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Belo Horizonte
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E d ilo r (h e fe
prévia do Grupo D'Plácido.
MLKJIHGFEDCBA
A p r e s e n t a ç ã o JIHGFEDCBA
.9
Plácido Arraes
H is tó r ia
E d ito r
Proaufllra
Elhtoriol
C o p a , p ro le to 9 ro flw
Tales leon de Marco
Bárbara Rodrigues
let;cia Robini
Im a g e m d e 5 a n ti d i Iito [R e tra to d e N icco ld M a ch ia ve lli - D e ta lh e ,
e
I . I m ita ç ã o
L iv r o
OlflgrO/ll{Jçtio
o
in o v a ç ã o :
m o d ifica d a L lice n cia d a p e lo W ikim e d ia (o m m o m
P r o ê m io
do
D i s c u r s o s mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 1 7
11 dos
Bárbara Rodrigues
EnzoZaqueu
D iogo
Pires
Aurélio
R e p ú b lic a
2. A q u e s t ã o
da
em
F lo r e n ç a
Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica
Fabrina
fu n d a ç ã o
L eon ardo
M agalhães
da
c id a d e
B ru n i
e
de
41
M a q u ia v e l
Pinto
As faces de Maquiavel: História, república, corrupção. ADVERSE, Helton; PANCERA, Carlo
Gabriel K, [Orgs.) -- Belo Horizonte: Editora D'Plácido, 2019,
292 p.
O'
a n tig o s
ISBN: 978-65-5059-025-3
Sérgio
1, Filosofia, 2, Política L Título.
CDU140 JIHGFEDCBA
CDD100
4.
P1 *Rodapé
O 'P L À (
DO
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Luís
do
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dos
p a r a d ig m a s
61
m is to '
Cardoso
G overn o
a d a p ta tiv a
D 'P LÁ C ID O
O d is ta n c ia m e n to
3 . M a q u ia v e l:
ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Falcão
m is to
nos
ou
r e p ú b lic a
D is c o r s i
de
p o p u la r :
M a q u ia v e l
a
r e p ú b lic a
77
5. M aquiavel,
Flávia
Tito
101
Lívio yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e a constituição
dos rom anos
13. Poder
M aquiavel
Benevenuto
M aria
e o Problem a
6. M aquiavel
H elton
do Bem
Isabel
Lefort,
m ilitar:
a força
o realism o
político
de
legado'H
231
Lim ongi
14. A noção
e disciplina
e seu
sobre
.....1 15
Com um
Adverse
7. Religião
e autoridade:
social
do im aginário
M artha
de povo
leitor
no quadro
de M aquiavel
da dem ocracia
.....H
m oderna:
..
......H .241
C osta
na Arte da G uerra
de M aquiavel..H .
.. ./29
religioso ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
José
Luiz
Am es
15. Thoughts
Conspiração
Corrupção MLKJIHGFEDCBA
8 . Conflito
José
Antônio
9. "O jugo
que
por si m esm o
voluntária
I dos
D iscorsi
147
e facções
em M aquiaveL
em seu
pescoço"
da m ultidão/6
7
Visentin
G abriel
K szan
I I. M aquiavel
..
é colocado
e a servidão
10. República
C arlo
no livro
M artins
M aquiavel
Stefano
e corrupção
político
António
N ew ton
H
••••••••••••••••••••••
1 79
Pancera
e as conjurações
........
195
Bignotto
Repercussões
12. john
Pocock
em M aquiavel
Alberto
Ribeiro
e a liberdade
republicana
217
G . de Barros
Bento
on M achiavelli
na Academ ia'H
de Leo Strauss:
"'H
Im pacto
e
............H255
Religião
e disciplina
a MLKJIHGFEDCBA
fo rç a
do im a g in á rio
m ilitar: yxwvutsrqponmlkj
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re lig io s o
de
G u e rra
José
da
A rte
M a q u ia v e f1
L u iz
A m e s mlkjihgfedcbaZ
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
No
m ilitar
presente
estudo
entra em jogo
com ando-obediência,
Contudo,
partirem os
um a dim ensão
da hipótese
de que na disciplina
im aginária
- a fé - na relação de
a qual tem a capacidade
M aquiavel
m anifesta
sua convicção
de produzir
certa coesão.
de que sem elhante
laço
é possível de ser estabelecido
unicam ente
num a m ilícia constituída
hom ens
A form ação
de um exército republicano
do próprio
território.
um a ideia que vai na contracorrente
período
por
é
de seu tem po, um a vez que naquele
os estados faziam suas guerras com forças m ercenárias. M aquiavel
dá-se conta da incapacidade
quais está com posto
de o estado alcançar a coesão dos povos dos
servindo-se
tão som ente
de estratégias de persuasão
ou de força.A coesão só poderia nascer através da form ação de um a m ilícia
própria, constituída
num corpo
que identificasse
A m aturação
sivam ente
de hom ens
do próprio
a sua existência
desta ideia na m ente
com o resultado
particularm ente,
seus superiores
..JIHGFEDCBA
capaz de fundir-se
com a do próprio
de M aquiavel
estado.
acontece
progres-
das suas várias m issões diplom áticas
ao exte-
rior nas quais constata a capacidade
dispunha,
território,
de subm issão
e m obilização
de que
o reino da França. No esforço de convencer
nos Conselhos
florentinos,
registra
suas ideias nas suas
relazioni e faz disso um a análise concisa em um escrito de 1503, "Palavras
a dizer sobre a Provisão do Dinheiro".
dos Conselhos
da cidade que, por im aginar-se
França, recusavam
M aquiavel
1
Neste escrito, criticando
a necessidade
da form ação
sob a proteção
a posição
do rei da
de um a m ilícia própria,
escreve:
Este texto é fruto de um trabalho de pesquisa desenvolvido com o apoio do Conselho N acional de D esenvolvim ento
Científico e Tecnológico (CN Pq), Brasil.
soldados", escreve Raim ondi (2018, p. 18). Ou seja, enquanto aquele que
Poderia dizer-vos que tal opinião não poderia ser m ais tem erária. Porque todo estado, toda cidade, deve considerar inim igo
com anda deve em penhar-se
para obter a reverência de quem obedece
todos aqueles que podem ter esperanças em poder ocupar o
graças à virtú de que se revestem suas ações, aquele que obedece deve saber
que é seu, e de quem eles não podem se defender. Não houve
reconhecer a virtú de quem com anda e conceder a ele a reverência devida.
jam ais nem senhor, nem república sábia que quisesse m anter seu
A religião é responsável por produzir um m isto de tem or e respeito
estado à discrição de outros, ou que, m antendo-o, lhe parecesse
em
que
a reverência im plica adm iração e autoridade, m as não im posição.
tê-lo em segurança. Não nos enganem os sozinhos, exam inem os
Significa dizer: a obediência não resulta puram ente do fato de o com ando
m elhor a nossa situação e com ecem os a observá-Ia seriam ente.
Vós vos vereis desarm ados, vereis vossos súditos sem mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
confiança
vir da autoridade da qual se tem e a punição, m as tam bém do respeito ou
(sanza fede) e disso, há poucos m eses, já tivestes a experiência.
adm iração de quem exerce a autoridade. Trata-se de algo que se produz
E é razoável que assim seja, porque os hom ens não podem , e
no âm bito do "im aginário",
que pode ser à1cançado unicam ente
pela
nem devem , ser servos fiéis daquele senhor pelo qual eles não
palavra e jam ais pela força. Nosso objetivo no presente estudo é exam inar
podem ser nem protegidos nem governados (grifos nossos)". ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
o papel desse im aginário na form ação e exercício da disciplina m ilitar
Na relação entre governante
ência de um m odo
geral, intervém ,
ponsáveis pela condução
e governados;
não podem ,
qual não podem
referidas
na passagem
de crer na autoridade
algum a
coisa de religião
o explícito
da religião - um a vez que serve para m anter
biunívoca,
- ela é tam bém
m as assim étrica,
aqui a natureza religiosa
indispensável
entre príncipe
O texto
e na disciplina m ilitar é
[os hom ens]
caráter de instrumentum
das diferentes
em vista da consecução
M AQUlAVEL,
Nicolau.
3
M aquiavel, Nicolau. Os m otivos da ordenança, onde encontrá-Ia
G estão Florentina.Tradução
Palavras a dizer sobre a Provisão do Dinheiro.
e notas de Renato
logo no Proêmio da obra.
civil" da "vida
da instituição
e ordenações
do bem com um
às leis e a Deus. A finalidade
e desen-
das quais a cidade é
e de um a vida no
de todas estas providências,
insiste
é a deJesa da cidade. Significa dizer, sem um a cidade provida
nada valeriam
as m elhores
segura em relação às am eaças externas, de
ordenações
das quais possa estar constituída.
e
ln: Política e
M AQUlAVEL,
Nicolau.
citações seguirem os
Arnbrosio. São Paulo: FSJ, 2010, p. 52.
A arte da guerra. São Paulo: M artins
esta tradução
introduzindo
Fontes,
eventuais m odificações
2006. Nas
sem pre que
considerarm os
necessário para a clareza m aior do texto. Referirem os
as passagens
no corpo do texto indicando a obra pelas iniciais AG, seguido do Livro e da página
respectiva da tradução citada.
e o que é necessário
fazer. ln: Politica e G estão Florentina. São Paulo: FSJ, 2010, p. 57.
nu
atividades
de arm as capazes de m antê-Ia
4
2
aparece
que separa a "vida
para a finalidade
constituída
M aquiavel,
um a relação
e povo, entre com andantes
cham a a atenção
volvim ento
respeito
regni
as tropas unidas, obedientes
para "instaurar
m ilitar
corrente
na Arte da Guerra
Num
onde encon-
deixa ainda m ais explícita
para tornâ-los
esta relação.
por M aquiavel
Se fossem consideradas as antigas ordenações, não se encontrariam coisas m ais unidas, m ais conform es e que, necessariam ente,
se dão tão bem quanto essas, porque todas as artes ordenadas
num a cidade para o bem com um dos hom ens, todas as ordenações nela estabelecidas para que se viva no temor das leis e de Deus,
tudo seria vão se não fossem preparadas para as suas defesas (AG,
Proêrnio, p. LXXVII-LXXVIII - grifos nossos).'
daquela da 'fé' dos povos,
escreve que nos exercícios
a opinião
dos Discursos sobre a primeira
escreve:
m as igualm ente
da ordenança,
fazer", M aquiavel
m ais obedientes">. Sem dim inuir
e m otivadas
m ilitar",
acim a, "os
à qual estão subm etidos".
de 1506, "Os m otivos
trá-Ia e o que é necessário
..
obedece.
da relação de com ando-obediên-
cia, pois "a questão das arm as é [... ] inseparável
preciso "m isturar
e quem
conferido
na disciplina
Após contestar
[... ], os vereis sem confiança".
da disciplina m ilitar e, por conseguinte,
quando
ao im aginário
recíproco
transcrita
nem governados",
Para Landi (2017, p. 146), pode identificar-se
esta questão
O lugar de destaque
e nem devem , ser servos fiéis daquele senhor pelo
estando "os súditos desarm ados
escrito de Ordinanza
década de Tito Lívio para elucidar m elhor
e pelas pessoas res-
com anda
a obra Da Arte da Guerra, m uito
por referência, particularm ente,
em bora lancem os m ão, em alguns m om entos,
(im aginário)
no envolvim ento
entre quem
ser nem protegidos
ou da sua vontade
tom ando
e obedi-
da cidade. Esta relação, ainda que assim étrica,
Nas palavras de M aquiavel
hom ens
pois, um fator subjetivo
isto é, im plica necessariam ente
entre governante
entre com ando
(fede) suscitada pelas instituições
ligado à "confiança"
é biunívoca,
e governados,
..•
l,jl
Com
efeito, essa prioridade
que com plem entares
das arm as em relação às ordenações
defesas que, bem ordenadas, m antêm
cria
do m ilitar, de outro m odo
as boas ordenações,
se desordenam "
Esta insistência
na necessidade
de m anter
bem ordenada
de algum m odo
a dizer sobre a Provisão
soldado
sem o auxílio
com as arm as um a cidade não
do Dinheiro",
escrevera em
particularm ente
unitivos.
Se a pátria
de fedeltà
encontra
no soldado
um
a ela isso se deve ao risco de m orte
está perm anentem ente
exposto.
Agora
a fedeltà
nível
a que o
se converte
emfede:
o timore di Dio se torna m ais vivo ("se diligenciava
em dobro") em virtude do risco de m orte que a atividade m ilitar im plica;
pela fede in Dio.
a fede à pátria é alim entada
(AG, Proêm io, p. LXXVIII)5.
faz eco ao que M aquiavel
vínculos
m ais profundo
tais coisas, ainda que estas não sejam
bem ordenadas. E assim , ao contrário,
"Palavras
- ainda
- é destacada logo na sequência quando escreve:" [... ]
A insistência
de M aquiavel
na ideia do temor a Deus com o
força
na
constritiva e unitiva im prescindível
para a construção da vida civil orArte da
passagem citada acim a na qual trata da situação de Florença. Na mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
que
denada para o bem com um e à defesa, evidencia toda im portância
Guerra M aquiavel retom a ao tem a da necessidade de realizar um a reform a
ele atribui ao elem ento im aginativo
(subjetivo ou psicológico, diríam os
desta
m ilitar antes da política. Aqui nos ocupam os de um com ponente
na linguagem
de hoje) ligado à fam a, ao prestígio e à confiança nos
reform a m ilitar, a questão da fede.
indivíduos e instituições",
A propósito disso, um pouco adiante da passagem da Arte da Guerra
O apelo ao timore di Dio para persuadir as tropas tem na Arte da
citada acim a, ainda no Proêmio (p. LXXVIII), M aquiavel acrescenta:
Guerra um a passagem paradigm ática:
E se em qualquer outra ordenação das cidades e dos reinos tudo
se diligenciava para m anter os homens fiéis [uomini fedele], pacificas e cheios de temor a Deus, na m ilícia se diligenciava em dobro,
porque em qual hom em deve a pátria buscar m aior fé [fede] do
que naquele que precisa prom eter-lhe m orrer por ela? [...]. Em
qual deve haver m ais temor a Deus do que naquele que a cada
dia, subm etendo-se a infinitos perigos, tem m ais necessidade
de sua ajuda?
o
vínculo
do soldado
- aqui entendida
a m esm a
diante
"pátria"
força
com a cidade
por M aquiavel
que deriva
da religião:
uomini fedele,
di Dio.
som ente
a fedeltà
A pátria,
define
para
assim a dispersão
depende
m as que possui
- alim entada
diretam ente
que, para o florentino,
o timore
pois
"fidelidade",
A disciplina
em base à fé
é construído
da fé no divino
de Deus. M aquiavelliga
com aquilo
com o
E com o, para refrear os hom ens arm ados, não basta nem o tem or
às leis nem aos hom ens, os antigos acrescentavam a autoridade de
Deus (autorítà di Iddio); e assim , com grandes cerim ônias, faziam
seus soldados jurar que observariam a disciplina m ilitar para que,
se a violassem , não só tivessem de tem er as leis e os hom ens,
m as tam bém a Deus; e usavam de toda indústria para enchê-los
de religião (AGVI, p. 178 - grifas nossos).
pelo
a natureza
conservar-se,
natural
de um a força m ais poderosa
que o m edo
m ilitar. A obediência
de Deus" tem a força constritiva
hom ens arm ados".
m esm a
de batalha
do castigo derivado
im prescindível
e unitiva
necessária
à dis-
o "tem or
para "refrear
os
necessita
A concepção
da religião com o timore di Dio constitui a base do
da m ultidão ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tratam ento
conferido por M aquiavel no Livro I dos Discursos. No ca-
Em O Príncipe (XII:3) M aquiavel insiste na m esm a ideia quando escreve:"Os principais
fundam entos com uns a todos os Estados, tanto os novos com o os velhos e os m istos,
são as boas leis e as boas arm as: porque não podem ser boas as leis onde não são boas
as arm as, e onde são boas as arm as convém que sejam boas as leis". M aquiavel parece
apontar para a precedência das arm as em relação às leis na constituição dos estados.
Com efeito, defende que só podem ser boas as leis se forem boas as arm as. "Boas
arm as", obviam ente, podem ser as arm as próprias, aquelas constituídas por hom ens
do próprio território. Assim , ainda que a cidade esteja provida de ordenações que
assegurem a liberdade, elas estarão expostas ao perigo se esta m esm a cidade não se
prover de forças m ilitares form adas por seus próprios cidadãos.
132
total à luta no cam po
ciplina m ilitar carece do apelo à autorità di Iddio. Unicam ente
à
pítulo
..
e a entrega
da lei civil ou da autoridade
temor
dos soldados
m ilitar
6
-
XI M aquiavel
defende
que a religião
rom ana
foi um a
criação
O timore di Dia com o experiência (percepção) do sagrado, que renova na m em ória
do grupo o m edo originário sobre o qual se funda o fenôm eno religioso, tem em
Discursos 1,11:3 um a descrição enfática no m odo com o Num a se utilizou da religião:" este, encontrando um povo indôm ito e desejando conduzi-Io à obediência
civil com as artes da paz, voltou-se para a religião com o coisa de todo necessária
para se m anter um a cidade; e a constituiu de tal m odo que por vários séculos nunca houve tanto timore di Dio quanto naquela república, o que facilitou qualquer
em preendim ento
a que o senado ou aqueles grandes hom ens rom anos quisessem
entregar-se" (grifos nossos).
••••...
da inteligência
governados',
política
Com
de Num a
em vista produção
de obediência
dos
dos governados.
efeito, lem os que Num a,
som ente
Não
se consegue
produzir
obediência
apelando
ao uso, ou à am eaça de uso, da força. A obediência
tão
precisa ser
consentida. Com o a religião é capaz de produzir obediência consentida?
encontrando um povo ferocíssim o e querendo reduzi-Ia à
O texto citado acim a da Arte da Guerra faz m enção a um dos m ecanisobediência civil com as artes da paz, recorreu à religião com o
da análise deste e dos
m os: o juramento. M ais adiante nos ocuparem os
(civilità)
algo absolutam ente necessário para m anter um a cidade mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
dem ais recursos.
e a constituiu de m odo que, por m uitos séculos, não havia tanto
temor a Deus com o naquela república, o que facilitou qualquer
A religião constituída por Num a tem um claro sentido instrumental,
em preendim ento que o senado ou os grandes hom ens de Rom a
pois, com o escreve M aquiavel, ela serviu "para com andar os exércitos e
planejassem levar a cabo (Discorsi 1,11:3 - grifos nossos)",
anim ar a plebe, para m anter os hom ens bons, e para fazer envergonhar
Num a, afirm a M aquiavel, "constituiu"
im prescindível
"natural";
cum pre
a fim de com pletar
ela tem fundadores.
os m aus" (Discursos I, 11 :8). Fica visível na descrição
a religião com o m ecanism o
a obra de Rôm ulo. A religião não é
Ela é, portanto,
em cada povo um a finalidade
adequada
um produto
histórico
e
àquele povo". Tanto no
texto dos Discursos quanto da Arte da Guerra, a religião tem um a finalidade
subsidiária
à política".
O governo
de um a
cidade requer
passividade do povo na m edida
em que este consente
lação de suas crenças
por parte
8
9
~
10
de quem
com a m anipu-
o com anda.
esse aspecto, é preciso observar
que a m anipulação
com anda
de quem
se torna
certa
possível
Ainda
tam bém
unicam ente
na m edida em que aquilo que se exige do povo respeita suas paixões e
a obediência ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
interesses. Ainda que os interesses sejam aqueles de quem m anipula, o
Segundo Nam er (1982. p. 26), governantes e governados conhecem a verdade da
religião de m odo diferente:"o príncipe conhece a verdade da religião de m aneira
racional,ao passo que o povo, quando m uito, conhece-lhe a falsidadequando a intenção de em buste do m ediador lhe é descoberta". Raim ondi (2018,p.25, nota 64)
não está de acordo com esta avaliação.S egundo o com entador,"que os governantes
ajam racionalm ente e o povo passionalm ente im plica um a diferença que pode até
originar um julgam ento de valor sobre a superioridade de uns ou de outros; m as o
que quero acentuar é que, ainda que com instrum entos diferentes,am bos agem uns
sobre os outros: e não sem pre vencem os m ais racionais, os m ais prudentes ou os
m ais astutos.Se estes podem m anipular as paixões do povo,aquelespodem elim inar
com as próprias paixões os cálculos deles".
esses interesses
(obedece)
unicam ente
na m edida
dos grandes
com patíveis
com os seus. M aquiavel
claro isso quando
escreve: em Rom a,
falar com o os poderosos
descoberta
perturbar
quando
em que considera
os oráculos"
deixa
com eçaram
se tornaram
incrédulos
e dispostos
em favor da ideia da com patibilidade
interesses entre quem
e quem
extraída
presente
da Arte
a obediência
a
ordem boa" (Discursos I, 12:6).A passividade de quem
qualquer
obedece precisa ser relativizada
civis "os antigos
a
(a parlare a modo de' potenti), e essa falsidade foi
pelo povo, os hom ens
Tendo
Citarem os os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio (2000),com edição crítica
de Giorgio Inglese,indicando nas passagenscitadas o livro,o capítulo e a linha, nesta
ordem .
com anda
isso, podem os
de
obedece.
retornar
à passagem
citada acim a
da Guerra. Tam bém ali M aquiavel afirm a que às leis
a autoridade de Deus" a fim de alcançar
acrescentavam
das tropas. O apelo à "autoridade
de Deus" tinha em vista
inculcar o temor diante do castigo divino. O soldado está exposto perm a-
Se a religiãorom ana antigafoi"criada"por Num a em conform idadecom os costum es
e tradições da época,pode-se dizer o m esm o do cristianism o?Para Raim ondi (2018,
p.28) sim :"Tam bém o cristianism o é um a religião forjada ad hoc por dom inantes e
dom inados. E tam bém ele naturalizou alguns traços do próprio tem po: 1) a subm issão ao im pério rom ano; 2) a dificuldade,causada pela im possibilidade,d e m udar a
situação;3) a conveniência de deslocar o próprio desejo para bens ultraterrenos. Se
o paganism o parecia ser um a religião unicam ente aristocrática [...J, o cristianism o
parece ser um a religião popular, para um 'povo' de servos [...]".
nentem ente
ao risco de m orte. Nesta condição,
M aquiavel, nem o m edo da punição
a violência
não o intim ida,
legal, nem a possibilidade
fisica dos capitães. Unicam ente
divino, será capaz de produzir
a obediência,
um im aginário,
escreve
de sofrer
o medo do
im prescindível
para m anter
em um m eio
de persuasão
a disciplina m ilitar das tropas.
Vem os, pois, que a religião
(1998. p. 169) nota neste ponto um a relação circular entre o
político o religioso: "[ ...] a relação entre religião e política se reveja [...] com plexa e, por assim dizer, circular: a política tem necessidade da religião, m as esta
religião da qual a política tem necessidade é, por sua vez, um produto da própria
prudência política".
Cutinelli-Rêndina
134
e paixões
que não se possa desconsiderar
povo se subm ete
7
m aquiaveliana
privilegiado
se constitui
do qual os com andantes
mini armati. Contassem
palavra ou da subm issão
eles tão som ente
valer-se para frenari gli uo-
com os m eios da persuasão pela
pela força física, seriam incapazes
disciplina das tropas. O sentim ento
•
podem
de m anter
de m edo do divino alim entado
a
pela
fé religiosa constitui-se
num fenôm eno
irracional,
m ais poderoso
o espírito do povo do que a própria razão, fenôm eno
torna-se
a garantia m ais segura para m anter
a unidade
Em um a guerra os capitães estão defrontados
diferente que a dos governantes
a poucos
é m uito
fácil, porque
porém ,
quanto ao núm ero
ou dissuadir
se as palavras não bastarem , sem pre será
com situações
nas
[isto é, das tropas] um a opinião
(sinistra oppinione)" (AG, IV, p. 135). Neste caso, alerta M aquiavel,
errada mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
"se podem
palavras, as quais é preciso que sejam ouvidas
usar unicam ente
por todos" (AG, IV, p. 135 - grifos nossos). Por isso, os capitães precisam
com as palavras certas "as paixões hum anas
ser hábeis oradores, porque
se extinguem
ou se ascendem "
A fé e o sentim ento
com o
serem
produzidos
ção de um im aginário,
Um a
sinistra oppinione
Em um a batalha
m odo
(AG, IV, p. 136).
religioso
unicam ente
por
igualm ente
pode
religioso
m eio
pode
que têm
da palavra. A rem oda palavra.
em preendim ento
isto é algo, sobretudo,
que o im aginário
im aginários
só é possível por m eio
levar um
arriscado.
ao fracasso.
tão som ente
notam os
no sentido
depende
da capacidade
Notam os,pois,
de Deus".
Contudo,
que a eficácia da religião nasce do fato de ser "temor
até aqui, a eficácia, no que diz respeito
forças arm adas, pode ser resum ida,
Prim eiro,
nos soldados. Ainda
produz
esquem aticam ente,
a três elem entos
clarecida, outras questões
da eficácia do im aginário
possa ser dada com o
os efeitos das religiões
surjam
refere três m odalidades
religião
a obediência
a unidade,
e se instalem ?
sobre as tropas, por que e como as
religiões os produzem ?
Na Arte da Guerra M aquiavel
antiga produzia
es-
restam por esclarecer. Quais são as condições,
razões e paixões, que fazem com que as religiões
Considerando
11
religioso,
suficientem ente
pelas quais a
e a coragem
religiosa,
expressa no juram ento,
e im ediato
são produtos
é
verdade
num a ação m o-
e coletivos.
da qual se produz
religioso
m ilitares não têm um a origem
espontâneo
ser o
da religião. Na passagem
extrem as, a religião, m ais do que as leis
individuais
dentro
um a
pública, neste
m ilitar. Isso é particularm ente
que os efeitos do im aginário
nada". Com o
um a ligação que m antém
que a questão
sobre as tropas em cam panha
e os
do espírito
o juram ento
torna
que vão em auxílio
autônom a,
das
não são um m o-
das tropas. Pelo contrário,
de um a vontade
política bem determ i-
m ostra o texto citado, a obediência
obtida pelo juram ento
às
unidas as tropas;
segundo, na m edida em que a religião aparece com o fede, o tem or gera
obediência sem a qual qualquer com ando fracassa; terceiro, instila coragem
principais.
que a dim ensão
a dinâm ica
estas m anifestações
Pelo que vim os
do uso político
para a obediência
tivadora de com portam entos
evidente
de
e a obrigação
m ilitar. Essa é a razão de o juram ento
de que, nas situações
vim ento
inadequadas
a sim ulação
faz com que se estabeleça
de Deus
civis ou a am eaça dos capitães, é capaz de constituir-se
um a m ultidão
de "opiniões"
por excelência
determ inante
necessidades
do capitão.
subjetivo
caso do em preendim ento
instrum ento
Assim , do m esm o
ser despertado
que o uso do juram ento
entre o m edo
pela palavra, e não pela força ou pela am eaça do uso da força, dem over
persuasão
•.
Nota-se
conexão
referida,
são elem entos
do divino: o juram ento,
pelos juram entos:
Para m anter a disposição dos soldados antigos, tinham grande
valor a religião e o juramento a que eram subm etidos quando
entravam para as fileiras, porque em todos os seus erros eram
am eaçados não só com aquilo que poderiam tem er da parte
dos hom ens, com o tam bém com aquilo que poderiam esperar
de Deus. Tal coisa, m isturada com outros costum es religiosos,
m uitas vezes tornou fácil aos capitães antigos qualquer em preendim ento, e o faria sem pre, onde se tem esse e observasse a
religião (AG, IV, p. 136 - grifos nossos).
ou da força" (AG, IV, p. 135). Em um a guerra,
de um a m ultidão
do m edo
Com ecem os
das tropas.
"persuadir
os capitães m uitas vezes estão confrontados
quais precisam "rem over
augúrios".
nas situações ordinárias da vida da cidade,
Ora, escreve M aquiavel,
possível usar da autoridade
graças à instilação
com um a situação bem
nas quais estes têm diante de si casos bem delim itados
de pessoas envolvidas.
sobre
este cuja utilização
das tropas
12
Nos Discursos M aquiavel trata igualm ente delas, A simulação é m ostrada pelo m odo
de proceder de Num a, que "sim ulou ter fam iliaridade com um a Ninfa, de quem
recebia conselhos para serem transm itidos ao povo" (Discursos I, 11:10), Os juramentos são ilustrados por vários exem plos, dentre os quais o m odo com o "Cipião [".]
obrigou os cidadãos ajurar que não abandonariam a pátria" (Discursos I, 11:5). Os
augúrios e oráculos são ilustrados por um a sequência de exem plos em Discursos I, 13
e a im portância deles destacada na abertura do capítulo seguinte: "Os augúrios não
som ente eram o fundam ento, em boa parte, da antiga religião dos gentios, com o
tam bém eram a causa do bem -estar da república rom ana" (Discursos I, 14:2),
Segundo Paul Larivaille (1982. p, 127), e é um a posição da qual não com partilham os,
isso confirm aria "a am biguidade essencial do papel reservado ao povo nas teorias
políticas m aquiavelianas. M aquiavel teve a intuição da necessidade de um a participação
ativa do povo na vida social e política [.. ,]. No entanto, está longe de haver extraído
dessas prem issas todas as im plicações que poderiam decorrer logicam ente dele. Seu
a que os soldados "eram
subm etidos
não resulta de um ato espontâneo,
tropas, m as, m uito
quando
entravam
para as fileiras"
de um a autoconsciência
coletiva das
antes, é o efeito de um a coerção, um a vez que" em
à religião. Igualm ente,
coisas que dizem
respeito
base da exigência
de simular um a atitude
e protegendo
e, na situação
concreta,
exatam ente
tam bém
é isso o que está na
oposta, cultivando
suscitando
tudo
quanto
seja capaz de favorecer o sentim ento religioso das tropas.
todos os seus erros [os soldados] eram mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ameaçados não só com aquilo que
A eficácia no uso da simulação depende, de um lado, da capacidade
poderiam tem er por parte dos hom ens, com o tam bém com aquilo que
dos capitães de se m ostrarem convincentes utilizando as palavras certas a
esperar de Deus" (grifos nossos). ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
cada ocasião e, de outro, da convergência entre os sentim entos evocados
É preciso ressaltar, porém , que a am eaça da punição divina à qual as
pelos capitães com os sentim entos dos soldados. Se as tropas perceberem
tropas são subm etidas pelo juram ento é capaz de produzir com o seu efeito
que o capitão realm ente simula algo em que não acredita ser verdadeiro,
a obediência, a unidade e a coragem dos soldados, som ente na m edida em
ou se, m esm o alcançando fazer crer aos soldados da "veracidade" de suas
que conta com o consentim ento
deles. O juram ento religioso m obiliza o
palavras, m as se aquilo que afirm a não encontra correspondência
no im aim aginário das tropas e se conecta com ele. A am eaça do castigo divino
ginário religioso das tropas, a simulação igualm ente não produzirá efeito.
na hipótese de ruptura do juram ento
só se torna eficaz, com o dissem os
O terceiro expediente de uso do im aginário religioso pelos antigos
na abertura deste trabalho, por causa da fede.
para influenciar as tropas são os augúrios:
Um segundo m odo pelo qual os antigos se serviam do sentim ento
poderiam
Os antigos capitães tinham um incôm odo do qual os atuais
estão praticam ente livres, que era o de interpretar a seu favor os
m aus augúrios: pois, se caía um raio sobre um exército, se escurecia o solou a lua, se ocorria um terrem oto, se o capitão caía
ao m ontar ou apear do cavalo, era interpretado pelos soldados
com o m au agouro, e gerava neles tanto m edo que, chegando a
batalha, facilm ente a teriam perdido. Por isso, os antigos capitães,
assim que sem elhante acontecim ento ocorria, ou m ostravam
a causa dele e o reduziam à causa natural, ou o interpretavam
a seu favor. César, caindo ao desem barcar do navio na África,
disse: "África, eu m e apossei de ti" (AG,VI, p. 188-189).
religioso é a simulação (finzione). Na Arte da Guerra M aquiavel faz m enção
a ela por m eio da referência
a alguns exem plos:
Sertório se valeu dela [sim ulação], m ostrando falar com um a
serva, a qual lhe prom etia, da parte de Deus, a vitória. Silas
dizia falar com um a estátua que ele havia tirado do tem plo de
Apolo. M uitos disseram lhes ter aparecido Deus em sonho, que
os exortara a com bater. Nos tem pos de nossos pais, o rei da
França, Carlos VII, na guerra que fez contra os ingleses, dizia
aconselhar-se com um a donzela enviada por Deus, que em toda
a parte foi cham ada a donzela da França; o que foi a causa de
sua vitória (AG, IV, p. 136-137)13.
Os augúrios correspondem
Interpretar
de em buste
estes exem plos
um m ero problem a
levaria a não com preender
efeito, para M aquiavel
ou não algum conteúdo
sentim entos
com o
a questão
a real natureza
que lhe im porta
de verdade
em um a direção politicam ente
não é a de saber se há
suscita no espírito
útil e construtiva.
dissim ularem
da questão. Com
na religião, e sim , o de canalizar os
e as energias que a religião
sidade de esses hom ens
de fraude ou
o próprio
dos hom ens
Isso justifica
juízo
eram os sinais interpretados
àquilo que nos textos do Velho Testam ento
pelos profetas com o m anifestação
Para M aquiavel, porém , não se trata da questão da com unicação
tade divina aos hom ens,
não se trata de um a "revelação".
de Deus.
da von-
A possibilidade
de um a revelação divina é um a questão da qual M aquiavel
não se ocupa
explicitam ente".
com anda,
Trata-se
sem pre, desde a ótica de quem
de
a neces-
no confronto
das
povo não se torna jam ais um a força autônom a capaz de um a ação autônom a, m as
perm anece sem pre m ais ou m enos, tanto nos Discursos com o no Príncipe, um a m assa
de m anobra para os governantes, um a força, conform e as situações, para reprim ir
ou para m anipular".
13 Os exem plos de Sertório, Silas e Carlos VII são sim étricos aos de Num a, Licurgo e
Savonarola m encionados por M aquiavel em Discursos I, 11.
14
O capítulo LVI do livro I dos Discursos enuncia no seu título: "Antes que ocorram
os grandes acontecim entos, num a cidade ou num a província, surgem sinais que os
prognosticam ou hom ens que os predizem ". No decurso do capítulo lista um a série
de exem plos antigos e contem porâneos para corroborar a afirm ação expressa no
título, m uito em bora faça questão de ressaltar,logo nas prim eiras linhas do capítulo,
que "ignora porque razão" esses fenôm enos se produzem . No final do capítulo, se
justifica dizendo que "a razão dessas coisas,creio, dever ser com entada e interpretada
por alguém que tenha conhecim ento das coisas naturais e sobrenaturais, o que eu
não tenho" (Discursos 1,56:8). Em todo caso, ainda que adm ita sua incapacidade de
de mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
sinais nos quais, nos exem plos m encionados
na
um a interpretação
passagem citada, o im aginário
divina. Com o
esses sinais nunca m anifestam
o seu significado,
que invocam com blasfêm ias? Dos que veneram ou daqueles
contra os quais blasfem am ? Na verdade, se veneram algum , o
ignoro, m as por certo blasfem am contra todos. Com o poderei
acreditar que cum prirão o que prom eteram a aqueles que a todo
m om ento desprezam ? Como pode quem despreza Deus respeitar os
homens? (AG,VII, p. 221-222 - grifas nossos).
religioso dos soldados vê um a m anifestação
e sim unicam ente
de m aneira
clara e evidente
por m eio de um a linguagem
cifra-
da, cabe aos capitães das tropas fazer sua tradução. Estes fazem os sinais
significarem ,
em geral, o oposto
os "m aus augúrios"
que esta estratégia
do que parecem :
produza
pessoal ou de grupos gera o descrédito
perda da fé na m ensagem
possibilidade
insiste
de um bom
religioso
do im aginário
exército. Ele não vê
desem penhar
sua função
M aquiavel
essenciais do uso das arm as e habituâ-lo
esm era-se
em cada tipo de arm a.
Já no sentido da form ação
honestidade
escândalo
m otivo
e um princípio
de corrupção"
..yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ou m ercenária
o conjunto
de
treinados ao com bate
dos costum es, e que nele haja
se escolhe
um instrum ento
de
(AG, I, p.31), adverte. Por esse
evitado o recrutam ento
de serem os m elhores,
(AG, I, p. 23). Com o, questiona
todo
aos quais os soldados de-
m oral do soldado é preciso com eçar desde
do contrário
deve ser decididam ente
pois estes "longe
em descrever
de arm am entos,
cuidar, sobretudo,
e vergonha,
que a cada dia, subm etendo-se
de sua ajuda?" (AG, Proêmio, p.LXXVII-LXXVIII).
de estrangeiros,
são os piores de um a província"
ele, fazer com que um a tropa estrangeira
m as tam bém
a Deus"
A religião, além de im prescindível
com coragem
refa de fornecer
coexistir
interpretar o porquê desses fenôm enos, aparentem ente
de origem divina, confessa:
sem pre sobrevêm
"seja com o for, esta é a verdade; e depois de tais acontecim entos
coisas extraordinárias
e novas nas províncias"
40
(Discursos 1,56:10).
unido
de orientação
o exército
no m undo, tentando
dificuldades
fazer
m uito m aiores para isso do que o
antigo. Em certo sentido, a ferocia dos rom anos
foi substituída
pela sopportazione dos cristãos. Nos term os refletidos por M aquiavel
Discursos, enquanto
o paganism o
de glória m undana,
com o capitães de exércitos e príncipes
[o cristianism o]
glorificou
"beatificava
tornou
o m odo
o m undo
os quais podem
dos hom ens,
unicam ente
m ais os hom ens hum ildes
que os ativos" (Discursos II,2:30-31).
M aquiavel,
e
com a pesada ta-
necessárias para a vida m ilitar e a vida civil. O cris-
tianism o parece encontrar
paganism o
para m anter
a guerra, deve arcar tam bém
um horizonte
as virtudes
(AG, VI, p. 178).
de vida estim ulado
fraco, convertendo-o
m anejá-lo
hom ens
das repúblicas,
pelo cristianism o
vendo
do
disso? Segundo
"parece
em presa de hom ens
com plena segurança,
nos
cheios
e contem plativos
Qual foi o resultado
que
celerados,
que o com um
para ir ao paraíso, pensa m ais em suportar as desgraças do
delas" (Discursos II,2:34 - grifos nossos).
Um a vez elevada à religião oficial do im pério
se nasceram e cresceram sem vergonha? [...] Por qual Deus, ou
por quais santos, devo fazê-Ias jurar? Pelos que adoram ou pelos
Por isso,
m ilitar, para que, se a violassem , não só tivessem de tem er as
que em vingar-se
se envergonhe
a infinitos perigos, tem m ais
afirm a M aquiavel, os antigos "faziam seus soldados jurar que observariam
enfrentar
a agir
m ilitares. Afinal, com o já
"em quem deve haver m ais temor a Deus do
necessidade
leis e os hom ens,
ensinar
os bons costum es sobre
que naquele
um a adequada
à form ação
pela
entre os defeitos
e boa m ilícia" aqueles que são "sem
as boas leis e as virtudes
anteriorm ente,
nela, será possível desenvolver
de ação quanto
a um a verdadeira
os quais se fundam
a disciplina
para estarem adequadam ente
recrutam ento:"Deve-se
em
m oral do soldado é com pletada
(AG, I, p. 23). É a religião que engendra
religião"
de um a m ilícia
exercícios, físicos e de m anejo
veriam ser subm etidos
pois, que a form ação
de form ação
m oral do soldado.
No prim eiro sentido - da disciplina m ilitar - é fundam ental
em form ação.
Nota-se,
religião. No Livro I da Arte da Guerra M aquiavellista
"m ais contrários
ou nos augúrios. Essa
na im portância
disciplina m ilitar, tanto em relação ao m odo
ao soldado os elem entos
que
com entam os
Por isso a necessidade
cidadã. Nela, e som ente
que, para
a m enor suspeita de vantagem
no oráculo
para a form ação
de o sentim ento
tropas m ercenárias.
interpretar
produz a desordem , que na guerra leva as tropas
à derrota.
inevitavelm ente
Com o vem os, M aquiavel
do soldado
m ostra
nas tropas um efeito positivo, é preciso
não pairem dúvidas sobre os beneficiários:
religioso
costum am
com o bons presságios. M aquiavel
rom ano, o cristianism o
se afirm ou com o religião ligada à subm issão, causada pelo desaparecim ento
do m odo
de vida republicano.
Por isso, passou a valorizar
"suportar as desgraças em vez de vingar-se
com o virtude
delas" deslocando
o prêm io
pelas ações m undanas do m undo
terreno para o m undo celeste pos mortem.
Enquanto
pretendia
o paganism o
rom ano
governar
a ferocidade
com a
paz a fim de canalizá-Ia para a guerra, o cristianism o
da subm issão
dos povos ao im pério
rom ano
criando
governo para um a nova elite, o clero. Obviam ente,
um retorno
ao paganism o,
m as um a religião
pagãos e cristãos com outros de natureza
caracteres
políticos
de "m odo
de vida republicano.
queria ser o fiador
novas funções
de
M aquiavel não defendia
que com binasse
elem entos
não religiosa, m as escritos em
em vez de m etafisicos.deslocando
o prraças em vez
Por isso, passou a valorizar a
O cristianism o, com preendido
presente
tanto no governo
seu êxito, de coesão
Trata-se, portanto,
quem
com anda
A relação com ando-obediência,
da cidade quanto na força m ilitar, requer, para
a qual provém
da confiança
de um a relação biunívoca,
e quem
recíproca
das partes.
ainda que assim étrica, entre
obedece.
Na Arte da Guerra M aquiavel m ostra que a religião é responsável por
produzir
com o um a pedagogia que produziu um a
afê oujidelidade.
ligada ao im aginário:
um m isto de tem or
unicam ente
e respeito em que a obediência
não resulta
do fato de o com ando vir da autoridade da qual se tem e a puni-
nova visão de m undo, operou tam bém um a transform ação
no m odo com o
ção, m as tam bém do respeito ou adm iração daquele que exerce a autoridade.
a que estas levavam . ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
É a esse
O vínculo do soldado com a cidade é construido em base à fé alim entada
Arte da Guerra:
aspecto que M aquiavel cham a a atenção nesta passagem da mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
pelo temor diante do divino. A fé e o sentim ento religioso são elem entos
eram conduzidas as guerras e as consequências
o
m odo de vida de hoje, no que diz respeito à religião cristã,
não im põe a necessidade de defender-se que existia antes;
porque então os hom ens, vencidos na guerra, ou eram m ortos
ou perm aneciam perpetuam ente escravos, levando m ísera vida
[...].Abalados por esse tem or, os hom ens m antinham vivos os
exercícios m ilitares e honravam quem neles era excelente. M as
hoje esse m edo se perdeu na m aior parte; poucos vencidos são
m ortos; nenhum fica longo tem po na prisão [...]. As cidades,
ainda que m il vezes rebeladas, não são destruídas; os hom ens
ficam com seus bens, de m odo que o m aior m al que se tem e é
[pagar] um tributo; deste m odo, os hom ens não querem subm eter-se às ordenações m ilitares e afadigar-se em seus esforços
para escapar a perigos que pouco tem em (AG, II, p.80-8i).
Com
a universalização
do cristianism o,
a guerra tom a novos signi-
ficados. Ela deixa de ser a obra do povo, com o
tornar-se
um oficio dos nobres
avaliação conclusiva
de Raim ondi
entre os rom anos,
ou, então, de m ilícias m ercenárias.
para
Na
(2018, p. 30),
o dualism o entre trono e altar é a causa que leva ao abuso das
tropas m ercenárias [...]. Este dualism o im plica na existência
de um aparato m ilitar profissional [...] e um aparato espiritual
responsável pela pacificação da sociedade [... ]. A proposta m aquiaveliana de um exército popular governado pelas leis era um a
m aneira de elim inar as tropas m ercenárias, obter um a política
fiscal m ais justa e elim inar o dualism o entre trono e altar.
im aginários
finais
Desse m odo, a religião se constitui
unicam ente
por m eio da palavra.
que diz respeito
elem entos
em um m eio de persuasão
às arm as, pode ser resum ida,
principais.
Prim eiro,
esquem aticam ente,
um a ligação que m antém
produz
as tropas; segundo, gera obediência sem a qual qualquer
terceiro, instila coragem nos soldados. M aquiavel
religião é capaz de produzir
constituídas
de hom ens
possível desenvolver
ao m odo
do próprio
território.
um a adequada
de ação quanto
disciplina
à form ação
e enfrentar
as virtudes
parece
com coragem
um horizonte
necessárias
encontrar
com ando
unidas
fracassa;
em forças m ilitares
N ela, e som ente
m ilitar, tanto
nela, seria
em relação
m oral do soldado.
para m anter
unido
a guerra, deve arcar tam bém
de orientação
a três
insiste, porém , em que a
estes efeitos unicam ente
A religião, além de im prescindível
fornecer
eficaz do
se valem para MLKJIHGFEDCBA
[re n a ri gli uomini arma ti. A eficácia, no
qual os com andantes
o exército
com a tarefa de
no m undo, tentando
fazer coexistir
para a vida m ilitar e a vida civil. O cristianism o
dificuldades
m uito
m aiores para isso do que o paga-
nism o antigo. Em certo sentido, a ferocia dos rom anos foi substituída pela
sopportazione dos cristãos. Um a vez elevada à religião oficial do im pério
rom ano, o cristianism o
se afirm ou
sada pelo desaparecim ento
m undo
o prêm io
com o religião ligada à subm issão cau-
do m odo de vida republicano.
a valorizar com o virtude "suportar
Por isso, passou
as desgraças em vez de vingar-se delas"
pelas ações m undanas
do m undo
terreno
para o
celeste pos mortem.
O cristianism o,
Em sua obra dedicada expressam ente
à arte da guerra, M aquiavel
explicita um a dim ensão essencial para a form ação da disciplina m ilitar
ser produzidos
Segundo M aquiavel, às leis civis" os antigos acrescentavam a autoridade
de Deus" a fim de alcançar a obediência, a unidade e a coragem das tropas.
deslocando
Considerações
que podem
com preendido
com o um a pedagogia
um a nova visão de m undo, operou tam bém
com o eram conduzidas
que produziu
um a transform ação
as guerras e as consequências
no m odo
a que estas levavam .
Com a universalização
do cristianism o,
a guerra tom a novos significados.
Ela deixa de ser a obra do povo, com o entre os rom anos, para tornar-se
um oficio dos nobres ou, então, de m ilícias m ercenárias. ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
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Corrupção