As Línguas Clássicas II. Investigação e Ensino - 1995
As Línguas Clássicas II. Investigação e Ensino - 1995
As Línguas Clássicas II. Investigação e Ensino - 1995
As lnguas clssicas:
investigao e ensino - II
As lnguas clssicas:
investigao e ensino - II .
Actas
Ttulo
As lnguas clssicas: investigao e ensino -
Editor
Instituto de Estudos Clssicos
Faculdade de Letras de Coimbra
Capa
Carlos Alberto Louro Fonseca
Impresso
Imprensa de Coimbra, Limitada
Largo de S. Sa1.vador, 1-3 - 3000 Coimbra
Distribuidor
Livaria Minerva
Rua dos Gatos, 10 - rlc - 3000 Coimbra
II -
ACTAS
NDICE
Comisso
Organizadora
Patrocnios
.............................................. .
11
17
Programa
.........................
21
aulas
de
latim
.............. :..........
37
........................................
49
Alberto
Matos
de
Melo,
O ensino
79
do
99
semntica
Carlos Ascenso Andr, Meios audiovisuais no ensino da
sintaxe latina: oraes infinitivas .....
115
129
147
)< Jos
Mistrio
169
pan-helnicos
187
195
211
223 '
romana
Cristina Maria Vilares Sil va, O mito como pretexto
259
os
mitos
265
Virglio e
277
Os Lusadas
Rul Gomes, Aprender ensinando ...................
287
299
011
pedagogia
do
..............................
317
337
MariaHelenadaRochaPereira,Alocuo final
341
Comisso Organizadora:
PATROCNIOS
livraria Minerva
Museu Machado de Castro
Paroquia da S Velha
PROGRAMA
2 de Maio de 1995
10.00 horas:
Sesso de abertura
10.20 horas:
Conferncia inaugural:
Doutora Maria Helena da Rocha Pereira (Univ. de Coimbra),
Histria, mito e racionalidade na Ilada.
11 .30 horas:
Sesso de trabalho
Dr. Manuel Cerejeira Abreu Carneiro (Univ. de Aveiro), O ensino
da gramtica nas aulas de latim.
Doutora Cristina Pimentel (Univ . de lisboa), Modas e
provocaes na antiga Roma.
15.00 horas:
Sesso de trabalho
Dr. Jos Adelmo Junqueiro (Univ. de Aveiro), O diagnstico
como estratgia para a autonomia formativa dos
alunos-futuros professores de Latim.
Dr. Antnio Alberto Matos de Melo (Univ. Catlica - Braga),
O ensino do vocabulrio latino: etimologia e
evoluo semntica.
Doutor Carlos Ascenso Andr (Univ. de Coimbra) , Meios
audiovisuais no ensino da sintaxe latina: oraes
infinitivas.
16.30 horas:
Sesso de trabalho
Doutora Maria de Ftima Sousa e Silva (Univ. de Coimbra), Ecos da
tradio na viagem cmica de Dioniso em Rs.
Dr. Fernando Jos Patrcio de Lemos (Univ. de lisboa), Em busca
da 'Apur) perdida nos escolhos das reformas.
Dr. Isaltina Martins (Esc. Sec. Infanta D. Maria, Coimbra), DE
VIRGLIO A GARRETT: viagem ao Mistrio.
18.30 horas:
3 de Maio de 1995
09.30 horas:
Sesso de trabalho
Doutor Jos Ribeiro Ferreira (Univ. de Coimbra), O culto do
corpo. Os grandes festivais pan-helnicos.
Doutor Jos Geraldes Freire (Univ. de Coimbra), Santo
Agostinho, um clssico do latim dos cristos
(Conf. ,IX,10,1-2).
Dr" Maria Alexandra Vasques Azevedo, (Esc. Sec. de Valbom),
Etruscos: a prtica do audio-visual na aula de Latim.
11.15 horas:
Sesso de trabalho
Dr. Abel Pena (Univ. de Lisboa), Pedagogia e exemplum.
Contributo para uma anlise das fbulas de Fedro.
Doutor Francisco de Oliveira (Univ. de Coimbra), Organizao da
sociedade romana.
Dr" Cristina Maria Vilares da Rocha Silva (Esc. C+S Dr. Correia
Mateus, Leiria), O mito como pretexto.
15.00 horas:
Sesso de trabalho
Dr" Maria Teresa Schiappa de Azevedo (Univ. de Coimbra), Plato:
os sofistas e os mitos.
Dr. Antnio Manuel Ribeiro Rebelo (Univ. de Coimbra), Um
exemplo de interdisciplinaridade literria: Virgilio e
Os Lusadas.
Dr. Ral Gomes (Esc. Sec. Adolfo Portela, gueda), Aprender
ensinando.
16.45 horas:
Sesso de trabalho
Doutora Maria do Cu Fialho (Univ. de Coimbra), Da gramtica ao
contexto potico: anlise de um trecho de Rei dipo.
Dr" Maria Madalena Morna Gonalves (Esc. Sec. Francisco Rodrigues
Lobo, Leiria), Para acabar com os mitocpticos ou A
pedagogia do imaginrio.
17.30 horas:
Sesso de encerramento
111 limille*
JOO MANUEL NUNES IDRRO**
* Alocuo inaugural.
** Presidente da Comisso Organizadora
ln timine
12
III limille
vamos facilitando a
que
esta terceira via possvel, mas tambm sei que ela exige de mim
como professor um esforo muito maior que, s vezes, no estou
disposto a fazer.
Esperemos que os ensinamentos que aqui iremos receber e a
troca de experincias com os colegas que teremos oportunidade de fazer
nos ajudem a todos a aprofundar a nossa situao de professores, sem
nos esquecermos que a razo de ser da nossa profisso foi, e ser
sempre o aluno.
Como bvio, a realizao deste colquio no seria possvel
sem a colaborao preciosa de muitas entidades. Permitam-me, pois,
13
/n timine
14
!n limine
15
Saudao
JOO LOURENO ROQUE*
18
Saudao
19
22
23
Hisarlik. Alm disso, justificam o epteto de "ventosa", que correntemente aplicado a Tria na Ilada. E ainda que tivesse havido tantas
tentativas para a tomar.
Por isso, como escreveu Manfred Korfmann, "a descrio
geogrfica de Homero, a despeito do metro e da licena potica, no s
transmite uma impresso notoriamente cuidada da Trade em geral,
mas tambm oferece uma descrio concreta da Baa de Besik, como
porto e acampamento das tropas gregas"S. Com a prudncia do
verdadeiro cientista, o arquelogo observa, porm, mais adiante: "No
quero tirar concluses algumas a que no possa dar suporte. No
encontrmos restos nenhuns de navios dos Aqueus na Baa de Besik, e
gostaria de tornar bem claro que no esse o objectivo da nossa
pesquisa,,6.
Mas o mesmo local tinha ainda outra grande revelao a fazer:
a existncia de um cemitrio onde tinham sido contemporneas duas
prticas funerrias que geralmente se opem, a cremao e a inumao.
Essa era uma das grandes objeces ao Canto XXIII da Ilada onde
Ptroclo sepultado com todo o aparato dos tempos micnicos (em que
se usava a inumao), mas cremado numa enorme pira, maneira do
que se supunha ser exclusivo da poca histrica7.
S em 1988 que principiaram as novas escavaes no stio de
Hisarlik, tambm sob a direco do Professor Korfmann, a quem o
governo turco concedeu uma autorizao pessoal para exercer essa
actividade. Vale a pena determo-nos uns minutos a considerar a maneira
paradigmtica como esto a ser conduzidas: colaborao internacional
dos arquelogos de Tbingen com os de Cincinnati (a Universidade
americana que os precedera) e os do Instituto Arqueolgico Alemo, e
5 "Troy: Topography and Navigation" in: Troy and lhe Traja/! War
(Bryn Mawr College, Pasadena, 1986) 12-13.
6 Ibidem 19.
7 A mesma coexistncia das duas prticas se verificou no herooll de
Lefkandi, na Eubeia, o qual datvel do sc. X a. C.
24
25
e estamos
ignorado ou
27
que Pris e Febo Apolo um dia ho-de abat-lo, nas Portas Ceias
(XXII. 355-360). que, conforme observa Griffin, "um guerreiro que
no pode ser morto, na Ilada, um absurdo, e a singularidade de uma
armadura a sua beleza, sem mais,,19.
O terceiro e ltimo exemplo da srie talvez o mais interes-
28
n(X "C"(Xx -
n (X
c.Jx,
nowxT),
acrescentaremos ns -
Zeus, onde o deus supremo enumera as suas muitas amadas, sem referir
as metamorfoses assumidas para as conquistar (como a de touro, para
arrebatar Europa, e a de chuva de ouro, para penetrar na torre onde
Dnae estava encerrada).
Estes so alguns exemplos, a que outros poderiam juntar-se, que
nos levam a falar de racionalismo na Ilada.
Voltando figura de Zeus, ela , do ponto de vista que estamos
a considerar, uma das mais significativas da Ilada. Alguns dos seus
eptetos so francamente reminiscentes dos atributos primitivos de um
deus do tempo atmosfrico: "tonitruante", "ajuntador de nuvens", gravitam na rea de um poder que se exprime por fenmenos temveis da natureza, que infundem o terror no homem primitivo. Porm, um em20 /bidem. Para outra interpretao, vide B. Hainsworth, The lliad:
a Comme/ltaty. Books 9-/2 (Cambridge 1993) 44.
29
3O
que se tem
e tal
31
32
II
intervm como conselheiro em pontos de chameira e que, como escreveu H. Erbse em artigo acabado de publicar, "ohne Nestor, keine Ilias"
("sem Nestor, no havia Ilada,,)23, visto que ele quem sugere as diligncias principais que conduzem a aco a novos caminhos: a construo da muralha (Canto VII), a embaixada a Aquiles (Canto IX), a partida de Ptroclo para o combate, frente dos Mirmides (Canto XI,
levada a efeito no Canto XVI). Erbse inclina-se mesmo a supor que o
poeta da IUada teria sido o primeiro a ligar saga de Aquiles e de Tria
a figura veneranda do ancio, alargando assim a narrativa sua
dimenso monumental.
Algo de paralelo se passa com as referncias a vrios mitos e a
possvel novidade de Homero neste campo. Os estudo realizados por
Willcock e mais tarde por BrasweU24 demonstram que a inovao mitolgica na Ilada um facto e que, de um modo geral, uma meno
breve de uma histria significa que ela conhecida, ao passo que uma
verso longa reveladora de criao prpria. Deste ltimo caso seria
exemplo o mito de Zeus algemado por outros deuses e do auxlio que
lhe prestou Ttis, chamando ao Olimpo Egon, o gigante de cem
braos (I. 396-406), episdio de que no se conhecem outros
testemunhos 25 , mas cuja relevncia para a estrutura do poema ( em
retribuio desse favor que Zeus promete a Ttis desagravar Aquiles)
fundamental, como muito recentemente demonstrou Heinrich Kuch 26 .
Do outro, ou seja, da coexistncia de duas tradies diferentes acerca do
mestre de Aquiles, a do preceptorado de Quron, que sumariamente
mencionada (XI. 832) e a do de Fnix, que fundamental na embaixada
33
~o Canto IX, provaria que esta ltima figura era de inveno homrica.
E.~ta
~sto,
revista das principais tendncias dos ltimos anos, haveria que chamar
a ateno para os estudos sobre a simetria da narrativa, que a aceitao
da tese do ditado, proposta por Lord, e cada vez com maior aceitao
entre os grandes especialistas, permite explicar. Assim, os ecos
(frequentemente verbais) de uns para outros cantos e o contraste entre o
primeiro e o ltimo seriam uma das provas mais evidentes do extremo
cuidado posto na composio. O. Taplin, que, de resto, se mantm fiel
tese da oralidade28 , pe em relevo a marcada absteno do poeta em
moralizar sobre os actos que narra, afirmando mesmo que "h muito
poucas epopeias -
ou mesmo romances -
continua -
tal no
3'4
As Inf.'uas
(' l ~s ~icas :
TI
II
35
No quadro da nova reforma do sistema educativo e na organizao curricular daI resultante, manteve o Latim um lugar semelhante ao
que j tinha desde as inovaes introduzidas por Veiga Simo que o reduziram condio de disciplina opcional. Agora torna-se obrigatria
apenas para os cursos humansticos, no lhe sendo reconhecida qualquer
importncia na rea da formao geral, a no ser de uma forma indirecta, enquanto se prev que os professores de Portugus tenham razoveis conhecimentos de lngua latina.
"Criar as condies que pennitam a consolidao e aprofun. damento da autonomia pessoal conducente a wna realizao individual e socialmente gratificante.
Proporcionar a consolidao, aprofundamento e domnio de
saberes, instrumentos e metodologias que fundamentem uma
cultura humanstica, artstica, cientfica e tcnica, efavoream,
numa perspectiva de educao permanente, a definio de interesses e motivaes prprios face a opes escolares e
p rofiss ionais.
* Universidade de Aveiro.
38
39
CP. de
a lngua
4O
41
do latim (que o que mais nos interessa tratar) se mantm tal como no
princpio do sculo, e, pode dizer-se mesmo, como era, h sculos
atrs. Para o comprovar basta verificarmos que os estudantes de latim,
alguns anos depois, recordam muito mais facilmente os paradigmas da
flexo nominal ou verbal, ou ainda alguns pronomes, do que qualquer
texto que se tenha utilizado nas aulas. Isto quer dizer que estudaram
predominantemente as regras do sistema e do funcionamento da lngua,
e no os actos de comunicao e as situaes concretas em que se
fizeram que essa lngua possibilitou (isto , os textos).
esta a razo do insucesso e da averso generalizada j referida.
De facto, para alm da introduo dos temas de cultura que resultam de uma reformulao dos programas efectuada no fim da dcada de
setenta, nada mais se fez, praticamente. E os temas de cultura so muitas vezes entendidos como motivao para o estudo da lngua e no
como fazendo parte desse prprio estudo. verdade que se renovou a
forma de estar na aula, que dispomos hoje de meios tcnicos nunca
antes conhecidos e utilizados, como o vdeo, o computador, mas, na
substncia, tudo continua como dantes, porque so utilizados os
mesmos textos, os mesmos modelos, e necessrio estudar toda a
gramtica, isto , todas as regras do sistema, para tornar possvel o
acesso a esses textos.
Poder dizer-se que assim tem de ser porque o latim uma lngua antiga cujo estudo ter de fazer-se sobre os mesmos textos utilizados ao longo dos sculos, sem se recorrer a actos de comunicao viva
e oral. Mesmo assim, muito poder e dever ser modificado, incluindo
o recurso a uma muito maior variedade de textos e, sobretudo, a textos
muito mais fceis que evitem a necessidade do conhecimento completo
da gramtica indispensvel compreenso da obra literria.
O ensino da gramtica nas aulas de latim quase sempre penoso
para a maioria dos alunos e tambm para muitos professores. Recorre-se predominantemente ao mtodo dedutivo, partindo da flexo de paradigmas e da apresentao das regras. Acrescem depois as excepes que
42
43
44
"5
pouco divulgada e no provocou ainda a reflexo e as consequncias pedaggico-didcticas que justificaria, largamente.
Um exerccio como o exposto, que constituiria a primeira fase
de abordagem a que fiz referncia, poderia ocupar entre vinte a trinta
horas lectivas e permitiria mostrar claramente as semelhanas e as diferenas entre o portugus e o latim e avanar, com uma grande motivao, para uma segunda fase em que se faria um estudo sistemtico,
utilizando j textos autnticos, simples, de autores latinos.
Afinal, trata-se, apenas, de organizar e estruturar, neste segundo
momento, elementos conhecidos, e de os aplicar em situaes novas.
Algumas normas devem ser seguidas, sem concesses, em todo o
processo:
- respeitar sempre o rigor cientfico;
- no avanar demasiado depressa;
-
quando a propsito;
-
46
II
47
* Universidade de Lisboa.
1 Notam os socilogos que, na Antiguidade, apenas no podemos
observar o fenmeno das modas criadas pelos pobres e adoptadas pelos
ricos , como aconteceu no nosso sculo com os jeans, nem o das modas
"massificadas": em Roma s os ricos as podiam criar e seguir.
brincos, quando a primeira mulher se exibiu na praia com um calo-fio-dental, todos eles tiveram coragem, desafiaram as convenes, e levaram s ltimas consequncias o desejo de dar nas vistas, o capricho
de serem diferentes e provocadores, a vontade de chocarem ou, pelo
menos, surpreenderem os acomodados, retrgrados e "certinhos" de que
se queriam distinguir. Como evidente, essas e outras modas
"pegaram" porque houve quem as seguisse, quem as imitasse, quem se
reconhecesse em tais atitudes e opes.
Em Roma as coisas no se passavam diferentemente. Se uns
ousavam, outros encarneiravam. Outros, ainda, reagiam criticamente.
E erguiam a voz contra .as modernices, o desrespeito, a infraco.
A maior parte das vezes sem qualquer resultado ...
Quem cria ento a moda? De que grupos etrios, sociais, econmicos ou polticos saem preferencialmente esses ousados ou provocadores seres que se atrevem a inovar e fazem orelhas surdas ao que deles dizem e deles se pensa ou, ao invs, querem justamente que falem
deles?
Em primeiro lugar, os polticos e outros seres bafejados pelo
conforto do poder. Em Roma, basta observar o caso de alguns nomes
sonantes da Repblica e, posteriormente, dos principes. Os seus
gostos, usos e manias determinaram modas logo que os pressurosos
sbditos obedientemente os copiavam.
Quando M . Aurlio Antonino comeou a usar um grosso, comprido e confortvel embora relativamente inesttico capote munido de
capuz, que dava pelo nome de caracalla, e estendeu o seu uso s tropas,
logo pelo Imprio se espalhou a moda e o prprio Imperador ficou
conhecido por essa designa0 2. Lembremos um fenmeno semelhante
a que assistimos no h muito. Durante uma das muitas campanhas
eleitorais dos ltimos anos, o candidato Freitas do Amaral usava um
sobretudo de bom tecido em cor verde. Como todos esto lembrados,
5O
II
51
8 Tambm no mundo grego o uso era recente e fora divulgado sobretudo por Alexandre.
9 Plin. NH VII 211; Gell. NA III 4.
10 No cuidar cabelos e barba passou depois a ser apangio sobretudo dos que queriam parecer o que no eram (msculos e de rgidos princpios morais, cf. p.e. Marcial I 24) e dos que eram ou se faziam passar por filsofos, em especial Cnicos e Esticos (cf. Marcial IV 53 e XI 84,7).
Estes, tal como Horcio dizia acerca dos "poetas" (AP 297-8: bOlla pars
11011
ullguis pOllere curaI, / nOIl barbam, secrela pelil loca, balllea uilat),
erallt, tegerefll.
52
L. Cornlio Cipio Africanus Maior passa por ter sido o primeiro homem a usar um anel adornado com uma pedra preciosa l4 . At
ento, as jias masculinas resumiam-se a um simples anel, marca da
dignidade senatorial ou equestre, usado como selo e sinal do estatuto de
Quirites para a confiana que ele no merece uma vez que feminil mente
se adornava usando anis na mo esquerda15 , a verdade que, no tempo
de Quintiliano e Marcial, os homens usam anis s dzias e em vrios
dedos, ao ponto de o primeiro recomendar que no se ultrapassem as falanges com to preciosa carga 16 , e de o segundo louvar o riqussimo
II
53
povo conquistador ser inferior ao conquistado, e uma reaco, esclarecida por parte de uns, tacanha por parte de outros, perante a ameaa da
descaracterizao das tradies e costumes arreigadamente romanos.
Cipio Africano lanou ainda a moda do pallium, o manto
grego: em 204 a.c., passeava-se por Siracusa com tal indumentria e
calado com sandlias gregas, exercitava-se na palaestra 20 ... Fcil de
compreender que tal conduta, o abandono da toga e dos calcei21 adequados dignidade de um ciuis como Cipio, tenha suscitado as mais duras crticas e uma queixa, por imoralidade, apresentada por Cato no
Senad022 e que resultou ... em nada. Pouco tempo depois, j ningum
usava toga a no ser em ocasies solenes ou, no dizer de radicais como
Juvenal 23 , quando se jazia morto.
Lembremos tambm, sob este aspecto, L. Aemilius Paullus,
vencedor de Perseu em Pidna. Quando, por exemplo, levou seu filho,
depois adoptado na gens Comelia com o nome de Cipio Emiliano, a
entregar-se aos prazeres da caa nas reservas do rei da Macednia24 ,
dava incio a uma moda a que os Romanos aderiram entusiasticamente,
a da caa desportiva, eles que at a conheciam apenas a caa com
pragmticos objectivos alimentares. Cativados pelos paradisi dos
Selucidas, onde rvores, cursos de gua naturais ou artificiais, feras
em liberdade criavam o anlbiente propcio arte venatria, bem de-
54
pressa os ricos senhores romanos fizeram gala e se disputaram para terem as suas prprias coutadas e se entreterem com os amigos 25 nas
precursoras das hoje em dia finrrimas caadas ao javali, em terras alentejanas, verso lusitana dafox hum inglesa ...
A "moda helnica" teve outros aspectos interessantes. Quando,
no sc. III a.c., pela primeira vez um nobre romano confiou a educao do filho a um prisioneiro tomado em Tarento e trazido para Roma
para o seio da farrulia de Lvio Salinator, tal deciso absolutamente revolucionria instituiu a moda dos preceptores gregos. Claro que o referido escravo se desempenhou bem da misso: por isso foi libertado e
no por acaso que se tratava de Lvio Andronico, de certo modo considerado o pai da literatura latina. claro que tambm ento houve vozes discordantes, sobretudo representadas por Cato, neste caso quase
simbolicamente denominado o Antigo, que se escandalizou (como podia o filho de um ciuis ser castigado por um servo?) e tomou a peito
encarregar-se da completa educao do prprio filh0 26 . A moda, todavia, pegou, como sculos depois a das nannies inglesas ou das dames
55
prprias atitudes que muito o chocaram27 . Para Cipio Emiliano, danar ainda no era digno. Os tempos vindouros abafaram tais escrpulos embora nunca, ao que parece, por completo.
, assim, aos grandes e poderosos do mundo que, em todos os
57
VS.
ueniunt .. .
36 Conlr. VII 7.
37 Cf. Conlrou. 15 (Raplor duarum) e a escolha rapla raploris aul
morlem aul illdolalas lIuplias opiei (I 5; III 5; IV 3; VII 8; VIII 6).
38 Curiosos paralelos se encontram nas CO/llrou ersiae, p.e. em
I 5,2: Sumalur de iJ/o suppliciulIl, cO/lslilualur iII cO/lspeclu publico,
caedalur diu, loto die pereat qui tola nocle peccauit. O passo refere-se ao
59
Timeo Danaos el donaferemes ... Aquelas citaes que agora (at que
morra algum outro grande poeta) so amide de Miguel Torga (de quem
antes poucos conheciam mais que o ttulo Bichos) e que, no h
muito, iam ao manancial de Pessoa at quase nos causar nusea o que
de mais belo se escreveu em lngua portuguesa ...
tempo de passarmos a outro aspecto. Quem faz a moda so os
ricos, os que tm dinheiro. Que s vezes, muitas vezes, acumulam com
o serem polticos. Ou que, quando no acumulam, descobrem depressa
como acumular. Em Roma tambm era assim. A moda era a marca da
diferena em relao aos pobres e desclassificados, era a ostentao da
riqueza, da cultura que se tinha, se fingia ou dizia ter, do requinte e
finura de gostos e opes, do poder que se compra com o dinheiro .. .
Ora, seguir a moda , para antigos e modernos, uma escravido e um
conflito permanentes, uma obrigao de inventar novas modas quando
as vigentes se vulgarizaram entre a "gentinha", uma dura luta travada
para se ser original, mais in que os outros, para se ser o primeiro a
guiar o ltimo modelo da Lancia ou a vestir um Valentino ou a ir,
numa busca de si mesmo, num desapego das coisas terrenas, meditar ...
por 15 dias, para um belssimo mosteiro no Tibete ou nos Dolomitas.
6O
triclinium para o Vero e outro para o Inverno, um para grandes banquetes e outro para jantares mais ntimos, balnea privados quentes e
frios, s vezes at piscina aquecida (como tinha Plnio nas sua uilla de
Laurentwn43 ), ele que conhecia sem dvida a magntlca sala de banquetes de Nero, construda semelhana do universo, que continuamente
61
uillae. Mesmo assim, o clima tudo compensa e no foi por acaso que,
em 24 de Agosto de 79, a erupo do Vesvio foi to funesta: toda a
63
sima fama como lugar de veraneio: Marcial diz-nos que os seus ares
eram insalubres 52 . Mas tambm por Marcial sabemos que estar na
moda e ir para Bias significava muitas vezes chegar Penlope e partir
Helena53 ... Tambm por ele conhecemos as oportunidades de se ficar
bronzead054 . Os homens, claro, j que a moda feminina obrigava a que
fossem todas de tez clara e delicada, para, como acontecia nomeadamente no sculo XIX e princpios do nosso, se distinguirem da gente
vulgar que trabalhava de sol a sol. Hoje, sabe-se, justamente ao contrrio. Moda estar bronzeado mesmo em pleno Inverno, para que
todos saibam das frias em estncias de ski ou do Vero nas Antilhas,
ainda que esse bronzeado se tenha adquirido a poder de muito raio infravermelho, muitos cremes e comprimidos em gabinetes de esttica e em
esforos to bizarros como os que levavam as senhoras romanas, para
conseguirem uma tez branca e apetecvel, a porem unguentos feitos
u.g. de excrementos de crocodilo ou um qualquer lomentum base de
farinha de favas 55 , apresentando este ltimo a vantagem suplementar,
tipo "dois em um" ou "pague um e leve dois", de encobrir as rugas.
Em seguida, construdas ou compradas as casas, de preferncia a
preos astronmicos e divulgados 56, h que contratar o devido decora-
52 IV 60,6.
53 I 62. As "perdies" de Bias motivaram vigorosa diatribe de
Sneca (ati Luc. 51). Tambm no de estranhar que Clodia se tenha evidenciado em tal estncia (cf. Cic. Pro Caelio) !
54 Como aconteceria a Domitius Apollinaris, para inveja do poeta,
durante a sua viagem pelo vale do P (X 12).
55 Marcial III 42,1; VI 93,10; XIV 60. A essa farinha juntavam-se
caracis secos ao sol e reduzidos a p (Plin. NH XXX 127).
56 Para tais preos contribua tambm o terem pertencido a gente
famosa. A uilla que Comei ia , me dos Gracos, mandou construir no sc. II
a.c. foi comprada alguns anos depois por Mrio pelo preo de 300 mil sestrcios; menos de 50 anos depois, o clebre e riqussimo Lucullus comprou-a por 10 milhes de sestrcios. Veja-se agora o preo a que foi praa a
"casinha" do cantor David Bowie e sua mulher, o modelo Iman.
64
II
65
clientes com toga a rigor, para mostrar o apoio que tinham e dispensavam, assim o nmero de escravos representava a capacidade de sustentar
toda essa gente mas sobretudo a infinidade de tarefas e cuidados a que
estavam especialmente adstritos e que, somados, eram o retrato do
requinte do dominus e da domina. Tambm neste aspecto o sc. II a.c.
foi "ponto de viragem". a partir de ento que surgem os escravos encarregados de suportar a liteira (pelo menos seis64 e de preferncia com
origens vrias, um Germano, um Etope, um Srmata ... para mostrar a
extenso do poder de Roma), osflabrarii que abanavam o senhor e os
convidados, o nomenclator que bichanava ao ouvido do dominus o
nome dos potenciais eleitores que encontrava na rua ou o dos clientes
vindos pela manh para a devida salutatio, o scissor que cortava os
alimentos antes de virem para a mesa, o tricliniarcha que vigiava todos
67
recuperada pelas famt1is finas por oposio aos nomes-tipo-telenovela-brasileira) seja bem superior procura.
A ostentao da cultura pertence tambm ao quadro da moda de
gente "bem" . No preciso nem convm chegar a extremos, como o
das trs bibliotecas particulares de Trimalqui068 ou do inefvel
68 Pelr. 48,4.
69 Seno ad Luc. 27,5-7.
70 Plin. NH XXXIII 63; Tac. An. XII 56; D C. 61.33.3. A ocasio
foi a da naumaquia dada no lago Fcino por seu imperial esposo, Cludio.
71NHlX 117.
68
Mostrar que se culto e dado s artes do esprito implica, assim, ter pelo menos uma boa biblioteca, mesmo que no se leia nada
do que contm. Tal obriga a que se tenham em casa escravos librarii,
que se coleccionem exemplares autgrafos 72 , que haja sempre disponveis escravos que saibam ler fluentemente sem se atrapalharem com a
ausncia de separao entre as palavras.
Implicava tambm albergar ou pelo menos convidar amide
poetas, gramticos e filsofos, a quem, ainda que como Verglio nunca
se ajeitassem bem com a devida forma de usar a toga, se perdoavam
tais inconvenincias merc do requintado tom que davam a recepes e
jantares. Nas deslocaes dos grandes senhores, tambm inevitavelmente se encontravam entre a comitiva poetas e outros seres iluminados e desligados do mundo . Quando Tibrio, a mando de Augusto, se
dirigiu Armnia para "reconduzir" no trono um rei vassalo de Roma,
fez-se acompanhar de um nmero substancial de intelectuais. Ainda
assim, parece que muitos foram os utentes das Musas que viram
insatisfeitas as pretenses de viajarem custa do errio ... Como toda a
gente sabe, esta prtica outra vez em moda. As nossas comitivas
presidenciais (e aqui o "nossas" s tem razo de ser porque somos ns a
pag-las) integram escolhidos intelectuais num leque que vai de um
Herman Jos a um Victorino de Almeida, passando por um Saramago
ou um Marco Paulo, com todo o "toque" de imparcialidade e
eclectismo que resulta de cultivarem diversas artes e servirem diferentes
credos polticos 73.
69
74 Leia-se Sneca (ad Luc. 123,7) sobre tais "cortejos". Por contraste, Sneca evoca a simplicidade de Cato que se deslocava "montado
num macho carregado de alforges onde transportava os objectos de que necessitava", contentando-se assim com "meio cavalo, pois os sacos de
bagagens pendentes a um lado e outro ocupavam parte do animal" (ad Luc.
87,9; traduo de J. A. Segurado e Campos).
75 Plut. Allt. 9.8.
76 D C. 62.28.1.
77 JII 140-4.
7O
II
71
definitivo consagrados quando os Imperadores de origem brbara chegaram ao poder. Alexandre Severo foi mesmo o primeiro a us-las brancas e no prpura82 , como competia sua dignitas. O uso das bragas,
que quase s persiste na expresso "no se pescam trutas a bragas
enxutas", voltou hoje a ser, para a elite que apenas usa roupa interior
Calvin Klein ou do luso Nuno Gama, um "costume brbaro", isto ,
de "bimbos" ou "pategos".
Uma outra pea de vesturio, a paenula, usada por campnios,
almocreves e escravos que trabalhavam ao ar livre acabou por se tomar
moda entre Romanos e Romanas, dado ser confortvel e quente, sobretudo em viagem. Lembre-se como, h poucos anos, o capote alentejano comeou a ser usado pelas gentes da cidade ou fenmeno semelhante ocorrido com os ponchos mexicanos ou os xailes das vendedeiraso H agora at uma corrente de moda, precisan1ente a de Nuno Gama,
que vai buscar ao nosso bom povo e seus costumes inspirao para
cuecas e outras peas mais ou menos ntimas do vesturio.
Uma segunda funo, estreitamente aliada a esta, consiste em
desenvolver, aperfeioar e estudar certas tcnicas associadas moda,
com intuitos, confessados ou no, de impressionar favoravelmente,
desviar as atenes para o que no essencial. Lembremos o famoso
excurso de Quintiliano sobre as adequadas tcnicas de usar a toga, a
c"onveniente forma de criar o sinus e o umbo, com o primordial objectivo de poder o ciuis, orador ou candidalus (e no se esquea a etimologia deste vocbulO), influenciar o pblico, causar boa impresso no auditrio e no eleitorad0 83 . Se vivesse hoje, Quintiliano poderia bem ser
um dos "consultores de imagem" dos nossos polticos, que lhes expli-
II
uma simples amizade, uma prola no valor de seis milhes de sestrcios 85 . O gesto assume especial significado se pensarmos que o
mesmo Csar, legislando sobre o celibato, proibiu que usassem as to
cobiadas jias as mulheres de menos de 55 anos que no tivessem
nem marido nem filhos 86 . Csar conseguiu os seus intentos junto da
matrona e parece at ter recebido como bnus os favores da filha dela,
Tertia, com a bno da complacente me87 ...
73
espcie de desforra pelas privaes sofridas. Complementar e paradoxalmente, embora apenas na aparncia, tambm nos momentos de
"marasmo poltico" que a moda mais se desenvolve. Isto , quando ao
cidado mais no cabe que ser governado, ento s lhe resta evidenciarse onde o deixam intervir, isto , ostentando bens e riqueza, fazendo e
seguindo a moda. Lembre-se o tempo de Augusto, de Trajano e de todos os Antoninos, ou o da actual "retoma" de que confesso no sentir
os efeitos ...
tambm dos momentos de crise, dvidas e incertezas, em que
74
a da forma
75
3,1-10.
92 Macr. Sal. II 3,9. As censuras a Csar por esse desleixo so, no
entanto, generalizadas. V . p.e. Suet. Caes. 45.5; D C. 43.43.2. Oua-se
ainda Sneca (ad Luc. 114, 4-6), sobre Mecenas: "no verdade que o seu
91 Sal. II
77
mitar luxos e gastos, logo fez notar que liberalizar os luxos levaria as
mulheres a mudarem de marido quando o esposo no lhes pudesse dar o
que outras tinham I02 ...
Mas tambm neste aspecto o feitio se vira contra o feiticeiro e
todos os que criticam, condenam e no acompanham a evoluo dos
tempos e costumes acabam por se tornar ridculos e so vistos como
verdadeiros animais em vias de extino. Foi o caso dos Cetegos, em
Roma, nica fanlia que no aderiu moda da tunica illlerior e continuou a usar o primitivo subligar ou cinctus l03 . Por isso Horcio fala
dos cinctuti Cethegi 104 como smbolo dos refractrios ao progresso.
E tambm Cato, cuja oposio s novas e desvairadas modas
helnicas assumiu foros hilariantes como querer que se cobrisse o
Os alunos futuros-professores que se encontram em estgio discutem muito a relao entre a sua formao na Universidade e a exigncia do exerccio educativo na Escola, sobretudo no que concerne ao ensino propriamente dito. frequente ouvi-los dizer, em sntese, que na
Universidade no aprenderam o necessrio, que no ficaram preparados
para os desafios que lhes so colocados. Ser, naturalmente, uma opinio polmica cuja discusso deve ser feita, embora noutro contexto.
No mbito deste trabalho importa apenas sublinhar que essa preocupao considerada e que ela tambm concorre para uma reflexo sobre
novas propostas de formao em Didctica das Lnguas Clssicas.
Por isso, o estudo que a seguir se apresenta dirigido, sobretudo, aos alunos-futuros professores de Latim a quem, antes de prosseguir, gostaria de relevar uma afirmao de Stones & Morris (1977),
referida por Zeichner (1993:61): "Um professor universitrio. por mais
verstil que seja. s pode oferecer a um aluno uma srie limitada de experincias. atitudes e traos de personalidade [. .. ] Esta abordagem no
vai para alm do ensino observado. Este ensino pode ser excelente. mas
no pode ser exaustivamente excelente. Existiro certamente reas de
excelncia docente que no so ilustradas por nenhum professor coope-
* Universidade de Aveiro.
gia reflexiva que permita operar intelectualmente um conjunto de conhecimentos que se manifestam de formas diversas e que explicam e
originam outros conhecimentos diferentes. A ideia a de privilegiar a
compreenso para a soluo de problemas em detrimento da sua resoluo pela utilizao mecnica de esquemas estruturais que s tm
sucesso perante situaes para as quais foram concebidos. A este
ltimo aspecto pertence, por exemplo, a repetio de exerccios
idnticos para situaes idnticas.
No entanto, a compreenso para a soluo no se afigura possvel se, partida, o aluno no possuir pr-requisitos fundamentais
identificao dos elementos operatrios. Neste contexto, decidi abordar
a experincia, em Didctica das Lnguas Clssicas, na Universidade de
Aveiro, relativa elaborao de uma planificao trimestral para o
Latim do 10 ano de escolaridade em que participaram 28 alunos dos
quais trs repetiam a cadeira.
8O
metodolgico
81
82
sons; estudo dos sons; cincia que estuda os sons de uma lngua;
estudo dos sons; o estudo dos sons da palavra."
Prosdia
"Estudo do ritmo, da acentuao e da entoao do discurso; estudo sobre o ritmo, entoao e acentuao; tem a ver com a pontuao,
a acentuao, o ritmo; NR3; expresso e entoao da comunicao a
nvel de comunicao; forma de entoao, a quantidade das slabas, a
acentuao; a quantidade das slabas; tem a ver com a acentuao e
quantidade das slabas; tem que ver com a forma como nos exprimimos, como lemos. Diz respeito entoao e acentuao das palavras
aquando do seu uso na linguagem oral; cincia que estuda as quantidades das vogais; disciplina que estuda a entoao das palavras; debrua-se
sobre a forma como pronunciamos determinada palavra; tem a ver com
a pronncia e ou a entoao das palavras e frases; estudo sobre as quantidades das vogais; a cincia que se dedica ao estudo da quantidade das
vogais; cincia que estuda a entoao, o ritmo .. . ; estuda as acentuaes, entoaes e pontuaes da enunciao do texto; relativo ao modo
como se diz, e o que isso significa dependentemente do modo como se
diz; relaciona-se com a entoao; cincia que se debrua sobre a acentuao e a entoao dum enunciado. Por sua vez atravs da prosdia
que conseguimos identificar a inteno do emissor; NR; cincia que estuda a entoao; prende-se com a quantidade das vogais e est intimamente ligada mtrica; estudo da entoao; cincia que estuda a entoao das palavras/frases; NR; o estudo da acentuao, do ritmo e da
acentuao. "
Morfologia
"Estudo da forma das palavras; estudo sobre a formao das palavras; o estudo da forma da palavra; estuda a parte morfolgica de
uma lngua, ou seja, indica a classe morfolgica que determinada pala-
83
vra pertence; estudo dos vocbulos - sua origem e evoluo morfolgica - quanto forma-formas sofridas pelo vocbulo desde a sua origem at actualidade; estudo das palavras, da sua origem, forma, a palavra isolada, pertencente a uma classe; estudo da origem das palavras;
estudo da forma das palavras bem como da sua origem; como o nome
indica diz respeito forma dos vocbulos. A morfologia faz uma diviso entre as palavras agrupando-as em categorias; classifica a funo
que cada palavra desempenha na frase; a classificao das palavras em
gnero, nmero e caso (substantivos e adjectivos), em tempo e modo
(verbOS); engloba os nomes, adjectivos distinguindo-os quanto ao nmero gnero e caso; classificao de todas as palavras de acordo com a
sua definio; relaciona-se com a classe gramatical a que pertencem as
palavras; diz respeito categoria gramatical das palavras; debrua-se
sobre as formas que assumem as palavras. Ex: substantivo, verbo ... ;
a classificao das palavras por classe, gnero, nmero e grau; estuda
as palavras tentando descobrir o seu caso e todos os outros. uns
relativos palavra em si; relaciona-se com as palavras em si.
Ex: Nominativo, sing.; diz respeito aos elementos constituintes da
palavra e sua formao. Ela estabelece categorias que vo por
exemplo, desde os adjectivos, substantivos at aos advrbios; estudo da
palavra e da sua forma como constituda e o que , nessa lngua:
Adj., subst. etc ... ; estuda as palavras, isto se se trata de um
substantivo, adjectivo ou pronome etc.; estudo da forma das palavras;
estuda a classificao das palavras; cincia que estuda
"gramaticalmente" uma palavra: se adjectivo, um verbo, ... ; estudo da
forma da palavra; o estudo da forma das palavras."
Sintaxe
"Estudo das funes das palavras e das suas inter-relaes; estudo sobre a construo frsica; tem a ver com o lugar que a palavra
ocupa na frase, com a relao da palavra com os outros elementos da
frase; depois de identifkadas as palavras na frase, identificar qual a funo que a palavra tem na frase; estudo coordenado dos elementos da
84
II
85
II
87
tido; NR, diz alguns; NR, diz alguns; como o nome indica, referem
gradualmente a qualificao de um substantivo; NR, refere alguns
graus; NR, refere alguns graus; NR; servem para distinguir e comparar
algo; vai dar mais ou menos nfase palavra a que se designa; NR;
NR; NR; vrias formas quantitativas ou qualitativas que o objecto possui; so as diferentes formas gramaticais de qualificados os nomes ou
coisas; determinao da relao que se estabelece entre dois ou mais
sujeitos em termos de caracterizao qualificativa. "
Pronome
"Palavras em vez de nome; vocbulos que tm a principal finalidade subentender os nomes; o que est em vez do nome; palavra que
est em vez do nome; palavra que substitui o nome, ou expresso verbal anteriormente referido; so formas que substituem os nomes, esto
em vez deles; um vocbulo que substitui o nome; tm a funo de estar em vez dos nomes; uma categoria gramatical de determinadas palavras que surgem em vez do nome; substituem o nome, numa tendncia de tornar o texto menos repetitivo e, consequentemente, menos
montono. Podem assumir vrios aspectos: pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos; palavra que est em vez do nome; palavra
que est em vez do nome; vocbulo que substitui o nome; vocbulo
que pode, numa frase, substituir o nome, para evitar repeties; so todas aquelas palavras que aparecem em vez do nome e se subdividem em
vrias classes, nomeadamente demonstrativos, possessivos, etc.; so
palavras que esto colocadas no lugar dos nomes referindo a mesma
coisa; substituem nomes; o significante que usamos em vez de um
nome; substituem os nomes; vocbulos que substituem o nome,
osubstantivo e que podem indicar ainda, por exemplo, a posse; palavra
que est em vez do nome; palavra que est em vez do nome; palavra
que est em vez do nome e que concorda com ele em gnero nmero e
caso; pode substituir os nomes; palavra que est em vez do nome; o
que est em vez do nome; partculas que substituem o nome ."
88
II
tido; um vocbulO que se pe antes de outro que pode alterar o sentido da frase; coloca-se antes de. invarivel e surge acompanhada de
uma outra palavra; serve para indicar a origem, o lugar, o tempo, etc.
regendo, quase em todos os casos, um complemento circunstancial;
vocbulo que vai ajudar nas ligaes das oraes; NR; NR; ligada a
outras palavras; palavra que est relacionada com outra, e com ela
desempenhando uma determinada funo; a partcula que se coloca
antes da palavra; NR."
Locativo
"Antigo caso oriundo do Indo-Europeu, que indica o lugar; artigo que qualitlca as circunstnci as de lugar; uma forma do artigo
Indo-Europeu que indica o lugar; NR; vocbulo que situa no espao e
89
II
Verbo
Palavra que indica a realizao de uma aco; vocbulO que o
agente que traduz as aces no enunciado; palavra que nos indica uma
aco; uma palavra conjugada que concorda em gnero, nmero e caso
com o nome a que se refere; palavra que exprime determinada aco.
Aco essa que recai sobre determinada pessoa ou coisa e que tem um
responsvel (sujeito) . Porm nos verbos impessoais no h responsabilidade do sujeito; o motor da aco, indica o que se fez; o vocbulo
principal da orao; uma palavra (Jat. uerba) que nos d o "andar" de
toda a aco. o elemento que d frase uma coerncia temporal; categoria gramatical que engloba determinados vocbulos que exprimem
uma aco movimentada ou no; formas que nos indicam uma aco
que pode ser passada, presente ou futura; palavra que desempenha a funo de predicado numa orao e que extremamente importante, pois
d-nos a aco presente numa frase; palavra flexionvel que indica uma
aco presente, passada e futura; palavra que indica a aco da frase; vocbulos pelos quais designamos as aces; so todos os vocbulos que
designam uma aco; palavra central de uma frase que indica uma aco; indica uma aco e desempenha a funo de predicado. Os verbos
podem ser transitivos, no transitivos e copulativos e variam em
modo, tempo, voz, aspecto e pessoa; uma das partes principais da
frase, pois une o sujeito ao complemento e diz-nos qual a aco; vocAs lnguas clssicas: investigao e ensino - II
91
bulo sujeito a uma flexo e que marca um estado, uma aco, um pensamento ... o predicado de uma orao; elemento fundamental da frase
que nos explicita a aco do sujeito. ele que pede ou no os complementos; vocbulo principal dentro de uma frase; predicado de uma
frase, uma das palavras principais de uma frase; principal elemento de
uma orao; predicado de urna orao; vocbulo que descreve a realizao de uma aco; uma palavra que se enuncia no infinito e se conjuga em diferentes pessoas quer no singular quer no plural e nos diferentes modos e tempos; partcula da frase que designa a aco exercida
ou sofrida pelo sujeito."
Modos e tempos
"Indicam o modo e o tempo da realizao de uma aco exprimida pelo verbo; Indicativo, Imperativo, Conjuntivo, Infinito,
Condicional; em Latim temos o modo: indicativo, conjuntivo, imperativo, infinitivo, condicional. Quanto aos tempos temos o presente,
imperfeito, futuro, perfeitos, mais que perfeito, futuro perfeito; para
sabermos o que estamos a dizer e quando se realizou so necessrios os
modos e os tempos, pois se uma aco se passa no passado e no modo
conjuntivo, no poderemos utilizar o presente e o conjuntivo; modos
so as formas como o verbo se apresenta conjugado conforme as situaes (por ex. condicional). Tempos -
II
Voz Passiva
"Indica que um sujeito sofreu uma aco; N.R.; indica-nos que o
sujeito passou a sofrer a aco; NR; A aco do verbo recai sobre o sujeito. Indica portanto que o sujeito sofre uma aco praticada por outrem. um estado passivo da aco. O C. D. da voz activa torna-se o
agente da passiva; o estado passado do verbO; a inverso da frase
para um tipo passivo, ou seja, passado. Os elementos da frase passam
a desempenhar outras funes e o verbo muda de tempo . O sujeito
passa a complemento agente da passiva, o C. Directo passa a sujeito.
Em relao ao verbo, obrigatoriamnete tem que possuir um auxiliar e o
verbo principal na forma passiva (com particpio passado); sei identificar mas definir no tenho palavras; o verbo tanto pode estar na voz activa como passiva; NR ; NR; d maior relevncia aco propriamente
dita, deixando para segundo plano o agente da aco; h 2 vozes: a
activa e a passiva. Na passiva o sujeito passa a ter a funo do complemento directo e vice-versa; na voz passiva o sujeito da voz activa passa
a exercer a funo de complemento agente da passiva e o complemento
directo a funo de sujeito; indica uma certa oposio em relao voz
Activa. Ligada flexo verbal, refere um estado passivo de uma aco;
o sujeito sofre a aco (transmitida pelo verbo) praticada pelo agente da
passiva; transmite a aco, explicando-nos as consequncias que a aco
do sujeito teve sobre o outro que o sujeito da orao; apresenta-se
uma aco em que o objecto directo se transforma em sujeito, tornando-se este o agente da passiva; NR; uma outra voz de um verbo
As lnguas clssicas: investigao e ensino -
II
93
que para alm do verbo normal tem um verbo auxiliar; NR; NR; o
sujeito vai para agente da passiva; oposta voz activa; uma das duas
vozes que temos; NR."
A valiao qualitativa da actividade feita pelos
alunos:
"1 - A identificao de qualquer destes elementos no me oferece dificuldades. Toma-se-me difcil, todavia, defini-los concretamente.
Compreendo as suas funes, mas no me fcil descrev-las."
2-
guns conceitos com que lidamos todos os dias, foi pertinente no sentido de podermos fazer um ponto da situao a ns mesmos e tambm
aos compromissos escolares que se nos avizinham. Esta atitude por
parte do professor entendo-a como correcta e justa.
3-
Penso que este exerccio foi bom, uma vez que serviu para
reflectir e relembrar conceitos que por vezes lidamos com eles quase todos os dias, e no paramos para pensar realmente o que que esses
conceitos significam.
4-
dou conta que difcil dizer o que as coisas so. Mesmo sabendo no
consigo explic-Ias.
5-
vras, sei dar exemplos da cada uma, mas defini-las muito difcil. Na
escola secundria nunca foi posta em confronto com esta situao e
nunca nenhum professor me deu uma definio destes vocbulos.
7 - Na minha opinio, acho que para definir seja o que for tem
de haver um estudo prvio porque muitos destes conceitos no foram
94
suas definies . muito mais fcil distingui-los do que defini-los porque o que estamos habituados. Por outro lado, em termos de gramtica portugues'a tive muito poucas bases, Aprendi mais gramtica latina
e grega e poucas noes de gramtica portuguesa.
11 -
II
95
dade, sou confrontada com uma questo deste gnero . Penso que este
facto permite tirar algumas concluses.
21 -
geral no me sinto muito segura nas definies que dei. Acho que se eu
fosse meu aluno (se fosse possvel) no entenderia o que a professora
queria dizer. Por isso acho indispensvel ter conhecimentos precisos
acerca de cada um destes itens.
22 -
estava preparado pois nunca fui solicitado para saber definir qualquer
coisa como esta. Na verdade so questes que eu acho interessantes e
pertinentes.
23 -
no sabia totalmente.
24 - Este exerccio de auto-avaliao mostra-nos a importncia
de conceitos bsicos e a nossa insuficincia de conhecimentos sobre
eles.
96
II
97
98
II
1. Introduo
verifiquemo-
II
101
A maior parte do vocabulrio latino tem uma origem rural, reflectindo as suas palavras a mentalidade de um povo de agricultores,
realista e concreto. Imensos cognomina revelam esta origem rstica:
Lentulus 4 ,Ouidius ouis), Porcius (cf. Marco Prcio Cato,
o Censor), Cicero cicer - gro de'bico).
As formas de pagamento e de riqueza revelam tambm essa
origem rural: pecunia (<pecus; revela a riqueza em gado); locupleso homem rico aquele que possui terras.
H palavras com uma origem humilde, as quais na sua evoluo
semntica alcanam um estatuto aristocrtico. O caso do adjectivo
egregius e + grege) que, originariamente, designa o melhor animal
do rebanho escolhido para ser oferecido divindade atravs de um
sacrifcio. Posteriormente, passar a designar algum "ilustre". Assim,
uma palavra com cheiro a estbulo passa a designar algo de sabor
aristocrtic05.
1 O2
1 03
II
105
106
II
Fines - tanto designa as fronteiras como, de forma metonmica, o territrio que est delimitado pelas fronteiras (toma-se o continente pelo contedo).
Tectum -
sanitrias) -
1 07
atravs de um sufixo diminutivo, devido a uma superstio; o verdadeiro nome designativo de olho seria oc-s > ox. No entanto, este vocbulo no existe de uma forma independente e apenas se encontra nas
palavras derivadas, sob a aparncia de um simples sufixo: atr - ox (ater,
negro + OX, aspecto, isto , de aspecto negro ou sombrio);fer - ox (de
aspecto feroz) . Esta deformao do termo olho (oculus em vez de um
hipottico *ox, oeis) deve-se crena indoeuropeia no "mau olhado",
que era necessrio esconjurar, efeito que era conseguido atravs da
deformao do vocbulo.
A presena do tabu aparece tambm na designao da "mo"
(enquanto passvel de ser um instrumento do bem ou do mal), sobretudo na desi gnao da "esquerda" que, em relao mo direita apresenta uma srie de desvantagens. As duas mos, possuindo aptides diferentes, receberanl tambm nomes diferentes. O Grego, por exemplo,
denominou-a atravs de um termo favorvel, de natureza eufemstica,
-
108
II
substantivado, que recorda apenas o seu brilho. Esta crena revela a sua
presena no nome lunaticus (aquele cuja sade fsica ou mental varia
de acordo com as fases da lua).
4.4. A elipse
Na passagem do Latim s lnguas romnicas, um fenmeno caracterstico que determina o aparecimento de um deterIlnado significante o da elipse. Numa expresso latina constituda por dois vocbulos. um deles oIltido e transfere-se o seu significado para aquele que
se mantm. Foi atravs da elipse que se formaram alguns vocbulos
das lnguas romnicas, a saber:
Iecur ficatum -
ento o fgado de um animal criado base de figos a fim de lhe proporcionar um sabor caracterstico. Com o tempo, a segunda palavra assuIlU todo o significado da primeira e, desse modo, passou para algumas
lnguas novi/atinas (cf. port. : fgado; cast.: hgado) . Ficatum , pois,
uma designao derivada deficus e na expresso iecur ficatum significava "um fgado de figos". Trata-se de uma criao tcnica com a sua
origem na terIlnologia dos criadores de aves. que as engordavam por
meio de figos secos humedecidos em gua, para obterem fgados mais
volumosos. Neste caso. a criao desta designao para um rgo do
corpo humano d-se pela transferncia de um acto, inicialmente, relacionado com a culinria e a alimentao. A criao desta terIlnologia
teria. sem dvida. origem no humor popular.
"Ilssa" .
II
1 09
Oppidum, -i (n) -
fortificada; em seguida, cidade, em geral, por oposio a Vrbs, denominao inicialmente reservada para Roma.
Ciuitas, -atis (f) - designa, propriamente, a totalidade dos cidados de uma cidade, isto , refere-se condio jurdica de cidado;
mais tarde, passou a significar a sede de um governo, cidade ou Estado,
adquirindo um sentido mais concreto, sinnimo de urbs por oposio a
p.191.
II
albus - eandidus: albus - branco sem brilho (cf. Album: quadro branco em que se registavam os nomes dos magistrados, as frmulas jurdicas, as festas solenes); eandidus (cf. eandidatus: candidato -
niger - ater: niger - negro com brilhO; ater: negro sem brilho
(cf. atramentum - designao da tinta).
rostrum - os : os dois termos denominam o rosto, a cara; no
entanto, o primeiro pertencia ao mundo animal, designando, por exemplo, o bico das aves ou o focinho dos animais. Esta transferncia de
significado, provocada por semelhanas na aparncia exterior, comum
a vrias lnguas. O termo serve tambm para significar, por criao
metafrica, o esporo de um navio de guerra. O segundo -
os -
II
111
mulher.
5.3. Famlias de palavras
112
II
6. Concluso
Preconizamos o recurso etimologia e evoluo semntica
no s como uma das estratgias mais motivantes para a aprendizagem
do vocabulrio latino mas tambm pelo que traz de enriquecedor para
um conhecimento mais aprofundado do vocabulrio da lngua materna e
das outras lnguas romnicas. Estudar a origem das palavras -
etimo-
Bibliografia:
BARBIERI, Antonio - Latino "delirante "dai rustici di Rema a
noi: notazioni etimologiche per un riawicinamento vivace alla madrelingua, Celuc, 1972.
BOUFFARTIGUE, J.; DELRIEU, Anne-Marie - Trsors des racines latines, Paris, Belin, 1981.
DEBUT, Janine - L'enseignement des langues anciennes, Paris,
P.u.P., 1974.
113
langue latine: histoire des mots, 2" tiragem, aumentada da 4" ed., Paris,
Klincksieck, 1967.
FRUYT, Michle -"Mtaphore, mtonyrnie et synecdoque dans
le lexique latin", em Glotta, 67, 1-2-, 1989, pp. 107 - 122.
MAROUZEAU, 1. - Quelques aspects de la formation du latin
littraire, Paris, Klincksieck, 1949.
MARTIN, F. - Les mots latins: groups par familles tymologiques, Paris, Hachette, 1976.
PIMENTEL, C. S. - Religandum, Lisboa, Clssica, 1989
ULLMANN, S. - Semntica: uma introduo cincia do significado, 5" ed., Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian, 1987.
114
II
1. Nota prvia
* Universidade de Coimbra.
116
palavras mveis
2. Guio
As oraes infinitivas s aparentemente so uma caracterstica
peculiar da sintaxe latina. Tambm em portugus no invulgar a
substituio de uma orao completiva por uma orao de predicado no
infinitivo. Um simples exemplo:
AFIRMEI
que no o vi
ONTEM
cran 1
AFIRMEI
no o ter visto
ONTEM
cran 2
o portugus
117
DOCEO
discipulos grammaticam
ENSINO
cran 3
Desdobremos a frase:
DOCEO
discipulos
ENSINO
os alunos
cran 4
DOCEO
grammaticam
ENSINO
gramtica
cran 4/
VIDEO
te
VEJO-
-te
cran 5
VIDEO
VEJO
TE
-TE
cran 5'
VIDEO
te
VIDEO
VIDEO
119
um verbo
AMPHITRVO IVBET
ANFITRIO MANDA
cran 8
Desdobremos, uma vez mais:
AMPHITRVO IVBET
Sosiam
ANFITRIO MANDA
Ssia
cran 9
AMPHITRVO IVBET
domum ire
ANFITRIO MANDA
ir a casa
cran 9'
A situao, como se v, de todo em todo semelhante de
duplo acusativo.
MERCVRIVS DICIT
MERCRIO DIZ
NO SSIA
cran 10
SOSIAM
SSIA
cran 10'
ipsum.
A dificuldade, quando muito, est em transpor para portugus,
por na nossa lngua se usar, por via de regra, a orao integrante.
Mas, se se ponderar bem, h-de notar-se que, em ambos os
casos analisados, a estrutura da orao infinitiva idntica:
uideo
121
dico
cran 12
Mudmos o verbo; de "vejo que caminhas na rua", passmos a
ter "digo que caminhas na rua".
O sujeito do infinitivo, obviamente, continua a ser acusativo e
o infinitivo representa o segundo acusativo.
esta a situao que se verifica com verbos:
Sensitivos:
uideo
sentio
audio
cran 13
Declarativos:
dico
affirmo
nego
cran 13'
Impessoais:
oportet
constat
placet
cran 13"
credo
puto
seio
existimo
cran
]3'"
VOLO
magister esse
QUERO
ser professor
cran 14
Neste caso, o verbo uolo pode considerar-se simplesmente
transiti vo:
VOLO
quid
VOLO?
magister, esse
VOLO
123
cran 15
Esta a situao em que em portugus e na generalidade das
lnguas modernas se usa igualmente o simples infinitivo.
Mas se pensarmos numa frase como
cran 16
as coisas mudam de figura. Em portugus, passmos a ter uma orao
integrante, em lugar do simples infinitivo.
O motivo claro: o sujeito do verbo "quero" deixou de ser o
mesmo que o sujeito do infinitivo "ser".
Em latim, quanto basta para o aparecimento da orao
infinitiva:
cran 17
Este tipo de orao infinitiva, em nada difere, como se v,
daquela que atrs se analisou:
VIDEO
cran 18
ou
DICO
124
te magistrum esse
cran 19
Valo, uideo, dica -
esse, ambulare, esse - predicados em infinitivo; meum filium, te sujeitos das infinitivas, em acusativo.
Aparentemente mais complexo, mas nem por isso menos
lgico, o caso dos verbos que significam "mandar" -
iubeo, por
exemplo.
Aqui as circunstncias mudam substancialmente.
Vejamos os seguintes exemplos em portugus:
1. MANDO
2. MANDO
ler o livro
3. MANDAM
4. MANDAM
ler livros
cran 20
MANDO
cran 21
125
IVBEO
cran 22
Quanto segunda frase:
MANDO
ler o livro
cran 23
Repare-se que o aluno j no est mencionado. Quem manda
sou eu, mas quem obedece no sabemos. uma ordem generalizada que
no pressupe um destinatrio concreto. O latim exprime esta situao
de uma forma um tanto original, mas profundamente lgica, ao colocar
o predicado da infinitiva na voz passiva:
IVBEO
librum legi
cran 24
Ou seja, "mando que o livro seja lido". Uma vez que se no
exprime o complemento agente da passiva, resulta evidente a
indeterminao do destinatrio da ordem
Atentemos, agora, no terceiro exemplo:
126
II
MANDAM
cran 25
Aqui, exprime-se o destinatrio da ordem, ordem essa que deve
ser cumprida por mim, mas no se diz quem deu a ordem. A lgica da
frase a mesma do exemplo anterior - sou mandado ler o livro:
IVBEOR
libros legere
cran 26
ler livros
MANDAM
cran 27
No s se omite a pessoa que d a ordem, como tambm quem a
deve cumprir, isto , quem deve ler os livros. Esta uma situao
corrente de sujeito indeterminado. Uma hiptese de soluo (talvez no
a mais ortodoxa) pode ser:
127
IVBENT
libros legi
cran 28
aquele que muito sofreu, depois que, de Tria, destruiu afortaleza sagrada, que visitou as cidades de tantos homens e conheceu o seu esprito; aquele que, sobre o mar, passou por tantas
angstias, lutando para sobreviver e garantir aos companheiros
o caminho do regresso. Mas nem todo o seu empenho pde
salv-los; a morte ficaram esses insensatos a dev-la sua
prpria loucura ... '.
(Odisseia, 1. 1-8)
Esta era, para os Gregos, a mais clebre definio do viajante
aventureiro, aquele Ulisses errante que se tornara o heri do mais conhecido poema de viagem, a Odisseia. Nos bancos da escola, as
crianas enchiam a imaginao e a memria com as peripcias
fantsticas do rei de ftaca, cuja descrio decoravam, palavra por
palavra, numa tentativa de, com os versos, assimilarem a prpria arete
do heri. A personalidade do viajante e as circunstncias da viagem
espelhavam-se, em sntese, desde as primeiras linhas do poema: no
* Universidade de Coimbra.
Odisseia.
Quando a comdia antiga integrou, nos seus temas predilectos,
o motivo da viagem I, retomou o mesmo esquema, que adaptou e
desenvolveu dentro das condicionantes que lhe eram naturais.
O Dioniso de Rs e a sua odisseia so desse facto uma prova clara.
Dioniso detinha, dentro do mundo do teatro, um ascendente de
excelncia, digno do de qualquer conquistador famoso e coberto de
glria. Ele era, afinal, o rei do festival, a aristos da aventura dramtica,
o expert das lides teatrais. Escudado nessas credenciais, o deus projecta
a sua viagem que, como a de Ulisses, tem um objectivo determinado;
no o regresso a casa que agora conduz Dioniso atravs de peripcias
131
e a definio da respectiva
identidade s se obtm com o desenrolar da aventura; ou seja, a viagem, como era de resto sua conveno, vai servindo para revelar a verdade profunda de quem a viv. Como Hrcules primeiro, como laco
no cornos mstico, como deus do teatro no fim, o heri da catbase
assume uma multiplicidade de formas cultuais, que enontra a sua unidade na prpria figura de Dioniso como os Gregos a conheciam5. Por
fim, as caractersticas genricas de feminilidade, cobardia e ridculo,
constantes em todas as peripcias por que passa, figuram como elementos tradicionais de uma caricatura6, que a comdia retoma sem cessar7.
Importa agora considerar por que mecanismos dramticos
Aristfanes acciona e d vida a esta personagem e ambiguidade da sua
natureza. antes de mais o cmico de atitude e de trajo que impe
viso dos espectadores a famosa questo: 'quem ele?' A cena que se
oferece - o patro que viaja acompanhad? de um escravo derreado sob
132
133
linguagem.~ quem
(vv.21-32)
Xntias tambm um enigma, maquinado sobre um jogo de
confuses, entre um patro apeado para que ele beneficie da montada, e
um burro com o qual disputa o direito ao lombo carregado. Dioniso,
pelo menos esse, vai-se confirmando como o intelectual, o tcnico das
subtilezas da palavra, que agora esgrime, como um conhecedor, hbeis
raciocnios dialcticos sobre ponderosa questo: ser que quem est
montado num burro pode dizer que leva as bagagens que lhe pesam
sobre as costas? De quem o lombo carregado, do servo ou do asno?
Tal como para Ulisses, 'que percorreu as cidades de tantos
homens e lhes conheceu o esprito', abre-se para os viajantes cmicos
uma primeira paragem na j longa caminhada. Para o pblico
chegado o momento de lhes conhecer o destino e o objectivo.
135
No terreno estranho a que se aventura, conta o viajante tradicional com as informaes daqueles que, porque habitantes do local, porque treinados em idnticas aventuras, ou porque possuidores de uma
viso proftica, lhe podem orientar os passos no caminho a percorrer;
esto neste papel Nauscaa, chegada de Ulisses terra dos Feaces,
como Circe e Tirsias que rasgam ao rei de taca o vu obscuro do
sempre adiado regresso. Tambm Dioniso pode recorrer a um
informante, a todos os ttulos credenciado para cumprir a sua misso:
porque seu irmo, porque experiente nas veredas infernais e sobretudo
como um padro, partida assumido por Dioniso, sob a forma
simblica das insgnias que exibe sobre a tnica. A porta que se abre
pe Dioniso ao espelho perante o seu modelo, e franqueia ao poeta a
oportunidade de tirar partido completo da vestimenta do seu
protagonista. A surpresa que Hrcules no esconde l-a Dioniso como
susto (v. 41), sentindo-se na pele de um novo monstro ainda capaz de
surpreender o vencedor de tantos outros. Mas a risada incontrolvel de
Hrcules desfaz todas as dvidas; o tema do paradoxo que regressa:
conduzida para o universo da arte, onde Dioniso o guia por excelncia, volta ao mistrio dos percursos infernais, onde domina a mestria de
Hrcules:
137
138
139
l.eO\/)
II
141
gloriosus:
142
(vv. 279-284)
De repente, um rudo e toda a empfia desaba como por encanto.
O cobarde cerra os lbios gabarolas e concentra-se nas pernas, trans-
um precioso conselho de
Dioniso, ento!
(vv. 298-300)
O tom suave dos cantos dos iniciados efmero osis no percurso das sombras, a encaminhar os viandantes para novas surpresas no
palcio de Pluto. Um primeiro recontro aflige Dioniso/Hrcules
perante aco, o porteiro, outrora agravado pelo heri tebano que lhe
roubara Crbero, o co de trs cabeas. Um caudal de insultos e
ameaas submerge o nosso valente, que da sua coragem no colhe mais
que as foras suficientes para se erguer do cho e apagar, com uma
143
1 44
a ser sovado at, para salvar a pele. E , de facto, a salvao que assim
se anuncia, o reencontro consigo mesmo, a recuperao, depurada e
plena, da identidade de Dioniso, o patro, o senhor, o deus do teatro por
inteiro. A provao culmina com um teste de pancadas, para que se distinga, pela resistncia dor - uma divindade no sofre - o deus do
escravo. Prova suprema, brinde ao pblico, homenagem de um poeta,
no auge da sua mestria, ao Dioniso que o patrocina. O teste falha,
todavia, porque o Dioniso cmico geme, com fraquezas de homem e de
servo.
Depois da exuberncia das pancadas e dos gemidos, o anticlmax
da resignao veiculado por aco anuncia um desfecho:
145
* Universidade de Lisboa.
I O tema foi tratado pela autora ex professo na Mesa-Redonda de 24
de Maro de 1994, organizada pela Unio Latina no mbito da Expolngua
94 em colaborao com o Instituto de Estudos Clssicos da Faculdade de
Letras de Lisboa. Intitula-se "Agitao e Propaganda na Antiguidade e nos
nossos dias" e foi editado em conjunto com as restantes comunicaes,
pela Unio Latina, com o titulo genrico "Collstruo das Imagells de
Poder". H toda a convenincia em consultar tambm a dissertao de
Doutoramento em Literatura Latina apresentada Faculdade de Letras da
149
151
II
153
mas muitos
155
156
1731, p. 135.
25 A ttulo de exemplo, usando SANCHEZ, FRANCISCO, O
BROCENSE, Minerva, seu De causis Linguae Latinae Commentarius, cui
inserta slmt uncis inclusa, quae addidit Gasp, Schioppius et subiectae suis
paginis Notae Jac. Perizonii, Lisboa, 1760, transcrevo quatro passos que
II
157
"Locus hic est alienus plane." (p. 250, n. 5); "Immo vero vel sic diceret."
(p. 251, n. 6). No era difcil multiplicar ocorrncias semelhantes.
26 significativo o n 10 do Tt. VI do Regulamento do Colgio
dos Nobres : "As conversaoens familiares sera sempre, ou na lingua
portugueza ou na franceza, italiana ou ingleza, como os Collegiaes acharem
que h mais conforme aos differentes genios e applicaoens que cada hum
delles fizer a estas linguas vivas. Na podera, porm, nunca conversar em
latim, por ser o uzo familiar desta lingua morta mais propria para os
ensinar a barbarizar, do que para lhes facilitar o conhecimento da mesma
lingua". Cf. ANDRADE, ANTNIO ALBERTO BANHA DE, o. c.
(Documentao), p. 402.
Esta norma regulamentar anti-Latim, argumentada com razes
claramente falaciosas e sectrias, revela pelo menos vontade, ainda que no
assumida expressamente, de alterar os objectivos do ensino da disciplina,
pois esta lngua deixa de ser considerada instrumento adequado de
comunicao da comunidade cientfica.
in~teis:
159
II
161
APNDICE I
Extractos do Programa do l Ciclo do Ensino Bsico
(edio do Ministrio, DGEBS, Algueiro, 1990)
LNGUA PORTUGUESA
Princpios Orientadores
Considera-se essencial que na aprendizagem da Escrita e da
Leitura se mobilizem situaes de dilogo, de cooperao, de confronto
de opinies; se fomente a curiosidade de aprender; se descubra e
desenvolva, nas dimenses cultural, ldica e esttica da Lngua, o
gosto de falar, de ler e de escrever. (p. 98)
Objectivos Gerais
10. Utilizar a leitura com finalidades diversas (prazer e
divertimento, fonte de informao, de aprendizagem e enriquecimento
da Lngua).
Comunicao Oral
A fala, permanentemente partilhada entre as crianas e entre elas
e o professor, no deve ser interrompida com correces inibidoras. Os
Comunicao escrita
Para aprender a escrever e a ler preciso no s escrever e ler
muito, mas principalmente, preciso que a prtica da escrita e da
leitura esteja associada a situaes de prazer, de reforo da
au toconfiana.
Escrever e ler sem receio de censura, com a certeza de poder
contar com os apoios necessrios ao aperfeioamento das produes,
permitir a descoberta do prazer de escrever e de ler e o entendimento de
que todas as produes podem ser melhoradas, reformuladas,
transformadas.
ANO
Comunicao Escrita
1. Desenvolver o gosto pela Escrita e pela Leitura
-
163
MATEMTICA
Princpios Orientadores
A tarefa principal que se impe aos professores conseguir que
as crianas desde cedo aprendam a gostar de Matemtica. (p. 125)
APNDICE II
II
165
NOTAS
Linha 10: Na ed. citada neste artigo, o passo encontra-se na p. 6
e h uma pequena alterao: Usus porro sine ratione non movetur;
C.,
p. 7.
167
UI
Ardeae, vel Veiis erant, sine hoc salvi esse non possent. Quod hoc
quoque tempore continget, et caeteri scriptores ab eo, qui de lingua
Latind aliquid composuerit, non parU1I1 adjuvabuntur".
do 12 ano.
Chegados ao terceiro ano do estudo da Lngua Latina, no final
do Ensino Secundrio, ter necessariamente de ser diferente a
abordagem do Latim e dos textos latinos.
O programa indica-nos autores representativos de cada poca literria e d-nos como temas de estudo, para alm da vida intelectual, a
Isaltina Martins
vida espiritual do povo romano. Ora, Virglio e a Elleida so um repositrio vastssimo de onde se podem extrair os mais variados conhecimentos da vida romana: dos aspectos histricos aos literrios, dos
mitos s crenas mais tradicionais, do pensamento contemporneo do
autor s origens de Roma, sem esquecer a sua influncia ao longo dos
tempos.
que, no dizer de P.Grimal 1, o poeta Virglio:
171
Isaltina Martins
172
173
Isaltina Martins
II.
TEXTOS:
Depois de ter percorrido muitos lugares e suportado muitos
perigos, os Troianos chegam a Itlia. Eneias dirige-se ao Templo de
Apolo, em Cumas, onde encontra a Sibila, intrprete da vontade do
deus.
Ele quer procurar o pai no mundo dos mortos e consult-lo
sobre o seu destino. Por isso pede ajuda Sibila visto que ela guarda a
entrada dos reinos infernais que se diz ser ali, na lagoa do Aqueronte.
1.
II
1 75
Isaltina Martins
trifauce:
Cerberus haec ingens latratu regna trifauci
Personat aduerso recubans immanis in antro.
Cui uates, horrere uidens iam colla colubris,
Melle soporatam et medicatis frugibus offam
Obiicit.
Eneida, VI, 417-421.
176
II
5. 1.
Nec procul hinc partem fusi monstrantur in omnem
Lugentes campi; sic illos nomine dicunt.
Ric, quos durus amor crudeli tabe peredit,
Secreti celant caBes et myrtea circum
Silua tegit; curae non ipsa in morte relinquunt.
Eneida, VI, 440-444.
5.2. A se encontra tambm Dido q'ue morreu por amor:
Inter quas Phoenissa, recens a uulnere, Dido
Errabat silua in magna;
Eneida, VI, 450-451.
5.3. Vem depois o Trtaro, que a Sibila vai descrevendo a
Eneias: uma imensa cidade rodeada de trs muralhas:
Respicit Aeneas, subito et sub rupe sinistra
Moenia lata uidet, triplici circumdata muro,
Quae rapidus flammis ambit torrentibus arnnis
Tartarcus Phlegethon torquetque sonantia saxa.
Eneida, VI, 548-551.
5.4. Chegam aos Elsios:
1 77
Isaltina Martins
III.
Depois de analisados os textos de Virglio, altura de confrontar
com a Literatura Portuguesa e com outras vises do Mundo do Alm.
De novo a interdisciplinaridade importante. Procurar a colaborao
dos alunos atravs dos seus conhecimentos da Literatura Medieval, do
programa do l()" ano.
17 8
as aves cantando docemente, as flores, os frutos saborosos ... As decoraes so de ouro e pedras preciosas, tudo brilhante e duma beleza
surpreendente.
O Conto de Amaro e a Viso de Tndalo so dois exemplos,
179
Isaltina Martins
seu~
II
181
Isaltina Martins
V.
Do sculo XVIII, poderamos recordar Bocage que utiliza os
tpicos clssicos como recurso potico:
H um medonho abismo, onde baquea
A impulsos das paixes a humanidade;
Impera ali terrvel divindade,
Que de torvos ministros se rodea.
Rubro facho a Discrdia ali menea,
Que a mil cenas de horror d claridade;
Com seus scios, Traio, Mordacidade,
Range os dentes a Inveja escura e fea.
V-se a Morte cruel, no punho alando
O ferro de sanguento, ervado gume,
E a toda a natureza ameaando;
V-se arder, fumegar sulfreo lume ...
Que estrondo! Que pavor! Que abismo infando!
Mortais, no o Inferno, o Cime!
182
II
VI.
E vamos chegando ao fim desta nossa viagem - o sculo XIX,
Almeida Garrett e as Viagens na Minha Terra (obra que se estuda no
12 ano de Portugus). De acordo com as caractersticas da obra e o
seu prprio estilo, Garrett faz uso da ironia e brinca um pouco com
estas questes. O tema toma aqui um tom jocoso na boca de um
liberal, positivista, mas ao mesmo tempo respeitador das crenas
alheias, pois diz no querer brincar com os sentimentos cristos.
Por isso recorre mitologia greco-latina, algo que apenas serve de
recurso literrio aos espritos cultos. E l aparecem todas as influncias
virgilianas, os mitos clssicos esto presentes, carregados da ironia
garretiana ao aplic-los ao seu tempo.
Deste modo, o tema conhecido e estudado na disciplina de Latim
contribuiria para uma melhor apreciao da obra de Garrett, permitindo,
pela decodificao do cdigo lingustico, atingir o policdigo literrio e
fazer a verdadeira leitura do texto, pois, tal como diz Aguiar e Silva,
"o acto de leitura s possvel quando o policdigo do emissor, tal
como se manifesta no texto sob leitura, e o policdigo do receptor, tal
como se configura no decurso de um mesmo acto de leitura se intersectam mutuamente"8
8 Teoria
ed.,1982,p.306.
As lnguas clssicas: investigao e ensino - II
183
Isaltina Martins
(. .. )
***
Seria acompanhado o estudo com a projeco de alguns
diapositi vos:
* o Fresco dos
sc. XV;
romano;
185
Isaltina Martins
para:
- Assegurar o desenvolvimento do raciocfnio, da reflexo e
da curiosidade cientfica e o aprofundamento dos elementosfundamentais de uma cultura humanstica e art[stica ...
-formar no apreo pelos valores pennanentes da sociedade,
em geral, e da cultura portuguesa, em particular... 9
dando cumprimento aos objectivos da disciplina:
- Identificar valores que subsistem no evoluir de civilizaes e culturas;
- Comprunder, em perspectiva diacr6nica, a inter-relao
de culturas e civilizaes de IJwdo a aceitar criticamente as grandes transfonnaes poltico-sociais dos tempos modernos;
- Relacionar os valores permanentes da civilizao e cultura portuguesa com os da civilizao e cultura romanas. 10
186
o CULTO DO CORPO
Os grandes festivais pan-helnicos
JOS RIBEIRO FERREIRA *
* Universidade de Coimbra.
1 Possveis argumentos, um rhytoll de esteatite negra do Museu de
Heraclon proveniente de Hagia Triada, com representaes de cenas de luta
e de pugilato e datado pelos arquelogos de c. 1600/1500, e a imagem de
duas crianas a jogar pugilato, de Tera. Vide Sp. Marinatos-M. Hirrner,
Crete afld Myceflae (London, 1960), ests. 106 e 107, comenl. nas
pp. 147148; G. A. Christopoulos-John C. Bastias (edds.), Prehistory afld
Protohistory (London, 1974), pp. 206-208 (rhytofl) e 225 (imagem das
crianas).
em honra de Ptroclo, em que as provas desportivas tm papel dominante, e a Odisseia, no canto 8, os dos Feaces em honra de Ulisses.
O Hino Homrico a Apolo relata-nos as competies dos Inios em
Delos (146-150):
c.,
Olmpia situava-se
188
II
189
c., no Istmo de
Corinto, nos anos dos Olmpicos e dos Pticos. Segundo uma tradio
tica, teria sido Teseu o fundador destes jogos.
Os Jogos Nemeus efectuavam-se em honra de Zeus, desde 573
a.
c.,
Hracles teria sido o fundador desses Jogos, em honra do seu pai, Zeus,
como recompensa por ter morto o leo de Nemeia.
Embora no se conhea com exactido a natureza das provas que
se disputavam, tanto em uns como nos outros, tudo leva a pensar que
elas estavam organizadas semelhana das dos Jogos Olfrnpicos.
190
Estes, os mais antigos, alcanaram enorme projeco e exerceram grande influncia. Celebravam Zeus, como divindade tutelar,
Hracles, como seu criador, e Plops, como primeiro vencedor. A sua
origem perde-se nas brumas da Idade das Trevas e a tradio coloca o
seu incio sistemtico em 776 a. c., embora a lenda faa remontar a
pocas anteriores, at ao sculo IX, a celebrao de competies em
Olmpia8.
Em cada ano olmpico, a plis da lide, de que Olmpia fazia
parte, enviava a todos os estados gregos arautos para anunciar a data
exacta do festival, convidar os habitantes a assistir e, acima de tudo,
proclamar a trgua sagrada, que visava proteger os visitantes na vinda,
durante a estadia e no regresso. Aberta a todos os Gregos, a participao nessas competies estava, contudo, interdita aos Brbaros e a
quem tivesse assassinado algum, saqueado um templo, quebrado a
trgua sagrada ou utilizado fraude e suborno (cf. Tucdides 5. 40-50,
Xenofonte, Helnicas 3. 2. 21; Pausnias 6. 2. 1-3). Refere Herdoto
(5. 22) que Alexandre, um rei macednico antepassado de Alexandre
Magno, para ser autorizado a participar nos Jogos, teve primeiro de
provar ser descendente de grego.
De todas as partes da Hlade vinham atletas, as delegaes
oficiais - as lheoriai - e os espectadores. Os atletas, acompanhados
dos treinadores, chegavam com um ms de antecedncia, a fim de se
exercitarem para os Jogos, sob a superviso dos juzes que tinham o
nome de helandices, "juzes dos Helenos".
Estes eram escolhidos sorte de entre a nobreza da lide e o seu
nmero variou ao longo do tempo. Uma vez designados, eram instrudos em tudo o que dizia respeito aos Jogos Olmpicos, por cuja administrao eram responsveis. Velavam pela conservao e renovao
dos vrios edifcios, enviavam os arautos a proclamarem a trgua sagrada e a convidarem todos os estados gregoll, decidiam da ordem das
provas, arranjavam instalaes para os delegados das cidades e os
hspedes de honra e organizavam a segurana e o policiamento. A sua
191
193
pela vitria dos atletas vindos das mais diversas partes da Hlade, constituram para os Gregos uma fora centrpeta e, como observa M. H.
Rocha Pereira, representaram um dos raros vnculos de amplitude
nacional 11 . So de facto os jogos pan-helnicos que do a impresso
mais ntida de uma unidade grega. Os vencedores eram unanimemente
aplaudidos e ovacionados, quer fossem atenienses ou espartanos, corntios ou tebanos, das cidades da Magna Grcia ou da sia Menor, das
ilhas do mar Egeu ou das do mar Inico.
Iscrates deixa bem patente, num passo do Panegrico, o contributo dos jogos pan-helnicos para a unificao dos Gregos, quando
refere que as panegrias ajudaram ao abandono dos dios entre os
Helenos e lhes deram o costume de se reunirem para fazerem libaes e
preces em comum: essas reunies legaram o hbito (Panegfrico 43)
de nos lembrannos do parentesco recfproco, de nos tomarmos no futuro mais benevolentes, de renovarmos os laos de
hospitalidade de antanho e de conlrainnos outros novos l2.
Os jogos contriburam tambm para o desenvolvimento da poesia e da msica (nos epincios aos vencedores), da retrica, sobretudo da
escultura, pois a vitria de muitos dos vencedores era perpetuada
atravs de esttuas, em que o nu predomina.
O esprito olmpico perpassou atravs dos tempos . Outrora
factor de unidade dos Gregos, os jogos Olmpicos permanecem na
actualidade como um dos raros momentos de unio dos povos de todo o
murido 13 .
194
Autor do programa
* Universidade de Coimbra.
1 Latim e Grego. Organizao curricular e programas. Ensino
Secundrio. D.G.E.B.S. Lisboa, 1991, p.55 e 59.
O conceito de "ltimos romanos" aplicado geralmente a figuras
como Ambrsio, Agostinho, Bocio, Cassiodoro, Bento de Nrcia,
GregIio Magno, foi magistralmente exposto por G. Bardy, L'glise et les
demiers romains, PaIis, 1948. Noutra perspectiva j E. K. Rand, Foullders
of the Middle Ages, Cambridge, Mass., 1928, havia considerado um certo
nmero de personagens marcantes, que viveram entre Teodsio e Carlos
196
197
Saint Augustin (1930), vindo mais tarde a explicar que o Latim dos
Cristos no permaneceu por muito tempo uma "lngua de grupo",
mas foi verdadeiramente Le larin chrrien devenu tangue commune
(1934) - contributos estes depois reunidos no volume de homenagem
198
La
lngua
e lo stile delle
"Confessioni"
(1959)
des Confessions de saint Auguslin (Nijmegen, 1949). Na nossa comunicao de 1993 resumimos o essencial das suas concluses6 .
De entre as inumerveis obras de estudo cultural e literrio sobre
as Confisses no podemos deixar de mencionar aqui as de Pierre
Courcelle. Na "Brevssima Antologia" que apresentmos em 1993,
alm do Prlogo (I,l), s inclumos mais trs clebres textos: "Toma e
199
200
2 O1
202
Correco
IX, 10, la -
8
10
203
l3
15
COMENTRIO
o pensamento flui com naturalidade, mas enriquecido com pormenores que se explicam e sobrepem continuamente, al obter a plenitude da expresso. A redaco intermitente, toda orientada para o
fim em vista: -
1 ablativo absoluto
2 relativo circunstancial
3 relativo
11 relativa explicativa
IX, 10, lb -
3
5
204
JO
COMENTRIO
1 verbo principal no princpio da orao 2 parataxe, em vez de
um esperado particpio conjunto 3 cC Phil. III. 13 4 continua o
modo indico 5 cL Jl Petr. I, 12 quod referido a um conceito abstracto
(cL Vergo Buc. III, 80) 6 interrogativa indirecta 7 cC I Cor. 11, 9
8 Adversativa ore cordis pode ser uma sugesto de Lucrcio: spiritus
IX, 10, 2 a -
3
5
2 O5
COMENTRIO
IX, 10, 2 b -
3
5
8
10
13
2 O6
15
COMENTRIO
1-2 insiste na meditao da Natureza note-se a contnua repetio da copulativa 3-4 lugar especial dado alma humana 5 regionem
o xtase.
3
5
Et dum loquimur
et inhiamus Illi,
attingimus eam modice tolO ictu cordis ...
- et suspirauimus;
et reliquimus ibi religa/as primitias spiritus,
et remeauimus ad strepitum oris noslri,
ubi uerbum et incipitur et finlur.
Et quid simile Verbo tuo, Domino nostro,
...
I(
II
207
10
COMENTRIO
1-2 o esforo da contemplao 3 attingimus, presente histrico
(como loquimur), prefervel a attigimus de outras lect. uar. modice
exprime, apesar de tudo, a limitao da inteligncia e afecto humano.
toto ictu cordis: outra expresso potica e arrojada (cf. ore cordis lb)
"num total lance de corao" 4 a entrega total no xtase cf. todavia
a interpretao de Courcelle sobre suspiro como o verbo do "desejo
incompletamente satisfeito" (O'Donnell, III, 130-131) 5 cf. Rom.
VIII, 23 o regresso saudoso s realidades terrestres 6-7 Agostinho
gosta de considerar a transitoriedade e imperfeio da palavra humana
8-10 Da o constraste com a Palavra divina, O Verbo, Cristo, sempre
novo e renovador
208
II
2 O9
*
Na minha opinio, o combate do latim uma luta de actualidade
e actualizao permanentes .. .
Perante a impossibilidade de se manter a Escola intacta ao surto
meditico, j alcanado por todos os campos do saber, temos de
filme ...
Deveremos ser utilizadores destes meios, colocando sempre a
tnica no ser humano, tendo em vista a no despersonalizao do acto
pedaggico. Interessante a viso de Guy Dbord "O espectculo
no um conjunto de imagens, mas uma relao social
entre pessoas, mediatizada por imagens." . Situa-se aqui o
novo lugar do Professor: conduzir o seu educando formao da
autonomia, atravs da evoluo no esprito crtico. Importante se toma
que o aluno de Latim seja um sujeito activo, longe da prtica magister
*
*
212
*
*
213
pequenos
214
tocar "Bolero" de Ravel. Todo este trabalho. que quase poderei dizer
artesanal. elaborado em ambiente familiar e com a preciosa ajuda dos
que me so prximos. permitiu-me ver um outro lado possvel da
prtica pedaggica: a variao que estimula o docente a mais e
incentiva o discente a melhor.
Previamente passagem do filme. foi introduzido o tema a ser
estudado. A cada aluno foi dada uma ficha (Anexo 1) de apoio ao seu
visionamento. de modo a conduzir a apreenso dos aspectos
pretendidos. Aps a passagem do filme. os alunos responderam em
latim ao questionrio proposto e discutiram-se. seguidamente. as ideias
vectoriais do texto. passo fundamental para a sua final compreenso
global.
Sem dvida. os resultados alcanados foram positivos: fcil se
lhes tornou a ligao entre o tema civilizacional. que tiveram de estudar
(Anexo 2) e os contedos morfossintcticos propostos -
a Voz
Passiva. Tema este que foi introduzido sem grandes dificuldades. tendo
posteriormente sido estudado de forma obviamente mais sistematizada.
a par do estudo do texto (Anexo 3). Seguiram-se. ento. as etapas
correntes na disciplina: a leitura. o estudo do texto. a traduo. a
exercitao dos contedos apresentados (transformaes activa/passiva).
e a retroverso.
*
*
215
217
ANEXO
3. Tusci credebant...
ANEXO 2
A Civilizao Etrusca
INTRODUO
Quando os Romanos estabeleceram o seu domnio sobre a
Itlia, a populao era heterognea, devido a um longo perodo de
colonizao por tribos e populaes primitivas.
A viso dos comentadores antigos que trataram das origens de
Roma era deformadora: tinham sob os seus olhos uma Roma centro
poltico e militar da Itlia, no podendo conceber um passado no
decorrer do qual Roma tivesse estado unida por laos complexos a
outras cidades que lhe serviram de mestres de cultura e progresso.
A Civilizao Etrusca um enigma devido pobreza de
informao disponvel. O que os Etruscos pensavam das suas origens
no sabemos. Os nicos documentos escritos que nos deixaram so
curtas inscries funerrias e alguns textos sobre os seus ritos
religiosos. Mas os autores romanos afirmam que existiu uma literatura
etrusca copiosa.
O papel representado pela Etrria no crescimento cultural de
Roma merece, assim, alguma ateno.
1. ORIGEM E SITUAO GEOGRFICA DA ETRRIA
movi~ento
expansionista.
219
3. A ORGANIZAO ECONMICA
Vrios factores contriburam para o enriquecimento da Etrria:
-
- prosperidade do comrcio
- obras de engenharia (vias de acesso, pontes ... )
-
- sociedade esclavagista .
220
ANEXO
II
221
ANEXO
4
Ano: _ _ _ __
o
O
O
O
Questionrios em Latim
Outras: ____________________
Refere, justificando, a actividade que mais te interessou desde o
incio do ano:
Corresponde a disciplina s tuas expectativas iniciais?
Pedagogia e exemplum.
Contributo para uma anlise das fbulas de Fedro
ABEL 00 NASClMEN10 PENA *
I. Introduo
Phedro tem pouca agudeza de engenho. no alcana bem a
essencia da fabula Esopica e pobre de talento poetico. Escreve.
porm. com muita propriedade de expresso e em estilo singelo.
conciso e claro. mas que no poucas vezes descae em nimiamente seco
e sem animao. Estas palavras escreve-as. em 1894. Augusto
Epiphanio Da Silva Dias. no seu Phaedrus - para uso das Escolas
4
EyXX~o
ncx~dcx.
O grammaricus
225
III. Fedro
226
prim~iros
227
sententiae e provrbios.
Como autor satrico, o fabulista nunca logrou alcanar posio
de destaque. Poucos escritores latinos o imitaram ou citaram. S
Marcial, Lucfiio e A viano o referem e lhe reconhecem valor literrio
incontestvel. Ter falecido velho, aos 79 anos, segundo o que se l na
fbula 10 do livro V Canis et sus et uenator:
228
229
natans)
b) v na gua translcida a imagem de outro co tambm com
um pedao de carne (Lympharum .. .simulacrum suum)
2. Aco:
a) atira-se ao outro co (eripere uoluit)
b) perde o seu pedao de carne (et... dimisit cibum)
c) perde o que pretendia alcanar (nec... adtingere)
3. Moralidade: quem tudo quer tudo perde (amittit... adpetit)
230
2. Estudo lingustico
Pode compreender diversas fases e tem por objectivos reconhecer
e aplicar estruturas morfo-sintcticas de base em futuros exerccios.
A hierarquia destas fases pode ser invertida conforme os objectivos e as
preferncias metodolgicas. No entanto, o estudo da morfologia deve
preceder o da sintaxe. Da que seguimos um critrio de funcionalidade
gramatical, isto , um critrio que contemple a morfologia e a sintaxe
sem prejuzo de referncias fonticas e estilsticas. Esta uma
gramtica funcional, construda nas aulas e parece-nos ser essa a
gramtica 'ideal' que evite ao aluno dispersar-se ingloriamente por
manuais, tratados e gramticas em busca da "chave" soteriolgica.
Embora dependendo do nvel a que se destine, aconselhvel fornecer
ao aluno algum vocabulrio de base.
Fase 1:
- determinar onde comea e acaba a primeira unidade de sentido
que, por via de regra, deve estar assinalada por um sinal de pontuao
forte.
-
desinncias.
-
suas desinncias.
Fase 2:
-
pessoal, o aluno deve concluir que est perante uma orao composta.
- estabelecer os limites das oraes que formam esse perodo e
o tipo de relao que estabelecem entre elas (coordenao e
subordinao).
231
- classific-las.
Fase 4:
- identificar funes de base: sujeito, predicado, objecto directo
e indirecto (eventualmente representados com os nmeros 1. 2. 3. 4).
- restantes complementos (5. 6.7 ... ).
Fase 5: esquernatizao do texto.
Fase 6: traduo.
Como deixmos entender, possvel, mas no indispensvel,
uma anlise estilstica. Destina-se a assinalar elementos que possam
servir para identificar a lngua e o estilo de um autor. A etimologia
tambm um recurso ldico-didctico. Pode estudar-se a nvel do
significante (da evoluo de grupos consonnticos a comparaes com
outras lnguas romnicas) e do significado (inovaes, restries e
transferncias semnticas; pertinncias de helenismos, cristianismos,
barbarismos ...).
3. Comentrio
3.1. Elementos literrios e de contextualizao
233
234
235
236
*
Aps este percurso por uma fbula de Fedro, pensamos que
ficaram assinalados alguns elementos didcticos de interesse.
Em primeiro lugar, a fbula de Fedro um campo privilegiado
que se presta aprendizagem e ao exerccio da lngua latina. No foi
por mero acaso ou por falta de alternativas que as fbulas se
mantiveram nos curricula escolares durante sculos at aos nossos dias.
21 CC. A. ERNOUT-F. THOMAS, op. cito p.329.
237
238
Em 753 Roma fundada e logo se percebe que, desde as origens, esto presentes, por um lado, detentores de prerrogativas e privilgios, os proprietrios agrcolas organizados em gentes e familiae,
com inscrio prioritria, seno exclusiva, nas 3 tribos e 30 crias 1; e,
* Universidade de Coimbra.
1 Na dependncia dessas ge1ltes gravitavam os clientes, dependentes jurdicos e, acaso, trabalhadores agrcolas submetidos s ge1ltes dos
proprietrios, a cuja familia pertenciam apesar de liberi; nos tempos histricos, os clie1ltes sero libertos ou pessoas que solicitavam applicatio (cf.
Heurgon (1993) i 93-194). Para uma definio de ge1ls, vide Heurgon
(1993) 192 e Harmand (1993) 31-32: ge1ls designa o conjunto de indivduos descendentes de um antepassado comum e portadores do mesmo nome
do fundador ep6nimo; morte do pateifamilias, com o desmembrar da gells,
cada filho assume a sua prpria familia (teoria de De Francisci vs.
Bonfante); segundo Bleicken (1988) 15, no h qualquer prova da existncia autnoma de gelltes, pelo que se deve considerar afamilia como a clula-base da ordem social; a familia prestava culto aos antepassados at terceira gerao (proauus); a ge1ls resultaria da juno de vrias familiae
adfi1les ou vizinhas.
Sobre a origem das tribos, pem-se vrias hipteses: corresponderiam a um sinecismo racial; a uma realidade territorial e geogrfica; a uma
repartio tnica; a uma concretizao da ideologia indo-europeia da tripartio funcional das sociedades; a quadros administrativos sobrepostos pelos monarcas organizao gentilcia. As quatro tribos servianas seriam
indubitavelmente geogrficas (cf. Harmand (1993) 29-30; Heurgon (1993)
211-216).
Francisco de Oliveira
por outro lado, aqueles de quem esses privilgios e prerrogativas os distinguem, os pequenos agricultores, comerciantes e artesos, elementos
de origem indgena e peregrina2.
Destas duas camadas sociais se haveriam de originar os patrcios
e os plebeus3 , provavelmente antes do fim da Monarquia, quando
algumas famfiias se arrogaram o monoplio dos direitos polticos e
religiosos, incluindo a prerrogativa de os seus filhos lhes sucederem4 .
De facto, os patrcios ho-de caracterizar-se, at finais da
Repblica, por ausncia de qualquer tipo de propriedade especfica.
A primazia social e econmica derivava das suas relaes de clientela e
das propriedades; de prerrogativas religiosas como os augrios e a qualificao para rex sacrorum,flamines e salii; e de privilgios na gesto
das magistraturas ou funes poltico-religiosas e inaugurais, coma
240
II
241
Francisco de Oliveira
242
II Segundo H. Bengtson (1988) 33, esta classificao corresponderia diviso social entre patriciado, camponeses abastados e populao de
baixos recursos, em analogia com a reforma timocrtica de S610n. Heurgon
(1993) 252 e 312 discute o conceito de classis, que no incio englobaria
especialmen te a I' classe.
12 H. Bengtson (1988) 33: o nmero de tribos crescer rapidamente
at atingir, em 241 aC ., o total definitivo de 35, que inclui as 4 tribos
urbanas.
243
Francisco de Oliveira
tribunos da plebe~
244
445 : lex
Canuleia
casamentos mistos;
- 421-409: acesso questura;
- 400: criao dos tribuni militum consulari potestate;
-
faciundis;
-
as suas funes);
-
(legis actiones);
-
II
245
Francisco de Oliveira
247
Francisco de Oliveira
248
249
Francisco de Oliveira
250
33 Cf. Bengtson (1988) 129, 135 sS., 264. As familiae rusticae incluem agricultores, pastores e lenhadores.
34 O facto ajudar a compreender o elevado aumento do nmero de
beneficirios das frulllelllatio/les, que atinge o cmputo de 320.000 em
46 a. C.
35 Todavia, por mais ricos que fossem, no podiam entrar no equitalUS, prerrogativa reservada aos seus filhos.
As lnguas clssicas: investigao e ensino - II
251
Francisco de Oliveira
252
II
Colateralmente, a histria cultural e das ideias ajuda-nos a compreender as mutaes da classe servil e da plebe e a desintegrao da
nobilitas, que se verificam nos finais do sculo II a.c. e meados do
sculo I a.c.
Sob o ponto de vista cultural, recordo a abertura do Crculo dos
Cipies a novas ideias polticas, como a constituio mista, "erguida
contra o pessimismo decadentista"; a educao dos Gracos, a cargo de
Difanes de Mitilene e de Blssio de Cumas; o deslumbramento suscitado pelas conferncias de Carnades em Roma, em 155 a.c., quando
discutiu os fundamentos da sociedade e do Imprio; e, de forma mais
especfica, a influncia das filosofias cnica e estica, uma baseada na
autarcia. a outra na irmandade universal, a preparar os espritos para a
conteno do nmero de escravos, o que tambm no repugnaria ao
epicurismo na sua luta contra a auarilia, e para o tratamento humanitrio dos mesmos; influncias religiosas, como os mistrios, tendero
tambm a abrir as portas a todos 40 .
Os polticos mais sensveis filosofia e aos ideais polticos
gregos, ou mais realistas 4 I, levaro, por seu lado, valorizao do elemento democrtico e extenso da cidadania42 , provocando cises na
nobilitas43 .
Por outro lado, a experincia de poderes pessoais e extraordinrios, a divulgao dos ideais monrquicos, a ambio poltica desmedida, apoiada na devoo pessoal dos exrcitos, as lutas civis, o afoga-
253
Francisco de Oliveira
BIBLIOGRAFIA SELECTA
G. ALFOLDY, The Social History 0/ Rome, London, Croom Helm,
1985.
J. ANDREAU, "O liberto", in O homem romano, ed. A. GIARDINA,
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H. BENGTSON, RlJmische Geschichte. Republik und Kaiserzeit bis
284 n. Chr., Mnchen, C. H. Beck, 61988.
J. BLEICKEN, Geschichte der RlJmischen Republik, Mnchen, R.
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R. BLOCH, Lutas sociais na Roma Antiga, Lisboa, Europa-Amrica,
21991.
M. BORDET, Prcis d'Histoire Romaine, Paris, A. Colin, 21972.
P. A. BRUNT, Social Conflicts in the Roman Republic, London,
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M. CARY - H. H. SCULLARD, A HislOry 0/ Rome, London,
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E. CIZEK, Memalits et institutions politiques romaines, Paris,
Fayard, 1990.
T.1. CORNELL, "The recovery of Rome", in The Cambridge Anciem
History VII.2. The Rise 0/ Rome 10 220 B.C , Cambridge
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A. RAAFLAUB, Univ. of California Press, Berkeley, 1986, p.
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A. DRUMMOND, "Rome in the fifth century I: the social and economic framework" , in The Cambridge Anciem History VII.2.
The Rise 0/ Rome 10 220 B.C, Cambridge University Press,
21989, p.l13-171.
A. DRUMMOND, "Rome in the fifth century II: the citizen community", in The Cambridge Anciem HislOry VII.2. The Rise 0/
Rome to 220 B.C , Cambridge University Press, 21989, p.I72242.
255
Francisco de Oliveira
256
257
Francisco de Oliveira
258
260
*
Comecei ento a aula com a visualizao deste pequeno filme,
atravs do qual pudemos acompanhar David Suzuki na sua viagem.
261
os
262
II
263
264
particular-
* Universidade de Coimbra.
I -
e simultaneamente o mais
o artista que
delineia, em pinceladas rpidas mas inesquecveis, uma situao dramtica enraizada em realidades quotidianas e donde emergem, como em
filme, tipos de linguagens e de pessoas que se vo mutuamente apresentando. A este dom dramtico intrnseco junta-se a genialidade mpar
do mythologikos ou "criador de mitos" que o Scrates do Fdon , com
fingida modstia, lamentar no ser (61b) . Contudo, em vez dos mitos
mais conhecidos, que so os da Imortalidade da Alma (na verdade, longos e complexos), 1 preferiria exemplificar essa faceta platnica atravs
dos mitos sobre a origem do Amor apresentados no Banquete, respectivamente pela voz de Aristfanes e pela de Scrates/Diotima: recomendam-nos no apenas uma real simplicidade lingustica como uma
reflexo motivadora que ainda hoje continua a seduzir-nos - pela fantasia, pela sensibilidade e pelo que h de genuinamente humano nas
diversas "marcas de verdade" ou de "iluso" que ao longo de vrios
discursos competem entre si, concordam e discordam. 2
Desse Plato mais "realista" penso que sero de aproveitar vrios passos que trabalhei e comentei em comum com a doutora Maria
de Ftima Silva no Boletim de Estudos Clssicos, tendo exactamente
em vista algumas carncias mais sentidas, quer por alunos quer por docentes do 12 ano. 3 Mas excluiria hoje os trechos da Apologia de
Scrates: embora se trate de uma obra sistematicamente privilegiada
nas antologias platnicas (mesmo para iniciantes) a verdade que concentra, do ponto de vista lingustico, aspectos gramaticais to complexos e densos, que a sua dilucidao passo a passo s poder agir de
forma desmotivadora no aluno. 4
B-
uma das obras mais acessveis de Plato. E tambm das mais cativantes: o rrto das "almas gmeas" de Aristfanes, com a sua caracterstica abrangncia de perspectivas homo e heterossexuais de Eros,
3 Coimbra, Instituto de Estudos Clssicos, nOs 8-12.
4 O que no quer dizer que a sua leitura em traduo no seja
altamente recomendvel: lembramos em especial a de Manuel de Oliveira
Pulqurio, Plato. Apologia de Scrates. Crtoll, Lisboa, INlC, 1991.
267
funciona hoje como um ponto de referncia cultural e psicolgico importante de uma "nova tica" de amor que os nossos tempos, para bem
ou para mal, vo gradualmente impondo. O mesmo se diga do mito
etiolgico de Eros , proposto por Scrates/Diotima, misto de riqueza e
pobreza, de completude e incompletude, de mortalidade e imortalidade,
que alarga a todos os campos da actividade humana uma noo global
de amor, quase coincidente com a freudiana - pelo menos capaz, como
esta, de superar e sublimar meras concretizaes materiais e fsicas para
se elevar s regies mais nobres de um Belo esttico que , por
excelncia, criador.
Na impossibilidade tcnica de transcrever em grego alguns
trechos pensados nestes parmetros, limitar-me-ei a indic-los aqui pela
ordem que considero mais desejvel, acompanhados de possveis ttulos. Os docentes de grego no tero dificuldade em encontr-los, dado
que de todos eles existem edies nos Institutos Clssicos de Lisboa e
de Coimbra. E, evidentemente, podero trabalh-los sempre no sentido
de suprimir frases ou expresses mais complexas. Eis a "arrumao"
que proponho para esses textos seleccionados:
I-
1. Popularidade
de
Scrates
entre
os
jovens
2. Entusiasmo
pela
vinda
de
um
sofista
268
II
PLATO E OS MITOS
1. A
"antiga
natureza"
do
homem,
segundo
Aristfanes;
2. Aristfanes e o mito das "almas gmeas";
3. A origem do amor, segundo Scrates/Diotima.
(Banquete, 189d5-190a7;1916-19Id3; 203a9-203c4)
II -
No vou aqui explanar aspectos culturais e literrios que qualquer um de ns poder encontrar excelentemente expostos nos Estudos
de Histria da Cultura Clssica I, da Prof" Doutora Maria Helena da
II
269
270
cerca de trs aulas, na base de fichas de trabalho (em apndice) e do seguinte texto de Loques :6
A Y. O('tOt, l ~mKpud 'tE KUt NtKu KUt A<XT),
01 T).KOt ycb ht ytyvmcrKOJlEV 'tou VE6HpOU, d.'tE
Ka't' oiKuv 't lto otlI'tppOV'tE UltO t'i' T)tKa'
).: d
tt
o>
Jlv'tOt
~(i)q>ltOVlcrKou
ltmlto'tE
u>'tou
VT)pm'tT)cru,
'tov
tt
6p9ot
Kut
Ili)v,
271
acordo com as fichas de trabalho propostas: 1) o uso dos verbos tyncllGno, phthano e lanthallo com particpio; 2) o discurso indirecto em
oraes conjuncionais.
No primeiro caso, aps a apresentao de uma frase simples,
como "o rapaz saiu de casa", sucessivamente modalizada pelos trs verbos referidos, procurar-se- a sua aplicao (sobretudo base do v.
tynchano), centrando-a em situaes relacionveis com a primeira parte
do texto. No segundo caso, importante salientar ao aluno que o verbo
do discurso indirecto mantm sempre o tempo do discurso directo e que
o modo apenas varia, opcionalmente, para optativo se depender de uma
frase com o verbo num tempo secundrio. Do mesmo modo, escolher-se-o para prtica expresses prximas ou iguais s do texto.
Este tipo de trabalho antecipatrio poder prever a imediata eliminao de dificuldades acessrias que o texto posteriormente apresentar, como o caso de kat' oikian (=oikoi) ou de ta polIa "a maior
parte das vezes" (lembrar hoi polloi e o aparecimento frequente do
artigo, singular ou plural, com o acusativo adverbial: to proton, ta
prata ).
28 aula: atravs do vocabulrio e das situaes lingusticas que
273
uma unidade didctica introdutria (falvel, como tudo o que planeadO!). A realidade das turmas nem sempre se compadece com as idealizaes que delas fazemos, no sossego de um gabinete; e no ensino,
como sabido, no h dogmas. Mas sem o sonho nada disto, que aqui
nos traz, faria sentido: essencialmente por via dele, como o poeta nos
ensina, "que o mundo pula e avana" Estamos aqui para sonhar, e mais
do que isso: para transmitir o sonho s novas geraes.
APNDICE
FICHA I (Particpio Complementar)
Mandar rever: declinao de ~ Gl 1< < P te lO; construo de
particpio complementar, discurso indirecto em oraes conjuncionais
- Bonito Perfeito, pp. 206-208, especialmente nota da pg. 208.
A: Traduza:
Ihu'tp{~OV'tElO
'toYX<voucrt v
2-
CS
'tOu ~Gl<ppov{crl<OO
(uiou) {i)v
3-
'O
nuic;
'tuYX<VEt
'tu'tTjV
't1JV
~{~ov
vuytyvmcr1<Glv
4-
'H/lEiC;,
nui8EC;,
'tu'tac;
'tC;
'tuYX<VO/lEV vaytyvmcr1<Ov'tEC;
5 -
274
~t~{alO
B: Ponha em grego:
1-
275
* Universidade de Coimbra.
Reproduzo aqui aproximadamente as palavras com que iniciei esta
conferncia: Gostaria de dedicar este trabalho ao meu querido, e
infelizmente j saudoso, mestre e grande amigo, o Doutor Carlos Alberto
Louro Fonseca, com quem partilhei algumas das ideias que aqui irei discutir
e que mereceram, ento, a sua adeso imediata. Os Estudos Clssicos em
Portugal devem-lhe muito pelo que fez, sobretudo ao longo destes dois
ltimos decnios, quer atravs da sua docncia e formao de professores tanto do ensino secundrio, como do ensino superior -, quer com a
publicao de manuais, quer ainda atravs dos inmeros artigos de grande
valor didctico, publicados principalmente no Boletim de Estudos
Clssicos, de que ele era a alma. Ningum dominava to bem como ele o
latim e o grego, sem qualquer desprestgio para os outros estudiosos. O seu
gnio pairava sobre este colquio muito antes de ele se ter iniciado; agora,
para grande tristeza nossa, paira tambm o seu esprito. Aqui fica a minha
singela, mas sentida, homenagem a este grande vulto das lnguas clssicas.
278
279
280
O ensino secundrio devia ter maior incidncia na prtica da traduo. Atravs desta, os alunos adquirem necessariamente um maior
dOllnio do vocabulrio, a aprendizagem das regras gramaticais toma-se
mais intuitiva (como sucede com o ensino das lnguas mOdernas), a
cultura emerge muito naturalmente da interpretao dos prprios textos
e os horizontes literrios alargam-se, dando aos alunos os instrumentos
necessrios para identificarem e compreenderem as caractersticas intertextuais presentes nas literaturas modernas.
De facto, se defendo a interdisciplinaridade no seu aspecto lingustico (o sistema modelizante primrio), no poderei deixar de a defender na sua vertente literria (o sistema modelizante secundria), cuja
componente mais importante a intertextualidade. A interdiscipliparidade literria permite apreciar no s o texto clssico e reconhecer o seu
valor, como ainda confere ao aluno o poder de saborear mais intensamente o texto vernculo, cujas caractersticas literrias, nomeadamente
as semntico-pragmticas, passariam despercebidas.
A interdisciplinaridade literria exige, todavia, uma maior flexibilidade do programa das lfnguas clssicas. Nos pases germnicos, por
exemplo, esta liberdade na seleco dos textos e autores permite ao
professor ir de encontro aos interesses interdisciplinares dos alunos.
Por exemplo, se, na disciplina de ingls, se estuda A Midsummmer
281
invocao.
Esta uma anlise que, para ser ideal e obter maiores efeitos,
deveria realizar-se no 10 ano, depois de os alunos terem estudado
Os Lusfadas durante dois anos consecutivos. Todavia, a realidade da
282
uenit
Passaram ainda alm da Taprobana
litora ...
Enquanto Eneias partiu das praias de Tria. os Portugueses sairam da "praia lusitana". Tal como o heri vrrgiliano foi o primeiro
(primus) a fazer aquela travessia. tambm o povo luso foi o primeiro a
navegar pelos mares que cruzavam. A empresa ingente a que os marinheiros portugueses se propuseram. atravessando de um extremo ao
outro do mundo ento conhecido. pode ser colocada em paralelo com a
travessia de Eneias do Oriente para o Ocidente do mundo antigo. Se tivermos em conta o modelo oblongo e achatado dos mapas geogrficos
ro~nos.
283
284
h..
[meditaris auena
O latinismo de "avena" remete para o texto clssico. Com
efeito, "agreste avena", "frauta ruda" e "siluestrem musam" significam
todos a poesia buclica. A intertextualidade evidente.
Naturalmente que este pequeno trecho de Cames sofreu
influncia de outros autores clssicos, mas a inteno era a de fazer
urna explorao exemplificativa e no exaustiva do texto luz de
Virglio.
285
Aprender Ensinando
RALGOMES*
Ral Gomes
Quem sou?, -
288
Aprender ensinando
gem, 26%, deseja aprofundar o conhecimento da lngua a nvel gramatical e os restantes colocam maior nfase nos valores sociais do povo
romano bem como nas suas qualidades peculiares.
Inquiridos sobre o material didctico a utilizar, 62.5% preferem
o vdeo ao computador, encontrando-se em segundo lugar a utilizao
do acetato contra 25 % que desejam ver os textos adaptados banda
desenhada
II
289
Ral Gomes
290
II
Aprender ensinando
A nvel de recursos didcticos, so poucos os alunos a reconhecer a importncia do computador como auxiliar na aprendizagem do
latim. O desconhecimento das suas potencialidades pode ser urna das razes a apontar. Porm,
grupo no d bons
result~dos
uti~izado
se
291
Ral Gomes
Aprender ensinando
293
Ral Gomes
exclama um
aluno. De facto, o nfase colocado pelo programa, nas convulses sociais e na expanso de Roma geram este tipo de reflexo. Apresentar
um leque de contedos culturais onde seja possvel captar a essncia
dos valores clssicos em confronto com a actualidade pode afigurar-se
algo excelente apresentando explicitamente o interesse e os valores inerentes ao estudo do latim. E a partir daqui seria possvel responder s
expectativas de uma enorme faixa de alunos. Estudar latim dever ser
muito mais do que conhecer uma lngua, deve ser a porta de entrada
para um maravilhoso universo de valores que fazem do homem um
humanista.
4 Cf. Ministrio da Educao (D .G.E.B.S), Latim / Grego Orga1lizao Curricular e programas, Lisboa, I. N. Casa da Moeda, 1991,9.
294
Aprender ensinando
295
Ral Gomes
Aprender ensinando
ZABALZA, Miguel -
Planificao e Desenvolvimento
297
Francs
Dimanche
Lundi
Mardi
Mercredi
Jeudi
Vendredi
Samedi
Ingls
Sundav
Mondav
Tuesdav
Wednesdav
Thursday
Fridav
Saturday
Alemo
Sonnabend
Montag
Dienstag
Mittwoch
Donnerstay
Freitag
Samstag
Castelhano
Domingo
Lunes
Martes
Miercoles
Jueves
Viemes
Sabado
Latim
Dies Solis
Dies Lunae
Dies Martis
Dies Mercurii
Dies louis
Dies Veneris
Dies Saturni
Obs. A abordagem pode iniciar-se pelas semelhanas grficas e posteriormente referir-se significao e a outros
elementos que se relacionem com o dia em latim, v.g. Dies Ioui era o dia de Jpiter, em alemo Donnerstaysignificar Trovo que era um dos atributos de Jpiter.
Poder-se- explicar a razo porque em portugus o nome dos dias diferente e a origem do nome sexto dia
(sabbatum - hebraico)
Refira-se que aos dias, em latim, eram atribudos os nomes dos deuses.
Nota: As sugestes apresentadas no esgotam as possibilidades de utilizar outras estratgias, qui mais
eficazes, para alcanar o mesmo objectivo.
* Universidade de Coimbra.
1 Sobre a relao entre, o julgamento de Orestes, a converso das
Ernias-Eumnides - e consequente alargamento positivo da esfera de
aco - e o fundamento divino da plis democrtica com as suas
instituies, veja-se, entre outra bibliografia, A. Podlecki, The Politicai
Background of lhe Aeschylean Tragedy, Univ. of Michigan Press, 1966,
cap.V ou J.Herington , Aeschylus, Yale University Press, 1986, pp. 111-156.
Mana do Cu Fialho
tb
(J"/c6ro, J.U)v cpo,
{pef3o
cD
cpaevv6mrov c J-1.o{,
g).,6(j() J-1.' .
4 Cf.201 sqq .
5 Para W. Schadewaldt, MOllolog und Selbstgespraech .
UlltersuchulIgell zur Formgeschichte der giechischell Tragoedie , Bedin ,
1966, p.66, esta uma inovao de Sfocles, j que os vestgios das duas
peas homnimas de squilo e Euripides permitem aftrmar que o heri nelas
foi abandonado numa ilha com habitantes.
3 O1
Maria do Cu Fialho
O Coro
O Coro considerado por Aristteles, Potica, 1456 a) 25-27,
como uma de entre as personagens que integram o todo da pea e
participam na aco. No entanto, a definio do coro como o espectador
ideal, da autoria de Schlegel, deterIlnou decisivamente as perspectivas
de investigao sobre esta matria ao longo de quase sculo e meio,
sendo as intervenes corais nos episdios minimizadas e as odes
encaradas como um comentrio lrico aco, de carcter amplificador e
6 Tragedy a/ld Civilizatio/l, Cambridge University Press, 1981,
p.ll: his sufferillgs comprise a metaphorical a/ld sometimes a literal
joumey to the [jmits of huma/l experiellce alld beyolld. III ali the extallt
plays of Sophocles the hero's relatioll to place expresses his ambiguo/ts
status. Places that should give shelter or safety become destructive,
savage.
7 E.g. v. 1000: apoptolis .
8 London , 1969,2' ed.
3 O2
II
303
Maria do Cu Fialho
Os deuses
A presena do elemento divino e o sentido da sua manifestao
representam uma das mais delicadas questes volta da tragdia de
Sfocles. Bem-amado e reconhecido pelos seus concidados como
homem de religiosidade modelar. no ter sido no sentido do criticismo
euripidiano que os situa. na aco trgica. num plano de eniogmtica
distncia.
A primeira reaco de desconforto do espectador perante o
sofrimento e queda do heri. sem que encontre uma fundamentao
linear num nexo de culpa pessoal ou hereditria e castigo individual ou
prolongado na descendncia decorre dos antecedentes esquilianos em que
estes condimentos esto presentes como manifestao de uma justia
operante que se repe e vigora.
Em Sfocles os deuses no probem nem determinam. Situam-se, antes. num plano que o do conhecimento absoluto e advertem o
homem, preferencialmente sob a forma de orculo ou da voz de um
profeta. como Calcas no Ajax, sobre momentos cruciais da sua mortal
existncia.
3 O4
II
3 O5
Maria do Cu Fialho
Rei dipo
Principais tendncias da crtica
No vamos aqui abordar questes interpretativas da pea por tal
nos parecer fora do objectivo deste trabalho 15. Referiremos aqui apenas
as tendncias crticas mais importantes na interpretao de uma pea
to rica em problemtica e to generosa nas leituras que deixa em
aberto, como verdadeira obra de arte que .
Aquelas diversificam-se em vrias direces, como sejam a
crtica
3 O7
Maria do Cu Fialho
Recepo
No entanto, foi esta anlise de profundidades, instaurada com a
psicanlise freudiana, que, constituindo uma verdadeira contrapartida
sistematizao potica aristotlica, eminentemente anlise de
superfcie, instaurou um perodo particularmente fecundo na recepo
da pea em dramaturgos do nosso sculo, como Hofmannsthal,
Cocteau, Santareno.
Sobre este assunto remetemos para o nosso trabalho
"Rei dipo. Tragdia e paradigma. Algumas etapas na histria da sua
recepo", apresentado no Colquio anterior23 .
paradoxo~,
de aluses veladas, de
palavr~s
ditas e o sentido
3 O8
3 O9
Maria do Cu Fialho
SVTVXel
l<Sl<TWICTS.
O trecho escolhido
311
Maria do Cu Fialho
DI.
ilJ :rraf8s
olcrpo{, yvwr
ICOIC
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01},
investi~ao
e ensino - II
ra IIv(hlCil
DIPO
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yw
313
Maria do Cu Fialho
tempo.
O contexto propcio explorao de vocabulrio trgico com
afinidade semntica a 'gemer' (chorar, choro, lgrima, lamento) ou os
seus contrrios.
Como prova das palavras de dipo segue-se a formulao da
consequncia efectiva, construda com ste+ indicativo (65): de modo
errante.
As metforas do caminho tm j. nesta altura, tradio na
poesia grega desde Homero e a elas, bem como bibliografia sobre o
assunto, nos referimos noutro trabalh0 29 . Ser interessante a reflexo
do aluno sobre palavras como 'mtodo' e 'metodologia'.
A soluo encontrada referida como um remdio ({ucrtv, 68),
previamente descoberto por pesquisa '<JK01troV TlSpt<JKOV, 68) e
315
'pedagogias que visam prioritariamente a educao "utilitria", que esmaga o imaginrio dos jovens, quando esse mesmo, devidamente
conhecido e explorado, deveria ser o motor fundamental da sua lucidez.
Em disciplinas como aquelas que lecciono (e do mesmo
m~do,
318
s pode responder-
1 Bing, Elisabeth -
1976 .
II
319
2Jean, Georges -
1977 .
3 Sartre , Jean-Paul- L'imagiflaire. Gallimard, 1970.
4Bettelheim, Bruno - Psychallalyse des contes des fes. Laffont,
1976.
320
Assim, juntando pedagogia e prazer, nada mais estamos a cumprir seno o preceituado por Pascal que defendia que "para aprender a
bem pensar preciso aprender a bem imaginar".
O veloz e assombroso desenvolvimento da Cincia tem atribudo, pouco a pouco, toda a razo reflexo pascaliana: a realidade parece ultrapassar diariamente a fico e os lirrtes do Imaginrio recuam,
na medida em que o "impossvel" se toma cada vez mais possvel e o
"inverosrrl" cada vez mais verdadeiro.
Como j dei a entender, tenho desde sempre recusado o discurso
magistral e enftico que nos pode fazer correr graves riscos de insucesso, especialmente quando, como diz muito bem o Prof. Herman
Mussert5 "temos para oferecer em nossas aulas de Latim uma srie de
cadveres de h dois rrl anos, para mais acusados de terem escondido a
beleza da sua lngua atrs dos redutos duma sintaxe hermtica".
E este professor de "lnguas mortas" consegue entretanto, ele
que um "ano feio com a alcunha de Scrates", "conduzir os alunos
como ovelhas mansas atravs das sebes espinhosas da sintaxe e da gramtica, de incendiar a turma fazendo despenhar o carro do Sol, fazer
morrer Scrates com uma dignidade que eles jamais esqueceriam na sua
curta ou longa vida".
As rrnhas mais gostosas aulas so as que se vo fazendo entre
rrm e eles, numa cumplicidade que conhece os limites do real e o
"para alm", aulas em que se abrem caminhos, recusam descobertas,
elegem solues, atravs daquilo que eles facilmente podem perceber
que cultura vivida e no apenas aprendida.
Sendo, desde sempre, amante indefectvel de mitos, j que me
revelam mais do Homem do que a sua prpria fala, sem enunciados
personificados, com a tal "substncia" que no se encontra nem no
estilo nem na sintaxe mas, sim. na histria que se conta, fao deles frequentemente rrnha ferramenta de trabalho, tentando levar os alunos a
5 Protagonista do romance de Cees Nooteboom, A histria
seguinte. Quetzal.
321
323
6Jean, Georges -
op. cit ..
325
ONTEM
HOJE
(o que se conta)
(o que se v)
GA IA - a Terra
deusa me, matria primordial,
surgiu do Caos.
das
deusas
327
que corria o cu
328
essa
altura
que
ia
329
330
331
Imagens do filme o
"Abismo" em que se assiste
morte da protagonista por afogamento voluntrio (jogando com
dados cientificas que prevem a
ressurreido hipottica em mortes
em hipotennia) e em que,falhada
a eficincia cientifica, ser o poder do amor que a salvar.
Num segundo excerto do
mesmo filme, acabar por se viver uma situado com o mesmo
casal que, embora apresente contornos diferentes acaba por realar
o mesmo poder do amor.
Seguem-se palavras de "encerramento" proferidas por Zeus
(do filme "Choque de Tits") sobre o destino dos deuses e dos heris e
sobre a perenidade dos memos na memria dos homens de todas as geraes vindouras
332
A valiao da sesso
enfastiantes
O
O
O
O
O
agradveis
inteligentes
infantis
verosmeis
inverosmeis
o
O
O
O
O
O
O
O
O
333
Sim
No
curta
excessiva
4. e a qualidade da montagem era:
equilibrada
boa
m
O
O
O
O
O
O
O
o
O
O
modo:
satisfatrio
Insatisfatrio
334
Comentrios Finais
Embora no se tenha efectuado um tratamento estatstico da
Ficha de Avaliao, pde facilmente constatar-se que houve um aumento substancial de "indiferentes" para "mais entusiastas" e muitos
mantiveram a apreciao de inverosimilhana.
Mesmo os mitocpticos reconheceram originalidade e intelign- .
cia aos mitos; nenhum aluno considerou o tempo da sesso excessivo e
vrios foram os que queriam ver/ouvir mais.
Quanto qualidade, vrios foram os que reclamaram melhor
imagem (a montagem feita a partir de cpias o que retira o "brilho"
original) e ningum reclamou da articulao narrativa/imagem.
O que muitos alunos mostraram foi um vivo interesse em passar a conhecer muito melhor a matria e pediram de imediato bibliografia desde a mais simples mais completa.
Quanto ao comentrio da frase de Salstio a mesma mereceu
apoio consensual, sendo a maior parte das respostas satisfatria, ha
vendo um aluno que enriqueceu a comentrio com o clebre verso de
Pessoa'''o mito o nada que tudo".
Entretanto, esta sesso foi efectuada para alunos de outras turmas dos 90 e 10" anos, a pedido de Colegas e tambm para os alunos
do Clube Europeu que preparavam ento o intercmbio com a Grcia.
Estes ltimos passaram ento a elaborao dum ~abalho que se
iniciou pela pesquisa de expresses comuns da nossa lngua em que esto presentes referentes mticos. Depois elaboraram a "histria" de base
e explicaram a actual acepo das citadas expresses. O trabalho foi traduzido em Ingls e levado Grcia onde se compararam expresses tpicas de cada pas. inteno do Clube, quando se completar a ilustrao deste trabalho, ainda no totalmente conseguida, pois a Artista
uma aluna com demasiadas ocupaes, envi-lo para os pases com
quem mantemos relaes de intercmbio (atravs do Europrojecto) para
se efectuar o mesmo tipo de comparao efectuada j com os c<1l.egas
gregos.
33~
Esta experincia que me proporcionou sempre uma abertura considervel para os trabalhos atrs citados (recriao de mitos ... ) leva-me
a considerar que preciso melhor-la ou talvez mant-la e "partir para
outra", como dizem os nossos alunos.
Realmente, devo confessar que o contacto com os nossos filhos
jovens nos leva a olhar as coisas deles com uma ateno diferente e, ultimamente, "sinto" que os seus muito apreciados "videoclips" contm
material simblico e imagtico a no desprezar.
que hoje em dia, motivar s pelo discurso privilgio com
que nem todos os dias os deuses nos bafejam! Da que urja aproveitar
os sortilgios da tcnica e da imaginao contemporneas, para levar a
cabo esta profisso que, afinal e apesar de tudo, continua a bem valer a
pena!
BIBUOGRAFIA
Barthes, Roland - Mitologias. Ed. 70, 1988.
Bettelheim, Bruno - Psychanalyse des Contes de Fes.
Laffont, 1976.
Bing, Elisabeth - Etje Nageai Jusqu' la Plage. Des Femmes,
1976.
Gama, Sebastio da - Dirio. tica, 1980.
Jean, Georges - Pour une Pdagogie de l'lmaginaire.
Castermann, 1977.
Silva, Agostinho da - Consideraes e Outros Textos. Assrio
e Alvim, 1988.
Torrado, Antnio - Da Escola sem Sentidos Escola dos
Sentidos. Civilizao, 94.
Post rem *
JOO MANUEL NUNES IDRRO**
* Alocuo final.
** Presidente da Comisso Organizadora.
Em Roma. assistimos deliciados ao desfile da moda. observmos a organizao da sociedade. espreitmos o po"vo Etrusco. visitmos as fbulas de Fedro. encontrmo-nos com Santo Agostinho. e
Virgilio foi o nosso guia para um percurso que nos conduziu at
Almei(la Garrett e por um itinerrio que nos levou ao encontro de
Cames.
Era nosso propsito aprender enquanto estvamos tambm a
ensinar. Por isso, calcorremos os trilhos difceis do e"nsino da
gramtica. passmos tambm pelo ensino do vocabulrio e
visualizmos. atravs do vdeo. uma proposta de ensino de sintaxe.
Tentmos ainda utilizar o diagnstico como estratgia no caminho dos futuros professores, e andmos em demanda da .pe:.r pelas
veredas pedregosas das reformas.
O mito e a religio serviram-nos de companheiros e corremos
pelo campo da pedagogia at onde nos levou a nossa imaginao.
Como msica de fundo. tivemos as Vozes da Primavera ou no
estivssemos em Maio.
Andmos sempre e em simultneo no passado e no presente.
mas tivemos constantemente os nossos objectivos colocados no
futuro .
Por isso. a nossa viagem no pode terminar agora. A nossa viagem tem de continuar. com estes ou com outros companheiros, aqui
ou em outro lugar. nos tempos de entusiasmo, mas tambm nos
momentos de desnimo.
Alicerados no passado greco-Iatino, com os ps bem assentes
no presente portugus e europeu. temos de continuar a dar o nosso
melhor na construo do futuro: o nosso e o dos nossos alunos.
Esta parte da viagem est a chegar ao fim. k organizao agradece a presena de tantos e to distintos viajantes. Temos conscincia
de que nem tudo correu como devia; sabemos que cometemos muitas
falhas. mas. confiados nos sentimentos humanistas de todos. atrevemo-
338
Post rem
1.107.8.
339
Alocuo final
MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA *
Clssicas: investigao e ensino" - e em desejvel e salutar alternncia com os nossos Colegas da Faculdade de Letras de Lisboa, tm
vindo a realizar-se periodicamente reunies deste gnero. Reunies em
que juntamos os nossos passos e os acertamos -
pois no isso o
e de
quase todas as Universidades estatais, bem como da Catlica, e de numerosssimas escolas, aqui temos estado, durante dois dias, a reflectir
em comum sobre o que sabemos e como devemos ensin-lo, e ainda
sobre a presena do passado clssico na nossa literatura. Professores das
Universidades de Lisboa, de Aveiro e Catlica Portuguesa (centro de
Braga) e, evidentemente/tambm da nossa, de Escolas secundrias de
Coimbra, Valbom, Leiria e gueda, trouxeram o seu contributo, sob a