Declínio do politeísmo greco-romano: diferenças entre revisões
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'''Declínio do politeísmo greco-romano''' é um termo utilizado para designar o processo de ascensão do [[cristianismo]] no contexto do [[Império Romano]] e seus estados sucessores em detrimento das antigas religiões. A religião, no [[mundo greco-romano]] na época da chamada "[[reviravolta de Constantino]]", consistia basicamente de três correntes principais. Em primeiro lugar, as [[mitologia greco-romana|religiões tradicionais]] da [[Religião na Grécia Antiga|Grécia]] e [[Religião na Roma Antiga|Roma]], em seguida, o [[culto imperial romano|culto imperial]] típico da era imperial romana e, finalmente, as várias [[religião de mistério|religiões de mistério]] greco-romanas, como os [[mistérios eleusinos]], o culto de [[Cibele (mitologia)|Cibele]], o [[mitraísmo]] e o culto [[sincretismo|sincrético]] a [[Ísis]], originalmente uma deusa do [[Egito Antigo]]. |
'''Declínio do politeísmo greco-romano''' é um termo utilizado para designar o processo de ascensão do [[cristianismo]] no contexto do [[Império Romano]] e seus estados sucessores em detrimento das antigas religiões. A religião, no [[mundo greco-romano]] na época da chamada "[[reviravolta de Constantino]]", consistia basicamente de três correntes principais. Em primeiro lugar, as [[mitologia greco-romana|religiões tradicionais]] da [[Religião na Grécia Antiga|Grécia]] e [[Religião na Roma Antiga|Roma]], em seguida, o [[culto imperial romano|culto imperial]] típico da era imperial romana e, finalmente, as várias [[religião de mistério|religiões de mistério]] greco-romanas, como os [[mistérios eleusinos]], o culto de [[Cibele (mitologia)|Cibele]], o [[mitraísmo]] e o culto [[sincretismo|sincrético]] a [[Ísis]], originalmente uma deusa do [[Egito Antigo]]. |
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O [[cristianismo primitivo]] cresceu gradualmente em Roma e no Império Romano entre os séculos I e IV, quando foi legalizado e, em sua forma [[Primeiro Concílio de Niceia|nicena]], tornou-se a [[religião estatal do Império Romano]] através do [[Édito de Tessalônica]] de 380. Tradições [[helenismo|helenísticas]] [[politeísmo|politeístas]] sobreviveram em alguns bolsões da Grécia até o |
O [[cristianismo primitivo]] cresceu gradualmente em Roma e no Império Romano entre os séculos I e IV, quando foi legalizado e, em sua forma [[Primeiro Concílio de Niceia|nicena]], tornou-se a [[religião estatal do Império Romano]] através do [[Édito de Tessalônica]] de 380. Tradições [[helenismo|helenísticas]] [[politeísmo|politeístas]] sobreviveram em alguns bolsões da Grécia até o {{séc|IX}}. A "[[Academia de Platão|Academia]]" [[neoplatonismo|neoplatônica]] foi obrigada a fechar suas portas em 529 por ordem do [[imperador bizantino]] [[Justiniano I]], data que alguns autores consideram como o fim da [[Antiguidade Clássica]].<ref>{{citar livro|título=A History of Greek Literature |último =Hadas |primeiro =Moses |ano=1950 |publicado=Columbia University Press |isbn=0-231-01767-7 |página=273 |url=http://books.google.com/books?id=dOht3609JOMC&pg=PA273&dq=%22end+of+antiquity%22+%2B+%22529%22&hl=en&ei=Zd7yTaWvIIuosQPIr_TOCw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CDQQ6AEwAg#v=onepage&q=%22end%20of%20antiquity%22%20%2B%20%22529%22&f=false}}</ref> |
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== Antes do Édito de Milão constantiniano == |
== Antes do Édito de Milão constantiniano == |
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{{AP|Interpretatio graeca}} |
{{AP|Interpretatio graeca}} |
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Os romanos tendiam para o [[sincretismo]], enxergando os mesmos deuses com nomes diferentes nas diversas regiões do Império, acomodando outros povos, como os [[helenos]], [[germânicos]] e [[celtas]] da Europa e diversos grupos [[semitas]] do [[Oriente Médio]]. Sob a autoridade romana, os vários mitos nacionais que tinham alguma similaridade com os de Roma foram adaptados por [[analogia]] à [[mitologia romana]], o que ajudava a consolidar o controle imperial. Consequentemente, os romanos eram geralmente tolerantes e acolhedores em relação a novas divindades e algumas experiências religiosas de outros povos<ref name="hughes">"A History of the Church", Philip Hughes, Sheed & Ward, rev ed 1949, vol I chapter 6. |
Os romanos tendiam para o [[sincretismo]], enxergando os mesmos deuses com nomes diferentes nas diversas regiões do Império, acomodando outros povos, como os [[helenos]], [[germânicos]] e [[celtas]] da Europa e diversos grupos [[semitas]] do [[Oriente Médio]]. Sob a autoridade romana, os vários mitos nacionais que tinham alguma similaridade com os de Roma foram adaptados por [[analogia]] à [[mitologia romana]], o que ajudava a consolidar o controle imperial. Consequentemente, os romanos eram geralmente tolerantes e acolhedores em relação a novas divindades e algumas experiências religiosas de outros povos.<ref name="hughes">[http://www.ewtn.com/library/CHISTORY/HUGHHIST.TXT "A History of the Church", Philip Hughes, Sheed & Ward, rev ed 1949, vol I chapter 6.]</ref> |
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=== Ascensão da filosofia esotérica === |
=== Ascensão da filosofia esotérica === |
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[[imagem:Hermes Trismegistus illustration Wellcome L0016507.jpg|thumb|esquerda|[[Hermes Trimegisto]] numa [[gravura]] da ''Wellcome Rare Books Collection'' (1609)]] |
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A perspectiva mais filosófica da religião nas regiões helenizadas do Império Romano levou a um renascimento do pensamento religioso intelectual por volta do início do |
A perspectiva mais filosófica da religião nas regiões helenizadas do Império Romano levou a um renascimento do pensamento religioso intelectual por volta do início do {{séc|II}}. Escritos [[pseudepigrafia|pseudepígrafos]] atribuídos a [[Hermes Trimegisto]] — discutindo filosofia esotérica, [[magia]] e [[alquimia]] — começaram a se espalhar do [[Egito romano]] para todo o império. Apesar de difíceis de datar com precisão, estes textos foram provavelmente redigidos entre os séculos I e III. Embora este tipo de [[hermetismo]] tenha sido geralmente escrito com o objetivo teológico de melhoramento espiritual, cada um tinha uma origem anônima, eclética e espontânea e o conjunto não era parte de nenhum movimento organizado. |
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Uma forma mais organizada de [[panenteísmo]] [[henoteísmo|henoteísta]] [[alatrismo|alatrista]] emergiu em paralelo ao hermetismo. No |
Uma forma mais organizada de [[panenteísmo]] [[henoteísmo|henoteísta]] [[alatrismo|alatrista]] emergiu em paralelo ao hermetismo. No {{-séc|I}}, o amigo de [[Cícero]], [[Nigídio Fígulo]], tentou reviver as doutrinas [[pitagorismo|pitagóricas]], uma empreitada particularmente vitoriosa no caso de [[Apolônio de Tiana]] no {{séc|I}}. No espaço de um século, poderes [[Sobrenatural|sobrenaturais]] foram atribuídos a ele e relatos de sua vida tinham muitas similaridades com os da [[vida de Jesus]]. Pelo menos um grande ponto de congregação para os seguidores deste [[neopitagorismo]] foi construído em Roma, perto da [[Porta Maggiore]], com um design similar ao das futuras igrejas cristãs, mas subterrâneo. |
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No |
No {{séc|II}}, [[Numênio de Apameia]] tentou fundir elementos adicionais do [[platonismo]] no neopitagorismo, uma direção que que [[Plotino]] continuou, dando origem ao [[neoplatonismo]], uma religião [[monismo|monista]] [[teísmo|teísta]]. O neoplatonismo começou a ser adotado por proeminentes estudiosos e acadêmicos, como o teólogo cristão [[Orígenes]] e o adversário do cristianismo [[Porfírio (filósofo)|Porfírio]]. Na época de [[Galiano]], a própria família imperial passou a patrocinar Plotino e encorajou suas atividades filosóficas. Depois dele, a doutrina foi novamente ampliada por [[Jâmblico]], que acreditava que [[teurgia|invocações físicas]] seriam capazes de produzir resultados [[soteriologia|soteriológicos]] e, por isso, acrescentou o ritual religioso à filosofia. O imperador [[Juliano (imperador)|Juliano]] tentou unificar a religião tradicional romana misturando-a com a forma jâmblica de neoplatonismo. Vivendo na mesma época, o pensador cristão [[Agostinho de Hipona]] revela fortes influências neoplatônicas em suas obras subsequentes. |
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=== Adoração do Sol oriental === |
=== Adoração do Sol oriental === |
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[[imagem:Silver disc dedicated to Sol Invictus, 3rd century AD, found at Pessinus (Asia Minor), British Museum (16099596841).jpg|thumb|Disco de prata com o [[Sol Invicto]], a principal [[deus sol|divindade solar]] [[sincretismo|sincrética]] do período final do [[Império Romano]].<br><small>Séc. III. Encontrado em Pessinus, na [[Ásia Menor]], atualmente no [[Museu Britânico]], em [[Londres]].</small>]] |
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[[imagem:Mithra sacrificing the bull - 2nd century A.D. - Roman - Museo Arqueológico y Etnológico de Córdoba.JPG|thumb|"[[Mitras]] sacrificando um touro". O [[mitraísmo]] era uma [[religião de mistério]] muito popular em Roma, principalmente no [[exército romano|exército]].<br><small>Escultura do {{séc|II}} no Museu Arqueológico e Etnológico de [[Córdoba (Espanha)|Córdoba]], na [[Espanha]]</small>]] |
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⚫ | Em algum momento do |
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⚫ | Em algum momento do {{séc|I}}, os membros do [[exército romano]] começaram a adotar uma [[religião de mistério]] chamada [[mitraísmo]], um culto relacionado a um [[deus sol]] que surgiu de obscuras origens estranhas à Roma. A primeira referência ainda existente é de [[Plutarco]], que menciona uma observação, em {{AC|67|x}}, de certos piratas do [[Mediterrâneo]] praticando-o. As [[legião romana|legiões romanas]] se movimentavam por todo o império, espalhando o mitraísmo por onde passavam. No começo, seus fieis eram principalmente soldados, mas ela também foi adotada depois por [[libertos]], [[escravidão na Roma Antiga|escravos]] e comerciantes em todos os locais onde permanecia uma legião, especialmente nas fronteiras. |
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⚫ | O mitraísmo não exigia exclusividade |
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⚫ | O mitraísmo não exigia exclusividade — era possível e comum segui-lo juntamente com outros cultos simultaneamente. Finalmente, ele tornou-se popular na capital imperial, arrebanhando de forma gradativa membros entre as classes mais aristocráticas até contar em suas fileiras com [[senador romano|senadores]]. De acordo com a "[[História Augusta]]", até mesmo o imperador [[Cômodo]] teria sido membro. Apesar de, por razões desconhecidas, o mitraísmo excluir completamente as mulheres, já havia um grande contingente de seguidores no {{séc|III}} — há mais de 100 ruínas de [[mitreu]]s conhecidas, oito somente em Roma (além de mais de 300 monumentos mitraicos) e dezoito em [[Óstia Antiga]], o principal porto marítimo da capital. |
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⚫ | A partir de [[Sétimo Severo]], outras formas de adoração ao sol, menos excludentes, também ganharam popularidade por todo o Império Romano<ref>{{ |
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⚫ | A partir de [[Sétimo Severo]], outras formas de adoração ao sol, menos excludentes, também ganharam popularidade por todo o Império Romano.<ref>{{citar livro|último = Halsberghe |primeiro = Gaston H. |título= The Cult of Sol Invictus |ano= 1972 |local= Leiden |páginas= 36 | unused_data = |publicado= Brill }}</ref> |
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⚫ | [[Heliogábalo]] fez uso de sua autoridade para instalar [[ |
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⚫ | [[Heliogábalo]] fez uso de sua autoridade para instalar [[Heliogábalo (divindade)|Heliogábalo]] como a principal divindade do [[panteão romano]], fundindo-o com as demais formas romanas do deus sol para formar o [[Sol Invicto]] ({{lang-la|''Deus Sol Invictus''}} – "Deus Sol Invencível"), acima de [[Júpiter (mitologia)|Júpiter]],<ref name="dio-history-lxxx-11">[[Dião Cássio]], ''[[História romana (Dião Cássio)|História Romana]]'' [http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Cassius_Dio/80*.html#79-11 LXXX.11]</ref> e transformando [[Astarte]], [[Minerva (mitologia)|Minerva]], [[Urânia (mitologia)|Urânia]] ou uma combinação das três em sua esposa.<ref name="herodian-history-v-6">[[Herodiano]], ''História Romana'' [http://www.livius.org/he-hg/herodian/hre506.html V.6]</ref> O imperador passou por cima de diversos outros elementos tradicionais da religião romana, casando uma [[virgem vestal]]<ref name="dio-history-lxxx-9">[[Dião Cássio]], ''História Romana'' [http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Cassius_Dio/80*.html#79-9 LXXX.9]</ref> (que deveriam, por força de lei e sob pena de morte, permanecer virgens solteiras durante seu período em serviço)<ref>[[Plutarco]], [[Vidas Paralelas]], Vida de [[Numa Pompílio]], [http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Plutarch/Lives/Numa*.html#10 10]</ref> e mudou de lugar algumas das mais sagradas relíquias da religião romana (incluindo o fogo de [[Vesta (mitologia)|Vesta]], os [[ancis]] dos [[sálios]] e o [[Paládio (mitologia)|Paládio]]) para um novo [[Elagabálio|templo dedicado exclusivamente a Heliogábalo]].<ref>''[[História Augusta]]'', Life of Elagabalus [http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Historia_Augusta/Elagabalus/1*.html#3.4 3]</ref> Apesar da reprovação de alguns senadores religiosos mais conservadores, os luxuosos festivais anuais públicos realizados em homenagem a Heliogábalo tornaram a divindade muito popular entre as massas, principalmente por que estes festivais incluíam uma abundante distribuição de comida.<ref name="herodian-history-v-6" /> |
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⚫ | Cerca de meio século depois de Heliogábalo, [[Aureliano]] assumiu o império. Ele era um reformador e reforçou a posição do deus sol como a principal divindade do panteão, chegando até mesmo a construir um novo templo dedicado a ele em Roma. Acredita-se que ele provavelmente também tenha sido o responsável por criar um festival do "dia do nascimento do Sol Invencível" (''"dies natalis Solis Invicti"''), que era celebrado em 25 de dezembro, o dia no qual o sol inicia sua aparente [[declinação solar|ascensão novamente]] |
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⚫ | Cerca de meio século depois de Heliogábalo, [[Aureliano]] assumiu o império. Ele era um reformador e reforçou a posição do deus sol como a principal divindade do panteão, chegando até mesmo a construir um novo templo dedicado a ele em Roma. Acredita-se que ele provavelmente também tenha sido o responsável por criar um festival do "dia do nascimento do Sol Invencível" (''"dies natalis Solis Invicti"''), que era celebrado em 25 de dezembro, o dia no qual o sol inicia sua aparente [[declinação solar|ascensão novamente]] — quatro dias depois de ter alcançado o [[solstício|seu ponto mais baixo]]{{Efn|A [[declinação do sol]] permanece a mesma hoje em dia (até duas [[casa decimal|casas decimais]]) entre 21 e 24 de dezembro inclusive<ref>{{citar web| url = http://www.wsanford.com/~wsanford/exo/sundials/DEC_Sun.html| título = Declinação solar| publicado = WSanford| língua = inglês| acessodata = 2015-09-27| arquivourl = https://web.archive.org/web/20140906122535/http://www.wsanford.com/~wsanford/exo/sundials/DEC_Sun.html| arquivodata = 2014-09-06| urlmorta = yes}}.</ref>}}, embora as primeiras referências sobreviventes ao festival estejam apenas na "[[Cronografia de 354]]". Ele seguia o princípio de "um deus, um império" e sua intenção era prover a todos os povos sob seu domínio, civis ou soldados, ocidentais ou orientais, um único deus que pudessem acreditar sem trair seus próprios deuses. [[Lactâncio]] argumentou que Aureliano teria proibido todos os demais deuses se tivesse tido mais tempo, pois ele conseguiu permanecer no cargo por meros cinco anos. |
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=== Judaísmo e cristianismo === |
=== Judaísmo e cristianismo === |
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{{AP|Separação do cristianismo do judaísmo}} |
{{AP|Separação do cristianismo do judaísmo}} |
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A tolerância imperial se estendia apenas às religiões que não resistiam à autoridade romana e respeitavam [[deuses romanos|seus deuses]]. As que eram hostis ao estado ou que reivindicassem exclusividade das crenças e práticas religiosas não estavam entre elas e alguns cultos orientais foram perseguidos. Os [[judeus]] conseguiram alguns privilégios especiais por sua predominância no setor econômico, pelo baixo número de seguidores e sua dispersão, mas esta tolerância estava precariamente equilibrada sob fino verniz de submissão e ela finalmente transformou-se em perseguição quando a disposição à colaboração entre os judeus começou a diminuir. Seitas intolerantes também perseguiam-se umas às outras, como era o caso do primeiros cristãos, denunciados pelos judeus tradicionais como provocadores perigosos segundo algumas interpretações do [[Concílio de Jâmnia]] e do ''"[[Birkat haMinim]]"''. Resultaram diversos massacres de comunidades cristãs e de grupos nacionalistas judaicos<ref name="hughes" /> |
A tolerância imperial se estendia apenas às religiões que não resistiam à autoridade romana e respeitavam [[deuses romanos|seus deuses]]. As que eram hostis ao estado ou que reivindicassem exclusividade das crenças e práticas religiosas não estavam entre elas e alguns cultos orientais foram perseguidos. Os [[judeus]] conseguiram alguns privilégios especiais por sua predominância no setor econômico, pelo baixo número de seguidores e sua dispersão, mas esta tolerância estava precariamente equilibrada sob fino verniz de submissão e ela finalmente transformou-se em perseguição quando a disposição à colaboração entre os judeus começou a diminuir. Seitas intolerantes também perseguiam-se umas às outras, como era o caso do primeiros cristãos, denunciados pelos judeus tradicionais como provocadores perigosos segundo algumas interpretações do [[Concílio de Jâmnia]] e do ''"[[Birkat haMinim]]"''. Resultaram diversos massacres de comunidades cristãs e de grupos nacionalistas judaicos.<ref name="hughes" /> |
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A [[cristianismo primitivo|comunidade cristã primitiva]] era percebida, por vezes, como sendo uma influência intrinsecamente desestabilizadora<ref name="Jeffrey Brodd 1995">"Julian the Apostate and His Plan to Rebuild the Jerusalem Temple", Jeffrey Brodd, Biblical Archaeology Society, Bible Review, Oct 1995.</ref> e uma ameaça à ''[[Pax Romana]]'', uma ''[[religio illicita]]''<ref name="hughes" /> |
A [[cristianismo primitivo|comunidade cristã primitiva]] era percebida, por vezes, como sendo uma influência intrinsecamente desestabilizadora<ref name="Jeffrey Brodd 1995">"Julian the Apostate and His Plan to Rebuild the Jerusalem Temple", Jeffrey Brodd, Biblical Archaeology Society, Bible Review, Oct 1995.</ref> e uma ameaça à ''[[Pax Romana]]'', uma ''[[religio illicita]]''.<ref name="hughes" /> Os pagãos, que atribuíam as desgraças de Roma e seu império à ascensão do cristianismo e só enxergavam uma restauração através do retorno às antigas crenças,<ref>[http://www.tertullian.org/fathers/ambrose_letters_02_letters11_20.htm#Letter17 "The Memorial of Symmachus"]</ref> se viram desafiados pela igreja cristã, que se separara da religião romana e não estava disposta a diluir o que acreditava ser a religião do "Verdadeiro Deus Único".<ref>"Letter of Ambrose to the Emperor Valentinian", The Letters of Ambrose Bishop of Milan, 384AD, retrieved 5 May 2007.[http://www.tertullian.org/fathers/ambrose_letters_02_letters11_20.htm]</ref> |
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Os mesmos deuses que os romanos acreditavam ter protegido e abençoado sua cidade e seu império pelos muitos séculos nos quais foram [[adoração|adorados]] estavam agora sendo [[demonização|demonizados]] pelos primeiros cristãos<ref>{{1913CE|Devil Worship}}</ref> |
Os mesmos deuses que os romanos acreditavam ter protegido e abençoado sua cidade e seu império pelos muitos séculos nos quais foram [[adoração|adorados]] estavam agora sendo [[demonização|demonizados]] pelos primeiros cristãos.<ref>{{1913CE|Devil Worship}}</ref> |
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== Tolerância e Constantino == |
== Tolerância e Constantino == |
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[[imagem:Tapestry showing the Baptism of Constantine.jpg|thumb|esquerda|O mítico "[[Batismo]] de [[Constantino, o Grande]]" numa [[tapeçaria]] (1622-5). Constantino foi o primeiro imperador cristão e seu governo iniciou uma [[reviravolta de Constantino|reviravolta nas relações entre o cristianismo e o império]]]] |
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{{AP|Constantino I e o cristianismo}} |
{{AP|Constantino I e o cristianismo}} |
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Depois que os conflitos iniciais entre o |
Depois que os conflitos iniciais entre o Estado e a nova religião emergente, [[Galiano]] {{nwrap|r.|253|268}} foi o primeiro imperador a emitir um édito de tolerância a todos os credos religiosos, incluindo o cristianismo. Segundo [[polêmica|polemistas]] cristãos escrevendo depois de sua morte, [[Constantino I]] teria sido [[batismo|batizado]] em seu leito de morte, o que faria dele o primeiro imperador romano cristão.<ref name="G. Herbermann 1911">{{1913CE|Constantine the Great}}</ref><ref>[[Códice Teodosiano]] XVI.v.1, 4 CE]</ref> [[Eusébio de Cesareia|Eusébio]], um historiador cristão contemporâneo, elogia-o além disso pela demolição de alguns templos pagãos.<ref>{{citar livro|autor=[[Eusébio de Cesareia]]|título=História Eclesiástica| url=http://www.newadvent.org/fathers/250103.htm|volume =III|capítulo=1|subtítulo=|língua=inglês}}</ref> Seja como for, seus efeitos sobre a política oficial durante os imperadores cristãos até [[Valentiniano I]] e [[Valente (imperador)|Valente]] foram suficientes para aumentar significativamente as conversões para o cristianismo, mas não para extinguir o paganismo. As perseguições de fato eram esporádicas e geralmente resultado de iniciativas locais, como foi o caso da destruição dos lugares santos da [[Gália]] por [[São Martinho de Tours]] no final do {{séc|IV}}<ref>[http://www.users.csbsju.edu/~eknuth/npnf2-11/sulpitiu/lifeofst.html#14 Life of St. Martin<!-- Bot generated title -->]</ref>. |
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Pelo [[Édito de Milão]] (313 |
Pelo [[Édito de Milão]] (313), Constantino continuou a política de tolerância que [[Galério]] estabeleceu.<ref>[http://gbgm-umc.org/UMW/Bible/milan.stm The Edict of Milan, complete text in English (Constantine, 313 A.D.)] {{Wayback|url=http://gbgm-umc.org/UMW/Bible/milan.stm |date=20070717025539 }}. Gbgm-umc.org.</ref> Suas leis contra a [[magia]] e as [[divinação|divinações privadas]] foram motivadas principalmente pelo medo de que outros pudessem alcançar o poder através delas{{efn|Leis contra a prática privada das [[divinação|divinações]] por [[cidadão romano|cidadãos romanos]] já existiam desde os tempos do imperador [[Tibério]]. Ele temia que os cidadãos de Roma abandonassem a religião pública oficial romana, aceitassem cultos estrangeiros em suas práticas familiares privadas e acabassem corrompendo o estado romano<ref>>Zósimo 2.29.1-2.29.4, [[Códice Teodosiano]] 16.10.1.</ref>.}}. Ainda assim, isto não significava que este ou aquele imperador fosse contra a magia ou a divinação. Na verdade, a crença ainda existia de forma mitigada, como se pode comprovar pela lei que exigia a consulta de [[áugure]]s depois que o [[Coliseu|Anfiteatro]] foi atingido por um raio em 320.<ref>Códice Teodosiano 16.10.1</ref> Constantino explicitamente permitia as divinações públicas como prática do cerimonial de estado, confirmou os direitos dos [[flâmine]]s, sacerdotes e [[dúunviro]]s<ref>Códice Teodosiano 12.1.21, 12.5.2</ref> e também permitiu que as práticas religiosas pagãs continuassem.<ref>Códice Teodosiano 9.16.1-9.16.3.</ref> |
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== Início das perseguições ao paganismo == |
== Início das perseguições ao paganismo == |
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[[imagem:Ridpath's Universal history - an account of the origin, primitive condition and ethnic development of the great races of mankind, and of the principal events in the evolution and progress of the (14782626602).jpg|thumb|upright|Um [[áugure]] realizando seu trabalho. Assim como os [[arúspice]]s, os áugures tiveram seu trabalho cada vez mais dificultado pelas leis cada vez mais restritivas publicadas pelos imperadores romanos. O resultado foi o desaparecimento completo da atividade]] |
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{{AP|Perseguição cristã ao paganismo por Constâncio II}} |
{{AP|Perseguição cristã ao paganismo por Constâncio II}} |
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Os atos de [[Constâncio II]], que reinou entre 337 e 361, marcam o começo de uma era de perseguição formal contra o paganismo pelo [[Império Romano Cristão]], especialmente pela publicação de leis e éditos que puniam as práticas pagãs<ref name="Kirsch04pp200-201">Kirsch, J. (2004) ''God against the Gods'', pp.200-1, Viking Compass</ref><ref name="CodexTheodosianus16.10.4">[http://www.fordham.edu/halsall/source/codex-theod1.html "The Codex Theodosianus On Religion", XVI.x.4, 4 CE]</ref> |
Os atos de [[Constâncio II]], que reinou entre 337 e 361, marcam o começo de uma era de perseguição formal contra o paganismo pelo [[Império Romano Cristão]], especialmente pela publicação de leis e éditos que puniam as práticas pagãs.<ref name="Kirsch04pp200-201">Kirsch, J. (2004) ''God against the Gods'', pp.200-1, Viking Compass</ref><ref name="CodexTheodosianus16.10.4">[http://www.fordham.edu/halsall/source/codex-theod1.html "The Codex Theodosianus On Religion", XVI.x.4, 4 CE]</ref> |
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A partir da década de 350, novas leis prescreveram a [[pena de morte]] para os que realizassem ou participassem de [[sacrifícios na religião da Roma Antiga|sacrifícios]] ou [[adoração|adorassem]] [[idolatria|ídolo]]s<ref name="CodexTheodosianus16.10.6">Códice Teodosiano 16.10.6</ref> |
A partir da década de 350, novas leis prescreveram a [[pena de morte]] para os que realizassem ou participassem de [[sacrifícios na religião da Roma Antiga|sacrifícios]] ou [[adoração|adorassem]] [[idolatria|ídolo]]s,<ref name="CodexTheodosianus16.10.6">Códice Teodosiano 16.10.6</ref> templos foram fechados<ref name="hughes"/><ref name="CodexTheodosianus16.10.4"/> e o tradicional "[[Altar da Vitória]]" foi removido do [[Senado Romano|Senado]].<ref name="Sheridan66">Sheridan, J.J. (1966) ''The Altar of Victor – Paganism's Last Battle.'' in L'Antiquite Classique 35 : 186-187.</ref> Nesta época ocorreram frequentes episódios de cristãos comuns destruindo, pilhando, dessacrando ou vandalizando templos, túmulos e monumentos pagãos.<ref name="Amiano Marcelino22.4.3">[[Amiano Marcelino]] ''Res Gestae'' 22.4.3</ref><ref name="Sozomen3.18">{{citar livro|autor=[[Sozomeno]]|título=História Eclesiástica|volume=III|capítulo=18|subtítulo=Concerning the Doctrines held by the Sons of Constantine. Distinction between the Terms Homoousios and Homoiousios. Whence it came that Constantius quickly abandoned the Correct Faith.|url=http://www.newadvent.org/fathers/26023.htm|língua=inglês}}</ref><ref name="CodexTheodosianus16.10.3">Códice Teodosiano 16.10.3</ref><ref name="CodexTheodosianus9.17.2">Códice Teodosiano 9.17.2</ref> |
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Os duros éditos imperiais tiveram que enfrentar o vasto número de seguidores do paganismo entre a população e a resistência passiva de governadores e magistrados<ref name="hughes"/><ref name="CathEncy1914Constantius">{{1913CE|Flavius Julius Constantius}}</ref><ref name="Amiano Marcelino9.10and19.12">[[Amiano Marcelino]] ''Res Gestae'' 9.10, 19.12; Firmicius Maternus De Errore Profanorum Religionum; Vetus Orbis Descriptio Graeci Scriptoris sub Constantio.</ref><ref name="Bowder1978">Bowder, D. (1978) ''The Age of Constantine and Julian''</ref> |
Os duros éditos imperiais tiveram que enfrentar o vasto número de seguidores do paganismo entre a população e a resistência passiva de governadores e magistrados.<ref name="hughes"/><ref name="CathEncy1914Constantius">{{1913CE|Flavius Julius Constantius}}</ref><ref name="Amiano Marcelino9.10and19.12">[[Amiano Marcelino]] ''Res Gestae'' 9.10, 19.12; Firmicius Maternus De Errore Profanorum Religionum; Vetus Orbis Descriptio Graeci Scriptoris sub Constantio.</ref><ref name="Bowder1978">Bowder, D. (1978) ''The Age of Constantine and Julian''</ref> As leis antipaganismo, começando com Constâncio, iriam, no futuro, influenciar negativamente as leis da [[Idade Média]] e, de forma alterada, seriam as bases da [[Inquisição]].<ref name="G. Herbermann 1911"/> |
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== Restauração e tolerância de Juliano até Valente ( |
== Restauração e tolerância de Juliano até Valente (361–375) == |
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Apenas durante o reinado de [[Juliano, o Apóstata]], de 361 a 363, o paganismo ameaçou voltar. Entre 363 e 375, durante os reinados de [[Joviano (imperador)|Joviano]], [[Valente (imperador)|Valente]] e [[Valentiniano I]], ele foi aceito com relativa tolerância. |
Apenas durante o reinado de [[Juliano, o Apóstata]], de 361 a 363, o paganismo ameaçou voltar. Entre 363 e 375, durante os reinados de [[Joviano (imperador)|Joviano]], [[Valente (imperador)|Valente]] e [[Valentiniano I]], ele foi aceito com relativa tolerância. |
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=== Juliano === |
=== Juliano === |
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[[imagem:Scuola di atene 10.jpg|thumb|upright|[[Plotino]], num detalhe da [[Escola de Atenas]], de [[Rafael]]. Um dos maiores expoentes do [[neoplatonismo]], Plotino influenciou tanto [[Santo Agostinho]] e quanto o imperador [[Juliano, o Apóstata]]]] |
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[[Juliano (imperador)|Juliano]] era sobrinho de [[Constantino I]] e foi criado como cristão, mas os assassinatos de seu pai, irmão e dois tios depois da morte de Constantino foram atribuídos por ele a [[Constâncio II]] e, por associação, aos cristãos em geral. Esta antipatia só piorou quando Constâncio executou o último irmão remanescente de Juliano em 354<ref name="hughes" /><ref name="newadvent.org">{{1913CE|Julian the Apostate}}</ref> |
[[Juliano (imperador)|Juliano]] era sobrinho de [[Constantino I]] e foi criado como cristão, mas os assassinatos de seu pai, irmão e dois tios depois da morte de Constantino foram atribuídos por ele a [[Constâncio II]] e, por associação, aos cristãos em geral. Esta antipatia só piorou quando Constâncio executou o último irmão remanescente de Juliano em 354.<ref name="hughes" /><ref name="newadvent.org">{{1913CE|Julian the Apostate}}</ref> Depois da infância, Juliano foi educado por [[filosofia helenística|helenistas]] e foi atraído pelos ensinamentos dos [[neoplatonistas]] e pelas [[Religião na Roma Antiga|antigas religiões]]. |
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Suas crenças eram [[sincretismo|sincréticas]] e ele foi um iniciado de pelo menos três [[religião de mistério|religiões de mistério]]. Mas esta abertura religiosa de Juliano não se estendia ao cristianismo em si, principalmente por sua reivindicação de deter uma perspectiva exclusiva sobre a verdade religiosa. Vendo a si mesma como a única religião verdadeira, o [[cristianismo]] era oposto a, e fundamentalmente incompatível com, formas sincréticas mais inclusivas do paganismo<ref name="Jeffrey Brodd 1995" /> |
Suas crenças eram [[sincretismo|sincréticas]] e ele foi um iniciado de pelo menos três [[religião de mistério|religiões de mistério]]. Mas esta abertura religiosa de Juliano não se estendia ao cristianismo em si, principalmente por sua reivindicação de deter uma perspectiva exclusiva sobre a verdade religiosa. Vendo a si mesma como a única religião verdadeira, o [[cristianismo]] era oposto a, e fundamentalmente incompatível com, formas sincréticas mais inclusivas do paganismo.<ref name="Jeffrey Brodd 1995" /> |
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Como imperador, Juliano tentou mudar o rumo da história de perseguição às religiões não-cristãs. Como seu primeiro ato, ele procurou re-estabelecer a antiga prática romana de incorporação de outras religiões. Mas, desta vezes, ao invés de permitir que os diferentes cultos utilizassem nomes diferentes para divindades similares, a educação cristã e no governo do império o influenciaram a tentar criar uma única religião |
Como imperador, Juliano tentou mudar o rumo da história de perseguição às religiões não-cristãs. Como seu primeiro ato, ele procurou re-estabelecer a antiga prática romana de incorporação de outras religiões. Mas, desta vezes, ao invés de permitir que os diferentes cultos utilizassem nomes diferentes para divindades similares, a educação cristã e no governo do império o influenciaram a tentar criar uma única religião pagã. Daí suas ideias sobre o renascimento e organização da antiga religião, moldando-a num corpo coeso de doutrina, liturgia e ritual<ref name="hughes" /> com uma hierarquia supervisionada pelo imperador, como marco de seu reinado.<ref name="newadvent.org"/> Juliano organizou elaborados rituais e tentou apresentar uma filosofia mais limpa do [[neoplatonismo]] que pudesse unir todos os pagãos.<ref>Amiano Marcelino Res Gestae 22.12</ref> |
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Ele permitiu a liberdade religiosa e evitou qualquer forma de vício ou compulsão. O cristão [[Sozomeno]] reconhece que Juliano não tentou obrigar os cristãos a oferecerem [[sacrifícios na religião da Roma Antiga|sacrifícios]] e nem permitiu que o povo cometesse injustiças ou insultos contra os cristãos |
Ele permitiu a liberdade religiosa e evitou qualquer forma de vício ou compulsão. O cristão [[Sozomeno]] reconhece que Juliano não tentou obrigar os cristãos a oferecerem [[sacrifícios na religião da Roma Antiga|sacrifícios]] e nem permitiu que o povo cometesse injustiças ou insultos contra os cristãos.<ref name="Sozomen Ecclesiastical History 5.5">{{citar livro|autor=[[Sozomeno]]|título=História Eclesiástica|volume=V|capítulo=5|subtítulo=Julian restores Liberty to the Christians, in order to execute Further Troubles in the Church. The Evil Treatment of Christianshe devised.|url=http://www.newadvent.org/fathers/26025.htm|língua=inglês}}</ref> Porém, nenhum cristão podia estudar ou ensinar os antigos autores clássicos: ''"Deixe-os com [[Evangelho de Mateus|Mateus]] e [[Evangelho de Lucas|Lucas]]"'', acabando assim com qualquer possibilidade de conseguirem uma carreira profissional.<ref name="hughes" /><ref>[http://www.tertullian.org/fathers/Amiano Marcelino_25_book25.htm Amiano Marcelino Res Gestae 25.4.20]{{Ligação inativa|data=maio de 2019 }}</ref> |
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Juliano também retirou os privilégios do clero cristão, concedidos por Constantino, e ordenou que eles restituíssem o estado. Os que haviam demolido templos durante os reinados de Constantino e Constâncio foram obrigados a reconstruí-los ou pagar pela obra. Apenas os pagãos podiam ensinar [[direito]], [[retórica]], filosofia ou praticar qualquer forma de liturgia religiosa sancionada pelo estado. Juliano exigia que todos os que haviam abandonado as antigas crenças se purificassem antes de poderem receber de volta o privilégio de participar dos cultos romanos novamente. Ele próprio era devoto das divinações e permitiu que seus súditos praticassem-na livremente<ref>Amiano Marcelino Res Gestae 25.4</ref> |
Juliano também retirou os privilégios do clero cristão, concedidos por Constantino, e ordenou que eles restituíssem o estado. Os que haviam demolido templos durante os reinados de Constantino e Constâncio foram obrigados a reconstruí-los ou pagar pela obra. Apenas os pagãos podiam ensinar [[direito]], [[retórica]], filosofia ou praticar qualquer forma de liturgia religiosa sancionada pelo estado. Juliano exigia que todos os que haviam abandonado as antigas crenças se purificassem antes de poderem receber de volta o privilégio de participar dos cultos romanos novamente. Ele próprio era devoto das divinações e permitiu que seus súditos praticassem-na livremente.<ref>Amiano Marcelino Res Gestae 25.4</ref> Em geral, os privilégios e imunidades dadas aos cristãos foram substituídos por similares concedidos aos filósofos e sacerdotes pagãos que apoiavam sua nova religião pagã neoplatônica.<ref name="Sozomen Ecclesiastical History 5.5" /> |
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=== Joviano, Valentiniano e Valente === |
=== Joviano, Valentiniano e Valente === |
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Depois da morte de Juliano, [[Joviano (imperador)|Joviano]] aparentemente reinstituiu uma política de tolerância religiosa que evitou os extremos de Constâncio e Juliano<ref>[[Temístio]] Oração 5; [[Fócio]], Epítome da História Eclesiástica de [[Filostórgio]], 8.5</ref> |
Depois da morte de Juliano, [[Joviano (imperador)|Joviano]] aparentemente reinstituiu uma política de tolerância religiosa que evitou os extremos de Constâncio e Juliano.<ref>[[Temístio]] Oração 5; [[Fócio]], Epítome da História Eclesiástica de [[Filostórgio]], 8.5</ref> Sob [[Valentiniano I]] e [[Valente (imperador)|Valente]], esta política se manteve. Os escritores pagãos elogiam ambos por suas políticas religiosas liberais.<ref>Amiano Marcelino Res Gestae 20.9; [[Temístio]] Oração 12.</ref><ref name="Códice Teodosiano 9.16.9">Códice Teodosiano 9.16.9</ref> |
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Valentiniano, que reinou no [[Império Romano do Ocidente|ocidente]], chegou a permitir sacrifícios noturnos, que haviam sido proibidos anteriormente por serem vistos como tentativas de ocultar as divinações proibidas sob o véu da noite, depois que o [[procônsul]] da Grécia lhe fez um apelo<ref>[[Zósimo]] 4.3</ref> |
Valentiniano, que reinou no [[Império Romano do Ocidente|ocidente]], chegou a permitir sacrifícios noturnos, que haviam sido proibidos anteriormente por serem vistos como tentativas de ocultar as divinações proibidas sob o véu da noite, depois que o [[procônsul]] da Grécia lhe fez um apelo.<ref>[[Zósimo]] 4.3</ref> Ele também confirmou o direito e os privilégios dos sacerdotes pagãos e confirmou-lhes o direito de serem os únicos administradores de seus templos.<ref>Códice Teodosiano 17.1.60, 17.1.75, 16.1.1</ref> Valente, que reinou no oriente, era [[arianismo|ariano]] e estava ocupado demais com sua batalha contra os [[cristãos ortodoxos]] para se importar demasiadamente com os pagãos. Tanto no ocidente quanto no oriente, novas leis foram passadas proibindo novamente as divinações privadas.<ref>Códice Teodosiano 9.16.7, 9.16.8, 9.16.10, 9.38.3, 9.38.4</ref> Por conta do zelo exagerado da população em sua tentativa de acabar com as divinações perigosas, [[áugure]]s e [[arúspice]]s começaram a temer aparecer em público, o que levou os imperadores a autorizarem formalmente a prática da divinação oficial e legal numa lei de 371.<ref name="Códice Teodosiano 9.16.9" /> Apesar da política oficial, as leis antipaganismo anteriores continuaram valendo e a destruição esporádica de lugares sagrados pagãos ainda era tolerada. |
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== Novas perseguições sob Graciano == |
== Novas perseguições sob Graciano == |
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[[imagem:MK54054 Maison Carrée (Nîmes).jpg|thumb|esquerda|No período de Graciano, templos, como a ''[[Maison Carrée]]'', em [[Nimes]], na [[França]], foram confiscados pelo governo. Os mais afortunados, como este, foram preservados para uso cristão, mas muitos foram destruídos]] |
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⚫ | Com a morte de seu pai, [[Valentiniano I]], em 375, [[Graciano]] começou a reinar de fato aos dezesseis. Seis dias depois da morte de Valentiniano, o meio-irmão de Graciano, [[Valentiniano II]], que tinha apenas quatro anos, também foi declarado imperador. Depois da morte de [[Valente (imperador)|Valente]], na [[Batalha de Adrianópolis (378)|Batalha de Adrianópolis]], Graciano escolheu [[Teodósio I|Teodósio]] para suceder o tio. Graciano havia sido educado por [[Ausônio]], que elogiou o pupilo por sua tolerância, mas, com a morte do pai, o imperador caiu sob a influência de [[Ambrósio]], que tornou-se seu principal conselheiro<ref>{{1913CE|Gratian}}</ref><ref>"Carta de Graciano a Ambrósio", As Epístolas de Ambrósio, bispo de Milão, 379AD, [http://www.tertullian.org/fathers/ambrose_letters_01_letters01_10.htm Epístola 10]</ref> |
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⚫ | Com a morte de seu pai, [[Valentiniano I]], em 375, [[Graciano]] começou a reinar de fato aos dezesseis. Seis dias depois da morte de Valentiniano, o meio-irmão de Graciano, [[Valentiniano II]], que tinha apenas quatro anos, também foi declarado imperador. Depois da morte de [[Valente (imperador)|Valente]], na [[Batalha de Adrianópolis (378)|Batalha de Adrianópolis]], Graciano escolheu [[Teodósio I|Teodósio]] para suceder o tio. Graciano havia sido educado por [[Ausônio]], que elogiou o pupilo por sua tolerância, mas, com a morte do pai, o imperador caiu sob a influência de [[Ambrósio]], que tornou-se seu principal conselheiro.<ref>{{1913CE|Gratian}}</ref><ref>"Carta de Graciano a Ambrósio", As Epístolas de Ambrósio, bispo de Milão, 379AD, [http://www.tertullian.org/fathers/ambrose_letters_01_letters01_10.htm Epístola 10]</ref> Por influência dele, passos decisivos para a supressão definitiva do paganismo foram tomados.<ref>Códice Teodosiano 2.8.18-2.8.25, 16.7.1-16.7.5</ref> |
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⚫ | Esta influência de Ambrósio foi a força mais importante que acabou por encerrar um período de ampla, ainda que não oficial, tolerância religiosa que existia desde a morte de Juliano<ref>[[Zósimo]] 4.35</ref> |
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⚫ | Esta influência de Ambrósio foi a força mais importante que acabou por encerrar um período de ampla, ainda que não oficial, tolerância religiosa que existia desde a morte de Juliano.<ref>[[Zósimo]] 4.35</ref> Graciano desferiu severos golpes contra o paganismo em 382,<ref>[[Ambrósio]], Epístolas 17-18; [[Quinto Aurélio Símaco|Símaco]] ''Relationes'' 1-3.</ref> quando se apropriou da renda dos sacerdotes pagãos e das [[virgem vestal|virgens vestais]], confiscou as propriedades privadas dos colégios sacerdotais pagãos (que perderam ainda seus privilégios e imunidades) e ordenou novamente a remoção do [[Altar da Vitória]] do Senado.<ref>Sheridan, J.J., "The Altar of Victor – Paganism’s Last Battle." L’Antiquite Classique 35 (1966): 187.</ref> Graciano declarou ainda que todos os templos e santuários pagãos deveriam ser confiscados pelos governo e suas rendas, incorporadas ao tesouro imperial.<ref>Códice Teodosiano 16.10.20; [[Quinto Aurélio Símaco|Símaco]] ''Relationes'' 1-3; [[Ambrósio]], Epístolas 17-18.</ref> |
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Senadores pagãos responderam apelando a Graciano, lembrando que ele ainda era o [[pontífice máximo]] e que seu dever era garantir que os ritos pagãos eram adequadamente realizados. Eles pediram que Graciano restaurasse o Altar da Vitória e os direitos e privilégios das virgens vestais e dos colégios. O imperador, instado por Ambrósio, não concedeu-lhes audiência e renunciou ao cargo de pontífice máximo, declarando que era inadequado que um cristão detivesse a função. |
Senadores pagãos responderam apelando a Graciano, lembrando que ele ainda era o [[pontífice máximo]] e que seu dever era garantir que os ritos pagãos eram adequadamente realizados. Eles pediram que Graciano restaurasse o Altar da Vitória e os direitos e privilégios das virgens vestais e dos colégios. O imperador, instado por Ambrósio, não concedeu-lhes audiência e renunciou ao cargo de pontífice máximo, declarando que era inadequado que um cristão detivesse a função. |
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== Teodósio == |
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{{AP|Perseguições cristãs ao paganismo por Teodósio I}} |
{{AP|Perseguições cristãs ao paganismo por Teodósio I}} |
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⚫ | [[imagem:Casa de las Vestales, estatuas. 06.jpg|thumb|[[Casa das Virgens Vestais]], no [[Fórum Romano]], atrás do [[Templo de Vesta (Roma)|Templo de Vesta]]. [[Teodósio I]] não somente desmontou toda a organização por trás desta antiquíssima tradição como também mandou extinguir o famoso "[[fogo sagrado de Vesta]]", de cuja manutenção as [[vestais]] eram responsáveis]] |
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⚫ | A perseguição ao paganismo pelo imperador [[Teodósio I]] começou em 381, depois de apenas dois anos de seu reinado no [[Império Romano do Ocidente]]. Na década de 380, ele reiterou a proibição de Constâncio aos sacrifícios, proibiu o [[Arúspice|aruspício]] sob pena de morte, iniciou a criminalização e punição dos magistrados que não aplicassem as leis |
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⚫ | A perseguição ao paganismo pelo imperador [[Teodósio I]] começou em 381, depois de apenas dois anos de seu reinado no [[Império Romano do Ocidente]]. Na década de 380, ele reiterou a proibição de Constâncio aos sacrifícios, proibiu o [[Arúspice|aruspício]] sob pena de morte, iniciou a criminalização e punição dos magistrados que não aplicassem as leis antipaganismo, dissolveu associações pagãs e demoliu templos. |
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Entre 389 e 391, publicou os infames "Decretos Teodosiano", que estabeleceram, na prática, a proibição do paganismo<ref name="TheodosianCode16.10.11">Códice Teodosiano 16.10.11</ref>: visitas aos templos foram proibidas<ref name="Routery1997ch4">Routery, Michael (1997) [http://www.vinland.org/scamp/grove/kreich/chapter4.html ''The First Missionary War. The Church take over of the Roman Empire'', Ch. 4, ''The Serapeum of Alexandria'']</ref><ref name="TheodosianCode16.10.10">Códice Teodosiano 16.10.10</ref>, os feriados pagãos remanescentes foram abolidos, o [[fogo sagrado de Vesta|fogo eterno]] do [[Templo de Vesta (Roma)|Templo de Vesta]], no [[Fórum Romano]], foi apagado, as virgens vestais foram extintas e [[auspício]]s e [[bruxaria]]s passaram a ser punidos. Teodósio recusou o pedido de senadores pagãos para recolocar o Altar da Vitória no Senado. |
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Em 392, Teodósio tornou-se imperador do império inteiro (o último) e, deste momento até o final de seu reinado, em 395, ignorou os pedidos dos pagãos por tolerância<ref name="Zosimus4.59">[[Zósimo]] 4.59</ref><ref name="SymmachusRelatio3">[[Quinto Aurélio Símaco|Símaco]] ''Relationes'' 3.</ref> e autorizou ou participou pessoalmente na destruição de muitos templos, lugares santos, imagens e objetos de veneração por todo o império<ref name="Grindle1892pp29-30">Grindle, Gilbert (1892) ''The Destruction of Paganism in the Roman Empire'', pp.29-30.</ref><ref name="LifeStMartin">[http://www.users.csbsju.edu/~eknuth/npnf2-11/sulpitiu/lifeofst.html#14 Life of St. Martin<!-- Bot generated title -->]</ref><ref name="Gibbonch28">Gibbon, Edward ''The Decline and Fall of the Roman Empire'', ch28</ref><ref name="ramsey">R. MacMullen, "Christianizing The Roman Empire A.D.100-400, Yale University Press, 1984, ISBN 0-300-03642-6</ref><ref name="CathEnc1912Theophilus">{{1913CE|Theophilus (1)}}</ref> |
Entre 389 e 391, publicou os infames "Decretos Teodosiano", que estabeleceram, na prática, a proibição do paganismo<ref name="TheodosianCode16.10.11">Códice Teodosiano 16.10.11</ref>: visitas aos templos foram proibidas,<ref name="Routery1997ch4">Routery, Michael (1997) [http://www.vinland.org/scamp/grove/kreich/chapter4.html ''The First Missionary War. The Church take over of the Roman Empire'', Ch. 4, ''The Serapeum of Alexandria''] {{Wayback|url=http://www.vinland.org/scamp/grove/kreich/chapter4.html |date=20100531093733 }}</ref><ref name="TheodosianCode16.10.10">Códice Teodosiano 16.10.10</ref> os feriados pagãos remanescentes foram abolidos, o [[fogo sagrado de Vesta|fogo eterno]] do [[Templo de Vesta (Roma)|Templo de Vesta]], no [[Fórum Romano]], foi apagado, as virgens vestais foram extintas e [[auspício]]s e [[bruxaria]]s passaram a ser punidos. Teodósio recusou o pedido de senadores pagãos para recolocar o Altar da Vitória no Senado. |
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Em 392, Teodósio tornou-se imperador do império inteiro (o último) e, deste momento até o final de seu reinado, em 395, ignorou os pedidos dos pagãos por tolerância<ref name="Zosimus4.59">[[Zósimo]] 4.59</ref><ref name="SymmachusRelatio3">[[Quinto Aurélio Símaco|Símaco]] ''Relationes'' 3.</ref> e autorizou ou participou pessoalmente na destruição de muitos templos, lugares santos, imagens e objetos de veneração por todo o império<ref name="Grindle1892pp29-30">Grindle, Gilbert (1892) ''The Destruction of Paganism in the Roman Empire'', pp.29-30.</ref><ref name="LifeStMartin">[http://www.users.csbsju.edu/~eknuth/npnf2-11/sulpitiu/lifeofst.html#14 Life of St. Martin<!-- Bot generated title -->]</ref>,<ref name="Gibbonch28">Gibbon, Edward ''The Decline and Fall of the Roman Empire'', ch28</ref><ref name="ramsey">R. MacMullen, "Christianizing The Roman Empire A.D.100-400, Yale University Press, 1984, ISBN 0-300-03642-6</ref><ref name="CathEnc1912Theophilus">{{1913CE|Theophilus (1)}}</ref> além de participar em ações cristãs contra os grandes santuários pagãos.<ref name="Ramsay1984p90">Ramsay McMullan (1984) ''Christianizing the Roman Empire A.D. 100–400'', Yale University Press, p.90.</ref> Ele emitiu uma ampla legislação proibindo rituais pagãos até mesmo nas residências privadas<ref name="hughes" /> e particularmente opressiva contra os [[maniqueístas]].<ref name="FirstChristianTheologiansp68">"The First Christian Theologians: An Introduction to Theology in the Early Church", Edited by Gillian Rosemary Evans, contributor Clarence Gallagher SJ, "The Imperial Ecclesiastical Lawgivers", p68, Blackwell Publishing, 2004, ISBN 0-631-23187-0</ref> Agora o paganismo é que estava proscrito, uma ''[[religio illicita]]''.<ref name="HughesVol3">Hughes, Philip ''Studies in Comparative Religion'', ''The Conversion of the Roman Empire'', Vol 3, CTS.</ref> É provável que tenha sido por iniciativa sua a supressão final dos [[Jogos Olímpicos Antigos]], cujo último registro é de 393.<ref name="KotynskiP3">Kotynski, p.3.</ref> |
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== Renascimento politeísta == |
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| caption2 = [[João (usurpador)|João]], um [[usurpador romano|usurpador]] no ocidente que tentou aliviar a pressão sobre os pagãos até ser deposto por [[Valentiniano III]]. |
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| caption3 = [[Estilicão]], a esposa [[Serena (esposa de Estilicão)|Serena]] e o filho [[Euquério]]. Durante seu reinado no ocidente, os pagãos conseguiram viver em paz. |
| caption3 = [[Estilicão]], a esposa [[Serena (esposa de Estilicão)|Serena]] e o filho [[Euquério (filho de Estilicão)|Euquério]]. Durante seu reinado no ocidente, os pagãos conseguiram viver em paz. |
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Com a morte de Teodósio I, em 395, iniciou-se uma crise política que os [[bárbaros]] rapidamente souberam se aproveitar, invadindo o [[Império Romano]] numa escala sem precedentes. Como as [[tribos germânicas]] que se infiltravam, colonizavam ou invadiam o império eram [[arianos|arianas]], muitos cristãos ortodoxos passaram a ter dúvidas sobre sua verdadeira fé. Alguns, de forma [[superstição|supersticiosa]] ou patriótica, acreditaram que as invasões eram o resultado do abandono das crenças antigas. Outros, que o sucesso dos germânicos se devia à corrupção da igreja ortodoxa. Os pagãos, por sua vez, retomaram a agressividade e passaram a culpar os cristãos pelos desastres que afligiam o império{{efn|[[Eunápio]] reflete algumas destas atitudes pagãs da época em suas obras. Porém, representa o elemento mais fanático da reação pagã.}}. |
Com a morte de Teodósio I, em 395, iniciou-se uma crise política que os [[bárbaros]] rapidamente souberam se aproveitar, invadindo o [[Império Romano]] numa escala sem precedentes. Como as [[tribos germânicas]] que se infiltravam, colonizavam ou invadiam o império eram [[arianos|arianas]], muitos cristãos ortodoxos passaram a ter dúvidas sobre sua verdadeira fé. Alguns, de forma [[superstição|supersticiosa]] ou patriótica, acreditaram que as invasões eram o resultado do abandono das crenças antigas. Outros, que o sucesso dos germânicos se devia à corrupção da [[Igreja Ortodoxa|igreja ortodoxa]]. Os pagãos, por sua vez, retomaram a agressividade e passaram a culpar os cristãos pelos desastres que afligiam o império{{efn|[[Eunápio]] reflete algumas destas atitudes pagãs da época em suas obras. Porém, representa o elemento mais fanático da reação pagã.}}. |
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Apesar dos apelos de muitos pagãos por tolerância, [[Honório (imperador)|Honório]] e [[Arcádio]] continuaram o trabalho do pai passando ainda mais leis |
Apesar dos apelos de muitos pagãos por tolerância, [[Honório (imperador)|Honório]] e [[Arcádio]] continuaram o trabalho do pai passando ainda mais leis antipaganismo numa tentativa de acabar com este renascimento na raiz. O simples fato de eles terem sido obrigados a repetir as ameaças passando numerosas leis contra as práticas pagãs já indica que seus esforços não tiveram sucesso e o paganismo continuou a existir de forma discreta.<ref>Códice Teodosiano 16.5.41, 16.5.42, 16.5.51, 16,10.15, 16.10.17, 16.10.19</ref> |
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No ocidente, na primeira parte do reinado de Honório, [[Estilicão]] conseguiu assumir um poder quase sem limites no ocidente e, numa política mais moderada, passou algumas leis mais favoráveis aos pagãos, livrando-os temporariamente da perseguição. Por causa dos constantes distúrbios provocados pelos cristãos em suas tentativas de destruir os templos, a primeira destas leis protegeu-os da destruição, obrigando que fosse primeiro solicitada uma permissão para a demolição<ref>Códice Teodosiano 16.10.15</ref> |
No ocidente, na primeira parte do reinado de Honório, [[Estilicão]] conseguiu assumir um poder quase sem limites no ocidente e, numa política mais moderada, passou algumas leis mais favoráveis aos pagãos, livrando-os temporariamente da perseguição. Por causa dos constantes distúrbios provocados pelos cristãos em suas tentativas de destruir os templos, a primeira destas leis protegeu-os da destruição, obrigando que fosse primeiro solicitada uma permissão para a demolição.<ref>Códice Teodosiano 16.10.15</ref> A segunda lei reconheceu o direito do povo de participar em banquetes tradicionais, espetáculos, encontros e festividades associadas às antigas religiões pagãos, apesar de ainda manter a proibição de se realizar qualquer rito ou sacrifício pagão.<ref>Códice Teodosiano 16.10.17</ref> A terceira proibia a destruição de templos que haviam sido limpos de quaisquer itens proibidos e ordenou, ao invés disso, que eles fossem mantidos em bom estado de conservação.<ref>Códice Teodosiano 16.10.18</ref> Depois da morte de Estilicão, Honório e seu grupo recuperaram o poder e novas leis duras contra o paganismo foram passadas. Em 408, Honório declarou que todas as estátuas e altares nos templos deveriam ser removidos e que os edifícios e suas rendas deveriam ser confiscados pelo estado.<ref>Códice Teodosiano 16.10.19</ref> Esta lei também proibiu a realização de quaisquer banquetes ou celebrações nas vizinhanças dos templos. Para piorar, a execução destas leis foi deixada a cargo dos [[bispo]]s locais. Finalmente, duas outras leis decretaram que os edifícios pertencentes a pagãos e [[heresia|hereges]] conhecidos deveriam ser confiscados pelas igrejas.<ref>Códice Teodosiano 16.5.43; Constitutiones Sirmondianae 12.</ref> |
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No oriente, em 395, Arcádio declarou que os dias solenes dos pagãos não deveriam mais ser incluídos entre os feriados<ref>[[Códice Teodosiano]] 2.8.22</ref> e, no mesmo ano, novas leis proibiram qualquer um de ir a um santuário ou templo pagão ou de celebrar qualquer rito pagão<ref>Códice Teodosiano 16.10.13</ref> |
No oriente, em 395, Arcádio declarou que os dias solenes dos pagãos não deveriam mais ser incluídos entre os feriados<ref>[[Códice Teodosiano]] 2.8.22</ref> e, no mesmo ano, novas leis proibiram qualquer um de ir a um santuário ou templo pagão ou de celebrar qualquer rito pagão.<ref>Códice Teodosiano 16.10.13</ref> É possível que estas leis tivessem como alvo cristãos que estavam se convertendo de volta ao paganismo, pois ela menciona especificamente ''"aqueles que estão tentando se desviar do [[dogma]] da fé católica"''. Em 396, o imperador ordenou que os templos pagãos localizados nas zonas rurais fossem demolidos sem revoltas ou desordem,<ref>Códice Teodosiano 16.10.16, 15.1.36</ref> o que indica que o número de pagãos nas zonas rurais ainda era muito grande para permitir que os cristãos destruíssem abertamente os templos ali. Como resultado, os cristãos tiveram que se contentar em destruir os templos pagãos nas zonas urbanas, onde eram maioria. O grande número de pagãos no oriente também acabou forçando Arcádio a permitir a realização de alguns antigos festivais e jogos públicos.<ref>Códice Teodosiano 15.6.1, 15.6.2</ref> |
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Arcádio morreu em 408 e seu |
Arcádio morreu em 408 e seu filho de sete anos, [[Teodósio II|Teodósio]], foi proclamado imperador no oriente. No mesmo ano, Honório passou uma lei que proibiu qualquer um que não fosse católico de realizar um serviço imperial no palácio.<ref>Códice Teodosiano 16.5.42</ref> [[Zósimo]] relata que ele depois foi forçado a repelir esta lei quando um de seus melhores oficiais, que era pagão, renunciou em protesto.<ref>[[Zósimo]] 5.46; Códice Teodosiano 16.5.42.</ref> No começo de 409, Honório publicou outra lei que punia juízes e oficiais que não aplicassem as leis contra os pagãos,<ref>Códice Teodosiano 16.5.46</ref> uma lei que chegou a punir pessoas de alta classe social simplesmente por se manterem em silêncio a respeito de rituais pagãos realizados em sua cidade ou distrito. As esperanças dos pagãos foram reavivadas com a elevação de [[Prisco Átalo]] neste mesmo ano. Porém, [[Alarico I]], um cristão ariano, logo se cansou de seu [[títere]], e Átalo foi deposto no verão de 410, quando Honório prometeu negociar um tratado de paz. Quando estas negociações ruíram, Alarico tomou e [[saque de Roma (410)|saqueou a cidade]]. Esta catástrofe chocou todo o mundo romano. Cristãos e pagãos rapidamente passaram a culpar uns aos outros por algo que se considerava impossível de acontecer. Foi neste cenário que Honório retomou sua legislação antipaganismo.<ref>Códice Teodosiano 16.5.51</ref> |
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[[Ficheiro:Hypatia (Charles William Mitchell).jpg|thumb|upright|''"[[Hipátia]] antes de ser morta na igreja"'', por Charles William Mitchell, 1885]] |
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Há diversos fragmentos sobreviventes de obras históricas pagãs, como as de [[Eunápio]] e [[Olimpiodoro de Tebas|Olimpiodoro]], que indicam que os pagãos passaram então a declarar publicamente seu ressentimento através da literatura. Mesmo depois do saque de Roma, os pagãos acreditavam que o recente declínio de Roma era causado pelo negligenciamento das antigas tradições ancestrais. |
Há diversos fragmentos sobreviventes de obras históricas pagãs, como as de [[Eunápio]] e [[Olimpiodoro de Tebas|Olimpiodoro]], que indicam que os pagãos passaram então a declarar publicamente seu ressentimento através da literatura. Mesmo depois do saque de Roma, os pagãos acreditavam que o recente declínio de Roma era causado pelo negligenciamento das antigas tradições ancestrais. |
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Em 415, Honório publicou mais uma lei que confiscava templos pagãos por todo o império e ordenou que todos os objetos pagãos fossem removidos de lugares públicos<ref>Códice Teodosiano 16.10.20</ref> |
Em 415, Honório publicou mais uma lei que confiscava templos pagãos por todo o império e ordenou que todos os objetos pagãos fossem removidos de lugares públicos.<ref>Códice Teodosiano 16.10.20</ref> Um exemplo infame do clima antipaganismo da época foi o caso da filósofa [[Hipácia]], linchada em 415 por uma multidão em [[Alexandria]]. No anos seguinte, Honório e [[Teodósio II]] ordenaram que pagãos não deveriam mais ser admitidos no governo imperial e nem deveriam receber os cargos de administrador ou juiz.<ref>Códice Teodosiano 16.10.21</ref> Em 423, Teodósio II reiterou as leis anteriores e declarou que todos os pagãos flagrados realizados rituais antigos teriam todos os bens confiscados e seria exilados.<ref>Códice Teodosiano 16.10.22, 16.10.23, 16.8.26.</ref> Em agosto do mesmo ano, Honório morreu e o poder foi tomado por [[João (usurpador)|João]], que era até então [[primicério]] (''primicerius notariorum''). Aparentemente, sua ascensão levou a um período de tolerância, pois ele tentou limitar o poder do clero e os privilégios da igreja numa tentativa de tratar todos de forma equânime{{efn|Uma lei no [[Códice Teodosiano]] (16.2.47) faz referência a um "tirano" que emitiu éditos contra a igreja. Este "tirano" ([[usurpador romano|usurpador]]) é provavelmente [[João (usurpador)|João, o Primicério]].}}. Em paralelo, Teodósio publicou uma lei que exigia que cristãos perturbassem pagãos vivendo pacificamente, desde que eles não estivessem contrariando a lei. Dois anos depois, ele seguiu com uma expedição militar ao ocidente para depor João, que foi capturado e executado, e estabelecer [[Valentiniano III]] como imperador no ocidente. Ainda no ocidente, mais leis foram publicadas em 425. A primeira estipulava que todas as superstições pagãs deveria ser extirpadas<ref>Códice Teodosiano 16.5.63</ref> e a segunda impedia os pagãos de tratarem nas cortes seus pleitos e os impedia de servirem como soldados.<ref>Constitutiones Sirmondianae 6</ref> |
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== Declínio final == |
== Declínio final == |
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[[imagem:MANNapoli 124545 plato's academy mosaic.jpg|thumb|esquerda|300px|[[Academia de Platão]], em [[Atenas]]. Um dos últimos [[bastião|bastiões]] da cultura pagã, foi fechada em 529 por [[Justiniano I]].<br><small>[[Mosaico]] em [[Pompeia]], atualmente no [[Museu Arqueológico Nacional de Nápoles]], na [[Itália]].</small>]] |
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A vitalidade contínua do paganismo levou [[Marciano]], que tornou-se imperador no oriente em 450 depois da morte de Teodósio II, a repetir todas as proibições anteriores aos ritos pagãos. A partir de 451, todos os que continuassem a realizar ritos pagãos teriam suas propriedades confiscadas e seriam condenados à morte. Marciano também proibiu qualquer tentativa de reabrir templos e, além disto, para encorajar a estrita aplicação da lei, uma multa de 25 quilos de ouro passou a ser imposta a qualquer juiz ou governador, assim como seus oficiais subalternos, que não fizessem valer esta lei<ref>Código Justiniano 1.11.7</ref> |
A vitalidade contínua do paganismo levou [[Marciano (imperador bizantino)|Marciano]], que tornou-se imperador no oriente em 450 depois da morte de Teodósio II, a repetir todas as proibições anteriores aos ritos pagãos. A partir de 451, todos os que continuassem a realizar ritos pagãos teriam suas propriedades confiscadas e seriam condenados à morte. Marciano também proibiu qualquer tentativa de reabrir templos e, além disto, para encorajar a estrita aplicação da lei, uma multa de 25 quilos de ouro passou a ser imposta a qualquer juiz ou governador, assim como seus oficiais subalternos, que não fizessem valer esta lei.<ref>Código Justiniano 1.11.7</ref> Porém, nem mesmo assim o paganismo foi extinto, pois, [[Leão I, o Trácio]], que sucedeu a Marciano em 457, foi obrigado a publicar uma lei, em 472, impondo duras penas a qualquer proprietário que permitisse a realização de rituais pagãos em suas propriedades. Se fosse de alto escalão, seria punido com a perda de cargos e status além do confisco da propriedade. Caso contrário, seria punido fisicamente e condenado a trabalhar nas minas pelo resto da vida.<ref>Código Justiniano 1.11.8</ref> |
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Duas outras leis contra o paganismo, que pode ser deste período, estão preservadas no [[Código Justiniano]] (1.11.9, 1.11.10), mas elas não mencionam os imperadores responsáveis. Depois da |
Duas outras leis contra o paganismo, que pode ser deste período, estão preservadas no [[Código Justiniano]] (1.11.9, 1.11.10), mas elas não mencionam os imperadores responsáveis. Depois da deposição de [[Ávito]], que governou no ocidente entre 455 e 456, aparentemente houve uma conspiração entre os nobres romanos para colocar o general pagão [[Marcelino (mestre dos soldados)|Marcelino]] no trono para restaurar o paganismo, mas o plano não deu certo.<ref>[[Sidônio Apolinário|Sidônio]], Epístola 1.11.6</ref> |
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Em 457, Leão I tornou-se o primeiro imperador a ser coroado pelo [[patriarca de Constantinopla]]. [[Antêmio]] (r. |
Em 457, Leão I tornou-se o primeiro imperador a ser coroado pelo [[patriarca de Constantinopla]]. [[Antêmio]] (r. 467–472), um dos últimos imperadores romanos do ocidente, aparentemente também planejou um renascimento pagão na cidade de Roma.<ref name="[[Fócio]] ''[[Bibliotheca]]'' cod. 242">[[Fócio]] ''[[Bibliotheca]]'' cod. 242</ref> Ele era descendente de [[Procópio (usurpador)|Procópio]], um parente de [[Juliano (imperador)|Juliano]]. Ele deu a [[Méssio Febo Severo]], um filósofo pagão que era seu amigo próximo, os importantes cargos de [[prefeito de Roma]], [[Cônsul (Roma Antiga)|cônsul]] e [[patrício]]. Além disso, ele colocou uma imagem de [[Hércules]] matando o [[leão de Nemeia]] em suas moedas. O assassinato de Antêmio por [[Ricimero]] destruiu as esperanças dos pagãos que acreditavam que os rituais tradicionais pudessem ser restaurados.<ref>Amiano Marcelino Chronicle s.a. 468</ref> Logo depois, em 476, o imperador do ocidente [[Rômulo Augusto]] foi deposto por [[Odoacro]], que tornou-se o primeiro rei bárbaro da Itália. Apesar deste desastre, os pagãos fizeram uma última tentativa de reviver seus ritos. Em 484, o [[mestre dos soldados do Oriente]] [[Ilo (cônsul)|Ilo]] se revoltou contra o [[imperador bizantino]] [[Zenão (imperador)|Zenão]] e proclamou seu próprio candidato, [[Leôncio (usurpador)|Leôncio]], ao trono. Ele pretendia reabrir os templos e restaurar as antigas cerimônias, o que atraiu os pagãos remanescentes para sua causa.<ref name="[[Fócio]] ''[[Biblioteca (Fócio)|Biblioteca]]'' cod. 242" /> Porém, os dois foram obrigados a fugir para uma remota fortaleza na [[Isáuria]], onde Zenão os cercou por quatro anos. Finalmente capturados em 488, foram imediatamente executados.<ref>[[Teófanes, o Confessor|Teófanes]], Cronografia s.a. A.M. 5976-5980; [[João Malalas]], Crônica 15.12-15.14.</ref> |
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Como resultado desta revolta, Zenão instituiu uma dura perseguição contra os intelectuais pagãos. Muitos se desiludiram e se converteram ao |
Como resultado desta revolta, Zenão instituiu uma dura perseguição contra os intelectuais pagãos. Muitos se desiludiram e se converteram ao cristianismo (ou simplesmente fingiram) para evitar a perseguição. Finalmente, em 491, o imperador [[Anastácio (imperador)|Anastácio]] foi obrigado a assinar um termo de ortodoxia religiosa antes de assumir o trono. |
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Depois disso, [[Justiniano]], em 527, publicou uma nova lei ([[Código Justiniano]] 1.5.12), que proibia os pagãos de assumirem cargos oficiais e confiscava-lhes as propriedades, o que demonstra que ainda existiam pagãos na época. Dois anos depois, ele mandou fechar a [[academia de Platão|Academia de Atenas]]. Alguns antigos membros<ref>{{ |
Depois disso, [[Justiniano]], em 527, publicou uma nova lei ([[Código Justiniano]] 1.5.12), que proibia os pagãos de assumirem cargos oficiais e confiscava-lhes as propriedades, o que demonstra que ainda existiam pagãos na época. Dois anos depois, ele mandou fechar a [[academia de Platão|Academia de Atenas]]. Alguns antigos membros<ref>{{citar web|url=http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/secondary/BURLAT/22*.html#3|título=Chapter XXII, ECCLESIASTICAL POLICY, § 3. The Suppression of Paganism|publicado=University of Chicago}}</ref> teriam fugido para [[Ctesifonte]], a capital do [[Império Sassânida]] a convite de [[Cosroes I]]. Historiadores modernos, como Blumental<ref>"529 and its Sequell: What happened to the Academy?" Revue Internationale des Etudes Byzantines t. XLVIII [1978], Bruxelles 1979, 370–385</ref> e A. Cameron<ref>"The Last Days of the Academy of Athens", Proceedings of the Cambridge Philological Society 195 [1969], 8, 25</ref> defendem que ela teria continuado a existir por mais cinco ou seis décadas depois de 529. |
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Em 651, [[ |
Em 651, [[Harrã]] foi conquistada pelos [[Califado Omíada|árabes]]. Os [[sabianos]], descendentes da tradição helenística por conta de seu [[hermetismo]] (''[[Corpus Hermeticus]]''), foram considerados um dos "[[povos do livro]]" pelos [[muçulmanos]] e sobreviveram. "[[A Agricultura Nabateia]]" seria, segundo [[Maimonides]], um registro fiel das crenças sabianas da região. Em 804, os [[maniotas]] da [[Lacônia]], na Grécia, resistiram às tentativas do [[patriarca de Constantinopla|patriarca]] [[Tarásio de Constantinopla]] de convertê-los ao cristianismo.<ref name="Greenhalgh and Eliopoulos22">Greenhalgh and Eliopoulos, ''Deep into Mani: Journey into the Southern Tip of Greece'', 22</ref> |
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Edição atual tal como às 02h11min de 25 de maio de 2024
Religião na Roma Antiga |
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Marco Aurélio (de cabeça coberta) conduzindo um sacrifício no Templo de Júpiter |
Práticas e crenças |
Cargos sacerdotais |
Divindades |
Tópicos relacionados |
Declínio do politeísmo greco-romano é um termo utilizado para designar o processo de ascensão do cristianismo no contexto do Império Romano e seus estados sucessores em detrimento das antigas religiões. A religião, no mundo greco-romano na época da chamada "reviravolta de Constantino", consistia basicamente de três correntes principais. Em primeiro lugar, as religiões tradicionais da Grécia e Roma, em seguida, o culto imperial típico da era imperial romana e, finalmente, as várias religiões de mistério greco-romanas, como os mistérios eleusinos, o culto de Cibele, o mitraísmo e o culto sincrético a Ísis, originalmente uma deusa do Egito Antigo.
O cristianismo primitivo cresceu gradualmente em Roma e no Império Romano entre os séculos I e IV, quando foi legalizado e, em sua forma nicena, tornou-se a religião estatal do Império Romano através do Édito de Tessalônica de 380. Tradições helenísticas politeístas sobreviveram em alguns bolsões da Grécia até o século IX. A "Academia" neoplatônica foi obrigada a fechar suas portas em 529 por ordem do imperador bizantino Justiniano I, data que alguns autores consideram como o fim da Antiguidade Clássica.[1]
Antes do Édito de Milão constantiniano
[editar | editar código-fonte]Os romanos tendiam para o sincretismo, enxergando os mesmos deuses com nomes diferentes nas diversas regiões do Império, acomodando outros povos, como os helenos, germânicos e celtas da Europa e diversos grupos semitas do Oriente Médio. Sob a autoridade romana, os vários mitos nacionais que tinham alguma similaridade com os de Roma foram adaptados por analogia à mitologia romana, o que ajudava a consolidar o controle imperial. Consequentemente, os romanos eram geralmente tolerantes e acolhedores em relação a novas divindades e algumas experiências religiosas de outros povos.[2]
Ascensão da filosofia esotérica
[editar | editar código-fonte]A perspectiva mais filosófica da religião nas regiões helenizadas do Império Romano levou a um renascimento do pensamento religioso intelectual por volta do início do século II. Escritos pseudepígrafos atribuídos a Hermes Trimegisto — discutindo filosofia esotérica, magia e alquimia — começaram a se espalhar do Egito romano para todo o império. Apesar de difíceis de datar com precisão, estes textos foram provavelmente redigidos entre os séculos I e III. Embora este tipo de hermetismo tenha sido geralmente escrito com o objetivo teológico de melhoramento espiritual, cada um tinha uma origem anônima, eclética e espontânea e o conjunto não era parte de nenhum movimento organizado.
Uma forma mais organizada de panenteísmo henoteísta alatrista emergiu em paralelo ao hermetismo. No século I a.C., o amigo de Cícero, Nigídio Fígulo, tentou reviver as doutrinas pitagóricas, uma empreitada particularmente vitoriosa no caso de Apolônio de Tiana no século I. No espaço de um século, poderes sobrenaturais foram atribuídos a ele e relatos de sua vida tinham muitas similaridades com os da vida de Jesus. Pelo menos um grande ponto de congregação para os seguidores deste neopitagorismo foi construído em Roma, perto da Porta Maggiore, com um design similar ao das futuras igrejas cristãs, mas subterrâneo.
No século II, Numênio de Apameia tentou fundir elementos adicionais do platonismo no neopitagorismo, uma direção que que Plotino continuou, dando origem ao neoplatonismo, uma religião monista teísta. O neoplatonismo começou a ser adotado por proeminentes estudiosos e acadêmicos, como o teólogo cristão Orígenes e o adversário do cristianismo Porfírio. Na época de Galiano, a própria família imperial passou a patrocinar Plotino e encorajou suas atividades filosóficas. Depois dele, a doutrina foi novamente ampliada por Jâmblico, que acreditava que invocações físicas seriam capazes de produzir resultados soteriológicos e, por isso, acrescentou o ritual religioso à filosofia. O imperador Juliano tentou unificar a religião tradicional romana misturando-a com a forma jâmblica de neoplatonismo. Vivendo na mesma época, o pensador cristão Agostinho de Hipona revela fortes influências neoplatônicas em suas obras subsequentes.
Adoração do Sol oriental
[editar | editar código-fonte]Em algum momento do século I, os membros do exército romano começaram a adotar uma religião de mistério chamada mitraísmo, um culto relacionado a um deus sol que surgiu de obscuras origens estranhas à Roma. A primeira referência ainda existente é de Plutarco, que menciona uma observação, em 67 a.C., de certos piratas do Mediterrâneo praticando-o. As legiões romanas se movimentavam por todo o império, espalhando o mitraísmo por onde passavam. No começo, seus fieis eram principalmente soldados, mas ela também foi adotada depois por libertos, escravos e comerciantes em todos os locais onde permanecia uma legião, especialmente nas fronteiras.
O mitraísmo não exigia exclusividade — era possível e comum segui-lo juntamente com outros cultos simultaneamente. Finalmente, ele tornou-se popular na capital imperial, arrebanhando de forma gradativa membros entre as classes mais aristocráticas até contar em suas fileiras com senadores. De acordo com a "História Augusta", até mesmo o imperador Cômodo teria sido membro. Apesar de, por razões desconhecidas, o mitraísmo excluir completamente as mulheres, já havia um grande contingente de seguidores no século III — há mais de 100 ruínas de mitreus conhecidas, oito somente em Roma (além de mais de 300 monumentos mitraicos) e dezoito em Óstia Antiga, o principal porto marítimo da capital.
A partir de Sétimo Severo, outras formas de adoração ao sol, menos excludentes, também ganharam popularidade por todo o Império Romano.[3]
Heliogábalo fez uso de sua autoridade para instalar Heliogábalo como a principal divindade do panteão romano, fundindo-o com as demais formas romanas do deus sol para formar o Sol Invicto (em latim: Deus Sol Invictus – "Deus Sol Invencível"), acima de Júpiter,[4] e transformando Astarte, Minerva, Urânia ou uma combinação das três em sua esposa.[5] O imperador passou por cima de diversos outros elementos tradicionais da religião romana, casando uma virgem vestal[6] (que deveriam, por força de lei e sob pena de morte, permanecer virgens solteiras durante seu período em serviço)[7] e mudou de lugar algumas das mais sagradas relíquias da religião romana (incluindo o fogo de Vesta, os ancis dos sálios e o Paládio) para um novo templo dedicado exclusivamente a Heliogábalo.[8] Apesar da reprovação de alguns senadores religiosos mais conservadores, os luxuosos festivais anuais públicos realizados em homenagem a Heliogábalo tornaram a divindade muito popular entre as massas, principalmente por que estes festivais incluíam uma abundante distribuição de comida.[5]
Cerca de meio século depois de Heliogábalo, Aureliano assumiu o império. Ele era um reformador e reforçou a posição do deus sol como a principal divindade do panteão, chegando até mesmo a construir um novo templo dedicado a ele em Roma. Acredita-se que ele provavelmente também tenha sido o responsável por criar um festival do "dia do nascimento do Sol Invencível" ("dies natalis Solis Invicti"), que era celebrado em 25 de dezembro, o dia no qual o sol inicia sua aparente ascensão novamente — quatro dias depois de ter alcançado o seu ponto mais baixo[a], embora as primeiras referências sobreviventes ao festival estejam apenas na "Cronografia de 354". Ele seguia o princípio de "um deus, um império" e sua intenção era prover a todos os povos sob seu domínio, civis ou soldados, ocidentais ou orientais, um único deus que pudessem acreditar sem trair seus próprios deuses. Lactâncio argumentou que Aureliano teria proibido todos os demais deuses se tivesse tido mais tempo, pois ele conseguiu permanecer no cargo por meros cinco anos.
Judaísmo e cristianismo
[editar | editar código-fonte]A tolerância imperial se estendia apenas às religiões que não resistiam à autoridade romana e respeitavam seus deuses. As que eram hostis ao estado ou que reivindicassem exclusividade das crenças e práticas religiosas não estavam entre elas e alguns cultos orientais foram perseguidos. Os judeus conseguiram alguns privilégios especiais por sua predominância no setor econômico, pelo baixo número de seguidores e sua dispersão, mas esta tolerância estava precariamente equilibrada sob fino verniz de submissão e ela finalmente transformou-se em perseguição quando a disposição à colaboração entre os judeus começou a diminuir. Seitas intolerantes também perseguiam-se umas às outras, como era o caso do primeiros cristãos, denunciados pelos judeus tradicionais como provocadores perigosos segundo algumas interpretações do Concílio de Jâmnia e do "Birkat haMinim". Resultaram diversos massacres de comunidades cristãs e de grupos nacionalistas judaicos.[2]
A comunidade cristã primitiva era percebida, por vezes, como sendo uma influência intrinsecamente desestabilizadora[10] e uma ameaça à Pax Romana, uma religio illicita.[2] Os pagãos, que atribuíam as desgraças de Roma e seu império à ascensão do cristianismo e só enxergavam uma restauração através do retorno às antigas crenças,[11] se viram desafiados pela igreja cristã, que se separara da religião romana e não estava disposta a diluir o que acreditava ser a religião do "Verdadeiro Deus Único".[12]
Os mesmos deuses que os romanos acreditavam ter protegido e abençoado sua cidade e seu império pelos muitos séculos nos quais foram adorados estavam agora sendo demonizados pelos primeiros cristãos.[13]
Tolerância e Constantino
[editar | editar código-fonte]Depois que os conflitos iniciais entre o Estado e a nova religião emergente, Galiano (r. 253–268) foi o primeiro imperador a emitir um édito de tolerância a todos os credos religiosos, incluindo o cristianismo. Segundo polemistas cristãos escrevendo depois de sua morte, Constantino I teria sido batizado em seu leito de morte, o que faria dele o primeiro imperador romano cristão.[14][15] Eusébio, um historiador cristão contemporâneo, elogia-o além disso pela demolição de alguns templos pagãos.[16] Seja como for, seus efeitos sobre a política oficial durante os imperadores cristãos até Valentiniano I e Valente foram suficientes para aumentar significativamente as conversões para o cristianismo, mas não para extinguir o paganismo. As perseguições de fato eram esporádicas e geralmente resultado de iniciativas locais, como foi o caso da destruição dos lugares santos da Gália por São Martinho de Tours no final do século IV[17].
Pelo Édito de Milão (313), Constantino continuou a política de tolerância que Galério estabeleceu.[18] Suas leis contra a magia e as divinações privadas foram motivadas principalmente pelo medo de que outros pudessem alcançar o poder através delas[b]. Ainda assim, isto não significava que este ou aquele imperador fosse contra a magia ou a divinação. Na verdade, a crença ainda existia de forma mitigada, como se pode comprovar pela lei que exigia a consulta de áugures depois que o Anfiteatro foi atingido por um raio em 320.[20] Constantino explicitamente permitia as divinações públicas como prática do cerimonial de estado, confirmou os direitos dos flâmines, sacerdotes e dúunviros[21] e também permitiu que as práticas religiosas pagãs continuassem.[22]
Início das perseguições ao paganismo
[editar | editar código-fonte]Os atos de Constâncio II, que reinou entre 337 e 361, marcam o começo de uma era de perseguição formal contra o paganismo pelo Império Romano Cristão, especialmente pela publicação de leis e éditos que puniam as práticas pagãs.[23][24]
A partir da década de 350, novas leis prescreveram a pena de morte para os que realizassem ou participassem de sacrifícios ou adorassem ídolos,[25] templos foram fechados[2][24] e o tradicional "Altar da Vitória" foi removido do Senado.[26] Nesta época ocorreram frequentes episódios de cristãos comuns destruindo, pilhando, dessacrando ou vandalizando templos, túmulos e monumentos pagãos.[27][28][29][30]
Os duros éditos imperiais tiveram que enfrentar o vasto número de seguidores do paganismo entre a população e a resistência passiva de governadores e magistrados.[2][31][32][33] As leis antipaganismo, começando com Constâncio, iriam, no futuro, influenciar negativamente as leis da Idade Média e, de forma alterada, seriam as bases da Inquisição.[14]
Restauração e tolerância de Juliano até Valente (361–375)
[editar | editar código-fonte]Apenas durante o reinado de Juliano, o Apóstata, de 361 a 363, o paganismo ameaçou voltar. Entre 363 e 375, durante os reinados de Joviano, Valente e Valentiniano I, ele foi aceito com relativa tolerância.
Juliano
[editar | editar código-fonte]Juliano era sobrinho de Constantino I e foi criado como cristão, mas os assassinatos de seu pai, irmão e dois tios depois da morte de Constantino foram atribuídos por ele a Constâncio II e, por associação, aos cristãos em geral. Esta antipatia só piorou quando Constâncio executou o último irmão remanescente de Juliano em 354.[2][34] Depois da infância, Juliano foi educado por helenistas e foi atraído pelos ensinamentos dos neoplatonistas e pelas antigas religiões.
Suas crenças eram sincréticas e ele foi um iniciado de pelo menos três religiões de mistério. Mas esta abertura religiosa de Juliano não se estendia ao cristianismo em si, principalmente por sua reivindicação de deter uma perspectiva exclusiva sobre a verdade religiosa. Vendo a si mesma como a única religião verdadeira, o cristianismo era oposto a, e fundamentalmente incompatível com, formas sincréticas mais inclusivas do paganismo.[10]
Como imperador, Juliano tentou mudar o rumo da história de perseguição às religiões não-cristãs. Como seu primeiro ato, ele procurou re-estabelecer a antiga prática romana de incorporação de outras religiões. Mas, desta vezes, ao invés de permitir que os diferentes cultos utilizassem nomes diferentes para divindades similares, a educação cristã e no governo do império o influenciaram a tentar criar uma única religião pagã. Daí suas ideias sobre o renascimento e organização da antiga religião, moldando-a num corpo coeso de doutrina, liturgia e ritual[2] com uma hierarquia supervisionada pelo imperador, como marco de seu reinado.[34] Juliano organizou elaborados rituais e tentou apresentar uma filosofia mais limpa do neoplatonismo que pudesse unir todos os pagãos.[35]
Ele permitiu a liberdade religiosa e evitou qualquer forma de vício ou compulsão. O cristão Sozomeno reconhece que Juliano não tentou obrigar os cristãos a oferecerem sacrifícios e nem permitiu que o povo cometesse injustiças ou insultos contra os cristãos.[36] Porém, nenhum cristão podia estudar ou ensinar os antigos autores clássicos: "Deixe-os com Mateus e Lucas", acabando assim com qualquer possibilidade de conseguirem uma carreira profissional.[2][37]
Juliano também retirou os privilégios do clero cristão, concedidos por Constantino, e ordenou que eles restituíssem o estado. Os que haviam demolido templos durante os reinados de Constantino e Constâncio foram obrigados a reconstruí-los ou pagar pela obra. Apenas os pagãos podiam ensinar direito, retórica, filosofia ou praticar qualquer forma de liturgia religiosa sancionada pelo estado. Juliano exigia que todos os que haviam abandonado as antigas crenças se purificassem antes de poderem receber de volta o privilégio de participar dos cultos romanos novamente. Ele próprio era devoto das divinações e permitiu que seus súditos praticassem-na livremente.[38] Em geral, os privilégios e imunidades dadas aos cristãos foram substituídos por similares concedidos aos filósofos e sacerdotes pagãos que apoiavam sua nova religião pagã neoplatônica.[36]
Joviano, Valentiniano e Valente
[editar | editar código-fonte]Depois da morte de Juliano, Joviano aparentemente reinstituiu uma política de tolerância religiosa que evitou os extremos de Constâncio e Juliano.[39] Sob Valentiniano I e Valente, esta política se manteve. Os escritores pagãos elogiam ambos por suas políticas religiosas liberais.[40][41]
Valentiniano, que reinou no ocidente, chegou a permitir sacrifícios noturnos, que haviam sido proibidos anteriormente por serem vistos como tentativas de ocultar as divinações proibidas sob o véu da noite, depois que o procônsul da Grécia lhe fez um apelo.[42] Ele também confirmou o direito e os privilégios dos sacerdotes pagãos e confirmou-lhes o direito de serem os únicos administradores de seus templos.[43] Valente, que reinou no oriente, era ariano e estava ocupado demais com sua batalha contra os cristãos ortodoxos para se importar demasiadamente com os pagãos. Tanto no ocidente quanto no oriente, novas leis foram passadas proibindo novamente as divinações privadas.[44] Por conta do zelo exagerado da população em sua tentativa de acabar com as divinações perigosas, áugures e arúspices começaram a temer aparecer em público, o que levou os imperadores a autorizarem formalmente a prática da divinação oficial e legal numa lei de 371.[41] Apesar da política oficial, as leis antipaganismo anteriores continuaram valendo e a destruição esporádica de lugares sagrados pagãos ainda era tolerada.
Novas perseguições sob Graciano
[editar | editar código-fonte]Com a morte de seu pai, Valentiniano I, em 375, Graciano começou a reinar de fato aos dezesseis. Seis dias depois da morte de Valentiniano, o meio-irmão de Graciano, Valentiniano II, que tinha apenas quatro anos, também foi declarado imperador. Depois da morte de Valente, na Batalha de Adrianópolis, Graciano escolheu Teodósio para suceder o tio. Graciano havia sido educado por Ausônio, que elogiou o pupilo por sua tolerância, mas, com a morte do pai, o imperador caiu sob a influência de Ambrósio, que tornou-se seu principal conselheiro.[45][46] Por influência dele, passos decisivos para a supressão definitiva do paganismo foram tomados.[47]
Esta influência de Ambrósio foi a força mais importante que acabou por encerrar um período de ampla, ainda que não oficial, tolerância religiosa que existia desde a morte de Juliano.[48] Graciano desferiu severos golpes contra o paganismo em 382,[49] quando se apropriou da renda dos sacerdotes pagãos e das virgens vestais, confiscou as propriedades privadas dos colégios sacerdotais pagãos (que perderam ainda seus privilégios e imunidades) e ordenou novamente a remoção do Altar da Vitória do Senado.[50] Graciano declarou ainda que todos os templos e santuários pagãos deveriam ser confiscados pelos governo e suas rendas, incorporadas ao tesouro imperial.[51]
Senadores pagãos responderam apelando a Graciano, lembrando que ele ainda era o pontífice máximo e que seu dever era garantir que os ritos pagãos eram adequadamente realizados. Eles pediram que Graciano restaurasse o Altar da Vitória e os direitos e privilégios das virgens vestais e dos colégios. O imperador, instado por Ambrósio, não concedeu-lhes audiência e renunciou ao cargo de pontífice máximo, declarando que era inadequado que um cristão detivesse a função.
Teodósio
[editar | editar código-fonte]A perseguição ao paganismo pelo imperador Teodósio I começou em 381, depois de apenas dois anos de seu reinado no Império Romano do Ocidente. Na década de 380, ele reiterou a proibição de Constâncio aos sacrifícios, proibiu o aruspício sob pena de morte, iniciou a criminalização e punição dos magistrados que não aplicassem as leis antipaganismo, dissolveu associações pagãs e demoliu templos.
Entre 389 e 391, publicou os infames "Decretos Teodosiano", que estabeleceram, na prática, a proibição do paganismo[52]: visitas aos templos foram proibidas,[53][54] os feriados pagãos remanescentes foram abolidos, o fogo eterno do Templo de Vesta, no Fórum Romano, foi apagado, as virgens vestais foram extintas e auspícios e bruxarias passaram a ser punidos. Teodósio recusou o pedido de senadores pagãos para recolocar o Altar da Vitória no Senado.
Em 392, Teodósio tornou-se imperador do império inteiro (o último) e, deste momento até o final de seu reinado, em 395, ignorou os pedidos dos pagãos por tolerância[55][56] e autorizou ou participou pessoalmente na destruição de muitos templos, lugares santos, imagens e objetos de veneração por todo o império[57][58],[59][60][61] além de participar em ações cristãs contra os grandes santuários pagãos.[62] Ele emitiu uma ampla legislação proibindo rituais pagãos até mesmo nas residências privadas[2] e particularmente opressiva contra os maniqueístas.[63] Agora o paganismo é que estava proscrito, uma religio illicita.[64] É provável que tenha sido por iniciativa sua a supressão final dos Jogos Olímpicos Antigos, cujo último registro é de 393.[65]
Renascimento politeísta
[editar | editar código-fonte]Com a morte de Teodósio I, em 395, iniciou-se uma crise política que os bárbaros rapidamente souberam se aproveitar, invadindo o Império Romano numa escala sem precedentes. Como as tribos germânicas que se infiltravam, colonizavam ou invadiam o império eram arianas, muitos cristãos ortodoxos passaram a ter dúvidas sobre sua verdadeira fé. Alguns, de forma supersticiosa ou patriótica, acreditaram que as invasões eram o resultado do abandono das crenças antigas. Outros, que o sucesso dos germânicos se devia à corrupção da igreja ortodoxa. Os pagãos, por sua vez, retomaram a agressividade e passaram a culpar os cristãos pelos desastres que afligiam o império[c].
Apesar dos apelos de muitos pagãos por tolerância, Honório e Arcádio continuaram o trabalho do pai passando ainda mais leis antipaganismo numa tentativa de acabar com este renascimento na raiz. O simples fato de eles terem sido obrigados a repetir as ameaças passando numerosas leis contra as práticas pagãs já indica que seus esforços não tiveram sucesso e o paganismo continuou a existir de forma discreta.[66]
No ocidente, na primeira parte do reinado de Honório, Estilicão conseguiu assumir um poder quase sem limites no ocidente e, numa política mais moderada, passou algumas leis mais favoráveis aos pagãos, livrando-os temporariamente da perseguição. Por causa dos constantes distúrbios provocados pelos cristãos em suas tentativas de destruir os templos, a primeira destas leis protegeu-os da destruição, obrigando que fosse primeiro solicitada uma permissão para a demolição.[67] A segunda lei reconheceu o direito do povo de participar em banquetes tradicionais, espetáculos, encontros e festividades associadas às antigas religiões pagãos, apesar de ainda manter a proibição de se realizar qualquer rito ou sacrifício pagão.[68] A terceira proibia a destruição de templos que haviam sido limpos de quaisquer itens proibidos e ordenou, ao invés disso, que eles fossem mantidos em bom estado de conservação.[69] Depois da morte de Estilicão, Honório e seu grupo recuperaram o poder e novas leis duras contra o paganismo foram passadas. Em 408, Honório declarou que todas as estátuas e altares nos templos deveriam ser removidos e que os edifícios e suas rendas deveriam ser confiscados pelo estado.[70] Esta lei também proibiu a realização de quaisquer banquetes ou celebrações nas vizinhanças dos templos. Para piorar, a execução destas leis foi deixada a cargo dos bispos locais. Finalmente, duas outras leis decretaram que os edifícios pertencentes a pagãos e hereges conhecidos deveriam ser confiscados pelas igrejas.[71]
No oriente, em 395, Arcádio declarou que os dias solenes dos pagãos não deveriam mais ser incluídos entre os feriados[72] e, no mesmo ano, novas leis proibiram qualquer um de ir a um santuário ou templo pagão ou de celebrar qualquer rito pagão.[73] É possível que estas leis tivessem como alvo cristãos que estavam se convertendo de volta ao paganismo, pois ela menciona especificamente "aqueles que estão tentando se desviar do dogma da fé católica". Em 396, o imperador ordenou que os templos pagãos localizados nas zonas rurais fossem demolidos sem revoltas ou desordem,[74] o que indica que o número de pagãos nas zonas rurais ainda era muito grande para permitir que os cristãos destruíssem abertamente os templos ali. Como resultado, os cristãos tiveram que se contentar em destruir os templos pagãos nas zonas urbanas, onde eram maioria. O grande número de pagãos no oriente também acabou forçando Arcádio a permitir a realização de alguns antigos festivais e jogos públicos.[75]
Arcádio morreu em 408 e seu filho de sete anos, Teodósio, foi proclamado imperador no oriente. No mesmo ano, Honório passou uma lei que proibiu qualquer um que não fosse católico de realizar um serviço imperial no palácio.[76] Zósimo relata que ele depois foi forçado a repelir esta lei quando um de seus melhores oficiais, que era pagão, renunciou em protesto.[77] No começo de 409, Honório publicou outra lei que punia juízes e oficiais que não aplicassem as leis contra os pagãos,[78] uma lei que chegou a punir pessoas de alta classe social simplesmente por se manterem em silêncio a respeito de rituais pagãos realizados em sua cidade ou distrito. As esperanças dos pagãos foram reavivadas com a elevação de Prisco Átalo neste mesmo ano. Porém, Alarico I, um cristão ariano, logo se cansou de seu títere, e Átalo foi deposto no verão de 410, quando Honório prometeu negociar um tratado de paz. Quando estas negociações ruíram, Alarico tomou e saqueou a cidade. Esta catástrofe chocou todo o mundo romano. Cristãos e pagãos rapidamente passaram a culpar uns aos outros por algo que se considerava impossível de acontecer. Foi neste cenário que Honório retomou sua legislação antipaganismo.[79]
Há diversos fragmentos sobreviventes de obras históricas pagãs, como as de Eunápio e Olimpiodoro, que indicam que os pagãos passaram então a declarar publicamente seu ressentimento através da literatura. Mesmo depois do saque de Roma, os pagãos acreditavam que o recente declínio de Roma era causado pelo negligenciamento das antigas tradições ancestrais.
Em 415, Honório publicou mais uma lei que confiscava templos pagãos por todo o império e ordenou que todos os objetos pagãos fossem removidos de lugares públicos.[80] Um exemplo infame do clima antipaganismo da época foi o caso da filósofa Hipácia, linchada em 415 por uma multidão em Alexandria. No anos seguinte, Honório e Teodósio II ordenaram que pagãos não deveriam mais ser admitidos no governo imperial e nem deveriam receber os cargos de administrador ou juiz.[81] Em 423, Teodósio II reiterou as leis anteriores e declarou que todos os pagãos flagrados realizados rituais antigos teriam todos os bens confiscados e seria exilados.[82] Em agosto do mesmo ano, Honório morreu e o poder foi tomado por João, que era até então primicério (primicerius notariorum). Aparentemente, sua ascensão levou a um período de tolerância, pois ele tentou limitar o poder do clero e os privilégios da igreja numa tentativa de tratar todos de forma equânime[d]. Em paralelo, Teodósio publicou uma lei que exigia que cristãos perturbassem pagãos vivendo pacificamente, desde que eles não estivessem contrariando a lei. Dois anos depois, ele seguiu com uma expedição militar ao ocidente para depor João, que foi capturado e executado, e estabelecer Valentiniano III como imperador no ocidente. Ainda no ocidente, mais leis foram publicadas em 425. A primeira estipulava que todas as superstições pagãs deveria ser extirpadas[83] e a segunda impedia os pagãos de tratarem nas cortes seus pleitos e os impedia de servirem como soldados.[84]
Declínio final
[editar | editar código-fonte]A vitalidade contínua do paganismo levou Marciano, que tornou-se imperador no oriente em 450 depois da morte de Teodósio II, a repetir todas as proibições anteriores aos ritos pagãos. A partir de 451, todos os que continuassem a realizar ritos pagãos teriam suas propriedades confiscadas e seriam condenados à morte. Marciano também proibiu qualquer tentativa de reabrir templos e, além disto, para encorajar a estrita aplicação da lei, uma multa de 25 quilos de ouro passou a ser imposta a qualquer juiz ou governador, assim como seus oficiais subalternos, que não fizessem valer esta lei.[85] Porém, nem mesmo assim o paganismo foi extinto, pois, Leão I, o Trácio, que sucedeu a Marciano em 457, foi obrigado a publicar uma lei, em 472, impondo duras penas a qualquer proprietário que permitisse a realização de rituais pagãos em suas propriedades. Se fosse de alto escalão, seria punido com a perda de cargos e status além do confisco da propriedade. Caso contrário, seria punido fisicamente e condenado a trabalhar nas minas pelo resto da vida.[86]
Duas outras leis contra o paganismo, que pode ser deste período, estão preservadas no Código Justiniano (1.11.9, 1.11.10), mas elas não mencionam os imperadores responsáveis. Depois da deposição de Ávito, que governou no ocidente entre 455 e 456, aparentemente houve uma conspiração entre os nobres romanos para colocar o general pagão Marcelino no trono para restaurar o paganismo, mas o plano não deu certo.[87]
Em 457, Leão I tornou-se o primeiro imperador a ser coroado pelo patriarca de Constantinopla. Antêmio (r. 467–472), um dos últimos imperadores romanos do ocidente, aparentemente também planejou um renascimento pagão na cidade de Roma.[88] Ele era descendente de Procópio, um parente de Juliano. Ele deu a Méssio Febo Severo, um filósofo pagão que era seu amigo próximo, os importantes cargos de prefeito de Roma, cônsul e patrício. Além disso, ele colocou uma imagem de Hércules matando o leão de Nemeia em suas moedas. O assassinato de Antêmio por Ricimero destruiu as esperanças dos pagãos que acreditavam que os rituais tradicionais pudessem ser restaurados.[89] Logo depois, em 476, o imperador do ocidente Rômulo Augusto foi deposto por Odoacro, que tornou-se o primeiro rei bárbaro da Itália. Apesar deste desastre, os pagãos fizeram uma última tentativa de reviver seus ritos. Em 484, o mestre dos soldados do Oriente Ilo se revoltou contra o imperador bizantino Zenão e proclamou seu próprio candidato, Leôncio, ao trono. Ele pretendia reabrir os templos e restaurar as antigas cerimônias, o que atraiu os pagãos remanescentes para sua causa.[90] Porém, os dois foram obrigados a fugir para uma remota fortaleza na Isáuria, onde Zenão os cercou por quatro anos. Finalmente capturados em 488, foram imediatamente executados.[91]
Como resultado desta revolta, Zenão instituiu uma dura perseguição contra os intelectuais pagãos. Muitos se desiludiram e se converteram ao cristianismo (ou simplesmente fingiram) para evitar a perseguição. Finalmente, em 491, o imperador Anastácio foi obrigado a assinar um termo de ortodoxia religiosa antes de assumir o trono.
Depois disso, Justiniano, em 527, publicou uma nova lei (Código Justiniano 1.5.12), que proibia os pagãos de assumirem cargos oficiais e confiscava-lhes as propriedades, o que demonstra que ainda existiam pagãos na época. Dois anos depois, ele mandou fechar a Academia de Atenas. Alguns antigos membros[92] teriam fugido para Ctesifonte, a capital do Império Sassânida a convite de Cosroes I. Historiadores modernos, como Blumental[93] e A. Cameron[94] defendem que ela teria continuado a existir por mais cinco ou seis décadas depois de 529.
Em 651, Harrã foi conquistada pelos árabes. Os sabianos, descendentes da tradição helenística por conta de seu hermetismo (Corpus Hermeticus), foram considerados um dos "povos do livro" pelos muçulmanos e sobreviveram. "A Agricultura Nabateia" seria, segundo Maimonides, um registro fiel das crenças sabianas da região. Em 804, os maniotas da Lacônia, na Grécia, resistiram às tentativas do patriarca Tarásio de Constantinopla de convertê-los ao cristianismo.[95]
- ↑ A declinação do sol permanece a mesma hoje em dia (até duas casas decimais) entre 21 e 24 de dezembro inclusive[9]
- ↑ Leis contra a prática privada das divinações por cidadãos romanos já existiam desde os tempos do imperador Tibério. Ele temia que os cidadãos de Roma abandonassem a religião pública oficial romana, aceitassem cultos estrangeiros em suas práticas familiares privadas e acabassem corrompendo o estado romano[19].
- ↑ Eunápio reflete algumas destas atitudes pagãs da época em suas obras. Porém, representa o elemento mais fanático da reação pagã.
- ↑ Uma lei no Códice Teodosiano (16.2.47) faz referência a um "tirano" que emitiu éditos contra a igreja. Este "tirano" (usurpador) é provavelmente João, o Primicério.
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Decline of Greco-Roman polytheism», especificamente desta versão.
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Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Códice Teodosiano» (em inglês). Fordham University