Comunalismo - Kenneth Rexroth
Comunalismo - Kenneth Rexroth
Comunalismo - Kenneth Rexroth
Kenneth Rexroth
Traduo livre pelo Coletivo Periferia
Edio
Projeto Periferia
www.geocities.com/projetoperiferia
Verso para eBook
eBooksBrasil.com
Fonte Digital
Digitalizao da edio em pdf
2002 Kenneth Rexroth
Comunalismo
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ABC Amber LIT Converter v2.02
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Kenneth Rexroth
BUREAU DOS SEGREDOS PBLICOS
Comunalismo
Das Origens ao Sculo XX
(Livro integralmente produzido por Kenneth Rexroth)
[em traduo livre pelo Coletivo Periferia
geocities.com/projetoperiferia1
Contedo
Introduo A Tradio Libertria
1. A Aldeia Neoltica
2. Essnios, Therapeutae, Qumran
3. A Igreja Primitiva, Monasticismo
4. Eckhart, Irmos do Esprito Livre
5. Joo Wycliffe, A Rebelio dos Camponeses Ingleses
6. Huss, As Guerras Hussitas, Tabor
7. A Reforma Radical, Thomas Mnzer
8. Mnster
9. Anabatistas, Hutteritas
10. Winstanley, Diggers
11. Oriente Prximo e Rssia
12. Comunidades Primitivas na Amrica
13. Amana, Os Shakers, So Nazianz
14. Oneida
15. Robert Owen
16. Josiah Warren
17. Brook Farm
18. Fourierismo
19. tienne Cabet
20. Hutteritas Novamente
Eplogo Comunalismo Ps-Apocaliptico
ndice
INTRODUO
A Tradio Libertria
Antes de 1918 a palavra comunismo no significava Esquerda da Social Democracia do tip
representado pelos bolcheviques russos, uma forma radical, revolucionria, de Esta
do socialista. Bem pelo contrrio, a palavra comunismo era utilizada por aqueles q
ue desejavam de uma forma ou de outra abolir o Estado, acreditando que o sociali
smo no era uma questo de tomada do poder, mas de anulao do poder, retornando a socie
dade a uma comunidade orgnica de relaes humanas no-coercitivas. Eles acreditavam que
essa era a expresso natural da sociedade, e que o Estado era apenas um elemento
mrbido dentro do corpo normal daeconomia, o trabalho local da famlia humana, agrup
ada em associaes voluntrias. At mesmo a prpria palavra socialismo foi originalmente apl
icada significando as livres comunidades comunistas to comuns na Amrica no sculo XI
X.
As pessoas que acreditam no comunismo libertrio a grosso modo podem ser agrupadas deb
aixo de trs teorias gerais, cada qual com seus velhos mestres, tericos, lderes, org
anizaes, e literatura. Primeiro h os anarquistas em uma variedade bastante limitada
: anarco-comunistas, mutualistas, anarco-sindicalistas, anarquistas individualis
tas, e alguns grupos e combinaes secundrias. Segundo, os membros de comunidades int
encionais, usualmente mas no necessariamente de inspirao religiosa. As palavras comu
nalismo e comunalista parecem ter desaparecido e seria bom destin-las a este grupo,
embora a palavra comunista, to confusa em nossos dias, de fato se ajusta melhor do
que todas. Terceiro, h a esquerda marxista, que antes de 1918 tinha se tornado um
movimento to difuso que desaguou na Segunda Internacional Socialista Democrtica.
Foi a eles que os bolcheviques pediram apoio nos primeiros dias da revoluo.O Estad
o e a Revoluo de Lenin uma pardia autoritria dessas idias. Contra eles Lenin escreveu
Esquerdismo: Uma Desordem Infantil. Conta-se que, quando a Internacional Comunis
ta foi formada, um delegado objetou o nome. Dirigindo-se a todos aqueles grupos
disse: Mas os comunistas j existem, ao que Lenin retrucou: Ningum jamais ouviu falar
deles, e quando acabarmos com eles ningum ir notar. As idias comunistas hoje so mais
fortes do que nunca.
Alemanha Oriental, Polnia, Hungria, Checoslovquia, cada uma dessas revoltas contra o p
oder russo assumiu a mesma forma da primeira, a revolta dos marinheiros de Krons
tadt em 1921 assemblias livres, conselho de trabalhadores, comits de bairro, e com
unas camponesas os mesmos arranjos sociais que foram to comuns nos primeiros anos
da Guerra Civil Espanhola em Barcelona e nas zonas rurais da Catalonia e Andalu
zia. De forma alguma estas revoltas assumiram um carter reacionrio, anticomunista.
O slogan Retorno ao Livre Empreendimento nunca foi levantado. O fato que aps a soc
iedade ter sido convertida em uma burocracia estatal capitalista, os bolchevique
s com seuManifesto Comunista eO Estado e a Revoluo ensinaram s crianas nas escolas q
ue uma sociedade que rejeita a estrutura de poder no tem para onde ir. O nico cump
rimento possvel do Comunismo Oficial o livre comunismo. Como o capitalismo que o
antecedeu, o marxismo, enquanto poltica de classe governante, contm dentro de si a
s sementes de sua prpria destruio. Na Iugoslvia, onde um Partido Comunista conseguiu
libertar-se da hegemonia russa, a marcha por uma maior participao dos trabalhador
es na indstria, poltica e economia, e comunas federadas, foi irresistvel. O Partido
Comunista Iugoslavo pode ter sido aquilo que Milovan Djilas chamou de a nova cl
asse governante; mas resistir presso russa significava fazer contnuas concesses par
a assegurar apoio popular, e estas concesses naturalmente ocorreram dentro de um
contexto ideolgico comum tanto burocracia como aos trabalhadores um compromisso c
omo o comunismo.
Houve um processo semelhante na Grande Revoluo Cultural da China, mas de cima para bai
xo. O Partido Comunista Chins tentou criar e preservar ao nvel de uma imensa popul
ao a relao social dos primeiros dois anos da revoluo russa bolchevique, no atravs de m
os democrticos mas pelo mais rgido e coercitivo autoritarismo.
Esta a situao na denominada metade socialista do mundo: no meio capitalista, o desen
lvimento ideolgico bem mais avanado, mas os resultados prticos so bloqueados por uma
estrutura de poder herdada da organizao industrial e financeira do capitalismo do
sculo XIX. As tendncias para a descentralizao, e as iniciativas no ponto da produo, so
mascaradas por um desgastado aparato jurdico. Essas tendncias aparecem nas reas ma
is livres das relaes interpessoais dos indivduos, onde o desenvolvimento revolucionr
io mais aparente, bem longe das fbricas ou da burocracia governamental. Um efetiv
o ataque contra o Estado e contra o sistema econmico requer poder, e o Estado, qu
e no outra coisa seno a polcia do sistema econmico, tem, de fato, todo poder efetivo
. Manifestaes ou coquetis Molotov so igualmente impotentes diante da bomba de hidrogn
io. por isso que as mudanas mais importantes esto ocorrendo naquilo que os jovens
revoltosos chamam de estilo de vida. por isso que tanto os veteranos da Velha Esqu
erda como a Direita os acusam de parasitismo. Devido aos muitos luxos capitalist
as, as velhas geraes vem as comunas como um amontoado de luxurias capitalistas, com
o uma imensa e lucrativa explorao da msica ou das drogas.
Na medida em que aumenta a concentrao e a despersonalizao na sociedade dominante, e
edida em que aumenta a concentrao de capital pela tomada dos maiores negcios pelos
conglomerados e pelas corporaes internacionais, cada vez mais as iniciativas locai
s so abandonadas pelos governantes do Estado central, e na medida em que a comput
ao e a automatizao reduz o papel da iniciativa humana tanto no trabalho como na admi
nistrao, a vida torna-se mais irreal, sem propsito, e desprovida de significado par
a todos, inclusive para uma minscula elite que ainda se agarra na iluso de que a i
niciativa pertence a eles. ao e reao tese e anttese ou seja, este estado de coisas
oduz uma reao diametralmente oposta. Estamos testemunhando em todo mundo uma revol
ta instintiva contra a desumanizao. O marxismo props superar a alienao do homem de se
u trabalho, de seus companheiros, e de si mesmo, pela mudana do sistema econmico.
O sistema econmico foi mudado, mas a auto-alienao humana s aumentou. No importa o nom
e, socialismo ou capitalismo, em termos de satisfao humana e de significado para a
vida no h qualquer diferena entre Leste e Oeste. A presente revolta em nossos dias
no est primariamente preocupada com mudana nas estruturas polticas ou econmicas mas
em atacar frontalmente a auto-alienao humana.
A sociedade alternativa que a forma desta revolta ocorreu em grande parte instintiva
mente. Dois sculos de revolues esvaziaram as opes. No havia porque repetir tudo novame
nte.
No foi por acaso que a ecologia ficou to popular nessa conjuntura. O homem no apenas
t destruindo o planeta em que vive, ele est caminhando em direo extino de sua prpria
pcie corroendo seu meio ambiente e reduzindo todo empreendimento empresarial form
a de uma indstria extrativa. A raa humana um determinado tipo de espcie, desenvolve
u-se em um ambiente especfico, com especficas relaes internas de homens para homens,
e externamente com outras espcies. Se esta situao no tivesse existido, a raa humana
no teria evoludo, nem teria continuado dentro de um estreito range de modificao, o h
omem seria extinto. A presente relao do homem com seu meio ambiente e do homem com
o homem desviou-se tanto do timo necessrio para a evoluo das espcies que a humanidad
e certamente no sobreviver. Diante de tal situao uma demanda para um reajustamento to
instintiva quanto a reao de um animal invertebrado diante de um choque eltrico. Is
to o que todas as escolas e tendncias libertrias de tradio comunal tem em comum, uma
nfase primria do homem como scio de uma comunidade orgnica, um biota, um ser criati
vo, uma relao de no-explorao para com seus companheiros e seu meio ambiente. Os anarc
o-comunistas lise Reclus e Peter Kropotkin foram ambos gegrafos e, no por acaso, ele
s tambm foram os fundadores da cincia da ecologia.
Pelo sculo XVIII o homem teve que colaborar com seu meio ambiente para poder sobreviv
er. O desaparecimento dos grandes mamferos, que floresceram at o final da Idade do
Gelo, foi provocado por caadores humanos, e resta uma poro bastante reduzida de bi
ota; o desflorestamento, a agricultura de queimada, a salgadura de terras irriga
das destruram civilizaes inteiras. Com o incio da era industrial e cientfica o empree
ndimento empresarial cada vez mais tendeu a tratar o planeta como uma mina em ve
z de uma fazenda, e a tratar recursos humanos da mesma maneira. agora bvio que se
a raa humana continuar neste curso no durar nem mesmo alm o fim do sculo.
O funcionamento do sistema econmico produziu, em termos puramente marxistas, muitos f
enmenos comunalistas e anarquistas. O fenmeno mais bvio o tremendo crescimento em t
odo mundo Ocidental da prpria vida comunal. Com a inflao escorregadia da moribunda
economia keynesiana, milhares de jovens, particularmente jovens com crianas, dian
te da impossibilidade de preservar o padro de vida que usufruam em uma sociedade a
bastada de classe-mdia, viram nas pequenas comunas o modo nico de escapar da real
pobreza. Enquanto isso, aquele estilo de vida tpico das casas imponentes, dos apa
rtamentos de doze quartos, cessou, e estes locais esto sendo ocupados por grupos
que dividem despesas e responsabilidades sempre movendo-se frente daqueles que d
estroem sua qualidade de vida. A vida urbana tornou-se muito cara, irresponsvel e
imunda como tambm perigosa na medida em que o dinheiro arrecadado pelos impostos
vai cada vez mais para a guerra em vez de para a vida da comunidade, mais e mai
s pessoas fogem da cidade fixando-se em comunas rurais no velho estilo das fazen
das entre sessenta e duzentos acres, que no mais conseguem competir com a agricul
tura industrializada.
Essas coisas ficam mais claras quando estabelecemos uma relao entre as duas economias
e aquilo que Engels chamava de superestrutura. verdade que tais comunas so, em cert
o sentido, parasitas humanos diante de uma sociedade dominante desumana, de qual
quer forma assume-se que tais comunidades rurais podem sobreviver quando a socie
dade dominante entrar em colapso pelo caos e pela guerra nuclear. Para serem eco
nomicamente independentes as comunas teriam que desenvolver uma economia prpria a
o mesmo tempo em que do as costas economia dominante centralizada. Isso requer um
a modificao completa no padro de vida, a adoo de uma escala de valores completamente
diferente. Essas coisas, naturalmente, acontecem lentamente.
A maior parte dos problemas enfrentados pela sociedade alternativa tem sido discutid
os teoricamente em algum lugar da tradio libertria. Friedrich Engels estabeleceu o
contrasteSocialismo Utpico e Cientfico. O socialismo cientfico de Marx e Engels pret
endiam demonstrar matematicamente que a revoluo socialista era inevitvel e que o de
ver do revolucionrio era colaborar com a histria e nunca perguntar onde, quando, p
or que, como, ou o que. Qualquer tentativa de responder tais perguntas era utopia.
Mas a histria continuou repetindo as mesmas coisas de sempre, inclusive algo que
deram o nome de socialismo. Na medida em que no responde, a priori, s questes fund
amentais. Na medida em que no possui um plano pelo qual a nova sociedade emergir,
o marxismo em muito se assemelha a um co que gira em torno de si mesmo tentando m
order o prprio rabo. Hoje sabemos que apenas a criao de novos arranjos sociais evit
ar o desastre que se aproxima. utopia ou catstrofe.
Com a tecnologia movendo-se alm do ponto crtico, o ponto em que a quantidade vira em q
ualidade, o ponto em que a gua vira vapor, a vida torna-se cada vez mais incompatv
el com as estruturas sociais vigentes, especialmente estruturas de poder como a
explorao financeira e industrial do sculo XIX. Essa mesma espcie de contradio entre as
formas sociais e econmicas ocorreram durante o sculo XVIII e no incio do sculo XIX
quando o mtodo capitalista de explorao explodiu as crostas feudais e mercantis. Con
tudo a tendncia do sistema capitalista e do Estado de usar a revoluo tecnolgica para
uma maior concentrao industrial, administrativa, poltica, uma direo diametralmente o
posta aos apelos por mudana. As vastas reas da economia constituem um campo frtil p
ara o incio de um arranjo radical e para a descentralizao da produo. A fora de trabalh
o, no sentido da energia muscular bruta, perdeu sua importncia; muito questionvel
a possibilidade de se construir hoje um modelo de teoria econmica onde, como na e
conomia de Marx e Ricardo, a fora do trabalho naquele sentido seja uma base ou at
mesmo uma fonte primria de valor.
Se a meta da produo fosse voltada para a vida e no para o lucro, seria perfeitamente
ssvel comear imediatamente a fazer tipos de trabalhos cada vez mais fceis, interess
antes e criativos. J notrio que certo tipo de trabalho montono linha de produo de aut
omveis, minerao antiquada, e da por diante provocam desarranjos morais, tanto que em
alguns locais tornou-se difcil recrutar mo-de-obra adequada para tocar a produo. O
uso de drogas em Detroit quase to comum como foi no Vietn e por razes semelhantes a
rejeio a um modo intolervel de vida.
A demanda por mudanas no modo de vida faz uma contnua presso contra o bloco das estru
ras sociais obsoletas e, quando as estruturas do poder permitem, tais estruturas
acabam subvertidas e quebradas. Os arranjos econmicos peculiares ao sculo XIX e i
ncio do sculo XX tornaram-se obsoletos como o dente da engrenagem na maquinaria da
produo. (As coisas estavam comeando a ficar assim quando Ibsen escreveu ACasa das
Bonecas). Os atuais sistemas polticos, econmicos e religiosos no oferecem nenhuma a
lternativa significante. Como resultado, ocorre uma revoluo sexual que ultrapassa
os sonhos das mais selvagens feministas e dos livres amantes do velho movimento
anarquista. Vinte anos atrs um amigo observou: H uma Emma Goldman em cada carro est
acionado na beira da praia durante a noite. A demanda hoje no por relaes casuais e p
romscuas, mas por relaes que proporcionem uma nova espcie de significao pessoal e inte
rpessoal. Na medida em que essas relaes se tornam comuns elas atuam no sentido de
modificar profundamente as estruturas sociais. No faz muito tempo o estilo de vid
a anarquista era limitado por uma minscula minoria de bomios revolucionrios e autod
idatas. A bomia a subcultura do alienado. Desconhecida nas sociedades anteriores,
ela cresceu com o prprio capitalismo. William Blake, William Godwin e seus grupo
s so mais ou menos contemporneos da Revoluo Francesa e do comeo da era industrial. Ha
via comentrios de que a bomia era uma utopia parasitria cujos praticantes agiam com
o se a revoluo tivesse acabado; e tambm, de que os bomios desprezavam as necessidade
s dos pobres para curtir a luxria dos ricos. Isso significa que desde o comeo do c
apitalismo, secretamente, como uma espcie de subproduto natural, uma pequena, vag
arosa e crescente classe de pessoas pouco a pouco passou a rejeitar sua alienao e
ausncia de significado na vida. Mesmo nos difceis dias da primitiva acumulao de capi
tal, o sistema era to ineficiente que era possvel viver um tipo diferente de vida
em seus interstcios, se a pessoa tivesse sorte, boa formao, normalmente autodidata,
mesmo nascendo sob um nvel de pobreza medonha. Hoje aqueles interstcios se espalh
aram por toda parte na forma de uma sociedade afluente. O fato que milhares de p
essoas puderam abandonar a economia capitalista industrial para viver fabricando
panelas, trabalhando couro, ou tocando violo. Embora essas coisas possam parecer
triviais, elas no so. O problema reorganizar a economia de forma que os automveis
passem a ser produzidos da mesma forma.
Hoje todo mundo sabe que uma guerra mais ampla resultaria na exterminao da raa humana
no obstante a possibilidade de que algum desses atuais sistemas polticos e econmico
s imponham essa guerra algo que eventualmente pode ocorrer. Os dois maiores conf
litos desde a Segunda Guerra Mundial, na Coria e Vietn, mergulharam em um completo
colapso moral. Mesmo sem guerra os sistemas econmicos e polticos produzem o mesmo
tipo de desmoralizao. Os sintomas de um colapso da civilizao esto em toda parte e ap
arecem em cada um de ns, tais sintomas so mais pronunciados do que o foram durante
os ltimos anos do Imprio Romano. Contudo nem todos esses sintomas so necessariamen
te patolgicos. O mundo contemporneo est se rompendo atravs de duas tendncias contrari
as uma aponta para a morte social, e a outra aponta para o nascimento de uma nov
a sociedade. Muitos dos fenmenos da presente crise so ambivalentes e podem tanto s
ignificar morte como nascimento dependendo de como a crise se resolver.
A crise de uma civilizao um fenmeno de massa que avana sem benefcio da ideologia.
da por liberdade, comunidade, significado de vida, ataque alienao, largamente inst
intivo e marcante. No movimento revolucionrio libertrio tais objetivos so ideolgicos
, confinados a livros, ou percebidos com dificuldade, usualmente apenas temporar
iamente em pequenas comunidades experimentais, ou em vidas individuais em um mins
culo crculo social. A onda revolucionria contempornea afirma que se trata de uma re
voluo sem teoria, e anti-ideolgica. Mas a teoria, a ideologia, j existe em uma tradio
to velha quanto o prprio capitalismo. Alm disso, da mesma maneira que indivduos espe
cialmente talentosos podem viver vidas livres nos interstcios de um sistema explo
rativo e competitivo, nos perodos quando o sistema capitalista em desenvolvimento
temporria e localmente entram em pane devido ao arraste de formas desgastadas, e
xistem breves e revolucionrias luas de mel nas quais as organizaes comunais mais li
vres acabam prevalecendo. Sempre que a estrutura do poder hesita ou falha a tendn
cia geral substitu-la pelo livre comunismo. Esta quase uma lei na revoluo. At onde p
odemos ver, no momento crtico ou surge uma velha estrutura de poder como ocorreu
na Comuna de Paris ou na Revoluo Espanhola, ou surge uma nova estrutura de poder,
como ocorreu na Revoluo Francesa e na Revoluo Bolchevique, estruturas de poder que a
cabam suprimindo as livres sociedades revolucionrias pelo terror e pelo derramame
nto de sangue.
1. A Aldeia Neoltica
A idia de que o homem primitivo passou uma longa fase de comunismo primitivo nada tem
a ver com Marx e Engels, Lewis Morgan, Tylor, nem com antroplogos influenciados
por Darwin no sculo XIX. Tais idias so compartilhadas por todos os historiadores cls
sicos desde a Grcia at a China e parte da histria da mitologia da maior parte das c
ulturas. Isto bem patente. Um povo que caa-e-colhe no pode ser outra coisa seno com
unista. At mesmo nos ambientes mais favorveis a terra pode suportar apenas um dimi
nuto nmero de pessoas em qualquer grupo que vive apenas daquilo que a natureza po
de oferecer. A diviso do trabalho mnima caa para o homem, coleta para a mulher. Alg
uns homens puderam se especializar lascando pederneiras; algumas mulheres pudera
m se especializar trabalhando peles. Em um pequeno bando, aqui e ali um indivduo
pode ter experincias religiosas mais intensas do que outros.
Eventualmente alguns destes primitivos especialistas podem ter se tornado conhecidos
pelo seu grande talento em determinadas reas. H provas arqueolgicas de uma fbrica de
pederneira paleoltica na forma de grandes amontoados de fatias e rejeitos, com o
comrcio de pederneiras cobrindo longas distancias. improvvel que as extensas pintu
ras em cavernas como Lascaux ou Altamira interessavam apenas s poucas pessoas da
localidade. Presumivelmente eram centros religiosos para os quais muitos bandos
afluam vindos de um vasto territrio. Tambm difcil acreditar que o alto grau de habil
idade demonstrado em muitas pinturas nas cavernas paleolticas no seja resultado de
especializao. Altamira e Lascaux foram pintadas por artistas. verdade, naturalmen
te, que as pessoas na Idade da Pedra mostram um talento artstico difuso semelhant
e ao das crianas do jardim da infncia. a especializao exigida pela sociedade que des
tri a resposta esttica e a habilidade artstica.
H uma limitada porm possvel diviso do trabalho em uma sociedade composta por caador
oletores, para sobreviver nenhum indivduo precisa ser especializado. As mulheres
que juntam bolbos precisam ser capazes de contender com qualquer animal, herbvoro
ou carnvoro, que encontrarem; e evidente que os artistas de Altamira possuam um c
ompleto conhecimento anatmico dos animais que pintavam. Em uma sociedade de caador
es e coletores impossvel acumular muito excesso. Os restos de mamferos apodreciam
antes que pudessem ser comidos. Os roedores atacavam o estoque de razes e o depsit
o de gros no temos nenhuma evidncia arqueolgica de celeiros de gros e outros mtodos de
estocagem antes dos advento da agricultura incipiente.
Em tal sociedade impossvel o surgimento de uma estrutura de classes. Embora seja uma
suposio no comprovada, os atuais caadores e coletores seriam exatamente como seus e
nossos ancestrais paleolticos, embora a ecologia seja determinativa a forma deter
mina a funo. Eles so sem exceocomunsticos; no poderiam ser outra coisa.
At poucos anos os arquelogos no estavam bem familiarizados com estudos antropolgicos
re caadores e coletores remanescentes. A maioria deles vivem at hoje surpreendente
mente bem mesmo tendo que trabalhar bem pouco uma das razes por que se recusam se
r civilizados. Isto continua sendo verdade embora tenham tendo sido segregados e
m terras que ningum quer no Bushmen no deserto de Kalahari na frica; nosblackfello
ws nos desertos da Austrlia Central, nas densas selvas no Noroeste da Austrlia; ou
em regies selvagens da Malsia, ndia, Ceilo, Amrica do Sul, e outras partes da frica.
Muito freqentemente eles vivem ao lado de pessoas que praticam a agricultura de q
ueimada; os caadores e coletores parecem ter se adaptado s mais variadas dietas.
John Muir estima que as nozes pneas do pinheiro [pinho] nas florestas abertas do decli
ve ocidental dasSierras rendem mais calorias por acre do que o milho doIraque. N
a Califrnia, a oeste dasSierras, a colheita de gros, razes, sementes, cascas, e peq
uenos animais, principalmente coelhos, sustentam a populao ndia mais densa do conti
nente. Vrias tribos que tinham praticado caa ou agricultura em larga escala, aband
onaram esse costume quando depararam com a abundncia natural da Califrnia. A maior
parte desse presente da natureza desapareceu, destrudo pelas pastagens modernas
e pela agricultura. O altamente nutritivobolbo de camas cujas flores inundavam c
omo lagos as pradarias do oeste, e as sementes selvagens ricas em protena que bro
tavam como grama natural, ambas se perderam para sempre, mas ainda hoje seria pe
rfeitamente possvel a uma famlia de cinco pessoas viver pescando, colhendo frutos
e semente de algumas rvores e plantas selvagens.
Alimentos naturais eram abundantes em quase todas as florestasdecduas da Amrica Orient
al e Europa do Norte, foi por isso que a dependncia exclusiva da agricultura cheg
ou mais tarde nessas reas. Esseviver da floresta produziu uma estrutura de poder
peculiar. Na Califrnia, o poder simplesmente se dissolvia diante da abundncia do q
ue era oferecido pela natureza. Nas florestas decduas, o poder foi firmado atravs
da organizao da guerra como um esporte e da explorao das pessoas que trabalhavam na
agricultura as mulheres. Os homens eram caadores e guerreiros forando um estilo de
vida que era uma espcie de revivificao dos grandes caadores paleolticos. As mulheres
eram coletoras, fabricavam cestas, vasos de barro, roupas de peles, colhiam fru
tas e sementes, e plantavam, permanecendo como zeladoras e construtoras quando o
acampamento era estabelecido. A conquista da Europa civilizada por pessoas com
umbackground de floresta estabeleceu estatica, especialmente entre as classes dom
inantes, e que permanece at hoje.
Paleoltico e neoltico so termos superados; mas uma coisa que no muito notada que
ntas de pedra lascada eram em geral melhores para o trabalho que efetuavam do qu
e as ferramentas de pedra polida, de forma que a pedra lascada, para muitos props
itos, sobreviveu durante durante a era neoltica. A pedra polida veio com a agricu
ltura (pedra lascada amolada melhor para capinar) e com o uso de uma gama maior
de pedras, especialmente oriundas de rochas duras e metamorficas como o quartzo
que no tem uma quebra regular.
A estratificao social na economia das primitivas aldeias agrcolas ia at onde o brao
alcanar. O lder da guerra, ouchama, estava imerso na comunidade ou sujeito a ela.
Apenas com a sistematizao da agricultura em larga escala, irrigao, a revoluo urbana,
a especializao, as castas, as classes ficaram mais distantes umas das outras.
Uma tpica comunidade agrcola primitiva foi Jarmo na extremidade do planalto persa, com
vinte e cinco casas pequenas, e possivelmente cento e cinqenta pessoas. Jerico,
porm, um osis no deserto palestino, parece ter se urbanizado antes mesmo de desenv
olver sua agricultura. Nos vales da plancie mesopotamia, as estratificaes sociais,
classes, e status, surgem na transio de aldeia para cidade, contempornea da irrigao s
istemtica em pequena escala, do beneficiamento de cereais, da l de ovelhas (ou sej
a, do deliberado cultivo de plantas e procriao de animais domsticas), do arado, que
logo passou a ser tracionado pelo boi; mas as cidades ainda eram amplamente dis
tantes umas das outras. Com a irrigao em larga escala e a criao das cidades o homem
interrompeu seu equilbrio ecolgico com o biota. Esse desequilbrio torna-se aparente
com o surgimento de ervas daninhas e da salgatura tpica da terra irrigada. Isto
resultou em uma dinmica poltica na qual a vida se tornou mais antinatural em suas re
laes internas e externas.
Pequenas e grandes cidades se desenvolveram em terras frteis com o surgimento das nov
as tecnologias na plancie mesopotmica. Nos vales aos ps das montanhas as velhas ald
eias preservaram seu antigo modo de vida. Antes de 4000 A.C. a vida nas aldeias
no Prximo e Mdio Oriente manteve-se intocada em toda sua essncia at meados do sculo X
X. O Estado permaneceria uma realidade distante, o nico papel que exercia na vida
da aldeia era associado violncia guerra, coleta de impostos, e mais raramente, p
erseguio de um grande criminoso.
Na Europa a religio megaltica que produziu monumentos como Stonehenge parece ter pre
do a ereo das cidades. A decdua cultura daqueimada produziu uma classe sacerdotal e
um culto que se difundiu no contexto de um nvel tecnologicamente mais primitivo
que o mundo mediterrneo, conforme testemunha a histria da civilizao maia.
Na aldeia, a vida religiosa assumia a forma de atividade grupai na qual toda a comun
idade participava: ritos da semeadura e de colheita, matrimnios nos campos, esttua
s de deusas me com caracteres sexuais exagerados nos santurios domsticos. O crescimen
to da religio nas cidades trouxe consigo um culto cerimonial no qual a povo parti
cipa como espectador ou, na melhor das hipteses, como participante de uma procisso
.
O excedente agrcola permitiu o desenvolvimento de especialistas artesanais. Nos primi
tivos estados sacerdotais da Mesopotmia encontramos registros de comunidades alta
mente organizadas pastores, artesos, trabalhadores rurais, escribas todos unidos
em uma espcie de sindicalismo religioso. Eventualmente os pastores e guerreiros t
iravam proveito do aumento dessa especializao para desenvolver uma rgida estrutura
de castas escamoteada por artes imaginrias, supostamente vitais sobrevivncia, com
o intuito de forar o campons a contribuir com mais trabalho para manter esta super
estrutura. Esta foi a gnese da alienao: o trabalho para uma autoridade distante e o
trabalho no remunerado. Mas esta alienao logo foi exacerbada por sanes patriticas e s
obrenaturais. A industrializao trouxe consigo o mais elevado grau de alienao em toda
a histria humana, superando at mesmo a escravido. Os resultados desse trabalho per
maneceram claramente visveis. O modo campons de vida sempre produziu bens tangveis
a partir de seu contato ntimo com a natureza. Na medida em que os resultados do t
rabalho so visveis, o trabalho preserva alguma criatividade e no psicologicamente d
estrutivo. Claro que os artesos e escribas primitivos no foram afetados por esta a
lienao primitiva, bem pelo contrrio, temos uma abundante literatura louvando seu mo
do de vida.
Na medida em que a agricultura se desenvolvia e se tornava o principal meio de suste
nto, comearam a surgir grandes edificaes, conforme podemos ver em algumas das runas
no planalto do Iraque e Ir. Algumas dessas edificaes, de at cinco metros de altura,
continham dormitrios familiares tpicos das grandes casas iraquianas. Em outras edi
ficaes a ausncia desses dormitrios sugere que eram utilizadas como local de assemblia
ou templos primitivos, embora no tivessem altares. Alguns possuem um nico grande
cmodo que podem ter sido utilizados como espao para jantares comunais.
Tanto quanto podemos saber, e a julgar pelas evidncias fornecidas por sociedades agrco
las primitivas, como de Jerico e do planalto persa, por exemplo, a vida deve ter
sido to comunista como entre caadores ecoletores. A revoluo neoltica agricultura, do
mesticao de animais e plantas, tecelagem, cermica, ferramentas de pedra polida e ar
mas, comunidades sedentrias de aldeias alterou profundamente a vida. As provas ar
queolgicas apontam no sentido de que a diviso do trabalho e a estrutura de classe
foram ligeiramente mais marcantes naquele tempo do que na era paleoltica. A comun
idade ainda era pequena; a estrutura ainda era comunalstica; mas a produo de um exc
edente exigia um maior grau de especializao. No local onde tais sociedades existir
am ainda encontramos, nos tempos modernos, oleiros, teceles, mgicos, curandeiros,
ferramenteiros, e s vezes, especialmente na frica, artistas profissionais. Mas no e
ncontramos indivduos que vivem do poder que exercem sobre seus companheiros. A ex
plorao do homem pelo Estado e do homem pelo homem ocorreu ao mesmo tempo que a seg
unda revoluo, a revoluo urbana o desenvolvimento das cidades e da agricultura em ext
ensas regies. Reis, padres, e uma casta de comerciantes, surgiram ao mesmo tempo
que os primeiros conglomerados urbanos, as pequenas cidades, guerreando com exrci
tos organizados, irrigando em larga escala, e em seguida, escrevendo.
Acredito que as civilizaes do final da era neoltica e da Idade do Bronze estivessem b
distantes da prtica do comunismo primitivo. De fato, a maioria deles praticava a
quilo que ns chamamos hoje deEstado socialista. Este termo muitas vezes aplicado
civilizao Inca do Peru. Aquilo que poderia ser chamado demito da civilizao chinesa,
e no apenas deconfucionismo, representa todo aquele universo de discursos onde a
teoria poltico-econmica chinesa operou desde os primrdios at os presentes dias, ou s
eja, traduzindo em termos ocidentais, certamente chamaramos essa teoria poltico-ec
onmica desocialismo Estatal.
As sociedades comunistas sobreviveram bem revoluo neoltica tanto historicamente com
tre as pessoas naquela fase de desenvolvimento em nossos dias. Os mais imediatam
ente bvios so os povos indgenas do sudeste da Amrica do Norte. So povos que falam as
mais variadas linguagens, com diferentes antecedentes histricos, e que esto situad
os dentro de zonas de radiao de civilizaes altamente estruturadas do planalto mexica
no. Compartilhando uma vida comunal apaixonadamente vigiada, eles conseguiram re
sguard-la at hoje das arremetidas missionrias espanholas e dos livre empreendedores
dos Estados Unidos. Em alguns povos a tica comunal mais aparente do que em outro
s. O povozuni pode perfeitamente ser o povo mais homogneo da face da terra. Algum
as comunidades dePueblo esto sendo envolvidas pela civilizao americana transformand
o-se em uma espcie de grande jardim zoolgico humano para turistas; enquanto que ou
tras entraram em um processo de desintegrao total. Mesmo onde a vida econmica da co
munidade foi em grande parte americanizada, ainda a comunidade com seus conselho
s e comits que se autogoverna, embora plena de conflitos entre o velho e o novo.
O mesmo ocorre com a vida religiosa das comunidades dePueblo que no so controladas
por castas de padres ou pastores, onde a vida religiosa permanece nas mos de gru
pos sancionados pelas tradies, ou pelo menos pertencentes prpria comunidade.
bem provvel que foram fraternidades religiosas como das comunidades dePueblo que fize
ram a transio para o monasticismo que encontramos na maioria das cidades e civiliz
aes fundadas no sistema de nao-estado. A ordem monstica por definio uma sociedade rel
iosa comunista, normalmente autoritria. Sabemos que houveram tais sociedades na c
ivilizao egpcia; houveram milhares do que chamaramos de monges em grandes centros co
mo Helipolis, nas civilizaes asteca, maia, e peruviana do Novo Mundo, assim como na
Mesopotmia pelo menos depois dossumrios, e naturalmente, na ndia. A nica grande civ
ilizao onde o monastismo parece no ter surgido foi a chinesa antes do budismo. A vi
da entre os servos nos templos na Palestina pr-exlica provavelmente foi organizada
com base em princpios monsticos.
A coisa notvel que ns no sabemos quase nada destas comunidades. At mesmo o Egito c
enorme quantidade de registros sobreviventes nos proporciona uma pequena eviden
cia direta. Nossa evidncia vem de Herodotus e de historiadores gregos e romanos.
No sabemos quase nada sobre osdrudas. H uma disputa sobre se de fato existiram enqu
anto irmandade religiosa organizada. A vida e os ensinamentos do monasticismo pr
imitivo provem de ocultistas, pelo menos em sua maior parte. Provavelmente foi p
ropositadamente dificultado o acesso da comunidade a tais documentos. Seu modo d
e vida e seus ensinamentos eram mantidos em segredo, fora do acesso da populao em
geral, funcionando como um tipo de civilizao hidrulica, usando o termo de Wittvogel,
como parte integrante do aparato Estatal.
Na Grcia e no Israel ps-exlico tais comunidades eram to ocultistas quanto alienadas,
o menos em relao aos propsitos de suas classes dominantes. A primitiva irmandadepit
agoreana ultimamente vem sendo amortalhada na condio de lenda helensticaneo-pitagor
eana eneo-platonstica. Contudo, aparentemente existem poucos fatos determinantes.
Os primitivos seguidores de Pitgoras parecem ter sido uma comunidade monstica no-c
elibatria dedicada ao estudo primitivo da cincia, especialmente o misticismo matemt
ico, sem nenhuma ligao com crenas, mitos e cultos da religio ordinria grega, estrutur
ada em castas. Na verdade, tratava-se de uma teoria comunalstica da sociedade que
sobreviveu de uma forma altamente modificada naRepblica de Plato. No princpio, apa
rentemente, eles no tomaram parte na vida poltica usual das comunidades onde vivia
m naMagna Graeca, na sola da bota italiana. O famoso fragmento atribudo a Pitgoras
, infelizes, absolutamente infelizes, com suas mos cheias de feijes!, provavelmente
no se refere dieta, mas poltica democrtica o cidado grego votavasim ouno utilizando
unhados de feijes brancos e pretos. Com o passar do tempo a irmandade pitagoreana
tornou-se poltica passando a controlar vrias cidades, mais notavelmente Cortona e
Metapontum. Eventualmente as pessoas se revoltavam contra eles e eram massacrad
os. O quanto disso tudo histria ou lenda, impossvel dizer; mas quase impossvel que
em poucos anos e em to poucas comunidades, uma poltica to vaga como aRepblica de Pla
to, por mais simples que tenha sido, tenha sido colocada em prtica.
2. Essnios, Therapeutae, Qumran
At recentes anos nosso conhecimento de grupos comunistas religiosos no perodo clssico
ra bastante limitado. No sabemos quase nada sobre a vida dos monges dos templos e
gpcios embora seja certo que o poder dos sacerdcios organizados era to grande como
o dos faras, notavelmente no sacerdcio de Amon na 18a. Dinastia do sculo XVI A.C.,
que dominou o trono, chegando a superar os faras em poderio. O famoso rei herege, I
hknaton, foi mais um rebelde contra o sacerdcio de Amon do que um monoteista. Nad
a se sabe sobre as vidas das vrias irmandades religiosas gregas, romanas oupersas
. A maior parte das informaes que temos sobre os essnios, o culto religioso comunis
ta, e o movimento monstico entre os judeus; mas tais informaes vo pouco alm de breves
descries por parte de Philo, Josephus, e Plnio. Com a descoberta dos manuscritos d
o Mar Morto, e das comunidades do Qumran nas colinas do deserto na regio do Mar M
orto, certamente os mesmos essnios descritos por Philo, ns podemos formar um quadr
o bem claro da vida de uma seita religiosa comunista ao redor do comeo da era cri
st. Do ponto de vista antropolgico a caracterstica mais marcante na vida dessas com
unidades que ela foi um retorno altamente ritualizado vida comunitria das aldeias
primitivas, uma revolta consciente contra a vida na cidade, mesmo em cidade peq
uena. Outra caracterstica foi sua estrutura de templo sacerdotal e de realeza mil
itarista.
Os breves materiais providos por Plnio, Josephus, e Philo, com algum eco mas com pouc
a referncia aos pais da Igreja, deram base a uma imensa estrutura de especulao, par
ticularmente no sculo XIX, por parte de escritores influenciados por grandes crtic
os da Bblia e pelo Protestantismo Liberal. Supunha-se que os essnios tinham sido b
udistas,magi, pitagoreanos, ou membros de um secreto, eremtico, culto egpcio. Foi
levantada a hiptese de que Jesus era um essnio; e at mesmo Joo Batista. Considerando
que esses trs autores clssicos eram comumente estudados pelos telogos e leigos rel
igiosos da Renascena, o quadro que eles pintam sobre o estilo de vida dos essnios
provavelmente exerceu uma considervel influencia no modo de vida das seitas mais
letradas, as seitas mais estritamente pietistas. No sculo XIX, as especulaes mais e
quilibradas sobre as relaes entre os essnios, Joo, Jesus, e os cristos primitivos par
tiram de Ernest Renan. Suas idias exerceram grande influncia na descrio do cristiani
smo primitivo defendida pela maioria dos socialistas radicais depois da publicao d
e sua obraVida de Jesus.
Em 1947 sete rolos de papel de couro foram achados por pastores bedunos nas proximida
des da rea descrita por Plnio. No curso dos prximos dez anos, doze cavernas ao redo
r das runas de uma base do Wadi Qumran produziram rolos e fragmentos em abundncia
mais de quinhentos manuscritos a prpria base foi cuidadosamente escavada. A comun
idade essncia foi afastada do reino da especulao e da fantasia. As descobertas incl
uram grandes partes e fragmentos de quase todos os livros do Velho Testamento, apc
rifos, escritos pseudoepigraficos, comentrios, hinos, textos apocalpticos e proftic
os peculiares seita, e um extenso e detalhadoManual de Disciplina ou preceitos m
onsticos. Em termos gerais foi confirmada a participao de trs autores clssicos na pro
duo dos manuscritos. Com duas importantes excees, h variaes apenas nos detalhes. A prim
eira coisa a ser notada foi a grande quantidade de esqueletos de mulheres no cem
itrio do Qumran. O que levanta duas hipteses, ou a seita no era celibatria, ou fora
dividida em uma ordem celibatria e um ajuntamento de de leigos casados como os fr
anciscanos. Entre os documentos da comunidade os arquelogos descobriram um grande
nmero de jarros cuidadosamente enterrados com ossos de ovelhas, cabras, gado, em
seu interior, com cada animal enterrado individualmente. Existem poucas dvidas d
e que se trata de restos de banquetes sacrificatrios da comunidade, de forma que
a declarao de Josephus foi compreendida como significando que os essnios rejeitaram
o culto sacrificatrio do templo em Jerusalm e proveram um local prprio para fazer
isso (comoosfalasha da Etipia fazem hoje). Isto importante porque significa que a
comunidade essnia no se considerava apenas uma seita judia mais rgida, mas uma nov
a Jerusalm que substituiria a antiga.
Os rolos manuscritos e as escavaes ampliam o quadro da comunidade fornecido pelos auto
res clssicos de uma forma bem especfica, no geral e nas discordncias menores. A com
unidade era organizada de acordo com uma ordem bastante rgida. Ao topo estava o d
enominadoProfessor de Retido, seguido pelospastores e levitas, e abaixo deles em
graduaes e postos, cada qual ocupava seu lugar em uma elaborada estrutura hierrquic
a. Apesar desta estrutura a comunidade compunha uma completa democracia. Em assu
ntos teolgicos a autoridade dospastores parece ter sido absoluta, mas o conselho
administrativo consistia em doze leigos e trspastores, padronizado no governo de
Israel no deserto, as decises deste conselho estavam sujeito reunio de toda comuni
dade na qual cada homem tinha um voto. A teologia da comunidade era um tipo de a
pocalipticismo, milenarismo, chialismo, uma rigorosa interpretao escatolgica da vid
a e da histria.
A profecia apocalptica tem sido chamada de profecia deteriorada. Os livros profticos d
o Velho Testamento visam o cumprimento do propsito de Deus na histria e o desenvol
vimento normal deste mundo. Os escritos apocalpticos do Velho e do Novo Testament
o e suas respectivas edies apcrifas apontam para o fim da histria, para o governo de
ste mundo, para o cataclismo, para o advento de um reino sobremundano de Deus alm
da histria. O milenarismo a convico no advento deste reino com o cumprimento dos t
empos os mil anos mencionados em Apocalipse 20 durante os quais a santidade triu
nfar em todo o mundo, quando Cristo, o Messias ungido, reinar na terra com seus sa
ntos. Ochialismo a convico em um reino teocrtico, a crena de que a presente comunida
de de crentes deve modelar-se ao futuro reino. Do ponto de vista escatolgico toda
s as moralidades e ticas, toda escala de valores, pessoais ou histricas, so orienta
das para, e organizadas para, a expectativa do cataclismo final, o julgamento do
mundo, o advento trans-histrico do reino.
Diante de uma expectativa imediata do apocalipse, as grandes posses, estados, poder,
ficam sem sentido quando ochiliasta, a comunidade milenria, pratica um rgido comp
artilhamento de bens e de pobreza voluntria. O trabalho reduzido a suas condies mai
s simples o labor agrcola da aldeia da primitiva comunidade, seus necessrios ofcios
auxiliares, todas essas coisas acabam facilitadas pela tecnologia tomada da cla
sse dominante condenada da sociedade. Estas trs caractersticas da comunidade essnia
no Qumran certamente no tinham nada de original. Muitos aspectos dessa teologia,
a eminncia da guerra dos Filhos das Trevas contra os Filhos da Luz, por exemplo,
so encontrados na religio persa. Pelo que podemos concluir, cada vez mais nos tor
namos convictos de que o Qumran representou na realidade no apenas a maior descob
erta, mas a descoberta mais importante. A existncia de comunidades similares ao l
ongo do Oriente Prximo durante o curso da primitiva era crist ainda largamente esp
eculativa. Contudo, qualquer que sejam seus antecedentes, estas notveis caracterst
icas dos essnios permaneceriam dali em diante marcantes na quase totalidade das s
eitas comunalistas. Estas prticas essnias foram, de uma forma secularizada, perpet
uadas nos movimentos revolucionrios do sculo XIX, utpicos, comunistas, anarquistas,
e socialistas.
Philo de Alexandria, o (mais ou menos) filsofo judeu neoplatnico em seus escritos nas
primeiras dcadas da era crist, menciona os essnios em seu livroQuod Omnis Probis Li
ber Sit e emsua. Apologia pr Judaeis. Suas obras posteriores se perderam mas a pa
ssagem relativa aosessnios citada por Eusebius de Caesarea. Philo relata:
Os essnios so totalmente dedicados adorao de Deus. Eles no oferecem sacrifcio animal.
Eles fogem das cidades e moram em aldeias. A maior parte deles trabalha nos cam
pos. Outros praticam ofcios leves. Eles no acumulam dinheiro, nem compram e nem al
ugam terras. Eles vivem sem bens ou propriedade. Eles nunca fabricam armas ou qu
alquer objeto que possa ser usado para um mau propsito. Eles no se ocupam de nenhu
m comrcio. Eles no tem nenhum escravo e condenam a escravido. Eles evitam a metafsic
a, a lgica, e todas as filosofias, exceto a tica que estudam nas leis divinas dada
s aos seus ancestrais judeus. Eles guardam o stimo dia como santo sem fazer qualq
uer trabalho dedicando esse dia a assemblias religiosas postados cada um estritam
ente de acordo com sua posio, e ouvindo a exposio de seus livros sagrados de acordo
como o antigo sistema simblico. Eles estudam devoo, santidade, justia, a sagrada lei
, e os preceitos de sua ordem, tudo conduzindo ao amor a Deus, virtude, e aos ho
mens, para e s s finalidade suas vidas esto completamente devotadas. Eles recusam
prestar juramentos e nunca mentem. Eles acreditam que Deus a causa nica do bem, n
unca do mal. Eles tratam todos os homens com a mesma bondade e vivem juntos de u
m modo comunal. Nenhum homem dono da casa onde mora. Suas casas esto sempre abert
as aos membros visitantes. Eles mantm um fundo e uma proviso. Eles comem juntos em
uma refeio comum e guardam suas roupas em um depsito comum. Eles cuidam do doente,
do jovem, e do idoso.
Na mesma linha deQuod Omnis Probis Liber Sit. EmApologia pr Judaeis Philo acrescenta:
Eles vivem em vrias cidades na Judia e tambm nas aldeias em grandes bandos. No h nen
huma criana entre eles. [Isto est em contradio com outra declarao dele]. A variedade d
e suas ocupaes os torna auto-suficientes. Aqueles que recebem salrios no mundo deposi
tam seu dinheiro em um fundo comum. Eles no se casam.
Philo termina esse tema com quatro pargrafos dediatribe contra as mulheres, casamento
, e crianas, que normalmente assume-se como refletindo sua prpria atitude, no a dos
essnios. Alguns pargrafos de sua narrativa aparentemente descrevem a vida nas com
unidades da ordem; outros pargrafos fazem referncia a elas, como ocorre com os fra
nciscanos tercirios que vivem no mundo.
EmDe Vita Contemplativa, que duvidosamente atribuda a Philo, ocorre uma descrio de
comunidade egpcia semelhante dos essnios a comunidade de Therapeutae. Eles viveram
na Alexandria, cada membro em uma cabana separada, com uma minscula capela para
orao, algo como o arranjo de umcartusiano medieval, se encontravam ao amanhecer e
ao pr-do-sol para orao na comunidade, e uma vez por dia para uma refeio comum. Os mem
bros mais ascticos comiam apenas a cada dois dias, e alguns apenas uma vez por se
mana. No Sabbath, eles se encontravam para um servio religioso mais extenso que i
nclua um sermo. Nos principais feriados judeus, especialmente Pentecostes, eles co
meavam no pr-do-sol, na vspera da Semana Santa com uma asctica mas cerimoniosa festa
, um sermo, oraes, declamao de antfonas de salmos e cnticos de hinos (com os homens sep
arados das mulheres), e um coral danante imitando Moiss e Mrian no Mar Vermelho. No
amanhecer eles pedem para que a Luz da Verdade ilumine suas mentes, em seguida
retornam aos seus solitrios recantos ao estudo e contemplao.
Esta a nica passagem original de Therapeutae, e por causa de sua semelhana com o pri
tivo monasticismo no deserto egpcio, atraiu grande ateno dos primeiros escritores c
ristos, muitos dos quais acreditavam que Philo e Therapeutae fossem cristos da era
apostlica. No sculo XIX freqentemente eram comparados com os essnios, mas eles pare
cem ter sido mais ascticos, citadinos, e ter praticado uma mnima parcela de vida c
omunitria. Se aceitarmos as descries deDe Vita Contemplativa como genunas essas comu
nidades mencionadas seriam seitas monsticas comunais judaicas influenciadas pela
religio egpcia e pelas prticas das comunidades de pastores e sacerdotisas nos grand
es templos, especialmente no templo de Helipolis, uma vez que os essnios foram ind
ubitavelmente influenciados pela religio persa. Philo no diz como eles ganhavam a
vida. Isso implica em que se eles compartilhavam os bens em comum, esses bens er
am bem poucos, e viviam de esmolas. A luz e o sol jogam um intenso papel nessa b
reve narrativa. Por exemplo, eles cuidam das necessidades naturais apenas sob a s
ombra para no ofender o sol. Esta nfase conecta-os com possveis rituais tabus do tem
plo Heliopolitano, e com as luzes metafsicas de Philo, este conceito filosfico persa
assombraria as seitas comunalsticas mais msticas de nossos tempos. Pela Luz, Ilumi
ne, nas palavras do prprio Philo.
O historiador judeu Flavius Josephus escreveuAs Guerras Judaicas entre 70 e 75 A.D.
Onde diz:
Os essnios so celibatrios mas adotam crianas e as conduzem para a ordem. Eles do to
as propriedades ordem e vivem uma vida comum sem pobreza ou riqueza. Eles consid
eram o leo como uma corrupo e no ungem seus corpos. Eles sempre usam roupas brancas.
Seus tesoureiros e outros oficiais so eleitos por toda comunidade. Eles no compra
m nem vendem entre si. Cada homem d a quem precisa e recebe em troca tudo aquilo
que necessita. [De cada um de acordo com sua capacidade, a cada um de acordo com
sua necessidade]. Eles se levantam, oram pelo amanhecer, trabalham at aproximada
mente 11 da manh, tomam banho em gua fria, vestem sua tnica, e participam em seu al
moo comunal de po e um prato de comida. Antes e aps a refeio um pastor abenoa o alimen
to e diz uma prece. Depois todos do graas a Deus, guardam-as vestes que usaram par
a a refeio, por se tratar de artigos sagrados de vesturio, [enfatiza Josephus] e tr
abalham at o pr-do-sol, e jantam da mesma maneira como fizeram no almoo. A maior pa
rte de suas aes regulamentada pelos seus administradores mas quando se trata de aj
udar e auxiliar outros permitido a iniciativa individual. Eles no prestam juramen
tos. Eles estudam seus livros antigos, ervas e minerais que curam doenas. Um post
ulante ordem espera por mais de um ano para ser experimentado e testado. Se for
aceito ele recebe um hatchet, uma tnica, e um roupo branco [como na fraternidade p
itagoreana]. Durante dois anos ele participa de um noviciato, podendo tomar part
e nos ritos de purificao. Se ele passa este perodo de teste ele admitido na ordem,
podendo participar das refeies comuns, aps jurar lealdade por toda vida em uma sole
nidade de juramento. Quando culpado por faltas mais srias expulso e, se insiste e
m seu juramento, morre por falta de alimento. A justia exercida pela assemblia de
toda a comunidade, no menos do que cem participantes. Eles no apenas no fazem qualq
uer trabalho no Sabbath; como tambm no acendem fogo, no movimentam qualquer objeto,
nem vo ao banheiro. Usam suas machadinhas para cavar uma latrina e transportam s
uas fezes cobertas com seus roupes. Durante a guerra romana eles foram brutalment
e torturados, mas agentaram impassveis suas dores, recusando-se blasfemar ou comer
alimento proibido. Eles acreditam na imortalidade da alma, que os bons vo para o
cu e os maus para o inferno. Alguns deles, estudando seus livros sagrados, torna
ram-se especialistas em predizer o futuro.
Na forma de um adendo Josephus menciona que existem outras ordens de essnios casados.
EmAntigidades Judias ele observa que eles enviam ofertas ao templo em Jerusalm ma
s no tomam parte nos sacrifcios que l so feitos. No entram nos recintos do templo mas
oferecem sacrifcios entre si. Ele estima que h mais de quatro mil essnios vivendo
a vida em comum.
O dcimo stimo captulo do quinto volume deA Histria Natural de Plnio, o Ancio na tr
ilemon Holland feita em 1601 diz:
Along the west coast [ofthe Dead Sea] inhabite the Esseni. A nation ofall others thr
oughout the world most admirable and wonderful. Women they see none: carnall lus
t they know not: they handle no money: they lead their life by themselves, and k
eepe companie onely with date trees. Yet neverthelesse, the countrey is evermore
well peopled, for that daily numbers ofstraungers resort thither in great frequ
encie from otherparts: andnamely, such as be wearie of this miserable life, are
by the surging waves offrowning fortune driven hither, to sort with them in thei
r manner of living. Thusfor many thousand yeers (a thing incredible, and y et mo
st true) a people hath continued without any supply of newbreed and generation.
S mightily encrease they evermore, by the estale and repentance ofother men. Bene
ath them, stood sometime Engadda, for fertilitie of soile andplentie ofdatetree
groves, accounted the next citie in ali ludaea, to lerusalem. Now, they say, it
servethfor aplace onely to interre their dead. Beyond it, there is a castle orfo
rtresse situate upon a rocke, and the same not farrefrom the lake ofSodome Aspha
tites. And thus much as touching ludaea.
Prximo s cavernas onde foram descobertos os rolos de manuscritos do Mar Morto haviam e
xtensos escombros, o Khirbet Qumran, que embora visitados por arquelogos nunca ha
viam sido explorados. Em 1951 comearam escavaes e logo ficou bvio que eles estavam d
escobrindo os edifcios da comunidade da seita que tinha escondido os rolos de man
uscritos. No havia nenhum dormitrio. Os membros devem ter morado em barracas, caba
nas e cavernas prximas. Havia silos, armazns, padaria, fbrica, cozinha, lavanderia,
sala de reunies, potes de cermica, um elaborado sistema hidrulico, um aqueduto vin
do das proximidades do Wadi Qumran, e cisternas que abasteciam tanques e piscina
s de banho. A gua era o fator mais importante na vida da comunidade naquela terra
desrtica. Havia um escritrio onde seus livros sagrados eram compilados, um espao p
ara assemblia e um refeitrio para refeio comum. Em 1956, duas milhas ao sul das esca
vaes de Khirbet Qumran, comearam novas escavaes em Ain Feshkhah, onde foi descoberto
um centro agrcola onde aqueles que trabalhavam nos campos, nos arvoredos de palma
, cuidando dos rebanhos, viviam e trabalhavam. Hoje podemos traar um quadro mais
claro da vida, crenas e prticas de culto das comunidades Qumran mais do que qualqu
er outra daquele distante passado.
significante que os essnios tenham escolhido o local de uma aldeia fortificada da pri
mitiva Idade do Broze para iniciar uma obra de irrigao arcaica. Eles estavam volta
ndo vida de aldeia que precedera aos helenistas e at mesmo cultura hebraica. Uma
volta s origens. O fim daquelas pessoas era dramaticamente bvio. Todos edifcios for
am marcados pelo fogo e demolidos a ferro pela Dcima Legio Romana que em 76-78 A.D
. marchava pelo deserto exterminando sectrios judeus, pacifistas, essnios, e os gu
erreiros zelotes. Inmeras vezes os documentos do Qumran se referem aoMestre de Re
tido, sua perseguio, e sua longa luta contra o Mau Pastor. Provavelmente existe mai
s referencias a estas duas figuras nos rolos de manuscritos do que a qualquer ou
tra coisa. Teria sido este tal Mau Pastor o antigo fundador da seita? Ser que Mes
tre de Retido representava uma liderana da comunidade e o Mau Pastor simbolizava a
hierarquia do templo de Jerusalm oestablishmentl Seriam figuras cosmognicas e apo
calpticas cuja guerra travada no cu? Provavelmente todas as trs hipteses so verdadeir
as, dependendo do texto em particular. Deveramos nos lembrar que no apenas a vida
de Cristo tratada deste modo, como tambm h uma tendncia geral por parte do religios
o judeu de pensar e projetar a histria sobre a tela dos cus. Uma coisa que oProfes
sor de Retido no : o Messias; e a longa discusso sobre se ele se antecipa a Cristo o
u o prprio Jesus Cristo inconcebvel.
A elaborada estrutura hierrquica da comunidade do Qumran no tipifica uma iniciao rel
sa ou regulamentos de grupo. militar. O termo comum para normas locais e regulamen
tos da comunidade usualmente traduzido como normas de campo. O Khirbet Qumran com
suas barracas e cabanas em torno dos edifcios construdos sobre um velho forte no er
a apenas um acampamento militar; tratava-se de um quartel general de um exrcito d
e salvao engajado em uma guerra santa, uma guerra dos Filhos da Luz contra os Filh
os das Trevas. Uma guerra em que cada homem exercia uma funo no um cargo de comando
No momento do conflito final, cada um saberia o que fazer. Essa ordenao militar foi
concebida como integrante e paralela s ordenaes das hostes celestes. por isso que
os nomes secretos dos anjos fazem parte da iniciao do noviciado. A batalha estava
adentrando na eternidade, a comunidade estava aguardando o momento certo para en
volver o inimigo. A histria chegaria a um termo com o triunfo da guerra santa e o
estabelecimento de um reino messinico.
O carter sacramentai da refeio comunal como um sinal fsico externo de uma realidade
ritual interna, bvia, mas difere radicalmente da Eucaristia Crist, pelo menos da f
orma em que aparece pela primeira vez no final do sculo I D.C.. Trata-se de uma a
ntecipao do banquete messinico que celebra a vitria na guerra santa e a inaugurao de u
m novo reino. A refeio comea com a bno do po e do vinho ministrada por um pastor e por
um administrador secular que, segundo os textos litrgicos, assume a figura do Pas
tor Messias, o descendente de Aro, e o Rei Messias, o descendente de Davi. Os Fil
hos da Luz, o exrcito vitorioso de Deus, esto sentados mesa, cada um em seu local.
Esse cerimonial, duas vezes por dia [durante as refeies], permite a cada membro d
a comunidade viver oescaton, o fim dos tempos.
O acampamento militar do Qumran no era apenas o acampamento do Exrcito do Futuro, era
o acampamento do Exrcito do Passado, de Israel no Deserto, e da conquista de Cana.
Aqui vemos novamente uma dupla estrutura hierrquica associando Israel com o comeo
da histria, o tempo da Conveno e da Lei. O conselho administrativo modelado exatam
ente como no xodo, com seus reis das doze tribos, e seus trs supremos sacerdotes. A
histria se repete, mas em um plano transcendente.
Muitas das discusses em cima dos documentos do Qumran so geradas a partir do critrio
ilizado para traduzir termos chaves. Algumas pessoas traduzem a palavraesah como
comunidade. Outros traduzemdupont-sommer como partido. O que lhes permite falar em
termos dePartido da Comunidade e deConselhos de Partidos, configurando uma bvia d
istoro. como pegar a palavrasoviete que significa conselho e associa-la verso bolch
evique daInternacional. A raa humana tomando a forma de umainternacional soviete. U
ma construo maluca, ou certamente mau intencionada.
O apocalipse a profecia do desengano verdadeira, mas o que realmente ela significa
Significa que o apocalipticismo surge quando as condies histricas se tornam apocalpt
icas, quando as condies histricas chegam a um impasse, quando desaparecem todas as
opes, quando o ser humano no v outra coisa diante de si seno um abismo. O essnios do Q
umran no estavam equivocados. Embora a guerra santa no viesse, tanto o velho como
o novo Israel foram derrotados. Uma nova tradio se estabeleceu e juntamente com el
a um novo modo de vida. Como disse Renan, o cristianismo foi um essenismo que ma
is ou menos teve sucesso.
3. Igreja Primitiva, Monasticismo
Desde que o cristianismo se tornou igreja, enquanto estrutura de poder, os doutores
da Igreja vem depreciando ou negando a natureza comunal do cristianismo primitiv
o. Por outro lado, os radicais sociais muitas vezes adotaram a viso de que havia n
timas conexes, ou mesmo identidade, da igreja primitiva com os essnios. Um leitor
sem preconceitos, distante de toda essa controvrsia, lendo o Novo Testamento pela
primeira vez, certamente formaria a impresso de que o cristianismo primitivo foi
comunista e que sua vida comunal permaneceu firme ao longo do ministrio de Paulo,
e se aprofundasse sua pesquisa, concluiria que esse comunismo continuou ao longo
do tempo dos pais apostlicos. Estas narrativas de Atos so categricas.
Atos 2.44-47:
Todos os crentes se reuniam constantemente e repartiam tudo uns com os outros, v
endendo suas propriedades e dividindo com os que tinham necessidade. Regularment
e eles adoravam juntos no templo todos os dias, reuniam-se em grupos pequenos na
s casas para a Comunho, e participavam das suas refeies com grande alegria e gratido
, louvando a Deus. A cidade inteira tinha simpatia por eles, e cada dia o prprio
Senhor acrescentava igreja todos os que estavam sendo salvos .
Atos 4.32-37 e 5.1-10:
Todos os crentes eram um s na mente e no corao, e ningum pensava que aquilo que poss
ua era seu prprio; todo mundo estava repartindo o que tinha. Os apstolos pregavam s
ermes poderosos sobre a ressurreio do Senhor Jesus, e havia uma calorosa fraternida
de entre todos os crentes. No havia pobreza pois todos os que possuam terra, ou ca
sas, vendiam tudo e traziam o dinheiro para que os apstolos dessem aos outros em
necessidade. Por exemplo, um deles foi Jos (aquele que os apstolos apelidaram de Ba
rnab, o Pregador! Era da tribo de Levi, e natural da ilha de Chipre). Ele, pois, v
endeu um campo que possua e trouxe o dinheiro aos apstolos .
Porm, houve um homem chamado Ananias (com sua esposa Safira) que vendeu uma certa propr
iedade, e trouxe somente uma parte do dinheiro, afirmando que era o preo total (a
esposa dele tinha concordado com essa mentira). Mas Pedro disse: Ananias, Satans
encheu seu corao. Por que voc deixou ? Quando voc afirmou que este era o preo total,
estava mentindo ao Esprito Santo. A propriedade era sua para vender ou no, como qu
isesse. E depois de vend-la, estava com voc decidir quanto ia dar. Como pde inventa
r uma coisa destas? No estava mentido a ns, e sim a Deus. Logo que Ananias ouviu es
tas palavras, caiu morto no cho! Todo mundo ficou com medo. E os mais jovens cobr
iram o morto com um lenol, levaram para fora e sepultaram Ananias. Cerca de trs ho
ras depois entrou a esposa dele, sem saber o que tinha acontecido. Pedro pergunt
ou: Vocs venderam aquela terra por este preo assim, assim?. Sim, respondeu ela, vendemo
s. Ento Pedro disse: como que voc e seu marido puderam at mesmo pensar em fazer uma c
oisa destas conspirar juntos para pr aprova a capacidade do Esprito de Deus de sab
er o que est acontecendo? Bem ali, do lado de fora daquela porta, esto os rapazes
que sepultaram o seu marido, e levaro voc tambm. Imediatamente ela caiu morta no cho;
os jovens entraram, e ao ver que Safira tinha morrido, carregaram o corpo para
fora e sepultaram ao lado do marido .
Esta narrativa completamente determinante porque constitui um ponto crucial. Essa na
rrativa certamente no deixa nenhuma dvida de que a igreja apostlica foi de fato com
unalista. Tanto a Carta de Tiago como a Carta de Judas situam bem este contexto
e significante que ambos documentos so dirigidosaos irmos no Senhor. Ao longo das
vrias cartas paulinas h inmeras observaes que podem ser interpretadas como antagnicas
vida comunalista da chamada Igreja de Jerusalm. Supe-se que Tiago, irmo de Jesus, ten
ha sido bispo dessa Igreja, ou segundo documentos posteriores, bispo dos bispos. Q
uando comearam os ataques celebrao da Eucaristia como parte de uma refeio comum de to
da comunidade crist, a passagem chave foi I Corintios 11:20-22, na qual Paulo apa
renta, ou certamente sugere, rejeitar essa prtica.
Quando vocs se renem para comer, no a Ceia do Senhor que esto comendo. Mas sim a de
vocs mesmos. Disseram-me que cada um engole apressadamente toda a comida que pode
, sem esperar para repartir com os outros, de tal maneira que um no consegue obte
r o suficiente e sai com f orne, enquanto outro tem demais para beber e at fica bb
ado. Como ? Isso verdade realmente ? Vocs no podem comer e beber em casa, para evit
ar desmoralizao para a igreja e para no envergonhar aqueles que so pobres e no podem
levar nenhuma comida? Que esperam que eu diga a respeito dessas coisas ? Ora, cl
aro que no vou elogi-los .
Esses primeiros hereges preservadores da vida comunal, osebionitas e osnazarenos, no
apenas rejeitaram as epstolas paulinas, como tambm reivindicaram uma continuidade
das prticas de Tiago, da Igreja de Jerusalm, e da vida judia, cumprindo a Lei Velh
a como tambm a Nova, sendo freqentemente chamados de essnios-cristos. Ebionita signifi
ca homem pobre, e o termo nazareno pode ter sido empregado referindo-se a seitas sem
elhantes a dos essnios at mesmo antes do ministrio de Jesus.
Eusebius, Hippolitus, e Origen, que j haviam iniciado a eterializao e a escatologia d
Evangelhos, observaram um extremo milenarismo nosebionitas. Aparentemente eles
viveram em comunidades separadas e, como os essnios, tomavam freqentes banhos de p
urificao. As obrasSermes eReconhecimentos embora pseudo-clementinas, curiosamente e
xpem algumas de suas idias. Sculos depois os menonitas recorreriam aSermes eReconhec
imentos como primitivas autoridades crists que autenticavam a f que possuam. Ns lemo
s sobre os antigos fundadores das mais variadas seitas comunistas hereges mas no
sabemos quase nada a respeito delas. Contudo, aparentemente se destacam por prov
ocar divises na Igreja no apenas em cima de questes doutrinrias mas tambm pela rejeio a
o seu mundanismo, e pelo reavivamento do comunalismo da Igreja apostlica. Antes d
o surgimento da Igreja Estatal de Constantino e da definio de seus dogmas por concl
ios ecumnicos convocados pelo imperador, essas seitas comunistas hereges atravess
aram os sculos. Uma coisa notvel nosebionitas que eles sobreviveram enquanto comun
idade nas terras marginais do Oriente Prximo at serem absorvidos ou aniquilados pe
lo Isl no sculo VIL
O comunismo na Igreja Ortodoxa se situou bem distante do homem laico, tornando-se pr
ivilgio de monges, um comunismo monstico, celibatrio e autoritrio. As comunidades mo
nsticas crists surgiram pela primeira vez nos desertos do Egito, e depois na Sria,
Palestina, e Sinai locais bem semelhantes ao das comunidadesessnias do Qumran e d
otherapeutae egpcio descritas por Philo. Em termostoynbee tais comunidades monstic
as podem ser descritas como evidentes sucessores dos essnios.
Os primitivos monges ficaram conhecidos entre ns como ermites que no viviam em comuni
des organizadas mas, conforme consta, em bandos frouxamente associados na beira
do deserto perto do Nilo e no Baixo Egito. Curiosamente eles no parecem ter sido
sempre celibatrios. Muitos deles, como asoror mystica, por exemplo, viviam em com
panhia feminina. O que isso significa, ns no temos condies de saber, mas essa prtica
sobreviveu na vida eremtica, reaparecendo na antiga Igreja Irlandesa.
Consta que foi So Pachomius quem estabeleceu os primeiros monastrios organizados no Al
to Egito. Embora os primitivos bandos de ermites provavelmente tivessem alguma co
isa parecida com uma comunidade, aparentemente eles no viviam juntos, muito menos
compartilhavam refeies, trabalho, ou uma base de acordo comum. Todos estes fatore
s foram introduzidos na vida monstica por Pachomius e suas fundaes, que eventualmen
te alcanou o nmero de sete mil pessoas enquanto ele viveu. Todas as futuras ordens
monsticas ortodoxas surgiram a partir de Pachomius.
Um aspecto significante sobre So Pachomius foi ter sido um oficial no exrcito de Const
antino. O monasticismo organizado surge como um reflexo da Igreja Estatal. Mesmo
sob o imperador mais tolerante as comunidades crists tinham interesses diametral
mente opostos sociedade dominante. Os cristos ainda aguardavam a Segunda Vinda. E
mbora, com o passar dos anos, ochiliasmo extremista se extinguisse diante do ort
odoxismo, e o apocalipcismo passasse do imediato para o futuro remoto, a Igreja
ainda era a comunidade dos remanescentes que seria salva, em todos seus valores
antagonstica quela sociedade secular. A vida apostlica era celebrada pela ligao de to
dos os seus membros, todavia, o comunismo primitivo acabou relegado condio de simp
les ajuntamento de pessoas foradas a viverno mundo. A contnua insistncia dos Evange
lhos prtica da caridade conduziu, em uma medida considervel, ao comunismo de consum
o. O monasticismo pr-constantiniano foi simplesmente uma forma mais extremada de v
ida do que o cristianismo ordinrio. O fato de no serem governados por qualquer dis
ciplina comunal tendeu a empurrar aqueles ascetas a prticas cada vez mais extrema
das.
O advento de Constantino mudou no apenas a prpria natureza da Igreja, alterou completa
mente todo conceito de reino. A Igreja deixou de ser umremanescente, passando a
se auto-conceber enquanto apndice da prpria sociedade. Seus bispos tornaram-se par
te da estrutura estatal. Suas disputas teolgicas passaram a ser resolvidas por co
nselhos de estado formados por funcionrios nomeados pelo imperador. Suas congregaes
se tornaram parquias fixas em determinado local, com seus bispos administrando u
m determinado territrio. A organizao apostlica e paulina de intervisitao, correspondnci
a, e missionrios viajantes, cessara por completo. A partir dali, em todos os futu
ros regulamentos monsticos haveriam pargrafos condenando mongesQ pregadores vagant
es. O contraste to grande que fcil ver porque os futuros hereges e seitas protesta
ntes passaram a encarar a Igreja estabelecida como uma organizao que visava suprim
ir o cristianismo, e cuja cabea imperador ou papa era o prprio Anticristo.
A vida apostlica, segundo a Igreja estabelecida, era um concilio de perfeio exclusivo
ara aqueles que possuam uma vocao especial os monges e as freiras. Futuramente, o t
ermo religioso seria aplicado apenas a eles, em distino aos laicos. O dinamismo da v
ida apostlica era to grande que se lhe fosse permitido correr solto na sociedade,
ele logo derrubaria a Igreja estabelecida, o imprio, ou qualquer instituio poltica m
undana, sendo necessrio, portanto, o mais rpido possvel, isolar esse dinamismo. O m
onasticismo era um mtodo de aprisionar a vida crist. Foi por isso que a Igreja sem
pre insistiu com o monasticismo celibatrio. Houveram apenas algumas pouqussimas or
dens religiosas que juntaram monges, freiras, e pessoas casadas em uma comunidad
e, e quando isso acontecia era em oposio s associaes herticas. O monasticismo secular,
uma comunidade de famlias compartilhando todas as coisas em comum, vivendo uma v
ida modelada na dos apstolos, torna-se uma contracultura, o remanescente que espe
ra a vinda do reino messinico. O passar do tempo e o imperador postergam a Segund
a Vinda para um futuro remoto a Igreja estabelecida o reino.
Estas idias so usualmente atribudas a Santo Agostinho, mas tais idias funcionam apen
o contexto dos sistemticos detalhes de suaCidade de Deus, que se ajustava ao cola
pso do imprio no Oeste. significante o detalhe de que Santo Ambrsio, o mestre de A
gostinho, ainda acreditasse, ou acreditasse mais ou menos, no comunismo da vida
apostlica, enquanto que Agostinho no apenas pregava contra esse comunismo, como ta
mbm constantemente denunciava a refeio comunitria. Os dois ritos mais importantes do
culto cristo deixaram de ser funes comunais para serem reorganizados e redireciona
dos em apoio religio Estatal. A Eucaristia tornou-se um sacramento executado pelo
padre onde o laico participava apenas como espectador. O significado importante
na insistncia no batismo infantil era que amarrava a famlia secular parquia, facil
itando a administrao territorial futuramente tanto os anabatistas por um lado, com
o Lutero e os catlicos por outro, insistiram nesse ponto, cada um deles com difer
entes finalidades.
Nas reas distantes do controle da Igreja e do Imprio como a Irlanda e, em menor grau,
a Inglaterra, ou em paragens remotas e herticas como aIgreja Nestoriana, que troc
ou o Imprio Romano pelo Imprio Persa, o monasticismo foi mais eremtico e mais socia
lmente efetivo. No que diz respeito essa Igreja e sociedade secular a sua volta,
crist ou paga uma medida aparente de quarentena foi estabelecida por So Pachomius
, So Basil, e So Benedito.
A efetividade social do monasticismo organizado ocorreu em virtude da insistncia dos
fundadores no trabalho, uma insistncia que aumentou de Pachomius para Basil, e de
le para Benedito. Os primitivos monges do deserto seriam parasticos comparados co
m uma comunidade crist ordinria. Considerando onde viviam, no haveria outra maneira
pela qual pudessem sustentar a si mesmos. Eles devotavam a si mesmos orao, meditao,
jejum e outras austeridades. No que diz respeito s fundaes de So Pachomius, elas er
am governadas por um regulamento bem elaborado. Os membros moravam separadamente
em dormitrios em vez de cavernas e cabanas e tinham suas refeies e oraes em comum. O
abade dacasa das madres era hierarquicamente superior aos demais conventos de h
omens ou de mulheres, escolhendo seus dirigentes, visitando-os periodicamente, e
presidindo um encontro geral que ocorria a cada ano nacasa das madres. Um siste
ma to firmemente organizado como esse no surgiria novamente at as reformas benediti
nas no princpio da Idade Mdia. O tempo que no era dedicado orao era dedicado ao traba
lho. Cada monastrio tinha suas prprias glebas cultivadas, seminrios de ofcios e era
largamente auto-suficiente. Em outras palavras, eles alcanaram uma grande medida
de comunismo de produo. O monasticismo de Pachomian floresceu at a conquista muulmana
do Egito, entrando em longo declnio; com exceo da Etipia, est quase extinto.
O avano de So Basil, de estudante para padre, de padre para bispo e fundador monstico
atribudo sua fora como polemista contra a heresiaariana que estava ameaando a integ
ridade da Igreja e do Imprio. A vida monstica na Grcia e na sia Maior tinha sido lar
gamente eremtica e no sujeita a qualquer disciplina tanto no modo de vida quanto n
a teologia. So Basil adaptou as regras dos monges Pachomianos s condies do patriarca
do de Constantinopla, o que permanece at hoje naortodoxia oriental. Originalmente
estas regras enfatizavam grandemente o trabalho e a obedincia rgida doutrina orto
doxa. Com o tempo o monasticismo no Oriente ficou mais economicamente parasitrio.
Os monges viviam em terras que no cultivavam, cediam algumas reas aos camponeses
e contratavam trabalhadores, enquanto se dedicavam orao e contemplao. Talvez devido
a esta atmosfera de estufa, as heresias, cismas, e movimentos entusisticos que su
rgiram da ortodoxia, se originaram nos monastrios. Eventualmente surgiriam cidade
s monsticas como Monte Athos, no completamente autnomas, parasticas, isoladas da soc
iedade secular.
O monasticismo no imprio Ocidental surgiu por iniciativa de Benedito de Nursia. Embor
a todo o propsito e significado da vida monstica concebida por ele estivesse centr
ado na orao, contemplao, no trabalho de Deus, nas oito horas do Divino Ofcio quando a
unidade solenemente recitava salmos, cantava hinos, e orava juntos na capela, na
realidade, havia uma nfase muito maior no trabalho no campo, nas lojas, na compi
lao de manuscritos, do que no monasticismo Oriental. A razo para isso simples. O qu
e tinha sido o Imprio Romano no Ocidente estava em runas. As cidades estavam sendo
abandonadas, as terras no estavam sendo cultivadas, a populao declinava de uma for
ma inacreditvel, talvez quinta parte do que tinha sido sob Marcus Aurelius, e os
afazeres da civilizao, notadamente a literatura e as artes, cessaram de ser produz
idas pela sociedade secular. O monasticismo irlands era uma exceo especial, contrar
io de qualquer outro, provavelmente com fontes pr-crists.
Os beneditinos derrubaram florestas, drenaram terras pantanosas, reorganizaram cultu
ras camponesas, esculpiram e pintaram esttuas e quadros religiosos, copiaram manu
scritos, principalmente religiosos, mas tambm alguns da cultura clssica romana. Mu
itos lderes monsticos no Ocidente estavam bastante conscientes de seu papel como p
reservadores da civilizao. Cassiodorus fundou um monastrio dedicado a preservar a h
erana literria da civilizao latina. No caso dos beneditinos a quarentena do monasticis
mo organizado teve um efeito inverso. A sociedade secular fora demolida pelo cao
s. A civilizao sobreviveu dentro dos monastrios em um verdadeiroestado de preservao,
protegida porsanes sobrenaturais, dentro do estado secular selvagem.
Cada monastrio beneditino era por si mesmo uma entidade. No havia nenhuma administra
ntral. O beneditinismo primitivo no era uma ordem religiosa no sentido lato da pa
lavra. Por uma razo muito simples. A centralizao requer facilidade de comunicao, e a
comunicao estava interrompida. O regulamento beneditino em alguns aspectos mais rgi
do do que o monasticismo basiliano ou pachomiano, mas ainda mais racional, mais
flexvel, e mais comunitarista. O abade funciona como presidente docaptulo, um cons
elho de monges no qual cada participante tem direito a um voto. Os monges juram
obedecer o regulamento e o abade, dessa forma no fcil modificar o regulamento. O a
bade funciona como dirigente de uma espcie de centralismo democrtico. As decises es
to sujeitas discusso e ao voto, mas quilo que for decidido deve-se obedincia absolut
a. Existem funcionrios delegados para as mais variadas atividades da comunidade,
nos campos, no hospital, nos seminrios, na cozinha, no escritrio e na biblioteca,
cada inspetor est sujeito ao controle do abade e docaptulo.
Ao contrrio dos essnios do Qumran ou dos monges primitivos, os beneditinos no concebi
a si mesmos como um remanescente salvo, antagnico a um mundo condenado perdio. Bem
pelo contrrio, eles eram chamados para salvar o mundo no sentido mais literal. No
apenas eram chamados para salvar e reabilitar uma civilizao cada, mas tambm para es
parramar o Evangelho aos pagos alm dos limites oficiais do Imprio. Os beneditinos,
juntamente com os monges irlandeses da ordem de So Columba, inaugurou uma segunda
onda de atividade missionria depois da igreja primitiva, sendo os responsveis pel
a cristianizao da Europa Central e Escandinvia. A importncia estratgica de tal ativid
ade missionria enquanto defesa da civilizao latina foi bvia.
A ordem beneditina, com seus regulamentos e medidas administrativas so um depsito ines
timvel de informaes envolvendo tcnicas e problemas do companheirismo comunal diante
da relao dinmica com uma sociedade desorganizada. Infelizmente, embora alguns histo
riadores da Igreja pensem o contrrio, o exemplo da vida beneditina parece ter exe
rcido pouca influncia direta nos grupos religiosos comunalistas posteriores, nas
seitas herticas ou nos movimentos dentro da Igreja.
H apenas uma ordem religiosa de alguma importncia que inclui padres, monges, freiras,
e pessoas casadas, todos vivendo em comunidade, usualmente em uma aldeia, com um
monastrio numa extremidade, um convento na outra, e as pessoas seculares no cent
ro. Trata-se da ordem fundada na Inglaterra por So Gilbert de Sempringham. Essa o
rdem nunca ultrapassou os limites da Inglaterra, embora seu exemplo tenha influe
nciado algumas poucas fundaes continentais muito pequenas. Considerando que a Igre
ja sempre tenha temido esse tipo de organizao, de se estranhar que osgilbertinos a
parentemente tenham exercido to pouca influncia na sociedade permanecendo desconec
tados com qualquer tipo de monasticismo secular que havia se tornado to popular n
a vspera da Reforma, especialmente osbghards, osbguines, os Irmos da Vida Comum, e o
sgottesfreundes ou Amigos de Deus.
Essa relao dinmica ocorreu com os frades, especialmente os franciscanos. significan
fato do prprio So Francisco sempre ter recusado a ordenao sacerdotal. Tanto os fran
ciscanos como os dominicanos eram laico-orientados. Isso pode ser visto no prprio
nome da sociedade fundada por So Dominic, a Ordem dos Pregadores, enquanto que o
s franciscanos se dedicavam pregao, ouvir confisses, e manifestar pobreza como expr
esso de virtude e como testemunho ao mundo. A vida de So Francisco, como a do Papa
Joo XXIII, um exemplo perfeito do que acontece com a Igreja quando ela acidental
mente permite a uma pessoa que modela sua vida prxima ao Jesus histrico atingir um
a posio de influncia ou poder.
A Idade das Trevas e o comeo da Idade Mdia transcorreram notavelmente livres de grande
s seitas milenrias, comunistas ou herticas. A soluo beneditina parece ter sido efeti
va em satisfazer a demanda implcita no cristianismo por uma vida comunitria apostli
ca e de pobreza. A doutrina de Santo Agostinho de que a prpria Igreja era o reino
parece ter sido aceita quase que universalmente. Havia uma febre milenar endmica
que pregava um milnio literal, no ano mil, ou em suas proximidades (muitos histo
riadores modernos negam que isso tenha acontecido exceto na imaginao dos historiad
ores do sculo XIX que julgavam que essa febreprecisava ocorrer); o ano mil passou
, o fim do mundo no veio, e o milenarismo desapareceu, naqueles dias no haviam sei
tas separadas proclamando-se remanescente salvo, isso provocou um efeito na populao
como um todo. Desde a queda de Roma at o sculo XII as energias espirituais humanas
foram direcionadas para a construo da civilizao medieval, uma civilizao com poucas di
verses. A chamada sntese medieval foi uma estrutura notavelmente auto-suficiente na
histria das culturas, e na medida em que se desenvolvia foi capaz de absorver tod
as as atividades possveis de sua sociedade. A Igreja no era apenas uma extenso da s
ociedade, a sociedade era uma extenso da Igreja. Como nas culturas primitivas, o
catolicismo era uma religio antropolgica, um mtodo de definir a sociedade.
A nica heresia importante, a dospaulicianos-bogomiles-cathari-albigenses, no foi propr
iamente uma heresia, mas uma religio diferente, oagnosticismo e omanichaeanicismo
. Ou seja, ela teve uma origem Oriental e pr-crist, ocupando-se com o progresso da
alma atravs das fases de um drama cosmognico, um progresso auxiliado pelo conheci
mento dos mistrios ocultos. Uma religio absolutamente distante da prtica comunalist
a, e apenas incidentalmente milenarista. O julgamento, o fogo, e o reino, foram
interiorizados como fases na salvao da alma. A igrejaalbigense era governada por u
ma elite de adeptos iluminados e onde quer que chegasse, como ocorreu brevemente
na Bulgria, estava bem disposta a se estabelecer como igreja. Quando pretendeu s
e estabelecer no sul da Frana ela foi esmagada na mais sangrenta de todas as cruz
adas numa disputa que tomou a forma, significativamente, de guerra territorial.
Oagnosticismo nunca foi suprimido totalmente, aqui e ali sempre surgiram vestgios de
mistrios ocultos nas heresias ps Idade Mdia, mas eles permaneceram ocultos, difceis
de localizar, e destitudos de qualquer importncia em qualquer movimento popular, e
xceto possivelmente naFraternidade do Esprito Livre. Isso no impediu a Igreja de v
erChatari em toda parte, desde o final da Idade Mdia at a Reforma. Verdadeiramente
dualistas, as doutrinasManichaean, ouagnsticas so sumamente raras em evidncias, no
h nenhuma maneira de provar ou de contestar as proclamaes ocultistas relativas aos l
timos dias, por tratar-se de um ensino esotrico com acesso limitado s elites inter
nas dos vrios movimentos herticos.
Na medida em que pesquisamos os muitos minsculos grupos herticos que entram em choque
com as autoridades entre os sculos X e XII, perfeitamente possvel ver o surgimento
de uma ortodoxia a partir do heterodoxo, um consenso que formaria um corpo de d
outrina tpica davertente mais radical da Reforma, os taboritas, os anabatistas, e
os sectrios extremistas da guerra civil inglesa so exemplos perfeitos. Por exempl
o, oito seitas diferentes negaram a existncia do purgatrio e a eficcia das oraes para
o morto. O batismo de crianas foi rejeitado por quinze desses grupos; a realidad
e da humanidade de Cristo, por quatro; a ressurreio do corpo, por trs. O sacramento
da Santa Ceia foi abandonado, enquanto comunho ou sacrifcio, em doze casos distin
tos. Quase todos os hereges negaram a doutrina da transubstanciao que ainda inicia
va seu processo de definio pela prpria Igreja. As oraes e venerao dirigidas aos santos
foram igualmente rechaadas. A confisso auricular foi rejeitada por um nmero infinit
o, embora muitos grupos praticassem a confisso pblica congregao, como na Igreja prim
itiva. Houve nove casos de vegetarianismo, dez ou mais admisses da prtica do amor
livre, sexo grupai, ou orgias cerimoniais, e um nmero bem grande de acusaes desprov
idas de substncia. Oscatharistas eagnsticos influenciaram alguns na rejeio ao Velho
Testamento, mas a maioria dos grupos acabou colocando mais nfase no Velho Testame
nto do que na Igreja, enquanto alguns adotaram os preceitos da Lei Judia. Sem ex
ceo todos eles rejeitaram a Igreja estabelecida, condenando seu clero de simonia,
adultrio, pederastia, ignorncia, e hipocrisia.
Apenas uma pequena minoria conhecida por ter praticado a comunidade apostlica de bens
. Um local onde essa prtica se destacou de uma forma notvel foi na comunidade de M
onteforte, um castelo na arquidiocese de Milo. Quando o arcebispo descobriu sua e
xistncia, prendeu todo mundo, levando-os para julgamento em Milo. Toda a populao do
castelo e de seus domnios havia sido convertida por um homem que conhecemos apena
s por Giardo. Sob sua direo, os acusados mais articulados transformaram o julgamen
to em uma manifestao de auto-propaganda, por causa disso possumos um registro bem c
ompleto de suas convices. Eles no acreditavam em sacerdcio ou sacramentos, mas vivia
m vidas guiadas e santificadas atravs do Esprito Santo. Eles eram vegetarianos e no
comiam nada que tivesse sido procriado atravs de relaes sexuais. Aqueles que podia
m viviam em rgida castidade com seus cnjuges, ou no casavam. Quando o arcebispo per
guntou como a raa humana poderia se perpetuar se todo mundo vivesse assim, Giardo
respondeu que quando os homens se tornassem puros eles se reproduziriam assexua
damente como abelhas. Os ancies do grupo mantiveram uma cadeia contnua de orao, noit
e e dia, alternando-se uns aos outros. Eles interpretavam a Trindade alegoricame
nte o Pai como Criador, o Filho como a alma do homem, o amado de Deus, e o Esprit
o Santo como a sabedoria divina em cada alma humana. Desde a condessa, nobres, a
t ao campons mais humilde praticavam um comunismo completo, vivendo uma vida larga
mente autnoma, independente da economia circunvizinha. Eles reivindicaram possuir
irmos por toda parte da Europa. Eles tambm sustentavam uma convico, bem peculiar, d
e que para serem salvos precisariam morrer em tormento. Eles estavam to convictos
disso que se algum deles comeasse a morrer de morte natural, ele chamaria os out
ros para tortur-lo at a morte. O arcebispo montou uma cruz e uma estaca e exigiu q
ue eles escolhessem entre submisso Igreja ou morte na fogueira. Apenas alguns esc
olheram a cruz. Quase todos se regozijaram com suas mortes.
Esta foi apenas a segunda execuo oficial por heresia na Igreja Ocidental. Os primeiros
foram um grupo de hereges em Orlans por volta de 1015. Aparentemente eramagnstico
s, na realidade maisagnsticos do quecathari, o que chamaramos hoje de intelectuais
bomios da classe alta. Eles foram acusados por um espio, que tinha sido treinado
com o propsito de expor suas orgias sexuais rituais e adorao a demnios. At onde sabem
os, eles no praticavam a comunidade de bens. Os julgamentos por heresia no princpi
o da Idade Mdia ocorreram em cima das mais diversas acusaes.
Um fator importante nas heresias que se seguiram foi a expanso do conhecimento da Bbli
a, especialmente depois de ter sido traduzida no vernculo. O apelo ao comunismo d
os apstolos era um apelo Bblia, e a autoridade exclusiva da Bblia no era um fator im
portante nas primeiras heresias. A riquezano-crist da Igreja, por sua vez, era um
fator importante. Bastou uma leve familiaridade com os Evangelhos e com as epstol
as que eram lidas na Missa para perceber que se o cristianismo tivesse como mode
lo de vida pessoal a vida de Cristo e de seus discpulos, ento a Igreja era literal
mente o Anticristo, ilustrado pela personificao apocalptica como a grande figura do
mal, o Anticristo. A acusao foi certamente justa. Nada era mais perigoso para o p
oder da Igreja estabelecida do que aqueles pequenos bandos de leigos devotados a
uma pobreza voluntria, ao estudo da Bblia, e a boas aes, que comearam a florescer no
sculo XII no norte da Itlia, na Frana Oriental, na Renolndia, e Bomia.
Em 1176, uma gerao antes de So Francisco, Peter Waldo, um rico comerciante de Lyons,
ndeu tudo que tinha para doar aos pobres. Reuniu um grupo de leigos piedosos que
desejavam retornar vida apostlica da pobreza e do evangelismo. Logo entraram em
contato com outros pequenos grupos e o movimento cresceu rapidamente. O Papa Ale
xandre III aprovou seus votos de pobreza e os submeteu obedincia dos bispos locai
s, que na maioria dos casos lhes proibiram de pregar, mas o simples fato de vive
rem uma vida apostlica representava uma negao do clero enquanto representantes dos
apstolos. Quando o bispo de Lyons lhes proibiu de pregar eles decidiram obedecer
a Deus em vez de obedecer ao homem, foram excomungados e expulsos da cidade. Trs
anos depois foram condenados pelo Papa Lucius III e pelo Conselho de Lyons em 11
84.
Assim comeou a seita hertica doswaldenses ouHomens Pobres de Lyons que rapidamente se
esparramou por toda a Europa tornando-se a maior e mais difundida de todas as he
resias medievais. Incansavelmente perseguidos pela Igreja, e objeto de vriascruza
das, eventualmente se refugiaram nos vales monteses da Lombardia, Savoy, Tirol,
Bomia e Moravia onde conseguiram sobreviver durante sculos. Oswaldenses checos for
am absorvidos pelostaboritas ouIrmos Checos. Oswaldenses lombardos foram redescob
ertos pelos Reformadores, especialmente pelos protestantes ingleses, depois do m
assacre imortalizado no soneto de Milton, e em menor grau, pela poltica externa d
e Cromwell. Eles ainda habitam os mesmos vales monteses e recentemente estabelec
eram capelas em algumas das cidades no norte da Itlia.
OsHomens Pobres originrios de Lyons praticaram acomunidade de bens e em vrias ocasies
conjuntamente com gruposwaldenses, adotaram uma espcie decomunismo de assdio. Cont
udo, apesar de todas as mudanas doutrinais da seita atravs dos sculos eles nunca ab
andonaram a prtica da pobreza voluntria. Eles foram acusados originalmente de recu
sar prestar juramentos, possuir armas, ou aprovar a pena de morte. Eventualmente
, eles acreditavam que qualquer leigo poderia ministrar o po e o vinho da comunho
desde que no estivesse em pecado mortal, eles rejeitaram o sacrifcio da Missa, neg
aram que a Igreja papal fosse a Igreja de Cristo, ao mesmo tempo em que apontara
m a Igreja papal como sendo a mulher escarlate do apocalipse e que nenhum dos se
us ensinos ou prticas poderiam ser seguidos sem pecado.
Durante a Reforma no sculo XVI oswaldenses foram extensivamente convertidos pelos ref
ormadores e doutrinariamente assimilados pelo corpo principal do protestantismo
em sua verso calvinista sua. Ao longo do sculo XIX os protestantes ingleses, conduzi
dos pelo Coronel Beckwith, resolveram gastar uma considervel quantia em dinheiro
construindo escolas, hospitais, igrejas, e outros servios sociais em suas comunid
ades. Embora doutrinariamente divirjam muito pouco dos protestantes suos ao norte,
seu modo de vida nas aldeias montesas bem diferente. Embora no pratiquem mais o
comunismo, eles no so competitivos nem consumistas. Eles permanecem bem mais pobre
s do que deveriam ser, dedicando suas vidas a uma tica social e ajuda mtua, cooper
ao, e unidade espiritual ntima, no muito diferente dos padres estritos das comunidade
smenonitas ouamish na Amrica do Norte.
4. Eckhart, Irmos do Esprito Livre
So Francisco no apenas o mais atraente de todos os santos cristos, ele o cristo
aente, admirado pelos budistas, ateus, pessoas completamente seculares, modernas
, comunistas, para quem a figura do prprio Cristo menos atrativa. Em parte devido
sentimentalizao de sua lenda viva e de seus companheiros nos primeiros dias da or
dem. Muitas pessoas hoje que colocam sua imagem no jardim no sabem coisa alguma d
ele exceto que fez uma orao aos pssaros, escreveu um hino ao sol, e chamava o burro
de irmo. Estas pequenas informaes so importantes porque so sinais de uma sensibilida
de revolucionria incidentalmente, uma revoluo metafsica da qual certamente o prprio So
Francisco no tinha conscincia. Tratava-se de uma noo de realizao completa tanto no as
pecto mstico como emocional, uma noo exterior, um fato antagnico principal tradio juda
ico-crist.
Eu sou o que sou o Deus do judasmo o nico ser auto-suficiente. Toda a realidade
mos saber contingente, criada a partir do nada, e consequentemente, uma categori
a inferior de realidade. Diante do completo outro, a alma contingente pode, no fin
al das contas, apenas reagir com medo e tremor.
Se Deus imanente no mundo e se a insondvel Trindade teve sua Segunda Pessoa tornada u
m camarada humano, o mundo est carregado por e com alegria.And honde by honde then
shulle us take /Andjoy and bliss shulle we mak/For lhe Devil ofHell man haghtfo
rsak/ And Christ Our Lord is made our mate como diz o poema medieval ingls escrito
por um franciscano annimo. No se trata de uma questo de doutrina. Os filsofos alexa
ndrinos e escolsticos da Igreja tinham desenvolvido uma concepo sensata de deidade
para o mundo. Trata-se de uma questo de sensibilidade religiosa.
Muitos outros antes dele reivindicavam um retorno vida do Jesus histrico e de seus co
mpanheiros, mas ningum antes de So Francisco pregara aquela vida, tanto a vida de
Cristo como o Cristo em vida, carregado de uma intensa e permanente alegria. No
final de sua vida, So Francisco, extasiado em orao, teria suas mos, ps e dorso marcad
os por estigmas, como feridas da crucificao, em uma transposio de pura alegria.
Seja como filsofo ou como pregador, So Francisco simplesmente ensinou as virtudes de u
ma vida renovada, ele teria sido apenas mais um entre muitos, e suas palavras te
riam sido objeto de controvrsias, modificao, ou negao. Mas ele viveu uma vida nova, m
ais intensamente que qualquer outro e sempre com uma manifesta alegria, e ele ju
ntou um bando de companheiros que tambm compartilharam e manifestaram aquela vida
.
Parece que foi um completo acidente sua aceitao por parte da Igreja, e a permisso pap
para a fundao de sua ordem. Houve outros pequenos bandos de homens pobres tentand
o viver a vida dos evangelhos naqueles mesmos anos, mas foram condenados. Se Ped
ro Waldo tivesse a sorte de encontrar funcionrios mais simpticos na hierarquia da
Igreja ele poderia ocupar o lugar de So Francisco. Certamente, sua mensagem origi
nal tinha muito mais consistncia.
A Igreja permitiu o estabelecimento da ordem franciscana porque satisfazia uma neces
sidade imediata. Os movimentos herticos pululavam por toda parte por volta do fin
al do sculo XII; e a velha organizao monstica, embora sofrendo drsticas reformas, no pd
e satisfazer as necessidades das quais estes movimentos eram um sintoma. O monas
ticismo beneditino havia no apenas se tornado rico como seus abades que participa
vam da estrutura do poder, mas seu relacionamento com a sociedade se invertera,
tornara-se centrpeto. O mundo secular existia para eles, no eles para o mundo. O f
ranciscanismo era dinamicamente centrfugo, como se diz na gria contempornea, estava
contra a corrente, o mesmo curso tomado pelo prprio Evangelho.
O centro do evangelismo de So Francisco foi sua noo de pobreza como uma virtude. Ele
meou sua carreira religiosa doando literalmente tudo que possua, cobrindo-se com u
ma tnica rota, e pregando aos pobres. Tal pobreza assumira a forma de uma penitnci
a asctica como o jejum, um disciplinador da alma. Para o ermito no deserto a questo
da pobreza era dolorosa. Para So Francisco ela era um estilo de vida feliz.
Para So Boaventura, o primeiro grande telogo e filsofo franciscano, a virtude da pobr
a era secundria, mas um meio virtude primria da caridade. Para So Francisco a pobre
za era a condio da perfeio interior. Era pelo copo transparente, puro, desembaado das
distraes da propriedade, que a alma poderia ver Deus, no como um vulto, mas cara-a
-cara. No grande mural de Giotto, So Francisco casa-se com aPobreza, a serva de D
eus. AVirgem Maria eraa serva de Deus. O misticismo de So Francisco e posteriorme
nte a pobreza dos espiritualistas franciscanos assumiram o significado de uma pe
rfeita receptividade da alma a Deus.
Trata-se de um evangelho purulento que, ensinado aos pobres, no faz outra coisa seno t
orn-los satisfeitos com sua condio. Tanto o Estado como a Igreja ostentavam uma ins
acivel opulncia e luxria possvel apenas, naturalmente, pelo trabalho dos pobres. Emb
ora o cristianismo de So Francisco possa ser chamado de cristianismo imediato, se
m escatologia, sem apocalipse, tal cristianismo na realidade interioriza a escat
ologia dos Evangelhos. Asltimas coisas representavam a relao imediata do homem com
o homem e do homem com Deus. Assim, do ponto de vista lgico, os ouvintes de So Fra
ncisco poderiam tomar uma simples, embora delicada concluso. Se houvesse uma sobr
a econmica, essa sobra econmica pertenceria aos pobres. Essa unidade em torno da a
legria da revelao possibilitou uma unidade em virtude da pobreza realada na comunid
ade, resolvendo trezentos anos de movimentos herticos.
Quando So Francisco fundou sua ordem ele visava formar um pequeno grupo de camaradas
totalmente dedicados, um grupo pequeno o bastante para uma comunho perfeita, base
de acordo, e objetivos comuns. Tratava-se apenas de doze irmos quando o Papa Ino
cncio III aprovou a ordem e seus primeiros regulamentos em 1209. Dez anos depois
esparramou-se por toda a Europa e pela Terra Santa. O conjunto integral no mais s
e restringia na minscula Igreja da Portincula de Assis, mas estava representado po
r delegados, funcionrios administrativos centrais, e autoridades provincianas. Ma
s o evangelho original de So Francisco era incompatvel com delegao de autoridade e m
esmo antes da morte do fundador, poderosas faces passaram a defender alteraes nos pr
incpios originais. A Ordem dos Frades Menores foi a prpria repetio da histria do cris
tianismo.
Um dos clichs da classe poltica e dos executivos estadunidenses eu apenas modelo mi
vida pelo Sermo do Monte, algo que eles obviamente jamais leram. O Sermo do Monte e
a evangelizao original de So Francisco representam uma eterializao, uma interiorizao a
pocalptica, uma escatologia tica. Foi qualificada como uma impossibilidade tica, e
com razo, no sentido de que nenhuma ordem social inventada por uma organizao religi
osa ou poltica poderia vingar se fosse colocada em prtica.
So Francisco estava atento com as coisas que estavam acontecendo e quando ele estava
morte escreveu um testamento insistindo na preservao literal dos princpios e teses
originais e proibindo qualquer iniciativa papal para alter-los. Mas a ordem aband
onara o companheirismo da pobreza com a alegria, a comunho, e tornara-se uma inst
ituio, esparramando-se at os mais distantes rinces do mundo Ocidental, transformando
-se num dos principais basties do papado e da estrutura de poder da Igreja. Logo
aps sua morte a ordem apelou ao papa, seu testamento foi esquecido e a pobreza fo
i definida em termos puramente simblicos, legalistas. A ordem permitiu o uso da p
ropriedade pelos fiducirios escolhidos pelo papa. Foi o incio de uma luta que duro
u por duas geraes dentro da ordem, e que depois continuou fora dela, e finalmente
fora da Igreja, para restaurar a vida original da pobreza mstica.
A faco que queria restabelecer a obedincia aos princpios originais e ao testamento d
Francisco foram conhecidos como zelotes ou espirituais. Provavelmente eles nunca
representaram mais do que uma minscula parcela da ordem. Tanto a maioria moderad
a, como as agremiaes, e a faco originalmente conduzida por Elias de Cortona, pretend
iam transformar a ordem em uma instituio monstica como qualquer outra, com graduaes,
poder, e grandes propriedades. Essa luta s teve um desfecho quando Joo XXII estabe
leceu o acompanhamento deobservadores, o que permitiu a prtica de uma pobreza mas
carada por uma [eventual] escassa utilizao da propriedade. Enquanto isso muitos do
sespirituais aprofundaram ainda mais seu antagonismo como o corpo principal da o
rdem, at que finalmente romperam em um novo movimento,ofraticelli, que acabou con
denado como herege.
Sem conseguir tornar-se maioria na ordem, osespirituais logo comearam a atrair oslaic
os, passando a formar grupos de terceiro escalo que se subordinariam somente a el
es. A influencia popular dosespirituais expandiu-se para dentro dos conventos to
rnando-se cada vez mais mundano e finalmente corrupto. Antes de Chaucer a ordem
dos Frades Menores j tinha a fama de corrupta, por no praticarem aquilo que public
amente prometiam, tornando-se um alvo preferido stira. Os seguidores seculares do
sespirituais aparentemente eram bem comuns em Provena, onde se juntaram em pequen
as comunidades organizadas e onde no princpio foram chamados debguines. Esse termo
provavelmente foi derivado dos Albigenses, em memria da mais antiga heresia, da
destruio da cultura provenal e contra as Cruzadas, fatos que certamente contriburam
para o crescimento do movimento.
Nesse meio tempo um novo e explosivo ingrediente entrou na ideologia dosespirituais
e de seus seguidores. Administrativamente encurralados e sem a perspectiva de mu
dar oestablishment, tornaram-se apocalpticos.
No sculo anterior Joaquim de Fiore (1132-1202), um abade de Cistercia, escrevera uma
srie de interpretaes dos livros apocalpticos da Bblia. Ele dividiu a histria da humani
dade em trs perodos: a era do Pai, sob alei judaica; a era do Filho, sob o Evangel
ho; e a era da vinda do Esprito Santo, quando toda lei ser abolida, porque todos o
s homens, imersos em contemplao, agiriam apenas de acordo com a vontade de Deus, u
ma espcie de utopia de monges contemplativos, o Evangelho perptuo de um eterno Sab
bath sagrado. Este quadro bastante simples foi mais tarde meticulosamente elabor
ado por uma imensa literatura annima atribuda a Joaquim, mas principalmente escrit
a porespirituais.
A mistura dos componentes, vida de Cristo, vida de So Francisco, com o apocalipcismo
de Joaquim funcionou como uma mistura de oxignio com hidrognio. Antes e depois de
So Francisco, o Jesus histrico exerceu um pequeno papel na religio medieval da Igre
ja estabelecida, ou seja, Cristo no passava de uma figura ritualstica, um homem qu
e gerou o Natal e a cruz da Pscoa. Osespirituais franciscanos, da mesma forma que
todos os movimentos que se originaram dele, foram intensamente evanglicos, coisa
que se tornou possvel devido ao crescimento da alfabetizao, especificamente pela l
eitura da Bblia e da literatura devocional. A pobreza foi o assunto central na lu
ta contra a ordem e o papado. Para osespirituais a pobreza esteve presente no ape
nas na vida de Cristo e de seus apstolos mas tambm na inocncia e na alegria de So Fr
ancisco; e tais coisas eram um prenuncio da felicidade do reino que viria aps o tr
mino do apocalipse. So Francisco e posteriormente Pedro Joo Olivi, um franciscano
que interpretou o Livro da Revelao, segundo osespirituais, tornaram-se reais figur
as do apocalipse: So Francisco, representava oanjo do sexto selo, Oliver represen
tava oanjo cujo rosto era como o sol. A essncia dos princpios franciscanos era a p
obreza, no obstante, o papado condenou a doutrina de que Cristo e os apstolos vivi
am em absoluta pobreza, diante desses fatos, para osespirituais, o papa passou a
representar oanticristo.
Osespirituais, osbguines de Pr vena, eosfraticellis, no acreditavam que Cristo e os
los mantinham seus bens em comum; eles acreditavam que eles no possuam bem algum.
A pobreza daqueles mendicantes franciscanos era absoluta. Dia aps dia eles viviam
de esmolas. Como o advento da pobreza na ordem constitua sua pedra fundamental,
Joo XXII errara de uma forma patente, portanto, o papa no era infalvel. Estas foram
as concluses mais duradouras da controvrsia.
O uso da riqueza papal por parte de fiducirios e de ordens escolhidas pelo papa signi
ficava que ele dispunha do crdito atravs da imensa riqueza de um fundo de reserva.
Em seu exlio em Avignon o papado continuamente pedia dinheiro emprestado. No pice
da controvrsia, Joo XXII rompeu as conexes com a Igreja e com o Evangelho e promul
gou a doutrina da sacralizao da propriedade. A Igreja foi alinhada ao lado da prop
riedade, do poder, do domnio, explicitamente e com estas mesmas palavras, como nu
nca tinha sido determinado antes. No curso do debate entre Joo XXII, o filsofo Wil
liam de Occam, e o ex-lider da ordem, Michael de Cesena, originalmente umconvent
ual, os debatedores trouxeram tona algumas questes fundamentais. Se o uso e no a p
osse da propriedade era permitido, como ficava a questo do dinheiro? E sobre a bo
lsa de Judas? Os debatedores atingiram em cheio as implicaes do significado do din
heiro e da propriedade, em sua mais pura essncia. Novamente, se a propriedade uma
coisa ruim, quem detm a propriedade e permite seu uso , por conseguinte, um no cri
sto. Os usurios so parasitrios e culpados de cumplicidade. Ento uma sociedade verdade
iramente crist aboliria completamente a propriedade. Ao posicionar-se contra a cr
iao de uma ordem religiosa devotada pobreza total, ao auto-sacrifcio, ao evangelism
o, crescente popularidade do misticismo, exigncia de uma vidalaica em uma comunid
ade dedicada a tais objetivos, a Igreja viu-se diante de um impasse.
As contnuas supresses papais e a proibio da formao de qualquer nova ordem religios
uarto Conclio Luterano funcionou como um derrame de glbulos de mercrio, resultando
numa metstase de comunidades msticas leigas livres do controle e mesmo do conhecim
ento eclesistico, comunidades que se espalharam por toda a sociedade. As comunida
des e grupos tornaram-se completamente secretas e suas convices ocultas. As comuni
dadesbguines se espalharam por toda Europa, especialmente na Renolndia e ao norte
da Frana, onde os homens eram conhecidos porbguines e as mulheres comobghards. Muit
as delas eram comunidades de pessoas seculares que desejavam viver juntos, dedic
ar suas vidas orao, contemplao, trabalho comum, e devoo. Algumas no passaram de favel
, outras se tornaram grupos de devoo mstica, mas permeando todas elas, movendo-se c
omo clulas de um novo crescimento, estavam os Irmos do Esprito Livre.
As doutrinas dos Irmos do Esprito Livre lembram as heresias do primeiro sculo do cris
anismo. Pela contemplao mstica, ensinavam, o homem une-se a Deus, une-se de tal for
ma que ele Deus, e eleva-se acima de todas as leis, igrejas e ritos criados por
Deus para o homem comum, ento pode fazer tudo o que deseja. Unido com Deus o peca
do torna-se impossvel ao mstico, portanto ele pode fazer tudo aquilo que deseja. R
oubo, mentira, especial licena sexual, tudo permitido; a orao e todas as observncias
religiosas so inteis. Funciona como uma imagem refletida em um espelho irregular,
uma mstica e uma moral distorcida. Tais prticas no so nicas no cristianismo. Simulta
neamente, ossufis tambm pregavam a mesma doutrina quando foram perseguidos e cruc
ificados na Prsia. O hindusmo, budismo e o zen americano contemporneo tambm produzir
am a mesma distoro.
Os Irmos do Esprito Livre citavam passagens como de Santo Agostinho, o amor faz o que
oc quiser, de So Paulo, onde o esprito de Deus est, h liberdade (II Cor. 2:17), e a te
ogia mstica dos grandes msticos renanos Meister Eckhart, Tauler, e Suso. Alm disso
havia o misticismo oculto, ertico, dos alquimistas espirituais. Arnold de Villano
va e outros lderes da nova espiritualidade eram alquimistas.
Os Irmos do Esprito Livre no se colocaram como um movimento organizado, funcionavam c
o um corpo difuso de esotricos, satisfeitos em operar dentro da Igreja e no movim
ento das comunidades msticas seculares. Eles deixaram poucos registros em sua pas
sagem exceto quando eram capturados por seus inimigos, ou em testemunho extrado s
ob tortura quando eram julgados. Dos agnsticos at os mormons, a Igreja sempre acus
ou os hereges de prtica de orgias de sexualidade desenfreada. Os Irmos do Esprito L
ivre aparentemente eram viciados nessa prtica; os testemunhos so unnimes e este asp
ecto sempre central. impossvel determinar se estas orgias eram simples passatempo
s ou ritos em um culto de erotismo mstico. Elas parecem ter sido extremamente com
uns.
Por um sculo, papas, bispos, e inquisidores, se ocuparam condenando e caando-os por to
da parte. Eles conseguiram existir dentro de uma sociedade supostamente fechada
durante toda a Idade Mdia porque, na realidade, no eram to fechados assim. Por mais
incoerente que possa parecer, nas cidades despoliciadas da Renolndia e Pases Baix
os era fcil para uma comunidade ocupar uma casa e fingir ser uma associao legtima de
leigos piedosos devotos orao, leitura bblica e trabalho. O nico perigo eram os info
rmantes, uma vez um informante admitiu sob juramento alguma coisa assim, foi env
olvido e condenado por cumplicidade.
Este foi o principal problema enfrentado pela Igreja, separar o trigo do joio. O scul
o XV testemunhou um tremendo crescimento de associaes religiosas e comunidades for
a das ordens regulares. Se a Igreja no as tivesse tolerado haveria, como sempre a
contece, um turbilho de revoltas. Como a vida e pregao de So Francisco representaram
uma alterao de sensibilidade, essas novas comunidades representaram outra. Esta s
ensibilidade foi determinada de forma literria e teolgica nos escritos dos msticos
renanos, todos eles, de uma forma ou de outra, entraram em conflito com a Igreja
, as proposies retiradas de seus ensinamentos foram condenadas. Nenhum deles receb
eu qualquer ttulo de santo, e apenas dois deles foram abenoados; embora muito popula
res, at nossos dias so apenas tolerados. O doutor do novo misticismo foi Meister E
ckhart.
Paralelamente ao crescimento da filosofia escolstica a Igreja desenvolveu uma teologi
a mstica, ortodoxa, sistemtica. Comeando por So Bernardo de Clairvaux, (1090-1153),
o oponente inexorvel de Ablard, e continuando com Hugh e Richard do monastrio de So
Victor em Paris e os franciscanos de So Boaventura (1221-1274), os grandes doutor
es msticos da Igreja tinham resistido aristotelenizao, de fato secularizao, dos filsof
os escolsticos. Suas razes estavam no neoplatonismo de Santo Agostinho, e os escri
tos visionrios foram atribudos ao areopagita Dionisio, discpulo de So Paulo, e a Joo
Scotus Erigena, o tradutor e posterior discpulo neoplatnico que viveu logo aps Carl
os Magno.
Todo esforo foi concentrado para solucionar o dilema representado pela experincia mst
a. Tal experincia trouxe consigo a convico de uma realidade inquestionvel. O mstico e
m sua concepo de Deus esbarra no poder imbatvel do fato emprico. A doutrina crist diz
que Deus criou o mundo a partir do nada. O homem totalmente contingente, Deus t
otalmente onipotente e auto-suficiente. Como ultrapassar esse limite pela experin
cia? De uma forma ou de outra todos os grandes msticos ortodoxos dispensaram esse
ltimo problema do conhecimento alegando que a alma detm um conhecimento primrio de
Deus. O conhecimento da realidade de Deus deriva dela. Conforme a descrio de So Bo
aventura a alma chega at Deus pelo amor atravs da escada das criaturas at que final
mente a alma descobre que o ltimo degrau foi o primeiro, ascintilla animae, a cen
telha de Deus na alma no apenas uma faculdade do conhecimento mstico, ela particip
a diretamente do Ser divino. Este processo delineado em um tom mais emocional e
intensamente devocional pela retrica apaixonada de So Boaventura. Esse processo bsi
co e explcito na epistemologia de Richard de So Victor e mais ou menos implcito em
So Bernardo. Naturalmente, esse assunto remonta ao prprio Plato em seu dilogo com Ph
aedo. o conhecimento de Deus que proporciona o conhecimento das idias. Esta tradio
central da teologia mstica nunca teve sua ortodoxia questionada porque ela sempre
pareceu operar dentro do contexto do desenvolvimento escolstico. Mas a verdadeir
a situao foi bem outra. Seus expositores pertenciam a uma tradio puramente crist, pel
o menos essa foi a opinio geral, considerando que os partidrios das idias de Aristte
les tinham que defender sua verso paga e sua filosofia secular rabe. Dessa forma So
Tomas de Aquino e Duns Scotus ficaram na defensiva.
Meister Eckhart e seus descendentes trouxeram outra tradio peculiar para a Renolndia.
omeando por Santa Hildegard de Bingen no princpio do sculo XII, Elizabete de Schnau,
Elizabete da Hungria, Condessa da Turngia no sculo XIII e Mechthild de Magdeburg,
essa tradio foi continuada por mulheres, e foi caracterizada por experincias visio
nrias, sentimentalismo, imagens erticas, e uma crtica apaixonada dos abusos da Igre
ja e da corrupo do papado. A maioria deles eram escritores e constam entre os mais
importantes fundadores da literatura alem. Uma anlise destas vises colocadas na te
la na forma de pintura, revela que Santa Hildegard sofria de enxaqueca, os inten
sos padres claros que ela via so sintomas daquela doena. Como suas descendentes, to
das aquelas mulheres tinham uma proeminncia especial ao misticismo luminoso semel
hante ao de So Boaventura, e de Philo, o judeu neoplatnico do primeiro sculo, carac
terizado por vises constantes e recorrentes, plenas de luz a aura da prpria experin
cia mstica.O Raiar da Luz Divina de Santa Mechthild uma das mais belas obras do i
dioma alemo. Saturados luzes msticas e simbolismo ertico, seus poemas, com apenas a
lgumas leves alteraes, poderiam ser transformados em canes de um extremo amor romntic
o.
A mais antiga teologia mstica cresceu nos monastrios entre homens instrudos e contemp
tivos. O misticismorenano floresceu em Bguinages e outras comunidades semi-monstic
as de mulheres devotas associadas pobreza, ao trabalho, orao, e meditao. Seus mestre
s estavam apenas um degrau acima da ortodoxia do menos hertico dos Irmos do Esprito
Livre. O testemunho de freqentes espancamentos e torturas praticados pela Inquis
io sobre supostosentusiastas insanos e infelizes msticosrenanos , salvo engano, alta
mente suspeito. At mesmo nos registros de queixas temos apenas um caso, onde uma
casa de Bguines acusada de prtica de orgias sexuais, a casa das denominadas Irms de
Schweydnitz. Provavelmente foi verdade, mas semelhantemente a uma sesso de leitu
ra pornogrfica moderna. Freqentemente os inquisidores pareciam estar engajados em
uma guerra contra as mulheres. Uma das bguines foi reiteradas vezes acusada de cri
mes pela performance de ritos da Igreja em suas capelas e pela prtica de confisso mt
ua, prticas proibidas s mulheres.
Na realidade, h apenas um documento questionvel na totalidade do movimento do misticis
mo bguine, provavelmente influenciado pela heresia dos Irmos do Esprito Livre. Marg
arete de Parete foi julgada e queimada em Paris no ano de 1311, acusada de ensin
ar que quando a alma consumida pelo amor de Deus ela participa de Deus, podendo
fazer qualquer coisa que o corpo sensual desejasse. Recentemente foi descoberto
o manuscrito de seu livro,O Espelho das Almas Simples, que foi impresso. Como fo
i constatado por Meister Eckhart e seus sucessores a interpretao por parte da Inqu
isio foi baseado em um equvoco. Ela ensinava que no stimo estgio da iluminao, o pice d
processo dos sete estgios que remonta aos primrdios da literatura mstica e descrito
de uma forma perfeitamente ortodoxa, a alma une-se a Deus. Pela graa ela livra-s
e do pecado. Ela absorve toda a Trindade e perde sua prpria identidade, tornando-
se incapaz de pecar. Dali para a frente vive inteiramente no amor de Deus como u
m serafim. No precisa de nenhuma Igreja, sacerdcio, ou livro. Seu conhecimento dir
etamente compartilhado no conhecimento de Deus. No pode pecar porque sua vontade
a vontade de Deus; pobreza, orao, sacramentos, ascetismo, penitncias, jejuns, torna
m-se coisas destitudas de qualquer importncia para a alma, mergulhada em Deus, ond
e privaes e smbolos inexistem. A alma usa estas coisas apenas para pagar um indifer
ente tributo natureza, ao mundo, e comunidade religiosa.
fcil verificar que a mais leve troca de nfase pode transformar este ensino em uma ju
ificao da imoralidade atribuda aos Irmos do Esprito Livre, ou histeria que mais tarde
tornou-se responsvel pelo esmagamento da comuna revolucionria anabatista de Mnster
. Mas para Margarete de Parete a nfase estava em outro ponto, uma vez que temos e
m mos uma documentao confivel criada de boa f pelos prprios msticos hereges. Naturalm
do ponto de vista da Igreja Catlica ela foi bastante herege.
Margarete de Parete foi queimada na fogueira e logo esquecida. Mas a influncia de Mei
ster Eckhart mais forte hoje do que a centenas de anos. Eckhart conheceu o probl
ema da contingncia e da onipotncia, criador-e-criatura-do-nada tornando Deus a nica
realidade e a presena ou impresso de Deus prevalecendo sobre o nada, a fonte da r
ealidade na criatura. Realidade, em outras palavras, a participao da criatura no c
riador estruturada hierarquicamente. Do ponto de vista da criatura este processo
poderia ser reverso. Se a criatura real, Deus torna-se o Divino Nada. Deus nada
, como diz o escolasticismo, o objeto final de todos os vaticnios. Isso impredicve
l. A existncia da criatura, na medida em que existe, a existncia de Deus, e a expe
rincia da criatura de Deus no final das contas igualmente impredicvel. No pode nem
mesmo ser descrito; pode apenas ser apontado. Ns podemos apenas apontar para a re
alidade, a nossa realidade ou a realidade de Deus. A alma vislumbra Deus pelo co
nhecimento, no pelo amor como concebe o primitivo misticismo cristo. Amor um artig
o do vesturio do conhecimento. A alma primeiramente treina a si mesma, sistemtica
e inconscientemente, at que finalmente se confronta com a nica realidade, o prprio
conhecimento, Deus se torna manifesto em si mesmo. A alma no pode dizer nada sobr
e esta experincia no sentido de defini-la. Apenas pode revel-la a outros.
Este o modo neoplatnico de negao ensinado por Santo Agostinho. Mas as deidades neop
cas mentem sobre realidade, no h como dizer que ela existe nesse sentido. Eckhart,
freqentemente acusado de dualismo, na verdade foi ummonista extremado, contudo h
uma diferena sutil entre sua teoria do ser e o pantesmo de tericos como Spinoza. Pa
ra Eckhart, a realidade densa, no existe nenhuma porta de ligao entre o processo in
terno de Deus, a Trindade, e o mundo de sua criao.Deus (Godhead) gera o Filho e cr
ia o mundo ao mesmo tempo ou no mesmo momento da eternidade. No necessrio muita pe
squisa para concluir que o ensino de Eckhart pode ser qualificado como ortodoxo.
Todavia, quanto co-eternidade do Filho e do mundo, seus crticos foram ligeiros e
m apontar como heresia.
Antes de existir qualquer coisa, a Palavra j existia, disse So Joo, Ele criou tudo
no existe nada que ele no tenha feito. O procriar da Palavra um processo dual inter
no e externo o conhecimento de Deus [se revela] pela sua criao, e a criao [se revela
] pelo Conhecimento, pelo Logos, do mundo. A criao a roupagem do vazio.
Embora Eckhart se comporte como um intelectual rigoroso em seus tratados latinos a a
lma se eleva a Deus pelo conhecimento, ou melhor, percebe Deus nos recantos mais
ntimos do ego, do ser, absoluto e contingente, revelado pelo saber em seus conhe
cidos sermes pela Alemanha, pregado principalmente s freiras dominicanas e s congre
gaes Bguines, ele adota a extensa linguagem familiar da teologia do corao. A alma, diz
ele, torna-se noiva de Deus, torna-se feminina em todos os aspectos, torna-se uma
esposa virgem, torna-se liberta de qualquer outro compromisso, Jesus concebido
na alma gerando frutos. A unio amorosa total e auto-suficiente. O amor no vontade d
e satisfazer um desejo; mas a plenitude do ser compartilhando a alma em Deus. Or
ao, boas aes, esmolas, so inteis a menos que tais coisas fluam de uma vontade completa
mente consumida pelo amor de Deus e totalmente submissa sua vontade. Onde Eckhar
t julgava adequado sua audincia ele apresentava sua teologia em termos de vontade
mais do que em termos de conhecimento, e ele fazia isso propositadamente. Foi p
or inspirao de seus sermes populares que muitos apaixonados msticos posteriores acab
aram contraindo npcias espirituais com Ruysbroeck.
Segundo Eckhart, qual o principal dado que nos permite tomar conhecimento da existnci
a? O principal dado a imprevisvel, indescritvel experincia religiosa em si mesma, o
transcendentalpenso logo existo, Jeov dizendo que seu nome Eu sou o que Eu sou. Co
mo tem sido pontuado nos anos recentes, se a palavra Deus com todo seu excesso de
bagagem, que Whitehead chamou de complementos metafsicos, fosse abandonada como imp
rpria, o misticismo de Eckhart seria praticamente idntico ao mais puro empirismo r
eligioso budista; a filosofia fluindo da alma,atman, na perspectiva de uma parti
cipao nobrahma. A filosofia brotando do cho do ser,upanishads, para ovedanta\ a fil
osofia fluindo dosufismo para oibn-arabi.
Em suma, a alma pode ser definida como uma centelha da Luz Divina, a fonte, a primav
era da qual floresce toda realidade e que pode ser alcanada pela contemplao. Nesse
ponto comea a doutrina da Luz Interior que caracteriza as seitas msticas daquele t
empo, e que central na teologiaquaker. O aspecto prtico tambm descende de Eckhart
oquietismo. A experincia religiosa revela-se por uma crescente quietude. No se turb
e o vosso corao.
O misticismo de Eckhart aparenta ser algo bem solitrio algum poderia pensar que tal
sticismo dissolveria no apenas a Igreja e seu culto, como tambm toda experincia rel
igiosa comunal. Pelo contrrio, ele funciona como uma locomotiva ajudando no desen
volvimento da vida comunitria. Os Amigos de Deus, a Fraternidade da Vida Comum, e
grupos semelhantes tanto de pregadores como de leigos espalharam-se rapidamente
por toda Renolndia, pelos Pases Baixos, Alemanha Ocidental, e Bomia. Foi como se a
Igreja desenvolvesse anticorpos to ortodoxos quanto profilticos para combater a i
nfeco dos Irmos do Esprito Livre. evidente que o ensino de Eckhart no era nada ortodo
xo. Ele apenas o ajustou ortodoxia na medida do possvel.
No final de sua vida, o arcebispo de Colnia posicionou-se contra ele. Ele apelou ao P
apa Joo XXII e em 1329, dois anos aps sua morte, vinte e oito das suas proposies for
am condenadas. Mais uma vez vemos Joo XXII, o pior dos papas, efetuando represent
aes contra as demandas das comunidades crists mais devotas, negando-lhes uma vida e
spiritual mais rica diante do decadenteestablishment medieval.
5. Joo Wycliffe, Rebelio Camponesa na Inglaterra
Cada um dos seguidores de Eckhart, Johann Tauler, Henry Suso, Jan van Ruysbroeck, es
foraram-se por ajustar sua teologia mstica mais estrita ortodoxia mas nenhum deles
teve sucesso. At mesmo aImitao de Cristo de Thomas Kempis, o manual devocional mai
s popular produzido no Ocidente, e a nica exposio universalmente conhecida da sensi
bilidade religiosa dos Irmos da Vida Comum, at hoje tido como desqualificado pelo
Catolicismo Romano. Tauler exerceu uma grande influncia sobre Lutero ao populariz
ar aTeologia Germnica, uma coleo escrita ou editada por um desconhecido discpulo de
Tauler. J no tempo de Nicholas de Cusa essa tradio tornara-se completamente divorci
ada e contrria filosofia medieval. A obraOfLearned Ignorance de Nicholas de Cusa
uma reinterpretao em termos da Renascena. Pela complexa teosofia de Jakob Boehme (1
575-1624) nos movemos para um mundo completamente estranho ao catolicismo e lute
ranismo.
Naqueles dias, tantoquakers, menonitas, como grupos similares faziam questo em destac
ar que eles no eram nem catlicos nem protestantes, mas pertencentes a uma velha ig
reja que ressurge na vida dos apstolos e que emerge novamente na histria dois sculo
s antes de Lutero. Isto verdade. No deveramos pensar nesta grande onda de espiritu
alidade na Europa do Norte como algo novo, mas como a redescoberta de algo antig
o; no como um corpo de teologia doutrinai, mstica, muito menos em termos de episdio
s sensacionais da histria de suas lutas com o papa e a Igreja, mas como um modo d
e vida. Em toda cidade havia pequenos grupos de pessoas que se encontravam nas c
asas uns dos outros, ou em grandes cmodos destitudos de decorao e imagens, vivendo j
untos em casas comunais nas cidades ou reclusos no campo. A maioria deles ainda
iam Missa aos domingos e confessavam na Pscoa. Mas sua vida religiosa estava cent
rada em seus prprios encontros, onde sentavam ouvindo e estudando tranqilamente as
passagens bblicas, orando juntos espontaneamente ou aguardando na quietude aLuz
Interior, o movimento doEsprito. Distante de todos os conflitos e controvrsias, pe
rseguies, julgamentos, execues na fogueira, e guerras, esse modo de vida permaneceri
a intato. Os homens e os eventos apocalpticos se levantariam e floresceriam nos m
elodramas da histria [como fogo de palha], at que finalmente ficavam para trs, abso
rvidos pela quietude da vida das comunidades apostlicas.
Em meados do sculo XIV as tenses geradas pelas profundas mudanas econmicas e sociais
final da Idade Mdia tornaram-se insuportveis, contudo o esqueleto do velho modo de
vida sobrevivia de uma forma apertada e difcil. Em termos objetivos, a situao torn
ava-se pior a cada dia. A Inglaterra entrou em convulso pela Guerra das Rosas, um
a luta intestina da aristocracia pelo controle do comrcio de l. Enquanto isso, os
camponeses se revoltavam por toda parte. O papado estava aprisionado em Avignon
pelo reinado francs. Eventualmente haviam dois papas, cada qual reivindicando o t
rono, e finalmente trs. Ao mesmo tempo em que Roma se deteriorava a Itlia se viu i
nfestada por exrcitos em guerra, tanto dos Guelphs contra os Ghibellines, como do
s papalistas contra os imperialistas. Em meados do sculo XIV a Peste Negra infest
ou a Europa e exterminou um tero ou mais da populao. As conseqncias econmicas e sociai
s, especialmente o aumento dos preos e a escassez de trabalho, acelerou a falncia
do sistema feudal. Enquanto isso o novo imprio dos turcos otomanos se espalhava c
ontinuamente pela pennsula balcnica at finalmente alcanar os muros de Viena, control
ando o Mar Mediterrneo, e ameaando subjugar a cristandade. Da Peste Negra at o fina
l da Guerra dos Trinta Anos, ou seja, durante trezentos anos, a Europa Ocidental
mergulharia em um contnuo tumulto.
A primeira exploso aconteceu na Bomia, com a pregao de Joo Hus (1369-1415), a tomad
onselho de Constance, o crescimento do cisma da Igreja de Bomia, e as Guerras Hus
sitas. Com exceo da cruzadaalbigense, o conflito religioso permaneceu localizado,
at mesmo individualizado. Na Bomia tornou-se um movimento nacional envolvendo conf
litos militares em larga escala, foi quando pela primeira vez o comunismo religi
oso deixou de ser uma questo envolvendo comunidades intencionalmente pequenas, mu
itas vezes clandestinas, passando a envolver cidades e territrios inteiros.
Considerando que Joo Hus foi acusado pelo Conselho de Constance de pregar doutrinas h
ereges do ingls John Wycliffe, deveramos voltar um pouco e analisar as teses de Wy
cliffe, embora as acusaes do Conselho fossem injustas. Joo Wycliffe (1329-1384) no f
oi o ltimo herege medieval mas o primeiro lder da Reforma. No falou a uma obscura s
eita clandestina mas a toda a nao inglesa. Embora iniciasse como filsofo e telogo, s
uas preocupaes posteriormente tornaram-se amplamente polticas. Ele no era um lder pes
soal mas pregador e escritor. Ele no reivindicava nenhuma revelao especial e no preg
ava nenhum apocalipse. Suas idias revolucionrias foram desenvolvidas racionalmente
a partir das condies aceitas pelo realismo escolstico. A maior parte de sua vida a
tiva foi gasta como professor em Oxford no Balliol College e depois de ser expul
so, ou melhor, depois que ele se aposentou de sua parquia de Lutterworth, ele con
tinuou a escrever e fazer publicaes, morrendo em completa comunho com a Igreja. Ele
nunca foi um porta-voz da revoluo social, embora alguns seguidores e propagandist
as de suas idias, os Lollards, fossem acusados de envolvimento na Rebelio dos Camp
oneses em 1381. Na verdade, ele era um porta-voz, no dos pobres ou proletrios, mas
dos grandes magnatas, dos senhores, do rei, e do poder do Estado contra a Igrej
a. Embora muitas de suas idias tenham se tornado parte do credo protestante, elas
pouco tem a ver com os movimentos apocalpticos e comunais que desafiaram o poder
do Estado e da Igreja e se esforaram por estabelecer uma sociedade modelada na c
omunidade dos apstolos.
Para Wycliffe a Bblia era a autoridade exclusiva em todos os assuntos religiosos ou s
eculares. Ele aderiu uma noo peculiar, derivada do seu extremo realismo escolstico,
da Bblia como uma incorporao terrestre da palavrasagrada de Deus, de uma Bblia eter
na e celeste que refletia como um espelho a segunda pessoa da Trindade, o Logos,
a Palavra. Esta uma idia muulmana, dosagrado Alcoro, e que aparece com Wycliffe pe
la primeira vez no Ocidente. Embora tal conceito perdesse um pouco de seu extrem
ismo original, ele explica a bibliolatria do protestantismo ingls. Wycliffe tambm
foi responsvel pela primeira traduo completa da Bblia para o ingls. Seu efeito foi ta
l que a Igreja proibiu bblias desautorizadas em ingls e eventualmente, por um temp
o, a posse particular de bblias vernculas de qualquer tipo.
Wycliffe acreditava que a Igreja deveria ser completamente sujeita ao Estado e que d
everia ser desprovida pela fora de seu poder temporal, ela no deveria possuir pode
r temporal algum, poder religioso, e nem mesmo propriedades. As ordens religiosa
s deveriam ser abolidas. Todos os ministros e pregadores deveriam limitar-se pre
gao. A pregao era mais importante que a Missa. No havia nenhum suporte bblico para a M
issa enquanto um sacrifcio no qual Cristo estaria presente sacramentalmente. As c
onfisses orais eram desnecessrias. Os sacramentos eram invlidos se administrados po
r um pregador em pecado mortal, o mesmo valia para toda a autoridade hierrquica.
Nenhum papa pecador deveria ser obedecido. Como, de acordo com Wycliffe, por def
inio o clero geralmente estava em pecado mortal, toda a estrutura da igreja desaba
ria.
Wycliffe, em sua pregao pelo esvaziamento do poder da Igreja, tomou uma medida estrita
mente prtica. Em uma petio ao parlamento, seus seguidores argumentaram que se a Igr
eja fosse destituda de sua propriedade e reduzida pobreza evanglica seria possvel f
inanciar quinze novos ttulos de condes, quinze mil cavalarias, quinze universidad
es, cem casas de caridade, e quinze mil novos ministros do Evangelho, fora as vi
nte mil libras que iriam para o tesouro real. Esse movimento no tinha quase nada
de misticismo popular nem de espiritualidade, era o comeo de uma luta pelo poder
entre as duas classes governantes da Idade Mdia.
De modo algum Wycliffe condenou a riqueza secular.Os homens seculares podem ter uma i
nfinita quantidade de bens . . . desde que os adquira de fato, e os use para a h
onra de Deus, prosperando na verdade, e ajudando seus irmos cristos, desde que ele
s no se rendam aos apelos do clero anticristo para destruir os senhores seculares
, e roubar seus inquilinos pela lei do Anticristo. As propriedades do rei, dos gr
andes senhores, dos bares da l, dos mercadores, tornaram-se coisa sagrada, e o pap
a, os arcebispos, os abades, tornaram-se o Anticristo. Wicliffe estava historica
mente correto no que diz respeito a essa nova forma de propriedade a Inglaterra
daria seu grande salto no desenvolvimento capitalista a partir da secularizao da r
iqueza da Igreja por Henry VIII.
Assim, Wycliffe entrou bem cedo nesse cenrio. O Estado e os grandes senhores no estava
m preparados para embarcar em um programa to revolucionrio. A Santa Inquisio fora ba
nida da Inglaterra e a Igreja da Inglaterra ficou mais independente do papa do q
ue as demais, especialmente durante o papado de Avignon quando a maioria dos ing
leses tinha o papa como um vassalo do rei francs. Depois da Rebelio dos Camponeses
e da morte de Wycliffe, seus seguidores passaram a ser perseguidos com freqncia.
Eventualmente o estado ingls estabeleceu sua prpria Inquisio. Com o declnio da alfabe
tizao no movimento, a adeptos dos Lollardry passaram cada vez mais a ser vtimas do
uso da fora. Assim, tornaram-se completamente subversivos, no por serem apocalptico
s, nem por lutarem por um reino milenar, mas por exigirem uma revoluo poltica nas r
elaes entre a Igreja e o Estado. Este foi o primeiro movimento pre-Reforma que res
pondeu por uma parcela do carter poltico assumido imediatamente aps a revolta Hussi
te na Bomia. Os Lollardry tiveram participao ativa durante todo o perodo que durou a
Guerra das Rosas, favorveis ao trono e aos ataques econmicos contra a Igreja.
Entre os Lollards, como o caso de qualquer movimento, haviam aqueles radicais mais e
xtremados. verdade que durante um certo perodo de tempo Wycliffe, de uma forma re
sumida e em todos seus escritos, passou a defender uma sociedade comunista. Em s
eus escritos noDe Civili Domnio: Todas as coisas boas de Deus deveriam ser [compar
tilhadas] em comum. A prova disso que todo homem deveria estar em um estado de g
raa. Se ele est em um estado de graa ele o senhor do mundo e de tudo o que o mundo
contm. Ento todo homem deveria ser o senhor do mundo inteiro. Mas por causa da mul
tido de homens isso no acontecer a menos que eles possuam todas as coisas em comum.
Mas isto est em Latin e em um tratado instrudo, e Wycliffe apressou-se em dizer qu
e a histria, desde o pecado de Ado, conduziu autoridade e distribuio desigual da riq
ueza, coisas que todos os bons cristos deveriam aceitar, contanto que estejam nas
mos de leigos. Esta uma abordagem ortodoxa padro. Se todos os homens estivessem e
m um estado de graa, no existiria pobreza nem riqueza.
A Rebelio dos Camponeses ingleses de 1381 comeou com uma erupo espontnea em Essex,
massivo protesto dos escribas contra os impostos que se tornavam cada vez mais
pesados, uma medida que hoje seria chamada de deflacionria. O Estado tentava supe
rar os altos salrios e a inflao resultante da Peste Negra que se abatera sobre a ge
rao anterior. Os camponeses se revoltaram contra as tentativas dos nobres de destr
uir o status feudal dos escribas reduzindo-os a servos. Os rebeldes elegeram Wat
Tyler como lder e designaram Jack Straw seu principal auxiliar. Com a disseminao d
a revolta eles capturaram cidades e castelos em Essex, Kent e eventualmente toma
ram Londres. Mas antes tomaram de assalto o palcio do arcebispo e libertaram os p
risioneiros da priso episcopal, entre eles Joo Bali, tido como um Lollardo, mas ma
is provavelmente um herege milenrio do velho estilo. O panfleto de William Morris
A Dream of Joo Bali tornou Bali famoso, atribuindo-lhe um grande papel na revolta
, algo que na verdade nunca teve.
As exigncias oficiais dos camponeses apresentadas ao rei eram bastante simples e prtic
as. Essencialmente exigiam a abolio das dvidas e obrigaes feudais, a substituio do trab
alho assalariado e uma drstica reduo de impostos. A prova de que eles no se inspirar
am em Wycliffite revelada pelo saque e incndio do grande palcio de Joo de Gaunt em
Savoy, um antigo protetor de Wycliffe.
Por outro lado, Joo Bali tornou-se famoso tambm pelo seu dstico,When Adam dalfand Ev
an, Who was then a gentilman?. Segundo o historiador Jean Froissart, tais citaes er
am tpicas dos sermes de John Bali, ele foi preso antes da insurreio por dizer coisas
assim.
Ah, sim gente boa, as coisas no andam bem na Inglaterra, somos impedidos de comp
artilhar nossos bens, ainda existem cavalheiros em nossas aldeias, podemos unir
todas nossas posses, e os senhores no sero maiores do que ns. O que foi que fizemos
de errado para viver assim em servido contnua? Todos viemos de um pai e de uma me,
Ado e Eva: de modo que ningum pode de forma alguma dizer que maior do que ns, porq
ue temos que viver de migalhas enquanto eles usam o fruto de nosso trabalho em p
roveito prprio? Eles se vestem de veludo e carmesim forrados com peles, enquanto
nos vestimos com tropos: enquanto vivemos de migalhas e bebemos gua, eles bebem d
os melhores vinhos, comem do melhor po e da melhor mistura; enquanto eles vivem d
entro de seus palacetes, vivemos nos campos, na labuta, na dor, na chuva e no ve
nto; usam nosso trabalho para sustent-los e manter suas propriedades: somos chama
dos para servi-los, e se no atendemos prontamente ao seu chamado, somos espancado
s; e no temos a quem reclamar, quem nos oua ou faa justia. Vamos at o rei, ele jovem,
vamos mostrar-lhe a servido em que estamos, se as coisas permanecerem inalterada
s mostraremos aquilo que somos capazes de fazer; e se nos unirmos, todos aqueles
que esto em escravido nos seguiro tentando conquistar a liberdade; e quando o rei
vier at ns, j teremos encontrado a cura para nossos males, j teremos alcanado a justia
pelas nossas prprias mos.
Thomas Walsingham em suaCrnica menciona o sermo de Bali de uma forma indireta:
No princpio todos os seres humanos foram criados livres e iguais. Homens maldoso
s por uma opresso injusta p ela primeira vez introduziram a servido contra a vonta
de de Deus. Agora o momento dado por Deus em que as pessoas comuns podem, e cons
eguiro, rejeitar o jugo que agentaram durante tanto tempo e ganhar a liberdade que
sempre ansiaram. Eles deveriam ser puros de corao e proceder como sbios chefes de
famlia que ajuntam trigo em seus celeiros, e que capinam o mato que sufoca os gros
quase maduros; quando a poca da colheita se aproxima. O mato so os grandes senhor
es, os juizes e os advogados. Eles devem ser exterminados, da mesma forma que de
vem ser exterminados todos aqueles que representem perigo comunidade no futuro.
Ento, com os grandes fora de combate, todos os homens desfrutaro de liberdade em i
gual grau e poder, e compartilharo todas as coisas em comum.
Isso tudo o que realmente sabemos sobre Bali. No pice da revolta o jovem rei eventual
mente participaria de duas reunies com Tyler e Jack Straw nas quais concederia o
fim da escravido, das obrigaes feudais, a remoo de todas as restries na liberdade de tr
abalho e comrcio, e uma anistia geral para os rebeldes. Na segunda reunio os rebel
des foram dispersados. Wat Tyler foi morto e a rebelio suprimida. Joo Bali, Jack S
traw, e centenas de outros foram executados. As promessas do rei foram revogadas
. Os rebeldes remanescentes foram caados por toda parte e a revolta foi sufocada
sem qualquer efeito imediato.
A Rebelio dos Camponeses, por sua vez, foi bem mais articulada e aparentemente conduz
ida por homens bem educados, de uma forma semelhante ao que ocorreu na Frana e em
Flandres. O ocorrido revela um padro que se repetiria por muitas vezes. H uma ins
urreio popular contra as relaes feudais economicamente moribundas. Ela assume a form
a de reivindicao pela liberdade do trabalho e dos mercados capitalistas. A revolta
se amplia e transforma-se num levante generalizado contra os ricos. Em seu curs
o arrasta consigo proeminentes ex-pregadores e outros que pregam o advento de um
a revoluo religiosa, a chegada do apocalipse e do milnio. Eles no fazem parte do cor
po principal da revolta mas parasitam sobre ela e quando a revolta suprimida, e
at mesmo quando ela tem sucesso, eles so executados. Porm, h uma certa continuidade.
Considerando que os apocalpticos so os maiores propagandistas e os pregadores mai
s apaixonados, suas palavras permanecem na memria das pessoas e repetidas gerao aps
gerao, provendo combustvel para a prxima revolta.
6. Hus, Guerras Hussitas, Tabor
fcil ser enganado pelos melodramas da revoluo. Embora seja verdade que a histria s
por saltos em seus pontos crticos quando quantidade se transforma em qualidade,
como turbinas movidas a vapor quando a gua passa para o estado gasoso. No necessrio
ser conservador para perceber que as mudanas econmicas fundamentais levam muito t
empo at serem processadas e implementadas, tais mudanas sofrem a resistncia de uma
massa inerte. A Rebelio dos Camponeses da Inglaterra ocorreu em 1381 na forma de
uma clara reivindicao: a abolio da economia feudal. Trezentos anos depois, com a asc
enso de William de Orange ao trono, ocorre um evento relativamente pacfico que os
ingleses corretamente chamam de a Grande Revoluo, cujo elemento mais importante a l
tima p de cal em cima do tmulo da economia feudal. Mesmo assim, alguns ritos e relq
uias feudais sem importncia ainda sobreviveram quela poca..
No obstante, a despeito da profunda crise econmica, poltica, e religiosa, por toda pa
e da Europa ao trmino do dcimo quarto sculo, o feudalismo permanecia intacto, ntegro
, tido como um sistema vivel e apropriado sociedade que o demolira. Isso mais apa
rente na crise da Igreja. As relaes econmicas entre os leigos j estava mudando, mas
o comportamento da Igreja continuou puramente feudal e suas propriedades represe
ntavam uma grande massa obstrutiva de capital congelando o desenvolvimento da no
va economia. A Igreja simplesmente cessara de ser a prpria expresso religiosa da s
ociedade, enquanto que os hereges, anteriormente confinados e isolados com exceo d
e Cathari na Provena passaram a pulular por toda parte. Uma convulso semiconscient
e tomou conta de quase todo mundo. Na medida em que a insuficincia e a corrupo da I
greja chegava ao conhecimento de todos, a revolta se generalizava ainda mais.
Em nenhum outro lugar isso foi mais verdadeiro do que na Bomia. Nos tempos modernos,
como parte do Imprio Austrohngaro, e depois Czechoslovakia, a Bomia nunca exerceu u
m papel central na histria da Europa. Mas no foi assim no final da Idade Mdia. O re
inado da Bomia destacava-se como o primeiro dos eleitores do Santo Imprio Romano.
O Rei Wenceslaus IV, Imperador do Santo Imprio Romano, juntamente com sua famlia e
xerceu uma posio chave, situando-se entre os dois ou trs mais importantes ncleos de
deciso de toda Europa. Seu irmo Sigismund era Rei da Hungria. A Universidade de Pr
aga, fundada em 1348, ainda era a nica universidade no imprio, e sua influncia se e
sparramou ao longo de toda a Europa Central e das regies fronteirias ao leste.
Desde a misso dos santos Cyril e Methodius em 862 na Morvia at os primeiros anos do s
o X a Bomia teve como religio a ortodoxia grega. Nessa poca o Rei Vaclav (So Wencesl
aus) implantou o catolicismo da Igreja Romana. No sculo XIV a Bomia inclua a Morvia,
Silsia, a alta e baixa Lustia, e se constitua no poder dominante da Europa Central
. O grosso da populao era eslava a minoria checa mas a classe governante era geral
mente germnica. Haviam bases alems espalhadas por todo pas, quase todas as regies fr
onteirias ao norte eram controladas pelos alemes. A Igreja era uma das mais ricas
e corruptas da Europa. Mais da metade das terras pertencia hierarquia e ordens r
eligiosas. Os bispos e poderosos abades viviam a luxria dos senhores seculares. A
maioria deles eram alemes, ao passo que o baixo clero era geralmente eslavo; fre
qentemente as duas classes no falavam o mesmo idioma.
Por ser base do imprio, a Bomia tornou-se palco da intriga e da corrupo resultante d
nflito entre o imperador e o papa. A classe alta era extremamente rica. Antes da
descoberta da Amrica as minas da Bomia eram a principal fonte europia de prata. Em
grau menor produzia ouro e cobre. A maior parte dessa riqueza era distribuda de
forma desigual, concentrando-se no topo das classes altas, enquanto que na base
as pessoas comuns viviam em uma economia camponesa, numa condio ligeiramente melho
r que seus companheiros da Polnia e da Rssia Branca.
Wenceslaus IV envolveu-se em uma disputa com os eleitores e grandes senhores do impri
o, at que finalmente foi deposto. Ele recusou aceitar a eleio de Rupert, Elector Pa
latine, at que finalmente cedeu, consentindo o cargo ao irmo dele, Sigismund, Rei
da Hungria. Depois disso entrou em conflito com os senhores seculares e clericai
s da Bomia. O papado, recm mudado de Avignon para Roma, quase entrou em cisma, os
franceses e espanhis que apoiavam Clemente VII retornaram para Avignon; a Inglate
rra e o imprio, incluindo a Bomia, e o norte e centro da Itlia ficaram sob o contro
le de Urbano VI. Seus protetores reais no se mostraram muito generosos com dinhei
ro e ambos os papados quase entraram em falncia, sendo forados a fazer uso de tudo
que estava a seu alcance, especialmente a venda de indulgncias, para levantar di
nheiro. Um poderoso movimento entre os telogos da Europa, conduzido por Jean Gers
on, Chanceler da Universidade de Paris, Pierre Cardinal dAilly, at mesmo incluindo
eventualmente a maioria dos cardeais, comeou a agitar por uma soluo do problema vi
a um concilio geral de toda Igreja Catlica Romana. O Conclio de Pisa em 1409 elege
u Alexandre V, mas Benedito XIII em Avignon and Gregrio XII em Roma recusaram-se
a renunciar, assim haviam trs papas. Quando Alexandre morreu dez meses depois, Ba
ldassare Cossa, leigo, e pirata aposentado, foi coroado como Joo XXIII (aps uma rpi
da ordenao como padre na noite anterior) e, sob a proteo do Imperador Sigismund, que
imediatamente envolveu a Itlia em contnuas guerras, que resultaram em novas venda
s de indulgncias para financiar suas cruzadas.
Nesse momento, aps um longo perodo de maturao, a explosiva situao na Bomia vem
rador Carlos IV e Wenceslaus incentivaram um certo grau de liberdade religiosa e
anti-papalismo na Bomia. A Inquisio foi mantida fora do pas fazendo com que um nmero
de seguidores de Wycliffe e Lollard imigrassem da Inglaterra, Waldenses, Lombar
dia, Jura, e dos Alpes, para a Bomia. O rei estabeleceu em Praga uma capela para
a pregao popular, diretamente dependente de seu patrocnio, e independente do arcebi
spo ou de qualquer ordem monstica. A Capela de Belm onde os sermes eram lidos em ch
eco e latim, e onde, naquele tempo, o Rei Wenceslaus e a Rainha Sofia usualmente
assistiam aos servios preferindo-os catedral. Houve uma sucesso de pregadores ref
ormistas ao longo de uma gerao, em grande parte sob a influncia de Wycliffe, a diss
enso popular na Bomia desenvolveu-se bem longe da esquerda. A rejeio s proclamaes papai
s, transubstanciao, batismo infantil, comunho em uma espcie de laicidade, e denncias
de simonia, nepotismo, e luxria da Igreja eram muito comuns.
Em 1402 Joo Hus foi designado reitor da Universidade de Praga. Antes desse tempo ele
fora decano da faculdade de filosofia e um pastor de fama na Capela de Belm checa
. Considerando as lutas religiosas que maturavam na Bomia ele no estava ainda nem
no meio do caminho, era um conservador. Embora na maioria dos casos discordasse
de Wycliffe, foi favorvel ao direito de expresso dos seus seguidores, tanto que tr
aduziu oTrialogu. de Wycliffe. Wycliffe era estudante e telogo, Hus era pastor e
pregador. Seus prprios escritos foram, considerando o tumulto teolgico e a profund
a crise da Igreja, surpreendentemente ortodoxos. Durante os prximos cinco anos el
e mergulhou em uma quase contnua dificuldade com oestablishment eclesistico, no por
causa de alguma heresia teolgica (tais idias nem passavam pela cabea do arcebispo
que tinha sido soldado antes de ocupar o cargo), mas por suas denncias pblicas dos
abusos da Igreja.
Durante as preparaes do concilio ecumnico para evitar um grande cisma, elegeram apena
um papa, e reformador da Igreja, o Rei Wenceslaus. Hus, o clero checo, e o povo
permaneceram neutros, mas a hierarquia alem apoiou Gregrio XII. No conflito result
ante o rei emitiu um dito que dava trs votos aos bomios e apenas um aos bvaros, saxes
e poloneses, combinados, uma reverso da ordem previamente estabelecida pela admi
nistrao da universidade. O arcebispo atacou imediatamente pedindo ao Papa Alexandr
e V a condenao dos Lollardry e a proibio de todos os livros de Wycliffe, pediu tambm
a emisso de uma bula papal proibindo as pregaes em todas as capelas independentes.
Hus continuou pregando e foi excomungado pelo arcebispo, que apelou ao novo papa, Joo
XXIII, um dos mais corruptos e depravados da histria do papado. Papa Joo XXIII no
apenas apoiou o arcebispo como colocou a cidade de Praga sob interveno enquanto Hu
s continuasse pregando. Ao mesmo tempo o papa inundou a Bomia com vendedores de i
ndulgncias para financiar sua cruzada contra o Rei Ladislaus de Npoles. Hus e os r
eformadores mais radicais denunciaram a venda de indulgncias. A situao de Hus em Pr
aga ficou de tal forma insustentvel que ele teve que se exilar em uma zona rural
perto dali onde, mais tarde, a comunidade revolucionria de Tabor seria estabeleci
da. L ele permaneceu dois anos escrevendo, e publicou sua principal obra,De Eccle
sia.
Em 1414 o Conclio recm convocado convidou Hus a vir e se defender das acusaes de her
lanadas contra ele pela faco do arcebispo. O Imperador Sigismund deu-lhe salvo-con
duto, prometendo que qualquer que fosse o julgamento do Conclio, lhe permitiriam
voltar seguramente Bomia onde, se culpado de heresia, ficaria sob a jurisdio do Rei
Wenceslaus. Tratava-se de uma armadilha para atra-lo at Constance. Logo aps sua ch
egada Joo XXIII designou uma comisso para examinar seus documentos. O salvo-condut
o foi cancelado pelo imperador. Hus foi aprisionado. Era o incio de um agonizante
e doloroso processo teolgico.
Hus foi acusado primeiramente de propagar uma longa lista de doutrinas de Wycliffe e
Waldensio, a maioria das quais ele negou. A lista foi mudada; e embora ele nova
mente negasse que defendia a maioria daquelas doutrinas, lhe exigiram que abjura
sse a todas elas.
Ele recusou abjurar aquelas doutrinas que nunca tinha sustentado. Finalmente uma nov
a lista, boa parte retirada deDe Ecclesia, foi submetida a ele. A maioria delas
foi interpretada por ele de forma ortodoxa, mas sua interpretao foi rejeitada. Os
itens mais importantes foram aqueles em que ele condena a corrupo, o abuso, e o de
spotismo da Igreja, negando a autoridade tanto do papa como dos maus governantes
seculares.
Seus principais promotores foram Jean Gerson e Pierre dAilly, que foram impiedosos em
seus ataques sobre ele, essas mesmas pessoas, durante as sesses desse Conclio, ti
nham ajudado a depor Joo XXIII por simonia, heresia, fornicao, e pederastia. O julg
amento foi marcado por uma incrvel desordem e abuso por parte dossantos padres pa
rticipantes da assemblia do Conclio. Na maior parte do tempo Hus no pode ser ouvido
, suas respostas seriam dadas por escrito depois das sesses. Aps sua condenao final
ele parecia incapaz de acreditar na injustia ultrajante dos procedimentos e ainda
estava redigindo uma petio para se defender quando foi condenado cerimonialmente,
suas vestes sacerdotais foram retiradas, foi cassado em seus direitos civis, e
condenado por traio ao imperador, e conduzido para fora para ser queimado na fogue
ira.
Alm de ser o primeiro, Hus foi sem dvida o mais nobre de todos os grandes reformadores
. Ele tambm foi o mais conservador. Nunca passou pela sua cabea fundar uma seita.
Ele apenas desejava reformar a Igreja sem alterar sua estrutura ou a base de sua
teologia. As idias que ele realmente defendeu, e at mesmo algumas idias falsamente
atribudas a ele, pouco diferiam das doutrinas e reformas propostas pelo primeiro
Conclio Vaticano que muitos esperavam reabilitar a Igreja, mas que, devido presso
da Cria papal, recusou at mesmo de levar esse assunto em considerao.
Hus tambm diferia muito pouco de Gerson e dAilly, mas aquele pouco foi importante. Hus
baseava-se em sua conscincia. Ele recusava negar aquilo que acreditava ser verda
de, ele recusava mentir, ou confessar a propagao de idias que nunca defendera. Gers
on e dAilly representavam a autoridade. Eles queriam sua submisso independente do
julgamento. A obedincia para eles era mais importante do que a verdade. Naturalme
nte, isso significa que eles acreditavam que a Igreja estava fundada na obedincia
e que a verdade vinha depois. Em certo sentido eles estavam certos. O argumento
de George Bernard Shaw em seu prefcio aSaint Joan est correto, embora seja mais a
plicvel a Hus do que para Joana dArc. Embora os maiores telogos morais da Igreja Ca
tlica Romana sempre dissessem que a conscincia era primria, isso nunca foi colocado
em prtica. So Joo, Joo Hus, So Thomas More, todos morreram pelas suas conscincias, em
bora a conscincia de More preferisse a autoridade do papa autoridade do Rei Henry
. Uma estrutura completamente autoritria requer obedincia, aqui no se trata de uma
escolha da vontade individual que segue as ordens da conscincia, mas a pura e sim
ples obedincia a ordens externas. Se a santidade da individualidade da alma e a p
rimazia de sua vontade fosse transformada no fundamento da ao moral, as estruturas
autoritrias eventualmente desabariam.
Hus foi um homem de centro, dificilmente pode ser considerado como um radical, e mui
to menos como comunista, mas com os preparativos de sua morte em Constance, a Bom
ia levantou-se em revolta, primeiramente contra a traio do imperador e a injustia d
o Conclio e eventualmente contra a Igreja, o imprio, e contra a prpria civilizao medi
eval. A morte desse homem consciencioso precipitou a primeira revoluo nacional na
histria Ocidental.
Quando as notcias da execuo de Hus alcanaram Praga, a reforma e o desassossego se tr
ormaram em revoluo. Nobres, reis, rainhas, pessoas comuns, eslavos e muitos alemes,
todos eram unnimes em condenar o ato do Conselho e a deslealdade do Imperador Si
gismund. Os nobres tinham anteriormente redigido um pedido pela libertao de Hus, e
depois de sua execuo quatrocentos e cinqenta e dois nobres de todas as partes da B
omia e da Moravia se juntaram em um congresso de emergncia em resposta condenao de H
us pelo Conclio. Eles prprios foram duramente condenados pelo Conclio pela prtica Bom
ia de comungar com leigos servindo o po e o vinho nas cerimonias religiosas. Eles
recusaram reconhecer quaisquer dos decretos do Conclio. Recusaram obedecer o nov
o papa a menos que ele fosse um homem de qualidade moral e agisse de acordo com
a vontade de Deus. Uma recusa que se estendeu a toda a hierarquia. As decises teo
lgicas passaram a ser tomadas na Universidade de Praga e estabeleceram a livre pr
egao em seus territrios. O Conclio respondeu mandando Jerome, um colaborador de Hus,
para a fogueira. Jerome j havia abjurado anteriormente, mas movido pelo martrio d
e Hus, retratou sua abjurao e convocou todos os signatrios do manifesto dos nobres
a condenar o rei, a rainha, e os principais da universidade de Constance, por he
resia.
Com a bno do Conclio, Sigismund organizou um exrcito para invadir a Bomia. O Conc
integrou em abril de 1418 sem abarcar outras questes que no fossem excomunhes e int
erdies. Em 1419, o Rei Wenceslaus tentou restaurar o Conclio para que continuasse s
eus ofcios na Igreja e na Universidade, agregando membros anti-hussitas do consel
ho da cidade. Com a populao revoltosa mantida fora da praa da cidade, os oponentes
passaram a atirar pedras. Sob a liderana de Jan Zizka, os hussitas invadiram a pr
aa da cidade, pegaram oburgomestre juntamente com vrios membros do conselho e os l
anaram pela janela, sendo feitos em pedaos pelas ruas. Quando as notcias chegaram a
o Rei Wenceslaus ele foi tomado por um ataque apopltico morrendo alguns dias depo
is.
A primeira defenestrao de Praga marcou o comeo da guerra aberta. Os alemes e membros
concilio, normalmente os mesmos, foram expulsos de suas propriedades e ofcios por
toda a Bomia. Houve uma breve luta em Praga entre o pequeno exrcito de mercenrios
estrangeiros leais rainha e os hussitas conduzidos por Zizka que capturaram o ca
stelo Vysehrad que dominava a cidade. Os nobres organizaram uma trgua. Os cidados
restabeleceram o castelo. Zizka juntamente com os reformadores mais radicais dei
xaram Praga em direo a Pilsen, o centro do poder alemo daquela regio. Sem conseguir
tomar Pilsen, seguiram em direo ao sul, estabelecendo uma comunidade, qual deram o
nome de Tabor, a colina da Transfigurao de Cristo. Os exrcitos da Cruzada papal in
vadiram a Bomia e a Moravia vindos de vrias direes e em 30 de junho de 1420, efetuar
am um cerco Praga. Todos os partidrios hussitas se reuniram em conselho e apresen
taram quatro exigncias ao papa, que posteriormente passaram a ser conhecidas como
os Artigos de Praga, um programa mnimo que permaneceu inegocivel ao longo das gue
rras hussitas, mas que foi adotado quinze anos depois.
A palavra de Deus ser pregada e proclamada livremente pelo reino da Bomia pelos p
regadores de Deus.
II. O sacramento da santa Eucaristia ser administrada livremente tanto na forma d
o po como do vinho, para todos os crentes fiis que no estiverem em pecado, conforme
institudo pela palavra de Nosso Salvador.
III. O poder secular sobre as riquezas e bens mundanos em posse do clero contrar
ia os ensinamentos de Cristo prejudicando seu ofcio e favorecendo o brao secular,
ser tomado [do clero] que dever se restringir aos preceitos evanglicos e vida apostl
ica de Cristo e seus discpulos.
IV. Todo pecado mortal, especialmente pecados pblicos e outros contrrios lei de De
us devem em todos os aspectos da vida ser prpria e razoavelmente abandonados e re
chaados por aqueles que os praticam. Incluindo fornicao, assassnio, roubo, usura, ma
ledicncia, superstio. Quanto ao clero, os encarregados dos servios cerimoniais, os e
xecutores dos servios sacerdotais, devem se livrar de toda imoralidade, e de todo
comportamento profano e contencioso.
Exceto para aquele pequeno nmero de pessoas que no acreditavam no sacramento da Eucari
stia, estes pontos representaram um programa mnimo no qual todos poderiam concord
ar; esse programa consta como o mais antigo documento nos movimentos de dissidnci
a na Europa Ocidental, sendo comum a praticamente todos eles. Esse programa foi
integralmente adotado pelos reformadores da ala direitista dos reformadores da B
omia, que depositaram uma especial nfase ao direito do leigo comunho dupla (no vinh
o e no po) e que dali para a frente passaram a ser conhecidos como utraquistos (o
u ambos-istos) ou calixtines (pelo clice). A grande importncia dessa exigncia est liga
da herana dos primeiros dias do cristianismo na Bomia que fora evangelizada por mi
ssionrios ortodoxos gregos, e como os ortodoxos praticavam a comunho dupla, talvez
ela nunca tenha sido completamente abandonada. No havia nada nessas exigncias que
fosse teologicamente incompatvel com a mais rgida ortodoxia catlica romana. Mas o
terceiro e quarto ponto eram totalmente incompatveis com sua prtica, atingindo em
cheio todas as igrejas estabelecidas. Ali tambm estava implcita a doutrinahertica d
e que a obedincia no devida ao clero imoral e da invalidade de seus sacramentos; e
mbora esta convico no conste ao p da letra.
Os emissrios do papa e o imperador recusaram at mesmo de discutir os assuntos dos Arti
gos de Praga e continuaram com o cerco. Zizka venceu e massacrou completamente o
exrcito adversrio em uma grande batalha. Diante daquilo as foras papais e imperiai
s passaram a invadir continuamente todo o pais, e em cada uma destas invases fora
m derrotados com grande matana, exceto quando seus exrcitos recuavam e corriam sem
lutar.
Freqentemente dito que foi a Revoluo Francesa que inventou o exrcito nacional, ole
asse de todo um povo. Seu verdadeiro inventor foi Jan Zizka. Embora os taborites
formassem o ncleo de uma permanente fora de luta, cada cruzada do imperador e do
papa reunia uma grande maioria de checos. Zizka introduziu mtodos notavelmente mo
dernos de combate que propiciavam um elevado poder de fogo, o exrcito taborite fo
i o primeiro a usar sistematicamente a artilharia como principal brao ttico. As te
ntativas de invaso tiveram como resposta uma profunda contra-invaso no territrio in
imigo, desde o princpio a pilhagem exerceu uma parte importante nos suprimentos d
e Tabor. Zizka nunca pde controlar completamente as minas de propriedade alem, ou
a cidade de Pilsen que permaneceu como reduto romano. Inicialmente, a maioria do
s trabalhadores eslavos que se levantaram em revolta foram derrotados por mercenr
ios alemes. Em Kutna Hora dezesseis mil pregadores juntamente com seus seguidores
foram mortos e lanados nas minas.
Zizka iniciou sua carreira cego de um olho e incidentalmente uma flecha cegou seu ou
tro olho. Ele estava completamente cego quanto travou suas ltimas batalhas. Ele m
orreu em 1424 de uma infeco na vspera de uma conquista planejada da Morvia e Silsia.
Sua vaga foi ocupada por Procopius que derrotou os alemes em duas grandes batalha
s em 1427, os exrcitos da Bomia se tornaram o terror da ustria, Hungria, Silsia, Saxn
ia, Brandenburgo, Palatino, e Francnia.
Os exrcitos taborites simplesmente cessaram de invadir territrio inimigo e passaram a
conquist-los, ou seja, deixar guarnies nas cidades e castelos que capitularam. A Bom
ia revolucionria ameaava controlar toda Europa Central. O Papa Martin V convocou u
m conselho geral em Basel no ano de 1431 para lanar outra Cruzada, que novamente
amargou uma derrota opressiva. Os emissrios do papa, o imperador, e o conselho in
iciaram negociaes secretas com os utraquistos, que em nenhum aspecto eram revoluci
onrios no sentido econmico ou social e que constituam uma das mais instveis alianas c
om a Tabor comunista. Os prprios taboritas, inbeis em conquistar o apoio dos campo
neses, introduziram uma requisio forada de alimento, primeiro para o exrcito e para
as cidades, e depois para o estabelecimento de um estilo prprio de exao semi-feudal
. Mais de quinze anos de vitrias contnuas se passaram e o prprio exrcito dava sinais
de degenerao, enchendo-se de aventureiros vindos de toda Europa. Eventualmente os
taboritas acabaram isolados e derrotados em 30 de maio de 1434, perto da Lipnia
na Bomia quando treze mil de um exrcito de dezoito mil foram mortos. Tanto Procpio
o Grande, como seu tenente em chefe, Procpio o Pequeno caram naquela batalha.
Os utraquistos, Papa Alexandre VI, e o Imperador Sigismund concordaram em negociar a
s bases dos Artigos de Praga, e em 1436 eles foram aceitos em toda parte de uma
forma ambgua e modificada que permitia o uso opcional do rito romano pela Missa.
A Igreja Nacional da Bomia tomou a forma de uma espcie de igreja mista, unindo o r
ito ortodoxo com a comunho com Roma, at depois da Batalha da Montanha Branca em 16
20 na Guerra dos Trinta Anos. A partir dessa data essa prtica foi abandonada e a
obedincia a Roma completamente restabelecida. Os prprios utraquistos capturaram Ta
bor em 1452 quando os militantes taboritas foram forados a uma existncia undergrou
d, para reemergirem como anabatistas e outras seitas radicais da Reforma iniciad
a por Lutero. Os pacifistas e os mais estritos comunistas religiosos fundaram a
Unitas Fratrum, tambm conhecida como Irmos Checos, Irmos Moravianos, ou Irmos Unidos
, que existem at hoje. Os huteritas tambm trazem sua ascendncia de Tabor.
As contnuas cruzadas papais e imperiais foraram a formao de uma frente unida e ampla
grupos de dissidentes reformistas e revolucionrios da Bomia. Sempre que a presso e
xterna relaxava, essa unidade era demolida pelo partidarismo, s vezes alcanando o
ponto de conflito armado. Estas divises eram definidas claramente por linhas tnica
s e de classe.
A maioria dos nobres, ricos comerciantes alemes e proprietrios de minas eram pr-Roma.
uitos deles deixaram o pas. Outros conseguiram estabelecer-se em pequenos enclave
s que nunca foram incorporados peloestado bomio revolucionrio. A razo disso que na
verdade no havia qualquer estado bomio revolucionrio, nem mesmo um, unificado em te
rmos de uma entidade poltica em terras checas. Os nobres e magnatas checos somara
m-se a alguns alemes formando uma ala direitista no partido utraquista juntamente
com o arcebispo e a Rainha Sofia. Para eles os Artigos de Praga no eram um progr
ama mnimo mas um programa mximo. Uma vez secularizada a propriedade da Igreja eles
permaneceram socialmente conservadores, bastante contentes com seus privilgios f
eudais escorados por monoplios e franquias, nada diferente da classe dominante in
glesa do tempo de Henry VIII.
No comeo da revoluo, com o primeiro cerco de Praga, grande parcela do poder poltico
ransferiu para as mos da classe dos artesos. Checos em quase sua totalidade, com e
xceo de certos profissionais como os ourives, eles se aliaram com pequenos nobres
checos como Jan Zizka e com a maioria da classe mdia baixa, que representava um nm
ero considervel. Eles eram os militantes utraquistos. Para eles os Artigos de Pra
ga eram um programa mnimo. Esta aliana era antipapa e no tinha nenhuma inteno de rest
aurar o catolicismo romano, visava uma Igreja Catlica livre na qual o papa seria
apenas um bispo de Roma, um bispo igual aos demais. Eles rejeitaram a doutrina r
omana da transubstanciao. A maior parte de seus clrigos adotara a doutrina de Wycli
ffe da permanncia, ou seja, de que o po e o vinho permanecem inalterados depois da
consagrao, de forma que o corpo e o sangue de Cristo apenas esto presentes espirit
ualmente, como em um espelho. Eles tambm rejeitaram a idia de que a Missa era sagrad
a e a interpretaram como sendo essencialmente uma comunho espiritual, um ato cong
regacional. Eles rejeitaram a estrutura social e econmica do feudalismo; embora c
omeassem a desenvolver uma forma mercantil de capitalismo, sua base no futuro, el
es estavam indefinidos sobre o que colocar em seu lugar. Politicamente eles eram
democratas, embora lderes como Jan Zizka lentamente introduzissem lideranas da el
ite clerical, pequenos nobres, e cidados prsperos e educados.
O sculo XV foi uma poca de inflao e de instabilidade econmica, especialmente na Bo
ga desenvolveu uma grande classe de desempregados, como tambm um submundo de semi
-criminosos. Tais pessoas, juntamente com os trabalhadores pobres, formavam um p
roletariadolumpen sempre pronto para revoltas, funcionando como o pavio da extre
ma esquerda.
Com o passar do tempo, com as notcias sobre a revoluo na Bomia se espalhando pela Eu
, os sectrios e hereges migraram para Praga primeiramente das cercanias da Bavria,
do Tirol, e da Renolndia, e eventualmente de locais longnquos como a Litunia, Ingl
aterra, e Espanha. Um dos lderes da fraternidade Oreb era um lollardo ingls, Peter
Payne. Aps o estabelecimento das comunas de Tabor e Oreb, esta migrao se transform
ou em uma inundao. Aparentemente todos os excntricos e psicticos religiosos deslocar
am-se para a Bomia. Em 1418 quarenta refugiados de Lisle e Tournai chegaram em Pr
aga fugindo da violenta perseguio em seus pases. Os primeiros foram os picardos. Os
pikarti, como eram chamados, deram seu nome s formas mais extremas de revolta.
A reao revoluo bomia no resto da Europa no foi diferente da reao aosred hunts
do sculo XX. Os hereges e cismticos que tinham sido tolerados ou ignorados como i
nconseqentes pelo Estado, em toda parte passaram a ser caados, enviados fogueira,
ou linchados pela turba. Aqueles que puderam fugiram para a Bomia, onde acreditav
am que o paraso terrestre estava em processo de realizao. Todos esses diferentes el
ementos formaram uma classe, a classe daqueles que no tinham mais nada a perder.
Contudo, eles no foram outra coisa seno o corao e a alma da extrema esquerda. Seus ld
eres e porta-vozes eram monges renegados, clero secular anterior, e pessoas alfa
betizadas da classe mdia baixa.
Aps seu incio, a revoluo bomia no apenas foi deslocada de sua base camponesa, como
perder o apoio entusistico dos seus seguidores camponeses, cuja atitude tendeu ma
is ao consentimento passivo do que oposio ativa. Os camponeses estavam interessado
s na abolio das exaes feudais, na redistribuio da terra, e na supresso das incipientes
tendncias servido que atingiria seu pice depois da Reforma de Lutero. Uma vez conqu
istados esses objetivos, os camponeses perderam seu interesse na revoluo, tornando
-se conservadores pelas suas prprias conquistas. Considerando que nem Praga nem T
abor foram capazes de desenvolver novas formas efetivas de produo econmica, a revol
uo nas cidades foi forada a retirar recursos do campo, e no caos econmico foi incapa
z de proporcionar um retorno adequado ao valor recebido. A restaurao do papa e do
imperador significou um retorno ao feudalismo. A continuao de seus novos senhores
no poder significou novas exaes. Os camponeses permaneceram passivos.
A economia de Tabor foi chamada pelos historiadores posteriores de comunismo de cons
umo, no de produo, mas difcil compreender como, durante to longo perodo, os dois puder
am ser mantidos separados. H recentes estudos sobre o grau de socializao da produo em
Tabor mas todos eles ainda esto em checo. Tabor controlou algumas das principais
minas de ouro daqueles dias na Europa e sua produo parece ter ocorrido em uma bas
e completamente comunista. Quando a comunidade estava no comando e quando comuni
dades afiliadas se estabeleciam em outros locais, grandes cofres eram colocados
no centro da cidade, as pessoas vendiam todas suas propriedades e colocavam o di
nheiro e suas jias, se possussem, no cofre, e posteriormente tambm seus salrios, apa
rentemente recebidos pelo trabalho efetuado em seus antigos empregos ou comrcio s
ua moda. A riqueza acumulada era distribuda igualmente para todos os cidados da co
muna. Como as guerras hussitas foram mais movidas pela pilhagem, elas se expandi
ram mais pelo saque do que pela converso, por essa razo as primeiras invases ocorre
ram em territrio alemo. difcil compreender como essas coisas funcionavam. Historiad
ores anticomunistas defendem uma grande semelhana quilo que chamado decomunismo de
brigand do tipo que se desenvolveu nas comunidades hereges muulmanas no Oriente Prx
imo. A evidncia geral, por outro lado, indica que a vida em Tabor, Oreb, e outras
comunas transcorreu de uma forma bastante normal, na forma de um comunismo prod
utivo, e que, considerando as dificuldades, no foi de forma alguma parasitrio, ou
certamente no mais do que o feudalismo decadente que substituiu. Aqueles que acre
ditavam em um comunismo puramente parasitrio foram expulsos da cidade.
Assim surge o famoso Adamites cuja vida supostamente retratada no quadro de Hieronym
us Bosch,O Paraso Terrestre. Ele foi celebrizado em nossos prprios dias peloBig Su
r and the Oranges of Hieronymus Bosch de Henry Miller; por toda parte da Amrica j
ovens transviados se aglomeram nas rodovias, pedindo carona para Adamite que pro
mete uma terra chamada Grande Sul, que eles descobrem consistir de um conjunto d
e montanhas escarpadas diante do mar, povoadas por nativos hostis que aparenteme
nte sabem dizer apenas duas palavras no idioma ingls: Move on.
A maioria dos taborites, a Fraternidade de Oreb, e seus aliados na Nova Cidade de Pr
aga chegaram logo a um consenso geral na revoluo. Eles aceitaram a Bblia numa combi
nao das doutrinas wycliffitas, waldensianas, e do Livre Esprito. A Bblia era a autor
idade exclusiva de f e prtica; os credos e as tradues da Igreja eram apenas corrupes,
da mesma forma que seus ritos e cerimonias, a sagrada Missa, indulgncias e oraes pe
los mortos, oraes pelos santos, confisso auricular, extrema uno, batismo de crianas, e
todos acessrios como crisma, bnos, gua benta, vesturios de Missa, imagens, dias santo
s, tradicionais cantos de Missa e ofcios de orao. Todas essas coisas negavam a vida
da Igreja apostlica. Aquelas pessoas acreditavam, como os waldenses, que o minis
trio e a autoridade de um padre em pecado era invlido. E no apenas isso, caso fosse
necessrio, qualquer leigo poderia celebrar a Eucaristia ou ouvir confisses.
A maioria dos militantes, ao longo da histria dos dissidentes, foram milenaristas ext
remados. Eles acreditavam que a Segunda Vinda de Cristo (disfarado de bergantim)
e a destruio universal do mundo mau aconteceria quase imediatamente, primeiramente
em 1420; e quando a data passou, foi adiada para mais alguns anos. Em preparao pa
ra a vinda do reino era dever da fraternidade dos santos encharcar suas espadas
com o sangue dos malfeitores, realmente lavar as mos com sangue. Aps a destruio por
atacado, assim como em Sodoma e Gomorra, Cristo apareceria no topo de uma montan
ha e celebraria a vinda do reino com um grande banquete messinico para todos os c
rentes.
Enquanto esse dia no chegava, os taborites antecipavam essa comunho dos santos promove
ndo grandes ajuntamentos prximos s colinas e montanhas onde a Eucaristia se tornav
a um massivogape ou festa do amor presidida pelos lderes militares ou religiosos c
omo faziam os messias sacerdotais e reais do Qumran. No reino todos os sacrament
os e ritos seriam dispensados e substitudos pela presena real de Cristo e do Esprit
o Santo, todas as leis seriam abolidas, os eleitos jamais morreriam, e as mulher
es iriam parir crianas sem dor e sem relaes sexuais prvias. Em 1420 os taboritas que
braram todas as conexes com a Igreja Catlica pela eleio secular e pela ordenao de bisp
os e padres.
A maioria dos taboritas foram extremamente puritanos em sua conduta pessoal, mas uma
minoria, influenciada pelas doutrinas do Esprito Livre de Pikarti, acreditava qu
e o milnio j havia chegado. Eles compunham o reino dos eleitos, e para eles todas
as leis tinham sido abolidas. Quatrocentos deles foram expulsos de Tabor em 1421
e vagaram nus pelos bosques, cantando e danando, reivindicando estar no estado d
e inocncia de Ado e Eva antes da queda. Com base nas observaes de Cristo sobre as me
retrizes e os publicanos, eles consideravam a castidade um pecado e aparentement
e passavam a maior parte de seu tempo em contnuas orgias sexuais.
Jan Zizka, que j tinha se retirado da Fraternidade de Tabor, mudou-se para Oreb, uma
comunidade menos extremada, passando o resto de sua vida caando-os. Vrias centenas
fugiram e se estabeleceram em uma ilha em um rio ao sul da Bomia, baseados nessa
ilha passaram a invadir os bairros vizinhos, incendiando igrejas, matando padre
s e todos aqueles que opunham resistncia. Aps um breve cerco Zizka invadiu a ilha
e exterminou a todos exceto um prisioneiro que, aps escrever uma confisso completa
de sua doutrina, foi queimado e suas cinzas lanadas ao rio.
Esse foi o fim da exttica e orgistica comuna dos adamitas. Acusaes de desregramentos
uais e cerimonias ultrajantes, como tambm assassinato e roubo, foram comuns na lo
nga histria da heresia, tais acusaes so usualmente tidas como fantasias oriundas das
mentes neurticas de inquisidores celibatrios. Mas a histria dos adamitas no vem dos
inquisidores, mas de homens que foram os prprios hereges revolucionrios, que conh
eceram intimamente os adamitas, e que no tinham nenhuma razo para acus-los falsamen
te. As crenas e conduta dos adamitas diferem daquilo que conhecemos dos vrios grup
os do Esprito Livre no resto da Europa apenas quando comparamos essas crenas e con
dutas luz da liberdade de ao brevemente esboada pelos adamitas em uma situao revoluci
onria.
Alm das secesses de Tabor, com Zizka direita e os adamitas esquerda, aqueles que s
useram pregao da violncia desenfreada se retiraram sob a liderana de Pedro Chelsicky
para uma rea rural da Bomia e fundaram uma comunidade pacifista, rejeitando todo
uso da fora. Para Chelsicky, o poder poltico e o Estado existe apenas como um mal
necessrio, como um resultado do pecado original, para manter a ordem no mundo for
a da comunidade dos verdadeiros cristos, onde todas as relaes so governadas pela paz
e pelo amor. A comunidade que ele fundou no tinha qualquer organizao externa; o nic
o lao era o amor e o exemplo da vida de Cristo e dos apstolos. Estes pacifistas ex
tremados sobreviveram a todas as revolues e contra-revolues da reforma bomia, para se
tornar o Unitas Fratrum, os Irmos Checos.
A vida em Tabor provavelmente teve uma glria especial, a glria de uma sociedade transf
igurada, onde a vida era vivida de uma forma to exultante que se aproximava da lo
ucura. A comunho era o acordo dirio de milhares de pessoas que cantavam ao ar livr
e nos campos, onde celebravam vastos encontros religiosos no topo das montanhas,
com exrcitos retornando da batalha, em triunfo, carregados de pilhagem e empunha
ndo trofus como moblias luxuosas de cardeais e reis, com multides danando pelas ruas
, com centenas de milhares de inimigos fugindo por cima do gelo quebradio, com exr
citos marchando ao som de hinos em unssono, com o rugido dos vages frreos e das rod
as dos canhes, com um clice dourado, em vez de uma bandeira, acima de suas cabeas.
Tabor foi o monte onde Barak e Dbora juntaram os anfitries que aniquilaram Ssera, i
mortalizado em um dos grandes poemas da Bblia; mas os taboritas tambm acreditavam
que o Monte Tabor foi tambm o monte da transfigurao de Cristo, o Monte das Oliveira
s onde ele pregou o sermo do apocalipse em Marcos 12 antes de comear sua marcha pa
ra a crucificao; e finalmente era a montanha da qual ele ascendeu para o cu. Todas
essas coisas simbolizavam a natureza da vida vivida em Tabor.
Plato, So Thomas More, Campanella, Harrington, Bacon, todos tentaram imaginar sociedad
es nas quais a oportunidade para aquilo que a Igreja originalmente chama de peca
do seria severamente inibida, onde seria praticamente impossvel aos homens procur
arem por bens menores imediatos em vez de um ltimo maior bem. Tabor em seus prime
iros anos resolveu o problema da utopia negando isso. Os taboritas foram os prim
eiros a tentar fundar uma sociedade no princpio de que a liberdade me, no filha da
ordem. Eles tiveram sucesso por causa de suas contnuas guerras. Na realidade, sem
perceber, eles se tornaram uma teocracia militar.
Se o socialismo em um pas deformado e aleijado, o comunismo em uma cidade impossve
qualquer perodo de tempo. Cedo ou tarde as amarras da sociedade se afrouxaro, mas
o mundo l fora no. Sempre se espera que isso acontea, mais especialmente em tempos
de paz. Tabor nunca foi capaz de balancear seu comunismo popular de consumo com
um comunismo organizado e planejado de produo, nem de trocar bens entre comunas u
rbanas e comunas camponesas. Por aquele tempo foi amplamente apregoado e acredit
ado que os checos, quando colonizaram a Bomia, eram comunistas e que os taboritas
foram apenas os restauradores da comunidade original eslava. Isto provavelmente
foi verdade. Comunas agrcolas funcionais que foram revivificaes das primitivas com
unidades camponesas eslavas, como as comunidades russasmir que remontam s aldeias
neolticas, devem ter existido. Quando a Contra-reforma esmagou a degenerada Igre
ja Utraquista Bomia, foi o comunismo campnio dos huteritas e dos Irmos que sobreviv
eu. A escravido se estabeleceu na Bomia em 1487 e alcanou sua forma mais extrema aps
a Revolta dos Camponeses na Alemanha e a Reforma de Lutero.
7. A Reforma Radical, Thomas Mnzer
A Reforma de Lutero, Zwinglio e Calvino, quando surgiu, foi certamente uma revoluo, ma
s foi uma revoluo inserida na sociedade, na cultura dominante, e no processo geral
da histria da civilizao ocidental. A Reforma dissolveu a natureza hierrquica do feu
dalismo e quebrou sua capacidade de interligar direitos e deveres. Liberou os at
ivos congelados sob a propriedade eclesistica mais da metade das terras frteis da
Europa Ocidental e provavelmente a maior parte de seu ativo. Aboliu a alfndega e
todas as sanes legais e a alfndega que mantinham a economia esttica. Sancionou a usu
ra e permitiu ao agiota exigir o juro que quisesse. Anulou a supresso ou o contro
le da competio entre os scios das agremiaes. Na Idade Mdia os camponeses tinham claram
ente definidos os seus direitos e deveres, sancionados por um costume imemorial
e por leis as pessoas comuns estavam subordinadas ao senhor local, que por seu t
urno tinha responsabilidades e privilgios em relao ao seu superior, e assim por dia
nte at chegar ao imperador ou papa. Com a Reforma, o campons que no princpio espera
va ganhar uma vaga mas maravilhosa liberdade a partir da nova moralidade social
pregada pelo jovem Lutero, acabou mesmo reduzido ao estado de servo, sem quaisqu
er direitos e, em vez de deveres, era obrigado a trabalhos forados.
Ao final da Idade Mdia, a sociedade estava abarrotada de organizaes de caridade de to
s os tipos que cuidavam de desempregados crnicos ou pessoas fora do mercado de tr
abalho. Com a concentrao de riqueza da Igreja, apenas uma pequena frao destas instit
uies eram alimentadas pelos auspcios privados ou estatais e pela absoro da mais valia
necessria para manter-se diante de uma economia esttica. Desde aquela poca at os di
as presentes os legisladores tornaram-se ferozes perseguidores dos desocupados e va
gabundos As leis da Europa ps-Reforma, que dizem respeito aos pobres, no importa o
pas, todas tem um ponto em comum a pobreza culpa do prprio pobre e a indigncia um vc
io. Teoricamente os velhos tratos da Idade Mdia foram substitudos por uma estrutur
a de contratos entre indivduos, homem a homem, pessoa jurdica ou instituies legais; ma
s devido ao tamanho da populao no comportar contratos de qualquer espcie, isso acabo
u resultando em uma progressiva atomizao. O homem medieval era salvo como um membr
o do corpo de Cristo, a Igreja, que literalmente incorporava seus membros. O cri
sto luterano salvava-se sozinho, por um ato individual de f, e a sua relao com a dei
dade era um momento atmico totalmente contingente e destitudo de auto-suficincia di
ante da absoluta onipotncia e auto-suficincia de Deus.
O calvinismo introduz apenas uma mudana de nfase. Se Deus predestina um eleito salva
todos os outros homens danao desde o comeo dos tempos, esse eleito no faria parte d
e uma comunidade, porque sua sociedade era desconhecida e irreconhecvel. Algum pod
eria pensar que isto conduziria a um completo antinomianismo, o abandono de toda
moralidade. Totalmente o contrrio, tudo aquilo que o homem poderia fazer era se
comportar como eleito e esperar o melhor. Assim, o extremo ascetismo de Calvino
circunscrevia o comportamento do homem de tal forma que ele no poderia fazer outr
a coisa seno trabalhar duro, acumular dinheiro, e investi-lo. Lutero era a religio
do livre empreendimento, Calvino da acumulao de capital. Em tal sistema, com as t
eocracias calvinistas de Genebra, Frana, Esccia, ou Nova Inglaterra, o pobre estav
a condenado a priori pela sua prpria condio. Nem todo scio da elite poderia ser um sc
io do eleito, mas o pobre, e especialmente o indigente pobre, obviamente no o era
. O incompetente, o artigo defeituoso, o bbado, e todos aqueles que apenas vivera
m para o prazer em vez do lucro eram por si s evidentemente malditos.
Embora os trs grandes reformadores enfatizassem a Bblia apenas pela f, apenas pela
disse Lutero a era apostlica, e os pais da Igreja, sua teologia na realidade foi
derivada diretamente de Santo Agostinho e dos escolsticos medievais. Sua insistnci
a na salvao pela f e predestinao representa apenas leves mudanas de nfase, comparados c
om os ensinamentos dos escolsticos mais ortodoxos. No foi assim no comeo do sculo de
zessete na Inglaterra onde a Igreja Anglicana iniciou uma sria tentativa para con
struir uma teologia baseada nos Pais e no testemunho de uma Igreja unida por con
selhos ecumnicos. Para os reformadores a Igreja era coligada ao Estado, da mesma
maneira que os telogos catlicos, a Igreja e o Estado exerciam apenas papis diferent
es no exerccio do poder. A diferena era que a Igreja no tinha mais a autoridade fin
al personificada no papa. Em princpio a principal apelo foi o prprio Lutero. Os ou
tros lderes da Reforma alem sempre adiaram decises concludentes como no caso da dou
trina da Eucaristia de Zwinglio; na questo das relaes com a igreja de Utraquisto da
Bomia, dos remanescentes Taborites, e dos primeiros irmos suios; foi no bojo desse
s problemas disciplinares que surgiu Thomas Mnzer; e, naturalmente, a notria conde
nao da Revolta dos Camponeses por parte de Lutero.
A maioria dos problemas religiosos eram conhecidos pelo Estado secular, pelos consel
hos da cidade, pelos senhores locais, e at mesmo pelos prncipes e duques dos congl
omerados de estados insignificantes e de reinos pequenos que compunham o Imprio a
lemo, a velha comunidade poltica comeava a desmoronar sob o sopro do conflito unive
rsal gerado pela Reforma. Assim foi estabelecido o princpiocujus regio, ejus reli
gio, como o governo, assim a religio, sem o qual a Europa Central se esfacelaria em
uma guerra de todos contra todos, a autoridade espiritual na realidade no estava
mais centrada em um imperador ou em algum poder secular abstrato, mas circunsta
ncialmente nas insignificantes cortes da Alemanha.
A religio dos anabatistas e a reforma radical, em termos gerais, se opunham diametral
mente Reforma de Lutero. Thomas Mnzer em Mhlhausen e Frankenhausen, da mesma forma
que a comuna apocalptica anabatista de Mnster, pretendiam estabelecer o reino mil
enrio na forma de um Imprio secular, mas apesar de toda sua notoriedade eles eram
atpicos. Em termos relativos, poucas pessoas estavam envolvidas nos grupos anabat
istas. Recentes historiadores americanos menonitas e batistas tm ligado as antiga
s razes anabatistas e os reformadores radicais do sculo dezesseis com seitas simil
ares ao longo da Idade Mdia que vm desde o tempo dos apstolos. Eles esto essencialme
nte certos.
A Reforma aparenta, de forma bem superficial, advogar a liberdade de expresso, libert
ar e tornar pblica a dissidncia radical, que estava l todo o tempo, e brevemente pe
rmitiu que o proselitismo se espalhasse atravs de pastores cujas doutrinas eram s
ubversivas prpria Reforma, at mesmo mais do que ao catolicismo romano. H registros
que indicam que at a Reforma a Igreja romana vinha provavelmente ignorando a maio
ria dos cultos estranhos que floresciam na Idade Mdia, a menos que dessem algum e
scndalo ou fizessem questo de aparecer, algo semelhante concubinagem clerical. Nos
anos posteriores os extremistas sectrios e os catlicos romanos freqentemente forma
vam uma frente unida contra a igreja protestante e o estado, conforme testemunha
a estreita amizade entre William Penn e James II.
Os sectrios radicais no apenas apelaram s tradies da Igreja, antes de serem cooptad
Constantino, eles se esforavam em restabelece-la totalmente em f e prtica, como um
remanescente salvo em um mundo condenado. Eles eram indiferentes ao conflito de
poder entre o imperador e o papa, entre Lutero e o prncipe, porque eles no acredi
tavam no poder mundano como tal. Eles eram indiferentes a leis que regulam compe
tio e tomada de interesse porque eles no acreditavam nessa coisa que mais tarde foi
denominada economia poltica. Eles se esforavam por alcanar a economia auto-suficient
e de uma subcultura fechada, um comunismo de produo e consumo. Na maioria dos caso
s as circunstancias no permitiam isso, mas eles sempre defendiam uma comunidade a
postlica de bens coletivos, a responsabilidade compartilhada para o bem-estar fsic
o de todos os scios; e desde os primeiros dias eles freqentemente praticaram um co
munismo de consumo enquanto ganhavam seu po e trabalhavam no mundo. Profundamente
influenciados por Eckhart, Tauler, e Suso, que segundo a maioria dos seus leito
res telogos, eles olhavam o processo de salvao como uma progressiva deificao do homem
em comunidade em vez da forense justificao do indivduo diante do julgamento de Deus
pela f no sacrifcio de Cristo eles acreditavam emcom-ao no em compensao, noCristo viv
no em seu sacrifcio, nacomunho no na Missa. Assim, os anabatistas (duas-vezes-batiza
dos) se opunham ao batismo de crianas inconscientes ou de crianas imaturas. Para e
les o batismo era o selo divino na alma desperta na comunidade do eleito, um ato
consciente pelo qual o indivduo d as costas para o mundo e embarca na peregrinao es
piritual pela divinizao em companhia de sua amada comunidade.
Embora praticamente todos os anabatistas sejam milenaristas no sentido de que eles e
speram a vinda do reino em um futuro indefinido, eles no concebem a si mesmos com
o o exrcito do apocalipse para o qual foi dada a funo de condutor nos ltimos dias, e
les concebem a si mesmo como aqueles que aguardam o advento divino. Os dois episd
ios mais famosos da histria dos anabatistas primitivos no surgiu fora do corpo pri
ncipal do movimento mas germinou de uma forma independente.
Thomas Mnzer no foi um anabatista, ou pelo menos no dava qualquer importncia a quest
bre quando e por que batizar, vrias vezes em sua carreira ele deu respostas contr
aditrias sobre esse assunto. Nem mesmo em seus ltimos dias ele pregou comunidade d
e bens coletivos, e sua nica declarao definida no assunto foi feita em sua confisso
final aps tortura e antes da execuo.
Mnzer nasceu em Stolberg de uma famlia prspera nas montanhas de Harz e foi educado em
eipzig e Frankfurt. Parece que ele se encontrou com Lutero por volta de 1519, pa
ssou seus anos de escola estudando seriamente a procura de respostas, profundame
nte aborrecido pela apostasia da Igreja estabelecida. Naquele mesmo ano tornou-s
e padre confessor em um convento em Beuditz e com a segurana e o lazer proporcion
ados por sua posio, gastou mais de um ano em um intensivo estudo lendo Josephus, a
histria da igreja de Eusebius, St. Augustine, os atos dos conselhos gerais, os a
tos de Constance e Basel, e os escritos msticos de Suso e Tauler. Ele comeou a se
corresponder com os principais reformadores, a maioria dos quais eram de cinco a
dez anos mais velhos do que ele. No prximo ano lhe recomendaram como pastor na I
greja de Santa Maria em Zwickau para substituir temporariamente o pastor Joo Egra
nus. No princpio ele parecia ser mais um dos jovens apstolos de Lutero cuja fama s
e espalhava por toda a Alemanha at que se envolveu em uma violenta controvrsia com
os franciscanos locais.
Zwickau por aqueles dias era uma das maiores cidades da Alemanha, trs vezes maior do
que Dresden. Fora um prspero centro txtil mas com o desenvolvimento das minas de p
rata nas montanhas vizinhas, abandonou o comrcio de tecelagens gerando desemprego
entre os teceles. A cidade assumiu uma caracterstica deboom econmico com uma grave
inflao dos preos locais, tpico das cidades mineradoras, a polarizao radical das class
es, com uma grande riqueza ao topo e pobreza e desemprego em massa na base. Zwic
kau fazia fronteira com a Bomia e fora o piv da agitao de Tamborite no sculo anterior
. Nicholas Storch o descendente de uma famlia anteriormente rica e poderosa mas q
ue foi levada falncia pelos proprietrios das minas juntou e organizou pequenos gru
pos clandestinos dePicar dos remanescentes formando um movimento aberto conhecid
o como os Profetas de Zwickau. Quando se encontrou com Mnzer, Storch j era um lder
pentencostal extremista, de uma seitachilistica de religiosos revolucionrios, freqe
ntemente bem ao gosto dos teceles desempregados.
A violncia dos sermes de Mnzer contra os franciscanos resultou em problemas com a ass
blia municipal, a congregao de Santa Maria, e com Joo Egranus, ao qual devolveu o plp
ito, ele se viu cada vez mais lanado em direo a Storch. Eventualmente ele deixou a
classe alta de Santa Maria tornando-se o pastor de Santa Catarina, uma grande co
ngregao composta por mineiros, teceles pobres, e desempregados. Em Santa Catarina,
Mnzer tornou-se conscientemente um pastor de pobres. Ele abandonou sua postura de
luterano ortodoxo tornando-se um apocalptico como Storch, dedicando cada vez mai
s tempo em reunies com osProfetas. A assemblia municipal assumiu um crescente anta
gonismo. Na primavera de 1521 Mnzer recebeu ordem para sair de Zwickau. Lutero re
tirara seu apoio.
Mnzer foi a Praga onde recebeu entusisticas boas-vindas como um dos novos luteranos, s
endo convidado a pregar nas igrejas. Mas seus sermes no eram luteranos; ele no apen
as se tornara umchiliasta desenvolvido, como tambm sua linguagem se tornara extra
ordinariamente violenta, abusiva, e grosseira, ao mesmo tempo que reivindicava-s
e escolhido por Deus para recrutar os eleitos para a luta armada final antes do
milnio, devido s condies ultrajantes daqueles dias. Os sofisticados cidados de Praga
ouviram tudo isso cem anos antes e no se impressionaram.
Mnzer partiu, desiludido com osbohemios. Antes de partir, imitando Lutero, ele pregou
um manifesto nas portas das principais igrejas, resumindo suas principais idias
que o guiariam at o fim de sua vida, mas com a violncia e a incoerncia de sua lingu
agem configurando sua caracterstica mais notvel. Durante 1522 ele vagou quase que
sem uma ocupao regular. Ele visitou Lutero em Wittenberg, com o qual aparentemente
se aborreceu, mas que parece ter usado de sua influncia tanto que Mnzer obteve um
a posio como pastor da Igreja de So Joo na pequena cidade de Alstedt na Saxony. L ele
deu seu primeiro sermo no dia de Pscoa em 1523.
Os dezesseis meses que Mnzer permaneceu em Alstedt foram os mais quietos e os mais pr
odutivos de sua breve carreira. Ele se casou com uma ex-freira, Ottilie von Gers
en. Na Pscoa do ano seguinte ela o presenteou com um filho. Mnzer, que tinha inici
ado, de uma forma muito tranqila para ele, como um porta-voz da Reforma ortodoxa,
embora emocional e excntrico; decidiu-se mover cautelosamente e com uma certa do
se de duplicidade, mas seus tempestuosos sermes logo fizeram dele o pastor mais p
opular de todo distrito. As pessoas vinham dos arredores para ouvi-lo. Ele escre
veu e celebrou a primeira Eucaristia no idioma alemo e depois publicou um mis sal
completo com liturgias para comunho, batismo, matrimnio, comunho do doente e funer
ais, inclusive confisso pblica de pecado antes da comunho. Sua liturgia prometia se
r amplamente adotada, mas seu envolvimento com a Revolta dos Camponeses trouxe a
condenao por parte de Lutero que, porm, no teve escrpulos em copi-la trs anos depois.
A coisa mais impressionante sobre a liturgia de Mnzer a completa ausncia de sua ha
bitual grosseria e violncia. Pelo contrrio elas mostram uma excepcional sensibilid
ade potica e devocional.
Com o tempo Mnzer revelou cada vez mais sua mensagem apocalptica, apresentando-se aber
tamente como um homem escolhido de Deus. Ao mesmo tempo ele comeou a organizao secr
eta de um exrcito revolucionrio. A Liga dos Eleitos comeou a invadir, pilhar, e inc
endiar conventos e monastrios na zona rural aos arredores da cidade. Em pouco tem
po ele recrutara para sua liga um vasto crculo de comunidades da Thuringia. Com s
ua fama chegando at o estrangeiro, suas atividades comearam a preocupar Frederick,
o eleitor da Saxnia, seu irmo Duque Joo, que eram partidrios da Reforma, e Lutero,
com o qual sua relao tornava-se cada vez mais atribulada e divergente. Mnzer tambm e
ntrou em uma violenta disputa com o senhor local, o Conde de Mansfeld. Enquanto
isso ele constantemente emitia panfletos, cada um mais radical que o outro. Fred
erick decidiu investigar e enviou o Duque Joo, seu filho Joo Frederick, seu chance
ler, e vrios outros oficiais para Alstedt. Eles convidaram Mnzer para que pregasse
para eles no castelo e em 13 de julho ele formulou aquilo que foi considerado a
expresso vocal pblica mais extraordinria da era da Reforma.
Seu sermo baseou-se em vises apocalpticas do livro de Daniel, Mnzer anunciou uma gue
iminente entre as foras do Diabo e a Liga dos Eleitos que conduziria ao milnio, e
apelou aos prncipes visitantes para que se juntassem ao exrcito de santos. Ele vis
ava uma nova reforma tendo como sua capital a pequena cidade de Alstedt, dali a
palavra se esparramaria, primeiro pela Saxnia, depois por toda a Alemanha, e fina
lmente por todo o mundo. Seria um reino exclusivo de eleitos, alcanado por um mtod
o simples matar todos os opositores. Ele terminou ameaando exterminar seus nobres
ouvintes se no se juntassem a ele. Nada revelou melhor a turbulncia intelectual d
a poca do que o Duque Joo confiando em Mnzer e aceitando suas idias.
O sermo foi impresso e distribudo. Duque Joo retornou para consultar o Eleitor Freder
o, que no princpio estava preparado para tolerar o fanatismo de Mnzer, desde que s
eu fanatismo no se convertesse em aes. Mnzer persistiu acossando tanto Lutero como o
s governantes. Ele foi chamado at Weimar, onde proclamou ser o lder do final dos t
empos, e onde sua linguagem sanguinria tornou-se ainda mais extremada. Ele voltou
a Alstedt, ainda confiante da vitria sobre a corte saxnica. Frederick, Duque Joo,
e Lutero comearam a exercer presso no conselho de Alstedt para que o expulsassem d
a cidade. Repentinamente, na noite de 7 de agosto de 1524, ele saiu de Alstedt,
deixando para trs sua esposa, seus filhos e todas suas posses.
Mnzer passou o outono e o inverno viajando, primeiro para Mhlhausen, onde o militante
anabatista Henry Pfeiffer organizara sua Liga dos Eleitos visando assumir a cida
de. Mnzer imediatamente assumiu a liderana de Pfeiffer, sobreps seu prprio programa
apocalptico, organizou uma manifestao, e tentaram tomar a prefeitura e o conselho d
a cidade. Os nobres, juntamente com uma companhia de soldados mercenrios, dispers
aram a multido e expulsaram Mnzer e Pfeiffer.
Mnzer foi at Nuremberg visitar seu amigo Joo Hut, que publicou o panfleto mais violen
, incoerente, e abusivo de Mnzer contra Lutero, uma expresso de dio histrico e contnu
o. As autoridades de Nuremberg confiscaram e destruram quase todas as cpias, apree
nderam a impressora, e expulsaram Mnzer e Pfeiffer. Mnzer foi para a Sua em busca de
aliados entre os Irmos Suos, nessa oportunidade visitou Joo Oecolampadius, um refor
mador ortodoxo zwingliano. Ele tambm visitou Balthasar Hbmaier em Waldshut na fron
teira com a Alemanha, um lder anabatista ligeiramente menos militante do que Mnzer
, tudo isso na busca de aliados, em toda parte, na tentativa de levantar as pess
oas para a sua revoluo. Todavia ele no conseguiu impressionar nem os lderes nem as p
essoas, o mximo que conseguiu foi chocar profundamente os pacficos Irmos Suos. Mnzer r
etornou a Mhlhausen. Pfeiffer j retornara e os radicais controlavam a cidade. Mnzer
revitalizou e armou sua liga, expeliu os oponentes, e estabeleceu oficialmente
um novo conselho no qual tanto ele como Pfeiffer recusaram pertencer. Nesse meio
tempo a Revolta dos Camponeses j havia alcanado a Thuringia, e Mnzer estava pronto
, no apenas para juntar-se a ela, mas tambm para assumi-la.
Embora Mnzer fosse muitas vezes chamado de heri das Revoltas Camponesas, devemos enten
der que, na verdade, ele nada teve a ver com elas. A revolta em Mhlhausen foi uma
ao completamente separada e com objetivos bastante diferentes. Como a Reforma pro
cedeu destruindo relaes econmicas e sociais do feudalismo, os camponeses da Alemanh
a assumiram a postura de Lutero como favorvel liberdade econmica, uma sociedade de
fazendeiros independentes e de trabalhadores livres. A velha relao social comeava
a despencar desde o topo de tal forma que os nobres e magnatas iniciaram uma ser
vido forada aos camponeses, uma condio bem diferente dos camponeses medievais que ti
nham direitos e deveres. A servido ps-Reforma em muito se assemelha verso Russa, um
a condio servil muito prxima escravido.
Na medida em que as classes dominantes fechavam o cerco, os camponeses de todo o sul
da Alemanha comearam a se rebelar. Desde o princpio do sculo dezesseis todos os an
os em algum lugar eclodiram revoltas espordicas, normalmente sob a liderana do sol
dado Joss Fritz, e pela difuso de uma organizao secreta chamada no princpio deBundsc
huh e depois de Pobre Konrad. Estas no foram pequenas revoltas, mas batalhas que
envolviam algo em torno de cinco mil camponeses armados. Em 1525 as aes locais e r
evoltas se fundiram em uma completa guerra no Tirol, ustria e sudoeste da Alemanh
a.
Antes desse tempo, Lutero, que tinha permanecido originalmente neutro, culpando tant
o camponeses como governantes, passou a denunciar os camponeses e incitar a nobr
eza para a matana, em uma linguagem to desenfreada quanto a de Thomas Mnzer.S h uma ma
neira do sr. povinho fazer sua obrigao, disse Lutero,constrangendo-o pela lei e pela
espada, prendendo-o em cadeias e gaiolas, da mesma forma que se faz com bestas
selvagens . . . melhor a morte de todos os camponeses do que a morte dos prncipes
. . . estrangulem os rebeldes como fariam com ces raivosos. E quando a rebelio foi
suprimida atravs de um massacre total, Lutero disseque todo seu sangue recaia sob
re mim, procedendo uma justificao teolgica nova servido.
As demandas dos camponeses eram simples, consistentes, longe de milenarismos, rarame
nte religiosas, e certamente no comunistas. Eles reivindicavam a abolio do que rest
ara do feudalismo e das novas medidas que os lanava na servido, odesestabeleciment
o da Igreja, uma drstica reduo de taxas, o restabelecimento de direitos comuns nos
pastos, bosques, e liberdade de caa e pesca. No havia nada de subversivo na nova o
rdem social inaugurada pela Reforma. Pelo contrrio, era o retorno a um capitalism
o semi-feudal, o esmagamento da Revolta dos Camponeses, o que assegurou o desenv
olvimento alemo por trezentos anos.
Thomas Mnzer no estava interessado nos problemas prticos dos camponeses e proletrios
todos os seus escritos ele no mostra nem mesmo qualquer evidncia de estar atento
a eles. Seu interesse estava apenas no milnio, e em seu retorno a Mhlhausen ele de
dicou-se febrilmente a essa idia. Mnzer enviou mensageiros em todas as direes para j
untar foras onde quer que a Liga dos Eleitos tivesse membros, ou onde Mnzer formas
se grupos de discpulos. Alstedt, Zwickau, Mansfeld, foram chamadas para compor as
tropas. Da mesma forma que Tabor, um sculo antes, os revolucionrios puseram-se a
caminho quando chegaram as notcias de Mhlhausen. Nicholas Storch chegou encabeando
seu prprio pequeno exrcito. Naquele momento Mnzer, Pfeiffer, e Storch podem ter apr
esentado a comunidade de bens coletivos, entretanto impossvel determinar se isso
ocorreu na forma de um comunismo de assdio, ou simplesmente na forma de comunismo
de cidade sitiada. Esse assunto apenas mencionado na passagem da confisso final
de Mnzer.
Durante a primeira semana de maio o exrcito campons, entre oito e dez mil, se reuniu e
m Frankenhausen, que tinha sido tomada por revolucionrios de Mhlhausen. Em onze de
maio Mnzer chegou ao acampamento campons e comeou a organizar o exrcito do apocalip
se. importante destacar que ele trouxe apenas trezentos de seus prprios seguidore
s de Mlhausen e que Pfeiffer tenha ficado para traz, opondo-se aliana da cidade do
apocalipse com o exrcito de camponeses. Enquanto isso o Duque Joo, que havia se t
ornado eleitor pela morte de seu irmo em quatro de maio, e outros prncipes das viz
inhanas levantaram um exrcito sob o comando de Filipe, proprietrio de terras em Hes
se, que imediatamente marchou para Mhlhausen.
No dia 15 Filipe atacou com cerca de cinco mil artilheiros e dois mil cavaleiros, os
camponeses no tinham nada disso. Filipe props paz se entregassem Mnzer; mas aps uma
resposta emotiva do prprio Mnzer dizendo que pegaria as balas de canho com seu cap
ote, que aqueles que tivessem f completa seriam imunes s balas, que apareceria um
arco-ris (smbolo de sua bandeira) no cu os camponeses recusaram. Enquanto o exrcito
campons cantava Veni Sancte Spiritus a artilharia de Filipe abriu fogo forando os ca
mponeses a recuar abrindo o flanco cavalaria enquanto que a infantaria atacava p
elos outros dois lados. Completamente cercados, os camponeses foram feitos em pe
daos. Foram mortos cinco mil no campo de batalha, seiscentos capturados, o restan
te fugiu para as florestas da Thuringian. O exrcito de Filipe perdeu seis homens.
No momento em que o ataque comeou Mnzer correu para longe escondendo-se em um sto em
nkenhausen. Os soldados o descobriram deitado em uma cama com a cabea coberta. El
e dizia ser um homem doente e que no tinha nada a ver com a revolta; como recusav
a mostrar seus documentos foi descoberto. Ele foi levado presena de Filipe e depo
is ao seu inimigo, o Conde Ernesto de Mansfeld, que o torturou a maior parte da
noite. Pela manh Mnzer assinou uma confisso onde nomeava todos seus confederados e
proclamava ter iniciado sua carreira revolucionria num grupo secreto em Halle qua
ndo era garoto.
Em 24 de maio um exrcito do Duque capturou Mhlhausen que implorando clemncia no ofer
nenhuma resistncia. Em 26 de maio Pfeiffer e a maioria dos membros do conselho et
erno foram decapitados, Mnzer foi decapitado em praa pblica. Mnzer retratou-se e rece
beu comunho de acordo com o rito catlico mas no conseguiu se lembrar do Credo de Ni
ceia. Pfeiffer recusou e morreu desafiante. A cidade de Mhlhausen foi multada em
quarenta mil gulden (mais de meio milho de dlares). Seu estatus de cidade livre fo
i abolido e nunca mais recuperou sua prosperidade.
A batalha de Frankenhausen marcou o fim da Revolta dos Camponeses, embora os anos se
guintes tenham sido dedicados a operaes de rescaldo, julgamentos, execues, e massacr
es secundrios de camponeses desmoralizados por toda parte do sul da Alemanha e da
ustria. Lutero publicou um panfleto exultante,A Terrvel Histria e o Julgamento de
Deus para com Thomas Mnzer. Os documentos de Mnzer ficaram em poder de Filipe de H
esse e de George da Saxonia que depositou-os nos arquivos de Marburg, Dresden, e
Weimar.
Quatro diferentes Thomas Mnzers sobreviveram na histria. Para os protestantes ortodoxo
s suas concluses lgicas foram que ele seria um tpico anabatista que no fez outra coi
sa seno empurrar suas doutrinas de sectarismo radical. Mas para os anabatistas cu
ja maioria sempre foi pacifista, seu pacifismo foi ainda mais intensificado devi
do a Mnzer e a comuna de Mnster alguns anos depois. Assim eles o repudiaram como u
m completo e luntico fantico sem nenhuma real coneco com o corpo principal do movime
nto. Para os historiadores catlicos romanos Mnzer simplesmente operou dentro das i
nevitveis conseqncias do individualismo protestante, e Mhlhausen foi apenas mais um
exemplo ligeiramente mais extremo da Reforma atacando a lei e a ordem. Em 1850 F
riedrich Engels publicouThe Peasants War in Germany e Mnzer tornou-se um santo rev
olucionrio, uma posio que ele nunca abandonou. Os historiadores marxistas o qualifi
cam de idelogo da Guerra dos Camponeses, o primeiro poltico cosmopolita. Engels di
sse que a filosofia religiosa de Mnzer tocava o atesmo e que seu programa poltico t
ocava o comunismo. Karl Kautsky em sua obraCommunism in Central Europe at the Ti
me on the Reformation e Ernst Bloch emThomas Mntzer ais Theologe der Revolution,
ambos retratam Mnzer como um plenamente desenvolvido, embora primitivo, idelogo do
comunismo revolucionrio. Ele um heri popular na Alemanha Oriental. Muitos livros
foram escritos sobre ele, ruas e praas receberam seu nome. A verso de Engels da hi
stria de Mnzer ensinada para educar as crianas, e foram impressos selos onde aparec
e seu rosto. Em recentes anos pesquisas em fontes que Engels desconhecia tornara
m possvel desenhar um quadro bastante preciso do real Thomas Mnzer.
8. Mnster
Embora seja bem provvel que a maioria dos primitivos lderes da Reforma radical se opus
essem ao batismo infantil, apenas aps 21 de janeiro de 1525, que o primeiro rebat
ismo de um adulto foi executado no crculo dos Irmos Suos em Zurique, quando seu lder,
Konrad Grebel, batizou Georg Blaurock, um exato contemporneo do comeo da revoluo em
Mhlhausen. Em alguns anos todos que tomaram parte disso seriam martirizados, mas
os Irmos Suos permaneceram pacifistas comunitrios, sobrevivendo e provendo a primei
ra imigraomenonita para a Amrica. Desde os primeiros anos eles pregaram uma comunid
ade apostlica de bens coletivos. Na prtica, em parte porque tratava-se de um movim
ento urbano de pessoas empregadas, tal comunalismo usualmente tomava a forma de
pobreza voluntria e de um fundo comum. Eles eram milenaristas, mas no como Lutero,
Zwinglio, ou Calvino. O fim do mundo estava prximo, mas sua chegada no era to emin
ente; e seu milenarismo tomava a forma de uma escatologia tica Viva como se o mund
o fosse terminar amanh, procedendo como membro da raa humana, que na realidade a mo
ralidade do Sermo do Monte.
Depois da queda de Frankenhausen, o violento milenarismo de Thomas Mnzer se espalhou
de norte a oeste dos Pases Baixos e pelas regies da Alemanha onde se falava o dial
etoplattdeutsch. O livreiro e impressor itinerante Hans Hut escapou da batalha e
esparramou o evangelho da revolta pelo sul da Alemanha, mas acabou sendo pego e
imediatamente executado. Pequenos grupos comunais milenrios se levantaram em alg
umas partes no sul da Alemanha mas logo foram suprimidos. Muitos deles, como os
conduzidos por Augustine Bader, rejeitaram todos os ritos e sacramentos, possuin
do todas as coisas em comum, e vivendo de acordo com a orientao do grupo religioso
Luz Eterna, aguardando o fim do mundo. O lder mais importante foi Melchior Hoffma
nn, um scio de Mnzer em seus primeiros dias. Ele tornou Strassburg sua sede, mas a
influencia de seu ensino se esparramou como uma atividade de misso organizada, t
anto ele como seus discpulos exerceram forte influncia por toda a Alemanha. Ele er
a principalmente milenarista, e osmelchioritas apenas adotaram o batismo de adul
tos como um smbolo para marcar o corpo do eleito. Embora ele no acreditasse pessoa
lmente em implantar o reino pela violncia, seus seguidores tornaram-se mais e mai
s revolucionrios. Simultaneamente as medidas repressivas tornaram-se ainda mais s
everas. O fervor escatolgico de Hoffmann desafiava o risco de priso ou morte, no ex
cluindo uma violenta revoluo. Mas em 1533 s vsperas do estabelecimento da Nova Jerus
alm em Mnster, Hoffmann foi aprisionado em Strassburg passando 10 anos de sua vida
na priso.
Mnster era um dos muitos pequenos estados eclesisticos no noroeste da Alemanha sob o g
overno dos prncipes bispos, que na realidade freqentemente eram leigos. Uma cidade
com um importante comrcio, sofrendo uma grave e crnica tenso entre os desejos dos
prncipes bispos e o conselho de comerciantes e lderes de agremiaes. Mnster tinha rece
ntemente passado por uma poca de inundaes, pestes, escassez local, e conflito de cl
asses resultante da Revolta dos Camponeses no sul; mas apesar destes problemas,
emergira uma quantia considervel de civismo democrtico, com o poder nas mos do cons
elho da cidade.
O lder religioso mais influente da cidade foi Bernt Rothmann. De 1531 at 1533 ele cons
tantemente se movia do catolicismo evanglico para o luteranismo, da doutrina de Z
winglio do repdio real presena de Cristo no po e no vinho, para a simpatia com os m
elchioritas e os apstolos do grupoLuz Eterna. At o ltimo momento ele teve o apoio d
o conselho da cidade, e a cidade tornou-se oficialmente protestante com a Igreja
Catlica limitada catedral, monastrios, e conventos.
Mas quando Rothmann e seus seguidores recusaram batizar as crianas que eram apresenta
das na igreja, o conselho se rebelou e exilou-os da cidade, substituindo-os por
luteranos ortodoxos. Porm, enquanto isso, a cidade estava sendo invadida por preg
adores melchioritas dos Pases Baixos, discpulos vagantes de Thomas Mnzer e outros m
ilitantes sectrios. Rothmann recusou partir e um ms depois em janeiro de 1534 ele
reassumiu o controle, com os catlicos da catedral e os luteranos permitindo-o pre
gar na igreja de So Lambert.
A cidade tinha sido visitada no outono anterior por Jan Bockelson (Joo de Leyden), qu
e retornou Holanda com excitantes notcias de que o reino dos eleitos estava prximo
de ser estabelecido em Mnster. Jan Mattys, o lder melchiorita em Amsterdam, teve
uma revelao de que Melchior Hoffmann tinha compreendido mal suas prprias vises, e qu
e Mnster, no Strassburg, fora destinada a ser a Nova Jerusalm. No incio de janeiro d
e 1534 dois apstolos de Amsterdam, enviados por Mattys, foram at Mnster e imediatam
ente rebatizaram Rothmann, o scio de Henry Rol, e vrios outros clrigos. Nos prximos
oito dias Rothmann e outros batizaram mil e quatrocentos cidados em cerimnias priv
adas em suas casas. Pouco tempo depois, chegaram o prprio Mattys e Bockelson, pre
gando o mais militantechiliasmo e exigindo uma completa reorganizao da comunidade;
eles converteram Rothmann e seus seguidores, inclusive o prefeito, Bernard Knip
perdolling.
O conselho da cidade tentou resistir. O bispo juntou uma fora de mercenrios da vizinha
na e ofereceu ajuda, que o conselho rejeitou, mas os cidados em massa publicamente
foraram o conselho a renunciar. Uma nova eleio foi feita e Knipperdolling, um rico
comerciante de tecidos foi eleito como prefeito. Knipperdolling fora discpulo de
Sebastian Franck e, mesmo antes do levante anabatista, ele fora, por ordem dire
ta do rei, proibido de pregar a Reforma radical. Logo Bockelson se casou com Kla
ra, a filha de Knipperdolling, e tanto ele como Mattys assumiram o completo cont
role da cidade. Dali em diante Rothmann dedicou-se a trabalhar principalmente co
mo telogo e apologista do movimento. Aparentemente, ele teve uma premonio de um fut
uro apocalptico pois advertiu um amigo seu para aceitar um compromisso em outro l
ugar fora de Mnster, pois, disse ele, as coisas no iro bem por aqui.
Mattys comeou a instituir uma comunidade de bens coletivos e solicitou todas as rique
zas em dinheiro, jias, e metais preciosos para serem trazidas para um fundo comum
. O conselho lutou resistindo e aprovou por estreita maioria uma ordem de expuls
ar os pregadores radicais da cidade. Os radicais foram escoltados a um porto da c
idade e foram despejados, eles rodearam o muro, e entraram por outro porto, onde
foram recebidos e colocados de volta a suas igrejas por uma multido solidria; de c
ima do plpito passaram a denunciar as hordas do Anticristo. Catlicos, Luteranos, e
pessoas neutras que desejavam evitar problemas comearam a fugir da cidade. Os ha
bitantes, metade da populao original, foram substitudos por santos entrantes. Matty
s tinha enviado pregadores por toda parte dos Pases Baixos e Baixa Alemanha para
recrutar cidados para sua Nova Jerusalm, proclamando para que viessem rapidamente,
desembaraando-se de suas posses, pois l havia suficiente para todos os eleitos. O
s monastrios e as igrejas j haviam sido pilhadas quando Mattys, prevendo futuras p
ilhagens, confiscou toda propriedade privada daqueles que haviam fugido da cidad
e. Os depsitos de alimento foram declarados propriedade pblica, todas as lojas par
ticulares foram confiscadas e posteriormente transformadas em postos de livre di
stribuio. As casas tambm foram declaradas propriedade pblica, mas foi permitido s faml
ias permanecer nelas contanto que as portas fossem mantidas abertas de dia e de
noite.
Como resultado de toda essa agitao, o prncipe bispo ficou completamente desprovido de
inheiro, pois a riqueza da Igreja era extrada da prpria cidade. Ele perdeu todo se
u crdito. A nobreza protestante no estava interessada em restabelecer um senhor ca
tlico e a nobreza catlica era principalmente imperialista e o Imprio durante anos t
entara tomar o controle de Mnster. Na realidade desde os primeiros dias o imperad
or tinha enviado uma oferta de apoio comuna de Mnster. Com o fato da revoluo social
, o prncipe bispo pode angariar alguns emprstimos de alguns governantes e nobres d
a vizinhana para contratar mercenrios e, embora temeroso no princpio, tentou invest
ir sobre a cidade. A perspectiva de vida relativamente longa na comuna de Mnster
deveu-se principalmente ao acaso, por causa de suas ligaes com a Revolta dos Campo
neses. O Imprio entrara em colapso e no havia nenhuma entidade poltica como a Alema
nha, relegada a uma imensa quantidade de querelas jurdicas. As velhas coletas feu
dais eram impossveis de ser feitas e os prncipes s poderiam confiar em exrcitos de m
ercenrios e em estruturas tiradas do meio da nobreza que se sentia diretamente am
eaada. Os conflitos imperiais e religiosos tornaram as alianas difceis de serem for
madas e impossveis de serem mantidas. Estados bem organizados como a Frana e a Ing
laterra daquela poca, teriam sido capazes de mobilizar foras necessrias para contro
lar rapidamente cidades como Mnster restabelecendo a ordem dominante e esmagando
a revolta.
Embora a ajuda do Prncipe Bispo Franz von Waldek demorasse a chegar, os governantes f
oram bem rpidos em suprimir os anabatistas em seu prprio territrio atravs da mais co
mpleta brutalidade. Em Amsterdam todos os participantes de uma tentativa para to
mar a prefeitura foram executados, da mesma forma revoltas semelhantes foram con
tidas em outros lugares. Depois que Bernt Rothmann chamou todos os anabatistas p
ara vir at Mnster, grandes multides comearam a se dirigir cidade. Eles foram caados n
as estradas, assassinados, ou aprisionados. Trs mil homens, mulheres e crianas que
tentavam vir pelo mar foram capturados e devolvidos aos Pases Baixos. A matana in
discriminada teve que ser interrompida pelo temor de despovoar o pas. A despeito
dos contnuos ataques aos anabatistas, eles constituam um nmero surpreendente. A pop
ulao da cidade foi completamente alterada. Depois que aqueles que recusavam o bati
smo de adultos se retiraram, os novos habitantes se tornaram maioria. Outra maio
ria igualmente significante foi a populao feminina que possivelmente chegou a comp
or dois teros da populao, transformando as ruas e praas durante o dia e durante a no
ite em um contnuo reavivamento pentecostal, gritando, danando, cantando, esvoaando
seus cabelos soltos, e caindo em transes pelas ruas.
Mattys teve uma sbita viso de um banquete cerimonial que havia se tornado uma parte es
sencial no culto de Mnster, no outro dia enviou um punhado de voluntrios para atac
ar o exrcito do prncipe bispo. Jan Bockelson imediatamente tomou o poder executivo
. Ele dissolveu o novo conselho por haver sido escolhido por homens em vez de po
r Deus que agia atravs dele; e designou um gabinete subordinado a Bockelson, simb
olizando os doze ancies das tribos de Israel. Em seu nome ele emitiu um novo cdigo
de leis que abrangia praticamente todos os crimes, contravenes, faltas, defeitos
de carter de gravidade capital, desde a traio e adultrio at responsabilidades que ati
ngiam os pais da pessoa. Uma vez estabelecida a lei tambm foi estabelecida uma po
ltica para obrigar seu cumprimento, Bockelson introduziu a poligamia, sem ouvir n
em mesmo as recomendaes contrrias de seu prprio gabinete. Quarenta e oito dos princi
pais cidados se revoltaram e o prenderam, mas a populao libertou Bockelson e os qua
renta e oito foram mortos. Aps algumas outras execues, a poligamia foi estabelecida
. Eventualmente Bockelson adquiriu quinze esposas e Rothmann nove.
Nesta poca Bockelson, com uma extraordinria ingenuidade, abriu negociaes com Filipe
esse e com o Imperador Carlos V. Este ltimo respondeu enviando um emissrio para qu
e se encontrasse com Rothmann. As negociaes fracassaram. Depois de uma drstica derr
ota das foras sitiantes quando tentaram invadir a cidade, em um triunfal banquete
massivo, Bockelson coroou-se a si mesmo como Rei do Povo de Deus e Governador d
a Nova Sio. Da para a frente ele sempre aparecia em estado cerimonial, em roupes re
ais feitos dos vesturios religiosos mais suntuosos, segurando uma ma dourada perfur
ada por duas espadas, e ostentando uma coroa que simbolizava seu governo no mund
o, sempre precedido e seguido por espadachins. Knipperdolling sugeriu a si mesmo
como lder espiritual enquanto que Bockelson agiria como rei nos assuntos mundano
s os messias sacerdotais e reais depois de David e Melchizedek do apocalipse jud
aico. Bockelson no recebeu bem essa sugesto e aprisionou Knipperdolling, como isso
repercutiu mal ele logo o libertou designando-o como mestre de cerimnias, na rea
lidade um sub-comandante.
Em 13 de outubro Bockelson convocou toda populao para uma assemblia na praa da cated
para que depois marchasse para fora para subjugar os sitiadores e desse boas vi
ndas ao imaginrio exrcito de anabatistas que estava vindo dos Pases Baixos. Quanto
todos se concentraram ele anunciou que se tratava de um teste de lealdade e conv
idou-os todos para um grande banquete messinico. Foram fixadas mesas pela praa e t
oda populao alegrou-se, danou e cantou enquanto o rei, a rainha e os conselheiros o
s serviam, ao final foi distribudo po e vinho santificado em sagrada comunho. Quand
o Bockelson anunciou sua abdicao, Jan Dousentschuer, o profeta de planto, imediatam
ente teve uma comunicao com a deidade que proibia a abdicao, e cerimonialmente ungir
am e coroaram Bockelson novamente, enquanto o povo reunido festejava.
Antes que se tornasse um lder religioso, Jan Bockelson tinha sido escritor de concurs
os e peas religiosas, e ele disse que havia planejado e organizado a comuna de Mns
ter como um melodrama religioso. Certamente ele proporcionou s pessoas bastante e
splendor nas cerimnias de sua corte: encontros religiosos ao ar livre, comunho, ba
nquetes messinicos, e jogos, trata-se de uma situao revolucionria mesmo baseada no m
isticismo medieval e em milagres. Um de seus atos mais importantes foi difundir
a distribuio de bens e de comida, e o mais importante, introduzir o comunismo de p
roduo. Os membros da guilda cujo trabalho era essencial vida da comunidade foram o
rdenados para trabalhar sem salrio e contribuir com seus produtos ao depsito de be
ns os quais todos poderiam dispor livremente de acordo com a necessidade. Todo e
sse programa parece ter funcionado com pouca resistncia. Algumas pessoas foram ex
ecutadas por acmulo e algumas mulheres por se oporem s prticas poligmicas ele prprio
decapitou uma de suas esposas mas sobretudo por se objetarem s suas medidas comun
izantes. Muitas de suas execues parecem ter sido incentivadas pelo seu gosto pela
decapitao. Ele possua uma concepo folclrica de realeza um rei deve constantemente grit
ar arranquem a cabea dele!. Esta atitude naturalmente foi compartilhada pela maiori
a da populao. Na realidade toda a ideologia de Mnster que emerge dos documentos car
regada de folclore, uma combinao de lendas apcrifas do judasmo, contos camponeses do
s irmos Grimm, e lendas da Idade Mdia, tudo sob o pano de fundo da teologia anabat
ista que no exerce um papel exclusivo. Durante o outono e o inverno lentamente vo
n Waldek juntou dinheiro, aliados, e mercenrios, apertando o assdio e aumentando a
inda mais o cerco. Foram despachados emissrios para pedir ajuda mas todos eram pe
gos e executados, exceto um, Henry Graess, que virou traidor e revelou o plano d
e mobilizao efetuado para obter suporte de foras anabatistas. Poucos responderam. O
prprio Graess que j havia retornado a Mnster foi julgado e decapitado.
Antes da primavera a cidade passava fome. Em junho de 1535 comeou a escassez. As mulh
eres e crianas, com exceo da Rainha Divara e alguns outros, e os homens mais velhos
, foram enviados para fora da cidade. Von Waldek recusou que atravessassem suas
linhas e permaneceram cercados entre os muros e o exrcito sitiante at que a maiori
a morresse. Este ato de extraordinria crueldade foi executado sob as ordens especf
icas do arcebispo de Colnia que von Waldek tinha convidado para seu conselho.
Parecia que Mnster iria se render durante o vero quando de repente dois homens, Hans E
ck e Henry Gresbeck, escaparam da cidade e atravessaram as fileiras do prncipe bi
spo. Depois de uma batalha de intensidade diablica que durou todo o dia a cidade
caiu e o exrcito invasor arrasou a cidade matando a maioria de seus habitantes. B
ockelson, Knipperdolling, e Bernard Krechting, principais conselheiros do rei, f
oram capturados. Rothmann desapareceu e nunca foi encontrado, nem vivo, nem mort
o. Durante seis meses os trs lderes desfilaram pelo pas afora dentro de gaiolas. At
que foram devolvidos a Mnster, julgados, condenados, e literalmente torturados at
a morte. Depois seus corpos foram colocados em gaiolas e dependurados na torre d
a igreja de Santo Lambert, onde permaneceram at o fim do sculo dezenove, quando a
torre foi reconstruda e as gaiolas substitudas. Assim terminou a nica comunidade co
munista a ser estabelecida em um estado regular at a Revoluo Russa pelo menos na ci
vilizao Ocidental.
Thomas Mnzer permanecera apenas alguns dias em Mhlhausen, e duvidoso se qualquer uma
as medidas comunizantes propostas por ele e Pfeiffer tivessem resultado efetivas
, alm do mais tais medidas eram centralizadas em sua poltica milenarista. A resistn
cia incrivelmente longa de Mnzer deveu-se a vrios fatores. Tanto Burgomaster Knipp
erdolling como Joo de Leyden foram notveis polticos qualificados e organizadores, c
om toda sua fantstica linguagem e cerimoniais, Rothmann foi um apologista de uma
inteligncia incomum. Eles no tiveram escrpulos de fazer uso do mais extremo terror.
No apenas mantendo os rebeldes fora de circulao, como unificando e convencendo a m
aioria da populao a consentir isso.
O comunismo no foi um incidente no milenarismo de Bockelson, nem foi um mero comunismo
de assdio. O comunismo de Bockelson foi central. O batismo em massa de adultos pr
opiciava nos membros uma conveno e a comunho em massa mantinha-os juntos. Os sacram
entos no eram o principal. O principal estava na comunidade onde as coisas eram c
ompartilhadas. Cada esforo era feito para intensificar este senso de comunidade.
A vida ela melodramatizada. Concursos, execues, grandes banquetes messinicos, at mes
mo o prprio assdio contribuiu exultao. Se a vida em Tabor foi exaltada, a vida em Mns
ter por mais que seus participantes fossem estticos e encantados, havia um contnuog
ape. Havia pouca chance para pausar e lembrar de si mesmo. At mesmo o anabatista
mais convicto necessitaria apenas de alguns dias de pausa para suspeitar que no e
stava em nenhuma Jerusalm divina mas que se tratava de uma armadilha em que foi p
ego. A poucos foi permitido um tempo para reflexo. Eles foram varridos por um tre
mendo fervor revolucionrio aumentado pelo mito.
Houve ganhos positivos a serem considerados a partir da experincia de Mnster, mas pouc
os deles foram percebidos. O mais importante foi precisamente a manifestao da comu
na revolucionria atravs de um culto dramtico, cerimonial. Algo que os revolucionrios
do futuro raramente estariam preparados para admitir. Apenas Robespierre na ple
nitude de seu poder e os bolcheviques nos primeiros anos da Revoluo e da Guerra Ci
vil conscientemente adotaram tal conceito ou prtica. Indubitavelmente haveria coi
sas a serem aprendidas da economia poltica real de Mnster mas nada sabemos sobre e
sse assunto. Porm, um nmero surpreendente de pessoas escapou para retornar posteri
ormente na forma de grupos comunais pacifistas provavelmente trazendo consigo al
guns benefcios prticos de sua experincia.
O anabatismo jamais seria capaz de sobreviver em Mnster. Desde o comeo as perseguies
am grandemente intensificadas. A descoberta de um grupo anabatista, no importa o
quo pequeno fosse, era recebido com horror pelas autoridades e os scios eram freqen
temente executados sem as mos. No obstante o movimento foi suficientemente grande
em seu incio, considerando o grande nmero que fugiu de Mnster para voltar depois; n
os anos posteriores se espalhou pelo estrangeiro crescendo de forma espantosa. E
ssa histeria poltica se assemelhou um pouco histeria macartista que varreu o sculo
XX em toda a Europa. As autoridades viam anabatistas em toda parte e qualquer e
ncontro ortodoxo no catlico, luterano ou calvinista era imediatamente rotulado de
anabatista. Os eclesisticos ingleses estavam convictos de que todo o sul e oeste
da Inglaterra estava enxameado de anabatistas. A verdade que se havia alguns era
m bem escassos, quando descobriam um punhado de imigrantes alemes e holandeses es
tes eram presos, exilados ou executados. Como ocorreu com o prprio movimento anab
atista, Mnster tornou-se rigorosamente pacifista na realidade a maioria dos grupo
s organizados sempre foram pacifistas.
9. Anabatistas, Huteritas
Durante os quatro anos que se sucederam aps a queda de Mnster os anabatistas passaram
a ser caados como nunca. Eles j eram perseguidos anteriormente. Agora, protestante
s, catlicos, e quase todos os estados da Europa Central se uniram para extermina-
los. E isto no era uma tarefa pequena. Havia um nmero significante de anabatistas
na Sua, onde o movimento nascera apenas dez anos atras; no Tirol austraco, no lado
italiano dos Alpes, na Moravia, Silesia, Danzig, Polnia, sudoeste da Alemanha e a
Baixa Renolndia, o Vale do Rhone, e Picardia na Frana; e na Blgica e Pases Baixos o
nde, at a chegada do calvinismo e a luta pela libertao do Imprio, o anabatismo era a
dotado como a principal vertente da Reforma.
A despeito do grande nmero de pessoas vindas dos Pases Baixos tentando chegar at Mns
a militanciachialista nunca caracterizou o anabatismo alemo. A maioria era compo
sta por pacifistas que, mesmo supondo serem milenaristas, j havia iniciado um pro
cesso deeterealizao desse item de sua f. A maioria deles foi profundamente influenc
iado pelo movimento paralelo dosespiritualizadores, que colocaram pouca nfase no
batismo e na sagrada comunho ou tinham abandonado completamente os sacramentos. N
os anos em que chegaram osespiritualizadores, Sebastian Franck, Gaspar Schwenkfe
ld, Hans Denk, Valentin Weigel, e outros, inclusive Jakob Boehme, eles se tornar
am leitura favorita dos anabatistas reorganizados e reformados que passaram a se
r chamados demenonitas. Sob a gide de uma implacvel e inexorvel perseguio o movimento
dividiu-se em trs partes: os pacifistas, que recusavam juramentos, o servio milit
ar, e cargo pblico, mas que rejeitavam o comunismo; os pacifistas e comunistas; e
os militanteschialistas remanescentes que literalmente desapareceriam sob perse
guio.
Menno Simons nasceu em Friesland, filho de camponeses, foi treinado para o sacerdcio
romano e ordenado em 1524. Desde o princpio pareceu ser um catlico evanglico mas lo
go rejeitou a doutrina da transubstanciao. Seu irmo Peter morreu lutando juntamente
com um bando que tentava libertar Mnster. Menno ficou profundamente chocado com
a violncia praticada por ambos os lados em Mnster. Na plenitude das perseguies subse
quentes ele abandonou seu sacerdcio. Passou a atuar secretamente e gastou o resto
de sua vida como um pregador vagante, com a cabea a prmio, caado pelas autoridades
, mas sempre protegido pelos crentes. No devido tempo ele transformou o que tinh
a sido um movimento independente e freqentemente antagnico em uma igreja ligeirame
nte organizada que inclua tanto comunistas como no comunistas mas disciplinada pel
a excomunho congregacional a proibio.
Menno recolheu e sistematizou a teologia anabatista e embora suas idias no tenham sido
universalmente aceitas elas proveram um ncleo normativo, um ncleo central. Em dez
anos os anabatistas em geral passaram a ser chamados de menonitas. Por sculos a
proibio foi utilizada, originalmente como um princpio unificador. Os cismas e divise
s surgiam na medida da rigidez ou da flexibilidade dessas proibies, divises bem visv
eis hoje por toda a Amrica, que separa as vrias tendncias. Porm, estas divises no impe
diram os menonitas de se apresentarem enquanto frente unida em todo o mundo.
Em 1577 na medida em que o protestantismo dos Pases Baixos ficava mais calvinista e o
pas batalhava por libertar-se do Imprio, William de Orange conseguiu, sob sua lid
erana, imprimir nos Estados Gerais uma garantia de liberdade religiosa ao longo d
os Pases Baixos, pelo menos l no houve mais perseguio. Com o passar do tempo os menon
itas holandeses tornaram-se ricos, concordaram com parte doestablishment, e fina
lmente permitiram seus scios aceitar empregos pblicos, e em alguns casos, particip
ar na guerra. A tradio comunitria original estritamente pacifista, embora no propria
mente comunista, sobreviveria entre os menonitas americanos.
Mas imediatamente aps a queda de Mnster no foi fcil aos anabatistas praticarem o com
mo ao mesmo tempo em que eram caados. Os militantes, sob a liderana de Joo de Batte
nberg, um dos lderes que tinham escapado de Mnster, atuavam secretamente. Eles no p
raticavam nenhuma cerimnia pblica de batismo, comunho, ou ogape mas escrupulosamente
compareciam Igreja Catlica. Eles praticavam poligamia da melhor maneira que podi
am, compartilhavam em comum os seus bens e aumentavam seu fundo comum pilhando i
grejas e monastrios. Battenberg foi capturado e executado em 1538 mas o movimento
sobreviveu nos Pases Baixos durante outros cinco anos. Aqueles que rejeitavam a
poligamia, violncia, roubo, e nudismo foram mais ou menos unidos por David Joris,
um artista, poeta, e compositor de hinos. O mais estudioso da maioria dos sobre
viventes mnsteritas, ele foi profundamente influenciado pelas profecias apocalptic
as dos trs reinos de Joachim de Fiore, pelo misticismo de Meister Eckhart, e pelos
espiritualistas contemporneos. Os seguidores de Joris desencadearam uma ativa pro
paganda no sudeste da Inglaterra. Suas idias tiveram muito a ver com a determinao d
o carter da Reforma radical inglesa dali em diante. Porm, a principal influncia foi
exercida pelo movimento puramente espiritualista fundado por Henry Nicholas a F
amlia do Amor. David Joris refugiou-se em Basel e conduziu o seu movimento atravs
de cartas e missionrios. Ele foi um dos poucos anabatistas a morrer pacificamente
em cima de uma cama, em 1556. Depois de sua morte alguns dos seus seguidores qu
e o acusaram de manter um harm e praticar as mais completas imoralidades, desente
rraram e queimaram seu corpo. Pequenos grupos comunistas sobreviveram em alguns
pases como a Sua e Pases Baixos durante mais uma gerao, mas a maioria imigrou por ques
tes de segurana.
Desde 1528 um santurio comunista estava sendo preparado na Moravia. Em 1526 Jacob Hut
ter chegou na colnia de Nicolsburg, que estava sob o patrocnio doduas vezes batiza
do Lord de Liechtenstein. Hutter era um milenarista e comunitarista violento, ma
s ele tambm era um violento pacifista. Ele provocou grandes divises na comunidade an
abatista, um dos seus mais tpicos seguidores, Balthasar Hbmaier, no transcorrer de
stas disputas foi capturado e condenado morte em Viena em 1528. O prprio Hutter f
oi testemunhar o martrio, foi quando seu grupo pacifista, comunista, sob a lidera
na de Jacob Wiedemann e Filipe Yaeger, montou sua prpria comunidade. Aps uma longa
e pacfica discusso, Lord Liechtenstein pediu que partissem. Eles decidiram se muda
r para Austerlitz na Moravia, e nas palavras dasCrnicas Huteritas:
Ento eles buscaram vender suas posses. Alguns venderam, mas outros permaneceram
com o que tinham, e dividiram entre si o que possuam. O que sobrou de suas posses
o Lord de Liechtenstein enviou-lhes posteriormente. Assim Nicolsburg, Bergen, j
untaram aproximadamente duzentas pessoas, sem [contar] as crianas diante da cidad
e [de Nicolsburg]. Algumas pessoas saram. . . tomadas de grande compaixo, mas outr
os discutiram. . . . Ento eles se levantaram, saram, e ocuparam. . . uma aldeia de
solada durante um dia e uma noite, formando um conselho para negociar com o Lord
com relao sua presente necessidade, ordenaram [geordnet] ministros para suas nece
ssidades temporais [dienner in der Zeitlichenn Notdurfft]. . . . Ento os homens e
stenderam uma manta diante das pessoas, e os homens deram sua contribuio, com o co
rao aberto e sem constrangimento, para o sustento dos necessitados, de acordo com
a doutrina dos profetas e dos apstolos [Isaas 23.18; Atos 5.4-5].
Naquela manta, na primavera de 1528, foram colocadas as bases da sociedade comunista
de mais longa vida que o mundo j viu. Leonhardt von Liechtenstein escoltou-os at
a fronteira do seu principado e lhes implorou para que ficassem. Ele prometera d
efender seu refgio anabatista com seus punhos contra Viena, ao que os lderes respo
nderam, Mesmo que voc prometa recorrer espada para nos proteger, no podemos permane
cer. Eles enviaram mensageiros para os irmos von Kaunitz e para os Lordes de Auste
rlitz, que responderam que o huteritas seriam vem-vindos, mesmo que fossem aos m
ilhares. Depois de trs meses de estrada eles foram entusiasticamente recebidos j ha
via uma colnia de membros radicais dos Irmos Bomios por l. Em pouco tempo eles const
ruram casas e comearam a trabalhar seus ofcios e cultivar a terra. Eles trouxeram c
onsigo um programa de doze pontos para um comunismo religioso prtico que havia si
do desenvolvido por um grupo de anabatistas em Rattenburg, este documento sobrev
ive nasCrnicas Huterites e em sua primeira constituio. Em pouco tempo os refugiados
comearam a chegar da Sua, dos Pases Baixos e especialmente do Tirol. A maioria cheg
ou mais tarde, tanto que hoje o cerimonial feito em um velho dialeto tirols, o fa
miliar pequeno idioma, embora os huteritas tivessem sido forados a vagar ao longo d
os dois hemisfrios.
Durante os prximos cinco anos em toda parte os comunistas anabatistas se envolveram e
m divises sectrias e expulses muito complicadas para serem descritas brevemente; ma
s em 1533 Jacob Hutter, que tinha sido convidado por vrios grupos, inclusive de A
usterlitz, como mediador, trouxe seus prprios seguidores do Tirol e inauguraram u
m movimento de reunio e federao que durante os prximos dois anos congregaram todos o
u a maior parte dos anabatistas. No incio das perseguies que se abateram sobre a co
muna de Mnster ele e sua esposa foram capturados e repetidamente torturados. Hutt
er no sucumbiu, mesmo diante das mais fantsticas crueldades, tentao de todos os revo
lucionrios de negociar suas doutrinas com seus captores, muito menos de revelar o
s nomes de seus camaradas, ou qualquer segredo do movimento. Ele permaneceu cala
do diante daqueles [que julgava ser]agentes do diabo. As autoridades desejaram d
ecapit-lo em segredo; mas Ferdinando, que era o Arquiduque da ustria, Rei da Bomia,
e Santo Imperador Romano, recusou. Hutter foi capturado na cidade de Klausen no
Tirol, e queimado publicamente em 25 de fevereiro de 1536.
Depois dos eventos que envolveram Mnster, Ferdinando exigiu que todos os anabatistas
fossem expulsos dos territrios subordinados ao trono austraco. Eles foram expulsos
de muitos lugares, muitos fugiram para as montanhas e florestas at que a tempest
ade da perseguio passasse; mas parece que os nobres moravianos lhes deram proteo, e
to logo Ferdinando se distraiu eles restabeleceram suas antigas colnias. Durante e
stes anos, sob a liderana de Joo Ammon, os huteritas iniciaram uma atividade missi
onria na Europa Central. Eles enviaram apstolos, dos quais quatro quintos foram ma
rtirizados, para Danzig, para a Litunia, para Veneza, e para a Blgica.
Um dos mais ativos missionrios foi Peter Riedemann, que, tanto dentro como fora da pr
iso, iniciou o desenvolvimento de uma teologia sistemtica e uma ordem social para
os huteritas. Com a morte de Ammon em 1542 ele foi eleito lder, embora preso, mui
to livremente na verdade, por Filipe de Hesse. Incidentalmente, pouco antes diss
o, os huteritas haviam chamado seus lderes bispos, embora eles tivessem pouca sem
elhana com os membros do episcopado catlico. Leonard Lanzenstiel tinha sido design
ado por Ammon como seu sucessor e tanto Riedemann como Lanzenstiel compartilhara
m a liderana at o ano de 1556 quando Riedemann morreu em uma nova colnia em Protzko
na Eslovquia, seu lugar foi ocupado por Peter Waldpot, um dos maiores lderes hute
ritas, que morreu em 1578.
Uma gerao inteira havia se passado, e o comunismo anabatista tornara-se uma poltica b
sucedida, prspera, com raras turbulncias, exceto por uma ou outra contingncia sectr
ia, expandindo colnias perifricas na Eslovquia e Bomia. O ncleo do movimento, diretam
ente administrado por Waldpot, contava com algo em torno de trinta mil adultos.
Desde o princpio em Austerlitz eles tinham percebido que um comunismo de consumo
no era bastante e passaram a organizar seminrios, pequenas fbricas de artesos, e pas
saram a trabalhar com brigadas e fazendas comunais, com manuais detalhados para
os diferentes ramos. Eles estabeleceram suas prprias escolas (as primeiras escola
s maternais e jardins da infncia) com graduaes alm da adolescncia. O ensino superior
foi rejeitado, como at hoje, como desnecessrio ao bem-estar da comunidade, por dis
trair do amor de Deus e do amor ao prximo. Mas suas escolas elementares foram as
melhores na Europa de seu tempo. O cuidado das crianas foi socializado. As crianas
normalmente moravam nas prprias escolas e eram visitadas pelos seus pais. Cada c
olnia huterita tinha um programa ativo e cuidadoso de sade pblica. As aldeias no ape
nas estavam constantemente limpas como sua higiene e servio de sade pblica eram ini
gualveis. Os matrimnios aparentemente eram organizados com a colaborao dos ancies, da
comunidade, e dos indivduos em geral, e geralmente tinham muito xito. De todos os
grupos anabatistas, no importa se fossem comunistas ou pacifistas, a histria dos
huteritas singularmente livre de escndalos sexuais.
Com um sistema de produo e distribuio muitas vezes melhor organizado do que qualquer
ra coisa na ocasio, as colnias cresceram ricas. Embora acreditassem individualment
e em viver uma pobreza decente eles logo acumularam considerveis excessos na produo,
particularmente depois que as colnias permitiram vender seus produtos aosgentios.
Estes excessos foram investidos em importantes melhorias e para subsidiar novas
colnias, uma necessidade, como ainda hoje, por causa da alta taxa de natalidade,
e baixa taxa de mortalidade, naqueles dias devido sua exemplar sade pblica. Os hu
teritas haviam descoberto uma dinmica, contnua e expansiva economia do tipo que Ma
rx mais tarde diagnosticaria como a essncia do capitalismo, tratava-se de uma eco
nomia capitalista mas estava baseada em um nvel muito alto de prosperidade para o
campons, a fonte de sua acumulao de capital. Em outras palavras, os huteritas em s
ua pequena sociedade fechada resolvia a contradio na acumulao do capital e da circul
ao que de formas diferentes maltratam os russos e os americanos hoje.
A idade de ouro dos huteritas durou at 1622, quando os nobres da Morvia, que haviam si
do seus protetores, foram forados pela Igreja e pelo Imprio a expuls-los de suas pr
opriedades. Eles se espalharam, encontrando refgio na Eslovquia, Transilvnia, e Hun
gria. Este molestamento aumentou durante a Guerra dos Trinta Anos quando os impe
rialistas conseguiram obliterar a Igreja Utraquista da Bomia e dirigir secretamen
te os Irmos Tchecos. Pelo sculo XVIII o comunismo de produo necessariamente tinha si
do abandonado e a comunidade de bens coletivos s foi praticada na forma de um fun
do de bem-estar comum, mas os huteritas preservaram seus costumes tradicionais e
sua forma de adorao.
Em 1767 foi emitido um decreto, sob a gide dos Jesutas, que implicava na captura de to
das as crianas huterites na Hungria, inclusive a Transilvnia; as crianas seriam tom
adas de seus pais e internadas em orfanatos. Os huteritas fugiram para a Romnia e
viram-se a si mesmos bem no meio da Guerra Russo-turca. Em 1770 a Imperatriz Ca
tarina convidou os Pietistas Alemes e anabatistas a se instalarem na Ucrnia para q
ue ficassem l o tempo que quizessem. Eles se desenvolveram, degradaram, reavivara
m, at que emigraram para os Estados Unidos e finalmente Canad, onde floresceram co
mo nunca antes. Retornaremos a eles quando voltarmos a discutir o comunalismo mo
derno, dos quais eles so incomparavelmente os mais bem sucedidos praticantes.
Durante a ltima metade do sculo XVI houveram sobreviventes isolados e espordicos reav
amentos comunistas entre grupos de anabatistas e espiritualistas. A comunidade d
e bens coletivos permaneceu como um ideal apostlico entre os Irmos Suios e os Irmos
Tchecos cuja prtica ressurgiu temporariamente quando alguns deles migraram para a
Amrica. Houveram colnias comunistas na poderosa Igreja Unitria da Transilvnia.
A nica comunidade que pode ser comparada com as comunidades huteritas foi a de Rakow
em Little Poland a noroeste de Cracvia. Fundada em 1569 por Gregory Paul, atraiu
anabatistas, espiritualistas, e lderes unitrios de toda parte da Polnia, Prssia, Lit
unia, Silesia, e Galcia, toda a regio nordeste da Europa Central daqueles dias, ant
es da Contra-Reforma, parecia estar aderindo Reforma radical. Uma das caractersti
cas mais notveis da Reforma radical nesse territrio foi o grande nmero de nobres qu
e se converteram, libertando seus servos, vendendo suas terras, distribuindo seu
s bens aos pobres, e tomando parte como iguais no comunismo de Rakow nessa ordem
de freqncia. Quer dizer, muitos apenas libertaram seus servos, e apenas alguns vi
eram a Rakow, entretanto um bom nmero dos nobres mais poderosos foram simpticos ao
anabatismo.
Osrakovianos enviaram uma delegao aos huteritas da Morvia,propondo se afiliar com ele
e aprender seus mtodos. Os rakovianos ficaram impressionados pela eficincia e pros
peridade huterite, mas rejeitaram seu trinitarianismo, e ficaram ofendidos pela
suposta arrogncia, intolerncia e vaidade que viram neles. Neste momento, a julgar
pelo testemunho polons, os huteritas acreditavam que aquele que possui uma casa, t
erra, ou dinheiro, e no entrega essas coisas comunidade, no um cristo, mas um pago,
e no pode ser salvo. O comunismorakoviano no era uma condio de salvao mas simplesmente
a deliberao de uma vida apostlica mais perfeita.
Os huteritas por seu turno objetaram, naturalmente, o unitarianismo polons, mas surpr
eendentemente, no muito fortemente. Sem dvida o mais importante eram prticas que a
ns pareceriam triviais. Os huteritas batizavam por aspero e os poloneses por imerso.
Mas mais importante ainda foi a diferena de classe. Os huteritas foram camponese
s e trabalhadores cuja educao, por mais estranho que parea, foi limitada Bblia e alg
uns escritores espirituais. Eles ficaram ofendidos pelos modos aristocrticos dos
poloneses, pela sua frieza de corao, pelo seu conhecimento de idiomas, seus nomes la
tinizados, e sua recusa em se submeter completamente autoridade huterite. Peter
Waldpot foi to longe em suas demandas com os poloneses que props que eles fossem r
ebatizados pelos huteritas. Durante dois anos houveram cartas e visitas at que fi
nalmente osrakovianos deixaram uma esperana de se afiliarem aos huteritas. As neg
ociaes caminhavam bem at que os poloneses quebraram alguns protocolos quando visita
ram as colnica huterites. No h registro de nenhum huterite visitando Rakow.
Alm do anabatismo radical polons destacou-se Faustus Socinus, um dos principais telog
do perodo da Reforma, que havia migrado da Itlia para a Polnia. Ele elaborou um si
stema completamente desenvolvido em que unitarianismo, pacifismo, comunidade de
bens coletivos, batismo por imerso, e todas as principais doutrinas do anabatismo
polons e espiritualista foram racionalmente relacionadas em uma filosofia sistemt
ica que era ao mesmo tempo consistentemente evanglica. Quando os Irmos poloneses f
oram expulsos da Polnia e acharam refgio na Holanda eles revelaram tanto na doutri
na como na prtica uma considervel influncia dos menonitas holandeses mais radicais,
mantendo-a no desenvolvimento do movimento na Inglaterra e Amrica. Na Polnia, a C
ontra-Reforma conduzida pelos jesutas fez seu trabalho completo, e os Irmos Polone
ses comunalistas foram extintos.
Como uma nota de rodap deveria ser mostrado que a diferena bsica entre os huteritas e
uase todas as outras seitas crists, ortodoxas ou heterodoxas, que a sociedade das
colnias huteritas foram o que os tericos modernos chamariam de uma cultura da verg
onha, fundamentalmente no assimilvel pela cultura da culpa do cristianismo e do judasm
o rabnico (diferente do hasdico).
10. Winstanley, Os Diggers
Surpreendentemente o sculo XVII com suas guerras religiosas quase contnuas no foi um
mpo bom para areforma radical. Conforme o dsticocujis regio, ejus religio a relig
io tinha se tornado em larga escala uma questo poltica. As guerras entre naes e entre
alianas de naes dividiram a Europa em blocos de catlicos, luteranos, e calvinistas.
Pequenos grupos de eleitos foram esmagados pelo peso dos monstros em combate. N
aguerra dos trinta anos tambm ocorreu coisa semelhante, a luta para destruir osan
to imprio romano enquanto poder dominante na Europa, tambm esmagou ou distorceu pr
ofundamente a cultura das vrias partes do imprio. A Alemanha emergiu fragmentada e
desgastada e no se recuperou por geraes. Areforma radical teve um desenvolvimento
natural na cultura da segunda metade da era medieval na Europa e aguerra dos tri
nta anos destruiu suas razes. Nos Pases Baixos, Sua, e entre os huteritas em seus re
motos refgios, tinha comeado um processo de fossilizao.
Aguerra civil inglesa e acommonwealth foram essencialmente um produto de luta de cla
sses, e a proliferao de seitas nos dias posteriores daguerra civil aconteceu quase
completamente no contexto proletrio da baixa classe mdia. A despeito de seu nome,
oslevellers [nivelados] estavam longe de ser democratas desenfreados. Eles prop
useram estender a participao no poder apenas a homens de substancia substancia peq
uena, de classe mdia como eles mesmos. Os homens daquinta monarquia eram chiliast
as to extremados que no tinham nenhum programa social.
Osranters foram apenas incidentalmente milenaristas. Basicamente eles eram uma reviv
icaod fraternidade do esprito livre, que acreditavam que uma vez divinizada e absorv
ida por Deus a alma era incapaz do mal. Como osadamitas que foram expulsos de Ta
bor viviam exaltados em um xtase amoral. Se praticavam a comunidade de bens, nudi
smo, falar em lnguas, e orgias sexuais, tudo fazia parte de uma frentica, apressad
a, e desejada vida vivida em um estado de excitao insacivel. Algums ranters eram si
mplesmente espiritualistas ao extremo, descendentes de Meister Eckhart e dos msti
cos da Renolndia; com arestaurao de Charles II eles foram absorvidos pelosquakers.
Eles realmente se localizam completamente fora do desenvolvimento do puritanismo
ingls.
A agitao doslevellers durou apenas trs anos. Eles foram principalmente um partido pol
o que desejava ver as promessas doRump Parliament cumpridas. Tanto seu lder, John
Lilburne, no princpio scio de Cromwell, como os demaislevellers estavam cobertos
de razo quando acusaram oParliament de t-los trado. Embora a redao final doAgreement
of the Free People ofEngland [Acordo das Pessoas Livres da Inglaterra], manifest
o poltico doParliament, propusesse uma democracia mais ampla que perduraria na In
glaterra at o fim do sculo XIX, eles no acreditavam em liberdade universal, tanto q
ue excluram criados, pobres, trabalhadores rurais, catlicos romanos, episcopais, r
ealistas, hereges, e naturalmente, mulheres. Oslevellers eram essencialmente esque
rdistas republicanos calvinistas. Ao final de 1649 eles foram completamente supr
imidos.
Em 1653os parlamentos nomeados oubarebones, escolhidos pelos lderes daigrejas indepen
ntes, se instalaram brevemente; mas suas tentativas para inaugurar o regulamento
dos santos foram to radicais e desorganizados que Cromwell dissolveu-os tornando
-se ditador Protector. Isto conduziu os milenaristas mais extremados a uma revolta
, para os quais Cromwell tornou-se opequeno chifre, abesta do apocalipse. Eles pro
puseram o estabelecimento de um despotismo cruel do eleito em preparao do reino fi
nal do milnio. O movimento daquinta monarquia, pela ausncia tanto de ideologia com
o de um programa social, adotou uma retrica inflamada que consistiu exclusivament
e na reiterao e no rearranjo do idioma apocalptico dos Livros de Daniel e Apocalips
e. Foi uma histrica e ruidosa exploso de raiva de homens que sabiam que haviam sid
o trados. Ao contrrio doslevellers, eles adotaram a revolta armada. Em abril de 16
57 um punhado de homens se precipitou sobre Londres como eles pretendiam e foram
rapidamente suprimidos. Em janeiro de 1661 ocorreu outra tentativa ainda mais f
rentica e desesperada, e aqueles que no foram mortos nas ruas foram executados, fo
i quando a seita se acabou.
Movimentos como avelha famlia do amor, osseekers, e os quakers cresceram nos interstci
os dareforma inglesa, no princpio to clandestinamente que desde Henry VIII at a eme
rgncia dos quakers sabemos surpreendentemente muito pouco sobre eles. Vrios grupos
foram acusados de praticar o comunismo de bens; mas embora o movimento fosse di
fundido, pelo menos na imaginao de seus perseguidores, cada grupo parece ter sido
um minsculoconventculo, com os membros se encontrando nas casas uns dos outros e c
ompartilhando seus recursos. Teologicamente o velho anabatismo morrera na Inglat
erra sendo substitudo peloespiritualismo. A moderna seita batista que surgiu naqu
eles dias teve um desenvolvimento independente que no deveu praticamente nada ao
anabatismo continental, era em muitos aspectos uma forma especial de calvinismo.
Nos escritos e pregaes de George Fox e dos primeiros quakers no havia nenhuma reun
io social especial ou preocupaes econmicas, apenas depois darestaurao com a consolidao
o moderno quakerismo nos dias de William Penn foi que os quakers se tornaram ant
i-polticos.
Um pequeno grupo de desempregados e camponeses sem terra se reuniram na colina de So
George perto de Walton-on-Thames em Surrey em l de abril de 1649, ocuparam a ter
ra e comearam a plantar legumes sob a liderana de William Everard e Gerrard Winsta
nley. No princpio, aquela atitude despertou curiosidade e uma certa dose de condo
lncia, mas com o tempo os senhores locais donos da terra mandaram um bando de jag
unos capturar osdiggers [roceiros] na igreja de Walton que logo foram libertados
pela justia local. Foram novamente capturados pelos jagunos e levados para a cidad
e de Kingston e mais uma vez foram libertados. Em 16 de abril uma denncia dirigid
a aoconselho de estado resultou em dois grupos de cavalaria enviados para invest
igar.
O capito, Gladman, reportou que o incidente era trivial e enviou Everard e Winstanley
para Londres para se explicarem eles mesmos para Thomas Fairfax. Eles explicara
m que desde a conquista normanda a Inglaterra esteve debaixo de uma tirania, mas
que essa tirania seria abolida, pois Deus aliviaria o pobre e restabeleceria su
a liberdade para desfrutar os frutos da terra. Os dois homens explicaram que no p
retendiam interferir com a propriedade privada, mas apenas plantar e colher nos
muitos solos improdutivos da Inglaterra, e viver juntos com todas as coisas em c
omum. Eles tinham certeza que esse exemplo seria seguido pelo pobres e desapropr
iados de toda Inglaterra, e com o passar do tempo todos os homens deixariam suas
posses e se uniriam em comunidade.
No ms seguinte Lord Fairfax interrompeu seus afazeres em Londres para ver pessoalment
e o que estava acontecendo e decidiu que se tratava de um problema que teria que
ser resolvido pelas autoridades locais. Em junho outro grupo de jagunos, incluin
do alguns soldados, atacaram os diggers e pisotearam suas colheitas. Winstanley
reclamou com Fairfax e os soldados aparentemente receberam ordens de deixar os d
iggers em paz. Em junho os diggers anunciaram que pretendiam cortar e vender mad
eira coletivamente, neste momento os proprietrios os processaram por danos e inva
so. O tribunal avaliou os danos em dez libras mais os custos do processo, e apree
ndeu as vacas colocadas por Winstanley nas pastagens coletivas, liberando-as em
seguida por no pertencerem a ele.
Essa sentena desfavorvel e a destruio de suas colheitas provavelmente fez com que os
gers se deslocassem no outono para Cobham Manor, onde construram quatro casas, e
pelo inverno comearam a colheita de gros. Nesse tempo havia mais de cinqenta digger
s. Pela recusa em se dispersar, Fairfax finalmente enviou tropas que, juntamente
com jagunos, destruram duas casas e novamente pisotearam os campos. Os diggers pe
rsistiram e antes da primavera eles tinham onze acres cultivados e seis ou sete
casas construdas. Movimentos semelhantes se espalharam por toda regio de Northampt
onshire e Kent. O proprietrio, o clrigo, John Platt, lanou seu gado em cima das pla
ntaes e mandou seus jagunos destruir as casas e expulsar os diggers com suas mulher
es e crianas.
No dia l de abril de 1650, Winstanley e quatorze de seus companheiros (Everard, que
aparentemente era demente, desaparece cedo na histria) foram acusados de desordei
ros, formao de quadrilha, e invaso de terras. No h nenhum registro da apresentao da acu
sao, mas este foi o fim da pequena sociedade comunista de Cobham.
tudo isso que se sabe sobre o movimentodigger, o episdio trivial dos maravilhosos nov
enta dias das novas folhas quando elas brotam pela primeira vez. Fatos na maiori
a das vezes ignorado em seu tempo, e facilmente esquecido pela histria no fosse pe
los escritos de Gerrard Winstanley esse seria o caso do movimentodigger. Durante
todo o curso dessa experincia ele emitiu uma srie de folhetos. Na medida em que s
uas idias rapidamente se expandiram, estes folhetos vieram a se constituir na pri
meira exposio sistemtica do comunismo libertrio na Inglaterra.
Todas as tendncias dareforma radical parecem fluir junto a Winstanley, misturadas e s
ecularizadas, tornando-se ideologia em vez de teologia. Espiritualismo, unitaria
nismo radical, comunismo apostlico, racionalismo evanglico. Uma pessoa pode facilm
ente acreditar que conhece toda literatura da reforma radical. Mas a verdade que
ns ainda no sabemos nada a respeito de sua base intelectual, de suas leituras ou
de suas influncias. Ele nunca cita uma autoridade secular, apenas a Bblia, e em to
dos seus escritos, no sabemos nada sobre sua educao, e bem pouco sobre sua vida. El
e diz continuamente que suas idias no se originam de nenhum homem nem de nenhum li
vro, mas apenas da Luz Interna e de sua receptividade em experincias visionrias. Tal
vez isso seja verdade.
Gerrard Winstanley nasceu em uma aldeia de Wigan em 1609, em uma famlia de pequenos n
obres e comerciantes que tinham sido durante muito tempo proeminentes na Inglate
rra. O pai de Edward era registrado como mercerizador e seu filho entrou no comrc
io de tecidos. Em algum lugar ele deve ter recebido uma educao muito boa para um g
aroto provinciano de classe mdia. Edward nunca faz uso de uma citao clssica, como to
do mundo fazia naquela poca, essa absteno proposital indica que ele era no apenas ed
ucado mas tambm muito sofisticado, alm disso o estilo prosaico de seus panfletos p
osteriores tpico de um homem altamente letrado. Aos vinte anos foi para Londres,
para receber instrues de Sarah Gater, viva de Willian Gater da companhia Merchant T
aylor, e aos vinte oito anos se tornou um homem livre e montou seu prprio negcio.
Trs anos depois se casou com Susan King. Na depresso que teve incio em 1643 ele fal
iu, e em 1660 ainda estava sendo processado pelos seus credores. Depois de sua f
alncia, deixou Londres para ficar com amigos nos bairros de Cobham e Walton-on-Th
ames em Surrey onde, a julgar por suas dificuldades com o gado, ele props juntar
o gado da comunidade em um pasto comum.
Pouco tempo antes de sua primeira publicao Winstanley juntou-se aos batistas, e aparen
temente passou a ser seu pregador, mas antes de 1648 ele passou a acreditar que
o batismo era apenas uma formalidade sem importncia e parou de freqentar os conven
tculos batistas. Foi a que encontrou alguns pequenos grupos de seekers que se enco
ntravam uns nas casas dos outros esperando pela Luz Interna, e comunicando-se ap
enasex tempore. Nessa poca ele passou por um perodo de tentao, culpa, medo da morte
e danao, de diabos e fantasmas, e um sentido de perda e abandono, um tempo de cris
e espiritual universal nas vidas dos grandes msticos. Finalmente, ele foi tomado
por uma conscincia permanente de Deus dentro de si, uma garantia de salvao universa
l, e uma paz que vem pela experincia direta de iluminao mstica. Suas primeiras duas
publicaes so realmente dedicadas a assimilar esta experincia. Elas se movem de um ch
iliasmo altamente espiritualizado, de uma doutrina bem arrazoada de salvao univers
al, para uma filosofia (em vez de teologia) altamente espiritualizada da histria.
At mesmo os primeiros panfletos tem uma perspiccia original. Seu chiliasmo no conduz
uma forma de salvao de um punhado de eleitos mas divinizao do homem. Em seus ensinos
sobre pecado e salvao, o pecado original de Ado no luxria mas cobia egosmo e desej
poder nesse ponto Winstanley revela-se incomparavelmente mais astuto que os pur
itanos. No final das contas, o Deus que opera na histria, em todos os aspectos, e
conscientemente na alma do homem, no outra coisa seno a Razo. Seria um erro concluir
disto, como alguns modernos escritores tem feito, que Winstanley foi o precurso
r do racionalismo do sculo XVIII. Sua razo o inefvel Deus de Plotinus e de Meister
Eckhart apreendido na experincia mstica, entretanto no separado do homem como Onipo
tente Criador, mas como a ltima realizao de todas as coisas. Assim, para ele a narr
ativa do Velho Testamento e a vida e paixo de Cristo deixam de ser documentos his
tricos sobre coisas que aconteceram no passado para tornarem-se arqutipos simblicos
do drama csmico da luta entre o bem e o mal que toma lugar na alma do homem.
Quando o panfleto digger comea com a aventura na colina de So George, o apelo bsico d
Winstanley no a prtica dos apstolos nem uma tica escatolgica preparatria para o apocal
ipse. Seu comunismo inicia com uma receptividade, uma viso atual, e o apelo sempre
sua transcendente e iminente Razo uma lei natural espiritualizada, no diferente do
To de Chuang Tsu.
Igualmente eu ouvi estas palavras: Trabalhe em conjunto. Coma em conjunto. Decla
re essas coisas pelo mundo afora. Igualmente eu ouvi estas palavras: Entre o lavra
dor e qualquer pessoa ou pessoas que se erguem acima de si mesmas como senhores
ou governantes sobre outros e que no vem a si como iguais aos demais na criao, a Mo d
o Senhor est com o lavrador. Eu o Senhor disse isso e fao isso. Declare essas cois
as pelo mundo afora. [The New Law ofRighteousness, 1648]
Esta viso no veio como um comando do alto, mas como uma voz brotando dentro da experi
ia da prpria natureza, nas palavras de Winstanley, a doutrina da deidade antropom
orfa, superior ao que era contra e independente da natureza,
a doutrina de um esprito doentio e fraco que perdeu sua compreenso do conheciment
o da Criao e do temperamento do seu prprio Corao e Natureza e assim se perde em fanta
sias. [The Law ofFreedom in a Platform or True Magistracy Restored, 1652]
Conhecer os segredos da natureza conhecer as obras de Deus; e conhecer as obras
de Deus na criao conhecer o prprio Deus, pois Deus mora em cada obra ou corpo visvel
. E se voc conhece verdadeiramente as coisas espirituais, voc o conhece como o Espr
ito ou o Poder da Sabedoria e da Vida, que causa o movimento ou o crescimento, q
ue habita em seu interior e governa tanto os muitos corpos estelares e planetas
nos cus l em cima como os muitos corpos na terra aqui em baixo como a grama, as pl
antas, os peixes, os animais, os pssaros e os homens. [Ibid.]
Crer em cu ou inferno externos um conceito estranho, uma fraude pela qual os homens
ubmetidos ao poder de seus opressores,
...uma fantasia que seus falsos mestres colocaram em suas cabeas para se aprovei
tarem de vocs, enquanto pegam suas carteiras e traem a Cristo com as mos da carne,
e separam Jacob para ser servo do Senhor Esa. [The New Law of Righteousness]
A verdadeira e genuna religio esta, restituir Terra tudo aquilo que tem sido retir
ado dela, que as pessoas comuns se apropriem do poder [usurpado] por antigas con
quistas e que o oprimido se liberte. [A New Yeers Giftfor the Parliament and the
Armie, 1650]
A terra com todos seus frutos como milho, gado, e os depsitos de alimento, devem
estar a disposio de toda a humanidade, amigos e inimigos, sem exceo. [A Declaration
from the Poor OppressedPeople ofEngland, 1649]
E foi esta propriedade particular do meu e do teu que trouxe toda a misria s pesso
as. Seu primeiro aborrecimento: as pessoas comearam a roubar umas s outras. Seu se
gundo aborrecimento: fizeram leis para proteger aqueles que praticam o roubo. Is
so tenta as pessoas a praticarem ms aes e ento as matam por fazer isso. [The New Law
of Righteousness]
Agora, este mesmo poder no homem que causa divises e guerra chamado por alguns ho
mens de estado natural que cada homem traz ao mundo com ele. . . . Mas esta lei
das trevas no o Estado Natural. [Fire in the Bush, 1650]
. . . o poder da Vida (chamada Lei da Natureza dentro das criaturas) que move o
homem e a besta em suas aes; ou que faz a grama, as rvores, o milho e todas as plan
tas crescer em suas vrias estaes; e tudo que qualquer corpo faz, ele faz movido por
esta Lei interior. E esta Lei Natural se move tanto racional como irracionalmen
te. [The Law ofFreedom in a Platform or True Magistracy Restored]
No comeo dos tempos o grande criador Razo fez da terra um tesouro comum . . . nem
uma palavra foi dita no princpio de que uma parcela do gnero humano deveria govern
ar sobre outra. [The True Levellers Standard Advanced, 1649]
. . . o poder de cercar a terra e de ser dono de uma propriedade foi trazido cri
ao por nossos antepassados pela espada. Primeiro assassinaram seus semelhantes e d
epois saquearam ou roubaram suas terras. [A Declaration from the Poor Oppressed
People ofEngland]
Por meio de sua sutil imaginao e inteligncia voltada para a cobia eles pegaram seus
irmos mais jovens ou humildes para trabalhar para eles por pequenos salrios e pelo
trabalho deles acumularam grandes riquezas. [The True Levellers Standard Advanc
ed]
Por alto pagamento, muitos meeiros e outros saqueadores que trabalhavam para ele
s acumularam muito dinheiro e com ele compraram a terra. [Ibid.]
Nenhum homem pode ser rico, mas ele acaba enriquecendo, no pelo seu prprio trabalh
o, mas s custas do trabalho de outros homens. Se um homem no conta com a ajuda de
seu prximo, ele nunca se apossar de centenas e milhares de propriedades por ano. S
e outros homens o ajudaram a trabalhar, ento essa riqueza pertence a esses homens
como pertence a ele, porque fruto tanto do trabalho de outros homens como do se
u. Mas todo homem rico folgado, alimenta-se e veste-se s custas do trabalho de ou
tros homens e no do seu prprio; que sua vergonha e no sua nobreza, por isso mais ab
enoado dar do que receber. Mas o homem rico recebe tudo que tem das mos dos trabal
hadores, e o que ele d produto do trabalho de outros homens, no do seu prprio. [The
Law ofFreedom in a Platform or True Magistracy Restored]
. . . uma vez proprietrios, ento eles se elevam ao grau de juizes, legisladores e
governadores dos estados conforme a experincia mostra. [The True Levellers Standa
rd Advanced]
. . . o poder de assassinar e roubar legalmente pelo poder da espada, tanto no p
assado como nos dias atuais, tem fortalecido o governo e sustentado aqueles que
governam; as prises, as condenaes morte, e o poder da espada, servem para obrigar a
s pessoas a se submeterem a um governo que se estabeleceu pela violncia e pela es
pada e que no pode se sustentar a si mesmo seno pelo mesmo poder assassino. [A Dec
laration from the Poor Oppressed People of England]
. . . os jogos de poder reais fixam uma Lei e regras de governo a serem cumprida
s; aqui a Justia fingida mas a f ora da lei imposta pela violncia da espada para pr
eservar sua filha Propriedade. . . . Assim eles dizem que a lei existe para mant
er a ordem mas a lei a f ora, a vida e a medula do poder real que ainda se apoia
na violncia, cercando a terra para alguns e impedindo o acesso a outros; dando te
rra a alguns e negando terra a outros, o que contraria a Lei da Justia na qual o
acesso terra livre para todos. . . . Na verdade a maioria das leis foram feitas
para que o pobre seja escravizado pelo rico pela imposio da violncia e das leis dos
grandes Drages Vermelhos. [A New Yeers Giftfor the Parliament and the Armie]
Winstanley emprestou doslevellers a idia de que a Inglaterra anglo-sax compartilhara a
terra de forma eqitativa; que a conquista normanda propiciara a criao de grandes p
ropriedades, que a antiga populao foi desapropriada ou lanada na servido; que esta d
iviso desigual da riqueza bsica da terra tinha sido perpetuada desde ento pelo pode
r da espada; que aquela lei e religio estabelecida eram apenas dispositivos para
justificar o uso da espada; e finalmente, que a subverso do rei, o herdeiro do po
der normando, resultar em nenhuma mudana importante. As velhas leis permaneceram i
ntatas. Uma nova Igreja, primeiro as presbiterianas e depois as independentes, f
oram estabelecidas, e a grandeza e riqueza da novacommonwealth foi construda pelo
s cavaleiros de William, o Conquistador, enquanto que o povo comum afundava na m
ais profunda pobreza. A interpretao de Winstanley da histria inglesa foi considerad
a ingnua, mas h muito a ser dito a esse respeito. A Inglaterra anglo-sax foi de fat
o um pas de fronteira. Durante todo o perodo da Idade das Trevas foi marcada por u
m catastrfico despovoamento iniciado no sculo V, havia muita terra livre por toda
Europa, principalmente nas ilhas britnicas.
Referindo-se aos advogados ele dizeles amam o dinheiro to afetuosamente como o co de
homem pobre ama seu desjejum numa manh fria, e ainda so tidos como trabalhadores
limpos, eles viram uma causa conforme o tamanho do bolso do fregus.
Oh parlamentar da Inglaterra, que despeja suas leis sobre ns, elas so to triviais,
voc finge amar a todos, e no fiel a ningum. Na verdade, aquele que espera pela lei
, conforme diz o provrbio, morrer mendigo. As velhas leis, como velhas prostitutas
, apanha as carteiras dos homens e as esvaziam. . . queimem todos seus cdigos de
leis . . ., e montem seu governo sobre suas prprias bases. No coloquem vinho novo
em odres velhos; se seu governo precisa ser novo ento deixem as leis serem novas,
seno voc afundar mais ainda na lama onde voc est atolado, voc seria mais rpido em um p
tano irlands. [A New Yeers Giftfor the Parliament and the Armie]
Referindo-se igreja:
Pelo que temos visto, se se trata de adquirir dzimos ou dinheiro, de uma forma o
u de outra, o clero dobra-se ao poder dos governantes, . . . do papado, do prote
stantismo; por um rei, contra um rei; pela monarquia, por qualquer governo; eles
clamam por melhores salrios, eles estaro do lado do mais forte para garantir seu
sustento terrestre. . . . H uma confraria entre o clero e o grande Drago vermelho.
As ovelhas de Cristo nunca estaro bem enquanto o lobo ou o Drago vermelho pagar s
alrios aos seus pastores. [Ibid.]
Para Winstanley, a propriedade privada, especialmente a propriedade da terra como fo
nte de toda riqueza, a causa de todas as guerras, matanas, roubo, e leis escravist
as que mantm as pessoas em estado de misria. A propriedade privada divide o homem d
o homem, nao de nao, e conduz a um estado de contnuas guerras que realimentam o poder
do estado.
Winstanley foi o primeiro a descobrir o axioma que Randolph Bourne tornou famoso guer
ra sade do Estado. Ele tambm teve a idia curiosa e original de que a inveno cientfica
ncorajada pela estrutura do poder apenas em tempos de guerra. A escravido real a c
ausa da propagao da ignorncia na terra pelo medo e a indisposio em remunerar os mestr
es impedindo muitas invenes raras e os segredos da criao, trancafiados pelo tradicio
nal bla-bla-bla das Faculdades e Universidades. A guerra, diz Winstanley, faz os
ricos mais ricos, os pobres mais pobres, e fortalece os laos do poder.
Winstanley foi um completo e devoto pacifista durante a experincia com os diggers, po
r isso abusaram de violncia contra eles, destruram suas choupanas, feriram e matar
am seu gado, tudo isso por no apresentarem nenhuma resistncia. Eles acreditavam qu
e seu exemplo, se apenas lhes fosse permitido cultivar a terra coletivamente em
terras improdutivas, seria to penetrante que logo seria imitado por todos os pobr
es da Inglaterra; e que uma vez estabelecida uma comunidade de amor, ela se espa
lharia por toda sociedade inglesa, seu sucesso conduziria at mesmo os ricos e pod
erosos a se unir a eles e, eventualmente, toda Europa se tornaria comunista pers
uadida apenas pelo exemplo.
Socialistas, modernos comunistas, anarquistas, todos reivindicam Winstanley como um
precursor. Na realidade suas idias mostram muita semelhana com as dos esquerdistas
que apoiavam o imposto nico de Henry George. Para ele a fonte de toda riqueza es
tava na terra e seu desenvolvimento na aplicao do trabalho usando os recursos da t
erra. Se estes recursos fossem de posse coletiva, se fosse permitido a todos os
homens desenvolv-los livremente, se os homens trabalhassem em comum, ento a riquez
a resultante, at mesmo as oficinas e fbricas, se tornariam naturalmente comunaliza
das. Marxistas contemporneos modernos chamaram isso deeconomia ingnua, mas tal idia
foi defendida no comeo do sculo XX por um economista que poderia ser qualquer coi
sa menos ingnuo, Henry George, que atraiu incontveis milhares de seguidores inteli
gentes e , no final das contas, a tese fundamental do prprio Marx. Mas, para Winst
anley, a economia no era a coisa mais importante. O que ele buscava era uma condio
espiritual na qual o gnero humano estaria em harmonia com o funcionamento da Razo
na natureza o retorno do homem, que cara pela cobia, harmonia universal. O comunis
mo de Winstanley no era uma doutrina econmica, mas ajuda mtua acompanhada por sua f
ilosofia orgnica como uma conseqncia lgica.
Aps a supresso de sua pequena comuna dos diggers Winstanley aquietou-se por um tempo.
Ento em 1652 ele publicou, com um prefcio dirigido a Cromwell, seu plano para uma
novacommonwealth The Law ofFreedom in a Platform or True Magistracy Restored. Os
panfletos digger no apresentam nenhum plano de poltica administrativa ou govername
ntal. Winstanley parece ter assumido que o exemplo de funcionamento de pequenos
grupos anarco-comunistas em ocupaes de terra, em fraternidade, se expandiria por t
oda parte, converteria a Inglaterra e eventualmente o mundo. Os problemas de aut
odefesa e conflitos internos seriam resolvidos pelo total pacifismo reinante ond
e o poder simplesmente se dissolveria. A violenta represso sofrida pelos diggers
tanto pelos jagunos como pela fora das autoridades fizeram com que Winstanley cons
iderasse novamente a questo do poder.
The Law ofFreedom,depois de uma introduo geral, est em grande parte relacionada a pla
s administrativos, e a introduo um apelo a Cromwell para que use seu poder para in
troduzir uma novacommonwealth. Se voc, diz Winstanley, no abolir o velho poderpela
violncia dos reis e nobres, mas apenas redirecion-lo a outros homens, voc se perder
ou legar posteridade as bases de uma grande escravido nunca vista antes, uma fria p
reviso das tenebrosas fbricas satnicas do primitivo capitalismo britnico.
No prembulo ele esboa as principais queixas populares, a falta de tolerncia religiosa
a sobrevivncia do velho sacerdcio, o fardo dos dzimos a dcima parte de toda renda pa
ra uma igreja estabelecida, a administrao arbitrria da justia, as velhas leis ainda
em vigor, as velhas dvidas e obrigaes feudais ainda em vigor sendo usadas para opri
mir as pessoas, enquanto as classes altas ignorarem suas obrigaes feudais, incorpo
rando ou abusando das terras de uso comum. Estas so as mesmas queixas bem familia
res nas guerras hussitas e na Revolta dos Camponeses na Alemanha.
Winstanley mostra que a verdadeira liberdade no estava no livre-cmbio, liberdade de re
ligio, ou comunidade de mulheres (as mulheres so de todos), mas na liberdade no us
o da terra, o tesouro natural da sociedade, e que o primeiro dever da nova comun
idade deveria ser abrir o acesso terra a todas as pessoas e assumir as proprieda
des anteriores do rei, da igreja e da nobreza. Para fazer isso corretamente, e u
sar os frutos da terra para o bem de todos, a sociedade necessitava de um verdad
eiro governo, oficiais administrativos que se dedicariam liberdade e ao bem-esta
r pblico.
A raiz original da magistratura estava na famlia, o primeiro magistrado o pai, enquan
to membro responsvel final de um grupo em que todos so mutuamente responsveis. Os f
uncionrios pblicos da sociedade deveriam ser escolhidos atravs do sufrgio universal
pelas pessoas acima de vinte anos, no princpio os representantes da velha ordem p
recisavam ser presos, seria um notrio mal deix-los soltos e impedi-los de ser esco
lhidos. Os candidatos deveriam ter acima de quarenta anos de idade, aps um ano su
a responsabilidade poder ser alternada ao longo da comunidade. Os primeiros a ser
escolhidos seriam os inspetores e os oficiais de paz, formando um conselho loca
l em cada comunidade. Eles preservariam a ordem pblica, suprimindo o crime, quere
las e disputas no mbito da propriedade domstica e outros bens mveis que permaneceri
am em posse privada. Outros planejariam a distribuio do trabalho e iniciariam os j
ovens no aprendizado. Outros supervisionariam a produo nas fbricas e nas fazendas.
Winstanley visualiza a fbrica como sendo em grande parte uma continuao das casas da
s pessoas com alguns seminrios pblicos. O aprendizado regularmente acontece dentro
da famlia; apenas os meninos que no desejam seguir a profisso de seus pais so escol
hidos para os seminrios pblicos. Outros organizam a distribuio de bens e comida que
vo para armazns e lojas, tanto atacadistas como de varejo, nas quais os artesos e c
onsumidores so livres para escolher o que desejarem.
Em cada comunidade h um soldado, que poderamos chamar de policial, cujo dever obri
cumprimento das decises do pacificador, um mestre para o qual dada a tarefa de cu
idar daqueles que so condenados por crimes contra a comunidade e encaminh-los para
uma trabalho coletivo. Tambm h um executor que administra punies corporais ou capit
ais para o recalcitrante sem esperanas. O sistema de penalidades de Winstanley po
de parecer excessivamente severo para ns, especialmente em uma sociedade utpica, m
as no contexto daqueles dias, onde as pessoas eram enforcadas por roubos insigni
ficantes, ele era relativamente moderado. No municpio ou condado, os pacificadore
s das cidades, inspetores, soldados, presidiam acima do juiz, formando uma cmara
e uma corte de primeira instncia. Acima de tudo est o parlamento, que Winstanley p
arece ter concebido principalmente como um tribunal de apelao final, Winstanley se
ope fortemente s indulgncias da legislao promscua. As leis dever ser poucas e simples
tanto quanto possvel. O que Winstanley tinha em mente era uma poltica como a dos
israelitas do Livro dos Juizes na realidade a justia na aldeia neoltica era admini
strada de forma expontnea por ancies sentados embaixo de uma rvore. Curiosamente el
e no diz nada sobre jris ou qualquer outra forma de democratizao da justia. A socieda
de se defende por uma milcia e Winstanley demonstra perceber os males que se esco
ndem por trs dos exrcitos, militarismo e da guerra.
A educao na novacommonwealth gratuita, geral, compulsria, e contnua pela vida. Tod
endero sobre comrcio ou ofcios e trabalharo meio perodo. Nenhuma casta de intelectuai
s ou acadmicos fixada aparte das pessoas atravs de ttulos seria permitida surgir, e
mbora depois dos quarenta anos de idade os homens estariam livres de todo trabalh
o e labuta a menos que no desejassem. A pena de morte seria decretada para aqueles
que tentassem ganhar dinheiro pela lei ou pela religio. Em cada comunidade haver
ia um agente postal diretamente ligado a todos os outros no pas e a um agente posta
l central na principal cidade. Eles trocariam jornais, especialmente jornais rel
atando os progressos da cincia, invenes, e tecnologia. O domingo dia de descanso. A
s pessoas se renem para ouvir a leitura das leis, as notcias do agente postal, o q
ue ns chamaramos de documentos no aprendizado da cincia. Os servios religiosos no so m
encionados. As pessoas aparentemente tem a liberdade de assisti-los se desejarem
. O casamento e o divrcio so civis, pela vontade exclusiva das partes, e acontecer
atravs de simples declarao diante da comunidade com inspetores e testemunhas.
A utopia de Winstanley foi criticada como sendo excessivamente simples e ele foi qua
lificado de ingnuo; mais ingnua ainda foi idia de que Cromwell poria tal poltica em
vigor, ou at mesmo se desse ao luxo de ler seu panfleto. Discusses ideolgicas a por
tas fechas com seus oponentes sectrios foram, sempre que tinha tempo, um esporte
para Cromwell, mas ele nunca deixou que isso o influenciasse. No podemos nos esqu
ecer que ele viveu em um tempo de esperana revolucionria. Naqueles dias, como no c
omeo da Reforma no continente, parecia bem possvel aos homens inteligentes que uma
ordem social completamente nova pudesse ser estabelecida. Todo mundo tinha algo
de milenrio e acreditava que uma nova era histrica estava despontando. Eles no pud
eram prever a subida do industrialismo, do capitalismo, do Estado secular. Para
ns, o futuro deles passado e parece ter sido inevitvel. Mas nada foi inevitvel para
eles. Talvez se Cromwell, ou mesmo Lutero, tivessem previsto os horrores da ida
de industrial no princpio do sculo XIX, ou o genocdio e guerras de extermnio do sculo
XX, eles poderiam ter optado pelacommonwealth de Winstanley ou a vida comunitria
dos huteritas. Em cada grande crise da civilizao europia ocidental, a Reforma, a R
evoluo Francesa, e as revolues de 1848, a Primeira Guerra Mundial, a Revoluo Bolcheviq
ue, a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Mundial, parecia bastante possvel
mudar o mundo. apenas depois do fato consumado que o processo histrico parece ser
o nico caminho pelo qual os eventos poderiam ter funcionado.
A utopia de Winstanley era uma poltica executvel? Dentro de limites, sim. Se ele sabia
disso ou no, sua poltica notavelmente semelhante a dos taboritas, dos irmos moravi
anos, dos huteritas, e dos assentamentos comunalistas na Amrica do sculo XIX. Seus
planos fizeram parte no conjunto das idias dos comunistas ingleses posteriores e
direta ou indiretamente influenciaram John Bellers, Robert Owen, Josiah Warren,
William Morris, Belford Bax, douard Bernstein, David Petegorsky. Outros socialis
tas, comunistas, e anarquistas escreveram extensivamente sobre ele na primeira m
etade do sculo XX e depois da Segunda Guerra Mundial ele ficou extremamente popul
ar. Grupos comunalistas revolucionrios na Inglaterra, Amrica, Alemanha, e Frana der
am a si mesmos o nome de diggers.
Embora os quakers sejam sem dvida os maiores e mais conhecidos, constituindo uma comu
nidade remanescente descendente dos anabatistas espiritualistas, e at mesmo das c
omunidades apostlicas secretas da Idade Mdia, eles no praticaram a comunidade de be
ns. A cadaencontro do stimo dia, conforme chamam seus conventculos, havia um fundo
comum para o alvio dos scios em necessidade. Como a maioria dos quakers tornou-se
prspera devido a sua estrita honestidade no comrcio e nos ofcios, devido a sua rec
usa em pagar dzimos por volta de 1760, pelos seus avanados mtodos agrcolas estes fun
dos comuns reservados para pessoas pobres tornaram-se bem substanciais e muitos
pobres se juntaram Sociedade de Amigos para obter ajuda, alis bem superior quelas
que os pobres contemporneos recebem. No princpio isto causou problemas mas com o t
empo a gerao de membros que havia se juntado a eles por essas razes acabaram sendo
absorvidos pela economia geral, pois os quakers pobres representavam menos de um
tero dos pobres da populao em geral, enquanto que os membros prsperos eram proporci
onalmente trs vezes maiores. Os fundos assistenciais quacre chegaram a ser utiliz
ados de uma forma crescente na ajuda de pessoas pobres em projetos sistemticos de
auto-ajuda. Os quakers estabeleceram a principal, seno a nica, cidade fabril no m
odelo de Robert Owen (New Lanark). Eles continuam investindo em movimentos comun
ais cooperativos at nossos dias.
Em sua juventude na Faculdade de Manchester entre os mais ntimos amigos de Owen estav
a o quacre John Dalton e um outro jovem chamado Winstanley, um bem possvel descen
dente do grande digger.
Muito mais do que em Robert Owen, o quaker John Bellers, o terico mais sistemtico de u
ma colnia de trabalho cooperativo, deixou uma forte impresso em Marx. Owen sempre
negou que tivesse sido influenciado por Bellers e reivindicou que nunca tinha ou
vido falar dele at que Francis Place lhe mostrou a nica cpia de seu esquecido panfl
eto de 1817. Owen imediatamente imprimiu mil cpias e distribuiu-os queles que julg
ava interessados, assim Bellers sobreviveu.
Bellers nasceu em 1654, quacre de nascena. Ele ficou amigo de Willian Penn e outros d
os principais atores de seu tempo. Em 1695 durante a longa depresso econmica nos lt
imos anos do sculo, ele publicouProposals for Raising a College oflndustry ofAll
Useful Trades and Husbandry. Ele deu o nome defaculdade em vez decasa de trabalh
o oucomunidade porque faculdade estava identificada com instituies servis do estad
o e acasa implicava num local onde as coisas eram compartilhadas em comum. Com u
m investimento de capital de quinze mil libras um valor considervel, valia dez ve
zes mais do que vale hoje Bellers visava uma colnia auto-sustentada de trezentos
adultos com lojas, comissrio, oficinas, fazenda, celeiros, leiteiras, cermica. A c
omunidade seria auto-suficiente at mesmo em combustvel e ferro. Todos os membros,
desde trabalhadores comuns at inspetores e gerentes, seriam pagos em espcie. A cas
a teria quatro asas uma para pares casados, uma para homens solteiros e meninos
jovens, uma para mulheres solteiras e meninas, e uma enfermaria. As refeies seriam
em comum. Bellers, como Winstanley antes dele, colocou uma grande nfase na educao
das cincias humanas, nas artes, e nos ofcios e comrcio combinados. Bellers achava q
ue a vida criativa da comunidade e os mtodos educacionais avanados atrairiam muita
s pessoas que viriam como visitantes ou at mesmo como pensionistas permanentes; t
inha a inteno inclusive de matricular suas crianas na escola, esperando que eles pa
gassem bem por esses privilgios. Ele desenvolveu nos mnimos detalhes a contabilida
de projetada de sua comunidade e demonstrou que os investidores originais ganhar
iam um lucro considervel, sendo que o padro de vida dos scios seria bem mais alto d
o que aquele do proletariado contemporneo. A primeira edio de seu panfleto foi dedi
cada Sociedade de Amigos, a segunda ao Parlamento, mas ningum ousou investir em t
al colnia. Durante os anos seguintes Bellers emitiu uma srie de folhetos, alguns d
eles dedicados a uma anlise econmica cuidadosa de uma economia semi-socialista, ou
tros propondo uma liga de naes, um conselho ecumnico de todas as religies crists, um
servio de sade nacional, uma reforma do Parlamento e um processo eleitoral, uma re
forma total das prises, e uma reforma dasPoor Laws.
Embora Robert Owen tivesse desenvolvido seu prprio sistema antes ele leu o panfleto d
e Bellers e embora Fourier, Saint-Simon, e Cabet, certamente nunca tivessem ouvi
do falar dele, ele antecipou a maioria de suas mais praticveis idias e de uma form
a mais vivel. Embora todos seus escritos ficassem logo excessivamente raros, ele
deveria ser considerado o fundador do moderno e socialmente responsvel quakerismo
doService Committee Variety. Alm disso as vrias medidas que ele props em seu aspec
to reformista foram quase que integralmente incorporadas pelo modernoestado de b
em-estar. Embora Marx o tenha chamado de um verdadeiro fenmeno na histria da econom
ia poltica, incrivelmente nunca houve uma edio com uma coleo de seus trabalhos, no h,
m toda essa inundao de pesquisa escolar e teses de Ph.D., nem mesmo qualquer livro
escrito sobre ele. Ele nem mesmo mencionado no catlogo doHistory ofBritish Socia
lism. A maior parte das informaes sobre ele pode ser encontrada no captulo final de
Cromwell and Communism de douard Bernstein.
11. Oriente Prximo e Rssia
No Oriente Prximo, onde apareceu pela primeira vez, a vida comunal da aldeia neoltica
tem sido desvirtuada e inviabilizada pelas invases do Estado e da economia extern
a at os dias presentes. At a Segunda Guerra Mundial ou at a descoberta do petrleo no
s arredores, a vida em uma aldeia isolada do Oriente Mdio era em muitos aspectos
semelhante a que teve durante oito mil anos. Assim, no surpreendente o entra e sa
i de movimentos comunalistas no mesmo local do nascimento do Estado centralizado
, nem o porque deles terem falhado, com uma larga economia baseada na irrigao, sil
os regionais, e planejamento racional da agricultura, tudo isso exigiu um aparat
o administrativo centralizado.
A religio persa oficial, o zoroastrianismo, poderia ser considerada um reflexo do Est
ado centralizado do Oriente Prximo, com seu sistema de palcio e monarca absoluto.
Oyasnas deZendAvesta contm muitas mximas dirigidas contra o comunismo, contra o de
srespeito aos nobres, contra o pacifismo, e contra a comunidade pirata nmade, con
tudo, contem tambm algumas tendncias comunalistas, funcionando secretamente, para
emergir na religio de Mazdak nos anos posteriores da dinastia sassaniana.
Mazdak nasceu no final do sculo V e os seus discpulos esparramaram sua doutrina to ra
damente sobre a Prsia que eles logo converteram um grande nmero de pessoas importa
ntes e eventualmente, o prprio Rei Kawaz.
Para Mazdak a fonte de todo mal era devido ao malvola dos diabos, Inveja, Ira, Gan
que tinham destrudo a igualdade primitiva e a comunidade do homem. Os discpulos de
Mazdak mantinham todas as coisas em comum incluindo, de acordo com seus inimigo
s, as mulheres. Como a maioria dos hereges eles foram acusados de serem viciados
em orgias sexuais. Por outro lado eles tambm foram acusados de extremo ascetisci
smo, vegetarianismo, e a recusa em matar sob qualquer circunstancia. O comunismo
no era incidental para o mazdaismo, mas central. Os grandes pecados mortais eram
relacionados a possessividade e violncia, e as maiores virtudes eram aquelas da
comunidade do amor.
Temos informaes incompletas sobre o que aconteceu depois da converso do rei, mas os e
itos sociais parecem ter sido drsticos e supostamente devem ter conduzido sua dep
osio temporria pelo seu irmo Jamasp. Em sua restaurao seu filho, Khusraw I (Chosroes I
), enganou Mazdak cortejando todos seus discpulos, recebendo a submisso formal de
Khusraw e a pblica profisso da nova religio. Quando os mazdaitas entraram nos jardi
ns reais para participar de um grande banquete, cada grupo foi agarrado e enterr
ado de cabea para baixo com os ps para fora. Khusraw conduziu Mazdak pelo jardim e
disse, veja a colheita que sua m doutrina produziu, e enterrou-o, de cabea para bai
xo, entre seus seguidores.
O massacre, que aconteceu em A.D. 528, no exterminou a seita. Na ascenso de Khusraw tr
anos depois comeou uma nova perseguio e os mazdaitas foram caados ao longo da Prsia.
Porm, um remanescente parece ter continuado agindo secretamente, passando suas d
outrinas e prticas s seitas estrangeiras que surgiram dosismaelitas eassassinos, c
ismticos do corpo principal do Isl. Por seus esforos em defender o zoroastrianismo
foi dado a Khusraw o ttulo deNushirwan-Anushak-Ruban esprito imortal e ainda venerad
o pelos persas como um heri religioso.
Infelizmente no sabemos praticamente nada dos detalhes desse fato, que no final das c
ontas foi o episdio histrico principal. Algumas das fontes do zoroastianismo, isla
mismo e cristianismo, vieram atravs de testemunhas oculares, substitudas abusivame
nte por economistas e socilogos. Sabemos menos ainda sobre o comunismo atribuido
ao crculo interno dos primitivosmanichaeanos, cujos oponentes se chamavamzandique
s, que correspondem com os cathari entre os ltimos albigenses europeus descendent
es dos manichaeanos. O comunismo entre os zandiques aparentemente foi praticado
por uma minoria que escolheu seguir conselhos de perfeio semelhante aos monges cri
stos. Muito mais que o mazdaismo, que floresceu dentro dos limites do imprio sassa
niano, o manichaeanismo, e depois o agnosticismo, influenciou profundamente o de
senvolvimento da heresia islmica. Desde ento, mais especialmente em seus primeiros
dias, o isl participou especialmente no carter de uma imenso bando de nmades condu
zidos por caravanas mercantes, invadindo sociedades estabelecidas dentro de seu
permetro de expanso a guerra do estepe contra a areia sempre havia um elemento de
comunalismo pirata em sua tica social e em menor grau em sua prtica. Embora Maom fo
sse um comerciante e falasse para as comunidades mercantis de Meca e Medina, a d
istino entre invasores beduinos e comerciantes mercadores bem nebulosa. O posterio
r evoluiu do anterior e permaneceu dependente dele. A diferena essencial estava e
ntre pilhagem e lucro. O bando nmade compartilhava a pilhagem, o comerciante guar
dava seu lucro para si. Assim essas comunidades islmicas de hereges que praticara
m o comunismo normalmente eram os piratas do deserto e da estepe, como osassassi
nos, uma sociedade secreta de extorcionistas.
A fonte da maior heresia islmica no est no corpo principal domohammedanismo, osunnism
a religio da maioria dos rabes e dos habitantes das terras conquistadas e mantidas
, mas nochia, a religio da Prsia. Oschutas rejeitam a noo de um califa eleito e de u
m clero que sempre funciona como um tipo de rabinato com um corpo legislativo su
jeito discusso como no Talmud a favor de um califa hereditrio descendente do profe
ta Ali, o genro de Maom, que por uma linha de divindade ordenavasete oudoze suces
sores, dependendo da seita,imams que adquiriam o carter de emanaes diretas da deida
de. Na Prsia essa linhagem tambm descende do ltimo dos reissassanianos pela filha Y
azdigird,Harar, a gazela, esposa do mrtir Husayn, e me de Ali Asghar. Assim, combi
nado a uma linha hereditria, ocorre uma mstica encarnao divina no Rei Persa, (o hele
nsticoBasileus Sotef) e emAhura Mazda. Oiman final oculto, para ressurgir apenas
no fim do mundo na forma de umSalvador ouMahdi, normalmente inacessvel, mas repre
sentado diante das pessoas atravs demissionrios, oudais, que o revelam clandestina
mente. As vezesmahdi eimam so identificados ou, como na dinastiaFatimid do Egito,
funcionam como verdadeiros governantes. Entre osismaelitas o ltimo desaparecido S
ete que reaparecer, como na Segunda Vinda de Cristo, no fim do mundo. Na maioria
das seitasismaelitas ele a emanao final da srie desete, no confundir com ossete imam
s que so todos espiritualmente idnticos, mas de um carter metafsico, gnstico, similar
aosaions dosvalentinianos gnsticos ou aossephiroth da kabala judia. Ns estamos li
dando aqui comemanacionismo, soteriologia, e umapocalipticismo que remonta ao am
anhecer da religio no Oriente Prximo por exemplo, a egpcia teologia de Memphite, enco
ntra analogia namahayana budista. A semelhana com a forma prevalecente do zoroast
rianismo, uma religio que se pronunciou amplamente nosassassinos antes da conquis
ta muulmana, como uma de suas expresses mais hereges. Ochismo tem sido qualificado
como a revolta da Prsia contra osunismo rabe, embora ochismo tenha florescido por u
m tempo no Egito, e at mesmo em lugares distantes como Espanha e Indonsia. a atual
religio na Prsia, e dosismaelitas na ndia cujomahdi Aga Khan.
Tanto em estrutura como em doutrina a maioria das formas avanadas de chismo se assemel
ha aosboxes chineses, um governo hierrquico inacessvel, uma religio oculta, uma srie
inclusiva de mistrios cujo segredo final que no h mistrio algum. A atrao de tal relig
io e sociedade secreta grande, especialmente quando associada com o poder mundano
atual.
Contemporaneamente, ao estabelecimento da dinastiafatimida em Trpoli no final do sculo
IX e conquista do Egito em 972 A.D. uma seita estreitamente relacionada com osc
armathianos desenvolveu-se na parte mais baixa do vale mesopotmico e ao longo da
costa noroeste do Golfo Persa.. O califado dosunita ortodoxo Abbasid em Bagd fico
u preocupado com uma grande revolta de escravos negros, a insurreio de Zanj. Os ca
rmathianos tentaram uma aliana com os lderes de Zanj. Isso provou ser impossvel, ma
s eles puderam estabelecer uma oposio paralela, depois da supresso da revolta de Za
nj os carmathianos no apenas controlaram secretamente a costa norte do Golfo Pers
a, como tambm organizaram a subverso no lmem, na Sria, e na prpria Bagd. Em 900 A.D. a
s tropas do califado foram derrotadas em Basra e dali em diante os carmathianos
passaram a controlar Bahrayn, eventualmente Basra, e muitas outras cidades entre
a Mesopotmia e a Arbia, cortando as rotas de peregrinagem para Meca, e normalment
e as conexes martimas de Bagd. Aqui eles estabeleceram o que provavelmente foi a nic
a sociedade comunista a controlar um grande territrio, mantendo esse controle por
mais de uma gerao, antes do sculo XX.
Os carmathianos tambm atacavam as caravanas de peregrinos para Meca, muitas vezes mat
ando milhares de pessoas, atacaram cidades to longnquas quanto Damascus, onde eles
parecem ter estabelecido um considervel corpo de seguidores secretos. Finalmente
eles atacaram a prpria Meca e levaram a Pedra Preta sagrada, o objeto mais santo
do Isl, junto com uma imensa pilhagem (928 A.D.). Dentro do prprio bahrayn havia
um completo e absoluto comunismo. Os cidados no pagavam nenhum tributo ou imposto;
seu bem-estar estava garantido desde o nascimento at a morte, na doena ou na sade.
Todo trabalho duro, servil, ou desagradvel era executado por escravos negros que
parecem ter sido os remanescentes derrotados da revolta de Zanj que fugiram par
a seus semi-aliados e voluntariamente preferiram a escravido com oscarmathianos d
o que o extermnio com os sunitas. Os ortodoxos acusaram oscarmathianos de comunid
ade de mulheres (as mulheres eram de todos) e de todas as formas de orgias. Na v
erdade eles eram estritamente mongamos, uma casta militar um pouco parecida com o
s guardies de Plato ou os Cavaleiros Teutnicos, conduzindo uma vida severamente rgid
a, pura e regulada. O uso de vinho e todos os vcios secundrios eram estritamente p
roibidos. As mulheres no usavam vus, circulavam livremente em pblico e exerciam uma
influncia considervel. Oscarmathianos no eram obrigados a cumprir as ordenanas espe
cficas do Isl, nem mesmo encontros de sexta-feira, oraes dirias, ou comer alimentos s
agrados. As prticas esotricas domohammedanismo foram substitudas pelo culto Luz, um
misticismo contemplativo relacionado ao sufismo, bem parecido com o do maior tel
ogosufi, Ibn ei Arabi. Como os sufis oscarmathianos se vestiam exclusivamente de
branco e colocavam grande nfase na moral e na pureza fsica. Ns ainda estamos no mu
ndo dosessnios, dotherapeutae, e daluz pela emanao da luz dosphilo judaeus. Se algu
mas acusaes de seus perseguidores ou algumas tradies secretas de ocultismo doscavale
iros templares forem verdadeiras, esta a fonte.
Em 1084 A.D. Bahrayn foi subvertida, mas surgiu um outro domnio ismaelita, uma nova i
rmandade de mistrio e aventura, osassassinos, que se estendeu ao longo do Norte d
a Sria e no Mar Cspio. Baseado em uma srie de comunidades-fortalezas no remoto dese
rto ou em reas montanhosas das quais Alamut foi a mais famosa e a que mais tempo
durou, os assassinos estiveram ativos durante todo o perodo das Cruzadas como uma
irmandade secreta deextorcionistas e assassinos que espalhou o terror por todo
o Oriente Prximo. Eles pilhavam, influenciavam politicamente, e impunham respeito
tanto em cristos como em muulmanos. O comunismo autoritrio dos carmathianos abriu
caminho para um puro autoritarismo. Seus adeptos eram provavelmente controlados
por uma espcie de hipnose de massa induzida pelo excessivo uso do haxixe, da seu n
ome,hashishim. Suas fortalezas foram destrudas e eles foram exterminados quase qu
e completamente pelos mongis sob o comando de Hulagu, que aparentemente nutria um
dio especial contra eles. Depois de capturarem o grande mestre de Alamut, o envi
aram para Hulagu, mas escapou, eles sobreviveram como seguidores de Aga Khan.
Os carmathianos e os assassinos so os primeiros claros exemplos de uma sociedade comu
nal de mtuo-benefcio vivendo da pilhagem de outras comunidades. Tal organismo pode
ser apenas intersticial e funciona nos pontos divisrios entre as classes de um E
stado altamente organizado, nas brechas entre dois Estados antagnicos, ou na peri
feria das sociedades altamente organizadas. Este o comunismo da gangue urbana ou
bando pirata de ladres em tempos de desorganizao social como o bando imortalizado
pela novela chinesa,The Water Margin (Ali Men Are Brothers), e naturalmente, nos
contos de Robin Hood. Os carmathianos floresceram do antagonismo entre fundamen
talistas rabes e civilizaes persas. Osassassinos, a mais famosa das muitas comunida
des similares que praticava um esoterismo religioso, sobreviveram saqueando seus
vizinhos ao longo das fronteiras ao Norte da Prsia, no Cucaso, ao longo do Mar Csp
io, e por todo Oxus, o atual Afeganisto.
Antes das Cruzadas, a civilizao islmica era incomparavelmente mais adiantada e rica d
que a Europa Ocidental. As Cruzadas em si eram uma espcie de brigada religiosa, d
a mesma maneira que o isl tinha sido, quando os bedunos e mercadores da Arbia pilha
ram o imprio bizantino. Assim no extraordinrio que o tipo de organizao inventada pelo
scarmathianos eassassinos acabou sendo adotada pelos cruzados. Oscavaleiros temp
lares e outras ordens militares eram no princpio sociedades similares, autoritrias
, comunistas, de bandidos religiosos, s distinguidos pelos seus votos de celibato
.
Se aceitarmos qualquer uma das acusaes feitas contra ostemplrios quando foram suprimi
s por Filipe, o Belo, em 1307, veremos que eles no apenas copiaram a estrutura or
ganizacional dosassassinos como tambm sua classificao esotrica, que conduzia a um des
mo cptico, acompanhado por ritos e prticas que os ortodoxos consideraram blasfemas
e obscenas. Ostemplrios foram acusados de cuspir na cruz em sua iniciao, de pedera
stia institucionalizada, e de orgias noturnas, mas eles foram suprimidos porque
haviam se tornado a organizao mais rica da Europa e um estado dentro do estado, in
dependente de reis e do papado, como tambm uma imensa corporao de banqueiros interna
cionais.
Nas costas do Bltico e no interior, oscavaleiros teutnicos tinham uma organizao seme
te dosmilitares ordenados cruzados exceto quando se fixavam em um territrio especf
ico. Da mesma forma que os templrios sucederam aos assassinos e carmathianos, os
cavaleiros teutnicos foram os sucessores das comunidades pagas varangianas que po
voavam as vias fluviais desde o Bltico at o Mar Negro, comunidades fortificadas de
mercadores-guerreiros escandinavos consideradas parte das populaes mais brbaras en
tre os Finns, Letts, e eslavos. Aparentemente eles praticaram uma economia de ba
ndo de ladres, compartilhando a riqueza, mas com a maior parte do roubo indo para
seus chefes. Eles no eram celibatrios como oscavaleiros teutnicos. Suas mulheres e
ram escravas concubinas tomadas de povos circunvizinhos, e em alguns casos apare
ntemente eram imoladas quando seu chefe ou senhor morria. Uma das principais mer
cadorias de comrcio dos imprios bizantino e persa era o trfico de escravosloiros. A
s colniasvarangianas da grande Rssia nunca conseguiram se unir para formar um nico
estado escandinavo, embora estabelecessem as fundaes da monarquiakievan, e at mesmo
os Romanovs reivindicavam ser descendentes deles. Porm, durante algum tempo, no
perodoviking, osjomsvikings da cidade-fortaleza de Jomsburg, em algum lugar na co
sta do sudoeste do Bltico (o local nunca foi identificado com certeza) funcionou
como um estado comparvel Noruega, Sucia, e Dinamarca.
A conquista dos mongis destruiu o poder escandinavo na Rssia e arrasou a regio do Bl
. Da mesma forma que os mongis subjugaram o interior e destruram os domnios eslavos
e varangianos no princpio do sculo XIII, os cavaleiros teutnicos mudaram suas ativ
idades da Terra Santa para a Prssia paga sujeitando a populao finlandesa e eslava n
uma guerra de genocdio, e eventualmente chegaram a controlar toda costa ao sul do
Bltico.
Este tipo predatrio, parastico, de associao em mtuo benefcio, gradualmente abandon
caractersticas comunistas e religiosas para, no comeo da era capitalista, emergir
nas grandes companhias de comrcio orientais, nas companhias holandesas e nas comp
anhias inglesas da ndia oriental e corporaes semelhantes, tomando a forma de algo p
arecido com uma mistura de brigadas militares com mercadores.
Em tais sociedades as relaes contratuais jurdicas ou implcitas que prevalecem entre
ios e que so escassamente sentidas, so trocadas por uma calorosa fraternidade de h
omens unidos pelo constante perigo e pela esperana de riqueza sem trabalho duro.
Obedincia, lealdade at a morte, completa devoo pela causa, ajuda sacrificatria para i
rmos em angstia, coisas como estas florescem muito mais em sociedades de bandidos
do que entre cidados refinados de uma comunidade estvel. Como um corpo que cresce
em antagonismo aos valores das sociedades s quais no pertence, sejam mais civiliza
das ou mais brbaras. Essa relao ganhou fora apresentando uma face misteriosa a todos
os estranhos, desenvolvendo onerosos ritos de iniciao e de graduao progressiva. Nos
crculos mais altos que deliberadamente treinam e manipulam os graus mais inferio
res, normalmente prevalece um completo ceticismo e quando algum admitido ao gover
no, ao alto conselho, o ltimo segredo a ser revelado que no h segredo algum. Outra
caracterstica de tal sociedade foi a impiedosa purgao de todos os scios desde a base
at o topo que no conseguiam se adaptar a mudanas rpidas no governo ou na poltica. Ta
is comunidades dependeram de obedincia absoluta e da mais perfeita forma de autor
idade que se estreita continuamente at que desaparece no topo de um pinculo, o pri
ncpio metafrico da prpria autoridade. Tais sociedades, como ostemplares, os jesutas,
osbolcheviques, sempre encheram as grandes sociedades circunvizinhas de terror,
sendo tema de lendas horrorizantes, e de cruis perseguies.
Historiadores cientficos dedicados a uma ponderao no-emocional das evidncias, e nor
te comprometidos pelo evangelho social do neoliberalismo, quase sempre negaram a
s acusaes de conduta ultrajante e obscena lanadas contra sociedades secretas, grupo
s herticos, e movimentos ocultos, como produtos das mentes doentias de seus acusa
dores. Isso se deve em parte a um compromisso anterior com a doutrina da bondade
inerente do homem.
Foram dedicadas muitas pginas para provar que os carthaginianos no sacrificavam bebs
Moloch, que nunca houve pederastia no Monte Athos, ou que as bruxas no passavam d
e mulheres loucas ou velhas. Se desejar, algum pode rejeitar uma evidncia, mas cer
tamente h um monte de outras evidncias apontando para o lado oposto. As bruxas da
Europa e da Nova Inglaterra podem ter confessado debaixo de tortura coisas que n
unca fizeram, mas no mundo inteiro, na sia, frica, e na Amrica primitiva as bruxas
e chamans faziam precisamente as mesmas coisas.
* * *
A relao social que prevaleceu na comunidade da aldeia neoltica nas frteis regies ag
desde os estepes da grande Eursia at as plancies do Danbio atravs da Ucrnica e da Sibri
a que o eclogo americano chamaria de clmax da pradaria de grama extensa suportou p
or milnios, de certo modo at o sculo XX. O ambiente era tal que permitia um exceden
te agrcola sumamente estvel, baseado em pequenos gros e na domestificao sedentria de a
nimais domsticos para a obteno de carne e leite. Tais comunidades estavam continuam
ente sujeitas invaso de pastores nmades que vagavam ao longo do grande mar de este
pe que se estendia diante deles. A maioria dos estados centralizados penetravam
nessas comunidades de pastores atravs de nmades, que por muitas geraes iam e vinham,
infiltrando-se cada vez mais dentro dessas comunidades.
At a imposio da servido na era moderna, o modo de vida adotado em uma tpica aldeia
ana ou na Grande Rssia remonta de um tempo to longnquo que necessrio seguir seus ras
tros arqueolgicos, tal modo de vida provou ser singularmente resistente tanto ao
estilo eslavo de feudalismo como a sua servido posterior. A comunidade camponesa
eslava sobreviveu abolio da servido e as nicas tentativas parcialmente bem sucedidas
de estado e as novas classes altas at mesmo para libertar os servos e estabelecer
um trabalho assalariado e uma agricultura de semeadura que permitiria a acumulao p
rimitiva necessria ao desenvolvimento capitalista. At mesmo a longa luta dos bolch
eviques para industrializar a agricultura, as pequenas comunidades, e substituir
cidades agrcolas por vastas fazendas e coletivos estatais nunca foi completament
e bem sucedida. A agricultura coletivizada da moderna Rssia, embora altamente rac
ionalizada e comunalista (talvez na teoria), fica bem aqum na produtividade per c
apita por acre da Europa Ocidental, bem menor que a americana em termos de agric
ultura em larga escala, e h muito provou ser menos produtiva que nos velhos tempo
s das fazendas mistas de duzentos acres do meio oeste americano. Isto verdade no
apenas nas terras eslavas, como tambm especialmente na Ucrnia, considerada uma das
terras mais frteis do mundo.
Milhares de anos atrs, quando o primeiro homem entrou nessa regio, ele desenvolveu um
modo de vida e uma espcie de comunidade, quase perfeitamente ajustada quele meio a
mbiente especial. Qualquer tentativa de alter-lo trouxe apenas desordem, ineficinc
ia e desmoralizao. Durante cinqenta anos todo congresso do Partido Comunista ou Sov
itico se deparou com uma crise agrcola permanente, porm os fatos sempre foram disfa
rados pela oratria.
A literatura russa e a teoria revolucionria, com exceo do marxismo, pontilhada pelo
ticismo da comunidade camponesa russa. Tipicamente, os socialistas revolucionrios
, em sua maioria partidrios da Revoluo Russa, esperavam reorganizar a sociedade rus
sa tendo como modelo a sociedade camponesa, amir, ou at mesmo a unidade administr
ativa da classe alta, azemstvo em outras palavras eles pretendiam realizar uma e
spcie de camponesao de toda estrutura industrial e cvica. Na realidade, os primitivo
s sovietes eram compostos por trabalhadores, cidados comuns, soldados, marinheiro
s, em sua maioria vindos, durante uma ou duas geraes, de aldeias camponesas. Estes
sovietes cresceram espontaneamente na revoluo de 1905.
No h dvida de que a comunidade camponesa foi altamente influenciada pelo movimento po
lista revolucionrioNarodnaya Volya a vontade do povo do sculo dezenove dos revolucionr
ios socialistas. Milhares de homens e mulheres jovens bem educados iam at o povo ac
reditando que se o campons fosse educado ele reproduziria espontaneamente um comu
nismo eslavo especial que resgataria a sociedade industrial eventualmente em tod
o o mundo. Os fatos brutais da vida camponesa so bem retratados nas narrativas de
Chekhov, e provvel que os revolucionrios sociais esquerdistas encontraram dificul
dades em introduzir em aldeias neolticas a tica da modernidade fabril e bancria pel
a qual os bolcheviques pretendiam industrializar a agricultura. Some-se a isso o
fato de que formas comunais com origem na mais remota antigidade, reaparecem nat
uralmente, se bem que brevemente, na Revoluo de 1905, e na Revoluo de 1917 at que os
sovietes e as fazendas comunais fossem suprimidas pelos bolcheviques dois anos a
ps o ataque implementado pelo poder.
Nos tempos modernos, naturalmente, as aldeias e comunidades no eram comunistas. Estav
am bem distantes de compartilhar as coisas em comum. A pobreza e o grau de explo
rao tornava o campons desesperadamente avarento. Porm, a dissenso russa caracterizada
por uma tendncia global voltada para o comunismo. O anabatismo russo aparece na
histria ao mesmo tempo que no Ocidente durante o sculo XVI mas, como no Ocidente,
h indicaes de que adotou uma existncia oculta e clandestina que remonta aos primeiro
s sculos do cristianismo na Rssia. As duas principais seitas batistas, adoukhobors
e amolokani, brotaram continuamente fora dos grupos comunalistas que usualmente
eram radicalmente suprimidos, porm inofensivas e insignificantes. Este processo
teve seqncia nas comunidades imigrantes no Canada, Amrica do Sul, e Estados Unidos,
mas nenhum dos movimentos cismticos durou muito tempo. H um certo nmero de seitas
extremadas que se assemelham um pouco com osgnsticos emanichaeans, e que podem se
r relacionadas com o movimentopaulican-bogomile-cathari-albigensian que se espal
hou na Idade Mdia desde a sia Menor at o sul da Frana. Outros grupos como osshlisti
e osskoptsi, que embora praticassem cultos orgisticos e extticos, eram celibatrios
ao ponto de se castrar, semelhantes aosmandeanos dos pntanos da Mesopotamia, ou a
alguns dos cultos mais extremados que se desenvolveram fora do Isl xita, como oco
rreu no cristianismo. A base camponesa e a selvagem perseguio sofrida criou freqent
emente a prtica de um comunismo forado entre eles, mas nunca estabeleceram comunid
ades permanentes onde todas as coisas eram possudas em comum.
Depois que oshuteritas emenonitas se instalaram na Rssia eles exerceram uma certa inf
luncia na sociedade camponesa ao seu redor. L ainda existemanabatistas que falam o
russo e os que so essencialmentemenonitas, mas no h notcia de comunidades puramente
russas que seguem o modo de vida estrito do comunalismo huterita.
Nos primeiros anos que se seguiram aps os bolcheviques tomarem o poder, estes esperav
am usar o comunalismo inerente dissenso russa no desenvolvimento de um programa d
e fazendas comunais, distintas das fazendas coletivas. Durante algum tempo tais
fazendas, lideradas por dissidentes e seculares, floresceram a despeito da intro
misso burocrtica. Com a ordem de Stalin para a coletivizao da agricultura, o Plano Qi
nqenal, e a supresso de toda dissidncia poltica, como a trotskysta, tanto as fazendas
comunais como as fazendas dissidentes foram suprimidas, e oficialmente liquidada
s. provvel que durante as grandes purgaes foram exterminados cinqenta por cento de t
odos os dissidentes russos, especialmente aqueles cujo modo de vida pudesse ser
interpretado como heresia poltica.
Entre todos aqueles que idealizaram a comunidade camponesa eslava e o comunalismo in
erente aos dissidentes russos, sem dvida o mais influente, enquanto pessoa nica no
como partidrio populista, foi Leo Tolstoi. Sob sua inspirao muitas pequenas comunid
ades de intelectuais se dedicaram ao comunismo, pacifismo, vegetarianismo, e dis
seminao de uma religio mstica e secularizada que se espalhou pela Rssia e por todo mu
ndo principalmente nos finais do sculo XIX e no princpio do sculo XX. Freqentemente,
como os anabatistas poloneses, os proprietrios de terras transformavam suas prop
riedades em comunidades, convidavam seus amigos bomios da cidade, e seus camponeses
para compartilhar na edificao do ncleo de uma sociedade nova no tero da velha. Como
era de se esperar, poucas delas duraram mais que um par de anos e as histrias tr
agicmicas a respeito delas chegaram at nossos dias. Embora se saiba que houve muit
as comunidades desse tipo, algumas delas exitosas, no h nenhum registro delas em n
enhum idioma do Oeste Europeu, a menos que o checo seja classificado como tal. O
s iugoslavos e os checos durante o breve perodo de sua histria de liberdade intele
ctual mostraram um grande interesse por todos os aspectos da histria, religiosa e
secular, camponesa e industrial, dos grupos e movimentos comunistas.
Uma caracterstica especial do desenvolvimento russo no final do sculo XIX e comeo do
lo XX foi o estabelecimento de industriais ricos, que tambm eram grandes proprietr
ios de terras, que subsidiavam em algo grau vrias comunidades de artistas. Estes,
naturalmente, embora fortalecidos em suas comunidades, estavam longe de ser agr
upamentos econmicos comunistas. Entre eles estavam alguns dos principais artistas
da Rssia pre-revolucionria, os quais exerceram uma profunda influncia na arte russ
a e indiretamente nos primeiros conceitos dosbaileis russes. Na medida que seus
membros emigravam, sua influncia se estendeu tambm at o Ocidente. No famosobauhau,
quase todos seus lderes eram comunistas livres e muitos deles estiveram na Rssia n
os primeiros e excitantes dias pr-revolucionrios, e passaram sua breve existncia na
Repblica de Weimar, numa tentativa de realizar suas esperanas destroadas enquanto
construtivistas, confuturistas e outros modernistas na forma de uma comunidade d
e artistas que dedicaria seu trabalho e ensino revolucionando a mente da socieda
de capitalista. Alis, Hitler destruiu obauhaus e dispersou os artistas, a maioria
deles se tornaram completos capitalistas atuando em projetos de desenho industr
ial e de arquitetura nos Estados Unidos.
12. Comunidades Pioneiras na Amrica
Algo raramente mencionado, mas muito importante no crescimento do comunalismo religi
oso foi a degenerao e o declnio do monasticismo catlico romano e o conseqente desapar
ecimento de muitos servios sociais. Por exemplo, o nmero de leitos de hospitais em
muitas cidades europias no comeo do sculo XIII s seria alcanado novamente apenas no
sculo XX, e aquilo que chamamos hoje de assistncia social era em sua totalidade uma
funo exercida pelas irmandades medievais. Com a contra-reforma foi estabelecido um
novo tipo de monasticismo, dominado por militantes altamente disciplinados sob
as ordens de clrigos regulares, como os jesutas, que de um certo modo estavam fora
da comunidade orgnica. Diferentemente dos monges e frades, eles operavamnela em
vez de estardentro dela, e no exerciam nenhum papel significante, muito menos det
erminante, tal funo era deixada a cargo dos irmos seculares ou mulheres.
Este desenvolvimento foi mais ou menos consciente ou deliberado. O papado e os telogo
s papais tinham aprendido desde o sculo XIV a desconfiar dos grandes movimentos p
opulares monsticos seculares e msticos comunais que vinham crescendo especialmente
na Renolandia e nos Pases Baixos, todos muito facilmente voltados para a heresia
. Naqueles dias osbghardos ebguines, osirmos da vida comum, Meister Eckhart, Jan Ru
ysbroeck, Henry Suso, Nicholas de Cusa, Thomas Kempis, e Angelus Silesius foram
hostilizados pelos estritamente ortodoxos; embora alguns tenham adquirido o ttulo
de santificado, nenhum deles foi declarado santo, e todos eles tiveram pelo men
os algumas de suas teses condenadas.
Quase todos os pre-reformistas advogam o retorno vida apostlica, como os anabatistas
e os pietistas, acreditavam no ideal da comunidade devota comunismo contemplativ
o pelo menos para aqueles membros da comunidade que sentiam um chamado especial,
uma vocao religiosa, o que representou na realidade um monasticismo novo e reform
ado. Embora estes grupos vivessem nos interstcios das cidades, ou em alguma propr
iedade rural isolada em curtos perodos sob a proteo desafiante de algum homem ou mu
lher nobre, eles sempre estavam sujeitos a uma furiosa perseguio tanto por parte d
e catlicos como de protestantes. Era sumamente difcil a estes grupos sustentarem u
ma vida comunitria por qualquer perodo de tempo, at mesmo naquelas reas da Europa, c
omo o baixo Reno, onde encontravam mais simpatia popular.
Os primeiros colonizadores da Amrica tiveram menos oportunidades, at mesmo para o esta
belecimento de comunidades, do que na Europa. As colnias espanholas e portuguesas
estavam sujeitas sua prpria Inquisio local e at mesmo infelizes ndios eram, ocasiona
lmente, queimados vivos por heresias das quais eles nunca tinham ouvido e nem po
deriam conceber. A perseguio no era to violenta assim na Nova Frana. Devido ignorncia
dos colonos ordinrios e ao cinismo corrupto das classes altas, o dissidente raram
ente mostrava o ar de sua graa, as deportaes de dissidentes da Frana aparentemente d
esapareceram. As colnias inglesas no eram melhores do que as colnias espanholas. A
Virgnia era estritamenteanglicana. Massachusetts era estritamenteindependente oup
uritana e no paravam de perseguir os quakers e os protestantes divergentes at o scu
lo XVIII. As coisas eram bem diferentes do que so agora nos estados do Meio Atlnti
co, New Jersey, Delaware, Maryland, e Pennsylvania, estabelecidos no princpio por
suecos e holandeses mais liberais, que foram indicados como prospectores dos qu
akers e de seitas similares. Quando a Pennsylvania foi entregue a William Penn e
m 1682 e aberta colonizao com garantias de absoluta liberdade religiosa, uma tenso
de esperana traspassou toda a Europaapostlica epietista. Penn viajou pelo continen
te recrutando uma grande quantidade de colonos, uma quantidade bem maior do que
aquela que havia quando os Estados Unidos foi fundado. Os quakers predominavam.
Eventualmente, a maioria de quakers ingleses migrou, mas osmenonitas eirmos morav
ianos tambm vieram, da mesma forma que uma grande variedade de seitas anabatistas
alems, a maioria das quais no Novo Mundo se uniram comoirmos batistas alemes.
A primeira colnia comunista foi estabelecida pelos seguidores de Jean de Labadie, ind
ependente das determinaes de Penn da Pennsylvania mas sob sua influncia e exatament
e no mesmo tempo. Nascia a colniaSolar da Bomia.
Labadie nasceu em 1610 em um burgo perto de Bordeaux, foi ordenado por um padre jesut
a; mas seu pastoreado foi exercido na Sua, Pases Baixos e Londres onde durante algu
m tempo sua influencia nas igrejas separatistas foi bastante grande. Suas doutri
nas incluam a comunidade de bens, casamento mstico, milenarismo, celebrao do Sabbath
, e uma fixao aparte de uma elite celibatria. Descartes estava familiarizado com su
as idias. O mistrio noR. + C. constante na assinatura de Rene Descartes talvez est
eja associado ao fato de Labadie ter incorporado algumas das idias dosirmos rosacr
uzes, presumindo h controvrsias nesse caso que tal grupo tenha existido. Perseguid
os pelas autoridades, protestantes, catlicas romanas, e anglicanas, a seita moveu
sua sede vrias vezes para Herford, Bremen, Altona, Friesland ocidental, onde sob
reviveram em comunidades, espalhando-se pelas plancies at o princpio do sculo XVIII.
Primeiramente enviaram uma colnia para o Suriname cujo governador era um patrono
e possivelmente um scio. Ele foi assassinado em 1688 e a colnia foi removida para
o Solar da Bomia em Chesapeake onde os primeiros colonos os haviam precedido.
O Solar da Bomia tinha sido patrocinado por Augustin Herrman, um proprietrio de terras
simpatizante da Bomia (cujo filho era membro) mas que posteriormente repudiou a
seita sem ser capaz de tomar de volta sua propriedade. O lder da colnia de 1683 fo
i Peter Sluyter, que parece ter sido um homem com um tipo de f religiosa que malt
rataria o comunalismo religioso em toda sua histria na Amrica. Sluyter morreu rico
e dissoluto em 1722. Os colonos, mais de cem pessoas, por um lado, viviam vidas
de estrita pobreza, castidade e obedincia. Os homens e as mulheres eram separado
s para refeio e adorao. O dia e boa parte da noite eram gastos em trabalho duro, sil
encio ou cntico de oraes, e meditao. A dieta, vestimenta, todas as condies de vida, era
m to ascticas quanto poderiam agentar e tudo que era arrecadado era enviado a um fu
ndo comum controlado por Sluyter. Antes de sua morte a terra foi distribuda e a p
ropriedade privada permitida, mas todos os lucros foram para o fundo comum e a v
ida da comunidade permaneceu da mesma maneira onerosa de sempre. Entre 1727 e 17
30 a colnia se dividiu e durante os prximos dez anos as igrejas da Europa retornar
am igreja alem reformada e no, detalhe interessante, aos menonitas onde geraram um
reavivamento espiritual que se difundiu por toda parte.
Em suas viagens pela Renolndia e Plancies, Penn convidou todos os quakers alemes, men
itas, anabatistas, e outros pietistas para migrarem para sua nova terra. O prime
iro grupo a ir foi um grande contingente de membros alemes dasociedade de amigos
conduzidos por Francis Daniel Pastorius em 1683 para se estabelecer perto do que
hoje a Germantown. Eles foram seguidos brevemente por uma imigraomenonita eschwen
kfeldiana que inclua os discpulos apocalpticos e milenrios de Johann Jakob Zimmerman
n, que morreu no dia em que seus seguidores viajaram. Sua liderana foi assumida p
elo seu primeiro tenente Johannus Kelpius, um homem extraordinariamente culto, p
rofundo conhecedor de filosofia, misticismo, e teologia, tanto ortodoxa como ocu
lta, e um reconhecido rosacruz. Kelpius provou seu poder acalmando as ondas em u
ma violenta tempestade. Os colonos desembarcaram naTerra da Bomia e foram para o
bairro Germantown em 24 de junho de 1694. De acordo com Zimmermann o apocalipse
estava a uma distncia de apenas trs meses.
Os colonos celebraram a noite de solstcio do vero com ritos que eram uma mistura estra
nha de ocultismo, paganismo, e cristianismo pietista, e logo partiram para const
ruir oTabernculo da Mulher na Selva coroados pela cruz rsea, para a surpresa dos s
eus vizinhos mais simples ou mais convencionais.
O nmero mstico de quarenta colonos se acomodou em um edifcio de quarenta ps quadrado
ra assistir, rezar e esperar a vinda do renascimento do mundo. Kelpius acomodou-
se em uma anacoreta em uma caverna prxima. A comunidade de homens e mulheres era
estritamente celibatria e a vida era pelo menos to asctica quanto entre os seguidor
es de Labadie. Eles diferiam principalmente por seu alto grau de conhecimento e
sofisticao. Na realidade, era hbito das colnias comunistas religiosas do sculo XIX re
crutar pessoas cultas. Eles foram chamados de supersticiosos, mas na verdade ele
s eram chamados de qualquer coisa. H uma grande diferena entre as supersties do anal
fabeto e o ocultismo de pessoas altamente educadas.
A pequena colnia suportou at 1748 e antes daquele perodo sua influncia cultural na P
ylvania foi desproporcional ao seu tamanho. Eles produziram o primeiro livro de
hinos a ser publicado na Amrica, e muitos outros exemplos de primeira impresso, in
cluindo um estudo, com vocabulrio, dos ndios Lenni Lenape que eles acreditavam ser
uma das tribos perdidas de Israel o primeiro livro desse tipo a ser feito na Amr
ica inglesa. Eles fundaram escolas e eram muito requisitados como artesos qualifi
cados e construtores, e at mesmo como arquitetos. O tempo era gasto em trabalho d
uro, orao coletiva e solitria, meditao, e como nos outros grupos, no estudo de clssico
s do misticismo e do ocultismo desde Hermes Trismegistus a Meister Eckhart, Jako
b Boehme, e a Kabbala. Curiosamente era bem grande o interesse que tinham por as
trologia e alquimia, o que os introduziu em experimentaes qumicas e fsicas, e em obs
ervaes telescpicas durante todas as noites em busca dos sinais da Segunda Vinda. Em
linha direta com suas atividades cientficas posteriores na Filadlfia, ficaram fam
osas as experincias de Benjamin Franklin.
O ponto fraco daMulher na Selva (o nome que davam para si mesmos erathe Contented of
the God Loving Soul) foi o no cumprimento de suas profecias, comeando com as do prpr
io Zimmermann que disse que o milnio viria no outono equincio de 1694. A data pass
ou e a Segunda Vinda no veio. Eles tambm acreditavam que nunca morreriam. Mas Zimm
ermann morreu antes que eles partissem. O brilhante Kelpius morreu precocemente
aos trinta e cinco anos como o ltimo lder, Conrad Matthaei, morreu em 1748. Por vo
lta de 1750 a comunidade tinha sido absorvida na sociedade geral do quakerismo e
do pietismo germnico, nas quais deixou marcas que ficaram at nossos dias.
Em 1720 Conrad Beisel e trs companheiros deixaram a Europa pretendendo juntar-se Mulhe
r na Selva. Quando alcanaram a colnia eles descobriram que Kelpius havia morrido.
A maioria dos membros tinha partido e aqueles que permaneceram estavam perdidos
em contemplao enquanto o tabernculo estava em runas ao seu redor. A caminho de Ephra
ta os quatro homens pararam em Conestoga onde Beisel foi batizado pelosirmos bati
stas germnicos e logo elevado ao grau de assistente lder da colnia. Beisel era umba
tista do stimo dia. Depois de longa discusso osdunkardos decidiram continuar celeb
rando o domingo, assim Beisel partiu com seus seguidores para fundar, em 1735 no
Rio Cacalico, a colnia de Ephrata, uma das comunidades intencionais mais bem suc
edidas e mais longas do mundo.
No princpio osephratanos eram o mais asctico dos grupos que fundaram a Amrica. Os hom
s e as mulheres viviam juntos como celibatrios. Eles vestiam uma adaptao do hbito fr
anciscano, semelhante para homens e mulheres. O cabelo das mulheres era cortado
curto e o dos homens era aparado mas usavam barbas to cheias que eles a arrastava
m vigorosamente cumprimentando uns aos outros. A comida era extremamente escassa
, principalmente de po seco ou mingau de aveia. Eles no usavam nada que contivesse
ferro e utilizavam o mnimo possvel de metal; os edifcios e a moblia eram cavilhados
, carregados, e montados. Os talheres eram de madeira e muitos dos utenslios da c
ozinha eram de cermica. Como osbeneditinos antes deles, eles se reuniam meia-noit
e para cantar motes, e novamente s cinco para um segundo servio. Celebravam as ref
eies em silncio enquanto algum lia a Bblia. A comunho era procedida lavando os ps uns d
os outros. Cada um deles fazia semanalmente uma confisso de seus pecados por escr
ito que era lido em coro por Beisel. Cada noite clara eles se revezavam observan
do os cus com telescpio procurando sinais da Segunda Vinda. No princpio eles no usav
am cavalos mas puxavam eles mesmos o arado e a carreta, levando suas prprias carg
as, andando a p onde quer que fossem.
Apesar deste ascetismo vigoroso eles viveram vidas de uma considervel criatividade, a
prendizagem, e satisfao esttica. Beisel escreveu poesia e comps hinos de uma beleza
singular, da mesma forma que alguns dos demais. O idioma musical dos hinos Ephra
tanos (cantados at hoje) inconfundvel. Eles produziram muitos livros em seus estud
os peculiares, em sua maioria impressos por Christopher Sauer, incluindo a Bblia
de Sauer, a primeira em alemo na Amrica.
Quase imediatamente a colnia comeou a prosperar. Penn lhes ofereceu uns cinco mil acre
s adicionais mas eles recusaram porque tais riquezas distorceriam sua vida espir
itual. Durante algum tempo depois da chegada dos trs irmos Eckerlin a colnia adicio
nou vrios empreendimentos industriais, uma moenda e pequenas fbricas, tornou-se to
prspera que os membros se revoltaram e expulsaram os Eckerlins. Com o passar do t
empo vrias filiais dosephratas se espalharam ao redor das colnias britnicas. A comu
nidade monstica encolheu e a maioria dos scios se incorporou em uma igreja regular
, os batistas alemes do stimo-dia que existe at hoje. Um pequeno nmero deephratanos
continuou praticando um comunismo limitado, e os membros especialmente devotados
passaram a cuidar de vrios edifcios que se tornaram monumentos histricos e a ensin
ar para outros a arte coralephrata. Nos recentes anos houve uma tentativa por pa
rte de novos comunalistas de reavivar a velha comunidadeephratana mas no tiveram
sucesso.
Ironicamente os harmonistas ou rapitas so lembrados principalmente como os predecesso
res da colnia Nova Harmonia de Robert Owen. Os owenitas duraram muito pouco em su
a forma mais pura. A administrao da Nova Harmonia conseguiu cometer a maioria dos
erros passveis de ocorrer em uma comunidade intencional e terminou na forma de um
a srie de desastres financeiros. Os rappitas floresceram, tornaram-se extremament
e prsperos, e embora no tenham sido comunistas por muito tempo, entre seus descend
entes houveram aqueles que adotaram as prticas comunistas das velhas comunidades.
George Rapp nasceu em Wrttemberg, filho de um cultivador de vinhedos, provavelmente e
m 1757. Aos trinta anos ele se tornou um pastor separatista-pietista, e gradualm
ente juntou em torno de si uma pequena seita que passou a ser perseguida por lut
eranos e calvinistas. Em 1803 ele foi para Baltimore a procura de refgio para seu
povo e comprou cinco mil acres de selva no vale de Conoquenessing ao Norte de P
ittsburgh. No ano seguinte mais de mil e setecentos homens, mulheres e crianas oc
uparam a terra e organizaram a Sociedade Harmonia, primeiramente como uma cooper
ativa, mas logo em seguida como uma comunidade comunista. Os homens faziam o tra
balho mais duro, eram fazendeiros experimentados com habilidades considerveis enq
uanto construtores e mecnicos. Em um tempo extraordinariamente curto, pouco mais
de dois anos, eles tinham produzido uma florescente comunidade quase que auto-su
ficiente. Cada famlia morava em sua prpria casa; havia igreja, escola, fbrica de ma
lte, um grande celeiro, carpintaria, depsito de ferramentas, moinho, fbrica de con
servas, fbrica de l, destilaria, vincola, e quinhentos e cinqenta acres plantados de
trigo, centeio, tabaco, linho, vinhedos, papoulas para leo. Pastando na terra br
uta havia gado, vacas leiteiras, porcos, cavalos, e as primeiras ovelhasmerino d
a Amrica. A maior parte da produo do usque e do conhaque era vendida, mas eles bebia
m vinho suave a cada refeio.
Dez anos depois, quando a colnia ficara rica e florescente, eles decidiram sair dali
porque a terra no era adequada produo de vinho de boa qualidade e alm disso a comuni
cao com o mundo exterior era feita pela gua. Desde 1807 haviam adotado o celibato c
omo regra geral embora os maridos, esposas, e crianas continuassem morando juntos
em casas de famlia separadas com to pouca tenso que eles pasmaram qualquer pessoa
que porventura escrevesse para eles. Nos anos posteriores eles passaram freqentem
ente a adotar crianas.
Em 1814 eles compraram trinta mil acres no Vale de Wabash em Indiana e venderam seu
primeiro assentamento por cem mil dlares, uma vasta soma de dinheiro por aqueles
dias, mas provavelmente no pagava sequer os melhoramentos da terra. Por volta de
1815 todos saram de Indiana em direo a uma aldeia bastante melhorada. Era Harmonia,
que depois ficaria famosa como a colnia de Robert Owen. Mais uma vez eles flores
ceram. Mas nos prximos dez anos eles descobriram que o local tinha malria e que os
fazendeiros ao redor eram antagonistas. Em 1824 eles venderam a cidade e vinte
mil acres para Robert Owen por cento e cinqenta mil dlares, se deslocaram para per
to de Pittsburgh no Rio Ohio e estabeleceram um assentamento final, a aldeiaEcon
omia, que durou at o comeo do sculo XX.
Em menos de vinte cinco anos eles construram trs cidades bem equipadas e limparam muit
os milhares de acres, um registro inigualvel no apenas para uma comunidade intenci
onal mas para qualquer espcie de assentamento. Os rappites devem seu sucesso ao t
ipo de pessoas que eram, alemes qualificados,subios em sua maioria, fazendeiros, v
inicultores, e mecnicos, que estavam satisfeitos enquanto intelectuais, conforme
podemos cham-los hoje, daMulher da Selva, uma utopia de baixa intensidade. Foi ne
cessrio apenas trabalho duro e qualificado para que eles estabelecessem e preserv
assem uma comunidade que os satisfizesse.
O pai Rapp era um homem de grande poder carismtico mas ele tambm era talentoso com o s
enso comum. A crena na iminncia do apocalipse, na Segunda Vinda e no reino milenar
pode parecer torcida, at mesmo ignorante e vulgar, para a maioria das pessoas em
nossos dias. Mas no havia nada de muito excntrico nestas convices na primeira metad
e do sculo XIX. Era perfeitamente possvel sustent-las e ainda assim ser considerado
intelectualmente respeitvel. claro que estas foram certamente as convices das prim
eiras geraes de cristos e provavelmente do prprio Jesus. Alm disso, conforme Albert S
chweitzer manifestou em nossos dias, a tica escatolgica uma notavelmente efetiva reg
ra de vida viver como se o mundo fosse se acabar em vinte e quatro horas.
George Rapp proveu uma liderana espiritual e moral a imagem do pai seu filho adot
rederick Rapp, j era pelo menos to efetivo quanto o pai enquanto organizador, admi
nistrador e homem de negcios antes mesmo que os rappites deixassem Wabash. O Rapp
mais jovem j tinha conquistado compradores para os produtos da comunidade ao lon
go da drenagem do Mississipi e em locais to distantes quanto New Orleans. Depois
que George e Frederick Rapp morreram a colnia permaneceu igualmente estvel em seus
negcios e em sua administrao.
Na medida em que os nmeros diminuam os rappites fecharam muitas de suas pequenas lojas
e investiram largamente em vias frreas e quando uma comunidade finalmente se dis
solvia ela ainda era rica. Sua eficincia mostrada de uma maneira bem clara pelo s
ucesso que eles fizeram com a seda e o vinho. Naqueles dias a sericultura e a vi
nicultura levaram a falncia muitas fazendas americanas. Por anos os rappites ench
eram suas ladeiras mais ngremes de amoreiras, seda fina, ao mesmo tempo em que ro
daram, teceram e costuraram seus prprios artigos de vesturios de seda. Quando even
tualmente a sericultura se tornou completamente improdutiva e demorada eles tive
ram o bom senso de abandon-la.
Apenas uma vez eles tiveram o dissabor de ver seus planos perturbados. Um manifesto
velhaco, Bernard Mller, que atendia pelo nome de Count Leon, escreveu da Alemanha
que ele e seus seguidores se converteram e que queriam se juntar colnia. Ao cheg
ar deu um golpe militar na tentativa de assumir o controle das finanas. Isso fez
com que os ascticos e no violentos rappites levassem mais de um ano para se livrar
dele e de seus seguidores, tendo que pagar mais de cem mil dlares para que eles
se retirassem. Um tero da colnia partiu com Mller e estabeleceu um assentamento a d
ez milhas de distncia, mas em menos de um ano perderam todo seu dinheiro; ao que
atacaramEconomia com armas, mas foram dirigidos para fora por um levante entre a
s comunidades vizinhas. Bernard Mller e alguns de seus seguidores foram para o no
rte de Louisiana onde morreu de clera.
O episdio de Count Leon foi uma ddiva divina paraEconomia porque serviu para purgar aq
ueles que no estavam sinceramente cometidos ao modo rappite de vida. Dali em dian
te at o final do sculo nenhuma outra disputa partidarista sria surgiria. Os descend
entes da comunidade passaram a comemorar esta data juntos. Muitos deles ainda mo
ram no bairro deEconomia, e outros moram prximos colnia industrialEconomia fundada
em Beaver Falls. A igreja emEconomia ainda est de p e a congregao luterana evanglica
possui vrios descendentes dos rappites. Mas entesoura principalmente a memria de
Robert Owens, uma comunidade mal sucedida em vez do eminentemente prspero Pai Rap
p que construiu a maioria dos edifcios sobreviventes.
O grupo deseparatistas de Wrttemberg que se instalou na aldeia de Zoar no nordeste de
Ohio a trinta ou quarenta milhas ao sul de Canton em 1817 esteve diretamente re
lacionado com a comunidade Rapp. Porm, eles foram mais radicais em sua rejeio socie
dade dominante. Eles no votavam. Durante a Guerra Civil eles permaneceram pacifis
tas. Embora permitissem o matrimnio dentro do grupo e vivessem em famlias, eles er
am muito mais ascticos em estilo de vida. Eles tambm eram possivelmente bem menos
educados, e Joseph Bumeler bem menos instrudo do que George Rapp.
Quanto eles chegaram na Amrica osseparatistas definitivamente no eram muito cometidos
ao modo comunal de vida, mas adotaram isto como o modo mais eficiente de lidar c
om a selva. No perodo em que foram comunistas eles prosperaram estabelecendo uma
fbrica de l, duas grandes fbricas de farinha, moinho, serraria, fbrica de mquinas, fbr
ica de conservas, loja para o uso comum, fbrica de vages, ferraria, carpintaria, a
lfaiataria, oficina de costura, fbrica de sapatos, fbrica de sidra, cervejaria, te
ares para tecer linho, sete mil acres de terra da principal fazenda de Ohio e um
assentamento em lowa. Eventualmente, suas indstrias empregavam um nmero considerve
l de estranhos e algumas das suas fazendas eram administradas por meeiros. Em 18
74 havia trezentos scios que detinham uma considervel propriedade de mais de um mi
lho de dlares. A cidade de Zoar era notoriamente mais spera, mais crua que qualquer
outro assentamento prvio, com habitaes pobres, edifcios comunitrios e igreja. Bumeler
morreu em 1853 e a colnia lentamente entrou em declnio. Em 1898 eles abandonaram
completamente o comunismo e quase imediatamente aps isso falharam economicamente
em todos seus empreendimentos. Pouco restou de Zoar nos dias de hoje.
Embora o Doutor Keil tenha migrado da Prssia para a Amrica em 1835, Bethel e sua col
ilha Aurora foram as primeiras comunidades intencionais a se juntar na Amrica. Na
Alemanha Keil tinha sido um milenarista. Ele se auto-educou em literatura mstica
, ocultismo, Boehme, Paracelsus, e Cagliostro. Em New York e Pittsburgh ele flor
esceu como hipnotizador, curandeiro de f, e fornecedor de elixires misteriosos e
poes cujas receitas dizia ter encontrado em um velho livro escrito com sangue huma
no. Ele se converteu ao metodismo, fez uma melodramtica penitncia pelos seus anos
de charlatanismo ehexendokter, queimando publicamente sua sangrenta farmacopia.
Mas Keil logo deixou o metodismo e fundou sua prpria seita que desdenhou cham-la de qu
alquer nome, mas que se opunha a todas as igrejas e denominaes que haviam se apart
ado da vida comunal, apostlica do verdadeiro Cristo, o Sol Central. Keil permaneceu
um ator melodramtico at o final de sua vida, e a adorao congregacional de seu grupo
era mais histrica do que os mais extremados de seus predecessores. A vida diria n
a comunidade era simples e sem maiores ocorrncias, mas Keil proporcionava para su
a congregao muitos feriados e festivais, clebres pela comida, bebida, e danas, onde
todos os colonos circunvizinhos eram bem-vindos.
A primeira colnia de Keil foi fundada em 1844, no municpio de Shelby, no Missouri, ent
numa fronteira selvagem, e incluiu os seguidores remanescentes de Count Leon. E
m pouqussimo tempo eles montaram uma cidade bem equipada e estavam cultivando qua
tro milhas quadradas de terra. Em 1855 Keil decidiu sair do Missouri, e a colnia
moveu-se para Willapa no local onde agora est o estado de Washington. Incomodados
com a floresta densa e a chuva constante, logo se mudaram para Willamette Valle
y no Oregon, onde deliberadamente evitaram a plancie mais frtil para se instalar n
a floresta, uma vez que usavam bastante madeira na construo de sua cidade. Da mesm
a forma que a colnia, chamada Aurora, eles prosperaram e puderam resgatar as faze
ndas na plancie. Bethel e Aurora repetiriam a histria de outras comunidades, compa
rtilhando todas as coisas em comum enquanto existiram . Eles prosperaram, na rea
lidade ficaram bastante ricos. Depois que Keil morreu, logo dividiram suas propr
iedades e ativos e se desintegraram.
Exceto pelas suas muitas festas, e pela riqueza de satisfao de vida, Aurora e Bethel r
epresentaram um retrocesso no aspecto de que as comunidades simplesmente no foram
educadas bem o bastante e eram muito acomodados para produzir outro lder como Ke
il. O Professor Christopher Wolff foi o lder do segundo contingente que viajou, em
1863, de Bethel para Aurora. Ele parece ter sido um homem livresco Ia Cabet, Bab
euf, Fourier, Proudhon, Wettling, e Marx. Como tal ele s desnorteou os demais col
onos e parece nunca ter exercido um papel importante em Aurora. Porm, ele notvel c
omo a primeira pessoa a aparecer na histria do comunalismo religioso enquanto teri
co do comunismo secular. curioso especular como deve ter sido sua vida, isolado
entre camponeses semi-alfabetizados na mais remota fronteira.
Se os lderes prvios do comunalismo religiosona Amrica inglesa fossem personalidades c
scentemente carismticas, o fundador da Colina do Bispo, Eric Janson, seria a pers
onalizao apocalptica. Ele no acreditava na Segunda Vinda de Cristo. Ele acreditava s
er ele mesmo o Cristo vindo novamente. A seita comeou bem silenciosa na Sucia sob
a liderana de Jonas Olson, que fora um discpulo dos primeiros missionrios metodista
s da Gr-Bretanha, como uma associao depietistas que se encontrava em suas casas par
a a pregao, devoo e estudo da Bblia, e que eventualmente vieram a chamar a si mesmos
dedevocionalistas. Eles eram quase que limitados completamente provncia de Helsin
gland e eram principalmente camponeses, mecnicos e artesos autnomos. Eles permanece
ram silenciosos juntos durante dezessete anos como um movimento de pietistas den
tro da Igreja da Sucia.
Jonas Olson cedeu um alojamento durante um final de semana para um negociante ambula
nte de farinha em 1843. Este era Eric Janson que tinha trinta e quatro anos e qu
e aos vinte e seis tinha experimentado uma srie de transes, iluminaes, e mensagens,
e que havia rompido com a Igreja Luterana. Ele parece ter sido um homem de pers
onalidade violenta e intenso carisma. Observadores externos nos anos posteriores
achavam que ele agia como um louco. O efeito que provocou em Olson foi revoluci
onrio. Ele tornou-se o lder espiritual do grupo, embora Olson permanecesse como ge
rente prtico, ele se orientava continuamente na forma mais extrema do wesleyanism
o, uma religio mais pentecostal do que hoje. A Igreja estabelecida respondeu com um
a perseguio inexorvel e osdevocionalistas foram forados a se tornar uma seita separa
tista. Seus conventculos foram rompidos, eles foram excomungados e eventualmente
presos seguidas vezes. Em retaliao eles queimaram os trabalhos teolgicos e devotos
do luteranismo ortodoxo em uma grande fogueira, Janson estava preso e s foi liber
to devido influncia do rei. Depois de sua segunda fogueira de livros ele foi nova
mente preso; depois de sua sexta priso, como fugitivo com um preo pela sua cabea, e
le foi libertado violentamente pelos seus seguidores e contrabandeado pelas mont
anhas para a Noruega, de onde foi para Copenhague e finalmente para New York. Em
julho de 1846 ele chegou a Victoria, municpio de Knox, Illinois, onde j tinha env
iado Olson para encontrar um local satisfatrio para a comunidade.
Antes deste tempo Janson acreditava na Segunda Vinda de Cristo, enviado para resgata
r a verdadeira Igreja que estava em cativeiro desde o Imperador Constantino, e p
ara construir a Nova Jerusalm no verde da Amrica e na terra prometida, de onde o r
eino milenar se espalharia por toda a terra. A seita tinha se tornado nesse nteri
m muito mais um movimento de camponeses pobres e proletrios, na melhor das hiptese
s apenas semi-alfabetizados. De uma forma bem notvel Janson reteve a lealdade da
maioria dos membros originais no obstante tenham sido educados para aceitar suas
crescentes reivindicaes extravagantes.
Olson e Janson compraram uma rea em Henry County, Illinois, aproximadamente quarenta
milhas ao sudoeste de Rock Island, dando a ela o nome de Colina do Bispo e depoi
s de Biskopskulla. Mil ecerajasonistas saram dos portos suecos em direo Amrica. Uma
barcaa se perdeu no mar, outra foi destruda fora de Newfoundland. Os primeiros bar
cos de imigrantes chegaram em outubro de 1846, muitos caminharam de New York at o
Illinois e todos exceto as mulheres mais fracas e as crianas andaram cem milhas
de Chicago at Victoria no comeo do inverno. Eles continuaram deixando a Sucia, acre
ditando que um Deus zangado estava a ponto de destruir o restante daquilo que po
ssuam, at que quatrocentos se estabeleceram no primeiro ano da Colina do Bispo.
A terra era ideal. Uma parte foi cultivada e o restante se estendia em uma contnua pr
adaria e um pequeno bosque, mas os alojamentos eram assustadores duas casas gran
des, quatro barracas, uma casa de campo, e doze abrigos. Os abrigos eram usados
como dormitrios, terrivelmente superpovoados e sem servio adequado de sade pblica. A
mortalidade era assustadora. No primeiro anos eles tiveram muito pouca comida.
Cento e quatorze pessoas morreram de clera em uma nica quinzena. Eles ainda persis
tiram apesar das condies do pesadelo. Os colonos continuaram chegando e lentamente
foram construdos novos edifcios, mais terra foi comprada e cultivada.
Ao trmino do segundo ano havia oitocentos colonos, uma fbrica prpria e pequenas inds
s funcionando. Eventualmente construram um forno de tijolos e uma cermica. Eles er
gueram uma casa de tijolos de quatro guas, de cento e quarenta e cinco por cem ps,
e uma grande igreja. No primeiro vero eles colheram com foices, no seguinte com
colhedeiras, e no terceiro com ceifeiros. Todos seus mtodos melhoraram em um nvel
semelhante. J em 1847 eles partiram para o cultivo do linho e fabricaram mais de
doze mil jardas de linho e tapetes de esteira. s vezes os teares operados por mul
heres com a ajuda de crianas rodavam dia e noite. Quando fecharam o negcio de linh
o, com exceo do consumido pela casa, devido competio comercial, eles j tinham vendido
mais de cento e cinqenta mil jardas de material. Foram seguidamente atacados por
clera. Nenhuma outra colnia daquele tempo parece ter sofrido to gravemente, e isto
uma boa indicao de uma falta crnica de um servio prprio de sade pblica e de limpeza
ral. Nestes primeiros anos Jonas Olson parece ter exercido um papel menos ativo
enquanto que Janson era o lder espiritual e econmico. Tudo terminava debaixo de su
a superviso direta, ele representava a comunidade nos mercados de Chicago e St. L
ouis. Ao mesmo tempo que se tornava mais e mais extremado em seu comportamento p
roftico e pentecostal.
Em 1848 a colnia foi visitada por um aventureiro, John Root, um sueco, recentemente d
esligado do exrcito na Guerra Mexicana. Por incrvel que parea Janson lhe deu as boa
s vindas e logo assumiu uma posio de liderana, e casou-se com uma das primas de Jan
son com um acordo escrito de que se ele deixasse a colnia ela poderia permanecer
se desejasse. Ele passava seu tempo caando e rondando pelas cidades vizinhas e fo
i tido como suspeito do assassinato de um mascate judeu. Depois ele desapareceu
durante vrios meses enquanto que sua esposa deu luz uma criana. Quando voltou, Roo
t tentou levar embora a esposa contra sua vontade. E eventualmente a seqestrou, m
as foi pego por um destacamento montado pelos jansonistas. Ele foi corte e foi-l
he dada a posse de sua esposa, ele a levou at sua irm em Chicago que notificou Coln
ia. Novamente um grupo de destacamentos foi montado ao longo da estrada para Chi
cago. Com Root e seus camaradas em perseguio, ela foi percorreu cento e cinqenta mi
lhas at a Colina do Bispo, sem qualquer parada exceto para trocar os cavalos. Roo
t organizou uma turba que sitiou a aldeia tentando queimar os edifcios por duas v
ezes, mas foram expulsos por um grupo armado de colonos e fazendeiros vizinhos.
Janson foi levado a julgamento em Cambridge por tentativa de seqestro e por mante
r uma esposa separada de seu marido. Quando se dirigia corte Janson teve uma pre
monio de que nunca retornaria. Um dia antes ele tinha pregado seu sermo mais podero
so, e pela noite realizou a Santa Ceia. Durante recesso de meio dia do tribunal
Janson passava pela porta da corte quando Root apareceu na entrada, chamou pelo
seu nome e deu-lhe um tiro. Janson caiu morto. Era 13 de maio de 1850. A colnia t
inha menos de quatro anos de existncia. Normalmente quando to poderoso lder morre,
a colnia comunista, seja religiosa ou secular, se desintegra ou se transforma em
propriedade individual. Ocorreu o contrrio no caso da Colina do Bispo.
Na hora do assassinato, Jonas Olson estava a caminho da Califrnia, enviado por Janson
para procurar ouro. Ele voltou imediatamente para a Colina do Bispo, e com o co
nsentimento da comunidade, ao lado do filho e herdeiro de Janson, tornou-se seu
guardio e de sua esposa, assumindo a liderana. Sob nova escritura a comuna passou
a ser administrada por sete fiducirios sob a liderana de Olson. Durante algum temp
o a comunidade prosperou. A aldeia foi limpa, a terra foi preparada com mais efi
cincia, muitas pequenas indstrias foram criadas, e foram feitos contatos com os pe
rfeccionistas de Oneida, os rappites e os shakers. A viva de Janson partiu tornan
do-se shaker. En 1854, influenciado por eles, Olson decidiu que a comunidade se
tornaria celibatria mas que continuaria a viver em famlias, o que gerou resignao, ex
pulso, frustrao, e partidarismo entre aqueles que permaneceram. Na medida em que o
pas era colonizado mais densamente e cortado por vias frreas e canais, a sociedade
ficou bem rica e um dos fiducirios Olaf Johnson assumiu suas operaes financeiras.
Em 1860 suas especulaes levaram a colnia beira da falncia. Em 1861 a propriedade foi
dividida e a comunista Colina do Bispo deixou de existir. Em 1879osjohnsonitas
e osanti-johnsonitas empobrecidos, comearam a se processar uns aos outros e apena
s trezentos habitantes permaneceram na aldeia decadente at o fim do sculo. Uma coi
sa notvel com relao comunidade da Colina do Bispo que, embora fizessem tudo errado
no comeo, sobreviveu e prosperou at se corromperem em livre-empresa o que provou s
er mais mortal para sua existncia do que a epidemia de clera.
13. Amana, Shakers, St. Nazianz
Com exceo dos huteritas, a mais prspera das comunidades intencionais religiosas foiAm
a, a Comunidade da Verdadeira Inspirao. Suas razes remontam a um grupo distinto do
sculo XVII. Mas suas fontes se encontram no monasticismo medieval da Renolndia e d
os Pases Baixos, nos bghardos e bguines. A sociedade Amana era composta de pentecos
tais no significado lato da palavra. Eles acreditavam e ainda acreditam que a in
spirao proftica e apostlica do Esprito de Deus continua possuindo os homens e mulhere
s escolhidos, inspirando-os com sua palavra e agindo como mensageiros do ensinam
ento divino no mundo.
Os primeiro grupo deinspiracionistas saiu do movimento pietista luterano pelo fim do
sculo XVII sob a liderana de uma mulher nobre, Rosemunde Juliane de Asseberg, o p
rimeiroInstrumento de Inspirao (Werkseuge), seguida por Johann Wilhelm Peterson, u
m professor de Lneberg, cujos hinos e expresses vocais profticas so usadas at hoje. O
movimento diminuiu durante alguns anos at ser reavivado por Eberhard Ludwig Grber
e Johann Friedrich Rock que se separaram da Igreja Luterana em 1714 estabelecen
do, diante de violenta perseguio, conventculos inspiracionistas ao longo da Renolndi
a, Sua, e Pases Baixos. Aps a morte deles no apareceu mais nenhum novowerkseug durant
e mais de cinqenta anos.
Em 1817 M. Kraussert de Strassburg foiinspirado mas no pode resistir diante da perseg
uio e foi sucedido por Barbara Heinemann, uma menina camponesa analfabeta, e por C
hristian Metz, um carpinteiro. Barbara Heinemann expulsa por ter um olhar muito s
imptico aos homens jovens, retornou, casou-se, e perdeu suainspirao por vinte e seis
anos recuperou-a, e acompanhou Christian Metz at a Amrica. Depois de sua morte el
a tornou-se o nico orculo at 1883 quando morreu com a idade de quase noventa anos.
Desde ento no houve nenhuminstrumento inspirado que fosse aceito, mas foram regist
radas expresses profticas divinas de Amana, comeando por Rosemunde Juliane, cujos e
scritos na igreja passaram a ser considerados como iguais Bblia para direo em toda
contingncia imaginvel.
Christian Metz legou s sociedades daVerdadeira Inspirao uma forte e prtica organiza
ngregaes governadas por ancies, e estabeleceu colnias cooperativas que, embora no com
pletamente comunistas, compartilhavam os lucros de seus empreendimentos atravs de
fundos de ajuda mtua que qualquer um podia pedir emprestado sem juros. As colnias
prosperaram, mas eram continuamente molestadas porque recusavam enviar suas cri
anas para as escolas pblicas, servir ao exrcito, prestar juramentos, ou qualquer fo
rma de cooperao com o Estado mundano. Em 1842 eles formaram umcomit para a Amrica qu
e comprou inicialmente cinco mil acres da reserva indgena do Seneca e depois anex
aram mais quatro mil. Nos prximos trs anos oitocentas pessoas j ocupavam a rea, limp
aram a terra, construram quatro aldeias, cada uma com loja, igreja, escola, e emp
reendimentos comunitrios. Mais tarde fundaram mais duas aldeias no Canad.
Eles chamaram todas estas aldeias de Ebenezer superior, mdia, baixa, e assim sucessiva
mente e a si prprios de SociedadeEbenezer at aqui o Senhor nos ajudou (I Samuel 7.12)
. Eles no tinham originalmente planejado nada mais extremado do que uma economia
cooperativa, mas encontraram no comunismo absoluto o modo mais eficiente de lida
r com a selva. Embora os ndios tivessem vendido a terra por dez dlares o acre, um
preo alto por aqueles dias, eles recusaram sair da rea e causaram aos colonos um c
onsidervel aborrecimento. A cidade de Buffalo tambm estava crescendo to rapidamente
que seus arredores comearam a se aproximar da colnia. (O local agora faz parte da
cidade de Buffalo.)
Assim, em 1854 eles decidiram mudar-se para o que seria ento a fronteira, onde eles p
oderiam viver tranqilamente da maneira como queriam. Depois de uma cuidadosa obse
rvao eles compraram o que eventualmente se tornou vinte e seis mil acres de terra,
a vinte milhas da Cidade de lowa em um dos locais mais bonitos e frteis ao longo
dos bancos do Rio lowa. Eventualmente estabeleceram seis aldeias que deram o no
me de Amana(Glaub Treu, Acredite com F) e registraram a si mesmos como Sociedade
Amana. Todos os detalhes desta imigrao foram executados sob inspirao direta de Chris
tian Metz. Cada pargrafo do contrato era ditado mediante uma forma deinspirao, da m
esma forma que Grber ditara seus regulamentos, o registro de talinspirao cuidava de
todos os detalhes do assentamento, governo, e economia. O que emergia de tudo i
sso era uma comunidade que vivia sob o que eles consideravam uma divina revelao da
lei, algo parecido com uma combinao do Torah, com os livros da lei do Velho Testa
mento, e com os Regulamentos de So Benedito com todos seus comentrios.
Amana teve uma liderana idealmente carismtica osinstrumentos eram, quando possudos,
eralmente escritos pelo Esprito de Deus e expressos com uma autoridade divina sup
erior aohadith ou ao Talmud, que integram as tradies sagradas tanto de muulmanos co
mo de judeus. No havia nenhum questionamento a essas expresses oraculares. Quando
no possudos, osinstrumentos retornavam ao seu papel humano enquanto administradore
s prticos. Metz parece ter sido pelo menos to talentoso quanto o Pai Rapp. Amana e
ra muito bem organizada, e eventualmente o carisma era bem distribudo atravs da co
munidade, em parte, naturalmente, devido freqente consulta dos membros tradio escri
ta, que pde sobreviver morte de Metz, morte de Heinemann, e a todo um perodo de au
sncia deinspirao.
O comunismo de produo e de consumo foi completo, embora eventualmente fosse necessrio
ontratar trabalho externo no pico da estao. Desde seu incio Amana desenvolveu uma g
rande variedade de indstrias e de ofcios, de forma que a colnia se tornou quase que
auto-sustentada. Alm disso, produziu vrias especialidades, no princpio principalme
nte txteis, para exportao, com um importante retorno de capital excedente uma balana
comercial bem favorvel. Com todas suas atividades industriais, Amana permaneceu so
lidamente fundada na agricultura, exportando grandes excessos agrcolas. A comunid
ade funcionava como uma pequena nao capitalista, com uma plena circulao de capital,
exportaes lucrativas, e um aumento, em vez de queda, da taxa de lucro.
As famlias moravam separadamente em suas prprias casas, mas todos os bairros partilhav
am suas refeies em refeitrios comuns e em casas de cozinha. As crianas eram educadas e
m escolas comunitrias tanto em ingls como em alemo. A escola durava todo o dia e to
do o ano, embora o tempo fosse dividido em perodos de estudo de assuntos seculare
s e assuntos religiosos, em trabalhos de aprendizes em comrcio, e brincadeiras or
ganizadas. As mulheres usavam gorros pretos, vestidos cinzas, e uma manta cobrin
do os ombros e os seios. Os homens usavam vestes de trabalho exceto na igreja.
De todas as colnias bem sucedidas, as aldeias de Amana parece que foram as que menos
se preocuparam com esttica: as casas no eram pintadas, as ruas sem pavimento, gera
lmente as aldeias tinham um ar desordenado. As mulheres compensavam tudo isso cu
ltivando jardins floridos. Porm, os visitantes seculares comentavam que as flores
eram entremeadas com legumes. O compromisso era reforado por confisses pblicas e p
or um exame privado de conscincia. Os trabalhos eram freqentemente alternados e ha
via um nmero considervel de tarefas coletivas envolvendo toda aldeia, como a colhe
ita, por exemplo. Toda expresso artstica era proibida, exceto o cantar de hinos. A
mana no produziu nenhuma pea famosa, como os colonos de Pai Rapp, os festivais sem
i-pagos de William Keil, a msica mrmone, a arquitetura, ou reunies sociais; muito meno
s rituais extticos e emocionais como osshakers.
Amana foi uma utopia estlida de baixa presso. Embora osverdadeiros inspiracionistas te
nham iniciado enquanto intelectuais e pequenos aristocratas, no tempo em que che
garam a lowa se tornaram uma comunidade que se caracterizada pela simplicidade,
por singelos camponeses e trabalhadores alemes que encontraram satisfao suficiente
no cultivo, no trabalho, e na adorao. Persistindo satisfeitos com uma vidato-simple
s-quanto-possvel, eles enriqueceram. Em 1933, cem anos depois que vieram para a A
mrica, e quase duzentos e cinqenta anos depois dos pioneiros do movimento na Alema
nha, eles retornaram ao empreendimento privado, estabelecendo-se como igreja e c
omo corporao empresarial. Quarenta anos depois Amana tornou-se um dos principais f
abricantes de utilidades domsticas nos Estados Unidos.
* * *
Osshakers, que chamavam a si mesmos deSociedade Unida dos Crentes na Segunda Vinda d
e Cristo (United Society ofBelievers in Christs Second Appearing), ou Igreja Mile
nar, normalmente so considerados como os mais prsperos de todas as seitas comunali
stas religiosas americanas. Eles podem ser facilmente descritos como um moviment
o monstico secular, consangneo a grupos no ortodoxos semelhantes conhecidos no princp
io da Idade Mdia, mas com razes que remontam aos cultos herticos do comeo da era cri
st, no apenas em seu modo de vida como tambm em sua teologia, ambos de cunho milena
rista, umavatar divino, xtases grupais convulsivos,echolalia, e falar em lnguas. P
elo menos no princpio, sem nenhum conhecimento de antigas tradies heterodoxas, eles
conseguiram unir e reavivar a maioria delas, e alm disso introduziram ohitherto,
uma f no crist, na realidade no ocidental, a crena na possesso de pessoas mortas. Ele
s anteciparam o moderno espiritismo em vrias dcadas e seus fundadores eram uma espc
ie oriental deshamanes primitivos. Seus xtases compulsivos, que os caracterizava,
e suas danas e meneios rituais podem remontar ao sculo XIV, pelo menos. Por incrve
l que parea, e quase nunca destacado, tais prticas foram bem comuns entre ndios ame
ricanos e escravos negros. Robert Manning em seu livroHandlyng Sinne narra emO Co
nto dos Danarinos de Kolbeck a histria de um episdio clssico associado a danas que sur
giram aps o final da Idade Mdia e que se espalharam por toda a Europa Ocidental. N
osso termo popular paracoreografia, a dana de So Vito, sobrevive desde aqueles tem
pos. Comentaristas modernos tendem a atribuir estes fenmenos medievais aoergotism
o oFogo de Santo Antnio derivado da ingesto de centeio mofado, mas seu carter organ
izado indica uma base religiosa hertica como nos vrios movimentos de flagelao. Embor
a o ergotismo possa ter sido um fator agregado, as convulses extticas foram comuns
, mas desorganizadas, entre pequenos grupos herticos, antepassados dos quakers, n
o sculo XVI na Inglaterra e nos Pases Baixos, que tambm foram reputados de praticar
a comunidade de bens, alm do celibato ou orgias sexuais. Estessantos saltadores
(holy jumpers) eroladores (rollers) foram vistos entre os primeiros conventculos
do reavivamento metodista, especialmente em Gales. Prticas similares varreram tod
a a Frana no sculo XVIII, tanto dentro como fora da Igreja Catlica Romana, com seu
foco em Flandres e Britania onde as manias de danas da Idade Mdia muitas vezes se
originaram.
No princpio do sculo XVIII um grupo de quakers em Manchester, conduzido por James e Ja
ne Wardley, converteu-se s doutrinas dosProfetas Franceses ouCamisardos de Dauphi
n e Vivarals, que mais ou menos sistematizaram um movimento. Oswardleys converter
am Ann Lee, uma garota de vinte e seis anos de idade, filha de um ferreiro de Ma
nchester, que logo tornou-se lder do grupo. Ela era freqentemente presa por saltar
, gritar, danar, despir-se, blasfemar, na priso teve a revelao de que o milnio tinha
despontado, e que havia chegado o tempo de juntar o remanescente salvo e retir-lo
do mundo condenado, e que a Segunda Vinda j estava em curso. Por volta de 1770 s
eus seguidores comearam a referir-se a ela comoAna da Palavra o Cristo encarnado em
uma mulher, a metade feminina do eternosyzygy. (Na teologia shaker, todas as en
tidades espirituais eram machos ou fmeas unidos em um enlace mstico a velha doutri
na agnstica valentiniana).
Ann Lee estava casada contra sua vontade com Abraham Standerin, que os shakers chama
vam de Stanley, teve quatro filhos, todos morreram na infncia. Ela comeou a ditar ex
tensas revelaes at que finalmente ordenou conduzir um grupo seleto de seguidores para
a Amrica oito ou dez pessoas, principalmente parentes, mas inclusive um homem mo
deradamente rico, John Hocknell. Durante dois anos eles se apoiaram atravs de tra
balho comum dentro e nas cercanias de New York.
Em 1776 Hocknell comprou uma grande rea de terra pouco desenvolvida em Niskayuna no d
istrito de Watervliet perto de Albany e osshakers estabeleceram sua primeira coln
ia. Watervliet e a vizinha New Lebanon viriam a se tornar o bero da sociedade at s
ua dissoluo no sculo XX. Durante aGuerra Revolucionria eles foram sujeitos a persegu
io moderada enquanto pacifistas e recusadores de juramentos, mas foram logo deixad
os em paz pelas autoridades e pela vizinhana. Considerando seu comportamento extr
aordinrio, notvel a pouca perseguio sofrida pelosshakers. Ao contrrio de muitas seita
s pentecostais e milenaristas, os shakers foram um povo pacfico, superando o quak
erismo nesse aspecto, reagindo com mansido aos ataques de ira a que eram eventual
mente submetidos.
Durante aGuerra Revolucionria outras comunidades foram estabelecidas em New York, Mas
sachusetts, e Connecticut; e em 1784, quandoMe Ana morreu, sua pequena igreja est
ava florescendo e ganhava membros a cada reavivamento. Durante trs anos eles fora
m conduzidos por James Whittaker. Aps sua morte foi sucedido por Joseph Meecham q
ue era pelo menos to ricamente dotado do dom da revelao quanto sua Me Ana; e por Luc
y Wright, que compartilhou a liderana com ele. Depois que ele morreu ela governou
sozinha por vinte e cinco anos. Seus regulamentos, ou melhor, suas revelaes, dera
m aoshakerismo sua forma final e sua regulao extraordinariamente detalhada de vida
comunitria.
O marido de Me Ana parece ter sido um maroto degenerado em New York City onde era dad
o a bebedeiras e fugas com outra mulher. Seus filhos morreram na infncia depois d
e partos dolorosos. A essncia da revelao de Me Ana era sua extrema averso relao sexua
que ela substitua por uma cosmogonia de espiritualidade onde machos e fmeas se un
iam, algo que ela descrevia como uma relao bissexual, ou seja, envolvendo polarida
des masculinas e femininas. Desde os primeiros dias do movimento seus seguidores
foram chamados prtica celibatria, tanto para os solteiros, como para os estritame
nte castos, e para aqueles que entravam na seita j casados. Me Lee era a encarnao fe
minina de um Cristo eterno do qual o Jesus histrico foi a incarnao masculina, no a d
eidade encarnada ou a Segunda Pessoa da Trindade mas uma emanao primria. Tanto o ce
libato como esses pares semi-divinos so comuns em muitas religies, sejam elas cris
ts ou pr-crists, persas, manichaeanas, agnsticas, e tntricas, mas o celibato foi usua
lmente um privilgio de um eleito, um puro. A Me Ana o tornou obrigatrio para todos
os seguidores.
As necessidades de colonizao nos limites da selva conduziram prtica de empreendimen
cooperativos que tendiam ao comunismo. Sob a liderana de Meecham e Wright foi int
roduzido o mais rgido comunismo; e progressivas revelaes foram encarnadas em leis q
ue regiam cada detalhe da vida, at mesmo sobre qual p deveria primeiro pisar ao sa
ir da cama. Os homens e as mulheres viviam dentro de um nico grande edifcio semelh
ante a um dormitrio, de caracterstica arquitetnica rgida, muitos desses edifcios exis
tem at hoje, mas eles eram estritamente separados por escadarias e portas diferen
tes. Eles eram proibidos de falar uns com os outros exceto em casos de urgncia ou
com a rara permisso dos ancies e pessoas mais idosas. Cada edifcio residencial con
stitua uma famlia. Havia igualdade completa de homens e mulheres na administrao e na a
dorao. Algumas aldeias shakers continham quatro ou cinco das tais famlias, autnomas
e bem separadas. Eventualmente se espalharam aldeias shakers desde a costa do At
lntico at Ohio, Kentucky e sul da Flrida, maiores que de qualquer outra seita comun
al, difcil descobrir exatamente como toda corporao foi governada a partir da me fund
adora em New Lebanon. Depois da metade do sculo XIX certas diferenas comearam a se
desenvolver. Por exemplo, as aldeias em Maine enfatizavam a f curativa. Outras re
cusavam a posse pelos espritos dos mortos, que originalmente ocorria nitidamente
em quase todo servio noturno, e que comeava a ser visto com um certo ceticismo.
Os primeiros lderes shakers possuam um instinto notvel para ditar regras e dispositiv
que intensificavam o compromisso da comunidade e a difuso de instrues especficas. O
nefito fazia uma confisso detalhada de todo pecado e falta antes de ser aceito pe
la sociedade, e a confisso peridica era ordenada at mesmo para transgresses mais sec
undrias. Considerando que a vida era ordenada assim cuidadosamente, muitos shaker
s ancios ao trmino do sculo disseram aos seus entrevistadores que eles conseguiam v
iver muitos anos sem pecar.
Tanto homens como mulheres usavam uniformes os homens usavam um chapu largo e um long
o casaco azul, com cabelo curto na frente e longo atrs. As mulheres usavam volumo
sos vestidos de cores sombrias com uma manta ao longo dos seios e das costas, um
bon claro em lugar fechado, e um chapu de sol ao ar livre, em cima de um cabelo c
urto. Em algumas famlias as visitas eram estritamente limitadas. Era permitido pe
quenos grupos de homens e de mulheres sentarem em lados opostos do quarto sob o
controle de um ancio, onde entabulavam breves conversas cuidadosamente controlada
s para evitar todo contedo significante. Em algumas famlias tanto homens como mulh
eres eram emparelhados, de forma que as mulheres funcionavam como uma espcie deso
ror mystica, fornecendo entre si orientao espiritual. Os homens e mulheres executa
vam tarefas diferenciadas, usualmente em edifcios separados, comendo em mesas sep
aradas e em silncio. A vida diria era levada com um mnimo de conversa, bem semelhan
te s ordens monsticas mais rgidas. Como ostmppistas, osshakers freqentemente se comu
nicavam por quirologia simples.
Os edifcios shakers eram famosos por sua extrema limpeza e pela total simplicidade de
sua moblia, houve um tempo quando a moblia ordinria era mais ornada. No havia qualq
uer carpete e apenas alguns pequenos tapetes, todas as manhs as cadeiras e o cho e
ram limpos e polidos, as camas eram retiradas, as janelas abertas, cada pessoa f
azia sua parte na limpeza. Apesar desta nfase no aspecto sanitrio muitas aldeias no
faziam nenhuma proviso quanto higiene corporal pelo banho, de forma que algumas
foram atingidas por pequenas epidemias de tifo devido, naturalmente, disseminao de
piolhos.
Nenhum quadro ou instrumentos musicais eram permitidos at perto do declnio da sociedad
e, nenhuma poesia, nenhuma novela, nenhum romance, nem mesmo uma histria mostrand
o a longa histria dos males do mundo as pequenas bibliotecas continham livros de
estrita praticabilidade, apenas obras religiosas bem tpicas do shakerismo, e o prp
rio material literrio da sociedade que j crescera bastante. Algumas famlias e muito
s membros de todas as famlias eram vegetarianos carne de porco, lcool, at mesmo vin
hos suaves, tabaco (era permitido aos desesperadamente viciados mastigar um pouc
o), e usualmente ch e caf, tudo isso era proibido.
Os dias eram gastos em um rgido ascetismo. Depois da ceia e da adorao da noite certam
te ocorria a grande descarga ritualizada e coletiva de libido em qualquer seita
comunalista americana, uma descarga que encontra paralelo apenas nos testemunhos
dos julgamentos dos hereges medievais, nas polmicas anti-herticas dos ortodoxos,
e nas (provavelmente imaginrias) religies pagas secretas, que os ocultistas modern
os atribuem o culto da feitiaria.
Depois dos hinos e de breves sermes por um dos ancies, homens e mulheres se alinham em
lados opostos do quarto e comeam uma estranha dana arrastada, acompanhada com mov
imentos de braos curvados (parkinsonismo), enquanto cantam hinos, muitas vezes em
lnguas estranhas, alguns deles tradicionais, outros espontneos. Em algumas famlias,
eventualmente grupos de homens e de mulheres se abraam e se beijam mutuamente. De
scries destes contatos por parte dos participantes sempre so acompanhadas por uma i
ntensa onda de amor. interessante destacar que ningum, nem mesmo entre os shakers
anteriores, fala desses abraos e presumveis orgasmos como algo prprio deles. O abr
ao entre os pares foca o amor da comunidade, que dana em grupos alinhados, em anis
emparelhados que giram entre si.
No final os espritos possuam uma, duas ou trs jovens mulheres e falavam atravs delas
is espritos normalmente eram grandes figuras histricas Napoleo, Jlio Csar, ou heris da
repblica, como George Washington e Benjamin Franklin, ou mais especialmente ndios
famosos. Freqentemente uma tribo inteira de espritos ndios visitaria uma reunio de
shakers. Com o tempo os shakers passaram a empreender misses regulares entre os m
ortos, enviando seus espritos conversos para pregar o evangelho shaker para toda
sorte de pessoas especialmente para os ndios americanos, que se tivessem desfruta
do um pouco das vantagens do cristianismo em suas vidas, pelo menos quando morre
ssem seriam convertidos aos milhares e estabeleceriam suas prprias comunidades sh
akers no mundo dos espritos. Visitaes de espritos desse tipo sempre pasmaram visitas
de carne-e-sangue porque o grupo shaker em sua totalidade parecia possudo por um
a alucinao coletiva, como um elaborado psicodrama, danando e conversando com seus c
onvidados, dando-lhes comida e bebida imaginria, e ouvindo uma msica inaudvel. Psic
odrama a nica palavra que temos para tal atividade porque impossvel aceit-las como
genunas alucinaes; e os lderes shaker freqentemente admitiam aos estranhos que tudo e
ra realmente fictcio. Tal entretenimento com tribos inteiras de ndios era apenas u
ma pequena parte do que faziam.
As comunidades shakers praticavam ritos anuais e bebiam um nctar imaginrio de fontes i
maginrias, festejavam uma imaginria ambrosia enquanto vestiam artigos de vesturio i
maginrios de esplendor ofuscante. A semelhana de tudo isso com ovaudon haitiano (v
odu), com os cultosejuju que sobreviveram em algumas plantaes de escravos nos Estad
os Unidos, e com as religies originais da frica Ocidental certamente notvel. Ningum
nunca demonstrou qualquer contato embora um nmero bem grande de negros se convert
esse aoshakerismo. Por outro lado tambm h semelhanas com as prticas do culto doiroqu
ois, vizinhos de muitas comunidades shakers. O Espiritualismo Moderno surgiu na
mesma vizinhana e h controvrsias se o primeiro fenmeno espiritualista ocorreu entre os
shakers ou entre os auto-professados espiritualistas.
Estas performances ocorriam com maior ou menor intensidade todas as noites na maiori
a das comunidades e culminavam em peridicos grandes festivais, no difcil ver a vant
agem que isso proporcionava aosshakers comparado com outros movimentos comunalis
tas. Vinte horas eram gastas na mais rgida disciplina, at mesmo o sono era governa
do atravs de regras; mas todas as noites cada libido individual era despejado na
comunidade. Era o momento em que o inconsciente coletivo se manifestava. O amor
se dissolvia em comunidade. George Washington danando com as irms, bebendo ambrosi
a enquanto Squanto tocava violino isto tudo pode nos parecer ridculo, mas eram os
elementos disponveis no mito orgistico dosshakers. Eles agiam como muitos gregos
fizeram encenando Baco e Orfeu.
Como os gregos que os precederam os shakers domesticaram o irracional e o submeteram
comunidade racional. Longe da reunio, a vida era vivida com uma ordem matemtica.
Embora renunciassem toda arte e decorao, sua arquitetura e moblia estritamente func
ional esto entre as mais bonitas desse estilo. Eles acharam isso necessrio para co
nter o sucesso de muitos de seus empreendimentos industriais. Eles foram o prime
iro grupo da Amrica a praticar a agricultura intensiva. Eventualmente muitas comu
nidades shakers usavam apenas sementes de alta qualidade separando um estoque pa
ra o mercado.
bastante difcil pelas provas que restaram determinar como a sociedade era governada a
ssim to eficazmente. Todos os funcionrios, administradores, representantes empresa
riais, e lderes religiosos eram apontados desde o topo. Eles estavam sujeitos a u
m mnimo de controle atravs de reunies da comunidade, mais talvez por revelaes, embora a
revelao nunca jogasse um papel consistente, determinante como ocorreu em Amana. D
iante de um sistema to autocrtico de governo, especialmente em cima de comunidades
pequenas que se espalhavam desde New Hampshire at o Kentucky em um tempo em que
o pas era coberto por selvas, se esperaria que resultasse em partidarismo e em ci
sma; pelo menos no caso dos shakers isso no ocorreu. Tanto no aspecto secular com
o no religioso a sociedade foi conduzida em uma vida extraordinariamente calma.
Pelos meados do sculo XIX, sob a liderana de Frederick W. Evans, que antes de sua conv
erso havia sido um reformador secular e comunalista, a sociedade florescia, alcana
ndo a cifra de mais de seis mil scios em vinte aldeias. O celibato que tinha sido
o fator mais importante em sua fora, eventualmente provou sua ineficcia. Suas dou
trinas eram brbaras demais para serem eterealizadas por uma gerao mais alfabetizada
e sofisticada, ou para trazer convertidos da classe de pessoas que se sentiam a
tradas pelo shakerismo; assim eles no puderam se expandir alm de certo limite. Conv
ertidos casados traziam suas crianas para a sociedade juntamente com eles e cada
aldeia shaker era entre outras coisas um livre orfanato que criava crianas no dese
jadas sem nenhuma despesa para o Estado. As crianas eram criadas como shakers mas
a maioria delas iam embora assim que encontravam emprego em outro local. Nos me
ados do sculo XX sociedades que por muitos anos tinham consistido em menos de cem
pessoas idosas, tiveram todas suas intenes e propsitos extintos. A grande revivicao
do comunalismo comeou depois da Segunda Grande Guerra focando um novo interesse p
elos shakers tanto que recentemente houveram tentativas de reavivar a sociedade.
* * *
Da mesma forma que as ordens religiosas dos monges e das freiras viveram sua plenitu
de na Idade Mdia, seria de se esperar que as pessoas laicas associadas vida comun
al alcanassem a plenitude de seu movimento na primeira metade do sculo XIX, quando
apareceram aldeias comunistas catlicas romanas tanto na Europa como nos Estados
Unidos; mas h muito poucos exemplos, e realmente difcil encontrar algo a respeito
delas. Principalmente devido ao carter extremamente reacionrio da Igreja no sculo X
IX. Qualquer coisa que sugerisse a pregao da comunidade de bens era logo condenada
como heresia, principalmente porque representava uma sria ameaa riqueza e ao pode
r da Igreja que adotava uma teologia ortodoxa. A difuso de um movimento pelo reto
rno vida apostlica poderia exercer um efeito devastador na Igreja do sculo XIX. Na
Amrica a Igreja era ainda mais ortodoxa do que o papado. Aps aEscassez da Batata
Irlandesa e as dificuldades no sul da Alemanha, a igreja americana baseava-se em
congregaes largamente analfabetas ou semi-alfabetizadas de recentes imigrantes. C
onsiderando que a maioria dos primeiros historiadores das sociedades comunistas
na Amrica eram milenaristas protestantes ou socialistas seculares, eles eram por
princpio anticlericais, dessa forma freqentemente ignoravam a existncia de um assen
tamento comunalista catlico no pas.
Em 1854 Ambrosius Oschwald, um padre catlico, conduziu um bando de colonos das colina
s de Baden e de Black Forest para o municpio de Manitowoc, Wisconsin, cerca de ce
m milhas ao norte de Milwaukee. Eles compraram cerca de trs mil e oitocentos acre
s de selva densa a trs dlares e meio por acre, limparam a terra e construram dois c
onventos para homens e mulheres celibatrias e uma aldeia de habitaes familiares par
a pessoas casadas. Eles primeiro a nomearam como Colnia So Nazianz, depois como So
Gregrio de Nazianzus, um telogo do sculo IV que resgatou a Igreja Oriental do Arian
ismo para a estrita ortodoxia, e que foi o fundador da escola denominadacappadoc
iana de teologia e filosofia, que responsvel pelo prolongamento da vida apostlica
e da doutrina mstica e da divinizao do homem na ortodoxia oriental. So Gregrio perman
eceu pouco tempo no arcebispado, retirando-se dos conflitos das polticas eclesisti
cas para sua extensa propriedade onde estabeleceu uma comunidade que misturava m
onges, freiras, e pessoas seculares, dos quais sabemos muito pouco. Os historiad
ores do comunalismo no do nenhuma evidncia sobre quem era o santo padroeiro da colni
a, ou porque foi escolhido, mas de grande significado que ele foi o padre favori
to da Igreja de muitos grandes msticos da Renolndia e do sul da Alemanha. Ele foi
o antepassado espiritual dos movimentos pietistas da pr-reforma de onde surgiram,
pelo menos indiretamente, quase todas as seitas comunistas religiosas da Amrica
como tambm, por exemplo, o movimento tolstoyano.
A Colnia de So Nazianz floresceu enquanto o Padre Oschwald esteve vivo. A terra era fr
utfera e produziu excessos para o mercado. Os scios fabricaram quase todas suas prp
rias necessidades: comida, roupa, ferramentas, moblia, sempre com um excesso expo
rtvel. Os membros celibatrios viveram sob uma regra semelhante Terceira Ordem Regu
lar de So Francisco, os membros casados dedicavam-se completamente Terceira Ordem
Secular. Todos tomavam parte na liturgia diria da Igreja. A comunidade era essen
cialmente governada por sacramentos. A confisso e a penitncia eram suficientes par
a assegurar a ordem e a sagrada comunho para preservar o compromisso. No diferente
s dos shakers eles se uniam para o culto, atravs de rituais cuja fonte praticamen
te remonta antes do tempo da civilizao, saindo das camadas mais profundas da mente
humana. Padre Oschwald e umaeforata de doze membros cuidaram da administrao dos n
egcios materiais e do bem-estar moral da comunidade. Suas decises estavam sujeitas
a revises em reunies gerais onde todos participavam. A comunidade parece ter func
ionado com poucos atritos.
Por ocasio da morte do Padre Oschwald, descobriu-se que a propriedade, que estava reg
istrada em seu nome, no poderia ser transferida para a colnia porque no era uma cor
porao. Assim, os scios a incorporaram como uma sociedade religiosa catlica romana on
de cada scio adquiriu uma parcela da propriedade, devido aos servios prestados, re
passando-a nova corporao. Eles continuaram a prxima gerao em uma base fiduciria, usand
o vestes simples dos camponeses da Floresta Negra do sculo XVIII, suas vidas eram
governadas por sacramentos, liturgia, ritos de passagem, ritos do ano, que pelo
final do sculo comearam a desaparecer. Como os shakers, eles tinham adotado criana
s rfs mas poucas delas permaneciam com a comunidade depois que cresciam. A aldeia
de So Nazians ainda existe, mas de todas as colnias religiosas prsperas nos Estados
Unidos sem dvida a menos conhecida.
Havia outro grupo aparentemente bem parecido perto de Milwaukee, chamado Nojashing,
conduzido pelos padres Anthony Keppler e Matthias Steiger, que vieram da Baviera
em 1847. Ambos morreram quatro anos depois, mas a colnia permaneceu at o final do
sculo. A partir da tornou-se tornou uma ordem de irms. significativo que estas dua
s aventuras encontraram refgio em Wisconsin onde a igreja catlica romana tanto qua
nto a anglicana eram mais radicais do que em qualquer outro lugar dos Estados Un
idos e onde grupos cismticos como aigreja nacional polonesa, osvelhos catlicos, e
outros, encontraram guarida. O bem progressista bispo anglo-catlico Griswold de Fon
d du Lac muitas vezes falou de sua esperana de que um reavivamento da ordem de So
Gilobert de Sempringham teria lugar em sua diocese, mas ela nunca ocorreu. Assim
a colnia de So Nazianz permaneceu como a nica tentativa bem sucedida de transporta
r para a Amrica uma espcie de sociedade comunista que se tornou famosa nas comunid
ades jesuticas no Paraguai.
14. Oneida
Milenarismo, chiliasmo, pentecostalismo somos inclinados a pensar tais termos como a
plicveis a movimentos do submundo religioso da teologia proletria, das pessoas sem
i-alfabetizadas de fato, em muito semelhantes aos cristos primitivos. John Humphr
ey Noyes, nasceu em 1811 em Brattleboro, Vermont, foi o fundador da Comunidade O
neida, e de uma seita conhecida como osperfeccionistas, diplomado em Dartmouth,
primeiro dedicou-se ao estudo da lei, depois da teologia em Andover e posteriorm
ente em Yale. Sob influncia do movimento reavivalista ele passou por uma experinci
a de converso espiritual, passando a crer que era possvel aos homens no apenas sere
m salvos mas se tornarem perfeitos ou aperfeioados nesta vida. O intensivo estudo
da Bblia acompanhado com muita meditao e orao convenceu-o de que esse fim poderia se
r alcanado mais facilmente atravs da adoo literal da vida apostlica.
Em 1834 Noyes retornou a Putney, Vermont, onde seu pai era um banqueiro, casado com
a neta de um congressista, e lentamente juntou um grupo de pessoas, no princpio p
rincipalmente seus familiares mais ntimos que no apenas o seguiram em convico como c
ompartilharam dessas mesmas experincias e convices, passando seu tempo em estudos bb
licos e orao. No curso de dez anos o pequeno grupo de perfeccionistas desenvolveu
seu prprio corpo de doutrinas, ganhou alguns convertidos e correspondentes ao lon
go da Nova Inglaterra e New York. Em 1846 eles passaram a viver juntando todas a
s coisas em comum. Neste momento eles despertaram a ira dos cidados de Putney sen
do expulsos da cidade.
Em 1848 osperfeccionistas compraram quarenta acres e uma casa velha perto de Oneida
ao norte de New York, nos dois anos seguintes estabeleceram filiais no Brooklyn
e em Wallingford, Connecticut. Oneida era um lugar pobre, os edifcios estavam cai
ndo aos pedaos. No princpio havia menos que cem pessoas que podiam trazer relativa
mente pouco dinheiro na fundao da comunidade. Porm, eles logo passaram a produzir n
a terra, adquiriram acres, tornando-se capazes de se alimentar autonomamente, aps
isso adotaram um programa cuidadosamente planejado de desenvolvimento industria
l diversificado em pequena escala. Eles passaram a vender o excedente da colheit
a para fora, gado, inclusive frutas, legumes, geleias, marmelada, moblia produzid
a na fazenda, tecidos em l e seda, bolsas e caixas de fsforos, montaram uma fbrica
e uma loja de ferramentas. Mais tarde eles comearam a produzir, no princpio mo, uti
lidades que eles mesmos inventavam e que se tornaram os mais lucrativos de seus
empreendimentos industriais naquele tempo..
Em 1874 a totalidade dos membros de Oneida e Wallingford (o Brooklyn se separou de O
neida) chegava a duzentos e dezenove adultos, aproximadamente vinte por cento ma
is mulheres do que homens, sessenta e quatro crianas, e aproximadamente duzentos
e setenta trabalhadores de fazenda contratados, coletores de frutas, e trabalhad
ores nas lojas, inclusive trinta e cinco mulheres e meninas que trabalhavam com
seda em Wallingford; alm disso eles empregaram um nmero considervel de criados domst
icos. Em 1873 eles venderam mais de trezentos mil dlares de mercadorias e de prod
utos que fabricavam. Em outras palavras, em vinte anos os colonos de Oneida torn
aram-se modestamente ricos, a mo-de-obra contratada estava na proporo um empregado
para cada colono adulto, e viviam vidas em elevado grau de satisfao tanto material
mente, culturalmente, como espiritualmente, mais do que qualquer outra colnia rel
igiosa. Oneida parece ter sido um lugar completamente agradvel para se viver. Ess
e sucesso notvel provavelmente ocorreu devido alta qualidade dos colonos e especi
almente ao seu lder, um homem dotado de uma inteligncia e fora de vontade verdadeir
amente excepcional, produto da melhor educao de seu tempo, tinha o hbito de no pedir
para ningum fazer qualquer coisa que ele mesmo pudesse fazer e assim trabalhou c
omo fazendeiro, ferreiro, administrador, vaqueiro, e eventualmente todos os outr
os empreendimentos da comunidade.
Do ponto de vista da cultura secular do sculo XX, completamente cptico tanto em cinci
como em religio, John Humphrey Noyes pode ser considerado excntrico. Naturalmente,
qualquer um que pertenceu a um grupo comunalista tinha, por definio, algo de excnt
rico. Mas bom no esquecer que na primeira metade do sculo XIX os fundamentos da ed
ucao, do aprendizado, e da filosofia de vida era, para a maioria das pessoas, quan
do implementados, baseados na Bblia, especialmente na Amrica. Os pais fundadores p
odem ter sido intelectuais radicais, e entre eles pode ter havido alguns raciona
listas e destas, mas a maioria dos americanos educados, particularmente depois da
reao contra a Revoluo Francesa, eram cristos devotos. Noyes foi um cristo devoto, mas
ele tambm foi um cristo radical e racionalista que, em seu primeiro grupo de estu
do em Vermont, fixou-se na tentativa de descobrir exatamente o significadoda, pa
lavra de Deus. Se o Novo Testamento for abordado dessa maneira, com uma mente co
nscientemente isenta de preconceito, parece bvio que a cristandade apostlica era m
ilenarista, chilistica, pentecostal e comunalista.
Oneida foi em muitos aspectos uma imagem espelhada das comunidades shaker, com mtodos
de construir compromisso de grupo que poderiam parecer diretamente contrrios s prt
icas dos shakers. O mtodo mais famoso foi o matrimnio grupai de Oneida. Todo mundo
estava disponvel para todo mundo, mas o emparelhamento real dos pares estava sob
a orientao da comunidade, no final das contas parecia estar sob a orientao do prprio
Noyes, as unies eram usual e relativamente de pouca durao. Esse sexo grupai (casame
nto complexo) era acompanhado por uma descoberta especial de Noyes, a continncia ma
sculina. Esperava-se que o homem controlasse a si mesmo nas relaes sexuais at que a
mulher tivesse um ou mais orgasmos, retirando, aparentemente sem ejaculao. Isto so
a como um costumedoentio mas que de fato, conforme foi demonstrado atravs de vrias
prticas erticasiogues, perfeitamente possvel a um homem treinar-se a ponto de sepa
rar o orgasmo da ejaculao. Tais funes so controladas por dois conjuntos diferentes de
nervos. Em alguns dos escritos de Noyes sobre esse assunto ele parece falar de
uma maneira bem oculta sobre sexo oral. Um detalhe significante que toda comunid
ade praticava o controle da natalidade pela retirada que era praticada para o pr
azer sexual das mulheres uma noo extraordinria para o sculo XIX. Noyes continuamente
enfatiza sua, conforme diziam, descoberta surpreendente de que o ato sexual tem d
uas funes, procriao e prazer o maior prazer da vida. s vezes, por trs de sua linguagem
criptogrfica ele parece tropear em uma espcie detantrismo, o misticismo ertico do t
ranse sexual.
Na medida em que a colnia amadurecia, Noyes, conforme vimos, um bem sucedido criador
de gado, introduziu a idia da procriao eugnica controlada o que ele chamaria deestir
pecultura. Apenas queles que fossem julgados melhor dotados de qualidades fsicas e
mentais, para desenvolver geneticamente a produo de uma raa superior atravs das ger
aes, foi permitido a gerao de crianas. Noyes e um comit especial, aps uma longa observa
na comunidade, escolheu alguns, instruindo-os para que se acasalassem, independe
nte das unies prvias que pudessem ter praticado. Hoje tais prticas so extremamente r
epudiadas, talvez o futuro decida que um dos piores males do nazismo foi desacre
ditar a eugenia. Houve momentos, depois de ser popularizada por Noyes, em que a
reforma eugnica se tornou uma crena comum e uma esperana para quase todos os radica
is sociais.
Noyes tambm foi um mstico do alimento, a maioria das pessoas na comunidade eram vegeta
rianos. Eram servidas duas refeies por dia. Ele tomavam caf e ch, mas nada que conti
nha lcool, nem usavam qualquer tabaco. Eles acreditavam que a doena era um tipo de
pecado e a tratavam com uma combinao de auto-crtica coletiva com cura pela f idias q
ue se assemelham s de Samuel Butler e de George Bernard Shaw, que influenciaram N
oyes profundamente. Parece que eles tiveram tanto sucesso quanto a medicina orto
doxa daqueles dias. Em vez da confisso privada antes de ser admitido pela comunid
ade e depois de cometer qualquer pecado srio, conforme era praticado entre os sha
kers, Oneida fez uso de uma forma de crtica grupai, uma ocasio especial na vida da
comunidade. Existe uma certa semelhana com a crtica grupai praticada atualmente p
elossynanons com a grande diferena de que em Oneida ela desaguava em bondade, con
siderao, e respeito ao indivduo.
A mudana no temperamento pblico dos Estados Unidos bem ilustrada pela reao da soci
dominante para com Oneida. As objees mais fortes no eram contra o comunalismo ou co
ntra a poltica radical mas aos estranhos costumes da colnia casamento complexo, es
tirpecultura, igualdade das mulheres, e, no menos, a maneira de vestir. Os homens
se vestiam com simplicidade mas convencionalmente. As mulheres usavam cabelo cu
rto, saia no joelho, longas calas compridas, e uma quantidade menor de roupas ntim
as do que era comum naqueles dias, como coletes, espartilhos, anguas, pantalonas,
e bustis. Vestes que para ns parecem extremamente modestas, aos olhos da maioria
dos visitantes era excitante. Mas osoneidanos tambm estavam entre os radicais polt
icos mais avanados de seu tempo. H uma carta a William Lloyd Garrison escrita por
Noyes que ele chamava de suaDeclarao de Independncia dos Estados Unidos e sua respo
nsabilidade pela escravido coletiva.
Ao longo da vida diria da comunidade, em cada departamento, em cada atividade, o memb
ro encontrava uma superviso embutida, controle, e curtos-circuitos designados par
a prevenir, abortar, ou curar cada vestgio de egosmo e cobia. Depois de desmamadas,
as crianas eram criadas em berrios por especialistas, tanto homens como mulheres,
e logo enviadas para o trabalho ou para trabalhar ao lado das pessoas mais velha
s, da mesma forma que nas sociedades primitivas. Normalmente lhes permitiam algu
m tempo com seus pais durante o dia. Todos os brinquedos eram compartilhados em
comum e dali para a frente, todos os artigos de uso mais pessoal, incluindo roupa
s para usar fora, eram retirados e retornavam a um guarda-roupa comum.
O governo era exercido por uma vasta engrenagem de comits e interlocutores, o que per
mitia uma gama considervel de iniciativas, sempre sujeitas a reunies com a partici
pao de toda comunidade; se uma diviso acontecesse, a deciso, como os quakers, era ad
iada at que a unanimidade pudesse ser alcanada. Oneida compartilhou com aSociedade
de Amigos duas idias que parecem bastante comuns mas que so real e completamente
assustadoras, e que dificilmente compartilhada por qualquer outro grupo cristo, o
u nesse assunto, por qualquer grupo secular. A primeira idia que perfeitamente po
ssvel e no terrivelmente difcil ser bom (o nome oficial que deram a issoera perfecc
ionismo). A segunda idia que eles acreditavam que dificilmente poderia haver algu
ma emergncia social onde o consenso precisasse ser sacrificado para que uma resol
uo pudesse ser tomada. O acordo era mais importante do que a discordncia.
As idias teolgicas especficas de Noyes no foram to incomuns em tempos de excentrici
eligiosa. Ele acreditava na autoridade da Bblia, mas alm dela, na autoridade ltima
doEsprito da Verdade que, como os quakers e suaLuz Interior, poderia preencher ca
da homem. Ele acreditava que Deus era dual, masculino e feminino. A Segunda Vind
a de Cristo j ocorrera no tempo da destruio do templo. Ns estamos vivendo agora depo
is do apocalipse mas antes da iminente transformao espiritual do mundo que conduzi
ria ao reino dos cus. O matrimnio complexo no era apenas uma tcnica social para uma
sociedade comunalista era o mtodo pelo qual a unio espiritual dos sexos que se que
brou pela queda de Ado e Eva seria restabelecida e o gnero humano retornaria sua d
ivina condio desyzygy refletindo a imagem de Deus. A morte seria superada e o home
m voltaria eternidade.
Lendo Noyes hoje fcil ver pelas informaes, pela linguagem bblica, a ao de uma me
sa. O nico lder religioso comunalista que foi ao mesmo tempo um radical intelectua
l, ele continuamente enfatizou Eneida como sendo uma sucesso apostlica de Brook Fa
rm, certamente a maioria de suas atividade intelectuais externas se dissolveria
no ms em que Oneida foi fundada.
Na medida em que Noyes envelhecia, crescia uma nova gerao de colonos, e como era de se
esperar, a cada dia que se passava surgiam mais e mais objecoes nos detalhes da
vida dos colonos. Em 1879, acuado por ataques tanto internos quanto externos, N
oyes escreveu uma carta propondo o abandono do matrimnio complexo, e a reunio gera
l aprovou a proposta com apenas um voto contra. Dali em diante, pouco a pouco, p
rtica a prtica, a colnia rapidamente se desintegrou, e o complexo de propriedades f
oi distribudo. Em 1881 Oneida tornou-se uma companhia acionria engajada principalm
ente na fabricao de objetos de prata e assim continua at hoje. Se os ex-colonos tiv
essem mantido suas aes, enriqueceriam, mas o negcio tornou-se um empreendimento cap
italista, bem distante de uma democracia de trabalhadores.
15. Robert Owen
Antes do sculo XIX, o comunalismo estava praticamente limitado a corporaes religiosas
ilenrias. A primeira tentativa significante para formar uma comunidade puramente
secular foiNova Harmonia de Robert Owen. Owen nasceu em 1771, filho se um pequen
o seleiro. Aos nove anos deixou a escola, e antes dos dezenove tinha se tornado
gerente de uma fbrica de algodo em Manchester que empregava quinhentas pessoas. Es
sa fbrica tornou-se a melhor na Inglaterra, no apenas pela qualidade de seu produt
o, a primeira linha de algodo longa na Inglaterra, mas tambm pela eficincia de sua
produo e o bem-estar dos trabalhadores.
Foi um perodo de tremenda expanso e de grandes lucros na indstria txtil na Gr-Breta
entro de alguns anos o negcio de Owen, desenvolvido em um plano estritamente raci
onalista, tornara-se to lucrativo que ele pde persuadir seus scios a comprar a maio
r fbrica de algodo na Inglaterra, a Nova Lanark nos bancos de Clyde na Esccia. A mo-
de-obra total era ao redor de mil e quinhentos empregados, dos quais quase dois-
teros eram mulheres, quinhentos eram crianas, pobres, e rfos das favelas e orfanatos
de Edimburgo e Glasgow, muitos deles com apenas cinco ou seis anos de idade.
Owen imediatamente melhorou as condies dos trabalhadores, elevou a idade mnima para d
, e progressivamente reduziu as horas de trabalho de treze ou quatorze, para dez
horas e meia de trabalho por dia. Ele abriu uma loja geral que vendia bens e co
mida da melhor qualidade a baixo custo. Gradualmente ele comeou a inibir a venda
e o consumo de licor. Owen estabeleceu uma escola para crianas que se tornou no ap
enas a mais progressiva da Inglaterra, como tambm o bero de vrias idias que no seriam
aceitas em nenhum outro lugar durante quase um sculo.
Nova Lanark no foi em nenhum sentido uma aventura utpica. Seu patriarcalismo iluminado
operava dentro dos mais rgidos princpios empresariais, e resultou num lucro notvel
at mesmo nos anos de depresso. Era uma aldeia industrial de um tipo que ficaria c
omum depois de um sculo, especialmente nas indstrias quakers. Um bom exemplo na Amr
ica a cidade de Hershey, Pennsylvania, fundada por famlias menonitas processadora
s de chocolate. Contemporneo de Owen, Jebediah Strutt em Derbyshire operava uma m
oenda de uma forma bastante semelhante na cidade.
Owen via Nova Lanark como algo mais do que uma simples fbrica modelo. Owen era desta,
ecologista, e um moderadonecessitariano. Ele acreditava que os seres humanos era
m moralmente o produto de seu ambiente, especialmente de suas primeiras instrues,
e que no poderia ser responsabilizado pelo seu comportamento defeituoso em sua vi
da posterior. A escola de Nova Lanark era mais importante para Owen do que qualq
uer outra coisa. Atravs de seus mtodos educacionais ele esperava produzir um tipo
completamente diferente de trabalhador.
As limitadas medidas de organizao comunitria que Owen foi capaz de introduzir produzi
m uma mudana surpreendentemente rpida no carter de seus trabalhadores. Quando ele a
ssumiu Nova Lanark ela estava repleta de pobreza, doena, prostituio, promiscuidade,
e alcoolismo. A disciplina rgida resultou em casas limpas, livres de verminoses,
empreendimentos cooperativos, conferncias e danas pela noite, previdncia social, e
eventual proibio de bebida; claro que as escolas desenvolveram uma transformao surp
reendente em um tempo comparativamente curto. Logo um grande nmero de visitantes,
alguns vindos do continente americano, estavam visitando o trabalho. Consideran
do que Owen demonstrava que seus mtodos eram eminentemente lucrativos, Nova Lanar
k comeou a por em prtica uma definitiva reforma na fbrica, para depois transcrev-las
para as Atas da Fbrica. Uma populao inativa, suja, dissoluta, e bbeda, narra Owen, foi
transformada pela aplicao de meios prprios em gente ordeira, limpa, e regular.
Do ponto de vista das teorias comunitrias de Owen, Nova Lanark teve falhas, ou pelo m
enos limitaes. Estava longe da auto-suficincia. Havia vrios mecnicos ligados fbrica, e
alguns pequenos artesos, como sapateiros e alfaiates na cidade, mas a comunidade
no proporcionava a si mesma mais bens e servios. Alm disso, faltava uma base agrcol
a, embora houvesse partilhas de jardins para quaisquer trabalhadores que quisess
em. Tambm havia comunidades com refeitrios e lavanderias, mas as mulheres pareciam
se ressentir com isso. A maioria dos empregados eram mulheres e crianas, de form
a que muitos dos homens tinham que encontrar trabalho fora da comunidade. Havia
apenas cerca de vinte gerentes, balconistas, e professores. Todo o resto eram pr
oletrios no sentido lato da palavra, analfabetos ou semi-analfabetos, com nada pa
ra vender exceto sua fora de trabalho.
As escolas eram uma questo diferente. Aqui Owen tinha carta branca para fazer tudo qu
e pretendia, apenas limitado pelas dificuldades dos primeiros anos do sculo XIX p
ara encontrar professores capazes ou dispostos a levar a cabo suas idias. Owen ac
reditava que as crianas no deveriam ser aborrecidas com livros, mas ensinadas por
uma sinalizao sensata e pela conversa familiar. O interesse natural da infncia form
ava a base de seu mtodo educacional. As crianas aprendiam jogando, danando, brincan
do, cantando, e participando de exerccios militares (que ns chamaramos decalistenias)
. Owen era um adepto apaixonado da dana, e os visitantes ficavam fascinados em ve
r as crianas danando em seus saiotes escoceses, seus vizinhos escoceses presbiteri
anos ficavam enfurecidos por ele permitir os pequenos meninos danar sem calas compr
idas como pequenas meninas. As danas noturnas para adultos era uma parte muito imp
ortante da disciplina social e da terapia de Owen, uma prtica que aparentemente f
oi entusiasticamente bem recebida pelos trabalhadores, no h qualquer dvida de que a
s conferncias eram racionalistas, utilitrias, e radicais.
Embora Nova Lanark ganhasse dinheiro, freqentemente outras empresas similares o perdi
am, por duas vezes Owen achou necessrio reorganizar os negcios e mudar seus scios.
Eles contestavam as bases morais (ou mais propriamente imorais) de seus mtodos, espec
ialmente seu desmo, naqueles dias tendiam para o gnosticismo, e seu desdm pela rel
igio organizada atitudes que ele teimou em inculcar nos seus trabalhadores e nas
crianas nas escolas. Tais princpios foram a causa de grandes problemas em sua carr
eira, embora de forma interessante, as objees cresceram em vez de declinarem. AEra
das Luzes desapareceu na Inglaterra sendo substituda por aquilo que mais tarde s
eria chamado deEra Vitoriana. Na reorganizao final, ele foi capaz de afianar apoio
de vrios radicais ingleses, inclusive Jeremy Bentham.
Na medida em que crescia a fama de Nova Lanark, Robert Owen tornou-se uma pessoa mui
to importante e em 1817 ele foi convidado a expor um relatrio na Cmara dos Comuns
curiosos por ouvir suas sugestes para reforma e para a cura do pauperismo. Naquele
tempo Owen tinha levado muito em conta esses problemas e evoluiu para um sistema
definido. Ele compartilhou das idias de Ricardo e antecipou Marx na construo eleme
ntar de uma teoria envolvendo trabalho e valor. Ele rejeitou a teoria de Malthus
da presso crescente da populao e, por conseguinte, do seu empobrecimento, o que oc
orria era o contrrio, ou seja, a produo capitalista resultava em subconsumo, da o em
pobrecimento da populao. Ele aceitou o aumento fixo no uso da maquinaria mas props
limitar a difuso da industrializao, mantendo-a secundria na base agrcola das pequenas
comunidades. Ele tambm props assentamentos de cerca de mil e duzentas pessoas em
granjas coletivas de cerca de um acre por pessoa. Todos morariam em um edifcio gr
ande na forma de uma praa com um refeitrio pblico. Cada famlia teria seu prprio quart
o e cuidaria de crianas at a idade de trs anos, depois desse tempo eles estariam ao
s cuidados da comunidade, embora seus pais pudessem ter acesso a eles. Todo trab
alho deveria ser cooperativo e a produo comunalmente compartilhada. Deveria haver
pequenas lojas com a melhor maquinaria disponvel e artesos suficientes para fazer
cada comunidade largamente auto-suficiente, embora certas comunidades pudessem t
ambm se especializar na produo de artigos voltados para o comrcio.
Acoplada a esta anlise e plano racional havia uma tenso definida de milenarismo. Owen
j estava comeando a acreditar que a sociedade da forma como estava constituda estav
a condenada ao desastre e que os mtodos capitalistas os quais Marx chamava de perod
o da acumulao primitiva eram profundamente malficos. Ele compartilhou do julgamento
de Willian Blake das tenebrosas fbricas satnicas e chegou a imagin-lo como um messi
as chamando para conduzir o homem a um Novo Mundo Moral.
extraordinrio como suas idias foram bem recebidas. Os principais capitalistas, polt
, nobreza, e at mesmo o Duque de Leading, o pai da Rainha Victoria, se tornaram p
artidrios entusisticos. Infelizmente, a convico de Owen de que os homens eram amolda
dos quase que completamente atravs do ambiente e que poderiam ser mudados alteran
do o ambiente em que viviam estava estreitamente ligado ao seu desmo racionalista
e sua hostilidade a todas as formas de religio institucional. Assim, em uma gran
de reunio em Londres ele foi expulso e lanado em uma diatribe anti-religiosa, foi
quando perdeu uma grande parte de seu apoio. notvel considerando a tempestade de
vozes que se elevariam na prxima gerao, na plenitude da reao vitoriana como tantas pe
ssoas, mesmo figuras importantes doestablishment, continuaram apoiando-o, e como
muito desse suporte se estendia alm das classes e da linha poltica. Seus seguidor
es no eram de forma alguma um bando de radicais.
Na realidade, Owen, com seu profundo senso de responsabilidade da riqueza, poder, na
scimento, e educao, e sua rejeio ao livre empreendimento, pode realmente ser considera
do um dos fundadores dotoryismo radical.
Embora Owen encontrasse bastante apoio verbal e um simptico interesse, ele no encontro
u a ao decisiva do Estado ou os assentamentos que ele ingenuamente parece ter espe
rado. Foram formados clubesowenites. Ele ganhou discpulos articulados que promulg
aram suas idias, e com o passar do tempo o movimento cresceu de tal forma que dur
aria trs quartos de sculo. Eventualmente vrias comunidades que encarnavam os princpi
os das suas determinaes comunais projetadas, da Nova Lanark, ou ambos, foram estab
elecidas. A maioria delas falhou dentro de um ano, mas por mais de uma gerao as co
munidadesowenites continuaram sendo formadas na Gr-Bretanha. As que mais duraram
foram as de Queenwood e as Blues Spring na Inglaterra, Orbiston na Esccia, e Rala
hine na Irlanda. Essencial vida de todas estas comunidades foram suas escolas on
de o jovem malevel seria formado cidado de umNovo Mundo Moral.
As comunidadeowenites conduzem diretamente s aldeias cooperativas rurais da gerao pos
rior, mas sua maior influncia provavelmente foi na educao. A combinao especial das idi
as de Owen com as idias do reformador educacional suio Pestalozzi estabeleceu o mo
delo progressista da educao britnica. Como vimos, um aspecto divertido era o entusi
asmo de Owen pela dana. Aqui Owen parece ter descoberto instintivamente uma das f
oras mais importantes para o compromisso e para a comunidade a orgia. Danar era qu
ase to importante para ele como era para os shakers, pelos quais teve no princpio
certo interesse, e dos quais ele aprendeu mais do que pode ter admitido.
Owen se deu conta da crescente resistncia e da crosta frrea dos costumes na Gr Bretan
. Havia liberdade na Amrica, e terra ilimitada no Novo Mundo. Seria possvel constr
uir o Novo Mundo Moral, e em uma sociedade aberta, flexvel, seria bastante possvel
converter, atravs do exemplo bem sucedido, o pas inteiro em um tempo relativament
e curto. Owen decidiu fundar sua principal colnia dentro ou prxima fronteira ameri
cana. Ele comeou a se retirar da direo da Nova Lanark em 1828 depois de um longo pe
rodo de atrito com seus scios, livre de todas estas coneces, em 1825 foi comprar um
local na Amrica.
Em maro ele comeou a negociao para comprarHarmonia por cento e vinte cinco mil dlar
a a colnia, aldeia, lojas, e terra dosrappites\ e em maio eles se mudaram para su
a nova colnia na Pennsylvania, que se tornou at mesmo mais prspera do que Harmonia
tinha sido. Caracteristicamente, Owen no tomou o cuidado de investigar suficiente
mente se os rumores em torno uma endemia de malria em Harmonia eram verdadeiros.
Owen e seus primeiros colonos tomaram posse em abril trinta mil acres de terra, uma
aldeia completa com cento e sessenta casas, igrejas, dormitrios, fbricas de farinh
a, fbrica txtil, destilarias, cervejarias, um cortume, lojas de vrios ofcios, mais d
e dois mil acres cultivveis com dezoito acres de vinhedos e pomares, como tambm pa
stos e bosques.
Desde o princpio aquele homem que tinha sido to sagaz, eficiente, cuidadoso na Nova La
nark parece ter sido acometido por uma falta verdadeiramente excepcional de bom
senso. Ele comeou visitando o oeste dos Estados Unidos, se dirigiu ao Congresso,
conheceu o Presidente, e exibiu um grande modelo de sua futura colnia, que em gra
nde parte se assemelhava quela que planejou posteriormente, mas que nunca constru
iu, os falanstrios fourieristas. Ele foi ouvido com a mais sria ateno porque, natura
lmente, nos primeiros anos do ltimo sculo havia uma esperana generalizada de que se
ria possvel fazer uma reviravolta radical no desenvolvimento da sociedade longe d
o capitalismo industrial que obviamente estava destruindo tanto os homens como o
s valores, e propositadamente guiar a sociedade a uma nova ordem moral de vida c
ooperativa e coletiva. O capitalismo, enquanto um sistema social, ainda tinha qu
e desenvolver uma ideologia e uma propaganda de si prprio, e pelo menos um consens
o. Muitas das idias de Owen e de sua terminologia especial derivam, na realidade,
damaonaria radical.
Em abril de 1825 Owen fez um comovido discurso para Nova Harmonia inaugurando aEra d
a Nova Ordem, e afirmou que em pouco tempo o exemplo de Nova Harmonia converteri
a o mundo civilizado. Em maio foi adotada uma constituio inaugurando aSociedade Pr
eliminar de Nova Harmonia, com Owen responsvel pela comunidade durante trs anos pr
obatrios durante os quais todas as propriedades permaneceriam sob sua posse. Enqu
anto isso, ele fez um anuncio nos jornais convidando todos os homens de boa vont
ade a vir tomar parte na fundao da nova civilizao! Eles vieram em poucos meses mais
de novecentos deles. Alguns deles convictosowenites. Alguns eram mecnicos qualifi
cados, muito poucos eram fazendeiros experientes, a maioria das pessoas srias era
m intelectuais que ns chamaramos de trabalhadores do colarinho branco. No havia gen
te suficientemente preparada para operar os muitos empreendimentos deixados pelo
srappites e nenhum esforo srio foi feito para recrutar tais trabalhadores posterio
rmente. Embora chegassem colonos s centenas, na realidade, Owen incrivelmente ded
icou-se a fazer mais e mais discursos.
Durante o ano seguinte, foram fundadas mais de dez colniasowenites. Em New York, Penn
sylvania, Ohio, Nashoba, Tennessee, tiveram sua importncia histrica, mas dentro de
um ano a maioria j tinha fracassado. Os lderes mormons podem ter aprendido com os
erros de Owen. Eles sistematicamente recrutam ordenando seus missionrios para fa
lar e converter exatamente aqueles comerciantes e profissionais que necessitam p
ara manter o auto-sustento da comunidade, com uma base de fazendeiros e de traba
lhadores agrcolas. Eles enviavam seus missionrios para converter os artfices que ma
is precisavam. Owen fez totalmente o oposto no que diz respeito a essa poltica. E
le dava boas vindas a qualquer um que chegasse. Nova Harmonia era o que hoje ser
ia chamado de uma comuna de portas abertas. Logo haveria um grande aumento na quan
tidade demaconheiros, vadios, malandros, marotos. Em suas viagens ele escrevia p
ara seu filho em New Jersey sobre um imenso edifcio comunal, no qual no havia nem
trabalhadores nem material de construo, dando instrues para outros esquemas igualmen
te visionrios e nada prticos. Seu filho respondeu com um desesperado pedido por me
cnicos e fazendeiros experimentados.
Em janeiro de 1826 Owen foi obrigado a retornar com sua famosaBarca do Conhecimento, u
m grupo inteiro de intelectuais, alguns deles de importncia bem considervel que te
ria sido um crdito para qualquer universidade europia, entretanto eles no eram as p
essoas necessrias para construir autopia na fronteira americana. O mais important
e deles foi William McClure, o presidente da Academia de Cincias Naturais da Fila
dlfia, o Pai da Geologia Americana e defensor americano mais ativo do sistema pesta
lozziano de educao. Havia outros cientistas Thomas Say, Gerard Troost, o famoso ex
plorador Lesueur, o educador DArusmont, Madame Fretageot, e Frances Wright, uma d
as principais feministas e radicais de seu tempo. Tambm havia Josiah Warren, que
tinha organizado uma orquestra e viria se tornar um dos fundadores domutualismo
anarquista, e que j tinha antecipado muitas teorias que posteriormente se identif
icaram com Proudhon.
McClure, DArusmont, e Madame Fretageot imediatamente organizaram uma escola. Dentro d
e pouco tempo alguns dos colonos se dividiram para formar um estabelecimento cha
mado McCluria, interessado quase que exclusivamente com educao, ignorando problema
s econmicos, agricultura, e indstria. Em 25 de janeiro eles adotaram uma nova cons
tituio. Owen retirou-se enquanto ditador. A colnia foi reorganizada na base de um com
pleto comunismo, com assemblia geral de todos os scios, e com a autoridade encarna
da em um comit executivo de seis pessoas. O trabalho estava longe de ser recompen
sado por seu valor comunidade, mas todos os bens estavam igualmente a disposio de
todos os membros. Owen montou um tipo de caixa pblica de dinheiro, no contrariamen
te ao que foi feito em Mnster, da qual qualquer scio poderia tirar vontade, mas is
to foi logo abandonado pois pessoas sem escrpulos a esvaziavam diariamente. Dentr
o de duas semanas Nova Harmonia obviamente estava desabando, e a assemblia por vo
to de maioria implorou para que Owen retomasse a autoridade. Os piores marotos e
preguiosos se retiraram sob presso e um esforo foi feito para a produo nos campos e
lojas. Dentro de um ms outro grupo se retirou. Eles eram principalmente fazendeir
os que vieram com Owen da Gr Bretanha, que contestaram sua proibio bebida alcolica.
Eles nomearam sua colnia de FeibaPeveli, de acordo com um sistema inventado por u
m ingls excntrico, Whitwell, no qual uma cifra representava a latitude e a longitu
de de qualquer lugar determinado. New York era OtkeNotive, e Londres era LafaVov
utu.
A fragmentao do estabelecimento continuou com uma nova constituio em abril, e outras
durante o vero. Cada cisma foi concordado em algum lugar na propriedade. Sempre q
ue o ritmo dirio das crises alcanava seu cume, a soluo de Owen era fazer um discurso
e adotar uma nova constituio. Em quatro de julho de 1826 ele persuadiu a comunida
de a adotar uma Declarao de Independncia Mental que denunciava a religio, o matrimnio,
e a propriedade privada todas estas coisas conduziram a cismas adicionais e mais
srios. Ao final do ano a euforia de Owen estava comeando a minguar, e no comeo de
1827 grande parte da cidade estava pontilhada de casas e lotes a venda, e de peq
uenas empresas e estabelecimentos privados inclusive casas de gim. Em maro oitent
a pessoas partiram para comear uma comunidade perto de Cincinnati. A vida comunal
tinha vindo abaixo. As cozinhas comunitrias, refeitrios, centros de recreao, auditri
o, armazns, e silos foram todos abandonados. A escola, contudo, continuou e de um
a ou de outra forma sobreviveria, era l que os colonos remanescentes tomavam suas
refeies e levavam a vida comunitria da maneira como podiam. Deixando seu filho Rob
ert Dale no cargo, Owen saiu para um tour de palestras, com o maior otimismo, so
bre o desenvolvimento de mais comunidades owenites. Mas quando ele chegou a New
York tomou um navio para a Inglaterra e nunca mais retornou. A primeira comunida
de comunista secular estava morta e Owen tinha perdido um quarto de milho de dlare
s, embora a maioria das propriedades permanecesse administrada pelos seus filhos
. Foram formadas algumas outras colnias, em locais to distantes quanto Wisconsin,
ento uma selva, mas antes de 1830 todas tinham deixado de existir. Owen iria se t
ornar um lder do radicalismo britnico, um pai fundador do moderno sindicalismo e d
o movimento cooperativo, e uma forte influncia no desenvolvimento de aldeias coop
erativas britnicas garden cities. Em sua velhice ele tornou-seespiritualista.
Diante desta crua narrativa da breve vida de Nova Harmonia enquanto colnia comunista
difcil compreender sua influncia e importncia histrica. Owen fez praticamente tudo e
rrado. Ele comprou um assentamento j montado, de forma que os colonos no tiveram e
m nenhum sentido de construir algo para eles prprios. Ele pegava qualquer um que
chegasse, e a maioria desses homens que chegavam tinham pouco ou nenhum compromi
sso com suas idias ou com os propsitos da colnia. No havia nenhum vnculo que ligasse
seus membros para que pudessem permanecer juntos. Cada pessoa era uma sua prpria
lei, e cada um discordava de cada um nos princpios mais fundamentais e nas prticas
mais ordinrias. Nenhuma tentativa foi feita para manter os marotos do lado de fo
ra, os excntricos, e nem mesmo, a julgar pelos registros, pessoas com srias doenas
mentais. No apenas a maioria dos colonos no compartilhava das idias de Owen, a maio
ria dos membros mais valiosos, os trabalhadores e fazendeiros, antagonizavam sua
s idias sobre religio e casamento, idias compartilhadas apenas por uma minoria de i
ntelectuais. Os empregados de Nova Lanark, na Esccia, no eram mais do que isso, em
pregados, e a disciplina ltima era o controle de seu trabalho alm do mais, eles po
deriam ser despedidos.
A ditadura de Owen de Nova Harmonia era destituda de poder pelo seu prprio desejo. Que
stes de disciplina eram lanadas em encontros gerais, cujas decises eram inexeqveis. M
uitos dividiram a colnia ou simplesmente a deixaram, mas poucos foram expulsos. H
ouveram conferncias, concertos, danas, mas no havia nada que mantivesse os colonos
juntos e que os ligasse a um compromisso como as reunies confessionais dos grupos
religiosos. Owen introduziu uma espcie de vestimenta que seria o uniforme da com
unidade, mas apenas uma minoria o usou, no havia nenhuma outra tcnica que levasse
o grupo a uma auto-identificao. No momento em que os rappites venderam Harmonia pa
ra Owen, os rappites haviam se tornado uma economia fechada quase auto-sustentad
a e com um excedente para o mercado externo que os estava enriquecendo. Owen no t
inha nenhum trabalhador com as habilidades necessrias para operar as fbricas rappi
tes, e nenhum mtodo seguro que assegurasse que as pessoas fizessem mesmo o trabal
ho que se esperava delas.
Contudo, Nova Harmonia no foi um total fracasso. Ela certamente proveu um exemplo, em
bora raramente percebido, do que no fazer na organizao de uma comunidade comunalist
a secular. Mas tambm apresentou Amrica mtodos educacionais que influenciariam profu
ndamente toda educao pblica, pelo menos no Norte, o que contribuiu para que o siste
ma escolar da Indiana se tornasse por trs geraes o mais progressivo dos Estados Uni
dos. Robert Dale Owen entrou na legislao de Indiana e foi responsvel por dar s mulhe
res casadas o controle de suas prprias posses e pela instituio do livre divrcio e al
terao das leis de herana que ento prejudicavam as mulheres. Os irmos de Owen tambm tor
naram Nova Harmonia um dos primeiros focos de atividade cientfica. Em 1839 David
Dale Owen foi designado gelogo norte-americano e Nova Harmonia foi apontada como
sede de pesquisa geolgica dos Estados Unidos, tornando-se um fundador do Institut
o Smithsoniano. A partir da Biblioteca e do Instituto Workingmen instituies simila
res se espalharam pelo pas afora at hoje ainda existe um deles em So Francisco a pa
rtir dessas instituies se disseminaram as bibliotecas pblicas gratuitas.
Apenas duas das muitas colnias afiliadas de Nova Harmonia tiveram importncia histrica
Nashoba, fundada por Frances Wright, e a sucesso de experimentos conduzidos por J
osiah Warren. John Humphrey Noyes, o lder da colnia Oneida, referindo-se a Frances
Wright, disse: Ela realmente foi a pioneira das mulheres progressistas. Ela foi no
apenas a principal mulher no comeo do comunismo secular, ela foi essencialmente
a fundadora do movimento anti-escravista secular e dos direitos das mulheres. At
mesmo hoje ela seria considerada uma feminista radical. Seu interesse pelos rapp
ites de Harmonia precedeu ao de Owen. Ela visitou vrios assentamentos shakers e o
utros agrupamentos comunalistas, entrevistando seus lderes, e estudando seus prob
lemas. Ela tambm viajou pelos estados sulistas discutindo seus grandes planos com
agricultores e polticos. Ela foi certamente uma mulher extraordinria. Ela esperav
a estabelecer uma colnia comunista conduzida por pessoas brancas e por negros liv
res, mas formada principalmente por escravos comprados por ela ou doados por tra
ficantes de escravos, o pagamento da compra dos escravos seria coberto com metad
e daquilo que produziriam assim, eventualmente os escravos estariam comprando su
a prpria liberdade. Ela acompanhou Owen em Nova Harmonia, participou da formao da c
omunidade e partiu em 1826, antes da desintegrao. Ela comprou dois mil acres, prin
cipalmente nos bosques pantanosos do Rio Lobo, a treze milhas de Memphis, Tennes
see, e estabeleceu-se com muitas famlias de negros, incluindo quinze trabalhadore
s ativos que ela tambm comprou. Tambm houve um certo nmero de brancos, entre eles DA
rusmont de Nova Harmonia, a famlia de George Flower, sua irm mais nova Camilla Wri
ght, e um comunista vagante, James Richardson.
No princpio havia apenas duas cabanas, uma para os escravos e outra para os brancos,
Frances e Flower eram os nicos brancos, mas no curso do inverno desceram outros t
razendo uma shaker, Richesson Whitby. Frances deu de cara com um tempo muito rui
m em Memphis, mas quanto tempo melhorou a terra pode ser limpa. Logo que as plan
taes comearam a crescer, ficou evidente que o local estava infestado pela malria. Fr
ances, exaurida pelo trabalho braal, pegou a doena e quase morreu. Ela foi at Nova
Harmonia por um tempo para respirar um ar melhor. Nova Harmonia, naturalmente, tam
bm estava infestada com malria. Nessa poca ela comeou um atribulado relacionamento d
e amor com Robert Dale Owen. Enquanto isso ela escrevia e dissertava sobre amor
livre, um novo entusiasmo. No demorou muito foi descoberta pelos jornais que esta
beleceram ligaes de sua defesa do amor livre com a colnia interracial de Nashoba, e
ela se tornou princesa de Belzebu. Antes que Frances visitasse seu amigo Lafayet
te na Frana, ela e Robert Dale Owen desceram at Nashoba onde ele esperava viver uma
vida de puro lazer. Owen ficou horrorizado com a pobreza e a desordem de Nashoba
e decidiu ir Europa com ela. Ele resolveu os problemas de Nashoba, da mesma for
ma que resolvia os de Nova Harmonia, preparando uma nova constituio. Lafayette, Ca
milla Wright, e Owen, as pessoas brancas de Nashoba, e William McClure se tornar
am os fiducirios e Frances deu-lhes o ttulo de propriedade, tudo que ela possuia e
a propriedade dos escravos. Quanto aos demais, foram convidados a investir na aven
tura doando dinheiro, propriedade, ou trabalho. Teoricamente os escravos tinham
os mesmos direitos como todo mundo, mas na realidade eles no passavam de escravos
. Noyes comparou-os aoshelotes da velha Esparta, com a diferena de que eles eram
submetidos a contnuas dissertaes sobre comunismo, igualdade racial, e amor livre.
Owen e Frances partiram de New Orleans. George Flower partiu, aborrecido, e Whitby t
omou seu lugar. Antes de embarcar, Frances deu conferncias nas quais defendia o a
mor livre e a miscigenao, segundo ela, uma mistura das raas se adequaria melhor ao
clima do sul. A imprensa delirou, o pblico gritava, mas alguns a levaram a srio e
a escutavam. O fato dela no ter sido agredida ou linchada uma indicao da compreenso
do pblico americano nos anos 1820, bem diferente da gerao seguinte. Em New Orleans
recrutaram tambm vrios membros negros, entre eles Mamselle Lolotte, com vrias crianas
, inclusive uma filha crescida, Josephine. Mamselle Lolotte assumiu a escola, de
forma que todas as crianas eram tomadas de seus pais e colocadas sob seus cuidado
s. Isso provocou um amargo ressentimento nos escravos, que se tornaram crescente
mente antagnicos aos negros livres e aos de pele mais clara. Whitby e Camilla Wri
ght se casaram e Richardson e Josephine comearam a viver juntos, e Richardson deu
uma conferncia sobre amor livre e miscigenao..
Os extratos do dirio da colnia, cheios de coisas como estas, foram enviados por Richar
dson para um jornal abolicionista,O Gnio da Emancipao Universal (The Genius of Univ
ersal Emancipation). Os jornais americanos, britnicos, e continentais pegaram a h
istria e Nashoba tornou-se um escndalo internacional. Camilla respondeu atacando p
ublicamente o matrimnio e declarando que a conduta de Richardson teve a aprovao de
todos em Nashoba. At mesmo Frances declarou que Camilla e Richardson haviam agido
como tolos. Ela retornou da Inglaterra sem convencer ningum, mas veio acompanhad
a de sua amiga, a senhora Trollope, que planejava visitar os Estados Unidos em b
usca de oportunidades empresariais para seu marido, preferivelmente no oeste, po
ssivelmente no Cincinnati. A senhora Trollope chegou a Nashoba no Natal e ficou
horrorizada com o que viu, cabanas impropriamente construdas, inatividade, desord
em, sujeira, e doena. Alm disso, Camilla estava seriamente acometida por malria. Qu
ando a senhora Trollope partiu, trouxe Whitby e Camilla consigo at Nova Harmonia,
Richardson separou-se de Josephine e juntou-se a eles. Frances preparou uma nov
a constituio, contratou um inspetor branco, e igualmente partiu para Nova Harmonia
. Nessa poca ela e DArusmont se apaixonaram, Frances dissertou em Cincinnati para
algumas comunidades. Ela se tornara uma sensacional conferencista, suas idias se
tornavam mais radicais na medida em que Nova Harmonia e Nashoba se desintegravam
. Ela e Robert Jennings fizeram umtour de conferncias pelo pas; as atividades de N
ova Harmonia passaram a ser divulgadas emThe Gazette, com Jennings, DArusmont, Fr
ances, e Robert Dale Owen produzindo e imprimindo os textos. Eventualmente trans
feriram o jornal para New York, renomeando-o comoThe Free Inquirer. Nashoba esta
va desesperadamente desmoralizada. Frances e DArusmont levaram os escravos para o
Haiti e os libertaram. Uma vez livres, inclusive Mamselle Lolotte, nunca mais se
ouviu falar deles. Frances partiu para outras aventuras. Ela se tornou poderosa
noPartido dos Trabalhadores (Workingmans Party). Camilla morreu logo aps perder s
eu beb. Frances e DArusmont foram Frana onde se casaram e tiveram uma filha, France
s Sylvia. Retornaram Amrica e Frances, contra a vontade de DArusmont, retomou suas
conferncias tornando-se lder no movimento pelos direitos das mulheres. Eles se de
sentenderam, DArusmont retornou Frana, e eventualmente se divorciaram. Em 1852 ela
escorregou no gelo em Cincinnati, quebrou o quadril e morreu, provavelmente de
pneumonia. Em apenas cinqenta e seis anos ela viveu uma das vidas mais significat
ivas de qualquer mulher na histria.
16. Josiah Warren
De todas as pessoas notveis que se associaram Nova Harmonia, a mais notvel foi sem d
a Josiah Warren. Se ele tivesse sido um general, poltico, ou um capitalista, ele
teria sido um dos americanos mais famosos. Ele era um homem genuinamente univers
al msico talentoso com habilidades em vrios instrumentos, oficial qualificado em vr
ios ofcios, importante inventor, economista, filsofo, e fundador do anarquismo ind
ividualista americano pelo menos enquanto movimento, uma vez que Thoreau era ind
ividualista demais para ser o fundador de um movimento.
Warren nasceu em Boston em 1798 da famosa famlia Pilgrim. Pouco se sabe do comeo de su
a vida, mas em sua adolescncia eleja estava ganhando dinheiro como msico profissio
nal. Aos vinte casou-se e migrou para Cincinnati, a capital da fronteira, onde t
rabalhou com uma orquestra, como maestro e professor de msica. Como gasolina e se
bo eram escassos, ele inventou um abajur que queimava banha que produzia uma ilu
minao melhor; logo ele montou uma fbrica de lmpadas tornando-se um homem moderadamen
te bem de vida. Em 1825 ele vendeu a fbrica e acompanhou Owen entre os primeiros
colonos de Nova Harmonia onde se tornou o lder da banda e professor de msica na es
cola as duas nicas instituies que deram certo em Nova Harmonia. Ele tambm exerceu a
funo de diagnosticador e conselheiro tcnico geral. Alm disso ele foi uma das poucas
pessoas na colnia com algum conhecimento ou prtica em mecnica. Sua filosofia sempre
tinha sido a de que o melhor modo para entender um processo era aprender a faz-l
o. Em Nova Harmonia ele iniciou seu interesse pela impresso. Em 1827, com a desin
tegrao de Nova Harmony, ele retornou para Cincinnati. De todos os colonos, ele era
o nico, pelo menos em uma posio principal, que parece ter aprendido qualquer coisa
. A maioria deles, como Frances Wright, foram sentenciados a repetir os mesmos e
nganos e loucuras em repetidos desastres. Quase todos os crticos de Nova Harmonia
disseram que o que faltava era uma forte liderana, disciplina, e compromisso um
governo forte. Warren tinha chegou a uma concluso diametralmente oposta. Nova Har
monia sofria de um desordenado exerccio de liberdade e da instabilidade da autori
dade de Owen. No princpio dolike cures like, ele estava convencido de que a base
de todas as futuras reformas precisava ser a mais completa liberdade individual.O
homem busca a liberdade como o m busca o polo ou a gua o nvel, escreveu,e a sociedade
no pode ter nenhuma paz enquanto todos seus membros no forem realmente livres. Mas
tal condio no era realizvel sob aquela organizao e idia existente na sociedade. Novas
vises teriam que substituir as vises do passado. Para a futura nova sociedade eram
necessrios novos princpios. O primeiro dos quais era uma individualidade individua
l. A soberania de todo indivduo tinha que ser o tempo todo mantida inviolvel. Todo
mundo necessariamente era livre para dispor de sua pessoa, de seu tempo, de suas
posses, e de sua reputao da forma como lhe agradasse mas sempres suas prprias custa
s.
Warren tinha desenvolvido um sistema econmico bem compreensivo baseado na teoria do v
alor do trabalho, no princpio adotou uma interpretao mais rgida, algo como a teoria
de Marx, ou at mesmo como a teoria de Engels da fora de trabalho como algo distint
o do trabalho em si onde todo tempo de trabalho era considerado equivalente. Dep
ois, aprendendo a partir daquilo que era em certo sentido um experimento cientfic
o controlado, ele passou a acreditar em uma limitada escala de valores baseada n
a habilidade. Warren tinha uma mente de cientista e de inventor. Ele ps imediatam
ente em prtica as idias que tinha desenvolvido a partir das experincias de Nova Har
monia.
No dia 18 de maio de 1827, uma data histrica, ele abriu uma pequena loja geral na esq
uina da rua Cinco com a rua Elm em Cincinnati. Ele a chamou deEquity Store (Loja
da Equivalncia). Assim que as pessoas descobriram sua loja ela se tornou o negcio
de varejo mais popular da cidade, ficou famosa por causa de seu mtodo de computa
r o preo como uma loja do tempo. O preo era baseado no princpio da troca equnime de tr
abalho, medido pelo tempo gasto em sua fabricao e trocado por outras espcies de tra
balho. Todos os bens estavam marcados com seu custo mais elevado, usualmente em
quatro por cento. Este foi, incidentalmente, o primeiro negcio na forma deself-se
rvice. O cliente escolhia o que queria, ia at o balconista, que computava o tempo
gasto em sua fabricao, e o cliente pagava por ele, por exemplo, dessa forma, devo
a Josiah Warren trinta minutos de trabalho na carpintaria, John Smith, ou, devo a
Josiah Warren dez minutos de trabalho de costura, Mary Brown.
Os clientes pediam as coisas que eles precisavam, e que eram postadas a cada manh. Os
artfices e fazendeiros traziam seus bens conforme a lista de necessidades e os t
rocavam por outros bens ou por notas de trabalho, de acordo com a lista de custo
e tempo de trabalho para todos os artigos relacionados. Alm desses simples arran
jos no havia praticamente nenhuma outra regra ou regulamento. A loja funcionou au
tomaticamente como um mercado cooperativo para compradores e vendedores e como u
ma bolsa de mo-de-obra e uma agncia de emprego. A primeira semana movimentou apena
s o valor de cinco dlares em negcios, mas em pouco tempo a loja estava prosperando
. A coisa notvel que os artesos e profissionais altamente qualificados estavam dis
postos a trocar seu trabalho nesta simples base de tempo, embora posteriormente
Warren modificasse um pouco este seu arranjo. A loja veio tambm a funcionar como
um sindicato de crdito sem juros, e emprstimos em trabalho, em mercadorias e event
ualmente em dinheiro, se absolutamente necessrio, era feito sem juros e nenhum ou
tro encargo seno o custo da mo-de-obra aplicada. Warren pode eventualmente embarca
r na aventura de uma cooperativa de propriedade real, baseada em fundos de traba
lho, dinheiro, e custo em tempo. Todas estas coisas ocorreram quando Pierre Jose
ph Proudhon, geralmente considerado como o fundador da anarquia individual, do c
rdito mtuo, e da bolsa de mo-de-obra cooperativa, ainda era ummenino na escola. War
ren no apenas antecipou Proudhon, como tambm foi um pensador e um escritor bem mai
s perspicaz, e um homem que testava todas suas teorias pela prtica. Marx tinha ra
zo sobre Proudhon. Ele foi um pensador confuso e um escritor confuso, bem distant
e de ser um homem prtico.
Depois de trs anos da bem sucedida operao da Loja do Tempo, Warren decidiu que ele ti
a provado seu ponto de vista, a experincia cientfica tinha confirmado a hiptese, e
em 1830 ele encerrou o negcio e foi para New York trabalhar com Robert Dale Owen
e Frances Wright noThe Free Inquirer. Em aproximadamente seis meses ele retornou
a Ohio. Nos prximos anos ele tentou fundar comunidades que nunca foram iniciadas
devido a fatores alm de seu controle. Ele abriu outra loja do tempo em New Harmony
, e paralelamente, produziu lucrativas invenes em impressoras, culminando com a pr
imeira impressora rotativa. Em 1847 ele assumiu a liderana de umflansto fourierista
em Ohio, a aproximadamente trinta milhas de Cincinnati, que ele renomeou de Utop
ia. Operou durante aproximadamente quatro anos at que os colonos a venderam com l
ucro e migraram para Minnesota, e nunca mais se ouviu falar deles.
Em 1850 Warren transferiu-se para a cidade de New York e uniu foras com Steven Pearl
Andrews, que tornou-se o propagandista chefe dos princpios de Warren. Estes inclur
am a soberania do indivduo, custo limite de preo, comrcio eqitativo, e eventualmente
o banco mtuo: em outras palavras, a teoria bem-desenvolvida do anarquismo indivi
dual ou mutualismo que sobreviveria como um pequeno movimento at o sculo XX, e que
funcionou bem melhor como uma teoria geral de livre associao do que o sistema sem
elhante de Proudhon.
No mesmo ano Warren, Andrews, e outros comearam a comunidade dosTempos Modernos, agor
a chamada de Brentwood, em Long Island, aproximadamente quarenta milhas de New Y
ork. Devido aos princpios de Warren, fcil confundirTempos Modernos com um desenvol
vimento dereal-propriedade cooperativa. Cada famlia possua sua prpria casa e no havi
a qualquer forma regular de governo. Onde Nova Harmonia tinha falhado, devido a
sua poltica de portas abertas e a longa luta entre a autoridade de Owen contra o
partidarismo de excntricos e o parasitismo de vadios.Tempos Modernos de Warren re
solveu estes problemas ignorando-os, sem exercer nenhuma autoridade. Os excntrico
s e vadios vinham, mas em pouco tempo iam embora. O comunismo de consumo foi ass
egurado por uma loja do tempo, mas a colnia nunca pde alcanar o comunismo de produo exc
eto na agricultura. Nunca havia capital suficiente para comear um negcio industria
l prspero. Uma fbrica de papelo foi experimentada e teve bastante xito por alguns an
os mas foi descartada no pnico financeiro de 1857. A colnia realmente nunca morreu
, mas lentamente perdeu seu brilho para tornar-se uma aldeia modelo no subrbio de
New York. Em sua velhice Warren mudou-se para Boston e l morreu em 1874 com 76 a
nos. Na prxima gerao o movimento que ele fundou foi pequeno mas de significante val
or para o radicalismo americano. A voz principal do anarquismo individual e do m
utualismo foi Benjamin R. Tucker, autor deIn Place ofa Book, by a Man too Busy t
o Write One, [Em Lugar de um Livro, por um Homem muito Ocupado para Escrever Um]
, a melhor exposio do anarquismo individual, cujo magazineLiberty durou at o sculo X
X; os princpio de organizao comunitria de Warren foram adotados em uma forma modific
ada por vrias aldeias comunalistas tanto na Gr-Bretanha como na Amrica. Associaes ban
crias mtuas sobrevivem at os dias de hoje.
17. Brook Farm
Durante os anos 1840, o movimento comunal alcanou um desenvolvimento que no atingiria
novamente at depois da Segunda Guerra Mundial. Aventuras que davam a si mesmas o
nome de comunal foram iniciadas a uma taxa de pelo menos cinco a dez a cada ano.
A maioria delas tiveram uma vida extremamente curta, e muitas, por exemplo, Amo
s Bronson Alcott, realmente no eram comunas coisa alguma, mas uma espcie de comuni
dade empobrecida ocupada por um punhado de excntricos.
Foi uma dcada de fermento revolucionrio ao longo do mundo Ocidental, um tempo descrito
por Marx e Engels como mais um terrvel captulo da primitiva acumulao de capital.
Quando as fbricas satnicas chegaram com sua fora total, os seres humanos civilizados
cuaram em todos os lugares com ira e horror diante das conseqncias da primitiva in
dustrializao, a resposta dada pelos economistas e filsofos foi de que a liberdade i
ndividual desenfreada garantiria que a misria de cada um resultaria no bem de tod
os. Em 1848 a revoluo varreu a Europa. Mas as classes governantes se amedrontaram;
e permitiram que os movimentos de reforma conquistassem alguns de seus objetivo
s lentamente, um a um.
Nos Estados Unidos, pareceu durante algum tempo que o sonho americano de uma socieda
de cooperativa livre poderia prevalecer. Essa esperana foi encarnada claramente n
o trabalho de Walt Whitman. Entre ostranscendentalistas da Nova Inglaterra e nas
franjas do movimento abolicionista as demandas para mudanas que se espalhavam na
sociedade pelas roupas, relaes sexuais, governo, economia, educao, e a total reverso
de valores foram universal e trivialmente aceitas pela primeiraintelligentsia r
adical da Amrica. (Os pais fundadores eram cavalheiros intelectuais radicais).
A partir do pnico de 1837, uma srie de crises econmicas desencadearam um ciclo decres
mentos ecolapsos que duraram at a Guerra Civil. A instabilidade econmica e a luta
crescente em cima da escravido intensificou o senso da crise e alienao, no apenas en
tre os intelectuais, mas espalhou-se por toda a populao. O Segundo Imprio de Louis
Napoleon, com seus gestos primitivos por um Estado corporativo, abortou o movime
nto revolucionrio na Frana. Na Amrica a Guerra Civil encerrou o tempo de esperana re
volucionria, mas tambm freqentemente se esquece em nossos dias que os intelectuais,
os radicais, e os abolicionistas no apenas entraram na Guerra Civil pensando que
se tratava de revoluo, como saram dela pensando que tinham ganho. Whitman no foi a n
ica pessoa que teve que aprender lenta e dolorosamente que o sonho americano no i
a se realizar em sua vida e nem possivelmente na vida de ningum. A Amrica no lutou
duas ou trs grandes guerras, cada uma delas das mais sangrentas da histria, para s
alvaguardar o mundo democrtico. importante compreender que a radicalizao de grandes
sees da populao educada e do proletariado qualificado foi pelo menos intensa e diss
eminada proporcionalmente de forma similar ao movimento dos anos 1960. A maioria
das idias to populares no perodo posterior parte da ideologia aceita no perodo ante
rior.
Brook Farm deve sua importncia histrica ao fato de que no foi uma experincia de exc
s obscuros, ou de que a maioria das pessoas chamaria de fanticos religiosos. Broo
k Farm foi uma tentativa cuidadosamente desenvolvida para escapar do controle da
sociedade dominante, por membros representativos da elite intelectual.
No vero de 1841, o Reverendo George Ripley, que era ento editor doThe Dial, e membro d
oClube Transcendental, e um recente apstata da Igreja Unitria (ele achou seu dogma
tismo vestigial muito estreito), props no crculo dosTranscendentalistas de Boston
a fundao de uma sociedade comunal. O projeto seria financiado pela venda de aes a ce
m dlares cada unidade. Cada acionista se tornaria membro. Ripley visitara os shak
ers e outras comunidades religiosas e tinha entrevistado particularmente os memb
ros de Nova Harmonia e outras comunas seculares. Ele esperava evitar os enganos
que tinham conduzido ao fracasso e incorporar em uma base secular aqueles mtodos
que tinham produzido sucesso. Os colonos combinariam em cada membro tanto o trab
alho mental como o trabalho fsico. Inicialmente todo mundo trabalharia na fazenda
, na loja de ofcios e na pequena fbrica, onde se esperava que se desenvolvessem, c
ompartilhando tudo no trabalho domstico da cozinha, limpeza, e cuidado das crianas
. Uma das ostentaes mais orgulhosas de Ripley era a de que eles tinham abolido a se
rvido domstica. .. fazemos tudo livremente por amor aos deveres que so normalmente
descarregados nas empregadas domsticas, uma declarao cuja ingenuidade indicava a com
posio de classe de seus membros. Todo trabalho (fsico ou mental) seria pago a uma t
axa de um dlar por dia tanto para homens como para mulheres. Moradia, combustvel,
roupa, e comida, tudo era produzido na fazenda ou comprado cooperativamente para
racionalizar os custos.
Como na maioria das comunas seculares, havia uma forte nfase na reforma radical da ed
ucao, com perfeita liberdade de relacionamento entre os estudantes e o corpo pedaggi
co. No havia nenhum momento de estudos rgidos e o tempo das crianas era dividido ent
re escola, trabalho nos campos ou em casa. No curso dos eventos, a colnia atraiu
fazendeiros experientes, carpinteiros, sapateiros, impressores, como tambm vrios p
rofessores. Inicialmente os diretores agrcolas foram Charles A. Dana e Nathaniel
Hawthorne, nenhum dos quais sabia nada sobre cultivo e para os quais o trabalho
fsico era to exaustivo que tornava o esforo intelectual impossvel.
No princpio havia apenas vinte membros. A maioria deles principalmentetranscendentali
stas, exceto John S. Dwight, Minot Pratt, George Partridge; Bradford e Warren Bu
rton que estavam entre os acionistas originais, eram cpticos; Ralph Waldo Emerson
permaneceu antagnico at o fim, ele se referia Brook Farm comoum perptuo piquenique,
uma miniatura de Revoluo Francesa, uma Idade da Razo em uma panela de empanada, uma
declarao completamente injusta. A maioria das pessoas se conhecia mutuamente ante
s de vir para a fazenda, e embora o evangelho dotranscendentalismo uma combinao de
secesso radical deunitarianismo euniversalismo misturados comevolucionismo, moni
smo, pragmatismo, humanismo, e um interesse no recm descoberto misticismo da ndia
pudesse nos parecer amorfo demais para inspirar um compromisso de f, no parecia as
sim para eles.
Para o fazendeiro puritano da vizinhana, Brook Farm era uma iniqidade secreta, uma Bab
ilnia plantada em seu meio. Para os colonos que vieram das basescongregacionalist
as, os membros de sua prpria categoria pareciam totalmente irreligiosos. Eles jog
avam croque ou iam a piqueniques nosabbath, e as scias femininas mais soltas igua
lmente tricotavam e cozinhavam. O prprio Ripley era um homem intensamente religio
so com bastante sabedoria conquistada pela sua experincia pastoral. Ele era imper
turbavelmente bem humorado diante de contenes e frustraes entre seus seguidores. Seu
modo tranqilo parecia emanar um poderoso e forte carisma suficiente para unir a
colnia e mant-la em um curso seguro.
No princpio havia apenas vinte scios e nunca mais do que oitenta, mas aqueles que fica
vam trabalharam juntos com entusiasmo e um mnimo surpreendente de pugnacidade. Br
ook Farm poderia dizer que no era comunista, mas um empreendimento cooperativo, c
ontudo os aspectos cooperativos eram largamente administrativos, e a pequenez, c
oeso, e entusiasmo fizeram dela, na realidade, uma comuna. Economicamente Brook F
arm nunca se tornou auto-sustentada mesmo na agricultura muito menos lucrativa;
mas a diferena estava na escola, que alojou estudantes de fora, e que tornou-se no
apenas bem sucedida e lucrativa como tambm produziu uma quantidade considervel de
pessoas famosas, como George William Curtis, Father Isaac Hecker, o fundador do
sPaulist Fathers e um dos primeirosCatlicos Modernistas, General Francis C. Barlo
w, e um grande nmero de adultos sensatos, que consideraram os dias escolares pass
ados em Brook Farm como os dias mais felizes de suas vidas.
Embora Brook Farm estivesse no limite entre uma colnia religiosa e uma colnia secular,
e embora seus sofisticados scios estivessem longe de ser supersticiosos, primitiv
os, ou dogmticos em suas convices, a filosofia administrativa era certamente milenria
. Em suas primeiras conversaes com Channing, Ripley falou de seu fracasso como min
istro porque sua congregao vivia uma vida nos domingos e outra, manifestamente em
desafio aos princpios cristos, nos dias da semana. Ele queria, como dizia um velho
hino, uma sociedade de perptuosSabbaths. Com os planos para a colnia amadurecidos
, Ripley, Elizabeth P. Peabody, e Margaret Fuller comearam a falar noThe Dial sob
re Brook Farm em termos tipicamente milenares como uma comunidade apostlica model
ada na vida de Jesus e de seus discpulos. Mais adiante, sairia das cidades conden
adas e estabeleceria uma comunidade de amor para fixar um exemplo para o mundo e
m resumo, um remanescente salvo.
Hawthorne achou o trabalho muito duro e foi embora. Ele tinha ido para l na esperana d
e encontrar um local sossegado para poder escrever. Outros se ofenderam com aqui
lo que consideravam irreligio ou paganismo. Os colonos que realmente ficaram pare
cem ter encontrado um perptuosabbath. Eles trabalharam duramente durante o dia e
o resto do tempo era gasto em brincadeiras e auto-instruo. Pela noite havia entret
enimento musical, discusses, e danas, ou pessoas caminhando nove milhas de Brook F
arm at Boston para participar de concertos e conferncias. Em parte talvez por caus
a da permanente doura do temperamento, to distante da maioria dos maiores lderes ca
rismticos, que emanava de George Ripley, Brook Farmer estava mergulhada em um con
tnuo bom tempo.
A colnia tinha uma base familiar e a maior parte das relaes pessoais j tinha sido es
lecida anteriormente. Parece que houve uma certa dose de amor livre, como depois
viria a ser chamado, mas no tanto quanto seus crticos hostis imaginaram. Os probl
emas sexuais aparentemente nunca tiveram um papel de muito destaque. Os membros
tambm modificaram os hbitos dos vegetarianos. Verdadeiros bostonianos, eles se rec
usaram deixar de colocar um pedao de carne de porco para cozinhar junto com o fei
jo, e matavam e comiam os coelhos que invadiam suas colheitas. Os homens usavam u
m pequeno bon, uma espcie de blusa, e calas compridas, e as mulheres saias curtas e
pantalonas.
Comparado com Nova Harmonia de Owen, Brook Farm parece ter se livrado dos excntricos
e dos chatos mais ultrajantes. OBlithedale Romance de Hawthorne d uma falsa impre
sso. bvio que ele ficou enfurecido diante do feminismo das principais scias, especi
almente Margaret Fuller, sua peculiar Zenobia. Igualdade sexual provavelmente pert
urbava mais os intelectuais masculinos, visitantes, novios, ou postulantes, do qu
e cozinhar nosabbath perturbava as mulheres.
At mesmo na escola, a colnia sempre operou com uma leve perda, resolvida por contribui
e pela compra de partes adicionais pelos seus scios e seus amigos. Houve um exce
sso comercivel de produtos da fazenda, mas no era o bastante, e as fbricas projetadas
realmente nunca saiam do cho.
Em 1844 Ripley converteu-se aofourierismo; e depois de prolongada discusso, a colnia s
e transformou em umfalanstrio fourierista com o rgido e burocratizado departamenta
lismo planejado por Fourier para uma colnia de duas mil pessoas, mas totalmente i
nadequado para os Brook Farmers de setenta. A sociedade se abriu para qualquer u
m que se considerassefourierista. A sociedade original lentamente recusou o impo
rtnio dos chatos e vadios que, felizmente, raramente ficavam muito tempo. Mas dur
ante dois anos a maior parte do excedente do trabalho e do tempo foi dedicado co
nstruo do edifcio central de um falanstrio planejado com dormitrios e apartamentos, a
uditrios, salas de aula, local de reunio, espao de recreao comunitria e refeitrios. Em
2 de maro de 1846, foi completado, e a colnia juntamente com todos seus amigos se
reuniram em uma celebrao. Naquela noite o edifcio foi completamente destrudo por um
incndio.
Brook Farm nunca se recuperou. O desastre parece ter destrudo tanto a moral dos colon
os como os arruinaram financeiramente. Brook Farm lutou por algum tempo, mas o em
preendimento enfraqueceu, chamejou, diminuiu, e expirou, a terra e os edifcios for
am vendidos em leilo no dia 13 de abril de 1849, contemporaneamente com a consoli
dao do poder de Louis Napoleon na Frana e a agonia das ltimas brasas da Revoluo de 184
8 na Europa.
Emerson transpirava desdm e Hawthorne amargura, mas registros indicam que quase todos
os Brook Farmers que participaram da colnia tinham uma viso diferente. Eles forma
ram uma associao para ex-membros e compraram um acampamento ao p do Monte Hurricane
em Adirondacks, que deram o nome de Summer Brook Farm, e a cada ano eles se enc
ontravam para viver novamente a vida de Brook Farm. Sessenta anos depois os velh
os scios sobreviventes ainda freqentavam o acampamento.
18. Fourierismo
Franois Marie Charles Fourier nasceu em 1772 e morreu em 1837. Sua famlia perdera sua
modesta riqueza na Revoluo Francesa e a vida de Franois consequentemente foi condic
ionada por um senso de injustia e de m distribuio da riqueza. Atrs jazia o feudalismo
que em seus melhores dias tinham sido funcionais, enquanto ordenando a sociedad
e, mas que se desgastaria na desmoralizao e na desorganizao no comeo da era industria
l, o perodo da primitiva acumulao de capital, segundo Marx.
Fourier, mais do que qualquer outro socialista utpico, tentou resolver todos os probl
emas da sociedade pela construo de um elaborado e detalhado sistema no qual toda p
essoa, atividade e coisa teria seu lugar, e toda contingncia seria antecipada. El
e acreditava que o desenvolvimento completamente livre do homem e a indulgncia de
senfreada de todos os desejos e apetites necessariamente produziria um homem bom
e uma boa sociedade, e que o vcio e o mal eram resultados de restries liberdade pa
ra uma completa auto-satisfao a forma mais extrema de otimismo social. O homem era
naturalmente bom porque ele trazia dentro de si uma harmonia moral fundamental,
o reflexo da harmonia no universo. Seu homem natural era consideravelmente mais n
atural do que o homem concebido por Jean Jacques Rousseau, mas ele props libert-lo
por meio da mais rgida organizao de sociedade. Naturalmente, a suposio era que uma v
ez montada uma comunidade modelo desta sociedade, que apenas Fourier sabia como
construir, ela proveria uma atratividade to imensa que seria adotada universalmen
te dentro de um tempo bem curto.
A sociedade seria dividida em falanges, ou como normalmente elas foram chamadas na A
mrica,falanstrios oufalanxes, com edifcio comum, conjuntos residenciais de mil e se
iscentos a mil e oitocentos indivduos, aproximadamente trs milhas quadradas de ter
ra agrcola, divididos em campos, pomares, e jardins Fourier era mesmo apaixonado
por frutas e flores. A populao seria dividida em grupos de pelo menos sete pessoas
, com dois grupos em cada ala, dois representando os fluxos ascendentes e descen
dentes de gosto e habilidade, e trs no centro para o equilbrio. Pelo menos cinco g
rupos formariam sries, novamente com centro e alas. Haveria sries para toda ocupao c
oncebvel, e os scios poderiam se movimentar livremente de um lado para outro. Cada
pessoa poderia trabalhar no mais que uma hora ou duas entre quaisquer sries, de f
orma que tudo acharia cumprimento completo. O trabalho desagradvel como remoo de li
xo seria executado por batalhes jnior de crianas que seriam encorajadas a achar tar
efas como limpar privadas uma grande diverso. Cada famlia teria um apartamento sep
arado no falanstrio que tambm teria um centro e duas alas, e haveria teatros, sala
s de concertos, bibliotecas, refeitrios comunitrios, cmaras de deliberao, escolas, be
rrios, armazns, e seminrios, e na praa central seriam reunidos grupos a cada manh e ma
rchariam ao seu trabalho tocando msica e tremulando bandeiras. As falanges seriam
financiadas em parte pela venda de aes, mas nem todo scio precisa ser um acionista
, nem todo acionista um scio. O trabalho seria pago e o trabalhador teria encargo
s com aluguel e outras despesas. Ao trmino do ano seriam divididos os lucros da f
alange, cinco dcimos para o trabalho, quatro dcimos para o capital e trs dcimos para
habilidades. Sete oitavos dos scios seriam fazendeiros e mecnicos, e os profissio
nais restantes, artistas, cientistas, e capitalistas. No haveria nenhum desconten
te ou discriminado, uma vez que todos os papis seriam rotatrios e intercambiaveis.
Haveria umachancelaria do tribunal do amor, ecorporaes do amor, e um sistema extr
aordinrio de poligamia organizada. No apenas sexo, mas comida e todos os prazeres
sensuais, tudo seria organizado para dar o mximo prazer.
Fourier no apenas se limitou a reorganizar a sociedade. Sua utopia achou seu lugar em
uma fantstica cosmologia. As estrelas e planetas so animais como ns mesmos, pensav
a. Eles nascem, acasalam, envelhecem, e morrem como ns. A vida comum de um planet
a oitenta mil anos, metade gasto ascendendo vibraes e metade descendo; h trinta e d
ois perodos da terra dos quais estamos agora no quinto. Quando alcanarmos o oitavo
, a Grande Harmonia ser consumada, e os homens cultivaro rabos, com olhos na ponta
. Os corpos mortos sero transformados em perfume interestelar. Surgiro seis novas
luas. O mar se transformar em limonada, todos os animais ferozes e insetos nocivo
s sero transformados em doces e gentis anti-lees, anti-ratos, e anti-bichos. Ento a
s falanges, alcanando o nmero exato de 2.985.984, se esparramar por sobre toda a te
rra tornando-se uma grandecomunidade de amor, governada por umomniarca, trsaugust
os, dozecesarinas, quarenta e oitoimperatrizes, cento e quarenta e quatrocalifas
e quinhentos e setenta e seissultes.
Nos anos posteriores Fourier publicou anncios nos jornais, dizendo que estaria diaria
mente em casa a uma determinada hora do dia para se encontrar com os interessado
s, qualquer capitalista que quisesse investir no futuro acharia uma falange, e p
ossivelmente se tornaria um sulto ou um califa. Ningum veio, mas com o tempo comeou
a se formar um pequeno grupo conduzido por Victor Considerant, que em 1832 lanou
um movimento fourierista com o jornal,L Phalanster, que circulou sob vrios nomes
at que foi suprimido por Louis Napoleon em 1850. Uma comunidade foi estabelecida
em 1832 perto de Paris, mas falhou quase que imediatamente. Depois no houve nenhu
ma tentativa de qualquer importncia na Frana. Fourier era patentemente louco, mas
Considerant no era. Os fourieristas tiveram o cuidado de no enfatizar os mares de
limonada e os homens com olho no rabo. Em vez disso eles contrastaram a combinao d
e planejamento detalhado, vidas de alegria, maravilhas, e prazer sensual, promet
ido pelas falanges de Fourier, com as utopias frgidas, trabalhadoras, puritanas,
de seus competidores.
Associado com Considerand estava o jornalista americano Arthur Brisbane que voltava
aos Estados Unidos dando incio a uma ativa propaganda por conferncias e artigos. E
m 1848 ele publicouThe Social Destiny ofMan, uma exposio simples e lgica das idias p
raticveis concebidas por Fourier, purgando qualquer coisa que pudesse indicar a l
oucura de Fourier. O livro chamou a ateno de Horace Greeley, editor deThe New York
er; e em 1842, quando Greeley tornou-se o editor deThe New York Tribune, ele deu
a Brisbane uma coluna regular no jornal e, alm disso, uma considervel publicidade
para o que Brisbane tinha batizado deassociacionismo em notcias e editoriais. Gr
eeley assumiu uma plataforma de conferncias e finalmente empenhou suas posses asso
ciao. Brisbane lanou uma revista,The Phalanx, que fora absorvida peloThe Harbinger
quando Brook Farm se converteu ao fourierismo.
A converso dos Brook Farmers e de seus scios ao fourierismo deu ao movimento um prest
o e uma respeitabilidade intelectual que nunca tiveram na Frana, onde qualquer ve
rso expurgada de suas doutrinas seria comparada com o trabalho original de seu me
stre. George Ripley, Charles A. Dana, John S. Dwight, William Henry Channing, T.
W. Higginson, James Russell Lowell, John Greenleaf Whittier, Margaret Fuller, Wi
lliam Cullen Bryant, na realidade, quase todos os intelectuais da Nova Inglaterr
a etranscendentalistas exceto Emerson e Thoreau, escreveram paraThe Harbinger. O
utros documentos fourieristas floresceram nos prximos anos.
O movimento tambm juntou muitos abolicionistas e, pelo menos durante algum tempo, qua
se todos os socialistas primitivos. Sua indstria cooperativa era uma resposta esc
ravido do bem mvel e a humilhao crescente do proletariado pelo sistema industrial. O
advento do fourierismo na Amrica aconteceu coincidindo com um longo perodo de dep
resso econmica e com tenses sociais crescentes que culminariam na Guerra Civil. O f
ourierismo tornou-se uma moda que os lderes acharam difcil controlar. Em vrios loca
is entre pelo menos quarenta e cinqenta falanstrios foram iniciados nos anos segui
ntes. Destes apenas seis sobreviveram por mais de um ano, e apenas trs por mais d
e dois anos.
Freqentemente multides de cem ou mais colonos marchavam com bandeiras tremulando ao so
m de msica nas florestas, ou ocupavam fazendas abandonadas pelas quais pagavam al
tos preos. O primeiro dia comeava com um piquenique, e terminava em dana, bebida, e
o cumprimento dosparcours de Fourier, o consentimento de todos os prazeres sens
uais em felicidade perfeita. Em poucos dias, quando as provises comeavam a acabar,
a habilidade para o necessrio reabastecimento era pequena, e a disposio mais peque
na ainda. Logo a competio pelo pouco ainda disponvel parecia pior do que no mundo q
ue tinham deixado, e eles comeavam a disputar entre si e a acusar uns aos outros
de roubo. Algumas colnias duraram apenas algumas semanas, deixando seus principai
s membros seriamente endividados. A tendncia por comprar tanta terra e to pesadame
nte hipotecada quanto possvel foi quase que universal, e os compradores raramente
conseguiam distinguir sinais de malria e areia estril de terras agrcolas. O compro
misso para a Nova Harmonia de Owen tinha sido bastante fraco. Mas nas abortivas
falanges era praticamente inexistente. Qualquer um que se excitasse lendo a impr
ensa fourierista era admitido.
Quase todas as colnias comearam com uma completa poltica de portas abertas. No houve
sequer a tentativa de garantir o equilbrio das ocupaes, com as ferramentas, e faze
ndeiros necessrios a qualquer comunidade funcional, mas asfalanges, como Nova Har
monia, atraram uma classe especfica, uma casta dedclasss que passaram a existir junt
o com o prprio capitalismo os bomios. Foram chamados de bomios as pessoas que desfr
utavam os luxos do rico sem dar a mnima para as necessidades do pobre. O colapso
das velhas funes da sociedade tinha produzido um grande nmero de super-educados, su
b-educados, tcnicos, profissionais, todos desempregados que no conseguiram encontr
ar vaga na sociedade que imaginaram poder participar, o que os tornara crescente
mente alienados. Eles no puderam partilhar de qualquer satisfao na sociedade domina
nte, e esperavam encontrar um objetivo na vida e um papel significante em uma so
ciedade alternativa. Mas as demandas de tal comunidade eram at maiores que essas
da sociedade dominante, assim eles foram, com poucas excees, condenados a uma dece
po e a uma desmoralizao ainda maior.
A mais bem sucedida colnia fourierista foi aNorth American Phalanx, fundada em 1843 p
erto de Red Bank, New Jersey. Os fundadores foram um grupo de fourieristas de Al
bany, New York, que discutiram a possibilidade de organizar a comunidade durante
algum tempo, tornando-se bem familiarizados com o assunto. Depois de uma consid
ervel anlise, eles selecionaram um local de cerca de setecentos acres com pasto e
bosque, mas na maior parte cultivada, e com duas casas de fazenda. Em agosto de
1843 eles convocaram uma conveno, adotaram uma constituio, e levantaram um capital i
nicial de oito mil dlares. Embora a constituio fosse em grande parte um manifesto i
deolgico, tambm havia uma quantia considervel de organizao prtica.
Durante o final do ano, as primeiras famlias ocuparam as casas da fazenda e comearam a
construir um grande edifcio dormitrio para o corpo principal que viria na primave
ra; em adio eles continuaram fazendo tudo o que era necessrio, arando e semeando. D
urante o ano de 1844 cerca de noventa pessoas estavam no assentamento, plantando
e eventualmente fazendo colheitas, construindo oficinas e fbricas, e desenvolven
do os detalhes da organizao prtica. A sociedade foi limitada quilo que o projeto pod
ia suportar, os candidatos eram cuidadosamente escolhidos e passavam por um perod
o probatrio de um ano, precedido por um perodo de trinta a sessenta dias de visita
.North American era algo mais do que uma comuna de portas abertas.
Com o tempo, o tipo original de organizao e o complicado sistema de pagamento de salr
s e distribuio de lucros resultou mais em uma economia comunal do que no puro four
ierismo. Demorou algum tempo para desenvolver os detalhes da organizao. Um membro
disse que as reunies dos primeiros cinco anos eram em grande parte em cima da legi
slao. Ao contrrio de qualquer outra falange, eles dispunham de tempo. Os membros est
avam mais unidos. Eles tinham dinheiro. Eles no estavam ameaados de falncia. No pri
ncpio, a propriedade valia vinte e oito mil dlares, com aproximadamente dez mil dla
res em dvida descoberta. Em novembro de 1852 a propriedade estava estimada em oit
enta mil dlares, com uma dvida descoberta de cerca de dezoito mil dlares e aproxima
damente cento e sete mil dlares creditados no nome de cada pessoa, homem, mulher,
criana, ou cento e doze scios. Para chegar at esse ponto eles tinham trabalhado du
ro. Nunca houve tempo para os constantes piqueniques, concertos, e conferncias ca
ractersticos de Brook Farm. A vida emNorth American permaneceu espartana at o fim.
Em parte isso ocorreu devido influncia doshakerismo em alguns de seus lderes.
Em setembro de 1854 um incndio destruiu a fbrica de farinha e eventualmente destruiu o
s armazns e oficinas. Havia apenas dois mil dlares em seguro e os scios calcularam
a perda total em mais de vinte mil dlares. Foi chamada uma reunio dos acionistas p
ara levantar novos fundos. Em vez de votarem para dissolver a colnia. A maioria d
os acionistas nesta poca havia se tornado membros ausentes. Algumas pessoas apare
ceram apenas no ano seguinte, quando a propriedade j tinha sido vendida.
Se no fosse pelo fogo, aNorth American poderia continuar existindo indefinidamente. O
atrito dos anos tinha deixado uma comunidade de pessoas que estavam contentes c
om uma utopia de baixo nvel e de trabalho duro, levando a vida, e quase nenhuma s
atisfao intelectual ou esttica. Scios no eram admitidos a menos que estivessem prepar
ados para fazer trabalho ordinrio ou agrcola. Pessoas com habilidades profissionai
s desanimaram. A colnia conseguiu uma impressora de boa qualidade e pretendeu est
abelecer um jornal ali mesmo, mas nunca conseguiram atrair mecnicos altamente qua
lificados, sempre que precisavam tinham que contrata-los. A despeito disso, a ma
ioria dos colonos, mais especialmente as crianas, se lembram dos anos doNorth Ame
rican com prazer. Muitos dos scios migraram para a colnia Victor Considerant no Te
xas, que na realidade nunca comeou, e outros se espalharam por uma variedade de c
omunidades, todas elas de vida curta.
A falange de Wisconsin foi quase to prspera quanto aNorth American. Os membros origina
is, a maioria residente no Municpio de Racine, Wisconsin, eram homens excepcional
mente estveis e prticos sob a forte liderana de Warren Chase, que parecem ter sido
como muitos outros fourieristas, incluindo muitos em Brook Farm umswedenborgiano
, e depois umespiritualista. A comunidade comeou sem dvidas, em dez lotes de terra
perto de Green Bay. Os primeiros vinte pioneiros passaram o vero plantando vinte
acres de colheitas para a primavera e cem acres de trigo de inverno, ergueram t
rs edifcios com residncias para oitenta pessoas, montaram uma serraria, celeiros, e
outras edificaes. Dentro de um ano eles tinham juntado trs edifcios em um falanstrio
de duzentos ps de comprimento, construiram um prdio escolar de alvenaria, fbrica d
e mate, represa, uma oficina grande, lavanderia, galinheiro, e um depsito de ferr
amentas, eles avaliaram sua propriedade no valor de quase vinte e oito mil dlares
. No ano seguinte tiveram oitocentos acres em colheitas, mas admitiram apenas um
novo scio.
A falange Wisconsin teve um sucesso atrs do outro, muito provavelmente devido solidar
iedade e ao compromisso dos scios e a excluso dos excntricos, chatos, e vadios para
cada novo membro havia uma centena de candidatos. Tudo era feito sistematicamen
te. A colnia como um todo foi incorporada e o falanstrio foi incorporado como uma
cidade. Embora parecessem imunes a brigas e partidarismos, em dezembro de 1849,
na plenitude de seu sucesso, os scios votaram pela dissoluo, a propriedade foi vend
ida, principalmente para os scios, e dividida em pequenas aldeias, sendo distribud
os os lucros da venda, que foram considerveis. John Humphrey Noyes resumindo a br
eve histria da falange de Wisconsin disse: Em geral, o veredicto do juiz neste cas
o deve ter sido Morta, no devido a algum desastre comum nas associaes, como pobreza,
dissenso, falta de sabedoria, moralidade, ou religio, mas por deliberado suicdio,
por razes no completamente descobertas. O comunalismo e as idias de Fourier parecem t
er sido apenas uma tcnica, perfeitamente executvel, por qualquer grupo de homens p
rticos que juntamente com suas famlias desbravem quatro milhas quadradas de terra
agrcola de boa qualidade numa fronteira, trabalhem essa terra, e a vendam com luc
ro.
19. Etienne Cabet
tienne Cabet nasceu em 1788, um ano antes da queda da Bastilha. Durante os primeiros
quarenta anos de sua vida ele foi um tpico jacobino radical da gerao ps-revolucionria
, intocado pela desiluso do velho homem cuja infncia e mocidade foram vividos sob
oTerror, oDiretrio, e oImprio Napolenico. Em 1820 em Dijon, passando por cima da le
i tornou-se diretor de uma organizao revolucionria conspiratria francesa, a Carbonar
i. Na Revoluo de 1830 ele era membro do Comit de Insurreio. Louis Philippe designou-o
como Advogado Geral de Crsega, mas foi demitido por seus ataques ao governo em s
eu livroHistoire de Ia rvolution de 1830, e em seu jornalL Populaire. Ele retornou
a Dijon e foi eleito deputado, quando foi acusado delse-majest sendo condenado a
dois anos de priso e cinco anos de exlio. Ele foi para Bruxelas, foi expulso, e em
igrou para a Inglaterra onde se tornou discpulo de Robert Owen.
Na anistia de 1839, Cabet volta Frana e no ano seguinte publica uma histria da Revol
rancesa, eVoyage en Icarie, uma semi-fico que descreve uma sociedade comunista, co
nsiderada por ele como uma verso moderna daUtopia de Thomas More, aperfeioada pela
s teorias econmicas de Robert Owen. No h nada particularmente original ou excitante
nos planos de Cabet em torno de uma nova sociedade, mas da mesma forma que naUt
opia de More,Voyage en Icarie dispara uma crtica devastadora ordem social contemp
ornea que provavelmente representava, para Cabet, a parte mais importante. Seu su
cesso deve t-lo pasmado. Tornou-se um best-seller, lido ou pelo menos comentado p
or quase que todos os radicais trabalhadores e intelectuais. Durante os prximos s
ete anos com oL Populaire e o novo jornal,LAlmanach Icarienne, ele constituiu uma
gama de leitores que, segundo ele, chegava a meio milho. No princpio, como Edward
Bellamy, autor deLooking Backward no final do sculo, no lhe ocorreu que as pessoas
desejariam pr suas idias utpicas em prtica, mas o grande sucesso de seu movimento f
inalmente o persuadiu. Seus seguidores pediram que ele os conduzisse em direo comu
nidade do futuro, e ele j havia comeado algumas experincias de algunsIcrios na Frana
que foram mal concebidos ou que abortaram.
Em 1847 Cabet emitiu um manifesto,Rumo ao Icrio. A Frana estava carregada, estropiad
r um governo desptico, e nunca permitiria o estabelecimento de comunidades modern
as, que logo iriam, pelo seu exemplo, revolucionar a sociedade. Na Amrica seria p
ossvel construir uma colnia comunista de dez ou vinte mil pessoas na fronteira, e
em alguns anos haveriam milhes de adeptos. A resposta foi tremenda. Ele foi cober
to de presentes, penhores, e recrutas.
Cabet no havia escolhido um local e nem mesmo desenhado um plano definido para uma ba
se de acordo, ele deve ter ficado um pouco amedrontado, e foi para Londres para
consultar Robert Owen. Naquela poca Owen estava entusiasmado com o Texas, que aca
bava se ser anexado Unio e estava ansioso por colonos. Pouco tempo depois, um cor
retor de terras em Londres persuadiu Cabet de adquirir um milho de acres em Red R
iver, facilmente acessvel atravs de barco.
Em 3 de fevereiro de 1848, um grupo de observao viajou para o Texas. Em New Orleans el
es descobriram que haviam comprado apenas cem mil acres, no um milho, de selva, a
duzentos e cinqenta milhas do rio, loteados como um tabuleiro de dama, com os qua
drados alternativos ainda em posse do estado; e pelos termos do contrato, eles e
ram obrigados a construir uma casa de troncos em cada uma das sees antes de Julho.
Alm disso, Red River no era navegvel alm de Shreveport, Louisiana, onde foi bloquea
do por um imenso e permanente dique.
Destemidos, sessenta e nove franceses entusiasmados, sem qualquer experincia de vida
na selva, juntaram a maior parte de seus bens e partiram por terra em uma dilignc
ia puxada por bois. Eles no sabiam nem mesmo manejar a diligncia e os bois. A dili
gncia quebrou e acabaram presos em um pntano. As pessoas comearam a pegar malria. A
comida comeou a faltar, at que finalmente chegaram ao local da Icria, onde encontra
ram os corretores da Peters Land Company, que lhes informou que qualquer terra q
ue no fosse ocupada por uma cabana habitada em cada meia milha quadrada reverteri
a para a companhia que ficaria satisfeita em revend-la a um dlar por acre. No havia
qualquer possibilidade de cumprir o contrato, mas os sessenta e nove pioneiros
escreveram uma carta desesperada para Cabet e se fixaram para trabalhar. Embora
muitos deles fossem mecnicos qualificados, quase nenhum era fazendeiro e nem mesm
o, curiosamente, construtor. Eles no sabiam arar a terra, e as trinta e duas caba
nas que conseguiram construir no passavam de choupanas. Cada vez mais pessoas fic
aram doentes, provavelmente com malria. O mdico do grupo dizia que era febre amare
la, mas todos seus diagnsticos apontavam para doenas fatais, e em pouco tempo fico
u provado que ele era um demente. A maioria dos membros adoeceu a gua no era potvel
, mas poucos morreram. Pela primavera, chegaram mais dez colonos, um nmero bem di
stante dos quinhentos que Cabet havia prometido.
Enquanto isso, voltando Frana, a Revoluo de 1848 derrubara Louis Philippe, e nos pr
meses lderes revolucionrios como o poeta Lamartine, Cabet, seu amigo Louis Blanc,
e outros da esquerda acabaram desacreditados, em parte pelos seus prprios erros,
mas muito mais pela oposio organizada da direita e dos bonapartistas. Em 15 de de
zembro, Cabet viajou para a Amrica com quase quinhentos novos colonos, ao chegar
encontrou os remanescentes do estabelecimento pioneiro completamente falidos em
New Orleans. Cabet desejou retornar ao Texas, mas os remanescentes do grupo pion
eiro se rebelaram. Passaram todo inverno envolvidos em um amargo conflito, e eve
ntualmente quase duzentos, a maioria membros do grupo que tinha vindo com Cabet,
retornaram Frana, enquanto que os demais encontraram emprego temporrio em New Orl
eans enquanto Cabet comprava um novo local. Na primavera ele comprou todas as pr
opriedades disponveis da cidade de Nauvoo no Illinois em virtude dos Mormons tere
m recentemente migrado para Utah. Atravs de um sinal e de uma grande hipoteca ele
adquiriu uma variedade de fbricas e lojas, uma destilaria, um grande conjunto ha
bitacional, numerosas casas de famlia, as runas de um templo de sacrifcios rituais,
e mil e quinhentos acres de terra. Duzentos e oitenta fiis icarianos subiram o r
io com Cabet para seu novo lar. Perseguidos pelo destino que os caava, vinte dele
s morreram de clera no caminho.
Nauvoo parece ter sido ideal. Como Owen emNova Harmonia, Cabet assumiu uma aldeia co
mpletamente equipada, ou bem equipada, uma pequena cidade que a Igreja Mormom ti
nha administrado, com sucesso, at que se tornasse motivo de perseguio, mas a prospe
ridade foi tal que despertou inveja de toda vizinhana. Durante algum tempo, osica
rianos pareciam tambm prosperar. Cabet como membro experimentado testado, se no pe
lo fogo, pelo menos pela lama, mosquitos, doena, e fome. A maioria das pessoas er
a composta por artesos experientes, e em pouco tempo as fbricas e oficinas voltara
m a operar. Por incrvel que parea, havia muito poucos fazendeiros, boa parte dos m
il e quinhentos acres permaneceram incultos. Durante o ano, novas levas vindas d
a Frana dobraram o tamanho da colnia. Mas o desequilbrio entre artesos e fazendeiros
aumentou.
Com toda a imensa propaganda que Cabet espalhou pela Frana, aparentemente ele nunca f
ez qualquer esforo para recrutar tipos especficos de trabalhadores para satisfazer
as necessidades da colnia. Com mil e quinhentos acres de uma das melhores terras
do Vale do Mississipi, aIcria Nauvoo no conseguiu, como colnias desequilibradas se
melhantes haviam feito anteriormente, adquirir trabalhadores rurais. Em vez diss
o, eles compravam a maior parte de seu alimento no mercado. O trabalho nas ofici
nas continuava indiferente ao crescente dficit, que era coberto por contribuies em
dinheiro que a Senhora Cabet enviava da Frana. No parece ter ocorrido a Cabet que
havia qualquer coisa errada com isso. Suas cartas e relatrios daquele tempo so uni
formemente otimistas, na realidade, eufricos.
Como sempre, os colonos inauguraram uma escola progressiva, com instruo ministrada tan
to em francs como em ingls para suas crianas, com classes de ingls para adultos. Ele
s imprimiram um jornal e vrios panfletos. Montaram uma orquestra, uma banda, uma
companhia de teatro, conferncias para residentes e visitantes, e grupos de discus
so e estudo. Cabet, porm, no estava contente. Ele ainda esperava fundar uma cidade
utpica, no uma aldeia, na qual as habitaes seriam palcios, e o trabalho das pessoas u
m mero passatempo, e onde todos vivessem sonhos agradveis.
Em 1852 os colonos que se separaram dele em New Orleans o processaram por desfalque
e ele retornou para se defender. Os tribunais franceses o absolveram e em seu re
torno foi recebido com um banquete de boas vindas em New York, uma viagem triunf
ante pelo pas, e outra celebrao emNauvoo. Nessa poca, a colnia teve um modesto sucess
o. At mesmo o problema da agricultura estava a caminho de ser resolvido, o dficit
estava continuamente recuando. Para Cabet esse era apenas o comeo. Ele foi at lowa
e com uma hipoteca comprou trs mil acres de terra, o lugar da cidade de seus son
hos, o Jardim do den comunista.
O governo da colnia tinha sido vagamente concebido no aspecto econmico. Na Frana Cabe
tinha sido aceito como ditador por dez anos, este arranjo foi renovado em New Or
leans e novamente emNauvoo. Mas em 1850, convencido do sucesso da colnia e de sua
prontido para um puro governo comunista, Cabet instalou sua ditadura. Em 1850 ad
otou uma constituio com uma junta de seis governadores, e uma variedade de comits a
dministrativos para cuidar dos detalhes do funcionamento da vida comunitria. Cabe
t foi eleito presidente ano aps ano at 1855. Em dezembro ele props que a constituio f
osse reescrita provendo a eleio de um presidente com poderes ditatoriais para esco
lher os membros do conselho de administrao e de todos os comits.
A constituio previa uma reviso anual em maro, assim a comunidade se rebelou e, na el
fevereiro de 1856, J. B. Gerard foi eleito presidente. Isso resultou em um conf
lito to trave que Gerard renunciou e Cabet foi reeleito sob a velha constituio por
mais um ano. Durante seis meses a maioria dos diretores o apoiou, mas a maioria
da assemblia geral de toda comunidade se ops a ele. A principal razo desta oposio par
ece ter sido uma crescente excentricidade na pessoa de Cabet. Ele proibiu bebida
s alcolicas na comunidade e insistiu que toda produo da destilaria fosse vendida fo
ra. Ele props proibir completamente o uso de tabaco, passando em seguida a tentar
impor suas prprias noes de dieta e sua excntrica mas puritana moralidade sexual. A
verdade que Cabet estava se tornando um homem velho, adepto de esquemas visionrio
s sem nenhuma praticidade, rgido em suas tentativas para sua aplicao, e de temperam
ento desequilibrado um produto tpico de toda uma vida exaurida na orla do radical
ismo. Na eleio do vero ele perdeu sua maioria no conselho de administrao e a colnia de
sabou no caos.
Em nenhuma outra comunidade comunista temos registros de conflitos to violentos. No p
rincpio as faces pararam de falar umas com as outras, agrupando-se separadamente no
refeitrio, e engajando-se em atividades sociais separadas. O trabalho cessou nas
fbricas e nos campos. As crianas brigavam umas com as outras na escola, e logo os
scios estavam literalmente lutando nas ruas. Neste momento o conselho de adminis
trao anti-Cabet decidiu que aqueles que no trabalhassem no deveriam comer, e cortou
as raes dos grevistas em 13 de agosto. Cabet e a minoria responderam com uma petio a
o governo do estado para que revogasse a escritura da comunidade. A maioria reag
iu a esta atitude votando por unanimidade pela expulso de Cabet e de seus seguido
res, que boicotaram o encontro. Quatro semanas depois, Cabet e cento e setenta f
iis seguidores, muitos dos quais tinham estado desde o princpio com ele no Texas,
chegaram em St. Louis e, da mesma forma que haviam feito h muito tempo atrs em New
Orleans, passaram a trabalhar individualmente como mecnicos. Uma semana depois,
Cabet estava morto.
Em nenhum aspecto a morte de Cabet representou o fim dosicarianos. A maioria emNauvo
o reagiu com culpa e arrependimento. Com o passar do tempo, a memria de seus erro
s, mau humor e do amargo sectarismo dos seus ltimos anos foi enfraquecendo. Cabet
tornou-se uma espcie de heri cultuado, o fundador de uma nova civilizao, como Teseu
ou Rmulo nas pginas introdutrias de Plutarco, e citaes de seus pensamentos passaram
a ser lidos nos encontros, como Evangelhos e epstolas na Igreja.
O grupo de St. Louis se estabeleceu em trs grandes casas cooperativas e juntaram todo
s os seus recursos. Os scios enviaram suas crianas para escolas pblicas, mas organi
zaram classes para educao de adultos, especialmente de ingls, onde eram ainda defic
ientes. Eles separaram parte de uma grande livraria comunitria, e montaram uma gr
ande sala de estudo e de recreao. Aos finais de semana, durante a noite, eles cont
inuaram com seus entretenimentos musicais e teatrais, aos domingos eles se encon
travam para se instruir nos princpios de Jesus Cristo e tienne Cabet. Eles tambm cr
iaram seu prprio jornal, oRevue Icarienne. Fiis a seus princpios, eles se abstivera
m do consumo de toda espcie de bebidas alcolicas e tabaco.
O movimento na Frana reconheceu o grupo de St. Louis como a comunidade icariana ofici
al, recebendo assim uma renda fixa de contribuies e peridicos recrutamentos de novo
s membros vindos do estrangeiro. Os homens encontraram emprego e bons salrios e a
comunidade funcionava como uma comuna urbana bastante prspera, uma das primeiras
dessa espcie. Mas eles no estavam contentes.
Eles compraram uma fazenda, a propriedade em Cheltenham, um local que agora se situa
dentro dos limites da cidade de St. Louis, e retornaram terra. Muitos membros c
ontinuaram em seus empregos em St. Louis, mas seus salrios caram consideravelmente
. O local estava empestado todo o Vale do Mississipi parecia tomado pela malria n
aqueles dias; e as colnias comunistas sempre pareceram predestinados a achar os l
ocais mais infestados de malria. Ainda no havia fazendeiros suficientes, de forma
que a terra no conseguia nem mesmo alimentar a comunidade. No havia nenhuma oficin
a ou fbricas, apenas algumas cabanas de tronco e uma casa forte. Dentro de um ano
, a mesma faco que dividiraNauvoo se desenvolveu em Cheltenham. A maioria desejou
perpetuar a ditadura estabelecida por Cabet. A minoria insistiu na completa demo
cracia. Quarenta e dois dos democratas se retiraram, e a colnia no pode se recuper
ar de sua secesso, de forma que substituram a maioria dos artesos qualificados por
mo-de-obra assalariada. Em 1864 apenas oito homens, sete mulheres, e suas crianas
compunham a esquerda. O movimento francs desvaneceu-se e nenhum dinheiro ou recru
tas vieram mais da Frana. A hipoteca foi cancelada e tanto Icria como Cheltenham d
eixaram de existir.
Depois da secesso da minoria, a comunidade dos duzentos e cinqenta de Nauvoo declinou
rapidamente. Os lucros das fbricas, lojas, e destilaria acabaram, provavelmente p
or falta de trabalhadores qualificados, a maioria daqueles que foram para St. Lo
uis. Os Mormons, que ainda detinham uma considervel hipoteca ameaaram com execuo hip
otecria. A propriedade era simplesmente muito grande para que seus membros pudess
em oper-la. Eles decidiram migrar para o local em lowa onde Cabet tinha planejado
construir a palaciana Cidade de Utopia. Eles se instalaram em uma terra bruta,
longe de tudo, embaraados com uma hipoteca de dez por cento. Em 1863 apenas trint
a e cinco, doentes, enfraquecidos, e esfalfados comunistas pertenciam esquerda.
Eles foram salvos pela erupo da Guerra Civil. Os colonos inundaram lowa para salv-la
ra a Unio. A colnia encontrou um mercado pronto para seus produtos a preos bons, el
es venderam dois mil acres que no conseguiam cultivar por dez mil dlares. Durante
doze anos eles prosperaram, de tal forma que compraram de volta alguma terra. El
es construram casas decentes, plantaram pomares e vinhedos, e comearam a adotar um
a agricultura mais intensiva. Considerando que eles tiveram que aprender a prati
car a arte da agricultura, provavelmente o trabalho deles era duro demais para d
esperdiar tempo em disputas. Pelo menos, considerando sua histria passada, suas re
laes pessoais eram notavelmente uniformes.
Em 1876 havia setenta e cinco membros. Eles tinham uma dzia de habitaes familiares em
rs lados de um quarteiro, um grande edifcio central com uma cozinha comunitria e um
refeitrio, que tambm era utilizado para assemblias e recreao, uma padaria e uma lavan
deria, uma leiteria, estbulos, celeiros e um grande depsito de madeira, tudo em um
belo local nas escarpas do vale do Rio Nodaway; atrs dele haviam dois mil acres
frteis, setecentos cultivados com madeira, prados, e pastos. Possuam seiscentas ov
elhas, cento e quarenta bovinos, a maioria vacas leiteiras, cultivavam trigo, mi
lho, batatas, sorgo, legumes, e pequenas frutas, alm de vinhedos e pomares. Todas
as refeies eram tomadas em comum, e muitos servios como lavanderia eram executados
para a comunidade como um todo. Durante a noite depois do jantar havia danas, msi
ca, e recreao organizada ou espontnea, aos domingos havia um servio que inclua uma co
nferncia, ao mesmo tempo em que cantavam suas prprias canes, e faziam leituras sobre
a obra de tienne Cabet.
O desastre que se abateu sobre o movimento radical francs pelo Terror que se seguiu s
upresso da Comuna de Paris em 1871 trouxe novos recrutas e algumas mudanas, alguma
s bvias, algumas sutis mas profundas, na ideologia da comunidade. A prpria Frana nu
nca se recuperou da Comuna, assim, no surpreendente que seus efeitos fossem senti
dos to longe de Paris, no seio de uma pequena comunidade de radicais franceses no
meio das pradarias de lowa.
Com o passar dos anos, ocorreram mudanas na economia de produo da colnia. Com exce
s e outras amplas colheitas, o produto dos trabalhos individuais dentro das habi
taes familiares prevaleciam no suprimento de alimento, verduras, legumes e leite.
Similarmente os pequenos artesos funcionavam como operadores quase que independen
tes e geralmente vendiam seus produtos ou trabalhavam fora em jornadas de meio p
erodo. A situao no era muito diferente das granjas coletivas russas antes das purgaes
em massa de Stalin. Foi a gerao mais velha de revolucionrios que abriu o caminho co
m Cabet insistindo neste limitado empreendimento privado. Os jovens, especialmen
te os refugiados da Comuna de Paris, exigiram um completo comunismo de produo. Mui
tos deles eram discpulos de Proudhon, Bakunin, Weitling (a prpria colnia de Weitlin
g,Communia, tinha se estabelecido ao nordeste de lowa, no municpio de Clayton apr
oximadamente quinze milhas de Gutenberg), ou Marx, e os massacres e deportaes que
se seguiram supresso da Comuna empurraram todos para a esquerda. O comunismo tinh
a deixado de ser uma filosofia de vida generalizada, um sentimento ou uma atitud
e, tornando-se uma ideologia, ou at mesmo um nmero de sistemas mutuamente antagnico
s.
Os membros mais velhos tinham aprendido que ideologia no era suficiente e insistiam e
m manter os membros estritamente limitados. Os membros mais jovens mostraram que
a colnia era pobre e esfalfada, com uma sria carncia de pessoal, com apenas oitent
a pessoas, e exigiram que tantos membros fossem admitidos na medida que a colnia
pudesse suportar.
Durante os anos 1870 o conflito tornou-se irreconcilivel, at que finalmente o grupo do
s mais jovens foi at os tribunais pedindo a revogao da escritura, tecnicamente a co
lnia era registrada como uma cooperativa agrcola mas engajada em indstria. O tribun
al concedeu o pedido, e os rebeldes incorporaram a colnia sob uma nova escritura
em 1879, enquanto que aos membros mais antigos foram concedidos mil acres, vrias
casas e outros edifcios e nenhuma dvida. Os dbitos foram assumidos pelos rebeldes.
O grupo antigo, que ironicamente assumiu o nome deNovos Icarianos, foi modestame
nte bem sucedido. Os insurgentes aumentaram seu rol de membros, abriram novas in
dstrias, cultivaram mais terra com mtodos agrcolas melhorados, e mais que dobraram
sua sociedade. Pela primeira vez na longa vida das comunidades icarianas, foi pe
rmitido s mulheres votar e ocupar cargos. A colnia foi oficialmente declarada no-re
ligiosa.
A expanso econmica provocou uma dvida impagvel, e a expanso da sociedade resultou l
surgimento de novas faces, irreconciliveis. Antes do outono de 1881 a comunidade m
ais jovem estava se desintegrando e incapaz de satisfazer seus credores. Foram f
eitos esforos para se mudar para a Califrnia e negociar com a colnia Speranza em Cl
overdale, mas enquanto isso o prprio projeto de Cloverdale entrou em colapso, e a
propriedade acabou vendida para satisfazer os credores alguns deles pertenciam
aosNovos Icarianos.
O velho partido administrou sua nova comunidade como fizera no passado. Eles plantar
am pomares e vinhedos, trabalharam duro, se alimentavam de maneira simples, e se
vestiam pobremente eles usavam seus sapatos at o fim, e se divertiam com msica e
conferncias de seus membros, possuam uma biblioteca de mais de mil livros, todos e
m francs. Em 1883 eles tinham trinta e quatro scios. Seus filhos partiram. Eles en
velheceram. Um por um foram se afastando. Ao final do sculo uma grande proporo dos
membros remanescentes j passava dos oitenta anos de forma que j no eram mais capaze
s de operar a propriedade, venderam-na, saldaram todos os dbitos, e o dinheiro re
stante, bem considervel por sinal, foi dividido pr rata de acordo com o tempo de s
ervio. Cada scio ou scia adquiriu dinheiro suficiente para sustentar, ele ou ela, m
odestamente at o final de sua vida.
A Nova Icria pelo menos terminou numa mtua boa vontade e com solvncia financeira. A u
pia de Cabet tinha durado, de uma forma ou de outra, de 1848 at 1901, uma das mai
s longas vidas de todas as aventuras comunistas seculares. O mais notvel de tudo
foi ter durado tanto a despeito de suas incrveis dificuldades, sofrimento, e doena
, um sectarismo quase que contnuo, trabalho duro, muito desse trabalho desperdiado
por falta de experincia, financiamentos ingnuos e impraticveis, perda de dinheiro,
e acumulao de dvidas. A vida sempre foi pobre nas comunidadesicarianas. A vida da
Fazenda Brook foisibarita por comparao. Ao cabo, aquele punhado de sobreviventes a
inda era uma entusistica associao de comunistas, embora seja difcil dizer a qual ass
ociao pertenciam. As teorias de Cabet, eram impraticveis quando definidas. Quando no
eram definidas, eram vagas, sentimentais, como em sua posio sobre relaes sexuais, d
ireitos das mulheres, e o uso do tabaco, ou destrutivas e irrelevantes. Seu lder
carismtico foi expulso cedo da vida da colnia e ningum assumiu seu lugar. Todavia I
cria continuou, e a maioria de seus scios, muitos deles comunistas convictos, migr
aram para outras comunidades depois que Icria foi vendida.
20. Huteritas Novamente
Deixamos oshuteritas em 1770, quando foram convidados a se instalar na Ucrnia e na re
gio do Volga por Catarina, a Grande. Em 1763 o governo russo emitiu um manifesto
oferecendo terra de graa aos colonos estrangeiros como de fato aconteceu, uma das
terras mais frteis do mundo completa liberdade de religio, escolas prprias, instruo
em sua prpria lngua, iseno do servio militar, uma considervel iseno tributria, desde
no convertessem os russos de f ortodoxa. Vinte e trs mil alemes, principalmentepieti
stas ouanabatistas, responderam ao chamado. Muitos vieram nos anos seguintes. At
que o acordo foi quebrado durante a Segunda Guerra Mundial quando eles foram exi
lados na Sibria ou exterminados por Stalin. O Volga Alemo representava uma parcela d
iminuta mas significante da populao russa europia.
Foi na Romnia e na Transilvnia que os huteritas se encontraram, como pacifistas absolu
tos, a merc de tropas pilhando de ambos os lados. Eles apelaram ao chefe das foras
russas, Count Rumiantsev, que lhes ofereceu suas prprias terras perto de Kiev, s
ob condies mais favorveis que as do manifesto de Catarina. Eles chegaram no outono
de 1770, e antes do inverno j haviam estabelecido as bases essenciais da colnia. T
rouxeram consigo seus artesos; e em poucos anos sua aldeia, conhecida como Vishen
ky, tornou-se modelo, com uma fbrica txtil, cermica, uma loja de ferramentas e dist
ilaria. Durante o tempo que permaneceram no Imprio Austraco, sua cermica tornou-se
famosa, alguns exemplares ainda hoje podem ser encontrados nos museus da Europa
Central.
Em 1796 Rumiantsev morreu e seus filhos tentaram cancelar o velho acordo assinado co
m a comunidade. Os huteritas apelaram para o novo imperador, Paulo I, que apoiou
o acordo original, garantindo todos os privilgios concedidos aos menonitas que m
igraram aos milhares vindos da Prssia para a Rssia. Trinta e dois anos depois eles
se deslocaram de Vishenky para Radichev, numa distancia de oito milhas, para oc
upar terras cedidas pelo governo. Naquele tempo sua populao era composta por pouco
mais de duzentos adultos.
Logo os huteritas ampliaram seus empreendimentos industriais, passando a produzir li
nho fino e seda. Provavelmente foram os primeiros a lanar a seda com sucesso na Rs
sia. Naqueles anos, a vida da comunidade diferia muito pouco daquela que podemos
ver hoje nas comunidades huteritas dos Estados Unidos e Canad com a exceo de que h
avia mais indstrias. A terra foi dividida com dois acres e meio por famlia, apenas
o suficiente para manter seus membros. Havia um completo comunismo de consumo.
Eles almoavam e jantavam em um refeitrio comunitrio, homens e mulheres em mesas sep
aradas. As roupas que usavam eram distribudas em igualdade de condies. Apenas um mni
mo de posses pessoais era permitido. As crianas eram criadas em berrios. O dia comea
va e terminava com servios religiosos, e passavam quase todo o dia de domingo den
tro da capela.
Seu comunismo de produo, praticado desde o princpio, curiosamente, fez com que eles s
tornassem os pioneiros do sistema fabril. Produtos como potes, panelas eram fabr
icados por etapas numa srie de operaes separadas, cada qual executada por indivduos
diferentes, ou seja, uma linha de produo. Contudo, as pessoas se revezavam nas tar
efas, e at mesmo em sua ocupao, para evitar a monotonia. Os relatrios dos funcionrios
russos visitantes eram entusisticos, tanto quanto podiam ser. Ao redor dos estab
elecimentos huteritas haviam aldeias de camponeses russos, ineficientes, desorde
nadas, e imundas, virtualmente inalteradas desde os tempos neolticos.
Por volta de 1840, a terra no estava mais dando conta de suportar o aumento da popula
e em 1842 os huteritas foram forados pelo governo a aceitar as mesmas regras imp
ostas aos menonitas na Crimia, a concesso da terra enquanto fazendeiros individuai
s; e um esforo foi feito, tanto pelo governo como pela administrao das comunidades
menonitas, para quebrar seu modo comunista de vida. Alguns menonitas aceitaram,
mas depois de alguns anos, a maioria retornou aos velhos padres comunais, que se
tornaram mais uma vez prsperos. Embora, muitos de seus empreendimentos industriai
s de pequena escala tenham continuado, esses anos foram caracterizados por uma nf
ase maior na agricultura.
Em 1864 foi baixada uma lei colocando todas as escolas de todo imprio sob a superviso
do Estado, tornando o idioma russo exclusivo e compulsrio como meio de instruo. O g
overno tambm anunciou que o servio militar passaria a ser obrigatrio dentro de dez
anos. Os huteritas, por unanimidade, e a maioria dos menonitas, decidira emigrar
. Membros de ambos os grupos foram para os Estados Unidos, Canad, e Amrica do Sul
em busca de terra adequada e governos que lhes permitisse preservar seu modo de
vida. Na ltima hora, o governo russo, ansioso por reter aqueles valiosos cidados,
concedeu a maioria das condies originais de permanncia, mas apenas uma pequena parc
ela de huteritas, embora um nmero considervel de menonitas, ficou para trs. Aqueles
que persistiram na prtica comunista foram exterminados pelos bolcheviques durand
e a Guerra Civil e durante a Segunda Guerra Mundial.
O primeiro grupo de huteritas, cento e nove pessoas, chegou ao Nebraska em 1874, par
tindo em direo ao Vale do Rio James no sudoeste de Dakota do Sul. Nos prximos trs an
os essa mesma trilha foi percorrida pelos migrantes que chegaram depois deles. N
aquele tempo as terras disponveis no Territrio de Dakota eram escassas. As Guerras
ndias ainda eram constantes. A derrota de Custer em 1876 e a corrida do ouro em
Black Hill ocorreram ao mesmo tempo. Em 1872 havia apenas doze mil habitantes no
local que mais tarde receberia o nome de Dakota (Norte e Sul). Cada colnia que s
e estabelecia passava seu primeiro inverno em cabanas nas estepes, mas com a che
gada da primavera comeavam imediatamente a construir casas de pedra e celeiros, e
antes do segundo inverno chegar j estavam morando em casas decentes. Essas colnia
s ficavam em locais bem distantes. O mundo as ignorava e elas ignoravam o mundo.
Finalmente eles podiam voltar ortodoxia rgida, disciplina, e ao compromisso da v
ida comunal; devido a esse isolamento, eles ficaram necessariamente quase que co
mpletamente auto-suficientes. Eles teciam e produziam sua prpria roupa, faziam se
us prprios sapatos, criavam suas prprias ferragens e ferramentas, e criavam sua prp
ria maquinaria agrcola. Porm, tirando aqueles ofcios absolutamente necessrios, os hu
teritas se tornaram colnias puramente agrcolas na Amrica. Eles nunca voltariam aos
ofcios e empreendimentos industriais praticados durante seus primeiros cem anos.
O lder da primeira colnia, Michael Waldner, era ferreiro, ouSchmiedenleute, o Povo do
Ferreiro. O lder doDariusleute (ou o Povo de Darius) foi Darius Walther. O lder do
ltimo grupo que chegou foi Jacob Wipf, um professor, ouLehrerleute, o Povo do Pr
ofessor.
Por si prprias, as colnias floresceram. Por volta de 1915 havia mais de mil e setecent
os membros nas dezessete colnias, quinze em Dakota do Sul e duas em Montana. O cr
escimento era quase completamente natural. Eles praticamente no fizeram nenhum co
nvertido. Mas eles tinham, e ainda tem, uma das taxas de natalidade mais altas d
o que qualquer grupo na Amrica. Por volta de 1917 eles ainda estavam isolados. De
pois que Montana e Dakota se transformaram em estados, as colnias foram rodeadas
por grandes fazendas, e cidades prximas.
Os Estados Unidos entraram na guerra e as leis estabelecidas no fizeram qualquer conc
esso aos objetores de conscincia, nem mesmo para aquela parcela de membros de igre
jas pacifistas histricas, ou coisa que o valha, como foi o caso dos huteritas. O
governo tinha originalmente prometido aos colonos, na nsia de atra-los, que sempre
seriam isentos de servir ao exrcito. Newton D. Baker, Secretrio da Guerra, e auto
r do projeto de lei, aconselhou todos os homens jovens membros das igrejas pacif
istas histricas a se alistarem no exrcito, irem para os acampamentos militares, e
pedirem ao oficial comandante uma funo de no combatente. Como fcil imaginar, seguir
este conselho implicou em priso, tortura, perseguio, e violncia.
Os huteritas foram categricos recusando-se a lutar, alegando que no tinham nada a ver
com projetos de leis, servio militar, ou guerras. Alm do mais poucos deles falavam
qualquer coisa que no fosse em alemo. Eles foram presos, e na priso foram submetid
os a uma perseguio inexorvel. Dois rapazes huteritas morreram sob tortura de guarda
s de priso. Mais uma vez os huteritas foram forados a migrar. Os jovens no foram ap
enas presos como desertores, mas tambm sofreram a violncia da turba, o incndio prem
editado e o roubo de seu gado pelos fazendeiros vizinhos tornou-se mais e mais c
rescente. O estado de Dakota do Sul reafirmou sua incorporao, com o anncio objetivo
de exterminar absolutamente os huteritas de Dakota do Sul. Foram enviadas delegaes
ao governo canadense em Ottawa, e aos governos provincianos de Alberta e Manitob
a, tambm foram feitos arranjos com a Canadian Pacific Railway. O Estado concordou
em respeitar seu pacifismo, sua recusa em votar, ou ser funcionrio pblico. Na rea
lidade, o governo canadense estava tentando atrair os huteritas desde 1898. No o
utono de 1918 na medida em que os grupos chegavam iam se acomodando em seus novo
s territrios, osSchmiedenleute em Manitoba, osDarius eLehrer em Alberta. Dez anos
depois eles receberam de volta suas antigas terras de Dakota do Sul, estabelece
ndo novas colnias em Washington, Montana, Dakota do Norte, e Saskatchewan.
O governo canadense nunca provocara deliberadamente o sentimento anti-alemo em seus p
rprios cidados, como fizera a mquina de propaganda de Wilson, dirigida pelo intelec
tual liberal George Creel. A guerra terminou logo aps a chegada dos colonos no Ca
nad, e durante vrios anos eles foram mais do que bem vindos, e mais uma vez prospe
raram. Porm, sua alta taxa de natalidade continuou, e novas colnias estavam brotan
do continuamente em novas terras, que eles cultivavam com bem mais eficcia do que
seus vizinhos pagos. Eles pararam de produzir seus prprios tecidos, embora a maio
ria dos colonos ainda produzissem seus prprios sapatos, e toda sua roupa de malha
. O ferramenteiro largamente confinado s carroas e consertos de maquinaria. O velh
o arado de mo, foice, ancinho, so coisas do passado. Ao contrrio do Amish mais rgido
, os huteritas sempre se esforaram em adotar o que havia de mais recente em maqui
naria em suas fazendas. Na realidade, eles freqentemente eram muito criticados po
r supercapitalizar suas fazendas. At hoje eles ainda vivem dentro de padres severo
s e rgidos, sem gastar nenhum dinheiro em entretenimento ou utilidades domsticas,
com exceo de refrigeradores que eles normalmente adquirem da Colnia de Amana, quant
o a rdios, televisores, instrumentos musicais, e tudo o mais, inclusive a roupa q
ue deve ser simples, completamente proibido. Assim, suas fazendas so uniformement
e bem sucedidas, eles no gastam seu dinheiro em outra coisa que no seja na maquina
ria da fazenda.
Apenas nos anos recentes os huteritas permitiram a alguns poucos scios cuidadosamente
selecionados continuar sua educao alm do mnimo legal, embora haja um sentimento cre
scente agora de que eles deveriam produzir seus prprios mdicos e professores. No p
assado, um membro raramente se afastava da comunidade, obtinha uma educao de facul
dade, retornava, se reintegrava, e servia a comunidade como um profissional resi
dente. Considerando que eles no acreditam emcortes, eles ainda no pensam em produz
ir seus prprios advogados. Eles sempre treinaram suas prprias parteiras e enfermei
ras.
Embora os huteritas adotem freqentemente a poltica de comprar terras pouco atraentes p
ara seus vizinhos, eles acabam ganhando bastante dinheiro com isso, pois logo tr
ansformam a terra ao ponto de torn-la o que h de melhor na regio. Suas roupas so est
ranhas, embora de forma alguma to estranha como as roupas do Amish mais rgido. Ele
s falam entre si um dialeto alemo antigo, embora todos eles falem o ingls. Como os
quakers, eles nunca pechincham em cima dos preos. Eles compram quase todos os ben
s externos no atacado, e at mesmo a maquinaria mais pesada freqentemente comprada
simultaneamente para vrias colnias. Eles no dirigem automveis por prazer as mulheres
, incidentalmente, so proibidas de dirigi-los. Eles so um povo peculiar, e todo cont
ato com a sociedade paga conspira contra a prtica das virtudes apostlicas. Consequ
entemente eles so odiados e invejados. O preconceito canadense contra os huterita
s vem aumentando continuamente. Tal preconceito nunca atingiu o fantstico grau de
perseguio sofrida pelosdoukhobors, pelo simples fato dos huteritas sempre respond
erem oferecendo a outra face. Ao contrrio dosdoukhobors, eles no acreditam em conf
rontos nem em manifestaes no-violentas. Eles no incendeiam seus edifcios nem tiram su
as roupas desfilando nus pelas cidades, nem cercam as prises onde seus homens esto
presos, com multides cantando hinos e com mulheres nuas. O preconceito e a presso
canadense tem funcionado sob o disfarce da legalidade. Futricas abusivas e insi
nuaes maliciosas so muito comuns entre os fazendeiros competidores nos bares das ci
dades vizinhas. O mais surpreendente o preconceito que chega ao ponto de uma for
te recusa em ver qualquer coisa boa nos huteritas, um tipo de desprezo que perme
ia silenciosamente no meio de profissionais educados, incluindo professores nas
universidades canadenses, e inclusive estudantes de sociologia da religio.
Por outro lado, os pagos de Dakota parecem ter aprendido sua lio; embora os huteritas
ossam ser invejados, eles so bastante admirados. O fato brutal do assunto que, co
nforme profetizado por seu fundador, um cristianismo estritamente vivido inspira
dio e temor no mundo. O Estado Romano perseguiu os cristos primitivos porque eles r
ecusaram queimar incenso a Csar. O populacho em geral os odiou porque eles eram e
xclusivos, vestiam diferente, apoiavam uns aos outros economicamente, eram hones
tos e corretos em seus procedimentos, no assistiam aos combates de gladiadores no
circo, exceto como participantes forados.
Os huteritas sem dvida compem a sociedade comunista mais antiga do mundo ou na hist
excetuando as tribos pre-alfabetizadas que mais ou menos ainda vivem na condio de
comunismo primitivo. J faz quatrocentos e cinqenta anos desde que Jacob Hutter em 1
533 uniu as comunidades anabatistas desde a Sua, Bomia, Morvia, at o Tirol austraco, p
ersuadindo-os a adotar uma vida completamente comunal. Na idade dourada das fund
aes na Morvia, havia mais de vinte mil membros em mais de noventa aldeias. Hoje no
Canad e nos Estados Unidos, h mais de cento e cinqenta colnias, contudo o nmero de so
brenomes incrivelmente pequeno. Todos os huteritas existentes descendem das pouc
as famlias que sobreviveram sculos de migrao, perseguio, e desero.
Foi muitas vezes destacado que um dos principais fatores do fracasso da maioria das
comunas do sculo XIX, particularmente as seculares, foi a ausncia de critrios na ac
eitao de membros. As comunidades huteritas contemporneas so o produto final da mais
rigorosa seleo imaginvel. Eles sobreviveram tanto ao martrio quanto prosperidade, ta
nto migrao quanto aos ambientes polticos mais incongruentes, por onde passam o ambi
ente fsico permanece notavelmente uniforme, as terras negras ucranianas, a pradar
ia de grama alta, a bacia do Danbio. No princpio eles recrutavam os membros delibe
radamente de acordo com as habilidades necessrias, desde artesos at camponeses prspe
ros. Na Morvia, e durante algum tempo na Rssia, eles se fixaram em grandes proprie
dades senhoriais onde a auto-suficincia da economia de comunidades feudais tinha
sobrevivido, uma auto-suficincia que eles aperfeioaram. At nossos dias eles ainda t
iram proveito das lies aprendidas em sculos de modo senhorial de vida. Embora os cr
istos liberais modernos possam cham-los de fundamentalistas, a confisso de f huterit
a na realidade mais flexvel, menos rgida e, o que muito importante, mais capaz de
eterealizao do que o da maioria das seitas anabatistas do passado ou das seitas mi
lenaristas ou pentecostais das igrejas contemporneas. Na realidade, o chiliasmo e
o milenarismo se extinguiram.
Os huteritas no olham para si prprios como um remanescente colocado aparte para serem
salvos do mundo do mal na Segunda Vinda e no Julgamento Final. Eles simplesmente
se consideram cristos, vivendo um tipo de vida que por si s os destaca como segui
dores das palavras de Jesus e da vida apostlica conforme narrada nos Evangelhos e
em Atos. Tanto os Evangelhos como Atos e as palavras de Cristo, se lidos sem pr
econceito, so marcados por uma escatologia dramtica, pela expectativa da chegada i
minente do fogo e do reino, este ajuste semelhante ao efetuado pelas maiores e m
ais respeitveis seitas crists. O grupo que mais se assemelha [nesse aspecto] aos c
ristos apostlicos provavelmente so os Testemunhas de Jeov.
Mas diferentemente dos Testemunhas de Jeov ou dos muulmanos negros, os huteritas no s
ma sociedade trancada. Se a comunidade constri um muro suficientemente impenetrvel
em volta de si mesma, cedo ou tarde ele vir abaixo. Os huteritas so quase to abert
os aos pagos quanto os quakers. Eles aceitam silenciosamente suas crenas religiosa
s e o modo de vida que os diferencia do resto do mundo, e so felizes vivendo assi
m. Eles no usam cosmticos, nem vem televiso, mas quando os pagos fazem estas coisas i
sso no desperta neles nenhuma fria santa. Eles no apenas aceitam se relacionar com
o mundo, como tambm no aceitam que o mundo se relacione com eles. Isto muito impor
tante. Se eles tivessem sido combativos e envolvidos em grandes confrontos, enqu
anto minscula minoria dentro de um mundo freqente e amargamente antagnico, e na mel
hor das hipteses indiferente, eles teriam h muito tempo sido destrudos. A sociedade
huterita verdadeiramente um reino de paz.
A maioria dos movimentos comunais dependeu do carisma de um lder individual, de um Ro
bert Owen, ou de um John Humphrey Noyes, e teve sucesso na medida em que aquele
lder era tambm um administrador prtico e um homem com muitos conhecimentos, como No
yes foi, e como Owen no foi; ou, s vezes, da habilidade da mulher ou do homem cari
smtico para ensinar um lder prtico para compartilhar a administrao da colnia. Trata-se
de uma velha poltica, a poltica do pai-rei e do rei-guerreiro na transio da aldeia
neoltica para a cidade. A constituio das comunidades huteritas foi cuidadosamente a
justada para permanecer acima do carisma de cada indivduo da comuna proporcionand
o a viabilidade e a coeso da comunidade, bem como a eficincia de sua vida econmica.
Talvez tenha sido esse cuidadoso controle do carisma que ajudou a sociedade a p
ermanecer. Desde seu comeo, a histria huterita marcada pela ausncia de personalidad
es espetaculares isso se aplica tanto aos fundadores como a seus sucessores imed
iatos, Jacob Widemann, Hans Hut, Jacob Hutter, Peter Riedemann, e Andreas Ehrenp
reis a influncia que cada um exerceu no passado no foi superada pela influncia exer
cida pelos lderes contemporneos. Seus escritos ainda so lidos na igreja e seus hino
s ainda so cantados.
Na realidade, a comunidade huterita deve sua coeso a um carisma difuso do qual cada sc
io portador. A comunidade, como o Israel mstico, ou a Igreja como a Noiva de Cris
to, a pessoa pentecostal. Os huteritas esto bem atentos a este fato, mas tal cons
cincia parece marcar os limites da eterealizao. Sabemos pouco da vida interior do d
evoto huterita, mas nesse interior aparentemente nunca ocorreu umahipostatizao msti
ca da comunidade. No h nenhuma viso doShekinah como entre osHassidim. O dia-a-dia d
o trabalho nos campos e na cozinha, nos berrios e depsitos, e o trabalho congregaci
onal parecem estar carregados com a conscincia de uma glria mstica que suficiente s
necessidades prticas das mentes huteritas. possvel que haja uma vida contemplativa
, especialmente entre as pessoas mais idosas, uma coisa que os pagos nunca sabero
bem como funciona; mas que podem ver do lado de fora, os huteritas se assemelham
a uma sociedade dos Irmos Lawrences.
Ao contrrio de muitas, talvez da maioria das sociedades comunais, seculares ou religi
osas, os huteritas so governados mais por costumes do que por leis escritas, e el
es raramente consideram necessrio fazer srias mudanas constitucionais. A cabea de ca
da colnia umDiener am Wort, um Servo da Palavra. Quando um novo lder escolhido, so
convidados os cabeas de outras colnias para uma reunio e eles, juntamente com todos
os membros masculinos da colnia, votam em um elemento de uma lista de candidatos
submetidos pela comunidade. Aps orao, entre aqueles que recebem mais de cinco voto
s, um deles escolhido por sorteio. Aps um perodo probatrio de dois anos ou mais, el
e ento ordenado por imposio de mos de dois ou trs outros lderes. Ele no come mesa c
comunidade, e em muitos pequenos detalhes vive uma vida mais individual em sua
prpria casa.
A maioria dos lderes comparativamente jovem quando escolhido entre vinte e cinco e
arenta anos e permanecem lderes durante toda a vida ou at se tornarem incapacitado
s por doena ou por velhice. Eles so os lderes espirituais da comunidade, e oficialm
ente os administradores gerais, embora se torne cada vez mais comum a eleio por ma
ioria simples de um administrador prtico para assuntos econmicos, conhecido comoHa
ushlter, o Dono da Casa. Como mordomo da colnia ele vigia o trabalho, indica taref
as, cuida das finanas e da contabilidade, e assume a responsabilidade por vrios tr
abalhos, at mesmo os mais servis. importante no conceber oHaushlter como chefe da co
lnia. Ele est mais para coordenador. Abaixo dele est um capataz da fazenda, e se a c
olnia tem outras atividades importantes, costume haver outros capatazes.
H uma considervel alternncia de tarefas. Um homem pode ser sapateiro durante um ano,
icultor no prximo, e fazendeiro no terceiro ano. Com o passar do tempo, a maioria
das pessoas se acomoda em uma ocupao regular, mas freqentemente troca, at mesmo no
fim da vida. Existe uma hierarquia similar entre as mulheres umaHaushlterin, que
supervisiona a cozinha, o quarto de costura, o jardim, e o jardim da infncia. Tam
bm h mulheres especializadas em obstetrcia, e a maioria das mulheres so competentes
e prticas enfermeiras. Embora os documentos constitucionais doutrinais huteritas
insistam com bastante nfase na submisso das mulheres ao governo dos homens, os obs
ervadores so unnimes em seus relatrios de que as mulheres huteritas parecem estar e
xtraordinariamente contentes, trabalhando juntas em um estado de alegria que ten
de euforia. Naturalmente, devido natureza do trabalho feminino, se ele efetuado co
operativamente por um grande nmero de mulheres, ele se torna decididamente mais fc
il do que as tarefas de uma nica dona de casa de fazenda.
As famlias huteritas moram em casas ou apartamentos separados de suas crianas, que so
mpliados na medida em que a famlia cresce. No passado as crianas s vezes eram levad
as a berrios cooperativos, mas esta prtica foi derrubada exceto os bebs e crianas mui
to jovens que so cuidadas cooperativamente quando as mes esto trabalhando. As relaes
familiares so at mais fortes do que aquelas da antiga famlia patriarcal alem. Questi
onrios submetidos a crianas que freqentam escola pblica longe da colnia no revelam pra
ticamente nenhum sinal de alienao, choque de geraes, muito menos o conflito edipal tpic
o da moderna juventude. A despeito das iscas do mundo moderno, com sua cultura d
e mercadoria, consumo conspcuo, e super estmulo ao entretenimento, quase todos os
jovens huteritas parecem querer ser como seus pais e viver como seus ancestrais
quinhentos anos antes deles. Os que partem quando se tornam adolescentes, normal
mente fazem isso para se casar com cnjuge no huterita. Eles retornam colnia nos fer
iados e finais de semana, freqentemente ficam por perto, e muitas vezes o cnjuge s
e converte, batizado, e o par se integra, para a alegria de todos.
Existe bem menos desero no modo huterita de vida do que em seitas similaresno comunis
s como amish, menonitas, mormons, oucomunistas como Amana. Uma razo para isso, pr
ovavelmente, que no h no credo huterita nada semelhante ao esforo de eterealizao que
exigido de uma pessoa educada em escolas modernas. Bem poucos huteritas passam p
or uma faculdade, e quando isso ocorre por orientao da direo da colnia no sentido de
prover servios profissionais para mais adiante assegurar a auto-suficincia da comu
nidade. Aqueles que fazem faculdade, quase sem exceo, retornam colnia.
Alm disso, o movimento dos huteritas do sculo XX imita o huterita original, o Brderho
fundado por intelectuais alemes e ingleses, que embora composto por pessoas larg
amente educadas em escolas de nvel superior, nunca entraram em conflito em suas c
omunidades huteritas recm-nascidas em assuntos de f e moral. As discordncias giram
basicamente em torno de assuntos como alfndega e costumes de duas classes radical
mente diferentes. Isso provavelmente se constituiu no ponto fraco dos shakers. C
om o passar do tempo, ficou muito difcil as pessoas aceitarem as doutrinas shaker
s, especialmente no que dizia respeito ao celibato. Assim os shakers quase nunca
puderam segurar os rfos que eles recrutavam, e eventualmente foram incapazes de c
onquistar novos membros adultos.
Concretamente, aps quase quinhentos anos de prtica, a administrao da comunidade hute
notvel pela sua elasticidade. A modesta hierarquia de sua administrao sempre pode
acudir em uma emergncia. Sua flexibilidade a torna imune a um terremoto, e a admi
nistrao geral do movimento inteiro igualmente flexvel. Tanto a colnia como os consel
hos gerais, da mesma forma que os quakers, tentam evitar a ao sem a unanimidade; e
como o modo huterita de vida o produto final de quase toda prova concebvel, esta
unanimidade normalmente facilmente alcanada. No governar homens, mas administrar c
oisas conforme Marx disse.
Um detalhe interessante e possivelmente significante que as colnias huteritas, como m
uitas aldeias de povos primitivos, praticam uma limitada exogamia. Os pares se e
scolhem de colnias prximas mais freqentemente do que de dentro de uma nica colnia. Is
to, naturalmente, cria uma teia de relaes familiares bem coesas, radiando fora das
determinaes originais, e preserva uma gama hereditria mais extensa, uma campo de ge
ne mais amplo. O campo de gene bem pequeno faz com que os do lado de fora sempre
digam que os huteritas so todos parecidos. Em 1965, havia apenas quinze sobrenomes
nos Haushlters em um conjunto de cento e cinqenta e cinco colnias. Os huteritas pod
em se parecer uns com os outros, mas eles certamente no chegaram ao ponto daquilo
que comumente se denominainato. Coisas como doenas hereditrias e deficincias orgnicas
so praticamente desconhecidas entre eles. Eles sofrem menos com tais problemas d
o que a populao em geral.
EPLOGO
Comunalismo Ps-Apocalptico
Seria possvel prosseguir descrevendo indefinidamente as comunas americanas do sculo XI
X, mas tal trabalho seria um pouco melhor do que um dicionrio, h uma linha muito tn
ue diferenciando fazendas realmente cooperativas de agrupamentos ou colnias abort
adas que duraram apenas alguns meses. Desde o sculo XIX at nossos dias existiram c
ultos religiosos comunais, o que h de mais bizarro nestas doutrinas que so despoti
camente estabelecidas por um lder detentor de revelaes especiais. um erro classific
ar tais grupos como comunas. Na verdade trata-se de uma extorso, um jogo onde a c
onfiana coletiva em larga escala direcionada para proveito dos lderes. A histria de
les uma assunto completamente diferente e merece outro livro.
Anteriormente fizemos uma rpida meno ao movimento mais significante da histria primi
do comunalismo, as misses jesutas no Paraguai. H incrivelmente muito pouca literat
ura nesse assunto em lngua inglesa. O melhor livro ainda A Vanished Arcadia de R.B
. Cunninghame Graham, publicado em 1924. Quando os jesutas entraram naquelas terr
as em 1607 o territrio ainda era selvagem, quase completamente intato da influncia p
ortuguesa ou espanhola. Com o passar do tempo suas comunidades passaram a contro
lar uma boa parte da bacia oriental do Rio Paraguai. Na realidade, suas aldeias
eram tribos reconstitudas e, na medida do possvel, providas por uma tecnologia eur
opia; tais aldeias eram governadas, ou pelo menos dirigidas, por um punhado de pa
dres cujos instrumentos de governo parecem ter sido quase que exclusivamente os
sacramentos da penitncia e da comunho. Os ndios foram saqueados por escravos vindos
de So Paulo e os jesutas perderam seu poder eclesistico. Eles sobreviveram at que f
oram expulsos da ordem em 1767, quando a maioria das aldeias indgenas foram destr
udas. Seus campos foram tomados pela selva, os ndios se espalharam, voltando ao se
u modo selvagem de vida, ou foram escravizados, seus imensos rebanhos de gado va
garam selvagens pelos pampas.
Os jesutas no estabeleceram suas aldeias deliberadamente enquanto comunas. Eles simple
smente adaptaram uma organizao social indgena. As pequenas sociedades eram altament
e estruturadas. O estatus derivava tanto do cargo no governo da comunidade como
dos papis avidamente disputados nos vrios cerimoniais religiosos. A vida em tais s
ociedades deve ter sido semelhante a dos povos comunais do Sudoeste Americano os
zunis, por exemplo mas em um ambiente mais abundante e permissivo com muito mais
lazer, em grande parte exercido durante o cerimonial catlico, mas bem modificado
por elementos aborgenes. Ao contrrio da convico popular, a bem sucedida atividade m
issionria no Paraguai foi acompanhada de perto pela Igreja, tanto que foram feita
s tentativas de fundar comunidades similares ao longo da Amrica Espanhola, notave
lmente pelos jesutas no Arizona. Se a ordem no tivesse sido extinta no momento em
que entravam na Califrnia, a histria dos ndios da Califrnia teria sido bem diferente
. As misses franciscanas estavam bem longe daquilo que se entende por comunas. Os
ndios valiam menos que os escravos, morriam mais facilmente no contato com os eu
ropeus. Depois que os americanos iniciaram a Corrida do Ouro, os ndios passaram a
ser caados da mesma forma que coelhos, ursos, coiotes, e condores, at que desapar
ecessem completamente das regies frteis do Estado. No Paraguai algumas aldeias fun
dadas pelos jesutas sobrevivem at hoje. As relaes econmicas e sociais eram ditadas pe
lo livre empreendimento, mas a memria das comunidades de trezentos anos atrs perma
nece viva. Em muitos aspectos, do ponto de vista terico ou prtico, as redues jesutas, c
onforme eram chamadas no Paraguai, representam uma das melhores organizaes da soci
edade de todos os tempos. Os ndios foram certamente mais felizes do que seriam na
Repblica de Plato, ou naUtopia de So Thomas More. A vida era quase que um ritual in
interrupto, uma espcie de contemplao grupai temperada com alegria. A coisa mais ext
raordinria que nada disso aconteceu em qualquer outro momento na histria, certamen
te no desde a aldeia neoltica.
O plo oposto das redues jesutas foi a colnia de Topolobampo, fundada em 1872 no G
lifrnia. Resultado de um esquema produzido por um corretor profissional de terras
, Albert K. Owen, que aparentemente acreditava que o modo mais lucrativo de valo
rizar a terra era o estabelecimento de uma colnia cooperativa e de uma companhia
de estocagem. A planta inicial era certamente comunalista, mas em um curto espao
de tempo os colonos se dividiriam entre empreendedores privados e faces comunalist
as. Separadamente, eles desenvolveram um imenso trabalho desbravando o pas, cavan
do a mo um canal de irrigao ao longo de oito milhas, cem ps de largura e quinze ps de
profundidade, e muitas milhas de diques. A colnia estava aberta a qualquer um qu
e comprasse aes, na verdade para qualquer um que conseguisse chegar at l. O plano de
Owen de construir um grande porto e centro comercial deu em nada. O governo mex
icano voltou atrs em suas promessas. Os colonos rapidamente declinaram de seiscen
tos para duzentos scios, a maioria de empresas privadas. Alguns descendentes dess
es colonos sobrevivem na rea at hoje, casados com famlias mexicanas. Topolobampo po
de ter sido o nico exemplo de comunismo enquanto forma de empreendimento de negcio
capitalista. Considerando a escala em que Topolobampo foi planejado, e o nmero d
e pessoas envolvidas, tanto de colonos como de acionistas no residentes na corpor
ao conhecida como Credit Foncier h uma extraordinria ausncia de informaes.A Southwe
n Utopia de Thomas A. Robertson, que passou sua infncia na colnia, foi publicado e
m 1947, e reeditado em 1963 por Ward Ritchie em Los Angeles. O livro folclrico e
anedtico, infelizmente a famlia de Robertson participaram como um grupo de empresri
os privados, de forma que h muito pouco sobre a comuna. O livro no possui nem bibl
iografia nem ndice.
Um dos colonos de Topolobampo foi Burnette G. Haskell, que Robertson menciona em 188
7, juntamente com sua esposa e famlia que, pelas anotaes de Robertson, tambm morreu
por l. A verdade que naqueles anos Haskell estava editando a revista anarquistaTr
uth em San Francisco, ao mesmo tempo em que se ocupava com a fundao e conduo daKawea
h Kooperative Kommonwealth situada ao p das montanhas, que mais tarde viria se to
rnar oSequoia National Park, na cidade deThree Rivers. Haskell parece ter sido u
ma pessoa instvel, brilhante, e altamente emocional; aparentemente tanto ele como
James Martin eram defensores do trabalho e da prtica socialista, envolvidos desd
e o comeo com o projeto. Haskell e um homem chamado Buchanan, que dirigiu a grand
eKansas Railroad Strike, reivindicava pertencer a uma organizao que julgava ser a
legtima sucessora da Primeira Internacional depois que ela se dividiu entre os se
guidores de Marx e Bakunin. Depois de um imenso e, realmente, incrvel esforo, os c
olonos construram uma estrada deThree Rivers atGiant Forest, onde batizaram a maio
r das sequias com o nome deKarl Marx Tree, agora conhecida comoGeneral Sherman Tr
ee. O governo federal, pelas presses das vias frreas e madeireiras, invalidou o ttu
lo da terra enquanto colnia, mas posteriormente voltou atrs. A rea em sua totalidad
e mais a regio circunvizinha foi declarada parque nacional. Haskell deve ter volt
ado para Topolobampo depois disso.
Outro famoso revolucionrio ligado ao comunalismo americano foi Wilhelm Weitling, o ter
ico e lder operrio que na dcada de 1840 exerceu muito mais influncia do que Marx e E
ngels, que copiaram muita coisa dele em seus primeiros dias. Weitling desenvolve
u um sistema rgido, secular mas com uma pesada nfase milenria e apocalptica. Seu com
unismo envolvia uma real rejeio ao industrialismo e um retorno a um sistema de hab
ilidade manual cooperativa de produo. O apocalipticismo doManifesto Comunista de M
arx e Engels reflete a influncia e a competncia de Weitling. Depois do fracasso do
s movimentos revolucionrios de 1848, Weitling migrou para a Amrica, produziu um jo
rnal e fundou uma associao de trabalhadores que provia assistncia, ajuda financeira
, e penses para seus membros, que Marx chamou de caixa do clube. Em 1851 ele se int
eressou porCommunia, uma das muitas pequenas colnias fundadas na maioria por emig
rantes alemes oriundos dosQuarenta e Oito, na qual investiu uma boa parte do dinh
eiro desuaArbeiterbund. As querelas e a preguia fizeram o falncia da colnia e a runa
de Weitling. Este fracasso parece t-lo afetado bem mais do que o fracasso das re
volues de 1848. Ele se tornou excntrico e desenvolveu um sistema universal de cosmo
gonia econmica, em seus ltimos dias ele estava profundamente envolvido com suas ex
centricidades. Weitling muito pouco considerado na histria do pensamento revoluci
onrio. Bastante independente de Hegel, e antes de Marx, ele desenvolveu a teoria
da auto-alienao humana como o mal primrio da produo capitalista, e alguns anos antes
de Marx ou Proudhon ele era um comunista declarado. De certo modo, Marx e Engels
se juntaram ao seu movimento comunista e o assumiram. Seu nico monumento um gran
de edifcio onde se localizavaCommunia, que ainda funciona como centro social e es
pao de dana.
H uma tentao de ir descrevendo sem parar cada uma dessas colnias. Diferentemente de
as como Oneida e shakers, a maioria das colnias religiosas foram extremamente biz
arras, com seus fundadores e lderes no passando de bvios religiosos charlates de olh
o no dinheiro. Muitas pessoas parecem ter percebido que quanto mais ultrajante e
ra seu evangelho, mais e mais crentes conseguiam atrair. A disposio para acreditar
em coisas impossveis porque elas so impossveis no esteve confinada a Tertuliano, um
erro que se difundiu por toda raa humana. A maioria destes movimentos praticavam
a posse de todas as coisas em comum, mas sempre excetuavam os lderes que conduzi
am suas vidas na vulgaridade, na luxria e na ostentao. Tais grupos, portanto, prova
velmente nunca deveriam ser chamados de comunas. A finalidade era sempre conquis
tar membros para que eles dessem tudo que possuam para dali em diante trabalhar d
uro sem pagamento.
Quais concluses podemos tirar dessa longa pesquisa da histria do comunalismo? So quas
as mesmas concluses que foram tiradas por lderes inteligentes quando o comunalismo
do sculo XIX atingiu seu ponto mais alto com John Humphrey Noyes na Oneida e Fre
derick Evans nos shakers e com raras excees as colnias estavam abertas s crticas de M
arx e Engels.
Concentrando-se primeiramente na crtica marxista, aquilo que eles chamam de socialism
o utpico sempre representou um retorno a uma forma anterior, mais primitiva de pr
oduo e de relaes sociais. Com poucas excees, as colnias comunalistas foram revivifica
as aldeias neolticas com um maior ou menor grau de tecnologia moderna. Isto ainda
verdade hoje. O comunalismo sem sido abarcado pelo evangelho do voltar terra e es
sas muitas experincias falharam porque os membros das colnias teimaram em fundar s
ua economia quase que exclusivamente na agricultura, embora no soubessem nada sob
re cultivo, e muito menos de quo duro era aquele trabalho. Em alguns exemplos, ch
egaram ao ponto de se limitarem mais primitiva tecnologia agrcola, embora isso se
ja mais verdade nas comunidades que proliferaram depois da Segunda Guerra Mundia
l.
As comunidades seculares quase sempre falharam em um tempo bastante curto. surpreend
ente como aNova Harmonia de Robert Owen pode ocupar tanto espao na histria do comu
nalismo. Ela no apenas durou pouco como tambm conseguiu fazer tudo da forma errada
. A simples convico de que todos os homens deveriam viver juntos como irmos no sufic
ientemente bem definida a ponto de inspirar um forte compromisso. E onde a comun
idade est aberta a qualquer um que deseje vir e se associar como membro, o desast
re certo. O compromisso um ponto vital, mas tais colnias atraem de forma redundan
te indivduos rejeitados pela sociedade dominante preguiosos, excntricos, e aqueles
que no conseguem se dar bem com ningum nem em casa nem no trabalho, mas que, no en
tanto, se julgam qualificados para se dar bem em uma delicada, extensa e equilib
rada famlia dentro de uma comuna. Uma poltica de portas abertas tambm admite sociop
atas e criminosos que, na pior das hipteses, tomam o poder ou endividam a comunid
ade e, na melhor das hipteses, fogem com qualquer dinheiro e ativos mveis que pode
m por em suas mos.
Quase toda comuna tenta ser auto-sustentada e alcanar tanto o comunismo de consumo co
mo o de produo. Apenas os huteritas conseguiram ser agricultores financeiramente b
em sucedidos, e em seus primeiros dias eles eram tambm e principalmente artesos. I
dealmente, uma comunidade deveria ter terra suficiente para se alimentar, e alm d
isso ter alguma especializao fabril que possa se destacar localmente por causa de
sua alta qualidade. Oneida e Amana no sculo XIX, e Brderhof no sculo XX so bons exem
plos.
As colnias de extensa durao no sobreviveram apenas por sua coeso, compromissos e sa
enaturais, mas tambm por serem administradas por indivduos de um poderoso carisma.
Em alguns casos a liderana era dividida exatamente como no final da era neoltica,
entre o lder religioso e o lder prtico, o rei-pastor e o rei-guerreiro, o apstolo e
o gerente empresarial.
Um certo grau de tenso interpessoal parece consolidar a coeso de uma colnia. O celiba
dos shakers, com seus cerimoniais tendendo para a orgia sem relaes sexuais, e os
matrimnios de grupo e tcnicas especiais de relaes sexuais e eugnias de Oneida, na rea
lidade so duas formulaes diferentes da mesma coisa, as duas faces da moeda da tenso
ertica generalizada.
Deve ser enfatizado novamente que do ponto de vista terico a vida comunal muito vanta
josa para as mulheres. A maior parte do trabalho da dona de casa ou da me pode se
r dividido e distribudo. As crianas podem ser cuidadas em um berrio por uma ou duas
mulheres. Cozinhar, costurar, lavar roupa, limpar a casa, e todas as tarefas con
sideradas trabalho de mulher, podem ser distribudas de forma que cada mulher tenha
um considervel tempo de lazer. por isso, naturalmente, que a poligamia Mormom foi
mais popular entre as mulheres do que entre os homens. Milhares de mulheres cam
inharam de St. Louis at Salt Lake para participar.
Contudo, da mesma maneira que hoje em muitas comunidades hippies o nico trabalho real
izado parece ser feito por mulheres, assim foi na histria de muitas das comunas s
eculares do sculo XIX. As mulheres se rebelaram, porque todo trabalho era lanado s
obre elas, enquanto os homens sentavam ao redor, bebiam usque, mascavam tabaco, d
iscutiam comunismo, igualdade dos sexos, e liberdade das mulheres.
O comunismo em si, no parece ter sido um fator no fracasso da maioria das colnias. Mui
tas, talvez a maioria delas fracassaram por razes econmicas. Geralmente, eles comp
ravam muita terra de sociedades de crdito imobilirio e no conseguiam utiliza-la de
uma forma efetiva. Muitos adquiriram uma considervel quantia em dinheiro de membr
os no residentes. At mesmo aKaweah Kooperative Kommonwealth recebeu dinheiro de me
mbros no residentes, tanto dos Estados Unidos como da Europa. A colnia secular Icri
a, que durou muito tempo, recebeu fundos bastante considerveis da Frana at seu cism
a final. Eles erraram especialmente em empreender o cultivo de uma quantidade mu
ito extensa de terra, mas difcil compreender porque durante toda a existncia do mo
vimento icariano foi marcada por um trabalho desesperadamente duro e uma pobreza
involuntria.
Onde quer que haja foras poderosas em torno do compromisso e da coeso, uma sociedade c
uidadosamente escolhida, e lderes inteligentes com larga experincia prtica, o comun
ismo prova ser, economicamente, extremamente bem sucedido. Nesse aspecto o model
o a colnia huterita. Seu principal problema hoje a inveja inspirada pelo seu suce
sso uniforme e por sua prosperidade.
difcil relacionar os milhares de grupos que deram a si mesmos o nome de comunas e que
se esparramaram pelo mundo inteiro menos nos pases comunistas desde a Segunda Gu
erra Mundial. Muitos desses grupos nunca foram comunas, mas penses cooperativas e
m cidades universitrias do tipo que sempre existiu. Estes grupos atraem mais ateno
dos jornalistas porque so mais acessveis. O simples fato de seus membros fumarem m
aconha e dormirem uns com os outros indiscriminadamente no os torna fundamentalme
nte diferentes das fraternidades gregas. Algumas comunas ruraisportas abertas so
na realidade uma esquadrilha da fumaa. Trezentos alegres caroneiros adolescentes oc
upando trezentos acres onde seus membros mais permanentes no se preocupam em cult
ivar o solo no se constitui numa comuna. Aqui novamente, o jornalismo sensacional
ista tem um prato cheio. verdade que muitos, talvez a maioria, dos grupos contem
porneos chamem a si mesmos de comunas, onde o sexo e a droga toma o lugar do chia
lismo e do carisma. Mesmo assim, um grande nmero conseguiu se organizar enquanto
uma genuna comuna de consumo, e algumas poucas, de produo.
O moderno movimento comunalista est ligado a uma verso secular do velho milenarismo. E
le comea com o lanamento da bomba atmica. O fogo e o julgamento deixaram de ser uma
questo de f e no se tornaram fatos muito distantes. Um remanescente salvo comeou a se
retirar dos centros densamente povoados, e em muitos casos do hemisfrio norte. N
os primeiros anos da Guerra Fria o apocalipse no parecia estar muito distante e p
elo menos por duas vezes, uma vez com Dien Bien Phu e depois durante a crise dos
msseis cubanos, o apocalipse parecia eminente. As pessoas j no falam muito sobre a
bomba. Passou para segundo plano. Contudo, vrias pesquisas de opinio mostraram qu
e uma maioria de estudantes universitrios no esperam estar vivos no sculo XXI. Logo
aps Nagasaki e Hiroshima, Alex Confort disse que se os americanos no tivessem inv
entado a bomba atmica, o Estado capitalista moderno a teria segregado como uma es
pcie de produto natural. Como se no bastasse, a guerra moderna tambm produziu um im
enso nmero de pessoas totalmente alienadas, que acreditam que a civilizao ocidental
chegou ao fim em agosto de 1914.
esta a alienao penetrante e absoluta que ocorre em matria de religio ou ideologia
oscomunardos contemporneos; e o movimento comunalista moderno um ataque direto na
auto-alienao humana, descartando as manobras indiretas do socialismo ou do comuni
smo.Afinal das contas, como algum uma vez disse em uma reunio do Partido Comunista I
taliano,implantamos o socialismo na sexta parte da terra durante cinqenta anos e s
obre uma rea adicional com o dobro de pessoas por vinte e cinco anos, e a auto-al
ienao humana em vez de declinar, s tem crescido. O que estamos fazendo?.
Marx pensava que o processo industrial daria conscincia de classe classe trabalhadora
, que o significado do marxismo. Isto no particularmente notvel em Detroit ou Gary
. Mas o desarranjo da civilizao ocidental proporcionou a um imenso nmero de pessoas
, nem todas jovens, uma resposta quase instintiva tanto classe dominante, enquan
to inimiga, como aos seus semelhantes, enquanto camaradas que grandemente se ass
emelha ao anarquismo comunista de Bakunin e Berkman, dos quais poucos deles ouvi
ram falar. notvel como isto persuasivo. Grupos altamente autoritrios como os muulma
nos negros, os Panteras Negras, os Testemunhas de Jeov, os Brderhof, e Jesus Peopl
e podem desafiar o mundo l fora e apresentar para ele uma grande estrutura exteri
or, mas dentro de cada movimento uma tica comunal se desenvolveu. Isto verdade me
smo para organizaes neo-bolsheviques como os trotskistas ou maoistas, que j no podem
forar as velhas e rgidas formas de organizao leninista, e constantemente adotam rel
aes interpessoais to anarco-comunistas quanto Kropotkin pudesse ter desejado, e cuj
as relaes com a classe dominante se assemelha queles grupos anarco-terroristas na F
rana ao trmino do sculo XIX. Grupos como estes nascem totalmente sem ideologia exce
to aqueles completamente alienados. A secesso moderna uma torrente contnua que se
estende desde a Famlia Manson, a Simbiose do Exrcito de Libertao at as comunas religi
osas anarco-pacifistas cujos membros gastam pelo menos duas horas por dia em med
itao.
Um dos fatores que contribuem para a coeso o culto. Diante do monasticismo medieval,
com seu contnuo crculo de Missa, Divino Ofcio cntico de salmos, hinos, coros e oraes a
o longo do dia e da noite e os contnuos e variados ritos durante o ano, envolvend
o o monge ou a freira, ambos identificados com a comunidade, era difcil at mesmo p
ensar em acabar com tudo isso. Na Amrica do sculo XIX os shakers tiveram indubitav
elmente o culto mais desenvolvido. Mas at mesmo as comunidades seculares bem suce
didas desenvolveram uma vida cerimonial, embora sem dvida seus scios no pensem nela
s como tal.
Outro fator que muitas vezes fez parte das cerimnias da comunidade foi a confisso, uma
poderosa fora de ligao entre os shakers e que sobrevive ainda hoje em muitos grupo
s comunais, o mais famoso nesse aspecto o Synanon, onde a crtica mais severa dos
scios e a confisso mais miservel foi elevada a um princpio administrativo na comunid
ade. Qualquer tcnica que sistematicamente ataque o menor sinal de egocentrismo ob
viamente aumenta a coeso do grupo, exceto, naturalmente, pelo fato de que pode le
var o indivduo ao ponto do rompimento, quando ele sai do grupo.
Apenas as comunidades religiosas, no todas elas, puderam segurar suas crianas. Aparent
emente isso nunca foi problema para os huteritas, que agora pode arriscar envian
do jovens selecionados com segurana para as universidades. Uma das funes mais impor
tantes dos shakers era o seu cuidado com os rfos e crianas abandonadas em um tempo
em que os orfanatos eram poucos e ruins. As crianas foram criadas na vida shaker,
mas nenhuma delas permaneceu na comunidade. Por outro lado, muitas comunidades
seculares sobreviveram principalmente como escolas progressivas. Com todos seus de
sastres e loucuras, esta foi a principal contribuio daNova Harmonia de Owen; e da
colnia anarquista de Stelton, New Jersey, que logo tornou-se uma cooperativa subu
rbana de desenvolvimento, foi a escola que manteve a comunidade viva at que foi sub
jugada pelo crescimento do subrbio (hoje em dia quase que inteiramente um distrit
o Negro). Algumas comunidades do sculo XX foram principalmente escolas, o melhor
exemplo oCommonwealth College em Mena, Arkansas. No tenho certeza se posso chamar
oBlack Mountain College de comuna. OAntioch College, porm, a ltima descendente de
vrios grupos comunais convergentes, alguns deles advindos deNova Harmonia.
Em todos dos muitos livros escritos sobre o movimento comunalista na Amrica no sculo X
IX, h pequena discordncia sobre os fatores que trazem sucesso. Eles so:
Uma religio, ou pelo menos uma ideologia poderosa que todos os scios do grupo aceitem,
que poderia incluir a crena de que a sociedade dominante falha em prover valores
suficientes para uma vida feliz, que a sociedade dominante est doente, ou morren
do, ou, j morta, e que a comuna um remanescente salvo que escapou da fogueira.
Um lder com um poderoso carisma e, at mesmo mais importante, a habilidade de persuadir
as pessoas ao que acredita, e tambm dotado de uma equanimidade considervel. Noyes
, por exemplo, parece ter sido um importante apaziguador de todas as contendas q
ue se desenvolveram em Oneida. Tal personalidade pode ser extremamente autoritria
e coerciva. Aproximadamente cinqenta por cento das pessoas atradas pela vida comu
nal parece ser caracterizada por um extremo masoquismo social, e que no se import
a muito quando encontra comunidades governadas por pequenos tiranos. A outra met
ade fortemente individualista e requer a liderana de um apaziguador altamente qua
lificado, capaz de persuadi-los de que as idias vieram deles. Todo carisma do mun
do no pode compensar uma gama extensiva de talentos. Noyes, novamente, foi um hom
em verdadeiramente universal, que aparentemente poderia fazer bem qualquer coisa
; e a liderana huterita que geralmente destrinchava a maioria das tarefas de sua
vida comunal. Se um lder tiver apenas carisma, ele tem que ter um gerente empresa
rial, e esta liderana dual no incomum.
Deve ter um mtodo aceito para indicar e alternar tarefas, com ambos os sexos comparti
lhando os trabalhos enfadonhos do trabalho domstico. A roupa suja foi tradicional
mente o foco de descontentamento entre as mulheres. E, naturalmente, os membros
devem ser responsveis as tarefas devem ser feitas. Muitas comunidades contempornea
s, urbanas e rurais, so caracterizadas pela desordem, sujeira, e trabalhos inacab
ados.
Cultivar um trabalho muito duro. trabalho duro at mesmo para fazendeiros experiente
No foi apenas a concentrao de capital que criou a agroindstria americana. Por mais
de uma gerao foi impossvel sustentar filhos pequenos em uma pequena fazenda de duze
ntos acres. Em toda parte do mundo os camponeses tropicais ou semitropicais aban
donaram suas pequenas fazendas e se mudaram para as favelas das cidades, onde a
maior parte deles padece fome e esqualidez. Cultivar hoje na Amrica em uma pequen
a marginal ou em uma fazenda geral estropiada uma tarefa quase impossvel, claro q
ue uma rea medida em acres no pode agentar um investimento de capital em maquinaria
. Uma caminhonete, um par de cabras leiteiras e algumas galinhas podem prover um
a quantidade considervel de comida para uma comuna de tamanho mdio, e proporcionar
um tempo livre para desenvolver uma fbrica especializada em artigos de muita pro
cura. Esta a nica soluo para uma comuna de cidade grande, embora algumas delas alug
uem uma chcara nos arredores da cidade. Voltar terra e contato com a Me Terra fazem pa
rte da mstica das comunas rurais mais contemporneas, cujos membros acham mais dese
jvel trabalhar duro e ineficientemente por um pequeno retorno do que estabelecer
uma base econmica fabril ou industrial.
Alm disso, h um certo irrealismo naquela velha manso ou naquele apartamento com doze
artos em Riverside Drive ocupada por advogados, professores, psiquiatras, assist
entes sociais que compartilham despesas, fazem concertos de msica, e chamam a si
mesmos de comuna. Na medida em que uma comunidade se torna potencial ou completa
mente auto-sustentada, mais se aproxima de seu ideal deremanescente salvo, o ncle
o de uma sociedade que sobreviver quando a sociedade dominante perecer. H algumas
comunidades urbanas que funcionam com um comunismo de produo e tambm de consumo. El
es parecem ser principalmente religiosos e sob uma liderana extremamente autoritri
a. Claro que, no apocalipse, as comunidades urbanas perecero juntamente com as ci
dades, que so o melhor argumento final pelo estabelecimento de comunidades em par
tes remotas do pas. O nico problema que os belicistas do Estado tem a mesma idia. A
s comunas do Novo Mxico esto bem no meio dos centros originais de artefatos de gue
rra atmicos, e at mesmo as colnias huteritas em Dakota do Norte esto dentro de uma g
ama de silos para msseis balsticos intercontinentais. Sunburst Farms prximo a Santa
Barbara, uma das comunidades agrcolas mais bem sucedidas, e est dentro da rea dos
testes de exploso da Base Area de Vandenburg, e a rea de San Francisco Bay pontilha
da de instalaes voltadas para a guerra atmica e comunas, em uma espcie de compartilh
amento.
Um completoa lei fazer o que quiser e total anarquismo individual simplesmente no f
ona. Uma boa parte das comunas contemporneas operam nessa base, mas elas parecem
ter uma mdia de cem por cento de rotao a cada ano. A comuna persiste, essencialment
e, apenas como um endereo. A maioria dos grupos desse tipo vem compartilhar droga
s e sexo, eles esto unidos, do jeito deles, pela inimizade da sociedade dominante
. Todos os mtodos contemporneos que trazem coeso ao grupo existem em uma ou outra c
omunidade. Sexo em grupo, grupos de encontro, grupos de confisso e crtica muitas c
omunidades praticam tudo isso ao mesmo tempo, e cada grupo tem seus antecedentes
, no apenas no sculoXIX, mas tambm na Reforma Radical.
Finalmente, uma comunidade pode perdurar enquanto uma imensa esquadrilha da fumaa com
ma plena poltica de portas abertas, mas no pode perdurar como uma comunidade. Sele
tividade a primeira lei do comunalismo. At mesmo o ambiente mais anrquico, onde ni
ngum acredita em leis, precisa acreditar pelo menos no anarquismo. As mais bem su
cedidas comunas de nossos dias no permitem nem mesmo visitas, ou no lhes permitem
ficar mais do que uma noite, e os membros prospectivos esto sujeitos a um minucio
so noviciado. Nos primeiros dias do movimento ps Segunda Grande Guerra, quando to
do carona era recebido com boas-vindas e com os braos abertos, as comunas no apena
s ficaram cheias de vadios e sociopatas, como tambm enfrentaram srios problemas co
m ces abandonados e crianas abandonadas, que eram deixados para trs por comunardos
vagabundos. A Ordem de So Benedito tem todo um captulo dedicado ameaa de tais pesso
as no comeo do monasticismo Ocidental. Ces abandonados e crianas abandonadas so prob
lemas sociais, mas h um problema esttico e at mesmo um problema ecolgico. As cercani
as da maioria das comunas hippies rurais esto abarrotadas de carcaas de carros aba
ndonados, que fazem o papel de um grande parque de diverses, ocupado por crianas n
uas, constituindo ultimamente um expensivo problema.
Fim do livroComunalismo de Kenneth Rexroth.
Copyright 1974. Verso inglesa reproduzida com permisso de Kenneth Rexroth Trust.
Comunalismo contedo e ndice
[ARQUIVO REXROTH1]
retirado do site:
www.bopsecrets.org/index.shtml
e traduzido pelo Coletivo Periferia:
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ndice*
[NOTA:Comunalismo de Rexroth est indexado apenas seletivamente no ndice do Site. O
que vem a seguir aparece na forma de um ndice mais detalhado conforme consta no l
ivro, com referncias s pginas originais impressas em ingls. Verifique o Contedo abaix
o para ver em qual captulo o tpico pode ser encontrado. ]
Abbasid, Califado de
Adamitas
Agnosticismo
heresias do,
heresias islmicas e,
Agricultura
formao e sistemtica de classes,
Shakers e intensivo,
Albigenses, heresias,
Alquimistas, espiritualismo e,
Alexere III, Papa,
Alexere V, Papa,
Alexere VI, Papa,
Altamira, pinturas nas cavernas de,
Amana (Comunidade da Verdadeira Inspirao)
comunalismo de,
Ambrosio, So,
Amish, povo,
Ammon, Joo,
Anabatistas,
antigas razes dos,
batismo e,
Germnicos,
Hutter e,
Lutero e,
Munster e,
Poloneses,
Russos,
Anarquismo,
tipos de,
Warren e a individualidade no,
Anglicana, Igreja,
Aquino, So Tomas de,
Assassinos,
Agostinho, Santo,
Eckhart, a doutrina de,
misticismo e,
Reforma, doutrina e,
Aurora, comunidade,
Asteca, civilizao,
Babeuf, Franois Nol,
Bacon, Francis,
Bakunin, Mikhail,
Bali, Joo,
Beitismo
lealdade no,
pirataria comunista e,
Batismo
Anabatistas e,
importncia do,
rejeio do,
Basil, So,
Bumeler, Joseph,
Bghards,
Bguines,
Bellamy, Edward,
Bellers, Joo,
Benedito de Nursia, So,
Benedito XIII, Papa,
Beneditismo,
monasterios do,
poder e riqueza do,
Bernard de Clairvaux, So,
Bernstein, douard,
Bethel, comunidade,
Belm, Capela, Praga,
Bblia (Velho e Novo Testamento)
apocalpticas vises do,
comunismo do cristianismo primitivo e,
primeiras heresias e,
Reforma, apelo ,
Taboritas e,
Wycliffe, sua doutrina e,
Bispo, comunidade da colina do,
Peste Negra,
Blake, William,
Bloch, Ernst,
Bockelson, Jan (Joo de Leyden),
Boehme, Jakob,
Bomia
efeitos da revoluo na,
Hus, crise e,
Bomia, Igreja Nacional,
Boemianismo,
Bolcheviques,
Bolcheviques, Revoluo,
Bonaventure, So,
Bosch, Hieronymus,
Bourne, Reolph,
Brige, comunismo de
BrookFarm,
comuna,
Fourierismo de,
Cabet, tienne,
Icaria de,
Caa-e-colhe, cultura do,
Caa-e-colhe, sociedade,
Calvino, Joo,
Campanella, Tommaso,
Camponeses
Ingleses, rebelio dos,
Alemes, Revolta dos, Reforma e,
de Ucrnia,
Capitalismo
boemianismo e,
Calvino, Lutero e,
concentrao do capital e desumanizao sob o,
no sculo XIX,
Carmathianos,
Cathari, heresia,
Catarina a Gree,
Catlicos (Igreja Catlica Romana),
radicais perseguidos pelos,
reacionarismo caractersticos dos,
Reforma e,
So Nazianz, colnia e,
Chelsicky, Pedro,
China: antiga civilizao,
Revoluo Cultural,
Crist, Igreja (Cristianismo)
Irmos do Esprito Livre e,
comunismo e ortodoxia,
comunismo da primitiva,
Guerra Civil Inglesa e,
queda do feudalismo e,
durante o sculo XIV,
enquanto cultura da culpa,
Hussitas, Guerras e,
Medievais, heresias,
misticismo e,
organizado, monasticismo da,
Franciscanos Espirituais, a rejeio de Cristo pelos,
Chuang Tsu,
Classe, estrutura de
na sociedade caa-e-colhe,
sistemtica agrcola e,
Clemente VII, Papa,
Clementino,
comunalismo
durante os anos 1840,
crtica marxista do comunalismo,
moderno,
Veja tambmseitas religiosas comunistas
Communia, colnia,
comunismo
enquanto ideologia,
definio, antes de 1918,
da comuna de Mnster,
dos Taboritas,
de Warren,
de Wycliffe,
Comunistas, seitas religiosas,
Amana,
Bethel e Aurora,
Carmathians,
Diggers,
Anabatistas Alemes,
Essenios,
Harmonistas,
Guerras Hussitas e,
Hutteritas,
Mazdaismo,
ordens monsticas e,
da comunidade Monteforte,
de Mnster,
Oneida,
cristos primitivos e,
Rakovianos,
Rappites,
durante a Reforma,
Shakers,
Irmos Suos,
Therapeutae,
Waldenses,
Comunistas, comunidades seculares
Cabet, Icaria de,
Nashoba,
Nova Harmonia,
Constantino,
Conclio de Constance
Hus executado na fogueira pelo,
reao execuo de Hus,
Contra-reforma,
Cromwell, Oliver,
Cruzadas,
Checos, Irmos (Unitas Fratrum),
Dana, Charles A.,
DArusmont (educador),
De Labadie, Jean,
Denk, Hans,
Descartes, Ren,
Deus
Calvinismo, concepo de,
Eckhart, concepo de,
concepo mstica de,
Noyes, concepo de,
Winstanley, concepo de,
Devocionalistas, seita dos,
Diggers,
comunidade de,
Pacifismo de,
Dionisius o Areopagita,
Djilas, Milovan,
Dominic, So,
Doukhobors, seita,
Dousentschuer, Jan,
Druidas,
Dunkard, seita,
Duns Scotus,
Ebenezer comunidade,
Ebionita seita,
Eckhart, Meister,
doutrina de,
Ecologia, tradio libertria e,
Egranus, Joo,
Egpcia, civilizao,
Therapeutae e,
Ehrenpreis, Andreas,
Elias de Cortona,
Emerson, Ralph Waldo,
Engels, Frederick,
Ephratanas, seita,
Erigena, Joo Scotus,
Escatologia tica,
Espanhola, Guerra Civil,
Esperana, colnia,
Espirituais, Franciscanos (Zealots),
Essenios,
estrutura democrtica dos,
primitivismo cristo e,
religio de,
destruio romana dos,
Estado
Amana e a no-cooperao como o,
comunismo e abolio do,
Vida no Oriente Prximo e o,
saque comunista e,
poder e ataque do,
primitiva sociedade e o,
Reforma e relao da Igreja com o,
Estados Unidos,
Amana, comunidade, nos,
comunistas, comunidades, nos,
durante 1840,
Fourierismo nos,
Hutteritas nos,
Oneida, comunidade, nos,
Eusebius de Caesarea
Evans, Frederick W.,
Fairfax, Thomas,
Feudalismo
revoluo bomia e,
queda do,
Rebelio Camponesa na Inglaterra e,
Reforma e,
Fourier, Franois Marie Charles,
teoria utpica de,
Fourierismo (falanstrios fourieristas),
Brook Farm e,
colnias de,
teoria de Fourier,
Fox, George,
Francisco, So,
doutrina de,
Franciscanos,
Igreja apoia bases dos,
Munzer e,
Espiritualidade (Zelotes),
Franck, Sebastian,
Francesa, revoluo,
Fuller, Margaret,
Garrison, William Lloyd,
George, Henry,
German Baptist Brethren,
Gersen, Ottilie von,
Gerson, Jean,
Gilbert de Sempringham, So,
Godwin, William,
Goldman, Emma,
Greeley, Horace,
Gregory de Nazianzus, So,
Gregory XII, Papa,
Gresbeck, Henry,
Guerra Civil Inglesa
heresias da Igreja durante a,
Cromwell e,
seitas religiosas durante a,
Harmonistas,
comunidade,
Harrington, James,
Haskell, Burnette G.,
Hawthorne, Nathaniel,
Heinemann, Barbara,
Henry VIII,
Heresias
autoridade bblica e,
dos Irmos do Esprito Livre,
Islmicas,
durante a Idade Mdia,
Hildegard de Bingen, So,
Hippolitus,
Hdefman, Melchior,
Holy Jumpers,
Hbmaier, Balthasar,
Hus, Joo,
efeito da execuo de,
radicalismo de,
Hussitas, Guerras,
Hut, Hans,
Hutter, Jacob,
Hutteritas,
na Amrica do Norte,
bases russas,
cultura da vergonha,
riqueza e estabilidade dos,
Ibn-Arabi,
Icaria, comunidade,
bases da,
Igreja, como partido,
Ihknaton,
Inca, civilizao peruviana,
Independentes seitas,
Inglaterra
Diggers e,
Owen e,
Rebelio Camponesa de 1381 na,
Inquisio
proibida na Inglaterra,
mantida fora da Bomia,
Mulheres perseguidas pela,
Intencionais, comunidades religiosas.
VejaComunistas, seitas religiosas Irmos da vida Comum,
Irmos (Fraternidade) do Esprito Livre,
Misticismo cristo e,
doutrinas dos,
Iroquois,
Islmica, civilizao
Cruzadas e,
piratas, comunismo e,
Shia e,
Islamitas Negros,
James II,
Janson, Eric,
Joana dArc,
Jeov, Testemunhas de,
Jesutas,
no Paraguai,
Judeus
Essenios e,
e a cultura da culpa
Joachim de Fiore,
Joo de Battenberg,
Joo de Gaunt,
Joo Batista,
Joo XXII, Papa,
Joo XXIII, Papa,
Joo XXIII, antipapa (Baldassare Cossa),
Josephus, Flavius,
Essenios e,
Kautsky, Karl,
Keil, Doutor,
Kelpius, Johannus,
Kempis, Thomas,
Khlisti seita,
Knights Templar,
Knipperdolling, Bernard,
Kraussert, M.,
Krechting, Bernard,
Kronstadt, revolta de, (1921),
Kropotkin, Pedro,
Langenstiel, Leonard,
Lascaux, pinturas na caverna,
Lee Steerin, Ann,
Lenin, V.I.,
Esquerda Marxista e,
Levellers,
Winstanley e,
Libertrio, comunismo,
Lilburne, Joo,
Lollards,
Lucius III, Papa,
Lutero, Martinho,
livre empreendimento e,
Munzer e,
Revolta dos Camponeses e,
salvao para,
McClure, William,
Meean seita,
Manichaean heresia,
Manning, Robert,
Manuscritos do Mar Morto,
Margaret de Parete,
Martin V, Papa,
Marx, Karl,
Matthaei, Conrad,
Mattys,Jan,
Maia, civilizao,
Mazdaian seita,
Mecca, Carmathiano, ataque,
Mechthild de Magdeburg, So,
Meecham, Joseph,
Megalithica religio,
Mennonitas,
na Amrica,
Menno Simons,
Melchiorita seita,
Metz, Christian,
Mdio, Oriente.
VejaOriente Mdio
Milenarismo
Anabatistas e,
e seguidores de Munzer,
e Agnosticismo,
Mnster, comuna e,
1000 AD,
Shakers e,
de Taboritas,
Miller, Henry,
Milton, Joo,
Modernos Tempos, comunidades dos,
Maom,
Molokani seita,
Monasticismo,
Contra-reforma e,
de Ephratanos,
da Igreja Ortodoxa Crist,
Monastrios
Beneditinos,
Movimento da Quinta Monarquia,
Mongis,
Monges,
Monteforte, comunidade,
Moravia: Anabatistas na,
Veja tambmBomia
Moravianos, Irmos (United Brethren),
More, So Thomas,
Morgan, Lewis Henry,
Mormons,
Morris, William,
Muir, Joo,
Miller, Bernard,
Mulher na seita Wilderness,
Mulheres
entre Carmathianos,
Cristo, misticismo e,
comunalismo e,
Huteritas,
Oneida,
Shakers e incarnao feminina de Jesus,
Mnster (Alemanha),
comunismo de,
Mnzer, Thomas,
captura de,
depoimento de quatro sobreviventes,
Revolta dos Camponeses e,
radicalismo de,
disseminao dos ensinamentos de,
misticismo
dos Irmos do Esprito Livre,
teologia da Igreja e,
de Eckhart,
de Noyes,
Russos, Camponeses, e,
Chitas,
Mulheres e,
da Mulher do Deserto,
Nashoba comunidade,
Nazarenos, seita dos,
Negro (Negro escravo),
da comunidade Nashoba,
Neoltica, aldeia
comunalismo na,
da estepe Europia,
do Oriente Prximo,
Nestoriana, Igreja,
Nova Harmonia, comunidade,
Owen e,
Nova Icaria, comunidade,
Nova Lanark,
administrao de negcios,
Nicholas de Cusa,
Nojashing, comunidade,
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Noyes, Joo Humphrey,
Oneida e,
Observante seita,
Oecolampadius, Joo,
Olivi, Pedro Joo,
Olson, Jonas,
Oneida comunidade,
Noyes e,
Ordem de Padres (Dominicanos),
Oreb comuna,
Oriente Prximo,
Carmathians,
vida comunal no,
Mazdaismo na,
Chitas,
Oschwald, Ambrosius,
Otomano, Imprio,
Owen, Albert K.,
Owen, David Dale,
Owen, Robert,
Cabet e,
Nova Harmonia, comunidade e,
Nova Lanark e,
Owen Robert Dale,
Owenitas, comunidades,
Veja tambmNova Harmonia; Nova Lanark
Pachomius, So,
Pacifismo,
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Paraguai, Jesuitas no,
Paris, comuna de,
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Paulo, So,
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Ephratanos na,
Rappites na,
Mulher do Deserto,
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neoltica, revoluo, e,
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Lutero e,
Munzer e,
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Reforma,
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destruio da, radical,
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So Nazianz, colnia de,
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liberdade editorial de desloc-lo para o fim da presente edio, para facilitar o flux
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2002 Kenneth Rexroth
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Dezembro 2002
NDICE
Introduo A Tradio Libertria
1. A Aldeia Neoltica
2. Essnios, Therapeutae, Qumran
3. A Igreja Primitiva, Monasticismo
4. Eckhart, Irmos do Esprito Livre
5. Joo Wycliffe, A Rebelio dos Camponeses Ingleses
6. Huss, As Guerras Hussitas, Tabor
7. A Reforma Radical, Thomas Mnzer
8. Mnster
9. Anabatistas, Hutteritas
10. Winstanley, Diggers
11. Oriente Prximo e Rssia
12. Comunidades Primitivas na Amrica
13. Amana, Os Shakers, So Nazianz
14. Oneida
15. Robert Owen
16. Josiah Warren
17. Brook Farm
18. Fourierismo
19. tienne Cabet
20. Hutteritas Novamente
Eplogo Comunalismo Ps-Apocaliptico
ndice