A Biblia Seu Interprete e Sua Interpretacao A
A Biblia Seu Interprete e Sua Interpretacao A
A Biblia Seu Interprete e Sua Interpretacao A
Terry, Milton S., Biblical Hermeneutics. Grand Rapids, MI: Zondervan 1977. Pp.151-158
2
Esprito. Precisamos buscar a mente de Cristo e isto s acontecer quando a Palavra d`Ele habitar
ricamente em ns, pois o pendor do Esprito Santo para vida e paz. Nossa busca deve ser pela
sabedoria de Deus, assim nos diz Paulo: Mas Deus no-lo revelou pelo Esprito; porque o Esprito
a todas as coisas perscruta at mesmo as profundezas de Deus... as coisas de Deus ningum as
conhece seno o Esprito de Deus. (Ef. 1:17,18)
Princpios bsicos de interpretao da Bblia
O Admirvel Mundo Bblico nos remete h quatro mil anos atrs. O que um livro escrito
h tanto tempo, em lugares, lnguas e culturas to diferentes da nossa, tem que possa nos interessar
hoje? Os autores e os leitores da Bblia so produtos da suas culturas. O choque desses dois
horizontes, o mundo bblico e o contemporneo, , portanto, inevitvel a qualquer leitor.
Cremos que a mensagem de Deus, revelada em outro tempo e espao, continua vlida para
os nossos dias. preciso, portanto, entend-la e transp-la para hoje. Aqui entra a ferramenta da
hermenutica! Ela nos ajuda a entender a mensagem de Deus, relevante e fundamental para a nossa
vida crist, e a forma ou roupa na qual ela nos enviada. Quando recebemos uma carta, por mais
bonito e interessante que sejam o envelope e o papel, o contedo que nos transmite a mensagem
principal.
Uma definio de Interpretao: Hermenutica a cincia e a arte da interpretao. A
palavra usualmente aplicada explanao de documentos escritos e pode ainda ser mais
especificamente definida como a cincia da interpretao da linguagem de um autor. A
Hermenutica reconhece que existem diferentes modos de pensamentos e ambigidades de
expresses entre os homens. Seu objetivo, portanto, remover as supostas diferenas entre um
escritor e seus leitores a fim de que o significado deste possa ser verdadeira e acuradamente
compreendido por aqueles.
1) Os maus usos da Bblia.
1.1) Displicente: descaso, eventual, indiferente, descomprometido...
1.2) Mgico: amuleto, sorte, conveniente circunstncia, Salmo 91...
1.3) Comprobatrio: A falcia evanglica bsica de nossa gerao o Texto-Prova, que
o processo pelo qual uma pessoa prova uma doutrina ou prtica pela citao de textos bblicos
sem considerar seu inspirado propsito original. (Osborne 1991, p.6,7)
2) O bom uso da Bblia.
2.1) S bblico o ensino que reflita um abrangente e contextualizado estudo dos textos
bblicos. A analogia da f.
2.2) Nenhum ensino est completo se no envolver os dois testamentos e passar pelo centro
da escritura que Jesus Cristo Criao, Israel, Cristo, Igreja, Consumao.
2.3) A Bblia um livro acima de tudo para a vida. Precisamos entender e atender.
A verdade no est na doutrina sem vida, nem na vida sem doutrina; mas sim na
vida que expressa a doutrina, e na doutrina que orienta a vida. (J. A. Ferreira, p. 16)
1. A grande importncia da interpretao bblica:
a) Pessoal. Voc precisa saber o que Deus quer te falar.
b) Discernimento. Precisamos entender as diferenas de interpretao.
c) Teologia. Um entendimento mais amplo de Deus e da vida.
d) Comunidade/Pastorado/Evangelizao/Ensino: Ajudando outros a conhecer e viver com
Deus.
2. Como pode uma pessoa que queira estudar a Bblia com honestidade ter sucesso e ser
abenoada pela Palavra de Deus?
3
Parta da pressuposio de que a Bblia tem autoridade. Para comear devemos ter uma
conscincia bem clara de que a Bblia a palavra escrita de Deus, portanto, infalvel e
inerrante. Ns, contudo, somos falhos e erramos, muitas vezes, em nosso entendimento. Isto
verdade para o cristo individual tanto quanto para a igreja. Deus sabe da nossa necessidade de
auxlio para entendermos e atendermos sua voz. Temos de aplicar alguns princpios de
interpretao que nos ajudam muito ao nos aproximarmos da Bblia. Este o primeiro princpio
de aproximao da Bblia, ela o supremo tribunal de recursos para a vida e prtica do filho de
Deus.
A Bblia sua melhor intrprete; a Escritura explica melhor a Escritura. Ao estudarmos a
Bblia devemos deix-la falar por si mesma, sem procurarmos acrescentar ou retirar algo,
procurando comparar passagens com outras passagens. O primeiro interprete da Bblia foi o
Diabo (Gn 3:1-5) e o que ele fez? a) torceu o que Deus disse em Gn 2.16,17; b) Contradisse a
Deus V.4; c)ridicularizou e acusou Deus V.5.
Interprete a experincia pessoal luz da escritura e no a escritura luz da experincia
pessoal. Nossas experincias com o Senhor so muito importantes para a nossa vida crist,
contudo precisamos coloc-las no seu devido lugar e no deixar que assumam um lugar que
somente Deus, atravs da Bblia, tem. Isto : o direito de nos dizer o que est certo ou no e
conduzir toda a nossa vida. Por exemplo: uma pessoa que no consegue se controlar no seu
consumismo sente um dia de Deus o desejo de nunca mais usar carto de crdito e aps ter um
bom resultado comea a achar que todos deveriam fazer o mesmo por causa da sua experincia
e usa o texto de Romanos 13.8 para justificar seu ensino.
O propsito primrio da Bblia mudar as nossas vidas, no aumentar o nosso
conhecimento. Satans conhece e usa a Bblia (vide Mt 4), mas a escritura foi nos dada para
sermos santos e no espertos (2 Tim 3.16,17).
Cada cristo tem o direito e a responsabilidade de investigar e interpretar pessoalmente a
Palavra de Deus. Princpio defendido pelos reformadores protestantes do Sec. XVI. No
podemos esperar que outras pessoas faam este trabalho por ns (At 17.11)
A histria da igreja importante, mas no decisiva na interpretao da escritura. A tradio
e a herana eclesistica tm o seu lugar de importncia em toda igreja crist, mas no a igreja
que determina o que a Bblia ensina, antes, a Bblia determina o que a igreja ensina.
Princpios bsicos de interpretao da Bblia / SIMPLICIDADE e HISTRIA.
A Bblia a revelao de Deus aos homens. Por que imprescindvel que Deus se revele a
ns? a) H uma distncia entre o criador e sua criatura que esta no pode por si s transpor; b) Deus
perfeito e santo enquanto ns somos pecadores. Assim mesmo, Deus deseja se relacionar
pessoalmente conosco, mas ns estamos incapacitados pela nossa situao de busc-lo como
devemos, assim torna-se condio imprescindvel que o Senhor venha at ns, ver Isaas 55.6-11
1. Princpio da simplicidade:
Deus falou com o propsito de ser entendido. Esta pressuposio nos leva ao princpio da
simplicidade.
A Bblia no um quebra-cabea que Deus preparou para nos manter ocupados aqui na
terra, nem to pouco um labirinto onde estamos sempre procurando uma sada. O propsito da
revelao escrita de Deus trazer luz e claridade e no confuso para as pessoas. Deus no espera
que somente as pessoas muito cultas e estudadas entendam a sua mensagem, de fato ele diz que so
os smplices que tem a melhor chance de entend-la. (Uma observao: Simplicidade no exclui
estudo e cultura, mas, sim orgulho e altivez intelectual.
H, de fato, alguns textos da Bblia que so de difcil entendimento a princpio (2 Ped 3.16),
contudo a mensagem central dela, que, talvez, pudssemos resumir em Joo 3.16, muito simples.
Os reformadores optaram por uma hermenutica que pressupunha o sentido natural da Bblia,
4
rejeitando uma herana secular de interpretao alegrica (ATENO: A rejeio da alegorizao
no significa a rejeio do figurativo).
H uma grande diferena entre o sentido Natural do Literal. Nem sempre o sentido
natural o literal, Ex.: Jo 3 o novo nascimento; Jo 4 a gua viva; Jo 6 "meu corpomeu
sangue"; Jo 10 a porta, minhas ovelhas. Jesus fez uso destas imagens/figuras de
linguagem como recurso de ensino
preciso que observemos tambm as expresses "Antropomrficas" (mo, brao, boca,
olhos de Deus) e "antropopticas" (arrependimento).
Um cuidado especial deve ser tomado no estudo dos textos poticos e apocalpticos.
Como podemos separar na escritura aquilo que literal do que figurado? A resposta est
em como ns entendemos o sentido natural do texto.
2. Princpio da historicidade.
Embora a mensagem de Deus seja para todos os homens em todos os lugares e momentos da
histria, Deus falou em um contexto preciso e particular, assim sendo a mensagem nica e universal
de Deus s pode ser entendida luz das circunstncias na qual foi primeiramente dada. O que nos
leva ao sentido original das escrituras.
Quando abordamos um texto bblico precisamos nos acompanhar de algumas perguntas que
nos ajudem a entend-lo melhor. O mtodo 'Histrico-Gramatical' Tem sido usado como a
ferramenta mais til neste tipo de abordagem do texto. um exerccio no qual nos transportamos
at os dias do autor e dos destinatrios do seu documento e procuramos ouvir as suas palavras como
se fossemos um dos seus primeiros ouvintes. Para que isso ocorra com mais segurana preciso que
consideremos pelo menos trs aspectos:
1. A situao. preciso reconstruir o cenrio do texto estudado. Quem o escreveu e para
quem? Quais eram as circunstncias e o porqu delas?
2. O estilo. Qual o gnero literrio do texto? Prosa, Poesia, Narrativa, Sabedoria, Profecia,
Apocalipse, Epistola, Evangelho
3. A lngua. A linguagem de um povo algo que est em constante mutao. Uma palavra
pode mudar de significado de uma gerao para outra. O grego bblico o KOINE
("comum", no o clssico, nem o Bizantino, nem o moderno), uma linguagem popular
que durou entre 330 A.C. at 300 A.D. Ver, por exemplo, o estudo de uma palavra no
N.D.I.T.N.T.
Princpios bsicos de interpretao da Bblia / HARMONIA e MODERNIDADE.
Deus falou com o propsito de ser entendido (Simplicidade).
Deus falou em contextos especficos (Histria).
Deus falou sem contradizer-se (Harmonia).
Deus ainda fala atravs do que ele j falou (Modernidade).
1. Princpio da harmonia:
Deus falou "muitas vezes e de muitas maneiras" por um perodo de aproximadamente
1600 anos. De fato a Bblia mostra uma imensa diversidade de autores e de estilos, mas em todo o
seu contedo ela consistente e no se contradiz. Isto revela a mente de Deus que est por trs de
cada palavra e pensamento ali registrado. A respeito deste assunto assim nos diz a confisso de f de
Westminster 1.5: "Pelo testemunho da igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente
apreo pela escritura sagrada; a suprema excelncia do seu contedo, a eficcia da sua doutrina, a
majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que dar a Deus
toda a glria)".
1.2) Duas responsabilidades:
5
a) Sintetizar: Combinar partes divergentes em um todo.
1. O ser humano: Dignidade (imagem e semelhana de Deus, Tg 1.18); Depravao
(queda, Rm 1.10).
2. O Estado: Obedincia (Rm 13, autoridade instituda por Deus); Desobedincia
(Ap 13, autoridade demonaca e rebelde a Deus. Dois exemplos: a) Ex 1.15; b) At
4.5 ).
3. As Posses: podemos Guard-las (At 5.4); podemos Distribu-las (At 2.44).
4. O Sexo: Celebrao (Cantares); para o Casamento (Gn 2.22); a abstinncia (1Co 7.7, o
celibato no incompatvel com o ser humano).
b) Harmonizar: No manipular indiscriminadamente os textos bblicos, mas deixar com
que a Bblia explique a si mesma. Westminster diz: "Na Escritura no so todas as coisas
igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos, contudo as coisas que precisam ser
obedecidas, cridas e observadas para a salvao, em uma ou outra passagem da escritura so to
claramente expostas e aplicadas, que no s os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos
meios ordinrios, podem alcanar uma suficiente compreenso delas." (W1.7).
2. O princpio da modernidade.
Deus fala hoje atravs do que ele revelou no passado e est registrado na Bblia. A palavra
de Deus viva e dinmica e no est fossilizada em um determinado contexto j passado. O Deus
vivo quem faz com que a sua palavra revelada continue to atual e imprescindvel para os homens
hoje.
Duas expresses usadas por Jesus e pelos apstolos marcam a importncia da Palavra de
Deus para a mentalidade moderna. GEGRAPTAI GAR (porque est escrito) e LEGEI GAR (pois
est dito) , vrias foram as oportunidades em que Jesus e os apstolos recorreram a citaes de
textos bblicos para aplic-las ao momento em que viviam.
Precisamos estar com os ouvidos atentos mensagem viva da escritura e tomarmos o
cuidado de no nos concentrarmos apenas em nosso contato com o texto bblico. O evangelho de
Jesus Cristo Tremendamente relevante para os dias atuais o que nos desafia como crentes bblicos
profecia (pregao) e contextualizao da sua mensagem.
2.1) A dificuldade que enfrentamos:
A separao cultural / histrica entre o mundo bblico e o mundo moderno distancia
um do outro mais do que pensamos. Precisamos mais do que nunca conhecer o mundo bblico
atravs de uma aproximao criteriosa (ver aula IV) e, precisamos tambm, entender o mais
possvel o mundo e a mentalidade moderna.
A interpretao bblica uma ponte entre
O MUNDO BBLICO
De 4000 a.C.
O MUNDO CONTEMPORNEO
2007 d.C.
6
a) A Bblia tem uma mensagem que dita de muitas maneiras. Precisamos entender que h
uma consistncia em meio diversidade da revelao bblica.
b) Estejamos conscientes e alertas com respeito a nosso atual momento e os seus desafios,
sem, contudo nos tornarmos escravos da modernidade. O objetivo de entendermos o momento
contemporneo e de fazermos a nossa obedincia a Deus contempornea.
CONCLUSO
A Iluminao do Esprito Santo.
O melhor interprete de um livro o seu autor, visto que ele, melhor que ningum, sabia com
que inteno escreveu. O Esp. Santo, que foi quem inspirou alguns homens para escreverem a Pal.
de Deus (2 Ped 1.20,21), o nosso maior ajudante na interpretao bblica.
Quem so aqueles que o Esp. Santo Ilumina?
a) Os regenerados, os que j nasceram de novo (Jo 3.3; 1 Co 2.14), aqueles que
experimentam a companhia de Deus em suas vidas. Para estes a Bblia deixa de ser um livro e
passa a ser O LIVRO. Exemplo: J.R.W. Stott leu a Bblia desde criana por ensino de seus pais, o
que foi algo mecnico e rotineiro at o final de sua adolescncia quando foi convertido. A partir
da sua leitura foi outra.
b) Os humildes, aqueles que ao estudarem a Bblia com seriedade dependem e se submetem
ao seu ensino (Mt 11.25,26; Sl 119.18).
c) Os obedientes, aqueles que praticam o que aprenderam (Jo 7.17; 14.21).
d) As testemunhas, Os que compartilham o evangelho (Mt 5.13-16).
bvio que precisamos de hermenutica ao ler a Bblia. Muitos, contudo, tm perdido a
mensagem da Palavra de Deus em meio aos emaranhados culturais dos tempos bblicos ou dos
nossos dias.
A hermenutica do texto bblico envolve todo o ser do interprete e instrumentaliza todos os
recursos a ele ou a ela disponveis.
O fundamento hermenutico da Confisso da F de Westminster (Cap. I), creio eu, continua
vlido para direcionar a qualquer pessoa que se aproxime das Escrituras a fim de conhec-las e a
elas atender.
SOLI DEO GLORIA
__________________________________
Bibliografia:
Arantes, Fernando T., Campinas, 30 de setembro, 2007dC, Dia da Passagem na IPJG.
Bruce, F.F., Merece Confiana o Novo Testamento? So Paulo, SP: Ed. Vida Nova 1990.
Drane, John, Bblia, Fato ou Fantasia. Campinas, SP, LPC 2006.
Elwell, Walter A., Enciclopdia Histrico-Teolgica da Igreja Crist; Vol. II. So Paulo, SP: Vida Nova, 1990.
Guthrie, Donald, New Testament Theology. Downers Grove, IL: IVP, 1981
Stott, J.R.W., Understanding The Bible, Grand Rapids, MI: Zondervan 1976.
Stott, J.R.W., A Bblia O Livro Para Hoje. So Paulo, SP: ABU, 1993.