A Carta de Atenas e Os CIAMS
A Carta de Atenas e Os CIAMS
A Carta de Atenas e Os CIAMS
SUMRIO
INTRODUO.............................................................................................................3
1 O MOVIMENTO MODERNO E OS CIAMS................................................3
CONSIDERAES FINAIS.......................................................................................3
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................4
3
INTRODUO
A Carta de Atenas foi um documento publicado em Paris, em 1941, de forma annima
(embora sua redao seja atribuda a Le Corbusier e seu prefcio a Jean Giraudoux). O
documento aborda os principais temas da moderna urbanstica, como so disposies estticas
gerais da cidade. A mesma foi elaborada durante os Congressos Internacionais de Arquitetura
Moderna, os CIAMs, e sintetiza uma viso acerca da cidade capitalista, seus desafios e os
novos problemas.
De acordo com as tendncias do movimento moderno e os ideais institucionais
emergentes nos sculos XIX e XX, o documento enumerou as funes da cidade, as matrias-
primas do urbanismo, tocou em questes legislativas e as necessidades do homem em geral.
Dcadas depois, o Conselho Europeu de Urbanistas, o CEU, elaborou uma Nova
Carta de Atenas, onde sintetizaram a viso dos mesmos para a cidade do sculo XXI e
reformularam alguns pontos da primeira Carta de Atenas.
Neste trabalho, almeja-se estudar o movimento moderno como plano de fundo dos
CIAMs, enunciar os fundamentos do planejamento urbano pregado pelo documento da Carta
de Atenas e um olhar crtico sobre os mesmos, passando pela Nova Carta de Atenas e
analisando a colaborao de ambas para a histria do urbanismo moderno e contemporneo.
As cinco escalas cederam lugar a sete sesses de debates, nas quais se incorporaram,
alm das cinco primeiras escalas, as ideias do Ncleo de Cidades Novas e do Ncleo de
Centros Governamentais, que reforaram o interesse ainda presente e paralelo pelos Centros
Cvicos:
O Ncleo do Povoado;
O Ncleo da Cidade Pequena;
O Ncleo de um Bairro Urbano;
O Ncleo de um Setor Urbano;
O Ncleo de uma Cidade Nova;
O Ncleo de uma Cidade;
O Ncleo de um Centro Governamental
Na ltima sesso, foram apresentados os projetos de Le Corbusier para Chandigarh e
de Sert e Wiener para Bogot.
Tambm se tornou mais palpvel a diferena de opinio entre os mestres do CIAM, e a
gerao jovem, em relao a ideia do que vinha a se tornar o corao da cidade. Sert
defendia a ideia do ncleo como centro cvico. Na sua verso publicada de interveno,
intitulada Centres of Community Life, se enfatizava a ideia do corao da cidade, como o
grande centro cvico atrelado s funes poltico-administrativas do Estado, apesar de que
considerava sim a existncia centros comunitrios em outros setores da cidade:
(...) A criao desses centros uma tarefa do governo (federal,
Estadual ou municipal). Esses elementos no podem ser estabelecidos numa
base de negcios. Eles so necessariamente para a cidade como um todo e
para a nao, e devem ser financiados publicamente. Quando uma cidade
planejada dividida em zonas de diferentes usos industrial, comercial, de
negcios, residencial, etc. (...) Cada um desses setores ou partes da cidade
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necessita ter seu prprio centro ou ncleo e o sistema como um todo resulta
numa rede ou constelao de centros comunitrios, classificados de menor a
maior, sendo um centro principal a expresso da cidade ou da metrpole
como um todo, o corao da cidade.
Para os membros mais jovens o foco das discusses no estava mais no grande centro
cvico e nas formas arquitetnicas e urbansticas modernas que deviam caracteriz-lo, mas na
anlise desses espaos urbanos como lugar onde se processam as relaes humanas, da a
importncia dada s noes de comunidade e espaos pblicos.
O CIAM 9, ocorrido em Aix-en-Provence, Frana, entre 19 e 26 de julho de 1953, foi
o primeiro congresso onde os chamados mais jovens membros do CIAM, alguns dos quais
criticaram a instituio do CIAM e seus mtodos desde a Segunda Guerra Mundial, viram-se
entre outros que pensavam de modo semelhante. Organizado pela velha-guarda do CIAM, ou
ancios, e convocada sob o ttulo de La Charte de LHabitat (A Carta do Habitat, em
francs no original), as discusses no congresso revelaram o desejo de ambas as geraes de
produzirem um documento que seria o corolrio para a Carta de Atenas (1943). A produo
deste segundo documento foi sugerida pelos membros fundadores no CIAM 7 em Bergamo
(1947), proposto novamente pelo grupo francs ASCORAL no CIAM 8 (1951), e discutido
exaustivamente no nterim do encontro em Sigtuna, Sucia (1952).
Apesar de no ser considerado parte da lista oficial dos congressos, o encontro
ocorrido em Sigtuna, Sucia - 25 a 30 de Junho de 1952 -, foi notvel pela presena de um
grande nmero de jovens membros do CIAM e pela ausncia de membros executivos como
Le Corbusier, Jos Lus Sert, Walter Gropius e Sigfried Giedion. Este foi o primeiro encontro
do CIAM composto predominantemente por jovens membros, muitos dos quais tornar-se-iam
membros do Team 10, incluindo Jaap Kakema, Aldo van Eyck e Georges Candilis. O
arquiteto italiano Ernesto Rogers e os jovens membros suos Rolf Gutmann e Theo Manz
tambm estiveram presentes, dando contribuies importantes para a discusso sobre a nova
agenda do planejamento urbano.
O encontro em Sigtuna foi caracterizado por um alto nvel de discusso terica e
crescente presso para que o CIAM formalizasse a participao individual de jovens
membros, alm de grupos juniores e de estudantes. Entre esses novos grupos estava o Paris-
Jeune, formado por arquitetos franceses estabelecidos em Paris por Georges Candilis, que
defendeu que a proposta deles era nova porque combinava o uso da grade e dos princpios do
CIAM pesquisa das condies sociais, econmicas fsicas e psicolgicas dos assuntos que
estavam sendo analisados. O grupo noruegus Pagon-Norway (Pagon-Noruega) apoiou
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um jovem grupo independente e ativo que j havia mandado Christian Norberg-Schultz, editor
do jornal TEAM, como delegado para o CIAM 8 em Hoddesdon. Apesar de ter sido
designado como delegado oficial dos grupos estudantis no CIAM 8, acabou tendo seu papel
assumido por Candillis, orador mais desenvolto que ele, no Encontro de Signatuna.
As discusses mais importantes no encontro em Signuta disseram respeito
(centraram-se na) formulao do termo `habitat, que foi complicada pelo fato dos membros
terem trazido significados diferentes, como eles fizeram com relao aos termos logis e
dwelling (habitao). Os membros foram incapazes de definir precisamente o que eles
queriam dizer com habitat, entretanto, eles em geral concordavam que se referia a um
ambiente que pudesse acomodar a satisfao total e harmoniosa, espiritual, intelectual e
fsica dos seus habitantes. O prprio uso do termo habitat, de acordo com Candilis,
representava uma mudana importante no pensamento do CIAM, o qual ele era incapaz de
expressar naquele momento, mas que se desenvolveria no curso dos congressos seguintes para
representar uma srie de valores que os membros jovens associaram com um olhar mais
humano arquitetura moderna. O encontro terminou com uma reiterao - por Candilis - de
que o CIAM deveria criar a Carta do Habitat que guiaria, assim como a Carta de Atenas, o
desenvolvimento do urbanismo moderno.
O sentimento comum a todos durante o Encontro de Sigtuna foi de que o CIAM sofria
por no ter uma direo. Candilis sentia que o CIAM, como qualquer organismo que quer se
manter vivo precisava de sangue novo, acrescentando que a instituio sempre precisou
estar em contato com a realidade, implicando em que o CIAM falhou ao fazer ambos. Ele
tambm era da opinio de que o primeiro revolucionrio do perodo da arquitetura moderna
acabaria com o prximo congresso, momento no qual a velha-guarda desapareceria.
Este tpico da Carta do Habitat veio luz novamente no CIAM 9, que foi o maior e
mais diversificado congresso at ento, com mais de 3.000 delegados, membros e
obsevadores, alm de uma representao sem precedentes tanto de novos membros como de
novos pases. Entre os que compareceram estavam os veteranos mais jovens Aldo van Eyck,
Jaap Bakema,Georges Candilis, Shadrach Woods, Theo Manz e Rolf Gutmann. Tambm
comparecendo ao seu primeiro encontro do CIAM numa capacidade oficial como membros
do grupo British MARS estavam Alison e Peter Smithson. A velha guarda era claramente
incapaz de conceber a cidade em termos do habitat como foi discutido pelos mais jovens no
encontro em Signuta, tornando crescentemente claro que havia dentro do CIAM uma diviso
entre os antigos e os novos modos de pensar a cidade moderna. Essa ruptura foi mais tarde
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exacerbada pela ambivalncia por parte dos antigos sobre incluir os membros mais jovens nas
decises a respeito do futuro do CIAM.
Os membros mais jovens estavam ativos no CIAM IX, participando de reunies de
conselho, escrevendo relatrios de comisses e apresentando a maior parte das grades. Suas
solues arquitetnicas dispunham de uma larga gama de articulaes formais e de
fundamentaes tericas. Nestas diferenas, no obstante, eles reconheciam o desejo comum
de criar ambientes os quais encorajariam relaes entre os que nele habitariam, entre o prdio
e seus equipamentos, e que acomodaria as necessidades culturais das pessoas. Diversos
projetos, incluindo aqueles oriundos de Argel, Chandigarh Sardenha e Jamaica, interessaram
aos membros pela maneira com a qual eles se voltaram para as condies locais e as tradies
espirituais. O projeto marroquino, intitulado Habitat para o Maior Nmero, de ATBAT
frica e apresentado por Candilis e Michel Ecochard capturou a imaginao dos membros
mais jovens mais do que quaisquer de suas atenes para as condies sociolgicas e
culturais daqueles para quem eles estavam projetando. Particularmente impressionados
estavam os Smithsons, que admiravam esse projeto como um novo modo de pensar e como a
maior realizao desde as Unidades de Habitao de Le Corbusier em Marseilles.
Os Smithsons apresentaram seu diagrama - sociologicamente informado - Hierarquia
das Associaes- o qual prepararam com os seus colegas do MARS Bill e Gill Howell - e sua
Grade da Re-Identificao Urbana. Estas contribuies propunham substituir a hierarquia
funcional de habitao, trabalho, transporte e recreao da Carta de Atenas, pelo que eles
chamavam de unidades escalares de casa, rua, distrito e cidade, as quais estavam alinhadas
com as propostas iniciais do MARS para a conferncia do CIAM VIII, na qual foi
recomendado incluir na categoria de povoamentos escalares desde vila at metrpole. A
contribuio dos Smithsons adquiriu uma grande importncia posteriormente, no relatrio de
Alison Smithson sobre o Team 10. Entretanto, documentos do CIAM IX revelam que no
Congresso em si, as propostas dos Smithsons receberam pouca ateno pelas vrias geraes.
Contrariamente s percepes propagadas por publicaes sobre o Team 10, o projeto
que gerou maior interesse foi a proposta de uma cidade satlite perto de Rotterdam,
apresentada por Bakema para o grupo holands do CIAM Opbouw. A despeito de seu carter
formal ortogonal, o projeto Alexanderpolder foi, juntamente com projetos como os do MARS
para o Richmond Park em Londres e o projeto de Lamba e Drew para Chandigarh, baseado na
idia de funes integradoras, as quais se opunham concepo de zoneamento funcional,
que na opinio dos membros mais jovens, separava brutalmente as funes urbanas.
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O congresso foi percebido pela maioria como articulando uma confusa diversidade de
opinies. Contudo, alguns reconheceram que, apesar da larga variedade de vises tericas,
havia similaridades no intuito. Muitos estavam insatisfeitos com os procedimentos e os
resultados do congresso que falhara em produzir mesmo um esboo para uma Carta do
Habitat. Os membros mais jovens, em particular, foram deixados em profundo
desapontamento com o CIAM enquanto instituio.
CIAM X foi organizado pelo Team 10, sobre a superviso do Comit Consultivo
CIAM X sendo considerado, pelos grupos nacionais e para a maioria dos membros CIAM,
como o ltimo congresso CIAM. Os antigos membros, Gropius e Le Corbusier ficaram de
lado, assim com Marcel Lods do grupo francs Btir, do presidente honorrio Cor van
Eesteren, e o membro polons Helena Syrkus. Giedion, Gropius, Sert, Le Corbusier e Van
Eesteren mandaram suas renncias antes do congresso, o que demandou a discusso de
mudanas institucionais, j que nenhum dos membros 'fundadores' compareceram com
apresentaes de projetos ou grades. O comportamento da meia e velha gerao provocou a
ira de Alison Smithson que props que as atividades subversivas do Team 10 fossem
discutidas no jardim do hotel.
O congresso teve o tom de retrospectiva. O discurso de abertura de Sert foi um relato
histrico das preocupaes do CIAM sobre a habitao, iniciadas depois da Segunda Guerra
Mundial.
onde a cidade precisa ser dotada de uma rede abundante que permita contato til com os
vizinhos para realizar trocas.
Focando em situao poltica, concluem que nenhum quadro est sujeito a
imutabilidade, afirmando que se a poltica de natureza essencialmente varivel, seu fruto, o
sistema administrativo, possui uma estabilidade natural que lhe permite, ao longo do tempo,
uma permanncia maior e no autoriza modificaes muito frequentes. (ASSEMBLEIA DO
CIAM, 1933, p. 3)
Em contradio sutil com o primeiro ponto da carta, afirmam que a histria est
inscrita no traado e na arquitetura das cidades (ASSEMBLEIA DO CIAM, 1933, p. 4),
porm, no de forma sucessiva englobando as alteraes e o movimento administrativo. A
assembleia se refere ao momento de origem das cidades e seus primeiros traados.
Atribui-se um esprito a cidade, que simboliza a alma coletiva. A cidade colocada
como pequena ptria, que comporta um valor moral que pesa e que lhe est
indissoluvelmente ligado. O advento da era da mquina, a Revoluo Industrial, perturbou o
comportamento dos homens e sua distribuio sobre a terra, rompendo com um equilbrio
milenar.
2.2 Habitao
Com a transio da cidade pr-capitalista para a cidade capitalista, uma caracterstica
bastante evidente de mudana foi a densidade urbana, a cidade se sobrepondo ao campo, e um
grande fluxo de pessoas realizando o processo de migrao. Para os arquitetos modernistas,
esse aumento de densidade acelerado a causa dos cortios e diversos outros problemas
urbanos, como listados no documento de 1933 (p. 6):
1. Insuficincia de superfcie habitvel por pessoa;
2. Mediocridade das aberturas para o exterior;
3. Ausncia de sol;
4. Vetusdez e presena permanente de germes mrbidos (tuberculose);
5. Promiscuidade;
Eles destacam que a presena de vizinhanas desagradveis, disposio inadequada
dos ambientes da moradia e m orientao do imvel causam problemas sociais, afetam a
moralidade vigente. Tambm fazem uma comparao as construes das cidades antigas,
ressaltando que mesmo que fossem inadequadas, os espaos verdes estavam imediatamente
acessveis e em abundncia, provendo ar de qualidade. Ainda foi posto que os bairros mais
densos estavam nas zonas menos favorecidas, e que a (...) uma populao com padro de
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vida muito baixo, [era] incapaz de adotar, por si mesma, medidas defensivas (a mortalidade
atinge at vinte por cento) .
A viso higienista, tpica daquele perodo e da medicalizao recente, muito vvida
nas observaes trazidas aos congressos. O afastamento (...) dos elementos naturais aumenta
proporcionalmente a desordem higinica (ASSEMBLEIA DO CIAM, 1933, p. 7)
entorno da cidade, e assim acabam se tornando mais extensos que a cidade. Incorporar os
subrbios as cidades uma tarefa difcil e no o ideal para o desenvolvimento dela. O
correto seria a administrao da cidade se apropriar do entorno antes do seu surgimento.
Para a cidade se desenvolver preciso pensar de forma coletiva em um bem-estar
pblico. Neste sentido os bairros habitacionais devem ocupar no espao urbanos as melhores
localizaes. Se faz necessrio condies mnimas de higiene urbana e ela deve ser imposta
pelas autoridades responsveis e quando for preciso condenar um bairro inteiro em nome da
higiene da cidade assim deve ser feito. No basta sanear a moradia, preciso ainda, criar e
administrar seus prolongamentos exteriores.
Um fator importante para o planejamento das cidades a densidade populacional que
deve ser ditada pelas autoridades. Quando a cifra da populao e as dimenses do terreno so
fixadas, a densidade determinada.
As vias de comunicao, ou seja, as ruas devem servir tanto para caminhada do
pedestre, quanto para o trnsito e devem ser distribudas de modo que separe o os veculos dos
pedestres, sendo as habitaes dispostas afastadas das vias dos veculos. A casa no estar
mais unida rua por sua calada. A habitao se erguer em seu meio prprio.
(ASSEMBLEIA DO CIAM, 1933, p. 8)
Quando maior os recursos tcnicos, mais variadas so as formas de construir
possibilitando prdios cada vez mais altos, sendo necessrio arbitrar a altura que mais convm
a cada caso, tento como critrio a escolha da vista mais agradvel, a busca do ar mais puro e a
insolao mais completa. Deve-se tambm determinar espaos com superfcies verdes para a
ocupao pr-determinada do solo, este estatuto do solo incumbido pela autoridade que
determina como o solo deve ser ocupado.
2.3 Lazer
Superfcies Livres: insuficientes
Do ponto de vista social, estas superfcies livres seriam como prolongamentos
diretos ou indiretos da moradia;
Tem como funo: acolher as atividades coletivas, proporcionar um espao
favorvel as distraes, aos passeios e ao lazer;
A localizao deve ser feita de modo que no fique distante dos locais de
habitao popular e seja livre para o acesso das pessoas;
A cidade deve ter uma justa proporo entre volumes edificados e espaos
livres.
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2.4 Trabalho
As relaes normais entre a habitao e os locais do trabalho foram rompidas, dando
origem as cidades suburbanas. Nesse tipo de cidade, em horas de pico, o transporte coletivo
no funciona de maneira satisfatria, elas s funcionam em quatro momentos dos dias.
As propriedades de maneira geral (solo e indstrias) esto concentradas em maior
parte nas mos da sociedade privada, deixando as mesmas sujeitas a qualquer tipo de crise, j
que no existe organizao na parte dos negcios, favorecendo o crescimento natural e
gerando problemas.
As distncias entre os locais de trabalho e os locais de habitao devem ser reduzidas
ao mnimo. Tal ao faria com que os transportes pudessem funcionar de maneira melhor, j
que a menor parte da populao iria precisar utilizar. Isso supe uma nova distribuio,
conforme elaborado, de todos os lugares destinados. Outra soluo seria o remanejamento das
indstrias para rea de passagem das matrias-primas ao longo das grandes vias fluviais,
terrestres ou frreas. Os setores de moradia no devem ser misturados com os setores
industriais. A medida que a cidade industrial fosse crescendo na forma linear, ela geraria seu
setor prprio de moradia, paralelamente, o que tornaria o percurso menor para os
trabalhadores, tornando real a frase citada no pargrafo anterior. Esse paralelo seria divido por
vegetao, como forma de proteger tais residncias de quaisquer danos, tais como poeira e
rudos.
O artesanato deve poder ocupar locais claramente designados no interior da cidade.
O centro de negcios deve estar bem localizado, podendo manter a comunicao com
todos os setores necessrios, ou seja, ele deve se localizar em um porto intermedirio a todos
os outros.
2.5 Circulao
Algumas cidades nasceram na interseo de duas grandes rotas que atravessavam a
regio ou no ponto de cruzamento de vrios caminhos radiais que partiram de um cetro
comum.
As cidades antigas eram, por razo de segurana, cercadas por muralhas, dessa forma,
havia a necessidade de aproveitar-se o mximo das terras para a construo. A medida que as
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cidades antigas iam surgindo, ocorria a necessidade do surgimento de ruas e avenidas para o
fluxo da populao, porm todas essas vias eram pensadas para atender os pedestres, hoje no
conseguindo atender, de forma eficiente, aos transportes mecnicos. Suas ruas estreitas
impediam o progresso em termos de velocidade mecnica. Para solucionar os problemas da
falta de eficincia das cidades antigas, foi pensado em vias particulares para cada funo
(pedestres, bicicletas, carros, caminhes, etc).
A circulao moderna uma operao das mais complexas. As vias destinadas a
mltiplos usos devem permitir, ao mesmo tempo, que os automveis consigam ir de um
extremo a outro e tambm aos pedestres.
Certas avenidas concebidas para assegurar uma perspectiva monumental coroada por
um monumento ou um edifcio, so, no presente, uma causa de engarrafamento, de atraso e de
perigo.
As ruas devero ter regimes diferentes de acordo com sua categoria, e no liberadas a
tudo e a todos. Para permitir s moradias e a seus prolongamentos usufruir da calma e da paz
que lhes so necessrias, os veculos mecnicos sero canalizados para circuitos especiais. As
avenidas de trnsito no tero nenhum contato com as ruas de circulao mida, salvo nos
pontos de interligao.
As zonas de vegetao devem isolar, em princpio, os leitos de grande circulao.
As estradas de ferro foram construdas antes da prodigiosa expanso industrial que
elas mesmas provocaram, e seccionam arbitrariamente zonas inteiras. Elas so vias que no se
atravessam.
sendo a CASA o ncleo inicial do urbanismo. dessa unidade-moradia que o espao urbano
ser organizado para que possa criar relaes de habitao, local de trabalho e instalaes para
o lazer.
A primeira das funes do urbanismo a habitao, sendo que bem elaborada, assim
como o trabalhar deve ter locais propcios s atividades, e o espao para lazer prprio para
recreao, cultivar o corpo e o esprito, todos resultando no bem-estar do ser humano.
Para realizar estas tarefas indispensvel o uso de tecnologias nas construes, visto
que as novas tcnicas aliadas aos especialistas e as mquinas solucionaro os problemas e
traro complexidades desconhecidas at ento.
Os fatores polticos, sociais e econmicos so de grande importncia no que diz
respeito ao urbanismo, influenciando-o diretamente. preciso estabelecer princpios, para que
o poder poltico, a populao esclarecida e a situao econmica estejam de acordo com as
necessidades, fazendo programas coerentes.
A arquitetura preside a cidade, d ordem e funo, sendo a prpria responsvel pelo
bem-estar e beleza da mesma, ela encarregada de sua criao e melhoria, na escolha de seus
elementos, na sua proporo que constituir uma obra harmoniosa. A arquitetura a chave de
tudo.
Outro fator de extrema importncia a regulamentao do solo, onde o mesmo deve
ser de interesse geral e esteja sempre disponvel a possveis intervenes, sendo a ausncia do
urbanismo igual a desordem. O interesse privado ser subordinado ao interesse coletivo. O
direito individual e o direito coletivo devem, portanto, sustentar-se, reforar-se mutuamente e
reunir tudo aquilo que comportam de infinitamente construtivo, em que cada indivduo tenha
acesso s alegrias fundamentais: o bem-estar do lar, a beleza da cidade.
O urbanismo administrao dos lugares e dos locais diversos que devem abrigar o
desenvolvimento da vida material, sentimental e espiritual em todas as suas manifestaes,
individuais ou coletivas. Por sua essncia ele de ordem funcional, sendo elas fundamentais:
1 habitar, 2 trabalhar e 3 recrear, e circular. Onde seus objetivos so a ocupao do solo, a
organizao da cidade e a legislao.
Deve-se tambm determinar a justa proporo entre volumes edificados e espaos
livres. A circulao e a densidade devem ser reconsideradas. Deve-se ter uma economia
territorial de reagrupamento no lugar do parcelamento desordenado do solo. A arquitetura e
opinio pblica: a educao a chave para se entender e atender as necessidades.
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Observado por Fumihiko Maki em A Forma Coletiva (1964); por meio do uso da
metfora de que a cidade no pode ser entendida como uma rvore, evidenciada a
complexidade das vrias redes de relaes existentes no ambiente urbano, ignoradas nas
formas tradicionais de planejar.
O Conselho Europeu de Urbanistas (CEU), que rene vrias associaes de urbanistas
de pases europeus, como a Frana, Alemanha, Itlia, Reino Unido, Espanha, Blgica,
Dinamarca, Irlanda, Portugal entre outros, em 1998 props uma Nova Carta de Atenas onde
analisa a cidade contempornea, suas funes, e faz propostas para o futuro das cidades no
sculo XXI. Esta carta dever sofrer reviso de quatro em quatro anos, sendo que a primeira
reviso foi aprovada no congresso na entidade realizada em 20 novembro de 2003, em Lisboa,
Portugal, recebendo o nome de Carta Constitucional de Atenas 2003 A viso das Cidades
para o Sculo XXI do Conselho Europeu de Urbanistas.
A nova Carta de Atenas 2003 prope uma rede de cidades que deseje: conservar a
riqueza cultural e diversidade, construda ao longo da histria; conectar-se atravs de uma variedade
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de redes funcionais; manter uma fecunda competitividade, porm esforando-se para a colaborao e
cooperao e contribuir para o bem-estar de seus habitantes e usurios.
O CEU apresenta uma Viso partilhada e coletiva sobre o futuro das cidades
europeias, como fundamento da Nova Carta de Atenas 2003 (parte A). Trata-se de uma Viso
de uma rede de cidades, em que estas:
Conservaro a sua riqueza cultural e a sua diversidade, resultantes da sua longa
histria;
Ficaro ligadas entre si por uma multiplicidade de redes, plenas de contedos e
de funes teis;
Permanecero criativas e competitivas, mas procuraro, simultaneamente a
complementaridade e a cooperao;
Contribuiro de maneira decisiva para o bem-estar dos seus habitantes e, num
sentido mais lato, de todos os que as utilizam;
A Viso que fundamenta a Nova Carta de Atenas 2003 completada por (parte B):
Uma breve referncia s principais questes e desafios que afetam as cidades
no princpio do sc. XXI;
Os necessrios compromissos dos urbanistas para pr em prtica esta Viso;
Esta conexo, segundo a nova Carta de Atenas, deve abranger o aspecto econmico
criando um extenso tecido financeiro de grande eficcia e produtividade, mantendo nveis
altos de emprego e assegurando competitividade em mbito global.
E prev que as economias locais e regionais se conectaro com outras economias de
cidades, regies, nacionais e internacionais, possibilitando o pleno emprego e o aumento da
prosperidade dos cidados.
Ainda prev a Carta de 2003 que, para aumentar as vantagens competitivas, as cidades
formaro redes urbanas policntricas de vrios tipos, que chamam de redes de sinergia de
cidades com as mesmas especializaes. Redes de complementaridades onde as cidades se
conectam para proporcionar diferentes especializaes e redes flexveis, sendo que o objetivo
das cidades a troca de bens e servios.
A nova Carta de Atenas de 2003 estabelece no apenas quatro funes, como na Carta
de 1933, mas dez funes, que so tratadas como conceitos. Uma nova viso das cidades
conectadas, que devem, segundo os autores, ser aplicados com as caractersticas locais
histricas e culturais. Referem-se s cidades europeias do futuro, mas aplicam-se a qualquer
cidade do mundo, j que as novas tecnologias e viso filosfica so adotadas quase que
instantaneamente nestes tempos de globalizao.
Os novos conceitos so: uma cidade para todos, que deve buscar a incluso das
comunidades atravs da planificao espacial, e medidas sociais e econmicas que por si s
devam combater o racismo, a criminalidade e a excluso social; a cidade participativa, desde
o quarteiro, o bairro, o distrito, o cidado deve possuir espaos de participao pblica para a
gesto urbana, conectados numa rede de ao local.
A cidade deve ser um refgio, ou seja, protegida por acordos internacionais para se
tornar rea de no combate em caso de guerra. Deve ser um lugar adequado para proporcionar
o bem-estar, a solidariedade entre as geraes, como tambm tomar medidas para conter
desastres naturais. Outra funo a cidade saudvel, obedecendo as normas da Organizao
Mundial da Sade, melhorando as habitaes, meio ambiente, e com o planejamento
sustentvel, reduzir os nveis de poluio, lixo e conservar os recursos naturais.
A cidade produtiva que potencializa a competitividade, gerando postos de trabalho e
pequenos negcios, fortalecendo a economia local, e melhorando o nvel dos cidados atravs
da educao e a formao profissional. Tambm a cidade deve ser inovadora, utilizando
tecnologias de informao e comunicao, e permitindo o acesso dessas tecnologias a todos.
Desta forma desenvolvendo redes policntricas, cidades multifacetrias comprometidas com
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CONSIDERAES FINAIS
A criao da Carta de Atenas foi muito importante, j que serviu de base para
promover o rpido crescimento urbanstico de toda Europa, assim como tambm a rpida
reforma da cidade depois das grandes guerras mundiais. No documento elaborado pelo
CIAM, pode-se apreciar os traos para a reestruturao e urbanizao dos edifcios e
residncias, assim como de cidades inteiras.
Entretanto, ainda durante o perodo de ocorrncia dos CIAMs, durante a oitava
reunio, os 4 pontos da Carta de Atenas se mostraram insuficientes. A Carta de Atenas
veementemente criticada no cerne de sua concepo de cidade, qual seja: a proposta de uma
cidade racional e funcional, sedimentada numa especializao funcional do espao, visando
dissoluo dos elementos tradicionais da cidade histrica, propondo grandes blocos isolados
no verde da paisagem, atravs das unidades de habitao e de extensos parques.
J as consideraes da Nova Carta de Atenas sintetizam recomendaes de carter no
inovador, que vm sendo discutidas nas ltimas dcadas. Porm, apresentam um desafio
profissional, de entender o espao urbano com novos parmetros qualitativos e centrados nos
cidados que devero ser os efetivos partcipes na construo de ambientes mais sustentveis.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS