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AVC Garrafas de Vidro

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UNIVERSIDADE DO PORTO

FACULDADE DE ENGENHARIA
MESTRADO EM ENGENHARIA DO AMBIENTE

Comparao de Processos de Reutilizao/Reciclagem


Usando a Metodologia de Anlise de Ciclo-de-Vida

Teresa Margarida Correia de Poo Mata


1998

FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO


MESTRADO EM ENGENHARIA DO AMBIENTE

Comparao de Processos de Reutilizao/Reciclagem


Usando a Metodologia de Anlise de Ciclo-de-Vida

Dissertao submetida para satisfao parcial dos requisitos do grau de


Mestre em Engenharia do Ambiente

Teresa Margarida Correia de Poo Mata


(licenciada em Engenharia Qumica pela FEUP)

1998

Dissertao realizada sob a superviso de:

Prof. Doutor Carlos Albino Veiga da Costa


Professor Catedrtico, FEUP

SUMRIO
A anlise de ciclo-de-vida (ACV) tem adquirido cada vez mais importncia como uma metodologia
objectiva para a avaliao dos impactos ambientais associados ao uso de um produto, a um
processo produtivo, a uma actividade ou a um sistema em geral, dentro de limites bem definidos. O
estudo compreende o ciclo-de-vida completo do produto, processo, ou actividade, incluindo a
extraco e processamento de matrias-primas, manufactura, transporte, distribuio, uso,
reutilizao, manuteno, reciclagem e rejeio final. A ordem de trabalhos para a metodologia de
ACV compreende a definio do objectivo e do mbito, a anlise de inventrio, a anlise de
impactos ambientais e a anlise de melhorias.
O presente trabalho consistiu na aplicao da metodologia de Anlise de Ciclo-de-Vida, para
comparar a reutilizao e a reciclagem das garrafas de cerveja de 0,33 litros de tara retornvel e de
tara perdida. Nesse sentido foram contactadas duas empresas portuguesas intervenientes no ciclode-vida dessas garrafas. Uma responsvel pela produo das garrafas de vidro onde foi analisado
em detalhe o processo fabrico das garrafas. A outra uma cervejeira onde foram analisados os
processos inerentes ao enchimento dessas garrafas.
Foram recolhidos dados quantitativos e qualitativos dos consumos de matrias-primas, materiais
auxiliares, energia e gua, emisses gasosas, guas residuais e resduos slidos gerados. Tambm
foi estudado o consumo de energia necessria para o transporte. Os dados do inventrio foram
classificados em categorias de impacto, tendo sido usado o mtodo dos volumes crticos na
caracterizao e avaliao da importncia relativa de cada uma dessas categorias. Deste modo foi
possvel comparar os dois tipos de garrafas em termos dos impactos ambientais associados. Foi
efectuada ainda uma anlise da reciclagem e da reutilizao de garrafas de vidro.
Deste estudo conclui-se que dentro das fronteiras estabelecidas e hipteses assumidas, os impactos
ambientais associados garrafa retornvel, considerando apenas um ciclo ou uma utilizao desta,
so mais elevados do que os associados garrafa no-retornvel. A reciclagem de vidro vantajosa
desde que o vidro a reciclar no contenha muitos contaminantes.

ABSTRACT
Life Cycle Assessment (LCA) is increasingly becoming more important as a methodology to
evaluate the environmental impacts associated with a product, a process, an activity or a general
system inside a well defined boundary. The assessment includes the entire life-cycle of the product,
process or activity, encompassing extracting and processing raw materials, manufacturing,
transportation, distribution, use, reuse, maintenance, recycling and final disposal. The methodology
framework includes the goal and the scope definition, the inventory analysis, the impact assessment
and the improvement assessment.
This work consists of the application of the LCA methodology to compare the reuse and recycle of
the returnable and the non-returnable glass beer bottles, 0,33 litters. Therefore two portuguese
companies intervening on the life cycle of them were contacted. One is the producer of the glass
bottles, where the manufacturing process was studied in detail. The other is a brewery where the
filling processes were studied.
Quantitative and qualitative data were gathered concerning raw materials and auxiliary materials
consumption, water and energy consumption, wastewater, air emissions and solid waste generation.
Also the energy consumption in the transport was considered. Using this set of data the two types
of bottles were compared. The inventory data were classified in impact categories. The critical
volumes method is used in their characterization and finally evaluation of their relative
importance. Also the recycling and the reuse processes of glass bottles were studied.
This study concludes that the environmental impacts associated with the returnable bottles,
considering only one cycle or one utilization of the returnable bottle, are higher compared with the
non-returnable bottles. The glass recycling is advantageous only if the glass dont have too much
contaminant.

RSUM
LAnalyse de Cycle de Vie (ACV) ou l cobilan a acquis de plus en plus importance comme une
mthodologie

objectif

servant

la

recherche,

lanalyse

et

lvaluation

de

charges

environnementales et des effets sur lenvironnement associs aux produits, aux procds
industriels, a une activit ou a un systme en gnral, dont les frontires sont bien dfinies. Ltude
compris le cycle de vie complet du product, processus, ou activit, inclusif lextraction et
traitement des matires premires, production, conditionnement, transport, distribution,
consommation, utilisation, rutilisation, recyclage et dchets finales. De faon gnrale, la
mthodologie des cobilans compris quatre tapes: la dfinition de lobjectif et du domaine de
ltude, linventarisation, lvaluation et linterprtation.
Cette tude sagit de lapplication de la mthodologie de ACV pour comparer la rutilisation et le
recyclage des bouteilles de verre 0,33 litres pour la bire, plusiers usages et usage unique.
Dans ce but, on a contact deux entreprises qui font part du cicle de vie de cettes bouteilles. Une o
on a tudie la production des bouteilles de verre. Lautre une brasserie o on a tudie les processus
lis au remplissage des bouteilles.
On a recueilli des donns quantitativement et qualitativement par rapport au consommation des
matires premires et dautres, dnergie et deau, dmissions dans lair et dans leau et aussi des
dchets. On a tudi aussi la consommation dnergie ncssaire au transport. De cette faon on a
russi a comparer les deux types de bouteilles. On a classifi les donns de linventarisation dans
des catgories dimpactes, puis on les a caractris avec le methode des volumes critiques et
finallemennt on a valu son importance rlatif. On a tudi aussi les processus de recyclage et
rutilisation des bouteilles en verre.
De cette tude on peut conclure qui les impactes dans lenvironnement associs aux bouteilles
plusieurs usages, si on considre seulement une usage, sont plus lvs qui ceux associs aux
bouteilles usage unique. La recyclage de verre cest vantageux dans le cas o le verre recycler
na pas trop de contaminants.

AGRADECIMENTOS
Ao professor Dr. Carlos Costa, pela sua dedicao como orientador, por tudo o que me possibilitou
aprender, pelo interesse, confiana e motivao que me transmitiu durante todas as etapas que
constituram a realizao desta tese.
Fundao da Cincia e Tecnologia (PRAXIS XXI) pelo seu suporte financeiro.
Eng. Ftima Poas, pela disponibilidade, pelo interesse, por tudo o que me possibilitou aprender
e tambm pela sua colaborao neste trabalho.
A todas as pessoas contactadas nas empresas que forneceram os dados necessrios realizao
deste trabalho, por se terem disponibilizado a me receberem e por me terem possibilitado o acesso
informao.
Aos meus pais, pela fora e confiana que sempre me transmitiram, por me terem dado a coragem e
a possibilidade de atingir os meus objectivos.
Ao meu marido Antnio Augusto, a quem dedico este trabalho, por tudo.

ndice Geral

vii

ndice Geral

Pg.
NDICE GERAL .............................................................................................................................................. VII
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................................ IX
LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................................................... XI

CAPTULO 1 FUNDAMENTOS ................................................................................................................ 1


1.1 INTRODUO ............................................................................................................................................ 2
1.2 OBJECTIVOS .............................................................................................................................................. 5
1.3 ESTADO DA ARTE ..................................................................................................................................... 7
1.4 RESDUOS SLIDOS URBANOS ................................................................................................................ 14
1.5 RECUPERAO DO VIDRO DE EMBALAGEM ............................................................................................ 21
1.6 IMPORTNCIA DA QUESTO AMBIENTAL................................................................................................ 29

CAPTULO 2 ESTUDO DE CASO .......................................................................................................... 33


2.1 INTRODUO .......................................................................................................................................... 34
2.2 Definio do objectivo e do mbito ................................................................................................... 36
2.2.1 Definio do objectivo do estudo.................................................................................................... 36
2.2.2 Definio do mbito do estudo ....................................................................................................... 36
2.3 ANLISE DE INVENTRIO ........................................................................................................................ 38
2.4 ANLISE DE IMPACTOS ........................................................................................................................... 50
2.4.1 Classificao................................................................................................................................... 51
2.4.2 Caracterizao................................................................................................................................ 52
2.4.3 Avaliao ........................................................................................................................................ 55
2.5 INTERPRETAO DOS RESULTADOS......................................................................................................... 57
2.6 ANLISE DOS PROCESSOS DE REUTILIZAO E RECICLAGEM ................................................................. 60
2.6.1 Reciclagem...................................................................................................................................... 61
2.6.2 Reutilizao .................................................................................................................................... 66

CAPTULO 3 CONCLUSES E TRABALHO FUTURO..................................................................... 76


3.1 CONCLUSES .......................................................................................................................................... 77
3.2 TRABALHO FUTURO ................................................................................................................................ 80
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................................................... 83

ndice Geral

viii

ANEXO A NORMAS AMBIENTAIS E RSU .......................................................................................... 88


A.1 NORMAS DE QUALIDADE AMBIENTAL ................................................................................................... 89
A.2 A RECOLHA SELECTIVA DOS RESDUOS SLIDOS URBANOS .................................................................. 97

ANEXO B - GUIA DA METODOLOGIA ACV....................................................................................... 103


B.1 ESTRUTURA GLOBAL DA METODOLOGIA DE ACV............................................................................... 104
B.2 DEFINIO DO OBJECTIVO E DO MBITO ............................................................................................. 106
B.2.1
Objectivo do estudo................................................................................................................ 106
B.2.2
mbito do estudo.................................................................................................................... 107
B.3 ANLISE DE INVENTRIO ..................................................................................................................... 110
B.4 ANLISE DE IMPACTOS......................................................................................................................... 114
B.4.1 Classificao ................................................................................................................................ 114
B.4.2 Caracterizao ............................................................................................................................. 115
B.4.3
Avaliao ............................................................................................................................... 115
B.5 ANLISE DE MELHORIAS E INTERPRETAO DE RESULTADOS ............................................................. 118

ANEXO C - A INDSTRIA VIDREIRA .................................................................................................. 121


C.1 PRINCIPAIS TENDNCIAS E INOVAES ................................................................................................ 122
C.2 NATUREZA DO VIDRO .......................................................................................................................... 125
C.3 ESTRUTURA DO VIDRO ......................................................................................................................... 126
C.4 TIPOS DE VIDRO ................................................................................................................................... 128
C.5 COMPOSIO DO VIDRO DE EMBALAGEM ............................................................................................ 131
C.6 MATRIAS-PRIMAS .............................................................................................................................. 134
C.7 PROPRIEDADES DO VIDRO .................................................................................................................... 140
C.7.1 Propriedades pticas................................................................................................................... 142
C.7.4 Propriedades qumicas................................................................................................................. 144
C.7.5 Propriedades mecnicas .............................................................................................................. 145
C.7.6 Propriedades Trmicas ................................................................................................................ 148
C.8 PROCESSO DE PRODUO DE EMBALAGENS DE VIDRO ........................................................................ 150
C.8.1 Preparao da Composio......................................................................................................... 150
C.8.2 Processo de Elaborao do Vidro................................................................................................ 152
C.8.3 Processo de Fabrico da Embalagem de Vidro............................................................................. 155
C.8.5 Tratamentos superficiais .............................................................................................................. 165
C.8.6 Decorao ou rotulagem.............................................................................................................. 167
C.8.7 Inspeco em linha....................................................................................................................... 168
C.9 PRINCIPAIS TIPOS E CARACTERSTICAS DAS EMBALAGENS DE VIDRO ................................................... 170
C.9.1 Tipos de embalagens de vidro ...................................................................................................... 170
C.9.2 Caractersticas das embalagens de vidro..................................................................................... 171
C.10 PROCEDIMENTOS DE UTILIZAO ....................................................................................................... 174

Lista de Tabelas

ix

Lista de Tabelas

Pg.
Tabela 1 Produo de RSU (DGA, 1996) ...........................................................................................................................15
Tabela 2 Distribuio percentual dos diversos constituintes dos RSU ...............................................................................16
Tabela 3 Estimativas de produo de RSU em Portugal ....................................................................................................16
Tabela 4 Composio percentual dos RSU entre diferentes tipos de concelhos .................................................................17
Tabela 5 Evoluo da taxa de reciclagem de vidro em Portugal (AIVE, 1997)..................................................................24
Tabela 6 Recolha e reciclagem de Vidro na Unio Europeia.............................................................................................25
Tabela 7 Caracterizao do sistema de embalagem usado para garrafas retornveis e no-retornveis..........................38
Tabela 8 Consumo de materiais para o processo de fabrico de garrafas de vidro.............................................................40
Tabela 9 Consumo de gua de arrefecimento no processo de fabrico das garrafas...........................................................40
Tabela 10 Consumo de energia no processo de fabrico das garrafas de vidro ..................................................................41
Tabela 11 guas residuais do processo de fabrico das garrafas de vidro..........................................................................41
Tabela 12 Emisses gasosas do processo de fabrico das garrafas de vidro.......................................................................42
Tabela 13 Resduos slidos do processo de fabrico das garrafas de vidro.........................................................................42
Tabela 14 Consumo de materiais de embalagem para o enchimento e condicionamento de garrafas...............................45
Tabela 15 Consumo de CO2 para o enchimento de garrafas e produo de cerveja..........................................................45
Tabela 16 Consumo de agentes qumicos ...........................................................................................................................45
Tabela 17 Consumo de gua nos processos descritos ........................................................................................................46
Tabela 18 Consumo de electricidade nos processos descritos............................................................................................46
Tabela 19 Consumo de nafta nos processos descritos ........................................................................................................46
Tabela 20 Quantidade e composio das guas residuais..................................................................................................46
Tabela 21 Emisses gasosas da central de co-gerao, para uma eficincia trmica de 92,5% e 84,4% na produo de
electricidade e vapor respectivamente, usando nafta como combustvel ............................................................................47
Tabela 22 Resduos slidos inerentes dos processos de enchimento de garrafas e da ETAR.............................................47
Tabela 23 Consumo de gasleo no transporte de garrafas e casco de vidro......................................................................48
Tabela 24 Lista de categorias de impacto seleccionadas por vrios grupos de trabalho (Jensen et al., 1997)..................50
Tabela 25 Volume crtico de ar associado produo de garrafas de vidro (Habersatter, 1991).....................................53

Lista de Tabelas

Tabela 26 Volume crtico de ar associado s operaes efectuadas na cervejeira (Habersatter, 1991)............................53


Tabela 27 Volume crtico de gua associado produo de garrafas de vidro (Habersatter, 1991) ................................54
Tabela 28 Volume crtico de gua associado s operaes efectuadas na cervejeira (Habersatter, 1991) .......................54
Tabela 29 Comparao das duas garrafas por categoria de impacto ................................................................................55
Tabela 30 Avaliao das diferentes categorias de impacto ................................................................................................56
Tabela 31 Avaliao das diferentes categorias de impacto usando diferentes factores peso .............................................57
Tabela 32 Consumo de materiais em relao quantidade de vidro reciclado .................................................................61
Tabela 33 Consumo de energia de fuso em relao quantidade de vidro reciclado......................................................62
Tabela 34 Emisses gasosas em relao quantidade de vidro reciclado.........................................................................63
Tabela 35 Metais pesados nas emisses gasosas em relao quantidade de vidro reciclado .........................................64
Tabela 36 Metais pesados nas emisses gasosas em relao quantidade de vidro reciclado .........................................65
Tabela 37 Consumo de materiais de embalagem em relao percentagem de garrafas retornveis ..............................66
Tabela 38 Consumo de produtos de limpeza e desinfeco em funo da percentagem de garrafas retornveis ..............67
Tabela 39 Consumo de gua em funo da percentagem de garrafas retornveis.............................................................68
Tabela 40 Consumo de electricidade em funo da percentagem de garrafas retornveis ................................................69
Tabela 41 guas residuais em funo da percentagem de garrafas retornveis................................................................70
Tabela 42 Volume crtico de gua em funo da percentagem de garrafas retornveis ....................................................71
Tabela 43 Emisses gasosas em funo da percentagem de garrafas retornveis .............................................................72
Tabela 44 Volume crtico de ar em funo da percentagem de garrafas retornveis.........................................................73
Tabela 45 Resduos slidos gerados em funo da percentagem de garrafas retornveis .................................................74
Tabela 46 Conjunto de normas da srie ISO 14000 ...........................................................................................................91
Tabela 47 Composio bsica do vidro de embalagem convencional (Tooley, 1984) .................................................131
Tabela 48 Composio aproximada de alguns vidros comerciais tpicos, do tipo sodo-clcico (Tooley, 1984) ..............132
Tabela 49 Alteraes nas propriedades do vidro com o aumento da quantidade de xidos (Tooley, 1984) ....................133
Tabela 50 Corantes usados no vidro (British Glass, 1996) ..............................................................................................137

Lista de Figuras

xi

Lista de Figuras

Pg.
Figura 1 Fases da metodologia de ACV (ISO 14040, 1997).................................................................................................3
Figura 2 Processo industrial de fabrico de garrafas de vidro............................................................................................23
Figura 3 Diagrama de uma Estao de Tratamento de casco (Maltha, 1993) ...................................................................28
Figura 4 Fronteira do sistema representando o ciclo-de-vida das garrafas retornvel e no-retornvel..........................37
Figura 5 Dbitos de entrada e sada dos processos associados produo de garrafas de vidro.....................................39
Figura 6 Representao do processo de fabrico de garrafas de vidro ...............................................................................39
Figura 7 Dbitos de entrada e sada dos processos considerados na cervejeira................................................................43
Figura 8 Linha de enchimento de garrafas de tara retornvel ...........................................................................................43
Figura 9 Linha de enchimento de garrafas de tara perdida ...............................................................................................43
Figura 10 Transporte considerado para o clculo do consumo de combustvel.................................................................47
Figura 11 Dimenso de cada categoria de impacto ...........................................................................................................56
Figura 12 Dimenso de cada categoria de impacto com o uso de diferentes factores peso ...............................................58
Figura 13 Consumo de materiais em relao quantidade de vidro reciclado .................................................................61
Figura 14 Consumo de energia de fuso em relao quantidade de vidro reciclado......................................................62
Figura 15 Emisses gasosas em relao quantidade de vidro reciclado.........................................................................63
Figura 16 Metais pesados nas emisses gasosas em relao quantidade de vidro reciclado .........................................64
Figura 17 Volume crtico de ar em funo da quantidade de vidro reciclado....................................................................65
Figura 18 Consumo de materiais de embalagem em funo da percentagem de garrafas retornveis..............................66
Figura 19 Consumo de produtos de limpeza e desinfeco em funo da percentagem de garrafas retornveis ..............67
Figura 20 Consumo de gua em funo da percentagem de garrafas retornveis.............................................................68
Figura 21 Consumo de electricidade em funo da percentagem de garrafas retornveis ................................................69
Figura 22 gua residuais em funo da percentagem de garrafas retornveis .................................................................70
Figura 23 Volume crtico de gua em funo da percentagem de garrafas retornveis ....................................................71
Figura 24 Emisses gasosas em funo da percentagem de garrafas retornveis .............................................................72
Figura 25 Volume crtico de ar em funo da percentagem de garrafas retornveis.........................................................73
Figura 26 Resduos slidos gerados em funo da percentagem de garrafas retornveis .................................................74

Lista de Figuras

xii

Figura 27 Esquema terico do procedimento para a metodologia de Anlise de Ciclo-de-vida (SETAC 1991, 1993 e
1994).................................................................................................................................................................................105
Figura 28 Representao esquemtica de um sistema simples (SETAC, 1991)................................................................108
Figura 29 Definio da fronteira de um sistema de embalagem (CEN/TC 261/SC4/WG1 N 44, 1994). ..........................109
Figura 30 Representao da viscosidade do vidro de embalagem em funo da temperatura. .......................................141
Figura 31 Representao esquemtica de uma fornecedora, indicando as principais reas ...........................................156
Figura 32 Processo soprado-soprado do fabrico de garrafas de vidro............................................................................159
Figura 33 Processo prensado-soprado de fabrico de potes de vidro................................................................................161
Figura 34 Representao esquemtica da curva temperatura versus tempo de recozimento de embalagens de vidro ....165
Figura 35 Esquema do processo de tratamento superficial a quente e a frio para embalagens de vidro.........................166

Captulo 1 Fundamentos

1.1 Introduo

1.1 Introduo

A tomada de conscincia, na dcada de 80, dos impactos ambientais associados ao


condicionamento de bens e servios, renovou o interesse pelo desenvolvimento e aplicao de
mtodos para melhor compreender e reduzir as consequncias negativas das actividades humanas
no ambiente.
Nos anos mais recentes, foi aceite a ideia de que os mtodos e tcnicas tm de encorajar uma
avaliao compreensiva dos efeitos de todas as correntes da actividade ou produto sob estudo. O
conceito de ciclo-de-vida, tambm chamado do bero sepultura, influenciou e fez ganhar forma
muitas tcnicas de aproximao e clculo, estudo e melhoria do desempenho ambiental dos
produtos e sistemas de produo.
A anlise de ciclo-de-vida (ACV) tambm referida como eco-balano, definida pela SETAC
(Society of Environmental Toxicology and Chemistry, EUA e Europa) como uma metodologia
objectiva para a avaliao dos impactos ambientais associados ao uso de um produto, a um
processo produtivo, a actividades ou a um sistema em geral, dentro de limites bem definidos. O
estudo compreende o ciclo-de-vida completo do produto, processo, ou actividade, incluindo a
extraco e processamento de matrias-primas, manufactura, transporte, distribuio, uso,
reutilizao, manuteno, reciclagem e rejeio final (Consoli et al, 1993). A ordem de trabalhos
para o mtodo de ACV compreende a definio do objectivo e do mbito, a anlise de inventrio, a
anlise de impacto e a anlise de melhorias.

1.1 Introduo

Actualmente a metodologia de ACV descrita pela norma ISO 14040 e normas complementares
14041, 14042 e 14043, que ainda se encontram em desenvolvimento. Segundo esta norma, a
metodologia de ACV deve ser flexvel ao ponto de permitir melhorias no seu estado-da-arte.
A Figura 1 representa a interligao existente entre as vrias fases da metodologia de ACV, tal
como descrita pela norma ISO 14040. Esta representao ilustra o carcter interactivo e iterativo
das vrias fases da metodologia de ACV.

Esquema de trabalho da ACV


Definio do
objectivo e do
mbito

Anlise de
inventrio

Interpretao

Aplicaes directas:
- Desenvolvimento e
melhoria de produtos
- Planeamento estratgico
-Poltica pblica
- Marketing
- Outra

Anlise de
impacto

Figura 1 Fases da metodologia de ACV (ISO 14040, 1997).

A embalagem e em particular a embalagem para alimentos e bebidas, considerada um factor de


desenvolvimento scio-econmico das sociedades, com inmeros benefcios, nomeadamente a
minimizao de perdas dos produtos, a sua conservao e acessibilidade. No entanto, o impacto
ambiental e a gesto dos resduos de embalagem so uma preocupao crescente dos fabricantes,
comerciantes, distribuidores, consumidores e rgos legislativos. A nvel Europeu a Directiva
EC/62/94 estabelece medidas para prevenir e reduzir o impacto das embalagens no ambiente e
medidas para a gesto adequada dos seus resduos. Esta Directiva foi transposta para a legislao
nacional pelo Decreto-Lei 322/95 e Portaria 313/96, recentemente substitudo pelo Decreto-Lei
366-A/97. A Directiva prev (entre outros) a elaborao de normas europeias para a padronizao
de critrios e metodologias de ACV que sustentem medidas de preveno do impacto ambiental das
embalagens. Os objectivos de valorizao e reciclagem previstos, so os seguintes:
-

valorizar um mnimo de 25% em peso dos resduos de embalagem at 31/12/2001;

1.1 Introduo

valorizar um mnimo de 50% em peso dos resduos de embalagem, reciclar um mnimo de 25%
em peso da totalidade dos materiais de embalagem contidos nos resduos de embalagem,
reciclar um mnimo de 15% para cada material de embalagem at 31/12/2005.

Cada vez mais existe a necessidade de as empresas se comprometerem com uma poltica ambiental,
integrada na sua viso estratgica, em consequncia das presses da legislao e do mercado. Tal,
refora a necessidade de se desenvolver e usar metodologias de anlise, com critrios objectivos e
com fundamento cientfico. Estas metodologias constituem ferramentas de suporte tomada de
decises em aspectos ambientais e particularmente adequadas ao contexto nacional.
Apesar da embalagem ser na sociedade moderna um elemento de essencial importncia no
desempenho das suas funes, esta v-se envolvida muitas vezes, no meio de mitos, factos e
realidades. Exemplos de alguns mitos existentes e que fazem parte das percepes pblicas em
relao s embalagens so os seguintes: quantidade a aumentar; tratamento dos resduos com
mtodos poluentes; desperdcio de energia e de materiais; no reutilizada nem reciclada; deve ser
biodegradvel; contribui para a poluio. Estes mitos adquirem muitas vezes maior importncia
do que os benefcios que a embalagem comporta. Por vezes os mitos sobrepem-se aos factos e
realidades quando os dados existentes, conhecidos e quantificados so incompletos. Em diversas
reas nas quais a embalagem tem impacto no ambiente, s existe uma quantidade limitada de dados
factuais. As opinies e perspectivas subjectivas abundam e so interpretadas como factos. Muitas
vezes quando existem factos, estes so ignorados e conduzem a percepes erradas, por exemplo a
percepo do consumidor quanto contribuio para os resduos totais, dos resduos domsticos,
ou a percepo de que a recuperao e a reciclagem so benficas para o ambiente. At aos anos
80, a indstria preocupava-se com aspectos particulares, como: lixo, embalagem retornvel versus
no-retornvel. Agora h a necessidade de uma abordagem integrada e confrontada com uma
conscincia limitada dos benefcios e das funes que a embalagem comporta (Levy, 1993).
A ACV localiza os impactos ambientais do sistema em estudo nas reas da sade ecolgica, sade
humana e depleco dos recursos. Tal como outros modelos cientficos, a ACV uma
simplificao de um sistema fsico e no pode providenciar uma representao completa e absoluta
de todas as interaces ambientais (Jnson, 1996). No existe uma metodologia nica, cientfica e
de aplicabilidade e aceitao gerais. A credibilidade dos estudos de ACV reside na definio
correcta das fronteiras do sistema considerado, na fiabilidade dos dados e na metodologia de
avaliao usada.

1.2 Objectivos

1.2 Objectivos

O presente trabalho tem como principal objectivo, usar a metodologia de ACV, para comparar a
reutilizao e a reciclagem das garrafas de cerveja de 0,33 litros de tara retornvel e de tara
perdida. Numa primeira fase, este trabalho visa encontrar as mais relevantes disfunes,
comparando os dois processos (reutilizao e reciclagem), segundo o ciclo-de-vida dos dois tipos
de embalagens de vidro envolvidos.
Como objectivos secundrios pretende-se:
-

providenciar uma representao o mais completa possvel das interaces de uma actividade
com o ambiente,

contribuir para a compreenso da natureza global e interdependente das consequncias


ambientais das actividades humanas,

fornecer a quem toma decises, informao que defina os efeitos no ambiente dessas
actividades e identifique oportunidades de melhorias a nvel ambiental,

testar a fiabilidade e a aplicabilidade da metodologia de ACV como instrumento de gesto


ambiental,

aprofundar o conhecimento da situao nacional no que respeita s garrafas de vidro para


cerveja,

compreender as principais diferenas entre os dois processos, reutilizao e reciclagem.

Para tal, pretende-se desenvolver neste trabalho, as seguintes etapas do mtodo de ACV:

1.2 Objectivos

elaborar um inventrio de ciclo-de-vida, identificando e quantificando todas as correntes de


entrada e sada do sistema em estudo, em termos de energia ou de materiais necessrios
associados a cada etapa de produo, uso e tratamento final de um produto,

elaborar uma avaliao dos impactos ambientais mais relevantes de todo o ciclo-de-vida,
associados s correntes de entrada e sada do sistema,

interpretar os resultados do inventrio efectuado e das anlises de impacto ambiental, de modo


a permitir que no futuro prximo se possam implementar medidas que reduzam os impactos
ambientais, introduzam melhorias no produto, processo ou actividade, ou de forma geral, que
cumpram os objectivos propostos para o sistema em estudo.

A escolha da embalagem de vidro para estudo neste trabalho deve-se grande versatilidade do
material (vidro) para os processos de reutilizao e reciclagem. Esta mesmo considerada a
embalagem ideal para estes processos, uma vez que a composio qumica do vidro quase no sofre
alteraes quando submetido a fuses sucessivas.

1.3 Estado da Arte

1.3 Estado da Arte

Uma das metodologias mais reconhecidas e aceite internacionalmente para examinar o desempenho
ambiental a metodologia de Anlise de Ciclo-de-vida. Durante mais de 20 anos, vrias
organizaes desenvolveram estudos de ACV com aplicaes diversas. Uma das aplicaes
originais da ACV era a de suporte tomada de deciso na escolha de produtos, sistemas ou
servios atravs da anlise da respectiva eficincia energtica ou do consumo de materiais e, em
alguns casos, poderia abranger a deposio de resduos slidos (Barnthouse, 1998).
Os primeiros estudos reconhecidos como estudos de Anlise de Ciclo-de-Vida datam do final dos
anos 60 e princpio dos anos 70 nos EUA. Neste perodo, questes ambientais tais como a
depleco dos recursos naturais e das fontes de energia, controlo da poluio e dos resduos
slidos, tornaram-se preocupaes de domnio pblico. Os estudos de ACV comearam a ser
efectuados como estudos comparativos entre embalagens de um determinado material e de
materiais alternativos, com o mesmo fim. Estes estudos basearam-se na compilao do maior
conjunto possvel de dados relevantes sobre todo o ciclo-de-vida dos materiais, desde a produo
das matrias-primas at eliminao completa da embalagem usada. Estas comparaes
ecolgico/econmicas ofereceram a primeira oportunidade de determinar, fundamentada em
argumentos objectivos e no apenas emocionais, quais os materiais mais adequados para certos
tipos de embalagens.
Actualmente, a ACV tem inmeras aplicaes devido ao seu grande desenvolvimento e experincia
adquirida (Allen, 1995). Algumas das possveis aplicaes da ACV so listadas a seguir:

1.3 Estado da Arte

desenvolver estratgias ambientais numa empresa,

avaliar alguns dos efeitos da reciclagem e dos componentes reciclados,

estabelecer uma base sustentvel para desenvolvimento ambiental,

comparar produtos j existentes a alternativos,

seleccionar projectos alternativos para produtos ou processos

estudar propostas de novos produtos, processos ou sistemas de embalagem,

estudar mudanas em produtos,

comparar diferentes projectos alternativos,

avaliar propostas de mudana em processos,

considerar os efeitos da reciclagem ou da reutilizao,

avaliar a situao ambiental da empresa do ponto de vista competitivo,

assistir na implementao de objectivos ambientais na empresa,

providenciar uma base de dados para comparao em futuras operaes empresariais,

educar os fornecedores e os utilizadores dos produtos,

estabelecer comunicao com os fornecedores,

estabelecer comunicao com os utilizadores,

estabelecer comunicao com os regulamentadores.

Para a maior parte das aplicaes, o facto de no existir ainda um consenso internacional ou
normas internacionais para aplicao da metodologia de ACV, tornou os resultados de muitos
estudos no comparveis e variveis. O desenvolvimento de um consenso internacional para
conduzir estudos de ACV iniciou-se em 1990 pela Society of Environmental Toxicology and
Chemistry (SETAC) e tem sido desde ento seu objectivo, harmonizar estes mtodos. Devido ao
interesse crescente em conduzir estudos de ACV, foram editadas pelo SETAC algumas regras ou
guias no seu livro Code of Practice (Consoli et al, 1993) providenciando uma metodologia para
conduzir estudos ACV. Alm da SETAC, a Environmental Protection Agency (EPA) e a
International Standard Organization (ISO) tm desenvolvido manuais e procedimentos para a
execuo de ACV aplicados rea da embalagem (Fava et al, 1991, 1993, 1994; Consoli et al,
1993; EPA, 1993, 1994, 1995a, b e c; CEN, 1994; ISO, 1997). A metodologia de ACV encontra-se
descrita no Anexo B deste trabalho.

1.3 Estado da Arte

Como todas as tcnicas tm limitaes importante entender as que esto presentes na metodologia
de ACV. Algumas dessas limitaes encontram-se listadas a seguir:
-

a natureza das escolhas e hipteses assumidas na ACV (p.ex. definio da fronteira do sistema,
seleco das fontes dos dados e das categorias de impacto) podem ser subjectivas,

o esquema de trabalho cientfico e metodolgico para a efectuar a etapa de anlise de impactos


ainda se encontra em discusso e desenvolvimento entre os vrios grupos de trabalho,

os vrios modelos existentes para se efectuar a anlise de impactos encontram-se em diferentes


etapas de desenvolvimento,

no existe uma metodologia globalmente aceite, para traduzir os dados do inventrio em


medidas de impacto ambiental,

existe ainda muita subjectividade na fase de anlise de impactos no que se refere natureza das
escolhas, modelo adoptado e avaliao das categorias de impacto,

os modelos usados para a anlise de inventrio e para a avaliao dos impactos ambientais so
limitados pelas suas hipteses e no esto disponveis para todos os impactos potenciais ou
aplicaes, por isso a transparncia um ponto crtico na anlise de impactos para garantir que
todas as hipteses so claramente descritas e transmitidas,

os resultados da ACV com aplicao global ou regional podem no ser apropriados para
aplicao local, i.e., as condies locais podem no ser representadas de forma adequada por
condies regionais ou globais,

a exactido dos estudos de ACV pode ser limitada pela acessibilidade ou disponibilidade de
dados relevantes e de boa qualidade, p.ex., falhas de dados, tipos de dados, estimativas, mdias
e dependncia local,

a falta das dimenses espacial e temporal dos dados de inventrio usados na anlise de impacto
introduz incertezas nos resultados. Estas incertezas variam de acordo com as caractersticas
espaciais e temporais de cada categoria de impacto,

os resultados do estudo de ACV por si s no so suficientes para se tomarem decises.


Devem-se sempre ter em ateno consideraes ambientais, tcnicas, econmicas e sociais.

No possvel basear uma metodologia em regras estanques, em todos os seus aspectos. A ACV
um mtodo complexo e multidimensional que ainda se encontra em desenvolvimento, ganhando
forma e experincia nas novas aplicaes que vm sendo efectuadas. Nenhum sistema de

1.3 Estado da Arte

actividade industrial pode ser facilmente estudado sem que se procedam a simplificaes de modo
a manter a anlise em propores manuseveis. A forma correcta de se efectuarem estas
simplificaes ou, o nvel de detalhe correcto que se pretende atingir, depender do objectivo de
cada estudo de forma independente.
A remodelao actual no projecto de um produto no faz parte da ACV, apenas uma das suas
aplicaes. Os resultados de todas as etapas de ACV providenciam, ao projectista do
processo/produto, informao dos impactos ambientais do sistema e frequentemente posicionam o
utilizador nas partes da operao, em que existe uma melhor oportunidade de melhorar o seu
desempenho ambiental. A metodologia de ACV muitas vezes aplicada em estudos de natureza
mais restrita, por exemplo, para estudar um parmetro ambiental em particular, tal como a energia
atravs do ciclo-de-vida ou, alternativamente, para examinar os impactos ambientais originados
pelas etapas seleccionadas do ciclo-de-vida. A ACV um instrumento de gesto ambiental tal
como a anlise de riscos, a anlise de tecnologias, auditorias ambientais, transporte de produtos e
gesto de sistemas, etc.; cada uma destas tcnicas deve ser usada apenas quando for apropriada
(EPA, 1995a).
A metodologia de ACV desenvolve-se nas seguintes etapas (Consoli et al., 1993):
- definio do objectivo e do mbito;
- anlise de inventrio;
- anlise de impacto, que compreende as subcomponentes: classificao, caracterizao e
avaliao;
- sntese de melhorias.
A definio do objectivo e do mbito parte integrante do procedimento a seguir. O estudo deve
ser conduzido de forma compreensvel, devendo-se previamente definir os requisitos necessrios
para a elaborao do relatrio e da comunicao dos resultados. O objectivo e o mbito do estudo
condicionam a sua orientao e profundidade, assim como os requisitos do relatrio e apresentao
dos resultados.
A fase de anlise de inventrio envolve a compilao completa da informao quantitativa e
qualitativa dos dados de todas as correntes de entrada e sada de um sistema em estudo. Esta fase
da metodologia de ACV a que se encontra mais bem documentada e melhor compreendida. Isto
porque durante mais de 20 anos vrias empresas e instituies efectuaram estudos, elaboraram
bases de dados e verses electrnicas com dados normalizados das correntes de entrada e sada de
vrios processos de fabrico (BUWAL, 1991; BUWAL, 1997; Hunt, 1974; Franklin Associates Ltd.,
1978, 1989, 1990; Hagerop, 1990; Jnson, 1996; Lox, 1994; Lundholm, 1986, 1989). Muita

10

1.3 Estado da Arte

informao til provm dos resultados da fase de inventrio e muitos estudos so conduzidos at ao
limite dos dados disponveis. As bases de dados podem servir de ponto de partida para estudos de
ACV, quando no existam dados disponveis ou dada a morosidade na obteno destes. No entanto,
para estudos efectuados com objectivos muito especficos, imprescindvel a recolha de dados
reais. No existem bases de dados completas e tambm muito importante a fiabilidade e
qualidade dos dados usados.
A anlise de impacto posiciona os dados do inventrio, entradas e sadas e outra informao, em
perspectiva. Sem uma anlise dos impactos ambientais, das emisses gasosas, lquidas e slidas,
assim como dos consumos de recursos difcil de entender a relevncia do ponto de vista
ambiental, das correntes de entrada e sada do sistema ou a vantagem de efectuar melhorias no
sistema. A fase de Anlise de Impactos foi definida conceptualmente mas ainda no se encontra
completa, i.e., no se chegou ainda a um acordo quanto metodologia para transpor os resultados
do inventrio em medidas dos impactos ambientais, sendo para tal, correntemente usados diferentes
mtodos e aproximaes, como por exemplo o mtodo dos volumes crticos (Habersatter, 1991) ou
o sistema EPS (Steen & Ryding, 1992; Steen, 1994,1995,1996) entre outros. A anlise da
importncia relativa dos impactos ambientais envolve inevitavelmente julgamento de valores os
quais, pela sua natureza, no podem ser expressos segundo regras ou critrios universais. As reas
de proteco abrangidas pela componente do mtodo, anlise de impactos, so (SETAC, 1993):
-

escassez de recursos no-renovveis,

escassez de recursos renovveis,

aquecimento global ou "efeito de estufa",

depleco da camada de ozono,

toxicidade para o Homem,

toxicidade para o ambiente,

acidificao,

eutrofizao,

formao de oxidantes fotoqumicos,

descargas de CQO,

ocupao do solo,

resduos slidos perigosos,

11

1.3 Estado da Arte

guas residuais,

rudo,

odores.

Na anlise de melhorias so interpretados os resultados das fases anteriores permitindo no s


reconhecer possibilidades de minimizao dos impactos ambientais gerados, como tambm
possibilitando a identificao, avaliao e seleco de opes de preferncia ambiental nos
produtos ou processos. Tanto a melhoria da eficincia das entradas e sadas (tal como a necessidade
de pouca energia ou bons resultados de produo) e opes de preferncia ambiental (tal como uso
de menos recursos e reduo de emisses) podem oferecer oportunidades de proteco ambiental.
Ainda no se chegou a um consenso no mtodo da anlise de melhorias. Foram efectuadas apenas
algumas anlises de melhorias fundamentadas em estudos de ciclo-de-vida (Consoli et al., 1993).
Existe um nmero considervel de estudos efectuados segundo a metodologia de ACV, muitos dos
quais, aplicados embalagem com objectivos variados (BUWAL, 1991; BUWAL, 1997; Bousted,
1995; Curran, 1996; Franklin Associates Ltd., 1978, 1989, 1990; Fink, 1991; Habersatter, 1991;
Hagerop, 1990; Hudo de Haes, 1996; Kooijman, 1993, 1994, 1996; Lox, 1994; Lundholm &
Sundstrm, 1986, 1989; Mekel, 1990; Schaltegger, 1996; Tellus Institute for Council of State
Government, 1991; UNEP, 1996; Vignon, 1988). Ainda no existe referncia a estudos deste tipo
efectuados em Portugal.
Um grande nmero de instituies governamentais, regulamentares e de normalizao encontramse activas na rea da ACV e sua aplicao embalagem, com publicaes e bases de dados,
devendo ser referidos:
-

EPA - U.S. Environmental Protection Agency, EUA (Internet: http://www.epa.gov),

EMAS - European Comunitys Eco-Management & Audit Scheme (Comisso da Comunidade


Europeia),

ISO

International

Organization

for

Standardization,

Sua

(Internet:

http://www.iso14000.com),
-

CEN - Comit Europen de Normalisation (Blgica),

SETAC - Society of Environmental Toxicology And Chemistry, EUA e Europa (Internet:


http://www.setac.org),

SPOLD Society for the Promotion of LCA Development,

12

1.3 Estado da Arte

Nordic Council of Ministers (Copenhaga)

BSI-British Standards Institution, Technical Committee on Life Cycle Assessment, Reino


Unido (Internet: http://www.bsi.org.uk).

Swiss Federal Office of Environment, Forests and Landscape, FOEFL ou BUWAL e o SVISwiss Packaging Institute (Suia; Email: BUWAL 250@ecosite.co.uk),

EUROPEN- European Organization for Packaging and the Environment (Blgica),

INCPEN-Industry Council for Packaging and the Environment (Reino Unido),

FhILV-Fraunhofer-Institut fr Lebensmitteltechnologie und Verpackung (Alemanha),

Franklin Associates, Ltd. ( Kansas - EUA; Email: franklin@qni.com),

Pira International (Surrey - Reino Unido, http://www.pira.co.uk),

TNO-Centre for Packaging and Polymer Research (Delft, Holanda),

CML-Centre for Environmental Science at the University of Leiden (Leiden, Holanda,


http://www.leidenuniv.nl/interfac/cml/lcanet/hp22.htm),

SB Young Consulting (CA) (http://www.io.org/~lca),

Estes so apenas alguns exemplos da grande diversidade de organismos, instituies e grupos


activos na rea da anlise de ciclo-de-vida e com tendncia ao seu nmero vir a aumentar. O que s
prova que a metodologia de ACV universalmente reconhecida e aceite como possuidora de
inmeras potencialidades, numa perspectiva de desenvolvimento e aplicaes teis em vastas reas.

13

1.4 Resduos Slidos Urbanos

1.4 Resduos Slidos Urbanos

no amplo terreno das mudanas econmicas e nos hbitos e padres de consumo, que surge o
debate contemporneo em torno da necessidade de repensar todo o problema dos impactos
ambientais gerados por uma sociedade. Em virtude da sua relao predatria e consumista para
com os recursos naturais, a sociedade no poderia deixar de ser uma fonte de elevadas e perigosas
quantidades de resduos. Mundialmente, a produo de grandes quantidades de resduos slidos
urbanos, RSU, a sua deposio e/ou eliminao em condies inadequadas, tem provocado
gravssimos problemas ambientais e de sade pblica. No sentido de tentar corrigir essa situao,
levaram-se a cabo experincias, em particular nos pases mais industrializados, fomentando tanto a
reduo como uma mais conveniente gesto dos resduos slidos urbanos.
Os resduos provenientes da Embalagem so cada vez mais vistos como uma ameaa qualidade
do ambiente. Apesar da Embalagem desempenhar um papel fundamental no transporte, distribuio
e venda de produtos, esta constitui uma percentagem considervel dos RSU, sendo tambm uma
das principais fontes de lixo. Os aspectos ambientais associados tm recebido uma ateno
crescente por parte dos fabricantes, comerciantes, distribuidores, consumidores e rgos
legislativos. A Unio Europeia reconheceu este facto ao constatar que a percentagem de resduos
de embalagens, na totalidade da corrente dos resduos urbanos, se aproxima dos 30%, chegando em
alguns pases a ultrapassar os 40%. A reduo dos resduos uma condio necessria para o
crescimento sustentvel expressamente mencionado no Tratado da Unio Europeia, reduzindo ou
mesmo evitando, o seu impacto ambiental. Deste modo, na Directiva EC/62/94 do Parlamento
Europeu e do Conselho de 20 de Dezembro de 1994, relativa gesto de embalagens e resduos de

14

1.4 Resduos Slidos Urbanos

embalagens, foi includo como princpio fundamental, a reutilizao, a reciclagem e outras formas
de valorizao dos resduos. Nesta, estabelecem-se metas de reciclagem:
-

valorizar um mnimo de 25% em peso dos resduos de embalagem at 31/12/2001;

valorizar um mnimo de 50% em peso dos resduos de embalagem, reciclar um mnimo de 25%
em peso da totalidade dos materiais de embalagem contidos nos resduos de embalagem,
reciclar um mnimo de 15% para cada material de embalagem at 31/12/2005.

De acordo com esta directiva europeia, Portugal goza de uma situao privilegiada, juntamente
com a Grcia e a Irlanda, e a sua meta de reciclagem dos resduos de embalagens poder variar
desde 12,5% at 29,3% da quantidade total de resduos de embalagens, com uma quota mnima de
15% para cada material individualizado (vidro, papel, plstico, metal ferroso, alumnio). Refere
ainda o estudo de anlise do ciclo-de-vida da embalagem com o fim de estabelecer uma hierarquia
bem definida entre embalagens reutilizveis, reciclveis e valorizveis. Esta directiva foi
posteriormente transposta para o ordenamento jurdico nacional, com o Decreto-Lei 322/95 e
Portaria 313/96, recentemente substitudos pelo Decreto-Lei 366-A/97 e Portaria 29-B/98, que
aponta para o cumprimento da exigncia mais baixa, permitida pela directiva e define dois sistemas
de manuseamento e gesto das embalagens, o sistema de consignao e o sistema integrado. O
sistema de consignao ser o mais apropriado para os casos de reutilizao e deve ser preferido,
por razes de preveno primria, em pontos fixos e espaos afins, bem como em situaes
individualizadas ou como opo de marketing. O sistema integrado englobar a maior parte das
embalagens do mercado e vai necessitar de um empenhamento especial da parte dos Municpios e
das empresas recicladoras. A Portaria das embalagens aprovada pelo Governo, disciplina este
importante aspecto da gesto de resduos.
O estudo Caracterizao dos Resduos Slidos Urbanos e Inventariao dos Locais de Deposio
em Portugal de 1993 (adiante denominado estudo Caracterstico dos RSU) realizado pela
QUERCUS - Associao Nacional de Conservao da Natureza em Outubro de 1995, revelou as
estimativas da Tabela 1 para o total da produo de RSU.

Tabela 1 Produo de RSU (DGA, 1996)


Caractersticas
da Populao
Populao com recolha
Populao total

Populao
(habitantes)
8 739 734
9 371 346

Produo
(toneladas)
2 949 308
3 148 772

Capitao
(g/hab.dia)
925
925

15

1.4 Resduos Slidos Urbanos

De acordo com o mesmo estudo, a distribuio percentual dos diversos constituintes dos RSU foi
estimada como se mostra na Tabela 2. Do total dos RSU, 42,8% so materiais de embalagem, o que
j constitui uma percentagem considervel.

Tabela 2 Distribuio percentual dos diversos constituintes dos RSU


(DGA; 1996)
Materiais nos RSU
Papel / Carto
Vidro
Plstico
Metais
Materiais fermentveis
Txteis
Finos
Outros

%
22,3
4,9
12,7
2,9
36,0
3,7
12,9
4,6

Numa perspectiva evolutiva, tem-se verificado um aumento significativo da produo de RSU,


segundo dados da DGA (1980 a 1990) e dados do estudo Caracterstico dos RSU (1993), como
mostra na Tabela 3.

Tabela 3 Estimativas de produo de RSU em Portugal


(DGA, 1996)
Ano
Produo (106ton.)
Capitao (kg/hab. dia)

1980
1,946
0,573

1987
2,627
0,707

1990
2,969
0,766

1993
3,149
0,925

Os dados da Tabela 4 permitem verificar que h diferenas significativas ao nvel das percentagens
de papel e carto, consideravelmente mais elevadas no caso das populaes definidas como litorais
(cerca de 4,5%) e variaes menos significativas, nos componentes matrias fermentveis (cerca de
1,2% inferior), plsticos (cerca de 1,5% superior), metais e txteis (cerca de 2,5% e 1% inferior,
respectivamente).
A reciclagem dos vrios tipos de materiais, excepo do vidro que tem apresentado uma evoluo
mais favorvel, continua a apresentar valores muito reduzidos.

16

1.4 Resduos Slidos Urbanos

Tabela 4 Composio percentual dos RSU entre diferentes tipos de concelhos


(DGA, 1993)
Regio
Papel / Carto
Vidro
Plstico
Metais
Materiais fermentveis
Txteis
Finos
Outros

Interior
Baixa densidade
18,5
4,8
11,4
4,9
37,1
4,4
14,0
4,8

Litoral
Elevada densidade
23,0
4,9
13,0
2,5
35,9
3,5
12,7
4,5

O princpio poluidor-pagador invocado por vezes de forma errada quando enderea para a
indstria a total responsabilidade do descarte dos resduos. Na verdade, desde o fornecedor das
matrias-primas at ao que trata os resduos, incluindo o produtor de embalagem, o embalador, o
fabricante do produto, o distribuidor, o vendedor e o consumidor, esto todos envolvidos. A
responsabilidade partilhada tem vindo a ganhar fora a nvel legislativo e na mentalidade de todos
os intervenientes no ciclo-de-vida da embalagem. Os custos da preveno e controlo da poluio
devem ser reflectidos no custo dos bens ou servios que causam poluio na produo ou consumo
(Levy, 1993). A qualidade do ambiente no grtis devendo os produtos suportar os custos dos
seus impactos ambientais, o que ainda no acontece por serem difceis ou quase impossveis de
quantificar em medidas monetrias. Isto deve-se existncia de muitos juzos de valor, ou porque
no so revelados os verdadeiros custos de muitos factores envolvidos, ou pela existncia de
problemas que continuam sem soluo.
A indstria de embalagem opera e produz em resposta a presses de mercado. A histria mostra
que a evoluo tem sido em funo das exigncias do consumidor. O facto da indstria se adaptar
s exigncias do mercado coloca-a em boa posio para lidar com as questes ambientais, dado
esta caracterstica ser uma marca de evoluo e muitas vezes de revoluo, face a todas as
dificuldades envolvidas. Uma vez que os problemas ambientais tm impacto local, regional e
global, deve haver parceria entre as empresas. Destas parcerias so exemplos as actividades da
ERRA - European Recovery and Recycling Association (sediada em Bruxelas), assim como os
vrios fruns nacionais e europeus de embalagem e ambiente, nos quais os competidores,
fornecedores e clientes procuram em conjunto, resolver os problemas ambientais mais comuns, que
esto acima das interaces econmicas normais, assim como das diferenas sectoriais. Exemplos
de algumas destas organizaes so:

17

1.4 Resduos Slidos Urbanos

EUROPEN - the European Organization for Packaging and the Environment, Blgica.

AGVU - Arbeitsgemeinschaft Verpackung und Umwelt, Alemanha.

EMSA - Emballage & Samfund, Dinamarca.

INCPEN - Industry Council for Packaging and the Environment, Reino Unido.

SVM - Stichting Verpakking en Milieu, Holanda.

Os esforos que tm sido efectuados, quer quanto aos objectivos do Quinto Programa Comunitrio
de Aco para o Ambiente, quer no que diz respeito Directiva EC/62/94 sobre embalagens
continuam a prosseguir no sentido de melhorar a situao ambiental. O Quinto Programa considera
como objectivo para o ano 2000 uma percentagem mdia comunitria de reciclagem e reutilizao
de materiais de embalagem da ordem, dos 50%, continuando a considerar a incinerao como uma
das modalidades de eliminao segura dos resduos que no podem ser reutilizados ou reciclados,
apesar de todos os conhecidos problemas sanitrios e ambientais, associados produo de
dioxinas e metais pesados (Comisso das Comunidades Europeias, 1992).
A conscincia dos problemas ambientais traduz-se na exigncia de enfrentar o problema da gesto
dos resduos gerados. Os objectivos fundamentais de uma poltica integrada de gesto de resduos
traduzem-se prioritariamente na preveno da sua produo, na reduo do seu peso e volume, na
maximizao das quantidades recuperadas para valorizao, bem como na adopo de mtodos e
processos de eliminao adequados, tendo em vista a minimizao dos resduos depositados em
aterro. Todos os resduos produzidos numa comunidade urbana, com excepo das pequenas
quantidades de resduos perigosos domsticos e dos resduos hospitalares, devero passar a ser
identificados tambm pelas suas caractersticas de reciclabilidade, a fim de permitir uma mais fcil
triagem na origem e dar lugar a um mais alargado emprego dos tratamentos biolgicos da fraco
orgnica, mediante processos aerbios ou anaerbios. Estes objectivos so vlidos para a
generalidade dos resduos e, especialmente, para os resduos de embalagens, dado que a reduo
desses resduos uma condio necessria para um crescimento sustentvel. Importa por isso
reduzir a produo de resduos de embalagens e estimular procedimentos vocacionados
prioritariamente, e sempre que tecnicamente possvel, para a reutilizao, reciclagem ou outras
formas de valorizao, bem como desencorajar a sua eliminao por via do simples depsito em
aterro.
A utilizao de bens e servios tem como consequncia a produo excessiva de resduos que pem
em risco o equilbrio ecolgico. Como forma de dominar esse problema surgiu uma poltica

18

1.4 Resduos Slidos Urbanos

vulgarmente chamada dos 3R, i.e., reduo, reutilizao e recuperao. Na recuperao ou


valorizao inclui-se a reciclagem dos materiais e a incinerao.
Entende-se por reutilizao, qualquer operao pela qual uma embalagem, concebida e
projectada para perfazer um nmero mnimo de viagens ou rotaes no seu ciclo-de-vida, enchida
de novo, com ou sem apoio de produtos auxiliares, que permitam que esta seja reutilizada para o
mesmo fim para que foi concebida; as embalagens reutilizveis passaro a resduos de embalagens
ao deixarem de ser reutilizadas.
Entende-se por reciclagem, o reprocessamento, num processo de produo, dos resduos para o
fim inicial ou para outros fins, incluindo a reciclagem orgnica, mas no a valorizao energtica.
Do ponto de vista ambiental, a reciclagem deve constituir uma parte importante da valorizao,
principalmente para reduzir o consumo de energia e de matrias-primas primrias e a eliminao
final de resduos. A palavra reciclagem refere-se sempre valorizao dos RSU por reciclagem
de materiais recuperados da sua corrente global ou de determinados fluxos que a compem ou, em
alternativa, recolhidos selectivamente nos produtores (habitantes, famlias, escritrios, etc.) em
contentores individuais ou colectivos. A ligao tecnolgica entre a produo dos resduos
destinados reciclagem e a sua entrada num novo ciclo industrial a cargo do reciclador denominase fileira. Em Portugal, tm-se obtido resultados muito bons nas fileiras do vidro e do papel,
resultados que so consequncia da maior facilidade em recolher estes materiais selectivamente.
Para que os objectivos da reciclagem sejam alcanados, torna-se necessrio criar circuitos de
recolha selectiva e triagem. indispensvel que as embalagens sejam concebidas de forma a
facilitar a reciclagem e outras formas de tratamento ambientalmente adequado. Por outro lado,
tambm indispensvel favorecer a utilizao de materiais provenientes da reciclagem, garantindo
sempre os nveis adequados de higiene e segurana e definir os requisitos essenciais relacionados
com a composio e natureza das embalagens reutilizveis e reciclveis, limitando paralelamente, a
presena de metais pesados e outras substncias nocivas, como medida prioritria no sentido da sua
reduo nos resduos de embalagens. O cumprimento destes objectivos passa inevitavelmente pela
responsabilizao dos operadores econmicos, devidamente articulada com as atribuies e as
competncias dos prprios municpios.
O conceito de reduo abrangido pelo de preveno que, em matria de resduos slidos
urbanos, rene todo o gnero de actividades ou grupos de actividades (iniciativas, programas,
projectos) que tenham por finalidade evitar consequncias nefastas, para a sade e para o ambiente,
provenientes dos resduos em si mesmos e de qualquer operao ou processo do seu tecnossistema

19

1.4 Resduos Slidos Urbanos

de gesto (que consiste na criao e explorao tcnica e gestionria de sistemas de engenharia


relativos aos resduos). Assim se podem distinguir trs nveis de preveno (GSEAMA, 1996):
-

preveno primria, que reduz a quantidade e/ou a perigosidade dos resduos;

preveno secundria, que se ocupa da anlise e soluo dos problemas reais ou potenciais
dentro do tecnossistema (sade ocupacional da fora do trabalho, sade pblica da populao,
impacte ambiental das tecnologias de recolha, transporte e destino final);

preveno terciria, cujo principal objectivo no permitir que sejam confinados (i.e.,
depositados em aterro ou lixeira), resduos valorizveis e resduos que ofeream perigo para o
homem e o ambiente, principalmente no que se refere s guas subterrneas e aos solos
envolventes.

A obteno de resultados neste domnio no poder deixar de ser conseguida sem a contribuio da
indstria produtora dos resduos potenciais e a corresponsabilizao dos consumidores, a quem
cabe sempre a ltima palavra. So apresentadas como medidas favorveis (GSEAMA, 1996):
-

produo de produtos limpos;

aplicao de tecnologias mais limpas;

modificao de atitudes e comportamentos do pblico em prol da prtica do consumo e


utilizao dos produtos e tecnologias indicadas.

Outros aspectos relacionados com a recolha selectiva dos resduos slidos urbanos e normas
ambientais encontram-se descritos no Anexo A deste trabalho.

20

1.5 Recuperao do Vidro de Embalagem

1.5 Recuperao do Vidro de Embalagem

Para os fabricantes de vidro, a Directiva EC/62/94 da Comunidade Europeia, sobre embalagem e


gesto dos resduos de embalagem no veio proporcionar grandes alteraes, devido s medidas
que a indstria do vidro foi tomando ao longo de vrios anos.
O contnuo melhoramento e modernizao da indstria do vidro, impulsionado pela
competitividade do mercado e pela introduo de novos materiais de embalagem em vrios
segmentos onde o vidro era quase absoluto.
Como resultado, importantes inovaes tm sido implementadas no processo de fabrico das
embalagens de vidro, especialmente nas ltimas duas dcadas. Algumas das medidas tomadas pela
indstria vidreira incidem em estudos relativos aos padres de qualidade do vidro produzido,
reduo do peso da garrafa, sem diminuio da sua resistncia mecnica e reduo dos resduos de
embalagem.
Nos ltimos anos conseguiram-se progressos notveis no campo da reduo da espessura, tendo a
garrafa de vidro sofrido uma diminuio de 20% do seu peso e ao mesmo tempo um aumento de
40% da sua resistncia mecnica.
Como atributos indispensveis para a produo de embalagens mais leves, destacam-se (Ortiz,
1996):
-

obteno de um vidro homogneo e de alta qualidade;

equipamento com controlo electrnico;

21

1.5 Recuperao do Vidro de Embalagem

distribuio uniforme da espessura do vidro;

superfcies da embalagem uniformes e sem defeitos e/ou contaminantes;

uso de tratamentos superficiais combinados;

manuseamento adequado durante todo o processo de fabrico e utilizao;

controlo rigoroso de todas as fases do processo e do produto acabado.

Alm dessas importantes inovaes ocorridas no processo de fabrico, outras tm sido introduzidas,
visando o desenvolvimento de embalagens de melhor qualidade, com menor custo. Cabe tambm
mencionar, os progressos verificados na reciclagem de embalagens de vidro.
O vidro o resultado da fuso de diversas matrias-primas inorgnicas minerais, as quais aps
serem submetidas a um processo de arrefecimento controlado, transformam-se num material rgido,
homogneo, estvel, inerte, amorfo e isotrpico. A sua principal caracterstica ser moldvel a uma
determinada temperatura, sem qualquer tipo de degradao (Ortiz, 1996).
A maior parte das matrias-primas e produtos utilizados no fabrico do vidro inorgnico so
minerais existentes na natureza, cujas caractersticas atendem aos requisitos de composio, desde
que perfeitamente conhecidas. As matrias-primas normalmente utilizadas na produo do vidro
sodo-clcico so a areia, o clcrio, a dolomita, o feldspato, o cianito nefelnico, a alumina
calcinada, a barrilha, a lixvia de soda custica, os afinantes, corantes ou descorantes e vidro
reciclado.
A incorporao de vidro reciclado s matrias primas naturais tem adquirido grande importncia no
processo de fabrico, devido a questes ambientais e econmicas. Do ponto de vista ambiental, a
adio de casco (vidro para reciclagem) permite uma considervel reduo na produo de
resduos slidos por embalagens descartveis e promove em simultneo a reduo das dificuldades
na extraco e utilizao dos minerais que constituem as matrias-primas do vidro. Tambm
possvel reduzir o consumo de combustveis na gerao de energia, minimizando os problemas de
poluio ambiental.
O material (casco de vidro recuperado e tratado) proveniente dos resduos dos processos de fabrico
ou de outras fontes, constitui uma matria-prima que apresenta vantagens tecnolgicas, pois
melhora sensivelmente o processo de fuso, gerando economia no consumo de energia, alm de
aumentar a extraco do forno sem incrementar o consumo de energia (Ortiz, 1996).

22

1.5 Recuperao do Vidro de Embalagem

A percentagem de casco usada, varia consoante o fabricante. Normalmente usa-se entre 25 e 30%,
mas em geral, existe tendncia para aumentar, sendo objectivo de muitos fabricantes atingir os 50%
(Lund, 1993).
O vidro que vai ser reciclado correntemente designado pela indstria como casco. Alm do casco
proveniente do consumidor final, casco domstico, h ainda que considerar outro casco, o que
resulta de quebras nas linhas de enchimento ou da inutilizao das embalagens retornveis que j
excederam a vida til e que os engarrafadores remetem para a indstria do vidro de embalagem,
casco industrial.
Assim, podemos classificar o casco de vidro em trs grupos quanto sua origem:
i)

material gerado na prpria fbrica ou no mesmo forno, possuindo a mesma composio


qumica, podendo portanto ser integrado na mistura sem qualquer correco;

ii)

material proveniente de outra fonte geradora, como por exemplo um outro forno de fuso,
devendo ser considerado no clculo da composio na qual ser incorporado;

iii)

material estranho de origem desconhecida (proveniente de um processo de reciclagem), o


qual deve neste caso ser considerado como uma matria-prima qualquer, realizando-se
anlises qumicas que assegurem a compatibilidade com a composio na qual ser
agregado.

A Figura 2 representa um esquema do processo industrial de produo de garrafas de vidro.

Figura 2 Processo industrial de fabrico de garrafas de vidro

O vidro o material que melhor e mais facilmente se presta a ser recuperado, tendo sido a indstria
vidreira a primeira a dinamizar uma campanha de recolha de vidro usado contando com a
colaborao directa do pblico. Portugal tem tido grandes progressos em termos da recolha do
vidro usado. Face ao panorama europeu, em 1995, e no que diz respeito reciclagem de vidro,
Portugal j estava acima de alguns pases, mas a indstria prossegue sempre com o objectivo de
melhorar o seu desempenho.

23

1.5 Recuperao do Vidro de Embalagem

Entre 1993 e 1995, a indstria portuguesa do vidro de embalagem recolheu e reciclou as


quantidades de casco indicadas na Tabela 5.

Tabela 5 Evoluo da taxa de reciclagem de vidro em Portugal (AIVE, 1997).


Ano
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995

Toneladas Recolhidas
40 426
46 463
50 368
62 036
70 562
70 847
90 952

Taxa de Reciclagem (%)


29,6
26,8
29,3
31,3
29,2
32,2
42,0

de referir que a taxa de reciclagem apresentada calculada envolvendo o casco de origem


industrial (embalagens de retorno) e resultante de perdas no controlo de qualidade. A taxa de
reciclagem relativa ao vidro presente nos RSU deve ser actualmente de cerca de 15%. Tem-se
verificado igualmente que a recolha no destino, em particular na triagem existente em estaes de
compostagem (caso de Setbal), pode permitir aumentar a taxa de reciclagem do casco domstico
para valores da ordem dos 50% (AIVE, 1997).
Pelas suas qualidades naturais e excelente proteco que faculta aos produtos que com ele esto em
contacto, o vidro tem sido preferido desde h sculos, como material de embalagem. Tambm,
desde h sculos, o vidro reciclado. Volta a ser fundido e com ele so produzidas novas
embalagens. Um processo que pode ser repetido indefinidamente. Para recolha do vidro de
embalagem usado (casco) existe uma rede nacional de vidres, explorada em colaborao com os
rgos centrais e as autarquias e est montado um esquema de envio do casco recolhido s
unidades fabris do vidro de embalagem para reciclagem.
Por toda a Europa, como ponto culminante de um processo de consciencializao pblica, a
reciclagem vista como o sistema mais eficaz em termos ambientais para a recuperao das
embalagens de vidro. Na directiva EC/62/94, relativa a Embalagens e Resduos de Embalagem, foi
estabelecida uma taxa mnima de reciclagem de 15% para cada material (art.&6). No entanto, em
Portugal o vidro j ultrapassa largamente essa taxa, ao atingir actualmente os 42 por cento. Alm
disso, a reciclagem de vidro significa menor volume de lixos municipais, maior limpeza nos locais
pblicos e ao nvel nacional, economia de energia e de matrias-primas.

24

1.5 Recuperao do Vidro de Embalagem

Na Tabela 6 esto indicadas as quantidades de vidro em 1994 e em 1995, proveniente de colecta


ps-consumo do pblico em geral e de engarrafadores, s quais correspondem as taxas de vidro
reciclado sobre o total colectado em cada pas da Unio Europeia (17 pases).

Tabela 6 Recolha e reciclagem de Vidro na Unio Europeia


(Federao Europeia de Vidro de Embalagem, FEVE, 1995 e 1996)

Pas
ustria
Blgica
Dinamarca
Finlndia
Frana
Alemanha
Grcia
Irlanda
Itlia
Holanda
Noruega
Portugal
Espanha
Sucia
Sua
Turquia
Reino Unido
Total

Ano de 1994
Toneladas
Taxa Nacional
Colectadas (1) de Reciclagem
203 000
76%
235 000
67%
108 000
67%
28 000
50%
1 300 000
48%
2 763 000
75%
37 000
29%
28 000
31%
890 000
54%
367 000
77%
36 000
72%
71 000
32%
371 000
31%
95 000
56%
242 000
84%
54 000
22%
492 000
28%
7 320 000

Ano de 1995
Toneladas
Taxa Nacional
Colectadas (1) de Reciclagem
199 000
n.a.(2)
225 000
67%
104 000
63%
30 000
50%
1 400 000
50%
2 784 000
75%
38 000
35%
38 000
39%
869 000
53%
372 000
80%
39 000
75%
91 000
42%
402 000
32%
96 000
61%
263 000
85%
36 000
12%
501 000
27%
7 487 000

(1) colecta ps consumo do pblico em geral e de engarrafadores


(2) no foi avaliado

A reciclagem de vidro em Portugal j uma realidade com xito. A dois nveis: aceitao da
populao e participao das autarquias, que viram nesta rea uma boa forma de promoverem a
imagem ambiental, para alm de constituir uma fonte de receitas e reduo de custos. Alis, as
receitas obtidas com as vendas do casco so geralmente aplicadas em aces de carcter social, o
que contribui para uma boa participao da populao. Esta preocupao permitir melhorar a
qualidade do ambiente e, assim, a qualidade de vida, cuja importncia e prioridade so bem
conhecidas.
Actualmente, apesar de j se reciclarem 42% do consumo nacional de vidro de embalagem,
pretende-se aumentar este indicador atravs do reforo das redes dos vidres, embora j existam
actualmente 8717 vidres em 244 freguesias (dados de Outubro de 1996), o que representa um
vidro para cada 1005 habitantes (AIVE, 1997). O objectivo estratgico definido pela AIVE,

25

1.5 Recuperao do Vidro de Embalagem

alcanar a taxa de 70% de reciclagem na passagem do sculo, o que s ser possvel com a
colaborao de todos, indstria, autoridades e cidados, que no devem deitar fora o vidro mas
entreg-lo ao vidro. Para alm de tudo isto, o vidro o material que menos contribui para os
problemas ambientais em termos de resduos slidos urbanos, dado ser inerte.
A qualidade dos bens comercializados cada vez mais importante numa sociedade de consumo. O
mercado procurando satisfazer os seus clientes, tornou-se mais exigente com os seus fornecedores.
Em termos de embalagem, aceita-se normalmente que os consumidores identifiquem a embalagem
de vidro com a elevada qualidade do produto que esta contm. Segue-se ento que as garrafas e
outros recipientes de vidro devem ser eles mesmos de elevada qualidade. Em muitos pases, as
indstrias vidreiras usam casco de vidro como ingrediente chefe. Por isso, a sua qualidade de
suma importncia.
O incio do processo de reciclagem um ponto de recolha, no qual o consumidor convidado a
depositar recipientes de vidro vazios, sem qualquer forma de superviso ou controlo. Seria esperar
muito, que outros materiais estranhos no fossem depositados juntamente com o vidro. No entanto,
devido aos muitos avisos e educao, o nvel de contaminantes existentes geralmente aceitvel.
Se assim no fosse, a reciclagem do vidro no teria progredido tanto nestes ltimos vinte anos. Os
sistemas de recolha de vidro no apareceram de forma expontnea. O sector vidreiro atravessou
numerosas dificuldades, de forma que adquiriu grande experincia no assunto. Uma das concluses
a que chegou foi a de que a separao ou triagem do material a ser reciclado deve ser feita o mais
cedo possvel e portanto, desde a sua colecta por deposio nos locais especialmente estabelecidos
para esse fim. Este sistema foi implementado nos anos 70 na Holanda, com pontos de recolha de
vidro chamados GLASBAK (FEVE, 1996). Em Portugal e semelhana de outros pases da
comunidade, a separao e recolha das embalagens de vidro para reciclar efectuada em pontos
especficos atravs do sistema do Vidro.
O maior problema relativo utilizao de vidro reciclado a presena de contaminantes, mais
frequentemente no casco colectado fora da fbrica. Como por exemplo, metais que atacam os
refractrios dos fornos e materiais que no fundem que podero constituir incluses slidas no
produto final. Outra questo relativamente ao material reciclado a necessidade de separao por
cor, uma vez que na produo do vidro incolor s possvel adicionar casco de vidro incolor. Aos
poucos e graas a uma educao intensiva, o pblico vai aprendendo a distinguir o que deve ou no
deve deitar nos depsitos de recolha de vidro. Alguns contaminantes mais comuns que so
encontrados com o vidro so: tampas metlicas e plsticas, loua ou detritos cermicos, vidro

26

1.5 Recuperao do Vidro de Embalagem

pyrex, vidro cristal, vidros planos de materiais de construo, resduos orgnicos ou


domsticos.
O transporte e armazenagem do casco de vidro tambm podem ser fontes de contaminao. Muitas
empresas transportadoras usam os mesmos veculos para o transporte de outros materiais.
importante que os veculos estejam limpos e livres de contaminantes para o transporte do vidro,
assim como, os locais de armazenagem do casco. Existem padres de qualidade do vidro de
embalagem estabelecidos pelos membros da FEVE - The European Container Glass Federation.
A melhor forma de se ter casco de vidro de elevada qualidade evitar a entrada de contaminantes
no sistema. A chave para uma preveno efectiva a educao. Devido ao aumento da quantidade
de vidro a reciclar, a educao s pode tornar-se mais importante.
O casco recolhido, vai primeiro para uma estao de tratamento. A, so usadas um conjunto de
tcnicas de separao para remover os materiais estranhos ao vidro, os quais s poderiam causar
problemas na produo deste, ou contribuir para a existncia de defeitos nas embalagens de vidro.
A composio das matrias-primas do vidro de embalagem semelhante em todos os pases, mas o
vidro usado para outros fins que no a embalagem pode ser muito diferente. Por exemplo, os
recipientes de vidro usados para ir ao forno ou resistentes a elevadas temperaturas podem trazer
srios problemas quando incorporados junto do casco de vidro para embalagem. Existe por isso,
uma atenta inspeco prvia do casco. Os contaminantes mais comuns so facilmente separados.
Aspiradores de vcuo removem os papeis e os plsticos. Sistemas magnticos retiram as tampas e
recipientes metlicos. O alumnio por no ser magntico requer especial ateno. Materiais nofusveis como os pedaos de cermica ou gravilha podem trazer problemas srios uma vez que no
fundem no forno. O vidro colectado encontra-se geralmente contaminado com materiais ferrosos e
no-ferrosos, pedras, rolhas, garrafas de plstico e outros. As necessidades da indstria vidreira so
normalmente diferentes de empresa para empresa. No entanto, sempre necessrio proceder
limpeza do casco de vidro numa estao de tratamento, de forma a obter um nvel de qualidade
aceitvel.
No incio do tratamento, o vidro transportado num veculo carregador at ao silo de alimentao,
a partir do qual se vai extraindo o casco numa correia transportadora. O alimentador regulado
manualmente determinando a velocidade de sada, consoante a quantidade de contaminantes do
casco. Para a remoo de materiais ferrosos existe um separador magntico junto da correia
transportadora. De seguida removido manualmente, o material de maior tamanho, como pedras,
tijolos, potes cermicos e outros. O casco entra num moinho onde esmagado, podendo-se
controlar as dimenses pretendidas para o casco, ajustando a velocidade de rotao do moinho.

27

1.5 Recuperao do Vidro de Embalagem

sada do moinho efectuada nova separao magntica, para separar os metais que estavam presos
ao casco. O passo seguinte a separao dos materiais leves tais como, papeis, plsticos, alumnio,
rolhas, etc. atravs de uma corrente de ar proveniente de um ventilador. De seguida efectuada
nova separao manual e finalmente nova separao dos metais.
A maioria dos processos de separao que se usam na Europa podem ser descritos Como se
evidencia na Figura 3 (Maltha, 1993).
Alimentador

Magnete
Escolha
manual

Ferro
Ar

Ferro

Separao
por ar

Moinho
Magnete
Resduos

Vidro
branco

Rejeitos

Resduos
Escolha
manual

Deteco de
metais

Produto

Figura 3 Diagrama de uma Estao de Tratamento de casco (Maltha, 1993)

28

1.6 Importncia da Questo Ambiental

1.6 Importncia da Questo Ambiental

A experincia tem demonstrado que o empreendimento e a criatividade, a forma de pensar a


inovao visando produtos e processos mais saudveis, podero proporcionar para a empresa, uma
boa oportunidade de lucro. As melhorias e inovaes no processo produtivo permitem o uso dos
recursos de forma mais eficiente diminuindo as perdas e consequentemente diminuindo tanto os
consumos de materiais como de energia. Desta forma os gastos efectuados para melhorar o
processo acabam por ser compensados, ao mesmo tempo que se est a preservar o meio ambiente.
As emisses poluentes podem ser um sinal do uso ineficiente dos recursos durante o processo
produtivo. Assim, a preveno da poluio atravs de tecnologias limpas, alm de apresentar
vantagens ambientais e reduo dos gastos com o tratamento dos resduos e dos efluentes,
representa acima de tudo uma preveno das emisses e dos resduos durante o processo produtivo.
A resistncia aos investimentos para melhoria ambiental nas empresas, na maior parte das vezes,
reflecte uma m informao por parte dos executivos. Com a interveno dos rgos ambientais as
empresas acabam por tomar conscincia de que a poluio representa evidentes perdas econmicas
resultantes de ineficincias no processo. Produo atravs de tecnologias mais limpas pode dar
incio a uma srie de vantagens como a diminuio do custo total de um produto.
Muitas vezes o retorno dos investimentos ambientais no imediato ou a sua avaliao mais
complexa. A maximizao do lucro deve ser vista num contexto de longo prazo. A curto prazo o
comprometimento com problemas sociais pode resultar num menor lucro como tambm se pode
transformar em condies mais favorveis no futuro para a melhoria econmica e sobrevivncia da

29

1.6 Importncia da Questo Ambiental

empresa. Na verdade, pode no haver nenhuma esperana de existir uma organizao vivel
economicamente numa sociedade deteriorada socialmente.
As empresas que assumem uma responsabilidade social e entende-se aqui includa a questo
ambiental, ganham melhor imagem institucional conquistando maior nmero de consumidores,
mais vendas, melhores empregados e fornecedores, facilitando o acesso ao mercado de capitais.
Embora a opo por investimentos de proteco ambiental nem sempre seja fruto do nvel de
conscincia por parte dos empresrios, muitos dos quais so motivados unicamente pelo lucro, por
certo ser um dado positivo para o meio ambiente e para o aumento da qualidade de vida das
populaes. Porm, as empresas que procurem na questo ambiental unicamente benefcios
financeiros, vendendo uma falsa imagem verde, certamente no sobrevivero, pois, alm da
vigilncia cada vez mais intensa por parte da sociedade e dos seus concorrentes, encontraro mais
cedo ou mais tarde, evidencias que as denunciem.
A melhor maneira de estimular a indstria a adoptar medidas que minimizem os impactos
ambientais dos seus produtos ou processos oferecendo-lhes vantagens econmicas. Se os preos
forem fixados para reflectir o custo real da utilizao dos recursos naturais, as empresas comearo
a valoriz-los como valorizam o trabalho e o capital e a aumentarem a produtividade em
consonncia com o meio ambiente, como se empenham na maior produtividade do trabalho e do
capital.
A melhor maneira de estimular a indstria a adoptar tecnologias mais limpas, oferecendo-lhe
vantagens econmicas. Sempre que se fala em proteco ambiental voltada para as actividades
empresariais, predomina o preconceito de despesas, ou seja, investimentos sem retorno.
A questo da atribuio de um valor aos recursos naturais tem sido motivo de controvrsias entre
economistas e ambientalistas, existindo correntes que se opem ideia de que se possa atribuir um
valor a esses recursos. A necessidade da determinao correcta dos custos de utilizao dos
recursos naturais tem solicitado uma nova forma de avaliao econmica do processo produtivo.
Nesse contexto surge a necessidade de estimar economicamente as questes ambientais o que
actualmente ainda se encontra em fase inicial de desenvolvimento.
Grande parte da resistncia das organizaes em introduzir programas de qualidade ambiental
muitas vezes, consequncia do baixo nvel de informao ou da dificuldade em interpretar e
processar adequadamente as informaes obtidas. A capacidade de descortinar e antever horizontes
futuros, quer sob a perspectiva tecnolgica, econmica e social, est intimamente associada

30

1.6 Importncia da Questo Ambiental

capacidade de processar informaes, tanto no seu sentido quantitativo como, mais importante
ainda, no qualitativo. Essas informaes necessrias dizem respeito tanto ao ambiente interno da
empresa, quanto ao externo.
Portanto, extremamente necessrio o conhecimento das variveis internas, como ramo de
actividade e seus danos ao meio ambiente; caractersticas do processo produtivo, tais como padres
de emisses, resduos, consumo de energia, risco para os trabalhadores; capital disponvel; etc. Da
mesma forma, as informaes externas possibilitam empresa acompanhar e adaptar-se s rpidas
transformaes em curso no ambiente externo. Estes dados incluem informaes sobre a percepo
dos clientes quanto aos produtos e servios da empresa, inovaes tecnolgicas e organizacionais
recentes, actividades e desempenho dos concorrentes, fontes alternativas de fornecimento,
legislao em vigor (sade, segurana e meio ambiente), normas tcnicas nacionais e
internacionais.
medida que as informaes internas e externas so obtidas, cresce o nvel de conscincia em
relao s questes ambientais e consequentemente, surgem as primeiras iniciativas. Mesmo nos
pases desenvolvidos, a deciso de investimentos ambientais depende do sector ao qual a empresa
pertence, das presses exercidas pelos movimentos ambientalistas, bem como das polticas
ambientais implementadas pelos governos.
As respostas da indstria ao novo desafio ocorrem em trs fases, dependendo do grau de
consciencializao da questo ambiental dentro da empresa: controlo das emisses poluentes,
integrao do controlo ambiental nas prticas e processos industriais e integrao do controlo
ambiental na gesto administrativa. Na primeira fase, o controlo ambiental feito no final do
processo produtivo, utilizando-se tecnologias de final de linha, ou seja, estaes de tratamento,
chamins, etc. Na segunda fase, o controlo ambiental integrado nas prticas e processos,
utilizando-se tecnologias limpas, novas matrias-primas, novos produtos, incluindo o
reaproveitamento da gua utilizada no processo e a economia de energia. Na terceira fase, a
varivel ambiental atinge as altas esferas de deciso, chegando a interferir no planeamento
estratgico da empresa.
Como consequncia dessas presses, surge um processo de consciencializao que se apresenta
sobre trs fases: a fase da percepo, a fase do compromisso e a fase da aco. Na fase da
percepo, a conscincia da necessidade de assimilar a varivel ambiental restringe-se apenas
administrao da empresa. Embora a mesma j perceba a necessidade de uma assessoria
especializada, esse discurso no encontra apoio nos nveis hierrquicos mais baixos das empresas.
Na fase do Compromisso j ocorre a contratao de uma assessoria especializada onde o

31

1.6 Importncia da Questo Ambiental

comprometimento ambiental comea a ampliar e a atingir os gerentes de linha, preparando o


terreno para a fase da aco. Na fase da aco ocorre a incorporao da varivel ambiental nas
actividades de linha do processo produtivo.
De notar que nas funes produtiva e administrativa, a modificao dos processos e produtos
necessita de recursos e interfere na estrutura organizacional, tornando-se um agente na cultura da
empresa. Esta fase perceptvel apenas nas empresas que procuram a excelncia ambiental.

32

Captulo 2 Estudo de Caso

2.1 Introduo

2.1 Introduo

Em 1987, com a publicao do relatrio encomendado pela Assembleia das Naes Unidas
Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, denominado "Nosso Futuro
Comum", surge o conceito de Desenvolvimento Sustentvel. Este apoia-se em trs bases
fundamentais (Comisso das Comunidades Europeias, 1992):
-

o crescimento econmico,

a equidade social,

o equilbrio ecolgico.

Assim, desenvolvimento no apenas crescimento econmico mas tambm a satisfao das


necessidades bsicas, da qualidade de vida, a equalizao das oportunidades e os direitos da
cidadania e a qualidade do ambiente. O crescimento econmico apenas uma parte integrante e
indispensvel mas no suficiente para o desenvolvimento.
Muitas vezes, o posicionamento das empresas em relao s questes ambientais o reflexo de um
desinteresse e consequente falta de informao a respeito dos impactos ambientais, directos e
indirectos provenientes das suas actividades, processos e servios e, acima de tudo, do
desconhecimento das emisses que ocorrem durante o processo produtivo.
As emisses gasosas, as guas residuais, os resduos slidos, o rudo, os odores, o consumo de
matrias-primas, entre outros, constituem os principais impactos ambientais associados s
indstrias. A presso da sociedade, actualmente mais sensibilizada, visando uma melhoria da
qualidade de vida, as normas ambientais cada vez mais rgidas no combate poluio, e um

34

2.1 Introduo

mercado competitivo forando a equalizao dos custos de produo, so algumas das razes para
que as empresas considerassem tambm as variveis sociais e ambientais, caso contrrio poderiam
ver afectada negativamente a sua imagem, estratgia e negcios. Assim como as actuais
preocupaes com a Qualidade Total na empresa visam atender principalmente a satisfao do
cliente, tambm a preocupao ambiental deve ter o mesmo fim.
Os meios de comunicao contriburam para aumentar do nvel de informao dos consumidores
acerca das questes ambientais. A opinio pblica, em ltima anlise a opinio do consumidor,
exerce cada vez mais influncia sobre o mercado, fomentando pesquisas para a identificao dos
nveis de preocupao ambiental da populao.
O objectivo de integrar a proteco ambiental em todas as fases do ciclo-de-vida do produto tem
levado os cientistas e engenheiros nos pases desenvolvidos, a desenvolverem novas tecnologias,
onde a criatividade e a imaginao abrem novas perspectivas econmicas. Embora no mundo
empresarial a preocupao principal seja o mercado, as exigncias de proteco ambiental sero
atendidas desde que solicitadas pelos consumidores e simultaneamente incorporadas pelo estado.
De seguida so apresentadas algumas definies de termos que sero usados neste trabalho:
-

BUWAL: sigla em lngua alem da Agncia Sua do Ambiente, Florestas e Paisagens. Esta
agncia elaborou uma base de dados de processos de fabrico de embalagens de vrios
materiais, obtida essencialmente de empresas suas;

ciclo-de-vida: conjunto de etapas consecutivas e interligadas do sistema de um produto, desde a


aquisio das matrias-primas at fase final de ps-consumo;

dados de entrada e sada: quantificao dos dbitos de entrada e sada de cada processo unitrio
de materiais ou energia;

fronteira do sistema: interface entre o sistema de um produto e o ambiente ou outros sistemas


de produtos;

Os aspectos da metodologia de anlise de ciclo-de-vida seguida neste trabalho encontram-se


descritos em detalhe no Anexo B deste trabalho.

35

2.2 Definio do Objectivo e do mbito

2.2 Definio do objectivo e do mbito

2.2.1 Definio do objectivo do estudo


O objectivo deste estudo de ACV efectuar uma comparao entre a reutilizao de garrafas de
cerveja de tara retornvel e a reciclagem de garrafas de cerveja de tara perdida (vidro mbar, 0,33
litros). O estudo visa avaliar e comparar os impactos ambientais de ambos os tipos de garrafas.

2.2.2 Definio do mbito do estudo

Unidade funcional
A unidade funcional que usada como referncia neste estudo uma garrafa de cerveja,
correspondente distribuio de 0,33 litros de cerveja.
Fronteira do sistema
A Figura 4 representa a fronteira do sistema. Esta inclui a aquisio de matrias-primas, a produo
de garrafas de vidro, o transporte de garrafas vazias para encher, as operaes de limpeza,
enchimento, capsulagem, pasteurizao, rotulagem, condicionamento de transporte, distribuio,
reutilizao e reciclagem.
Uma vez que o objectivo comparar entre reutilizao e reciclagem de garrafas de cerveja, a
anlise pode ser consideravelmente simplificada excluindo os impactos comuns a ambas as
embalagens. No foram considerados no clculo dos impactos ambientais o transporte de matrias
primas, a produo e distribuio de energia, o transporte de resduos para deposio final, a

36

2.2 Definio do Objectivo e do mbito

construo de vias de comunicao, de veculos e de infra-estruturas, a produo de materiais


auxiliares (materiais de embalagem, colas, tintas, etc.), a extraco e processamento de recursos
naturais, a extraco e pr-tratamento de gua potvel, o que ocorre no aterro ou lixeira, o uso do
produto final e o comportamento do consumidor em casa (refrigerao de bebidas, etc.).
Construo de
mecanismos de
distribuio

Transporte de casco
de vidro para reciclar
Transporte de casco
de vidro cor mbar

Produo e
distribuio de
energia

Extrao e
transporte de
recursos naturais

Produo de garrafas de tara


retornvel e de tara perdida

Operaes de extraco
e tranporte de recursos
energticos

Transporte de garrafas vazias

Enchimento de garrafas de tara


retornvel e de tara perdida
Transporte lavagem de
garrafas para reuso
Distribuio e
venda

Produo de cerveja e
materiais auxiliares
Consumo de energia na
co-gerao de vapor e
electricidade
Uso do produto e
comportamento do
consumidor

Transporte e deposio de resduos


Fronteira do sistema

Figura 4 Fronteira do sistema representando o ciclo-de-vida das garrafas retornvel e no-retornvel

Cobertura geogrfica
As empresas que contriburam para este estudo encontram-se localizadas na rea metropolitana do
Porto, na regio norte de Portugal. Apenas as actividades de transporte efectuadas nesta rea so
consideradas.
Cobertura temporal
O perodo de tempo escolhido so 12 meses. A escolha deve-se a ser neste perodo que as
indstrias fazem o seu ciclo anual de produo, que se mantm razoavelmente estvel todos os
anos. Tambm, um perodo suficientemente longo para atenuar qualquer comportamento atpico
como: paragens e arranques das mquinas, diferenas sazonais, etc.
Fontes na obteno de dados
Os dados foram fornecidos por duas empresas portuguesas: uma produtora de garrafas de vidro e
outra uma cervejeira. Algumas falhas de dados destas empresas foram colmatadas com dados da
literatura (BUWAL, 1991, 1997; Habersatter, 1991) e de clculos de engenharia efectuados.

37

2.3 Anlise de Inventrio

2.3 Anlise de Inventrio

A anlise de inventrio foi considerada separadamente para a produo das garrafas de vidro, para
os processos respeitantes cervejeira e para o transporte. A Tabela 7 apresenta a caracterizao do
sistema de embalagem em estudo.
Tabela 7 Caracterizao do sistema de embalagem usado para garrafas retornveis e no-retornveis
(Fonte: Cervejeira portuguesa, 1997)
Embalagem

Embalagem
primria

Embalagem
secundria

Embalagem
terciria

Especificao do

Garrafa retornvel

tipo de Material

(kg)

(kg)

Vidro
Folha Flandres e PVC
Papel couch
Papel couch
Papel couch
Casena
produto sinttico

0,287
0,00235g
0,00028
0,00028
0,0000849
-

0,225
0,00235
0,00032
0,00032
0,000206
0,0000849
2,64g

Grade de plstico
Caixa de carto
Six-Pack
Ten-Pack
Tabuleiro-T
Filme Retrctil

HDPE
Carto canelado
Cartolina
Cartolina
Carto canelado
LDPE

1,715
0,027*
0,045*
-

0,260
0,047
0,029
95g
34,8g

Palete
Filme de Envolvimento
(Palete tabuleiro)
Filme de Envolvimento
(Palete de caixa)
Filme de Topo
Cordo para atadora
N de caixas por palete

Madeira de pinho

35

27

LLDPE c/ 3 camadas

0,168

LLDPE c/ 3 camadas

0,002
0,048

0,185
0,200
0,064

Garrafa de 33cl
Cpsula
Rtulo
Gargantilha
Contra-Rtulo
Cola para rtulos
Cola Hot-Melt (caixas)

Algodo
-

Garrafa no-retornvel

* vendido apenas para grandes superfcies

38

2.3 Anlise de Inventrio

As Tabelas de 8 a 13 indicam os dados mais relevantes dos dbitos de entrada e sada do processo
de produo das garrafas de vidro. As Tabelas de 14 a 22 indicam os dados mais relevantes dos
dbitos de entrada e sada das operaes ocorrentes na cervejeira. A Tabela 23 indica os dados de
consumo de combustvel nas operaes de transporte. Estes dados referem-se a consumo de
materiais, consumo de gua, consumo de energia, emisses gasosas, guas residuais e resduos
slidos gerados durante os vrios processos.

Produo de garrafas de vidro


Na Figura 5 esto representados os dbitos de entrada e sada de materiais e de energia associados
aos processos de produo de garrafas de vidro.

Matrias-primas
Casco de vidro
Nafta
Propano
Electricidade
gua de arrefecimento
Produtos de tratamento de superfcie
Materiais de embalagem

y
y
y
y
y

Forno
Processo soprado-soprado
Recozimento
Tratamentos de superfcie
Embalagem

Emisses gasosas
guas residuais
Resduos slidos
Garrafas de vidro
Rudo
Perdas de calor

Figura 5 Dbitos de entrada e sada dos processos associados produo de garrafas de vidro

Na Figura 6 ilustrado o processo industrial de fabrico de garrafas de vidro. Este processo


encontra-se descrito em detalhe no Anexo C deste trabalho.
emisses gasosas

matrias-primas

Vidro partido
garrafas de vidro
Propano
Forno de
fuso
Embalamento
Alimentador

Tnel de
Recozimento

Fuel leo

Electricidade

Figura 6 Representao do processo de fabrico de garrafas de vidro

39

2.3 Anlise de Inventrio

O processo de fabrico das garrafas de vidro inicia-se com a entrada de matrias-primas no forno de
fuso. Juntamente com as matrias-primas de base, incorporado cerca de 20% de casco de vidro.
Na Tabela 8 so apresentadas as quantidades de matrias-primas para o fabrico de garrafas de
cerveja retornveis e no-retornveis e o consumo de materiais de embalagem para o transporte
dessas garrafas. As garrafas retornveis produzidas tm 287g de massa e as no-retornveis tm
225g de massa. Os valores totais de matrias-primas por garrafa so superiores devido existncia
de perdas, como explicado na Seco 2.6 deste trabalho.
Tabela 8 Consumo de matrias-primas e de materiais de embalagem para o processo de fabrico de garrafas de
vidro (Fonte: vidreira portuguesa, 1997)

Descrio
Areia amarela
Carbonato de sdio
Dolomite
Calcrio
Sulfato de sdio
Carvo
xido de ferro
Casco de vidro

Descrio
Palete de madeira
Tabuleiro carto canelado
Intercalares de plstico
Manga PEBD retrctil

Consumo de matrias-primas
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
0,1693
0,1328
0,0472
0,0370
0,0301
0,0236
0,0221
0,0173
0,0011
0,0009
0,0004
0,0003
0,0002
0,0001
0,0676
0,0530
Consumo de materias de embalagem
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
0,0286
0,0210
0,0004
0,0003
0,0824
0,0492
0,0009
0,0006

Para o fabrico de vidro no necessria gua, no entanto existem grandes consumos de gua de
arrefecimento do equipamento. Esta gua sofre perdas contnuas por evaporao e outras, sendo
necessrio adicionar constantemente gua ao depsito de alimentao do circuito de arrefecimento.
Na Tabela 9 apresentado o consumo de gua de arrefecimento. O consumo especfico de gua, ou
seja por garrafa, foi calculado de forma proporcional massa da garrafa, uma vez que era apenas
conhecido o valor total do consumo de gua por unidade de massa de vidro produzido.
Tabela 9 Consumo de gua de arrefecimento no processo de fabrico das garrafas
(Fonte: vidreira portuguesa, 1997)
Descrio
gua de arrefecimento

Consumo de gua
(dm3/garrafa)
Retornvel
No-retornvel
0,4879
0,3825

40

2.3 Anlise de Inventrio

O forno de fuso formado por material refractrio, sendo o fundo e paredes constitudos por
tijolos de zircnio, slica e alumina, e o tecto ou abbada, por tijolos de slica. A durabilidade
destes materiais de cerca de 8 anos, durante os quais o forno funciona ininterruptamente. Para
alm das elevadas temperaturas (superiores a 1500C), estes materiais esto sujeitos a uma eroso
permanente e ao choque trmico derivado do contacto da massa vitrificvel com as paredes.
Na parte superior das paredes do forno, acima do nvel do vidro, encontram-se instalados
queimadores de nafta. sada do forno, no alimentador, existem outros queimadores que usam gs
propano, que tambm usado no tnel de recozimento das garrafas.
Na Tabela 10 so apresentados os consumos de energia para ambas as garrafas. O consumo
especfico de energia foi calculado de forma proporcional massa da garrafa, uma vez que era
conhecido o valor total do consumo de energia por unidade de massa de vidro produzido.
Tabela 10 Consumo de energia no processo de fabrico das garrafas de vidro
(Fonte: vidreira portuguesa, 1997)
Descrio
Nafta
Gs propano
Electricidade

Consumo de energia
(MJ/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
1,9758
1,5489
0,2365
0,1854
0,4335
0,3398

Na Tabela 11 apresentam-se as guas residuais provenientes da vidreira. Estas englobam as perdas


de gua de arrefecimento do equipamento, a gua usada na lavagem de pavimentos, cantina,
chuveiros, escritrios e outras. A caracterizao das guas residuais no era totalmente conhecida
na vidreira portuguesa, de modo que foi necessrio recorrer a dados publicados pelo BUWAL.
Tabela 11 guas residuais do processo de fabrico das garrafas de vidro
(Fonte: vidreira portuguesa, 1997; BUWAL, 1991)
Descrio
Efluente
Slidos suspensos totais, SST
Carncia bioqumica de oxignio, CBO5
Carncia qumica de oxignio, CQO
leos, gorduras

guas residuais
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
0,48216000
0,37800000
0,00056702
0,00044453
0,00000029
0,00000023
0,00000212
0,00000166
0,00001049
0,00000822

Na Tabela 12 so apresentados os dados de emisses gasosas provenientes do processo de fabrico


das garrafas de vidro. Estes so devidos queima de combustveis e tambm das matrias-primas.
Os dados de emisses gasosas foram obtidos atravs da mdia de duas medies efectuadas na

41

2.3 Anlise de Inventrio

vidreira portuguesa e comparados com dados publicados pelo BUWAL, verificando-se que havia
concordncia entre as duas fontes.
Tabela 12 Emisses gasosas do processo de fabrico das garrafas de vidro
(Fonte: vidreira portuguesa, 1997; BUWAL, 1991)
Descrio
Dixido de carbono, CO2
Partculas
Monxido de carbono, CO
xidos de enxofre, SO2
xidos de azoto, NOx
xidos de azoto, N2O
cido clordrico, HCl
cido fluordrico, HF
Chumbo, Pb
Cdmio, Cd
Compostos orgnico volteis, COV
Zinco, Zn

Emisses gasosas
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
0,04913440
0,03852000
0,00063714
0,00049950
0,00002751
0,00002157
0,00138660
0,00108705
0,00065608
0,00051435
0,00002421
0,00001898
0,00001980
0,00001553
0,00000208
0,00000163
0,00001155
0,00000905
0,00000022
0,00000017
0,00001176
0,00000922
0,00000205
0,00000160

Na Tabela 13 so apresentados os resduos slidos mais comuns na empresa produtora de garrafas


de vidro. Estes so: sucata, latas de leo vazias, peas e equipamentos velhos, leos queimados e
resduos da estao de tratamento de casco, por exemplo, plsticos, metais, txteis, cermicos,
vidros de janela, tijolos, rolhas de cortia, tampas de alumnio e folha-de-flandres, etc.
O consumo especfico de resduos slidos foi calculado de forma proporcional massa de cada
garrafa, uma vez ser conhecido o valor total de resduos slidos gerados por unidade de massa de
vidro produzido.
Tabela 13 Resduos slidos do processo de fabrico das garrafas de vidro
(Fonte: vidreira portuguesa, 1997)
Descrio
Sucata
leos
Resduos da estao de tratamento de casco

Resduos slidos
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
0,0003
0,0002
0,0008
0,0007
0,0009
0,0007

42

2.3 Anlise de Inventrio

Lavagem, enchimento, fecho, pasteurizao, rotulagem e condicionamento de garrafas de vidro


A Figura 7 representa os principais dbitos de entrada e sada dos processos considerados na
cervejeira: lavagem, enchimento, fecho, pasteurizao, rotulagem e condicionamento de garrafas de
vidro.
y
y
y
y
y
y

Garrafas de vidro
Materiais de embalagem
Nafta
Electricidade
gua
Agentes de limpeza e desinfeco
CO2

Lavagem
Enchimento
Capsulamento
Pasteurizao
Rotulagem
Embalagem

Emisses gasosas
guas residuais
Resduos slidos
Garrafas cheias
Rudo
Perdas de calor
Perdas de produto

Figura 7 Dbitos de entrada e sada dos processos considerados na cervejeira

A fim de se poderem visualizar melhor as diferenas, so apresentadas nas Figuras 8 e 9 as linhas


de enchimento de garrafas de tara retornvel e de tara perdida, respectivamente.

Lavadora de
garrafas

Inspector de vazio

Despaletisadora
de garrafas

Desengradadora

Vasilhame

Lavadora de grades
Armazm de paletes
Acumulador de
grades

Enchedora/
Cpsuladora

Engradadora

Produto final
Pasteurisador

Rotuladora

Paletisadora

Inspector de cheio

Figura 8 Linha de enchimento de garrafas de tara retornvel


Vasilhame
Enxaguadora de
garrafas

Despaletisadora de
garrafas

Encartonadora

Inspector de vazio

Armazm de
paletes

Enchedora/
Cpsuladora

Pasteurisador

Six Pack

Rotuladora

Envolvedora

Tnel de
retraco

Inspector de cheio

Produto final

Paletisadora

Colocadora de filme
de topo

Figura 9 Linha de enchimento de garrafas de tara perdida

Tanto o transporte de garrafas cheias como o transporte de garrafas vazias efectuado com as
garrafas em paletes. As garrafas retornveis so distribudas em grades de 24 garrafas e as garrafas
no-retornveis so distribudas em caixas de carto canelado de 24 garrafas e/ou tabuleiros de
cartolina de 6 ou de 10 garrafas.

43

2.3 Anlise de Inventrio

As garrafas retornveis quando so reutilizadas tm de ser bem lavadas com gua quente e soda
custica e da mesma forma as grades de plstico que lhes esto associadas. As garrafas noretornveis apenas so enxaguadas pois so usadas apenas uma vez. Aps a lavagem, todas as
garrafas tm de ser inspeccionadas em vazio para verificar se existem potenciais pontos de quebra
na parede de vidro da garrafa. As garrafas retornveis tm normalmente uma inspeco mais
rigorosa pois como so reutilizadas vrias vezes, acabam por ficar com a superfcie do vidro muito
riscada. Apesar deste facto poder no afectar a sua resistncia mecnica um ponto desfavorvel
do ponto de vista comercial. Alm da inspeco em vazio tambm existe a inspeco em cheio para
verificar a existncia de deficincias que possam colocar a garrafa em risco de ruptura durante o
transporte e distribuio.
A cervejeira reutiliza cerca de 85% destas garrafas, sendo as restantes no-retornveis. Do total
destas garrafas que quebram acidentalmente ou que so rejeitadas na inspeco em vazio e em
cheio, cerca de 93% so retornveis e as restantes no-retornveis.
As garrafas so cheias sob presso, usando-se dixido de carbono, no s para o processo
enchimento mas tambm para garantir que o nvel recomendvel deste gs na cerveja. Logo aps o
enchimento as garrafas so capsuladas. De seguida todas as garrafas so pasteurizadas usando-se
para isso, vapor de gua. Aps a pasteurizao as garrafas so rotuladas e novamente
inspeccionadas. Finalmente, as garrafas retornveis so dispostas em grades de 24 unidades e as
garrafas no-retornveis so colocadas em caixas de 24 unidades, podendo ser previamente ou no,
agrupadas em tabuleiros de 6 garrafas e a seguir todas so paletizadas para seguirem para a
distribuio.
Comparando as linhas de enchimento das garrafas retornvel e no-retornvel, de referir, que da
linha de enchimento das garrafas retornveis resultam grandes quantidades de guas residuais
provenientes essencialmente das lavadoras de garrafas e de grades, que tm de ser tratadas na
Estao de Tratamento de guas Residuais (ETAR) da cervejeira. Nas guas residuais destas
lavadoras h sempre resduos de papeis dos rtulos velhos, lama, soda custica, restos de cerveja e
outros lquidos que o consumidor guarda temporariamente dentro destas garrafas. A ETAR possui
apenas a fase de tratamento primrio das guas residuais. Nesta existe um reactor anaerbio aps o
qual no existe qualquer tipo de tratamento secundrio. Assim o tipo de efluente que se obtm
contm um elevado teor de slidos e cargas orgnicas ainda muito elevadas.
Nas Tabelas 14 a 22 so apresentados os consumo de materiais, energia e emisses poluentes
resultantes dos processos mencionados. Os consumos de materiais de embalagem e de agentes
qumicos para lavagem de garrafas e desinfeco so bem conhecidos por garrafa. Os valores dos

44

2.3 Anlise de Inventrio

consumos de gua, energia, CO2, de guas residuais e de resduos solidos so conhecidos por linha
de enchimento, por repartio ou no total da cervejeira. Nas linhas de enchimento de garrafas
retornveis e no-retornveis podem-se encher outros tipos de garrafas diferentes das deste estudo
(p.ex. de outras marcas comerciais). Assim, foi necessrio determinar a quantidade de garrafas em
estudo cheias em cada linha, para se calcularem os respectivos valores especficos de forma
proporcional a essa quantidade.
As emisses gasosas provm da central de co-gerao de electricidade e vapor, usando-se nafta
como combustvel. Estes valores foram determinados atravs da base de dados do BUWAL, que
fornece valores de emisses gasosas em unidades de massa por unidade de electricidade produzida.
Assim, conhecendo os consumos especficos totais de electricidade das garrafas retornvel e noretornvel so calculados os respectivos valores especficos de emisses gasosas de forma directa.
Tabela 14 Consumo de materiais de embalagem para o enchimento e condicionamento de garrafas
(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Consumo de materiais de embalagem
Descrio
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
Garrafa 0,33 litros
0,2870
0,2250
Cpsulas
0,0024
0,0024
Rtulos
0,0006
0,0006
Cola de Casena
0,0002
0,0006
Cordo para atadora de grades
0,0060
Tabuleiros de cartolina e caixas de carto
0,0088
Filme retrctil e filme de topo
0,0009
Cola Hot-Melt
0,0001

Tabela 15 Consumo de CO2 para o enchimento de garrafas e produo de cerveja


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Consumo de CO2
Descrio
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
Adegas
0,0013
0,0008
Enchimento
0,0020
0,0014

Tabela 16 Consumo de agentes qumicos


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Consumo de agentes qumicos
Descrio
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
Agentes de limpeza e desinfeco
1,5288
0,9804
Lubrificante base de sabo
0,0123
0,0058
HCl e NaOH para a ETAR
0,0007
0,0004

45

2.3 Anlise de Inventrio

Tabela 17 Consumo de gua nos processos descritos


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Consumo de gua
Descrio
(dm3/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
Vapor
0,3087
0,2058
CO2
0,1151
0,1151
Salas de fabrico
0,8899
0,8899
Adegas
0,3317
0,3317
Enchimento
1,3736
0,9158
Outros (logstica, cantina, etc.)
0,1900
0,1900
ETAR
0,0087
0,0058
Administrao e servios sociais
0,0470
0,0470

Tabela 18 Consumo de electricidade nos processos descritos


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Consumo de electricidade
Descrio
(MJ/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
gua
0,0200
0,0067
Vapor
0,0087
0,0029
Frio
0,1272
0,1272
CO2
0,0113
0,0113
Ar
0,0264
0,0264
Salas de fabrico
0,0132
0,0132
Adegas
0,0214
0,0214
Enchimento
0,0784
0,0261
Outros (logstica, cantina, etc.)
0,0161
0,0161
ETAR
0,0046
0,0015
Administrao e servios sociais
0,0216
0,0216

Tabela 19 Consumo de nafta nos processos descritos


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Consumo de nafta
Descrio
(MJ/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
Salas de fabrico
0,1605
0,1605
Adegas
0,0031
0,0031
Enchimento
0,1160
0,0387

Tabela 20 Quantidade e composio das guas residuais


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
guas residuais
Descrio
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
Efluente
0,9845
0,6563
Slidos suspensos totais, SST
0,0002
0,0001
Carncia bioqumica de oxignio, CBO5
0,0005
0,0003
Carncia qumica de oxignio, CQO
0,0009
0,0006
leos, gorduras
0,0007
0,0005

46

2.3 Anlise de Inventrio

Tabela 21 Emisses gasosas da central de co-gerao, para uma eficincia trmica de 92,5% e 84,4% na
produo de electricidade e vapor respectivamente, usando nafta como combustvel
(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997; BUWAL, 1991)
Emisses gasosas
Descrio
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
Partculas
0,00000330
0,00000296
xidos de enxofre, SO2
0,00010125
0,00009082
Compostos orgnicos volteis, COV
0,00000124
0,00000111
xidos de azoto, NOx
0,00002670
0,00002395
xidos de azoto, N2O
0,00000231
0,00000207
Monxido de carbono, CO
0,00000094
0,00000084
Dixido de carbono, CO2
0,01199265
0,01075706

Tabela 22 Resduos slidos inerentes dos processos de enchimento de garrafas e da ETAR


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Resduos slidos
Descrio
(kg/ garrafa)
Retornvel
No-retornvel
Garrafas de cerveja partidas*
0,0083
0,0028
Kieselgur, matria seca, lama
0,0008
0,0006
Papel, carto, cartolina, plstico, metal
0,0002
0,0003
*Casco de vidro com destino reciclagem

Transporte e distribuio de garrafas de vidro


Na figura 10 esto representadas as etapas do transporte de garrafas consideradas no clculo do
consumo de combustvel.

Produo de garrafas
Reciclagem

30 km

30 km
Enchimento de
garrafas

Reutilizao

50 km

50 km
Postos de venda

Figura 10 Transporte considerado para o clculo do consumo de combustvel

Como meio de transporte so usados camies a gasleo que consomem cerca de 10,08MJ/km para
uma carga transportada de 10 toneladas (BUWAL, 1991 e 1997). No foi considerado o transporte

47

2.3 Anlise de Inventrio

do consumidor para os vidres e deste para a empresa produtora de garrafas, pois todo o casco de
vidro que entra na reciclagem e produo de novas garrafas provm da cervejeira, resultante das
quebras nas linhas de enchimento. O vidro que recolhido nos vidres uma mistura de vidro
verde, mbar e branco e normalmente esta mistura entra apenas na produo de vidro de cor verde.
Na produo de garrafas de cor mbar apenas usado casco de vidro desta cor, por isso o vidro dos
vidres no entra na sua produo.
Estimam-se cerca de 250 toneladas mensais de garrafas que quebram nas linhas de enchimento e
que so vendidas empresa produtora de garrafas para reciclar. Destas garrafas cerca de 93% so
retornveis e as restantes no-retornveis. Este facto deve-se apenas ao sistema de inspeco
automtica de garrafas em vazio que est programado para rejeitar garrafas que estejam muito
riscadas pelo uso e que por isso podem prejudicar a sua imagem comercial.
Assim o transporte considerado foi:
-

o transporte de garrafas do produtor para a cervejeira (transporte 1);

o transporte da cervejeira para o consumidor (transporte 2);

o transporte de garrafas para novo enchimento (transporte 3);

o transporte de casco da cervejeira para o produtor (transporte 4).

A distncia entre as duas empresas conhecida mas a distncia considerada na distribuio de


garrafas para os postos de venda teve que ser assumida. A exactido desta hiptese no relevante
uma vez que o objectivo comparar o consumo de combustvel pela garrafa retornvel e noretornvel. Assim considerando que ambas as garrafas vo para os mesmos postos de venda, i.e., a
distncia percorrida na distribuio igual, a nica diferena a carga do camio que vai
influenciar o consumo especfico de combustvel por cada quilmetro percorrido.

Tabela 23 Consumo de gasleo no transporte de garrafas e casco de vidro


(Fonte: vidreira e cervejeira portuguesa, 1997; BUWAL, 1991)
Transporte 1
Descrio
Carga do camio (kg)
Nmero de garrafas transportadas
Nmero de paletes por camio
Distncia percorrida (km)
Consumo de gasleo (MJ/ garrafa)

Transporte 2

Retornvel

Noretornvel

Retornvel

Noretornvel

9860
33300
20

9200
36720
20

16550
23040
20

13830
23040
15

0,0076

0,0362

30
0,0090

50
0,0303

Transp.3

Transporte 4*

Retornvel Retornvel

8947
23040
20
50
0,0196

Noretornvel

12720
41850
3150
30
0,0087
0,0068

* o mesmo camio transporta ambas as garrafas, sendo 93% de garrafas retornveis.

De referir que alm dos consumos de combustvel, tambm advm das actividades de transporte, as
emisses gasosas (p.ex. da queima dos combustveis), os resduos slidos (de sucata, manuteno e

48

2.3 Anlise de Inventrio

substituio de peas), o consumo de gua e as guas residuais (p.ex. resultante das lavagens do
camio).
Um camio pode produzir quantidades diferentes de emisses gasosas na queima da mesma
quantidade de combustvel, dependendo do tipo de percurso, das condies atmosfricas,
temperatura do motor, etc.
As emisses gasosas, os resduos slidos, as guas residuais e o consumo de gua, tambm
dependem muito da idade do camio, da marca, do historial do camio (p.ex. o tipo de manuteno
que efectuada), etc.
Devido aos motivos apresentados no foi possvel quantificar as emisses e os resduos resultantes
das actividades de transporte, o que pressupe que estes so iguais no caso de ambas as garrafas.
De referir ainda, que caso tivessem sido quantificados os valores especficos para a garrafa
retornvel seriam mais elevados. Assim, no esta hiptese que vai alterar as concluses gerais
deste estudo.

49

2.4 Anlise de Impactos

2.4 Anlise de impactos

As categorias de impactos ambientais podem ser classificadas em diferentes grupos consoante


sejam impactos de mbito global, continental, regional e local. Por vezes podem existir categorias
de impactos que se adequam aos trs grupos, como por exemplo, a toxicidade ambiental. No
entanto, h sempre um grupo ao qual uma categoria de impacto se adequa mais (p.ex. um local ou
regio pode estar mais exposto a esse impacto do que outros locais).
At data ainda no se chegou a um consenso acerca da adopo nos estudos de ACV, de um
nico conjunto de categorias de impactos ambientais. A escolha das categorias de impacto tem sido
deixada ao critrio do responsvel por cada estudo. Assim, existem seleces efectuadas pelos
principais grupos de trabalho activos nesta rea (Jensen et al., 1997). Estas encontram-se
apresentadas na Tabela 24 e so apenas um exemplo de muitas outras que existem.
Tabela 24 Lista de categorias de impacto seleccionadas por vrios grupos de trabalho (Jensen et al., 1997)
Leiden List
SETAC-Europe (1992)
No-renovveis
Escasso renovvel
Aquecimento global
Toxicidade humana

SETAC default list


Udo de Haes (1996)
Recursos abiticos
Recursos biticos
Solo
Aquecimento global

Nordic list
Lindfors et al. (1995)
Energia e materiais
gua
Solo
Aquecimento global

Segurana ocupacional

Depleco do ozono
estratosfrico
Impactos toxicolgicos
humanos
Impactos ecotoxicolgicos

Depleco do ozono estratosfrico

Toxicidade ambiental
Formao de fotooxidantes
Acidificao
Eutrofizao
Descargas, CQO
Efeitos do calor residual
na gua
Odor e rudo
Necessidade de espao
Resduos slidos finais
(perigosos)
Resduos slidos finais
(no-perigosos)

Formao de fotooxidantes
Acidificao
Eutrofizao (incl. CBO e
calor)
Odor
Rudo
Radiao

Sade humana toxicolgica excl.


ambiente de trabalho
Sade humana no-toxicolgica
excl. ambiente de trabalho
Impactos na sade humana no
ambiente de trabalho
Impactos ecotoxicolgicos
Formao de foto-oxidantes

ISO (1997)
Preliminary list
Recursos abiticos
Recursos biticos
Utilizao do solo
Aquecimento global/
alteraes climatricas
Depleco do ozono
estratosfrico
Toxicidade humana
Ecotoxicidade
Formao de oxidantes
fotoqumicos (smog)
Acidificao
Eutrofizao

Acidificao
Eutrofizao
Alteraes no habitat e na
diversidade biolgica

casualidades

50

2.4 Anlise de Impactos

Tambm na avaliao dos impactos ambientais as opinies divergem. Existem vrios mtodos para
avaliao dos impactos, como por exemplo o mtodo dos volumes crticos de Habersatter (1991),
o mtodo do sistema EPS desenvolvido por Steen e Ryding em 1992 e o mtodo dos potenciais de
formao dos impactos para o qual contriburam vrios autores (Jensen et al., 1997). Muitos dos
mtodos que existem entram com diferentes consideraes e medidas de avaliao dos impactos
(Jensen et al., 1997).

2.4.1 Classificao

Nesta etapa as quantidades de emisses geradas, o consumo de energia e matrias-primas (dbitos


de entrada e sada do sistema) foram agrupados em categorias de impacto. As categorias de
impacto que foram seleccionadas neste estudo tem efeito apenas escala local. Estas so:
-

Consumo de materiais

Consumo de gua

Consumo de energia

Emisses gasosas

guas residuais

Produo de resduos slidos

Alm das categorias de impacto com efeitos escala local, tambm existem outras escala regional
e global, tais como, potencial de depleco da camada do ozono, biotoxicidade, potencial de
aquecimento global, barulho, odores, etc., que no foram consideradas.
O motivo de se terem escolhido estas categorias de impacto deve-se ao facto de estas serem as que
melhor traduzem os dados de inventrio e as que melhor se adaptam ao mtodo de avaliao
escolhido. Para se estudarem outras categorias j era necessrio recolher outro tipo de dados, de
mbito regional ou global, tornando o estudo ainda mais complexo.

51

2.4 Anlise de Impactos

2.4.2 Caracterizao

Na caracterizao estimam-se as contribuies relativas de cada dado de entrada e sada para os


impactos globais. Neste estudo adoptou-se o mtodo dos volumes crticos desenvolvido por
Habersatter em 1991. A razo da escolha deste mtodo deve-se ao facto de este caracterizar bem as
categorias de impacto seleccionadas na etapa de classificao e tambm por este ser um mtodo j
bastante antigo e que j foi testado muitas vezes em estudos anteriores (SETAC, 1992). Outros
mtodos existentes abrangem outras categorias de impacto que no foram seleccionadas na etapa
de classificao. O mtodo dos volumes crticos caracteriza cada emisso em termos do volume de
ar e gua necessrios para a diluir at um limite estabelecido. O resultado expressa-se em termos do
volume total, representando a soma dos volumes individuais de diluio.
Os valores correspondentes a cada categoria de impacto foram agregados de forma a quantificar as
seguintes cargas ambientais:
i) o consumo total de materiais a soma de todas as quantidades de materiais que so consumidas
no sistema e expresso em termos de unidades de massa por unidade de garrafa [kg/garrafa];
ii) o consumo total de gua a soma de toda a gua necessria para o sistema, expresso em termos
de volume por unidade de garrafa [dm3/garrafa];
iii) o consumo total de energia estabelecido como um valor de energia equivalente, Eeq
(equao 1). Este simplesmente a soma da energia necessria para todo o sistema, expressa em
termos de energia por unidade de garrafa [MJ/garrafa],
Eeq[MJ ] = Et[MJ ] +

3,6
Eel[kWh ]

(1)

em que Eeq a energia equivalente, Et a energia trmica, Eel a energia elctrica e a


eficincia (=0,378) de acordo com a UCPTE (BUWAL, 1991);
iv) os valores correspondentes s quantidades de emisses gasosas e de guas residuais geradas no
sistema so agregados pelo mtodo dos volumes crticos, a partir do qual se calculam os volumes
crticos de gua e ar poludos. As unidades so expressas em volume de ar e gua poludos por
unidade de garrafa [m3/garrafa].
Segundo um estudo realizado por Habersatter em 1991, os valores de emisses de cada espcie, i,
so qualificados pelos seus padres de qualidade para a sade humana, em unidades apropriadas,

52

2.4 Anlise de Impactos

de modo a se ter a concentrao crtica para cada espcie de substncia, ca,i, i.e., a partir da qual
se causam danos na sade humana.
O volume de ar poludo por substncia emitida, tambm designado por volume crtico, Va,i,
calculado dividindo o valor da quantidade emitida de cada substncia, ea,i, pela concentrao
mxima aceitvel por substncia emitida ca,i, do seguinte modo:
Va ,i = 10 6

ea ,i
c a ,i

[m

/ garrafa

(2)

O volume total de ar poludo obtido adicionando os volumes crticos de todos os poluentes


emitidos no sistema (Tabelas 25 e 26).
Va = Va ,i = 10 6
i

ea ,i
c a ,i

[m

/ garrafa

(3)

em que ca,i a concentrao crtica de substncia i na atmosfera expressa em unidades de


massa de substncia emitida por volume de ar [mg/m3] e ea,i a quantidade de substncia, i,
emitida para a atmosfera expressa em unidades de massa por unidade de garrafa [kg/garrafa].
Tabela 25 Volume crtico de ar associado produo de garrafas de vidro (Habersatter, 1991)
Emisses gasosas*
Partculas
Monxido de carbono, CO
xidos de enxofre, SO2
xidos de azoto, NOx
xidos de azoto, N2O
cido clordrico, HCl
cido fluordrico, HF
Chumbo, Pb
Cdmio, Cd
Compostos orgnico volteis, COV
Total

Concentraes crticas
(mg/m3)
0,07
8
0,03
0,03
0,03
0,1
0,05
0,0001
0,00001
15

Volume Crtico de ar (m3/garrafa)


Retornvel
No-retornvel
9102
7136
3,4
2,7
46220
36235
21869
17145
807
633
198
155
42
33
115463
90520
21656
16978
0,78
0,61
215362
168838

* No existe concentrao crtica para o CO2

Tabela 26 Volume crtico de ar associado s operaes efectuadas na cervejeira (Habersatter, 1991)


Emisses gasosas*
Partculas
xidos de enxofre, SO2
Compostos orgnico volteis, COV
xidos de azoto, NOx
xidos de azoto, N2O
Monxido de carbono, CO
Total

Concentraes crticas
(mg/m3)
0,07
0,03
15
0,03
0,03
8

Volume Crtico de ar (m3/garrafa)


Retornvel
No-retornvel
47,17
42,31
3375,01
3027,29
0,08
0,07
889,98
798,29
76,90
68,98
0,12
0,11
4389
3937

* No existe concentrao crtica para o CO2

53

2.4 Anlise de Impactos

Um procedimento semelhante usado para calcular o volume crtico de gua poluda (Tabelas 27
e 28):
V w = V w,i = 10 6
i

e w,i
c w,i

[dm

/ garrafa

(4)

em que cw,i a concentrao crtica de substncia i na gua expressa em unidades de massa de


substncia emitida por volume de gua [mg/dm3] e ew,i a quantidade de substncia, i, emitida
para a gua expressa em unidades de massa por unidade de garrafa [kg/garrafa].

Tabela 27 Volume crtico de gua associado produo de garrafas de vidro (Habersatter, 1991)
Emisso
Slidos suspensos totais, SST
Carncia bioqumica de oxignio, CBO5
Carncia qumica de oxignio, CQO
leos, gorduras
Total

Concentrao crtica
(mg/dm3)
20
20
30
20

Volume crtico de gua (dm3/garrafa)


Retornvel
No-retornvel
28,351
22,226
0,014
0,011
0,071
0,055
0,525
0,411
28,90
22,70

Tabela 28 Volume crtico de gua associado s operaes efectuadas na cervejeira (Habersatter, 1991)
Emisso
Slidos suspensos totais, SST
Carncia bioqumica de oxignio, CBO5
Carncia qumica de oxignio, CQO
leos, gorduras
Total

Concentrao crtica
(mg/dm3)
20
20
30
20

Volume crtico de gua (dm3/garrafa)


Retornvel
No-retornvel
9,77
6,51
22,53
15,02
31,57
21,05
34,39
22,93
98,26
65,51

v) os resduos slidos so calculados como a soma de todos os resduos slidos gerados pelo
sistema e exprimem-se em unidades de massa por unidade de garrafa [Kg/garrafa].

54

2.4 Anlise de Impactos

2.4.3 Avaliao

Nesta etapa as contribuies das diferentes categorias de impacto foram pesadas e comparadas
entre si, de forma a se poder obter alguma interpretao dos dados do inventrio. O procedimento
que se usa normalmente na comparao de embalagens atravs da determinao das contribuies
percentuais de ambas as garrafas por categoria de impacto, tal como mostra a Tabela 29. Deste
modo a comparao efectuada por percentagens e no por unidades de impacto. Este mtodo
apesar de ter sido adoptado em vrios estudos, no muito correcto, mas at existir um melhor ou
normas internacionais padronizadas para se efectuarem estas avaliaes, este procedimento uma
boa alternativa.
Tabela 29 Comparao das duas garrafas por categoria de impacto
Categoria de impacto
Consumo de materiais
kg/garrafa
%
Consumo de gua
dm3/garrafa
%
Consumo de energia
MJ/garrafa
%
Volume crtico de ar
m3/garrafa
%
Volume crtico de gua
dm3/garrafa
%
Resduos slidos gerados
kg/garrafa
%

Retornvel

No-retornvel

2,1793
59,36

1,4922
40,64

3,6715

3,753
54,87

3,087
45,13

6,8400

3,3391
56,22

2,6001
43,78

5,9392

219751
55,98

172775
44,02

392526

127,161
59,04

88,214
40,96

215,3750

0,0114
68,67

0,0052
31,33

0,0166

A comparao entre diferentes categorias de impacto efectuada pela atribuio de valores ou


factores peso, pois no se pode fazer uma comparao directa entre categorias com dimenses
diferentes. Estes factores peso so baseados por exemplo, em anlises de risco ambiental (Lox,
1994; Allen, 1997) ou na maioria das vezes so apenas valores sociais e preferncias. Deste modo
neste estudo foram utilizados os seguintes factores peso por forma a quantificar e agregar as
categorias de impacto: consumo de materiais, 0,2; consumo de gua, 0,3; consumo de energia,
0,05; volume crtico de ar, 0,05; volume crtico de gua, 0,1; resduos slidos gerados, 0,3, tal
como mostra na Tabela 30.

55

2.4 Anlise de Impactos

Segundo o procedimento habitual de se efectuar a comparao, os factores peso foram


multiplicados pelas percentagens da Tabela 29 e representados na Tabela 30 e Figura 11. Este
mtodo permite fcil e rapidamente avaliar alternativas atravs de indicadores (valores sem
significado fsico). no entanto necessrio efectuar uma anlise de sensibilidade para averiguar a
influencia dos factores peso escolhidos nos resultados do estudo. Neste estudo introduz-se uma
pequena variante, ao multiplicarem-se os factores peso pelos valores especficos de cada garrafa
(Tabela 30). Assim, supondo que os factores peso so medidos em unidades de impacto por
unidade de massa, unidade de volume ou unidade de energia, dependendo da categoria de impacto
que se est a considerar, ao serem multiplicados pelos valores especficos de cada garrafa, obtm-se
unidades de impacto por garrafa. Com este procedimento pretendeu-se melhorar o mtodo
habitual e estabelecer-se uma base para efectuar a comparao entre categorias de impacto.
Tabela 30 Avaliao das diferentes categorias de impacto
Categoria de impacto

Factor peso

Consumo de materiais
Consumo de gua
Consumo de energia
Volume crtico de ar
Volume crtico de gua
Resduos slidos gerados
Total

0,20
0,30
0,05
0,05
0,10
0,30
1.00

Retornvel
%
11,87
16,46
2,81
2,80
5,90
20,60
60,45%

Impacto/
garrafa

0,44
1,13
0,17
10988
12,72
0,00342
11002

No-retornvel
%
8,13
13,54
2,19
2,20
4,10
9,40
39,55%

Impacto/
garrafa

0,30
0,93
0,13
8639
8,82
0,00156
8649

25

20
Retornvel

No-retornvel

15
(%)
10

0
Consumo de
materiais

Consumo de
gua

Consumo de Volume crtico Volume crtico


energia
de ar
de gua

Resduos
slidos

Figura 11 Dimenso de cada categoria de impacto

56

2.5 Interpretao dos Resultados

2.5 Interpretao dos resultados

De modo a avaliar a sensibilidade dos factores peso usados, foi seleccionado o conjunto de factores
peso usados nos anos 70 pelo Midwest Research Institute, MRI, (Tabela 31). Esta sociedade que foi
uma das pioneiras na rea da ACV, usava os seguintes factores peso de acordo com SETAC, 1992:
consumo de materiais, 0,05; consumo de gua, 0,05; consumo de energia, 0,4; volume crtico de ar,
0,2; volume crtico de gua, 0,2 e resduos slidos gerados, 0,1. Estes factores peso reflectem os
problemas dessa altura, tendo sido atribudo energia o valor mais alto por causa da crise do
petrleo existente. Actualmente, o aumento da quantidade de resduos slidos considerado um
problema muito importante. Neste caso, alm de se ter seguido o procedimento habitual, tambm se
multiplicaram os factores peso pelos valores especficos de cada garrafa para se efectuar a
comparao em unidades de impacto por garrafa. Este procedimento permite obter indicadores
(valores sem significado fsico, uma vez que no existem unidades de impacto) e de forma fcil e
rpida compararem-se alternativas.
Tabela 31 Avaliao das diferentes categorias de impacto usando diferentes factores peso
(SETAC, 1992)
Categoria de impacto
Factor peso
Retornvel
No-retornvel
Consumo de materiais
Consumo de gua
Consumo de energia
Volume crtico de ar
Volume crtico de gua
Resduos slidos gerados
Total

0,05
0,05
0,40
0,20
0,20
0,10
1,00

%
2,97
2,74
22,49
11,20
11,81
6,87
58,07%

Impacto/
garrafa

0,11
0,19
1,34
43950
25,43
0,00114
43977

%
2,03
2,26
17,51
8,80
8,19
3,13
41,93%

Impacto/
garrafa

0,07
0,15
1,04
34555
17,64
0,00052
34574

57

2.5 Interpretao dos Resultados

A Figura 12 mostra a dimenso de cada categoria de impacto, comparando a garrafa de tara


retornvel com a garrafa de tara perdida.

25

20
Retornvel

No-retornvel

15
(%)
10

0
Consumo de
materiais

Consumo de
gua

Consumo de Volume crtico Volume crtico


energia
de ar
de gua

Resduos
slidos

Figura 12 Dimenso de cada categoria de impacto com o uso de diferentes factores peso

Comparando as garrafas de cerveja de tara retornvel e as de tara perdida a Tabela 30 mostra uma
diferena de 21% enquanto que a Tabela 31 mostra uma diferena de 16%. Tal como seria de
esperar, a dimenso de cada categoria de impacto varia, uma vez que a sua importncia relativa
tambm varia. O uso de diferentes factores peso depende muito de cada situao. Estes reflectem
mais uma opinio pessoal do que uma aproximao cientfica, introduzindo subjectividade quando
as categorias de impacto so relacionadas entre si.
Da Tabela 29, a comparao entre a garrafa de tara retornvel e a garrafa de tara perdida revela
diferenas considerveis. A garrafa de tara retornvel consome, por unidade de garrafa, 19% mais
materiais, 10% mais gua, 12% mais energia, tem um volume crtico de ar 12% mais elevado, tem
um volume crtico de gua 18% mais elevado e gera 11% mais de resduos slidos. Note-se que
este estudo foi efectuado considerando apenas uma utilizao da garrafa retornvel. No entanto ser
de esperar que a partir de um determinado nmero de reutilizaes (ou ciclos) a garrafa retornvel
se torne mais vantajosa do ponto de vista ambiental.
A anlise de impactos ambientais deve ser especfica de cada local. Por exemplo, os resduos
slidos podem trazer mais problemas numa cidade do que num local no habitado. Algumas

58

2.5 Interpretao dos Resultados

categorias so menos dependentes da localizao do que outras. No entanto, as opes locais ou


regionais podem diferir das opes e polticas internacionais.
Podemos concluir da interpretao dos resultados que o uso de diferentes factores peso afecta
apenas a dimenso de cada categoria de impacto. Quanto comparao entre as duas garrafas, a
retornvel possui sempre impactos ambientais mais elevados independentemente dos factores peso
usados. Assim podemos ainda concluir que apesar da escolha dos factores peso poder ser subjectiva
e sujeita a opinies diferentes, os resultados que se obtm na comparao das duas garrafas e que
dizem respeito ao objectivo deste estudo no se alteram. Note-se que este estudo foi efectuado
considerando apenas uma utilizao da garrafa retornvel. No entanto ser de esperar que a partir
de um determinado nmero de reutilizaes (ou ciclos) a garrafa retornvel se torne mais vantajosa
do ponto de vista ambiental.

59

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

De acordo com a Directiva EC/62/94 reutilizao e reciclagem devem ser formas preferenciais de
recuperao dos resduos de embalagem.
As garrafas de vidro produzidas em Portugal, contm cerca de 20 a 25% de casco misturado com as
restantes matrias-primas. A seguir ser apresentada uma anlise da influncia do uso de diferentes
percentagens de vidro reciclado, no consumo de matrias-primas, energia e emisses gasosas.
Actualmente a cervejeira reutiliza 85,5% de garrafas de cerveja de 0,33 litros. Pretendeu-se estudar
a influncia do uso de maior ou menor quantidade de garrafas de tara retornvel e de tara perdida,
seguindo-se os processos usados no enchimento dessas garrafas. A seguir so apresentados os
valores referentes aos consumos de materiais, energia e gua assim como de emisses poluentes em
funo da percentagem de reutilizao de garrafas. Ilustra-se tambm o efeito da variao da
percentagem de reutilizao nos impactos ambientais. O nmero total de garrafas (retornvel e noretornvel) foi mantido constante e fez-se variar as percentagens de reutilizao.

60

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

2.6.1 Reciclagem

Na Tabela 32 e Figura 13 mostra-se a influncia do uso de vidro reciclado no consumo de matriasprimas primrias.
Tabela 32 Consumo de materiais em relao quantidade de vidro reciclado
(Fonte: vidreira portuguesa, 1997; BUWAL, 1991)
Vidro reciclado
Consumo de Materiais (kg/kg vidro)
(%)
Matrias-primas
Vidro reciclado
11,90
1,057
0,143
20,00
0,947
0,237
35,00
0,767
0,413
56,20
0,501
0,642
74,80
0,272
0,809
99,40
0,006
1,000

Matrias-primas

Vidro reciclado

1,2
1,0
0,8
(kg/kgvidro) 0,6
0,4
0,2
0,0
11,9

20,0

35,0

56,2

74,8

99,4

(% de vidro reciclado)

Figura 13 Consumo de materiais em relao quantidade de vidro reciclado

Segundo a empresa portuguesa produtora de garrafas de vidro, para produzir um quilo de vidro
necessrio cerca de 1,18 kg de matrias-primas (valor correspondente a 20% de casco de vidro). O
que significa que cerca de 18% das matrias-primas que entram no forno so perdidas em grande
parte como emisses gasosas. Segundo Lox (1994) as perdas so de 18,5%. Segundo Lund (1993) e
um autor annimo (1989) para produzir uma tonelada de vidro suficiente uma tonelada de casco
em vez de cerca de 1,2 toneladas de matria-prima base. Considera-se normalmente que o casco de

61

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

vidro no sofre perdas. Portanto estas perdas referem-se apenas s matrias-primas e no ao casco
de vidro que novamente fundido, para dar origem a novas embalagens.
Tambm possvel reduzir a energia de fuso do vidro, atravs da adio de casco (Tabela 33 e
Figura 14).
Tabela 33 Consumo de energia de fuso em relao quantidade de vidro reciclado
(Fonte: vidreira portuguesa, 1997; BUWAL, 1991)
Vidro reciclado
(%)
11,90
20,00
35,00
56,20
74,80
99,40

Energia de fuso
(MJ/kg vidro)
7,23
6,88
6,38
5,88
5,56
5,13

Energia de fuso
8,00
7,00
6,00
5,00
(MJ/kg) 4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
11,9

20,0

35,0

56,2

74,8

99,4

(% vidro reciclado)

Figura 14 Consumo de energia de fuso em relao quantidade de vidro reciclado

Verifica-se que por cada 10% a mais de casco gasta-se em mdia menos 3% de energia. Significa
que para 100% de casco apenas se economiza cerca de 30% de energia de fuso quando comparado
com o uso de 0% de casco de vidro.
Segundo Vigon (1988) pode-se economizar no mximo 33% de energia ao reciclar vidro,
correspondente a 100% de casco em vez de 0%. Segundo um autor annimo (1989) essa economia
de 22% e segundo Lund (1993) de 25%, estimando-se no total que, por cada tonelada de casco
incorporado em substituio de areia se economiza mais de 100Kg de combustvel. Isto porque o

62

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

casco de vidro tem um ponto de fuso mais baixo do que as matrias-primas de base. Alm de se
poupar energia, consegue-se prolongar o tempo de vida til do forno. Segundo Lund dependendo
da quantidade de casco, a vida til do forno pode-se prolongar em mdia, mais 15 a 20% do que
sem vidro reciclado.
A anlise da Tabela 34 e Figura 15, indica que com o aumento de vidro reciclado a quantidade de
emisses gasosas por quilo de vidro produzido diminui.
Tabela 34 Emisses gasosas em relao quantidade de vidro reciclado
(Fonte: vidreira portuguesa, 1997; BUWAL, 1991)
Vidro reciclado
(%)
11,90
20,00
35,00
56,20
74,80
99,40

Emisses gasosas
(kg/kg vidro)
0,196
0,181
0,175
0,140
0,078
0,009

emisses gasosas
0,200
0,180
0,160
0,140
0,120
(kg/kg vidro) 0,100
0,080
0,060
0,040
0,020
0,000
11,9

20,0

35,0
56,2
(% vidro reciclado)

74,8

99,4

Figura 15 Emisses gasosas em relao quantidade de vidro reciclado

Por vezes difcil separar todos os contaminantes do casco de vidro, por serem de dimenses muito
reduzidas e por no terem sido detectados na estao de tratamento de casco. Pequenos materiais
cermicos que no fundem no forno e restos de metais, alm de irem deteriorando o material
refractrio do forno, tambm podem causar incrustaes slidas nas paredes da garrafa,
aumentando a probabilidade de quebra desta. Outro dos contaminantes mais comuns e que
normalmente confundido com o vidro de embalagem so os artigos em vidro de chumbo,

63

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

normalmente designados por cristal. Artigos de uso domstico (copos, taas, clices, etc.) so
produzidos com este tipo de vidro. A introduo de casco de vidro com vidro cristal misturado,
eleva o teor de chumbo nas emisses gasosas.
A Tabela 35 e a Figura 16 mostram que com o aumento da reciclagem de vidro, aumenta a
quantidade de metais pesados nas emisses gasosas.
Tabela 35 Metais pesados nas emisses gasosas em relao quantidade de vidro reciclado
(Fonte: vidreira portuguesa, 1997; BUWAL, 1991)
Vidro reciclado
Emisses gasosas (g/kg vidro)
(%)
Chumbo
Cdmio
Zinco
11,90
0,033
0,001
0,006
20,00
0,040
0,001
0,007
35,00
0,055
0,001
0,010
56,20
0,078
0,001
0,014
74,80
0,100
0,002
0,018
99,40
0,133
0,002
0,024

Metais pesados nas emisses gasosas


0,160
0,140

Zinco

0,120

Cdmio
Chumbo

0,100
(g/kg de vidro) 0,080
0,060
0,040
0,020
0,000
11,9

20,0

35,0

56,2

74,8

99,4

(% de vidro reciclado)

Figura 16 Metais pesados nas emisses gasosas em relao quantidade de vidro reciclado

Do ponto de vista da quantidade total de emisses gasosas a quantidade de metais pesados


presentes no significativa. Em termos mssicos a quantidade de metais emitidos representa
apenas cerca de 0,1% do total, a quantidade de CO2 representa cerca de 93,8% e as restantes
emisses representam cerca de 6,1%. No entanto, de ponto de vista dos impactos ambientais,
usando o mtodo dos volumes crticos (Habersatter, 1991) o que assume maiores propores so
os metais pesados, uma vez que as suas concentraes crticas so muito pequenas.

64

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

Na Figura 17 podemos ver que o volume crtico de ar aumenta medida que mais casco de vidro
reciclado. bastante evidente a diferena existente entre a quantidade de ar necessria para diluir a
toxicidade provocada pela emisso de metais pesados (Pb, Zn, Cd) at uma concentrao
aceitvel (volume crtico de ar) e a quantidade de ar necessria para diluir todas as restantes
emisses (partculas, CO, SO2, NOx, N2O, HCl, HF, VOC) para uma concentrao aceitvel. No
foi contabilizado o volume crtico de ar referente emisso de CO2, porque no existe
concentrao crtica para este.
Tabela 36 Metais pesados nas emisses gasosas em relao quantidade de vidro reciclado
(Fonte: vidreira portuguesa, 1997; BUWAL, 1991)
Vidro reciclado Volume crtico de ar (m3/kg vidro)
(%)
metais pesados
outros
11,90
974 435
319 075
20,00
1 190 958
272 621
35,00
1 621 834
234 113
56,20
2 297 046
189 065
74,80
2 953 345
172 358
99,40
3 937 793
148 337

Volume crtico de ar
4500000
metais pesados

4000000
3500000

outros

3000000
(m3/kg vidro)

2500000
2000000
1500000
1000000
500000
0
11,9

20,0

35,0

56,2

74,8

99,4

(% vidro reciclado)

Figura 17 Volume crtico de ar em funo da quantidade de vidro reciclado

Podemos concluir que a reciclagem de vidro apresenta vantagens do ponto de vista da reduo das
emisses gasosas geradas se for usado casco de vidro de boa qualidade, i.e., livre de contaminantes.

65

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

2.6.2 Reutilizao

Os valores especficos so os valores normalizados em relao unidade funcional (i.e. por garrafa
de cerveja, correspondente ao mesmo volume de 0,33 litros). Qualquer que seja a percentagem de
garrafas de tara retornvel e de tara perdida usadas, os valores especficos de consumos e emisses
gasosas, lquidas e slidas so sempre os mesmos. Assim foram estudados os consumos totais de
ambas as garrafas e a sua variao em relao percentagem de reutilizao.
A Tabela 37 e a Figura 18 representam a variao do consumo de materiais de embalagem em
funo da percentagem de garrafas de tara retornvel usadas.
Tabela 37 Consumo de materiais de embalagem em relao percentagem de garrafas retornveis
(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Reutilizao
(%)
85,5
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0

Materiais
Retornvel
101 320 090
82 841 631
71 007 112
59 172 593
47 338 075
35 503 556
23 669 037

de embalagem
No retornvel
1 367 5548
28 518 520
38 024 693
47 530 867
57 037 040
66 543 213
76 049 387

(kg)
Total
114 995 637
111 360 151
109 031 805
106 703 460
104 375 115
102 046 769
99 718 424

Materiais de embalagem
120000000
Retornvel
100000000

No retornvel

80000000
(kg) 60000000
40000000
20000000
0
85,5

70,0

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

(% reutilizao)

Figura 18 Consumo de materiais de embalagem em funo da percentagem de garrafas retornveis

66

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

O consumo especfico de materiais de embalagem pela garrafa retornvel mais elevado. Por isso
medida que a percentagem de reutilizao diminui o consumo total das duas garrafas diminui.
Na Tabela 38 e Figura 19 apresentado o consumo de produtos de limpeza e desinfeco em
funo da percentagem de garrafas de tara retornvel usadas.
Tabela 38 Consumo de produtos de limpeza e desinfeco em funo da percentagem de garrafas retornveis
(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Reutilizao
(%)
85,5
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0

Produtos
qumicos
Retornvel
No retornvel
527 328 475
56 702 299
431 155 864
118 245 039
369 562 169
157 660 051
307 968 474
197 075 064
246 374 779
236 490 077
184 781 084
275 905 090
123 187 390
315 320 103

(kg)
Total
584 030 774
549 400 902
527 222 220
505 043 538
482 864 856
460 686 174
438 507 492

Produtos de limpeza e desinfeco


600000000
Retornvel
No retornvel

500000000

400000000

(kg) 300000000

200000000

100000000

0
85,5

70,0

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

(% reutilizao)

Figura 19 Consumo de produtos de limpeza e desinfeco em funo da percentagem de garrafas


retornveis

Uma vez que a garrafa retornvel tem um consumo especfico mais elevado, medida que a
percentagem de reutilizao diminui tambm o consumo total desses produtos diminui. Esta
diferena entre consumos pelas garrafas retornveis e no-retornveis deve-se essencialmente
mquina de lavar garrafas e mquina de lavar grades de plstico. Estas consomem grandes

67

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

quantidades de gua com soda custica e outros produtos de limpeza e desinfeco, necessrios
lavagem de garrafas de tara retornvel e respectivas grades de plstico. A garrafa de tara perdida
apenas enxaguada como gua no consumindo detergentes na sua lavagem. Alm disso, os
impactos gerados pela lavadora de grades so atribudos apenas garrafa de tara retornvel. Outros
consumos de detergentes e produtos de desinfeco so comuns a ambos os tipos de garrafas, para
as limpezas gerais do programa CIP (Clean in place). O consumo total destes produtos diminui
medida que a percentagem de reutilizao diminui.
Na Tabela 39 e Figura 20 apresentado o consumo de gua em funo da percentagem de
reutilizao de garrafas.
Tabela 39 Consumo de gua em funo da percentagem de garrafas retornveis
(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Reutilizao
(%)
85,5
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0

Consumo de gua (m3)


Retornvel
No retornvel
1 184 003
166 543
968 068
347 303
829 773
463 071
691 477
578 838
553 182
694 606
414 886
810 374
276 591
926 142

Total
1 350 546
1 315 371
1 292 843
1 270 316
1 247 788
1 225 260
1 202 732

Consumo de gua
1200000
Retornvel
No retornvel

1000000
800000
(m3) 600000
400000
200000
0
85,5

70,0

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

(% reutilizao)

Figura 20 Consumo de gua em funo da percentagem de garrafas retornveis

Da mesma forma que para os produtos de limpeza e desinfeco, o consumo de gua mais elevado
para as garrafas de tara retornvel, deve-se essencialmente aos consumos da mquina de lavar

68

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

garrafas e da mquina de lavar grades de plstico. Assim, o consumo de gua diminui medida que
a percentagem de reutilizao diminui.
Na Tabela 40 e Figura 21 apresentado o consumo de energia elctrica em funo da percentagem
de reutilizao de garrafas.
Tabela 40 Consumo de electricidade em funo da percentagem de garrafas retornveis
(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Reutilizao
(%)
85,5
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0

Consumo de electricidade (MJ))


Retornvel
No retornvel
Total
119 395 298
15 779 258
135 174 555
97 620 335
32 905 526
130 525 861
83 674 573
43 874 034
127 548 607
69 728 811
54 842 543
124 571 354
55 783 049
65 811 051
121 594 100
41 837 287
76 779 560
118 616 846
27 891 524
87 748 068
115 639 593

Consumo de electricidade
120000000
Retornvel

100000000

No retornvel

80000000
(MJ)

60000000
40000000
20000000
0
85,5

70,0

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

(% reutilizao)

Figura 21 Consumo de electricidade em funo da percentagem de garrafas retornveis

Tambm o consumo de energia elctrica mais elevado para as garrafas de tara retornvel, devido
ao uso da mquina de lavar garrafas e da mquina de lavar grades de plstico.
Nas Tabelas 41 e 42, assim como nas Figuras 22 e 23 apresenta-se a quantidade de guas residuais
geradas e os respectivos volumes crticos de gua em funo da percentagem de reutilizao de
garrafas.

69

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

Tabela 41 guas residuais em funo da percentagem de garrafas retornveis


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Reutilizao
(%)
85,5
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0

guas residuais (kg)


Retornvel
No retornvel
337 652 078
37 824 413
276 072 088
78 877 739
236 633 218
105 170 319
197 194 349
131 462 899
157 755 479
157 755 479
118 316 609
184 048 059
78 877 739
210 340 638

Total
375 476 491
354 949 827
341 803 537
328 657 248
315 510 958
302 364 668
289 218 378

guas residuais

350000000

300000000

Retornvel
No retornvel

250000000

200000000
(kg)
150000000

100000000

50000000

0
85,5

70,0

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

(% reutilizao)

Figura 22 gua residuais em funo da percentagem de garrafas retornveis

As substncias poluentes presentes nas guas residuais provenientes de uma cervejeira provm
essencialmente das matrias-primas usadas. A quantidade de efluente depende da quantidade de
gua usada. Apenas a gua incorporada na cerveja e a gua que se evapora no acaba como gua
residual.
A gua residual proveniente do sector de embalagem tem um elevado valor da CBO devido
cerveja residual existente nas garrafas de tara retornvel quando so lavadas. A gua proveniente
de uma lavadora de garrafas contm substncias provenientes da cola e dos rtulos removidos das

70

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

garrafas. Ao consumir grandes quantidades de gua, energia e agentes de limpeza, a lavadora de


garrafas gera consequentemente grandes quantidades de guas residuais.
Vai tambm para gua residual a soda custica, cido e detergentes provenientes dos processos de
limpeza CIP, da lavadora de garrafas e da lavadora de grades. As garrafas de tara perdida
consomem menos gua, energia e agentes de limpeza do que as garrafas de tara retornvel.
Consequentemente, geram menos guas residuais.
Tabela 42 Volume crtico de gua em funo da percentagem de garrafas retornveis
(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Volume crtico de gua (m3)
Retornvel
No retornvel
Total
33 623 152
3 766 528
37 389 680
27 491 061
7 854 589
35 345 650
23 563 767
10 472 785
34 036 552
19 636 472
13 090 981
32 727 454
15 709 178
15 709 178
31 418 355
11 781 883
18 327 374
30 109 257
7 854 589
20 945 570
28 800 159

Reutilizao
(%)
85,5
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0

Volume crtico de gua

35000000
Retornvel
30000000

No retornvel

25000000
20000000
(m3)
15000000
10000000
5000000
0
85,5

70,0

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

(%reutilizao)

Figura 23 Volume crtico de gua em funo da percentagem de garrafas retornveis

71

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

Verifica-se que de modo a minimizar o impacto ambiental gerado pelo consumo de gua (Figura
22), assim como a minimizar a quantidade total de guas residuais geradas (Figura 23) deve-se
praticar uma percentagem de reutilizao o mais baixa possvel.
A Tabela 43 e Figura 24 mostra a quantidade de emisses gasosas geradas na queima de nafta
pesada, na central de cogerao de energia e vapor, pertencente cervejeira.

Tabela 43 Emisses gasosas em funo da percentagem de garrafas retornveis


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997; BUWAL, 1991)
Reutilizao
(%)
85,5
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0

Emisses gasosas (kg)


Retornvel
No retornvel
4 150 083
625 502
3 393 203
1 304 401
2 908 460
1 739 202
2 423 716
2 174 002
1 938 973
2 608 803
1 454 230
3 043 603
969 487
3 478 404

Total
4 775 585
4 697 604
4 647 661
4 597 719
4 547 776
4 497 833
4 447 890

Emisses gasosas

4500000
Retornvel

4000000

No retornvel
3500000
3000000
2500000
(kg)
2000000
1500000
1000000
500000
0
85,5

70,0

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

(% reutilizao)

Figura 24 Emisses gasosas em funo da percentagem de garrafas retornveis

72

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

A Tabela 44 e Figura 25 mostra o volume crtico de ar em funo da percentagem de reutilizao.

Tabela 44 Volume crtico de ar em funo da percentagem de garrafas retornveis


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Volume crtico de ar (m3)
Retornvel
No retornvel
1 501 915 787 510
226 369 448 406
1 228 000 818 067
472 063 118 018
1 052 572 129 771
629 417 490 691
877 143 441 476
786 771 863 364
701 714 753 181
944 126 236 036
526 286 064 886
1 101 480 608 709
350 857 376 590
1 258 834 981 382

Reutilizao
(%)
85,5
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0

Total
1 728 285 235 917
1 700 063 936 085
1 681 989 620 462
1 663 915 304 840
1 645 840 989 217
1 627 766 673 595
1 609 692 357 972

Volume crtico de ar
1600000000000
Retornvel

1400000000000

No retornvel
1200000000000
1000000000000
(m3) 800000000000
600000000000
400000000000
200000000000
0
85,5

70,0

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

(% reutilizao)

Figura 25 Volume crtico de ar em funo da percentagem de garrafas retornveis

As emisses gasosas assim como o volume crtico de ar associados garrafa de tara retornvel so
mais elevados.

73

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

A Tabela 45 e Figura 26 mostra a quantidade de resduos slidos gerados em funo da


percentagem de reutilizao.

Tabela 45 Resduos slidos gerados em funo da percentagem de garrafas retornveis


(Fonte: cervejeira portuguesa, 1997)
Reutilizao
(%)
85,5
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0

Resduos Slidos (kg)


Retornvel
No retornvel
363 997
46 265
297 613
96 479
255 097
128 639
212 580
160 799
170 064
192 958
127 548
225 118
85 032
257 278

Total
410 262
394 092
383 736
373 379
363 023
352 667
342 310

Resduos slidos
400000
350000

Retornvel

No retornvel

300000
250000
(kg) 200000
150000
100000
50000
0
85,5

70,0

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

(% reutilizao)

Figura 26 Resduos slidos gerados em funo da percentagem de garrafas retornveis

Os resduos slidos gerados pela garrafa retornvel so mais elevados devido lavagem e
extraco de rtulos velhos na lavadora de garrafas, o que gera grandes quantidades de papeis e
lamas.

74

2.6 Anlise dos Processos de Reutilizao e Reciclagem

Tambm existem os resduos slidos das operaes de condicionamento das garrafas (metais,
plsticos, carto, cartolina, grades de plstico velhas, sucata etc.).
Igualmente da estao de tratamento de guas so extrados do poo de recepo das guas
residuais lamas, palhas, kieselgur, vidro partido, papeis, etc.. O efluente da ETAR contm tambm
grande quantidade de slidos a jusante do reactor anaerbio. O vidro partido proveniente das
quebras de garrafas nas linhas de enchimento reciclado.
Relativamente a este estudo de caso e tendo em conta todas as consideraes j efectuadas nas
fases de anlise de impactos ambientais, interpretao e anlise de melhorias, conclui-se que as
operaes extra necessrias para a garrafa de tara retornvel elevam as respectivas cargas
ambientais, quando comparadas s geradas pela garrafa de tara perdida. Assim de modo a
minimizar as cargas ambientais devem-se praticar percentagens de reutilizao mais baixas e taxas
de reciclagem mais elevadas do que aquelas que so praticadas actualmente.
Neste estudo o casco de vidro mbar que reciclado provm apenas da cervejeira e no dos
vidres. A maior parte deste casco o resultado da quebra de garrafas retornveis, portanto so
essencialmente estas que alimentam o processo de reciclagem. Uma vez que deste estudo se
concluiu que vantajoso reciclar e desvantajoso reutilizar do ponto de vista ambiental, se a
percentagem de garrafas reutilizveis diminuir, automaticamente a quantidade de casco de vidro
para reciclar tambm diminui. Este problema pode ser resolvido se em vez de se usarem apenas
garrafas de cor mbar para cerveja, tambm se comearem a usar garrafas verdes, pois nesse caso
pode-se usar o vidro proveniente dos vidres para o processo de reciclagem.
O facto de no existir ainda tratamento secundrio das guas residuais da cervejeira, agrava no s
o volume crtico de gua poluda como tambm a quantidade de lamas que teria de ser tratada.
Como trabalho futuro seria importante efectuar uma anlise de melhorias para avaliar a influncia
do tratamento secundrio nos resultados deste estudo. Seria ento necessrio balancear os prs e os
contras. Por um lado o tratamento secundrio iria diminuir o impacto causado pelas guas
residuais, mas por outro iria aumentar os consumos de materiais e energia necessrios no
tratamento.

75

Captulo 3 Concluses e Trabalho


Futuro

3.1 Concluses

3.1 Concluses

Quando se procede avaliao de um sistema, a ACV importante mas no o nico aspecto


decisivo a considerar quando se pretendem tomar decises. Estas no se devem basear apenas nos
resultados do estudo de ACV mas tambm noutros aspectos, tais como, sociais, econmicos ou
polticos. Esta metodologia ainda se encontra em desenvolvimento e neste estudo foram
reconhecidos alguns dos seus pontos fracos, i.e., aspectos da metodologia que ainda necessitam
de ser melhorados.
A fase de avaliao dos impactos ambientais da ACV introduz sempre alguma subjectividade e
incerteza uma vez que quase sempre reflecte preferncias pessoais ou de grupos de pessoas sem
qualquer base cientfica. No entanto, conclui-se da interpretao dos resultados que o uso de
diferentes factores peso afecta apenas a dimenso de cada categoria de impacto e no a comparao
entre as duas garrafas, com respeito ao objectivo deste estudo. A garrafa retornvel possui sempre
impactos ambientais mais elevados independentemente dos factores peso usados. Note-se aqui que
este estudo foi efectuado considerando apenas uma utilizao da garrafa retornvel. No entanto ser
de esperar que a partir de um determinado nmero de reutilizaes (ou ciclos) a garrafa retornvel
se torne mais vantajosa do ponto de vista ambiental.
O mtodo que utilizado neste estudo para se efectuar a avaliao dos impactos designa-se mtodo
dos volumes crticos. No procedimento habitual deste mtodo multiplicam-se os factores peso
pelas contribuies percentuais de ambas as garrafas. Neste trabalho foi introduzida a variante de

77

3.1 Concluses

se multiplicarem os factores peso pelos valores especficos de cada garrafa, supondo que os
factores peso so medidos em unidades de impacto por unidade de massa, unidade de volume ou
unidade de energia, dependendo da categoria de impacto que se est a considerar, ao serem
multiplicados pelos valores especficos de cada garrafa, obtm-se unidades de impacto por
garrafa. Desta forma determinam-se indicadores para cada caso permitindo fcil e rapidamente
comparar entre as diferentes categorias de impacto
Constata-se deste estudo que a garrafa de tara retornvel tem consumos mais elevados e geradora
de maior quantidade de emisses poluentes, ou seja: consome 19% mais materiais, 10% mais gua,
12% mais energia, tem um volume crtico de ar 12% mais elevado, tem um volume crtico de gua
18% mais elevado e gera 11% mais de resduos slidos. Esta diferena entre consumos e emisses
geradas pelas garrafas retornvel e no-retornvel deve-se em primeiro lugar ao facto de a garrafa
retornvel ser mais pesada o que implica maior consumo de matrias-primas, energia e maior
quantidade de emisses geradas. Tambm a garrafa retornvel tem de ser lavada antes de ser
novamente usada e devido mquina de lavar garrafas e mquina de lavar grades de plstico so
maiores os consumos de gua, de produtos de limpeza e de energia, assim como de resduos slidos
gerados, emisses lquidas e gasosas. A garrafa de tara perdida apenas enxaguada com gua no
consumindo detergentes na sua lavagem. Note-se que este estudo foi efectuado considerando
apenas uma utilizao da garrafa retornvel. No entanto ser de esperar que a partir de um
determinado nmero de reutilizaes (ou ciclos) a garrafa retornvel se torne mais vantajosa do
ponto de vista ambiental. Esta anlise foi deixada como uma possibilidade de trabalho futuro.
O uso de casco de vidro juntamente com as matrias-primas oferece vantagens ambientais e
econmicas uma vez que se poupa energia, matrias-primas, reduz-se a quantidade de emisses
gasosas, reduzem-se os custos indirectos de recolha e deposio em terrenos utilizveis para outros
fins, reduzem-se os custos indirectos de incinerao do lixo uma vez que o vidro um material no
combustvel, reduzindo a eficincia global de operao e manuteno destas unidades e criam-se
hbitos de respeito pelo ambiente. A conservao da energia implica a conservao dos recursos,
i.e., evita a depleco das fontes de combustveis minerais ou petrleo. Tambm, a reduo da
energia e a extenso da vida til do forno, contribui para uma melhor eficincia do equipamento,
alm de reduzir de forma global os custos de produo. No entanto, a qualidade do casco de vidro
usado muito importante, porque os contaminantes do vidro fazem com que o teor de metais
pesados nas emisses gasosas do forno de fuso aumente.
Neste estudo o casco de vidro mbar que reciclado provm apenas da cervejeira e no dos
vidres. A maior parte deste casco resultado da quebra de garrafas retornveis, portanto so

78

3.1 Concluses

essencialmente estas que alimentam o processo de reciclagem. Uma vez que deste estudo se
concluiu que vantajoso reciclar do ponto de vista ambiental, se a percentagem de garrafas
reutilizveis diminuir automaticamente a quantidade de casco de vidro para reciclar tambm
diminui. Este problema pode ser resolvido se em vez de se usarem apenas garrafas de cor mbar
para cerveja, tambm se comearem a usar garrafas verdes, pois nesse caso pode-se usar o vidro
proveniente dos vidres para o processo de reciclagem.
Outro aspecto a considerar e que foi deixado como uma possibilidade de trabalho futuro, a anlise
de melhorias. Da anlise dos dados de inventrio e dos impactos ambientais, conclui-se que o facto
de apenas existir tratamento primrio das guas residuais da cervejeira, agrava no s o volume
crtico de gua poluda como tambm a quantidade de lamas que teria de ser tratada. Numa anlise
de melhorias teriam de se analisar os impactos ambientais resultantes da incluso do tratamento
secundrio e se as vantagens iriam compensar as desvantagens. Ou seja, as melhorias nas
categorias de impacto respeitantes s guas residuais e aos resduos slidos, provocaria o
agravamento das categorias de impacto respeitantes ao consumo de materiais e energia gastos na
manuteno do tratamento secundrio.

79

3.2 Trabalho Futuro

3.2 Trabalho Futuro

A anlise de ciclo-de-vida um mtodo complexo, multidimensional e um instrumento de gesto


ambiental bastante abrangente na determinao dos impactos ambientais, uma vez que engloba o
ciclo-de-vida completo do produto ou processo em estudo. Actualmente a imagem de um produto
depende em grande parte de se usarem processos menos poluentes, que gerem um menor volume
de resduos, que promovam a possibilidade de reciclagem, mimizando os impactos ambientais e
com resultados de estudos de ACV favorveis. No entanto, esta metodologia ainda se encontra em
desenvolvimento ganhando forma e experincia nas novas aplicaes que vm sendo efectuadas.
Possui como todas as metodologias, algumas limitaes que constituem possibilidades de
investigao e desenvolvimento futuros.
Os modelos usados para a anlise de inventrio e para a avaliao dos impactos ambientais so
limitados pelas suas hipteses e no esto disponveis para todos os impactos potenciais ou
aplicaes, por isso a transparncia um ponto crtico na anlise de impactos para garantir que
todas as hipteses so claramente descritas e transmitidas. Tambm o mtodo usado neste estudo
para avaliar os impactos ambientais fisicamente incorrecto. Assim, como possibilidade de
desenvolvimento e investigao futuros, poder-se-ia testar a fiabilidade e aplicabilidade dos vrios
modelos e mtodos existentes ou desenvolver novos mtodos com um maior significado fsico de
modo a transpor os dados do inventrio em medidas dos seus impactos ambientais.

80

3.2 Trabalho Futuro

Tambm a qualidade dos dados da anlise de inventrio de suma importncia para uma maior
segurana e fiabilidade dos resultados obtidos. A qualidade pode ser limitada pela acessibilidade ou
disponibilidade de dados relevantes e de boa qualidade, p.ex., falhas de dados, tipos de dados,
estimativas, mdias e dependncia local. Assim, efectuar uma anlise da qualidade dos dados de
inventrio de modo a garantir a fiabilidade dos estudos de ACV outra possibilidade de trabalho
futuro.
Os resultados da ACV com aplicao global ou regional podem no ser apropriados para aplicao
local, i.e., as condies locais podem no ser representadas de forma adequada por condies
regionais ou globais. Da mesma forma, o horizonte temporal tambm influncia os resultados de
um estudo de ACV. Assim, os dados da anlise de inventrio devem ser recolhidos durante um
perodo de tempo estatisticamente relevante e que possa atenuar qualquer comportamento atpico,
tal como manuteno, paragens e arranques no processo produtivo, acidentes e variaes sazonais.
Perspectivando aces futuras, a abordagem do processo de reciclagem ou reutilizao de um
determinado material dever envolver uma anlise cuidada em termos energticos e ambientais do
seu ciclo-de-vida. Verifica-se que muitas das indstrias na rea da reciclagem dos vrios materiais
apresentam graves problemas de poluio. Devem-se realizar estudos que permitam uma avaliao
mais correcta do processo de reciclagem em termos de impactos ambientais.
Pensar na embalagem e simplificao do "design" visando a uma fcil reciclagem outro factor de
grande importncia na medida em que se pode beneficiar o consumidor diminuindo o custo do
produto e ao mesmo tempo representando um aumento da produtividade dos recursos.
Os resultados de todas as etapas de ACV providenciam informao dos impactos ambientais do
sistema e frequentemente posicionam o utilizador nas partes da operao, em que existe uma
melhor oportunidade de melhorar o seu desempenho ambiental. Muitas vezes por questes
econmicas as empresas ignoram a possibilidade de implementao de melhorias ambientais nos
seus processos de fabrico. Assim outra possibilidade de desenvolvimento futuro seria introduzir na
anlise efectuada, alm de consideraes ambientais, tambm consideraes tcnicas, econmicas e
sociais de modo a que os resultados do estudo de ACV possam ser usados para se tomarem
decises a um nvel mais alargado.
A anlise de inventrio efectuada serviu para revelar os aspectos que mais contribuem com cargas
ambientais e relativamente aos quais existe uma maior oportunidade de melhorar o desempenho
ambiental. Um dos aspectos que mais se salientou foi o facto de no existir ainda tratamento
secundrio na ETAR da cervejeira. Como trabalho futuro seria importante efectuar uma anlise de

81

3.2 Trabalho Futuro

melhorias para avaliar a influncia do tratamento secundrio nos resultados deste estudo. Seria
ento necessrio balancear os prs e os contras. Por um lado o tratamento secundrio iria diminuir
o impacto causado pelas guas residuais, mas por outro iria aumentar os consumos de materiais e
energia necessrios no tratamento.
A metodologia de ACV relativamente recente e vai sendo melhorada medida que
progressivamente testada atravs da sua aplicao a uma grande variedade de casos. Neste trabalho
a tarefa de recolha dos dados, hipteses assumidas e clculos efectuados de forma perceptvel e ao
mesmo tempo a apresentao de uma imagem clara dos resultados globais, constituiu sem dvida
um desafio considervel.

82

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87

Anexo A Normas Ambientais e


RSU

Anexo A Normas Ambientais e RSU

A.1 Normas de Qualidade Ambiental

Nos pases desenvolvidos, a tomada de conscincia dos problemas ambientais associados ao uso de
produtos e aos processos produtivos estimulou a tomada de medidas de proteco ambiental por
parte das indstrias e entidades governamentais ao mesmo tempo que pressionadas por um
consumidor cada vez mais consciente e exigindo a garantia de que o seu produto foi produzido
dentro dos melhores padres de qualidade ambiental.
Nos pases onde as restries ambientais so mais severas ao mesmo tempo que proporcionam
ganhos ambientais, as organizaes alcanam excelentes oportunidades de novos negcios
exportando know-how para outros pases.
Isto fez surgir uma variedade de novos produtos e servios, nomeadamente indstrias de
equipamentos de depurao, servios de tratamento do ar e da gua, reciclagem de resduos,
controlo do rudo e produtos verdes. Neste contexto apareceram as chamadas tecnologias limpas,
com consumo reduzido de gua e menos energia e com reaproveitamento dos materiais utilizados
no processo.
Em 1978 a Alemanha foi a pioneira na rotulagem ambiental criando o rtulo ecolgico Anjo
Azul. Em 1992 foi institudo o Sistema Comunitrio de Atribuio do Rtulo Ecolgico com o
intuito de uniformizar ao nvel da Unio Europeia os critrios de atribuio de marcas do
desempenho ambiental dos produtos. Em 1993 foi estabelecido em Portugal o Sistema Nacional de
Atribuio do Rtulo Ecolgico, por Despacho Conjunto dos Ministros da Indstria, Energia,

89

Anexo A Normas Ambientais e RSU

Ambiente e Recursos Naturais, tendo sido atribudas Direco-Geral da Indstria as funes de


organismo competente para este processo.
Na maioria dos pases desenvolvidos, a "revoluo verde" sustentada pela actuao
governamental, onde a parceria entre a indstria e o governo tem levado a uma melhoria na
qualidade ambiental. No entanto, existe sempre o perigo de se confiar numa confluncia de
interesses entre governo e indstria em relao aos padres ambientais.
A tendncia das empresas de pressionar o governo a estabelecer padres de uma tecnologia
concebidas por elas e no em termos do impacto causado. Apesar da necessidade de um consenso,
produtos como embalagens reciclveis de nada serviro se no houver quem as recicle. Muitas
vezes, as distncias at aos pontos de reciclagem implicam custos adicionais. As questes
ambientais assumiram nos ltimos anos um papel primordial no comrcio internacional, o que
levou implementao de Normas e Certificaes Ambientais, de mbito nacional, regional e
internacional.
Em 1991, aps a Segunda Conferncia Mundial da Indstria sobre o Meio Ambiente, foi formulada
pela Cmara de Comrcio Internacional a Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentvel,
reunindo 16 princpios de gesto ambiental, que indicam os compromissos a serem assumidos pelas
empresas e constituem referncia internacional de estratgia ambiental. a partir desse documento
que a gesto ambiental identificada, por vrias empresas, como um importante factor de sucesso,
assegurando a aceitao dos produtos interna e externamente. Esta muitas vezes um factor
decisivo para a sobrevivncia competitiva de muitas delas.
Em Outubro de 1991 teve incio o "Strategic Advisory Group on Environment" (SAGE), que veio
dar resposta necessidade de uma normalizao internacional no mbito da Organizao
Internacional de Normalizao, ISO. Aps dois anos de actividades o SAGE props atravs de um
relatrio a criao do Comit Tcnico ISO/TC-207, dentro do conceito de desenvolvimento
industrial sustentvel e tendo como objectivo desenvolver normas e guias sobre sistemas e
ferramentas de gesto ambiental.
Seguindo as recomendaes do relatrio elaborado pelo SAGE, em Maro de 1993 o Conselho da
ISO aprovou a criao do Comit Tcnico Coordenador TC 207 composto por seis sub-comits
tcnicos. Este deu incio aos trabalhos de elaborao das normas ISO srie 14000 com base na
norma BS 7750 - "Specification for Environmental Management Systems" em vigor no Reino
Unido.

90

Anexo A Normas Ambientais e RSU

O aparecimento das normas de Qualidade Ambiental ISO 14000 representa a continuao da


procura da Qualidade Total nas actividades industriais, iniciada pela srie de normas ISO 9000.
Como consequncia a sua implementao semelhante das normas de Qualidade, sendo
necessrio o compromisso e envolvimento da administrao da empresa e tendo como requisitos
fundamentais para o sucesso do Sistema de Gesto Ambiental, a participao dos diversos sectores
da organizao e a imprescindvel actuao de cada funcionrio. A Tabela 46 descreve o conjunto
de normas que fazem parte da srie ISO 14000 (Begley, 1996; Diller,1997).
Tabela 46 Conjunto de normas da srie ISO 14000
Normas

Funo
Estabelecem os principais elementos de um sistema de gesto tais como: a poltica

ISO 14001 a 14004

ambiental a ser adoptada pela empresa, planeamento, implementao, operao, controlo

Sistema de gesto ambiental

e aces correctivas, executando uma anlise crtica da gesto com vista a um


aperfeioamento contnuo.

ISO 14010, 14011 e 14012

Inclui os princpios de auditoria ambiental, os procedimentos, a qualificao de

Auditoria ambiental

auditores e outras investigaes ambientais.


Trata dos princpios para certificao, autodeclarao e programas de certificao

ISO 14020 e 14021

visando a formulao de normas dirigidas uniformizao de critrios de rotulagem

Rotulagem ambiental

ambiental. Define ainda os princpios e prticas nas declaraes de rtulos ecolgicos,


bem como as metodologias de implementao, verificao e certificao.
Avalia genericamente o desempenho ambiental de um dado sector industrial, tendo

ISO 14031

como objectivo a normalizao de critrios e metodologias a serem usados pelas

Desempenho Ambiental

empresas na medio, avaliao e comunicao do seu desempenho ambiental, visando


orientar a sua poltica de investimentos ou a obteno de certificao especfica.
Inclui os princpios gerais e procedimentos para aplicao da metodologia de anlise de

ISO 14040, 14041, 14042 e

ciclo-de-vida e as suas respectivas fases: definio do mbito e do objectivo, anlise de

14043

inventrio, anlise de impactos ambientais e interpretao. Tem como objectivo avaliar

Anlise de ciclo-de-vida

os efeitos ambientais associados a um produto, processo ou actividade, atravs da


identificao e quantificao do consumo de energia, matrias-primas e gua, assim
como das emisses gasosas e lquidas e dos resduos libertados para o meio ambiente.
Harmoniza as diferentes definies utilizadas tendo sido estabelecidas quatro categorias

ISO 14050

de conceitos: especficos, comuns, relacionados com as reas adjacentes e de linguagem

Termos e definies

geral. Essa clareza nas definies dos termos necessria j que a norma ser aplicada
internacionalmente.

As normas da srie ISO 14000 constituem um conjunto de orientaes acerca dos elementos que
devero estar presentes num sistema de gesto ambiental e das tcnicas de suporte a esses sistemas.
Estas normas no estabelecem nveis de desempenho ambiental mas especificam os requisitos que
um sistema de gesto ambiental dever cumprir. De modo geral referem-se ao que dever ser feito
por uma organizao para gerir o impacto das suas actividades no meio ambiente.

91

Anexo A Normas Ambientais e RSU

A certificao evidencia interna e externamente de forma credvel a qualidade dos processos


organizacionais e tecnolgicos do ponto de vista da sua conformidade com requisitos de proteco
ambiental e de preveno da poluio. Assegura tambm s diversas partes interessadas (clientes,
fornecedores, etc.) que a organizao implementou um sistema de gesto ambiental adequado e
criou a dinmica interna da definio e melhoria do sistema. Isto constitui uma vantagem
competitiva, uma vez que os clientes e utilizadores esto cada vez mais predispostos a comprar ou
usar produtos e servios que respeitem o ambiente, desde a sua preparao a partir de matriasprimas at fase de ps-consumo.
Em Portugal a APCER, Associao Portuguesa de Certificao, disponibiliza s entidades
interessadas a prestao de servios de certificao de sistemas de gesto ambiental e o IPQ,
Instituto Portugus da Qualidade, procedeu certificao de auditores ISO 14000. Em conjunto, a
Direco-Geral do Ambiente, futuro gestor do Sistema Integrado da Qualidade do Ambiente, o
Instituto Portugus da Qualidade e a APCER desenvolveram todo um trabalho de preparao da
documentao de suporte ao processo de certificao de sistemas de gesto ambiental em Portugal
(IPQ, 1997).
Na execuo das normas ISO 14000, estas passam por vrios estgios: preliminar, proposta,
preparao, discusso e aprovao. As normas de Sistema de Gesto Ambiental e de Auditorias
Ambientais foram das primeiras a serem desenvolvidas. Muitas ainda se encontram num estgio
menos avanado, ou seja, na verso preliminar (DIS-Draft International Standard).
O TC 207 composto por um Comit Tcnico Coordenador, secretariado pelo Canad e por seis
Subcomits Tcnicos (SC). As seis reas de actuao da nova norma so:
-

sistemas de gesto ambiental (SC1, Inglaterra);

auditoria ambiental (SC2, Holanda);

rotulagem ambiental (SC3, Austrlia);

avaliao de desempenho ambiental (SC4, EUA);

anlise de ciclo-de-vida (SC5, Frana);

termos e definies (SC6, Noruega);

aspectos ambientais em normas de produto.

Os Aspectos Ambientais em Normas de Produtos (WG 01), visam a preparao de um documento


que chame a ateno dos envolvidos na elaborao de normas de produto e suas directrizes para

92

Anexo A Normas Ambientais e RSU

inclurem os possveis efeitos ambientais, positivos ou negativos, visando a reduo dos impactos
adversos desses processos.
O estabelecimento de um sistema de gesto estruturado para a rea do ambiente, integrando-o na
actividade de gesto global a base genrica dos requisitos essenciais da norma ISO 14001.
Contudo, ser necessrio definir e implementar uma poltica do ambiente, acompanhada por uma
srie de outras medidas para que estes requisitos sejam devidamente aplicados. A realizao de um
planeamento adequado para identificar os aspectos ambientais e os requisitos legais, a definio
dos objectivos ambientais e o estabelecimento de um Programa de Gesto do Ambiente so passos
essenciais a dar. Do mesmo modo, ser fundamental estabelecer aces de verificao e correco
no sentido de avaliar e demonstrar a conformidade do desempenho ambiental com a poltica do
ambiente e os requisitos da norma de referncia. No processo de certificao so ainda avaliados o
cumprimento da legislao e dos regulamentos ambientais aplicveis (IPQ, 1997).
Convm ter presente que os clientes e a sociedade em geral so cada vez mais exigentes em relao
ao comportamento das organizaes perante o ambiente. Consequentemente, os organismos mais
interessados na implementao e certificao de sistemas de gesto ambiental segundo a norma
ISO 14001 so aqueles cujas actividades, produtos ou servios representam impactos ambientais
relevantes. Para alm disso e porque a preocupao geral com as matrias ambientais um dos
factores essenciais para o desenvolvimento da qualidade total, o conhecimento e a utilizao
crescente dos requisitos desta norma devero ser cada vez mais alargados.
A maioria das organizaes introduzem a varivel ambiental atravs de atitudes isoladas e por
etapas que reflectem o nvel de conscincia das questes ambientais nas suas estratgias
empresariais. certo que na maioria dos casos essas empresas j esto voltadas para a necessidade
da melhoria da qualidade, pois apesar de no ser uma exigncia, torna-se necessrio que a empresa
j tenha implementado um Sistema de Qualidade & Produtividade (ISO 9000) ou que o mesmo
esteja em fase de execuo, j que as novas normas ambientais representam a continuidade da
busca pela qualidade nas actividades industriais.
Em contrapartida, as experincias tm demonstrado que embora uma empresa j tenha alcanado o
certificado da ISO 9000, se as suas actividades ou produtos tiverem um impacto ambiental, a
mesma poder ter grandes prejuzos nas suas exportaes. Portanto h uma recproca necessidade
de implementar as duas normas.

93

Anexo A Normas Ambientais e RSU

As auditorias ambientais surgem na dcada de 70 nos EUA de modo a diagnosticar os pontos


vulnerveis em relao s questes ambientais, visando detectar as fontes de risco e avaliar o
potencial de ocorrncia de acidentes.
A presso social para a proteco ambiental aumentou, forando a rpida expanso de legislao de
carcter ambiental que impulsionou a utilizao de auditorias como forma de assegurar a
conformidade. Da mesma forma, o aparecimento de normas internacionais de gesto ambiental
incluem a auditoria como um componente indispensvel.
Nas novas normas emergentes da srie ISO 14000, a aplicao das normas de auditoria ambiental
(14010, 14011 e 14012) limitam-se, at ento, auditoria do tipo certificao de Sistemas de
Gesto Ambiental, como definidos na norma ISO 14001. Segundo essa norma, a definio de
auditoria ambiental consiste num processo de avaliao sistemtico e documentado que visa obter e
avaliar objectivamente as evidencias que determinem se actividades especficas, acontecimentos,
condies, sistemas de gesto relativos ao meio ambiente, informaes sobre essas questes e
comunicao dos resultados ao cliente, esto em conformidade com os critrios da auditoria.
Pode-se observar, nessas legislaes de auditoria ambiental especfica, algumas caractersticas
comuns tais como:
-

periodicidade tpica de 1 a 3 anos,

rea abrangente, no limitado s questes de conformidade com a legislao ambiental e


tipicamente incluindo aspectos de sade e segurana, sistema de gesto e avaliao de
"desempenho ambiental",

existncia de pelo menos um elemento que assegure a independncia e objectividade da equipa,

comunicao externa de uma sntese dos resultados da auditoria,

possibilidade de conduo de auditorias ocasionais, numa frequncia menor do que a


previamente estabelecida,

participao e responsabilidade da equipa de auditoria nos planos de aco correctiva.

A implementao dessas legislaes tem encontrado resistncia por parte do sector privado, no que
se refere rea abrangente da auditoria e necessidade de comunicao ao pblico dos seus
resultados. O importante que, acima de tudo, a execuo dessas auditorias resultem em aces
concretas sobre seus resultados, devendo ficar-se atento para que as mesmas no se tornem
instrumentos mais polticos do que de gesto.

94

Anexo A Normas Ambientais e RSU

O modelo de implementao do sistema de gesto ambiental, segundo a norma ISO 14000, segue
os passos seguintes: definio da poltica do ambiente da organizao, planeamento,
implementao e operao, verificao e correco, anlise e melhoria.
A base desta aproximao a seguinte:
i) A gesto de topo da organizao deve definir a poltica de ambiente e estabelecer um plano para
cumprir a sua poltica.
ii) No planeamento devero ser considerados os aspectos ambientais das actividades, produtos ou
servios que a organizao possa controlar, no sentido de determinar quais tm ou podero vir a ter
impactos ambientais significativos. devem ainda ser tomados em considerao os requisitos legais
ou outros que a organizao subscreveu e que se apliquem aos aspectos ambientais da sua
actividade. Neste ponto podero ser estabelecidos os objectivos e metas ambientais da organizao,
que devero ser consistentes com a poltica ambiental. Para atingir estes objectivos e metas dever
ser estabelecido um programa de gesto ambiental, onde estaro designadas as responsabilidades e
definidos os meios e o cronograma necessrios.
iii) A implementao e operao desta poltica ser eficaz se forem desenvolvidas capacidades e
mecanismos de suporte para cumprir os seus objectivos. Deste modo, devero ser definidas
responsabilidades, funes e autoridades para que o processo de gesto seja mais eficaz. Por outro
lado, devem ser identificadas as necessidades de formao do pessoal, sendo prioritria a formao
daquele cujo trabalho possa ter um impacto ambiental significativo. ainda importante que a
organizao tome medidas que facilitem a comunicao interna, entre os diferentes nveis e funes
da organizao e a comunicao com o exterior. A organizao dever ainda manter a
documentao relativa ao sistema de gesto ambiental e controlar esses documentos. Por fim,
dever ser estabelecido um controlo operacional das actividades, sendo identificadas aquelas que
esto associadas aos aspectos ambientais significativos identificados. Devem igualmente ser
estabelecidos procedimentos para identificar os acidentes potenciais e as situaes de emergncia
que permitam reagir de forma a prevenir e minimizar os impactos ambientais que lhes possam estar
associados.
iv) O controlo e correco so fundamentais neste processo para que o sistema possa ser
efectivamente melhorado assim como o desempenho ambiental global da organizao. Em primeiro
lugar a organizao deve controlar e medir de forma regular as principais caractersticas das
actividades que possam ter um impacto ambiental significativo. Devem ser mantidos

95

Anexo A Normas Ambientais e RSU

procedimentos documentados, de forma a avaliar periodicamente a conformidade com a


regulamentao e a legislao ambiental aplicvel.
v) Qualquer aco correctiva ou preventiva tomada para eliminar as causas potenciais ou da no
conformidade, dever ser adequada importncia dos problemas e ao impacto ambiental
considerado. Periodicamente, devero ser efectuadas auditorias ao sistema de gesto ambiental.
Estas auditorias tm como principais objectivos determinar se o sistema de gesto ambiental
implementado est ou no em conformidade com os requisitos da norma ambiental e se tem sido
mantido de forma adequada.
vi) Finalmente, a gesto de topo da organizao dever rever periodicamente o sistema de gesto
ambiental, para se assegurar que este se mantm apropriado, suficiente e eficaz. Devero ser
abordadas eventuais necessidades de alterao ao nvel da poltica, dos objectivos e de outros
elementos do sistema , procurando desta forma conseguir umas melhoria contnua.

96

Anexo A Normas Ambientais e RSU

A.2 A Recolha Selectiva dos Resduos Slidos Urbanos

Os intervenientes mais importantes no processo de recolha selectiva dos RSU, aos destinos finais
dos produtos a serem reciclados, so:
-

as autarquias,

as empresas recicladoras dos RSU,

as associaes empresariais, dos vrios sectores, que participam no processo de reciclagem,

alguns departamentos da administrao central na rea do ambiente.

Em Portugal, alguns municpios efectuam a recolha selectiva de materiais, para depois serem
depositados em aterro juntamente com os restantes RSU. Esta situao, eventualmente justificvel
numa fase inicial de implementao do circuito de recuperao dos resduos, pode revelar-se
desmotivadora para a populao.
No actual panorama nacional podem identificar-se trs situaes distintas ao nvel da reciclagem
dos diferentes materiais:
-

estrutura ou circuito razoavelmente eficazes, tanto no plano do mercado como no respeitante


conscincia e participao dos diversos agentes envolvidos (p.ex.: vidro e de certa forma,
tambm o papel e o carto),

97

Anexo A Normas Ambientais e RSU

empenhamento dos agentes nomeadamente empresas e autarquias mas ausncia de suficiente


articulao dos circuitos tendo em vista, entre outras, as dificuldades com as caractersticas do
material em causa (p.ex.: plsticos),

insuficiente mobilizao dos agentes e/ou inexistncia de destinos apropriados para as matrias
a reciclar (p.ex.: latas de alumnio e pilhas).

H assim necessidade de adoptar uma avaliao econmica e ambiental (incluindo obviamente o


clculo da externalizao / internalizao de custos) ao nvel das autarquias e do prprio programa
de reciclagem a nvel nacional.
Tendo em considerao a situao de desvantagem competitiva de Portugal perante os parceiros
comunitrios na rea da reciclagem, mas sem pr em causa os objectivos do mercado interno,
nomeadamente a necessidade de tambm a poltica de gesto de resduos ser pensada e
implementada a uma escala europeia e no exclusivamente nacional, o governo portugus dever
negociar com os parceiros da Comunidade um conjunto de condies legais (prazos e modalidades
de aplicao de Directivas actuais e futuras) e comerciais (quotas de importao e exportao para
materiais reciclveis e produtos reciclados), de modo a permitir a estimulao no nosso pas de uma
estrutura autrquica e empresarial, bem como de circuitos de mercado para a distribuio de
produtos para reciclagem ou reciclados de origem ou fabrico nacionais.
Entre outros instrumentos para a realizao de um programa de reciclagem, devem incluir-se
apoios s empresas e autarquias que promovam a reciclagem dos RSU, nas suas diversas vertentes,
bem como o financiamento de estruturas de armazenamento temporrio dos materiais para a
indstria e que permitem responder s oscilaes conjunturais de mercado.
O programa nacional de reciclagem a implementar dever ter como uma das preocupaes centrais,
a harmonizao entre a resposta dada pela populao em termos de participao e a capacidade de
absoro do prprio mercado (para evitar situaes de excesso de materiais para reciclagem,
surgidas noutros pases). Tal programa dever ter como principais intervenientes, a administrao
central, as autarquias, as associaes industriais, as associaes de comerciantes, as associaes de
defesa do ambiente e de defesa do consumidor e, pelo seu enorme potencial educativo, os
estabelecimentos de ensino. Por outro lado, o estabelecimento de acordos voluntrios entre os
diferentes agentes participantes na reciclagem , sendo muito desejvel, no deve, no entanto,
dispensar um acompanhamento exaustivo dos protocolos assinados.

98

Anexo A Normas Ambientais e RSU

Deve estudar-se a viabilidade de aplicao em Portugal de taxas, visando a penalizao das opes
empresariais responsveis pelo lanamento no mercado de produtos que no so susceptveis de
reutilizao e/ou reciclagem. as referidas taxas podem, igualmente, ser aplicadas de forma a
promover a devoluo das embalagens para reutilizao ou reciclagem.
Tendo em vista uma recolha selectiva mais fcil e eficaz, bem como a melhoria da informao que
dada ao consumidor sobre as embalagens dos produtos colocados no mercado, dever tornar-se
progressivamente obrigatria a rotulagem indicando os diversos tipos de materiais que as
compem.
Entre os instrumentos fundamentais de viabilizao de uma poltica de reduo / reutilizao /
reciclagem destacam-se:
-

recolha de informao pertinente das experincias de outros pases,

desenvolvimento de projectos-piloto, envolvendo todos os protagonistas, a uma escala local e


regional,

anlise crtica das experincias, em particular dos erros cometidos,

realizao de campanhas de sensibilizao.

O impacto global de um programa de recolha selectiva analisado com base na quantidade de


materiais recuperados e desviados da deposio em aterro e no impacto econmico resultante.
O custo um factor determinante para a viabilidade econmica de um sistema de recolha selectiva.
A anlise dos diversos programas de recolha monitorizados pela ERRA permite observar que a
gesto de um programa de recolha selectiva , regra geral, mais dispendioso que um sistema de
recolha sem separao, devido a diversos factores de influncia interna ou externa, inerentes aos
investimentos em equipamentos, s modificaes ou expanso dos sistemas de gesto de resduos
j existentes, aos preos pagos pelos materiais recuperados e aos custos do destino final dos
resduos no recuperados.
Na experincia de Queijas registou-se um incremento de 19% dos custos relativo ao anterior
sistema de recolha sem separao, devido sobretudo ao investimento de capital efectuado para a
triagem dos materiais, dado que, com o evoluir da experincia se conseguiu equivaler os custos de
recolha (DGA, 1996).

99

Anexo A Normas Ambientais e RSU

A comparao dos programas de recolha selectiva implementados em diversas regies da Europa


deve ter em considerao as diferenas demogrficas, operacionais e econmicas inerentes a cada
regio.
O planeamento regional e urbano, como as polticas de proteco do ambiente, concorrem para um
objectivo comum: a melhoria do ambiente do Homem.
A Lei de Bases do Ambiente assume como princpio que a poltica do ambiente tem por fim
optimizar e garantir a continuidade de utilizao dos recursos naturais, qualitativa e
quantitativamente, como pressuposto bsico de um desenvolvimento auto-sustentado (artigo 2,
Lei n11/87 de 7 de Abril), afirmando simultaneamente a importncia no s da atitude de
planeamento a nvel geral como tambm do planeamento territorial, ao nomear o ordenamento
integrado do territrio a nvel regional e municipal... e os planos regionais de ordenamento do
territrio, os planos directores municipais e outros instrumentos de interveno urbanstica como
instrumentos de implementao da poltica de ambiente (art 27).
Um dos pontos de partida aquilo que se designa por desenvolvimento sustentvel, assumindose esse conceito como constitudo pelas seguintes componentes substantivas: satisfao das
necessidades humanas, manuteno da integridade ecolgica, equidade e justia social, autodeterminao e diversidade cultural.
Tendo por objectivo a promoo de um modelo de desenvolvimento sustentvel, a adequada gesto
do territrio e dos seus recursos, pressupe uma atitude racional quanto utilizao - planeamento.
A conscincia de que, em Portugal como em quase todos os pases, os profissionais do
planeamento e os profissionais de ambiente adquiriram, ao longo da histria das suas escolas de
formao e dos seus domnios de actividade, perspectivas diferentes sobre a sua preocupao
comum com o ambiente. Para tornar a integrao dos estudos e programas ambientais com o
planeamento territorial plenamente eficaz, necessrio analisar e fazer propostas em ambos os
domnios, considerando as suas fraquezas e foras particulares para encontrar a melhor combinao
em cada situao.
Algumas dessas limitaes prendem-se com:
-

inexistncia de dados actualizados sobre emisses e sobre concentraes de poluentes no


ambiente escala local;

100

Anexo A Normas Ambientais e RSU

necessidade de desenvolvimento de estudos que permitam a relativizao dos limiares


aceitveis e desejveis de poluio aos ecossistemas, populaes e outras condies locais;

inexistncia de modelos regionais e locais de disperso de poluentes, calibrados e validados;

desenvolvimento de mtodos expeditos de avaliao da qualidade do ambiente;

necessidade de definio de ndices e modelos de predio de agresso ambiental por tipo de


uso do solo / actividade.

Mantm-se, de qualquer modo a convico de que a considerao de dados e critrios, ainda que
mnimos, de qualidade do ambiente um instrumento importante para a melhoria da qualidade dos
planos e das decises de gesto territorial e ambiental, e para a prossecuo de modelos de
desenvolvimento sustentveis escala local.
Apesar da crescente sensibilizao em relao s questes ambientais, nem sempre a indstria tem
conseguido acompanhar e cumprir de forma consistente a complexa e diversificada legislao que
lhe tem sido imposta e muito raramente ainda, entre ns, tem conseguido aproveitar os desafios do
conceito de desenvolvimento sustentvel transformando-os numa oportunidade de ganhar novos
mercados atravs de produtos ou processos alternativos .
Tal facto no poder ser inteiramente justificado pela fragmentao e por vezes desajuste das
legislaes, to pouco pelos investimentos, ou pela sofisticao das capacidades tcnicas exigidas.
Talvez se deva antes insuficincia das anlises de muitos gestores que ainda continuam a achar
estas matrias como estritamente do domnio dos tcnicos (AIP, 1994).
Os cdigos de conduta como a Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentvel da CCI, a
Actuao Responsvel, da Indstria qumica, etc., veiculando princpios que sintetizam a
experincia de empresas de vrios pases, podero ser um bom auxlio para uma mudana dessa
atitude, permitindo assim que integrem o ambiente nos objectivos da gesto global das empresas.
Para que essa integrao seja plena necessrio que se definam polticas, estabeleam programas,
se atribuam responsabilidades, em suma, torna-se necessrio um sistema de gesto ambiental.
Os apoios que actualmente podemos obter da normalizao e regulamentao internacionais, alm
das normas ISO 14000, relativas a Gesto Ambiental, ou CEN disponveis, existe a norma inglesa
BS - 7550 com um tipo de desenvolvimento semelhante s normas sobre Sistemas de Garantia da
Qualidade e o Regulamento CEE n 1836/93 sobre Ecogesto e Auditoria.

101

Anexo A Normas Ambientais e RSU

No entanto, mesmo que listados e definidas algumas exigncias mnimas, no devemos esquecer
que os sistemas devem ser simples e sobretudo adaptados situao concreta da empresa por forma
a poderem ser assimilados e gerveis.
Quais os elementos que de facto devem ser includos e analisados, a profundidade relativa com que
devem ser tratados, e a eventual relao com outros sistemas (qualidade, higiene e segurana, etc.)
so factores que dependem da cultura e estratgias da empresa e como tal, devem ser
individualmente ponderados caso a caso.
Com efeito, as presses legislativas e de mercado foram as empresas a internalizar o ambiente em
processos, produtos e servios, como condio da sua sobrevivncia a prazo, num mercado global
cada vez mais exigente de qualidade total. Abordagens recentes revelam que 85% dos cidados dos
pases industrializados consideram o ambiente como a sua principal preocupao.
Por conseguinte, as empresas tero progressivamente de aprender a transformar o modo
mecanicista como fazem em geral os seus negcios prestando muito mais ateno aos impactos
ambientais das suas actividades produtivas ao longo do ciclo-de-vida dos produtos, adoptando
atitudes pr-activas, transformando inovadoramente os constrangimentos ambientais em novas
oportunidades de mercado.
O conhecimento global das empresas do ponto de vista ambiental, caracterizando as suas entradas
(nomeadamente, matrias-primas e energia) e as sadas (emisses, resduos e produtos) e a
avaliao dos respectivos impactes ambientais, passaram a ser considerados essenciais
abordagem integrada da estratgia das empresas e sua gesto ambiental.
A necessidade de uma compatibilizao entre o desenvolvimento industrial e a poltica de
proteco ambiental, tornam imperiosa a necessidade de adoptar uma srie de medidas de
reestruturao empresarial, que embora se venham a revelar interessantes sob o ponto de vista
econmico, numa perspectiva de longo prazo, podem representar a curto prazo, esforos
financeiros considerveis para a indstria.
Por esse facto, as medidas legislativas sucessivamente promulgadas tm-se revelado na prtica
ineficazes, justificando-se, assim, outras via dilogo e concertao que a experincia vem
demonstrando serem mais adequadas.

102

Anexo B - Guia da Metodologia


ACV

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

B.1 Estrutura Global da Metodologia de ACV

A ACV um instrumento de gesto ambiental formado por um conjunto de procedimentos,


capazes de assegurar, que desde o incio do processo se faa um exame sistemtico dos impactos
ambientais de uma actividade ou processo e das suas alternativas. O grande objectivo da ACV,
tornar vivel o desenvolvimento econmico em harmonia com o uso dos recursos naturais,
considerando-se critrios ambientais no processo de deciso.
No possvel basear uma metodologia em regras estanques, em todos os seus aspectos. A
metodologia de Anlise de Ciclo-de-vida, ACV, ainda se encontra em desenvolvimento. Assim,
nenhum sistema de actividade industrial pode ser facilmente estudado sem que se procedam a
simplificaes de modo a manter a anlise em propores manuseveis.
A forma correcta de se efectuarem estas simplificaes ou o nvel de detalhe correcto que se
pretende atingir, depender do objectivo de cada estudo de forma independente. A anlise da
importncia relativa dos impactos ambientais, envolve inevitavelmente julgamento de valores, os
quais, pela sua natureza, no podem ser expressos segundo regras ou critrios universais (Consoli
et al., 1993).
Atravs da metodologia de ACV pretende-se desenvolver de forma transparente (i.e., clara para o
leitor, explicando o que foi feito e como) o estudo das causas e efeitos, de forma a obter uma boa
compreenso da aplicabilidade, validade e limitaes do estudo.

104

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

O procedimento descrito baseia-se na metodologia de Anlise de Ciclo-de-Vida, ACV descrito pelo


SETAC - Society of Environmental Toxicology and Chemistry (1992, 1993, 1994) e aplicada a
sistemas de embalagem. Dependendo dos objectivos definidos para o estudo, podem-se simplificar
algumas etapas do mtodo ou simplesmente serem omitidas.
O procedimento universalmente aceite para a ACV composto por alguns componentes
interrelacionados:
-

definio do objectivo e do mbito,

anlise de Inventrio,

anlise de impacto, que compreende a Classificao, Caracterizao e Avaliao,

sntese de Melhorias.

A Figura 27 mostra a inter-relao entre estes componentes, na aplicao da metodologia ACV.

Anlise de Impacto
-Sade Humana
-Sade Ecolgica
-Depleco dos Recursos

Sntese de Melhorias
Definio
do objectivo
e do mbito

Anlise de Inventrio:
-Aquisio de materiais e energia
-Manufactura
-Uso
-Gesto de Resduos

Figura 27 Esquema terico do procedimento para a metodologia de Anlise de Ciclo-de-vida (SETAC 1991,
1993 e 1994).

105

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

B.2 Definio do Objectivo e do mbito

B.2.1 Objectivo do estudo

O objectivo de estudo expe de forma clara a inteno de se realizar o estudo, a sua aplicao, o
tipo de audincia a que se destina, i.e., a quem os resultados do estudo sero comunicados e o tipo
de entidades envolvidas na elaborao do estudo: indstria, autoridades pblicas, organismos de
consumo, organismos ambientais, etc.
Algumas modificaes no objectivo do estudo podem ser efectuadas aps a primeira avaliao dos
diferentes componentes, na qual so identificados assuntos relevantes (p.ex., processos mais
importantes, impactos mais relevantes e opes de melhoria mais fceis de pr em prtica).
tambm importante ir ajustando a definio do objectivo do estudo de ACV, devido s informaes
adicionais que vo sendo encontradas.

106

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

B.2.2 mbito do estudo

Definir o mbito de um estudo de ACV um processo dinmico e interactivo, o qual pode ser
repetido aps uma primeira visualizao da ACV.
Com base no objectivo do estudo de ACV, define-se:
-

a fronteira do sistema,

a extenso geogrfica do estudo: local, regional, nacional (em Portugal) e mundialmente,

o horizonte temporal do estudo: passado, presente, futuro,

as fontes dos dados usados no estudo,

o nvel de especificidade do estudo desde totalmente genrico, at especfico de um produto,

o nvel de detalhe requerido, exactido e variabilidade dos dados,

os problemas ambientais a avaliar que vo definir o tipo de dados a serem recolhidos.

Unidade Funcional
A unidade funcional tem como funo providenciar uma referncia relativamente qual se vo
relacionar os dados de entrada e sada do sistema. Esta deve ser definida a partir da especificao
da funo do sistema. Este um passo fundamental para evitar ambiguidades na definio do
mbito e do objectivo. A unidade funcional a medida do desempenho do sistema. Esta deve ser
definida claramente, ser mensurvel e relevante para os dados de entrada e sada do(s) sistema(s)
em estudo. Em estudos comparativos essencial que os sistemas sejam comparados numa base
funcional equivalente.

Definio do sistema ou da fronteira do sistema


Qualquer produto ou servio tem de ser representado como um sistema. Um sistema definido
como um conjunto de operaes que consomem energia e materiais (p.ex., produo, transporte,
extraco de combustveis) as quais desempenham funes bem definidas.

107

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

O sistema separado do que o circunda (ambiente do sistema) pela sua fronteira. Um sistema pode
ser representado, tal como mostra a Figura 28; o conjunto das operaes est includo no bloco do
sistema. O ambiente do sistema a fonte de todas as entradas e o receptor de todas as sadas.

Entradas

Sistema

Sadas

Figura 28 Representao esquemtica de um sistema simples (SETAC, 1991).

De forma a efectuar a recolha dos dados das correntes de entrada e sada do sistema, este tem de ser
dividido numa srie de operaes interligadas ou em subsistemas. O grau de subdiviso do sistema
global em subsistemas ou operaes unitrias, depende do objectivo e mbito do estudo. Todas as
decises tomadas devem ser claras e referidas no relatrio final (SETAC 1991).
Deve-se seguir o percurso dos materiais auxiliares seleccionados, desde a sua extraco at
entrada no sistema. As correntes de sada do sistema devem ser acompanhadas at sua rejeio
para o ambiente (p.ex., para um aterro sanitrio ou para serem incinerados). Todas as operaes de
transporte devem tambm ser includas no sistema.
Em estudos comparativos de ACV, nos quais apenas diferenas absolutas so consideradas
importantes, podem-se omitir da anlise, partes idnticas de sistemas alternativos de embalagem
(ex. rtulos, tampas, etc.).
normalmente usado um diagrama para a representao dos processos industriais consistindo em
trs grupos principais de operaes: a sequncia principal da produo, a produo de materiais
auxiliares e as indstrias de produo de combustveis.
A sequncia principal da produo , normalmente, a mais fcil de identificar. Para simplificar,
mostram-se apenas algumas das actividades de transporte, o que no significa que estas possam ser
ignoradas. As correntes de entrada e sada de cada uma das operaes de transporte so
importantes.
Um exemplo de um sistema de embalagem proposto pelo Comit Europen de Normalisation
encontra-se esquematizado na Figura 29.

108

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

Fronteira do sistema
Extraco de
matrias-primas
Transporte
Produo de
Materiais
Transporte

Transporte

Recuperao do
material Embalagem

Produo de
Embalagens
Embalagem
Transporte

Transporte
Produo de Energia

Fabrico do
Produto

Enchimento de
Embalagens
Embalagem/Produto
Lavagem
das
Embalagens

Transporte

Produto Embalado
Transporte
Embalagem/Produto

Uso do Produto
Embalagem/Produto

Transporte

Embalagem Usada
Transporte

Recuperao de
Energia

Produto
usado

Deposio Final
Fronteira do sistema

Figura 29 Definio da fronteira de um sistema de embalagem (CEN/TC 261/SC4/WG1 N 44, 1994).

109

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

B.3 Anlise de Inventrio

O inventrio de ciclo-de-vida (ICV) envolve a recolha de dados e procedimentos de clculo para


quantificar os dados relevantes dos dbitos de entrada e sada do sistema em estudo. Estas entradas
e sadas podem incluir o uso de recursos e emisses slidas, lquidas e gasosas.
So necessrios dados detalhados de correntes de entrada (materiais e energia) e correntes de sada
(produtos e emisses para a atmosfera, gua e solo). Quando disponveis, estes dados devem ser
obtidos (dependendo do estudo proposto) nas empresas que trabalham com estes processos
especficos. Quando no se encontram disponveis os dados especficos do processo, devem-se
identificar outras fontes. Algumas das fontes mais importantes, so (Lox, 1994):
-

projectos do processo,

clculos de projectos de engenharia, baseados no processo qumico e tecnolgico,

estimativas de operaes similares,

fontes publicadas e bases de dados comercialmente disponveis,

padres de mercado locais de uso dos produtos.

Os dados relativos ao desempenho de cada subsistema devem ser obtidos em perodos de tempo
estatisticamente relevantes. Isto , devem ter uma durao suficientemente longa para atenuar
qualquer comportamento atpico, tal como paragens das mquinas ou problemas do processo.

110

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

Normalmente considera-se que um ano o espao de tempo adequado. A base de todos os dados,
as suas fontes e evidencias geogrficas e temporais, devem ser bem documentadas. Devem ser
referidas tcnicas de pesagem ou obteno de mdias quando so seleccionadas vrias fontes. A
qualidade dos dados deve ser consistente com o objectivo e o mbito do ICV. Os dados so
apresentados num formato padro, por exemplo, normalizado, em relao a uma dada unidade de
uma corrente de sada para um determinado subsistema.
Durante a recolha dos dados para o ICV importante no perder informao. O nvel de detalhe
(em termos de correntes de entrada e sada) dos dados recolhidos, deve ser referenciado no
relatrio. Usam-se normalmente esquemas de recolha de dados, de modo a facilitar esta tarefa. Para
os subprocessos mais importantes, os dados devem, segundo uma extenso possvel, ser
representados como uma mdia (ou outra medida da tendncia central) e intervalo de variao
(gama de valores obtidos). Todos os inventrios de ciclo-de-vida tm variabilidade de dados e
falhas de dados. Estes assuntos devem ser discutidos no contexto dos objectivos do estudo. Devem
ser efectuadas anlises de sensibilidade para testar os efeitos nos resultados e possveis limitaes
nas concluses. Devem ser referidas no estudo, a extenso da variabilidade e a incerteza, ao mesmo
tempo que as falhas de dados.
A excluso de subsistemas menores, no ICV, por vezes necessria para manter o clculo prvio
em propores manuseveis. Este , normalmente, o caso do equipamento, componentes de
produtos secundrios menores, ou materiais auxiliares menores. Cada excluso deve ser lgica,
consistente com o objectivo e o mbito do estudo e devidamente justificada.
Muitas das vezes necessrio prever a tendncia natural do desenrolar dos processos, ou quando
impossvel de descobrir qualquer causa natural, atende-se a factores scio/econmicos. Por esta
razo, recomendado apresentar os dados do inventrio em sub-balanos separados: Dividindo o
inventrio, podem ser identificadas facilmente, as caractersticas relevantes associadas carga
ambiental global de um sistema de embalagem especfico. Quando nenhum dado quantitativo
estiver disponvel, tenta-se incluir informao qualitativa desde que este tipo de informao possa
ser usada na fase de interpretao.
A tcnica para se conduzir uma anlise de inventrio iterativa. medida que os dados so
recolhidos e se vai conhecendo melhor o sistema, novos requisitos ou limitaes devem ser
identificados que requerem alteraes no procedimento de recolha.
Deve-se ter em considerao a seguinte hierarquia, quando se procede anlise de sistemas de
embalagem (Lox, 1994):

111

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

Embalagens (primria, secundria, terciria);

Componentes da embalagem (ex. garrafa, rtulo, tampa);

Um ou mais materiais combinados num componente (ex. papel, tinta)

De notar que o transporte interno, o qual conduz as embalagens para as respectivas instalaes, tem
de ser includo no inventrio. Por vezes os bens embalados tm de ser armazenados e conservados
em lugares arrefecidos ou condicionados. Atribuir todas as cargas ambientais associadas ao
armazenamento com arrefecimento ou condicionamento dos bens embalados. o produto
embalado que determina os requisitos necessrios com vista ao armazenamento e no a
embalagem. A embalagem apenas o meio de os distribuir ao consumidor.
Em muitos casos, o uso da embalagem pelo consumidor no gera um impacto ambiental
significativo. Por vezes usam-se utenslios elctricos para abrir as embalagens, por exemplo latas.
O mesmo pode ser feito manualmente.
No caso das embalagens reutilizveis estas so normalmente devolvidas loja ou a um ponto de
colecta pelo consumidor ou so colectadas por algum tipo de sistema de colecta porta-a-porta. O
sistema de reutilizao requer uma srie de processos logsticos de forma a levar a cabo esta
funo. H por vezes algum tipo de transporte envolvido na grupagem de embalagens reutilizveis
num ponto de colecta especfico. A, as embalagens reutilizveis so normalmente agrupadas por
meio de uma embalagem secundria, por exemplo, grade de recolha de garrafas de vidro. A
prxima etapa o transporte das embalagens colectadas para o lugar onde so processadas. Este
processo pode incluir escolha, lavagem, controlo de qualidade, etc. A operao de lavagem de
embalagens reutilizveis, pode resultar em situaes de relevncia ambiental, devido ao facto de
serem consumidos electricidade, gua e produtos qumicos.
Em muitos casos, a introduo de um sistema de embalagens reutilizveis, implica a existncia de
espao disponvel, para:
-

armazenagem das embalagens reutilizveis que chegam dos postos de venda e dos locais de
colecta,

rea disponvel para as embalagens secundrias, grades, paletes, etc.,

instalao do equipamento do processo (lavagem, tratamento de guas residuais, etc.),

armazenagem de produtos embalados antes de serem levados para o cliente.

112

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

As embalagens de uma nica utilizao acabam normalmente como resduo municipal. Este pode
ser colectado em fraces ou colectado como mistura e escolhido para reciclagem, ou incinerao,
ou para deposio em aterro sanitrio, ou para compostagem.
Qualquer opo de reciclagem simplesmente o estabelecimento de subsistemas associados ao
sistema principal. O ciclo fechado de reciclagem permite que o material retorne ao seu processo
original. O ciclo aberto de reciclagem refere-se a um produto ou componente que vai de um
sistema ao outro, para ser usado como matria-prima na produo de diferentes produtos, por
exemplo, uma garrafa PET ao ser reciclada pode servir na produo de fibras de carpete. Neste
caso, os dois sistemas desenvolvem diferentes funes interligadas, uma vez que eles partilham
algumas correntes de entrada e sada de materiais em comum (Consoli et al., 1993).

113

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

B.4 Anlise de Impactos

A anlise de impactos na ACV uma tcnica quantitativa e/ou qualitativa para caracterizar e
estudar os efeitos da carga ambiental, identificada na componente do mtodo, relativa anlise de
inventrio. A anlise de impacto est presentemente em desenvolvimento e tem, at ao momento,
demonstrado ser uma componente do mtodo ACV, bastante importante.
A componente de anlise de impactos consiste nos seguintes trs passos: classificao,
caracterizao e avaliao SETAC (1992 e 1993).

B.4.1 Classificao

A classificao a etapa na qual os dados do inventrio (frequentemente referidos em tabelas de


inventrio) so agrupados num nmero de categorias de impacto. Esta grupagem efectuada de
forma que cada item da tabela de impacto pode ser includo em mais do que uma categoria (por
exemplo, o NOx tem efeito tanto na acidificao assim como na eutrofizao).
Na etapa de classificao, os impactos so includos em reas gerais de proteco depleco dos
recursos, sade humana e ecolgica. Na definio das categorias de impacto especficas, o estudo

114

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

deve incidir nos processos ambientais envolvidos, uma vez que isso ir possibilitar basear a anlise
de impacto o mais possvel, no conhecimento cientfico do processo.

B.4.2 Caracterizao

Caracterizao a etapa na qual efectuada a anlise/quantificao e quando possvel, faz-se a


agregao dos impactos s diferentes categorias de impacto. Existem vrias aproximaes nesta
etapa de caracterizao. Presentemente, dada especial ateno ao desenvolvimento e uso de
factores de equivalncia, para as diferentes categorias de impacto, tal como o efeito de estufa e a
depleco do ozono. Nestas aproximaes no existem medidas directas dos efeitos.
Um desenvolvimento breve da etapa de caracterizao a normalizao dos dados, por categoria
de impacto, em relao dimenso actual dos impactos nesta categoria, em determinadas reas. A
razo para isso aumentar a comparabilidade dos dados de diferentes categorias de impacto e
providenciar uma base para a etapa seguinte, a avaliao.

B.4.3 Avaliao

Nesta etapa de avaliao, as contribuies de diferentes categorias de impacto especficas so


quantificadas para poderem ser comparadas entre si. A finalidade desta etapa encontrar uma
interpretao e agregar os dados da anlise de impacto. Se dois ou mais sistemas alternativos so
comparados e se um deles origina um resultado concreto, os vrios impactos tm geralmente de ser
avaliados de diferentes formas.
No se pode dizer que um subsistema menos nefasto em termos de impactos ambientais, se ele
por acaso contribui menos para o efeito de estufa, enquanto que outro, pe menos em risco a sade
humana, relativamente a emisses txicas (quer no local de trabalho quer fora da unidade fabril), a
menos que a importncia relativa das categorias de impacto possa ser avaliada.
A importncia relativa das categorias de impacto baseia-se num procedimento de atribuio de
valores, na avaliao do prejuzo ambiental. Esta avaliao ir reflectir os valores sociais e as
preferncias. Uma variedade de regras, frequentemente referidas como tcnicas tericas de deciso,

115

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

tm um maior peso para se efectuar uma avaliao mais racional e explicita do processo. Estas
tcnicas utilizam tanto o julgamento especializado e as entradas relevantes e/ou as partes afectadas.
Pode-se distinguir entre os procedimentos quantitativos e os qualitativos. Nos procedimentos
quantitativos (por exemplo, anlise multicritrio), podem-se usar factores explcitos para agregar os
impactos. Num procedimento qualitativo, os factores tornam-se implcitos; devem-se estabelecer
argumentos de deciso favorveis ambientalmente.
necessrio interpretar os resultados das etapas de classificao e caracterizao, ver quais so os
acontecimentos relevantes do ciclo-de-vida do(s) sistema(s) de embalagem e quais so os
potenciais problemas.
No caso de uma ACV comparativa deve-se escolher um mtodo de tomada de deciso
multicritrio, MCDM (Multi criteria decision made), apropriado. Um grupo de mtodos
normativos, os quais incluem decises polticas e outras de interesse pblico so usados para
classificar os problemas ambientais, como p.ex., o mtodo de Delfos, que inclui um grupo de
discusso. Neste mtodo, cada nvel de classificao pode ser estabelecido por meio de um
alargado questionrio pblico, p.ex., perguntando ao pblico qual a sua prioridade em diferentes
assuntos ambientais ou qual o seu nvel de significncia (p.ex. efeito de estufa, depleco da
camada de ozono, acidificao, etc.). O mtodo de Delfos muitas vezes usado para determinar
preferncias pblicas relativamente ao ambiente. Estes mtodos consistem numa votao formal
feita por peritos (representantes de grupos com interesse nos problemas considerados).
A determinao de factores de peso e a consecutiva separao de alternativas, tem de ser feita sem
nenhuma ideia pr-concebida do inventrio. Isto pode ser garantido se os factores de peso forem
determinados antes da apresentao dos resultados da classificao. Outra possibilidade
apresentar os resultados da classificao das diferentes alternativas por meio de um cdigo, sem
estabelecer qual desses cdigos se refere a determinada alternativa. A representatividade do grupo
de discusso escolhido ir determinar a credibilidade e a aceitao pelo pblico deste
procedimento. Assim, para uma metodologia apropriada de anlise multicritrio essencial que o
mtodo:
-

seja transparente;

inclua todos os grupos de interesse pblico;

seja interactivo e retroactivo;

seja rpido e de fcil aplicao (p.ex. por meio de um pacote de programas de computador).

116

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

Neste momento, no h nenhum mtodo rigoroso e bem definido para a aplicao de uma anlise
multicritrio, aos resultados da ACV.

117

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

B.5 Anlise de Melhorias e Interpretao de Resultados

O responsvel pela ACV elabora uma anlise e interpreta os resultados, propondo recomendaes
para melhorias. Os dados por si s no so suficientes; o relatrio deve explicar as concluses em
termos apropriados e de acordo com o objectivo do estudo.
A anlise de melhorias o componente de uma ACV na qual as opes para a reduo dos
impactos ambientais ou cargas do(s) sistema(s) em estudo so identificadas e avaliadas. Ainda no
se chegou a um consenso no mtodo da anlise de melhorias. Foram efectuadas apenas algumas
anlises de melhorias fundamentadas em estudos de ciclo-de-vida (Consoli et al., 1993).
A anlise de melhorias diz respeito identificao, avaliao e seleco de opes de preferncia
ambiental nos produtos ou processos. A anlise de inventrio pode ser usada para revelar quais os
aspectos que podem ser melhorados. Tanto a melhoria da eficincia das entradas e sadas (tal como
a necessidade de pouca energia ou bons resultados de produo) e opes de preferncia ambiental
(tal como uso de menos recursos e reduo de emisses) pode oferecer oportunidades com respeito
melhoria ambiental por unidade funcional. A remodelao actual no projecto de um produto no
faz parte da ACV, apenas uma das suas aplicaes. Os resultados de todas as etapas de ACV
providenciam, ao projectista do processo/produto, informao dos impactos ambientais do sistema
e frequentemente posicionam o utilizador nas partes da operao, em que existe uma melhor
oportunidade de melhorar o seu desempenho ambiental.

118

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

O termo anlise de melhorias definido aqui, como a etapa da ACV que avalia as necessidades e
oportunidades para reduzir as cargas ambientais causadas pelo produto (ou sistema) durante o seu
ciclo-de-vida, desenvolvendo-se normalmente do seguinte modo:

1 Identificar aces possveis


Na anlise de melhorias, a ateno centrada nos processos que mais contribuem para a carga
ambiental global de um produto ou sistema. Estes processos so os que mais necessitam de serem
optimizados ou de se implementarem melhorias e optimizaes. No entanto, tem de se considerar
mais do que apenas estes processos, uma vez que as melhorias podem tambm ser efectuadas
repensando as diferentes etapas de todo o processo, mudando a sequncia destas no processo,
mudando as matrias-primas, integrando cadeias de outros processos, etc.
A implementao de melhorias decidida atravs de uma seco de exposio e troca de ideias por
um grupo de entidades seleccionadas. Nestas analisa-se a aplicabilidade das opes encontradas.
efectuar uma anlise sistemtica de todas as etapas do processo, comeando pelos processos com
cargas ambientais mais significativas. Consultam-se perguntas ou questes tipo, tais como:
-

qual a causa real para a carga ambiental: o processo, os materiais usados, as fontes de energia
usadas, etc.,

os danos ambientais toxicolgicos podem ser evitados,

o consumo de materiais pode ser reduzido ou podem ser usados materiais renovveis,

pode haver poupana de energia,

podem-se evitar algumas etapas do processo,

pode-se evitar algum do transporte,

podem-se evitar emisses para o ambiente.

Durante esta fase, uma anlise sistemtica feita para o sistema completo. Isto requer uma grande
criatividade da parte das pessoas ligadas identificao das opes de melhorias. O resultado desta
seco de identificao uma lista de possveis aces para a melhoria e o seu efeito na etapa do
processo e no sistema estudado.

119

Anexo B Guia da Metodologia de ACV

2 Analisar as opes de melhorias


Cada uma das opes de melhoria identificadas na primeira etapa da anlise qualitativa de
melhorias descrita. Estima-se o efeito nas outras etapas do ciclo-de-vida, em conjunto com a
aplicabilidade tcnica e econmica de cada opo.
Recolhem-se dados relevantes do processo, relativos s emisses e energia para as opes de
melhorias mais promissoras. Incluir esta informao no inventrio de ciclo-de-vida de modo a
prever o efeito no balano ambiental global.
Classifica-se e pesa-se cada uma das categorias de impacto ambiental. Classificam-se as opes de
melhoria de acordo com o seu potencial de melhoria.

3 Seleccionar as opes de melhoria


A seguir aos resultados da ACV, outros parmetros so importantes quando se seleccionam opes
de melhoria. Estes so tecnologicamente, riscos, custos, efeitos na gesto, aceitao social
relativamente implementao de mudanas, etc.
Faz-se uma classificao final das opes de melhoria tendo em considerao estes critrios
adicionais e apresentao destes a quem decide a tomada de decises.

120

Anexo C - A Indstria Vidreira

Anexo C A Indstria Vidreira

C.1 Principais Tendncias e Inovaes

O contnuo melhoramento e modernizao da indstria do vidro, impulsionado pela


competitividade do mercado e pela introduo de novos materiais de embalagem em vrios
segmentos onde o vidro era quase absoluto. Como resultado, importantes inovaes tm sido
implementadas no processo de fabrico das embalagens de vidro, especialmente nas ltimas duas
dcadas.
Ao nvel legislativo, o debate acerca da gesto dos resduos incidiu no sector da embalagem.
Exemplo disso, foi a Directiva EC/62/94 da Comunidade Europeia, sobre embalagem e gesto dos
resduos de embalagem, que veio originar mudanas na indstria deste sector. Para os fabricantes
de vidro, a directiva no veio proporcionar grandes alteraes, devido s medidas que a indstria
do vidro foi tomando ao longo de vrios anos.
Algumas das medidas tomadas pela indstria vidreira incidem em estudos relativos aos padres de
qualidade do vidro produzido, reduo do peso da garrafa, sem diminuio da sua resistncia
mecnica e reduo dos resduos de embalagem.
Como as operaes de conformao do vidro no podem ser interrompidas, os parmetros mais
relevantes so verificados depois da embalagem sair do tnel de recozimento. Mais recentemente,
esto a ser introduzidos equipamentos e sistemas de controlo que permitem o acesso mais directo e
imediato s informaes de cada uma das operaes de fabrico (especialmente na moldagem).

122

Anexo C A Indstria Vidreira

Dessa forma, possvel corrigir defeitos e eventuais problemas, reduzindo ao mximo a gerao de
defeituosos.
Aliado a programas de gesto da qualidade total na indstria vidreira moderna, tm sido obtidas
grandes melhorias na qualidade dos produtos e nos ndices de produtividade.
De entre as inovaes de maior impacto, destaca-se o projecto e manufactura de moldes,
utilizando-se sistemas totalmente computadorizados, com a introduo de CAD/CAM (Computer
Aided Design / Computer Aided Manufacturing), incluindo a concepo da embalagem, o projecto
e concepo dos moldes.
Significativos ganhos de tempo para desenvolver novos produtos e reduzir o ciclo de produo de
amostras foram obtidos com o uso destes sistemas. Alm disso, possibilitou uma ampliao da
multiplicidade de formas e da variedade de opes que o mercado actual est a exigir. Nos
processos de desenvolvimento esto includos os complementos da embalagem de vidro, tais como
tampas, rtulos, lacres, etc.
Com relao mquina I.S. (Individual Section) que constituda por um sistema de entrega da
gota de vidro fundido, tem sido verificada uma modernizao intensiva especialmente no controlo
do processo e sistemas operacionais. O uso de novos materiais, especialmente na confeco das
ferramentas tambm contribui para essa evoluo.
Com o advento dos processos de reduo do peso, obtiveram-se grandes avanos nos sistemas de
arrefecimento do molde, sistemas de alimentao e de condicionamento do vidro. A produo do
parison ou pr-forma da embalagem, com melhor geometria e com temperatura distribuda de
forma homognea, tambm contribuiu para a obteno de embalagens com peso reduzido e alta
resistncia mecnica. Um melhor controlo do peso da gota com o uso de sensores electrnicos que
monitorizam as variveis do processo, foi fundamental para o sucesso dessas inovaes.
Nos ltimos dez anos conseguiram-se progressos notveis no campo da reduo da espessura,
tendo a garrafa de vidro sofrido uma diminuio de 20% do seu peso e ao mesmo tempo um
aumento de 40% da sua resistncia mecnica. Como atributos indispensveis para a produo de
embalagens mais leves, destacam-se (Ortiz, 1996):
-

obteno de um vidro homogneo e de alta qualidade,

equipamento com controlo electrnico,

distribuio uniforme da espessura do vidro,

123

Anexo C A Indstria Vidreira

superfcies da embalagem uniformes e sem defeitos e/ou contaminantes,

uso de tratamentos superficiais combinados,

manuseamento adequado durante todo o processo de fabrico e utilizao,

controlo rigoroso de todas as fases do processo e do produto acabado.

Alm dessas importantes inovaes ocorridas no processo de fabrico, outras tm sido introduzidas,
visando o desenvolvimento de embalagens de melhor qualidade, com menor custo.
O processo de reduo de peso influenciado pelo projecto e formato da embalagem. Um bom
exemplo dessa evoluo foi a introduo do rebaixo ou rea de menor dimetro na regio do corpo,
promovendo a sua proteco e a do prprio rtulo contra a abraso superficial. Neste caso, o
contacto entre embalagens concentra-se nas regies do ombro e do calcanhar. Estudos
demonstraram que uma vez obedecidas determinadas relaes, como uma profundidade de rebaixo
da ordem de 0.5mm, no h problemas mesmo em garrafas retornveis para bebidas carbonatadas
(Ortiz, 1996).
Uma outra evoluo significativa ocorreu em relao ao conhecimento existente sobre o vidro. At
ao incio deste sculo, havia muito empirismo obtido com a experincia prtica e transmitido
atravs de geraes, por via oral. Progressivamente, iniciaram-se pesquisas cientficas e
tecnolgicas, visando estudar e conhecer profundamente as propriedades fsicas e qumicas do
vidro, utilizando-se conhecimentos obtidos em reas de cincias exactas.
Com relao ao chamado vidro oco, constitudo principalmente pelas embalagens de vidro, a
intensa evoluo tecnolgica pode ser constatada nos modernos complexos industriais, incluindo
sofisticados processos de produo totalmente automatizados e sistemas de controlo que atendem
de forma condizente as reais necessidades da sociedade desenvolvida. Cabe tambm mencionar, os
progressos verificados na reciclagem de embalagens de vidro.
Portanto, com base nas informaes apresentadas ficou constatada a intensa e contnua evoluo
tecnolgica implementada na produo de embalagens de vidro.

124

Anexo C A Indstria Vidreira

C.2 Natureza do Vidro

Muitas definies foram aplicadas na descrio do vidro, embora nenhuma delas seja totalmente
adequada. Para o propsito deste trabalho, podemos consider-lo como sendo um slido amorfo,
resultante da fuso e do arrefecimento de materiais inorgnicos, de forma a ser obtido um material
rgido, sem cristalizao. Os vidros so caracterizados pela sua ordem atmica em pequenas
distncias (e ausncia de ordem a longas distncias atmicas). Este tipo de estrutura o oposto de
uma fase cristalina, onde o arranjo atmico bem definido, como uma estrutura repetitiva que se
estende por muitas distncias atmicas.
O vidro o resultado da fuso de diversas matrias-primas inorgnicas minerais, as quais aps
serem submetidas a um processo de arrefecimento controlado, transformam-se num material rgido,
homogneo, estvel, inerte, amorfo e isotrpico. A sua principal caracterstica ser moldvel a uma
determinada temperatura, sem qualquer tipo de degradao (Tooley, 1984).

125

Anexo C A Indstria Vidreira

C.3 Estrutura do Vidro

O vidro de embalagem constitudo basicamente por xido de silcio (SiO2) ou slica, que a
substncia vitrificante ou formadora do vidro. O xido de boro (B2O3) tambm um material que
pode ser transformado em vidro. No caso do vidro produzido com xido de boro puro, o produto
obtido muito solvel e sem aplicao industrial. Nesse caso usual produzir-se vidro em
combinao com slica.
Embora possa produzir um excelente vidro, a slica pura tem um ponto de fuso muito elevado, na
faixa de 1700 a 1800C, exigindo fornos especiais, o que economicamente invivel. Mesmo a
essa elevada temperatura, apresenta uma viscosidade muito alta, imprpria para os processos de
moldagem.
Para reduzir a temperatura de fuso da slica e permitir que o processo de fabrico do vidro seja
tcnico e economicamente vivel, adiciona-se slica xido de sdio (Na2O) e/ou de potssio
(K2O), os quais actuam como fundentes ou fluxos, baixando a temperatura de fuso para cerca de
1500C.
Um vidro formado exclusivamente a partir de xido de silcio e xido de sdio seria facilmente
fusvel mas teria baixa resistncia qumica pois poderia ser atacado e dissolvido pela gua em curto
espao de tempo, devido sua alta solubilidade. O contacto com a gua propicia uma perda
progressiva da transparncia e da superfcie lisa, caractersticas do vidro.

126

Anexo C A Indstria Vidreira

necessrio, portanto, substituir parte xido de sdio (Na2O) por xido de clcio (CaO), xido de
magnsio (MgO) ou xido de alumnio (Al2O3). Essas substncias so denominadas estabilizantes,
uma vez que a sua presena confere um significativo aumento da resistncia qumica e mecnica ao
vidro, evitando que seja solubilizado pela gua. Os estabilizantes tambm conferem uma curva de
viscosidade mais adequada ao processo de fabrico do vidro.

127

Anexo C A Indstria Vidreira

C.4 Tipos de Vidro

Como j mencionado, vrias substncias inorgnicas so formadoras de vidro. Do ponto de vista


comercial, apenas os xidos SiO2, B2O3 e P2O5 so realmente importantes e a quase totalidade de
itens produzidos industrialmente, provm desses materiais (Ortiz, 1996).

Slica Vtrea
Quando se processa o aquecimento da areia de slica ou de cristais de quartzo at uma temperatura
acima do ponto de fuso (1725C), obtm-se um vidro de alta viscosidade, cujas aplicaes so
muito especiais. Como por exemplo, tem-se os semi-condutores, componentes de veculos
espaciais, espelhos para telescpios, etc.
A sua principal caracterstica a baixa expanso trmica, o que confere alta resistncia a choques
trmicos e excelente estabilidade dimensional. Por meio de um processo especial de deposio de
vapor (a partir de tetracloreto de silcio), obtm-se a slica vtrea utilizada para a produo de fibras
pticas.

128

Anexo C A Indstria Vidreira

Silicatos Alcalinos
A adio de modificadores de rede no processo de fuso da slica feita com a finalidade bsica de
reduzir a viscosidade do vidro formado. Os xidos alcalinos so incorporados na forma de
carbonatos, os quais reagem com a slica (acima de 550C) e promovem a formao de um vidro,
cuja resistncia qumica muito baixa. Quanto maior for a proporo de alcalis adicionados, maior
a solubilidade do vidro em gua. Esses materiais so normalmente utilizados como silicatos
solveis, para a produo de adesivos e produtos de limpeza.

Vidro Sodo-Clcico ou Slico-Sodo-Clcico


Constitui a principal classe de vidros utilizados no fabrico de embalagens e de vidro plano. Os elementos
bsicos que o constituem so a slica e os xidos de sdio e de clcio.

Para reduzir a solubilidade do vidro de silicatos alcalinos em gua, mantendo-se a fuso em


temperaturas da ordem de 1600C, so incorporados os chamados fluxos estabilizantes. So em
geral, xidos de clcio e de magnsio que substituem parte do xido alcalino base de sdio.
Tambm adicionada uma certa quantidade de xido de alumnio para melhorar as caractersticas
de moldagem e a inrcia qumica do vidro sodo-clcico. Para algumas aplicaes especficas, so
usados outros xidos alcalinos. So exemplos o brio e o estrncio, incorporados no vidro
destinado produo de cinescpios para televiso.

Vidro Boro-Silicato
A utilizao do xido de boro, substituindo grande parte do fluxo alcalino de xido de sdio,
confere ao vidro excelente resistncia ao choque trmico e alta resistncia ao ataque qumico,
devido menor quantidade de xidos modificadores de rede incorporados na composio. O tomo
de boro substitui parte dos tomos de silcio na estrutura da rede e portanto denominado formador
de rede.
O vidro boro-silicato portanto constitudo basicamente por slica, xido de boro e de sdio.
Utenslios para laboratrios e artigos de uso domstico so geralmente produzidos com esse tipo de
vidro. Tambm pode ser usado no fabrico de ampolas e frascos para produtos farmacuticos.

129

Anexo C A Indstria Vidreira

Vidro Alumino-Boro-Silicato
Adicionando-se xido de alumnio na formulao do vidro silicato alcalino, obtm-se um material
viscoso a altas temperaturas, visto que o alumnio tambm um formador de rede. Sendo
trivalente, o io de alumnio reduz a quantidade de tomos de oxignio no pontantes e aumenta a
coeso da estrutura da rede. Portanto, essa composio gera um vidro mais resistente a altas
temperaturas, sendo utilizado para tubos de combusto e materiais vitro-cermicos.

Vidro de chumbo
A incluso de xido de chumbo, o qual actua normalmente como um modificador de rede, nas
composies de vidros alcalinos, possibilita uma maior faixa de temperaturas sem alterao da
viscosidade. Adiciona-se tambm potssio em vez dos ies de clcio e de sdio.
Existem certos requisitos legais quanto ao uso do chumbo em artigos de vidro. Embalagens para
alimentos e bebidas no utilizam esse tipo de material, mas artigos de mesa e de uso domstico tais
como copos, taas, clices so produzidos com esse tipo de vidro. o chamado vidro cristal e
apresenta caractersticas especiais como: alto ndice de reflexo e de refraco, excelente
transparncia e um som metlico caracterstico quando tocado. A proporo de chumbo
incorporado na formulao varivel e depende do tipo de produto a ser fabricado. Para outras
aplicaes, como componentes da indstria de electrnica e ptica, no h restries quanto ao uso
deste metal.

130

Anexo C A Indstria Vidreira

C.5 Composio do Vidro de Embalagem

O vidro de embalagem pode apresentar grande diversidade de valores na sua composio final,
embora estejam sempre presentes alguns constituintes bsicos.
Segundo Tooley (1984), deve-se considerar uma classificao funcional dos diferentes xidos que
constituem o vidro sodo-clcico (ou slico-sodo-clcico), podendo ser definidas trs categorias de
compostos, a saber: formadores de vidro, intermedirios e modificadores.
Apenas para efeito ilustrativo, essas funes so identificadas na relao da Tabela 47 O autor
reala que no h uma distino exacta e precisa entre as trs classes de xidos.

Tabela 47 Composio bsica do vidro de embalagem convencional (Tooley, 1984)


Constituinte
SiO2
Na2O
CaO
MgO
Al2O3
K2O

Composio bsica
de 71% a 74% em peso (formador)
de 13% a 16% em peso (modificador)
de 7% a 11% em peso (modificador)
de 0% a 5% em peso (modificador)
de 1% a 3% em peso (intermedirio)
de 0,4% a 2% em peso (modificador)

131

Anexo C A Indstria Vidreira

Os demais componentes variam de acordo com o tipo de produto e com as caractersticas das
matrias-primas utilizadas. Na Tabela 48 so apresentadas a ttulo de exemplo, algumas
composies aproximadas de vidros comerciais tpicos, do tipo sodo-clcico.

Tabela 48 Composio aproximada de alguns vidros comerciais tpicos, do tipo sodo-clcico (Tooley, 1984)
Tipo de produto
(% em peso)
Embalagem incolor
Embalagem ambar
Embalagem verde
Embalagem em geral
Garrafa

Areia
SiO2
72,6
71,5
71,3
72,0
72,5

Calcrio
CaO
10,4
10,5
10,3
11,0
10,0

Dolomita
MgO
0,8
0,4
0,5
1,5
1,0

Feldspato
Al2O3
1,6
2,3
2,4
2,0
2,0

K2O
0,4
0,7
1,1
1,0
1,5

Barrilha
Na2O
13,9
14,1
13,9
12,5
14,0

Os diferentes xidos presentes no vidro exercem influncia nas suas propriedades. Portanto,
alteraes na composio (tipo) e na proporo dos xidos constituintes podem provocar alteraes
indesejveis nas caractersticas de produo do artigo de vidro (elaborao e moldagem) ou no
prprio produto final.
A adequada combinao dos xidos presentes obtida por meio da anlise qumica das matriasprimas e do prprio vidro elaborado. No processo de fuso, podem ocorrer variaes na
composio do vidro devido s matrias-primas utilizadas, ao processo de pesagem impreciso ou
problemas no processo de mistura dos materiais. Variaes na composio qumica do vidro
provocam alteraes nas suas propriedades durante o processo de fabrico (perda de rendimento) ou
no produto final, que pode apresentar baixa qualidade.
Portanto, a composio do vidro deve ser determinada com base em alguns factores perfeitamente
identificados, cuja importncia relativa deve ser avaliada caso a caso. Segundo Tooley (1984),
esses factores so:
-

satisfazer os requisitos exigidos pelo uso final,

atender os requisitos de elaborao com relao fuso, moldagem e os requisitos de


homogeneizao para as operaes de conformao,

apresentar caractersticas compatveis com as necessidades das operaes de conformao,

ser produzido a um custo que possibilite a comercializao.

132

Anexo C A Indstria Vidreira

Na Tabela 49 so apresentadas as alteraes que podem ser provocadas nas propriedades do vidro
com o aumento da quantidade de cada um dos principais xidos (Tooley, 1994).

Tabela 49 Alteraes nas propriedades do vidro com o aumento da quantidade de xidos (Tooley, 1984)
Slica
(SiO2)
Sdio
(Na2O)
Clcio
(CaO)
Magnsio
(MgO)
Alumnio
(Al2O3)

promove aumento de viscosidade e da resistncia ao ataque pela gua


aumenta a solubilidade; reduz a resistncia trmica e mecnica; reduz a
viscosidade
reduz a viscosidade e a resistncia mecnica e trmica; melhora a resistncia
ao ataque pela gua
reduz a viscosidade e a resistncia ao choque trmico; melhora a resistncia
ao ataque pela gua
aumenta a durabilidade (resistncia de forma geral) e a viscosidade

Com o desenvolvimento de pesquisas nessa importante rea, actualmente possvel calcular com
boa preciso quais as propriedades do vidro que podem ser obtidas a partir da anlise qumica e a
influncia de cada um dos principais xidos que fazem parte da sua constituio.
Existem vrios processos que so utilizados para definir e desenvolver uma composio de vidro
que atenda a determinadas especificaes. Em geral, esses processos so aplicados em duas etapas.
Por meio de clculos e generalizaes, alm do uso de conhecimentos experimentais, seleccionamse as composies qumicas que podem atender s especificaes definidas. Posteriormente,
escala laboratorial, fazem-se testes envolvendo fuses e ensaios especficos, com o objectivo de
correlacionar resultados com testes piloto e finalmente, com a escala de produo comercial.

133

Anexo C A Indstria Vidreira

C.6 Matrias-Primas

A maior parte das matrias-primas e produtos utilizados no fabrico do vidro inorgnico so


minerais existentes na natureza, cujas caractersticas atendem aos requisitos de composio, desde
que perfeitamente conhecidas (Ortiz, 1996). As principais matrias-primas utilizadas na produo
do vidro sodo-clcico so a seguir apresentadas:

Areia
o material bsico ou elemento formador deste tipo de vidro, pois constituda por 99.0% no
mnimo de slica. Pode ser obtida por extraco convencional, tanto de origem marinha como
fluvial, ou de jazidas naturais. Tambm possvel utilizar o quartzo (mineral constitudo por
slica).
A granulometria recomendvel para a areia de 0.1 a 0.5mm. Se houver muita proporo de
partculas grandes, estas so de difcil fuso, enquanto a presena de partculas inferiores a 0.1mm,
implica a introduo de muito ar com a consequente formao de grande quantidade de pequenas
bolhas na massa fundida (seeds).

134

Anexo C A Indstria Vidreira

Calcrio
Mineral constitudo por carbonato de clcio (CaCO3) e extrado de jazidas naturais (pedreiras).
Aps beneficiamento e moagem at ter a granulometria adequada (de 0.1 a 1.0mm), incorporado
na mistura para fornecer o xido de clcio.

Dolomita
Mineral constitudo por carbonato duplo de clcio e magnsio (CaMgCO3). Da mesma forma que o
calcrio, extrado de jazidas naturais, beneficiado e fornece o xido de magnsio composio do
vidro. Para a produo do vidro de embalagem, no h grandes diferenas entre o uso do calcrio
ou da dolomita.

Feldspato
Trata-se de um mineral complexo, constitudo por aluminosilicato duplo de sdio e potssio
(KNa(AlSi3O8)). Alm da slica, fornece vrios componentes ao vidro, tais como: xido de
alumnio (Al2O3) ou alumina, xido de sdio (Na2O) e xido de potssio (K2O). O minrio de
feldspato tambm extrado de jazidas naturais.

Cianito Nefelnico
Um outro produto que pode substituir o feldspato o cianito nefelnico (Al2O3.Na2O.2SiO2),
extrado de jazidas naturais principalmente no Canad e Noruega. considerado uma fonte de
alumina e lcalis mais eficiente que o feldspato, quando utilizado na composio do vidro. Segundo
fabricantes do cianito nefelnico, possvel reduzir at 20% a quantidade de produto quando
comparado ao feldspato.

Alumina Calcinada
Tambm pode ser utilizada como fonte alternativa do feldspato, para incorporao exclusiva de
alumina, sem a presena dos demais xidos.

135

Anexo C A Indstria Vidreira

Barrilha
Carbonato de sdio (Na2CO3) que fornece o xido de sdio na composio do vidro. Trata-se do
componente mais significativo no custo das matrias-primas do vidro, podendo representar at 60%
desse valor.

Lixvia de Soda Custica


Como fonte alternativa da barrilha, utilizam-se uma soluo de hidrxido de sdio (NaOH) a 50%.
Devido ao estado lquido desse componente, necessrio adequar o processo de dosagem e
mistura, visto que todos os demais constituintes so slidos. No caso especfico do vidro do tipo
boro-silicato, utilizam-se dois tipos de brax (pentahidratado ou anidro) ou cido brico como
fonte de xido de boro (B2O3).
Alm das matrias-primas mais importantes, existem os chamados componentes minoritrios, os
quais so adicionados em menor quantidade, mas so indispensveis para a obteno das
caractersticas desejadas. Estes so:

Afinantes
Os materiais que promovem uma maior homogeneidade da massa de vidro fundida denominam-se
afinantes ou agentes de refinamento.
O vidro produzido a partir de matrias-primas pulverulentas e que possuem grande quantidade de
ar ocluso entre os gros. Durante o processo de fuso do vidro, ocorre a formao de gases, que
responsvel por uma perda de peso da ordem de 13 a 15%.
Os agentes de refinamento tambm produzem gases, mas em condies que permitam a formao
de grandes bolhas numa temperatura suficientemente alta (na qual o vidro j est formado). Estas
bolhas ao subirem para a superfcie de forma violenta, arrastam as bolhas menores (de ar e de
gases), pelo efeito de maior dimenso, alm de promoverem uma boa agitao da massa fundente.
Com isso o vidro fica homogneo e sem a presena de bolhas na massa arrefecida. Com essa
finalidade adicionado usualmente o sulfato de sdio (Na2SO4) para o vidro sodo-clcico, podendo
ser usado tambm o sulfato de clcio ou de brio.

136

Anexo C A Indstria Vidreira

Corantes ou Descorantes
Dependendo da aplicao e do tipo de produto fabricado, o vidro poder receber substncias que o
tornem colorido.
Em geral, utilizam-se xidos metlicos ou combinaes desses xidos, tais como: xido de ferro,
de cobalto, de mangansio, de nquel ou de crmio. Embora adicionados em pequenas quantidades,
esses metais podem apresentar restries ao uso em embalagens para alimentos e bebidas.
apresentado na Tabela 50 alguns corantes mais frequentemente usados no vidro (British Glass,
1996).
Tabela 50 Corantes usados no vidro (British Glass, 1996)
Corante
Ferro
Mangansio
Crmio
Vandio
Cobre
Cobalto
Nquel
Urnio
Titnio
Neodmio
Praseodmio
Crio
Carvo e Enxofre
Sulfureto de Cdmio
Sulfureto de Antimnio
Selnio
Ouro

Cor do Vidro
Verde, Castanho, Azul
Prpura
Verde, Amarelo, Rosa
Verde, Azul, Cinzento
Azul, Verde, Vermelho
Azul, Verde, Rosa
Amarelo, Prpura
Amarelo, Castanho, Verde
Prpura, castanho
Prpura
Verde
Amarelo
Ambar, Castanho
Amarelo
Vermelho
Rosa, Vermelho
Vermelho

O vidro incolor no deve conter impurezas ou a presena desses xidos metlicos, em especial o
xido de ferro, usualmente presentes nas matrias-primas minerais. Para minimizar a colorao
amarelo esverdiado que o xido de ferro (contedo mximo abaixo de 0.05%) confere ao vidro
incolor, adicionam-se agentes descorantes, os quais mascaram o efeito da presena desse xido.
Os descorantes mais utilizados so o selnio (Se) combinado com xido de cobalto (Co2O3) e o
processo consiste em sobrepor as cores complementares colorao indesejada. Assim, a adio de
selnio promove a cor vermelha, enquanto o cobalto introduz a cor azul.

137

Anexo C A Indstria Vidreira

Os requisitos bsicos que essas matrias-primas devem atender, alm de suprimento regular e
preos competitivos, so relativos ao grau de pureza e distribuio do tamanho dos gros ou
partculas.
Visto que a areia o componente de maior participao na composio do vidro de embalagem
alm de ser a matria-prima que apresenta maior dificuldade de fuso, os requisitos e
especificaes so mais rigorosos. De maneira geral a granulometria das matrias-primas deve
variar de 0.1 a 1.0mm.

Vidro Reciclado
A incorporao de vidro reciclado s matrias primas naturais tem adquirido grande importncia no
processo de fabrico, devido s questes ambientais e econmicas. Do ponto de vista ecolgico, a
adio de casco (vidro para reciclagem) permite uma considervel reduo da quantidade de
resduos slidos por embalagens descartveis e promove em simultneo a reduo das dificuldades
na extraco e utilizao dos minerais que constituem as matrias-primas do vidro. Tambm
possvel reduzir o consumo de combustveis na gerao de energia, minimizando os problemas de
poluio ambiental.
O material (cacos de vidro recuperados e tratados) proveniente dos resduos dos processos de
fabrico ou de outras fontes, constitui uma matria-prima que apresenta vantagens tecnolgicas, pois
melhora sensivelmente o processo de fuso, gerando economia no consumo de energia, alm de
aumentar a extraco do forno sem incrementar o consumo de energia.
O casco de vidro pode ser classificado em trs grupos quanto sua origem:
i)

Material gerado na prpria fbrica ou no mesmo forno, possuindo a mesma composio


qumica do vidro em produo, podendo portanto retornar mistura sem qualquer
correco.

ii)

Material proveniente de outra fonte geradora, como por exemplo um outro forno de fuso.
Neste caso, deve ser considerado no clculo da composio qual ser incorporado.

iii)

Material estranho de origem desconhecida (proveniente de um processo de reciclagem).


Neste caso deve ser considerado como uma matria-prima qualquer, realizando-se anlises
qumicas que assegurem a compatibilidade com a composio na qual ser agregado.

138

Anexo C A Indstria Vidreira

O maior problema relativo utilizao de vidro reciclado a presena de contaminantes, mais


frequentemente no casco colectado fora da fbrica. Como por exemplo, metais que atacam os
refractrios dos fornos e materiais que no fundem que podero constituir incluses slidas no
produto final. Outra questo relativamente ao material reciclado a necessidade de separao por
cor, uma vez que na produo do vidro incolor s possvel adicionar cacos de vidro incolor.

139

Anexo C A Indstria Vidreira

C.7 Propriedades do Vidro

Viscosidade
Por definio a viscosidade pode ser descrita como a resistncia oferecida pelo material contra o
escoamento. O movimento desenvolve uma fora de frico que caracterstica de cada substncia,
no estado lquido (Ortiz, 1996).
Para o vidro no estado slido, temperatura ambiente, no faz muito sentido considerar a
viscosidade como uma propriedade importante, visto que nessas condies ele um slido rgido
elstico (no apresenta deformao plstica). Contudo, imprescindvel que a viscosidade seja
analisada e controlada durante o processo de fabrico das embalagens de vidro, nas etapas de fuso,
afinagem, conformao e recozimento. Quando a altas temperaturas, o vidro um lquido viscoso.
medida que o vidro sofre arrefecimento, apresenta grande aumento da viscosidade e
consequentemente, no se cristaliza, pois os tomos dos diferentes elementos no podem sofrer
rearranjo. Na Figura 30 apresentada a curva que representa a variao da viscosidade do vidro em
funo da temperatura. Para maior facilidade de anlise, os valores da viscosidade (h) expressa em
Poise, so indicados em escala logartmica (log h). Assim, uma viscosidade de 100 Poise
correspondente ao vidro fundido, expressa como 2. Na temperatura ambiente, a viscosidade do
vidro atinge 19 (log h).

140

Anexo C A Indstria Vidreira

So definidos tambm na Figura 31 alguns pontos de referncia, identificando as temperaturas


correspondentes a determinados valores de viscosidade. Os mais relevantes so os seguintes:
i)

Temperatura de fuso ou refinamento: onde o valor de log h = 2.0.

ii)

Temperatura de gota: na qual log h = 3.0.

iii)

Temperatura de trabalho: correspondente a log h = 4.0 a partir da qual se iniciam as


operaes de conformao.

iv)

Temperatura de amolecimento: na qual o valor de log h = 7.6. Abaixo dessa temperatura o


vidro est rgido (comportamento de slido elstico) e no pode ser conformado.

v)

Temperatura de recozimento: na qual o valor de log h = 13.0. Nesta condio, as tenses


residuais do vidro so atenuadas rapidamente e ocorre apenas o incio de deformao.

vi)

Temperatura inferior de recozimento: na qual o valor de log h = 14.5 e as tenses do vidro


podem ser atenuadas em perodos mais longos de tempo.

16
14.5
14

Ponto de ruptura
Recozimento

Ponto de recozimento

13.0

Log h (poise)

12

10

7.6

Ponto de amaciamento

6
Conformao

Ponto de trabalho
4

4.0

Ponto de gota

3.0

Ponto de fuso

Fuso
2.0

300

500

700

900

1100

1300

Temperatura (C)

Figura 30 Representao da viscosidade do vidro de embalagem em funo da temperatura.

A viscosidade do vidro apresenta grande variao em funo da temperatura. Esta variao


depende tambm da composio do vidro. O processo de conformao deve ser aplicado sob
condies muito bem controladas, cujo principal parmetro a temperatura do material. Existe uma
faixa ou intervalo de temperatura na qual o vidro pode ser conformado, cuja denominao usual
faixa de trabalho. Este definido como sendo a diferena entre a temperatura da gota (onde log h
= 3) e a temperatura do ponto de amolecimento (onde log h = 7.6).

141

Anexo C A Indstria Vidreira

Dependendo da amplitude desse patamar, identifica-se o intervalo de tempo no qual o vidro pode
ser conformado. Como exemplo, se o equipamento automtico, o tempo de conformao curto,
pois ao final da operao (com durao total de alguns segundos) o vidro deve estar
suficientemente rgido para no deformar. o chamado vidro curto. Para operaes de
conformao manual, utiliza-se o vidro longo.
Outra caracterstica associada viscosidade a regio na qual est localizado o patamar ou faixa de
trabalho. Se um determinado vidro necessita de maiores temperaturas para ser conformado,
denominado vidro duro. Caso contrrio, pode ser considerado como vidro mole. Essas
denominaes so particulares e devem ser consideradas apenas como conceitos relativos.

Densidade
A densidade do vidro (massa/volume) um importante parmetro para o controlo da produo. em
se tratando de uma medio simples, utilizada para indicar o grau de mistura da composio e da
massa de vidro, tanto em relao ao tempo (processo contnuo) como ao tipo de produto
(composio).
O valor tpico de densidade para o vidro sodo-clcico de embalagem est entre 2.46 e 2.50 g/cm3.
Com base na experincia prtica, variaes de at 0.0010g/cm3 entre produes dirias indicam
homogeneidade satisfatria. Alteraes na composio do vidro com variaes nos valores de
densidade superiores a 0.0015g/cm3, devem ser evitadas pois podem provocar problemas de
homogeneidade.

C.7.1 Propriedades pticas

Transmitncia
Quando o vidro no apresenta heterogeneidade e est totalmente livre de tenses, considerado um
material opticamente isotrpico. Um feixe de luz incidente sobre uma superfcie de vidro tem parte

142

Anexo C A Indstria Vidreira

da luz reflectida e o restante atravessa a parede de material. Devido maior densidade do vidro
quando comparada com a do ar, ocorre um desvio da luz, cujo fenmeno denominado refraco.
Parte

da energia luminosa incidente absorvida pelo vidro. Na superfcie oposta, ocorrem

novamente os fenmenos de reflexo e refraco.


Quanto proporo de luz reflectida numa superfcie de vidro, esta geralmente reduzida e
depende do ndice de refraco do vidro e do ngulo de incidncia. Para ngulos at 20, a equao
de Fresnel possibilita calcular as perdas por reflexo (Tooley, 1984).
A luz sofre reduo na sua velocidade ao passar do ar para o vidro, um material com maior
densidade. Consequentemente, ocorre um desvio do ngulo incidente, em relao perpendicular.
O ndice de refraco quantifica esse desvio e calculado com base na relao das velocidades da
luz no ar e no vidro ou pela medida dos ngulos de incidncia e de refraco. Sempre que
necessrio, o ndice e refraco determinado normalmente no comprimento de onda igual a
598.3nm, para efeito comparativo.
Portanto, a transmitncia de um determinado tipo de vidro a relao entre a intensidade da luz
emergente e a intensidade da luz incidente. As perdas por reflexo e por absoro correspondem
diferena de intensidade medida. Se a transmitncia de um determinado vidro elevada e no varia
muito na faixa de 400 a 700nm (regio do espectro visvel), este material ser considerado como
incolor, com base na sensibilidade do olho humano. Se a absoro de luz selectiva em funo dos
elementos introduzidos numa composio do vidro para conferir maior absoro em determinadas
faixas do espectro visvel, o material apresentar-se- como colorido ao olho humano.
O vidro incolor transmite luz em comprimentos de onda acima de 300nm, oferecendo portanto boa
proteco contra os raios ultravioleta, abaixo desse valor. O vidro verde transmite luz acima de
330nm, enquanto o vidro de cor mbar oferece boa proteco at 450nm.

Birrefringncia
Quando submetido a tenses internas (de compresso ou de traco), o vidro apresenta alteraes
de densidade localizadas e consequentemente, o ndice de refraco pode ser maior ou menor.
Fisicamente, isso significa que a velocidade da luz no vidro depende do grau de tenses e as
mudanas de velocidade so directamente proporcionais a essas tenses. Portanto, sob essas
condies o vidro birrefringente.

143

Anexo C A Indstria Vidreira

A determinao da intensidade das tenses residuais em pelo menos uma das direces
(unidimensional), pode ser feita por meio da birrefringncia, de forma rpida e eficiente, com o uso
de luz polarizada. Em princpio, mede-se a diferena de velocidade entre a luz incidente
proveniente do polarizador e a luz que passou atravs do material, medida no analisador.

Cor
Uma das caractersticas de maior importncia para embalagens de vidro a cor. Um material
obtido a partir de xidos formadores e modificadores geralmente incolor (desde que no haja
contaminao por xidos metlicos e sulfuretos). Como j mencionado, o uso de matrias-primas
minerais incorpora por exemplo, o xido de ferro. Essa substncia deve atingir no mximo 0.03%
em peso na composio do vidro incolor e pode chegar a 1% no vidro de cor verde.
Embora a definio exacta da cor tenha caractersticas de subjectividade, possvel medi-la com
instrumentos especficos em laboratrio. A composio da cor pode ser feita a partir de trs
parmetros, correspondentes matiz, pureza e quantidade de luz transmitida.

C.7.4 Propriedades qumicas

O vidro um dos poucos materiais de embalagem que pode ser considerado como inerte maioria
das substncias conhecidas. Apenas o cido fluordrico dissolve o vidro de forma intensa.
Entretanto, o vidro sodo-clcico relativamente inerte e muito resistente quando em contacto com
substncias ou solues neutras e cidas.
Na presena de gua (lquida, humidade ou solues aquosas), o vidro sodo-clcico pode sofrer um
processo de corroso, com reaces qumicas e alteraes estruturais. Quando em contacto com a
gua, ocorre um ataque com troca de ies sdio do vidro por ies hidrognio da soluo (ou da
prpria gua). Em se tratando de um processo de difuso, a velocidade ou percentagem de
extraco alcalina diminui com o tempo. Como exemplo, de uma embalagem com capacidade de
1000ml a 20C, possvel extrair at ao mximo de 25mg de sdio, aps seis meses de contacto.
Entretanto, a 100C, essa mesma quantidade pode ser extrada em apenas 1 hora. Esse problema
muito crtico em certos tipos de produtos, na indstria de medicamentos e na de produtos
farmacuticos.

144

Anexo C A Indstria Vidreira

Para minimizar essa extraco, a superfcie do vidro pode ser tratada com dixido de enxofre,
temperatura de aproximadamente 500C, formando-se uma pelcula desprovida de compostos
alcalinos. Esse processo aumenta a resistncia qumica do vidro quando em contacto com solues
de pH inferior a 9. Assim, o vidro alcalino - Tipo III (utilizado para produo de embalagens em
geral) passa a ser semi-neutro ou Tipo II, o qual pode ser utilizado para produtos de uso parenteral
(que no devem ter alterao do seu pH).
Quando em contacto com solues alcalinas (com alta concentrao de ies hidrxido), cujo pH
superior a 9, o vidro sodo-clcico apresenta pouca resistncia, uma vez que a prpria estrutura do
material pode ser atacada. Os ies hidrxido reagem com as ligaes formadoras da rede Si-O,
promovendo mesmo a dissoluo do material. medida que o Si(OH)4 formado passa para a
soluo, ocorre uma gradual perda de peso directamente proporcional ao tempo de contacto e muito
influenciada pela temperatura.
Outro tipo de ataque superfcie do vidro ocasionado pela condensao de humidade presente no
ambiente em que se encontra a embalagem. Dependendo das condies existentes, pode ocorrer
uma extraco dos ies sdio, semelhante reaco verificada na presena de soluo aquosa. Caso
haja concentrao de produtos de reaco sobre a superfcie do vidro, como resultado de
condensao e evaporao cclica (as gotas de gua secam lentamente sobre a superfcie), pode
ocorrer inicialmente um embaciamento da superfcie. Se esse processo ocorrer durante um longo
perodo de tempo, como por exemplo, durante a armazenagem de embalagens vazias sob condies
de hmidade e com variaes dirias de temperatura, pode haver formao de uma pelcula muito
difcil ou impossvel de ser removida.

C.7.5 Propriedades mecnicas

Resistncia mecnica
Quando se faz uma anlise de resistncia mecnica do vidro, deve-se considerar em primeiro lugar,
a resistncia terica dos materiais. Em geral, define-se a resistncia fractura de um material, como
sendo a fora necessria para romper as ligaes qumicas entre os tomos que o constituem. No
entanto, a resistncia real dos slidos frgeis significativamente menor que os valores tericos.

145

Anexo C A Indstria Vidreira

O vidro, nas condies ambientais, pode ser considerado um material slido elstico perfeito, pois
sofre fractura exclusivamente por esforos de traco, especialmente na superfcie do objecto.
Apenas para ilustrar essas afirmaes, a resistncia terica do vidro sem defeitos, imediatamente
aps o seu fabrico superior a 2000kgf/mm2 ou 7500MPa. Em condies normais de uso, essa
resistncia traco situa-se em torno de 4 a 10kgf/mm2. O ao apresenta um valor da ordem de
40kgf/mm2. Entretanto, quando submetido compresso, tanto o vidro como o ao apresentam
uma resistncia da ordem de 100kgf/mm2.
Diversas pesquisas foram realizadas no sentido de identificar porque que os valores de resistncia
fractura calculados teoricamente so muito superiores aos medidos na prtica. Vrias teorias
procuram explicar essas discrepncias e o ponto em comum entre a maioria delas refere-se ao
estado superficial do vidro.
De forma mais abrangente, a resistncia mecnica do vidro pode ser influenciada pelos seguintes
factores:
-

a condio fsica e/ou mecnica da superfcie, sobretudo a natureza e o grau de severidade das
abrases presentes,

a natureza (tipo) e o tempo de durao das tenses (cargas aplicadas),

as condies ambientais, tais como a temperatura e a composio qumica do meio no qual o


produto est em contacto,

a condio qumica da superfcie, incluindo a presena ou no de filmes orgnicos ou


inorgnicos e o estgio de envelhecimento da superfcie.

Quanto ao primeiro factor, considerado como o mais importante, a presena de microfissuras na


superfcie de vidro exposta ao ambiente, gera regies onde se localizam concentradores de tenso.
Tais concentradores de tenso so pontos onde ocorrem as fracturas, pois estes actuam como
multiplicadores do efeito das tenses produzidas, por cargas aplicadas ao material. Como
mencionado, a natureza e o grau de severidade das abrases superficiais que determina uma
maior ou menor influncia na resistncia da embalagem.
As principais causas da existncia desses concentradores de tenso so atribudas ao processo de
abraso superficial ao qual a embalagem de vidro submetida. Tambm so aceites as
possibilidades de que os defeitos microscpicos superficiais sejam provocados pelo processo de

146

Anexo C A Indstria Vidreira

arrefecimento do vidro, durante a moldagem ou pela presena de reas heterogneas na massa de


vidro.
A resistncia traco ou tenso de fractura est directamente relacionada com a presena dos
defeitos microscpicos na superfcie do vidro, constatando-se que a resistncia mecnica do vidro
decresce com o aumento da profundidade da fissura. (Davidge, 1979).
Com base na experincia acumulada, so propostas duas classes de processos que podem originar
concentradores de tenso:
-

Fissuras produzidas mecanicamente, por impacto, abraso, clivagem (riscos profundos),

Fissuras produzidas no processo de fabrico da embalagem de vidro, devido a choque trmico


e/ou mecnico, dobras ou rugas, incluses slidas e/ou gasosas.

Portanto, de forma geral, a grande influncia das condies superficiais da embalagem de vidro na
resistncia mecnica do material, justifica o grande desenvolvimento de processos para proteger
adequadamente a superfcie externa da embalagem, durante o fabrico e a utilizao do produto.

Fadiga Esttica
Com respeito ao segundo factor identificado anteriormente, o tipo ou natureza e a durao da
tenso aplicada so um aspecto extremamente importante para embalagens de vidro. O fenmeno
de fadiga esttica consiste na dependncia que a tenso de ruptura do vidro apresenta em relao
ao tempo de aplicao da carga.
Se uma carga aplicada na embalagem de vidro durante um longo perodo de tempo, observa-se
que o material apresentar-se- menos resistente do que se for aplicada a mesma carga por curto
perodo de tempo.
Experimentalmente constatou-se que quando o vidro solicitado por uma carga durante 24 horas, a
sua resistncia ser aproximadamente 50% menor do que a carga com durao de apenas 1
segundo. A principal razo para esse fenmeno, que sob carga, a fissura na superfcie tende a
crescer vagarosamente por causa do ataque qumico (vapor de gua presente na atmosfera). Os
tomos localizados na extremidade da fissura esto fortemente sob tenso, o que torna esta rea
muito vulnervel ao ataque qumico.

147

Anexo C A Indstria Vidreira

Com base na equao de Griffith, a resistncia traco do vidro decresce com o aumento do
comprimento ou profundidade da fissura. Portanto, se o tempo de aplicao da carga for
suficientemente longo, a embalagem de vidro poder sofrer ruptura com baixos valores de
resistncia.
Felizmente, o processo de fadiga esttica ocorre apenas acima de determinados nveis de carga.
Assim, para valores menores, esse fenmeno pode ser desprezado. Deve-se realar a considerao
desse efeito, quando se avalia a resistncia mecnica de embalagens de vidro, especialmente
quando se trata de garrafas para bebidas carbonatadas.

Dureza
A caracterstica da dureza do vidro importante sob o aspecto de resistncia ao risco. Entretanto,
no possvel modificar facilmente essa propriedade apenas por meio de alteraes na composio
do material. Todos os vidros base de silicatos tm uma dureza entre 4.5 e 6 na escala de Mohs.
A dureza superficial das embalagens de vidro aumenta normalmente, com a aplicao de
tratamentos superficiais.

C.7.6 Propriedades Trmicas

Expanso Trmica
A exemplo de quase todas as substncias e materiais, o vidro apresenta uma expanso quando
aquecido e uma contraco quando arrefecido. A dimenso dessa caracterstica expressa pelo
coeficiente de expanso trmica linear, o qual indica o aumento do comprimento para cada grau de
aumento na temperatura.
Pode ser considerada uma das mais importantes propriedades do vidro uma vez que ela determina a
resistncia que o material ter quando submetido a um choque trmico. O vidro sodo-clcico possui
um coeficiente de expanso trmica linear da ordem de 90x10-7m/m/C, na faixa de temperatura de
0 a 300C.

148

Anexo C A Indstria Vidreira

Resistncia ao Choque Trmico


Uma caracterstica de muita importncia para embalagens de vidro a condutividade trmica do
material, que mede a transferncia de calor por unidade de rea, quando submetido a um gradiente
de temperatura. O vidro um mau condutor de calor, devido sua estrutura (ligaes qumicas de
natureza inica). Portanto apresenta certas limitaes quanto s variaes de temperatura que pode
suportar.
A resistncia ao choque trmico definida como uma medida de variao mxima de temperatura
qual o produto de vidro pode ser submetido sem apresentar fracturas. Na realidade, o vidro no se
quebra por influncia directa do choque trmico. O que provoca a ruptura da embalagem de vidro
so as tenses de traco geradas durante o arrefecimento rpido da superfcie previamente
aquecida. Portanto, o processo inverso, ou seja um aquecimento muito rpido de um objecto de
vidro frio no apresenta a mesma incidncia de quebra.
Assim, se uma embalagem de parede espessa for aquecida a uma temperatura elevada e
repentinamente imersa em gua fria, os esforos de tenso (traco) ficaro localizados na
superfcie, devido contraco trmica, enquanto as reas internas estaro dilatadas porque
permanecem aquecidas.

149

Anexo C A Indstria Vidreira

C.8 Processo de Produo de Embalagens de Vidro

Desde a sua origem at aos nossos dias, o processo de fabrico do vidro continua o mesmo, tendo
sofrido variaes apenas na mecanizao do processo, com a introduo de ar comprimido em
substituio do sopro humano. Posteriormente os equipamentos foram aperfeioados e
automatizados, gerando as unidades de produo contnua.
As matrias-primas so pesadas, misturadas e introduzidas no forno de fuso por um processo
contnuo. O vidro fundido retirado do forno em pequenas quantidades (suficiente para produzir
uma unidade de embalagem) e introduzido no equipamento de conformao. Aps a moldagem, as
embalagens so submetidas ao recozimento e aos tratamentos superficiais, seguindo directamente
para os sistemas de acondicionamento (paletizao).
Cada uma das principais fases do processo descrita a seguir, com destaque para as caractersticas
dos equipamentos envolvidos (Robertson, 1993).

C.8.1 Preparao da Composio

150

Anexo C A Indstria Vidreira

As matrias-primas so seleccionadas de acordo com a formulao estabelecida para cada tipo de


vidro e/ou produto a ser fabricado. Essas matrias-primas chegam fbrica beneficiadas e prontas
para a utilizao. Os requisitos de pureza e a composio qumica de cada componente so
rigorosamente verificados uma vez que as propriedades e caractersticas do produto final dependem
dessa formulao. Em geral, cada matria-prima armazenada na forma de lotes, os quais so
submetidos anlise qumica e granulomtrica.
A partir da composio qumica padro, faz-se um clculo da composio para determinar a
quantidade de cada matria-prima a ser adicionada. A manuteno constante dessa composio
qumica s pode ser assegurada com um rgido controlo das matrias-primas e com o clculo
correcto da composio, o qual deve ser refeito sempre que houver mudanas nos resultados de
anlise de uma matria-prima.
Na unidade de composio, cada uma das matrias-primas seleccionadas pesada automaticamente
(balanas de grande preciso) a partir de silos especficos. As quantidades de cada componente so
determinadas a partir da formulao estabelecida e da anlise qumica previamente efectuada.
A mistura vitrificvel ento obtida num equipamento misturador, o qual recebe todas as matriasprimas e possibilita uma homogeneizao dos componentes slidos. A quantidade total de cada
partida varivel, dependendo das caractersticas da unidade instalada.
Considerando que as matrias-primas utilizadas so de boa qualidade, com alta homogeneidade
qumica e fsica, fundamental que o processo de mistura seja eficiente, pois tratam-se de materiais
slidos, com granulometria e densidade diversas. Anlises de homogeneidade da composio
podem indicar eventuais problemas de pesagem, com a grande vantagem de evitar que o produto
fora de especificaes seja introduzido no forno de fuso.
Um problema que deve ser evitado a segregao ou seja, a separao entre partculas maiores ou
menores, uma vez que isso implicar a produo de um vidro no homogneo. O processo de
segregao pode ocorrer, por exemplo, nos silos de armazenagem das matrias-primas (carga e
descarga) ou durante o transporte da composio ou mistura vitrificvel at ao forno de fuso. Em
geral, no se deve incorporar o casco de vidro reciclado na fase de mistura, pois alm da diferena
de granulometria, ocorrer um grande desgaste do equipamento misturador.
Com a finalidade de reduzir a formao de finos ou poeiras e a segregao dos componentes
durante o transporte, adiciona-se gua durante a operao de mistura, at cerca de 4% da

151

Anexo C A Indstria Vidreira

composio. Caso seja utilizada a lixvia de soda custica, esse componente lquido substitui a
adio da gua.

C.8.2 Processo de Elaborao do Vidro

O processo de transformao (fuso, afinagem, homogeneizao e condicionamento) da mistura


vitrificvel ocorre nos fornos de fuso. As principais caractersticas de um forno dependem do tipo,
da qualidade e da quantidade de vidro a ser fabricado. Factores como a disponibilidade de energia e
de recursos de investimento, alm do nvel de complexidade tecnolgica do processo, tambm
influenciam na seleco das caractersticas mais adequadas para um forno de fuso.
O forno considerado o principal equipamento de uma fbrica de vidros, pois trata-se de um
complexo conjunto com estrutura, instalaes e controlos sofisticados, os quais exigem grandes
investimentos e alta tecnologia. As altas temperaturas verificadas nas diferentes regies do forno
podem variar de 1500 a 1600C, exigindo que o mesmo seja construdo com materiais refractrios
especiais, resistentes tambm ao ataque qumico dos componentes em fuso.
Para um melhor entendimento do processo de fuso necessrio conhecer as principais
caractersticas dos fornos mais utilizados.

Fornos
Nas modernas empresas que produzem embalagens, o processo de fabrico totalmente contnuo e
automatizado. Isso significa que os fornos de fuso operam, na sua grande maioria, com processo
contnuo e igualmente automatizado. Portanto, no so utilizados fornos intermitentes ou
descontnuos, salvo em pequenas empresas com processo de fabrico manual.
Nos fornos contnuos, existem locais chamados enfornadeiras, nos quais introduzida a mistura
vitrificvel, enquanto na outra extremidade extrado o vidro fundido, em operao contnua e
ininterrupta durante cerca de 4 a 8 anos, dependendo das condies de operao, da qualidade dos
refractrios, dos cuidados na construo e da fase de arranque. Nestas condies podem ocorrer
reparaes a quente. Aps esse perodo, feita uma paragem total para a recuperao (reparao a
frio) ou reforma parcial ou total do forno.

152

Anexo C A Indstria Vidreira

Como mencionado anteriormente, so instalaes complexas e dimensionadas para grande


produo, podendo atingir valores de at 500 toneladas de vidro de capacidade interna do forno.
Portanto, existem dois tipos bsicos de fornos, quanto ao tipo de aquecimento:

Combusto
Nessa classe de fornos, a mais comum para a produo de vidro de embalagem, a energia para o
aquecimento e fuso das matrias-primas introduzida por meio da combusto de leo ou gs,
transferindo calor das chamas, posicionadas sobre a massa de vidro. Os fornos de combusto
podem ser regenerativos ou recuperativos.
O forno regenerativo funciona em ciclos, nos quais os fumos e gases gerados na combusto so
forados a passar atravs de um estrutura de material refractrio, denominada regenerador. Esses
gases e fumos quentes transferem calor para a estrutura e aquecem o regenerador. Ao mesmo
tempo, o ar de combusto, o qual ser introduzido nos queimadores, recebe calor de outro
regenerador previamente aquecido, podendo atingir temperaturas da ordem de 900C. Ao final do
ciclo, com durao mdia de 20 a 30 minutos, altera-se o sentido do escoamento dos gases de
combusto e do ar frio que est a ser introduzido no forno.
O forno recuperativo no opera em ciclos. Os fumos e gases de combusto, antes de serem
encaminhados para a chamin, passam continuamente atravs de um grande sistema tubular
(recuperador metlico), no qual existe a entrada de ar que ser utilizado na combusto. Assim, parte
da energia trmica passa para o ar, aquecendo-o. Os fornos que utilizam esse tipo de recuperador
so denominados Unit Melter.
Quanto posio dos queimadores, os fornos de combusto podem ser de dois tipos:
i)

Chama transversal, no qual os queimadores so instalados nas partes laterais do forno,

fazendo-se a enforma e a extraco nas extremidades. Neste caso, a quantidade total de


queimadores depender do tamanho (capacidade) do forno.
ii)

Chama longitudinal, no qual os queimadores so instalados na parte traseira ou posterior do

forno, sempre em nmero de dois. Neste caso, a enforma feita pelas partes laterais, de forma
alternada, dependendo do ciclo de combusto.

153

Anexo C A Indstria Vidreira

Fornos elctricos
Existem fornos que utilizam a energia elctrica como forma de aquecimento da mistura vitrificvel.
Uma vez que o vidro um bom condutor de electricidade a altas temperaturas, nesse tipo de forno
existem elctrodos de platina ou molibdnio, posicionados de forma a ficarem imersos na massa de
vidro. Pela passagem de corrente elctrica nos mesmos, gera-se calor na massa por dissipao da
energia no vidro fundido. O forno elctrico de abbada fria essencialmente no poluente. Nos
fornos a combusto, tambm so instalados elctrodos para melhorar as caractersticas de fuso do
vidro e aumentar a extraco do forno.
Segundo anlises recentes, nas regies onde a energia elctrica gerada por indstrias nucleares ou
hidroelctricas, haver tendncia para substituio parcial ou total do combustvel (nafta ou gs)
pelo sistema de aquecimento com elctrodos. Entretanto, nas unidades de produo de alta
capacidade para o vidro sodo-clcico, no dever ocorrer um desenvolvimento muito expressivo do
uso de fornos elctricos.
Outra tendncia muito forte a utilizao do forno a oxignio ou 100% oxicombusto, o qual
consiste na substituio do ar pr-aquecido pelo oxignio no processo de combusto. As principais
vantagens desse processo so: reduo da gerao dos compostos poluentes (particulados e NOx);
maior estabilidade de operao, pois eliminam-se as inverses de ciclo e menor investimento (no
exige a instalao dos regeneradores). Obtm-se com a converso uma maior eficincia trmica e
um aumento da produtividade do forno.
Prev-se uma crescente introduo desse sistema nos fornos do tipo Unit Melter, devido sua
baixa eficincia trmica. Na medida em que as unidades de produo de oxignio localizadas na
prpria empresas sejam mais econmicas, o custo do oxignio passar a ser mais competitivo.
De forma geral, os fornos devero produzir vidro de melhor qualidade e com menor emisso de
poluentes.
Em todos os casos citados, o formato geral desses fornos rectangular, com dimenses variveis,
dependendo da capacidade de extraco e do tipo de estrutura que possui.

154

Anexo C A Indstria Vidreira

Afinagem
Prosseguindo o deslocamento no interior da cuba, o vidro fundido atinge a regio denominada
afinagem. Nesta rea, existem borbulhadores que promovem a formao de bolhas para arrastar
todos os gases existentes na massa fundida, provenientes das reaces qumicas formadoras do
vidro. Promove-se tambm um aquecimento mais intenso da massa, atingindo temperaturas de
1550 a 1580C. Com esse processo, as bolhas deslocam-se at superfcie do vidro, onde eclodem.
Obtm-se assim um material fundido mais homogneo e em condies de ser condicionado.

Condicionamento
Numa outra rea do forno, prxima da descarga do vidro e denominada tanque de trabalho ou
canais, o vidro que foi mais aquecido e portanto est menos viscoso, submetido a um processo de
conformao (condicionamento trmico). A temperatura decresce cerca de 100 a 200C, atingindo
valores que podem variar de 1250 a 1450C. Entre as duas regies existe uma barreira fsica
denominada garganta. Trata-se de um obstculo que permite a passagem da massa fundida apenas
atravs de uma abertura especial, localizada no fundo do tanque. Esse dispositivo actua como sifo,
eliminando o material no fundido que permanece como sobrenadante. O vidro perfeitamente
homogeneizado transferido para uma prxima etapa.

C.8.3 Processo de Fabrico da Embalagem de Vidro

Fornecedora ou Canal de Distribuio


Aps a fase de condicionamento, o vidro homogneo conduzido para as fornecedoras ou canais
de distribuio. So conjuntos de equipamentos que conduzem a massa fundida do forno para as
mquinas automticas de fabrico, adequando a temperatura de forma a produzir as gotas com as
caractersticas desejadas, especficas para cada produto. A principal finalidade dessa etapa do
processo uniformizar a distribuio de temperatura do vidro em toda a massa que escoa no canal.

155

Anexo C A Indstria Vidreira

Seco de
Condicionamento

1
1234-

Bloco de alimentao
Seco de arrefecimento
Seco de equalizao
Panela e mecanismo de formao da gota

Figura 31 Representao esquemtica de uma fornecedora, indicando as principais reas

Consta basicamente de um canal no interior do qual o vidro escoa por gravidade do forno para o
alimentador e de uma panela ou recipiente no qual actua o alimentador. Na fornecedora esto
instalados sistemas e dispositivos de aquecimento (a gs o a leo) e de arrefecimento do vidro.

Alimentador
o equipamento que produz e fornece a gota de vidro fundido mquina de fabrico da
embalagem. Compe-se basicamente de um tubo e um pino refractrio, alm de uma tesoura, os
quais permitem que o processo de formao da gota seja totalmente automtico e contnuo. O
princpio de funcionamento o seguinte:
i)

O pino desloca-se para cima (como um mbolo), no interior do tubo, aspirando uma
determinada quantidade de vidro, correspondente ao peso do produto a ser fabricado. O
tubo controla a vazo de massa de vidro.

ii)

Em seguida, ao descer, o pino expulsa essa massa de vidro que passa atravs da arruela,
cuja funo reduzir a quantidade de vidro que escoa.

iii)

De forma perfeitamente sincronizada, a tesoura faz o corte da massa de vidro abaixo da


arruela, produzindo a gota com as caractersticas de peso, forma e perfil de temperatura
compatveis com os requisitos exigidos. A tesoura constituda de duas lminas especiais.

Um aspecto muito importante a compatibilizao entre a velocidade de formao das gotas e a


velocidade de operao das mquinas de fabrico.

156

Anexo C A Indstria Vidreira

Mquina Individual Section - I.S.


O equipamento mais utilizado para a conformao do vidro para a produo de embalagens
denomina-se mquina I.S. e consta de um conjunto de mecanismos pneumticos, comandados
mecanicamente ou electronicamente, cuja principal funo executar todas as operaes
necessrias para produzir uma embalagem de vidro. A denominao I.S. devida ao sistema de
seces individuais que o equipamento possui, as quais operam de forma independente. A
quantidade ou nmero de seces que podem fazer parte de uma mquina varia, em geral, de 6 at
16 seces.
Dependendo do tipo de mquina, as suas caractersticas podem variar tambm quanto quantidade
de embalagens que podem ser produzidas em cada ciclo. Uma I.S. dupla carga ou dupla gota
significa que pode produzir duas embalagens por ciclo, enquanto um equipamento de qudrupla
carga produz quatro unidades em cada seco por ciclo. As distncias entre eixos dos moldes e
entre os centros de cada gota tambm podem variar, dependendo do tipo e do tamanho (dimenses)
da embalagem a ser produzida.
De forma genrica, uma mquina I.S. constituda por um sistema de entrega da gota de vidro
fundido, o equipamento de moldagem em si e um sistema transportador que liberta as embalagens
prontas. Sobre a base da mquina I.S., esto montados os braos, suportes, dispositivos especiais
que sustentam os moldes e ferramentas para conformar a embalagem de vidro, durante o ciclo de
operao. Cada movimento ou operao do equipamento comandado por um sistema individual,
o qual tradicionalmente tem sido um tambor de programao mecnica. Na actualidade, os
equipamentos tm incorporado sistemas de programao electrnicos, considerados mais
inteligentes e eficientes. Dependendo das caractersticas do equipamento e do produto a ser
fabricado, as velocidades de produo podem variar, normalmente de 50 a 300 unidades/minuto.
Existem basicamente dois processos mais utilizados para a conformao de uma embalagem de
vidro:
i)

O processo mais tradicional denominado soprado-soprado e caracteriza-se pelo uso de ar


comprimido nas duas fases de moldagem, conforme detalhado a seguir. Esse processo tem
sido utilizado para a produo de garrafas e frascos com pequeno dimetro no bocal ou
gargalo.

ii)

O outro processo muito utilizado consiste na aplicao de uma prensagem na primeira fase,
seguindo-se um sopro na conformao final do produto. Portanto, denominado prensado-

157

Anexo C A Indstria Vidreira

soprado e aplica-se geralmente para potes o recipientes com maior dimetro no bocal o
gargalo.
A produo de copos de vidro pode ser feita tambm por meio de um processo de prensagem, em
equipamentos diferentes da mquina I.S.
No caso especfico de embalagens de gargalo estreito com baixo peso, utiliza-se o processo
narrow neck press and blow ou NNPB, o qual ser descrito adiante.

Processo soprado-soprado
So descritas a seguir, as vrias operaes que constituem o processo soprado-soprado.

Carregamento
Na parte traseira do equipamento, esto localizados os mecanismos de formao do parison ou prforma, denominado bloco. O sistema de alimentao mais utilizado o distribuidor de gotas,
conectado directamente a um alimentador no forno de fuso.
A gota com as caractersticas de formato, peso e temperatura perfeitamente adequadas ao perfil do
bloco em uso, transportada por gravidade na calha e passa atravs do funil, acomodando-se no
interior do bloco. Devem ser evitados contacto com o funil (marcas no parison) e a presena de
bolsas de ar (dificuldade de formao do gargalo).

Compresso
A etapa de compresso deve ser aplicada imediatamente, visando um bom contacto entre o vidro e
o metal do bloco. feita por meio de uma ferramenta denominada fundo de bloco, a qual
sobreposta sobre o funil e permite a passagem de ar comprimido, pressionando a massa fundida
sobre o molde para a perfeita formao do gargalo. O controlo de tempo de compresso e de
estabilizao considerado crtico.

158

Anexo C A Indstria Vidreira

Sopro do parison
Antes da introduo do ar para promover o sopro do parison, necessrio reaquecer a regio do
orifcio (feito pelo pino), permitindo a formao de uma bolha simtrica e sem deformao do
gargalo. Novamente, o tempo de formao do parison deve ser muito bem controlado, de forma a
permitir o mximo de estabilizao trmica da massa. Todas as fases seguintes dependem de uma
adequada operao de sopro do parison.
Aps a sua formao, o parison reaquecido para equilibrar novamente a temperatura e evitar a
presena da pele do vidro que foi arrefecida pelo contacto com o metal do molde. Portanto, esse
reaquecimento ocorre durante o processo de transferncia do parison para o lado da forma.

1.
2.
3.
4.
5.
6.

Queda da gota dentro do molde do parison;


Compresso da massa com ar comprimido para formao da mariza;
Sopro do parison;
Rotao de 180 e transferncia do parison para o molde final;
Sopragem da forma final;
Garrafa finalizada

Figura 32 Processo soprado-soprado do fabrico de garrafas de vidro

159

Anexo C A Indstria Vidreira

Transferncia
Mecanismo que transporta automaticamente o parison do lado do bloco para a forma ou molde
final, invertendo a sua posio. A velocidade de transferncia regulada de forma a adequar-se ao
peso, viscosidade e formato definitivo da embalagem. O tempo necessrio para atingir a
viscosidade ideal varivel, de modo a evitar qualquer deformao do produto aps a
desmoldagem.

Extraco
Aps a abertura da forma ou molde, a embalagem retirada por meio de um mecanismo de pinas
ou garras que so posicionadas na regio do gargalo e mantm a embalagem sobre a placa de
ventilao, que promove o arrefecimento do produto. Esse processo deve ser mito bem controlado,
pois a suavidade da transferncia e as caractersticas do escoamento de ar influenciam a qualidade
da embalagem recm produzida.

Processo prensado-soprado
O processo prensado-soprado difere do anterior (soprado-soprado) na primeira fase de moldagem
ou seja, conformao do parison. A sequncia de operaes basicamente a mesma descrita no
processo anterior, constituindo-se de : carregamento da gota ou carga, prensagem, transferncia,
sopro final e extraco da embalagem formada.

Carregamento
A gota libertada pelo alimentador e introduzida no bloco, acomodando-se acima do pino de
prensagem, correctamente posicionado. So aplicveis as mesmas consideraes feitas
anteriormente, quanto s caractersticas da gota e do processo em si.

160

Anexo C A Indstria Vidreira

Prensagem
O fundo do bloco deslocado para o fechar, enquanto o pino penetra na massa de vidro, formando
o parison. Portanto, neste caso, ocorre o escoamento decrescente do vidro entre o bloco e o parison,
formando-se o bocal ou gargalo por ltimo. Neste processo de prensagem h uma troca muito
intensa de calor, em funo da grande superfcie de contacto.

1.
2.
3.
4.
6.
7.

Queda da gota dentro do molde do parison;


Prensagem do parison;
Forma final do Parison
Rotao de 180 e transferncia do parison para o molde final;
Sopragem da forma final;
Recipiente final

Figura 33 Processo prensado-soprado de fabrico de potes de vidro

161

Anexo C A Indstria Vidreira

Transferncia
De forma semelhante ao processo sopro-sopro, aps a prensagem deve haver um reaquecimento do
parison para eliminar a pele mais fria e equilibrar a temperatura.
Na transferncia do parison para o lado da forma, haver uma inverso da pea, a qual passa a ficar
com o bocal para cima. Esse processo automtico e controlado em funo das caractersticas do
parison: peso, formato, viscosidade ideal para a conformao final.
Aps o posicionamento no lado da forma, o parison sofre um alongamento, como consequncia do
reaquecimento.

Sopro final
A conformao final da embalagem feita pela injeco de ar comprimido no parison, o qual
adquire a forma do molde. Dependendo do tipo de produto, pode ser aplicado vcuo atravs de
orifcios existentes nas paredes do molde, o que facilita a conformao de embalagem de grande
dimetro.
Como mencionado anteriormente, o tempo de sopro final deve ser o maior possvel par permitir
uma boa estabilizao da embalagem (maior viscosidade), de forma a evitar deformaes na
desmoldagem. A presso de ar deve ser controlada adequadamente dependendo do peso e da
geometria da embalagem.

Extraco
Aps a abertura da forma, o mecanismo de garras retira o produto fixando-se na regio do gargalo,
mantendo-o sobre a placa de ventilao. Decorrido o tempo de arrefecimento, a embalagem
colocada pelo empurrador na esteira de transporte. Cabem aqui as mesmas consideraes feitas no
processo soprado-soprado (controlo de presso de ar, da viscosidade do vidro, do tipo de fundo da
embalagem).

162

Anexo C A Indstria Vidreira

Processo narrow neck press and blow - NNPB

Uma das limitaes mais criticas da embalagem de vidro o seu peso. Em funo da densidade do
vidro e das exigncias de resistncia mecnica para as embalagens de vidro, esta sempre mais
pesada que as embalagens produzidas com outros tipos de materiais.
Importantes desenvolvimentos ocorridos especialmente nas dcadas de 70 e 80, aliados a uma
evoluo tecnolgica muito significativa e melhoramento contnuo dos processos de fabrico,
permitiram expressivas redues do peso das embalagens de vidro (Ortiz, 1996). De entre esses
desenvolvimentos, um dos mais relevantes foi a aplicao do processo prensado-soprado para
embalagens com gargalo estreito, conhecido como narrow neck press and blow (NNPB).
A reduo na espessura de parede e a distribuio mais uniforme e homognea do vidro em toda a
embalagem, sem comprometimento das caractersticas de resistncia fsica e mecnica, contribuiu
para o uso generalizado desse processo a nvel internacional.
Entretanto, importante realar que o processo NNPB envolve maior complexidade em todas as
operaes de conformao e moldagem, exigindo um rigoroso controlo das variveis envolvidas.
Estudos realizados e constataes prticas verificadas nas fbricas de vidros tm demonstrado que
o processo soprado-soprado tambm oferece boas possibilidades de reduo de peso para
embalagens de vidro. Foram obtidos valores de at 30% de aliviamento mdio controlando-se a
qualidade do vidro, a homogeneidade trmica e todos os parmetros de operao das mquinas I.S.
Portanto, de forma geral, as inovaes tecnolgicas continuamente incorporadas no processo de
produo de embalagens de vidro evidenciam que, embora tenham sido atingidos excelentes nveis
de produtividade e de qualidade, h ainda muito potencial par evoluo.

Processo de produo semi-automtica de recipientes de vidro

O processo semi-automtico de fabrico de recipientes de vidro j praticamente desapareceu, nos


pases desenvolvidos e foi substitudo por completo pelo processo de produo automtica. No
processo semi-automtico, a gota transportada manualmente com uma vara de ferro e a
quantidade correcta de massa de vidro entra num molde do parison ou pr-forma da embalagem.
introduzido ar comprimido para formar a mariza ou pescoo do recipiente. A forma embrio

163

Anexo C A Indstria Vidreira

ou pr-forma (parison) transferida para o molde final no qual introduzido ar comprimido para a
soprar at forma final da garrafa.

Processo de produo automtica de recipientes de vidro

Neste processo, a gota de vidro formada automaticamente acima do molde do parison caindo por
gravidade dentro deste. O formato e o peso da gota pr-determinado consoante o tamanho e as
caractersticas fsicas do recipiente (comprido ou achatado). A linha de produo automtica de
recipientes de vidro, inclui a formao dos recipientes, tratamentos de superfcie, controlo do
processo e paletizao das garrafas.

Recozimento
Qualquer tipo de embalagem de vidro, independentemente do processo de fabrico, sofre durante e
aps as operaes de conformao, um arrefecimento rpido e/ou irregular o que gera tenses
internas na massa de vidro. Essas tenses no apresentam distribuio uniforme e podem provocar
a ruptura da embalagem (em alguns casos at expontnea). Portanto, um tratamento trmico muito
bem controlado deve ser aplicado posteriormente, cuja finalidade principal minimizar essas
tenses residais a nveis comercialmente aceites. Esse tratamento denomina-se recozimento.
Quando a embalagem recm moldada retirada do molde a sua temperatura est em torno dos
650C. A gerao das tenses residuais devida ao arrefecimento superficial muito intenso,
necessrio para que a embalagem tenha rigidez suficiente para ser transportada. Assim, ocorre uma
contraco das superfcies, enquanto o interior da parede da embalagem permanece mais quente e
portanto, dilatada. Quando a temperatura nas superfcies atinge o valor inferior da regio de
transformao, a contraco gerou tenses permanentes de traco e de compresso.
O processo de recozimento feito num forno ou tnel contnuo, revestido com material refractrio
e provido de uma esteira metlica que conduz as embalagens atravs das vrias seces. Existem
controlos individuais de temperatura e o comprimento total do tnel cerca de 30 metros.
Na Figura 34 representado graficamente o grfico da temperatura em funo tempo, caracterstico
do recozimento de embalagens de vidro. Observe-se que a regio C, caracterizada como de

164

Anexo C A Indstria Vidreira

arrefecimento inicial crtico, a mais importante de todo o processo. Isto porque se situa na zona
de transformao do vidro.

"Ponto de recozimento"+5C

"Ponto de recozimento" (AP)


"Ponto de ruptura" (SP)

Temperatura

"Ponto de recozimento"

"Ponto de ruptura" -50C

-150C
A

Tempo

A - Aquecimento rpido at atingir 5C acima de A.P.


B - Estabilizao na temperatura de A.P.+5C
C - Arrefecimento inicial crtico at o S.P.
D - Arrefecimento de segurana at S.P. - 50C
E - Arrefecimento final at cerca de 150C

Figura 34 Representao esquemtica da curva temperatura versus tempo de recozimento de embalagens de


vidro

Em termos gerais, o recozimento feito em duas etapas:


-

relaxamento das tenses residuais por aquecimento at uma temperatura especfica e por tempo
controlado;

arrefecimento lento e totalmente controlado, at um valor de segurana no qual no h


possibilidade de ocorrer novas tenses.

C.8.5 Tratamentos superficiais

Como j discutido anteriormente, a manuteno da resistncia intrnseca do vidro depende do


estado de conservao da superfcie da embalagem durante as fases de fabrico e utilizao da
mesma. Para atingir esse objectivo, necessrio minimizar os danos fsicos e mecnicos sofridos
(abraso superficial e propagao de fissuras).

165

Anexo C A Indstria Vidreira

Os desenvolvimentos ocorridos em relao aos tratamentos superficiais para embalagens de vidro


destinadas ao acondicionamento de alimentos e bebidas so baseados em dois princpios:
modificao da estrutura molecular do material ou aplicao de revestimentos polimricos
directamente sobre a superfcie externa da embalagem. O processo mais utilizado a combinao
dos chamados tratamento a quente e a frio, aplicados durante o fabrico da embalagem, conforme
esquematizado na Figura 35.
Tratamento a
quente

Tratamento a
frio

Vaporizao com xido


metlico

Vaporizao

Mquina I:S.
Tnel de
recozimento
(-500C)

Inspeco

Produto final

(-100C)

Figura 35 Esquema do processo de tratamento superficial a quente e a frio para embalagens de vidro

Tratamento a quente
Antes de ser introduzida no tnel de recozimento, a embalagem de vidro recebe uma asperso de
vapores contendo cloreto de estanho. Em alguns casos, o tratamento feito com cloreto de titnio.
Essa aplicao feita num pequeno tnel especfico para esse processo, no qual a temperatura dos
vapores atinge cerca de 200C. Quando esses vapores so depositados sobre a superfcie da
embalagem de vidro a uma temperatura de 450C a 600C, forma-se o xido de estanho (ou de
titnio). A delegada pelcula formada da ordem de 20 a 80 , conferindo uma maior dureza
superficial ao vidro e actuando como substracto para o tratamento a frio, a ser aplicado
posteriormente. A reaco qumica que ocorre uma substituio dos ies de sdio por ies de
estanho (ou titnio), que so maiores. Assim, cria-se um efeito de compresso na superfcie
externa, favorecendo a resistncia da embalagem abraso superficial.

Tratamento a frio
aplicado no momento em que a embalagem sai do tnel de recozimento, a uma temperatura da
ordem de 100C (varivel de 80 a 120C). Esse processo consiste na asperso ou pulverizao de

166

Anexo C A Indstria Vidreira

um lquido lubrificante, cuja funo reduzir o atrito entre as superfcies externas do vidro, quando
as embalagens tm contacto directo, especialmente nas linhas, sob presso.
Dois grupos de lubrificantes so geralmente utilizados:
i) Solveis em gua: polietileno glicol e os steres derivados;
ii) Insolveis em gua: emulses base de polietileno e alguns tipos de cidos gordos.
A vantagem do uso de compostos insolveis em gua que podem permanecer por mais tempo na
superfcie do vidro, mesmo aps lavagem da embalagem.
Vrios estudos realizados demonstraram que a maior eficincia de proteco obtida quando so
combinados os dois tratamentos (a quente e a frio). Dependendo das substncias aplicadas, a
proteco mantm-se mesmo nos processos de pasteurizao e de esterilizao da embalagem de
vidro.

Uso de resinas polimricas


Os mais recentes processos de revestimento do vidro com resinas polimricas (filmes plsticos
aplicados em toda a superfcie externa da embalagem) tm sido desenvolvidos especialmente no
Japo, Alemanha e Estados Unidos da Amrica. Alm de oferecer ptima proteco contra a
abraso superficial e a propagao de fissuras na superfcie externa da embalagem de vidro, esses
processos asseguram a reteno de fragmentos em caso de ruptura da embalagem. Isso
fundamental para garrafas destinadas a produtos sob presso (bebidas carbonatadas).
A maioria dos processos conhecidos utiliza resinas base de poliuretano. Essas tecnologias ainda
esto a ser melhorados, prevendo-se, num futuro prximo, uma crescente aplicao industrial.

C.8.6 Decorao ou rotulagem

A rotulagem de uso mais generalizado e consistente na aplicao de rtulos (de papel ou


laminados com filmes plsticos), colados individualmente na embalagem de vidro j finalizada,
tanto na prpria vidreira (pr-rotulada) como no produtor do alimento ou da bebida. Esse sistema

167

Anexo C A Indstria Vidreira

tem aplicao muito ampla para embalagens no retornveis. O uso mais recente de rtulos
plsticos termo-retrcteis constitui uma tecnologia com grande potencial de sucesso.
A decorao permanente uma impresso definitiva em reas especficas da embalagem,
utilizando-se, em geral, um processo serigrfico. um sistema muito usado em garrafas retornveis
personalizadas ou em copos de vidro para alimentos ou embalagens que podem ser reutilizadas a
nvel domstico.
Resumidamente, esse processo consiste na aplicao de tintas cermicas, base de vidro e
pigmentos, denominado esmalte vitrificvel termoplstico. Cada cor impressa individualmente,
com o uso de matrizes especialmente preparadas. Aplica-se em seguida um tratamento trmico
controlado em forno contnuo, com temperaturas da ordem de 500 a 620C, onde ocorre um
processo de vitrificao.

C.8.7 Inspeco em linha

As fbricas de vidros tm dedicado especial ateno aos equipamentos e procedimentos de


inspeco das embalagens produzidas, devido a duas razes muito especficas. A primeira delas,
porque logo aps a moldagem, a embalagem ainda permanece muito aquecida e vulnervel a
deformaes se manuseada. A segunda, porque o processo de recozimento tem longa durao, da
ordem de 20 minutos (tempo de residncia no tnel de recozimento). Portanto, um eficiente sistema
de inspeco em linha deve associar a possibilidade de rejeio sistemtica e automatizada de
embalagens no conformes o mais prximo possvel do processo de moldagem.
Um sistema muito eficiente denomina-se cdigo de pontos e consiste na identificao do nmero
de molde no qual a embalagem foi produzida por meio de leitura por sistema ptico e electrnico.
Sempre que houver problemas no processo de moldagem, accionado um mecanismo de
segregao automtica de todas as embalagens produzidas naquele molde ou em cada seco da
mquina I.S. individualmente. Existem muitas variaes na apresentao dos cdigos bem como no
posicionamento dos mesmos, dependendo do tipo de embalagem. De forma geral, localizam-se no
calcanhar ou no fundo da embalagem.
Os principais processos e sistemas de inspeco automtica em linha so voltados para a deteco
de defeitos de natureza fsica e dimensional. Alguns dos mais recentes sistemas disponveis

168

Anexo C A Indstria Vidreira

promovem a inspeco de microfissuras nas diferentes regies da embalagem de vidro, utilizando


sistema pticos. Modernos sistemas incorporam microprocessadores e permitem a verificao
precisa de variaes dimensionais por meio de vdeo e imagem, inclusivo quanto distribuio de
espessura de vidro. Outros sistemas mais avanados consistem em equipamentos que submetem a
embalagem a esforos que permitem avaliar a sua resistncia, evitando que deixem as linhas de
produo com valores abaixo do mnimo especificado.
Tcnicas base de sensores para raio laser ou cmaras CCD tm sido utilizadas para inspeces
mais complexas, a partir de processos continuamente melhorados e integrados a sistemas
computadorizados. As altas velocidades de produo e as restritas tolerncias em termos de
qualidade de embalagem por parte das indstrias alimentcias e de bebidas, exigem investimentos
significativos das fbricas de vidros, nessa rea.
Portanto, as modernas linhas de produo comprovam que a inspeco electrnica automatizada
essencial para assegurar o atendimento s exigncias cada vez maiores dos padres de qualidade.
Os programas de qualidade assegurada somente apresentam sucesso quando baseados em sistemas
totalmente fiveis e compatveis com as modernas tecnologias de produo industrial.

169

Anexo C A Indstria Vidreira

C.9 Principais tipos e caractersticas das embalagens de


vidro

Nos segmentos de alimentos e bebidas, utilizada uma grande variedade de formas e tamanhos de
embalagens de vidro, produzidas a partir de um dos quatro tipos de processos apresentados
anteriormente. Existem embalagens na forma de potes, garrafas, copos, frascos, empregues no
acondicionamento de produtos lquidos (inclusive bebidas carbonatadas), alimentos desidratados,
alimentos submetidos a pasteurizao e esterilizao, entre outros produtos.

C.9.1 Tipos de embalagens de vidro

Uma classificao muito utilizada para essas embalagens de vidro quanto ao uso ou aplicao das mesmas.
Consideram-se trs categorias a saber.

Embalagem descartvel ou de tara perdida


So garrafas, potes e frascos, em geral de menor peso, utilizados para o acondicionamento do
produto at ao momento do consumo final.

170

Anexo C A Indstria Vidreira

Posteriormente, essas embalagens so descartadas em colectores especficos ou por meio de


sistemas de colecta selectiva, para reciclagem. Assim, a embalagem utilizada apenas uma vez,
seguindo-se o reaproveitamento do material (vidro) pelas fbricas de vidros na forma de cacos
(matria-prima) para a produo de novas embalagens.

Embalagem retornvel
Essa classe de embalagens de vidro constituda especialmente por garrafas de maior peso, que
podem ser de uso comum ou personalizadas (decoradas) para uso especfico. Quando utilizadas
para bebidas carbonatadas (cervejas, refrigerantes, gua mineral), devem atender a rigorosas
especificaes por questes de segurana.
A principal vantagem desse tipo de embalagem a possibilidade de uso mltiplo, pois foi
dimensionada para manter as caractersticas de resistncia durante vrios ciclos ou viagens. alm
disso, por ser de vidro, um material estvel e praticamente inerte, a embalagem pode ser lavada e
higienizada por processos eficientes, toda a vez que retorna unidade de engarrafamento. Alguns
pases, utilizam grande quantidade de garrafas retornveis para cervejas e refrigerantes.

C.9.2 Caractersticas das embalagens de vidro

Para que possam ser avaliadas criteriosamente as principais caractersticas de uma embalagem de
vidro necessrio estabelecer uma nomenclatura comum aos fabricantes (fbricas de vidros) e
empresas produtoras de alimentos e bebidas.
Do ponto de vista do fabricante da embalagem de vidro constituda por trs partes fundamentais,
em funo dos conjuntos de moldes com os quais so produzidas.

Mariza
a rea ou parte da embalagem destinada fixao do sistema de fecho (tampa). No processo
automtico de fabrico a primeira regio moldada. No processo artesanal ou manual, constitui a
ltima regio a ser moldada.

171

Anexo C A Indstria Vidreira

Corpo
a rea mais generalizada de uma embalagem de vidro. Nessa regio que esto localizados o
ombro e o calcanhar, os quais constituem geralmente, as reas de contacto entre duas embalagens
de formato similar.

Fundo
rea sobre a qual a embalagem sustentada, quando na posio vertical. Uma boa estabilidade
pode ser obtida sempre que o fundo tiver a maior rea possvel, respeitando-se as limitaes do
desenho da embalagem.
A nvel internacional existem normas que estabelecem detalhadamente essas definies. Portanto, a
definio e uso de uma terminologia comum fundamental para que sejam avaliadas as
caractersticas fsicas e mecnicas das embalagens de vidro, destacando-se as seguintes
determinaes:
-

avaliao dimensional, dimetros, altura, capacidade volumtrica, verticalidade, paralelismo,


distribuio de espessura, etc.

resistncia mecnica, ao impacto, carga vertical, presso interna, etc.

propriedades fsicas, coeficiente de atrito, tratamentos superficiais, transmisso de luz,


resistncia ao choque trmico, etc.

avaliao visual, identificao e classificao de defeitos.

Sistemas de fecho
Quanto aos aspectos de natureza funcional as embalagens de vidro exigem sistemas de fecho
compatveis e perfeitamente adequados aos diversos usos em que se aplicam. Em geral, muitos dos
problemas ocorridos com relao conservao do produto so devidos ao desempenho
insatisfatrio do sistema de fecho, seja em relao tampa em si ou s caractersticas de vedao
da mariza (ou gargalo).

172

Anexo C A Indstria Vidreira

Dependendo do tipo de embalagem (garrafa, pote, frasco ou copo) so exigidas caractersticas


especficas para o sistema tampa/embalagem. Existe actualmente no mercado um ampla variedade
de tampas, cada uma delas compatvel com um tipo de terminao, em geral padronizada.
Para qualquer sistema de fecho destinado a alimentos ou bebidas, so recomendadas as seguintes
caractersticas bsicas:
-

ser eficiente e seguro, evitando qualquer vazamento do contedo (inclusive gases) e


impossibilitando que substncias ou microorganismos externos penetrem na embalagem;

apresentar total inrcia em relao a possveis interaces indesejveis com o contedo;

ser prtico e de alta convenincia, permitindo fcil abertura e fechos posteriores;

evidenciar imediatamente qualquer violao do sistema (dispositivos de segurana).

173

Anexo C A Indstria Vidreira

C.10 Procedimentos de utilizao

Como analisado em itens anteriores, a embalagem de vidro tem boas caractersticas de resistncia,
desde que adequadamente produzida e utilizada, respeitando-se algumas limitaes intrnsecas de
natureza fsica e mecnica.
O estado de conservao da superfcie do vidro directamente responsvel pela manuteno ou no
dos nveis de resistncia que a embalagem adquiriu logo aps o seu fabrico.
Portanto, em todas as etapas da cadeia de produo, transporte, armazenagem, distribuio,
comercializao e uso final devem ser adoptados procedimentos e cuidados mnimos que
asseguram a qualidade e a segurana das embalagens de vidro, especialmente quando se tratar de
garrafas que contenham produtos sob presso.
A seguir so identificados os principais procedimentos e cuidados que devem ser adoptados para
minimizar a ocorrncia de condies que promovam danos fsicos ou mecnicos na embalagem,
prejudicando a sua utilizao.

Fbricas de vidros
As linhas de transporte das embalagens prontas devem dispor de materiais que protejam o vidro do
contacto com metais ou outros materiais agressivos superfcie.

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Anexo C A Indstria Vidreira

Os equipamentos de inspeco no devem promover nenhum tipo de desgaste ou dano fsico na


embalagem, dispondo sempre que necessrio, de materiais e dispositivos compatveis e adequados
para o contacto directo com a superfcie do vidro.
Os sistemas de paletizao e encaixotamento (caixas de papelo ondulado ou garrafeiras plsticas)
devem ser perfeitamente compatveis com as caractersticas da embalagem de vidro, evitando
choques e movimentao brusca que promova o contacto directo entre embalagens de forma
agressiva.
As condies de movimentao e armazenagem do produto acabado devem atender aos requisitos
estabelecidos, via de regra, entre o fabricante e o cliente.
No caso especfico de garrafas para bebidas carbonatadas, recomenda-se que as fbricas de vidros
atendam aos padres tcnicos vigentes, de preferncia estabelecidos por normas tcnicas oficiais.

Transporte ao cliente
Meios de transporte via terrestre exigem cuidados especiais visto que em muitos casos, as
condies de movimentao no atendem as exigncias mnimas de proteco. A ttulo de
exemplo, estradas mal conservadas, camies com pouca manuteno podem provocar srios danos
na embalagem de vidro, mesmo se estiver bem acondicionada.
No caso especfico de embalagens acondicionadas em unidades de carga a granel, esses cuidados
devem ser muito bem especificados.

Cliente (indstria de alimentos e bebidas)


Condies adequadas de movimentao e de armazenagem das embalagens antes do uso.
Equipamentos e processos de lavagem, enchimento, fecho, processamento trmico, rotulagem,
encaixotamento devem ser compatveis com a embalagem em uso, especialmente quanto aos
aspectos de regulamentao dos equipamentos (condies operacionais) e de proteco contra os
danos fsicos e mecnicos.

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Anexo C A Indstria Vidreira

No caso especfico de garrafas de vidro para bebidas carbonatadas, so exigidos padres de


controlo quanto s especificaes da embalagem e quanto aos parmetros de processo,
especialmente aqueles que envolvem as etapas de lavagem, enchimento e pasteurizao.

Distribuio e comercializao
Sistemas e equipamentos de descarga e movimentao adequados ao tipo de produto/embalagem
em questo.
Sistemas de exposio e venda, compatveis com o tipo de produto/embalagem, evitando riscos e
dificuldades de manuseamento pelo consumidor.
Especialmente no caso de embalagens contendo bebidas carbonatadas, os pontos de venda devem
observar todos os procedimentos e normas par evitar situaes de risco segurana dos que
manipulam e adquirem esses produtos. No devem ser criadas condies que promovam choques
(mecnicos ou trmicos). Segundo mecanismos especficos, o consumidor deve ser informado a
respeito dos cuidados que devem ser tomados para o uso seguro dessas embalagens.

Consumo final
Informaes suficientes e indispensveis ao uso adequado do produto/embalagem, especialmente
quanto aos requisitos de conservao e consumo do produto. Neste caso, os dispositivos legais
exercem uma funo reguladora imprescindvel para o cumprimento dessas necessidades.

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