Artigo GRAMÁTICA E O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PDF
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Resumo
O presente artigo parte integrante de uma pesquisa intitulada Lngua Portuguesa: uma
anlise sobre o ensino nas sries iniciais tendo por objetivo geral analisar como o ensino
da Lngua Portuguesa vem sendo ministrado nas escolas. A linha metodolgica utilizada o
Materialismo Histrico Dialtico o qual possibilita a viso da totalidade bem como as
contradies presentes no processo de ensino. Para tanto, o presente artigo se encontra
dividido da seguinte maneira: Gramtica e sua origem: Um breve histrico onde feito um
resgate desde o nascimento at a implantao da gramtica como disciplina curricular, bem
como os interesses polticos presentes na sua formalizao como modelo a ser utilizado; O
Ensino da Gramtica, onde discutida a nfase dada ao ensino gramatical em sala de aula
ignorando-se a anlise linguistica, bem como a metodologia utilizada, onde a gramtica
considerada como objeto principal no processo de ensino sobrepondo-se linguagem. O
presente artigo foi desenvolvido, tendo por base terica os seguintes autores: Silva (2000),
Lima (2006), Bagno (1999), Antunes (2007), Neves (2002), Cury (1985) e Perini (2006). A
nfase dada ao ensino exclusivamente da gramtica em sala de aula ignora o objeto principal
de ensino da Lngua Portuguesa, a linguagem em suas vrias modalidades, atendo-se apenas
ao estudo das estruturas da lngua privando o aluno de um aprendizado significativo e
participativo da Linguagem.
Introduo
Essa gramtica teve por base as obras de escritores clssicos que seguiam a risca a
linguagem grega sendo tomadas como padres a serem seguidos. Segundo Neves citado por
(Lima, 2006, p. 103-104).
A criao da gramtica, segundo Antunes (2007), nada mais foi, e continua ser, uma
forma de controlar determinada lngua contra ameaas de desaparecimentos e declnios,
entretanto, esse controle apresenta interesses mais amplos que vo alm da mera preservao
da lngua, entre eles esto interesses polticos, econmicos e sociais. Nada melhor do que
utilizar a linguagem como forma de dominao.
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Assim, se analisarmos a funo que a gramtica ocupa nas nossas escolas hoje, vamos
constatar que a mesma continua a desenvolver o papel que lhe foi atribudo quando surgiu, o
de repassar a lngua culta utilizada pela sociedade, fortalecendo-a, mantendo sua legitimidade.
O ENSINO DA GRAMTICA
Certamente o mesmo ocorre com os professores que na maioria das vezes sem conhecimento
e formao suficiente incorporam essa concepo, de que para dominar a lngua necessrio
o domnio de sua gramtica, resultando no fracasso lingsticos dos alunos, os quais ao invs
de estudarem a lngua em seu pleno funcionamento, estudam isoladamente apenas sua
gramtica.
O estudo da gramtica importante e deve ocorrer, pois o aluno conhecendo as
estruturas da lngua ira utiliz-la de maneira mais consciente (LIMA, 2006), todavia esse
ensino no deve ser precipitado como vem ocorrendo. Como cita Bagno (1999, p. 52)
claro que preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficialmente, mas no se
pode fazer isso tentando criar uma lngua falada artificial e reprovando como erradas as
pronncias que so resultado natural das foras internas que governam o idioma.
Esse ensino deveria ser precedido pelo estudo da lngua em suas verdadeiras condies
de uso, com objetivo de proporcionar aos alunos o conhecimento e domnio das diferentes
formas de comunicao, incluindo as diferentes tipologias textuais existentes e no apenas a
norma culta e sua gramtica, para que no fim do processo os mesmos sejam capazes de
optar pela linguagem que mais se adapta a situao vivenciada. Como pontua Antunes (2007,
p.99). de fundamental importncia saber discernir o que adequado a cada situao, para
se poder, com eficincia, escolher esta ou aquela norma, este ou aquele padro vocabular, este
ou aquele tom, esta ou aquela direo argumentativa.
Estes, os gneros discursivos, deveriam ser as prioridades e os principais objetivos do
ensino da Lngua Portuguesa, possibilitando assim aos alunos o verdadeiro domnio sobre a
lngua, para posteriormente partir para o ensino da sua gramtica. Mas infelizmente a
realidade desse ensino est invertida, parte-se do ensino da gramtica para ento se trabalhar
com a lngua em si, e quando isso ocorre, pois na maioria das vezes o ensino da Lngua
Portuguesa fica restrito apenas ao ensinamento das regras gramaticais. Como alerta Bagno
(1999, p.107-108).
Na realidade o que ocorre que por trs dessa nfase ao ensino da gramtica, ao
ensino tradicional existem certos objetivos implcitos que se encontram camuflados a nossos
olhos, sendo estes os interesses da classe dominante em propagar sua ideologia, e sem que ns
percebamos so concretizados com xito pela escola. Atravs da educao so disseminados
os interesses da classe dominante inclusive sua linguagem, assegurando sua existncia e sua
supremacia. A escola ao invs de contribuir para a democratizao da educao, para a
diminuio das desigualdades sociais, assume papel de propagadora dos interesses da classe
dominante, a educao passa a ser mediadora desses interesses, incumbida de repass-los.
A educao contribui para a reproduo das relaes de produo enquanto ela, mas
no s ela, forma a fora de trabalho e pretende disseminar um modo de pensar
consentneo com as aspiraes dominantes. Isso se da pela mediao de prticas
sociais que concorrem para a diviso do trabalho, entre as quais as prticas
escolares. Evitando a conjugao teoria/prtica, impedindo o desenvolvimento de
uma ideologia prpria do operariado, enfim, evitando a democratizao do ensino, a
burguesia procura impor a sua prpria ideologia ou ento uma ideologia regressiva,
a fim de manter a relao capital/trabalho. (WARDE, apud CURY 1985, p.59).
Analisando tal situao, no interessa aos que governam, aos que detm o poder
oferecer uma educao de qualidade principalmente uma educao crtica a populao, pois
isso resultaria em indivduos mais cientes, de seus direitos, obrigaes e das injustias sociais
existentes. Torna-se mais lucrativo utilizar a educao como instrumento disseminador desses
interesses do que proporcionar formao crtica aos indivduos, representando ameaas ao
poder.
Segundo Antunes (2007, p.80), essa postura precipitada da escola, em trazer para as
sries iniciais o estudo da gramtica da lngua torna-se prejudicial aprendizagem, pois,
e com a realizao de exerccios gramaticais isolados da lngua. Como cita Antunes (2007,
p.80):
Assim, torna-se evidente que mais importante do que se enfatizar as regras gramaticais
da lngua desde o incio da alfabetizao, proporcionar aos alunos atividades significantes,
partindo dos conhecimentos que os mesmos j possuem, no caso a linguagem de cada um,
para ento iniciar o estudo da norma culta e sua gramtica. Faz-se necessrio que o aluno
compreenda o significado da linguagem e sua funo, para ento compreender que existe uma
norma culta de maior prestgio na sociedade e muitas vezes diferente da sua linguagem, mas
que ele precisar aprend-la, pois se deparara com situaes em que a mesma lhe ser
solicitada.
As aulas de Portugus tm se restringindo ao estudo da gramtica da lngua
contrapondo-se ao verdadeiro objetivo do ensino de Lngua Portuguesa, sendo assim, qual
seria o sentido do ensino da gramtica principalmente nas sries iniciais, se seu estudo da
maneira como vem sendo ministrado no contribui para o aprendizado eficiente da leitura e
escrita pelo aluno? Como expe Perni (2006, p. 27-28).
Ora, em tal ponto de vista, tem significado, especialmente para esse nvel de ensino,
o tratamento funcional da gramtica, que trata a lngua na situao de produo, no
contexto comunicativo. Basta lembrar que saber expressar-se numa lngua no
simplesmente dominar o modo de estruturao de suas frases, mas saber combinar
essas unidades sintticas em peas comunicativas eficientes, o que envolve a
capacidade de adequar os enunciados s situaes, aos objetivos de comunicao e
s condies de interlocuo. E tudo isso se integra na gramtica.
estendida aos professores tambm, que na maioria das vezes no vem utilidade alguma no
ensino da gramtica, ensinam-a por que est estipulado no currculo escolar que devem
ensin-la. Somente assim, compreendendo a verdadeira funo da gramtica que seu ensino
ganha significado.
Entretanto, a Lngua Portuguesa ainda continua a ser trabalhada nas escolas
priorizando-se o ensino gramatical, restando pouco ou quase nenhum espao para a anlise
linguistica.
Tal afirmao comprovada atravs dos resultados obtidos com as anlises das
atividades de Lngua Portuguesa desenvolvidas, as quais sem exceo enfatizam o estudo da
gramtica.
As atividades propostas pela maioria dos professores constituem-se de um texto,
estudo do mesmo com questionrios quase sempre iguais, como por exemplo, Qual o nome
do texto?Onde se passa a histria?Quais so os personagens dos textos? Passando para o
estudo da gramtica que significa retirar palavras do texto e separ-las em slabas, circular os
ditongos, classificar quanto ao nmero de slabas, passar determinada frase do texto para o
plural ou o contrrio e assim se segue. Enfatiza-se questes referentes a morfologias, ou seja,
classificao e formao das palavras e a fontica, e raramente h questes de sintaxe
encarregada da organizao e formao das frases e textos. Assim, o resultado final do
processo de ensino-aprendizagem nas sries iniciais o que est presente na nossa realidade,
crianas, jovens e adultos sem condies de escrever um texto, pois no conseguem organizar
suas idias, coloc-las no papel.
As atividades propostas no visam a formao crtica da criana, situao comprovada
nos questionrios de anlise dos textos propostos, as quais para serem respondidas no
exigem da criana a anlise, reflexo e compreenso do texto. As respostas so obvias s
seguir a ordem do texto que as respostas estaro ali, todas uma abaixo da outra, cabendo ao
aluno apenas transcrev-las no caderno. Abaixo segue uma das atividades analisadas tendo
como ttulo: O raiozinho de sol e a formiga.
A presente atividade utiliza um texto com carter motivacional, contribuindo para a
formao da auto-estima dos alunos, e a reflexo sobre a existncia de diferenas na nossa
sociedade. Entretanto no foi proposto atividades debatendo essas diferenas existentes entre
as pessoas, questes estas de suma importncia para a formao do aluno, todas as atividades
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Consideraes finais
qualidade que possibilite aos mesmos fazer a diferena na sociedade e no apenas se adequar
a ela.
REFERNCIAS
ANTUNES, Irand Costa. Muito alm da gramtica: Por um ensino sem pedras no caminho.
1 Edio. Belo Horizonte: Ed. Parbola, 2007
BAGNO, Marcos. Preconceito lingstico: O que , como se faz. So Paulo: Ed. Loyola,
1999.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Educao e contradio. 4 Edio. So Paulo: Ed. Cortez,
1985.
SONIA, Natlia de Lima. A deciso de ensinar (ou no) a gramtica terica: depoimentos
de professores de rede pblica. Taubat, So Paulo, 2006. Dissertao