Cultura epiolmeca
A cultura epiolmeca constituía uma área cultural na região central do actual estado mexicano de Veracruz, concentrada na bacia do rio Papaloapan, uma cultura que existiu durante o período pré-clássico tardio, desde cerca 300 a.C. até cerca 250 d.C..[1] A cultura epiolmeca foi uma cultura sucessora da olmeca, donde o uso do prefixo "epi-". Apesar de a cultura epiolmeca não ter alcançado os grandes feitos da sua predecessora, conseguiu ainda assim, com o seu calendário e sistema de escrita, um grau de complexidade cultural desconhecido entre os olmecas.[2]
Tres Zapotes e eventualmente Cerro de las Mesas foram os maiores centros epiolmecas, apesar de nenhum deles ter atingido a dimensão e importância das grandes cidades olmecas anteriores ou da posterior El Tajín. Outros sítios epiolmecas dignos de nota incluem El Mesón, Lerdo de Tejada, La Mojarra, Bezuapan e Chuniapan de Abajo.
O contexto da cultura epiolmeca
[editar | editar código-fonte]O surgimento da cultura epiolmeca na orla ocidental da área nuclear olmeca coincide com o despovoamento da metade oriental da área nuclear olmeca e com o declínio da cultura olmeca em geral. A cultura epiolmeca representou uma transformação gradual da cultura olmeca e não um corte abrupto com esta. Muitos motivos olmecas, por exemplo, foram utilizados pela cultura sua sucessora. Tres Zapotes, um dos maiores sítios olmecas, continuou a ser um centro regional sob a cultura epiolmeca. A vida quotidiana da não-elite continuou praticamente inalterada: agricultura de subsistência com caça e pesca de oportunidade, casas de pau-a-pique com tectos de colmo e tocas de armazenamento em forma de sino.[3]
Por outro lado, durante o período formativo tardio ocorreu o declínio generalizado no comércio e outras interações regionais por toda a Mesoamérica,[4] paralelo a uma diminuição marcada do uso de itens exóticos, como contas de jade.[5] Foi avançada a ideia de que estes bens exóticos foram substituídos por itens de luxo de produção local, como tecidos de algodão e ornamentos de cabeça.[6] No entanto, este declínio de interações regionais e do comércio não foi uniforme: em particular, a interação entre culturas no istmo de Tehuantepec aumentou, e foi detectado um aumento na importação de obsidiana.[7]
Contrastando com a arte olmeca anterior, a arte epiolmeca apresenta uma perda generalizada de detalhe e qualidade. As figuras de cerâmica eram menos realisticamente detalhadas,[5] e os monumentos de basalto e as estelas de Tres Zapotes carecem da maestria, refinamento e detalhe dos trabalhos antes produzidos em San Lorenzo e La Venta.[8]
Com base na colocação descentralizada dos grupos de montículos e das esculturas monumentais em Tres Zapotes, pensa-se que a hierarquia epiolmeca seria menos centralizada que no caso olmeca, apresentando talvez uma assembleia governativa faccionada em lugar de um governante individual.[9]
Escultura epiolmeca
[editar | editar código-fonte]Escrita e calendário
[editar | editar código-fonte]Apesar de ser possível verem-se representações daquilo que parecem ser acontecimentos históricos na estela 3 e no monumento 13 de La Venta, a escultura olmeca estava mais preocupada em retratar governantes, como é demonstrado pelas 17 cabeças colossais. Pelo contrário, os monumentos epiolmecas mostram um interesse historiográfico, culminando no eventual aparecimento de transcrições datadas.[10]
Estas transcrições datadas foram possíveis devido ao uso pela cultura epiolmeca desde muito cedo do calendário de contagem longa, bem como dum sistema de escrita muito antigo, a escrita epiolmeca ou ístmica. A escrita ístmica aparece em várias esculturas epiolmecas incluindo a estela 1 de La Mojarra, a estatueta de Tuxtla, e a estela C de Tres Zapotes, cada uma contendo também uma data muito antiga expressa na contagem longa. Estes textos epiolmecas eram os mais detalhados deste período na Mesoamérica.[4]
Ainda que nem a escrita ístmica nem o calendário de contagem longa tenham sido exclusivos da cultura epiolmeca, o seu uso, sobretudo em combinação, é uma das suas marcas mais distintivas.
Temas
[editar | editar código-fonte]Enquanto os monumentos contemporâneos de Izapa, 500 km para sudeste, apresentam temas míticos e religiosos, os monumentos epiolmecas glorificavam os governantes. A estela 1 de La Mojarra, por exemplo, mostra um governante envergando vestes e ornamentos de cabeça elaborados. A tradução do texto ístmico acompanhante feita por Justeson e Kaufman, resultou no nome "Senhor da Montanha do Colhedores" e o texto é sobre a sua ascensão ao poder, guerras, um eclipse solar, a sua própria sangria ritual, e um sacrifício[11] talvez do seu próprio cunhado.[12]
Outros monumentos epiolmecas similares que apresentam figuras finamente vestidas com altos ornamentos de cabeça são a estela de Alvarado e a estela 1 de El Mesón. Ao contrário da estela 1 de La Mojarra, estes dois monumentos mostram também uma figura mais pequena, subordinada, e aparentemente intimidada. A estela de Alvarado poderá conter alguns glifos ístmicos severamente erodidos. A estela 1 de El Mesón não apresenta qualquer texto.[13]
Esta arte monumental em que os governantes eram exaltados tornar-se-ia comum nas terras maias durante o período clássico.
Transformação final
[editar | editar código-fonte]Por volta de 250 d.C., Cerro de las Mesas, Remojadas, e outros sítios mais a norte ao longo da costa de Veracruz, haviam eclipsado Tres Zapotes. Apesar de Tres Zapotes continuar a existir até ao período clássico, o seu apogeu havia acabado e a cultura epiolmeca cedeu o seu lugar à cultura clássica de Veracruz.
- ↑ Diehl, p. 181.
- ↑ Ver, por exemplo, Wilkerson, p. 46.
- ↑ Diehl, p. 182.
- ↑ a b Pool, p. 266.
- ↑ a b Pool, p. 244.
- ↑ Stark, p. 44.
- ↑ Pool, p. 269 & p. 268.
- ↑ Tal é atribuível apenas em parte ao facto do basalto de Cerro el Vigía ser mais grosseiro. Diehl, p. 183. Williams e Heizer afirmam que o basalto de Cerro el Vigía é "de grão excepcionalmente grosseiro", p. 4.
- ↑ Pool, p. 248.
- ↑ Pool, p. 254.
- ↑ Justeson and Kaufman.
- ↑ Schuster.
- ↑ «Pérez de Lara and Justeson». Consultado em 22 de abril de 2008. Arquivado do original em 24 de janeiro de 2008 .
Referências
[editar | editar código-fonte]- (em inglês)Diehl, Richard A.(2004) The Olmecs: America's First Civilization, Thames & Hudson, London.
- (em inglês)Justeson, John S., and Terrence Kaufman (2001) Epi-Olmec Hieroglyphic Writing and Texts.
- (em inglês)Pérez de Lara, Jorge and John Justeson "Photographic Documentation of Monuments with Epi-Olmec Script/Imagery" at Foundation for the Advancement of Mesoamerican Studies, Inc. (FAMSI), accessed January 2008.
- (em inglês)Pool, Christopher (2007) Olmec Archaeology and Early Mesoamerica, Cambridge University Press, ISBN 978-0-521-78882-3.
- (em inglês)Schuster, Angela M. H. (1997) "Epi-Olmec Decipherment" in Archaeology, online (accessed January 2008).
- (em inglês)Stark, Barbara L. (2000) "Framing the Gulf Olmec" in Olmec Art and Archaeology in Meosamerica, National Gallery of Art, pp. 31–53.
- Wilkerson, S. Jeffrey K. (1991). Vernon Scarborough, David R. Wilcox (Eds.), ed. The Mesoamerican Ballgame (em inglês). Tucson, Arizona: University of Arizona Press. ISBN 0-8165-1360-0