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Until My Feet Bleed and My Heart Aches

Summary:

Até Que os Meus Pés Sangrem e o Meu Coração Doa

‘…De todas as rivalidades no mundo dos esportes ao longo dos anos, talvez nenhuma tenha se tornado tão lendária quanto a do patinador russo Viktor Nikiforov e o seu rival, o japonês Yuuri Katsuki...’

Um único evento muda o curso da vida de Yuuri, jogando-o numa amarga rivalidade com Viktor Nikiforov, que dura por toda a sua carreira de patinação. Mas, conforme os anos passam, rivalidade e ódio começam a se transformar em algo muito diferente e Yuuri não parece ser capaz de se afastar, não importa o quanto tente.

Amor e ódio são dois lados da mesma moeda e, apesar de tudo mudar, algumas coisas simplesmente estão destinadas a ser.

TRADUÇÃO AUTORIZADA de Until My Feet Bleed and My Heart Aches, por Reiya

Leia a tradução também no WATTPAD

Notes:

✦ As músicas das performances fazem parte da história e nos ajudam a compreender melhor os personagens. A experiência multissensorial é incrível, então recomendamos fortemente que você assista aos vídeos indicados.

Chapter 1: Os Dias Que Nos Unem

Chapter Text

 

Yuuri se apaixonou pela patinação de Viktor desde o primeiro momento em que ele o viu.

 

Tudo começou no que parecia ser um dia normal, ele e Yuko estavam no Castelo de Gelo depois de um árduo dia de treino, aconchegados em frente à velha televisão que naquele momento exibia o Grand Prix Júnior em turvas e mudas cores. Era um ritual deles, sentar e assistir aos patinadores artísticos deslizando através da tela e imaginar como seria quando eles finalmente estivessem se apresentando no rinque de gelo em frente às multidões, ou em cima do pódio acenando para seus adorados fãs com medalhas em seus pescoços.

 

Yuuri estava distraído naquele dia, metade da sua mente ainda no treino de patinação e a outra metade sonhando com o futuro, quando ele ouviu Yuko soltar um arquejo de surpresa. Rapidamente ele voltou a sua atenção para a tela bem a tempo de ver um patinador que ele nunca havia visto antes graciosamente aterrissar no que deve ter sido um salto impressionante, se a reação de Yuko era indicativo de algo.

 

Daquele momento em diante, ele não pôde desviar o olhar.

 

Os outros patinadores eram graciosos, mas este era diferente. Ele dançava através do gelo como se tivesse nascido para isso, seus movimentos tão fluidos e encantadores que Yuuri ficou paralisado na mesma hora. O patinador era jovem, Yuuri nunca o havia visto antes e ele presumiu — corretamente como viria a descobrir depois — que era a primeira vez dele no Grand Prix. Ele era novo — seu rosto expressava a inocência de um jovem garoto, cabelo prateado chicoteando atrás dele quando rodopiava, suavizando as suas feições até algo quase angelical.

 

Yuuri assistiu ao garoto girar e saltar através do gelo, nunca perdendo uma batida da música que parecia fluir ao seu redor. A coreografia terminou com seus braços levantados graciosamente para fora, a sua cabeça abaixada modestamente, embora Yuuri pudesse jurar ter visto a sugestão de um sorriso escondido pelas mechas de cabelo.

 

"Isso foi maravilhoso!" Yuko guinchou, pulando para cima e para baixo em seu assento, incapaz de conter a empolgação. "Eu não acredito que essa foi apenas a estreia dele nos Juniores. Ele é apenas 4 anos mais velho que você Yuuri!".

 

Um anúncio apareceu na parte de baixo da tela, detalhando o nome e nacionalidade do patinador, conforme a sua pontuação era calculada.

 

Viktor Nikiforov, Yuuri leu, ainda deslumbrado pelo o que havia acabado de ver. Ele leu a informação de novo, gravando o nome na memória. Viktor Nikiforov da Rússia.

 

Algum dia, eu vou patinar igual a você.

 

 


 

 

Daquele momento em diante, Yuuri foi cativado. Ele e Yuko acompanhavam a carreira de Viktor religiosamente, assistindo ao jovem patinador rapidamente disparar nas classificações da divisão júnior, ganhando medalha após medalha com graça. Yuko estava ocupada com as revistas, procurando nelas qualquer informação sobre Viktor, enquanto Yuuri assistia obsessivamente aos vídeos que eles tinham gravado das performances de Viktor, copiando os movimentos de novo e de novo no gelo até poder fazê-los de forma aceitável, apesar de ainda apresentar certa instabilidade.

 

As paredes do quarto de Yuuri aos poucos ficaram repletas de pôsteres do outro patinador. Pôsteres oficiais, fotografias de competições, imagens diretamente cortadas das revistas que Yuko amava tanto. Ele estava apaixonado pela maneira como o outro garoto patinava, com graça e elegância conforme se movimentava. Sempre que precisava ficar sozinho, ele ia até o rinque de patinação e se perdia nas coreografias de Viktor até poder pensar com clareza de novo.

 

Gradualmente Yuuri começou a trilhar o seu caminho através das classificações, competindo primeiro nas competições locais e aos poucos se desenvolvendo, indo além da sua cidadezinha natal para competições cada vez maiores conforme seu desempenho evoluía de maneira lenta, porém inegável.

 

Ele sabia em seu coração que, se praticasse duro o bastante, poderia patinar no mesmo gelo que Viktor algum dia.

 

 


 

 

Em seu aniversário de 11 anos, Yuuri pediu um poodle de presente. Apenas um dia antes, Yuko tinha descoberto um artigo que mencionava que Viktor tinha um poodle de estimação, acompanhado por uma adorável foto deles juntos, e Yuuri teve que ir até seus pais no dia seguinte para implorar por um também. Eles de boa vontade permitiram e Yuuri se apaixonou pelo filhote imediatamente. Quando sua mãe perguntou que nome ele pretendia dar ao cachorro, Yuuri sabia a resposta sem nem pensar sobre isso.

 

Foi só mais tarde naquela noite, quando Vicchan estava adormecido e encolhido no colo de Yuuri, que os seus pais lhe deram a segunda parte do seu presente de aniversário.

 

“Nós conseguimos eles para você como uma surpresa,” disse sua mãe enquanto ele agarrava os ingressos em seus dedos trêmulos. “Nós sabemos o quanto você ama patinação artística e achamos que, diante de toda sua dedicação e trabalho duro, esse seria um bom presente para você.”

 

Então Yuuri se jogou nos braços dela, os ingressos para as finais do Grand Prix Júnior ainda firmemente agarrados em seu punho.

 

Ele veria Viktor patinar em pessoa e ele nunca esteve mais empolgado em toda a sua vida.

 

 


 

 

Esperar quase um ano inteiro pela chegada do Grand Prix Júnior foi uma tortura, mas Yuuri suportou da melhor forma possível, ainda sem acreditar completamente na sua sorte. Yuko gritou quando ela descobriu, em parte empolgada por ele e em parte verde de inveja porque ele veria os patinadores ao vivo enquanto ela teria que se virar com a velha e turva televisão que ficava no Castelo de Gelo, como sempre.

 

Quando o dia finalmente chegou, Yuuri mal conseguia dormir de tanta empolgação. O dia passou para ele como se fosse um sonho, ainda incapaz de acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Os seus pais tiveram que guiá-lo através da multidão para impedir que ele se perdesse e ter certeza de que eles conseguiriam encontrar os seus lugares.

 

Yuuri mal conseguia ficar quieto enquanto esperava a competição começar. Quando os patinadores finalmente apareceram no rinque para o aquecimento, ele sentiu a respiração prender no seu peito.

 

Ali estava Viktor, Viktor Nikiforov  em pessoa, quinze anos e lindo e tudo aquilo que Yuuri sonhou que ele seria. O seu traje estava coberto por uma jaqueta de zíper com RÚSSIA estampado na frente para proteger o traje de olhares curiosos, mas mesmo sem a fantasia reluzente ele ainda parecia um deus para Yuuri, deslizando através do gelo como se fosse o seu dono, o cabelo prateado voando atrás dele. 

 

A campainha soou, sinalizando o fim do aquecimento, e o resto dos patinadores saiu do gelo, deixando Viktor sozinho no rinque. Patinando até a barreira, Viktor cuidadosamente abaixou o zíper da sua jaqueta e a passou para o seu técnico, expondo o traje do seu Programa Curto. Era um conjunto azul e branco colado na pele, coberto de pequeninos diamantes em espirais que se estendiam dos ombros aos braços como uma tempestade de neve em sua pele. Viktor patinou até o centro da pista de gelo para começar a sua coreografia e o público gritou em aprovação.

 

Yuuri foi quem mais vibrou dentre todos.

 

 


 

 

As primeiras notas da música começaram a tocar enquanto Viktor assumia sua posição inicial, cabeça abaixada e braços envoltos firmemente ao redor do seu corpo. Conforme a música preenchia o estádio, ele começou a se mover em sintonia com ela. A canção era dura e fria, notas afiadas como estacas de gelo dançando através do ar e Viktor dançava com elas. Cada um dos seus giros era perfeito, cada deslize dos seus patins era preciso. Os seus movimentos eram abruptos, quase perigosos e havia uma dureza de gelo em seus olhos. Preparando-se, ele se lançou no primeiro salto do programa, um triplo Axel que arrancou aplausos da plateia.

 

As luzes dançaram pelo seu traje, se transformando em estacas de gelo pela sua pele. Yuuri quase podia sentir a história que Viktor estava tecendo com os seus movimentos; um príncipe de gelo, frio como a neve que comandava, manipulando o mundo à sua vontade. Havia uma beleza quase feminina em seus movimentos, ele dançava como se fizesse parte do gelo, uma tempestade de gelo presa num corpo.

 

Cabelos prateados se agitavam atrás dele conforme Viktor se lançava num flying sit spin*, e Yuuri se deu conta de que estava agarrando a beira do seu assento tão forte que as juntas dos seus dedos ficaram brancas. A multidão rugiu sua aprovação de novo quando Viktor executou outro salto, dessa vez um triplo Salchow, aterrissando perfeitamente, braços estendidos e perna alongada atrás dele. O salto foi rapidamente seguido por uma sequência de passos tão complexa que Yuuri emitiu um som estrangulado de surpresa. Viktor patinava como se os seus movimentos não fossem nada demais, como se ele tivesse nascido para isso e somente para isso.

 

Yuuri queria que a apresentação não terminasse nunca. Ele assistiu a Viktor deslizar através do gelo, girando e rodando, encantando todo o lugar com a maneira como se movia. Ninguém conseguia desviar o olhar. De longe, Yuuri podia ouvir a alegria do locutor enquanto Viktor completava os últimos saltos do programa, um combo de saltos quádruplo e duplo que levou a multidão à loucura.

 

Yuuri estava na beira do seu assento quando Viktor finalmente terminou numa combinação de giros que acentuava cada linha do seu corpo esguio debaixo das luzes deslumbrantes. Ele mal podia acreditar que menos de três minutos haviam se passado desde que Viktor tinha começado a patinar. Foi como se todo o mundo dele tivesse mudado. Ele nunca teria acreditado antes que Viktor podia ser ainda mais incrível, mas vê-lo patinar com seus próprios olhos era muito melhor do que assistir na TV. Ele podia ver cada movimento do corpo de Viktor perfeitamente, cada expressão do seu rosto e Yuuri amou isso.

 

A multidão estava ovacionando Viktor de pé e Yuuri se juntou a eles, sentindo como se o seu coração estivesse prestes a explodir. Vagamente ele via os seus pais sentados ao seu lado, aplaudindo educadamente, alegremente inconscientes da beleza daquilo que eles tinham acabado de testemunhar. Mas Yuuri não se importava. Tudo o que importava era Viktor.

 

Quando saíram as notas, ninguém ficou surpreso por Viktor ter pontuado alto na casa dos noventa. No Kiss & Cry*, Viktor retribuiu o apoio do público com um caloroso sorriso para a câmera; o gelo havia saído de seus olhos como se nunca tivesse estado lá.

 

Ele era lindo.

 

 


 

 

Naquela noite Yuuri não conseguia falar de outra coisa. Ele podia perceber que estava entediando os seus pais, ainda que eles sorrissem o encorajando toda vez que ele analisava a coreografia de Viktor de novo, maravilhado com o jeito que ele pulou, girou, dançou. Não havia nada que Yuuri não tivesse amado e ele achava que não conseguiria parar de falar sobre isso mesmo que tentasse.

 

Naquela noite ele mal pôde dormir, ainda na onda de empolgação do dia e na expectativa de ver Viktor patinar o seu Programa Livre na manhã seguinte. Mexendo-se inquietamente na cama, Yuuri revisou a coreografia de Viktor de novo e de novo na sua cabeça, vendo tudo em perfeitos detalhes. Ele mal podia esperar para voltar pra Hasetsu e tentar imitá-la, apesar de saber que nunca poderia executá-la como Viktor.

 

Mas talvez um dia…

 

Um dia, ele prometeu a si mesmo de novo, um dia ele iria patinar no mesmo gelo que Viktor. Ele iria praticar e praticar até ser bom o bastante para se qualificar e iria patinar tão bem que seria Viktor quem não conseguiria desviar o olhar dele. Um dia…

 

Quando Yuuri finalmente adormeceu, ele estava sorrindo.

 

 


 

 

 O dia seguinte amanheceu brilhante e Yuuri acordou junto com o sol, praticamente explodindo de empolgação. Viktor estava na liderança, a sua excelente pontuação no Programa Curto do dia anterior levando-o direto ao topo da tabela de classificação. Nenhum dos outros competidores chegou perto. Se ele fosse bem no Programa Livre, ele iria ganhar o ouro e Yuuri estaria lá para testemunhar. No fundo do seu coração, ele sabia que Viktor podia conseguir. Suas habilidades eram muito superiores às dos demais competidores e provavelmente ele faria uma espetacular estreia na divisão sênior na próxima temporada, contanto que conseguisse triunfar nos juniores uma última vez.

 

 Yuuri acreditava em Viktor mais do que tudo e ele mal podia esperar para comprovar que estava certo.

 

 Naquele dia, Yuuri mal notou os outros patinadores fazerem suas coreografias conforme a competição progredia, ele estava ansioso demais esperando pela atração principal para ser capaz de dar atenção aos demais. Ele estava vagamente consciente da animação da multidão e das pontuações que saíam pelos alto-falantes, mas tudo era apenas música de fundo para a palpitação do seu coração.

 

 Quando Viktor patinou até o rinque pela última vez, Yuuri mal conseguia respirar.

 

 Em contraste com o dia anterior, para o seu Programa Livre o patinador mais velho estava vestido num traje preto colado ao corpo, parcialmente transparente com cristais prateados espalhados em um dos lados. Havia uma meia aba de pano discretamente costurada em um dos lados do conjunto que se levantava conforme Viktor girava, quase como uma saia. O cabelo cinza prateado estava puxado para trás num longo rabo de cavalo que fluía atrás dele e Yuuri não pôde desviar o olhar.

 

 Viktor tomou a sua posição inicial na pista de gelo, com as costas de uma mão gentilmente repousando contra a sua bochecha e a outra levantada em direção ao céu. A música começou, se espalhando pelo local numa bonita melodia, e Viktor se moveu. Ele ainda deslizava com a mesma graça quase feminina do dia anterior, mas os seus movimentos eram mais suaves e não havia nada da anterior dureza gélida em seus olhos. Pelo contrário, eles estavam calorosos e cheios de uma emoção que Yuuri não sabia nomear.

 

Cada passo, cada giro, cada salto deixava a multidão à beira dos seus assentos, ofegante e torcendo conforme a história se desenrolava. Yuuri tinha achado o Programa Curto de Viktor fascinante, mas ele não chegava aos pés do seu Programa Livre. A dificuldade técnica tinha sido elevada consideravelmente e a parte artística era simplesmente de tirar o fôlego.

 

O quádruplo flip, um movimento que Viktor nunca havia tentado antes em competições, foi tão impressionante que a multidão se levantou. Por um minuto, Yuuri entrou em pânico quando a sua visão do rinque foi bloqueada. O público gritou de novo com entusiasmo e ele subiu desesperadamente no seu assento, se esticando sobre as cabeças na frente dele. À medida que o barulho diminuía e as pessoas voltavam novamente aos seus assentos, Yuuri pôde ver Viktor deslizando num gracioso giro através do rinque com seus olhos fechados, o cabelo fluindo atrás dele.

 

O tempo pareceu parar e Yuuri permaneceu congelado no mesmo lugar, ainda de pé em sua cadeira olhando por cima da agora sentada multidão. Ao parar de girar, Viktor abriu seus olhos e por um segundo Yuuri teve certeza de que Viktor estava olhando diretamente para ele. Ele imaginou seus olhos se encontrando, azul no castanho, o patinador no rinque e o garoto no alto no meio da multidão. Então Viktor dançou de acordo com a música e o momento foi quebrado.

 

Ainda extasiado, Yuuri voltou a se sentar no seu assento, nunca tirando os olhos do rinque. Nunca tirando os olhos do patinador que estava lá.

 

Finalmente, a música chegou ao seu último crescendo e Viktor terminou a sua coreografia com uma combinação de giros. A meia saia voava ao seu redor conforme ele fazia as rotações finais com os braços e o rosto apontando em direção ao céu. A audiência explodiu num estrondoso aplauso e Yuuri ficou nas pontas dos pés de novo, gritando junto com a multidão.

 

Com o peito ofegante da exaustão que ele finalmente se permitiu mostrar, Viktor abaixou os seus braços e fez uma profunda reverência à multidão, aceitando os aplausos com um sorriso sereno em seu rosto enquanto uma chuva de flores e presentinhos caía ao seu redor. Ele ainda ficou lá por mais um minuto antes de finalmente patinar até a lateral do rinque em direção ao Kiss & Cry para aguardar a sua nota.

 

 Após a performance que eles tinham acabado de testemunhar, não havia dúvida na cabeça de ninguém da plateia que Viktor havia ganhado, mas ainda assim a multidão se maravilhou quando a pontuação foi anunciada pelo alto falante. A empolgação estava clara mesmo na voz do locutor ao declarar que o vencedor do Grand Prix Júnior, Viktor Nikiforov, havia terminado em primeiro lugar com a maior pontuação na história da competição.

 

 A multidão foi à loucura e as câmeras focaram no rosto sorridente de Viktor, que estava sentado ao lado do seu técnico. Ele levantou a sua mão num aceno de reconhecimento e as comemorações aumentaram para um volume quase ensurdecedor.

 

Naquele momento, Yuuri só conseguia pensar que Viktor Nikiforov era a pessoa mais incrível do mundo.

 

 


 

 

Na esperança de encontrar os patinadores na saída, muitas pessoas estavam aguardando do lado de fora do rinque no fim do dia depois da última competição ter acabado, Yuuri estava bem na frente da multidão. Os seus pais estavam consideravelmente distantes dele, observando de longe sem querer forçar a passagem na linha de frente. Yuuri não se preocupou em ser polido e educado, não dessa vez. Essa era a sua chance, uma chance real, de conhecer Viktor em pessoa. Um pôster estava apertado nas suas mãos suadas, um promocional do começo da temporada em que Viktor estava usando o mesmo traje do Programa Livre que ele tinha acabado de vencer, braços estendidos numa graça congelada enquanto ele deslizava através do gelo. Rapidamente essa se tornou a imagem favorita de Yuuri e ele rezava para que Viktor tivesse tempo de dar autógrafos aos seus fãs quando ele finalmente aparecesse.

 

O pensamento de vê-lo de perto, ou quem sabe até conversar com ele, fez Yuuri tremer meio de medo e meio de expectativa. Ele teve que se forçar a se acalmar, lembrando a si mesmo que, se tudo fosse de acordo com o plano, um dia ele estaria patinando no mesmo gelo que Viktor, como um igual e não apenas um fã. Ele não iria querer se embaraçar agora.

 

Os gritos dos fãs mais perto da entrada o tiraram das suas contemplações e ele ergueu a sua cabeça, ficando na ponta dos pés na frente da barreira enquanto tentava dar uma olhada em quem tinha acabado de deixar o prédio. Um borrão prateado chamou a sua atenção e esticando o pescoço ele pôde ver Viktor no meio da multidão, assinando autógrafos e sorrindo para os seus fãs.

 

Conforme Viktor caminhava pela fila, o coração de Yuuri começou a bater cada vez mais rápido, como se seu peito estivesse prestes a explodir. Logo Viktor estaria a apenas alguns passos de distância dele e Yuuri pôde sentir o seu peito apertar e as suas mãos começarem a tremer. Desesperadamente ele olhou para baixo, tentando manter paradas as suas mãos trêmulas e acalmar a sua rápida respiração.

 

Houve uma súbita pausa no barulho ao redor dele e Yuuri olhou para cima de novo, ficando de boca aberta em choque ao ver o próprio Viktor parado na frente dele, sobrancelhas levantadas em expectativa e um pequeno sorriso no rosto.

 

Yuuri tentou falar, mas as palavras ficaram presas na sua garganta. Ainda em pânico, ele empurrou o pôster e a caneta na frente dele sem dizer nada, corando furiosamente, um rubor que só se acentuou quando Viktor riu gentilmente e pegou a imagem dele silenciosamente, assinando-a com um floreio.

 

Ele a devolveu de volta para Yuuri e Yuuri, internamente em pânico e desesperado para dizer alguma coisa, qualquer coisa, falou a primeira coisa que veio na sua cabeça.

 

“euvoupatinarcomovocêalgumdia.” As palavras se embolaram na pressa, sua língua tropeçando em si mesma no seu estado de pânico. “E um dia eu vou patinar contra você também!”

 

 Mortificado com o que tinha acabado de acontecer, ele rapidamente fechou a sua boca com um clique e torceu para que o vermelho em chamas de suas bochechas sumisse logo. Não era bem assim que ele tinha imaginado o primeiro encontro com o seu ídolo, expondo bruscamente o seu maior sonho num momento de pânico, mas Viktor apenas riu de novo, seus olhos brilhando.

 

 “Talvez você precise perder algum peso antes de pensar em ser um patinador, свинья,” ele riu, bagunçando os cabelos de Yuuri ao colocar o pôster nas mãos congeladas dele. “Mas eu quero muito ver você no rinque algum dia, да?”

 

 Yuuri abriu a boca para falar, mas as palavras ficaram presas na sua garganta, dessa vez por uma razão bem diferente. Viktor já tinha se virado para cumprimentar o próximo fã com o mesmo sorriso fácil, então ele não viu as lágrimas que se acumulavam nos olhos de Yuuri, por mais que ele estivesse lutando para contê-las, ou a maneira em que as suas mãos apertavam o recém assinado pôster, amassando-o em seu pequeno punho.

 

 


 

 

Os pais de Yuuri ficaram preocupados quando o viram voltar com os olhos ainda brilhantes das lágrimas não derramadas, mas ele estoicamente se recusou a explicar o que havia acontecido e permaneceu calado durante toda a viagem de volta para casa. Por mais que soubesse que estava preocupando os seus pais, ele simplesmente não conseguia lhes explicar o que estava sentindo. Eles não entenderiam e Yuuri não queria ser motivo de mais risadas naquele dia. Só havia uma pessoa com quem poderia falar agora e ela estava a mundos de distância, todo o caminho de volta até Hasetsu.

 

Quando eles finalmente chegaram em casa, a primeira coisa que Yuuri fez foi ir até o Castelo de Gelo, onde sabia que Yuko estaria esperando. Efetivamente, lá estava ela, praticamente quicando para cima e para baixo de empolgação enquanto esperava para ouvir como tinha sido assistir à final ao vivo. No entanto, ela ficou paralisada quando viu o rosto dele e, depois de um momento para se recuperar, ela o pegou pelo pulso para arrastá-lo até uma área isolada do rinque e sentá-lo em um dos bancos com uma expressão séria.

 

 “O que aconteceu Yuuri?” Ela perguntou com a voz cheia de preocupação. “Viktor venceu. Ele quebrou o recorde mundial! Eu pensei que você estaria feliz!”

 

 Yuuri olhou para o rosto apreensivo dela e pôde sentir o seu lábio tremer de novo, olhos ardendo enquanto ele lutava contra as lágrimas que ameaçavam voltar.

 

 “Ele nem acreditou que eu era um patinador, Yuko.” Yuuri se engasgou, sentindo a primeira gota deslizar por sua bochecha. “Eu disse para ele que eu ia patinar em competições com ele algum dia e ele me chamou de gordo e disse que se eu quisesse ser um patinador eu teria que perder algum peso antes.”

 

Outra lágrima escorregou do seu olho e se juntou à primeira, formando uma trilha molhada em sua bochecha. O insulto tinha doído muito e tudo que Yuuri podia ouvir eram as vozes dos outros patinadores do Castelo de Gelo, Takeshi empurrando ele de novo e de novo e chamando ele de gorducho, todos rindo e cutucando o seu estômago enquanto ele tentava trocar de roupa se escondendo atrás delas. Ele sabia que era uma criança gordinha, ganhava peso fácil e ainda não tinha tido o seu primeiro estirão de crescimento, mas que Viktor, o seu ídolo Viktor que ele tinha admirado por tanto tempo, o tivesse desprezado assim machucava mais profundamente do que qualquer outro patinador do Castelo de Gelo jamais poderia.

 

Viktor pode não ter acreditado que ele era realmente um patinador, mas Yuuri era sim, até o âmago dos seus ossos. O seu amor pelo esporte era reforçado por horas e mais horas de prática, ele participou de todas as competições locais possíveis a fim de ficar bom o bastante para competir nos juniores quando ele finalmente superasse a restrição de idade. Patinação artística era a sua vida, ele praticamente vivia no Castelo de Gelo. Ele tinha trabalhado tão duro, determinado a um dia patinar com o próprio Viktor, apenas para ser completamente subestimado por ele, visto somente como mais um fã estúpido, um pequeno garoto gordinho que nunca poderia competir ao lado de gente como ele.

 

"Ah não, Yuuri, isso foi horrível!" Yuko exclamou e puxou Yuuri para um abraço. Enlaçando seus dedos nas costas da camisa dela, Yuuri a agarrou firmemente e deixou as lágrimas caírem, fungando agradecido nos ombros de sua amiga. Pelo menos Yuko entendia, de um jeito que os seus pais jamais poderiam. Ela sabia o quanto Viktor significava para Yuuri, o quanto ele tinha se esforçado para estar ao nível dele.

 

Yuuri se permitiu chorar nos ombros de Yuko e jurou nunca mais se importar com Viktor Nikiforov de novo.

 

 


 

 

Naquela noite, Yuuri rasgou todos os pôsteres do seu quarto. Ele fez isso violentamente, arrancando-os das paredes, sem ligar para o papel rasgado enquanto eles se partiam na sua mão. Havia um cruel senso de satisfação enquanto ele amassava cada pedaço arruinado de papel, arremessando-os para longe e assistindo cada pedacinho de Viktor ser destruído para sempre. Quando ele finalmente terminou, as paredes estavam lisas pela primeira vez em anos, decoradas apenas pelos últimos fragmentos de papel que resistiram ao massacre.

 

Yuuri se deitou na sua cama, decidido a lidar com o resto da bagunça de manhã. Por enquanto ele só queria pensar, o que era mais fácil de fazer agora que o rosto de Viktor não mais o encarava de cada canto do seu quarto, zombando dele.

 

Fechando seus olhos, Yuuri afundou o rosto em seu travesseiro furiosamente, tentando bloquear os pensamentos da face risonha de Viktor da sua mente, a maneira com que Viktor riu incrédulo ao pensamento de que alguém como Yuuri poderia ser um patinador como ele.

 

“Eu vou mostrar para ele.”  Yuuri jurou, mãos ainda firmemente agarradas ao redor do travesseiro “Eu não quero mais ser como ele. Eu quero ser melhor. Eu vou derrotá-lo no seu próprio jogo e então ele não vai mais rir de mim. ”

 

E com esse pensamento em mente ele finalmente caiu no sono.

 

 


   

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NOTAS DA AUTORA

 
    E então começa!

    Só para esclarecer, Viktor não estava sendo deliberadamente cruel ou rude. Está provado no canon que ele é uma pessoa muito direta e honesta, e que provavelmente era ainda pior quando mais jovem. Assim como no canon quando ele pensou que Yuuri fosse um fã ao invés de um patinador em sua primeira Final do Grand Prix, aqui ele assumiu que Yuuri era um fã que o admirava e que queria começar a patinar; ele genuinamente pensou que estava dando um conselho útil. Viktor não percebeu que o Yuuri era 1) já um patinador relativamente habilidoso e 2) muito sensível sobre o seu peso.

    Assim começa a maior rivalidade de ambas as carreiras!

    Essa fic vai acompanhá-los através dos anos conforme suas carreiras de patinação e relacionamento progridem. Definitivamente teremos capítulos explícitos mais para frente, apesar de que nada vai acontecer até ambos serem maiores de idade.

    Espero que vocês tenham gostado! Por favor deixem comentários e kudos ♥ 

    Rey xx
    Fale comigo no Tumblr: kazliin

 

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NOTAS DAS TRADUTORAS

 Expressões Russas:

свинья - Porquinho

да - Sim

  Flying Sit Spin

'Sit Spin' significa pirueta sentada, o patinador gira sentado em um dos pés e estica a outra perna para a frente. Aparece o tempo todo no anime. O 'Flying' (voador) implica que o movimento começa com um salto: o patinador pula e cai sentado num pé só, já na posição do giro. Vídeo aqui.

Entendemos por bem não traduzir certos termos técnicos, a fim de facilitar a busca dos leitores por vídeos e imagens na internet, onde a maioria absoluta do tema Figure Skating é tratada em inglês.


  Kiss & Cry (Beije e Chore numa tradução literal)

É uma referência à área do rinque em que patinador e técnico esperam as notas da performance. O termo foi criado pelo patinador Jane Erkko como uma brincadeira, mas acabou pegando de tal forma que agora é usado oficialmente pela Associação Internacional de Patinação.


Músicas:

✦ Programa Curto do Viktor: Winter Music Instrumental January, por Derek & Brandon Fiechter

✦ Programa Livre do Viktor: O Mio Babbino Caro, por Renee Fleming

✦ O título deste capítulo, The Days That Bind Us, é um trecho da música: Bad Blood, por Bastille.  

 

∼Fanarts :

Toda e qualquer imagem utilizada nesta tradução é FANART dedicada a esta história e temos autorização expressa dos artistas para postar aqui.

 

1. PORQUINHO (1° Encontro Victuuri) —  arte de @lovelytitania

 

2. AMOR À 1ª VISTA (Yuuri descobre Viktor pela TV) — arte de @leblacknoir 

 

 3. PRÍNCIPE DE GELO (Traje de Viktor para o Programa Curto) — arte de @sebuckwheat 

 

4. CABELOS AO VENTO (Viktor apresentando seu Programa Livre) — arte de @leblacknoir 

5. REUNIÃO COM FÃS NA SAÍDA DO ESTÁDIO — arte de @ssugar9005 (link direciona para o compartilhamento feito pela autora porque o blog do artista saiu do ar. Felizmente o print da autorização para uso da arte nesta tradução está salvo!!)

 

6. O MOMENTO QUE MUDOU NOSSA HISTÓRIA — arte de @sabribsarts 

 

7. DESTRUIÇÃO DOS PÔSTERES — arte de @leblacknoir 

 

∼ A Série RIVAIS

    Essa história é a Parte 1 da Rivals Series e está escrita inteiramente sob o ponto de vista de Yuuri Katsuki. A versão dos fatos sob o olhar do VIKTOR será apresentada na parte 2: Of Bright Stars and Burning Hearts. Haverá pelo menos mais uma terceira parte com cenas do futuro e pontos de vista de outros personagens.

    A série tem zilhões de Fanarts, que vão de desenhos e vídeos a playlists no Spotify.

 

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        Olá!!! Nós somos anabchamploni (Tumblr) e paty_potter (Tumblr).

       Reiya nos concedeu a grande honra de traduzir para PT-BR esta história que já é uma lenda do Fandom YOI internacional. Ela também está sendo traduzida para espanhol, chinês, russo, polonês, japonês e tailandês, além de ter uma versão em áudio (PODFIC).

       A fantástica Soriku6927 (Tumblr) é a nossa Beta oficial, responsável pela revisão gramatical. Essa fic é um monstrinho do tamanho de Harry Potter 7 e exige trabalho em equipe!

       Nós amamos essa história e prometemos dar o nosso melhor na tradução PT-BR.
   

       Até o próximo capítulo,

       Paty e Ana ♡♥♡♥♡♥♡

 

✧ Essa tradução chegou até você graças à iniciativa da Task Force Y!!!OI, conheça outros projetos em nossa coleção aqui no AO3 e também no Wattpad.