Peças infantis
De Luiz Marinho
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Peças infantis - Luiz Marinho
Copyright © 2019 Luiz Marinho
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CEP 50100-140 – Recife – PE
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M338t
Marinho Filho, Luiz, 1926-2002
Teatro completo : peças infantis / Luiz Marinho ; organização, introdução e notas: Anco Márcio Tenório Vieira. – Recife : Cepe, 2019. v. 4.
1. Teatro infantil brasileiro – Pernambuco.
2. Teatro infantil – Pernambuco. I. Vieira, Anco Márcio Tenório. II. Título.
CDU 869.0(81)-2
CDD B869.2
PeR – BPE 19-32
ISBN: 978-85-7858-749-9
FOI UM DIA
Foi um dia... foi escrita em 1971. Nesse mesmo ano, particularmente no dia 9 de novembro, ganhou o Prêmio Othon Bezerra de Mello de Teatro, da Academia Pernambucana de Letras. Foi um dia... é uma fábula tradicional, em que homens e animais se misturam, se comunicam, como nas boas estórias da carochinha que o menino Lulinha ouvira tantas vezes da sua ama Davina; a mesma Davina que lhe contara a estória da A afilhada de Nossa Senhora da Conceição. O texto é permeado por personagens pouco comuns, como a Lua, o Vento e o Sol, mas também pelo príncipe Afonso, o rei Camilo, galinhas, Tatu, Bode e urubus, sem falar na malvada Madrasta, que faz tudo para prejudicar a principal personagem da peça: Belarosa, o centro de toda a trama.
Foi um dia... nunca foi publicada. A única versão existente dessa obra é a que se encontra digitalizada no acervo de Luiz Marinho, e que nos valemos, aqui, para esta edição.
PERSONAGENS
Rei Camilo
Príncipe Afonso
Pessoal da corte
Povo dos Emaranhados
Povo de Ir Buscar o Dia
Pai
Madrasta
Velha I
Velha II
Velho perneta
Belarosa
Regina
Lenhadores
Galinhas
Sol
Mãe do sol
Mãe do vento
Lua
Mãe da lua
Vento
Urubus
Cenário: será empregado a rotunda, já que a peça irá se desenrolar nos mais variados ambientes. Assim, o primeiro ato, por exemplo, começará em um trecho de uma floresta; depois, em frente de uma casa de campo; em seguida, em outra floresta. No segundo ato, outro recanto de floresta, a cidade dos Emaranhados, a casa da Lua, a capoeira, a casa do Sol, a cidade de Ir Buscar o Dia, a casa do Vento, recanto dos urubus e o Reino da Pedra Fina. Tudo se fará por pequenas indicações.
Atenção: para facilitar o numeroso elenco, poder-se-á facilmente dobrar
várias vezes os papéis dos figurantes.
Linguagem: a linguagem nela usada é a da avozinha que conta estórias, aqui, acolá, esta ainda influenciada pelo linguajar dos negros cativos. Recomendaria para o uso da maquilagem (ou máscara), a reprodução que lembrasse bonecos de brinquedos, o que facilitaria a duplicação de papéis, principalmente para os bichos
, que poderão em seguida ser o povo das várias cidades e o povo do reino.
Abertura: antes de abrir a cortina, ouvir-se-á a música muito alegre e que terá vários solos de piano, corneta, baixo, etc. e que, posteriormente, será executado no respectivo instrumento (invisível e por gestos pelos animaizinhos). O pano vai abrindo e Belarosa dança ao centro, rodeada pelos bichos da floresta. Depois, sairá dançando com cada um deles. Súbito, a música para, entra o Urubu e os bichos calam e, bem zangados, param de dançar.
PRIMEIRO ATO
PRIMEIRO QUADRO
Belarosa
Que houve, amiguinhos?
Bode
É a presença de alguém indesejável!...
Belarosa
Mas não estou entendendo...
Galinha
Alguém intrometido!
Todos
(Um a um) Azarento! Nojento! Fedorento!
Belarosa
Um momento! Que fale um.
Bode
Damos a palavra ao senhor Tatu.
Tatu
Estou aqui em nome dos bichos desta floresta, para propor a expulsão de todos os urubus da nossa região!
Bichos
Apoiado! Apoiado!
Coelho
O urubu é azarento!
Galinha
É um bicho nojento!
Bode
É fedorento! (Dá um espirro.)
Tatu
Come carniça!
Bichos
A expulsão! A expulsão!
Belarosa
Silêncio! (Fazem silêncio) Você, seu Coelho, diz que o urubu é azarento... mas a sua patinha é tida como amuleto! (O Coelho baixa a cabeça) Dona Galinha... a senhora acha o urubu nojento, e esquece que seus pintinhos comem... comem sujeira! (Risos) Mas Bode, você falar de fedorento?!... Quem aguenta chegar perto de seu chiqueiro? (Vaias e assobios) Senhor Tatu... dizem que o senhor cava buraco e vai para o cemitério comer defunto!... Pode falar de quem come carniça? (Bichos:) Uh! Uh! Uh!.
Cobra
Ele nos come!
Belarosa
E a senhora, não engole sapos?
Bichano
Engole até boi! (Vaias.)
Belarosa
Senhor Bichano, que faz dos ratos?... Senhor Jaburu, que faz dos peixinhos? (Pausa) Estão vendo?... Ninguém responde! O urubu é feio, é mal cheiroso, mas não mata para comer! Pelo contrário, pelo contrário, nos livra das podridões, das pestes!
Bichos
Apoiada! Apoiada!
Belarosa
Quero paz na floresta! Seremos todos unidos. Seremos todos irmãos!
Bichos
Viva!!! Todos seremos irmãos! Viva!
Urubu
(Aliviado) Minha menina, um dia receberás uma graça do meu rei.
Belarosa
Alegremo-nos! Música! (Voltam a dançar.)
Todos
(Cantando)
"Ai, Marica, se eu for, você não fica!
Ai, Marica, se eu for, você não fica!
Quem te ensinou a andar?"
(Solo)
Foi um peixinho do mar!
Todos
"Foi, foi, foi, Ó Marica!
Foi, foi, foi, Ó Marica!"
(Estribilho)
Quem te ensinou a voar?
(Solo)
Foi um passinho do ar
Coro
Quem te ensinou a pular?
(Solo)
Foi um sapinho...
Coelho
(Cortando) Lá vem a madrasta! (Os bichos correm apavorados.)
Madrasta
(Voz) Belarosa! Belarosa!
Belarosa
Cá estou, senhora!
Madrasta
(Aparecendo) Preguiçosa! Vai cuidar de teus afazeres! Deixa de andar vadiando pela floresta!... Anda!
Belarosa
Eu estava recolhendo as galinhas, senhora! (Surge o Pai.)
Madrasta
Mas filhinha... e nós te procurando... Tua mana te aguarda para merendar! Anda... vai, tesouro meu! (Belarosa sai.)
Pai
Procurava-te...
Madrasta
Ah!... És tu? Senhor meu marido?... Que desejas?
Pai
Lembras-te da árvore que te falei?... É exatamente esta! É do oco deste pau que sai a voz!
Madrasta
E se ela hoje não vier?
Pai
Ela disse que estaria aqui três dias,
sempre ao entardecer... dois, não falhou!
Madrasta
Senhor, meu marido, por que não