Trabalho Recuperação Módulo 5
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FICHA 1
Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama- lhes sal da
terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção,
mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal,
qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se
não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou
porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não
querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou
porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que
dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se
não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto
verdade? Ainda mal. Suposto, pois, que, ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar; que se há-de
fazer a este sal, e que se há-de fazer a esta terra? O que se há-de fazer ao sal que não salga? Cristo o
disse logo: Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et
conculcetur ab hominibus3 (Mateus V - 13). Se o sal perder a substância e a virtude, e o pregador faltar
à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há-de fazer, é lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de
todos. Quem se atreverá a dizer tal cousa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como não há
quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça, que o pregador que ensina e faz o
que deve; assim é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés o que com a palavra
ou com a vida prega o contrário. Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra, que se não
deixa salgar, que se lhe há-de fazer? Este ponto não resolveu Cristo Senhor nosso no Evangelho;
mas temos sobre ele a resolução do nosso grande português Santo António, que hoje
celebramos, e a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum santo tomou. Pregava Santo
António em Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de
entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo
a se levantar contra ele, e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o
ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro
lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés, a que se não
pegou nada da terra, não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia?
Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência, ou a covardia humana; mas o zelo da
glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez?
Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às
praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os
homens, ouçam-me os peixes. Oh, maravilhas do Altíssimo! Oh, poderes do que criou o mar e a
terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os
pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles
ouviam. Se a Igreja quer que preguemos de Santo António sobre o Evangelho, dê-nos outro. Vós estis sal
terrae. É muito bom o texto para os outros santos doutores; mas para Santo António vem-lhe muito
curto. Os outros santos doutores da Igreja foram sal da terra. Santo António foi sal da terra e foi sal do
mar. Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no
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pensamento que nas festas dos santos é melhor pregar como eles, que pregar deles. Quanto mais que o
são da minha doutrina, qualquer que ele seja, tem tido nesta terra uma fortuna tão parecida à de Santo
António em Arimino, que é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos tenho pregado nesta igreja, e
noutras, de manhã e de tarde, de dia e de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito
verdadeira, e a que mais necessária e importante é a esta terra, para emenda e reforma dos vícios que
a corrompem. O fruto que tenho colhido desta doutrina, e se a terra tem tomado o sal, ou se tem
tomado dele, vós o sabeis e eu por vós o sinto. Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António,
voltar-me da terra ao mar e, já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão
perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer.
Domina maris: «Senhora do mar»; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não falte
com a costumada graça. Ave Maria.
Padre António Vieira, Sermão de Santo António
1. Tendo em conta o texto que leu, identifique as afirmações verdadeiras (V) e as falsas (F):
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FICHA 2
[…] Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos dela, temos lá o irmão polvo, contra o
qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu
capelo(1) na cabeça parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com
aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta
aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes
Doutores da Igreja latina e grega que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do
polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está
pegado. As cores que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu(2) são
fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco;
se está no lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar,
faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai
passando desacautelado, e o salteador que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe
os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque nem fez tanto.
Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas
com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor,
mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo,
escurecendo-se a si, tira a vista aos outros e a primeira traição e roubo que faz é a luz, para que não
distinga as cores. Vê, peixe aleivoso(3) e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é
menos traidor!
(1) Capuz; (2) Deus marinho da mitologia grega que tinha o poder de se metamorfosear; (3) perverso; perigoso.
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FICHA 3
Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as
vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja emenda. A primeira cousa que me
desedifica, peixes, vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância
o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora
pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos
pequenos, mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só
grande. Olhai como estranha Santo Agostinho Homines pravis, proversique cupiditibus facti sunt, sicut
puas invicem se devorantes: «Os homens com as suas mas e perversas cobiças, vêm a ser como os
peixes, que se comem uns aos outros.» Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma natureza,
que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente
irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade
deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e
abominável é, quero que o vejais nos homens.
Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos
para os matos e para o sertão? Para cá para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os
Tapuias se comem uns aos outros? Muito mais açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos.
Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as
ruas; vedes aquele subir e descer as caçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego?
Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer.(...)
(...) São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca, não o comem os corvos senão
depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado, e já
está comido.
E para que vejais como estes são comidos na terra são os pequenos, e pelos mesmos modos
com que vós comeis no mar, ouvi Deus queixando-se este pecado. «Cuidais, diz Deus, que não há-de vir
tempo em que conheçam e paguem o seu merecido aqueles que cometem a maldade7» E que maldade
é esta, à qual Deus singularmente chama maldade, como se não houvera outra no mundo? E quem são
aqueles que a cometem? A maldade é comerem-se uns aos outros, e os que a cometem são os maiores,
que comem os mais pequenos: Qui devorant plebem meam, uí cibum panis.
Nestas palavras, pelo que vos toca, importa, peixes, que advirtais muito outras tantas cousas,
quantas são as mesmas palavras. Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão
declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os
que menos podem e os que menos avultam na república, estes são comidos. E não só diz que os comem
de qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os grandes que têm o
mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou
pouco a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam. E de que
modo os devoram e comem? Ut cibum panis: não como os outros comeres, senão como pão.
In Sermão de Santo António aos Peixes
I
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A. Da leitura que fez do Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira e dos
conhecimentos que adquiriu, assinale a opção que lhe pareça mais adequada.
1. Atendendo ao contexto em que está inserida, a expressão "Servir-vos-ão de confusão, já que não seja
de emenda." Significa que:
a) Pe António Vieira vai confundir os peixes.
b) a repreensão dos vícios serve para emenda dos mesmos.
c) a repreensão dos vícios serve para reflexão.
2. Com o recurso a argumentos de autoridade, nomeadamente com a citação
de St° Agostinho, "Homines pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut
pisces invicem se devorantes", o orador pretende:
a) mostrar que sabe latim.
b) validar e confirmar as suas palavras.
c) confirmar que os homens são iguais aos peixes.
3. Com a ideia que a antropofagia (canibalismo) social é pior do que a antropofagia ritual, Padre
António Vieira pretende esconder uma verdade que é:
a) Pe António Vieira simpatiza mais com os povos indígenas.
b) Pe António Vieira acha que os índios são menos selvagens que os brancos.
c) Pe António Vieira acha que os açougues são maiores no Brasil.
5. Na expressão "Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às
praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem
quietação nem sossego?" coexiste:
a) uma repetição, uma enumeração e uma pergunta retórica.
b) uma repetição, uma metáfora e uma antítese.
c) uma metáfora, uma gradação e uma repetição.
B. Após a leitura atenta do texto, responda com o máximo de correção científica, sintática e
ortográfica às questões.
6. Integre o excerto textual apresentado na estrutura da obra a que pertence. Justifique a sua
resposta.
7. Que relação existe entre a conduta dos peixes e dos homens? Justifique a sua resposta.
8. A certa altura, o pregador faz apelo à observação direta dos peixes.
8.1. Identifique os motivos deste apelo.
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FICHA 4
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1. Mostre como o diálogo entre os dois protagonistas põe em confronto e, assim, melhor evidencia: -
distintas relações com o passado; - diferentes temperamentos.
3. Demonstre que os dois protagonistas desta cena revelam caraterísticas da estética romântica.
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FICHA 6
Cena III do Ato Primeiro, desde o início até à primeira e única fala de Telmo.
Questões:
2.1 – Indique o assunto principal da conversa e dois que lhe estejam associados.
4 – Maria refere-se a dom Sebastião como “o nosso bravo rei, o nosso santo rei dom Sebastião”, “meu
querido rei dom Sebastião”, “o pobre do rei”.
5 – Caracterize, a partir de elementos do texto, a relação de Maria com Telmo e com Madalena.
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FICHA 7
Cena X
Jorge, Madalena
MADALENA (falando ao bastidor) - Vai, ouves, Miranda? Vai e deixa-te lá estar até veres chegar o bergantim; e
quando desembarcarem, vem-me dizer para eu ficar descansada. (vem para a cena) Não há vento e o dia está
lindo. Ao menos não tenho sustos com a viagem. Mas a volta... quem sabe? o tempo muda tão depressa...
JORGE - Não, hoje não tem perigo.
MADALENA - Hoje... hoje! Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado... que ainda temo que não
acabe sem muito grande desgraça... É um dia fatal para mim: faz hoje anos que... que casei a primeira vez; faz
anos que se perdeu el-rei D. Sebastião, e faz anos também que... vi pela primeira vez a Manuel de Sousa.
JORGE - Pois contais essa entre as infelicidades da vossa vida?
MADALENA - Conto. Este amor, que hoje está santificado e bendito no Céu, porque Manuel de Sousa é meu
marido, começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi... e quando o vi, hoje, hoje... foi em tal dia
como hoje, D. João de Portugal ainda era vivo! O pecado estava-me no coração; a boca não o disse... os olhos não
sei o que fizeram, mas dentro da alma eu já não tinha outra imagem senão a do amante... já não guardava a meu
marido, a meu bom... a meu generoso marido... senão a grosseira fidelidade que uma mulher bem nascida quási
que mais deve a si do que ao seu esposo. Permitiu Deus... quem sabe se para me tentar? ... que naquela funesta
batalha de Alcácer, entre tantos, ficasse também D. João.
Cena XI
Madalena, Jorge, Miranda
MlRANDA (apressurado) - Senhora... minha senhora!
MADALENA (sobressaltada) - Quem vos chamou, que quereis? Ah! és tu, Miranda. Como assim! Já chegaram?...
Não pode ser.
MlRANDA - Não, minha senhora: ainda agora irão passando o pontal. Mas não é isso.
4.2. Explique os motivos pelos quais Madalena teme tanto esta Sexta-feira.
Produção Escrita
TEMA 1
Leia o excerto do artigo jornalístico com muita atenção:
“A educação para a bondade foi substituída pela instrução para o cinismo. As consequências estão à
vista e são desastrosas: aos 15 anos, a alma dos nossos filhos cheira a cinzas. O chamado “bullying”, ou
sistema de aterrorização permanente, resulta de exemplos concretos, quotidianos: a prioridade dada às
boas notas sobre os bons comportamentos, a rasura da diferença moral entre verdade e mentira, o
estímulo à conquista de bens materiais, seja por que método for, a transformação do amor num
brinquedo temporário de exaltação do narcisismo e a consideração da amizade como um mecanismo de
promoção social.”
Inês Pedrosa, in Sol, 12.03.2014
No mundo contemporâneo, os valores que sempre serviram de referência à Humanidade – a verdade, o
amor, a amizade, a solidariedade, a bondade… - são postos em causa e substituídos por um egoísmo e
um materialismo ferozes, que parecem comandar as vidas.”
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 150 e com um máximo de 200 palavras, defenda um
ponto de vista pessoal sobre a problemática apresentada.
TEMA 2
O universo trágico do Frei Luís de Sousa, feito a partir de elementos simples, assenta em bases sólidas.
As personagens apresentam-se torturadas desde o início da ação, sobretudo por causa dos conflitos
interiores e exteriores.
Redija um texto claro, correto e conciso, comentando as afirmações anteriores e procurando realçar a
importância desses conflitos na diegese da peça.
(Limites de tolerância: cento e cinquenta / duzentas palavras)
TEMA 3
“Este sermão notável pelas descrições e pela habilíssima concatenação da matéria, é uma autêntica
sátira e em cada peixe – que constitui um símbolo – procura Vieira louvar algumas virtudes humanas e
principalmente flagelar, sem dó nem piedade, os vícios e os desmandos dos colonos portugueses, em
alusões transparentes, mas subtilíssimas”.
Gonçalves, Mário, Padre António Vieira, Sermões e Lugares Secretos
De forma clara e concisa comente, com base no estudo realizado e em leituras feitas, a
afirmação transcrita (mínimo de 150 palavras e máximo de 200 palavras).
TEMA 4
No nosso mundo, a exploração humana é uma realidade constante que foi evoluindo ao longo dos
séculos.
Elabore um texto argumentativo sobre a veracidade e atualidade desta crítica.
Tendo em conta a afirmação anterior e o que estudou sobre Frei Luís de Sousa, construa um texto coeso
e coerente, entre 150 e 200 palavras, onde refira as características da tragédia clássica e do drama
romântico presentes na obra.
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