereotipos tiva pode ser representada nao so em termos de
atributos gerais e abstractos, comuns a todos ou Assim, as categorias sao definidas pelos seus
Se aplicarmos ao dom{nio dos estereotipos a a alguns membros da categoria, como tambem 4.3.1 Organizariio probabilfstica dos atributos mais diagnosticos, e os membros pro-
proposta feita por Smith e Medin (1981; ver em termos de informa~6es individualizadas estereotipos: a diagnosticidade totipicos de uma categoria serao aqueles cuja
tambem Lingle, Altom & Medin, 1984), em (exemplares) acerca dos seus membros. Quando dos atributos categoriais soma dos val ores de diagnosticidade dos seus
rela~ao a generalidade das categorias cognitivas, evocamos uma categoria (por exemplo cow- atributos e a mais elevada. Os restantes organi-
poderemos ve-los segundo tres perspectivas dis- boys) e frequente recordarmo-nos nao so de cer- Foi Rosch (1978) quem deu maior relevo a zar-se-ao ao longo de urn continuum de tipica-
tintas: classica, ou aristorelica, probabiUstica, tos atributos tipicos dessa categoria (<<chapeU», perspectiva probabilfstica. Esta autora argumen- lidade, de tal modo que, alguns (lembremo-nos
ou protot(pica, e exemplar. Na perspectiva aris- «colt 45», «esporas», «pernas em arco») , mas lou no senti do de que as categorias se organizam do ornitorrinco) poderao mesmo encontrar-se
totelica, as categorias sao constru{das segundo tambem individuos que the estao associados ~a D~ mente, nao como conjuntos de atributos defi- mais proximos de uma categoria contrastante
urn principio de «tudo ou nada»: urn objecto que memoria (John Wayne, Gary Cooper, Jessie Dldores, com fronteiras bern definidas, mas sim do que da sua propria categoria. Assim, na
apresente todos os atributos definidores da cate- James, Wild Bill Hicock). Neste ultimo caso, ~m lermos dos seus elementos mais representa- percep~ao social, a perten~a a uma categoria
goria menos urn, ou todos esses atributos mais evocamos representa~6es exemplares. livos. Segundo Rosch, as categorias cognitivas decide-se atraves da compara~ao entre os atri-
t

354 355

TIPOS DE REPRESENTA(,:OES COGNITIVAS DIAGNOSTICIDADE DOS ATRIBUTOS DE UMA CATEGORIA

(maginemos que todos os membros da categoria skins (a categoria Y) apresentam a ca~a rapada (o indrcio x)
Perspectivas Aristotelica, Probabilistica e Exemplar das Categorias Cognitivas: "estem calc;;as de ganga. Provavelmente, se virmos urn indivrduo de cabec;;a rapada, 0 valor diagn6stico deste indr-
rcpresentac;;ao C levar-nos-a imediatamente a considerar que ele tem uma forte probabilidade de ser um skill. No entanto, se vir-
nao iO
unitaria? C oS Joao de calc;;as de ganga, este indfcio esta frequentemente associado a outras calegorias (radicais, metcilicos,
:tinhos , etc.). A fraca diagnosticidade deste indicio nao permite incluir Joao em nenhuma categoria. De modo muito
semelhante ao principio do metacontraste (alias, explicitamente inspirado na abordagem de Rosch), podemos for-
REPRESENT M;'AO nun silll lI1 a1izar a diagnosticidade da forma seguinte (Rosch, 1978):
EXEMPLAR
P(Fi/Xj)
REPRESENTAC;:AO REPRESENTA~AO
PROBAB n..iSTlCA ARISTOTELICA P(Fi/Xj)+P(FiIXk)

em que:
Exemplo de representaQoes aristotelica, probabilistica e exemplar das categorias
P = probabilidade
Ave, Mamifero e Peixe
F = indfcio I
ARISTOTELICA PROBABILisTICA
ANIMAlS
Xj = categoria-alvo j
Xk = categoria contrastante k
avestruz baleia carapau
camirio clio pescada
pardal gollinho sal mao
pinguim morcego truta implicar;oes importantes: uma categoria que que a pessoa toca ferrinhos, como harpa, ou
exista a urn nivel de generalidade muito elevado gaita-de-foles. Irnaginernos, pelo contrano, que
hOl1lcirw.. inlcrcnlcgorinis impcrmcavcis.
(por exemplo seres vivos), tera muito poucos nos dizem que essa pessoa toca «stratocaster
Alrihlll()~ ncccssurio~ c su lkiclllcs. stributos prototipicos, ja que estes devem ade- modele American Standard». Esta categoria e
quar-se igualmente a muitas categorias subordi- tao especffica que acaba por exigir urn esforr;o
nadas diferentes; urna categoria que exista a urn cognitivo desmesurado para que del a retiremos
EXEMPLAR neve) de generalidade rnuito baixo teni urn alguma informar;ao. Mas se nos disserem que a
ANIMAlS prot6tipo.
grande mlmero de atributos prototipicos, ja que pessoa toca guitarra electrica, possivelJ lente,

MamrfOro PC~'\C estes devem distinguir os membros desta cate- trata-se de uma categorizar;ao que se situa a urn
Al' I
goria dos membros de todas as outras categorias
existentes no mesrno nivel de generalidade.
nivel de generalidade que assegura a melhor
relar;ao entre 0 esforr;o cognitivo despendido e a
avcslruz asas PiuPiu cao Silvestre pelos cscamas pcscada pcixc-voador
Por aqui se ve que certos niveis de abstracr;ao informar;ao que dela podemos inferir. Trata-se
voar Moby Dick leite nadar salmiio
satisfazem melhor 0 principio da economia daquilo que Rosch designou como uma catego-
cognitiva do que outros. Imaginemos que alguem ria de n{vel bdsico, ou seja, que e, simultanea-
os atributos se encontram sempre ao maior nlve) nos diz a proposito de uma pessoa, que ela «toca mente, a rnais inc1usiva possivel e aquela para a
butos presentes no membro a categorizar e os
de generalidade possivel. Por exemplo, se a cate- urn instrumento musical». Esta categoria e qual podemos formar uma imagem concreta, e
atributos com maior diagnosticidade na cate-
goria fosse ave, nao seria economico que 0 extremamente abstracta, e tanto pode significar (des)codificavel com 0 menor esforr;o I. Prova-
goria. Ao conjunto destes atributos cham amos 0
prototipo da categoria. atributo «respirar» estivesse directamente ass o-
Segundo Rosch (1978), urn dos princfpios ciado a essa categoria. Ja que «respirar» e u~
I E evidente que 0 nivel blisico pode variar de uma pessoa para outra. Por exemplo, para um musico de rock (peri to
basicos da organizar;ao categoria) e a economia atributo comum a todos os seres vivos, sertS ern guitarras), a categoria "stratocaster modele American Standard" eo nivel basico, e a calegoria guitarra correspondera
cognitiva. A organizar;ao de informar;ao acerca mais economlCO armazena-Io no nivel supra- 80 que, para 0 leigo, e 0 instrumento musical (0 nivel supra-ordenado). Para 0 musico, as categorias subordinadas terao a

das categorias cognitivas e feita de modo a que -ordenado seres vivos. Este facto tern duas Ver ja com a marca dos «pick-ups», com a madeira do bra~o, com a altura da ponte, com 0 calibre das cordas, etc.
356
• 357

velmente, os estereotipos que utilizamos no merem livremente listas de caracterfsticas


, . dos «SEMELHAN<;AS FAMILIARES»
dia-a-dia correspondem a categorias de nfvel mem bros de vanos grupos e, em seguida
' . ' Pan_
basico (Rothbart, 1981), mas esse nfvel basico deramos essas caractenstlcas segundo a
. _ (sua Suponhamos 0 caso de tres estudantes de arquitectura: Andre e consciencioso e gosta de Matematica e de
depende do nfvel de conhecimento que temos repartl'tao entre esses grupos ver caixa
sobre 0 grupo estereotipado. pag. seguinte). na e
Arte: Xavier gosta de Arte. de pintar e de Desporto; Pedro gosta de Arte, de pintar, e consciencioso.

A utiliza'tao das operacionaliza'toes descrit


Andre Xavier Pedro Total
acima revelou que os membros de um gru as
4.3.2. Metodologias de obtenriio que apresentam mais tra'tos diagnosticos s~ gostar de Arte sim sim sim 3
de prototipos grupais mais facilmente detectaveis do que OUt ao gostar de Matenllitica sim
ros
e suas implicap3es que apresentam menos desses atributos 0 ser consciencioso sim sim 2
que apresentam tam bem ' ' u
atn'b utos atfpicos gostar de Desporto sim

Na perspectiva probabilfstiea, para obtermos Tambem nas tarefas de categoriza<;ao os tempo~ gostar de pintar sim sim 2

urn estereotipo podemos pedir aos sujeitos que de reac'tao para os membros mais t(picos sao
inferiores aos dos membros menos tfpicos Se dermos urn ponto a cada atributo de cada vez que urn membro do grupo 0 apresenta. observamos que gostar
desempenham tarefas de associa'tiio livre (por de arle e0 mais prototfpico, com urn peso de 3. Pintar e ser conciencioso tern peso 2. Gostar de matemcitica e gostar
exemplo, «Quando pensa nos Marcianos, quais (Stephan, 1985; Fiske e Taylor, 1991; Hamilton
de despor/O sao atributos de peso I. Se somarmos estes pesos, para cada pessoa, obtemos os seus respectivos valo-
as primeiras caracterfsticas que Ihe ocorrem?»). e Sherman,1994). res de 'family resemblance". No nosso exemplo. e Pedro que tern uma maior "family resemblance" (3+2+2=7)
Trata-se de uma metodologia que nos obriga a Outra operacionaliza<;ao da prototipica_ 5endo. por isso, 0 membro mail! tfpico do grupo. Em seguida, vern Andre e Xavier, cada urn com 6 (=3+1+2).
pressupor (sem no en tanto 0 observarmos direc- lidade e 0 metoda da raziio diagnostica, de Teoricamente, se pedfssemos uma avalia~ao de Pedro, Andre e Xavier numa escala de tipicalidade, os sujeitos deve-
McCauleye Stitt (1978). Na logiea da perspec- riam dar uma maior pontua~ao a Pedro (Fehr e Russell. 1991; Hamilton e Sherman, 1994).
tamente) que os sujeitos dizem: (I) em primeiro
lugar, as caracterfsticas que Ihes sao mais tiva probabilfstica, este metoda pressupoe que a
acessfveis em memoria; (2) apenas as caracterfs- estereotipia de urn tra<;o nao e dicotomica (sim
tieas que apresentam uma forte diagnosticidade ou nao), mas, antes, que se traduz numa questao mais diagnostic a de urn grupo quanta maior for dade e mais tfpica do estereotipo feminino do
para 0 grupo-estfmulo. No entanto, esta de grau, ou numa probabilidade condicional. a diferen'ta entre a sua probabilidade de ocor- que do estereotipo masculino (ver tambem
metodologia e heurfstica porque nos permite Assim, a probabilidade condicional de urn tra~o rencia nos membros desse grupo e a sua proba- Stroebe e Insko, 1989).
obter tra'tos estereotfpicos evocados livremente X (generosidade) num grupo Y (portugueses) bilidade de ocorrencia em todos os grupos que Note-se que estas metodologias nao sao neces-
pelos sujeitos. Apos obtermos os tra'tos livre- seria, do ponto de vista do detentor do este- funcionam como objecto de compara~ao. Ou sariamente altemativas. A razao diagnostica e a
mente associados ao grupo, podemos, por exem- reotipo: seja, aplicando a formula da razao diagnostica, avalia'tao de tipicalidade podem ser utilizadas,
plo, pedir aos sujeitos que avaliem a tipicalidade quanto maior que 1 for 0 resultado, mais a ca- por exemplo, com os tra<;os recolhidos atraves
P(x)A racterfstica sera exclusiva da representa'tao do
de cada urn dos tra'tos para esse grupo (por da associa'tao livre. Para alem disso, alguns
exemplo, «em que medida ser hospitaleiro e P(x) grupo. 0 inverso ocorre quando a razao e infe- estudos sobre os estereotipos nacionais (Stroebe
uma caracterfstiea tfpica dos portugueses?»; rior a 1. Por exemplo, 0 tra~o «expressividade» e Insko, 1989) mostram que a associa'tao livre
em que:
I = nada tfpico a 7 = muito tfpieo) . Podemos, poderia discriminar significativamente entre os apresenta uma forte correla<;ao com as respostas
P(x)A Frequencia do tra~o X nos membros do dois sexos se 43 por cento das mulheres e 21 por
para alem disso, obter medidas de prototipieali- obtidas atraves das avalia<;oes de tipicaJidade
grupo A. cento dos homens fossem percepcionados como
dade dos membros de urn grupo, perguntando, (ver tambem Fehr, 1988; Fehr e Russell, 1991;
P(x) = Frequencia do tra~o X em todos os gru·
por exemplo, aos sujeitos, «em que medida possuindo este tra~o. Supondo que os sujeitos Paez e Vergara, 1992). Por outras palavras, a fre-
pos conhecidos ou num outro grupo
fulano e urn born exemplo, ou e representativo, acreditavam que as categorias feminina e mas- quencia de evoca~ao de urn atributo num grupo
comparativo.
do grupo x» (I =nada representativo; 7 =muito oulina correspondem, cada uma, a 50 por cento da e a avalia<;ao independente da sua tipicalidade
representativo) . Os sujeitos devem indicar, para cada carac- humanidade, isto significaria que 32 por cento dos no grupo devem concordar. No mesmo sentido,
Uma operacionaliza'tao aparentada a asso- terfstica, a percentagem de membros do grupo e, humanos sao expressivos. A razao diagnostica pode comprovar-se a existencia de uma forte
cia'tao livre e a utiliza'tao de medidas inspiradas ao mesmo tempo, a percentagem de membros de de McCauley e Stitt seria de 1,34 para as mulhe- correla'tao entre os julgamentos de tipicalidade e
na no'tao de family resemblances (Rosch & outro grupo, ou de pessoas em geral, que a apre- ~ (43/32) e de 0,65 para os homens (21132). a facilidade de recupera'tao de tra<;os estereo-
Mervis, 1975). Pedimos aos sujeitos que enu- senta tambem. Uma caracterfstica sera tanto tes resultados indicariam que a expressivi- tfpicos (Fiske e Taylor, 1991).
,
358 359

4.3.3 Diagnosticidade, organizarao desses processos baseia-se num processo d rn o excep<;oes a regra geral e permitem-nos tempo, fortemente tipicos da categoria noutras
hiertirquica e mudanra conversao mais ou menos aleatorio e impUI~ cOnservar 0 estereotipo inicial (Hewstone, 1994). caracteristicas importantes. Outros estudos de-
de estereotipos
sivo. Segundo Rothbart (1981), operar-se_i
, . aill
oCOirnportante, neste caso, seria, por urn lado, que monstraram que a estereotipia dos julgamentos
mudan<;as nos nossos estereotipos se fos sem informa<rao contra-estereotipica fosse forte- acerca da categoria em geral pode decrescer
• • _I' Os
A organiza<;ao hienirquica dos estereotipos confrontados com lfilorma<;ao lortemente Co a ente contraditoria com 0 estereotipo, e, por mais quando a informa<;ao contraditoria com 0
n- rn. , .
tern implica<;oes para a mudan<;a dos seus con- traditoria com esses estereotipos, ou com aco DutrO, que estlvesse presente num numero sufl- estereotipo e concentrada num so membro do
teudos. Os membros tipicos de urn grupo sao os tecimentos dramatic os associados a eles (pn- dente de membros para que estes nao fossem que dispersa atraves de varios membros do
'. Or
mais facilmente reconhecidos, mais facilmente exemplo, 0 caso de urn poIltiCO corrupto mem_ individualizados em rela<;ao a categoria (os mu- grupo (Gurwitz & Topol, 1978). Mas a maioria
recuperados em memoria quando 0 grupo e evo- bro de urn partido com que simpatizamos podera sicoS de rock sao jovens e Mick Jagger e urn da investiga<rao aponta para a constru<;ao de
cado, e tambem aqueles que evocam mais forte- levar-nos a simpatizar menos com a generali_ caso particular sem relevancia para a categoria sUbtipos diferenciados enquanto que 0 estereo-
mente as atitudes e afectos associ ados ao grupo dade dos membros desse partido). Assirn no geral) . tipo se mantem inalteravel (ver Hewstone, 1994,
(Stephan, 1985). Pela mesma logica, tambem as segundo este modelo, 0 mais eficaz para mUd~ Num estudo comparativo destes tres mode- para uma revisao aprofundada deste tema).
atitudes e cren<;as em rela<rao a urn grupo deve- urn estereotipo (os membros do partido X sao los, Weber e Crocker (1983) apresentaram aos Vma con sequencia do que acabamos de ana-
riam mudar mais se individuos-alvo prototipicos cinzentoes) seria confrontarmos os individuos sujeitos uma serie de descri<;oes de membros de lisar e a possibilidade de conceber urn estereo-
do grupo se comportam e opinam de forma con- com informa<;ao forte mente contraditoria con- duas profissoes (advogados e contabilistas). tipo como urn prototipo. Alem disso, este proto-
tnma as expectativas acerca do grupo (Stephan, centrada num numero restrito de membros Hpi- Dessas descri<roes, urn ter<ro contradizia os es- tipo deve necessariamente inc1uir alguma no<rao
1985; Hewstone, 1989; Fiske e Taylor, 1991). cos do grupo (A trepando coqueiros, B fazendo tere6tipos destas profissoes, urn sexto confir- de variabilidade no seio da categoria que repre-
Para darmos urn exemplo simplista, se souber- desportos radicais, C de bermudas e blusa as maya-os, e as restantes eram irrelevantes. Os senta. Mas, como representar a variabilidade em
mos que Sandro Luis e adepto de musica riscas).O segundo modelo estabelece uma ana- sujeitos estavam divididos em quatro condi<roes, termos de urn prototipo, que, por defini<rao, e
«pimba», deduziremos que gosta de chala<;as logia entre 0 possuidor de urn estereotipo e urn segundo a dimensao das amostras de membros uma sfntese das caracteristicas atribuidas ao
ordimirias, cal<ra meia branca e sapato preto de contabilista, e implica uma altera<;ao progres- das profissoes, que era pequeno (seis) ou grande grupo?
verniz, e compra cassetes em barracas de feira. siva dos tra<r0s considerados como prototipicos (trinta), e segundo a forma como a informa<rao
Se Sandro Luis possuir todos esses atributos, do grupo-alvo. Podemos possuir urn estereotipo contraditoria com os estereotipos era apre-
activaremos mais facilmente em rela<;ao a ele a forte sobre urn grupo, mas a medida que vamos sentada (de forma dispersa atraves de todos 4.3.4. Prototipos e perceproes
atitude (positiva ou negativa) associada ao encontrando membros atipicos desse grupo, e as rnembros ou concentrada em apenas alguns). de variabilidade nos grupos
estereotipo. Se, para alem disso, soubermos que que vamos armazenando essa informa<rao em Os resultados deram menor razao ao modelo
Sandro Luis gosta da cerveja X, generalizare- memoria, 0 estereotipo muda gradualmente da conversao. 0 facto de a informa<rao con- As vezes, os jomais televisivos mostram-nos a
mos que os adeptos dessa marca de cerveja sao (Rothbart, 1981). Neste caso a mudan<ra opera- tradit6ria ser apresentada de forma dispersa imagem de uma rua de Lisboa, as tres da tarde,
adeptos de musica «pimba». Finalmente, se sou- -se metodicamente e so se produziria quando au concentrada, assim como 0 de a amostra como ilustra<;ao do texto, «neste fim-de-semana,
bermos que 0 seu autor preferido e Marcel tivessemos armazenado em memoria informa- ser grande ou pequena, pouco influenciou os os portugueses sairam a rua». Mas podem existir
Proust, que tern a colec<rao completa dos discos <rao contra-estereotfpica suficiente. resultados. No entanto, os sujeitos mudaram pessoas para quem a representa<rao dos portugue-
de Frank Zappa, e que e activista da Amnistia o terceiro modelo corresponde ao estabeleci- mais os seus estereotipos quando existiam, ao ses nao evoca apenas os «lisboetas que passeiam
Internacional (tudo opinioes e comportamentos mento de subtipos segundo a estrutura taxon6- mesrno tempo, muitos membros atfpicos e a na rua do Alecrim», mas tambem os lusitanos,
contra-esterotipicos), a nossa representa<rao dos mica dos prototipos grupais, tal como 0 discuti- informa<;ao contraditoria era dispersa. Por outro os madeirenses, os lisboetas da Brandoa, os
adeptos de musica «pimba» mudani mais radi- mos acima. Assim, quando possufmos urn lado, quando a informa<rao era concentrada ou a portuenses da Foz, os emigrantes, etc. Ou seja,
calmente, do que se Sandro Lufs fosse menos estereotipo geral (<<os musicos de rock sao j~­ atnostra era pequena, os sujeitos recorriam mais embora, para alguns, os lisboetas filmados cor-
tfpico do grupo (por exemplo, apresentando vens») e se nos deparam membros da categona ~ subtipos, e mantinham, assim, 0 estereotipo respondam a urn prototipo representativo dos
apenas 0 atributo de cal<;ar meia branca). que apresentam caracterfsticas contradit6~as tnalterado. portugueses em geral, e possivel que, para outros,
Numa sintese das ideias apresentadas ate com esse estereotipo (os Rolling Stones, OS Plllk Num outro estudo, Weber e Crocker demons- eles correspondam apenas a urn subtipo do
entao por diferentes autores, Weber e Crocker Floyd), formamos subcategorias (os «dino ssau- traram que a mudan<ra do estereotipo e mais estereotipo mais geral. 0 mlmero de subtipos
(1983) propuseram tres processos alternativos ros do rock»), vistas como separadas do resto fone quando os membros que apresentam carac- evocados correspondera a nossa percep<;ao da
Ie' .
para a mudan<ra de estereotipos. 0 primeiro do estereotipo. Estas subcategorias funcio nam nsticas contra-estereotfpicas sao, ao mesmo diversidade da categoria.
• 361
360

Brewer, Dull e Lui (1981) conduziram urn desse grupo e menos informativos os seus nlV . OS de urn grupo numa dimensao (por exemplo, Mas podemos conceber a percep9ao de varia-
. elS
estudo demonstrativo de como esta concep9 ao supra-ordenados. Para mUitos norte-american bfastador-poupado»). Se, do ponto de vista do bilidade num grupo de forma ainda mais con-
, Os «g
permite dar conta da percep9ao de variabilidade por exempl0. urn europeu e urn europeu, venh~ bservador. todos os membros do grupo ocupas- sentanea com a logica subjacente a organiza~ao
nos grupos. Na primeira fase desse estudo. os ele da Serra da Estrela ou dos montes Urales o ,.,., a mesma posi9ao ao longo do atributo prototfpica dos estereotipos. De facto, e possfvel
seJ"
sujeitos deviam executar uma tarefa de triagem Para muitos portugueses, pelo contrcirio, eXist~ (por exemplo, todos os membros do grupo sao inc1uir urn atributo diversidade numa categoria
de fotografias de pessoas idosas na base das suas uma diferen9a abissal entre urn natural da serra «(Iloderadamente gastadores»), isso traduziria corn urn estatuto identico ao de todos os seus
«semelhan9as de personalidade». A ideia era a da Gardunha e urn natural da Serra da Estrela u(lla perceP9 ao de maior homogeneidade do que outros atributos. Por exernplo, podemos dizer que
de que os agrupamentos de fotografias construf- Outra forma de percep9 ao de diversidad~ se oS considerasse c~mo relativamente dispersos os portugueses sao tipicamente hospitaleiros,
dos pelos sujeitos corresponderiam a categorias compatfvel com a organiza9ao prototfpica COr. aO longo desse atnbuto (por exemplo, entre extrovertidos, desenrascados e tipicamente dife-
subordinadas (subtipos) da categoria mais geral responde a prevalencia relativa dos atributos es. «(Iluito gastadores» e «moderadamente gastado- rentes uns dos outros. Este atributo possuiria
das «pessoas idosas». Os resultados mostraram, tereotfpicos e contra-estereotfpicos num grupo. res»), Noutro dos seus estudos, Quattrone e Jo- exactamente 0 mesmo estatuto do que qualquer
de facto, urn forte consenso entre os sujeitos em Se, por exemplo, pedirmos aos sujeitos que in- nes (1980) pediram a estudantes de duas univer- urn dos anteriores e traduziria a nossa percep9ao
tomo de tres sUbtipos: homem de estado idoso. diquem a percentagem de membros de um grupo sidades que avaliassem os estudantes das suas da diferencia9ao intracategorial (Hamilton &
anciiio. e avo. Urn segundo grupo de sujeitos que apresentam urn atributo estereotfpico (por respectivas universidades e os estudantes da Sherman, 1994; Park & Hastie, 1987; ver abaixo).
recebeu seis conjuntos de tres fotografias, que, exemplo, a percentagem de mulheres emotivas) outra universidade ern 10 dimensoes cujos polos Noutro dos seus estudos, Quattrone e Jones
para alguns deles. pertenciam a urn mesmo sub- e que apresentam urn atributo contra-estereotf_ correspondiam aos dois grupos (Universidade (1980) pediram aos sujeitos que respondessem a
tipo, e, para outros, a subtipos diferentes. pico (a percentagem de mulheres racionais), de Princeton vs. Universidade de Rutgers). A ta- urn questionario de atitudes polfticas. Os su-
A tarefa. desta vez, consistia em avaliar, numa quanto maior for a diferen~a entre estas percen- refa dos sujeitos era indicar, para cada dimensao jeitos foram, entao, c1assificados ern tres grupos:
lista de adjectivos, quais eram os tra90s comuns tagens maior sera a homogeneidade percepcio- onde se situavam, ern media, os estudantes de esquerda, centro e direita. No meio da escala de
as tres fotografias recebidas . Brewer e cole gas nada no grupo (Hamilton & Sherman, 1994). Por cada universidade. Quanto mais essas avalia90es atitudes, os sujeitos encontravam uma questao
convencionaram que os tra90s estereotfpicos exemplo. Park e Rothbart (1982) pediram a su- tendessem para urn dos polos, mais as percep90es ern que deviam indicar a semelhan9a que existe,
seriam todos os que fossem considerados, por jeitos dos dois sexos que dessem estimativas das seriam estereotipadas. Os resultados mostraram ern geral, entre as pessoas de esquerda e entre as
pelo menos, 50 por cento dos sujeitos, como percentagens de pessoas de ambos os sexos que que a posi9ao media atribuida ao exogrupo, tanto pessoas de direita. Os resultados mostraram uma
partilhados pelas tres pessoas. Os resultados adoptam atitudes estereotfpicas ou contra-estereo- pelos estudantes de uma universidade como pel os correla9ao significativa entre as atitudes politi-
apoiaram 0 modelo da organiza9ao categorial tfpicas ern rela~ao as suas respectivas categorias da outra, era mais extrema do que a posi9ao me- cas dos sujeitos e a resposta a esta questao.
taxonomic a de Rosch. De facto, quando os sexuais. Calculando a diferen9a entre a percenta- dia atribufda ao endogrupo. Ou seja, 0 endo- Quanto mais os sujeitos eram de esquerda, mais
sujeitos recebiam tres fotografias pertencentes ao gem estereotfpica e a percentagem contra-este- grupo era percepcionado como mais disperso consideravam as pessoas de esquerda como di-
mesmo subtipo (tal como havia sido definido reotfpica atribufda a cada uma das categorias, em torno da sua posi9ao prototfpica do que 0 ferentes umas das outras e as pessoas de direita
pelos sujeitos da prime ira fase do estudo), 0 con- Park e Rothbart observaram que os rapazes con- exogrupo. Jones, Wood e Quattrone (1981) pedi- como semelhantes umas as outras. No caso dos
sen so relativamente aos tra90s das pessoas-alvo sideram que existe uma maior percentagem de ram aos sujeitos que indicassem, para 0 endo- sujeitos de direita passou-se exactamente 0
era maior. e os tra90s de cada subtipo distin- membros do sexo masculino que adopta com- grupo e para tres exogrupos, quais eram os dois inverso.
guiam-se mais dos outros subtipos (eram mais portamentos e atitudes proprios do estereotipo nfveis de uma escala que inc1uiam pelo menos
diagnosticos) do que quando os sujeitos rece- feminino do que as raparigas. Inversamente, as 50 por cento dos seus membros, e os dois niveis
biam fotografias pertencentes cada uma a urn raparigas julgam existir uma maior percentagem da mesrna escala que inc1ufam os 100 por cento 4.4. Organizafiio exemplar
subtipo diferente. Neste caso existia urn mlmero de raparigas que adoptam comportamentos OU totais dos membros desses grupos. Uma maior dos estereotipos
reduzido de tra90s consensuais. Outros estudos atitudes tipicamente masculinos do que os rapa- distancia entre os dois nfveis marcados pelos
demonstraram que os estereotipos raciais (por zes. Ambos os grupos de sujeitos consideraraIll SUjeitos, tanto para os 50 por cento como para os A perspectiva exemplar sobre a organiza9ao
exemplo. Devine & Baker, 1991) e sexuais as suas respectivas categorias como mais hetero- 100 por cento, traduziria uma perceP9ao mais cognitiva dos estereotipos parte da ideia de que
(Deaux, Winton. Crowley & Lewis, 1985) se geneas do que as categorias opostas. . 'li- heterogenea do grupo. Os resultados mostraram, a experiencia directa corn os membros de urn
podem organizar em diferentes nfveis hienir- Uma outra forma de perceP9ao de van~b~ de facto, que essas distancias eram maiores no grupo gera urn arrnazenamento dessa informa9ao
quicos. Quanto maior for 0 nosso conhecimento dade compatfvel com a organiza9ao protoUplca caso do endogrupo do que no caso dos tres exo- em memoria sob a forma de exemplares indivi-
de urn grupo, mais informativos os subtipos e a perceP9ao das posi90es ocupadas pelos mem- &Tupos. dualizados da categoria (ver Devos, Comby &
• 363
362

Deschamps, 1995). a resultado e que a acti- de uma opera~lio cognitiva efectuada no mom racionais . Se pedirmos aos sujeitos que fa~am os grupos, existem outras medidas que ainda 0
va~lio de uma etiqueta categorial gera uma me-
. - d . ( .
d a actlva~ao a categona computing) .
ento opea estimativa da distribui~lio dos membros de slio mais. Uma dessas medidas e 0 desvio abso-
ortl gfIlpo ao longo de uma dimenslio, os efeitos luto entre os exemplares mais extremos de que 0
Ihor recupera~lio de certos membros do grupo
(por exemplo, falam-nos de romanos e recorda- ortl familiaridade com esse grupo traduzir-se-lio sujeito e capaz de se recordar (range). Tipica-
mo-nos de Julio Cesar). A partir desse momento,
4.4.l Dois modelos da organizariio da termOs da probabilidade de diferencia~lio mente, para obter esta medida pede-se aos
os atributos desses membros (imperador, estra- dos estereotipos em termos e;d), da variabilid~de. (V~r~, e da te~dencia. cen- sujeitos que avaliem a posi~lio media do grupo
tega, politico, etc .) passam a funcionar como se de exemplares ~ (M) dessa dlstnbU1~ao. A dlferencla~lio num dado atributo (por exemplo, de <<nada
fossem os atributos representativos da categoria, rresponde a probabilidade de quaisquer dos nacionalista» = 1 a «extremamente naciona-
nlio por serem prototfpicos, mas sim porque estlio Dois modelos ilustrativos desta ultima per _
CO
embros escolh.d .
1 os ao acaso ocuparem posl~oes !ista» = 7) e que indiquem, na mesma escala, as
pectiva slio os de Linville, Fisher e Salov:y :ferentes ao longo da dimenslio. A variabilidade posi~oes dos dois membros mais extremos
associados aos membros que foram recupe-
(1989) - 0 modelo Pdist - e de Kashima e corresponde a disperslio dos membros da catego- (0 menos nacionalista e 0 mais nacionalista)
rados. Isto implica uma grande plasticidade das
Kashima (1993) - 0 modelo da prediriio dua[{s_ ria nessa dimensao. Finalmente, a tendencia cen- desse grupo. A diferen~a entre estas avalia~oes
categorias cognitivas, quer em termos dos seus
conteudos, quer em termos de percep~oes de va- tica (dual predictor model) . tral refere-se ao nfvel medio da categoria, tendo corresponde ao range, e considera-se como urn
riabilidade: se, por exemplo, em vez de «Cesar» Segundo Linville e colegas (1989), urn este- ern conta as diferentes posi~oes dos seus mem- indicador da variabilidade percebida no grupo.
reotipo corresponde inicialmente, e na maioria bros sobre 0 atributo considerado. Kashima e Kashima (1993) propuseram, mais
o exemplar activado fosse «Nero», a categoria
seria definida pelos atributos deste ultimo: im- dos casos, a uma representa~lio abstracta e Em quatro estudos e uma simula~lio por com- recentemente, que os julgamentos sobre a varia-
homogenea que nos e transmitida socialmente. putador, Linville et al. (1989) obtiveram funda- bilidade de urn grupo resultam do conjunto das
perador. decadente. man(aco. piromano , etc.; se,
Consequentemente, esperamos que urn novo menta~lio empfrica para 0 seu modelo. Nesses semelhan~as e diferen~as percepcionadas entre os
por outro lado, recuperarmos «Cesar» e «Nero»,
membro apresente as caracterfsticas estereotfpicas estudos, os sujeitos deviam indicar a percen- exemplares activados de uma categoria e nlio do
a representa~lio do grupo sera tlio diferenciada
desse grupo. Mas a medida que vamos obtendo tagem de membros do seu proprio grupo ou de numero de exemplares conhecidos. Assim, se em
quanta 0 forem os atributos desses dois exem-
informa~lio acerca de novos membros, encon- outro grupo que pertenciam aos diferentes nfveis geral a perspectiva exemplar diz que os julgamen-
plares (imperador. estratega. piromano. deca-
tramos alguns que nlio correspondem as expecta- de cada urn de uma serie de atributos (por ex em- tos de variabilidade de urn grupo dependem dos
dente. politico, etc.).
A primeira vista, existe, portanto, uma dife- tivas. Estes membros terlio urn maior impacto na plo, inteligencia, ou simpatia). Calculando os exemplares recuperados no momenta do julga-
ren~a substancial entre as perspectivas probabilfs- representa~lio da categoria devido ao seu caracter valores de probabilidade de diferencia~lio, mento, no caso do modelo de Kashima e Kashima
tica e exemplar no que diz respeito ao conteudo, «surpreendente». Quando nos pedem que julgue- variabilidade e tendencia central, estes autores esta ideia adquire toda a sua for~a. Para estes
a estabilidade e a percep~lio de variabilidade mos 0 grupo, slio estes exemplares que tern uma observaram uma diferencia~lio e uma variabili- autores, ao recuperarmos em memoria exemplares
interna dos estereotipos. No caso das representa- maior probabilidade de serem recuperados. Se dade mais fracas nas percentagens sobre 0 endo- da categoria, deterrninamos 0 numero de atributos
tivermos maior familiaridade com urn grupo, a grupo (mais familiar) do que sobre 0 exogrupo semelhantes e diferentes desses exemplares e cal-
~oes probabilfsticas os conteudos slio estaveis,
ja que provem de urn armazenamento sistema- probabilidade de conhecermos membros «sur- (menos familiar). Por outro lado, quando 0 cuI amos 0 grau de semelhan~a global existente
tico e a longo prazo de informa~lio que vai preendentes» sera tambem maior, os atributos endogrupo e 0 exogrupo eram igualmente fami- entre eles. Esta semelhan~a sera uma fun~lio
recuperados serao, por seu lado, mais diferencia- liares para os sujeitos, essas diferen~as nlio exis- inversa do julgamento de variabilidade. au seja, a
sendo codificada ate nos fornecer uma imagem
dos, e consideraremos a categoria como intema- tiam (ver caixa da pagina seguinte). variabilidade nlio depende do numero de exem-
abstracta mas estavel da categoria. Em princf-
pio, a representa~lio de uma categoria modificar- mente mais variavel. Se, pelo contrano, a catego- No entanto, as medidas de heterogeneidade plares recuperados mas sim do numero de atribu-
ria for pouco familiar, evocaremos apenas as utilizadas por estes autores apresentam 0 pro- tos semelhantes, e diferentes encontrados em
-se-ia pouco de urn momenta para outro (ver
acima) . Ja no caso da perspectiva exemplar, 0 nossas cren~as sobre os atributos (homogeneos) blema de nlio existir garantia de que as deriva- qualquer numero de exemplares. Noutros termos,
da categoria, e considera-Ia-emos como menos ~Oes estatfsticas operadas sobre as respostas urn indivfduo que recupere apenas dois exem-
conteudo e instavel e depende dos exemplares
activados no momenta da evoca~lio da catego- variavel. au seja, a percep~lio de diversidade de dos sujeitos correspondam efectivamente aos plares de uma categoria podera considera-Ia como
uma categoria dependera fundamentalmente do prOCessos cognitivos utilizados por eles. Num mais variavel se esses exemplares forem muito
ria. Para utilizarmos uma dicotomia proposta
por Smith (1978), no primeiro caso, 0 conteudo mimero de exemplares conhecidos e do seu afa~­ estudo mais recente (de que falaremos abaixo diferentes do que outro indivfduo que recupere urn
c '
e a percep~lio de variabilidade de urn estereotipo tamento em relariio a media ou a moda estat~S­ om mais pormenor), Park e Judd (1990) maior numero de exemplares, mas que no com-
1a ~os~aram que, embora Pd e Var sejam sen-
slio informa~oes pre-armazenadas em memoria tica da categoria. Este processo traduzir-se- , puto geral apresentem uma maior semelhan~a em
segundo Linville e colegas, em tres medidas S VelS a diferentes nfveis de familiaridade com termos dos seus atributos.
(prestorage). No segundo caso, slio 0 resultado
364
365

~ao
4.4.2 Crfticas aos modelos de julgamento. No entanto, podemos supor
CALCULO DA PERCEP<;AO DE VARIABILIDADE E DE TENDENCIA CENTRAL exemplares dos estere6tipos que muitos julgamentos sobre os grupos sociais
DE UM GRUPO, SEGUNDO LINVILLE E COLEGAS (1989) pro vern de urn processo mais eficaz, que se inicia
Os modelos exemplares da organiza~ao dos com a generaliza~ao e abstrac~ao dos atributos
Tipicumente. peue-se uos sujeilm. que conslruam uislribui<;c'ie~ de membros de um grupo. e calculllln-~e 11 • tere6tipos tern sido alvo de diferentes crfticas. da categoria, eventualmente a partir de exempla-
lir daf iI~ Ires medidus. Pel. M e Var. Imuginemos que pretendflllllos recolher 0 e~leretltipo dos Mun:iunos. re1mr: -
r
mente uo ulributo PlIc(jic'o-agre.l'.I';I'O: II-
~I como foram resumidas por Hamilton e res, e que culmina na recupera~ao dessa gene-
Sherman (1 994), essas crfticas prendem-se com a raliza~ao (urn julgamento pronto a usar). Como
E~lillle .1 pen:elllagcl11 de 1ll.lrl'iuno, que ,e im:luem dentm de eudu nivd da e~cuhl uprc~enlildu uhuix<l. Qual ... • o afinnam Smith e Medin (1981),
Mia opiniiio. a pcn:elll,lgelll de IllUrl'i'lI1o~ nllliln pacifico,'! E a pefl'elllugelll de mllrcianu~ pueilicll~? E dl' 1ll.lrl'ianll\ ;1~111
aquisi~ao de info~~~~o estere.otfpica, com ~ ine-
ll'w.'! E ugrcssi\,(1\'! E exlrcmmnenle agl\!,~i\os'! Aleru;iill. cada l11arciml<l dew c,Wr induidu num c 'Ipen;" nUIll ni\ e)"~' "istencia de urn cnteno orgamzador dessa mfor- ...iI medida que 0 indivCduo se desenvolve. e mais prova-
e,,:.I)u. A,~gU!\! -~' de que .1 ~1l1ll'1 dOl' )lI:reenlllgcn, in,criw\ c iguOII .1 UK) 1'<11' CClIlll. U J1la~ao nas representa~Oes exemplares, e com a vel que represente um conceilo sob a forma probabilfstica do
que exemplar( .. .}. Se nao eliminarem os exemplares. os indi-
1-.1---:--.....JI---:----l.___
muilO agressivos neutros
---L_ _ _--L_ _ _
paciticos
-..J] = IOO,*, sua eficacia cognitiva. Em primeiro lugar, e como
ja vimos, os estereotipos sao muitas vezes apren-
vCduos maturos acabariio com uma representac;ao exemplar
Illuilo e uma representac;ao abstracta para 0 mesmo conceito.
agressivos pacificos didos a partir de generaliza~Oes que nos sao E mesmo passfvel que esta sequencia de desenvolvimento
As ftlrmulas ue clilculo pam Pel, M e \Iar sao. respectivamente: traIlsmitidas e, por nos, assimiladas directamente ocorra numa certa medida sempre que os adultos aprendem
~RI ., ~ut ~ III corno tal. Eevidente que nada impede uma repre- um novo conceito - primeiro. representam os conceitos em
Pd = I -. ~ pi- M =. ~ piXi Var =~ pi(Xi-M): ~IU
~
."1
Pl-
senta~ao exemplar de incluir os dois tipos de termos de exemplares. mas com mais experiencia. formam
1= I 1= 1 i= 1 i= 1 tambem uma representac;ao sumana. (p. 174).
em que: infonna~ao, abstracta e individualizada, acerca de

pi = probabilidade alribufda a um nfvel ua escula urn grupo (Linville et al., 1989). Mas, nesse caso, Urn outro problema que tern vindo a ser
Xi = valor uo nivel <.Ia escala toma-se irrelevante distinguir entre modelos reconhecido por varios autores (ver Barsalou,
Imuginemos. por exemplo. que um sujcilo deu as respostas scguintes: baseados sobre abstrac~Oes e sobre exemplares. 1985; Hamilton & Shennan, 1994) em rela~ao a
45 % - 5% - Olk - 5% - 45'ff Em segundo lugar, uma estrutura~ao cogni- distin~ao entre model os abstractos e exemplares
Para calculllr Pd. comec;ariamos pOl' lmnsformur u, pcrcentugcns em probabiJidudcs:
tiva em tennos de exemplares peca por ausencia e que, em ultima analise, ambos prediz.em prati-
"",111 ,
0.45 - 0.05 - 0.00 - 0.05 - 0.45
Em seguida. calculumos ~ pi-: de urn criterio organizador. Porque e que urn camente a mesma coisa. Torna-se, assim, diffcil
i= 1 dado exemplar e associ ado a uma etiqueta cate- distingui-Ios. Por exemplo, para Linville e cole-
0.:!025+0.0025+(>.OO+0.0025+0.2025 0.41 = gorial e nao a outra qualquer? Se, como 0 admite gas (1989), 0 modelo Pdist (ver acima) e urn
o vulor <.Ie Pel c de 1-0.41 =0_<;9. Pam 0 nosso sujeito. se tomarmos quaisquer dois marcianos ao acaso. a pro- a perspectiva probabilfstica, os novos membros modelo base ado sobre exemplares. No entanto,
babilidadc de que sejam diferentes l1l11 do outro em termos de agressividude-pucifismo e de 0.59.
Para calcular M. basta multiplicarmos cad a probabilidadc pelo valor do nivel da escala correspondente de uma categoria sao inclufdos nessa categoria estes autores salientam que urn exemplar tanto
=
(por exemplo. de /111/;to PlIc(jiC().\· 5 a IIIII;to agl'e.l'.\·i! ·(}.\· = I) e somarmos os produto,. Ou seja quando apresentam urn dado limiar de seme- pode corresponder a representa~ao individuali-
I xO.45+2xO.05+3xO.(}()+4xO.05+5xO.45 3.00 = lhan~a com 0 prototipo, entao 0 prototipo fun- zada de urn membro do grupo, como a urn con-
o valor de Me de 3.00. Pant 0 nosso sujeilo. os '(marciano~ em gem!» sao ('neutros» em termos de agrcs- ciona como criterio de categoriza~ao. No caso junto de atributos abstractos. Quais sao, entao,
sivida<.le-pacifismo.
das representa~6es exemplares, podemos consi- as predi~6es que diferenciam este modelo dos
Pam calcular \Ial', multiplicamos eada pl'Obabilidade pelo qua<.lrudo da diferen~a entre 0 valor do nfvel da
escala correspondente e M. e somamos os produtos. Ou seja: derar que a perten~a a uma categoria e definida modelos probabilistas que admitem que a varia-
0.45( 1 -3}~+0.05(2-3):+(l.()0(3-3 )!+0.05(4-3):+0.45(5-W 1.90 = por uma associa~ao entre 0 exemplar e a etiqueta bilidade de urn estereotipo se define em tennos
o valor de \IlIr Cde 1.90.0 que trJduz a dispersan dos marcianos percepcionada pelo nosso sujcito. em tornO categorial. Mas qual e 0 criterio segundo 0 qual dos seus subtipos (ou seja, de subconjuntos de
da tendcncia central dessa categoria no atributo agressividade-pacifismo. se estabelece essa associa~ao? atributos abstractos)? A unica diferen~a e que, 0
Note-se que Pd e \IlIr significum coisa~ diferenles . Por exempln. dois sujeilO~ que responde:.sem como no Em terceiro lugar, as representa~6es exempla- modelo Pdist admite tambem que a variabili-
exemplo abaixo teriam valores semclhunles para Pd e diferentes PUnt \IlIr. Pd corresponde. afinal. ao nUIlICf'(! C
res poderiam ser cognitivamente menos eficazes dade pode ser baseada ern representa~6es de
frequcncia interna dos SUhlipos evocados pelo sujeito. enquanlo que \llIr corrcsponuc it dispcrsao desse subtipos:
Sujeilo A Sujcito B
do que as representa~Oes abstractas. Como 0 exemplares concretos. No entanto, a perspectiva

0% 0% I 307f I 20% 50% 30% 0% I 20'lf. I 0% 50% ]


afirmam, por exemplo, Linville e colegas (1989)
ou Kashima e Kashima (1993), os julgamentos
probabilfstica admite que certos membros de urn
grupo (por serem prototfpicos) podem ter urn
Pd=O.62: M=4.20; VClI'=O .76 Pd=Il.62; M=3.40: \I1I1'=3.04 estereotfpicos baseiam-se sobre a recupera~ao peso privilegiado na representa~ao da variabili-
de exemplares e/ou dos seus atributos na situa- dade (ver acima).
366 • 367

Eis outro exemplo desta sobreposi~ao. Park, segundo a qual ambos os tipos de proc . /la sido concebida de maneira a que fosse pos- seis comportamentos mais extremos eram apre-
~ . - se baseava na
Ryan & Judd (1992), afirmam, em concordancia podem ocorrer simultanea ou altemativa essos , eI detectar se a categonza~ao sentados duas vezes cada urn (aumento da proba-
com 0 modelo de Linville e colegas, que, ao (Park, Judd & Ryan, 1990; Sherman, Ju~~nte sl:elhanlfa de cada alvo de categorizalfao com 0
se,·· .
bilidade de memoriza~ao dos comportamentos
Park, 1989). & rot6tipo da categona ou com cada urn dos extremos): (2) os comportamentos moderados
encontrarmos exemplares de urn grupo, geramos
espontaneamente distribui~oes mentais de fre- Pernplares apresentados. Os resultados mostra- eram apresentados duas vezes cada urn (aumento
eXrn que a estrategia de categorizalfao utilizada da probabilidade de memoriza~ao dos compor-
quencias de membros ao longo de urn atributo.
Essas distribui~oes funcionariam como «resu-
4.5.1 Categorizariio atraves ra los sujeitos depende da presen~a ou da ausen- tamentos moderados); (3) todos os comportamen-
mos» que seriam recuperados nas situa~oes de de exemplares e categorizarao ~a de urn prot6tipo anterior a receplfao de infor- tos eram apresentados uma s6 vez. Se a infor-
julgamento e que permitiriam detectar 0 numero atraves de abstracroes c a~oes sobre os membros individuais. Quando malfao se organizasse em termos de exemplares,
JIl . •. . , _
o prot6UPo eXlstJa antenormente a receplfao da estas tres condilfoes deveriam dar resultados dife-
de subgrupos ocupando diferentes posi~oes no
atributo em causa. Assim, segundo este modelo, o que determina 0 recurso a infonnar- ",Oes
infonnalfao sobre exemplares especfficos da ca- rentes. Nas duas primeiras condi~oes, os sujeitos
abstractas ou exemplares nos julgamentos sobr legoria , os sujeitos utilizavam-no como criterio deviam recordar-se melhor, respectivamente,
os exemplares seriam codificados em subtipos, e
a recupera~ao destes subtipos permitiria aos in- os grupos sociais? Smith e Zarate (1990) de~ para a inclusao categorial de novos membros. dos comportamentos mais extremos e dos com-
divfduos inferir da variabilidade do grupo. No monstraram que uma condi~ao essencial e a Quando este nao era 0 caso, a inclusao categorial portamentos mais moderados. Portanto, deveriam
modelo de Linville e colegas, tudo se passaria da ordem de aprendizagem das informa~oes sobre baseava-se sobre a semelhan~a do membro a tambem considerar 0 grupo como, respectiva-
o grupo. Provavelmente, as abstrac~oes e os categorizar com exemplares especificos. mente, mais heterogeneo na primeira. e como
mesma forma, excepto que, em vez de recorrer a
exemplares sao aprendidos em situa~oes dife- Em suma. Smith e Zarate (1990) mostraram mais homogeneo na segunda. do que na terceira
«subtipos», os individuos recorreriam a «exem-
rentes, de form as diferentes, e de fontes infor- que somos. de facto. capazes de categorizar novos condit;ao. Mas se a informat;ao se organizasse
plares» que, por sua vez, podem corresponder a
mati vas diferentes. Assim. estarao armazenados membros de urn grupo, com base quer na sua em term os abstractos, nem os sujeitos se recor-
subtiposL .. Como 0 afirmam Hamilton e Sher-
separadamente em mem6ria. Uma con sequencia semelhanlfa com os tra~os prototipicos do grupo, dariam melhor da informa~ao apresentada mais
man (1994, p. 22):
desse facto e que podemos recorrer quer a um quer na sua semelhan~a com outros membros vezes. nem as suas estimativas de heterogenei-
Um aspecto inquietante de muitos modelos exemplares
quer ao outro tipo de informa~ao quando jul- individuais (exemplares). No entanto. como os dade seriam afectadas por essa memoriza~ao.
e que s6 muito dificilmente podem ser infirmados. Se a
gamos urn grupo: proprios afirmam. este estudo nao informa sobre Os resultados apoiaram, de algum modo. am bas
recupera9aO e a sfntese de exemplares e um processo ( ... )
implfcito e inconsciente, entlio nlio e claro 0 que se deve Na ausencia de conhecimentos anteriores sobre 0
se possufmos estes dois tipos de informa~ao as ideias: os sujeitos recordavam-se melhor da
fazer para demonstrar que os exemplares nao foram estereotipo, a c1assifica9ao baseia-se, na maioria dos casos, (abstracta e exemplar) em simultaneo ou altema- informa~ao que Ihes tinha sido apresentada repe-
recuperados. As medidas cognitivas tfpicas, lais como ° na semelhan9a com indivfduos conhecidos - independente- tivamente. Na sequencia dos trabalhos de Park e tidamente, mas este facto nao se repercutiu nos
reconhecimento, a recorda9aO. ou 0 tempo de reac9ao nao mente da semelhan9a com a media ou 0 prot6tipo do grupo. Hastie ( 1987). 0 mais prova vel parece ser que os julgamento de variabilidade.
fomecem necessariamente informa9ao para isso. Por outro lado, se 0 estereotipo e conhecido, entao a posse possufmos em simultaneo. Park e Hastie (1987) propuseram que a infor-
de atributos tfpicos do grupo pode ser 0 factor principal nB
Ou seja, nao ha, por enquanto, metodologia ma~ao sobre os grupos e tratada on-line. Ou
categoriza9ao, e a semelhan9a com indivfduos conhecidos
capaz de destrin~ar os processos postulados pe- sera menos importante (Smith e Zarate, 1990, p. 257).
seja, a medida que vamos recebendo informa~oes
los dois tipos de modelos. Urn processo supos- 4.5.2. Construriio on-line sobre os exemplares de urn grupo, vamos inte-
tamente baseado sobre abstrac~oes pode sempre Estes autores pediram aos sujeitos que classifi- de impress6es abstractas sobre grando essa informa~ao numa no~ao abstracta
ser reinterpretado em termos de exemplares e cassem pessoas desconhecidas num de dois gru- sobre a variabilidade do grupo. Esta abstrac~ao
a variabilidade dos grupos
vice-versa (Barsalou, 1984). pos. Numa condi~ao, os sujeitos eram primeiro sequencial da variabilidade toma-se indepen-
informados sobre as caracterfsticas abstractas t1pi- Num dos seus estudos. Park e Hastie (1987) dente da informa~ao armazenada em mem6ria
cas de cada urn dos grupos, e so depois recebiam ~diram aos sujeitos que formassem uma impres- sobre os exemplares. Ao fazermos uma estima-
4.5. Modelos dualisticos informa~ao individualizada sobre as pessoas ~a sao geral sobre urn grupo a partir de uma serie tiva da variabilidade grupal. recuperamos a repre-
da organizariio cognitiva categorizar. Na outra condi~ao, os sujeitos nao de comportamentos associados aos seus mem- senta~ao abstracta e nao os exemplares que.

recebiam qualquer informa~ao sobre as c~c­ bros. Numa condi~ao. os comportamentos tra- inicialmente, nos permitiram construf-Ia. Em con-
dos estereotipos
terfsticas tipicas dos grupos e deviam, imedla~' duziam uma forte variabilidade. enquanto que. c\usao, possuirfamos simultaneamente dois tipos
Alguns autores procuraram uma safda para mente, categorizar as pessoas-alvo. A inforrna~ao noutra. eram mais homogeneos. Os sujeitos diferentes de informa~oes em memoria: inform a-
s foram ai nat
d d' VI'd'd <rOes exemplares e informa~oes abstractas.
sobre as caracteristicas tfpicas e os exemplare 1 os em tres condl~oes: (l) os
A •

esta situa~ao, adopt an do a perspectiva dualistica


t
368 369

4.5.3. Medidas das representaroes nas diferen~as entre percentagens estereotfpic


exemplares e abstractas contra-estereotipicas eram: (4) avalia9ao gl~ e PERCEP~AO DA VARIABILIDADE ENQUANTO ABSTRA~AO
da semelhan~a entre os membros do grupo, nu al E ENQUANTO DISPERSAO DOS EXEMPLARES DE UMA CATEGORIA
dos grupos
escala do tipo «] = muito diferentes; 7 ::: mu~a
semelhantes» (sim); (5) a diferen~a entre a Ito Correla~oes entre medldas
Esta ideia foi explorada em pormenor por ' . per- de dispersao em rela~ao it
centagem de mem bros tlplCOS e a de memb categoria
Park e 1udd (1990, Experiencia 1), num estudo atfpicos do grupo (percentster); (6) a difere~os (Exemplares)
ja referido, mas que vale a pena analisar melhor, entre a tendencia central dos trayos tfpicos e~a Correla~oes entre medidas
por duas razoes. Em primeiro lugar, porque ilus- tendencia central dos tra~os atfpicos do grupo n a de diferencia~ao em
rela~o as expectativas
tra diferentes formas de operacionalizar a percep- distribui~Oes de percentagens (disster) (7) a dif~ estereotipicas
~ao de homogeneidade nos grupos. Em segundo renya entre as medias dos membros mai (Abstrac¢es)
lugar, porque demonstra que estas diferentes
, . s
extremos nos tra~os tlplCOS enos trayos atipicos
formas tern tambem implicayoes diferentes para
a concep~ao das percep~oes de variabilidade.
(ratester) (ver caixa na pag. seguinte).
Ao correlacionarem estas medidas, Park e
dispd
range
sim
0.2
0.05
range

0.17
sim 1%ster
Park e 1udd testaram 10 medidas diferentes 1udd obtiveram de facto dois agrupamentos dis-
sobre a variabilidade dos grupos, pedindo a sujei- %ster 0.04 0.04 0.17
tintos: urn agrupamento de medidas tradutoras
tos do sexo masculino e feminino que julgassem disster -0.16 0.03 -0.06
de percepyoes da dispersao dos membros do
o seu proprio genero sexual e 0 genero oposto em ratester 0.10 0.15 0.12
grupo em torno da sua tendencia central, prova-
4 tra~os de personalidade (dois tipicamente femi-
ninos e dois tipicamente masculinos) e 4 atitudes
velmente representativas das percepyoes dos
sujeitos acerca dos exemplares da categoria; urn
i em caracteres a cheio: correla~oes
(duas tipicamente femininas e duas tipicamente agrupamento de medidas tradutoras de perce- Correla~oes entre os dols estatisticamente significativas
masculinas). As 10 medidas correspondiam a tipos de medidas
p~oes de inconsistencia dos membros do grupo
estimativas das diferen~as entre percentagens em rela~ao as expectativas associadas ao estere6-
estereotfpicas e percentagens contra-estereotipi- tipo (percentster, disster, ratester) , provavel- Dimensoes da variabilidade percebida nos grupos, reveladas atraves das correla~oes entre
cas dos membros de cada categoria, ou a medidas mente representativas das cren~as abstractas medidas baseadas na dispersiio em rela~ao a media estereotlpica e baseadas nas diferen~as
de dispersao em torno da posi~ao considerada acerca das mesmas categorias. Como se pode entre atributos estereotfpicos e contra-estereotipicos.
pelos sujeitos como sendo a media de cada ver acima, as correlayoes entre as tres primeiras adaptado de:
grupo 2. Entre as medidas baseadas na dispersao medidas, e, mais ainda, as correlayoes entre as Park, B. JUdd, C. M. (1990). «Measures and models of perceived variability». Joumal 0.1
Personality alld Social Psychology. 59, 173-191.
em rela~ao a media contavam-se as seguintes: (1) tres ultimas, sao, em geral, mais fortes do que as
desvio-padrao das distribui~Oes de percentagens correla~oes entre medidas dos dois tipos. Este
(dissc/); (2) probabilidade de diferenciayao das resultado indica claramente que os dois tipos de
distribui~oes de percentagens (dispc/); (3) dife- medidas correspondem a constructos diferentes pelos sujeitos, entre 0 grupo e 0 estereotipo. Tratar-se-a, ainda, de uma terceira forma de jul-
renya absoluta entre as posi~Oes consideradas (Park & 1udd, 1990): as diferenyas entre atribu- Neste caso, a variabilidade corresponde a uma gamento da variabilidade dos grupos, coexistente
como correspondendo aos· dois membros mais tos estereotipicos e contra-estereotfpicos pare- percep9ao, em abstracto, da diferen~a entre 0 com os julgamentos base ados em exemplares e
extremos do grupo (range); As medidas baseadas cern corresponder mais a adequa~ao percebida estere6tipo e os membros do grupo; as medidas em abstracyoes? A questao fica em aberto.
base adas em distribui~oes, parecem corres- Num segundo estudo, Park e 1udd (1990)
2 Park e Judd obtiveram estas medidas atraves de respostas de papel e lapis (distribui~oes de percentagens). ou ponder mais a percep~ao das diferentes posiyoes mostraram ainda outro fenomeno interessante, a
pedindo aos sujeitos que colocassem fichas de tamanhos diferentes dentro de caixas correspondentes aos diferentes nlveis OCupadas pelos exemplares do grupo ao longo do saber: que os sujeitos revelavam uma tendencia
dos atributos medidos. Esta ultima tarefa destinava-se a ser comparada com as distribui~Oes de percentagens, criticadas pela atributo em causa. E interessante, finalmente, mais forte para utilizar criterios de organiza~ao
sua fraca validade ecol6gica. Mas como os resultados mostraram que nlio existem diferen~as importantes entre os dois tipos
notar que a avaliayao global da semelhan~a entre abstractos na codifica~ao de informayao sobre 0
de tarefa e para simplificannos a nossa apresenta~lio. referiremos apenas as medidas tiradas a partir de tarefas de pape! e
lapis. Para alem disso. foram ainda consideradas outras medidas. Por motivos de espa~o nlio as apresentaremos aqul e
os rnembros do grupo (sim) nao se correlaciona endogrupo do que sobre 0 exogrupo. Estes auto-
dirigimos 0 lei tor interessado para a consulta do original. fortemente com qualquer tipo de constructo. res pediram a estudantes de engenharia e de
370
• 371

gestao que dessem estimativas de percentagens jtaS culturas recusam-se a atribuir causal ida- tica~ao ( ...) da ,Wtltre;(/ das dimensOes nas quais as dife-
canicter normativo e identitario, mais do q
ren~as entre grupos sociais e categorias, ou as semelhan~as
de membros dos dois grupos que apresentavam simplesmente, informacional. Ue, Jflll disposicionais aos seres humanos, ver Mos-
dentro desses grupos seriam ou nao acentuadas (p. 141).
atributos estereotfpicos ou contra-estereotfpicos des
COVI ,
'CI' 1994). Finalmente,
. os seres humanos sao _
desses grupos, e que desempenhassem uma tarefa is inesperados, e, aSSlm, a sua compreensao A abordagem da identidade social (Tajfel,
de distribui'fao de percentagens dos membros dos 5. Categoriza~ao social, percep-;ot!s d Jfl~ge urn maior esfor'fo cognitivo . Mas, a nossa 1978; Tajfel & Turner, 1979; Turner, 1975,
eJ{1
grupos ao longo desses atributos. Alguns sujeitos variabilidade e identiflca~ao SOCia~ eJ{P
eriencia pessoal revela-nos que, por vezes,
•• 1 . 4"
1986; Turner e colegas, 1987; ver Amancio;
deviam, no entanto, pensar em voz alta enquanto a teoria PSICOSSOCIa requer malOr eSlor'f o Monteiro, neste volume) pressupoe que os
desempenhavam essas tarefas. Os resultados mos- U:nitiVO do que 0 professor da cadeira. Para estere6tipos se baseiam em tres processos
traram, de novo, urn efeito de homogeneidade do 5.1. Estereotipos e categorias naturais colocar a questao de modo mais serio, a dife- gerais: a categoriza'fao social, a identifica'fao
exogrupo. Mas 0 fen6meno mais interessante e c n9 a entre 0 que e social e 0 que nao e (ou que social, e a compara'fao social (Tajfel, 1978). Os
que, ao analisarem 0 discurso dos sujeitos que
~
emenos), nao - parece estar tanto nas caractens-
,
dois ultimos estabelecem toda a diferen'fa entre
A 16gica seguida pel a investiga'fao que des-
deviam pensar em voz alta sobre 0 endogrupo crevemos ate aqui e a de proceder por analogia ~cas intrfnsecas dos objectos perceptivos (neste uma perspectiva psicossocial das percep'foes de
ou 0 exogrupo, os autores observaram que eles entre a categoriza'fao dita «natural» (que trata da caso, os outros), como nos nossos objectivos na variabilidade nos grupos e uma perspectiva
faziam mais referencias a si mesmos e a subti- inclusao categorial de objectos e de padroes de sitlla9ao e tam bern no tipo de rela'fao que temos puramente cognitiva que se baseia unicamente
pos quando pensavam sobre 0 endogrupo do que estimula'fao nao-humanos) e a categoriza'fao dita com esses objectos. Para utilizar as palavras de no primeiro processo. E indiscutfvel que as per-
quando pensavam sobre 0 exogrupo. Por outro «social» (que trata da inclusao categorial de pes- Moscovici ( 1982), numa crftica geral a esta con- cep'foes e os julgamentos estereotipicos tern
lado, quando pensavam no exogrupo, os sujeitos soas). Wilder e Cooper (1981) traduziram bern cep9ao segundo a qual basta que 0 estimulo seja uma componente cognitiva (a diferencia'fao
faziam mais referencia a individuos isolados do esta analogia, ao afirmarem: humano para que a percep'fao se tome social, entre categorias). Mas essa componente implica
que quando pensavam no endogrupo. Este resul- tambem urn conhecimento da pr6pria perten'fa
Existem diferen~as claras entre os grupos humanos e as .. , poderiamos, evidentemente, definir [a informa~lio
tado e, c1aramente, contradit6rio com a perspec- social) como qualquer informa~lio ( ... ) acerca de uma
categorial. Como 0 sublinhou, por exemplo,
categorias de objectos naturais (por exemplo, a influencia
tiva exemplar do estere6tipos. Recordemo-nos de mutua entre os membros dos grupos sociais, a natureza pessoa em vez de urn gato ou de uma casa, mas isso seria Billig (1976), uma diferen'fa fundamental entre
que, segundo essa perspectiva, temos uma maior dinamica dos processos de grupo). No entanto, parece-nos bastante rudimentar. Nlio e a natureza do objecto que dife- a categoriza'fao natural e a categoriza'fao social
percep'fao de variabilidade sobre urn grupo que a maioria das pessoas percepciona urn nu mero sufi- reocia 0 social do nlio-social, mas sim a rela~lio com 0 e que, neste ultimo caso, os julgamentos feitos
ciente de aspectos comuns entre ambos os tipos de catego- objecto. Existem gatos sagrados e casa~ sagradas, e exis- pelos sujeitos tern incidencias directas sobre eles
quando conseguimos recuperar mais exemplares
rias para que se justifique encorajar a analise das categorias tern seres humanos que slio menos do que objectos, por
desse grupo. Pelo contnirio, uma representa'fao pr6prios. Ao julgarmos os outros (e mais ainda
sociais de forma analoga 11 das outras categorias de objec- exernplo, para os seus medicos (pp. 117-118).
baseada sobre abstrac'foes deveria resultar em tos (p. 249) .
quando os outros sao membros do nosso grupo)
estimativas de menor variabilidade. Mas nao foi Tambem as percep'fOes e os julgamentos estamos sempre a julgar-nos, no minimo por
este 0 caso. Para Park e Judd, este resultado mos- Como outros autores (por ex., Ostrom, 1984), estereotfpicos nao ocorrem num vacuo (Tajfel, compara'fao impifcita, a n6s pr6prios. 0 conheci-
tra que os sujeitos possuem mais subcategorias a distin'fao proposta por Wilder e Cooper entre 0 1972) e nao poderao ser apreendidos na sua mento da nossa perten'fa a uma categoria im-
significantes para 0 endogrupo, ou seja, que orga- social e 0 nao-social e meramente quantitativa. essencia sem que tenhamos em conta 0 seu con- plica uma componente avaliativa e emocional no
nizam melhor a informa'fao sobre 0 endogrupo. Em primeiro lugar, devido aos seus atributos texto valorativo e social. A incompreensao deste processo de julgamento: 0 valor que atribufmos
Tendo urn conhecimento mais escasso do exo- activos (rufdo, movimento, etc.), os seres huma- aspecto por parte da investiga'fao mais recente aos grupos e tambem 0 valor que nos atribufmos
grupo, pelo contnirio, os sujeitos nao serao capa- nos sao facilmente discriminaveis em rela'fao as levou Tajfel (1982) a sublinhar 0 facto de que a n6s pr6prios enquanto membros desses grupos;
zes de abstrair criterios organizadores para estes outras componentes do meio. Tomam-se, assim, '" al gumas das formula~oes recentes representam urn
daf resulta uma grau de (in)satisfa'fao relativa-
membros. perceptivamente salientes, chamando mais a aten- retrocesso teorico em rela~lio aos primeiros estudos. E isto mente a esse valor (Tajfel, 1978). 0 resultado
No entanto, Park e Judd admitiram nao ser 'fao do que os outros objectos da percep'fao (mas por duas razoes. A primeira diz respeito ao papel crucial final deste processo complexo e tendermos para
capazes de responder a uma questao crucial, que urn elefante, sentado numa esplanada de cafe as desernpenhado pelas diferen~as avaliativas associadas aos uma avalia'fao mais positiva do endogrupo do
e a de saber em que se baseiarn os criterios orga- tres da tarde, seria eventual mente rna is saliente estereotipos sociais. Este aspecto «valorativo» das catego- que do exogrupo em dimensOes importantes para
riza~iies era urn dos pilares das teorias iniciais. Perdeu 0 seu
nizadores da informa'fao sobre 0 endogrupo. do que urn ser humano). Em segundo lugar, OS a nossa identidade social (idem; Turner, 1975;
canicter explfcito atraves da enfase colocada pelos trabalhos
Entramos, assim, na parte final deste capftulo, e seres humanos sao agentes de causalidade mais mais recentes sobre 0 quase monopolio dos processos
ver Amancio; Monteiro, neste volume).
nela regressamos, de algum modo, as origens plausfveis, tornando-se assim mais significantes Cognitivos "puros» no funcionamento dos estereotipos. Voltando a questao das percep'foes de homoge-
conceptuais do estudo dos estere6tipos: 0 seu e mais heurfsticos do que estes objectos (mas, A segunda razlio'para 0 retrocesso teorico e a falta de especi- neidade do exogrupo, torna-se assim interessante
t
373
372

procurar determinar em que medida essas per- A hipotese da auto-estereotipia introdul dois partidos politicos que se avaliassem reci- de homogeneidade do exogrupo, por se alterar
cep~oes tern fun~oes identitarias e nao sao ape-
assim, urn dado novo: a pessoa que emite 0 jUI~ rocamente, em dimensoes pouco importantes de uma situa~ao para outra, parece nao corres-
nas efeitos de diferen~as de informa~ao .
gamento pode identificar-se com urn dos gruPes P\l em dimensoes relevantes para as suas respec- ponder a uma lei geral baseada na quantidade
que esta a julgar, ou seja, ver-se a si propria corno ~vas identidades poifticas. Alem disso, a perten~a diferencial de informa~ao possufda pelos sujeitos
uma entidade indiferenciada da sua propria ca. poHtica dos sujeitos era, segundo as condi~oes, acerca do endogrupo e do exogrupo. 0 principio
5.2. Auto-estereotipia e percepfiio de tegoria. E talvez por isso que muitos estudos tOrn ada saliente ou nao. Os resultados mostraram que preside aos julgamentos de homogeneidade
homogeneidade revelam que os sujeitos podem nao so julgar 0 que a percep~ao de homogeneidade, tanto do dos grupos parece ser, em vez disso, e pelo menos
endogrupo como mats heterogeneo do que 0 endogruPo como do exogrupo aumentava para- em muitos casos, uma preocupa~ao em assegu-
Uma implica~ao importante da ideia referida exogrupo, mas tambem que pode ocorrer 0 in- lelamente a saliencia da perten~a polftica dos rar a uniformidade do endogrupo e, deste modo,
acima e que, provavelmente, ao julgarmos 0 verso . De facto, numa revisao metanalftica dos sujeitoS e a pertinencia das dimensoes de julga- a diferencia~ao social entre grupos. Esta ideia e
endogrupo e 0 exogrupo, verno-nos tambem a resultados obtidos nos estudos sobre a homoge_ mento. Na condi~ao de saliencia forte, endogrupo c1aramente suportada por uma serie de estudos
nos proprios como membros do endogrupo. Ou neidade do exogrupo, Mullen e Hu (1989) con- e exogrupo eram considerados como igualmente realizados por Simon e colegas.
seja, niio adoptarnos urn papel neutro em rela- clufram que nem sempre 0 exogrupo e percepcio- e fortemente homogeneos; na condi~ao de fraca Simon e Brown (1987) argumentaram que os
~ao ao nosso julgamento. Isto significa que, em nado como mais homogeneo, e que a diferen~a saIiencia e em dimensoes nao pertinentes, 0 exo- membros de minorias deveriam percepcionar
muitas situa~oes nos auto-estereotipamos, ou entre a homogeneidade percebida no endogrupo grupo era considera~o como mais homogeneo uma maior homogeneidade no endogrupo do
seja, tomamos em considera~ao, para nos .pro- e no exogrupO nao e, em geral, muito elevada. do que 0 endogrupo. A saliencia da compara~ao que no exogrupo, enquanto que os membros de
prios, as caracteristicas que julgamos ~artll~ar Para alem disso, a familiaridade e 0 nivel de entre grupos e a relevancia das dimensoes de grupo maioritanos deveriam mostrar 0 efeito
com os membros do nosso grupo, e neghgencla- conhecimento directo do grupo nao parece ser 0 julgamento geraram nos sujeitos a percep~ao da c1assico de homogeneidade do exogrupo. Esta
mos as outras caracterfsticas que possufmos: mas dnieo factor responsavel por este efeito. homogeneidade intema dos dois grupos, de modo diferen~a seria devida ao facto de que os pri-
que nos individualizam em rela~ao a eles. E esta a refor~ar a diferencia~ao entre ambos. meiros, possuindo uma identidade social menos
a ideia proposta por Brown e Turner (1981) na Noutro estudo, Judd e Park (1988) fomece- segura, investiriam na coesao do grupo em tome
sua hipotese da auto-estereotipia:
5.3. ldentidade social e percepfoes de
ram aos seus sujeitos a mesma quantidade de de certos padroes normativos importantes. Num
homogeneidade informa~ao sobre os membros do endogrupo e dos seus estudos, estes autores mostraram que,
o autoconceito pode ser visto como uma estrUtura cogni-
tiva reguladora do comportamento em certas con.di~oes do exogrupo, de modo a que ambos os grupos de facto, sempre que 0 endogrupo era minori-
Por vezes, 0 endogrupo e representado como
particulares. Essa estrutura inC\ui dois subsiste~as Impo~­ apresentassem 0 mesmo grau de diferenci~ao in- tario, independentemente de 0 exogrupo 0 ser
tantes: a identidade pessoal e a identidade socIal. A pn-
rnais hornogeneo do que 0 exogrupo, nomeada-
tema. Numa condi~ao os sujeitos pensavam que tambem ou nao, os sujeitos julgavam-no como
meira refere-se as autodescri~oes em termos de atributos mente se 0 atributo no qual se opera essa dife-
iriam competir contra 0 exogrupo. Noutra con- mais homogeneo do que 0 exogrupo. Mas quando
pessoais ou idiossincniticos, tais como tra~os ffsicos, inte- rencia~ao for urn atributo relevante para a dife-
di~iio, pensavam que iriam cooperar com ele .. o endogrupo era maioritario e 0 exogrupo era
lectuais,ou de personalidade. A segunda denota autodes- rencia~ao entre endogrupo e exogrupo. 0 ~es~?
cri~Oes em lermos de perten~as a calegorias sociais tais como Entre outros resultados, Judd e Park observaram minoritano, observava-se 0 fen6meno inverso.
se passa quando a perten~a grupal dos m~l~l­
a ra~a, a c\asse social, a nacionalidade, 0 sexo, elc . ( ... ) que a anticipa~ao de competi~ao gerava uma per- Ou seja, a percep~ao de hornogeneidade nos
duos e tomada saliente, ou se existe competl~ao
Silua~oes diferenles evocam, ou tomam salienles, ~uto­ ce~iio de homogeneidade do exogrupo ainda grupos pode corresponder tarn bern a uma estra-
concep~oes diferenles, que sao utilizadas para construlr os entre os grupos.
maior do que a anticipa~ao de coopera~ao. Mas, tegia de manuten~ao de uma identidade social
estimulos sociais e que regulam 0 comportamento de forma
paradoxalmente, era tambem nesta condi~ao que positiva.
5.3.1 Percepr;ao de homogeneidad:~
adaplaliva (p. 38).
os sujeitos se recordavam melhor das caracterfs- Mais recentemente, Simon e Hamilton (1994)
Desenvolvendo esta ideia, Turner (1984) procura de coesao e protecr;a ticas individualizantes dos mernbros do exogrupo. demonstraram que a perce~ao de maior homo-
propos: da identidade social Ou seja, na condi~ao de competi~ao, os sujeitos geneidade no endogrupo e de vida a uma neces-
~arecem ter recorrido a criterios abstractos para sidade de refor~o da coesao para uma identidade
A auto-eslereolipia produz a despersonaliza~ao do eu,
.
A ideia de que os Julgamentos de homogenei-
_ Julgar 0 exogrupo enquanto categoria, sem no social positiva, gerada por urn baixo estatuto gru-
iSlO e, a equivalencia ou a idenlidade perceptiva enlre 0
proprio e oulros membros do mesmo grupo em dimenso~s dade sao afectados pelas implica~oes da situa~ao ~ntanto se terem esquecido das caracterfsticas pal. Num primeiro estudo, estes autores obser-
relevanles . E esla redefini~ao cogniliva do eu - dos aln- de J'ulgamento para a identidade social do~ su- lI\dividuais (dos exemplares) desse grupo. varam que os sujeitos se consideram como mais
bUlOS unicos e das diferen~as individuais para as perten~as fI1cos.
jeitos e apoiada por alguns resultados emP de Os resultados descritos acima sao importan- semelhantes ao seu grupo (ou seja, se auto-este-
calegoriais partilhadas e os eSlereolipos que Ihes eslao asso- les na medida em que demonstram que 0 efeito reotipam mais fortemente), no caso de perten-
Por exemplo, Kelly (1989) pediu a adeptoS
ciados - que medeia os comportamenlos grupais (p. 528).
374
• 375

cerem a urn grupo minoritario, atribuindo a si o c1ube a gl6ria, outros para 0 levarem a penho aO se passando em rela~ao aos presidentes do culino. Os autores esperavam que uma repre-
. presidentra .
pr6prios mais tra~os tfpicos do endogrupo e
·
Se nos pe dIrem . Igarmos dOIS
para JU
. . es
rt~ogrupo . Ou seja, julgaremos urn membro senta~ao cognitiva mais complexa levaria os
rejeitando mais tra~os tfpicos do exogrupo. Num de cada c1ube, urn no pnmelro caso (gloria) eositivO e urn mem bro negattvo
' do endogrupo sujeitos a organizarem os tra~os num maior
segundo estudo, os sujeitos foram divididos em outro no segundo (penhora), 0 que diremos? e ~e forma, respectivamente, mais favoravel e numero de conjuntos independentes. De facto,
dois grupos mfnimos segundo as suas preferen- (I1ais desfavoravel do que urn membro positivo os resultados mostraram que, enquanto pen-
cias por pinturas, mas foram informados de que e um membro negativo do exogrupo. savam no endogrupo, os sujeitos faziam urn
o pintor correspondente ao seu grupo era presti- 6.1. Comp/exidade cognitiva Linville (1980) e Linville e Jones (1980) con- maior numero de agrupamentos de tra~os do que
giado (estatuto elevado) ou de que 0 seu prestf- e extremismo avaliativo duzirarn uma serie de estudos acerca desta enquanto pensavam no exogrupo. Outro estudo
gio era fraco (estatuto baixo). Os resultados mos- questao. Num desses estudos, sujeitos brancos mostrou resultados semelhantes, quando estu-
traram, de novo, que urn endogrupo de estatuto o modelo da complexidade-extremismo (Lin- do sexO masculino deviam executar uma tarefa dantes universitarios deviam desempenhar uma
elevado aumenta mais a auto-estereotipia do que ville, 1982; Linville & Jones, 1980) e frequente_ de selec~ao de tra~os de personaJidade enquanto tarefa identica, pensando sobre pessoas da sua
urn grupo de estatuto baixo, mas apenas no caso mente citado na Iiteratura por se tratar de Urna pensavam, ou em pessoas brancas (endogrupo) idade ou sobre pessoas de 60-70 anos (Linville,
em que 0 endogrupo e maioritario. Para alem formula~ao especffica da hip6tese da homoge_ Ou em pessoas negras (exogrupo) do sexo mas- 1982,Exp.I).
disso, estes autores encontraram uma forte corre- neidade do exogrupo que relaciona directamente
la~ao positiva entre as medidas de auto-estereo- a estrutura das nossas representa~oes sobre os
tipia e as medidas de percep~ao de homogenei- COMPLEXIDADE COGNITIVA E EXTREMISMO DAS AVALIAC;OES
grupos com as avalia~oes que fazemos acerca
dade do exogrupo: quanta mais se consideravam ACERCA DOS MEMBROS DE UM GRUPO
dos seus membros. Para Linville, os estereotipos
semelhantes ao endogrupo, mais os sujeitos con- estruturam-se, em mem6ria, segundo dimensoes Imaginemos que. destu vez. nfio iamus visitar um mercudo arube. mus sim Murte. Como provllvelmente nunca
sideravam 0 endogrupo homogeneo. tradutoras de co-ocorrencias de comportamen_ vimos um marciano. espemriamos encontmr Marcianos «inteligenles» e «pacificos». ou «estupidos» e «agressivos»
tos ou de caracterfsticas de personaJidade obser- (0 nosso estere6tipo do "marciano" foi construido atmvcs de leitunL'i de Ray Bmdhury e de H.G . Wells): a nossa
vadas nos membros dos grupos. Segundo este representar;fio cogniliva dos murcianos traduz uma forte correlu~iio entre inteligencialestupidez e pacitismo/agres-
6. Estereotipos, percep~oes modelo, uma maior familiaridade com 0 endo- sividade. que se organizam, assim, segundo lima s6 dimcnsfio.
Chegudos a Marte, somos recebidos por Qwerty . que. em con versa casual, nos ex plica a tcoria da relatividade
de homogeneidade grupo leva-nos a complexificar a representa~ao
eo seu contributo par.! a paz entre os planctas. Qwerty confirmn n nossn expectativa sobre II associuc;iio entre paci-
e julgamentos avaliativos cognitiva desse grupo, ou seja, a organiza-la lismo e inteligencia nos marcianos. Jd no hotel. Asdfg concorda com Qwerty no qlle diz respeito it paz, mas nfio con-
segundo um maior numero de dimensoes inde- =
segue resolver u famosa equaliiio 2+2 x. Por outro lado. Zxcvb explica-nos. de antcnas eri"adas. que 0 dominio
Em que medida a impressao que temos acerca pendentes (ver caixa na pag . segunte) . lecnlllogico du teoria da relatividude permitird aos marcianos 0 controlo militar do sistema solar. Rindo-se a\arve-
de urn grupo em termos da sua homogeneidade E verdade que urn born presidente sera sem- mente. Poiuy confesslI nao perceber nada do que diz Zxcvb. mas concorda. Ficamos assim a saber que ufinal nem
lodo~ os marcianos sao. simultnneamente. pacfficos e inteligentes. Hd lambCm marcianos pacificos e estupidos
pode afectar as avalia~oes que fazemos acerca pre julgado de forma mais positiva do que urn
(Asdfg). mnrcianos agressivos e inteligentes (Zxcvb). e marciunos agressivos e eSlupidos (Poiuy) . A nossa reprc-
dos seus membros individuais? E em que medida mau presidente. No entanto, no caso dos «Leoes sentaliuo dos marciunos. que antes aprcsentava uma so dimensao. passa. agom. a apresentar duns:
essas avalia~oes sao determinadas tam bern pela da Luz», 0 nosso c1ube, cujos s6cios conhece-
mos melhor, sabe que alguns presidentes que Representalioes dos «marcinnos»:
procura de uma identidade social positiva?
Imaginemos que somos s6cios do «Futebol levaram 0 c1ube a gl6ria tam bern mostraram ter unidimensional bidimensional
Clube dos Leoes da Luz». Como contactamos defeitos e que os que 0 levaram a penhora tam- (antes) (depois)
bern mostraram ter qualidades (tal como os mar- inteligcntes e pacfficos inteligentes
com muitos outros s6cios do c1ube, possufmos
uma representa~ao cognitiva complex a desse cianos do exemplo que damos a seguir) . Ja no
Qwerty Zxcvb
grupo. Pelo contrario, os s6cios dos «Aguias caso dos «Aguias das Antas» nao temos esse
das Antas» sao-nos muito menos familiares, e, conhecimento e, portanto, s6 poderemos julgar pucflicos agressivos
assim, a nossa representa~ao desse grupo e muito urn born e urn mau presidente pelo que sabernos
mais simples. A hist6ria de ambos os clubes e deles (gloria ou penhora). Assim, os nossoS jul- Asdfg Poiuy

rica em peripecias, nomeadamente em rela~ao gamentos acerca dos presidentes do nosso c1ube
aos seus presidentes e as ac~oes mais ou menos serao mitigados pelas informa~oes cornple- estupidos c agressivos estlipidllS

eficazes que desenvolveram, uns para elevarem mentares que possufmos acerca deles, 0 mesrno
376 377

6.1.1 Complexidade cognitiva soas cuja perten~a grupal era desconhecida 0 Illembros socialmente desejaveis e social mente «castigados», enquanto que os membros social-
, . ' U,
e extremismo dos julgamentos no mlnlmO, que, por serem apresentadas cOIll .Ildesejeiveis do nosso grupo, de forma, respecti- mente desejaveis, por contribufrem para essa
estudantes, pertenciam ao grupo dos sujeitos III 0 ~amente , mais favoravel e mais desfavoravel do positividade, seriam «glorificados» nos julga-
- d
n~o a urn ~~ogrupo; no segun 0, parece-nos qUe
as que membros semelhantes do exogrupo. Noutros
Para testarem esta ideia, Linville e Jones (1980, mentos dos sujeitos. Os membros do exogrupo,
Exp. 4) forneceram aos sujeitos duas cartas de so urn sUJelto extremamente perverso veria 0 terJUos, diferenciamos mais entre si os membros por serem irrelevantes para a identidade do
candidatura para uma escola prestigiada. Essas bolinhos de chocolate como membros do endo~ «bans» e os membros «maus» no caso do endo- endogrupo, seriam avaliados de fonna mais neu-
cartas variavam em qualidade: uma mostrava grupo ou do exogrupo, 0 que e improvavel, dado gropo do que no caso do exogrupo. Isto pode ser tra. Foi 0 que mostraram os resultados.
que 0 candidato era urn optimo estudante, en- que a amostra utilizada por Linville era aleatorj vista como uma manifesta~ao do efeito de homo- Estes resultados foram reproduzidos em estu-
. da curva normal! a
e, portanto, representatlva
quanta que a outra revelava que 0 candidato era gelleidade do exogrupo. No entanto, para Mar- dos posteriores (Marques e colegas, 1988). Por
urn estudante fraco. Para testarem 0 efeito da Numa demonstra~ao mais directa da rela~ao ques e colegas, essa manifesta~ao de maior varia- exemplo, Marques e yzerbyt (1988) pediram a
complexidade cognitiva nos julgamentos acerca entre complexidade cognitiva, extremismo e per- bilidade no endogrupo do que no exogrupo nao estudantes de Direito que ouvissem dois discur-
destes candidatos, Linville e Jones pediram aos ten~a grupal, Linville e Jones (1980, Exp. I) pedi- depende fundamentalmente do facto de os sujei- sos (urn born e urn mau). 0 estudo era apresen-
sujeitos que os avaliassem: ou segundo seis crite- ram a sujeitos brancos de ambos os sexos que tOS terem mais infonna~ao ou uma represen- tado como sendo realizado pelo «laboratorio de
rios (complexo), ou apenas segundo dois criterios avaliassem uma boa e uma rna candidatura a taylio mais complexa acerca do endogrupo, mas psicolingufstica» e pretendia supostamente com-
(simples). A hipotese era que os sujeitos a quem uma escola prestigiada. Estas candidaturas eram antes do facto de estarem mais investidos emo- parar a capacidade discursiva dos estudantes de
tinham side fornecidos seis criterios avaliativos apresentadas, segundo as condi~oes, por estu- cionalmente nos julgamentos sobre 0 endogrupo Direito e de Filosofia da universidade onde 0 es-
emitiriam julgamentos menos extremos do que dantes brancos ou negros, do sexo masculino ou do que sobre 0 exogrupo. E 0 que demonstra tudo foi conduzido. Os sujeitos encontravam-se
os sujeitos a quem tinham side fornecidos dois feminino . Os resultados mostraram que os can- uma serie de estudos sobre 0 que se convencio- todos na mesma sala, ouvindo, portanto, exacta-
criterios. Os resultados confinnaram esta hipo- didatos da mesma ra~a ou do mesmo sexo dos nou chamar efeito ovelha negra (Marques, 1988, mente os mesmos dois discursos, mas as instru-
tese: 0 «born aluno» e 0 «mau aluno» foramjulga- sujeitos eram avaliados de fonna menos extrema 1990, 1993; Marques e Paez, 1994, 1996). ~oes que possuiam por escrito infonnavam-nos
dos menos positivamente e menos negativamente do que os candidatos de ra~a ou de sexo dife- Num dos primeiros estudos sobre esse efeito, de que os discursos tinham side feitos, ou por
no primeiro caso do que no segundo. Linville rentes. Noutro estudo, Linville e Jones (1980, Marques, Yzerbyt e Leyens (1988) pediram a dois por estudantes de Direito ou por dois estu-
(1982) obteve resultados semelhantes num estudo Exp. 2) obtiveram resultados semelhantes. estudantes de nacionalidade belga que avalias- dantes de Filosofia. Os resultados mostraram
que ilustra perfeitamente 0 que acima dissemos Uma quesHio que devemos colocar em rela- sem, atraves de uma serie de tra~os de persona- que, embora tivessem ouvido exactamente os
acerca da analogia entre categoriza~ao social e ~ao aos estudos de Linville e de Linville e Jones lidade, os «estudantes belgas simpaticos», os mesmos discursos, os sujeitos avaliavam 0 born
categoriza~ao natural seguida por muitos auto-
e a de saber em que medida os resultados encon- «estudantes belgas antipeiticos», os «estudantes discurso como sendo melhor quando pensavam
res no dominio dos estereotipos . Nesse estudo , trados traduzem efectivamente os sentimentos e norte-africanos simpaticos» e os «estudantes que tinha side feito por urn estudante de Direito
os sujeitos deviam avaliar... bolinhos de choco- emo~oes que, em muitas outras situa~oes, obser- norte-africanos antipaticos». Segundo 0 modele do que por urn estudante de Filosofia. Paralela-
late! Alguns bolinhos eram melhores do que vamos nos julgamentos sobre os membros do da complexidade-extremismo, seria de esperar mente, os sujeitos avaliavam 0 mau discurso mais
outros, e os sujeitos tinham como instru~oes endogrupo e do exogrupo. Sera verdade que urn que os dois primeiros fossem avaliados, respec- negativamente no primeiro do que no segundo
prova-los e, em seguida, avalia-Ios segundo seis presidente que leva 0 nosso clube a penhora e tivamente, de fonna menos positiva e menos caso (ver Marques, 1988, para urn resume mais
criterios, ou segundo dois criterios. Os resulta- sempre avaliado menos negativamente do que negativa do que os dois segundos, dado que a completo destes estudos).
dos mostraram que os julgamentos baseados em urn presidente semelhante do clube rival? representa~ao cognitiva dos sujeitos seria mais Mas a questao que se coloca e a de saber por
dois criterios eram mais extremos do que os jul- complexa para os bel gas (0 endogrupo) do que que razao nuns estudos se observa 0 efeito da
gamentos baseados em seis criterios. para os norte-africanos (exogrupo). No entanto, complexidade-extremismo, enquanto noutros se
6.1.2. Identificapio social, variabilidade
Estes resultados indicam que 0 extremismo dos o raciocfnio seguido por Marques e colegas era observa 0 efeito ovelha negra. Uma primeira
julgamentos acerca dos membros de urn grupo do endogrupo e extremismo dos diferente. A ideia de base nao era a de que os resposta a esta questao pode ser encontrada num
varia na razao inversa do numero de dimensoes julgamentos: glorificando os he- julgamentos dependiam de uma maior ou menor estudo realizado por Marques (1990). Nesse es-
independentes que sao evocadas no momenta do rois e punindo os traidores complexidade cognitiva acerca dos grupos em tudo, cadetes de uma escola militar avaliavam
julgamento. Note-se, no entanto, que estes dois causa, mas sim que os exemplares social mente dois outros cadetes fictfcios, urn dos quais adop-
estudos nao utilizaram a perten~a ao grupo como Em muitas situa~oes, ao inves do que foi indesejaveis do endogrupo, por colocarem em tava comportamentos social mente desejaveis e 0
variavel: no primeiro, tratava-se de avaliar pes- observado por Linville e colegas, avaliamos as qUestao a positividade global do grupo, seriam outro comportamentos socialmente indesejaveis.
• 379
378

Segundo as condit;oes, esses comportamentos leal do endogrupo mais favoravelmente do djll11 de mais exemplares do endogrupo do que estudo em que pretendiam demonstrar que a per-
ocorriam em dimensoes importantes ou em o membra leal do exogrupo e 0 membro des~ue do exogrupo po~iciom:dos nos polos positivo e cept;ao de maior ou menor variabilidade nos
dimensoes secundarias para a identidade social. do endogrupo mais desfavoravelmente do q al egatiVO dessa dlmensao. mernbras do endogrupo e do exogrupo nao ex-
Ue 0
o caracter importante ou secundario destas membra desleal do exogrupo. Estes sUJ'e'
Itos
(I Nesta logica, e posslvel que, por exemplo plicaria 0 maior extremismo de julgamento em
dimensoes tinha sido definido anteriormente mostraram 0 efeito oveLha negra. Mas os sUjeit o caso do estudo de Marques e Yzerbyt (1988), relat;ao aos membras positivos e negativos desse
pelos proprios sujeitos. Para alem disso, os cade- - se I'd'fi
que nao entl Icavam com a sua unive rSl_ Os
. ~rnbora tivessem ouvido os mesmos discursos, os grupo. Nesse estudo, estudantes Iiceais deviam,
tes eram apresentados como alunos da escola dos dade mostraram 0 efeito oposto (complexidad 5ujeitoS dispusessem de mais informat;6es exte- entre outras coisas, fazer distribuit;oes de per-
sujeitos ou como alunos de uma outra escola -extremismo) , julgando 0 membra leal do end:~ riores ao estudo que Ihes permitissem diferenciar centagens de estudantes do seu liceu ou de urn
militar. Os resultados mostraram que, em dimen- grupo menos favoravelmente do que 0 membro rnelhor urn born dum mau discurso feito por urn Hceu rival numa serie de dimensoes (simpaticos-
soes importantes, os membras social mente leal do exogrupo e 0 membra desleal do endo_ membro do endogrupo do que por urn membra -antipaticos, inteligentes-estupidos, etc.). Os
desejaveis do endogrupo eram avaliados mais grupo men os desfavoravelmente do que 0 mem_ do exogrupo. Poderiam, talvez, ter-se recordado sujeitos deviam tambem pensar nos estudantes
positivamente do que os do exogrupo, enquanto bra desleal do exogrupo. de urn maior numera de colegas de faculdade do de urn ou do outro liceu que correspondiam aos
que os membras socialmente indesejaveis do que de alunos de Filosofia, capazes de fazer urn polos dessas dimensoes e, em seguida, avalia-los.
endogrupo eram avaliados mais negativamente tal (born ou mau) discurso. No mesmo sentido, Os resultados mostraram, em primeira lugar, que
do que os do exogrupo. Mas, quando as dimen- 6.1.3. Extremismo dos julgamentos: nada impede de pensar, no caso do estudo de os sujeitos percepcionavam 0 seu grupo como
soes nao eram importantes, os membros do Marques (1990), que os cadetes prestem maior mais diferenciado do que 0 exogrupo, atraves das
identificarao social ou maior
endogrupo, desejaveis ou indesejaveis eram jul- aten~ao a colegas social mente indesejaveis e distribuit;oes de percentagens . Este resultado
diferenciarao no endogrupo? socialmente desejaveis em dimensoes relevantes apoia a hipotese da homogeneidade do exogrupo.
gados de forma moderadamente mais positiva
do que os do exogrupo. Assim, 0 efeito ovelha o efeito oveLha negra parece ser 0 resuItado do que em dirnensoes irrelevantes, exactamente Para alem disso, os sujeitos avaliavam os mem-
negra parece ser devido a relevancia que os mem- do investimento emocional dos sujeitos na garan- porque aquelas dimensoes slio reLevantes. bras positivos e negativos do endogrupo de forma
bros julgados tern para a preservat;ao de uma tia de uma identidade social positiva, enquanto Portanto, como tern mais oportunidades de obser- mais extrema do que os membros equivalentes
identidade social positiva. Quando essa relevan- que 0 efeito da compLexidade-extremismo parece var colegas da sua propria escola, e como pres- do exogrupo. Este resultado apoia a hipotese da
cia e fraca, os membros negativos do endogrupo ser, efectivamente, 0 resultado de uma estrutu- tam maior atent;ao a essas observat;oes quando oveLha negra. No entanto, e e este 0 resultado
nao sao «castigados». Ou seja, urn maior extre- rat;ao cognitiva-informacional mais complex a elas implicam dimensoes relevantes, os sujeitos mais importante, as avaliat;oes do exogrupo
mismo de julgamento em relat;ao ao endogrupo acerca do endogrupo do que do exogrupo. No tambem possuirao representat;oes mais dispersas apresentavam uma correlat;ao positiva com as
nao parece resultar do facto de os sujeitos pos- entanto, esta conclusao pode nao corresponder It dos membras do endogrupo do que dos membras distribuit;oes de percentagens: aparentemente,
sufrem mais informat;oes acerca do endogrupo realidade. Senao vejamos: do exogrupo nessas dimensoes. 0 mesmo se as avaliat;oes dos membros do exogrupo estavarn
do que do exogrupo, mas sim da relevancia que o tipo de complexidade cognitiva de que nos podera passar em relat;ao ao estudo de Brans- associadas ao facto de os sujeitos conhecerem
esses membras tern para 0 proprio sujeito falam Linville e Jones, no modelo da complexi- combe e colegas (1994). Neste caso, e possfvel (mesmo que mal, ou poucos) alguns membros
enquanto membra do mesmo grupo. dade-extremismo, depende do numera de dimen- que os sujeitos mais identificados com uma do exogrupo. Mas as avaliat;oes do endogrupo
Urn estudo realizado por Branscombe,Wann e soes definitorias da representat;ao dos grupos. equipa prestem melhor atent;ao as ocorrencias apresentavam uma correlat;ao muito menor com
Noel (1994) parece compravar esta ideia. Nesse No entanto, como ja vimos, nao e essa a unica relevantes em relat;ao a essa equipa do que os as distribuit;6es: as avaliat;oes dos membras do
estudo, os sujeitos deviam avaliar dois membras conceptualizat;ao possfvel da representat;ao da sujeitos que dedicam a sua atent;ao a outras endogrupo eram independentes dos membros do
do endogrupo ou dois membros do exogrupo, heterogeneidade de urn grupo. Essa heterogenei- coisas. Se isto fosse verdade, entao deduzirfarnos grupo recordados pelos sujeitos. Pelo contrario,
dos quais, urn se mostrara leal e 0 outra se mos- dade pode corresponder, por exemplo, a variabi- que 0 maior extremismo em relat;ao aos mem- estas avaliat;oes apresentavam uma forte corre-
trara des leal ao seu grupo (escrevendo uma crftica Iidade percepcionada ao longo de uma dimens ao bros positivos e negativos do endogrupo nao lat;ao com uma serie de medidas de identifica-
positiva ou negativa a equipa de basquetebol da (recordemo-nos das medidas var e range de que depende de qualquer processo associado adefesa t;ao dos sujeitos com 0 seu grupo: quanta maior
universidade). Os sujeitos estavam divididos em falamos atnis). Ou seja, e possfvel que os suje~­ de uma identidade social positiva, mas sim ao era a identificat;ao com 0 grupo, maior era 0 ex-
duas condit;oes segundo 0 seu grau de identifi- tos avaliem os membras do endogrupo mais poSI- maior conhecimento dos sujeitos acerca do endo- trernismo dos julgamentos em relat;ao aos mem-
cat;ao (alto ou baixo) com a equipa da universi- tivamente ou mais negativamente numa dimens ao gJupo (ver caixa da pag. seguinte). bras do endogrupo.
dade. Os resultados mostraram que os sujeitos (por exemplo , «simpatia-antipatia») do que OS Foi na sequencia deste raciocfnio que Mar- Mas se 0 extremismo dos julgamentos em
fortemente identificados avaliavam 0 membra membras do exogrupo, apenas porque se recor- qUes, Robalo e Rocha (1992) conduziram urn relat;ao ao endogrupo e devido a urn processo de
380
• 381

'dentificarrao social, mais do que a perceprroes se os sujeitos tivessem side categorizados, respec-
EXTREMISMO DE JULGAMENTO E PERCEPC;OES DE VARIABILIDADE ~'ferenciais de homogeneidade no endogrupo e tivamente, no primeiro ou no segundo padrao).
hmlgincmos que as representa<;iies uo enuogrllpo e uo cxogrllpo correspondialll. por exelllpio. na <lptica d
~ exogrupo, como poderemos explica-lo real- Noutra condirrao (exogrupo), as pessoas eram
modelo dn familinriuaue uiferencial (Linville c colcga~, 19119). uc que fahllllo!o. acimu. as uistriblli<;iie!. !.cgllintes: 0 ~ente? Vma explicarrao explorada mais recente- apresentadas como membros do exogrupo
ENDOGRUPO: mente e que nao &e trata tanto de urn fen6meno (padrao X ou padrao Y, se os sujeitos tivessem
I 10 25 30 25 J() ] =IO()% de extremismo diferencial em relarrao ao endo- sido categorizados, respectivamente, no padrao Y
muito simpaticos neutros antipaticos muito ropo e ao exogrupo, como de urn processo de ou no padrao X). Na condirrao endogrupo, 4 pes-
simpaticos antipaticos ~entativa de exclusao dos membros do endo- soas apresentavam exactamente a mesma orde-
EXOGRUPO: gropo que amearram, do interior a positividade narrao do sujeito (membras modais do endogrupo)
O____~____I_O____~___8_0____~____I_O____~____O____~J=IOO%
L I_ _ _ _ _
do grupo. Note-se que esta ideia e coerente com e uma pessoa apresentava uma ordenarrao quase
o que discutimos acima acerca dos trabalhos de oposta (membro desviante do endogrupo). Na
muito simpaticos neutros antipaticos muito
simpaticos antipaticos Silllon e colegas. Ao rejeitarem os membros condirrao exogrupo, 4 pessoas apresentavam a
Ou scju, os slIjeitos recoruam-se-iam de mcmbros Imlis extremos uo endogrupo do que do cxogrupo. Se repre_ indesejaveis do endogrupo, os sujeitos estarao a ordena/fao oposta a do sujeito (membros modais
scntarmos as uistribuh,()es utmves de histogrulllus. tcreillos nmi!. ou menos 0 seguinte:
procurar garantir a coesao do grupo em tome de do exogrupo) e uma pessoa apresentava uma
vaIores aceites como positivos. Ou seja, trata-se ordenarrao muito semelhante a do sujeito (mem-
de urn fen6meno essencialmente normativo. bra desviante do exogrupo).A tarefa dos sujeitos
df1b ENOOGRUPO EXOGRUPO
era avaliarem urn membro modal e 0 membro
desviante. No entanto, esta tarefa nao era exacta-
5c os sujeitos devcssem avaliar mcmbros positivos e ncgutiv.os dos dois grupos, no cuso do endogrupo o~ !.eus 6,1.4. Extremismo, julgamentos mente a mesma para todos os sujeitos. Enquanto
julgumcntos scriam tumbclll mais cxtremos, undo que, no cuso uo exogrllpo. nao se recordavnlll de ninglicill corres-
pondendo u esstlS curucterfsticus. Estus rcpresentur;oes ua vuriubilidadc dos Illcmbros do endogrupo c do cxogrupo
normativos, e coesiio social que alguns nao recebiam qualquer informarrao
poderao corresponder liS ilvulia<;5cs seguintes na mesmu escalu: antes de verem as respostas das pessoas que
ENDOGRUPO: Num estudo recente, Marques, Abrams, Paez e deviam avaliar (condirrao sem norma), outros
Taboada (1998) apresentaram aos sujeitos urn eram informados, antes disso (condirrao nonna),
muito simpaticos neutros antipaticos muito caso de homicfdio, pedindo-lhes que ordenassem que «diversos estudos demonstraram que os
simpaticos antipaticos as personagens implicadas no caso, da mais res- membros do padrao de avaliarrao» do sujeito
EXOGRUPO: ponsavel para a menos responsavel, e que justifi- «fazem geraImente a ordenarrao seguinte ... »_
cassern essa ordenarrao. 0 estudo era apresentado E cada sujeito recebia como informa/fao que essa
como fazendo parte de uma investigarrao sobre ordenarriio era exactamente a mesma que havia
muito simpaticos neutros antipaticos muito
simpaticos antipaticos «tornada de decisao em juri». Os sujeitos eram dado na primeira sessao. Ou seja, na condirrao
5e rodmmos os dois histogrmnus e os sobrepusennos u um gnllico trudutor dus uvuliu"aes dos membros do informados acerca de dois padroes distintos de norma, os sujeitos sabiam da existencia de uma
endogrupo e do cxogrupo em questao ... tomada de decisao nesse contexte e oobjectivo nonna grupal, e verificavam que as suas respostas
uvnliu<;ao + suposto do estudo era 0 de saber em que padrao correspondiam exactamente a essa norma.
eles se incIuiam (padrao X ou padrao Y). Numa o que mostraram os resultados? Em primeiro
segunda sessao, os sujeitos eram categorizados lugar, quando avaliaram 0 endogrupo e 0 exo-
num dos padrOes (sem que 0 soubessem, de forma grupo no geral, todos os sujeitos mostraram urn
aleat6ria), supostamente com base nos criterios endogrupo bias: sem exceprrao, manifestavam
que haviam evocado na justificarrao da sua orde- uma atitude mais favoravel ao endogrupo do que
na9ao das personagens. Pedia-se-lhes, enta~, que ao exogrupo, diziam preferir fazer parte do
analisassem as ordenarroes dadas por cinco outras endogrupo do que do exogrupo, consideravam
ENDOGRUPO EXOGRUPO
... vercmos que us avuliur;iies mais cxtrelllus dos membros do endogrupo pudcnio correspondcr simplcMllcnlc U
j)essoas. Numa condirrao (endogrupo) essas pes- que a categorizarrao tinha sido correcta. Mas
cstn difercOI,n de informa<;ao e nao II um mnior invcstimcnto emocional nu pre~ervu<;ao ue umu iden,tiuude po~ilivu, soas eram apresentadas como membros do endo- algo diferente se passou nas avaliarroes dos
grupo (pertencentes ao padrao X ou ao padrao Y, membros individuais dos grupos: enquanto que,
382 383

na condicrao sem norma, os sujeitos avaliaram os Se 0 extremismo do julgamento fosse dey'


membros do endogrupo (tanto os modais como a uma percepcrao do endogrupo como send Ido
o desviante) mais positivamente do que os mem- heterogeneo do que 0 exogrupo (note-se a1s
°lll' AVALIACAO DOS MEMBROS MODAIS E DESVIANTES
bros do exogrupo, na condicrao norma 0 mem- apesar de os grupos serem mfnimos, os suo ~Ue, DO ENDOGRUPO E DO EXOGRUPO
. d . .. " ~eltos (MARQUES, ABRAMS, E PAEZ TABOADA, 1998)
bros modal do endogrupo foi avaliado mais possuem am a aSSlm mms mlormacrao sobre
positivamente do que 0 membro modal do exo- endogrupo do que sobre 0 exogrupo: a info 0
- acerca d e 81' propnos
, . ),nao fIlla-
-deveriam exist'
grupo, e 0 membro desviante do endogrupo foi D
avaliado mais negativamente do que 0 membro
desviante do exogrupo (ver caixa da pag.
crao
diferencras em termos da responsabilizacrao.
membros do endogrupo seriam sempre aValiad
0: EXPERIENCIA 2 Membro Modal

Membro Desviante
seguinte). Ou seja, enquanto a simples catego- de forma mais extrema do que os do exogrupos Avaliayao
+7 -
rizacrao gerou urn endogrupo bias nos dois tipos Mas se 0 extremismo for 0 resultado de uo.
de membros, a associacrao de uma norma do processo normatlvo, . e'de esperar que, quando III 6 -
endogrupo a essa categorizacrao gerou urn feno- anticipam 0 julgamento por parte de outras pes- 5 -
menD proximo do efeito ovelha negra. Aparen- soas relevantes (os membros do endogrupo), os
temente, entao, 0 extremismo do julgamento em sujeitos estejam menos dispostos a revelar 4 -
relacrao aos membros do endogrupo provem do benevolencia em relacrao a alguem que ponha 0 3 -
facto de estes membros poderem mostrar-se seu grupo em causa. Nesse caso, os membros do
coerentes com uma norma positiva para a iden- endogrupo seriam avaliados de forma mais ex- 2 -
tidade social do grupo ou em contradicrao com trema na condicrao de responsabilizacrao perante •1 -
essa norma, sendo, neste caso, subjectivamente o endogrupo. Foi 0 que mostraram os resultados: endogrupo exogrupo
endogrupo exogrupo
punidos atraves de uma avaliacrao extremamente os sujeitos avaliaram sempre os membros rno- Sem Norma Com Norma
negativa (Marques e Paez, 1994, 1996). dais do endogrupo mais positivamente do que os
Mas se este raciocinio estiver certo, ou seja, membros modais do exogrupo. No entanto, a
se 0 extrernismo for, efectivamente, urn processo diferencra era maior na condicrao de responsabi-
normativo, podemos esperar que ele seja maior Iizacrao perante 0 endogrupo. Para alern disso,
quando os sujeitos sabem que os seus proprios quando eram responsabilizados perante 0 endo- EXPERIENCIA 3 D Membro Modal

julgamentos vao ser avaliados por outros mem- grupo, os sujeitos avaliavam 0 membro des- Membro Desviante
bros do endogrupo. Num segundo estudo, Mar- vi ante do endogrupo mais negativamente do que Avaliayao
ques e colegas (1998) categorizaram os sujeitos o membro desviante do exogrupo. Ja quando +7 •
(padrao X e padrao Y) e informaram-nos sobre eram responsabilizados perante 0 exogrupo, os
6 .
as respostas de membros modais e desviantes sujeitos avaliavam 0 membro desviante do endo-
segundo urn procedimento identico ao anterior. grupo mais positivamente do que 0 membro des- 5 •
Os sujeitos deviam igualmente julgar estes mem- viante do exogrupo (ver caixa da pag. seguinte). 4 -
bros, no endogrupo e no exogrupo. Mas, numa Dissemos acima que 0 facto de subavaliarem
condicrao, eram informados de que as suas ava- os membros indesejaveis do exogrupo pode ser- 3 .

Iiacroes seriam, posteriormente, transmitidas a vir para dar aos sujeitos a impressao de mante- 2 .
outros membros do endogrupo (responsabili- rem a coesao do endogrupo em tomo de val ores
•1 -
zacrao em relacrao ao endogrupo), enquanto que, susceptiveis de garantirem uma identidade social
noutra condicrao, eram informados de que os positiva. Assim, se for este 0 caso, poderemOS endogrupo exogrupo endogrupo exogrupo
Responsabilizatt8o Responsabilizatt80
seus julgamentos seriam transmitidos a mem- esperar que essa rejeicrao seja maior quando 0 perante 0 endogrupo perante 0 exogrupo
bros do exogrupo (responsabilizacrao em rela- endogrupo e heterogeneo (gerando uma maior
crao ao exogrupo). normatividade para assegurar a coesao) do que
,
384 385

quando 0 endogrupo e homogeneo. No ultimo sujeito (membros e socialmente indese '-


_ Javei ) DISTRIBUI<;OES DOS MEMBROS POSITIVOS E NEGATIVOS
caso, urn desviante sera men os amea~ador para urn a mesma afirma~ao do que 0 sujeito ( s, e
a identidade do grupo no que no segundo. Foi bro desviante e socialmente deSejavel~ern. DO ENDOGRUPO E DO EXOGRUPO NAS CONDI<;OES HOMOGENEA
com base neste raciodnio que Marques e Sero- sujeitos estavam ainda divididos em du . Os E HETEROGENEA (MARQUES & SERODIO, 1996, EXP. 2).
dio (1996) pediram aos sujeitos que participas- · - Numa cond'l~ao
d l~oes. - 0 grupo era homoas _con.
sem num estudo sobre «estilos de imagina~ao e . d b ' haviamgeneo'
ou seJa, to os os mem ros modcus afirma~oes alitllciillois
valores sociais». lhido a mesma resposta. Noutra conditrao 0 esco.
Na primeira sessao do estudo, os sujeitos de- -
era heterogeneo, . d'
ou seJa, 01S membros rngrupo. desejabilidade ~ocial
viam responder a urn falso teste de imaginatrao e, haviam escolhido as duas respostas viZinh~~~S
em seguida, a urn questiomirio de atitudes. Nesse Endogrupo 2 3 4 5 6 7
res posta modal, e dois outros membros h . a
. aVlarn 4
questionano, eram apresentadas vanas afmna- escolhldo a resposta modal (ver Quadro Xv Homogeneo
~oes ordenadas em termos de desejabilidade so- Os resultados apoiaram a hipotese. QUand ). Heterogeneo
cial (por exemplo, «os homossexuais deviam ser - 00
grupo era homogeneo, .os membros positivos do Exogrupo 2 3 4 5 6 7
intemados em instituitr0es especiais de onde endogrupo eram avallados tao positivarnente 4
Homogeneo
nunca pudessem sair» , «os homossexuais de- como os do exogrupo, e os membros negativos
Heterogeneo 2
viam ser intemados em institui~oes especiais de do endogrupo eram avaliados tao negativarnente
onde so pudessem sair em certas ocasioes», «os como os do exogrupo. Mas quando 0 grupo era
homossexuais sao pessoas doentes e deviam ser heterogeneo, os sujeitos avaliaram os membros
Nota: a posi~1io 6 corresponde a afirmar;1io escolhida por todos os sujeitos.
tratados», «os homossexuais nao sao doentes, positivos do endogrupo mais favoravelmente do
mas deviam ter vergonha», «os homossexuais que os do exogrupo, e os membros negativos do
sao pessoas como as outras», etc.). A tarefa dos tiva puramente mecanicista segundo a qual os investiga~ao mais recente, nomeadamente acerca
endogrupo mais desfavoravelmente do que os
sujeitos, depois do teste de imagina~ao, era indi- do exogrupo (ver caixa da pagina seguinte). estereotipos estavam associados quase exclusi- das percep~oes de homogeneidade dos grupos,
carem a afirmatrao com que mais concordavam, vamente a instintos destrutivos sem que exis- tern vindo a recentrar-se progressivamente nesta
e as afirma~oes com que discordavam. Na se- tisse qualquer mediatrao cognitiva dos julga- ultima perspectiva. Esta investiga~ao mostra
gunda sessao, os sujeitos eram informados de 7. ConcIusoes mentos feitos acerca dos membros dos grupos que os julgamentos ernitidos pelos sujeitos tra-
que, segundo as respostas ao teste de imagina~ao estereotipados. Trinta anos passados assistimos duzem uma tomada de positrao em rela~ao ao
(na realidade, de forma totalmente aleatoria), Eis-nos chegados ao fim deste capitulo. Ii situatrao inversa, pelo menos em muitos estu- alvo e a situatrao do julgamento.
pertenciam quer ao tipo abstracto-pictorico, quer Muito ficou por dizer. 0 dorninio dos estereoti- dos. Nesses estudos, 0 sujeito tipieo e urn indi- Urn segundo aspecto associado ao estudo dos
ao tipo picto-experiencial. Em seguida, suposta- pos e demasiado vasto para caber num capitulo viduo cuja uniea preocupatrao e «simplificar» e estereotipos, que nos parece «pedagogico» em
mente para validar a rela~ao entre 0 tipo de ima- de manual. Procuramos, no entanto, fornecer uma «compreender». A sua propria pessoa esta au- rela~ao a evolu~ao da Psicologia Social nas I1lti-
gina~ao e os valores, os sujeitos deviam analisar perspectiva geral, muitas das vezes de forma sente do processo de julgamento associado ao mas decadas tern a ver com a ideia do que e «so-
as respostas dadas ao questionano de atitudes mais intuitiva do que baseada em model os teori- estereotipo. Nao temos dl1vidas de que essa «com- ciab>, ou seja, em ultima analise, com 0 objecto
por cinco pessoas que eram apresentadas como cos que nao referimos explicitamente. Procuni- preensao» e «simplificatrao» sao componentes da nossa disciplina. Nas ultimas duas decadas, a
membros do endogrupo (condi~ao endogrupo) mos, igualmente, dar uma notrao do estado actual importantes do processo. Mas, sem querermos Psicologia Social sofreu uma forte influencia da
ou como membros do exogrupo (condi~ao exo- da investigatrao, dos seus pontos fortes e fracos, regressar ao mecanicismo inicial, parece-nos que abordagem dos processos cognitivos tal como foi
grupo). Na conditrao endogrupo, quatro haviam e dos seus pressupostos. muitos dos julgamentos associ ados aos estereo- proposta pel a chamada Cogni~iio Social (Wyer
escolhido afirma~oes proximas das escolhidas o aspecto talvez mais importante relativa- tipos nao resultam apenas de urn processo «frio», & Carlston, 1979; Wyer & Srull, 1994; ver Cae-
pelo sujeito (membros modais e socialmente mente a esses pressupostos esta ligado aexisten- baseado exclusivamente nas caracteristicas dos tano, neste volume). Esta influencia traduziu-se na
desejaveis) e urn a afirma~ao mais rejeitada cia de duas concep~oes diferentes do individuo estimulos e na organizatrao cognitiva da informa- tendencia para estudar os processos psicossociais
(membro desviante e socialmente indesejavel). que, no quotidiano, procura criar urn sentido de ~ao. Pelo contrano, trata-se, em muitos casos, de de forma analogica com os processos cognitivos
Na conditrao exogrupo, quatro haviam escolhido quem sao os outros e de quem e ele propriO. lIli um processo no qual os individuos se sentem mais gerais. Surgiram tentativas de explica~ao
afmnatroes proximas da mais rejeitada pelo quase 30 anos, Tajfel (1969) atacava a perspec- pessoalmente envolvidos. Como pudemos ver, a dos julgamentos estereotipicos e da organiza~ao
t
386 387

CAPITULO XII
AVALIA<;OES DOS MEMBROS POS!TIVOS E NE~ATIVOS DO ENDOGRUPO
E DO EXOGRUPO NAS CONDI<;OES HOMOGENEA E HETEROGENEA
(MARQUES, BRITO & SERODIO, 1996, EXP. 2)
Identidade social
D Membro Positivo
e relac;6es intergrupais
Membro Negativo
Ava/iac;ao
+7 -

6 -
Ugio Amancio
5 -

4 -
3 -

2 - 1. Introdm;ao em novos quadros de referencia te6rica. Pro-


curaremos, neste capitulo, apresentar a irre-
-1 gularidade desta evolu~ao, dando particular
As teorias das reJa~6es intergrupos represen-
endogrupo exogrupo tam, na hist6ria da Psicologia Social, uma deslo- aten~ao ao modelo que mais contribuiu para a
endogrupo exogrupo
Grupo Homogeneo Grupo Heterogeneo ca~lio do interesse por objectos de analise relevancia do conceito de identidade social e ter-
microssocial, como as interac~6es no seio de minando com as produ~6es mais recentes neste
pequenos grupos ou entre individuos, para dominio do conhecimento psicossociol6gico, a
objectos de analise mais macros social, como as fim de mostrar que as transforma~6es recentes
cognitiva que lhes esta subjacente. Sem duvida, uma tal perspectiva, se nos limitarmos a ela, aca- interac~6es reais ou simb61icas entre grupos se traduzem numa maior complexidade dos
a investiga~ao produzida permitiu avan~ar bara por dar origem a uma visao reducionista dos sociais (Doise, 1972). Embora este interesse ja modelos das rela~6es intergrupos, atraves da
no dominio do conhecimento das estruturas estere6tipos. E verdade que, em muitos casos, se fosse manifestado por alguns autores na decada articula~ao das variaveis ideol6gicas, situa-
e dos processos cognitivos relativos aos este- perderam de vista as componentes identitanas e de 50 (LaViolette e Silvert, 1951), os movimen- cionais e cognitivas (Doise, 1984) e que esta
re6tipos. Como escrevia Lippmann, mesmo ideol6gicas que presidem a constru~ao e manu- tos sociais que tiveram lugar na Europa enos articula~ao se repercute no maior a1cance
sendo influenciados por criterios socialmente ten~ao ou mudan~a das cren~as estereotipicas Estados Unidos no final dos anos 60 e no inicio explicativo daqueles modelos.
construidos, os estere6tipos existem «dentro das (ver Doise, 1976; Vala, neste volume). Mas taID- da decada de 70 contribuiram, sem duvida, para o capitulo encontra-se organizado em tres
nossas cabe~as». bern e verdade que 0 estudo dos estereotipos a consolida~ao do interesse por esta area de partes. Na primeira, apresentamos brevemente a
No entanto, e talvez, sobretudo por estarmos enquanto processo cognitivo s6 se toma pro- investiga~ao em Psicologia Social (Caddick, evolu~ao do conhecimento produzido pela Psi-
a tratar de estere6tipos com todas as suas impli- blematico se os reduzirmos apenas a isso (ver 1982). cologia Social sobre uma problematica que tern
ca~6es individuais e sociais, toma-se evidente que Doise, 1982). o desenvolvimento das teorias das rela~6es side central nesta disciplina ao longo da sua his-
intergrupos processou-se, no en tanto, por suces- t6ria - a quesHio da diferencia~ao e da discri-
sivas rupturas que nem sempre se traduziram mina~ao sociais. Nesta apresenta~ao daremos
por urna melhoria no a1cance explicativo dos particular aten~ao as no~6es de grupo e de
modelos e s6 recentemente a Psicologia Social identidade social, recorrendo as principais con-
europeia, em particular, procedeu a urn esfor~o tribui~6es da Psicologia Social e da Socioiogia.
C~lllulativo ao integrar 0 conhecimento produ- A segunda parte e dedicada ao modele mais
Zldo de forma dispersa, ao longo de varios anos, importante, a nosso ver, no quadro actual das
,
388 389

teorias das rela~oes intergrupos, 0 modelo da ~oes entre os seus membros, num dado m te dos ensaios sobre conflitos intergrupos, dominio dos recursos simbolicos repercute-se
escola de Bristol, e por isso mesmo adoptamos to, constitua ainda para Sherif (1967), qu: :en• ..,eO
J" olTlO 0 pensamento d 0 autor nao - trad UZla
' numa assimetria na capacidade de acrrao e
uma exposi~ao dos seus conceitos basicos de dou as interac~oes entre grupos artifiCial stu. l mudan<;a da rela<;ao que depende da consciencia
la c lTlera extrapola<;ao do plano interindividual
criados, 0 cerne da defini~ao de grupo, n:ente
categoriza~ao social, identidade social e com-
lima . colectiva da natureza dessa rela<;ao por parte do
o plano IOtergrupal.
para~ao social, baseada na hist6ria do pensa- modelos das rela~oes intergrupos a defi .tr~s par~o analisar uma das formas mais dramaticas grupo dominado.
mento dos seus autores, assinalando as rupturas quantitativa interactiva do grupo toma-se :::rr~o discrilTlina<;ao social da epoca, 0 anti-semi- Perspectiva bern diferente e a que dominou os
e contradi~oes que permitem elucidar 0 reducio- vante, an~es se. acentuando 0 se~u caracter ~:: de.
I' .,I
0 0 autor sa lenta a sua ongem SOCIa estudos sobre 0 etnocentrismo, no<;ao que surge
nismo psicologico que lhes e frequentemente IIS!T1 , d' . numa obra etnogrMica de Sumner em 1906, tal
tracto e slmb6hco e uma emergencia «exte . an do-a em for~as externas ao grupo ISCfl-
atribuido (Doise, 1987, 1988), assim como os , . b
aos seus propnos mem ros, enquanto 0
mil» sIIU
como as de endogrupo (grupo proprio ou de
. ado e independentes do comportamento ou
aspectos que os autores deixaram inexplorados. ~ b'Ito de ap I'Ica~ao
am - u Itrapassa as catego'Seu flltn
da s caracterfsticas dos seus membros. Esta perten<;a) e de exogrupo (grupo dos outros).
Na terceira parte, apresentamos as contribui~oes
. . . b
sltuaclOnalS e passa a a ranger tambem am I
nas Numa revisao de literatura sobre as teorias do
J1Ies lTla ideia surge no ensaio de Sartre (1954)
. .. Pas etnocentrismo, LeVine e Campbell (1972) defi-
da escola de Genebra, que, pelo facto de terem categonas SOCialS. obre 0 mesmo tema, quando afirma que 0 ver-
procurado, por urn lado, a articula~ao entre pen- Para Zavalloni (1972), 0 conceito de gru ~adeiro judeu so existe na mente do anti-semita. nem-no como uma sfndroma que se caracteriza
samento e comportamento e, por outro lado, a esta" d
assocI .
a 0 a urn conJunto de elementos qupo
e Mais do que produzir urn modelo de rela<;oes pela percep<;ao e avaliarrao da realidade centrada
integra~ao e articula~ao das variaveis estruturais participam na identifica~ao dos seus membros intergrupos. 0 pensamento de Kurt Lewin era no grupo de perten<;a e que serve de ponto de
e situacionais nas teorias das rela~oes inter- enquanto Tajfel (1972 a) situa 0 grupo nu~ orientado pela preocupa<;ao de ajudar os judeus referencia para a c1assifica<;ao e avalia<;ao dos
grupos, mais contribufram para uma perspectiva quadro de interdependencia, visto que as carac. a enfrentar a discriminarrao, nomeadamente outros grupos. 0 estudo sobre a personalidade
psicossociologica na analise das rela~oes reais teristicas que permitem a identifica~ao dos atraves de praticas de socializa<;ao que desen- autoritaria (Adorno et al., 1950) mostrara, de
ou simbolicas entre grupos sociais. membros dos grupos adquirem 0 seu significado volvess em a consciencia do destino comum a facto, que a adesao aos valores religiosos e
atraves da compara~ao social. Deschamps (I 982 que estavam sujeitos e da afirma<;ao de que 0 morais do grupo de perten<;a estava associada a
a), por sua vez, nao considera que esta interde. «born» comportamento dos membros individuais rejeirrao das minorias, com base nas suas dife-
2. Perspectivas nos modelos pendencia seja equivalente ou simetrica no qua- do grupo em nada afectava a condi<;ao colectiva ren<;as etnicas, religiosas e morais.
dro das rela~Oes entre grupos sociais, antes a situa deste, antes representava a aceita<;ao de uma A no<;ao de «sindroma» remete-nos para 0
das rela-;oes intergrupos
em rela~ao a urn universo simbolico comum, que fonna de pensamento social para a qual os indi- conceito de atitude, utilizado por Thomas e
define as posi~oes relativas dos grupos. Estas viduos nao haviam participado. Znaniecki na sua obra de 1918, The Polish Pea-
2.1. Contextos e tipos de relafoes conce~Oes do «grupo» revelam, desde logo, dife- Apesar desta orienta~ao aplicada, 0 pensa- sant, sobre a integrarrao dos polacos na socie-
intergrupos - 0 conceito de grupo rentes abordagens das rela~oes intergrupos, mas mento de Kurt Lewin representa uma perspec- dade americana. Na sua primeira defini<;ao, 0
uma exposi~ao mais detalhada de alguns mode- liva e avan<;ou alguns conceitos fundamentais conceito de atitude permitia estabelecer uma
A analise dos processos de discrimina~ao los permitira salientar melhor as diferenrras nas para a analise das rela~oes intergrupos que, no ligarrao entre 0 psicologico e 0 cultural, consti-
social, tanto ao nivel dos juizos e das avalia~oes explicarrOes (Doise, 1982) procuradas para os pro- entanto, so viriam a ganhar dignidade cientifica tuindo, por isso mesmo, urn objecto de analise
como ao nivel dos comportamentos, ocupa urn cessos de discrimina~ao nas interac~oes sociais. muitos anos mais tarde. As interac<;oes sociais espedfico da Psicologia Social. Definirroes pos-
lugar central nas teorias das rela~oes intergrupos Uma das primeiras reflexOes te6ricas sobre a analisadas por este autor constituem, como afirma teriores do conceito, como a de Allport, em
e a propria no~ao de grupo e, neste ambito, questao da discriminarrao social encontra-se Apfelbaum (1979), rela<;oes de domina~ao, 1935 (Allport, 1966), negligenciaram a vertente
conceptualizada em ruptura com algumas numa obra que reune urn conjunto de ensaios base ad as numa diferenr;a de poder simbolico. cultural ao considerar a atitude urn estado de
concep~oes anteriores. No quadro dos modelos escritos por Kurt Lewin (1948) nos anos 30 e 40, o grupo dominado e, neste caso, uma entidade prontidao mental, e esta psicologiza<;ao do con-
interindividuais da dinamica de grupos, por a partir da observarrao dos acontecimentos na sUbjectivamente construida, que reune os seus ceito dominou a Psicologia Social durante lar-
exemplo, 0 conceito de grupo estava associado a Europa dessa epoca, assim como da situa~ao dos membros sob urn «destino comum», como gos anos, como mostram J as pars e Fraser ( 1984)
interac~ao entre os seus membros, a interde- negros e da Iuta das mulheres pelo direito de afirma Lewin (1948, p. 165). no quadro de uma (ver 0 capitulo sobre «Atitudes)~, para uma ana-
pendencia de fun~oes na prossecu~ao de urn voto nos Estados Unidos, pais para onde emi- defini~ao categorial que transforma os indivi- lise mais pormenorizada). Esta e a perspectiva
objectivo comum e a urn limite quantitativo dos grara em 1932. 0 proprio indice desta obra apre- duos abrangidos por ela em «invisiveis» (Apfel- adoptada pelo proprio Allport ( 1954) numa obra
seus membros (Cartwright e Zander, 1953). senta os ensaios sobre conflitos em pequenO S baum, 1979, p. 169) quanto a sua distintividade sobre 0 preconceito, escrita no periodo da luta
Embora a interdependencia de papeis e de rela- grupos em situa~ao de face a face separada- indiVidual. Esta assimetria entre os grupos no dos negros americanos pelos direitos civicos e
390 391

onde 0 autor analisa as atitudes, decompostas A Psicologia Social produzira , no ent flito intergrupos (Tajfel e Turner, 1979, Para Zavalloni (1972), no entanto, a ligacrao
con34). Como veremos ad'lante, a mesma cntIca ,. entre 0 psicol6gico e 0 sociol6gico que 0 con-
nas suas tres dimensoes: a cognitiva, que se durante os anos 60, urn modelo que co ~nto,
_ " nstltu' ~:.nera fazer-se a estes autores por terem feito ceito de identidade estabelece nao reside unica-
exprime nos estere6tipos, a avaliativa, que cons- excep9 ao ao quadro exphcatIvo das rela ~ la
titui 0 preconceito, e a influencia destas duas intergrupos que acabamos de apresentar. 0 \!oes 1"'-ender a sua analise da identidade de urn mente na representacrao que os individuos fazem
depteO padrao especi'fiICO d ere1 - 'mtergrupos;
acroes dos seus papeis, mas as representa90es sobre os
dimensoes na predisposicrao para os comporta- delo de Sherif (Sherif et aI., 1961; Sherif 1 Illo.
mentos hostis em relacrao as minorias. Os este- Sherif e Sherif, 1979) sobre 0 conflito in~ 967; o~ e a integracrao da identidade no quadro das grupos de pertencra e suas posi90es sociais tam-
. . ergru nao , .. , 1 . bern contribuem para a perceP9ao do eu. Para
re6tipos constituem para este autor ideias fixas e pos Vlsava Justamente uma integracriio entr • layoes intergrupos que e cntlcave, mas Slm
e re restricrao destas a determinados padroes. Tajfel, por outro lado, a identidade social
rigidas que resultam da ignorancia e da falta de «psicoI6gico» e 0 «socioI6gico» (Sherif 1g 0
, 67
informacrao. Por is so mesmo, 0 autor propOe p. 376) a fim de ultrapassar a tendencia ' ~, alias, pela integra~ao ~a identidade em dife-
a ... esta associada ao conhecimento da perten9a aos gru-
a educacrao e 0 contacto entre os grupos como extrapolar do nivel de analise individuJar entes tipos de relacroes mtergrupos que a sua pos sociais e ao significado emocional e avaliativo dessa
formas de reduzir 0 etnocentrismo e a hostili- interindividual para 0 nivel de analise inte ou :bordagem mais recente na Psicologia Social perten9a (Tajfel, 1972 a, p. 292).
r&n!.
dade em relacrao as minorias. pal. Este modelo e construido a partir da cria ~ roIllpe com tradicroes anteriores.
o etnocentrismo resulta, assim, de uma rigi- . I d . - \!ao De facto, a no~ao de identidade estabelece Desde logo, estas duas ultimas definicroes, tal
expenmenta e sltuacroes de competi~ao
e
dez na visao da realidade social que se explica cooperacrao entre dois grupos (ver 0 capitul uIlla liga~ao entre 0 psicol6gico e 0 sociol6gico como a de Sherif, alargam a dimensao social da
pela ignorancia, segundo Allport, ou pela perso- sobre «Conflito e cooperacrao nas rela~oes inter~ (Zavalloni , 1972), aspecto que e salientado tanto identidade a relevancia da perten9a ao grupo,
nalidade autoritaria, segundo Adorno e os seus grupais») e pennite evidenciar que os compona_ por psic610gos sociais como por soci610gos, mas se os grupos, e as representa90es que lhes
colaboradores, 0 que nao pennite compreender, mentos hostis entre grupos, assim como os visto que «receber uma identidade e urn fen6- estao associadas, podem emergir de contextos
por exemplo, a persistencia da discrirnina9ao juizos e avalia90es que favorecem 0 grupo de meno que deriva da dialectic a entre 0 individuo especificos, eles tambem se inserem num uni-
das minorias emigrantes nas sociedades da perten9a em detrimento do outro grupo, resul- e a sociedade» (Berger e Ludemann, 1966-76, verso simb6lico comum que diferencia os gru-
Europa ocidental, onde ela coexiste com normas tam da situacrao de conflito e nao das carac- p. 230), mas a dimensao social da identidade pos atraves das suas posicroes relativas e de
democniticas e de tolerancia, como salienta teristicas dos membros do grupo ou da estrutura tem sido objecto de diferentes conceptualiza- modalidades diferentes de identidade social
Billig (1984). A analise do etnocentrismo no intema deste. Mas e esta mesma perspectiva que ~i'ies. Para Mead (1934), 0 eu emerge da interac- (Deschamps, 1982 a). Esta abordagem da iden-
periodo aureo dos modelos das atitudes em Psi- coloca, desde logo, a questao da identidade no ~iio entre urn elemento-sujeito criativo de ordem tidade social situa-se numa perspectiva psicos-
cologia Social ficou, portanto, limitada a extra- amago das rela~oes intergrupos, porque: psicofisiol6gica e urn elemento-objecto que cons- sociol6gica, na medida em que articula as
polacroes do nivel psicol6gico para as rela90es titui a intemalizacrao das atitudes dos outros, e se condi90es objectivas da rela9ao intergrupos com
... sempre que membros individuais de urn grupo inte- traduz, nas interaccroes sociais, pel a capacidade uma dimensao cognitiva que faz da identidade
intergrupos, pois, como mostrava a revisao de
ragem colectiva ou individualmente com outro grupo OU
Le Vine e Campbell (1972), os estudos que inte- de assumir a posi9ao do outro. No quadro do social urn constructo subjectivo. Esta ultima
membros dele em termos da sua identifica~ao grupnl,
gravam as variaveis situacionais e estruturais temos uma instancia de rela90es intergrupos (Sherif, 1967,
interaccionismo simb6lico da escola de Chicago, dimensao da constru9ao social da identidade
provinham da antropologia e da sociologia, 0 p.426). o contexto ou as situacroes sociais especificas (Weigert, Teigte e Teigte, 1986), por outro lado,
que levava os autores a apelar a uma inte- constituem 0 ambito preferencial da dimensao tende a ser negligenciada na abordagem socio-
gracrao entre as ciencias sociais para 0 desen- social na definicrao dos individuos (Goffman, 16gica que integra este conceito numa interpre-
volvimento dos estudos das relacroes inter- 2.2. 0 nos e eu nas relafoes
0 1963-82). As teorias do papel em Psicologia ta9ao mais geral da realidade social:
grupos. Vma abordagem mais recente do etno- intergrupos - 0 conceito Social, que sofreram influencias tanto do interac-
... os tipos de identidade ... sao produtos sociais tout
centrismo (Brewer, 1979) procura situar este de identidade social cionismo simb61ico como do funcionalismo
court, elementos relativamente estaveis da realidade social
fen6meno no ambito dos processos de diferen- (Rocheblave-Spenle, 1962), abordam ainda a objectiva (Berger e Luckmann, 1966-76, p. 230).
ciacrao entre os grupos e, nesta perspectiva, 0 De salientar que naquela afirmacrao a identi- identidade numa perspectiva situacional, na
que importa analisar sao as dimensoes de dife- dade aparece integrada no quadro das pr6prias medida em que a nocrao de eu resulta do conhe- No quadro das teorias mais recentes da Psi-
rencia9ao entre os grupos e as condi90es de rela90es intergrupos, mas 0 facto de Sherif ter cimento das norm as e val ores associ ados as cologia Social, 0 modelo da identidade social da
emergencia dessas dimensoes. Oeste modo, a analisado urn padrao especffico de relacr oes posi~oes ocupadas num determinado contexto escola de Bristol, que iremos expor na primeira
explica9ao do etnocentrismo desloca-se do intergrupos, 0 do conflito de interesses, serve de (Sarbin e Allen, 1968) e este conhecimento parte do subcapitulo seguinte, merece-nos par-
plano da personalidade para 0 plano das relacroes fundamento para a critica de que a sua nocrao de corresponde tambem a uma forma de adaptacrao ticular atencrao porque foi 0 primeiro a colocar a
intergrupos. identidade corresponde a urn «epifen6meno» do da accrao individual ao contexto. identidade no centro da analise das rela90es
392 •
393
intergrupos, atribuindo-Ihe uma posi~ao expli-
tribuido para a sua divulga~ao, sobretud
cativa da diferencia~ao e da discrimina~ao fll)
·fel , Sheikh e Gardner (1964). procurou
_
gene- da categoria e que validam urn conhecimento
Estados Unidos (Tajfel e Turner, 1979) 0 nos
sociais, para alem de pretender proporcionar a . autores foi muito difl, a con - ralizar 0 processo da cate~onz.a~ao, e co~se- «subjectivo» da realidade facilitador da inte-
tn·b Ul~ao
. - destes dOIS
psicologia social instrumentos teoricos e empfri- , I d a mvestlga~ao
· . - empirica Coerente' entes efeitos da sobrestImatlva perceptlva, gra~ao dos individuos; e, finalmente, atraves da
tanto ao mve qll ..
cos para a analise de fenomenos macrossociais. estimulos SOCialS, que neste caso eram as instrumentalidade dos conteudos categoriais,
niveJ da produ~ao teorica. rno ao jlOS • d· 0
No entanto, ao fazer depender a identidade da tegorias dos CanadIanos e dos In Ianos. s sob a forma de estereotipos, nas interac~oes
De facto, os primeiros estudos da esc I ell . . d I
perten~a aos grupos, sem considerar quer a . oa~ res Ultados mostraram . que os SUjeltos, to os e es sociais, visto que a identifica~ao da categoria
Bnstol resultam, sobretudo, do percurso ci '
posi~iio objectiva destes, quer os conteudos fiICO de H enn. 'T'JajJe,
." I . ent!_ anadianos, sobrestlmavam a semelhan~a dos de perten~a dos individuos e facilitada pela
definidores da propria identidade, tornou-se
em particular, dos estudo ~oiS sujeitos-estimulo indianos nos tra~os mais visibilidade do criterio que a define, sobretudo
que efectuara nos anos 60 sobre a perce _ s
diffciJ generalizar aquele modelo a outros tipos · sa I·lenta numa entrev. P~ao ' If ico S do estereotipo do indiano. A recolha dos quando esses criterios sao fisicos, como 0 sexo
como e Ie prOpno
de rela~oes intergrupos diferentes das que foram Ista : ereotiPos do indiano e do canadiano, tambem ou a cor da pele.
(Cohen, 1977-81) e numa das suas ultimas ob efectuada junto de sujeitos canadianos, revelara
operacionalizadas nos estudos de Bristol. A in- Os estereotipos sociais constituem, nesta
(Tajfel, 1981-83). Da sua colaborarao ras e ..
tegra~ao dos conteudos da identidade e das posi- l' corn urna maior incidencia de tra~os POSltIVOS no perspectiva, formas especfficas de organiza~ao
Jerome Bruner, nos anos 50, resultara uma '
~oes objectivas dos grupos pennite analisar os estereotipo do grupo de perten~a e de tra~os subjectiva da realidade social, reguladas por
tica a vi sao mecanicista da percep~ao, que P~~~ egativos no estereotipo do outro grupo. No mecanismos sociocognitivos, que permitem
processos que participam na constru~ao social
supunha que as pessoas apreendiam a realidade n
entanto, e em contradi~ao com a h·' 'potese da compreender a sua incidencia e resistencia nas
da identidade, mas esta perspectiva esta parti-
de fonna «objectiva» e que as excep~oes a esta universalidade dos efeitos da categoriza~ao, os interac~oes sociais, ao contrario das explica~oes
culannente associada aos estudos efectuados
forma de apreensao da realidade constitufam sujeitos nao sobrestimaram a semelhan~a d~s que os associavam a «desvios» individuais,
pela escola de Genebra, que serao abordados no
subcapitulo seguinte. «erros» tipicos de personalidades autoritanas ou sujeitos-estimulo canadianos nos tra~os mats como a falta de informas:ao e a «rigidez» do
de pessoas incultas. Os juizo perceptivos tern
tfpicos do seu estereotipo, embora 0 tenham pensamento.
por fun~ao, segundo Tajfel (1957), acentuar a
feito no caso dos indianos, 0 que evidenciava
diferen~a aparente numa dimensao, mesrno
3. Categoriza~ao social, identidade fisica, sempre que a esta dimensao esteja asso-
modos de funcionamento diferente do processo
de categoriza~ao em fun~ao da categoria social- 3.2.0 paradigma
social e compara~ao social ciada uma dimensao valorativa, e assentam nurn
-estimulo. dos «grupos minimos»
- 0 modelo da identidade social processo cognitivo universal, a categoriza~ao, Estes estudos permitiram, apesar de tudo, que
da escola de Bristol que se aplica tanto a estimulos fisicos como a Se, ao nivel dos juizos, os estudos mostravam
Tajfel propusesse uma nova abordagem da dife-
estimulos sociais, e que nao depende nem da
rencia~ao perceptiva e avaliativa entre grupos que uma categoriza~ao provocava uma dife-
personalidade nem do grau de informa~ao dos rencia~ao entre as categorias sociais que se
sociais (Tajfel, 1969 a, b), segundo a qual a cate-
3.1. Origens do modelo individuos; constitui, antes, urn processo cogni-
goriza~ao constituia urn poderoso processo traduzia numa avalia~ao positiva da categoria de
tivo necessario para a organiza~ao e selec~ao da pertens:a em detrimento da outra, tornava-se
organizador e simplificador da realidade social,
infonna~ao complexa.
o modelo de Bristol refere-se a uma perspec- tanto mais forte quanto estao associadas dimen- necessario analisar se a categoriza~ao tambem
Os estudos efectuados para analisar os efeitos
tiva no quadro das rela~oes intergrupos que pre- sOes avaliativas as categorias sociais, seja ao se traduzia em discrimina~iio intergrupos, isto e,
do processo de categoriza~ao na percep~ao de
tende nao so ultrapassar as extrapola~oes do nivel dos criterios c1assificatorios, seja ao nivel num «comportamento de favoritismo pelo endo-
estimulos fisicos (Tajfel e Wilkes, 1963)
nivel individual e interindividual para 0 nivel dos conteudos descritivos. Por isso mesmo, a grupo em detrimento do exogrupo» (Tajfel,
mostraram que a introdu~ao de urn conceito
das rela~oes intergrupos, que caracterizaram os preservas:ao do sistema de categoriza~ao e das 1978, p. 439). Poi este objectivo que orientou a
binario de c1assifica~ao, como as letras A e B,
estudos sobre 0 etnocentrismo (Tajfel, 1978), conota~oes valorativas que Ihe esHio associadas, constru~iio do chamado paradigma dos «grupos
era suficiente para que os sujeitos sobresti-
como questionar a relevancia do conflito e que sao transmitidas pela cultura e pel os valo- minimos» (ver na caixa seguinte a descri~ao de
massem a semelhan~a na dimensao de grandeza
enquanto detenninante da discrimina~ao entre res dos grupos de perten~a, e conseguida atraves uma destas experiencias), que se integrava num
entre elementos de uma mesma categoria e
grupos sociais (Turner, 1981), salientada pelos do tratamento dos criterios c1assificatorios, projecto de investiga~ao sobre as condicroes de
sobrestimassem as diferen~as entre os elemen-
estudos de Sherif. Mas se 0 modelo e frequente- Como homem-mulher, branco-negro, ingles- emergencia da discriminas:ao intergrupos (Brown,
tos da categoria A e os da categoria B, embora a
mente associado aos nomes de Tajfel e Turner, frances, enquanto dimensoes descontinuas, 1986), e atraves do qual se pretendia estudar as
cO-ocorrencia daqueles efeitos de sobres-
atraves do artigo que talvez mais tenha con- atraves da selec~ao nas interac~oes sociais das condi~oes minimas do efeito da categoriza~ao
tima na~ ficasse comprovada. A experiencia de na discriminayao intergrupos.
caracterfsticas que confirmam 0 efeito preditivo

394 395

A EXPERIENCIA DOS «GRUPOS MlNIMOS» AS MATRIZES DE TAJFEL

Matriz tipo I
Na primeira parte da experiencia, sujeitos adoleseentes do sexo maseulino slio eonvidados a manifestar a SUa
preferencia estetiea por um de dois quadros que Ihes suo apresentndos numa serie de diapositivos. Os sujeitos Sao 19 18 17 16 15 14 13 12 II 10 9 8 7
seguidamente infollllados de que seriio repartidos em dois grupos, em fun~lio tias suns preferencins pelos qundros de
Klee ou pelo!> de Kandinsky. Ao mesmo tempo, um segundo experimentador proeede. supostamente. ao tratamento 3 5 7 9 II 13 15 17 19 21 23 25
das respo~tns dos sujeitos. ma~ esta de facto a proceder it sua distribui<;:ao aleatoria pel os dois grupos. Quando os numeros da linha tie cima sao pam 0 grupo pnSpno (OP) e os da Itnha de baixo para 0 Olltro grupo
Na segunda patte da experic~ncia e pedida a colabora~ao dos sujeitos para participarem num estudo sobre os (GO). a recompensa maxima C0l11U111 (RMC) cneontra-se :1 dirc ita da matriz, e a reClll11pCnSa maxima para 0 grupo
processos de tomadn de decisao e e-Ihes distriburdo um cademo clIja primeira pagina apresenta 0 nome tio pintor proprio (OPM). a~sim C01110 a maxima diferen~a cntre elc e Olltro (OM). encontra- ~e Ue~qucrda. Quando O~ mimeros
supostamente preferido pelo sujeito para designar 0 seu grupo de perten<;a. No interior, eada folha apresenta lima da hnha de cima ~e destinam ao outro grupo (00 ) e 0 \ de baixo ao grllpo pniprio (OP). RMC, OM c OPM estao a
matriz de numeros que representam um valor em dinheiro e que os sujeitos tem de repartir entre um membro do seu direita da matriz.
grupo de penen<;a. design ado por um numero, e um membro do outro grupo. tambem design ado por um numero,
pelo que a categorizu<;:uo dos receptores dos pontos em a unica infonnn<;ao saliente. A experiencia tetmina apos esta Matriz tipo 2
turefa.
7 89 10 II 12 13 14 15 16 17 18 19
(Tajfel el al.. 1971) 3 5 7 9 II 13 15 17 19 21 23 25
------------------------------------------------
Quando os numeros da linha de cima sao para grupo proprio (OP) e os da linha de baixo para
0 0 outro grupo
(GO). a recompensa maxima comum (RMC) e a recompensa maxima para 0 grupo pr6prio (OPM) cncontram-se u
o procedimento utilizado no paradigma dos sem qualquer pressao exterior senao a que fora direita da matl'il.. e a diferen\=a maxima entre 0 grupo pniprio eo outro grupo (OM) encontra-se a esquerda. Quando
«grupos minimos», em que se inscreve a expe- criada pelas condi~6es experimentais. os numeros da linha de cima sao para 0 outro grupo (00) e os da linha de baixo para 0 grupo pr6prio (OP). RMC.
riencia que acabamos de descrever e outras o resultado mais surpreendente destas expe- GPM e OM estao it direita da matriz.
semelhantes efectuadas pela equipa de Bristol, Cada uma destas matrizes pos~ui uma versao invertida. Na malriz tipo I. e~sa versuo come~a 11<1 coluna 7125
riencias era, justamente, 0 facto de os sujeitos
e term 111 a na coilina 1911. Na matri z tipo 2. ela come~a na colllllU 19/25 c tcnnina na coluna 711. Em todo~ o~ caso~.
caracteriza-se fundamentalmente pela cria~ao de manifestarem uma clara preferencia pelas estra- (l po!>icionamento das medidas c exactamcnte 0 contrano do que acabamos de descrever para cada matriz.
uma situa~ao socialmente «vazia», a fim de iso- tegias de diferencia~ao, em particular 0 autofa- E,ws matrizes pCllllitcm medir eMrategia~ dc resposta que se dtvidem em indieadore~ de difcrenc ia<;ao e lIldi -
lar a categoriza~ao enquanto condic;ao minima da voritismo relativo, mesmo perdendo em valores cadore~ de indiferencia<;ao. Suo indicadore~ de di/i.' r£'ltcia{,(l o :
emergencia da discrimina~ao intergrupos. Por isso absolutos relativamente as outras possibilidades - a preferencia por OPM+OM (0 numcro maximo posslvel panl 0 grupn proprio e a maxima direren~a entre
rnesmo, os sujeitos pertenciam todos ao mesmo de resposta. A explica~ao para este solido efeito o seu grupo e olltro) sobre RMC (reeompensa m(lxima comuIII) na matriz tipo I. que traduz uma resposta
sexo e a mesma faixa etana, nao havia interac- discriminatorio do outro grupo, que estava asso- de (/1I/{!/i.lI l orili.111l0 ah.wllllo;
c;ao entre eles em nenhuma das fases da expe- ciado ao favoritismo pelo endogrupo e que se - U pl'efercncia por OM (diferen~a maxima entre 0 grupo pr6prio e 0 outro grupo) sobre OPM+RMC
(recompensa nUlxima para 0 gntpll pt6priu e maxima cOlllum) na matl'i z tipo 2. que traduz lima rc:-posta de
riencia e a categorizac;ao era induzida atraves de manifestava em todos os grupos de forma sime-
all/(dcII 10rili.l'11lo r l!lalil'o.
urn criterio inteiramente abstracto e sem qualquer trica, nao se encontrava em nenhum dos mode-
significado, visto que nao havia conteudos as so- los anteriores das rela~6es intergrupos. De facto, Os indicadores de illdijerl!llciar;cio sao os seguimes :
ciados ao «grupo Klee» ou ao «grupo Kan- a ausencia de interac~ao entre os sujeitos, antes - a preferencia por RMC (reCOlllpetNllllaximu comum) sobre OPM+OM (0 mi1l1t!ro tmiximo possrvel para 0
dinsky». Por outro lado, as variaveis dependentes ou durante a experiencia, assim como a ausencia grupo proprio e a Ill{IXima diferenc.;a entre os do is grllpos) na lIlutriz tip~) I;
- a preferencia por OPM+RMC (rec01l1penSlI tmixima para 0 grllpo proprio e tmixi1l1o comllm) sobre OM
(ver nas duas pags. seguintes as caixas com a de qualquer indu~ao de competi~ao, eliminava a
(difel'cnc,a nllixima entre 0 grllpo pnSprio c 0 outro grupo) na matriz tipo 2.
explica~ao das matrizes e da tecnica de cota~ao) possibilidade de conflito e tambem nao era a
proporcionavam varias possibilidades de res- no~ao de destino comum que permitia explicar (Tajfel. ell/I., 1971)

posta aos sujeitos e constituiam uma rnedida os resultados. De facto, 0 paradigma dos grupos
«racional» de comportamento discriminatorio, mfnimos inspirara-se, precisamente, na con-
visto que a escolha de uma resposta favorecendo dic;ao controlo da experiencia de Rabbie e Illentalrnente criados, neste caso os «azuis» e os zos do endogrupo em rela~ao ao outro grupo
o endogrupo em detrirnento do outro grupo cor- Horwitz (1969), ern que os autores haviam «verdes», virem a ganhar uma recompensa por nas condi~6es de manipula~ao da percep~ao
respondia a uma op~ao consciente e deliberada operacionalizado a no~ao de destino comu~ decisao do experimentador. Esta experiencia do destino com urn, mas nao na condi~ao con-
dos sujeitos, entre as vcirias respostas possfveis, atraves da possihilidade de os grupos expen- Illostrara uma diferencia~ao perceptiva nos juf- trolo.
396
• 397

Com este procedimento (ver descri<;ao das Estes resultados evidenciariam 0 efeito da com-
A TECNICA DE COTA<;AO DAS MATRIZES eriencias na caixa abaixo), 0 autor mostrou peti<;ao social por uma identidade pessoal posi-
ellPe 0 favontlsmo
.. pe I0 en dogrupo e a d"Iscnml-
. tiva que explicaria os resultados obtidos nas
Para a cota~ao das matrizes, de acordo com Turner (1978 a), e necessario considerar que em cada tipo de
qU~liO intergrupos aparecem em situa<;oes de experiencias dos «grupos minimos». Nesta pers-
matriz as diferentes estrategias de resposta possiveis (varhiveis dependentes), ou coincidem todas num extremo d
matriz ou situam-se dos dois lados, consoante 0 alvo dos pontos de cada linha da matriz Suponhamos que queriamo:
n:tegoriza<;ao, independentemente de os pontos pectiva, os processos intergrupais de categoriza-
medir a prererencia por GPM+DM, ou autofavoritismo, sobre RMC, ou recompensa mlixima comum, na matriz tipo 1. ~as matrizes terem ou nao valor monetano (esta <;ao e compara<;ao sociais pass am a ser regula-
Quando os mlmeros da linha de cima se destinam ao outro gropo e os da linha de baixo ao gropo proprio, GPM,DM ariavel so afecta as estrategias atraves das dos por uma motiva<;ao e 0 proprio grupo de
e RMC coincidem todas do lade direito da matriz, por isso atribul-se 0 ao elemento 7125, que se encontra desse lado vuais se exprime 0 favoritismo pelo endogrupo perten<;a torna-se uma entidade temporana e
e 12 ao elemento 1911, que se encontra do lade oposto, e os restantes elementos da matriz sao cotados com os valore~ ~ a discrimina<;ao intergrupos). No entanto, se a arbitraria, que serve de mero substituto funcio-
que se situam entre 12 e O. Se nesta apresenta~iio da matriz 0 sujeito escolheu 0 elemento 10119, a sua resposta serA
colada 3, tanto para GPM+DM como para RMC. Quando os numeros da linha de cirna se destinam ao grupo pr6prio
situa~lio experimental 0 permitir, ou porque nao nal a satisfa~ao da necessidade de urn self posi-
e os da linha de baixo ao outro grupo, a escala anterior aplica-se a GPM+DM, que se deslocararn para 0 lado esquemo elliste categoriza<;ao, ou porque os sujeitos come- tivamente distintivo.
da matriz, e inverte-se para RMC, que perrnanece do lado direito Se, neste caso, 0 sujeito deslocou a sua escolha ~ararn por fazer escolhas entre eles proprios e Ao nivel da produ<;ao teorica, e embora Tajfel
para 0 elemento 15/9 da matriz, cuja cota~iio e 8 na escala de 12 a 0, a cota~1io de autofavoritismo seria 5 (8-3::5) e outrOS, en tao 0 autofavoritismo substitui 0 favo- e Turner tenham associado as suas ideias num
ode RMC sera 1(4-3), visto que, na escala invertida de 0 a 12,0 elemento 15/9 e cotado 4. Portanto, numa mesma ritismo pelo endogrupo e a discrimina<;ao interin- mesmo modelo da identidade social (Tajfel e
resposta, 0 sujeito recebeu uma cota~iio de 5 em GPM+DM e 1 em RMC, visto que a desloca~ao da sua dividual substitui a discrimina~ao intergrupos. Turner, 1979), as reflexoes dos dois autores
reposta exprime uma preferencia por GPM+DM em rela~ao a RMC. Quando existe uma segunda versao (invertida)
da mesma matriz, a cota~ao do sujeito resultara da soma das respostas as duas versoes dividida por 2. No exemplo
que estamos a dar, e supondo que 0 sujeito fizera as mesmas escolhas nas duas versoes da matriz, a sua cota~ao final
em GPM+DM seria 5 [(5+5)/2] e a cota~iio em RMC seria 1 [1(1+1)/2]. A HIPOTESE DA COMPETI<;AO SOCIAL

(Turner, 1978 a) Turner efectuou duas experiencias para validar e ta hipotese, ambas inspiradas no procedimento dos «gropos
minimos». Na primeira, os sujeitos, todos adolescentes do sexo masculino, come~am por exprimir as suas preferen-
cias por urn dos dois quadros que slio apresentados em diapositivos. Na segunda parte da experiencia, slio distribui-
dos aleatoriamente por tres condi~oes experimentais, manipuladas atraves de instru~oes orais e escritas nos cadernos
Vma prime ira explica~ao situar-se-ia na exis- social, identidade social e comparayao social das matrizes: na condi~lio controlo, de nlio-categoriza~lio e de retribui~ao individual e-Ihes dito que os pontos das
tencia de uma «norma social generica» de estabelecida por Tajfel constitui uma integra~ao matrizes valem dinheiro e cada sujeito receberii, no fim, 0 total que the for atribuido pelos outros, enquanto as
favoritismo pelo grupo proprio (Tajfel et aI., de process os cognitivos no quadro de uma dina- instrUl;oes do cademo das matrizes indicam que os pontos se destinam ao proprio sujeito e a urn outro, designados
1971, p. 174), ou seja, uma norma de etnocen- mica intergrupal, mas esta ultima fica depen- par numeros. Os sujeitos conhecem, apesar de tudo, as suas preferencias porque Ihes e dito que os numeros na cas a
dos «trinta» se aplicam aos que prefeliram os quadros de Kandinsky e os numeros na casa dos «cinquenta» se apli-
trismo. Esta explica~ao seria, no entanto, ultra- dente dos individuos enquanto fontes de
cam aos que escolheram os quadros de Klee. Na condi~ao de categoriza~lio e retribui~1io individual, as instru~oes
passada num artigo em que Tajfel (1972 a) esta- avalia~ao positiva do grupo de perten<;a. Esta sao as mesmas quanta a distribui~1io do dinheiro, mas as instru~oes dos cademos das matrizes indicam que os pon-
belece uma liga~ao entre a categoriza~ao social subalterniza<;ao compreende-se no quadro de tos se destin am ao proprio, membro do grupo Klee ou Kandinsky, e a urn outro, membro do gropo Klee ou
e a identidade social. Vma vez que esta esta urn esfor~o de interpreta<;ao dos resultados da Kandinski, segUldos dos numeros. Finalmente, na condi~lio de categoriza~ao e retribui~ao colectiva, a manipula~ao
associ ada ao conhecimento da perten~a, evo- experiencia dos «grupos minimos», caracteri- da categoriza~lio e igual a da condi~ao anterior, mas 0 experimentador diz aos sujeitos que eles receberao a parte que
Ihes corresponde do total de dinheiro que foi atribuido ao seu gropo de perten~a.
cado pela categoriza~ao, 0 significado emo- zada precisamente por urn total «vazio» social e
Na segunda experiencia, efectuada com 0 mesmo tipo de sujeitos, 0 procedimento na primeira parte e tambem
cional e avaliativo que resulta dessa perten~a onde os sujeitos teriam procurado introduzir urn igual. Na segunda parte, pOfl!m, todos os sujeitos foram categorizados em dois grupos e a todos foi dito que iriam
exprimir-se-ia no favoritismo pelo endogrupo significado atraves de uma identifica<;ao posi- receber individualmente 0 total do~ pontos das matrizes que os outros Ihes atribuissem. Mas metade dos sujeitos
em detrimento do outro. Transpondo a teoria da tiva com 0 grupo de perten~a. eram mforrnados de que os pontos vall am dinheiro, enquanto aos outros sujeitos era dito que os pontos das matrizes
compara~ao social de Festinger (1954) do nivel E ainda a procura de uma explica<;ao para os nao tmham qualquer significado. Alem disso, metade dos sujeitos recebia, em primeiro lugar, urn caderno de
interindividual para 0 das rela<;oes intergrupos, resultados obtidos nas experiencias dos «grupos matnzes em que os pontos eram para ele proprio (designado por urn numero e pelo gropo de perten~a) e para outro
(deslgnado do mesmo modo), e, em segundo lugar, urn outro cademo em que os pontos eram para do is outros
Tajfel considerava no mesmo artigo que os gru- minimos» que leva Turner (1975) a introduzir
(designados tambem por mlmeros e grupos de perten~a), enquanto a outra metade de sujeitos come~ava por atribuir
pos sociais so podem contribuir para uma iden- uma altera<;ao naquele procedimento, que pontos a dois oulros e terminava com a atribui~ao de pontos a si proprio e a outro.
tidade social positiva dos seus membros, na consiste em dar a possibilidade aos sujeitoS
medida em que se distinguirem positivamente de atribuirem pontos tambem a si proprios e a (Turner, 1975,1978 a)
de outros grupos. A liga~ao entre categoriza~ao outros.
t
398 399

tam bern apresentam algumas diferen9as. Tajfel novos conteudos ao grupo de perten 9a, a fim d omo Kurt Lewin (1948), aos grupos inferiores dade positiva, e propria de uma cultura ociden-
e
(1978 a, b, c) situava 0 seu modelo da identidade obter uma identidade positiva. Alem dis Cu dominados. A importancia da dimensao psi- tal, que valoriza a competi9ao e a individuali-
so 0 , .
social no ambito das rela90es intergrupos, Tajfel (1978 c, 1981-83) procura afirmar ' col6gica mantem-se patente na mats recente dade, mas nao das culturas que promovem a
porque ele se referia as situa90es que se encon- necessidade e a relevancia da contribui9ao da roposta de Turner (1987), a do modelo da cate- coopera9ao como norma de conduta.
tram no polo intergrupal de urn continuum inter- Psicologia Social para a analise de fenomenoa roriza9ao
- en t re 0 eu e os ou t ros, que se sltua
. ao Breakwell (1978) questionou a relevancia da
pessoal-intergrupo do comportamento social, ou macrossociais, como as situa90es de discrimin S gnivel de uma teona . UnIversa
. I d 0 eu, no quadro
identidade social enquanto variavel explicativa
seja, as situa90es em que a perten9a grupal se 9ao nacional, etnica e lingufstica, assim como ~­ da qual a propria categoriza9ao ja nao organiza da diferencia9ao e da discrimina9ao intergrupos
tom a perceptiva e avaliativamente saliente para movimentos sociais, largamente exempIificado: a realidade em termos de distintividade entre por considerar que os processos que Ihe estao
os indivfduos e em que a defini9ao des sa na sua obra, mas esta generaliza9ao e feita atra_ grupos, mas sim em termos de uma distintivi- associados sao algo a explicar, num quadro de
perten9a resulta dum consenso extemo e intemo yes de uma extrapola9ao dos «grupos mfnirnos» dade entre 0 eu e os outros, incluindo os grupos. rela90es interpessoais e de poder e nao explica-
sobre os conteudos definidores da categoria para os grupos sociais reais; isto leva-o a con_ tivo por si so. De facto, a modalidade de identi-
social, atraves do qual uma categoria social cluir (Tajfel, 1978 b) que a diferencia9ao Cogni_ dade social salientada pel0 modelo de Bristol
passa a ser urn grupo social. No en tanto, 0 autor tiva, avaliativa e comportamental resulta de uma 3.3. Contradifoes e limites revelava-se insuficiente para 0 estudo de deter-
reconhecia que 0 extremo interpessoal deste necessidade de distintividade positiva do grupo do modelo de Bristol minadas rela90es intergrupos, como as que en-
continuum era meramente teorico, visto que se em rela9ao a outros grupos, introduzindo, assim vol vern as categorias masculina e feminina
tomava diffcil encontrar exemplos de interac- urn reducionismo psicologico na contribui9ii~ Para terminar a exposi9ao do modelo de (Williams, 1984), uma vez que a distintividade
90es sociais que se baseassem, unica e exclusi- do modelo da identidade social para a analise Bristol procuraremos resumir algumas das suas positiva de si e do grupo correspondem mais a
vamente, nas caracterfsticas individuais dos das rela90es entre grupos sociais reais. contradi90es e limites, mas antes e necessario urn padrao perceptivo e comportamental do sexo
actores. Deste continuum resulta a predi9ao de Mas algumas destas ideias sofrerao ainda referir as crfticas ao modelo que surgiram, desde masculino do que do sexo feminino.
urn continuum de variabilidade-uniformidade uma radicaliza9ao psicologica na reinterpre- o seu infcio, no seio da propria escola de Bristol. Comum a todas estas crfticas encontramos a
do comportamento dos membros do grupo em ta9ao de Turner. 0 continuum interpessoal-inter- Billig (1976) foi, na verdade, 0 primeiro a por ideia de que 0 modelo de Tajfel e Turner (1979)
rela9ao ao outro grupo, ligado a percep9ao grupo transforma-se numa oposi9ao entre 0 self em duvida a generaliza9ao a todos os grupos nao considerou as determinantes sociais da
estereotipada dos membros dos grupos sociais e 0 grupo (Turner, 1982), a qual corresponde sociais de uma necessidade de identidade social identidade social (Doise, 1987, 1988). Esta limi-
definidos por criterios de categoriza9ao e que se uma oposi9ao entre uma identidade pessoal, positiva que, segundo ele, nao podia existir ta9ao revela a dependencia de todo urn modelo
baseia numa hipotese central do modelo da cate- constitufda por tra90s fisicos, de personalidade, independentemente da estrutura e ideologia teorico de urn paradigma experimental social-
goriza9ao, segundo a qual os elementos de uma intelectuais e idiossincraticos, e uma identidade sociais. Esta crftica salientava a necessidade de mente «vazio» e do qual se passou a extrapolar
mesma categoria serao percebidos de forma social, que e composta pelo conjunto das compreender as proprias condi90es sociais de para as condi90es sociais reais.
semelhante. autodefini90es em termos de categorias de emergencia de uma identidade social positiva, Aqui se revela tam bern uma contradi9ao na
Por outro lado, e a rela9ao entre uma perten9a perten9a. Desde logo, os conteudos da identi- aspecto que Turner (1975), em particular, havia produ9ao teorica de Henri Tajfel, que procurara,
grupal socialmente saliente e as cren9as que os dade social nao sao considerados, nem sequer negJigenciado e substitufdo pela motiva9ao para com os seus estudos sobre a diferencia9ao per-
membros do grupo tern sobre as caracterfsticas no plano teorico, visto que a defini9ao desta e a procura da distintividade. ceptiva entre os grupos (Tajfel, 1969 a, b), ultra-
do sistema social em que estao inseridos, e da quantitativa e nao qualitativa, e 0 grupo surge A investiga9ao de Wetherell (1982) apontava, passar as extrapola90es do ambito psicologico
legitimidade ou ilegitimidade da posi9ao social claramente como urn simples meio de satisfa9ao justamente, para as rafzes culturais de uma para 0 das rela90es intergrupo e pusera em causa
do seu grupo, que permite predizer 0 tipo de da necessidade psicologica de uma distintivi- identidade que se manifesta por uma distintivi- (Tajfel, 1972 b) a tendencia da psicologia social
estrategias, individuais ou colectivas, que os dade individual positiva. Vma rela9ao intergru- dade positiva. Ao comparar os resultados de para efectuar experiencias num vacuo social,
membros do grupo desenvolverao para mudar a pos envolve ainda, segundo Turner (1981), uma replicas da experiencia dos «grupos mfnimos» negligenciando os aspectos socialmente rele-
sua situa9ao e que se traduzirao, no primeiro homogeneidade perceptiva e comportamental Com adolescentes europeus e da Polinesia, a vantes da realidade social. Porem, esta relevancia
caso, em formas de mobilidade «psicologica» e, dos membros dos grupos nela envolvidos, e esta autora verificou que as estrategias escolhidas nao se pode resumir a uma equivalencia formal
no segundo, em contribui90es para a mudan9a n09ao constitui urn alargamento a todos os gru- Por estes ultimos nas matrizes eram a recom- entre as variaveis operacionalizadas no labo-
social - como a tentativa de reinterpretar positi- pos sociais, independentemente da natureza da pensa maxima comum, 0 que permitia concluir ratorio e as que existem na realidade social, tal
vamente 0 conteudo dos estereotipos associ ados rela9ao intergrupos, da n09ao de despersonaliza- qUe a norma de discrimina9ao intergrupos, como aconteceu no paradigma dos «grupos mi-
ao grupo de perten9a, ou mesmo de associar 9ao que Tajfel (1978 a) definira e aplicara, tal como expressao da procura de uma distintivi- nimos». De facto, nos seus estudos sobre a cate-
400 • 401

goriza~ao social (ver ponto 2.1.) 0 autor salien-


4. Identidade social, represen ta "
tara que tanto os criterios cIassificatorios como CONTElJDOS CATEGORIAIS
sociais c a natureza das rela -;~e . .
os conteudos das categorias possuem significa- E DIFERENCIA<;AO INTERGRUPOS
intergrupos - os estUdos ~o('s
dos avaliativos, e este aspecto e retomado na
integra~ao da compara~ao social no seu modelo.
da cscola de Genebra o ~ ~ u.i ello ~ .alemaes e fml1cese ~. emm co1ocado~ em grupo~ que se dl stinguiam pela nad onalillade. 0 grupo
~ :llel11 ae ~ e 0 grupn dns france~es , condi"iio grupos hcterogencos: em grup(J~ que nao ~e dl~lillguiam pela
No entanto, sao muito raros os estudos que con- do.cionaliuade. porque eram j'orma d ()~ por ~ uJellll~
.. I . Id d d' - hom(lgene()~
'
( l i mesma l1aCllIna I · a e. clln I"ao g rupll~ : e em
sideram dimensoes relevantes de compara~ao nnrupo~ onde as naciona I'Ida de~ \e encontravam nllstllra . das. con u'I"ao grupll~ InJ.~t()S. A 'Itua"all
- cna( ' Ia e ~(JgJa
..
entre os grupos (Turner, 1978 b), ou os grupos 4.1. Identidade social e conteUdos ~ecisiie~ cooperativas no seio do grupo e entre ll~ grllpos, e o~ re'lIltadn~ Ill()~traralll que aqllela~ e~c()lha~ eram
comparativamente relevantes (Turner, Brown e categoriais - 0 modelo ' j fo iticall vamente mab elevada~ no inteno .. do grupll do que para II exterior. na~ condi,,(ie\ em que llln grupn de
g
s,ujeito~ .
da mesma naClOl1a I'd
1 a de "IIlteragJa com um grupo de sU.lelto!o
.. dC outra naCllllla I'd
I illIe
Tajfel, 1979). Por outro lado, as predi~oes da uni- da diferenciafiio categorial
forrnidade do comportarnento e da homogenei-
za~ao perceptiva dos membros dos grupos, como
Contrariamente ao modelo de Bristol
resultado da categoriza~ao social, tern a sua
modelo da diferencia~ao categorial nao prete~d0
origem na hipotese de que a diferencia~ao entre . e mas verificava-se sobretudo quando esta estava nao se faz sobre quaisquer tra~os negativos
romper com as perspectIvas anteriores , antes
categorias esta associada uma indiferencia~ao no associada a uma dimensao que adquiria urn mas sim naqueles que sao relevantes no
procura a int~gra~ao e articula~ao entre alguns
interior das categorias, mas a co-ocorrencia significado subjectivo para os sujeitos, como a contexto da rela~ao intergrupos. A experien-
model os (DOlse, 1976-84), como 0 da catego_
destes dois processos perceptivos nunca foi con- nacionalidade, ou seja, quando A significava cia de Avigdor (1953), em que dois grupos
riza~ao (Tajfel, 1969 a, b), 0 de Sherif (Sherif et
fmnada pelos estudos anteriores (Tajfel e Wilkes, alemao e B frances. Nesta perspectiva, as repre- de adolescentes tern de competir por recur-
aI., 1961; Sherif e Sherif, 1979) e 0 pr6prio
1963; Tajfel, Sheikh e Gardner, 1964). sentayoes, ou formas da sua actualiza~ao nas sos comuns para levar a cabo a montagem
paradigma dos «grupos minimos» (Tajfel et al.,
Por todas estas raz5es, a identidade social, tal diferentes situa~6es de diferencia~ao entre os de uma pe~a de teatro, evidenciou a fun~ao
1971). Assim, 0 modelo da diferencia~ao cate-
como foi operacionalizada no modelo de grupos, nao podem deixar de assumir urn lugar selectiva no conteudo dos estereotipos mu-
gorial considera a categoriza~ao urn processo
Bristol, e, tambem ela, vazia de significados central. Retomando urn resultado particularmente tuos, porque mostrava que a diferencia~ao
psicologico de estrutura~ao do meio, mas inte-
sociais, 0 que leva Rabbie e Horwitz (1988) a salientado pelos estudos de Sherif (Sherif, 1967) entre os grupos se estabelecia nos tra~os que
gra a analise deste processo no quadro situa-
perguntarem ironicamente se e possivel falar de e por outros estudos sobre as rela~oes de conflito eram relevantes para a situa~ao mas nao
cional ou estrutural das rela~oes intergrupos
urn «ser Klee» ou de urn «ser Kandinski», alem (Avigdor, 1953) - 0 de que a evolu~ao do con- naqueles que eram irrelevantes.
(Doise, 1976-84; Deschamps, 1984). Isto signi-
de que 0 modelo pretende explicar uma
fica que os conteudos das categorias nao podem flito entre os grupos e acompanhada por uma - A .fun~ao justijicativa revela-se tambem nos
expressao comportamental cujos fundamentos evoluyao nas imagens que cada grupo desen- conteudos das representa~6es que veiculam
ser desligados dos seus criterios cIassificatorios,
ideol6gicos nao foram controlados. Numa das volve de si pr6prio e do outro - Doise (1972, uma imagem do exogrupo que justifica quer
visto que, e de acordo com 0 proprio modelo da
suas ultimas publica~5es, Tajfel (1982) parecia 1976-84) mostra que as representa~oes desem- a sua posi~ao no contexto da interac~ao
categoriza~ao:
reconhecer 0 reducionismo psicol6gico a que 0 penham tres tipos de fun~oes sociocognitivas entre os grupos, quer urn comportamento
paradigma dos «grupos minimos» votara 0 Quando dois grupos se distinguem segundo urn criterio.
nas interac~oes entre os grupos: selec~ao, justi- hostil em rela~ao a ele. Os resultados de
e raro que ele nlio esteja 1igado, pelo menos subjectiva-
modelo da identidade social, ao minimizar a cen- ficarao e antecipa~ao. Sherif (1967) tambem mostram uma acen-
mente, a outros criterios (Doise, 1972, p. 106).
traIidade daquele paradigma relativamente ao - A fun~ao selectiva traduz-se numa centra- tua~ao negativa dos estereotipos mutuos na
modelo no seu conjunto e ao salientar a neces- Vma experiencia deste autor (Doise, 1969), lidade dos conteudos relevantes para a fase mais aguda do conflito intergrupos, ao
sidade de desenvolver uma teoria sobre os este- descrita na caixa da pag. seguinte,salientara justa- rela~ao intergrupos ao nfvel das represen- mesmo tempo que se observam agressoes
re6tipos sociais centrada na analise das fun~5es de mente que a discrirnina~ao intergrupos resulta de ta~6es mutuas relativamente aos conteudos interindividuais e ataques colectivos entre
diferencia~ao, explica~ao e justifica~ao que eles uma associa~ao entre criterios cIassificatorios e irrelevantes para a situa~ao, 0 que significa os dois grupos. Num estudo sobre as expli-
desempenham no quadro da rela~ao intergrupos conteudos significantes. que, embora a diferencia~ao perceptiva ca~oes para a discrimina~ao da mulher no
(Tajfel, 1981-83), exemplificadas em vanos o tratamento diferenciado dos membros do repouse numa dimensao avaliativa que trabalho (Amancio e Soczka, 1988), veri-
quadros reais de rela~5es intergrupos em que os grupo de perten~a e dos membros do exogruPO acentua a atribui~ao de tra~os negativos ao ficamos que, para os sujeitos do sexo mas-
estereotipos apareciam como suportes ideologicos nao dependia de uma mera categoriza~ao c1as- outro grupo, preservando uma imagem culino, 0 papel tradicional da mulher na
de rela~Oes de poder entre grupos sociais. sificatoria, tipo A e B, ou tipo Klee e Kandinsky, positiva do endogrupo, essa diferencia~ao familia e os tra~os do estereotipo feminino

I Cen~o de Reoursoa r
402
• 403

A ASSIMETRIA NO PROCESSO
DE Dn~ERENCIAC;AO CATEGORIAL INDIVIDUALIZAC;AO, FUSAO E A HIPOTESE DA CO-VARIAC;AO

Nesta experient:ia. que utilizava lIIn procedillleI1lIl .\ emelhante ao dos «grupo.\ minimo~». Il~ sujeitlls cram
Nesta experiel1l:ia. a t:ategorizac;fill busea\a-~e numa pertenc;a real. a do grupo de alunos do lieeu c a do g
de alunos de escolas lt~t:lllt:a!>, e os sUI'eitol> tinhmn de tazer auto- e heterode~t:J'i('iies em t:ondiciies• do>~ '111t"I-1 _ JUpo fOf\nados. nas condi~oes de individuac;fio. de que iriam ret:eber individllalmente os pontos que Ihes seriam atriblll-
• T .

rentes. Os resultillJos mostraram que. nus situm;oel> de acentuada categoric:u,fio intergrupaI. quando dnis Illembro: e.
~,ccrao (j'f
~lS pelos oulros, enquanlo nas condic,:5e:- de fu:.fio se dizia aos sujeitos que des. irialll ,reccber a me~ia dos pOlltos
t:ada !!J'upo se encontravam frente a frente. ou quando era dito aos ~uJ'eitn~ dc~de 0 infcio 'Iue tinhallllie des de atribuloOS ao seu grupo. De amrdo com os re~lIltados, verificnu-se lima maior dlferencmc;uo IIllra C IIltergrupalnas
- :ereve
~eu grupn e depois 0 outro grupo. os aluno!> do Ikeu cram mais di\criminatorios. enquanto os das escnlas t l . r 0 condic,:oes de individualizac;fio do que na\ de f'u<;iio.
• (! CI1(Cus (De~champ~ e Lorenzi-Cioldi. 19!11)
t'avnreciam os do liceu e nlio 0 seu pnSprio grupo. .

(DOI\e e SlIldair. 1973)

da esc ala de prestigio ao nivel do sistema escolar mental de Turner (1975), nao confmnaram a pre-
que the esUio associados, como a submis- psicossociologica das rela~oes intergrupos, visto elll que as suas posi~oes sao objectivamente dife- ponderancia do favoritismo pel0 proprio sobre 0
sao e a orienta~ao interpessoal do compor- que este processo: rentes. Desde logo, sao certos criterios classifi- favoritismo pelo grupo, antes apontavam no sen-
tamento, constituem justifica~oes para a cat6rios ou certos conteudos categoriais que se tido de uma co-varia~ao (Deschamps, 1982 b)
discrimina~ao da mulher no trabalho. Para ... esclarece 0 modo como, em variadas situa~oes, uma entre a diferencia~ao intergrupal e interindividual.
tomam relevantes em determinadas situa~oes, 0
realidade social constitufda por grupos se constr6i e afecta as
as mulheres, no entanto, so 0 papel tradicio- que torna necessario analisar as condi~oes que Considerando que a perspectiva da escola de
comportamentos dos indivfduos que, por seu tumo, intern.
nal da mulher justifica a sua discrimina~ao gem e corroboram esta realidade (Doise, 1976·84, p. 138). determinam a rela~ao intergrupos e que contri- Bristol se caracteriza por uma visao «homeosta-
no trabalho, porque para elas esse papel nao buem para 0 significado social daqueles conteu- tic a» (Deschamps, 1982 b, p. 251) dos processos
esta associado a urn perfil de personalidade Mas e tambem 0 pressuposto basico de que os dos. Por outro lado, 0 facto de 0 favoritismo pelo de diferencia~ao em que 0 favoritismo pelo pro-
«inadequado» as exigencias do mundo do individuos constroem, no plano cognitivo, a grupo de perten~a e da discrimina9ao intergrupos prio substitui 0 favoritismo pelo grupo e vice-
trabalho. situa9ao em que estao inseridos, reproduzindo-a se revelarem assimetricos, em medidas percepti- -versa, visto que qualquer deles permite obter
- A funfiio antecipatoria, finalmente, orienta ou antecipando-a, que faz com que a diferen- vas e avaliativas, e exprimirem uma representa~ao uma distintividade positiva, 0 autor procura
o proprio desenvolvimento da rela~ao entre cia~ao nao possa ser universal na sua extensiio, subjectiva das posi~oes objectivas dos grupos, situa-Ios num universo de referencias sociais e
os grupos, como mostra a experiencia de nem simetrica na sua expressao. A experiencia mostra bern os limites de uma causalidade psico- normativas. 0 comportamento intergrupal seria,
Doise e Weinberger (1972-73). Nesta expe- relatada na caixa acima salienta urn contexto de 16gica universal daqueles processos, como defen- assim, resultado de diferentes modalidades de
riencia, sujeitos do sexo masculino sao leva- rela90es intergrupos em que ha assimetria no dia Turner (1975) no quadro do modelo de Bristol. identifica~ao com 0 grupo, como a individua~ao
dos a antecipar situa~oes de competi9ao, de processo de diferencia9ao categorial. e a fusao, 0 que permite contrapor a hipotese da
coopera9ao ou de simples co-presen~a com Os resultados das duas ultimas experiencias co-varia~ao dos comportamentos intra e inter-
duas parceiras do sexo feminino, comparsas mostram claramente que a estrutura~ao cogni- 4.2. Identidade dominante e dominada grupais de diferencia~ao (e de indiferencia~ao)
dos experimentadores. Do conjunto de tra- tiva diferenciadora que resulta do processo da - 0 modelo das relafoes de poder (Brown e Deschamps, 1980-81; Deschamps,
~os masculinos e femininos que os sujeitos categoriza~ao nao se constroi sobre quaisquer simbolico 1982 b) a hipotese da exclusao mutua destes
recebiam para se autodescreverem e descre- conteudos simbolicos, nem do mesmo modo em dois comportamentos. Estas modalidades de
verem as parceiras, eles atribuiam-lhes mais todos os contextos intergrupais. Os tra~os mais De facto, outras investiga~oes da escola de identifica~ao com 0 grupo foram operacionali-
tra~os femininos quando antecipavam uma negativos do estereotipo feminino, os de sub- Genebra vieram por em causa a hipotese de zadas na experiencia descrita na caixa acima,
competi9ao com elas do que quando anteci- missao e dependencia, sao particularmente uteis Turner (1975), segundo a qual a discrimina~ao cujos resultados confirmam a hipotese da co-
pavam os outros tipos de interac~Oes. aos sujeitos do sexo masculino para antecipar 0 intergrupos so existia como meio de atingir uma -varia~ao nos comportamentos de diferencia~ao
seu sucesso sobre as parceiras do sexo oposto; distintividade positiva e que servira de base a interindividual e intergrupal.
Esta liga~ao entre a realidade objectiva, ou na experiencia com os alunos de dois ramos do explica9ao psicologica da discrimina~ao inter- Se, como vimos antes, a discriminayao inter-
simbolica, dos grupos e a sua representa9ao ensino secundario (descrita na caixa anterior), as grupos (Tajfel e Turner, 1979). Os estudos de grupos nao resulta necessariamente de qualquer
subjectiva (Doise, 1984) permite inserir 0 pro- condi~oes experimentais traduziram-se, para am- Brown e Deschamps (1980-81) e de Deschamps forma de categoriza~ao, estes estudos mostram
cesso da diferencia~ao categorial numa analise bos os grupos, numa representa~ao reprodutora (1983), que se baseavam no paradigma experi- que ela tambem nao implica obrigatoriamente
404
• 405

uma desindividua~ao dos membros do grupo em sido evidenciados em estudos em que a Cate
oposi~ao a individua~ao
descategorizada, tal riza~ao base ada no sexo emerge como urn ~o­ A OPERACIONALIZA<;AO DA RELA<;AO DE DOMINA<;AO
como tambem 0 demonstram os resultados dos exemplos sociais de uma rela~ao de domina _os
. d . . ~ao Nurmi primeira parte da experiencia, apresentada como um eswdo sobre as preferencias esteticas, os sujeitos
estudos sobre 0 efeito de ovelha negra (Marques, VIStO que 0 comportamento os SUjeltos do s '
assinalam as suas preferencias por trechos musicais extrafdos de obras de dois autores contemporfineos, Riley e
1990). Perante estes resultados, a dicotomia lemmmo nao reve a a procura e lstintividexo
& •• - I d d' d J(abelac. Para os sujeitos da condi~ao «grupo colec~ao», 0 experimentador analisa as preferencias de cada sujeito no
.. I ae
entre identidade pessoal diferenciada e identi- ou 0 favontlsmo pe 0 grupo de perten~a e fjm da primeira parte da experiencia, enquanto para os sujeitos da condi~ao «grupo agregado», as folhas de resposta
situa~oes de confronta~ao com 0 sexo opost
ll1
dade social homogeneizante toma-se inaceitavel, indivrdual sao atiradas para dentro de uma caixa no fim da sessiio.
tanto te6rica como empiricamente (Deschamps, De facto, a evoca~ao de urn concorrente do sexo. Na segunda parte da experiencia, 0 experimentador afirma pretender analisar os processos de tomada de
1987), visto que 0 comportamento do individuo, oposto para urn lugar de prestigio leva os sUje~ decis iio e apresenta uma matriz de pontos aos sujeitos, como exemplo da tare fa que Ihes sera pedida, mas que nao
tos do sexo feminino a depreciarem as suas pr~­
sera inclufda nas matrizes utilizadas na experiencia. Nesta segunda parte, metade dos sujeitos sao colocados nos gru-
no interior do grupo e em rela~ao ao grupo com-
pos Riley e Kabelac supostamente em fun~ao das preferencia~ que haviam exprimido anteriormente, mas na reali-
parativamente relevante, nao e universal mente prias competencias e a perder interesse pelo lugar dade aleatoriamente, enquanto para a outra metade dos sujeitos 0 experimentador afirma ir coloca-los ao acaso nos
orientado por uma motiva~ao, mas sim por refe- mas tal nao acontece quando 0 suposto concor~ grupos azul e vermelho. Com esta manipula~ao, 0 experimentador categoriza os sujeitos de acordo com urn criterio
rencias a normas e valores colectivos que a cate- rente e do mesmo sexo (Deschamps, Lorenzi_ <<interno», que sao as suas proprias preferenclas, no caso dos «grupos colec~ao», e de acordo com urn criterio «ex-
goriza~ao intergrupos toma significantes. -Cioldi e Volpato, 1983). 0 mesmo efeito se terno», que e a decisao arbitniria do experimentador, no caso dos «grupos agregados». Todos os sujeitos recebem
Uma dessas referencias colectivas sao as verifica nos sujeitos do sexo feminino quando as em seguida os cadernos de matrizes onde se encontram os pontos a distribuir entre si proprio e urn outro do mesmo
grupo e entre si proprio e urn outro do outro grupo. Metade dos sujeitos dos «grupos colec~ao» e metade dos dos
ideologias relativas a estratifica~ao dos grupos compara~oes entre os sexos se efectuam ao nivel
«grupos agregados» irao receber, de acordo com as instru~5es apresentadas na primeira pagina dos cademos das
sociais numa escala de poder que Deschamps de tra~os e dos pontos das matrizes, mas tal nao matrizes, exactamente os pontos que os outros Ihes derem, enquanto a outra metade ira receber a media dos pontos
(1982 a, p. 88) designa por urn «universo sim- acontece com os sujeitos do sexo masculino atribufdos ao seu grupo. Esta manipula~ao induz 0 ,dndividualismo» perante 0 grupo no desempenho da tarefa, ou a
b6lico comum de valores», que serve de refe- (Deschamps e Personnaz, 1979). A unica expe- «fusiio» em rela~ao ao grupo. Sujeitos de ambos os sexos participam em todas as condi~5es experimentais.
rencia a posi~ao relativa de todos os grupos e, riencia efectuada pela equipa de Bristol com (Lorenzi-Cioldi, 1988)
consequentemente, a sua interdependencia com- sujeitos de ambos os sex os mostrara tambem
parativa. A defini~ao dos grupos sociais num que as raparigas preferiam a estrategia da
quadro de rela~oes de interdependencia simb6- equidade relativamente a da diferencia~ao, mas mental que, para alem destas diferen~as e da associ ada a uma perten~a «dominante» e nao a
lica proposta nesta perspectiva implica tambem este resultado nao foi objecto de qualquer refle- introdu~ao da variavel sexo, se inspira no do uma perten9a «dominada». No entanto, enquanto
uma defini~ao estrutural das formas de identifi- xao particular pelos autores da experiencia paradigma dos «grupos minimos». os rapazes manifestam urn comportamento clara-
ca~ao dos individuos com e pelo seu grupo de (Turner, Brown e Tajfel, 1979). Esta experiencia permitiu, portanto, criar mente dominante que se traduz na persistencia
perten~a, que apontam para mais de uma moda- E, no entanto, nos estudos de Lorenzi-Cioldi experimental mente urn grupo «dominante», para da diferencia~ao interindividual e intergrupal nas
lidade de identidade social: (1988) que a operacionaliza~ao de uma rela9iio cuja defini~ao os sujeitos participaram, suposta- vanas condi~oes experimentais, embora mais
de domina~ao intergrupos permite analisar os mente, de uma forma aut6noma e dentro do qual acentuado quando ha homologia entre as perten-
... A identidade social pode variar fundamental mente em
fun~ao do capital material e simb61ico que os indivfduos pos- padroes de comportamento de diferencia9iio foi induzida uma participa~ao individual e distin- ~as sociais e experimentais, as raparigas diferen-
suem ... a identidade social dos dominantes sera definida em interindividual e intergrupal que Ihe estao as- tiva, e urn grupo «dominado», que emergiu por ciam-se dos membros do grupo de perten~a
termos de «sujeitos» e ados dominados em termos de «objec- sociados, definir 0 perfil das identidades domi- decisao arbitrana do experimentador e dentro do quando este e «dominado», manifestando assim
tos». Os primeiros nao se veem a si proprios como detenni- nante e dominada e mostrar a sua homologia qual a participa9ao dos sujeitos e indiferenciada, a rejei~ao de uma perten~a desfavoravel, comum
nados pelo seu grupo de perten~a ou pela sua afilia~ao social. a todos os sujeitos nesta condi~ao, mas nao se
com os padroes de comportamento masculino e assim como dois grupos onde nao ha corres-
Veem-se, acima de tudo, como seres humanos individualiza-
dos, singulares, «sujeitos», actores voluntanos, Iivres e
feminino. As condi90es dominante e dominada pondencia entre a defini~ao intema ou extema do diferenciam do outro grupo nem mesmo quando
aut6nomos. 0 seu grupo e antes de tudo uma colec~ao de pes- sao operacionalizadas, numa das experiencias grupo e a participa~ao individual ou fusional dos colocadas num grupo «dominante». Estes resul-
soas. Tal nao e 0 caso dos dominados, que sao definidos deste autor, atraves das no~oes de individua9iio seus membros. Por outro lado, 0 facto de todos tados permitem, portanto,
como elementos indiferenciados de uma colec~ao de versus fusao do indivfduo em rela~ao ao grupO, estes grupos terem sujeitos de ambos os sexos
... repensar a oposi~ao do pessoal e do colectivo sobre a
partfculas impessoais e sao mais vistos como «objectos» do que referimos atras (ver descri~ao da experien- permite analisar 0 grau de homologia entre as qual se baseiam os model os actuais da identidade social...
que como «sujeitos» (Deschamps, 1982, p. 90).
cia de Deschamps e Lorenzi-Cioldi, 1981), e de perten9as sociais e as experimentais. o singular e 0 colectivo, 0 geral e 0 particular na identidade
Os efeitos desta variavel estrutural sobre a autonomia versus destino comum na pr6pri a Os resultados mostraram, de facto, que a dife- social emergiram, de facto, como aspectos diferentes. mas
diferencia~ao e a discrimina~ao intergrupos tern defini~ao do grupo, num procedimento experi- rencia9ao interindividual e intergrupal esta apesar disso compatfveis desde que os consideremos como
406

407

fonnas de expressao de si e do outro numa relaifao de identidade mais colectiva, Numa expen'~ s posi~6es e fun~oes sociais dos dois OS conte lidos do estereotipo feminino servem
dominaifao entre grupos, E nesta relaifao que surge uma enci rente , " ,
cente sobre a homogeneidade do e are. s nao sao meramente sltuaclOnals, mas Slm para caracterizar os actores do sexo feminino,
Lorenzi-Cioldi et. ai, (1995) mostrar~ogrupo, S~~~ricas, de modo que a saliencia de uma cate-
identidade pessoal - ocultando os contextos colectivos que
participam para a sua emergencia -, assim como identi-
assim como caracterizam os comportamentos
dades mais especificamente colectivas que se inscrevem membros dos grupos dominados, neste qUe Os Iii 'za~ao intersex os evoca a homens e mu- femininos, enquanto os tra~os do estereotipo
' caso as gones num contexto expenmenta , I ou outro,
nos grupos de pertenifa (Lorenzi-Cioldi, 1988, p, 205), mu Iheres, eram percebldos como mais h masculino nao caracterizam os actores do sexo
liter,
teudos categonals so re os quaIs se esta bl
.. b '
gene os do que os membros dos grupos d:rn~ e e- masculino, nem nenhum tipo de comportamento
Esta perspectiva deu lugar ao desenvolvi- nantes, neste caso os homens, A relevancia llli· conam no~oes d ' d
e SI e e comportamentos apro- em particular, mas servem para caracterizar os
mento de uma linha de investiga~ao que acentua perspectiva . , "d
teonca rest e no estatuto expli deSta
' ce~ados (ver Doise, 1984, para uma discussao actores do sexo feminino quando 0 seu compor-
o valor explicativo da posi~ao relativa dos gru- , d'd "fi
que e conce t 0 aos slgm tcados associad cativo ~C1 papel das representa~6es na actualiza~ao tamento nao corresponde as orienta90es norma-
pos, definidos atraves da interdependencia de categonas,. ou seJa,"reSI
de na d'Imensao de an~l' Os as ~perimental da realidade social), De facto, 0 tivas definidas pelo estereotipo feminino,
significados das identidades, mais «pessoais» no 'd l' , - 1
1 eo oglca, razao pe a qual se estende a 0
allSe eonsenso que envolve os estereotipos sexuais Assim, e pela ausencia de uma fun9ao ou con-
caso dos grupos dominantes ou mais «colectivas» , " 0
categonas SOCIalS, s estudos desenvolvido
. ,
Utras
s Por
:m diferentes culturas e sociedades, evidenciado texto especifico na defini~ao do masculino que 0
no caso dos grupos dominados (Lorenzi-Cioldi, Cabecmhas ( 1994) Vlsaram precisamente ao longo de varios anos de investiga~ao em comportamento dos membros deste grupo revel a
1993), 0 efeito destes significados tern sido extensao deste modelo de analise as catego ' a psicologia social, assim como a sua estrutura~ao uma aparente independencia de imposi~oes nor-
demonstrado ao nivel dos processos cognitivos, raciais e permitiram evidenciar a homogene~as desde a socializa~ao primma (ver Amancio, mativas e se apresenta individualmente diferen-
lZa·
na medida em que determina e orienta os modos ~ao dos grupos dominados em rela~oes intergru. 1989, para uma revisiio desta literatura), permite ciado, imprimindo ele proprio urn significado
de tratamento da informa~ao. Assim, Hurtig e pais baseadas em diferen~as de Cor da pele (os considera-Ios nao so urn suporte simbolico das aos contextos, mas tambem ele inserido numa
Pichevin (1990, 1995) verificaram que, apesar de negros) e em diferen~as de sexo (as mulheres). posi~oes sociais objectivas dos dois grupos mas ideologia colectiva que os individuos, homens
a informa~ao sobre as categorias sexuais ser tambem da constru~iio da representa~ao de si ou mulheres, nao «criaram», antes reproduzem
extremamente acessivel e informativa, a probabi- dos individuos de ambos os sexos. ou «recriam» nos processos sociocognitivos que
lidade de descrever urn individuo do sexo femi- 4.3. Identidade social Se, para alem da evidencia deste consenso, orientam a sua percep~ao da realidade, 0 efeito
nino como «mulher» e mais elevada do que a de e representafiio de pessoa analisarmos 0 significado dos conteUdos asso- desta ideologia e visivel na percep~ao do com-
descrever urn individuo do sexo masculino como ciados ao masculino e ao feminino no quadro do portamento dos outros, como vimos atras, mas
«homem», uma vez que os significados associa- A rela~ao intersexos constitui, sem dlivida, urn universo simbolico comum da no~ao de «pes- tambem na procura da causalidade dos compor-
dos a categoria feminina diferem na qualidade da tipo de rela~ao intergrupos onde 0 peso do uni- soa», verificamos que elas diferenciam os sexos tamentos, que e orientada por uma norma de
informa~ao que veiculam, pois indicam uma verso simbolico se revela claramente. As dife· atraves de uma representa~ao de pessoa singu- intemalidade para os membros do grupo domi-
lar, autonoma, independente dos contextos e nante (Beauvois e Dubois, 1988), enquanto no
social mente referente, no caso do masculino, e caso dos membros do grupo dominado ela visa
MODELOS DE PESSOA E MODALIDADES DE IDENTIDADE SOCIAL de uma representa~ao de pessoa que se define provar 0 seu conformismo a normas sociais e
por uma fun~ao social e e delimitada pelas fron- contextuais (Amancio, 1992). Finalmente,
Esta experiencia foi efectuada com sujeitos adultos, estudantes-trabalhadores de ambos os sexos, a quem pedi- teiras do contexto em que essa fun~iio e exer- aquele efeito e visivel na constru~ao da imagem
mos que participassem num exercicio de comunicaifao, As instru~5es contidas no texto, que apresentava aos sujeitos cida, no caso do feminino. Esta assimetria nas de si proprios, aparentemente «liberta)) dos
a tarefa a desempenhar, salientavam caracteristicas masculinas para 0 born desempenho da tarefa, na condiifiio defini~oes de pessoa masculina e feminina estereotipos para 0 grupo dominante e muito
dimensao masculina de compara~ao, caracteristicas fernininas, na condiifao dimensao feminina de compara~ao, ou
traduz-se ainda numa assimetria no significado dependente destes para 0 grupo dominado
nao salientavam quaisquer caracteristicas numa condiifao sem dimensao, tipo «grupos mfnimos», Depois de expli-
cado 0 exercicio aos sujeitos pedia-se-lhes que fizessem uma estimativa do que iria ser 0 seu desempenho atraves da normativo assumido pelos estereotipos sexuais (Lorenzi -Cioldi, 1991), e das modalidades de
atribui~ao dos pontos das matrizes a si pr6prios e a urn outro do mesmo sexo, e a si pr6prios e a urn outro do sexo para os actores homens e mulheres, como comportamento considerado adequado em dife-
oposto, que eram designados por numeros seguidos da categorizaifao «grupo dos homens» ou «grupo das mulheres», mostramos numa experiencia em que os tra~os rentes contextos, como mostrou a experiencia
Alem destas varil1veis independentes, introduziu-se ainda uma outra de nivel interindividual, visto que numa dos estereotipos sexuais, assim como outros descrita na caixa da pagina anterior.
condiifao os sujeitos respondiam isoladamente e noutra condiifao respondiam na presen~a de outra pessoa do mesma
tra~os sem conota~ao sexual, serviam para os A co-ocorrencia da diferencia~ao interindivi-
sexo e duas pessoas do sexo oposto,
Sujeitos estabelecerem os seus juizos sobre os dual e intergrupal verificou-se nos resultados
(Amancio, 1988,1989 a) actores e os comportamentos (Amiincio, 1992), dos homens, tanto na dimensao de compara~ao
De acordo com os resultados desta experiencia, masculina como na condi~ao vazia de conte lidos
t
408 409

comparativos, tipo «grupos mfnimos», mas no a articulayao entre a dimensao ideologic subjacente a que distingue a identidade pessoal
caso das mulheres a diferenciayao intergrupal dimensao interactiva da dinamica inter a e a
f{c sumo da identidade social e a individuar;ao da dis-
verificava-se tambem na dimensao masculina, (Amancio, 1997). A comparayao dos resu~~Pal Enquanto conceito, a identidade social refere- crimina9ao intergrupos (Lorenzi-Ciold e Doise,
enquanto a diferenciayao interindividual se veri- das duas experiencias mostra claramente q ados segundo 0 rnodelo de Bristol, a urn envoi vi- 1990). Para estes autores e precisamente a arti-
ue
ficava sobretudo na ausencia de dimensoes de identidade dos grupos dominados se apre Ila ;:~to ernocional e cognitivo dos indivfduos no cularrao entre niveis de analise que pode, final-
comparayao categorialmente significantes. Isto Sent mente, conduzir a uma teoria das relayoes inter-
sob a forma de modos de estar nos COnte a u grupo de pertenya e as consequentes expres-
mostra que, para a grupo dominado, a diferencia- . Iares, d'lstanclan
partlcu . do-se, aSSlm,
. do modXtos . desse envo IVlmento
se(jeS cornportamentals . no grupos, integrativa das contribuirroes anteriores.
yao esta sujeita a dupla pressao da referencia da . ode Mostramos, neste capitulo, que as modali-
ser, aparentemente mdependente dos COntext SuadrO da relayao intergrupos. No entanto, a
representayao dominante de pessoa e da repre- (Amancio, 1993, p. 219) que se observa os» q odel o de analise das relayoes de discriminayao dades das rela90es intergrupos podem variar, no
sentayao do seu modo de ser especffico, fusional dinamica dos grupos dominantes. na :tre grupos que conceptualizou a identidade plano objectivo, desde urn quadro a-historico e
e indiferenciado. Assim, a distintividade posi- o conjunto de estudos que acabamos d social nestes termos limitou-se a estudar rei a- abstracto, ao qual os individuos so conseguem
tiva do seu grupo passa necessariamente, para as referir e que visavam evidenciar a assimet .e ~(jes intergrupos vazias de significado social, dar senti do recorrendo a valores culturais,
mulheres, pela adopyao do model a de compor- simbolica nos modelos de ser masculino e fe;'~ pelo que a comportamento dos indivfduos nes- supra-ordenados em relayao ao contexto, ate a
tamento masculino e social mente referente, nino, socialmente consensuais (ver tam be 1 sas condiyoes nao e facilmente generalizavel a urn quadro de relarroes intergrupos em que a
tanto mais tratando-se de sujeitos inseridos no A manClO, 1995, para uma revisao destes e ou-
A' m
outras situayoes. Alguns dos pressupostos basi- visibilidade da categoria de perten9a e perma-
mundo do trabalho e colocados numa situayao tros estudos da mesma linha de investiga~iio) cos do modelo de Bristol, como 0 da procura nente e evocativa de significados contidos numa
de desempenho valorizado. No entanto, a distin- permitem-nos concluir que existem, pelo menos' da identidade social positiva, enquanto regu- ideologia colectiva, que imprimem sentido aos
tividade individual e procurada em contextos tres niveis de expressao da posiyao social dOmi~ lador universal do favoritismo pelo grupo de contextos particulares e onde aquela dimensao
vazios de significados categoriais, unica forma nante de urn grupo, no plano simbolico. Ao perten~a e da discrimina~ao intergrupos, assim estrutural da relayao intergrupos interfere com a
de se diferenciar como individuo sem romper nivel da ideologia, a identidade deste grupo COr- como 0 da oposi~ao entre identidade pessoal e sua conjuntura especifica.
com a identidade feminina e colectiva. De facto, responde a urn modelo de pessoa universal, que social, remeteram fenomenos de ordem colec- Ao nivel subjectivo, as modalidades das rela-
as resultados daquela experiencia mostram que constitui urn referente tanto para as membros do tiva para os niveis de analise intra-individual, ~oes intergrupos revelam-se nos significados
as comportamentos de diferenciayao nao estao seu grupo como para as membros do grupo ao salientarem explica90es motivacionais e associados as categorias sociais, nos modos de
associados aos conteudos fernininos. No entanto, dominado. Por outro lado, este mesmo modelo cognitivas. expressao da identidade social e na relevancia
as homens utilizam-nos para se distinguirem de de pessoa contribui para uma auto-represen- o modelo teorico recente que mais se desen- dos conteudos categoriais para a comparayao
outros homens, conferindo-Ihes, deste modo, urn tayao dos membros do grupo dominante, em que volveu no quadro daqueles pressupostos, a teo- social no seio do grupo e entre os grupos. Numa
significado individualizante. a individualidade nao e incompativel com uma ria da categoriza9ao entre a eu e os outros, de relayao intergrupos meramente conjuntural, os
Na medida em que a estereotipo feminino pertenya categorial e se exprime com uma Turner (1987), tern dado origem a estudos sabre grupos constituem realidades concretas face as
veicula uma representayao de pessoa associada aparente «naturalidade», ao contrano do que a atrac9ao, a coesao de grupo e 0 conformismo quais os individuos tern a possibilidade de
aos contextos especfficos da interdependen- acontece na representayao de si dos membros do (Hogg e McGarty, 1990), que se situam no nivel definir modos de estar, cujo senti do e delimi-
cia relacional e sexual, esta desigualdade de grupo dominado, cuja irregularidade de compor- de analise interindividual, enquanto a sua con- tado pelas fronteiras espaciais e temporais de
recursos simbolicos manifesta-se, no plano da tamento revela as contradiyoes a que estao sujei- tribui9ao para a analise dos estereotipos sociais urn contexto intergrupal especffico. Numa
dinamica identitaria, num modelo de ser situ a- tos. 0 grupo dominante e, alem disso, aquele salienta mais a vertente cognitiva daqueles do relayao intergrupos estrutural, no entanto, os
cional, no caso das mulheres (e outros grupos que pode manipular os conteudos simb6- que os processos colectivos em que eles se grupos constituem entidades subjectivamente
dominados), uma vez que as seus modelos iden- licos, conferindo-Ihes urn significado universal inserem, nomeadamente os que se referem a construidas, que reunem as seus membros sob
titanos esUio mais dependentes dos contextos quando eles servem para salientar a sua distin- no~ao de pessoa e sabre as quais se constroi a urn determinado modo de ser, predefinido num
concretos. Poi esta hipotese que testamos numa tividade, ou urn significado categorial quando propria n09ao de eu. universo simbolico-ideologico, onde se encon-
experiencia com urn paradigma experimental servem para salientar as diferenyas entre as gru- Por outro lado, os estudos que integram a tram os proprios elementos da construyao de
semelhante ao da experiencia anterior, mas onde pos, ao contrano do grupo dominado, para quem nivel de analise ideologico, e, em especial, a uma representayao de si, enquanto pessoa, e
a dimensao de comparayao co-variava com moda- as conteudos simbolicos assumem uma funyao articula9ao entre os niveis de analise interindi- cujas modalidades elucidam a expressao do
lidades de competiyao entre as grupos (do sexo claramente normativa, que evidencia a externa- vual, posicional e ideologico permitem ques- comportamento dos individuos em diferentes
masculino e feminino), a fim de operacionalizar lidade da sua condiyao social. tionar a oposiyao entre a individual e a colectivo contextos.
CAPITULO XIII

Conflito e negocioc;oo entre grupos

Maria Benedicta Monteiro

Quase todas as pessoas que vivem em regimes dao maior garantia de eficacia do que os quadros
politicos democniticos acreditam no direito a femininos e age em conformidade, so admitindo
igualdade de oportunidades dos cidadaos em os primeiros); quando ha assimetria de poder
rela~ao a educa~ao, a saude, ao emprego ou a entre grupos e os mais fortes utilizam essa
interven~ao poHtica. Quase todas acham, e a assimetria em seu beneficio (a invasao de Timor-
maioria das legisla~6es assim 0 consagra, que -Leste pelas for~as da Indonesia; nos EVA, em
esses direitos nao podem ser limitados pelo sexo, cada dezoito segundos ha uma mulher maltra-
pela ra~a, pelas cren~as, pela religiao, ou pela tada por urn homem e, em cada seis minutos,
idade. E que as rela~6es intemacionais devem ser urn mulher e alvo de ataque de viola~ao) .
pautadas pelo respeito pela soberania dos As raz6es apontadas para a emergencia de
Estados e pelo recurso a negocia~ao, ou mesmo fenomenos de conflito e discriminac;ao entre gru-
aarbitragem de organismos supranacionais, em pos sociais - a lirnitac;ao de recursos, a incom-
caso de diferendos graves entre elas. patibilidade dos objectivos, a assimetria do po-
E, no entanto, urn breve olhar sobre essas der - nem sempre foram as invocadas, ou mesmo
sociedades mostra-nos, a cada passo, a existencia as estudadas, na tentativa de c1arificar (explicar,
de atitudes e comportamentos discriminatorios prever) esta gama de fenomenos, associado aos
sempre que determinadas circunstancias colidem quais aparece urn determinado tipo de atitudes
com esses valores social mente implantados: globalmente designado como preconceito.
quando ha limita~ao de recursos materiais ou Neste capitulo abordaremos duas areas de
simb61icos (ha mais candidatos a uma fun~ao do estudo dos fenomenos intergrupais que, pela sua
que 0 numero de postos de trabalho disponivel; especificidade teorica e aplicada, constituem
ha dois grupos - os israelitas e os palestinianos - hoje urn dominio bern identificado da Psicologia
que pretendem ocupar urn mesmo territorio), Social: as do conflito e da cooperac;ao enquanto
quando ha grupos com fortes cren~as sobre urn formas privilegiadas de interacc;ao social entre
qualquer aspecto da vida social (a alta direc~ao dois ou mais grupos. A exposic;ao destas form as
de Urn banco acha que os quadros masculinos de comportamento intergrupal apresentara 0
• 413
412

seguinte percurso: 1) a exploracrao teorica e Segundo Jones (1972), 0 preconceito pod ainda com inseryoes sociopoliticas diferencia- tern tendencia para categorizar os episo-
empirica dos model os que tern tentado com- ser definido como «0 julgamento pn!vio (pre~ das (sindicalizados ou nao sindicalizados; clas- dios que nos cercam do modo mais "com-
-conceito) negativo dos membros de uma ra ses sociais alta e baixa). pacto" possivel, desde que seja compativel
preender a genese dos conflitos e 2) a apresen- · '- ou dos que desempenha~a
ou d e uma re 119lao, De qualquer modo, nao e a enumerayao e a com as necessidades da ac~ao» (p. 21);
tacr ao das propostas teoricas orientadas para a
resolucr ao de conflitos e para a cooperacrao. qualquer papel social significante, que se ma: descriyao dos preconceitos que aqui interessa, c) a categorizafiio permite-nos identificar
Na area da genese dos conflitos veremos como tern mesmo que os factos 0 desconfirmem» Illas a compreensao do proprio fen6meno, rapidamente qualquer objecto relacionado
as hipoteses surgidas no decurso da investigacr ao (p. 61). 0 comportamento normal mente asso_ com ela, uma vez que qualquer objecto ou
ao Ion go do seculo XX tern adoptado como refe- ciado a este tipo de julgamento e designado por acontecimento tern certas marcas ou carac-
discriminafiio. Os preconceitos socialmente 1.1 A natureza dos preconceitos terlsticas que servem de sinal activador de
rencia conceitos tao diferenciados - tanto pelos
niveis de analise que implicam, como pelo seu partilhados por urn grupo sao, mais especifica_ uma categoria (urn carro aos ziguezagues a
proprio significado - como os precollceitos mente, os que interessam a Psicologia SOcial. Gordon Allport, na sua obra A Natureza do nossa frente - «esta bebado!», e passamos
Vejamos 0 exemplo de urn preconceito citado Preconceito (1954), fez a primeira abordagem bern ao lado);
(Allport, 1954), aJrustrafiio-agressiio (Dollard et
por Thomas no seu artigo «Race and prejudice» sistematica deste tipo de juizos, descrevendo-os d) a categoria salUra todos os seus conteUdos
aI., 1939), a privafiio relativa (Stouffer et al.,
1949), a oposi~'iio de interesses (Sherif e Sherif, publicado em 1904, que se refere ao comentan~ comO «pensar mal dos outros sem suficiente com «identico aroma ideativo e emocional»
de uma americana sulista sobre a cor de Otelo de fundamento» (p. 6), ou seja, «atitudes adversas (p, 21), Nos conceitos fisicos como nas cate-
1961) ou a identidade social (Tajfel, 1978).
Shakespeare: au hostis em relayao a uma pessoa que pertence gorias sociais, apesar da multiplicidade de
Na area da resolucrao de conflitos e da coope-
a urn grupo, simplesmente porque pertence a ~xperiencias ou de c<l;Sos particulares que 0
ra~ao veremos como, correspondendo as princi- Ao ler Ote/o, sempre imaginei que 0 her6i era um
esse grupo, presumindo-se assim que ela possui mtegram (0 conceito de nuvem, quantas
pais hipoteses explicativas sobre a genese dos branco. E verdade que 0 dramaturgo 0 descreve como
negro, mas 0 tom nao se Ihe adequa. E uma decorar;:ao para as caracterlsticas contestaveis atribuidas a esse nuvens la tern?, eo conceito de criancra?, e a
conflitos, surge tambem uma pluralidade de cons-
efeitos teatrais que nao me agrada e, do ponto de vista artis- grupo» (p. 7). categoria de rico?), 0 significado ideativo
tructos teoricos que tern feito 0 seu caminho, por
tico, e urn erro de cor. Por isso, como ja referi, nas minhas Porque e que as pessoas deslizam com tanta essencial, bern como 0 sentimento prevale-
vezes atribulado, de valida~ao empiric a: 0 con- leituras da per;:a anulei esse facto. Shakespeare era um facilidade para 0 preconceito, seja ele racial, cente que se the associa, mantem-se identico;
tacto entre grupos (Allport, 1954), ou a constru- pintor da natureza humana demasiado correcto para ter religioso, politico, social ou sexual? Segundo e) as categorias podem ser mais ou menos
fiio de objectivos superordenados (Sherif e pintado Otelo de preto, caso estivesse familiarizado com as
Allport, «por causa de dois ingredientes essen- racionais. Como aflfIDa Allport, as leis
Sherif, 1961). A negocia~iio de conjlitos - ul- idiossincrasias da rar;:a africana. Temos, pois, que encarar a
mancha negra sobre 0 relrato de Otelo como uma «ebu- dais - a generalizacrao e a hostilidade erroneas - cientificas sao exemplos de categorias
timo paragrafo deste capitulo - constitui uma
Iir;:ao» da fantasia, urn delfrio da imaginar;:ao - a concepr;:ao que sao capacidades naturais e comuns da mente racionais: tern a sua origem num «mlcleo
vasta subarea de estudos e problemas da reso-
visiomiria de uma flgura ideal -, urn dos poucos toques humana» (idem, p. 17). A generalizacrao, ou pro- de verdade», alargando-se e solidificando-
luyao de conflitos entre grupos que conhece uma falhados do pincel do grande mestre, a 111I;ca mancha numa cesso de categorizafiio, que nos permite pensar, -se atraves do aumento de experiencias
intensa fase de explora~ao teorico-empirica nas obra perfeita. Olelo era urn homem branco! (Mary Preston,
bern ~omo as categorias que ele vai gerando, relevantes. Algumas categorias sociais
duas ultimas decadas. SlIIdies ;11 Shakespeare, 1869, p. 71).
constituem a base do pre-conceito nonnal. Para tambem partilham esta caracterlstica: os
Os preconceitos raciais, a par com os etnicos Allport, este processo apresenta cinco caracte- Portugueses falam melhor portugues do
e os sexuais, foram os que mais concentraram a rfsticas importantes: que arabe ou finlandes. Mas sera verdade
I - A genese dos conflitos aten~ao dos investigadores, se bern que, na opi- a) A categorizafiio Jonna grandes classes e que os Alentejanos sao preguicrosos ou que
entre grupos niao de Goldstein (1982), os grupos entre os conjuntos de objectos, ou de ideias, para os Judeus sao avarentos? A probabilidade
quais surgiu uma maior persistencia de confli- g~iar a nossa adaptafiio quotidiana: per- de comprovar estas aflfIDa~oes parece ser
tos, tanto nos EUA como na Europa durante as mite-nos tipificar qualquer acontecimento muito baixa, podendo mesmo ser da ordem
seculos XIX e XX, fossem aqueles com divergen- singular, coloca-lo numa rubric a familiar e de zero quando comparada com outros
1. A forma<;ao de preconccitos
cias linguistic as (belgas, flamengos e fran c6- agir em consonancia; grupos regionais ou etnicos. No entanto, 0
fonos) ou religiosas (irlandeses catolico s e b) a categorizafiio integra 0 maximo de nosso mecanismo cognitivo nao parece
Urn dos principais temas erigidos como ia
protestantes), com clivagens geograficas (Ital injonnafiio num conjunto, traduzindo a notar esta diferencra: fonna categorias racio-
objecto de analise no quadro das relacroes de
do Norte e do Su!), ou temporais (imigrantes de inercia do processo de pensar e respon- nais e irracionais com a mesma facilidade
conflito entre grupos foi, no principio do seculo
xx, precisamente, 0 do preconceito. primeira e de segunda gerayao, nos EVA) au dendo a frequencia adaptativa: «a mente (caixa a seguir).
t
415
414

portiva nos estadios e os de violencia etnico- b)0 processo de aprendizagem e a socializa~ao

A «RACIONALIDADE» DOS PRECONCEITOS _poIftico dos grupos de cabe~as-rapadas, urn precoce: «As crian~as educadas num ambiente
pouco por toda a Europa, sao exemplos de de rejei~ao, expostas a preconceitos pre-fabri-
Vejamos como Allport ilustra urn dos percursos de constru\=lio de um preconceito: !11aoifesta~oes preconceituosas deste tipo. cados, dificilmente se encontrarao em condi~oes
«Para elaborar um julgamento ou preconceito sobre urn grupo e as suas caracterfsticas nlio e necessaria uma 5. Exterminar;ao - os linchamentos, os de vir a desenvolver urn olhar confiante e afilia-
grande dose de conhecimento sobre os indivfduos desse grupo. E pouco provuvel que alguem obtenha provas de qUe tivo sobre as rela~oes sociais» (p. 365); c) uma
POgron;zs,. os m~ss.acre~, os programas de geno-
os Escoceses sejam mais mesquinhos do que os Noruegueses ou de que os Orientais sejam mais velhacos do que os
Caucasianos e, no entanto, este tipo de cren\=us difunde-se tanto como as cren\=as mais racionais.
ddio etmco (ehmma~ao dos negros americanos economia funcional de raiz exclusivista, apoiada
Numa certa comunidade guatemalteca existe um 6dio feroz aos Judeus. Nunca nenhum habitante dessa comu_ pelo Ku-Klux-Klan, elimina~ao de judeus e de no principio cognitivo do «menor esfor~o»: «Ao
nidade viu, ate agora, um judeu. Como emergiu a categoria os judeus-slio-para-odiar? Em primeiro lugar. a cornu- ciganoS pelo partido nazi alemao) ou religioso adoptar uma visao negativa em rela~ao aos
nidade e cat6lica. Em segundo lugar. os professores ensinam us pessoas que as judeus foram os assassinos de Jesus (elimina~ao de grupos hereticos e de judeus pelos grandes grupos da humanidade, tomamos, de
Cristo. Aconteceu, final mente, que existia na cultura local um mito paglio sobre 0 dem6nio que tinha morto urn deus. tribuoais da Inquisi~ao na Idade Media e no algum modo, a vida mais simples. Por exemplo,
Estas duas ideias, com forte carga emotiva, convergiram, entlio, e criaram urn preconceito hostil em rela\=ao aos
Reoascimento europeus) marcaram 0 ultimo grau se, enquanto categorias, eu rejeitar todos os es-
judeus.» cia violencia enquanto expressao do preconceito. trangeiros, nao tenho que me preocupar com
(Allport, 1954, p. 22) A manifesta~ao de hostilidade para traduzir eles - excepto com os que estejam no meu pais.
preconceitos negativos e, para Allport, tao na- Se quiser rotular, em seguida, todos os negros na
tural como 0 amor para traduzir os preconceitos categoria de ra~a inferior, disponho para ja de
diana da existencia de urn instinto de agressao, e positivos: 0 amor nao ve defeitos, como 0 6dio urn decimo dos meus concidadaos. Se eu puder
Assim, para Allport 0 pensamento atraves de oao ve qualidades. As categorias de amor e de por os cat6licos noutra categoria e rejeita-Ios, a
categorias faz parte do processo cognitivo nor- inclui a hostilidade, nas suas varias expressoes,
nas capacidades reactivas aprendidas. A expres- nao-amor deri yam do mesmo processo de minha vida fica ainda mais simplificada. Depois
mal, e as categorias mais importantes para os coostru~ao de uma realidade simplificada e reduzo outra vez e deito fora os judeus ... e por af
indivfduos e mais relevantes para gerar precon- sao do preconceito atraves da hostilidade pode
assumir diferentes graus de intensidade: funcional, sendo 0 etnocentrismo 1 e a xenofo- adiante» (idem, p. 366).
ceitos sao os pr6prios valores que os grupos uti- bia as duas faces desta moeda: aquilo que tern Certos processos cognitivos, 0 estilo de in-
1. Verbalizar;ao negativa (antilocu~ao) - as
lizam para orientar 0 seu comportamento. Os valor, aquilo a que eu e 0 meu grupo damos terac~ao social precoce e 0 contexto valorativo
valores sao categorias com peso positivo ou pessoas limitam-se a verbalizar os seus pr6prios
preconceitos entre amigos ou, por vezes, corn valor, e positivo e objecto de amor; valores das rela~oes entre grupos estao, assim, para
negativo, manifestando-se, sobretudo, sob a diferentes ou contrarios indiciam a emergencia Gordon Allport, na origem da forma~ao dos
forma de sentimentos social mente aprendidos e estranhos.
2. Evitamento - 0 preconceito manifesta-se, de rejei~ao. preconceitos sociais que, em determinadas con-
partilhados no seio dos grupos. Oaf que a for- Os preconceitos sociais ocupam uma larga di~oes, se podem exacerbar e dar origem a
neste caso, de forma mais activa: as pessoas evi-
ma~ao de preconceitos, para alem da sua faixa das atitudes e dos comportamentos no seio grandes conflitos.
dimensao estritamente cognitiva, nao possa ser tam 0 contacto com membros do grupo que
dos grupos e nas rela~oes entre grupos. De que Esta obra de Allport que, em 1954, represen-
compreendida, como Sherif (1953) 0 tinha ja hostilizam.
3. Discriminar;ao - aqui, a distin~ao negativa depende a sua intensidade? A resposta de tava urn esfor~o herculeo de articula~ao e de
claramente explicitado, se nao a inserirmos no
que caracteriza 0 preconceito negativo traduz- se Allport integra tres aspectos: a) a quantidade de integra~ao de hip6teses - provenientes nao s6 da
nfvel de analise grupal: frustra~ao e dureza de vida que atingem as Psicologia Social, como da Psicologia Clfnica,
em ac~oes com consequencias na vida dos ~­
pos: os membros do grupo hostilizado sao pessoas: «A frustra~ao elevada toma mais facil da Sociologia e da Antropologia -, esteve na
Os factores que levam as pes so as a formar atitudes
preconceituosas nao sao individuais. Pelo contnlrio, esta exclufdos de certa classe de empresas, de certos transformar 0 6dio recorrente em 6dio racio- origem de todos os model os que se desenvolve-
forma\=ao esta inteiramente Jigada a ser-se membro de bairros ou zonas habitacionais, de direitos polfti- nalizado. Para evitar 0 sofrimento e conseguir, ram ate aos nossos dias, no ambito da Psicologia
urn grupo - a adoptar 0 grupo e os seus valores (normas). cos ou educativos ou, ainda, de certos priviIe- pelo menos, uma ilha de seguran~a, e mais Social, sobre a forma~ao, funcionamento e redu-
como 0 mais importante ponto de ancoragem para seguro excluir do que incluir» (ibidem, p. 365); ~ao dos preconceitos.
regular a experiencia e 0 comportamento (Sherif e Sherif,
gios sociais. .
4. Ataque jfsico - a hostilidade pode mantfes-
tar-se, em condi~oes de preconceito exacerbado
1953). ~------
da id I. Este etn~centrismo foi analisado no contexte do fen6meno de distintividade positiva que acompanha a afirma\=lio
Quanto ao segundo ingrediente postulado e de elevada tensao emocional, sob a forma :e . enlidade socIal dos membros de urn grupo (Tajfel e Turner, 1982, ver capftulo «Identidade social e rela<;oes intergru-
actos de violencia ffsica contra membros 0 - ' d e quaIquer con fl'"
P<us») , rnesm 0 na ausencla . entre grupos sociais ou de qualquer corpo de normas explfcitas
Ito Imphclto
para a forma~ao de preconceitos negativos - a . 'd'lOS de VI'ole~ncia des-
.. d0: os eplso COntitui nd ' ' ,
hostilidade -, Allport rejeita a proposta freu- grupo hostlhza 0, na sua forma mms pura, 0 melhor exemplo do que e urn preconceito.
416

417

Abordaremos, ern seguida, os modelos de mente, aquilo que Adorno e os seus cole
maior potencia heurfstica neste dorninio, inspi- designaram como «personalidade autoritlirjgas A PERSONALIDADE AUTORITARIA
rados na obra de Allport. Esta teona,. d ' da tarnb'ern, em grand'
enva b
As afirma~oes que se seguem peltencem a escala F (fascismo) do questionario que Adorno, Frenkel-
parte, da teoria da frustra~ao-agressao (Doll e
fird _Brunswick, Levison e Sanford constl1lfram para caracterizar a dimensao Jascista daquilo que designaram por
et ai., 1939), que adiante referiremos, esteve • «personalidade autoritaria». Experimente responder a algumas:
1.2. A hipotese da «personalidade origem de uma investiga~ao massiva sobre na - A maior parte dos nossos problemas sociais seria resolvida se nos pudessemos ver Iivres, de qualquer
autorittiria» origens dos preconceitos raciais, politicos e re~ maneira, das pessoas que sao imorais, deformadas ou fracas de espfrito.
giosos. A escala F do inventario de personaij_ Concordfincia total - I 2 3 4 5 6 7 - Diseordancia total
- A obediencia e 0 respeito pel a autoridade slio as virtudes mais importantes que devemos ensinar as crianyas.
Vma das concep~oes da origem do precon- dade, construida por Adorno e pelos seus cOleg
Concordiincia total- 1234567 - Diseordiineia total
ceito que esteve mais ern yoga a partir dos anos (caixa a seguir), foi 0 instrumento mais utiliza: - Toda a gente estaria melhor se as pessoas trabalhassem mais e falassem menos.
50 foi a de que este era, fundarnentalmente, urn neste corpo de investiga~ao: e constituida por 4~ Concordiincia total - I 2 3 4 5 6 7 - Discordiincia total
problema de personalidade individual - a afinna~oes acerca das quais se pede as pessoas - Os homens de neg6cios e os industriais slio mais importantes para a sociedade do que os artistas e os
«personalidade autoritana» (Adorno at aI., professores.
que exprimarn 0 seu grau de acordo sobre uma
Concordfincia total - I 2 3 4 5 6 7 - Discordfincia total
1950). esc ala de sete posi~Oes. De acordo corn as suas
- A vida sexual dos antigos - Gregos e Romanos - era bern moderada quando a comparamos com a de algu-
Influenciados pelas propostas de Freud (e respostas, as pessoas podem ser caracterizadas mas possoas deste pars, mesmo nos cfrcuJos sociais em que menos esperariamos que tal acontecesse.
certarnente marcados pela presen~a hist6rica sobre urn continuum, cujos p610s sao as tenden_ Concordiincia total - 1234567 - Discordll.ncia total
dos grandes chefes europeus do fascismo - cias fascistas e racistas (adop~ao de principios - Do que a juventude mais necessita e de uma disciplina forte, de decisOes firmes e de vontade para traba-
Hitler, Mussolini e Franco), Adorno e os seus autoritarios na governa~ao politica e de discri- Ihar e para Jutar pela famma e pe\o pafs.
colegas pensavarn que 0 desenvolvimento da rnina~ao de outros por causa da sua ra~a ou Concordiincia total - I 2 3 4 5 6 7 - DiscordfuIcia total
- Certas pessoas nascem com uma inclina~iio natural para ascender a posi~oes eJevadas.
personalidade envolve necessariamente aIguma religiao) e as tendencias democniticas (adop~ao
Coneordll.ncia total - 1 2 3 4 5 6 7 - Discordancia total
repressao e 0 redireccionamento das «pulsoes de principios de tolerancia e de participa~ao na - Os homossexuais sao poueo melhores do que os criminosos; deviam, por isso, ser severamente punidos.
agressivas», por for~a dos constrangimentos da governa~ao politica e nao distin~ao entre as pes- Concordiincia total - 12 3 4 5 6 7 - Discordiincia total
vida social. Os pais seriarn os principais agentes soas corn base na sua perten~a racial ou no seu - Os jovens tern, por vezes, ideias rebeJdes; mas, a medida que crescem, tern de as u!trapassar e de se submeter.
dessa tarefa de socializa~ao: a repressao rfgida e credo religioso). Os autores utilizaram uma com- Concordiincia total - I 2 3 4 5 6 7 - Discordiincia total
- A ciencia tern 0 seu lugar, mas ha coisas muito importantes que 0 espfrito humallo nunca ehegara, pos-
os padroes severos de disciplina estariarn na bina~ao de metodos clinicos e psicometricos
sivelmente, a comprtender.
origem da emergencia, nas crian~as, de fortes para validar a escala, demonstrando que os indi- Coneordll.ncia total - I 2 3 4 5 6 7 - Discordancia total
impulsos de agressao contra os seus pais e da viduos adultos que obtem uma pontua~ao eleva- - Ninguem alguma vez aprendeu 0 que quer que fosse de verdadeiramente importante neste mundo seniio
sua nece.s sana desloca~ao para outros alvos, da na escala F tiverarn ern crian~as uma socia- atraves do sofrimento.
dada a impossibilidade de a exercer directa- liza~ao familiar mais dogmatica e repressiva do Concordfincia total - 1 2 3 4 5 6 7 - Discordllncia total
mente. Esses outros alvos seriam, preferencial- que os individuos corn baixa pontua~ao na - As guerras e os confJitos sociais ainda nos hao-de levar urn dia a cntastrofes s(smicas ou a inundayoes que
destrui.ri'io 0 mundo inteiro.
mente, as pessoas ou grupos percebidos como escala. Os investigadores que, na esteira de
ConcordfuIcia total - I 2 3 4 5 6 7 - Discordiincia total
mais fracos, como inferiores, como, por exem- Adorno, orientararn a pesquisa corn base na - Edifieil conceber que as pessoas com maus modos, maus Mbitos e rna educayiio andem com gente decente.
plo, os socialmente desviantes ou as rninorias escala F, correlacionararn a «personalidade auto- Concordiincia total - 1 2 3 4 5 6 7 - Discordiincia total
etnicas. 0 resultado seria a tendencia para per- ritaria» corn toda a especie de variaveis (ver - Sendo a natureza humana 0 que e, haven'! sempre guerras e conflitos.
ceber 0 mundo de urn modo totalitario e urn Christie e laboda, 1954; Titus e Hollander. Concordiincia total - I 2 3 4 5 6 7 - Diseordiineia total
- Hoje em dia. em que nos cruzamos com tanta gente diferente, temos de estar prevenidos para nos prote-
comportamento caracterizado por elevada 1957), na tentativa de encontrar as caracteristicas
germos de possfveis contactos pemiciosos.
subrnissao as figuras de autoridade, a par corn a associadas a este tipo de «personalidade». E a Concordancia total - I 2 3 4 5 6 7 - Discordiincia total
hostilidade aberta contra outros grupos, nomea- investiga~ao continuou, ja pelos anos 70 adentfo. - Devfamos ter uma f6 total numa foryn sobrenatural e obedecer sem hesitayao aos seus des{gnios.
darnente contra os que nao se confonnarn com tornando evidente 0 interesse que a proposta de Concordiincia total - I 2 3 4 5 6 7 - Discordancia total
essa autoridade ou que nao estejarn em condi- Adorno desperta. Bray e Noble (1978) constrU~­ - Para garantir a ordem e impedir 0 caos, a melhor solu~iio ainda esta na adop~iio de certos metodos
autoritarios como os que se utilizaram na Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial.
~Oes de se defender dela. Este padrao de valores, ram uma situa~ao quase experimental, constl-
Concordllncia total - I 2 3 4 5 6 7 - Discordiincia total
atitudes e comportarnentos constitui, precisa- tuindo <<juris» que deviarn dar 0 seu veredicto eIIl

419
418

Quando estudou os preconceitos sociais nos conceito em rela~ao a grupos de estranhos e uma atitudes em rela'rao a outras pessoas que, por
relalfao a varios «delitos»: os <(jUlzes autorita- mera consequencia de uma perturba~ao psicolo- descri~ao ou por fotografia, pertenciam ao
EVA e na Africa do Sui, Pettigrew (1958), POr
rios» (os de pontualfao elevada na escala F) gica de alguns individuos, estando antes vin- mesmo ou a outro grupo etnico, e que eram vis-
exemplo, verificou que os sul-africanos brancos
enunciaram veredictos mais ngidos e mais seve-
bern como os norte-americanos brancos, apre~ culado a forlfas sociais basicas». tas como tendo crenyas seme1hantes ou dife-
ros do que os «juizes nao autoritarios»; quando 0 rentes das suas. 0 grau de atrac'rao que estas
sentavam niveis elevados de preconceito racial
veredicto tinha de ser pronunciado colectiva- pessoas-estfmulo provocavam era mais bern
contra os negros, mas nao mostravam, parale-
mente, tambem os primeiros polarizavam mais 0
lamente, niveis elevados de «autoritarismo» 1.3. A hipotese do «espirito fechado» deterrninado pelo facto de as crenyas serem
julgamento do que os segundos.
na escala F. Pettigrew concluiu, assim, que a semelhantes ou diferentes do que pel a perten~a
A serie de trabalhos conduzida por Tetlock, Em 1960, Rokeach retoma a questao da ao mesmo ou a outro grupo etnico. Outros estu-
origem dos preconceitos racicos nao reside em
nos EVA, na dec ada de 80, mostrou urn pano- genese do preconceito, formulando a hipotese dos verificaram exactamente 0 mesmo fen 0-
qualquer particularidade ou disjun'r ao da per-
rama mais controverso: a investigalfao do- de que a hiper-simplificalfao e a rigidez do estilo menD: urn individuo branco mostra preferencia
sonalidade, mas nas normas socia is dominantes
cumental (Tetlock, 1981, 1983) sobre discursos de pensamento que Adorno encontrara na sua maior por urn individuo negro com as mesmas
em cada lugar e momento historico.
poifticos mostrou que a retorica dos conser- «personalidade autoritaria» nao eram, de facto, cren~a do que por urn outro individuo branco
A par com as normas sociais, 0 contacto com
vadores extremistas e menos complex a do que a caractensticas do pensamento fascista, racista com cren~as diferentes (Byrne e Wong, 1962;
os individuo de urn grupo discriminado mostrou
dos liberais, 0 que pareceu confirmar a ideia de ou de extrema-direita, mas que se encontravam Hendrick, 1971). Apenas no caso de estar em
ser a variavel preditora mais importante da
Adorno de que os individuos autoritarios ten- elll rnuitos outros individuos e grupos: 0 esp(rito causa 0 estabelecimento de rela~oes de intimi-
mudan'r a de atitudes para uma maior tolerancia.
dem a simplificar, a dicotomizar e a extremar a fechado. Segundo Rokeach, esta forma de dade, tais como 0 casamento, 0 criterio racial se
Este fenomeno foi especialmente estudado por
forma de ver a vida social. raciocinio define-se por uma separalfao mental mostrou superior ao das cren'ras partilhadas
Stephenson e Rosenfield (1978) a proposito da
Vma outra variavel, no entanto, veio mostrar de dois ou mais sistemas de crenyas diferentes, (Triandis e Triandis, 1960; Triandis e Davis,
aplica'rao da lei anti-segregacionista as escolas
que a questao nao e tao simples, ou dicotomica, de modo a perrnitir: aJ a concilia'rao de opinioes 1965; Stein et ai, 1965). Alias, Rokeach integra
norte-americanas. Os autores verificaram que,
como isso. Tetlock verificou que a complexidade de outro modo contraditorias; b) a resistencia este caso na sua hipotese ao admitir que certos
embora as «tendencias autoritarias» das fammas
de estilo de argumentalfao dos politicos varia
estivessem algo associadas a manuten'rao de dessas cren'ras a mudan'ra, face a nova infor- dominios em que 0 preconceito se encontra
tambem com 0 facto de se encontrarem, nesse malfao; e c) a utiliza~ao do recurso ao argumento institucionalizado (tal como 0 regime de castas
comportamentos pouco tolerantes por parte das
momento, no governo ou na oposilfao: 0 discurso
crian'ras, a variavel mais poderosa associada ao de autoridade para justificar a correc~ao das na India) ficam imunes a «lei» da congruencia
dos politicos, quando na oposilfao, e menos com- crenyas amea'radas. Neste senti do, 0 preconceito de crenyas, sendo regidos prioritariamente pel a
aparecimento de comportamentos tolerantes
plexo e menos «rico» do que 0 daqueles que nao seria de natureza racial, sexual ou religioso, forya norrnativa dessas «leis».
noutras crian~as foi, sem qualquer margern para
estao no governo (Tetlock et ai., 1984). mas inteLectuaL, ou seja, uma forma aprendida Brown e Turner(1981) apresentam uma cn-
ambiguidade, 0 grau de contacto interetnico das
Finalmente, em rela~ao a hipotese de 0 estilo de raciocinio acerca de certas areas da vida tica importante a investigayao conduzida por
autoritario estar confinado as ideologias de proprias crian'ras.
A comprova'rao da especificidade historica e social, apoiado na adoP'rao de urn sistema de Rokeach, salientando que a situa'rao experimen-
direita, Tetlock (1984), prosseguindo na analise crenyas. 0 grau percebido de semelhan'ra de tal criada e eminentemente interpessoaL: os su-
geografica da emergencia, rnanutenyao e
da retorica politic a utilizada nos discursos nos crenyas entre as pessoas seria, assim, a varia vel jeitos nao recebem qualquer inforrnayao acerca
extin'rao dos preconceitos foi, no entanto, 0 fac-
EVA, encontrou uma menor complexidade argu- de.c~siva no desencadeamento da atrac'rao ou da de como outras pessoas exprimem as suas prefe-
tor que mais contribuiu para 0 declinio da pro-
mentativa nos politicos da esquerda do que nos
posta de Adorno. Como Billig refere (19~6, reJelyao de uns grupos em rela'rao a outros, por rencias de raya ou de religiao e nao ha qualquer
do centro. p. 118): «Esta implica~ao (de que urn preconcelto c~usa da amea'ra que a diferen'ra constitui para 0 garantia de uniforrnidade intragrupal. Assim,
A par com 0 interesse que a proposta de Sistema de cren~as dos indivfduos. Como afirrna «a importancia da cren~a nestas investigayoes
podia ser erradicado se os individuos autoritarlos
Adorno despertou, as cnticas, teoricas e metodo- refe- Rokeach,«a cren'ra e mais importante do que a sugere que Rokeach nao tern propriamente uma
fossem "tratados" e se curassem das suas P ._
logicas, aos pressupostos a-situacionais da emer-
rencias irracionais) esta em profunda contradi~ao ~rtenya a urn grupo etnico ou racial, enquanto teoria do preconceito etnico, mas apenas que 0
gencia do preconceito (Billig, 1976) e a propria • • & rtes raz
oes eterminante da discrimina'rao sociab> (1960 preconceito etnico e uma determinante da
com a perspectlVa de que eXlstem 10
~~135). P:u-a testar esta hipotese, Rokeach crio~
.
escala (Brown, 1965) bern cedo se manifestaram. . 'd logtas atracyao interpessoa/» (Brown e Turner, 1981,
historicas para 0 desenvolvlmento de 1 eo
A perspectiva das diferen~as individuais, ao si- . . d 1 gares e elll s' paradlgma experimental em que fez variar p.53).
preconceltuosas em determma os u llnultaneamente 0 grupo etmco
' . e a congruencla
tuar a dinamica do preconceito na personalidade , b' rn contra- das A •
Vma prova desta afirmayao encontra-se
deterrninadas epocas; e esta tam ern e re-
individual, foi severamente acusada de negli-
genciar os factores situacionais e socioculturais.
di~ao com a perspectiva segundo a qual 0 p crenyas. Inquiriu as pessoas sobre as suas numa das investigayoes experimentais sobre os
420

421

grupos mlmmos (ver capitulo «Identidade o comportamento discriminatorio associ ado


ao
social e rela~oes intergrupais») efectuada por preconceito? QUADRO r
Billig e Tajfel (1973). 0 objectivo desta expe- Na mesma linha estao as sugestoes de Brow
riencia era verificar como e que 0 criterio de (1988) ao sublinhar
,
a importancia dos ContextOsn Semelhant;a e categorizat;ao como detenninantes da discriminat;ao integral
forma~ao de urn grupo podia afectar 0 compor- e ao afirmar: «E possivel que em certos Contex_ (Billig e Tajfel, 1973)
tamento de distribuiyao de recompensas a indi- tos - particularmente naqueles em que a situ a-
viduos anonimos do grupo de perten~a. Vma ~ao intergrupal fica abafada por diversas Semelhan,<u Dissemelhun ..a
das condi~oes experimentais introduzia 0 factor rela~oes interpessoais - as atitudes avaliativas e
semelhanfaldiferem;a entre os membros do afiliativas das pes so as sejam afectadas pela SUa Categorizu,<uo +3,90 +2,00
grupo (tinham preferido 0 mesmo/outro tipo de percep~ao de semelhan~a em rela~ao aos outros Nuo cutegorizur,:uo +1,00 -0,20
pintura, num exercfcio precedente), sem nunca Mas, 'a medida que as situa~oes se desloc~
mencionar a existencia de grupos. Noutra para 0 polo grupal do continuum interpeSsoal_
condi~ao nao se fazia qualquer referencia a -grupal, as considerayoes interpessoais de Con-
semelhan~a entre individuos, mas introduzia-se gruencia de cren~as dao lugar a solidez factual Amplitude du medida de di:.criminu,<iio: + 12 (fuvoritismo em relu,<uo ao seu grupO) e - 12 (fuvori tismo em relar,:1io ao
a categorizafiio em grupos (X ou Y) atraves de da perten~a grupal diferenciada» (p. 176). outro grupo).
urn criterio aleatorio (lanyamento de uma
moeda ao arlo Numa terceira condiyao combi-
navam-se os dois criterios anteriores, tomando 2. A hipotese da frustra~ao-agressao A proposi~ao basica dos autores da teoria da que frequentemente se Ihe associarn, mais
salientes, simultaneamente, a semelhan~a de frustrayao-agressao, que resulta da integra~ao de conhecida sob a designayao de «hipotese do
preferencias esteticas e a perten~a ao grupo. Ernbora os preconceitos nem sernpre se princfpios oriundos da teoria psicanalitica e da bode-ex piatorio».
A condi~ao de controlo caracterizava-se pel a manifestem sob a forma de hostilidade ou de teoria da aprendizagern, e que «a ocorrencia do De acordo com essa hipotese, toda a sociali-
ausencia de qualquer criterio que ligasse os agressao aberta (lembremos 0 papel que 0 hu- comportamento agressivo pressupoe sempre a zayao humana con tern foryas constrangedoras,
sujeitos entre si. Na hipotese de Rokeach, a mor pode desempenhar na emergencia ou na existencia de frustrayao e, ao contrario (... ), a limitativas em relayao aos objectivos e as neces-
condi~ao pura de semelhanyainao semelhan~a manuten~ao de atitudes e comportamentos de existencia da frustrayao conduz sernpre a algurna sidades individuais. Poderia dizer-se que elas
deveria ter sido a mais potente para desencadear discrirninayao entre os grupos), 0 certo e que a forma de agressao» (Dollard et al., 1939, p. 1). sao endemic as em relayao a vida social e que,
o preconceito contra a «diferen~a». Os resulta- atenyao e preocupayao dos investigadores ao o conceito de frustra~ao e, aqui, apresentado portanto, toda a vida social contem, em alguma
dos mostraram, no entanto, que somente a pre- estudarem a genese do preconceito se centrava de forma situacional: qualquer interferencia real medida, a agressao.
sen~a da categorizafiio, independentemente nas suas manifestayoes violentas, destrutivas e au simbolica em relayao a objectivos ou neces- A expressao desta agressao e, no entanto,
da semelhan~a, foi responsavel pela forma de anomicas, ou seja, na importancia dos precon- sidades importantes dos indivfduos. A sua ocor- tambem ela, socialmente controlada, obrigando
favoritismo em rela~ao aos membros do seu ceitos para 0 desencadeamento de conflitos rencia desencadeia uma forma de «energia» que as pessoas a deslocarem-na para alvos atingfveis
grupo (Quadro I). sociais. se constitui na instigayao a agressao. De acordo e social mente admissfveis: tal como tam bern
Outros estudos vieram, posteriormente, de Se as hipoteses apoiadas sobre a existencia da com as no~oes de «deslocamento» e de «subli- preconizam Adorno e Rokeach, os grupos des-
novo mais a favor da confirma~ao da hipotese «personalidade autoritaria» se deparam com 0 ma~ao» enunciadas pela teoria psicanalitica, os viantes ou minoritarios sao os «bodes-expia-
da congruencia de cren~as (Taylor e Guimond, obstaculo da «historicidade social» das atitudes autores admitem que essa instigayao a agressao torios» preferenciais, neste caso ja nao de «per-
1978) do que da categoriza~ao social. preconceituosas, a teoria da frustra~ao-agressiiO, apare~a no tempo de forma diferida, ou mesmo sonalidades autoritarias» mas de grupos sociais
A quesHio permanece algo em aberto, se bern enunciada por Dollard, Doob, Miller, Mowrer sob outra forma e em relayao a urn alvo indi- com dificuldades de atingir objectivos partilha-
que os estudos que utilizam 0 paradigma da e Sears em 1939 e sucessivamente reformu- recto, diferente do que esteve na origem da dos (a melhoria do nivel de vida, a educayao dos
raya-crenya rareiem. De facto, como afirmaram lada (Miller et al.", 1941; Miller, I 948) troU~~ a frustra~iio inicial.
filhos, 0 acesso a bens culturais de qualidade,
Kidder e Stewart (1975), como saber a impor- questao da hostilidade para 0 nivel de analIse Deste corpo central de axiomas e conceitos etc.). Dollard evocou como exemplo deste fen6-
tancia relativa, para cada urn, da ra~a ou da situacional, tentando facilitar a compreensiio da ~olIard e os seus colegas desenvolveram uma menD 0 anti-semitismo extremo que grassou na
cren~a? Quais os contextos em que uma ou outra problematica agressiva nos individuos, nos gru- hl~6tese sobre a genese das atitudes precon- Alemanha entre as duas grandes guerras e que
adquirem a relevancia decisiva para desencadear pos e nas rela~oes entre grupos. celtuosas e dos cornportamentos de hostilidade culminou com a subida ao poder da ideologia
422 •
423
nazi. Segundo ele, Hitler so teve a possibilidade de conflitos intemos e 0 grau de conflitualidade
de achar eco na popula~ao aIema em rela~ao a nas rela~oes extemas, em 83 paises. De acordo
sua proposta nacionalista porque, na decada de com a teoria da frustra~ao-agressao, estes dOis FIGURA I
20, a Alemanha tinha sofrido urn colapso eco- fenomenos deveriam estar negativamente corre_
nomico grave, gerador de muitas frustra~oes em lacionados, uma vez que as dificuldades sao Modelo da frustra~ao-agressao
rela~ao as expectativas de desenvolvimento da resolvidas atraves de confrontos intemos Ou (Berkowitz. J962)
maioria do povo alemao. como consequencia do processo de desloca~
A investiga~ao basica e aplicada, que, ate aos mento, a agressao orienta-se para novos alvos
nossos dias, tern utilizado como suporte a teoria fora do grupo. Por outro lado, em terrnos de
da frustra~ao-agressao no ambito das rela~oes analise sequencial, a mesma teoria conduziria a
entre grupos, nem sempre, no entanto, confir- uma correla~ao positiva entre as duas ocorren_
mou as suas hipoteses. cias: a conflitualidade no interior do pais deve-
Urn dos primeiros estudos efectuados neste
dominio foi 0 de Miller e Bugelski (1948), con-
duzido num campo de ferias para rapazes. Uma
ria, pelas dificuldades intemas que causava
conduzir posteriormente a hostilidade em rela~
~ao a grupos extemos. Os resultados apre-
1 1
noite, quando urn dos grupos de rapazes se pre-
parava ansiosamente para fazer uma bela noitada
sentados por Tanter, alias, muito justamente
criticados, mostraram que, de facto, a correlac;ao
r .. .\~\
/' ./'
/

,
na cidade vizinha, a equipa dirigente do campo entre as ocorrencias, quando sincronicamente /

anunciou que tinham de ali permanecer para res- analisada, era nula, ao passo que se tomava
ponder a uma serie de testes, que se sabia serem positiva quando analisada de forma diacronica.
bastante desinteressantes e cansativos. Esta me- Dois problemas de fundo se colocam em rela-
dida constituiu a interferencia nos objectivos do ~ao a proposta de que 0 preconceito e a discri-
grupo necessana a instiga~ao a agressao. A me- mina~ao intergrupais podem resultar do deslo-
dida das atitudes desse grupo em rela~ao a dois camento da agressao para alvos «inocentes».
outros grupos rninoritanos, integrados no campo o primeiro e a dificuldade em preyer, de entre
de ferias, efectuada antes e depois do incidente, todos os alvos disponiveis, qual vai ser 0 «pre-
mostrou que, depois da frustra~ao, os estereoti- ferido». 0 proprio Miller (1948) deu-se conta
pos sobre aqueles dois grupos se tomaram mais desta dificuldade, considerando a hipotese de sec Horowitz (1973) analisou esta hipotese num
negativos, 0 mesmo nao acontecendo num grupo o grau de semelhanfa com 0 agente da frustrayao e~tudo sobre as agita~oes e movimentos insurrec- crit~~o da semelhan~a, estavam na mesma
de controlo que nao foi submetido a essa frus- o deterrninante dessa selec~ao. Os processos de Clonais na B' A' posl~ao que os indianos mu~ulmanos, nao foram
, . mnarua, em 1938, quando esta era
tra~ao. Os autores evidenciaram tambem aqui a aprendizagem (por generaliza~ao das respostas a UUla coloma do Imperio Britaruco Urn d afectados pelo movimento. Esta dificuldade em
importancia do processo de deslocamento da objectos semelhantes e por inibi~ao das mesmas e . 6<1' ' esses preyer q~al ,0, grupo que vai ser escolhido para
PIS. lOS consistiu na repressao violenta de uma
agressao da equipa dirigente do campo, causadora respostas face a antecipa~ao de uma puniyao) ou maru~esta~ao nacionalista por parte da polfcia bo~:-e~Platono faz supor que existem outras
da frustra~ao, para os grupos rninoritarios, total- a alta dissemelhanya conduziriam, na pratica, a coloma! A -. vanavels, nomeadamente de ordem historica e
. ' essa repressao segUlU-se uma serie de
mente alheios a ela. escolha do alvo altemativo. A direc~ao oposta ~arufesta~Oes violentas da popula~ao birmanesa cultural, que intervem fortemente neste processo
Stagner e Cogdon (1955), no entanto, nao dos processos - alargamento ou estreitamento da Dao Contra
indi . 0 pader colomal
'
mas contra a etnia
' t~ma?do a ~alise puramente ao nivel psicolo~
encontraram qualquer aumento do preconceito gama de respostas em fun~ao do grau de seme- glCO msuficlente para compreender os fen ome-
m .ana ~noritana de religiao mul~umana. A pri-
racista num grupo de estudantes a que infligiram Ihan~a percebida - teria como con sequencia que eIra Vista . nos com este grau de dimensao social,
beIn • 0 aconteclmento compreendia-se
uma frustra~ao a nivel da avalia~ao dos traba- dl·s ,. n~ quadro da hipotese do comportamento
o alvo altemativo - 0 «bode-expiatorio» - fosse, Os trabalhos de Berkowitz (1962) sobre 0
OS
lhos escolares. na generalidade, algo de intermedio, em term cntnIn t' . comportamento agressivo introduziram, entre-
oa a ono por desloca~ao da agressao mas
de semelhan~a percebida, relativamente a fonte tanto, altera~oes no quadro teorico do modelo da
Num ambito social mais alargado, Tanter
indoUtoe ven'fiICOU que outra rmnoria
. '
etnica os
(1966) mediu 0 grau de associa~ao, entre 0 nivel da frustra~ao. lanos d
.
I' '- . '
e re 19lao hmdu que, de acordo com 0 frustra~ao-agressao (Fig. l). Duas hipoteses esti-
veram na base des sa altera~ao: a) a da impor-
424 •
425
tancia da conota~ao violenta dos sinais presentes individual, previsto pela teoria para 0 n'
lVel dirigidas conscientemente para alv
na situa~ao em que a agressao se desencadeia e, do grupo, 0 mesmo se passando corn 'fi os que se tern e 0 que se esperaria ter, consi-
esp.eci ICOS - nomeadamente a difusao, 0
b) a da importancia do cankter subjectivo da comportamento discriminat6rio ou ho ~ derando-a um dos mais importantes motores dos
mal~ ampla. possivel, do estado de pri-
frustra~ao. que d al' d en.va ?. D'lscnmma~ao
.. - interist1l
sentimentos de injusti~a social e do desenca-
va~ao relatlva dos manifestantes e a
Trata-se de mostrar que a presen~a de sinais dividual ou actos colectivos de agres ~- deamento da violencia colectiva. A extensao e a
sao protec~ao das suas areas de vizinhan~a.
agressivos e importante no desencadeamento de entre grupos, a extrapola~ao nao sera ab frequencia da priva~ao relativa seriam, con-
comportamentos hostis em rela~ao a outros, por- siva? Como diz este autor, «sera POSSiVU~ sequentemente, indicadores da priva~ao sentida
que eles pr6prios foram anteriormente associa- que, de acordo com a teoria da frustra-rii~_ 3. A procura de justi~a social: e da intensidade do conflito potencial emergente.
dos a agressiio no contexto cultural envolvente -agressao, sempre que ha uma irruP~iio d hipotese da priva~ao relativa A demonstra~ao empfrica mais importante
(armas, objectos contundentes, etc.). No caso da preconceito ou de descontentamento, cen~ desta p~oposta te6rica foi feita por Runciman,
hip6tese do bode-expiat6rio, a escolha do alvo tenas ou milhares de pessoas se encontrern «E injusto! Para 0 que eles fazem, nao deviam no seu bvro Priva~iio Relativa e Justi~a Social:
seria influenciada por associa~oes previas com ao mesmo tempo num estado de activa':riio ganhar tanto como n6s!» Estudo das Atitudes Face a Desigualdade Social
conota~ao hostil que se tivessem estabelecido em emocional identico e, por coincidencia, em lnglaterra no Seculo XX, publicado em
Se a no~ao de preconceito se define, essen-
rela~ao a urn determinado grupo, por causa de seleccionem os mesmos alvos para a des- 1966. Para melhor situar a sua investiga~ao, 0
determinados sinais presentes nesse grupo ou no carga dessa hostilidade?» (p. 181). cialmente, ao nivel individual e interindividual autor afinna, logo na «Introdu~ao»:
seu ambiente imediato. No segundo caso - 0 2) A hip6tese de que os preconceitos e a
e se refere a uma cren~a, percep~ao ou senti~
mento acerca de alguem, independentemente N:nhuma sociedade e igualitaria. Mas qual e a
caracter subjectivo da frustra~ao -, trata-se de genese dos conflitos se radicam simples_ rela~ao, numa dada sociedade, entre as desigualdades e os
alargar 0 conceito de frustra~ao inicialmente defi- das suas caracterfsticas ou comportamentos
mente numa activa~ao emocional, num sentlll~entos de aceita,.ao ou de revoIta que eles geram?
nido por Dollard e col. (1939) num quadro objec- conjunto de varia~oes intemas na area reais, 0 q~e ~t~cipa ~ justifica certos comporta- As atltudes das pessoas face as desigualdades sociais
tivo para uma dimensao mais subjectiva: nao e mentos dlscnrrunat6nos, 0 conceito de priva ii raramente se encontram estreitamente relacionadas com
emotiva e na sua descarga directa ou dife- . - ~ 0
frustrante qualquer interferencia nos objectivos rida, lirnita os conflitos humanos a urn
relatlva nao s6 se encontra mais associado a as suas proprias posi,.oes nessa sociedade. Poder[amos

ou no percurso dos individuos ou dos grupos, nivel .de analise intergrupal dos fen6menos con~ sup.or que os sentimentos das pessoas acerca da estrutura
fen6meno com caracterfsticas de irracio- socIal em que se inserem variassem com a sua posi,.ao
fli tums como desloca 0 acento t6nico do estudo
mas aquilo que eles acham e sentem que 0 e em nalidade, e supoe que a componente nessa. estrutura e que, qualquer que fosse 0 sistema de
fun~ao, nomeadamente, das suas expectativas. estrategica, reflectida e orientada do com- das cren~as preconceituosas do individuo ou dos
estratIfica,.i!o, os do topo se sentissem contentes e os da
A teoria da priva~iio relativa (Runciman, 1966), membros de grupos dominantes para 0 d a bas: desconte.ntes. Mas nao e isso que se passa. A insatis-
portamento hostil e pouco importante, ou A •

a que adiante nos referire-mos, obedece exacta- mesmo inexistente. emergencla de cren-ras de injusti~a social, que fa,.~o com 0 sIstema de priviJegios e de recompensas numa
mente a este pressuposto de intersubjectividade Mesmo em fen6menos de movimen- tanto podem ocorrer em espa~os dominantes socled~de nunca e sentida de forma proporcional ao grau
como dominados. de des.lguald~de entre os seus diferentes membros. (... )
e de relatividade. ta~ao de mass as, como sao, usual mente, as
As maiores dificuldades geradas pelas pro- manifesta~oes violentas de rua, pode des-
o conceito de priva~iio relativa foi utilizado Esta dlscrepancia deu origem a concIusoes muito dife-
Pela . pnmelra
. . , re~tes ~a ar~a das teorias po){ticas: se a desigualdade e
postas que acabamos de referir para a com- confirmar-se esta hip6tese: nos seus estu- vez, numa celebre investiga~ao, rna, en tao eXIste uma quantidade de diferen~as sociais de
preensao dos preconceitos sociais e da genese dos sobre esse tipo de manifesta~6es pubhcada com 0 titulo 0 Soldado Americano que. as suas vftimas se deveriam aperceber e contra as
das rela~oes de conflito ou de agressao entre no EVA nos anos 60, Fogelson (1970) (Stouffer et aI., 1949) 2, conduzida durante a Se- qua~s se d~~eri~m revoltar, e se 0 nao fazem e porque tern
gunda Guerra Mundial. Define-se como 0 senti- «rna consclencla». Mas se a desigualdade e inevitavel ou
grupos decorrem, no entender de Brown (1988), verificou que os armazens ou as casas
~en~o de injusti~a associado apercep~ao de au- me~~o boa, entao os que, voluntariamente, aceitam a 'sua
dos seguintes problemas: atacados pelos manifestantes eram selec- posl~ao de subaltemidade, nao s6 sao simples como vir-
cionados por determinados criterios, que :encla d~ um recurso (poder, prestigio, dinheiro)
tuosos ( ... ). Dois problemas, intimamente relacionados se
que se Julga ter direito, por compara~ao com a levantam aqui'. pr"Imelro, quaI e' a rela,.ao
- entre as desi-
'
1) A sobreposi~ao dos niveis de analise havia lojas que nunca eram danificadas e
interindividual e intergrupal: os fen6me- que certas ruas eram muito mais utilizadas ~sse do mesmo recurso por parte de urn «grupo gualdades ~nstitucionalizadas e 0 grau de consciencia ou •
pelos manifestantes do que outras. 0 autor e referencia» (Merton, 1957). Gurr (1970) refor- de ressent~mento em rela,.ao a elas? Segundo, quais
nos sao estudados a nivel interindividual e
Un este concel't0, chamando a aten~ao para a
Illulou dessas des~gualdades, se e que alguma existe, deveriam
supoe-se que 0 mesmo modelo serve para defendeu, assim, 0 ponto de vista de que A •

----
ponancla dessa diferen~a percebida entre 0 ser . percebldas e sentidas a luz das normas da justi,.a
explicar e descrever os fen6menos que as manifesta~oes observadas, apesar de SOCIal? (pp. 3-4).
ocorrem no quadro de rela~oes entre gru- aparentemente marcadas por um caracter
pos. Como traduzir 0 estado de frustra~ao de irracionalidade, eram, na verdade, 2 H b .
er ert Hyman cnou este conceito em 1932, em The Psychology of Status.
t
426
427
Runciman comparou as respostas de dois grau de privacrao relativa dos negros reside
. . d' . ntes dUOS exprimam um sentimento de privacrao em
grupos - trabalhadores manuais e nao manuais em D etrOlt Ime latamente a segUlr a uma gr da pagina seguinte) verificaram que as atitudes
(elayaO ao seu proprio grupo. Runciman estabe-
(tecnicos e administrativos) de uma amostra ·c
mamlestacrao- na CI'd ad e, pe d'In d 0 a eSsa po
ande mais racistas, e simultaneamente de maior apoio
leceu, precisamente, a distincrao entre privar;iio
estratificada de dois mil ingleses - em relacrao a lacrao que avaliasse 0 seu nivel de vida no PU- polftico a candidaturas conservadoras para car-
pas- fraterna (qu.ando 0 grupo de referencia norma-
classe social subjectiva, a avaliacrao dos respec- sad 0, no presente e no f uturo, em compara _ gos po]{ticos, se encontravam em individuos
e
tivO extenor ao proprio grupo) e a privar;iio
tivos grupos de referencia, a satisfacrao com a sua com 0 «mve, I d e VI'd'd I
a 1 ea». crao
ego(sta (quando 0 grupo de referencia norma- branc~s qu~ manifestavam maior privacrao fra-
situacrao na sociedade, etc. Verificou, por exem- Verificaram que existia uma forte rela _ tema, IStO e, naqueles que diziam que os bran-
. - reIatlva' (de fi1m'd a como a d'l'
crao tivo e 0 proprio grupo de pertencra). A distincrao
plo, que em relacrao as perguntas «que tipo de entre a pnvacrao e a cos, ~o~o grupo, estavam em piores condicroes
he. utilizada para atribuir relevancia social
pessoas vive muito melhor do que voce e a sua rencra entre as avaliacroes do real e do ideal) e economlcas do que os negros.
primeira , is~o e, a privacrao fratema, so ela tendo,
famnia?» e «0 que sente acerca disso, isto e, atitudes em relacrao a eficacia das manifestacr5eas na perspectIva deste autor, interesse para an ali-
_ Mais recentemente, a importancia da priva-
aprova ou desaprova?», a maioria dos trabalha- violentas, ao movimento do Poder Negro e : sat a dinamica dos conflitos entre grupos em
cr ao fra~~ma no desencadeamento de accoes
dores manuais indicou membros de grupos pro- accr ao polftica militante (Quadro III). Os qUe busca de uma maior justicra social: de hostIhdade intergrupal foi corroborada por
fissionais semelhantes ao seu, enquanto grande experimentam uma maior privacrao relativa sao Walker e Mann (1987), num estudo sobre 0
parte das pessoas com profissOes administrativas os que mais aprovam a miliHincia polftica para desemprego na Australia.
.. , .Os sen~i rne~tos de priva~1io relativa relevantes (para
(objectivamente com maiores privilegios econo- combater 0 racismo. ajuslI~a social) sao aqueles que designei como fraternos A adesiio a movimentos de protesto impli-
micos) indicou membros do grupo de trabalha- Num estudo correlacional, Gurr (1970), por e nao os que designei como egofstas. As reivindica~oe~ can~o transgr~ssiio de normas dvicas, partici-
dores manuais e manifestou a mais elevada sua vez, encontrou uma elevada correlacrao posi- de justi~a social sao as que se fazern em nome de urn pacr ao em mamfestacroes violentas e mesmo ata-
desaprovacrao por esse «facto». Estas respostas tiva entre a intensidade da privacrao expressa e 0 grupo; urna .pe~so~ relativamente privada em rela~1io a ques . a propriedade privada, estava altamente
uma categona mdlvldual apenas sera, quando vftirna de
exemplificam bern 0 conceito de priva9iio rela- grau de agitacrao social (registo documental de relaclOnada com a dominancia de sentimentos
uma desigualdade injusta, vftima de uma injusti~a indivi-
tiva. Significam que nao e a posicrao social objec- confrontacroes civis) em treze paises. dual (pp. 322-323). de privacrao fratema; pelo contrano, os desem-
tiva que deterrnina 0 sentimento de privacrao, mas Na maioria dos estudos atras citados verifica- pr~gados em que dominavam os sentimentos de
que, por incrivel que parecra, os grupos objectiva- mos que 0 grupo de referencia escolhido para se
Confirmando a importancia desta distincrao
p~vacrao ego~sta (<<eu sou vitima de injusticra,
mente dominantes podem sentir-se privados em estabelecer a intensidade da privacrao relativa e conceptual, Vanneman e Pettigrew (1972) (caixa
nao :m relacrao aos que tern emprego, mas em
relacrao aos grupos objectivamente dominados, extemo em relacrao ao grupo de pertencra das relacr ao aos outros desempregados como eu») nao
ou seja, que 0 senti men to se apoia numa rela- pessoas. Mas pode acontecer que alguns indivi-
tiviza9iio dos fenomenos sociais. QUA ORO III
Vejamos, assim, a importancia preponderante
nao da classe social objectiva determinada pelo QUAORO II Priva~ao relativa e atitudes face it militancia politica
rendimento familiar e pel a educacrao, mas da Percentagem de trabalhadores (Crawford e Naditch, 1970)
classe social subjectiva evidenciada pelos traba- que nao deseja que os filhos frequentem Atitudes
Ihadores manuais nas suas opcroes educacionais escolas privadas Priva~ao relativa
(Quadro ll): aqueles que se auto-integram na (Runciman, 1966) Alta Baixu
classe media, independentemente da classe Acha que as manifestat;6es ajudam
objectiva de pertencra, recusam menos enviar os Classc social Classc social suhjcctiva Ajudam 54
..ou prcj udicam a causa dos negros? 28
filhos para escolas privadas do que os que jul- objectiva -.. ----------- - Prcjudicam 38 60
Cia sse media Classc trubalhado ra
gam pertencer a classe trabalhadora. Aprova ou desaprova 0 moyimento
do Poder Negro? Aproyo 64 38
A privacrao relativa, segundo Runciman Alta 46% (N=41) 57% (N=56) I
Desaprovo
(1966) e Gurr (1970), e urn factor importante no
desencadeamento dos conflitos entre grupos
Mcdia
Baixa
55% (N= WI)
54% (N=91)
66% (N=176)
65% (N=276) (o que
. ''lcha q ue e' necessano
raclstas) do I
. . para mudar as atitudes
.
s )rancos: a lor~a
I Fort;a
22

51
36

40
sociais, na medida em que esta na base da cons-
trucrao de crencras sobre as dinamicas situa-
Obs. : Nao estao referidas no quadro
de respostas pnsitivas.
a~
"'nt'lgcn5
perce '
.
Obs.: Sem ref, • . ,
ou a persuasao?
I Persu(lsiio 35 52
erencla a percentagem de «nao sei».
cionais. Crawford e Naditch (1970) mediram 0
t
428 429

ostravam qualquer inten~ao de aderir a ac~oes persistencia de movimentos colectivos de con-


!P lectivas de protesto, mostrando. em contra- fronta~ao. Ao contrano. no entanto. do que ti-
PRIVA<;AO RELATIVA ENTRE RA<;AS E COMPORTAMENTO DE VOTO CO .,
artida• urn malOr numero de quelxas
. de ordem
nham previsto. 0 refor~o da perten~a grupal que
peur6tica e psicossomatica (ins6nias, cefaleias e a condi~ao de co-acfiio representava nao pola-
Vanneman e Pettigrew (1972) tentaram compreender a reac~lio dos americanos brancos a elei~iio de
didatos negros para a presidencia da CAmara Municipal, nas cidades de Cleveland, Los Angeles, Newark e Gr:an~ J1erturba~oes digestivas). rizou sistematicamente as respostas da condi~ao
luz da teoria da priva~iio relativa. Esperavam, assim, que a privayao frateroa elevada correspondesse a urna rn~ P Finalmente. ao estudar 0 efeito da assimetria individual: os «dominados». mas nao os «domi-
rejeiyRo de voto num candidato negro. A privaylio egofsta, quando predominante, deveria reduzir essa rejeiyiio. Or de estatuto de dois grupos profissionais em con- nantes» apresentaram. assim. maior priva~ao
flito (dominante e dominado). e da situafiio de egoista do que fratema. «...Para estes (os «domi-
resposta (individual ou em co-acfiio). Vala, Mon- nados»). 0 grupo encontra-se associado a fra-
Priva~ao relativa racial teirO e Lima. (1988) utilizaram 0 conceito de pri- casso e. por is so mesmo. acentua a maior
vayao relativa para medir a percep~ao que os probabilidade de recurso a estrategias nao colec-
Reacgio aos A B C D lIlembros dos dois grupos tinham sobre 0 grau de tivas» (Vala et al.. 1988. p. 299) (Figura 2).
candidatos Duplamente Privados Privados Duplamente inequidade (Adams. 1965) (ou seja. sobre 0 racio A proposta da priva~ao relativa. em sintese, e
negros gratificados fraternamente egoistamente privados percebido de custos-beneficios) da sua situa~ao. urn exemplo importante de uma constru~ao te6-
Para isso. reformularam as defini~oes de pri- rica que articula diversos niveis de analise de
Votos em percentagem:
vayao fratema e egoista (Quadro IV). de modo a uma problematica - ados conflitos entre grupos
Stokes 31 12 49 29 incorporarem a natureza grupal e intergrupal do em busca de uma maior justi~a social. Podemos
Cleveland, 1969 problema em estudo: aftrmar. de acordo com R. Brown (1988). que
..
ela supera as propostas te6ricas anteriores. e
Bradley 35 21 52 42 A defini~iio que propomos reflecte a propna com-
Los Angeles, 1970 para~ao entre os gropos. Definimos como indivfduos com muito principalmente a teoria da frustra~ao­
privafiio jralema aqueles que apresentam nfveis mais ele- -agressao, em diversos parametros: a) refor~a a
Gibson 19 14 29 20 vadas de inequidade nas comparayOes entre 0 seu gropo e
Newark. 1970 o outro gropo do que nas comparayoes entre si proprios e
outros membros do seu grupo. Definimos, pelo contrario,
Hatcher 17 7 30 15 como indivfduos com privayiio egofsta aqueles que apre-
QUADRO IV
Gary, 1971 sentam niveis mais elevados de inequidade nas compara-
~Oes entre eles proprios e outros membros do seu grupo do Medida da priva~o relativa
Imagens dos candidatos negros (percentagem de escolhas favoraveis)
que entre 0 seu gropo e 0 outro gropo (Vala, Monteiro e (Val a, Monteiro e Lima 1987)
Lima, 1988, p. 291).
DifercnciaC;iio intcrgrupal
Stokes, 1969 57 33 64 50 Tal como tinham preconizado. a assimetria de
Ganhos do scu grupo Ganhos do outro grupo
Bradley, 1969 65 44 71 40 estatuto dos grupos (urn grupo vencedor e urn
Gibson, 1970 25 18 27 36 perdedor, em rela~ao a capacidade de imporem Invcstimcntos do scu grupo
-
Invcstimcntos do outro grupo
Hatcher, 1971 35 17 36 29
~ administra~ao uma hierarquiza~ao salarial
«mais justa» dos dois grupos), na condi~ao de
resposta individual. nao afectou as percep~oes de Difercncim.:ao inlragrupul
As pessoas interrogadas receberam, cada uma, urn cartao com doze adjectiv~s.
Tinham de escolher, entre
eles, quais os tres que melhor descreviam os candidatos Il presidencia da Climara. Metade dos adjectiv~s tinha inequidade. 0 que foi saliente foram os niveis Bcncffcios pcssoais Bcncficios do seu grupo
uma conotayao positiva (ex.: inteligente, honesto) e a outra metade urna conotayao desfavonlvel (ex.: interesseiro. significativamente mais elevados de priva~ao
preconceituoso). fratema. nos dois grupos. em rela~ao aos de Invcslimcnllls pcssoais
- Invcstimcnllls do seu grupo
No quadro (em cima), alem das percentagens de votos nos candidatos negros. figuram as percentagens de
Priva~ao egoista. 0 que traduziu, na perspectiva =difer. inlcrgrupnl > difer. inlr.lgrupal
eleitores brancos que escolheram tr& adjectivos positiv~s (nos casos Stokes e Gibson), e dois ou tres adjectiv~s posi- Privafiiio fralcma
tivos (nos casas Bradley e Hatcher) para caracterizarem esses candidatos. dos investigadores. 0 elevado empenhamento de l'ri vClfiiio egoista =difer. inlragrupal > difer. intcrgrupal
qUalquer deles na situa~ao conflitual. devendo
corresponder a uma ~levada probabilidade de
• 431
430
(1984), por exemplo, chamam.a aten~ao para a A proposta de Sherif, tal como e expressa ao podemos esperar que se desenhe um cOllflito
principal dificuldade, que conslste no f~cto de a long o da sua obra lnteracr;iio Social (1967), e a traduzido em comportamentos e atitudes com-
FIGURA 2 da necessidade de considerar outro tipo de petitivas, que podem atingir formas elevadas de
teoria nao preyer com que grupos se val estabe_
lecer a compara~ao-base que esta na emergencia vari3veis especfficas das situac;oes em que os hostilidade, ou mesmo de agressao.
Estatuto do grupo, situac;ao de res posta ropos interagem, variaveis essas que, provindo Pelo contrario, quando os interesses objec-
da priva~ao relativa. Runciman (1966) e Gun
e privac;ao relativa
(1970) remetem, por seu lado, esta questao Para ~os indivfduos, se constituem como situar;oes e, tivos de dois grupos forem convergentes e os
~----------------~ a teoria da compara~ao social (Festinger, 1954), enquanto tal, configuram as rela~oes. A mais recursos suficientes para que ambos os con-
'" que preconiza que as rela~oe~ se estabelecern irnportante destas variaveis, para este autor, e a sigam atingir, e mais provavel que se desenhe a
'" com «outros semelhantes». Asslm, como profes- compatibilidade, real ou imaginada, dos objec- cooperar;iio entre eles, sendo os comportamen-
i".
! ..
sora universitaria, eu e os meus colegas nao nos tivoS de diferentes grupos que, precisamente
para os atingir, precisam de se relacionar uns
tos entao orientados para a colaboraC;ao.
comparamos, em termos de justi~a social, com 0
i:
i
grupo dos professores primarios ou secundlirios, com OS outros:
Os primeiros israelitas que conheci eram soldados.
Chegaram 11 minha aldeia e enlraram na minha escola: acho

.. ,.•
~ apesar de desempenharmos uma fun~ao identic a
numa mesma area de interven~ao publica - a
A revisao da investiga.. ao empirica e experimental mais
que nao ha nada de born que se possa dizer acerca deles.
Sempre que vejo mais soldados, pen.;o que, urn dia, vaG ser
.. educac;ao; preferimos, com certeza, a compara-
recente conclui, sem margem para duvidas. que a agressao,
o conflito CoO. e a coopera..ao) nao sao fen6menos gerados
moTtos. Nao hayed paz. Urn dia destes vai haver outra
guerra, e os arabes vencerao. Vamos recuperar a Palestina
C;ao com 0 que achamos serem os. nossos pares- mtemamente, ou intrapsfquicos. Sao estados de relaciolla- (testemunho de Najeh Hassan, palesliniano, de vinte anos,
os magistrados, os tecnicos supenores da fun!fao mento que emergem como consequencia de transac .. 6es entre ao jomal Observer, em 31 de Maio de 1987).
V. '.9'1: , . I.": p < .011 publica ou os quadros das empresas, tO~~do as pessOas, em situa.. 6es que promovem ou bloqueiam os
objectivos que perseguem. Deste modo, a adequada com- Este testemunho exprime bern 0 conflito claro
aqui por semelhante 0 estatuto e 0 prestlglo, e
preensao da etiologia do conflito, como da coopera..ao,
nao a func;ao. entre os grupos israel ita e palestiniano, que ha
requer que a sua avalia..ao se processe no contexto espe-
dfico das situat;6es em que aqueles ocorrem (Sherif. 1967,
decadas disputam entre si urn territ6rio a que
p.465-466). ambos julgam ter direito por razoes hist6ricas,
hip6tese de Berkowitz (1962) da i~portancia da religiosas e polfticas. Assistimos, precisamente,
4. A oposi~ao de interesses
experiencia subjectiva da frustrac;ao, ~o acen- Esta hip6tese da importancia das relac;oes que a uma situac;ao em que os objectivos sao perce-
tuar 0 caracter relative da privac;ao; b) mtro~uz e a competi~ao os grupos estabelecem para gerir os objectivos bidos como total mente divergentes, uma vez
como nova variavel a legitimidade percebl~a, que querem atingir, e das suas consequencias no que, nos termos em que 0 problema tern sido
contida na definic;ao de privac;ao, enquan~o dlS- «Ha ar para todos?»
comportamento dos indivfduos que neles se posto, para que Israel se mantenha para uns, a
crepancia entre 0 que «b) e 0 que «devena se~» Nao se pode extrapolar, de forma acritica, de comporta- integram, foi designada por Campbell (1965) Palestina nao pode existir para os outros. Pode-
_ 0 que motiva 0 descontentamento ~ p~t~ncla
mentos observados num contexto interpessoal para os que
como teo ria dos conflitos realistas dos grupos. mos ainda verificar que a esta divergencia de
ocorrem no contexto de urn grupo organizado. Nem se
o conflito deixa de ser urn estado mdlvldual Foi, no entanto, Muzafer Sherif quem desen- interesses se associ a uma escassez de recursos,
pode extrapolar do que acontece no interior. de um ~ru~
de frustrac;ao para passar a ser urn sentimento ara a explica.. ao dos fenomenos interpess oals . Este upo ~ volveu as investiga~oes mais representativas neste caso 0 territ6rio disponfvel, que e perce-
social mente partilhado de injustic;a num quadro P • '1 passado e tem con
extrapola.. ao ja mostrou ser esten no ' . da desta corrente te6rica. bide por ambos os grupos como sensivelmente
de ilegitimidade; c) descreve e explica 0 fact~, .
tinuado a produzir apenas cancaturas
. do confhto e
.. ' . de. No centro desta teoria esta a proposic;ao de coincidente. Ou seja, e no mesmo territ6rio que
. as var/avels III
aparentemente ins6lito, de tambem grupos dorm- coopera.. ao entre grupos, porque tgnora I - inter, que os comportamentos e as atitudes intergru- os dois grupos pretendem que exista uma s6
. d ' '0 das re a..oes
nantes poderem exprimir descontentam~nto pelldelltes que caractenzam 0 omml .
pais por parte dos membros de cada grupo nac;ao - a sua, com exclusao da dos outros.
. I 0 facto de a privac;ao ter urn caracter grupais (Sherif, 1967. p. 466).
socIa. . '1 exprimem, no fundo, os interesses objectivos do Para comprovar a validade da sua hip6tese,
relative permite perceber que urn grupo ~n~vl ~- . mo vimos seu proprio grupo naqllela situar;iio, Sempre que
Os estudos sobre 0 preconcelto, co d ste de que 0 comportamento de discrimina~ao entre
giado, ao perceber a sua situa~ao de dommanCla I r
anteriormente, tentaram oca lZ
ar a causa e
. cr.ao esses interesses forem divergentes, mas os gru- grupos tern origem, nao nas caracteristicas dos
ameac;ada, reaja (salientando 0 se~ estado de . d"d ou na Intera l' pos precisarem de estar em relac;ao urn com 0 indivfduos que as integram, mas na reia<;ao que
tipo de atitudes nos m 1VI uos . pro-
priva~ao em relac;ao ao grupo .d~ml.nado) para ~utro para os atingir, ou quando os interesses os grupos estabelecem entre si por causa dos
e ntre individuos em situac;oes·fi grupals'",bern
' 10 ta.. •
reforc;ar a estrutura da sua dommancla. curando, por conseguinte, mo d I lca- ~rern Convergentes, mas os recursos limitados, objectiv~s que perseguem, Sherif e uma equipa
Subsistem, no entanto, algumas dificul~ades Ilao permitindo. senao que urn grupo os atinja, de colaboradores levaram a cabo uma serie de
a nivel individual.
associadas a esta teoria. Walter e PettIgrew
432 •
433

investiga~Oes de canicter longitudinal (Sherif e Dos tres estudos mais importantes que She . A tensao entre os grupos foi conseguida atraves solidariedade, mais acentuados em torno dos
Sherif, 1953; Sherif et aI., 1955, 1961), a mais realizou sobre esta questao (em 1949, 1953rtf de dois tipos de condi~oes: membros com maior popularidade e com papeis
celebre das quais ficou conhecida como 1954), relataremos aqui as principais fa e de chefia, bem como nas normas de funciona-
a) a i ntrodu~ao de actividades intergrupais
«Caverna dos Ladroes», efectuadas em campos metodologia e resultados do ultimo. ses, mento que tinham prevalecido durante a fase
de natureza competitiva, sob a forma de
de ferias para rapazes pre-adolescentes, nos Na primeira fase do campo de ferias, as 2 anterior.
jogos e torneios, em que os rapazes iam
Estados Unidos da America. rapazes, cuja idade rondava os doze anos, for 4 Na terceira fase, que durou entre seis e sete
acumulando pontos e em que havia, no
Nos divers os campos de ferias que organi- divididos em dois grupos equivalentes do po: dias - a fase da integra~ao -, Sherif introduziu
final, recompensas para cada urn dos mem-
zaram, Sherif e os colaboradores utilizaram urn de vista de divers as caracteristicas ffsicas e p ? bros da equipa vencedora. Por outras progressivamente elementos de importancia
mesmo esquema basico: fomentar e observar a col6gicas, previamente medidas, para alem ~- supostamente crescente para a redwrao do con-
. de que os rapazes nao - se conheciama palavras, para se ganhar urn premio indi-
forma~ao de grupos, 0 desenvolvimento do garantla
vidual era necessario que cada membro do flito: 0 contacto entre membros dos dois grupos
conflito entre eles e a posterior reduyao desse antes de serem admitidos no campo de ferias 3 em actividades niio cornpetitivas (por exemplo,
grupo contribuisse com os seus pontos
conflito. Dois investigadores, num quadro de observa~ preparar uma festa de an os para uma pessoa de
para a vit6ria da equipa;
Segundo Sherif (1967), as caracteristicas prin- yao participante desempenhando 0 papel de visita ao campo de ferias, ver em conjunto urn
b) a introdu~ao de situa~oes que cada urn
cipais destes tres estadios eram as seguintes: a) a monitores, acompanharam de perto 0 desenrolar filme), implicando algum grau de c:oopera~'iio
dos grupos percebia como frustrante, atri-
introdu~ao, numa primeira fase, de objectiv~s das actividades e procederam as aValiar;oes
buindo a causa dessa frustra~ao ao outro e fomentando a cornunicafiio entre os grupos e
que se tornassem parte integrante das situa~oes, sociometric as e aos registos de comportamentos a proximidade fisica, em situa~Oes em que a
grupo.
que tivessem igual capacidade de atracyao e que e de outros indices de tipo perceptivo relativos manifesta~ao de hostilidade fosse antinorma-
obrigassem a fazer face a urn mesmo tipo de pro- as variaveis em estudo. 0 principal objectiv~ A hip6tese mais geral para esta fase era que tiva. Na sequencia destes epis6dios verificou-se
blema, levando a discussao, planeamento e ac~ao desta primeira fase era, como ja dissemos, a for- os membros de cada grupo iriam desenvolver a persistencia da hostilidade, a resistencia a
de forma cooperante no interior de cada urn dos ma~ao de grupos de perten~a, cuja hierarquia atitudes negativas e hostis em rela~ao aos do cooperayao com 0 outro grupo e a manutenyao
grupos; b) levar os dois grupos assim form ados a interna e normas de funcionamento pudessem outro, e que as atitudes estereotipadas, precon- de estere6tipos intergrupais negativos.
manter rela~oes funcionais em situayoes de com- ser empiricamente controladas. Para isso, as ceituosas e discriminat6rias, geradas num con- Seguiu-se a introdu~ao de uma serie de situa-
peti~ao por determinados objectiv~s, provo- actividades dos dois grupos constavam de diver- texto intergrupal, tenderiam a persistir, mesmo yoes como os ja referidos objectivos superorde-
cando, ao mesmo tempo, certa tensiio entre os sos epis6dios - tais como conceber e executar na ausencia de epis6dios importantes de frus- nados - objectivos importantes para a vida dos
grupos; c) a introdu~ao de objectivos que nao uma refei~ao, construir uma cabana numa trayao nas hist6rias pessoais. gropos e impossfveis de atingir por qualquer
pudessem ser facilmente desprezados pelos dois more ou procurar agua potavel para beberem -, As hip6teses especificas alargaram-se, no deles isoladamente, dada a insuficiencia de re-
grupos antagonistas, mas que tambem fossem cujo objectiv~ era realista no contexte situa- entanto, tanto as rela~Oes intergrupais como a cursos: altera~oes no sistema de abastecimento
impossiveis de atingir por cada urn deles iso- cional e temporal, e onde se provocava uma dinamica intragrupal: esperava-se, na avalia~ao de agua ao campo de ferias, cuja pretensa escas-
ladamente, por insuficiencia de recursos. Este acentuada interdependencia dos membros no des5as actividades, uma sobreavalia~ao das pon- sez afectava todos, organiza~ao de uma noite de
tipo de objectivos, design ado por superordena- interior do grupo, orientada para a cooperayao. tuayoes obtidas pelos membros do seu grupo e acampamento para os dois grupos em que am-
dos, serve para compreender como se pode con- A segunda fase, que teve uma durayao de urna subavalia~ao dos ganhos do outro, mas espe- bos precisavam da ajuda do outro grupo para
seguir a redu~ao da hostilidade e da tensao entre cerca de cinco dias, tinha como objectiv~ provo- rava-se tambem que 0 estatuto e a popularidade montar urn sistema nipido de refei~oes e de alo-
grupos com interesses conflituais (em alternativa car, experimentalmente, uma rela~ao de tensao d~s indivfduos no interior de cada grupo produ- jamento, ou a desempanagem de uma camioneta
a outras tecnicas anteriormente utilizadas, tais entre os dois grupos a fim de verificar, nao 56 Zlssem esse mesmo enviesamento perceptivo. de transporte de vfveres para 0 campo de ferias,
como «a cria~ao de urn inimigo comum», a como se caracterizava essa relayao, mas tambem De facto, as atitudes de distancia social entre enterrada na lama.
emergencia de novas chefias ou a discussao como se processavam as alterayoes no inte~or ?S &TUpos tomaram-se tao fortes que chegaram a Segundo Sherif, «ao fazer face a uma situa-
sobre 0 pr6prio conflito). dos grupos para se ajustarem a nova situayao. iIIlpedir a continua~ao de actividades conjuntas. yao problematica com urn caracter imediato e
0. conflito manifestou-se sob multiplas formas, imperativo que, para alem disso, contem urn
. - de tres
• a cinco dins, tais como insultos, persegui~oes, provoca~ao de objectivo que nao pode ser ignorado ou adiado,
J Tanto as estudos de 1949 como as de 1953 come~aram com uma fase dlferente, com a dura~ao dos
sem forma~iio expressa de gropos, permitindo verificar a livre emergencia de afinidades e de amizades. A forma~ao da confrontos fisicos, ataques aos quartos e destrui- os membros dos grupos travam uma discussao e
.
gropos foi efectuada postenormente, .
por forma a controlar esta vamivel .
(as pares de amlgos foram separados, fiIC ando ell ~~o <I.e be ns. S·lmu Itaneamente, no mtenor
. . dos
Jazem urn plano que executam ate atingir esse
urn em seu gropo). &rupos aumentaram os indices de coesao e de objectivo. Nesse processo, a discussao toma-se
t
434 435

o discussao, 0 plano toma-se 0 seu plano» enquadrado em actividades regidas por objec-
asY
PROGRAMA DE INTERVEN<;AO NUM CONFLITO ENTRE GRUPOS 1967 , p. 449). tivos superordenados, os canais de comunica~ao
(VALA, LIMA & MONTEIRO, 1987) ( A introdu~ao desta serie de objectivos super- que se abrem tendem a servir de vefculos para
denados foi eficaz na redu~ao do conflito inter- maiores recrimina~oes mutuas. Pelo contnirio,
Vejamos como, no ambito da investigayiio/intervenyao que Jorge VaJa, Maria Benedicta Monteiro e Lu{ or pal a dOlS. mvelS:
,.) a os mem bros dos grupos
Lima conduzirrun numa empresa publica de transportes, entre 1985 e 1987 - no quadro de lim program a alargado ~a
quando enquadrada em actividades que contem
investigayao sobre os conflitos intergrupais em contextos organizacionais (Monteiro, Vala e Lima, 1988) _ e ~peraram verdadeiramente nas actividades que objectivos superordenados, a comunica9ao, ao
autores apresentrun uma proposta de superayao do conflito entre dois grupos profissionais a prutic do enqUadr:un~n~~ ~he permitiam atingir 0 objectivo comum e, b) a centrar-se nesses objectivos comuns, serve para
e definiyao do pr6prio conflito: articipa~ao nessas actividades reduziu 0 grau de reduzir a hostilidade (caixa programa de inter-
«Trala-se de urn conflito objectivo, explicito e institucionalizado, onde os processos de categoriza~ao e de ~cr;iiO existente entre os dois grupos e os este- ven~iio Ilum conflito entre grupos).
discriminayiio que 0 acompanham estao associados a urn conflito de interesses. Neste senlido, a vitoria de urn gru re 6tiPos desfavoniveis reciprocos. Estas mudan-
nao podeni senao ser percebida como a derrota do outro grupo. Cada grupo procura nao somente interesses ma:~
yas apoiaram-se nas observa~oes comportamen-
riais mas trunbem 0 reconhecimento das dimensoes de comparayao que Ihe parecem mais favomveis; 0 confJito
tais e nas avalia~oes sociometric as comparativas
exprime-se assim em dois nIveis interdependentes. Quer relativamente aos resultados do contlito, quer relativamente
cia fase de conflito e da fase dos objectivos super-
II - A resolu~ao dos conflitos
aos recursos, os dois grupos tern estatutos diferentes: 0 grupo dos condutores e desde sempre ganhador, Com maib
recursos (urn maior mlmero de individuos, uma maior homogeneidade funcianal e uma maior capacidade de ameaya ordenados: mostrou uma desloca~ao da orien-
institucianaJ); 0 grupo dos openlrlos da manutenyao e perdedor e com menaces recursos para desencadear e afrontar tar;iio das preferencias individuais do interior do
as consequencias de wn conflito prolongado. Concebemos, portanto, 0 grupo dos condutores como urn grupo dOmi- 1. A hipotese do contacto
seu grupo para membros do outro grupo (23 por
nante e 0 dos openlrlos como urn grupo dominado» (Vaia, Monteiro e Lima, 1987, p. 803).
o plano de intervenyao, no sentido de minimizar os efeitos negativos do conflito na produtividade enos cento num dos grupos e 36 por cento no outro). «Afinal, agora que os conhe~o, acho que nao
pr6prios custos da produyao do serviyo de transportes, integrou componentes do estudo emplrico (parcial mente As observa~oes subsequentes a execu~ao de somos tao diferentes como julgavamos.))
referidos no panigrafo «Privayao relativa») em articula.;ao com medidas de correcyao estrutural e funcional progra- vanas actividades com objectivos superordena-
madas pelos gestares da empresa. Forrun os seguintes os seus eixos principais: dos mostraram tambem urn decrescimo acentuado No quadro historico em que a hipotese do
Criar;lio de um objeetivo superordenado nos comportamentos de insulto e de desvalori- contacto se desenhou - os EVA da decada de 50
«Na sequencia da investigayao realizada, foi discutido na empresa urn projecto de gestao intitulado Gestiio zayiio dos membros do grupo dos outros, bern - era saliente uma grande c1asse de conflitos - os
integrada das unidades de prodllr;lio de transpones». Este projecto, para aJem de objectiv~s de eficacia funcional, visa como nos comportamentos de glorifica~ao exa- de natureza racial. Vimos ja como e, tambem, a
fortalecer a ligayao dos dois gropos proflSsionais a Estayao, perrnitindo a emergencia de uma nova reaJidade pela qual
cerbada dos membros do seu grupo. Estas obser- partir deste problema social candente que surgi-
todos se sintam responsabilizados. A titulo experimental, a unidade onde foi reaJizada a investigayao vim a ser dotadn
de uma maior autonomia de gestao, dispondo de objectiv~s e de responsabilidades especfficas perante 0 conjunto da
vayoes foram conflnnadas pelas medidas das ram as primeiras microteorias psicossociologicas
empresa, bern como de indicadores autollomos de exploTa9ao. (... ) Estas modificayoes estmturais e de poUtica de gestiio caracteristicas estereotfpicas atribuidas ao seu para explicar a fonna~ao de preconceitos e os
forrun, nas suas Iinhas gerais, avaJiadas positivrunente pelos trabalhadores dos dois grupos, que poderao vir a dispor, a grupo e ao grupo dos outros durante e apos 0 comportamentos de discrimina9ao que originam.
partir de agora, de objectiv~s comuns, identificados e avalhiveis, em cuja defIDi~ao participarrun.» (idem, p. 811.) conflito: a percentagem de caracteristicas de nega- A hipotese da importancia do contacto entre
Pre.~ervar;lio da identidade dos grupos tividade (exemplo, «grupo de fedorentos))) pas- grupos em conflito ou entre os seus membros
«De acordo com as fun90es especfficas dos grupos em conflito, encontram-se em estudo indicadores de gestao sou, num dos grupos, de 21 para 1,5 por cento e, apoiou-se, originalmente, num pressuposto teo-
que responsabilizem cada urn deles pela reaiiza9ao de objectiv~s pru·celares. Os dois gropos poderiio dispor, assim, no outro, de 36 para 6 por cento do total de rico simples, enunciado no quadro do estudo das
de objectiv~s aut6nomos, mas complementares (no novo quadro de interdependencia a que 0 projecto obriga), para avalia~oes desfavoniveis. rela~oes interpessoais (Newcomb, 1956, 1961;
alem dos objectivos comuns ja referidos.» (idem, p. 811)
Os resultados obtidos por Sherif e a sua Heider, 1958) e da atrac~iio interpessoal (e. g.
Contaetos il1,stitucionaLizados entre os grupos equipa na redu~ao dos conflitos intergrupais radi- Byrne, 1969): a atrac~ao decorre do grau de
«Quer ao nivel dos quadros e das chefias directas dos dois gropos quer ao dos pr6prios trabalhadores, foi pre-
cados na oposi~ao de interesses suscitaram, por semelhan~a percebido entre dois individuos (ver
visto urn novo esquema de contactos institucionalizados incidindo sabre problemas gerais da Estayao, bern como
sobre problemas especfficos do funcionamento dos dois gropos (exemplo, analise de avarias extra-rotina, planea- Parte do proprio autor, urn conjunto de reflexoes capitulo «Atrac~ao interpessoal, sexualidade e
mento de ritmos de manutenyao, consumos de energia, imobilizayoes, etc.). Tambem estas medidas forrun positiva- sobre os metod os altemativos, tais como a comu- rela~oes intimas))). 0 contacto entre membros
mente avaliadas pela generalidade dos trabalhadores.» (idem, pp. 811-812.) nica~a~ e 0 contacto, utilizados na redu9ao dos de grupos diferentes permitiria aos individuos
Avaliar;iio das eonsequflzcias da intervenr;lio conflitos: parece ser, de facto, importante abrir descobrirem que, aflnal, tern entre si mais seme-
Foi prevista a elaborayao de urn plano de avaIiayao do irnpacto das modificayoes funcionais e estroturais canais de comunica9ao entre os grupos, para Ihan~as - nos sentimentos, nos valores ou nas
referidas, quer ao nivel do cIima psicossocio16gico quer ao dos indicadores de produtividade e de custos. facilitar a redu9ao subsequente da hostilidade; atitudes, por exemplo - do que inicialmente
lIlas se 0 contacto entre os grupos nao estiver julgavam. Essa descoberta, segundo a teoria de
• 437
436
onta treS factores que, no nivel de analise que No entanto, Clore e Byrne (1974) referem
cep~ao de semelhan~a entre os ~emb~os dessas
atrac~ao interpessoal, facilitari~ ~ co~preensa~ apui importa - 0 das rela~oes intergrupais -, que, mesmo num quadro de rela~oes interetnicas
grupos. Para preparar a avengua~ao dessas a Q ..
'tua e poderia mesmo permltlr, apos repeU- ri8Jl1 declSIVOS para a eflcaCla
i " d 0 contacto na conflituosas, conseguiram obter atitudes raciais
mu , . - d condi~oes, Allport elaborou uma especie de
dos contactos bem sucedidos, a cna~ao e sedUyao da tensao - 'mtergrupa: 1 a pan'ddd
a e e mais positivas entre crian~as negras e brancas
taxonomia dos factores a estudar para viabilizar
condi~oes favonlveis a interac~ao cooperan~e. re totuto dos grupos, a comunalidade de objec- igualmente pobres, ao fim de uma semana de
a hip6tese do contacto (ver caixa Hipotese do
Na sua obra A Natureza do Preconcel~o
contacto e n(veis das varitiveis em estudo). e~ OS a atingir e 0 apoio sociallinstitucional contacto e de interac~ao num campo de ferias .
ttV .
(1954), Gordon Allport foi, no, :ntanto, .mats volvente. Vejamos, com pormenor, como se Vma hip6tese complementar, sugerida por
Sumarizando os resultados dos estudos efec_
longe ao afirmar que era necess~~ es~eclficar ::fine cada urn destes factores e 0 grau de vali- Cohen (1982, 1984), e a de que 0 impacto da
tuados no quadro dessa taxonomia, Allpon
em que condi~oes 0 contacto faclhtarla a per- da~iio empirica de que dis poem. igualdade de estatuto no contexto do contacto
restrito nao depende apenas dos val ores e repre-
senta~oes dominantes do contexto alargado, mas
1DP6TESE DO CONTACTO E NiVEIS DAS vARIA VEIS EM ESTUDO
1.1. A paridade de estatuto dos grupos pode ser conseguida mediante uma interven~ao
(ALLPORT, 1954) pr6xima sobre as expectativas mutuas em
]V, t eza do Preconceito concebeu a taxonomia dos factores a ter em
Foi assim que Allport, na sua 0 bra A a U11 '
A questao que se torna mais saliente neste rela~ao a interac~ao.
consider~~o nos estudos a desenvolver no quadro da hip6tese do contacto. factor e a do contexto da paridade: os grupos Esta hip6tese apoia-se na teoria das expecta-
d) 0 contacto e percebido em termos de rel~aes inter- devem ter estatuto semelhante no contexto tivas (Berger, Cohen e Zelditch, 1972), segundo
Factores relativos ao contacto: grupais ou nio e percebido como tal?
social alargado ou apenas na situa~ao bem deli- a qual 0 estatuto social de urn grupo se constitui,
e) 0 contacto e visto como t£pico ou como excep-
Aspectos quantitativos mitada do contacto? Allport (1954), Krammer sobretudo, como uma fonte de expectativas
clonal?
J) 0 contacto e visto como importante e {ntimo, ou (1950) e Pettigrew (1971) acentuaram a im- sobre 0 comportamento dos seus membros num
a) Frequ!ncia;
b) Dura~ii.o; como trivial e transit6rio? port8ncia da igualdade de estatuto dos membros quadro de interac~ao com membros de outros
c) Numero de pessoas envolvidas; dos grupos no quadro especffico do contacto, grupos. De acordo com este pressuposto, tornar-
Personalidade dos indiv{duos
d) Diversidade. sustentando que e nesse que a percep~ao de -se-ia mais compreensfvel 0 modo como os
a) 0 nivel de preconceito inicial e elevado, m6dio au igualdade (de pader, de prestfgio, de recursos) membros de grupos dominantes e dominados se
Aspectos de estatuto baixo? entre os grupos pode facilitar a atrac~ao entre os posicion am numa interac~ao.
b) 0 preconceito e de tipo superficial, pa.~sivo, au estt
a) 0 membro da minoria tern estatuto ~nferior; seus membros e reduzir os preconceitos mutuos Katz (1964, 1970), por exemplo, \lerificou que,
profundamente enraizado na su~ estrutura:
b) 0 membro da minoria tern estatuto 19Ual;. numa interac~ao entre norte-americanos brancos
c) Tern seguranc;a basica na sua vtda ou e timorato e negativos.
c) 0 membro da minoria tern estatuto supenor;
desconfiado? Outros autores, no entanto, defendem a impor- e negros, os primeiros se mostraram mais activos,
d) (... ) 0 grupo, no seu conjunto, pode ter estatuto
relativo superior (exemplo: os Judeus), ou
e
d) Qual a experi8ncia previa com 0 grupo em questlo tfutcia da igualdade de estatuto nao s6, evidente- influentes e bern sucedidos do que os ultimos
e qual a intensidade dos preconceitos actuais? mente, no quadro explfcito da rela~ao, como no
estatuto relativo inferior (exemplo: os Negros). em tarefas intelectuais. No ambito da teoria das
e) Idade e mvel de educac;io escolar;
contexto social mais vasto. expectativas, estes resultados ficariam a dever-
J) Outros factores de personolidade.
Aspectos de papel Riordan (1 978), por exemplo, referindo-se aos -se, nao a quaisquer competencias intrlnsecas
0) A relac;ao consiste numa actividade competitiva Areas de contacto conflitos inter-raciais afirma que, numa socie- dos parceiros da interac~ao, mas as expectativas
ou cooperativa? a) Casual;
dade em que 0 racismo seja dorninante, as dis- mutuas que os membros dos dois grupos desen-
b) Esta impl{cita uma relac;io de papeis de subor- Paridades sociais entre os grupos sao tao intensas volveram sobre 0 seu pr6prio comportamento e
b) Residencial;
dina~1io ou de dominllncia (exemp)o: senhor-
c) Profissianal; que interferem em qualquer manipula~ao expe- o comportamento dos outros, por for~a da rela-
-servo, patriio-empregado, professor-aluno)?
d) Recreativa; rimental restrita, anulando os seus efeitos; isto e, ~ao que os grupos mantem na sociedade em que
e) Religiosa; se a representa~ao do estatuto dos grupos for
Atmosfera social envolvente se inserem. Estas expectativas refor~ariam 0
J) Civica e associativa;
assimetrica, tornar-se-a mais diffcil induzir desempenho positivo para uns e 0 desempenho
a) Prevalecem pmticas de segregac;~o ou htl expec- g) poHtica; al
h) Actividades de benemer!ncia intergrup ?traves do contacto a percep~ao de semelhan~a negativo para outros, condicionariam 0 grau de
tativas de igualitarismo ?
b) 0 contacto e voluntario ou involuntario? . 1954-1979) tndispensllvel, de acordo com a teoria de atrac- esfor~o envolvido nas tarefas e, finalmente, sal-
c) 0 contacto e «real» ou «artificial»?
(Gordon Allport. ob. CIt.,
~o interpessoal, a redu~ao dos preconceitos dar-se-iam por uma confirma~ao das expectati-
negativos e da hostilidade entre os grupos. vas e por urn refor~o dos estatutos assimetricos
• 439
438

dos grupos (fenomeno identico, no fundo, ao das facto estaria, para estes autores, uma vez n. . pas naquela situa~ao. A verifica~ao empfrica amea~a a identidade do grupo dorninante (e.g.,
profecias que se auto-realizam, tal como foi no pressuposto da semelhan~a-atrac~ao: a
·"aIS
' ~ta condi~ao nao tern sido, no entanto, linear. Monteiro, 1995). Relataremos aqui uma, reti-
- , . d Ih
cep~ao proxima e seme an~a entre os indo ,
per- Sherif (1966), como atras ficou referido, rada do conjunto de estudos de Worchel e dos
enunciado por Snyder e Swann, em 1979). , . .I al . IVI_
Para verificar esta hipotese, Cohen desenvol- duos num dorrumo socia mente v onzado (eXe _ te stDU D efeito do contacto cooperante na redu- seus colaboradores (1977). Estes investigadores
veu 0 metoda do «treino de expectativas», que plo: identico nivel de estudos) sObrepor-se_i~ aD do conflito entre grupos de estatuto identico, conceberam a seguinte situa~ao: dois grupos de
percep~ao de dissemelhan~a entre eles por cau ~ o quadro das suas 1ongas mvestlga~oes
. . - neste estudantes trabalhavam em conjunto em duas
utilizou num quadro de investiga~ao experimen-
. I
tal, atribuindo urn nivel especialmente elevado da sua perten~a a urn grupo socia mente des Va-
Sa
~omfnio, verificando a sua ineficacia na alte- tarefas (por exemplo, conseguir uma boa frase
de competencias a crian~as negras antes de as lorizado (exemplo: filhos de camponeses ou de ra~aD dos estereotipos negativos e do compor- publicitaria para uma pasta de dentes). Numa
por em contacto com brancas. Os resultados operanos), facilitando 0 aumento da atrac~ao e a tarnento de discrirr.ina~ao intergrupal. condi~ao experimental conseguiram atingir 0

mostraram que, nessa situa~ao, a indu~ao de redu~ao das atitudes preconceituosas. A hipotese de que, quer a natureza dos contac- objectivo (a frase era aceite e positivamente valo-
competencia e a eleva~ao de expectativas junto Social mente, a importancia desta questao esta toS previos (cooperativos ou competitivos) entre rizada) e noutra nao (a frase nao era aceite,
dos membros do grupo de baixo estatuto nao foi, na hipotese de tentar reduzir 0 grau de conflito OS grupos, quer 0 desfecho (sucesso ou insucesso) sendo negativamente valorizada). Numa fase an-
por si so, suficiente para modificar 0 desempe- ou de tensao entre dois grupos pondo em con- das ac~6es orientadas para os objectivos que se terior, os mesmos grupos tinham trabalhado jun-
nho; tornou-se necessano intervir, simultanea- tacto membros protot(picos da maioria, ou pretendiam a1can~ar podiam completar e clari- tos numa outra tarefa (de que nao chegaram a
mente, nas expectativas que 0 grupo de estatuto grupo dominante, com alguns membros especi- ficar os resultados obtidos por Sherif, fomentou saber 0 grau de sucesso, que foi tornado irrele-
elevado tinha em rela~ao ao desempenho do ficos, niio protot(picos, da minoria - os que urna serie de investiga~6es laboratoriais conce- vante) em que, experimentalmente, se fizera
outro grupo. Resumindo, poderia dizer-se que apresentam urn estatuto mais elevado, seme- bidas de forma a isolar e manipular cuida- variar a natureza do contacto: cooperante, com-
nao chega fazer crer aos dominados que eles sao lhante ao dos membros da maioria. Mackenzie dosamente variaveis tais como a natureza dos petitivo ou independente. A questao era esta: a
capazes de ser tao bons como os dominantes; e (1948) verificou, ainda no ambito dos conflitos cantactos previos entre os grupos (Worchel, positividade das percep~6es mutuas apos urn
preciso que os dominantes tambem acreditem e interetnicos, que 0 contacto entre norte-america- Andreoli e Folger, 1977), a hist6ria do conflito contacto cooperante, com vista a atingir urn
esperem isso, 0 que torna a prepara~ao do con- nos brancos veteranos da Segunda Guerra entre grupos (Lima, Monteiro e Val a, 1996) ou a mesmo objectivo, nao seria influenciada pel a
tacto bastante mais complexa e mostra, sobre- Mundial com norte-americanos negros de dife-
tudo, que 0 mero contacto entre grupos, sem a rentes estatutos sociais so foi eficaz na redu9ao
FIGURA 3
garantia de igualdade de estatutos (real ou de atitudes preconceituosas quando os membros
induzida) nao facilitara, muito provavelmente, a do grupo negro eram de estatuto igual ou supe- Natureza do contacto previo, desfecho da coopera~ao e gran de atrac~iio
atenua~ao dos conflitos que os op6em. rior ao dos membros do grupo branco. (Worchel, Andreoli e Folger, 1977)
Vma segunda area de estudos diz respeito aos
efeitos do contacto entre grupos quando 0 2l

estatuto destes e claramente assimetrico no con-


1.2. A comunalidade de objectivos
texto social envoi vente mas e identico na situ a- a atingir pelos grupos &. 21

~ao do contacto. Tradicionalmente, a questao e ~~


Coopera~o

assim enunciada: qual e 0 efeito do contacto Esta variavel situacional foi, desde a sua for- o
19
= oa Case I Uoha ioteira =
; IS =sucesso na fase
entre membros de uma maioria (grupo domi- mula~ao (Allport, 1954), aceite como urn coro-
lano dos pressupostos teoricos da hipotese do
o 17
o
8,16
= lodependeocia
oa fase I
Compcti~o
Linha quebrada =
nante/estatuto elevado) com membros de esta-
tuto igualmente elevado de uma minoria (grupo contacto: da importancia da percep~ao de seme- .aI I.S ---- ........... ......... == oa ra.~e I = insucesso on fase

lhan~a para facilitar a atrac~ao decorria que, do ~


dominado/estatuto elevado)? (Para uma revisao
completa, consultar Amir, 1976; Katz, 1970; ponto de vista substantivo, 0 contacto s.e <
IJ
13
.......................
-...
Riordan, 1978.) Tanto Allport (1979) como traduzisse numa tarefa de coopera~ao para atingtr II

Cook (1962, 1978) e Pettigrew (1971) estao de urn objectivo, dado ou percebido como deseja: 10

para ambos os grupos. Colaborar com outr~~ P "-


acordo, a partir da revisao da investiga~ao ante- F... 1 file %

rior e dos seus proprios trabalhos, sobre a posi- atingir uma mesma finalidade deveria faclbtar a
_ ntre as
--------------------------------------------------------------------------
tividade destes efeitos. A explica~ao para este aumento de percep~ao de semelhan~as e
• 441
440

natureza do contacto previo entre os grupos hostilidade (<<afinal, nao gostamos rnesrno ente Segunda Guerra Mundial e atentativa de E nosso dever, por isso, reduzir estes pontos de contacto
voces! Nem para trabalhar em equipa serv de rec
enocfdio dos Jd u eus e de outros grupos mmo-. ao minima absoluto que a opiniao publica esta preparada
(conflito, coopera~ao ou independencia), bern
para aceitar. A supremacia do homem branco e da civi-
como pelo grau de sucesso na pr6pria situa~ao
- ad'
Nao mira que a 0 b '
ra salsse uma porcari ellli
I . ~tariOs europeus), que as cren~as e os valores
Iiza~ao ocidental na Africa do SuI tern de ser assegurada
actual de coopera~ao? Os resultados mostraram, Esta interpreta~ao dos resultados de WO:'h»)' o rninantes, bern como as leis que normalmente no interese do desenvolvimento material, cultural e espiri-
-, C el do f '
como se pode ver na Figura 3, que 0 efeito da e dos seus coIegas nao e, como vernos s ti s legitimam, eram urn actor cruCIal no enun- tual de todas as ra~as (citado por Kuper, Watts e Davies,
natureza do contacto durante a primeira fase
.
clente para c1an'filcar tota1mente os f ' re U 11-
racos o'ado de uma teoria da redu~ao do preconceito e 1958, p. 21).
tados obtidos por Sherif sobre a cooperas~-
C1
(cooperativo, competitivo ou independente) era do conflito entre grupos. A percep~ao de seme-
. r;ao
relevante: as atitudes mais favonlveis em rela~ao entre grupos em confl Ito e, por ~Utro lado c Jhan~a necessaria a emergencia da atrac~ao fica- Recentemente, no entanto, no quadro de urn
ao exogrupo vieram da condi~ao coopera~ao, firma a existencia de restri~oes ao press~po~~­ ria, como afirma Allport (1954) e subsequente- forte apoio institucional e ideol6gico antiapar-
seguindo-se-Ihe de perto a da condi~ao inde- da comunalidade de objectivos: a coopera'riio ~ mente outros autores (e.g. Cook, 1962, 1978, theid e em condi~oes de participa~ao volunta-
pendencia, sendo as da competi~ao significati- eficaz na redu~ao da hostilidade se se saldar nn 1984; Pettigrew, 1971; Amir, 1969, 1976, 1988), ria, Mynart (1982) realizou urn estudo quase
• l"Vr

vamente mais desfavonlveis, 0 mesmo se verifi- urn sucesso que, aparentemente, mvalide Parte basicarnente comprometida se, apesar da equi- experimental para examinar os efeitos do con-
cando com 0 grau de atrac~ao (isto e, «quanto» das atribui~oes negativas que integraVam 0 valencia de estatuto ou dos papeis sociais na tacto na redu~ao do preconceito racial: 970 bran-
se gosta de alguem). Ap6s a segunda fase, em estere6tipo dos membros do exogrupo. situayao, e da existencia de urn objectivo comum cas de lingua inglesa, oriundas de 21 escolas
que todos os contactos entre os grupos se desen- a alcanyar, as normas sociais extemas regula- cat6licas privadas, foram divididas em dois gru-
rolaram num quadro de coopera~ao, 0 sucesso doras dos valores e das atitudes em rela~ao ao pos de acordo com 0 seu grau de contacto (pre-
ou insucesso da tarefa nao teve qualquer efeito 1.3. Apoio social-institucional outro grupo fossem contrarias a redu~ao do sente ou ausente) com jovens sul-africanas de
sobre a atrac~ao entre os membros dos grupos envolvente preconceito. , outras ra~as mas de identico estatuto socioeco-
se estes, na primeira fase, tinham tido ja uma A institucionaliza~ao do apartheid na Africa namico, respondendo depois a urn questionario
experiencia de cooperar;iio ou, pelo menos, de o preconceito (a nao ser que esteja profundamente do SuI, por exemplo, dificultou durante quarenta de atitudes raciais. As jovens que tinham mantido
independencia: todos aumentaram significativa- enraizado no can'icter das pessoas) pode ser reduzido anos qualquer efeito positivo do contacto quo- contacto racial mostraram nfveis mais elevados
atraves do contacto, em condi~oes de igual estatuto entre tidiano, nomeadamente na area laboral, entre de preconceito em rela~ao a indianos e african-
mente a atrac~ao pelos outros. 0 efeito do grau
grupos maioritarios e minoritlirios que perseguem objec- membros dos dois principais grupos raciais que deres do que as que nao haviam mantido con-
de sucesso ou de insucesso na realiza~ao da tivos comuns. 0 efeito e altamente potencializado se este
tarefa durante a segunda fase tomou-se, no en- habitam aquele pais. Este contacto foi, alias, tacto. No entanto, em re1a~ao aos negros, a varia-
contacto for sancionado institucionalmente (isto e, pela lei,
tanto, bern claro na condi~ao em que os grupos, pelos costumes ou pelo clima ambiental (Gordon Allport, cuidadosamente programado e restringido, como vel contacto nao se mostrou relevante, sendo
na primeira fase, haviam estado em interac~ao 1954, p. 267). afirmava, em 1950, 0 ministro C. R. Stewart, identic os e elevados os nfveis de preconceito nos
competitiva: no caso da tarefa bern sucedida, a mais tarde primeiro presidente da Republica da dois grupos. 0 apoio institucional nao mostrou,
atrac~ao aumentou; no caso de insucesso, a atrac-
Se a equivalencia do estatuto na situa~ao de Africa do SuI. aqui, ser uma condi~ao suficiente, a par com a
interac~ao corresponde a uma regula~ao social igualdade de estatuto na situa~ao, para reduzir as
~ao baixou.
de n(vel situacional (as caracteristicas dos mem- o nosso ponto de partida e separar, tanto quanta pos- atitudes preconceituosas do grupo social ideo-
Daqui puderam os autores concluir que, se a slvel, a popula~ao branca da de cor, de modo a que nao
interac~ao cooperante ocorre numa sequencia de bros dos grupos) e a comunalidade de objectivos logicamente maioritario. Quando, porem, a estas
haja uma mistura de sangue que viria exacerbar, de futuro,
outras interac~Oes cooperantes, 0 grau de atrac~ao a uma regula~ao social de n(vel intergrupal (0 os nossos problemas (citado em Foster e Finchilescu, duas condi~oes para 0 efeito positivo do contacto
cooperante mantem-se ou eleva-se, independen- que vao os grupos fazer durante a interac~ao), 0 1986, p. 120). se adicionou a terceira, ou seja, 0 contacto em
temente do sucesso das tarefas. Se, pelo contra- apoio social corresponde, claramente, a uma regu- tarefas de coopera~ao, como fizeram Luiz e Krige
rio, a interac~ao cooperante ocorre subsequen- la~ao social (Monteiro, 1995; Doise, 1993) de Em contraste com este pressuposto de que, se (1981), no quadro de urn grande program a que
. ,. hip6- nao estivessem separadas, as ra~as se atrairiam
temente a uma interac~ao competitiva (em que 0 n(vel institucional que, desde 0 seu lntClO, a integrava brancas e negras, as atitudes precon-
- do mutuamente (0 que corresponde a hip6tese do
grau de atrac~ao se tomou relativamente baixo), tese do contacto entre grupos para redu~ao ceituosas reduziram-se.
preconceito e da hostilidade nao pOde deixar de Contacto), outra dimensao de ideologia domi- Permanece, no entanto, alguma duvida sobre
o sucesso ou insucesso da tarefa realizada con-
considerar. Parecia evidente, pela simples obser- Dante (texto oficial assinado pelo ministro do a importancia decisiva do apoio institucional
juntamente toma-se decisivo: 0 sucesso eleva a 'ais nOS
va~ao e reflexao sobre os problemas raCl . d Interior, em 1950), afirmava que: explicito, como e, por exemplo, uma norma
atrac~ao (<<afinal gostamos mesmo de voces,
EVA (se nao - sobre a ldeologla
. ' da supre macla _a legal, na diminui~ao dos conflitos entre grupos
somos todos amigos, e 0 que la vai, la vai!»), fri Os pontos de contacto produzem, inevitavelmente,
enquanto 0 insucesso faz aparecer, claramente, a ra~a ariana que conduziu ao desastre da entaO c~io, e a fric~ao gera 0 calor que pode levar aexplosao. com uma longa hist6ria de oposi~ao politic a,
, 443
442

Qual 0 nivel necessario do contacto


etnica, social ou religiosa. Nos EVA, por exem- cacrao dos estudantes, alguns professores A integracr ao , por contraste com a dessegre-
_ interpessoal ou intergrupal?
plo, persiste aquilo a que 0 sociologo Gunner maram, para efeitos de eficacia pedagogi f~r_ '0 aparece nos estudos da hipotese do con-
. A ca, nao gacr a "a par com outro problema: 0 d ' .
a «aSSlml-
Myrdal (1944) descreveu como «0 dilema d OlS, mas tres subgrupos: 0 dos «avanl'ad
~ as» taC to , Apesar da clara proposta de Allport sobre a
americano», ou seja, 0 facto de uma sociedade dos «regulares» e 0 dos «lentos». Infonnal '0 'o>} versus «pluralismo» (Sagar e Schofield,
. " lllente lacr a importancia desta distincrao - «0 contacto e ou
que publicamente se baseia e apregoa valores e aSSlm, e apesar do apOlo legal a dess egre ~ , 98 4 ; Steinfield, 1970; e.g., Schofield, 1988).
ideais de justicra, liberdade e igualdade entre total, ressurgiu uma nova forma de segre ga~ao ~pSta dicotomia questiona nao so a norma. etico- nao percebido em termos de relayoes intergru-
, . ga~ao'
litica do igualitarismo e a consequencla pre- pais'?» (Allport, 1954, p. 263) -, a investigacr ao
pessoas, grupos, racras e povos, aceite, proteja, urn professor de Matemattca, por exemplo t . _po
, eVe empfrica ate aos nossoS dias e as conclusoes for-
ou mesmo patrocine atitudes e pniticas incom- urn grupo «avancrado» total mente compost tendida - a semelhanya entre os grupos - como a
a par muladas nesse contexto mantem grande «instabi-
pativeis com esses val ores. A persistencia do estudantes brancos e urn grupo «lento» q oducr ao unilateral das normas que a suportam.
UaSe pr . d .' lidade», quando nao ambiguidade, a este respeito.
«dilema americano» encontra-se, por exemplo, totalmente compos to por estudantes negros. Ern termOS concretos, na perspec~IVa a ass~ml-
lacr ao , a maioria pretende consegUlr que as mmo- Isto significa, em nosso entender, que - apesar
a nivel interno, na tendencia, apesar da legis- Schofi~ld (1979) e Schofiel~ e Sagar (1977)
rias se Ihe assemelhem, criando normas tendentes dos trabalhos e preocupacroes de varios autores
lacrao anti-racista de proteccrao aos direi- relatam amda que, mesmo em sltuayoes que d'IS-
sobre a importancia da distincrao entre estes niveis
tos cfvicos, em vigor desde a dec ada de 60, a poem, aparentemente, de forte apoio institucional a facilitar ou obrigar a essa semelhanya.
A perspectiva pluralista reconhece, pelo con- de analise (Sherif, 1966; Doise, 1982; Doise,
recorrencia do fenomeno da ressegrega~iio a dessegregacrao e a igualdade de oportunidades
racial. e de tratamento, 0 fenomeno de ressegrega~ao tran O, a diversidade cultural e admite a validade
1993; Monteiro, 1995) e da distincrao proposta por
Tajfel (e.g., 1978) entre comportamento inter-
Assim, embora a proporcrao de norte-ameri- inexplicavelmente, reaparece: estes autores estu~ das identidades diferentes dos grupos em con-
tacto, aceitando, consequentemente, normas, pessoal e intergrupal enquanto polos de urn
canos brancos favoniveis, de acordo com sonda- daram os padroes de posicionamento de estu-
atitudes e comportamentos diferentes, para uma continuum, com caractensticas e consequencias
gens de opiniao, a dessegregacrao racial nas dantes, ao longo de dois anos, durante a hora do
mesma situacrao, por parte de grupos diferentes. cognitivas e comportamentais espedficas - a
escolas aumentasse de trinta por cento em 1942, almoyo, na cantina da escola (0 corpo estudantil
o que esta, pois, em causa, sao os proprios hipotese do contacto tern relegado para segundo
para noventa por cento em 1980 (Myers, 1983), era composto, sensivelmente, por metade de ne-
objectivos/efeitos do contacto - a reduqiio das plano esta questao.
a resistencia a essa dessegregacrao parece subsis- gros e metade brancos). Verificaram que, em
Miller e Brewer (1984), por exemplo, sinteti-
tir, manifestando-se tanto ao nivel de confrontos media, menos de quinze por cento estavam sen- diferen~as ou a sua marca~iio - em funcrao do
objectivo final a atingir: a reduyao do precon- zam os efeitos da hipotese do contacto afirmando
violentos directos em grande numero de cida- tados ao lado de urn estudante de racra diferente,
ceito, do conflito e da discriminacrao intergrupal. que «0 nosso comportamento e as nossas atitudes
des, como Los Angeles e Chicago (Schofield, nao havendo, no entanto, quaisquer outros sinais
A existencia de normas ou de apoio social favo- para com membros de uma categoria social que
1988) como ao nivel das pniticas que provocam de friccrao inter-racial.
ravel ao contacto e a cooperacrao parece, entre- rejeitamos tornar-se-ao mais positivos apos a
clivagens nos contactos entre brancos e negros A este respeito, Pettigrew (1969, 1971) tinha
tanto, ser uma condicrao, se nao necessaria, pelo interac~iio pessoal directa com eles».
no proprio quadro institucional dessegregado. ja referido a importancia da distincrao entre des-
menos, em condicroes ainda nao total mente estu- No prefacio da mesma obra, Groups in Con-
Schofield (1982) realizou urn estudo sobre este segregacrao, enquanto mera criacrao de condicroes
dadas, facilitadora da reducrao do preconceito e tact: the Psychology of Desegregation, Miller e
problema numa escola secundaria com jovens e regras institucionais de prevencrao a discri-
da discriminacrao intergrupal; de qualquer modo, Brewer tinham, entretanto, afirmado que «0 pre-
brancos e negros. No oitavo ano, mais de minacrao, e integra~iio, enquanto implantacrao de
conceito e a hostilidade em relacrao a membros
oitenta por cento dos estudantes atribuidos pelos uma dessegregacrao em condicroes tais que au- nunca e suficiente para a garantir.
de grupos segregados podem ser reduzidos se se
professores ao grupo dos mais avancrados eram mente a qualidade da relacrao entre os membros
incentivar a frequencia e a intensidade do COll-
brancos, do mesmo modo que oitenta por cento dos grupos. A integracrao, neste sentido, devera
1.4. Limites e problemas da hipotese facto intergrupal» (1984) .
dos considerados regulares eram negros. No associar a igualdade de estatuto e a cooperacrao
Em que ficamos entao? Estamos de acordo
sexto e setimo anos de escolaridade, apesar de a norma de apoio as relacroes positivas entre os do contacto
com Hewstone e Brown quando, a este prop6-
nao existir, formalmente, este tipo de classifi- grupoS4.
sito, dizem que «esta imprecisao terminolog ica
Vejamos agora, para alem das questoes que
e, na melhor das hipoteses, urn descuido e, na
foram surgindo a proposito da apresentacrao das
4 A reintrodu~fio de form as subtis, ou institucionalmente nfio controladas, de dicrimina~fio entre grupos nfio parece pior, urn elemento de confusao para quem queira
tres condicroes classicas dos efeitos positivos do
ser. no entanto, urn problema, ou mesmo urn dilema, apenas para os EUA ou a Africa do SuI, para apenas citar alguns casoS decidir qual a melhor maneira de implementar
contacto, alguns limites e problemas especfficos
em que a evidencia empfrica e mais consciente. Em Portugal , com enquadramento legal anti-racista. a instala~fio maci~a de urn programa de contacto intergrupal. E~t~ de!-
desta pequena teoria, que se mantem, problema-
novos g.rupos etnicos, nomeadamente em Lisboa e arredores, na sequencia da descoloniza~iio dos territ6rios africanos. tern cuido, para alem do mais, esbate a dlstmcr ao
dado ongem a problemas semelhantes aos referidos nos estudos de Janet Schofield. tizando O,seu alcance e aplicacroes.
445
444
1970), quanto mais sinais estiverem presentes
teoricamente importante entre os proprios con- entrar noutros tipos de proximidade (exeIll . ta uma influencia suplementar que fomente
e~s .. de que deterrninado individuo pertence a um
ceitos de comportamento interpessoal e compor- passar a comer a mesma mesa na cantina). plo: rocesso de generalizafiio do contacto POSltIVO
grupo, maior sera a generaliza~ao do seu com-
tamento intergrupal» (1988, p. 13). Este estudo, tal como muitos outros (M o Pm alguns indivfduos as atitudes positivas em
• d"d portamento ao presumivel comportamento do
A questao reside em que, se 0 contacto coope- 1952; Reed, 1947; Saenger e Gilbert, 1950) Ynan,
CD
re1ayao ao grupo (a que 0 m lVI uo p~rten~e»)
proprio grupo, porque mais t(pico parece 0 in-
rante se estabelecer, os processos psicologicos trou que a redu~ao da hostilidade entre me' Illbos- (cook, 1978, p. 103). Para operacl~~ahzar
dividuo em rela~ao ao seu grupo. Wilder (1984)
· Illros ta especifica'i=ao a hipotese, Cook unhzou 0
envolvidos serao diferentes: 0 contacto com base de d01S grupos pode ser conseguida atrav'es do eS ,. drd estudou este fenomeno fazendo variar 0 grau de
na categorizafiio grupal acentua a identifica'i=ao contacto, para uma dada situa~ao (por exeIll I poio explicito dos pares, no propno qua 0 e
prototipicalidade de urn membro do «grupo
grupal, a evoca~ao estereotfpica, a distintividade - de trabalh0,
SI'tu a~ao ) mas nao se generaliza p 0, a ~terac~ao, com uma fun~ao de «amortecedor
. auto- dos outros» (tipico ou atipico), bern como 0 seu
grupal e, em condi~oes de estatuto igual ou supe- matlcamente a outras situa~oes. A expIica - ognitivo»: de cada vez que se manifestava uma
estilo de comportamento (simpatico e afavel
rior, 0 favoritismo em rela'i=ao ao seu grupo, en- para es t a ausenCla
A' de genera I'lZafiio dos e.f. ~ao
. ~titude ou urn comportamento de discrimina~lio
• ,. :feuOS ou antipatico e «cntico»), no quadro de uma
do contacto mteretnico pode, segundo AllPOrt racial a nivel interindividual, intervinha imedia-
quanta 0 contacto com base na categorizafiio interac~ao de natureza cooperativa. Os resul-
individual acentua as caractensticas individuais, (1954), estar na falta de apoio institucional ades- tafilente urn outro membro do mesmo grupo que
tados demonstraram que somente na con-
a identidade pessoal e a distintividade individual segrega~ao ness as outras situa~oes. Se existe
enunciava e defendia 0 valor igualitario a n(vel
di~ao «contacto agradavel-tipicalidade do mem-
nas rela~oes interpessoais (Sherif, 1966; Tajfel e leis. de nao discrimina'i=ao ao nivel profissional,sem ;ntergrupal. bro do outro grupo» e que as avalia~Oes se
Turner, 1979). eXlste ~m apertado controlo sindical sobre 0 seu Muito antes de Cook, porem, Deutsch e
tomam mais positivas, quer para 0 pr6prio par-
Collins (1951) tinham ja referido as atitudes
Assim, de acordo com os pressupostos da cumpnmento,
.
podemos verificar a diminuirao
T
de ceiro da interac~ao, quer para 0 grupo a que ele
hipotese do contacto, podemos esperar que os atntos e a redu~ao de atitudes preconceituosas roais positivas, geradas pela politica de integra-
yao racial no sector da habita~ao, por contraste pertence.
indivfduos de dois grupos em conflito, numa nesse dominio, mas ninguem e «obrigado» a
com a manuten~lio dos preconceitos inter-raciais
o problema da generaliza~ao parece, assim,
dada situa~ao favonivel a coopera~ao, se sentem almo~ar na cantina num lugar previamente fl- envolver urn conjunto de condi~oes que neutra-
a mesma mesa, face a face, para executarem xado, predominando enta~, neste sector da vida em zonas habitacionais segregadas. Mas 0 que e
lizem ou contrariem 0 modo oposto de proces-
uma tarefa e que, por is so mesmo, aumentem a quotidiana, a categoriza~ao grupal previa, com 0 mais interessante para 0 problema da generaliza-
samento de informa~ao: 0 da particularizafiio.
percep~ao de semelhan~a entre si e reduzam os
yao e que as donas de casa de bairros inte-
seu cortejo de estereotipos mutuos. Nas rela~oes entre grupos em confiito, quais
sentimentos de hostilidade anteriores: mas is so Vma segunda questao refere-se, nao a genera- grados nlio s6 tinham desenvolvido, ao longo do
as variaveis que facilitam a emergencia prefe-
nao quer necessariamente dizer que essa percep- liza~ao dos efeitos do contacto intersituafoes,
tempo, mais contactos interetnicos «intimos»
rencial de urn destes processos em rela~ao ao
~ao e esses sentimentos persistam e se fixem em mas intersujeitos: ate que ponto as atitudes posi- com alguem da sua zona como apresentavam ati-
outro quando se fomenta 0 contacto entre eles?
rela~ao ao seu grupo e ao outro quando se man- tivas decorrentes de uma experiencia de con- tudes mais favoraveis em rela~lio aos negros dali
As tres condi~Oes basicas da hipotese do contacto
tern 0 objecto do diferendo que os opoe. tacto entre membros de dois grupos se gene- e aos negros «em geral». Teriam tido urn forte
nao sao suficientes para responder a esta per-
ralizarao, de modo a inc1uir outros membros dos apoio social, nos seus pares, para passarem dos
gunta que, como vimos, nos remete para urn
grupos para alem dos presentes? julgamentos interindividuais aos intergrupais?
outro problema: 0 do nivel, interindividual ou
Os efeitos positivos do contacto sao restritos As demonstra~oes empfricas desta questlio Teriam «sofrido» uma pressao normativa da
intergrupal, em que 0 contacto e percebido pelos
e localizados it interac~ao (e.g., Amir, 1976) sao, ate ao presente, contra- maioria proxima (Asch, 1952)?, ou Festinger
resolve-nos este problema com a necessidade de actores que nele participam.
on sao generaliz3veis a ontras situa~oes? ditorias, predominando urn certo pessimismo a As contribui~oes recentes da psicologia
este respeito. Cook (1978), por exemplo, encon- «redu~ao de dissonancia cognitiva» (ver capitulo
cognitiva relevantes para este problema cen-
Harding e Hogrefe (1952) fizeram uma inves- trou ao longo dos seus trabalhos, seguindo a «Atitudes») que 0 «facto consumado» da inte-
tram-se, precisamente, no tipo de processa-
tiga~ao sobre esta questao numa empresa norte- hipotese do contacto, resultados consistentes de gra~ao, inevitavelmente, gera?
mento de informafiio que ocorre nos contactos
-americana, em que perguntaram aos empregados redu~ao de preconceitos interetnicos em mem-
Esta especu1a~ao serve apenas para nos mos-
intergrupais (e.g. Stephan, 1987). Ao nivel do
trar a diversidade de hipoteses que pode supor-
brancos dos armazens, que tinham sido coloca- bros dos grupos que integravam 0 seu programa processo de codifica~ao, os julgamentos sobre 0
dos lado a lado com empregados negros com de investiga~ao, em contraste com uma ausencia tar 0 processo da generaliza~ao. No dominio da
outro grupo podem ser afectados pela tendencia
identica situa~ao profissional, em que medida completa de mudan~a em rela~ao aos grupOS psicologia cognitiva estaria em causa, sobre-
a dar demasiada enfase, no quadro da forma~ao
tudo, 0 conceito de prototipicalidade dos mem-
desejavam continuar a trabalhar com colegas propriamente ditos. Daf a sua proposta de que «a de impressoes sobre urn grupo, a informa~ao
negros. A resposta foi positiva, mas tomou-se mudan~a de atitudes pode resultar do contacto
bros dos grupos em contacto. De facto, segundo
process ada sobre um indiv(duo desse grupo
negativa quando as perguntas se referiam a inter-racial cooperante desde que, a par dele, urn principio basico da psicologia (Ascbmore,
446 447

(Hamilton, Wilson e Nisbett, 1980). Este enviesa- liza apenas informa9ao para acentuar a s flIpos (Brislin et al., 1986; Triandis, 1975), cia de exigencias e de cedencias acerca daquilo
ellle que as opoe.
mento po de ser particularmente «perigoso» para Ihan9a entre brancos e negros, anulando - :nquanto a informa9ao que incide, sobretudo,
• & _ & & A. qUal_
os grupos minoritarios, uma vez que: a) esta gene- quer 1010rma9ao que la9 a relerenCla a ra9as. D nas semelhan9as parece ser mais eficaz quando
raliza9ao e, sobretudo, persistente em rela9ao a seu ponto de vista, esta perspectiva, «ceg 0 pode contribuir para desfazer mitos e falsas
comportamentos negativos (antinormativos ou . 'be a so1u9ao
cor», 1m - construhva . de problellla it diferen9as entre os grupos. De qualquer modo, 2.l. Fases da negociafiio de conflitos
nao expectaveis); b) os comportamentos nega- que beneficiaria do reconhecimento de d' !S,
he-
pensa-se que a questao da informar;iio sobre 0
tivos sao mais salientes do que os que confir- ren9as reais dos val ores ou das praticas dos d . outro grupo (mesmo contendo as semelhan9as e Grande parte da resolu9ao de conflitos entre
. OIS
mam as expectativas, e, c) os comportamentos grupos, sendo, por ISSO, duplamente irrea1ist diferen9as) d~ve ser relativizada, porque muita grupos, quer ocorra em rneio empresarial, edu-
negativos e salientes sao facilmente associados Por outro lado, como ja vimos, Wilder 098:) investiga9ao tern vindo a mostrar que 0 conflito cacional, da administra9ao publica ou das
a membros dos grupos minoritarios (Hamilton e mostrou como a avalia9ao do outro grupo s6 e a discrimina9ao entre grupos tern frequen- rela90es intemacionais, passa por urn processo
Gifford, 1976; Hamilton et aI., 1985). melhorava depois de urn contacto agradavel Com tem ente outras causas, de natureza cognitiva e negocial entre as partes, que se desenrola no
urn membro t(pico desse grupo, ou seja, com um emocional, sobre as quais 0 contacto nao tern tempo. Varios autores tentaram compreender e
membro em que estivessem bern salientes as qualquer influencia: a categoriza9ao social identificar os momentos e fases significativos
o contacto deve fomentar a percep~ao diferenr;as que opoem os grupos. (Brewer e Miller, 1984), a manuten9ao de uma desse processo, em term os do seu impacto para
de semelhan~as 00 a percep~ao Tanto as semelhan9as como as diferen9as identidade social positiva (Tajfel, 1978) e 0 con- o desfecho do conflito.
de diferen~as entre grupos? parecem, assim, ser importantes para compreen_ fJito real de interesses (Sherif, 1966). Douglas (1957, 1962) tomou como variavel
der os efeitos do contacto. A preocupa9ao reside central para a compreensao do processo negocial
Como vimos pelo pressuposto fundamental em que: a) parece muito faci} passar da cons- o posicionamento dos negociadores na dimensao
da teoria da atrac9ao interpessoal, que sustenta a tatar;iio da diferen9a, de uma maneira negativa 2. A negociat;ao dos conflitos que Tajfel (Tajfel, 1982) refere como continuum
hipotese do contacto, a percep9ao de semelhan- (Levine e Campbell, 1972; Peabody, 1970), para interpessoal-intergrupal. As fases da negocia9ao
9as e fulcral para gerar ou aumentar a atrac9ao a discrimina9ao do outro grupo, com base na Para alem do contacto social mente apoiado e seriam, assim, marcadas pela natureza das exigen-
entre as pessoas. Mas sera que 0 mesmo se passa mera diferen9a categorial (Tajfel et aI., 1971); da constru9ao de objectivos superordenados (que cias em presen9a, que obrigam os negociadores a
com os grupos, mesmo quando estes apresentam b) 0 sucesso do contacto parece passar pel a rece- ficaram descritos nos paragrafos anteriores), exis- colocarem-se, ora na area intergrupal, ora na area
valores, atitudes ou praticas inequivocamente ptividade da informa9ao que permite uma rea- tern outras formas de tentar resolver as situa90es interpessoal dessa dimensao. Poderiam, de acordo
diferentes? Sera possivel, desejavel e eficaz prendizagem da rela9ao, mas existem processos de conflito que se geram entre dois grupos: a com este criterio, identificar-se tres fases; na
reduzir a percep9ao da diferen9a a percep9ao da cognitivos que limitam esta recep9ao. Urn dos dominar;iio (imposi9ao unilateral da solu9ao), a primeira, designada como distributiva, os nego-
semelhan9a? processos mais bern identificados e 0 da catego- submissiio (cedencia de uma das partes as exi- ciadores estariam centrados no desempenho do
Esta pergunta esta associada a uma outra que rizar;iio social (Tajfel et aI., 1961), que acentua gencias da outra), a inacr;iio (uma ou ambas as seu papel de representantes de urn grupo (posicio-
tern acompanhado a hipotese do contacto ao em nos a tendencia para perceber como mais partes decidem nada fazer, na cren9a de que 0 namento intergrupal), de modo a tomar visivel a
longo do seu percurso: ada importancia da infor- semelhantes entre si os elementos de urna tempo trabalhara a seu favor), a mediar;iio por extensao do desacordo e a estabelecer claramente
mar;iio sobre 0 outro grupo, de modo a diminuir mesma categoria e como mais diferentes entre si lima terceira parte (alguem nao envolvido no os parametros negociais; na segunda, os negocia-
a ignorancia que origina 0 preconceito negativo os elementos de duas categorias nao sobre- conflito e aceite como urn modo de auxflio a clari- dores estariam ocupados com a explorar;iio e
(Myrdal, 1944; Williams, 1947; Stephan e ponfveis 5. A escolha da acentua9ao das dife- fica9ao da disputa e a abertura de canais de comu- reconhecimento dos diversos pontos negociais,
Stephan 1984; Allen, 1986). 0 conteudo desta ren9as ou das seme1han9as entre grupos pode, nica9ao entre as partes em conflito) e, final mente, para 0 que progressivamente adoptariam urn
informar;iio como forma priviJegiada de con- portanto, ter efeitos diferentes consoante va a negociar;iio, sobre a qual nos deteremos agora. posicionamento mais interpessoal. A terceira
tacto, de semelhanr;a ou dimensoes de diferenr;a «a favor» ou «contra» este enviesamento cog ni - Na negocia9ao, dois ou mais grupos com urn fase, destinada a precipitar a crise de tom ada de
entre os grupos e que esta em discussao. tivo; c) a informa9ao que incide, sobretudo, nas conflito de interesses (0 que e verdadeiramente posic;ao, seria caracterizada pela centra9ao em
No dominio dos conflitos interetnicos, por diferen9as entre os grupos, parece ser mais efi- irnportante e a percepr;iio de existencia de um aC90es de coopera9ao e de coordena9ao, de carac-
exemplo, Schofield (1988) critica precisamente caz quando se assume que sao essas mesrnas conjlito e nao a situa9ao «real» em que os grupos ter integrativo, visando assegurar a operacionali-
a poiftica de dessegrega9ao nas escolas que uti- diferen9as que estao na base do conflito entre os se afrontam) procuram encontrar uma plataforma za9ao dos acordos conseguidos, e exigiria assim
de acordo que evite a confronta9ao directa e, uma desloca9ao ainda maior para 0 posiciona-
5 Para aprofundamento, ver capftulo (<Identidade social e rela~oes intergrupais». eventual mente, violenta atraves de uma sequen- mento interpessoal.
449
448

o modelo proposto por Stephenson (1984) 2.3.0 processo negocial


A medida proposta por Douglas para verificar no pr6prio comportamento dos negociadores
marc ado 0 estudo, nao s6 da identifica~a~ tell}
(Figura 4) a partir destes estudos sugere que, de
a existencia destas fases e 0 grau de identificabi- Retomemos, agora, 0 pr6prio processo nego-
fases, como da descri~ao dos dimas negOClQl8 .~
cordo com as circunstancias, as exigencias de
lidade dos negociadores visto por observadores cial. A abordagem mais persistente, ate ao pre-
;osicionamento intergrupal (eixo horizontal) e
extemos. Isto e, quando se apresentam a esses Grande parte da investiga~ao empfrica . sente, para a compreensao deste processo incide
,. & . • neste interpessoal (eixo vertical) se fazem sentir com
observadores extractos gravados das sessoes de domlmo 101 onentada pel a hip6tese de sobre a distin~ao entre a negocia~ao distributiva
quanta maior e a saliencia da rela~ao interpque
diferentes intensidades, e independentemente uma
negocia~ao sem identifica~ao dos seus actores,
. , es- da outra, possibilitando nao dois mas quatro di- e a negocia~ao integrativa (Walton e Mckenzie,
ate que ponto e que as interven~oes dos negocia- soa1 malS provavel se toma que a op~ao I 1965; Susskind e Guiksdank, 1987; Raiffa,
"fl' peo mas negociais-tipo: 0 compromisso, que traduz a
dores permitem identifica-los como represen- con l UlO III uenCle os resultados da negocia -
· l' . ~ao. elevada presen~a dos dois tipos de exigencia; 0 1982). A orienta~ao distributiva esrn associada a
tantes do seu pr6prio grupo? Os estudos apre- O con1UIO, ou cump lCldade activa , c.( uma
conflito, em que se mantem elevadas exigencias cren~a das partes em conflito de que os ganhos da
sentados por Douglas confrrmam a sua hip6tese alian~a ou urn entendimento entre os negoCla- . outra parte corresponderao a perdas suas, ou seja,
intergrupais, sendo reduzidas as de nivel inter-
de que a identificabilidade dos negociadores e dores em que estes perseguem os mesmos fin de que se trata de urn jogo de soma nula. Pelo
pessoal ; 0 coniuio, em que prevalece a rela~ao
mais alta na primeira fase e mais baixa nas ulti- utilizando trocas de favores no quadro de uO:'a contrano, a orienta~ao integrativa esrn associada
«doce rela~ao» (Walton e Mckersie, 1965
inversa, dominando agora as exigencias de nivel
mas, em que, uma vez assegurada a «fidelidade»
interpessoal; e a apatia, em que ambos os niveis a cren~a de que ha uma forma de conceder bene-
ao grupo atraves da acentuada exibi~ao de uma p. 186), e representa 0 ponto extremo de um' ficios a outra parte sem que isso constitua uma
dimensao em que se inclui, com 0 mesmo senti~
identidade grupal s6lida, os negociadores podem de exigencia sao fracos.
As circunstancias em que decorre a negocia~ao perda para a sua, mas antes urn beneficio, ou seja,
entrar num clima mais interpessoal, sem qual- do, embora de forma menos extremada, a COope- que se trata de umjogo de soma positiva.
e os interesses em jogo, mas tambem a aten~ao a
quer sentimento de estarem a trair os interesses rar;iio. 0 que as caracteriza, segundo os seus Tomemos como exemplo 0 conflito entre duas
intensidade das exigencias de myel interpessoal
do grupo, e adoptar urn posicionamento mais autores, e 0 posicionamento interpessoal dos pessoas por causa de uma laranja que ambas pre-
e de myel intergrupal nos contextos concretos,
adequado as tarefas explorat6rias e integrativas negociadores do conflito e 0 impacto desse posi- tendem (Follett, 1940; Fisher e Ury, 1981): a solu-
seriam uma das chaves de compreensao dos di-
que estas fases exigem. cionamento sobre as decisoes que tomam. No ~ao ideal poderia parecer, a primeira vista, ser a
mas negociais e, sobretudo, das suas consequen-
o grau de identificabilidade dos negociadores outro extremo da polaridade estariam 0 conflito salom6nica: metade para cada uma. Corresponde
cias para 0 desfecho do pr6prio processo.
foi posteriormente utilizado como medida de e a agressiio, caracterizados pelo posiciona- a uma orienta~ao distributiva da negocia~ao,
orientar;iio grupal no decurso de sessoes nego- mento intergrupal de desconfian~a e hostilidade porque cada uma acha que a metade que a outra
ciais em empresas por outros autores (Morley e mutua dos grupos e dos pr6prios negociadores. FIGURA 4 obteve a perdeu ela, e vice-versa. Mas uma nego-
Stephenson, 1977; Stephenson e Kniveton, 1977; Esta perspectiva unidimensional dos climas cia~ao mais cuidada teria permitido as partes
Stephenson, 1981), que encontraram, como negociais nao parece, no entanto, ser suficiente Climas negociais definidos pelos eixos de exprimirem as suas necessidades, chegando, por
Douglas preconizava, numa primeira fase, urn para descrever 0 posicionamento dos negocia- posicionamento intergrupal e interpessoal exemplo, a concIusao de que uma delas s6 pre-
elevado myel de conflito, em que 0 comporta- dores. Num estudo sobre as negocia~oes que os (Stephenson, 1984) tendia a laranja para lhe beber 0 sumo, enquanto
mento dos negociadores era dominado pela aflf- grupos administrativos e da produ~ao estabele- Alto a outra s6 a desejava para Ihe raspar a casca para
ma~ao do seu estatuto de representantes grupais. ceram com 0 respectivo patronato, verificou-se fazer urn bolo. A orienta~ao integrativa seria
Nestas sessoes a identificabilidade dos negocia- (Batstone et aI., 1977) que, enquanto os primei- I - Exigencias interpessoais entao aquela que maximizaria os beneficios de
dores atingia 0 seu maximo, decrescendo depois, ros nao utilizavam claramente nem urn posicio- ambos os contendores: todo 0 sumo para urn e
Con\uio Compromisso
progressivamente, ate atingir 0 ponto inicial, em namento de tipo interpessoal nem urn posiciona- toda a casca para 0 outro. Na orienta~ao distribu-
que se caracterizava pelo elevado grau de inter- mento de tipo intergrupal, os segundos usavam tiva. os grupos «recIamam», tentam captar valor,
cambio ou indiferenciar;iio de papeis dos repre- tanto urn como outro, nas diversas fases do pro- Baixo -----4--------- Alto
enquanto na orienta~ao integrativa «criam» valor
sentantes dos grupos em conflito. cesso negocial: 0 posicionamento intergrupal, (Lax e Sebenius, 1986).
tendo subjacente uma ideologia de classes
II - Exigencias intergrupais Os estudos sobre negocia~ao mostram, desde
Apatia
sociais, assegurava a diferencia~ao em rela~ao ha muito, que os negociadores tendem, na maio-
2.2. Climas negociais ao grupo do patronato, enquanto 0 posiciona- Conflito ria das situa~oes, a perceber os conflitos como
mento interpessoal garantia a cria~ao e manu- urn processo de soma nula (Follet, 1940; Bazer-
Baixo
A importancia da dimensao intergrupal-inter- ten~ao de urn clima positivo para a resolu~ao do man, 1983; Pruitt e Rubin, 1986), 0 que tern como
pessoal, tanto no processo de negocia~ao como conflito.
450 • 451
consequencia a adopc;:ao de posicionamentos mais necessidade de desempenharem a p
rigidos, 0 desprezo ou desperdfcio de oportuni- , ar corn
papel formal, urn papel informal que fa 0
dades de alargar 0 «bolo», ou 0 abandono prema- '. 'vorece
processo mtegratlvo (alargamento do Ie 0 FIGURA 5
turo do processo negocial em curso. Recordemos I - . . qUe de
so uc;:oes e maxlmlzac;:ao de beneffcios e
como tam bern ja Sherif (Sherif et al., 1961) mos~ 'd COntra
partl as para os dois grupos em contlito). - Qualidade dos resultados da negocia~ao como fun~ao da pressao para 0 desempenho
trava, nas suas investigac;:oes em campos de
Mas em que condic;:oes e possivel aos de papeis dos negociadores, mediada pelo tipo de identidade grupal dominante
ferias de pre-adolescentes, que a percepc;:ao da . d d nego
cIa ores esempenharem este papel? - e pelo processo de negocia~ao a ele associado
situac;:ao como lima interdependencia negativa
A saliencia de uma identidade grupal comum . (Friedman e Gal, 1991)
(conflito de soma nul a) favorecia a coesao gru- . d nos neg
Cia ores depende da possihilidade de diminuir a _ o·
pal, a competic;:ao e a discriminac;:ao intergrupal. d esempen h 0 de papeis formais, que Ihes vem d~~~
Na negociac;:ao distributiva, a comunicac;:ao . . . os respec Papel dos Identidade grupal Processo de Resultados
llvoS constltumtes (Friedman e Gal, 1991, p. 9). •
entre as partes e a compreensao do ponto de vista negociadores negocia~ao

do outro nao sao percebidas como necessarias Existe, assim, segundo estes autores
- . ' uma
mrs como prejudiciais a estrategia de maximi~ re Iac;:ao causal (FIgura 5) inversa entre a &
zac;:ao dos beneffcios. Pelo contrano, na negocia- que se exerce sobre os negociadores para que
lorc;:a Estrutura formal forte --3> Saliencia da identidade do grupo --3> Distributivo --7 Piores
-' / .
c;:ao mt~gratlva, a focalizac;:ao incide nos interes- desempenhem. ~o~ectamente 0 seu papel formal
representado

ses ~m presenc;:a (e nao na posic;:ao dos grupos), e a grande sahencla da sua identidade enquanto Estrutura formal fraca --3> Saliencia da identidade do grupo ---3> Integrativo --3> Melhores
a onentac;:ao centra-se nos problemas (e nao nas membro do grupo de negociac;:ao. A qualidade dos negociadores
pessoas), a resoluc;:ao dos diferendos apoia-se dos resultados da negociac;:ao seria uma func;:ao
em regras fixadas por mutuo acordo (e nao no dos processos negociais utilizados, mas estes
. ..
poder) e 0 metodo utilizado favorece 0 apareci- constHumam, em grande medida, urn efeito da
mento de novas Meias, de novas propostas e do relac;:ao causal anterior. no entanto, e antes de mais, tomar decisoes con- superac;:ao dos modelos de matriz economIc a
maximo de informQ(;iio disponivel (Fisher e o estudo comparativo entre os processos juntas a partir de urn leque de decisoes alternati- (Nash, 1950; Raiffa, 1982) que descrevem como
Ury, 1981). de negociac;:ao uti11izados nas duas mesas da vas parciais (Pruitt, 1980; Bazerman e Carroll, e que as pessoas tomariam decisoes nas situa-
Friedman (1991) relacionou estes dois tipos editora New Bell (caixa Dois processos de nego- 1987). ~oes negociais se 0 seu comportamento fosse

de process os negociais com os papeis dos ciac;:ao) sugere, de acordo com 0 modelo pro- Adoptar para 0 estudo da negociac;:ao de con- puramente racional. Estes model os assumem 0
negociadores profissionais nos cOliflitos labo- posto pelos autores, que 0 processo negocial flitos a perspectiva de que se trata de urn processo pressuposto da total racionalidade das decisoes e
rais: por urn lado, os constituintes (a administra- p~d: desempenhar urn papel decisivo nas nego- de tamada de decisoes significa: a) que cada centram-se na analise de duas variaveis depen-
t;ao da .empresa e a direcc;:ao sindical) reforc;:an clac;:o~s e ser afectado pela medida em que os parte negodal e urn orgao de decisao; b) que os dentes: 0 grau de acordo conseguido e a sua
normatlvamente 0 papel formal dos negocia- negoctadores sao capazes de superar a estrutura comportamentos sao analisados enquanto esco- eficdcia. Segundo eles, 0 acordo so pode ser
dores enquanto seus representantes no contlito de papeis formais e criar, de forma temporaria, lhas decisionais apoiadas em julgamentos e obtido se existir para ambas as partes uma zona
contribuindo para a emergencia do processo dis~ uma identidade grupal nova, facilitadora da avaliac;:oes sobre a propria situac;:ao negocial; c) de acordo que seja preferivel a urn impasse. Se
tributiv~ ~a negociac;:ao, sustentado pela crenc;:a orientac;:ao integrativa. que cada uma das partes toma em considerac;:ao essa zona de acordo nao existir, a negociac;:ao nao
na 0poslc;:ao: «ou nos, ou eles»; por outro lado a informac;:ao disponivel sobre essa situac;:ao, conduzira a qualquer acordo. Ora, precisamente
as propdas equipas de negociac;:ao, de ambas a~ analisa 0 comportamento da outra parte, prediz urn grande numero de estudos empiricos efec-
partes, formam uma categoria e mesmo no sen- o que ini acontecer em seguida e avalia as suas tuados por psicologos sociais mostrou como,
2.4. A negociarii.o como processo
tido mais forte (Alderfer, 1988), urn g~PO com de decisii.o
potenciais consequencias; e d) que existem pa- apesar da existencia de uma zona de acordo, esse
caracteristicas de forte interdependencia intema droes cognitivos «criados» pela propria situac;:ao e acordo nao foi conseguido (e.g., Pruitt e Rubin,
e. externa, com exigencias de comunicac;:ao contextos negociais. 1986; Rubin e Brown, 1985). Quanto a eficacia
Dis~emos no infcio que, na negociac;:ao, duas Esta posi~ao, que tenta compatibilizar e arti- do acordo (definida como optima quando nao
dlrecta, face a face, e com identidades cruzadas
ou mats partes em conflito procuram encontrar cular os conhecimentos oriundos dos estudos existe para ambas as partes qualquer outra
(Deschamps e Doise, 1978; Merton, 1957). Esta
uma plataforma de acordo que evite a con- decisao conjunta alternativa para a questiio), os
dupla pertenc;:a dos negociadores reforc;:a a dos processos de decisiio e da cogniriio social,
frontac;:ao directa. Procurar urn acordo significa, constitui uma orientac;:ao actual de demarcac;:ao e modelos economicos postulam que os negocia-
r:-~~--_
Centro de lecuna
PrlorVelho
,
452 453

olio deveriam ultrapassar os 50. 0 efeito deste que a uma orientaerao indutiva, podem
e){ces so de confianera e visivel: inibe 0 acordo, mesmo produzir «profecias que se auto-
DOIS PROCESSOS DE NEGOCIA<;AO apes ar da potencial existencia de uma zona de -realizam». ou seja, as estrategias confirma-
acordo , ou remete a instancia de decisao para t6rias nao s6 enganam os negociadores
Do longo estudo apresentado por Friedman e Gal (1991) acerca dos processos de . negocia~lio distributivo e sobre a natureza dos problemas e das situ a-
integrativo, e da sua hipotetica rela~ao com 0 grau de formalidade do desempenho de papiis dos negociadoTes, uma terceira parte (0 cirbitro), com a expectativa
extrafmos as passagens que se seguem como exemplo desse mesmo desempenho. de que este venha a ser-lhe mais favoravel do er oes que enfrentam, como «mudam» a na-
«Normalmente encontrar-nos-famos a volta da mesa das negocia~5es. TrocarIamos propostas e que ao seu opositor. tureza da situaerao de modo a que ela se
discuti-Ias-famos. E0 que se costuma fazer. A empresa explicaria a sua proposta e 0 sindicato exporia a sua; e depois Ainda no quadro da negociaerao, Neale e Bazer- tome conforme as hip6teses iniciais (Darley
possivelmente no dia seguinte, voltavamos e dizlamos: "posso aceitar isto, mas nlio posso aceitar aquilo. Por es~ e Fazio, 1980; Jones, 1977). Os resultados
man (1985) verificaram que os negociadores
razres". Mas nunca chegamos a este ponto. Nio chegou a haver uma verdadeira troca. Foi "aqui esta a ideia, e isto
correctamente confiantes faziam mais con- dos enviesamentos confmnat6rios ao longo
que vamos fazer e, se nlio gostam da ideia, vlio para a greve" . Donna (a chefe da equipa de negociadores por Parte
da adminis~lio da empresa) e muito rigida, nilo cedeu em nada, nlio era capaz de ver 0 problema. S6 tinha urn ponto cess oes e, simultaneamente, conseguiam maior do tempo sao, precisamente, 0 excesso de
de mira. Eu compreendo que se esteja voltado para a empresa, compreendo que se receberam ordens, dos de cima, oum ero de acordos do que os negociadores confianera no seu pr6prio julgamento
mas quando ela esta a negociar com os empregados devia ser capaz de ver 0 problema, quer esteja ou nlio de acordo e){cessivamente confiantes. (Einhorn, 1980) e a dificuldade de aprender
com eles, devia haver urn encontro de perspectivas» (testemunho de Nancy Phil ton, da equipa de negoci~lio por atraves da experiencia, mediadas pela acti-
parte do Sindicato dos Trabalhadores dos Telefones, com os representantes da editora New Bell, Nebrasca, EUA). vaer ao de teorias implfcitas explicativas da
«Come~avamos todos os dias de manhli, entre as oito e meia e as nove horas. Fazfamos uma curta meia hora
situaerao e dos comportamentos (Bazerman
social com cafe e donuts. Quero dizer, era mesmo urn ambiente leve e nao hostil. Passavamos urn tempo agradavel. A escalada na negocia~ao
E, em geral, lamos alm~ar todos juntos duas vezes por semana, os do sindicato e n6s. Nas negocia~5es ela (a chefe e Carroll, 1987).
da equipa de negociadores por parte da administra~lio) adoptava uma posi~ao muito aberta, mesmo quando estava- 2. 0 julgamento do negociador sofre uma dis-
Varios autores verificaram a existencia dessa
mos a discutir as coisas, e is so tinha sentido, e ela compreendia e concordava. Fazia avan~ar as coisas. Dizia: "Bern, torer ao no sentido de justificar a posier ao
esta bern; vamos entlio avan~ar para outro ponto» (testemunho de Jim Lynch, director comercial da editora New Bell, distorerao da racionalidade que consiste num inicial, que ja defendeu face ao opositor.
Minnesota, EUA, membro da equipa de negocia~ao, por parte da admillistra~iio da empresa, com 0 Sindicato dos comportamento de persistencia dos negociado- Nesta distorerao, facilitadora da escalada,
Trabalhadores dos Telefones). res numa linha predeterminada, nao contingen- pode entrever-se 0 «erro fundamental da
cial com as circunstancias presentes no desenro- atribui~ao» (Ross, 1977), na medida em
lar da situaerao (Staw e Ross, 1987; Teger, 1980). que 0 negociador nao e capaz de perceber
dores maximizam a utilidade das resolueroes, do comportamento de decisao que adoptam a Este comportamento parece desempenhar priori- e de admitir ate que ponto a sua posier ao
sendo 0 seu resultado, neste sentido, sempre efi- perspectiva da cognierao social (Simon, 1947; tariamente uma funerao de autojustifica~ao cogni- esta condicionada pelo pr6prio contexto
caz (Nash, 1959; Cross, 1969; Farber, 1981). No March e Simon, 1958; Kahneman e Tversky, tiva (Staw, 1976): ambas as partes fazem uma
entanto, a evidencia empiric a da investigaerao em °
1979) tern vindo a mostrar cardcter relativo da escalada nas suas posieroes, de modo a justificar
negocial em que se encontra e prefere
psicologia nao vai nesse sentido, mostrando, racionalidade da decisiio, assim como as varia- atribui-Ia as caracteristicas disposicionais
a existencia do conflito e a evitar que admita os
muito pelo contrario, que os negociadores deci- veis que afectam 0 processo e, consequente- (suas e do opositor)6.
erros ja cometidos. 3. A escalada da negociaerao e, frequen-
dem frequentemente acordos pouco eficazes. mente, 0 seu grau de eficacia. Segundo Bazerman (1986), sao quatro as cau-
Kelley e Thibaut (1980) mostraram, por exem- temente, gerada para «salvar a face» do
sas da escalada na situaerao negocial:
plo, urn dos ingredientes dessa eficacia, ligado as negociador perante 0 grupo que represent a,
o excesso de confian~a dos negociadores isto e, para demonstrar ao grupo a sua
exigencias contradit6rias que se exercem sobre 1. Uma vez seleccionada uma linha de acer ao
os negociadores, de tal modo que 0 comporta- Uma das variaveis que pode comprometer 0 e marc ada uma posierao, da-se urn enviesa- capacidade para adoptar uma postura forte.
mento 6ptimo para obter cedencias do opositor sucesso dos negociadores em relaerao a urn acordo mento da perceperao no sentido de privile- A con sequencia desta «irracionalidade» e,
e, muito provavelmente, menos 6ptimo para criar e 0 que, descritivamente, se designa como 0 seu giar a informaerao que confirma a justeza por vezes, Ie siva dos interesses do pr6prio
ganhos para ambos, e 0 comportamento 6ptimo excesso de confianera na avaliaerao da probabili- dessa posierao. Os enviesamentos de natu- grupo, correspondendo a urn erro de ava-
para criar ganhos para ambos e menos 6ptimo dade do sucesso negocial (Bazerman e Neale, reza confirmatoria. correspondendo mais a liaerao das exigencias de nivel intergrupal
para obter cedencias do opositor (<<jogos de objec- 1982). Estes autores estudaram as estimativas de urn percurso de verificaerao de hip6teses do em presenera.
tivos mistos»). sucesso feitas por negociadores quando as
Veremos, em seguida, em que medida os decisoes sao tomadas por arbitragem, verificando 6 Para aprofundamento dos fen6menos da explica~iio da realidade, ver 0 capitulo «Atribui'rao: da inferencia
estudos sobre a negociaerao derivados da teoria que elas sao de 68 por cento quando, em rigor, aestrategia de comportamento».
t
454
455

4. A quarta causa apontada e 0 contexto com- o mito das vantagens da solu~ao tiva? Apenas quando as perdas come9am a ser -se a hip6tese de que os negociadores que per-
petitivo da negocia9ao, ilustrado pela distributiva na negocia~ao diD elevadas para ambas as partes que a situa9ao cebem os resultados num quadro de ganhos ou
experiencia do «leilao do d6lan> (Shubik, se toma insustentavel, gerando novos proble- lucros deveriam apresentar mais comportamen-
1971 ; Teger, 1980). Leiloa-se urn d6lar Correspondendo muito possivelmente a urn mas, como no caso do mercado imobiliario? tos de cedencia por forma a garantir, com segu-
pel a maior licita9ao, 0 que tern como con- norma cultural de long a implanta9ao, a hiP6tes: Tern sido estudada a hip6tese de que os pr6- ran~a (aversao ao risco), 0 acesso a esses ganhos.
sequencia natural que 0 maior licitante do «bolo
. _ fixo»,
_ do min ..ante nas estrategias de prios negociadores, com a experiencia, apren- Pelo contrano, os negociadores que percebem
ganha 0 respectivo d6lar; mas, de acordo negocla9 ao , nao constItUl, em grande Parte dos dem a passar mais rapidamente de uma para a os resultados num quadro de perdas ou custos
com as regras do leilao, 0 segundo maior casos, uma solu9ao «racional» para 0 conflito: Dutra 16gica, embora se verifique que, mesmo deveriam apresentar menos comportamentos de
licitante tambem paga 0 valor do seu lance nao maximiza os beneffcios conjuntos, nao recon_ nos negociadores experientes, 0 primeiro movi- cedencia e provoca-Ios mesmo no seu opositor
e nada recebe. 0 cesultado obtido e urn cilia os interesses das partes e acentua a proba_ mento tenha uma orienta9ao distributiva (Bazer- (procura de risco), arriscando mesmo urn impasse
pal:riio de escalada em que os sujeitos bilidade de reemergencia do conflito. man et al., 1985). Nao esta, porem, ainda sufi- de modo a tentar garantir a redu~ao dessas per-
acabam por licitar quantias muito elevadas, A ' xistencia desta hip6tese do «bolo fixo» cientemente estudado, aos vanos niveis, como das a custa do outro.
aparentemente por causa do puro contexto parece derivar de uma orienta9ao para a simpli- se processa ou 0 que causa esta mudan~a ou a Para verificar esta hip6tese, Bazerman e col.
competitivo, uma vez que a recompensa fica~ao da realidade complex a de modu a toma- resistencia, por '/ezes dramatic a, a ela, estando (1985) criaram uma situa9ao simulada de nego-
(urn d6lar) <} nao justifica (Rubin, 1980). -la mais operacional (Simon, 1957; Heider, 1958; mesmo em analise a hip6tese de que 0 factor cia9ao entre vendedores e compradores num
Newel1 e Simon. 1972; Tajfel, 1959). experiencia pode, contrariamente ao que se en- contexto de mercado livre. Numa condi~ao expe-
o motivo do (,Dolo fixo» foi utilhado (Bazer- controu no ec;tudo acima referido, contribuir rimental, os negociadores receberam a instru9ao
A saliencia da informa~ao na negocia~ao man, 1983) para testar a dinamica do mercado para a repetida adoP9ao de estrategias distributi- de tentarem m'lXimizar 0 lucro liquidu do neg6-
imobiliario nos EVA: quando, em 1979, as tax as vas, por causa da dificuldade de transferencia da cio (enquadramento positivo), ao passo que na
o facto de 0 negociador utilizar a informa9ao de juro ultrapassaram os doze por cento, 0 movi- aprendizagcln de umas situa~oes para as outras outra foi-lhes dada a instru~ao de tentarem mini-
mais saliente no contexto e nao a que, objectiva- mento de mercado parou. Enquanto os vende- (Neale e Northcraft, 1988). mizar os custos desse neg6cio, que teriam de ser
mente, e mais contingente com as drcunstancias, dores continuaram a espera de uma valoriza9iio deduzidos do lucro final (enquadramento nega-
constitui uma outra fonte de distor9ao cognitiva progress iva dos im6veis, os compradores deixa- tivo). Procuraram depois saber a quantidade de
que parece afectar as decisoes tomadas no de- ram de ter capacidade para satisfazer os val ores
o enquadramento da negocia~ao
acordos, bern como 0 volume de ganhos, con-
curso'~a negocia9ao. A informa9ao mais saliente mensais exigidos em rela9ao ao tipo de habita- De acordo com os modelos econ6micos clas- seguidos pelos diferentes grupos, uniformizando
tern mais impacto no processo de decisao, possi- ~ao a que aspiravam. Em termos de uma 16gica sicos da decisao, a solu9ao de urn problema nao a dura~ao das interac~oes: 0 numero de acordos
velmente por causa da sua maior acessibilidade distributiva, 0 pressuposto do «bolo fixo» fazia devera ser afectada pe10 enquadra!llento do pr6- foi, real mente, superior na condi~ao de enqua-
(Bruner, 1957; Tversky e Kahlleman, 1973). preyer que nao se efectuariam mais transac90es prio problema, uma vez que dominam as regras dramento positivo, 0 mesmo se passando com 0
Para testar esta hip6tese, Neale (1984) fez ate que os vendedores cedessem nos valores que da racionalidade. Mas, na sequencia da defini- nivel de lucros conseguidos.
variar experimentalmente a saliencia dos custos exigiam e que, pelo seu lado, os compradores 9iio do conceito de enquadramento por Kahne- Parece, assim, ter importancia - apesar de ser
percebidos de duas altemativas - a negocia9ao e a baixassem os seus niveis de aspira~ao e/ou as man e Tversky (1979), integrado na sua «teoria uma area de investigayao relativamente inexplo-
arbitragem -, mantendo constantes os outros taxas de juro fossem reduzidas. Foi 0 que acon- da previsao», foi possivel verificar que, numa rada - 0 processo de enquadramento global de
objectivos. Os resultados foram claros, tanto ao teceu durante urn certo perfodo. Verificado 0 im- situa9ao de decisao, os resultados sao avaliados uma situa~ao negocial por parte dos negocia-
nivel do processamento da informa9ao como ao passe, a solu~ao integrativa acabou por surgir, como ganhos ou perdas a partir de urn ponto de dores, enquanto individuos e enquanto represen-
das solu90es: quando se tomaram salientes os cus- atraves da cria9ao de uma ampla gama de pIanos referencia que integra 0 enquadramento do pro- tantes de grupos em conflito, levando-nos a pen-
tos associados a op~iio negocia~iio, os nego- de financiamento a habita~ao, criados pela indus- blema, podendo dar origem a comportamentos sar como e relevante a maneira como as diversas
ciadores diminufram 0 numero de cedencias e tria imobiliana, que compatibilizou os niveis de de aversiio ao risco face a situa90es em que se propostas e argumenta~oes vao sendo verbal-
aproximaram-se mais da solU9ao impasse. Pelo lucro pretendidos pelos vendedores com urn nivel configurem potenciais ganhos e, pelo contrario, mente formuladas: 0 copo esta meio cheio ou
contrano, quando se tomaram especificamente aceitavel de modalidades de pagamento para os de procura de risco face a situa~oes em que se meio vazio? A guerra esta meio perdida ou meio
salientes os custos associados a op~iio arbitra- compradores. configurem potenciais perdas. ganha?
gem, os negociadores fizeram mais cedencias, tor- Mas quando e que se pode preyer a passagem Que importancia tera este tipo de heurfstica E 0 que os psic610gos sociais procuram en-
nando menor a probabilidade da solU9ao impasse. da 16gica distributiva para a 16gica integra- nos comportamentos de negocia9ao? Podera por- tender neste capitulo, para 0 que adoptam como
456 • 457

matriz te6rica de referencia 0 modelo epistemo- comple~ificac;:ao dos modelos sobre a ge


CAPiTULO XIV
16gico de «cognic;:ao social». dos con fl· · · tal como se enconeSe
ItoS mtergrupaIs,
na teona . d a f:rustra~ao-agressao,
- - ntra
«revisitad
por Berkowitz (1962), e na teoria da Priva ~»
R('sumo · (R uncI·man, 1966).
re IatIva 'rao
Representac;oes sociais
o conflito e a cooperac;:ao entre grupos foram
abordados neste capitulo de fonna a sublinhar os
4. 0 reposicionamento te6rico da Problema_
tica das rela~oes intergrupais num n(vel de and_
e psicologia social
seguintes aspectos: lise mais posicional, a partir da aplical'ao
T
parte de Sherif (1961, 1966), do modelo dos
,
pOr
do conhecimento quotidiano
1. 0 significado do preconceito e 0 seu en- conjlitos realistas as situac;:oes de cooperal'ao
. T e
quadramento te6rico e empirico nas decadas de de competI~ao entre grupos.
40 e 50 (Allport, 1954).
5. A confronta~ao te6rica entre os modelos da
2. A articula~ao entre 0 preconceito e as res- Jorge Vola
oposi~ao de interesses (Sherif, 1966) e da atrac-
postas de discrimina~iio intergrupal no quadro de
cr ao interpessoal (Byrne, 1969) na proposta de
algumas pequenas teorias de nivel intra-indivi-
resolu~iio de conflitos e de obtencrao de respos- A ideia de que os individuos e os grupos pen- duos pensam e 0 peso desse contexto na cons-
dual: a hip6tese da personalidade autoritana
tas de coopera~iio entre grupos. sam, e de que as instituicroes e as sociedades sao tru~lio do pensamento (Billig et aI., 1988).
(Adorno et al., 1950) e a hip6tese do espirito
fechado (Rokeach, 1960). ambientes pensantes, representa uma fonna Lembremos 0 ambiente em que nasceu 0
6. Vma introducrao a negocia~iio, enquanto nova de olhar para a constitui~ao das institui- interesse novo da psicologia social pelas repre-
paradigma da coopera~ao entre grupos em busca ~6es sociais e para os comportamentos indivi- senta~Oes sociais. Na dec ada de 50, urn longo
3. A importancia da dimensiio cognitiva na
da resolucrao dos seus conflitos. duais e colectivos. Os individuos nlio se limitam debate em torno da psicanalise mobilizou, em
a receber e processar infonnacrlio, slio tambem Paris, intelectuais e estudantes universitanos.
construtores de significados e teorizam a reali- Este debate, nascido em tertUlias relativamente
dade social. A psicologia cognitiva, a psicologia fechadas, repercutiu-se na imprensa e penetrou
social cognitiva, ou coggicrlio social, e a psico- o tecido social. Em tres anos (1953-1956), 230
logia social das representa~oes sociais vern jomais e revistas nlio especializados publicaram
procurando responder a questoes como estas, cerca de 1600 artigos sobre a Psicanalise. Em
ainda que de fonna diferente. A cogni~ao social 1961, Moscovici publicava urn trabalho sobre a
estuda a fonna como as pes so as pensam e a apropria~lio da teoria psicanalftica por parte de
forma como as pessoas pensam que pensam diferentes grupos sociais.
(Fiske e Taylor, 1991), a partir da hip6tese geral Com base em estudos realizados atraves de
de que os julgamentos e 0 comportamento social questionano e da analise de conteudo da im-
nao podem ser entendidos se ignorarmos os prensa, Moscovici lan~ava uma problematic a
processos cognitivos basicos. A psicologia especifica: como e apropriada, transformada e
social das representa~oes sociais tern vindo a ser utilizada pelo homem comum uma teoria cientf-
construida a partir do questionamento das teo- fica; e uma problematic a mais geral: como se
rias que ignoram que os individuos pensam, ou constr6i urn mundo significante. E no quadro da
que ignoram 0 peso do pensamento dos indivi- analise destas questOes que aquele autor propoe
duos na constitui~ao da sociedade; e, simultanea- o conceito de representa~ao social.
mente, a partir do questionamento das teorias Logo no come~o, 0 projecto de Moscovici se
que ignoram 0 contexto social no qual os indivf- revelou, a urn tempo, geral e especifico. Espe-
458
459

cifico, no sentido em que visa a compreensao de mito~ e sistemas de cren~as das sociedades trad' . 1. 0 campo do conceito aos estfmulos e as respostas, para tomarmos dois
' . IClon '
urn fenomeno particular I dos nossos dias - a podem amda ser vIstas como avers; 0 contempor- <lIS; conceitos tradicionais em psicologia. Nos mo-
anea d de representa~ao social
difusao e apropria~ao do conhecimento cientf- senso comum (Moscovici, 1981, p. 181). 0
delos S-O-R pressupoe-se que as representacroes
fico, das suas teorias e conceitos, pelo homem Mas ainda nesta mesma acep~ao 0 con . constituem media~oes entre os estfmulos e as
, ceUo Come~amos por abordar os nfveis de analise
com urn. Estarfamos em presen~a de uma nova reveste elementos de particularizariio respostas. Esta posi~ao foi durante muitos anos
do conceito de represe;-}ta~ao, para depois
imagem do homem enquanto cientista amador ' na
me dI'd a em que assume que as represental'- largamente consensual, mas os avan~os da psi-
descrevermos a especificidade das represen-
(Moscovici, 1976). Urn prototipo desta imagem .. h' - yOes
coJogia cognitiva (Markus e Zajonc, 1985) con-
SOCIalS, 0je, sao apenas os equivalentes d ta~oes sociais.
sera Woody Allen, ao utilizar nos dialogos dos . d ' d
mltos ou os SIstemas e cren~as proprios dOs duziram ao pressuposto do primado das repre-
seus filmes toda a panopJia de conceitos psi- outras sociedades ou tempos historicos: e sentacroes, expresso nos modelos O-S-O-R. Ou
canalfticos. E urn prototipo da pesquisa sobre as seja, as representa~oes nao sao ja, ou nao sao
representa~oes sociais, nesta primeira perspec- As representa~6es sociais de que me ocupo nlio slio 1.1 . A representafiio como construfiio apenas, media~oes, sao factores constituintes do
das sociedades primitivas, nem 0 que delas resta no sUbso~
tiva, sera a obra de Moscovici acerca da repre-
da nossa cultura. Slio as da nossa sociedade actual d
de um objecto e expressiio estfmulo e model adores da resposta, na medida
senta~ao da psicanalise. de um sujeito
~osso solo politico, cientifico e humano, e que nem se~pr: em que «dominam todo 0 processo» (Markus e
Mas 0 projecto de Moscovici envolve urn tlveram 0 tempo suficiente para permitir a sedimenta~ao Zajonc, 1985, p. 138).
problema de ambito mais geral ou universal, no que as tomaria tmdi96es imutaveis (Moscovici, 1984 a Toda a psicologia de raiz nao estritamente Eesta posi~ao que Moscovici vern formulando
senti do em que propoe a analise dos processos p. 181). '
comportamentalista utiliza, de forma mais ou desde 1961 e que ilustrou de forma simples e
atraves dos quais os indivfduos, em interac~ao menos saliente, e muito embora com diferen- exemplar, como se ve na Figura 1. Enquanto no
Algumas representa~6es slio calmamente transmitidas
social, constroem teorias sobre os objectos de gera9lio em gem~lio; slio 0 que os antrop61ogos cham am cia~oes nao desprezfveis, 0 conceito de repre- modelo precedente a representa~ao assume 0
sociais, que tom am viavel a comunica~ao e a tradi~6es e slio companiveis a urn fen6meno endemico' senta~ao. Ainda- que correndo 0 risco de uma estatuto de uma variavel mediadora, ela recebe
organiza~ao dos comportamentos (Moscovici, outras representa~oes, tfpicas das culturas modemas' exagerada simplifica~ao, dir-se-a que as repre- agora 0 estatuto de variavel independente.
1969). Neste outro senti do, mais amplo, as repre- difundem-se rapidamente a toda uma popula~lio mas te~ senta~oes podem ser entendidas a partir de duas Recorramos a duas experiencias para ilustrar
senta~oes sociais alimentam-se nao so das teorias urn curto perfodo de vida; slio 0 que cham amos modas e
perspectivas. Numa primeira perspectiva, elas esta concep~ao da representa~ao.
slio comparaveis a epidemias (Sperber, 1989, p. 127).
cientfficas, mas tambem dos grandes eixos cul- serao «0 reflexo interno de uma realidade ex-
turais, das ideologias formalizadas, das experien- terna, reproducrao conforme no espfrito do que se
Estas referencias, de Moscovici e de Sperber,
cias e das comunica~oes quotidianas. Podera encontra fora do espfrito» (Moscovici, 1969, FIGURA 1
qualificam 0 tipo de representa~oes que sao
entao definir-se uma representa~ao social como p. 9). Estas reprodur;oes mentais do mundo e dos (Moscovici, 1984 a, p. 62)
estudadas pelo conceito de representa~ao social.
uma modalidade de conhecimento, social mente elabo- Exemplos prototfpicos da investiga~ao das outros que estiio af serao 0 produto de processos
mda e partilhada, com urn objectiv~ pnitico e contribuindo psicol6gicos e revestirao alguma incorreccrao, na
representa~oes sociais nesta segunda acep~ao
pam a constru~lio de uma realidade comum a urn conjunto medida em que estao sujeitas a enviesamentos
sao as pesquisas de Herzlich (1969) sobre a Concep~iio corrente
social (Jodelet, 1989 a, p. 36).
saude e a doen~a e as de J odelet (1989 b) sobre decorrentes do funcionamento do sistema cogni-
Nesta acep~ao, as representa~oes sociais a doen~a mental. tivo. Numa outra perspectiva, considera-se que k:" Estimulo
referem urn fenomeno comum a todas as socie- Este duplo alcance do conceito de represen- «nao ha corte entre 0 universo interior e 0 uni- Representa<;iio
dades - a produ~ao de sentido. As represen- ta~ao social, enquanto conceito particular e lIni- verso exterior do indivfduo, que 0 sujeito e 0 ~ Resposta
ta~oes sociais sao versal, tom a problematica a sua utiliza~ao cor- objecto nao sao essencialmente distintos»
rente. E na sua acep~ao universal, embora (Moscovici, 1969, p. 9). Nesta segunda acep~ao,
urn conjunto de conceitos, proposi~oes e explica~oes
a representacrao nao e entendida como repro- Concep~iio proposta
criado na vida quotidiana no decurso da comunica~lio envolvendo elementos de particulariZQ(;iio, que
interindividual. Slio 0 equivalente, na nossa sociedade, dos dele aqui se tratara. ducrao, mas como construr;iio. E este 0 estatuto
epistemologico e teorico que Moscovici atribui ~ Estfmulo

ao conceito de representa~ao e no quadro do qual Representa<;ao ~ t


I A distin~lio entre a acep~lio particular e universal do conceito de representa~lio social e proposta por Billig (1988). desenvolveu 0 conceito de representacrao social. ~ Resposta
Uma ve~ ~ue 0 conceito nlio e aqui abordado na sua acep~lio particular, remete-se 0 lei tor interessado pam urn texto de Enunciemos ainda outra questao. Qual 0
Moscovlcl e Hewstone (1984) sobre a transforma~lio das teorias cientificas em saber comum. lugar da representacrao, assim entendida, face
460
• 461

Farina, Fisher, Getter e Fisher (1978) realiza- do dilema do prisioneiro, sendo induzido s Entendida desta fonna, a representa~Qo e comunica-;ao, e a representa-;ao para a sua
ram uma serie de estudos sobre as implica~oes . . dOlS
sUJeltos " tIpos de representa~oes sobre 0 nos sempre a representa~Qo de qualquer eoisa. Ela funcionalidade e eficacia sociais. E no
comportamentais das concep~oes sobre a doen~a . Numa con d'l~ao
celfO. - '
expenmental, os SUie'Par- exprime a rela~ao de urn sujeito com urn ob- quadro desta perspectiva que no ponto
. . ~ ltos
seguinte desenvolveremos a especificidade
mental. Dois grupos distintos de estudantes eram pensavarn mteraglr com uma maquina pro jecto, rela~ao que envolve uma actividade de
· - gra- do conceito de representa-;ao social.
confrontados com duas concep~oes diferentes rnada, noutra condl~ao supunharn que 0 parceiro constru~ao e de simboliza~ao. Simultanea-
sobre a doen~a mental, qualquer delas, contudo, era urn estudante tal como eles. Com base e mente, esta concep~ao da representa~ao envolve
saliente na nossa cultura. Segundo uma dessas estudos anteriores, era possivel saber que a ide~ a ideia de urn sujeito autor e actor (Piaget,
teorias, a doen~a mental deve ser considerada de mdquina como parceiro sugeria incontr~~ 1926-1976) - a representa~Qo e a expressQo de 1.2 A representafiio
como orgaruca. A outra eoneep~ao da doen~a labilidade e impossibilidade de influenciar um sujeito. Dito de outra fonna, a representa~ao como representafiio social
mental apresentada associa-a a perturba~oes na direc~ao
.
das suas respostas, enquanto a ideia da
" e
nao e urn reflexo de urn objecto, mas urn pro-
aprendizagem. Os autores puderam verifiear que parcerro como urn outro sugena reclprocidade e duto do confronto da aetividade mental de urn Em que sentido se fala, pois, de uma represen-
os sujeitos a quem foi induzida a concep~ao possibilidade de uma interac~ao humanizada. sujeito e das rela~oes complexas que mantem ta-;ao social? E em que medida tal sentido oferece
orgaruea da doen~a mental inferiram, contraria- Assim, embora as respostas efectivas, do par- com 0 objecto (Abric, 1987). bases para a constru-;ao de urn conceito especi-
mente aos da eoneep~ao dinfunica, que os doen- ceiro-maquina ou do parceiro-outro, fossem as o estudo da actividade representativa tern fico, no quadro dos conceitos ja produzidos para
tes mentais poueo ou nada podiam fazer para mesmas, supunha-se que a primeira condi~ao side apreendida atraves de diferentes niveis de enunciar diferentes tipos de estruturas cogni-
ultrapassar a doen~a. Num outro estudo, os auto- experimental suscitaria estrategias mais defensi- analise e perspectivas: tivas?
res eoncluiram, atraves da analise dos diarios dos vas e menos cooperativas, enquanto na segunda - estudo dos mecanismos motivacionais e Se utilizarmos urn criterio quantitativo,
sujeitos, que aqueles que aprenderam a eon- as respostas cooperativas seriam as mais fre- sociais que orientam a dinfunica da activi- dir-se-a que uma representa-;ao e social na
ee~ao orgaruca manifestavam urn menor eon- quentes. Os resultados sao apresentados oa dade cognitiva e a dinfunica das rela~6es medida em que e partilbada por urn eonjunto de
trolo sobre os seus proprios problemas pessoais. Figura 2. entre estruturas cognitivas, perspectiva que individuos. Quer dizer, nao estao em causa
Estes resultados poem em evidencia como as orientou 0 New Look (Bruner, 1951); representa-;6es idiossincraticas, que tomam urn
representa~oes sao faetores produtores de reaH- - estudo das estruturas e processos cogni- individuo diferente e unico relativarnente a outros
dade, com repereussoes na fonna como inter- tivos em sentido restrito, e enquanto pro- individuos, como, por exemplo, as represen-
FIGURA 2
pretamos 0 que nos aconteee e aeontece a nossa cessos intra-individuais, ou seja, os que se ta-;oes de que Kelly (1955), em contexto clinico,
(Abric, 1987, p. 129)
volta, bern como sobre as respostas que eneon- reportarn as actividades de pereep~ao, se ocupou, mas representa-;oes partilhadas,
tramos para fazer face ao que julgamos ter acon- categoriza~ao, organiza-;ao da infonna-;ao, comuns a diferentes individuos. Este criterio e,
tecido. Uma vez constituida uma representa~ao, inferencia, recupera-;ao e julgamento (ver contudo, insuficiente para dar conta do conceito
50
os individuos procurarao eriar uma realidade /X~ Fiedler, 1996; Leyens e Dardenne, 1996); de representa-;ao social porque nada diz sobre 0
que valide as previsoes e expliea~6es decor- Percent8gem
40 Outro - estudo dos investimentos pulsionais e fan- seu modo de constru-;ao. Utilizando urn criterio
rentes dessa representa~ao (Moseovici e Hews- de
rcspostas
30 X_____..
X
tasmaticos presentes na actividade cogni- genetico, entende-se que uma representa-;ao e
tone, 1984). X~ tiva e simb6lica, perspectiva desenvolvida social no sentido em que e colectivamente pro-
o estudo anterior nao foi reaHzado no quadro
cooperativ8s 20
X Programa pelas correntes de orienta-;ao freudiana duzida: as representa-;oes sociais sao urn produto
do eoneeito de representa~ao social, mas os 10 (e.g., Kaes, 1976); . das interac-;6es e dos fenomenos de comunica-;ao
resultados apresentados sao claramente legiveis 1-10 11-20 21-30 - estudo da actividade representativa dos no interior de urn grupo social, reflectindo a situa-
a luz deste eoneeito. Vejamos agora uma outra Numero de cnsaios individuos enquanto reprodu tore s das -;ao desse grupo, os seus projectos, problemas e
experieneia em que uma representa~ao e espeei- ideologias dominantes e reflexo dos seus estrategias e as suas rela-;oes com outros grupos.
fieamente manipulada. posicionarnentos sociais (e.g., Bourdieu, Este segundo criterio p6e, assim, em evidencia os
Abric, Faucheux, Moseovici e PIon (1967) De acordo com a hip6tese fonnulada, nao e a 1980). fenomenos de constitui-;ao social das represen-
estudaram 0 efeito do comportarnento da repre- resposta efectiva do parceiro que orienta a - no caso do estudo das representa~oes ta-;oes, e entende-as como resultado da actividade
senta~ao sobre 0 parceiro numa situa~ao de jogo. estrategia dos sujeitos, mas a representa~ao que socia is, 0 nivel de analise que se salienta e cognitiva e simbOlica de urn grupo social.
A experiencia realizada foi pensada no quadro estes constroem do tipo de parceiro com quem aquele que reenvia 0 sujeito para as suas Finalmente, as representa-;oes sociais reves-
de uma interac~ao que tinha por base matrizes estao a interagir. pertel'l-;as sociais e para as actividades de tern uma funcionalidade especifica:
462 • 463

Contribuir para os processos formadores e para os


e) uma quinta acep~ao do termo social r c As representar;oes sociais po/emicas sao gera- 1.3 As representafoes SOClalS como
processos de orienta"ao das comunica"oes e dos comporta- -' e1ere
mentos (Moscovici, 1961, p. 307).
as representa~oes que visam assegurar a 0 d da s no decurso dos conflitos sociais, sao deter- problema social e objecto de inves-
.
social ; r e.•.....,
Resolver problemas, dar forma as rela"oes sociais. Jllinadas pelas rela90es antagonistas ou de tigafiio
oferecer urn instrumento de orienta"ao dos comportamen- 1) a ultima acep9ao do termo social, refe . diferencia9ao entre grupos sociais e refiectem
tos, sao razoes poderosas para edificar uma representa"ao por M _cGUlre,· I"Imlta a sua ap I'Ica9ao as re oda pontos de vista exc1usivos sobre urn mesmo De ha trinta anos a esta parte, 0 conceito de
social (Moscovici, 1961, p. 309).
pre-
senta~oes que remetem para algo que tr objecto (por exemplo, a representa9ao sobre as representa9ao social interessou urn vasto
. d' 'd ans_
cende os In IVI uos, como as estruturas d propinas no ensino superior). Estas distin90es mlmero de psico10gos sociais, sociologos e
Este terceiro criterio, 0 da fun ciona lidade. lingua, para algo que existe fora das «cabe a analiticas entre diferentes tipos de represen- antrop610gos . Tomando este conceito mais
contribui de forma decisiva para a diferencia~ao . d'IVI'd uos».
dos In ~as
ta~oes sociais real~am a transi9ao das represen- como urn estfmulo heurfstico do que como urn
das representa~oes sociais. Elas ofere cern o conceito de representa~ao social na ta~oes como uniformidades para a apreensao da espa~o conceptual bern de1imitado e inserido
programas para a comunica~ao e a ac~ao, relati- remete para 0 primeiro dos entendimentos SObro sua diversidade, e mostram como 0 contraste numa teoria com contomos bern definidos,
vamente aos objectos que constituem interro- o social, na medida em que nao se considera per~ entre diferentes tipos de rela~oes sociais e a sua tem-se procedido a interroga9ao das teorias do
ga~oes para urn grupo. Dito de outra forma, as tinente a distin9ao entre objectos sociais e nao repercussao no pensamento social sera mais per- hom em comum sobre problemas tao salientes
representa~oes sociais sao teorias sociais pni- sociais (Moscovici, 1970); esta c1aramente tinente do que 0 contraste entre 0 pensamento como a saude/doen~a (Herzlich, 1969), a doen~a
ticas. Ou, como refere Jodelet (1984), sao urn proximo dos entendimentos c) e d); e mantem individual e 0 pensamento colectivo. mental (De Rosa, 1987; Jodelet, 1989b; Belleli,
saber pnitico. Ou ainda, na expressao de Doise uma rela9ao ambfgua com os entendimentos A psicologia cognitiva e a psicologia social 1994), a violencia (Vala, 1981), a sida (Comby,
(1990), sao os organizadores das rela~oes sim- b), e) e 1). E no contexto desta polissemia do cognitiva estudam 0 processamento da infor- Devos e Deschamps, 1996; Basabe et al. . 1996),
bolicas entre actores sociais. conceito de social aplicado as representa90es ma~ao e os julgamentos ou a tomada de decisao a droga e a toxicodependencia (Echebarria et af. .
E no quadro definido por uma partilha colec- que importa apresentar a tipologia das represen- a partir do que se podera designar como 0 1992; Valentim, 1998), 0 grupo e a amizade
tiva, mas sobretudo por urn modo de produ~ao ta90es sociais proposta por Moscovici (1988b). «sistema operatorio»; a perspectiva das repre- (Flament,1982; Moliner, 1989), a inteligencia
socialmente regulado e por uma funcionalidade Moscovici distingue as representa90es sociais senta~oes sociais acentua a «coerencia social» (Mugny e Carugatti, 1985; Poeschl, 1998; Faria
comunicacional e comportamental, que as repre- hegerilonicas ou -colectivas, as representa90es dos julgamentos ou dos raciocfnios e a sua arti- e Fontaine, 1993; Snellman e Raty, 1995;
senta~oes sociais devem ser entendidas como sociais emancipadas e as representa90es sociais cula~ao com as opera90es cognitivas basicas Amaral, 1997), a morte (Oliveira e Amancio,
fenomeno e como conceito. polemicas. (Doise, 1993a). Ao analisar os resultados do 1998), 0 suicfdio (Ordaz e Va1a, 1997). Urn
McGuire (1986) inventariou na literatura psi- As representar;oes sociais hegemonicas sao estudo sobre a representa~ao social da psi- outro domfnio de pesquisa inc ide sobre as con-
cossociologica seis usos correntes do termo equivalentes do conceito de representa9ao canalise, Moscovici sugere que nas respostas cep~oes da ciencia no senso comum (Sa, Souto
social para caracterizar as representa~oes: colectiva proposto por Durkheim (1898). obtidas intervem dois sistemas cognitivos: e Moller, 1996; Roqueplo, 1974) enos cientistas
a) 0 social e usado para delimitar as repre- Designam formas de entendimento e significa- (Jesuino e Avila, 1995) ou ainda sobre teorias
senta~oes sobre pessoas ou institui~oes sociais, dos largamente partilhados por urn grupo forte- - vemos em actividade dois sistemas cognitivos, urn especfficas como a teoria psicanalitica (Mosco-
em contraste com as representa~oes sobre objec- que procede a associa"oes, incIusoes, discrimina"oes,
mente estruturado (uma na9ao, urn partido, uma vici, 1961) ou a teoria do desenvo1vimento de
tos nao sociais; dedu"oes, quer dizer, 0 sistema operat6rio, e outro que con-
igreja), e que estruturam 0 grupo. Estas repre- troIa, verifica, selecciona, com 0 apoio de regras, 16gicas Piaget (Bidarra, 1994). Tern tambem sido objec-
b) para referir representa~oes colectivas, no senta90es sao uniformes, indiscutfveis e coerci- ou nao; trata-se de uma especie de metassistema que retra- to de pesquisa problemas sociais como 0 traba-
sentido de Durkheim (1898), em oposi~ao a vas (por exemplo, a representa9ao do indivfduo balha a materia produzida pelo primeiro (Moscovici, 1976, lho (Duveen e Shields, 1985), 0 desemprego
representa~oes individuais; como uma entidade autonoma e livre). p. 254). (Marques, 1983), os sistemas tecno1ogicos
c) para referir representa~oes criadas pela As representar;oes sociais emancipadas reflec- (Grize et al.. 1988; Elejabarrieta, 1987), os sis-
interac9ao social, no sentido de Mead (1934) e tern a coopera9ao entre grupos, resultarn da troca temas econ6micos e as rela~oes econ6micas
Este metassistema sao as regula90es sociais
Blumer (1969), em contraste com as represen- de significados diferentes sobre urn mesmo que se actualizam em contextos especfficos e (Emler e Dickinson, 1985; Belleli et af.. 1983;
ta~oes que decorrem apenas da experiencia objecto. Sao modalidades de conhecimento sobre Verges, 1987), os conflitos sociais (DiGiacomo,
cuja interven9ao tern sido ilustrada experimen-
individual; urn objecto com alguma autonomia relativamente 1980; Litton e Potter, 1985) e 0 poder social
talmente, por exemplo, nos processos de
d) no sentido de delimitar 0 que e comunica- aos grupos sociais que estao na sua origem (par (Val a, 1990). Urn outro domfnio de pesquisa
atribui9ao (ver capitulo VII) ou nos processos de
vel na interac9ao pessoal, por oposi9ao a estrutu- exemplo, a representa9ao de doen9a mental, tal deve ainda ser salientado: 0 estudo de grupos ou
categoriza9ao e re1a~oes intergrupais (ver capf-
ras profundas que guiam as experiencias pessoais; como foi estudada por Jodelet, 1989 b). categorias sociais como a crian~a (Chombart de
tu10s XI, ~II e XII).
464
• 465

Lauwe, 1971), 0 genero (Aebisher, 1985; dominio das representa~oes sociais, mostram de representa~ao permite e, simultaneamente, duos se colocam e que sao expressao das respos-
Amfulcio, 1995, Duveen e Lloyd, 1993), os o conceito de representa~ao social reme qUe reIlleterem para conceitos de ambito sociol6gico tas que souberam encontrar, representa uma con-
& ' . . . te Par cep~ao nova sobre 0 homem, as rela~oes sociais
quadros (Bolstanski, 1982), os psic610gos e a lenomenos PSICOSSOCI<US complexos. A ri a au antropol6gico tao ou mais vastos do que 0
psicologia (Soczka,1988; Palmonari et al., destes fen6menos torna dificH a constru ~ueza proprio conceito de representa~ao social (ideo-
e a estrutura social. Comprovado 0 fen6meno,
.. ~ao de importa colocar novas questoes. Como se formam
1987), os enfermeiros (Milward, 1995), etc. urn concelto que, slmultaneamente, os del' . logia, cultura, habitus, sistema de valores, etc.),
Ao apresentar esta longa e incompleta lista de nao esbata a sua multidimensionalidade: lIIlite e as representa~oes sociais, que factores as susten-
relativamente aos quais 0 conceito de represen-
tam e estao na sua genese? Ao analisar a forma-
dominios 2, objectos ou problemas para a com- Se e facii danno-nos conta da realidade das ta~ao confere novas acuidades e suscita a pro-
preensao dos quais 0 conceito de representa~ao t - .. - .. represen ~ao das representa~oes sociais, Moscovici (1961)
a..oes
. SOCialS, nao e filcil defim-las conceptual mente lia- cura de novas pontes articuladoras do velho
social foi julgado util, visa-se mostrar como se
_
mUltas razoes para que assim seja. H<1 razoes hist6 ' .
explicita dois processos maiores: a objectiva~iio e
- ncas de bin6mio individuo-sociedade.
esta em presen~a de urn campo de investiga~ao que se deverao ocupar os historiadores. E ha r - ' No tocante as rela~oes entre este ultimo grupo a ancoragem '\ Estes processos sao processos
h' , . azoes nilo
Istoncas que sociocognitivos no sentido em que, como ja refe-
vivo e orientado para a interroga~ao das inter- . _ . finalmente •se .reduzem a uma s.asua6' de conceitos e 0 conceito de representa~ao social,
posl..ao «rrusta», na confluencIa de conceitos so . I' . rimos, sao processos cognitivos socialmente
roga~oes do nosso tempo. Mas urn segundo . I" ' CIO OglCOS uIll aspecto deve ser notado - as representa~oes
objectivo presidiu a selec~ao das obras refe-
e PSICO oglcos. E nesta confluencia que teremo d
sociais remetem sempre para urn objecto especi- regulados, e referem-se a regula~oes normativas
situar (Moscovici, 1976, p. 39). s enos
~das: mostrar a pluralidade metodol6gica, tema-
que verificam as opera~oes cognitivas (ver Doise,
fico, posicionado num conjunto de dimensOes
tIca e conceptual deste campo de pesquisa. Esta posi~ao de Moscovici, mais tard tendencialmente relacionadas, e para urn sujeito 1993a; Beauvois, Joule e Monteil, 1989).
Q~anto ao pluralismo metodol6gico, importa refor~ada
• .
pela ideia de que as definiroes
l'
opera-e social produtor da representa~ao; enquanto aque-
Embora os processos de objectiva~ao e anco-
refenr que 0 conceito de representa~ao social clOnrus do conceito de representa~ao social ragem estejam intrinsecamente ligados e nao
les conceitos, e especificamente 0 conceito de
nao se confunde com urn metodo ou uma tecnica podem bloquear a sua capacidade heunstica sejam sequenciais, vamos expo-los de forma
. . ideologia, se referem ao pensamento sobre dife-
de investiga~ao e, sobretudo, que se encontra a (MOSCOVICl, 1988b), nao tern constituido urn rentes objectos inter-relacionados sobre urn con- aut6noma.
margem do debate entre os «qualifrenicos» e os obst~c~lo ~ investiga~ao te6rica e empiric a neste junto de dimensoes tambem elas inter-rela-
«quantifrenicos». Entre os estudos referidos 0 dOffilnlO. E verdade que 0 lei tor se confrontara cionadas, fazendo muitas vezes abstrac~ao sobre
leitor encontra trabalhos construidos a partir'da hoje, nao com uma no~ao imprecisa, mas co~ 2.1. A objectivafiio
o tipo de sujeito social que esta na sua origem. As
observa~ao de tipo antropol6gico, estudos atra- uma multiplicidade de defini~oes polissemicas ideologias situam-se a urn Divel de abstrac~ao
A objectiva~ao diz respeito a forma como se
ves de entrevistas qualitativas e de analise de do conceito. Exactamente 0 que aconteceu mais elevado do que as representa~Oes sociais.
organizam os elementos constituintes da repre-
~onteudo, estudos com base na analise quantita- com os conceitos de cultura (e.g., Kroeber e Sao elas que permitem compreender «a coexisten-
senta~ao e ao percurso atraves do qual tais ele-
tIva de questionanos ou entrevistas e estudos Kluckhohn, 1952) e atitude (e.g., Campbell, cia e, mais profundamente, a correspondencia de
mentos adquirem materialidade e se tomam
experimentais ou quase-experimentais. Duas 1950), relativamente aos quais, desde muito vanas representa~Oes sobre diferentes objectos
expressoes de uma realidade pensada como
obras podem, no entanto, servir de orienta~ao cedo, foram recenseadas dezenas de defmi~oes. aparentemente nao relacionados nos mesmos indi-
natural. Vejamos como Moscovici analisou 0
metodol6gica, obras ligadas, alias, a duas pers- No dominio das representa~Oes sociais, 0 que viduos ou grupos» (Rouquette, 1996, p. 170).
processo de objectiva~ao no seu estudo sobre a
pec~:as diferentes na analise das representa~Oes tern ocorrido e a produ~ao de defini~oes con-
SOCI<US, como adiante se expora: a proposta ceptuais que recortam dimensoes e aspectos representas:ao social da psicanalise.
Este processo desenrola-se num percurso que
metodol6gica de Abric (1994) para 0 estudo especificos, tendo presente os prop6sitos tam- 2. Processos sociocognitivos envolve tres momentos: constru~iio selectiva,
experimental das representa~Oes sociais, nomea- bern especificos de cada investiga~ao. E de
e f'orma~ao das representa~oes esquematiza~iio, naturalizafiio .
damente da sua organiza~ao intema; e a proposta salientar, contudo, 0 facto de tais defini~oes
metodol6gica de Doise, Clemence e Lorenzi- inc1uirem, na maioria dos casos, conceitos de sociais
-Cioldi (1992) sobre a analise de dados no es- medio aJcance (por exemplo, atribui~ao, cren~a, a) Construfao selectiva
tudo das representa~oes sociais. atitude, esquema, opiniao, etc.) de ambito psi- A verifica~ao de que 0 meio envolvente e tam-
Num primeiro momento, as informa~oes,
Do ponto de vista conceptual, os trabaIhos col6gico ou psicossociol6gico, cuja articula~ao bern urn meio te6rico, onde circulam teorias e
cren~as e ideias acerca do objecto da represen-
referidos acima, como ilustra~oes da pesquisa no o campo de problemas enunciado pelo conceito doutrinas sobre as grandes questoes que os indivi-

3 Uma aprofundada exposi .. lio do processo de ancoragem e apresentada num texto te6rico de Moscovici de 1984a
2 Para uma bibliografia muito com p let a so bre as representa.. oes
(1994). -' " veJa-se 10delet (I 989a). Ver ainda Wagner
SOCialS, (pp. 28-45). Particulannente interessante e a articula.. llo entre os dois processos, objectiva..llo e ancoragem, proposta por
aqueie autor (1988a, cap. VIII) num comentario aos estudos de Simmel sobre 0 dinheiro.
466
• 467

tar;ao sofrem urn processo de selecr;ao e descon- que sao muitas vezes de natureza explicar c) Naturalizar iio
textualizar;ao. 0 que esta em causa e a formar;ao • A • IVa FIGURA 3
lornecem 0 porque e olerecem uma conclus- '
de urn todo relativamente coerente, implicando A nova mensagem nao e, assim, apenas Obi ao. E esta nova etapa que confere novidade a Esquema figurativo
que apenas uma parte da informar;ao disponivel . l'fi
de sImp -
1 Icar;ao, mas
de uma nova estrutu
Jecto teoriza~ao de Moscovici relativamente a Allport
da representa~ao social da psicamilise
acerca do objecto seja util. No caso do estudo de capaz de explicar e avaliar. Se a redur;ao era e postman e a outras reflexoes sobre os proces- (Moscovici, 1961, p. 313)
Moscovici sobre a representar;ao da psicanalise, acentuar;ao sao processos de selecr;ao, resta sos perceptivos disponiveis no infcio dos anos
urn dos elementos-base desta teoria e esquecido: saber quais os criterios que os regem. Nest: 60. 0 que agora se acentua e 0 facto de os con-
a libido. De facto, na epoca em que foi reali- caso, Allport e Postman falam do processo de ceitos retidos no esquema figurativo e as respec- I"'~rnre ~
zado 0 estudo, a evocar;ao deste elemento forte assimila~iio que, como se vera adiante, e de tivas relar;oes se constitufrem como categorias
da teoria psicanalftica entrava em contradir;ao alguma forma equivalente ao processo de anco_ naturais e adquirirem materialidade. Nao so 0 Rccalcamento ) Complcxo
com as normas sociais dominantes, 0 que quer
dizer que 0 processo de selecr;ao e reorganiza-
r;ao dos elementos relativos a urn objecto nao e
neutro ou aleatorio mas tern subjacente normas
ragem de que fala Moscovici.

b) Esquematizariio
abstracto se torna concreto atraves da sua
expressao em imagens e metaforas, como 0 que
era percepr;ao se torna realidade, tornando
eotnre/
equivalentes a realidade e os conceitos. 0 senso
e valores. Neste sentido, as representar;oes Em Allport e Postman a acentuar;ao e um comum e aqui descrito como antinominalista: a
podem ser consideradas como uma expressao do principio organizador da informar;ao. Da mesma cada palavra corresponde urn objecto e cada
que Piaget (1951) enunciou como pensamento forma, para Moscovici, a segunda etapa da imagem tern a sua contrapartida na realidade
sociocentrico - elas exprimem e servem inte- objectivar;ao corresponde a organizar;ao dos ele- (Ibanez, 1988). No caso da psicanalise, por 2.2. 0 estudo do processo
resses e valores grupais. mentos, a sua esquematiza~iio estruturante. exemplo, 0 inconsciente ja nao e uma ideia mas de objectivafiio
Em nos so entender, esta primeira etapa do Esquema ou no figurativo sao os conceitos a que uma entidade inquestionavel. Socorramo-nos de
processo de objectivar;ao remete-nos para os recorre este autor para evocar 0 facto de as outro exemplo. Lembre-se a velha metafora A descri~ao que acabamos de fazer do
estudos de Allport e Postman (1945-1965) sobre nor;oes basicas, que constituem uma represen- organica sobre as rela~6es sociais: partilhar tal processo de objectivar;ao apresenta a particula-
os rumores, estudos paradigmatic os do ambiente tar;ao, se encontrarem organizadas por forma a metafora pennite tornar naturais a ordem social, ridade de supor urn ponto de partida (a teoria
teorico em que Moscovici iniciou os primeiros constituirem urn padrao de relar;oes estruturadas. as divisoes funcionais e hierarquicas. No quadro psicanalitica) e urn ponto de chegada (a nova
trabalhos sobre as representar;oes sociais. Por exemplo, no caso da representar;ao da psi- dessa metafora, e tao aberrante pedir ao esto- teoria psicanalitica no senso comum). Esta
Tal como na analise da representar;ao da psi- canaIise sao retidas quatro nor;oes-chave: cons- mago que realize as fun~oes do cerebro, como situar;ao nao ocorre, no entanto, na grande maio-
canalise, primeiro estudo neste domfnio, tam- ciente, inconsciente, recalcamento e complexo. imaginar urn operano investido das funr;oes de ria dos estudos sobre representar;oes sociais.
bern no caso dos rumores se dispoe de urn ponto As relar;oes entre 0 inconsciente e 0 consciente patrao. Nao e so aberrante, e antinatural. Quando urn investigador estuda a representar;ao
de partida com 0 qual e possivel confrontar 0 sao vistas como conflituais, e e no quadro desse Note-se ainda como a defesa dos valores social da doenya, por exemplo, pode confrontar
ponto de chegada, 0 que, alias, nao sucede na conflito que ganham sentido 0 recalcamento e os sociais passa pela sua naturaliza~ao enquanto essa representayao com os saberes medicos; mas
maioria das representar;oes. Ora, no estudo complexos, e toma forma uma «nova» teoria categorias descritivas da natureza humana: para os estes saberes, para alem de diversificados e con-
sobre os rumores, Allport e Postman constatam psicanalitica. Importa ainda acentuar que as partidarios da livre iniciativa economica, esta e urn traditorios, nao constituem necessariamente 0
como os elementos de uma mensa gem sao relar;oes entre conceitos, enunciadas peia esque- atributo da natureza humana; para os partidarios ponto de partida das representa~6es sobre a
objecto de redu~iio, por forma a torna-Ia mais matizar;ao estruturante, revestem uma dimensao da igualdade, esta e tambem urn atributo da doenya. 0 investigador confronta-se, entao, com
breve e aparentemente mais precisa, ou seja, imagetica ou figurativa. A cada elemento de sen- natureza humana. Da mesma forma, as categorias a tarefa de reconstruir a estrutura de uma repre-
mais comunicavel e util. Contudo, esta redur;ao tido corresponde uma imagem, 0 que permite a sociais, como a categoria de genero, rar;a, c1asse, sentar;ao dispondo apenas do ponto de chegada.
e acompanhada de uma acentua~iio: se certos materializa~ao de urn conceito ou de uma etnia, nacionalidade ou outras, sao vistas como Analisar 0 processo de objectivayao consiste,
elementos sao esquecidos, outros sao desen- palavra. A figurar;ao dos esquemas ou a sua c1assificar;6es naturais, que tern subjacentes essen- assim, em identificar os elementos que dao sen-
volvidos, majorados e tornados nuc1eares na dimensao iconica e uma das hipoteses mais inte- cias (Rothbart e Taylor, 1992). No senso comum, tido a urn objecto, a sua selec~ao de urn con-
nova mensagem. Se atendermos a natureza dos ressantes desta abordagem do processo de objec- como em muitos dos discursos em ciencias junto mais vasto de conceitos, as rela~oes entre
elementos que sao objecto de acentuar;ao, e tal tivar;ao, e permite compreender a nova etapa sociais, estas categorias encontram-se reificadas e, esses conceitos (reconstru~ao de urn esquema),
como observam Allport e Postman, verifica-se deste processo: a naturaliza~ao. por isso, sao operativas e resistentes a mudan~a. a sua figura~ao e as modalidades que assume a
468 •
469

pel a teoria das representarroes socials na sua Em nosso entender, a personifica~ao pode
REPRESENTA(:OES SOCIAlS DA MORTE dimensao particularista, que definimos no inicio assumir duas modalidades, consonantes com
do capitulo), a atribuil;ao de materialidade a uma duas hip6teses sobre 0 processo de categoriza-
Com 0 objectiv~ de apreender as dimensoes que estruturam as associ""oes de ideias-pensamento ideia, ou a sua naturalizarrao, pode processar-se rrao social: a tradurrao de uma ideia em exem-
senti t' - be . ""T s, emo~oes
- men os e Imagens-slm . I.os rela~vam~nte it morte, numa popula~ao universitaria, constitufda por 131 es - atraves da personificarrao, da figurarrao e da plares e a tradurrao de uma ideia num prototipo.
dant~ de enfermagem, medi~l~a e bJOlogla, d~ ambos os sex~s, foi realizado um estudo explorat6rio. Co tu- ontologizarrao. A personificarrao refere a associa- Vejamos qual 0 significado de exemplar e de
teemca de recolha de dados utihzou-se a «assoclayao livre de palavras» para 0 estfmulo Monefi _ mo
. Ii b I . lIZ me pensar no \=ao de uma teoria sobre urn objecto a urn indivi- prototipo na analise do processo de categori-
segumt~s s moos e Imagens ... Sobre as palavras recolhidas efectuou-se uma APC"', cujos resultados se S
tam ab81XO: represen_ duo designado por urn nome (Freud designa a zarrao (ver Capitulo XI).
psicamilise, Einstein a relatividade, Darwin a A perspectiva exemplarista, ou por «instan-
evolurrao). A figurarrao refere 0 processo atraves cias», sobre a categorizarrao, supoe que a infor-
APC das palavras associadas ao estfmulo
do qual as imagens e metaforas substituem con- marrao e apreendida tal como se apresenta e que
foice ceitos complexos. A ontologizarrao corresponde uma categoria corresponde a urn conjunto de
«a atribuir as ideias ou as palavras coisas, quali- exemplares. Assim, os atributos de uma dada
deus esqueleto
dades ou forrras; ontologizar 0 que nao passa categoria hao-de variar em funrrao dos exem-
escuridao caveira de uma entidade logica ou mesmo verbal» plares registados nessa categoria (ver Fiske e
inferno
preto
(Moscovici e Hewstone, 1984, p. 555). Taylor, 1991). Por exemplo, quando se sabe que
diabo -----------------~L-------- Mas a teoria das representarroes SOCIalS a pessoa x se tentou suicidar, ela e com parada
ceu terra cemiterio prop6e que 0 processo de objectivarrao nao mentalmente a outros suicidas (personagens y,
campa
fogo ocorre apenas na passagem das teorias cientffi- z) registados em memoria. Os atributos mais
caixao
cas para 0 senso comum. A objectivarrao consti- salientes do suicida variam, deste modo, em
cruz
tui uma caracteristica de todo 0 pensamento funrrao dos atributos das personagens evocadas.
igreja social (Berger e Luckmann, 196611973; Lakoff Refira-se, contudo, que esta forma de entender 0
e Johnson, 1980). Embora com base num ainda processo de categorizarrao so e 6tH se pensarmos
flores
pequeno mlmero de pesquisas, sistematizamos a que os exemplares de uma categoria nao corres-
seguir algumas propostas para 0 estudo da per- pondem a informa~ao bruta, nao tratada, mas
sonificarrao e da figurarrao. sao, desde 0 inicio, registados, ou nao, em
fun~ao de teorias sociais.
o pr~eiro eixo factorial evidencia a oposi~iio entre imagens concretas (que traduzem processos de objecti-
va~lio), assocladas a palavras como cruz, preto e caveira. e imagens abstractas (ancoradas em cren~as) sugeridas a) A personijicafiio
Assim entendida, esta perspectiva sobre a
pel~ p~avras .du,. deus,. inferno, diabo e/ogo, 0 que revela, em grande parte, a forte influencia ideoI6gico-religiosa, categorizarrao permite compreender a personifi-
de msplra~iio JUd81co-cnsta. que se observa na nossa tradi~ao sociOCUltural, quer ao nfvel dos rituais associados Ii Lembremos que a personificarrao consiste em ca~ao de uma ideia, crenrra ou teoria em perso-
morte, quer de ~utros rit~s relacionados com 0 sagrado ou a escatologia crista. 0 segundo factor opoe palavras como materializar num nome ou num rosto uma ideia. nagens que a simbolizam, tal como Moscovici
esqueleto, cavezra, ou/ole.e, as palavrasjlores, cruz e igreja, 0 que pode ser interpretado como uma oposi~ao entre
Por exemplo, no campo politico, as ideias e as propos. Por exemplo, num estudo sobre a repre-
o pro~ano, ~ nao-sa~~o, meal, pseudo-real, ou 0 mal e 0 sagrado 0 real ou 0 bem. 0 que, natural mente. se reflecte
nas dlmensoes de slgrufica~ao que estruturam as representa~oes da morte. ideologias estao claramente associadas a nomes sentarrao do suici'dio na imprensa, Ordaz (1995)
e a rostos e e mais facil entender as ideias que estudou 0 processo de objectivarrao do suici'dio
Texto extra(do de «Perten~as sociais e formas de percep~ao e representayao da morte» (Amilncio e Oliveira,
1998). pros segue urn partido personalizando-o. Quando atraves dos rostos que the dao significado: cada
evocamos a sida, ocorrem-nos exemplos de pes- exemplar, personagem ou grupo de persona-
soas que foram contaminadas, mas podem ocor- gens evoca determinadas dimensoes da repre-
sua naturalizarrao. Estudar as relarroes entre os Vejamos agora, especificamente, algumas rer-nos, igualmente, grupos sociais, comporta- sentarrao do suici'dio, das suas causas e efeitos
elementos de uma representarrao e ja estudar a sua vias de analise do processo de naturaIizarrao. mentos, modos de vida que concretizam a sociais (ver Caixa na pagina seguinte). Tambem
objectivarrao, como mostram os autores da teoria Moscovici e Hewstone (1984) propuseram doenrra, que permitem visualizar 0 indivfduo num estudo experimental sobre a representarrao
do mlcleo central das representarroes sociais, que, no caso da apropriarrao das teorias cientffi-
que adiante apresentamos (Abric, 1994). com sida, dar sentido e explicar este fenomeno da infidelidade conjugal, Elejabarrieta, Valencia
cas pelo senso comum (urn problema estudado social. e Wagner (1993) mostraram como a personifi-
470 • 471

ca~ao da infidelidade, nomeadamente quando se se evoca nao e 0 indivfduo x ou Z, mas uma per-
OS ROSTOS DO SUlciDIO trata da infidelidade feminina, e representada e sonagem igualmente «real» que reune as carac-
justificada de forma mais complex a, ao passo teristicas mais tfpicas de urn suicida. Ora, assim
, , ,Nu~ es~u~o s~bre 0 processo de objectivar;:ao do suicfdio na imprensa, considerou-se como exemplares
SUICldio as mdlvlduahdades que se s~icidaram, ou que fizeram tentativas de suicfdio. Nos artigos analisados ide d,o que a nao personifica~ao da infidelidade suscita como e de supor que os dois tipos de processos
ficararn-se 14. personagens, referencladas em 25 artigos, que foram agrupados em tres categorias: figuras 'Ublintl- uma representa~ao sobretudo avaliativa. Este de constru~ao de categorias que referimos (por
(M~weIJ e Dla~a Spencer), artistas (Marilyn Monroe, Romy Schneider, Miroslava, EIis Regina, Soares do:R . ~as estudo distingue-se do trabalho de Ordaz (1995) instancias ou exemplares, e por prot6tipos) sao
escntores (Carmlo, Florbela Espanca, Mano Sa Carneiro, Hemingway, Jack London, Sylvia Plath e Cesare pels e sobre a personaliza~ao do suicidio, na me did a pertinentes (Leyens e Fiske, 1994), assim tam-
Para c,onhecer a representar;:ao do suicfdio que estes tipos de exemplares objectivam roi realizada uma ~~~).
Factonal de Correspondencias, ' Ise em que esta autora apenas considerou a personi- bern parece adequado pensar a objectiva~ao
fica~ao atraves de personagens publicas, lar- atraves da personifica~ao no quadro das duas
gamente conhecidas. No estudo precedente, as abordagens enunciadas.
personagens evocadas sao pessoas comuns Mas nao sera 0 processo de categoriza~ao
1,5
designadas por urn nome. Os dois estudos ofere- social, ele pr6prio, urn processo de objectiva~ao
escritor deprinldo
cern, pois, duas formas complementares de olhar e naturaliza~ao? Rotbarth e Taylor (1992) pro-
•• para a personifica~ao, como forma de objecti-
va~ao, no quadro da abordagem exemplarista do
poem que 0 senso comum distingue entre catego-
rias vistas como naturais (por exemplo, as aves),
apaixonado

famoso
• processo de categoriza~ao .
Podemos referir, agora, uma segunda forma
categorias artificiais (urn carro ou outros artefac-
tos) e categorias relativas a humanos (homens e
• 0,5
de entender 0 processo de categoriza~ao - a cate- mulheres, por exemplo). As categorias naturais
goriza~ao prototipica. Nesta segunda perspec- seriam essencializadas pel0 senso comum, e
n
tiva, entende-se que os saberes sociais sobre urn constituiriam urn modelo para pensar as catego-
-2 -1,5·. -1
~ objecto podem ser representados como organiza- rias sociais. Sendo assim, as categorias sociais,
-0,5 0,5 desesp'1 1,5
fasclnante ~oes de conhecimento sob a forma de prototipos no senso comum, corresponderiam tambem a
• • •
instavel (Cantor e Michel, 1979; Rosch, 1978). Urn pro- essencias, a dados da natureza, e revestiriam urn
lindo • suicidario -0,5 totipo corresponde ao conjunto de caracteristicas potencial indutivo elevado como as categorias
artista
que definem os membros de uma categoria. Este naturais. Isto e, assim como nao se erra quando se

-1

desiludido ideal tipo, ou caso puro, encontra-se nao so diz que urn pombo tern sangue quente como
objectivado em palavras e simbolos abstractos todas as aves, assim tambem se pensa que nao se

pressioiado mas tambem em representa~oes pictoricas erra quando se diz que urn arrumador de carros e
fig.publica (Brewer, 1988). Esta outra perspectiva sobre a urn drogado. Da mesma forma ainda, quando
-1,5
categoriza~ao tambem permite compreender a descrevemos 0 suicida-tipo como urn homem,
personifica~ao de uma representa~ao social. urn individuo socialmente desintegrado ou urn
A personifica~ao manifestar-se-ia, aqui, pel a depressivo, essas caracteristicas nao sao vistas
Atributos e tra~os das categorias de exemplares _ 1.0 e 2. 0 eixos da AFC
constru~ao de urn prototipo que da corpo, que como 0 resultado de uma percep~ao contingente,
o ~ri~eiro eix~ desta AFC opoe os artistas, quaIificados pelos atributos jamoso, jasciname e lindo, as materializa uma ideia abstracta. Por exemplo, no mas como atributos que definem a essencia do
figuras pubhcas, quahficadas pelos atributos desesperado e pressionado 0 segundo elX ' 0 opoe- fi estudo sobre 0 suicidio acima referido, a autora suicida e do suicidio, como verdades de facto.
'bJi (d 'I d' . . agora as 19uras
pu. ,c.as eSI U ,Ido e presslOllado) aos escritores (deprimido e apaixonado), Estamos, assim, perante tres tipos de procedeu a reconstru~ao dos prot6tipos de sui- Quer a personifica~ao se realize atraves da
sUlcldlo caractenza~os por diniimicas diferentes: a depressao e a paixao como expressOes de uma dinamica interna cida atraves da analise descritiva das suas carac- evoca~ao de exemplares, quer atraves da evo-
perturb~da; a pressao externa que faz do suicida urna vftima; e 0 sucesso que, como sugerem outros resultados e a ca~ao de prot6tipos, 0 que esta em causa e que
expressao de alguem que se excede e e vftima desse excesso. ' teristicas sociograficas mais tipicas (sexo, idade,
meio social, etc.) e atraves da analise dos tra~os «atraves de pessoas concretas nos damos conta de
Texto e/aborado por Olga Ordaz. a partir do sell estudo sobre a representar;iio social do slliddio na im- e atributos psicologicos que melhor caracteri- fen6menos que nao sao tangfveis pela experien-
pre/lSa (Ordaz, 1995).
zam 0 suicida-tipo. Assim, nesta perspectiva, cia», ou que «a personifica~ao permite projectar a
quando ~e pensa no suicidio, a personagem que experiencia e a significa~ao atribuida a uma pes-
• 473
472

soa sobre a ideia ou fenomeno que procuramos humanas ou de outros seres), num tota} d
entender» (Wagner e Elejabarrieta, 1994, p. 834). duzentas e quarenta metaforas diferentes. Exe e METAFORAS E OBJECTIVA«;AO
'&
plos de algumas d essas metaloras sao apres m- .' . alvo 0 campo-fonte. e a rela~ao definida
en- Uma metMora. tal como entendida aqui. mclut ~:s elem:~~~n~c~a:~~~cret~. Este campo esUi mnis pr6ximo da
b) A metajorizarao tadas na Caixa da p. 474.
entre 0 alvo e a fonte. 0 campo-fonte e urn conteu 0 men ue se retende entender. 0 campo-fonte fomece a
experiencia pessoal e e mnis compreensrve~ do que ~ C~~uq urn f:n6meno menos compreensfveis, se tomam
Wagner, Elejabarrieta e Lahnsteiner (1995) pro- imagem mental atra:es da qual urn conce1to, uma eona,. afastado da experlencia, e mais abstracto, menos ic6-
pOem que a difusao de uma nova ideia num grupo 2.3. A ancoragem inteligfveis ~u «explicados». 0 campo-alvo est6 semJ:: :~sassociados atraves de urn mapa que defme urna corre-
estaria dependente da sua figura~ao em imagens e nico e, por 1SS0, menos compreensfvel. A. fonte e 0 e cess6rio que sejam percebidas semelhan~as relevantes e
metaforas que transmitam 0 essencial do seu con- Com 0 conceito de ancoragem pretende la~iio estrutural entre os dois, e, pam que 1SS0 aconte~a, n~ o-alvo abstracto tomam-se inteligfveis a luz da
teudo de fonna aceitavel para 0 quadro de valores Moscovici referir uma segunda categoria de estrUturais dos dois campos. A rel~iio entre os elementos 0 ~~::::te. Nes~e sentido: uma meUifora e uma ilustra~iio
experiencia associada as rela~Oes ~ntr~ os eleme.~~os do camp "n. U «proiecta» a estrutura e 0 significado da fonte
do grupo. Nem todo 0 pensamento se exprime processos associados a fonna~ao das represen_ . . d fi ental nao-1c6ruca. A meuuora «transpo.....,> 0 J • •

atraves de metaforas e a simbologia de uma repre- ta~oes sociais: a) os process os atraves dos quais
1c6ruca e urna gura m. . ,. metMoras (Lakoff 1987) pode ser aplicada ao processo de obJectiva~o.
pam 0 alvo ( ... ). A teona Imgu1stica das ., ' 0 de transformar 0 nao-familiar em familiar.
senta~ao nao e apenas metaforica, mas as meta- o nao-familiar se torna familiar, e b) os proces_ Em prirneiro lugar, uma meUifora,. co~o a obJectiva~iio, es:om :1:o;:Oa das representa~Oes sociais, est6 muito pr6-
foras sao urn elemento central na produ~ao de sos atraves dos quais uma representa~ao, uma Em segundo lugar. 0 pensamento 1c6ruco. tal como p~o~ P 0 ue se disse sobre as metMoras pode ser aplicado
conhecimento. Como sustentam Lakoff e 10hnson vez constituida, se torna urn organizador das ximo do pensamento metaf6rico. 0 nosso argumento 0 e que q todas os exemplos de metaforiza~o sao exem-
(1980), as metaforas nao sao meras figuras de es- rela~oes sociais. Numa analogia cronologica, ~:~:::~:::~~~eaq:~j::~:~!~'aCo~~:~~a~~s:~:n~~ec:~:n se processa atraves da metaforiza~iio.
tilo ou retorica, mas expressoes do proprio pro- dir-se-a que a ancoragem precede a objecti-
cesso de pensamento, pennitindo transferencias va~ao, por urn lado, e que, por outro, se situa
percebido como objectiv~ e real
de sentido e a naturaliza~ao do que era uma na sequencia da objectiva~ao.
abstrac~ao conceptual. (ver Caixa na p. seguinte) Enquanto processo que precede a objecti- «e»
[L________________ Campo-fonte projec~ao do
Poucas pesquisas no dominio da analise das va~ao, a ancoragem refere-se ao facto de qual-
realismo percebido
representa~oes sociais analisaram a metaforiza- quer constru~ao ou tratamento de infonna~ao
~ao. Constituem excep~oes a este panorama, urn exigir pontos de referencia: quando urn sujeito projec~ao
estudo quase-experimental de Wagner et al. pensa urn objecto, 0 seu universo mental nao e,
\
da estrUtura
(1995) sobre a metaforiza~ao da concep~ao, e por defini~ao, tabua rasa. Pelo contrano, e por
urn estudo de Ordaz (1995) sobre 0 suicidio na referencia a experiencias e esquemas de pensa- «e»
imprensa portuguesa.
Os primeiros estudaram a conce~ao, mos-
mentos ja estabelecidos que urn objecto novo
pode ser pensado.
_ - - - - - - - - - - - - - - - Campo-alvo
I :ama-se»
trando como 0 papel geralmente atribuido ao
homem numa rela~ao sexual e transposto para as
propriedades do esperrnatozoide, enquanto que
No caso da representa~ao da psicanalise,
Moscovici verificou que esta se constitui por
referencia a tipologias de categorias sociais e de
conceptual, artificial e abstracto
L percebido como objectivo e real

o papel e 0 comportamento da mulher e asso- acontecimentos. Se a imagem da psicanci1ise


ciado as propriedades do ovulo. ancora na categoria os ricos, a representa~ao que ,J d How the sperm dominates the ovum» (Wagner, Elejabarrieta, Lahnsteiner, 1995).
Texto extra/ao e «
De entre as diversas categorias de metaforas a partir daf se desenvolve e diferente daquela que
propostas por Lakoff e 10nhson (1980), Ordaz ocorre quando essa ancoragem se regista sobre a
(1995) seleccionou dois tipos de metaforas no categoria os intelectuais ou os americanos. Numa segunda acep~ao, e enquanto processo
interesses e sentimentoS». E se estes auto res evi-
sentido de estudar 0 processo de objectiva~ao do Retomemos a ancilise que Allport e postman que segue a objectiva~ao, 0 conceito de ar:co-
denciam, nomeadamente. 0 papel da motiva~ao e
suicidio: as metaforas estruturais (que organi- (1945-1965) fizeram dos rumores. Para designar ragem refere a fun~ao social das representa~oes.
dos conteudos ja adquiridos no processo de
zam 0 conceito de suicidio em fun~ao de outros fen6menos semelhantes aqueles que 0 conceito de a sua eficacia social:
assimila~ao, nao deixam de referir tambem ~
conceitos mais concretos), e as ontologicas (em ancoragem evoca, estes autores falam do processo Se a objectiva~lio explica como os elementos represen-
papel de mecanismos mais estritamente cogm-
que os objectos, substancias e 0 pr6prio fen6- de assimilariio, processo que resulta da atrac~ao tados de uma teoria se integram enquanto termos da
tivos como 0 principio gestaltista da boa forma.
menD do suicidio adquirem caracteristicas exercida sobre uma mensagem pelos «Mbitos,
474
• 475

bora~ao do velho tomando-o novo. Desta forma, 2.4. 0 estudo da ancoragem


AS METAFORAS DO SUICIDIO reencontramos 0 modelo genetico de Piaget
(1976): num primeiro momento, verificam-se Como se referiu, numa primeira acep~ao, 0
Para analisar as metMoras associadas ao suiddio na imprensa, procedeu-se a sua inventaria\=lio, seguida da SUa reac~oes de assimila~ao tendentes a incorporar 0 processo de ancoragem refere-se a assimila~ao
classifica~lio em metaforas estruturais e ontol6gicas, as unicas retidas na analise. Apresentamos dois dos conjuntos novO objecto numa representa~ao ja existente; de urn objecto novo por objectos ja presentes no
temtlticos organizados a partir de metaforas estruturais. sistema cognitivo. Este objectos sao as ancoras
num segundo momento, verificam-se reac~oes de
o primeiro grande conjunto tematico representa 0 suicfdio como a resultado de uma desistencia da vida e acomoda~ao nas representa~oes estabelecidas. que vao permitir construir a representa~ao do
apela para tres ideias fundamentais: a ~, a separa~iio, e a remlncia. A ~ remete para os conceitos
Os fenomenos descritos atraves do conceito novo objecto. Entao, estudar 0 processo de
metaf6ricos de fuga (ex.: «Jugir aJalta de projectos»). saito (ex.: «saltar fora da vida») e sarda (ex.: «sail'deste hor-
rend(ssimo mUlldo»), onde 0 suicfdio surge como forma de resolver problemas, como expressiio do desejo de acabar de ancoragem sao proximos dos que alimentam ancoragem significa inventariar as ancoras que
com uma situa~iio insuportavel para a pessoa. A separ~iio e uma tematica presente nos conceitos metaf6ricos de o conceito de categoriza~ao. Lembre-se que as sustentam uma representa~ao e, por isso, mode-
partida (ex.: «derradeil'o camilllto») e despedida (ex.: «incrfvel adeus a vida»), quase sempre associados Ii ideia do teorias sobre 0 processo de categoriza~ao 4, entre lam os seus conteudos semanticos. A selec~ao
inesperado, e onde 0 suicida e alguem que se des pede para sempre, que parte para nlio mais voltar. A renuncia remete destas ancoras, porem, nao e neutra. Importa,
as quais a teoria de Rosch (1978), partem de urn
para a imagem do exflio (ex.:«abdical' da hip6tese de IIIIl Juturo risonho»), como urn rei que abdica do trono entao, entender quais os mecanismos a que obe-
sugerindo a op~iio por urn caminho mais curto para a morte, 0 atalho (ex.: «abrevial' 0 illevitavelfim»). ' pressuposto comum - a gestao do fluxo de infor-
ma~oes que atravessa 0 nosso quotidiano faz-se dece essa selec~ao. Com vista a esse entendi-
o suicfdio e ainda representado atraves de uma dimensiio interactiva muito forte. Esta interac~iio traduz-se
num conjunto de conceitos metaf6ricos, que ora se opoem, ora se refor~am, salientando uma forma de rela&:iio com atraves da mobiliza~ao de uma estrutura seman- mento, apresentamos duas perspectivas sobre a
o mundo. Assim, por urn lado, 0 suicfdio sera urn apelo ao contacto (ex.: «um grito do fimdo do po~o»); sera urn tica organizada em categorias. Conhecer e, analise do processo de ancoragem.
modo de expressar a revolta (ex.: «queixul1Ie que chega a rebeliiio final») ou, antes, uma forma de vingan~a entao, classificar e dar urn nome - rotulos e urn A primeira perspectiva foi proposta por Doise
(ex.: «infligir lima pellaliza~iio a sociedade») atraves de uma exibi~iio publica, de uma morte representada em cena (1992). Segundo este autor, podemos considerar
por urn actor que procura incomodar os espectadores - especuiclIlo (ex.: «demonstl'a~iio publica da existencia»).
conjunto de classes e 0 que oferece urn sistema
de categorias. Ora, como faz notar Moscovici tres grandes tipos de ancoragens das represen-
Texto elaborado a partir de Ordaz e Vala, 1997.
(1984a), urn sistema de classifica~ao nao e urn ta~oes sociais: ancoragens psicol6gicas, socio-
produto do acaso, e 0 produto de uma teoria. As logic as e psicossociologicas. Dito de outra
representa~oes sociais serao, assim, 0 quadro no forma, esta perspectiva propoe que se estude as
realidade. a ancoragem permite compreender a forma modalidade da ancoragem) (Elejabarrieta, interior do qual adquirem sentido os sistemas de 16gicas individuais, sociologic as e psicossocio-
como eles contribuem para exprimir e constituir as rela~oes 1996). 16gicas que regulam 0 processo de ancoragem.
categoriza~ao. Classificar uma pessoa como
sociais (Moscovici, 1961, p. 318). As ancoragens psicologicas referem-se as
Em qualquer dos dois sentidos, a ancoragem neur6tica, pobre ou liberal nao e constatar urn
De facto, as representa~oes sociais oferecern parece funcionar como estabilizador do meio, facto, e atribuir uma posi~ao num sistema de modela~oes de uma representa~ao que decorrem
uma rede de significados que permitem a anco- como redutor de novas aprendizagens e de com- categorias que decorre de representa~oes sobre a do nivel de analise individual ou interindividual.
ragem da ac~ao e a atribui~ao de sentido a acon- portamentos inovadores. 0 processo e, contudo, doen~a mental, a natureza humana ou a natureza De certa forma, este tipo de ancoragens remete
tecimentos, comportamentos, pessoas, grupos, mais complexo. A ancoragem leva a produ~ao das rela~oes sociais. Por outro lado, a partir de para uma perspectiva diferencialista ou para
factos sociais. Uma representa~ao social e urn de transforma~oes nas representa~oes ja consti- Tajfel (1972), e comum distinguir os aspectos processos intra-individuais basicos. Por exem-
codigo de interpreta~ao no qual ancora 0 nao tufdas. Tomemos urn exemplo. Ao estudar a indutivos da categoriza~ao (processos relativos a plo, no estudo de Mugny e Carugati (1985)
familiar, 0 desconhecido, 0 imprevisto. Nesta representa~ao da psicanalise, Moscovici pOde constru~ao das categorias e a inclusao de urn sobre a representa~ao da inteligencia, ou no
segunda modalidade, a ancoragem refere-se a verificar como, para alguns dos inquiridos, se objecto numa categoria) e os seus aspectos dedu- estudo de Molinari (1991) sobre 0 desenvolvi-
instrumentaliza~ao social do objecto represen- registava uma associa~ao entre a psicanalise e a tivos ou as consequencias da categoriza~ao: os mento infantil, urn dos organizadores invocados
tado. Quando se diz que a sida e a peste do seculo confissao. A confissao, enquanto representa~ao aspectos indutivos reportam-se ao primeiro sen- para explicar as diferen~as entre maes que tra-
xx, esta-se a usar uma metafora que evoca algo ja constituida, pOde assim servir de ancoragem tido da ancoragem; os aspectos dedutivos, ao balham e maes que nao trabalham, na saliencia
de conhecido, para descrever urn novo fenomeno a elabora~ao de uma nova representa~ao. segundo sentido deste mesmo processo. que conferem as diferentes dimensoes das repre-
ainda desconhecido (primeira modalidade da Contudo, a propria representa~ao da confissao
ancoragem); mas, ao mesmo tempo, esta-se a sofrera mudan~as decorrentes da nova represen-
propor, relativamente a sida, comportamentos e ta~ao cuja forma~ao permitiu. E neste sentido
formas de tratamento semelhantes aos que que 0 processo de ancoragem e, a urn tempo, um 4 0 papel das representa~oes sociais no processo de configura~iio da categoriza~iio social foi discutido por varios
foram utilizados em tempo de peste (segunda processo de redu~ao do novo ao velho e reel a- autores (e.g .• Moscovici, 1981; Leyens, 1985; Semin, 1989).
476 • 477

senta~oes estudadas, e a protec~ao de uma iden- sociais e as divisoes posicionais e categOriai libido) e a construir uma visao dessa mesma da ancoragem das representa~oes veiculadas
tidade pessoal positiva, ou de auto-estima posi- ~e urn dado campo social» (Doise, 1992, p. 191)s teoria compativel com 0 cristianismo (com- pelos meios de comunica¥ao social? Terao os
tiva, no quadro do sistema de normas domi- E neste nivel de analise da ancoragem que deve~ preensao mais integrada do homem, simbo- sistemas de comunica~ao referidos pertinencia
nantes sobre 0 papel da mulher. Uma outra mos incluir a rela~ao entre as identidades sociais lismo, valores espirituais). para a compreensao da comunica~ao interpes-
forma de estudar a ancoragem, neste nivel de e as representa~oes sociais, problema que ana- A difusao nao se dirige a urn publico, mas a soal, intragrupal e intergrupal associada a
analise, consiste em examinar como diferen~as lisamos adiante (ponto 6). uma pluralidade de pUblicos. As mensagens sobre constru~ao das representa~oes sociais? Come-
individuais, no que se refere a valores ou princi- Uma segunda perspectiva na analise das urn objecto organizam-se de forma indiferenciada, cemos por lembrar a tipologia das represen-
pios ideol6gicos, se repercutem na estrutura~ao ancoragens das representa~oes sociais consiste na medida em que ignoram as diferencia~oes ta~oes sociais que enunciamos atras: represen-
ou na saliencia de determinadas representa~oes. em estudar os efeitos dos contextos de comuoi_ sociais. A difusao visa exactamente 0 nivel de ta¥Oes hegem6nicas, emancipadas e polemicas.
Por exemplo, num estudo sobre as causas da ca~ao, em que uma representa~ao sobre um indiferencia~ao onde os membros dos divers os A nossa hip6tese e a de que e possivel estabele-
pobreza, realizado em Inglaterra, Furnham objecto e produzida ou activada, sobre os grupos sociais se tornam intermutaveis. A Elle ou cer alguma rela~ao entre esta tipologia e as
(1982) verificou que os individuos que parti- s}gnificados nucleares atribuidos a esse objecto. o France-Soir falam da psicanalise de forma modalidades de comunica¥ao que alimentam os
lham uma ideologia de direita dao mais impor- E esta perspectiva que passamos a descrever. aherta, difundindo pontos de vista contradit6rios diferentes tipos de representa~oes, desde que se
tlincia a causas de natureza individual (p.ex., No estudo sobre a representa~ao social da sobre esta teoria, e mostrando que se trata de urn considere que estas tipologias sao formas de
falta de esfor~o) do que aqueles que partilham psicanalise, Moscovici analisou as rela~oes objecto sobre 0 qual as opinioes podem divergir. categoriza~ao difusas, imprecisas e que nao
principios ideol6gicos ditos de esquerda. entre os sistemas de comunica~ao social e as A comunica~ao no sistema de propaganda devem ser objectivadas sob pena de perderem 0
o estudo da ancoragem, numa perspectiva representa~oes sociais. Sera que 0 discurso oferece uma visao do mundo claramente clivada seu caracter heuristico.
sociol6gica, analisa a rela~ao entre as perten~as sobre a psicanalise podera assumir a mesma e conflitual. Contribui para a afirma~ao da identi- No quadro da hip6tese que formulamos, as
sociais e os conteudos de uma representa~ao, a forma numa revista como a Elle, num jomal dade de urn grupo, ao mesmo tempo que constr6i representa~oes sociais hegem6nicas alimentar-
partir da hip6tese de que as experiencias comuns cristao como 0 La Croix e num jornal comurusta uma imagem negativa do outro, dos seus valores -se-iam da comunica~ao de tipo propaga~ao.
aos membros de urn mesmo grupo, decorrentes como 0 L'Humanite? E evidente que nao. Mas, e cren~as. Os objectos sao representados no Esta modalidade de comunica¥ao caracteriza-se
de uma mesma inser~ao no campo das rela~oes entao, como sistematizar as diferen~as encon- quadro da acentua~ao das diferencia~oes sociais, por vigiar a manuten~ao das representa~oes ja
sociais, suscitam representa~oes semelhantes. tradas entre os discursos destes tres' jornais? e por forma a servirem as c1ivagens entre «eles e existentes, e integrar as novas representa¥oes
Por exemplo, num estudo sobre a representa~ao Moscovici sistematiza essas diferen~as reen- n6s». Cada representa~ao sobre urn objecto e num quadro de pensamento que nao afecte as
social do poder, Vala (1988/1990) mostrou como viando para tres sistemas de comunica~ao: a evocada por oposi~ao a uma outra representa~ao . primeiras. A sua fun~ao e regular a ortodoxia do
a representa~ao fatalista sobre 0 poder e mais propagafiio, a difusiio e a propaganda (Mosco- Por exemplo, a imprensa comunista analisada grupo. 0 grau de coercividade das represen-
saliente nos assalariados rurais ou no campesi- vici, 1961; Rouquette, 1984). Como propoe por Moscovici desenvolve urn discurso sobre a ta~oes hegem6nicas esta inscrito no seu pr6prio
nato. Num outro estudo, recorrendo a analise Doise (1990, 1993), estes sistemas de comuni- psicanalise no quadro das oposi~oes Uniao conteudo e por isso a comunica~ao de que se ali-
discriminante, mostrou-se como era possivel ca~ao sao sistemas de rela~oes sociais e, como SovieticalEstados Unidos: de urn lado a paz, do mentam nao necessita de ser imperativa - basta-
predizer 0 grupo de perten~a, ou a posi~ao social tal, podem ser incluidos no nivel de analise psi- outro a guerra; de urn lado 0 capitalismo, do outro -lhe fazer apelo a mem6ria do grupo, as suas
dos respondentes, a partir do tipo de represen- cossociol6gico da ancoragem. o comunismo; de urn lado a psicologia cientifica, normas, e reler 0 novo nessa evoca¥ao. Porem,
ta~ao da violencia que sustentavam (Vala, 1981). A propaga~ao e uma modalidade de comuni- do outro a psicanalise americana, doutrina misti- quando a ortodoxia e claramente questionada, 0
Se no nivel de analise anterior se remetia a ca~ao em que as mensagens produzidas por ficante e ideologia irracional. sistema de comunica~ao a que se recorrera sera
ancoragem para diferen~as individuais, ela e aqui membros de urn grupo se dirigem ao seu pr6prio Tambem no estudo ja citado sobre a represen- o da propaganda, hip6tese que importaria arti-
articulada com 0 sistema de rela~oes sociais. grupo; e que visa harmonizar 0 objecto da ta~ao do suicidio na imprensa, a sua autora cular com a analise do funcionamento dos sis-
E, tambem, no campo das rela~oes sociais que comunica~ao com os principios que fundam a (Ordaz, 1995) categorizou os jornais que estu- temas ortodoxos proposta por Deconchy (1984).
se inscrevem as ancoragens psicossociol6gicas, especificidade do grupo. A sua finalidade e inte- dou de acordo com esta taxonomia sobre os sis- No caso das representa~Oes sociais polemicas,
embora a partir de uma outra perspectiva analitica. grar uma informa~ao nova, ou urn problema temas de comunica~ao, procedimento que nao elas constituem-se na conflitualidade intergru-
A analise psicossociol6gica da ancoragem novo e perturbante, no sistema de valores do s6 the perrnitiu estudar a ancoragem como arti- pal. Equando a representa~ao de urn grupo sobre
«inscreve os conteudos das representa~oes grupo. Neste senti do, a imprensa cat6lica fala da cula-Ia com a objectiva~ao (Ordaz e Val a, 1997). urn objecto e percebida como uma amea~a para
sociais na maneira como os individuos se situam psicanalise por forma a identificar principios Podera esta forma de olhar 0 processo de urn outro grupo, que as representa~oes poiemicas
simbolicamente relativamente as rela~oes desta teoria que sao negativos (a no¥ao de ancoragem ser relevante, para alem da analise se organizam. A propaganda, como modalidade
478 • 479

de comunica~ao, servini entao «fun~oes de regu- constru~ao de representa~oes polemicas anco_ Eesta a questao de que agora nos vamos ocupar. Num primeiro, as atribui~oes sao vistas no
la~ao, organiza~ao, e mobiliza~ao do grupo» radas em comunica~oes inte!grupais de tipo De uma forma geral, pode dizer-se que as repre- quadro de meta-representa~oes sobre 0 homem.
(Rouquette, 1984): atraves da primeira produz a propaganda. As representa~oes emancipadas senta~oes sociais tern como fun~ao a atribui~ao Num segundo, considera-se que as atribui~oes
afirma~ao da identidade do grupo, fundada na assentam nas experiencias pessoais e grupais de sentido ou a organiza~ao significante do real. sobre urn comportamento ou fenomeno social
oposi~ao a urn outro grupo; pela segunda, as diferenciadas, mas activamente partilhadas atra- Esta fun~ao pode ser decomposta de diferentes de vern ser estudadas no quadro das represen-
representa~oes do grupo sao reinvestidas de yes da comunica~ao de tipo difusao, assumindo formas. Lembremos que Tajfel (1982) definiu as ta~oes especfficas sobre 0 comportamento ou 0
valor, vistas como verdades inquestiomiveis, urn caracter plural e sobretudo nao coercivo. Por seguintes tres fun~6es sociais dos estereotipos: fenomeno social em causa. Para i1ustrar 0
sendo as representa~oes do outro grupo apresen- exemplo, a historia do pensamento ocidental causalidade social ou explica~ao de aconteci- primeiro caminho, considere-se 0 chamado erro
tadas de forma a serem vistas como represen- produziu uma ideia do que e uma crian~a, mas mentos sociais; justifica~ao dos comporta- fundamental na atribui~ao.
ta~oes susceptiveis de por em causa a identidade essa ideia e todos os dias questionada por pais, mentos; e diferencia~ao social. Estas mesmas Segundo Ross (1977), os individuos, ao ex-
do grupo e como falsas; a terceira prepara 0 maes e professores, reflectindo 0 conceito de fun~oes podem, com propriedade, ser aplicadas plicarem urn comportamento, cometem muitas
grupo para a ac~ao, prescrevendo comportamen- crian~a experiencias diferenciadas, mas tambem as representa~6es sociais. vezes urn erro fundamental, isto e, privilegiam
tos e identificando os objectivos do grupo. partilhadas (e.g., Monteiro e Castro, 1997). as causas intemas (disposi~oes, tra~os de perso-
Quanto as representa~oes sociais emanci- Assim, estudar as representa~oes a partir da nalidade, atributos pessoais, etc.) em detrimento
padas, lembremos que elas sao construidas nas sua ancoragem em sistemas de comunica~ao 3.1 Representafoes sociais, das causas extemas ou de factores situacionais.
rela~oes cooperativas entre os grupos e caracte- diferentes podera ajudar-nos, por urn lado, a explicafiio dos comportamentos Esta modalidade de explica~ao ocorre quer a
rizam as representa~oes que nao questionam as identificar 0 seu caracter hegemonico, consen- e das relafoes sociais nivel das explica~oes do comportamento
diferencia~oes sociais. Supoem pontes entre os sual ou poIemico, e permitira, por outro lado, proprio (e.g., Joule e Beauvois, 1977), quer do
saberes dos grupos, e as diferen~as entre grupos associar a constru~ao das representa~oes a pro- As teorias, hoje c1assicas, sobre a atribui~ao comportamento dos outros (e.g., Jones e Harris,
a proposito da conceptualiza~ao de urn objecto cessos de comunica~ao diferenciados, a dife- ou os processos de explica~ao na vida quoti- 1967), embora seja mais provavel neste ultimo
sao consideradas possiveis, aceitaveis, enquanto rentes sistemas de regula~ao social e a diferentes diana sao apresentadas num capitulo especifico caso (Jones e Nisbett, 1972). Se bern que muitas
nao questionarem as identidades grupais. A co- tipos de rela~oes intra e intergrupais. deste manual (Capitulo VII). Mas, no quadro excep~oes, que contrariam a regularidade deste
munica~ao, no interior dos grupos e entre os Os dois tipos de analise do processo de anco- dos problemas que estamos a analisar, cabe principio organizador das explica~oes, tenham
grupos, que serve a constru~ao deste tipo de ragem que apresentamos apenas consideram agora perguntar se, e em que medida, os proces- ja sido identificadas (e.g., Vala, Monteiro e
representa~oes, e a comunica~ao de difusao. uma das dimensoes deste processo, aquele que sos de atribui~ao podem ser lidos a luz das Leyens, 1988), foi igualmente possivel verificar
A ambiguidade e a incerteza serao mais ele- se refere a constru~ao de uma representa~ao no representa~oes sociais. que sao social mente mais valorizados os indivi-
vadas neste tipo de representa~oes, e a comuni- quadro de urn sistema de pensamento ja consti- Desde muito cedo, vanos autores europeus duos que preferem recorrer as explica~oes inter-
ca~ao sobre elas pode, por isso, aceitar pontos tuido. A segunda perspectiva analftica sobre 0 procuraram conferir ao estudo da atribui~ao uma nas do que aqueles que escolhem as explica~oes
de vista contraditorios. processo de ancoragem, a instrumentaliza~ao dimensao mais social (Deschamps, 1973), asso- extemas (Beauvois e Dubois, 1988; Dubois,
Concluindo, as representa~oes sociais hege- social do objecto representado, sera discutida ciando este fenomeno, nomeadamente, aos pro- 1994). Quer dizer, independentemente do facto
monic as estruturam-se a partir de val ores adiante, quando abordarrnos a diferencia~ ao cessos de categoriza~ao social e as rela~oes de 0 chamado erro fundamental ser ou nao urn
basicos considerados indiscutiveis como, por social das representa~oes sociais (ponto 6), intergrupais, 0 que era facilitado por alguns dos principio explicativo largamente utilizado, ele
exemplo, 0 valor da vida, ou, hoje, a ideia de embora seja ja esse 0 problema que orienta a primeiros estudos neste dorninio (Taylor e Jaggi, parece obedecer a uma norma social, a norma da
democracia representativa ou a ideologia liberal. analise das fun~oes sociais das representa~oes 1974; Duncan, 1976; Thibaut e Riecken, 1955; intemalidade (Beauvois, 1984). Assim, e a valo-
A propaga~ao sera 0 sistema de comunica~ao sociais, que passamos a apresentar . Deaux e Emswiller, 1974), que desde logo se afas- riza~ao social das explica~oes intemas, mais do
que orientara a constru~ao de novas represen- taram de uma perspectiva estritamente cognitiva. que a sua efectiva ocorrencia, que esta aqui em
ta~oes neste quadro de pensamento coercivo, Mais tarde, Jaspars e Hewstone (1984) viriam a causa.
servindo a ortodoxia dominante de forma nao 3. As fun«;oes das representa'.;oes referir as representa~Oes sociais no contexto de Qual sera a origem desta norma de intemali-
imperativa. Quando, em nome de urn valor sociais uma analise das dimensOes sociais da atribui~ao. dade? Em nosso entender, ela deve ser pro-
basico, como 0 valor da vida, se estruturam Consideremos dois caminhos atraves dos curada numa teoria implfcita sobre a pessoa.
posi~oes conflituais como as posi~oes pro ou Falamos das representa~oes sociais como quais podem ser estudadas as rela~oes entre a Examinando a historia das ideias acerca da
antidespenaliza~ao do aborto, assistimos a urn saber funcional ou teorias sociais praticas. atribui~ao causal e as representa~oes sociais. no~ao de pessoa, Sampson (1989) estabelece
480
• 481

uma distin~ao entre uma concep~ao pre- destas modalidades de explica~ao parece ob d sobretudo a explica~oes intemas, e que os indivi- amostras, parece ser possive} conduir que, no
. e e- caso do desemprego, existe urn predominio das
-modema do individuo, enquanto definido pelos cer, contu d 0, a urn mesmo hpo de funcion I' duoS ditos de esquerda utilizem uma grelha
seus papeis no interior da comunidade e pelas dade - conferir aos individuos urn controlo ~ 1- causal para 0 mesmo fenomeno de natureza explica~oes de tipo social sobre as explicayoes
rela~oes entre esses papeis (a pessoa hetero- ilusao de controlo) sobre os acontecimentos ~u socioestrutural. Resultados semelhantes foram de tipo individual, enquanto 0 contrario parece
noma), e uma concep~ao modema do individuo, vida quotidiana. No quadro da representa~iio d a obtidos, por exemplo, por Furham (1982) e ocorrer, pelo menos tendencialmente, no caso
enquanto independente e antecedente a comu- individuo enquanto autonomo, trata-se de u~ pandey et af. (1982) em estudos sobre a pobreza. das explica~oes sobre a pobreza. Em nosso
nidade (a pessoa autonoma). Esta ultima controlo directo; no caso das duas restantes Ate agora procuramos ancorar os processos entender, estes resultados podem ser compreen-
concep~ao sobre a pessoa, de raiz iluminista e representa~oes, a percepyao de controlo pode de atribui~ao no quadro de quase meta-repre- didos como a manifesta~ao de representayoes
liberal, atribui ao homem liberdade de escolha e nao se verificar, ou pode assumir a forma de senta~oes sobre 0 homem e a sociedade. Dito sociais relativamente consensuais sobre estes
faz dele urn ser autonomo, responsavel e inde- controlo indirecto ou secundario (Rothbaum e de outra forma, procuramos mostrar como, a dois fenomenos, embora organizadas em tomo
pendente dos constrangimentos que 0 cercam. Weisz, 1982). partir de uma ideia do hom em (da sua entidade de crenyas diferentes, e conduzindo, por isso, a
Como propoe Moscovici (1982), e a luz desta A adopyao desta perspectiva de analise do ontologica, comportamental, interacional...), explica~oes maioritarias de natureza tambem
concep~ao da pessoa que podem ser interpreta- discurso causal quotidiano, embora util na com- o homem e conduzido a filtrar a produyao de diferente. Esta hipotese poderia ser eventual-
dos os resultados das pesquisas sobre 0 erro preensao das explicayoes sobre os comporta_ urn conhecimento sobre si proprio (Deconchy, mente confirmada, caso os estudos realizados
fundamental ou 0 caracter dominante das atri- mentos individuais, e particularmente adequada 1987, p. 153), sobre 0 seu comportamento e nao se tivessem limitado a analisar modalidades
bui~oes disposicionais. quando estao em causa fenomenos sociais. o que acontece na sociedade dos homens. Este de explica~oes, mas antes, feito ancorar as expli-
Mas ha outras teorias implfcitas acerca da Numa pesquisa sobre opinioes e imagens dos e urn primeiro nivel de analise da forma como ca~oes estudadas no quadro da representa~ao

pessoa que nao apenas as duas acima referidas. jovens, foi possivel verificar (Vala, 1986) 0 as representa~oes sociais podem ser convo- sobre 0 desemprego e a pobreza, permitindo,
Consideremos uma terceira teoria, que veicula recurso a dois tipos de modalidades de expli- cadas na explicayao dos processos de atri- assim, conduir sobre quais os factores respon-
uma imagem do homem enquanto indiv{duo ca~ao da realidade portuguesa: uma, a que bui~ao. Mas, tambem noutro registo analftico, saveis por explicayoes de natureza tao diferente
dominado. Nesta outra teoria, de inspira~ao nao chamamos moralJpsicologica, representada pelo as representayoes sao funcionais neste mesmo para fenomenos sociais aparentemente tao
liberal mas marxista, 0 individuo e considerado recurso a categorias como os bons/os maus, os processo. proximos. Exemplo paradigmatico deste tipo de
como usurpado da sua capacidade de autodeter- honestos/os desonestos, etc.; e outra, a que cha- Entendendo as representa~oes sociais como abordagem e 0 estudo de Herzlich (1969) sobre
mina~ao, a qual podera reencontrar num novo mamos socioeconomica, representada por cate- teorias praticas sobre objectos sociais parti- a representa~ao da saude e da doenya. Sao at
modelo de sociedade atraves da ac~ao colectiva gorias como os ricos/os pobres, os capitalis- culares, mostramos como, enquanto teorias, elas analisadas as dimensoes da significayao dos
e da sua absor~ao no seio de uma comunidade tas/os proletarios, etc. Embora a primeira seja envolvem uma dimensao de explicayao e argu- conceitos de saude e de doen~a e as suas rela-
de pessoas iguais e interdependentes. Partindo partilhada por urn maior numero de inquiridos mentayao. Ora, quando os individuos se ques- ~oes. Ora, as categorias que permitem a apreen-
desta representa~ao da pessoa, os comportamen- do que a segunda (0 que esta de acordo com a tionam sobre fenomenos sociais como a sao da saude e da doen~a sao ja categorias
tos individuais e os fenomenos sociais serao, saliencia da norma da intemalidade e das expli- pobreza, 0 desemprego, a saude, a violencia ou explicativas: 0 intem% extemo, 0 sa% doente,
sobretudo, associados a factores situacionais ou ca~oes disposicionais), ela e, significativamente, o insucesso escolar, accionam as teorias que o naturallo artificial, 0 individuo/a sociedade.
socioestruturais. Muito embora, pois, as expli- mais utilizada pelos individuos que se identifi- colectivamente construiram sobre estes mesmos A doenya e exogena, extema, associ ada ao nao
ca~oes de orienta~ao disposicional ou intemas cam com a direita, enquanto a segunda e mais fenomenos, e e no quadro dessas teorias que natural e a sociedade. A saude e end6gena ao
possam ser maioritarias e possam mesmo reves- utilizada pelos que se identificam com a es- procuram e estruturam as explica~oes. homem. As explicayoes da doenya e do indivi-
tir 0 caracter de uma norma dominante, elas nao querda. Sao dois modelos de explica~ao da Numa obra sobre a articula~ao de niveis de duo doente sao, consequentemente, extemas: e 0
correspondem senao a urn dos tipos de represen- sociedade que estao em causa e que sao, final- analise e a atribuiyao causal, Hewstone (1989) modo de vida, a invasao do natural pela artifi-
ta~ao sobre a pessoa, conduzindo a partilha da mente, paralelos da representa~ao da pessoa procedeu a uma vasta revisao de literatura sobre cialidade urbana que criam a doenya. Outros
representa~ao do individuo, enquanto ser domi- como autonoma e da representa~ao da pessoa as explica~oes de senso comum relativamente a exemplos desta mesma perspectiva sao-nos
nado, a produ~ao de uma causalidade situa- enquanto ser dominado. Compreende-se, assim, uma serie de problemas sociais, entre os quais a oferecidos por Kelly e Breinlinger (1996), nos
cional e a partilha da representa~ao do individuo que os individuos que se movem num quadro pobreza e 0 desemprego. Sao bastantes os estu- seus estudos sobre a nao-participayao das mu-
heteronomo, a produ~ao de uma causalidade de ideologico, que podemos apelidar de direita, e no dos realizados sobre as explicayoes produzidas lheres na actividade sindical; e por Camino et af.
tipo fatalista, cujas expressoes mais correntes contexto do qual se foi desenvolvendo a repre- relativamente a estes fenomenos sociais; mas, (1997), em estudos sobre 0 comportamento
sao a sorte, 0 azar, Deus ou 0 destino. Qualquer senta~ao da autonomia individual, recorram para la da diversidade dos metodos e das polftico.
482
• 483

Propoe-se, assim, uma analise da causalidade gas concep~oes sobre 0 corpo e sobre as s ficamente, referimo-nos ao nivel de analise da 3.3. Representafoes sociais
- . (I' d eere_ ac~ao que poe em evidencia 0 facto de as repre- e dijerenciafiio social
no senso comum, nao so por referencia a meta- foes vIvas a sa Iva, nomea amente) e as exere_
-representa~oes sobre 0 homem e a sociedade, foes mortas (urina e fezes). Estas ultimas _ senta~oes:
. . d I . Sao _ inc1uirem modos desejaveis de ac~ao; Como se tern assinalado. de diversas formas,
mas tam bern por referencia a representa~oes rejelta as pe 0 corpo depots de terem sid
especificamente construidas sobre 0 objecto assimilados os seus principios activos. E 0 _ proporcionarem a constitui~ao do signifi- se a especificidade da situa~ao de cada grupo
relativamente ao qual 0 discurso causal e pro- quanta as primeiras podem ser pemiciosas n- cado do objecto estimulo e da situa~ao no seu social contribui para a especificidade das suas
duzido. segundas sao inocuas ou tem mesmo p' ro- as conjunto; representa~oes, a especificidade das represen-
priedades curativas. _ permitirem dar sentido e justificar os com- ta~oes contribui, por sua vez, para a diferen-
Estariamos aqui em presen~a de um born portamentos. cia~ao dos grupos sociais (Moscovici, 1961).
3.2 Representafoes sociais exemplo de como uma representa~ao sobre 0 No quadro destes parametros, tem-se acen- Este posicionamento situa as representa~oes
corpo que os entrevistados nao sao capazes tuado, sobretudo, que as representa~oes sociais sociais no contexto dos fenomenos de diferen-
e comportamentos cia~ao social e identidade social, como adiante
de verbalizar, 0 que indicia tratar-se de uma constituem uma orienta~ao para a ac~ao na
representa~ao nao consciente, orienta os seus medida em que modelam e constituem os ele- desenvolveremos (ver os capitulos sobre a iden-
Na obra apaixonante de Jodelet (1 989b) sobre
comportamentos. Como mostraram Nisbett e mentos do contexto em que urn comporta- tidade social e as rela~oes intergrupais).
a constru~ao da representa~ao da doen~a mental
Wilson (1977), nao somos, muitas vezes, bons mento ocorre (Moscovici, 1976). Ou seja, a Comecemos por salientar como as rela~oes
numa comunidade onde, desde h3. dezenas de
relatores dos nossos comportamentos e das suas ac~ao envolve urn sistema representacional, intergrupais modelam as representa~oes. Socor-
anos, os doentes mentais vivem com as familias
causas. uma rede de representa~oes que ligam 0 objecto rendo-se de estudos dos anos 50 e 60, Doise
de uma aldeia, a autora pade observar dois com-
Contudo, nos estudos experimentais sobre a e 0 seu contexto. Algumas das experiencias de (1973) il ustrou como a dinamica das rela~oes
portamentos diferenciados face a dois tipos de
rela~ao entre representa~oes e comportamentos Codol (1972), sobre as rela~oes entre repre- entre grupos conduz a modifica~oes adaptativas
sujidade: a urina e as fezes, por urn lado; e a
realizados nos inicios dos anos 70 (e.g., Codol, senta~oes e comportamentos, incidem exac- nas representa~oes e a atribui~ao ao outro grupo
saliva e a transpira~ao, por outro. De facto, as
1972; Abric, 1987), estao em causa represen- tamente sobre 0 papel da representa~ao da de caracterfsticas que permitem 0 desencadea-
maes de familia ocupam-se da roupa dos
ta~oes que os proprios sujeitos controlam e na tarefa, do outro e do grupo, enquanto elemen- mento de comportamentos discriminatorios, ao
doentes mentais que sofrem de enurese e enco-
base das quais seleccionam as respostas que tos da situa~ao, e das interdependencias entre mesmo tempo que justificam esses compor-
prese como de qualquer outra roupa. Contudo,
julgam mais adequadas. De forma control ada estas representa~oes, na organiza~ao dos com- tamentos. Por exemplo, se os alunos brancos
todos os objectos que podem ter sido tocados
ou automatic a, e consciente ou nao consciente, portamentos. subestimam os resultados escolares dos negros
pela saliva do doente mental sao separados e
urn grande numero dos nossos comportamen- Neste primeiro nivel, a relayao entre as repre- e os policias brancos sobrestimam a criminali-
lavados a parte. Cada familia dispoe mesmo de
tos corresponde as nossas representa~oes. Avan- senta~oes e a ac~ao supoe a concep~ao do dade negra, tais opinioes justificam comporta-
urn talher e de urn prato que sao do doente e de
cemos urn pouco mais na discussao deste sujeito como actor. Ora, em certas situa~oes, a mentos de segrega~ao. Mas, por outro lado, as
mais ninguem:
problema. ac~ao e menos 0 resultado de urn projecto do representa~oes imprimem direc~ao as rela~oes
Ele acabou de beber agua e depois quis dar de beber a Comecemos por uma distin~ao analftica, pro- que de factores extemos e pressoes situacionais. intergrupais: previamente a interac~ao, cada
pequena pelo mesmo copo (... ). Poi preciso que eu me zan- posta por Nuttin (1972), entre comportamentos Nestes casos, enquanto analista e nao enquanto grupo dispoe ja de urn sistema de represen-
gasse para 0 impedir de fazer isso. situacionais. em que 0 papel das media~6es actor (Beauvois e Joule, 1981), 0 sujeito faz ta~oes que the permite antecipar os comport a-
cognitivo-avaliativas e minimo e 0 papel dos corresponder, a posteriori, a ac~ao uma repre- mentos do outro e programar a sua propria
A doen~a nao e contagiosa, mas ha quem de beijos
factores situacionais se encontra maximizado; e senta~ao que the permite dar sentido ao com- estrategia de ac~ao.
a uma crian~a com grande facilidade e isso eu nao posso
permitir. comportamentos representacionais, determina- portamento observado. As experiencias sobre a
dos, no minimo, pela situa~ao concreta na qual dissonancia cognitiva (veja-se 0 capitulo sobre
Sempre fiz assim, lavo a lou~a deles a parte. Quando a as atitudes) podem constituir urn born exemplo
ocorrem e, no maximo, por factores pre-situa- 3.4. Representafoes sociais
tarde estao a trabalhar e vern beber, tenho os cop os deles.
cionais, que relevam do nivel das atitudes e das de como, atraves de uma actividade cognitiva
Nao bebem nos mesmos copos que nos (Jodelet, I 989b, e comunicafiio
p.326). representa~oes. Quando se fala da funcionali- pos-comportamental, os sujeitos atribuem
dade das representa~oes enquanto orientadoras uma base atitudinal ao seu comportamento,
Urn sistema de categoriza~ao e de interpre-
A compreensao daquelas duas modalidades dos comportamentos, estamos a referir-nos aoS quando na verdade, em tais situa~oes. nao e
ta~ao comuns, e uma linguagem partilhada, sao
de resposta toma-se possivel no quadro de anti- comportamentos representacionais . Especi- esse 0 caso.
484
• 485

condiyoes para que a comunicayao se possa 4. A teo ria do nucleo central sentayoes sociais podem, desta forma, ineluir Associayao Europeia de Psicologia Social Expe-
processar. As representayoes sociais sao, assim, divergencias individuais, ao mesmo tempo que rimental, realizado em Lisboa em 1993, 0 con-
das representa~oes sociais ceito de representayao social e hoje urn con-
o suporte basico dos actos comunicativos (e.g., se encontram organizadas em torno de urn n6
Rime, 1984). Eo que fazemos quando comuni- A orientayao que ate agora demos Ii apresen_ central colectivamente partilhado. ceito central em Psicologia Social. Se hoje se fala
camos? Descrevemos, avaliamos, explicamos. tayao do conceito de representayao Social fo 1,' Uma das linhas de investigayao, desenvol- numa psicologia social europeia (ver Capitulo
Mas 0 que caracteriza 0 modo de funciona- sobretudo, estruturada pelas questoes colocadaS vidas pelos autores referidos, tern consistido na ill), isso em muito se deve ao estudo das repre-
mento de uma representayao social e a transfor- por Moscovici e lodelet. Importa, Contudo descriyao dos principios estruturais das repre- sentayoes sociais. A perspectiva psicossociol6-
mayao da avaliayao em descriyao e da descriyao situar a especificidade da linha de pesquis~ sentayoes, com recurso Ii analise experimental gica que anima este conceito nao e, porem, nova:
em explicayao (Moscovici e Hewstone, 1984). aberta por Abric e Flament (e.g., Abric, 1987 (e.g., Moliner, 1994) e atraves do desenvolvi- as suas rafzes confundem-se com as rafzes da
Situando a funyao das representayoes sociais 1994; Flament, 1982, 1994; Guimelli, 1989: mento de tecnicas de analise multivariada sociologia e da psicologia. De forma breve. e com
nas actividades comunicativas, descobrimos a Moliner, 1994; Sa, 1996). ' especificas (ver Pereira, 1997). De par com a arbitrariedade suficiente, apresentamos a seguir
sua centralidade na orientayao das actividades o que e urn grupo ideal? As respostas dos tecnicas de analise de dados complexas, tecni- alguns dos ascendentes do conceito de represen-
avaliativas e explicativas. sujeitos inquiridos por Moliner (1989), na cas simples de identificayao do nueleo central e ta~ao social.

Sera ainda importante fazer, a este prop6- sequencia de trabalhos de Flament (1982), dos elementos perifericos de uma represen-
sito, uma outra observayao: os actos de comu- mostram que 0 grupo ideal e associ ado a igual- tayao foram propostas por Moliner (1994) e
nicayao nao sao sempre, ou nao sao s6, actos de dade ou ausencia de hierarquia, bern como a Verges (1992). Urn exemplo de apJicayao 5.J. Durkheim e 0 conceito
partilha de consensos; sao, muitas vezes, actos convergencia de opinioes. Mas, podera 0 grupo destas tecnicas e-nos oferecido por Sa et al. de representafiio colectiva
de debate, de discussao e argumentayao no ideal ter uma hierarquia? Podera haver diver- (1996) num estudo sobre a representa~ao social
interior dos grupos ou entre grupos. Imagi- gencia de opinioes num grupo ideal? A resposta da ciencia. Urn outro estudo deste mesmo autor Em 1898, Durkheim publicava urn artigo
nem-se dois membros de grupos sociais dife- Ii primeira pergunta e niio, e Ii segunda e sim. e apresentado na Caixa da p. seguinte. Este sobre as representayoes colectivas e individuais,
rentes com diferentes posiyoes face Ii justiya; Se quantitativamente os dois elementos da ultimo estudo tern a vanta gem de colocar urn retomando e sistematizando ideias que ja formu-
ou dois membros de urn mesmo grupo social representayao do grupo tern urn peso equiva- outro problema: a analise da transformayao das lara no Suicfdio (1897-1977) e nas Regras do
conversando sobre a justiya e a paz: em qual- lente, eles diferem quanta Ii sua posiyao na estru- representayoes sociais. Metodo Socio16gico (1895-1984). Nestes textos
quer dos dois casos, assistir-se-a ao desenrolar tura da representayao: a ausencia de hierarquia e A pesquisa mostra que as praticas sociais de Durkheim uma das preocupayoes centrais
de uma argumentayao que envolve a negayao urn elemento do nucleo central da representayao sao geralmente coerentes com as represen- consiste em justificar a especificidade e a auto-
dos pontos de vista do outro e a gestao de dile- de grupo ideal, enquanto que a convergencia de tayoes sociais. Quando se regista uma con- nomia dos fen6menos sociol6gicos. Esta preo-
mas decorrentes de pontos de vista antag6nicos opini6es e urn elemento peri/erico. tradiyao entre a representayao e as praticas, cupayao, que hoje nao constitui problema, era, a
sobre urn mesmo objecto ou da tensao entre Segundo Abric (1994), as representayoes estas dao origem a novos elementos perifericos, epoca, objecto de grande empenhamento intelec-
representayoes - por exemplo, justiya e paz sociais ineluem dois sistemas de significados: 0 continuando protegido 0 nueleo central da tual. Nessa altura, a sociologia era uma disciplina
(Billig, 1988). Comunicar argumentando e sistema central e 0 sistema periferico. 0 sistema representayao. Mas quando praticas contra- minoritaria e em construyao. As critic as de
activar e discutir representayoes. Mas a pr6pria central, ou nueleo central, e rigido, coerente e dit6rias ocorrem em situayoes irreversiveis, Durkheim a Tarde sao urn born exemplo da efer-
orientayao da argumentayao sera model ada estavel, e consensual, define a homogeneidade pode verificar-se uma transformayao do nueleo vescencia do combate intelectual em torno dos
pelos sistemas de comunicayao descritos do grupo e esta ligado Ii sua hist6ria colectiva. central da representayao (Abric, 1994, Flament, primados do psicol6gico e do sociol6gico.
atras. Eao sistema central que cabe determinar a orga- 1987). Para Durkheim (1897-1977), a vida social e
Os problemas levantados por esta nova nizayao da representayao e gerar a significayao «essencialmente formada de representayoes»
questao sao uma nova forma de situar a genese dos elementos da representayao. Por sua vez, os (p. 366), de representa90es colectivas que, ape-
das representayoes nos diferentes contextos de elementos perifericos sao mais flexiveis, mu- 5. A ascendencia sar de comparaveis as individuais, sao radical-
comunicayao (Doise, 1993b); mas sao, igual- dam, sao sensiveis ao contexto, integram as mente distintas e exteriores a elas (Durkheim,
das representa~oes sociais
mente, uma maneira de situar 0 papel da argu- experiencias individuais e e neles que se mani- 1898, p. 274). Embora com toda a prudencia, a
mentayao (Billig et al., 1988) e da linguagem festa a heterogeneidade do grupo. As suas Como mostram Vala, Lima e Caetano (1996) leitura das obras referidas leva-nos a dizer que,
(Rommetveit, 1984) na dinamica das represen- funyoes sao a adaptayao contextual da represen- com base numa analise de trezentas comuni- para Durkheim, as representayoes colectivas sao
tayoes. tayao e a protecyao do mleleo central. As repre- cayoes apresentadas no Congresso trianual da produyoes sociais que se impoem aos individuos
• 487
486

como for~as exteriores, servem a coesao social ou se distinguem», problema que ja Durkheim
e constituem fen6menos tao diversos como a (1895-1984, p. 19) definia como importante.
TRANSFORMA<;OES NA REPRESENTA<;AO SOCIAL religiao, a ciencia, os mitos e 0 senso comum. Finalmente, no contexto da sociedade de hoje e
DA ECONOMIA BRASILElRA Ora, este conceito de Durkheim, longamente das suas particularidades, a compreensao do
esquecido pela Sociologia, constituiu 0 ponto de fen6meno das representa~oes colectivas acon-
Num estudo sobre a representa~iio da economia, junto de estudantes de Psicologia e Engenharia da
partida para uma abordagem psicossociol6gica selha restri~oes no ambito do conceito. Trata-se
Universidade Estadual do Rio de Janeiro, realizado em 1993 (antes do Plano Real) e em 1996 (ap6s 0 Plano Real)
uma das perguntas abertas colocadas era seguinte: «Quem, no seu en tender, exerce ou tern urn papel importante n~ do pensamento social. 0 desenvolvimento deste de reconhecer a especificidade de diferentes
economia?». As respostas foram organizadas, para cada ano, segundo a frequ8ncia de evoca~ao e segundo a ordem objectivo conduziu, contudo, a reformula~oes modalidades de conhecimento, como 0 cientf-
de evoca~ao. Os actores referidos no quadrante superior esquerdo dos quadros a seguir apresentados constituem 0 considenlveis daquele conceito. fico, 0 religioso, 0 magico, 0 ideol6gico, reser-
m1cleo central da representa~ao da economia. Os actores situados no quadrante inferior direito representam evo- vando-se a utiliza~ao do conceito de represen-
Aceite a ideia de que as representa~oes colec-
ca~oes menos frequentes e menos imediatas. Estes actores sao elementos perifericos na representa~ao. 0 papel
tivas se geram na interac~ao social, a abordagem ta~ao co1ectiva para referir 0 conhecimento
representado pelos actores situados nos restantes quadrantes e menos nftido. Alguns deles constituem ou podem vir
psicossocio16gica importa mostrar atraves de produzido e accionado na comunica~ao quoti-
a constituir elementos centrais da representa~ao.
que processos (cognitivos e sociais), e atraves diana e que se poderia designar por senso
Amostra 1993 Amostra 1996 de que modalidades de articula~ao entre pro- comum 5. Mas esta restri~ao do ambito do con-
Ordem media de eVDCBcao Ordem media de evocacilo
cessos, tais representa~oes se constituem. Em ceito abre a formula~ao de urn novo problema
Inferior II 1.85 Superior a 2,85 inferior 0 2,B4 Superiora 2,84
segundo lugar, no estudo das representa~oes - como se transforma uma modalidade de
Frequ!ncilt S4 GoYCfllO 22 DiSirib. reoda Prcquencia S6 Governo 20 Popul~
BCimadc 12 ftClmade 13 enquanto objecto da Psicologia Social, a autono- conhecimento numa outra -, problema que ape-
47 Empreslirios IS Produ\'io 36 EmplCSiries 17 Anriculrura

29 Estldo miza~ao das representa~oes colectivas relativa- nas se encontra esbo~ado no que toca a transfor-
32 Esla<io IS Popul~

28 Ind~.1ria mente as individuais nao constitui urn problema; ma~ao do conhecimento cientffico em senso
27 Prcsidente 13 Consumldor

20 Inn"flo 22 CoI1ll!n:Io o problema a estudar e outro: como se trans- comum (Moscovici e Hewstone, 1984).
19 Indtlstria 22 Polflico.s formam as representa~oes individuais em o abandono da designa~ao «representa~ao
19 Ministm Economla 21 Emprosas colectivas e as representa~oes colectivas em colectiva» e a sua substitui~ao pela designa~ao
18 Tr>b:Ilhadorcs 20 Pre.sidenlc
individuais (Moscovici, 1984b). No quadro «representa~ao social» pretende servir 0 enun-
16 Emprcsas 20 Polllica
desta dinamica de articula~ao, os processos ciado das problematicas referidas. Como refere
IS Produ~1o
14 C~cio
comunicacionais ocupam urn lugar central e as Moscovici: «0 nosso prop6sito e compreender a
IS Modi.
representa~oes colectivas perdem 0 seu caracter inova~ao mais do que a tradi~ao, a vida social
14 Banquciroa
de exterioridade face aos indivfduos. Por outro em constru~ao mais do que a vida social preesta-
Prequencia 12 PoIldeos II Povo FtequEnc:ia 13 MullJDaCionais 9 Bmu:os
dc6 a 12
9 BoneD II Impostos
de 6 al3
II Men:ado 9 Impastos lado, 0 problema da coesao e da integra~ao belecida» (1988, p. 219).
9 Empresnriado 9 Invcsdtnento II ConsurnidCK'eS 9 BduclI~1o social nao e, para a Psicologia Social, neste con-
8 Multinacionall 8 PMI 10 Ministro &onamia 8 In~e texto, urn problema base. De facto, as represen-
7 Mlnistros 8 AerJeulrura 9 DiSlrib. ronda 7 Investimcnto ta~oes de que se ocupa maioritariamente esta
5.2. Representafoes sociais e sociologia
7 Ministl!rio &onomia 7 Banquciros 8 D1nbeiro 6 Sociedade
disciplina nao sao entendidas como indis- do conhecimento quotidiano
PoilU.. 7 801.. de valo<es
6
cutfveis mas como objecto de controversia e de
6 Mlo-de-obra 6 Pader aquisitivo
conflito na comunica~ao quotidiana. E, pois, no A pro posta de Durkheim no senti do do estudo
Os resultados obtidos em 1993 e 1996 nao sao muito diferentes, apesar das transforma~oes radicais entretanto quadro do conflito e da dissen~ao que se podera das representa~oes, tal como 0 fez para 0 caso da
ocorridas. Mas algumas diferen~as podem ser salientadas. Desde logo, a lnflaryao que, de elemento central, passa a compreender como as representa~oes «se aproxi- religiao (Durkheim, 1912-1979), foi longamente
periferico, enquanto que, com os Banqueiros, ocorre 0 inverso. Em 1996, nota-se uma maior valoriza~iio dos mam e se excluem, se fundem umas nas outras esquecida 6. Provavelmente, is so dever-se-a ao
Polfticos e da Pol(tica; e e nesse ano que e referida uma interfer8ncia dos Meios de Comunicarylio Social na econo-
mia, que anteriormente nao era assinalada. Finalmente, Educarylio, Sociedade e Poder aquisitivo entram, timida-
mente, no novo cenario representacional de 1996. 5 Varias vezes, ao longo do capitulo, se utiliza a expressao senso COli/lim. Dados os multiplos significados atribuidos

Texto elaborado por Celso de Sd, a partir das pesquisas de Sd et al. (1997) sobre a representarylio social na literatura a esta expressao, remete-se 0 leitor para urn texto de Fletcher (1984).
6 A importancia do simb61ico na obra de Durkheim e analisada num interessante texto de Deutcher (1984) sobre as
da economia brasileira.
cpnfiuencias entre aquele autor e 0 interaccionismo simb6lico.
• 489
488

peso que assumiu progressivamente 0 conceito ao de analises empfricas verificaveis» (Merto representa'rao colectiva de Durkheim e a psi- McDougall, tambem nao associamos Wundt a
de ideologia no conjunto das ciencias sociais. 1945-1967, p. 118). Ora, como exemplo de um ~ cologia dos povos de Wundt agrupados num Psicologia Social. Na nossa memoria, Wundt e
Mas devera sublinhar-se que foi tambem a trajecto, Merton aponta a obra de Mead rnesmo capitulo dedicado ao «espirito do apenas 0 fundador do primeiro laborat6rio de
emergencia do conceito de ideologia e a sua (1934-1963), marco na constituitrao da perspec_ grupo». problema enunciado numa obra com 0 psicologia experimental em Leipzig e nao 0
teoriza~ao que permitiram a associa~ao entre as tiva hermeneutica nas ciencias sociais, no quadro rnesmo titulo por McDougall. autor da Volkerpsychologie (psicologia dos
condi~oes sociais de existencia e a dinamica da da qual a realidade age atraves da interpreta~ao McDougall e-nos familiar atraves da sua povos ou psicologia social). Wundt, urn contem-
produ~ao intelectual, ideol6gica e institucional: que dela produzem os actores sociais. Introdu~iio a Psicologia Social (1908), obra de poraneo de Durkheim, que 0 visitou em Leipzig,
«Nao e a consciencia do homem que determina A redescoberta da obra de Mead permitiu, de inspira~ao darwinista, mas e pouco conhecido 0 entendia que a psicologia tinha dois grandes
a sua existencia, pelo contrario, e a sua existen- facto, novos avan~os na sociologia do cOnheci_ seu trabalho sobre 0 «espirito do grupo» (1920), dorninios - a psicologia fisiol6gica e a psicolo-
cia social que determina a sua consciencia» mento de que sao expressao, entre outros, Berger conceito com base no qual analisa problemas gia social e, a esta ultima, dedicou os ultimos
(Marx, 1859- 1973, p. 28). e Luckman (1966/1973). Segundo estes autores como a moral, 0 nacionalismo e 0 caracter nacio- anos da sua vida. 0 objecto da psicologia social
Este pressuposto de Marx, alargado e reformu- a realidade e socialmente construida e a sociol~ nal. Este conceito designa a ideia segundo a qual ou dos povos seria 0 estudo da origem do pen-
lado, viria a marcar longamente a sociologia do gia do conhecimento deve analisar nao so os a interac~ao entre os indivfduos produz formas samento social nas suas multiplas manifes-
conhecimento, disciplina cujo objecto «consiste processos atraves dos quais ocorre a constru~iio de pensamento e ac~ao diferentes daquelas que ta~oes, problema de que a psicologia fisiologica
em explorar a dependencia funcional de cada da realidade social, como tambem os processos se obteriam se produzidas por individuos isola- nao poderia dar conta devido a natureza colec-
posi~ao intelectual da realidade diferenciada do atraves dos quais 0 conhecimento se objectiva, dos. Esta hipotese, que orientou estudos mais tiva do pensamento social e a sua liga~ao a lin-
grupo social que the esta subjacente, e que se institucionaliza e legitima. Podemos dizer que 0 recentes sobre a orienta~iio para 0 risco e a guagem e as institui~oes sociais.
coloca a tarefa de tra~ar a evolu~ao das varias conceito de representa'rao social serve, exacta- polariza~iio (ver capitulo sobre os processos o que surpreende em McDougall e Wundt e
posi~oes» (Mannheim, 1925-1967, p. 80). E e mente, estes propositos, articulando dinamica- intragrupais), pressupoe 0 reconhecimento de o facto de ambos dividirem claramente a sua
tambem urn pressuposto importante na analise mente instiiocias sociol6gicas e psico16gicas. Na urn myel analftico que a Psicologia Social igno- obra em objectos psicologicos e psicossocio-
das representa~oes sociais enquanto «principios primeira edi~ao da Imagem da Psicandlise. raria durante muito tempo e que cedo foi com- 16gicos que consideram dissociados. Se em
geradores de tomadas de posi~ao ligadas a Moscovici nao poderia, como e evidente, batido por F. Allport: «A nacionalidade, a Durkheim as representa~oes colectivas cons-
inser~oes especfficas no conjunto das rela~oes referir-se a uma obra, a de Berger e Luckman, ma~onaria, 0 catolicismo, etc., nao sao espiritos tituem urn sinal da irredutibilidade do social ao
sociais» (Doise, 1990). Contudo, uma analise do que apareceria cinco anos depois, mas fa-Io na colectivos. sao conjuntos de ideias, pensamentos individual, para McDougall e Wundt 0 pensa-
conhecimento na vida quotidiana nao se esgota edi~ao de 1976. Elejabarrieta (1990) sintetiza e habitos repetidos no espirito de cada individuo mento colectivo constitui 0 fundamento para
no estabelecimento de rela~oes, mais ou menos bastante bern os aspectos em que se entrecruzam e que existem apenas nestes espiritos» (citado uma psicologia social, aut6noma da psicologia.
deterministas, entre esse conhecimento e as as obras de Moscovici, de Berger e Luckman: por G. Allport, 1954). Nao foi, assim, sem razao Seria necessario esperar mais uma dec ada para
inser~oes socioestruturais. Hip6teses para uma a) 0 caracter generativo e construtivo do conhe- que Durkheim repetiu, longamente, argumentos que os primeiros ensaios de articula~ao psicos-
formula~ao mais ampla do problema sao formu- cimento quotidiano; b) a natureza social do em favor de outro tipo de representa~oes que nao sociol6gica emergissem: Bartlett (1932) e os
ladas por Gurvitch (1966) e, particularmente, por conhecimento enquanto constru~ao, 0 que passa apenas as representa~oes individuais, argumen- seus estudos sobre a mem6ria, que relacionam
Merton, para quem 0 projecto de uma sociologia por uma analise dos actos de comunica'rao e da tos que a redu~ao psicologizante da Psicologia estruturas cognitivas e quadros sociais; Piaget
do conhecimento e indissocilivel da compreensao interac'rao entre individuos, grupos e insti- Social ignorou, apesar de bastante cedo a mesma (1932), que liga as estruturas de desenvolvi-
dos mecanismos sociopsicol6gicos que subjazem tui~oes; c) a importancia da linguagem e da ideia ter sido formulada no seu proprio interior mento intelectual e as concep~oes dominantes
a produyao do conhecimento: «Estudar as varia- comunica~ao como mecanismos atraves dos (McDougall, 1920; Fouillee, 1908; Thomas e do born e do mau, na sua obra sobre 0 Ju(zo
~oes (do pensamento) em publicos concretos, quais se transmite, cria e objectiva a realidade. Thomas, 1928). Independentemente da discus sao Moral na Crian~a; Mead (1934/1963), que
explorar os seus criterios distintos de conheci- em tomo do estatuto epistemologico do conceito articula simbolos, representa~oes e interac~Oes
mento valido e significativo, relacionando-os de group mind, 0 que importa aqui reter e a pos- comunicativas. E, tambem, nesta tradi~ao de
com a sua posi~ao no contexto social, e examinar 5.3. De Wundt e McDougall sibilidade de se considerar urn myel analitico das analise do pensamento social no interior da
os process os sociopsicol6gicos de obten~ao de aarticuiafao psicossociai representa~oes que nao se esgota na actividade psicologia, que procede primeiro por distin~ao
determinados modos de pensar constituem 0 per- cognitiva individual. de niveis analfticos, e depois por articula~ao,
curso que fara a pesquisa em sociologia do Se atendermos a historia da psicologia Social Por outro lado, assim como, habitualmente, que se inscreve 0 conceito de representatrao
conhecimento passar do plano da imputa~ao geral de Allport (1954), encontramos 0 conceito de nao associamos 0 conceito de group mind a social.
490 491

5.4. 0 New Look e a percepfoo social social; e na mesma decada, na Europa, com a nfvel dos processos cognitivos e motivacionais toma pertinente a obra de Vygotsky para a psi-
obra de Moscovici (1961) sobre as represen_ intra-individuais. Comparemos as reflexoes de cologia das representac;oes sociais? A ideia de
Bruner (1951, 1957) e nonnalmente apontado tac;oes sociais, obra que marca a abertura do Ichheiser (1949) e Heider (1958) sobre a salien- que os processos cognitivos nao sao processos
como 0 pai do New Look no estudo da per- paradigma da sociedade pensante. Curios a_ cia dos factores disposicionais nas explicac;oes exclusivamente individuais, de que a genese do
cep~ao. Segundo este autor, a percep~ao deve mente, urn e outro destes dois nov os movimen_ causais quotidianas. pensamento se encontra na interacc;ao social e
ser entendida como 0 resultado da ac~ao de dois tos podem apresentar como raiz comum as Para Heider (1958), a conclusao de que urn de que 0 pensamento e uma forma de interac~ao
tipos de factores - Jactores autoctones. relativos investigac;oes de Heider (1944, 1958) sobre a comportamento se deve a causas intemas ou dis- social. A proposito do desenvolvimento infantil,
as caracteristicas do estfmulo e a estrutura da psic%gia ingenua. posicionais e, no senso comum, 0 resultado da escreve este autor: «Todas as fun~oes do des en-
informa~ao; e Jactores comportamentais. rei a- explorac;ao activa de hipoteses de associa~ao volvimento da crianc;a aparecem duas vezes:
tivos aos aspectos motivacionais, emocionais e progressivamente mais fortes entre a ac~ao e 0 primeiro, no nfvel social, e, depois, no nfvel
sociais do indivfduo. Contrariamente as orien- 5.5. Heider e Ichheiser actor, no tenno da qual se toma patente a inten- individual; primeiro entre pessoas (interpsico-
ta~oes precedentes no estudo da percep~ao, 0 cionalidade do actor e a ausencia de pressoes /ogica) e, depois, no interior da crianc;a (intra-
New Look acentuani a relevancia da amilise do Relativamente ao New Look, a obra de Heider situacionais. Ern Ichheiser, a atribuic;ao de causas psico16gica). Isso aplica-se, igualmente, para a
segundo tipo de factores, salientando a dimen- difere fortemente no tocante a concep~ao dos internas, e, sobretudo, a sua pre valencia sobre os atenc;ao voluntana, para a memoria logica e para
sao social do sujeito cognoscente e conferindo indivfduos enquanto produtores de conhecimen- factores situacionais mais tarde confirmada fonna~ao de conceitos. Todas as fun~oes supe-
aten~ao nao so aos processos mas tarn bern aos to. Naquele movimento, 0 sujeito cognoscente experimental mente (Ross, 1977), e uma conse- riores se originam nas rela~oes reais entre indi-
conteudos cognitivos. produz urn conhecimento quente, distorcido e quencia de uma matriz de pensarnento liberal, vfduos humanos» (Vygotsky, 1991, p. 64). De
Por outro lado, para Bruner (1957) a catego- cuja logica nao Ihe e transparente. Em Heider segundo a qual e 0 que somos enquanto indivf- par corn a sua teoria da internaliza~ao, da qual
rizac;ao constitui urn dos processos atraves dos (1944, 1958), 0 homem comum constroi uma duos, e nao os factores sociais, que explica os extrafmos a citac;ao anterior, uma outra con-
quais se manifesta a actividade estruturante do teoria psicologica, largamente inferencial e nossos comportarnentos. Da mesma forma, para tribuic;ao de Vygotsky deve ser sublinhada: 0 seu
sujeito na percep~ao. Quando urn organismo e explicativa e que, independentemente da sua cor- Ichheiser, a atribui~ao do sucesso a aptidoes indi- entendimento sobre 0 metoda experimental.
estimulado por urn objecto exterior, reage asso- recc;ao, deve ser entendida como urn elemento viduais deve ser compreendida no quadro de urn Contrariamente a Wundt, para quem os proces-
ciando-o a uma categoria de estfmulos, ao importante na detennina~ao do seu comporta- discurso social que visa justificar as desigual- sos psicologicos superiores, como a linguagem e
mesmo tempo que Ihe atribui as caracteristicas mento e das rela~oes interpessoais. Segundo dades sociais. A procura da logica do raciocfnio o pensamento, nao podiam ser estudados expe-
da categoria na qual 0 inclui. Para Allport e Heider, a psicologia cientffica deveria, alias, causal no senso comum, Ichheiser contrapoe a rimentalmente, aquele autor estudou estes
Postman (1945-1965), os processos de reduc;ao e aprender corn a psicologia do senso comum. Mas funcionalidade do pensamento desse senso mesmos processo de forma experimental. Lem-
assimilac;ao constituem, tambem, uma expressao a produc;ao desta «psicologia ingenua» faz-se, comum na justifica~ao da ordem social. brando que os modelos experimentais classicos
da actividade do sujeito na percepc;ao. A abor- para este autor, no quadro das relac;oes interindi- A teoria das representa~oes sociais retoma de sao desenhados por forma a verificar ern que
dagem da percepc;ao pel0 New Look representa, viduais, sem que os quadros sociais ern que tais Heider a ideia de que os indivfduos pensam, e de condic;oes ocorre urn certo desempenho,
desta fonna, uma primeira analise sistematizada rela~oes ocorrem sejam tornados em conside- Ichheiser a ideia de que 0 pensamento dos indi- Vygotsky propoe tecnicas experimentais que
do papel dos sujeitos e das variaveis intra-indi- rac;ao. Para Heider, a psicologia ingenua decorre vfduos deve ser compreendido num contexto permitam estudar «0 curso do desenvolvimento
viduais e sociais na reconstruc;ao dos objectos, sobretudo de mecanismos motivacionais - a que e social e no quadro de uma funcionalidade de urn processo» ou «substituir a analise do
mas no quadro de urn paradigma que e ainda de necessidade de 0 homem crer na sua capacidade que e tambem social. objecto pela analise do processo» (1991, p. 71),
tipo S-O-R, ou seja, que considera a existencia para dominar 0 meio e a necessidade de tomar 0 proposta que sera util no estudo experimental
de uma realidade objectiva e independente da meio coerente e estavel. da sociogenese das representa~oes sociais.
actividade cognitiva dos indivfduos. Ichheiser (e.g., Rudminetal et aJ., 1987), urn 5.6. A contribuifOO de Vygotsky
o corte corn 0 paradigma do New Look, e a colega de Heider ern Oraz e, tal como ele, pos-
sua progressiva substitui~ao por modelos de tipo teriormente emigrante nos Estados Unidos, Na linha de Ichheiser, Vygotsky, psicologo 6. A construc;ao social
O-S-O-R, far-se-a num duplo contexto: no inf- propoe outras bases para 0 entendimento da psi- russo falecido em 1934, e desconhecido pela das representac;oes sociais
cio da decada de 60, nos Estados Unidos, corn a cologia no senso comum: ela releva de proces- psicologia ocidental ate aos anos oitenta, deve
obra de Jones e Davis (1965) sobre a atribuic;ao sos de interpretac;ao social mente regulados e a ser tambem evocado como urn dos precursores Quando falamos da ancoragem e quando nos
e a inferencia, que marca 0 infcio da cogni~iio sua compreensao imp6e que se ultrapasse 0 da psicol0gia das representac;oes sociais. 0 que referimos a fun~ao das representa~oes na dife-
492
• 493

rencia~lio dos grupos sociais, enunClamos as ma~oes essas ligadas a altera~oes na estrutu senta~lio paranoide do mundo. Esta constata~ao visionamento da ac~lio de urn outro, 0 especta-
.l ' ra de Gerbner, apoiada em estudos longitudinais e dor tern acesso a emo~oes, experiencias e corn-
bases para a analise do processo de constru~ao socla no seu conJunto. No que se refere it repre_
social das representa~oes sociais numa pers- senta~ao do corpo, 10delet (1976) identificou refor~ada por estudos experimentais (Vala, portamentos que, em certas condi~oes, tern 0
pectiva psicossociologica. E esta a questlio que mudan~as, entre 1960 e 1975, em dois dos eixo 1984; Monteiro,1984), parte de uma reflexlio no mesrno impacto que a experiencia directa
vamos retomar. organizadores dessa representa~ao - 0 corp~ quadro da qual os meios de comunica~lio social, (Bandura e Walters, 1963), e que podem, por
vivido e 0 corpo pensado. Ao nivel do vivido e, especificamente, a televislio, sao representa- isso, validar, refor~ar ou mudar representa~oes.
operou-se uma extenslio da consciencia corporal dos como produtores da hegemonia de certas Embora numa proposta muito discutivel, ja
6.1. As pressoes para a hegemonia a prevalencia do corpo-prazer sobre 0 corp~ representa~oes sociais, substituindo-se ao papel MacLuhan (1968) mostrara como a televislio,
morbido e 0 dec1inio da introspec~ao orgfutica tradicional das institui~oes religiosas e de outros enquanto meio frio, engloba 0 espectador, faz
A perspectiva teorica que orienta a conceptua- em favor de uma orienta~lio para 0 meio natural aparelhos de controlo social. E e neste mesmo dele urn actor presente no ecra. Fenomeno tanto
liza~ao das representa~oes sociais sublinha 0 e social. Ao nivel do corpo pensado, verificou-se contexto que Noelle-Neumann (1984) fala da mais importante quanto, a verificar-se, perrnite a
papel activo dos actores sociais na sua produ- uma diminui~ao do interesse pela analise biol6- espiral do silencio, para referir a dificuldade das partilha de urn mesmo tipo de experiencias a
~ao. Mas esta orienta~lio nlio pode fazer esque- gica do corpo e urn apelo crescente as ciencias pessoas em expressarem outros pontos de vista milhoes de individuos simultaneamente. Por
cer a rela~ao entre as representa~oes sociais e as humanas, perrnitindo uma leitura do corpo como que nao os dominantes, sendo que a televisao e fim, convocar para a analise deste problema 0
configura~oes culturais dominantes, por urn lugar psicologico e objecto social. Ora, a propria representada como correspondendo aos gostos, conforrnismo, enquanto modalidade de influen-
lado, e a dinamica social no seu conjunto, por autora deste estudo associa estas mudan~as as op~oes e pontos de vista da maioria. cia social (veja-se 0 capitulo sobre a influencia
outro. Da conjuga~lio destes factores decorrem altera~oes socioculturais que, entretanto, ocor- Alguns factores de natureza psicossociolo- social), perrnitira nlio so uma melhor com-
linhas de for~a que ajudam a compreender 0 que reram e que se expressaram nos movimentos gica podem ajudar a compreender 0 papel da preensao das raizes do fenomeno como, tam-
podemos designar como pressoes para a hege- sociais de 68. Estes dois exemplos ajudam-nos a televislio na constru~lio de representa~oes hege- bern, 0 seu questionamento atraves da formu-
monia e homogeneiza~ao de certas represen- compreender a inscri~lio das representa~oes m6nicas. Sabemos que uma representa~lio so la~lio de hipoteses especificas e falsificaveis.
ta~oes sociais que, finalmente, estlio proximas sociais como reflexos de uma ordem social e adquire foros de verdade e de realidade quando
do conceito de representa~lio colectiva de cultural dominantes. e partilhada. Pois bern, as imagens e as repre-
Durkheim. Verifica-se, assim, uma larga per- Insistamos, ainda urn pouco mais, sobre a senta~oes veiculadas atraves do ecrli tern ja em
6.2. Diferenciafiio social
manencia temporal de algumas representa~oes compreenslio dos factores responsaveis pel a si a ideia de consenso, de partilha por uma larga e diferenciafiio
como, por exemplo, a representa~ao sobre 0 tra- consensualidade alargada de algumas represen- comunidade, 0 que facilita a adeslio confor- das representafoes sociais
balho como urn dever, geralmente associada a ta~oes ou pelo caracter hegemonico de algumas mista. Em segundo lugar, as representa~oes
etica protestante, mas que penetrou noutros delas. Vamos referir 0 papel dos meios de comu- vivern de metaforas, de figura~oes, de imagens: Num estudo diacronico, realizado por Mai-
padroes culturais e se mantem relativamente nica~ao social. o caracter «tecnico-formal» da televisao, sonneuve (1979), sobre a representa~lio da pes-
consistente desde ha seculos (e.g., Giorgi e A partir dos anos 80, a investiga~ao sobre os enquanto meio de comunica~ao, perrnite fazer soa, verifica-se a ocorrencia de fortes mudan~as,
Marsh, 1990). Assiste-se, por outro lado, a meios de comunica~lio social come~ou a rela- corresponder a cada palavra urn rosto, a cada entre 1957 e 1977, nessa representa~lio. Con-
transforma~oes profundas em certas represen- tivizar os resultados das pesquisas que haviam conceito e ideia uma imagem. A expanslio do tudo, estas mudan~as nlio ocorrem de igual
ta~oes, que so slio inteligiveis no quadro de solidificado a hip6tese dos efeitos m(nimos (e.g., audiovisual mergulhou-nos num mundo de ros- forma nos diferentes grupos sociais, sendo parti-
transforma~oes culturais mais vastas, como foi Klapper, 1960), para acentuar 0 papel da tele- tos, imagens e simbolos, nos quais se inscrevem cularrnente salientes as diferen~as entre as repre-
mostrado em estudos sobre a representa~lio da vislio na organiza~lio dos ritmos de vida, na as ideias mais abstractas, conferindo-lhes a senta~oes dos quadros e profissoes liberais e as
crian~a e sobre a representa~ao do corpo. activa~lio da saliencia de deterrninados aconteci- materialidade de que necessitam para viver, dos operanos e agricultores.
Chombart de Lauwe (1971) pOde verificar que mentos sociais, na produ~ao do esquecimento de reproduzir-se e tomar-se realidade. Lembremos, No ponto anterior, salientou-se urn certo
o pensamento social sobre a crian~a se constitui outros e, ainda, na constru~lio de atitudes e ainda, que a constru~ao de uma representa~lio e mlmero de mecanismos que podem ajudar a
como contraponto a este mundo e simboliza um representa~oes. Os estudos de Gerbner e cola- urn processo que, entre outros aspectos, reenvia compreender a hegemonia de algumas represen-
outro mundo, simboliza os parafsos perdidos de boradores (e.g., 1980; Morgan, 1990) neste para as experiencias da vida quotidiana e para a ta~Oes sociais. Sublinha-se, agora, a diferen-
cada tempo historico. Neste caso, as mudan~as dorninio slio particularrnente elucidativos, tendo actividade cognitiva que os individuos, a partir cia~ao das representa~oes enquanto expressao

na representa~lio da crian~a estarao associadas a mostrado como 0 mlmero de horas de exposi~lio daf, desenvolvem: 0 audiovisual e urn espa~o de das diferencia~oes no tecido social, das assime-
transforma~oes no imaginano social, transfor- a televislio esta correlacionado com uma repre- vivencia de experiencias vicariantes. Atraves do trias e da conflitualidade social.
494 •
495

Numa primeira perspectiva, a diferencia~ao sonambulismo social. Sao tam bern razoes empi_ identificam constituem as espa~os sociais de cep~ao seria, avant la lettre, urn trabalho sobre
das representa~oes sociais tern sido associada a ricas. As investiga~oes sobre os grupos de refe_ cria~ao, transforma~ao e aprendizagem de repre- os «metassistemas de pensamento e regulacrao
diferentes inser~oes dos individuos nos campos rencia (Hyman, 1942, Newcomb, 1963, Merton senta~oes sociais. social» (Doise, 1993a; Moscovici, 1976) na cons-
das estruturas socioeconomicas e sociocul- 1957), ou sobre a rela~ao entre a priva~ao rela~ Entende-se, desta forma, que os individuos tru~ao das categorias sociais. No quadro deste
turais. tiva (Runciman, 1966) e as atitudes sociais e constroem representa~oes sobre a propria estru- primeiro nivel de amllise do processo de anco-
Sem por em causa as virtualidades desta polfticas, sao dois exemplos que mostram Como tura social e as clivagens sociais, e e no quadro ragem, podemos, entao, formular a hipotese de
primeira perspectiva, discute-se a sua capaci- desde os anos cinquenta, se entende que as cren~ das categorias oferecidas por essas representa- que as representa~oes sobre a estrutura social
dade para, por si so, dar conta da complexidade ~as, valores e representa~oes sao menos deter_ \=oes que se autoposicionam e desenvolvem redes (e.g., Augoustinus, 1991), ou a estrutura social
do processo em causa. Alias, sera diffcil esca- minadas pelas «inser~oes sociais», tal como de rela~oes, no interior das quais se produzem e na consciencia social (Ossowski, 1962) ou ainda
par, nesse quadro analftico, a imagem do tradicionalmente descritas pelos paradigmas das transformam as representa~oes sociais: por urn «as cartas mentais sobre a cena social» (Martin,
homem como «homem-reflexo», no contexto classes sociais e da estratifica~ao social, do que lado, as representa~oes sobre a estrutura social, 1954), sao produtoras de categorias identitarias
da qual pelas representa~oes que os indivfduos cons- enquanto variavel independente, criam formas e dos seus conteudos (e.g., Amancio, 1995;
troem sobre as posi~oes que ocupam no sistema de categoriza~ao social ou grupos sociais; mas, Milward, 1995).
os grupos e os indivfduos estao sempre e completa-
de rela~oes sociais, tal como e por eles repre- por outro, as representa~oes sociais, enquanto o segundo nivel de analise da ancoragem,
mente sob 0 domfnio de uma ideologia dominante, que e
produzida e imposta pela sua classe social, pelo Estado,
sentado. variavel dependente, sao construidas no interior recorde-se, reporta as ancoras necessarias ao
pela Igreja ou pela Escola (Moscovici. 1984. p. 15). Ainda que se reconhe~a 0 papel activo dos dessas categorias ou grupos sociais. processo de constru~ao das RS. Se adoptarmos a
individuos e das redes de interac~ao na cria~ao Esta articula~ao dialectica foi objecto de linguagem de Doise (1992), entre estas ancoras
o paradigma da sociedade pensante das representa~Oes sociais, fica em aberto 0 reflexao original por parte de Breakwell (1993), incluem-se os posicionamentos simbolicos dos
(Moscovici, 1984a) parte de outros pressu- problema relativo a conceptualiza~ao das e Wagner e Elejabarrieta (1994), e pode ser individuos na estrutura social, problema que
postos: perten~as sociais que configuram essas redes de incluida na analise da ancoragem das represen- reenvia para os processos de categoriza~ao as
interac~ao. Ou seja, trata-se de saber como ta~oes sociais. identidades sociais e as rela~oes intergrupais.
Os indivfduos. longe de serem receptores passivos. teorizar a natureza dos grupos sociais e a sua Lembremos que, num primeiro nivel de Neste outro nivel de analise da ancoragem das
pensam por eles pr6prios, produzem e comunicam in- articula~ao com a constru~ao das representa~oes
cessantemente as suas pr6prias representa~oes e as
analise, a ancoragem das representa~oes sociais representa~oes sociais, estas constituem urn dos
sociais. Avan~amos, entao, uma segunda pers- refere-se ao seu papel enquanto ancoras que aspectos dedutivos, uma das manifesta~oes das
solu~oes para as questoes que eles pr6prios colocam ( ... ).
Os acontecimentos, as ideologias e as ciencias ofere cern pectiva, no quadro da qual se podera com- apoiam a constru~ao de categorias identitarias, consequencias da categoriza~ao social.
simplesmente "urn alimento para pensar" (Moscovici, preender a diferencia~ao das representa~oes de clivagens sociais e de posi~oes sociais, ou E no contexto deste outro entendimento sobre
1984a,p.16). sociais. Esta segunda perspectiva assenta na seja, as suas consequencias ou funcionalidade o processo de ancoragem que vamos desen-
articula~ao das identidades sociais e das repre- social. As representa~oes sociais constituem urn volver a nossa perspectiva sobre a diferencia~ao
Numa reflexao metateorica de orienta~ao senta~oes sociais. dos factores que intervem nos processos induti- social das representa~oes sociais.
semelhante, propusemos num outro texto (Vala, vos subjacentes a categoriza~ao. Neste primeiro No estudo, ja citado, de Val a et al. (1996),
1993) que a genese da representa~oes sociais a) Coloca~ao do problema senti do da ancoragem, as RS encontram-se a sobre as orienta~oes da psicologia social na
poderia ser situada no quadro da orienta~ao montante das identidades sociais e das rela~oes Europa, verifica-se que muitas investiga~oes
paradigmatica da Psicologia Social decorrente A analise das rela~oes entre as identidades entre grupos. De facto, algumas pesquisas sobre assentam na trfade conceptual formada pelas
da metafora da orquestra de jazz, tal como a sociais e as representa~oes sociais pode ser estu- a constru~ao de categorias sociais nao tern igno- rela~oes intergrupais, as identidades sociais e as
descreveu Varela (1984), metafora que da forma dada a partir de uma dupla perspectiva: rado 0 papel que as representa~oes sociais representa~oes sociais ...A sistematiza~ao teorica
ao homem-reflexivo, em oposi~ao a metafora do - estudo da hipotese segundo a qual as desempenham na sua produ~ao, assim como na desta articula~ao e, porem, ainda incipiente. As
sonambulismo social, que nos legou Tarde representa~oes sociais sobre diferentes domi- sua saliencia em contextos sociais especificos ideias que a seguir propomos sao apenas hipote-
(1890), e que da forma ao homem-reflexo. nios da vida social e sobre as rela~oes sociais (e.g., para uma revisao, Corneille e Leyens, ses, embora organizadas a partir de teorias ou
Mas nao sao apenas razoes conceptuais e geram os grupos ou as categoriais sociais com as 1994). 0 estudo de Moscovici (1961), sobre a dados empiric os solidos, e referem-se tao-so
teoricas que lev am a questionar 0 entendimento quais os individuos se identificam; representa~ao da psicanalise, oferece diversos a compreensao de genese das representa~oes
da diferencia~ao das representa~oes sociais no - estudo da hipotese de que as categorias e exemplos a este respeito, e 0 trabalho seminal de sociais a partir das identidades sociais. Antes de
quadro da imagem do homem-reflexo ou do os grupos sociais com os quais os individuos se Bruner (1957) sobre a categoriza~ao e a per- apresentarmos essas hipoteses, interessa justi-
496

497

ficar a pertinencia te6rica da articula~ao que se acompanhado de significa~oes emocionais e mente «real». Referimo-nos, nomeadamente, a decorrem, torna-se ainda saliente se considerar-
propoe. avaliativas. categorias que sao, elas pr6prias, recortadas na mos a pesquisa sobre a actualiza~ao contextual
A articula~ao entre 0 conceito de identidade, E, ainda, no quadro dessa rela~ao que Turner ordem do simb6lico, do cultural ou do religioso das categorias sociais realizada no quadro da
tal como pensado pel a teoria da identidade (1982) propoe que «urn grupo existe quando como, por exemplo, os religiosos, os de esquerda, teoria da autocategoriza~ao social (ver Oakes et
social (Tajfel e Turner, 1979), e 0 conceito de dois ou mais individuos se percebem como etc. Vanos estudos (e.g., Hooper, 1985) tern aI., 1994 e 0 capitulo sobre os estere6tipos).
representa~ao social traz vantagens para ambos membros de uma mesma categoria Social» mostrado como 0 entrecruzamento das lingua- Note-se, contudo, e mais uma vez, que essa teo-
os conceitos. A teoria das representa~oes sociais (p. 15). Contudo, esta defini~ao de grupo e de gens quotidianas, econ6micas, religiosas, admi- ria apenas tern mostrado urn conjunto de fac-
oferece, ao conceito de identidade social, uma natureza estritamente cognitiva, e e redutora, na nistrativas, jornalisticas, etc., produzem uma tores cognitivos e motivacionais que regulam a
forma de entendimento da genese das categorias medida em que nao considera que urn grupo e diversidade imensa de formas de categoriza~ao saliencia contextual das categorias de identifi-
sociais e hip6teses sobre a organiza~ao dos con- tambem construido a partir do exterior, ou seja, social relevantes para a cria~ao de grupos sociais ca~ao. Uma leitura mais sociocognitiva, e
teudos identitarios, nao apenas no que se refere das rela~oes que estabelece com outros grupos e de identidades. Entendidos desta forma, os gru- processual, deste mesmo fen6meno, construida,
aos estere6tipos, mas no que se refere a todos os (Tajfel, 1972; Deschamps e Clemence, 1990). pos sao 0 resultado de uma ac~ao discursiva, sao alias, na teoriza~ao sobre as representa~oes
conteudos atraves dos quais os grupos sao Corrigindo, numa perspectiva sociocognitiva, forma~oes simb6licas (Scott, 1988), que os indi- sociais, e proposta por Elejebarrieta (1994).
objectivados como realidades diferenciadas. aquela defini~ao de grupo, Brown (1989) pro- viduos essencializam e objectivam, e que nao Uma outra leitura, tambem mais social, deste
A teoria da identidade social oferece ao conceito poe que «urn grupo existe quando duas ou mais correspondem necessariamente as suas cha- fen6meno pode ser feita a partir do conceito de
de representa~ao s~cial hip6teses sobre a orga- pessoas se definem como membros de uma cate- madas «posi~oes objectivas» na estrutura social campo de Lewin (1951), ou da sua reformula~ao
niza~ao dos espa~os sociais de constru~ao e goria, e quando a existencia dessa categoria e (p. ex., classe, idade, genero, etc.). sociol6gica proposta por Bourdieu (e.g., 1979).
aprendizagem de representa~oes, e hip6teses reconhecida por, pelo menos, urn outro» (p. 2). Contudo, esta diversidade de formas de cate-
sobre os mecanismos cognitivos e motivacio- Esta defini~ao corresponde melhor a posi~ao de goriza~ao nao devera conduzir ao entendimento
c) Identitkules sociais, comparafiio social
nais que gerem a contextualiza~ao e a funcio- Tajfel, para quem urn grupo s6 existe em rela~ao da identidade social como uma colec~ao de cate- e construfiio de normas e crenfas grupais
nalidade das representa~oes sociais. a outros grupos. Numa perspectiva sociocogni- gorias, mas a hip6tese da sua organiza~ao
tiva, entao, urn grupo existe quando os indivi- dimensional. Neste sentido, nao s6 nao sera neu- Se 0 processo de categoriza~ao social permite
duos integram na sua autodefini~ao a perten~a tro 0 recurso, por parte dos actores sociais, a urn compreender a constru~ao dos grupos sociais e a
b) Categorizafiio social e identitkules sociais
a uma categoria social, sendo que esse processo tipo de categorias e nao a outro, como tambem identifica~ao com esses grupos, e atraves do
A articula~ao que se propoe mobiliza dois e regulado pela interdependencia entre os gru- nao 0 sera a organiza~ao dimensional das cate- processo de compara~ao social (Festinger, 1954)
processos basicos - a categoriza~ao social e a pos, pelas assimetrias sociais e por rela~oes de gorias de perten~a, produto de diferentes repre- que os individuos aprendem, integram e avaliam
compara~ao social. 0 primeiro (ver Capitulo X) poder. senta~oes sobre a ordem social e as rela~oes as representa~oes sociais que torn am distinta
permite uma abordagem sociocognitiva dos con- A compreensao dos grupos sociais e dos sociais. uma categoria de outra categoria, ou que dao
ceitos de grupo e identidade social; 0 segundo processos de identifica~ao social, na acep~ao Se entendermos os grupos sociais e as iden- sentido a uma dimensao da identidade social
permite compreender como se estruturam as que aqui Ihe atribuimos, implica alguns desen- tidades sociais como representa~oes sociais, (Tajfel e Turner, 1979). Na sequencia de
representa~oes no interior dos grupos sociais. volvimentos. torna-se claro 0 caracter processual daqueles Festinger, 0 papel da compara~ao com outros
Tomemos como ponto de partida 0 processo No que respeita ao tipo de categorias em conceitos. As identidades e os grupos nao sao relevantes no processo de constru~ao das
de categoriza~ao social. Como se sabe, este causa, havera a tendencia para considerar ape- essencias ou entidades, sao constru~oes sociais opinioes pessoais tern sido teorizado e ilustrado
processo refere-se a percep~ao e organiza~ao do nas, como observa Mugny (1981), as categorias essencializadas e objectivadas, no processo de empiricamente por diferentes autores (e.g.,
meio ambiente em classes de objectos, aconte- «realmente existentes» (as mulheres, os negros, constru~ao social do conhecimento sobre os Fishbein e Ajzen, 1975; Levine e Moreland,
cimentos e grupos de pessoas. A rela~ao entre a os emigrantes, as classes medias, etc.). Trata-se fen6menos sociais e os grupos humanos 1987). A teoria da autocategoriza~ao (Turner et
categoriza~ao social e a identidade social, ou a de uma limita~ao a ultrapassar, na medida em (Allport, 1954; Rotbarth e Taylor, 1992; Cor- aI., 1987) propoe que a saliencia de uma dimen-
identifica~ao com grupos sociais, foi proposta que as virtualidades da hip6tese exposta per- neille e Leyens, 1994). A pr6pria ideia de con- sao da identidade social esta associ ada a per-
por Tajfel (1972). E e no quadro dessa rela~ao mitem considerar todo 0 tipo de categorias tinuidade das categorias sociais e 0 resultado do cep~ao de partilha de normas grupais (valores,
que esse autor define a identidade social como 0 sociais que os individuos considerem relevantes processo de essencializa~ao e objectiva~ao representa~oes, comportamentos), e que a salien-
reconhecimento da perten~a a certos grupos ou para a sua identidade, ou para a sua diferencia~ao pr6prio do senso comum. A dimensao proces- cia dessas normas para urn individuo sera tanto
categorias sociais, reconhecimento esse que e social, e as quais atribuem urn estatuto igual- sual dos grupos, e das identidades que deles maior quanta mais saliente for uma identifi-
498 499

ca~ao categorial. Podemos, entao, dizer que os sujeitos em que essa dimensao da identidade nao
individuos quando respondem a pergunta «quem foi experimental mente tornada saliente. Na o QUE E A INTELIGENCIA?
sou eu?», nao so se definem em termos de mesma linha de argumenta~ao, urn estudo de
perten~as categoriais como, tambem, e simul- Allen e Wilder (1975) pode tambem ser evo_ Todos nos temos uma defini~ao de inteligencia que consideramos mais correcta. No entanto. alguns estudos
taneamente, se atribuem normas, val ores e repre- cado. Estes autores, numa pesquisa laboratorial sugerem (Poeschl, 1992) que estamos peontos a reestruturar essa detinil;ao cad a vez que. ao evocar esta propriedade
senta~oes percebidas como distintivas dessas criaram dois grupos com base em suposta~ dos indivfduos, somos levados a identificar-nos com um grupo e a comparar-nos com urn exogrupo.
Enquanto seres humanos. opomos a logica rigorosa da inteligencia da maquina a natureza criativa de nossa
perten~as. Isto e, a resposta a pergunta «quem preferencias artisticas . Pediram depois aos inteligencia. Mas quando comparamos a inteligencia do homem com a do animal, revalorizamos as nossas capaci-
sou eu?» encerra a resposta a uma outra per- sujeitos que respondessem a urn questionano no dades cognitivas, que contrastamos com os instintos das «criaturas inferiores».
gunta: «Que significa ser membro deste qual deveriam exprimir as suas proprias opi- De propriedade unica e definicional do ser humano, a inteligencia torna-s'e propriedade multipla, quantitativa
grupo?». A cren~a de que urn grupo existe, e de nioes, as opinioes de urn membro do seu grupo e qualitativamente diferente, quando associ ada a diferentes grupos sociais. Por exemplo. a inteligencia masculina
que se e membro de urn grupo surge, assim, e as de urn me'mbro do outro grupo. Os resulta- teria uma dimensao especffica, 0 sucesso social, enquanto que a inteligencia fern in ina integr.lfia uma dimensao muito
particular, 0 channe e a feminilidade. Sao as mulheres que mais valorizam as dimensoes tfpicas dos dois grupos
associada com cren~as sobre as representa~oes dos mostram que os sujeitos atribuem aos mem-
sexuais. possivelmente numa tentativa de justificar a sua posi~1Io na hierarquia social. sem prejufzo pel a sua identi-
normativas desse grupo (Bar-Tal, 1990). bros do seu grupo opinioes similares as suas e se dade social.
Embora 0 corpo central das ideias expostas diferenciam dos membros do outro grupo, Dentro da institui~1io escolar. diferentes gropos veiculam diferentes definic;Ocs da inteligencia, e atribuem con·
tenha sido desenvolvido pela teoria da autocate- mesmo em questoes nao relativas a aspectos cep~oes sobre a inteligencia aos especialistas com quem, nesse contexto, interagem. De forma geral, considera-se que
goriza~ao (Turner et ai. , 1987), enquanto exten- artisticos, factor com base no qual os grupos os psicologos, na sua defini~1io de inteligencia, vaJorizam particularmente 0 conhecimento de si proprio, enquanto
sao da teoria da identidade social (Tajfel e haviam sido constituidos. Verificamos, assim, que os pedagogos d1l0 mais importiincia as competencias escolares. Uma comparac;1io entre representac;oes proprias
e representac;oes atribufdas revela que todos. incJusivamente as docentes. procuram diferenciar-se dos pedagogos,
Turner, 1979), ele esta ja presente em velhas como os processos de categoriza~ao se arti- dando uma importancia muito menor as competencias escoJares na definic;iio da inteligencia. Existem. contudo. algu.
pesquisas da psicologia social e em pressupostos culam com a compara~ao social no sentido de mas varia~oes nas concep~oes atribufdas aos psicologos. Por exemplo, os "aprendizes" acentuam a importiincia das
teoricos que con vern nao esquecer. Vejamos produzir percep~oes de semelhan~a de cren~as e actividades socioculturais na defini~1Io dos psicologos, tal como na sua propria concep~iio, sugerindo que se sentem
alguns exemplos. normas grupais de referencia. De igual modo, algo proximos destes profissionais. Pelo contrano, os docentes consideram que os psicologos vaJorizam pouco os
Num estudo realizado, nos Estados Unidos, estes mesmos processos estao presentes na estudos e as aquisi~oes escolares, evidenciando as rela~oes conflituais que existem entre os do is grupos.
junto de protestantes metodistas e baptistas valida~ao social das opinioes, das cren~as e das
Texto elaborado por Gabrielle Poeschl, COlli base lias SIlas pesqllisas sobre a represell/a~'iio social do
sobre a atitude face ao baptismo por aspersao representa~oes sociais polemic as (Vala, Garcia-
illteligellcia (Poeschl, 1998) .
(caracteristico dos metodistas) ou por imersao -Marques, Pereira eLopes, 1998).
(caracterfstico dos baptistas), os inquiridos Olhemos agora a outra face desta mesma
foram ouvidos em duas situa~oes experimentais: moeda. Ate agora consideramos que, quando
a metade dos inquiridos pedia-se, pura e sim- uma pessoa se atribui uma dada perten~a cate- social, e levada a questionar a imagem propria e da articula~aoentre as identidades sociais e as
plesmente, a sua opinHio pessoal (a favor da gorial, faz decorrer dessa perten~a determinadas tende a criar expectativas sobre si, de acordo representa~oes sociais. Esta articula~li.o e, con-
aspersao, a favor da imersao, indiferen~a); aos visoes do mundo. Da mesma forma, quando a com a identidade hetero-atribuida. Estas obser- tudo, particularmente importante no caso das
restantes pedia-se a sua opiniao, enquanto fieis alguem e atribufda, por outrem, uma determi- va~oes evidenciam 0 fenomeno que ja sublinha- representa~oes sociais polernicas.
de cada uma daquelas confissoes religiosas. No nada posi~ao categorial, espera-se dessa pessoa mos - as identidades de urn individuo, 0 seu Lembremos que/estas representa~oes se cons-
primeiro caso, a maioria dos membros de ambos atributos e cren~as concordantes com a posi~ao valor e as representa~oes a elas associadas nao tituem nas rela~oes conflituais entre os grupos
os grupos manifestou indiferen~a por qualquer em que foi categorizada. Neste caso, estariamos resultam apenas de processos de autocategoriza- sociais, na polernica social em torno de proble-
das formas de baptismo. No segundo caso, 90 em presen~a do efeito das profecias que se auto- ~ao, mas tambem de processos de hetero-catego- mas estabelecidos a partir de urn universo de
por cento dos metodistas e 67 por cento dos confl1111am (Merton, 1957), com dois tipos de riza~ao. significados e valores comuns. A polemica
baptistas deram respostas de acordo com a repre- consequencias, sublinhadas por Levine, Resnik e social requer que os membros de urn grupo
senta~ao normativa do seu grupo religioso Higgins (1993): por urn lado, atribuir a uma d) Identidades sociais saibam, ou julguem saber, 0 que e normativo 0
(Schank, 1932, citado por Stoetzel, 1943). pessoa uma dada perten~a categorial, cria a e representafoes sociais polimicas seu grupo pensar, e 0 que e normativo os outros
Activando tambem a identidade religiosa, expectativa de que essa pessoa possui, de facto, grupos pensarem sobre 0 mesmo objecto.
Charters e Newcomb (1952) obtiveram res- determinadas cren~as; e, por outro lado, quando As hip6teses teoricas, anteriormente avan- Assim, as representa~oes polemic as podem ser
postas mais ortodoxas do que aquelas que deram uma pessoa ve ser-Ihe atribuida uma posi~li.o ~adas, constituem as bases para 0 entendimento pensadas como envolvendo meta-informat;iio
500
• 501

acerca do grupo que as partilha, 0 que Wagner estudo da topografia das identidades e das Ilustremos este ponto de vista com alguns mais negativas nao s6 sobre os estere6tipos do
(1995) designa como a caracteristica holom6r- representa~oes sociais como, por exemplo, a dos resultados de uma pesquisa de Doise exogrupo, 0 que, a partir de Sherif (1966), ja
fica destas representa~oes. pesquisa de Lima (1995) sobre a percep~ao dos (196911984). Este autor pediu a estudantes de havia sido mostrado muitas vezes, mas tambem
As rela~oes entre autocategoriza~oes, identi- terramotos nos A~ores, ou a pesquisa de Vala e uma Escola de Arquitectura privada, em Paris, sobre os valores do exogrupo (Vala, 1997). Estes
dades e ancoragem das representa~oes sociais, Amancio (1995) sobre as representa~oes da que respondessem a urn questionano de opiniao estudos, entre outros (e.g. , Echebarria et a/.,
nomeadamente as representa~oes polemicas, ciencia entre os investigadores portugueses. sobre a sua Escola, e sobre a Escola de Belas- 1992; 1994; Di Giacomo, 1980; Poeschl, 1998),
podem ser estudadas de forma topogrdfica, ou Esta perspectiva pode, porem, conduzir a -Artes, uma escola publica, com mais prestigio constituem exernplos de como varia~oes nos
taxon6mica, e a partir de urna perspectiva pro- homologias simplistas entre identidades e repre- do que aquela. Estas opini6es foram recolhidas contextos de compara~ao e categoriza~ao
cessual. Na sua dimensao topognlfica ou taxo- senta~oes, tal como, no passado, se estabelece_ em duas condi~oes experimentais: numa, os sociais, e nas rela~oes intergrupais, se reflectem
n6mica, as questoes a estudar serao orientadas ram homologias, tam bern simplistas, entre, por estudantes exprimiam simplesmente a sua na reconstru~ao contextual das representa~oes
pel a hip6tese segundo a qual uma dimensao, ou exemplo, posi~oes de classe e posi~oes ideol6- opiniao sobre as duas escolas; na outra, expri- sociais, hip6tese que Doise (1973) enunciou ha
urn conjunto de dimensoes, da identidade social gicas. Ao mesmo tempo, se considerarmos a miam a sua opinHio pessoal e tambem a opiniao cerca de duas decadas.
orienta a estrutura~ao da representa~ao de urn multiplicidade de identidades sociais de Urn que atribufam, sobre as mesmas questoes, aos Concluindo: ba representa~oes que se im-
objecto. Na dimensao mais processual, trata-se mesmo individuo, temos que adrnitir que Urn estudantes da Escola de Belas-Artes. Nos dois poem aos indivfduos, que sao hegem6nicas e,
de analisar a hip6tese de que sao as rela~oes mesmo individuo possa ter diferentes represen- casos, a imagem da escola privada e mais nega- em larga medida, indiscutfveis. Mas ha tambem
entre grupos, ou dimensoes da identidade, tal ta~oes sobre urn mesmo objecto. Ora, a pers- tiva, mas e rnuito mais negativa no segundo caso representa~oes discutiveis, e discutidas pelos
como se organizam num determinado contexto, pectiva taxon6rnica nao permite entender quais do que no primeiro. Ou seja, a activa~ao da diferentes grupos sociais, e cuja consensuali-
que orientam a reconstru~ao contextual e a as representa~oes, entre 0 leque de represen- rela~ao assirnetrica entre os dois grupos conduz dade, no interior dos grupos e entre grupos, se
mudan~a das representa~oes sociais. ta~oes que se tern sobre urn mesmo objecto, a polariza~ao da imagern negativa do grupo vai construindo e desconstruindo, a par com
Vejamos algumas ilustra~oes empiricas da serao activadas num dado contexto. Final- dominado. a conflitualidade, contextual ou estrutural, que
perspectiva topognlfica. Num estudo sobre a mente, a perspectiva taxon6mica pode conduzir Neste caso, assistimos a polariza~ao de uma atravessa as rela~oes sociais e a actividade
representa~ao social do poder, realizado junto de a ideia de urn report6rio de identifica~oes fortes representa~ao decorrente da acentua~ao contex- cognitiva e estrategica dos actores sociais. Sao
uma amostra representativa da popula~ao por- e estaveis, e de representa~oes, tambem fortes e tual de rela~oes de dornina~ao entre grupos. Este estes ultimos fen6menos que as hip6teses for-
tuguesa, identificaram-se diferentes represen- estaveis, sobre urn mesmo objecto, ideia que mesmo processo pode conduzir, mais do que a muladas sobre a diferencia~ao social e a dife-
ta~oes (igualitaria, meritocratica, fatalista e nao da conta das mudan~as nipidas e das con- polariza~ao de representa~oes, a sua transfor- rencia~ao das representa~oes sociais pretendem
conflitual) deste objecto; e mostrou-se, por tradi~oes no sistema individual de identifi- ma~ao contextual. Por exemplo, Poeschl (1992) elucidar.
exemplo, como a representa~ao igualitana do ca~oes. Para ultrapassar estas dificuldades, sera oferece-nos vanos exemplos de pesquisa sobre
poder se encontra fortemente associada a uma necessano olhar para a rela~ao entre identi- as representa~oes da inteligencia, em que mostra
dimensao da identidade social que foi designada dades sociais e representa~oes sociais numa como estas representa~oes sao transformadas em Resumo
por identidade de empenhamento social, dimen- perspectiva processual. fun~ao dos atributos tipicos das categorias
sao da identidade que agrega a perten~a subjec- Esta nova perspectiva assenta no principio sociais contextual mente tornadas salientes, e das A par do desenvolvimento da Psicologia
tivamente saliente aos grupos sociais que te6rico de acordo com 0 qual a rela~ao entre urn rela~oes sociais entre essas categorias: nao e a Social cognitiva nos Estados Unidos e, posterior-
apoiam os sindicatos, se interessam pel a poli- sujeito, individuo ou grupo, e urn objecto de mesma coisa pensar a inteligencia como uma mente, na Europa, 0 conceito de representa~ao
tic a, tern preocupa~oes sociais e rejeitam a representa~ao e contextual, e sempre mediada propriedade dos humanos e pensar a inteligencia social e a sua progressiva teoriza~ao, reactivando
perten~a a direita politica (Vala, 1990). Num pel a rela~ao entre esse sujeito e urn outro num contexto em que se torna saliente a assime- uma velha tradi~ao em Psicologia Social, abriu
estudo sobre a representa~ao da inteligencia, sujeito, individual ou colectivo (Moscovici, tria masculino-ferninino (ver Caixa da p. 499). espa~o a urn novo tipo de entendimentos sobre a
Amaral (1997) confrontou 0 poder preditivo da 1970). No caso das representa~oes sociais Tambem num estudo sobre as representa~oes dos actividade cognitiva e simb6lica dos individuos
ancoragens sociol6gicas e das ancoragens psi- polernicas, aquele em que a articula~ao proposta grupos sobre os grupos se mostrou como a per- nas suas interac~oes quotidianas. A forma~ao e 0
cossociol6gicas, e encontrou uma associa~ao se torna mais imperativa, considera-se que e a cep~ao da interdependencia negativa entre urn funcionamento das representa~oes sociais, en-
significativa entre a teoria do dom e a identidade representa~ao sobre 0 sistema de rela~oes inter- exogrupo e urn endogrupo, comparativamente quanto teorias sociais pniticas acerca de objectos
politic a de direita. Outros estudos, tambem grupais que determina a representa~ao sobre urn com contextos de percep~ao de interdependencia sociais particulares, tern subjacente dois pro-
realizados em Portugal, tern contribuido para 0 qualquer objecto implicado nessa rela~ao. positiva, conduz a constru~ao de representa~oes cessos maiores: a objectivar;iio e a ancoragem.

502

CAPITULO XV
A objectiva~ao pennite compreender como, no Na nossa epoca, de par com as pressoes par
sen so com urn, as palavras e os conceitos sao a hegemonia e a homogeneiza~ao de algumaa
transformados em coisas, em realidades exte- representa~oes, verifica-se que muitas dela:
riores aos indivfduos. A ancoragem refere a
transforma~ao do nao familiar em familiar, urn
assumem, cada vez mais, urn caracter de tranSI-.
toriedade, discutibilidade e polemica. As teoti
Contextos territoriais
psicossociologicas sobre a constru~ao e 0 fu:~
processo que remete para a sociogenese das
representa~oes sociais e para a sua funcionali- cionamento dos grupos socia is e sobre as feno_
e a perspectiva ecologica
dade. Esta dimensao funcional e pnitica das repre-
senta~oes sociais manifesta-se na organiza~ao
~enos da identidade social constituem um
Importante factor na compreensao da diferen-
em Psicologia Social
dos comportamentos, das actividades comunica- ciariio social e da dinamica das representa~oes
tivas, na argumenta~ao e na explica~ao quoti- sociais, conceito nuclear na Psicologia Social do
dianas, e na diferencia~ao dos grupos sociais. conhecimento quotidiano.
Luis Soczka

1. A necessidade de uma nova o que esta fundamental mente em jogo e a


Psicologia Social crftica dos model os herdados do paradigma po-
sitivista, dominante desde 0 seculo XIX e que
E frequentemente afirmado que a Psicologia presidiu ao proprio nascimento da psicologia
Social vive hoje em dia uma crise de identidade. enquanto ciencia autonoma, mas hoje moribundo
o que emerge um pouco por todo 0 lado e fun- - ainda que espemeando, como 0 demonstra a
damentalmente a necessidade de uma nova reac~ao agreste de urn dos mais representativos
maneira de abordar e olhar 0 objecto da psicolo- e radicais positivistas, F. B. Skinner (1987).
gia, isto e: de urn novo paradigma. Numerosos Apos urn seculo de dominancia positivista,
autores acentuaram, no decorrer da decada de em que posturas a-temporais e a-contextuais
80, a falencia dos modelos psicologicos tradi- viciaram profundamente a investiga~ao psi-
cionais e ainda dominantes, nomeadamente no cologica, entramos hoje numa era em que cada
domfnio especffico da Psicologia Social, que vez mais se compreende 0 fraco valor heurfstico
vive hoje uma crise paradigmatica sem prece- dos modelos tradicionais, tantas vezes alien ados
dentes apesar das resistencias ainda solidas dos da realidade concreta e isolados em torres de
seus modelos mais tradicionais. Mas sem deter, marfim. Reclama-se uma psicologia com-
e certo, 0 monopolio desta «crise de cresci- preensiva e dotada de validade ecologic a, isto e:
mento», a qual abrange a propria psicologia que assegure que 0 desenho da pesquisa, 0 sis-
como urn todo (Harre e Secord, 1971; Bronfren- tema conceptual aplicado ao fenomeno estu-
brenner, 1979; Harre, 1979, 1980; Koch, 1981; dado e os procedimentos usados sejam capazes
Reason e Rowan, 1981; Secord, 1982; Gergen, de proporcionar informariio relevante ace rca
1982, 1985; Manicas e Secord, 1983; Faulconer da variariio sistematica (no tempo, no espar;o e
e Williams, 1985; Lincoln e Guba, 1985; no contexto) das componentes do cenario que
Altman e Rogoff, 1987; Valsiner, 1987; Reason, afecta 0 fenomeno em questiio (Winkel, 1987).
1988; Moen et aI, 1995; Kindermann e Val siner, Procura-se, pois, uma psicologia das pessoas
nos seus cenarios de vida reais, capaz de res-
1995).
504 505

ponder as interrogayoes acerca das transacyoes como se de estruturas sem genese, sem contexto
entre os processos psicologicos e as aCyoes e sem hist6ria se tratasse. Rotulagens, dirfamos, AS VISOES POSITIVISTA E p6S-POSITIVISTA DA CIENCIA
humanas, e os contextos e cemirios quotidianos sem processos psicologicos a elas subjacentes.
Axioma 1: .lObre a natl/rew cia realidade - ontologia
em que elas se desenrolam (cf. Soczka, 1989). A perspectiva interaccionista pertence ainda
Na sua perspectiva crftica da evoluyao dos ao paradigma positivista, e sob este ponto de - Positivi.WI/(): pres~uposto ontologicll de que M uma realidade simples e «exterior» que pode dividir-se em
partes susceptfveis de serem estud,ldas em separado; 0 !Odo nao e mais do que a sOInn das partes. A investignrrao
modelos ao longo da historia da psicologia, vista a psicologia e encarada como a busca de pode convergir ate que sejn prevista e controilidn.
Altman e Rogoff (1987) distinguem quatro leis que permitam a previsao e 0 controlo dos - Pos-posilil'isl//o: hii muhiplas realidades construfdas que podem ser estudadas de forma holfstica; a inves-
grandes «visoes do mundo» que marcaram os comportamentos e processos psicologicos, vistos tigarrao dessas multiplus realidades necessariamente conduz a divergencias (cada investigarrao levanta mais questoes
pressupostos epistemologicos e metodologicos nao como intrapsfquicos e autogerados, mas do que fornece respostas) de tal forma que a previsao e 0 controlo sao resultados improvuveis, se bem que algum
da investigayao psicologica: a perspectiva dos como respostas de sujeitos passivos a estfmulos nfvel de compreensao (Verslelu!II) possa ser alcanrrndo.
trar;os, a perspectiva interaccionista, a perspec- e situa~Oes extemos condicionantes das suas Axioma 2: sobre a.{ re/afiie.\· emre 0 cOllllecellle e 0 conllecido - epistemologia.
tiva organ(smico-sistemica Ua pos-positivista) e respostas e comportamentos. E a psicologia de - Posilivisl//o: pressuposto epistemologico da separa<;ao entre observador e observado - 0 conhecente e 0
a perspectiva transaccional (ver caixa na que 0 behaviourismo, nas suas variadas formu- conhecido constituem uma dualidade discreta.
p. seguinte). la~oes, e a expressao mais pura e definida. Pode - Pe)S-pOSilivisl//o: 0 investigador e 0 «objecto» da sun investigarrao interagem e influenciam-se reciproca-
Na perspectiva dos trar;os, os esforyos cen- afmnar-se certamente ser este 0 modelo de maior mente: conhecente e conhecido sao inseparuveis.
tram-se no estudo do indivfduo e dos seus sucesso e a visao mais dorninante na psicologia Axioms 3: .mbre liS pm'sibilidades de gelleralizar;iio.
processos intrapsfquicos, mas isolados dos seus do seculo xx. A sua visao do mundo correspon- - Positil'iSlIlo: pressuposto da independencia temporal e contextual das observarroes, de tal fonna que 0 que
contextos extemos e da sua temporalidade, que deria, em ffsica, a urn modelo newtoniano, em e verdadeiro num dado tempo e lugar pode, em circunstancias apropriadas (tais como a amostrageml. !>er tambem
nesta perspectiva sao ou ignorados ou conside- que se estudariam os impactes de umas bolas verdadeiro noutro tempo e noutro lugar. 0 objectivo da investiga~ao e desenvolver um corpo nomotetico de
rados de caracter secundano. Filosoficamente, (estfmulos) sobre outras (sujeitos), extraindo daf conhecimentos sob a fomla de generaliza~oes que constituem asser~Oes livres do contexto e do tempo, aplicuveis
para ~empre em qualquer lugar.
acredita-se na causalidade intema dos feno- leis estruturais capazes de preyer for~as e movi-
- Pos-positil'islllo: 0 objectivo da investigarriio e desenvolver um corpo ideogrdfico de conhecimentos sob
menos psicologicos, e os psicologos operam mentos (respostas), sempre os mesmos dadas nas a fomla de «hipoteses de trabalho» que descrevem 0 casu singular.
como observadores extemos em busca de uma mesmas circunstancias. Nesta perspectiva, pro-
Axioma 4: sobre as possibilidades de cOllexoes ca/l.mis.
«realidade objectiva» na qual nao estao implica- curam-se ainda as «causas das coisas», enca-
dos. Implica~ao esta, alias, que e vista como radas de urn ponto de vista de causalidade linear, - Positil'iSlllo: pressuposto de causalidade linear; nao hll efeitos sem causa.~ nem callsa.~ sem efeitos; cada
acrriio pode ser explicada como resultado (efeito) de uma causa real que precede no tempo 0 efeito.
«rufdo» a elirninar atraves de «correctas» pos- as mesmas causas produzindo os mesmos efeitos - P6s-positivislllo: todas a.~ entidades se encontram num estado de moldagem recfproca e simult5nea. de tal
turas metodologicas, e nao como informa~ao nas mesmas situa~Oes. Nas expressoes mais fonna que e impossfvel distinguir entre causa.~ e efeito~.
relevante para a propria investiga~ao. Esta visao simplistas do modelo estfmulo-resposta do beha-
Axioms 5: sobre 0 papel dos va/ores IICl illl'esligafiio - axiologia.
do mundo aposta ainda na existencia de leis psi- viourismo classico (Watson, 1919; Skinner,
- Positivi.fllm: pressuposto axiologico da independencia em relac;ao aos valores, ou seja, a metodologia
cologicas universais, cuja descoberta e 0 proprio 1938, 1969), ate as suas versOes estfmulo-(orga-
garante que os resultados de um estudo sao essencialmente independentes das intluencias dos valores do observador,
objectivo da psicologia, de forma a poder preyer nismo )-resposta dos actuais modelos do compor- vistos como enviesamentos.
cientificamente os comportamentos. E uma pers- tamentalismo, reencontramos sempre como pano - P6s-positivislllo: a investigarriio nao e separavel dos valores do investigador pelo menos em cinco aspec-
pectiva tfpica de teorias da personalidade como de fundo epistemologico 0 positivismo. Tal e tos, a seguir apresentados como corohirios:
as de Eysenck (1970) ou de Cattell (1945, 1950, qual como no modelo precedente, os psicologos Comlcirio I: a investig:lI;lio c innuenciada pclos valores do investigudor. expressos na propria cseolha dos problemas a
1977), para citar apenas estes exemplos, ou ainda desempenham 0 papel de observadores extemos investigar, avaliar;iio. enquadramcnto C op(,:oes de acrrao.
Com/cirio 2: a invesligarriio c innuenciada pela escolha do paradigma que orienta 0 proccsso de invcstigarrao.
de todas as tipologias caracterologicas como as de uma realidade supostamente objectiva, cuja CClmftirio 3: a invcsligar;ao e innuenciada pelu tcorill substuntiva utilizada para orientar u pesquisa. colher os dados.
de Heysman-Wiersma-Le Senne que fizeram descoberta e a sua missao cientffica (tanto nnalisa-Ios c interprelar os resultado~.
moda na primeira metade do sec. xx. E uma mais cientffica quanto a independencia entre 0 Corofcirio 4: l! investigarriio e innucnciada pcll1S valores incrcntes ao contexto.
Coro/tirio 5: Em funrriio dos corohirios I a 4. l! invcsliga"iio ou C ressonantc dos val orcs Crcforrr;mte e congntenle) ou dis-
perspectiva ainda reconhecfvel nas classifica~oes observador e 0 observado estiver assegurada
~on;tnte em rel:tr;ao aos valorcs (conOituosa). Problem;l. avaliarrao. p;\Tudigma. tcoril! e eontexto tem de ser congntentes para a
de quadros psicopatologicos de caracter nao- metodologicamente, e os fen6menos observados invesligm;ao apre~entar resultados com scntido.
-dinarnico, onde listas de tra~os comportamen- forem replicaveis por observadores indepen- (Y. S. Lincoln e E. G. Gubu. NCltlll'lllislic IIII/Iliry. 1985)
tais constituem a base de decisao diagn6stica, dentes dadas as mesmas circunstancias). E nesta
506 507

perspectiva que 0 experimentalismo psicologico ~1972, 1979) e de Urie Bronfenbrenner (1979).


encontra 0 seu mais seguro ponto de apoio, mas E uma posicriio prevalecente na modema teoria AS LIMITA<;OES DO EXPERIMENTALISMO LABORATORIAL
tambem onde e maior a alienacrao e a invalidade da famfIia e na correspondente terapia familiar EM PSICOLOGIA SOCIAL
ecologica da pesquisa, dominada pela busca da como se sabe (cf. Minuchin, 1974; Sampaio ~
Au lim e ao cabo. uma experiencia consiste numa interac'fiio entre uma st!rie de pessoa~ em <.Jue instrw,:oes
assepsia metodologica em que 0 experimenta- Gameiro, 1985; Vetere e Gale, 1987; Gameiro ~ao dada,. tarefa~ cumpnda~, pessoas apresentada~. reputa'f6es conquiMada, ou perdidas. Ullla experii!ncl3 e um
lismo laboratorial surge como modelo ideal, 0 1992). Em psicologia social do desenvolvi~ acontecimento social. A questfio de saber de que tipo e e~se acontecil11cnto torna-M! prel11ente se nos interrogarl11(Js
que fez que, em psicologia social do desenvolvi- mento, ha que referir a obra de Bronfenbrenner , e alinal ele e um acontecimento tfpicn. uu seja. se ele e um acollteci mentu que m:orre frequentemente no mundo
mento, Bronfenbrenner (1979) caricaturasse (1979, XXXXX; Bronfenbrenner e Crouter, real da aC'fao social. Se e, entao temu, mziie~ para crer que 0 que acolltece ali tem algul11a reln'fao com ns coisas <.Jue
esta perspectiva como a ciencia do estranho ncontecem na vida real. Mu, ,ucede. todavia. <.Jue ha duas razoes para crer <.Jut! a, experiencias classicas nao sau
1983; cf. Soczka, 1989), que na sua teoria ecolo_
acontecimentos sociais tfpicos.
comportamento das crianras em situaroes estra- gica do desenvolvimento humano apresenta Urn iJ As experiencias ocorrem em lugares especiais. usual mente chamados laborattSrios de Psicnlogia Social.
nhas com aduLtos que Ihes siio estranhos. modelo integrativo das transaccroes pessoa- onde um ambiente simplificado com paredes nfio decoradas. mobflias simples. raramente mais do que duas cadoiras,
durante os mais breves perfodos poss(veis de -cemirios (fisicos e sociais) a partir da inter- a face misteriosa de urn espelho de visao unidireccional e ate tal vez 0 nlhar lixo de uma dimara de televisao. Sau
tempo. Tire-se «criancras» e ponha-se «sujeitos conexao entre sistemas progressivamente essas as cllndi'f0es ambientais em que ocorrem as experiencias sociopsicologicas. Mas na vida real as coisas 'Icon-
estudantes universitanos (nol111almente de psi- envolventes - desde os microssistemas (onde se tecem em ambiente~ altamente diferenciados. ri cos no que respeita as componente\ visuais e acusticas. recheadas de
objectos simb6licos. que dirigem ou determinam os processo, interpretativos e as escolha~ dos sistemas de regnl~
cologia)>> e a frase poder-se-ia aplicar, na integra, process am padroes de actividades, papeis e
dos actores . 0 ambiente ~impliflcado das experiencia~ sociopsicol(lgicas conduz inevitavelmente a irresoluvel
a uma multidao de estudos experimentais da relacroes interpessoais em cenanos ambientais ambiguidade da interprela'fao. Os actores pura e simplesmente nao sabem a que si~tema de regras devem recorrer.
Psicologia Social contemporanea, cIaramente dotados de propriedades materiais particulares), Toda a gente Ilea tolhida pela incerteza. No linal. presume-se. sao dad as a, respo~tas mais gerais e inespedficas que
dominada por esta «visao do mundo». De notar, os mesossistemas (que interconectam os vanos e possfvel. tal como seriam dadas nllma , itua'fao altumente ambfgua da vida real, como num encontrn de eSlranhos
todavia, que mesmo no seio da perspectiva microssistemas onde a pessoa participa directa- num sitio publico. Sao con~lruida~ resposlas deliberadamente amb iguas. que poderao ,er depnis reinterpretada:,.
interaccionista se ergueram vozes reclamando a mente), os exossistemas (que constituem cena- Parece que. na ausencia de urn ambiente interpretado. um Ullllrell social. nenhuma conclusao pooe ,er
extrafdo acerco de qual tern sido 0 ,istema de regras <.Jue foi utilizado na~ uctividades ocorridas nesses lugares indi-
contextualizacrao da investigacrao psicologica, rios abrangentes dos mesossistemas e que os
ferenciados. ( ... J
como e 0 caso de Magnusson (1981) no dominio influenciam, mas on de a pessoa nao intervem ii) Quem se eneontra numa experiencia sociopsicol(lgica. no ambiguo cemIrio do laborat6rio? Amigos.
da Psicologia Social, e no decorrer da dec ada de directamente embora por eIes seja envolvida) e companheiros de trabalho. c1ientes. rei, e rai nh'I~ . policia~ e violadores do Ctldigo da E:,trada. Olt <.Jue'? A literatura
90 afil111ou-se com mais vigor uma psicologia os macrossistemas (que conglomeram os sis- revela que. em qua~e todos os caso:" quem se encnntm ,uo estranhns. Mas us e\tudos ~obre as intemc,<oes entre
social contextualizada (cf. Hurrelman, 1996; temas infra-ordenados e se situam ao nivel da estranho, revelam que existem profunda~ diferenc;as entre e~:,as e a~ interac'f0es com pes,oas que se conhecem bern.
()U entre pessoas que. ainda que nao se conhe'fam. assllmem papeis bem diferenci'ldos. indicados por ltniformes.
Moen et al.. 1995, Kindel111ann e Valsiner, 1995, cultura, dos grandes sistemas de val ores e
modos de falar Olt outros sinais sociais. Nas interacc;6e, entre estranh()~. as trocas envoi vern revda'f0es das hist6rias
por ex., no campo da psicologia social do des en- crencras, ou dos grandes quadros civilizacionais
e projecto~ pessoab de um modo extremamente at fpico.
volvimento) (ver caixa na p. seguinte). onde a pessoa se integra). Na perspectiva holfs-
(Rom Harr':. So";,,1 Bcill.~. 1979)
Na perspectiva organ(smico-sistemica assis- tica que caracteriza esta «visao do mundo» e,
te-se a urn salto epistemologico em relacrao as portanto, possivel a decomposicrao do sistema
perspectivas anteriores, e 0 positivismo nao e ja em subsistemas integrados entre si e interac-
o paradigma dominante. 0 modelo causal deixa tuantes, sen do que (tal como na teoria gestaltista
de ser linear para passar a assumir propriedades e na sua derivada teoria de campo) 0 todo e mais temas que lhes conferem propriedades homeos- particularmente fecundo para subsequentes
circulares, isto e: onde causa e efeito se influen- do que a soma das partes, 0 que representa urn taticas. As mudan~as sao encaradas como pas- desenvolvimentos na Psicologia Social, 0 mo-
ciam reciprocamente. Altman e Rogoff (1987) corte epistemologico em relacrao as duas pers- sagens de situa~oes de equilibra~ao para novas del0 de equilibrio e das rela~oes interpessoais de
definem, portanto, esta perspectiva como 0 es- pectivas anteriol111ente referidas, onde sao privi- situacroes ou niveis de equilibracrao. 0 psico- Heider (1958), em cuja teoria sociopsicologica
tudo dos sistemas dinamicos e holfsticos onde legiados os elementos e as suas interac~oes ou logo, nesta perspectiva, nao deixa de ser urn se reconhece uma orienta~ao sistemica e hoIfs-
pessoa e meio exibem reiaroes e influencias adi~oes, segundo urn modelo de combina~ao observador extemo ao sistema, e continua a tica. E interessante notar que, a semelhancra do
recfprocas. Correntemente, sob a forte influen- linear. Na perspectiva organismico-sistemica e esperar-se que observadores independentes pro- que viria a acontecer com muitas das propostas
cia da teoria geral dos sistemas de Ludwig von a totalidade nas suas relacroes com as subtota- cedam a observa~oes equivalentes dos mesmos teoricas de Lewin, Heider veria 0 seu modelo ser
Bertalanfy (1956), reconhecemo-la com facili- lidades 0 objecto epistemologico em causa, sistemas. Nao e possivel deixar de invocar neste apropriado e transcrito para 0 campo da perspec-
dade no pensamento de Gregory Bateson admitindo-se processos de auto-regulacrao dos sis- ponto a teoria de Piaget e, entre outros, urn caso tiva interaccionista, gerando-se centenas de tra-
508
• 509

balhos de canicter laboratorial de validade uma vez se verifica urn contraste com as pers-
ecol6gica duvidosa em ordem ao teste das pectivas interaccionista e sistemica, na medida
A PSICOLOGIA SOCIAL REQUER ANA-USES DOTADAS DE COMPREENSAO,
hip6teses lewinianas e heiderianas, mas com a em que as abordagens interaccionais assurnern
HOUSMO E TEMPORALIDADE, E NAO A BUSCA DA CAUSA DAS COISAS
consequente manobra de redu~ao que isso neces- que a mudan~a resulta da interac~ao de ele-
sariamente implicou, em consequencia da trans- mentos separados, com algumas entidades Num quadro de referencia hermeneutico. a verdade e 0 que a~ coisa~ sao. Mas nao devemo~ esquecer que as
posi~ao de perspectivas epistemol6gicas. Mais tratadas como varitiveis independentes qUe coisas sao temporai~. Estuo lemporalmente connosco. num mundo temporal. A verdade como lemporalidade e
manifesta na forma como a~ coisas sao. nao 110 que elas sao. Este COIIIO e encontrado na tensao. no 1110vimento. no
recentemente, 0 pr6prio Bronfrenbrenner (1995) causam a mudan~a em entidades que sao va rid- jogo - na articulacrao do mundo. na propria temporalidade. Nessa forma de compreender 0 mundo, podemo~ legiti-
veio a publico denunciar a tresleitura do seu veis dependentes. As abordagens organ(smicas mamente colocar interrogacr6e~. me~mo ~obre que~toes sociais, e ha respostas verdadeim~ e falsas. Mas a verdade de
modelo ecol6gico do desenvolvimento humano, consideram que a mudan~a resulta de com- uma resposta nao est a ml sua con'espondenciil a um criterio exterior. Esta, em vez disso, na sua articulacrao parti-
cular com 0 todo e e. portanto. em si me~ma temporal. Quando 0 mestre de xadrez pergunta a si mesmo que jogada
muitas vezes desvirtuado pel a redu~ao sistema- plexas interac~oes redprocas entre os elemen- sera a mais adequada - ou quando um novato pergunta i~so ao me~tre - . a resposta correcta nao e correcta porque
tica da sua perspectiva, inspirada em Lewin, a tos do sistema, podendo um dado elemento corresponde a um jogo de xadrez ideal num ceu situudo algures. A respo~ta correcta a questao «que joguda devo
meros desenhos de pesquisa nao holisticos e funcionar como varitivel dependente ou inde- fazer?" e 0 proprio acto de responder. que toma em conta 0 toma-hi-da-d do jogo como um todo. os dados e po~­
puramente interaccionistas. pendente em diferentes ocasioes. Enquanto 0 sibilidades gemdo~ pelas rel>posta~ :lI1teriores e pela accrao do oponente. dando conta disso u continua articulacrao
do todo.
A perspectiva transaccional e, a semelhan~a tempo e a mudan~a sao considerados nas pers- o que 0 mestre de xadrez procura e inteligibilidade. Considerando 0 que esta a acontecer. dada a temporali-
da sistemica, holistica, isto e: centrada sobre as pectivas organ(smicas como desvios ern rela~ao dade do jogo, vieram it mente algumas questoes. e ele deve compreender a situa"ao e formular uma resposta ou
totalidades, e e definida por Altman e Rogoff a um estado ideal, ou tentativas de atingir urn previsao no quadro dessa tempomlidade. 0 jogador busca compreensao (inteligibilidade ). nao explicacrao. Nao se
preocupa com a questao: Que COtljlll!lO de causas me leva a jogar es/e jogo e me pos lies/a sill/arrao? Se essas causas
(1987) como 0 estudo das rela~oes em mudan~a objectivo a longo prazo teleologicamente prede- existem, devem ainda operar. e por conseguinte controlar 0 proximo lance do jogador. Nesse C:lSO. a teia causal
entre aspectos psicoLOgicos e ambientais de terminado, as perspectivas transaccionais nao poderia ser modificada pelo proprio facto de 0 jogador a tel' em consideracrlio. e a possibilidade de isso acontecer.
unidades holisticas, envolvendo num movi- pressupoem que a mudan~a estti associada a um gerando complexidade e modulacroes inesperada~. poderia muito bem tomar impossivel a previsao das accroes
mento compreensivo as pessoas, os seus pro- estado ideal predeterminado. Em vez disso, a humanas. mas nao deixaria de ser causal. Se essas causas existem. entao 0 jogo e~ta j;i decidido. Nao pode ser
jogado, apenas verificado. Portanto, enquanto jogador. e nao como observador. uma pes~oa nao pode colocar
cessos psicol6gicos e os ambientes, enca- mudan~a e considerada uma propriedade eSS;L~ questoes. Coloca-Ias significa abandonar 0 Jogo e situar-se num plano transcendente. indo para n posicrfio de
rados como inseparaveis. au seja: ao contrario intr(nseca das unidades ho/(sticas, sem atender observador e nao de participante. No jogo. questoes tais como dado qlle es/Ou aqlli e es/as coisas aCo/l/eceram e
da perspectiva interacionista, que e analitico- a um movimento em direc~ao a um estado ideal atjueloUlms poderil/m IeI' aeO/lleddo. que t! que ellJafo? ~ao adequadas e legitimas. As ciencias humanas deveriam
procllrar compreender e nao explicar. j;1 que sao inve~tiga'ioes temporais de um mundo temporal. Os cientistas
-aditiva e se centra sobre a interac~ao entre que, uma vez atingido, nao implica mais sociais estao ja a jogar 0 jogo sobre 0 qual fazem perguntas. nao apenas a observa-Io. E nao podem parar de 0 jogar
elementos considerados independentes, even- mudan~as (ver caixa na p. seguinte). para passur u observa-Io meramente - pelo menos ~em deixarem de ser humanos.
tualmente traduzindo essas rela~oes atraves de Isto nao significa que nas perspectivas (1. Faulconer cR. N. Williams. Telllpora/;rY;11 H/lIIIIII1 Acr;ol1. 1985)
modelos matematicos lineares, a perspectiva transaccionais se negue 0 caracter intencional
transaccional nao separa pessoas, processos e e dirigido para objectivos da ac~ao humana,
contextos, considerando-os totalidades inde- mas tao-s6 a recusa de postular mecanismos
componfveis. Neste sentido, a perspectiva tran- regulat6rios universais ou programas que observada I. Este imperativo de contextualiza- imperativo dasinforma~oes contextuais para a
saccional afasta-se da perspectiva sistemica, que predetenninam 0 desenrolar dos acontecimen- ~ao dos dados, em ordem it sustenta~ao de cor- interpreta~aopsicol6gica. Suponhamos que
e ainda analitica ao considerar a divisibilidade tos. a psic610go, nesta perspectiva, nao e visto rectas interpreta~oes, e, alias, uma necessidade estou numa festa em cas a de amigos e observo
dos sistemas em subsistemas separados, e que como exterior ao observado, fazendo ele pr6prio constante e demasiado ignorada em psicologia. que 0 meu amigo Pedro e a minha amiga Laura
nao se centra necessariamente nas propriedades parte do fen6meno. a que significa que obser- Recorrerei aqui ao exemplo apresentado por se aproximam urn do outro, digamos ate a uma
em mudan~a, podendo mesmo nalguns casos vadores diferentes, em diferentes momen- Gergen (1982) no sentido de demonstrar 0 distancia a que Hall chamaria uma distancia
ignoni-Ia ao privilegiar os processos homeos- tos espa~o-temporais, nao podem deixar de
taticos que asseguram a equilibra~ao e, portanto, recolher informa~ao diferente acerca dos fen6-
a resistencia do sistema a mudan~a. Na perspec- menos, abandonando-se a exigencia de repli- I Contrariando desta forma 0 aforismo do astronomo e escritor ingles F. Hoyle, que afirmava que em ciencia nao im-

tiva transaccional, a temporalidade dos fen6- cabilidade, sem sentido nesta perspectiva, para porta quem fala mas sim 0 que se diz. Na perspectiva transaccional, a implicacrlio do observador no campo total do
menos e urn aspecto central, intrfnseco a pr6pria se fazer repousar mais a psicologia nos observado leva a que nao seja importante nao so 0 que se diz mas tambem quem 0 diz, quando, como e em que contexto.
defini~ao dos acontecimentos a abordar. Como processos hermeneuticos do pr6prio psic6-
Altman e Rogoff (1987) 0 fazem notar, mais logo, ele mesmo nao separavel da realidade
510
• 511

proprias interpretalfoes com as dos outros, num funlfao simu/taneamente da pessoa (P) e do
processo de permanente retroalimenta~ao da meio (E). 0 modelo e topologico e nao alge-
ESTETICA DA FUGACIDADE DO MUNDO informalfaO interpretada. Trata-se, assim, de urn brico, e essa distinlfuo tern sido muito diffcil de
processo de co-constru~ao que nao pode deixar apreender pelos psicologos sociais. 0 modelo
Hu temp()~ pa~~ea\'a pm um estivul campo em !lures na companhlH de lm1<1 amigo taciturno e de um jllvem
de ser temporal. lewiniano nao representa uma adilfaO ou urn pro-
ma~ ju celebl e poeta '" que admirava a belezu da natureza que n()~ rodeava. mas sem a pode. gOlar. porque 0
preocupava a ideia de que todn esse esplendor e~tavu condenado a morrer. dado que no Inverno que ~e avizinhava A temporalidade do observavel vai a par duto reduzfvel a uma equa~uo linear ao gosto
tudo teria desaparecido. Por i~so. tudo 0 que tinha amudo e admirado parecia- Ihe desprovldo de valor. Tudo Iria com a propria temporalidade do observador. No behaviourista, tal como B= a)P+a2E ou
perecer nes~e destlno inevit.ivel (. .. ) tripleto indissociavel passado-presente-futuro, B=a)P*a2E, por exemplo. Ou seja, meio e
Esta pretensan a eternidade atrai<,:oa com uma demasiado brutal c1areza a ~ua ralz nos nossos desejos. para que nao raro os psicologos sociais se cristalizam sujeito nao sao variaveis independentes nesse
se Ihe possa conceder ll111 valor de realidade. Tambem 0 que nos e doloroso pode ~er certo. E por isso nao pude refu-
na observa~ao de urn presente de urn «sujeito» sentido, mas partes indecomponfveis de urn
tar 0 caracter univer~al da fugaddade das coisas. nem impor uma excep<;ao para 0 que e belo e perfeilO. Em Contra-
partida. neguei ao poeta pe~~imbtu que a fugacidade do que e belo implicas~e a ~ua desvaloriz:u;ao.
desprovido de passado e sem projecto de futuro. todo. Era justamente contra esta tresleitura que
Pelo cOlllrario. aumenta 0 seu valor. Essa fugaddade contem um valor de rara beleza no tempo. As posslbi- Esse presente, fixado numa especie de eter- Bronfenbrenner protestava, no texto acima
lidade~ Iimitudas de tiralmo~ prazer do que e perecfvel torn am-no ainda lIlai~ precio~o . Manifestei u s~i m a minha nidade apenas consistente com a pobreza do referido. Ao estabelecer a sua teoria do campo,
incompreensao pelo facto de a c:lduddade do que e belo nos perturbar 0 prazer que ele nos du. 0 que h:\ de belo na imaginario do observador, e em rigor urn Lewin procede tao-somente a uma analogia
natureza renasce apos cada destruir;ao invernal. e esse renasdmento pode considerar-se etemo quando comparado presente desumano, ja que se alguma coisa dis- metateorica com 0 conceito de campo da ffsica
com os tempos Iimitados da~ nossas vidas. Ao longo da nossa existencia. vemos e~gotar- se para sempre a beleza dos
tingue a condi~ao humana e precisamente a pos-newtoniana, enquadrando-o decididamente
roslos e dos c()J"po~ humano\. mas eMa transitoriedade acrescenta ao~ seus encanlo~ ll111 novo encanto. Vma flor nao
nos parece meno~ esplendida pm'que as suas petalas so duram uma noile.
capacidade de em cada momento presente numa perspectiva teorica gestaltista. Para Lewin
Assim como nao compreendi porque e que a Iimitw;ao do tempo teria de desvalorizar a perfei<,:ao da obra de reconstruir 0 que ja nao existe (0 seu passado), e (1935), como para toda a escola gestaltista, e
arte ou da produr;ao intelectual. Mesmo que chegue um tempo em que ficariio reduzidos a po o~ quadro~ e as projectar 0 que ainda nao existe (0 seu futuro). essencial a nao-equalfao entre mundo real e
eSHItUaS que hoje admiramos. me~mo que nos suceda uma gemrrao de ~ere~ que ja nao compreendam as obra~ dos Vma psicologia social a-historica e a-biografica mundo fenomenal, 0 qual procede de uma
nossos pocta~ e pen~adores. me~mo que t)corra uma era geologica que emude<;a toda a vida na Terra .... pouco im- consegue deste modo a proeza de se constituir reconstru~ao subjectiva do primeiro, e essa dis-
porta. 0 valor de tudo 0 que e belo e perfeito existe \0 lUI ~ua importancia para a nossa percep<,:flo. Nao e nece~~uno
como uma psicologia social capaz de estudar tinlfao e, na teoria lewiniana, 0 eixo da nOlffio de
que sobrevi va. e e portanto Independente da ~ua perdunlC;ao tempOlal.
tudo, menos os seres humanos. Porque ao pre- espa~'o de vida. 0 campo psicologico e 0 con-
tender a etemidade das leis impessoais pres- junto dos processos que influem na aClfao del
>!< Rainer Maria Rilkc. cinde no mesmo momenta da temporalidade uma pessoa num dado momento, englobando
Freuu. V('I :~i/llgliclIk('il . 1915 fugaz das pessoas existentes (ver caixa na num mesmo movimento a pessoa, 0 meio e a
p. seguinte). zona fronteirilfa que separa as componentes
Na Psicologia Social, 0 pensamento de Kurt psicologicas das nao psicologicas, ou seja, como
social proxima (80 cm), e que 0 Pedro toca com a pretalfao, mas por acaso 0 Joao acabou de chegar Lewin (1890-1947) pode ser parcial mente lido a a parcela de real que existe para 0 sujeito, nao
mao nos cabelos de Laura. Poderei interpretar e disse-me que a mae da Laura tinha morrido ha luz da perspectiva transaccional, com cinquenta em termos de cognilfao mas de efeitos reais.
esse gesto como urn gesto de sedu~ao de Pedro tres semanas. Poderia entao mudar a minha anos de avan~o em relalfao asua propria epoca 2. Oreal e aquilo que produz efeitos (Lewin,
em rela~ao a Laura? Digamos que 0 falfo baseado interpreta~ao: como amigo de Laura, Pedro Ao longo da sua obra, desenvolvida sobretudo a 1935): os factos devem ser inclufdos na repre-
nos codigos implfcitos da minha subcultura. estava a consol<i-la e a expressar-lhe 0 seu apoio partir dos anos 30, Lewin (1931, 1935, 1936, sentar;iio do espa~'o de vida psicol6gico apenas
E claro que se 0 Pedro, dias antes, me tivesse e afecto. As interpretalfoes sao, portanto, total- 1938, 1943, 1947, 1951) defendeu 0 caracter na medida e consoante 0 modo como afectam 0
confidenciado que estava apaixonado pela mente dependentes das informa~oes pn!vias dinamico da aClfao humana e a interligalfao entre indivfduo num dado momento. 0 que pressupoe
Laura, a minha interpretalfao seria ainda mais que me permitem atribuir urn sentido ao que a pessoa e 0 meio como urn campo indecom- que 0 jogo de forlfas num dado campo esta em
sol ida. Mas suponhamos que, em vez disso, eu observo. E como 0 conjunto de informalf oes ponfvel, traduzfvel pela sua celebre equalfao B=f permanente mudanlfa. Posteriormente, nas obras
soube que ha dias a Laura tinha dito ao Pedro contextuais pode ser virtualmente infinito, com- (P, E), ou seja, 0 comportamento (B) como escritas de 1938 ate a sua morte, em 1947, K.
que achava que ele era uma pessoa fria. Entao, a pete a cada pessoa decidir acerca do conjunto de
minha interpretalfao ja poderia ser a de que 0 informa~oes que considera relevantes num dado 2 E injusta a acusar;ao de 1. P. Sartre de que Lewin teria sido vltima de um «fetichismo da totalidade». Holfstico. 0
Pedro estava so a ten tar mostrar a Laura que nao momenta para a sua propria interpreta~ao do que modelo de Lewin nao deixa de ser empirica e experimental mente testavel. e desse modo fertilizou 0 subsequente desen-
era assim. Ficaria contente com a minha inter- observa, podendo sempre confrontar as suas volvimento cientffico da PSicologia Social.
512
• 513

Lewin deslocar-se-ia da teoriza~ao da ac~ao 1949, 1951, 1955; Barker, 1963, 1968, 1978'
individual em termos de campo de for~as para a Barker e Gump, 1964; Barker e Schoggen :
A PSICOLOGIA SOCIAL ENQUANTO HERMENEUTICA
teoriza~ao da dinamica dos grupos segundo 0 1973) 3, que durante decadas procedeu a analise
mesmo modelo teorico: A representafiio do sistematica dos acontecimentos de vida e proces- Considcrc-sc 0 conllilo que exble n<l psicologia acerca do problema da clln~c iencia e da explica~iio do com-
grupo e do seu ambiente como um campo social sos psicologicos da vida quotidiana das pessoas portamelllo. As linha~ de orientac;ao hum<lllislU rejeilam II comporlamenlalismo e as e~ lralegias J'educiollislas acerca
e um instrumento bdsico para a andlise da vida e grupos nos mais variados cenanos ambientais da cllnsciellcia. e colocam 0 cOI1l:eilo de pessoa no celllro do seu quadro de referencia. Argumenlal11. com razuo. que
de um grupo. Isto significa que a ocorrencia (igrejas, escolas, barbearias, lojas, restaurantes, para compreender as pessoas e necessario adoptar uma abordagem hen-neneuticn. e que devemol> pl'llcurar definir
social e vista como acontecendo e resultando da escolas, campos de jogos, etc.). 0 pensamento de con-ectamellle a~ interpreta'ioe~ do aClor. Esta visao. parlilhada pela fellomcllologia. pela teoria da ac~ao e pelas
sociologias interprelativas. argumellla que para compreendcr uma pessoa devcmos conseguir captar os ~ignificados
totalidade das entidades sociais coexistentes Barker enquadra-se igualmente numa pers-
e compreensoes dessa pessoa, a~ v i~iics do mllndo do agcntc. os sells pianos. illlen\oes. motivac.:ue~ c ilileresses.
como grupos, subgrupos, membros, barreiras, pectiva transaccional, 0 conceito de sinomorjia o que nao significa qlle, lima vez isso conseguido. se comprccndn IOlalmente 0 comportamento; e~~e conhecimcnto
canais de comunicafiio, etc. Uma das carac- traduzindo a indecomponibilidade da pessoa e do apenas nos da lima pe,.:a do 1'11::'::./('. mas uma pc\a que e necess.iria. (...)
terfsticas fundamentais desse campo e a posifiio meio, e 0 de cendrio comportamental (behavior Posta em termos simples, a visuo da perspectiva hermeneutica e esl... se 0 no~so objecti vo e expl icar 0 com-
relativa das entidades que siio parte do campo. setting) constituindo-se como a unidade privile- portamenlo tal como ocorre IHI vida quotidiana. nao e possfvel escapar il descril;ao comum do compoltamento e da
Esta posifiio relativa representa a estrutura do giada de analise no modelo barkeriano, onde se experiencia. Alguns mecanismus e estrutunts causais descobel'tas pela psicologia experil11elllal ou ()utra~ ciencias
aplicam-se ao comportamento quotidiano, mas pOl' si proprias nao fornecem uma explicn,.:uo suliciellle. e sobretudo
grupo e 0 seu ambiente ecolOgico. Expressa verifica uma desloca~ao da psicologia do estudo
certamente nao no~ dispensam do uso da linguagem con-ente como substilutu de umn lingungem puramente cientf-
tambem as possibilidades bdsicas de locomofiio dos processos psicologicos dos indivfduos ou tica, Acrescente-se que 0 contnirio lnmbem nao e posslvel: a linguagem comum nao se substilui il lingungem dos
dentro do campo. 0 que ocorre dentro desse grupos enquanto tais para 0 estudo dos progra- mecanismos e estruturas callsais. (... ) A questao nao esta em saber se uma ciencia psicologica hermeneutica pllderia
campo depende da distribuifiio das forfas em mas de aCfiio inerentes aos vanos cenanos. Indi- subslituir os conhecimentos e compreensoes comuns de nos proprios e dos outros. compreensoe!t essas a que inva-
todo 0 campo. Uma previsiio pressupoe a viduos ou grupos podendo ser intennutaveis de riavelmente e ainda que de llill modo imperfeito. temos acesso. A questao esta sobretudo em saber 0 que e que esta
implicado na obten~ao de uma melhor compreensao, um melhor balan~o do~ nossos actos e do!t actos dos outros.
capacidade de determinar a intensidade e a cenano para cenano e nao interessando como
Posto de fo rma mais directa: 0 que e entao uma ciencia hermeneutica?
durafiio das forfas resultantes para os vdrios objecto de analise em si mesmos. Ha que admi- ( ...) Distinguimos entre as ciencias que procuram descobrir as estruturas e os mecanismos que acluam no uni -
pontos do campo. De acordo com a teo ria geral tir a parcialidade do caracter transaccional da verso, e as ciencias que uplical11 u conhecimento para explicar, preyer e diagnostic;u' os fenomenos. A meteorologia
do campo, a solufiio de um problema de vida do teoria de Roger Baker, dado pressupor processos aplica conhecimentos vindos da F1sica. da Astronomia. da Geologia e de outras ciencias para proporcionar expli-
grupo tem de se basear num procedimento homeostatic os que sao proprios da teoria siste- cll\oes e previsoes de fen6menos meteorologicos concretos, tal como a causa de uma seca. Muitos sistemas estau
ana/(tico desse tipo. So considerando os grupos mica, mas nao deixar de ser transaccional na sua envolvidos nesse processo, incluindo frequentemente as pr6prias lIc~oes humanas, como no caso do Sahel. E reco-
nhecemos que a meteorologia nao e uma ciencia ex acta. A hist6ria, similarmente. procura explicar us acontecimen-
em questiio no seu ambiente real podemos asse- faceta de analise dos processos de devir, nas
los passados como episodios concretos envolvendo pessoas concretas numa dada sociedade, em pmticular tempos e
gurar que nenhuma conduta essencial poss(vel continuidades espa~o-temporais em analise, cen- lugares. Recorre a conhecimentos delivados das ciencias sociais. e de uma serie de ciencias auxiliares. como a
foi ignorada (Lewin, 1947) (ver caixa da trando-se no que Barker (1963) designou como a numismatica. a paleografia e tambem conhecimentos vindos da experi encia comum.
p. seguinte). Nesta obra, Kurt Lewin aborda os corrente do comportamento, parafraseando 0 Uma ciencia hermeneutica das pessoas e um analogo da hist6ria ou da meteorologia. Procura compreender as
processos sociais como estados quase esta- celebre conceito de William James de corrente pessoas concretas. nas suas histt'irias pe s~oai s. peculiare~ padrfles de comportamento. incluindo a sua autocom-
cionanos, apresentando urn modelo fonnal para de consciencia preensan. Mas evidentemenle, ainda que a tare fa seja hermeneutica e pr6xima da nos:.a larefa cOlllum como seres
sociais, enquanto esfon;o cientff1co requer tambem que 0 investigadol' use todn!t os ~ abel'es especial izados pnssfveis
o tratamento analftico dos equilfbrios quase Mas nao so na psicologia lewiniana e nas
que impliquem us estnllurns e processo!t que opermll nessas biogrdfi "s pessoaih. E. dado que as pessoas nuscem e
estacionanos na vida dos grupos, enquadrados suas heran~as se encontra em Psicologia Social crescem num mundo social. isso reqlle r. pOllan to. a referencia ilS e~trutura~ sociab que enquadram a~ biografias.
nos seus contextos sociais reais, mas a sua morte a perspectiva transaccional. Reencontramo-Ia,
no preciso ana de publica~ao da obra citada de fonna mais pronunciada, no pensamento de {Peter Mal1 ica~ c Paul Secord. Till.' /lIIplicClIIOIIJ (o /' P.I:I(·//O/O.~.I· (1/'1111.' NI'II' Pili/o.I·Of'/"· oj SIII'III·" . 19113 )
impediu que desenvolvesse 0 seu modelo. Rom Harre e Paul Secord (Harre e Secord,
A passagem da teoria a pnltica acentuar-se-ia 1971; Harre, 1979; Harre, 1980; Secord, 1982),
com os desenvolvimentos da psicologia ecolo- na sua critica radical da invalidade ecologic a do clivagem observador-observado (a ac~ao social dagem comportamentalista: A etogenica e uma
gica brotada da obra dos seus discfpulos e desen- experimentalismo e na sua proposta de uma devendo ser interpretada como as actividades psicoLogia sociaL conscienciosamente mode-
vol vida por Roger Barker (Barker e Wright, psicologia etogenica, onde nao ha lugar para a das pessoas tal como as conhecemos e experien- lada nos quadros de referencia estruturais
ciamos) e onde os modelos da linguistica sao da lingu(stica. Enquanto psicologia social e da
1 Para uma introdu\ao 11 psicologia ecologica, cf. Wicker (1979, 1987). contrapropostos como pista altemativa a abor- personalidade alternativa, esta abordagem
514 515

inspira-se numa forma elaborada de teoria po- nao contextuais que procuram construir mode_
pular do sen so comum da aq'ao social. A acti- los de previsao baseados em leis universais. ANTIEMPIRISMO, CONTEXTO E TEMPORALIDADE EM PSICOLOGIA SOCIAL
vidade social e assumida como a aa!/io de Por exemplo, uma hip6tese do genero: As pes-
Do ponto de vista do empirismo. 0 l:Onhecimento humano e principal mente pmduto de il1pl/ls que advi!m do
agentes que tem inten~'oes em ordem a realiza- soas com personalidades ou comportamentos de
meio. Como e costume afirmar·se. 0 e~pirito humano a~~emeJha-~e a uma IlIhll/a rasa llJllle os estimulos exteriores
fao de actos socia is e se inspiram nas regras e tipo A estiio mais sujeitas a acidentes cardia_ inscrevem as suas m<lrc<ls. 0 conhecimento humanll econ~trufdo. portanto. a partir da exposic;ao ao meio. Justamente
convenfoes para realizar os seus actos-inten- vasculares do que as que nao apresentam esses porque radica numa visao empirista. a Psicoiogia Socialtem tipicamente concebido II cientista como uma pessoa que
foes em aCfoes publicas e signijicantes (Harre, trafos e uma proposi~ao elaramente nao Contex_ cuidadosa e sistematicamenle tenttl m<lpilic<lr as rel;u;oes entre v,lrios fenomenos d<l natureza. Pam 0 conhecimento
1980). 0 metodo privilegiado da etogenica e a tual, na medida em que nao atende as varia~6es cientffico ser obtido, deve partir-se da llbserv<l~ao do~ acontecimentos dn nalllrezn. Mais. 0 modelo cmpirbta enco-
analise de epis6dios de vida e a identifica~ao ecol6gicas que podem tornar a hip6tese mais ou mjou os psicologos soci<lis n encnrarem nao sli a acc;ao dos cientistas. mas tambem a acc;ao humana em geral. como
produlo de estimuhlc;oes exlernas. 0 comportamenlo humano. nesta perspectiva. e fundamenlalmente contingente a
dos significados subjacentes, constituindo tal a menos valida consoante as situa~6es e aconteci-
acontecimentos ambientais. Portanto. 0 espirito humanll permanece relativamente imutavel. inerte ou estavel. ale que
base para a explica~ao do comportamento social mentos de vida de cada sujeito. Ou seja: inde- ocon'am intervenc;oe~ ambientais. Como pode geralmenle verificar-se. 0 resuhado deste modo de vel' as coisas e. em
a que 0 psic6logo e suposto proceder (Harre e pendente mente da categoria geral «pessoas com primeiro lugar. porque 0 psic610go raz incidir a sua investigac;ao nas rehu,oes entre estfmulos e respostas observaveis.
Secord, 1972). personalidade de tipo A», ha cada pessoa in- «resultantes» dos primeiros. e recorre a umn terminologin psicologica para ligm' as duas coisas. Em segundo lugar.
Na perspectiva transacional, a preocupa~ao elufda nessa categoria, com as suas inconfundi- e mnis importanlc ainda. esta terminologia psicologica rec<lpitultl igunlmcnte a visao empirisla do mundo: dentro do
de validade ecol6gica, ja total mente afinnada na veis traject6rias pessoais e contextos da ac~ao, indivfduo jazem cntidades inertes e eSlruturadas. mecanismos e potencialidades. que permancccm donl1entes ate
serem despertados pm estimuhlc;oes externas. Ao adoptarem esta visao empirista da ciencia. os psicologos soci<lis
perspectiva sistemica de Bronfrenbrenner com a traject6ria de qualquer outra pessoa.
comprometeram-se simultaneamente com uma forma mecanicista de explicac;ao dos comportamentos. Com efeito.
(1979) e Valsiner (1987, 1989,1995) e Lerner A validade ecol6gica da pesquisa depende os compromissos metatc6ricos sobrepuseram-se 11s opt;oes te6ricas.
(1995), e urn elemento distintivo e impres- fundamental mente, portanto, do grau em que 0 Todnvia. interroguemo-nos que conta poderia dar umn explicac;ao mecanicista dn vidn de uma pessoa ao longo
cindivel, assim como a inerente contextualiza- racional utilizado pelo psic6logo para estudar as de um extenso perfodo de lempo. Como e que uma vida em devil' pode st!r caracterizada pt!las actuais teorias da
~ao, reelamada insistentemente por Gergen ac~6es e processos psicol6gicos, num dado Psicologin SOciHI'? Considere-st! uma posslvel descric;ao de um dia tfpico de uma pessoa. Pode dizer-se que a pessoa
acorda em res posta ao eSlfmulu sonoro do seu despertadoL a partir de lima resposta incllndicionada. E. entao. con-
(1982) e Stokols (1983, 1987) e pela psicologia cenario ou conjunto de cenanos, se ajusta real-
frontada com uma ~itual;ao fmc;ada sob a forma das insistencias do ~eu cunjuge para qlle «sHia da cama» e subse-
ambiental em geral (cf. Stokols e Altman, 1987; mente as ac~6es e processos psicol6gicos desses quentemente. enquanto Ie u jOl11al matlltino, e exposla a uma serie de sequencias modificadoras dHS suas atitudes.
Soczka, 1989). A analise das transac~6es pes- mesmos actores em condi~6es e cenarios reais A estas. segue-se uma experii!ncia de autoconsciencinlizac;ao enquanto fita 0 espelho dn casa de banho. logo depois
soas-ambiente fisico/social, objecto epistemo- da sua vida quotidiana, 0 que implica neces- um desatio 11~ suas tendencias para comer de mais durante 0 pequeno-almoc;o. seguida de uma experiencia emocionHI
16gico que constitui 0 «nueleo duro» desta pers- sariamente ter em aten~ao que as propriedades enquanto corre para 0 aulocarro. e depois um exercfcio de tendencias cooperativas \'er.I'II.\· explorativas enquanto
pectiva (Barker, 1968; Proshansky, Ittelson e desses cenarios estao em pennanente mudan~a. manobm por entre a mliltidao. etc.
Como e evidente. quando a visao mecanicista e aplicada a acontecimento~ temporais. vemos a vida como lima
Rivlin, 1974; Stokols, 1983; Winkel, 1987), pro- Isto aponta imediatamente para a limita~ao de
anuHgama de microssequencias que se seguem umns 11s outras. lima concatena~ao de estimulos-organislllo-respostas
cessa-se necessariamente nos contextos quoti- todas (e sao a esmagadora maioria) as pesquisas sem senti do nem coerencia temporal. Num sentido lato. essa oriental,ao explicallva surge como um corte em relac;ao
dianos das pessoas, e e rejeitada liminarmente a sincr6nicas e limitadas a urn unico cenario, que no proprio carocter da compreensao social. Ou seja. a mera ocorrencia de acontecilllenios telllpomlmenle delineados
perspectiva experimental de laborat6rio, nao estao para a vida real como a fotografia esta para e segmentados nau proporciona compreensao, esta s6 ocorre quando se con segue discel11ir a conexao enlre aconte-
pelo metoda enquanto tal, ja que 0 seu racional o cinema. A pesquisa de campo tern, portanto, cilllentos ao longo do lempo. qmllldo conseguimos situar os acontecimentos num conlt!xtu lempoml. Assim. por
e igualmente aplicavel em estudos de campo de ter em conta as varia~6es intercenarios que exemplo. 0 aparecimento subito de uma pessoa il portH. que nos diz aim/a belli qlle aim/a eSlcis !'il'o!, seria em si
mesmo algo incompreensfvel. Encontros aleat6rios com indivfduos qlle IIlJ~ disse~sem coisas destas tornariam a vida
(Cook e Campbell, 1979), mas pelo artificia- penni tern compara~6es sistematicas das ac~6es
num caos. No entanto. se atenderlllo~ ao contexto temporal. essa pessoa poderia ~er identificada como um amigo c.:1lI11
lismo das situa~6es, esvaziadas do seu real con- humanas no tempo, no espa~o e em fun~ao dos quem se esteve numa faJTa na noite anterior. e 0 acontecimento tOl11ar-se-ia total mente compreensfvel. Com efeito.
teudo e significado social (cf. Harre e Secord, significados sociais desses diferentes cenarios a inteligibilidade social exige tipicamente a conlextualiza~ao temporal dos acuntecimentos .
1972). Sao em contrapartida privilegiadas as (cf. Cook e Campbell, 1979). (K. J. Gergen. HistoriclIl Sodlll Pnd/lllo.~r. 19H4)
abordagens «naturalistas» (Lincoln e Guba, A perspectiva ecol6gica requer, assim, a for-
1985). Entre os tra~os distintivos da abordagem mula~ao de urn modelo de analise das ac~6es e
contextual dos fen6menos psicol6gicos e das processos psicol6gicos humanos suficiente- ga~6es em psicologia. A equa~ao lewiniana B=f tuando assim 0 seu sentido, como se referiu
ac~6es humanas, Stokols (1987) acentua a preo- mente integrativo e que ultrapasse as limita~6es (P, E) man tern a sua actualidade, mas 0 facto e acima. Inversamente, em Psicologia ambiental
cupa~ao com a compara~ao das varia~6es trans- das abordagens parciais e ecologicamente inva- que os psic6logos tern centrado bastante mais a nao raro encontramos investiga~6es centradas
-situacionais, ausente nas teorias e abordagens lidas que tern marcado a maioria das investi- sua aten~ao no elemento (P) da equa~ao, desvir- sobre propriedades fisicas do meio de que 0
516
• 517

sujeito esta ausente, conduzindo a absurdas Jean Piaget: Niio hd genese sem estrutura nenz logismo) e a paralisia pratica que a armadilha do menos psicossociais por uma vaga divaga~ao
conclusoes deterrninisticas de uma rela~ao causa- estrutura sem genese. holismo pode constituir para a pesquisa psi- sobre esses mesmos fenomenos. Aponta tao-
-efeito do meio para 0 sujeito. o elemento (E) de Kurt Lewin e decomposto col6gica. 0 conhecimento - e reconhecimento - -somente para a invalidade extema de uma
A Figura 1 (p. seguinte) tenta esquematizar 0 em factores macrossociais (M), correspondentes de que a realidade social e uma totalidade serve investiga~ao psicol6gica alienada desse facto
que poderia ser urn modelo integrado da acc;ao e aos exo e macros sistemas do modelo de Bron_ muitas vezes de justifica~ao para substituir a espantosamente tao esquecido pelos pesquisa-
dos processos psicol6gicos humanos, em que a fenbrenner (1979), os factores microssociais (rn) investigac;ao cientffica do social pelo simples dores de laboratorio: as pessoas estao em situa-
equa~ao B=1 (P, E) encontrasse expressao e correspondentes aos micro e mesossistemas do discurso vago acerca dessa mesma realidade. c;ao, e a sua ac~ao e produtora de sentidos e
desenvolvimento numa articula~ao sistematica mesmo modelo te6rico, e as propriedades fisicas E se parece curial que e fraca a abordagem sem interpretadora de outros tantos sentidos. Conhe-
entre os seus termos. No esquema proposto, dos cenlirios de vida da pessoa (A). hermeneutic a, em que toda a riqueza do discurso cer e interpretar esses senti dos, situar as ac~oes
decompoem-se as componentes (P) e (E) do sis- o modelo acima proposto implica, portanto, humano e encapsulada na pobreza do preenchi- em espa~os e tempos concretos dotados de
tema, mas mantem-se em aberto as trocas entre que se acabe com 0 mito da investiga~ao isolada mento de escalas ordinais ou da produ~ao de significado para as pessoas, e tanto quanta pos-
ambos os subsistemas, indicando-se as direc- em «disciplinas especializadas» e reciproca- gestos sem sentido, tao falha ainda de urn ponto sivel ligar teoricamente tudo isso aos processos
cionalidades das ac~oes e das rectroac~oes em mente ignorantes, dada a manifesta impossibili- de vista cientffico poderia ser uma hermeneutic a e estruturas sociais que enquadram as acc;oes - e
opera~ao ate se obter 0 produto final, que e a dade de tao complexo sistema ser resoluvel a nao balizada pelo controlo metodol6gico da contribuir para 0 incremento da validade ecolo-
ac~ao humana (B) orientada para objectivos. partir das perspectivas parcelares de cada disci- investiga~ao empirica do real. A enorme con- gica na investiga~ao em psicologia.
No que se refere ao elemento (P), distin- plina. Atingiu-se uma fase em que cada vez fusao esta na reduc;ao desta investigac;ao em- Nos pontos seguintes analisar-se-ao tres
guem-se processos distais. referentes a expe- mais se percebe que s6 equipas pluridiscipIi- pirica a urn unico modelo oficialmente validado, temas de investiga~ao profundamente interliga-
riencia passada da pessoa, e processos proxi- nares integradas em projectos definidos e com o modelo experimentalista. A abordagem ecol6- dos, tentando demonstrar a necessidade da
mais. resultantes da permanente transac~ao objectivos comuns poderao dar resposta cabal as gica nao se constitui como urn discurso que vern adopc;ao de uma perspectiva integrada e dotada
isom6rfica entre as media~oes cognitivo-emo- exigencias da complexidade do real. 0 que substituir a investiga~ao cientffica dos fen6- de validade ecologica em Psicologia Social.
cionais (e) e as infra-estruturas neuroend6crinas significa, em meu entender, que se ha algo que
e fisiol6gicas (b) que model am os comporta- nao existe e essa figura bizarra chamada «psic6-
mentos (B). Entende-se que os processos logo social», a nao ser como afirmac;ao corpora- FIGURA I
distais, estruturados ao longo dos vlirios mo- tiva. Nao ha processos psicol6gicos que nao
mentos epigeneticos compostos de transac~oes sejam ao mesmo tempo sociais e profundamente Modelo de decomposif;ao subsistemica da equa~ao B= 1 (P, E) de Kurt Lewin
entre a experiencia ontogenic a e as estruturas pessoais. 0 sujeito psicol6gico e muito mais do (Soczka, 1989)
biol6gicas, sao eles pr6prios dinamicamente que urn exemplar de laborat6rio cuja riqueza e
alteraveis pela experiencia actual da pessoa. complexidade da sua vida, com a carga de expe-
M - - --
Consideramos importante manter em aberto, riencias existenciais, afectos, saberes e sistemas
=- -,----- - -. -I
I
Sistcmas -:- - --- ---- - - - - - - --
neste modelo, 0 subsistema das media~oes de decisao, e covidado a resumir numa escala de r - .. macrossociais :- - I
epigenicas, implicando com isso que toda e 1 a 5. E que quando nos diz perante a curta frase
A _~ J :~ , ~---l~------' -1:f--t -- --j _-- L-I:
qualquer mudan~a no campo das media~oes
actuais pode ter consequencias no campo das
media~oes estruturadas pel a experiencia pas-
sada, considerando-as como subsistemas aber-
que the e proposta numa escala que «as vezes e
assim, outras vezes nao, depende», 0 psic610go
responde-Ihe «fac;a la a media das vezes ou diga
o que e mais frequente». 0 psic610go social e
t- -AIr
amhicntais1;- : IfMCdialiOC~II ....
,cnariOS l:


i~ cpigcnicas
I
MCdillliPCdS
~ c()gnit~v()- .
-cmoclunms
p

...-
- '- -

. . biologicas
--b; --
RegUhllif~
CS +:
~
I
ACliOCS
I
~ micnta~as .
J
para obJcctlvoS
tos. A inclusao das media~oes distais parece-
-nos de relevo para definir 0 ponto de partida
muitas vezes, assim, aquele que nem ouve nem
quer ouvir 0 sujeito, no pr6prio gesto em que 0
j

: ; - -t ~t- o~ ___ _~-_ ~f -~ ~ ~- iJ--it +i --


! . _ _
-! t-l
j .
- -.- ~
, ~ I Sistc~as
I _ _ __

==
em que se situa a perspectiva te6rica que aqui se reifica como objecto.
adopta. Diversas correntes da psicologia con- Ha que ser firme, todavia, na distin~ao entre - .: -:-,: _ I r - - - ;-
temporanea propoem a analise dos fen6menos e o reconhecimento da complexidade global dos E m _ microssociais
_ _ ___ .J 1.;. =='
I
~ ~~- _ _ J_ __ _ __ _

processos psicol6gicos como se eles nao tives- sistemas em analise (reconhecimento essencial B=f(E, P)
sem hist6ria, ignorando 0 repetido aforismo de para que a psicologia nao se esgote num psico-
518 • 519

2. Contcxtos tcrritoriais. milhoes de individuos. Nao pode, POrtant seis por cento da popularrao viviam em cidades; rados: Lisboa. Porto e Amadora. As duas
sobredensidade populacional deixar de constituir motivo de interroga~ao p 0, em 1850, quinze por cento; em 1900, quarenta primeiras cidades foram. ate final da dec ada de
e distancia<;ao intcrpessoal a psicologia e para a sociologia 0 desafio ~a por cento; e nos fins do seculo xx, mais de 70, as unicas com urn efectivo populacional
em mcio urbano Iimites de adaptabilidade do homem que ;s setenta por cento (Levi e Anderson, 1975). superior a cern mil habitantes. representando
bruscas mudan~as impIicam. Interroga~ao cen~ Em Portugal, pais marcadamente rural, 10,45 por cento (1900); 11.34 por cento (19 I I) ;
tral colocada pelo bi610go Rene Dubos: Milho arreigado a modos de produ~ao arcaicos, de 13.39 por cento (1960) e 12.15 por cento (1981)
es
2.1 . 0 meio urbano: e milhoes de seres human os esttio ttio bem ajus- economia debil e sociologicamente eivado de do total da popula~ao residente no continente.
tados ao meio urbano e industrial que jd ntio Se tra~os culturais pre-industriais, 0 crescimento Tomando em considera~ao a popula~ao resi-
gerador de patoiogias sociais?
importam com os cheiros dos gases dos escapes urbano e sobretudo urn fen6meno do seculo XX, dente na Amadora, os tres centros urbanos
dos automoveis, ou com a fealdade gerada pelas e profundamente Iigado a macrocefaIia Iisboeta representavam. em 1981. perto de catorze por
o meio urbano e particularmente fertil na irregularidades dasformas urbanas; acham nor- (ainda hoje perto de urn quarto da popula~ao cento da popula~ao total do continente (Soczka.
gera~ao de estimula~oes e experiencias extrema- mal cair nas annadilhas dos engarrafamentos de nacional vive na area metropolitana de Lisboa, Machado e Freitas. 1990). Se atendermos.
mente diversificadas, constituindo urn desafio trdfego. passar grande parte dos domingos com de acordo com 0 Censo de 1991). No seculo todavia. as duas grandes aglomera~oes urban as
crucial as capacidades adaptativas da especie sol em auto-estradas de bettio entre a bestiali_ XVI, a popula~ao urbana devia rondar os oito por nacionais (a Grande Lisboa e 0 Grande Porto) 6
humana. Evolutivamente, as raizes do compor- dade dos anonimos e amorfos roncos dos moto- cento da popula~ao total (Godinho, 1971). Em verificamos que 77,2 por cento da popula~ao
tamento social hominideo prolongam-se por res dos carros. A vida na moderna cidade meados do seculo XIX, viviam onze por cento da urbana se concentra nessas areas (57.6 por cento
miIhoes de anos, entroncando na linha comum tornou-se um sfmbolo do facto de que 0 homem popula~ao em aglomerados com mais de quatro em Lisboa e 19,6 por cento no Porto). Em
dos antropoideos e apresentando com ela diver- se pode adaptar a ceus sem estrelas, a avenidas mil habitantes, sendo 5,5 por cento em Lisboa rela~ao a popularrao total do Pais, 17.1 por cento
gencias que datam de ha cinco ou seis milhoes sem arvores, a ediffcios disformes. a ptio sem (Girao, 1958). Em rela~ao a 1960, Magalhaes vivem na Grande Lisboa e 5.8 por cento viviam
de anos. Sem duvida, os caminhos evolutivos sabor. a festas sem alegria, a prazeres sem Godinho apresenta 18,2 por cento para a popu- em 1980 no Grande Porto. 0 que de nota bern a
para a ultra-socialidade foram tra~ados pelos espfrito - a uma vida sem referencia ao passado. la~ao urbanizada, concentrada em Lisboa (13,3 macrocefaIia nacional. No conjunto. estas duas
processos selectivos nessa aventura da homi- amor pelo presente e esperam;a no futuro por cento) e Porto (cinco por cento), contando areas metropolitanas comportavam. em 1981.
niza~ao, e com todos os primatas partilhamos as (Dubos, 1968). Mais de metade do caminho eva- com os respectivos arrabaldes. Para a mesma 48 dos 75 nucIeos populacionais com mais de
modaIidades de existencia grupal com auto-regu- lutivo do Homo sapiens foi percorrido em data, Oliveira Marques (1976) apresenta urn dez mil habitantes que existem em Portugal.
la~oes comportamentais que dependeQ'l, em pequenos grupos primaticos dedicados a ca~a e it numero urn pouco superior (22.8 por cento). A cidade e urn mosaico cultural. com a sua
grande medida, das conquistas da capacidade de pesca, e mesmo a passagem a agricultura nao diferen~a certamente derivada da metodologia justaposi~ao de estratos sociais e fun~oes dife-
processamento de informa~ao permitidas pela impIicou transi~ao social para 0 anonimato acar- do calculo da urbaniza~ao. Recorrendo a tres renciadas. conotadas com especfficas formas de
hipertrofia cortical. Se, todavia, considerarmos retado pel a coexistencia de milhares (actual- conceitos muitas vezes utiIizados na aproxi- viver 0 quotidiano. nos matizes das suas
o fenomeno urbano, nao encontramos paralelo mente milh6es) de individuos concentrados em ma~ao estritamente quantitativa do fen6meno da cren~as. ideologias. valores. costumes e repre-
para essa ultra-sociaIidade senao nas sociedades areas relativamente pequenas. Ainda em perio- urbaniza~ao. observa-se que Portugal e (no ini- senta~oes sociais. Na cidade estamos longe da
de insectos. FiIogeneticamente tao longinquas dos muito recentes da evolu~ao cultural humana, cio da decada de 80) urn pais com urn nfvel de relativa homogeneidade cultural e funcional que
do nosso proprio tronco evolutivo que 0 estabe- ridiculamente recentes, mesmo se nos colocar- urbaniza(Jio 4 baixo (30,4 por cento de popu- sao apamlgio das comunidades rurais. onde a
lecimento de correspondencias que ultrapassem mos numa optica de evolu~ao biol6gica a expe- la~ao urbana), mas com urn grau de urbaniza- mobilidade social e muito men or e as estratifi-
o mero campo analogico constitui urn desafio a riencia urbana era caracteristica de uma reduzida
imagina~ao humana (cf. Campbell, 1983).
rti 0 5 elevado (45.7 por cento). Este indicador ca~oes tradicionais mais acentuadas. Nao existe
minoria de pessoas, da ordem dos dois por cento traduz uma concentra~ao populacional muito consenso cultural na cidade. Ela e. de algum
Historicamente, as cidades sao urn fen6meno da popular;ao mundial em meados do seculo XIX elevada em tomo de tres grandes aglome- modo. urn zoo humano. uma exposi~ao amostral
muito recente, da ordem dos 5500 a 6000 anos, e (Davis, 1965). Ca1cula-se que hoje em dia urn
dessas primeiras cidades mesopotamicas e niloti- quarto da humanidade viva em grandes concen-
cas, albergando entre dez mil a trinta mil indivi- tra~oes urbanas (Fisher, 1978) e a tendencia e 4 Nivel de IIrballizar;iio = percentagem da popula\ao urbana: a que vive em aglomerados populacionais com mais de
duos, e gigantesco 0 saIto para as macro-urbes para 0 aumento nlpido da urbaniza~ao da popu- dez mil habitantes em rela\ao 11 popula\ao geral.
actuais, como as hipertrofiadas cidades brasi- 5 Grall de IIrballizar;iio = percentagem de popula\ao urbana vivendo em aglomerados populacionais com mais de cern
la~ao, it escala mundial. Nos Estados Unidos, no
leiras, americanas ou japonesas, com dezenas de mil habitantes em rela\ao 11 popula\ao urbana total.
inicio da revolu~ao industrial (por volta de 1800), (, Seguiu-se 0 criterio utilizado por Jorge Gaspar (1987) na delimita\ao das areas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
• 521
520

das diferenciaeroes subculturais de Homo sapiens. Ao psicologo interessa, sobretudo, separar essa realidade era, por excelencia, a cidade. Neles tancia~ao e ao enfraquecimento das coesoes
E, tambem por isso, urn espaero de conflitos e de tanto quanto possivel a vertente ideologica da predominou a influencia de Georg Simrnel, que, grupais e dos valores, a anomia. A formalizaerao
gera~ao de conflitos vividos atraves de urn vertente cientffica da questao. Na amalgama de em 1905, atlrmara: A base psico16gica do tipo das relaeroes sociais (<<integraerao formal», na
stress quotidiano. Pela cidade, 0 homem paga posturas atitudinais pro e antiurbanas, que fun- metropolitano de individualidade consiste na in- expressao de Wirth) e a altemativa ao estabele-
urn alto pre~o em troca dos beneffcios que a damentos cientfficos existirao? E evidente que tensificafiio da estimulafiio nervosa que resulta cimento de redes socioafectivas lacunares no
organiza~ao urbana the proporciona, urn dos as proprias posturas ideologic as e atitudinais do fluxo e constante mudanfa de estfmulos infer- meio urbano (Wirth, 1928; 1938). No inicio da
quais e justamente a dinamica interpenetra~ao interessam a psicologia, na sua dimensao de nos e externos. A cidade, com a sua complexa dec ada de 70, 0 psico10go social Stanley
de modelos subculturais que acelera 0 proprio representa~oes sociais diferenciadas do espa~o massa de estimula~oes sensoriais ininterruptas e Milgram pUblicava na revista Science urn artigo
devir historico da especie humana e the rasga os urbano, e e esse urn dos capitulos fundamentais em permanente varia~ao, seria geradora de ten- que se tomaria urn classico nesta materia: «The
horizontes para alem de limites impossiveis na da psicologia social contemporanea (ver capi- sao psiquica a que 0 citadino tern de se adaptar experience of living in cities - a psychological
relativa estagna~ao das sociedades tradicionais. tulo sobre representa~oes sociais). cognitiva e emocionalmente, defendendo-se analysis» (Milgram, 1970). Retomando a pers-
A propria massifica~ao urbana e produtora de Mas nao e por agora esse 0 problema aqui em pela habitua~ao e insensibilizaerao, 0 que levaria pectiva de Simmel e Wirth, mas integrando-a
dinamicas subculturais: numa sociedade fechada, debate. Restrinjamo-nos neste momento a ao distanciamento emocional. 0 que condu- num modelo contemporaneo baseado na teoria
suponhamos uma aldeia tradicional com duzen- questao fundamental da Escola de Chicago e dos ziria, eventualmente, ao que 0 etnopsiquiatra da informaerao, Milgram tentou apresentar
tos habitantes, urn individuo que, contrariamente seus antecessores: existirao impactos negativos Lap1antine (1978) designou pe1a «esquizofre- ampla confirmaerao empfrica da teoria da sobre-
aos restantes aldeoes, prefira ouvir Bach a noite a directos da propria experiencia de viver na nizaerao» das sociedades contemporaneas, mer- carga. De acordo com os estudos da Regional
jogar matraquilhos na taberna e urn marginal sem cidade? gulhadas num «estupor catatonico» contrastante Plan Association do concelho de Nassau, urn
esperan~as de comunica~ao directa com alguem A linha dita wirthiana ou deterministica com a vivacidade afectiva das comunidades nao subUrbio de Nova Jorque, urn individuo cruza-se
que partilhe da mesma aberra~ao. Numa urbe (Fisher, 1976) afirma-o claramente, radicando descu1turadas e nao massificadas. Em suma, a com onze mil outros individuos se andar dez
com urn ou dois mil hoes de habitantes, a proba- na tradi~ao de urn dos mais proeminentes fun- teoria da sobrecarga (overload) nos seus minutos ape; vinte mil em Newark; 220 mil no
bilidade de esse mesmo individuo se relacionar dadores da sociologia, Georg Simmel. Neokan- matizes, mas apontando para as mesmas des as- centro de Manhattan. Milgram sustenta que, na
com mais algumas centenas de amantes noc- tiano confrontado com as duas grandes correntes trosas consequencias. incapacidade evidente de processar toda a massa
turnos de fugas de Bach e considenivel. Urn teoricas da sociologia oitocentista, a atomista o argumento sociologico de Simmel e a lei- de informaerao que the advem desta densidade
clube de ras de Bach e possivel, uma subcultura (oriunda do seculo XVII) e a organista (pos- tura catastrofica de Laplantine, distanciados brutal de estimulaeroes sociais, ao citadino so
bachiana tern possibilidades de florescer na -hegeliana, configurada nas obras de Stuart Mill setenta anos no tempo, foram defendidos nesse resta a estrategia de seleccionar cuidadosamente
cidade, precisamente devido ao efeito de massa e Tonnies), Simmel procede a tentativa de sin- intervalo por toda uma corrente de investi- os estfmulos significativos, mtrando 0 mais pos-
produzido pela concentra~ao urbana. tese entre os modelos teoricos antagonicos, gadores. Louis Wirth foi urn dos principais. sivel a informaerao recebida e ignorando cogniti-
E, no entanto, toda uma linha fecunda da psi- assente nos conceitos de rela~ao e de fun~ao: a Colaborador de Park e Burgess no lan~amento vamente atraves da «apatia» (Latane e Darley,
cossociologia urbana deriva da visao da cidade sociedade era, para Simmel, nao urn somatorio da Escola de Chicago, com ambos escreveu The 1969) 0 que acontece em seu redor, sob pen a de
nao como reguladora e geradora de subculturas de individuos, tam bern nao uma globalidade City em 1925, uma obra pioneira da sociologia co1apso do seu sistema psfquico, por sobrecarga.
activas mas precisamente como produtora de indecomponivel, mas sim urn sistema de rela- urbana. Na linha de Simmel, Wirth eneara a Central nesta conceptualizaerao e a noerao de
desregulaeroes, insistindo no reverso da moeda. ~oes e de interac~oes reciprocas. Este conceito cidade como produtora de clivagens nas rela- interacerao como base de todo 0 sistema social.
A visao pessimista dos efeitos urbanos sobre os de funcionamento social como rede de interac- eroes interpessoais, por necessidade adaptativa Na linha dos seus antecessores, Milgram des-
homens remonta pelo menos as amilises oito- ~oes seria sustentado vigorosamente por urn dis- dos citadinos as hiperestimula~oes sensoriais. creve a cidade como urn espaero interaccional,
centistas subsequentes ao movimento popula- cipulo de Simmel em Beriim, Robert E. Park, o homem urbano de Wirth e uma vitima da onde 0 urbanita se defende seleccionando adap-
cional maciero dos campos para as cidades, em que, juntamente com Ernest Burgess, fundou a sobredensificaerao populacional, refugiando-se tativamente as suas proprias interaceroes, encer-
consequencia da revolw;ao industrial. Entre nos, chamada Escola de Chicago, em cuja universi- numa insulaerao cognitivo-emocional protectora. rando-se na apatia emocional e cognitiva, por
A Cidade e as Serras, de E~a de Queiros, e dessa dade ambos ensinaram e investigaram a partir As vinculaeroes afectivas sao destruidas, e a urn lado, e na economia interactiva, por outro.
critica exemplo paradigmatico, a que a geniali- de 1914, fazendo transpor a sociologia do plano solidao e a marca da vida urbana. Perdem-se os Como resposta ao anonimato urbano, a cidade
dade do autor emprestou uma for~a ainda hoje de conceptualiza~ao das estruturas globais da laeros comunitarios, ainda vivos no meio rural, e tent de proporcionar uma rede de relaer oes
sensivel em certas teses ecologistas geradas a sociedade para 0 plano do estudo dos grupos os processos acelerados de competierao eco- sociais directas a escala humana, suportes
partir dos anos 60. sociais concretos na sua realidade quotidiana: e nomic a e divisao do trabalho conduzem a dis- comunicacionais indispensaveis a uma especie
522
• 523

talhada filogeneticamente para a interac~ao partida estao imunes aos efeitos da densidade como for, quer a sociologia urbana, quer a psi- sibilitam a ubris. 0 imaginario abre os caminhos
significativa com os seus congeneres, mas inca- concentra~ao e despersonaliza~ao social da~ cologia social, partem do pressuposto de que a de fuga ao eterno presente, e possibilita a
paz de processar a hiperestimula~ao resultante grandes urbes. Esses efeitos sao reais e a res- sociabilidade e urn dado de partida, e que as ecstase temporal profundamente analisada por
das condi~oes ultra-sociais dos espa~os urbanos. posta nao e atomfstica (os pequenos nucleos redes sociais de suporte sao 0 corolario dessa Sartre em L 'Etre et Ie Neant: a co-presen~a da
lmersos numa massa anonima de estranhos, relacionais de cada qual), mas subcultural, isto condi~ao de partida. Nao surge nestes dominios trilogia indissociavel passado-presente-futuro
carregados de conota~oes subculturais que os e: as forma~oes culturais que se constituem em conceptuais a questiona~ao deste axioma: Homo no ser para-si, obra por excelencia do ima-
tornam ate certo ponto alienfgenas, se empre- comunidades de permeabilidade variavel, mas sapiens e originariamente social, desenvolve-se ginario, ja que 0 passado ja nao existe, 0 futuro
garmos 0 conceito de pseudo-especiar;iio cultu- partilhando trar;os distintivos (ulis como etnici_ historicamente em sociedade, tern intrinseca- ainda nao, e 0 presente e uma permanente dias-
ral de Erikson (1971), os homens urbanos con- dade au ocupar;iio), que tendem a interagir mente necessidade de viver social mente rela- pora entre algo que ja nao existe (a nao nao ser
tinuam a necessitar, primaticamente, da sua teia especialmente entre si e que manifestam urn cionado, e na ausencia de redes sociais de no imagimlrio do meu presente), e algo que
social de suporte 7, feita de rela~oes directas conjunto relativamente distinto de crenr;as e suporte verificam-se desequilibrios relacionais ainda nao e (a nao ser tambem no imagimirio do
com urn numero limitado de amigos, vizinhos, comportamentos, hdbitos, interesses e atitudes com eventuais incidencias psicopatologicas. meu presente). 0 meu gato e 0 meu gato e meu
colegas de trabalho - filtrados como signifi- (Fisher, 1976). Neste sentido, 0 modelo de Para la das relatividades culturais de valores, Gato. Nao se nega, nem neg a 0 mundo, ja que
cantes entre milhoes de coexistentes no mesmo Fisher e coincidente com as posi~oes de Oscar cren~as, visoes do mundo, subjaz essa para- negar e interrogar pel a constru~ao imaginaria de
espa~o. Lewis, mas delas diverge na medida em que, a digma de universalidade que e a sociabilidade outras alternativas. Nesse sentido, 0 mundo de
Curiosamente, seriam outros expoentes da semelhan~a de posi~oes mais deterministas, humana e as redes sociais como expressao dessa possibilidades do meu gato, e 0 mundo das pos-
Escola de Chicago (Gans, 1958, 1962; Oscar admite os efeitos de massa crftica derivados da sociabilidade intrfnseca. sibilidades do mundo, e a isso nao escapa. Homo
Lewis, 1952, 1975) a contrapor os primeiros sobrepopula~ao e densidades urbanas. Park, 0 Se atendermos aos caminhos filogeneticos da sapiens e as suas possibilidades, para la das pos-
argumentos em desfavor da leitura pessimista de fundador da Escola de Chicago, definira 0 sociabilidade acima referidos, sem duvida que sibilidades do mundo, e todas as possibilidades
Wirth, fazendo notar que a massifica~ao ano- processo urbano como urn dinamico mosaico de esse pressuposto tern toda a validade, e estao sao possfveis no seu imagimirio, construindo ele
nima e anomica, com os seus riscos de apatia pequenos mundos que se tocam mas nao se suficientemente fundamentadas pel a etologia proprio as suas representa~oes do mundo, de si
defensiva contra a sobrecarga, a cidade contra- interpenetram. Na perspectiva de Fisher como social e pela biologia evolutiva as vantagens e dos outros, ainda que tam bern em co-cons-
punha ela propria os seus sistemas de adapta~ao, na de Lewis, 0 fenomeno urbano nao e neces- adaptativas dessa conquista da sociabilidade. tru~ao com os outros.

atraves da organiza~ao social em agrupamentos sariamente produtor de colapsos psicologicos, Homo sapiens nao e so filogenese, todavia, e a Ora essa co-constru~ao e urn dado de partida,
relacionais directos, constituindo-se como urn anomia ou desordens mentais, na medida em propria filogenese se encarregou, alias, de que desde que nascemos, mas as suas resultantes sao
mosaico de mundos sociais relativamente que os citadinos se organizam subculturalmente nao 0 Fosse. Com 0 desenvolvimento da hiper- a partida indeterminadas. Sabemos hoje, sem
imunes aos efeitos do gigantismo urbano. em mundos sociais estruturados e com valores trofia cortical, novas capacidades de processa- margem para duvidas, que os seres humanos
A posi~ao de sfntese seria proposta na teoria proprios, internamente vivos e interactuantes, mento e recombina~ao da informa~ao adquirida nascem relacionais, pre-programados, como
subcultural de Fisher (1975), que, conciliando as mas sobre os quais nao deixam de se repercutir vieram deslocar de uma forma absolutamente todos os animais altriciais, no quadro de urn sis-
posi~oes, admite que nem os efeitos de massifi- os fenomenos de larga escala inerentes ao revolucionana 0 locus da evolu~ao de Homo tema epimeletico (cf. Soczka, 1976, 1994) de
ca~ao conduzem drasticamente a uma existencia proprio crescimento urbano. Experiencias plu- sapiens. As modalidades filogeneticas de reconhecimento de sinais maternos, busca activa
individualizada e anonima no seio da cidade, rais no mesmo navio, sujeitas todas elas as mes- mudan~a, baseadas nas respostas de sistemas e resposta a esses sinais. Mas sabemos tambem
nem os submundos sociais que sao a sua contra- mas tempestades, se assim se pode dizer. Seja geneticamente determinados, deram lugar a mo- que a constru~ao do seu selfrepousa numa deli-
dalidades onto- e sociogenetic as de resposta, e, cada dialectica de jogos intersubjectivos entre
7 Existe muitas vezes uma confusao conceptual entre redes sociais e redes de suporte. 0 conceito de rede de suporte e mais do que isso, a possibilidade, sem par na dois imaginarios co-presentes a partida: 0 da
introduzido por Cobb (1976). que definiu 0 «suporte» como a «ill/ormOl;iio que leva 0 SIIjeito a acreditar que t! amado. historia da filogenese, de recombina~oes criativas crian~a em desenvolvimento e 0 da sua FIgura
I'aloril.ado e qlle Olllros se preocl/pam com ele» . De alguma forma. a rede de suporte e urn subconjunto de pes so as aJta- das informa~oes adquiridas, possibilitadas pelo materna, cuja fun~ao continente e de reverie
mente significativas da rede social de cada sujeito. Uma rede social referida ao sujeito diz-se rede pessoal. Mais recente- desenvolvimento de urn neocortex hipertrofiado. (Bion, 1967) Ihe permite desenvolver-se num
mente, 0 significado do conceito de rede de suporte alargou-se do plano exclusivamente afectivo e emocional em que Cobb espa~o subjectivo de seguran~a e de confian~a
E uma dessas possibilidades novas e 0 ima-
o situara para outras dimensoes tambem importantes (em bora talvez nao tanto no que respeita as implica90es): aspectos
ginano, ou seja, 0 deslocamento para 0 locus da em si, nos outros e no mundo. Subsiste em
funcionais de ajuda material (apoios econ6micos, por exemplo) ou instrumental (ajuda numa opera9ao como arrumar a
casa, preparar uma Festa de an os dos miudos, dar boleia para 0 emprego, etc.) e de apoio as decisoes (conselhos. por exem- subjectividade de representa~oes do mundo e Homo sapiens 0 program a de vincula~ao dos
plo) (cf. Soczka et al.,1985; Crockenberg, 1988; Borges. 1994). dos outros que sao constru~oes internas e pos- restantes primatas (Bowlby, 1969-1973) e sao
524
525

sem duvida disfuncionais e geradoras de patolo- cologicos das pOSl~oes depressiva e esqui- tra~6es populacionais sao patogenicas, 0 que os E, no entanto, em domfnios muitos diferentes
gia as rupturas desse programa, tal como 0 sao zoparanoide primitivas, e no mundo dos pos- leva a apoiar a constru~ao de espa~os periur- da sociologia urbana, surgem-nos afirrna~6es
noutros primatas (cf. Harlow, 1958; Soczka, sfveis humanos existe a possibilidade do recurso banos de fraca densidade (Newman e Hogan, sobre os efeitos pemiciosos da sobrepopula~ao
1976). Mas esse sistema de vincula~ao, pura- a qualquer desses movimentos em todos os 1981). Esta diminui~ao e inversa do que conti- humana. Konrad Lorenz, no proprio ana em que
mente comportamental nos restantes primatas, momentos. nua a acontecer no Terceiro Mundo onde 0 api- era laureado com 0 Nobel de Medicina e
desdobra-se na crian~a humana, e essa desdo-
nhamento pros segue em aumento acelerado. Fisiologia, nao hesitava em declarar: 0 apinha-
bragem impregna 0 seu imagimirio. A sociabili-
Mas os calculos para as grandes areas sao enga- mento de massas humanas nas grandes cidades
dade e uma dado de partida, e a procura activa
da rela~ao com 0 outro, pre-programa 0 objecto
2.2. A sobredensidade populacional nadores. Numa mesma cidade existem enormes e. em grande parte. responsdvel pelo facto de jd
varia~6es de bairro para bairro, que nao sao niio sermos capazes de distinguir 0 rosto do
materno, tambem. Mas a ruptura com 0 objecto Urn dos efeitos da urbaniza~ao mais eviden- reconhecfveis quando se lida com medias para 0 nosso proximo nessa fantasmagoria de imagens
materna e derivadamente com os outros objec- ciados foi 0 da sobredensidade populacional. Nao conjunto das superffcies urbanas. Lisboa, por humanas que mudam. se sobrep6em e se esfu-
tos subsequentes e tam bern urn risco de partida. e impunemente que trinta por cento dos trabalhos exemplo, apresentava urn valor de 92 habitantes mam continuamente. Nessa multidiio prom{scua.
Os cientistas sociais que pressupoem, e bern, publicados numa das principais revistas de psi- por hectare em 1981, mas, enquanto a freguesia o 110SS0 am or pelos outros esvai-se ate [he per-
a profunda necessidade das redes sociais para 0 cologia ambiental, Environment & Behavior; do Lumiar registava urn valor quase duas vezes dermos 0 rasto. Quem quiser ainda experimen-
equilibrio emocional dos seres humanos, estao a respeitam justamente a este problema, tendo sido inferior (cinquenta), a Musgueira SuI, bairro de tar pelos seus semelhantes sentimentos caloro-
pressupor ipso facto a dominancia do que a dedicados ao mesmo tempo mais de duzentos lata sito na mesma freguesia, continha, em 1987, sos e acolhedores e obrigado a concentrar-se
escola de rela~oes de objecto em psicamilise estudos e monografias so na decada de 70. 550 indivfduos por hectare. num mimero reduzido de amigos ( ....J. Not to get
denominou a posi~ao depressiva. Mas ignoram Chandler e Fox (1974) calculam que, ao o estudo dos efeitos da sobrepopula~ao dis- emotionally involved e uma das preocupa~6es
uma outra possibilidade: 0 da dominancia e fixa- longo de tres mil anos de desenvolvimento his- tribui-se por tres tradi~6es historicamente inde- dos habitantes das gralldes cidades (. ...). Afalta
~ao na posi~ao alternativa, a posi~ao esquizo-
tori co dos espa~os urbanos, a densidade popu- pendentes: a sociologica, a etologica e a psi- de amabilidade generalizada que se pode obser-
-paranoide, construfda na ruptura da rela~ao lacional tenha oscilado entre cern e duzentos cologica. A sociologica, em muito radicada nos var em todas as grandes cidades e c1aramente
com os outros e na clivagem dos objectos inter- individuos por hectare. Em 430 a.c., a Babilonia citados trabalhos da Escola de Chicago, procura proporcional a densidade das massas humanas
nos. Vma outra possibilidade, que abre, nas suas conteria trezentos, em 100 a.c., Roma atingia os ligar como variavel independente 0 macrofeno- aglomeradas nesses locais (Lorenz, 1973).
express6es extremas, os tragicos caminhos das quinhentos e, nos meados do seculo XVIII, menD sociodemografico as variaveis depen- Extraordimiria coincidencia com as teses da
rupturas relacionais presentes nas esquizo- Edimburgo chegava aos seiscentos. Nos dias de dentes de ordem microssociologica ou mesmo sobrecarga defendidas por Simmel e Wirth, na
frenias e no autismo infantil. Mas, processos hoje, segundo estatfsticas da ONU (1976), a aos comportamentos individuais. Grosso modo, sociologia; nada de novo em rela~ao ao que nos
esquizoides esses que sao parcialmente ren- maioria das cidades europeias apresenta uma na perspectiva wirthiana procurava-se deterrni- diziam Milgram (1970) e Latane e Darley
contraveis na vida quotidiana do comum dos media de 150 habitantes por hectare, sendo este nar os efeitos patogenicos das grandes concen- (1969), na Psicologia Social. Nao tendo aparen-
cidadaos, sem a mesma carga patologica por- valor duplicado nalgumas cidades do Terceiro tra~6es populacionais. Os efeitos psicologicos temente ido beber a estas fontes, Lorenz socor-
ventura, e tam bern eles subjacentes a muito do Mundo (Hong Kong, 350; Calc uta, trezentos), e da densidade populacional, em si mesmos, sao, re-se da bica que Ihe e mais acessfvel: os dados
que em Psicologia Social se estudou sob 0 libelo Esmer (1977) adianta 192 para Ankara. Har- todavia, dificeis de isolar. E certo que os bairros da propria etologia.
da apatiado espectador a que acima se fez refe- rison (1977) calcula que as principais cidades com altas densidades populacionais apresentam, A etologia proporcionou uma enorrne massa
rencia: 0 corte relacional, 0 isolamento emo- australianas contenham vinte individuos por por exemplo, maiores fndices de criminalidade, de informa~6es empfricas sobre os efeitos da
cional e dos urbanitas em tantas situa~oes da hectare, e Pickard (1967) estimou para as prin- desviancia e violencia social (Davidson, 1981), densidade populacional nas mais variadas espe-
vida de todos os dias, em que a desempatiza~ao cipais cidades americanas quinze, enquanto mas a concentra~ao populacional encon- cies. A no~ao de territorio foi apresentada por
com os outros predomina. E nesse sentido, as James (1967) avaliou uma densidade de tra-se af associ ada a outros defices de natureza Howard (1920), e desde entao surgiu urn con-
possibilidades de encapsulamento cognitivo- quarenta hablha para as newtowns inglesas, cons- economica, cultural, social e ambiental, que ceito-chave nas analises etologicas, tendo sido
-emocional pressupostas pel a Escola de Chicago tatando-se urn forte declfnio da concentra~ao constituem urn conglomerado complexo de varia- estendido ate ao proprio homem, desde lei-
existem, sim, mas nao por deterrninismo socio-
urbana nos pafses desenvolvidos nos ultimos veis, 0 qual, em acumulo e interac~ao, sobrede- turas de cariz puramente psicossociologico
logico do fenomeno urbano mas porque, no uni- oitenta anos, em parte devido ao alargamento da terminam as desregula~6es imputadas por vezes (como Altman, 1975) ate outras que arraigam
verso das possfveis resultantes ontogeneticas, se
convic~ao, entre projectistas urbanos e autori- simplistamente a sobredensidade populacional declaradamente numa interpreta~ao biologica
configuram as oscila~6es entre movimentos psi- dades municipais, de que as grandes concen- (Socz~a, 1984). filogenetica (situando os comportamentos
526 527

territoriais humanos num plano de homologias e Hediger, que delimita invisfveis fronteiras inter-
nao de analogias), como e 0 caso do modelo individuais, e urn factor de stress; em condi<;6es
A IMPORTANCIA SOCIAL DA PROXEMICA
etopsiquiatrico defendido por Bracinha Vieira de sobrepopula~ao verifica-se uma constante
(1979, 1983). Evolutivamente, 0 fenomeno da viola~ao dessas fronteiras, uma perda de controlo
A capaciuadc para rcconhcccr a ~ v ari a~ I.ona~ dc cn\'ol vi mclllo c H!. m:lI v idadc~. rclm;(ic~ c cl1lot;iic~ a da~
territorialidade e subsequente a diferencia~ao das situa~6es e da qualidade das interac~6es, uma a~~ociada~ lornou-~c actualmcnlc muito imporlantc. As pOpUl;lt;lks dc lodo 0 mundo c~lii() a apinhar-~c na~ cidadcl>.
sexual e ao desenvolvimento de urn sistema ago- incapacidade de regula~ao e processamento da c o~ conslrulorc~ c o~ c~pcculadorc~ c!.liio a cncafuar a~ pcssoa~ cm caixolc~ \ crlicab - lanto c~criI6rio~ como
nfstico que assegura a apropria~ao de urn espa~o carga de informa<;6es intra-especificas recebidas. rCl> idcncia!.. Sc olharmo ~ para o~ !.crc!. hUlllano!> da mancira como 0 fa/ ium o~ cl>da \' agi~la~. conccbcndo a~ ~ua~
nccc!.~idudc~ dc c~pa~o apcna~ cm fun~iio do~ limilc~ corporais . cnliio ~uhc~lilllalllo!. o~ cfcilO~ dC~lC apinhllmcnlo.
defendido funcionalmente em ordem ao acasa- o organismo, incapaz de se adaptar a essa sobre-
Ma~ :.c olharlllo~ para as pc!>!>oa~ C011l0 c~lllndo rodcada~ pm uma scric dc glohos il1\ I!>ivcis quc po~),ucm di11lcn!>iic~
lamento, procria~ao e cria~ao, com eventual carga, reage como esta program ado perante
11lcn!>unhcl!>. a artlUilCCIUr:I podc !>cr lamhclIl olhada dc UIllH forllla nO\·a . Scni Clllao pos~i\cl concchcr quc a~ pcs-
reserva de recursos e pontos de abrigo. Hediger situa~6es de perigo, e desencadeiam-se os meca- ~oa~ podclll !>cr c'lllagada!> pclm c),pa~o~ ondc lrahalham c vi\'cm . Poricm atc ~cr fort;ada!. a comportamcnlos.
(1950) foi urn dos primeiros a sugerirem que a nismos fisiologicos de resposta ao stress socio- rclat;iic, c cfcilm, cmocionais quc !>iio glohalmcnlc pnlVocadorc!> dc .1/fL'.I .1 Tal como a g ra\' idadc. a inllucnda dc do h.
territorialidade contribufa para a propaga~ao das -ecologico. Mas, ainda do ponto de vista etolo- corpo!> um no oulro c II1\Cr~amCIllC nao apcna!> ao quadmdo da di~liincia cnlrc dc!>. ma!> tamhc m pOl> ~i\'dmcnlc ao
especies enquanto mecanismo regulador da den- gico, 0 fenomeno da territorialidade nao po de cubo dcssa dil>l:lIlcia . QUllndo 0 .I(/,('X.I aumcllla. aumcnla lambcm 1I !.cn~ihilidadc ao apinhamcnto - a' PC!.!.Oll!> tm-
nam -sc mail> acrim()nio~a~ - dc wi forma quc cada \'et mab c m<l i ~ c~pa~o ~c torna nccc~"i rio c cada \,<: 1. h,i mCIHIl>
sidade populacional, e desenvolveu 0 conceito ser confundido com os efeitos da sobreconcen-
CSp<lt;O di~p()nivd .
de disHincia crftica, como a delimita~ao de uma tra~ao populacional, embora esta ultima tenda a
area invisfvel que rodeia 0 indivfduo e cuja vio- acentuar os comportamentos agonfsticos ter- (E. T . Hall . 1fI,' H ie/e/ell IJillll'/l\ ioll. l%lJ)
la~ao das fronteiras conduz a reac~6es agonfsti- ritoriais, em especies que os apresentam e em
cas. As aplica~6es destas conceptualiza~6es ao condi<;6es ecologicas e fisiologicas (receptivi-
caso humano e 0 estudo das varia~6es culturais dade sexual, actividades de protec~ao parental) observa~ao destas regras de inferencia tern pelo aumento da frequencia das interac~6es
destes espa~os pessoais deram origem a uma que 0 propiciem. Ao contrario do que tern sido variadas vezes conduzido a generaliza~ao de agonfsticas como pela subida da taxa de morta-
nova subdisciplina designada proxemica pelo defendido por alguns autores, a territorialidade dados colhidos com uma especie em circunstan- lidade da popula~ao. Em condi~6es naturais, 0
antropologo Edward T. Hall (1966). A este tema nao e urn fenomeno universal nas especies 'an i- cias particulares para outras especies ou ate para aumento da densidade populacional associa-se
dedicaremos especial aten~ao mais adiante mais, e dentro da mesma especie os comporta- a mesma especie, independentemente das cir- ainda a diminui~ao dos recursos disponfveis per
(ponto 3). (Ver caixa na p. seguinte) mentos agonfstico-territoriais podem emergir ou cunstancias (Soczka, 1994). capita, dando origem a competi~ao intra-espe-
A etologia cIassica defendeu que existem nao, consoante as condi~6es ecologicas (abun- No que toca aos efeitos da sobredensidade cffica por esses recursos, ou a emigra~ao de sub-
condicionantes para a dimensao optima dos gru- dancia ou escassez de recursos alimentares ou populacional, entre os estudos mais citados con- popula~6es, 0 que estava preservado nas condi-
pos, independentemente da abundancia ou pontos de abrigo, pressao predatoria intensa ou tam-se os de Calhoun (1962, 1963), que mani- ~6es experimentais de Calhoun.
escassez de recursos. Nas especies sociais existe parca, etc.). Por outro lado, as extrapola~6e s pulou essa variavel com ratos, em condi~6es Os trabalhos de Christian (1961) e de
urn limite que varia de especie para especie interespecificas devem sempre ser alvo de parti- laboratoriais engenhosas. Quer os trabalhos de Christian e Davis (1964) permitem a compreen-
(e, no homem, de padrao cultural para padrao culares cuidados e basearem-se na rigorosa dis- Calhoun, quer outros que se Ihe seguiram, sao de muitos dos fenomenos verificados nas
cultural) para a proximidade ffsica entre con- tin~ao entre as analogias, as convergencias e as demonstraram que a concentra~ao excess iva de condi~6es de alta densidade populacional cria-
generes 8. A infrac~ao da distancia crftica de verdadeiras homologias filogeneticas. A nao indivfduos numa mesma area tinha por efeitos das por Calhoun nas experiencias citadas.
urn aumento exponencial da mortalidade infan- Tambem estes autores verificaram que, em
til (que atingia valores de oitenta a noventa e condi~6es de sobrepopula~ao, os ratos (Mus
R Mas tambem para a dimensao do~ grupos espontaneamente constituidos em meio natural se encontrou uma estreita
relar;ao entre essa dimensao e a evolw;:ao do neocortex dos primatas. Baseado num grande numero de dados colhidos em seis por cento, em grande parte como conse- musculus) apresentavam urn crescimento das
estudos de campo nao so por primatologos mas tambem por antropologos relativamente a culturas primitivas vivendo da quencia da drastica diminui~ao dos cuidados supra-renais, uma diminui~ao hipofisaria e dos
car;a, Dunbar (1992) prop6e a seguinte equar;ao de regressao simples: parentais), 0 aumento substancial de agress6es androgeneos testiculares dos machos. Variados
/og( N)=O.o93 +3 389 /og(CR), entre machos e a diminui~ao das actividades trabalhos posteriores confirmaram estes mes-
exploratorias e de vigilancia. Estas condi~6es de mos resultados (cf. Goeckner et al., 1973).
onde N e a dimensao grupal e CR 0 volume do neocortex relativamente ao volume do resto do cerebro (/,2=.0764,
(34=10.35, p<O.OOI). Para a especie humana N=147.8. Admitindo intervalos de confianr;a de 0.95, N variaria em Homo
stress socialmente induzido apresentavam igual- Christian constatou igualmente que, em condi-
sapiel/S entre 100.2 e 231.1,0 que de facto se veri fica em muitas culturas tribais de c1ivagem sociodemognifica e ritual mente implica~6es fisiologicas: a sobrepro- ~6es de sobrepopula~ao, se assistia a uma dimi-
espontfinea. du~ao adrenaifnica, em parte responsavel nao so nui~ao da reprodu~ao e inibi~ao da lacta~ao das
528
• 529

femeas com crias, acompanhada de hiperplasia clara do que dantes se pensava. Por um lado, fetal em condic;oes de sobrepopulac;ao. As fe- Estes resultados de Calhoun e continuadores,
da zona fasciculata do cortex adrenal. Nos siio diversos os elementos patogenicos associa- meas com sucesso reprodutivo eram apenas as apesar da sua ampla incidencia na literatura
machos, atrofia testicular e das vesiculas semi- dos as quebras populacionais, de especie para que tinham atingido a maturidade antes de se sociol6gica e psicologica em apoio as teses
nais. Ainda nas femeas, Christian relatou uma espeeie . Por outro lado, oeon'em quebras para verificar sobredensidade. Lloyd (1975) demons- sobre a nocividade dos efeitos da sobrepopu-
involuc;ao da zona X do cortex adrenal, a qual e as quais niio existem agentes patogenieos a que trou a relac;ao entre a territorialidade e a inibic;ao lac;ao, parecem dificilmente extrapolaveis para a
sustentada por uma hormona luteinizante pro- se possa atribuir 0 quadro patologieo. Essas reprodutiva em duas populac;oes da mesma especie humana. Os mecanismos reguladores
duzida pela glandula pituitaria anterior, que observap5es extraordinarias levaram a teoria especie: naquela em que a reorganizac;ao territo- dos comportamentos sociais das especies em
desaparece na puberdade e na gravidez e e de que as doenras microbianas associadas as rial dos grupos se verificou, provou-se apenas questao nao sao, evidentemente, os que contro-
inibfvel por androgeneos. A involuc;ao da zona quebras populacionais siio apenas fenomenos urn decrescimo dos nascimentos; na populac;ao lam os processos sociais humanos.
X nas femeas sujeitas a condic;oes de alta densi- seeundarios, e que a causa primaria e uma per- onde essa reorganizac;ao social nao foi possfvel, Ao nfvel humano, dificilmente se poderao
dade populacional sugere que se verifica ou uma turbariio metaboliea . Dubos refere 0 caso das o autor verificou acrescimo dos comportamen- aplicar esses resultados, apesar de uma certa
sobreproduc;ao de androgeneos reprodutores, ou celebres migrac;6es macic;as de lemingues, que tos agonfsticos dos machos adultos e conse- literatura psicologicizante tender a esvaziar da
uma quebra de produc;ao de hormona lutei- se precipitam as centenas de milhares para 0 mar, quente mortalidade das crias e juvenis. A sobre- sua real componente fisiologica 0 conceito de
nizante. Os trabalhos de Christian e Davis na Noruega, atribuindo 0 fenomeno a hiperac- produc;ao de glicorticoides diminui, por seu stress. Nao esta em questao neste trabalho
(1964) demonstraram que, no perfodo pre- tividade do sistema adenopituitario provocada tumo, a resistencia a doenc;as infecciosas, 0 que negar os aspectos fisiol6gicos do stress derivado
-pubertario, os ratos segregam elevadas quanti- pela sobredensidade populacional, dado que a explica a vulnerabilidade a epidemias ocasio- da sobreconcentrac;ao populacional, mesmo na
dades de hidrocorticoides (particularmente anatomo-patologia revela lesoes associadas as nada pel as altas densidades populacionais. No especie humana (ver caixa da p. seguinte).
hidrocortisona) em condic;oes de sobrepopu- supra-renais e ao cerebro, por hiperplasia que toea a componente agonfstica, a serie de o que esta em questao e que no Homo sapiens as
lac;ao. Esta produc;ao excessiva de HC e impor- tecidular. Deewey (1960) encontrou resultados experiencias levadas a cabo por Ropartz na mediac;oes cognitivo-emocionais parecem ser 0
tante no atraso do atingimento da maturidade semelhantes em populac;oes de lebres no Minne- Universidade de Estrasburgo (Ropartz, 1966, factor determinante da suas proprias capacidades
sexual nos machos, substituindo-se a corticoes- sota, as quais en tram aos milhares em estado 1968), permitiu por em evidencia 0 papel das de adaptac;ao as situac;oes, 0 que levou a que a
terona, cuja producrao e predominante nos comatoso devido a uma quebra brusca dos regulac;oes olfactivas no comportamento social psicologia ambiental procedesse a distinc;ao con-
machos adultos. Estes resultados laboratoriais glicogenios do ffgado, apresentando sinais de dos roedores, os quais desenvolvem odores de ceptual entre 0 fenomeno de densidade popula-
sao amplamente confirmados por observac;oes hipoglicemia, hemorragias equimoticas no cere- grupo que lhes permitem identificar correcta- cional (objectivamente mensuravel, como 0
em meios naturais, como 0 demonstraram as bro, congestao e hemorragia das' glandulas mente os membros dos seus proprios grupos de numero de indivfduos por unidade de superffcie)
investigac;oes de Southwick (1958) com quatro supra-renais, da tiroide e dos rins. Quebras brus- pertenc;a e reagir com agonismo territorial a pre- e 0 fen6meno subjectivo de percepc;ao do api-
mil Mus musculus selvagens (Inglaterra) e ou- cas da populac;ao, com absoluta inibic;ao da senc;a de intrusos. Em condic;oes de sobrepopu- nhamento, para 0 qual a literatura anglo-saxo-
tros citados na cuidadosa revisao da literatura reproduc;ao e da lactac;ao, foram igualmente lac;ao, pode admitir-se a hip6tese de sobrecarga nica reserva a expressao crowding. desde que
efectuada por Sadleir (1969): altas densidades observadas em condic;ao de sobrepopulac;ao de odorffera conducente a incapacidade de discri- Stokols (1972) defendeu essa distinc;ao conce-
populacionais sao urn factor de atraso matura- Mus musculus. por Marsden (1972). Por outro minaC;ao olfactiva nos machos aduitos, 0 que ptual. A alta densidade populacional e, talvez,
cional e inibidoras da procriacrao em roedores e lado, Davis (1971) observou que a transferencia leva a verdadeiras batalhas campais entre os uma condicrao necessaria mas manifestamente
outras especies de mamfferos, independente- de agua de aquarios con tendo altas densidades machos que ja nao se reconhecem como con- insuficiente para a eclosao do sentimento subjec-
mente da abundancia de recursos alimentares. populacionais de girinos de ra para aquarios generes grupais. Ou seja, 0 efeito de massa tivo de apinhamento ou percepc;ao de sobre
Rene Dubos (1965) chamou a atenc;ao de que- contendo urn unico girino provocava inibic;ao do surge como anulador das regulac;oes homeosta- concentrac;ao populacional. Rapoport (1975)
das bruscas dos efectivos populacionais, ate a desenvolvimento deste animal isolado, devido a ticas do grupo que existem em condic;oes nor- devolve esta distinc;ao ao modelo de sobrecarga:
dec ada de 60 atribufdas apenas a causas epide- concentrac;ao feromonica. Experiencias de mais de espaciac;ao intergrupos. Ou entao, dada o crowding. no sentido de Stokols, e conse-
micas (pasteurelas e salmonelas, sen do os Lloyd e Christian (1969) em Mus musculus. a constituic;ao de subgrupos verificada por quencia da sobrecarga de informac;ao, em que 0
microrganismos mais frequentemente associ a- demonstraram, por analise anatomica post Calhoun, a proximidade forc;ada desses mesmos indivfduo se revela incapaz de processar cogni-
dos a essas quebras assim como a vfrus de varios mortem das femeas de tres populac;oes em subgrupos conduziria, inevitavelmente, nao a tivamente 0 excesso de estimulac;ao social, sendo
tipos), mas acrescentava: Tornou-se mais obvio, crescimento livre, que - apesar das quebras agressaoindiferenciada mas, pelo contrario, a obviamente essa capacidade dependente das
todavia, que a relapl0 entre as quebras popula- populacionais observadas - 74,7 por cento ja encontros agonfsticos permanentes entre os aprendizagens culturais, das atitudes e das idios-
cionais e as doenras mierobianas e muito menos haviam engravidado, tendo ocorrido reabsorC;ao machos dos referidos subgrupos. sincrasias pessoais. Se e verdade que as altas
530 531

precisao. 0 que a cidade impoe, pelo contnirio, matiz~s. multicol~r~dos, indicadoras de origens
A PSICOLOGIA SOCIAL ENQUANTO ESTUDO CONTEXTUALIZADO nlio e so uma (hiper)estimula<;ao, a que 0 sujeito geograflcas e SOCIalS, diferenciadoras como ele-
DAS DRAMATICAS HUMANAS fosse passivo, mas uma enorme profusao e mentos de distin<;ao nas mesmas culturas a tudo
variedade de estfmulos com valor informativo, isto se acrescentam. E neste sentido que ~e po de
Um gel.\O que eu 1).\(;0 c um facto p~icologico porl\lIe C um ~eg.menlo uo dram,l que representa a minha vida. desde sinais sonoros, sinaliza<;ao de trMego, e deve falar de sobrecarga de informa<;ao
A maneiru como ele se insere nesse urama e dada ao pskdlogo pelo rel,llo que Ihe posso fomecer 1I respcito uessc montras de lojas, anuncios nas paredes, etc., ate agravada no quotidiano do citadino. Poderia
geslo. Ma~ C 0 geslO esclareddo pelo rdalO que con~lillii 11111 facio p~kolllgico. e nan () geslo em si mesmo ncm 0
- e este e 0 principal problema - a uma gigan- falar-se especificamente em sobrecarga social
conleliuo do relulo. 0 gcslo possui evidenlclllenle ummecanislllo tisioI6gko.m:ts esse mccllni~mo nao temllinua Illld:1
de hllmano; nao interessa ao p~ic610go. Por oulro lauo. 0 conleudo do relllto que pos~o produzir ucerclI do meu geslo
tesca quantidade de informa<;oes provindas (McCarthy e Saegert, 1978), os efeitos da qual
illlplicll. num ponto de visla da psicologia c\a~sicu. de~crit.iies estaticas ou diniimiclls. m:l~ que tamhcm nao possuelll directamente do contacto de cada pessoa com sao relativamente independentes da densidade
interesse. Elas impliclllll. com efcilo. 0 lIhandono do sell/it/a, em bcncficio do fOnllUlismo. c ~c 0 mecunismo PUI1l- milhares de outras pessoas, ao longo do dia. populacional em si mesma considerada, mas
mente li~ioI6gk(J UO meu geslo eSl:i aquclIl ua psicologia. as ue~cric;oes inlmspccliva~ e~tao pur.! 1I1em ucla: 0 pOlliO Nesse sentido, parece valido falarmos de uma dependentes das adaptar;oes cognitivas e emo-
c/e I'i.lla c/o {J.I'i('(l/ogo ,: 0 ql/e mil/dc/e COlli () c/ral//a. ( ... J A constlllac;ao uo cOlllportamento humane rcsulill. para 0 sobrecarga de informa<;ao: filogeneticamente, cionais a essas situa<;oes e da elaborar;ao de
psicl'llogo. nao de umll simple~ perccpc;ao ma~ II III a percep<;ao cOlllple.rifimc/a pela cOIllpreell.wio. Consequentemellle.
somos uma especie talhada para a emissao e respostas adaptativas, 0 evitamento do contacto
o f"CIO psicol6gic() nao e um dado simples: enquanto ohjecto de conhecimento c c~~cncialmclllc ('(II/.vlmfc/o, ( ... J
E 0 sentido conectado com um cu que uislinguc radicalmenle 0 facto pskologico tlos faclos natumis: em descodifica<;lio de subtilfssimos sinais verbais e comunicacional, mesmo nlio verbal (desvio do
resumo. a origil/alic/llt/c elO./CIC/(J p.l'icoMgico (; gamla pela pf(ipria exi.whlCia t/e 11/11 piaI/o eS{J('ci/icull/ell/l' 11II/IwI/o nlio verbais que nos permitem comunicar com olhar, por exemplo), e acrescido pela sobrecarga
(' ell/pit/a dmlllcilica do illC/iI'fell/o que eI(/; c/ecorre . Aeonlecc que 0 drama nao e de formll algunm «interior .. . 0 drama os nossos congeneres. De todos os seres vivos social, e a aceita<;ao da comunica<;ao toma-se
decorre na meuida em que reqller um II/gar. decone no espa<;o como touo 0 movimento e lodos os lenomeno~ deste planeta, somos aqueles cuja musculatura fun<;ao dos contextos sociais e ambientais con-
nalurais. Pnrque 0 lugar onde cstou actualillentc nan.! simplesmenle 0 lugar ua minIm vida li~iol(igica . .! tmnbcm 0 facial e mais complex a e permite uma maior cretos. A territorialidade exerce-se em fun<;lio
ccmirio ua minIm vida drmmilica. e t()da~ as ac<;iies. crimes e IOLicuras ocorrclll ncs~e espa<;n. E c veruade. pOl' outro
elabora<;ao de informa<;ao comunicativa, que desses contextos, 0 que leva a compreender a
lado. que 0 e~p:\I'o nao cOlIslilui senao Lima verlenle do uram:l: 0 elcmenlo propriamcntc uraillalico nao c espacial
ma~ lambcm nao C puramente interior.j:i que coinciue com 0 sigllijil'llt/o.
apresenta poucas e ligeiras varia<;oes transcul- relativa ineficacia dos estudos experimentais de
turais (cf. Darwin, 1872; Eibl-Eibesfeldt, 1976; laboratorio acerca do fenomeno de croWding. e
(Gcnrg<:~ Pnlillcr. Crilil/IIC- d,-.\'jlmdc'/IIC'III,\ tI,-11I I'syc/w/IIgi.'. 19211)
Ekman e Friesen, 1978; Izard, 1980; Bracinha as grandes vantagens dos metodos de campo
Vieira, 1983). Grande parte desses sinais e sobre esse contexto artificial.
densidades populacionais podem apresentar Conviria neste momenta frisar que a teoria da inconsciente para 0 proprio emissor, e tao rapi- Altman (1975) apresentou a distin<;ao entre
riscos do ponto de vista biologico (epidemias sobrecarga, nas suas variantes sociologicas e damente integrados eles sao pelo receptor que territorios primarios. que constituem urn espa<;o
bacterianas, por exemplo, como nas praias sobre- psicologicas, e ainda, como sublinhou Altman mesmo este teria dificuldade em expressar limitado de que urn sujeito ou urn grupo limi-
povoadas, em que as areias sao elas mesmo fonte (1978), 0 pano de fundo de todas as pesquisas cognitiva e verbalmente quais os sinais informa- tado de pessoas se apropria e identifica como
de risco, independentemente das condir;oes das correntes sobre 0 fenomeno de crowding. Mas tivos que detectou noutrem e eventual mente espar;o proprio (a casa de cada qual, 0 gabinete
aguas), do ponto de vista urbanfstico (planea- essa sobrecarga deve ser entendida no sentido de moldaram a sua resposta. Aos extremamente de trabalho no emprego, etc. 9); territorios
mento dos espar;os habitacionais) ou de enge- sobrecarga de iI~formariio, e nao de estimu- complexos sinais faciais, motoricos, posturais, a secundarios. que sao espa<;os colectivamente
nharia (organiza<;ao e planeamento do trMego e la<;ao. Esta distinr;ao e essencial para se com- cultura acrescenta uma enorme gama de outras apropriados por urn grupo de indivfduos ou
transportes, por exemplo) - do ponto de vista preender que nao e a profusao de estfmulos nao menos complexas emissoes nao verbais de grupos (familias de vizinhos, por exemplo) e
psicossociologico sao em si mesmo urn indi- sensoriais 0 que sobrecarrega psicologicamente enorme valor informativo: form as de trajar, identificados como espa<;os territoriais de
cador falfvel. E imperativo 0 seu cruzamento o urbanita, mas a complexidade, intensidade e emblemas culturalmente distintivos, utiliza<;ao grupo, como nesse espantoso filme que e 0 Patio
com outros indicadores de natureza sociocul- quantidade de estfmulos sensoriais que se cre de emblemas contextuais fisicos. As linguagens das Cantigas; e territorios terciario.\'. que sao
tural, de modo a ser integrado num mais com- transportarem informa<;ao e, como tal, serem verbais, com os seus sotaques, pronuncias e espar;os abertos, publicos e sem propriedade ou
plexo modelo explicativo dos comportamentos descodificados. Wohlwill (1975) propos mesmo,
humanos. Aos psicologos interessa, mais do que com base nesta distin<;ao, que 0 termo sobre- \I Poderia ainda fazer-se referencia a territorios primarios dentro de territ6rios primarios: numa familia , a sua casa e urn

o fenomeno meramente demogrMico, 0 pro- carga fosse reservado para a informa<;ao, e que territ6rio primario em rela~ao aos estranhos, mas uma divisao da casa pode ser um territ6rio primario do seu ocupante (0
blema da percep<;ao da densidade popuJacional, no caso contrario nos referfssemos apenas a ' escrit6rio na casa de Jean Piaget, por exemplo. que nao permilia a ninguem que «arrumasse» os papeis e livro, aparente-
mente em desordem); num quarlo oeupado por dois irmaos, a cama, a estante e a mesa de escrivaninha de cada um podelll
o sentimento subjectivo de apinhamento e os hiperestimula<;ao, cujos efeitos no comporta-
constituir 0 seu territ6rio prim:irio. dentro do territ6rio primario que e 0 seu quarto, dentro do territ6rio primario que e a ~ua
seus subsequentes efeitos comportamentais. mento humano estlio ainda por determinar com casa familiar. Numa empresa, urn gabinete mUltiocupado pode apresentar as mesmas caracterlsticas, por exemplo .
532

533

apropria9ao por indivfduos em particular (urna ciados pelo autor, e traduz a correla~ao de
auto-estrada, urn jardirn publico, urna avenida, ordem zero entre a densidade populacional FIGURA 2
urn rnonurnento nacional, etc.). 0 sentirnento de intra-residencial e varios indicadores de patolo-
sobredensidade ou apinharnento (crowding no gia. Mas os resultados de Dunstan apontam para Correla~ao entre varios indicadores de patologia social e a densidade intra-residencial
sentido psicologico) nao e independente dos urna ainda mais forte associa~ao entre 0 isola- (numero de pessoas a viver no mesmo quarto)
contextos territoriais acirna referidos, 0 que 0 mento social (isto e, pessoas que vivem sozinhas (Dunstan, 1979)
toma fun9ao das descodifica~oes cognitivo- e entregues a si mesmas) e os mesmos indi-
Corrcla\iuo
-ernocionais a que a pessoa procede para identi- cadores: 0,79 com 0 suicfdio (p<0,05); 0,54 com
0,6 --------------------- __________________ _
ficar 0 contexto arnbiental em termos de apro- a esquizofrenia (p<0,05); onze com a delinquen-
pria9ao territorial. Por sua vez, os efeitos de cia juvenil (n.s.). Estes resultados, que coin-
rnassifica~ao tradicionalmente apontados, como cidem, no que toca ao suicfdio e tentativa de 0,4
a anomia e apatia citadinas, nao podem tambem suicfdio dos «isolados afectivos», com os en-
ser lidos em independencia desses contextos contrados por Sampaio (1985) em adolescentes
territoriais, e parecem referir-se sobretudo a portugueses, traduzem bern os riscos do isola- 0,2
espa~os terciarios. Os espa~os primarios, por mento social. Nao podemos, ainda assim, falar
Dcnsidadc
defini~ao, nao permitem essa «difusao das de uma rela~ao linear de causa e efeito, mas inlra-rcsidcndal
responsabilidades» inerente a «apatia do espec- antes de uma dramatica circularidade: 0 isola- o r--+--~~-,~--+-~--~
tador» de que a psicologia social pretendeu fazer men to social induzindo a patologia e a patologia 2, I 2,2 2,5
uma das suas coroas de gloria (Latane e Darley, conduzindo ao isolamento social. Seja como for, -0,2
1969; Leyens, 1979). o que e espantoso e como em todos estas

--~-----------------------
As teorias que defendem os efeitos nocivos abordagens se ignoram os factores ontogehicos
da densidade populacionaI em si mesma conducentes a constitui~ao dos processos esqui- -0,4
normal mente ignoram as variaveis mediadoras zoides de ruptura da rela~ao afectiva interpes-
(cognitivo-emocionais e contextuais) que per- soal, em periodos muito arcaicos das nossas X
mitem a pessoa controlar as informa~oes, vidas (Guntrip, 1968), como se de estruturas -0,6 ----------------------------------------
processa-Ias e responder em fun~ao des sa desco- sem genese se tratasse.
difica~ao. Os estudos sociologicos tradicionais Se tudo 0 que soubessemos fosse proveniente -X, Suicidio
quase sempre se basearam em metodos pura- destas abordagens globais, nunca se saberi a ao
-Q. Esquizofrcnia
mente correlacionais entre a densidade popu- certo qual destes factores e 0 ovo ou a galinha,
lacional de grandes areas, tomada como variavel ja que os grandes numeros nao nos con tam as -ir Dclinqucncia juvcnil
independente, e urn ou mais indicadores de historias da vida de cada qual. E estas, com a sua
~ Violcndas praticadas
patologia social (suicfdios, crimes, doen~as dramatica pessoal, continuarao a ser uma fonte por ildultos
mentais, etc.), que seriam supostamente conse- insubstitufveI de informa~ao psicologica, pese
quencias daquela, como e sugerido no famoso aos experimentalistas de laboratorio e aos que se
trabalho de Faris e Dunham (1939). debatem nos derradeiros estertores do positi- vida comum do tecido urbano, habita~oes zofrenia seriam muito mais elevadas nesse
Dunstan (1979) procedeu na Australia a urn vismo que herdamos do seculo XIX. degradadas, debilidades socioculturais e eco- espa~odo que 0 sao efectivamente. 0 isolamento
estudo que leva a crer que a densidade intra-resi- Tudo 0 que se podera afirmar com born senso nomicas (Leighton et at., 1963; Timms, 1971). social nao e a regra da vida urbana. 0 citadino
dencial surge muito mais fortemente associ ada a e que isto anda tudo ligado, como dizia 0 poeta, Produzisse 0 espa~o urbano os efeitos drasticos nao e uma ilha mergulhada num mar de gente
esses indicadores de patologia social do que e que os grandes indicadores de patologia social de incomunicabilidade, anomia e clivagern que nao se reconhece como tal. A cidade e, para
a densidade populacional extra-residencial, sao mais fortes nas areas urban as on de e fraca a afectiva derivadas da sobredensidade popula- empregar a expressao ja c1assica, urn mosaico
mesmo recorrendo apenas ao metoda correla- integra~ao social, com fraca coesao e organi- cional, como 0 pretenderam os deterministas, de subculturas, uma enorme multiplicidade de
cional . A Figura 2 mostra os resultados eviden- za~ao comunitaria, marginaliza~ao em rela~ao a e sem duvida as taxas de suicfdio e esqui- mundos sociais, que sao quase como mundos
534 535

proprios, no sentido tao belo que Jacob von nao foram e continuam a ser sistematicamente densidade intra-residencial, sem que sejam veri- percep~ao da viola~ao de distancias crfticas, no

Uexkull (1921) utilizou para caracterizar os un i- destrufdas em nome da ocidentaliza~iio que 0 ficaveis aumentos substantivos nos indicadores sentido da proxemica de E. T. Hall. Edesse tema
versos subjectivos de cada especie animal 10. poder economico e tecnologico erigiu em de patologia social acima referidos. Mitchell que nos ocuparemos neste ponto 3.
Homo sapiens e uma unica especie, capaz de modelo de virtudes? Mas tam bern a microescala ( 1971) observou que nessa cidade se veri fica Na sua obra fundamental que inaugura esta
comunicar com todos os elementos da sua urbana 0 problema se pode colocar. Como lima ocupa~ao residencial de dez Oll mais pes- tematica, The Hidden Dimension (Hall, 1963) e
propria especie. Mas e, ao mesmo tempo, uma mosaico de subculturas, a cidade e simultanea- soas por quatrocentos pes quadrados, ou seja, no posterior e mais especializado Handbook of
especie que produz como nenhuma pseudo- mente urn espa~o possfvel de dialogo enriquece- perto de quatro metros quadrados por indivfduo, Proxemics Research (Hall, 1974), este antropo-
-especia~6es de natureza cultural e clivagens dor, de transferencias de val ores entre os multi- acrescentando-se a isso que em 39 por cento dos logo da vida quotidiana define a proxemica
emocionais, que dificultam essa comunica~ao. plos cemlrios urbanos, mas tambem de conflitos casos os fogos sao partilhados por varios como 0 estudo das observafoes inter-relacio-
A no~ao de pseudo-especie e aqui usada no sen- de modelos de vida e representa~6es sociais. nucleos familiares e que 28 por cento partilham nadas do uso do espafo pelo homem enquanto
tido de Erik Erikson (1971), que nos adverte de Longe de ser urn universo de indivfduos atomi- uma unica cama com duas pessoas e treze por elaborafiio especializada da cu/tura (Hall,
que I1ll11ca podemos esquecer que 0 homem zados, 0 espa~o urbano e sobretudo urn espa~o cento com tres ou mais pessoas, sem que indf- 1966) ou 0 estudo das transaq:oes do homel1lna
desenvolveu (por um qualquer modo de evo- de rela~6es intergrupos, que se interpenetram cios de insanidade fossem detectados por medida em que ele percepciona e usa os espafos
IU~'iio ou por razoes adaptativas de uma ordem em graus variaveis, mas nao deixam de se mirar Mitchell. Epstein (1982) chama a aten~ao para Intimos. pessoais, socia is e ptlblicos em diversos
qualquer) pseudoespecies (tribos, eliis, etc.) que como pseudo-especies. Sao esses grupos, com urn porrnenor relevante nestes resultados: a cenarios Oil sitttafoes. de acordo com regras
se comportam como especies independentes que as suas dinamicas e valores proprios, 0 espa~o interac~ao entre a ocupa~ao multinuclear e 0 imp/[citas dos paradigmas culturais (Hall,
uma vontade sobrenatural tivesse gerado na de vida do citadino, e permitem-Ihe sobreviver andar do prectio na sua rela~ao com a genese de 1974).
origem dos tempos, e que sobrepoem as reali- sem a anomia preconizada pelos pioneiros da perturba~6es emocionais e hostilidade. Os feno- o modelo de Hall assenta na categoriza~ao
dades geograficas e economicas da sua existen- escola de Chicago. menos conflituais surgem significativamente das distancias interpessoais em quatro grandes
cia uma cosmogonia, uma teogonia e uma associ ados ao facto de a famflia morar em tipos: as distiincias Intimas, as distiincias pes-
imagem particular do homem. Cada subespecie andares mais elevados do que 0 quinto andar do soais, as distiincias sociais e as distiincias publi-
2.3. Proxemica: a espaciariio predio. Epstein comenta: Embora Mitchell niio cas. Em cada tipo de distancia, Hall distingue
adquire assim um sefltimento proprio de identi-
dade, que considera como sendo a tlnica identi-
interpessoai como fen6meno o diga. podemos especular que a capacidade ainda duas fases: a proxima e a afastada.
dade realmente humana, a qual defende contra de cultura para adoptar estrategias de cooperafiio ligadas A distiincia Intima nao deixa margem para
as restantes subespecies mediante preconceitos as exigencias de coordenafiio de actividades em duvidas acerca da presen~a de outrem, e implica
que as estigmatizam como extra-especfjicas e E pois impossfvel fazer psicologia sem uma condifiio de escassez de recursos e reduzida enorrnes cargas inforrnativas (tambem visuais,
que, de facto, se opoem d tlnica via «autentica- perspectiva de relativismo cultural e contextual. pela presenfa de dois ou mais gruposfamiliares mas sobretudo tacteis e ate olfactivas) acerca da
mente» humana. A Historia demonstra-o: quan- As comunidades chinesas de Hong Kong, por em vez de um unico. 0 piso do pridio afecta a outra pessoa. Na fase proxima (contacto directo
tas culturas tao ricas como distintas da europeia exemplo, apresentam valores muito elevados de capacidade dos ocupantes para tomar atenfiio entre os corpos), essa massa de informa~6es e
as actividades das crianfas e para escapar aos maxima. E a distancia dos actos sexuais entre
problemas domesticos. Os que vivem em pisos urn casalou do estreito contacto ffsico entre os
10 Num sentido mais aberto e phistico, Rom Harre (1979) utilizou 0 conceito de mundo proprio, ou VII/welt. na sua mais perto da rua podem ir dar uma volta, pais e as crian~as, por exemplo. Os receptores
analise da ac<r lio social enquanto drama: «0 meio fisico social mente significativo em que vivemos possui dois nfveis estru- escapando ao calor e congestiio das discussoes sensoriais mais usados sao os tacteis e os olfac-
turais, dois nfveis de granularidade. A estrutura mais grosseira consiste em areas distintas e separadas no espa<r0 e no tempo, domesticas - 0 que niio acontece tanto com os tivos, e a visao nao predomina sobre aqueles, em
diferenciadas enquanto tempos e espa<r0s de actividades sociais distintas. (00.) A nossa primeira tarefa e examinar os modos
que vivem nos andares superiores. Em termos de parte devido as proprias distor~6es perceptivas,
como areas e volumes do espa<r0 e perfodos do tempo social mente diferenciados slio mantidos e demarcados. Seni desse
modo revelada a estrutura grosse ira do VI/llveit. Mas cada area e volume, em cada perfodo de tempo, e cada coisa dentro
controlo do comportamento, tem menos hipote- com excep~ao do contacto muito directo entre
de cada area e cad a padrlio de ac<rlio possui uma estrutura que a diferencia das outras coisas e a torna um vefculo potencial ses de escolha nas suas exposifoes aos aspectos olhares. A comunica~ao oral, quando utilizada,
de significado. Essas sao as estruturas finas do Umwelt. Se detinirmos 0 Umwelt de um ser humano na medida em que ele nocivos da sobrepopulafiio nos seus espafos situa-se no nfvel do murrnurio. Na fase afastada
ou ela slio pessoas de uma dada categoria social, podemos expressa-Io na formula: domesticos. (ate meio metro), os corpos nao estao apertados
VII/welt = meio fisico + significados sociais. A percep~ao da densidade populacional, entre si. A proximidade ffsica nao permite senao
provocando 0 sentimento desagradavel de api- a percep~ao parcial do corpo do outro (cabe~a e
Esta formula pode ser tomada literalmente como um produto booleano. Assim, se alguem usar dois esquemas interprc-
tativos, A e B, entlio U = F * (A vB) ou seja, U= (p* A) v (P *x B); em resumo, essa pessoa vive em dois VII/welten ». nhamento, liga-s~ sem duvida a correlativa om bros) sem desvio do olhar e as aten~6es con-
536

537

centram-se sobretudo na face da outra pessoa, usada entre colegas de trabalho, ou entre de a realidade espacial ser urn continuum. Mas, distorcer os comportamentos e invalidar eco-
particularmente nos olhos, no nariz e na boca. pessoas que falam sobre assuntos impessoais. como em todas as amilises cientfficas, e impre- logicamente os resultados. 0 metodo ideal para
As vozes sao ainda mantidas em baixos niveis A fase afastada (dois metros ate tres metros e scindivel recorrer a categorias, e apesar de outras estudos proxemicos continua, pois, a ser a obser-
sonoros, as informa~oes olfactivas (odores cor- meio) e ainda mais impessoal: todo 0 corpo do terem sido propostas (cf. Aiello, 1987, para uma var;ao directa e nao interferente das distancias
porais) podem ainda ser relevantes. outro e perceptivel, a rela~ao e mais formal, e cuidadosa revisao metodologica), 0 modelo de que as pessoas usam nas comunicar;oes interpes-
As distancias pessoais podem, seguindo a por vezes existem objectos (mesas de trabalho, analise de Hall continua a figurar como 0 mais soais, se possivel com 0 apoio de registos video
ideia de Hediger acima referida, ser cons ide- por exemplo) entre os interlocutores. Os odores rico ate agora proposto, embora nem sempre 0 que permitam rigorosas estimativas dessas dis-
radas como uma «esfera invisivel» que separa corporais normal mente ja nao sao detectaveis, e mais utilizado. A abordagem naturalfstica de tancias a posteriori.
uma pessoa de outra enquanto comunicam. Na a atenr;ao visual ja nao se concentra particular- Hall, que se reporta a observar;oes directas e nao Mas nem isso permite, muitas vezes, inter-
fase proxima (de meio metro a oitenta centime- mente no rosto do outro. E uma fase em que interferentes dos comportamentos das pessoas pretar;oes directas do que esta a acontecer entre
tros), as pessoas tern urn sentimento de proximi- comer;a ja a ser elevado 0 papel dos codigos nos seus contextos naturais, e exigente e dificil, as pessoas, se nao se dispuser de suficiente
dade, e e possivel 0 toque corporal semiesten- sociais de comunicar;ao formal, completamente pelo que solur;oes de comodidade, como estudos informar;ao contextual que sustente a interpre-
dendo os bra~os. A percep~ao visual nao se arbitrarios con forme as culturas. Esta distancia de laboratorio com pessoas em situar;ao artificial, tar;ao. Distancias Intimas, normal mente reser-
encontra distorcida, e as subtis mudan~as nas obriga ja a elevar a voz, urn murmurio ja e tern sido demasiado utilizadas em des favor das vadas ao contacto entre pessoas muito proximas,
mimicas faciais sao directamente percebidas e dificilmente perceptivel. Hall designou esta dis- observar;oes directas em meio natural. Com a podem todos os dias ser observadas nos trans-
desempenham urn grande papel nas comuni- tancia por «distancia ecra» (screen distance), inerente desvalorizar;ao dos resultados, ate por portes publicos em horas de ponta. Nessas situa-
ca~oes interpessoais. Na fase afastada (oitenta justamente porque a separar;ao ffsiea mascara razoes de ordem metodologica que fazem com r;oes de apinhamento, onde os corpos se tocam
centlmetros a metro e meio), dita «distancia de muita da subtil mimica facial que veicula as que mais de metade dos setecentos estudos de totalmente, verifica-se mesmo 0 evitamento da
urn bra~o», 0 toque corporal continua a ser nossas mensagens interpessoais. proxemica produzidos desde os anos 60 e revis- emissao de quaisquer sinais nao verbais que
posslvel, mas encontramo-nos no limite dessa A distancia publica representa urn ainda tos por Aiello (1987) sejam ou de validade nula possam gerar uma rna interpretar;ao da situar;ao:
possibilidade. E uma distancia usada em muitas maior saito nos padroes sociais de comunicar;ao. ou merer;am uma muito prudente interpretar;ao. as posturas rigidificam-se, urn ar mais formal e
culturas para conversas entre amigos ou conheci- Na fase proxima (tres metros e meio a oito Muitos desses estudos de laboratorio recorrem a adoptado, os olhares sao desviados das pessoas
dos. A face do outro continua a ser facilmente metros e meio) a comunicar;ao oral obriga a ele- tecnicas semiprojectivas, por exemplo, onde se com quem se esta num contacto corporal que
percebida, e 0 olhar abrange ja a parte superior var bastante a voz, e Hall refere estudos linguis- pede as pessoas que assinalem atraves de grafis- noutras circunstancias veicularia urn sinal de
do tronco. A voz e usada normal mente no nlvel ticos que demonstram haver uma cuidadosa mos ou com recurso a figurinhas tridimensionais grande intimidade, e e emitida assim justamente
adequado a conversa~ao (aproximadamente 30 a selecr;ao das palavras empregues para a comuni- as distaneias interpessoais e os seus 'significados. uma mensagem de sinal contrario: «Por favor,
35 decibeis A). A voz nao e elevada, normal- car;ao, que se reveste de urn caracter muito for- Estas tecnicas foram consideradas por Hayduck nao me interprete mal, este contacto niio e uma
mente, e so os odores corporais mais intensos sao mal. A estas distancias,ja e sequer diffcil muitas (1983) como absolutamente irrelevantes, ina- solicitar;ao sexual Intima!» Apesar dos opor-
pereepcionados (perfumes, por exemplo). vezes distinguir as cores dos olhos dos outros, ceitaveis e inadequadas para os estudos de tunistas, sao esses os codigos sociais em vigor
A distancia social representa a passagem de muito menos as subtilezas das suas expressoes. proxemica, nao so pelo seu artificialismo como na nossa cultura.
uma importante fronteira social, varilivel de cul- Na fase afastada (mais de oito metros e meio) tambem pelas distorr;oes de escala que implicam, A enorme variar;ao cultural e subcultural dos
tura para cultura, de acordo com as normas de estamos em situar;ao de distancias protocol ares que podem levar a distorr;Oes perceptivas, em codigos implfcitos, que regem 0 usa das distan-
cada qual. E uma distancia convencional, e na em muitas culturas, por exemplo, nas ceri- relar;ao as distancias reais, as quais atingem cias interpessoais, exige muita prudencia nas
sua fase proxima (metro e meio a dois metros) a monias oficiais. A comunicar;ao interpessoal valores tao grandes como duzentos por cento. interpretar;oes e a sua adequada integrar;ao
cabe~a e bern percepcionada mas perdem-se ja directa ja nao e possivel, salvo elevando ou Urn outro obstaculo metodologico em relar;ao antropologica (nao e por acaso que 0 fundador
alguns pormenores mais subtis das expressoes amplificando artificial mente a voz, e as paralin- aos estudos laboratoriais e 0 facto de 0 usa desta disciplina e antropologo e que as aborda-
(contrac~Oes da Iris, por exemplo). Os desvios guagens gestuais predominam sobre as expres destas distancias em cada cultura fazer parte de gens mais significativas nesta materia sao as que
da fixa~ao do olhar para outras partes significa- soes faciais como forma de comunicar;ao. codigos irilplfcitos, muitas vezes inconscientes recorrem a procedimentos etnometodologicos
tivas do rosto de outrem, como a boca, e mais Aiello (1987) nao deixa de chamar a atenr;ao para as pessoas. A simples manipular;ao labora- de observar;ao directa em contextos naturais).
discretamente tolerado. 0 troneo do outro e para esta categorizar;ao das distancias interpes- torial das situar;oes leva muitas vezes as pessoas As culturas latinas e mediterranicas usam nas
total mente vislvel, bern como pormenores do soais ser, como todas as categorizar;oes, apenas a tomar atenr;ao conscientemente ao que estao conversas informais entre amigos e conhecidos
seu vestuario. E uma distancia frequentemente urn modelo de analise, que nao elimina 0 facto ou nao estao a fazer, 0 que desde logo pode distancias muito menores do que as cuIturas
538
• 539

anglo-saxonicas e norte-europeias , e mesmo Intimas (30 cm a 50 cm), mas aos 17 anos essas
intoleniveis nas culturas germanicas, por exem- mesmas conversas ja se processam a distancias
plo (Hall, 1966; Aiello e Thompson, 1980). sociais proximas (Bass e Weinstein, 1971; o CORPO DE OUTREM COMO SIGNIFICANTE SITUACIONAL
Essas distancias interpessoais parecem ser Aiello e Aiello, 1974; Thompson e Aiello, 1981;
Nunca apreendo outrem enquanto corpo sem cap tar simultaneamente de fonna nao expllcitll 0 meu corpo
mfnimas nas culturas arabes, onde as aproxi- Aiello, 1987). Essas distancias sao, no entanto, como 0 centro de referencia indicado por outrem. Mas, portanto , tambem nlio seria posslvel percepcionar 0 corpo de
ma~oes sao ainda maiores do que nos povos dependentes quer das culturas de origem, quer oulrem como came a !ftulo de objecto isolado tendo com os outros uma pum relar,:ao de cxterioridade. Isto so seria
latinos (Watson e Graves, 1966) II . (ver caixa na da classe social das pessoas: 0 estudo de Aiello verdade para um cadllver. 0 corpo de outrem c-me dado imediatamcnte como centro de refercncia de uma situa<;iio
p. seguinte) . e Jones (1971), usando as categorias de Hall, que se organiza sinteticamente em tomo dele e c insepanivel dessa situll<;ao.( ... ) 0 Dutro c-me originariamente dado
o significado das distancias interpessoais realizado por observa~ao nao interferente de 210 como C0/1JO I'm silll((Fio.( ...) 0 corpo e a contingcncia objecliva da acr,:ao de outrem. ( ... ) Outrem move-se dentro de
Iimites ligados imediatamente aos seus movimentos e que sao os termos com que indico a mim proprio 0 signifi-
varia nao so de cultura para cultura como ainda dlades de crian~as de seis a oito anos num
cado desses movimentos. Sao Iimites simullalleamente espaciais e tempomis. Espacialmente. e 0 copo colocado a
dentro da mesma cultura em fun~ao da idade ou recreio da escola, demonstrou que crian~as distlincia de Pedro que d<1 signitica<;ao ao seu gesto actual. Na minha propriil percepcrao yOU do conjunto "mesa-
do sexo, ou estatuto social das pessoas, por exem- brancas de classe media mantinham maiores dis- -copo-garrafa" ao movimento do bmr,:o de Pedro. que anuncia 0 que ele c. Se 0 brar,:o e vislvel. mas 0 co po nao.
plo. 0 corpo fala de nos, 0 corpo tanta vezes fala tancias entre si do que crian~as porto-riquenhas apercebo-me do movimento de Pedro a partir da pum ideia de siuwrcio e a partir de termos entrevistos no vazio para
por nos . 0 corpo significa-nos, e essas signifi- e negras de classes baixas. Resultados similares 1:1 dos objectos que me escondem 0 copo. como significar,:ao do gesto . Temporalmente. caplo ainda 0 gesto de Pedro
ca~oes sao inevitavelmente interpretadas pelos foram obtidos por Duncan (1978), comparando enquanto me e presentemente revelado a purtir dos lermos fUluros para que tende. Desta maneira. anuncio a mim
mesmo 0 presente do corpo pelo seu futuro. e, de forma ainda mais geral. pelo futuro do mundo. Nunca SCi'll pos-
outros significantes e dotadores de significado. 96 dfades do mesmo sexo e etnia (crian9as
slvel compreender 0 problema psicol6gico da percep~iio do corpo de outrem se nlio se compreender antes de mais
As crian~as usam 0 espa~o interpessoal de brancas e negras nos recreios de uma escola esta verdade fundamental: 0 corpo de outrem e percepcionado de forma diferente dos outros corpos. Porque pam 0
forma muito diferente dos adultos, e tudo indica primaria) . Menores distancias verificaram-se percepcionar vamos sempre do que eSla para alem dele, no espa~o e no tempo, pum ele mesmo. Cuptamos 0 seu gesto
que a medida que crescem usam cada vez maio- nas meninas do que nos rapazes, mas em fun~ao por uma especie de inversiio do tempo e do espa~o. Pcrcepcionar outrem e fazcr-~e anunciar pelo mundo aquilo que
res distancias interpessoais, ate estabilizarem da etnia: as crian9as negras man tendo maiores ele e .( ... ) 0 corpo de Pedro nao se distingue de forma alguma de Pedro-para-mim .
nas que sao codificadas pela sua cultura (Pagan proximidades entre si.
(Jean-Paul Sartrc. L i~lrt, elle /Vetlll/. 1943. pg. 384).
e Aiello, 1982; Willis et al ., 1979). A partir dos Isto conduz-nos a questao das diferen9as
cinco anos, essas normas vaG sendo cada vez entre sexos: tam bern neste ponto existem
mais interiorizadas, e nas culturas anglo-saxo- grandes diferen9as nas distancias interpessoais. mulheres amigas ou conhecidas falam entre si dos de observa9ao nao interferentes, demons-
nicas 0 limite dos dez-doze anos e aquele que e Em muitas culturas as pessoas do sexo mas- com maior tolerancia de proximidades ffsicas do tram essas diferen9as interculturais (Watson,
considerado como 0 normal para a interio- culino mantem entre si maiores distancias do que homens amigos ou conhecidos, embora isso 1970: 106 pessoas de cada uma das seguintes
riza~ao de algumas regras fundamentais de dis- que as do sexo feminino (Aiello, 1987), embora pare~a ser valido so a partir da adolescencia, culturas de contacto: arabes, latino-americanos,
tancia~ao interpessoal (Aiello e Cooper, 1979; tal nao possa ser completamente isolado nem da quando os codigos culturais estao ja interioriza- europeus do Sui, e de culturas de nao contacto:
Aiello, 1987). E evidente que 0 tamanho do idade nem do grau de conhecimento e proximi- dos (Aiello, 1987). asiaticos, indo-paquistaneses, norte-europeus,
corpo e urn factor relevante, se se quiser utilizar dade afectiva, nem do sexo do outro interlo- Na pista de Hediger (1950), que em etologia todos do sexo masculino; Baxter, 1970: 860
o modelo de Hall, ja que a «distancia de urn cutor, bern como do respectivo estatuto social. distinguira ja as especies de contacto das espe- dfades de anglo-saxonicos, mexicanos e negros
bra~o» e uma das importantes fronteiras a con- E muito menos do contexto em que se processa cies de nao contacto, E. T. Hall adoptou a de ambos os sexos, adolescentes e adultos;
siderar, e 0 estudo citado de Aiello e Cooper nao a interac~ao . Isto parece aplicar-se quando que distin9ao entre ellituras de contaeto (africanos, Dennis e Powell, 1972: duzentas dfades de bran-
deixou d,e ter esse factor em considera~ao. Da se veri fica igualdade nestas circunstancias, isto latinos, mediterranicos, arabes, por exemplo) e cos e negros entre os sete e os catorze anos;
infancia para a adolescencia verifica-se urn e, quando se trata de transac90es entre pessoas ellituras de mio eontaeto (anglo-saxoes, ger- Noesjirwan, 1977: 32 dfades de autralianos e 22
aumento das distancias natural mente man tid as do mesmo sexo, com 0 mesmo grau de proximi- manicos,japoneses). As investiga~oes no terreno dfades de indonesios, estes ultimos interagindo a
para conversas entre amigos: aos sete anos, e dade afectiva e do mesmo estatuto social. Dito parecem confirmar a pertinencia desta distin~ao, distancias menores do que os primeiros;
frequente as crian~as conversarem a distancias de outra forma: observou-se quase sempre que embora, como afirma Aiello (1987), grande parte Valksman e Ellyson, 1979: quinze elementos em
dos estudos realizados possam ser invalida- cada dos seguintes grupos etnicos: americanos
II Em relar,:ao a cultura portuguesa , nao sao conhecidos estudos de proxemica, e nest a materia sao excepcrao os textos dos por razoes de ordem metodologica como as brancos, argentinos, guatemaltecos, hondu-
de Antonio Bracinha Vieira (1983) sobre a "gramatica» das comunicacroes nao verbais. particularmente na relacrao medico- que apontamos acima. Alguns estudos exis- renhos, iranianos, Ilbios, arabes sauditas e vene-
-doente, num quadro de referencia fenomenologico. tern, todavia, que, atraves da utiliza~ao de meta zuelanos - os americanos sendo 0 grupo com
541
540

maiores distancias interpessoais; para uma bone co mais proximo do «professor» do que as Manual desenhado para os estudantes) que Ihedoras das corridas e brincadeiras infantis, dos
revisao do tema, cf. Aiello, 1987). sessenta crianc;as norrnais. Por nao se tratar de ouc;am as falas das pessoas, interpretem 0 sen- jogos de namoro (porventura jogados a correcta
Finalmente, aspectos ligados a personalidade, urn estudo de observaC;ao directa em reais tido dos seus discursos, escutem as suas histo- distancia cultural mente admissivel, ou porventu-
nomeadamente defices intelectuais e patologias condic;oes naturais, este resultado deve ser lido rias, antes ou em vez de apressadamente lhes ra saboreados na infracC;ao dessas normas) e das
mentais, influem tambem nas distancias inter- com prudencia, apesar de confirmar os obtidos imporem escalas de Lickert que as obriguem a bandas no Jardim da Parada. E em cada momen-
pessoais informais. Em Portugal, Bracinha com metodologias mais adequadas. resumir a complexidade do seu pensamento e do to do seu discurso esse outro Campo de Ourique
Vieira (1974; 1979; 1983) desenvolveu urn mo- A ausencia de estudos sistematicos de proxe- seu sentir em quatro, cinco ou sete pontos arbi- era contraposto ao de hoje, as ruas de hoje, as
delo etopsiquhitrico em que a territorialidade mica realizados e~ Portugal impede-nos de tnirios. A questao sobre qual 0 melhor «instru- vizinhanc;as e as sociabilidades de hoje, a trans-
(e consequentemente a regulaC;ao das distancias adiantar quaisquer conc1usoes que estejam rela- men to» para as investigac;oes em psicologia, a figuraC;ao simbolica dos espac;os limitrofes.
interpessoais) surge, com a hierarquizaC;ao, como cionadas com a nossa cultura, embora seja de res posta e sempre a mesma: 0 melhor instru- Durante uma hora e tal perpassou pelo seu dis-
urn dos grandes organizadores estruturais dos crer que nao estaremos longe dos padroes encon- mento de urn psicologo so pode ser ele proprio, curso uma Lisboa de hoje, e uma que ja nao e , e
comportamentos humanos, e relacionou, me- trados noutras culturas latinas, com as inerentes os outros todos sao meras proteses, por mais esse foi-e-e-agora entrecruzou-se com 0 seu pro-
diante uma metodologia de observaC;ao c1inica de variac;oes intraculturais respeitantes a idade, ao funcionais e uteis que sejam . Por muito util e prio foi-e-ja-nao-e. Dela e de Campo de Ourique
cariz fenomenologico, essas regulac;oes com sexo, a c1asse social, ao grau de relacionamento sofisticado que seja urn microscopio, nada e sem ficou a saber-se alguma coisa. E tudo 0 que ela
variados quadros patologicos, nomeadamente a entre os intervenientes e ao contexto das interac- o cientista que por ele espreita e a interpretartio disse nao cabia num numero, porque ela propria
esquizofrenia, a paranoia e a anorexia mental. c;oes. E nao so: as variac;oes derivadas da expe- que faz do que encontra atraves dele. 0 mundo era maior do que qualquer numero. Ouc;amos a
Observac;oes sistematicas nao interferentes riencia historica propria de cada cultura. Quer 0 borbulha a nos sa volta e nos com ele, e essa velhota com a atenc;ao com que Galileu olhava
das interacc;oes entre doentes mentais internados 25 de Abril e quer a queda do Muro de Berlim riqueza nao se compadece com a pobreza das para 0 seu pendulo. Kurt Lewin (1931) tinha
em hospitais psiquiatricos confirmam essas implicaram festa, mas nem sao 0 mesmo feno- reduc;oes psicometricas tantas vezes propostas razao: Galileu nao precisou de mil pendulos . Urn
relac;oes entre os quadros patologicos e a territo- menD historico nem as pessoas e as culturas eram pelos psicologos. Recordo a velhota que falava so pendulo bastou-lhe par~ compreender a lei do
rialidade, ainda que nao partindo necessaria- as mesmas. Nem as suas consequencias sociais e de Campo de Ourique, numa bela entrevista pendulo. Do seu pendulo . Sessenta e tal anos
mente dos mesmos pressupostos teoricos de pessoais. 0 que implica que 0 psicologo ultra- feita por uma estudante. Do Campo de Ourique depois. a Psicologia Social nao entende Galileu.
Bracinha Vieira (1979). Ja na decada de 60, passe os limitados modelos de analise que que reencontrara passados quarenta anos de Tal como 0 Santo Offcio que 0 obrigou a dizer
Esser et al. (1965) observaram uma acentuada reduzem 0 real a urn conjunto de variaveis de- emigrac;ao e do Campo de Ourique da sua infan- que a Terra nao se movia; a Psicologia Social
territorialidade em pacientes esquizofrenicos pendentes e independentes, como se de estudar cia e adolescencia. Das festas de outrora, das perrnanece aristotelica. Mas, quem tern medo de
numa enferrnaria de urn hospital; e Horowitz em laboratorio os efeitos da adaptac;ao a meios ruas desapinhadas da carros e ternamente aco- Virginia Wolf, salvo a propria Virginia Wolf?
(1968) verificou que os doentes esquizofrenicos salinos na zona ventromedial direita do hipo-
mantinham maiores distancias interpessoais talamo dos sapos se tratasse. Esempre 0 mesmo:
antes do que apos tratamento, e em qualquer a total confusao entre 0 que sao as ciencias natu-
caso man tendo maiores distancias do que as pes- rais e as ciencias humanas, herdada do positivis-
soas norrnais (Horowitz et ai, 1964; Esser e mo. Eis, portanto, aqui um campo aberto a
Deutsch, 1977). Burgess (1981), por seu turno, reflexao dos psicologos, ditos sociais.
ao comparar crianc;as norrnais e crianc;as com Como remate deste capitulo, direi tao-
atrasos mentais (seis a doze anos), verificou que -somente que ele pretende sublinhar que outra
estas ultimas mantinham entre si muito menores psicologia social e possivel que nao a homolo-
distancias do que as norrnais. Hayes e Siders gada pelas instancias que dela falam oficiosa-
(1977) obtiveram resultados similares, mas mente . E que essa Psicologia Social, minoritaria
utilizando bonecos representando as proprias mas activa, existe . Este capitulo contracorrente e
crianc;as, as quais deviam colocar 0 «seu» assumidamente uma critica da psicologia social
boneco a distancia que quisessem de um boneco dominante e a defesa de uma psicologia social
representando urn professor: as sessenta crian- alternativa. Creio que ha que recomendar aos
c;as com defices intelectuais colocaram 0 «seu» estudantes de Psicologia Social (e este e urn
618

Processamento de informa~ao 170, 342, 445


automatico, 107, 112, 114 nUcleo central, 484-485
objectiva~ao, 49
codifica~ao,345-347
computing, 362 polemicas, 463, 477-478
control ado, 112, I 14 Self, 397,398, 399
directo, 114, 122 Semelhan~a de perspectivas, 169
paralelo, III, 112 Sequencias dinamicas, 40
prestorage, 362 Sexualidade, 141-146
activa~iio fisiol6gica, 146
recupera~ao, 342-344, 349, 353, 355, 357
selec~ao, 342-344
sequencial,112
desejo sexual, 141
encena~oes culturais, 142
fantasias, 146-149
indice geral
Processos de interac~ao
e influencia social, 325 processos informativos, 149
e mudan~a de normas, 326 script (guiiio) interpessoal, 142
script (guiao) sexual, 141, 142 APRESENTA«;;AO DA 4." EDI«;;AO ........................................................................................................................ . 3
e normas, 325, 326
e sistema de categorias de Bales, 322 tecnicas corporais, 148
Processos distais e proximais, 516 Sistema de tensao, 40 PREFAcIO A PRIMEIRA EDI«;;AO ...................................................................................................................... .. 5
Sociocognitivismo, 26, 60, 293
Procura de coerencia (ver tambem Equillbrio e Princfpio da APRESENTA«;;AO DA PRIMEIRA EDI«;;AO ....................................................................................................... .. 7
consistencia cognitiva), 338, 344, 349 Sociologia do conhecimento, 487-488
Prot6tipo, 469 Subtipos, 349, 355, 356, 360, 363
Psicoffsica social, 13 Teoria da ac~ao reflectida, 209-212, 217 AUTORES ................................................................................................................................................................... . II
Psicologia da Gestalt, 44 Teoria da ac~ao planeada, 211-213
Psicologia dos povos, 19,20,489-490 Teoria da complementaridade, 135 CAPITULO I - OS PRiMORDIOS DE UMA DISCIPLINA - CURSO E PERCURSO - ALV ARO MlRAND~
Teoria da elabora~ao do conflito, 285

n~~~i~f~:::::::::::::::::
Psicologia e sociologia, 27 13
Psicologia ecol6gica, 512 Teoria da gera~ao das emo~oes, 154 14
e grupos sociais, 512 Teoria de campo, 511 15
Psicologia funcionalista, 36 Teoria da organiza~ao cognitiva, 128-129 18
Rela~oes de conflito, 390, 394,401 teoria da compara~iio social, 129 19
Rela~oes de domina~ao, 388, 389,403 teoria da consistencia cognitiva, 129 5' A terceira possibilidade ou polemica radical ................................................................................................... . 26
modelo das, 403-406 teoria da dissonancia cognitiva ,44, 129,206-208,215;
217,293
6:Abertura ao futuro .............................................................................................................................................. . 29
Rela~oes intergrupos, 388-391
Rela~oes interpessoais, teoria do equillbrio, 128, 204-205 CAPiTULO II - A EMERGENCIA DO PARADIGMA AMERICANO - ORLINDO GOUVEIA PEREIRA .. . 31
teoria das, 43 Teoria topol6gica, 39

l ?f~~;l~~J[J;,f~I:~J.~jjLJtL~:i::::;::;;:
32
Rela~oes intimas, 125, 150 Teorias da troca social e do refor~o, 128, 130-132, 325
36
auto revela~ao, 152 contingencias de resposta, 130
37
ciume, 155 modelo dos ganhos e perdas, 130, 131
37
fun~oes da comunica~ao verbal, 152 princfpio da maximiza~iio minimiza~ao, 131
teoria da interdependencia social, 132 39
poder e conflito, 154-156
Tipologia 3.3. A interdependencia do comportamento nas relaf'oes tntergrupals ............................ . . ...................... . 43
processos emocionais, 153-154
de Hackman (ver tambem Grupo(s», 307 4. 0 tempo e os modos ................................................................................................................... . 45
Relevancia hed6nica e personalismo, 164
Representa~ao social, 25, 26, 55, 391,396,400,401,403, de Laughlin (ver tambem Grupo(s», 308
406-408,461,462,478 de McGrath (ver tambem Grupo(s», 308-309 SOCIAL EUROPEIA JORGE CORREIA JESUiNO .............................. .. 49
CAPiTULO III - A PSICOLOGIA - ................................ .
de Shaw (ver tambem Grupo(s», 307 1. Vma psicologia social europeia ? ...................................................................................... . 49
ancoragem, 50, 459-460, 472-475, 481-482,
e atribui~ao social, 479, 490, 491 de Steiner (ver tambem Grupo(s», 307-308 2 Orientafoes da psicologia social na Europa e nos EVA ................................................................................. .. 50
e comportamentos, 479-482 Universo simb6lico, 388,403,404,406,407 3: Os pontos de debate ........................................................................................................................................... . 54
e comunica~ao, 483-484 Valida~iio consensual, 135
e diferencia~ao social, 483, 493-503
Validade,70 CAPiTULO IV - ORIENTA«;;OES METODOLOGICAS NA PSICOLOGIA SOCIAL - JORGE DA GL6RI~ 61
e representa~oes colectivas, 462, 485, 487 Valores, 338 340,341,351,358,370_372 I Metodo e teoria ................................................................................................................................................. : 61
e sistemas de comunica~ao, 483 Variabilidade, 351 352, 359-360, 364, 366-367, 369- . I I 0 problema da reduf'iio da escala .............................................................................................................. . 62
-370
emancipadas, 462
Variaveis dependentes, 67
I:2:
Problemas e teoria ....................................................................................................................... :::::::::::::::. 64
fun~oes das, 401-403 v. " . dependentes e independentes, hip6teses ............................................................................ . 65
hegem6nicas, 462, 492-493 conduta e comportamento, 67, 68 2. anavels ....................... ..
2 2 C nstruriio das varitiveis dependentes ............................................................................. . 67
metodos,464 condutas efectivas, 67 . . 0
23 Comportamentos e condutas ................................................................................................ ..................... ..
r 67
nfveis de analise, 459, 460 condutas simb6licas, 67
2'4' A d ' - das condutas: escalas e medidas .......................................................................................... .. 69
Variaveis independentes, 65-66 .. ValidarJe
escnf'ao
2.5. e fidelidade das medidas ............................................................................. .............................
. .. 69
t
620
621

3. Validarao dos modelos: observariio e experimentarao .................................................................................... . 71 7 . 0 erro fundamental da atribuiriio ...................................................................................................................... . 171
3.1. Estlldos observacionais ...............................................................................................................................
72 8. A atribuiriio em contextos de realizarao .......................................................................................................... .. 173
3.2. Experimentarao: noroes gerais ................................................................................................................. . 73 9. Atribuiroes para 0 sucesso e fracasso: cogllitivas 011 1II0tivacionais? ............................................................. .. 173
4 . Problemas especiJicos da experimenta"ao em seres hllmanos ......................................................................... .. 10 . 0 cerne do debate ............................................................................................................................................. .. 174
82
4. I. Banalidade e facticidade ........................................................................................................................... .. 10. I. Lilllitaroes das perspectivas tradicionais """""""""""""""""' ............................................................. , 175
83
4.2. A injluencia do qlladro experimelltal ........................................................................................................ .. 85 10.2. 0 cientista ingelluo? Procura e'pistemica raciollal «versus» hedonislllo num vlicum social ............... .. 178
4.3. Indurao de respostas ................................................................................................................................. .. 10.3. A dimensao estratigica das atribuiroes ................................................................................................. .. 179
4.4. Aspectos eticos .......................................................................................................................................... .. 10.4. A dimellsiio social das atribuiroes ........................................................................................................... . 181
88
Resumo ..................................................................................................................................................................... . 184
CAPiTULO V - FORMA~AO DE IMPRESSOES - ANTONIO CAETANO ..................................................... .
89
I. Introdurao ......................................................................................................................................................... .. CAPITULO VIII - ATITUDES: ESTRUTURA E MUDAN~A - LuisA PEDROSO DE LIMA ...................... , 187
89
2. Abordagells da formarao de impressoes ........................................................................................................... .. Illtrodurao ............................................................................................................................................................... . 187
91
2. I. Abordagem configuraciona/ ....................................................................................................................... . Perspectivas sobre 0 cOllceito de atill/de ................................................................................................................ . 187
91
2.2. Abordagem da integra"ao da informarao ................................................................................................ .. Medida das atitudes ................................................................................................................................................. . 190
98
2.3. Abordagem da memoria de pessoas ......................................................................................................... .. Mediriio das atitudes atraves de respostas cognitivas ..................................................................................... .. 190
102
2.4. COnfrontando as abordagens ..................................................................................................................... .. Mediriio das atitudes atraves de respostas afectivas ........................................................................................ . 198
113
3. Motivarao e exactidao naformarao de impressoes ......................................................................................... .. Mediriio das atitudes atraves de respostas comportamentais """""",,, ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, 201
114
3.1 . Estrategias naformarao de impressoes .................................................................................................... . A estrutura das atitudes .......................................................................................................................................... .. 202
114
3.2. Problemas de exactidao naformarao de impressoes ................................................................................ . As funroes das atitudes ........................................................................................................................................... . 203
115
3.3. Ju/gabilidade social .................................................................................................................................. .. Funroes 1II0tivacionais das atitudes: Atitudes e necessidades .......................................................................... . 203
120
4. Princ(pios daformarao de impressoes ............................................................................................................. .. Funroes cognitivas das atitudes: atitudes e processalllento da informariio .................................................... .. 204
122
Resumo ..................................................................................................................................................................... . 208
123 FUllroes de orientariio para a acrao: atill/des e cOlllportalllento ......................................................................... ..
/lIIpacto das atitudes no cOlllportamento .............................................................................. ,............................ . 208
CAPITULO VI - ATRAq:AO INTERPESSOAL, SEXUALIDADE E RELA(:OES iNTIMAS _ VALENTIM
o impacto do comportamento nas atill/des ...................................................................................................... .. 214
RODRIGUES ALFERES ........................................................................................................................................ . 125 217
Mudanra de atitudes """"''''''''''''''''''''''''''''''''''' '''''''' ''''''' '''''''''''''''''''' '' ................................................................
I. Atracriio interpessoal ........................................................................................................................................ ..
126 Propaganda e lIIudanra de atitudes .................................................................................................................. .. 217
I. I. Dos problemas cOllceptuais aos mode/os teoricos .................................................................................... .
126 o 1II0deio da comunicariio persuasiva ............................. " ............................................................................... . 218
1.2. A dindmica da atracrao: determinantes da atracrao e genese das relaroes interpessoais .................... .. 132 Duas vidas para a lIIudallra de atitudes ............................................................................................................ , 220
1.3. Um caso especial de atracrao interpessoa/: 0 amor passional ................................................................ . Conclusiio ................................................................................................................................................................ . 225
137
2. A construrao social da sexualidade ................................................................................................................... .
141
2.1 . Encenaroes culturais, interpessoais e intraps(quicas .............................................................................. ..
141 CAPITULO IX - 0 INFERNO SAO OS OUTROS: 0 ESTUDO DA INFLUENCIAL SOCIAL - LEONEL
2.2. As experiencias sexuais ""."."." ................................................................................................................ .. 227
146 GARCIA-MARQUES ..............................................................................................................................................
3. Estruturas relacionais da sexualidade e modelos de amor ............................................................................... .
150 I. Introduriio ........................................................................................................................................................... . 227
3. I. Relaroes (ntimas: aspectos estruturais e dindmicos ................................................................................. .
150 1.1. 0 que e a injluencia social """"""""""'''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''' .................. . 227
3.2 . Mode/os de amor ........................................................................................................................................ . 230
156 1.2. No laboratario as escuras .......................................................................................................................... .
1.3. A influencia social: como tem sido estudada ........................................................................................... .. 228
CAPITULO vn - ATRIBUI~AO CAUSAL: DA INFERENCIA AESTRATEGIA DE COMPORTAMENTO
2. A injluencia social as escuras: as experiencias de Musafer Sherif.................................................................. .. 229
- ELIZABETH SOUSA ......................................................................................................................................... ..
159 2. I. Introduriio ................................................................................................................................ ,................. . 229
I. Explicaroes causais e percepftio ........................................................................................................................
159 2.2. No laboratorio e as escuras: conclusoes .................................................................................................. .. 235
2. Heider e a psicologia ingenua .......................................................................................................................... ..
160 3. A influencia social as claras .... " ....................................................................................................................... .. 237
3. Jones e Davis: processamento de informarao e inferencias correspondentes ................................................. ..
162 3.1. Introduriio .................................................................................................................................................. . 237
3. I. A desejabilidade social ............................................................................................................................. ..
163 3.2. A influencia social as claras: 0 paradigma de Asch ................................................................................. . 240
3.2. Os efeitos nao comuns .............................................................................................................................. ..
164 Introduriio .......................................................................................................................................................... . 240
3.3. Relevdncia hedonica, personalismo e inferencias correspondentes ........................................................ ..
3.4. A teoria revista 164 Os primeiros estudos .......................................................................................................................................... . 241
4 . Kelley: processamen;;·d;·;~;~;~I~~~~·~·;~:~~;;~;~~·· · ····· ·· ·· ............................................................................ . 165 Caracter(sticas da situarao experimental ......................................................................................................... . 241
!II)', )'" •••••••••••••••••••••••••• • •••••• •••• • ••• •• ••••• • •• ••••••••• ••• ••••••••••••• ••••• ••• • ••••
166 Resultados - como reagiria 0 leitor? .................................................................................. """'" '''''' ''''''' ''''' ''' ' 243
4.1. Configurariio, esquemas causais, princfpios do desconto e do aumento ................................................ ..
167 Resultados: analise dos erros ............................................................................................................................ . 244
4 .2. Taxonomia de esquemas causais .............................................................................................................. ..
168 Resultados: variariio individual ........................................................................................................................ . 247
5. A teoria da autoperceprao .................................................................................................................................. .
169 Sujeitos independentes ....................................................................................................................................... . 247
6. Jones e Nisbett: diferenra de perspectivas e familiaridade com oobjecto ........................................................ .
170 Sujeitos cOllformistas ......................................................................................................................................... . 247
6.1.0 processamento de illformarao como causa da divergellcia .................................................................. ..
170 COllclusoes ......................................................................................................................................................... . 248
• 623
622

7.3. Polarizariio de grllpo ................................................................................................................................. . 327


Variaroes do paradigma de Asch (I) ................................................................................................................. . 248 330
A importiincia do objecto de julgamento ........................................................................................................... . 249 7.4. A teoria do impacto social ......................................................................................................................... .
Manipulariio das caracterfsticas dos estfmulos usados .................................................................................... . 250
o mimero das alternativas de resposta ............................................................................................................. . 250 CAPiTULO XI _ PROCESSOS COGNITIVOS E ESTEREOTIPOS SOCIAlS - JOSE MARQUES e DARIO
PAEZ ...................................... ············ ..................................................................................................................... . 333
A possibilidade de avaliariio objectiva posterior .............................................................................................. . 250 334
I. Genese da perspectiva cognitiva no estudo dos estereotipos ............................................................................ .
A dimellsiio do grupo ......................................................................................................................................... . 251 334
1.1. Estereotipos. preconceitos e racionalizariio das relaroes sociais ............................................................ .
A importiincia do contexto de enunciarilo do julgamento: vfcios publicos versus virtudes privadas .............. . 251 335
Variaroes no paradigma de Asch (/I): e quem nos livra dos outros? Os outros! ............................................. 252 1.2 . Estereotipos como crenras sociO-CllltlIrais sobre os traros comuns aos membros de um grupo ............ .
1.3. Acellfuariio perceptiva. assimilariio de valores e procura de coerencia ................................................. . 338
o paradigma ao avesso: comparsa isolado versus grupo de sujeitos crfticos ................................................. . 252 339
2. 0 que determina a inclusiio de uma pessoa num esrereotipo? .......................................................................... .
Um grupo de comparsas versus urn grupo de sujeitos c:rfticos ......................................................................... . 252 339
2.1. 0 recurso a categorias «primitivas» ......................................................................................................... .
Entra 0 aliado ... ou da importilncia de se niio ser uma ilha .............................................................................. 253
2.2. A dijerenciariio em relariio as normas ..................................................................................................... . 340
3.3 . Conlusiio: a contribuirilo de Asch para 0 estudo da influencia social ...................................................... . 254 341
4. 0 respeitinho e muito bonito: as experiencias de Milgram ............................................................................... . 256 2.3. 0 principio do metacolltraste .....................................................................................................................
3. Estereotipos e distorroes no processamento de nova informariio .................................................................... . 342
4.1. Introduriio .................................................................................................................................................. . 256 342
4.2. A situariio experimental de Milgram ......................................................................................................... . 257 3.1. Distorroes na selecriio e recuperariio de informGfiio estereoripica ........................................................ .
3.2. Distorroes cognitivas e «procura de coerencia» ...................................................................................... . 344
4.3. Variaroes experimentais ............................................................................................................................ . 261 345
4.4. Conc/usoes ................................................................................................................................................. . 262 3.3. Codijicariio distorcida de illformariio ..................................... ········ .......................................................... .
3.4. Estereotipos e ilus6es de correlariio .......................................................................................................... 347
5. A influencia social de pernas para 0 ar: 0 paradigma experimental de Moscovici ......................................... . 264 349
5.1. Introduriio ............................................................................................................................................... ... . 264 4 . Organizariio cognitiva dos estereotipos em termos de «abstracroesJO ou de «exemplares» ............................ .
4.1. Organizariio abstracta e individualizada das crenras estereotfpicas ...................................................... . 349
5.2. A influencia social de pernas para 0 ar: a reinterpretariio das investigaroes de Asch ........................... . 267
5.3 . A inflllencia social de pernas para 0 ar: 0 paradigma experimental de Moscovici. Os primeiros es- 4.2 Percepriio de variabilidade e familiaridade com os grupos estereotipados: homogeneidade relativa do
exogrupo .................................................................................................. , ................................................... . 351
tudos ........................................................................................................................................................... . 268 352
5.4. E quem nos livra da inovariio? Pois e ... Outra vez. os outros! A importiincia do apoio social para a niio 4.3. Perspectivas sobre a organizariio cognitiva dos estereotipos ................................................................... .
4.3.1. Organizariio probabi/{stica dos estereotipos: a diagnosticidade dos atributos categoriais ........... . 353
inovariio ..................................................................................................................................................... . 275 356
5.5. A influencia social de pernas para 0 ar: conc/usiio .................................................................................. . 277
4.3.2. Metodologias de obtenriio de prototipos grupais e suas implicarOes ............................................. .
4.3.3. Diagnosticidade. organizOfiio hierdrquica e mudanra de estereotipos .......................................... . 358
6. AlgUlIs dos alicerces de uma teoria geral dos fenomenos de influencia social ................................................ . 278 359
6.1. A distinriio entre injluencia social informativa e influencia social normativa .......................................... . 4.3.4. Prototipos e perceproes de variabilidade nos grupos ..................................................................... .
278 361
6.2. Influencia social e categorizariio social .................................................................................................... . 281 4.4. Organizariio exemplar dos estereotipos .................................................................................•....................
4.4.1. Dois modelos da organizariio dos estereotipos em termos de exemplares ........_............................ . 362
6 .3. Injluencia social indirecta ......................................................................................................................... . 283 365
4.4.2. Crfticas aos modelos exemplares dos estereotipos .......................................................................... .
6.4. Inflllellcia social e normas sociais ............................................................................................................. . 284 366
6.5. Injluencia social e a natureza da tarefa crltica ......................................................................................... . 285 4.5. Modelos dua/{sticos da organizariio cognitiva dos estere.oripos .............................................................. .
4.5.1. Categorizariio atraves de exemplares e categorizariio atraves de abstracfOes ............................ . 366
6.6. Influencia social. estrutura e processos grupais ....................................................................................... . 286 367
6.7. 0 contexto da recepriio da influencia ....................................................................................................... . 289 4.5.2. Construriio on-line de impressoes abstractas sobre a variabilidade dos grupos .......................... .
4.5.3. Medidas das representaroes exemplares e abstractas dos grupos ................................................. . 368
6.8. Influencia social e atribuiriio causal ......................................................................................................... . 289 370
6.9. Injluencia social: um unico processo? ...................................................................................................... . 290 5. Categorizariio social. percePfoes de variabilidade e identijicariio social ............................ ·..... ················ ..•....
5.1. Estereotipos e categorias naturais ...............................··.············· .............................................................. . 370
6.10. Injlllellcia social e persuasiio ................................................................................................................... . 292 372
Conc/usiio ................................................................................................................................................................. 292 5.2. Auto-estereotipia e percepriio de homogeneidade .................................................................................... .
5.3. Identidade social e perceproes de homogeneidade ................................................................................... . 372
5.3.1. Percepriio de homogeneidade. procura de coesiio e protecriio da identidade social ................... . 372
CAPiTULO X - ESTRUTURAS E PROCESSOS DE GRUPO - JORGE CORREIA JESUiNO ....................... . 293 374
I. IlItrodllriio .......................................................................................................................................................... . 293 6. Estereotipos. perceproes de homogeneidade ejulgamentosavaliativos ........•....................................................
6.1. Complexidade cognitiva e extremismo avaliativo .....................................................•................................. 374
2. Tipos de grupos ................................................................................................................................................... 294 376
3. Aspectos metodologicos ...................................................................................................................................... . 296 6.1.1. Complexidade cognitiva e extremismo dos julgamentos .................................................................. .
4. Quadro de referencia para 0 estudo dos grupos ............................................................................................... . 297 6.1.2. IdentiflCafiio social. variabilidade do endogrupo e extremismo dos julgamentos: glorijiCflndo os
herois e puninda os traidores .............................................................................................•............. 376
5. Factores antecedentes ......................................................................................................................................... 298 378
5.1. Caracterfsticas dos membros ..................................................................................................................... . 298 6.1.3. Extremismo dos julgamentos: identijicariio social ou maior dijerenciOfiio no endogrupo? ......... .
6.1.4. Extremismo. julgamentos normativos. e coesiio social ....................... ·.. ·.·········•············ ................. . 381
5.2. Caracterlsticas do grupo ........................................................................................................................... . 299 384
5.3. Caracterfsticas colltextuais ......................................................................................................................... 306 7. Conclusoes ..................................................................................................................................•........................
6 . Processos de interacriio ..................................................................................................................................... . 321 387
7. Factores consequentes: influencia social .......................................................................................................... . 325 CAPiTULO XII-IDENTIDADE SOCIAL E RELA«;OES INTERGRUPAIS - UGlA AMANCIO .............. .
1. Introdufiio .......................................................................................................................................................... . 387
7.1. Normas 325 388
7 .2. Mudan~·~·d~~·~~·;~~~·:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 326 2. Perspectivas nos modelos das relaroes intergrupos ..................................... ··.···· .............................................. .
t
625
624
484
4. A teoria do llIicleo central das representaroes socia is ..................................................................................... ..
2.1. Contextos e tipos de relar(jes intergrupos - 0 conceito de grupo ............................................................ . 388 485
5 . A ascendencia das representariJes sociais ............................... · .. ·.... ·· .. ·.... · .. ·.... ·.. ·· .. ·.. ·.... ·................................. .
2.2. 0 nos e 0 eu nas relarcies intergrupos - 0 conceito de identidade social ................................................ . 390 5.1. Durkheim e 0 conceito de representariiq colectiva ................................................................................... .
485
3. Categorizariio social. identidade social e comparariio social- 0 modelo da identidade social da escola de 487
5.2. Representaroes socia is e soci%gia do conhecimento quotidiano ........................................................... .
Bristol ................................................................................................................................................................. . 392 5.3. De Wundt e McDougall a articulariio psicossocial .................................................................................. .
488
3.1. Origens do modelo ..................................................................................................................................... . 392 5.4. 0 New Look e a percepriio social .......................................... ·.................................................................. .
490
3.2. 0 paradigma dos "grupos m/nilllos» ......................................................................................................... . 393 5.5. Heider e Iccheiser ...................................................................................................................................... .
490
3.3. Contradiroes e Iimites do modelo de Bristol ............................................................................................. . 399 5.6. A contribuiriio de Vygotsky ....................................................................................................................... . 491
4 . Identidade social. representaroes sociais e a nafllreza das relaroes intergrupos - os estudos da escola de 491
6. A construriio social das representariJes sociais ................................................................................................ .
Genebra .............................................................................................................................................................. . 400 492
6.1. As pressoes para a hegemonia ................................... · .. · .. · .. · .... · .. ·· .... · .... ··· .. ·.............................................. .
4 .1. Identidade socia/ e contetidos categoriais - 0 modelo da dijerenciariio categorial ................................ . 400 493
6.2. Dijerenciariio social e diferenciariio das represelltaroes socia is ............................................................ .
4.2. Identidade dominante e dominada - 0 modelo das relaroes de poder simbolico .................................... . 403 501
Resllmo ................ ································ ......................................................................................................................
4.3. Identidade social e representariio de pessoa ............................................................................................ . 406
Resumo ..................................................................................................................................................................... . 409
CAPiTULO XV _ CONTEXTOS TERRITORIAIS E A PERSPECTIV A ECOL6GlCA EM PSICOLOGlA
503
SOCIAL - LUIS SOCZKA ................................................................................................................................... ..
CAPITULO XIII - CONFLITO E NEGOCIAC;:AO ENTRE GRUPOS - MARIA BENEDICTA MONTEIRO 411 503
I A necessidade de uma nova Psicologia Social .................................................................................................. .
412
I. A genese dos conflitos entre grupos ......................................................................................................................... .
I. A formariio de preconceitos ............................................................................................................................... . 412
2: Contextos territoriais. sobredensidade populacional e distanciariio interpessoal em meio urbano ............... .. 518
518
2.1. 0 meio urbano: gerador de patologias sociais? ....................................................................................... .
1.1. A natureza dos preconceitos ..................................................................................................................... .. 413 524
2.2. A sobredensidade populacional .................................. · ............ ·.. ·.. ·.. ·.. ·· .. · .. ·............................................. ..
1.2. A hipotese da "personalidade autoritciria» .............................................................................................. .. 416 534
2.3. Proxemica: a espaciariio illterpessoal como fenomeno de cultura .......................................................... .
I .3. A hipotese do «esp/rito fechado» ............................................................................................................... . 419
2. A hipotese da frllstrariio-agressiio ..................................................................................................................... . 420 543
BIBLIOGRAFIA ...................... ···················· ............................................................................................................... .
3. A procura de justira social: hip6tese da privatizariio relativa ........................................................................ .. 425
4 . A oposiriio de interesses e a competiriio .......................................................................................................... .. 430 601
INDICE DE AUTORES ..............................................................................................................................................
II. A resoillriio dos conflitos ........................................................................................................................................ . 435
I. A hipotese do contacto ...................................................................................................................................... .. 435 615
INDICE TEMATICO ................................................................................................................................................. .
I .1. A paridade de estatuto dos grllpos ........................................................................................................... .. 437
1.2. A comunalidade de objectivos a atingir pelos grupos .............................................................................. .. 438 INDICE GERAL ..........................................................................................................................................................
619
1.3. Apoio social-institllcional envolvente ........................................................................................................ . 440
1.4. Limites e problemas da hip6tese do contacto ............................................................................................ . 443
2. A negociariio dos conflitos ................................................................................................................................. . 447
2.1. Fases da negociariio de conflitos .............................................................................................................. . 447
2.2 . Climas negociais ....................................................................................................................................... .. 448
2.3. 0 processo negocial .................................................................................................................................... 449
2.4. A negociariio como processo de decisiio .................................................................................................. .. 450

CAPiTULO XIV - REPRESENT AC;:OES SOCIAlS E PSICOLOGIA SOCIAL DO CONHECIMENTO


QUOTIDIANO - JORGE VALA ........................................................................................................................... 457
I . 0 campo do conceito de representariio social ................................................................................................... 459
1.1. A representariio como constrllriio de 11m objecto e expressiio de um slljeito ........................................... 459
1.2. A representariio como representariio social.............................................................................................. 461
1.3 . As representaroes sociais como problema social e objecto de investigariio ............................................. 463
2. Processos sociocognitivos e formariio das representaroes sociais ................................................................... 465
2.1. A objectivariio ............................................................................................................................................. 465
2.2. 0 esrudo do processo de objectivariio ........................................................................................................ 467
2.3. A ancoragem ............................................................................................................................................... 472
2.4. 0 estudo da ancoragem .............................................................................................................................. 475
3. As fUllroes das represelltapjes socia is ................................................................................................................ 478
3.1. Representaroes sociais. explicariio dos comportamellfos e das relaroes socia is ..................................... 479
3.2. Represemaroes sociais e comportamentos ................................................................................................. 482
3.3. Represelltaroes sociais e dijerenciariio social................................................... ........................................ 483
3.4. Representaroes socia is e comunicariio ..................................................................................................... 483
Páginas que faltam

Da 542 à 599 – Bibliografia

Da 600 à 613 – Índice de autores

Da 614 à 618 – Índice temático

Você também pode gostar