Actions

Work Header

Oficialmente DILF

Chapter 9: A Bruxa

Notes:

Depois de mais de um ano, finalmente terminei de escrever esse capítulo! Ele deu trabalho, nada parecia ficar bom, eu escrevi, apaguei, escrevi de novo, apaguei, escrevi e editei metade do capítulo. Mas o que importa é que eu terminei. Eu não revisei nada direito, só pelo editor do word, então me avisem se virem qualquer absurdo.

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Derek sorriu sentado na grama sentindo o sol da tarde aquecer sua pele enquanto assistia Sam tentar soltar dois blocos de Lego impossivelmente grandes que alguém do pack havia lhe dado. Desistindo, o bebê largou as peças para pegar duas já soltas, levando uma à boca automaticamente.

Não, filho ― Derek disse, afastando a mãozinha gorducha da boca. ― É sujo, não é de comer.

Mas dialogar com um bebê de dez meses era, como já havia se mostrado muitas vezes antes, impossível, portanto, Sam apenas o olhou por um momento antes de pôr a peça da outra mão na boca, batendo as duas peças babadas juntas em seguida.

Balançando a cabeça ainda rindo, Derek desistiu, afinal, não é como se Sam fosse ficar doente tão facilmente. O organismo lobisomem era uma coisa maravilhosa quando se lidava com bebês em fase de descobertas.

Engatinhando até estar sentando próximo à sua pilha de brinquedos, Sam agarrou seu fiel lobo de pelúcia, tentando segurar com a outra mão o maior número de Legos coloridos possível, o que era dois, se tanto.

Derek gostaria de apenas apreciar a calmaria de uma tarde de sábado sozinho com seu filho na grama enquanto não estava frio demais para se estar do lado de fora, mas é claro que se tratando de Beacon Hills, paz era sempre pedir demais.

O alfa puxou rapidamente seu filho para seu colo, se ponde em pé em um pulo quando viu que uma figura se aproximava pela borda da linha das árvores, consciente do fato de que não ter ouvido nenhum barulho de passos até que a mulher fosse visível não era nem de longe um bom sinal. Ele devia ao menos ter ouvido algum galho quebrando ou o farfalhar do excesso de folhas secas do outono.

Aqui é uma propriedade privada ― Derek falou, apertando seu filho em seus braços.

Você deve ser o alfa ― a mulher falou devagar, dispensando então um olhar de desdém para o bebê. ― Mas o filhote não é seu. Ele não tem o poder que o filhote de um alfa deveria ter. Mas você sim, vindo de uma longa linhagem de alfas, eu sinto.

O que você quer? ― Derek rosnou, recuando um passo cauteloso. ― Quem é você?

Ele não podia sentir nenhum cheiro vindo da estranha mulher, e tampouco ouvia qualquer som. Ela visivelmente respirava, a julgar pelo movimento suave de seu peito, e suas bochechas rosadas indicavam a mortalidade de alguém que possuía batimentos cardíacos, portanto uma vampira ela não era. Mas ela tinha algo de inquietante além da falta de reações detectáveis, e foi concentrando-se melhor em seus traços enquanto aguardava uma resposta que Derek percebeu de onde vinha a familiaridade que sentia. Ele já havia visto aquele rosto. Batia com o retrato falado feito a partir das descrições dadas pelos amigos das vítimas da transformação no Halloween.

Agora fazia sentido por que não haviam encontrado rastro nenhum, a bruxa mascarava qualquer traço de sua presença.

Foi você quem enfeitiçou aquelas pessoas no halloween ― Derek acusou, dando mais um passo para trás enquanto que por sua vez, a mulher permanecia imóvel.

Ah isso ― ela desdenhou, balançando a mão. ― Eu queria ver até onde seu bando iria. Vocês não são tão bons quanto gostam de parecer, não é?

Você enfeitiçou humanos para testar meu bando? ― Questionou indignado. ― Uma pessoa morreu.

Desdenhando novamente, a mulher olhou de volta para dentro da floresta, estendendo a mão esquerda aberta ao lado de leu corpo, até que um grande leão da montanha parasse ali, igualmente sem emitir qualquer indício de sua chegada, esfregando a cabeça na palma aberta da mulher como se não passasse de um grande gatinho.

É um risco ocupacional ― falou, ainda pousando a mão no leão agora sentado quieto observando Derek atentamente. ― Eu precisava saber se o bando era forte. Um bando forte é sinônimo de um alfa forte. Seu bando já havia se mostrado inteligente ao lidar com as minhas flores, ou ao menos seu humano é. Mas você não foi de muita utilidade então, sequer aparecendo enquanto o problema não era resolvido.

Derek franziu o cenho para o monólogo da bruxa, subitamente lembrando-se então da ocasião em que as flores da mãe de Scott foram enfeitiçadas com um instinto assassino. Na época ninguém havia achado que as duas ocorrências estavam ligadas, mas agora fazia sentido.

Seu bando não é dos melhores, mas o sangue alfa em você deve servir ― a bruxa declarou, fazendo um gesto descuidado com a mão em direção à Derek. ― Me traga o alfa, mate o bebê.

Agarrando Sam com mais força em seus braços, Derek não esperou para ver o leão da montanha avançar, somente se virou e correu em direção ao Camaro o mais rápido que podia, mal tendo tempo de fechar a porta antes que a fera se lançasse contra ela, certamente deixando sérias marcas de arranhões na lataria, mas o que mais o assustou foi o vidro da janela trincando com a força do impacto. Definitivamente não era só a estranha obediência que o animal tinha de anormal.

Deixar as chaves do carro com fácil acesso certamente foi uma de suas melhores ideias, pois lhe poupou tempo hábil crucial.

Acelerando o carro para fora da reserva, Derek fazia o máximo que podia para dirigir com uma mão, enquanto a outra segurava seu filho firmemente contra seu peito, tentando acalmar o assustado choro estridente que Sam produzia. Atento ao retrovisor, Derek via apreensivo o grande felino correr veloz atrás do carro, até finalmente despistar o animal quando alcançaram a cidade.

Dirigindo perigosamente, Derek nem sequer pensou nas muitas multas que receberia, tanto pela lateral destruída do carro, o absurdo excesso de velocidade, a direção perigosa ou por colocar a vida de um bebê em risco no meio disso tudo, assim como a falta da cadeirinha. O máximo que pode fazer foi puxar o cinto sobre os dois, ainda preocupado demais para colocar o bebê em seu próprio assento.

Foi somente quando teve certeza absoluta de que o leão havia perdido seu rastro que o homem dirigiu em direção à casa do Xerife, respirando um pouco aliviado ao estacionar junto ao jipe de Stiles. Correndo para a casa, Derek bateu na porta com força, por pouco não rachando a madeira, testando a fechadura em seguida apenas para encontrá-la trancada. Praguejou alto, batendo novamente até ouvir os passos apressados de alguém descendo as escadas.

Calma, já... ― Stiles falou ao abrir a porta, assustando-se com a aparência aterrorizada de Derek, que segurava um Sam chorando, como se sua vida dependesse disso. ― O que houve, cara?

A bruxa ― balbuciou forçando sua entrada para o interior da casa. ― A maldita bruxa do halloween colocando um maldito leão da montanha atrás de nós.

Como assim?

Essa mulher apareceu do nada de dentro da floresta, resmungou sobre testar o bando e depois mandou um leão da montanha nos atacar ― respondeu, dando voltas pela sala enquanto finalmente conseguia acalmar o choro de Sam ― Aquela coisa não era um leão normal. Amassou a porta do Camaro, trincou todo o vidro.

Como assim? ― Stiles estava no mínimo confuso. Derek balbuciava suas palavras, sem parar de andar por um segundo, ainda agarrado ao bebê vermelho de tanto chorar. ― Se acalme, homem, e me explique direito.

Se aproximando do lobo, Stiles o parou colocando uma mão em seu ombro, gentilmente tirando o bebê de seus braços com algum esforço, indicando o sofá em seguida, onde Derek se jogou pesadamente.

Estávamos brincando na grama quando aquela coisa apareceu ― Derek começou, olhando Stiles acalmar Sam. ― A mulher não tinha cheiro de nada. Não fazia som algum além de falar sobre como havia testado o bando. Mandou o leão matar Sam e levar pra ela. Conseguimos fugir, mas a coisa veio atrás de nós. Escapamos por pouco.

E ele ainda está vindo?? ― Agora Stiles também começava a entrar em pânico. ― Você acha que viria abertamente pra cidade?

Acho que não, o perdi pouco antes de sair da reserva e não o vi mais.

Mas o que a bruxa queria com você em específico?

Ela falou sobre ter testado a força do bando ― respondeu o homem nervoso. ― Lembra das flores da senhora McCall? Aparentemente foi coisa dessa, assim como aquelas pessoas no halloween. Disse que precisava de um alfa forte.

Mas nós fomos péssimos lidando com aquilo ― murmurou o garoto, sem encolhendo em seguida com o olhar mortal do alfa. ― Desculpe, mas nem sequer ligamos as duas ocorrências.

Levantando-se em um pulo, Derek enfiou a mão no bolso do jeans para pegar seu celular acionando a discagem rápida para os membros do bando.

O que está fazendo? ― Questionou Stiles.

Chamando o bando ― respondeu, ainda focado na ligação. ― Precisamos ir atrás daquele bicho antes que machuque alguém. E precisamos deter a bruxa enquanto ainda sabemos que ela está na reserva.

Tendo acionado todos para se reunirem na floresta, Derek se preparou para sair, sendo impedido por Stiles, que o segurou pelo braço pouco antes de atravessar a porta.

Stiles... ― resmungou, já imaginando o que viria. ― Dessa vez você não pode ir, é muito perigoso.

É perigoso para você também!

Eu sou um lobisomem, eu vou me curar ― virando-se para encarar a expressão preocupada no rosto do garoto que ainda segurava o bebê, Derek sentiu seu coração vacilar por um momento. ― Tenho uma obrigação como alfa detentor desse território de proteger todos que vivem aqui. E além do mais, ela estava atrás de mim. Não posso deixar que outros resolvam minhas responsabilidades.

Seu senso de mártir ainda vai matar você ― lamentou o garoto, mantendo a mão sobre o antebraço de Derek. ― Só tente não se jogar de cabeça em qualquer perigo que aparecer, até mesmo sua cura de lobisomem tem limites.

Derek assentiu com a cabeça, olhando nos olhos expressivos de corça, que esquadrinhavam seu rosto com preocupação.

Eu vou ficar bem, Stiles ― falou com o tom mais brando que conseguiu, levando sua mão ao pescoço do garoto, marcando seu cheiro em um gesto reconfortante. ― Não se preocupe.

Não se esqueça que agora você tem alguém esperando você voltar inteiro ― indicando Sam com um aceno, Stiles disse, antes de completar apressadamente: ― Não que antes não houvesse, é claro, eu sempre esperava que você não se matasse em uma luta, mesmo que nada do que enfrentamos até agora fosse grande como uma bruxa com um felino assassino de estimação, mas você entendeu.

Derek assistiu em silêncio o monólogo de Stiles, acostumado com suas divagações, mas essa em particular serviu para aquecer seu coração, que falhou uma batida com a expressão preocupada no rosto alheio.

Só... Não morra ― Stiles pediu. ― Nem perca nenhum membro, isso seria ruim. Voltando inteiro está bom. Não, voltando está bom... Vivo. Voltando vivo. Sem deixar ninguém morrer também. A não ser o leão, mate ele. Mas não se isso significar se matar junto. Mate a mulher doida também, se for necessário. Gente boa não é, é claro, pois quem anda por aí com um leão da montanha à tiracolo? Como diabos ela domesticou um leão da montanha afinal? Feitiçaria, com certeza. Mas não importa, mate o leão, volte vivo, é isso.

Derek não pode evitar o sorriso pequeno, nem o polegar que esfregou gentilmente a bochecha de Stiles, e se posteriormente fosse questionado sobre suas ações do momento, culparia a montanha-russa de emoções que experimentara desde que foram atacados em casa, portanto somente deixou seus instintos guiarem-no enquanto deslizava a mão para a nuca de Stiles e se inclinava para frente, não tardando em juntar seus lábios.

Foi somente um selar rápido, mas Derek pode notar a rigidez surpresa do garoto, porém quando foi se afastar com um pedido de desculpas na ponta da língua, sentiu Stiles agarrar a lapela de sua jaqueta, o puxando para outro beijo.

Derek sentiu quando Stiles superou a surpresa inicial relaxando sob seu toque, e ouvindo seu coração acelerar impossivelmente, Derek moveu seus lábios sem pressa, engolindo o suspiro que Stiles deixou escapar quando juntou seus corpos como podia, beijando-o com amor.

Quando o ar fez falta, Derek recuou minimamente, deixando sua testa pressionar contra a de Stiles, sem querer abrir os olhos por medo de acabar com o momento. Se permitiu apenas apreciar o calor de seus corpos juntos e o som de seus corações batendo com pressa, até que uma pequena mão espalmada levemente contra sua bochecha o trouxe de volta a realidade.

Sam os observava com interesse de seu lugar no colo de Stiles, que tinha o rosto vermelho e o lábio preso entre os dentes.

Espero que isso seja uma garantia de que você vai voltar e depois conversaremos sobre o que acabou de acontecer ― o garoto murmurou, abrindo os olhos e encarando Derek nervosamente. ― E não uma despedida.

Você tem tão pouca fé nas minhas habilidades como lobisomem? ― Riu soprado, acariciando o rosto alheio. ― Prometo não ser imprudente, se isso o conforta.

Eu conheço suas habilidades de auto sacrifício, por isso me preocupo.

Balançando a cabeça levemente uma vez, Derek pressionou mais um beijo rápido contra os lábios vermelhos de Stiles e um ne testa de Sam, então se afastou, abrindo a porta, antes de se virar brevemente.

Cuide do filhote ― falou. ― E se mantenham aqui em segurança até eu voltar.

Tudo o que Stiles pode fazer foi assistir em silêncio enquanto o homem se dirigia para o Camaro e então saia apressado pela rua.

Fechando a porta com um suspiro, Stiles levou o bebê para a sala, sentando-o no tapete enquanto se jogava no sofá sentindo-se impotente. Pensando sobre o que Derek havia dito a respeito da bruxa precisar de um alfa forte, Stiles imaginou para que tipo de trabalho obscuro ela o queria. Talvez se ele soubesse o que ela pretendia, ele poderia também ter uma ideia das dimensões de seus poderes, pois certamente endiabrar flores e transformar pessoas baseado apenas em como elas estão vestidas não deveria ser o trabalho de uma bruxa inexperiente, e se descobrisse o limite de suas habilidades, poderia descobrir como dar um fim eficaz a ela.

Praguejando alto, Stiles pôs-se de pé, correndo para seu quarto em busca de seus livros.

Agradecendo o milagre de não ter rolado escada abaixo com a pesada pilha de livros e alguns brinquedos para distrair Sam enquanto trabalhava, Stiles voltou ao sofá, rapidamente folheando o primeiro livro que falava sobre bruxas.

Sam por vez ou outra olhava para a porta, fazendo um beicinho choroso quando se deu conta de que seu pai havia ido embora há tempo demais, Stiles notou. Quando o bebê resmungou alto e finalmente se rendeu às lágrimas, Stiles abandonou seu livro, pegando o menino no colo, sendo prontamente abraçado por pequenos bracinhos envolvendo seu pescoço, assim como seu nariz procurando o cheiro que seu pai marcara ali antes de sair.

Esfregando as costas de Sam, Stiles arrulhou tentando acalmá-lo, lembrando-se do quanto os lobisomens podiam ser criaturas táteis.

Quando o choro se tornou nada mais que pequenas fungadas, Stiles se sentou, ainda com o bebê nos braços, pegando um bloco de madeira colorido para distraí-lo. Aceitando o brinquedo, Sam prontamente o colocou na boca, mordiscando-o com seus poucos dentinhos, enquanto Stiles retornava à pesquisa.

A maior parte era informação inútil, e era bastante difícil separar o que era informação real da ficção. Bruxas não eram somente velhinhas malvadas dos contos infantis. Nem moças que adoravam o diabo e dançavam nuas na floresta à noite. Na verdade, uma bruxa poderia ser literalmente qualquer pessoa, que geralmente já nascia com uma pré-disposição natural para a magia. O problema começava quando essa magia era empregada em coisas ruins, e se tratando de coisas ruins e criatividade do mal, o céu era o limite. Folheando um livro de aparência muito velha, Stiles descobriu que havia feitiços e encantamentos para praticamente tudo, desde curar dores até usar almas alheias em sacrifícios rituais. As informações eram limitadas no único capítulo que falava de bruxas, mas transformações e transmorfismo com certeza estavam na lista de habilidades de uma bruxa experiente, o que era uma péssima notícia para quem lutava contra uma.

Quanto mais experiente uma bruxa, mais difícil de matar, Stiles descobriu. Nas vagas informações obtidas, dizia que elas eram tão mortais quanto uma pessoa normal, mas quanto mais melhoravam suas habilidades mais fácil se tornava o uso prático de feitiços de proteção, assim como os que melhoravam suas habilidades e resistência. E Stiles não tinha dúvidas de que tais feitiços não eram nada para alguém que conseguia facilmente mascarar sua presença de um lobisomem alfa. Entretanto, ele não havia encontrado muita coisa que explicasse seu interesse com o dito lobisomem, além de informações óbvias sobre o poder contido em sangue mágico, mas nada que ele já não soubesse.

Fechando o livro com um suspiro aborrecido, Stiles recostou-se no sofá, descartando a leitura não tão útil, pensando se valeria a pena ir até seu computador para uma busca na internet quando um som alto de madeira rachando o fez se assustar. Olhando alarmado para o bebê no seu colo, Stiles pegou, com alguma dificuldade, o cubo que ainda era mastigado, sem saber se ficava impressionado ou preocupado com a marca de quatro dentinhos gravados na madeira.

Afastando o brinquedo agora lascado, Stiles achou melhor que o bebê ficasse apenas com o lobinho de pelúcia que trouxera consigo, com medo de que ele pudesse se machucar com alguma farpa solta. Como Sam não havia mostrado qualquer sinal de ter se ferido, Stiles não se preocupou muito, mas verificou sua boca e gengivas mesmo assim.

Eu sinto tanta pena das mamães lobisomem que amamentam ― o garoto falou, olhando o brinquedo mordido. ― Quando Derek falou sobre dentinhos de lobisomem, eu não imaginei que fosse isso.

Ele olhou então para o bebê sentado em seu colo, parecendo adoravelmente despreocupado com uma das orelhas de pelúcia de seu lobo na boca.

Você é fofinho demais para ter dentinhos mortais.

Olhando para a janela, Stiles notou que o dia já escurecia dando lugar à noite, preocupando-se ao notar que já havia bastante tempo desde que Derek saíra. Esfregando o pescoço nervosamente, o garoto pegou o próximo livro da pilha, feliz em ver no índice que havia um capítulo sobre bruxas.

Esta se mostrou uma leitura mais frutífera, mencionando enfim uma maneira eficaz de matar uma bruxa, independentemente de suas habilidades. A caça às bruxas medievais não as queimava na fogueira levianamente, afinal.

Pegando seu celular, Stiles ligou apressadamente para Derek, praguejando nervoso todas as vezes que a chamada caía na caixa postal após chamar. Ele perdeu as contas de quantas vezes ligou até que fosse atendido.

Stiles ― Derek rosnou do outro lado da linha, claramente ofegante. ― O que houve? Vocês estão bem?

Stiles podia ouvir os rosnados e sons de luta ao fundo, mas seu alívio em finalmente ouvir a voz de Derek superou a preocupação por um momento.

Como vai o progresso com a bruxa? ― Stiles perguntou, levantando-se para andar nervosamente pela sala.

Mal conseguimos arranhar ela sem que ela se curasse tão bem quanto nós ― o alfa rosnou. ― Estou um pouco ocupado no momento, mas eu ligo quando terminarmos.

Fogo! ― Stiles exclamou, quando viu que Derek desligaria. ― Eu pesquisei. Mate a bruxa depois a queime com tudo o que ela estiver carregando junto, vai garantir que continue morta.

Ela pode ressuscitar!? ― Stiles pode ouvir a voz indignada de Isaac soando ao fundo.

Se ela for realmente poderosa, corte a cabeça dela só para ter certeza.

Você sabe o quanto é difícil decepar a cabeça de alguém!? ― Dessa vez foi a voz de Erica que se fez ouvir.

Por que não estou surpreso que você saiba? ― Stiles riu enquanto manobrava o celular para fora do alcance da mãozinha ansiosa de Sam em seus braços. ― E quanto ao leão?

Morto ― Derek disse apressado, antes de ser interrompido por um barulho alto de algo se chocando contra ele, seguido de um doentio som de quebra.

Derek! ― Stiles gritou para o celular. ― Derek, você está bem?

Stiles ficou mais apreensivo a cada segundo que se passava sem resposta, até que finalmente o ofegar do homem contra o celular o fez relaxar mesmo que minimamente.

Por favor, me diga que esse crack não foi você quebrando ― o garoto implorou, movendo o celular para mais longe de Sam, que ainda tentava pegá-lo. ― Derek, ainda aí?

Droga, Stiles, eu não posso ficar falando agora ― o homem resmungou com um gemido de dor. ― E não, não fui eu que quebrei, foi a árvore onde fui arremessado, então, se já terminou, eu ligo pra você mais tar-

Dada!

Por um momento, a ligação ficou completamente muda, ambos pasmos demais enquanto processavam o fato de que Sam havia dito aquilo.

Isso foi- ― Derek começou, com a voz fraca. ― Isso foi o Sam?

Foi ― Stiles respondeu, finalmente deixando o bebê alcançar o celular. ― Ele nunca-

Não! Ele nunca tinha falado nada coerente antes ― Derek disse, e mesmo através do telefone, Stiles podia sentir a emoção em sua voz. ― Ele me chamou de Dada...

Ele deve ter reconhecido sua voz ― Stiles sorriu, olhando para o bebê, esperando que ele dissesse novamente. ― Fala Dada, Sam?

O bebê, entretanto, não mostrou sinal algum de que falaria qualquer coisa novamente, parecendo mais interessado em levar o celular para a boca, sendo prontamente impedido por Stiles.

Eu não quero interromper ― Stiles pode ouvir novamente a voz de Isaac, soando com mais dificuldade dessa vez. ― Mas a bruxa ainda está tentando matar todo mundo aqui.

Merda ― praguejou Derek. ― Eu vou desligar, mas se precisar de alguma coisa ou for uma emergência, ligue.

Enquanto aguardava nervosamente o resultado da caça à bruxa, Stiles tentou se manter ocupado com Sam, dedicando o fim da tarde a tentar fazê-lo falar alguma coisa de novo, e quando isso se mostrou inútil, ele alimentou o bebê, contente por manter em sua casa uma lata da fórmula que ele tomava, assim como uma mamadeira, limpou-o e o ninou até que adormecesse em seus braços.

Sentado confortável no sofá, Stiles não percebeu que havia adormecido até que o som de alguém entrando na casa o assustou.

Mancando em direção ao sofá, onde Stiles piscava sonolento com Sam dormindo em seus braços, Derek adiantou-se para acalmar o garoto que se assustara, agachando-se em frente a ele, não querendo sujar o estofado de sangue e terra.

Bruxa morta? ― Stiles perguntou.

Bruxa morta ― Derek respondeu, passando as costas dos dedos suavemente pela cabeça de Sam.

Estão todos bem? Onde está o pack? Alguém se machucou?

Nada que não vá curar ― falou, levantando-se com um gemido dolorido. ― Eu os deixei cuidando da parte de queimar a bruxa.

Alfa mau ― Stiles zombou. ― Deixando para os betas o trabalho sujo.

Que tipo de bando seria se não soubesse se livrar de um corpo? Isso conta como um treinamento na prática.

Isso foi uma piada? Não acredito que vivi o suficiente para ver Derek Hale fazendo uma piada.

Olhando o estado lastimável da roupa do homem, Stiles torceu o nariz, afastando a jaqueta que cobria uma lateral muito sangrenta de algo que uma vez fora uma camisa branca.

Não é todo meu ― Derek falou, notando a careta do jovem. ― O sangue, só algumas partes.

Suba e vá tomar um banho ― Stiles falou, levantando-se também. ― Depois eu vou dar uma olhada nessas feridas.

Tomando um merecido banho quente, Derek lavou toda a sujeira, agradecido por se livrar do cheiro de sangue, vestindo uma muda de roupa emprestada de Stiles antes de se sentar na cama do garoto, onde ele já o esperava com um kit de primeiros socorros.

Sem camisa, Derek permitiu que Stiles limpasse todos os cortes que ainda não haviam curado, cobrindo-os com curativos até cicatrizarem corretamente. Feridas provocadas por magia custavam a fechar, e até lá ele não queria ficar sangrando em suas roupas.

Ele falou mais alguma coisa? ― Derek perguntou, olhando para seu filhote adormecido em seu colchão no chão.

Não ― Stiles balançou a cabeça, indo se acomodar na cama ao lado do alfa. ― Nem um “dada” a mais.

Acho que ele vai falar quando estiver pronto ― Derek sorriu pequeno. ― Mal posso esperar para ouvir um "papai".

Ah seu lobo babão ― Stiles provocou, empurrando-o com o ombro e aproveitando para se aconchegar mais perto. ― Esse lobinho o tem na palma da mão, sim.

Ele tem o pack todo na palma da mão ― concordou.

Por um tempo somente permaneceram em silêncio, mas Stiles sabia que deveria dizer alguma coisa, mas pela primeira vez na vida ele não sabia como abordar um assunto. Se ele soltasse um "me beijou por desespero no calor do momento?" ele estaria sendo rude?

Eu posso ouvir você pensando ― Derek falou de repente, se virando para encarar o garoto.

Você pode?!

Não literalmente, Stiles ― revirando os olhos, o homem balançou a cabeça.

A audição dos lobisomens é tão boa que não dá para duvidar ― Stiles deu de ombros. ― Deve ser realmente irritante poder ouvir tudo. Ouvir os ratos roendo no sótão ou os vizinhos transando quando você precisa dormir deve ser enlouquecedor. Que bom que eu não tenho problemas com ratos. Eu tenho ratos no sótão? Você pode ouvir algum?

Stiles ― resmungou Derek. ― Você está divagando de novo ou se desviando do assunto de propósito?

Hm, nada escapa dos seus ouvidos, Sour Wolf ― encarando a expressão exasperada do Hale, Stiles suspirou, mordendo o lábio inferior em nervosismo. ― Acho que precisamos conversar?

Precisamos ― concordou. ― Olha, Stiles, me-

Ah não! ― Interrompeu o garoto, parecendo irritado. ― Se você vai pedir desculpas, então é melhor nem começar!

Stiles...

Saiba que eu não me arrependo de nada! ― Declarou o garoto, se virando para olhar Derek completamente. ― Eu não passei tantos anos ansiando por isso para você vir dizer que foi um erro.

Anos? ― Derek parecia ter sido estapeado, e só por isso Stiles se sentiria melhor se ele fosse realmente se desculpar.

Como você poderia não saber que eu sou apaixonado por você há anos?! ― Stiles exclamou, olhando a expressão adoravelmente confusa no rosto do alfa.

Como eu poderia saber??

Você é o cara com super sentidos aqui! ― Stiles parecia indignado, enquanto Derek ainda processava os fatos. ― E eu não era exatamente sutil, você sabe.

Stiles, eu sei como me pareço, e sei como as pessoas reagem comigo ― Derek bufou, desviando o olhar. ― E você sempre cheirava a excitação, assim como era com a Lydia no começo, mas então você deixou de gostar dela quando a conheceu melhor, então por que eu acharia que comigo seria diferente?

Como você pode pensar que eu gosto de você só por como você se parece? ― Stiles passou as mãos pelo cabelo, indignado com o homem que ainda se recusava a olhá-lo nos olhos. ― Você é um dos caras mais incríveis que eu já conheci. A vida já te fodeu de tantas formas, mas você nunca desistiu, sempre tentando ser uma pessoa melhor. Você é um alfa maravilhoso pro pack, e agora é um pai maravilhoso também. Eu gosto de você porque você é bonito, mas isso não é tudo. Eu gosto de você porque você é uma pessoa incrível, e quando se aprende a enxergar por baixo do olhar mortal e carrancudo, dos rosnados e da comunicação via sobrancelhas franzidas, há esse homem gentil, o pai amoroso e líder dedicado, pronto para fazer o que é certo porque é a coisa certa a se fazer.

Derek agora encarava o jovem, e sabia que seu rosto estava vermelho, mas ele não se importava. Tudo o que era importante no momento era a verdade que podia ser ouvida em cada palavra de Stiles, no modo em que ele falava com propriedade, e Derek não precisava nem prestar atenção em seus batimentos cardíacos para saber que o garoto acreditava fielmente em tudo o que dissera.

Mas... ― Derek começou, mais cauteloso. ― Por que nunca disse nada?

Eu venho de um longo histórico de rejeições e amores não correspondidos ― Stiles bufou sem graça. ― Que motivos eu tinha para acreditar que dessa vez seria diferente?

Porque dessa vez é diferente ― o homem falou, suavemente levando sua mão ao rosto alheio. ― Porque eu também sou apaixonado por você há tempo demais.

Sorrindo radiante, Stiles se lançou na direção do homem, beijando-o até perder o fôlego, separando-se com um sorriso maior ainda em seus lábios agora vermelhos.

Não acredito que perdemos tanto tempo ― Stiles murmurou, se acomodando melhor contra Derek. ― A essa altura eu poderia já ter dado adeus à virgindade há séculos!

Stiles! ― Derek protestou, balançando a cabeça, mas sorriu, inclinando-se para mais um beijo. ― Teremos tempo pra isso, não precisa se apressar.

Stiles sorriu e se aconchegou na cama com Derek ao seu lado, puxando o cobertor sobre eles, porque apesar do aquecimento da casa, ainda era o final do outono e as noites estavam ficando cada vez mais frias.

Acomodando-se sobre o lado já curado do homem, Stiles alinhou seus corpos, sorrindo ao sentir um beijo ser depositado em sua testa.

Você vai passar a noite aqui? ― Perguntou. ― Eu definitivamente não estou reclamando. Na verdade, eu encorajo bastante a ideia. Veja, o Sam já está dormindo, e seria uma pena acordar ele, mas o que eu quero dizer é, o Isaac vai ficar em casa sozinho?

O Isaac provavelmente vai ficar com Scott ― Derek respondeu, acariciando as costas de Stiles preguiçosamente. ― E eu definitivamente não estou indo a lugar algum.

Você não acha que esses dois estão passando tempo demais juntos? ― Stiles murmurou, tentando não parecer incomodado. ― Scott agora é só Isaac isso, Isaac aquilo. E sempre que combinamos de sair Isaac está lá.

Bem, é o que as pessoas fazem quando estão em um relacionamento ― Derek respondeu despreocupadamente. ― Mas se te incomoda, você deveria dizer a ele.

Como assim "relacionamento"??? ― Indignado, Stiles se levantou o suficiente para encarar o homem. ― Que relacionamento?

Achei que soubesse ― o alfa deu de ombros de novo, puxando Stiles para deitar contra ele. ― Scott não te contou?

Aquele traidor não falou nada! Estou definitivamente substituindo ele do cargo de melhor amigo ― ele sabia que o amargor escorria de sua voz, mas não podia deixar de se sentir traído. ― Eu era obrigado a ouvir até sobre a cor da calcinha que Alisson usava toda vez que eles saíam, mas agora subitamente ele acha desnecessário me contar que está namorando o Isaac? Traição do mais baixo nível. E como você sabe disso, afinal?

Sentidos de lobisomem? ― Parecendo culpado, Derek desviou o olhar. ― É difícil não perceber quando duas pessoas claramente cheiram uma à outra e outras coisas.

Agora seu nariz funciona direito? ― Stiles parecia magoado, mas não se afastou. ― Você poderia ter me contado.

Não era meu assunto para contar ― o homem se desculpou. ― Achei que Scott diria, ele é seu melhor amigo.

Ex-melhor amigo, e olhe lá ― resmungou. ― Estou com o cargo de melhor amigo definitivamente livre. Está interessado?

Achei que estava ocupando agora o cargo de namorado ― o alfa murmurou, apertando ainda mais o garoto em seus braços.

Você pode ser meu melhor amigo também ― Stiles sorriu largo. ― Mas namorado soa melhor.



Notes:

Caso não saibam, eu postei um spin-off dessa história, contando sobre a vez que o Isaac usou acônito, caso queiram ler
https://archiveofourown.org/works/39247146
Não sei quando vou postar o último capítulo (sim, o próximo é o último), então paciência.
Mas para aqueles que me dão um pouco de carinho e me deixam saber que gostam dessa história apesar de tudo, muito obrigada, vocês são incríveis <3
Ah, eu também tenho mais uma história pra indicar, é Steterek (sterek+peter), é pura safadeza, mas eu quis escrever ;)
https://archiveofourown.org/works/35912113