Goitacás
Goitacás |
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População total |
12 000 (fim do século XVIII)[1] |
Regiões com população significativa |
Rio Paraíba do Sul e Rio Itabapoana, no Brasil[1] |
Línguas |
Língua goitacá |
Religiões |
Etnia |
Pré-Tremembés[2] |
Os Goitacás (também denominados Goitacases[3] e Guaitacás[4]) foram um grupo indígena brasileiro que habitou a região costeira brasileira entre o Rio São Mateus, no atual estado do Espírito Santo e o Rio Paraíba do Sul, no atual estado do Rio de Janeiro, até a metade do século XVII[4] ou até fins do século XVIII, quando foram exterminados pelos colonizadores de origem portuguesa através de uma epidemia de varíola propositalmente espalhada entre eles.[1]
Etimologia
[editar | editar código-fonte]"Guaitacá", "goitacá" e "goitacás" procedem do termo tupi antigo para essa etnia: guaîtaká.[3] Os especialistas aventam duas possibilidades sobre o significado da palavra "goitacá":
1) "grandes corredores", a partir da palavra tupi guata, que significa "correr", "marchar".[5]
2) "gente que sabe nadar", a partir dos termos tupis aba ("homem"), ytá ("nadar") e quaa ("saber").[5]
Descrição
[editar | editar código-fonte]"O índio goitacá é o senhor absoluto das terras no tempo da Capitania de São Tomé, depois do Paraíba do Sul" (relato de Osório Peixoto em seu livro "1001 Anos dos Campos dos Goitacases"). Fisicamente, possuíam pele mais clara, eram mais altos e robustos que os demais índios do litoral do Brasil. Reuniam, ainda, uma "força extraordinária e sabiam manejar o arco com destreza". Tinham o hábito de dançar e cantar em ocasiões festivas, usando o jenipapo para a pintura do corpo e penas de aves com as quais adornavam seus objetos. Viviam nus, deixando o cabelo comprido, formando uma longa cabeleira. Sua alimentação constava de frutos, raízes, mel e, principalmente, de caça e pesca. Eram supersticiosos quanto à água para beber, não bebendo-a de rios e lagoas, mas sim das cacimbas.
Mantinham comércio com os colonizadores europeus, mas com uma peculiaridade: não se comunicavam com os colonizadores. Deixavam seus produtos em um lugar mais elevado e limpo, ficando à distância, observando as trocas. Davam mel, cera, pescado, caça e frutos em troca de enxadas, foices, aguardente e miçangas. Assim como os demais povos indígenas brasileiros, os goitacás guerreavam entre si e contra seus vizinhos. "Quando não se julgam fortes, fogem com ligeireza comparável à dos veados." Além do arco e da flecha, faziam, com perfeição, trabalhos com penas de aves multicoloridas, usando-as no corpo e nas armas e também em ocasiões festivas. Trabalhavam o barro, enterrando seus mortos em igaçabas.
Faziam machados de pedra, jangadas, trabalhavam com bambu e trançavam redes de fibra e cordas. Os goitacás desapareceram no fim do século XVIII, exterminados por uma epidemia de varíola disseminada propositalmente entre eles. Calcula-se que eram cerca de 12 000. Viviam em palafitas construídas sobre os pântanos à beira dos rios Paraíba do Sul e Itabapoana. Ao contrário dos índios tupis, não usavam redes: dormiam no chão. Eram grandes corredores, capazes de capturar veados a mão nua.[6] Eram tidos pelos colonizadores portugueses como os índios mais cruéis e ferozes do Brasil. Eram canibais. Não pertenciam ao tronco linguístico tupi.[7]
Não deixaram registros escritos de sua língua, porém presume-se que ela pertencia à família linguística puri, a qual, por sua vez, pertence ao tronco linguístico macro-jê.[8] Conheciam a agricultura. Caçavam tubarões com o auxílio apenas de um pau, o qual era metido na boca do tubarão para o matar. Os dentes do tubarão, então, eram usados como pontas de flechas.[9]
Homenagens
[editar | editar código-fonte]Foram homenageados em 1857 pelo escritor brasileiro José de Alencar em seu romance O Guarani. Nessa obra, o protagonista, Peri, é um índio goitacá que realiza grandes proezas, lutando contra os aimorés, contra o homem branco e até contra os elementos naturais, tudo para agradar e salvar sua predileta, Cecília, filha de um nobre português (ainda que, contraditoriamente, o título do livro se refira à etnia dos guaranis, que nada tem a ver com os goitacás).[10] O topônimo da atual cidade de Campos dos Goytacazes também é uma homenagem aos goitacás. Assim como o nome de um dos principais times de futebol da cidade, o Goytacaz Futebol Clube,[11] fundado em 1912.
- ↑ a b c BUENO, E. Capitães do Brasil: a Saga dos Primeiros Colonizadores. Rio de Janeiro. Objetiva. 1999. p. 114.
- ↑ Sobrinho, Pompeu. ÍNDIOS TREMEMBÉ. Revista do instituto do Ceará. 1951. p. 258
- ↑ a b NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 131.
- ↑ a b FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 856.
- ↑ a b BUENO, E. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro. Objetiva. 1999. p. 112.
- ↑ BUENO, E. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro. Objetiva. 1999. p. 114.
- ↑ BUENO, E. Brasil: uma história. Segunda edição revista. São Paulo. Ática. 2003. p. 19.
- ↑ LAMEGO, A. R. apud CAETANO, S. Os goitacás 1. Disponível em http://goitaca.blogspot.com.br/. Acesso em 26 de julho 2012.
- ↑ VASCONCELOS, S. apud CAETANO, S. Os goitacás 5. Disponível em http://goitaca.blogspot.com.br/. Acesso em 26 de julho 2012.
- ↑ ALENCAR, J. O guarani. Adaptação de André Carvalho. Clássicos da Juventude. Volume 12. Belo Horizonte. Editora Itatiaia. 1964. 185p.
- ↑ Site do Goytacaz F. C. Disponível em http://www.goytacaz.com.br/ Arquivado em 2 de julho de 2012, no Wayback Machine.. Acesso em 26 de julho de 2012.