UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS
LAURA MARTINS LIMA
PROCESSO DE DIFUSÃO DA INOVAÇÃO: O ESTUDO DE UM PRODUTO
INOVADOR PARA O MERCADO FEMININO
Porto Alegre
2017
LAURA MARTINS LIMA
PROCESSO DE DIFUSÃO DA INOVAÇÃO: O ESTUDO DE UM PRODUTO
INOVADOR PARA O MERCADO FEMININO
Trabalho de conclusão de curso de
graduação, apresentado ao Departamento de
Ciências Administrativas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Administração.
Orientador: Profª Drª. Aurora Carneiro Zen
Porto Alegre
2017
CIP - Catalogação na Publicação
Lima, Laura Martins
O Processo de Difusão da Inovação: O Estudo de um
Produto Inovador para o Mercado Feminino / Laura
Martins Lima. -- 2017.
90 f.
Orientador: Aurora Carneiro Zen.
Trabalho de conclusão de curso (Graduação) -Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de
Ciências Administrativas, Curso de Administração, Porto
Alegre, BR-RS, 2017.
1. Adoção. 2.Difusão. 3. Inovação. 4. Mercado
Feminino. I. Zen, Aurora Carneiro, orient. II. Título.
Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da UFRGS com os dados
fornecidos pelo(a) autor(a).
LAURA MARTINS LIMA
PROCESSO DE DIFUSÃO DA INOVAÇÃO: O ESTUDO DE UM PRODUTO
INOVADOR PARA O MERCADO FEMININO
Trabalho de conclusão de curso de
graduação, apresentado ao Departamento de
Ciências Administrativas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Administração.
Aprovado em: Porto Alegre, 21 de Julho de 2017.
BANCA EXAMINADORA:
Profª Drª. Aurora Carneiro Zen - Orientadora
UFRGS
Profª. Drª. Daniela Callegaro de Menezes
UFRGS
Prof. Dr.
UFRGS
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, à Universidade Federal do Rio Grande do Sul pela
oportunidade de cursar o curso de Administração de Empresas e assim adquirir os
conhecimentos necessários para minha formação como Administradora. A todos os
professores de quem fui aluna e ao corpo docente como um todo, pelo grande
compartilhamento de experiências e aprendizados. Agradeço também aos funcionários da
Escola de Administração, que tanto auxiliam na rotina dos alunos e professores.
Agradeço, especialmente, à minha orientadora, a Professora Dra. Aurora Carneiro Zen,
que acompanhou desde o início a confecção deste trabalho. Agradeço por ter sido mais que
uma orientadora para mim, pois foi também minha professora em três disciplinas durante o
curso e grande incentivadora e peça-chave para a realização do meu intercâmbio acadêmico
em parceria com a UFRGS. Agradeço a ela pelo conhecimento transmitido, pela amizade que
tem com todos os seus alunos e por ser um motor essencial em busca da inovação,
empreendedorismo e novas oportunidades para a nossa Escola de Administração.
Agradeço a todos os colegas com quem tive a oportunidade de conviver e trocar
conhecimento, experiências e somar aprendizados. Agradeço em especial aos alunos que
fizeram e fazem parte da PS Júnior, empresa júnior responsável por grande parte do meu
desenvolvimento pessoal e profissional dentro da Escola de Administração e de tantos outros
alunos que por lá passaram e passarão – muita gratidão e orgulho por ter feito parte essa
empresa, “não passa nada!”.
Agradeço à minha família, que sempre me ofereceu suporte e incentivo incondicional
em todos os âmbitos, em especial na minha educação, proporcionando minha formação como
Administradora. Aos meus amigos, por todo o apoio e por compartilharem comigo os
momentos, fazendo deles mais leves e divertidos. Agradeço também ao meu namorado por
me motivar sempre na busca por novos conhecimentos e aprendizados.
Agradeço, por fim, a todas as pessoas que tornaram possível a realização desse
trabalho. Especialmente, às 26 entrevistadas que disponibilizaram seu tempo e
compartilharam suas opiniões para que as análises fossem possíveis.
“Não podemos prever o futuro, mas podemos
criá-lo.”
(Peter Drucker)
RESUMO
O tema inovação tem se tornado cada vez mais representativo nas organizações e na
sociedade de maneira geral. Deste modo, torna-se relevante analisar e compreender tal
fenômeno, bem como os fatores que influenciam na sua difusão e adoção e,
consequentemente, no seu sucesso. Este trabalho apresenta uma análise dos fatores de
influência na difusão de um produto inovador direcionado ao mercado feminino, o coletor
menstrual. Objetiva-se não só verificar quais são os fatores de influência na adoção de um
produto inovador para o mercado feminino, mas também entender de que modo cada um deles
interfere na adoção do produto. A pesquisa realizada é qualitativa, de caráter exploratório.
Foram analisados dois públicos diferentes, o de usuárias do produto objeto de análise e de não
usuárias do produto, a fim de captar os motivadores de adoção e as barreiras para adoção de
tal produto. Percebeu-se que existe uma convergência entre os fatores considerados
importantes por ambos os grupos, de usuárias e não usuárias do produto. Aponta-se, então, a
importância da geração de informação sobre os reais benefícios do produto e da criação de
uma relação de confiança entre o produto e o seu público-alvo, a fim de diminuir as barreiras
existentes para a adoção. Através dos resultados obtidos com o presente trabalho, pode-se
perceber que existem pessoas naturalmente mais dispostas que outras a adotar inovações.
Assim, aquelas acabam exercendo um forte papel de influência na difusão de novos produtos
no mercado, como foi percebido no caso do coletor menstrual.
Palavras-chave: Adoção. Difusão. Inovação. Mercado Feminino.
ABSTRACT
Innovation has become an increasingly representative subject in society. Therefore, it
becomes relevant to analyze and understand this phenomenon, as well as the factors that
influence its diffusion, its adoption and, consequently, its success. This paper presents an
analysis of the influencing factors in the diffusion of an innovative product directed to the
female market, the menstrual collector. It aims not only at verifying the factors that influence
the adoption of an innovative product for the female market, but also at understanding how
each of them interferes in its adoption. This research is qualitative, with an exploratory nature.
Two different audiences were analyzed, the users of the product under analysis and non-users
of the product, in order to capture the motivators and the barriers for adopting it. It was
noticed that there is a convergence between the factors considered important by both groups,
users and non-users of the product. It is highlighted, thus, the importance of generating
information about the real benefits of the product and creating a trustful relationship between
the product and its target audience in order to reduce existing adoption barriers. Through the
results obtained with the present work, one can perceive that there are people naturally more
willing to adopt innovations than others. Consequently, they end up having a strong
influencing role in the diffusion of new products in the market, as it was noticed in the case of
the menstrual collector.
Keywords: Adoption. Diffusion. Innovation. Female Market.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Scholarly Articles with “innovation” in the title .................................................... 14
Figura 2 – Representação Simplificada do Processo de Inovação .......................................... 15
Figura 3 – Modelo de Difusão Tecnológica ............................................................................ 20
Figura 4 – Publicidade Facebook ............................................................................................ 32
Figura 5 – Forma de Pagamento .............................................................................................. 41
Figura 6 – Comentário Usuária - Investimento ....................................................................... 44
Figura 7 – Comentário Usuária - Segurança ........................................................................... 46
Figura 8 – Comentário Usuária - Opinião ............................................................................... 50
Figura 9 – Publicidade Sustentabilidade ................................................................................. 59
Figura 10 – Conforto e Segurança ........................................................................................... 60
Figura 11 – Higienização......................................................................................................... 61
Gráfico 1 – Brasil: Valor de Vendas por Categoria: Proteção Sanitária 2014/2019 ............... 33
Gráfico 2 – Ranking de Importância de Fatores: Usuárias ...................................................... 56
Gráfico 3 – Ranking de Importância de Fatores: Não Usuárias .............................................. 63
Gráfico 4 – Comparativo de Importância de Fatores: Usuárias x Não Usuárias ..................... 65
Quadro 1 – Taxonomia das Mudanças Tecnológicas ............................................................. 19
Quadro 2 – Perfil das Entrevistadas ........................................................................................ 27
Quadro 3 – Análise dos Dados: Usuárias do Produto ............................................................. 29
Quadro 4 – Análise dos Dados: Não Usuárias do Produto ..................................................... 29
Quadro 5 – Comparativo de Desvantagens Percebidas no Produto ........................................ 64
Quadro 6 – Vantagens Percebidas: Usuárias........................................................................... 64
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................. 11
1.1.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 11
1.1.2 Objetivos Específicos ........................................................................................... 11
1.2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 13
2.1 INOVAÇÃO .................................................................................................................. 13
2.1.1 Processo de Inovação ........................................................................................... 14
2.1.2 Processo de Difusão e Adoção da Inovação ....................................................... 17
3 MÉTODO ............................................................................................................................. 24
3.1 COLETA DE DADOS................................................................................................... 25
3.1.1 Dados Secundários ............................................................................................... 25
3.1.2 Entrevistas em Profundidade .............................................................................. 26
3.1.3 Público-Alvo ......................................................................................................... 26
3.2 ANÁLISE DE DADOS ................................................................................................. 28
4 RESULTADOS .................................................................................................................... 31
4.1 O PRODUTO ................................................................................................................. 31
4.2 CONTEXTO DE MERCADO....................................................................................... 32
4.3 USUÁRIAS DO PRODUTO ......................................................................................... 38
4.3.1 Primeiro Contato com o Produto ....................................................................... 38
4.3.2 Decisão de Adoção ................................................................................................ 39
4.3.3 Dificuldades na Adoção ....................................................................................... 42
4.3.4 Opiniões Levadas em Consideração ................................................................... 45
4.3.5 Vantagens Percebidas .......................................................................................... 47
4.3.6 Desvantagens Percebidas ..................................................................................... 50
4.3.7 Difusão e Indicação do Produto .......................................................................... 52
4.3.8 Valores Pessoais .................................................................................................... 52
4.3.9 Contexto Social ..................................................................................................... 53
4.3.10 Contexto Ambiental ........................................................................................... 55
4.3.11 Ranking de Importância dos Fatores ............................................................... 56
4.4 NÃO USUÁRIAS DO PRODUTO ............................................................................... 57
4.4.1 Método que Utiliza e Vantagens Percebidas ...................................................... 57
4.4.2 Vantagens Percebidas no Coletor ....................................................................... 58
4.4.3 Desvantagens Percebidas no Coletor .................................................................. 60
4.4.4 Barreiras Percebidas para Adoção ..................................................................... 62
4.4.5 Ranking de Importância dos Fatores ................................................................. 62
4.5 ANÁLISE COMPARATIVA: USUÁRIAS E NÃO USUÁRIAS ................................ 63
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 67
5.1 OBJETIVOS .................................................................................................................. 67
5.2 CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO .......................................................................... 69
5.3 IMPLICAÇÕES PRÁTICAS ........................................................................................ 71
5.4 LIMITAÇÕES DO TRABALHO .................................................................................. 73
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 75
APÊNDICE A – Roteiro Entrevista Usuárias...................................................................... 78
APÊNDICE B – Roteiro Entrevista Não Usuárias .............................................................. 79
APÊNDICE C – Roteiro Entrevista Especialista de Mercado ........................................... 80
ANEXO A – Sobre o Produto/Marca ................................................................................... 81
ANEXO B – Vantagens do Produto ...................................................................................... 81
ANEXO C – Imagem Comparativa Coletor Menstrual X Absorvente Interno ............... 82
ANEXO D – Como Inserir o Coletor .................................................................................... 82
ANEXO E – Como Retirar e Higienizar .............................................................................. 83
ANEXO F – Esterilizador: Produto Complementar ........................................................... 83
ANEXO G – Publicidade/Comodidade ................................................................................ 84
ANEXO H – Publicidade/Meio Ambiente ............................................................................ 85
ANEXO I – Publicidade/Liberdade ...................................................................................... 86
ANEXO J – Publicidade/Custo-benefício ............................................................................. 87
ANEXO K – Informação/Contato ......................................................................................... 88
ANEXO L – Publicidade/Autonomia .................................................................................... 89
ANEXO M – Publicidade/Sustentabilidade ......................................................................... 90
ANEXO N – Informação/Contexto Social ............................................................................ 91
10
1.
INTRODUÇÃO
Na medida em que a competição se faz, cada vez mais, um fator existente na realidade
de qualquer segmento de mercado, a inovação se torna profundamente necessária do ponto de
vista organizacional, seja ela no âmbito de processos, produtos ou serviços. A inovação é um
fator de grande importância e tema de discussão proeminente nos mais diversos ambientes
empresariais.
Sendo assim, considera-se imprescindível encarar a inovação como algo vital para as
organizações, bem como compreender e gerenciar de forma eficiente o processo de inovação
em um negócio. A inovação é um processo, não um evento isolado, portanto, precisa ser
gerenciada, assim como as influências sobre esse processo podem ser manipuladas para afetar
o resultado (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).
No âmbito da gestão da inovação, considera-se muito importante abordar o processo
de difusão da inovação. Quando se opta por inovar, existe sempre um risco inerente,
entretanto, a expectativa de adoção da inovação faz com que valha a pena correr este risco. O
processo de difusão da inovação é que define o seu sucesso ou fracasso: quanto mais rápido
for o ritmo de difusão de uma inovação, maior será a velocidade de sua adoção e mais
rapidamente se dará o sucesso da mesma. O contrário também é verdadeiro, ou seja, caso
aconteça uma desaceleração no ritmo de difusão da inovação, é possível que esta venha a ser
um caso de insucesso.
Existem diversos elementos que podem ser influenciadores na adoção de uma
inovação, como as suas próprias características, as características do consumidor, a
complexidade de uso do produto ou serviço e etc. Dito isso, acredita-se que saber quais são os
principais fatores de influência no processo de difusão da inovação de cada segmento de
mercado pode ser crucial para o sucesso de um produto ou serviço inovador.
A fim de realizar uma análise prática dentro deste tema, optou-se por analisar o
processo de difusão da inovação de um produto inovador específico, voltado exclusivamente
ao mercado feminino: o coletor menstrual. O coletor menstrual, produto substituto aos
absorventes e tampões, é feito de silicone e utilizado de maneira interna, prometendo maior
conforto, higiene e sustentabilidade. Apesar de vir ganhando espaço no segmento de higiene e
saúde feminina, o produto ainda é visto, de certa forma, como um assunto tabu por parte de
seu público-alvo, como afirma uma potencial usuária em uma entrevista à revista Época
(BIGARELLI, 2015): “A maior barreira é a questão do tabu da menstruação e das pessoas
11
não conseguirem ficar em contato com seu corpo. Minha família acha um absurdo. A maior
resistência é isso”.
Considerado inovador frente às opções substitutas oferecidas, que mantêm os mesmos
padrões de produtos há décadas, e, ainda, uma alternativa mais sustentável, o coletor
menstrual será alvo de estudo do presente trabalho no que diz respeito ao seu processo de
difusão. Objetiva-se analisar a sua atual inserção no mercado e os fatores que definem a
aceleração ou a desaceleração do seu ritmo de difusão no segmento em questão, gerando o seu
sucesso ou insucesso perante o público feminino. Sendo assim, busca-se, por meio da análise
do caso do coletor menstrual, descobrir: 1) Quais são os principais fatores de influência na
adoção de um produto inovador voltado ao mercado feminino? 2) Como esses elementos
influenciam as consumidoras na adoção do coletor menstrual?
1.1
OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Analisar os fatores que influenciam as consumidoras na adoção do coletor menstrual.
1.1.2 Objetivos Específicos
I-
Descrever o processo de difusão do produto no mercado brasileiro e os
principais fatores de influência no processo;
II-
Analisar o segmento de mercado no qual o novo produto está inserido;
III-
Analisar a percepção das consumidoras em relação ao novo produto em
questão.
IV-
Identificar os fatores que influenciam na adoção de um produto inovador
voltado ao mercado feminino.
1.2
JUSTIFICATIVA
O tema inovação, por si só, possui alta relevância pela sua importância estratégica em
diversas realidades organizacionais. Tratando-se especificamente do processo de difusão da
inovação, percebe-se uma necessidade de abordagem ainda maior, pelo fato de ser um assunto
12
que ainda possui grande espaço para novas pesquisas e aprofundamento de estudos no
contexto dos países emergentes.
O público-alvo analisado no presente trabalho, mulheres brasileiras entre quinze e
quarenta e nove anos, aproximadamente 27,27% da população feminina do Brasil (IBGE,
2013), refere-se a um universo de cerca de 28.457.698 mulheres (IBGE, 2013). Sendo assim,
a pesquisa tem como objetivo contribuir para o maior entendimento do processo de adoção de
inovações para essa parcela etária do mercado feminino do Brasil, gerando, a partir dos
resultados alcançados, sugestões para atuação neste segmento.
O mercado em que o produto está inserido torna sua análise interessante, pois abrange
a indústria de higiene pessoal feminina. A indústria de Cosméticos e Higiene Pessoal, no
Brasil, alcançou uma taxa de crescimento de 12,4% ao ano no período entre 2008 e 2012, três
vezes superior à taxa de crescimento mundial do setor (PARAYIL, 2015).
Além disso, as características sustentáveis do produto abrem espaço para a
investigação da percepção do público-alvo acerca de alternativas de bens de consumo que
garantem uma maior sustentabilidade. Segundo a plataforma Euromonitor (UDUSLIVAIA,
2017), a marca de coletores menstruais Inciclo cresceu 600% desde 2014, incluindo novas
mulheres nesta fatia do mercado.
Sendo assim, o presente trabalho se torna válido, primeiramente, por explorar um tema
da Administração ainda não muito explorado no Brasil: o processo de difusão da inovação.
Em segundo, por explorar um público-alvo de importante participação no mercado brasileiro e
por analisar um produto com características diferenciadas e que está inserido em um mercado
de forte relevância econômica.
13
2.
REFERENCIAL TEÓRICO
O capítulo a seguir possui a finalidade de apresentar uma revisão da literatura que
sirva de alicerce para os conceitos e questões-chave do assunto abordado, visando embasar a
pesquisa e contextualizar o tema de estudo. Esta base teórica é essencial para que seja
fundamentada a importância da presente pesquisa e melhor entendida a problemática que esta
visa compreender. Através de materiais relevantes e legitimados na área abordada, busca-se
tornar o trabalho consistente e coeso, para que seus resultados possam ser utilizados
futuramente.
2.1.
INOVAÇÃO
Para dar início à abordagem teórica, é preciso começar com uma contextualização
acerca do fenômeno da inovação, de como ela acontece e é percebida na sociedade, e da sua
crescente e constante importância nas empresas e nos produtos e serviços que oferecem. “Não
inovar é morrer”, escreveu Christopher Freeman (1982 apud TROTT, 2012, p.4) em seu
famoso estudo da economia da inovação.
A inovação realmente faz uma grande diferença para empresas de todos os tipos e
tamanhos. A explicação é bastante simples: se não mudarmos o que oferecemos ao
mundo (bens e serviços) e como o criamos e ofertamos, corremos o risco de sermos
superados por outros que o façam. Em última instância, é uma questão de
sobrevivência (BESSANT; TIDD, 2009, p.20).
De acordo com Teece (1986 apud KRETZER; TOYAMA, 2008, p.181), “uma
inovação consiste de certo conhecimento técnico sobre como fazer as coisas melhor do que o
estado da arte existente”. Segundo Albagli (1999), existe a inovação radical e a inovação
incremental. A primeira tem relação com o desenvolvimento e introdução de novos produtos,
processos ou técnicas de produção, o que representa uma ruptura estrutural da tecnologia
existente e, também, redução de custos e melhoria da qualidade dos produtos. A segunda, por
sua vez, se refere às melhorias de produtos, processos ou da organização da produção dentro
de uma empresa, sem que seja necessário modificar a sua estrutura industrial.
Dosi (1988 apud KRETZER; TOYAMA, 2008, p.181) expõe que “inovações se
referem ao processo de busca, desenvolvimento, experimentação e à adoção de novos
produtos, novos processos e novos formatos organizacionais”. Rosenberg (1976 apud
KRETZER; TOYAMA, 2008, p.181) afirma que inovação, analisada pelo viés econômico,
14
não se trata de um ato único e bem definido, mas sim de um conjunto de atos muito unidos ao
processo inventivo.
Como mostra a Figura 1, o conceito inovação tornou-se mais estudado a partir de
1955, com participação crescente em artigos acadêmicos nas décadas subsequentes:
Figura 1 – Scholarly Articles with “innovation” in the title, 1955-2004
Fonte: Fagerberg, Mowery e Nelson (2005).
2.1.1. Processo de Inovação
Em torno da ideia de inovação, existem diversos teóricos que buscaram definir o
processo de inovação em palavras. Dentro da definição de inovação, é importante distinguir
os conceitos de invenção e inovação. Invenção é o primeiro acontecimento de uma ideia,
produto ou processo, enquanto inovação é a primeira tentativa de realizar isso na prática.
(ROGERS, 1995 apud FAGERBERG, MOWERY; NELSON, 2005, p.8).
De acordo com Rogers e Shoemaker (1971 apud TIGRE, 2014, p.72), a inovação é
definida como “uma ideia, uma prática ou um objeto percebido como novo pelo indivíduo”.
Assim, não necessariamente para algo ser considerado inovador deverá estar associado a
grandes avanços em termos de conhecimento científico ou tecnológico. Segundo estes
mesmos autores, muitos casos de inovação decorrem simplesmente da experimentação prática
ou de uma nova forma de combinação entre conhecimentos e tecnologias já existentes.
Segundo Bessant, Pavitt e Tidd (2008), inovação é um processo central dentro da
organização, que renova, recicla, cria e disponibiliza ofertas ao mercado. Associa-se à
sobrevivência e ao crescimento, e seu processo passa por três fases principais: procura
15
(análise do cenário), seleção e implementação. Na fase de implementação, é necessário dar
atenção à aquisição de conhecimentos, execução de projeto sob condições de
imprevisibilidade, lançamento da inovação no mercado e gerenciamento do seu processo
inicial de adoção, sustentabilidade da adoção e uso da inovação no longo prazo e
aprendizagem. A Figura 2 ilustra, resumidamente, esse processo:
Figura 2 – Representação Simplificada do Processo de Inovação
Fonte: Bessant, Pavitt e Tidd (2008).
Existem algumas variáveis a serem ponderadas para que o processo de inovação seja
bem sucedido. De acordo com Trott (2012, p.2):
Há um amplo espectro de investigação do modo como a inovação é administrada
dentro das organizações. Muitos de nós estamos bem cientes de que a boa tecnologia
pode ajudar as empresas a atingir vantagem competitiva e êxito financeiro de longo
prazo. No entanto, há uma abundância de novas e desafiadoras tecnologias no
mundo, e é a transformação dessas tecnologias em produtos que interessa, em
particular, às organizações. São inúmeros os fatores a serem considerados por elas
(TROTT, 2012, p.2).
Segundo Fagerberg, Mowery e Nelson (2005), os processos de inovação se diferem
em vários aspectos, de acordo com o setor econômico, área de conhecimento, tipo de
inovação, período histórico e país em questão. Tais autores pontuam que processos de
inovação também variam com o tamanho da empresa, com a estratégia organizacional e com a
sua experiência prévia com inovação. Em outras palavras, afirmam que processos de inovação
são “contingenciais”, sendo suas dificuldades agravadas pelo fato de não existir uma teoria
amplamente aceita de inovação a nível empresarial que integre suas dimensões cognitiva,
organizacional e econômica.
16
Visão de marketing ou habilidade para olhar para o futuro e visualizar produtos e
serviços que terão sucesso é fundamental para empresas que querem apostar na inovação.
Descobrir e satisfazer as necessidades dos consumidores é um papel importante do marketing,
e essas atividades alimentam o processo de desenvolvimento de novos produtos (TROTT,
2008).
Quase por definição, inovação aberta acontece através de alianças e ligações entre
empresas inovadoras e outras instituições. Analisando o contexto interorganizacional da
inovação aberta, nota-se que as empresas são estimuladas a colaborar entre si para
desenvolver, criar ou absorver novas tecnologias, vender novos produtos, ou apenas se manter
informada dos avanços e tendências tecnológicas (VANHAVERBEKE, 2006 apud PADULA;
DEWES, 2012, p.171).
Segundo a corrente neo-schumpeteriana, a geração de novos conhecimentos, que
podem ou não levar à criação de novas inovações, surge através da interação humana e resulta
de uma dinâmica sistêmica e não linear (CÁRIO; FURTADO; HAUEN, 2008). Um trecho
destes mesmos autores, publicado na Revista Brasileira de Inovação (2009) disserta sobre
essas interações:
Na medida em que existe intensa interação entre a firma inovadora e o meio no qual
ela está inserida, o processo de geração, difusão e uso de novos conhecimentos,
produtos ou serviços deve ser analisado sob uma perspectiva sistêmica, cujas
fronteiras de análise sejam traçadas em razão da pertinência das relações inerentes a
esse sistema (CÁRIO; FURTADO; HAUEN, 2008, p. 441).
“A inovação, portanto, é entendida como um constante processo de aprendizado
interativo, socialmente e territorialmente enraizado, sendo também culturalmente e
institucionalmente contextualizado” (COENEN; MOODYSON; ASHEIM, 2004 apud
CÁRIO; FURTADO; HAUEN, 2008, p. 441). Uma tecnologia ou o conhecimento que ela
carrega quase nunca é incorporado somente na infraestrutura institucional de uma só nação ou
região. Especialmente na sociedade moderna, a base de conhecimento relevante da maioria
das tecnologias se origina de várias áreas geográficas ao redor do mundo (HEKKERT et al.,
2007). A inovação surge de relações socialmente construídas, não resultando somente de
esforços individuais em um ambiente econômico específico (DOSI, 1982 apud CÁRIO;
FURTADO; HAUEN, 2008, p.441).
17
2.1.2. Processo de Difusão e Adoção da Inovação
De acordo com as teorias da inovação, uma inovação é uma ideia, prática ou objeto
que é percebido como novo por um indivíduo ou grupo. A difusão pode ser definida como “o
processo pelo qual uma inovação é comunicada através de certos canais, através do tempo,
entre os membros de um sistema social” (ROGERS, 1971).
Segundo Trott (2008), a adoção de uma inovação é uma parte do amplo processo de
inovação, sendo o processo pelo qual indivíduos passam do desconhecimento à decisão final
de adotar ou não um produto. Estudiosos da área da Inovação vêm de diferentes disciplinas,
incluindo Economia, Sociologia, História da Tecnologia e Gestão. Dentro desse amplo corpo
da literatura, existem variações a respeito dos fatores-chave e mecanismos que influenciam na
adoção ou não de uma inovação e, caso seja adotada, a velocidade e o padrão da adoção
(NELSON; PETERHANSL; SAMPAT, 2004). Segundo Bessant e Tidd (2009), existe certa
falta de clareza na distinção entre “adoção”, “implementação” e “utilização”. Para esses
autores, “a adoção é, geralmente, considerada como a decisão de adquirir algo, enquanto a
implementação e a utilização implicam alguma ação e adaptação” (BESSANT; TIDD, 2009).
Existem diferentes formas de resposta para diferentes tipos de inovação. É por isso que
o papel do marketing tem tanto valor para empresas que estão desenvolvendo novos produtos
(TROTT, 2008). Segundo Tigre (2014), inovação e difusão andam juntas, pois, através da
difusão de um produto no mercado, podem ser reveladas falhas que poderão ser corrigidas em
novas versões deste produto, gerando novamente a inovação.
Segundo Bessant e Tidd (2009), podem existir barreiras para que haja a ampla adoção
de inovações tecnológicas, mesmo havendo demonstração de demanda para tais. De acordo
com os autores, as barreiras podem ser econômicas (relacionadas a custo versus benefícios,
acesso à informação e falta de incentivos), comportamentais (relacionadas a motivações,
prioridades, riscos e capacidade de mudança), organizacionais (relacionadas a metas, poder de
influência, cultura e etc.) e estruturais (relacionadas aos custos perdidos, infraestrutura e
governança).
Conforme afirmam Fagerberg, Mowery e Nelson (2005), sem difusão, as inovações
teriam pequeno impacto social e econômico. No estudo da inovação, a palavra difusão é
normalmente utilizada para descrever o processo pelo qual indivíduos e empresas em uma
sociedade/economia adotam uma nova tecnologia ou substituem uma tecnologia antiga por
uma nova. Na visão de Fagerberg, Mowery e Nelson (2005), entretanto, a difusão não é
apenas os meios pelos quais as inovações se tornam úteis por serem disseminadas pela
18
população, é também uma parte intrínseca do processo de inovação, como aprendizado,
imitação e feedbacks, que surgem durante a propagação de uma nova tecnologia e melhoram a
inovação original.
Teorias de difusão da inovação normalmente incluem fatores psicológicos ou pessoais,
percepções da tecnologia, comunicação e atributos sociodemográficos no processo de difusão
ou adoção. A difusão é essencialmente a disposição do consumidor para abraçar a mudança,
mas a mudança pode ser simples ou complexa. Isso varia de uma mudança na percepção do
produto a uma mudança significativa de comportamento necessária para utilizar um produto
(TROTT, 2008).
Segundo Rogers (1971), pesquisas consistentes sobre difusão da inovação mostram
que a realidade socioeconômica do indivíduo possui forte relação com o seu nível de contato
agente de mudança. Ambos são, por sua vez, fortemente relacionados com o seu nível de
inovação (ROGERS, 1971).
Segundo Fagerberg, Mowery e Nelson (2005) os fatores que possivelmente
influenciam a difusão da inovação podem ser divididos em quatro principais grupos: aqueles
que afetam os benefícios recebidos, aqueles que afetam os custos de adoção, aqueles
relacionados com a indústria ou o ambiente social e aqueles relacionados à incerteza e a
problemas de informação.
De acordo com o Manual de Oslo (1997), para um produto ser considerado
tecnologicamente novo, suas características ou usos pretendidos devem diferir das
características ou usos pretendidos dos produtos produzidos anteriormente. Para Tigre (2014),
há, então, uma necessidade de aperfeiçoamento das características anteriores e melhora de
desempenho através de novas matérias-primas e componentes de maior rendimento – nas
quais não estão incluídas mudanças meramente estéticas ou de estilo.
Outro fator importante é a capacidade de adaptação de uma inovação de acordo com
os contextos ambientais e culturais de mercado. Segundo Tigre (2014), para o sucesso da
difusão de uma nova tecnologia, é fundamental que sejam feitas as adaptações e
aperfeiçoamentos necessários de acordo com o setor ou país em que será comercializado.
Freeman (1997 apud TIGRE, 2014, p. 74) classifica os diferentes tipos de inovação
observados em quatro principais grupos, de acordo com seu nível de mudança. O primeiro
deles, a mudança incremental, sugere melhorias feitas em design, qualidade, layout,
processos, logística e práticas relacionadas a suprimentos e vendas. A mudança é considerada
radical quando inaugura uma nova rota tecnológica, geralmente através de avanços em
Pesquisa e Desenvolvimento, trazendo um salto de produtividade. O estágio seguinte, de
19
mudanças no sistema tecnológico, trata-se da transformação de um setor ou grupo de setores
através da emergência de um novo campo tecnológico, criando mudanças tanto no interior da
firma quanto em sua relação com o mercado – a internet pode ser considerada um bom
exemplo neste caso. E, por fim, as mudanças no paradigma técnico-econômico sugerem
mudanças não só no campo tecnológico, mas também no ambiente social e econômico em que
a inovação está inserida, sendo o mais complexo dos quatro tipos de inovação descritos por
Freeman. O Quadro 1 sintetiza a definição dos quatro tipos de inovação observados por
Freeman:
Quadro 1 - Taxonomia das Mudanças Tecnológicas
Tipo de Mudança
Característica
Incremental
Melhoramentos e modificações cotidianas.
Radical
Saltos descontínuos na tecnologia de produtos e
processos.
Novo Sistema
Mudanças abrangentes que afetam mais de um setor e dão
Tecnológico
origem a novas atividades econômicas.
Mudanças que afetam toda a economia envolvendo
Novo Paradigma
mudanças técnicas e organizacionais, alterando produtos e
Tecnoeconômico
processos, criando novas indústrias e estabelecendo
trajetórias de inovações por várias décadas.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Freeman (1997 apud Tigre, 2014, p. 74).
De acordo com o pensamento de Tigre (2014), pautado na literatura de Organização
Industrial, os fatores indutivos para a ocorrência de uma mudança tecnológica são as
necessidades dos consumidores (demanda) e os avanços tecnológicos. Na prática, porém,
torna-se difícil distinguir esses fatores, geralmente existe uma combinação de ambos.
Fransman (1986 apud TIGRE, 2014, p.77) aponta que a oferta de novos conhecimentos induz
ao desenvolvimento de inovações, que terão sua difusão determinada pela demanda.
A dinâmica de difusão de uma inovação, segundo Tigre (2014), é a trajetória de
adoção de uma tecnologia, focada nos elementos tecnológicos que definem seu ritmo e
direção. O autor descreve quatro dimensões para análise do processo de difusão da inovação:
trajetória tecnológica (referente a questões técnicas, como material e processo de fabricação
utilizados), ritmo (o que mede a velocidade de adoção da inovação pela sociedade, em um
espaço de tempo e em um universo de potenciais usuários), fatores condicionantes (positivos,
20
estimulando a adoção da inovação ou negativos, restringindo seu uso) e impactos causados a
partir de uma inovação (que poderão ser de ordem econômica, social e ambiental).
O modelo proposto por Mansfield (1961 apud TIGRE, 2014, p.79) tem como hipótese
básica o fato de que o ritmo de adoção de uma nova tecnologia pelas empresas depende do
número de empresas que já a adotaram e do número de empresas com potencial para
adotarem-na. A Figura 3 ilustra a visão de Tigre (2014) a respeito das fases de difusão de uma
tecnologia.
Figura 3 – Modelo de Difusão Tecnológica
Fonte: Tigre (2014).
Segundo Tigre (2014), o modelo genérico que descreve a trajetória de uma inovação
pode ser associado ao conceito de ciclo de vida, assim como biologicamente para os seresvivos. A primeira fase, introdução, trata-se de um momento de incerteza, em que poucas
empresas utilizam a inovação. Conforme é percebido seu sucesso e ocorrem melhorias na
tecnologia, inicia-se a fase de crescimento, em que surgem mais adeptos. A fase seguinte, de
maturação, se dá com a aceleração da difusão como consequência das melhorias e
investimentos para aumentar a escala. Por fim, na fase de declínio, alguns dos usuários
deixam de usar o produto por causa do surgimento de outras inovações.
A respeito dos fatores condicionantes no processo de difusão de inovação, que podem
ser tanto positivos quanto negativos para o processo, Tigre (2014) aponta que existem fatores
de ordem técnica, econômica e institucional. Segundo o autor, os condicionantes técnicos
estão vinculados ao grau de complexidade da inovação e necessidade de adquirir novos
conhecimentos para utilizá-la e os condicionantes econômicos se referem ao custo de
21
investimento, implantação e manutenção da tecnologia. Os fatores condicionantes
institucionais, por sua vez, têm relação com questões mais amplas como governo, relações
internacionais, religião, cultura e regime jurídico, por exemplo.
Ainda sob a perspectiva de Tigre (2014), outro fator de análise da difusão da inovação
são os impactos causados pela inovação tecnológica. Os impactos econômicos podem ocorrer
de forma a destruir ou criar empresas, setores e mercados, aumentar a competitividade entre
empresas e modificar a estrutura industrial. Sobre o aspecto social, o impacto das inovações
se dá principalmente no que se refere aos empregos – pois novas tecnologias requerem
diferentes qualificações dos trabalhadores. O impacto ambiental, no que lhe diz respeito,
influencia a difusão da inovação em virtude da preocupação crescente da sociedade com
práticas de preservação do meio-ambiente e de sustentabilidade.
A progressão do conhecimento inicial sobre uma inovação para a confirmação da
decisão de adoção é o processo inovação-decisão. Neste processo que são encontradas as
cinco características da inovação que afetam a decisão de inovação, sendo elas: vantagem
relativa, compatibilidade, complexidade, tentativa e observação (ROGERS, 2003 apud
CEGIELSKI et al., 2014, p.621).
Na análise de Bessant e Tidd (2009), existem muitas variáveis que podem influenciar
no processo de difusão de uma inovação, entretanto, essas variáveis podem ser divididas em
três principais grupos: características da inovação (como vantagens relativas, complexidade,
capacidade de experimentação e visibilidade), características dos adotantes individuais (como
sexo, idade, status social) e características do ambiente (como fatores econômicos e políticos).
Analisando a visão de Bessant e Tidd (2009) a respeito dos fatores que influenciam no
processo de difusão, é importante dar enfoque para as características da inovação. Segundo os
autores, a “vantagem relativa” refere-se ao quão melhor a inovação é percebida perante o
produto anterior ou aos produtos concorrentes, podendo ser mensurada através de termos
econômicos e não econômicos (como satisfação e prestígio social). Teoricamente, quanto
maior for a vantagem relativa percebida, mais rápida deverá ser a taxa de adoção da inovação.
A vantagem relativa, porém, poderá ser distinta de um adotante para outro, dependendo de
suas percepções e do contexto em que se inserem.
O fator “compatibilidade”, conforme sugerem Bessant e Tidd (2009), é o quanto a
inovação se encaixa em termos de necessidades, valores e experiência dos potenciais
adotantes. Dentro do fator compatibilidade, existem dois aspectos a serem considerados:
habilidades e práticas existentes e valores e normas, sendo a adequação da inovação aos
22
valores e normas considerada mais essencial que às habilidades, apesar de ambos serem
importantes.
Dentro do aspecto “complexidade”, Bessant e Tidd (2009) analisam o grau de
dificuldade de compreensão ou utilização de uma inovação. Quanto mais simples for a
inovação, mais facilmente ela será entendida e adotada, e o oposto acontecerá com aquelas
que exigem dos adotantes novas habilidades e conhecimentos. A disponibilidade de
informação, assistência técnica e manutenção, usuários treinados e inovações complementares
são muito importantes na tarefa de facilitar a adoção de um produto complexo.
Bessant e Tidd (2009) também consideram fundamental a “capacidade de
experimentação” que uma inovação possui. Inovações que podem ser testadas antes de
adquiridas, naturalmente, trazem menos incertezas aos potenciais adotantes, permitindo o
aprendizado na prática. A “visibilidade”, por sua vez, é o grau em que os resultados de uma
inovação são notados por outros. Bessant e Tidd (2009) sugerem que, quanto mais benefícios
percebidos pelos outros em uma inovação, maior será a sua probabilidade de adoção. Quando
usuários de uma inovação entram em contato com potenciais adotantes, as inovações se
difundem, segundo o modelo epidêmico simples de inovação (BESSANT; TIDD, 2009).
Várias inovações requerem um longo período, muitas vezes alguns anos, desde quando
se tornam disponíveis até quando são amplamente adotadas. Talvez a decisão mais crucial em
todo o processo de desenvolvimento de uma inovação seja a decisão de começar a propaga-la
para potenciais adotantes (ROGERS, 1971). Drucker (2002) afirma que, para ser eficaz, uma
inovação tem que ser simples, e tem que ter foco. Deve ser focada em realizar apenas uma
função, se não, confunde as pessoas.
O marketing pode prover as informações necessárias e o conhecimento requerido pela
a empresa para garantir o sucesso do desenvolvimento, da aceitação e da difusão de novos
produtos (TROTT, 2008). Segundo Trott (2008), um produto pode ser familiar ou novo pela
forma como ele requer que os usuários interajam com ele. Padrão de consumo se refere ao
grau de mudança necessário no pensamento e no comportamento do consumidor para usar o
produto (TROTT, 2008).
Produtos que envolvem mudança dos padrões de consumo podem requerer que os
consumidores alterem seus pensamentos e hábitos, e isso pode afetar a sua disposição para
adotar o produto (VERYZER, 2003 apud TROTT, 2012, p.59). Demograficamente falando,
os primeiros adotantes de inovações são possivelmente pessoas mais novas, bem sucedidas e
educadas. Considerando características pessoais, gostam mais de correr riscos e têm mais
percepções positivas sobre tecnologia em geral (TROTT, 2008).
23
De acordo com Nelson, Peterhansl e Sampat (2004), não há razão para acreditar que os
valores, critérios, processos e grupos de interesse que determinam a aceitação ou rejeição de
novas práticas religiosas, moda, tratamentos médicos, características de design de produto,
práticas agrícolas e métodos de gestão são os mesmos. Pode-se entender, então, que os fatores
de influência na adoção ou rejeição de um produto devem variar de acordo com a finalidade e
categoria do produto.
24
3.
MÉTODO
O presente capítulo objetiva explicar qual foi o método e quais foram as principais
ferramentas utilizadas para a realização da pesquisa, tanto para o levantamento dos dados
quanto para a análise dos mesmos. Ressalta-se que a definição do método de forma assertiva
foi determinante para o atingimento dos objetivos propostos pelo trabalho.
A pesquisa é um trabalho em processo não totalmente controlável ou previsível.
Adotar uma metodologia significa escolher um caminho, um percurso global do
espírito. O percurso, muitas vezes, requer ser reinventado a cada etapa. Precisamos,
então, não somente de regras e sim de muita criatividade e imaginação (MENEZES;
SILVA, 2005, p. 09).
O tipo de pesquisa utilizado no presente trabalho foi de natureza exploratória, visto
que essa se destina a investigar uma situação e trabalhar os dados de uma forma ampla,
entendendo os critérios do processo, porém, sem necessariamente medir o grau de ocorrência
de cada um.
Segundo Gil (2002), a pesquisa exploratória visa proporcionar maior
familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses.
A análise qualitativa, uma vez que não possui uma estrutura rígida, acaba permitindo
que os investigadores utilizem mais a criatividade e sugiram trabalhos com novos enfoques
(GODOY, 1995). Ainda, segundo Menezes e Silva (2005), esse tipo de análise não requer o
uso ferramentas estatísticas, pois o ambiente natural é onde os dados são coletados e o
pesquisador é o instrumento-chave para realização de tal coleta.
Para o estudo em questão, priorizou-se a pesquisa de caráter exploratório por diversos
fatores, entre eles, o fato de tratar-se de um estudo referente a um produto inovador
específico, que ainda não possui ampla visão no mercado ou vários anos de existência.
Acredita-se, então, que a compreensão das diferentes percepções das usuárias no que diz
respeito à adoção ou não do produto é mais importante do que resultados quantitativos acerca
do tema.
A pesquisa qualitativa fornece critérios e compreensão, enquanto a quantitativa tem o
objetivo de testar as hipóteses levantadas. Além disso, na qualitativa, o processo de pesquisa
acaba sendo mais flexível e não estruturado, enquanto na quantitativa há uma maior
estruturação do questionário e uma amostra mais representativa, que permite tomadas de
decisão mais assertivas. Sendo o objetivo do presente trabalho somente o de compreender
quais os fatores levados em consideração pelo público-alvo e como eles influenciam no
25
processo de difusão de inovação do produto em questão, sem testar ou provar qual o mais
representativo deles, optou-se pelo método qualitativo de pesquisa.
De acordo com Menezes e Silva (2005), a pesquisa qualitativa considera a existência
de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito estudado, não sendo possível dissociar
o vínculo entre o mundo objetivo e a subjetividade do que não pode ser traduzido em
números. Assim, saber interpretar fenômenos e atribuir significados são tarefas básicas no
processo de pesquisa qualitativa.
Existem diversas formas de realizar uma análise qualitativa, pois, segundo Gibbs
(2009), ela parte da ideia de que os métodos e a teoria devem ser adequados ao estudo e, caso
os métodos não se ajustem a uma determinada questão, eles serão adaptados ou novos
métodos e abordagens serão desenvolvidos. Algumas formas de realizar uma análise
qualitativa, como exemplifica Gibbs (2009), são: entrevistas individuais ou em grupo, grupos
focais, diários, fotografias, vídeos, páginas na internet, entre outros. Para o presente trabalho,
escolheu-se trabalhar com entrevistas individuais em profundidade, buscando compreender
intimamente os fatores de influência no processo de difusão da inovação em questão.
3.1.
COLETA DE DADOS
A coleta de dados do presente trabalho foi dividida em duas etapas principais: uma
etapa mais breve, de contextualização, em que foram utilizados dados secundários,
informações acerca do tema já existentes no mercado; e uma etapa mais longa, em que foram
gerados dados primários a respeito do tema a partir das análises das entrevistas realizadas.
3.1.1 Dados Secundários
Primeiramente, antes de ser iniciado o contato com as consumidoras do produto,
considerou-se relevante e crucial para o desenvolvimento da pesquisa que se realizasse uma
etapa de análise do mercado através de dados secundários – dados já existentes acerca do
tema estudado. Como o tema do trabalho refere-se a um produto inovador para o segmento de
público feminino, entendeu-se que era necessário buscar informações a respeito do tamanho
do mercado em que o produto está inserido, de notícias e conteúdos existentes e sobre o
produto, de possíveis produtos concorrentes e etc.
26
A busca de dados do mercado sobre o segmento em que o produto está inserido foi
realizada com a obtenção de informações do produto através da internet, especialmente
conteúdos gerados pelas marcas fabricantes do produto, bem como de blogs de conteúdo
destinado a mulheres em geral. Além disso, foi realizada uma entrevista em profundidade com
uma especialista do mercado de saúde e higiene, profissional de uma grande empresa do setor,
que trabalha diretamente focada em questões de Marketing para produtos da marca como os
absorventes internos e externos (concorrentes do produto analisado). Esses dados serviram de
base para direcionar as etapas seguintes.
3.1.2 Entrevistas em Profundidade
Com base nas informações colhidas na pesquisa de dados secundários, foi mais bem
delimitado o público-alvo da pesquisa e, a partir disso, foram realizadas entrevistas em
profundidade com o público, visando identificar sua percepção em relação ao tema e produto
estudados no presente trabalho. Estas entrevistas em profundidade tiveram caráter
exploratório, pois visaram aprofundar ao máximo as percepções trazidas pelas entrevistadas.
Nesta etapa, foi utilizado um roteiro semiestruturado, no qual foram definidas
perguntas guia para a realização da entrevista, mas que, ao longo das conversas, quando
necessário, foram adaptadas, redirecionadas e aprofundadas em algum ponto, conforme a
situação. Foram realizadas entrevistas com 26 mulheres, 16 usuárias e 10 não usuárias do
produto, até que fosse constatado o atingimento do nível de saturação total das informações
trazidas. É importante mencionar que foram feitos dois roteiros distintos, um para as usuárias
e outro para as não usuárias do produto. As entrevistas foram gravadas e, posteriormente,
transcritas, para garantir que nenhuma informação relevante pudesse ser perdida.
3.1.3 Público-Alvo
Para definir o público-alvo para a coleta de dados, foram levadas em consideração
informações obtidas, através de dados secundários, a respeito das potenciais consumidares do
produto analisado. Primeiramente, foi delimitada a fatia do público com possibilidade para
utilização do produto: mulheres biologicamente jovens, que ainda enfrentam períodos
menstruais. Dentro desse público, optou-se, primeiramente, por escolher mulheres que já
haviam adotado o produto – que compraram e utilizam ou que compraram e por alguma razão
27
deixaram de utilizar o coletor menstrual. O objetivo com essa escolha foi captar dados
concretos de motivadores de adoção do produto inovador em questão.
Explorando pontos com usuárias atuais do produto, foi possível entender os reais
influenciadores em sua adoção. Já, com adotantes que realizaram a compra, utilizaram e, por
algum motivo, deixaram de utilizar o produto, buscou-se entender qual o motivo de abandono
da inovação. Além disso, foram realizadas entrevistas com não adotantes do produto, para
entender quais foram as barreiras percebidas para a adoção da inovação.
O atributo preço do produto também foi importante para delimitação do público a ser
entrevistado, pois o produto requer um investimento inicial considerado alto, se comparado
com tecnologias anteriores. Sendo assim, foram entrevistadas jovens das classes “A” e “B”.
Trott (2008) explica que os primeiros adotantes de inovações, geralmente, são pessoas mais
jovens, com acesso à educação e um padrão mais alto de qualidade de vida, estando mais
dispostos a tomar riscos. O público delimitado para a fase de entrevistas, no presente trabalho,
reflete esta afirmação: mulheres jovens, com idade entre 22 e 41 anos, dispostas a apostar em
produtos não tradicionais e com poder aquisitivo significativo.
Quadro 2 – Perfil das Entrevistadas
Entrevistada
Idade
1
23 anos
Renda
(salários
mínimos em
reais)
De 10 a 20
2
23 anos
Mais de 20
Arquiteta
Superior Completo
3
22 anos
Mais de 20
Estagiária
Superior Incompleto
4
23 anos
Mais de 20
Estagiária
Superior Incompleto
Sim
Não
mais
Sim
5
24 anos
De 10 a 20
Administradora
Superior Completo
Sim
6
24 anos
De 10 a 20
Eng. de Produção
Superior Completo
Sim
7
24 anos
Mais de 20
Estudante de Medicina
Superior Incompleto
8
25 anos
De 4 a 10
Analista de RH
Superior Completo
9
22 anos
De 10 a 20
Estudante de Medicina
Superior Incompleto
10
27 anos
Mais de 20
Superior Completo
11
22 anos
Mais de 20
Superior Incompleto
Sim
12
23 anos
De 10 a 20
Analista de Marketing
Estudante de
Administração
Estudante de Medicina
Sim
Não
mais
Não
mais
Sim
Superior Incompleto
Sim
13
24 anos
De 10 a 20
Psicóloga
Superior Completo
Sim
14
23 anos
De 10 a 20
Advogada
Superior Completo
Sim
Profissão
Escolaridade
Usuária
Analista de Marketing
Superior Completo
Sim
28
Estudante de Medicina
Ensino Médio
Completo
Pós Graduação
Completa
Superior Incompleto
Não
De 10 a 20
Trainee
Superior Completo
Não
27 anos
De 10 a 20
Trainee
Superior Completo
Não
20
26 anos
Mais de 20
Gerente de Varejo
Superior Completo
Não
21
22 anos
De 4 a 10
Estudante de Medicina
Superior Incompleto
Não
22
23 anos
De 10 a 20
Advogada
Superior Completo
Não
23
24 anos
De 4 a 10
Publicitária
Superior Completo
Não
24
24 anos
De 10 a 20
Superior Incompleto
Não
25
25 anos
De 10 a 20
Superior Incompleto
Não
26
26 anos
De 4 a 10
Estudante de Psicologia
Estudante de
Administração
Estudante de Eng.
Ambiental
Superior Incompleto
Não
15
41 anos
De 10 a 20
Prof. de Educação Física
16
39 anos
De 4 a 10
Enfermeira/Obstetra
17
24 anos
De 10 a 20
18
26 anos
19
Sim
Sim
Fonte: Elaborado pela autora.
3.2.
ANÁLISE DOS DADOS
Os dados coletados nas etapas anteriores foram analisados de forma que fosse possível
compará-los, evidenciando convergências e divergências entre os relatos das entrevistadas.
Para tal análise e comparação, as respostas foram organizadas em uma planilha no software
Microsoft Excel, de acordo com as perguntas do roteiro.
Foram considerados na etapa de análise de dados os fatores relevantes no processo de
difusão da inovação do produto em questão (coletor menstrual), buscando entender quais são
eles e como cada entrevistada os descreveria. Objetivou-se entender quais deles são realmente
determinantes na tomada de decisão de adotar ou não adotar este tipo de produto e as razões
para tal.
Após a análise dos relatos das usuárias e das não usuárias do produto de forma
separada, foi feita uma comparação entre as respostas dos dois grupos, a fim de entender se as
opiniões e experiências das usuárias com relação ao produto convergiam ou não com a
percepção que as não usuárias possuem a respeito dele. Para obter uma análise mais concreta,
foi utilizado o ranking de importância dos fatores de influência definido por cada um dos
grupos. O ranking foi estabelecido a partir do cálculo da mediana das respostas e exibido em
forma de gráfico, em ordem decrescente de valores. Para fins de comparação, foram
sobrepostos os gráficos referentes aos rankings dos dois grupos.
29
Optou-se por utilizar o cálculo da mediana em função do pequeno número de
respostas e entrevistas da presente pesquisa. O teste da mediana é um procedimento para
testar se dois grupos independentes diferem nas tendências centrais (SIEGEL, 2006). Segundo
o mesmo autor, “o teste da mediana dará informações sobre se é provável que dois grupos
independentes (não necessariamente de mesmo tamanho) tenham sido extraídos de
populações com a mesma mediana” (SIEGEL, 2006, p.148). Siegel (2006, p.148) afirma que
“o teste pode ser usado sempre que os escores para os dois grupos são medidos pelo menos
em uma escala ordinal”.
Os Quadros 3 e 4 se referem ao modelo adotado para organização das informações
transcritas das entrevistas no Microsoft Excel. Os tópicos para análise foram divididos de
acordo com as perguntas dos roteiros elaborados para cada um dos públicos. Como os roteiros
utilizados diferiam entre si (sendo o roteiro das usuárias do produto mais extenso), os tópicos
para análise das entrevistas de usuárias e não usuárias também se diferenciaram.
Quadro 3 – Análise dos Dados: Usuárias do Produto
Entrevistada
1
Entrevistada
2
Entrevistada
3
...
Como soube do produto?
Como decidiu comprar?
Dificuldades na adoção
Opiniões/Contato prévio
Benefícios/Vantagens Percebidas
Desvantagens Percebidas
Com quem comentou/para quem
indicou?
Contexto Social
Valores
Contexto Ambiental
Ranking de Importância
Fonte: Elaborado pela autora.
Quadro 4 – Análise dos Dados: Não Usuárias do Produto
Entrevistada
1
Produto que utiliza/Benefícios
percebidos
Benefício percebido no coletor
Desvantagem percebida no coletor
Por que não adotou o produto?
Entrevistada
2
Entrevistada
3
...
30
Ranking de Importância
Fonte: Elaborado pela autora.
31
4.
RESULTADOS
4.1.
O PRODUTO
O coletor menstrual é uma estrutura feita de silicone medicinal maleável em forma de
taça de, em média, 7 centímetros de altura e 4 centímetros de diâmetro, que se encaixa abaixo
do útero para coletar o sangue menstrual. (AZZELLINI et al., 2015). Segundo esses autores,
para sua utilização, a mulher introduz o produto em seu canal vaginal e o mesmo pode ser
utilizado por um período de até doze horas, quando inserido da forma correta, sem correr o
risco de eventuais vazamentos, pois o produto cria um vácuo que garante a segurança do
fluxo. Os autores explicam que, na hora de retirar o coletor, a usuária pode descartar o
conteúdo coletado em vaso sanitário, ralo de pia ou chuveiro e que, nesta hora, ocorre o
contato visual com o sangue menstrual. Esse fato dá à mulher, então, a oportunidade de
analisar a aparência, cor, quantidade, odor e textura de sua menstruação, diferentemente dos
absorventes, que acabam absorvendo o sangue e alterando suas características devido ao
contato com o algodão e com o ar (modificando a cor e intensificando o odor).
O coletor menstrual tem a capacidade para até 30 ml de líquido, mas muitos relatos
nas redes sociais - especialmente em grupos exclusivos para usuárias de coletores
menstruais - dizem que, mesmo depois de seguidas horas de uso, dificilmente essa
capacidade total do coletor é utilizada. (AZZELLINI et al., 2015, p.11)
De acordo com as mulheres que compartilham dessa prática, a utilização desse coletor
é mais higiênica, já que faz com que o sangue não entre em contato com o suor e com
bactérias externas (OLIVEIRA, 2014). Também segundo Oliveira (2014), a utilização do
coletor resulta em um período mais satisfatório, pois se tem um sangue muito mais limpo e
com um cheiro não desagradável.
Em Março de 2017, o produto foi regularizado pela ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária). Segundo nota publicada no website da agência (ANVISA, 2017), os
materiais utilizados no produto devem ser atóxicos e adequados para uso, isentos de
ingredientes como fragrâncias e inibidores de odores. Além disso, no rótulo dos produtos
deverão constar as instruções que orientem as usuárias sobre a Síndrome do Choque Tóxico e
a frequência indicada para remoção do produto e descarte do conteúdo menstrual.
Segundo matéria publicada pela Revista Época (BIGARELLI, 2015), seja por
considerar os absorventes não sustentáveis, caros ou desconfortáveis, muitas mulheres têm
32
optado pelo coletor menstrual. A Inciclo, por exemplo, fabricante nacional do coletor, disse
ter contabilizado um crescimento de 938% nas vendas do produto nos últimos doze meses.
(BIGARELLI, 2015). O produto pode ser encontrado, além de em lojas virtuais, em farmácias
especializadas e em lojas de produtos naturais e antialérgicos.
A Figura 4 ressalta o fato das tecnologias anteriores serem muito antigas e provoca a
contínua utilização de tais métodos. A publicidade exposta, retirada do Facebook de uma das
marcas fabricantes do produto (INCICLO, 2017b), promove o coletor menstrual pelo fato de
ser um produto mais evoluído e moderno.
Figura 4 – Publicidade Facebook
Fonte: Inciclo (2017b).
4.2.
CONTEXTO DE MERCADO
A fim de obter uma contextualização clara a respeito do mercado em que o produto
inovador está inserido, buscou-se pesquisar dados secundários gerais de mercado e conversar
com uma especialista do setor em questão para gerar mais embasamento e conhecimento do
mercado a ser analisado. Segundo dados da plataforma Euromonitor (PARAYIL, 2015),
33
apesar as dificuldades econômicas e declínio da confiança dos consumidores, o Brasil ainda
oferece espaço para crescimento de longo prazo. O país contabilizou 40% do valor do share
da empresa Johnson & Johnson na América Latina, com o recorde de crescimento da
companhia de 14% em 2014. O Brasil continuará a oferecer boas oportunidades de
crescimento para os produtos de proteção sanitária. No Gráfico 1, “tampons” se referem aos
absorventes internos, e “pantyliners” aos absorventes externos:
Gráfico 1 - Brasil: Valor de Vendas por Categoria: Proteção Sanitária 2014/2019
Fonte: Parayil (2015).
A especialista de mercado entrevistada é Analista de Marketing em uma grande
empresa que é referência no segmento de saúde e higiene, e lida diariamente com questões
relacionadas ao Marketing da linha de produtos menstruais (absorventes internos e externos),
produtos concorrentes do coletor menstrual. O intuito da conversa foi gerar maior
embasamento sobre tamanho de mercado, porcentagens do share de mercado, percepções do
público-alvo, critérios influenciadores na adoção de produtos desta categoria, bem como
possíveis barreiras para a penetração do produto inovador em tal mercado, de acordo com a
visão de uma profissional da área. As percepções da entrevistada são baseadas em dados de
mercado gerados pela empresa em que trabalha e por uma pesquisa qualitativa a respeito do
uso do coletor menstrual realizada pela empresa onde trabalha, com aproximadamente 150
mulheres brasileiras, de 14 anos em diante, que compram ou pedem para alguém comprar a
elas produtos da categoria de menstruais.
A respeito da visão geral de mercado, quando questionada, a profissional afirmou
enxergar o mercado de produtos da categoria de menstruais como um mercado que está
crescendo muito no Brasil atualmente. Ela explicou que este mercado é composto por
34
absorventes externos, internos e agora também pelos coletores menstruais. Um fato
importante, segundo ela, é que, no Brasil, os absorventes externos representam uma fatia
muito maior de mercado, entretanto, em termos de crescimento, os absorventes internos são a
fatia que mais apresenta crescimento. A fatia de absorventes internos é a que mais cresce no
Brasil, tendo crescido 23% de 2015 para 2016, enquanto a categoria de externos cresceu
apenas 16% no mesmo período.
Atualmente, a penetração dos absorventes internos no Brasil não chega a 10%, estando
em torno de 7%, enquanto os absorventes externos têm 57% de participação de mercado. A
porcentagem de penetração dos absorventes internos, portanto, é considerada muito pequena
pela especialista, principalmente se em comparação com países mais desenvolvidos, como a
Alemanha, em que a questão do tabu acerca desse tema não é tão relevante, e a penetração de
absorventes internos chega a atingir números altos, como 80% da população. Um dos fatores
considerados definitivos para a baixa penetração de absorventes internos no Brasil é o fato de
ainda ser um país muito influenciado por questões religiosas. Segundo a especialista, países
Ocidentais possuem mais restrições neste sentido e, principalmente no Brasil, as pessoas
ainda têm muito medo de utilizar absorventes internos. Na opinião dela, essas barreiras são,
de certa forma, uma questão cultural: “as mulheres não conhecem o próprio corpo, não se
tocam, não usam absorvente interno, não sabem como colocar o produto da maneira correta,
têm medo e algumas inclusive acreditam que o tampão vai tirar a sua virgindade”. De acordo
com a especialista, existe muito medo, falta de conhecimento, e é uma categoria que precisa
de muitíssima educação e comunicação.
Em outros países da América do Sul, como Argentina e Colômbia, a penetração de
absorventes internos, apesar de ainda pequena (respectivamente 15% e 16%), já é
relativamente maior que no Brasil:
Trata-se de uma questão de diferença de perfil de consumidor: As argentinas são
mais ‘antenadas’ e abertas a mudanças do que as brasileiras. No Brasil tem muita
‘frescura’, medo do novo, o que acaba dificultando a penetração de produtos que
geram mudanças grandes. Na Argentina elas são mais avançadas, então é mais
‘tranquilo’ para lançar produtos novos. (Especialista de Mercado)
A Analista de Marketing acredita fortemente que esta é uma categoria de produtos em
que é necessário muito investimento para promover a educação do público. Segundo ela, é
necessário não só construir uma marca forte e confiável, mas, mais do que isso, gerar muito
conteúdo educativo a respeito do tema, tornando o assunto algo mais natural, mais falado e
debatido entre o público. Ela afirma que, no Brasil, a menstruação ainda é um assunto tabu e
que o uso de absorventes internos é algo com que as mulheres ainda não estão muito
35
familiarizadas, existindo muitas barreiras para que ocorra a sua utilização em grande escala
como já acontecem em outros países mais desenvolvidos.
Segundo a entrevistada, na Europa, por exemplo, as pesquisas mostram que a fatia de
mercado dos coletores menstruais está crescendo muito rápido, e tem um potencial de
crescimento alto, a ponto de chamar fortemente a atenção das lideranças da empresa. Ela
relata que inicialmente acreditava-se que os coletores impactariam num mercado muito
específico e de nicho, porém o produto tem apresentado um crescimento de market share
expressivo, muito maior do que as pessoas estavam esperando anteriormente. Segundo ela,
ninguém acreditou muito na ideia, mas estão percebendo que está realizando um movimento
muito forte, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.
No Brasil, o impacto que o coletor está representando no market share de produtos da
categoria menstruais ainda é pequeno e menos representativo, porém também vem
apresentando resultados crescentes. Entretanto, a especialista acredita que, mesmo que haja
um crescimento na adoção do produto por parte das mulheres brasileiras, o mesmo continua
atingindo um público bastante específico – tanto pelas questões culturais mencionadas
anteriormente quanto pelo investimento inicial alto que o produto demanda.
Em sua perspectiva de análise, a profissional alega que o coletor menstrual está
bastante direcionado para um público proveniente de classes sociais mais altas. Duas razões
principais fazem-na afirmar isso: a primeira é o fato de a inovação requerer um grau de
educação e instrução alto; a segunda é o fato de que, financeiramente falando, apesar de o
investimento valer a pena, se comparado ao gasto com absorventes internos e externos em
menos de um ano, o mesmo requer um investimento inicial razoavelmente alto, sendo mais
relevante na hora do desembolso (média de R$ 70,00) e podendo significar um empecilho
para pessoas com condições financeiras menores.
O público em que a empresa na qual a entrevistada trabalha foca seus esforços de
comunicação e que mais consome os absorventes internos se concentra na faixa etária dos 18
aos 24 anos. Na Alemanha, por sua vez, a comunicação dos absorventes internos é
direcionada para o público de meninas a partir de 14 anos de idade – a razão dessa diferença
de comunicação, na visão dela é o fato de na Alemanha existir menos tabu e menos influência
de crenças religiosas nos valores pessoais. Quando questionada sobre qual acredita ser a faixa
etária do público-alvo do coletor menstrual no Brasil, a especialista afirmou acreditar que seja
o mesmo público consumidor de absorventes internos convencionais – de 18 a 24 anos, no
Brasil.
36
Para a categoria de absorventes internos, a especialista considera que é necessário que
as empresas fabricantes dos produtos comecem a falar com as mulheres muito cedo para
educa-las a respeito dessa questão. Na Colômbia, por exemplo, um dos principais players do
mercado está realizando uma ação de comunicação a respeito do uso de absorventes externos
com meninas a partir de 10 anos. A entrevistada comenta, porém, que, em países da América
Latina, é mais difícil fazer esse tipo de ação com foco no coletor menstrual ou absorvente
interno.
Um fato muito curioso trazido pela especialista é que, segundo pesquisas realizadas
pela empresa, as mulheres que estão mais dispostas a utilizar o coletor menstrual e que de fato
estão adotando o produto são as consumidoras de absorvente externo. O fato gera curiosidade,
pois o absorvente interno se assemelha mais ao coletor menstrual que o absorvente externo.
Na Alemanha, por outro lado, quem está adotando o coletor menstrual são as usuárias de
absorventes internos – porém, lá, a maioria do público utiliza absorventes internos, o que
torna a análise desigual.
Sobre a questão da sustentabilidade, a Analista de Marketing afirma que é fato que o
produto inovador é mais sustentável que absorventes internos e externos, pois gera menos
descarte de lixo. Entretanto, segundo pesquisas, ela percebe que as pessoas entendem que o
produto seja mais sustentável, mas que a sustentabilidade não é o critério mais relevante
quando destacadas as características do produto. Mesmo que as usuárias se importem e
gostem muito do fato de o produto ser ecofriendly, esse fator não é tão significativo a ponto
de anular a existência de barreiras para adoção do produto. Segundo a especialista, no Brasil,
as usuárias apreciam o fato de ser ecofriendly, porém, ainda consideram o produto muito caro,
não tendo a correta percepção do seu valor. A profissional acredita que para enfrentar os
problemas de percepção de valor seja importante investir na educação sobre o uso, na eficácia
e no benefício financeiro que o produto proporciona no longo prazo - apesar de representar
um investimento inicial mais alto, construindo uma relação de confiança entre as
consumidoras e o produto.
Sobre as resistências e as barreiras para adoção do produto, a entrevistada traz que a
pesquisa aponta que existe uma forte preocupação relacionada à higiene e à maneira correta
de utilização do produto. Algumas pessoas ainda se sentem inseguras para utilizar, pois têm
medo de possíveis vazamentos e não entendem ao certo como funciona. Outras, ainda,
imaginam que seja desconfortável e têm medo de inserir e retirar o produto. As resistências
em relação ao custo acabam aparecendo porque algumas pessoas não acreditam que valha
tanto a pena, pois são céticas em relação à conveniência e proteção e porque não entendem
37
muito bem o funcionamento do produto. Ou seja, não possuem conhecimento real do produto
e não enxergam seus benefícios, o que faz com que o considerem caro.
Na visão da especialista, é muito importante que haja educação nesse sentido e que
sejam reforçados os benefícios adicionais que o produto traz em relação às tecnologias
anteriores, pois as consumidoras, segundo a pesquisa, não percebem muita relevância e
vantagens na utilização do coletor menstrual se comparado com métodos tradicionais de uso.
Na Alemanha, houve relatos de mulheres que utilizam, juntamente com o coletor, um
absorvente protetor diário, por medo de vazamentos. Na visão da entrevistada, isso ocorre
porque há uma dificuldade de adaptação com o produto num primeiro momento.
Sobre os atrativos do produto que surgiram na pesquisa realizada pela empresa, a
praticidade aparece como um fator relevante. Usuárias apontam que é interessante porque
“não é preciso sair para comprar algo, o produto está ali e resolve o problema”. Não possuir
o compromisso de se lembrar de comprar absorventes sempre nem correr o risco de ficar sem
o produto em uma situação de emergência é, então, percebido como um atrativo do produto.
Existem usuárias, porém, que não estão muito dispostas a experimentar coisas novas.
A citação de uma entrevistada da pesquisa realizada pela empresa em que a especialista
trabalha ilustra esse caso: “Eu não estou sempre disposta a experimentar coisas inovadoras,
principalmente porque é uma área muito sensível do corpo”. Sobre o fato de ser um produto
revolucionário, uma entrevistada reflete: “Alguma coisa ser revolucionária não é
necessariamente boa, porque pode significar que funciona ou não, porque é novo”.
Ainda na pesquisa realizada, foi mostrado às entrevistadas um texto descritivo que
explica sobre a ideia do produto. O intuito de mostrar esse texto às mulheres foi o de captar
através de eye tracking quais atributos e especificações do produto chamariam mais a sua
atenção. O que mais chamou atenção (de uma maneira negativa, trazendo preocupação) foram
o fato de o produto ser revolucionário e o fato de ele não absorver, mas sim, coletar o fluxo.
Sobre o produto ser revolucionário, segundo análise da especialista, pode chamar a atenção de
uma maneira negativa, como citado anteriormente, por ser uma área sensível do corpo, em
que algumas mulheres não estão tão abertas a inovar e a correr riscos. Sobre ele coletar e não
absorver o fluxo, ela acredita que pode chamar atenção de maneira negativa por gerar dúvidas
sobre a forma de utilização e descarte, que difere fortemente do método anterior.
Na pesquisa, foram expostos alguns atributos e classificados pelas entrevistadas
conforme entendem que sejam atributos do produto, em ordem decrescente. Segue ranking a
seguir:
1.
Ser ecofriendly;
38
2.
Não precisar sair para comprar;
3.
Ser um produto inovador;
4.
Ser seguro para usar por um longo período;
5.
Prover uma proteção confiável;
6.
Ser conveniente e prático;
7.
Ser a melhor forma de proteção;
8.
Ser fácil de tirar;
9.
Ser fácil de colocar;
10.
Proporcionar maior custo-benefício.
Das 156 entrevistadas na pesquisa realizada pela empresa em que a especialista
trabalha, 34% trocariam seu método atual para utilizar o coletor em tempo integral, 30%
usariam o coletor alternadamente com absorventes externos e 14% não utilizariam o produto.
Das que trocariam seu método para utilizar o coletor em tempo integral, 72% são usuárias de
absorventes externos, 17% de absorventes internos e 11% já utilizam coletores (e trocariam
por um novo modelo, caso surgisse uma nova versão ou marca melhor). Das 156
entrevistadas, 61% acreditam que o produto seja ecofriendly.
4.3
USUÁRIAS DO PRODUTO
As análises a seguir se referem às entrevistas realizadas com as usuárias do coletor
menstrual durante a realização do presente trabalho, a fim de obter percepções concretas
acerca dos fatores de influência na difusão e adoção do produto. Foram entrevistadas 16
usuárias do produto e os tópicos de análise foram divididos de acordo com as perguntas
existentes no roteiro de entrevista utilizado.
4.3.1 Primeiro Contato com o Produto
Quando perguntadas sobre como foi o seu primeiro contato com o produto, como
ficaram sabendo de sua existência, as entrevistadas comentaram a importância da experiência
e indicação de amigas que já o utilizavam, dos anúncios do Facebook e dos vídeos no
Youtube. Propagandas das marcas do produto que apareciam no feed de notícias, postagem de
amigas e vídeos de blogueiras apresentam relevante influência na disseminação de
39
informações sobre o produto. A youtuber Jout Jout, conhecida por falar de assuntos acerca do
universo feminino, foi citada por quatro das dezesseis entrevistadas.
A primeira vez que eu vi foi numa propaganda desses anúncios do Facebook. Eu já
tinha ouvido falar, mas sem muitos detalhes. Através do Facebook que de fato fui
atrás para ver o que era, estava na minha frente e era só clicar para descobrir mais,
então entrei no site, vi como funcionava, assisti a alguns vídeos e até pesquisei
algumas marcas que já estavam no mercado. (Entrevistada 6)
Algumas, ao visualizarem postagens e promoções do produto nas redes sociais,
recorreram a amigas usuárias do produto para obter mais informações. A importância de
disseminação por parte das amigas aparece também com referência aos grupos de Whatsapp
em que, em um dos casos, serviu para um grupo de mais de dez amigas combinarem uma
compra em conjunto, pois obteriam desconto no preço. A difusão das informações, o
incentivo e o apoio das amigas foi bastante citado. A Entrevistada 12 comenta: “Na faculdade
as gurias ouviram falar sobre isso e se juntaram para comprar porque tinha desconto se
fosse um número grande. Eu sozinha não sei se compraria, mas juntou um grupo e deu
coragem”.
A Entrevistada 13, ainda, comentou a influência de sua irmã, que utilizava há anos –
desde antes de ser amplamente difundido e conhecido, o coletor menstrual. Na visão dela, a
irmã é uma pessoa inovadora demais, portanto, só passou a assimilar a possibilidade de
utilizar o produto quando o mesmo se tornou conhecido pelo seu grupo de amigas. Ela
comenta: “Minha irmã me mostrava os benefícios, mas, como eu tenho uma posição bem mais
conservadora que ela, desconfiava. Só normalizei o produto quando ele chegou em minhas
rodas de conversa com amigas, cinco anos depois”.
4.3.2 Decisão de Adoção
Quando questionadas sobre o que as influenciou na adoção do produto, foram
percebidos diversos motivos. Foram citados principalmente: insatisfação com os métodos/
produtos anteriores, relatos de pessoas falando bem do produto, benefício financeiro no longo
prazo, benefício ambiental, praticidade, possibilidade de ficar um período maior com o
produto, conforto, autoconhecimento e o fato de o produto ser hipo-alergênico.
Sobre a insatisfação com o produto utilizado anteriormente (principalmente quando se
tratava de absorventes externos), os pontos trazidos foram o fato de não ser 100% confortável,
de deixar uma constante sensação antigênica, de gerar muito lixo e de não ser 100% seguro
(por possíveis vazamentos). A entrevistada 14, entretanto, ressalta o fato de não ter problemas
40
com os métodos anteriores, mas apenas ter percebido mais benefícios no coletor: “Usar
absorvente não era algo que me incomodasse. Foi só para testar porque parecia uma opção
melhor – mais ambientalmente correta e mais prática do que ficar carregando absorvente,
trocando absorvente e se sujando”.
A respeito da praticidade, surgiu a questão de poder ficar até 12 horas com o produto,
período mais longo do que o indicado para reposição de absorventes. A Entrevistada 6 pontua
que a proposta pareceu mais prática por poder usar por mais tempo, enquanto os absorventes
internos devem ser trocados com maior frequência. Além disso, não precisar sair para
comprar novos absorventes todo o mês foi uma vantagem percebida. A Entrevistada 11
relatou: “Muitas vezes fiquei sem absorvente em situações difíceis. Pensei que seria ótimo
porque estaria sempre ali, sem necessidade de sair pra comprar”.
Os relatos de outras mulheres falando sobre os benefícios do produto foram
claramente um motivador para sua adoção. Relatos de desconhecidas, bem como de amigas
próximas, ajudaram a criar uma relação de confiabilidade com o produto. A experiência
positiva de terceiros despertou curiosidade nas entrevistadas, que acabaram ficando com
vontade de experimentar também. A Entrevistada 1 reforça: “Quando minha amiga falou que
era mil vezes melhor que absorvente e que sentia que não estava menstruada, me chamou
atenção de uma maneira muito forte”.
O que minhas amigas me falavam me convenceu: diziam que não notavam e que
esqueciam quando estava com ele, que só tinham contato 2x por dia, que não
incomodava como absorvente interno, que nós menstruávamos menos do que
imaginamos e que produzia menos lixo. Eu vi todos os benefícios e quis testar.
(Entrevistada 10)
Questões referentes ao Marketing do produto também apareceram como motivadores
de compra. A Entrevistada 3 conta: “Vi uma promoção no site, de pague um e leve dois. Tinha
uma contagem regressiva dizendo que a promoção acabaria em poucos minutos, me senti
pressionada, pesquisei rapidamente sobre o produto e comprei”. Por outro lado, a
Entrevistada 8 percebeu as campanhas de Marketing de forma negativa: “Teve uma coisa que
me impactou muito na compra da marca Inciclo: a outra marca tinha um apelo de Marketing
muito forte e não sei se é um produto que combina tanto com esse tipo de ação. Optei pela
marca mais discreta”.
A Figura 5 ilustra a abordagem de Marketing utilizada pela marca Fleurity, citada pela
Entrevistada 8:
41
Figura 5 – Forma de Pagamento
Fonte: Fleurity (2017).
Algumas entrevistadas trouxeram o fator de o coletor ser aparentemente mais saudável
que os absorventes como um fator que influenciou na compra. Elas afirmam que o produto é
hipo-alergênico, permite uma maior transpiração do corpo (impedida por absorventes
externos) e parece mais seguro nesse sentido. Outro fator importante foi a questão de o
produto proporcionar um autoconhecimento maior, pois permite o contato com o fluído
menstrual de forma pura (sem estar em contato com algodão, por exemplo), mostrando de fato
sua quantidade, aparência e textura, tornando o processo menstrual algo natural da mulher.
A relação de custo-benefício também foi trazida como motivador de compra, pois, no
longo prazo, estima-se um gasto financeiro muito menor com o coletor menstrual se
comparado com os absorventes. A Entrevistada 11 argumenta que o investimento não era tão
alto a ponto de ser um problema caso não gostasse e que valeria a pena experimentar e correr
o risco.
O fator consciência ambiental também apareceu como motivador para a adoção do
produto. Entretanto, não foi citado com tanta ênfase. Ele acabou aparecendo mais como uma
vantagem extra do produto do que como um fator realmente relevante para motivar as
mulheres a adotarem o produto inovador.
42
A Entrevistada 8, ainda, cita que o fato de a marca do produto ser brasileira
influenciou na hora da compra. Ela explicou que, como cada amiga usava de uma marca
diferente, o fator decisivo para escolha da sua marca foi ela ser uma marca brasileira e sólida,
que estava há bastante tempo no mercado.
4.3.3 Dificuldades na Adoção
Como o produto em questão é bastante inovador, complexo e apresenta diferenças
substanciais se comparado aos métodos anteriores, foi perguntado às entrevistadas a respeito
das dificuldades percebidas na hora da adoção do mesmo – tanto na hora da compra quanto na
hora da utilização. As dificuldades comentadas foram: compra online/ dificuldade de
encontrar em loja física, inserir e retirar o produto, adaptações necessárias, desconforto,
higienização do produto, investimento inicial, medo de infecções, a falta de comentários de
especialistas da saúde e o fato de o produto ser muito inovador.
A respeito da compra online, a Entrevistada 1 considerou uma dificuldade, pois na
época em que comprou o produto, ele não era encontrado em muitas lojas físicas e suas
amigas não o utilizavam ainda. Ela queria ver o produto, entender qual seria o melhor tipo
para ela e conversar com uma pessoa que realmente entendesse sobre. Depois de algum
tempo, descobriu uma loja de produtos naturais que vendia e acabou comprando. A
Entrevistada 4, por sua vez, não teve problemas em comprar online, mas comenta que quando
sua encomenda chegou e viu o produto pela primeira vez, achou estranho e grande, e
imaginou que não seria muito higiênico. A Entrevistada 5, em contrapartida, comenta que sua
compra online foi bastante tranquila, realizando o pagamento no cartão de crédito e recebendo
o produto em sua casa no dia seguinte.
Ainda a respeito da venda do produto ter sido difundida majoritariamente de forma
online, as entrevistadas trazem que uma dificuldade enfrentada foi, através apenas do site,
blogs e vídeos, entender qual seria a melhor marca, tipo e tamanho para si. A Entrevistada 12
conta que enfrentou dificuldades, uma vez, por estar na praia e desejar comprar um novo
coletor (pois se esquecera de levar o seu) e não o encontrar em nenhuma farmácia – na época
o produto era vendido apenas em lojas específicas, mas hoje já é encontrado em algumas
farmácias também.
Uma dificuldade praticamente unânime entre as entrevistadas foi o fato da
complexidade de utilização do produto no que diz respeito ao inserir e retirar. Apenas duas
das dezesseis entrevistadas afirmaram terem se adaptado facilmente desde o início. Em geral,
43
nas primeiras vezes que utilizam, as entrevistadas relatam terem tido dificuldade de adaptação
e, após algumas tentativas, acabaram se acostumando e aprendendo a utilizar da maneira
correta. A Entrevistada 4 relata: “As duas primeiras vezes que usei foi meio difícil, mas é uma
questão de jeito e isso foi logo superado. Num primeiro momento achei grande e que poderia
ser desconfortável de usar”. De forma geral, as entrevistadas comentam que é necessário ser
persistente e insistir um pouco até se adaptar.
Tem algumas coisas que não diz no manual, mas que são necessárias, como cortar o
cabo, porque se não fica muito desconfortável. Tive que insistir um pouco, antes de
usar achei que seria mais simples, que era só botar. Teve uma amiga, por exemplo,
que comprou e não conseguiu usar ainda por problemas de adaptação. Procurei na
internet como colocava, olhei vídeo e depois fluiu. Insisti porque não queria ficar
desconfortável. No primeiro ciclo já me adaptei. (Entrevistada 1)
Quatro das dezesseis entrevistadas, ainda, trazem uma dificuldade de adaptação devido
a uma parte do produto: o cabo desenvolvido para que seja possível puxá-lo na hora de retirar.
Trata-se de uma ponta, também de silicone, na base do copo. Em algumas marcas, o cabo é
maior que o necessário e, segundo as entrevistadas, sugere-se que seja cortado uma parte dele
caso incomode.
Três das dezesseis entrevistadas não utilizam mais o produto por dificuldades de
adaptação e possível falta de persistência. Todas pretendem voltar a usar em algum momento,
mas ainda não se motivaram a tentar novamente.
Admito que não insisti muito. Usei uma vez, achei incômodo, cortei o cabo que
incomodava e continuei achando incômodo e não usei mais nem busquei mais
informações. Achei mais prático voltar a usar o absorvente, mas ainda pretendo
insistir mais um pouco no coletor, porque todo mundo diz que é melhor.
(Entrevistada 14)
Além da dificuldade para inserir e retirar o produto, algumas entrevistadas também
consideraram desconfortável o uso do coletor nas primeiras vezes. A Entrevistada 6 comenta:
“As primeiras vezes foram desconfortáveis, mas depois fui me acostumando”. Da mesma
forma, a Entrevistada 13 conta: “Nos primeiros dois meses era um pouco desconfortável e eu
ficava ansiosa na hora de tirar, mas depois me acostumei”.
Considerando a higienização do produto, duas das dezesseis entrevistadas trazem
relatos de dificuldade. A Entrevistada 9 afirma que era difícil descartar o conteúdo e
higienizar o coletor no banheiro da faculdade, pois a pia ficava do lado de fora da cabine.
Além disso, ela traz que, a cada ciclo, o indicado é higienizar ele fervendo em uma panela
especial e, como morava em uma residência de estudantes e dividia a cozinha com outros
jovens, não se sentia à vontade para fazer isso. A Entrevistada 10, por sua vez, derreteu o
44
coletor duas vezes durante o processo de higienização: ela estragou um, comprou outro e
acabou derretendo o segundo também. Além disso, a entrevistada 10 não considerou o
produto tão higiênico quanto as amigas falavam:
Eu não achei tão higiênico assim porque ele ficava com uma coloração diferente,
um aspecto ruim. Eu achava meio nojento guardar ele no saquinho dele depois. Era
necessário tirar ele e limpar na pia, o que eu achava desagradável. Para mim, ficar
com ele ao longo do dia era ótimo, o ruim era tirar e colocar. (Entrevistada 10)
Acerca do investimento inicial do produto (marcas pioneiras e mais consolidadas o
oferecem por, em média, R$ 70,00, mas ele já pode ser encontrado a partir de R$ 30,00),
verifica-se uma diferença grande de preço se comparado ao investimento necessário para
comprar absorventes internos e externos. Apesar de, no longo prazo, o produto ser mais
vantajoso financeiramente, algumas entrevistadas consideram o alto valor inicial como uma
barreira de adoção. A Entrevistada 1 aborda essa questão: “Acabei demorando para comprar
porque era mais caro, o investimento era mais alto. Tive que pedir pra minha mãe parar de
comprar absorventes para mim, assim me forçaria a comprar. O preço atrasou a minha
compra de fato”.
A Figura 6 mostra a opinião de uma usuária da marca Fleurity, que avalia que o
desembolso foi um investimento muito vantajoso:
Figura 6 – Comentário Usuária - Investimento
Fonte: Fleurity (2017).
45
A questão da saúde também apareceu como uma dificuldade na decisão de compra.
Como o produto não é muito divulgado ou indicado por médicos e especialistas da saúde,
podem haver dúvidas nesse sentido. A Entrevistada 13 às vezes ainda se questiona se o
produto é realmente seguro para sua saúde:
Às vezes me pergunto sobre os riscos, de criar alguma bactéria ou ter infecção, pois
não é um produto descartável. Busquei informações sobre isso na internet, mas não
encontrei nenhum relato sobre o coletor menstrual, achei apenas um dado sobre
intoxicação gerada por mau uso do absorvente interno. (Entrevistada 13)
Por fim, outro fator que gerou dificuldade na hora da adoção foi o fato de o produto
ser muito inovador. A Entrevistada 10 conta que demorou quase um ano para comprar o
produto desde que uma amiga o apresentou. Ela se sentia insegura, não pelo possível
julgamento dos outros, mas por ser um produto estranho, diferente.
Achei estranha a ideia de inserir um copo dentro do meu corpo. Não pela opinião
dos outros, até porque não me importo nem um pouco, mas, na época, poucas
pessoas usavam o produto, era uma coisa meio exótica. Fiquei me enrolando para
comprar. (Entrevistada 10)
4.3.4 Opiniões Levadas em Consideração
Com o intuito de entender quais foram as opiniões e fontes de informações levadas em
consideração para adotar o produto, foi feita essa pergunta às entrevistadas. Doze das
dezesseis entrevistadas citaram a importância da divulgação, propaganda e disseminação de
informações sobre o produto no site das fabricantes, em blogs, Facebook e Youtube.
Eu vi vários vídeos no Youtube de pessoas falando sobre isso, e acho que foi o que
eu mais levei em consideração. Antes de comprar eu não tive nenhum contato físico
com o copinho, só tinha visto na internet, mas nunca tinha visto na minha mão nem
tocado, não sabia se era duro, mole ou como era. (Entrevistada 2)
As Entrevistadas 5, 9 e 14 também tiveram acesso a notícias na internet, o que foi o
fator que mais levaram em consideração, até mesmo mais que os comentários de amigas:
“Minha decisão foi baseada pelo vídeo que vi no Youtube. Quando comprei, minhas amigas
não usavam muito e minha médica nunca tinha me indicado” (Entrevistada 14). Para a
Entrevistada 9: “Minha decisão veio praticamente só de um blog, porque na época ele não
era muito conhecido, eu que contei pras minhas amigas do copinho. As pessoas não tinham
usado ainda, ninguém que eu conhecia tinha me falado sobre”.
46
Quando eu comprei não tinha tantas opiniões sobre o produto. Não falei com
familiares, nem com a minha médica. Algumas amigas conversavam sobre, mas não
foi um fator que eu levei em consideração na hora da compra, foi uma decisão bem
minha e para mim. O contato que eu tive com o produto antes da compra foi através
de notícias online. (Entrevistada 5)
O relato de desconhecidos na internet também pareceu causar forte influência nas
entrevistadas. A Entrevistada 7 pontua: “Eu vi alguns relatos na internet dizendo que era
bom, mas de pessoas que eu nem conhecia, e aquilo me despertou interesse”.
A Figura 7 ilustra a opinião de uma usuária sendo divulgada nas mídias sociais de uma
das fabricantes do coletor menstrual, a Inciclo. Além de disseminar sua percepção positiva
sobre o produto, o comentário da usuária também explicita uma questão bastante trazida pelas
usuárias: o momento inicial de adaptação na hora do uso, testando qual forma seria a melhor
para ela.
Figura 7 – Comentário de Usuária - Segurança
Fonte: Fleurity (2017).
47
Sobre a importância da opinião de amigas na decisão, oito das dezesseis entrevistadas
citaram a influência desse fator. A Entrevistada 4 comenta: “Não tive nenhum contato com o
produto antes e quem me influenciou a usar foi uma amiga que estava usando e estava
gostando bastante. Depois, outra amiga viu uma promoção na internet e me chamou para
comprar e compramos juntas”.
Minha decisão surgiu principalmente a partir de uma amiga que já usava. Eu
seguia a loja de produtos naturais no Facebook e eles sempre compartilhavam
matérias sobre o coletor de uma maneira que se preocupava bastante com a mulher.
Era algo realmente preocupado e cuidadoso e começou a ficar na minha mente.
Comecei a interagir com as publicações e a confiar no produto. Na loja, perguntei
sobre o produto para a vendedora, mas eu já estava bem decidida a comprar.
(Entrevistada 1)
Curiosamente, a influência da família ou de médicas não apareceu como sendo um
fator relevante. Nenhuma das entrevistadas citou alguma conversa com sua médica sobre o
assunto antes de adotar o produto. Além disso, três das dezesseis entrevistadas relataram uma
reação adversa das mães quando tentaram conversar sobre o produto. A Entrevistada 8 cita:
“Falei para a minha mãe que existia o produto e ela fez uma cara feia de ‘não acredito’, mas
comprei igual, não dei muita atenção. Apenas comentei com ela, não estava pedindo sua
opinião”.
Além de percepções positivas dos usuários – tanto amigas quanto na internet, algumas
características nítidas do produto foram levadas em consideração e de fato influenciaram na
adoção do mesmo. As entrevistadas trouxeram como motivadores de compra o benefício
financeiro no longo prazo e o benefício que o produto traz para o meio-ambiente.
4.3.5 Vantagens Percebidas
Foi perguntado às entrevistadas qual o produto que utilizavam anteriormente e quais as
vantagens que viam no coletor em relação à tecnologia anterior. Todas as entrevistadas
utilizavam absorventes externos e internos, algumas preferindo um dos tipos, mas sempre
alternando de acordo com a situação. Para ficar em casa e dormir, o comportamento padrão
observado foi utilização de absorventes externos. Os absorventes internos, por sua vez, foram
mencionados como preferidos para situações como: praia, piscina, festas e prática de
exercícios físicos.
48
Sobre as vantagens percebidas na utilização do produto, vários fatores surgiram nas
entrevistas. Os mais comentados foram: conforto, praticidade, higiene, segurança, liberdade,
menor impacto ambiental, custo-benefício e maior contato com seu corpo.
Sobre conforto, uma forte opinião entre as entrevistadas é que, depois de superadas as
barreiras de adaptação ao produto, a mulher não sente que está com o produto e acaba
esquecendo que está menstruada. A Entrevistada 1 conta que sua amiga que indicou o coletor
disse que esquecia quando estava menstruada e estava utilizando-o, então ela pensou: “Meu
Deus, isso nunca acontece comigo, é muito inconcebível para mim passar por essa situação,
preciso experimentar”. Esse fato, segundo a Entrevistada 11, faz com que haja uma maior
liberdade para a mulher, permitindo que não deixe de fazer nada que faria em outros dias pelo
simples fato de estar menstruada.
No que diz respeito à saúde da mulher, as entrevistadas comentam que, diferentemente
dos absorventes externos ou internos, o coletor menstrual não provoca assaduras ou coceiras
(é hipo-alergênico) e permite a transpiração do corpo. A Entrevistada 5 aponta: “O absorvente
me dava um pouco de alergia, irritava a minha pele e me deixava úmida por não permitir a
transpiração do corpo”. A sensação de limpeza também é um ponto trazido como benefício
do produto inovador, pois, como ele diminui o contato com o fluxo menstrual ao longo do dia,
as usuárias acabam se sentindo mais limpas. A Entrevistada 2 explica a sensação de higiene:
Tu põe [sic] o coletor no início do dia e esquece que está menstruando, e eu acho
isso muito bom. E durante o dia tu não tem também tanto contato com o sangue, o
que eu acho mais higiênico, porque tu pode trocar uma vez por dia dependendo do
fluxo. Eu troco só no banho e é ótimo, me sinto super limpa. (Entrevistada 2)
Foi mencionado também pelas entrevistadas o fato de se sentirem mais seguras com o
coletor do que com absorventes tradicionais. Elas alegam que, depois que aprendem a inserir
o produto de maneira correta, não se preocupam com eventuais vazamentos, manchas na
roupa e etc., confiam na eficácia do produto e conseguem passar o dia mais tranquilas.
A praticidade que o produto proporciona também chama a atenção de forma positiva
de suas usuárias, tanto pelo fato de poder ser utilizado por um período maior ao longo do dia
(como mencionado anteriormente) quanto por evitar que seja necessário, a cada mês, sair para
comprar absorventes. O fato de ele ser reutilizável, estando sempre acessível em casa, é visto
como benéfico pelas entrevistadas. A Entrevistada 8 comenta: “A questão da reutilização, de
não ter que se preocupar em comprar, é ótima, porque às vezes eu precisava e não tinha
absorvente comigo. É ótimo poder ter ele a qualquer hora e poder levar ele a qualquer
lugar”.
49
O benefício financeiro também é percebido como uma vantagem para as usuárias. A
Entrevistada 11 ressalta: “Fiz o cálculo financeiro rapidamente e vi uma grande vantagem no
longo prazo, nem tão longo assim”. A Entrevistada 9 complementa afirmando: “Tu recupera
rápido o dinheiro investido no primeiro mês e depois deixa de gastar o que gastaria todos os
meses durante anos”.
A questão sustentabilidade e preservação do meio-ambiente, da mesma forma, foi
vista como uma vantagem do produto em relação às tecnologias anteriores. Apesar de não ser
reciclável nem biodegradável, o coletor evita o descarte de grandes quantidades de lixo
gerado pelos absorventes. A Entrevistada 10 aponta que, apesar de a preocupação com o meio
ambiente não ter sido o fator que a fez comprar o produto, se sente bem em saber que está
produzindo menos lixo. A Entrevistada 3 explica:
Acredito que o fato de ser menos prejudicial para o meio ambiente seja uma grande
vantagem. Se for contar tudo o que uma mulher utiliza de absorvente em um ano, é
uma quantidade enorme. Eu busco sempre fazer as pequenas mudanças do dia-a-dia
que fazem a diferença, e usar o coletor é algo bom pra mim e pro meio-ambiente, é
uma relação justa. (Entrevistada 3)
Por fim, uma vantagem citada por quatro das dezesseis entrevistadas é a questão de o
produto proporcionar um maior autoconhecimento para a mulher a respeito de seu corpo.
Como ele coleta o sangue ao invés de absorver em algum outro material, a mulher tem contato
com a textura, quantidade, coloração e odor reais – que segundo os relatos é muito mais
neutro do que quando em contato com o algodão e com o ar. A Entrevistada 2 expõe um
pouco de sua experiência:
Achei legal também que eu consegui visualizar a quantidade real de menstruação,
porque é muito menos do que eu imaginava, percebo que é muito pouquinho quando
vejo o que o copinho coleta. Eu achei isso legal, apesar de ser meio estranho, eu vi
bem como é meu sangue e isso me proporcionou um autoconhecimento.
(Entrevistada 2)
A Figura 8 explicita algumas das principais vantagens citadas pelas entrevistadas em
um comentário de uma usuária do produto na página de Facebook da marca Fleurity:
50
Figura 8 – Comentário Usuária - Opinião
Fonte: Fleurity (2017).
A Entrevistada 1, em seu relato sobre os benefícios do produto, trouxe diversos pontos
mencionados anteriormente e frisou como a inovação proporcionou mudanças positivas para
ela.
O coletor mudou muito a forma como eu encaro a menstruação – agora é uma coisa
mais íntima eu acho. Eu me envolvi um pouco mais com meu corpo, de uma maneira
confortável. O que antes era um problema e algo desagradável agora faz parte da
minha vida tranquilamente. Conforto, saúde, higiene, consciência ambiental e
praticidade são pontos muito positivos do coletor. (Entrevistada 1)
4.3.6 Desvantagens Percebidas
Sobre as desvantagens percebidas no coletor, as entrevistadas citaram a menor
praticidade em termos de colocar e tirar o produto, bem como de descarte o conteúdo, a
dificuldade na fase de adaptação, a higienização, o investimento inicial e a falta de
conveniência. É importante ressaltar que, das dezesseis entrevistadas, três abandonaram o uso
do produto por problemas de adaptação e uma por estraga-lo no momento da higienização.
Mesmo assim, todas enxergam os benefícios do coletor e acreditam que as vantagens que ele
proporciona sejam superiores às desvantagens.
51
Sobre a menor praticidade na hora de colocar e tirar o produto, o argumento utilizado
foi que, em lugares públicos, não é tão simples fazer isso. Os absorventes, por sua, vez, são
facilmente descartados e trocados. O lado bom – e que faz o coletor continuar sendo
vantajoso, na visão das usuárias, é que não é necessário fazer essa troca durante o dia, pois é
possível ficar até 12 horas com o produto. A Entrevistada 3 desabafa: “Para colocar também
não achei tão simples. É meio chatinho de botar. Demora mais um tempinho e aí dá vontade
de ficar o dia inteiro com ele, porque tirar e botar é trabalhoso. Não achei tão prático nesse
sentido”.
A Entrevistada 7 comenta que a higienização dele não é tão simples, pois o sugerido é
que o produto seja fervido a cada ciclo para que fique limpo, enquanto o absorvente é
rapidamente descartado e reposto. A Entrevistada 13, por outro lado, afirma que, apesar de ser
necessário um ritual e ter que se planejar para higienizar ele no início de cada ciclo, não vê
esse fator como uma desvantagem relevante.
A adaptação inicial ao produto, como comentado nas dificuldades de adoção, é um
fator desvantajoso também. A não adaptação ao coletor foi o fator que ocasionou o abandono
do produto por parte de três das entrevistadas. Como é um produto de utilização complexa, a
dificuldade de adaptação pode ser crucial na hora da adoção. Esse fato corrobora com a visão
de Bessant e Tidd (2009), que afirmam que quanto mais simples for uma inovação, mais
facilmente ela será entendida e adotada, e que o oposto acontecerá com aquelas que exigem
dos adotantes novas habilidades e conhecimentos. A Entrevistada 6 desabafa: “Eu percebo
que o absorvente interno era mais fácil, o coletor precisa ser colocado em uma situação
específica para que fique confortável – como ele é maior, precisa de mais cuidado na hora da
colocação”. A Entrevistada 8, da mesma forma, sofreu dificuldades na adaptação: “Por mais
que eu tenha lido uns cinco blogs e buscado informações, as melhores dicas viram do meu
grupo de amigas. Se eu não tivesse essas amigas talvez eu não tivesse acesso às informações
importantes de fato”.
Outras desvantagens mencionadas pelas entrevistadas foram o fato do investimento
inicial ser alto e da falta de conveniência para compra do produto. O investimento inicial mais
alto acabou adiando a compra de algumas usuárias e a pouca presença do produto em lojas
físicas também. A Entrevistada 3, que derreteu o seu coletor ao tentar higienizá-lo conta:
“Estou me enrolando para comprar um novo há um ano já. Se ganhasse de presente, voltaria
a usar na hora, mas esqueço de comprar no site e acabo indo no supermercado e comprando
absorventes quando preciso”.
52
Apesar das desvantagens percebidas em relação às tecnologias anteriores, a
Entrevistada 4 elogia: “Antes eu usava absorvente interno e não vejo nenhuma desvantagem
do coletor em relação a ele. Pelo contrário, considero o coletor menstrual muito mais
vantajoso”.
4.3.7 Difusão e Indicação do Produto
Para tentar entender como a ideia do produto é difundida no mercado através das
usuárias, foi feita a pergunta sobre com quem as usuárias comentaram sobre o produto ou até
mesmo o indicaram. Quinze das dezesseis entrevistadas comentaram sobre sua experiência
com as amigas e três comentaram, também, com sua mãe e/ ou irmã. Duas das entrevistadas
comentaram com seus namorados e apenas uma das entrevistadas não comentou com
ninguém, porque não se adaptou ao produto e não se sentiu segura para indicar.
Segundo a Entrevistada 14: “Comento com as minhas amigas, porque algumas já
usam, outras estão comprando. É uma novidade que está sempre em pauta, se a pessoa vai
comprar, se está usando, se vale a pena e qual a melhor marca entre as opções”. A
Entrevistada 9, apesar de não ter se adaptado ao uso do coletor, reforça como a opinião de
suas amigas a influencia na iniciativa e persistência para utilizar o produto:
Depois que comprei, falei pra várias amigas minhas e elas ficaram com vontade de
comprar também, mas quando eu falei que não tinha me adaptado elas ficaram
meio desconfiadas. Mesmo assim, algumas compraram e amaram. Eu nunca ouvi
alguém falar mal desse copinho, eu não sei como eu não me adaptei. Até cogito
comprar outro de outra marca, porque todo mundo gosta. (Entrevistada 9)
4.3.8 Valores Pessoais
Um dos benefícios do produto que está alinhado com os valores das entrevistadas são
a saúde e bem-estar que ele proporciona. A Entrevistada 1 comenta: “Acho que o coletor é
algo que simboliza muito mais que um produto. É uma forma também de se posicionar como
mulher no sentido de não usar produtos que não têm como objetivo principal a tua saúde e o
teu conforto”.
A facilidade e praticidade que o coletor permite também estão alinhadas com os
valores das mulheres entrevistadas. A Entrevistada 7 conta que o produto é muito prático para
ela porque não atrapalha a sua rotina, pois evita o fato de ter que trocar de absorvente no meio
do dia.
53
Sobre a consciência ambiental e a diminuição do impacto negativo ao meio ambiente
que o coletor proporciona, treze das dezesseis entrevistadas mencionaram como sendo um
valor alinhado ao seu pensamento. É importante comentar que algumas entrevistadas
enfatizaram mais esse aspecto e outras menos. A Entrevistada 15 afirma a congruência do
aspecto sustentável do coletor com seus valores: “Acho o produto totalmente compatível
comigo, porque eu tento gerar a menor quantidade de lixo possível, reciclo e uso em mim
tudo de mais natural que houver”. Por sua vez, a Entrevistada 12 contrapõe:
Não vou ser hipócrita de dizer que é por causa do meio ambiente que eu uso o
coletor. Realmente esse não é um fator que me leva a usar. Claro que me sinto bem
em saber que poluo menos, mas, se ele não fosse prático e fosse desconfortável,
provavelmente eu não usaria, mesmo sendo a melhor opção ambientalmente
falando. (Entrevistada 12)
Quatro das dezesseis entrevistadas também comentaram que valorizam a sua
intimidade e o maior autoconhecimento e contato com o corpo. A Entrevistada 2 traz a sua
visão sobre esse aspecto: “O coletor faz a mulher conhecer melhor o seu corpo, ter mais
contato consigo mesma, entender sobre seu fluxo e sobre coisas que eu não tinha ideia de
como eram realmente”. A Entrevistada 9 reforça: “Gosto do produto porque ele tenta tirar o
tabu que ainda existe na menstruação – as mulheres têm nojo do seu próprio sangue e eu não
quero ter nojo de nada que saia de dentro de mim”.
O custo-benefício que o coletor possibilita também está aliado ao valor de economia
financeira das entrevistadas. Entretanto, esse fator foi citado apenas por duas das dezesseis
entrevistadas. A Entrevistada 12 mencionou que, no longo prazo, o coletor vale muito mais a
pena financeiramente falando, o que está alinhado ao valor dela de poupar dinheiro com
coisas desnecessárias.
A valorização da liberdade, benefício que o coletor permite às suas usuárias, também
foi um valor citado. A Entrevistada 11 avalia: “Acredito muito que a mulher não deve ser
tratada de uma maneira diferente só porque está menstruada, e o produto dá mais liberdade
do que as outras opções no dia-a-dia – a mulher pode praticar esporte e fazer o que quiser”.
Por fim, a valorização de inovações apareceu como um valor pessoal de uma das
entrevistadas com o qual o produto está alinhado, pelo simples fato de ser um produto
inovador e romper com métodos utilizados há anos. A Entrevistada 14 considerou o produto
compatível com seus valores e princípios de consumo porque se considera uma pessoa que
sempre tenta buscar novos produtos e novas tecnologias para adaptar e melhorar a sua vida.
54
4.3.9 Contexto Social
Acerca do contexto social em que estão inseridas, as entrevistadas foram orientadas a
analisar a existência do produto. Pontos como grau de instrução necessário, investimento
financeiro, preocupação ambiental e estilo de vida foram citados como importantes no
contexto social em que o produto existe, considerando o mercado brasileiro. A Entrevistada 3,
por exemplo, acredita que o grau de instrução necessário para a adoção e utilização do
produto seja alto. Ela argumenta:
Acho que pessoas mais instruídas tendem a comprar mais, porque quem não tem
tanto acesso à informação não tem noção de que é mais barato no longo prazo.
Acho, portanto, que o produto é limitado a uma classe social mais alta, com um
grau de instrução maior. (Entrevistada 3)
A Entrevistada 8 comenta sobre a classe social no que tange a questão financeira.
Segundo ela, o coletor não é um produto barato para alguém comprar sem ter a certeza de que
vai gostar, por isso, tem que ser um público que “pode se dar ao luxo” de correr tal risco.
Segundo a Entrevistada 16, o produto ainda não é acessível a todas as mulheres pelo seu preço
ser mais alto.
Considerando que a sociedade vem aparentemente, de forma geral, se preocupando
mais com questões ambientais, a Entrevistada 10 pontua que o coletor menstrual pode ser um
produto interessante se direcionado para este público mais ambientalmente consciente. Ela
acredita que a divulgação deve ser explorada nesse sentido e comenta:
Tem pessoas mais engajadas com o meio ambiente. Acho que tem gente que compra
não por pensar no benefício pessoal, mas sim por pensar no benefício pro meio
ambiente. Tenho uma amiga que frisou o fator do descarte de lixo ao comprar o
coletor. Acho que a maioria das pessoas começa a usar por causa disso, porque
quer ser mais consciente. (Entrevistada 10)
Sobre perfil de consumidor no que diz respeito a estilo de vida e pensamento, as
entrevistadas, de forma geral, concordam que ele se destina a pessoas não conservadoras e
não tradicionais. A Entrevistada 2 explica que, para estar aberta a experimentar um produto
com uma proposta diferente do que se está acostumada há tanto tempo, a mulher deve ter a
cabeça “um pouco mais aberta”. Como contraponto, a Entrevistada 4 traz que, por se tratar de
um assunto em que os métodos utilizados são muito antigos, percebe uma certa barreira para
validação do produto em seu contexto social – família e amigas.
A Entrevistada 14, ainda, comenta que não acredita que o produto seja facilmente
adotado pela sociedade brasileira. Seus argumentos são o fato de a sociedade ainda possuir
55
fortes pensamentos machistas, construir tabus e ser acomodada a métodos tradicionais –
pouco aberta a inovações.
Para vencer essas barreiras sociais, acredita-se que o esforço em divulgação e
informação deve ser grande. A Entrevistada 2 comenta: “Acho que todas as pessoas usariam
se tivesse mais divulgação, porque, no início, a pessoa acha estranho, mas acredito que seja
uma questão de divulgação mesmo para as pessoas aceitarem e normatizarem o uso do
produto”. Corroborando com essa visão, a Entrevistada 13 comenta que o apoio de médicos e
técnicos da saúde é muito importante para que o produto seja, de fato, validado pela
sociedade.
A Entrevistada 1 expõe sua visão sobre o contexto social em que o produto se insere e
elenca os principais fatores citados pelas demais entrevistadas:
Acho que estamos em um momento em que algumas pessoas se importam mais com
a saúde, com o meio ambiente, e pensam de uma maneira menos rápida e
imediatista de resolver os problemas. Acho que o produto se enquadra bem nesse
contexto e acredito que no futuro vai ser mais adotado ainda. É um contexto de
repensar e questionar se não podemos nos esforçar mais e mudar para melhor ao
invés de simplesmente ‘seguir o fluxo’. Sinto que as pessoas estão mais abertas a
experimentar coisas novas e a falar sobre coisas que antes eram tabus.
(Entrevistada 1)
4.3.10 Contexto Ambiental
A respeito do contexto ambiental, as entrevistadas consideraram, de forma unânime, o
produto como algo positivo. Por ser reutilizável por até dez anos, o descarte de lixo e resíduos
é massivamente diminuído se substituídos os absorventes (internos e externos) pelo coletor
menstrual. Apesar de a sua matéria-prima não ser biodegradável (de silicone) nem reciclável,
o produto ainda gera menos impactos ambientais que os métodos anteriores. Além disso,
também não é testado em animais – enquanto a maioria dos absorventes é.
As citações a seguir explicitam a opinião positiva que as usuárias têm do coletor em
relação ao meio ambiente. Segundo a Entrevistada 9: “Acho que é a melhor opção, acho que
ele é o que mais poupa o meio ambiente porque dura vários anos e todos os absorventes
normais têm embalagem e utilizam muitos materiais na sua confecção”. A Entrevistada 10
reflete: “Imagina se todas as mulheres parassem de usar absorventes, iria diminuir muito a
quantidade de lixo. Cada mulher pensa só no seu lixo, que já é bastante, mas se multiplicar
por 12 vezes ao ano e por milhões de mulheres, é muito mais”.
56
A Entrevistada 11 comenta que considera o produto maravilhoso nesse sentido, e que
usar ele traz um conforto e alívio da consciência por saber que está reduzindo sua produção de
lixo. Reforçando esta visão, a Entrevistada 4 concorda: “O coletor é algo que não é
descartável e que tem um longo prazo de duração. Acho ótimo e espero que cada vez
desenvolvam mais ele pra que ele fique ainda melhor, mas acho que já é um avanço muito
grande nesse sentido de sustentabilidade”.
4.3.11 Ranking de Importância dos Fatores
Depois da análise de dados secundários do produto, foram percebidos os principais
fatores de influência no contexto em que o produto está inserido – produto da categoria de
menstruais. Sendo assim, foi feita a seguinte pergunta às entrevistadas: “Considerando um
produto da categoria de menstruais, que grau de importância você dá para os seguintes
fatores?”. Pediu-se às usuárias que ranqueassem de 1 a 7 os fatores de influência, sendo 1 o
menos importante e 7 o mais importante, e sem repetir números. Depois de realizada o cálculo
da mediana das respostas para cada fator, o resultado obtido foi: Conforto e Praticidade (6);
Higiene (5); Segurança (4); Sustentabilidade (3); Custo-benefício (2,5); Contato com o Corpo
(1). A finalidade desta análise foi tentar compreender os fatores mais e menos influentes para
a adoção de um produto da categoria de menstruais na visão das usuárias do coletor e para,
posteriormente, poder comparar a influência dos fatores entre os dois grupos analisados.
Gráfico 2 - Ranking de Importância de Fatores: Usuárias
7
6
5
4
3
Conforto
Praticidade
2
Higiene
1
Segurança
0
Sustentabilidade
Custo-benefício
Contato com seu Corpo
Fonte: Elaborado pela autora.
57
Analisando o Gráfico 2, tem-se os fatores de influência “Conforto”, “Praticidade” e
“Higiene” como os mais importantes pelas usuárias do produto, com as medianas de 6, 6 e 5,
respectivamente. Nota-se que as usuárias não abrem mão de um produto que garanta seu bemestar, que seja compatível com uma rotina atarefada e que assegure uma sensação de limpeza
em sua utilização. “Segurança” foi o fator posicionado como intermediário no ranking de
importância, com a mediana de 4. “Sustentabilidade”, “Custo-Benefício” e “Contato com seu
Corpo”, por sua vez, foram os fatores com as menores medianas, respectivamente 3, 2,5 e 1, o
que sugere que não sejam os fatores de maior influência ou cruciais na decisão de adoção do
produto.
4.4
NÃO USUÁRIAS DO PRODUTO
A fim de entender a percepção de não usuárias acerca do coletor, mesmo que possuam
uma visão pouco concreta por nunca terem utilizado o produto, foram entrevistadas, também,
integrantes desse grupo. Foram feitas perguntas com o intuito de captar sua percepção geral
sobre benefícios e desvantagens do produto, bem como as principais barreiras encontradas
para a adoção. Foram entrevistadas 10 não usuárias do produto.
4.4.1 Método que Utiliza e Vantagens Percebidas
Foi perguntado às entrevistadas qual o método utilizado por elas, alternativo ao coletor
menstrual, e quais os benefícios percebidos no método escolhido em relação ao coletor
menstrual. A maioria das entrevistadas utiliza tanto absorvente interno quanto externo,
dependendo da situação, duas utilizam apenas absorvente externo e três utilizam apenas
absorvente interno.
A respeito dos benefícios percebidos nos absorventes de maneira geral, foram citadas
a praticidade, rapidez, o fácil acesso e o preço baixo. Por outro lado, a Entrevistada 24
contrapõe: “Não acho que os absorventes tenham muitos benefícios na verdade, talvez a
praticidade em colocar e tirar e descartar, mas que acaba sendo seu maior problema: a
produção de lixo e resíduos”.
Sobre os absorventes internos, especificamente, as entrevistadas comentam como
sendo benefício o fato de ser mais higiênico que os externos por evitar tanto contato com o
58
fluxo, de ser confortável e de poder utilizar com qualquer tipo de roupa (não gerando volume
externo) e o fato de ser melhor para a prática de esportes, idas à praia, piscina e etc.
Sobre os absorventes externos, especificamente, as entrevistadas comentam como
sendo um benefício o fato de permitir que a usuária tenha um controle sobre o seu fluxo.
Além disso, a Entrevistada 25 comenta: “Nunca gostei muito do absorvente interno porque
acho meio estranho ter algo dentro de mim, e acho que por isso que nunca quis usar o coletor
também”.
4.4.2 Vantagens Percebidas no Coletor
Apesar de não serem usuárias do produto, as entrevistadas percebem alguns benefícios
e vantagens no coletor menstrual em relação aos absorventes convencionais. Os benefícios
comentados foram, principalmente, a questão da maior sustentabilidade e menor impacto
ambiental e, ainda, da economia financeira que ele proporciona. Todas as não usuárias
entrevistadas citaram o benefício ambiental trazido pelo coletor e três das dez entrevistadas
comentaram sobre a vantagem financeira. Apenas a Entrevistada 17 citou o benefício de ser
possível utilizar o coletor durante um período maior de tempo do que os absorventes
convencionais. A Entrevistada 17 explica:
Acredito que o preço seja um benefício, porque, por mais que um absorvente
externo não seja tão caro, se for colocar na ponta do papel ao longo de um ano o
coletor menstrual acaba tendo um custo beneficio maior, além também de que pro
meio ambiente é melhor utilizar o coletor. (Entrevistada 17)
A característica sustentável do coletor foi bastante trazida pelas não usuárias do
produto. A Figura 9, que traz uma publicidade da marca Inciclo em sua página no Facebook
ressalta a essa questão:
59
Figura 9 – Publicidade Sustentabilidade
Fonte: Inciclo (2017b).
A Entrevistada 18 contrapõe e comenta que, por mais que o coletor tenha benefícios,
eles não são suficientes para que a façam adotar o produto:
Eu não uso, não quero usar e não vejo muitas vantagens no coletor. Acho ele igual
ao absorvente interno só que fazendo mais sujeira, porque tem que limpar depois.
Claro, para o mundo traz vantagem, diminui a poluição, mas na praticidade deixa a
desejar. Eu deveria ser mais preocupada com o mundo, mas acho que sou mais
prática do que consciente com a sustentabilidade, então pra mim o descartável é a
melhor opção. (Entrevistada 18)
A Entrevistada 19 também argumenta contra o coletor:
Eu acho que o coletor não é mais confortável, nem mais higiênico. Eu só acho que
ele é melhor para o meio-ambiente, é a única coisa que eu percebo de vantagem
nele. De fato ele suja menos o ambiente, mas isso não vai me fazer comprar e usar
ele – tirando isso eu não percebo muito benefício não. (Entrevistada 19)
A Figura 10 contrapõe o argumento exposto pela Entrevistada 19 sobre o coletor
menstrual não ser mais confortável que os absorventes tradicionais, alegando que o produto
garante conforto e segurança por longas horas:
60
Figura 10 – Conforto e Segurança
Fonte: Inciclo (2017b).
4.4.3 Desvantagens Percebidas no Coletor
Como principal desvantagem percebida e comentada, as usuárias acreditam que o
coletor não seja prático. A dificuldade para manusear ele durante o dia e tirar, colocar e
higienizar ele em lugares públicos é vista como um empecilho para as entrevistadas. A
Entrevistada 22 questiona:
Não sei muito bem como funciona e como é o processo. Acho que pra usar em casa
deve ser muito bom, mas não sei como seria em lugares públicos. Como vou tirar no
meio do dia e lidar com ele? Vou ter que lavar ele num banheiro público? Como?
Parece-me uma dinâmica complexa. (Entrevistada 22)
A Figura 11 mostra a atitude da marca Fleurity de gerar conteúdo e informação a
respeito da forma de higienização do produto para sanar as dúvidas do público como expostas
pela Entrevistada 22.
61
Figura 11 - Higienização
Fonte: Fleurity (2017).
O fato de o produto ainda não ser amplamente divulgado também é visto como uma
desvantagem do produto. A Entrevistada 23 cita que, por ele não ser algo tão divulgado
quanto os absorventes, acaba sendo mais difícil que as pessoas tenham acesso a ele e o
adotem. A Entrevistada 21 complementa:
Acredito que o produto ainda seja muito pouco divulgado. Eu, por exemplo, fiquei
sabendo dele somente há pouco tempo, e ainda vejo muito preconceito e
informações distorcidas passando de mulher pra mulher, sem uma opinião séria por
trás pra levar em consideração. (Entrevistada 21)
Além desses fatores, a Entrevistada 25 também citou que acredita que o produto seja
desagradável de usar e que o fato de expor o sangue deva ser “nojento”. A Entrevistada 22,
por sua vez, achou o produto estranho e não aceitou muito bem a ideia de inserir um
“copinho” em seu corpo – ela comenta que é um produto muito diferente do que está
acostumada.
62
4.4.4 Barreiras Percebidas para Adoção
As barreiras percebidas para a adoção do produto por parte das não usuárias vão muito
ao encontro do que foi comentado nas desvantagens percebidas. Basicamente, são as
desvantagens e dificuldades percebidas no produto que as impedem de adotá-lo. Foram
citados o costume e satisfação com o método já utilizado, a não praticidade da utilização do
coletor, a dificuldade de higienização e descarte do conteúdo e o desconforto que ele pode
gerar.
A Entrevistada 18 expõe a falta de interesse em testar algo novo pelo fato de ser um
investimento e por estar satisfeita com a tecnologia que utiliza: “Por eu não ver tantas
vantagens nele eu acabo preferindo por não usar. Nunca usei, confesso, mas eu não vou
pagar um monte pra experimentar uma coisa que eu não tenho vontade, já estou satisfeita
com o absorvente interno”.
A Entrevistada 21 menciona a questão da acessibilidade, unida ao fator de satisfação
com o método utilizado: “Sempre me senti bem com o absorvente interno e acredito que o
acesso a ele ainda é muito mais fácil - só vi o coletor para vender pelo site, então, por
comodidade acabo usando o mesmo método há anos”. A Entrevistada 25 comenta o
estranhamento do produto, por ser algo muito diferente: “Eu acho que eu não uso e nunca
testei porque acho muito diferente e acredito que seja desagradável, apesar de muitas amigas
terem falado que é tranquilo e muito bom”. A Entrevistada 24, em contrapartida, comenta que
tem sim vontade de experimentar e adotar o produto e que ainda não o fez apenas por uma
questão de comodismo.
4.4.5 Ranking de Importância de Fatores
Depois da análise de dados secundários do produto, foram percebidos os principais
fatores de influência no contexto em que o produto está inserido – produto da categoria de
menstruais. Sendo assim, foi feita a seguinte pergunta às entrevistadas: “Considerando um
produto da categoria de menstruais, que grau de importância você dá para os seguintes
fatores?”. Pediu-se às não usuárias que ranqueassem de 1 a 7 os fatores de influência, sendo 1
o menos importante e 7 o mais importante, e sem repetir números. Depois de realizada o
cálculo da mediana das respostas para cada fator, o resultado obtido foi: Conforto e
Praticidade (6); Higiene (5); Segurança (4); Sustentabilidade (3); Custo-benefício (2,5);
63
Contato com o Corpo (1). A finalidade desta análise foi tentar compreender os fatores mais e
menos influentes para a adoção de um produto da categoria de menstruais na visão das
usuárias do coletor e para, posteriormente, poder comparar a influência dos fatores entre os
dois grupos analisados.
Gráfico 3 - Ranking de Importância de Fatores: Não Usuárias
7
6
5
Conforto
4
Higiene
3
Praticidade
2
Segurança
1
Custo-benefício
0
Sustentabilidade
Contato com o Corpo
Fonte: Elaborado pela autora.
Analisando o Gráfico 3, tem-se os fatores de influência “Conforto”, “Higiene” e
“Praticidade” como os mais importantes pelas não usuárias do produto, com as medianas de 6,
6 e 5, respectivamente. Nota-se que as não usuárias, assim como as usuárias, não abrem mão
de um produto que garanta seu bem-estar, que assegure uma sensação de limpeza em sua
utilização e que seja compatível com uma rotina atarefada. “Segurança”, novamente, foi o
fator posicionado como intermediário no ranking de importância, com a mediana de 4. CustoBenefício”, “Sustentabilidade” e “Contato com seu Corpo”, por sua vez, foram novamente os
fatores com as menores medianas, respectivamente 3, 2 e 1, o que sugere que não sejam
fatores os fatores de maior influência ou cruciais na decisão de adoção de um produto da
categoria de produtos menstruais.
4.5
ANÁLISE COMPARATIVA – USUÁRIAS E NÃO USUÁRIAS
A análise a seguir possui a intenção de comparar de alguma forma a percepção das
usuárias e não usuárias do produto, tanto em relação ao produto em si quanto em relação aos
64
fatores considerados importantes no contexto de produtos menstruais. Serão contrapostas as
desvantagens percebidas pelas usuárias do produto e pelas não usuárias do produto e, após,
sobrepostos os fatores considerados importantes para cada grupo, a fim de estabelecer alguma
correlação entre eles.
Desvantagens
Quadro 5 – Comparativo de Desvantagens Percebidas no Produto
Usuárias
Não Usuárias
Menor praticidade para inserir e retirar o
produto em lugares públicos
Menor praticidade para inserir e retirar o
produto em lugares públicos
Fase de adaptação
Estranhamento do produto
Higienização
Higienização
Investimento inicial
-
Falta de divulgação e conveniência (pontos de
venda)
Falta de divulgação e conveniência (pontos
de venda)
Fonte: Elaborado pela autora.
Analisando o Quadro 5, percebe-se que os pontos citados como desvantagens
percebidas no coletor menstrual com relação aos absorventes são similares entre usuárias e
não usuárias. Tirando o fator “investimento inicial”, que foi citado como desvantagem apenas
pelas usuárias, os demais fatores foram citados por ambos os grupos. A diferença, porém, é
como isso é enfatizado ou visto como relevante por cada grupo. As usuárias, de maneira geral,
citaram as desvantagens percebidas como pouco relevantes perto dos benefícios do produto.
Já as não usuárias mencionam os fatores como barreiras que desestimulam sua adoção.
Para melhor analisar essa situação, podem-se observar os pontos citados como
vantagens do produto na visão das usuárias, que acabam se sobressaindo e/ ou anulando as
desvantagens percebidas:
Quadro 6 - Vantagens Percebidas: Usuárias
Usuárias
Vantagens
Praticidade
Conforto
Fonte: Elaborado pela autora.
Sensação de limpeza, saúde e higiene
Economia financeira
Menor Produção de lixo
Liberdade
Maior contato com o corpo
65
Percebe-se, então, que a menor praticidade para inserir e retirar o produto é anulada
pelo fato de ele poder ser utilizado por um longo período de tempo, o que o torna mais
prático; que a desvantagem na fase de adaptação é substituída por um maior conforto durante
o uso do produto, depois que a usuária se adapta a ele; que a maior complexidade na hora de
higienização do produto (pois não é descartável) é compensada por ele garantir à usuária uma
maior sensação de limpeza, saúde e higiene; e que o investimento inicial mais alto é válido
pela economia financeira no longo prazo.
Além das vantagens citadas pelas usuárias que de certa forma compensam as
desvantagens percebidas no produto, também são citadas outras vantagens, tais como: menor
produção de lixo, liberdade e maior contato com o corpo. O fato de o produto não ser
amplamente divulgado (por especialistas da saúde, por exemplo) e não ser tão conveniente
para comprar em lojas físicas, porém, continua sendo uma desvantagem relevante percebida
pelos dois grupos.
O Gráfico 4 demonstra a relação de importância dos fatores Conforto, Higiene,
Praticidade, Segurança, Custo-Benefício, Sustentabilidade e Contato com o Corpo, pelas
usuárias e não usuárias. O intuito da comparação é verificar de que forma cada um dos grupos
valoriza os fatores de influência no contexto de produto menstrual.
Gráfico 4 - Comparativo de Importância de Fatores: Usuárias x Não Usuárias
Contato com seu
Corpo
Conforto
6
5
4
3
2
1
0
Praticidade
Usuárias
Custo-benefício
Sustentabilidade
Higiene
Não Usuárias
Segurança
Fonte: Elaborado pela autora.
Percebe-se, portanto, analisando a sobreposição, que ambos os grupos valorizam os
fatores de forma muito parecida. Essa constatação nos leva a crer que existe uma lacuna de
66
conhecimento entre usuárias e não usuárias a respeito do produto analisado. Considerando que
ambos os grupos valorizam de forma bastante semelhante os mesmos fatores dentro desse
contexto e o grupo de usuárias, de forma geral, está satisfeito com o produto enquanto o grupo
de não usuárias possui uma percepção negativa do coletor, pode-se observar que existe uma
falha de comunicação, informação e educação a respeito da realidade que o produto
proporciona.
67
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como fechamento e conclusão do presente trabalho, este capítulo busca resgatar os
objetivos propostos para dissertar acerca dos resultados atingidos com a pesquisa exploratória.
Além disso, são ressaltadas as contribuições trazidas pelo presente trabalho e suas implicações
práticas. Ainda, existe a reflexão a respeito de pontos em que o trabalho poderia ter sido mais
bem explorado e suas limitações, bem como sugestões de melhorias para pesquisas futuras
acerca do tema.
5.1
OBJETIVOS
A respeito dos objetivos propostos, as perguntas que o trabalho buscou responder, que
refletem seu objetivo geral, foram: (I) “Quais são os principais fatores de influência na adoção
de um produto inovador voltado ao mercado feminino?” (II) “Como esses elementos
influenciam as consumidoras na adoção do coletor menstrual?”. O objetivo geral do trabalho,
por sua vez, foi analisar os fatores que influenciam as consumidoras na adoção do coletor
menstrual.
Como objetivos específicos, os quais permitem o atingimento do objetivo geral, foram
definidas cinco questões: (i) Descrever o processo de difusão do produto no mercado
brasileiro e os principais fatores de influência no processo; (ii) Analisar o segmento de
mercado no qual o novo produto está inserido; (iii) Analisar a percepção das consumidoras
em relação ao novo produto em questão; e (iv) Identificar os fatores que influenciam na
adoção de um produto inovador voltado ao mercado feminino.
Sobre o a descrição do processo de difusão do produto no mercado brasileiro, foi
percebido, através da análise exploratória, que a adoção do produto por parte de seu públicoalvo está totalmente interligada a dois principais fatores: a divulgação boca-a-boca, ou seja,
indicação e comentários advindos de amigas e familiares, e a divulgação através de mídias
sociais como Facebook, Instagram, Youtube e blogs femininos. Esses dois fatores foram
considerados cruciais para difusão da informação acerca do produto inovador, o que se tornou
determinante para que as mulheres chagassem ao ato de compra do produto. O segundo passo,
porém, trata-se da adoção de fato, o uso do produto por um longo período de tempo após sua
aquisição, sem ocasionar abandono. A adoção do produto em questão é relacionada à
68
adaptação da usuária ao produto, que possui um grau de complexidade alto. Três das
dezesseis usuárias entrevistadas compraram o produto, porém, por dificuldade de adaptação,
acabaram o abandonando após algumas tentativas de uso. Outra usuária, ainda, acabou
estragando seu produto no momento da higienização, o que ocasionou o abandono da
tecnologia.
Acerca da análise do segmento mercadológico no qual o produto está inserido, produto
de higiene e saúde para mulheres da categoria de produtos menstruais, foi realizada uma
entrevista em profundidade com uma especialista de mercado, colaboradora da área de
Marketing de uma grande empresa referência global nesse setor. Através da conversa, foram
desmistificados pontos como crescimento do mercado no Brasil, participação e penetração do
coletor menstrual e dos absorventes (internos e externos), e percepções do público-alvo acerca
dessa categoria de produtos.
Sobre a percepção das consumidoras a respeito do produto, foi possível obter três tipos
de percepções: de quem comprou o produto, se adaptou e utiliza até hoje; de quem comprou o
produto, porém não se adaptou e deixou de usá-lo; e de quem nunca utilizou o produto, mas
possui certo conhecimento a respeito do mesmo.
A percepção das usuárias do produto, de maneira geral, é positiva. Apesar de algumas
desvantagens serem percebidas, principalmente em relação à fase de adaptação, o saldo final é
vantajoso e todas percebem mais benefícios que malefícios no coletor menstrual se
comparado com os absorventes – internos e externos. A praticidade que o produto possibilita,
devido à possibilidade de ser utilizado durante um longo período, é um fator claramente
benéfico.
Para as usuárias que abandonaram o produto (quatro das dezesseis entrevistadas), os
benefícios do coletor também foram percebidos. O fator crucial, porém, foi a dificuldade de
adaptação ao produto. Devido à sua complexidade, algumas consumidoras não se adaptam a
ele, não tendo a sensação de conforto tão enfatizada pelas usuárias bem sucedidas.
Nesse sentido, os resultados obtidos nas entrevistas com o público-alvo foram ao
encontro da visão trazida pela especialista de mercado, que afirmou que, como o método
difere bastante das tecnologias anteriores, seu processo de adaptação requer uma carga de
informação e educação muito altas. Acredita-se que a comunicação e disseminação de
informação por parte das marcas fabricantes do produto e de influenciadores do meio, como
blogueiras e profissionais de área da saúde, seja essencial nesse momento. Apesar da
dificuldade, todas as entrevistadas que abandonaram o produto garantem que pretendem tentar
mais vezes até que consigam se adaptar.
69
A percepção das não usuárias do produto a respeito do coletor menstrual é de
estranhamento e forte resistência à mudança. Acostumadas e satisfeitas com os métodos
anteriores, as entrevistadas consideram o produto estranho, questionam sua utilização e não
enxergam claramente seus benefícios. O estranhamento da dinâmica de descarte do conteúdo
e higienização do produto foi um fator bastante trazido pelas entrevistadas – o fato de não ser
descartável, por mais que seja uma opção mais sustentável, gera aversão às entrevistadas, que
se imaginam higienizando o produto em ambientes públicos. O que falta, neste caso, é o
conhecimento a respeito do grande número de horas em que é possível utilizar o produto sem
realizar descarte do conteúdo e higienização.
O curioso é que, quando questionadas sobre os fatores que consideram importantes no
contexto de produto da categoria de menstruais, as usuárias e não usuárias demonstraram um
comportamento muito parecido. Conforto, praticidade e higiene foram os três fatores mais
importantes para ambos os grupos. Considerando, então, que as não usuárias do produto
valorizam os mesmos fatores que as usuárias, que estão satisfeitas com o uso do coletor
menstrual, pode-se sugerir que as não usuárias teriam uma boa experiência com o produto
caso viessem a adotá-lo. O que possivelmente falta, neste caso, é uma maior informação,
instrução, educação e contato com o produto, para que os preconceitos sejam desfeitos e as
barreiras de adoção quebradas.
Sobre os fatores de influência para a adoção do produto em questão, foram percebidos,
através das entrevistas em profundidade com as usuárias do produto, sete fatores, que estão
ranqueados por ordem decrescente de importância segundo as usuárias entrevistadas:
conforto, praticidade, higiene, segurança, sustentabilidade, custo-benefício e maior contato
com o corpo. É importante comentar que o fator sustentabilidade, por mais que tenha sido
citado de forma unânime, não se destacou como sendo o fator crucial para escolha do produto,
mas sim como um benefício extra. Algumas entrevistadas, ainda, citaram que, se o produto
fosse a opção mais sustentável, mas não garantisse conforto e praticidade, não o utilizariam.
Os fatores conforto e praticidade foram fortemente citados e refletem a vida dinâmica e
atarefada da mulher atual, que busca otimizar seu tempo sem abdicar do seu bem-estar.
5.2
CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO
Com referência às contribuições trazidas pelo presente trabalho, considera-se relevante
ressaltar o maior entendimento dos fatores de influência no processo de difusão e adoção de
70
inovações voltadas para o mercado feminino – quais são os fatores relevantes, por quais
canais a comunicação a respeito de um produto inovador flui, quais são os fatores decisivos
para a adoção de fato e etc. Complementar a isso, os conhecimentos a respeito do mercado de
produtos de higiene e saúde para mulheres e das percepções de suas consumidoras, mais
especificamente, da categoria de produtos menstruais, apresenta uma forte contribuição para o
segmento – que vem crescendo no Brasil nos últimos anos, apesar do momento econômico
não favorável, segundo dados da plataforma Euromonitor (PARAYIL, 2015).
Uma das contribuições importantes do trabalho está diretamente relacionada a uma
característica evidente do produto analisado. O grau de complexidade da tecnologia do
produto inovador, coletor menstrual, realça a importância do aprendizado no processo. Como
o produto não possui uma vantagem relativa tão evidente com relação aos produtos
tradicionais, o contato e exposição do público-alvo ao produto e informações sobre ele são
muito importantes. Essa premissa pode ser generalizada para demais produtos inovadores
direcionados a este mercado que tenham um alto grau de complexidade na sua utilização e
que não possuam uma vantagem relativa tão óbvia e clara: o contato e familiarização da
potencial usuária com o produto é crucial para sua adoção. Evidentemente, nem todos os
produtos podem ser testados antes de adquiridos, como é o caso do coletor menstrual, porém,
é importante que as potenciais consumidoras sejam expostas ao produto da forma mais intensa
e próxima possível, para que sejam percebidas de fato as vantagens e benefícios e para que
seja criada uma relação de confiança entre a consumidora e o produto.
Dentro do tema difusão da inovação, ainda, o trabalho traz contribuições à medida que
é um tema que ainda possui bastante espaço para ser explorado em trabalhos acadêmicos no
Brasil. Diante de um contexto em que o empreendedorismo, cada vez mais, vem impactando
diversas realidades, a inovação está também cada vez mais presente e, por isso, seu processo
de difusão e adoção possui uma importância tão grande atualmente. O presente trabalho, por
expor um produto inovador, permite que seja observado o processo de difusão da inovação
estampado no caso do coletor menstrual, bem como destaca os principais fatores
influenciadores para o sucesso do processo. Ainda, apresenta contribuição ao trazer insights,
pontos de atenção e possibilidades de melhoria para futuros produtos inovadores direcionados
a um mercado de características similares – e até mesmo às marcas fabricantes do coletor
menstrual, para melhorias no produto e em seu processo de comunicação, educação e
informação.
71
5.3
IMPLICAÇÕES PRÁTICAS
As implicações práticas do presente trabalho, no âmbito da inovação e eventual
lançamento de um produto para o mercado feminino dentro das áreas de higiene e saúde são
bastante relevantes. Os resultados do trabalho trazem dados a respeito dos fatores de
influência no processo de difusão da inovação para este público, bem como das formas de
busca por informação e disseminação da mesma.
Os fatores que devem ser levados em consideração por uma empresa que possua a
intenção de lançar um novo produto para este mercado são os pontos ressaltados nas
entrevistas: conforto, praticidade, higiene, segurança, custo-benefício, sustentabilidade e
maior contato com o corpo. Dentro desses fatores, destacam-se fortemente a praticidade e o
conforto, que refletem a realidade da mulher contemporânea.
O fator praticidade deve ser levado em consideração porque, cada vez mais, a mulher
busca conciliar diversas atividades de sua rotina, otimizando seu tempo e buscando
alternativas mais rápidas, fáceis e práticas. Além de o produto em si possibilitar praticidade
no momento de sua utilização, por permitir longas horas de uso, o fato de ser reutilizável
também colabora nesse sentido, não sendo necessário sair para comprar novos produtos com
frequência. A conveniência e facilitação da experiência de uso da consumidora é um fator de
influência relevante que deve sempre ser considerado.
O fator conforto, por sua vez, reflete o desejo e necessidade de cuidar cada vez mais
do seu bem-estar e saúde, por isso é importante que os produtos contemplem esse aspecto. O
coletor menstrual é considerado confortável por suas usuárias, entretanto, como trazido pela
especialista de mercado, por se tratar de um produto revolucionário destinado a uma região
íntima do corpo, pode ser mal interpretado em alguns casos. Algumas mulheres, que não
possuem um perfil propenso a tomar riscos, podem não reagir bem a produtos que quebrem
paradigmas tão fortes, como é o caso do coletor menstrual. A confiança que o produto
transmite, tanto em termos de saúde quanto de segurança sobre sua eficiência, também são
fatores relevantes para o público-alvo analisado. Conforme trazido pela especialista de
mercado, o Marketing das empresas deve investir em comunicação e aproximação real com as
consumidoras, a fim de estabelecer uma relação de confiança e esclarecer a vantagem relativa
de seus produtos, que nem sempre é facilmente percebida e assimilada.
A questão da higiene torna-se claramente importante quando se refere a um produto do
mercado de saúde e higiene. Para produtos que venham a ser lançados nesse mercado, é
importante levar em conta a garantia de higiene e segurança com relação à saúde da usuária –
72
principalmente se o produto for destinado a um público com alto nível de instrução e classe
social, que, normalmente, é mais exigente. A certificação do coletor menstrual pela ANVISA,
por exemplo, foi um grande passo em termos de credibilidade do produto.
A sustentabilidade é considerada como um diferencial positivo pelas entrevistadas,
que têm consciência da importância e necessidade do cuidado com o meio ambiente.
Surpreendentemente, o fator sustentabilidade não foi percebido como o fator decisório no
momento de adoção do produto, apesar de considerado importante por todas as entrevistadas.
Conforme trazido pela especialista de mercado, as consumidoras entendem que o produto é
mais ecológico e gostam dessa característica nele, porém, nem sempre estão dispostas a
arriscar experimentar uma inovação apenas pelo fato de ela ser mais ecologicamente correta.
Segundo a análise das respostas das entrevistas realizadas, se for necessário abdicar de
praticidade e conforto para adotar uma inovação mais sustentável, possivelmente a difusão
desta inovação não será tão espontânea e expressiva.
O custo-benefício do produto também é visto como um fator importante pelas
entrevistadas. Entretanto, tratando-se de um produto para as classes “A” e “B”, entende-se
que esse não seja o fator mais relevante. De acordo com a análise das respostas, percebe-se
que, quando as vantagens percebidas no produto são nítidas, o custo dele acaba se tornando
um fator secundário.
O maior contato com o corpo, que surgiu também como um benefício do produto, vem
da visão de usuárias que são mais dispostas a novas ideias e à quebra de padrões. No ranking
de importância dos fatores, o fator acabou sendo classificado como menos importante em
ambos os grupos, o que revela sua baixa significância diante do contexto. Contudo, acreditase que existe uma parcela do mercado feminino que é atraída por produtos mais naturais e que
proporcionem um maior contato com seu corpo, tendo espaço para que novos produtos com
essas características sejam desenvolvidos.
Com relação aos fatores de influência para difusão e adoção de inovações
semelhantes, ressalta-se que apesar de todos os fatores terem sido citados como importantes,
acredita-se que, sem conciliar conforto e praticidade, possivelmente a inovação não seja a
opção mais atraente para este público. No caso do coletor menstrual, percebeu-se que há
muita publicidade em torno do fator da sustentabilidade, mais do que em torno dos demais
benefícios do produto. Sugere-se, portanto, que os esforços de comunicação para produtos
semelhantes ao coletor menstrual sejam também direcionados às demais características, como
o conforto e a praticidade. Ressalta-se, também, a necessidade e importância de esforços de
informação e educação sobre o produto, no caso de ser um produto complexo como o coletor
73
menstrual. Por se tratar de um produto inovador em um mercado conservador, esforços de
educação são cruciais para alavancar uma mudança cultural necessária. O conceito de
inovação aberta pode ser interessante no caso do coletor menstrual considerando que o
envolvimento de profissionais e instituições vinculadas à saúde possa fornecer maior respaldo
e credibilidade para o produto perante seu público, além de impulsionar a mudança cultural.
A respeito dos canais de informação e disseminação de informações acerca de
produtos inovadores, foi visto que o público analisado é altamente influenciável e impactado
pelo alcance das mídias sociais (Facebook, Instagram, blogs e Internet de forma geral) e pela
indicação e comentários provenientes de seus grupos de amigas. Da mesma forma, depois de
conhecida a inovação, as entrevistadas alegam comentar e disseminar informações a respeito
dela, bem como indicar o produto para suas amigas e familiares. Recomenda-se, portanto, que
os esforços de comunicação para inovações voltadas a esse público sejam direcionados a estes
canais: mídias sociais e incentivas de troca de informações e conversas sobre o produto.
Algumas marcas fabricantes de coletor menstrual, inclusive, utilizam técnicas comerciais
como “pague um e leve dois”, o que facilita a compra em conjunto e a influência de
consumidoras mais inovadoras sobre consumidoras que talvez não realizassem a compra sem
este incentivo externo.
5.4
LIMITAÇÕES DO TRABALHO
O presente trabalho, apesar de apresentar resultados interessantes acerca do tema
inovação e difusão da inovação, bem como de um produto específico para o mercado
feminino, possui limitações e possibilidades de melhoria. Para novos estudos dentro desse
mesmo tema, são sugeridos alguns aprimoramentos e aprofundamentos.
Por a pesquisa se tratar de uma análise exploratória, naturalmente, existe a limitação
em termos de amostra analisada. Com uma amostra de apenas dezesseis usuárias e dez não
usuárias do produto, não é possível fazer nenhuma inferência estatística nem generalizar os
dados. Com a pesquisa qualitativa, é possível ter as principais percepções acerca do produto,
porém, em termos quantitativos, não se pode entender qual o comportamento da maioria da
população feminina brasileira a respeito do produto analisado.
Por meio de uma abordagem quantitativa, seria possível aperfeiçoar o trabalho,
deixando-o mais completo, com uma gama de dados mais exatos e possíveis de generalizar
para o público-alvo como um todo. Com a análise quantitativa, também, acaba sendo mais
confiável para tomar decisões estratégicas como lançar um produto similar dentro do
74
segmento de higiene e saúde. O fato de a análise ser qualitativa, ainda, limitou a pesquisadora
na diversificação do seu público-alvo no que diz respeito às regiões do Brasil. Por uma razão
de acessibilidade e contato com o público-alvo, 22 das 26 entrevistadas são residentes de
Porto Alegre – RS, uma do Rio de Janeiro – RJ e três de São Paulo, sendo uma da capital,
uma de Uberlândia e outra de Botucatu.
Verificou-se também que existem diversos grupos, por exemplo, no Facebook, de
mulheres que discutem a respeito deste produto e demais temas do universo feminino.
Acredita-se que em futuros trabalhos essas fontes de conteúdo, interação e informação possam
ser utilizadas mais a fundo. Um novo estudo pode realizar uma pesquisa junto ao público
participante dessas discussões online. Indica-se que, para trabalhos e pesquisas acerca do
universo feminino, sejam mais bem exploradas plataformas como esta para geração de dados.
75
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TROTT, Paul. Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Novos Produtos. Trad. Patrícia
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UDUSLIVAIA, Svetlana. Disruptors in Disposable Hygiene Market: Rise of Reusable
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VERYZER, R. Marketing and the Development of Innovative Products: International
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78
APÊNDICE A – Roteiro Entrevista Usuárias
79
APÊNDICE B – Roteiro Entrevista Não Usuárias
80
APÊNDICE C – Roteiro Entrevista Especialista de Mercado
81
ANEXO A – Sobre o Produto/Marca
Fonte: Inciclo (2017a).
ANEXO B – Vantagens do Produto
Fonte: Inciclo (2017a).
82
ANEXO C – Imagem Comparativa Coletor Menstrual X Absorvente Interno
Fonte: Inciclo (2017a).
ANEXO D – Como Inserir o Coletor
Fonte: Inciclo (2017a).
83
ANEXO E – Como Retirar e Higienizar
Fonte: Inciclo (2017a).
ANEXO F – Esterilizador: Produto Complementar
Fonte: Fleurity (2017).
84
ANEXO G – Publicidade/Comodidade
Fonte: Fleurity (2017).
85
ANEXO H – Publicidade/Meio Ambiente
Fonte: Fleurity (2017).
86
ANEXO I – Publicidade/Liberdade
Fonte: Fleurity (2017).
87
ANEXO J – Publicidade/Custo-benefício
Fonte: Fleurity (2017).
88
ANEXO K – Informação/Contato
Fonte: Fleurity (2017).
89
ANEXO L – Publicidade/Autonomia
Fonte: Inciclo (2017b).
90
ANEXO M – Publicidade/Sustentabilidade
Fonte: Inciclo (2017b).
91
ANEXO N – Informação/Contexto Social
Fonte: Inciclo (2017b).