Clínica Ampliada Na Atenção Básica
Clínica Ampliada Na Atenção Básica
Clínica Ampliada Na Atenção Básica
Psicologia da Universidade
Paulista (UNIP), Mestre
(ESF) privilegia ações de promoção à saúde, desenvolvidas em Psicologia Clínica pela
Pontifícia Universidade Católica
pela equipe de profissionais junto com a comunidade. Na de Campinas (PUCCAMP).
imanência desse coletivo, encontramos linhas disparadoras Endereço eletrônico:
acsundfeld@uol.com.br
de processos reflexivos que podem liberar a produção
de um saber-fazer criativo. Neste sentido, a inserção da
psicologia nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família
(NASF) pode contribuir para a efetivação de uma clínica
ampliada na rede básica, crítica aos modelos ditos saudáveis,
na maioria das vezes ortopédicos e modeladores, aberta
a experimentações e ocupada em religar clínica-política-
produção de modos de vida. Neste artigo problematizamos
algumas demandas dirigidas à psicóloga integrante do
NASF pelas equipes da ESF, sua produção e implicações
ético-políticas para o exercício da clínica e processos de
subjetivação resultantes. Trata-se de um estudo de caso
que buscou percorrer e mapear nos discursos possíveis
interlocuções e agenciamentos, cujas expressões são
traduzidas como demanda para os profissionais da saúde.
Em muitos casos, tais enunciados exprimem considerações
morais, formas idealizadas de saúde e bem-estar. Apostamos
que a construção da clínica é produto de um coletivo
desejante, capaz de resistir aos mecanismos de captura e
disciplinarização da vida. Este trabalho propõe que, a partir
das provocações do cotidiano, a equipe dialogue, questione e
se fortaleça, para afirmar formas de existir saudáveis e livres
de padrões preestabelecidos.
Palavras-chave: saúde da família; psicologia; clínica ampliada; Recebido em: 09/02/2010.
subjetividade. Aprovado em: 30/09/2010.
1080 Introdução
O Programa de Saúde da Família (PSF) foi proposto em 1994 pelo Ministério
| Ana Cristina Sundfeld |
As ações de saúde da ESF são desenvolvidas por uma equipe composta por
um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e quatro
a seis agentes comunitários de saúde (ACS). Algumas equipes contam ainda
com um dentista e um técnico em odontologia. Cada equipe é responsável
por um determinado território, onde residem de 800 a 1.000 famílias. Dentre
as intervenções realizadas, temos a visita domiciliar, grupos educativos e
atendimentos clínicos com médicos e enfermeiros. A atuação da equipe se dá
junto à família, cuja dinâmica deve ser compreendida dentro da singularidade
sócio-histórica-cultural-econômica que a atravessa (BRASIL, s/d.).
A noção de território é fundamental para as ações de promoção de saúde, pois
não se restringe a um espaço geográfico ou uma área física delimitada; trata-se de
um espaço habitado, marcado pela subjetividade humana, pelas relações afetivas,
relações de pertencimento. O território é uma noção dinâmica, fluida, viva,
pulsante, mutante. Conhecê-lo é condição para o planejamento das estratégias
e políticas públicas. Portanto, é fundamental conhecer o local, quem habita
o território, como, as relações afetivas, as trocas, as tensões, as necessidades –
enfim, o emaranhado que compõe o território e que, a partir de uma prática
intersetorial, pode ser atendido em sua complexidade em direção à promoção de
saúde (SACARDO; GONÇALVES, 2007).
A ESF se insere na comunidade através das visitas domiciliares dos agentes
comunitários de saúde e de outros profissionais da equipe. Na condição de
moradores da área de abrangência do serviço de saúde, os ACS convivem no
cotidiano com a comunidade, participam dos problemas e dificuldades estruturais
relacionados à saúde, educação, habitação, transporte, etc. Esta condição facilita
composições em movimento
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