Comunicado 177
Técnico
ISSN 9192-0099
Agosto, 2008
Brasília, DF
Avaliação da Atividade
Antagônica in vitro de
Isolados de Trichoderma sp
para Biocontrole de
Sclerotinia sclerotiorum
Oliveira, T.A.S1
Carvalho, D.D.C1
Mello, S.C.M2*
O controle biológico de patógenos de plantas possui uma série de vantagens em relação aos
pesticidas convencionais. Enquanto os fungicidas apresentam somente um efeito temporário e
usualmente necessitam aplicações repetidas durante o período de crescimento da cultura, os agentes
de controle biológico são capazes de se estabelecer, colonizar e de se reproduzirem no ecossistema
(ÁVILA et al., 2005), além de constituírem uma alternativa para diminuir o potencial de inóculo do solo
sem trazer danos ao meio ambiente (MELLO et al., 2007).
Fungos antagônicos do gênero Trichoderma (Pers.), são aqueles que produzem enzimas
capazes de degradar diversos materiais e lisar parede de células de fungos. Atuam, também,
por meio da produção de antibióticos voláteis e não-voláteis (MELO, 1996). Os fungos
pertencentes a esse gênero são naturais do solo, e podem viver saprofiticamente ou
parasitando outros fungos (MELO, 1998). Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary é um fungo
de solo que tem extensa distribuição nos climas temperados e subtropicais, causando
1
Eng. Agr., M.Sc., Departamento de Fitopatologia, Universidade de Brasília, 70919-900, Brasília DF.
2
Eng. Agr., Ph.D., Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, C.P. 02372, 70770-900, Brasília DF. *e-mail: smello@cenargen.embrapa.br
murcha e morte em distintas espécies de
334) e o isolado C-03-02 de S.
plantas, incluindo o feijoeiro (CANDOM et
Sclerotiorum.
al., 2000). O sucesso no uso de
Trichoderma como agente de biocontrole
Avaliação in vitro do antagonismo de
tem sido documentado em diversos
Trichoderma spp. em cultura pareada.
países, sobretudo para patógenos de
solo, como Rhizoctonia solani (HADAR et
A verificação do antagonismo dos
al., 1979), Sclerotium rolfsii (ELAD et al.,
isolados de Trichoderma contra o
1980; AVILA et al., 2005), Pyhtium
patógeno S. sclerotiorum foi realizada
aphanidermatum (PATRÍCIO et al., 2001),
utilizando-se a metodologia adaptada de
Sclerotinia sclerotiorum (SINGH, 1991;
cultura pareada descrita por Dennis e
AVILA et al., 2005) e Colletotrichum
Webster (1971), com a diferença de
truncatum (BANKOLE E ADEBANJO,
proporcionar previamente o
1996).
estabelecimento do patógeno
Tendo em vista a necessidade de se
(crescimento sobre 1/3 da placa de Petri).
desenvolver método eficaz de controle
Para isso, discos de cultura (5 mm)
dessa doença, este trabalho objetivou
contendo micélio de S. sclerotiorum, com
testar o efeito in vitro de 10 isolados de
seis dias de cultivo, foram repicados dois
fungos do gênero Trichoderma contra S.
dias antes da introdução do agente
sclerotiorum e estudar interações in vitro
biocontrolador. Os discos de Trichoderma
entre o patógeno e o agente de
e do patógeno foram colocados, em lados
biocontrole por microscopia de luz.
opostos, em cada placa contendo meio
Batata-dextrose-ágar (BDA) solidificado e
MATERIAL E MÉTODOS
os experimentos conduzidos em
triplicata. As placas foram mantidas em
Isolados de Trichoderma sp. e Sclerotina
BOD a 25oC com fotoperíodo de 12 horas
sclerotiorum
(ÁVILA et al., 2005). Após sete dias de
cultivo dos dois fungos na mesma placa,
Os isolados de Trichoderma spp. e S.
procederam-se as avaliações, que
sclerotiorum utilizados neste trabalho
consistiram na medição do crescimento
pertencem à Coleção de Fungos para
radial das colônias de S. sclerotiorum. Os
Controle Biológico de Fitopatógenos da
valores médios de crescimento micelial
Embrapa Recursos Genéticos e
obtidos foram, então, utilizados para
Biotecnologia. Para os experimentos,
análise estatística, empregando-se o teste
foram utilizados os seguintes isolados de
de Scott e Knott (1974) a 5 % de
Trichoderma spp. (CEN 304, CEN 308,
probabilidade. Adicionalmente, foi
CEN 311, CEN 315, CEN 316, CEN 320,
realizada a classificação do antagonismo,
CEN 329, CEN 330, CEN 332 e CEN
de acordo com escala descrita por Bell et
médio do patógeno a um valor (4,96 cm)
al. (1982).
significativamente inferior aos demais
tratamentos (Tabela 1).
Verificação do hiperparasitismo de
De acordo com a classificação de Bell et
Trichoderma sp. sobre S. sclerotiorum.
al. (1982), dos 10 isolados avaliados,
somente CEN 316 apresentou nota 1,
Para obtenção de zonas de confronto dos
ocupando em média, 83% da superfície
dois fungos, o isolado de Trichoderma
do meio e colonizando o patógeno, sendo
CEN 316 foi cultivado juntamente com o
classificado como altamente antagônico a
patógeno em cultura pareada, durante 10
S. sclerotiorum, aos 10 dias de cultivo
dias (CARPENTER et al., 2005). Após
simultâneo dos fungos (Tabela 1). Por
esse período, com 83% da placa de Petri
outro lado, os demais isolados,
colonizada pelo antagonista, discos de
classificados com as notas 3 e 4,
micélio provenientes da região de
mostraram-se menos eficazes quanto a
confronto dos dois fungos, foram
capacidade antagonista in vitro.
removidos para lâminas microscópicas e
Resultados similares foram obtidos por
observados em microscópio de luz Leica
Mello et al. (2007), em que vários
Microstar IV. Este experimento foi
isolados de Trichoderma pertencentes a
conduzido em triplicata e as imagens
essa coleção, ao serem testados pelo
capturadas com câmera digital Sony
método de cultivo pareado, foram
cyber shot 6.2.
capazes de inibir o crescimento de
Sclerotium rolfsii, colonizando totalmente
RESULTADOS E DISCUSSÃO
o patógeno. A redução de crescimento de
S. sclerotiorum pode ser atribuída à
Avaliação in vitro do antagonismo de
competição por espaço e por nutrientes
Trichoderma spp. em cultura pareada.
presentes no meio de cultura, como
também pela liberação de substâncias
Dentre os isolados de Trichoderma
tóxicas. Este efeito também foi relatado
testados, CEN 316, CEN 334 e CEN 311
por Ávila et al. (2005), ao avaliar o
foram os que apresentaram maior
antagonismo de outros isolados de
atividade antagonista aos sete dias de
Trichoderma contra S. rolfsii e S.
cultivo pareado, reduzindo o crescimento
sclerotiorum.
Tabela 1 – Crescimento de Sclerotinia sclerotiorum ao 7º dia de cultivo pareado com
isolados de Trichoderma spp. e classificação dos isolados quanto ao antagonismo, segundo
escala de Bell et al. (1982)*, ao 10º dia de cultivo pareado.
Isolado de
Crescimento das colônias de S.
Trichoderma sp. quanto ao
Trichoderma sp.
sclerotiorum (cm) ao 7º dia**
antagonismo ao 10º dia*
CEN 316
4,9 a
1
CEN 334
4,9 a
4
CEN 311
4,9 a
3
CEN 308
5,0 a
3
CEN 330
5,7 b
4
CEN 329
5,7 b
4
CEN 315
5,7 b
3
CEN 320
6,4 c
4
CEN 332
6,4 c
4
CEN 304
6,5 c
3
Coeficiente de variação
6,67%
*Classe 1: Trichoderma cresce sobre o patógeno e ocupa toda a superfície do meio; Classe
2: Trichoderma cresce sobre pelo menos 2/3 da superfície do meio; Classe 3: Trichoderma
ocupam aproximadamente metade da superfície do meio; Classe 4: Trichoderma cresce
sobre 1/3 da superfície do meio; Classe 5: Trichoderma não cresce e o patógeno ocupa
toda a superfície da placa.
**Valores seguidos pela mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente pelo teste
de Scott e Knott (1974) a 5 % de probabilidade.
Verificação do hiperparasitismo de Trichoderma spp. sobre S. sclerotiorum.
Interações entre o antagonista e o
ocorreram em todas as repetições do
patógeno foram confirmadas (Figura 1A).
tratamento. Estes resultados estão de
As figuras 1B e 1C mostram hifas de
acordo com Inbar et al. (1996) e Ávila et
Trichoderma crescendo em torno das
al. (2005), que verificaram, através de
hifas de S. sclerotiorum forma
microscopia eletrônica de varredura
verificadas. Além disso, foi observado o
(MEV) e de luz, interações semelhantes
crescimento do antagonista por toda
entre hifas de T. harzianum e S.
extensão das hifas do patógeno (Figura
sclerotiorum em condições in vitro de
1D). Interações entre os dois fungos
cultivo simultâneo.
Fig. 1 – Estudos de microscopia de luz da interação entre Trichoderma sp. (isolado CEN
316) e Sclerotinia sclerotiorum: A) Interações entre antagonista e patógeno; B) Hifa de
Trichoderma sp. crescendo e se enrolando em uma hifa de S. slerotiorum; C) Setas
mostrando uma hifa de S. sclerotiorum colonizada pelo antagonista; D) Hifa de S.
sclerotiorum com 30 µm de diâmetro colonizada pelo antagonista, em maior aumento.
(Bars = 32; 19; 20 e 30 µm para as figuras 1A, 1B, 1C e 1D, respectivamente).
Agressividade elevada e capacidade de
colonização do isolado CEN 316 de
Trichoderma sp. sobre S. sclerotiorum foi
verificada aos 10 dias de cultivo. Logo,
estudos posteriores deverão ser
realizados para averiguar o efeito
antagônico deste isolado em condições
de campo e de casa-de-vegetação.
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Z. R.; CARVALHO, S. S.;
BRAÚNA, L. M.; GOMES, D. M. P. A.;
MELLO, S. C. M. Seleção de isolados de
Trichoderma spp. antagônicos a
Sclerotium rolfsii e Sclerotinia
sclerotiorum. Brasília, DF: Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia,
2005. 30 p. (Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia. Boletim de
pesquisa e desenvolvimento, 117).
BANKOLE, S. A.; ADEBANJO, A.
Biocontrol of brown blotch of cowpea
caused by Colletotrichum truncatum with
Trichoderma viride. Crop Protection,
Oxford, v.15, p. 633-636, 1996.
BELL, D. K.; WELLS, H. D.; MARKHAM,
C. R. In vitro antagonism of Trichoderma
species against six fungal plant
pathogens. Phytopathology, Saint Paul,
Minn., v. 72, n. 4, p. 379-382, 1982.
CANDOM, M. A.; MAZZA DE GALAD, S.
M.; MAZZANTI DE CASTAÑN, M. A.;
GUTIRREZ, S. A. Actividad antagônica in
vitro de aislamientos de Trichoderma
spp., sobre esclerocios de Sclerotinia
sclerotiorum. Corrientes, Argentina:
UNNE, 2000. (Comunicaciones
Cientificas y Tecnológicas). Disponível
em:<http://www1.unne.edu.ar/cyt/2000
/5_agrarias/a_pdf/a_042.pdf>.
CARPENTER, M. A.; STEWART, A.;
RIDGWAY, H. J. Identification of novel
Trichoderma hamatum genes expressed
during mycoparasitism using subtractive
hybridization. FEMS Microbiology Letters,
Amsterdam, NL, v. 251, p. 105-112,
2005.
DENNIS, C.; WEBSTER, J. Antagonistic
properties of species-groups of
Trichoderma, III Hyphal interactions.
Transactions British. Mycological Society,
Cambridge, Inglaterra, v.57, p. 363-369,
1971.
ELAD, Y.; CHET, I.; KATAN, J.
Trichoderma harzianum: a biocontrol
agent effective against Sclerotium rolfsii
and Rhizoctonia solani. Phytopathology,
Saint Paul, USA, v. 70, p. 119-121,
1980.
HADAR, Y.; CHET, I.; HENIS, Y.
Biological control of Rhizoctonia solani
dampingoff with wheat bran culture of
Trichoderma harzianum. Phytopathology,
Saint Paul, USA, v. 69, p. 64-68, 1979.
INBAR, J.; MENENDEZ, A.; CHET, I.
Hyphal interaction between Trichoderma
harzianum and Sclerotinia sclerotiorum
and its role in biological control. Soil
Biology and Biochemistry, Elmsford, NY,
US, v. 28, n. 6, p. 757-763, 1996.
MELLO, S. C. M.; ÁVILA, Z. R.;
BRAÚNA, L. M.; PÁDUA, R. R.; GOMES,
D. Cepas de Trichoderma spp. para el
control biológico de Sclerotium rolfsii
Sacc. Fitosanidad, v. 11, n. 1, p. 3-9,
2007.
MELO, I. S. Agentes microbianos de
controle de fungos fitopatogênicos. In:
MELO, I. S.; AZEVEDO, J. L. Controle
biológico. Jaguariúna: EMBRAPA, 1998.
v.1., p. 18-67.
MELO, I. S. Trichoderma e Gliocladium
como bioprotetores de plantas. Revisão
Anual de Patologia de Plantas, Passo
Fundo, RS, v. 4, p. 261-295, 1996.
PATRICIO, R. F. A.; KIMATI, H.;
BARROS, B. C. Seleção de isolados de
Trichoderma spp. antagônicos a Pythium
aphanidermatum e Rhizoctonia solani.
Summa Phytopathologica, Botucatu, SP,
v. 27, p. 223-229, 2001.
SCOTT, A. J.; KNOTT, M. A. A cluster
analyses method for grouping means in
the analyses of variance. Biometrics,
Oxford, v. 30, n. 3, p. 502-512, 1974.
SING, D. Biocontrol of Sclerotinia
sclerotiorum (Lib) de Bary by Trichoderma
harzianum. Tropical Pest Management,
London, v.37, n.4, p. 374-378, 1991.
Comunicado
Técnico, 177
Ministério
da
Agricultura,
Pecuária
e
Abastecimento
Exemplares desta edição podem ser
adquiridos na Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia
Serviço de Atendimento ao Cidadão
Parque Estação Biológica, Av. W/5
Norte (Final) – Brasília, DF CEP
70770-900 – Caixa Postal 02372
PABX: (61) 3448-4673 Fax: (61)
3340-3624
Comitê de
Publicações
http://www.cenargen.embrapa.br
e.mail:sac@cenargen.embrapa.br
1ª edição
1ª impressão (2008):
Expediente
Presidente: Sergio Mauro Folle
Secretário-Executivo: Maria da Graça
Simões Pires Negrão
Membros: Arthur da Silva Mariante
Maria da Graça S. P. Negrão
Maria de Fátima Batista
Maurício Machain Franco
Regina
Maria
Dechechi
Carneiro
Sueli Correa Marques de
Mello
Vera Tavares de Campos
Carneiro
Supervisor editorial: Maria da Graça S.
P. Negrão
Normalização
Bibliográfica:
Ligia
Sardinha Fortes
Editoração eletrônica: Maria da Graça S. P.
Negrão