O Esoterismo
O Esoterismo
O Esoterismo
O ESOTERISMO
UMA ABORDAGEM HERMENUTICO-CONCEITUAL
Otvio Santana Vieira
O que aqui chamamos Hermetica, ou Corpus Hermeticum, trata-se da compilao de vrios textos,
incluindo o Poimandres, o Asclpio, os fragmentos e testemunhos de Estobeo, entre outros autores e
notcias de alguns neoplatnicos no perodo helenstico e cristo da filosofia antiga. Ver bibliografia.
Faivre, esse lugar seria o mesmo alcanado por todos aqueles que o buscam, no
importando sua orientao ou tradio (no sentido de transmisso) de onde
particularmente partiriam. Isso demonstraria uma suposta unidade entre todas as
tradies existentes. Ou, 2) o de conhecimento rejeitado, marginalizado por uma
tradio hegemnica.
Seria, entretanto, no mnimo ignorncia, ou ingenuidade, supor que tudo aquilo
que hertico ou contrrio a um contedo dogmtico seja esotrico. Podemos
perceber que as correntes ditas esotricas surgem dentro de movimentos religiosos, da
mesma maneira que vemos falar com certa frequncia de cristianismo esotrico ou
budismo esotrico, como sendo a verso marginalizada da doutrina oficial.
O caso do dogmatismo no restrito questo religiosa, mas atinge at mesmo o
ambiente filosfico. Na tradio filosfica ocidental, tudo o que se diz esotrico, ou se
aproxima disso, rejeitado reiteradamente e taxado como irracional, contraditrio ou
como um problema superado, um velho quadro intil da ignorncia primitiva do homem
(cf., por exemplo, a crtica de Theodor Adorno contra a astrologia, sendo esta
instrumento de manipulao ideolgica em As Estrelas descem Terra, por outro lado,
cf. Paul Feyerabend em O Estranho Caso da Astrologia; tambm O Mundo Humano
do Espao e do Tempo, In. Ensaio sobre o Homem de E. Cassirer). Sendo ento tudo
aquilo que no se encaixa no padro racional ou do mtodo no aceitvel ou passvel
de estudo.
A questo que sugere ir para dentro, indica olhar de fora algo que desde a
idade mdia estava inserido na Teologia (FAIVRE, idem). O jugo da Teologia acerca do
esotrico o tornara perifrico ou excludo; entretanto, o desmantelamento do lastro que
sustentava a hegemonia da Teologia fez surgir um campo vasto passvel de inmeras
abordagens, sem a necessidade da Teologia para acess-la. Ou seja, foi primeiro
necessrio ir para fora do teolgico, para acessar o esotrico por meio dele mesmo (o
interno), ou seja, desde a perspectiva no sentido mesmo de viso do esoterista,
recuperando-o do exlio, do claustro teolgico.
Devemos muito aos humanistas renascentistas neste ponto, pois eles ousaram
romper com o jugo teolgico-escolstico para celebrar um verdadeiro casamento entre
as doutrinas das religies abramicas com as doutrinas hermtico-filosficas (cf. Pico
della Mirandola, Discursos Sobre a Dignidade do Homem). O desprendimento da
Teologia descortinou o campo de abrangncia do esoterismo, e o mesmo ocorreu com a
cincia: ela se tornou autnoma. O contedo dito esotrico passou a designar assuntos
de cunho metafsico, cosmolgico e tico, fora do mbito teolgico.
Segundo Faivre, as fontes as quais constituem a Tradio Esotrica Ocidental
podem ser distinguidas como grandes rios que desguam no oceano do esoterismo
moderno. Estas disciplinas ou ramos irrigam a Alquimia, a Astrologia e a Magia, sendo
seus afluentes usando a metfora de Faivre (FAIVRE, 1994, p.14) os seguintes:
Cabala crist;
Hermetismo neoalexandrino;
Philosophia perennis (Tradio Primordial);
Paracelsismo;
Naturphilosophie;
Teosofia7 (sc. XVII);
Rosacrucianismo;
Sociedades Iniciticas.
Alquimia;
Astrologia;
Magia.
No confundir com a expresso moderna de Teosofia, associada a doutrinas orientais, pela Sociedade
Teosfica de H.P. Blavatsky (sc. XIX).
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Cf. A importncia dada por Kant imaginao como a condio de sntese entre as categorias e as
sensaes em sua esttica transcendental, na Crtica da razo pura. O esquema transcendental seria o
procedimento pelo qual a imaginao confere uma imagem para um conceito.
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Para uma abordagem mais aprofundada acerca do tema ver. DURAND, Gilbert. A Imaginao
Simblica.
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5. Referncias
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