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Anthem: Rush nos anos 70
Anthem: Rush nos anos 70
Anthem: Rush nos anos 70
E-book458 páginas7 horas

Anthem: Rush nos anos 70

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Sobre este e-book

A PRIMEIRA PARTE DA TRILOGIA DEFINITIVA DO RUSH.

O primeiro dos três volumes de Rush Através das Décadas, Anthem coloca o catálogo da banda, desde sua estreia autointitulada até Hemispheres, de 1978 (o próximo volume é retomado com o lançamento de Permanent Waves) no contexto da cultura pop canadense e geral e apresenta o trio.
Lutando contra a complacência, provocando reflexão e, muitas vezes, enfurecendo os críticos, o Rush está em guerra com a indústria da música desde 1974, quando eles foram descartados pela primeira vez. Anthem, como cada volume desta série, celebra a perseverança de Geddy, Alex e Neil: três homens que mantiveram seus valores enquanto operavam a partir de uma base canadense, durante anos magros, tragédias pessoais e o eventual sucesso mundial da banda.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de nov. de 2023
ISBN9786555372946
Anthem: Rush nos anos 70

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    Anthem - Martin Popoff

    Anthem: anos 70

    Introdução

    a comparação é boba, mas

    engraçada, então aqui vai

    Sob o céu do black country canadense de Trail, Colúmbia Britânica, meados dos anos 1970, o metal pesado reinava absoluto. Era o grande negócio da minha cidade natal assim como nos dois berços da civilização do metal – Detroit e Birmingham. Enquanto nessas cidades havia aço e peças automotivas, nós tínhamos fundições de chumbo e zinco que empregavam milhares de trabalhadores da nossa cidadezinha, além de um moinho satânico na colina que parecia se agigantar sobre o centro da cidade. De fato, era o local onde nos agrupávamos quando terminávamos o colégio e não queríamos ir para a faculdade: acabávamos indo trabalhar lá em cima da colina.

    Tudo bem, comparar Trail às cidades onde bandas como Black Sabbath, Judas Priest, The Stooges e MC5 foram criadas é só para dar risada mesmo. Além disso, meu pai era professor, minha mãe era enfermeira e tive uma infância sem passar qualquer necessidade numa casa espaçosa construída pela família em 1970 no idílico subúrbio de Glenmerry. Mesmo assim, eu e todos os meus amigos éramos jovens metaleiros raivosos, e tenho certeza absoluta de que ouvimos o Rush de Rutsey com 11 ou 12 anos, antes de 1975.

    Trabalhadores como o da música Working Man, mesmo que não fosse exatamente o caso para mim e meu círculo de amigos mais próximos. Essa canção de fato se conectava com Cleveland e fazia todo o sentido para os camaradas operários da Cominco. No final de minha adolescência, como gerente do departamento de discos e vendedor de aparelhos de som estéreo em diferentes lojas, conheci muitos desses caras (mantendo certo distanciamento cauteloso). Eles eram assustadores e não ligavam para nada, e muitas vezes gastavam 10 mil pratas em som automotivo das marcas Klipsch, JBL, Bose 901 ou os Cerwin-Vegas revestidos de carpete, em geral reforçados por um Yamaha 3020, para a alegria do meu chefe Gordon Lee, que ainda comanda a Rock Island Tape Centre quatro décadas depois.

    É claro que todos esses caras também eram fãs do Rush, tocando Bastille Day a todo volume em seus Camaros e Mustangs (sim, Gord me jogou lá no pós-vendas como instalador de som) e pontificando com 2112 enquanto se nutriam dos estoques de maconha guardados no armário. Eles conheciam o Rush porque eu vendia as porras dos discos da banda para eles, mas também porque nós tínhamos a estação de rádio rock perfeita chamada KREM-FM, que transmitia beirando a gloriosa alta-fidelidade diretamente de Spokane, Washington, onde idolatravam esses sábios swamis do som canadenses. De fato – e que lembrança terna – tocaram 2112 na íntegra quando o disco saiu, e é claro que estávamos com os dois dedos prontos para acionar as teclas play e record ao entardecer.

    Mas havia outro grupo de cabeludos bebedores de cerveja que se debruçou sobre os sete álbuns do Rush que celebramos neste livro: os futuros músicos. Eu era um desses caras. O dia em que entrei no meu baby Mustang roxo de 1977 (um Toyota Celica) e dirigi 120 quilômetros até Nelson para buscar minha bateria Pearl preta com nove peças, inspirado pela qualidade de Neil Peart e Peter Criss, foi mágico. (Quarenta anos mais tarde, mostrei o recibo da bateria para Peter enquanto ele autografava alguns discos meus numa mesa- -redonda sobre livros na Rock’N’Con em London, Ontário.)

    Sem dúvida, foi um prazer imenso escrever este livro, lembrar a camaradagem das bandas, mesmo que de curta duração, conversar sobre as viradas de Neil Peart com Darrell e Marc, as linhas de baixo de Geddy com Pete e Sammy, e os licks de Alex com Mark e Garth – e, sim, ele é realmente igualzinho ao Garth de Wayne’s World – Quanto Mais Idiota Melhor, e eu confesso que não estava muito longe de ser o Wayne. O Rush foi nosso livro didático sobre música, místico e refinado, ao mesmo tempo em que Neil desafiava nosso cérebro por sua arte com as palavras (tenho certeza de que por muito tempo achamos que era Geddy quem rabiscava todos aqueles biscoitos da sorte). O Rush nos levava a querer alcançar a excelência em muitos níveis simultâneos, e juro que era seu propósito fazer os garotos do colégio se preocuparem com o que viria em seguida.

    Nossa, cara, eles eram perfeitos. O prog rock em si era sinistro demais. Tales From Topographic Oceans podia ser o equivalente aos Moonies vindo te pegar. Na outra ponta, todas as nossas bandas de metal – Sabbath, Purple, Nazareth, Rainbow, UFO, Thin Lizzy, Kiss, Aerosmith, The Nuge e, numa extremidade obscura, Legs Diamond, Riot, Angel, Starz, Moxy and Teaze – eram boas demais para nós. Mas o Rush fazia todos se esforçarem além. Educadamente pediam que direcionássemos nossas energias para algo mais positivo. Coma direito, use aqueles pesos no porão.

    Neil nos empurrava para a filosofia e a literatura de um lado, e como músicos, cara, o que fizeram com a autoestima dos garotos é imensurável. Nós tínhamos um propósito, um hobby que era uma tarefa interminável para ser concluída. E ainda assim tenho algo a dizer sobre o Rush: fizeram tudo de forma alcançável. Acho que se tivéssemos a fórmula e a calculássemos usando Close to the Edge, The Inner Mounting Flame, Aja, Red, Brand X ou Buddy Rich, teríamos concatenado a coisa toda. Mas Neil com seus rulos regulares nos tom-tons afinados? E com certa frequência a bateria montada com apenas um dos dois bumbos? Muito do que Rush fez… bem, dava para chegar lá quando se era garoto. Eu mesmo consegui chegar lá quando era garoto.

    Sem dúvida, esta é uma reminiscência pessoal do Rush nos anos 1970. Mas pelo que ouvi de amigos do mundo inteiro (admito, a maioria homens brancos cinquentões), trata-se praticamente de uma experiência universal.

    Quero contar um pouco sobre a história deste livro. Como você já deve saber, esta é minha quarta obra sobre o Rush, seguindo Contents Under Pressure: 30 Years of Rush at Home and Away, Rush: The Illustrated History e Rush: Album by Album. Desde então, houve vários desdobramentos interessantes que me fizeram querer escrever este aqui. Para começar, só um dos três livros, Contents, era uma biografia tradicional – autorizada, devo dizer –, mas muito curta, e como saiu em 2004, antes da aposentadoria oficial da banda, precisava de uma atualização. Pensei em fazer isso, mas não tinha muita certeza, porque precisaria de alguns acréscimos importantes.

    Isso, felizmente, acabou acontecendo. No começo de 2010, comecei a trabalhar com Sam Dunn e Scot McFadyen da Banger Films no premiado documentário Rush: Beyond the Lighted Stage. Quem trabalha com documentários sabe que entre os diferentes entrevistados e as imagens sem diálogo que entram na edição para se chegar a um filme de 90 minutos, apenas uma porcentagem mínima das gravações é usada: o restante acaba repousando num arquivo e é raramente visto ou ouvido por alguém. Para encurtar a história, consegui usar esse arquivo, junto com outras entrevistas que realizei ao longo dos anos, além de algumas citações na imprensa especializada, para fazer com que este livro chegasse ao ponto de trazer algo novo e significativo à prateleira de volumes do Rush.

    Então, graças em grande parte àqueles caras – assim como ao gentil consentimento de Pegi Cecconi do escritório da banda – aqui está o livro que complementa Contents Under Pressure com competência e se apresenta como a análise mais detalhada e completa do catálogo do Rush em seus primórdios.

    Martin Popoff

    Capítulo 1. Os primeiros anos

    Não há dúvidas de que os Beatles foram e ainda são os santos padroeiros do rock ‘n’ roll. E em 9 de fevereiro de 1964, a primeira de três apresentações consecutivas no programa de televisão The Ed Sullivan Show seria o nexus dessa santidade: naquela noite, os Beatles inspiraram um grande número de adolescentes a se unirem à causa do rock, incluindo os heróis da nossa história. Mas se alguém quisesse detalhar o processo, ir mais a fundo e descobrir quem poderiam ser os santos padroeiros dos músicos, não seria incorreto atribuir tal título a esses heróis – Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart e seu coletivo canuck chamado Rush.

    É claro, Neil, o Professor, sorrindo com a modéstia canadense, diria que tal premissa não passa de um absurdo, talvez citando como os próprios santos padroeiros da música nomes como The Who e Cream, talvez Jimi e sua banda, Led Zeppelin, ou ainda roqueiros origami do underground como Yes, Genesis e King Crimson. Mas retornando a Neil, alguém deveria dizer ao titã da bateria que o tempo não para. Ao longo das gerações, movimentos e bandas do rock passam por altos e baixos, como ondas. Estrelas de cinema dos anos 1930 e 1940 são esquecidas, orquestras de big bands são esquecidas, bandas de doo-wop são esquecidas, as playlists de rádio dos anos 1960 e 1970 são implacavelmente editadas para caber no verso de um envelope – ninguém mais se importa com o que você pensa.

    E assim, à medida que o tempo passa e os grandes nomes dos anos 1960 são esquecidos, os membros do Rush parecem prontos para se tornarem os novos santos padroeiros da música. E talvez permaneçam lá. Na segunda metade dos anos 2000, o mundo se voltou para o pop e o hip hop com som feito cada vez mais por máquinas. Se o rock de fato morreu muito pela paralela contração precipitada da indústria musical, marcada pelo fato de a música gravada ter se tornado essencialmente grátis, então nós podemos apontar de uma vez por todas e de forma definitiva esses santos padroeiros.

    Como bateristas estão acostumados a observar, nenhum pai teve de forçar o filho a praticar com a bateria, e numa referência indireta, é por isso que os padroeiros não são uma escolha sensata como Mahavishnu Orchestra, Gentle Giant, Kansas ou Brand X. É necessária uma chama interior, uma emoção, um pouco de distorção no pedal para iluminar um adolescente e seus sonhos. E por isso o Rush, mais que qualquer outra, é a banda que redigiu o manual para nossos ídolos roqueiros dos anos 1980 e 1990. Eles inspiraram todos aqueles que fizeram rock antes que o gênero sofresse uma miniaturização rápida a partir dos anos 2000. Por mais controverso que o tema seja – como claramente são essas reduções –, se o rock mais produtivo, amplo e adorado desde a echarpe esvoaçante de Steven Tyler até o fim da guitarra, baixo e bateria vai de, digamos, 1977 até 2007, pode-se dizer que as músicas do Rush são aquelas trabalhadas com mais afinco entre os músicos que viveram essa época, as canções que fizeram avançar os recursos de centenas de suas estrelas do rock favoritas, tornando-os bons o suficiente para serem ouvidos.

    Mas antes de tudo isso, os Beatles explodiram como um foguete deixando um rastro incandescente ao redor do mundo, e isso incluía o Canadá, onde Geddy Lee e Alex Lifeson (vamos ouvir falar do novato mais adiante) estavam educadamente fazendo anotações nos cadernos

    escolares em Willowdale, Ontário, um indistinto subúrbio a noroeste de Toronto. Os colegas de sala mal tinham entrado na adolescência quando o rock mudou o conceito de indivíduos para grupos. E já estavam lá certa maturidade e algum foco forjados pela experiência canadense da dupla, que teve de lidar com a mudança cultural que tomava os corredores dos colégios no planeta inteiro.

    Gary Geddy Lee Weinrib nasceu em 29 de julho de 1953, em Willowdale, portanto estava na idade perfeita para entender a dimensão desse passe livre da prisão que lhe foi entregue, como se pode imaginar, por Ringo. Ele também tinha um irmão e uma irmã numa família chefiada por dois sobreviventes do Holocausto, Morris Weinrib e Manya Rubenstein, agora Morris e Mary Weinrib, do norte de Toronto.

    No começo, os dois trabalhavam no que chamavam de ‘schmatta’, um negócio, explica Geddy sobre os pais, que era uma linha de montagem, costurando peças de roupas e coisas assim. Mas eles progrediram até ganhar uma renda familiar equivalente à classe média baixa e me criaram nos subúrbios. Então fui um produto da vida suburbana. Ouça a música ‘Subdivisions’: era assim onde fui criado. Era um bairro sem árvores, sem emoção. Uma nova subdivisão.

    Geddy conta que ser um dos poucos garotos judeus do lugar fazia com que ele se destacasse. Quando chegamos a esse bairro, nós tínhamos que pegar o ônibus para a escola e, quando se é criança, é algo bem aterrorizante. Era um bairro complicado. Aquela parte de Toronto fica bem na fronteira entre a zona rural e os subúrbios, então ficava num território de transição. Havia uma mistura de diferentes tipos de classe social, então havia muitos garotos bem durões – os chamávamos de greasers na época – que não tinham muito o que fazer a não ser bater nos mais novos. Então, era uma época bem emocionante. Eu odiava morar nos subúrbios e, na primeira oportunidade, caí fora. Acho que muitos garotos com quem eu saía se sentiam da mesma forma. Tudo acontecia no centro da cidade. Nós queríamos ir para o centro – e vivíamos indo até lá.

    Meu marido tinha uma irmã no Canadá, e não tínhamos para onde ir, conta a mãe de Geddy, Mary. "Ela providenciou os papéis para nós, e chegamos aqui em 1948. Meu marido e eu ficamos com ela por um tempo; não tínhamos qualquer trabalho ou profissão, então foi muito difícil no começo. Meu marido tinha um amigo de muitos anos antes, quando eram apenas crianças na escola, e ele se ofereceu para nos ensinar – Morris passaria as roupas a ferro, e eu faria os acabamentos das peças. Então, em cerca de duas semanas, ele nos deu algumas aulas, e nós aprendíamos todos os dias. Depois outro primo conseguiu para nós uma vaga na fábrica. Vestuário. Meu marido ganhava um dólar por hora, e eu ganhava 50 centavos por hora. Depois de um tempo, eu era tão rápida que eles me davam amostras para que trabalhasse por empreitada, assim passei a ganhar mais.

    "Então finalmente nos mudamos para nossa casa, e dois anos depois, minha filha nasceu. Eu lembro quando começamos a procurar um lugar para morar, a primeira coisa que dizíamos era ‘Nós temos uma filha’. Tendo uma criança, era mais difícil – não conseguíamos alugar nada. E depois que nos mudamos, Geddy estava a caminho, e com dois filhos, a proprietária, essa senhora loira, não quis nos aceitar mais. Não tínhamos dinheiro para dar a entrada numa casa, mas meu marido foi até essa associação que ajudava as pessoas, e eles nos emprestaram o dinheiro, e compramos uma casa e aguardamos a chegada de Geddy. Eu me lembro de cada cômodo daquela casa; aluguei cada um deles só para juntar dinheiro e pagar os 5 mil dólares que devíamos. Geddy nasceu, e meu marido ficou tão animado porque era um menino, e nós já tínhamos uma menina.

    Era um bairro agradável, continua Mary, "na Charles Street. Era um bairro muito bom, tranquilo. Havia uma mistura de jovens e velhos. Depois, nos mudamos para Willowdale. Na verdade, primeiro fomos para Downsview, depois Willowdale. Allan nasceu em Downsview. Meu marido vendeu a casa do dia para a noite: fomos a um casamento, e o primo dele estava lá e disse: ‘Sabe, Morris, eu tenho um interessado pela sua casa’. Era um bangalô. Então meu marido pediu um preço exorbitante e falou: ‘Se ela pagar, eu entrego o bangalô’. Chegamos em casa depois do casamento, duas da manhã, e o primo dele estava aguardando na entrada e disse: ‘Assine aqui’. Então, no dia seguinte tivemos que procurar uma casa, e foi assim que chegamos a Willowdale.

    Todo mundo conhecia todo mundo, e era um lugar agradável – bons vizinhos, ótimo lugar para se morar, porque todas as crianças tinham a mesma idade, com muitos amigos por toda parte. Era um bom bairro: fácil de ir ao mercado, tudo era fácil. Lembro que, quando compramos uma loja em Newmarket, íamos até lá de carro, era uma estrada bem traiçoeira. Não havia rodovias, não havia nada, tudo era lamacento, e se chovesse, mal se conseguia trafegar. Então meu marido dizia: ‘Você vai ver, em poucos anos tudo isso estará pronto’. E foi o que aconteceu, em poucos anos tudo estava construído. Típico de sua personalidade luminosa, Mary Weinrib se lembra de Willowdale de uma forma mais positiva que Geddy.

    Era bem chato, diz Geddy. Não havia muita coisa para fazer. Então foi por isso que a música se tornou tão importante para nós, porque íamos até o porão da casa de alguém ouvir música, e todo mundo tinha bandas favoritas diferentes. Um resumo da nossa vida social. Não havia muita coisa além disso. Ir a um show de vez em quando, ir até o centro, esse tipo de coisa. Quando eu tinha 12 anos, meu pai faleceu. E nós éramos uma família religiosa, uma família judia, e nesse tipo de residência, quando o pai morre, o filho, o primeiro filho homem, tem que… assumir muitas responsabilidades no processo de luto.

    Morris nunca se recuperou por completo dos danos sofridos no campo de concentração nazista. Como parte dos deveres de Geddy no luto familiar, ele conta que teve de ir até a sinagoga duas vezes por dia, de manhã e à noite, durante 11 meses e um dia, e precisou se afastar do rock ‘n’ roll, até mesmo abandonar as aulas de música da escola.

    Ainda há canções que foram populares naquele ano e que o pessoal fala que todo mundo deveria saber do que se trata, e eu fico pensando ‘O quê?’, continua Lee. Houve simplesmente uma lacuna no meu aprendizado. De qualquer maneira, quando aquele ano terminou, eu meio que mergulhei de cabeça para tentar acompanhar meus amigos e ser um garoto normal, tocar com os outros caras da vizinhança. Com frequência me pergunto se foi isso que me tornou tão ávido por me tornar músico, o fato de que isso me foi privado durante um ano inteiro.

    A mãe de Geddy afirma que ele era um ótimo garoto, tranquilo; tinha mesmo um ótimo senso de humor, e era um menino feliz. E realmente demonstrou muito respeito desde criança, era bom aluno na escola, tinha muitos amigos; ele era muito bom. Até seu pai morrer. Foi difícil. Nós nos mudamos, e dois anos depois, meu marido morreu. E Geddy tinha, eu acho, perto de 12 anos. Ele foi realmente de grande ajuda para mim porque depois que meu marido morreu fiquei em choque. Além disso, tínhamos uma loja, e duas semanas depois, eu pensava que não conseguiria voltar lá. Não podia ir. Me davam todo tipo de comprimidos, isso e mais aquilo. Uma vez, quando eu estava chorando muito, de verdade, Geddy me escutou. Ele entrou, se sentou ao lado na minha cama e disse: ‘Mamãe, eu sei por que você está chorando. Não sabe o que fazer com a loja, não é? O papai gostaria muito que você abrisse a loja e tentasse, e se não conseguir, pelo menos sabe que tentou’. E o resto é história. Ele saiu, levou todos aqueles comprimidos embora, ligou para a garota que nos ajudava na loja, porque ela tinha uma chave em Newmarket, e disse ‘Estou saindo’. Só quero explicar para você que tipo de pessoa solícita esse menino foi. Mesmo mais tarde, naquele mesmo ano. Era dezembro, época de Natal, e eu precisava de alguém para me ajudar na loja. Eu tinha duas garotas, e Geddy se ofereceu. E ele ficava no caixa o dia inteiro. Nem mesmo saía para almoçar.

    Voltando de carro para casa na véspera de Natal, Mary decidiu que o filho merecia um presente por trabalhar tanto. Geddy disse que Terry, o vizinho, tinha uma guitarra à venda por 50 dólares. Assim que sua mãe se recuperou do choque e eles chegaram em casa, ela deu o dinheiro para Geddy.

    Estávamos dizendo para ele que agora ele era o homem da casa, continua Mary. Você agora é o homem que chefia esta família. Então este menino, depois de cerca de três meses que eu estava de volta ao trabalho, me disse: ‘Estou tão contente, tão feliz, mamãe, que você está trabalhando e eu posso ir para a escola, porque eu achava que ia ter que trabalhar em vez de estudar’. Veja bem, o pai dele na verdade tinha sido músico na juventude. Naqueles anos, não havia como se tornar uma grande estrela. Se alguém precisava de um baterista num casamento, ele tocava bateria. Se alguém precisava de um violonista, ele tocava violão. Quando estávamos na Alemanha, morávamos com uma velha senhora alemã e tínhamos um quarto. Ela tinha um bandolim, e ele sempre falava sobre música, até que essa senhora disse: ‘Aqui, fique com o bandolim. Toque!’. Então ele costumava ir todas as manhãs até minha janela e tocar todos os tipos de música com um bandolim. E quando estávamos de mudança para o Canadá, eu disse: ‘Você não vai levar aquela coisa enorme?’. E hoje eu gostaria que ele tivesse trazido o instrumento. Então Geddy puxou ao pai dele, de verdade.

    Sobre as obrigações religiosas de Geddy após a morte do pai, Mary explica: "Durante o ano todo, ele fazia as orações para o pai, duas vezes ao dia, de manhã e no final da tarde. Eu tinha um amigo que o levava à sinagoga, depois o levava para a escola, e novamente o levava à noite e depois o trazia para casa. Sim, ele era muito jovem. Na verdade, aprendeu sozinho a Torá, aprendeu sozinho a fazer as orações. Uma semana antes de seu bar mitzvah, chamei o rabino e disse: ‘Veja, estamos perto do bar mitzvah, não sei se este garoto sabe alguma coisa, porque não tivemos um professor para ensiná-lo’. Mas, é claro, o rabino estava sentado ao meu lado. Eu estava chorando por uma boa razão, do fundo do meu coração, e ele colocou a mão sobre o meu ombro e disse: ‘Senhora Weinrib, eu queria ter o dom do seu filho. Seu filho recebeu um dom de Deus’. Quem acreditaria nisso? Sabe o que quero dizer? Eu achava que ele estava me dizendo aquilo só porque eu estava chorando.

    "Mesmo antes, quando meu marido estava vivo, a primeira coisa que ele comprou para esta casa foi um piano. Nós não tínhamos um centavo, nada, nem mesa, nada, e pagávamos aulas de piano para Susan. Certo dia, num domingo, a professora veio e ensinou a ela uma coisa nova. E eu a convidei para tomar chá, e de repente escutamos música, e a professora disse: ‘Sabe, tenho que ir até lá e parabenizar Suzie. Ela tocou muito bem’. Nós entramos na sala, e era Geddy. E a professora me disse: ‘Não pode deixar isso desaparecer. Esta criança tem um ótimo ouvido para música. Ele precisa fazer aulas’. E ele tinha só 10 anos de idade. Mas, na época, só tínhamos dinheiro para as aulas da Suzie.

    Na verdade, todos os professores me falavam isso, então eu sabia. O pai dele tinha o mesmo ouvido para música. Este homem, de manhã, acordava com o rádio ligado, ia dormir com o rádio ligado, e na loja sempre havia música tocando. E sabe o quê? Ele costumava debochar dos Beatles. Meu marido dizia: ‘Yeah, yeah, yeah – como esses rapazes vão vender discos?’. Sempre que eu ouço os Beatles, lembro que ele falava isso para mim.

    Logo Geddy estaria ouvindo os Beatles de novo, mas neste meio-tempo foi difícil para ele abrir mão da música.

    Sim, foi, foi muito difícil. Não era permitido ouvir música. Na minha presença, ao menos, ele nunca ouvia música no rádio. Estava realmente cumprindo com seu dever porque tinha que ir fazer as orações. E, depois de um ano, ele desabrochou. Geddy se tornou ele mesmo. Depois de um ano, você pode começar. Ainda mais porque ele já tinha o violão. O pai dele tinha morrido em outubro, e eu comprei o violão em dezembro, no dia 24 para ser exata. Então eu lembro que ele teve que fazer um ano de aulas de nivelamento para acompanhar a turma, que ficava num bairro diferente. Depois, no ano seguinte, foi para a Fisherville Junior High School, e às vezes ele sabia mais do que o professor. Porque já tinha os fundamentos. E foi então que conheceu Alex. Ele costumava trazê-lo para nossa casa. Eu adorava o Alex. Era um rapaz tão agradável e bonitinho, muito educado, muito gentil e uma boa companhia.

    Na verdade, foi um alívio cômico para Geddy quando veio esse novo amigo, Alexandar Lifeson Živojinović, nascido em 27 de agosto de 1953 em Fernie, Colúmbia Britânica. A primeira vez que vi Alex foi na R. J. Lang Junior High School, ele era bem saliente na época porque era o queridinho das professoras, brinca Lee. "Eu também tinha um amigo, Steve Shutt, que se tornou um jogador de hóquei bem conhecido, e nós íamos para a escola juntos. Ele era um dos poucos caras que conheci no colégio que na verdade eram muito mais legais do que aparentavam. Steve era engraçado porque deixava o cabelo crescer no verão, quando não podia jogar hóquei, e assim que voltava para o hóquei, ele cortava o cabelo, então era uma espécie de esquisitão secreto. Nós nos dávamos muito bem naquele tempo, e ele foi o primeiro cara que me fez reparar no Alex.

    "Como eu tocava violão e procurava outros caras com quem tocar, ele me disse: ‘Bem, tem esse cara que toca guitarra muito bem. Você deveria conversar com ele’. Steve conversava comigo porque sabia que eu gostava de música e tocava um instrumento, e falou sobre esse cara, Alex Zavonovich – ele falava assim, dizia o nome dele errado. ‘Você deveria chamar essa cara, vocês poderiam tocar juntos’. Então essa foi a primeira vez que ouvi falar de Alex. Mas eu não fiz contato até o ano seguinte, quando ficamos na mesma turma na escola Fisherville. Era um garoto muito engraçado, um palhaço, e sempre me fazia rir. E foi assim que ficamos amigos no colégio. Além disso, gostávamos das mesmas bandas, e ainda havia o fato de que ele era guitarrista. Eu já tocava baixo, então foi um encaixe natural para nós dois. Sentávamos nos fundos da sala de aula. Acho que ele foi o primeiro amigo que tive naquele bairro onde meio que nos tornamos irreverentes juntos.

    De qualquer forma, a realidade é que foi sugestão de Steve que eu conversasse com Alex. E então, nunca vou esquecer, no ano seguinte ficamos na mesma turma, e ele sempre usava uma camisa de lã escocesa com uma estampa chamativa e o cabelo bem penteado, e sempre puxava o saco dos professores, me lembro disso claramente. Mas foi assim que nos conhecemos, e depois descobrimos que éramos ambos músicos e no final das contas acabamos tocando juntos. E era fácil gostar dele, Alex era muito engraçado. Até hoje é o ser humano mais engraçado que já conheci na vida. Ele tem esse charme, sabe. Quando você o conhece, apenas passa a gostar dele. Então eu gostei dele, e nos tornamos bons amigos.

    Os pais de Alex, Nenad e Melanija Milla Živojinović, também chegaram ao Canadá depois da Segunda Guerra Mundial. Haviam se conhecido na antiga Iugoslávia: Meu pai foi enviado para a Colúmbia Britânica para trabalhar nas minas, assim como muitos cidadãos do Leste Europeu naquela época, começa Lifeson. "A família da minha mãe… meus tios queriam procurar um trabalho melhor, então acabaram em Fernie também, e nós partimos quando éramos muito jovens. Acho que eu era um bebê de dois anos quando partimos – e eu realmente não tenho lembrança alguma daquela época. E depois nos mudamos para o centro de Toronto, eu cresci lá e na zona norte da cidade.

    Comecei a me interessar de verdade por música com 12 anos e ganhei meu primeiro violão. Meus pais me compraram um Kent japonês bem barato. Acho que custou dez ou 12 dólares. Sabe, as cordas ficavam duas polegadas acima do braço e eram da espessura de um fio de telefone. Mas fiquei muito feliz. Eu estava tão maravilhado com a música e o som daquele violão. Eu ouvia os Beach Boys, os Rolling Stones, os Beatles e todas as bandas daquela época. E, no ano seguinte, ganhei uma guitarra, de novo uma guitarra japonesa barata, presente de Natal dos meus pais.

    Foi combinado que, para Alex conseguir a guitarra – sua primeira, teria de apresentar boas notas no boletim escolar. Os pais, satisfeitos com as notas, cumpriram a promessa, embora tenham precisado pedir dinheiro emprestado para comprar o instrumento. Milla conta: Ele queria montar um conjunto com nosso vizinho, mas nada aconteceu. Então compramos a guitarra. Ele tocava o tempo todo, de manhã, de noite, depois da escola, o tempo todo.

    Assim como Geddy, a criação de Alex foi bastante étnica, nada incomum numa cidade e num país construídos por imigrantes.

    "Nossa comida era tradicional, todos os pais dos meus amigos também eram da Iugoslávia, Sérvia, Croácia, uma mistura e tanto. Como era comum para uma família de operários imigrantes do Leste Europeu em Toronto, não havia dinheiro para um chalé ou para vivermos aquele estilo de vida que muitos dos meus amigos viveram. Era muito normal ter uma casa na zona norte, ou leste ou oeste da cidade. Costumávamos ir até o lago Simcoe, em Sibbald Point, e todos os caras jogavam futebol enquanto as mães cozinhavam e cuidavam dos lanches, estendendo colchas sobre o gramado. Havia um museu onde nós íamos e nadávamos no lago. Passávamos todos os finais de semana de verão lá porque era grátis e dava para ir de carro, e havia muito espaço aberto. Lembro que sempre parávamos na Dairy Queen a caminho de casa. Típico de Ontário, sem dúvida.

    Basicamente pertencíamos à classe média trabalhadora, continua Alex. "Passávamos o verão brincando com os amigos e correndo por aí. Havia a escola e os esportes de inverno e hóquei, igual a todo mundo. Eu diria que foi uma infância bem normal. Meus pais eram muito trabalhadores: não reclame, vá e faça alguma coisa. Eu realmente respeitava meu pai por isso. E minha mãe foi enfermeira a maior parte da vida dela e trabalhou no hospital Branson por 20 anos ou mais, e até hoje faz trabalhos voluntários. Ela ainda tenta se manter bastante ativa. Sim, foi uma infância muito boa. Com certeza não guardo más lembranças de quando era criança.

    Quando me mudei para Willowdale e deixei a área central da cidade, eu tinha 10 ou 11 anos, e John Rutsey era meu vizinho. Ele morava do outro lado da rua e nós dois tínhamos um grande amor por música, jogávamos beisebol e futebol americano. John tinha outros dois irmãos mais velhos. Costumávamos nos divertir muito praticando esportes, mas nos apaixonamos por música na mesma época, e ele meio que vivia grudado na bateria assim como eu não desgrudava da guitarra. De fato, começamos uma banda chamada Projection, que eu ainda acho um ótimo nome. Era formada por alguns amigos da vizinhança, sabíamos as mesmas seis ou sete canções, a maior parte dos Yardbirds, e tocávamos nessas festas que fazíamos no porão da casa de alguém. Não ganhávamos nada por isso, mas nos apresentávamos. Tínhamos amplificadores pequenos e basicamente zero equipamento, mas tocávamos essas sete ou oito músicas sem parar. Era muito, muito legal e ainda consigo me lembrar daquilo… Fizemos um show – se é que posso chamar aquilo de show – no porão da casa dos meus pais, estava escuro e tínhamos uma luz negra e todo o aparato. Continuamos a fazer essas coisas e montamos uma banda com outros caras, mas John e eu éramos o centro do grupo. Na mesma época, naquele ano, conheci Geddy no colégio, no nono ano.

    A mãe de Alex, Milla, complementa a história sobre como a família foi morar no distrito de East Kootenay da Colúmbia Britânica.

    Vim para o Canadá em 1951, no dia 18 de junho, com meus pais e meus dois irmãos, explica a mãe de Alex. "Eu tinha 16 anos e meus irmãos 15 e 17. Meu pai era descendente de russos, e em 1949, Tito, o presidente da Iugoslávia, deu um ultimato às pessoas oriundas de outros países para tirarem a cidadania. E se não quisessem se tornar cidadãos iugoslavos, precisavam se mudar. Meu pai tinha uma irmã em Nova York que ele não via há uns 20 anos, e decidiu que não queria a cidadania, ele quis se mudar. Então tivemos que ir para Trieste, na Itália, e ficamos lá por seis meses num campo de refugiados em Provogo.

    "Esperamos para saber quais eram as cotas para imigrantes, e nos ofereceram Austrália, Nova Zelândia ou Canadá. Não podíamos ir para os Estados Unidos, mesmo que tivéssemos pedido o visto por causa da minha tia. Então decidimos vir para o Canadá em vez de ir para a Austrália, que ficava muito longe e meu pai não poderia ver a irmã com frequência. Assim viemos para cá trabalhar na agricultura. Para poder vir para o Canadá, era preciso trabalhar na agricultura. E nós ficamos numa fazenda por, eu acho, pouco mais de um mês. Na verdade, foi sorte não ter que terminar de colher as beterrabas, porque era muito árduo. Tínhamos recém começado, e o dono das terras nos falou: ‘Vejo que vocês não têm jeito para trabalhar na agricultura’, então foi bastante generoso ao nos deixar ir embora.

    "Depois encontramos um amigo sérvio e nos mudamos para uma pequena cidade mineradora. Meu irmão mais velho trabalhava na mina de carvão, meu irmão mais novo trabalhava na serraria e eu trabalhava num restaurante. Lavava pratos 12 horas por dia. Meu pai era um senhor de idade que tinha sido ferido na Primeira Guerra Mundial. Ele tinha uma prótese ocular, não estava muito bem, então não trabalhava. Mas depois de alguns meses lá… há uma religião chamada Doukhobors. Eles são ucranianos, russos na verdade, e como meu pai era russo, pediram que ensinasse russo aos filhos deles na escola, e esse foi o único emprego que ele teve por alguns meses. Em seguida conheci meu marido Mac, o pai de Alex. Ele foi trabalhar lá na mina de carvão depois que a esposa morreu. Após um ano de namoro, nós nos casamos.

    E um ano mais tarde, Alex nasceu, continua Milla. "Ficamos lá até ele ter quase dois anos de idade. Fiquei grávida da nossa filha Sally, e viemos para Toronto. Meus pais e meus irmãos estavam aqui. Nós nos mudamos em abril de 1955, e era lindo, de verdade. Fomos para perto de Harbord e Bathurst. Sally nasceu um mês mais tarde, e meu marido ainda procurava um emprego. Depois que ele achou um trabalho – ele trabalhou na cervejaria O’Keefe, sabe – nos mudamos mais algumas vezes. Era difícil com crianças, e quando meus pais compraram uma casa fomos morar com eles no andar de cima, e ficamos lá por cerca de dois anos. Mais tarde compramos uma casinha em Glencairn, perto de Bathurst, e moramos lá até Alex começar a ir para a escola, primeira e segunda séries, e depois nos mudamos para Pleasant Avenue.

    Quando estava na primeira série, ele se preocupava muito. Na época em que compramos a casa, meu marido se feriu e foi para o hospital fazer uma cirurgia. E Alex me escutou dizendo que não tínhamos dinheiro para pagar a hipoteca. Foi para a escola e a professora perguntou: ‘Alex, você está tão triste. O que aconteceu?’, e ele disse: ‘Minha mãe não tem dinheiro para pagar a hipoteca’. Então a professora me escreveu uma carta, e ele trouxe a carta para casa, assim passei a ter mais cuidado ao telefone para que ele não ouvisse nada. Porque se preocupava muito com as coisas.

    Apesar das dificuldades financeiras, Milla, assim como Mary, tem lembranças felizes da vizinhança. "Era agradável, bem diversificada. Quando moramos em Pleasant, havia judeus. Acho que éramos os únicos cristãos naquela rua. Mas quando nos mudamos, para uma rua chamada Greyhound, havia italianos, chineses,

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