Jean-Jacques Rousseau o Pensamento Ilustrado e o Homem Natural
Jean-Jacques Rousseau o Pensamento Ilustrado e o Homem Natural
Jean-Jacques Rousseau o Pensamento Ilustrado e o Homem Natural
NATURAL
Egon Dias1
Introdução
1
Licenciado e bacharel em História pelo UNI-BH, especialista em História e Culturas Políticas e em Temas
Filosóficos pela UFMG, mestrando em Filosofia pela FAJE, sob orientação do prof. Dr. Carlos Roberto
Drawin. Bolsista da CAPES. E-mail de contato egonfelipe@yahoo.com.br .
egon dias
Desenvolvimento
2
FALCON, Iluminismo, p. 9.
3
Grifo do autor.
4
BRUGGER, Dicionário de Filosofia, pp. 222-223.
5
Termo que designa Iluminismo em alemão.
6
FALCON, Iluminismo, p. 14.
novas propostas, novos ideais que aparecem com a intenção de se opor às morais
defendidas pelo Antigo Regime, tais como o advento do paradigma naturalista, ou seja, a
natureza é auto-regulada (uma das fontes de inspiração de Rousseau para seu homem
natural); a visão imanentista; a afirmação do livre-pensar; radicalismo anti-clerical;
empirismo (fruto da Revolução Científica do século XVII); e o mais influente de todos eles,
o uso inquestionável da Razão (o racionalismo era uma das principais vogas do pensamento
Ilustrado)7.
Sobre tudo que foi exposto até aqui, já é possível notar qual era o contexto
intelectual em que Rousseau cria sua obra, ou seja, sobre o que as correntes de pensamento
histórico-filosóficas estavam refletindo acerca da sociedade, quais eram seus problemas.
Vale ressaltar ainda que Rousseau escreveu tal obra no intuito de ganhar um concurso de
artigos feito em Genebra, encaminhando para os governantes da localidade uma carta
exaltando as qualidades e virtudes da República de Genebra. Nota-se portanto, que
Rousseau utiliza-se de um artifício inteligente para tentar ganhar o prêmio do referido
concurso de artigos8.
Partindo para uma análise específica da obra, Rousseau objetiva com ela
descobrir como ocorreu o surgimento da desigualdade entre os homens, desigualdade essa
moral e política, existindo assim uma superação da natureza pela lei. Ele busca
compreender a origem, como o próprio título da obra já diz, da desigualdade entre os
homens. O interessante a ser notado é que Rousseau utiliza-se de um método já comum
entre o seu meio, ou seja, a metodologia empregada para confecção da obra foi utilizada
por outros filósofos e juristas da época como Diderot, Condillac, Grócio e Pufendorf, que
se baseava no contratualismo. Esta metodologia basicamente se estruturava em conjecturas
e observações (relevância da empiria nos estudos rousseaunianos, marcando a influência
dos estudiosos empiristas do século XVII), sendo que através das observações Rousseau se
utilizava da comparação com exemplos históricos para fundamentar suas idéias. Ele
compara, por exemplo, as relações entre os homens modernos com os homens em seu
Estado de Natureza, pontuando que o amor pode ser controlado ou uma paixão saciada
7
Informações retiradas de uma palestra sobre ‘Iluminismo’ proferida no Centro Universitário de Belo
Horizonte em 2002 pela professora Mônica Liz Miranda, Mestra em História pela UFMG.
8
ROUSSEAU, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Trad. Lourdes
Santos Machado. São Paulo: Nova Cultural, 2000. p. 33-42.
quando findo o ato sexual; dessa forma, o amor tomou a conotação descomedida com o
advento da sociedade9. Além disso, utiliza-se de clássicos como Platão e Aristóteles,
célebres pensadores da Antiguidade Clássica que o ajudam a pensar o homem em seu
Estado de Natureza. Assim, Rousseau vai permeando sua análise com exemplos diversos
que tendem a fundamentar seus postulados.
O homem em Estado de Natureza, ou seja, o homem natural é aquele que vive
como um animal, que vive numa realidade onde as desigualdades são muito fracas ou até
mesmo inexistentes, um ser que em si mesmo não necessita da sociabilidade, que não sabe
diferenciar o que é bom do que é mau por não possuir paixões e virtudes (Rousseau, 2000,
p. 79). Neste sentido, o homem vive sua plenitude material, já que não sente necessidade de
compartilhar sentimentos com outros seres da mesma espécie que ele. A degeneração
humana se inicia quando o homem passa a sentir necessidade de viver em grupos, que
futuramente irão constituir as sociedades. Esta necessidade se dá pelo fato do homem,
diferentemente dos outros animais, estar livre para interagir com o mundo que o cerca, ou
seja, sua capacidade de criar e inovar os objetos e as coisas da natureza o diferencia dos
demais animais, culminando necessariamente na aproximação com outros de sua própria
espécie. É neste princípio básico que se baseia o objetivo do discurso:
9
ROUSSEAU, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, p. 80.
10
ROUSSEAU, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, p. 51-52.
primeiros males os seguintes: “por um lado, concorrência e rivalidade; por outro, oposição
de interesse e sempre o desejo oculto de tirar proveito à custa de outrem”11. Fica claro então
que a sociedade gera a desigualdade, e que o homem natural, portanto, vivia uma época de
felicidade pelo fato da inexistência das desigualdades. Há nesse sentido o que Rousseau
chama de “Estado Intermediário”, caracterizado como a época mais feliz e duradoura para o
homem, época da juventude do mundo. A sociedade gera uma decrepitude deste Estado
Intermediário, colocando em xeque a felicidade do homem e iniciando suas desigualdades.
Como muito bem elucida Maria das Graças de Souza:
Ou seja, o homem chegou num estágio que vivia em ótima harmonia com a
natureza e com os outros de sua espécie, porém, “de outro lado, como, no momento funesto
em que um homem cercou a terra e disse isto é meu, não houve ninguém que pudesse
contestar sua usurpação, o destino desastroso da humanidade não pôde ser evitado”14.
O ponto chave da obra de Rousseau, que casa perfeitamente com o intuito do
presente trabalho, é quando ele defende a idéia de se tentar um retorno ao Estado de
Natureza, porém não da forma selvagem como era caracterizado o homem em seu estágio
primordial, mas sim um retorno do homem natural através do uso da Razão, ou seja,
Rousseau pontua a racionalidade como uma ferramenta cabível para o retorno a um estágio
de felicidade para a humanidade, e que somente através dela o homem conseguiria se
desligar das paixões e das virtudes, constituidoras das desigualdades, para poder viver em
paz. A este novo estágio, Rousseau deu o nome de Democracia, que para ele é a principal
forma de organização da sociedade, sob um corpo de leis, que garante o fim de privilégios
11
ROUSSEAU, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Trad. Paulo
Neves. Porto Alegre: LP&M, 2008. p 93.
12
A obra de Rousseau é dividida em basicamente duas partes, o Primeiro Discurso e o Segundo Discurso.
13
SOUZA, História e declínio, p. 47.
14
SOUZA, História e declínio, p. 47.
Conclusão
Para esboçar uma conclusão, é necessário iniciá-la dizendo que este texto não
teve a pretensão de esgotar as reflexões acerca das possibilidades de se relacionar o homem
natural com o pensamento Ilustrado, mas auxiliar nesta discussão inserindo alguns pontos-
chave que ajudem a compreender as referidas relações. Como dito anteriormente, a idéia é
estabelecer um contato entre o autor (Jean-Jacques Rousseau), a obra (Discurso sobre a
origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens) e o pensamento Ilustrado do
século XVIII, tendo como objetivo um entendimento maior da confecção da obra no
contexto intelectual dela, ou seja, no contexto de efervescência das idéias Iluministas.
O homem natural de Rousseau possui uma relação direta com o ideal
racionalista da Ilustração, como se pode muito bem observar na passagem de Claire
Salomon-Bayet:
15
Perceba a diferenciação de animalidades, onde fica sugerido que a animalidade do homem possui certa
dosagem de racionalismo que a diferencia da animalidade do animal.
REFERÊNCIAS:
BRUGGER, Walter. Dicionário de Filosofia. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. 4 ed. São
Paulo: EPU, 1987. pp. 222 – 223.
FALCON, Francisco José Calazans. Iluminismo. São Paulo: Ática, 1986.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens. Trad. Lourdes Santos Machado. São Paulo: Nova Cultural, 2000.
_____________________. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens. Trad. Paulo Neves. Porto Alegre: LP&M, 2008.
16
SALOMON-BAYET, Jean-Jacques Rousseau, p. 157.