Trilogia Realista
Este artigo é parte da série Trilogia Realista de Machado de Assis |
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Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) Quincas Borba (1891) Dom Casmurro (1899) Ver também: Realismo no Brasil |
A crítica moderna chama de trilogia realista os três romances que marcaram um novo estilo na obra de Machado de Assis, a saber Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899), e que decisivamente também inovaram a literatura brasileira, introduzindo o Realismo no Brasil e precedendo outros elementos da literatura contemporânea.
Embora seja chamada de "realista", os críticos não deixam de notar que a riqueza de gêneros e elementos nessas obras também adere resíduos do Romantismo e impressionistas. Além disso, nessas obras Machado de Assis não compactua com o esquematismo determinista dos realistas, nem procura causas muito explícitas ou claras para a explicação das suas personagens e situações. Para os críticos, os três livros asseguraram ao autor o acesso à posteridade,[1] além de serem considerados por alguns como os melhores de toda a sua obra.[2]
Influência
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Inovação
[editar | editar código-fonte]A publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, o primeiro romance da trilogia, marcou uma nova espécie de texto na literatura nacional e também rara na universal. Machado de Assis rompe com duas tendências literárias dominantes de seu tempo: a dos realistas que seguiam a teoria de Flaubert, do "romance que narra a si próprio" e que apaga o narrador atrás da objetividade da narrativa; e a dos naturalistas que, na esteira de Zola, pregavam o "inventário maciço da realidade", observada nos menores detalhes.[3] Ao invés disso, Machado de Assis constrói um livro em que cultiva o incompleto, o fragmentário, intervindo na narrativa para conversar diretamente com o leitor e comentar o próprio romance e suas personagens e fatos.[3]
Características
[editar | editar código-fonte]Como nota José Guilherme Merquior, os estilos dos livros assemelham-se numa coisa: "capítulos curtos, marcados pelos apelos ao leitor em tom mais ou menos humorístico e pelas digressões entre graves e gaiatas".[4] Além disso, os críticos não deixam de notar que os três livros criticam a sociedade do seu tempo:
- Memórias Póstumas de Brás Cubas tece críticas aos beneficiários da escravidão no Segundo reinado, ricos, que não trabalhavam e que por isso lutavam e esperavam sua herança familiar, personificados no personagem Brás Cubas e nos outros;[5][6][7]
- Dom Casmurro — que recebeu diversas interpretações ao longo do tempo — provavelmente é a obra machadiana que mais tenha sido interpretada de maneiras diferentes e vastas, destaque para a interpretação feminista de Helen Caldwell, mas a maioria dos críticos concordam que a obra, por um lado, retrata um brasileiro entre o liberalismo e as antigas tradições da monarquia escravocrata, e, por outro lado, destrói a imagem da amada, Capitu, que seria símbolo de um novo tempo e um risco ao status quo, por ser menina pobre, livre e inteligente (embora alguns poucos tenham afirmado que ela realmente o traiu);[8][9][10]
- e, por fim, Quincas Borba, cuja crítica mais explícita é ao cientificismo e à lei do mais forte e da seleção natural (muito famosa na época, por influência de Charles Darwin), através do filósofo Quincas Borba, teórico do fictício Humanitismo, onde o homem mais esperto recebe vantagem sobre o menos esperto nas sociedades.[11][12]
Há críticos que também se focam nos temas e elementos de existencialismo, reflexão e afins que essas obras possuem. De fato, a trilogia foi muito influenciada por filósofos como Blaise Pascal, Montaigne e Schopenhauer.
Ver também
[editar | editar código-fonte]- ↑ Pimentel, 1962, p.62.
- ↑ Andrade, 2001, p.79-80.
- ↑ a b Andrade, 2001, p.80-81.
- ↑ Apud Gonzaga e Araújo, 2001, p.7
- ↑ Facioli, 2008, p.81.
- ↑ Duarte, 2007, p.203.
- ↑ Schwarz, 2000, p.126.
- ↑ Saraiva, 2005, pp.103 e seguintes.
- ↑ Caldwell, 2002, p.29.
- ↑ Castello, 1969, p.150.
- ↑ José Guilherme Merquior, "Gênero e estilo das Memórias Póstumas de Brás Cubas", revista Colóquio, nº 8, Lisboa.
Apud Andrade, 2001, p.117. - ↑ Andrade, 2001, p.83.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Vários autores. Brasil/Brazil, Edição 31, Brown University. Center for Portuguese and Brazilian Studies, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Ed. Mercado Aberto, 2004.
- Vários autores. Art: revista da Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA., Edição 19. Ed. A Escola, 1992.
- Achcar, Francisco (análise e comentários). "Introdução a Machado de Assis" In: ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Editora Sol, 1999.
- Andrade, Fernando Teixeira de (análise). "Memórias Póstumas de Brás Cubas" in: Os Livros da Fuvest I. São Paulo: Ed. Sol, 2001, pgs. 73-121.
- Araújo, Homero e Gonzaga, Sergius (editores), Machado de Assis, Dom Casmurro. Ed. Novo Século, 2001. ISBN 8586880191
- Ascher, Nelson. "Machado de Assis: Má Influência?" in: Revista Veja 24 set., 2008, p. 172.
- Bosi, Alfredo. Machado de Assis. Publifolha, 2002. ISBN 8574024295
- Bernardo, Gustavo. Literatura e ceticismo, volume 2004. Annablume, 2005. ISBN 8574195464
- Bosi, Alfredo. Brás Cubas em três versões: estudos Machadianos. Editora Companhia das Letras, 2006. ISBN 8535908560
- Callado, Antonio. Crônicas de fim do milênio. Ed. F. Alves, 1997. ISBN 8526503847
- Candido, Antonio. Vários escritos. in: "Esquema de Machado de Assis". São Paulo: Duas Cidades, 1970.
- Castello, José Aderaldo. Realidade e ilusão em Machado de Assis (Volume 6 de Coleção Ensaio). Companhia Editôra Nacional, 1969.
- Chalhoub, Sidney. Machado de Assis, historiador. Editora Companhia das Letras, 2003. ISBN 8535904352
- Costa, Flávio Moreira da. Os subúrbios da criação. Polis, 1979.
- Duarte, Eduardo de Assis (ed.), Assis, Machado de. Machado de Assis afro-descendente escritos de caramujo (antologia). Pallas Editora, 2007. ISBN 8534704082
- Facioli, Valentim. Um defunto estrambótico: análise e interpretação das Memórias póstumas de Brás Cubas. EdUSP, 2008. ISBN 8531410835, 9788531410833.
- Facioli, Valentim. Várias histórias para um homem célebre (biografia intelectual). In: Alfredo Bosi et al., A. Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1982, p. 9-59.
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- Flórido, Eduardo Giffoni. As grandes personagens da história do cinema brasileiro, Volume 2. Fraiha, 2002.
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