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Manaus 1910-1940

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS


PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM HISTRIA
MESTRADO EM HISTRIA

OUTRAS FACES DA HISTRIA:


MANAUS DE 1910-1940

DORINETHE DOS SANTOS BENTES

MANAUS
2008

DORINETHE DOS SANTOS BENTES

OUTRAS FACES DA HISTRIA:


MANAUS DE 1910-1940

Dissertao apresentada ao Programa de PsGraduao em Histria da Universidade Federal


do Amazonas UFAM, como requisito para
obteno do grau de Mestre em Histria.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Jos Batista Nogueira

MANAUS
2008

B475

Bentes, Dorinethe dos Santos


Outras faces da histria: Manaus de 1910 1940 /
Dorinethe
dos Santos Bentes.- Manaus,
AM: UFAM, 2008.
208f.; il.
Inclui referncias.
Dissertao (Mestrado em Histria). Universidade
Federal do Amazonas. Instituto de Cincias Humanas e
Letras, Orientador: Prof Dr: Ricardo Jos Batista
Nogueira.
1. Manaus(AM) - Histria - 1910 - 1940 2. Manaus
Poltica e Governo - 1910 - 1940 I. Nogueira, Ricardo
Jos Batista (Orient.) II. Ttulo.

DORINETHE DOS SANTOS BENTES

OUTRAS FACES DA HISTRIA:


MANAUS DE 1910-1940

Dissertao apresentada ao Programa de PsGraduao em Histria da Universidade Federal


do Amazonas UFAM, como requisito para
obteno do grau de Mestre em Histria.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Ricardo Jos Batista Nogueira


(Presidente)
Prof. Dr. Maria Luiza Ugarte Pinheiro
(Membro)
Prof. Dr. Maria Izabel de Medeiros Valle
Membro
Prof. Dr. Auxiliomar Silva Ugarte
(Suplente)

Dedico:
Aos meus pais, Benedito de Souza Bentes e
Izabel Gomes dos Santos Bentes, pelo carinho e
dedicao.
Aos meus dois amores, Amarildo Rodrigues
Rolim, pelo incansvel apoio que me deu ao
longo desse trabalho e Helena dos Santos
Bentes Rolim, minha eterna princesinha.

AGRADECIMENTOS

quase impossvel agradecer a todos que, de uma forma ou de outra,


contriburam para a concretizao desse trabalho, com a indicao de um livro, um
comentrios bem feito, uma puxada de orelha, uma discusso calorosa, uma dica
da localizao de uma fonte, uma foto do perodo investigado, o paradeiro de
documento perdido, e tantas outras coisas que poderiam ser relacionadas aqui. No
entanto, mesmo correndo o risco de no contemplar a todos, vamos l. Agradeo:
Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas, por meio do Centro Cultural
dos Povos da Amaznia, a quem estava vinculada como pesquisadora, no perodo
que iniciei esse trabalho, pelo esforo que foi feito para conseguir a minha liberao
para cursar as disciplinas no primeiro ano do mestrado e ao Secretrio Roberio
Braga, por ter autorizado a referida liberao.
Diretoria Tcnica do Centro Cultural dos Povos da Amaznia - CCPA, na
pessoa da Diretora Lauriene Nakai Rodrigues Faraco e a toda equipe da Diretoria,
pelo apoio e incentivo que sempre me deram.
Diretoria de Gesto da Informao do Centro Cultural dos Povos da
Amaznia, nas pessoas de Ana Christina Estevam dos Santos, Raimundo Nonato
dos Santos Braga e Messias pela documentao e informaes fundamentais para
o desenvolvimento da pesquisa. Queria destacar aqui a grande ateno e carinho
que o Nonatinho, como conhecido por todos, dedicou a essa pesquisa.
Direo do IHGA, na pessoa da historiadora Edina Mascarenhas Dias e
seus funcionrios, na pessoa da nossa querida aluna Marlcia Bentes, por toda sua

dedicao e ateno a todos que procuram pesquisar no acervo do IHGA.


Normalmente o IHGA muito questionado por nunca estar disponvel para os
pesquisadores, para minha sorte e do meu trabalho, sempre que fui busca de
documentao fui muito bem atendida por todos, por isso, a base a minha pesquisa
foi desenvolvida no acervo do Instituto Histrico Geogrfico do Amazonas.
Associao Comercial do Amazonas - ACA, por estar, na medida do
possvel, atendendo aos pesquisadores que buscam a documentao existente na
sua biblioteca.
s bibliotecrias do Museu Amaznico, Rosngela Martins e Helena
Rodrigues, por suas atenes e amplos conhecimentos do acervo da biblioteca,
facilitando a pesquisa documental.
Em trabalhos dessa magnitude, pouco se pode fazer sem o apoio dos amigos,
que nos incentivam a continuar nos momentos de fraqueza ou de decepo. Ei-los:
Ligiane Pessoa dos Santos, Elisngela Maciel, Maria Eugnia Matos, Meyre Laura,
Adriana Barata, Flvia Oliveira da Silva, Rozane Barbosa Mesquita, David Avelino
Leal, Aloysio Nogueira, Auxiliomar Ugarte, Patrcia Melo Sampaio e Deusa Costa.
Ao professor Ricardo Nogueira gostaria de deixar registrado meu carinho e
minha gratido, por ter aceitado ser meu orientador no meio do trabalho. Sei o
quanto difcil para qualquer profissional pegar o bonde andando, correndo
enormes riscos do trabalho no fluir. Voc teve ousadia de enfrent-los. Eles
poderiam significar uma vitria ou uma grande decepo.
Aos professores do programa de ps-graduao em Histria da Universidade
do Amazonas: Almir Diniz de Carvalho Junior, Luz Balkar S Peixoto Pinheiro,
Elona Monteiro dos Santos, Hideraldo Lima da Costa, Auxiliomar Silva Ugarte e
Maria Luza Ugarte Pinheiro, os dois ltimos em especial, pelas contribuies que
foram feitas a esse trabalho no perodo da qualificao, na verdade eles
direcionaram o seu andamento at sua finalizao.

Resumo

Neste trabalho, analisamos a histria da cidade de Manaus no perodo de 1910


-1940, por meio de sua forma fsica, considerando os edifcios, as ruas, os bairros, as
pontes, as estradas entre outros, como momentos e partes de um todo que a cidade,
porque ela s se torna compreensvel mediante o estudo de suas diversas manifestaes e
comportamentos. Para desenvolver nossa investigao sobre a cidade, a linha terica e
metodolgica que mais se ajustou aos nossos objetivos foi a da Nova Histria Cultural, por
ser a perspectiva de interpretao da histria que possibilita a soma de outros dos modelos
tericos, integrando o geral com o particular. Por meio dessa anlise, pretendemos dar voz
documentao oficial emitida pelos governadores e superintendentes municipais; tais
como as mensagens governamentais enviadas Assemblia Legislativa do Estado, as
Exposies enviadas ao Governo Federal, aos relatrios da Intendncia enviados Cmara
Municipal, as mensagens municipais enviadas ao governo do Estado. Sem deixar de
valorizar o cruzamento dessas informaes com os dados fornecidos por outras fontes:
peridicos e anurios, lbuns e almanaques produzidos no perodo em investigao e a
bibliografia referente ao tema. Conclumos esse trabalho, constatando que a Manaus de
1910 a 1940 era uma cidade em ebulio: pequenas e grandes obras, crescimento
populacional, o espao fsico da cidade em expanso. E mais ainda, o poder pblico,
acuado por diferentes interesses sociais, no mais poderia dar ouvido somente elite, ele
era obrigado, por fora das circunstncias econmicas e scio-culturais, a dar respostas s
demandas dos moradores dos subrbios e das zonas agrcolas do Municpio.

Palavras-chave: Histria, Cidade, Cultura, Arquitetura, Urbanismo.

ABSTRACT

In this research, we analyze Manaus city history within the time 1910-1940, through
its physical structure, considering the buildings, the streets, the districts, the bridges, the
roads and others, as moments and parts of all the city is, because it only becomes
comprehensible by means of study about its several manifestations and behaviors. For
developing our investigation about the city, the theorical and methodological part more
adapted for our purposes was the new cultural history, because it is the history interpretation
perspective that enables the addition of other theorical standards, integrating the general and
the particular. Through this analysis, we intend give voice to official documentation issued by
municipal governors and councilmen, such as governmental message sent to State
Legislative Assembly, the Expositions sent to Federal Government, the Council reports sent
to Municipal Chamber and the municipal messages sent to State Government. We
appreciate the cross of these informations with the provided communications by other
origins: periodicals and yearbooks, albums and almanacs made within the investigated time
and the bibliography concerned to the subject. We conclude this research, noting Manaus
from 1910 to1940 was a city in boiling: small and large constractions, population growth, the
physical space of the city in expansion. And more, the public power, pressioned by different
social interests, no longer could hear only the elite, it was obliged, by virtue of economic
circumstances and socio cultural, to give answers to the demands of the residents of the
suburbs and agricultural areas of the city.

Key-words: History, City, Culture, Architecture, Urbanism.

10

LISTA DE GRFICOS

GRFICO 1: Balana comercial de importao e exportao do Estado do


Amazonas 1933-1937...................................................................................67
GRFICO 2: Receita da Prefeitura de Manaus 1935-1937........................68
GRFICO 3: Exportao de timb 1935-1937............................................69
GRFICO 4: Exportao de castanha do Brasil 1933-1937......................69
GRFICO 5: Exportao de guaran 1933-1937........................................70
GRFICO 6: Exportao de madeira 1933-1937........................................70
GRFICO 7: Exportao de essncia de pau rosa 1933-1937.................71
GRFICO 8: Exportao de piaaba 1933-1937........................................71
GRFICO 9: Exportao de borracha 1933-1937.......................................72

11

LISTA DE PLANTAS

PLANTA 1: Bairro Villa Municipal.................................................................108


PLANTA 2: Projeto de alinhamento da rua Floriano Peixoto........................133
PLANTA 3: Terminal da rua Xavier de Mendona Escadaria e muro de
arrimo e galeria de esgotos...........................................................................135
PLANTA 4: Depsito Municipal.....................................................................154
PLANTA 5: Feira da Cachoeirinha................................................................160
PLANTA 6: Igarap da Cachoeirinha............................................................169
PLANTA 7: Planta do baixa do 1 piso do prdio do Departamento de Sade
Pblica do Estado..........................................................................................181
PLANTA 8: Planta baixa do 2 piso do prdio do Departamento de Sade
Pblica do Estado..........................................................................................182

12

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Amaznia - Distribuio da renda interna por setores econmicos:


1890-1920........................................................................................................85
TABELA 2: Arrecadao da intendncia Municipal de Manaus
1910-1937............................................................................................................
.....90
TABELA 3: Relao dos interventores do Municpio de Manaus no perodo de
1930-1935......................................................................................................118

13

LISTA DE MAPAS

MAPA 1: Igaraps da Bequemoa e do Padre Salgado...................................96


MAPA 2: Planta dos igaraps da Cachoeirinha e da Ponte de Ferro.............97
MAPA 3: Planta dos igaraps da Castelhana e dos seus braos na Avenida
Barcelos e Avenidas Japur e Tarum............................................................98
MAPA 4 Planta das cabeceiras dos igaraps de Manos e da
Castelhana.......................................................................................................98
MAPA 5: Planta dos igaraps de Manos e Bittencourt.................................99
MAPA 6: Planta dos igaraps da Bica e de So Vicente..............................100
MAPA 7: Planta do igarap da Cachoeira Grande.......................................100
MAPA 8: Expanso da cidade em 1915.......................................................166
MAPA 9: Expanso da cidade em 1937.......................................................175

14

LISTA DE FOTOS

FOTO 1: Recalamento da Avenida Joaquim Nabuco, entre as ruas dos


Andradas e Jos Paranagu...........................................................................78
FOTO 2: Rua Municipal, aps o recalamento de 1913, essa atual Rua Sete
de Setembro....................................................................................................79
FOTO 3: Rua Lobo d Almada, antes da remodelao feita no perodo da
administrao de Jorge de Moraes.................................................................80
FOTO 4: Rua Lobo d Almada, no processo de remodelao feita no perodo
da administrao de Jorge de Moraes............................................................81
FOTO 5: Rua Lobo d Almada, depois da remodelao feita no perodo da
administrao de Jorge de Moraes.................................................................81
FOTO 6: Plano Inclinado...............................................................................112
FOTO 7: Calamento da rua Costa Azevedo..............................................127
FOTO 8: Melhoramentos realizados na rua Saldanha Marinho....................128
FOTO 9: Calamento da rua Quintino Bocaiva...........................................129
FOTO 10: Leonardo Malcher.........................................................................130
FOTO 11: Estrada Epaminondas, entre as ruas Simo Bolvar e Leonardo
Malcher..........................................................................................................131
FOTO 12: Rua Floriano Peixoto antes do alinhamento no trecho com a Jos
Paranagu.....................................................................................................133
FOTO 13: Forno Crematrio.........................................................................152
FOTO 14: Parte interna do Depsito Municipal............................................155

15

FOTO 15: Imagem da rea em que foram construdas as trs pontes da


Avenida Sete de Setembro............................................................................166
FOTO 16: Ponte Benjamin Constant.............................................................170
FOTO 17: O Bonde passando na Ponte Benjamin Constante, no sentido
Centro Bairro.................................................................................................171
FOTO 18: Estrada de Rodagem Campos Salles I.....................................172
FOTO 19: Estrada de Rodagem Campos Salles - II.....................................173
FOTO 20: Chefatura de Policia.....................................................................177
FOTO 21: Escola de Aprendizes Artfices.....................................................179
FOTO 22: Construo do prdio da Secretaria Geral...................................180
FOTO 23: Departamento de Sade Pblica concludo.................................183
FOTO 24: Casas no Bombeamento para residncia de operrios................184
FOTO 25: Palcio Rio Branco.......................................................................186
FOTO 26: Liceu de Artes e Ofcios...............................................................187

16

SUMRIO

INTRODUO ..........................................................................................................18
CAPTULO I O RITMO DA CIDADE NO PERODO DE 1910-1940.......................26
1.1 Cidade: construo do termo e do artefato......................................................26
1.2 A representao da cidade na Europa no final do sculo XIX e incio do

sculo XX.............................................................................................................31
1.3 As influncias europias nos estudos das cidades brasileiras.....................37
1.4 A intensificao das pesquisas sobre cidade no Amazonas.........................40
1.5 A cidade de Manaus de 1910 -1940...................................................................49
1.5.1

Contexto econmico, poltico e scio-cultural...........................................49

CAPTULO II A DESMISTIFICAO DA FNIX...................................................73


2.1 Caracterizao da cidade do ponto de vista urbanstico................................73
2.2 Os emprstimos externos e o crescimento da cidade....................................86
2.3 O sonho continua mesmo no perodo de recesso econmica.....................93
2.4 A migrao provoca mudanas no ritmo de construo da cidade............105
2.5 O realinhamento das polticas pblicas nos anos trinta...............................114
2.6 Saneamento e limpeza pblica........................................................................140
2.7 Limpeza pblica................................................................................................140
2.8 Obras de embelezamento: paisagismo, praas e jardins.............................144

CAPTULO III A CIDADE COMO ARTEFATO HUMANO....................................149

17

3.1 O contexto das construes dos fatos urbanos....................................149


3.2 Obras que visavam ampliar a arrecadao municipal...............................154
3.3 - Novos espaos dinamizando a vida na cidade...........................................157
3.4 As pontes e estradas de rodagem provas da dinmica da expanso do
espao urbano .......................................................................................................167
3.5. Obras estaduais e federais no Municpio de Manaus..................................176
CONSIDERAES FINAIS
REFERNCIAS
Fontes
Arquivos digitais
Almanaques
lbum
Leis
Estudo
ANEXO I
Mapa da Cidade de Manaus 1915
Mapa da Cidade de Manaus - 1937
ANEXO II
LEI n. 639, de 13 de setembro de 1910. Promulgado o Cdigo de Posturas do
Municpio de Manos,
LEI n. 1.059, de 22 de outubro de 1920. Promulgado o Cdigo de Postura do
Municpio de Manos, Livraria Clssica de J.J. da Cmara, rua Guilherme Moreira,
1 e 3. Canto da rua Theodoureto Souto, 11. Manos Amazonas. 1920.
ATO N 44, de 29 de julho de 1938. Outorgado o novo Cdigo de Postura do
Municpio de Manos, Amazonas Manaus Imprensa Pblica. 1939.

18

INTRODUO

As estruturas fsicas que constituem a cidade, construdas por pedra,


concreto, asfalto, ferro, madeira e todo o material necessrio para sua engenharia e
sua edificao expressam, em si, sonhos, ambies, conflitos de interesses, que
fazem de cada uma delas, representaes da histria de uma determinada poca.
Assim, os aspectos scio-culturais ficam impressos indelevelmente em todo artefato
construdo pela mo humana. Nessa perspectiva da cidade enquanto construo
social, buscamos analisar Manaus um pouco mais alm dos aspectos puramente
estticos de cada construo e centramos nossas atenes nas relaes sociais,
culturais e econmicas que possibilitaram sua edificao, resgatando o contexto dos
relacionamentos internos e externos dos grupos sociais que conviveram no espao
da cidade no perodo de 1910-1940.
Compreendendo-se que a cidade obra resultante da dinmica das
sociedades humanas e, por isso, inacabada, desde que haja continuidade das
sociedades que as criam, expressando um movimento dialtico constante de
rupturas, concordamos com Jacques Le Goff quando afirma que:
O que significa que, se pensarmos na longa durao, se formos alm
mesmo do caso de Paris, as funes essenciais de uma cidade so a troca,
a informao, a vida cultural e o poder. As funes de produo o setor
secundrio constituem apenas um momento da histria das cidades,
notadamente no sculo XIX, com a Revoluo Industrial, visvel, sobretudo,
nos subrbios situados na periferia. Elas podem desfazer-se; a funo da
cidade permanece.1

LE GOFF. Por Amor s cidades. Trad. De Reginaldo Carmello Corra de Morais. So Paulo:
UNESP, 1988. p. 29.

19

Esse tipo de abordagem tem produzido excelentes resultados: a histria da


cidade, por meio da arquitetura e da urbanizao, tem despertado grande interesse
nos meios acadmicos, isto devido s novas perspectivas de anlises que permitem
ampliar o olhar para alm dos aspectos puramente tcnicos dos motivos desses
artefatos e se estendem s implicaes culturais, polticas, econmicas e sociais
que se encontram inseridas nas metamorfoses da cidade, ao longo do tempo,
materializando o pensamento dos habitantes da cidade numa determinada poca,
como aponta Aldo Rossi:
(...) s vezes pergunto-me por que no se analisou a arquitetura por esse
seu valor mais profundo, de coisa humana que forma a realidade e
conforma a matria de acordo com uma concepo esttica. Assim, ela
mesma no apenas o lugar da condio humana, mas uma parte dessa
condio, que se representa na cidade e em seus monumentos, nos bairros,
nas residncias, em todos os fatos urbanos que emergem do espao
habitado. A partir dessa cena, os tericos penetraram a estrutura urbana,
sempre procurando perceber quais eram os pontos de referncia, os
verdadeiros ns estruturais da cidade, os pontos de que procedia a ao da
razo. 2

A arquitetura e o urbanismo, assim como outros fatores inerentes


sociedade, so datados. No basta apenas lanar um olhar sobre o passado na
inteno de resgat-los como lembrana de uma poca, preciso visit-los com o
objetivo de analisar os caminhos trilhados pelo Estado por meio de suas polticas
pblicas, sem deixar de lembrar as relaes estabelecidas pelas pessoas para que
tais polticas fossem propostas ou executadas. Esta visita deve ter a durao
necessria para a percepo do cotidiano, com o propsito de compreender os
discursos do Estado sobre a cidade. Isto porque no cotidiano das pessoas que se
encontram as afinidades e contradies de interesses capazes de reforar ou dar
novos contornos ao projeto de cidade elaborado pelo Estado.
Neste trabalho, analisamos a histria da cidade de Manaus por meio de sua
forma fsica, considerando os edifcios, as ruas, os bairros, as pontes, as estradas
entre outros, como momentos e partes de um todo que a cidade, porque ela s se
torna compreensvel mediante o estudo de suas diversas manifestaes e
comportamentos. No perodo que analisamos, foram diversos os agentes sociais
que permearam o interior da cidade, dando-lhe alma. Disto, interessou-nos as
articulaes implementadas pelo Estado e por sua populao para dinamizar o
2

ROSSI, Aldo. A Arquitetura da Cidade. Trad. De Eduardo Brando. So Paulo: Martins Fontes,
1995. p. 23.

20

cotidiano da cidade, esta que no se resume apenas aos seus aspectos visveis,
mas, a que respira, a que se admira, a que se frustra e se volta para o futuro em
busca de dias melhores.
Do ponto de vista acadmico, o presente trabalho corrobora com a abertura
de novos caminhos para analisar um perodo pouco privilegiado pela historiografia
regional, que tem concentrado seus estudos nos perodos entre 1850 a 1910, o
momento ureo de expanso da cidade de Manaus. Os estudos referentes ao
perodo de 1910-1940, realizados por diferentes linhas metodolgicas, consideramno como sendo uma fase de longa decadncia e letargia, mergulhado numa grande
crise, por isso, incapaz de produzir mudanas significativas na organizao da
cidade3.
Assim sendo, no reivindicamos para esse trabalho o pioneirismo da
pesquisa sobre a cidade de Manaus no recorte temporal por ns selecionado. Ele,
na verdade, espelha-se em outros estudos sobre essa mesma temtica. E segue os
caminhos abertos pelo professor Dr. Otoni Moreira de Mesquita,4 que aprofundou a
discusso sobre a histria da cidade por meio da arquitetura em sua dissertao de
Mestrado intitulada A Belle poque Manauara e sua Arquitetura Ecltica:
1852-1910. Estudo ao qual deu continuidade em sua Tese de Doutorado com o ttulo
La Belle Vitrine: O mito do progresso na refundao da cidade de Manaus
(1890/1900). Neste trabalho, ao analisar a histria da cidade do perodo entre 1890
a 1900, ele procurou demonstrar que o projeto de embelezamento de Manaus,
implementado pelo Governador Eduardo Ribeiro, por meio das polticas pblicas
estatais, modificou radicalmente a fisionomia da cidade. O presente trabalho se
prope a dar continuidade a essa investigao, no que se refere ao projeto de
embelezamento da cidade, verificando se ele abandonado ou readaptado s novas
condies econmicas vividas pela cidade no perodo entre os anos de 1910 a 1940.
Devido s caractersticas de nossa proposta temtica, optamos por investigar
a histria da cidade por meio de seus aspectos arquitetnicos e urbansticos, no
3

REIS, Arthur Csar Ferreira. Histria do Amazonas. Manaus: Superintendncia Cultural do


Amazonas/ So Paulo: EDUSP.1989. / LOUREIRO, Antonio Jos Souto. A Grande Crise
(1909-1916). Manaus: edio do autor, 1986. / LOUREIRO, Antonio Jos Souto. Tempos de
Esperana. Manaus: Editora Srgio Cardoso, 1994.
4
MESQUITA, Otoni Moreira de. Manaus: Histria e Arquitetura 1852-1910. 3. ed. Manaus: Editora
Valer, 2006 e MESQUITA, Otoni Moreira de. LA BELLE VITRINE: O mito do progresso na
refundao da cidade de Manaus (1890/1900). Tese de Doutorado em Histria Contempornea pela
Universidade Federal Fluminense. Niteri, 2005.

21

perodo de 1910-1940, compreendendo tais aspectos como artefatos culturais, que


esto sempre sendo modelados e aperfeioados por seus construtores.
Uma vez definido o nosso objeto de estudo, tornou-se mais fcil a escolha do
mtodo, pois, o que mais se ajusta aos nossos interesses a linha de pesquisa da
Nova Histria Cultural, porque esta perspectiva de interpretao da histria que
tem gerado resultados satisfatrios e calorosos debates entre os historiadores, e,
dentro deste contexto, optamos em seguir a orientao de Peter Burke no que se
refere ao conceito de cultura, definio necessria para a empreitada que iniciamos.
Peter Burke5 utiliza o termo cultura, ampliando seu significado, antes
resumido ao mtier da arte e da cincia, para uma gama de artefatos (imagens,
ferramentas, casas, dentre outras) e, prticas como o ato de conversar, ler, jogar
etc., esse conceito ajusta-se perfeitamente bem aos objetivos que queremos
alcanar na abordagem de nosso objeto de estudo, na medida em que permite a
anlise das vivncias sociais que possibilitaram a manuteno e a construo da
cidade no perodo de crise econmica.
Segundo Burke, essa noo de cultura no recente, no sendo por ele
forjada. Na verdade, ela foi recuperada dos escritos do antroplogo Edward Tylor,
para quem cultura definida como o todo complexo que inclui conhecimento,
crena, arte, moral, lei, costumes e outras aptides e hbitos adquiridos pelos
homens como membros da sociedade. 6
O caminho que resolvemos trilhar nos levou a retomar a discusso elaborada
pelo historiador Francs Roger Chartier, que, ao criticar o posicionamento da escola
dos Annales, prope um deslocamento do olhar epistemolgico do social para o
cultural, ou seja, uma histria cultural do social, afastando-se da dependncia
demasiadamente estrita em relao a uma histria social fadada apenas ao estudo
das lutas econmicas. Na perspectiva de Chartier, a Histria Cultural faz um retorno
necessrio ao social, pois, no h representaes que no sejam produzidas pelas
prticas sociais contrrias e em confronto, pelas quais os indivduos e os grupos do
sentido ao mundo em que vivem. Por isso, podemos penetrar nos meandros da
sociedade pelo vis do particular, do objeto, sem que se perca de vista um contexto
mais amplo. Para Chartier,
5

BURKE, Peter. Cultura Popular na Idade Moderna. Trad. Denise Bottmanam. 2. ed. So
Paulo:Companhia das Letras, 1995. p. 17-23.
6
Apud. BURKE, Peter. O que Histria Cultual? Trad: Sergio Ges de Paula. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2005.

22

as representaes do mundo social assim construdas, embora aspirem


universalidade de um diagnstico fundado na razo, so sempre
determinadas pelos interesses de grupos que as forjam. Da, para cada
caso, o necessrio relacionamento dos discursos proferidos como a posio
de quem utiliza.
As percepes do social no so de forma alguma discursos neutros:
produzem estratgias e prticas (sociais, escolares, polticas) que tendem a
impor uma autoridade custa de outros, por elas menosprezados, a
legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os prprios indivduos,
as suas escolhas.7

Essa mudana de olhar no evidencia o abandono dos pressupostos tericometodolgicos anteriores, naquilo em que eles se sustentam. No se trata da
substituio de uma concepo metodolgica por outra, mas uma proposta de
interao entre o que geral e o que particular. Nesse sentido, a histria cultural
se prope a somar seus esforos aos modelos tericos generalizantes, e no os
excluir.
Sandra J. Pesavento tambm concorda em que a proposta da Nova Histria
Cultural no pretende esquecer o conhecimento acumulado ao longo do processo de
construo do conhecimento histrico, pois, se apia em anlises j produzidas. O
que seus tericos propem apenas uma mudana no enfoque do olhar.
A alternativa proposta se encaminha no sentido tanto de reconstruir uma
nova totalidade quanto de encontrar novas vias terico-metodolgicas para
realizar a anlise histrica. Um primeiro passo seria o entendimento de que
a cultura poderia ocupar este lugar de uma instncia mais central e
globalizante que reorientasse o olhar sobre o real. 8

Para esses tericos, preciso que, alm dos elementos sociais, as atenes
se voltem para os fatos culturais. Eles consideram que as clivagens culturais no
esto

forosamente

organizadas

segundo

um

recorte

social

previamente

estabelecido, recusando a dependncia referente s diferenas culturais e s


oposies sociais dadas a princpio, ou seja, propem uma histria cultural do social.
A Histria Cultural tem como principal objetivo identificar o modo como, em
diferentes lugares e momentos, uma determinada realidade social construda,
pensada e dada a ler. Por isso, Chartier conceitua cultura como prticas sociais e
para implementar esse conceito, faz-se necessria a apreenso do mundo social

CHARTIER, Roger. A Histria Cultural: Entre Prticas e Representaes. Trad. Maria Manuela
Galhardo. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil/ DIFEL Lisboa,1990. p.17.
8
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Muito Alm do Espao Urbano: por uma histria cultural do urbano.
Rio de Janeiro, vol 8, n 16, 1995.p. 280.

23

como uma categoria fundamental para a percepo e a apreenso do real. Desse


modo,
(...) esta investigao sobre as representaes supe-nas como estando
sempre colocadas num campo de concorrncia e de competies cujos
desafios se enunciam em termos de poder e de dominao. As lutas de
representaes tm tanta importncia como as lutas econmicas para
compreender os mecanismos pelos quais um grupo impe, ou tenta impor,
a sua concepo do mundo social, os valores que so os seus, e o seu
domnio.9

Como se pode observar, a compreenso de Chartier sobre representao


est circunscrita s prticas especficas que as produzem, dando grande
importncia s condies e aos processos que, concretamente, determinam as
operaes de construo dos sentidos.
Neste mesmo vis terico, Pesavento prope resgatar a histria da cidade por
meio de suas representaes, construdas na realidade concreta das prticas
sociais.
Entender a questo deste modo no submet-la a um mero jogo de
palavras, mas sim partir do pressuposto de que as representaes so parte
integrante tambm daquilo que chamamos de realidade. Isto se d no s
porque so matrizes geradoras de prticas sociais, como tambm porque
demonstram um esforo de revelao/ocultamente dado tanto pelas
imagens reais (cenrios, paisagens de rua, arquitetura) como pelas imagens
metafricas (da literatura, pintura, poesia, discurso tcnico e higienista
etc).10

nessa perspectiva que analisamos a histria da cidade de Manaus, por


meio de suas representaes edificadas, no perodo de 1910-1940, como sendo
fruto da construo social, cultural, econmica e poltica de uma determinada poca,
forjada por interesses de determinados grupos sociais.
Por meio dessa anlise, pretendemos dar voz documentao oficial
emitida pelos governadores e intendentes municipais; tais como as mensagens
governamentais enviadas Assemblia Legislativa do Estado, as Exposies
enviadas ao Governo Federal, os relatrios da Intendncia enviados Cmara
Municipal, as mensagens municipais enviadas ao governo do Estado. Sem deixar de
valorizar o cruzamento dessas informaes com os dados fornecidos por outras
9

CHARTIER, Roger. A Histria Cultural: Entre Prticas e Representaes. Trad. Maria Manuela
Galhardo. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil/ DIFEL Lisboa,1990. p.17.
10
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Muito Alm do Espao Urbano: por uma histria cultural do urbano.
Rio de Janeiro, vol 8, n 16, 1995. p.. 281

24

fontes: peridicos e anurios, lbuns e almanaques produzidos no perodo em


investigao e a bibliografia referente ao tema.
Todas essas fontes so de grande relevncia, pois, por meio delas, tornase possvel traar um panorama mais substancial do objeto investigado. As
Mensagens de Governo e os Relatrios de Intendncia foram utilizados para a
identificao das obras pblicas que tiveram continuidade, que foram interrompidas,
e todo o contexto e a aplicao das polticas pblicas elaboradas no perodo
investigado. Essa identificao foi reforada com a documentao visual presente
nos Anurios, Almanaques e lbuns, nos quais constam inmeras fotografias e
mapas, por meio dos quais possvel visualizar as modificaes ocorridas no
espao urbano da cidade. Todos esses documentos foram utilizados como fonte de
comprovao de nossas hipteses.
Ao utilizarmos tal documentao, pretendemos nos manter sempre
atentos afirmao de Chartier, segundo a qual os documentos no so textos
inocentes e transparentes; foram escritos por autores com diferentes intenes e
estratgias e os historiadores culturais precisam ter estratgias para l-los, para no
serem levados a caminhos que no desejam.
Assim sendo, analisaremos as narrativas dos representantes do Estado,
sabendo que elas so repletas de significados do seu tempo histrico e assumem o
papel do ideal que se queria atribuir cidade por meio de suas construes, pois,
ainda que algumas amostras de cidade ideal tenham sido realizadas (e
todos as conhecemos, de Pienza a Sermoneta e a Palmanova) a chamada
cidade ideal nada mais que um ponto de referncia em relao ao qual se
medem os problemas da cidade real, a qual pode, sem dvida, ser
concebida como uma obra de arte que, no decorrer da sua existncia,
sofreu modificaes, alteraes, acrscimos, diminuies, deformaes, s
vezes verdadeiras crises destrutivas. 11

Aps essa breve discusso de como analisamos as estruturas fsicas da


cidade, o instrumento metodolgico utilizado e as fontes investigadas, vejamos como
isso se processou na construo da dissertao.
Iniciamos nossa abordagem por uma discusso acerca do processo
etimolgico da palavra cidade, para, em seguida, estabelecermos uma incurso
metodolgica acerca da utilizao da cidade como artefato cultural, a partir da qual

11

ARGAN, Giulio Carlo. Histria da arte como Histria da cidade. Trad. Pier Luigi Cabra. 4. ed. So
Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 73.

25

h a possibilidade da reconstruo historiogrfica das relaes scio-culturais de


seus construtores.
No primeiro captulo, alm da proposio metodolgica do trabalho, constam
trs anlises: uma das representaes das cidades europias no final do sculo XIX
e incio do XX, e outra da influncia dessas representaes nos estudos das cidades
brasileiras, e uma outra das produes de alguns intelectuais amazonenses sobre o
tema em questo. Examinaremos, tambm, o contexto scio-cultural da cidade de
Manaus no perodo de 1910-1940, demonstrando, por meio das polticas pblicas
implementadas pelos administradores amazonenses que, mesmo no momento de
poucos

recursos

financeiros,

cidade

continuou

em

plena

atividade,

desmistificando, assim, a idia de que o Amazonas, em seu passado recente,


comportou-se tal e qual a deusa fnix, ou seja, tenha ressurgido das cinzas em
diversos momentos de sua trajetria econmica12.
Nossa proposta de elaborao do segundo captulo norteia-se na discusso
acerca das permanncias e rupturas do projeto de embelezamento da cidade, por
meio das intervenes do Estado nos espaos pblicos, como o processo de
arruamento, conservao e manuteno das praas e jardins e o projeto de
paisagismo da cidade, fundado na proposta de substituio da arborizao da
cidade.
No terceiro captulo, realizamos o levantamento das obras pblicas
reformadas, adaptadas ou construdas, no intervalo entre 1910 e 1940, tanto no
mbito urbanstico como no arquitetnico; analisamos o significado dessas obras
para a funcionalidade da cidade, destacando algumas de suas caractersticas de
construo, adaptao ou reformas no perodo por ns investigado, e sua relao
com as influncias dos diferentes grupos sociais, exercidas sobre o poder pblico.
O resultado de nossas pesquisas nos impele a compreender a cidade de
Manaus como sendo construda mais por meio de sua dinmica interna do que
pela utopia da Belle poque.

12

MELO, Patrcia Maria Sampaio. Os fios de Ariadne: Tipologia de Fortunas e Hierarquias sociais
em Manaus; 1840-1880. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1997. p. 70-89.

26

CAPTULO I - O RITMO DA CIDADE NO PERODO DE 1910-1940

1.1 Cidade: construo do termo e do artefato.


A investigao da histria da cidade de Manaus, por meio da arquitetura e
das obras urbansticas, no perodo entre 1910 a 1940, busca elucidar as relaes
scio-culturais que produziram o modelo de cidade construdo nesse intervalo de
tempo.
Essa investigao foi estimulada a partir do contato com os resultados obtidos
por meio de estudos voltados para esse tema, desenvolvidos por: Lewis Mumford,
Leonardo Benevolo, Aldo Rossi, Giulio Argan, Kevin Lynch, Jacques Le Goff, Maria
Stella Bresciani, Sandra J. Pesavento, Ronald Raminelli, Otoni Mesquita, Maria
Luza Ugarte Pinheiro, Jos Aldemir Oliveira, Jos Vicente Aguiar, Selda Vale da
Costa, Francisca Deusa S da Costa, Edina Mascarenhas Dias, estudiosos que
conseguiram perceber, no objeto cidade, uma das mais intrigantes obras humanas.
A cidade no apenas o espao da produo de bens industrializados ou um
grande espao de comrcio, to pouco se trata apenas de um aglomerado de
pessoas e de edificaes, ela a materializao de todas as nuanas da vida
humana em sociedade, dos conflitos, das convergncias e dos valores. Apesar de
expressar todas as condies de existncia de seus habitantes, a cidade uma obra
inacabada. Contnua expresso do passado e do presente. Um artefato por meio do
qual se torna possvel a percepo da continuidade e da ruptura de interesses, de
conflitos e valores, mas, tambm, de novos elementos constantemente a ela
anexados.

27

Pensar a cidade a partir desses pressupostos implica reconhecer as obras


arquitetnicas e urbansticas como representaes scio-culturais por meio das
quais possvel resgatar as formas de relacionamentos dos grupos sociais que
convivem nesses espaos. Isso no significa que a cidade se explique por si s, j
que, maneira como cada cidade produz e reproduz suas condies materiais de
existncia encontra-se intrinsecamente influenciada por fatores externos. So seus
contextos internos intrincados aos contextos externos que fazem da cidade uma
realidade dinmica, onde nada esttico, onde as permanncias s se tornam
possveis na medida em que representam situaes scio-culturais que lhes do
significado. Esses so os parmetros a partir dos quais procuraremos interpretar a
cidade em seus diversos espaos e tempos histricos.
Investigar a cidade estimulante na medida em que sentimos a necessidade
de compreendermos as mudanas ocorridas em nosso entorno, no espao de nossa
existncia, pois, no raras vezes, a anlise de um determinado objeto de estudo
encontra-se fincada em necessidades do tempo presente13. Neste caso no
diferente, justamente porque, desde as ltimas dcadas do sculo XX e incio do
sculo XXI, o poder pblico tem demonstrado uma crescente preocupao com a
revitalizao urbanstica e arquitetnica de fragmentos do centro histrico da cidade
de Manaus.
Esse processo de revitalizao intensificou-se no final dos anos 1980, com o
tombamento, como patrimnio pblico estadual, de grande parte dos prdios
construdos no perodo ureo da borracha. Em seguida, em 1990, o Centro
Histrico da cidade de Manaus foi tombado pela Lei Orgnica do Municpio para fins
de proteo, acautelamento e programao especial, de acordo com LOMAN14, no
seu artigo 442. A rea tombada refere-se ao Centro Antigo da Cidade,
compreendido entre a Rua Leonardo Malcher e a orla fluvial, limitando esse espao,
direita pelo igarap de So Raimundo e, esquerda, pelo igarap do Educandos,
tendo como referncia a ponte Benjamin Constant.
Essa mudana de atitude do poder pblico no tratamento dispensado ao
centro histrico da cidade serviu-nos como estmulo para a compreenso da recente
histria da cidade que contribuiu para a construo desse patrimnio histrico.
13

BLOCH, Marc Leopold Benjamin. Apologia da Histria: ou o ofcio de Histriador. Trad. Andr
Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.p. 60-68.
14
Lei Orgnica do Municpio de Manaus, promulgada em 05 de abril de 1990. Manaus AM.

28

possvel que, por meio das medidas de proteo do patrimnio arquitetnico da


cidade, exista outra inteno: a de manter viva na memria o significado, j h muito
abalado, de determinados grupos sociais.
Essa inquietao foi decisria para o processo de delimitao do centro
histrico da cidade de Manaus como nosso primeiro objeto de estudo. Pois, h de se
considerar que nele est impressa a representao com a qual determinados grupos
sociais amazonenses se identificam. No entanto, no decorrer das pesquisas
realizadas, detectamos que a cidade do perodo de 1910 -1940, no se restringia
mais apenas ao Centro, era uma cidade diferente em plena expanso, por isso a
cidade que estamos nos propondo a analisar uma cidade para alm do centro
historio em direo aos novos bairros que estavam surgindo.
Ao compreendermos a cidade como um artefato resultante de contextos
internos e externos, que recebem influncias que se do em diferentes tempos
histricos,

afastamo-nos

das

anlises

deterministas

evolucionistas

que

pressupem uma linearidade para a origem e a continuidade da cidade15. Segundo


tais concepes, todas as cidades estavam predestinadas, obrigadas a seguirem o
mesmo caminho, originando-se de estruturas sociais primitivas e evoluindo
positivamente at atingirem a modernidade.
Ao nos afastarmos desse modelo de interpretao da cidade, percebendo-a
como um artefato scio-cultural, passamos a compreend-la como multiplicidade,
com um conjunto complexo, capaz de comportar diversas interpretaes. Podemos
afirmar que a cidade no nica, mas multifacetria; ou seja, dentro de uma mesma
cidade existem vrias outras, e para compreender e analisar essa cidade
multifacetria satisfatoriamente, necessrio interpret-la, considerando os mais
diversos olhares existentes sobre ela. Assim sendo, iniciaremos a fundamentao de
nossa percepo pelo olhar que Le Goff lana sobre o tema, acerca da necessidade
da raiz etimolgica da palavra cidade, pois: nunca se perde tempo exercitando um
pouco a etimologia.16
assim que o medievalista francs Le Goff abre o debate sobre cidade na
obra Por Amor s Cidades e no Dicionrio Temtico de Histria Medieval, por ele

15

BRESCIANI, Maria Stella. Cidade e Histria. In Cidade: Histria e Desafio. OLIVEIRA, Lucia Lippi
(org.) Rio de Janeiro: CNPq/FGV, 2002. 17-29.
16
LE GOFF, Jacques. Por Amor s cidades: conversaes com Jean Lebrun. Trad. Reginaldo
Carmello Correa de Moraes. So Paulo: UNESP, 1988. p. 12.

29

organizado. Segundo ele, a trajetria histrica para o surgimento da palavra cidade


passa pelas seguintes transformaes:
No nos esqueamos de que a palavra ville, para designar aquilo que
chamamos de cidade, muito tardia. At os sculos XI e XII, escreve-se
quase que estritamente em latim e, para designar uma cidade, usa-se
civitas cite. Ou urbs, a rigor, mas basicamente civitas. E, quando as
lnguas vernculas apareceram, o termo 29a29l vai permanecer por muito
tempo. Ville tomar o sentido urbano apenas tardiamente. (...) Enfim, a
29a29la um domnio com um prdio principal que pertence ao senhor
conseqentemente um centro de poder, no apenas de poder econmico,
mas tambm de poder em geral sobre todas as pessoas, camponeses e os
artesos que vivem nas terras ao redor. Desse modo, quando se passa a
dizer, em francs, 29a Villa (o italiano conservar o termo citt), marcarse- bem a passagem do poder do campo para a cidade. O termo Villa,
esse se aplicar aldeia nascente a partir dos sculos IX e X. 17

Se por um lado, o termo cidade foi resultante de todo um processo de


transformaes at sua atual construo; por outro, a compreenso da construo
da cidade enquanto artefato humano tambm recente, sendo que, ao longo do
tempo, esse fenmeno j adquiriu pelo menos duas interpretaes: a cidade
enquanto fenmeno espontneo e enquanto fruto da construo humana.
A cidade enquanto fenmeno espontneo est diretamente ligada ao modelo
industrial do liberalismo clssico18, modelo econmico que norteou a produo e o
comrcio dos pases centrais do capitalismo entre a segunda metade do sculo XVIII
e os anos 20 do sculo XX. Enquanto durou o industrialismo de orientao liberal
no houve a preocupao do Estado com o ordenamento da cidade, acerca disso
sentencia Benevolo:
Os economistas ensinam a limitar a interveno pblica em todos os setores
da vida social, e tambm no urbanismo. Adam Smith aconselha os governos
a venderem os terrenos de propriedade pblica, para pagar suas dvidas.
Estes conselhos so recebidos de bom grado pela classe dominante, que
tem interesse em fazer valer, tambm no campo imobilirio, a liberdade da
iniciativa privada, isto , tem condies de aproveitar a desordem urbana
sem sofrer-lhes as conseqncias.19

Vrias crticas foram feitas a esse modelo liberal de cidade no qual as


contradies sociais apareciam a olhos vistos e cada vez mais drsticas, tornandose necessria uma reflexo acerca dos problemas por ele gerados. A partir dessa
17

LE GOFF, Jacques. Por Amor s cidades: conversaes com Jean Lebrun. Trad. Reginaldo
Carmello Correa de Moraes. So Paulo: UNESP, 1988. p. 12.
18
Teoria econmica desenvolvida por Adam Smith na obra A Riqueza das Naes, pblicada pela
primeira vez em 1776.
19
BENEVOLO, Leonardo. Histria da cidade. Trad. Silvia Mazza. So Paulo: Perspectiva, 2007. p.
552.

30

reflexo, foi possvel o surgimento de uma nova maneira de ver a cidade, a qual
Benevolo denomina de cidade ps-moderna. Assim, a cidade deixa de ser vista
como um fenmeno espontneo e passa a ser entendida como resultado dos
interesses humanos. Pelo modelo ps-moderno, surgido das crticas feitas cidade
industrial, a cidade deve ser o lugar onde esteja presente a beleza e a salubridade, e
isso passa a ser funo do Estado desvinculado das proposies liberais.
A liberdade completa, concedida s iniciativas privadas, limitada pela
interveno da administrao que estabelece os regulamentos e executa
as obras pblicas mas garantida claramente dentro destes limites mais
restritos. Da cidade liberal se passa assim para a cidade ps-liberal.
Este modelo tem um sucesso imediato e duradouro: permite reorganizar as
grandes cidades europias (antes de todas as outras, Paris).20

A partir desse momento, pode-se dizer que houve a compreenso de que a


cidade construda aos sabores dos interesses polticos, econmicos, sociais e
culturais dos diversos grupos sociais, das mais diferentes pocas. No Dicionrio
Temtico de Histria Medieval,21 Jacques Le Goff deixa isso bem evidente, ao
afirmar que a cidade uma produo humana, idealizada e realizada por homens.
A histria urbana antes de tudo uma histria humana, uma histria social.
A histria urbana medieval resultado da imbricao entre a cidade real e a
cidade imaginria, sonhada por seus habitantes, e por seus artistas,
filsofos, literatos. A percepo por parte dos cidados das relaes
econmicas, sociais e polticas profundamente marcada pelas imagens e
smbolos que lhes so propostos e freqentemente impostos por clrigos,
intelectuais, pregadores nos seus sermes, urbanistas, artistas e os
comanditrios de suas obras.

Os novos debates acerca do tema confirmam essa tendncia de se


considerar a cidade como uma produo humana e coletiva, e, no s isso, mas
tambm, de que seus construtores deixam marcas nela, como impresses digitais
deixadas pelos artistas em suas obras.

20

BENEVOLO, Leonardo. Histria da cidade. Trad. Silvia Mazza. So Paulo: Perspectiva, 2007. p.
573.
21
LE GOFF, Jacques. (org.) Dicionrio Temtico de Histria Medieval. Bauru: EDUSC, 2004, p.
219.

31

1.2 A representao da cidade na Europa no final do sculo XIX e incio do XX.


Corroborando as crticas feitas por Benevolo cidade industrial produzida
pelo modelo econmico liberal, Lewis Mumford afirma que esse modelo de
desenvolvimento econmico industrial estava destruindo a sociedade ocidental.
Entre o perodo de 1820-1900, a destruio e a desordem nas grandes cidades
assemelhavam-se a um campo de batalha. O industrialismo, a principal fora
criadora do sculo XIX, produziu o mais degradado ambiente urbano que o mundo j
vira:
A lei do crescimento urbano, ditada pela economia capitalista, significou a
inexorvel destruio de todas as caractersticas naturais que deleitam e
fortificam a alma humana em suas atividades dirias. Os rios eram
transformados em esgotos veja-se a descrio feita por William Morris da
poluio de Wandle - as zonas porturias podiam ser tornadas inacessveis
para transeunte, rvores antigas podiam ser sacrificadas e edifcios
venerveis postos abaixo em favor da velocidade do trfego; mas enquanto
as classes superiores pudessem ir de carruagem passear no Central Park
ou dar uma galopada matinal em Roten Row, a falta de espao para
recreao e de beleza recreativa na cidade em geral no chegou a ser
percebida.22

A crise do modelo clssico liberal de cidade fez os intelectuais do final do


sculo XIX e incio do XX terem que reelaborar a forma de pensar o mundo e suas
relaes scio-ambientais e, principalmente, a forma de pensar as questes
urbansticas. O ordenamento da cidade em substituio ao caos urbano passa a ser
uma das prioridades dos grupos sociais vencedores nos movimentos ocorridos entre
1830-1848 na Europa23. Era necessrio um novo modelo de cidade que
representasse a prosperidade e a modernidade24, baseado nos avanos da
22

MUMFORD, Lewis. A Cidade na Histria: suas origens, transformaes e perspectivas. Traduo


de Neil R. da Silva. 4. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 462.
23
De acordo com Eric Hobsbawm, os movimentos ocorridos entre 1830-1848, perodo conhecido
como era das revolues, colocaram em xeque as duas formas de interpretar o mundo naquele
momento: o da perspectiva socialista e da perspectiva liberal tradicional. Desses movimentos de
orientao liberal, surge uma direita, fazendo ponderaes para evitar a tomada do poder pelos
operrios. HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revolues: 1798-1848. Trad. Maria Tereza Lopes
Teixeira e Marcos Penchel. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1997. p. 326.
24
Moderno no sentido de ser algo inovador para o perodo, como afirma Falcon, no texto Tempos
modernos: a cultura humanista, a noo de moderno est muito longe de constituir um verdadeiro
conceito. Praticamente, dado o sentido dessa palavra em seu nvel denotativo, cada poca tende a
assumir-se como moderna em relao (s) poca(s) anterior(es). Desse modo, no h uma poca
que possa ser identificada como moderna por definio, ou seja, que exclua as demais do direito

32

tecnologia e do comrcio. Esse novo ordenamento urbano iniciou-se em Paris, na


Frana, sob a orientao de Prefeito Haussmann. Buscava-se muito rapidamente
uma soluo para os problemas enfrentados pela maioria das cidades europias.
Esse novo ordenamento foi produzido a partir das contradies existentes nas
cidades industriais. Os modelos de cidades que estavam surgindo passaram a se
orientar pelas necessidades de saneamento e higienizao. Assim, a cidade deveria
apresentar uma imagem bonita e aprazvel, de tal forma que pudesse causar o bemestar do corpo e da mente de seus moradores. Mumford se refere a esse novo ideal
de cidade nos seguintes termos:
Dar de novo cidade ar puro, gua fresca, espaos abertos de verdura e
sol, passou a ser o primeiro objetivo do bom urbanismo: a necessidade era
to premente que, a despeito de sua paixo pela beleza urbana, Camilo
Sitte insistia na funo higinica do parque urbano, como uma verdura
sanitria, para empregar sua prpria expresso: os pulmes da cidade, cuja
funo passou a ser apreciada de um modo novo, por causa da sua
ausncia. 25

O liberalismo industrial, que visava apenas ao aumento da riqueza, sem a


preocupao com a situao de misria em que estavam envolvidos os indivduos
produtores do espao urbano, provocou a busca de alternativas para minimizar
essas contradies internas da cidade.
Ao mesmo tempo, a busca por alternativas forjou outra forma de expresso,
em que o Estado se torna responsvel pelo ordenamento e pela qualidade de vida
na cidade. Forjou tambm novos mtodos de interpretao de mundo - frutos da
cincia do sculo XIX, o que possibilitou uma mudana na forma de olhar a cidade.
Nesta mesma poca, as cincias biolgicas j apontavam para o fato de que
a degradao do ambiente da cidade gera inmeras doenas para seus habitantes.
Esta comprovao, associada ao entendimento de que o corpo e a mente fazem
parte do mesmo organismo - reunindo os processos fisiolgicos e psicolgicos, fez
com que o cuidado com o corpo se transformasse em disciplina moral e numa

modernidade. Por mais que se tenha escrito sobre o carter moderno da Idade Moderna, no
podemos esquecer que tambm os nominalistas medievais propuseram uma via moderna em
oposio tradicional via antiqua, nem tampouco que os humanistas se consideravam modernos, tal
como, no sculo XVII, se sentiam tambm modernos em duelo com os antigos. In. FALCON,
Francisco Jos Calazans e RODRIGUES, Antonio Edmilson M. Tempos Modernos: ensaios de
histria cultural. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2000.
25
MUMFORD, Lewis. A Cidade na Histria: suas origens, transformaes e perspectivas. Traduo
de Neil R. da Silva. 4..ed. So Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 514.

33

necessidade esttica, via de regra, isso implica uma preocupao maior com o
ambiente em que, inevitavelmente, as pessoas encontram-se inseridas.
O modelo de cidade que surgiu na Europa a partir da primeira metade do
sculo XIX foi implementado, sem muita resistncia, na Europa. Houve pases onde
a aceitao ocorreu de imediato, como na Frana, e outros em que a aceitao foi
lenta e gradual, como na Inglaterra. Esse novo modelo urbano influenciou, inclusive,
a fundao de cidades coloniais e continua, ainda hoje, influenciando a organizao
das cidades do mundo contemporneo26.
Esse novo contexto revelou a necessidade de se considerar a cidade como
tema de discusso. Dentre outros autores, destacamos os estudos de Denis Fustel
de Coulanges Numa (1830-1889), que segundo Ronald Raminelli 27, um dos
primeiros historiadores modernos a ter como objeto de estudo a cidade. A pesquisa
para elaborao da obra A Cidade Antiga, publicada em 1924, no estava voltada
especificamente para a cidade em si, mas para a organizao das cidades-estados
gregas nos seus diversos aspectos sociais, polticos e econmicos. No entanto, para
compreender melhor aquelas sociedades to complexas, fazia-se necessria a
incurso pelos valores da poca. Assim, agregam-se ao seu estudo, para melhor
apreenso de seu objeto, instituies como a religio e a famlia.
Coulanges28 compreendia tais instituies como constituintes de um processo
evolutivo linear. De estruturas simples, elas evoluam e tornavam-se complexas.
Podendo-se inferir que no aspecto religioso seria possvel traar uma linha evolutiva
direta do zoomorfismo ao antropomorfismo ou do politesmo ao monotesmo. J no
aspecto poltico, poder-se-ia dizer que, na raiz do Estado, estava a famlia, a fratria e
a tribo, emergindo da a formao das cidades; ou seja, numa linha evolutiva que
aponta para uma mesma origem e para um mesmo processo histrico. Como se
pode depreender no fragmento abaixo.
(...) Mas, assim como muitas fratrias se haviam unido em uma tribo, muitas
tribos puderam associar-se entre si, com a condio de que o culto de cada

26

BENEVOLO, Leonardo. Histria da cidade. Trad. Silvia Mazza. So Paulo: Perspectiva, 2007. p.
573-614.
27
RAMINELLI, Ronald. Histria Urbana. In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (org.)
Domnios da Histria: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 185.
28
FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga: estudos sobre o culto, o direito s
instituies da Grcia e de Roma. Trad. Jonas Camargo Leite e Eduardo Fonseca. So Paulo:
HEMUS, 1975. p. 101-112.

34

uma delas fosse respeitado. No dia em que se fez essa aliana nasceu a
cidade.29

A partir de Coulanges, outros estudiosos fizeram da cidade seus objetos de


estudo; como Gustave Glotz30, em a cidade grega, obra publicada em 1928, em que
o autor faz uma abordagem historiogrfica que tinha como fio condutor as
instituies sociais, a partir das quais as cidades se formam e se desenvolvem.
Outrossim, essa abordagem considera todos os problemas sociais, inerentes a cada
cidade, como instrumentos de sua construo. Assim, pode-se dizer que a evoluo
de cada cidade est intrinsecamente ligada s suas dinmicas internas, o que
desmistifica o princpio evolucionista e unilinear que determinava que cada cidade
tinha que seguir um mesmo ritmo de desenvolvimento. Sobre isso, Glotz 31 sentencia
que a cidade se desenvolve a partir das relaes que so estabelecidas na realidade
concreta, e essa realidade no harmoniosa, mas conflituosa, na medida em que
nela existem vrios interesses divergentes. O Estado, nessa nova perspectiva, tem
que atuar ativamente para minimizar os conflitos existentes na cidade. Esta ,
seguramente, uma crtica obra de Fustel de Coulages, A Cidade Antiga e sua
viso unilinear da histria.
O historiador belga, Henri Pirenne, em sua obra As Cidades da Idade Mdia,
publicada em 1927, retomava a discusso sobre o sentido da palavra cidade,
compreendendo-a como uma concentrao humana portadora de personalidade
jurdica e econmica, que apresenta, como elemento propulsor de desenvolvimento,
as relaes de produo. Por isso, ao analisar as mudanas ocorridas no final da
Idade Mdia, afirmara que elas foram provocadas pela crise do sistema de produo
feudal. Para este autor, as mudanas ocorridas nas cidades so decorrentes das
mudanas ocorridas no sistema de produo. Assim, o comrcio no sistema feudal e
a industrializao no sistema capitalista foram respectivamente os propulsores das
mudanas ocorridas nas cidades no perodo de transio de um sistema para o
outro.

29

FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga: estudos sobre o culto, o direito s
instituies da Grcia e de Roma. Trad. Jonas Camargo Leite e Eduardo Fonseca. So Paulo:
HEMUS, 1975. p. 101-112.
30
GLOTZ, Gustave. A cidade grega. So Paulo: DIFEL, 1980.
31
Apud. GLOTZ, Gustave. La citt grega. In. DONNE, Marcella Delle. Teorias sobre a cidade: arte
& comunicao. Lisboa: Edies 70, 1983. p. 15-22.

35

Com a publicao da obra Economia e Sociedade (1909), de Max Weber32


(1864-1920), inaugura-se uma proposta significativamente diferente para a anlise
das cidades. O mtodo proposto por Weber sugere a criao de uma cidade do tipo
ideal com a qual a cidade concreta deveria ser comparada. Por esse mtodo
comparativo, faz-se o estudo da cidade, considerando as questes polticas e
econmicas nela presentes. Assim, na seo 7 Conceitos e Categorias de Cidade
do livro Economia e Sociedade, Weber escreveu sobre a natureza econmica da
cidade, criando uma tipologia destinada a relacionar sua origem s funes
econmicas, nesse sentido,
(...) a cidade , em grau maior ou menor, cidade de consumidores, pois para
as oportunidades aquisitivas dos artesos e comerciantes decisivo que
residam em sua cidade aqueles grandes consumidores, pertencentes a
categorias econmicas variadas. Pode acontecer tambm o contrrio: a
cidade cidade de produtores, baseando-se o crescimento de sua
populao e da capacidade aquisitiva desta no fato de que como ocorre
em Essen ou Bochum nela se encontram fbricas, manufaturas ou
indstrias caseiras que abastecem rgios situadas fora da cidade.

Para Weber, a cidade, em virtude de sua diversidade, pode ser definida de


vrias formas: existe a cidade principesca; a cidade consumidora; a cidade
produtora e a cidade comercial. Mas, para ele compreender o agir social de uma
comunidade urbana, opta por analisar a cidade apenas em seu sentido econmico.
Somente queremos falar de cidade no sentido econmico, tratando-se de
um lugar onde a populao local satisfaz no mercado local uma parte
economicamente essencial de suas necessidades cotidianas, e isto
principalmente com produtos que a populao local dos arredores produziu
ou adquiriu para a venda no mercado. Toda cidade no sentido aqui adotado
da palavra localidade de mercado, isto , tem um mercado local como
centro econmico do povoado, mercado no qual, em virtude da existente
especializao da produo econmica, tambm a populao no urbana
satisfaz suas necessidades de produtos industriais ou artigos mercantis ou
de ambos (...) 33

A contribuio de Weber para a temtica sobre cidades, embora com


ressalvas, foi posteriormente reconhecida por Moses Finley34, que considera
inigualvel a anlise econmica e social de Weber sobre a antiguidade.
32

WEBER, Max. Economia e Sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva. Volume 2. Trad.


Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; Reviso tcnica de Gabriel Cohn. Braslia DF. Editora
Universidade de Braslia, 1999. p. 411.
33
WEBER, Max. Economia e Sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva. Trad. Regis
Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; Reviso tcnica de Gabriel Cohn. Braslia DF. Editora
Universidade de Braslia, 1999. p. 409.
34
MOSES. I. Finley. Histria Antiga: Testemunhos e modelos. Trad. Valter Lellis Siqueira. So
Paulo: Martins Fontes, 1994.

36

(...) limitar-me-ei a analisar o modo como Weber desenvolveu os tipos ideais


em sua discusso da cidade-estado grega e sua poltica. (...) Sua anlise da
economia e estrutura social antigas inigualvel, como j indiquei,
concordando com Heuss. (...) 35

Quando as discusses sobre cidades fazem-se efetivamente presentes, as


crticas sobre seus primeiros expoentes no se restringem apenas aos elogios.
Finley, Robert S. Lopez e Maurice Dobb passam a criticar o posicionamento do
historiador belga Henri Pirenne, ao afirmarem que o comrcio e o processo de
industrializao no foram os nicos responsveis pelo crescimento das cidades, em
alguns momentos, inclusive, chegaram a retard-lo, alm de considerarem que em
determinadas regies, recrudesceram as relaes servis, existentes no campo.

35

MOSES. I. Finley. Histria Antiga: Testemunhos e modelos. Trad. Valter Lellis Siqueira So Paulo:
Martins Fontes, 1994. p. 117.

37

1.3 As influncias europias nos estudos das cidades brasileiras.

At aqui, a discusso sobre cidades referiu-se especificamente ao caso


europeu. O processo histrico de formao das cidades na Amrica Latina, forjadas
num contexto de domnio colonial nos impele a estabelecer uma relao direta,
embora no condicional, com o modelo fsico de cidade europia36. Mesmo partindo
desse princpio, Raminelli37 chama a ateno para dois momentos distintos no
processo de anlise das cidades latino-americanas: o primeiro abordando os
problemas do planejamento urbano e o segundo identificando o processo de
modernizao que essas cidades sofreram no final do sculo XIX e incio do XX.
Este foi o caso da cidade de Manaus, que no decorrer desse perodo sofreu
profundas mudanas.
At metade do sculo XX, a tendncia economicista da anlise historiogrfica
europia influenciou sobremaneira os estudos sobre cidades no Brasil, uma vez que,
via de regra, os principais caminhos para a anlise das cidades brasileiras seguiam
as orientaes propostos por Pirenne, segundo as quais, as origens das cidades
estavam diretamente ligadas aos aspectos econmicos.
Os estudos sobre a cidade de Santos (1870-1813), realizados por Ana Lcia
D. Lanna, consideram aspectos como a mobilidade dos escravos recm-libertos no
espao da cidade, no processo de transio do trabalho escravo para a mo-de-obra
livre no Brasil. Assim,
Esta tese procurou, a partir da anlise do caso especfico de Santos,
compreender a dinmica da formao de uma vida urbana no Brasil e sua
relao com a transio para o trabalho livre. Para tanto, analisaremos a
negao do passado colonial e a procura por padres europeus de
construo de uma cidade e seus habitantes considerada ideal.38
36

Srgio Buarque de Holanda, no texto O Semeador e o Ladrilhador, demonstra a diferena do


processo de construo das cidades espanholas e portuguesas. No caso portugus, a primazia da
vida rural est de acordo com seu princpio de dominao que renuncia a trazer normas imperativas e
absolutas colnia, que cedeu todas as vezes que as convenincias imediatas o aconselharam a
ceder, que cuidou menos em construir, planejar ou plantar alicerces, do que em feitorizar uma riqueza
fcil e quase ao alcance da mo. No foi o que aconteceu nas reas de conquistas espanholas, essa
Metrpole agiu firme na concepo de utilizar a construo da cidade como instrumento decisivo de
dominao, por uma aplicao insistente em assegurar o predomnio militar, econmico e poltico da
metrpole sobre as terras conquistadas, mediante a criao de grandes ncleos de povoaes
estveis e bem ordenados. Um zelo minucioso e previdente dirigiu a fundao das cidades
espanholas na Amrica. In: HOLANDA, Srgio Buarque de. Razes do Brasil. 26. ed. So Paulo:
Companhia das Letras, 1995. p. 94-118.
37
RAMINELLI, Ronald. Histria Urbana. In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (org.)
Domnios da Histria: Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 188.

38

Por outro lado, a anlise proposta por Pirenne norteou as aes do Estado
Brasileiro, como confirma o estudo de Rinaldo J. Varussa sobre a cidade de Jundia,
onde afirma que:
Tal projeto beneficiava-se de um debate mais duradouro e, por certo , no
exclusivo daquela cidade, o qual relacionava o progresso indstria e a
estagnao agricultura: ningum pode ignorar que o futuro de Jundia
assenta-se exclusivamente no progresso das indstrias, visto que da
lavoura pouco ou quase nada se deve esperar. Esta perspectiva, alm de
propagandeada por publicaes que divulgavam as vantagens de Jundia
para a indstria (...)39

De acordo com Maria Stella Bresciani40, somente no final do sculo XX, a


cincia das cidades o urbanismo encontraria sua configurao completa, e que
se mantm at hoje. No entanto, Bresciani chama ateno para os cuidados que
temos que ter ao analisar a cidade, ou seja, no v-la apenas como uma obra
concluda ou restrita a uma nica possibilidade de anlise.
Contudo reafirmo ser um equvoco partir dessa configurao acabada da
cincia das cidades para acompanh-la em sua trajetria de projetos e
intervenes no sculo XX. A contribuio mais importante da disciplina
histria recai, penso eu, justamente na elucidao desse ponto mais
obscuro da formao do saber sobre a cidade.41

A partir dessas novas perspectivas de anlises, Bresciani e Raminelli

42

propem um novo olhar sobre a origem das cidades. Argumentam que no


podemos, atualmente, permanecer sem observar que, alm da industrializao,
outros elementos contriburam para o surgimento e crescimento das cidades,
principalmente nos pases da Amrica Latina.
Sem desconsiderar o papel importante da industrializao como fator
significativo para estimular o crescimento das cidades, Raminelli prope que sejam
agregados elementos como crescimento populacional. Chamando a ateno para o
fato de que o processo de industrializao muitas vezes ocorreu impulsionado pela
grande quantidade de mo-de-obra existente em determinadas cidades e no o
38

LANNA, Ana Lcia Duarte. Uma Cidade na Transio. Santos: 1870-1913. Ed. HUCITEC. p.
245-248.
39
VARSSA, Rinaldo Jos. Trabalhadores e Memria: disputas, conquistas e perdas na cidade. In:
FENELON, Da Ribeiro; MACIEL, Laura Antunes; ALMEIDA, Paulo Roberto de e KHOURY, Yara Aun
(orgs) . Muitas Memrias, Outras Histrias. So Paulo: Olho dgua, 2000.
40
BRESCIANI, Maria Stella. Graduao em Histria pela Universidade de So Paulo (1970),
doutorado em Histria Social pela Universidade de So Paulo (1976).
41
BRESCIANI, Maria Stella. Cidade e Histria. In Cidade: Histria e Desafio. OLIVEIRA, Lcia Lippi
(org.) Rio de Janeiro: CNPq/FGV, 2002. p. 23.
42
RAMINELLI, Ronald. Histria Urbana. In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (org.)
Domnios da Histria: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 189.

39

contrrio. Por isso, no se pode continuar insistindo na origem e no crescimento das


cidades apenas por esse vis.
Cidades como So Petersburgos, Odessa e Washington foram criadas a
partir de ditos. Hoje, as cidades que crescem com mais rapidez no se
encontram em regies industrializadas, mas em pases do Terceiro Mundo,
onde a proliferao do espao urbano no acompanhada de
industrializao. O mesmo fenmeno ocorreu no passado em Roma no
sculo XVI, em Npolis nos sculos XVII e XVIII. Os mencionados ncleos
urbanos abrigaram uma soma considervel de arrendatrios,
administradores, mercadores, criados, arteses, e uma enorme quantidade
de imigrantes parados ou subempregados. Geralmente, as cidades em
rpida expanso localizam-se prximas a zonas rurais empobrecidas, sendo
uma soluo para a misria vivida pela populao. Em alguns casos, porm,
a concentrao populacional viabilizou o desenvolvimento industrial devido
disponibilidade de mo-de-obra. 43

As grandes cidades no foram produzidas somente nos grandes centros


industrializados. Um exemplo disso foi o processo de formao da cidade que seria
chamada, no final do sculo XIX e incio do sculo XX, de Paris dos trpicos. Uma
cidade construda aos moldes europeus, sem, no entanto, ser um grande centro
industrial.

43

RAMINELLI, Ronald. Histria Urbana. In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (org.)
Domnios da Histria: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 189.

40

1.4 A intensificao dos estudos sobre cidade no Amazonas

A discusso sobre cidade vem se intensificando nas ltimas dcadas do


sculo XX entre os intelectuais do Amazonas, a partir da ampliao do processo de
qualificao dos professores da Universidade Federal do Amazonas-UFAM. Nesse
contexto de aprimoramento intelectual, vrios professores optaram em ter a cidade
como objeto de estudo. No final da dcada de 80, a historiadora Edinia
Mascarenhas Dias concluiu seu mestrado na PUC So Paulo, com a dissertao
intitulada Manaus, 1890-1920: a Iluso do Fausto. Nesse trabalho, analisa a cidade
no apenas nos seus aspectos tcnicos e estticos, mas, a cidade como uma
construo, fruto das polticas pblicas, onde seus interventores podem favorecer ou
excluir determinados segmentos sociais. Nesse sentido, a cidade analisada por
meio das tenses sociais geradas pelas modificaes ocorridas no perodo ureo
da borracha. Modificaes impulsionadas pela dinmica do sistema capitalista, que
exclua dos novos espaos criados a maioria da populao, denunciando que a
cidade moderna edifica-se para determinados segmentos sociais e no para todos.
O projeto de cidade, que estava sendo construdo, nesse perodo, deveria
atender s necessidades do sistema capitalista, que exigia modernidade e civilidade,
por isso, era preciso embelezar Manaus, transformando-a na Paris dos Trpicos;
ou seja, modificando-lhe as caractersticas rsticas para ares mais modernos,
preparando-a para atrair o capital investidor. Dias deixa isso bem evidente quando
afirma que a,
(...) modernidade em Manaus, no s substituiu a madeira pelo ferro, o
barro pela alvenaria, a palha pela telha, o igarap pela avenida, a carroa
pelos bondes eltricos, a iluminao a gs pela luz eltrica, mas tambm
transforma a paisagem natural, destri antigos costumes e tradies, civiliza
ndios transformando-os em trabalhadores urbanos, dinamiza o comrcio,
expande a navegao, desenvolve a imigrao. a modernidade que chega
ao porto de lenha, com sua viso transformadora, arrasando com o atrasado
e o feio e construindo o moderno e belo.44

De acordo com Dias, a escolha da pesquisa sobre Manaus de 1890-1920,


teve como objetivo recuperar uma parte da histria da cidade. Naquele momento,
interessava-lhe compreender o processo de formao de Manaus como centro
exportador-importador, lugar de contradies e conflitos.
44

DIAS, Edina Mascarenhas. a Iluso do Fausto: Manaus 1890-1920. Dissertao de Mestrado em


Histria. Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1988.p.3-4

41

Na mesma perspectiva de ter a cidade como objeto de investigao, o


professor Otoni Mesquita, na sua dissertao de mestrado intitulada A Belle - poca
Manauara e sua arquitetura Ecltica: 1852-1910, analisa a cidade em dois
momentos distintos: o perodo provincial, que se estende de 1852 a 1889 e as
primeiras dcadas do perodo republicano, de 1890 a 1910. Otoni Mesquita abordar
a cidade inserida nos seus contextos econmicos e scio-culturais, sem deixar de
evidenciar os aspectos formais das obras arquitetnicas construdas naquele
perodo. Como ele mesmo se posiciona na perspectiva destas,
ltimas abordagens relacionadas pelo fato de reconhecer a inequvoca
ligao entre a reforma urbana de Manaus e mentalidade progressista
baseada no modelo burgus de cidade, tpico da incorporao do pas e do
Estado do Amazonas economia capitalista Internacional. No entanto,
pretende contribuir particularmente para a discusso sobre arquitetura e
urbanismo adotados no contexto geral da modernizao de Manaus nas
ltimas passagens do sculo.
Assim sendo, a discusso da arquitetura de Manaus ser norteada no
apenas pela anlise de seus prdios, identificando estilos com os seus
vocabulrios especficos, mas tambm pela significao destas obras no
contexto especifico da belle poque manauara.45

Mesquita analisa a cidade desde seus primrdios, no sculo XVII (1669), com
a fundao da Fortaleza da Barra de So Jos do Rio Negro, at as grandes obras
arquitetnicas construdas no perodo ureo da borracha, no final do sculo XIX e
incio do XX. Trata-se de uma pesquisa aprofundada e meticulosamente
sistematizada, pois possibilita a visualizao da cidade em sua longa trajetria de
quatro sculos de construo, delimitando os grandes marcos de mudanas das
estruturas fsicas da cidade.
Seguindo a linha temtica de sua dissertao de mestrado, Mesquita, em sua
tese de doutorado, mantm a cidade como objeto de investigao; e, com o cabedal
da pesquisa feita anteriormente, levanta a tese da refundao da cidade no perodo
entre 1890-1900, com o plano de embelezamento implementado pelo governador
Eduardo Ribeiro. Entretanto, isso no significa que ele desconsidere as
modificaes ocorridas na cidade em perodos anteriores, demonstra apenas que
nesse perodo a mudana na fisionomia da cidade foi to profunda que
descaracteriza quase por completo a cidade anterior.
Nessa verificao da trajetria da construo da cidade, Mesquita afirma ser
inquestionvel o fato de que o marco inicial da arquitetura europia no Amazonas foi
MESQUITA, Otoni Moreira de. Manaus: Histria e Arquitetura 1852-1910. 3. ed. Manaus: Valer,
2006. p. 20.
45

42

a construo do Forte So Jos do Rio Negro, em 1669, por Francisco da Motta


Falco. importante ressaltar, entretanto, que os vnculos de continuidade desse
povoamento com a cidade refundada no final do sculo XIX e incio do XX, no so
diretos se buscarmos o carter urbano da cidade, no entanto, do ponto de vista
histrico, eles so diretamente relacionados.
Mesquita analisa as primeiras imagens da cidade de Manaus construdas a
partir dos relatos dos primeiros viajantes que passaram pela regio. Destaca os
relatos do Ouvidor Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio e Alexandre Rodrigues, que
passaram por Manaus no final do sculo XVIII, em viagem de vistoria pela regio,
enviados pela Coroa portuguesa.
No sculo XIX, os viajantes que passaram pela regio tambm deixaram
registradas suas impresses sobre a cidade, foi o caso dos alemes Karl Von
Martius e Johann Von Spix46, dos ingleses e Henry Walter Bates47 e Alfred Russel
Wallace48, dos americanos William Herndon e Ladner Gibbon49, do casal Agassiz50 e
Robert Av-Lallemat51 e, dentre esses viajantes, os registros mais detalhados sobre
Manaus foram os de Alfred Russel Wallace, do casal Agassiz e de Robert AvLallemat.
A maioria dos registros sobre os primrdios da cidade de Manaus, at o
perodo provncial, produzidos pelos viajantes, relatavam as caractersticas precrias
que a povoao apresentava, inclusive o relato do presidente da Provncia no
destoava muito dos feitos pelos viajantes que passavam pela regio, no que diz
respeito s precariedades das condies estruturais da cidade. Tenreiro Aranha, em
seu primeiro relatrio sobre as condies da recm instalada Provncia, afirma: mal
se pode dizer, que nesta Provncia tenha se tratado de melhoramentos materiais. E
os prdios existentes encontram-se em runas.
Aps a concluso desse levantamento e da comparao da ltima dcada do
46

MARTIUS, Carl Friedrich e SPIX, Johan Baptist Von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Prefcio
Mario Guimaraes Ferri; Traduo de Lcia Furquim Lahmeyer. V. 3. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; So
Paulo: Ed. Da Universidade de So Paulo, 1981.
47
BATTES, Henry Walter. Um Naturalista no Rio Amazonas. Traduo de Regina Rgis Junqueira.
Belo Horizonte: Itatiaia / So Paulo: EDUSP, 1979.
48
WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelos rios Amazonas e Negro. Traduo de Eugnio Amado.
Belo Horizonte / So Paulo: Itatiaia / EDUSP, 1979.
49
GIBBON, Ladner e HERNDON, Lewis. Exploracin del Valle del Amazonas (Tomo I). Quito:
Monumenta Amaznica, 1991.
50
AGASSIZ, Louis e AGASSIZ, Elizabeth Cary. Viagem ao Brasil: 1865-1866. Traduo e notas de
Edgar Sussekind de Mendona. Braslia: Ed. Senado Federal, 2000.
51
AV-LALLEMANT, Robert. No Rio Amazonas (1859). Trad. Eduardo de Lima Castro. Belo
Horizonte: Editora Itatiaia; So Paulo: Ed. da Universidade de So Paulo, 1980.

43

XIX com o perodo anterior, Mesquita afirma que o processo de transformao da


estrutura fsica da cidade, que ele chama de refundao, se intensificou no perodo
de 1890-1900, com a implementao do Plano de Embelezamento do Governador
Eduardo Gonalves Ribeiro, de 1893, que visava transformar a imagem da cidade,
de uma aldeia acanhada no meio da selva, para uma cidade moderna e civilizada 52,
onde os capitalistas pudessem investir seus recursos sem medo.
A descrio desse povoamento, a partir de caractersticas rudimentares,
poder ser convenientemente confrontada e contrastada com as imagens
apresentadas no incio do sculo XX, quando a imagem da cidade
encontrava-se completamente transformada. O contraste resultante da
confrontao das narrativas e das imagens difundidas nesses dois perodos
distintos um dos principais indcios que sustentam a hiptese de que, na
ltima dcada do sculo XIX, ocorreu uma refundao da cidade.53

Deduz-se que no objetivo de transformar a imagem acanhada da cidade de


Manaus em uma imagem moderna e civilizada, os projetos arquitetnicos
apresentavam-se apenas como uma das partes desse complexo cenrio que
precisava ser montado para agradar aos novos ricos da cidade. A implantao de
servios como gua encanada, luz eltrica, linhas de bondes, sistema de
comunicao como telefone e telgrafo, sistema de saneamento como esgotos,
coleta de resduos slidos e paisagismo complementavam esse cenrio que daria
cidade ares de modernidade.
Mesquita indica que o discurso do progresso da civilizao e da modernidade
que estava sendo implementado na cidade de Manaus era apenas um mito, pois
com a crise do comrcio da borracha, os investidores abandonaram o projeto de
embelezamento de Manaus pela metade e seguiram para outros locais onde
pudessem continuar obtendo altos lucros. Por isso, podemos deduzir que o discurso
de progresso s era til enquanto estivesse dando lucros para os capitalistas,
quando isso comeou a declinar, o discurso perdeu seu sentido e os investidores
buscaram mercados mais promissores.
52

Civilizada, no sentido atribudo por Norbert Elias, dos tipos de padres e comportamentos
considerados civilizados para o homem ocidental. Que se refere a uma grande variedade de fatos: ao
nvel da tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos cientficos, as idias
religiosas e aos costumes. Pode se referir ao tipo de habitao ou maneira como homens e
mulheres vivem juntos, forma de punio determinada pelo sistema judicirio ou o modo como so
preparados os alimentos. Rigorosamente falando, nada h que no possa ser feito de forma
civilizada ou incivilizada. In. ELIAS, Norbert . O Processo Civilizador: uma histria dos costumes.
Trad. Ruy Jungamann. Vol. 1. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. P. 21-46
53
MESQUITA, Otoni Moreira de. La Belle Vitrine: O mito do progresso na refundao da cidade de
Manaus (1890/1900). Tese de Doutorado em Histria Contempornea pela Universidade Federal
Fluminense. Niteri, 2005. p. 112.

44

Outra pesquisadora que escolheu a cidade como objeto de investigao foi a


historiadora Maria Luiza Ugarte Pinheiro, em sua dissertao de mestrado intitulada
A cidade sobre os ombros: trabalho e conflito no porto de Manaus 1889-1925,
defendida em 1996, na PUC - So Paulo, analisa a cidade como extenso do porto,
na medida em que, ao abordar a histria dos trabalhadores que vivem na cidade de
Manaus, fez questo de evidenciar que a cidade a ser apresentada seria aquela
vivenciada pelos estivadores do porto de Manaus e no a das elites. Sobre a
questo dos projetos disciplinadores e higienizadores da cidade, eles so analisados
no da perspectiva dos administradores que implementaram esses projetos, mas
dos seus receptores que, no caso especifico, eram os trabalhadores Porto de
Manaus. Como se pode depreender no fragmento abaixo.

No tarefa fcil reconstituir os espaos e as prticas vinculadas mais


diretamente com o viver cotidiano dos estivadores, mesmo porque esses
no legaram memrias ou registros que permitissem acompanh-los com
maior segurana pelos meandros da cidade. Seus poucos boletins, notas e
documentos reivindicatrios no levam muito alm do seu mundo do
trabalho. Por isso, tivemos que lanar mo de outras falas, buscando
informaes a respeito dessa categoria principalmente no discurso
jornalstico, por meio de colunas que davam vazo aos problemas mais
corriqueiros da cidade como Coisas Policiais e Queixas do Povo.54

Em sua tese de doutorado as Folhas do Norte: letramento e periodismo no


Amazonas (1880-1920), Pinheiro percebeu que as fontes oficiais de certa forma
silenciavam a voz dos trabalhadores da cidade; por isso, priorizou as fontes
jornalsticas, por considerar que eram mais adequadas para ouvir as vozes daqueles
trabalhadores. Mas, alerta que mesmo essas fontes tm que ser analisadas
minuciosamente, pois esses peridicos, de uma forma ou de outra, com maior ou
menor grau, esto vinculados elite dominante.
Ao analisar os peridicos publicados entre 1880-1920, Pinheiro tinha como
objetivo investigar por meio das discusses e crticas jornalsticas, o modelo scio
econmico, o processo de excluso social, a emancipao feminina e a poltica
oligrquica, alm de identificar a contribuio dos peridicos no processo de
consolidao da cultura letrada, numa regio marcada pela tradio oral. Essa
anlise tambm visava ampliar o entendimento sobre a cidade e suas contradies,
54

PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. A Cidade sobre os ombros: trabalho e conflito no porto de
Manaus de 1889-1925. Manaus: Ed. Universidade do Amazonas, 1999. p. 61-62.

45

orientado por novas fontes de pesquisa, evidenciava-se a busca por vivncias


humanas com seus conflitos e contradies que movimentavam a cidade. Pinheiro
afirma que ,
preciso articular o fato arquitetnico com as experincias sociais das
populaes urbanas, experincias que sempre so mltiplas e de difcil
decifrao. Tambm no adianta muito traar perfis genricos de tipos
urbanos, como o Baro da Borracha ou prostituta polaca. Tomado dessa
forma, eles no passam de esteretipos, mantendo pouca ligao com o
mundo real.
preciso dizer das vivncias diferenciadas, dos conflitos de interesses, que
so tambm conflitos de valores. As populaes urbanas no so passivas;
elas so capazes de intervir na cidade, transformando-a em seu proveito.
No basta dizer, por exemplo, que a Manaus da virada do sculo XIX para o
XX derivao esquemtica da expanso extrativista da borracha.
preciso reconhecer que os homens e mulheres que viveram naquela poca,
imprimiram na cidade a marca de suas presenas, modificando, muitas
vezes, o sentido que queria atribuir a determinados processos.55

A historiadora Francisca Deusa Sena da Costa, em sua dissertao de


mestrado, defendida na PUC So Paulo, em 1997, tambm priorizou a cidade
como tema de pesquisa. Quando viver ameaa a ordem urbana (1890-1915), analisa
o processo disciplinador utilizado pelo Estado para implementar uma nova ordem
urbana, adequada s necessidades do sistema capitalista do perodo ureo da
borracha, quando a cidade tinha que se apresentar adequadamente para atrair os
investimentos estrangeiros. Uma cidade cheia de casebres e cortios e sem infraestrutura bsica no atendia a esses objetivos. Era preciso modific-la para atender
aos novos interesses. Porm, nesse processo de implantao havia um
complicador: os habitantes da cidade.
Para resolver esse impasse, como inicialmente era complicado excluir os
indivduos dos espaos que estavam sendo modificados, era necessrio camufllos, escond-los dos olhos do Poder Pblico, dos visitantes e dos possveis
investidores. A permanncia desses indivduos no centro da cidade tornou-se
possvel por meio da promulgao da Lei n 23, de 6 de maio de 1893 56, encontrada
no Cdigo de Postura da Intendncia de Manaus, que exigia apenas a construo
de belas fachadas para os prdios do centro da cidade. Desta forma, construda a
fachada, no interessava o que havia por trs. Isso garantiu a permanncia dos
PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. Folhas do Norte. Letramento e Periodismo no Amazonas
(1880-1920). Tese de Doutorado em Histria. PUC- So Paulo, 2001. p. 22.
56
LEI n 23, de 06 de maio de 1893. Cdigo de Postura da Intendncia de Manos, Imp. na Typ.
Manaus Am,1893.
55

46

antigos habitantes nos novos espaos. Porm, as fachadas os tornavam invisveis


aos olhos do Poder Pblico.
De acordo com Costa, era preciso regulamentar os hbitos e costumes do
viver na cidade, que no primeiro momento no segregou os trabalhadores do espao
urbano, apenas os escondeu da visibilidade pblica.
Costa tambm evidencia a existncia de duas cidades, a cidade real e a
cidade ideal. A cidade real aquela que ainda apresenta resqucios do perodo
imperial, com relaes de trabalho do meio rural se entrelaando com as da cidade.
A cidade ideal de estilo europeu, onde as relaes de trabalho so bem definidas e
os espaos da cidade tambm. Nesse choque entre a cidade real e a cidade ideal,
as tenses se estabelecem, e os trabalhadores se tornam visveis na luta pelo direito
cidade. Isso pode ser depreendido da afirmao abaixo.
(...) A Manaus ideal e a Manaus real existiram concomitantemente. O
trabalhador e outros segmentos populares habitaram o centro lugar de
ostentao do luxo (...) trabalhadores e pobres urbanos ocupavam uma
outra cidade, visualmente disfarada (...).57

Em sua anlise da cidade do perodo ureo da borracha, Costa inclui novos


atores sociais que, devido s circunstncias em que fora construda a fbula da
Belle poque, encontravam-se invisveis, e no processo de revisitao da
documentao, foi possvel ampliar o raio de viso para alm da elite, incluindo os
diversos segmentos sociais que viviam na Amaznia naquele perodo. Como afirma
Costa ao inserir as,
classes populares no processo histrico da cidade, essa historiografia
regional omissa. que apesar de conviverem num mesmo espao, trazlos para a memria histrica quebra com a imagem de Manaus como
cidade nica e coloca em cena a existncia de uma outra cidade:
problemtica, conflitiva, tensa em oposio quela cujas obras desses
historiadores ajudaram a construir, trazendo luz apenas o lado idlico de
uma decantada civilizao58.

Nessa perspectiva, Costa considera que importante destacar a cidade de


Manaus como um espao de contrastes, pois a elite e os indesejveis
(trabalhadores, desempregados, prostitutas etc.) conviviam lado a lado. No processo
57

COSTA, Francisca Deusa Sena da Costa. Quando viver ameaa a ordem urbana: Trabalhadores
urbanos em Manaus (1890-1915). Dissertao de Mestrado em Histria. Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo, 1997. p.90 e 91.
58
COSTA, Francisca Deusa Sena da Costa. Quando viver ameaa a ordem urbana: Trabalhadores
urbanos em Manaus (1890-1915). Dissertao de Mestrado em Histria. Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo, 1997. p.90.

47

de mudanas ocorrido no centro da cidade, os indesejveis foram sendo, aos


poucos, camuflados para ficarem longe dos olhares do Poder Pblico, mas eles
continuaram resistindo no espao da cidade.
Devido a todos esses estudos que antecedem nossa proposta de trabalho,
no reivindicamos para ela o pioneirismo da pesquisa sobre a cidade de Manaus no
recorte temporal por ns selecionado, uma vez que nos espelhamos em estudos
anteriores, como os aqui mencionados e, mais recentemente, o do gegrafo Jos
Aldemir Oliveira, seguindo os passos trilhados pela antroploga Selda Vale 59, que
abre novas perspectivas para a compreenso da cidade em seu momento de crise:

Ao mesmo tempo em que os sujeitos se confrontam, a cidade continuou a


existir, por meio deles e com eles, como cadinho de resistncia e de
experincias, como lugar das festas, das criaes artsticas aparecendo
como alternativas de vivncia urbana.60

Aps esse breve balizamento dos debates referentes temtica que estamos
nos propondo a discutir, optamos por investigar a arquitetura e o urbanismo na
cidade de Manaus no perodo de 1910-1940, orientados pelas pesquisas
desenvolvidas pelo professor Dr. Otoni Mesquita, no que se refere ao projeto de
embelezamento da cidade de Manaus implementado pelo governador Eduardo
Ribeiro, que tinha como objetivo transformar Manaus numa cidade moderna e
civilizada, com os recursos provindos da exportao da borracha. Nossa proposta
verificar, por meio das documentaes oficiais, se esse projeto foi abandonado
59

COSTA, Selda Vale da. Eldorado das Iluses. Cinema & Sociedade: Manaus 1897-1935.
Manaus: Editora da Universidade do Amazonas 1996. Outros pesquisadores vo no mesmo caminho
trilhado por Selda, dentre eles esto AGUIAR, Jos Vicente de Souza. Manaus: praa, caf, colgio
e cinema nos anos 50 e 60. Manaus: Valer /Governo do Estado do Amazonas, 2002. OLIVEIRA,
Jos Aldemir. Manaus de 1920-1967: A cidade doce e dura em excesso. Valer, Cultura e EDUA,
2003. E os que antecedem o perodo em estudo e vo at a dcada de 1920 como o caso de
PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. A Cidade sobre os ombros: trabalho e conflito no porto de Manaus
de 1889-1925. Manaus: Ed. Universidade do Amazonas, 1999. COSTA, Francisca Deusa Sena da
Costa. Quando viver ameaa a ordem urbana: Trabalhadores urbanos em Manaus (1890-1915).
Dissertao de Mestrado em Histria. Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1997. DIAS,
Edina Mascarenhas. A Iluso do Fausto: Manaus 1890-1920. Dissertao de Mestrado em Histria.
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1988. MESQUITA, Otoni Moreira de. La Belle Vitrine:
O mito do progresso na refundao da cidade de Manaus (1890/1900) Tese de Doutorado em
Histria Contempornea pela Universidade Federal Fluminense. Niteri, 2005 e na sua dissertao de
mestrado intitulado Manaus: Histria e Arquitetura 1852-1910. 3. ed. Manaus: Valer, 2006.
60
OLIVEIRA, Jos Aldemir. Manaus de 1920-1967: A cidade doce e dura em excesso. Valer, Cultura
e EDUA, 2003. p. 19.

48

durante o perodo de crise ou foi apenas adequado a uma nova realidade


econmica.

49

1.5 A cidade de Manaus de 1910-1940


1.5.1 Contexto econmico, poltico e scio-cultural.
Os habitantes da cidade de Manaus, do incio da segunda dcada do sculo
XX, estavam longe de imaginar o iminente futuro que lhes espreitava. Enquanto os
principais idealizadores da cidade sonhavam em continuar o processo de
embelezamento e saneamento intensificado no final do sculo XIX e incio do XX,
pelo governador Eduardo Gonalves Ribeiro,61 com os recursos oriundos da
extrao do ltex da seringueira nativa da Amaznia, o capital internacional investia
fortemente em grandes plantaes de seringueiras na sia. Quando o ltex
comeou a ser extrado das plantaes asiticas, tornou-se irreversvel a
decadncia da atividade gomfera na Amaznia, causando um inquietante
descompasso entre os projetos para a cidade e as condies financeiras para a sua
realizao.
A partir de 1910, os primeiros sinais de crise no comrcio de exportao da
borracha silvestre tornam-se mais evidentes. Porm, como a variao de preo no
mercado internacional era comum, a maioria da elite local acreditava que esse
perodo de oscilaes iria logo acabar e que o preo da borracha iria subir
novamente, devido s experincias anteriores. Baseados nessa crena, o governo
do Estado e a Associao Comercial do Amazonas no deram a devida importncia
ao fato e ocupavam-se em organizar congressos para discutir novos mtodos de
extrao da borracha, visando ao aumento de seu preo no mercado, como se nada
estivesse acontecendo, como se observa, na argumentao apresentada pelo
Governador Antnio Clemente Ribeiro Bittencourt, na mensagem de 1910.
E, como era natural, desse congraamento e da exposio de borracha, que
ento foi effetuada, resultou o augmento de valor commercial do Amazonas.
No s a imprensa do Paiz, mas tambm a do estrangeiro, noticiou o facto,
enaltecendo-o com elogiosas referencias.
Certamente, isso redundou em benfico para ns, mas outros proveitos
ainda trouxe o Congresso e esse foi o da indicao de novos methodos para
a extraco do ltex precioso da hevea, alem de grande copia de
conselhos, que passaram a ser observados, sobre a cultura da mesma.62
61

Governador do Estado do Amazonas no perodo de 1892-1896.


MENSAGEM lida perante o Congresso do Amazonas na abertura da Primeira sesso ordinria da
stima legislatura pelo Exmo. Sr. Coronel Antonio Clemente Ribeiro Bittencourt, Governador do
Estado, em 10 de julho de 1910. Manos, Seco de Obras da Imprensa Official. 97 Rua Municipal
62

50

A elite amazonense, nesse perodo, acreditava que o preo da borracha iria


se recuperar, uma vez que promoviam eventos para divulgar e aprimorar novos
mtodos para ampliar a produo nos Seringais do Estado. Isso porque nos
primeiros anos de aprofundamento da crise do preo da borracha no mercado
internacional, entre 1910 e 1913, o Municpio de Manaus sofreu poucos abalos na
sua arrecadao financeira, devido, em grande parte, concesso de parcelas de
crditos repassadas ao Estado por instituies financeiras internacionais, como nos
esclarece a apresentao feita pelo Superintendente63 de Manaus Jorge Moraes em
mensagem Cmara Municipal.
Pelas demonstraes que vo adeante appensas em annexos, veris que a
Municipalidade de Manos teve, no anno que acaba de expirar, e relativo ao
exerccio de 1912 uma renda de 2.616:235$505 ou mais 54:963$504 que no
ano anterior. (...)
A despeza, no mesmo perodo, attingiu somma de ris 2.162:117$686,
ficando um saldo de RS. 365:130$736, em 31 de dezembro de 1912,
inclusive o saldo de 1911 na importncia de 3:577$220 e mais 2:435$400
recebido em agosto, do London Bank.(...)
Ficam, portanto, os saldos assim descriminados: exerccio de, 8:086$615;
exerccio de 1913, 137:911$443, no total de 145:998$038, representado em
dinheiro, folhas no encerradas e documentos. 64

De acordo com os dados levantados pela pesquisa65, foi possvel visualizar


que a partir de 1915 a crise econmica se apresentava de forma dramtica. A
exportao da borracha diminuiu vertiginosamente e os efeitos da crise abalaram
diretamente a praa comercial de Manaus, afetando todos os segmentos da
economia regional. Das grandes s pequenas empresas que viviam da produo e
comercializao de um nico produto que estava em franca desvalorizao, devido
concorrncia asitica no mercado internacional, essas empresas corriam srio risco
de fecharem as portas. Essa situao de crise econmica foi demonstrada por
Antonio Loureiro, ao analisar os dados fornecidos pela Associao Comercial do
Amazonas ACA, onde afirma,
A crise final da borracha atingiu seu apogeu em 1915. No artigo O Capital,
a Revista da ACA (15) comentava a situao anormal do comrcio. A
97, 1910. p. 6-7.
63
Nas primeiras dcadas do sculo XX, o cargo de Superintendente equivalia ao cargo de Prefeito da
cidade.
64
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente do Municpio,
Dr. Jorge de Moraes. Em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913.p.16.
65
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Terceira sesso ordinria da
oitava legislatura pelo Exmo. Sr. Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa, Governador do Estado, em 10 de
julho de 1915. Manos Amazonas. Seco de Obras da Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal 97,
1915.

51

desconfiana tomara conta de todos e o crdito desapacera. O dinheiro


estava difcil, a juros de 4 a 5% ao ms, e o Banco do Brasil no reiniciara
suas atividades de crdito. O interior no tinha condies de comerciar
vistas, em decorrncia deste fato o comrcio aviador esta parado e as
safras prevista seriam baixas.66

O perigo de fechamento e colapso de muitas empresas, em Manaus e em


Belm, mostrou de maneira clara a fragilidade do sistema de aviamento67,
estruturado para o processo de explorao e comercializao da borracha. Esse
sistema era composto por uma intrincada rede de dependncia entre os seus
agentes sociais, do seringueiro aos donos das casas aviadoras nacionais at os
representantes do capitalismo internacional.
O seringueiro, para ir trabalhar no seringal, necessitava de instrumentos de
trabalho e alimentos para se manter, os instrumentos e o rancho eram fornecidos
pelo seringalista por meio do sistema de crdito, cuja garantia de pagamento era a
borracha que o seringueiro iria extrair; o seringalista, para fornecer os instrumentos e
o racho ao seringueiro, precisava de recursos que eram conseguidos com as casas
aviadoras, localizadas em Manaus e em Belm; as casas aviadoras forneciam os
crditos solicitados pelos seringalistas e recebiam como garantia de pagamento a
produo vinda dos seringais. Os donos das casas aviadoras obtinham os crditos,
que eram entregues aos seringalistas, com os representantes do capitalismo
internacional. Foi essa rede de relaes que dependia visceralmente do mercado
internacional, criada pelo sistema de aviamento, que alterou significativamente as
relaes econmicas internas.
A rede de crditos que fazia funcionar o sistema de aviamento, ao mesmo
tempo em que movimentava as empresas de grande e pequeno porte localizadas
em Manaus, colocava-as numa situao extremamente desfavorvel, como afirma
Roberto Santos,
O aviador de nvel mais baixo fornecia ao extrator certa quantidade de
bens de consumo e alguns instrumentos de trabalho, eventualmente
pequena quantidade de dinheiro. Em pagamento recebia a produo
extrativa. Os preos dos bens eram fixados pelo aviador, o qual
acrescentava ao valor das utilidades fornecidas juros normais e mais uma
margem aprecivel de ganho, a ttulo do que se poderia chamar juros
extras. Esse aviador por seu turno, era aviado por outro e tambm
66

LOUREIRO, Antonio Jos Souto. A Grande Crise (1909-1916). Manaus: edio do autor, 1986. p.
117.
67
De acordo com Roberto Santos, aviar na Amaznia significa fornecer mercadoria a crdito.
SANTOS, Roberto. Histria Econmica da Amaznia: 1800-1920. So Paulo: T.A. Queiroz, 1980.
p. 155-174.

52

pagava juros extras apreciavelmente altos. No cume da cadeia estavam as


firmas exportadoras, principalmente beneficirias do regime de
concentrao de renda por via do engenhoso mecanismo dos juros extras
e do rebaixamento do preo local da borracha.68

Isso se tornou evidente quando o produto que fazia funcionar esse sistema
estava em franca desvalorizao no mercado internacional e as grandes e pequenas
empresas entraram em processo de falncia. Esse fato fez com que a crise
econmica fosse discutida na apresentao feita pelo Governado do Estado,
Jonathas de Freitas Pedrosa, Assemblia Legislativa em 1915, quando afirmou
que os efeitos dessa depresso econmica estavam aos olhos de todos, a
manifestar-se por toda parte, em todas as atividades. E, apresenta uma sntese da
balana comercial do Estado no perodo de 1910-1914,
A simples e fcil comparao de alguns dados numricos definir a actual
situao econmica do estado melhor que a mais minuciosa descripo
pelo verbo.
Assim, durante, os annos de 1910,1911,1912,1913,1914 a exportao de
borracha amazonense montou s seguintes quantidades: 9.879,688,
8.765.427, 10.756.256, 8.264.316, 8.468.147 de kgs., correspondente
respectivamente, aos seguintes valores officiais:
1910................................85.752:449$199
1911................................58.710:378$958
1912................................57.458:582$855
1913................................32.504:549$899
1914................................27.310:691$83069

Diante da constatao dos nmeros, era impossvel negar a crise econmica


que se abatia na capital. Mas, importante destacamos que, mesmo com o
agravamento da crise, a cidade continuou a se movimentar, pois as obras de
manuteno continuaram sendo executadas.
O aprofundamento da crise econmica provocou a sada da populao mais
rica da cidade de Manaus, transformou o centro da cidade num espao semelhante
ao de um filme de terror, com grande parte dos casares abandonados. J na
periferia da cidade ocorria justamente o contrrio, ela crescia cada vez mais, muito
embora, a populao mais pobre tivesse que se juntar para morar no mesmo lugar
e, assim, dividir as despesas. Segundo Antonio Loureiro, Manaus,
(...) que pela sua populao e grande comrcio fora a cidade mais rica do
mundo, estava tomada pela misria e pela tristeza. Das 8.000 casas que a
68

SANTOS, Roberto. Histria Econmica da Amaznia: 1800-1920. So Paulo: T.A. Queiroz, 1980. p.
154-175.
69

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da terceira sesso ordinria da


oitava legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa. Governador do Estado, em 10 de
julho de 1915. p. 59-65.

53

constituem, mais de 2.000 esto desabitadas, inclusive inmeras nas


principais ruas comerciais. As famlias menos abastadas tiveram de
constituir verdadeiras repblicas, para assim, reunidas, repartindo as
despesas, poderem fazer face s dificuldades.70

Essa sada da populao mais rica da cidade provocou uma significativa


mudana no perfil da elite tradicional, que mesmo de longe, continuou influenciando
nas questes locais. A elite que estava abandonando Manaus buscava um local
onde pudesse continuar mantendo seu prestgio, esse local era o Rio de Janeiro,
principalmente no bairro de Copacabana. Sobre esse tema, Ana Maria Daou afirma:
Como indiquei na Introduo, grande parte do meu trabalho de campo
aconteceu na antiga Capital Federal, sendo Copacabana, a enseada de
Botafogo e o Jardim Botnico, o percurso indiscutvel para polticos,
intelectuais e funcionrios pblicos. Quando j no era mais o tempo de ir
para Paris, de permanecer em Lisboa ou de viver na Manaus moderna, a
mudana para a Capital Federal e a fixao em um de seus prestigiosos
bairros da Zona sul da cidade foram um recurso legitimo de manuteno do
prestgio, sendo para este grupo a referncia ao local de moradia um valor
expressivo de sua distino. Como afirma Bourdieu, nada como mudar
para permanecer.71

A crise econmica provocou esse movimento contrrio, enquanto a elite


debandava do centro da cidade, as classes menos favorecidas eram atradas para
Manaus busca de melhores condies de vida, uma vez que os seringais no
ofereciam mais condies de sobrevivncia. A situao ficou to grave que o
governo federal chegou a conceder transporte gratuito para os seringueiros voltarem
para seus lugares de origem72.
Alm da crise da economia gomfera, outro fator de ordem interna influenciou
sobremaneira as condies de existncia em Manaus, o domnio de setores
estratgicos da cidade por empresas estrangeiras e as disputas polticas pelo
governo do Estado entre as faces da oligarquia local que culminaram com
movimentos armados e lutas judiciais.
Um exemplo caracterstico dessa situao foi o levante armado ocorrido no dia
15 de junho de 1913. De acordo com a historiadora Elona Monteiro dos Santos, o
70

LOUREIRO, Antonio Jos Souto. A Grande Crise (1909-1916). Manaus: edio do autor, 1986.
p.116.
71
DAOU, Ana Maria Lima. A Cidade, o Teatro e o Paiz das Seringueiras: Prticas e
Representaes da Sociedade Amazonense na virada do sculo XIX. Tese de Doutorado
apresentada ao Programa de Ps-graduao em Antropologia Social do Museu Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998. p. 346-356.
72
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos em sesso de 14 de Julho de 1921
pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S, Typographia de C E L Rua Joaquim
Sarmento, 12 Amazonas Manos,1921. p. XLIII- XLIV.

54

levante foi motivado por diversos fatores; dentre eles, destacam-se o problema
existente entre o Estado e a empresa responsvel pelo abastecimento de gua da
cidade e as demisses em massa da milcia policial, como se pode observar pela
nota do jornal em Tempo do dia 20 de junho de 1913, onde descreve a gravidade da
situao e a necessidade de apoio das foras federais para reverterem situao,
Os revoltosos no depunham as armas, e s 12 horas, isto , terminado o
prazo estabelecido para que se retirassem os moradores das imediaes do
quartel policial, entraram em ao. Estabeleceu-se a luta e os revoltosos
perderam posio batendo em retirada. Incendiaram os escritrios da
MANAOS IMPROVEMENTS, e empastelaram vrios jornais tanto da
situao quanto da oposio. Foram empastelados O TEMPO, FOLHA DO
AMAZONAS e a GAZETA DA TARDE. Em O TEMPO. Manaus, 20 jun., 1913.73

Para dificultar ainda mais a situao, a Primeira Guerra Mundial, que se


estendeu de 1914 at 1918, provocou grandes impactos economia brasileira e
principalmente do Estado do Amazonas. Nesse perodo, a borracha foi
considerada contrabando de guerra, ficando proibidas as exportaes, exceto para a
Frana e para a Rssia, isso complicava ainda mais a j difcil posio econmica
do Estado. A Guerra, na realidade, evidenciou uma sucesso de equvocos
praticados pela elite nacional e local, pois demonstrou a fragilidade do sistema
econmico vigente. Como se pode confrontar pela afirmao feita pelo governador
do Estado do Amazonas, Jonathas Freitas Pedrosa, na Mensagem de Governo de
1915.
Quando, s aperturas do paiz, extremadas por um accmulo successivo e
prolongado dos erros financeiros, econmicos e polticos, se voltavam as
vistas esperanosas de seu novo Governo para novos impulsos da
explorao de suas riquezas naturaes e para remdios extraordinrios,
destinados a abrandar a agudez mxima da crise, obtidos nas mesmas
fontes, que outrora tanto o serviram, - rebentou a guerra europa e com ella
fugiram as possibilidades desses remdios extraordinrios e as esperanas
naquelles impulsos econmicos.
Como um doente incapaz de applicar therapeuticas, symptomaticas ou
curativas, ficou o Brasil entregue s suas prprias reaces orgnicas, no
restabelecimento de sua vida normal.74

Os impactos da guerra na cidade de Manaus foram sentidos de imediato. Os


navios que transportavam produtos para o Estado no conseguiam chegar,
73

Apud. SANTOS, Elona Monteiro dos. A Rebelio de 1924: em Manaus. Manaus. Suframa Ed.
Calderaro, 1985. p. 40-41.
74
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da terceira sesso ordinria da
oitava legislatura pelo Exmo. Sr. Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa. Governador do Estado, em 10 de
julho de 1915. p. 10-11.

55

provocando longos perodos de falta de alimentos na cidade de Manaus. Esta no


foi uma situao isolada, sentida apenas no Amazonas, a crise dos transportes foi
sentida em todo o Brasil, mas, devido posio geogrfica do Amazonas, os
contratempos foram muito maiores do que no restante do pas. O governador Pedro
de Alcantara Bacellar, em 10 de julho de 1917, assim se refere a esse episdio.
Si a situao afflictiva creada pela guerra aos neutros era de molde a
carrear larga copia de prejuzos para o Brasil, cujo commercio e
administrao muito se resentiram, e resentem, de sua nefasta influencia,
no ser de causar espcie asseverar-se que semelhante situao se
encontra hoje excessivamente mudada, uma vez que o temoroso conflicto
bate, mau grado nosso, as portas da Repblica, cabendo ao Amazonas, por
sua posio geographica, mais que qualquer outro Estado da Federao, a
partilha dos considerveis damnos causados pela crise mercantil derivada
da falta de transportes para o intercambio de valores e productos.75

Devido falta de alimentos importados na cidade de Manaus, provocada pela


crise nos transportes de mercadorias, o interior do Estado voltou-se para a
agricultura de subsistncia, na inteno de atender demanda da capital por
alimentos, isso contribuiu para evitar o abandono em massa dos trabalhadores dos
seringais. A atividade agrcola, at ento proibida, passou a ser a possibilidade de
sobrevivncia daqueles trabalhadores. Como se pode perceber pela afirmao de
Loureiro76, com a crise da Grande Guerra, o interior voltou-se para a agricultura de
subsistncia, produzindo grandes quantidades de milho e feijo nos seringais.
Independentemente da situao de crise vivenciada pelo Estado do Amazonas,
a elite local insistia em que a cidade de Manaus continuasse sendo a vitrine por
meio da qual ela pudesse ser percebida pela mesma representao de seu perodo
de prosperidade. A esse respeito, Ana Maria Lima Daou evidencia que,
as gradativas melhorias urbanas que culminaram com as transformaes
concretas no espao e nas formas de sociabilidade proporcionaram aos
moradores de Manaus especialmente a elite e seus governadores a
positivao da imagem da cidade, agora distanciada da aldeia. Este fato
resultou numa forte identificao entre a elite citadina e o prprio espao
urbano, palco privilegiado para a exposio e ao acesso a bens de consumo
materiais e simblicos identificados com a vida na Manaus moderna77
75

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Segunda Sesso Ordinria da


Nona Legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar. Governador do Estado, a 10 de
julho de 1917. Manos Amazonas. Seco de Obras da Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal 97,
1917. p. 72-73.
76
LOUREIRO, Antonio Jos Souto. A Grande Crise (1909-1916). Manaus: edio do autor, 1986.
p.118.
77
DAOU, Ana Maria Lima. A Cidade, o Teatro e o Paiz das Seringueiras: Praticas e
Representaes da Sociedade Amazonense na virada do sculo XIX. Tese de Doutorado
apresentada ao Programa de Ps-graduao em Antropologia Social do Museu Nacional da

56

Essa concepo de cidade moderna, de que estava impregnado o imaginrio


coletivo do grupo social dominante amazonense, foi evidenciado novamente no
processo de arrendamento e compra do chamado Palacete Scholz, para sediar o
governo do Estado.
Durante todo o perodo de prosperidade, entre as duas ltimas dcadas do
sculo XIX e a primeira do XX, a sede do governo funcionou no pao Municipal.
Aquele foi um perodo em que no havia necessidade de auto-afirmao em
detalhes como esse, ela se fazia por meio dos grandes espetculos e dos grandes
projetos. Porm, a situao vivenciada nos anos de crise no permitia que a sede do
governo se localizasse em um lugar acanhado, sem expressividade. Infere-se que o
antigo prdio situado no bairro de So Vicente do lado ocidental da Praa da
Repblica, entre as ruas Municipal e So Vicente, construdo ainda no perodo
provincial no serviria aos propsitos de um governo de uma elite que precisava de
auto-afirmao do seu antigo status quo.
As reclamaes sobre a falta de acomodaes adequadas para o
funcionamento do aparelho administrativo estadual eram constantes. Considerando
que funcionava no mesmo local a residncia e Gabinete do Governador; a
Secretaria Geral e Diretoria da Seco de Terras, Obras Pblicas e Agricultura,
Corpo de Guarda, Alojamento de carros etc., as reclamaes sobre as pssimas
condies de acomodaes eram vrias, da falta de espao para acomodar um novo
setor, s precrias condies do prdio, que h muito, necessitava de reparos.78
Diante desses argumentos, o governo do Estado iniciou o processo de
negociao para o arrendamento de um prdio para o funcionamento da sede do
governo. Dessa negociao resultou um contrato de arrendamento do prdio
conhecido como Palcio Scholz, pelo preo de um conto de ris ao ms, durante
cinco anos, com clusula de opo de compra; no devendo exceder tal opo o
prazo de dezoito meses. Segundo o relato do Governador Pedro de Alcantara
Bacellar, na mensagem de 10 de julho de 1917, Assemblia Legislativa.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998. p. 205.


78
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Segunda Sesso Ordinria da
Nona Legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar, Governador do Estado, a 10 de
julho de 1917. Manos Amazonas. Seco de Obras da Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal 97,
1917. p. 18-22.

57

Tendes conhecimento do contrato que, com o Estado, assignou o Sr.


Coronel Luiz da Silva, por seu procurador, o Sr. Evaristo Jos de Almeida,
para arrendamento do edifcio a rua Municipal, desta cidade, havido, por
execuo hipotecaria, de Waldemar Scholz. Esse contrato de arrendamento
foi realizado razo de um conto de ris por ms, por espao de cinco
anos, com clausula de opo de compra em dezoito meses.79

Com o fim do prazo de dezoito meses, o Estado iniciou o processo para a


compra do Palcio Rio Negro, sede do governo. Mesmo com as intensas crticas dos
opositores que afirmavam que o Estado no tinha, naquele momento, capital
disponvel para a compra de um novo prdio. Os crticos consideravam, naquela
situao, o agravamento da crise econmica e se reportavam ao grande esforo
iniciado pela associao Comercial do Amazonas, na inteno de que o governo do
Estado unisse seus esforos aos do Estado do Par na inteno de promoverem um
convnio entre os dois Estados da regio amaznica para enfrentarem o grave
obstculo econmico que afligia a ambos diretamente.
Mesmo com todas as crticas a respeito da execuo dessa compra, o Palcio
Rio Negro foi adquirido por 200:000$00, que de acordo com as informaes do
Poder Pblico80 foi uma aquisio de inegvel economia para os errios pblicos;
pois, o prdio foi comprado por um tero de seu valor real. importante ressaltar
que a referida compra s foi possvel devido difcil situao econmica pela qual
passava o proprietrio do imvel, o que, na realidade, no era incomum naquele
perodo, uma vez que grande parte dos seringalistas contabilizou grandes perdas
com a crise da comercializao da borracha.
A compra desse prdio tinha um significado enorme para a imagem que o
governo queria passar sobre sua administrao e para atrair investidores para a
regio, pois o palacete era um dos grandes cones da riqueza e opulncia do
perodo ureo da borracha. Construdo no incio do sculo XX, pelo comerciante
alemo Karl Waldemar Scholz, para ser sua residncia. A arquitetura do Palcio
demonstra a riqueza produzida pela exportao da borracha em larga escala. Possui
uma fachada ecltica bem ao gosto dos representantes da elite amazonense81.
79

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Terceira Sesso Ordinria da


Nona Legislatura pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar, Governador do Estado, a 10 de
julho de 1918. Imprensa Pblica Manos, 1918. p. 80-85
80
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Terceira Sesso Ordinria da
Nona Legislatura pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar, Governador do Estado, a 10 de
julho de 1918. Imprensa Pblica Manos, 1918. 80-85.
81
MESQUITA, Otoni Moreira de. Manaus: Histria e Arquitetura 1852/1910. 3. ed. Manaus: Editora
Valer/ Prefeitura de Manaus e Uninorte, 2006. p. 248-250.

58

Alm da compra do Palcio Scholz, que atendia mais ao aspecto


representativo de enfrentamento da crise pelo governo estadual, o governo
municipal iniciou uma tmida alternativa para tentar superar a crise econmica,
quando em 1917 importou do Rio de Janeiro um moinho para dinamizar a agricultura
no municpio de Manaus. O moinho foi montado no stio de nome Aracaty, de
propriedade do Senhor Adrio Caminha, situado na Colnia Campos Salles, e foi
inaugurado somente em 1920.82
Em 1918, com o mesmo objetivo de dinamizar a produo agrcola da
Municipalidade de Manaus, a Intendncia Municipal comprou mquinas para montar
casas de farinha. Em 1920, uma dessas mquinas foi cedida a ttulo gratuito para
ser montada no stio Japiim, situado no bairro da Cachoeirinha, de propriedade do
Senhor Pedro Arajo, pelo prazo de 10 anos, contanto que ele se comprometesse
em permitir que os agricultores da redondeza pudessem utilizar a mquina quando
necessitassem. Ela foi inaugurada pelo Superintendente Basilio Torreo Franco de
S, no dia 20 de junho de 1921.
Adquiridas em 1918 pelo Superintendente Snr. Dr. Antonio Ayres de Almeida
Freitas, em virtude da Lei n 918 de 26 de Outubro de 1917, para auxiliar a
agricultura do Municpio.
Em 20 de junho de 1921, o Superintendente Snr. Basilio Torreo Franco de
S, tendo em vista os termos j citados, cede gratuitamente ao Snr. Pedro
Araujo, por espao de dez annos, mediante termo lavrado e assignado no
Contencioso Municipal, o uso e goso de um aparelho para beneficiamento e
fabrico de farinha de mandioca, afim de fazer a sua montagem no sitio
Japyim de sua propriedade, situado no bairro da Cachoeirinha desta capital,
ficando na obrigao de consentir que o referido apparelho seja tambm
utilisado sempre que for possvel, sem remunerao de espcie alguma,
pelos agricultores da circunvizinhana.83

Essas medidas para o enfrentamento da crise se revelariam ainda mais


acanhadas quando, a partir de 1920, os subrbios comearam a crescer
desordenadamente. Os trabalhadores dos seringais j estavam convencidos de que
o comrcio da borracha no iria se recuperar e de que o trabalho que executavam
trazia-lhes cada vez menos retorno. Abandonados sorte, restava-lhes migrar para
a capital busca de melhores condies de vida. Assim, a chegada dessa
populao, descrente de uma possvel recuperao do comrcio da borracha,
82

RELATRIO apresentado
1922 pelo Superintendente Dr.
1922. p. 38.
83
RELATRIO apresentado
1922 pelo Superintendente Dr.
1922. p. 38-39.

Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1 de outubro de


Basilio Torreo Franco de S. Typographia do C e L Manos,
Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1 de outubro de
Basilio Torreo Franco de S. Typographia do C e L Manos,

59

aumentou significativamente o nmero de habitantes da cidade de Manaus,


demonstrando que as medidas implementadas estavam muito aqum dos problemas
enfrentados pela cidade. Pelas palavras do governador do Estado, Cesar do Rego
Monteiro, em Mensagem de 24 de julho de 1923,
A luta pela vida os fora s mais penosas viagens e a tomarem rumos
incertos, sem o menor critrio, tendo apenas por guia a instinto de
conservao. Quantos depois no se arrependeram de um sacrifcio que
lhes resultou intil e que s teve o effeito de lhes aggravar a situao! Tal
o effeito do xodo organizado para fugir a uma situao critica, a mas sem
um plano capaz de garantir o successo. Tal foi o phenomeno que se
observou em nosso Estado, quando os extratores da borracha, resolvendose a abandonar os seringais, sulcavam os nossos rios em bando turbulentos
a depredarem e a destrurem as propriedades que iam encontrando em sua
passagem. que a fome e a falta de trabalho actuvam nelles como
dissolventes dos bons princpios e lhes tiravam a noo dos direitos
alheios.84

O fenmeno da migrao em larga escala para a capital do Estado forou o


Poder Pblico a dar o mnimo de suporte necessrio aos subrbios de Manaus, para
atender crescente demanda, como foi o caso dos bairros de Constantinpolis, So
Raimundo e de Oliveira Machado, nos quais, devido ao aumento da populao,
novas escolas tiveram que ser criadas, dentre elas as
(...) duas que funccionam nos bairros de Constantinpolis e Oliveira
Machado, vo ter sede no prprio do Estado, onde se achava installada a
Escola de Aprendizes Marinheiros de sorte que o provvel augmento de
freqncia impor a necessidade da creao de mais uma escola e
conseqente formao de um grupo ali.
Mutatis mutandis as duas escolas do bairro do S. Raymundo a serem
installadas no antigo Mercado daqulle ponto, cedido ao Estado pela
Municipalidade. 85

A partir das propostas apresentadas nos relatrios e mensagens de governo,


possvel deduzir que o Estado estava tentando diversificar as atividades na rea da
indstria e da agricultura para suportar a onda migratria e diminuir os impactos da
crise econmica, que se alastrava h mais de uma dcada. Como consta na
mensagem do Superintendente de Manaus, Jos Francisco de Arajo Lima,
apresentada Intendncia Municipal em 1 de outubro de 1924.

84

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Segunda Sesso Ordinria da


Dcima Primeira Legislatura, pelo Exmo. Sr. Desembargador Cesar do Rego Monteiro, Governador
do Estado, a 14 de julho de 1923. p.16-24.
85
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Segunda Sesso Ordinria da
Dcima Legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar, Governador do Estado, a 10 de
julho de 1920. p. 144-147.

60

A soluo de problemas vitaes deve attrahir a atteno dos poderes


municipaes, cujas preoccupaes se limitam actualmente arrecadao
das rendas e a uma applicao nem sempre apropriada e productiva.
O amparo e o estmulo s industrias, formetando novas fontes de
produco, deve ser objeto de estudos e indagaes.
A agricultura e pecuria, que, dentro do Municpio, podem attingir
propores compensadoras, merecem vistas attentas e estudiosas.86

Dentre

as

alternativas

aplicadas

pelo

Poder

Pblico,

destaca-se

intensificao da fiscalizao, objetivando aumentar a arrecadao de impostos,


afirmando que, mesmo em momentos de crise econmica, a riqueza do Estado
depende mais de uma boa arrecadao do que a declarao de receita.87
O aumento dos impostos e a intensificao da fiscalizao provocou a
insatisfao do povo, que h muito sofria com esse tipo de medida. Na dcada de
20, a estrutura de poder estabelecida pelas oligarquias, em todo o Brasil, estava
sendo constantemente questionada, por no apresentar alternativas situao
poltica e econmica enfrentada pelo pas. No caso especifico do Amazonas, para
superao da crise econmica que o assolava h mais de uma dcada. No raras
vezes, as crticas atuao dos governantes eram feitas por pessoas diretamente
ligadas ao poder, como se pode constatar por meio do discurso apresentado
Assemblia Legislativa pelo governador Cesar do Rego Monteiro, em 10 de julho de
1921.
Vs no ignoraes que ao lado do governo legal desenvolvia-se uma fora
revolucionaria que se preparava para tomar de assalto o poder. Neste
sentido ela esforou-se por agitar as massas populares, infiltrando nelas
idias subversivas e formando uma atmosfera de hostilidade contra o
Governo eleito. Contra este foram assacados os mais pungentes insultos e
inventadas as lendas mais ridculas.
Alem de contestar-se uma vitoria to honestamente alcanada, emprestouse ao Governador uma fama que o colocava entre os monstros mais
temveis. At a sua idade, que, para outro, constituiria uma garantia de
prudncia, formou um dos artigos do tremendo libelo que contra ele foi
formulado.88

86

MENSAGEM apresentada Intendncia Municipal de Manos, pelo Dr. Jos Francisco de Araujo
Lima, Superintendente Municipal, em 1 de outubro de 1924. Amazonas Manos, Seco de Obras
da Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal 97. 1924. p. 38-39.
87
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos pelo Superintendente Dr. Basilio
Torreo Franco de S em sesso ordinria de 11 de maro de 1922. Typographia do C e L. Rua
Joaquim Sarmento, 12. Amazonas Manos,1922. p. IX.
88
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa, na abertura da Terceira Sesso Ordinria da
Dcima Legislatura, pelo Exmo. Sr. Desembargador Cesar do Rego Monteiro, Governador do Estado,
a 10 de julho de 1921. p. 17-20.

61

Devido a esse duradouro estado de insatisfao, a situao social em Manaus


era favorvel para a ecloso de revoltas, j que era visvel o descontentamento
popular com a crise econmica. Na capital do Estado do Amazonas, como em outras
partes do Brasil, o movimento tenentista ganhou fora fazendo crticas a dois
aspectos da poltica econmica das oligarquias: estrutura econmica, que permitia
a atuao das empresas estrangeiras que retiravam as riquezas da regio e no
contribuam para o desenvolvimento local, corrupo administrativa. Sobre a
questo das empresas estrangeiras, Otoni Mesquita afirma que essa problemtica
no era recente, desde o perodo ureo da borracha, as empresas que
controlavam as principais atividades pblicas e econmicas eram representantes do
capital estrangeiro. Como se confirma no fragmento abaixo.
Geralmente, os servios urbanos eram entregues a empresas estrangeiras
em sua maioria de origem inglesa, como a Manos Electric Lighting, a
Amazon Tegraph, a Manos Railwal Company e Manos Improvements
Limited, que dispunham de material e tcnicos especializados para dirigir os
servios e utilizar a barata mo-de-obra local, mas a opinio dos
administradores, as criticas dos jornais e dos visitantes, levaram a concluir
que, apesar de instalados, os servios pblicos urbanos no eram eficientes
e a cidade no estava totalmente equipada, contrariando afirmaes
fantasiosas feitas por alguns autores que tratam do perodo.89

Se essas empresas no prestavam bons servios no perodo ureo da


borracha, no perodo de crise a situao se agravou ainda mais, devido aos
constantes aumentos de tarifas dos principais servios de atendimento da populao
como gua, luz, e transportes.
Nesse contexto de conflitos e tenses sociais, o governo Estadual iniciou suas
atividades, em 1921, com medidas impopulares. Realizou cortes no funcionalismo
pblico, com a justificativa de reduzir gastos da mquina administrativa.
A primeira medida, que se me impunha, era a incurso no quadro do
funccionalismo pblico para lhe diminuir o mbito. A meza do oramento
no comportava os talhes que nella figuravam, pelo que o mais elementar
bom senso aconselha a sua reduo.90

No perodo em questo, a maioria da renda da populao era gerada pelos


empregos pblicos. As atividades industriais eram incipientes, as atividades
MESQUITA, Otoni Moreira de. Manaus: Histria e Arquitetura 1852-1910. 3. ed. Manaus: Valer.
2006, p. 167.
90
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa, na abertura da Terceira Sesso Ordinria da
Dcima Legislatura, pelo Exmo. Sr. Desembargador Cesar do Rego Monteiro, Governador do Estado,
a 10 de julho de 1921. p. 29.
89

62

comerciais haviam diminudo drasticamente e o enxugamento da mquina


administrativa agravou ainda mais a situao econmica da populao da cidade de
Manaus.
A intendncia municipal de Manaus, com o mesmo objetivo de ampliar a
arrecadao, solicitou que fosse feita uma planta cadastral da cidade; pois, sem
informaes mnimas, no seria possvel realizar uma fiscalizao eficiente e capaz
de ampliar a arrecadao municipal. Como se pode inferir a partir da solicitao do
Superintende de Manaus, Cesar do Rego Monteiro, no relatrio de 14 de julho de
1921.
No essa a primeira vez que vos falo cerca da imensa importncia de
uma planta cadastral pelo menos do permetro urbano, j que de toda a
rea municipal emprehedimento fora, neste dias, de to difficultoso, quase
irrealizvel.
Certo da grandssima utilidade de tal obra, dei-me pressa em recommendar
3 Seco que a iniciasse e com toda a actividade precisa para conclu-la
o mais breve possvel.91

Os dados fornecidos pelo censo de 1920 contriburam para o processo de


fiscalizao, visando arrecadao de impostos, mas, ainda no era suficiente para
que o Poder Pblico pudesse conhecer bem a estrutura e o funcionamento da
cidade. O resultado do senso demonstrou a diversificao das atividades produtivas
e o crescimento da populao, como pode ser verificado no quadro demonstrativo
enviado pela Comisso responsvel pelo censo Intendncia Municipal.
Resultados demographicos:
Zona da cidade: populao presente a 1 de setembro de 1920 -40.161:
pessoas com residncia nesta capital, mas quella data, ausente 1.133.
Populao total effectiva, presente e ausente 41.294.
Zona rural: Populao presente 28.586; pessoas ausentes 79. Populao
total a 1 de setembro de 1920 28.665.
Total o Municpio: Populao presente 68,747; pessoas ausentes 1.212.
Populao total 69.959.
Resultados agrcolas
(...) Total dos estabelecimentos recenseados 1.154.
Valor das terras com as respectivas bem-feitorias 9.770:065$000
Resultados Industriais
Estabelecimentos fabris 70. Capital utilizado na explorao das vrias
indstrias existentes no Municpio 5.167:370$000. Pessoas empregadas
711. Valor da produo annual 5.349:995$15992
91

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos em sesso de


pelo Superintendente Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typographia do C
Sarmento, 12. Amazonas Manos, 1921. p. XVI.
92
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos em sesso de
pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typographia do C
Sarmento, 12. Amazonas Manos, 1921. p. XXXVIII-XXXIX.

14 de julho de 1921,
e L. Rua Joaquim
14 de julho de 1921,
e L. Rua Joaquim

63

De acordo com Santos,93 os anos vinte foram marcados por conflitos polticos.
O clima de tenso em torno da partilha dos recursos do Estado no era uma
situao isolada do Amazonas. Ele estava presente em todo o Brasil. Por esse
motivo, havia um profundo desgaste do poder poltico das oligarquias. A Repblica
Oligrquica envelhecera, a corrupo havia tomado conta de suas estruturas. Essa
situao desagradava setores do Exrcito e da sociedade civil brasileira, como era o
caso de parte da oficialidade das foras armadas e do recm-criado Partido
Comunista do Brasil. Sendo que a parte da oficialidade das foras armadas
brasileiras, representada pelos tenentes, estava disposta a uma cruzada por
questes profissionais contra a corrupo e pela moralidade do pas.
Os tenentes se impunham o dever de resgatar os primrdios da Repblica
brasileira, quando os militares assumiram o governo do pas, imbudos desse
propsito. A partir de 1920, muitos oficiais brasileiros deram incio a uma srie de
revoltas em vrios pontos do Brasil.
No Amazonas, nesse perodo, houve um agravante a mais, alm das tenses
polticas presentes em todo o Brasil: a crise da borracha se fez acompanhar da
centralizao e do fortalecimento da faco da oligarquia liderada pela famlia Rego
Monteiro.
Nesse contexto de reorganizao dos grupos polticos no Estado, ocorreu a
transferncia de alguns tenentes dos grandes centros urbanos para o Amazonas,
com o objetivo de afast-los do centro dos movimentos rebeldes, considerando que
os mesmos eram vistos como uma verdadeira bomba relgio que poderia explodia a
qualquer momento, por isso, foram enviados, principalmente, para o 27 Batalho de
caadores em Manaus, no Estado do Amazonas. O governo central acreditava que
eles se acalmariam distantes do foco das rebelies. O que na verdade no
aconteceu, no Amazonas eles encontraram o solo frtil para possveis rebelies,
como se pode depreender do texto abaixo.
Os militares contestadores articulavam-se e preparavam-se desde 1923,
para deflagrar um movimento de mbito nacional contra o poder
estabelecido, o que deveria ocorrer em 1923. (...)
Especialmente em Manaus, a situao tornava-se crtica, porque estava
sendo indicada pelo grupo de Rego Monteiro, a candidatura Aristides
Rocha, para o governo do Amazonas, ao quatrinio 1925-1929. Isso
significava a continuidade oligrquica dos Rego Monteiro no poder.
93

SANTOS, Elona Monteiro dos. A Rebelio de 1924 em Manaus. Manaus. Suframa Ed. Calderaro,
1985. p. 35-69.

64

Essa situao provocou uma atitude decisiva. Os militares da guarnio de


Manaus, que estavam, se preparavam para um levante, decidiram a 23 de
junho inici-lo.94

Os tenentes residentes em Manaus, liderados pelo primeiro Tenente Alfredo


Augusto Ribeiro Junior, em 23 de julho de 1924, invadiram e tomaram o Palcio Rio
Negro, depondo o Governador em exerccio, Turiano Meira e prenderam seus
principais assessores. O governador Rego Monteiro se encontrava na Europa.
Mas, para alm das atribulaes polticas vivenciadas nesse perodo, a cidade
de Manaus passou por uma relativa recuperao econmica devido ampliao de
coleta de produtos naturais, como a castanha e os leos. Nos anos de 1924 e 1925,
com a execuo do Plano Stevenson, pela Inglaterra, que visava valorizao da
borracha, ocorreu um efmero surto de esperana na intensificao da produo e
comercializao da borracha, o que na realidade no aconteceu.
O plano Steveson foi uma tentativa da Inglaterra de diminuir a produo da
borracha da sia, para melhorar o preo, pois, como tinha produto alm da demanda
no mercado, os preos caam muito, e, com medo de uma crise de super produo,
em 1917, os representantes da borracha produzida na sia iniciaram os debates
para encontrar uma soluo para os problemas que estavam por vir.
Esse plano favoreceu o Estado do Amazonas, na medida em que os Estado
Unidos, que eram o maior comprador de borracha da sia, passaram a comprar a
borracha silvestre produzida no Amazonas, o que causou um relativo aumento de
comercializao do produto. Sobre esse perodo afirma Loureiro.

Graas ao Plano os preos de Manaus assim se comportaram, entre


fevereiro de 1924 e de 1925(3):
...............................................FEV/24...................FEV/25
Borracha fina .......................2$950......................4$800
Entrefina...............................2$110.....................--------Sernambi..............................2$050......................3$700
Sernambi de Caucho..........2$480.......................4$250
Balata.................................10$000......................--------Por sua Influncia os estoque mundiais caram, atingido o seu mais baixo
nvel, em janeiro de 1926, quando iniciaram um novo crescimento, pela
resistncia dos consumidores americanos e dos produtores da Indonsia,

94

SANTOS, Elona Monteiro dos. A Rebelio de 1924 em Manaus. Manaus. Suframa Ed. Calderaro,
1985. p. 67-69.

65

levando sua suspenso temporria, em fevereiro de 1926, embora fosse


revigorado em abril do mesmo ano.95

Esses breves surtos e reviravoltas polticas e econmicas, de retomada da


economia extrativa, devido a manobras do capital internacional, no tiveram flego
para equilibrar minimamente a situao financeira do Estado. Assim, em 1926, o
governo admite que um dos maiores problemas enfrentados pela administrao
pblica refere-se s obras pblicas, que devido aos exguos recursos, no
realizados os reparos devidos nos edifcios pblicos que foram, ao longo do tempo,
deteriorando-se.
As sinalizaes do mercado internacional, no sentido de uma possvel
recuperao da economia amazonense, no final dos anos trinta, no tornavam o
Estado imune s tenses polticas com as quais o pas teria que lidar a partir dos
anos vinte at os anos cinqenta do sculo XX. Os conflitos polticos e econmicos
entre as principais oligarquias brasileiras levaram deposio de Washington Lus e
nomeao de Getlio Vargas para presidncia do Brasil96. O governo provisrio de
Getlio Vargas iniciou os trabalhos pela interveno nos Estados, substituindo os
governadores por interventores de sua confiana. Essa medida objetivava a
centralizao do poder nas esferas federais. Para implementar essa poltica na
Amaznia, o governo Vargas indicou lvaro Botelho Maia, que, segundo Santos, era
um indivduo vinculado aos grupos dominantes, mas destitudo de razes partidrias,
por isso, era um elemento chave para a poltica de centralizao desejada por
Vargas.
A poltica iniciada pelo governo central objetiva superar a crise econmica pela
qual passava o pas, devido ao declnio da exportao de caf em decorrncia da
crise do sistema capitalista evidenciado pela quebra da bolsa de New York, em
1929. Para lvaro Maia, o desafio era ainda maior, superar a crise econmica que
havia se instalado no Amazonas h mais de duas dcadas. Diante desse desafio,
comeou a pr em prtica uma poltica que visava, principalmente, equilibrar o
oramento pblico. Como se pode concluir pelas afirmaes de Santos.

95

LOUREIRO, Antonio Jos Souto. Tempos de Esperana. Manaus: Editora Srgio Cardoso, 1994.
p. 29.
96
MENDONA, Sonia Regina de. Estado e Sociedade: Consolidao da Repblica Oligrquica. In.
Histria Geral do Brasil. LINHARES, Maria Yedda (org).9 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1990.p.
316-326.

66

(...) O interventor apesar de se defrontar com uma economia em crise,


determinou um levantamento das dvidas internas e externas do estado
a fim de se posicionar frente a uma situao financeira complicada que
aniquilava o Amazonas e o tornava ingovernvel. Foi aprovado um novo
oramento e a ordem de diminuio de gasto pblicos estendeu-se aos
municpios, onde todas as despensas deveriam ser aprovadas pelo
interventor. 97

Os anos trinta e meado dos anos quarenta foram marcados pela interveno
do governo central no Estado do Amazonas. Durante esse perodo, os prefeitos
eram indicados pelo governador, o que ocasionou uma grande concentrao do
poder poltico no governo central. Como lvaro Maia caiu nas graas de Getlio
Vargas, exerceu o governo do Amazonas por mais de 15 anos, entre 1930 e 1954.
Com a inteno de tornar o Amazonas atrativo ao capital estrangeiro, o Poder
Pblico e a iniciativa privada investiram no cinema como instrumento de divulgao,
para o mundo, das possibilidades de investimentos no Amazonas98. Porm, no
conseguiram atingir o objetivo de atrair novos investimentos para a regio, por isso,
o Governador Dorval Porto99, na mensagem de 14 de julho de 1930, afirmou que a
reconstruo das atividades econmicas estaria diretamente ligada s plantaes
intensas da seringueira nativa, da castanha, do cacau e do guaran. A diversificao
dos produtos na pauta de exportao seria a alternativa para superao da crise,
isso demonstra que a administrao pblica vai continuar investindo no extrativismo
e no na industrializao, mas, nesse perodo, comeam a surgir pequenas
indstrias de gneros alimentcios em Manaus.

De acordo com a balana comercial do Estado do Amazonas entre os anos de


1933 a 1937, as exportaes de produtos extrados e beneficiados no Estado s
cresceram de 40.000 contos de ris em 1933 para 130.000 contos de ris em 1937.
Como pode ser observado pelo Grfico abaixo.

97

SANTOS, Elona Monteiro dos. Uma Liderana Poltica Cabocla. Manaus. Ed. da Universidade do
Amazonas, 1997. p.85-87.
98
COSTA, Selda Vale da. Eldorado das Iluses. Cinema & Sociedade: Manaus (1897-1935)
Manaus: Ed. da Universidade do Amazonas, 1996. p. 162.
99
DIRIO OFICIAL. Manaus segunda feira, 14 de julho de 1930.

67

GRFICO 1: Balana comercial de importao e exportao do


Estado do Amazonas 1933-1937

Fonte: MANAUS, lbum organizado na administrao do Prefeito Antonio


Botelho Maia. Manaus- Amazonas Brasil, 1938.

Esse crescimento da economia do Estado sentido tambm na sua capital,


que tem um relativo aumento na sua arrecadao de impostos, aumentando, assim,
sua receita de 3.500 contos de ris em 1935 para 5.000 contos de ris em 1937.
Como pode ser observado no Grfico abaixo.

68

GRFICO 2: Receita da Prefeitura de Manaus 1935-1937

Fonte: MANAUS, lbum organizado na administrao do Prefeito


Antonio Botelho Maia. Manaus- Amazonas Brasil, 1938.

O crescimento na balana comercial amazonense se deu devido ao aumento


da exportao do timb, da castanha do Brasil, guaran, madeira, da piaaba e de
essncias como a do pau rosa e da borracha. Esses produtos sempre estiveram
presentes na pauta de Exportao do Estado do Amazonas, porm sombra do
grande volume de exportao da borracha. Mas, a partir dos anos trinta, a
importncia das exportaes desses produtos foi ampliada significativamente. Como
pode ser confirmado pelos grficos abaixo:

69

GRFICO 3: Exportao de Timb 1935-1937

Grfico 4: Exportao de Castanha do Brasil 1933-1937

FONTE: MANAUS, lbum organizado na administrao do Prefeito


Antonio Botelho Maia. Manaus- Amazonas Brasil, 1938. (Grficos
3 e 4)

70

GRFICO 5: Exportao de Guaran 1933-1937

GRFICO 6: Exportao de Madeira 1933-1937

Fonte: MANAUS, lbum organizado na administrao do Prefeito


Antonio Botelho Maia. Manaus- Amazonas Brasil, 1938. (grficos 5 e 6)

71

GRFICO 7: Exportao de essncia de Pau Rosa 1933-1937

GRFICO 8: Exportao de Piaaba 1933-1937

Fonte: MANAUS, lbum organizado na administrao do prefeito Antonio


Botelho Maia. Manaus- Amazonas Brasil, 1938. (grficos 7 e 8)

72

GRFICO 9: Exportao de Borracha 1933-1937

Fonte: MANAUS, lbum organizado na administrao do prefeito Antonio


Botelho Maia. Manaus- Amazonas Brasil, 1938.

73

CAPTULO II - DESMISTIFICAO DA FNIX

2.1 Caracterizao da cidade do ponto de vista urbanstico


Nas duas ltimas dcadas do sculo XIX, o Estado brasileiro vivenciou um
acelerado ritmo de transformaes em sua estrutura produtiva, poltica e sciocultural. Em maio de 1888, a escravido foi oficialmente abolida. Em 1889,
inaugurou-se um novo sistema de governo - a nao abandonou a monarquia e
ingressou no hall dos pases republicanos, alinhando-se, assim, ao restante da
Amrica e s naes europias que j haviam feito essa transio desde as ltimas
dcadas do sculo XVIII e, os novos tempos trouxeram consigo outras
necessidades associadas a novos valores sociais. Como afirma Jos Murilo de
Carvalho no livro Os Bestializados:
(...) preciso mencionar tambm a movimentao que se deu no mundo
das idias e das mentalidades. A Repblica no produziu correntes
ideolgicas prprias ou novas vises estticas. Mas, por um momento,
houve um abrir de janelas, por onde circularam mais livremente idias que
antes se continham no recatado mundo imperial. Criou-se um ambiente que
Evaristo de Moraes chamou com felicidade de porre ideolgico, e que
poderamos tambm chamar, sob a inspirao de Srgio Porto, de maxixe
do republicano doido. Nesse porre, ou nesse maxixe, misturavam-se, sem
muita preocupao lgica ou substantiva, varias vertentes do pensamento
europeu100.

Devido a essa nova estrutura, fez-se necessria a adequao da roupagem


jurdica-poltica do pas, fato providenciado pela promulgao da Primeira
100

CARVALHO, Jos Murilo de. Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a Repblica que no foi. So
Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 24.

74

Constituio Republicana em 1891101. Essa constituio operou profundas


mudanas na estrutura poltica do Estado brasileiro: a diviso territorial e
administrativa em provncias, que concentrava a autoridade poltica do reino na
figura do monarca, foi abolida, surgindo, em seu lugar, a diviso territorial da
Repblica em estados federados, com a autoridade poltica descentralizada. A partir
de ento, estava garantida, a cada estado da Federao, autonomia administrativa,
o que de certa forma, colocava em xeque a capacidade das elites locais em se
conduzirem na nova configurao poltica da Repblica dos Estados Unidos do
Brasil.
Pelo

menos

duas

evidncias

apontam

para

certo

desvelo

das

administraes locais quanto s expectativas com os novos tempos: a notria luta


pela emancipao poltica em relao Provncia, do Gro Par, culminando com a
elevao do Amazonas Provncia, em 1850102, e a antecipao no processo de
eliminao do trabalho escravo na regio, que ocorreu em 1884103. Fatores que
apontam para certa sintonia dessas elites com os ideais da modernidade fortemente
vinculados ao imaginrio europeu.
O advento da Repblica, com a garantia de autonomia administrativa,
associada euforia da situao econmica do Estado do Amazonas, que naquele
momento j havia se tornado um grande exportador de borracha silvestre, produziu
o ambiente ideal de criao e esforos para a realizao de uma utopia: a
transformao da cidade de Manaus - onde os hbitos ocidentais coexistiam com os
hbitos das sociedades tradicionais104 - em uma cidade em processo de
ocidentalizao acelerado. Um dos idealizadores dessa utopia foi o segundo
governador do Amazonas no perodo republicano, Eduardo Gonalves Ribeiro (1892
1896), que pela avaliao feita por ele ao assumir o governo em 1892, tudo estava
101

PINHO, Rodrigo Cesar Rebello. Da organizao do Estado, dos poderes e histrico das
Constituies. So Paulo: Saraiva, 2006. p. 152-154. Ver tambm em SOUZA, Maira do Carmo
Campello. O Processo Poltico-Partidrio na Primeira Repblica. In. Brasil em Perspectiva. MOTA,
Carlos Guilherme (org.). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 162-226. Ver tambm em
WEINSTEIN, Barbara. A Borracha na Amaznia: Expanso e decadncia (1850-1920). Traduo
Llio Loureno de Oliveira. So Paulo: HUCITEC: Editora da Universidade de So Paulo, 1993.
(estudos histricos). p.121-160.
102
LEI n. 582, de 5 de Setembro de 1850: In.ARQUIVOS: coletnea de documentos para a
Histria do Amazonas. Responsabilidade da Associao Comercial do Amazonas. Setembro de
1947. Ano I Manaus Amazonas volume 2.
103
BRAGA, Robrio. A escravatura negra no Amazonas. Acervo revista do arquivo nacional.
Separata do n de ACERVO- Revista do Arquivo Nacional. Fundao Loureno Braga. Manaus, 1991.
104
DIAS, Edina Mascarenhas. A Iluso do Fausto: Manaus 1890-1920. Dissertao de Mestrado
em Histria. Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1988. p.2-30.

75

por se fazer, o caos estava estabelecido, a administrao pblica ainda no estava


estruturada nos novos moldes republicanos. Como se pode concluir pelo texto
abaixo:
A outra fase do governo de exm, Sr. Dr. Eduardo Ribeiro exemplo vivo do
seu grande tino administrativo.
Manos renasce mais oppulento de que nunca com as suas pontes,
avenidas, theatro, palacios, novo reservatrio d gua, bairros alinhados
moderna, ruas espaosas, largas, praas, subrbios etc. O palcio ser
como estylo e como arte, talvez o mais formoso do Brasil, o theatro
rivalizar com certeza com o que de mais moderno possumos. As pontes,
que ligam entre si aprazveis bairros, foram executadas seguindo risca os
mais slidos modelos e os mais ricos da engenharia. O edifcio Benjamin
Constant um primor da construo. Tudo resurge em fim sem grandes
abalos e sem prejuzos do futuro.105

Djalma Batista106, no livro O complexo da Amaznia: anlise do processo de


desenvolvimento, relembra a famosa frase atribuda a Eduardo Ribeiro, na qual
afirmava que: encontrou uma aldeia e transformou numa cidade moderna. Isso
refletia no s as questes arquitetnicas e urbansticas que estavam sendo
modificadas na cidade de Manaus, naquele perodo, mas tambm referia-se ao
aspecto cultural, pois a cultura nativa, que era considerada brbara, seria substituda
pela cultura civilizada. Sobre essa questo, Edina Mascarenhas Dias107 afirma que
essa modernidade proposta no significa apenas substituir a madeira pelo ferro, o
barro pela alvenaria, a palha pela telhas, os igaraps pelas avenidas, significava
transformar os hbitos e costumes da populao local.
Seu sonho (ou o sonho de sua gerao) ficou indelevelmente marcado nas
geraes seguintes. E, nelas, teve prosseguimento, at mesmo quando o Estado
enfrentava a sua mais dura crise econmica: a queda da exportao da borracha
silvestre. Essa utopia materializou-se na continuidade do projeto de embelezamento
da cidade por meio das intervenes do Estado nos espaos pblicos, como o
processo de arruamento, conservao e manuteno das praas e jardins e, no
projeto de paisagismo fundado na proposta de substituio da arborizao
paisagstica da cidade.
105

ALMANACH: Administrativo, histrico, estatstico, commercial e litterario do Amazonas para 1896.


Com o retrato e biographia do Dr. Eduardo Gonalves Ribeiro, eleito governador do Amazonas em 21
de abril de 1892. Organizado por Augusto Celso de Menezes. Manaus Impresso nas officinas do
Diario Official. p. 106-142.
106
BATISTA, Djalma. O Complexo da Amaznia: anlise do processo de desenvolvimento. 2. ed.
Manaus: Valer/INPA/EDUA, 2007. p.169-192.
107
DIAS, Edina Mascarenhas. A Iluso do Fausto: Manaus 1890-1920. Dissertao de Mestrado
em Histria. Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1988. p.4-5.

76

De acordo com Otoni Mesquita108, o projeto de embelezamento da cidade,


implementado por Eduardo Ribeiro, era mais que uma obra individual de um
administrador pblico, era uma nova viso sobre a cidade, onde o lema do
progresso era o fio condutor das aes da administrao pblica. Nossas pesquisas
evidenciam que as idias de progresso presentes no projeto de embelezamento da
cidade, desenvolvido por Eduardo Ribeiro, no perodo de apogeu da riqueza
produzida pela exportao da borracha silvestre, estavam presentes tambm no
projeto de cidade desenvolvido pelos administradores pblicos do perodo de 1910 a
1940, e que durante esse tempo, os parcos recursos disponveis ao poder pblico
foram utilizados, em sua maioria, para dar prosseguimento s obras que visavam a
sua implementao
Impulsionado pelos novos ventos polticos que sopravam no pas e pelo
novo ideal de cidade dos pases europeus, o sonho dos administradores do
Amazonas direcionou as polticas pblicas para a manuteno e ampliao da
malha viria da cidade de Manaus e, tambm para a nova ordem do dia, sustentada
pelo discurso do novo ideal de progresso que exigia das administraes pblicas o
embelezamento e a higiene da cidade. Para a adequao da antiga Manaus aos
novos padres de cidade, vrias obras de pavimentao foram realizadas, como se
denota no discurso do Superintendente da cidade de Manaus, Agnello Bittencourt109,
ao autorizar obras em 1910.
(...) o aterro da avenida 13 de maio. Cheia de extensos pantanos, por
isso mesmo intransitavel, era uma obra que se no podia deixar para mais
tarde. (...)
A rua Marquez de Santa Cruz, no trecho comprehendido pela avenida
Eduardo Ribeiro e praa Tamandar dificilmente era transitavel, tal o mo
estado do seu calamento de asphalto completamente inutilizado. Tomei o
alvitre de mandar substitu-lo por parallelepipedos de granito, no que
empreguei a turma de calceteiros municipais, acrescida com alguns
serventes. (...)
(...) iniciados os calamentos do Boulevard Amazonas, no trecho por
onde transitam os carros que se destinam ao cemitrio rio de S. Joo, e o
das avenidas centrais desta necrpole.
Um outro melhoramento operado, durante a minha administrao foi o
aterro da depresso que existia na praa do Comercio. Acordei com o
representante da Empreza Manos Railway & Light Co. LTD. Efetuar o
transporte da terra precisa (mais de mil metro cbicos), para nivelar a praa,
sem que a Intendencia tenha a pagar um real por esse importante trabalho,
MESQUITA, Otoni Moreira de. La Belle Vitrine: O mito do progresso na refundao da cidade de
Manaus (1890/1900). Tese de Doutorado em Histria Contempornea pela Universidade Federal
Fluminense. Niteri, 2005. p.9-25.
109
RELATRIO apresentado ao Conselho Municipal em sesso de 15 de Maio de 1910 pelo
Superintendente Agnello Bittencourt. Manos Amazonas Seco de obras da Imprensa Official 97 Rua Municipal 97, 1910.p. 10-13.
108

77

obrigando-se to-somente a repor o calamento que fez retirar do lugar


aterrado.110

Entre os anos de 1910 e 1912, a crise econmica ainda no era sentida, pois
as receitas do Estado continuavam equilibradas. Mas, mesmo assim, de acordo com
as fontes pesquisadas,111 os recursos financeiros recebidos pela Municipalidade de
Manaus no eram suficientes para atender a todas as necessidades crescentes do
Poder Pblico, no que se refere s questes urbansticas e arquitetnicas da cidade.
Com essa justificativa, o Superintende Jorge de Moraes solicitou autorizao do
Conselho Municipal da Intendncia de Manaus para negociar emprstimos fora do
Brasil para equilibrar as dvidas internas e normalizar todos os servios.
A partir de 1912, um dos pontos de apoio da utopia dos administradores do
Amazonas comeou a sinalizar negativamente: a queda abrupta das exportaes da
borracha silvestre iniciou uma fuga generalizada de capitais do Estado do
Amazonas. A partir de ento, por aproximadamente mais de trinta anos, o Estado e
principalmente sua capital Manaus, experimentaram um profundo definhamento na
arrecadao de impostos. Porm, a fuga de capitais e a perda do crdito
internacional no desvaneceram o sonho da construo da cidade civilizada,
determinado pelos padres ocidentais.
Os servios de calamentos das principais ruas do centro da cidade
continuaram sendo executados pela equipe de calceteiros da Municipalidade. O
material utilizado para o calamento das principais ruas do centro da cidade era
paraleleppedo de granito importado da Europa, com uma tcnica de preparao do
terreno que consistia em colocar uma camada de pedra brita ou concreto no solo;
depois colocar uma camada de 15 a 20 centmetros de areia; e sobre essa
superfcie eram colocados os paraleleppedos que eram unidos por uma forte
camada de cimento112. Esse preparo do terreno e a finalizao encareciam ainda
mais esse trabalho de calamento. Pois, o material e a tcnica utilizada para esses
trabalhos demonstravam que a crise econmica ainda no era sentida com tanta
intensidade.
110

RELATRIO apresentado ao Conselho Municipal em sesso de 15 de Maio de 1910, pelo


Superintendente Agnello Bittencourt. Manos Amazonas Seco de obras da Imprensa Official 97 Rua Municipal 97, 1910. p. 10-13.
111
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente Dr. Jorge de
Moraes em sesso extraordinria em 21 de novembro de 1911. Manos, 1912. p. 12-14.
112
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente Dr. Jorge de
Moraes em sesso extraordinria em 21 de novembro de 1911. Manos,1912. p. 13.

78

No ano de 1913, apesar de j se fazerem sentir os primeiros sintomas da


crise econmica da comercializao da borracha, de acordo com as informaes do
Poder Pblico Municipal,113 foi possvel recalar completamente algumas ruas, tais
como: a Avenida Joaquim Nabuco, a rua Municipal, a rua Joaquim Sarmento, a rua
Saldanha Marinho, a rua Costa Azevedo, as ruas 10 de Julho, Luiz Antony, Ramalho
Junior, dos Andradas, Henrique Martins e realizar o recalamento parcial de
algumas outras. Inclusive, nesse perodo, foi feita a ampliao da rua Lobo
dAlmada, com a desapropriao de uma residncia, para facilitar o trfego. Houve
tambm reparos nas praas e em vrios edifcios pblicos.
FOTO 1: Recalamento da Avenida Joaquim Nabuco, entre as ruas dos
Andradas e Jos Paranagu.

FONTE: MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente


do Municpio, Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 05 de setembro de 1913. Manos,
Seco de Obras do Commercio do Amazonas. 12, Rua Joaquim Sarmento, 1913. p. 43

113

MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo superintendente do Municpio


Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 5 de setembro de 1913. Manaus. Seco de Obras do
Comercio do Amazonas. 12, rua Joaquim Sarmento, 1913.p. 21.

79

FOTO 2: Rua Municipal, aps o recalamento de 1913. Essa atual rua


Sete de Setembro

FONTE: MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente


do Municpio, Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 05 de setembro de 1913. Manos,
Seco de Obras do Commercio do Amazonas. 12, Rua Joaquim Sarmento, 1913. p. 44 -49

interessante destacar, aqui, que as modificaes feitas nas ruas


representavam a imagem que se buscava construir para a cidade de Manaus
naquele perodo. O Superintendente de Manaus, em Mensagem apresentada ao
Conselho Municipal da cidade, em fevereiro de 1913, evidenciou claramente essa
imagem quando afirmou que transformou antigas vielas, que representavam uma
vergonha para o progresso e civilidade da cidade, em belas ruas, e apresentou

80

como exemplo desse tipo de melhoramento as transformaes na rua Lobo


dAlmada, com se pode depreender pelo texto e pelas fotos abaixo.
A antiga viella, pois que representava uma vergonha para nosso progresso
e civilisao, tal o estado em que se achava, hoje se encontra transformada
em um das mais bellas ruas de Manos,
O calamento foi executado em quase toda a sua extenso sendo preciso
levantar soleiras em varias habitaes, reparar bandeiras, refazer passeios
assim como construir o meio fio da referida via pblica114.

FOTO 3: Rua Lobo d Almada antes da remodelao feita no perodo da


administrao de Jorge de Moraes.

FONTE: MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos pelo Superintendente


do Municpio Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 05 de setembro de 1913. Manos,
Seco de Obras do Commercio do Amazonas. 12, Rua Joaquim Sarmento, 1913. p. 53.

114

MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos pelo Superintendente do Municpio, Dr. Jorge
de Moraes, por occasio da abertura da sesso extraordinria de 26 de maio de 1913. Manos, Seco de
Obras do Commercio do Amazonas. 12, Rua Joaquim Sarmento, 1913. p. 9-10.

81

FOTO 4: Rua Lobo d Almada, no processo de remodelao feita no


perodo da administrao de Jorge de Moraes.

FOTO 5: Rua Lobo d Almada, depois da remodelao feita no perodo da


administrao de Jorge de Moraes.

FONTE: MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente


do Municpio, Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 05 de setembro de 1913. Manos,
Seco de Obras do Commercio do Amazonas. 12, Rua Joaquim Sarmento, 1913. p. 55-57.
(fotos 4 e 5)

82

Em 1914, a crise da comercializao da borracha se evidenciou de tal


maneira que o governador do Estado afirmara que a Secretaria de Obras, devido
falta de crdito no oramento e, acima de tudo, dos numerrios no tesouro, ficou
impossibilitada de empreender servios de qualquer ordem alm dos trabalhos de
manuteno.
No incio da presente administrao j o servio inherente antiga
Repartio de Terras era feito em uma Seco Tcnica Especial da
Secretaria dEstado, criada pelo meu antecessor; a Repartio de Obras
Pblicas funcionava independentemente. A falta de credito no oramento e
sobretudo a de numerrios no Tesouro tornaram impossvel ao Estado
empreender servios de qualquer ordem, neste departamento
administrativo, de forma que essa Repartio ficou sem utilidade
imediata.115

Faz-se necessrio destacar que essas afirmaes expressavam interesses


que se estendiam para alm da crise econmica. Elas representavam uma
justificativa para realizar um realimento no funcionalismo, o que era muito comum
nesse perodo. Ao assumirem a administrao estatal, os governantes modificavam
determinadas secretarias para justificarem a exonerao do pessoal ligado
administrao anterior. Provavelmente, foi o que aconteceu com a antiga Diretoria
de Obras Pblicas e a Seco de Terras anexas Secretaria de Estado, que foi
substituda pela Seco de Terras, Obras Pblicas e Agricultura, anexa tambm
Secretaria de Estado pelo Decreto n 1.053, de 29 de janeiro de 1914. A novidade foi
a questo da agricultura ligada Secretaria de Obras e de Terras, pois no perodo
de intensificao da crise econmica, a agricultura, nas proximidades da cidade de
Manaus, ganhou fora.
Em 1914, as obras de manuteno e ampliao da malha viria continuam,
inclusive, com parcerias entre a iniciativa privada e estatal, realizadas pela Seco
de Obras da Intendncia Municipal, com a turma de calceteiros116 e as obras
realizadas por empresas por meio de concorrncia pblica.
Das obras realizadas pela Seco de Obras Municipal, destacam-se o
calamento da Avenida Floriano Peixoto no trecho compreendido entre a Praa
Tamandar e a rua Dr. Moreira, construo da rampa da Feira da Cachoeirinha e
115

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa por occasio da Abertura da segunda sesso
ordinria da oitava legislatura em 10 de julho de 1914 pelo Exmo. Sr. Governador do Estado, Dr.
Jonathas de Freitas Pedrosa, acompanhada dos Relatrios dos Chefes de Reparties. Manos
Amazonas. Seco de Obras da Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal 97, 1914. p. 34.
116
Equivale aos pedreiros que trabalham fazendo reparos nas ruas da cidade, funcionrios da
Secretaria de Obras SEMOSB.

83

execuo de diversos servios no calamento da Praa S. Sebastio como se pode


observar pelas informaes apresentadas no Relatrio do Engenheiro chefe da 3
Seco117
Pela turma de calceteiros, que apenas de 18 homens, foram feitos
diversos servios salientando-se dentre elles o calamento de uma parte da
avenida Floriano Peixoto abrangendo 1.506,90 metros quadrados, trecho
compreendido entre a Praa Tamandar e a rua Dr. Moreira, o qual exigio
um servio completo de guas pluviais, no qual foram empregados 338
tubos, 6 syphos de grs de 8 e construdas 6 bocas de lobo.
Na praa de S. Sebastio foram tambm executados diversos trabalhos nos
seus calamentos que denotam a boa vontade, em bem servir o municpio,
do pessoal encarregado deste servio.118

Um exemplo de obra realizada por empresas privadas, por meio de licitao


pblica, foi o descalamento e calamento da Estrada Epaminondas e limpeza do
terreno desde a Praa Urugayana at a Avenida Constantino Nery, como se pode
inferir do fragmento de texto abaixo.
Calamento da Estrada Epaminondas: Como de vosso conhecimento,
esta Superintendncia recebeu dos Srs. Gustavo Acampora e Giuseppe
Grazioli proposta para o descalamento e recalcamento da Estrada
Epaminondas, com a derribada de arvores inconvenientes, desde a Praa
Urugayana at a avenida Constantino Nery.119

Outra parceria interessante da Superintendncia de Manaus foi realizada


com os engenheiros Crespo de Castro e Maximino Corra, na qual a
Superintendncia forneceu o material e os referidos engenheiros a mo de obra para
realizar o calamento da Rua 10 de julho. Um exemplo de persistncia da utopia e
de adaptao nova realidade econmica do Estado.
Deve tambm dar-vos conta do calamento da rua Dez de Julho numa
superfcie de, metros quadrados, 1.140,00.
Tendo os distinctos engenheiros Crespo de Castro e Maximino Corra
participado a esta Superintendncia que fariam, por conta prpria, o referido
calamento se por mim lhes fosse fornecido pedra e areia, accedi
gostosamente patritica solicitao. Assim foram entre aos Drs. Crespo de
Castro e Maximino Corra, metros cbicos, 54 de pedras e 10 de areia.120

117

O engenheiro chefe da 3 Seco chama-se Adalberto Pedreira.


RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente Dorval Pires
Porto. Sesso ordinria de 5 de setembro de 1914. Typ. Da Livraria Renaud. Rua Municipal n 93
Manos, 1915. p. 61-72
119
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente Dorval Pires
Porto. Sesso ordinria de 5 de setembro de 1914. Typ. Da Livraria Renaud. Rua Municipal n 93
Manos, 1915. p. 10-11.
120
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente Dorval Pires
Porto. Sesso ordinria de 5 de setembro de 1914. Typ. Da Livraria Renaud. Rua Municipal n 93
Manos, 1915. p.11.
118

84

Essa terceira forma de ao do poder pblico para execuo de obras


parece indicar muito mais do que ajustar a realidade ao ideal, aponta a existncia de
uma necessidade imprescindvel para a funcionalidade da cidade, que j se
encontrava seriamente prejudicada pela ausncia de numerrios suficientes para
realizao de servios de manuteno dos espaos pblicos. Assim sendo, os
indivduos diretamente ligados a essas necessidades realizavam parcerias com a
Superintendncia para solucionar os problemas mais emergenciais. Dentre eles, a
liberao do trfego das vias pblicas da cidade. Esse foi, seguramente, um dos
caminhos alternativos para a continuidade da dinmica da cidade.
No ano seguinte, a manuteno da estrutura fsica da cidade continuou por
meio do calamento das vias pblicas como a rua Jos Paranagu, Avenida Dr.
Moreira, o Beco do Comrcio e a Estrada Epaminondas. Alm da conservao dos
prdios pblicos como o Ginsio Amazonense, que teve sua canalizao de gua
pronta. Foram realizadas obras de melhorias nos jardins das praas da cidade, isso
demonstra que, mesmo no perodo de pouca arrecadao, a Intendncia continuou
realizando os servios essenciais ao funcionamento interno da cidade, indicando
que, para alm do seu principal produto de exportao, existiam outros que
continuaram sendo comercializados, mantendo, assim, a dinmica interna da cidade.
Isso pode ser percebido por meio da tabela 1, elaborada por Roberto Santos, no
livro Histria Econmica do Amazonas: 1800-1920, ao demonstrar a distribuio de
renda interna por setor econmico, no perodo de 1890-1920.
A tabela a seguir mostra, com nitidez, que alm da exportao de borracha,
existiam outras atividades produtivas no Estado do Amazonas e que, no perodo de
crise, houve um significativo aumento da produo agrcola regional. Outro setor que
continuou crescendo foi o da construo civil, que de 0,4% saltou para 0,9% no
perodo entre 1890-1910, e de 1910 a 1920 cresceu de 0,8% para 1,2%,

85

TABELA 1: Amaznia - Distribuio da renda Interna por setores


econmicos: 1890-1920
SETOR
Setores
Econmicos
Primrio
Agricultura
Ext. vegetal
Prod. animal etc.
Secundrio
Ext. mineral
Ind. transform.
Constr. civil

ANO
1890

1900

Contos de ris %

C. de ris

53.953
8.114
37.914
7.896

50,8
7,7
35,7
7,4

181.040
20.833
141.484
18.723

548
___
145
401

0,5
___
0,1
0,4

6.222
___
3.054
3.168

Tercirio
51.721
Comrcio merc. 36.003
Governo
7.793
Outros serv.
7.925
Total
106.222

48,7
33,9
7,3
7,5
100,0

1910
%

C. de ris

48.8 218.287
5,6
9,593
38,1 197.811
5,1 10.883
1,7
___
0,8
0,9

19.605
___
15.684
3.921

1920
%

C. de ris

44,9 123.507 35,8


2,0
31.251
9,1
40,7.....57.182 16,6
2,2 35,074 10,1
4,0
___
3,2
0,8

24.632
59
20.579
3.994

7.1
0,0
5,9
1,2

183.877 49,5 247.941 51,1 197.450 57,1


102.216
27,5 149.606 30,8 134.595 39,0
51.220
13,8
53.270 11,0
28.870
8,3
30.441
8,2
45.065 9,3
33.985
9,8
371.139 100,0 485.833 100,0 345.589 100,0

Fonte: SANTOS, Roberto. Histria Econmica da Amaznia: 1800-1920. So Paulo: T.A.


Queiroz. 1980, p. 178.

Esses dados demonstram, tambm, que mesmo sem grandes obras, a vida
na cidade de Manaus, no perodo de 1910 a 1920, continuava, e sua dinmica foi
redimensionada: da grandiosidade da Paris dos trpicos para a Manaus possvel.
Isso implicava dar continuidade ao sonho em suaves prestaes, pois, este deveria
ser o perodo das pequenas obras. Vale lembrar que as obras realizadas nesse
perodo, apesar de estarem diretamente influenciadas pelo pensamento europeu de
cidade, foram forosamente voltadas para o interesse da populao local, dado que
a degradao de suas condies internas de existncia no permitia ampliao dos
interesses do capital internacional, como menciona a historiadora Edina
Mascarenhas Dias121, no livro A Iluso do Fausto.

121

DIAS, Edina Mascarenhas. A Iluso do Fausto: Manaus 1890-1920. Dissertao de Mestrado


em Histria. Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1988.

86

2.2 Os emprstimos externos e o crescimento da cidade.

Em 1918, os problemas econmicos se apresentaram de forma mais


evidente, inclusive, os administradores pblicos afirmavam que o Executivo
Municipal

encontrava-se

impossibilitado

de

realizar

servios

regulares

de

manuteno da administrao pblica, devido ao agravamento da crise econmica


que se refletia no errio Estadual e Municipal. As arrecadaes se tornavam cada
vez mais baixas e, somavam-se a essa situao as obrigaes de pagamentos de
altos juros e multas cobradas pelo London and Brasilian Bank, Limited, referentes ao
emprstimo realizado em 1906, no valor de 350.000 libras esterlinas, alvo de crticas
dos administradores da poca122. Nos relatrios de intendncia e nas mensagens
dos governos municipais e estadual, vrios administradores reclamavam daquele
emprstimo, afirmando que, devido a ele, as despesas da Municipalidade e do
Estado aumentavam consideravelmente, provocando desequilbrio nas finanas
Municipal e Estadual. Considerando que a Municipalidade, antes do emprstimo de
1906, devia cerca de seis contos de ris e, a partir dele, passou a dever apenas para
o London and Brasilian Bank, Limited, 350:000 mil libras esterlinas - o que
convertido em ris significava, na poca, 5.000:000$000 - isso, de fato, onerou
significativamente a Municipalidade. No de se admirar que o Superintendente
Agnello Bittencourt, desde 1910, afirmasse que ser Superintendente de Manaus
nesse perodo era extremamente difcil, devido arrecadao Municipal no ser
suficiente para atender necessidade de altos gastos da municipalidade. Essa
afirmao evidenciada no relatrio apresentado pelo Superintendente ao Conselho
Municipal de Manaus, na sesso de 15 de maro de 1910.
Os melhoramentos que se fizeram num s instante e por preos que a
sensatez deveria repelir, vieram comprometer os oramentos de uma serie
de administraes, que tero de suportar as justas exigncias de algumas
centenas de credores passando pelo suplicio de no lhes poder pagar.
Os compromissos da Municipalidade vem aumentando de ano para ano, em
razo no s de despesas necessrias como da falta de escrpulo no
emprego dos dinheiros arrecadados. Muitos e muitos pagamentos
imprevistos no oramento eram realizadas, causando no fim de cada
perodo financeiro um completo desequilbrio, que aumentou o debito

122

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente, Dr. Antonio


Ayres de Almeida Freitas. Sesso ordinria de 14 de julho de 1918. Typographia do Ca e La, Rua
Joaquim Sarmento, 12,1918. p. IV.

87

municipal, no obstante a rendas vieram sempre crescendo. E este fato se


tem acentuando de 1906 a meados de 1909. 123

As reclamaes acerca desse tema continuaram durante toda a dcada de


1910. Em 1914, por exemplo, os emprstimos externos passaram a ser vistos como
desastrosos, fundamentados nas clusulas desfavorveis Superintendncia e
desnecessrio para o momento em que foi realizado e, ainda mais, comprometedor
para o desempenho das administraes posteriores. o que se constata ao se
averiguar as informaes presentes no decreto n 18, de 1915, que autorizou o
aumento de verbas para o pagamento da referida dvida.
DECRETO N. 18, de 24 de Agosto de 1915.
Argumenta a verba consignada para o pagamento do emprestimo externo,
celebrado em 1906.
O Engenheiro Dorval Pires Porto, Superintendente Municipal de Manos,
por eleio, etc.
Considerando que a Lei n. 803, de 5 de Outubro de 1914, em 31 do art.
2. consigna a verba de 400:000$000 para amortisao e juros do
emprestimo externo, contrahindo em virtude da lei n. 434, de 30 de Maro
de 1906;
Considerando o pagamento da primeira prestao annual desse servio a
26 de Fevereiro do anno corrente attingiu a 242:256$000 e que a satisfao
da segunda, vencvel a 31 de Agosto fluente, a monta a 253:662$330, o que
tudo d 495:918$330;
Considerando que n. 2 do art. 14, da mencionada Lei n. 803, de 5 de
Outubro de 1914, autorisa o augmento de credito, occorrendo, como no
caso vertente, differena de cambio em se tratando de pagamento de divida
externa;
DECRETA;
Art. 1._ Fica augmentada de 95:918$330 a verba de 400:000$000 que o
31 do art. 2 da lei n. 803, de 5 de Outubro de 1914, consigna para servio
de amortisao e juros do emprestimo da Municipalidade, realisado
conforme a lei n. 434 de 30de Maro de 1906.
Art. 2. _ Revogam-se as disposies em contrario.
Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento deste
pertencer, que o cumpram e faam cumpril-o fielmente.
Superintendencia Municipal de Manos, 24 de Agosto de 1915124.

Cesar do Rego Monteiro, em 10 de julho de 1920, no balano da sua


administrao, foi enftico ao afirmar que os problemas econmicos levaram a
administrao pblica ao caos, pois havia dvidas externas e internas, e a
arrecadao no era suficiente para honrar tais compromissos. Ao assumir o
123

RELATRIO apresentado ao Conselho Municipal em sesso de 15 de Maio de 1910, pelo


Superintendente Agnello Bittencourt. Manos Amazonas Seco de obras da Imprensa Official 97 Rua Municipal 97, 1910. p. 16-20.
124
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintende Porto Dorval
Pires. Sesso Ordinria de 11 de Fevereiro de 1916. Typ. Da livraria RENAUD. Rua Municipal, 93
Manos, p. 17.

88

governo, Rego Monteiro contava com apenas 400$000 de ris em caixa125. Com a
justificativa de reduzir os gastos do Estado, o novo governo efetuou demisses no
funcionalismo pblico em diversos setores importantes como a sade, a educao, a
agricultura e a indstria. Tal enxugamento da mquina administrativa visava
amenizar os efeitos da complicada situao econmica do Estado, ajustando-a a
sua nova capacidade de arrecadao. No entanto, vale ressaltar que essa troca de
pessoal, como mencionado anteriormente, era comum sempre que uma nova
administrao assumia o governo do Estado.
anlise feita por Rego Monteiro, acerca da situao complicada da
economia do Estado do Amazonas, foram acrescentados elementos pouco
comentados na historiografia sobre aquele perodo. Ele afirmou, por exemplo, que a
crise da exportao da Borracha silvestre no mercado internacional era apenas um
dos elementos que comprometeram a estabilidade econmica do Estado do
Amazonas, acrescenta a esse elemento os grandes emprstimos externos feitos
pelas

administraes

anteriores,

que

comprometeram

significativamente

andamento das administraes posteriores. Em sua interpretao, os referidos


emprstimos prejudicaram o errio pblico bem mais que a diminuio das
exportaes da borracha silvestre, como se pode depreender do texto abaixo

Na etiologia da depresso econmica e financeira, que actualmente nos


estrangula, no deve figurar somente a depreciao do producto que
constitua a quase nico elemento captado para as nossas fontes de
receitas.
No h duvida de que ella foi uma das causas, mas no pde ser
considerada a nica e nem mesmo a principal.
Entretanto todas avultam os lesivos emprstimos externos, contrahdos sem
o menor intuito de provocarem surtos econmicos.
Nada mais impressionante, como attestado da degradao moral de um
trecho da nossa histria, do que a gnesis e realizao desses emprstimos
externos.126

Para justificar suas observaes, Rego Monteiro fez questo de citar trs
exemplos, considerados por ele, oportunamente esclarecedores: um deles foi o
125

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da terceira sesso ordinria da


dcima legislatura, pelo Exmo. Sr. Desembargador Cesar do Rego Monteiro, Governador do Estado,
em 10 de julho de 1921. p. 24-26.
126
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da terceira sesso ordinria da
dcima legislatura, pelo Exmo. Sr. Desembargador Cesar do Rego Monteiro, Governador do Estado,
em 10 de julho de 1921. p. 78-79.

89

emprstimo realizado nos Estados Unidos, na cidade de New-York, por intermdio


da Societ Marseillaise, no valor de 50:000$000 (cinqenta contos de ris) 127. Esse
emprstimo foi adquirido em 1906, ano em que a arrecadao Estadual excedeu em
dez mil contos de ris suas previses oramentrias, ento o problema no era falta
de dinheiro em caixa, era o excesso que abria a possibilidade para o pagamento
desses grandes emprstimos.
Ainda naquele mesmo ano, mais dois emprstimos no valor de 2.000 contos
foram realizados, ambos de instituies financeiras francesas: o primeiro, na cidade
de Paris, por intermdio da Societ Marseillaise e o outro, com a Dusendschon. Para
Rego Monteiro, nesses dois emprstimos, os contratos foram to mal elaborados
que o Estado do Amazonas s teve prejuzos, pois, quase nada entrou para o errio
Estadual. Pelo o que nos dado a saber da argumentao da Comisso da
Fazenda Pblica da poca:
Para a realizao do emprstimo de 2.000 contos da casa Dusendschon,
pagou o Estado comisso na importncia de Rs; 190:000$000 e, para o seu
pagamento, sacou contra Marseillaise o equivalente em francos.
Como a Socit Marseillaise se recusasse a pagar esse saque, a casa
Dusendschon exigiu do Governo do Estado a regularizao do servio
ficando combinado que o emprstimo passaria a vencer juros de 12% ao
ano e seria amortizvel na razo de 50% dos impostos de exportao que
aquela casa tivesse de pagar ao Estado.
Interessante, porem, que tendo sido o emprstimo feito em moeda
brasileira e em Manos, a casa Dusendschon conseguiu que fosse satisfeito
em moeda franceza, isto porque a diferena cambial lhe era favorvel e to
favorvel que, tendo o Estado pago, encontros de impostos, a importncia
de 981:848$948, apenas havia amortizado 289:423$569 do referido
emprstimo.
Assim, enquanto o Estado pagara mais de novecentos contos, no prazo
menor de um ano, para servio de um emprstimo, cujos juros seriam, em
um mesmo ano, de 240 contos, ao em vez de restar 740 contos, para a
amortizao, apenas sobraram cerca de 300 contos, pois que o excedente
fora absorvido em diferenas cambiais, sobre uma transao em moeda
brasileira!
O Estado, portanto, pagou dois juros pelo emprstimo Dusendschon: um
includo na comisso de 190 contos, Isto , quase 10% do valor da
transao, e o outro de 1% ao ms, ate real embolso da quantia devida. 128

Eis, de uma forma mais ampla, evidenciada pelo balano que o governador
Rego Monteiro produziu os horizontes das possveis explicaes da origem da crise
econmica que se abateu sobre o Estado do Amazonas.
127

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da terceira sesso ordinria da


dcima legislatura, pelo Exmo. Sr. Desembargador Cesar do Rego Monteiro, Governador do Estado,
em 10 de julho de 1921. p. 79-80.
128
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da terceira sesso ordinria da
dcima legislatura, pelo Exmo. Sr. Desembargador Cesar do Rego Monteiro, Governador do Estado,
em 10 de julho de 1921. p. 80-81.

90

Essa discusso continuou presente na dcada de 1930, tanto que em


1934, o Interventor federal, Nelson de Melo, continuara afirmando que os
administradores pblicos devem aprender com os erros do passado, para traar
novas diretrizes para o desenvolvimento da regio, lembrando que os emprstimos
externos

realizados

pelas

administraes

anteriores

comprometeram

significativamente as futuras administraes. Como se pode observar pelo relato


feito por ele ao Presidente da Repblica, Getlio Vargas, sobre os 15 meses nos
quais esteve frente da administrao do Estado do Amazonas.
Esses emprstimos externos, que se deviam destinar a aliviar o errio das
grandes obrigaes que lhe pesavam, constituram, pelo contrrio, um mo
exemplo, que se concretizou na emisso de aplices (divida interna
consolidada), - a principio, para inverso de crditos do thesouro e,
posteriormente, se vulgarizou para cobrir encampaes e at indenizaes
criadas pelo nepotismo ento imperante.
Tais obrigaes, que at 31 de dezembro de 1933, sobem a vultosa soma
de Rs. 138.427.6000$020 por no estar ainda encerrado o exerccio de
1934 (...) 129.

TABELA 2: Arrecadao da Intendncia Municipal de Manaus


1910-1937
Ms e Ano

Arrecadao

01-12/1910

2.408:178$266

01-12/1920

1.111:752$752

01-01/1921

1.035:269$062

01-12/1922

1.335:652$843

01-12/1923

1.167:310$434

01-12/1934

3.543:943$053

01-12/1937

4.721:856$400

FONTE: Elaborada pela mestranda por meio das informaes contidas no RELATRIO
apresentado ao Conselho Municipal em sesso de 15 de fevereiro de 1910, pelo
Superintendente Agnello Bittencourt. Manos Amazonas Seco de obras da Imprensa
Official - 97 Rua Municipal 97, 1910. p. 20 e MENSAGEM lida perante o Conselho
Municipal, pelo Superintendente Sr. Dr. Edgard de Rezende do Rego Monteiro, por occasio da
abertura da sesso ordinria daquelle corpo legislativo, em 1 de abril de 1924. Manos, p. 23.

A arrecadao da Intendncia de Manaus, de 1910 a 1937, teve seus


momentos de altos e baixos. Entre os anos de 1910 e 1920, a arrecadao
129

RELATRIO apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica, pelo
interventor Federal no Amazonas, capito Nelson de Mello. Outubro de 1933 a Dezembro de 1934.
1935 Imprensa Pblica. Manos Amazonas. p. 2-3.

91

municipal foi reduzida em mais de 50%. A partir dos anos vinte, a arrecadao ficava
oscilando, como ocorreu nos anos de 1922 e 1923, quando a arrecadao de 1923
foi menor que a do ano anterior. Na dcada de 1930, a arrecadao foi se
recuperando. J no final dos anos trinta, at a metade dos anos quarenta, a
economia municipal teve um relativo aumento. Como se pode depreender pela
tabela acima.
Os emprstimos foram to comprometedores ao errio estadual que, em
1934, o vulto da dvida externa era de Rs. 636:200$020, equivalente a
177.272.400,04 francos. No entanto, isso no era tudo, o fim desse contrato estava
previsto para 1957, isso significa que pelos vinte e quatros anos seguintes o
oramento do estado estava comprometido com o pagamento de emprstimos
externos. Calculando-se os juros referentes ao perodo restante, o montante da
dvida ficaria aproximadamente em 2.507:390$625 anuais130, por isso, o interventor
solicitava do governo central providncias emergenciais para evitar um colapso
ainda maior na regio, no decorrer dos prximos anos.
interessante registrar que, mesmo com o passar dos anos, os
administradores pblicos amazonenses continuavam exigindo do governo central
solues para os problemas locais, no entanto, eles mesmos no traavam novas
perspectivas para solucionar os seus problemas, pelo menos at o final do governo
de lvaro Maia.131
Essa retrospectiva da situao econmica do Estado do Amazonas e do
municpio de Manaus faz-se necessria em decorrncia da anlise qual nos
remete Roger Chartier132, de que a representao da cidade construda a partir das
prticas sociais onde elas esto inseridas. Ora, a cidade que estamos analisando
vivia um momento de grande reduo de suas arrecadaes, tanto estaduais como
municipais, por isso, as obras nela realizadas tinham que se adequar ao sonho de
uma cidade moderna no estilo europeu, a partir das condies objetivas de
capacidade de realizao dessa sociedade.
130

RELATRIO apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica, pelo
interventor Federal no Amazonas, capito Nelson de Mello. Outubro de 1933 a Dezembro de 1934.
1935 Imprensa Pblica. Manos Amazonas.p. 1-5.
131
ROLIM, Amarildo Rodrigues. Do Sonho Realidade: os ideais trabalhistas de desenvolvimento
Econmico para o Amazonas nas dcadas de 1950-1960 do sculo XX. Dissertao de mestrado
Universidade Federal do Amazonas - Instituto de Cincias Humanas e Letras, 2006.
132
CHARTIER, Roger. Beira da Falsia: a histria entre incertezas e inquietude. Trad. De Patrcia
Chittoni Ramos. Porto alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002. p. 61-79.

92

Alm desse aspecto, de significativa importncia para o nosso trabalho,


abre-se outra perspectiva de a anlise desse perodo, considerando-se que por esse
caminho, a historiografia regional passa a visualizar as condies reais da
construo da cidade, desmistificando-se que a crise econmica vivenciada pelo
Estado era apenas fruto da concorrncia da borracha produzida na sia, pela falta
de polticas voltadas para o plantio ordenado do produto e de uma poltica
direcionada para beneficiar os produtos extrados da regio.
Nessa perspectiva, podemos afirmar que a crise econmica vivenciada pelo
Estado nas dcadas de 1910, 1920,1930 e 1940 foi fruto de toda uma poltica
econmica equivocada, que tinha por objetivo a construo da cidade de Manaus
aos moldes das principais cidades europias, sendo que tal construo fora
financiada por vultosos emprstimos que sobrecarregaram os errios por vrias
dcadas como o que aconteceu com a cidade de Paris, em seu processo de
modernizao, na dcada de 50 do sculo XIX. As dvidas deixadas pela
administrao de Haussmann133 se arrastaram por toda a segunda metade do sculo
XIX, dificultando o trabalho das administraes seguintes, o que tambm aconteceu
com a cidade de Manaus, que acabou por comprometer toda a economia do Estado
do Amazonas. Os emprstimos vultosos, justificados pelo ideal de modernizao da
cidade foram to mal feitos que comprometeram significativamente o oramento da
cidade por aproximadamente meio sculo, pois, tais emprstimos s foram pagos no
final de 1957.

133

BENEVOLO, Leonardo. A cidade na Histria da Europa. Trad. Maria Jorge Vilar de Figueiredo.
Coleo dirigida por LE GOFF, Jacques. Lisboa. Editora Presena, 1995. p. 175-207.

93

2.3 O sonho continua mesmo no perodo de recesso econmica

So notrios, nos documentos oficiais da poca, a preocupao e os


esforos dos administradores do Estado do Amazonas, em relao manuteno,
ao embelezamento e funcionalidade da cidade nos seus diversos aspectos, como
a terraplanagem, nivelamento, calamento e recalamento de ruas e avenidas;
obras para a acessibilidade das populaes das regies perifricas ao centro da
cidade como o alongamento de estradas, a manuteno dos logradouros pblicos.
Alm mar, j haviam sido formulados conceitos acerca da construo do espao
urbano que indicavam justamente essas medidas tomadas por Eduardo Ribeiro.
No final do sculo XIX e incio do XX, a sociedade europia estava
passando por profundas transformaes no que diz respeito concepo do espao
urbano. Via-de-regra, as administraes das cidades europias do incio da
revoluo industrial, que no tinham nenhuma preocupao com a higiene e bem
estar de seus moradores, passaram a sofrer crticas substanciais que impulsionaram
mudanas significativas na vida urbana.
Nos pases europeus, naquele perodo, discutiam-se os riscos da
continuidade das cidades edificadas a partir das necessidades do desenvolvimento
industrial. De acordo com Benevolo134, o modelo clssico da cidade gerada pelo
liberalismo econmico precisava se readequar s novas exigncias provocadas
pelos movimentos ideolgicos ocorridos entre 1830-1848135, que colocaram em
choque os modelos de interpretao de mundo, o socialismo e o capitalismo liberal.
Esse choque produziu uma faco de direita de orientao liberal ponderada, que
condenava os exageros do capitalismo selvagem e, alertava para o risco de abalos
profundos nas estruturas do sistema capitalista, inclusive com a possibilidade de
tomada do poder pelos operrios. Esta nova interpretao da correlao de foras
entre a burguesia e o proletariado forava as elites a reformularem sua forma de
pensar a cidade.
134

BENEVOLO, Leonardo. Histria da cidade. Trad. Silvia Mazza. So Paulo: Perspectiva, 2007. p.
551-615.
135
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revolues: 1798-1848. Trad. Maria Tereza Lopes Teixeira e
Marcos Penchel. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p. 326

94

O modelo de cidade, fruto desses movimentos, foi a Paris idealizada por


Haussmann, esse novo modelo tinha como objetivo a possibilidade da mudana na
qualidade de vida das pessoas. Isso exigiu medidas sanitrias por meio da
disponibilizao de redes de esgotos, redes de distribuio de gua, espaos
abertos para circulao de ar puro. Enfim, medidas que possibilitassem um ambiente
higinico aos seus habitantes136. Essa nova concepo de cidade, da mesma
maneira que os conflitos ideolgicos que a forjaram, se espalhou pelo mundo,
tornando-se, por excelncia, o significado da palavra civilizao. Era essa a
conjuntura poltica e cultural europia quando a exportao da borracha silvestre
estava transformando o Estado do Amazonas em uma grande fora econmica. Tal
conjuntura, associada nova configurao poltica do Brasil, se tornou, assim, a
utopia que deveria ser realizada na cidade de Manaus para o coroamento do apogeu
dos administradores pblicos do Amazonas.
As

grandes

construes

que,

segundo

Eduardo

Ribeiro,

haviam

transformado uma aldeia em uma cidade moderna, datam do perodo do apogeu da


economia gomfera. A intensificao da crise econmica provocou o aumento do
dficit oramentrio do Estado e da municipalidade, dificultando os investimentos em
grandes obras pblicas para a continuidade da adequao da cidade de Manaus ao
modelo considerado civilizado. Porm, mesmo no perodo de escassos recursos, as
obras de manuteno e ampliao da cidade continuaram seguindo o modelo
traado no perodo de apogeu.
interessante notar que os administradores pblicos, na apresentao do
relatrio anual ao Conselho Municipal137, fizeram questo de destacar a
impossibilidade de se ter um projeto amplo de embelezamento da cidade, mas,
indicaram um projeto mnimo de manuteno das condies de sobrevivncia na
cidade, como se pode verificar pela argumentao do Superintendente de Manaus
Antonio Ayres de Almeida Freitas, na Sesso Ordinria de 14 de julho de 1918 138
No desconheo quanto se fazia mister para que todas as nossas vias
pblicas e logradouros melhorassem de aspecto e de condies,
aumentando, ao mesmo tempo, a beleza e a salubridade da urbs, e dando
136

MUMFORD, Lewis. A Cidade na Histria: suas origens, transformaes e perspectivas. Traduo


de Neil R. da Silva. 4 ed. So Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 514.
137
Equivalente Cmara Municipal atualmente.
138
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente Dr. Antonio
Ayres de Almeida Freitas. Sesso ordinria de 14 de julho de 1918. Typographia do Ca e La, Rua
Joaquim Sarmento, 12, 1918. p. IV.

95

maior comodidade aos seus habitantes. Seria, porem, o cumulo da


insensatez cogitar dum plano sistemtico de melhoramentos, numa fase em
que a simples conservao das ruas, modestos reparos de calamentos ou
de esgotos, o singelo tratamento dos jardins, representam extraordinrios
sacrifcios, que a Municipalidade s afronta por ser manifesta a
indispensabilidade de tais servios.139

Uma vez que no se poderia realizar um plano sistemtico e amplo como o


que foi feito no perodo da Administrao de Eduardo Ribeiro, devido aos reduzidos
ndices de arrecadao, fazia-se necessria a elaborao de uma estratgia de
manuteno da estrutura da cidade, caso contrrio, os esforos anteriores para sua
construo ruiriam por completo. Isso foi feito no decorrer do perodo de 1910 a
1950, como se pode constatar pelos relatos das obras realizadas mesmo com
reduzido oramento, mas que se faziam necessrias para dar um ar de progresso
cidade e, assim, atrair investimentos para a regio.
MAPA 1: Planta dos igaraps da Bequemoa e do Padre Salgado

139

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente Dr. Antonio


Ayres de Almeida Freitas. Sesso ordinria de 14 de julho de 1918. Typographia do Ca e La, Rua
Joaquim Sarmento, 12, 1918. p. IV.

96

FONTE: MATTA, Alfredo. Geografia e Topographia Mdica de Manos: Escoro de


um Estudo apresentado ao Superintendente Municipal de Manos, Dr. Dorval Pires
Porto. Typ da livraria Renaud. Rua Municipal, n 93 Manos 1916.

Impulsionados por esses ideais, os administradores da cidade no mediram


esforos para dar continuidade planificao da mesma por meio de obras de
aterros com o propsito de diminuir os chamados pntanos depresses existentes
no relevo de Manaus. Essa medida justificava-se pela crena de que tais
depresses eram ambientes propcios para a proliferao de microorganismos
causadores de endemias. Por meio dos mapas de 1 a 7, podemos visualizar os
principais igaraps que cortavam Manaus no perodo de 1915.
MAPA 2: Planta dos igaraps da Cachoeirinha e da Ponte de Ferro

97

FONTE: MATTA, Alfredo. Geografia e Topographia Mdica de Manos: Escoro de um


Estudo apresentado ao Superintendente Municipal de Manos, Dr. Dorval Pires Porto. Typ
da livraria Renaud. Rua Municipal, n 93 Manos 1916.

MAPA 3: Planta dos igaraps da Castelhana e dos seus braos na Avenida


Barcelos e Avenidas Japur e Tarum

MAPA 4: Planta das cabeceiras dos Igaraps de Manos e da Castelhana

98

FONTE: MATTA, Alfredo. Geografia e Topographia Mdica de Manos: Escoro de um Estudo


apresentado ao Superintendente Municipal de Manos, Dr. Dorval Pires Porto. Typ da livraria
Renaud. Rua Municipal, n 93 Manos 1916. (mapas 3-4)

MAPA 5: Planta dos igaraps de Manos e Bittencourt

99

FONTE: MATTA, Alfredo. Geografia e Topographia Mdica de Manos: Escoro de um


Estudo apresentado ao Superintendente Municipal de Manos, Dr. Dorval Pires Porto. Typ
da livraria Renaud. Rua Municipal, n 93 Manos 1916.

MAPA 6: Planta do Igarap da Cachoeira Grande

FONTE: MATTA, Alfredo. Geografia e Topographia Mdica de Manos: Escoro de um


Estudo apresentado ao Superintendente Municipal de Manos, Dr. Dorval Pires Porto. Typ da
livraria Renaud. Rua Municipal, n 93 Manos 1916.

100

MAPA 7: Planta dos igaraps da Bica e de So Vicente

FONTE: MATTA, Alfredo. Geografia e Topographia Mdica de Manos: Escoro de um


Estudo apresentado ao Superintendente Municipal de Manos, Dr. Dorval Pires Porto. Typ
da livraria Renaud. Rua Municipal, n 93 Manos 1916.

Essas plantas demonstram como era difcil para os administradores pblicos


atingirem seus objetivos de construir uma cidade sem pntanos- nome que davam
aos igaraps nesse perodo, considerando a topografia da cidade.
Mesmo assim, continuavam insistindo em aterrar os igaraps e, nesse
sentido, em 1918 foram realizadas vrias obras pblicas para ajustar, mesmo que
minimamente, a cidade real ao ideal de civilizao construdo no final do sculo XIX
como: o aterro e calamento do trecho inicial da Rua Lima Bacury, compreendido
entre as avenidas Floriano Peixoto e Joaquim Nabuco. O calamento dessa rea era
de extrema importncia para o funcionamento da cidade, dela dependia a ligao do
centro da cidade e de outras regies perifricas ao cemitrio S. Joo Batista.
Ainda no mesmo ano, foram realizadas obras de melhoramento da estrada de
Campos Salles140, e cogitou-se a abertura de estradas para o abastecimento de
gua para os bairros de So Raimundo e Constantinpolis, criando meios de
140

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Terceira Sesso Ordinria da


Nona Legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar, Governador do Estado, a 10 de
julho de 1918. Imprensa Pblica Manos, 1918. p.102-104.

101

comunicao daqueles pontos com o centro da cidade, por meio da construo de


pontes, facilitando o acesso e contribuindo para o desenvolvimento daqueles bairros.
Nesse mesmo perodo, houve a obra de reconstruo do cano de esgoto da
rua Independncia, no trecho compreendido entre as ruas Itamarac e Governador
Victorio, visto que, no perodo das grandes chuvas, a diferena de nveis entre
aquela rua e as vizinhas ocasionava verdadeiras inundaes no local, provocando
grandes incmodos e considerveis prejuzos aos moradores. Tratava-se de uma
obra que visava melhorar a higiene da rua e das habitaes do local, plenamente de
acordo com os interesses vigentes, principalmente por se tratar de uma localidade
central, o que contribuiria significativamente para vender a imagem de cidade
civilizada aos possveis investidores. Esse tipo de servio estava previsto no Cdigo
de Postura da cidade, datado de 1910, em seu artigo 56, pargrafo 1;
Art. 56 Em terrenos alagadios ou humidos no poder ser construdo
prdio algum, sem primeiro serem feitas as obras necessrias ao seu
enxugo e ao desvio das guas pluviais, de modo que o prdio fique
preservado de toda humidade. Esta disposio extensiva s
reconstruces e, tanto para a edificao como para a reedificao, Ella
obriga os proprietrios das obras a serem executadas.
1 - A Municipalidade mandar proceder no permetro urbano a drenagem
superficial necessria, no s ao escoamento das guas pluviais como
tambm aos enxugo do solo, at profundidade de dois metros, ou ate do
nvel mdio das enchentes nos pontos de altitude inferior a dois metros.141

Os trabalhos de saneamento pblico continuaram sendo realizados tanto


administrativamente, por meio de seus funcionrios, como por meio de concorrncia
pblica, como se pode perceber pelos servios realizados na rua Independncia,
que foram viabilizados administrativamente e os melhoramentos efetuados na rua
Wilkens de Mattos, posto em prtica por meio de concorrncia pblica.
A obra na rua Wilkens de Mattos consistiu-se na abertura de uma vala de
sessenta e sete metros e cinqenta centmetros, para o assentamento de tubo da
construo de trs bocas de lobo e terraplanagem. A obra foi realizada pela
prefeitura em parceria com o governo do Estado, a este ltimo coube o fornecimento
do material necessrio para a realizao do trabalho, como consta no relatrio do
Engenheiro Chefe da Seco de Engenharia Adalberto Pedreira, em 31 de maio de
1918.

141

LEI n. 639, de 13 de setembro de 1910. Promulgado o Cdigo de Posturas do Municpio de


Manos.

102

Rua Wilkens de Mattos: De ordem do Ex.mo. Sr. Dr. Superintendente, foi


publicado, por trinta dias, um edital nos termos do pargrafo nico do art. 35
da Lei n 845 de 14 de Fevereiro de 1916, chamando concorrncia para a
construo de um cano que receba as guas pluviais nesta rua, no trecho
compreendido entre as ruas 10 de julho e Ramos Ferreira, e, como no
houvessem aparecido concorrentes foram essas obras feitas
administrativamente, conforme despacho exarado, em 2 de maro do
corrente, pelo sr. Dr. Diretor da Secretaria, comunicado haver terminado o
prazo para a apresentao de propostas.142

Os servios, realizados na Avenida Joo Coelho, na Avenida Joaquim


Nabuco e na rua Joaquim Sarmento, foram feitos em carter de emergncia, com
recursos e mo-de-obra da prpria Superintendncia. Em carter de urgncia, foram
realizados os servios de terraplanagem e aterramento, na Avenida Joo Coelho, no
trecho entre a Boulevard Amazonas e o Bairro dos Bilhares. Na Avenida Joaquim
Nabuco, foi feito o calamento pedra tosca com lastro de areia, na rea
compreendida entre as ruas Ramos Ferreira e Leonardo Malcher, incluindo a rea
do cruzamento com a rua Dr. Machado e, para reforar o aterro, foi feito um muro de
arrimo. Na Rua Joaquim Sarmento, foi recalada uma rea de quatrocentos e trinta
e nove metros quadrados e nove decmetros, no trecho compreendido entre as ruas
Saldanha Marinho e 24 de maio.143.
No calamento da rua Marechal Hermes, no trecho compreendido entre a
Avenida Joaquim Nabuco e a rua General Pedro Paulo, verificou-se novamente a
parceria entre particulares e a Superintendncia. Os Senhores Symphronio B. de
Mello e Hugo Ohliger ficaram responsveis pela mo-de-obra e o Poder Pblico se
encarregou do material necessrio realizao da obras.
Em virtude de um acordo entre a Superintendncia e os moradores desta
rua, no trecho compreendido entre a Avenida Joaquim Nabuco e a rua
General Pedro Paulo, representados pelos Ser. Symphronio B. de Mello e
Hugo Ohliger, ficou resolvido que esta Superintendncia concorresse com o
material necessrio e aqueles senhores se obrigassem pela respectiva mo
de obra.
Para o calamento ate agora feito, correspondente a uma rea de
quinhentos e sessenta metros quadrados (560m2 00) dispendeu a
Superintendncia a importncia de Rs. 1:510$000, com o material
empregado constante de pedra e areia.144

142

RELATRIO apresentado Intendncia


Ayres de Almeida Freitas. Sesso ordinria
Joaquim Sarmento, 12. 1918. p. 59.
143
RELATRIO apresentado Intendncia
Ayres de Almeida Freitas. Sesso ordinria
Joaquim Sarmento, 12. 1918. p. 59 e 60.

Municipal de Manos, pelo Superintendente Dr. Antonio


de 14 de julho de 1918. Typographia do Ca e La, Rua
Municipal de Manos, pelo Superintendente Dr. Antonio
de 14 de julho de 1918. Typographia do Ca e La, Rua

103

Outras obras foram resultantes da prpria dinmica de expanso da cidade,


mas mesmo assim, elas acompanharam o padro da poca. Sobre esse perodo
interessante destacar a abertura de trs novas ruas no bairro Villa Amrica, numa
rea doada ao Municpio pelo Sr. Joo da Cruz Zany. Uma das trs ruas foi aberta
no espao do prolongamento da Rua Paraba. A nova rua media trezentos e vinte
metros de comprimento por vinte de largura e as outras duas perpendiculares a ela,
uma media trezentos metros de comprimento por vinte de largura e, a outra,
trezentos metros de extenso e dezesseis metros e cinquenta centmetros de
largura - bem ao sabor da onda dos bulevares, que representavam o smbolo da
modernidade, pois eram amplos, bem arborizados e bem arejados.
As delimitaes para abertura de novas ruas e a ampliao das j existentes
estavam previstas de maneira precisa no Cdigo de Postura de Manaus de 1910.
Mesmo assim, nem sempre a largura definida pelo Cdigo de Postura era levada em
conta, como se pode concluir pelas medidas utilizadas na construo das trs novas
ruas do bairro Villa Amrica, abertas em 1918, ainda no perodo de vigncia do
Cdigo de 1910, que determinava que as novas ruas abertas deveriam ter trinta
metros de largura e ser em linha reta, quando possvel; os passeios deveriam ter
2m,5 de largura, como se pode perceber no artigo19, pargrafo nico do referido
Cdigo.
Art. 19. As ruas que forem abertas depois da publicao deste Cdigo, e
as que ainda no esto edificadas, tero a largura de trinta metros e sero
em linha recta quanto possvel.
nico. os quarteires destas novas ruas tero 132 m,0 de lado, salvo
quando no o permittirem as condies do terreno. Neste caso o engenheiro
municipal, encarregado de dirigir tal servio, levar o facto ao conhecimento
da seco technica da Intendencia, que estudar as plantas, perfis e
seces transversaes, e resolver de acordo com o Superintendente.145

O ritmo das obras pblicas diminuiu em 1919 em relao a 1918. No


entanto, as obras de manuteno e conservao da malha viria da cidade de
Manaus

continuaram

sendo

executadas

pela

Superintendncia.

Deu-se

prosseguimento ao aterro da rua Wilkens de Mattos, reparao no calamento da

144

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente Dr. Antonio


Ayres de Almeida Freitas. Sesso ordinria de 14 de julho de 1918. Typographia do Ca e La, Rua
Joaquim Sarmento, 12. 1918. p. 61.
145
LEI n. 639, de 13 de setembro de 1910. Promulgado o Cdigo de Posturas do Municpio de
Manos,

104

rua Monsenhor Coutinho, da 24 de maio, da Joaquim Sarmento e da Jos


Clemente.146 Porm, j no se verificam mais as obras de extenso e de
alargamento das ruas j existentes, to-pouco constroem-se novas ruas. O dficit
oramentrio do Estado do Amazonas estava causando a desacelerao do sonho
de Eduardo Ribeiro.
A partir de 1920, a crise econmica atingiu sua fase mais dramtica. As
arrecadaes municipais caram significativamente. De 2.278:992$562147, de janeiro
at agosto de 1910, para 1.111:752$752, de janeiro a dezembro de 1920. 148 Com
tamanha queda no oramento, fez-se necessrio que as obras municipais, alm de
seus critrios estticos e sanitaristas, tambm fossem dotadas de necessidades
objetivas, impostas pela nova realidade econmica vivenciada pela cidade. A
arrecadao no perodo de 1910 1920 diminuiu mais de 54%. Na dcada de 1920,
a recuperao da arrecadao foi lenta, havendo inclusive, momentos de
diminuio, como o corrido em 1923 em relao ao ano de 1922. Na dcada 1930,
verificamos um relativo crescimento na arrecadao, intensificado no final dos anos
trinta e incio da dcada de 1940 com a poltica de valorizao da borracha silvestre
do Amazonas, no perodo da Segunda Guerra Mundial.
J a partir de 1939 at 1944, a situao se apresentou sob outro aspecto.
o que se depreende do relatrio de 1944, apresentado ao Ministro de Estado da
Justia e Negcios do Governo Federal pelo presidente do Conselho Administrativo
do Estado do Amazonas. Como se pode depreender do texto abaixo
O governo do Estado, no perodo decorrido de 1939 a 1943, orou a sua
receita no total de Cr$ 106.101.970,00, realizando uma arrecadao que
atingiu a cifra de 139.899,945,14, do que resultou haver um supervit de Cr$
33.797.975,14.
Fixada, para esse perodo, uma despesa oramentria de Cr$
104.924.622,71, foi ela aumentada com crditos suplementares e especiais,
respectivamente, de Cr$ 12.996.71186 e Cr$ 27.909.565,59, perfazendo um
total de 143.830.900,16, sendo que a despesa paga atingiu a Cr$
133.454.381,74.

146

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, Em sesso extraordinria de 14 de


Julho de 1919, pelo Superintendente Dr. Antonio Ayres de Almeida Freitas. Manos Amazonas
Typografhia do Ca e La Rua Joaquim Sarmento 12. 1919. p. X-XII.
147
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, Em sesso extraordinria de 10 de
Janeiro de 1911, pelo Superintendente Coronel Adrio Ribeiro Nepomuceno.17 de agosto de 1910.
Manos Amazonas Seco de obras da Imprensa Official - 97 Rua Municipal 97. 1911. p. 7.
148
MENSAGEM lida perante o Conselho Municipal pelo Superintendente Sr. Dr. Edgard de Rezende
do Rego Monteiro, por occasio da abertura da sesso ordinria daquelle corpo legislativo, em 1 de
abril de 1924. Manos, 23.

105

A receita global, do momento financeiro, foi de Cr$ 156.368.754,98 e a


despesa de Cr$ 147.781.387,78, verificando-se um saldo de Cr$
8.587.367,20, por enceramento do exerccio de 1943.
A razo da reduo do supervit de Cr$ 33.797.975,14 para Cr$
8.587.367,20 explica-se demonstrando:
Pelo movimento exclusivo do Estado.

149

Receita
138.899.945,14

Despesa
133.454.381,74

Saldo oramentrio
6.445.563,40

Despesa fixa

Despesas paga

104.924.662,71

133.454.381,74

Excesso coberto com


crditos adicionais
28.529.759,03149

RELATRIO de 1944, apresentado ao Ministro de Estado da Justia e Negcios Interiores, pelo


presidente do Conselho Administrativo do Estado do Amazonas.

106

2.4 A migrao provoca mudanas no ritmo de construo da cidade


A discusso fomentada pelos historiadores sobre a ocupao do espao
urbano deve ser entendida a partir das relaes estabelecidas nele, pois a luta pelo
espao da cidade social e se explica ao longo do tempo, como afirma a
historiadora Lcia Silvia150, no texto a cidade do Rio de Janeiro nos anos 20:
urbanizao e vida urbana.
Afinal, a luta pelos espaos da cidade social e se explicita de forma
diferente ao longo do tempo. Historicizar essa lutas supe recuperar as
experincias dessa populao, dado-lhe vida ao mesmo tempo que
encarnado os conceitos que possibilitaram resgat-las. Nunca demais
dizer que esta forma de pensar a histria no se d de maneira tranqila,
principalmente porque o contexto histrico possui multiplicidade de tramas
sociais que a pesquisa no consegue desvendar em sua totalidade, da
assumir que o conhecimento sempre parcial e limitado, se realizado
dentro do possvel.151

Devido necessidade de ampliar a produo agrcola nas proximidades da


capital, as obras pblicas realizadas nesse perodo, para alm do aspecto higinico
e modernizador da cidade, tinham de atender necessidade urgente de
comunicao entre centro e periferia, visando viabilizar o abastecimento da cidade
com os produtos produzidos naquelas localidades. Essas novas necessidades
direcionaram as polticas pblicas nesse momento especfico.
Nessa perspectiva, foi construda a estrada da Villa Municipal, ligando-a a
Flores152, o que representava poca, um elo de comunicao, por via terrestre,
entre o centro da cidade e as regies mais distantes da periferia, visando facilitar o
transporte de produtos agrcolas para serem vendidos em Manaus.
A capital do Estado que vinha sofrendo com a falta de investimentos
pblicos para ampliao de sua estrutura fsica, uma vez que os recursos, eram

150

Lucia Silva doutoranda em Histria pela PUC/SP.


SILVA, Lcia. A cidade do Rio de Janeiro nos anos 20: urbanizao e vida urbana: In. Cidades.
Pesquisas em Histria. Programa de Estudos Ps-Graduados em Histria PUC/SP. Da Ribeiro
Fenelon (org.). So Paulo: Olho dgua, 2000. p. 55-82.
152
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso ordinria de 14 de
Julho de 1920, pelo Superintendente Dr. Baslio Torreo Franco de S. Na sesso ordinria de 14 de
julho de 1920. Manos Amazonas Typografhia do C e L Rua Joaquim Sarmento 12. 1920.
p. XI.
151

107

destinados prioritariamente, a obras de manuteno, que sofreram um grande


impacto com a diminuio da explorao da borracha silvestre na Amaznia.
Alm da dramtica queda de arrecadao e investimos externos na cidade
de Manaus, a administrao municipal viu-se diante de outro problema que agravava
sobremaneira a sua j complicada situao: a diminuio dos investimentos
provocou a migrao dos trabalhadores, que viviam no interior, para a capital, em
busca de melhores condies de vida, na medida em que a extrao do ltex no
lhes possibilitava condies para continuarem trabalhando no interior.
A migrao desses trabalhadores para a cidade de Manaus exigia dos
administradores pblicos um novo direcionamento, no que diz respeito
organizao do espao urbano. A j complicada situao do municpio de Manaus
ficou bem mais crtica com a chegada desses novos moradores, vindos do interior
do Estado. Assim, o sonho de uma cidade moderna e civilizada ficava cada vez mais
comprometido.
Diante dessa constatao, o governo do Estado e os Intendentes
Municipais153 solicitaram da Unio e dos outros Estados brasileiros, apoio para o
socorro daquela populao que se dirigia do interior do Amazonas para Manaus e,
tambm, para aqueles que no estavam conseguindo chegar at a capital. A
situao de misria daquelas populaes era to profunda que o Superintende de
Manaus, Dr. Basilio Torreo Franco de S, a descreveu da seguinte maneira:

Repercutindo nesta capital o grande clamor doloroso de milhares de


infelizes que, em quase todo o interior do Estado, vinham e vm ainda, rotos
e famintos, amargando as torturas da mais completa e sombria misria
fostes vs, Snrs. Intendentes, os primeiros que se levantaram em beneficio
d aquelles desventurados patrcios pedindo para elles fraternal caridade
dos outros Estados. Telegraphastes para todos os ngulos da Unio,
dizendo-lhes a incrvel situao do Amazonas, ainda hontem riqussimo e
hoje no dispensando, bem ao contrario, a generosidade das demais
circumscripes do pais154.

Sobre esse momento extremamente crtico da crise de exportao da goma


elstica importante que se abra um parntese para que se destaque um fato
153

154

Equivalente aos Vereadores atuais.

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 14 de Julho de


1921, pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S, Typographia de C E L Rua
Joaquim Sarmento, 12 Amazonas Manaos, 1921. p. XLIII-XLIV.

108

ocorrido em 1921, entre o governo do Estado do Amazonas e o da Paraba: O


governo da Paraba, tomando conhecimento da situao de misria em que se
encontravam muitos dos nordestinos que vieram para a Amaznia em busca de
riqueza, realizou uma arrecadao entre os seus diversos Municpios para enviar um
cheque no valor de 12:092$00 para os famintos da Amaznia. Ele s esqueceu-se
de dizer que esses famintos eram tambm provenientes de seu Estado.
Foi entre os nossos irmos da Parahyba que primeiro se soube brasileiros
por quem haveis pedido. Collocando-se frente das boas almas que, por
toda a terra parahybana, logo zelosamente vos acolheram o alto e
commovido applo o benemrito dr. Solon de Lucena, governador do
Estado, podia, pouco depois, respondendo-vos por meu intermdio,
enderear-me o seguinte officio:
Gabinete do Governo do Estado da Parahyba, 11 de Junho de 1921.
Snr. Dr. Basilio Torreo Franco de S, Superintendente Municipal de
Manos,
Fao chegar s vossas mos, com o presente officio, o incluso cheque
emittido pela Agencia do banco do Brasil nesta capital a favor dessa
superintendncia, na importncia de 12:092$400. Proveniente da
arrecadao feita entre os municpios deste Estado, at a presente data,
em prol dos famintos do Amazonas.155

Independentemente da disponibilidade de recursos a serem investidos na


cidade, a populao de Manaus continuava crescendo. Esse crescimento foi
provocado principalmente pela chegada dos seringueiros desiludidos com os baixos
preos da borracha. Apesar de todo crescimento populacional ocorrido com a vinda
dos extratores de borracha, no perodo de 1910-1940, este no pode ser
considerado expressivo, quando comparado com o que ocorreu no perodo de 1890
a 1910156, momento em que a populao de Manaus cresceu significativamente com
a vinda de pessoas de diversos Estados e de diversos pases para nela se
estabelecerem, ou o que ocorreu na dcada de 1970, com a implantao da Zona
Franca, quando, em duas dcadas, a cidade triplicou a sua populao. Assim, o
crescimento da cidade de Manaus do perodo de 1910 a 1940 considerado
aceitvel. Como afirma o professor Jos Aldemir de Oliveira,
Do ponto de vista demogrfico,(...) o crescimento no foi significativo,
manteve uma mdia aceitvel, ou seja, 2.5% anual entre 1900 a 1920, 2%
155

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 14 de Julho de


1921, pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S, Typographia de C E L Rua
Joaquim Sarmento, 12 Amazonas Manos,1921. p. LXIII-LXIV.
156
COSTA, Francisca Deusa Sena da Costa. Quando viver ameaa a ordem urbana: Trabalhadores
urbanos em Manaus (1890-1915). Dissertao de Mestrado em Histria. Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo, 1997. p. 28-68.

109

de 1920 a 1940, aumenta para 3.1% de 1940 a 1950, retratando a tentativa


de retomada da produo da borracha ao patamar de 2,4 de 1950 a 1960.157

O crescimento populacional ocorrido entre 1910-1940, apesar de ter sido


considerado normal na mdia de 2% ao ano, contribuiu fortemente para o
crescimento da rea urbana de Manaus, agora no mais direcionado ao centro,
devido s caractersticas de seus novos habitantes, mas a reas de subrbios da
cidade, dando origem a novos bairros e ampliando outros. Foi o que aconteceu, por
exemplo, com o bairro da Villa Municipal, criado entre o final do sculo XIX e incio
do XX. Com a chegada de novos moradores a Villa Municipal foi relativamente
ampliada, e teve uma das suas principais caractersticas alteradas. Por ser um bairro
afastado do centro da cidade e pelo seu carter buclico, era o local onde a elite
construa suas residncias de final de semana, foi um dos primeiros bairros a ter
gua canalizada e luz eltrica. Em outubro de 1911, o superintendente Jorge de
Moraes, juntamente com o governador do Estado, Antonio Clemente Ribeiro
Bittencourt, outras autoridades e a populao local reunidos na Praa Chile,
inauguram a iluminao eltrica da Villa Municipal.
PLANTA 1: Bairro Villa Municipal

FONTE: RELATRIO da Comisso Organizadora do Tombo dos Prprios do Municpio. In.


RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1. de Outubro de
1922, pelo Superintendente Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typ do C E L. Manos,1922. Sem
numerao.
157

OLIVEIRA, Jos Aldemir. Manaus de 1920-1967: A cidade doce e dura em excesso.Manaus:


Valer, Cultura e EDUA, 2003. p. 116.

110

Em 1918, foi a vez do transporte coletivo chegar ao bairro da Villa Municipal,


a empresa Manos Tramways and Light, Compamy Limited, alm de inaugurar a
primeira parte da linha de bonds que chegou at o bairro, se comprometeu em
ampliar as linhas para circularem em suas ruas, no prazo mximo de um ano. Como
se pode depreender do texto abaixo.
Accresce que, como compensao, a Companhia se obrigou a iniciar, desde
logo e a terminar dentro de um anno, a construo de uma nova linha na
Villa Municipal partindo acima do Reservatrio, percorrendo as ruas Macei,
Recife e Theresina e tendo como ponto terminal a praa Silverio Nery.
Bairro populoso, como bellas vivendas, necessrio se tornava dotal-o,
urgentemente, com esse melhoramento, prescindvel, por ora...158

O crescimento da populao da cidade de Manaus forou o Poder Pblico a


construir obras adiadas por muito tempo, como foi o caso da escola do bairro da
Villa Municipal, para qual desde 1901, j havia solicitao da populao local para
sua construo. O Poder Pblico, para acalmar os nimos, chegou a fazer a doao
de uma rea para a construo da referida escola, como se pode observar pela
afirmao do superintendente municipal de Manaus.
(...) o Superintendente Dr. Arthur Cezar de Moreira Araujo convida os
assistentes para a cerimnia da collocao da primeira pedra da fundao
da Escola Municipal, que se realisou no lote n. 28, reservado
Municipalidade.
Esta construco no proseguio e o lote n. 28 foi aforado em 6 de Maro
de 1907.159

No entanto, a construo da escola s se iniciou em 1920, e em um local


diferente do previsto anteriormente, que era o lote 28. A escola foi construda na rua
Macei, e foi inaugurada em 02 de Julho de 1921, pelo superintendente Basilio
Torreo Franco de S.
E, para manter e conservar a estrada de rodagem que ligava o bairro Villa
Municipal ao bairro das Flores, foi disponibilizada pelo Poder Pblico uma turma de
trabalhadores municipais encarregados de realizar tais servios, isso no era por
158

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da terceira sesso ordinria da


nona legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcntara Bacellar, Governador do Estado, em 10 de
julho de 1918. p. 89-91.
159
RELATRIO da Comisso Organizadora do Tombo dos Prprios do Municpio. In. RELATRIO
apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1. de Outubro de 1922, pelo
Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typ do C e L. Manos,1922. p. 34.

111

acaso, o Poder Pblico na dcada de vinte, sem outra opo que no fosse
continuar dando suporte expanso do espao urbano de Manaus, forado pelo
crescimento da populao, passou a empregar seus parcos crditos e recursos na
manuteno e abertura de diversas ruas, como o que aconteceu na rea da Colnia
Campos Sales, onde foi construda uma estrada de rodagem que ligava essa colnia
ao igarap do Passarinho.
Um aspecto importante a ser destacado que a abertura de novas estradas
de rodagem, ligando o centro da cidade aos bairros mais distantes, tinha um objetivo
claro: facilitar a chega dos produtos neles produzidos para o abastecimento da
cidade, como um mecanismo alternativo para manter a dinmica da economia local.
Como afirmou o superintendente Antonio Ayres de Almeida Freitas, em 1918.
Nesse sentido, usando da autorisao que outorgantes ao Poder Executivo,
cogitei desde logo de approsimar os pequenos agricultores e criadores dos
centros populosos do Municipio, no s melhorando e rectificando vias de
communicaes, como estabelecendo centros eventuais de consumo.
Assim que, alm do incentivo de outras vias de communicao de outros
pontos com esta capital e constante em Relatrios anteriores, cogitei de
ligar e facilitar as communicaes entre as zonas suburbanas de Flores e
Villa Municipal, conseqentemente, a de Campos Salles; tornando
carroveis os caminhos, alias estreitas veredas, pelas quaes com
immensas difficuldades se communicavam aquelles subrbios sobre tudo na
estao das chuvas.160

Outra medida emergencial tomada, devido s novas reas de expanso da


cidade, foi a criao de uma feira no bairro da Villa Municipal, que se tornou um dos
principais e mais populosos bairros suburbanos. Essa feira era sazonal, funcionava
apenas aos domingos, como consta no Decreto n 14, de 13 de julho de 1919,
assinado pelo superintendente municipal Antonio Ayres de Almeida Freitas e pelo
secretario Epaminondas Jcome.
Art. 2 - Fica estabelecido a creada, na Villa Municipal, na praa Silverio
Nery, uma Feira livre, para compra e venda de todos os productos relativos
pecuria e a agricultura.
Art. 3 - Na mesma feira podero ser tambem expostos venda quaesquer
outros productos de immedidato consumo.
Art. 4 - No mesmo lugar sero permitidos todos os divertimos e jogos
lcitos.

160

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente, Dr. Antonio


Ayres de Almeida Freitas. Sesso ordinria de 14 de julho de 1918. Typographia do C e L, Rua
Joaquim Sarmento, 12. 1918. p. V.

112

Essa medida, alm de atender s necessidades dos moradores do lugar,


com um espao para realizar suas compras necessrias ao dia-a-dia, dinamizando a
economia da cidade com a circulao de produtos vindos de seu entorno, tambm
cria um espao de convvio social para um outro segmento da sociedade,
desafogando, assim, o centro da cidade da incmoda presena da misria, num
espao em que administrao municipal esforava-se em manter as aparncias de
cidade civilizada. Pois, antes da construo dessa feira, as atividades comerciais de
produtos regionais estavam centralizadas no mercado Adolfo Lisboa. Sob esses
aspectos, a construo da feira - em que pese sua tendncia exclusividade do
centro a um determinado grupo social - foi uma vantagem para ambas as partes161.
Como a feira sazonal do bairro da Villa Municipal, outras feiras livres foram
criadas nos subrbios da cidade, onde o produtor podia vender sua produo
diretamente ao consumidor. Isso trouxe grande vantagem para a populao de
Manaus e para os pequenos agricultores que viviam prximos da capital. Para os
consumidores, a compra direta dos produtos reduzia os preos, estes ficavam mais
acessveis populao mais carente, os produtos eram de melhor qualidade, pois
chegavam fresquinhos para serem vendidos. Para os pequenos agricultores, as
feiras livres tambm proporcionavam grande vantagem, pois vendiam seus produtos
por um preo justo e, alm disso, o contato direto com o consumidor lhes
proporcionava o conhecimento real das necessidades de seus clientes.
Essas feiras se tornaram to populares que havia competies entre os
agricultores, com prmios estabelecidos para o agricultor que trouxesse o melhor
produto e tambm para quem trouxesse em maior quantidade os produtos de
consumo imediato162.
Mesmo no perodo de baixa da arrecadao municipal e estadual, as obras de
manuteno e recuperao da cidade continuaram na dcada de 1920. Esse tipo de
manuteno se deu por meio de adaptaes de prdios ou espaos que no
estavam mais atendendo s necessidades para as quais foram construdos. Isso
aconteceu com o prdio da feira municipal da Cachoeirinha, que foi modificado para
funcionar o grupo escolar Guerreiro Antony. Esse tipo de estratgia demonstra que o
161

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, Em sesso extraordinria de 14 de


Julho de 1919, pelo Superintendente Dr. Antonio Ayres de Almeida Freitas. Manos Amazonas
Typografhia do Ca e La Rua Joaquim Sarmento 12. 1919. p.
162
RELATRIO apresentado ao Exmo Sr. Interventor Federal no Estado do Amazonas, pelo Dr.
Pedro Severiano Nunes. Prefeitura Municipal Manos , Amazonas-Brasil. 1934. p. 58.

113

Poder Pblico estava atento s crescentes necessidades da populao desses


bairros, que exigiam uma providncia do Estado para-lhe solucionar o problema da
falta de escola, pois com o crescimento da populao, o nmero de escolas
existentes no municpio no era suficiente para atender demanda de alunos e,
como no havia recursos suficientes para construo de novos prdios pblicos, a
alternativa era readapt-los s novas necessidades.
Ainda nos anos 20 do sculo XX, alm dessas obras de manuteno, foram
ampliados trechos que ainda no haviam sofrido intervenes do Poder Pblico,
como foi o caso da regio que ligava o centro da cidade ao bairro industrial,
chamado de Plano Inclinado, e a ampliao da Avenida Joaquim Nabuco at rea
do bairro de Nazareth163.
FOTO 6: Plano Inclinado

FONTE: Acervo fotogrfico do Centro Cultural dos Povos da Amaznia - CCPA

163

MENSAGEM do Presidente Ephigenio Ferreira de Salles Assemblia Legislativa na abertura de sua


primeira sesso ordinria da dcima terceira legislatura em 14 de julho de 1926. 1926. Typ. da Imprensa Pblica.
Manos, p. 90-92.

114

Um outro bairro que tambm passou por modificaes com a chegada de


novos moradores na cidade de Manaus, na dcada de XX, foi Constantinpolis,
localizado na foz do igarap da Cachoeirinha, em sua margem esquerda.
Constantinpolis, um dos bairros mais antigos da cidade de Manaus, at 1910,
continuava sendo iluminado por lampies, que eram acessos somente durante 12
horas diariamente,164 e s passou a ter luz eltrica no final da dcada de 1920,
precisamente no ano de 1929, juntamente com a ampliao da rede de luz na Villa
Municipal e do bairro de So Raimundo165.

164

RELATRIO apresentado ao Conselho Municipal em sesso de 15 de fevereiro de 1910, pelo


Superintendente Agnello Bittencourt. Manos Amazonas Seco de obras da Imprensa Official - 97 Rua
Municipal 97. 1910. p. 35.
165
MENSAGEM do Presidente do Estado do Amazonas, Ephigenio Ferreira de Salles Assemblia Legislativa,
lida na Abertura da Primeira Sesso Ordinria da Dcima Quarta Legislatura. Esta obra pertenceu ao Dr.
Ildefonso Simes Lopes. p. 43-49.

115

2.5 O realinhamento das polticas pblicas nos anos trinta


A dcada de 1930 foi um perodo extremamente conturbado para o pas e
para o estado do Amazonas, nos aspectos polticos e econmicos. Do ponto de vista
poltico, as antigas oligarquias que estavam no poder, desde o incio da repblica,
sofreram profundas crticas estrutura de controle do poder, bem como, ineficcia
de sua poltica econmica, que no conseguia encontrar sada da crise na qual o
pas e o estado encontravam-se mergulhados.
A dcada de 1930 tambm foi um momento conturbado para o mundo
capitalista, o pas que detinha 40% da riqueza produzida no mundo quebrou em 24
de outubro de 1929, foi o chamado crack da bolsa de Nova York. A Bolsa de Wall
street, em Nova York, quebrou devido ao aumento da produo e falta de mercado
consumidor interno e externo, isso provocou o aumento da especulao financeira,
momento conhecido como a Grande Depresso.
A esse perodo de crise mundial, o Brasil no ficou imune. O caf, seu
principal produto de exportao, tinha os estados Unidos como seu maior mercado
importador, assim, devido ao abalo nas bases da economia americana, o Brasil foi
profundamente afetado pela crise internacional. Sendo, inclusive, obrigado a
queimar grandes quantidades do caf estocado, na tentativa de diminuir sua oferta
e, assim, recuperar o preo do produto no mercado externo e interno. Mesmo com
essa medida drstica, no obteve o sucesso esperado. Provocando enormes crticas
pelo pas inteiro.
No Amazonas, no entanto, as oligarquias locais estavam afinadas com o
governo central, como bem reconheceu o governador do estado, Dorval Pires Porto,
em Mensagem de governo lida perante a Assemblia Legislativa do Amazonas,
publicada no Dirio Oficial, no dia 14 de julho de 1930 166, onde descreve a situao
poltica do estado diante das eleies presidenciais e dos deputados e senadores
federais, eleitos para o exerccio do quadrinio que se iniciaria em 15 de novembro
de 1930. Como se pode depreender no texto abaixo:
A intensa campanha poltica que acaba de atravessar a nao, repercutiu
em todas as suas unidades federativas, inflamando nimos, determinado
apprehenses de toda a ordem, processou-se, no Amazonas, calma e
legalmente, asseguradas todas as liberdades.
166

DIARIO OFFICIAL. Anno XXXVII. Manaus Segunda-feira, 14 de julho de 1930, N. 10.561.

116

O Partido Republicano do Amazonas, agremiando as figuras expressivas e


tradicionaes da poltica local, desde o primeiro instante assumira attitude
clara e definida. A caravana liberal, que aqui esteve e propagou na praa
publica as suas idias, sentiu que o culto povo de Manos apoiava a causa
contraria. Revelaram-no, evidencia, as urnas de 1 de maro, com a
eleio por extraordinria maioria, dos eminentes compatriotas Srs. Julio
Prestes de Albuquerque e Vital Henriques Baptista Soares, para Presidente
e Vice-Presidente da Republica, no quadriennio que se iniciar em 15 de
Novembro de 1930167.

No entanto, essa situao de calmaria descrita pelo governador do estado do


Amazonas no era, de fato, o que estava acontecendo no restante dos estados da
federao, que se aliaram e indicaram Getlio Dorneles Vargas para Presidente e
Joo Pessoa, para Vice-Presidente. Essa candidatura representava um claro
rompimento da chamada poltica do Caf-com-Leite,168pois, tanto Getlio como
Joo Pessoa representavam as antigas oligarquias mineiras, paraibanas e gachas,
insatisfeitas com a deciso tomada por Washington Luiz, indicando novamente um
paulista para concorrer s eleies de 1929, Presidncia do Brasil quando o
esperado seria a indicao de um mineiro, o que no aconteceu, levando-se, assim,
ao rompimento da poltica do Caf-com-Leite.
O grupo oposicionista liderado por Getlio Vargas, apesar de ter perdido as
eleies, continuou acusando o governo central de ter fraudado o processo eleitoral
e, exigindo a impugnao do pleito. Essas aes inicialmente obtiveram pouco
sucesso, at a ocorrncia do assassinato de Joo Pessoa, devido a questes
tipicamente locais, mas que foram magistralmente articuladas para acusar o governo
central de ter praticado tal ato devido a interesses partidrios nacionais. Essa
situao agregada s questes polticas e econmicas pelas quais o pas estava
passando e potencializada pela ineficcia das aes do governo central, teve como
desfecho o golpe de 1930, que levou ao poder Getlio Dorneles Vargas.
A situao de crise poltica no Brasil era to grave que a elite afirmava que se
no fossem tomadas as medidas que a situao exigia, o povo poderia tomar o
poder. Diante desse quadro poltico, que se tornava ainda mais delicado devido
grave crise econmica, determinados setores das oligarquias rurais, dos militares e
dos setores econmicos urbanos romperam o pacto de governabilidade da poltica
167

MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa do Amazonas, pelo Presidente Dorval Pires


Porto, ao installar-se a 2 sesso ordinria da 14 Legislatura. Manos, Imprensa Pblica. 1930. p. 6.
168
PANDOLFI, Dulce. Os anos 1930: as incertezas do regime. In. . FERREIRA, Jorge e DELGADO,
Lucilia de Almeida Neves (org.) O Brasil Repblicano, o termo nacional-estatismo: do incio da
dcada de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003. p.13-38.

117

do Caf-com-Leite, na expectativa da derrubada do poder central, e passaram a


apoiar a ascenso de Getlio Dorneles Vargas presidncia da Repblica, na
condio de governo provisrio.
O governo Provisrio deveria arrumar a casa e chamar novas eleies, o que
no ocorreu, somente depois de muita presso, aps 04 anos de governo provisrio,
Getlio Vargas chamou novas eleies. Durante o perodo do chamado governo
provisrio, Getlio Vargas desenvolveu uma poltica intervencionista nos estados,
trocando os antigos governadores aliados das antigas oligarquias locais e nacionais
e colocando nos cargos de interventores pessoas de sua inteira confiana, isto em
todos os estados Brasileiros. As regies norte e nordeste ficaram sob a
responsabilidade do tenente Juarez Tvora, que por sua vez, indicou como
interventor no Amazonas, lvaro Botelho Maia. Assim, coube a lvaro Maia o
trabalho de executar as novas diretrizes do governo central no estado do Amazonas.
O delicado momento poltico em que se encontrava o novo governo brasileiro
a queda dos antigos grupos polticos e econmicos que sempre dominaram a
Repblica exigia que o novo governo criasse uma forte blindagem capaz de
impedir uma possvel retomada do poder, eis o porqu da escolha de lvaro Maia
nessa conturbada conjuntura de crise econmica e poltica, pois, de acordo com
Amarildo Rodrigues Rolim, foi nomeado interventor do estado do Amazonas por
Getlio Dorneles Vargas, indicado por Juarez Tvora, por atender aos critrios de
estar identificado ideologicamente com os grupos dominantes locais e de no ter
razes polticas partidrias. A liderana poltica de lvaro Maia sustentava-se nos
setores tradicionais da economia.169
A afinidade de lvaro Maia com as idias tenentistas parece ter sido o que lhe
aproximou do governo central, isso lhe credenciava como algum que poderia levar
a efeito tais ideais no Amazonas. Inicialmente, seu governo se estendeu de
novembro de 1930 a julho de 1931, perodo no qual ele teve a sua frente um desafio
enorme: superar a crise econmica que havia se instalado no Amazonas h mais de
duas dcadas. Diante desse desafio, lvaro Maia comeou a pr em prtica um
projeto poltico que visava, principalmente, equilibrar o oramento pblico. Como se

169

ROLIM, Amarildo Rodrigues. Do Sonho Realidade: os ideais trabalhistas de desenvolvimento


Econmico para o Amazonas nas dcadas de 1950-1960 do sculo XX. Dissertao de mestrado
Universidade Federal do Amazonas - Instituto de Cincias Humanas e Letras, 2006. p. 70.

118

pode concluir pelas afirmaes da historiadora Elona Monteiro dos Santos, em sua
obra Uma Liderana Poltica Cabocla: lvaro Maia, no fragmento abaixo.
Durante a interventoria de lvaro Maia, foram unificados os servios
pblicos na Secretaria do Estado, a qual foi entregue a Francisco Pereira da
Silva, poltico da aliana Liberal. Assumiu a Polcia Civil e Militar o Capito
Francisco Tvora, alheio poltica estadual, mas irmo de Juarez Tvora. O
interventor tornou sem efeito aposentadorias, disponibilidades remuneradas
e reformas de funcionrios administrativos do estado, civis e militares.
Publicou alguns atos visando reestruturar as atividades extrativas que
enfrentavam uma desvalorizao constatada pela baixa arrecadao do
imposto de exportao. Conclumos que a ao governamental desta
interventoria, pautada pela prioridade de equilibrar o oramento, respaldouse no pressuposto de que a situao econmico-financeira do Amazonas
era resultado de dvidas acumuladas e da desvalorizao dos produtos de
exportao.170

lvaro Maia ficou um curto perodo como interventor, devido aos problemas
enfrentados no processo de reforma do poder judicirio do Amazonas, que levaram
sua deposio, mas isso no abalou sua carreira poltica, ao contrrio, ele logo se
articulou para as eleies da Assemblia Constituinte de 1933.
Alm de lvaro Maia, que mais tempo passou no comando do Estado, foram
indicados outros interventores para o Amazonas, no entanto, todos os seus
mandatos tiveram vida curta. De acordo com Elona Santos, a dissoluo do
Tribunal de Justia do Amazonas, por lvaro Maia, gerou uma certa instabilidade
poltica, o que provocou a constante mudana dos interventores do Estado, que
oscilavam entre civis e militares, num total de cinco no perodo que se estendeu de
1931 a 1935. Como se pode observar na tabela abaixo:
TABELA 3: Relao dos interventores do Municpio de Manaus no
perodo de 1930-1935
Interventores
Incio
Trmino
lvaro Botelho Maia
21/11/1930
10/07/1931
Tenente Emanuel de Moraes
10/07/1931
05/08/1931
Tenente Antonio Rogrio Coimbra (*)
05/08/1931
10/10/1933
Waldemar Pedrosa
14/06/1932
10/10/1932
Capito Nelson Melo
10/10/1933
19/02/1935
Tenente Paulo Cordeiro de Melo
06/01/1934
02/03/1934
Capito Nelson Melo
02/03/1934
19/02/1935
(*) Tenente Antonio Rogrio foi substitudo interinamente pelo secretrio geral
Waldemar Pedrosa.
(**) Capito Nelson de Melo foi substitudo pelo Tenente Paulo Cordeiro de Melo. A 4
de fevereiro de 1935, foi eleito pela Assemblia Estadual Constituinte, para
Governador do Amazonas, lvaro Maia.
170

SANTOS, Elona Monteiro dos. Uma Liderana Poltica cabocla: lvaro Maia. Manaus: Ed. da
Universidade do Amazonas, 1997. p.85-87.

119

FONTE: SANTOS, Elona Monteiro dos. Uma Liderana Poltica cabocla. Manaus: Ed. da
Universidade do Amazonas, 1997. p. 94.

Durante o perodo de governo dos interventores, as obras pblicas


continuaram sendo direcionadas para a intercomunicao entre centro e periferia,
para o abastecimento da cidade, para a iluminao dos espaos pblicos e para os
servios de recuperao das estruturas j existentes. Para que isso pudesse
acontecer, fez-se necessrio um maior controle dos recursos econmicos da
municipalidade. O interventor Nelson Melo, ao assumir em 10 de outubro de 1933 a
Interventoria, teve como uma das suas preocupaes o controle da situao
financeira do estado e, para tentar minimizar esse problema, fez uma reforma na
estrutura administrativa criando o cargo de Diretor do Tesouro e Recebedoria de
Rendas, com a funo de organizar as finanas do estado. Essa medida foi efetuada
pelo o Ato n. 2.851, de 27 de dezembro de 1933.
Acto n. 2.851, de 27 de dezembro de 1933, fundindo numa s repartio,
com a denominao de Directoria Geral da Fazenda Publica, o Thesouro
Publico e a Recebedoria de Rendas, que foram extinctos.
Os resultados no podiam ser mais promptos e productivos: a fiscalizao e
arrecadao das rendas passou a ser uma realidade, tanto na capital como
no interior e o fisco estadual respeitando e acatado, porque a energia com
que era exigido o comprummento das leis fiscais , tanto attingia ao
contribuinte, quanto aos tributos devidos, como aos exactores da Fazenda,
enexoravelmente, quanto hostilidade na arrecadao e precisa
observancia de suas obrigaes e deveres. 171

Mesmo com todos os problemas enfrentados pelas administraes estaduais


e municipais, o projeto de embelezamento da cidade, como smbolo do progresso e
de civilidade, continuava firme.
Na dcada de 1930, a prefeitura, com o objetivo de manter em pleno
funcionamento as linhas de bonde, fez um acordo172 com a empresa The Manaus
Tramways and Linght Companhy Limited, para realizar os trabalhos de
recalamento das entrelinhas dos bondes, esse acordo transferia Prefeitura a
responsabilidade de recalar e conservar os trechos de entrelinhas dos bondes, e as
ruas marginais que a companhia precisasse revolver para a colocao de novos
171

RELATRIO apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica, pelo
interventor Federal no Amazonas, capito Nelson de Mello. Outubro de 1933 a Dezembro de 1934.
1935 Imprensa Pblica. Manos Amazonas. p. 9-10.
172
MENSAGEM apresentada pelo Prefeito de Manos, Agrnomo Antonio Botelho Maia Cmara
Municipal na sua sesso de 15 de abril de 1936. Typographia PHENIX de Srgio Cardoso. Rua
Joaquim Sarmento N.78. Manos, p. 6-7.

120

trilhos, ou devido ao uso dos trilhos j existentes. Em troca desses servios, a


companhia faria um abatimento de 50%, no valor da energia fornecida Prefeitura.
Com esse acordo, a prefeitura Municipal de Manaus acreditava que iria
reduzir custos, pois considerava que o valor pago pela energia era maior do que o
valor que gastaria para manter o calamento e fazer o recalamento das ruas da
cidade por onde passavam os bondes. Com o decorrer do tempo, a administrao
municipal se deu conta de que a manuteno das ruas da cidade era muito mais
dispendiosa do que o inicialmente previsto, pois a cidade crescia numa mdia de
2,5% ao ano, e a falta de manuteno dos bondes comprometia ainda mais a
conservao dos trechos das entrelinhas e das ruas marginais, como se pode
constatar na exemplificao abaixo.
Durante os mezes de agosto, setembro e outubro do anno passado, o
Municpio gastou a importncia de 6:262$400 com a conservao das
entrelinhas e pagou a quantia de 2:100$000 pelo fornecimento de energia,
j deduzido o abatimento de 50% e caso a Prefeitura no tivesse o direito
ao abatimento referido, haveria de empregar a importncia de 4:200$000,
donde se deduziria ainda um saldo de 2:062$400 favorvel a
Municipalidade.
Acontece, porem, que a quantia consignada no actual oramento para
energia electrica e material acessrio, de 15:000$000, o que no habilita o
Municpio a rescindir o convenio, que somente poder ser feito com o
augmento necessrio da verba correspondente.173

Essa situao gerou vrios impasses para a administrao pblica, que no


conseguia reverter o acordo nem manter as entrelinhas dos bondes e ruas marginais
da cidade devidamente caladas. Alm da manuteno das entrelinhas dos bondes,
o poder pblico tinha que realizar o calamento e recalamento das demais ruas da
cidade, uma tarefa cada vez mais difcil devido crise econmica na qual o Estado
encontrava-se mergulhado. Mesmo assim, os servios de melhoramento e
embelezamento da cidade continuavam sendo executados pelo municpio, dentro de
suas possibilidades financeiras. o que comprovam as obras realizadas em 1934.
Destacam-se entre elas, os servios de calamento e terraplenagens das ruas,
avenidas e praas da cidade bem como as construes, restauraes e reparos de
edifcios pblicos municipais e a conservao das estradas de rodagem.

173

MENSAGEM apresentada pelo Prefeito de Manos, Agrnomo Antonio Botelho Maia a Cmara
Municipal na sua sesso de 15 de abril de 1936. Typographia PHENIX de Srgio Cardoso. Rua
Joaquim Sarmento N.78. Manos, p. 11-12.

121

Nesse momento, faz-se necessrio retomar a discusso acerca do significado


do projeto de embelezamento da cidade de Manaus, que, ao longo dos tempos,
seus administradores buscaram alcanar, desde que se iniciou o perodo de
opulncia das arrecadaes estadual e municipal e, estendendo-se at mesmo ao
perodo de baixa arrecadao, num intervalo de tempo que nos remete aos anos de
1910 at 1940.
O projeto de embelezamento da cidade primava por ruas largas, bem alinhadas
e planas, igaraps saneados ou aterrados, casas construdas em alvenaria com
belas fachadas. Tudo isso no como resultante da ao individual de seus
moradores, mas impostos pelos trs Cdigos de Posturas, promulgados nesse
perodo - o de 1910174, 1920175 e o de 1938176. E, para alm dos aspectos fsicos, o
projeto de embelezamento da cidade visava, tambm, a mudanas dos hbitos e
costumes da populao local.
Um exemplo dessas mudanas de hbitos e costumes ficou impresso no art.
26 do cdigo de postura de 1920, que determinava a proibio da retirada de cal,
terra, barro e palha, ou qualquer outra substncia para construo. Uma vez que
esses materiais no podiam circular pela cidade, na verdade, o que se escondia por
trs dessa medida era a inteno do poder pblico em dificultar e, se possvel,
impedir a construo de casas de taipa cobertas de palha no centro da cidade.
Outro mecanismo legal de controle social foi previsto no art. 39 do cdigo de
postura de 1938, segundo o qual, os comerciantes ficaram proibidos de colocar
mesas e cadeiras em locais inadequados, o que na poca era uma prtica usual.
s leis de inibio dos valores sociais vigentes seguiram-se as aes concretas
no sentido da transformao da aldeia em cidade moderna, por meio de medidas
sanitaristas e urbansticas como o calamento e terraplanagem de vias da cidade,
como o ocorrido no trecho da rua Jos Paranagu, entre a praa da Constituio e a
Avenida Joaquim Nabuco, onde havia um verdadeiro abismo, que, uma vez
aterrado, encurtaria significativamente o percurso entre o Educandos e o centro da
cidade.
174

LEI n. 639, de 13 de setembro de 1910. Promulgado o Cdigo de Posturas do Municpio de


Manos,
175
LEI n. 1.059, de 22 de outubro de 1920. Promulgado o Cdigo de Postura do Municpio de
Manaus. Livraria Clssica de J.J. da Cmara, rua Guilherme Moreira, 1 e 3. Canto da rua
Theodoureto Souto, 11. Manos Amazonas,1920.
176
ATO N 44, de 29 de julho de 1938. Outorgado o novo Cdigo de Postura do Municpio de Manos,
Amazonas Manaus Imprensa Pblica, 1939.

122

Essa obra abriu o leque de discusso acerca do modelo de cidade que se


queria construir na dcada de 1930. No incio dos trabalhos da referida obra, ocorreu
uma divergncia de opinio entre o auxiliar-urbanstico e o diretor de obras sobre o
processo de sua execuo. Como se tratava de um assunto referente esttica da
obra, o Estado solicitou um parecer tcnico de trs especialistas na rea, para
solucionar o impasse, e o resultado foi que a divergncia dos tcnicos era apenas de
pontos de vista, como se pode depreender, por meio da leitura do texto abaixo:
O techinico-urbanista impressionado pela suavidade da arte desapercebeuse de que, traado apenas o meio fio, no haver qualquer alterao na
perspectiva actual; e o Director de Obras levado pelo moderno esprito de
movimento e transformao que em mltiplas cidades se tem realisado por
uma imperiosa necessidade de trafego, no v Manos estacionaria e
pobre, capaz de eternizar a anfractuosidade de um alinhamento, e sim uma
Cidade que se modifique, alargando as suas ruas. E porque assim v, julga
ter iniciado, com o alinhamento do trecho entre a Praa Joo Pessoa e a Av.
Floriano Peixoto a futura rua Jos Paranagu.
Por estas razes, tendo ainda em conta que no convem augmentar
despezas com destruio e reconstruo, quando o plano techico da
Directoria de Obras racional, somos levados a opinar para que sejam
mantidos os trabalhos iniciados pela Directoria de Obras, embora luovemos
a interessante feio esttica do plano do techico Urbanista. 177

Esses debates sobre como devem ser executadas as obras para a


modernizao da cidade so interessantes porque demonstram os diversos projetos
que disputavam espao em Manaus e quais os que eram exeqveis naquele
momento, devido s reais condies da cidade.
Aps o rompimento de contrato que concedia o direito de explorao do
mercado e do matadouro pblico The Manos Markets and Slaughterhouse
Limited178, no ms de novembro do ano de 1930, ambos passaram por amplos
reparos. A reforma daqueles dois importantes prdios do municpio deveu-se ao
lastimvel estado de conservao e higiene no qual eles se encontravam. Assim,
to-logo eles voltaram novamente administrao da Prefeitura, o governo
municipal voltou sua ateno para a recuperao daqueles dois patrimnios
pblicos.
177

MENSAGEM apresentada pelo Prefeito de Manos, Agrnomo Antonio Botelho Maia Cmara
Municipal na sua sesso de 15 de abril de 1936. Typographia PHENIX de Srgio Cardoso. Rua
Joaquim Sarmento N.78. Manos, p. 12-14.
178
RELATRIO apresentado ao Exmo Sr. Interventor Federal no Estado do Amazonas, pelo Dr.
Pedro Severiano Nunes. Prefeitura Municipal Manos , Amazonas-Brasil, 1934. p. 4-6

123

O edifcio do Matadouro pblico sofreu reformas em suas bases para reforo


das colunas do pavimento central (sala de abatio) e dos currais; vedao da parte
posterior do edifcio, alm de novas instalaes para o servio de matana do gado;
da construo de um pavilho para instalaes sanitrias; do revestimento do piso e
construo de cubas do compartimento para tratamento de vsceras; montagem de
um grande tanque, com bomba motor, para o fornecimento da gua necessria ao
servio de asseio do edifcio; reparao geral das salgadeiras etc., e pintura em
geral.
No prdio do Mercado Pblico, foram construdas 71m de galeria de alvenaria
para captao das guas servidas e pluviais, e mais o revestimento da parte exterior
do muro de arrimo, feito pelo Sr. Manoel Gomes, pela importncia de Rs. 2:500$000.
Algumas obras pblicas do perodo de governo dos interventores parecem ter
despendido recursos bem acima daqueles disponveis nos cofres pblicos, pois,
nesse perodo, foram ordenadas e postas em andamento, pelos interventores, as
obras de concluso da ponte que ligava o bairro da Cachoeirinha ao de
Constantinpolis. E, deu-se incio construo da ponte de So Raymundo,
avaliada em mais de 1.000 contos de ris. Com essas duas obras, a municipalidade
demonstrou o seu potencial em ampliar a cidade, atravs da construo de pontes
para ligar os bairros mais distantes ao centro da cidade, mesmo considerando as
dificuldades financeiras para realizao de tais obras, que exigiam grande volume de
capitais.
Aos vinte dois dias do mez de Outubro do corrente anno perante o Snr.
Capito Nelson Mello. Interventor Federal, V. Excia, e o Dr. Jess de Moura
Pinto, Secretario desta Prefeitura, foi lanada a peddra fundamental para a
construco de uma ponte sobre o Igarap da Cachoeira Grande, ligando
esta cidade com o bairro de S. Raymundo. A referida ponte ser de
construco mixta, com os pilares de alvenaria de pedra e ter o leito
estradal de cimento armado. J foram iniciadas as obras para a construco
dos encontros e bases de dois pilares, sendo que as demais obras iro
sendo effectuadas de accordo com o volume das guas do referido
igarap.179

Alm dessas obras de grande envergadura para a poca, a Seco de Obras,


por meio da turma de calceteiros Municipais, realizou o calamento e o reparo de
diversas ruas da cidade como abaixo discriminadas; algumas com riquezas de

179

RELATRIO apresentado ao Exmo Sr. Interventor Federal no Estado do Amazonas, pelo Dr.
Pedro Severiano Nunes. Prefeitura Municipal Manos , Amazonas-Brasil, 1934. p.38.

124

detalhes e outras apenas indicando o nome das ruas onde a Prefeitura realizou
obras.
Rua Silva Ramos Trecho comprehendido entre Avenida Nhamund e
Praa S. Joo Calamento a pedra tosca sobre lastro de areia e
reajuntamento com aguada de cimento, numa rea de 2.069,m.97;
construdos 168,m,20 de valetas e 320,m.70 de bordaduras, importando
na quantia de Rs. 24:394$670.
Rua Tapajs Trecho entre a Praa S. Sebastio e Praa Benjamim
Constant Calamento a pedra tosca sobre lastro de areia e reajuntamento
com aguada de cimento, numa rea de de 546,m37; construdos 187,m.30
de valetas e 69,m,90 de bordaduras na importncia de Rs. 6:401$540.
Rua Ferreira Penna Trecho comprehendido entre as ruas Leonardo
Malcher e Silva Ramos Calamento a pedra tosca sobre lastro de areia
com reajuntamento de cimento, numa rea de 67,5m.81; construdos
67,m.00 de valetas e bordaduras, na importncia de Rs. 7:080$430.
Rua Visconde de Mau trecho comprehendido entre as praas 15 e 9 de
Novembro Calamento pedra tosca sobre lastro de areia e
reajuntamento com aguada de cimento, numa rea de 545,m.94;
construdos 201,m.00 de sargetas e reconstruidos 106,m.00 de
bordaduras, na importncia de Rs. 6:079$320, Praa 9 de Novembro
Calamento a paralelepipedes, numa rea de 411,m.87 na importncia de
Rs. 2:702$000.
Calamento da Rua 10 de julho Chamados por Edital, concorrentes para o
calamento da Rua 10 de Julho, apresentaram-se dois, sendo elles os srs.
David Novoa e Lucio de Souza.180

Nas ruas Theodureto Souto, Saldanha Marinho, Ferreira Penna, Quintino


Bocayuva, Jos Paranagu e rua Izabel; foram feitos pequenos reparos, e na rua
Leonardo Malcher, foi realizado servio de terraplenagem; na Monsenhor Coutinho,
foi feita a reconstruo do muro de arrimo, nas avenidas Epaminondas, Eduardo
Ribeiro e 7 de Setembro foram feitos pequenos reparos e na avenida 13 de Maio, o
servio de aterro e na Praa Oswaldo Cruz e Praa Tenreiro Aranha, pequenos
consertos.
Visando facilitar a chegada da produo de gneros alimentcios das reas
rurais prximas a Manaus para abastecer o mercado da cidade, foram realizados
trabalhos de melhoramentos na Estrada do Aleixo. Ainda com o objetivo de facilitar a
comunicao da capital com as reas mais prximas, foi aberta uma estrada de
barro chamada na poca de picada, ligando a linha de telgrafo de Manaus at
Itacoatiara.
Alm das obras de calamento e reparos das ruas de Manaus, foram
realizadas diversas obras para melhorar a iluminao da cidade como o ocorrido na

180

RELATRIO apresentado ao Exmo Sr. Interventor Federal no Estado do Amazonas, pelo Dr.
Pedro Severiano Nunes. Prefeitura Municipal Manos , Amazonas-Brasil, 1934. p. 21-35.

125

Praa Oswaldo Cruz, onde foram colocados, na entrada da Manos Harbour, cinco
postes de cimento armado, contendo cada um cinco focos de luz.
Com o objetivo de aproximar Manaus do modelo europeu de cidade, o Cdigo
de Postura deste Municpio, promulgado em 22 de outubro de 1920, continuou,
como previa a verso anterior de 1910, determinando que o arruamento do centro
da cidade e dos subrbios deveria seguir minuciosamente as orientaes tcnicas
traadas pela 3 Seco da Superintendncia, dando continuidade ao processo de
alinhamento e nivelamento das ruas da cidade, iniciado no final do sculo XIX e
inicio do XX. Nesse perodo, o servio de alinhamento das ruas da cidade iniciou-se
primeiramente pela Av. Joaquim Nabuco, onde foi necessria, para realizar o
referido trabalho, a demolio das fachadas das casas de madeira e reedificao
das mesmas em alvenaria, obedecendo-se ao alinhamento, como indicado pelo
Cdigo de Postura de 1920, nos artigos de 15 a 17.
Art. 15 Os arruamentos quer da cidade e subrbios, quer dos povoados do
interior do Municipio, sero feitos segundo os alinhamentos geraes
existentes e de accordo com as plantas organizadas pela seco technica
da Secretaria da Superintendencia, sendo que os prdios afastados desses
alinhamentos geraes devero avanar ou recuar por occasio de serem
reconstrudos, no se dando permisso para quaesquer obras que importem
o prolongamento da durao ou a valorisao desses prdios.
Art. 16 O estudo do alinhamento de uma rua comprehender
forosamente o nivelamento da mesma.
Art. 17 Quando para regularidade do alinhamento das vias publicas for
necessria a desapropriao, o Superintendente proceder amigavelmente
entrando em accordo vantajoso para o Municipio com o proprietrio do bem
que deve ser desapropriado, ou judicialmente, pela forma que as leis civis
determinam.181

Alm dessas obras estritamente ligadas ao quotidiano do ambiente urbano,


visando sua adequao ao padro de cidade civilizada, tambm foram realizados
trabalhos como a construo de pontes e os aterramentos de depresses para
ligarem a periferia ao centro da cidade; a construo das feiras para
descentralizarem e descongestionarem as atividades comerciais da cidade e,
tambm o calamento e a iluminao pblica das ruas. A Prefeitura de Manaus, por
meio da Secretaria de Obras, ocupou-se de vrias outras obras que visavam
melhoria esttica da cidade por meio do conserto de praas e jardins, considerando

181

LEI n. 1.059, de 22 de outubro de 1920. Promulgado o Cdigo de Postura do Municpio de


Manaus. Livraria Clssica de J.J. da Cmara, rua Guilherme Moreira, 1 e 3. Canto da rua
Theodoureto Souto, 11. Manos Amazona, 1920.

126

que esses locais eram os espaos de sociabilidade da sociedade, onde se constri a


imagem da cidade.
Praa da Saudade e Jardim S. Jos Foram aterrados todos os canteiros e
caladas s ruas, com pedra tosca sobre lastro de areia e reajuntamento a
cimento, numa rea de 2.434,m.00 e collocados dois reflectores, tendo
gasto a Prefeitura at agora, a importancia de Rs. 15:151$100.
Praa S. Sebastio Foram collocados neste logradouro, trs reflectores,
na importncia de Rs. 288$000.
Praa do Salvador ( Villa Municipal ) Foram construdos 1.064,m!.00 de
bordaduras, 248,m.00 de valetas e um pequeno pavilho rstico, gastando
a Prefeitura at agora, a importancia de Rs. 6:380$540.
Praa General Thaumaturgo de Azevedo Neste logradouro foram
construdos 201 m70 de bordaduras, 207, m. 80 de sargetas e mais
126,m.00 de bordaduras dos refugios, na importancia Rs. 3:225$000, tendo
tambm o empreiteiro Lucio de Souza j construdo 320,m,00 de
calamento a tosca sobre lastro de areia e reajuntamento a cimento, na
importancia de Rs. 4:960$000.182

A administrao pblica de Manaus, atingida pela drstica queda do


oramento, no assistiu imvel situao econmica e social da cidade tornar-se
bem mais catica devido ao processo de migrao dos seringueiros do interior para
a capital. Mesmo com essa visvel e complicada situao econmica vivida pelo
Estado e pelos Municpios, no perodo dos interventores entre 1930-1945, a
administrao pblica demonstrou flego considervel para a superao das
dificuldades vivenciadas. Pois, alm das obras de manuteno e ampliao das
ruas, avenidas e estradas, das construes de pontes ligando a periferia ao centro
da cidade e da manuteno dos logradouros pblicos, ainda continuou investindo na
higiene da cidade, dando prosseguimento aos consertos da rede de esgoto,
objetivando a continuao do modelo de cidade moderna.
lvaro Maia reassumiu a interventoria do estado do Amazonas em 1935 e
ficou at 1945, quando foi deposto devido ao novo quadro da conjuntura
internacional: o fim da Segunda Guerra Mundial e a vitria dos aliados dificultaram a
permanncia de governos com orientaes totalitrias. No Brasil, o impacto desse
novo quadro internacional derrubou o governo de Getlio Vargas, e levou
deposio de todos os seus interventores, sendo chamadas novas eleies em
1946. Durante o perodo no qual governou o estado, lvaro Maia iniciou uma poltica
de valorizao das atividades extrativas. Sem se dar conta de que essas medidas
no solucionavam o problema vivenciado pelo estado h aproximadamente duas
182

RELATRIO apresentado ao Exmo Sr. Interventor Federal no Estado do Amazonas, pelo Dr.
Pedro Severiano Nunes. Prefeitura Municipal Manos , Amazonas-Brasil, 1943. p. 23-25.

127

dcadas, continuava a insistir em medidas que, comprovadamente, ao longo do


tempo, no estavam dando os resultados esperados, ou seja, a recuperao da
economia do estado. Nesse sentido, Amarildo R. Rolim, na sua dissertao de
Mestrado com o ttulo Do sonho a realidade: os ideais trabalhistas de
desenvolvimento econmico para o Amazonas nas dcadas de 1930-1950 do
sculo XX, afirma que,
estritamente preso aos interesses dos setores econmicos ligados a
atividade extrativa, lvaro Maia no pde perceber nela o motivo da crise,
ao invs disso, tomou os efeitos pela causa e considerou a desvalorizao
dos produtos de exportao do Estado, as dvidas acumuladas, as
vantagens das quais desfrutavam o setor pblico, a defasagem
oramentria e a necessidade de defesa dos produtos extrativos pelo poder
central como medidas a serem corrigidas para que houvesse a superao
da crise.183

No final dos anos trinta, a intensificao das tenses internacionais que


conduziram Segunda Guerra Mundial, em 1939, provocou, na Amaznia, um
relativo surto de valorizao da borracha silvestre no mercado internacional. Essa
nova realidade econmica reacendeu o desejo de construir a cidade ideal, e com
esse objetivo, a Prefeitura de Manaus voltou-se para a valorizao da Diretoria de
Obras, devido sua importncia para o melhoramento e funcionamento da cidade,
como se pode inferir do fragmento abaixo:

De suma e primordial importncia, para a vida municipal, a Diretoria de


Obras Pblicas, que representa a celula-mter das realizaes de ordem
material e tcnica. Sua atividade desdobra-se desde o estudo e aprovao
de planos tcnicos de arquitetura e engenharia, at direo e fiscalizao
das obras prefeiturais, e das letras legais de posturas do Municpio,
compreendendo o exame mcano-profissional de maquinistas e
manuteno de oficinas de serralharia, marcenaria, carpintaria e
mecnica.184

Com flego renovado, devido s expectativas de retomada do crescimento


econmico, em 1938, foram realizadas vrias obras administradas pela Diretoria de
Obras Pblicas, por meio dos calceteiros municipais.

183

ROLIM, Amarildo Rodrigues. Do Sonho Realidade: os ideais trabalhistas de desenvolvimento


Econmico para o Amazonas nas dcadas de 1950-1960 do sculo XX. Dissertao de mestrado
Universidade Federal do Amazonas - Instituto de Cincias Humanas e Letras, 2006. p.71.
184
RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de 1937 e perodo de
1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938.1938.TYP.PHENIX de Srgio Cardoso Rua J. Sarmento, 78
Manaus. p. 43.

128

Na Travessa entre a rua Bernardo Ramos e a avenida 7 de Setembro, foi


realizado o servio de calamento pedra tosca sobre lastro de areia rejuntado com
aguada de cimento, e feitas bordaduras de concreto numa rea de 168m e numa
extenso

de

56m.

Na

Rua

Costa

Azevedo,

realizaram-se

servios

de

descalamento numa rea de 2583m, 70 e calamento pedra tosca sobre lastro


de areia; rejuntadas com aguada de cimento numa extenso de 1.909m, havendo
sido construdas sarjetas e bordaduras de concreto, nas respectivas extenses de
353m, 50 e 331m. Como se pode observar pelas fotos abaixo
FOTO 7: Calamento da rua Costa Azevedo

FONTE: RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus,
dirigiu ao Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de
1937 e perodo de 1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938.1938.TYP.PHENIX de Sergio
Cardoso Rua J. Sarmento, 78 Manaus. p. 44.

129

FOTO 8: Melhoramentos realizados na rua Saldanha Marinho

FONTE: RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus,
dirigiu ao Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de
1937 e perodo de 1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP.PHENIX de Srgio Cardoso
Rua J. Sarmento, 78, Manaus,1938. p. 46

Na rua Saldanha Marinho trecho compreendido entre as ruas Costa


Azevedo e Barroso, foram feitos os seguintes servios: descalamento de
1.315m,20; calamento pedra tosca sobre lastro de areia rejuntadas com aguada
de cimento, de 1.645m e construo de 192m de sarjetas.
Na rua Quintino Bocaiva, foram realizadas obras de descalamento e
calamento. Os trabalhos realizados nesta via pblica procederam-se do seguinte
modo: de 1.760m, 60 e calamento pedra tosca com rejuntamento a cimento de
792m, 56, no trecho compreendido entre a avenida Joaquim Nabuco e a rua Dr.
Almno. Foram tambm construdos 420m, 40 de sarjetas e a mesma metragem de
bordaduras de concreto. Como pode ser visualizado na foto abaixo:

130

FOTO 9: Calamento da rua Quintino Bocaiva

RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de 1937 e
perodo de 1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP.PHENIX de Srgio Cardoso Rua J.
Sarmento, 78, Manaus,1938. p. 45.

Por meio de licitaes pblicas, a Prefeitura de Manaus tambm realizou


inmeras obras de reparo e ampliao de ruas, avenidas, logradouros e estradas da
cidade, como se pode depreender no texto a seguir
Foram executados servios de restaurao de ruas caladas da cidade,
onde realizamos importantes reparos da pavimentao pedra tosca e
paraleleppedos, como sejam: ruas Marechal Deodoro, Bernardo Ramos,
Guilherme Moreira, Marqus de Santa Cruz, Luiz Antoni, 24 de Maio, Baro
de So Domingos, Jos Paranagu, Lima Bacur, Henrique Martins,
Henrique Anton, Ramos Ferreira, avenida 7 de Setembro, e praas Antonio
Bittencourt, Tenreiro Aranha, D. Pedro II, Osvaldo Cruz, Joo Pessoa e
rampa de So Vicente e do Palcio da Justia. Custaram estes concertos
Municipalidade a importncia de Rs. 30:575300.185

185

RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia. Prefeito Municipal de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Snr. Interventor Federal no Amazonas, dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de 1937 e perodo
de 1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938.1938.TYP.PHENIX de Srgio Cardoso Rua J. Sarmento,
78 Manaus. p. 49

131

Na rua Leonardo Malcher, na rea entre a rua Luiz Antony e a Estrada


Epaminondas, foram executados o descalamento de 379m,2: calamento pedra
tosca sobre lastro de areia e juntas tomadas com aguada de cimento, de 631m,17:
e 21m,01 de sarjetas a concreto. Custando Prefeitura 10:789$805.
FOTO 10: Rua Leonardo Malcher

Fonte: RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus,
dirigiu ao Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de
1937 e perodo de 1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938.1938.TYP.PHENIX de Sergio
Cardoso Rua J. Sarmento, 78 Manaus. p. 50.

Na Rua Xavier de Mendona, numa rea de 987m,36, foram feitos servios


de calamento pedra tosca sobre lastro de areia e juntas tomadas com duas
aguadas de cimento. Sarjetas e bordaduras a concreto de 125m,95. Alm dessas
obras, foi construdo, tambm, 1,m368 de alvenaria de pedra, preparados trs
assentamentos para 12 metros de tubos e trs sifes.
Na rua Lauro Cavalcante, no trecho entre a avenida Joaquim Nabuco e o
igarap de Manaus, foi feito o descalamento de 1.424m,17; o calamento pedra

132

tosca sobre lastro de areia com juntas tomadas com aguada de cimento de
987m,32; a construo de bordaduras de concreto na extenso de 106m,70; alm
da modificao de outras numa extenso de 131m,30, bem como a construo de
257m,35 de sarjetas. Para captar guas pluviais, foi feito o assentamento de 38
tubos, efetuando-se ainda, com o objetivo de uniformizar o terreno, a escavao de
228m.
Na Estrada Epaminondas, no trecho compreendido entre as ruas Simo
Bolvar e Leonardo Malcher, foi feito o descalamento de 1.825m,60 e calamento
pedra tosca com rejuntamento de cimento numa rea de 1.766m,81. Construiu-se
uma extenso de 153m,50 de bordaduras a concreto, tendo sido modificadas outras
numa extenso de 19,m,50. Foram construdos 231m,75 de sarjetas, o que custou
a importncia de 33:749$315.
FOTO 11: Estrada Epaminondas, entre as ruas Simo Bolvar e Leonardo
Malcher

Fonte: RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus,
dirigiu ao Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de
1937 e perodo de 1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938.1938.TYP.PHENIX de Sergio
Cardoso Rua J. Sarmento, 78 Manaus. p. 50.

Nesse momento, os administradores pblicos pareciam estar preocupados


em elaborar um projeto mais aprimorado para o embelezamento da cidade, mesmo

133

que fosse apenas para o ano em curso, mas isso indica que se vislumbrava uma luz
no horizonte. Porm, tudo, visceralmente ligado utopia de uma cidade aos moldes
europeus. Como se pode depreender do texto abaixo.
Faz parte do plano administrativo de obras para o ano corrente a
continuao dos servios de calamento dessa artria urbana. Attendendo a
motivos de ordem sanitria e de urbanismo, j determinamos Diretoria de
Obras Pblicas da Secretaria da Prefeitura o estudo dos servios a realizarse.
Restaurao de Esgotos Diversas restauraes foram realizadas na rede
de esgotos da cidade nas partes correspondentes s ruas, praas e
avenidas discriminadas abaixo:
Mundurucs, Bars, Jos Clemente, Monsenhor Coutinho, Ramos Ferreira,
Tapajs, Dr. Almno, Taquerinha, Barrozo, Saldanha Marinho, Fre Jos dos
Inocentes, Lauro Cavalcante, Baro de So Domingos, Dr. Moreira,
Comendador Alexandre Amorim, Pedro Botelho, Dez de Julho, Luiz Anton,
Quintino Bocaiva, 24 de Maio, Comendador Clementino, Marclio Dias,
Marechal Deodoro, Itamarac, Miranda Leo, Leonardo Malcher, Silva
Ramos, Xavier de Mendona, Henrique Martins, Joaquim Sarmento, Lobo
dAlmada, Guilherme Moreira, Lima Bacur, Demtrio Ribeiro, Leovegildo
Coelho, Andradas, Jos Paranagu e So Vicente General Osrio,
Tamadar, 15 de Novembro, Osvaldo Cruz e So Sebastio; Joaquim
Nabuco, Eduardo Ribeiro, 7 de Setembro, 13 de Maio, Floriano Peixoto,
Major Gabriel, Joo Coelho e Epaminondas; Vila Municipal e Matadouro
Pblico.186

Dando continuidade necessidade de manuteno e ao projeto de


modernizao da cidade, de acordo com a concepo europia do final do sculo
XIX e incio do XX, os administradores do estado e da cidade de Manaus
continuaram seus pacotes de obras.
Retomando o processo de alinhamento das ruas do centro da cidade, agora
era a vez da avenida Floriano Peixoto, onde foi feito o alinhamento no trecho
compreendido entre as ruas Jos Paranagu e Quintino Bocaiva, tendo a
municipalidade, para isto, entrado em acordo com os proprietrios dos terrenos que
seriam alcanados pelo corte de retificao. Construram tambm os muros de
arrimo prximos desses lotes, os quais atingiram 333m,958, ou seja, 193m,50, e
mais 196ml,30 de meios-fios, na parte posterior do edifcio da Escola Normal.

186

RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de 1937 e perodo de
1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP.PHENIX de Srgio Cardoso Rua J. Sarmento, 78
Manaus, 1938. p 50-51.

134

PLANTA 2: Projeto de alinhamento da rua Floriano Peixoto

FOTO 12: Rua Floriano Peixoto antes do alinhamento no trecho com a


Jos Paranagu

Fonte: RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus,
dirigiu ao Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de
1937 e perodo de 1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP.PHENIX de Sergio Cardoso
Rua J. Sarmento, 78 Manaus,1938. p. 58-59.

135

Essa obra demonstrava claramente a possibilidade do retorno do sonho da


construo da cidade idealizada por seus administradores, considerando que a
referida obra solucionava problemas antigos vivenciados pela cidade. Mas tambm
era a demonstrao de que a economia do estado e do municpio estava dando
sinais de recuperao, pois, para a viabilizao da referida obra, era necessrio
superar ou pelo menos diminuir os problemas econmicos, uma vez que era
necessrio um grande volume de recursos para sua realizao, considerando-se a
necessidade de desapropriar terrenos pertencentes a particulares, realizar trabalhos
de aterro, construir muros de arrimo. At os custos do planejamento urbanstico era
necessrio contabilizar, j que as obras necessitavam de um amplo projeto
urbanstico, levando-se em conta as dimenses da rea a ser atingida e o lugar de
sua construo, no centro da cidade.
Sobre a questo do alinhamento das ruas e do aterramento dos igaraps, j
havia legislao prevista nos trs cdigos de postura do perodo analisado: o de
1910187, o de 1920188 e o de 1938189.

187

LEI n. 639, de 13 de setembro de 1910. Promulgado o Cdigo de Posturas do Municpio de


Manos.
188
LEI n. 1.059, de 22 de outubro de 1920. Promulgado o Cdigo de Postura do Municpio de
Manaus. Livraria Clssica de J.J. da Carama, rua Guilherme Moreira, 1 e 3. Canto da rua
Theodoureto Souto, 11. Manos Amazonas, 1920.
189
ATO N 44, de 29 de julho de 1938. Outorgado o novo Cdigo de Postura do Municpio de Manos,
Amazonas Manaus Imprensa Pblica, 1939.

136

Na escadaria da Rua Xavier de Mendona, foi construdo um muro de arrimo


para conter a eroso das terras que se movimentavam, levadas pelas enxurradas no
perodo de inverno e, ameaavam o desmembramento dos alicerces das casas ali
existentes, o que podia ocasionar a destruio de um trecho daquela artria. Como
pode ser observada pela imagem abaixo.
PLANTA 3: Terminal da rua Xavier de Mendona Escadaria e muro de
arrimo e galeria de esgotos

Fonte: RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus,
dirigiu ao Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de
1937 e perodo de 1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP.PHENIX de Sergio Cardoso
Rua J. Sarmento, 78 Manaus,1938. p. 63.

Ademais, aquele trecho urbano primava pela utilidade de proporcionar aos


ribeirinhos o acesso cidade nas pocas de vazante e, nas pocas de enchente,
serviam, com grande alcance econmico-comercial, de ponto de embarque e
desembarque de gneros e mercadorias de primeira necessidade. Assim, a
necessidade de reparos naquele trecho era inadivel para a Prefeitura, dado que era
um ponto importante para a arrecadao de recursos pblicos.
Construo de uma forte muralha de arrimo e escadaria de alvenaria de
pedra e cimento.
Quarenta e sete degraus, em trs planos e quatro lances, compem esta
escadaria construda em moldes arquiteturais perfeitos e de estrutura slida,

137

altura considervel e largura pronunciada, servindo mesmo de ornamento


sugestivo quela via pblica.
Acresce, na srie de utilidades dessa realizao, a de facilitar grandemente
a ligao do bairro dos Tcos ao de So Vicente. Com essa importante obra
a Prefeitura gastou a quantia de 32:606$450.190

Na rea do Mercado Pblico, tambm com o objetivo de melhorar as


condies de acesso e trabalho, foi construda uma galeria de esgotos para evitar
que as guas servidas comprometessem o seu funcionamento.
Na Praa 24 de Outubro, foi reparada a galeria de iluminao, que
representou um gasto de 1:298$500 aos cofres do municpio.
Na Praa General Osrio, foi feito o calamento pedra tosca sobre lastro de
areia com rejuntamento de cimento numa rea correspondente a: 1.424m,22.
Houve tambm a construo de 216m,20 de sarjetas com bordaduras de concreto,
correspondendo a 118m,70 de extenso alm de modificaes de bordaduras
equivalente a 101m,50.
A Praa dos Remdios tambm foi completamente recalada nesse perodo.
No incio da rua Jos Clemente, foi construdo um muro de arrimo em pedra seca,
atendendo a uma justa reclamao dos seus moradores, que h muito tempo
solicitavam providncias para solucionar o grave problema provocado pelas guas
da chuva e das casas das proximidades, para evitar o desmoronamento da rea
foram construdos um muro de arrimo e uma grande caixa de esgoto para conter as
guas pluviais ali existentes.
Na rua Saldanha Marinho, foram realizados trabalhos de terraplenagem,
calamento pedra tosca com aguada de cimento e construo de muro de arrimo.
O trecho beneficiado com esses servios foi o que liga a rua Rui Barbosa avenida
13 de Maio. Alm desses trabalhos foram realizados outros complementares como
pode ser observado no texto citado abaixo.
Tambm servios outros complementares da pavimentao foram
executados com a modificao de 64ml.50 de bordaduras, assentamento de
sargetas de concreto simples numa extenso de 226ml.50 e 159ml.85 de
bordaduras. O muro de arrimo alcanou 65m,171. Em via de concluso,
esse significativo melhoramento dever ser dado a transito pblico dentro
do presente semestre.191

190

RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de 1937 e perodo de
1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP.PHENIX de Srgio Cardoso Rua Joaquim Sarmento,
78 Manaus, 1938. p. 62-64.

138

Por vrios momentos, o relatrio da Diretoria de Obras, da Prefeitura de


Manaus de 1938, demonstra o interesse da administrao na conservao e
manuteno das estradas de rodagem, que ligavam o centro da cidade s reas
perifricas, onde era produzida grande parte do que se consumia na cidade. Uma
dessas reas era a estrada Miri, que ligava a estrada do Mind estrada do Aleixo,
(...) Seguramente h dez anos, existiu, ligando a estrada do Mind do
Aleixo, um ramal rodovirio que, abandonado completamente, veio a tornarse intransitvel, a utilidade dessa ligao rural em face do encurtamento da
distncia que proporciona, facilitando aos moradores do Aleixo mais rpido
acesso s suas habitaes, e mesmo porque esse ramal oportuniza,
tambm, com suas margens pitorescas, um interessante detalhe da
paisagem natural, deferimos a sugesto da Diretoria de Obras em executar
a sua completa reconstruo, que constou de derrubadas, destocamentos,
terraplenagens e construo de dois pontilhes com encontro de alvenaria e
estrados de madeira de lei, tomando essa rodoviria a denominao de
Estrada-Miri, em virtude de sua pequena quilometragem. A Prefeitura
despendeu, com essas obras, a quantia de Rs 11:646$200.192

O saneamento de Igaraps da cidade de Manaus pela administrao pblica


no era uma preocupao recente. Desde o final do sculo XIX e incio do XX, essa
discusso se fazia presente. Com objetivo de construir uma cidade civilizada aos
moldes europeus, tornava-se necessrio aterrar os chamados pntanos, que, na
realidade, eram igaraps que estavam sendo mortos para dar vida a uma cidade
sem veios de gua. No final da dcada de 1930, isso no era diferente. A declarao
de morte aos igaraps continuava na ordem do dia, como se pode depreender pelo
texto abaixo.
O governo municipal mantm uma turma efetiva de operrios de
saneamento, em contribuio eficiente saneamento, em contribuio
eficiente Sade Pblica, no tocante s suas realizaes de sanitarismo
urbano, suburbano e rural. Constam esses servios de drenagem dos
igaraps, desobstruo de pntanos, aberturas de valas para escoamento
de guas estagnadas a roagem de vegetaes prejudiciais. De grande
valor de higienizao da cidade, essa dedicada turma de operrios, cujos
servios tem produzido resultados sobejamente satisfatrios, h tornado
saneadas vrias regies insalubres. Com a sua manuteno a Prefeitura
gastou, durante o ano de 1937, a importncia de 16:068$000.193
191

RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de 1937 e perodo de
1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP.PHENIX de Srgio Cardoso Rua Joaquim Sarmento,
78 Manaus, 1938. p. 73-75.
192
RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de 1937 e perodo de
1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP.PHENIX de Srgio Cardoso Rua J. Sarmento, 78
Manaus, 1938. p.69-71.
193
RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de 1937 e perodo de

139

Os trabalhos de terraplenagem das ruas de Manaus tambm estavam


antenados com os objetivos de modernizar e civilizar a cidade, por isso, assim que
surgia a possibilidade de realizar tais trabalhos, a Diretoria de Obras da Prefeitura os
realizava, como se pode depreender do relato feito pelo interventor federal do
Amazonas, lvaro Botelho Maia, sobre as obras realizadas na cidade no ano de
1938.
Terraplenagem: Foram exercidos, com eficincia, servios apreciveis de
terraplenagem nas seguintes artrias de viao pblica: Ruas Paraba,
Ramos Ferreira, Emilio Moreira, Saldanha Marinho, Major Gabriel, Antonio
Bittencourt, Jos Paranagu, Belm, Avenida Airo, Joo Coelho, 7 de
Setembro, Vaps, Japur, 13 de Maio e Visconde de Porto Alegre: Bulevr
Amazonas, Vila Municipal e Estrada da Chapada, havendo a Municipalidade
gasto, com todos estes servios, a quantia de 22:441$200.194

Outro problema vivenciado pela cidade de Manaus era a conservao das


ruas onde passavam os trilhos dos bondes chamados de entre-linhas. A Prefeitura
acusava a empresa prestadora do servio de no estar cumprindo o acordo firmado,
pelo qual a referida empresa deveria manter os trilhos e os dormentes em perfeitas
condies de trfego, o que no acontecia, o que provocava vrios danos s ruas da
cidade, devido trepidao dos bondes com os trilhos e dormentes de pssima
conservao. Como se percebe na descrio abaixo:
Conservao de entre-linhas: A Municipalidade tem incluso, na srie de
seus mltiplos problemas, um de carter especialssimo, prejudicial muita
vez a servios de inadiabilidade patente, o qual concerne conservao
das entre-linhas dos trilhos por onde transitam os bondes da empresa
Manaus Tramways. que, enquanto o Municpio despende importncias
vultosas no servio de pavimentao das ruas, aquela companhia inglesa,
descurando e desestimando esta preocupao municipal, mantem trilhos e
dormentes imprestveis, ocasionando com o trepidar dos eltricos na
ferragem desnivelada, o deslocamento das pedras que formam o leito das
entre-linha, dando em resultado o aparecimento de sulcos e deprees. E
isto d origem a reclamaes da populao, obrigando a Municpio a
realizar trs ou quatro concertos anuais, quando bastaria um, se no fora o
defeito apontado.195
1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP.PHENIX de Srgio Cardoso Rua J. Sarmento, 78
Manaus,1938.p. 71-72.
194
RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de 1937 e perodo de
1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP.PHENIX de Srgio Cardoso Rua J. Sarmento, 78
Manaus,1938. p. 72.
195
RELATRIO que o agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito Municipal de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro Botelho Maia. Exerccio de 1937 e perodo de
1. de Janeiro a 28 de Fevereiro de 1938. TYP. PHENIX de Srgio Cardoso Rua J. Sarmento, 78,
Manaus,1938. p. 72-73.

140

Na metade da dcada de 40 do sculo passado, alm dos trabalhos de


manuteno, adaptao e concluso de obras, a abertura e nivelamento da avenida
Getlio Vargas estava em plena atividade. A abertura dessa avenida tambm gerou
muitos debates, pois a oposio argumentava que, devido escassez de recursos
financeiros, o Poder Pblico deveria se preocupar com questes mais urgentes em
outros setores da administrao, e no despender grandes recursos em uma obra
que traria pouco retorno para a maioria da populao.
No final dos anos 40, entre 1948 e 1949, foram realizadas obras de
recuperao em vrios fatos urbanos pblicos, dentre eles, podemos destacar: o
forno de incinerao de resduos slidos, o Mercado Municipal, o Matadouro
Municipal, a ponte da estrada de So Raimundo. Entre as obras urbansticas,
podemos destacar o calamento da avenida Joaquim Nabuco e das estradas que
rodeavam a cidade, facilitando o trfego.196No ano de 1949, apesar da crise
econmica, foram realizadas vrias obras de recuperao das vias pblicas da
cidade, isso foi possvel devido intensificao da arrecadao do imposto de
rodagem, criado pela Lei n. 42, de 21 de julho de 1949. Essa medida possibilitou o
calamento da avenida Floriano Peixoto, de parte do trecho compreendido entre a
praa Taumaturgo de Azevedo rua Quintino Bocayuva, at o limite da rua Jos
Paranagu e o recalamento da avenida Joaquim Nabuco, no seu lado direito, a
partir do seu cruzamento com a avenida Sete de Setembro.197
Nossas pesquisas indicam que toda essa preocupao para manter o ar de
embelezamento e modernidade da cidade de Manaus estava ligada aos interesses
da elite local em reafirmar seu status quo e utilizar a cidade como a vitrine na qual
ela se apresentava.

196

MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa em sua sesso ordinria de


Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves. Imprensa Oficial. Manaus
1948. p.31-33.
197
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa, em sua sesso ordinria de
Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves. Imprensa Oficial. Manaus
1949. p. 35-36.

1948, pelo
Amazonas.
1949, pelo
Amazonas.

141

2.6 Saneamento e limpeza pblica


2.6.1 Saneamento e esgotos
De acordo com Mesquita198, as questes envolvendo a higiene e o
saneamento dos espaos urbanos passaram a nortear as polticas pblicas desde o
final do sculo XIX na Europa. Na primeira dcada do sculo XX, as questes de
saneamento e esgotos na cidade de Manaus eram alvos de constantes
reclamaes. Os pntanos existentes na cidade e o alagamento das ruas, em
perodos de chuvas, por falta de esgotos adequados para a evacuao das guas
pluviais, prejudicavam significativamente sua higiene.
O lento processo de realizao desses servios no significava que o Poder
Pblico no tivesse conhecimento da gravidade do problema de insalubridade da
cidade. Na realidade, faltavam recursos para realizao de tais empreendimentos,
como se pode concluir a partir do relato do Superintendente Jorge de Moraes, na
mensagem de 26 de maio de 1913, na qual afirma conhecer perfeitamente as
necessidades que fazem sentir na,
nossa urbs, mas tambm no ignoramos que os melhoramentos de que ella
necessita custam muitssimo dinheiro, e a municipalidade de Manos, com
os seus recurso actuaes no poder fazer face a to grandes dispndios.
S lanando mo de recursos extraordinrios obtidos com os cuidados que
tive a honra de vos torna conhecidos em mensagens passadas, poderamos
extinguir os pntanos que prejudicam Manos, bem assim realizar todos os
emprehendimentos de que a capital do Estado Carece.199

O superintende de Manaus, Jorge de Moraes, deixou a questo da falta de


recursos bem clara ao apresentar os trabalhos realizados na rua 13 de maio,
momento em que discutiu a proposta feita pela empresa Manos Harbor, para
realizar o servio na avenida Floriano Peixoto, afirmando, na ocasio, que os altos
custos desses servios prejudicavam sua execuo, como pode ser verificado no
fragmento abaixo:
Pelo aterro da parte da avenida Floriano Peixoto, entre o quartel da Fora
Pblica e a rua dos Andradas, melhoramento que tentei levar a effeito, vista
de constantes reclamaes, a Manos Harbour, que se encontra aparelhada
para semelhantes servios, pois possue em activo funccionamento, trolys,
MESQUITA, Otoni Moreira de. La Belle Vitrine: O mito do progresso na refundao da cidade de
Manaus (1890/1900). Tese de Doutorado em Histria Contempornea pela Universidade Federal
Fluminense. Niteri, 2005. p.48-56.
199
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos pelo Superintendente do Municpio,
Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913. Manos, 1913. p.50-56.
198

142

trilhos, machinas excavadores, etc., consultada a respeito, pediu, segundo o


nvel que se pretendesse: 200:000$000, 400:000$000 e 600:000$000!
Isso s para aterrar; se cogitssemos de calar o mesmo trecho a
parallelipipedos ou pedra tosca, o preo subiria a mais de 1.500:000$000!!
A avenida 13 de Maio, situada no centro da capital, provocando a boa
vontade de todos aquelles que se interessam pelo saneamento de Manos e
que foi particularmente visado pela comisso nomeada pelo Sr. Dr.
Constantino Nery, ahi est para provar com a subida eloqncia o que
affirmamos. Esse ultimo trabalho imprescindvel ao bom estado sanitrio de
nossa capital, onde est do termino de simples aterro, e afra o servio
executado pelo Estado j existe trabalho feito por conta deste Municpio no
valor de 275:915$868! Se esse emprehendimento for levado a completa
realisao, isto , se o solo for revestido de calamento o seu custo attingir a
somma por demais elevada..200

Os argumentos apresentados pelo Poder Pblico sobre as questes de


saneamento da cidade de Manaus evidenciavam o modelo de cidade que a elite
amazonense estava construindo, uma cidade embasada no modelo moderno,
apresentado por Benevolo, na qual o Estado atua ativamente nas realizaes e
fiscalizaes de obras nela realizadas. Outro aspecto importante a ser destacado a
preocupao com o bem estar da vida, pois os olhares no estavam voltados
apenas para grandes construes arquitetnicas, mas para obras que pudessem
promover uma vida melhor na cidade, como era a questo do saneamento bsico,
esgotos e gua potvel: interesses perfeitamente perceptveis nas afirmaes do
superintendente de Manaus, Jorge de Moraes, em 11 de fevereiro de 1913.
Despenderam-se milhares e milhares de contos de ris sem que a nossa
capital se saneasse, desembaraada dos pantanos que ainda ahi esto;
sem gua em boas condies, ostentando bello Teatro, imponente Palacio
da Justia, bonds eltricos, etc., conservando as fossas fixas para descarga
de que h muito devia correr numa rede racional e completa de exgotto!!201

Foram realizadas tambm, no ano de 1913, obras de infra-estrutura visando


melhorar o aspecto de salubridade da cidade. Vrias bocas de lobo foram colocadas
para facilitar o escoamento das guas pluviais, evitando seu acmulo que provocava
mau cheiro, sendo tambm um grande foco de doenas, e, para exemplificar o
esforo que estava sendo feito, o superintendente do municpio, Jorge de Moraes,
em 5 de setembro de 1913, apresentou as obras de saneamento realizadas na
cidade.

200

MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente do Municpio,


Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913. Manos, 1913. p.51.
201
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente do Municpio,
Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913. Manos, 1913. p.51.

143

Fiz ainda collocar trs novas boccas de lobo, tendo duas o encanamento de
alvenaria de pedra com argamassa 1X3, na extenso de 58,m00,
continuando com tubos de grs de 10, na extenso de 21,m00.
Foram ainda construdos 5 boccas de lobo debaixo dos passeios;
levantados 2 muros de arrimo, um na extenso de 50,m00 e outro na
24,m00, afim de poder sustentar o calamento em questo.
Como falei na minha ultima MENSAGEM conseguir, vencendo grandes
difficuldades, tornar um ponto de accesso aos pequenos lavradores a rampa
chamada dos Remdios.
Foram ainda collocadas 4 boccas de lobo, com escoamento de tubos de 8,
numa extenso de 12,m60 e de alvenaria de pedra com argamassa de 1x3.
Nos trabalhos de alargamento, calamento e recalamento do segundo
trecho da rua Ramalho Junior, outra viella agora transformada numa bella
artria da cidade, foi necessrio construir um muro de alvenaria de pedra
com argamassa 1x3 na extenso de 79,m00, afim de servir de arrimo ao
aterro feito, que de 355,m075 metros cbicos..202

Nos anos 20 do sculo passado, foi necessrio realizar um grande


investimento na recuperao da rede de esgotos da cidade, pois ela estava bastante
deteriorada devido obstruo dos encanamentos por detritos produzidos pela
cidade ao longo do tempo. As galerias eram destrudas por no serem apropriadas
ao volume de gua e detritos orgnicos. Os consertos na rede de esgotos iniciaram
pelas ruas: Lobo dAlmada, Demetrio Ribeiro, Bars, Miranda Leo, Marclio Dias
Guilherme Moreira, Frei Jos dos Innocentes, Monsenhor Coutinho, Xavier de
Mendona, Bittencourt e Marechal Deodoro; na Avenida Eduardo Ribeiro, Praa 15
de Novembro, Tamandar, Desembargador Rego Monteiro e 5 de Setembro, foram
desobstrudos e consertados 429 metros de tubulao de esgoto.203
Na dcada de 1930, as questes de saneamento continuavam problemticas
e exigiam uma soluo imediata. Em 1937, havia uma constante reivindicao do
prolongamento da construo da rede de esgoto no espao em frete alfndega
sob o Roadway204. O principal objetivo com esse prolongamento era evitar que as
guas servidas e os detritos fecais, produzidos pelos habitantes daquela rea,
ficassem alojados na frente da alfndega, em pleno centro da cidade.
No final da dcada de 1940, os problemas com o saneamento da cidade
continuavam evidentes e em 1948, com o objetivo de diminu-los, a prefeitura
202

MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo superintendente do Municpio,


Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 5 de setembro de 1913. Manaus. Seco de Obras do
Comercio do Amazonas. 12, rua Joaquim Sarmento, 1913.p. 21.
203
MENSAGEM lida perante o Conselho Municipal pelo Superintendente, Sr. Dr. Edgard de Rezende
do Rego Monteiro, por occasio da abertura da sesso ordinria daquelle corpo legislativo, em 1 de
abril de 1924. Manos. p. 77-78.
204
MENSAGEM apresentada pelo Prefeito de Manos, Agrnomo Antonio Botelho Maia Cmara
Municipal, na sua sesso de 15 de abril de 1937. Typographia PHENIX de Srgio Cardoso. Rua
Joaquim Sarmento, n. 78. Manos, p.10-12.

144

construiu 28 metros de esgotos, com tubos grs, de 21 polegadas na Praa 24 de


Outubro e na rua Ferreira Pena, tambm foram construdos 100 metros de esgoto
com tubos de grs de 9 polegadas, para dar vazo s guas pluviais daquela
regio205.
Na dcada de quarenta, as polticas pblicas estaduais e municipais estavam
voltadas para obras de infra-estrutura como a canalizao dos esgotos da cidade,
que sofreram inmeros reparos.206

205

MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa, em sua sesso ordinria de 1948, pelo


Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves. Imprensa Oficial. Manaus Amazonas,
1948. p. 33.
206
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa, em sua sesso ordinria de 1950, pelo
Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves. Diretoria da Imprensa Oficial. Manaus
1950.p.33.

145

2.7 Limpeza pblica


As polticas pblicas implementadas pelo Estado demonstram muito bem que
a concepo de embelezamento da cidade do perodo de prosperidade econmica
continuou presente nas aes do governo do perodo de crise. Essa concepo
pode ser percebida em vrias aes do Estado; mas, destacaremos o debate
estabelecido sobre onde seria o local mais adequado para instalao do forno de
incinerao de resduos slidos da cidade, de tal forma que no prejudicasse o bemestar dos moradores das proximidades. Essa polmica sobre a incinerao dos
resduos slidos ou a liberao dele nas guas do Rio Negro, j fazia parte das
discusses do Poder Pblico desde o final do sculo XIX e o incio do sculo XX.
A preocupao com o controle do lixo produzido pela cidade no era apenas
um problema de ordem local, era, na verdade, uma orientao geral para as cidades
que desejavam estar entre as sociedades ditas civilizadas. Nesse sentido, os
trabalhos realizados na cidade estavam de acordo com o que vinha ocorrendo no
restante do mundo, no que se refere higiene pblica. o que se depreende do
relato apresentado pelo Superintendente de Manaus, na mensagem ao Conselho
Municipal de 11 de fevereiro de 1913.
(...) Nas cidades civilizadas e que possuem o processo de incinerao do
lixo, os estabelecimentos destinados a esse fim nem sempre so collocados
na peripheria de todas ellas. Ns o fizemos com o escrpulo que o caso
merecia desde que inicivamos o servio entre ns.
Collocamos o forno j encomendado e presenteado pelo Estado no limite
occidental de Manos, de conformidade com a orientao dos ventos
dominantes. absolutamente impossvel asseverar que o forno Horsfall de
Manos esta collocado no seu centro.
Para exemplificar, lembramos que em Londres existe uma das usinas de
incinerao perto do hotel Cecil, isto num dos mais lindos e elegantes
quarteires da mesma cidade; em Mnaco, quase embaixo das janellas do
palcio do prncipe, existe outra, e os prejuzos para a hygiene foram de tal
ordem, que em sua proximidade foi construdo o hotel Dieu. Accresce ainda
a notificao de um beneficio trazido pela collocao do forno.207

Apesar de toda a argumentao, justificando que o local onde havia sido


montado o forno Horsfall de incinerao do resduos slidos coletado era adequado,
no foi o suficiente para convencer todos os moradores da cidade de Manaus, pois o
senhor Simplcio Coelho Rezende considerava sua colocao inadequada porque a
enorme fumaa produzida pelo forno prejudicava significativamente a sade dos
207

MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente do Municpio,


Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913. Manos, 1913. p. 47-50.

146

moradores das proximidades, por isso, entrou com uma ao judicial contra a
colocao do forno na regio do centro da cidade.
O prdio construdo para abrigar o forno localizava-se no bairro de So Jos,
no lado sul da rua Ramos Ferreira, e tinha sido autorizado pela Lei n 614, de 26 de
agosto de 1910 e inaugurado em 1911208. Diante da citao judicial, o Municpio
chegou a ventilar que, caso perdesse a ao na justia, seria obrigado a encontrar
um novo local para colocar o referido material. Mas, alertava que o novo local tinha
que atender s necessidades da coleta do lixo, pois, para percorrerem os subrbios
para colet-lo, os veculos utilizados e as pssimas condies das vias desses locais
no permitiam mais de uma vigem por dia, prejudicando a higiene da cidade, porque
no seria possvel coletar todo o lixo de uma s vez.
Durante as dcadas de 1920209 e 1930210, as questes de saneamento e
limpeza pblica foram apresentadas como um dos grandes problemas a serem
solucionados pelo Poder Pblico, questo que j se arrastava aproximadamente a
meio sculo. O maior problema, portanto, encontrava-se na limpeza pblica e na
coleta de resduos slidos dos bairros.
No final dos anos 40 do sculo passado, precisamente em 1948, o Poder
Pblico destacou que o servio de limpeza da cidade, na sua parte urbana, estava
sendo realizado sob contrato por concorrncia pblica, e a limpeza dos bairros
estava sendo feita administrativamente e atendendo apenas aos bairros de S.
Raimundo, Constantinpolis, Adrianpolis, Cachoeirinha, Boulevard Amazonas e
Portugal211.
Isso significa que a maioria dos bairros suburbanos no tinha coleta de
resduos slidos regular, apenas em momentos espordicos.
2.8 Obras de embelezamento: paisagismo, praas e jardins
208

RELATRIO da Comisso Organizadora do Tombo dos Prprios Municipais. p. 16. In:


RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1 de outubro de 1922
pelo Superintendente Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typographia do C e L Manos, 1922.
209
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa do Estado em sua reunio extraordinria de
15 de dezembro de 1925. Imprensa Pblica. Manos, 1925. (Alfredo S Interventor Federal no
Amazonas). p. 70-72
210
RELATRIO apresentado ao Ex. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica, pelo Interventor
Federal no Amazonas, capito Nelson de Melo. 1935. Imprensa Pblica. Manos Amazonas. p.
35-39.
211
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa em sua sesso ordinria de 1948, pelo
Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves. Imprensa Oficial. Manaus Amazonas,
1948.

147

Os esforos para embelezar a cidade por meio da erradicao dos pntanos


e dos desnivelamentos do arruamento da cidade foram seguidos pela proposta de
alterao do estilo paisagstico da cidade. Em 1913, o projeto de modificao da
arborizao paisagstica, que tinha sido iniciado ainda no final do sculo XIX,
continuava. Este projeto consistia na substituio das rvores frutferas por fcus
Benjamim, pela Tilia e pelo Eucalyptus, nas principais ruas e praas. As rvores
frutferas - malvacias, amendoeiras - utilizadas para arborizao da cidade, foram
consideradas inadequadas, por causa da grande queda de folha e flores que
entupiam os esgotos da cidade. As mangueiras, apesar das frondosas folhagens
que propiciavam sombra para os transeuntes, tambm se apresentavam como
inadequadas devido extenso de suas razes que destruam os passeios e muros
da cidade e, alm disso, no perodo em que os frutos estavam maduros, a crianada
e os desocupados se aproveitavam para jogar pedras e outros objetos nas rvores,
na inteno de retirar-lhes os frutos, provocando grandes reclamaes dos
moradores das proximidades.
Com essa argumentao, o Poder Pblico iniciou o processo de substituio
daquelas rvores por outras consideradas mais adequadas para o paisagismo e o
bem-estar da cidade. Na Mensagem apresentada ao Conselho Municipal de
Manaus, pelo superintendente do Municpio, Jorge de Moraes, em 5 de setembro de
1913, foi dado bastante nfase a esse problema.
Verificando que as malvacias e as amendoeiras e outras arvores s serviam
para juncar o solo de folhas seccas, dificultando assim o servio da limpeza
das ruas, resolvi substituil-as, trabalho que vae proseguindo com toda a
regularidade.
Nestes ltimos mezes foram supprimidas nas ruas e substitudas por fcus
Benjamin, 195 arvores, sendo 55 avenida Eduardo Ribeiro, 25 praa
General Osrio, 48 praa dos Remdios, 14 rua Lobo dAlmada, 42 no
jardim da Matriz, 4 avenida Joaquim Nabuco e 7 rua Municipal.212

Toda essa preocupao com o embelezamento e saneamento da cidade de


Manaus, que estava em evidncia em 1913, pode ser vinculada s crticas feitas por
Belevolo213 e Mumford,214 ao modelo de cidade industrial. Nessas crticas
212

MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo superintendente do Municpio,


Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 5 de setembro de 1913. Manaus. Seco de Obras do
Comrcio do Amazonas. 12, rua Joaquim Sarmento, 1913. p. 13.
213
BENEVOLO, Leonardo. Histria da cidade. Trad. Silvia Mazza. So Paulo: Perspectiva, 2007.
214
MUMFORD, Lewis. A Cidade na Histria: suas origens, transformaes e perspectivas. Traduo
de Neil R. da Silva. 4. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1998.

148

apontavam-se os problemas apresentados por esse modelo vivenciado por vrias


cidades europias, no final do sculo XIX e incio do XX. Isso incentivou uma nova
forma de pensar o mundo e suas relaes, principalmente nas questes
urbansticas. E, como resultado dessa nova interpretao de cidade, surgiu a Paris
de Haussmann, que influenciou a reformulao das cidades pelo mundo. Em
Manaus, no foi diferente, como bem demonstraram as atitudes de seus
governantes - fortemente comprometidos com o ideal de embelezamento e
saneamento da cidade. Compromisso evidenciado por estudos realizados pelo
professor Otoni Mesquita, quando afirma que o plano de embelezamento da cidade
de Manaus, implementado por Eduardo Ribeiro, no estava voltado apenas para o
centro histrico tradicional, mas para toda a cidade e tambm no apenas para
questes estticas, mas para questes de saneamento e higiene.
O Plano de Embelezamento da Cidade de Manaus implantado por Eduardo
Ribeiro a oficializao de uma poltica pblica voltada para o
embelezamento da imagem da cidade. As aes do projeto no estavam
limitadas ao centro histrico tradicional, nem se restringia construo de
palcios e praas, se expandia pelos arrabaldes da cidade e inclua obras
de infra-estrutura. Alm desses aspectos, o embelezamento da cidade
mantinha-se integrado poltica de saneamento e de imigrao. Buscava-se
promover a ordenao e a segurana dos espaos pblicos como
propaganda para atrair a mo-de-obra e garantir a qualidade de vida da
populao.215

Nos anos 20 do sculo passado, a preocupao com o embelezamento dos


espaos pblicos da cidade continuava bem evidente no cuidado com as praas e
jardins. No que se refere arborizao das vias pblicas, a substituio das rvores
frutferas pelo fcus Benjamin continuava. Mas, com moderao, pois ela exigia um
alto custo de manuteno, pois para manter sua aparncia de rvore desenhada
pelas mos humanas, era preciso podas regulares. Nesse perodo, devido s
crticas em torno do fcus Benjamin para arborizao da cidade, intensificaram-se os
debates sobre a proposta de arborizar a cidade com rvores nativas da regio como
uity da mata, que de acordo com a administrao pblica216, havia apresentado um
resultado muito bom, pois possui uma elegante copa e uma ramificao farta, e o

215

MESQUITA, Otoni Moreira de. La Belle Vitrine O mito do progresso: na refundao da cidade de
Manaus, (1890-1900). Tese de doutorado. Rio de Janeiro Niteri, 2005. p. 210.
216
MENSAGEM apresentada Intendncia Municipal de Manos, pelo Dr. Jos Francisco de Araujo
Lima, Superintendente Municipal, em 1 de outubro de 1924. Amazonas Manos, Seco de Obras
da Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal 97. 1924.p. 32-33.

149

mais interessante, no necessitava de poda. Isso parece um indicativo de outro


olhar sobre as questes regionais.
Na dcada de 30 do sculo XX, no que se refere arborizao da cidade, foi
realizada a limpeza das ruas, com a derrubada de rvores que se julgava estarem
atrapalhando o trfego e tornando feias as ruas, alm disso, foram confeccionadas
64 grades, para proteger as rvores que compunham os jardim e praas da cidade.
Outra iniciativa interessante que visava embelezar o centro da cidade foi a
construo de um parque zoolgico municipal, com o objetivo de criar um espao no
qual os visitantes pudessem conhecer melhor a fauna e a flora amaznica, e
tambm para proporcionar aos estudantes das escolas municipais e estaduais, um
espao para pesquisa e contanto com a natureza amaznica.217
Mas, para compor esse complexo cenrio de embelezamento da cidade,
mesmo no perodo de crise, as praas e jardins continuavam sendo recuperados e
aprimorados. Como se pode inferir da afirmao do governador do estado, Leopoldo
Amorim da Silva Neves, em 1948: os jardins da cidade vm sendo cuidados, com a
superviso desta administrao, dentro dos recursos disponveis218

217

MENSAGEM apresentada pelo Prefeito de Manos, Agrnomo Antonio Botelho Maia Cmara
Municipal na sua sesso de 15 de abril de 1937. Typographia PHENIX de Srgio Cardoso. Rua
Joaquim Sarmento N.78. Manos, p. 5-10.
218
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa, em sua sesso ordinria de 1948, pelo
Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves. Imprensa Oficial. Manaus Amazonas,
1948. p. 32.

150

CAPTULO III- A CIDADE COMO ARTEFATO HUMANO

O mtodo histrico parece ser aquele


capaz de nos oferecer a verificao mais segura
de qualquer hiptese sobre a cidade; a cidade
por si mesma depositria de histria.
ROSSI, Aldo219

3.1 O contexto das construes dos fatos urbanos


Quando iniciamos esse trabalho, tudo estava nebuloso, contudo o que de
incio nos parecia complexo foi se tornando cada vez mais ntido medida que
passamos a construir as questes norteadoras de nossas inquietaes. Essas
questes nos levaram a observar as obras arquitetnicas e urbansticas existentes
na cidade, no somente como meras construes separadas do contexto social,
mas como artefatos culturais e como textos histricos, capazes de revelar os
contextos que as produziram, pois tais artefatos esto impregnados das marcas de
seus construtores.
Apesar de ser, por definio, o que concerne construo, passamos a ver a
arquitetura e o urbanismo como algo construdo culturalmente, pois com tcnica de
construo que se organiza em seu ser e em seu devir a entidade cultural, social e
poltica que a cidade. Portanto, a arquitetura e o urbanismo lhe do forma e so,
por excelncia, a representao das contradies e conflitos de interesses no
processo de construo da cidade. Como afirma Argan:
Na cidade, todos os edifcios, sem excluso de nenhum, so representativos
e, com freqncia, representam as malformaes, as contradies, as
219

ROSSI, Aldo. A Arquitetura da Cidade. Trad. De Eduardo Brando. So Paulo: Martins Fontes,
1995. p. 193.

151

vergonhas da comunidade. o caso das montanhas de refugos


arquitetnicos que a especulao descontrolada acumulou nas cidades e a
cujo respeito se diz com demasiada freqncia que no so arquitetura
mas so, e so arquiteturas representativas de uma infeliz realidade social e
poltica.220

Nessa perspectiva, a cidade de Manaus que estava sendo construda em


meio Selva Amaznica, no incio de 1910, estava marcada pelo crescimento
econmico e por profundas mudanas polticas, ocorridas com o advento da
repblica. Ela, como artefato histrico, na medida do permitido por sua dinmica
interna, passou por grandes transformaes no seu espao urbano, condio
necessria para adequar construo e construtores ao instante vivido, como se pode
observar pelo discurso do superintendente Agnello Bittencourt, em 1910.
A nossa bella capital, que o grande centro da vida do Estado, passa
actualmente por immensos melhoramentos; duplicao de suas linhas de
bonds, substituio do material de luz, montagem de uma importantssima
usina para produo de energia elctrica, estabelecimento de novos
servios de canalisao dagua, lanamento da rede esgoto, calamento de
ruas, grande nmero de edificaes particulares, etc., vem caracterizar esta
poca de inigualvel prosperidade.
No , porm, somente sob este aspecto que o Municpio se engrandece;
acabou h pouco de alcanar uma victoria moral de merecida justia: a
restaurao de sua autonomia de que foi privado por uma Constituio que,
neste particular, estava fora dos moldes federativos.221

A cidade de Manaus fervilhava. Alm das obras de ampliao das linhas de


bondes; distribuio de gua; a montagem de uma usina de produo de luz eltrica;
o incio da construo de uma rede de esgoto, a inaugurao da rede de telgrafo
sem fio (radiotelegrfico) entre Manaus e Porto Velho, no rio Madeira, escolas eram
inauguradas e eventos importantes eram realizados no municpio. Representantes
do Estado participavam de eventos e exposies na Europa, como o corrido em
Paris, convite da Societ de La Croix Blanche de Geneve, para o encontro que
discutiria a qualidade dos alimentos em conserva. Outro evento do qual o Estado
participou nesse perodo foi a exposio de Bruxelas, ocasio na qual os produtos
cultivados, coletados e fabricados no estado do Amazonas tiveram amplo espao de
exposio. A sua apresentao foi to expressiva que os elogios referentes
qualidade, o primor da organizao e os mtodos utilizados para apresentar os
220

ARGAN, Giulio Carlo. Histria da arte como Histria da cidade. Trad. Pier Luigi Cabra. 4. ed.
So Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 243.
221
RELATRIO apresentado ao Conselho Municipal em sesso de 15 de Maio de 1910, pelo
Superintendente Agnello Bittencourt. Manos Amazonas Seco de obras da Imprensa Official 97 Rua Municipal 97,. 1910. p. 3-6.

152

produtos da regio vieram de diversas partes do mundo. O governo Federal tambm


apresentou seus prstimos ao desempenho da comitiva amazonense nesse evento
internacional, por sua brilhante atuao.222
O sucesso do estado do Amazonas nesses eventos internacionais reforava
as convices de suas autoridades quanto aos rumos do desenvolvimento urbano
da capital do Amazonas. Talvez por isso a construo do prdio para instalao do
forno crematrio de resduos slidos foi uma das primeiras a ser iniciada,
expressando os ares de modernidade que Manaus estava respirando naquele
momento.

muito

tempo

se

criticavam

os

mtodos

utilizados

pela

Superintendncia para armazenar os resduos slidos que eram recolhidos na


cidade. Para os olhares de hoje e da poca, era um absurdo, pois ainda se jogava
no rio Negro todos os resduos slidos recolhido na cidade porque no se tinha um
local nem uma maneira mais adequada para o destino desses resduos slidos223.
O problema gerado pelos resduos slidos produzido pelas cidades, apesar
de ser uma questo bastante atual, j estava presente desde o incio do sculo XX,
e de forma bastante evidente. Manaus, inspirada pelos modelos de cidades
europias, nas quais j ocorria a transformao dos resduos slidos em riqueza, por
meio do uso de equipamentos adequados, comprou um forno crematrio para
incinerao dos resduos slidos da cidade. o que nos informa o relato do
superintendente Agnello Bittencourt, ao Conselho Municipal em 1910.
No ignoro que nas capitais adiantadas, como Paris, por exemplo, os
detrictos inservveis, qualquer que seja a sua qualidade, constituem sempre
uma fonte de riqueza; apparelhos de moderno invento secam e trituram o
lixo para amanhinhar os campos de cultura. Os fornos de cremao, que
para ns seriam no momento actual de grandes benefcios, vo por ali
cedendo lugar aos referidos apparelhos e estufas. As dificuldades
financeiras do Municpio embargam-me qualquer resoluo momentnea.
224

Os administradores pblicos desse perodo sabiam que era extremamente


urgente solucionar o problema da incinerao ou do armazenamento dos resduos
222

MENSAGEM lida perante Congresso do Amazonas na abertura da Primeira Sesso ordinria da


stima legislatura, pelo Exmo. Coronel Antonio Clemente Ribeiro Bittencourt, Governador do Estado.
Em 10 de julho de 1910. Manos, Seco de Obras da Imprensa Official. 97 Rua Municipal -97,.
1910. p. 6-14.
223
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos pelo Superintendente do Municpio,
Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913. Manos, 1913.p. 47-50.
224
RELATRIO apresentado ao Conselho Municipal em sesso de 15 de fevereiro de 1910, pelo
Superintendente Agnello Bittencourt. Manos Amazonas Seco de obras da Imprensa Official 97 Rua Municipal 97, 1910. p. 18-19.

153

slidos produzido pela cidade, caso contrrio, isso provocaria graves problemas s
futuras geraes. O crescimento da populao da cidade entre os anos de 1890 a
1910 foi muito expressivo225, devido vinda de pessoas do Brasil e do mundo para
se instalarem na cidade de Manaus. Se esse crescimento populacional continuasse
nesse ritmo e o problema do lixo no fosse solucionado, isso comprometeria
significativamente a qualidade da gua do rio Negro.
Objetivando atender a essas novas exigncias higinicas impostas pela nova
viso de cidade europia, a Superintendncia de Manaus, em 31 de Maro de 1911,
iniciou a construo de um galpo para montar o forno crematrio da cidade,
localizado no bairro de S. Jos, ao lado sul da Rua Ramos Ferreira, em terreno
prprio, doado pelo Estado para esse fim, ocupando uma rea de 223m,12,
autorizado pela lei n. 614, de 26 de Agosto de 1910226.
FOTO 13: Forno Crematrio

FONTE: Acervo Fotogrfico do Centro Cultural dos Povos da Amaznia - CCPA

Aps a implantao do forno crematrio, assegurado um destino mais


adequado para os resduos slidos da cidade, o poder pblico passou a legislar
sobre o tema. O Cdigo de Postura de 1920, no artigo 38 e o Cdigo de Postura de
225

OLIVEIRA, Jos Aldemir. Manaus de 1920-1967: A cidade doce e dura em excesso. Valer, Cultura
e EDUA, 2003. p. 116.
226
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1. de Outubro de
1922, pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typ do C E L. Manos,1922. p. X.

154

1938, no artigo 355 proibiam o despejo de qualquer tipo de resduos slidos nas
ruas, terrenos incultos ou cultivados, nas pontes, cais e rampas ou em qualquer rio,
lago, furo ou igarap que banhasse a cidade. A prtica desses atos incorreria em
multa.
A partir de 12 de abril de 1912, o prdio construdo pelo municpio para
instalao do forno crematrio ficou sob a guarda, conservao e custeio do
contratante do servio da limpeza pblica, durante a vigncia do respectivo contrato.
Com o fim do contrato, em 26 de fevereiro de 1921227, o referido prdio retornou aos
cuidados do municpio. Aps a retomada pelo municpio, foram reconstrudos dois
teros dos galpes, a troca do telhado, a reconstruo das fornalhas e os consertos
nas mquinas, como se pode depreender pelo texto abaixo.
Reforma do forno crematrio do lixo, pela restaurao de suas fornalhas,
substituio do telhado de zinco por telhas de typo Marselha, construco
de sentinas e banheiros para uso do pessoal incumbido daquelle servio, e,
finalmente, de um grande quarto de alvenaria de tijolo para depsito do
material de uso dirio.228

Em 1948229, obras de reparos no forno de cremao de resduos slidos


municipal foram concludas e o mesmo foi entregue em sua plena capacidade para
continuar prestando os servios necessrios cidade.

227

RELATRIO da Comisso Organizadora do Tombo dos Prprios Municipais. p. 16. In:


RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1 de outubro de 1922,
pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typographia do C e L Manos, 1922
.p.16-17.
228
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1. de Outubro de
1922, pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typ do Ca E La Manos,1922. p. X.
229
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa em sua sesso ordinria de 1948, pelo
Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves. Imprensa Oficial. Manaus Amazonas,
1948. p. 31.

155

3.2 Obras que visavam ampliar a arrecadao municipal


No incio da dcada de 1910, tambm foi construdo o Depsito Municipal,
situado no lado leste da Rua Lobo dAlmada - antiga Matriz, em terreno
desapropriado. Nesse local, eram guardados os automveis e os materiais de
propriedade do municpio. Sua construo foi autorizada pela Lei n 671, de 17 de
maro de 1911230. Como se constata pela citao abaixo,
Comeada a sua construco, em 3 de Abril ultimo, rua Lobo dAlmada,
terreno do Municipio, achavam-se bastante adeantados os servios feitos
administrativamente ao edifcio, construdo de pedra e tijolo, s falta o
revestimento das paredes e a collocao das esquadrias e do ladrilho, vindo
elle supprir a sensvel falta de um logar apropriado para guarda dos
materiaes, das carroas e dos utenslios e pertences da seco de obras.231

PLANTA 4: Depsito Municipal

FONTE: RELATRIO da Comisso Organizadora do Tombo dos Prprios Municipais. p. 16.


In: RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1 de
outubro de 1922, pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typographia do
C e L Manos, 1922.p.15

A construo do prdio para o Depsito de inflamveis tambm estava


vinculada tentativa de ampliar os servios pblicos que possibilitassem o aumento
230

RELATRIO da Comisso Organizadora do Tombo dos Prprios Municipais. p. 16. In:


RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1 de outubro de 1922
pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typographia do C e L Manos, 1922,
p.16-17.
231
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente Coronel
Joaquim Jos Paes da Silva Sarmento, em 15 de agosto de 1911. Manos, 1911. p. 4.

156

da arrecadao municipal, que de acordo com o relatrio apresentado pelo


superintendente Intendncia Municipal em 1916, tinha atingido seu objetivo, pois,
entre agosto e dezembro de 1916, arrecadou Rs. 2:182$652.232
O prdio do Depsito Municipal e o de inflamveis, como tantos outros da
municipalidade estavam necessitando de reparos, no entanto, no havia recursos o
suficiente para realizar todos os reparos necessrios, mas considerando que as
atividades realizadas nesses ambientes estavam trazendo retorno econmico para o
Municpio, era de grande importncia para a Superintendncia municipal realizar tais
reparos, os quais aconteceram em 1918, custando aos cofres pblicos municipais a
soma de 349$00.233
FOTO 14: Parte interna do Depsito Municipal

FONTE: Acervo fotogrfico do Centro Cultural dos Povos da Amaznia - CCPA

Com o objetivo de incrementar a economia local, a Superintendncia comprou


um moinho para auxiliar no beneficiamento da mandioca e facilitar a fabricao de
232

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintende Porto Dorval


Pires, Sesso Ordinria de 11 de Fevereiro de 1916. Typ. Da livraria RENAUD. Rua Municipal, 93.
Manos, p. 4.
233
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente, Dr. Antonio
Ayres de Almeida Freitas. Sesso ordinria de 14 de julho de 1918. Typographia do C e L, Rua
Joaquim Sarmento, 12, 1918. p. 62.

157

farinha, isso se deu em cumprimento da Lei n 918, de 25 de outubro de 1917. A


montagem do moinho foi feita em um barraco de madeira, coberto com telhas de
zinco, construdo pelo municpio na propriedade do Senhor Adrio Caminha, situado
na Colnia Campos Salles. A obra foi inaugurada pelo Superintendente Basilio
Torreo Franco de S, em 4 de Janeiro de 1920234.
A mesma Lei n 918, de 25 de outubro de 1917, que autorizou a compra do
moinho autorizou tambm a compra de maquinrios para montagem de uma casa
de farinha. Os equipamentos foram comprados em 1918, no entanto, por questes
polticas e administrativas, esse maquinrio s foi montado em 1921, ainda na
administrao de Basilio Torreo Franco, no bairro da Cachoeirinha, no stio Japiim
de propriedade de Pedro Araujo, o qual se comprometeu a permitir que os
agricultores daquela regio pudessem utilizar a casa de farinha quando
necessitassem.235
Essas obras visavam ampliao da arrecadao municipal, mas tambm,
deixam claro que a dinmica da cidade estava mudando, as obras realizadas
estavam voltadas para os subrbios e no, exclusivamente, para o centro como
acontecia anteriormente, e com essas duas ltimas obras mencionadas, os
administradores municipais estavam preocupados em dinamizar um setor que era
pouco privilegiado anteriormente, considerando que quase tudo que era consumido
pela elite era importado. Com a desacelerao econmica, provocada pela queda da
borracha no mercado internacional, voltaram-se os esforos pblicos para a
produo de alimentos de subsistncia para a populao de baixa renda e tambm
para a elite, que no tinha mais condies de importar tudo de que necessitava.

234

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1. de Outubro de


1922, pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typ do C e L Manos,1922. p.
235
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1. de Outubro de
1922, pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typ do C e L Manos,1922. p.

158

3.3. Novos espaos dinamizando a vida na cidade


A cidade de Manaus, no incio da dcada de 1910, era s euforia e
entusiasmos por seu futuro promissor, como j mencionamos. Essa euforia e
entusiasmo, no entanto, foram, aos poucos, sendo substitudos pela descrena e
pela falta de perspectivas. Os administradores reconheciam as necessidades
urgentes da cidade, mas encontravam-se imobilizados pela falta de recursos para
realizar as obras necessrias ao seu embelezamento, como se pode depreender do
relato do superintendente Jorge de Moraes, ao Conselho Municipal de Manaus em
1913.
Conhecemos perfeitamente as necessidades que se fazem sentir na nossa
urbs, mas tambm no ignoramos que os melhoramentos de que ella
necessita custam muitssimo dinheiro, e a municipalidade de Manos, com
os seus recurso actuaes no poder fazer face a to grandes dispndios.236

De certa forma, a crise econmica vivenciada pelo estado contribuiu para a


intensificao da dinmica interna da cidade, na medida em que forou o surgimento
de outros espaos que possibilitaram suprir a necessidade proeminente de
arrecadao de impostos e, ao mesmo tempo, criaram vnculos de aproximao com
a realidade dos subrbios. Essa mudana pode ser constatada pela construo das
feiras municipais suburbanas do So Raimundo e da Cachoeirinha. As construes
dessas feiras nos subrbios da cidade serviram como exemplos bem interessantes
dessa movimentao.
Nesse perodo, a preferncia para construo de feiras e mercadinhos dentro
da rea urbana de Manaus era da empresa The Manos Markets and
Slaughterhouse Limited, de acordo com a clusula XXIV do termo de unificao dos
contratos de arredamento do Mercado e Matadouro. A Superintendncia deu
preferncia referida empresa que no demonstrou interesse em realizar tais obras,
nem em responder se a realizao de tais servios era ou no de seu interesse,
gerando, assim, uma lide judicial entre a referida empresa e a Superintendncia. O
governo municipal exigia um posicionamento sobre o tema, o resultado foi favorvel
Superintendncia, que iniciou o processo de construo da feira do So Raimundo
e da Cachoeirinha, ainda em 1914. Como se pode depreender do texto abaixo:

236

MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Mano, pelo Superintendente do Municpio,


Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913. Manos, 1913. p.

159

Obra de palpitante interesse social, destinada a attenuar a carestia da vida,


no demanda longas justificativas. Todavia, pela clausula XXIV do termo de
unificao dos contratos de arredamento do Mercado e Matadouro, cabem a
The Manos Markets and Slaughterhouse, Limited, a construo e a
explorao de mercadinhos dentro da superfcie urbana desta capital.
Quanto a zona suburbana, tem aquela companhia apenas a preferncia
para a construo deles preferncia, dei-a a companhia que, alegando
razes inaceitveis, dela declinou. Para acautelar, como de meu dever, a
Fazenda Municipal, o digno procurador fiscal notificou, perante o juzo
competente, aquela companhia por que declarasse, expressamente, se
aceitava, ou no, a preferncia que lhe cabia e lhe foi dada.
A essa notificao ofereceu a interessada embargos protelatrios. Fez,
ento, o talentoso procurador fiscal, para cujo relatrio neste, como noutros
passos, solicito a vossa ateno, o competente protesto, publicado no Dirio
Official. Segue-se imediatamente, por administrao, a construo das
Feiras237

Esse desinteresse para a construo dessas obras parece indicar que as


empresas estrangeiras que atuavam na regio j haviam se alertado para a crise
econmica vivenciada pelo Estado e, por isso, no estavam mais querendo investir
seu capital aqui.
O local escolhido para a construo do prdio que iria sediar a feira do So
Raimundo, situada no bairro de mesmo nome, era prximo margem do igarap da
Cachoeira Grande, em terras aforadas da Diocese do Amazonas. O prdio foi
construdo com alvenaria de pedra e tijolo, armao de madeira de lei, coberto com
telhas de zinco, ocupando uma rea de 459m,00.238 No dia 1. de Julho de 1914, o
superintendente municipal, Dorval Pires Porto, autorizou, por meio do Decreto n. 7,
de 8 de Maio do mesmo ano, o chefe da engenharia municipal a iniciar as obras de
construo da feira de acordo com as plantas aprovadas.
A feira do So Raimundo, como as demais, tinha por objetivo atender
populao local, com produtos de gneros agrcolas e pecurios. A inaugurao da
feria se deu em 21 de Maro de 1915. Ela foi entregue equipada, com o solo
nivelado e todo calado. Como se pode observar pelo texto abaixo.
Com a construco e apparelhamento interno deste prprio municipal,
nivelamento e calamento da praa em que foi edificado, numa superfcie
de, metros quadrados, 2.237,37, estabelecimento de uma rede de guas
pluviais com a extenso, em alvenaria de pedra, de, metros lineares, 83,50,
e em tubos de grs, de, metros lineares, 199,40 construo do matadouro
237

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente Dorval Pires


Porto, Sesso ordinria de 5 de setembro de 1914. Typ. Da Livraria Renaud. Rua Municipal n 93
Manos, 1915. 4-5.
238
RELATRIO da Comisso Organizadora do Tombo Dos Prprios Do Municpio. In. RELATRIO
apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1. de Outubro de 1922, pelo
Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typ do C e L Manos,1922. p. 17.

160

de tartarugas, mictrios e mais dependncias reservadas, foi gasta a


importncia de R$ 79:616$350.239.

Logo nos primeiros meses de seu funcionamento, a feira do So Raimundo


parecia indicar ser uma fonte segura de arrecadao para o municpio, mas no
decorrer de seu funcionamento, os objetivos esperados pela Superintendncia no
foram alcanados e a arrecadao de impostos no era suficiente nem para pagar a
compra do terreno Diocese, por isso, em 31 de Julho de 1917, o superintendente
Antonio Ayres de Almeida Freitas extinguiu a feira de So Raimundo, por meio da
Lei n. 1.017, de 31/07/1917 e, em 26 de Junho de 1920, o Superintendente Basilio
Torreo Franco de S ordenou que o setor jurdico do municpio fizesse o
procedimento adequado para passar esse prdio para o Estado, na condio de que
o Estado assumisse a dvida do municpio com a Diocese do Amazonas. Como se
pode perceber no fragmento abaixo.
Em 26 de Junho de 1920 o Superintendente Snr. Dr. Basilio Torreo Franco
de S, nos termos da lei n. 1.017 de 31 de Julho de 1917, manda o
Contencioso Municipal, por meio do termo lavrado em livro prprio, faa
entrega deste prprio ao Governo do Estado, que ficar obrigado pagar a
Diocese do Amazonas o foro do terreno em que Ella est construda.240.

Nesse mesmo contexto de busca de possibilidades internas de gerao de


recursos foi iniciada a construo do prdio da Feira do bairro da Cachoeirinha, que
recebeu a mesma denominao do bairro, o local escolhido para sua construo foi
a rea da praa Benjamin Constant. O prdio foi construdo de forma mista o que
era comum nesse perodo, a mistura de madeira e alvenaria.
Toda a estrutura foi feita em alvenaria e a armao para a cobertura, de
madeira de lei, sendo que a cobertura foi feita com telhas de zinco. A rea
construda foi de 600m,00. O incio de sua construo foi determinado pelo mesmo
Decreto que autorizou a construo da feira do So Raimundo, Decreto de n. 07, de
08 de maio de 1914.
As obras da feira da Cachoeirinha foram concludas primeiro que as da feira
do So Raimundo, ainda em 1914, e o prdio foi inaugurado com 11 bancas para
239

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente, Dorval Pires


Porto. Sesso ordinria de 5 de setembro de 1915. Typ. Da Livraria Renaud. Rua Municipal, 93
Manos, 1916. p. 4.
240
RELATRIO da Comisso Organizadora do Tombo dos Prprios Municipais. p. 16. In:
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1 de outubro de 1922,
pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typographia do C e L Manos, 1922 .
p.17-18.

161

peixes, 06 bancas para tartarugas, 14 bancas para carne e 21 compartimentos para


venda de frutas, legumes, cereais, em 1. de outubro de 1914.
PLANTA 5: Feira da Cachoeirinha

FONTE: RELATRIO da Comisso Organizadora do Tombo dos Prprios do Municpio. In.


RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1. de Outubro
de 1922, pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typ do C E L
Manos,1922. p. 17.

162

A feira da Cachoeirinha foi criada com o mesmo objetivo que a do So


Raimundo: atender populao suburbana com produtos regionais e dinamizar a
economia local, aumentando, assim, a arrecadao de impostos para o municpio,
tambm inicialmente como aconteceu na feira do So Raimundo comeou dando
lucro para a municipalidade, mas, aos poucos, no decorrer de seu funcionamento, foi
perdendo sua importncia, por isso, em 1920, o prdio da referida feira foi
remodelado para o funcionamento da escola Guerreiro Antony. Essas adaptaes
de prdios pblicos eram muito comuns nesse perodo, considerando que as
administraes tinham poucos recursos para a construo de novos prdios, assim,
a remodelao dos antigos foi a alternativa encontrada pela administrao pblica
para atender s novas necessidades.
Sandra Pesavento241, no livro Uma Outra Cidade: o mundo dos excludos no
final do sculo XIX, apresenta o espao da cidade como um lugar de diversos
conflitos, pois esto presentes nesse espao interesses diferentes, por isso a cidade
deve ser vista como multifacetria, pois existem diversas cidades dentro da mesma
cidade. A cidade de seus construtores diretos, administradores, engenheiros
arquitetos, sanitaristas e a cidade dos seus consumidores que so os indivduos que
as habitam dando, cada um, um sentido e uma funcionalidade diferente para a
mesma cidade.
Por isso, as representaes da cidade construda por esses indivduos so
diferentes, porque os modos de se relacionarem com elas so diversificados. No que
se refere ao exemplo citado das feiras construdas no incio da dcada de 1910, o
sucesso inicial e o fracasso a longo prazo esto perfeitamente relacionados aos
diversos olhares que os construtores e seus consumidores tiveram sobre tais
artefatos.
Para a administrao pblica, as feiras eram um espao que possibilitaria a
ampliao da arrecadao de impostos para o municpio e afastaria os moradores
dos subrbios da circulao constante do centro da cidade. Para os indivduos que
trabalhavam na feira, representava um meio de sobrevivncia, pois seria o lugar
onde eles poderiam comercializar a sua produo, e, para os consumidores, a feira
nos subrbios da cidade significava um espao mais prximo de sua realidade, onde
eles poderiam fazer suas compras sem se sentirem deslocados, pois o Mercado
241

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma Outra Cidade: o mundo dos excludos no final do sculo XIX.
So Paulo: Companhia editora Nacional, 2001. p. 25-125.

163

Adolfo Lisboa era o espao da elite, e no o espao dos excludos que viviam nos
subrbios. O fracasso de tal empreitada pode ser compreendido como uma atitude
unilateral: os administradores da cidade no atingiram as metas de arrecadao
esperada ou pode tambm ser compreendido como um ato de resistncia entre
centro e periferia devido formao cultural do povo manauara, pois, alm do
mercado Adolfo Lisboa, outros espaos de sociabilidade entre elite e suburbanos
continuavam a existir, como era o caso da igreja Matriz e do porto.
Sobre essa interpretao da cidade, importante lembrar o posicionamento
de Aldo Rossi acerca do tema, afirmando que esses diversos olhares que so
construdos sobre um mesmo fato urbano242 esto ligados s relaes que os
indivduos tm com a cidade. Como as relaes que os diversos moradores que
utilizavam aquelas feiras para suas compras tinham com elas e com outras partes
da cidade, relaes que impediam sua funcionalidade da forma pensada pelo Poder
Pblico, na medida em que determinados lugares so freqentados no somente
por sua funcionalidade, de acordo com a racionalidade dada a eles pelo poder
pblico o mercado e a feira como lugares de compras - mas, para alm disso,
deve-se considerar o smbolo de status agregado ao ato de freqentao desses
espaos, imperceptvel na racionalidade do poder pblico.
Essa lgica de pensar a representao da cidade a partir de suas prticas
sociais eixo central da nova histria cultural243, na qual esse trabalho est
embasado.
No incio da dcada 1910, a crescente reduo da arrecadao municipal e o
desejo de manter os moradores dos subrbios afastados do centro da cidade
motivaram a Superintendncia Municipal para a criao dessas feiras, mas no final
da dcada de 1910 e incio da dcada de 1920, com o crescimento da populao
suburbana e o surgimento de novas feiras sazonais, surgiram novas necessidades
e, como essas feiras no tinham atingido as expectativas esperadas pela

242

Esse termo foi elaborado por Aldo Rossi, no livro Arquitetura da Cidade, onde define fato urbano
como uma obra arquitetnica qualquer que seja construda na cidade, e acrescenta a essa definio
as relaes que os indivduos estabelecem com esse fato urbano ao longo do tempo, analisando a
cidade a partir das relaes sociais que possibilitaram a construo, a manuteno e ou modificao
desse fato urbano, ao longo do tempo.
243
CHARTIER. Roger. beira da Falsia: A histria entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Ed.
Universidade/UFRGS, 2002. p. 61-79.

164

administrao, foram remodeladas para atenderem s novas necessidades de seus


bairros. E, a solicitao mais urgente era a construo de escolas.
Diante dessa nova situao, a administrao pblica se via pressionada a
atender crescente demanda dos suburbanos, mas tinha poucos recursos. A
estratgia, como j foi mencionado, era remodelar os antigos prdios para
atenderem s novas necessidades j que as condies econmicas da
municipalidade no permitiam novas construes. Foi o que aconteceu em 1920,
com o prdio da feira da Cachoeirinha que foi transformado no Grupo Escolar
Guerreiro Antony.
Entendemos a arquitetura na perspectiva de Aldo Rossi, ou seja, como algo
inseparvel da vida social. Assim, a cidade construda nas dcadas de 1910-1940
estava indelevelmente marcada pelas condies culturais, sociais e econmicas
vivenciadas nesse perodo. Nesse sentido, pode se afirmar que a arquitetura no
pode ser analisada apenas como a construo de grandes prdios pblicos e
casares como no perodo anterior. A arquitetura desse perodo estava voltada para
viabilizao do crescimento da cidade por meio da construo de pontes e estradas
e o aterramento dos igaraps e moradias populares. A historiografia regional
produzida at o incio dos anos 1980 afirmava que, a partir da metade da dcada de
1910 at o incio dos anos quarenta, a crise econmica tinha provocado uma grande
estagnao na cidade de Manaus e que nada de importante havia ocorrido nesse
perodo que merecesse registro. No entanto, seguindo os caminhos trilhados por
Aldo Rossi, possvel desmistificar essa interpretao.

165

3.4 Pontes e estradas: expanso do espao urbano


Um fato urbano pode ser analisado isoladamente ou num contexto mais geral
da cidade. Pode ser um grande palcio, mas tambm pode ser uma nova rua aberta,
uma ponte construda, o alongamento de uma rua, a construo de um conjunto
habitacional, ou seja, no h necessidade de ser uma obra monumental como o
Teatro Amazonas, construdo no perodo ureo da borracha. Pode ser a
construo de algumas pontes para ligarem os bairros perifricos ao centro da
cidade. Nesse perodo sem importncia para a historiografia regional, at a dcada
de 1980, vrios exemplos de construes dessa natureza podem ser citados,
destaca-se, por exemplo, a construo da ponte Passagem Antonio Cabral, que foi
criada pelo Decreto n 8, de 24 de dezembro de 1910. Isso s se tornou possvel
devido s novas perspectivas abertas pela nova histria cultural, que nos permite ver
nessas obras a dinmica da vida citadina e, nisso reside sua grande importncia.
A ponte Passagem Antonio Cabral foi construda para ligar a Rua Municipal
ao Beco 7 de Dezembro na extremidade norte da rua Dr. Almino, e foi inaugurada e
entregue populao em 24 de dezembro de 1910.
A referida ponte foi construda pela Sociedade Anonyma Armazm Andresem
em satisfao do contrato firmado entre ela e a Municipalidade, a 14 de maio de
1910, contrato que, em sua clusula sexta, concedeu quela sociedade como
recompensa do capital por ela despendido em semelhante construo, por
aforamento, e nos termos da Lei n. 228, de 19 de junho de 1901, uma rea de terra
de seu patrimnio com 278 metros e 40 centmetros quadrados, situados junto
mencionada ponte, tudo de acordo com a planta aprovada pela Superintendncia e
visada pelo representante da aludida sociedade244.
Em 1938, a ponte Passagem Antonio Cabral245 passou por algumas reformas
para continuar servindo comunidade local.
Na dcada de trinta, foi construda em alvenaria e pedra uma ponte ligando a
parte continental de Manaus ao bairro do Educandos. Sobre essa questo, Samuel

244

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, Em sesso extraordinria de 10 de


Janeiro de 1911, pelo Superintendente Coronel Adrio Ribeiro Nepomuceno, 17 de agosto de 1910.
Manos Amazonas Seco de obras da Imprensa Official - 97 Rua Municipal 97. 1911. p. 16.
245
RELATRIO apresentado ao Exmo Sr. Interventor Federal no Estado do Amazonas, pelo Dr.
Pedro Severiano Nunes. Prefeitura Municipal Manos , Amazonas Brasil, 1934. p. 5-6.

166

Benchimol246, no artigo Manaus O crescimento de uma cidade no Vale Amaznico,


considera que as pontes se tornaram muito importantes para as populaes
suburbanas, que antes eram isoladas do centro da cidade pelos igaraps que
cortavam a cidade. Ele destaca que a construo da ponte na Av. Sete de Setembro
foi de fundamental importncia para o alongamento da cidade para o Leste, como se
observa no mapa abaixo
MAPA 8: Expanso da cidade - 1915

FONTE: Elaborado pela mestranda com base nos mapas produzidos por Alfredo da Matta no
livro Geografia e Topographia Mdica de Manos: Escoro de um Estudo apresentado ao
Superintendente Municipal de Manos, Dr. Dorval Pires Porto. Typ da livraria Renaud. Rua
Municipal, n 93 Manos 1916 e no MAPA DE SANEAMENTO de 1906.

Esse mapa mostra os novos rumos da cidade com a construo das trs pontes da
Av. Sete de Setembro, antiga rua Municipal. Essa obra anterior ao perodo aqui
investigado, mas de extrema importncia para demonstrar os novos rumos que a

246

BENCHIMOL, Samuel. Manaus O Crescimento de uma Cidade no Vale Amaznico: In. Razes
da Amaznia. Ano I V.1 n1. Manaus- Amazonas - Brasil. Ed. INPA/ Ministrio da Cincia e
Tecnologia, 2005. p. 137-159.

167

cidade estava seguindo. No entanto, de acordo com Samuel Benchimol, somente


a partir de 1911 que a cidade passa a crescer no sentido Leste.
intrigante pensar que a construo de trs pontes em uma nica rua pode
ter contribudo tanto para a expanso da cidade, no perodo investigado. No entanto,
vale apena chamar ateno para a noo de espao que temos atualmente sobre a
cidade, que tem uma rea urbana incomensuravelmente maior que a o perodo em
questo, isso pode ser perfeitamente visualizado na foto abaixo.
FOTO 15: Imagem da rea em que foram construdas as trs pontes da
avenida Sete de Setembro.

FONTE: Arquivo pessoal de Raimundo Nonato dos Santos Braga

A abertura de estradas para o abastecimento de gua aos bairros do So


Raimundo e de Constantinpolis era outro meio de comunicao daqueles pontos da
capital. Mas isso no era suficiente; era necessria a construo de pontes, para
facilitar o acesso entre esses bairros e o centro da cidade, isso contribuiria
significativamente para o crescimento da cidade, pois essas reas dinamizariam
tambm o comrcio entre esses locais e centro da cidade.

168

Por isso, em 1914, foi iniciada a obra da construo da ponte do So


Raimundo, o local escolhido para a construo da referida ponte foi a regio entre o
Plano inclinado e o bairro do S. Raimundo, prximo cervejaria Miranda Correa,
sobre o igarap do Franco. A Estrutura da ponte e o estrado eram todos de madeira.
Como se pode depreender pelo texto abaixo.
O decreto n. 9, de 17 de Agosto de 1914, abre o necessario credito a
construo de uma ponte de madeira que ligue o bairro do Plano Inclinado
ao do So Raymundo.
Difficil de comprehender, srs. Intendentes, que o bairro de So Raymundo,
interessante por tantos aspectos, bellos pela sua situao topographica,
sadio merc de sua altitude que o faz varrido dos ventos orientaes,
populoso, no tenha solicitado a atteno de nossos predecessores. 247

Em 1934, foi iniciada a construo da ponte do igarap da Cachoeira248


Grande, ligando o bairro do So Raimundo ao centro da cidade, essa era obra de
grande monta para os reduzidos recursos municipais. Como se pode averiguar pelo
relato feito pelo interventor Pedro Severiano Nunes ao interventor federal no estado
do Amazonas, Nelson de Melo, a respeito da construo da ponte do So
Raimundo.
Outra grande obra que parece, representemente, ultrapassar as
possibilidades do Municipio, a da construco da ponte de So
Raymundo. Avaliada em mais de 1.000 contos de reis, acha-se iniciada, o
que fez regosijar a populao desse futuroso bairro da cidade. Todavia,
possvel leval-a a fim, em mais alguns annos, quando no atacada de
prompto, por uma feliz operao de credito, que o Municipio possa
realizar.249

Em 1938, a referida ponte j estava necessitando de reparos, devido ao seu


precrio estado de conservao.
A Ponte da Avenida Urucar250 tambm estava inserida nessa crescente
necessidade de interligao das regies perifricas ao centro da cidade. Sem o
funcionamento dessa ponte na Avenida Urucar, seria impossvel continuar o
247

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente Dorval Pires


Porto. Sesso ordinria de 5 de setembro de 1914. Typ. Da Livraria Renaud. Rua Municipal n 93
Manos, 1915. p. 5-6.
248
RELATRIO apresentado ao Exmo Sr. Interventor Federal no Estado do Amazonas, pelo Dr.
Pedro Severiano Nunes, Prefeitura Municipal Manos, Amazonas-Brasil,1934. p. 72.
249
RELATRIO apresentado ao Exmo Sr. Interventor Federal no Estado do Amazonas, pelo Dr.
Pedro Severiano Nunes, Prefeitura Municipal Manos, Amazonas-Brasil, 1934. p.5-7.
250
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos pelo Superintendente do Municpio,
Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913. Manos, 1913. p. 25.

169

trnsito naquele local, isso prejudicava imensamente os pequenos lavradores


domiciliados do outro lado do igarap da Cachoeirinha.
J destacamos a importncia dessas vias de comunicao para a nova
dinmica da cidade, no entanto, sempre bom relembrar que essas vias
possibilitavam aos pequenos lavradores levarem seus produtos para serem
vendidos na cidade.
Autorizados por Lei votada pela Cmara Municipal, os trabalhos de
melhoramentos de que necessitava a estrada entre Flores e a Colnia Campos
Salles foram iniciados administrativamente devido urgncia. Em 05 dezembro de
1913, foi substituda a antiga ponte de Flores, que era de madeira, por uma ponte de
cinco metros, toda de alvenaria e o antigo tabuleiro de madeira tambm foi todo
refeito de cimento armado. Na extenso dessa estrada, existiam trs pontes que
necessitavam de enormes movimentos de terras para viabilizar o seu funcionamento
e permitir o trfego. Esse aterro foi conseguido com baixo custo para a
Municipalidade devido estratgia montada pelos engenheiros da Seco de obras,
que utilizaram o barro existente nas proximidades para realizar os referidos aterros.
Como se pode depreender com o texto abaixo.
Necessitando de grande aterro logo no primeiro trecho citado aproveitamos
o desnvel da antiga estrada Joo Alfredo para dahi retirar a terra precisa;
assim no s haveria maior economia pela pequena distancia entre as duas,
como tambm iremos acondicionando a ultima estrada de maneira a vir
juntar-se com a continuao da avenida Joo Coelho na altura do lugar
denominado Pensador.
Assim podero os automveis e carros ter franco accesso ao bairro de
Flores.251

Em 1913, foi aberta licitao pblica para apresentao de projetos para a


construo da ponte entre o bairro de Constantinpolis e o centro da cidade sobre o
Igarap do Educados. Como se pode observar pelo mapa abaixo

251

MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos pelo Superintendente do Municpio,


Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913. Manos, 1913. p. 26.

170

PLANTA 6: Igarap da Cachoeira

FONTE: RELATRIO da Comisso Organizadora do Tombo dos Prprios do Municpio. In.


RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1. de Outubro
de 1922, pelo Superintendente Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typ do Ca E
La_Manos,1922. Sem numerao

171

Dois projetos foram apresentados, um pelo engenheiro A. Ricci e o outro, pelo


engenheiro H. J. Moers. O primeiro projeto apresentado previa uma ponte de ferro
sobre pilares de alvenaria de pedra e cimento. O outro projeto previa a mesma
coisa, no entanto, o valor orado na segunda proposta era menor em quase 50% da
primeira. Como se pode observar pelo texto abaixo.
Esta ultima foi orada em 1.077:030$328, importncia que est muito alm
dos recursos com que conta a Municipalidade, se bem que tal se
apresentam administrao Municipal. A de ferro foi orada em
1,140:000$000.
O projecto do Dr. H. J. Mers, que representa um costruco de ferro, ora
a ponte, tambm sobre pilares de alvenaria de pedra e cimento, em
596:975$100, comprehendendo todas as despezas, inclusive sua
collocao.252

Alm de novas construes, a Superintendncia tambm realizou reparos nas


pontes metlicas existentes na cidade, alguns exemplos que merecem destaque so
as reformas realizadas nas pontes Benjamin Constant, Cachoeira Grande e
Cachoeirinha.
FOTO 16: Ponte Benjamin Constant

FONTE: MANAUS, lbum organizado na administrao do Prefeito Antonio Botelho Maia.


Manaus- Amazonas Brasil. 1938.
252

MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos pelo Superintendente do Municpio,


Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913. Manos, 1913. p. 30.

172

Os reparos nas pontes Benjamin Constant e Cachoeira Grande253 eram de


substituio de peas como parafusos e arrebites que estavam completamente
destrudos devido ao do tempo. Esses reparos eram de extrema urgncia,
porque se eles no fossem realizados o mais rpido possvel, provocariam maiores
danos estrutura da ponte, podendo comprometer o seu funcionamento e aumentar
significativamente o custo do conserto. Por isso, foram realizados reparos na ponte
de ferro da Benjamin Constant, que liga o bairro da Cachoeirinha ao restante da
cidade, reparos que foram orados em 124:000$000, sem incluir a despesa com o
calamento a paraleleppedos de madeira254. Em 1938, na administrao de lvaro
Maia, a referida ponte passou por uma reforma completa. Como se pode observar
pela foto abaixo
FOTO 17: O Bonde passando na Ponte Benjamin Constante, no sentido
Centro Bairro.

FONTE: Acervo Fotogrfico do Centro Cultural dos Povos da Amaznia - CCPA

253

RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, pelo Superintendente Dorval Pires


Porto. Sesso ordinria de 5 de setembro de 1914. Typ. Da Livraria Renaud. Rua Municipal n 93
Manos, 1915. p. 10.
254
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente do Municpio,
Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913. Manos, 1913. p. 26.

173

Com o crescimento da populao nos subrbios de Manaus, era necessria,


alm das pontes, a construo de novas estradas para ligar o centro da cidade a
esses subrbios, que antes eram reas consideradas rurais da cidade. Essas
construes eram de extrema importncia para dinmica da cidade, considerando
que os moradores daquelas reas como as colnias de Campos Salles, Joo
Alfredo, e da Estada do Aleixo dentre outras, h muito tempo reclamavam da falta de
transporte para a cidade, por isso, em 1934, a prefeitura disponibilizou uma linha
regular de transporte feito por caminhes duas vezes por semana para o transporte
de carga e passageiros255.
FOTO 18: Estrada de Rodagem Campos Salles I

FONTE: Acervo Fotogrfico do Centro Cultural dos Povos da Amaznia - CCPA

255

RELATRIO apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica, pelo
interventor Federal no Amazonas, capito Nelson de Mello. Outubro de 1933 a Dezembro de 1934.
1935 Imprensa Pblica. Manos Amazonas. p. 58.

174

FOTO 19: Estrada de Rodagem Campos Salles II

FONTE: Acervo Fotogrfico do Centro Cultural dos Povos da Amaznia - CCPA

Nesse contexto, foram construdos 15km da estrada Manaus Itacoatiara,


passando pelo Aleixo. A construo da estrada do Bairro da Raiz, com 11Km; a
construo da estrada do So Raimundo, com 9km; a construo da estada do
Tarum, com 7km; construo da estrada da Colnia Joo Alfredo, com 4km;
Construo da estrada da Cachoeirinha Circular, com 5km; construo da estrada
vila Municipal Avenida Gabriel Salgado, com 3km e, construo da estrada da
Chapada, com 3,5km.
A construo de todas essas pontes e estradas ampliou a cidade de Manaus
para outros horizontes, tanto fsicos como econmicos, sociais e culturais para
alm do centro da cidade, para alm da borracha. Algumas dessas pontes, que
representam a extenso da cidade para Oeste, como a construo das pontes do
bairro do So Raimundo; a da rea do Plano Inclinado, prximo Cervejaria
Miranda Correa; ponte sobre o Igarap do Franco e a ponte sobre o Igarap da
Cachoeira Grande, onde fica atualmente o bairro do So Jorge. podem ser
visualizadas no MAPA 9.

175

MAPA 9: Expanso da cidade - 1937

FONTE: Elaborado pela mestranda, embasada no mapa do RELATRIO que o Agrnomo Antonio
Botelho Maia, Prefeito de Manaus, dirigiu ao Exmo. Sr. Interventor Federal no Amazonas, Dr. lvaro
Botelho Maia. 1938. Manaus Amazonas. Brasil e na planta de Manaus.

A construo das pontes e estadas era muito importante para dinamizar a


expanso da cidade, no entanto, o crescimento da cidade e as polticas pblicas
implementadas pelos governos Estadual e Municipal foram destruindo a beleza
natural dos igaraps que cortavam Manaus. Como se pode depreender pelo texto
abaixo:
As duas pontes de ferro e outras trs de pedra dispostas sobre os igaraps
de Manaus nos despertam sempre estas impresses. A imponente armao
de vigamentos de ao que une as margens do igarap da Cachoeirinha no
tendo embora a desmedida extenso da ponte suspensa de Brooklyn um
admirvel conjunto de flexibilidade e de fora, perpetuando a genialidade
construtiva do governado Eduardo Ribeiro. Fincada ilharga do paredo

176

que ampara o aterro entre a rua dr. Alminio e a avenida Sete de Setembro,
estende-se um pontilho de sessenta metros denominados passagem
Cabral que serve de palanque aos apreciadores dos treinos de regatas
promovidas pelo Clube do Remo. Todos, entretanto, pontes e pontilhes,
tendem a total desaparecimento, no porque estejam imprestveis, velhos
ou insubstituveis, mas porque o desenvolvimento da cidade forando o
aterro dos cursos dagua que eles transpem, vai exigindo o sacrifcio de
sua demolio, considerando um perigo a proteo dos seus parapeitos,
tornado intil o fastgio de sua tradio.256

256

CASTRO de Mavignier. Sntese Histrica da Evoluo de Manaus. 2. ed. Editora Umberto


Calderado Manaus Amazonas. p. 60.

177

3.5 Obras estaduais e federais no municpio de Manaus.

A crise econmica vivida pelo Estado forou a adaptao da poltica


arquitetnica que, no perodo ureo da borracha, era da construo de prdios
para instalar as diversas atividades do Poder Pblico. Como no perodo de crise no
havia recurso suficiente para a construo de novos prdios para atender s
necessidades crescentes do Estado, em vez de construir, foram feitas adaptaes
em alguns prdios. Um caso tpico dessa poltica foi a adaptao da antiga Casa de
Deteno para o funcionamento do Instituto Pasteur de Manaus; necessidade
advinda dos constantes ataques de animais hydrophobos, na capital e nos outros
municpios do Estado, agravando a situao da sade pblica, o que forou o
governo estadual a iniciar as obras de adaptao em carter de urgncia.
Terminadas as obras de adaptao do prdio, da montagem de aparelhos biotrio e
cunicultura, foi o estabelecimento inaugurado solenemente no dia 1 de janeiro de
1920,257 quando, em pleno funcionamento, passou a produzir soro anti-rbico e
medulas injetveis, e o preparo de lympha antivarilica. A pessoa escolhida para
administrar o Instituto foi o Dr. Astrolbio Passos, que j havia participado de todo o
processo de organizao do mesmo.
Um sinal do desenvolvimento da cidade foi a construo da Chefatura de
Polcia por iniciativa do Estado. Ela teve incio ainda em 1913 e, em 1934258, as
obras ainda no estavam concludas, no entanto, estavam bem adiantadas. A foto
abaixo demonstra que foram construdos um pavimento superior e uma garagem.
Essa obra foi inaugurada na administrao de lvaro Maia. Como se pode
observar pela foto 20:

257

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Segunda Sesso Ordinria da


Dcima Legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar, Governador do Estado a 10 de
julho de 1920. p. 66-68.
258
RELATRIO apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica, pelo
interventor Federal no Amazonas, capito Nelson de Mello. Outubro de 1933 a Dezembro de 1934.
1935 Imprensa Pblica. Manos Amazonas. p. 7.

178

FOTO 20: Chefatura de Policia

FONTE: Acervo fotogrfico do Centro Cultural dos Povos da Amaznia - CCPA

Em 1925, foi concludo e inaugurado um edifcio estadual, situado na rua Silva


Ramos, onde passou a funcionar o grupo escolar Presidente Bernardes. Na
mesma ocasio, foi inaugurada a pequena praa ajardinada frete do mesmo grupo
escolar que recebeu a denominao de praa Presidente Bernardes. Atualmente,
nesse prdio, funciona a Escola Estadual Ribeiro da Cunha.

179

Entre as dcadas de 20 e 30 do sculo XX, aps um longo perodo de crise


econmica, o governo do Estado admitiu que um dos maiores problemas
enfrentados pelo governo referia-se s obras pblicas, que, devido aos exguos
recursos, no era possvel realizar os reparos devidos em todos os edifcios sob sua
administrao que foram, ao longo do tempo, se deteriorando. No entanto, devido ao
efmero surto de valorizao da borracha, provocado pelo plano Stevenson259, entre
os anos de 1924-1926, foi possvel realizar alguns reparos e, inclusive, iniciar as
obras de construo do Sanatrio com quatro enfermarias e 150 leitos, destinado ao
tratamento de doentes de varola. O Sanatrio260 recebeu o nome do governador
Ephigenio Ferreira Salles. No entanto, aps todo o investimento na construo e nos
equipamentos, o sanatrio foi inaugurado, mas com o fim da epidemia de varola na
capital, o prdio foi destinado outra atividade.
Nesse perodo foi reformado o edifcio da colnia dos alienados Eduardo
Ribeiro, com capacidade para atender 120 pacientes que estejam necessitando de
internao para tratamento, no havia separao de sexo.
No final de seu governo, Ephigenio de Salles, em mensagem enviada
Assemblia Legislativa, em 14 de julho de 1929261, fez questo de relacionar as
obras iniciadas e concludas no perodo de seu governo, alm das j mencionadas:
o Quartel da Cavalaria da Polcia Militar; a construo de casas e a instalao do
maquinrio do Campo Experimental de Agricultura; o depsito de mquinas e
materiais do Estado; a residncia para os guardas do Reservatrio da Castelhana, a
casa de serraria do servio de bombeamento de guas da Ponta do Ismael e a
construo e montagem da estao radiotelegrfica do Palcio Rio Negro.
Alm das obras j mencionadas na mensagem de governo de 1929, foi
apresentado, em 1931, um relatrio do perodo de governo do ex-presidente
Ephigenio Salles262 para a junta de sanes e, nesse relatrio, encontramos outras
obras realizadas nesse perodo.
259

Esse plano citado por Djalma Batista, como um efmero surto de riqueza na regio Amaznica.
In: BATISTA, Djalma. O Complexo da Amaznia Anlise do processo de desenvolvimento. 2 ed.
Manaus: Valer, EDUA e INPA, 2007. p.181.
260
MENSAGEM do Presidente Ephigenio Ferreira de Salles Assemblia Legislativa na abertura de
Sua primeira sesso ordinria da dcima terceira legislatura, em 14 de julho de 1926. 1926. Typ. da
Imprensa Pblica. Manos, p. 30-35.
261
MENSAGEM do Presidente do Estado do Amazonas Assemblia Legislativa, lida na abertura da
1. Sesso Ordinria da 14. Legislatura. Amazonas Manos, 1929. p. 43-51.
262
O Amazonas e a Revoluo. O ex. Presidente Ephigenio Salles perante a Junta de Sances. Rio
de Janeiro. Imprensa Nacional, 1931.

180

Foram reformados e adaptados vrios prdios pblicos, para atender


demanda por escolas em diversas reas da cidade. O prdio onde funciona o grupo
escola Silverio Nery foi reformado; o prdio do Instituto Benjamin Constant foi
reformado e ampliado; o prdio da antiga feira do So Raimundo foi reformado e
readaptado para o funcionamento do grupo escolar Olavo Bilac. O prdio da antiga
feira da Cachoeirinha, onde funcionava a escola Guerreiro Antony, foi reformado
para o funcionamento da Escola de Aprendizes Artfices. O primeiro local onde
funcionou a Escola dos Aprendizes Artfices foi no prdio da atual Penitenciria
Raimundo Vidal Pessoa. Como se pode observar pela foto abaixo
FOTO 21: Escola de Aprendizes Artfices

FONTE: Acervo fotogrfico do Centro Cultural dos Povos da Amaznia - CCPA

181

No incio da dcada de 30263 do sculo XX, apesar de algumas obras terem


sido suspensas por falta de recursos, a construo do prdio da Secretaria Geral do
Estado continua em andamento, como pode ser observada pela foto abaixo
FOTO 22: Construo do prdio da Secretaria Geral

RELATRIO apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica, pelo
interventor Federal no Amazonas, capito Nelson de Mello. Outubro de 1933 a Dezembro de
1934. 1935 Imprensa Pblica. Manos Amazonas. p. 7.

263

MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa do Amazonas, pelo Presidente Dorval Pires


Porto, ao installar-se a 2 sesso ordinria da 14 Legislatura. Manos, Imprensa Pblica. 1930. p.
33-34.

182

PLANTA 7: Planta do baixa do 1 piso do Prdio do Departamento de


Sade Pblica do Estado

RELATRIO apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica, pelo
interventor Federal no Amazonas, capito Nelson de Mello. Outubro de 1933 a Dezembro de
1934. 1935 Imprensa Pblica. Manos Amazonas. p. 82.

183

A proposta de construo de um prdio para os servios de sade vinha se


arrastando desde os primeiros anos da dcada de trinta, quando ento foi autorizado
o incio de sua construo. No projeto do prdio, estavam previstos dois pavimentos
para comportar a maioria dos servios de sade do Estado, exceto o seguimento
que trabalhava com os doentes de lepra. Isso pode ser observado nas plantas 7 e 8.
PLANTA 8: Planta baixa do 2 piso do Prdio do Departamento de Sade
Pblica do Estado

Fonte: RELATRIO apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica,
pelo interventor Federal no Amazonas, capito Nelson de Mello. Outubro de 1933 a
Dezembro de 1934. 1935 Imprensa Pblica. Manos Amazonas. p. 85.

184

No relatrio apresentado pelo prefeito de Manaus, Nelson de Mello, ao


pPresidente da Repblica, Getlio Vargas, em 1934, as obras do prdio do
Departamento de Sade Pblica estavam bem adiantadas e, em 1938, o prdio foi
concludo e inaugurado por lvaro Maia.
FOTO 23: Departamento de Sade Pblica concludo

FONTE: MANAUS, lbum organizado na administrao do Prefeito Antonio Botelho Maia.


Manaus- Amazonas Brasil, 1938.

As obras do grupo escolar Arthur Bernardes e o Jardim de Infncia Alcantara


Bacellar foram concludas.
Foi tambm autorizada a construo de casas para funcionrios pblicos
municipais, em cumprimento ao que dispe o n 84, da verba 15, do oramento em
vigor, e de acordo com o Decreto 75, de 28 de janeiro de 1932264, as referidas casas
264

MENSAGEM apresentada pelo Prefeito de Manos, Agrnomo Antonio Botelho Maia a Cmara
Municipal na sua sesso de 15 de abril de 1936. Typographia PHENIX de Srgio Cardoso. Rua
Joaquim Sarmento N.78. Manos.

185

deveriam ser construdas na Rua Ramos Ferreira, esquina da Praa Antonio


Bittencourt, aproveitando local adequado.
As obras de reparos mais urgentes foram continuadas: o Posto Policial da
Cachoeirinha; a Penitenciria; a Assemblia Legislativa; o Depsito de mquinas
agrcolas e o Asilo de mendicidade.
Na dcada de trinta, a nfase das construes estava voltada para a
construo de escolas e aberturas de novas estradas e conservao das antigas.
No final da dcada de 1930265, apesar da crise econmica, a cidade continuou
a se movimentar, o governo continuou executando as obras de conservao e
manuteno. Em 1937, foram concludas vrias obras, entre elas: a escola rural, no
km 9 na colnia Campos Sales; o prdio escolar da estrada de Constantinpolis; o
chal da Delegacia Policial de Flores; a Villa Operria do Bombeamento; um bloco
para funcionamento do jardim da infncia no grupo escolar da Rua Jos Paranagu.
FOTO 24: Casas no Bombeamento para residncia de operrios

FONTE: Acervo fotogrfico do Centro Cultural dos Povos da Amaznia - CCPA

265

MENSAGEM do Governador lvaro Botelho Maia a Assemblia Legislativa, na abertura da sesso


ordinria em 3 de maio de 1937. Amazonas Manaus. Imprensa Pblica. 1937. p.125-128.

186

Alm das obras realizadas nos vrios edifcios estaduais, notadamente nas
escolas, prosseguiu-se lentamente, dentro das possibilidades oramentrias, a
construo e a readaptao de antigos prdios nova realidade vivencia pelo
Estado. Nesse processo, foi readaptado o antigo prdio onde funcionava a higiene
pblica, na Rua Barroso, para a instalao da Escola Solon de Lucena.
O palcio Rio Branco, situado na avenida Sete de Setembro, foi construdo no
terreno onde anteriormente funcionava a cadeia pblica, a construo do prdio do
Palcio Rio Branco foi iniciada no perodo do interventor Nelson de Melo (1933
-1934) e foi concludo no perodo na interventoria de lvaro Maia, e, inaugurado em
7 de setembro de 1938. Para o intelectual, membro da Academia de Letras e do
Instituto Geogrfico e Histrico do Amazonas, Mavigner de Castro, esse prdio era
uma obra primorosa, como se pode observar pelo texto abaixo.
um edifcio bastante espaoso, de linha harmnicas, formando um
conjunto distinto e bem adequado ao destino para que foi levantado: - o
funcionamento das diversas seces da Secretaria Geral do Estado. O
custo de sua construo no foi alm de setecentos contos revestindo-se a
decorao interna de distinta elegncia e de aprimorada escolha o
mobilirio. Dispe, tambm, de moderno e rpido ascensor. Numa das suas
amplas dependncias trreas instalou-se a grande coleo numismtica
pertencente ao Estado e classificada em quarto lugar entre as congneres
mundiais. 266

266

CASTRO de Mavignier. Sntese Histrica da Evoluo de Manaus. 2. ed. Editora Umberto


Calderado Manaus Amazonas. p. 53-54

187

FOTO 25: Palcio Rio Branco

FONTE: MANAUS, lbum organizado na administrao do Prefeito Antonio Botelho Maia.


Manaus- Amazonas Brasil, 1938.

No incio da dcada de 1940, mais precisamente entre os anos de 1939 e


1940, foi construdo o Liceu de Artes e Ofcios que, embora concludo, continuava
aguardando o maquinrio para o seu pleno funcionamento. Iniciou-se, tambm, a
construo do Instituto de Educao,267 da Inspetoria do Trfego e do Servio de
Socorros de Urgncia.

267

EXPOSIO, ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica, por lvaro Maia,
Interventor Federal. (Outubro de 1939 Maio 1940). Manaus Amazonas, 1940. p.25-26

188

O Liceu de artes e ofcios foi construdo com recursos do governo Federal, e


inaugurado no governo de lvaro Maia.
FOTO 26: Liceu de Artes e Ofcios

FONTE: MANAUS, lbum organizado na administrao do Prefeito Antonio Botelho Maia.


Manaus- Amazonas Brasil. 1938.

Entre os anos de 1942 e 1943, encontravam-se ainda em construo os


prdios destinados Inspetoria do Trfego, o Hospital de Pronto Socorro, a Estao
Rdio-Transmissora do Amazonas e do Instituto de Educao e Cultura, alm das
obras de ampliao no Instituto Benjamin Constant, que estavam adiantadas. Nesse
perodo, foram adaptados vrios prdios para atender s novas necessidades da
administrao pblica, dentre eles podemos destacar: o Palacete da Avenida
Joaquim Nabuco, onde se instalara o Grupo Escolar Baro do Rio Branco; o
Palacete da praa Cinco de Setembro, destinado ao Departamento de Educao e
Cultura; o prdio da rua Silva Ramos, destinado para o almoxarifado da Secretaria

189

de Fomento Agrcola; o Palacete da rua Barroso, no qual funciona em salas amplas,


o Juizado de Menores; o prdio da praa Pedro II, para o Arquivo Pblico, cuja
documentao preciosa se acha atualmente nos pores da Biblioteca Pblica; o
prdio da avenida Sete de Setembro, onde o Juizado de Menores instalara uma
creche para filhos de operrios; o pequeno prdio, no bairro de So Raimundo, para
assistncia social infncia operria. De acordo com as informaes fornecidas pela
exposio apresentada pelo interventor lvaro Botelho Maia ao Presidente da
Repblica, Getlio Vargas, em 1943,268o alto custo da mo-de-obra e dos materiais
dificultava a construo de novas edificaes para acomodar os diversos setores da
administrao pblica, por isso, aceitou os pareceres tcnicos e comprou prdios
antigos para serem adaptados s necessidades de cada setor da administrao
pblica, com o objetivo de reduzir os gasto.
Na metade da dcada de 40, entre os anos de 1943-1944, de acordo com as
informaes do interventor federal, lvaro Maia,269 foram concludas as obras do
edifcio destinado ao Instituto de Educao, do edifcio do Departamento das
Municipalidades, no prdio situado na rua Av. Joaquim Nabuco, para instalao do
Grupo Escolar Baro do Rio Branco; do pequeno edifcio num terreno na Rua
Carvalho Leal, no bairro da Cachoeirinha, para sede da Delegacia de Polcia desse
bairro; do prdio adquirido para sede da Comisso Estadual da L.B.A; no prdio
para Inspetoria do Trfego Pblico. Nesse perodo tambm foi adaptado o prdio
para o Orfanato Escola Bom Pastor, destinado a meninas desvalidas, sob direo do
Juizado de Menores; e a compra do edifcio para sede do Conselho Administrativo
do Estado.

268

EXPOSIO ao Excelentssimo Senhor


lvaro Maia, Interventor Federal. (Maio de
Amazonas. p. 87.
269
EXPOSIO ao Excelentssimo Senhor
lvaro Maia, Interventor Federal. (Maio de
Amazonas. p. 180-183.

Doutor Getlio Vargas, Presidente da Repblica, por


1942 Maio de 1943). 1943. D. E. I. P. Manaus
Doutor Getlio Vargas, Presidente da Repblica, por
1943 Julho de 1944). 1944. D. E. I. P. Manaus

190

CONSIDERAES FINAIS

Escrever sobre a Manaus do perodo entre 1910 e 1940 foi, antes de tudo,
uma oportunidade de discusso acerca de alguns paradigmas sobre a histria
regional que, por algum tempo, nortearam nossa compreenso sobre essa cidade. O
primeiro deles tem a ver diretamente com a abordagem metodolgica da
historiografia sobre a regio, quando voltada para o aspecto poltico, econmico e
para os grandes vultos ou monumentos da histria; o segundo, de carter mais geral
no mbito das cincias humanas, refere-se concepo sobre a construo da
cidade cujo estudo geralmente estava associado a um fenmeno espontneo e o
terceiro voltou-se, especificamente, questo da dinmica interna do funcionamento
da cidade de Manaus, negando qualquer possibilidade de compreend-la, nem por
um momento, como algo possvel de estagnao.
Pela historiografia regional, pautada na perspectiva dos grandes eventos
como catalisadores do processo histrico da humanidade, criou-se a idia de que o
estado do Amazonas passou por grandes perodos de transformaes, tais como: o
perodo colonial que se estendeu das primeiras dcadas do sculo XVI at as
duas primeiras dcadas do sculo XIX; o processo de independncia; a abolio da
escravido; o processo de emancipao poltica no contexto regional, datados na
segunda metade do sculo XIX; o perodo da Belle poca no final do sculo XIX e
incio do sculo XX; a decadncia nas dcadas de 10 a 40 do sculo XX e, o
advento da Zona Franca, a partir de 1967.
Como resultado dessa periodizao do processo histrico local, a produo
historiogrfica regional, at a dcada de 1980, aponta o perodo de decadncia, que
se estendeu entre 1910 e 1940 como um momento de estagnao e esse termo

191

compreendido em seu sentido estrito, ou seja, inerte - principalmente quando


associamos a palavra estagnao a outras, como: decadncia e letargia. Com tais
adjetivos, condenou-se aquele perodo como um momento incapaz de produzir
mudanas significativas na organizao da cidade no qual nada alm da estagnao
mereceria registro ou a ateno do historiador.
Para o historiador que se ocupa do estudo dos sistemas econmicos, polticos
e dos grandes vultos ou monumentos da histria da humanidade, talvez nada
daquele perodo merecesse registro, como registrado anteriormente. Mas, ao
operarmos uma ligeira mudana de paradigma, torna-se possvel afirmar o oposto:
descobrir, naquele contexto, grandes transformaes fsicas e scio-culturais no
espao da cidade de Manaus.
Ao voltarmos nossa ateno para a arquitetura e o urbanismo da cidade,
deparamo-nos com uma Manaus em ebulio: pequenas e grandes obras,
crescimento populacional, o espao fsico da cidade em expanso. E mais ainda, o
Poder Pblico acuado pelos interesses diferenciados dos diferentes grupos sociais.
Um Poder Pblico que no mais poderia dar ouvido somente elite, era obrigado,
por fora das circunstncias econmicas e scio-culturais, a dar respostas s
demandas dos moradores dos subrbios e das zonas agrcolas do municpio. Tais
demandas exigiram a construo das pontes, a construo e alargamento das
estradas, extenso da rede eltrica e de gua potvel, forando o Poder Pblico a
ligar aquilo que ele preferia ver separado: o centro da periferia; a elite dos
moradores dos subrbios. Sarcasticamente invertendo o ideal de Eduardo Ribeiro:
no foi o Poder Pblico que fez de uma aldeia uma cidade moderna, foi o povo da
aldeia que transformou Manaus em uma cidade moderna, porque foram as
demandas criadas pela periferia e a produo das zonas agrrias as responsveis,
em grande parte, pela circulao e produo de renda sobre as quais o municpio
recolhia impostos para manter viva a utopia da Paris dos Trpicos, por meio da
construo e reforma de prdios, ruas e praas do espao da elite na Manaus dos
anos 1910 a 1940.
Acreditamos que as transformaes a que nos referimos acima e que
demonstramos exaustivamente no decorrer desse trabalho do prova de que o
projeto de embelezamento da cidade, iniciado no perodo ureo da borracha,
continuou a dar as diretrizes para a construo e manuteno da cidade, mesmo no

192

perodo mais intenso de sua crise econmica. Apesar da inverso sobre o construtor
da Manaus-aldeia em cidade moderna, a cidade que foi construda teve por base a
utopia de Eduardo Ribeiro e, durante todo o perodo pesquisado, no houve um s
ano sem que se fizessem obras no sentido de aproximar a cidade real da cidade
ideal.
O perodo entre 1910 e 1940 uma prova inconteste de que a cidade uma
obra humana e, neste sentido, resultante dos conflitos e das tramas inerentes a cada
grupo social responsvel por sua construo. A cidade, por isso, reflete tais conflitos,
tais tramas. Assim, a utopia da Paris dos Trpicos pertencia elite manauense,
essa elite pensava a cidade enquanto o espao por ela ocupado, ou seja, o centro
de Manaus. O projeto de modernizao correspondia ao centro da cidade. No
entanto, a crise do comrcio da borracha, juntamente com os grandes emprstimos
mal elaborados, endividaram sobremaneira a municipalidade e o estado, fato que
forou a migrao dos habitantes do interior para a capital do estado. A crise e a
migrao alteraram a dinmica interna da cidade de Manaus, forando o Poder
Pblico a redimensionar seus propsitos e, incluir os subrbios como reas de
investimentos prioritrios, pois deles esperava-se recursos.
Foi a partir dessa nova conjuntura econmica, poltica, cultural e social que a
cidade de Manaus foi construda. A elite foi obrigada a construir pontes fsicas e
sociais para lig-la periferia. Algumas pontes foram construdas sobre os igaraps,
outras tomaram forma de escolas, feiras e saneamento bsico, criando-se o palco
do monumental teatro imperceptvel pela historiografia tradicional, mas onde a trama
da vida dos construtores da cidade se desenrolou magistralmente.
A crise econmica existiu de fato, suas causas e a profundidade de seus
efeitos que so questionados. Pelos dados aqui apresentados, a grande vil da
histria no foi somente a queda, no mercado internacional, da borracha silvestre, a
falta de investimentos no plantio ordenado, beneficiamento e industrializao da
borracha, mas, alm desses, elementos acrescentamos os emprstimos externos
feitos no perodo imediatamente anterior crise econmica. Isso significa que no
foi apenas um desses elementos que intensificaram a crise mais o seu conjunto.
Apesar do drstico efeito da crise sobre a economia do estado e da cidade de
Manaus, ela no chegou a causar a letargia, a desacelerao da economia da
cidade, ao contrrio, deu-lhe outra dinmica de espacialidade e de relaes scio-

193

culturais. A Manaus de antes de 1910, pensada para ser a Paris dos trpicos no
chegou a se concretizar literalmente. Nos anos que se seguiram, ela se tornou
menos fruto de um modelo exgeno e bem mais a sntese de sua prpria dinmica,
resultante das contradies entre, pelo menos, duas grandes foras em luta: a elite e
sua ao para tornar real sua utopia e a ao dos moradores dos subrbios em sua
luta diria pela vida e pelo direito cidade.
A construo dos monumentos de concreto, dos traados de ruas, estradas,
pontes e vielas no nos revelam unicamente suas formas ou a rigidez de suas
estruturas, tais artefatos so depositrios das flexibilidades das tramas a partir das
quais so alinhavadas as estruturas das histrias dos grupos humanos que
constroem cidades, pois, a cidade , por definio, um artefato social.

194

REFERNCIAS

FONTES
MENSAGENS MUNICIPAIS
MENSAGEM lida perante a Intendncia Municipal de Manos em sesso de
abertura da 4 reunio a 15 de novembro de 1910, pelo superintendente,Coronel
Adrio Ribeiro Nepomuceno. Manos Amazonas. Seco de Obras da Imprensa
Official. 97, Rua Municipal 97, 1910.
MENSAGEM

apresentada

ao

Conselho

Municipal

de

Manos,

pelo

Sr.

Superintendente, Dr. Jorge de Moraes. Em 15 de maio de 1911. Manos


Amazonas. Seco de Obras da Imprensa Official. 97 Rua Municipal 97, 1911.
MENSAGEM lida perante o Conselho Municipal em sesso extraordinria de 28 de
janeiro de 1911, pelo Dr. Jorge de Moraes, Superintendente, municipal. Manos
Amazonas. Seco de Obras da Imprensa Official. 97, Rua Municipal 97. 1911.
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos pelo Superintendente
Coronel Joaquim Jos Paes da Silva Sarmento, em 15 de agosto de 1911, Manos,
1911
MENSAGEM lida perante o Conselho Municipal em sesso extraordinria de 04 de
outubro de 1911, pelo Superintendente, Dr. Jorge de Moraes. Typographia do
Commercio do Amazonas. Manos.
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente,
Dr. Jorge de Moraes em sesso extraordinria de 21 de novembro de 1911.
Manos, 1912.
MENSAGEM lida perante o Conselho Municipal, em sua 1 sesso ordinria de 11
de fevereiro de 1912, pelo Superintendente, Dr. Jorge de Moraes. Livraria Universal
Pereira & Penalva. Manos,

195

MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente,


Dr. Jorge de Moraes em de 08 de setembro de 1912. Rio de Janeiro. Typogrphia Ao
Luzeiro Avenida Passo, 43 1913.
MENSAGEM

apresentada

ao

Conselho

Municipal

de

Manos,

pelo

Sr.

Superintendente, Dr. Jorge de Moraes, em 8 de setembro de 1912. Rio de Janeiro,


1913.
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente
do Municpio, Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1913.
Manos, 1913.
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente
do Municpio, Dr. Jorge de Moraes, por occasio da abertura da sesso
extraordinria de 26 de maio de 1913. Manos, Seco de Obras do Commercio do
Amazonas. 12, Rua Joaquim Sarmento, 1913.
MENSAGEM apresentada ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente
do Municpio, Dr. Jorge de Moraes, em sesso ordinria de 05 de setembro de 1913.
Manos, Seco de Obras do Commercio do Amazonas. 12, Rua Joaquim
Sarmento, 1913.
MENSAGEM lida perante o Conselho Municipal pelo Superintendente, Sr. Dr.
Edgard de Rezende do Rego Monteiro, por occasio da abertura da sesso ordinria
daquelle corpo legislativo, em 1 de abril de 1924. Manos,
MENSAGEM apresentada Intendncia Municipal de Manos, pelo Dr. Jos
Francisco de Araujo Lima, Superintendente Municipal, em 1 de outubro de 1924.
Amazonas Manos, Seco de Obras da Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal
97, 1924.
MENSAGEM apresentada pelo Prefeito de Manos, pelo Dr. Joaquim Augusto
Tanajura Intendncia Municipal na sua sesso de 15 de abril de 1930. Manos
Amazonas Brasil, Imprensa Pblica. 1930.
MENSAGEM apresentada pelo Prefeito de Manos, Agrnomo Antonio Botelho
Maia, Cmara Municipal na sua sesso de 15 de abril de 1936. Typographia
PHENIX de Srgio Cardoso. Rua Joaquim Sarmento N.78. Manos,
MENSAGEM apresentada pelo Prefeito de Manos, Agrnomo Antonio Botelho
Maia, Cmara Municipal na sua sesso de 15 de abril de 1937. Typographia
PHENIX de Srgio Cardoso. Rua Joaquim Sarmento N.78. Manos.

196

RELATRIOS MUNICIPAIS
RELATRIO apresentado ao Conselho Municipal de Manos, pelo Superintendente
Coronel Adrio Ribeiro Nepomuceno, em 3. reunio ordinria do corrente anno.
Manos Amazonas. Seco de Obras da Imprensa Official. 97 Rua Municipal
97, 1910.
RELATRIO, apresentado ao Conselho Municipal em sesso de 15 de fevereiro de
1910 pelo Superintendente Agnello Bittencourt. Manos Amazonas. Seco de
Obras da Imprensa Official. 97 Rua Municipal 97. 1910.
RELATRIO apresentado ao Conselho Municipal em sesso de 15 de maio de
1910, pelo Superintendente Agnello Bittencourt. Manos Amazonas. Seco de
Obras da Imprensa Official. 97 Rua Municipal 97, 1910.
RELATRIO apresentado a Intendncia Municipal de Manos em sesso
extraordinria de 10 de janeiro de 1911, pelo Superintendente Coronel Adrio
Ribeiro Nepomuceno. Manos Amazonas. Seco de Obras da Imprensa Official.
97 Rua Municipal 97, 1911.
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos pelo Superintendente
Dorval Pires Porto em sesso ordinria de 5 de setembro de 1914. Typ. Da Livraria
RENAUD. Rua Municipal, 93. Manos.
RELATRIO, apresentado Intendncia Municipal de Manos pelo Superintendente
Dorval Pires Porto em sesso ordinria de 5 de setembro de 1915. Typ. da Livraria
RENAUD. Rua Municipal, 93 Manos,
RELATRIO,

apresentado

Intendencia

Municipal

de

Manos,

pelo

Superintendente Dorval Pires Porto em sesso ordinria de 11 de fevereiro de 1916.


Typ. da Livraria RENAUD. Rua Municipal, 93. Manos,
INTRODUCO AO RELATRIO, apresentado Intendncia Municipal de
Manos, pelo Superintendente Dorval Pires Porto em sesso ordinria de 14 de
julho de 1916. Typ. da Livraria RENAUD. Rua Municipal, 93. Manos,
RELATRIO

apresentado

Intendncia

Municipal

de

Manos,

pelo

Superintendente, Dr. Antonio Ayres de Almeida Freitas em sesso ordinria de 14


de julho de 1918. Typographia do C e L. Rua Joaquim Sarmento, 12. 1918.

197

RELATRIO

apresentado

Intendncia

Municipal

de

Manos,

pelo

Superintendente, Dr. Antoni Ayres de Almeida Freitas em sesso ordinria de 14 de


julho de 1919. Typographia do Ca e La. Rua Joaquim Sarmento, 12. 1919.
RELATRIO

apresentado

Intendncia

Municipal

de

Manos

pelo

Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S em sesso ordinria de 14 de


julho de 1920. Typographia do Ca e La. Rua Joaquim Sarmento, 12. Amazonas
Manos, 1920.
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 14 de
julho de 1921 pelo Superintendente Dr. Basilio Torreo Franco de S. Typographia
do Ca e La. Rua Joaquim Sarmento, 12. Amazonas Manos, 1921.
RELATRIO

apresentado

Intendncia

Municipal

de

Manos,

pelo

Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S em sesso ordinria de 11 de


maro de 1922. Typographia do C e L. Rua Joaquim Sarmento, 12. Amazonas
Manos, 1922.
RELATRIO apresentado Intendncia Municipal de Manos, em sesso de 1 de
outubro de 1922, pelo Superintendente, Dr. Basilio Torreo Franco de S.
Typographia do C e L. Manos, 1922.
RELATRIO lido perante Professor Marciano Armond Prefeito de Manos, em 28
de junho de 1931.
RELATRIO apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da
Repblica, pelo interventor Federal no Amazonas, capito Nelson de Mello. Outubro
de 1933 a Dezembro de 1934. 1935 Imprensa Pblica. Manos Amazonas.
RELATRIO apresentado ao Exmo. Dr. Interventor Federal do Estado do Amazonas
pelo Dr. Pedro Severiano Nunes, Prefeito do Municpio de Manaus. Amazonas
Brasil, 1934.
RELATRIO que o Agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito de Manaus, dirigiu ao
Exmo. Snr. Interventor Federal no Amazonas Dr. lvaro Botelho Maia. 1938.
Manaus Amazonas. Brasil.
RELATRIO apresentado ao Exmo. Snr. Dr. lvaro Botelho Maia, Interventor
Federal no Amazonas, pelo Engenheiro Agrnomo Antonio Botelho Maia, Prefeito
Municipal de Manaus, relativo aos exerccios de 1939 e 1938.

198

RELATRIO apresentado Cmara Municipal de Manaus, por ocasio da abertura


da sesso legislativa, em 15 de abril de 1955, pelo Prefeito Walter Scott da Silva
Rayol. Imprensa Oficial. 1955.
RELATRIO apresentado pelo Doutor Paulo Pinto Nery, Prefeito da Capital, ao
Excelentssimo Senhor Governador Doutor Arthur Cezar Ferreira Reis, sobre as
atividades administrativas desenvolvidas no perodo compreendido entre 24 de
novembro de 1965 e 24 de novembro de 1966.
MENSAGENS ESTADUAIS
MENSAGEM lida perante o Congresso do Amazonas na abertura da Primeira
sesso ordinria da stima legislatura, pelo Exmo. Snr. Coronel Antonio Clemente
Ribeiro Bittencourt, Governador do Estado em 10 de julho de 1910. Manos, Seco
de Obras da Imprensa Official. 97 Rua Municipal 97, 1910.
MENSAGEM lida perante o Congresso do Amazonas na abertura da Segunda
sesso ordinria da stima legislatura, pelo Exmo. Snr. Coronel Antonio Clemente
Ribeiro Bittencourt, Governador do Estado, em 10 de julho de 1911. Manos
Amazonas. Seco de Obras da Imprensa Official. 97 Rua Municipal 97, 1911.
MENSAGEM lida perante o Congresso do Amazonas na abertura da Terceira
sesso ordinria da stima legislatura, pelo Exmo. Snr. Coronel Antonio Clemente
Ribeiro Bittencourt, Governador do Estado, em 10 de julho de 1912. Manos
Amazonas. Seco de Obras da Imprensa Official. 97 Rua Municipal 97, 1912.
MENSAGEM lida perante o Congresso do Amazonas na abertura da primeira
sesso extraordinria da oitava legislatura pelo Exmo. Snr. Dr. Jonathas de Freitas
Pedrosa Governador do Estado, em 25 de fevereiro de 1913. Manos, Seco de
Obras da Imprensa Official. 97 Rua Municipal 97, 1913.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa por occasio da Abertura da
segunda sesso ordinria da oitava legislatura, em 10 de julho de 1914 pelo Exmo.
Snr. Governador do Estado, Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa acompanhada dos
Relatrios dos Chefes de Reparties. Manos Amazonas. Seco de Obras da
Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal 97. 1914.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Terceira sesso
ordinria da oitava legislatura pelo Exmo. Snr. Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa

199

Governador do Estado, em 10 de julho de 1915. Manos Amazonas. Seco de


Obras da Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal 97, 1915.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Sesso
extraordinria da nona legislatura pelo Exmo. Sr. Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa
Governador do Estado, a 15 de janeiro de 1916. Manos Amazonas. Seco de
Obras da Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal 97, 1916.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Segunda Sesso
Ordinria da Nona Legislatura pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar
Governador do Estado, a 10 de julho de 1917. Manos Amazonas. Seco de
Obras da Imprensa Pblica. 97 Rua Municipal 97, 1917.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Terceira Sesso
Ordinria da Nona Legislatura pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar
Governador do Estado, a 10 de julho de 1918. Imprensa Pblica Manos, 1918.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Primeira Sesso
Ordinria da Dcima Legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar,
Governador do Estado, a 10 de julho de 1919.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Segunda Sesso
Ordinria da Dcima Legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Pedro de Alcantara Bacellar,
Governador do Estado, a 10 de julho de 1920.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa, na abertura da Terceira Sesso
Ordinria da Dcima Legislatura, pelo Exmo. Sr. Desembargador Cesar do Rego
Monteiro, Governador do Estado, a 10 de julho de 1921.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa por S. Exmo, o Sr.
Desembargador Cesar do Rego Monteiro Governador do Estado em 15 de janeiro
de 1922, por occasio da abertura da reunio extraordinria convocada pelo Decreto
No. 1.425, de 24 de dezembro de 1921. Manos, Imprensa Pblica, 1922.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Segunda Sesso
Ordinria da Dcima Primeira Legislatura, pelo Exmo. Sr. Desembargador Cesar do
Rego Monteiro, Governador do Estado, a 14 de julho de 1923.
MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Segunda Sesso
Ordinria da Dcima Primeira Legislatura, pelo Exmo. Sr. Desembargador Cesar do
Rego Monteiro, Governador do Estado, a 14 de julho de 1923.

200

MENSAGEM lida perante a Assemblia Legislativa na abertura da Terceira Sesso


Ordinria da Dcima Primeira Legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Turiano Meira,
Governador do Estado, a 14 de julho de 1924. Manos.
MENSAGEM lida Assemblia Legislativa do Estado em sua reunio extraordinria
de 15 de dezembro de 1925. Imprensa Pblica. Manos, 1925. (Alfredo S
Interventor Federal no Amazonas)
MENSAGEM do Presidente Ephigenio Ferreira de Salles ASSEMBLIA
LEGISLATIVA na abertura de sua primeira sesso ordinria da dcima terceira
legislatura em 14 de julho de 1926. 1926. Typ. da Imprensa Pblica, Manos,
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa pelo Exmo. Sr. Antonio Monteiro
de Souza, Presidente da Assemblia no exerccio de Presidente do Estado, por
occasio da abertura da Segunda reunio ordinria na dcima terceira legislatura
em 14 de julho de 1927. Manos, Imprensa Pblica, 1927.
MENSAGEM de Ephigenio Ferreira de Salles. Amazonas Manos, 1928.
MENSAGEM do Presidente do Estado do Amazonas Assemblia Legislativa, lida
na abertura da 1. Sesso Ordinria da 14. Legislatura. Amazonas Manos, 1929.
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa do Amazonas, pelo Presidente
Dorval Pires Porto, ao installar-se a 2 sesso ordinria da 14 Legislatura. Manos,
Imprensa Pblica. 1930.
MENSAGEM do Governador lvaro Botelho Maia Assemblia Legislativa na
abertura da sesso ordinria, em 3 de maio de 1936.
MENSAGEM do Governador lvaro Botelho Maia Assemblia Legislativa, na
abertura da sesso ordinria em 3 de maio de 1937. Amazonas Manaus. Imprensa
Pblica. 1937.
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa em sua sesso ordinria de
1948, pelo Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves. Imprensa
Oficial. Manaus Amazonas. 1948.
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa, em sua sesso ordinria de
1949, pelo Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves. Imprensa
Oficial. Manaus Amazonas. 1949.
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa, em sua sesso ordinria de
1950, pelo Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves. Diretoria da
Imprensa Oficial. Manaus 1950.

201

MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa do Amazonas, na sua sesso


de abertura em 15 de maro de 1952, pelo Governador lvaro Maia. Manaus. D. I.
O. 1952.
MENSAGEM apresentada Assemblia Legislativa do Amazonas, em sua sesso
de abertura em 15 de maro de 1953, pelo Governador lvaro Maia. Imprensa
Oficial. Manaus Amazonas. 1953.
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EXPOSIO ao Exmo. Sr. Dr. Getlio Vargas, Presidente da Repblica por lvaro
Maia, Interventor Federal. (Maio de 1940 a Maio de 1941). Imprensa Pblica.
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208

ANEXOS

ANEXO I
Mapa da Cidade de Manaus 1915
Mapa da Cidade de Manaus - 1937
ANEXO II
LEI n. 639, de 13 de setembro de 1910. Promulgado o Cdigo de Posturas do
Municpio de Manos,
LEI n. 1.059, de 22 de outubro de 1920. Promulgado o Cdigo de Postura do
Municpio de Manos, Livraria Clssica de J.J. da Cmara, rua Guilherme Moreira,
1 e 3. Canto da rua Theodoureto Souto, 11. Manos Amazonas. 1920.
ATO N 44, de 29 de julho de 1938. Outorgado o novo Cdigo de Postura do
Municpio de Manos, Amazonas Manaus Imprensa Pblica. 1939.

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