Como fazer um Plano
pós-catástrofe.
Não pegue um na prateleira.
Por Prof. Engº Luiz Albuquerque, MsC
“A definição de insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar
resultados diferentes”. Albert Einstein
‘’A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou
para o presente irão com certeza perder o futuro’’ J F Kennedy
Do Problema
De repente, deparo-me com um plano de recuperação sendo discutido por uma reunião
ministerial. Tendo participado de inúmeros planos de gestão de risco e recuperação
pós-tragédias mundo afora, alguns absurdos me saltam aos olhos em apenas na idéia, e
quanto mais aprofundo, pior fica.
Como falar em recuperação se ainda não se tem a dimensão do estrago? Ou seja, oferece-se
uma solução de prateleira, um ctrl-c ctrl-v, de algo totalmente desvinculado da realidade.
Pior, declarado de inspiração no Plano Marshall que tem uma realidade estranha, com um
orçamento irreal. Um tratava de uma reaquecimento econômico baseado na destruição
sistemática da infraestrutura europeia. O desafio do pós-COVID-19 é outro, segundo
experiências de outras pandemias na história, a recuperação econômica é rápida, mas a
instituições política e religiosas são totalmente destruídas pelo questionamento de sua
incapacidade em lidar o com o problema. No caso da Peste Negra, foi o fim do feudalismo e
da hegemonia da Igreja Católica na Europa. A Gripe Espanhola foi a principal razão de
mortes e não a Primeira Guerra Mundial. Foi ponto de partida para os direitos trabalhistas e
melhoria das condições sanitárias e de trabalho da população.
O relatório do Banco Mundial, de Junho de 2020 aponta a retração econômica mundial
durante a crise do COVID-19 já é a maior da história desde a Segunda Guerra Mundial. Logo
o impacto será enorme.
A primeira coisa a fazer é definir algo que parece óbvio, mas há resistência em se entender:
estamos passando por um evento que pode ser chamado de catástrofe, ou seja, um
acontecimento desastroso de grandes proporções. Do grego Κατα (por) στροφε
(transformação), ou seja, algo que gera transformação. A Concepção de mundo alemã
costuma definir esse momentos como Wendepunkt (ponto de inflexão). Em suma, a
sociedade sujeita a tal fenômeno, terá que se reorganizar de maneira distinta. Prioridades
virarão inutilidades, e novas prioridades e problemas surgirão. Essa é a idéia cerne de
qualquer projeto de pós - COVID - 19.
Vejamos pois a nossa resposta à doença hodierna. Muitos países haviam sofrido,
recentemente, epidemias que não chegaram a evoluir para uma pandemia mundial,
limitando-se em regiões ou grupos de pessoas isolados. Dessa maneira, países asiáticos,
onde a maior concentração populacional gerou maiores surtos, estavam melhor preparados
para lidar com essa realidade. Observemos pois, um erro criado com interesse político
sinofóbico, dos principais surtos recentes, apenas um teve seu paciente zero na China, os
demais tiveram proliferação rápida na China pela densidade populacional, porém tiveram
origem em lugares tão distantes como México, Arábia Saudita, EUA, etc… Porém, a
COVID-19 tem característica de contaminação que não são encontradas desde a Gripe
Espanhola (também erroneamente nomeada, já que o paciente 0, foi um soldado
norte-americano que veio lutar na Grande Guerra).
Há muitas doenças letais espalhadas pelo mundo e que não são consideradas pandemia.
Algumas permanecem sem cura, outras não tem tratamento universalizado pela população.
Porém, pandemia tem um aspecto muito mais urgente. Vejamos que a COVID tinha
vitimado menos de 10 pessoas até 04 de Janeiro de 2020, em seis meses mata mais
qualquer outra causa de morte, sendo muito maior que a segunda colocada, a malária. Mata
mais que desnutrição, homicídios, doença de parkinson, afogamento, meningite, gripe,
parto, álcool, drogas, brigas e guerras. Ao fim do ano, deverá matar mais que a soma de
todas as outras “causa mortis”. Logo não há como se esconder da realidade acusando um
eventual erro ou fraude no obituário. A postura negacionista é um tanto ridícula e começar
a reconstruir quando ainda está ocorrendo a destruição é elevar a irresponsabilidade ao
mais alto grau.
Poderão alegar que é melhor ter um plano que nenhum plano. A experiência humana desde
a Peste Negra (1346-1353) mostra que nada funcionará como antes. Se não fosse essa
experiência, o vírus da cepa original, sozinho, teria matado 2% a 3% (taxa de letalidade
constatada) de 80% - número do efeito boiada, como popularmente está sendo conhecido
o break even/quebra de pareamento da curva de contágio - da população mundial, o que
equivale a entre 120 e 130 milhões de pessoas em seis meses. Apenas 10 países no mundo
tem uma população maior que esse número. Não estamos considerando que quanto mais
um vírus de morcego se reproduz no homem, mas ele se adapta e fica resistente, podendo
gerar novas cepas mais letais e mais contaminantes, embora o contrário também seja
possível.
Porém meu objetivo não é apontar a tragédia, mas explicar o que deve ter um plano pós
catástrofe. A catástrofe tem, em si, o radical da mudança de comportamento. Diversas
sociedades assinalam isto na sua concepção de mundo, pois experienciaram ao longo de sua
história, em inúmeras ocasiões, algumas reincidentes e outras pontuais. Observe-se que em
praticamente todas a mitologias mais antigas, a previsibilidade de alguma tragédia era
prevista. O que nós chamamos de catástrofe, que os indianos chamam de Kala Sarpa, os
chineses de movimento do Dragão no centro, o antigo conhecimento mesopotâmico fala de
conjunção astral na casa de Capricórnio, os vikings em alinhamento da Ygdrasyl, podemos
até mesmo entender os quatro cavaleiros do Apocalipse, como representações simbólicas
da recidiva de tragédias na história desses povos e da humanidade. Essas são crenças,
maneiras pelas quais, o ser humano alerta seus sucessores dos riscos para aumentar as
chances de sobrevivência da espécie e de sua descendência.
O que temos então?
1. Cada experiência traumática gera um conjunto de crenças que norteiam os
comportamentos das futuras gerações;
2. Cada indivíduo que experiencia, ainda que como testemunha, um desastre, sofre de
estresse pós-traumático;
3. O distanciamento temporal do fato faz com que a elaboração dos fatos gerem novas
dimensões traumáticas que não estavam no experimento traumático em si. Ou seja,
novas crença surgem pela representação mítica da tragédia, além daquelas que
surgem da tragédia em si.
4. Essa crenças tem papel fundamental na mudança de hábitos e a preparação para
novas tragédias, de igual teor ou em geral. O que chamamos hodiernamente de
Gestão de Risco.
5. A resiliência não é um bem absoluto. Não se conserta e volta a ser novo. Não é um
processo de reconstrução, mas de construção de algo novo. Isto inclusive não era
meu pensamento há 30 anos atrás, dentro do Projeto Reconstrução -Rio, mas algo
que se aprende refletindo com o resultado do que foi feito. Por isso jamais dá para
se tirar um plano de recuperação da prateleira.
6. Cada catástrofe gera deficiências que lhe são próprias, mas também gera
necessidade novas pela reorganização social. Por exemplo, durante o início do século
XX, o Rio de Janeiro era assolado por malária. As companhias de navegação
anunciavam irem até Buenos Aires sem parada no Rio de Janeiro, para evitar o risco.
Real ou ficticiamente, todo o turismo mundial pode ser afetado, e investir em
aumento de capacidade de aeroporto e privatização dos mesmos neste momento é
insano. Igualmente pode haver uma explosão do delivery pela Empresa de Correios,
e o roubo deste tipo de carga, que já é muito alto, pode paralisar, literalmente, as
vendas em todo país. Porém, até aqui, estamos no mundo dos achismos.
7. Orçamentos públicos e políticas de investimento privados precisam ser mudados. O
modo de vida, o grau de utilização dos serviços, os padrões de consumo, ou seja,
todo mundo econômico se organiza de maneira distinta do anterior. Há casos que
até os impostos tiveram que sofrer mudanças, foi caso da Alemanha pós-guerra,
onde tiveram que abolir o imposto que incidia sobre os templos de qualquer espécie
- origem de nossa atual imunidade. Numa expressão declaradamente marxista, o
modo de produção muda, a superestrutura ideológica acompanha e o Estado se
adapta.
8. Aproveitando que já o citei na sua economia política, também há mudanças de valor.
Para os que não sabem, cumpre-me aclarar que a idéia de valor nasceu em
Aristóteles, mas a teoria moderna foi fundada na obra de Karl Marx, O Capital. São
elementos de nossa vida diária que funcionam segundo essa teoria: marcas
registradas, patentes, ponto comercial, competência profissional, diplomas e cursos
de toda espécie, etc… O rol é tão vasto que seria impossível esgotar. Todo o
conceito de valor está embasado no trabalho humano. Porém mudanças de crenças
fazem com que as pessoas mudem a sua forma de produzir, passam a “dar valor a
outras coisas”. Até o início da COVID -19 não dávamos “valor” à saúde pública, pois o
uso dos planos de saúde era um distintivo que conferia um “valor social” chamado
status. Estávamos até discutindo um projeto no Congresso para extinguir a o Sistema
de Saúde Público no Brasil. Ou seja, haverá nova “avaliação” sob a nova ótica
pós-traumática.
9. A dimensão da tragédia é sempre maior do que a capacidade de se atuar em toda
sua extensão. Daí a idéia de catástrofe é útil, pois mostra que não se trata de
consertar, mas de construir algo novo. A própria forma literária que usamos reflete
esta experiência. O mito do herói trata de reportar como alguém, que estava bem,
sofre uma catástrofe na sua vida, busca resiliência e renasce mais forte. Por isso
jamais subestime o poder da arte na catarse social, superação de traumas, criação de
crenças e resiliência.
Das Metas
Tratando Crenças limitantes
A crenças em geral tem duas origens: as recebidas pela tradição e em virtude de traumas e
experiências boas e ruins, como falhas, acertos; sentimentos positivos ou negativos,
críticas, reinvenções, sucessos ou decepções. Elas serão limitantes ou potencializantes de
acordo com sua funcionalidade no determinado momento atual de vida da pessoa. Por
exemplo, crenças nos ajudam a não nos arriscar, porém podem impedir de obter algo por
acharmos ser inatingível.
As crenças limitantes são aquelas não funcionais, que evitam a proatividade e consecução
de objetivos.
As Crenças limitantes podem ter diversas origens e serem de diversas ordens, devendo ser
tratados em suas singularidades, ora com lógica, ora com PNL, ora com substituição, ora
com adição/enriquecimento. As crenças mais comuns são de escassez, de responsabilidade,
de perigo iminente, de impotência, de fatalidade. Por exemplo,* a Segunda Grande Guerra
trouxe um crença de escassez que levou o desenfreado consumismo gerado toda vez que se
anuncia um risco iminente, o que foi explorado pela mídia. Imagine que a atual epidemia de
COVID-19 gerasse uma crença oposta. Todo marketing e tudo que se desenvolveu como
estratégia comercial, ao longo dos últimos 70 anos, seriam totalmente inválidos. Essa não é
só uma possibilidade teórica, já que muitos começam a crer que se pressionou a natureza
além do limite e que temos a responsabilidade por nossos próprios males. Assim, é possível
um novo padrão de consumo responsável e minimalista.
A questão não é se as crenças ocorrerão ou não, mas se eles terão um papel limitante ou
potencializante. Acontece que toda nova crença tem em si esses dois papéis, no que os
economistas chamam de tradeoff. Como se adaptar a elas é que faz a diferença. Veja que a
crença de escassez gerou uma sociedade de consumo de massa, logo, algo a princípio
negativo, pode se potencializado em algo ainda mais “negativo” com o aparecimento da
cultura do descartável. A entrega de comida traz isopor, plastico embalagem nos self
service” para não haver risco de contaminação.
Porém há outro tipo de crença que data das grandes quebras de safra do século XIX, o
malthusianismo, hoje na sua forma “neo”, que são totalmente limitantes pelo preconceito
que ele gerou e que faz com que uma série de políticas de Estado sejam ineficientes e
moralmente deploráveis. Vejamos o exemplo concreto que desmistifica o malthusianismo
“científico”. Primeiro, não há base na biologia que determina tais comportamentos atávicos
ligados a momentos evolutivos. Estes não são crenças, mas resultado direto de adaptação
do mais apto, logo não se faz a nível ideológico ou psicológico, mas a nível biológico.
O primeiro instinto de todo ser vivo é comer, quando em risco sua sobrevivência, ele delega
ao maior número de herdeiros possíveis a tarefa, logo reproduzir é seu segundo instinto.
Veja que o malthusianismo quer refrear esse instinto que existe desde que éramos
organismos unicelulares com reprodução assexuada, como uma ameba. LOL. Chega um
momento que a população de indivíduos gera superpopulação, pois o meio lhe é favorável,
entra uma terceira ordem instinto, de restrição a procriação.
O Brasil tem um exemplo magnífico de um bem sucedido plano de redução de taxa de
natalidade. A Pastoral da Criança introduziu o soro caseiro através da colher-medida. Isso
fez a mortalidade infantil despencar abruptamente, de 5 a 7 anos depois, a taxa de
natalidade começou a seguir a tendência. Melhores chances de sobrevivência, menor
necessidade de reprodução. O próprio fenômeno da homosexualidade (aqui é sexo mesmo,
não afeto) é um dos instintos naturais de terceira ordem refreando as consequências de um
instinto de segunda ordem. Logo,#%$@#1, não é uma doença.
Veja como uma catástrofe é capaz de mudar padrões de consumo e reprodução que são dos
mais primitivos, imaginem os demais mais superficiais.
Incentivando Crenças potencializantes
Como disse acima, a diferença entre uma crença limitante e uma potencializante é como ela
é digerida na sociedade e, em particular, nas políticas públicas dos governos. O
Neo-Malthusianismo é exemplo de uma má digestão, já que se criou um mecanismo externo
para combater algo instintivo. O critério para saber qual procedimento tomar está na
Navalha de Ockham - “o princípio postula que de múltiplas explicações adequadas e
possíveis para o mesmo conjunto de fatos, deve-se optar pela mais simples daquelas. Por
“simples” entende-se aquela que contiver o menor número possível de variáveis e hipóteses
com relações lógicas entre si, das quais o fato a ser explicado segue logicamente.” (verbete
da Wikipedia)
Assim, no caso da crença de escassez, a solução é: ofereça mais razões para que as pessoas
comprem. No caso do controle de natalidade proposto de Neo-malthusianismo, segura teu
tesão, que têm se preparar uma série de coisas para que não haja filhos, ou ponha sua vida
1
Desculpe mamãe, você me educou direito, mas o presidente infectou meus ouvidos com maus modos.
(é um caso particular de um país e de um governante, em uma reunião)
em risco numa operação para não ter mais filhos. Ou seja, um se usa a crença em
pró-atividade, a outra e reatividade.
Em suma, sem a exata dimensão das crenças, não se pode preconizar as medidas
potencializadoras. O uso da Navalha de Ockham também serve para explicar essa posição, o
que é mais simples, que nossa mente funcione no nível mais básico como nosso sistema
nervoso simpático (e parassimpático) ou pela Razão Pura de Immanuel Kant?
O papel da Arte
Certamente é impossível tratar milhões de pessoas traumatizadas em psicólogos
particulares. A arte cumpre esse papel, como uma terapia coletiva, onde experiências
comuns são compartilhadas.
No teatro da Grécia antiga, berço da prática, conferia-se um papel tão forte, que era
possível se mudar a peça e a realidade durante uma apresentação, segundo a crença. Não
raro, referimos muitos dos traumas comuns da vida à títulos onomásticos de peças de
teatro grego: Complexo de Édipo, Electra, Pigmaleão, etc..
As artes plásticas a partir do advento da fotografia e cinematografia, buscaram retratar não
rostos ou situações, mais coisas abstratas, como personalidades, complexos, cores e ilusões,
etc…
Em suma, a arte é a representação da nossa psique (alma, se preferir) e por isso, uma vez
que sofremos um trauma, é normal que essa cicatriz interna se expresse. O afloramento da
arte é a forma mais rápida de compreender e digerir o trauma. Também é um campo fértil
para criação de crenças, de se mitificar o fato, distanciando-se e encapsulando a dor
(através da projeção na vivência e catarse) .
Com isto, temáticas, meios e suportes, e difusão serão alterados também, mas serão por
novos mecanismos que a sociedade expressará e processará o trauma.
Uma política cultural deve ter por vista o monitoramento destas novas formas, evitando a
repressão conservadora, o que gera sentimentos reprimidos e revolta latente. Incentivar a
expressão nas suas formas e espaços, com políticas de incentivo não direcionados a uma
ideologia pré concebida. Ou seja, é preciso dar liberdade e ouvir a voz dos traumatizados,
pois muitos só querem ter seus gritos escutados.
Construção de nova normalidade (Resiliência)
Este conceito antigo foi repaginado no Projeto Reconstrução-Rio (1988 a 1994), o primeiro
recurso emergencial liberado pelo BIRD (contrato 3975-BR), no qual tive a honra de
participar sob a competente batuta do Dr Teodoro Buarque de Holanda, presidente do
GEROE (Grupo Executivo de Obras Emergenciais).
Primeiramente há que se entender que até então não havia uma política de Defesa Civil.
Quando se pensava no assunto se atribuia ao grupo de pronto atendimento, o socorro, a
mitigação, o Corpo de Bombeiros. Não havia prevenção, não havia recuperação, a
reconstrução segundo a nova ordem que surgiu com a catástrofe, não havia gestão
integrada horizontal e vertical, não havia nada do que hoje parece normal. Acredito, com
provas, que tenha sido inspiração para demais projetos, inclusive, pela semelhança, fonte
primeiro do Marco Sendai (2005), que é o documento que marca o “estado da arte” em
defesa civil.
Pelo menos em um caso, na França, sei que houve inspiração, já que o sistema foi
implantado com um pedido pessoal de um amigo que fiz na Eco-92 no Rio de Janeiro. E
quais são os marcos franceses de resiliência a partir de uma gestão de risco? “A tempestade
do Milênio” (24 a 27 de dezembro de 1999), um dos mais fortes mistral que assolou o país
em toda sua história2. Com 72% das torres e postes de transmissão elétrica e telefônica
destruídos, no dia 12 de Janeiro o sistema estava recuperado em quase a totalidade. Isso é
resiliência.
Qual a diferença conceitual do Plano de prateleira e de um Plano de Contingência e Gestão
de Risco? Não se trata em criar projetos Keynesianos de recuperação da economia, ou Plano
Marshall, trata-se de retomar os itens de normalidade no mais rápido tempo possível. Esses
itens são infraestrutura e atividades econômicas. Neste sentido, é muito mais importante
manter linha de financiamento a fundo perdido para o pagamento de folhas de funcionários
pelos dias parados do que emprestar dinheiro a juros. Pois um é uma medida que g era
endividamento e retração da capacidade produtiva e instalada. O outro é a cobertura pelo
2
https://www.youtube.com/watch?v=EcObFvo3Gv0
tempo de contigência. Melhor ainda seria o Estado sequer redistribuir, mais eficiente deixar
de arrecadar, o que evitaria o peso morto do imposto nos custos.
Quais investimentos estão sendo feitos na recuperação da saúde, que encontrará
totalmente dilapidada após a COVID-19? Médicos e enfermeiras morreram. Equipamentos
sofreram desgaste material e quebraram. Como garantir que o sistema mantenha-se
funcional no mesmo padrão anterior ou melhor?
Como restabelecer o conhecimento perdido no tempo que as escolas ficaram sem aulas?
Como recuperar e manter a indústria do turismo, que foi e ainda será, por muito tempo,
impactada?
Resiliência significa trazer à normalidade anterior no mais curto espaço de tempo. Para isso,
dívidas terão que ser reescalonadas, dinheiro sem juros e até a fundo perdido terá ir para o
mercado. Porém se enviou mais de um trilhão de reais para banco que sequer tinham
estrutura para conceder esses empréstimos. Não houve erro de modelo, houve desvio de
propósito.
Os cemitérios precisarão voltar a abrir suas capelas e corredores às visitas e velórios.
Pessoas enterradas em valas comuns terão que ser identificadas.
Então, cadê os planos de retorno às atividades com segurança sanitária?
Gestão de Risco
Se a idéia de resiliência é pós-facto, a gestão de risco é antever que como a COVID-19,
outras pandemias mundiais, até mais graves, podem ocorrer. Toda Gestão de Risco começa
com a história. Há sempre inundações, logo provável que haja outra num futuro próximo.
Onde? Como? Por que?
No caso de uma catástrofe, como uma pandemia, a própria existência da OMS é sinal de que
ela poderia vir a qualquer momento. A questão é qual a intensidade? Que tipo? Quais
formas de contágio? Quais risco de mutação?, Qual letalidade? Quais protocolos de
atendimento? etc…
A COVID-19 é uma variante de uma doença conhecida e potencialmente letal cuja
transmissão ainda não havia chegado aos humanos da maneira que chegou, mas estava sob
monitoramento. Eu sempre lembro que o Brasil tem diversas dessa potenciais pandemias
incubadas no seu território, inclusive algumas mais letais e potencialmente mais contagiosas
que o Ebola. Por exemplo, a febre maculosa, cujas pesquisas foram interrompidas pelo corte
de verba no início do atual governo. Além das pandemias de origem nacional, é possível
sempre a contaminação por uma pandemia de origem externa. Quando a COVID-19
começou, não havia nenhum procedimento padrão e autoridade competente. Começou-se
a discutir política, quando precisava de reação rápida. Não havia equipamento, zonas de
isolamento, locais para quarentena, nem sequer se sabia do que era necessário, quando já
havia toda uma instrução normativa internacional e um histórico de mais de cem anos.
Pior, frauda-se os poucos dados que se tem, quando estes deveriam ser mais e melhores.
Qual a forma de dispersão? Qual as patologias mais comuns?
A gestão de risco é uma atividade multisetorial em todas as esferas de governo, é o
conjunto do esforço concentrado de todos para lhe dar com um problema que foge a esfera
de um.
A experiência mostra que geralmente tragédias nunca vêm sozinhas. Imaginem você é o
único recurso de socorro e chega para atender o impacto de um avião no 11 de setembro,
ou um terremoto no Japão. A partir daí, todas a tragédias combinadas, que assomam a
catástrofe, ficam sem socorro? Por isso, o Marco Sendai determina camadas de
atendimento que começam bem antes, com agente comunitários ou, neste caso, agentes de
saúde, treinados para detectarem qualquer alteração epidemiológica imediatamente. Por
isso a China foi capaz de estabelecer o protocolo de epidemia com apenas 7 casos,
enquanto os EUA levaram 4 meses para descobrir como a doença entrou no seu país e o
Brasil ainda sequer sabe o que o atingiu. Esse agentes de saúde já poderia ter debelado
diversas outras epidemias, como a hipertensão arterial, dengue e a malária.
No nível seguinte, temos a Unidade de Saúde da Família ou Posto de Atendimento Médico
Comunitário, variando conforme o modelo a ser seguido. Estes são responsáveis pela coleta
de dados e notificações, assim como encaminhamentos às unidades de referência e até ao
isolamento e quarentena. Por exemplo, são eles que colhem as informações dos agentes de
saúde e fazem o rastreio de contágio e indicam isolamento local. Quando estagiei no setor
de Epidemiologia da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro durante, ocorreu a
epidemia de SIDA/AIDS. Na ocasião, agiram como esses agentes de saúde as próprias
associações de homosexuais, como o Triângulo Rosa e o Grupo Gay da Bahia que iam em
busca de forma o histórico de contágio. Assim, com apenas 10 pacientes centralizados no
Hospital Gaffrée Guinle, mantivemos o contágio sob controle e monitoramento por até dois
anos, tempo necessário para uma ampla campanha de saúde para a população.
A Unidades de Referência são os primeiros hospitais especializados, divididos em setores de
atuação. Por exemplo, não podemos comprometer 100% da rede numa pandemia, já que
todas as demais pessoas que precisem de internação estarão sujeitas a contraírem a doença
no hospital.
Acima deles tem uma rede Nacional, que aciona médicos de outras regiões para reforço
pontual. Depois um cadastro de chamada obrigatória, no Brasil poderia estar associado a
todo reservista com formação médica e comprovadamente saudável. E no extremo da
utopia, a OMS deveria ter um corpo voluntário internacional, mas no topo da realidade,
agradecemos a existência da Cruz/Crescente Vermelha/o e dos Médicos sem Fronteira. Para
se dar importância, a Cruz Vermelha teve que tomar a seu encargo o cuidado das dezenas
de milhares de trabalhadores ucranianos que perderam seus empregos na Polônia, Áustria e
Alemanha e não podiam retornar ao seu país pelo isolamento sanitário que a Ucrânia
assumiu fazer.
Outro fator importante, que só pode ser obtido por um sistema de medicina pública, é o
rigor diagnóstico. Virose não é diagnóstico. O Brasil tem um dos piores índices mundiais de
acerto diagnóstico, não por culpa dos médicos, mas das limitações de exames impostas. O
COVID-19 teria facilmente passado despercebido como gripe ou pneumonia até já ter
matado o que mata hoje. Veja que o Brasil segue sendo o país que menos testa para
COVID-19, logo poderíamos ter outras duas ou três patologias agindo, c oncomitantemente,
e seriam contabilizadas no COVID-19. A subnotificação é tão flagrante, que o alto índice de
óbitos por infecção demonstra que há, pelo menos, 4 vezes mais pessoas contaminadas do
que se confirma. Não, não é falsa notificação, não dá tempo de fraudar mais de 1000 óbitos
por dia além da média. Use a Navalha de Ockham, entre ter uma quadrilha de fraudadores
enterrando pedras nos caixões em todo mundo, e a pandemia mundial está fazendo mais
mortes no Brasil por falta de combate a doença mais efetiva por parte dos governos, o que
lhe parece mais “simples” acreditar?
Na parte final deste texto, listo uma série de ferramentas úteis para o planejamento
estratégico e a gestão de risco.
Novo Plano estratégico associado à mudança de destino
Nós temos um comportamento pró-ativo da população sempre a disposição nos casos de
catástrofes, causados, por um l ado, pelo solidariedade compartilhada nesta experiência
comum, que leva a uma crença potencializante de que o esforço de todos gera a segurança
de todos. A segunda fonte de crença pró-ativa é a dinâmica do sobrevivente, embora
elencada como ruptura traumática que gera sentimento de culpa, as pessoas tendem a
querer se redimir com contribuições voluntárias por se sentirem privilegiadas por terem
sobrevivido.
Nesta conformidade, qualquer novo Plano Estratégico necessita contemplar mudanças que
todos sintam que trabalham para evitar que a catástrofe se repita. Um exemplo prático é
que, se a pessoas associarem que o planeta reage à ameaça ao meio-ambiente por meio do
COVID-19, qualquer Plano que contemple aumento da matriz de combustíveis fósseis, corte
de árvores e exploração desordenada dos recursos naturais, sofrerão oposição social para
além do sustentável, à estabilidade de qualquer governo. Haverão mudanças radicais de
hábitos de consumo e preferências sociais. Qualquer Plano construído aprioristicamente
sem ter uma nova realidade como um pano de fundo é o que chamo de Plano de Prateleira.
Como comparação, o Plano Marshall não foi implementado no primeiro ou segundo dia
após a derrota dos nazistas, mas três anos após. Restabelecer água, eletricidade, fonte
térmica para cocção, transportes, etc.. foram prioridades. Isso está no conceito de
resiliência que depende de um planejamento e treinamento prévio para reduzir o tempo de
resposta. Aliás, o Plano Marshall (1948-52) sequer foi o primeiro plano, já que foi precedido
pelo Plano Morgenthau.
Na Metodologia, primeiro se detecta o problema, depois se descreve o problema, depois se
compreende o problema, daí se aponta soluções, e finalmente se põe em prática.
Outro elemento que parece fugir a compreensão é o fato de haver diferenças profundas
entre Tomada de Decisão e Implementação de Políticas. Confusão típica de mentes
autoritárias. Minha dissertação dedica um capítulo inteiro a descrever essa dicotomia num
país com regime dito autoritário, a China. O que se percebe é a plena consciência que do
jogo entre governos locais e governo central.
Alguns elementos neste Plano são obrigatórios:
● subsídios para reconstrução de empreendimentos destruídos pelo catástrofe;
● subsídio para mudança de atividade econômica, já que muitas atividades terão
alterados padrões de consumo, custo e preço marginal;
● Criação de sistemas de incentivo para aumento de empreendedorismo em novas
áreas que sofreram aumento de demanda;
● Alteração das grades curriculares e da ênfase em pesquisa para as novas demandas
sociais;
● Inclusão de programas educacionais de massa para prevenção contra novas
catástrofes - Educação Ambiental e Sanitária;
● Novos marcos reguladores;
● Criação de protocolos, formação de equipes de resposta, e criação de um Grupo
Executivo para gerenciar o esforço, além de ter poderes especiais soberanos no
momento que inicia a catástrofe. Sempre respeitando a forma de colegiado e a
ampla participação de todas as esferas de governo;
● Equipar e destinar orçamento para essa função de gestão de risco.
Esta lista está longe de ser numerus clausus, é apenas o essencial que não pode faltar para
que se possa reconhecer um como um Plano de Recuperação.
Segundo o Marco Sendai, há Princípios guia:
● Repartir obrigações:
○ A sociedade
○ Instituições estatais
○ Governo locais empoderados.
● Enfoque Geral
○ Considerar os direitos humanos
○ Redução de Risco de Desastre (RRD) & o desenvolvimento
○ Multi-risco e inclusivo
○ Expressão local do risco
○ Ações depois dos desastres & resolver riscos subjacentes
○ Reconstruir melhor do que estava antes.
Da Solução
Segundo o Marco Sendai (2005) há 4 Prioridades de ação:
Prioridade 1: Compreender o risco de desastres;
Prioridade 2: Fortalecer a governança do risco de desastres para gerir o referido risco;
Prioridade 3: Investir na redução do risco de desastres visando resiliência;
Prioridade 4: Aumentar a prontidão para casos de desastre a fim de dar uma resposta eficaz
e para “reconstruir melhor” nos âmbitos da recuperação, da reabilitação e da reconstrução.
(UNDP/PNUD, 2018).
Administração do Plano Pós-Catástrofe
No Centro das atividades de “reconstrução” deve atuar um grupo executivo que reúna
representantes institucionais de cada uma das pastas de governo de cada uma das esferas
de governo. É muito importante que cada um desses representantes tenha poder dentro de
sua pasta para tomar decisões, mas não seja o chefe da pasta, já que é atividade de tempo
integral.
Esse grupo não é uma assembleísmo estéril, como muitas outras implementadas no
passado. É um grupo executivo capaz de implementar políticas extremas ao arremedo da
vontade dos políticos, mas em consonância e acordância de todas as esferas de Estado.
Entenda-se por protocolo que basta que se decida “Isolamento Social”, todas as esferas de
governo, independente de quem seja os titulares eventuais da pasta, perdem a ingerência
pontual. Bloqueia-se aeroportos ou se fecha espaço aéreo, restringe ou proíbe circulação
de pessoas, recursos são alocados, a logística e abastecimento sai da iniciativa privada, etc…
A principal importância do Grupo Executivo é legitimidade das decisões pela dicotomia que
apresento abaixo e que foi o nó górdio que levou a tragédia brasileira.
Da Tomada de Decisão
Toda decisão democrática é mais respeitável que aquela autocrática. Uma coisa é se evocar
o poder de príncipe para constranger pessoas a fazer o que se lhes pede, outra é evocar o
bem coletivo maior. Isto não exclui ou invalida interesses particulares e divergentes. Porém,
numa situação de catástrofe, é necessário que o agente comunitário cumpra sua função
integral e efetivamente, assim como o Presidente da República, sem discutir, sem contestar.
O cerne é manter o regime democrático ao mesmo tempo que é preciso manter autoridade
forte do Estado. Historicamente, essa dicotomia surgiu com Napoleão, Estados
desconcentrados identificam-se democracias. Estados concentrados relacionam-se com
ditaduras. Porém, faz-se mister, o poder concentrado do Estado, por um lado, no momento
da catástrofe e resiliência, por outro lado, do regime democrático, assim como seria
necessário decisões democráticas num Estado autoritário, se fosse o caso.
Estou aqui a colocar uma situação absurda, in loco, que foi repetida pelo Presidente da
República no topo decisional. Imagine num deslizamento, os soterrados discutindo qual
seria a melhor maneira de que fossem resgatados. Agora imaginem o Corpo de Bombeiros
discutindo se retirar os sobreviventes é sua função ou eles não tem nada haver com isso.
Pois bem, o Presidente brasileiro agiu como esses bombeiros, e se pôs a discutir se era ou
não obrigação dele gerir os esforços de socorro a população em risco durante uma
catástrofe, ou era melhor deixá-las morrer, porque aí economiza recursos do Estado para
outras atividades. Não era opcional (Constituição Federal de 1988, artº24 Inc XXVIII), mais
ainda, havia protocolos internacionais prontos, que foram desautorizados, em prejuízo de
vidas humanas.
“É a sexta vez na história que uma Emergência de Saúde Pública de Importância
Internacional é declarada. As outras foram:
● 25 de abril de 2009 – pandemia de H1N1;
● 5 de maio de 2014 – disseminação internacional de poliovírus;
● 8 agosto de 2014 – surto de Ebola na África Ocidental;
● 1 de fevereiro de 2016 – vírus zika e aumento de casos de microcefalia e outras
malformações congênitas;
● 18 maio de 2018 – surto de ebola na República Democrática do Congo” (Site da
Organização Panamericana de Saúde).
Em tempo:
● A Gripe Suína, teve origem com Edgar Hernandez, menino de 5 anos, no México, mas
os países asiáticos foram os que mais sofreram;
● A Gripe Aviária teve origem na Tailândia, Capitan Boonmanuch, menino de apenas 6
anos;
● A MERS é endêmica nos Emirados Árabes Unidos e Catar e foi importada por um
turista Sul-coreano;
● Apenas a SARS teve um paciente zero chinês, médico chinês, Liu Jianlunde, 64 anos,
que contraiu de Zhou Zuofeng, um peixeiro do mercado, quando o em Guangdong e
infectou os hóspedes do hotel para onde saiu de férias. (percebeu a riqueza de
detalhes?).
Ou seja, as únicas medidas tomadas pelo governo brasileiro foi desinformação e difusão de
racismo. Mas as medidas sanitárias para conter suas próprias deficiências, essas ainda estão
longe de serem tomadas.
Aos que não entenderam o que está a acontecer, com 60% dos países do mundo sem casos,
20% sem contaminação comunitária, EUA, GB e Brasil permanecerão no protocolo de
Cordão Sanitário após todos terem voltado a normalidade. Os motoristas brasileiros que
operam cargas para a Argentina não podem sair do caminhão ou abrir a janela durante toda
sua estada, o caminhões são desinfectados e eles entram. A situação é inumana, pois eles
tem que fazer e manter, administradas, todas as necessidades fisiológicas até poderem
voltar para o Brasil. Ironicamente, os cidadãos brasileiros estão impedidos de entrar nos
EUA por restrições de Cordão Sanitário.
Esta longa explanação mostra que há diversas falhas de entendimento no que consiste
Tomada de Decisão. O que falta:
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O maior número de dados corretos e confiáveis;
Compreensão dos protocolos já implementados e seus resultados;
Conhecimento dos interesses envolvidos no jogo decisional;
Gestão por Metas e Objetivos;
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Formulação de Cenários alternativos;
Formulação de estratégias;
Confecção de protocolos;
Atribuição de responsabilidades com prazos;
Criação e implementação de métodos de aferimento de resultados.
Da Implementação de Políticas Públicas
O maior desafio da implementação de Políticas Públicas é a base inercial de onde se parte,
também conhecida como Zona de Conforto. Como Catástrofes já movimentam as pessoas
para fora de sua Zona de Conforto, o maior desafio é o timing perfeito, ou seja, aproveitar o
momento de reorganização como proativo, invés de chegar atrasado e enfrentar a reação
de novas crenças limitantes geradas a partir do processamento não orientado da tragédia.
Como disse, anteriormente, o primeiro passo é a resiliência, porém esta não é só da
infraestrutura, mas também psicológica. Como há dois momento de formação de crenças, o
primeiro pelo impacto em si (primeira ordem), e o outro pelo processamento do trauma
(segunda ordem). No momento em que as equipes estão a lidar com a resiliência, é de
fundamental importância que se levante as tendências das de primeira ordem que podem
ser incentivadas e inibidas na formação das de segunda ordem.
Porém todas devem girar a partir de eixos considerados tradicionais, ou seja, de lideranças
que tenham sobrevivido e que já desempenhavam esse papel antes da catástrofe, caso
contrário, a disputa pelo poder gerará novo estresse social.
Identificação de interesses locais
Esse deve ser o principal ponto de divergência de um plano de prateleira e um plano real. O
movimento é sair do micro para o macro e não vice versa. É necessário tratar o problema
específico, não oferecer um remédio qualquer.
Qualquer Plano sofrerá resistências pela inércia daqueles que estão em zona de conforto,
porém há também uma pauta local que certamente virá a tona no momento que se
propuser algo novo. É a famosa pergunta: “Vocês chegam aqui pedindo isso, mandando
aquilo, cadê aquela reivindicação de anos ou gerações que nunca foi atendida ou levada a
sério?”
Não tem jeito, uma boa política pública tem que prever negociação com os beneficiários e
prejudicados. Seja para evitar erros atentando a alertas de quem vive na região, seja para
obter a ajuda e colaboração. Há dois casos que poderiam ser anedóticos, se não fosse
verdadeiro, que mancha a reputação da Engenharia do Exército Brasileiro:
1. Quando iniciaram as obras da BR-174. Projeto feito por engenheiros gaúchos em
Brasília. Quando posto em prática o trecho de saída de Manaus, os caboclos
manauaras avisaram: “Está errado”. Receberam um golpe de galão dos engenheiros.
Quase três anos construindo em frente e sempre, verificaram que tinham voltado a
Manaus. Hoje, esse trecho é conhecido como Avenida do Contorno, que serve o
aeroporto Eduardo Gomes.
2. Represa de Balbina, que nunca pode ter sua capacidade plena, pois se confiou em
aerofotogrametria e dispensaram prospecção em campo. Hoje ela proporciona
diversa cachoeiras maravilhosas na cidade de Presidente Figueiredo, por onde vazam
as águas do reservatório.
É claro que cada interesse tem que ser julgado pela Administração Pública quanto sua
viabilidade técnica e oportunidade. Eu tenho uma experiência particular sobre esse fato.
Quando estávamos a determinar o reforço de muro de contenção do CIEP Paraíso - São
Gonçalo. Um morador havia estabelecido a fundação de sua casa sobre o muro é pedia que
mudássemos a estrutura do muro invés de interditarem a casa e removê-lo da área de risco.
Obviamente era tecnicamente impossível, pois eram estruturas que podem parecer mas não
são as mesmas, e a oportunidade era nenhuma, ele estava a obstruir o caminho das águas e
pôr em risco o resto dos moradores. Ainda assim, foi necessário explicar, detalhadamente,
às lideranças locais que a retirada dele de sua casa era vital para o sucesso da prevenção
para todos os demais.
Identificação de interesses cruzados e paralelos
Todo projeto de engenharia precisa de um Estudo de Viabilidade Técnico, Econômico e
Ambiental como precondição para se fazer a Concepção de Projeto base do antigo memorial
descritivo ou Projeto Básico. A questão de foco no restabelecimento pós traumático social
forçosamente obriga um viés social associado em cada um dos itens, ou até como item em
separado. Recentemente estávamos discutindo um posto médico e nova escola em
Chipindo - Angola, percebemos que a arquitetura ocidental, além de inapropriada, quebrava
o balanço arquitetônico da vila.
Típica construção da área, devastada pela Guerra Civil Angolana e com seus campos repletos de minas terrestres. (Foto Própria)
Ainda que fosse um prédio moderno, o modelo deveria respeitar os traços arquitetônicos da
região por dois motivos:
a) criar familiaridade daquele ambiente que viam com desconfiança qualquer coisa
vinda do governo ou do “branco” e
b) Permitir que eles sentissem pertencimento e assumissem o local para si, permitindo
a sensação de continuidade cultural.
Desta maneira, é crucial a presença de profissionais da área social, como sociólogos,
assistentes sociais, antropólogos, psicólogos e, principalmente, historiadores. Estes últimos
são a maior fonte de variáveis de risco, já que a pesquisa histórica nos revela fenômenos
catastróficos recorrentes. Há uma famosa história, a de Plínio, o Velho, o único a entender
do que se tratava a erupção do Vesúvio, já que havia pesquisado a História Natural. Ele
conseguir juntar seus serviçais e Plínio, o moço, que descreve tal evento. Foram até um
lugar seguro para observar a erupção. Então ele manda que todos fiquem em determinada
área que sabia ser segura, enquanto ele, pela inata curiosidade, vai a um ponto de melhor
visão sabendo que morreria ali.
O que ocorre se a comunidade atendida se opuser às medidas implementadas? Ou elas
perdem eficácia, ou podem ser boicotadas ou até depredadas. De modo que saber como
conquistar a proatividade é vital para a boa implementação de políticas públicas.
Mais abaixo descrevo algumas ferramentas úteis na determinação de atores, interesses e
como abordá-los. Neste assunto, o gradiente duplo arte-técnica é chave para saber os
potenciais e limites de cada medida. Também importante na adaptação ou até no abandono
de metas iniciais durante a interação social.
Etapas importantes a serem consideradas:
1. Identificação de aliados e opositores para cada medida;
2. Identificação dos limites;
3. Critérios de Avaliação e Correção de procedimentos.
Passos na definição das modalidades de negociação:
1. Definição de atores;
2. Definição de estratégia de abordagem e
3. Definição de Estratégia de negociação
Do Envolvimento Social
O Brasil é um país com forte tradição autocrática, habituado a impor a razão do mais forte e
não a razão oriunda do embate democrático. O objeto de recuperação de catástrofe não é a
ponte ou o poste, mas o ser o humano. Ter como resposta àquelas que são próprias do
ceticismo frente a completa indiferença do Estado ao trauma local é o normal e esperado.
Um momento como esse também é chave para recuperação da respeitabilidade do Estado
ou sua ruína. Como me referi acima, uma das prioridades de um sistema de Gestão de Risco
é a participação e o envolvimento social. Na experiência fluminense contra chuvas (Projeto
Reconstrução-Rio) lideranças locais foram treinadas para saber onde deveriam guiar
pessoas em situações de risco caso houvesse alarme de deslizamento. Sabiam quais era as
áreas, que eram supervisionadas sistematicamente pela Defesa Civil. Esses moradores,
primeiros a chegar, batiam às portas, sob risco pessoal para forçar que os moradores
abandonassem suas casas. Se não fossem conhecidos, seriam ignorados, se fosse a polícia,
seriam temidos. Eles são a primeira frente de prevenção. Da mesma maneira, os agentes de
saúde tem que cumprir o papel de primeira frente de combate a qualquer pandemia. Esse
programa deve ser um programa geral de governo:
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Educação para pandemia;
Treinamento de agentes de saúde;
Acesso à informação;
Canal de acesso com responsáveis encarregados para notificações.
Das Ferramentas e Mecanismos
Ferramentas Mentais para situações complexas
Assim como trabalhos manuais têm limites do que se pode fazer com a mão nua, ao que
recorremos a ferramentas. Trabalhos mentais em ambientes complexos também exigem
especialistas hábeis no domínio de ferramentas.
Essa parte destina-se a quem acha que fazer um Plano dessa envergadura é brincadeira de
amadores. Minha experiência demonstra que há sempre um “nó górdio”, um fulcro que dá
origem ao problema como um todo, que difere daquele da catástrofe em si. Essa crença
potencializante minha foi incutida por minha avó que sempre dizia que por trás de mal-feito
de criança a sempre um maior de um adulto antes. Assim o impacto desnorteante do
COVID-19 no Brasil, comparado aos demais países, só pode ser associado a um eixo
estrutural débil e que precisa ser substituído por outro mais forte.
Citarei alguns abaixo que geralmente uso em Planos de Recuperação Pós- Catástrofe pelo
mundo afora.
Mecanismos de Operação
Ergonomia
Geralmente associado apenas a questões físicas, a adequação do meio operante ao homem
é questão de eficiência. Uma ficha de acompanhamento difícil de preencher leva a uma
perda de tempo vital de um profissional médico especializado, por exemplo, ou de um
bombeiro ou policial. Também deve ser aplicado no espaço físico também. Por exemplo,
fazer um paciente com alto poder de contágio caminhar longas distâncias em meio a
diversas pessoas é o exemplo cabal do que não fazer. Aparelhos que são difíceis de operar
pelo corpo médico, roupas descartáveis difíceis de vestir e lugares difíceis de descartar,
etc…
Ilação ou O Bom é Inimigo do Ótimo
Todo procedimento deve ser posto em camadas as quais devem ter ordem de relevância.
Assim foi no caso das estatísticas para a COVID-19 na Itália. Primeiro tentavam achar a
ordem de contágio e localizar os possíveis pacientes, depois abandonaram esse
procedimento e adotaram a estatística dos testes, depois os números reportados,
finalmente só estavam tentando contar os mortos e presumir todo o resto.
Um grande mentor e amigo sempre me dizia: “muita informação dá mais sombra que luz”.
Então o procedimento de descarte de coleta de dados deve seguir critérios:
● Possibilidade
● Urgência
● Suficiência
Todo o resto deve ser completado por métodos matemáticos oportunamente. Vejamos um
exemplo da COVID-19: Quanto tempo um médico leva para preencher um atestado de óbito
completo? O mesmo tempo que entubar alguém que não consegue respirar? O que não
será feito corretamente, ou simplesmente não será feito por ele? Qual o procedimento que
leva risco de morte, preencher errado o Atestado de Óbito ou entubar um paciente? Qual
será feito erradamente pelo voluntário inabilitado que estiver por perto? Quem será
processado e poderá perder o registro profissional no caso de qualquer um dos erros? Tem
que se antever tais situações sem hipocrisia.
Mecanismos de Controle
Listando alguns, como exemplo:
Contabilidade de Custos
Esse ramo da contabilidade é particularmente revelador, quando aplicado em toda sua
potencialidade, para determinar a relação custo-benefício de cada ação, medida ou
iniciativa do poder público e da sociedade civil. É o principal instrumento de feedback para
redirecionamento dos recursos públicos.
Consiste em apropriar custos por objeto, local, processo e muito mais. Baseia-se em
taxonomia e análise sistemática.
Mad Ivan
Essa ferramenta eu desenvolvi vendo o filme Caçada ao Outubro Vermelho. Consiste e fazer
uma manobra inesperada com total aleatoriedade para surpreender o hábito sistêmico de
quem costuma querer quebrar o sistema. No filme havia duas variáveis, o maior números
aumenta a possibilidade de se encontrar alguma inconsistência de dados e daí proceder as
demais técnicas de auditagem. A eficiência desta técnica está exatamente em como
funciona a mente humana, buscando procedimento repetitivos seguros. Por isso, quando
você pede para alguém dobrar uma folha de papel, 97% dobrará em dois pedaços simétricos
na extensão maior, 2,9999% vai se sentir diferente por dobrar em dois pedaços simétrico na
extensão menor, e apenas alguém que seja um matemático brilhante e estudado anos esse
assunto fará uma dobradura assimétrica e qualquer lugar do papel, sendo que destes, 97%
dobrará um canto do papel, como quem prepara para mudar uma página de partitura,
2,9999% dobraram assimetricamente no topo da folha e a apenas 3 ou 4 cidadãos deste
planeta farão algo diferente todas as vezes, sendo que desses, a totalidade fará algo
diferente com a parte superior do papel, a não ser que pare e reflita por horas. Os mágicos e
videntes charlatães adoram isso. Esse é o grau de eficiência o Mad Ivan.
Fórmula de Olson e Peltzman Effect
Teoria formulada por Mancur Olson3 e refinada por Sam Peltzman 4 que busca calcular o
peso e as forças reativas na Lógica da Ação Coletiva. Extremamente útil para saber quem e
em qual medida ouvir ou ignorar.
Mecanismos de Ouvidoria e Auditagem
Pesquisa de Mercado
Metodologia própria da área de marketing, no qual, um seleto grupo de participantes é
submetido a uma dinâmica onde deverão gerar um perfil médio. Assim são submetidos a
diversos questionamentos e escolhas e se vê o grau de preferência, adesão, variância, bem
como as influências de uma liderança ou autoridade sobre a opinião final, representada,
geralmente, por um membro que, naturalmente, assume a liderança do grupo de trabalho,
ainda que informalmente.
Enquete de Opinião Pública
“Uma pesquisa de opinião, sondagem, sondagem de opinião, inquéritos estatísticos,
enquete ou estudo de opinião é um levantamento estatístico de uma amostra particular da
opinião pública. Pesquisas são feitas para representar as opiniões de uma população
fazendo-se uma série de perguntas a um pequeno número de pessoas e então extrapolando
as respostas para um grupo maior dentro do intervalo de confiança.”5
3
4
5
A Lógica da Ação Coletiva, EDUSP
Political Participation and Government Regulation, University of Chicago Press, 1998
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pesquisa_de_opini%C3%A3o
Estes inquéritos devem ser procedidos com máxima cautela quanto a qualificação da
amostragem e ponderação da mesma de acordo como outras formas de classificação, como
gênero, orientação sexual, idade, escolaridade, renda, etc....
Consulta Pública
“Consulta Pública é um mecanismo de publicidade e transparência utilizado pela
Administração Pública para obter informações, opiniões e críticas da sociedade a respeito
de determinado tema. Esse mecanismo tem o objetivo de ampliar a discussão sobre o
assunto e embasar as decisões sobre formulação e definição de políticas públicas”6
Gradiente duplo de Arte e Técnica
Vamos definir gradiente como vetor resultante do produto do operador nabla7 por uma
função escalar de ponto. Aqui falamos de matemática. E de uma relação inversamente
proporcional de dois fatores preponderantes nas intervenções na realidade pós-catastrófica.
Todas as ferramentas abaixo dependem da sensibilidade do operador neste ajuste fino
entre o que é técnica e o que é arte. A idéia de gradiente duplo é usada aqui como pano de
fundo filosófico para se atuar mesmo em ambientes incertos, aleatórios ou de
comportamento estocástico. O uso do gradiente duplo ajuda evitar o risco do achismo, já
que a qualquer momento, você pode aferir o grau de comprometimento necessário de arte
e de técnica.
Regra de Mão
Nem toda as relações precisam ser analisadas a fundo. Vejamos um exemplo que uso na
prática: uma obra de engenharia civil leva meses ou até anos. Qualquer estimativa está
sujeita a diversas variações, porém podemos calcular que essas variações são em torno de
um número “x”. Acontece que de posse do custo por metro quadrado, eu posso calcular um
valor final com uma variação >x. Logo, a variação de um orçamento detalhado e sistemático,
fica dentro da margem de erro de uma aproximado, não importando aumento da incerteza
final. Por isso, considerando a experiência acumulada ao longo dos anos, eu posso prever
rapidamente o custo de cada uma das fases de um projeto ou obra, sem que o erro da
projeção torne sua execução inviável.
6
7
http://www.conitec.gov.br/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Del
Extrapolação
A Extrapolação é definida como um método de estimativa de resultados a partir de uma
sequência de valores que permita prever aqueles não aferidos. Tem limites a variância e os
limites da fórmula e riscos, a variável aleatória. Geralmente é melhor empregada quando se
estabelece uma relação positiva entre duas sequências, pois permite uma correlação
positiva de causalidade, que infere um controle maior nos fatores limitantes e de risco.
Uma aplicação obrigatória deste método é na relações de produção e consumo, sendo o
limite estabelecido pela Curva de Olson, que determina o ótimo de tributação sobre cada
produto. E como variável aleatória, externalidade econômicas, como variação cambial,
catástrofes, e medidas políticas.
A Variância pode constituir limites à fórmula produzindo nova só que de interpolação, ou
gerar comportamento estocástico. A variável geralmente é aleatória, mas pode constituir
ponto de interseção, como caso de custo marginal, preço marginal etc...
Interpolação
A interpolação é o relacionamento de dados diversos para obter uma resultante discreta
possível de ser reconhecida a partir de duas variáveis. As utilidades são inúmeras. Daniel
Boorstin chega a citar essa metodologia como a que mais produziu novos dados à realidade
científica, antes dominada pelo empirismo.
Krigagem
“Krigagem poderá ser entendido como uma predição linear ou uma forma da Inferência
bayesiana. Parte do princípio que pontos próximos no espaço tendem a ter valores mais
parecidos do que pontos mais afastados. A técnica de Krigagem assume que os dados
recolhidos de uma determinada população se encontram correlacionados no espaço. Isto é,
se num aterro de resíduos tóxicos e perigosos, a concentração de Zinco num ponto “p” é
“x”, é muito provável que se encontrem resultados muito próximos de “x”, quanto mais
próximos se estiver do ponto “p” (princípio da g eoestatística). Porém, a partir de
determinada distância de “p”, certamente não se encontrarão valores aproximados de “x”
porque a correlação espacial pode deixar de existir.”8
Essa ferramenta já devia estar em uso na análise da dispersão viral. Hoje, com o advento do
GPS, a maioria das pessoas tem gravado seu itinerário no seu celular. O cruzamento mesmo
que de alguns dados, permitiria conseguir determinar onde é mais frequente a
contaminação e qual a distância do contaminante. Em tempo, a requisição desses dados
deveria ser facultativa, para manter o direito à privacidade do cidadão.
Prognose
Não deve ser confundida com as demais situações. A Prognose atua em comportamentos
aleatórios. Consiste em criar um critério taxonômico para dividir um todo aleatório em
grupos de incidência e comparar sua frequências. A escolha desse critério é que digo ser
quase uma arte.
Diálogo de Forças
Esta é uma ferramenta de minha criação que surgiu pela união de outras. Se usa ficha de
Role Playing Game para definição de Diamond Character dos envolvidos numa tomada de
decisão ou implementação de política. Depois, estabelece-se o cenário e a previsão de qual
seria o Emotional Bow de cada personagem (aqui entendido como máscara social), e
procedemos um determinado número de interações para determinar quais são as alianças
pró-ativas e reativas, quais as estratégias de abordagem e o timing de cada interação ou
distúrbio interativo. Por fim, conferimos os quadros resultantes, e quais cenários devem ser
incentivados, e quais evitados.
Conclusão
O negacionismo do atual governo brasileiro é irresponsável. Nega-se o maior evento
catastrófico desde do maior conflito armado de toda história. Nada será como antes, não
importando pelos anseios de que o seja. O impacto traumático é tão profundo que só será
percebido ao longo de décadas. Assim como a proporção de infantaria e artilharia no
8
https://pt.wikipedia.org/wiki/Kriging#:~:text=Krigagem%20poder%C3%A1%20ser%20enten
dido%20como,do%20que%20pontos%20mais%20afastados.
exército brasileiro é objeto de dogma, sem que se discuta o fato de ter sido gerada pela
Régua de Cálculo da Missão Francesa que veio ao Brasil em 19199, considerando o tamanho
do caminhão militar francês e sua peça de artilharia na Primeira Guerra Mundial, hoje temos
um plano de prateleira. Sabemos que o Exército Brasileiro tem homens capazes, porém,
sem um norte para desenvolverem um projeto que tem base criativa desde do primeiro
momento, dificilmente romperão uma vida de obediência devida inconteste. Há um
paradoxo entre a formação: obedeça, não pense, para pense, depois planeje, e enfim
comande. Por isso o EB tem larga tradição em tentar reverter isso na ECEME, embora, o
mais o correto fosse dividir as forças em formações distintas (operacional, tático e
estratégico).
Como resultado, vemos um Plano de gaveta emergir, que sequer respeita a grandiosidade
de um país do tamanho do Brasil. No que confere a arte militar, eu só posso perguntar ou
sugerir a quem passou toda sua vida treinando para tal, porém o mesmo digo quanto o
reiterado descrédito aos especialistas em políticas públicas que ocupam ou ocuparam esses
cargos por uma vida. Comportamento, geralmente, assumido pela classe política e agora,
pasmem, por servidores militares.
9
http://www.defesanet.com.br/br_fr/noticia/34147/MALAN---100-ANOS-DA-MISSAO-MILITAR-FRANCESA-NOBRASIL/#:~:text=A%20Miss%C3%A3o%20Militar%20Francesa%20de,do%20Ex%C3%A9rcito%20Brasileiro%20(E
B).&text=Ademais%2C%20a%20mobiliza%C3%A7%C3%A3o%20militar%20passou,encarada%20como%20uma
%20mobiliza%C3%A7%C3%A3o%20nacional.