Sinais de fogo: análise antropológica de restos ósseos
cremados do Neolítico final/Calcolítico do tholos OP2b
(Olival da Pega, Reguengos de Monsaraz)
Filipa Cortesão Silva1, Eugénia Cunha1, Victor Gonçalves2
1
Departamento de Antropologia, Universidade de Coimbra, Portugal
2
Unidade de Arqueologia (UNIARQ), Faculdade de Letras, Lisboa, Portugal
filipacortesao@hotmail.com
Resumo Do espólio recuperado na escavação do tholos OP2b, localizado em Olival
da Pega, no concelho de Reguengos de Monsaraz, e de cronologia Neolítico final/
Calcolítico, foram estudadas 5404 peças ósseas cremadas, 5365 das quais humanas,
com vista a obter informações antropológicas de índole paleodemográfica, paleopatológica e tafonómica. O método utilizado consistiu na observação macroscópica
recorrendo, quando necessário, à lupa.
Verificou-se que, dos 1927 elementos identificados e inventariados, 91,75% não
estavam completos e apresentavam teores de preservação muito baixos. Restos ósseos
de, pelo menos, 16 indivíduos, nomeadamente, nove adultos e sete não adultos de
distintos grupos etários integravam a amostra, tendo a diagnose sexual revelado
quatro sujeitos do sexo feminino e dois masculinos. Foram, também, detectados
indícios de patologia degenerativa, metabólica e traumática.
Diferentes graus de combustão, sobretudo peças ósseas alvo de temperaturas baixas
da ordem dos 285ºC, e indivíduos cremados em diferentes fases de decomposição
decorrem da interpretação dos “sinais de fogo”. Já a frequência do número mínimo
de indivíduos por tipo de osso indicia a prática de deposição primária.
A presente análise faculta uma série de dados que, certamente, irão contribuir para
o conhecimento do perfil dos indivíduos depositados neste monumento megalítico,
clarificando também alguns aspectos da Pré-história.
Palavras–chave Restos ósseos cremados; análise antropológica; sepultura colectiva;
Neolítico final/Calcolítico; tholos OP2b; Portugal.
Abstract From the remains recovered on the tholos OP2b excavation, located in
Olival da Pega, in Reguengos de Monsaraz district, and Late Neolithic/Chalcolithic
chronology, were studied 5404 segments of cremated bone, 5365 of these human.
These bone pieces were studied in order to obtain anthropological information
regarding paleodemography, paleopathology and taphonomy. The applied methods
were based on a macroscopic observation and the use of a magnifying glass whenever
necessary.
Antropologia Portuguesa 24/25, 2007/2008: 109‑139
110
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
Among the obtained results, it is important to refer that 91.75% of the 1927
identified and documented segments were not complete and exhibited low levels of
preservation. The sample includes the bone remains of 16 individuals, nine adults
and seven non adults of different ages, and the sexual diagnosis identified four
females and two males. Signs of degenerative, metabolic and traumatic pathology
were also found. Different levels of combustion, especially bone segments burned
in low temperatures of approximately 285ºC, and individuals cremated in different
stages of decomposition resulted from fire signals interpretation. The minimum
number of individuals per type of bone indicates a primary deposition.
This analysis provides a series of data that will certainly contribute to the knowledge
of the profile of the individuals placed in this megalithic monument and the
understanding of some aspects of the Prehistory.
Key words Cremated bone; anthropological analysis; collective burial; Late
Neolithic/Chalcolithic; tholos OP2b; Portugal.
Introdução
O presente trabalho advém da análise antropológica de uma parcela do
espólio ósseo recuperado na escavação da Anta 2 de Olival da Pega (OP2).
Este monumento megalítico situa-se no Alentejo, no distrito de Évora, concelho de Reguengos de Monsaraz, num dos extremos a Nordeste da planície
de Reguengos, perto da Ribeira da Pega e não muito distanciado do sopé de
Monsaraz (Gonçalves, 1999).
Vítor Gonçalves iniciou a escavação de OP2 em 1990, tendo realizado
novas campanhas em 1992, 1994, 1996 e 1997 (Gonçalves, 1999). Segundo
este autor, os trabalhos puseram a descoberto um dólmen de corredor de
16 m de comprimento (OP2a) e quatro áreas funerárias posteriores anexas,
designadamente, tholoi (OP2b a OP2e): uma individual, duas colectivas e
uma outra cuja natureza ainda se encontra por esclarecer (Figura 1). Exceptuando o ambíguo OP2e, apelidado de micro-tholos pelas suas dimensões,
e OP2c, onde se detectou um enterramento individual (o último desta
necrópole), tanto OP2b como OP2d constituem tholos com indícios de
sepulturas colectivas (Gonçalves, 1999). Relativamente a OP2d, tudo leva
a crer ter sido violado na Pré-História não tendo sido identificado nenhum
enterramento, seguramente, interpretado como tal (Gonçalves, 1999). OP2b,
pelo contrário, demonstrou estar quase intacto o que, em paralelo com o
espólio arqueológico e antropológico encontrados, suscita enormes expec-
Sinais de fogo
111
tativas face ao conhecimento que daí possa advir (Gonçalves, 1992; 1999;
Gonçalves e Sousa, 2000).
Em termos sucintos OP2b representa um monumento de falsa cúpula,
com uma câmara híbrida de dimensões 3,00 por 3,20 metros (longitudinal,
transversal). Para além do enorme e diversificado espólio funerário, constituído por ofertas votivas e objectos de adorno pessoal, a escavação revelou
duas grandes fases de utilização e sete camadas de deposições (Gonçalves,
1999). A cronologia precisa (Tabela 1), nomeadamente, três datas obtidas
por 14C situam-no na primeira metade do 3º milénio, em anos de calendário
(Gonçalves, 1999; Gonçalves e Sousa, 1997).
Figura 1. Planta da Anta 2 de Olival da Pega (adaptado de Gonçalves, 1999: 92).
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
112
Tabela 1. Cronologias absolutas datadas por radiocarbono disponíveis para o tholos OP2b
(adaptado de Gonçalves e Sousa, 2000: 66).
Ref. Lab.
Amostra
Anos BP
cal a. C. 2σ
Fase
ICEN-956
osso
4180 ±-80
2920-2505
VF3
ICEN-955
osso
4290 ±-100
3303-2501
VF2
ICEN-957
osso
4130 ±-60
2900-2501
VF1
Os objectivos que este trabalho se propõe cumprir estão centrados na
aquisição de informações de âmbito antropológico, nas suas vertentes paleodemográfica, paleopatológica e tafonómica, em material ósseo queimado
proveniente de OP2b (Olival da Pega, Reguengos de Monsaraz).
Material e métodos
O material ósseo analisado compreende o conteúdo de um dos 79 contentores plásticos de OP2b enviados para o Departamento de Antropologia
(Sousa, comunicado pessoalmente em 2004). Este foi, previamente, retirado dos sacos plásticos onde estava embalado, sendo triado e identificado
por regiões anatómicas por elementos do Laboratório de Paleodemografia
e Paleopatologia do Departamento de Antropologia da Universidade de
Coimbra.
A partir das anotações manuscritas com as coordenadas da escavação
que acompanhavam os sacos plásticos, identificou-se o espólio ósseo como
proveniente das quadrículas: F10 (Z = 150); G9 (X = 189, Y = 060 e Z = 150)
e G11 (X = ?, Y = 060 e Z = 153). A análise destes dados e das informações
da escavação indicaram que os restos ósseos pertencem ao nível designado
por VF1, o que, segundo Gonçalves (1999), corresponde à primeira fase de
utilização do monumento.
O estudo repartiu-se por quatro fases principais, cada uma incorporando diversas etapas para as quais foi necessário adoptar procedimentos e
metodologias específicos e, simultaneamente, consentâneos com a natureza
do material ósseo. A primeira fase consistiu na identificação e separação
dos fragmentos ósseos. Os procedimentos detalhados para a identificação
podem ser consultados em Silva (2005). Saliente-se o facto de terem surgido
casos pontuais de fragmentos ósseos não humanos (falange, dente, vértebra, entre outros) e materiais de natureza diversa que foram colocados em
Sinais de fogo
113
distintos sacos sob as designações: não humanos, metais, cerâmica, flora e
indeterminados.
Na segunda fase procedeu-se à inventariação e à anotação de características físicas patentes nos fragmentos ósseos com base em Buikstra e
Ubelaker (1994). Todas as peças ósseas identificadas, por tipo de osso, foram
marcadas com a sigla OP2b e respectivo número, exceptuando os minúsculos
fragmentos de raízes de dentes. Concomitantemente, efectuou-se a avaliação
da preservação do fragmento relativamente ao osso inteiro (caso da rótula e
dos ossos do tarso e carpo) ou do segmento/sub-região óssea considerados
(restantes situações). Foram atribuídos três códigos distintos: 1 (pelo menos
75% do osso presente), 2 (entre 25% a 75% do osso) e 3 (menos de 25% do
osso) segundo Buisktra e Ubelaker (1994) e introduzindo algumas alterações
adaptadas às condições de estudo da amostra.
Após uma observação do fragmento ósseo anotavam-se a presença ou
ausência de alterações macroscópicas ao nível de textura e de morfologia.
Quando estavam presentes fissuras registava-se a sua orientação (transversal ou longitudinal) relativamente ao eixo central do osso (Herrmann e
Bennett, 1999) ou se estas exibiam um padrão reticulado (pátina). Como
frequentemente coexistiam, num mesmo fragmento, fissuras transversais
e longitudinais foram criadas subcategorias para cada uma destas duas
orientações.
Para a deformação e o encolhimento era indicado se estavam patentes
no fragmento. Uma vez que vários estudos demonstraram haver uma estreita
associação entre encolhimento e coloração, este dado serviu igualmente de
critério para inferir a ocorrência de encolhimento (Rubini e Andreini, 1990).
Para além destes aspectos, fruto da acção da temperatura sobre o osso, também
foram perscrutados indícios de outras alterações tafonómicas e/ou de âmbito
patológico, bem como assinalada a presença de caracteres discretos.
A análise paleodemográfica compreendeu o cálculo do número mínimo
de indivíduos com base em Ubelaker (1974) e Herrmann et al. (1990).
Para a diagnose sexual seguiram-se as recomendações de Ferembach et al.
(1977-1979), Bass (1995) e Phenice (1969), tendo sido utilizados métodos
métricos, designadamente, Wahl (1996) e Wahl e Graw (2001) onde se
empregou uma craveira de precisão 0.1 mm.
A estimativa da idade à morte dos fragmentos ósseos de indivíduos
adultos apoiou-se nos métodos de Brooks e Suchey (1990) e de Lovejoy
et al. (1985). O elevado teor de fragmentação dos ossos cranianos impediu
114
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
a aplicação do método de Masset (1982) ainda que, para fragmentos com
sutura, se tenha observado o seu grau de obliteração. Alterações degenerativas do esqueleto serviram, igualmente, para fundamentar estimativas
da idade à morte. Para os não adultos adoptaram-se as recomendações de
Ferembach et al. (1977-1979). O grau de fragmentação associado à hipótese
de encolhimento ósseo impediu o recurso a métodos métricos, excepto num
astrágalo (Alduc-Le Bagousse, 1988) e numa tíbia (Stloukal e Hanáková,
1978 in Ferembach et al., 1977-1979). Recorreu-se, também, à comparação de fragmentos ósseos com ossos intactos de não adultos moçarabes de
Serpa (Ferreira, 2000) e da Colecção de Esqueletos Identificados do Museu
Antropológico da Universidade de Coimbra.
Na derradeira fase do trabalho foram investigadas as alterações e/ou
as variações morfológicas e, em termos globais, a paleopatologia. Face à
fragmentação e à mistura dos restos ósseos de vários indivíduos apenas se
empregaram as escalas de Crubézy (1988) para quantificar o grau de artrose
e de entesopatias. Os restantes indícios de patologias foram observados à lupa
e/ou por exames radiográficos. Estes últimos tiveram lugar na sala de Mamografia do Serviço de Imagiologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra
com recurso ao seguinte equipamento: Mamógrafo General Electric, modelo
Senographe DMR. Para as variações morfológicas designadas por caracteres
discretos consultaram-se Saunders (1978) e Hauser e De Stefano (1989).
Concluído o estudo prático da amostra procedeu-se à informatização e
ao tratamento estatístico dos dados obtidos no programa SPSS para Windows
(versão 11.0, 2000), sendo também utilizado o sistema operativo Windows
XP, nomeadamente a folha de cálculo do Microsoft Excel (2002).
Resultados
Num total de 5425 elementos observados, apenas 21 (0,39%) revelaram
não ser de natureza óssea. Inserem-se neste grupo uma raiz de origem vegetal;
17 fragmentos minerais/pedra e três de cerâmica. Em relação ao conjunto
constituído pelas peças ósseas e dentes, este integra 5404 elementos, dos
quais 39 não são humanos.
Os restantes elementos ósseos e dentários humanos (N = 5365) estão,
genericamente, repartidos por duas grandes categorias: não identificados
(N = 3320) e aqueles em que foi viável um nível mínimo de identificação
(N = 2045). A amostra integra, portanto, 1927 peças ósseas e 118 dentárias,
Sinais de fogo
115
o que corresponde a 38,12% dos elementos humanos observados. Em termos
globais, as percentagens relativas à identificação dos 1927 elementos ósseos
em função da região anatómica revelaram: cranium 25,69%; membros superiores 20,34%; tórax e vértebras 31,71% e membros inferiores 22,26%1.
Dos 1927 elementos ósseos inventariados somente 159 (8,25%)
estão completos. Tal valor revela um grau de fragmentação de 91,75%. Já
a avaliação da preservação do fragmento por osso, de acordo com os três
graus propostos por Buikstra e Ubelaker (1994), indica que o carpo detém a
maior percentagem de elementos ósseos com grau 1 (87,10%), seguindo-se
as falanges do pé (74,47%) e das mãos (56,19%). Já as costelas, cranium e
coxal ostentam, para este grau, os valores mais baixos com, respectivamente,
1,58%, 2,02% e 7,58%.
Se, em contrapartida, forem observadas as percentagens de fragmentos com grau 3 (por osso ou grupo de ossos) percebe-se que o cenário se
inverte. Exceptuando os 96% da omoplata, os valores mais elevados residem
no cranium (92,53%), nas costelas (91,46%) e no coxal (83,33%). Quanto
aos resultados visando o grau intermédio de preservação indicam que os
metacárpicos são os detentores da maior percentagem (60%), seguindo-se
a clavícula (50%) e a rótula (46,15%).
Análise tafonómica
Para a análise da acção do fogo foram pesquisadas quatro categorias de
características físicas: coloração, deformação, encolhimento e fragmentação.
Ao nível da coloração os resultados revelaram 61,44% (n = 1184)
elementos ósseos amarelos, 3,17% (n = 61) castanhos, 0,16% (n = 3) pretos, 16,40% (n = 316) cinza, 16,97% (n = 327) brancos e 1,87% (n = 36)
com coloração mista2. Dentro das colorações amarela, cinzenta e branca
observaram-se associações com outras cores. As nuances cromáticas mais
frequentemente associadas ao amarelo, cinzento e branco foram, respectivamente, o laranja, o branco e o cinza ou azul3. Para os casos de coloração
Para mais detalhes relativos às peças ósseas identificadas consulte-se Silva (2005).
A coloração mista diz respeito aos casos onde não foi possível definir uma coloração
predominante pelo facto da peça óssea exibir colorações distintas consoante a norma em
que é observada.
3
Em Silva (2005) podem ser visualizadas diversas figuras ilustrativas das distintas
colorações.
1
2
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
116
mista (n = 36) foram criadas várias subcategorias de acordo com as duas
cores principais: amarelo/cinza (11,11%), cinza/castanho (55,56%) e castanho/preto (8,33%).
No que se refere à deformação, esta encontra-se patente em 7,78% (n =
150) das peças ósseas. Quanto ao encolhimento, 20,65% (n = 398) manifesta
fortes indícios de ter sido alvo deste fenómeno. Se, todavia, forem considerados
os casos mais ambíguos, onde a possibilidade de encolhimento é equacionada
(15,98%; n = 308), a percentagem já se situa nos 36,63% (n = 706).
Com fragmentação foram observados 38,56% (n = 743) elementos
ósseos, nomeadamente: fissuras longitudinais (8,46%; n = 163), transversais (8,56%; n = 165), laminação (0,10%; n = 2), pátina (17,54%; n =
338) e textura mista4 (3,89%; n = 75). Dentro desta última subcategoria
importa referir que 64% (n = 48) dos elementos ósseos possuem fissuras
longitudinais e pátina, enquanto que os restantes 36% (n = 27) apresentam
fissuras transversais e pátina. Tanto as fissuras longitudinais como as transversais foram alvo de uma divisão em subcategorias. Dentro das primeiras
registaram-se 125 casos de fissuras longitudinais simples (76,69%), 22 de
oblíquas (13,50%), 14 de longitudinais com transversais (8,59%) e 2 casos
de fissuras radiadas (1,23%)5. Fissuras transversais encurvadas (n = 141)
(Figura 2) e fissuras transversais com longitudinais (n = 24) integram, por sua
vez, as duas subcategorias de fissuras transversais detectadas, evidenciando
percentagens de, respectivamente, 85,45% e 14,55%.
B
A
1 cm
1 cm
Figura 2. Astrágalo direito (OP2b 593) em norma superior com pátina (A) e fragmento de úmero
esquerdo (OP2b 120) em norma lateral, exibindo fissuras transversais encurvadas (B).
4
A textura mista diz respeito aos casos onde, na mesma peça óssea, se assinalaram,
simultaneamente, fissuras longitudinais ou transversais e pátina.
5
Tanto as fissuras “longitudinais com transversais” como as fissuras “radiadas” são
designações criadas por Silva (2005) por não se enquadrarem nos dois tipos de fissuras
longitudinais descritas na bibliografia.
Sinais de fogo
117
A amostra apresenta 695 (36,07%) elementos ósseos com alterações
tafonómicas não atribuíveis ao fogo, sendo os mais afectados os metacárpicos (74%) e os ossos do carpo (70,97%), enquanto que os valores mais
baixos se situam no esterno e nas falanges do pé com, respectivamente,
16,67% e 19,15%.
As distintas alterações tafonómicas observadas dizem respeito, lato
sensu, a pintas pretas e a manchas verdes, orifícios e outras variações, como
sejam: fracturas recentes, bolores e/ou pequenas excrescências de natureza
indeterminada. O peso de cada um destes sinais no conjunto de elementos
ósseos alterados reparte-se do seguinte modo: pintas pretas 82,88% (n =
576), manchas verdes 8,63% (n = 60), orifícios 6,04% (n = 42) e outras
alterações 8,63% (n = 60).
Análise paleodemográfica e de variações morfológicas
Constata-se existirem, pelo menos, nove indivíduos adultos, facto
revelado pelo terço médio da diáfise do rádio esquerdo (Silva, 2005). Já a
determinação do número mínimo de não adultos sugere a presença de sete
indivíduos (43,75%), cinco obtidos a partr da tíbia e ajustados de novo devido
à presença inequívoca de, pelo menos, um indivíduo com idade inferior aos 2
anos de idade e à existência de dois indivíduos de idades semelhantes (cerca
de 6 anos ± 12 meses) detectada ao nível de dois primeiros metacárpicos
direitos. Assim, no total, é razoável pressupor que a amostra do presente
trabalho contemple, pelo menos, 16 indivíduos, 56,25% (9) dos quais adultos
e 43,75% (7) jovens.
Não obstante as limitações impostas pela natureza do material, foram
estimados parâmetros demográficos como a idade à morte, o sexo e os
caracteres discretos. A análise detalhada dos dados obtidos indicou que os
sete indivíduos não adultos estão distribuídos por todos os grupos etários
considerados (Figura 3). Por questões metodológicas optou-se por circunscrever à categoria de não adultos somente os indivíduos com idades inferiores
aos 15 anos inclusive.
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
118
4
3
2
N.M.I.
1
0
0-4
5- 9
10 - 14/15
anos
Figura 3. Número de mínimo de indivíduos (N. M. I.) não adultos por grupo etário.
Quanto aos adultos, apenas os casos a seguir expostos viabilizaram
estimativas da idade à morte minimamente credíveis. Argumentos claros
sustentam a presença de, pelo menos, dois adultos jovens identificados pela
extremidade medial de uma clavícula (OP2b 840) e por dois fragmentos de
corpos de vértebras torácicas (OP2b 1239 e OP2b 1246) mediante análise
dos sinais de união das respectivas epífises. As estimativas alcançadas, a
partir da inspecção da morfologia da sínfise púbica (Brooks e Suchey, 1990),
dão conta de dois indivíduos de sexo indeterminado pertencentes ao grupo
etário dos 15 aos 23/24 anos, de uma mulher com 26 a 70 anos, de dois
indivíduos de sexo indeterminado com idades superiores ou iguais aos 23
ou 26 (para indivíduos do sexo masculino e feminino, respectivamente) e de
um indivíduo do sexo masculino com idade entre os 34 a 86 anos; enquanto
que a observação da superfície auricular (Lovejoy et al., 1985) revela a presença de dois indivíduos com 30 a 34 anos e de um indivíduo pertencente ao
grupo etário dos 40 a 44 anos. Os resultados sugerem então um mínimo de
três indivíduos pertencentes a grupos etários distintos. Acrescente-se ainda
que a apreciação do grau de obliteração das suturas em 77 fragmentos cranianos aponta para adultos não muito velhos, uma vez que em quase todos
(83,12%; n = 64) as suturas se encontravam abertas. Outro dos parâmetros
perscrutados foi a patologia degenerativa que continua a indicar adultos com
idades pouco avançadas, tanto pela reduzida incidência de casos como pelo
diminuto grau de artrose evidenciado. Em suma, com base nas informações
disponíveis afigura-se mais correcto, e prudente, concluir que na amostra
há dois adultos jovens, um adulto e um adulto idoso.
A diagnose sexual com base na metodologia de Ferembach et al. (19771979) revelou peças ósseas cranianas, na sua maioria, de indivíduos do sexo
feminino, designadamente: frontal (sete femininas versus três masculinas;
Sinais de fogo
119
zigomático (três esquerdas masculinas, duas femininas e uma masculina
direitas) e mandíbula/menton (duas masculinas). Saliente-se que os valores
apresentados incluem os casos feminino (?) e masculino (?).
Da aplicação do método de Phenice (1969), somente viável em duas
situações, resultaram indivíduos de sexos diferentes. Quanto à percepção da
robustez das peças ósseas, sugere a presença de mais do que um indivíduo
do sexo feminino e de, pelo menos, um masculino. Tal suposição encontra-se
espelhada em ossos como o rádio, o cúbito e os côndilos mandibulares.
Um pouco mais concretos foram os dados alcançados a partir da aplicação do método de Wahl e Graw (2001). Atendendo aos valores auferidos
para oito pirâmides petroseais (Silva, 2005) é de considerar a presença de
quatro elementos femininos e dois masculinos.
Os valores decorrentes da medição da espessura da diáfise do úmero e
do rádio (critérios 3c e 4 de Gejvall, 1963 in Wahl, 1996) e posterior comparação com as informações prestadas por Wahl (1996), demonstraram-se
pouco úteis na diagnose sexual, uma vez que, na maioria dos casos, se situam
no intervalo onde as peças ósseas tanto podem ter pertencido a indivíduos
do sexo masculino como feminino. Estes dados, respeitando medições a 16
fragmentos, encontram-se disponíveis em Silva (2005).
Ao nível dos caracteres discretos importa ressaltar que a fragmentação e o fraco grau de preservação das peças ósseas podem ter mascarado
evidências desta natureza. Todavia, foram pesquisados: sutura metópica,
chanfradura supraorbitária, foramen supraorbitário, foramina zigomaticofacial, torus palatino, torus mandibularis, foramina mentalia duplo, abertura
septal, fossa rombóide, perfuração supraclavicular, patella emarginate, faceta
intrusa média da tíbia e faceta intrusa lateral da tíbia. Desta lista apenas se
observaram dois casos (18,18%, 2/11) de chanfradura supraorbitária (OP2b
1458 e OP2b 1459), um caso (25%, 1/4) de sutura metópica e/ou supranasal (OP2b 1463) e uma (25%, 1/4) situação de perfuração supraclavicular
(OP2b 833).
Análise paleopatológica
As informações a seguir apresentadas devem ser encaradas com as
devidas reservas, uma vez que provêm de um contexto de mistura dos
restos ósseos de diversos indivíduos onde imperam a fragmentação e uma
reduzida preservação.
120
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
No total foram detectados 34 elementos ósseos com indícios de artrose
(82,35%) aos quais, na maioria das vezes, foi atribuído o grau 1, de acordo
com a classificação de Crubézy (1988), sendo as peças mais afectadas o
cúbito (n = 5) e as vértebras (n = 12). Os restantes casos encontram-se
distribuídos pelos ossos da mão (n = 8), do pé (n = 4), da rótula (n = 3), do
rádio (n = 1) e do perónio (n = 1).
Quanto às entesopatias documentaram-se 44 casos, os quais contemplam 13 tipos de lesões. As lesões mais frequentes localizam-se no bíceps
brachii, no ligamento rotuliano e no ligamento flexor das falanges proximais.
Quase todas as lesões são de grau 1. Os casos de grau 2 incidem sobretudo
nos ligamentos flexores das falanges enquanto a única situação de grau 3
concerne uma lesão entesopática visível numa rótula (Figura 4). A incidência
das distintas entesopatias por lateralidade das peças ósseas revelou resultados
bastante homogéneos na frequência das distintas lesões e na severidade com
que estas se manifestaram.
Figura 4.
Entesopatia detectada numa rótula
direita (OP2b 473), em norma anterior.
1 cm
No que se refere a outros indícios de patologia, foram detectados cinco
fragmentos cranianos (OP2b 1515, 1520, 1518, 1519 e 1522) ostentando
grande espessura do diploe, entre 5 e 8 mm, os quais, hipoteticamente, terão
pertencido ao mesmo indivíduo.
Para as peças ósseas dos membros superiores há a assinalar três situações
distintas. Uma diz respeito a um presumível caso de osteocondritis dissecans na
Sinais de fogo
121
cabeça de um rádio direito (OP2b 136) (Figura 5). A lesão em causa tem 6,53
mm e 5,81 mm, respectivamente de diâmetros transverso e longitudinal. Este
osso exibe ainda macroporosidade junto à tuberosidade radial acompanhada
de entesopatia. Outra das situações registadas prende-se com a suspeita de
uma fractura num 3º metacárpico esquerdo (OP2b 289). Macroscopicamente,
é visível um calo ósseo ao meio da diáfise cuja interpretação da radiografia,
efectuada em norma lateral, confirma a origem traumática e sugere tratar-se de
uma fractura transversal. Ainda nos membros superiores, num escafóide (OP2b
251) e num capitato (OP2b 256) esquerdos observam-se pequenos orifícios de
forma circular e de contorno regular situados fora das zonas articulares.
C
C
A
B
1 cm
Figura 5. Rádio direito de um indivíduo adulto (OP2b 136) (A) e respectiva radiografia
(voltagem: 31 KV; exposição: 16 mAs; distância objecto – imagem: 660 mm) em norma
anterior (B), exibindo na cabeça uma lesão compatível com osteocondritis dissecans
(C em norma superior).
Relativamente aos sinais de patologia óssea do tórax e da coluna vertebral foram identificados: um caso de spina bifida (Figura 6) percepcionado
na metade direita de um atlas (OP2b 1173), um nódulo de Schmorl numa
vértebra lombar (OP2b 1291), assim como modificações na superfície visceral, nomeadamente espessamento ântero-posterior em dois fragmentos de
costela (OP2b 921 e OP2b 922).
122
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
Figura 6.
Provável caso de spina bífida atlantis.
Atlas (OP2b 1173) em norma superior.
1 cm
Por fim, nas peças ósseas dos membros inferiores foram registados, num
perónio direito (OP2b 575), uma espícula na extremidade distal, e osso novo,
do tipo woven, no epicôndilo medial dum fémur direito (OP2b 448).
Discussão e conclusões
Identificação, representatividade e grau de preservação por tipo de
osso
A percentagem de fragmentos ósseos humanos não identificados na
amostra do tholos OP2b insere-se na estimativa de McKinley e Bond (2001)
onde, por norma, num rito funerário de cremação, somente 30 a 50% dos
restos ósseos são susceptíveis de ser identificados com um elemento específico do esqueleto. Para Spence (1967) cerca de metade do material de
uma cremação visa fragmentos de ossos longos não identificados, enquanto
Mays (1998) declara a existência, na maioria das cremações, de uma parte
substancial de osso cuja identificação com um elemento do esqueleto, ou
até mesmo com categorias mais amplas é inexequível.
Quanto às diferenças patentes nos níveis de identificação das peças,
por tipo de osso, devem-se a vários factores. Dois dos basilares respeitam
especificidades morfológicas ou estruturais da peça (Grévin et al., 1998) e
respectivo grau de preservação, o que leva, tal como Mays (1998) salienta,
a que peças de algumas partes do esqueleto sejam mais fáceis de identificar
do que outras.
Sinais de fogo
123
Circunscrevendo a análise ao conjunto das peças onde houve o reconhecimento do osso, do segmento ou da sub-região óssea, bem como da
lateralidade (no caso dos ossos pares) e da idade (adulto/não adulto) acede-se
a dados no campo da Paleodemografia e da Antropologia Funerária. Esta
estratégia tem sido adoptada, por Gatto e Buquet (2000), Gatto et al. (2003),
Chambon (1999) ou Silva (2002), em estudos de sepulturas colectivas, para
calcular a frequência do número mínimo de indivíduos (N.M.I.) por tipo de
osso, obtendo assim o “perfil osteológico” da sepultura (Chambon, 1999;
Gatto e Buquet, 2000). Outra das informações extrapoladas visa o conhecimento do tipo de deposição (primário, secundário, ou se, pelo contrário,
a sepultura foi alvo de esvaziamento) a que terão sido submetidos os restos
humanos (Chambon, 1999).
Dado que o presente estudo contempla parte do material ósseo recuperado em OP2b pode avançar-se que o “perfil osteológico” alcançado
dá credibilidade à hipótese dos restos ósseos observados resultarem de
deposição primária. A sustentar esta convicção encontra-se, por um lado, a
homogeneidade detectada nas frequências de N.M.I. entre os distintos ossos
e, por outro, como registaram Gatto e Buquet (2000) ou Gatto et al. (2003),
os altos valores de ossos de pequenas dimensões, como sejam os do carpo
e do tarso, bem como de metatársicos e de metacárpicos, relativamente à
frequência máxima de N.M.I. da amostra.
Face à fragmentação existente, tudo leva a crer que o manuseamento
dos restos ósseos possa constituir um dos grandes responsáveis por este
fenómeno. Outro dos principais agentes obreiros da fragmentação percepcionada foi o fogo. Discernir qual a responsabilidade de cada um deles é
impraticável, ainda que se deva estar inteirado que, ao contrário do que se
poderá supor, o fogo pode não ser o principal agente da fragmentação, como
o corroboram as conclusões do estudo realizado por McKinley (1994) ou a
grande fragmentação em material ósseo não cremado de sepulturas colectivas
(Toussaint, 1991; Silva, 2002).
Não obstante esta realidade, sabe-se que a fragmentação integra o rol
de características físicas, apanágio de restos ósseos cremados, devido às
alterações desencadeadas nos constituintes ósseos (Silva, 2007). Através de
experiências efectuadas por Stiner e co-autores (1995) ficou, igualmente,
demonstrado que a acção do fogo aumenta a susceptibilidade para a fragmentação óssea. Dado que 35,39% das peças ósseas apresenta coloração
124
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
entre o preto e o branco é muito provável que o fogo tenha exercido forte
influência na fragmentação experimentada, sobretudo nos ossos longos.
Na amostra estudada, os parcos casos a escapar incólumes à fragmentação têm em comum o facto de serem, quase exclusivamente, ossos pequenos
e de formato esférico. A explicação mais plausível para este fenómeno é que
tais características têm reflexos nas propriedades mecânicas permitindo que
estes possam ser alvo de forte compressão e de outras forças sem experimentarem deformação ou fractura (Darwent e Lyman, 2002). Já peças ocas (tais
como o crânio), sólidas ou cilíndricas (caso dos ossos longos), achatadas
(como seja a omoplata) não conseguem suportar forças de magnitude similar
(Currey, 1984 in Darwent e Lyman, 2002).
Apesar do tamanho e da forma dos ossos serem aspectos importantes na
argumentação referente à fragmentação e à preservação óssea observada, há
que realçar sobretudo o papel desempenhado pela densidade óssea. Galloway
et al. (1997) consideram inclusive que, de todas as variáveis intrínsecas, esta
possa ser a que individualmente mais influencia a preservação.
Direccionando agora o olhar para os níveis de preservação dos elementos ósseos da amostra constata-se, a priori, que os dados alcançados são
similares aos de Blau (2001a), nomeadamente, que a maioria, mais de 60%,
exibe grau 3, ou seja, menos de 75% do osso presente. Em certa medida,
alguns dos níveis de preservação por tipo de osso, do presente trabalho, poderse-ão justificar recorrendo ao argumento da densidade óssea. Ossos pouco
densos como sejam as vértebras, as costelas, o esterno (Boddington, 1987;
Nawrocki, 1995 in Stojanowski et al., 2002), ou a omoplata (Stojanowski
et al., 2002) registaram níveis de preservação muito baixos, representando,
por isso, confirmações à regra, sendo as excepções os ossos do carpo e do
tarso detentores de valores elevados de preservação não obstante a sua
parca densidade.
Verifica-se, de igual modo, que a preservação exibida por certas subregiões ósseas densas (caso da pirâmide petroseal) ou pelos segmentos
de diáfise dos ossos longos é susceptível de ser interpretada como sendo
fruto da associação entre preservação e densidade. A apoiar esta suposição
encontram-se as informações disponibilizadas por Waldron (1987) sobre
a pirâmide petroseal e os dados fornecidos por Stojanowski et al. (2002)
relativamente aos ossos longos.
Após a discussão dos resultados visando a identificação, representatividade e o teor de preservação dos elementos ósseos que integram a
Sinais de fogo
125
amostra deste estudo percebe-se que a interpretação dos valores obtidos em
cada um destes itens tem de ser feita em conjunto por estarem estritamente
interligados (Figura 7).
Identificação
Representatividade
Preservação
Factores extrínsecos
Factores intrínsecos
Figura 7. Relação entre identificação, representatividade e preservação na amostra estu‑
dada (setas a cheio indicam a ligação entre estes três itens enquanto que as restantes
sinalizam os factores envolvidos na preservação).
A associação entre os itens identificação e representatividade advém
do facto de o primeiro determinar inevitavelmente o perfil exibido pelo
segundo. Quanto menos precisa for a identificação, mais distanciados da
realidade serão os valores da representatividade óssea. A identificação
e, consequentemente, a representatividade dependem, de igual modo, da
preservação óssea, a qual, por sua vez, é fruto da interacção de factores
extrínsecos e intrínsecos ao próprio osso.
Conhecidas por pseudopatologias, as alterações ósseas post mortem
resultam de dois factores básicos, concretamente, o ambiente de enterramento
circundante e de problemas durante, ou após, a escavação (Ortner, 2003).
No que concerne ao fogo, e de acordo com a proposta de categorização
do grau de combustão elaborada por Stiner et al. (1995), mais de metade
das peças ósseas da amostra não terá sido alvo deste agente visto exibir a
coloração amarela. Se, todavia, for tido em linha de conta Heglar (1984),
tal coloração significa apenas que as peças ósseas estiveram ligeiramente
expostas a baixas temperaturas. Uma terceira hipótese explicativa, talvez
a mais plausível, é que entre as peças ósseas amarelas coexistam os dois
cenários. No mínimo, poder-se-á afirmar, sem reservas, que as peças ósseas
amarelas com nuances cinza ou laranja (Mays, 1998) ou as que ostentam
fissuras transversais (Herrmann e Bennett, 1999) ilustram casos de exposição ao calor. O reduzido número de elementos ósseos castanhos e pretos
ou com as cores castanho/cinza ou castanho/preto reflecte, grosso modo,
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
126
temperaturas pouco elevadas sendo o preto sinónimo de osso carbonizado
(Pajot, 1986; Etxeberria, 1994). Já as colorações cinza e branca, patentes em
pouco mais de um quarto da amostra e com uma distribuição muito semelhante entre si, traduzem temperaturas elevadas, especialmente a segunda,
que revela de acordo com Correia (1997) ossos calcinados. Ainda que as
distintas colorações observadas possam denunciar a exposição dos restos
ósseos da amostra a diferentes temperaturas, estas são, de igual modo, fruto
de variáveis como o tempo de exposição, a localização da combustão (Heglar,
1984) e a distância ao foco de calor (Botella et al., 2000). Para Botella et al.
(2000) a presença de diversas cores numa mesma peça óssea é, justamente,
consequência de uma exposição ao calor mais directa e pontual de umas
zonas em relação a outras. Na amostra, as peças ósseas de coloração mista
constituem um exemplo particularmente evidente desta circunstância.
É de notar que, muito embora tenha sido interpretada como produto
da acção do fogo, a cor vermelha detectada nalgumas peças ósseas pode,
igualmente, ser fruto do ocre. De acordo com Silva (1996, 2002) e Gonçalves (1999) confirma-se a sua presença em várias sepulturas pré-históricas
portuguesas. Todavia, na presente amostra, não foram observadas evidências
suficientemente claras para que esta hipótese seja fundamentada.
No presente trabalho apenas 35,39% das peças ósseas exibem marcas
inequívocas de combustão, o que, comparativamente com Blau (2001b), está
muito aquém dos 90,7% detectados em Unar 2 (Península Oman; cronologia
situada no 3º milénio a.C.6). Igualmente discrepantes são os valores relativos
à coloração branca: 70,1% (Blau, 2001b) contra os 16,97% da amostra. Um
pouco mais próximos da presente amostra são os 56% encontrados por Idánez
(1986 in Benito, 2002) nos restos humanos do sepulcro megalítico de Murviedro (Múrcia) ou os 53,5% exibidos pelos elementos ósseos da sepultura I
de al-Sufuh (Dubai) datada entre 2400 a 2300 a. C. (Blau, 2001a). Gonçalves
(1992) menciona a recolha, por parte dos Leisner, de ossos carbonizados em
Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz, nomeadamente, Passo 1,
Comenda 2, OP1 e Cebolinhos. Seria interessante em estudos futuros comparar
o teor da acção do fogo no espólio ósseo destes monumentos.
Relativamente ao encolhimento ósseo, e atendendo aos critérios utilizados para inferir a sua existência na amostra, não será, de estranhar que os
resultados espelhem os valores auferidos para as colorações cinza e branca.
6
Entre 2300 a 2100 a. C., segundo Velde et al. (comunicação pessoal in Blau, 2001b).
Sinais de fogo
127
Sobre este ponto apenas se pode afirmar que, em algumas das peças ósseas
alvo de encolhimento ósseo, este fenómeno se apresenta bastante evidente,
denunciando, assim, as alterações ósseas descritas em Silva (2007).
Já a interpretação dos dados ao nível da deformação indica que os
elementos por ela afectados seriam ossos frescos aquando da combustão
(Baby, 1954 in Thurman e Willmore, 1980-1981; Binford, 1972 in Thurman
e Willmore, 1980-1981; Eckert et al., 1988). As diferenças encontradas nos
valores de deformação, por tipo de osso, reproduzem o ponto de vista de
Depierre (1995), nomeadamente, a ligação entre deformação e as distintas
proporções de matéria compacta e esponjosa nos ossos longos, nos chatos
e nos curtos. O facto dos ossos longos serem os que mais experimentaram
deformação explica-se pela diminuta elasticidade do tecido compacto
(Depierre, 1995). Porém, não foi possível comparar os valores da deformação
óssea do presente trabalho com a de outros estudos referidos na bibliografia
por nenhum abordar este parâmetro em moldes afins.
Em termos de extrapolações acerca das fissuras detectadas impõe-se,
desde logo, alertar para o impacto negativo que o grau de fragmentação/
preservação possa ter exercido na recolha e na interpretação destes dados.
As fissuras transversais encurvadas detectadas em ossos longos são produto
de uma combustão envolvendo carne/tecidos moles (Herrmann e Bennett,
1999; Symes et al., 2001). Contrariamente aos resultados obtidos por Gatto
e Buquet (2000) ou os de Chambon (1999), a presente amostra também
incorpora peças de ossos longos com fissuras longitudinais. Estas são
características de ossos secos queimados (Guillon, 1987; Ubelaker, 1989;
Etxeberria, 1994), pelo que é de admitir, à semelhança do que foi sugerido
por Vázquez et al. (2002), a possibilidade de vestígios humanos num estado
de esqueletização avançado ou mesmo completo, também terem sido alvo de
combustão. Face à presença destes dois tipos de fissuras na amostra, presumese, tal como Masset (2002) sugere, que aquando da combustão coexistissem
no mesmo espaço indivíduos em diferentes estádios de decomposição.
Por ora, o estado da arte na análise de restos ósseos cremados não viabiliza a discussão dos valores relativos às fissuras pátina e mista. Relativamente
às primeiras, pode apenas referir-se que se manifestaram em zonas onde
predomina o tecido esponjoso, nomeadamente, nas extremidades proximal
e distal de ossos longos e curtos, nas cavidades glenóide e acetabular, nas
facetas articulares das costelas e das vértebras, em ossos do carpo e do tarso
e em ossos cranianos.
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
128
No que se refere às associações vigentes entre coloração, deformação,
encolhimento e fragmentação, os valores indicam, como seria de esperar,
que o grau de combustão, inferido através da coloração, é determinante no
encolhimento experimentado, assim como também parece influenciar a
ocorrência de deformação. Menos óbvia, ou mais fraca, será a relação entre
coloração e fragmentação. A justificação mais verosímil advém do facto
desta última constituir uma resposta óssea à desidratação experimentada
durante a combustão. A desidratação que, aliás, é a primeira reacção óssea
ao calor, não exige temperaturas altas para se manifestar bastando 100 a 600
ºC (Thompson, 2004) o que pode explicar para a nossa amostra os valores
de fissuras exibidos pelas peças ósseas de coloração amarela.
Por fim, a análise dos valores relativos às quatro características físicas,
por tipo de osso, aponta para a inexistência de diferenças assinaláveis na
exposição dos distintos elementos do esqueleto ao foco de calor, aspecto
que sugere a hipótese duma combustão simultânea dos restos humanos no
local onde haviam sido depositados, isto é, uma cremação múltipla7.
Embora sucinta, a interpretação dos dados obtidos para as restantes
marcas tafonómicas não atribuíveis ao fogo permite ter acesso a informação
relevante sobre o ambiente que circundava os restos ósseos, dando, igualmente, azo a que se descodifiquem alguns gestos humanos a que terão sido
submetidos. Dentro do primeiro grupo, ainda que motivados por diferentes
agentes, inserem-se as pintas pretas, os pequenos orifícios, as depressões,
os bolores e/ou as pequenas excrescências indeterminadas, enquanto que
no segundo estão incluídas as fracturas recentes e as manchas verdes. No
caso das pintas pretas existem duas versões explicativas distintas para este
fenómeno. Botella e colaboradores (2000) são da opinião que denunciam
microrganismos, nomeadamente colónias de fungos, já autores como
Shahack-Gross (1997) ou White (2000) defendem que a cor preta pode ser
motivada pelo manganês. Para a origem dos orifícios, as evidências sugerem a acção de insectos (Andrews, 1995) e/ou de artrópodes (Pitarch et al.,
1999). Bem mais dúbia é a justificação para as pequenas excrescências,
de cor semelhante ao osso e formato arredondado, patentes na superfície
de algumas peças. A única pista encontrada remete-nos para os intrigantes
clinkers/escória mencionados por Wells (1960) ou Henderson et al. (1987),
facto que só poderá ser averiguado mediante análises histológicas e/ou quí7
Ver Silva (2007).
Sinais de fogo
129
micas. Actualmente existem duas hipóteses explicativas para este material:
Hummel et al. 1988 in Grévin, 1990) consideram tratar-se de resíduos provenientes da fusão de cinzas, sobretudo de origem óssea, enquanto Henderson
et al. (1987) afirmam serem devidos a sílica de solos arenosos fundida com
materiais da pira funerária a temperaturas elevadas.
Quanto às modificações que, directa ou indirectamente, reflectem a
intervenção humana, teceremos algumas considerações relativas às manchas verdes. Estas são consequência da presença de metais no ambiente
circundante, nomeadamente, cobre (Buikstra e Ubelaker, 1994; Botella et
al., 2000). Tal suposição parece não se coadunar com a natureza do vasto
espólio arqueológico encontrado em OP2b (artefactos votivos e elementos
de adorno pessoal), o qual apenas integra um punhal em cobre (Gonçalves,
1999). Este autor refere, inclusive, que o cobre constitui um metal raríssimo
nas antas de Reguengos de Monsaraz.
Inferências de âmbito paleodemográfico e paleopatológico
A pesquisa de dados de natureza paleodemográfica e paleopatológica esteve alicerçada na convicção de que as características físicas dos
elementos ósseos não deveriam servir de desculpa para que esta análise
fosse descurada, mesmo sabendo, a priori, das inerentes limitações a que
iria estar sujeita. É de crer que quaisquer informações que permitam ter
uma ideia do número mínimo de indivíduos depositados no tholos OP2b,
respectiva idade à morte ou sexo possam constituir uma mais-valia para os
conhecimentos antropológicos adquiridos sobre os sujeitos inumados neste
monumento megalítico.
Em material ósseo cremado, o leque de métodos passíveis de ser
utilizado é bastante restrito. Uma apreciação global dos resultados obtidos
denuncia, antes de mais, o impacto negativo da elevada fragmentação dos
elementos ósseos. Tal circunstância não surpreende uma vez que o teor das
informações de índole demográfica e patológica adquiridas através do exame
de restos ósseos cremados, está dependente do grau de fragmentação destes
e do nível de recolha óssea (McKinley, 2000).
Comparativamente com o N.M.I. auferido para outras sepulturas colectivas onde o fogo também se terá manifestado, constata-se que os indícios
da presença de 16 sujeitos na amostra estudada ultrapassam os onze identificados por Lohrke et al. (2002) na sepultura monumental neolítica da Peña
130
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
de la Abuela ou os 13 indivíduos da sepultura I (al-Sufuh, Dubai), datada
entre 2400 a 2300 a.C. (Benton, 1996 in Blau, 2001b; Blau, 1998 in Blau,
2001b). O valor encontrado mostra-se, aliás, semelhante ao dos 18 sujeitos
revelados no estudo de material osteológico recuperado na escavação de
dois metros quadrados da Grotte du Gardon, Neolítico final/recente (Gatto
e Buquet, 2000) e ao dos 19 detectados por Castro e Etxeberria (2002) no
sepulcro megalítico “El Miradero”, em Valladolid.
Em termos paleodemográficos os resultados alcançados enquadram-se
no perfil do Neolítico final/Calcolítico traçado por Silva (2002). A proporção
de adultos versus não adultos, isto é, nove adultos e sete não adultos (ou
43,75%), afigura-se um pouco superior aos 30% ou 33,7% de não adultos
apresentados por Silva em trabalhos de 1996 e 2002, respectivamente. Na
realidade, os valores que mais se aproximam dos da presente amostra são
provenientes da estação de São Paulo com 48,4%, seguido dos do Dólmen
de Ansião com 37,8% (Silva, 2002). Noutras sepulturas colectivas europeias, alvo da acção do fogo, o cenário mantém-se. Gatto e Buquet (2000)
obtiveram 38,89% de não adultos na Grotte du Gardon do Neolítico final/
recente enquanto Chambon (1999) registou 28,57% na sepultura neolítica
de Neuvy-en-Dunois, em Eure-et-Loir. Já Lohrke et al. (2002) apresentaram 18,19% para a sepultura monumental neolítica da Peña de la Abuela
e Castro e Etxeberria (2002) mencionam somente 10,53% para o sepulcro
megalítico “El Miradero”.
No que respeita à estimativa da idade à morte, estão representados
todos os grupos etários considerados, crianças (entre os 0 a 4 anos), passando
por adolescentes (10 a 14/15 anos), até adultos idosos, facto igualmente
mencionado por Silva (2002). Outro aspecto que espelha os dados desta
autora consiste na distribuição dos indivíduos não adultos pelos grupos
etários considerados, mais concretamente, a propensão para a diminuição
na frequência de N. M. I. à medida que a idade avança.
Muito embora o tamanho da amostra impeça um retrato fidedigno da
população, todos os métodos aplicados sugerem haver um número maior
de indivíduos do sexo feminino em relação ao masculino (4:2). Segundo
documenta Silva (2002) a tendência para o predomínio de mulheres é usual
em séries portuguesas coevas. Na óptica da autora, tal desproporção é susceptível de reflectir a existência real de um número mais elevado de mulheres
nessas populações portuguesas pré-históricas (hipótese que considera mais
plausível), resultar de práticas funerárias distintas (como seja a inumação
Sinais de fogo
131
de indivíduos masculinos com diferentes estatutos sociais noutro local) ou
advir dos próprios métodos empregues na diagnose sexual.
Apesar dos muitos obstáculos inerentes ao estudo de restos osteológicos
cremados, o diagnóstico de patologias continua a ser viável (Reverte, 1991;
Reinhard e Fink, 1994; Bellard, 1996) ainda que nem sempre estejam reunidas as condições necessárias para um diagnóstico diferencial. No domínio da
patologia degenerativa foram detectados casos de artrose e de entesopatias.
Por norma, as lesões degenerativas do tipo artrose têm uma boa resistência à cremação sendo, por isso, facilmente observáveis (Depierre, 1995).
Quanto aos resultados obtidos, indicam, à semelhança do encontrado por
Silva (2002), uma baixa incidência de artrose nesta amostra. No que toca às
articulações mais afectadas, nomeadamente, do cotovelo, da mão e do joelho
(no esqueleto apendicular) e as da coluna vertebral não é possível traçar
analogias. Importa estar ciente que outras articulações poderiam estar lesionadas ainda que não se tenham preservado. Relativamente às entesopatias,
inseridas no campo da patologia degenerativa não articular, as lesões mais
frequentes respeitam à região de inserção do biceps brachii, do ligamento
rotuliano e do ligamento flexor das falanges proximais. Segundo Stone e
Stone (1997), a lesão na tuberosidade biccipital está relacionada com a flexão
do antebraço. Já as entesopatias dos ligamentos flexores das falanges serão
motivadas por factores de stresse, como seja a flexão dos dedos quando se
segura firmemente uma ferramenta ou instrumento (Capasso et al., 1999).
As demais lesões observadas constituem casos isolados sem significado a nível populacional. Neste grupo situa-se o nódulo de Schmorl
considerado por alguns autores como de etiologia desconhecida (Saluja
et al., 1986 in Roberts e Manchester, 1995) ou como um problema de crescimento decorrente de pressões mecânicas que levam à formação de hérnias
no disco intervertebral (Cunha, 1994). A localização mais frequente ocorre
nas vértebras torácicas inferiores e lombares (Saluja et al., 1986 in Roberts e
Manchester, 1995), o que se verifica também no presente estudo. Evidências
de nódulos de Schmorl foram, de igual modo, assinaladas por Blau (2001a)
em material ósseo cremado proveniente de sepulturas colectivas datadas
do terceiro milénio; a espessura do diploe em vários fragmentos cranianos,
fenómeno igualmente registado por Malgosa e colaboradores (1995) em
materiais cremados da Necrópole de “El Poblado” e para os quais os autores também não chegaram a um diagnóstico seguro; um caso de espinha
bífida, um problema congénito comum, de acordo com Ortner (2003); e um
132
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
rádio com lesões atribuíveis a um distúrbio metabólico, não inflamatório,
benigno designado por osteocondritis dissecans, o qual se caracteriza pela
produção de pequenas áreas de necrose nas diartroses resultante na perda de
um segmento de osso subcondral (Aufderheide e Rodríguez-Martín, 1998).
Esta patologia foi encontrada por Silva (2002; 2003) em diversos ossos, que
não o rádio, dos sítios de Paimogo e de Serra da Roupa.
Conquanto a detecção de patologia traumática, nomeadamente de indícios de fracturas in vitam, seja uma tarefa complicada, pelo facto da acção
do fogo afectar precisamente a linha da ruptura (Bellard, 1996), saliente-se
a identificação de uma num 3º metacárpico esquerdo, com a particularidade,
segundo Roberts e Manchester (1995), dos ossos das mãos serem pouco
afectados por este tipo de patologia. Por último, de mencionar vestígios de
processos infecciosos, em dois fragmentos de costela e num de fémur, cuja
natureza monótona da reacção do periósteo e as características da amostra
apenas permite afirmar tratar-se de um sinal de etiologia inespecífica.
Em suma, o presente trabalho revela que em material ósseo cremado,
ainda que as características físicas, nomeadamente, a fragmentação e a
deformação, suscitem dificuldades acrescidas no campo da identificação,
e possam comprometer a aplicação de certos métodos na esfera da paleodemografia e da paleopatologia, continua a ser viável obter informações
de âmbito antropológico, dados vitais para o conhecimento dos nossos
antepassados.
Agradecimentos
À Ana Luísa Santos agradecemos toda a motivação e apoio dados.
Estamos igualmente gratos aos revisores científicos e ao conselho editorial
pelas sugestões apresentadas.
Bibliografia
Andrews, P. 1995. Experiments in taphonomy. Journal of Archaeological Science,
22: 147-153.
Alduc-Le Bagousse, A. 1988. Estimation de l’âge des non-adultes, maturation
dentaire et croissance osseuse. Données comparatives pour deux populations
médiévales bas-normande. Actes des 3èmes Journées Anthropologiques. Notes
et Monographies Tecnhiques, 24. Paris, Editions du CNRS: 81-103.
Sinais de fogo
133
Aufderheide, A.; Rodríguez-Martín, C. 1998. The Cambridge encyclopedia of human
paleopathology. Cambridge, Cambridge University Press.
Bass, W. 1995. Human osteology: a laboratory and field manual. 4th Edition.
Columbia, Missouri Archeological Society.
Bellard, F. 1996. El análisis antropológico de las cremaciones. Complutum Extra,
6(2): 55-64.
Benito, J. 2002. Incineración y cremación parcial en contextos funerarios neolíticos y calcolíticos del este peninsular al sur del Xúquer. In: Rojo, M.; Kunst,
M. (eds.). Sobre el significado del fuego en los rituales del Neolítico. Studia
Archaeologica, 91: 155-190.
Blau, S. 2001a. Limited yet informative: pathological alterations observed on human
skeletal remains from third and second millennia BC collective burials in
the United Arab Emirates. International Journal of Osteoarchaeology, 11:
173-205.
Blau, S. 2001b. Fragmentary endings: a discussion of 3rd millennium BC burial
practices in the Oman Peninsula. Antiquity, 75: 557-70.
Boddington, A. 1987. Chaos, disturbance and decay in an Anglo-saxon cemetery. In: Boddington, A.; Garland, A.; Janaway, R. (eds.). Death, decay and
reconstruction: approaches to archaeology and forensic science. Manchester,
Manchester University Press: 27-42.
Botella, M.; Alemán, I.; Jiménez, S. 2000. Los huesos humanos: manipulación y
alteraciones. Barcelona, Edicions Bellaterra.
Brooks, S.; Suchey, J. 1990. Skeletal age determination based on the os pubis: a
comparison of the Acsádi-Neméskeri and Suchey Brooks methods. Human
Evolution, 5(3): 227-238.
Buikstra, J.; Ubelaker, D. 1994. Standards for data collection from human skeletal
remains: Proceedings of a seminar at the Field Museum of Natural History.
Fayetteville, Arkansas (Arkansas Archaeological survey research series; 44).
Capasso, L.; Kennedy, K.; Wilczak, C. 1999. Atlas of occupational markers on
human remains. Teramo, Edigrafital S.P.A.
Castro, G.; Etxeberria, F. 2002. Fuego y cal en el sepulcro colectivo de “El Miradero” (Valladolid): accidente, ritual o burocracia de la muerte? In: Rojo, M.;
Kunst, M. (eds.). Sobre el significado del fuego en los rituales del Neolítico.
Studia Archaeologica, 91: 39-58.
Chambon, P. 1999. Du cadavre aux ossements: la gestion des sépultures collectives
dans la France néolithique. Thèse de doctorat. Paris, Université de Paris I.
134
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
Correia, P. 1997. Fire modification of bone: a review of the literature. In: Haglund,
W.; Sorg, M. (eds.). Forensic Taphonomy: the post-mortem fate of human
remains. New York, CRC Press: 275-293.
Crubézy, E. 1988. Interactions entre facteurs bio-culturels, pathologie et caractères
discrets: exemple d’une population médiévale, Canac, Aveyron. Thèse de
doctorat en Médicine. Montpellier, Université de Montpellier.
Cunha, E. 1994. Paleobiologia das populações medievais portuguesas – os casos
de Fão e S. João da Almedina. Dissertação de Doutoramento em Antropologia
Biológica, Departamento de Antropologia, Universidade de Coimbra.
Darwent, C.; Lyman, R. 2002. Detecting the postburial fragmentation of carpals,
tarsals, and phalanges. In: Haglund, W.; Sorg, M. (eds.). Advances in forensic
taphonomy: method, theory, and archaeological perspectives. London, CRC
Press: 355-378.
Depierre, G. 1995. Les pratiques funéraires gallo-romaines, liées à l’incinération:
apports spécifiques de l’ostéologie, de l’archéologie et de l’ethnologie. Diplôme
d’Études Approfondies. Bordeaux, Université de Bordeaux.
Eckert, W.; James, S.; Katchis, S. 1988. Investigation of cremations and severely
burned bodies. The American Journal of Forensic Medicine and Pathology,
9(3): 188-200.
Etxeberria, F. 1994. Aspectos macroscópicos del hueso sometido al fuego. Revisión
de las cremaciones descritas en el País Vasco desde la Arqueología. Munibe,
46: 111-116.
Ferreira, M. 2000. As crianças moçárabes de Serpa: análise paleobiológica de
uma amostra de esqueletos exumados da necrópole do loteamento da Zona
Poente de Serpa. Relatório de Investigação, Departamento de Antropologia,
Universidade de Coimbra.
Ferembach, D.; Schwidetzky, I.; Stloukal, M. 1977-1979. Raccomandazioni per la
determinazione dell’età e del sesso sullo scheletro. Rivista di Antropologia,
LX: 5-51.
Galloway, A.; Willey, P.; Snyder, L. 1997. Human bone mineral densities and survival of bone elements: a contemporary sample. In: Haglund, W.; Sorg, M.
(eds.). Forensic taphonomy: the post-mortem fate of human remains. New
York, CRC Press: 295-317.
Gatto, E.; Buquet, C. 2000. La structure plurielle à crémations de la Grotte du Gardon
(Ain): une pratique funéraire originale du Néolithique Récent? Bulletins et
Mémoires de la Société d’Anthropologie de Paris, 12(3-4): 303-332.
Sinais de fogo
135
Gatto, E.; Basset, G.; Méry, S.; Mc Sweeney, K. 2003. Étude paléodémographique
et utilisation du feu à Hili N., une sépulture collective en fosse de la fin de
l’Âge du Bronze Ancien aux Émirats Arabes Unis. Bulletins et Mémoires de
la Société d’Anthropologie de Paris, 15(1-2): 25-47.
Gonçalves, V. 1992. Revendo as Antas de Reguengos de Monsaraz. Cadernos da
UNIARQ. Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica.
Gonçalves, V. 1999. Reguengos de Monsaraz: territórios megalíticos. Lisboa,
VSG e MNA.
Gonçalves, V.; Sousa, A. C. 1997. A propósito do grupo megalítico de Reguengos
de Monsaraz e das origens do megalitismo no Ocidente Peninsular. In: Casal,
A. (ed.). O Neolítico Atlántico e as Orixes do Megalitismo. Santiago de Compostela, Universidade de Santiago de Compostela: 609-634.
Gonçalves, V.; Sousa, A. C. 2000. O grupo megalítico de Reguengos de Monsaraz e a evolução do megalitismo no Ocidente Peninsular (espaços de vida,
espaços da morte: sobre as antigas sociedades camponesas em Reguengos
de Monsaraz). In: Gonçalves, V. (ed.). Muitas antas, pouca gente? Actas do
I Colóquio Internacional sobre Megalitismo. Lisboa, Instituto Português de
Arqueologia: 11-104.
Grévin, G. 1990. La fouille en laboratoire des sépultures à incinération, son apport
à l’archéologie. Bulletins et Mémoires de la Société d’Anthropologie de Paris,
2(3-4): 67-74.
Grévin, G.; Bailet, P.; Quatrehomme, G. ; Ollier, A. 1998. Anatomical reconstruction of fragments of burned human bones: a necessary means for forensic
identification. Forensic Science International, 96(2-3): 129-134.
Guillon, F. 1987. Brûlés frais ou brûlés secs? In: Duday, H. ; Masset, C. (eds.).
Anthropologie physique et archéologie: méthodes d’étude des sépultures.
Actes du Colloque de Toulouse, 4-6 Novembre 1982. Paris, Éditions CNRS:
191-194.
Hauser, G.; De Stefano, G. 1989. Epigenetic variation of the human skull. Stuttgart,
Schweizerbart.
Heglar, R. 1984. Burned remains. In: Rathbun, T.; Buikstra, J. (eds.). Human
identification: case studies in forensic anthropology. Springfield, Charles C.
Thomas: 148-158.
Henderson, J.; Janaway, R.; Richards, R. 1987. Cremation slag: a substance found
in funerary urns. In: Boddington, A.; Garland, A.; Janaway, R. (eds.). Death,
decay and reconstruction: approaches to archaeology and forensic science.
Manchester, Manchester University Press: 81-100.
136
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
Herrmann, N.; Bennett, J. 1999. The differentiation of traumatic and heat-related
fractures in burned bone. Journal of Forensic Sciences, 44(3): 461-469.
Herrmann, B.; Grupe, G.; Hummel, S.; Piepenbrink, H.; Schutkowski, H. 1990.
Praehistorische Anthropologie. Leitfaden der Fels-und Labormethoden.
Berlin, Springer Verlag.
Lohrke, B.; Wiedmann, B.; Alt., K. 2002. Die anthropologische skelettreste aus La
Peña de la Abuela, Ambrona (Prov. Soria). In: Rojo, M.; Kunst, M. (eds.).
Sobre el significado del fuego en los rituales del Neolítico. Studia Archaeologica, 91: 83-98.
Lovejoy, C.; Meindl, R.; Pryzbeck, T.; Mensforth, R. 1985. Chronological metamorphosis of the auricular surface of the ilium: a new method for the adult skeletal
age at death. American Journal of Physical Anthropology, 68: 15-28
Malgosa, A.; Subira, M.; Castellana, C. 1995. Pathological evidences about iberic
cremations: necropolis of “El Poblado” (Múrcia; Spain). In: Proceedings of the
IXth European Meeting of the Paleopathology Association, 1st-4th September,
1992, Barcelona. Barcelona, Museu d’Arqueologia de Catalunya: 213-220.
Masset, C. 1982. Estimation de l’âge au décès par les sutures crâniennes. Thèse
de Doctorat, Laboratoire d’Anthropologie Biologique. Paris, Université de
Paris VII.
Masset, C. 2002. Ce qu’on sait, ou croit savoir, du rôle du feu dans les sépultures
collectives néolithiques. In: Rojo, M; Kunst, M. (eds.). Sobre el significado
del fuego en los rituales del Neolítico. Studia Archaeologica, 91: 9-20.
Mays, S. 1998. The archaeology of human bones. London, Routledge.
Mckinley, J. 1994. Bone fragment size in British cremation burials and its implications for pyre technology and ritual. Journal of Archaeological Science,
21: 339-342.
Mckinley, J. 2000. The analysis of cremated bone. In: Cox, M.; Mays, S. (eds.).
Human osteology in archaeology and forensic science. London, Greenwich
Medical Media: 403-421.
Mckinley, J.; Bond J. 2001. Cremated bone. In: Brothwell, D.; Pollard, A. (eds.).
Handbook of archaeological sciences. Chichester, John Wiley & Sons, Ltd.:
281-292.
Ortner, D. 2003. Identification of pathological conditions in human skeletal remains.
2nd Edition.London, Academic Press.
Pajot, B. 1986. Le rite de l’incinération sur la necropole du Frau de Cazals (Tarnet-Garonne). In: Duday, H. ; Masset, C. (dir.). Anthropologie physique et
Sinais de fogo
137
archeologie: méthodes d’étude des sépultures. Actes du Colloque de Toulouse
4, 5 et 6 novembre 1982. Paris, Editions CNRS: 379-388.
Phenice, T. 1969. A newly developed visual method of sexing in the os pubis.
American Journal of Physical Anthropology, 30: 297-301.
Pitarch, P.; Feucht, M.; Munõz, M.; Cerda, M.; Blanco, J. 1999. Pseudopatologia
tafonómica en restos óseos arqueológicos. Actas del Congreso Nacional de
Paleopatología. Alcalá la Real, 29 de Abril-2 de Mayo de 1999 [Acedido em
12-03-2005]. http://www.ucm.es/info/aep/boletin/actas
Reinhard, K.; Fink, T. 1994. Cremation in the Southwestern North America: aspects
of taphonomy that affect pathological analysis. Journal of Archaeological
Science, 21: 597-605.
Reverte, J. 1991. Antropología forense. Madrid, Ministerio de Justiça (Secretaria
General Tecnica, Centro de Publicações).
Roberts, C.; Manchester, K. 1995. The archaeology of disease. 2nd Edition. Ithaca,
New York, Alan Sutton Publishing Limited.
Rubini, M.; Andreini, L. 1990. Studio di resti scheletrici incinerati scoperti in uno
dolio funerario risalente ad Epoca Imperiale Romana rinvenuto in prossimità
di Ciampino (Roma, Lazio). Rivista di Antropologia, 68: 267-277.
Saunders, S. 1978. The development and distribution of discontinous morphological variation of human infracranial skeleton. Ottawa, National Museums of
Canada, Mercury Series, 81.
Shahack–Gross, R.; Bar-Yosef, O.; Weiner, S. 1997. Black-coloured bones in
Hayonim Cave, Israel: differentiating between burning and oxide staining.
Journal of Archaeological Science, 24: 439-446.
Silva, A. M. 1996. O Hipogeu de Monte Canelas I (IV-III milénios a. C.): estudo
paleobiológico da população humana exumada. Trabalho de síntese. Provas de
Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, Departamento de Antropologia,
Universidade de Coimbra.
Silva, A. M. 2002. Antropologia Funerária e Paleobiologia das populações portuguesas (litorais) do Neolítico final/Calcolítico. Dissertação de Doutoramento
em Antropologia Biológica, Departamento de Antropologia, Universidade
de Coimbra.
Silva, A. M. 2003. Evidence of osteochronditis dissecans in Late Neolithic/Chalcolithic Portuguese Populations. In: Campo-Martín, M.; Rodríguez, F. (eds.).
Dónde Estamos? Pasado, Presente y futuro de la Paleopatología. Actas del
VI Congreso Nacional de Paleopatología (Madrid, 13 al 16 Septiembre de
2001): 464-468.
138
Filipa Cortesão Silva, Eugénia Cunha, Victor Gonçalves
Silva, F. C. 2005. Sinais de Fogo: Análise antropológica de restos ósseos cremados
do Neolítico fina/Calcolítico do tholos OP2b (Olival da Pega, Reguengos de
Monsaraz). Dissertação de Mestrado em Evolução Humana, Departamento
de Antropologia, Universidade de Coimbra.
Silva, F. C. 2007. Abordagem ao ritual da cremação através da análise dos restos
ósseos. Al-Madan, (II série) 15: 40-48.
Symes, S.; Pope, E.; Smith, O.; Gardner, C.; Zephro, L. 2001. Burning observations
III: analysis of fracture patterns in burned human remains. Proceedings of the
American Academy of Forensic Sciences, 7: 278.
Sousa, A. C. 2004. Comunicação pessoal.
Spence, T. 1967. The anatomical study of cremated fragments from archeological
sites. Proceedings of the Prehistoric Society, 63: 129-145.
Stiner, M.; Kuhn, S.; Weiner, S.; Bar-Yosef, O. 1995. Differential burning, recrystallization, and fragmentation of archaeological bone. Journal of Archaeological
Science, 22: 223-237.
Stojanowski, C.; Seidemann, R.; Doran, G. 2002. Differential skeletal preservation
at Windover Pond: causes and consequences. American Journal of Physical
Anthropology, 119: 15-26.
Stone, R.; Stone, J. 1997. Atlas of skeletal muscles. 2nd Edition. London, Wm. C.
Brow Publishers.
Thompson, T. 2004. Recent advances in the study of burned bone and their implications for forensic anthropology. Forensic Science International, 146 supplement 1: S203-S205.
Thurman, M.; Willmore, L. 1980-1981. A replicative cremation experiment. North
American Archeologist, 2(4): 275-283.
Toussaint, M. 1991. Étude spatialle et taphonomique de deux sépultures collectives
du Néolithique Récent: l’Abri Masson et la Fissure Jacques à Sprimont, province de Liège, Belgique. L‘Anthropologie (Paris), 95(1): 257-278.
Ubelaker, D. 1974. Reconstruction of demographic profiles from ossuary skeletal
samples: a case from Tidewater Potomac. Smithsonian Contributions to
Anthropology 18. Washington D.C.
Ubelaker, D. 1989. Human skeletal remains. 2nd Edition. Washington, Taraxacun.
Vázquez, J.; González, T.; Pereira, S. 2002. El fuego en el ritual funerario Bimbape:
la necrópolis de Montaña La Lajura (El Hierro, Canarias). In: Rojo, M.; Kunst,
M. (eds.). Sobre el significado del fuego en los rituales del Neolítico. Studia
Archaeologica, 91: 219-232.
Sinais de fogo
139
Wahl, J. 1996. Erfahrungen zur metrischen Geschlechtsdiagnose bei Leichenbranden. Homo, 47(1-3): 339-359.
Wahl, J.; Graw, M. 2001. Metric sex differentiation of the pars petrosa ossis temporalis. International Journal of Legal Medicine, 114: 215-223.
Waldron, T. 1987. The relative survival of the human skeleton: implications for
paleopathology. In: Boddington, A.; Garland, A.; Janaway, R. (eds.). Death,
decay and reconstruction: approaches to archaeology and forensic science.
Manchester, Manchester University Press: 55-64.
Wells, C. 1960. A study of cremation. Antiquity, 34: 29-37.
White, T. 2000. Human osteology. 2nd Edition. San Diego, Academic Press.
Artigo recebido a 3 de Novembro de 2008 e aceite a 6 de Janeiro de 2009.