“DA VIAGEM QUE DIREI?”
Onze ensaios
em torno da obra literária de
A. M. PIRES CABRAL
M. HERCÍLIA AGAREZ
Que queres, Douro, de mim? Não posso senão palavras. O Douro visto e vivido por A. M. Pires Cabral .......................9
JOÃO BIGOTTE CHORÃO
Os dois rostos de um escritor .........................................................................................................................................15
BENTO DA CRUZ
O Diabo veio ao enterro .........................................................................................................................................................19
HENRIQUETA MARIA GONÇALVES
A utilização da epígrafe na obra de A. M. Pires Cabral ..............................................................................................23
JESÚS LOSADA
En el arca de la memoria (De la traducción española de Algures a Nordeste de Pires Cabral) ................................29
GIORGIO DE MARCHIS
Escrever a terra. A poesia bustrofédica de A. M. Pires Cabral e Seamus Heaney ..................................................33
VÍTOR NOGUEIRA
Uma estética da incerteza para um tempo de incertezas ............................................................................................41
ANABELA OLIVEIRA
Nordeste: a montanha mulher ........................................................................................................................................45
JOSÉ EDUARDO REIS
Verso ágil, prosa estável na heteretopia literária de A. M. Pires Cabral ....................................................................51
ANA RIBEIRO
“O diário de C*” ou uma caixinha de surpresas ..........................................................................................................67
ERNESTO RODRIGUES
Um artista dos sete ofícios...............................................................................................................................................77
ESCREVER A TERRA.
A POESIA BUSTROFÉDICA
DE A. M. PIRES CABRAL E SEAMUS HEANEY
GIORGIO DE MARCHIS
Università Roma Tre
Alguns poetas têm uma ligação tão
forte com determinados lugares que a impossibilidade de traduzir o espaço torna
os seus versos difíceis de transpor para
outras línguas e outras paisagens a não ser
mentindo, como os mapas de que gostava
Wisława Szymborska, que, «generosos e
bem-humorados, / estendem-me na mesa
um mundo / que não é deste mundo»2.
Poesia, geograia e tradução; eis uma
associação que não me parece surpreendente porque, como qualquer tradutor
sabe, verter um poema noutra língua obriga a deslocar o texto através de topograias literárias e espaços culturais, éticos ou
políticos que nem sempre são agilmente
transponíveis.
O Nordeste de Pires Cabral é precisamente uma dessas raras regiões literárias
que não se deixam levar docilmente alhures e, de resto, toda a obra do autor de
O Livro dos Lugares impõe ao leitor uma
clara noção geográica e ao tradutor uma
2
abordagem more geographico aos seus versos. Exemplar nesse sentido o advérbio
que abre a antologia bilingue que imprudentemente organizei e que foi publicada
em Itália em 2011: «Qui e ora assumere
del Nordest / la voce ostile».3 O advérbio
de lugar, aqui, incipit do terceiro poema
de Algures a Nordeste, mesmo sendo dum
ponto de vista gramatical perfeitamente traduzível é, de facto, intraduzível em
termos culturais. Como intraduzível é o
Nordeste periférico, esquecido e centrifugado de que falam muitos poemas de
Pires Cabral, onde uma voz transmontana
ensina uma árdua disciplina e um método
de estar que o tradutor apenas consegue
gaguejar na sua língua. Deste ponto de
vista, Isabel Alves e Hercília Agarez têm
razão quando airmam que «a obra de A.
M. Pires Cabral ganha em ser lida como
um manifesto de idelidade a uma geograia concreta: Trás-os-Montes»4. Esta ide-
W. Szymborska, Mapa e outros três poemas, “Folha
de São Paulo”, 27 de janeiro de 2013.
33
3
A. M. Pires Cabral, Le illeggibili pagine dell’acqua,
Napoli, Bibliopolis, 2011, p. 19.
4
I. Alves – H. Agarez, Introdução, in A. M. Pires
lidade contudo não signiica tematização
folclórica – mesmo situando-se deliberadamente num hinc et nunc sempre geograicamente reconhecível, apesar da sua aparente indeterminação: algures a Nordeste.
Se há temática regional, em suma, na
literatura de Pires Cabral (e é importante sublinhar que não há nada de limitante
nesta proposta rigorosamente regionalista
porque, além de não esgotar a ampla produção do poeta, quando o regionalismo
não é oco, bem pode ser um dos caminhos que conduz a literatura ao universal),
esse regionalismo pirescabralino nunca se
baseia no excêntrico, no falso exotismo
ou no pitoresco anacrónico e nem sequer
constrói uma pseudo-mitologia feita com
estereótipos geográicos. Pelo contrário, o
aqui e agora trasmontano deste autor relete o conhecimento complexo, profundo
e leal que outro poeta, o americano Wendell Berry, considera imprescindível para
um autêntico conhecimento dum lugar:
escrita, mas tem mais a ver com a vida
do que com a escrita. O tema deste género de regionalismo é a consciência
de que a vida local, devido à sua qualidade mas também à sua continuidade,
depende, de forma complexa, de um
conhecimento local.5
O conhecimento local de que fala Berry
pode ser esclarecido olhando para a proposta teórica e poética de outro autor que
também pertence a essa extraordinária família de “poetas locais” que nunca se resignaram a ser órfãos de uma Terra Mater.
Procurando deinir a capacidade de sentir
o lugar, Seamus Heaney – o poeta que,
ao meu ver, mais do que qualquer outro
partilha com Pires Cabral a experiência
íntima e disciplinadora da agricultura e
a percepção do fazer poético como uma
enxada ou «um arado com que rasgo outras terras / mais voláteis e menos aráveis,
e nelas julgo deixar alguma semente»6 –
O regionalismo a que pessoalmente
adiro poder-se-ia deinir simplesmente como vida local consciente de si mesma.
Deinição que, na generalidade, se sobrepõe aos mitos e aos estereótipos
associados a uma região e promove
o conhecimento especíico acerca da
vida do lugar onde o indivíduo vive e
pretende continuar a viver. Tem a ver
com a vida tanto quanto como com a
Cabral, Aqui e Agora assumir o Nordeste: antologia,
Lisboa-Bragança, Âncora-Academia de Letras de
Trás-os-Montes, 2011, p. 7.
34
5
«Il regionalismo cui personalmente aderisco potrebbe essere deinito soltanto come vita locale
consapevole di sé stessa. Tende a sostituire ai miti e
agli stereotipi su una regione la conoscenza speciica della vita del luogo in cui un individuo vive
e intende continuare a vivere. Riguarda la vita tanto
quanto riguarda la scrittura, ma riguarda la vita
prima di riguardare la scrittura. Il tema di questo
genere di regionalismo è la consapevolezza che
la vita locale, per la sua qualità ma anche per la
sua continuità, dipende in modo complesso dalla
conoscenza locale.» W. Berry, Il tema regionale, in
La strada dell’ignoranza e altri saggi su economia, immaginazione e conoscenza, Torino, Linda, 2015, p. 51.
6
A. M. Pires Cabral, Arado, Lisboa, Cotovia, 2009,
p. 13.
gue decifrar. Assim, lidas as palavras do
autor de Field Work, é impossível não pensar no deambular poético de Pires Cabral
por Moncorvo, Ligares, Soeima e Vilarinho do Monte, aldeias onde o poeta já viu
dormir deus; por Malta – «um lugar bom
para morrer em combate, / um lugar mau
para estar de olhos abertos, / oh! nunca
un neutro lugar para conhecer – / um
trágico lugar»8 –; pela «Bela e núbil» Serra
de Bornes, que «outrora um literato (…)
comparou com o dorso alongado dum
gigante a dormir»9, até à Sé de Miranda,
cujas pedras «cobrem no chão os ossos
dos que foram / desta vida a outra sem
lugar»10.
Sendo que a morte é uma vida sem
lugar ou, como no caso do falecimento
do pai do autor, apenas «outro lugar»11,
o poeta sente a urgência de preservar o
lugar dos vivos, o seu Nordeste vital –
que, na segunda metade do século XX,
não pode não saber ameaçado por uma
agressiva modernização, que condena ao
olvido tudo o que ica para lá do Marão.
Deste ponto de vista, Joaquim Manuel
Magalhães corretamente viu no Nordeste
de Pires Cabral «um espaço de resistência à degradação do mundo»12. Uma tenaz
num dos seus mais célebres ensaios, The
sense of place, em 1977 airmava:
Creio que existem duas maneiras através das quais um lugar é conhecido e
amado, duas maneiras que podem ser
complementares mas ao mesmo tempo podem resultar opostas. Uma é vivida, iletrada e inconsciente, a outra é
apreendida, letrada e consciente. No
âmbito da sensibilidade literária ambas
convivem amiúde numa tensão tanto
consciente como inconsciente.7
Quando se realiza a ligação (que Heaney chega a considerar um casamento)
entre uma geograia isicamente habitada e uma profunda cultura do local, que
tanto pode ser adquirida pelo poeta duma
maneira livresca e consciente, como através de conhecimentos herdados e saberes
partilhados oralmente, a poética do lugar
atinge a sua mais alta expressão literária.
Este domínio do lugar (que é, ao mesmo
tempo, conhecimento, posse e pertença),
escreve sempre Heaney, faz com que os
nomes das aldeias transformem a paisagem num manuscrito que o poeta conse7
«Penso che ci siano due modi in cui un luogo è
conosciuto e amato, due modi che possono essere complementari ma allo stesso modo possono risultare contrari. Uno è vissuto, illetterato e
inconscio, l’altro è appreso, letterato e conscio.
Nell’ambito della sensibilità letteraria entrambi
spesso convivono in una tensione tanto conscia
quanto inconscia.» S. Heaney, Il senso del luogo, in
Attenzioni. Preoccupations – prose scelte 1968-1978,
Roma, Fazi, 1996, p. 153.
35
8
A.M. Pires Cabral, Algures a Nordeste. Catálogo de
feios, simples e humildes, Macedo de Cavaleiros, edição de autor, 1974, p. 44.
9
Ibidem, p. 45.
10
Ibidem, p. 47.
11
Ibidem, p. 13.
12
J. M. Magalhães, Sobre a poesia de A. M. Pires Cabral, in Artes Marginais, Lisboa, Guimarães Edito-
samente pedem e adoram»15, emigrantes
que deixaram a sua vida a sul, ciganos
impiedosamente expulsos pelos aldeões
e castas e generosas prostitutas, Death of
a Naturalist fala de tenazes camponeses,
de rudes trabalhadores da docas «strong
and blunt as a Celtic cross, / Clearly used
to silence and armchair»16, e Poor women
in a City Church17. Desta maneira, apesar
da distância e de todas as diferenças que
separam Trás-os-Montes do condado de
Derry, ambos os poetas parecem querer
juntar-se ao coro dos esquecidos, unir a
sua voz ao «indizível canto dos ceifeiros»,
tornando os seus versos «um grito / de
revolta, um longínquo protesto»18.
Além disso, no desejo de cartografar o
território em todos os seus mínimos pormenores, Algures a Nordeste não se esquece de celebrar as plantas e os animais: as
cerejas, «jantar de gente que não janta»19,
As tílias e A violeta; assim como não faltam magníicos versos dedicados à cigarra, ao inofensivo salta-rostos, a um gato
– «o latin lover desta fauna a Nordeste /
catus felix felicíssimo de haver / sol e sexo
e ratos: as cousas de folgar»20 –, à alma
humilde do burro e à maldição da cobra.
Com outra lora e outra fauna, algo muito
parecido lê-se em Death of a Naturalist. O
oposição ao imparável avançar do tremendo pé da química, que se traduz no
enaltecimento do trabalho manual e numa
objetiva poética da humildade que tanto
Pires Cabral como Seamus Heaney heroicamente professam.
Sem procurar inluências poéticas ou
propor possíveis modelos literários, é minha intenção apenas reconhecer nestes
dois poetas uma sensibilidade comum,
uma poética do lugar aim, que se torna
evidente ao comparar, por exemplo, os
dois livros de estreia: Death of a Naturalist, aparecido em 1966, e Algures a Nordeste
que, como é sabido, o escritor português
publica em 1974 numa edição de autor.
Deste ponto de vista, a resistência de Seamus Heaney e Pires Cabral passa, antes de
mais, pelo resgate dos esquecidos: Heaney
lembrando a tragédia de 1845 dos irlandeses, «A people hungering from birth,
/ grubbing, like plants, in the earth, were
grafted with a great sorrow. / Hope rotted like a marrow.»13; Pires Cabral descrevendo a desesperança quase póstuma
do seu povo: «Já não sei que mais navios
/ virão com carga no ventre / abastecer
a distância / interior da minha gente».14
Da mesma maneira, se Algures a Nordeste
apresenta um catálogo de feios, simples e
humildes, onde se cantam velhos que «entram na igreja e com gengiva nua / man-
res, 1998, p. 160.
13
14
S. Heaney, Morte di un naturalista, Milano, Mondadori, 2014, p. 54.
Pires Cabral, Algures cit., p. 77.
36
15
Pires Cabral, Algures cit., p. 23.
16
Heaney, Morte cit., p. 70.
17
Ibidem, p. 72.
18
Pires Cabral, Algures cit., p. 24.
19
Ibidem, p. 59.
20
Ibidem, p. 65.
poeta da Irlanda do Norte dedica poemas
a uma vaca grávida, a uma truta e, saudoso, descreve a colheita das amoras durante
a sua infância. Contudo, apesar do olhar
emocionado que sabe captar a beleza da
natureza, sempre perecível na mudança
das estações, os dois poetas não ingem
ignorar a inevitável crueldade do ciclo alimentar. É o caso do peru morto e agora
indecentemente exposto na montra dum
talho – «Pull his neck, pluck him, and look
– / He is just another poor forked thing,
/ A Skin bag plumped with inky putty»21
– ou do porco celebrado por Pires Cabral
no ato da sua matança; uma trágica e ritual vitória contra a eterna ameça da fome
– que, é bom lembrar, tem toda uma genealogia transmontana: «nasceu em Sendas (…) Baptizada em Vila Franca. (…)
O Pai era de Macedo, (…) A mãe era de
Travanca»22 –, que quase obriga o poeta a
testemunhar («tenho de tapar a mãos ambas os ouvidos e recuar de ordinário para
os fundos da casa, / onde o rumor mal
chegue»), com andamento não por acaso
anafórico, um rito cíclico que há séculos
se repete sempre igual: «o porco é morto:
/ viva o porco!»23.
Como se o peito não doesse, a voz
hostil dos campos impele os dois poetas
a reconhecer na morte um acontecimento
inevitável e até salutar. É uma lição sem
dúvida severa, uma brava aprendizagem,
que tanto pode ser ministrada por uma
cereja envelhecida que, «encarquilhada e
mansa, / recusada de melros e pardais,
/ (…) lentamente se enrola sobre si / e
morre»24, como pelas amoras colhidas
em voraz demasia, que inevitavelmente
fermentam no curral, ou pelos muitos
animais – gatos, coelhos, ratos, corvos e
pequenas aves – mortos porque «on well-run farms pests have to be kept down.»25
Todavia, the sense of place impõe sobretudo uma conexão com os mortos que
ali se encontram enterrados. A poesia em
Pires Cabral e em Heaney torna-se assim
um permanente exercício de memória,
que une ao presente gerações de defuntos.
A Terra Mater guarda «as essências / de
todos os cadáveres, nela «repousam / docemente embalados meus avós»26, assim
como as turfeiras conservam ao longo dos
séculos as múmias intactas dos antepassados, cujos ossos podem ser lidos como
estratiicações da alma; a experiência do
lugar faz com que os gestos se repitam
de geração para geração, enquanto as velhas fotograias tecem uma incombustível
crónica familiar que os poetas traduzem
em versos.
O fazer poético, nestas civilizações essencialmente agrícolas, indentiica-se, então, inevitavelmente com o arado e com
a enxada que, noutros tempos, rasgavam
a terra, fazendo dela um ventre acon-
21
Heaney, Morte cit., p. 62.
24
Ibidem, p. 59.
22
Pires Cabral, Algures cit., p. 34.
25
Heaney, Morte cit., p. 32.
23
Ibidem, p. 32.
26
Pires Cabral, Algures cit., p. 5 e 6.
37
tor de Douro: Pizzicato e Chula airma: «Mas
o arado perpetua-se em mim. / De facto
em horas de arriscada exaltação, / gosto
de pensar nestes versos como sendo /
um arado com que rasgo outras terras /
mais voláteis e menos aráveis, / e nelas
julgo deixar alguma semente.»31 Existe,
portanto, em ambos os autores uma vocação telúrica que se traduz num desejo de
“escrever a terra”. Uma vocação frustrada, pelo menos na autointerpretação que
dos seus versos fornece Pires Cabral que,
reconhecendo os limites da linguagem
poética, descreve a sua caneta como um
estéril e inútil arado. De resto os «versos
de má qualidade», que o poeta português
dedicou ao seu lugar «em tempos imaturos»32, dir-se-iam não ter preservado a sua
Terra Mater da tarefa do tempo: «Campos
em ruínas, infestados / de plantas ruins. /
Nenhum choro, nenhum riso / de criança. / Uma angústia funda, como se / nem
sequer restasse já / a mínima memória do
Nordeste»33.
Todavia, uma mínima memória ainda
resiste e resiste precisamente nos versos
duma poesia que se poderia deinir bustrofédica, tendo em conta a sua vontade
de imitar o arado e o seu desejo de cavar
uma porta no corpo de azeite da terra, penetrando nela como num templo.
Em conclusão, não é póstuma a poesia
de Pires Cabral e nem sequer é verdade
chegado. Deste ponto de vista, dois são
os poemas que apresentam um diálogo
fecundo e exemplar entre Heaney e Pires Cabral: Digging (Cavar) e Arado – textos com que se abrem os livros Death of
a Naturalist e Arado, este último, como é
sabido, a recolha de versos que mais do
que qualquer outra recupera temas presentes em Algures a Nordeste. Em Digging, o
autor insere-se numa genealogia familiar,
onde o pai cavava nos campos de batatas e o avô cortava a turfa em Toner. O
poeta Norte irlandês – que noutro poema, Follower, airmava querer, uma vez
crescido, arar como os seus antepassados
– confessa, porém, a sua inaptidão: «But
I’ve no spade to follow men like them.»27
Da mesma maneira, Pires Cabral lembra
melancolicamente o «tempo em que havia
agricultura / nos gestos quotidianos dos
homens / e das mulheres»28, comparando
esse passado com um presente que fez
do arado um objeto inútil: «Já ninguém o
usa, à excepção / das galinhas que se empoeiram nele / quando chega a hora de
cismarem.»29 Caberá, portanto, à poesia a
tarefa de reatar os laços familiares e preservar a memória da terra: «Between my
inger and my thumb / The squat pen rests. / I’ll dig with it».30 Cavarei, então, com
a minha caneta, declara orgulhosamente o
poeta da Irlanda do Norte, enquanto o au-
27
Heaney, Morte cit., p. 8.
28
Pires Cabral, Arado cit., p. 11.
31
Pires Cabral, Arado, p. 13.
29
Ibidem, p. 12.
32
Ibidem, p. 14.
30
Heaney, Morte cit., p. 8.
33
Ibidem, p. 16.
38
Cabral, A. M. Pires, Algures a Nordeste. Catálogo de feios, simples e humildes, Macedo de
Cavaleiros, Edição de autor, 1974.
que o seu arado não tenha vocação de
vida. Pelo contrário, o seu «estridente livro verde / relato tão afectuoso quanto
imprudente»34 é um eicaz antídoto contra
o químico necrotério porque, mesmo se
«tudo está mudado do que foi»35, os versos deste poeta tornam habitável a sua terra devastada, preservando na memória o
que dela sobrevive:
Cabral, A. M. Pires, Arado, Lisboa, Livros
Cotovia, 2009.
Cabral, A. M. Pires, Le illegibili pagine dell’acqua, a cura di G. de Marchis, Napoli, Bibliopolis, 2011.
Ah, mas eu mantenho-me iel.
Heaney, S., Il senso del luogo, in Attenzioni –
Preoccupations. Prose scelte 1968-1978, introduzione e cura di M. Bacigalupo, Roma,
Fazi, 1996, pp. 153-177.
Como um cão dormido no seu ninho,
redondo de sono,
assim eu me enrosco no Nordeste
e respiro contente o que dele icou,
por pouco ar que seja.36
Heaney, S., Morte di un naturalista, Milano,
Mondadori, 2014.
Magalhães, J. M., Sobre a poesia de A. M.
Pires Cabral, in A. M. Pires Cabral, Artes
Marginais, Lisboa, Guimarães Editores,
1998, pp. 157-169.
Bibliograia
Alves, I. – Agarez H., Introdução, in A. M.
Pires Cabral, Aqui e agora assumir o Nordeste,
Lisboa-Bragança, Âncora Editora – Academia de Letras de Trás-os-Montes, 2011,
pp. 7-10.
Berry, W., Il tema regionale, in La strada
dell’ignoranza e altri saggi su economia, immaginazione e conoscenza, Torino, Lindau, 2015,
pp. 47-54.
34
Ibidem, p. 15.
35
Ibidem.
36
Ibidem, p. 17.
39
“Da viagem que direi?”: Onze ensaios em torno da obra de A. M. Pires Cabral,
n.º 7 dos Cadernos da Biblioteca de Vila Real,
organização de isabel alves,
foi composto e impresso na Minerva Transmontana,
em Outubro de 2016,
numa tiragem de 300 exemplares.
Depósito Legal: 415832/16
Biblioteca Municipal de Vila Real
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