A. B. Inferno - Inf
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Título: a obra intitula-se Auto da Barca do Inferno, porque a maioria das personagens embarca na barca do Diabo.
Classificação da obra: a obra é um auto de moralidade porque revela os vícios, os defeitos e os costumes da época
de quinhentos, criticando-os de modo a moralizar a sociedade.
Assunto: o auto apresenta a dualidade bem / mal, simbolizada pelas personagens alegóricas – Anjo e Diabo – as
quais se encontram na respectiva barca, atracada no cais. Aqui surgem várias almas que, através do diálogo com o
anjo e/ou o diabo, expõem a sua vida, carregada de vícios, o que as leva à condenação.
Simbologia do cenário:
Cais - representa o tribunal no qual somos julgados segundo o nosso comportamento enquanto vivos;
Barcas - simbolizam a partida para o outro mundo;
Rio - simboliza a divisão e a transição entre este mundo e o outro.
Personagens:
ANJO / DIABO
Semelhanças
São personagens alegóricas
Nenhum deles tenta recuperar as personagens que entram em cena
Ambos avaliam o tipo de vida das personagens, realçando os aspectos negativos (na generalidade)
Ambos têm uma única função: condenar (Diabo) ou salvar (Anjo)
Diferenças
Diabo: Espera um grande número de passageiros, por Anjo: Está confiante de que não terá muita gente:
isso enfeita a barca: “Põe bandeiras, que é festa” “veremos se vem alguém/ merecedor de tal bem”
Diabo: Linguagem sarcástica, irónica, zombeteira, Anjo: Apresenta-se sóbrio e simples, na linguagem e
crítica, agressiva e, por vezes, chocante nos gestos
Diabo: Lembra às personagens que o destino já se Anjo: O julgamento que faz das personagens é
encontra traçado, referindo os seus vícios definitivo
PERSONAGENS-TIPO
Semelhanças Diferenças
Têm grande apego aos bens materiais e ao seu tipo O percurso cénico
de vida (excepções: o Parvo e os Cavaleiros)
A representatividade dos símbolos de que se fazem
Não existe um arrependimento real, embora, por acompanhar
vezes, haja uma tomada de consciência do erro
Joane / Diabo: a ingenuidade do Parvo estanca a veia satírica e paralisa a agressividade do Diabo.
Alcoviteira / Diabo: trata-o com rispidez e secura, pois acredita que não vai para o Inferno.
Anjo / Alcoviteira: trata-a rudemente, menosprezando-a. Tem ainda uma atitude de indiferença.
Cavaleiros / Diabo: o segundo fica surpreendido com a segurança dos cruzados. Por sua vez, estes reagem
com arrogância à interpelação do Diabo, achando-a ousada.
Tempo: Situando-se num plano extra terreno, a ação não apresenta uma evolução cronológica.
Crítica: Nesta peça, Gil Vicente denuncia os vícios da sociedade portuguesa quinhentista, segundo o lema latino
ridendo castigat mores, isto é, a rir se corrigem os costumes. Assim, são criticados:
Contradições da peça:
Florença não fala durante a cena, nem é julgada; contudo, entra na barca do inferno
O Parvo, apesar de ser inculto, fala latim macarrónico
Estrutura externa:
Os textos dramáticos organizam-se, habitualmente, em atos que contêm diversas cenas. Tal não acontece no Auto
da Barca do Inferno, embora não seja difícil dividir em cenas esta peça de Gil Vicente. Assim, temos as seguintes
cenas:
Introdutória: diálogo entre o Diabo e o Companheiro (cena curta)
Fidalgo (cena longa)
Onzeneiro (cena curta)
Parvo (cena curta)
Sapateiro (cena curta)
Frade (cena longa)
Alcoviteira (cena curta)
Judeu (cena curta)
Corregedor e Procurador (cena longa)
Enforcado (cena curta)
Cavaleiros (cena curta)
A peça é constituída por oitavas, com versos em redondilha maior, seguindo o esquema rimático abbaacca.
Estrutura interna:
O Cómico:
Cómico de carácter:
A loucura de Joane e a inconsciência dos seus atos e das suas palavras.
Um frade dançarino e enamorado (desajuste entre o que a personagem deveria ser e a realidade)
Cómico de linguagem:
Uso do calão
Frases desconexas proferidas por Joane
As respostas absurdas de Joane
Ironia
Latim macarrónico
Falas de Brísida Vaz
Cómico de situação:
O Fidalgo que entra em cena presunçoso e seguro da sua salvação
Surpresa do Onzeneiro ao ver o Fidalgo na Barca do Inferno
Um frade que canta, dança e se faz acompanhar de uma moça
Lição de esgrima que o Frade dá ao Diabo
Encontro do Corregedor com Brísida Vaz na Barca do Inferno
Linguagem:
A linguagem apresenta-se como um meio caracterizador das personagens, dos estatutos, das profissões,
dos vícios, dos destinos, etc. Assim, Joane utiliza uma linguagem indecorosa, injuriosa, rude e agressiva; a
do Sapateiro é desbragada e rude, registando-se a presença de alguns tecnicismos (“badana”, “cordovão”,
etc.); o interesse que o Frade demonstra pela esgrima está patente nos termos técnicos a que recorre com
frequência; a Alcoviteira apresenta uma linguagem ambígua e deturpada, invertendo o sentido das
palavras que se encontram nos textos religiosos; o Judeu recorre ao calão; o Corregedor usa o latim.
A linguagem transmite ainda o tom irónico e zombeteiro do Diabo, contrapondo-o ao ar calmo e austero
do Anjo.
Como recursos estilísticos, há que realçar a ironia, o eufemismo e o recurso a trocadilhos.
Aspectos medievais e renascentistas da obra: