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O JORNALISMO EM FACE DA ACELERAÇÃO SOCIAL DO TEMPO [ ARTIGO ] Caio Teruel Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Helder Prior Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Caio Teruel Helder Prior O jornalismo em face da aceleração social do tempo [ R E S U MO AB STR AC T RESU ME N ] Este artigo tem como objetivo compreender o jornalismo contemporâneo em meio ao fenômeno da aceleração social do tempo, este explorado pelo teórico alemão Hartmut Rosa, por meio de uma inflexão teórico-conceitual. Para isso, delimita-se, em um primeiro momento, algumas das bases da aceleração social do tempo, isto é, as dimensões fenomenológicas da aceleração temporal. Em seguida, investiga-se a função do jornalismo no fenômeno aceleratório, bem como a ascensão do presentismo por meio de aparatos jornalísticos. Por último, busca-se apreender os fenômenos tratados em enunciados políticos de modo empírico por meio de análises e contextualizações. Palavras-chave: Aceleração Social do Tempo. Comunicação. Política. Jornalismo. Hartmut Rosa. This article aims to understand contemporary journalism in the midst of the phenomenon of social acceleration of time, which the German theorist Hartmut Rosa explored by using a theoretical-conceptual inflection. For this, at first, some bases of social acceleration of time are delimited, that is, the phenomenological dimensions of temporal acceleration. Then, the role of journalism in the acceleration phenomenon and the rise of presentism are investigated by using the journalistic apparatus. Finally, this article seeks to apprehend the phenomena dealt with in political statements in an empirical way through analysis and contextualization. Keywords: Social Acceleration of Time. Communication. Politics. Journalism. Hartmut Rosa. Este artículo tiene como objetivo comprender el periodismo contemporáneo en medio del fenómeno de aceleración social del tiempo, explorado por el teórico alemán Hartmut Rosa desde una inflexión teórico-conceptual. Para ello, primero se delimitan algunas bases de la aceleración social del tiempo, es decir, sus dimensiones fenomenológicas. Luego, se investiga el papel del periodismo en el fenómeno de la aceleración y el surgimiento del presentismo por medio del aparato periodístico. Finalmente, se buscan aprehender los fenómenos tratados en los enunciados políticos de manera empírica utilizando análisis y contextualización. Palabras clave: Aceleración Social del Tiempo. Comunicación. Política. Periodismo. Hartmut Rosa. DOI: https://doi.org/10.11606/extraprensa2021.186716 Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 [ EXTRAPRENSA ] 422 Caio Teruel Helder Prior O debate Ao olhar para a história da modernidade pelo viés temporal, o sociólogo alemão Hartmut Rosa encontra uma característica que a impulsiona e a difere de todos os períodos históricos anteriores: o fenômeno da aceleração. Assim, por meio de um diagnóstico da história moderna, Rosa desenvolve sua teoria da aceleração social do tempo. De acordo com o teórico, é impossível falar da modernidade sem levar em consideração os fenômenos aceleratórios que impactaram as sociedades ocidentais e orientais. Assim, Tanto defensores quanto detratores da modernidade, desde quando há uma discussão reconstituível, após a Renascença, sobre o ‘novo tempo’, estão de acordo em um ponto: sua experiência fundamental constitutiva é de uma enorme aceleração do mundo e da vida e, assim, do fluxo de experiência de cada indivíduo (ROSA, 2019, p. 69). Das vanguardas artísticas europeias, como o futurismo de Marinetti, ou do surgimento de ritmos musicais como o jazz, passando pela revolução dos meios comunicacionais com o surgimento da internet e a comunicação via satélite, ou o encolhimento do mundo pelo avanço dos meios de locomoção e até do grau de gerações dentro de uma mesma família, Rosa, ao analisar o fenômeno da aceleração na modernidade, não se debruça apenas sobre a questão técnica, como é comumente feito nas ciências sociais. O autor explora as características da vida cotidiana, compondo um amplo quadro analítico tanto da exterioridade dos indivíduos quanto de suas subjetividades. Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 O jornalismo em face da aceleração social do tempo O resultado disso é um diagnóstico detalhado e profundo sobre os passos largos pelos quais a sociedade avança e a alteração de suas estruturas temporais. Deste modo, este artigo busca, a partir da teoria da aceleração social do tempo, compreender os impactos dos fenômenos aceleratórios e sua função na comunicação jornalística. Para isso, a primeira parte do texto se debruça brevemente sobre os componentes basilares da teoria aceleratória para que seja possível absorver entendimentos chave das ideias de Hartmut Rosa, isto é, a compreensão acerca das dimensões fenomenológicas da aceleração diante dos paradoxos da própria experiência temporal, sem perder de vista o desenvolvimento do jornalismo industrial e sua atuação no sistema capitalista como um motor propulsor da aceleração. Insere-se, ainda na primeira parte, uma reflexão sobre o presentismo e as alterações subjetivas da percepção do tempo no âmbito do discurso jornalístico. A segunda parte do texto traz no bojo uma breve análise qualitativa para que se possa captar empiricamente parte das proposições de Rosa. Por fim, a terceira parte busca refletir acerca da produção exponencial de notícias e suas possíveis consequências para o campo social. Três dimensões do fenômeno da aceleração social Antes propriamente de haver uma aceleração da sociedade, existiu uma aceleração que se desenvolveu no espírito social e que acabou por penetrar diversos âmbitos [ EXTRAPRENSA ] 423 Caio Teruel Helder Prior culturais, instalando, portanto, ideias que convergem no ponto da aceleração. Assim, eventos culturais marcantes expressam o sentido desse novo momento do mundo. O fluxo de consciência imposto por Ulisses, de James Joyce, ou O som e a fúria, de William Faulkner, sintetizam o estado cultural das sociedades ocidentais capitalistas do século XX. “Dou-lhe este relógio não para que você se lembre do tempo, mas para que você possa esquecê-lo por um momento de vez em quando e não gaste todo seu fôlego tentando conquistá-lo”, lembra Faulkner (2004, p. 73) em sua maior obra. O trecho ressalta a questão temporal, mas o modo de escrita e o fluxo de consciência libertam as amarras do texto e expandem as possibilidades de uso do conteúdo pela própria consciência do narrador. Todavia, embora a aceleração possa ser percebida e compreendida nos produtos de bens simbólicos como a literatura, o cinema e as artes visuais, Rosa (2019) delimita três dimensões centrais para apreender a fenomenologia da aceleração: aceleração técnica, aceleração dos movimentos sociais e aceleração do ritmo da vida. Por motivos de objetividade, não cabe neste momento nos alongarmos em questões que não coadunam com a tese central deste texto. Portanto, alguns tópicos referentes às dimensões da aceleração serão abreviados. A aceleração técnica proposta por Hartmut Rosa (2019) ocorre de maneira intencional e age, como o próprio nome pressupõe, no âmbito da técnica e da tecnologia, de maneira a acelerar os processos de produção, transporte, escala etc., que exigem um aumento da eficácia ou outro objetivo semelhante, como o da comunicação. Assim, “essa forma de aceleração é Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 O jornalismo em face da aceleração social do tempo a mais simples de ser medida e verificada” (ROSA, 2019, p. 141). Apesar disso, a questão da aceleração técnica já fora muito desenhada por teóricos como David Harvey, que trouxe ao debate a compressão do tempo-espaço, e Paul Virilio, em sua interpretação da Revolução Industrial como “dromológica”, a qual é comumente associada com a revolução da velocidade. Assim, ao passar para a próxima dimensão da aceleração, a da mudança so cial, percebe-se um deslocamento da exterioridade para a subjetividade. De acordo com Rosa (2019), tal aceleração pode ser definida como “a velocidade na qual, de um lado, práticas e orientações de ação, e, de outro, estruturas associativas e modelos de relação se modificam” (ROSA, 2019, p. 147). Como um não exemplo, o autor cita a substituição da organização de trabalho do capitalismo nascente pelo regime taylorista de trabalho como uma manifestação da aceleração técnica somada à mudança social. Embora se busque a alteração de determinada forma social, o regime taylorista não acelera a mudança social. Deste modo, pode-se pensar os programas de governo com validade de quatro anos como uma aceleração da mudança social, pois estão em constante transformação. O autor ilustra a situação com um exemplo do campo da comunicação: Da descoberta do aparelho de radiodifusão, no fim do século XIX, até sua propagação alcançar 50 milhões de receptores, passaram-se 38 anos; introduzida um quarto de século mais tarde, a televisão precisou, para o mesmo feito, de apenas [ EXTRAPRENSA ] 424 Caio Teruel Helder Prior treze anos, enquanto a internet alcançou em apenas quatro anos 50 milhões de conexões (ROSA, 2019, p. 148). Surge então, neste cenário que se esboça, o empecilho de precisar as taxas de mudanças sociais. Logo, a dificuldade em classificar determinada mudança social se torna um obstáculo e, portanto, varia de autor para autor. Para superar tal problema, Rosa (2019) faz uso do conceito de contração do presente de Hermann Lübbe e, concomitantemente, desenha a teoria dos sistemas de Niklas Luhmann. O presente, conforme Lübbe, define-se como o período de duração cujo espaço de experiência e horizonte de expectativa ainda não foram modificados. Assim, trata-se de um processo em que ocorre a redução dos espaços temporais em que se pode calcular com constância as condições da vida material. Nas palavras de Rosa: O jornalismo em face da aceleração social do tempo para refeições, a redução de determinados eventos, o multitasking – a realização de várias atividades ao mesmo tempo – etc. De forma subjetiva, tal aceleração se expressa por meio da pressão temporal e da “estressante obrigação da aceleração”, conforme aponta Rosa , “além do medo de não conseguir acompanhar o ritmo” (2019, p. 157). O jornalismo como motor autopropulsor da aceleração temporal A aceleração da mudança social pode ser definida como um aumento das taxas de expiração de experiências e expectativas orientadoras da ação, e como encurtamento dos intervalos de tempo que, para cada esfera funcional, de valor e de ação, podem ser determinados como presente (ROSA, 2019, p. 152). O jornalismo contemporâneo, surgido na ascensão do período industrial, liga-se à temporalidade não apenas pela periodização da produção noticiosa, mas pela apreensão do jornalismo ao fato cotidiano. Conforme aponta Ramonet (1999, p. 35), a etimologia da palavra jornalista significa “analista de um dia”. Assim, a lógica contemporânea de produção noticiosa, potencializada pelas tecnologias da informação, gira em torno da aceleração e do fetiche pela velocidade (MORETZSOHN, 2002) para que o objetivo seja, mesmo que de maneira idealizada, realizar uma cobertura de todos os fatos do dia. Por último, a aceleração do ritmo da vida apresentada por Rosa pode ser compreendida como o número de episódios de ação em um período determinado e, embora esteja conectada com a aceleração das mudanças sociais, não é derivada apenas dela, mas também, de forma paradoxal, da aceleração técnica. Deste modo, de forma objetiva, o aumento do ritmo da vida condiz com um encurtamento dos episódios de ação, isto é, a diminuição do tempo Deste modo, sob a perspectiva da aceleração social do tempo, o jornalismo se estabelece como uma instituição e uma produção social basilar para a compreensão dos fenômenos comunicacionais. De modo arraigado, a prática jornalística se apropria da lógica da aceleração e se insere no círculo aceleratório, tornando-se, assim, um elemento essencial no processo autopropulsor. Tal círculo, conforme aponta Rosa (2019, p. 302), é definido como um processo Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 [ EXTRAPRENSA ] 425 Caio Teruel Helder Prior O jornalismo em face da aceleração social do tempo “autopropulsor, que dispõe as três áreas [técnica, movimentos sociais e ritmo da vida] da aceleração numa interação circular, na qual se relaciona no sentido do aumento”. Assim, a função social da aceleração técnica, peça chave do círculo aceleratório, é a de “reduzir a demanda temporal de um processo, criando, com isso, recursos temporais livres” (ROSA, 2019, p. 302). Todavia, o tempo livre gerado pela aceleração técnica é preenchido com outras atividades, gerando, dessa forma, o adensamento de episódios de ação. [ Figura 1 ] O círculo aceleratório Fonte: Rosa (2019) No âmbito do jornalismo, a aceleração técnica propicia uma produção exponencial de notícias, o que, por sua vez, gera um número maior de aparentes mudanças sociais para serem compreendidas pelos consumidores. O termo “aparente” se justifica uma vez que muitas dessas notícias não são de fato um acontecimento que rompe com a ordem do cotidiano ou que merece a atenção massiva da mídia, mas sim, como pontua Boorstin (1964), pseudoeventos. No cenário da comunicação política é possível marcar esses pseudoeventos de maneira ímpar, pois os critérios noticiosos se deformam conforme o grau político do sujeito envolvido na ação. A reflexão se faz necessária, por exemplo, quando nos Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 deparamos com notícias com manchetes como “Presidente Bolsonaro passeia de moto e cumprimenta apoiadores em Guarujá (SP)” (MELO, 2020), publicada no Portal UOL, no dia 31 de outubro de 2020, ou “Bolsonaro é bicado por emas no Palácio da Alvorada” (WARTH, 2020), publicada no jornal O Estado de S. Paulo, em 13 de julho de 2020. Ambos os acontecimentos tomaram conta dos noticiários e das redes sociais em suas respectivas datas de publicações; entretanto, eles não possuem valor político ou jornalístico algum, pois não alteram a ordem do cotidiano e muito menos a política nacional. Todavia, no cenário de aceleração social, a noticiabilidade se altera e alarga as possibilidades, tornando o jornalismo político – mas não apenas ele [ EXTRAPRENSA ] 426 Caio Teruel Helder Prior – em uma espécie de reality-show dos e das governantes. Logo, a validade de determinados conhecimentos acerca do mundo material muda com muito mais velocidade. A construção social da realidade realizada pelas instituições jornalísticas possui, na atualidade, uma efemeridade muito maior não apenas pela aceleração dos processos em si, como também pela carga informacional produzida, distribuída e consumida que, como as notícias acima, não servem a nenhum entendimento amplo sobre a realidade. Esse aumento das possibilidades dos pseudoeventos surge, como exposto, não apenas da aceleração dos acontecimentos, mas também da dessincronização entre comunicação e política. O tempo midiático exige conteúdos a todo o momento, tendo em vista as infinitas possibilidades oferecidas pela internet. Em contrapartida, a política, com seus ritos longos, atua em uma dinâmica própria, impondo aos outros campos sociais uma temporalidade intrínseca a si. O choque entre ambas as temporalidades produz efeitos adversos que ainda estão a ser explorados e analisados. Como aponta Rosa (2019, p. 530), “a dessincronização, que tem sido cada vez mais observada, gera o risco de que a política tome decisões anacrônicas que, no momento de sua aplicação, já se encontrem ultrapassadas”. Nesse sentido, Hartmut Rosa (2019) descreve um processo cada vez mais comum no que diz respeito à comunicação e à aceleração. Primeiro, o autor evidencia o paradoxo da falta de tempo na contemporaneidade, ao passo que a revolução técnica possibilita o tempo ócio, tendo em vista a celeridade dos processos. Em seguida, Rosa se confronta com duas evidências essenciais para a compreensão do problema: o medo Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 O jornalismo em face da aceleração social do tempo de perder oportunidades e a compulsão à adaptação. A primeira evidência age no cerne da ideia de “gozar aceleradamente as opções do mundo” (ROSA, 2019, p. 365), ou seja, o aumento do número de experiências. Já a segunda converge com a aceleração da mudança social e direciona o indivíduo ao sentimento de estar sobre declives escorregadios, onde “quase todo o conhecimento e conquista estabelecida está sob a ameaça da obsolescência” (ROSA, 2019, p. 268). Pode-se inserir aqui o âmbito noticioso, pois abriga a dissociação entre o espaço de experiência e o horizonte de expectativas, logo, “condições de ação e determinações situacionais perdem sua validade em intervalos cada vez mais curtos” (ROSA, 2019, p. 309). Presentismo: uma consequência da cultura midiática Embora já bastante citada, a máxima de Marx sobre a liquidez dos fatos e das religiões e suas consequentes transformações não se deixa envelhecer. Pelo contrário, ao avançar da história, percebe-se claramente a força com que tal ideia ainda ecoa e se manifesta nas sociedades. Da economia à cultura, a transformação constante e veloz de ações, fenômenos, ideologias e outras camadas sociais demonstram a validade da frase impressa no Manifesto comunista. Berman (2007), crítico de arte, em seu clássico Tudo que é sólido desmancha no ar, busca em obras da literatura mundial respostas e características do espírito da modernidade que urgia no século XIX e [ EXTRAPRENSA ] 427 Caio Teruel Helder Prior XX. O autor esmiúça desde O sofrimento do jovem Werther, de Goethe, passando pelo Manifesto comunista de Marx e Engels e poemas de Baudelaire, até o subdesenvolvimento presente em Dostoiévski. Deste modo, Berman encontra em cada obra fragmentos do espírito da modernidade, que reconstrói pouco a pouco. Para ele: O turbilhão da vida moderna tem sido alimentado por muitas fontes: grandes descobertas nas ciências físicas, com a mudança da nossa imagem do universo e do lugar que ocupamos nele; a industrialização da produção, que transforma conhecimento científico em tecnologia, cria novos ambientes humanos e destrói os antigos, e acelera o próprio ritmo de vida, gera novas formas de poder corporativo e de luta de classes; descomunal explosão demográfica, que penaliza milhões de pessoas arrancadas de seu habitat ancestral, empurrando-as pelos caminhos do mundo em direção a novas vidas; rápido e muitas vezes catastrófico crescimento urbano; sistemas de comunicação de massa dinâmicos em seu desenvolvimento, que embrulham amarram, no mesmo pacote, os mais variados indivíduos e sociedades (BERMAN, 2007, p. 25). Deste modo, os sistemas dinâmicos de comunicação são obrigados a se desenvolverem conforme o ritmo social. Em face da constante fragmentação, estar presente e ativo 24 horas por dia, sete dias por semana, para usar das ideias de Crary (2016), se faz necessário. Trata-se de dar o furo jornalístico e chegar na frente, mas não apenas isso. A narrativa que produzida por meio do discurso jornalístico articula diversas ferramentas que, dada a enunciação, constroem Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 O jornalismo em face da aceleração social do tempo o presente e, na repetição exaustiva ao longo de um dia, transformam as notícias em um presente ad infinitum. Antunes (2007, p. 27), ao analisar a produção do acontecimento jornalístico, afirma que “o ‘presentismo’ teria raízes em um fenômeno de percepção difusa da diminuição do sentido histórico em favor de um horizonte restrito somente ao presente”. Tal afirmação caminha ao lado do que Castells (1996) chama de tempo intemporal, no sentido perceptivo do tempo e do que Rosa (2019, p. 577) afirma ser a destemporalização da vida, isto é, a “desinstitucionalização do percurso de vida” e o abandono da identidade estável por um projeto de vida instável. Ao fim, o desenvolvimento de uma subjetividade que se baseia constantemente no momento, ao passo que encurta o presente, provoca no consumo jornalístico o sentido de imediaticidade do “tempo real”. Antunes continua: Muitas vezes associado à dinâmica dos meios de comunicação e seu fluxo ininterrupto e dantesco de informações que vincularia os indivíduos a uma imediaticidade […] o elemento chave é a formação de um hábito cultural marcado pelo choque e pela repetitividade (ANTUNES, 2007, p. 27). O autor parte da hipótese de que o presentismo é um fenômeno derivado da ausência de critérios para a associação, no que tange ao relato jornalístico. Para ele, “a temporalidade é tomada como um mero dispositivo de ativação da atualidade da notícia pela sua equivalência com o presente histórico” (ANTUNES, 2007, p. 27). Deste modo, a ideia de passado, presente e futuro adentra um vórtice de [ EXTRAPRENSA ] 428 Caio Teruel Helder Prior reconfiguração, pois tais parâmetros se chocam e desenvolvem em si uma crise de percepção temporal destes marcos. As certezas que se assentavam em tais marcos históricos – passado, presente e futuro – se chocam no ambiente midiático-jornalístico e trazem novas dinâmicas e configurações. Hartmut Rosa (2019), ao analisar o processo de destemporalização da vida, sintetiza, principalmente no âmbito das auto relações subjetivas, o estado de impermanência. A notícia, ao contrário, fia-se em uma “visão superficial do mundo proposta pelas mídias, na qual não há nenhuma duração, nenhuma (ou quase nenhuma) perspectiva quanto ao passado, nenhuma (ou insignificante) projeção para o futuro”. A notícia não tem nenhuma espessura temporal, mas simula tal condição por meio do “blefe” da narrativa, que insere o processo de conversão do acontecimento em notícia “numa interrogação sobre a origem e o devir” (ANTUNES (2007) apud CHARAUDEAU, 2006, p. 135). A notícia, em sua forma tanto clássica quanto contemporânea, é a síntese do que Rosa (2019) chama de destemporalização da vida, o que se aplica, portanto, no entendimento subjetivo. Para o sentido histórico, Rosa contempla no conceito de destemporalização da história a perda do sentido da ideia de progresso e a desorientação política “em função do ritmo de transformação acelerado” (ROSA, 2019, p. 577). Desse modo, é possível refletir sobre as bases de construção do sentido de atualidade trazidas pelo discurso jornalístico, conforme aponta Franciscato (2003), em contraponto ao cenário de aceleração social do tempo esmiuçado por Rosa Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 O jornalismo em face da aceleração social do tempo (2019). Para Franciscato, a instantaneidade, a periodicidade, a simultaneidade, a novidade e a revelação pública são bases sócio-históricas essenciais para o sentido de atualidade. Todavia, tais bases se agarram não ao entendimento subjetivo, mas à compreensão de fenômenos sociais que, em correlação, definiram historicamente o que seria a atualidade para a deontologia jornalística. Em seu trabalho “Atualidade no jornalismo: bases para sua delimitação teórica”, o autor relata o processo de aceleração social como uma característica da concepção contemporânea de atualidade para o jornalismo. Franciscato (2003), ao descrever os modos de materialização do fenômeno da aceleração social no processo jornalístico, acaba por fazer uso apenas da questão tecnológica e material, deixando de lado reflexões sobre os possíveis efeitos dessa aceleração na constituição da subjetividade dos leitores. Todavia, as empresas jornalísticas nos séculos XIX e XX se beneficiavam justamente dessa questão, que as faria, no século XXI, se reinventarem. “As organizações jornalísticas, já transformadas em empresas com seus ritmos industriais e de administração do tempo, experimentavam de forma específica esta ênfase à velocidade e à aceleração dos processos produtivos” (FRANCISCATO, 2003, p. 153). Desse modo, no campo da subjetividade, Dalmonte (2010) parte de Santo Agostinho e Ricoeur para compreender o triplo presente pelo qual é formada a narrativa jornalística. De acordo com o autor mineiro, o entendimento de Santo Agostinho sobre a tríade do presente – composta pelo presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes e o presente [ EXTRAPRENSA ] 429 Caio Teruel Helder Prior das coisas futuras – forma a base da narrativa jornalística. O presente das coisas passadas refere-se à concepção histórica, que, em sentido amplo, deve ser revisitada, pois é a historicidade dos fatos que agrega sentido, atualizando o ocorrido, que pode ser apresentado e reinvestido de significados. O presente das coisas presentes é o fato enquanto tal; é o anúncio ou apresentação de um acontecimento. O presente das coisas futuras refere-se à influência no porvir que o acontecimento narrado pode fazer ressoar (DALMONTE, 2010, p. 339). Seja qual for o caminho tomado para compreender a relação intrínseca entre a produção jornalística e o tempo presente, discussões de cunho filosófico surgem justamente para dar dimensão não apenas prática e material, mas também subjetiva e abstrata àquilo que costumeiramente se chama de tempo. O presentismo, por sua vez, em uma relação mútua, desenvolve-se e ampara-se na sociedade da aceleração social do tempo. O próprio entendimento de declives escorregadios apresentado por Hartmut Rosa (2019) elucida o fenômeno, por meio do qual se materializa a necessidade de se estar em constante atualização. Embora ambos os entendimentos se direcionem para objetos específicos, é possível compreender que, em uma sociedade em que a atualização dos desejos, dos fatos e dos saberes é cada vez mais urgente, o presentismo se torna uma característica, uma consequência iminente. Nada mais natural, portanto, que a extensão dessa consequência para o campo noticioso, no qual ocorre a mediação dos acontecimentos e a produção do simbólico. Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 O jornalismo em face da aceleração social do tempo Curto-curto: para exemplificar a situação Assim, tendo em vista os cenários esboçados acima, convém neste momento tratar dos parâmetros subjetivos do indivíduo inserido na sociedade da aceleração e, consequentemente, da dinâmica atrelada ao processo de consumo de notícias. Ao analisar as experiências e seus impactos na subjetividade, Rosa (2019) elabora padrões para compreender o reflexo de diversas ações na memória humana sob a alcunha de paradoxo temporal subjetivo, isto é, os rastros que algumas experiências deixam na memória e nos sentidos dos sujeitos. Quais ações prolongam a memória e quais encurtam? O autor, ao fazer uso de outros referenciais, enquadra práticas esportivas, artísticas e do ramo do entretenimento, assim como faz ao se guiar pelas ideias de Ariane Barth para desenvolver o paradoxo da televisão. Minha suposição é que os rastros de memória, no caso da televisão (e dos jogos de computador), se apagam tão rapidamente porque a experiência, em primeiro lugar é dessensualizada e, em segundo, é geralmente descontextualizada. Dessensualizada significa, aqui, que somente os sentidos visual e auditivo são solicitados, enquanto sensações táteis e olfativas (que possuem, reconhecidamente, uma maior importância para a memória de longo prazo) […] Além disso, todos os estímulos provêm de uma estreita ‘janela’, espacialmente limitada (ROSA, 2019, p. 288). [ EXTRAPRENSA ] 430 Caio Teruel Helder Prior O jornalismo em face da aceleração social do tempo Os postulados do fenômeno descrito são apropriados para estas páginas, que, em um movimento teórico-conceitual, enquadram o consumo jornalístico de notícias. Portanto, não se propõe alternativas ou reflexões sobre o uso do olfato ou do tato em um primeiro momento, mas se debruça sobre a contextualização do jornalismo e de seu espaço reduzido em dispositivos móveis. Para compreender, então, tal fenômeno no plano empírico, pode-se analisar a capa da versão impressa do jornal Folha de S.Paulo (Figura 2). [ Figura 2 ] Primeira página da Folha de S.Paulo de 24 de novembro de 2020 É possível localizar, na Figura 2, ao lado e abaixo da manchete “Boulos sobe a 45% e reduz vantagem de Covas, com 55%”, outras 14 chamadas menores que se espalham por toda a primeira página. As maiores têm um pequeno texto de introdução ao tema da matéria, mas as Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 outras, não. A descontextualização dos temas é visível, pois várias editorias são lançadas de modo aparentemente aleatório, não propondo nem diálogo com os temas importantes nem com a chamada principal. Como afirma Genro Filho (1987, p. 187), “ao separar as notícias e tratá-las [ EXTRAPRENSA ] 431 Caio Teruel Helder Prior de forma descontínua, desintegra e atomiza o real, favorecendo a superficialidade da reflexão e a alienação”. O jornalismo impresso realiza esse feito desde seus primórdios e o digital segue a mesma linha, mas agora com as potencialidades que a velocidade impõe. De acordo com uma pesquisa da empresa Comscore (2020), “A próxima fronteira da mídia”, que objetivou compreender o consumo de notícias entre as gerações X, Y, e Z, há na atualidade uma transição em massa do uso do desktop para o mobile como principal plataforma de consumo de informação. A pesquisa apontou um aumento acima de 50% nos diferentes segmentos editoriais. Além disso, apresentou que 66% dos jovens da geração Z – pessoas com menos de 25 anos – tendem a ler as notícias de maneira rápida e superficial. Com esse cenário delimitado pela pesquisa, convém trazer ao debate um entendimento de Ciro Marcondes Filho (1986) para se somar à reflexão: Tudo deve ser exposto até se queimar. Como nas antigas películas de cinema ou nos projetores de slides sem sistema de refrigeração, a exposição excessiva de um diagrama queima o filme, fazendo-o desaparecer. No jornalismo, a exposição, depois a superexposição de pessoas, fatos, acontecimentos, provoca um processo social de “queima” do fato, na medida em que as notícias excessivamente veiculadas tornam-se inócuas, não provocam mais nenhum efeito, conduzem ao seu total esquecimento. O excesso é a forma mais eficiente de extermínio da coisa e de seu total apagamento da memória (MARCONDES FILHO, 1986, p. 21). Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 O jornalismo em face da aceleração social do tempo No ambiente digital está presente tanto a consolidação do fenômeno descrito por Rosa (2019) acerca do padrão curto-curto quanto a desinformação delimitada por Marcondes Filho (1986) por meio do excesso. A exemplo disso, no período entre 1 e 7 de dezembro de 2020, 288 matérias, entre editorias, colunas de opinião, notícias e outros gêneros, continham o termo covid-19 na busca padrão no site da Folha de S.Paulo. O alto número de resultados em um período curto se justifica pela diversidade de gêneros jornalísticos em uma produção que se ramifica e se potencializa seja pela aceleração técnica, que se aprimora a cada dia, seja pela aceleração das mudanças sociais. No turbilhão deste cenário, mudanças estruturais ocorrem nos âmbitos sociais. A política é um setor que ao longo dos anos se defronta com o poder e com as consequências das múltiplas acelerações descritas por Rosa (2019). Neste sentido, o projeto político de construção de uma sociedade democrática não apenas se dilui no tempo, como se baseia nele para tomar corpo social dentro do processo histórico. Não obstante, o tempo político e o tempo social, ambos em processo de aceleração, se encontram, na contemporaneidade, em dessincronização. Os longos ritos políticos não acompanham mais a velocidade pela qual a sociedade se move e acaba, por fim, agindo como uma categoria de inércia preconizada por Rosa: […] a pressão aceleratória sobre o sistema político para a expedição rápida de decisões definitivas é, a princípio, uma consequência direta da aceleração do rimo de desenvolvimento e de transformação de outros sistemas sociais, especialmente [ EXTRAPRENSA ] 432 Caio Teruel Helder Prior da circulação econômica e da inovação técnico-científica (ROSA, 2019, p. 528). A comunicação política jornalística se defronta em parte com esse mesmo problema. O avanço dos sistemas comunicacionais e as lógicas cultural técnica se apropriam do fetiche pela velocidade e da notícia em primeira mão, causando ruídos de forma e de conteúdo para a comunicação. Assim, os ruídos de forma convergem no sentido de que é preciso, na atualidade, reinventar a comunicação para os meios mobile, tendo em vista sua efemeridade e a necessidade de atualização dos conteúdos em um modelo 24 horas. Para ampliar as possibilidades sobre a forma jornalística, cabe um adendo partindo do crítico literário Roberto Schwarz sobre as formas literárias: A forma – que não é evidente e que cabe à crítica identificar e estudar – seria um princípio ordenador individual, que tanto regula um universo imaginário como um aspecto da realidade exterior. Em proporções variáveis, ela combina a fabricação artística e a intuição de ritmos sociais preexistentes (SCHWARZ, 2012, p. 48). O também crítico literário Antonio Candido (2014), ao analisar os modos possíveis de relação entre forma do texto literário e sociedade, ou seja, entre obra e condicionamento social, delimita seis concepções possíveis de análise entre esses dois eixos. Dentre elas, apenas duas nos interessam: 1. a relação do texto jornalístico com as condições sociais; e 2. os modos de representação da sociedade por meio do texto jornalístico. Entretanto, ao desenvolver suas ideias sobre forma e sociedade, Candido não apresenta uma metodologia sistematizada Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 O jornalismo em face da aceleração social do tempo ou chaves de análise claras sobre como realizar tal leitura do texto literário ou, no caso em específico deste artigo, jornalístico. A forma, delimitada por uma estrutura rígida quando se olha para a notícia, se encontra em um processo de mudança frente às transformações no uso. Como sintetiza McLuhan (2012), o meio é a mensagem. A notícia, sendo majoritariamente consumida pelos dispositivos móveis, torna-se algo transitório, momentâneo, como os aparelhos que servem como tela de leitura do mundo. Já os conteúdos em si necessitam da mesma transformação, pois o público se transforma, muitas vezes se abrangendo e se especializando. Para os pesquisadores em jornalismo Adghirni e Pereira (2011, p. 45), “tais mudanças podem ser atribuídas à possibilidade de acesso a informações por meio de bases de dados, à convergência de mídias e de redações e à proliferação de mídias institucionais e de ferramentas de autopublicação”, o que, por fim, altera forma, conteúdo, lógica de produção e dinâmicas de consumo. Este cenário é sintomático em relação ao momento político pela qual as democracias representativas passam. Com a ascensão da internet e das mídias sociais como campo de batalha de espectros ideológicos, tanto a aceleração temporal quanto a produção de notícias falsas ganham destaque. Como pontua Rosa (2019), os movimentos aceleratórios e a síndrome dos declives escorregadios empurram o sujeito para a margem a todo momento, obrigando-o a estar sempre atento aos últimos acontecimentos, notícias e tendências. [ EXTRAPRENSA ] 433 Caio Teruel Helder Prior Neste sentido, as notícias falsas ganham destaque não por apenas manipular e distorcer a verdade, mas também por se tornarem comuns em um ambiente infodêmico, isto é, como preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020, p. 2), “um excesso de informações, algumas precisas e outras não, que tornam difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa”. Estamos em um cenário em que 65% da população possui um dispositivo móvel, tendo na palma da mão a chance de replicar notícias falsas (CANAVILHAS; FERRARI, 2018). Considerações finais Deste modo, o cenário esboçado é o de processos que se aceleram. A técnica se acelera, produzindo o aumento do ritmo da vida, isto é, os episódios de ação se tornam concomitantes à duração dos saberes, da cultura e de normas sociais, que perdem seus prazos de validade cada vez mais rápido. Assim, os diversos campos sociais são atingidos de uma maneira única, intrínseca a eles e a suas dinâmicas. O jornalismo, como visto neste artigo, não foge à realidade dos fatos. A situação dessa parte da comunicação social se insere no cenário de fenômenos aceleratórios devido à alteração de suas bases essenciais pela aceleração dos processos. A essa altura, pontuar que a internet alterou as estruturas e os processos da notícia é, como diz a expressão popular, chover no molhado. Todavia, destacar o papel da internet e dos dispositivos móveis Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 O jornalismo em face da aceleração social do tempo é demasiadamente importante, pois tais meios se tornam uma chave de compreensão essencial do cenário atual, seja quando se fala em aceleração temporal, infodemia ou usos sociais da comunicação. Não obstante, destacar tais ações no âmbito da produção jornalística é essencial, mas lançar luz sobre a recepção dos produtos jornalísticos no cenário contemporâneo de aceleração social é urgente, e foi desta tarefa que este artigo se ocupou. Por meio dos escritos de Hartmut Rosa, em um diagnóstico do tempo atual, confrontou-se teorias acerca da subjetivação no consumo de notícias, mas não sem antes enquadrar o campo jornalístico como um ator essencial ao círculo autopropulsor da aceleração, principalmente no que concerne às mudanças sociais, tendo em vista a proliferação dos pseudoeventos no jornalismo. Outrossim, o padrão curto-curto desvelado por Rosa (2019) sintetiza, em um movimento teórico-conceitual, a subjetividade do sujeito imerso em uma rede infindável de informações que cruzam seu cotidiano a todo o momento. O trabalho da memória, no sentido de uma informação que vem e vai rapidamente, como aponta Marcondes Filho (1986, p. 21) ao falar que a “superexposição de pessoas, fatos e acontecimentos provoca um processo social de ‘queima’ do fato, na medida em que as notícias excessivamente veiculadas tornam-se inócuas”, aplica e potencializa a mesma dinâmica no âmbito do consumo noticioso na contemporaneidade. Tal padrão estudado por Rosa ainda carece de aprofundamento, tendo em vista sua importância para o estatuto jornalístico em tempos de desinformação. É, por [ EXTRAPRENSA ] 434 Caio Teruel Helder Prior O jornalismo em face da aceleração social do tempo fim, impossível esgotar as possibilidades de reflexões em poucas páginas, seja acerca da teoria da aceleração social do tempo, seja acerca da comunicação jornalística e suas complexidades traçadas no tecido social, cultural e econômico frente à sociedade da aceleração. [ CA IO TERUEL ] Jornalista e mestrando no Programa de PósGraduação em Comunicação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail: caioteruel05@gmail.com [ HEL DER PRIOR ] Professor visitante estrangeiro na UFMS. Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade da Beira Interior (UBI). Realizou estágio de pós-doutorado na Universidade de Brasília (UnB) e na UBI. E-mail: helder.prior@gmail.com Extraprensa, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 421 – 437, jan./jun. 2021 [ EXTRAPRENSA ] 435 Caio Teruel Helder Prior O jornalismo em face da aceleração social do tempo Referências ADGHIRNI, Zélia Leal; PEREIRA, Fábio Henrique. O jornalismo em tempo de mudanças estruturais. Intexto, Porto Alegre, v. 1, n. 24, p. 38-57, 2011. ANTUNES, Elton. Temporalidade e produção do acontecimento jornalístico. Em Questão, Porto Alegre, v. 13, n. 1, p. 25-40, 2007. BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007. BOORSTIN, Daniel. The image: a guide to pseudo-events in America. New York: Harper and Row, 1964. CANAVILHAS, João; FERRARI, Pollyana. Fact-checking: o jornalismo regressa às origens. In: BUITONI, Dulcilia Schroeder (org.). Jornalismo em tempo de transformação: desafios de produção e de ação. Porto Alegre: Sulina, 2018. p. 30-49. CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. 13. ed. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2014. 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