Arte Como Experiência-Ensino - Aprendizagem em Artes Visuais
Arte Como Experiência-Ensino - Aprendizagem em Artes Visuais
Arte Como Experiência-Ensino - Aprendizagem em Artes Visuais
ABSTRACT Art as experience and the teaching/learning processes in visual arts This article
presents some reflections on the concepts of art as experience and the teaching/learning processes in
visual arts, touching on the fields of Art, Art Education and teaching of painting. Its main axis consists
of the methodological approach that has been researched by the Apotheke Painting Studio Study Group
and the Undergraduation and Graduate Studies in Visual Arts at Santa Catarina State University
(UDESC).
KEYWORDS
Art as experience. Teaching/learning in the visual arts. Art. Art Education.
WOSNIAK, Fbio; LAMPERT, Jociele. Arte como experincia: ensino/aprendizagem em Artes Visuais. 258
Revista GEARTE, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 258-273, maio/ago. 2016.
Disponvel em: http://seer.ufrgs.br/gearte
arcabouo terico sobre os quais as estruturas exploratrias de conhecimento
poderiam ser sustentadas. Anos mais tarde, o uso de mtodos de pesquisa
qualitativos em pesquisa educacional encontrou espao na Arte-Educao
(BRESLER, 1994; CHALMERS, 1981; EISNER, 1985 e 1991; MAY, 1993;
STOKROCKI, 1997). Assim, os esforos em torno de fundamentar a adequao da
teoria de Arte-Educao forneceram referncias para o professor, como uma fonte de
conhecimento confivel, e para a prtica em sala de aula e a comunidade, como bases
viveis para reflexes de pesquisa. Essa aproximao fundamentada foi percebida
como forma de avaliar mais de perto a autenticidade de aprender e ensinar arte. Como
resultado, notvel que as concepes de Arte-Educao mudaram, assim como os
seus mtodos, formas e modelos de pesquisa foram (ou esto sendo) adequados.
Outro autor que trata da relao entre Arte e tcnica Alberto Tassinari (2001).
Em seu texto A obra de arte e o espectador contemporneo, Tassinari apresenta
essa relao e a condio da artisticidade da obra de arte em seu processo de
elaborao e concluso. O autor trata inclusive de objetar que a artisticidade no
revelada exclusivamente pelo espectador, ou pelo artista e o seu fazer como ncleo,
visto que na fase de formao da arte moderna ela ganha espao no pensamento
esttico. Contudo, nesta perspectiva de reflexo, existe um pensamento acerca da
produo do espao moderno, para que esta apreenso da artisticidade possa
tambm ser atribuda pelo espectador. Tassinari evoca o pensamento de que a
artisticidade da obra no sugere dons artsticos, mas sim uma compreenso de que
diante de uma obra pronta h um processo anterior inteiramente responsvel por ela.
tambm essa artisticidade proporcionada por uma obra de arte a responsvel pela
experincia esttica, da qual iro emergir teorias modernas do fazer artstico
(TASSINARI, 2001).
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processual com finalidade avaliativa, e os critrios so observados em cada etapa do
trabalho. No h separao entre quem ensina e quem produz, no sentido da reflexo
crtica como condio de uma formao artstica, tanto para os professores quanto
para os artistas. Ancoramos nossa prtica no sentido inverso: partimos do estudo de
teorias, dos exemplos de artistas, e adensamos o processo de construo plstica
para a resoluo de problemas de pesquisa, com base em Arte. Buscamos
compreender que o eixo gerador do fazer artstico o trabalho e uma potncia para a
problemtica da pesquisa que engendra o pensamento do artista-professor.
apenas uma estrutura pode servir como frum para considerar debates no
campo e assegurar que os limites que constroem discusses em curso so
assuntos para reviso contnua;
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HANNIBAL, 1998; TESCH, 1990), podem ser avaliados em termos do domnio
da teoria e prtica em Arte-Educao;
1
O Estdio de Pintura Apotheke deriva suas aes de extenso, oferecendo oficinas de pintura,
minicursos com prtica artstica, conversas com artistas-professores, aulas abertas e aes que visam
oportunizar a prtica pictrica. O objetivo propiciar o estudo de processos pictricos, bem como da
possibilidade de ensino que envolve a pintura, no como meio tradicional, mas sim em um campo
expandido. Desta forma, o espao do estdio torna-se ampliado para prticas que envolvem a
investigao artstica no ensino e no processo de criao. As aes so desenvolvidas e organizadas
em parceria com os participantes do Grupo de Estudos Estdio de Pintura Apotheke (UDESC), do Grupo
de Pesquisa [Entre] Paisagens e so idealizadas, criadas e produzidas pela professora Dra. Jociele
Lampert (DAV/PPGAV). Fonte: <http://www.apothekeestudiodepintura.com>.
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Desta forma, a concepo metodolgica artstica paira sobre o ensino e a
pesquisa no campo das Artes Visuais, pois a pergunta que nos move : Onde est a
Arte na Arte-Educao?
O que Dewey vai defender em toda sua teoria, alm de ressaltar a importncia
da experincia esttica como fundamental para o desenvolvimento humano, no
destituir o pensamento intelectual da imaginao e da criao. Dewey ressalta que
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tanto a Arte como a Cincia so frutos de elaboraes humanas sofisticadas, que
ambas podem suscitar uma experincia esttica em seus praticantes.
2
Esta seo composta de excertos da dissertao de Mestrado de Fbio Wosniak (2015).
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permitindo assim que as mudanas sociais aconteam sem ocasionamentos de
desordem (DEWEY, 1959).
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na filosofia deweyiana torna-se fundamental para apreender o conceito de Arte como
experincia e de Esttica. Dewey no abandona as qualidades holsticas, historicistas
e organicistas na sua filosofia. O autor busca as origens estticas nas necessidades
naturais, na constituio e nas atividades do organismo vivo (SHUSTERMAN, 1988,
p. 233). A esttica pragmatista de John Dewey, segundo Shusterman (1988, p. 231),
ocupa a posio ideal para reorientar e revigorar a filosofia da arte contempornea.
De acordo com o primeiro, as oposies entre mente e corpo, alma e matria, esprito
e carne originam-se todas, fundamentalmente, no medo do que a vida pode trazer
(DEWEY, 2010, p. 89).
Para John Dewey, a arte deveria se situar ao lado das coisas da experincia
comum da vida. Ela deveria ser inserida em um contexto diretamente humano, ao
contrrio de ser relegada exclusivamente aos museus ou galerias,
compartimentalizada em teorias que distanciam as experincias estticas da vida
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cotidiana - ou seja, do prazer pessoal que, segundo o autor, est prximo s coisas
da natureza como o ar, o solo, a luz, as flores. As coisas esteticamente admirveis
brotariam desses lugares (DEWEY, 2010).
[t]oda arte envolve rgos fsicos, como o olho e a mo, o ouvido e a voz e,
no entanto, ela ultrapassa as meras competncias tcnicas que estes rgos
exigem. Ela envolve uma ideia, um pensamento, uma interpretao espiritual
das coisas e, no entanto, apesar disto mais do que qualquer uma destas
ideias por si s. Consiste numa unio entre o pensamento e o instrumento de
expresso. (DEWEY, 2002, p. 76)
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movimento ordeiro e organizado. O material vivenciado, ao mesmo tempo em que
marcado pelas percepes, transformado pelas experincias anteriores. A
concluso uma consumao, e no uma cessao. Esta experincia carrega um
carter individualizador e autossuficiente. (DEWEY, 2010, p. 110)
Dewey afirma que a arte, em sua forma, une a mesma relao entre o agir e o
sofrer, entre a energia de sada e a de entrada, que faz com que uma experincia seja
uma experincia (DEWEY, 2010, p. 128). Como o artstico est relacionado ao ato
de produo e o esttico ao ato de prazer e percepo, uma obra acontece em sua
completude quando o artista, ao trabalhar, assume essas duas atitudes
transformando-a em uma s, ou seja, numa atitude artstico-esttica. O artista, na
concepo de Dewey,
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O que est em questo o controle do desejo. Na ideia inicial at ser possvel
pensar em tudo, mas o tudo no possvel na relao que se pretende produzir
o artista encontra os obstculos, as dificuldades da produo. Saber produzir neste
limite da existncia humana aprender que a relao entre pensar e agir, culminando
em uma experincia singular/esttica e compreendendo que experincia no uma
soma entre o emocional e intelectual, mas que ambos ocorrem inseparavelmente,
uma das modalidades mais exigentes do pensamento. Chegar na consumao desta
experincia proteger o trabalho de uma mera sucesso de excitaes (DEWEY,
2010). Sendo assim, a experincia singular/esttica presente nos escritos de John
Dewey o lugar onde o autor nos esclarece sobre a proximidade desse conceito com
o campo das artes e o trabalho do artista.
Inquietaes Pesquisantes
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novas reformulaes, onde outras percepes iro envolver esses atos e ideias de
pensamento. O pensar tambm ocorre em fluxos, que so fases carregadas de
afetividade; no so evolues, mas variaes mveis (DEWEY, 2010).
No caso especfico das Artes Visuais, a percepo o sentido mais comum por
onde os contedos de uma obra so absorvidos. Em toda experincia
singular/esttica, tocamos o mundo atravs de um rgo especfico. Ser a partir
desse rgo que a percepo encontrar o fluxo para operar em toda a sua energia.
Essa, provocada exclusivamente pela obra de Arte, a maior realizao intelectual
da histria da humanidade (DEWEY, 2010, p. 93). O autor nos explica que:
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organizao das emoes e a objetividade. Porm, organizao e objetividade, para
o filsofo, no so coisas simples de serem alcanadas pelo organismo que,
fragmentado pelo ambiente e imerso nas teorias reducionistas explora, na maioria das
vezes, experincias incipientes.
Referncias
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Fbio Wosniak
Doutorando em Artes Visuais na Linha de Pesquisa de Ensino das Artes Visuais pelo Programa de
Ps-Graduao em Artes Visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGAV/UDESC).
Mestre em Artes Visuais na Linha de Pesquisa de Ensino das Artes Visuais pelo PPGAV/UDESC.
Pedagogo S.E./2012 FAED/UDESC; psicanalista; vice-coordenador da Rede de Educadores de
Museus de Santa Catarina REM/SC (Gesto 2013-2015); membro/pesquisador do Grupo de
Pesquisa Entre Paisagem (UDESC/CNPQ) e integrante do Grupo de Estudos Estdio de Pintura
Apotheke (UDESC). Atua principalmente nos seguintes temas: Arte-Educao, Arte e Pedagogia,
formao docente em Artes Visuais.
E-mail: fwosniak@gmail.com
Currculo: http://lattes.cnpq.br/6525393533253057
Jociele Lampert
Desenvolveu pesquisa como professora visitante no Teachers College na Columbia University na
cidade de New York como Bolsista Fulbright (2013), onde realizou estudo intitulado: Artist's Diary and
Professor's Diary: Roamings about Painting Education. Doutora em Artes Visuais pela Escola de
Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo (ECA/USP 2009); Mestre em Educao pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM 2005). Possui Graduao em Desenho e Plstica
Bacharelado em Pintura, pela Universidade Federal de Santa Maria (2002) e Graduao em Desenho
e Plstica Licenciatura pela Universidade Federal de Santa Maria (2003). Professora Associada na
Universidade do Estado de Santa Catarina. Atua no Mestrado e Doutorado em Artes Visuais
PPGAV/UDESC, como orientadora na Linha de Pesquisa de Ensino de Arte e na Graduao em Artes
Visuais DAV/UDESC. membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Arte, Educao e Cultura
UFSM/CNPq. Membro/Lder do Grupo de Pesquisa Entre Paisagens UDESC/CNPq. Coordenadora do
Grupo de Estudos Estdio de Pintura Apotheke (UDESC). Editora-chefe do peridico Revista
Apotheke. Tem experincia na rea de Artes Visuais, atuando principalmente nos seguintes temas:
pintura, Arte e Educao, formao docente. membro associado da ANPAP.
E-mail: jocielelampert@uol.com.br
Currculo: http://lattes.cnpq.br/7149902931231225
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