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Religião e disciplina militar: a força do imaginário religioso na Arte da Guerra de Maquiavel

2019, As Faces de Maquiavel

as faces • uouuive mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA JIHGFEDCBA de (I) CU: o yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA lCU Q) > eu :::J Uo Q :J '-'-- U) '-- (I) :> "'"tJ <{ 0- o o eu , CU +-> U (I) ~ Q) \J (J) Q) ...Q ':J Q (I) '-- , c: o '-- (l) u c:O CU Q. ~ (I) .r ...Q'-CU CJ o '-- U CU CU eu '-- U '+- 'o +-> (J) U) <t .r U) JIHGFEDCBA Q) '-- •........• IJI ~ I~rn Sum ário O 'PLÁ C loO Belo Horizonte Av. Brasil, 1643, Savassi, Belo Horizonte, MG TeU1 3261 2801 (EP 30140-007 I São Paulo Av. Paulista, 2444, 8' andar, cj 82 1 Bela Vista - São Paulo, SP CEP 01310-933 WWWEDITORADPLACIDO.COM.BR Copyright © 2019, O'Plácido Editora. Copyright e 2019, Os Autores. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzlda, por quaisquer meios, sem a autorização E d ilo r (h e fe prévia do Grupo D'Plácido. MLKJIHGFEDCBA A p r e s e n t a ç ã o JIHGFEDCBA .9 Plácido Arraes H is tó r ia E d ito r Proaufllra Elhtoriol C o p a , p ro le to 9 ro flw Tales leon de Marco Bárbara Rodrigues let;cia Robini Im a g e m d e 5 a n ti d i Iito [R e tra to d e N icco ld M a ch ia ve lli - D e ta lh e , e I . I m ita ç ã o L iv r o OlflgrO/ll{Jçtio o in o v a ç ã o : m o d ifica d a L lice n cia d a p e lo W ikim e d ia (o m m o m P r o ê m io do D i s c u r s o s mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 1 7 11 dos Bárbara Rodrigues EnzoZaqueu D iogo Pires Aurélio R e p ú b lic a 2. A q u e s t ã o da em F lo r e n ç a Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica Fabrina fu n d a ç ã o L eon ardo M agalhães da c id a d e B ru n i e de 41 M a q u ia v e l Pinto As faces de Maquiavel: História, república, corrupção. ADVERSE, Helton; PANCERA, Carlo Gabriel K, [Orgs.) -- Belo Horizonte: Editora D'Plácido, 2019, 292 p. O' a n tig o s ISBN: 978-65-5059-025-3 Sérgio 1, Filosofia, 2, Política L Título. CDU140 JIHGFEDCBA CDD100 4. P1 *Rodapé O 'P L À ( DO ~EJ Luís do < r e g im e dos p a r a d ig m a s 61 m is to ' Cardoso G overn o a d a p ta tiv a D 'P LÁ C ID O O d is ta n c ia m e n to 3 . M a q u ia v e l: ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Falcão m is to nos ou r e p ú b lic a D is c o r s i de p o p u la r : M a q u ia v e l a r e p ú b lic a 77 5. M aquiavel, Flávia Tito 101 Lívio yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA e a constituição dos rom anos 13. Poder M aquiavel Benevenuto M aria e o Problem a 6. M aquiavel H elton do Bem Isabel Lefort, m ilitar: a força o realism o político de legado'H 231 Lim ongi 14. A noção e disciplina e seu sobre .....1 15 Com um Adverse 7. Religião e autoridade: social do im aginário M artha de povo leitor no quadro de M aquiavel da dem ocracia .....H m oderna: .. ......H .241 C osta na Arte da G uerra de M aquiavel..H . .. ./29 religioso ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA José Luiz Am es 15. Thoughts Conspiração Corrupção MLKJIHGFEDCBA 8 . Conflito José Antônio 9. "O jugo que por si m esm o voluntária I dos D iscorsi 147 e facções em M aquiaveL em seu pescoço" da m ultidão/6 7 Visentin G abriel K szan I I. M aquiavel .. é colocado e a servidão 10. República C arlo no livro M artins M aquiavel Stefano e corrupção político António N ew ton H •••••••••••••••••••••• 1 79 Pancera e as conjurações ........ 195 Bignotto Repercussões 12. john Pocock em M aquiavel Alberto Ribeiro e a liberdade republicana 217 G . de Barros Bento on M achiavelli na Academ ia'H de Leo Strauss: "'H Im pacto e ............H255 Religião e disciplina a MLKJIHGFEDCBA fo rç a do im a g in á rio m ilitar: yxwvutsrqponmlkj na re lig io s o de G u e rra José da A rte M a q u ia v e f1 L u iz A m e s mlkjihgfedcbaZ Universidade Estadual do Oeste do Paraná No m ilitar presente estudo entra em jogo com ando-obediência, Contudo, partirem os um a dim ensão da hipótese de que na disciplina im aginária - a fé - na relação de a qual tem a capacidade M aquiavel m anifesta sua convicção de produzir certa coesão. de que sem elhante laço é possível de ser estabelecido unicam ente num a m ilícia constituída hom ens A form ação de um exército republicano do próprio território. um a ideia que vai na contracorrente período por é de seu tem po, um a vez que naquele os estados faziam suas guerras com forças m ercenárias. M aquiavel dá-se conta da incapacidade quais está com posto de o estado alcançar a coesão dos povos dos servindo-se tão som ente de estratégias de persuasão ou de força.A coesão só poderia nascer através da form ação de um a m ilícia própria, constituída num corpo que identificasse A m aturação sivam ente de hom ens do próprio a sua existência desta ideia na m ente com o resultado particularm ente, seus superiores ..JIHGFEDCBA capaz de fundir-se com a do próprio de M aquiavel estado. acontece progres- das suas várias m issões diplom áticas ao exte- rior nas quais constata a capacidade dispunha, território, de subm issão e m obilização de que o reino da França. No esforço de convencer nos Conselhos florentinos, registra suas ideias nas suas relazioni e faz disso um a análise concisa em um escrito de 1503, "Palavras a dizer sobre a Provisão do Dinheiro". dos Conselhos da cidade que, por im aginar-se França, recusavam M aquiavel 1 Neste escrito, criticando a necessidade da form ação sob a proteção a posição do rei da de um a m ilícia própria, escreve: Este texto é fruto de um trabalho de pesquisa desenvolvido com o apoio do Conselho N acional de D esenvolvim ento Científico e Tecnológico (CN Pq), Brasil. soldados", escreve Raim ondi (2018, p. 18). Ou seja, enquanto aquele que Poderia dizer-vos que tal opinião não poderia ser m ais tem erária. Porque todo estado, toda cidade, deve considerar inim igo com anda deve em penhar-se para obter a reverência de quem obedece todos aqueles que podem ter esperanças em poder ocupar o graças à virtú de que se revestem suas ações, aquele que obedece deve saber que é seu, e de quem eles não podem se defender. Não houve reconhecer a virtú de quem com anda e conceder a ele a reverência devida. jam ais nem senhor, nem república sábia que quisesse m anter seu A religião é responsável por produzir um m isto de tem or e respeito estado à discrição de outros, ou que, m antendo-o, lhe parecesse em que a reverência im plica adm iração e autoridade, m as não im posição. tê-lo em segurança. Não nos enganem os sozinhos, exam inem os Significa dizer: a obediência não resulta puram ente do fato de o com ando m elhor a nossa situação e com ecem os a observá-Ia seriam ente. Vós vos vereis desarm ados, vereis vossos súditos sem mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA confiança vir da autoridade da qual se tem e a punição, m as tam bém do respeito ou (sanza fede) e disso, há poucos m eses, já tivestes a experiência. adm iração de quem exerce a autoridade. Trata-se de algo que se produz E é razoável que assim seja, porque os hom ens não podem , e no âm bito do "im aginário", que pode ser à1cançado unicam ente pela nem devem , ser servos fiéis daquele senhor pelo qual eles não palavra e jam ais pela força. Nosso objetivo no presente estudo é exam inar podem ser nem protegidos nem governados (grifos nossos)". ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA o papel desse im aginário na form ação e exercício da disciplina m ilitar Na relação entre governante ência de um m odo geral, intervém , ponsáveis pela condução e governados; não podem , qual não podem referidas na passagem de crer na autoridade algum a coisa de religião o explícito da religião - um a vez que serve para m anter biunívoca, - ela é tam bém m as assim étrica, aqui a natureza religiosa indispensável entre príncipe O texto e na disciplina m ilitar é [os hom ens] caráter de instrumentum das diferentes em vista da consecução M AQUlAVEL, Nicolau. 3 M aquiavel, Nicolau. Os m otivos da ordenança, onde encontrá-Ia G estão Florentina.Tradução Palavras a dizer sobre a Provisão do Dinheiro. e notas de Renato logo no Proêmio da obra. civil" da "vida da instituição e ordenações do bem com um às leis e a Deus. A finalidade e desen- das quais a cidade é e de um a vida no de todas estas providências, insiste é a deJesa da cidade. Significa dizer, sem um a cidade provida nada valeriam as m elhores segura em relação às am eaças externas, de ordenações das quais possa estar constituída. e ln: Política e M AQUlAVEL, Nicolau. citações seguirem os Arnbrosio. São Paulo: FSJ, 2010, p. 52. A arte da guerra. São Paulo: M artins esta tradução introduzindo Fontes, eventuais m odificações 2006. Nas sem pre que considerarm os necessário para a clareza m aior do texto. Referirem os as passagens no corpo do texto indicando a obra pelas iniciais AG, seguido do Livro e da página respectiva da tradução citada. e o que é necessário fazer. ln: Politica e G estão Florentina. São Paulo: FSJ, 2010, p. 57. nu atividades de arm as capazes de m antê-Ia 4 2 aparece que separa a "vida para a finalidade constituída M aquiavel, um a relação e povo, entre com andantes cham a a atenção volvim ento respeito regni as tropas unidas, obedientes para "instaurar m ilitar corrente na Arte da Guerra Num onde encon- deixa ainda m ais explícita para tornâ-los esta relação. por M aquiavel Se fossem consideradas as antigas ordenações, não se encontrariam coisas m ais unidas, m ais conform es e que, necessariam ente, se dão tão bem quanto essas, porque todas as artes ordenadas num a cidade para o bem com um dos hom ens, todas as ordenações nela estabelecidas para que se viva no temor das leis e de Deus, tudo seria vão se não fossem preparadas para as suas defesas (AG, Proêrnio, p. LXXVII-LXXVIII - grifos nossos).' daquela da 'fé' dos povos, escreve que nos exercícios a opinião dos Discursos sobre a primeira escreve: m as igualm ente da ordenança, fazer", M aquiavel m ais obedientes">. Sem dim inuir e m otivadas m ilitar", acim a, "os à qual estão subm etidos". de 1506, "Os m otivos trá-Ia e o que é necessário .. obedece. da relação de com ando-obediên- cia, pois "a questão das arm as é [... ] inseparável preciso "m isturar e quem conferido na disciplina Após contestar [... ], os vereis sem confiança". da disciplina m ilitar e, por conseguinte, quando ao im aginário recíproco transcrita nem governados", Para Landi (2017, p. 146), pode identificar-se esta questão O lugar de destaque e nem devem , ser servos fiéis daquele senhor pelo estando "os súditos desarm ados escrito de Ordinanza década de Tito Lívio para elucidar m elhor e pelas pessoas res- com anda a obra Da Arte da Guerra, m uito por referência, particularm ente, em bora lancem os m ão, em alguns m om entos, (im aginário) no envolvim ento entre quem ser nem protegidos ou da sua vontade tom ando e obedi- da cidade. Esta relação, ainda que assim étrica, Nas palavras de M aquiavel hom ens pois, um fator subjetivo isto é, im plica necessariam ente entre governante entre com ando (fede) suscitada pelas instituições ligado à "confiança" é biunívoca, e governados, ..• l,jl Com efeito, essa prioridade que com plem entares das arm as em relação às ordenações defesas que, bem ordenadas, m antêm cria do m ilitar, de outro m odo as boas ordenações, se desordenam " Esta insistência na necessidade de m anter bem ordenada de algum m odo a dizer sobre a Provisão soldado sem o auxílio com as arm as um a cidade não do Dinheiro", escrevera em particularm ente unitivos. Se a pátria de fedeltà encontra no soldado um a ela isso se deve ao risco de m orte está perm anentem ente exposto. Agora a fedeltà nível a que o se converte emfede: o timore di Dio se torna m ais vivo ("se diligenciava em dobro") em virtude do risco de m orte que a atividade m ilitar im plica; pela fede in Dio. a fede à pátria é alim entada (AG, Proêm io, p. LXXVIII)5. faz eco ao que M aquiavel vínculos m ais profundo tais coisas, ainda que estas não sejam bem ordenadas. E assim , ao contrário, "Palavras - ainda - é destacada logo na sequência quando escreve:" [... ] A insistência de M aquiavel na ideia do temor a Deus com o força na constritiva e unitiva im prescindível para a construção da vida civil orArte da passagem citada acim a na qual trata da situação de Florença. Na mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA que denada para o bem com um e à defesa, evidencia toda im portância Guerra M aquiavel retom a ao tem a da necessidade de realizar um a reform a ele atribui ao elem ento im aginativo (subjetivo ou psicológico, diríam os desta m ilitar antes da política. Aqui nos ocupam os de um com ponente na linguagem de hoje) ligado à fam a, ao prestígio e à confiança nos reform a m ilitar, a questão da fede. indivíduos e instituições", A propósito disso, um pouco adiante da passagem da Arte da Guerra O apelo ao timore di Dio para persuadir as tropas tem na Arte da citada acim a, ainda no Proêmio (p. LXXVIII), M aquiavel acrescenta: Guerra um a passagem paradigm ática: E se em qualquer outra ordenação das cidades e dos reinos tudo se diligenciava para m anter os homens fiéis [uomini fedele], pacificas e cheios de temor a Deus, na m ilícia se diligenciava em dobro, porque em qual hom em deve a pátria buscar m aior fé [fede] do que naquele que precisa prom eter-lhe m orrer por ela? [...]. Em qual deve haver m ais temor a Deus do que naquele que a cada dia, subm etendo-se a infinitos perigos, tem m ais necessidade de sua ajuda? o vínculo do soldado - aqui entendida a m esm a diante "pátria" força com a cidade por M aquiavel que deriva da religião: uomini fedele, di Dio. som ente a fedeltà A pátria, define para assim a dispersão depende m as que possui - alim entada diretam ente que, para o florentino, o timore pois "fidelidade", A disciplina em base à fé é construído da fé no divino de Deus. M aquiavelliga com aquilo com o E com o, para refrear os hom ens arm ados, não basta nem o tem or às leis nem aos hom ens, os antigos acrescentavam a autoridade de Deus (autorítà di Iddio); e assim , com grandes cerim ônias, faziam seus soldados jurar que observariam a disciplina m ilitar para que, se a violassem , não só tivessem de tem er as leis e os hom ens, m as tam bém a Deus; e usavam de toda indústria para enchê-los de religião (AGVI, p. 178 - grifas nossos). pelo a natureza conservar-se, natural de um a força m ais poderosa que o m edo m ilitar. A obediência de Deus" tem a força constritiva hom ens arm ados". m esm a de batalha do castigo derivado im prescindível e unitiva necessária à dis- o "tem or para "refrear os necessita A concepção da religião com o timore di Dio constitui a base do da m ultidão ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA tratam ento conferido por M aquiavel no Livro I dos Discursos. No ca- Em O Príncipe (XII:3) M aquiavel insiste na m esm a ideia quando escreve:"Os principais fundam entos com uns a todos os Estados, tanto os novos com o os velhos e os m istos, são as boas leis e as boas arm as: porque não podem ser boas as leis onde não são boas as arm as, e onde são boas as arm as convém que sejam boas as leis". M aquiavel parece apontar para a precedência das arm as em relação às leis na constituição dos estados. Com efeito, defende que só podem ser boas as leis se forem boas as arm as. "Boas arm as", obviam ente, podem ser as arm as próprias, aquelas constituídas por hom ens do próprio território. Assim , ainda que a cidade esteja provida de ordenações que assegurem a liberdade, elas estarão expostas ao perigo se esta m esm a cidade não se prover de forças m ilitares form adas por seus próprios cidadãos. 132 total à luta no cam po ciplina m ilitar carece do apelo à autorità di Iddio. Unicam ente à pítulo .. e a entrega da lei civil ou da autoridade temor dos soldados m ilitar 6 - XI M aquiavel defende que a religião rom ana foi um a criação O timore di Dia com o experiência (percepção) do sagrado, que renova na m em ória do grupo o m edo originário sobre o qual se funda o fenôm eno religioso, tem em Discursos 1,11:3 um a descrição enfática no m odo com o Num a se utilizou da religião:" este, encontrando um povo indôm ito e desejando conduzi-Io à obediência civil com as artes da paz, voltou-se para a religião com o coisa de todo necessária para se m anter um a cidade; e a constituiu de tal m odo que por vários séculos nunca houve tanto timore di Dio quanto naquela república, o que facilitou qualquer em preendim ento a que o senado ou aqueles grandes hom ens rom anos quisessem entregar-se" (grifos nossos). ••••... da inteligência governados', política Com de Num a em vista produção de obediência dos dos governados. efeito, lem os que Num a, som ente Não se consegue produzir obediência apelando ao uso, ou à am eaça de uso, da força. A obediência tão precisa ser consentida. Com o a religião é capaz de produzir obediência consentida? encontrando um povo ferocíssim o e querendo reduzi-Ia à O texto citado acim a da Arte da Guerra faz m enção a um dos m ecanisobediência civil com as artes da paz, recorreu à religião com o da análise deste e dos m os: o juramento. M ais adiante nos ocuparem os (civilità) algo absolutam ente necessário para m anter um a cidade mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA dem ais recursos. e a constituiu de m odo que, por m uitos séculos, não havia tanto temor a Deus com o naquela república, o que facilitou qualquer A religião constituída por Num a tem um claro sentido instrumental, em preendim ento que o senado ou os grandes hom ens de Rom a pois, com o escreve M aquiavel, ela serviu "para com andar os exércitos e planejassem levar a cabo (Discorsi 1,11:3 - grifos nossos)", anim ar a plebe, para m anter os hom ens bons, e para fazer envergonhar Num a, afirm a M aquiavel, "constituiu" im prescindível "natural"; cum pre a fim de com pletar ela tem fundadores. os m aus" (Discursos I, 11 :8). Fica visível na descrição a religião com o m ecanism o a obra de Rôm ulo. A religião não é Ela é, portanto, em cada povo um a finalidade adequada um produto histórico e àquele povo". Tanto no texto dos Discursos quanto da Arte da Guerra, a religião tem um a finalidade subsidiária à política". O governo de um a cidade requer passividade do povo na m edida em que este consente lação de suas crenças por parte 8 9 ~ 10 de quem com a m anipu- o com anda. esse aspecto, é preciso observar que a m anipulação com anda de quem se torna certa possível Ainda tam bém unicam ente na m edida em que aquilo que se exige do povo respeita suas paixões e a obediência ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA interesses. Ainda que os interesses sejam aqueles de quem m anipula, o Segundo Nam er (1982. p. 26), governantes e governados conhecem a verdade da religião de m odo diferente:"o príncipe conhece a verdade da religião de m aneira racional,ao passo que o povo, quando m uito, conhece-lhe a falsidadequando a intenção de em buste do m ediador lhe é descoberta". Raim ondi (2018,p.25, nota 64) não está de acordo com esta avaliação.S egundo o com entador,"que os governantes ajam racionalm ente e o povo passionalm ente im plica um a diferença que pode até originar um julgam ento de valor sobre a superioridade de uns ou de outros; m as o que quero acentuar é que, ainda que com instrum entos diferentes,am bos agem uns sobre os outros: e não sem pre vencem os m ais racionais, os m ais prudentes ou os m ais astutos.Se estes podem m anipular as paixões do povo,aquelespodem elim inar com as próprias paixões os cálculos deles". esses interesses (obedece) unicam ente na m edida dos grandes com patíveis com os seus. M aquiavel claro isso quando escreve: em Rom a, falar com o os poderosos descoberta perturbar quando em que considera os oráculos" deixa com eçaram se tornaram incrédulos e dispostos em favor da ideia da com patibilidade interesses entre quem e quem extraída presente da Arte a obediência a ordem boa" (Discursos I, 12:6).A passividade de quem qualquer obedece precisa ser relativizada civis "os antigos a (a parlare a modo de' potenti), e essa falsidade foi pelo povo, os hom ens Tendo Citarem os os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio (2000),com edição crítica de Giorgio Inglese,indicando nas passagenscitadas o livro,o capítulo e a linha, nesta ordem . com anda isso, podem os de obedece. retornar à passagem citada acim a da Guerra. Tam bém ali M aquiavel afirm a que às leis a autoridade de Deus" a fim de alcançar acrescentavam das tropas. O apelo à "autoridade de Deus" tinha em vista inculcar o temor diante do castigo divino. O soldado está exposto perm a- Se a religiãorom ana antigafoi"criada"por Num a em conform idadecom os costum es e tradições da época,pode-se dizer o m esm o do cristianism o?Para Raim ondi (2018, p.28) sim :"Tam bém o cristianism o é um a religião forjada ad hoc por dom inantes e dom inados. E tam bém ele naturalizou alguns traços do próprio tem po: 1) a subm issão ao im pério rom ano; 2) a dificuldade,causada pela im possibilidade,d e m udar a situação;3) a conveniência de deslocar o próprio desejo para bens ultraterrenos. Se o paganism o parecia ser um a religião unicam ente aristocrática [...J, o cristianism o parece ser um a religião popular, para um 'povo' de servos [...]". nentem ente ao risco de m orte. Nesta condição, M aquiavel, nem o m edo da punição a violência não o intim ida, legal, nem a possibilidade fisica dos capitães. Unicam ente divino, será capaz de produzir a obediência, um im aginário, escreve de sofrer o medo do im prescindível para m anter em um m eio de persuasão a disciplina m ilitar das tropas. Vem os, pois, que a religião (1998. p. 169) nota neste ponto um a relação circular entre o político o religioso: "[ ...] a relação entre religião e política se reveja [...] com plexa e, por assim dizer, circular: a política tem necessidade da religião, m as esta religião da qual a política tem necessidade é, por sua vez, um produto da própria prudência política". Cutinelli-Rêndina 134 e paixões que não se possa desconsiderar povo se subm ete 7 m aquiaveliana privilegiado se constitui do qual os com andantes mini armati. Contassem palavra ou da subm issão eles tão som ente valer-se para frenari gli uo- com os m eios da persuasão pela pela força física, seriam incapazes disciplina das tropas. O sentim ento • podem de m anter de m edo do divino alim entado a pela fé religiosa constitui-se num fenôm eno irracional, m ais poderoso o espírito do povo do que a própria razão, fenôm eno torna-se a garantia m ais segura para m anter a unidade Em um a guerra os capitães estão defrontados diferente que a dos governantes a poucos é m uito fácil, porque porém , quanto ao núm ero ou dissuadir se as palavras não bastarem , sem pre será com situações nas [isto é, das tropas] um a opinião (sinistra oppinione)" (AG, IV, p. 135). Neste caso, alerta M aquiavel, errada mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA "se podem palavras, as quais é preciso que sejam ouvidas usar unicam ente por todos" (AG, IV, p. 135 - grifos nossos). Por isso, os capitães precisam com as palavras certas "as paixões hum anas ser hábeis oradores, porque se extinguem ou se ascendem " A fé e o sentim ento com o serem produzidos ção de um im aginário, Um a sinistra oppinione Em um a batalha m odo (AG, IV, p. 136). religioso unicam ente por igualm ente pode religioso m eio pode que têm da palavra. A rem oda palavra. em preendim ento isto é algo, sobretudo, que o im aginário im aginários só é possível por m eio levar um arriscado. ao fracasso. tão som ente notam os no sentido depende da capacidade Notam os,pois, de Deus". Contudo, que a eficácia da religião nasce do fato de ser "temor até aqui, a eficácia, no que diz respeito forças arm adas, pode ser resum ida, Prim eiro, nos soldados. Ainda produz esquem aticam ente, a três elem entos clarecida, outras questões da eficácia do im aginário possa ser dada com o os efeitos das religiões surjam refere três m odalidades religião a obediência a unidade, e se instalem ? sobre as tropas, por que e como as religiões os produzem ? Na Arte da Guerra M aquiavel antiga produzia es- restam por esclarecer. Quais são as condições, razões e paixões, que fazem com que as religiões Considerando 11 religioso, suficientem ente pelas quais a e a coragem religiosa, expressa no juram ento, e im ediato são produtos é verdade num a ação m o- e coletivos. da qual se produz religioso m ilitares não têm um a origem espontâneo ser o da religião. Na passagem extrem as, a religião, m ais do que as leis individuais dentro um a pública, neste m ilitar. Isso é particularm ente que os efeitos do im aginário nada". Com o um a ligação que m antém que a questão sobre as tropas em cam panha e os do espírito o juram ento torna que vão em auxílio autônom a, das não são um m o- das tropas. Pelo contrário, de um a vontade política bem determ i- m ostra o texto citado, a obediência obtida pelo juram ento às unidas as tropas; segundo, na m edida em que a religião aparece com o fede, o tem or gera obediência sem a qual qualquer com ando fracassa; terceiro, instila coragem principais. que a dim ensão a dinâm ica estas m anifestações Pelo que vim os do uso político para a obediência tivadora de com portam entos evidente de e a obrigação m ilitar. Essa é a razão de o juram ento de que, nas situações vim ento inadequadas a sim ulação faz com que se estabeleça de Deus civis ou a am eaça dos capitães, é capaz de constituir-se um a m ultidão de "opiniões" por excelência determ inante necessidades do capitão. subjetivo caso do em preendim ento instrum ento Assim , do m esm o ser despertado que o uso do juram ento entre o m edo pela palavra, e não pela força ou pela am eaça do uso da força, dem over persuasão •. Nota-se conexão referida, são elem entos do divino: o juram ento, pelos juram entos: Para m anter a disposição dos soldados antigos, tinham grande valor a religião e o juramento a que eram subm etidos quando entravam para as fileiras, porque em todos os seus erros eram am eaçados não só com aquilo que poderiam tem er da parte dos hom ens, com o tam bém com aquilo que poderiam esperar de Deus. Tal coisa, m isturada com outros costum es religiosos, m uitas vezes tornou fácil aos capitães antigos qualquer em preendim ento, e o faria sem pre, onde se tem esse e observasse a religião (AG, IV, p. 136 - grifos nossos). ou da força" (AG, IV, p. 135). Em um a guerra, de um a m ultidão do m edo Com ecem os das tropas. "persuadir os capitães m uitas vezes estão confrontados quais precisam "rem over augúrios". nas situações ordinárias da vida da cidade, Ora, escreve M aquiavel, possível usar da autoridade graças à instilação com um a situação bem nas quais estes têm diante de si casos bem delim itados de pessoas envolvidas. sobre este cuja utilização das tropas 12 Nos Discursos M aquiavel trata igualm ente delas, A simulação é m ostrada pelo m odo de proceder de Num a, que "sim ulou ter fam iliaridade com um a Ninfa, de quem recebia conselhos para serem transm itidos ao povo" (Discursos I, 11:10), Os juramentos são ilustrados por vários exem plos, dentre os quais o m odo com o "Cipião [".] obrigou os cidadãos ajurar que não abandonariam a pátria" (Discursos I, 11:5). Os augúrios e oráculos são ilustrados por um a sequência de exem plos em Discursos I, 13 e a im portância deles destacada na abertura do capítulo seguinte: "Os augúrios não som ente eram o fundam ento, em boa parte, da antiga religião dos gentios, com o tam bém eram a causa do bem -estar da república rom ana" (Discursos I, 14:2), Segundo Paul Larivaille (1982. p, 127), e é um a posição da qual não com partilham os, isso confirm aria "a am biguidade essencial do papel reservado ao povo nas teorias políticas m aquiavelianas. M aquiavel teve a intuição da necessidade de um a participação ativa do povo na vida social e política [.. ,]. No entanto, está longe de haver extraído dessas prem issas todas as im plicações que poderiam decorrer logicam ente dele. Seu a que os soldados "eram subm etidos não resulta de um ato espontâneo, tropas, m as, m uito quando entravam para as fileiras" de um a autoconsciência coletiva das antes, é o efeito de um a coerção, um a vez que" em à religião. Igualm ente, coisas que dizem respeito base da exigência de simular um a atitude e protegendo e, na situação concreta, exatam ente tam bém é isso o que está na oposta, cultivando suscitando tudo quanto seja capaz de favorecer o sentim ento religioso das tropas. todos os seus erros [os soldados] eram mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ameaçados não só com aquilo que A eficácia no uso da simulação depende, de um lado, da capacidade poderiam tem er por parte dos hom ens, com o tam bém com aquilo que dos capitães de se m ostrarem convincentes utilizando as palavras certas a esperar de Deus" (grifos nossos). ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA cada ocasião e, de outro, da convergência entre os sentim entos evocados É preciso ressaltar, porém , que a am eaça da punição divina à qual as pelos capitães com os sentim entos dos soldados. Se as tropas perceberem tropas são subm etidas pelo juram ento é capaz de produzir com o seu efeito que o capitão realm ente simula algo em que não acredita ser verdadeiro, a obediência, a unidade e a coragem dos soldados, som ente na m edida em ou se, m esm o alcançando fazer crer aos soldados da "veracidade" de suas que conta com o consentim ento deles. O juram ento religioso m obiliza o palavras, m as se aquilo que afirm a não encontra correspondência no im aim aginário das tropas e se conecta com ele. A am eaça do castigo divino ginário religioso das tropas, a simulação igualm ente não produzirá efeito. na hipótese de ruptura do juram ento só se torna eficaz, com o dissem os O terceiro expediente de uso do im aginário religioso pelos antigos na abertura deste trabalho, por causa da fede. para influenciar as tropas são os augúrios: Um segundo m odo pelo qual os antigos se serviam do sentim ento poderiam Os antigos capitães tinham um incôm odo do qual os atuais estão praticam ente livres, que era o de interpretar a seu favor os m aus augúrios: pois, se caía um raio sobre um exército, se escurecia o solou a lua, se ocorria um terrem oto, se o capitão caía ao m ontar ou apear do cavalo, era interpretado pelos soldados com o m au agouro, e gerava neles tanto m edo que, chegando a batalha, facilm ente a teriam perdido. Por isso, os antigos capitães, assim que sem elhante acontecim ento ocorria, ou m ostravam a causa dele e o reduziam à causa natural, ou o interpretavam a seu favor. César, caindo ao desem barcar do navio na África, disse: "África, eu m e apossei de ti" (AG,VI, p. 188-189). religioso é a simulação (finzione). Na Arte da Guerra M aquiavel faz m enção a ela por m eio da referência a alguns exem plos: Sertório se valeu dela [sim ulação], m ostrando falar com um a serva, a qual lhe prom etia, da parte de Deus, a vitória. Silas dizia falar com um a estátua que ele havia tirado do tem plo de Apolo. M uitos disseram lhes ter aparecido Deus em sonho, que os exortara a com bater. Nos tem pos de nossos pais, o rei da França, Carlos VII, na guerra que fez contra os ingleses, dizia aconselhar-se com um a donzela enviada por Deus, que em toda a parte foi cham ada a donzela da França; o que foi a causa de sua vitória (AG, IV, p. 136-137)13. Os augúrios correspondem Interpretar de em buste estes exem plos um m ero problem a levaria a não com preender efeito, para M aquiavel ou não algum conteúdo sentim entos com o a questão a real natureza que lhe im porta de verdade em um a direção politicam ente não é a de saber se há suscita no espírito útil e construtiva. dissim ularem da questão. Com na religião, e sim , o de canalizar os e as energias que a religião sidade de esses hom ens de fraude ou o próprio dos hom ens Isso justifica juízo eram os sinais interpretados àquilo que nos textos do Velho Testam ento pelos profetas com o m anifestação Para M aquiavel, porém , não se trata da questão da com unicação tade divina aos hom ens, não se trata de um a "revelação". de Deus. da von- A possibilidade de um a revelação divina é um a questão da qual M aquiavel não se ocupa explicitam ente". com anda, Trata-se sem pre, desde a ótica de quem de a neces- no confronto das povo não se torna jam ais um a força autônom a capaz de um a ação autônom a, m as perm anece sem pre m ais ou m enos, tanto nos Discursos com o no Príncipe, um a m assa de m anobra para os governantes, um a força, conform e as situações, para reprim ir ou para m anipular". 13 Os exem plos de Sertório, Silas e Carlos VII são sim étricos aos de Num a, Licurgo e Savonarola m encionados por M aquiavel em Discursos I, 11. 14 O capítulo LVI do livro I dos Discursos enuncia no seu título: "Antes que ocorram os grandes acontecim entos, num a cidade ou num a província, surgem sinais que os prognosticam ou hom ens que os predizem ". No decurso do capítulo lista um a série de exem plos antigos e contem porâneos para corroborar a afirm ação expressa no título, m uito em bora faça questão de ressaltar,logo nas prim eiras linhas do capítulo, que "ignora porque razão" esses fenôm enos se produzem . No final do capítulo, se justifica dizendo que "a razão dessas coisas,creio, dever ser com entada e interpretada por alguém que tenha conhecim ento das coisas naturais e sobrenaturais, o que eu não tenho" (Discursos 1,56:8). Em todo caso, ainda que adm ita sua incapacidade de de mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA sinais nos quais, nos exem plos m encionados na um a interpretação passagem citada, o im aginário divina. Com o esses sinais nunca m anifestam o seu significado, que invocam com blasfêm ias? Dos que veneram ou daqueles contra os quais blasfem am ? Na verdade, se veneram algum , o ignoro, m as por certo blasfem am contra todos. Com o poderei acreditar que cum prirão o que prom eteram a aqueles que a todo m om ento desprezam ? Como pode quem despreza Deus respeitar os homens? (AG,VII, p. 221-222 - grifas nossos). religioso dos soldados vê um a m anifestação e sim unicam ente de m aneira clara e evidente por m eio de um a linguagem cifra- da, cabe aos capitães das tropas fazer sua tradução. Estes fazem os sinais significarem , em geral, o oposto os "m aus augúrios" que esta estratégia do que parecem : produza pessoal ou de grupos gera o descrédito perda da fé na m ensagem possibilidade insiste de um bom religioso do im aginário exército. Ele não vê desem penhar sua função M aquiavel essenciais do uso das arm as e habituâ-lo esm era-se em cada tipo de arm a. Já no sentido da form ação honestidade escândalo m otivo e um princípio de corrupção" ..yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ou m ercenária o conjunto de treinados ao com bate dos costum es, e que nele haja se escolhe um instrum ento de (AG, I, p.31), adverte. Por esse evitado o recrutam ento de serem os m elhores, (AG, I, p. 23). Com o, questiona todo aos quais os soldados de- m oral do soldado é preciso com eçar desde do contrário deve ser decididam ente pois estes "longe em descrever de arm am entos, cuidar, sobretudo, e vergonha, que a cada dia, subm etendo-se de sua ajuda?" (AG, Proêmio, p.LXXVII-LXXVIII). de estrangeiros, são os piores de um a província" ele, fazer com que um a tropa estrangeira m as tam bém a Deus" A religião, além de im prescindível com coragem refa de fornecer coexistir interpretar o porquê desses fenôm enos, aparentem ente de origem divina, confessa: sem pre sobrevêm "seja com o for, esta é a verdade; e depois de tais acontecim entos coisas extraordinárias e novas nas províncias" 40 (Discursos 1,56:10). unido de orientação o exército no m undo, tentando dificuldades fazer m uito m aiores para isso do que o antigo. Em certo sentido, a ferocia dos rom anos foi substituída pela sopportazione dos cristãos. Nos term os refletidos por M aquiavel Discursos, enquanto o paganism o de glória m undana, com o capitães de exércitos e príncipes [o cristianism o] glorificou "beatificava tornou o m odo o m undo os quais podem dos hom ens, unicam ente m ais os hom ens hum ildes que os ativos" (Discursos II,2:30-31). M aquiavel, e com a pesada ta- necessárias para a vida m ilitar e a vida civil. O cris- tianism o parece encontrar paganism o para m anter a guerra, deve arcar tam bém um horizonte as virtudes (AG, VI, p. 178). de vida estim ulado fraco, convertendo-o m anejá-lo hom ens das repúblicas, pelo cristianism o vendo do disso? Segundo "parece em presa de hom ens com plena segurança, nos cheios e contem plativos Qual foi o resultado que celerados, que o com um para ir ao paraíso, pensa m ais em suportar as desgraças do delas" (Discursos II,2:34 - grifos nossos). Um a vez elevada à religião oficial do im pério se nasceram e cresceram sem vergonha? [...] Por qual Deus, ou por quais santos, devo fazê-Ias jurar? Pelos que adoram ou pelos Por isso, m ilitar, para que, se a violassem , não só tivessem de tem er as que em vingar-se se envergonhe a infinitos perigos, tem m ais afirm a M aquiavel, os antigos "faziam seus soldados jurar que observariam enfrentar a agir m ilitares. Afinal, com o já "em quem deve haver m ais temor a Deus do necessidade leis e os hom ens, ensinar os bons costum es sobre que naquele um a adequada à form ação pela entre os defeitos e boa m ilícia" aqueles que são "sem as boas leis e as virtudes anteriorm ente, nela, será possível desenvolver de ação quanto a um a verdadeira os quais se fundam a disciplina para estarem adequadam ente recrutam ento:"Deve-se em m oral do soldado é com pletada (AG, I, p. 23). É a religião que engendra religião" de um a m ilícia exercícios, físicos e de m anejo veriam ser subm etidos pois, que a form ação de form ação m oral do soldado. No prim eiro sentido - da disciplina m ilitar - é fundam ental em form ação. Nota-se, religião. No Livro I da Arte da Guerra M aquiavellista "m ais contrários ou nos augúrios. Essa na im portância disciplina m ilitar, tanto em relação ao m odo ao soldado os elem entos que com entam os Por isso a necessidade cidadã. Nela, e som ente que, para a m enor suspeita de vantagem no oráculo para a form ação de o sentim ento tropas m ercenárias. interpretar produz a desordem , que na guerra leva as tropas à derrota. inevitavelm ente Com o vem os, M aquiavel do soldado m ostra nas tropas um efeito positivo, é preciso não pairem dúvidas sobre os beneficiários: religioso costum am com o bons presságios. M aquiavel rom ano, o cristianism o se afirm ou com o religião ligada à subm issão, causada pelo desaparecim ento do m odo de vida republicano. Por isso, passou a valorizar "suportar as desgraças em vez de vingar-se com o virtude delas" deslocando o prêm io pelas ações m undanas do m undo terreno para o m undo celeste pos mortem. Enquanto pretendia o paganism o rom ano governar a ferocidade com a paz a fim de canalizá-Ia para a guerra, o cristianism o da subm issão dos povos ao im pério rom ano criando governo para um a nova elite, o clero. Obviam ente, um retorno ao paganism o, m as um a religião pagãos e cristãos com outros de natureza caracteres políticos de "m odo de vida republicano. queria ser o fiador novas funções de M aquiavel não defendia que com binasse elem entos não religiosa, m as escritos em em vez de m etafisicos.deslocando o prraças em vez Por isso, passou a valorizar a O cristianism o, com preendido presente tanto no governo seu êxito, de coesão Trata-se, portanto, quem com anda A relação com ando-obediência, da cidade quanto na força m ilitar, requer, para a qual provém da confiança de um a relação biunívoca, e quem recíproca das partes. ainda que assim étrica, entre obedece. Na Arte da Guerra M aquiavel m ostra que a religião é responsável por produzir com o um a pedagogia que produziu um a afê oujidelidade. ligada ao im aginário: um m isto de tem or unicam ente e respeito em que a obediência não resulta do fato de o com ando vir da autoridade da qual se tem e a puni- nova visão de m undo, operou tam bém um a transform ação no m odo com o ção, m as tam bém do respeito ou adm iração daquele que exerce a autoridade. a que estas levavam . ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA É a esse O vínculo do soldado com a cidade é construido em base à fé alim entada Arte da Guerra: aspecto que M aquiavel cham a a atenção nesta passagem da mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA pelo temor diante do divino. A fé e o sentim ento religioso são elem entos eram conduzidas as guerras e as consequências o m odo de vida de hoje, no que diz respeito à religião cristã, não im põe a necessidade de defender-se que existia antes; porque então os hom ens, vencidos na guerra, ou eram m ortos ou perm aneciam perpetuam ente escravos, levando m ísera vida [...].Abalados por esse tem or, os hom ens m antinham vivos os exercícios m ilitares e honravam quem neles era excelente. M as hoje esse m edo se perdeu na m aior parte; poucos vencidos são m ortos; nenhum fica longo tem po na prisão [...]. As cidades, ainda que m il vezes rebeladas, não são destruídas; os hom ens ficam com seus bens, de m odo que o m aior m al que se tem e é [pagar] um tributo; deste m odo, os hom ens não querem subm eter-se às ordenações m ilitares e afadigar-se em seus esforços para escapar a perigos que pouco tem em (AG, II, p.80-8i). Com a universalização do cristianism o, a guerra tom a novos signi- ficados. Ela deixa de ser a obra do povo, com o tornar-se um oficio dos nobres avaliação conclusiva de Raim ondi entre os rom anos, ou, então, de m ilícias m ercenárias. para Na (2018, p. 30), o dualism o entre trono e altar é a causa que leva ao abuso das tropas m ercenárias [...]. Este dualism o im plica na existência de um aparato m ilitar profissional [...] e um aparato espiritual responsável pela pacificação da sociedade [... ]. A proposta m aquiaveliana de um exército popular governado pelas leis era um a m aneira de elim inar as tropas m ercenárias, obter um a política fiscal m ais justa e elim inar o dualism o entre trono e altar. im aginários finais Desse m odo, a religião se constitui unicam ente por m eio da palavra. que diz respeito elem entos em um m eio de persuasão às arm as, pode ser resum ida, principais. Prim eiro, esquem aticam ente, um a ligação que m antém produz as tropas; segundo, gera obediência sem a qual qualquer terceiro, instila coragem nos soldados. M aquiavel religião é capaz de produzir constituídas de hom ens possível desenvolver ao m odo do próprio território. um a adequada de ação quanto disciplina à form ação e enfrentar as virtudes parece com coragem um horizonte necessárias encontrar com ando unidas fracassa; em forças m ilitares N ela, e som ente m ilitar, tanto nela, seria em relação m oral do soldado. para m anter unido a guerra, deve arcar tam bém de orientação a três insiste, porém , em que a estes efeitos unicam ente A religião, além de im prescindível fornecer eficaz do se valem para MLKJIHGFEDCBA [re n a ri gli uomini arma ti. A eficácia, no qual os com andantes o exército com a tarefa de no m undo, tentando fazer coexistir para a vida m ilitar e a vida civil. O cristianism o dificuldades m uito m aiores para isso do que o paga- nism o antigo. Em certo sentido, a ferocia dos rom anos foi substituída pela sopportazione dos cristãos. Um a vez elevada à religião oficial do im pério rom ano, o cristianism o se afirm ou sada pelo desaparecim ento m undo o prêm io com o religião ligada à subm issão cau- do m odo de vida republicano. a valorizar com o virtude "suportar Por isso, passou as desgraças em vez de vingar-se delas" pelas ações m undanas do m undo terreno para o celeste pos mortem. O cristianism o, Em sua obra dedicada expressam ente à arte da guerra, M aquiavel explicita um a dim ensão essencial para a form ação da disciplina m ilitar ser produzidos Segundo M aquiavel, às leis civis" os antigos acrescentavam a autoridade de Deus" a fim de alcançar a obediência, a unidade e a coragem das tropas. deslocando Considerações que podem com preendido com o um a pedagogia um a nova visão de m undo, operou tam bém com o eram conduzidas que produziu um a transform ação as guerras e as consequências no m odo a que estas levavam . Com a universalização do cristianism o, a guerra tom a novos significados. Ela deixa de ser a obra do povo, com o entre os rom anos, para tornar-se um oficio dos nobres ou, então, de m ilícias m ercenárias. ponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Referências Bibliográficas CUTINELLI-RENDINA, Em anuele. mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Chiesa e religione in M achiavelli. Pisa-Rom a: Istituti Editoriali e Poligrafici Internazionali, 1998. LANDI, Sandro. Lo sguardo di M achiavellí. Um a nuova storia intellettuale. Bologna: Il M ulino, 2017. LARIVAILLE, P La pensée politique de M achiavel. Nancy: Presses Universitaires de Nancy, 1982. M ACHIAVELLI, Niccolô. Dell'arte dellaguerrra.A cura di Rinaldo Rinaldi.Volum e prim o, tom o secondo. Torino: Unione Tipográfico- Editrice Torinese, 1999, p.1215-1482. M ACHIAVELLI, Niccoló, Discorsi sopra Ia prima Deca di Tito Livio. Introdução de Gennaro Sasso. Preâm bulo e notas Giorgio Inglese. M ilano: Rizzoli Editore, 2000. M AQUIAVEL, Nicolau. A arte da guerra. São Paulo: M artins Fontes, 2006. 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