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A razão para o mal - publicado

2022, O Povo

Desde o final os anos 60 que fomos advertidos por Max Horkheimer de que a razão pode ser usada para favorecer e fortalecer o mal. É melhor não manter ilusões quanto à superação desta afirmativa. Em 2018 não foram poucos os ativistas, intelectuais, jornalistas, políticos que rapidamente enxergaram o que significaria Bolsonaro e seu governo. Já que praticamente inexiste direta democraticamente civilizada no Brasil, outro grupo maior de ativistas, intelectuais, jornalistas e políticos cuidou em condenar o "exagero" do primeiro grupo e ratificar a crença na suposta solidez da democracia brasileira.

https://mais.opovo.com.br/colunistas/martoniomontalverne/2022/07/11/martonio-montalverne-a-razao-para-omal.html A razão para o mal Publicado 22:20 | 11 de Jul de 2022 Tipo Opinião Desde o final os anos 60 que fomos advertidos por Max Horkheimer de que a razão pode ser usada para favorecer e fortalecer o mal. É melhor não manter ilusões quanto à superação desta afirmativa. Em 2018 não foram poucos os ativistas, intelectuais, jornalistas, políticos que rapidamente enxergaram o que significaria Bolsonaro e seu governo. Já que praticamente inexiste direta democraticamente civilizada no Brasil, outro grupo maior de ativistas, intelectuais, jornalistas e políticos cuidou em condenar o "exagero" do primeiro grupo e ratificar a crença na suposta solidez da democracia brasileira. Como não se pode aceitar o fato de que experimentados integrantes da sociedade caiam em armadilhas tão conhecidas pela história, a explicação que resta é de sua cumplicidade com o que agora se tem diante dos olhos. O assassinato de uma liderança de esquerda, numa festa de aniversário em Foz do Iguaçu, é o prenúncio do que virá. Não deveria surpreender ninguém quando se alcança este nível. Todas as vezes que se efetivou a violência para o extermínio de adversários ou dos diferentes, apareceu primeiro sob a forma burlesca, de chacota mesmo. No início, riu-se do que parecia ingênua brincadeira, como ainda hoje se argumenta em defesa das falas racistas. Depois convenceu largo público e virou política de Estado. Era ódio ao mais fraco; elegia aos fortes. "Metralhar" opositores ou conclamar apoiadores a fazerem "o que sabem que devem fazer" são palavras proferidas a não deixaram dúvida sobre a premeditação de Bolsonaro. Qualquer contemporização noutro sentido, não será sono da razão: será a razão utilizada para o mal, com a complacência de muitos dos que rezam todos os dias por amor ao próximo. Já não parece mais necessário aviso sobre o Brasil das eleições de 2022, e o grave risco que corremos de perder uma sociedade aberta, laica e plural. Se quisermos impedir que a razão seja dirigida pela violência, não há mais o que se esperar. Este chamado se direciona às instituições do Estado e da sociedade, os quais podem agir de forma incisiva, a não permitir uma renovada vitória do mal.