PIBID de História/UFSM
Algumas Reflexões
PorRoselene Moreira Gomes Pommer¹, Julio Ricardo Quevedo dos Santos², AndreLuis Ramos Soares³
Resumo
Abstract
O Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência, subprojeto História, na
Universidade Federal de Santa Maria foi instituído em 2009, ampliado em 2011 e reorganizado
em 2014. Objetivando o estímulo e a promoção
da formação de professores em História para a
Educação Básica e tendo como aporte metodológico a Interdisciplinaridade, esse subprojeto já
ofereceu oportunidades de vivências e experiências no ensino da História há mais de setenta
acadêmicos. Esse trabalho pretende relatar a
importância assumida pelo PIBID na valorização da docência entre os acadêmicos do Curso
de História – Licenciatura e Bacharelado da
UFSM.
The Institutional Program Initiation
Grant to Teaching, subproject history at the
Federal University of Santa Maria was established in 2009, expanded in 2011 and reorganized in 2014. Aiming at stimulating and
promoting the training of teachers in History for
Basic Education and having as methodological
approach the Interdisciplinary, this subproject
has offered opportunities for experiences and
learning in teaching of history for more than
seventy scholars. This paper aims to describe
the importance assumed by PIBID in valuing
teaching among scholars of History Course Degree and Bachelor of UFSM.
Palavras-chave:Ensino de História, Interdisciplinaridade, Realidade
Escolar, Formação Docente.
Keywords:History of Education, Interdisciplinary, Reality School,
Teacher Training.
1
Professora de História CTISM/UFSM
Professor do Departamento de História da UFSM
3
Professor do Departamento de História da UFSM
2
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|352
Introdução
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (PIBID) foi implantado pelo Ministério da Educação em 12 dezembro de 2007, através da Portaria de nº
38, para ser operacionalizado pela Secretaria de Educação
Superior (SESu), pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pelo
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE). Em 2009, foi proposto e aprovado junto a essa
instância, o subprojeto “História e Educação: meandros do
ensino formal”, a primeira proposta integrante doPIBID
para o Curso de História – Licenciatura e Bacharelado, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Desde então, foram executados mais doissubprojetos do tipo, os
quais já proporcionaram vivências docentes acerca de setenta acadêmicos do curso, além de reaproximar dez professores da rede pública estadual de ensino, do cotidiano
da Universidade.
Atualmente, o PIBID História conta com 22 Bolsistas de Iniciação à Docência (Bolsista ID), 03 Bolsistas Supervisores de Escolas, 02 Coordenadores de Área, atuando
em duas escolas públicas estaduais localizadas em áreas
periféricas diferentes de Santa Maria: a Escola Básica Estadual Dr. Paulo Devanier Lauda, situada na Cohab Tancredo Neves – zona oeste de Santa Maria – e o Colégio Estadual Profª Edna May Cardoso, na Cohab Fernando Ferrari, localizada na área leste de Santa Maria, onde estão sendo desenvolvidas atividades com estudantes do Ensino
Médio e das séries finais do Ensino Fundamental.Juntamente com outros 13 subprojetos de cursos de licenciatura, integra o Projeto Institucional PIBID UFSM,
cujomote tem sido o aporteteórico, técnico e metodológicopara a promoção de ações interdisciplinares.
Para tanto, o PIBID História tem buscado, através
das intervenções em sala de aula, das oficinas desenvolvidas nos contra turnos, das produções de materiais didáticos
como maquetes e jogos pedagógicos, permeados pelo planejamento e pelas discussões e avaliações coletivas, aproximar os bolsistas da dinâmica complexa que a realidade
escolar apresenta, possibilitando-lhes estratégias de superaçãodos desafios apresentados por essa realidade. Dessa
forma, osubprojeto perpassa os interesses da UFSM em interligar seus três eixos formadores: ensino, pesquisa e extensão e ainda, atende osobjetivosapresentados no Plano
Pedagógico do Curso de História, qual seja, proporcionar
aos seus acadêmicos, maiores oportunidades para o desen-
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|353
volvimento de experiências e vivências em espaços escolares.
A partir do exposto, esse trabalho pretenderefletirsobre a importância do PIBID para a valorização das atividades docentespor parte dos acadêmicos do Curso de História – Licenciatura e Bacharelado da UFSM.Para tanto,
tomaremos como estudo de caso as ações pedagógicas desenvolvidas pelo subprojeto iniciado em 2014, tendo em
vista a institucionalização do Programa na UFSM, a partir
daquele ano.
Considerações sobre o Subprojeto PIBID História
2014
A proposta do PIBID História ao pretender estimular e promover a formação de educadores para a Educação
Básica tomoucomo aporte metodológico a Interdisciplinaridade, contemplandoos diferentes níveis de atuaçãopara
apromoção de uma educação pública inovadora e de qualidade. Para que esse objetivo e essa proposta metodológica
sejam efetivados, oferecendo diversas alternativas para os
vários níveis de ensino (fundamental ou médio, levando
em consideração legislação e embasamento), o subprojeto
PIBID/Licenciatura em História busca se apresentar como
um complemento amplo à formação didática e pedagógica
dos licenciados, já que em suas atividades, tem procurado
interagir com os vários atores do espaço escolar – alunos,
professores, equipe diretiva, pais e bolsistas.
Na percepção dos Bolsistas Supervisores,
O que se percebe e diferencia o Projeto PIBID é a
preocupação de que a vivência de situações de docência
mais precoces instrumentalize o acadêmico para a experiência e o gosto de ser professor, que mostre o quão árdua
é essa atividade, mas que pode ser também prazerosa por
tratar do ser humano em formação (CAVALHEIRO e
PEREIRA: 2013, p. 231).
Para tanto,foi imprescindível remetermos os bolsistas às orientações contidas na legislação, desde aquelas
constantes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
níveis de ensino médio e fundamental, como as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN/96. Essas
agem como norteadoras de propostas educativas, principalmente a partir de abordagens sobre temas transversais e
leis que regulamentam o ensino da história e das culturas
indígena, afro-brasileira e africana nas escolas.
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|354
Por isso, é necessário que durante o primeiro semestre de atividades do subprojeto, ocorra a preparação do
grupo. Essa preparação envolve estudos, leituras e discussões sobre questões didáticas e pedagógicas relativas ao
conhecimento histórico, com vistas ao amadurecimento
das concepções de ensino e de aprendizagem e de sua importância nos espaços escolares. O fundamento da aliança
entre teoria e prática no ensino da história,reside na possibilidade de aproximação entre pesquisa, ensino e função
docente, pois, as relações entre “o saber acadêmico e o saber popular necessitam dialogar para que possam contribuir com a formação inicial dos futuros professores” (RAMOS e SARTURI: 2013, p.99).
Assim, de março a junho de 2014 os bolsistas fundamentaram suas concepções teóricas através de discussões em seminários, tendo por base as leituras dos textos
de Fernando Nicolazzi, Helena Mollo e Valdei Lopes de
Araújo em Aprender Com a História? o Passado e o Futuro de uma questão (2012); Selva Guimarães Fonseca e
Marcos Silva em Como ensinar História no século XXI:
em busca do tempo entendido(2007); Dermeval Saviani e
Newton Duarte em Pedagogia histórico-crítica e luta de
classes na educação escolar (2012) e Ana Lúcia Faria em
Ideologia no Livro Didático (1984).
A importância desse momento inicial reside, também, na possibilidade de o grupo iniciar o processo de integração e interação, oqual resulta na organização de subgrupos para o planejamento e aplicação das atividades.
Nesse aspecto, o planejamento das atividades pedagógicas
se apresenta como elemento fundamental para a compreensão acerca da necessidade de organização que a função docente exige.
Por fim, ainda como parte da preparação dos bolsistas para a proposição e aplicação das atividades, é promovida a cartografia dos espaços escolares. Essa é composta
pelo reconhecimento espacial e estrutural das escolas e suas comunidades epelo levantamento de dados e informações a partir de pesquisas e entrevistas sobre as demandas
e necessidades das mesmas. Seus objetivos são: possibilitar aos bolsistas elementos para a produção de conhecimentos acerca das realidades que envolvem as comunidades nas quais as escolas de atuação estão inseridas, permitindo-lhes embasamentos para a proposição e planejamento de atividades, além da compreensão acerca das relações
entre as diversidades culturais e os processos históricos
que envolvem os diferentes grupos sociais.
A cartografia das escolas atendidas pelo PIBID História, realizada em 2014, possibilitou o contato inicial com
as comunidades, apresentação dos Coordenadores de Área
e Bolsistas IDs às equipes gestoras, bem como a organização e planejamento das primeiras atividades e serem deRevista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|355
senvolvidas, com base nas demandas escolares. A partir de
então, foi possível iniciar a aplicação dos trabalhos propostos.
Considerações sobre atividades desenvolvidas
As atividades pedagógicas que o grupo integrante
do PIBID História desenvolve desde 2014 se constituem
de propostas aplicáveis em sala de aula a partir das realidades de cada escola, como: oficinas lúdicas para a discussão e a reflexão de temáticas trabalhadas nas aulas de história, exposições e reflexões a partir de maquetes em três
dimensões, intervenções com jogos pedagógicos emateriais paradidáticos. Essas atividades demandam estudo, pesquisa e elaboração e, ao serem realizadas, recebem contribuições de conhecimentos construídos por outros componentes curriculares, como Filosofia, Sociologia, Geografia
e/ou outras áreas do conhecimento, como a de Linguagens
e suas Tecnologias.
As maquetes tridimensionais são desenvolvidas para
atuarem como alternativas didático-pedagógicas, com vistas a auxiliar e potencializar a capacidade de abstração espaço-temporal dos alunos e educadores, bem como, servir
de instrumento facilitador na construção dos conceitos históricos e na melhoria da escrita, fundamentadas nas necessidades e realidade das comunidades escolares. São aplicadas a partir de métodos interdisciplinaresde aprendizagem
e/ou, a partir de temáticas ligadas à transversalidade da
educação patrimonial e/ou histórica.
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|356
Aplicação de atividade com maquetes. Fonte www.facebook.com/photo.php?fbid
Durante os meses de janeiro e de fevereiro de 2015,
os integrantes do PIBID História produziram quatro maquetes. Duas delas– espaço colonial e espaço da campanha
– se somaram a maquete representativa das charqueadas,
anteriormente produzida, para integrarem atividades relativas ao estudo da organização sócio econômica dos espaços
do Rio Grande do Sul, no século XIX. Outra maquete representou a dinâmica social do Antigo Egito, para servir de
apoio aos estudos sobre as primeiras sociedades de regadio, enquanto a quarta maquete buscou representar a organização espacial de um quilombo, no Brasil do século
XVII, enfocando a dinâmica de Palmares, esta serviu para
subsidiar os trabalhos relativos a estudos sobre a cultura
afro-brasileira.
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|357
Aplicação de atividade com maquetes. Fonte www.facebook.com/photo.php?fbid
As oficinas temáticas devidamente fundamentadas e
referendadas, sobre temas diversificados, desde usos múltiplos de materiais didáticos pedagógicos, até a aplicabilidade de determinadas leis e diretrizes curriculares, acontecem em diferentes espaços, no contra turno das aulas regulares. Essas objetivampossibilitar o contato com diversas
dinâmicas de funcionamento, com variados e múltiplos saberes, construídos pela e com a participação de estudantes
com idades e turmas diferenciadas, através da abordagem
de temas extraídos da Cartografia Escolar, pois, “oficinas e
intervenções tem essa característica: provocar ideias, sendo
um terreno fértil para novas práticas pedagógicas e dialógicas” (OLIVEIRA: 2013, p. 48).
Uma dessas oficinas foi intitulada "Nascemos da
mistura, então por que o preconceito?" e foi composta por
três momentos. No primeiro, foi interpretada e discutida a
música "Racismo é burrice" do cantor Gabriel, O pensador.No segundo momento, foi enfocado o preconceito como produto do senso comum, a partir de análises do processo histórico envolvendo o trabalho africano no Brasil
Colônia. Para tanto, utilizou-se a maquete "Navio Negreiro", facilitando a compreensão, por parte dos estudantes,
de referências acerca do cotidiano dos grupos africanos durante as viagens para a América e o processo de resistência
decorrente da imposição das relações de trabalho escravo.Por fim, foi discutida a situação das crianças nos navios
negreiros e a habilidade das mães em confeccionarem as
bonecas Abayomi durante as viagens, encerrando com os
estudantes produzindo alguns exemplares.
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|358
Aplicação de atividade. Fonte www.facebook.com/photo.php?fbid
Já
as
intervenções
sobre
Patrimônio/Memóriautilizam as metodologias desenvolvidas pelaEducação Patrimonial e visam sensibilizar os educandos
para a importância de seus bens pessoais e para a compreensão da memória coletiva como uma herança cultural.
Acredita-se que a partir dos patrimônios locais, é possível
problematizar a conservação, preservação e construção da
autoestima de comunidades em situações de vulnerabilidade socioeconômica. Também é possível, a partir de atividades desse tipo, construir ações de valorização e cuidado
para consigo, com a escola e com a comunidade, através
do levantamento de saberes e festividades que integram o
patrimônio intangível.
Um exemplo de intervenções sobre a temática patrimonial foi a atividade “Meu querido diário: agentes históricos em sala de aula” que pretendeu estimular a valorização da história pessoal dos estudantes, bem como de suas representações, além de possibilitar estratégias para o
aprimoramento da escrita, da leitura e da interpretação. Para tanto, foram realizados leituras e reflexões de trechos de
diários de diferentes períodos históricos, produzidos por
diferentes sujeitos. Na sequência, os alunos redigiram textos sobre o seu dia-a-dia. Por fim, foi realizada a confecção
de diários.
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|359
Atividade de produção de diários. Fonte: www.facebook.com/groups
Os jogos pedagógicospensados e produzidos pelos
próprios bolsistas são instrumentos didáticos positivos no
processo de construção de conhecimentos históricos. Baseados em textos sobre jogos como alternativa didática, esses
se constituem de objetos lúdicos de aprendizagem que
consideraram a faixa etária e nível de abstração dos alunos
e possibilitam atividades interdisciplinares sobre temáticas
relacionadas ao cotidiano dos estudantes.
Um desses jogos, intitulado “Osmanlis: um jogo para entender o Oriente Médio”, oferece elementos para que
os estudantes compreendam as relações entre as diversidades culturais e os processos históricos que envolvem os diferentes grupos humanos no Oriente Médio, bem como a
importância das referências do passado para a produção de
identificações sociais.
A aplicação do jogo teve início com abordagens sobre a religiosidade no Oriente Médio. Foram discutidos os
preceitos fundamentais das três religiões monoteístas: cristianismo, judaísmo e islamismo. Em seguida, abordou-se o
surgimento do Império Otomano, sua expansão, vida palaciana e a política dos haréns. Concluiu-se a primeira parte
com a extinção do império, após o fim da Primeira Guerra
mundial, bem como a divisão do mesmo entre os vencedores, o que provocou o aumento das tensões políticas na
área. Na sequência, foi feito um breve histórico do moviRevista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|360
mento sionista, com destaque para a criação do Estado de
Israel e a partilha da região entre árabes e judeus, o que
acirrou os conflitos na área. Nesse momento, foram trabalhadosconceito de identidade e a importância da liberdade
de expressão para a afirmação dos indivíduos. O estudo foi
concluído com a aplicação do jogo “Osmanlis”, criado para essa atividade, em formato de tabuleiro, com três equipes tentando chegar primeiro à Jerusalém, para reivindicarem a posse sobre o território. Com a chegada a essa, o jogador é levado a concluir a partilha da região entre os povos, a fim de garantir-se a paz na área.
A atividade resultou no interesse dos estudantes pelo tema, conhecido através das mídias, mas não suficientemente compreendido. Além disso, o estudo da temática
possibilitou a superação de ideias preconcebidas e, por vezes, preconceituosas acerca dos elementos culturais dos
povos do Oriente Médio, estimulou a produção autônoma
do conhecimento, através da pesquisa, reflexão e análise
de textos e uma maior participação, por parte dos estudantes, na produção de novos conhecimentos.
Já a intervenção “Da Pré-História à História: a importância da Cerâmica” pretendeu relacionar as técnicas de
produção da cerâmica com o processo de sedentarização
dos seres humanos, domesticação de plantas, aumento dos
excedentes alimentares e a complexidade da vida social
ocorrida ao longo do processo histórico, apontando para as
modificações ocorridas nos padrões alimentares humanos e
as transformações que tal processo causou nas relações interpessoais.Em primeiro momento foi realizada uma aula
expositiva para a introdução breve sobre os materiais cerâmicos Guarani, transformações nos padrões de vida provocados pelo desenvolvimento da agricultura e dasedentarização, com apresentação de imagens relacionadas. Após,
desenvolveu-se uma atividade prática, mais especificamente, uma oficina visando à confecção de peças cerâmicas.
Sobre a possibilidade de construção do conhecimento histórico a partir das oficinas, os Bolsistas Supervisores
analisam que a estratégia é adequada já que:
O número menor de participantes, que em uma
sala de aula, aliado a maior flexibilidade e dinâmicas mais
atraentes, que se contrapõem ao que vimos nas salas de
aula, onde além do número maior de alunos, há o horário
longo, compartimentado entre as disciplinas, o regramento, as rotinas que engessam, o professor que tem que atender diversas turmas nos seus turnos (...) A mistura de alunos de diferentes idades dentro dos critérios de não seriação, rompeu com os formalismos da linearidade que o ensino formal propõe, trazendo ganhos de conteúdos e conhecimentos” (CAVALHEIRO e PEREIRA: 2013, p.
236)
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|361
Oficina de produção cerâmica. Fonte:www.facebook.com/groups
Os estudantes mostraram-se entusiasmados pela atividade que uniu ações práticas a momentos de reflexões
teóricas. Como forma de avaliação foram apresentadas
imagens com elementos do período Neolítico, a partir das
quais os alunos deveriam apontar as principais características e aspectos do período histórico analisado. As relações
entre elementos representativos dos diversos tempos e espaços puderam ser identificadas, demonstrando a importância da aplicação de atividades lúdicas, para a construção
do conhecimento histórico.
Atividades como as relatadas são anualmente divulgadas e publicizadas através dos seminários institucionais
que reúnem bolsistas de diferentes subprojetos. Como
momentos de profícuas trocas de experiências, possibilitam aos participantes não somente a divulgação do que fora realizado,como também o acesso às sugestões e críticas
que contribuem para o aprimoramento de seus trabalhos.
Considerações sobre os resultados alcançados
O PIBID/História tem se mostrado uma oportunidade importante para a formação docente dos licenciados,
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|362
possibilitando a esses o contato direto com a realidade escolar e com as exigências postas pela função educativa, antes mesmo do estágio curricular obrigatório. Assim, a participação no subprojeto proporciona aos graduandos um
ambiente de formação mais complexo, com acesso a suportes e bases, inclusive teóricas, para que possam
(re)pensar suas propostas educativas de maneira planejada,
pois, ao invés de uma inserção direta e compulsória, como
costuma ocorrer durante os estágios, é feita uma inserção
gradual e autônoma.
No entanto, as vantagens não são unilaterais. Para
Fajardo e Lopes o impacto do PIBID/UFSM se dá, também, em relação às escolas parceiras, em três aspectos:
O primeiro é o de aproximar a escola da universidade numa perspectiva diferente do que normalmente
acontece, principalmente, nas pesquisas: a universidade
(através dos seus estudantes e do coordenador de área) vai
até a Escola Básica e permanece lá com uma expectativa,
não só de levar os conhecimentos acadêmicos, mas também de uma aprendizagem compartilhada. O segundo diz
respeito à possibilidade de juntos – escola e universidade
– buscarem possíveis soluções para os problemas de ensino e aprendizagem. Finalmente, o terceiro é a valorização
da carreira docente, principalmente no papel do professor
supervisor. (2013, p. 24).
No que se refere aos impactos das atividades propostas pelo PIBID/Históriapara a formação dos futuros
educadores, destacamos:
1. A contribuição para a diminuição das distâncias
entre conhecimento teórico e conhecimento prático;
2. A valorização das práticas docentes e da educação em geral;
3. A contribuição para a superação das dicotomias
entre o “pensar” e o “fazer”;
4. A aproximação entre Universidade e Comunidade;
5. As oportunidades para formação continuada de
professores da Educação Básica atuando na Rede Pública
Estadual;
6. O aumento do interesse dos estudantes dos últimos anos da Educação Básica, pelo Ensino Superior;
7. O aumento do interesse acadêmico pela pesquisa
docente;
8. O aumento da qualidade de formação de novos
professores, com o acesso ao universo docente;
9. A percepção e o conhecimento sobre as realidades das comunidades escolares locais.
O PP do Curso de História da UFSM prevê a formação de licenciados e bacharéis em História, em um tempo de cinco anos de atividades de iniciação à docência e à
pesquisa. Contudo, nos anos anteriores a implementação
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|363
do PIBID, o que se podia verificar era a predominância de
interesses pela pesquisa acadêmica, em detrimento de atividades docentes. As ações do PIBID/subprojeto História –
2014 têm contribuído para a mudança dessa situação, pois:
1. Oferece aos acadêmicos a oportunidade de aproximação com o universo prático docente;
2.Cria condições de efetivação da pesquisa docente;
3.Aproxima os conhecimentos teóricos e práticos;
4. Eleva o interesse dos acadêmicos por questões
educativas, em especial por aquelas relativas às novas metodologias de ensino de história;
5. Insere os acadêmicos nas realidades estruturais e
pedagógicas das escolas públicas de Educação Básica;
6. Transforma as práticas docentes em objetos de
pesquisa acadêmica, com o aumento do número de Trabalhos de Conclusão de Graduação (TCG)1 relacionados à
temática “História e Educação”;
7. Desenvolve habilidades para aplicação das competências pedagógicas aprendidas a partir do PIBID;
8. Publiciza a produção acadêmica desenvolvida a
partir do subprojeto em revistas científicas e eventos de
Educação;
9. Fomenta a pesquisa em todas as suas instâncias,
estimulando o bolsista a ser agente de uma educação inovadora e de qualidade.
Porém, algumas dificuldades ainda são encontradas.
Em decorrência de décadas de minimização das atividades
relativas à Educação, as ações docentes ainda carecem de
maior consideração por parte do grupo de professores do
Curso de História, o que poderia representar também, maior valorização do Projeto no meio acadêmico. Também,
existem ainda algumas dificuldades estruturais e específicas vivenciadas em cada escola, que dizem respeito, em
geral, a carência de espaços para armazenagem de materiais e para a realização de algumas tarefas, bem como relativas à pequena carga horária disponibilizada pelos currículos em relação ao componente de história.
Considerações finais
O PIBID História tem se mostrado uma alternativa
positiva para a superação de problemas e carências que o
Curso de História da UFSM tem apresentado em especial,aquele que diz respeito à valorização da pesquisa aca1
Em seis anos de atuação, o PIBID História estimulou a produção de trezeTCGs que tiveram como objeto de pesquisa e ensino da História, sendo
dois específicos sobre o Subprojeto.
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|364
dêmica, em detrimento das práticas educativas. Com as
experiências oferecidas pelo projeto, a Universidade tem
podido oferecer a comunidade profissionais mais seguros,
melhor preparados para enfrentarem as dificuldades apresentadas pelos universos escolares e conhecedores das mudanças sociais que a educação de qualidade deve promover, pois, “as discussões acadêmicas ganham significado
quando imbricadas com as práticas pedagógicas e curriculares desenvolvidas no espaço da escola” (RAMOS e
SARTURI: 2013, p. 99).
O domínio da língua portuguesa em seus três níveis
é de fundamental importância para a vida acadêmica dos
bolsistas, quer seja desenvolvendo trabalhos em sala de aula, apresentando trabalhos em eventos acadêmicos ou produzindo materiais didáticos. A fala é a porta de entrada do
bolsista no ambiente escolar e sua marca deixada em sala
de aula. Ele deve saber articular e dominar a língua portuguesa, possibilitando um melhor aproveitamento de sua
participação no projeto e facilitando a socialização com os
alunos. A oralidade do bolsista é trabalhada em sala de aula, na prática como educador, reuniões do subprojeto com
seminários de apresentação de textos e nas apresentações
de trabalhos em eventos acadêmicos. As reuniões de estudos e de planejamento e avaliação de trabalhos, as quais
ocorrem semanalmente, ajudam a criar um ambiente mais
informal, onde o bolsista pode relatar suas experiências de
sala de aula com o restante do grupo.
A escrita e a leitura são indissociáveis, ou seja, uma
pessoa que lê assiduamente terá uma boa compreensão e
domínio da escrita. A leitura de livros e artigos é essencial
para a formação do educador e o auxilia na melhoria de
sua capacidade crítica, de compreensão de novas temáticas
e de ampliação de seu vocabulário. A escrita deverá ser
aplicada para a produção de materiais didáticos, relatórios
e na formulação de artigos para revistas/periódicos ou
anais de eventos. O material produzido pelo bolsista mostra o seu nível de conhecimento sobre determinado assunto, bem como o seu aprofundamento.
Nesse processo a Universidade e as Escolas acabaram estreitando relações, estabelecendo um diálogo recíproco com a realidade escolar e realizando, em nível Institucional, uma discussão ampla acerca do processo de ensino-aprendizagem e suas abordagens metodológicas.
Dessa forma, até mesmo aqueles que não se inseriram diretamente no subprojeto, estão sendo influenciados e
levados a pensar a atividade educativa. Por fim, produção
do PIBID, divulgada através dos artigos, anais, blog e comunicações em eventos, contribui para que a formação dos
bolsistas se constitua em avanços, crescimento, aprendizagem, fundamentação teórica e valorização da profissão.
Portanto, cumprindo os objetivos do projeto PIBID, de inRevista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|365
serir o acadêmico em seu futuro ambiente de trabalho, contribuindo para a formação do futuro educador.
Ainda há muito a se fazer, mas os primeiros passos
já foram dados. Acreditamos que com a continuidade do
programa, um número maior de estudantes (acadêmicos e
da Educação Básica), poderão se beneficiar e, desta forma,
contribuir para a melhoria da qualidade da educação brasileira.
Referências Bibliográficas
CAVALHEIRO, Neda Maria. PEREIRA, Isa Cristina. “Movimentos” na Escola: algumas reflexões sobre
o real e o possível nas oficinas e as práticas da escola.
In: TOMAZETTI, Elisete. LOPES, Anemari. (Orgs) PIBID UFSM: Experiências e Aprendizagens. Vol. 01. São
Leopoldo: Oikos, 2013.
FAJARDO, Ricardo. LOPES, Anemari Vieira. PIBID/UFSM: construindo caminhos para a formação de
professores. In: TOMAZETTI, Elisete. LOPES, Anemari.
(Orgs) PIBID UFSM: Experiências e Aprendizagens. Vol.
02. São Leopoldo: Oikos, 2013.
FARIA, Ana Lúcia. Ideologia no Livro Didático.
São Paulo: Cortez, 1984.
FONSECA, Selva Guimarães. SILVA, Marcos.
Como ensinar História no século XXI: em busca do
tempo entendido. São Paulo: Papirus, 2007.
NICOLAZZI, Fernando. MOLLO, Helena. Araújo,
Valdei Lopes de. Aprender Com a História? O Passado
e o Futuro de uma questão. Rio de Janeiro: FGV, 2012.
OLIVEIRA, Luana Ferreira de. Diversidade Cultural na Escola: construindo novos olhares, repensando
relações sociais. In: TOMAZETTI, Elisete. LOPES,
Anemari. (Orgs) PIBID UFSM: Experiências e Aprendizagens. Vol. 01. São Leopoldo: Oikos, 2013.
OLIVEIRA, Priscila Roatt de. PALOMA, Rebeca
Ramos. Experiências Únicas, Diálogos Abertos: Práticas do Subprojeto “História e Educação: meandros do
ensino formal”. São Leopoldo: Oikos, 2013.
RAMOS, Nara Vieira. SARTURI, Rosane Carneiro.
A Relação Teoria e Prática na Formação de Formadores: a experiência do Programa de Iniciação à Docência. In: TOMAZETTI, Elisete. LOPES, Anemari. (Orgs)
PIBID UFSM: Experiências e Aprendizagens. Vol. 02. São
Leopoldo: Oikos, 2013.
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|366
SAVIANI, Dermeval. DUARTE, Newton. Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na educação escolar. Campinas: Autores Associados, 2012.
Revista do Lhiste, Porto Alegre, num.3, vol.2, jul/dez. 2015|367