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Calmon Barreto

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Calmon Barreto
Nome completo Calmon Barreto de Sá Carvalho
Nascimento 20 de novembro de 1909
Araxá, Minas Gerais
Morte 9 de junho de 1994 (84 anos)
Araxá, Minas Gerais
Nacionalidade Brasil brasileiro
Ocupação escultor

Calmon Barreto de Sá Carvalho (Araxá, 20 de novembro de 1909 — Araxá, 9 de junho de 1994) foi um pintor, gravador, ilustrador, desenhista, escultor e escritor brasileiro. Foi professor e diretor da Escola Nacional de Belas Artes, gravador mestre da Casa da Moeda e deixou uma vasta produção artística em várias técnicas, com mais de mil obras identificadas.[1][2]

Ainda jovem mudou-se para o Rio de Janeiro, iniciando uma formação artística na Casa da Moeda. Com 14 anos ingressou na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Ali estudou modelo vivo, escultura e gravura, sendo aluno de Giorgio Girardet e Rodolfo Chambelland. Foi assistente de Chambelland na classe de modelo vivo.[1][3]

Participou de seis exposições gerais da escola[4] e em 1929 recebeu o Prêmio de Viagem ao Exterior com a obra Garimpeiros e Índios, onde já se nota seu interesse por temas nacionais.[1] Ao contrário da maioria dos contemplados, que preferia o aperfeiçoamento em Paris, então o maior centro do modernismo, Calmon escolheu Roma.[3]

Voltando ao Brasil, foi nomeado gravador mestre da Casa da Moeda, sendo incumbido de gravar as moedas chamadas "vicentinas".[1][5] Em 1932 participou do 1º Salão do Núcleo Bernardelli.[4] Ganhou projeção no Rio nesta época como ilustrador de jornais e revistas.[1]

Em 1951, após concurso, foi nomeado catedrático da ENBA na classe de anatomia e fisiologia artística. Segundo seu aluno Bandeira de Mello, Calmon Barreto "era um professor que possuía um conhecimento profundo do desenho e da gravura", enfatizando a construção da forma no espaço em seus aspectos de ritmo, proporção, equilíbrio, movimento e composição.[3] Viria a assumir a direção da escola entre 1961 e 1964.[1]

Depois de aposentar-se em 1967, voltou para Araxá, onde passou o resto da vida envolvido na produção artística e no resgate da história da região,[1] período em que conquista maior liberdade de expressão e passa a criar uma iconografia de caráter historicista e regionalista.[6] Segundo Gisele da Rocha, Calmon Barreto deixou uma marca notável em Araxá como artista e dinamizador da cultura. Idealizou o primeiro Salão de Artes Plásticas do município, e deixou uma série de obras de arte em espaços públicos.[1]

Escultura O garimpeiro, doada à cidade de Araxá e instalada em uma praça em 1979

Seu estilo se manteve de modo geral dentro de uma linha conservadora,[6] distante do experimentalismo mais radical dos modernistas, que considerava "um verdadeiro abuso do subjetivismo", aproximando-se do estilo de Almeida Júnior e depois Portinari, enfatizando aspectos do regionalismo. Muitas das suas pinturas fazem reconstruções visuais de costumes, personagens e eventos da história mineira e brasileira, além de muitas vezes apontarem para questões sociais e identitárias e relações de poder, como as intituladas Pampolha, Bandeirante, Passagem de Anhanguera, Garimpagem, Bartolomeu Bueno e Comitiva, Execução dos Araxás e Chegada dos Tropeiros.[7]

Suas ilustrações também tratam em geral dos mesmos temas, produzindo imagens que evocavam personagens da história brasileira, como garimpeiros, bandeirantes, indígenas, quilombolas, boiadeiros e cavaleiros.[1] Na apreciação de Marco Antonio de Andrade, foi "desenhista rigoroso", e "a produção como medalhista, escultor e ilustrador mantém seu trabalho dentro de uma tradição figurativa que, porém, mantém certos laços com as imagens dos meios de comunicação em massa. Cria uma iconografia do cerrado e da história da região que torna-se bastante popular e referencial para a arte local".[6]

Para Queiroz & Bteshe, seu interesse pela escultura e pela gravação de moedas e medalhas se revela também nas obras bidimensionais, acentuando os contornos e o modelado das luzes e sombras, e evitando que a mancha e a cor ultrapassem as linhas definidas pelo desenho. Para os pesquisadores, a evolução da sua obra ao longo do tempo, especialmente seus estudos da figura humana, permite formar paralelos com as mudanças de diretrizes estéticas e métodos de ensino efetuadas no âmbito da academia brasileira.[3]

Para Rocha, "a produção artística de Calmon Barreto traz inúmeras contribuições para a arte brasileira e para a história da Escola Nacional de Belas Artes. Sua atuação como gravador na Casa da Moeda, aluno, professor e diretor da ENBA, ilustrador de revistas cariocas, pintor e escultor deram origem a um legado de obras que, localizadas em diferentes arquivos, preservam valiosas referências da cultura brasileira".[1]

Reconhecimento

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Ainda em vida, testemunhou a criação da Fundação Cultural Calmon Barreto, assim batizada em sua homenagem,[6] uma instituição sem fins lucrativos para preservação da memória e da cultura do povo de Araxá. Estabelecida em 27 de junho de 1984, a partir do esforço de um grupo de músicos, artistas e intelectuais, a fundação ganhou sede própria em 1985, ocupando o prédio da antiga estação ferroviária. Fomenta a cultura e o patrimônio cultural da cidade de várias formas, mantém uma biblioteca, um periódico e importantes coleções documentais, como os arquivos da Câmara e Prefeitura, do Departamento de Patrimônio Histórico, do Registro Civil da Igreja Matriz, o Levantamento da Imigração e outros.[8][2] O artista sentiu-se lisonjeado pela escolha do nome, pois dizia não considerar-se merecedor de tal homenagem.[9]

Após sua morte, o governo do estado de Minas Gerais instituiu em sua homenagem a Medalha Calmon Barreto,[1] concedida anualmente a personalidades e instituições destacadas no desenvolvimento de atividades culturais e turísticas no estado.[10]

Entrada do Museu Calmon Barreto, com uma escultura do artista.

Em 20 de novembro de 1996, sob os auspícios da Fundação, foi criado o Museu Calmon Barreto, tendo como núcleo inicial parte do espólio deixado pelo artista à sua irmã Cordélia, composto de cerca de 170 obras em várias técnicas, cedidas em regime de comodato. Em 2010 foram adquiridas cem obras como acervo permanente, 63 novos desenhos, estudos e esboços ingressaram na coleção em 2012, e outro lote de 70 obras foi cedido depois em comodato. Segundo Andrade, o museu desempenha um papel relevante na conservação e divulgação da produção de Calmon Barreto, especialmente para a população local, já que o artista passou a maior parte da vida fora de Araxá. Ele acrescenta: "É notável o fato de Calmon Barreto ter produzido muito, mas pouco comercializado suas obras, e ter retornado a sua terra natal com uma forte presença como agente cultural local". A presença de suas obras em sua própria terra "gera uma significação importante para a cidade e seus cidadãos, capaz de construir valores de pertencimento, afeto e apreciação artística".[2]

Em 2009 a Fundação comemorou o centenário do seu nascimento com uma exposição de cem desenhos inéditos e a publicação de uma coletânea de contos escritos pelo artista, intitulada Bando de Ripas.[11] Calmon tem uma obra no acervo do Museu Nacional de Belas Artes e nove obras no Museu Dom João VI.[2] Foi o primeiro ocupante da Cadeira Livre nº 11 da Academia Brasileira de Belas Artes, além de receber o título de "Acadêmico Emérito".[12]

Referências
  1. a b c d e f g h i j k Rocha, Gisele Lourençato Faleiros da. "Brasilidades na obra de Calmon Barreto". In: Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da EBA-UFRJ, 2010 (21)
  2. a b c d Andrade, Marco Antonio Pasqualini de. "Museus em terra natal: as obras de Calmon Barreto e Reis Junior em suas cidades de orígem". In: Cavalcanti, Ana et al. (orgs.). Arte e seus lugares: coleções em espaços reais, volume 1. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2018, pp. 85-92
  3. a b c d Queiroz, Monique da Silva de & Bteshe, Rafael. "Marques e Calmon: da observação aos modos estilísticos". In: Anais do VI Seminário do Museu da Escola de Belas Artes Dom João VI, 2015
  4. a b "Calmon Barreto". In: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Itaú Cultural, 22/10/2017
  5. Barreto, Calmon (1909-1994). Moedas do Brasil
  6. a b c d Andrade, Marco Antonio Pasqualini de. "A diáspora do Cerrado: signos de desterritorialização na obra de artistas que deixaram a região do Triângulo Mineiro". In: 24º Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. Santa Maria, 22-26/09/2015
  7. Rocha, Gisele Lourençato Faleiros da. "Memórias do Brasil mineiro: Imagens da cidade de Araxá no século XVIII". In: 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. Florianópolis, 19-23/08/2008
  8. Freitas, Maria Cristina Vieira de. "Fundação Cultural Calmon Barreto de Araxá: diagnóstico de acervo". In: X Congresso da Associação Brasileira de Conservadores - Restauradores de Bens Culturais, 2000
  9. Calmon Barreto. Fundação Cultural Calmon Barreto, acesso 23/07/2020
  10. "UEMG será agraciada com Medalha Calmon Barreto pelo Governo de Minas". UEMG, 19/12/2018
  11. "Desenhos inéditos e livro comemoram centenário de Calmon Barreto". Diário de Araxá, 16/11/2009
  12. Nominata 70 Anos - Artes. Academia Brasileira de Belas Artes, 2019, p. 151; 232

Ligações externas

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