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ANAIS I COLÓQUIO INTERLOCUÇÕES FOUCAULTIANAS UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI Juazeiro do Norte SUBJETIVIDADE: SUBJETIVIDADES: RESISTÊNCIA RESISTÊNCIAEE EXPERIÊNCIAS EXPERIÊNCIAS ÉTICAS ÉTICAS Realização: Apoio: Realização: Mídia e Biopolítica ORGANIZADORES Regiane Lorenzetti Collares Luis Celestino de França Jr. Fernando Sepe Gimbo Leda Mendes Gimbo I COLÓQUIO INTERLOCUÇÕES FOUCAULTIANAS SUBJETIVIDADES: RESISTÊNCIA E EXPERIÊNCIAS ÉTICAS Universidade Federal do Cariri Juazeiro do Norte-CE 2019 ORGANIZADORES Regiane Lorenzetti Collares Luis Celestino de França Jr. Fernando Sepe Gimbo Leda Mendes Gimbo COMITÊ CIENTÍFICO Camila do Espírito Santo Prado de Oliveira Luiz Manoel Lopes Natacha Muriel Lopez Gallucci Nilo César Batista da Silva Patrick de Oliveira Almeida DIAGRAMAÇÃO Lázaro Almeida Galvão NORMALIZAÇÃO Ana Paula Lucio Pinheiro REVISÃO FINAL Natália Brito Bessa C719a Universidade Federal do Cariri Colóquio Interlocuções Foucaultianas. Anais do I Colóquio Interlocuções Foucaultianas [recurso digital] / Organização: Regiane Lorenzetti Collares; Luis Celestino de França Jr.; Fernando Sepe Gimbo; Leda Mendes Gimbo. – Juazeiro do Norte-CE: Universidade Federal do Cariri, 2019. 97 p. E-pub. ISBN: 978-85-67915-45-6 Universidade Federal do Cariri – curso de Filosofia, Pró-reitoria de Pesquisa, Pósgraduação e Inovação, Juazeiro do Norte, 2019. 1. Subjetividades. 2. Resistência. 3. Experiências Éticas. 4. Interlocuções Foucaultianas. I. Título. II. Colllares, Regiane Lorenzetti. III. França Jr., Luis Celestino de. CDD 100 SUMÁRIO GT 1 A EXPERIMENTAÇÃO IMAGÉTICA NO DEVIR-FÍLMICO, UM ATRAVESSAMENTO ÉTICOESTÉTICO E POLÍTICO...................................................................................................................................... 11 A SUBJETIVAÇÃO EM FOUCAULT: UM EM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO....................................... 12 A UNIVERSIDADE ENQUANTO PRISÃO: LIBERDADE OU VIGILÂNCIA E PUNIÇÃO?.................... 13 A VONTADE DE SABER: O REMATE DA HIPÓTESE REPRESSIVA NA HISTÓRIA DA SEXUALIDADE I.................................................................................................................................................. 14 A HETEROTOPIA DO CORPO NEGADO...................................................................................................... 15 A POLÍTICA COMO MEDIADOR DE PUNIÇÕES AOS MEMBROS DA COMUNIDADE LGBTQ PORTADORES DO HIV....................................................................................................................... 16 A PRODUÇÃO DISCURSIVA DE ESPAÇOS-AFETOS NÔMADES NO PROGRAMA VIVA A PALAVRA: CARTOGRAFIAS JUVENIS DE REEXISTÊNCIA E PAZ EM TERRITÓRIOS DE VIOLÊNCIA URBANA...................................................................................................... 17 A VIGÍLIA DE SI: SUBJETIVIDADE E RESISTÊNCIA NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO........................... 18 A PARRESIA COMO PRÁTICA DE SI: PLATÃO EM UMA EXPERIÊNCIA DE LIBERDADE................ 19 ALETURGIAS DEMOCRITIANAS NAS CARTAS DO PSEUDO-HIPÓCRATES..................................... 20 ARTE E VIDA EM OBRA: A EXISTÊNCIA ESTÉTICA DE MICHEL FOUCAULT EM RUBIANE MAIA................................................................................................................................................... 21 BIOTECNOLOGIAS E PRÁTICAS DE SI: UMA ANÁLISE FOUCAULTIANA SOBRE UMA DOULA E A ÉTICA DO CUIDADO...................................................................................................... 22 CARNAVALIZAÇÃO E PARRESÍA NO CONTO HISTÓRIAS DE ALEXANDRE: CONSTRUINDO APROXIMAÇÕES ENTRE BAKHTIN E FOUCAULT..................................................... 23 CENTRO POP: UMA EXPERIÊNCIA DE IMERSÃO NOS SUJEITOS E SUAS TECNOLOGIAS.......... 24 CORPO DÓCIL: PODER E DISCIPLINA DO CORPO NO BALÉ CLÁSSICO E NA DANÇA MODERNA........................................................................................................................................... 25 CORPO MORAL X CORPO ÉTICO: A SUPERAÇÃO DA SERVIDÃO E A CONQUISTA DA LIBERTAÇÃO POR NOVAS EXISTÊNCIAS CORPÓREAS.......................................................................... 26 CUIDADO FAMILIAR E A SAÚDE MENTAL: UMA VISÃO FOUCAULTINA DO CUIDADO NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL.............................................................................................................................. 27 DISPOSITIVO ESCOLA E OS DESAFIOS DA PROFISSÃO DOCENTE NA CONTEMPORANEIDADE................................................................................................................................. 28 DIÁLOGOS ENTRE O CORAÇÃO E A HISTÓRIA DA LOUCURA: NISE DA SILVEIRA E MICHEL FOUCAULT................................................................................................... 29 ENTRE SIMULACROS, IMAGENS-LIMITE.................................................................................................... 30 EXPERIMENTO ARTAUD: UMA INVESTIGAÇÃO POLÍTICA, O TEATRO COMO PRÁTICA DE SI.. 31 FESTIVAIS FORTALEZA CIDADE MARGINAL: EXPERIÊNCIAS ARTÍSTICAS E SINGULARIZAÇÕES SUBJETIVAS........................................................ 32 FORCAOS: DO “FAÇA VOCÊ MESMO” AO APOIO DO PODER PÚBLICO (1999–2004)................ 33 GENEALOGIA: UMA TÁTICA METODOLÓGICA PARA ABORDAR AS RELAÇÕES DE PODER..... 34 INSURREIÇÃO MICROPOLÍTICA DE UM REISADO TRANSVIADO EM JUAZEIRO DO NORTE-CE............................................................................................................................... 35 MOVIMENTO ANARCO-PUNK DE FORTALEZA: UMA ETNOGRAFIA DAS PRÁTICAS DE LIBERDADE............................................................................... 36 NUS, NUDES E PELADÕES: O DISCURSO ARTÍSTICO LEGITIMA PADRÕES DE DESEMPENHO?.................................................. 37 O DISCURSO DO MESTRE: UM ENCONTRO NA FRONTEIRA ENTRE FOUCAULT E LACAN....... 38 O MESTRE DO CUIDADO E O ENSINO DE FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA........................... 39 O VIDEDANÇA NA TERRA DA LUZ – A MÍDIA DA VISIBILIDADE....................................................... 40 OS DESAFIOS DA SAÚDE COLETIVA FRENTE AO PARADIGMA DE SAUDE MENTAL EM TRANSFORMAÇÃO: UMA EXPERIENCIA DE ESTÁGIO........................................................................... 41 OCUPAR-SE CONSIGO, CUIDAR DE SI MESMO: PRÁTICAS NECESSÁRIAS NO EXERCÍCIO DOCENTE.............................................................................. 42 PERMANÊNCIAS, DESLOCAMENTOS E (RE) PRODUÇÕES MIDIÁTICAS EM TORNO DO DISCURSO DA POBREZA......................................................................................................... 43 PONCIÁ VICÊNCIO E OS SIGNIFICADOS DE SER NEGRO NO BRASIL – CONSIDERAÇÕES SOBRE A AMPLIAÇÃO DA CLÍNICA PSICOLÓGICA................................................................................ 44 PROFESSOR-CELULAR-ALUNO: JUDICIALIZAÇÃO E RESISTÊNCIA NA PESQUISAINTERVENÇÃO................................................................................................................................................... 45 PSICOLOGIA E SAÚDE MENTAL: UM OLHAR SOBRE A MORTE E A FINITUDE.............................. 46 QUAL O PODER DO AFETO? DANÇA, CORPO E AFETABILIDADE NOS TEMPOS DE AGORA... 47 SEXUALIDADE COMO DISPOSITIVO DE CONTROLE E IMPLICAÇÕES PARA A PSICOLOGIA.... 48 SILÊNCIO, PRECARIEDADE E PERTENCIMENTO NO TRABALHO DE PAULINE BOUDRY E RENATE LORENZ........................................................................................................ 49 SO-YOU-THINK-YOU-CAN-DANCE: A IMUNIZAÇÃO DOS CORPOS-QUE-DANÇAM COMO REALITY-SHOW-COREOBIOPOLÍTICO.......................................................................................... 50 SUBJETIVIDADES TRANSGRESSORAS OU A TRANSGRESSÃO DA SUBJETIVIDADE?.................. 51 UM OLHAR SOBRE A MULTIDIMENSIONALIDADE DOS PROCESSOS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LOUCURA..................................................................................................... 52 UMA ANÁLISE FOUCAULTIANA DE PRÁTICAS MACHISTAS FUNDANTESDO DISCURSO DE MICHEL TEMER “EM COMEMORAÇÃO” DO DIA DA MULHER............................................................ 53 UMA CONEXÃO ENTRE FILOSOFIA E DANÇA: CORPOS INTENSIVOS EM MOVIMENTO........... 54 UMA POSSIBILIDADE DE RELAÇÃO ÉTICA-ESTÉTICA PARRESÍA CÍNICA COMO RESISTÊNCIA..................................................................................................... 55 A RELAÇÃO DO ARTIVISMO COMO ANTI-ESTRUTURA EM TURNER E ESTÉTICA DA EXISTÊNCIA EM FOUCAULT, NUMA CONCEPÇÃO DE ARTE CONTRA O ESTADO (...)................ 56 JOY DIVISION E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS LETRAS: ENTRE A APROPRIAÇÃO LITERÁRIA E A RESSONÂNCIA FILOSÓFICA (1977-1980).................... 57 O QUIMERISMO, CIÊNCIA E ÉTICA – NIETZSCHE, LE BRETON E FOUCAULT................................. 58 GT 2 BIOPOLÍTICA E ESTADO DE EXCEÇÃO....................................................................................................... 60 BIOPOLÍTICA E BIOPODER NA SOCIEDADE DISTÓPICA DE O CONTO DA AIA............................ 61 A CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS EMPRESARIAIS E A RESISTÊNCIA DOS DESVIANTES: BIOPOLÍTICA, HETEROTOPIA E PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA.................................................... 62 A CONSTRUÇÃO DA RESISTÊNCIA NAS ELEIÇÕES DE 2018 SOB A PERSPECTIVA DA BIOPOLÍTICA................................................................................................................ 63 A EDUCAÇÃO COMO UM DISPOSITIVO DE CONTROLE: RESISTÊNCIA ATRAVÉS DO CUIDADO DE SI............................................................................................ 64 A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO DISCIPLINAR E SUAS POLÍTICAS DE RESISTÊNCIA.................. 65 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA DIFERENÇA E SUAS PRÁTICAS DE GOVERNAMENTO................ 66 A INTERSEÇÃO DO PENSAMENTO FOUCAULTIANO NO “ILLÉGALISME” PENALISTA NO CRIVO DO INIMIGO INTERNO......................................................................................... 67 A QUESTÃO DA VIDA E MORTE NA BIOPOLÍTICA DE FOUCAULT..................................................... 68 A VIDA FORA DA JURISDIÇÃO HUMANA: OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO CEARENSES DE 1932 COMO AMBIENTES DE EXCEÇÃO SOB O PARADIGMA BIOPOLÍTICO... 69 A ÉGIDE DA PÓS-VERDADE POLÍTICA NA CONTEMPORANEIDADE: UMA NOVA CRISE POLÍTICA E SUA RELAÇÃO COM O SABER-PODER............................................ 70 EDUCAÇÃO SUPERIOR E BIOPOLÍTICA: SOBRE A ABERTURA DE CURSOS DE PSICOLOGIA NO ESTADO DO CEARÁ................................. 71 “CALUNIADOS, PRESOS, FUZILADOS, GLORIFICADOS”: A VISIBILIDADE QUE A ‘REBELIÃO CRISTERA’ TEVE NA IMPRENSA CATÓLICA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 1920.. 72 APROXIMAÇÕES ENTRE FOUCAULT E MBEMBE: A BIO/NECRO POLÍTICA NO DEVIR SUJEITO DOS QUE NÃO IMPORTAM............................................................................................. 73 BIOPOLÍTICA E DIREITO À SAÚDE NO BRASIL: REFLEXÕES POSSÍVEIS........................................... 74 CARACTERIZAÇÕES E PROBLEMATIZAÇÕES A RESPEITO DA MEDICALIZAÇÃO NA ATUALDIADE............................................................................................................ 75 CONVERGÊNCIAS ENTRE GOVERNABILIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS......................................... 76 DA SOCIEDADE DISCIPLINAR À SOCIEDADE DE CONTROLE: FORMAS DE RESISTÊNCIA CONTRA UMA FORMA DE VIDA FASCISTA........................................... 77 ESPETACULARIZAÇÃO DA INTIMIDADE E SUBJETIVAÇÃO DA PERFORMANCE DE CAMGIRLS: ANÁLISE DO CASO DREAD HOT.................................................... 78 FOUCAULT, PODER DISCIPLINAR E PENALIDADE NA SOCIEDADE MODERNA........................... 79 GENEALOGIAS DA INTERNAÇÃO EM GOFFMAN E FOUCAULT E AS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS NO BRASIL .......................................................................................... 80 GRAFFITI E JUVENTUDES: NOTAS DE UMA GOVERNAMENTALIDADE A ESPREITA.................... 81 JORNALISMO E BIOPOLÍTICA: COMUNICAÇÃO CONSTRANGIDA................................................... 82 LOUCURA, LÓGICA MANICOMIAL E HIGIENIZAÇÃO SOCIAL: ENTRE O ENCARCERAMENTO E A RESISTÊNCIA.................................................................................... 83 MEDICALIZAÇÃO DOS CORPOS E O BIO-PODER NA ESSENCIALIZAÇÃO DOS CORPOS FEMININOS DIANTE DA LEI N° 9.263/12/1996..................................................................... 84 MORTE IMPUNE E LUTO PROIBIDO EM GIORGIO AGAMBEN E JUDITH BUTLER........................ 85 O BIG DATA E A GOVERNAMENTALIDADE ALGORÍTMICA: NOVAS FORMAS DE PODER, DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA............................................................... 86 O ESTADO E A POLÍTICA NA VISÃO DE FOUCAULT: UMA ABORDAGEM INTRODUTÓRIA....... 87 O NEOLIBERALISMO E AS MUTAÇÕES DO PODER OU PARA ALÉM DO PODER BIOPODER: DIÁLOGOS ENTRE FOUCAULT E BYUNG-CHUL HAN............................................................................ 88 “PAI, AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE DE VINHO TINTO DE SANGUE”: BIOPODER, FASCISMO E DOMESTICAÇÃO DOS CORPOS................................................................... 89 POLÍTICA CULTURAL E GOVERNAMENTALIDADE: A PRODUCÃO DE UM SABER-PODER SOBRE O SISTEMA NACIONAL DE CULTURA........................................................................................... 90 PRAZERES ARTIFICIAIS.................................................................................................................................... 91 RACISMO EM FOUCAULT E MBEMBE: UMA ABORDAGEM DECOLONIAL...................................... 92 FUNDAMENTALISMO NO GOVERNO BOLSONARO: DISCURSOS E CONTRADISCURSOS........ 93 TECNOLOGIAS DOS “BONS COSTUMES”: ESPAÇOS, CORPOS E PROSTITUIÇÃO EM FORTALEZA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX............................................................................ 94 A MORTE DO REI E À ESPREITA DA VIGÍLIA: OLHARES E FUGAS...................................................... 95 BIOPOLÍTICA E CUIDADO DE SI NA FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL E CONTINUADA: O DISCURSO OFICIAL E O ACADÊMICO.................................................................................................... 96 DIRECIONAMENTOS IDEOLÓGICOS E DISPUTA DE PODER NAS RELAÇÕES ENTRE MÍDIA E SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: O JUDICIÁRIO COMO AGENTE POLÍTICO...................................97 I COLÓQUIO INTERLOCUÇÕES FOUCAULTIANAS - SUBJETIVIDADES: RESISTÊNCIA E EXPERIÊNCIAS ÉTICAS CADERNO DE RESUMOS GT 1 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A EXPERIMENTAÇÃO IMAGÉTICA NO DEVIR-FÍLMICO, UM ATRAVESSAMENTO ÉTICO-ESTÉTICO E POLÍTICO Francisco Harley de Oliveira Almeida Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira Graduando em Antropologia harley.almeida@gmail.com Gisele Soares Gallicchio Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira UNILAB, IH, Docente gisoaresgal@gmail.com RESUMO O devir-fílmico consiste numa expressão audiovisual que transversaliza ciência, filosofia e arte, Uma experimentação lançada pela cartografia esquizoanalítica conforme a perspectiva da filosofia da diferença de Gilles Deleuze e Félix Guattari, atravessando as coordenadas em outras direções, inúmeras direções, sentidos e vetores, assinalando o processo cartográfico, não obedecendo à orientação das coordenadas, assinalando as intensidades vividas, captando os efeitos das forças humanas e não humanas. Dessa maneira, transgride o território identitário. Quando a experimentação imagética perpassa as fronteiras e as linhas de existência, resistentes nas margens, imargens assinalam modos de vida. Territórios (geográfico, político e existencial) cujos limites não coincidem, nem se correspondem numa sobreposição precisa definida como unidade. Territórios instituídos por margens moventes, pelas forças do fora que dão consistência e assinalam sua multiplicidade. O devir-fílmico enquanto máquina de experimentação ensaia seus signos em variações de corpos, corpos do devir, corpos de potência. Corpos que se relacionam tencionando forças. Essas e outras marcações trazem a noção de um fora que é por muitas vezes da ordem do imperceptível. Desse modo, a arte torna-se inseparável da vida, permeando as relações cotidianas, inventando algo novo entre seus componentes, novas posturas e concepções encarnadas nas práticas. Esta é a potência de uma dimensão estética que corta e se conecta a uma dimensão ética e política, produzindo aberturas para novos universos referenciais. Palavras-chave: Devir-fílmico. Multiplicidade. Diferença. Experimentação. 11 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A SUBJETIVAÇÃO EM FOUCAULT: UM EM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO Maria Aparecida de Santana Silva Universidade Federal do Cariri Mestranda em Ensino de Ciência e Matemática-UFPE cydasantana13@hotmail.com Juliana Andrade da Silva Universidade Federal de Pernambuco Mestranda em Ensino de Ciência e Matemática-UFPE julianandrade91@hotmail.com RESUMO Na busca em adentrar nos desafios que os alunos do terceiro ano do ensino médio enfrentam nas suas escolhas profissionais e pessoais ao término do curso, nossa proposta neste trabalho é apresentar uma pesquisa realizada com vinte e cinco alunos de uma escola do ensino médio da cidade de Chã GrandePernambuco, com base referencial de Foucault o sujeito e os modos de subjetivação, identificamos através de aplicação de questionários alguns modos de subjetivação encontradas nas suas tomadas de decisões, no decorrer do curso. Em uma análise crítica-reflexiva foi percebido que muitas escolhas dos alunos se deu por parte de processos de subjetivação no decorrer do ensino médio, o que nos levou a acreditar que escolhas equivocadas e subjetivadas podem ser um dos principais responsáveis da evasão universitária e que ainda muitos jovens não acreditam que o ensino superior possa ser o caminho para o sucesso profissional. Desta maneira esse trabalho busca apresentar os modos de subjetivação pela escolha ou não escolha da sua carreira profissional. Mostrando que as subjetivações e os modos de subjetivação que constitui as decisões desses alunos, são capazes de definirem o seu modo de vida. É importante que possamos forma jovem críticos e que tenham o cuidado de si, para decidirem de forma coerente e positiva sua vida profissional. Palavras-chave: Subjetivação. Foucault. Ensino médio. 12 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A UNIVERSIDADE ENQUANTO PRISÃO: LIBERDADE OU VIGILÂNCIA E PUNIÇÃO? Paulo Rossi Cavalcanti Neto Universidade Federal do Cariri Graduando em Jornalismo Paulorossicavalcanti@gmail.com RESUMO Adentrando no espaço da Universidade Federal do Cariri muito do que é pensado e exposto por Foucault em ‘Vigiar e Punir’ é revelado aos olhos ainda hoje. As paredes recém-pintadas e ‘blindadas’ para que se evitem pichações ou quaisquer formas de arte/resistência que não sejam ‘higiênicas’ o suficiente expõem uma realidade inquietante por trás do vazio esbranquiçado: um modelo de poder baseado em prisões. Situações semelhantes ocorrem em várias Universidades Brasil afora. Apesar da ausência de sirene, os alunos parecem movidos por uma espécie de alarme interno que os orientam quanto aos horários das aulas. Pontuais, devem chegar e prestar atenção enquanto chamadas são feitas. Acima de 25%, reprovação. Atrasados precisam correr ao Restaurante Universitário e engolir a comida nos pouco minutos que têm. A ideia defendida de um jornalismo humano, por exemplo, logo é descartada quando problemas de saúde surgem naqueles que mal podem digerir. Não há tempo, apenas a arquitetura sistemática produzida afim de controlar, aceita pela sociedade através de coerção baseado no princípio de que vigiar é mais produtivo que punir, segundo Foucault. Na escola, período anterior à Academia, há sirene, condicionando e disciplinando de forma efetiva o corpo, que deve ser sempre controlado por meio de recompensas e punições. As semelhanças entre Universidade e prisão passam a fazer ainda mais sentido. Ordem. Padrão. Hierarquia através de guardas, professores, alunos, servidores, pró-reitores, reitor. Paredes que separam essas hierarquias em blocos, salas. Tal qual facções, pessoas são divididas em cursos, setores, unidades acadêmicas. A ideia condicionada de fardamento vinda da escola é tão forte que mesmo diante da liberdade de se vestir, é escolhido por vezes confeccionar fardas dos cursos. O banho de sol é a hora do intervalo em que há tempo para uma socialização mínima. Há o refeitório e tanto o tempo na prisão quanto o tempo na academia objetivam a liberdade ao final. Sob vigilância e punição, que liberdade resta à Universidade, que tanto se intitula livre? O que isso demonstra de nós enquanto sociedade? Questões que há 44 anos eram levantadas e que ainda hoje não encontraram respostas capazes de libertar mentes sistematicamente encarceradas. Palavras-chave: Vigiar. Punir. Foucault. Universidade. Prisão. 13 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A VONTADE DE SABER: O REMATE DA HIPÓTESE REPRESSIVA NAHISTÓRIA DA SEXUALIDADE I Guilherme Macedo Silva Universidade Federal do Cariri-UFCA Graduando em filosofia guedesguilherme996@gmail.com RESUMO Até o século XVII teríamos vivido num tempo em que os discursos sobre o sexo pairavam nus por todas as partes, “as práticas não procuravam o segredo; as palavras eram ditas sem reticências excessiva e as coisas eram feitas sem demasiado disfarce” (FOUCAULT, 2017). Assim se ordenavam os sujeitos até o momento em que o sexo é engolfado por uma burguesia vitoriana que violentamente o encerra. Ao sexo começa-se a perguntar coisas. Normatizam-no em uma forma em que ele só sirva para respeitar funções que já passam a lhe ser intrínsecas, cria-se um imaginário moral a sua volta que só o permite à luz de uma série de restrições bem demarcadas pelo o que se entende do que é lícito e do que não é; os sexos se proíbem de maneira que só exista uma forma indiscutida e cristalizada de “o sexo”, e se proíbe também vigia e pune todas as tentativas de ser, de dizer ou de fazer sexo que estejam fora da nuança das intenções dessa lei e de suas pretensões. Em nossa experiência de sociedade desde o século XVII as preocupações em torno do sexo se intensificam na medida em que suas razões e múltiplas formas de aparecer vão sendo notadas, agora ao sexo não se confere só uma questão simples e unívoca, pelo contrário, multiplicaram-se os discursos e os saberes que incidem neste dispositivo. A hipótese repressiva vem a reboque quando Foucault percebe uma nova forma de produção discursiva que o realoca, ao sexo não se diz simplesmente “não”, ou melhor, se isso for dito, de longe ele não é encerrado aqui. Nisso tudo, num plano bastante ousado de um saber/poder procurou-se e incitou a todo custo e em todas as sociedades alcançar uma verdade sobre o sexo. A vontade de saber quando a hipótese repressiva cai por terra desenha um sistema de co-participação desses corpos sexuais com os jogos de verdade que os atravessam e moldam. É isto que o texto pretende explorar. Palavras-chave: Sexualidade. Discurso. Hipótese Repressiva. 14 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A HETEROTOPIA DO CORPO NEGADO Jonatá dos Reis Lima Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Graduando em Filosofia jonatalimafinancas@gmail.com Roberta Calini Gomes Pereira Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Graduanda em Filosofia robertacalini36@gamil.com RESUMO O artigo busca analisar a relação presente de corpos que a todo o momento são negados e direcionados a outro lugar, como o caso hermafrodita analisado por Michel Foucault, onde o corpo é sempre disciplinado a uma normatização da sociedade, a presente análise do poder, conduzindo a discursão a um desnudamento do corpo, tirar as roupagens que o limita e o subordina. Frente ao estudo desenvolvido por Foucault, a análise da compreensão do real relacionado ao espaço, ele concebe a heterotopia, lugares que estão fora de todos os “outros lugares”, muito embora sejam localizáveis. Ou seja, há lugares existentes no real que podemos localizar sua presença física, na sociedade, mas que ao mesmo tempo são excluídos ou produzidos de forma a excluir. São espaços/lugares concebidos como (in)existentes afim de não interferir na sociedade normatizada. Assim a análise se apresenta diante do caso da hermafrodita Herculine Barbin, do corpo apresentado como monstruoso, transgressor, “errado”, sendo conduzida a busca incessante do “sexo verdadeiro”. São dispositivos como a medicina, a religião, que encerram uma natureza do corpo, “qual o verdadeiro sexo que se esconde sob aparências confusas”. A discussão é direciona ao desnudamento do corpo, análise feita entre Diógenes o cínico, que se opunha a teoria essencialista do homem em Platão onde o corpo é direcionado a cárcere e prisão da alma, e a coreógrafa alemã Pina Bausch, a denuncia da subordinação do corpo diante a dança, a repetição, presente no artigo Corpo Escandaloso: o cinismo em Pina Bausch (FANTINI & PORTO). Há o que poderíamos fazer referencia a Foucault de Utopia do corpo, o uso acessório de máscaras, maquiagem, vestimentas, retórica, onde o corpo se subordina frente a outro em meio de esconder suas falhas. E assim como na dança, o corpo é disciplinado a se comportar diante da sociedade. Dessa forma, percebe-se em Foucault o direcionamento do corpo, do físico, como parâmetro das relações. Palavras-chave: Heterotopia. Sociedade Normatizada. Corpo. Michel Foucault. 15 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A POLÍTICA COMO MEDIADOR DE PUNIÇÕES AOS MEMBROS DA COMUNIDADE LGBTQ PORTADORES DO HIV Leanderson Dias da Silva Universidade Federal do Piauí – Campus Parnaíba Graduando em Psicologia lean0071@hotmail.com Joaquim João de Araújo Filho Universidade Federal do Piauí – Campus Parnaíba Graduando em Psicologia dearaujojoaquim88@gmail.com RESUMO O processo de crescimento da sociedade ao longo dos anos implica no aumento de diferenças étnicosociais, dentre elas as de cor, gênero e sexualidade. Com isso, as inúmeras produções de subjetividade trazem consigo dialéticas à respeito do espaço ocupado pelo indivíduo, não só o físico, mas também espaço político que lhe confere representatividade. Diante da expansão cultural e do processo de globalização, a diversidade subjetiva acaba se tornando alvo de grupos autointitulados dominantes, estes, formados basicamente por pessoas carregadas de preconceitos e intolerâncias. Tendo em vista que a política e seus mecanismos mediam o comportamento humano através da educação, a mesma também atua como “carrasco” para minorias de baixa representatividade política, através de políticas de inserção falhas e educação de base inconsistente. Este trabalho busca mostrar através de conceitos foucaultianos de vigia e punição, bem como as relações de poder, a perspectiva LGBTQ, mais especificamente dos portadores do vírus HIV, à respeito das políticas públicas e sua eficiência no processo de inclusão social, tomando como base a situação atual dos indivíduos que, além de sofrerem discriminação e exclusão social por assumirem sua identidade sexual, ainda têm que lidar com a estigmatização dentro da própria comunidade em que estão inseridos. Outrossim, realizou-se analogias diante de embasamento teórico e revisão bibliográfica sobre os grupos que são tidos como “vigias” (não-portadores de HIV dentro da comunidade e as campanhas de conscientização contra a AIDS) e os que atuam como “punidores”. Palavras-chave: LGBTQ. Política. Foucault. Relações de poder. 16 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A PRODUÇÃO DISCURSIVA DE ESPAÇOS-AFETOS NÔMADES NO PROGRAMA VIVA A PALAVRA: CARTOGRAFIAS JUVENIS DE REEXISTÊNCIA E PAZ EM TERRITÓRIOS DE VIOLÊNCIA URBANA Claudiana Nogueira de Alencar Universidade Estadual do Ceará Professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada-POSLA claudiana.alencar@uece.br RESUMO Em uma perspectiva interdisciplinar, este trabalho busca aliar os estudos da linguística aplicada (LA), mais especificamente da pragmática cultural (ALENCAR, 2014, 2018), com a filosofia da diferença (FOUCAULT, 1999, 2010; DERRIDA, 1995; DELEUZE E GUATTARI, 1995, DELEUZE, 2011), para entender como as práticas discursivas em vivências auto-organizativas de política, de arte e cultura constituem novas formas de vida, modos de resistir e reexistir das juventudes, diante da violência urbana nas grandes cidades. A pesquisa foi realizada em vivências cartográficas do Programa Viva a Palavra. Com o objetivo de enfrentar a violência contra as juventudes, o “Programa Viva a Viva: circuitos de linguagem, paz e resistência da juventude negra da periferia de Fortaleza” tem articulado ensino, pesquisa e extensão para produzir cartografias das práticas de letramento de reexistência (SOUSA, 2011) das juventudes da periferia de Fortaleza em diversos jogos de linguagem (saraus, contação de histórias, batalhas de rap, slam, círculos de leitura, círculos de paz etc). Este trabalho traz alguns resultados de nossa pesquisa participante em cartografias das práticas discursivas e culturais, dos fluxos, redes e socialidades com jovens da periferia de Fortaleza realizadas nos três subprojetos do Programa Viva Palavra (Palavras de Paz; Palavras de Resistência e Palavras de Esperança). Ao analisar os discursos constituídos nessas cartografias, percebemos que os diversos coletivos e movimentos sociais de juventude da periferia agregam sentidos de afeto às formas construídas que se articulam para criar localidades/translocalidades urbanas. Consideramos as translocalidades pelo nomadismo, as travessias rizomáticas desses jovens pela cidade. Essas localidades criam redes de afetos (SILVA, 2019) em seus deslocamentos pelas periferias e regiões da cidade. Nas práticas discursivas organizativas e auto-organizativas de cultura e arte que inventa afetos (GORCZEVSKI, 2017), percebemos uma Fortaleza plural e diversificada em contraste com a cidade violenta que é construída nas páginas da grande mídia. Palavras-chave: Práticas discursivas. Cartografia. Juventudes. Reexistência. Translocalidades. 17 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A VIGÍLIA DE SI: SUBJETIVIDADE E RESISTÊNCIA NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO Joaquim João de Araújo Filho Universidade Federal do Piauí – Campus Parnaíba Graduando em Psicologia dearaujojoaquim88@gmail.com Leanderson Dias da Silva Universidade Federal do Piauí – Campus Parnaíba Graduando em Psicologia lean0071@hotmail.com RESUMO A universidade surge como centro intelectual/científico e com um alto potencial de produção da subjetividade. No entanto, por fazer parte da sociedade disciplinar proposta por Foucault, o espaço universitário, assim como outras instituições, mantém e exercita o controle disciplinar. Nessa perspectiva o ensino universitário é regido pelo processo de disciplinação, no qual ser disciplinado gera recompensas e desvios de conduta são punidos com micropenalidades. Ainda nesse contexto, a sujeição presente nesse processo gera no estudante a reprodução da vigilância e punição, a qual é aplicada em si mesmo. Desse modo a subjetividade como produto de si é aos poucos substituída por experiências produzidas pela máquina panóptica. Porém, em meio a essa destituição de poder do sujeito, surgem múltiplas formas de se quebrar a máquina e produzir subjetividade no espaço Universitário. Esse estudo tem por finalidade analisar a partir do pensamento de Foucault, presente nas obras Vigiar e Punir, Microfísica do Poder e A hermenêutica do sujeito, aspectos do poder disciplinar dentro da universidade, bem como entender o processo de autovigília do estudante e verificar a existência de formas de produção de subjetividade e resistência. A universidade apesar de ser espaço de produção segue um padrão disciplinar voltado à manutenção de poder, para Foucault o processo de disciplina, nesse espaço, se dá através do isolamento do indivíduo, a partir do qual ele é vigiado, catalogado e controlado. Tal prática permite a máquina realizar a manutenção constante de seu poder. O indivíduo por sua vez passa a ser figura importante nessas relações, pois passam a absorver pra si comportamentos disciplinados, vigiam-se constantemente e se punem. O cuidado de si passa a ser subjugado e práticas controladas se inserem. Em contrapartida a esse processo de controle, inúmeros movimentos sociais, artísticos e culturais surgem permitindo o sujeito universitário assumir uma postura de luta contra a máquina disciplinar. O sujeito universitário encontra-se em um ambiente que busca controlá-lo e ele por vezes se vê subjugado e reproduzindo práticas de vigília. No entanto, o mesmo estudante que é controlado, por vezes foge da disciplina e se torna produtor de inúmeras formas de resistência. Palavras-chave: Foucault. Disciplina. Subjetividade. Resistência. Universidade. 18 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A PARRESIA COMO PRÁTICA DE SI: PLATÃO EM UMA EXPERIÊNCIA DE LIBERDADE Bruno Balbino Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Graduando em Filosofia brunobalbinolc@gmail.com Gleicy Kelly Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Graduanda em Filosofia gleicykm@outlook.com RESUMO Platão, quando jovem sempre teve vontade de ingressar na política, mas por conta das contradições que ele se deparou na sua juventude em relação à política, fez até mesmo ele que era tão ávido por ajudar na condição política de Atenas, viesse a se desanimar. A morte de seu mestre e amigo Sócrates foi a última gota desse desânimo com a política de Atenas. Em umas das viagens de Platão para Siracusa, ele vê a possibilidade de transformar o discurso pensado (logos) em atividade filosófica (érgon). Em seu primeiro contato com a cidade, Platão se encontra com Dion, e é a partir daí que vemos a primeira amostra de uma Parresia, uma fala franca, no qual, Platão percebe que nasce uma Philia, uma amizade que possibilita uma espécie de Kairós, um momento oportuno para aplicação da sua filosofia. No seu contato com Dionísio, Platão não se curva diante a tirania mostrando qual deve ser a atitude do sábio perante tal forma de governo nefasta. Aqui nos deparamos com mais um exemplo de parresia, dessa vez uma cena exemplar de parresia, como denominou Foucault em O governo de si e dos outros. Na cena destacada pelo filósofo como exemplar, Platão, quando indagado por Dionísio acerca do que procurava, responde que foi a Siracusa encontrar um “homem de bem”, fazendo com que o tirano deduzisse que esse homem não seria ele. Dessa forma, a parresia aqui encontra-se no ato de Platão enfrentar um tirano e dizer-lhe a verdade. Palavras-chave: Parresia. Liberdade. Verdade. 19 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário ALETURGIAS DEMOCRITIANAS NAS CARTAS DO PSEUDO-HIPÓCRATES Ibrahim Camilo Ede Campos Universidade Federal de Alagoas Doutorando em Educação icec.campos@gmail.com Walter Matias Lima Universidade Federal de Alagoas Professor (PPGE) waltermatias@gmail.com RESUMO Na aula de 01 de fevereiro de 1984, do último curso de Foucault proferido no Collège de France, intitulado Le courage de la vérité, declinam-se, no bojo das formas aletúrgicas, quatro modalidades fundamentais do dizer-a-verdade: a profética, a parrésica, a da sabedoria e a do ensinador técnico. O escopo deste trabalho é relacionar tais modalidades à luz das narrativas epistolares fictícias da obra Sobre o riso e a loucura ou O riso de Demócrito, texto helenístico atribuído a Hipócrates de Cós. O riso de Demócrito, expresso na arte, na poesia, na filosofia, na retórica e na literatura, ao longo dos séculos, é um dos poucos referentes éticos na história da filosofia ocidental que enaltecem a onipotência dissolutória dessa faculdade humana contra as veleidades, ilusórias quanto nocivas. Atitude filosófica de efeito concentrado, o riso democritiano reverbera nas quatro modalidades acima referidas, servindo o presente estudo, além de enaltecer o riso, abafado pelo logocentrismo na tradição filosófica, como uma inflexão teórica de jaez exemplificativo que junge a derrisão ética à verdade, ilustrando, desse modo, a articulação entre as formas aletúrgicas a partir das Cartas do Pseudo-Hipócrates. Não há, segundo Demócrito, razões morais boas ou más para a insurgência do riso derrisório, mas apenas uma: a insensatez, a frivolidade, a inconstância e a ganância que preenche as pessoas, as quais se atormentam inutilmente buscando uma plenitude inalcançável, em caminho contrário daquele conducente à ataraxia e à autarquia. Os referenciais teóricos utilizados foram as aleturgias analisadas por Foucault no referido Curso, assim como a narrativa literário-filosófica das Cartas do pseudo-Hipócrates, que articula elementos de ordem epistemológica e aletúrgica próprias ao pensamento helenístico. A pesquisa realizada foi de ordem qualitativa, básica e exploratória, mediante suporte bibliográfico. Conclui-se que as quatro modalidades do dizer-a-verdade estão presentes na narrativa pseudoepigráfica, as quais se combinam com estruturas epistemológicas, servindo o riso como elemento primário de intersubjetividade ética. Palavras-chave: Formas aletúrgicas. Demócrito. Pseudo-Hipócrates. Riso. 20 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário ARTE E VIDA EM OBRA: A EXISTÊNCIA ESTÉTICA DE MICHEL FOUCAULT EM RUBIANE MAIA Lindomberto Ferreira Alves Universidade Federal do Espírito Santo Mestrando em Teoria e História da Arte (PPGA-UFES) lindombertofa@gmail.com RESUMO O objetivo deste artigo é situar em perspectiva as intenções poéticas reveladas de aproximação entre arte, vida e obra no decurso dos doze anos de carreira da artista multimídia contemporânea Rubiane Maia, a partir das reflexões em torno da relação entre arte e vida promovidas pelo filósofo e historiador francês Michel Foucault. Considerado um dos mais respeitáveis nomes das artes visuais capixabas surgidos nos últimos 15 anos, e um dos mais importantes expoentes da história recente das artes no Brasil – com projeções nacional e internacional – não são poucos os fatos e feitos que evidenciam a consistência da trajetória de Rubiane Maia no âmbito da produção nacional em arte visual. Só para citar alguns, ela foi um dos oito artistas brasileiros selecionados pela artista sérvia Marina Abramović para integrar a exposição “Terra Comunal – Marina Abramović + MAI”, no Sesc Pompeia, SP, Brasil, em 2015. No ano seguinte, Rubiane Maia recebeu o prêmio de menção honrosa em “Fotografia em diálogo com experimentação artística”, pelo curta-metragem “EVO”, durante o 23˚ Festival de Cinema de Vitória; e, em 2017, recebeu sua primeira indicação à 8ª edição do “Prêmio PIPA - A Janela para a arte contemporânea brasileira” – organizada entre o Instituto PIPA e o MAM – Rio. Visando delimitar um recorte mais circunscrito no âmbito desta perspectiva, o argumento que intencionamos desenvolver passa, essencialmente, pela discussão da influência que a concepção de “estética da existência”, de Michel Foucault (1984 & 1985), teria sobre os processos criativos que perpassam as proposições e produções da artista Rubiane Maia. Dito de outra forma, pretende-se, aqui, verificar até que ponto as reflexões oriundas das reflexões filosóficas de Foucault – de modo especial, aquelas que nelas dizem respeito às estreitas relações entre arte e vida – alicerçam os caminhos trilhados pela artista na concepção de seus trabalhos em arte; como, também, averiguar em que medida essa concepção figura como eixo balizar das práticas artísticas contemporâneas que buscam articular, com maior ou menor efetividade, formas de resistências à fetichização da imagem e ao entorpecimento e neutralização do sensível na arte. Palavras-chave: Michel Foucault. Estética da existência. Rubiane Maia. Arte e vida. Arte contemporânea brasileira. 21 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário BIOTECNOLOGIAS E PRÁTICAS DE SI: UMA ANÁLISE FOUCAULTIANA SOBRE UMA DOULA E A ÉTICA DO CUIDADO Aqueme Siqueira de Sousa Universidade Federal do Piauí (UFPI) Graduanda em Psicologia aqueme-siqueira@hotmail.com Marcos Martins Lisboa Universidade Federal do Piauí (UFPI) Graduando em Psicologia mmarcosl-2010@hotmail.com RESUMO As biotecnologias têm desempenhado um papel central em torno do que se apresenta como práticas de si no contemporâneo. Estas se mostram como condições de existência que produzem significativas transformações nos modos dos sujeitos se relacionarem consigo mesmos, com os outros e com o mundo, o que forja modos de subjetivação. O corpo atravessado pelas biotecnologias comporta sentidos particulares que se edificam nas interfaces entre saúde, vida, vigilância e cuidado de si. Na perspectiva de um cuidado que não se refere às práticas hegemônicas do saber dito científico, têm se instituído as práticas das doulas, que utilizam-se de técnicas outras para prestar atenção às mulheres grávidas ou parturientes, em prol da maior humanização do cuidado ao corpo das mulheres e bebês, assim como visando ao empoderamento destas no que diz respeito á crítica ao poder médico e combate a violência obstétrica. Não somente nesse sentido, também algumas doulas têm utilizado as novas tecnologias da informação, como formas de propagar conhecimento, assim como modo de tornar visíveis seus serviços. Em tal pesquisa utilizamo-nos dos conceitos-ferramentas da cartografia como forma de apreensão do conhecimento; esta teve como foco a observação sistemática de uma conta em especial muito visibilizada, da usuária pública do Instagram @ericadpaula, afim de cartografar os sentidos que o corpo adquire uma vez atravessado pela visibilidade e pelas práticas de cuidado não hegemônicas prestados pela doula e psicóloga em questão. Foram identificados tais sentidos: o corpo como vitrine, um corpo empoderado; corpo energético, corpo fisiossemântico. Apesar do ambiente midiatizado restrito, tais práticas têm demonstrado uma profunda inserção nos modos de subjetivação no contemporâneo, o que, cremos, dá a nossa pesquisa determinada relevância no que tange ao conhecimento sobre novas formas de cuidado. É fato que tais biotecnologias permitem insurgências frente a soberania do saber médico, possibilitando sobretudo modos de vida inéditos e a revelia do modelo dominante. Entretanto, após uma análise cuidadosa do espaço de promoção dessa modalidade de cuidado, notou-se uma captura desse dispositivo frente a lógica de mercado, padronizando e serializando o que deveria ser singular. Palavras-chave: Biotecnologias. Análise Foucaultiana. Ética do cuidado. 22 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário CARNAVALIZAÇÃO E PARRESÍA NO CONTO HISTÓRIAS DE ALEXANDRE: CONSTRUINDO APROXIMAÇÕES ENTRE BAKHTIN E FOUCAULT Nathalia Viana da Mota Universidade Estadual do Ceará Mestranda em Linguística Aplicada nathalia.viana@aluno.uece.br Prof. Dr. João Batista Costa Gonçalves Universidade Estadual do Ceará Co-orientador joao.goncalves@uece.br RESUMO A proposta deste trabalho é reforçar o olhar transdisciplinar entre os estudos linguísticos (Bakhtin, 1987; 2002) e filosóficos (Foucault, 2011) com vistas a promover um diálogo entre a categoria bakhtiniana da Carnavalização e a categoria foucaultiana da Parresía, a partir da análise do discurso literário no conto Histórias de Alexandre, de Graciliano Ramos. Essas aproximações teóricas se fundamentam quando Bakhtin (1987, p. 264), ao definir uma das funções do carnaval, enquanto “imagens da festa popular”, afirma que essas imagens são “ativas e triunfantes”, que elas “misturam-se organicamente também à ideia de verdade, livre e lúcida”. Verdade que derrota o medo e busca alcançar a mudança e a renovação. Por sua vez, Foucault (2011, p. 164), ao definir o cinismo enquanto o ápice da parresía, enquanto “escândalo da verdade”, diz que o carnaval estudado por Bakhtin “pertence certamente a essa manifestação da vida cínica”, “a vida que escandalosamente manifesta a verdade”. Nesse sentido, tomando como objeto de análise o conto Histórias de Alexandre, defenderemos o personagem “cego-preto-Firmino” como a representação de um sujeito que “destrona o rei” ao “dizer a verdade” e assim, em busca de sua libertação contra o opressor (o personagem Alexandre), realiza o exercício da carnavalização e da parresía como princípios de uma vida ética. Assim, diante do exposto, escolhemos o GT1 - Subjetividades: experiências éticas, arte e movimentos coletivos - para empreendermos nossa fecunda proposta. Palavras-chave: Carnavalização. Parresía. Bakhtin. Foucault. 23 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário CENTRO POP: UMA EXPERIÊNCIA DE IMERSÃO NOS SUJEITOS E SUAS TECNOLOGIAS Antônio Lucas Beserra Alencar Graduando em Psicologia Universidade Federal Delta do Parnaíba (UFDPAR) lucasalencarfotografia@gmail.com Mariana Marinho de Abreu Graduanda em Psicologia Universidade Federal Delta do Parnaíba (UFDPAR) mariimarinhoa@gmail.com RESUMO O presente trabalho é referente a experiência de estágio desenvolvida durante o Estágio Profissional II em Saúde Coletiva, no dispositivo Centro Pop do município de Parnaíba-PI, e visa retratar como se deu o processo de inserção no âmbito desse serviço, seu modo de funcionamento, as atividades realizadas durante esse período e o papel do Psicólogo frente esse campo de atuação. O estágio profissional II em Psicologia e Saúde Coletiva é um componente curricular do curso de Psicologia que tem como objetivo o fomento de ações de promoção de saúde, saúde mental e cidadania em instituições de educação, saúde e assistência social e possibilita ao estudante uma proximidade com a realidade dos serviços públicos. O campo objeto desse trabalho, corresponde ao Centro Pop serviço da assistência social que atende um público bem especifico, a população em situação de rua. No decorrer deste período atividades voltadas para práticas de Redução de Danos foram ministradas, uma roda de conversa sobre cidadania e direito fora feita, trabalhou-se subjetividade tendo como instrumento o Lambe Lambe e uma oficina de fotografia, além da exibição de filmes e músicas. Buscou compreender o funcionamento da rede, havendo articulação com outros dispositivos como CREAS, CAPS II e CAPSIII. Alguns tensionamentos acerca das práticas dos profissionais e de particularidades do serviço também são foco deste trabalho, autores como Xavier e Araújo (2014), Benevides (2005) e Méllo (2018) vem servir como embasamento para compreender a sociedade moderna e contemporânea, bem como o capitalismo e sua influência na valorização do que é do indivíduo em relação a coletividade, no uso de tecnologias que assujeitam a partir da disciplinarização e normalização dos corpos, os modos de vida de cada indivíduo. Palavras-chave: Estágio profissional. Saúde Coletiva. Centro Pop. 24 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário CORPO DÓCIL: PODER E DISCIPLINA DO CORPO NO BALÉ CLÁSSICO E NA DANÇA MODERNA Beatriz de Almeida Martins Universidade Federal da Paraíba Graduada em Filosofia beatrizmartinsgnr80@gmail.com RESUMO O objetivo deste trabalho é abordar a dicotomia entre o balé clássico e a dança moderna, para tal, utilizaremos os conceitos de “poder”, “disciplina” e “docilidade” utilizados por Foucault (2011) para apresentar essa diferença e ruptura do balé com a dança, no entanto, partiremos de uma visão política do balé clássico, enquanto um corpo que dança para outro, e, portanto, molda-se para uma vigilância, em seguida, apontar a dança moderna como uma fuga desse aprisionamento do “corpo clássico”, que apesar de não fugir da disciplina por completo, foge do alinhamento que existe no balé clássico. Para isso, usaremos como base uma das maiores influências da dança moderna, a dançarina revolucionária Isadora Duncan. Todo corpo que está inserido em um campo social, é imediatamente introduzido num espaço político e a sua relação com outro mantém esse círculo de poder. No entanto, algumas modificações são realizadas sobre o corpo, para que ele possa se adequar ao meio. Ele é corrigido para melhorar suas atividades e principalmente, a serviço da sociedade (como um militar, um operário, uma bailarina). Em Vigiar e Punir, Foucault (2011) apresenta esse controle comportamental e físico que o homem sofre como resultado do poder disciplinar, que se preocupa em normalizar a sociedade e que pra isso, necessita de corpos dóceis, que são corpos passíveis de modificação, correção, moldagem, manipulação e adequação. Portanto, a disciplina é, para Foucault (2011), uma forma sutil de controlar o corpo, de moldá-lo por necessidade e mantendo então, uma relação de poder. No balé clássico os corpos são totalmente moldados para agradar a outrem, enquanto que na dança moderna o estranhamento da liberdade dos passos e dos movimentos, tem a capacidade de chocar o público e transmitir a ele uma mensagem. Enquanto a Isadora na dança moderna, não se preocupou com a estruturação do seu corpo, mas com a beleza natural que a acompanha em cada curva. Palavras-chave: Corpo. Disciplina. Docilidade. Foucault. Poder. 25 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário CORPO MORAL X CORPO ÉTICO: A SUPERAÇÃO DA SERVIDÃO E A CONQUISTA DA LIBERTAÇÃO POR NOVAS EXISTÊNCIAS CORPÓREAS Raimundo Cirilo de Sousa Neto Universidade Federal do Ceará Graduando em Psicologia xrcirilox@gmail.com Caio Lucas do Carmo Prado Universidade Federal do Ceará Graduando em Psicologia clucasprado@gmail.com RESUMO A partir de investigações acerca das concepções e construções socio-históricas e filosóficas do corpo, atentamo-nos às formas de exercício de poder evidenciadas e correlacionamo-as com as repercussões investidas pela moral e pela ética, o que nomeamos de Corpo Moral e Corpo Ético. Considerando que o corpo é um locus de teorização, investimento e produção de onde partem e culminam pressupostos morais e exercícios éticos, evidenciamos uma insurgência do corpo contra o poder, isso sendo possível por meio de uma mudança de eixo da descoberta de si para a reinvenção de si, através da experimentação inquieta, incapturável e criadora. Confrontando as imagens de moral e ética, somos capazes de criar o lugar de debate e, até mesmo, da reinvenção dos limites democráticos. Como caminho, destacamos a arte como um exercício ético do corpo, estratégia de resistência e impulsionadora de novas possibilidades, analisando o caso do artista cearense Ari Areia com sua performance em Histórias Cruzadas - peça teatral que retratava a situação de invisibilidade e marginalização de pessoas travestis e transsexuais. A apresentação nos mostra um momento de confronto entre um corpo que experimenta novas formas de denúncia e um outro que reage a isso de forma violenta e impositiva, cria-se o espaço para o fazer político. Portanto, temos o Corpo Ético não como fim, mas como abertura, como meio e como possibilidade de reinvenção criativa da democracia. Isto é, como caminho importante, apesar de dificultoso, para a superação da servidão e conquista da libertação. Ou seja, com o Corpo Ético, que busca liberdade e possibilita novas experiências corpóreas, questionamos e desestabilizamos a prevalência dada ao Corpo Moral, que nos normatiza e nos dociliza. A partir dessa provocação, compreendemos a potência de uma co-ativação desses corpos, criando para si, um corpo que pelo conflito, reinventa-se a todo instante. Palavras-chave: Corpo. Moral e Ética. Novas Corporeidades. Arte. 26 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário CUIDADO FAMILIAR E A SAÚDE MENTAL: UMA VISÃO FOUCAULTINA DO CUIDADO NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL Mikaelly da Silva Soares Universidade Federal do Piauí – UFPI Graduanda em Psicologia missoares96@gmail.com RESUMO Os avanços das formas de compreensão da saúde, a partir das reformas Sanitária e Psiquiátrica no Brasil, acarretaram mudanças importantes. Em saúde mental, essas mudanças são tidas como conquistas, principalmente por quebrar com o enrijecido processo de institucionalização das pessoas acometidas por sofrimento psíquico, implantando uma rede de dispositivos que atuam como meio de circulação para quem está em tratamento, diferentemente do modelo hospitalocentrico, focado na medicação e no cárcere. A Luta Antimanicomial, na prática conhecida por Reforma Psiquiátrica, ação que teorizou e materializou uma grande mudança no atendimento das pessoas com sofrimento psíquico, buscando a criação de uma rede de serviços e estratégias territoriais e comunitárias solidárias e libertárias, tem papel fundamental nessas mudanças. Considerando os princípios da Reforma, e a atual conjuntura política que o país tem atravessado é importante pensar, problematizar e discutir as relações de poder construídas dentro dos serviços de saúde. O presente trabalho objetiva pontuar, compreender alguns aspectos presentes na relação entre usuário, família e serviços que trabalham com saúde mental, tais como implicações dessa relação e expressões sociais que a perpassam. O cuidado familiar pode ser entendido como um conjunto de ações que contribuem para a promoção de saúde, como o auxílio com cuidados básicos, higiene, alimentação, o controle de medicamentos e incluindo o apoio social, ou seja a família agir como ponto de referência dos usuários dos serviços de saúde, podendo participar ativamente das ações propostas nos dispositivos. O contexto social de pobreza, violência e outras vulnerabilidades estão associados a maneira como o sofrimento psíquico é encarado, assim entender o contexto e as expressões que envolvem os modos de vida dos usuários, como parceira do cuidado, sendo esse um dos princípios dos dispositivos como o CAPS, estimulando a ideia de corresponsabilização do cuidado. Entendendo que modelo psicossocial tem como maior objetivo a inserção dos usuários em suas famílias e comunidades, buscando o reconhecimento da autonomia e a garantia de direitos dos mesmos, a inserção da família no processo terapêutico, e o incentivo de ações de autocuidado para os cuidadores são encaminhamentos que precisam fazer parte do plano de trabalho do serviço. Palavras-chave: Cuidado. Família. Saúde Mental. 27 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário DISPOSITIVO ESCOLA E OS DESAFIOS DA PROFISSÃO DOCENTE NA CONTEMPORANEIDADE Luana Rafaela da Silva Costa Universidade Federal de Pernambuco Pós-Graduanda no PPGECM lr.luanarafaela@gmail.com Simone Moura Queiroz Universidade Federal de Pernambuco Doutora em Educação Matemática simonemq35@gmail.com RESUMO Esta pesquisa apresenta um exercício reflexivo fruto de discussões promovidas pelo Grupo de Pesquisa Diferença (GPD) da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste – UFPE/CAA, partindo do que Foucault denominou de sociedade disciplinar (FOUCAULT, 2011), direcionamos nossa pesquisa visando enfatizar o funcionamento da instituição escolar (GALLO, 2003; VEIGA-NETO, 2011), e como essa tenta adaptar-se à sociedade contemporânea, operando em seu interior transitando entre dispositivo disciplinar e dispositivo de controle (DELEUZE, 2008) frente à crise escolar atual que nega e resiste quanto a essas funções. Por vezes o professor é responsabilizado pelas interações que acontecem ou deixam de acontecer em sala de aula, desconsiderando outras variáveis, assim são direcionadas forças hierárquicas reafirmando o comprimento de metas definidos por prazos e regras internos e externos inerentes à sua profissão. Com isso, tecendo relações com a Filosofia da Diferença através dos autores como Foucault (2009, 2010a, 2010b, 2012), Agamben (2011), Deleuze (1994, 2009, 2011) Deleuze e Guattari (2011), Rolnik (2011), buscando deslocar conceitos como subjetivação, linhas de força, poder e resistência, processos de constituição da subjetividade, desterritorialização, desejo, dentre outros, para a educação, problematizando a autonomia e a constituição do professor na tentativa de identificar os inúmeros desafios próprios à docência, buscando através do cuidado de si (FOUCAULT, 2009, 2010b), uma possibilidade de repensar o estilo de vida, diante das afetações e rotas de fuga produzidas em meio à construção da subjetividade docente e suas resistências, visando estimular uma prática ativa e interventiva na relação consigo mesmo e com o outro. Palavras-chave: Dispositivo escola. Profissão docente. Autonomia. Educação. 28 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário DIÁLOGOS ENTRE O CORAÇÃO E A HISTÓRIA DA LOUCURA: NISE DA SILVEIRA E MICHEL FOUCAULT Paulo Junior Alves Pereira Universidade Federal do Cariri Graduando em Jornalismo p.junior.pj405@gmail.com Gabriela Bernardo da Silva Evangelista Universidade Federal do Cariri Graduanda em Jornalismo gabriela_bse@hotmail.com RESUMO A psiquiatra Nise da Silveira, alagoana, certamente nunca esteve defronte a Foucault, entretanto, cada um a seu modo deixou sua marca na compreensão do ser louco e da loucura. Foucault nos entrega um caminho, nos apresenta a interpretações socais sobre aqueles que vivem o ato da loucura, nos traz representações imagéticas, estas, construídas segundo o olhar dos que, em tese, vivem a sanidade. E na experiência da sanidade discutem, internamente, a dualidade entre o fascínio e a repulsa perante a imagem do louco. Nise, flui de outros modos, inserida em ambientes que buscavam tratar a loucura, trazer sanidade ao que era considerado insano, ela percebe acepções diferentes neste caminho. Amanda Mont’Alvão, em texto publicado no Huffpost Brasil, define Nise como alguém que enxergou a riqueza das pessoas que estavam no meio do caminho, entre a existência e a dignidade. Já Christian Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da USP, apresenta a psiquiatra como alguém que deu voz e que permitiu o reconhecimento do engenho interior, que é louco, mas não insano. Nise trabalhava o inconsciente através da arte, ela notou que as artes plásticas, especialmente a pintura, serviam como porta de expressão aos pacientes, ou clientes, permitindo que eles usassem a arte como meio de fala, método de demonstração ao mundo de seus sentimentos, medos, angústias, para dizer a quem visse suas obras quais eram seus conflitos internos. Foucault, em “A História da Loucura”, adota uma representação construtiva da imagem, como detentora de protagonismo no âmbito do dizer, no exercício da transmissão de mensagens. No entanto, ele também afasta a pintura do contexto da linguagem, devido a sua capacidade de assumir sentidos e significados. Foucault aponta, ainda, a possibilidade de esvaziamento da imagem, fazendo com que ela assuma unicamente a face do enigma, da descoberta. Logo, ela deixa o lugar de ensinamento e assume o posto do fascínio. Nise da Silveira e Michael Foucault dialogam na concepção do papel da imagem, dentro da compreensão da loucura e do louco, ambos assumem a imagem como ambiente de prestígio, de multiplicidade, capaz de assegurar voz àqueles considerados inábeis ao convívio social. Palavras-chave: Foucault. Nise da Silveira. Loucura. Imagem. Pintura. 29 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário ENTRE SIMULACROS, IMAGENS-LIMITE Saulo de Araújo Lemos Universidade Estadual do Ceará Doutor em Literatura Comparada saulo.lemos@uece.br RESUMO Ao longo da história da filosofia, como se sabe, a imagem deixa de estar amarrada a uma ontologia sem a qual ela supostamente não teria legitimidade e passa a existir por ela mesma, conforme um percurso em que as noções de linguagem e sujeito foram confrontadas com a fragilidade metafísica em pretensamente se sustentavam. Conforme o percurso da obra de Foucault ao longo dos anos de 1960, no que ela se prepara ao questionamento biopolítico da última fase, este trabalho buscará descrever o que denominamos imagens-limite da contemporaneidade, observando o caráter de limiar potencial entre si, e também particular a cada uma, das diversas artes a partir da era da reprodutibilidade técnica. Gilles Deleuze, pensando a filosofia com a interferência do cinema, identificou e catalogou algumas apresentações de imagem que este produzia; as imagens-movimento e imagens-tempo são o que a arte cinematográfica teria ensinado, como pensamento, à produção artística do século XX em diante. Em uma leitura da ficção de Maurice Blanchot, Michel Foucault afirma que ela não é propriamente feita com imagens, mas com os interstícios que há entre elas, de modo a constituir um devir de espaço-tempo com o que é exterior àquela ficção, com o que para ela é limite, palavra cara ao vocabulário foucaultiano. A imagem-limite seria então manifesta como parte de elaborações culturais que se produzem simultaneamente na medida em que seu convívio é impossível, o que configura o mecanismo da transgressão, deslocado pela “morte de Deus” e combalido pelo ciclo histórico geral das modernidades. Sendo imagens como simulacro, elas podem mobilizar potências de produção estética e política, bem como corriqueiramente se desdobrar no que Deleuze identifica como “clichês”, diluições da imagem, do que resultam as performances discursivas-homicidas-midiáticas de certo fascismos recentes e a supremacia costumeira do mercado. As artes, em seu pendor para o que nelas é limite sinestésico, bem como exercício sinestésico, não-normativo, da sexualidade, talvez possam interferir como produção de vida díspar frente a isso. Palavras-chave: Imagens. Limite. Interstícios. Artes. Michel Foucault. 30 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário EXPERIMENTO ARTAUD: UMA INVESTIGAÇÃO POLÍTICA, O TEATRO COMO PRÁTICA DE SI Judson Forlan G. Cabral Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Doutorando em Ciências Sociais judporo@gmail.com RESUMO O objetivo do presente trabalho é abordar o estudo acerca do teatro do artista francês Antonin Artaud como um teatro político na exata medida em que ele é entendido como um espaço de experimentação de si. Para isso, são utilizados alguns conceitos presentes na obra de Michel Foucault, a saber: Poder, Cuidado de si, Estética da existência, Subjetividade, entre outros. Artaud com seu teatro e estilo de vida abalou os diversos programas morais e instituições pelas quais a vida era balizada. Fez da sua vida e arte um combate. Por conta disso, sofreu diversos tipos de punições. Artaud foi um corpo dissidente. Fez da sua arte teatral um lugar de ação sobre a vida. O teatro como prática de si. A sua obra teatral foi fundamental para que ele pudesse traçar uma vida que se colocava além ou aquém de certa perspectiva de estilo vigente com seus mecanismos normalizadores. A vida de Artaud, assim como a de Michel Foucault, foram vidas que de certa forma traçaram sobre a existência maneiras outras de estar nela. Instituíram uma estética da existência `a medida que fizeram das vidas uma obra de arte. Portanto, o presente trabalho enfatiza a vida e sua dimensão política, ou melhor, a sua dimensão micropolítica, entendida aqui na qualidade de uma vida que se rascunha pelo experimento, criando possibilidades de interferir com os próprios corpos e discursos sobre a realidade e o imaginário social. O teatro, no caso de Artaud, foi fundamental para isso. Palavras-chave: Artaud. Teatro. Poder. Subjetividade. Estética da Existência. 31 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário FESTIVAIS FORTALEZA CIDADE MARGINAL: EXPERIÊNCIAS ARTÍSTICAS E SINGULARIZAÇÕES SUBJETIVAS Vitor Mendonça Torres Universidade Estadual do Ceará – UECE Graduando em História vitortorresm@hotmail.com RESUMO A pesquisa aqui apresentada tem por objetivo cartografar os processos de singularização subjetiva que atravessam os festivais Fortaleza Cidade Marginal e sua relação frente às subjetividades sociais dominantes em nosso espaço-tempo atual. Realizado pela primeira vez em 2015 pelo cantor Jonnata Araújo e o produtor audiovisual André Moura Lopes, os festivais tiveram como território de ação as artes, priorizando um tripé formador do evento, a música, a poesia e a performance, apesar do adjetivo relativo a marginalidade está presente no nome do evento, é nas artes ali apresentadas, que essa linha se expressa intensamente, viciados, travestis e desvalidos são (en)cantados pelos que lá se expressam. Em concordância com a análise do deslocamento do capitalismo para instâncias extra fábrica, permeando todas a relações sociais e produzindo subjetivações modelizantes em larga escala no corpo social como afirma Guattari (1996), a pesquisa analisa, usando como metodologia entrevistas com os organizadores, artistas e público participante, categorias que durante as cinco edições vão se tornando cada vez mais amalgamadas, e dialogando com as performances artísticas apresentadas no Festival, como uma ética marginal se desenvolve, guia a criação do evento e dialoga com vida dos realizadores do Marginal nas metrópoles biopolíticas, cuja a produção de outros possíveis, principalmente através de experiências artísticas, se vê cada vez mais potente e caçada. Das questões propostas na pesquisa, é chegada a conclusão de que os festivais Fortaleza Cidade Marginal trazem em sua produção tanto organizativa como nas artes ali expostas, um desejo coletivo de singularização das vivencias e relações, onde o homem de bem, trabalhador e cidadão é abandonado, e as figuras marginalizadas pela própria sociedade que as produzem emergem nas experiências e sensibilidades artísticas ali partilhadas e afirmam uma ligação diferente ao olhar e entender o modo que vivemos. Palavras-chave: Subjetividades. Experiências Artísticas. Singularização. 32 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário FORCAOS: DO “FAÇA VOCÊ MESMO” AO APOIO DO PODER PÚBLICO (1999–2004) Teorgenes Pereira do Nascimento Universidade Estadual do Ceará Graduando em História teo.nascimento@aluno.uece.br RESUMO O trabalho aqui apresentado tem como objetivo entender o processo de mudança do ForCaos de um festival independente para um festival amparado pelo apoio público – e também privado -, no período de 1999 a 2004. Realizado em Fortaleza desde 1999, geralmente é organizado no mês de julho, e em vários lugares da cidade. Caracteriza-se por dar espaço para as bandas de todo o Estado, assim como para os grupos que são de outros lugares do país, fazendo assim, um intercâmbio entre os diferentes cenários da música pesada brasileira. Além de tudo, o ForCaos foi criado no intuito de ser uma alternativa ao Fortal, evento de grande porte realizado também na capital cearense e na mesma época do ano que o evento underground, porém, o Axé Music é o gênero musical mais explorado. Caracterizado pelos trios elétricos, o Fortal faz acontecer no meio do ano em Fortaleza o famigerado “Carnaval fora de época”. Um aspecto que caracteriza o contexto do final dos anos 1990 na cidade de Fortaleza é a ausência de políticas públicas voltadas para a cultura, em específico, para o gênero do rock, tal ausência não foi algo que intimidou os membros do ACR – Associação Cultural Cearense do Rock, organização que idealiza e realiza o festival - na busca de fazer acontecer o evento. Com muita dificuldade, pegando uma coisa emprestada ali e outra acolá, foi organizada a primeira edição. Ao analisarmos a trajetória do nosso objeto, percebemos o caráter da resistência muito presente, pois além de fazer parte de um circuito underground, luta contra adversidades do próprio Estado, como a dificuldade de liberação de verbas, lançamento de editais, pagamento dos artistas, entre outras. Nossa principal hipótese de trabalho consiste na ideia de que o ForCaos, apesar de ser financiado pela primeira vez em 2004, apenas sua 6ª edição, pelo Banco do Nordeste, nunca lhe foi rejeitado o apoio do poder público por parte de sua realização, a Associação Cultural Cearense de Rock. Essa fase consiste num período que vai desde os anos 80, com o surgimento de uma cena underground com diversas vertentes do Rock. Palavras-chave: ForCaos. Underground. Rock. 33 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário GENEALOGIA: UMA TÁTICA METODOLÓGICA PARA ABORDAR AS RELAÇÕES DE PODER Marina Felipe de Oliveira Costa Universidade Federal do Ceará Graduada em Filosofia marinafelipee@gmail.com RESUMO Tal estudo se desenvolve metodologicamente por meio da pesquisa bibliográfica das obras de Foucault, identificando-se os conceitos de genealogia, poder e práticas punitivas. Sob a perspectiva genealógica, cuja característica principal é a inteligibilidade da guerra, destaca-se, no estudo, o histórico das metamorfoses jurídicas, as relações de força e poder inerentes a tais processos, cuja análise somente é realizada pela ótica da batalha, considerando as relações de poder e dominação. Aqui veremos que, para Foucault, a genealogia serve de tática e ferramenta metodológica para uma análise crítica do poder, da história e do sujeito. Seu exercício se dá através de uma abordagem histórica das práticas sociais sem fazer referência a qualquer essência central do poder, tampouco a noções de destino ou de continuidade. Utiliza a história para entender as relações de poder, o jogo entre essas forças, seu local de emergência e suas relações de dominação singulares. Portanto, faremos a exposição da definição de genealogia e das suas implicações metodológicas no estudo do poder. Palavras-chave: Genealogia. Resistência. Poder. 34 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário INSURREIÇÃO MICROPOLÍTICA DE UM REISADO TRANSVIADO EM JUAZEIRO DO NORTE-CE Ribamar José de Oliveira Junior Universidade Federal do Rio Grande do Norte Mestrando em Ciências Sociais ribaeomar@gmail.com Lore Fortes Universidade Federal do Rio Grande do Norte Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais lorefortes4@gmail.com RESUMO O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a insurreição micropolítica de um possível Reisado transviado (BENTO, 2017) na cidade de Juazeiro do Norte, interior do Ceará. Para tanto, busca-se levar em consideração o viés de encantamento da manifestação tradicional popular, evidenciada por Barroso (2013), para esboçar nos caminhos metodológicos sentimentais de Rolnik (1989), cartografias do desencantamento capazes de perceber, dentro do eixo de precariedade e performatividade, como os corpos dissidentes na cultura popular regional partem de uma potência de criação na condição micropolítica. Considera-se que o artivismo das dissidências sexuais de gênero (COLLING, 2018) produz uma potencialização de acontecimentos nas cenas da performance da dança, ou seja, o impulso de preservação da vida anuncia mundos por vir através de uma mobilização de inconscientes. O modo de operação dos corpos tidos como ilegíveis pelos códigos da cultura popular, ainda pautada no ideal de cabra macho dentro do recorte de Nordeste, como explica Albuquerque Junior (1999), parece afirmar uma vida possível de ser vivida através de uma essência germinativa ativada por um saberdo-corpo (ROLNIK, 2016), desertando relações de poder e de disciplina dos corpos (FOUCAULT, 1987). Se o brincante transviado pode construir para si um outro corpo fora dos esquemas regulatórios e das dinâmicas do abuso na bússola moral da tradição popular, compreende-se que territórios relacionais temporários são produzidos em sinergias coletivas na mesma medida em que requerem comunidades transviadas em multidão nos cortejos dos grupos. Desse modo, o Reisado aparece posicionado em reapropriações coletivas antes tidas como abjetas na constituição de campos de emergência de acontecimentos políticos. Ao trazer os grupos do bairro João Cabral, analisa-se, a partir da teoria performativa da assembleia de Butler (2018), como alianças biotecnomágicas nos Reisados fazem do brincante transviado um ciebòrgue (ROSA, 2017) hacker das redes normativas do gênero. Palavras-chave: Reisado. Gênero. Cultura. Tradição. Micropolítica. 35 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário MOVIMENTO ANARCO-PUNK DE FORTALEZA: UMA ETNOGRAFIA DAS PRÁTICAS DE LIBERDADE Marina dos Santos Rodrigues Mendes Universidade Federal do Ceará Graduanda em Ciências Sociais marinamende@hotmail.com RESUMO O objetivo deste trabalho é compreender as relações tecidas entre sujeitos que constroem o movimento anarco-punk da cidade de Fortaleza/CE, observando os significados atribuídos ao que designa-se ser e pertencer ao movimento anarco-punk, as ações socioculturais e políticas articuladas por esse movimento, ações que criam ressonâncias, confabulando práticas de liberdade que contestam o modo de vida capitalista e que permeiam seus modos de vida. Dissolvendo as identidades e afastando-se da imagem do movimento anarco-punk apenas como forma de desvio social e entretenimento juvenil, procurei pensar o movimento como “afirmação da vida” (Nietzsche), que não se opõe diretamente ao Estado, mas como criação de formas de viver em conflito com os modos legisladores da vida. Para tanto, usarei a heterotopia foucaultiana como base para pensar as práticas do movimento anarco-punk na criação de espaços que fogem da lógica do capital dentro da sociedade de controle. Foucault no artigo chamado “Outros espaços” escrito em 1967, nos apresenta o conceito heterotopia e os seus princípios. As heterotopias são imanentes às sociedades, não pensando as suas formas de modo universal, mas como singularidades de acordo com contextos diversos. Para o autor, as heterotopias são a criação de espaços que desviam das normas sociais dentro dos centros de poder, criando assim zonas de liberdade no presente, desligando-se de ideais utópicos e realizando essa utopia no agora, com as condições do presente. Pensando a ética do movimento como forma de vazamentos de “abscessos sociais” (Artaud), que criam sociabilidades libertárias, ou seja, que criam heterotopias. Palavras-chave: Anaco-punk. Heterotopia. Sociabilidade. Contracultura. 36 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário NUS, NUDES E PELADÕES: O DISCURSO ARTÍSTICO LEGITIMA PADRÕES DE DESEMPENHO? Iara Cerqueira Linhares de Albuquerque Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Professor Adjunto iacerqueira@hotmail.com RESUMO Uma performance encenada torna-se acontecimento biopolítico no campus da Universidade Estadual de Londrina, cuja nudez é descrita nas redes sociais como “os peladões da UEL”, e perversamente mimetizados. Mobilizados pela temática do holocausto nazista, o corpo envolvido nesse processo de criação faz ressoar experiências pessoais que se potencializam como mídia de si mesmo, ou seja, corposmídias dessas pessoalidades experenciadas. Em tempos de internet, convivemos com postagens de corpos expostos cuja consequência dessa nudez direciona a um comportamento reativo. Muitos se mostram conservadores de um modo de vida que tem no corpo apresentado no seu estado natural um campo de indignação. Nessa realidade, os vigias dos corpos em redes digitais replicam informações que culminam em discursos preconceituosos, perversos e descontextualizados. Ao mesmo tempo, esses ditos corpos-artistas da performance publicitam esses discursos e legitimam padrões na atual sociedade de desempenho (BYUNG-CHUL, 2015) em que não é prudente pensar a dança fora dessa moldura (KATZ, 2014). Seria, então, esta performance configurada como uma dança com/de corpos nus ou de corpos expostos? Enquanto performance em dança, uma vez que busca romper expandindo esse pensamento do corpo (KATZ, 2005), problematizamos essa discussão com a proposta teórica da Vida Expandida (CASTELLS, 2013) e a olhamos a partir da Teoria Corpomídia (KATZ & GREINER, 2005). Busca-se refletir em relação a essa ação criminalizada, dirigida à performance em Londrina, a partir de Foucault (2008), com sua discussão sobre práticas discursivas e a implicabilidade biopolítica do corpo e, possibilitar um olhar crítico quanto aos discursos produzidos nas redes, local que os poderes se fazem impregnar. Palavras-chave: Nudez. Corpomídia. Redes digitais. Biopolítica. 37 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário O DISCURSO DO MESTRE: UM ENCONTRO NA FRONTEIRA ENTRE FOUCAULT E LACAN Raianne Ferreira Lima Centro Universitário Doutor Leão Sampaio Pós-graduanda em Teoria Psicanalítica raiannelima@gmail.com Yan Ferreira de Alencar Centro Universitário Doutor Leão Sampaio Graduado em Psicologia yanfalencar@gmail.com RESUMO Busca-se abordar o discurso do mestre como um ponto de encontro na fronteira entre o pensamento de Foucault e a psicanálise de Lacan. Por um lado, Foucault designa o discurso como uma forma de captação da verdade na linguagem, assim, a malha social é compreendida pela sua sustentação a partir de relações de poder e saber. Sendo assim, o poder atravessa cada sujeito, forjando verdade e colidindo-a à dinâmica dos discursos. Instaura-se daí um jogo de verdade, suscetível às dinâmicas de um poder descentrado, disposto em uma microfísica, compondo modos de subjetivação. Por outro lado, a teoria dos discursos em Lacan aponta para uma posição de cada sujeito no laço social, oscilando em suas quatro posições a partir da dimensão da verdade, a saber, discurso do mestre, da histérica, do analista e universitário. Ao designar o discurso do mestre, Lacan compreende que o significante “mestre” ocupa o lugar de agente e o sujeito o lugar da verdade (recalcada), então, o mestre é aquele que comanda. Nesta nossa abordagem, o foco cabe ao discurso do mestre, pois esta forma de discurso se aproxima dos jogos de verdade mantidos por relações de saber e poder, tal qual formula Foucault, por exemplo, em uma ordem de discurso da ciência. Assim, para o discurso do mestre, é apontada por Lacan uma via ilusória de acesso à verdade direta e irrestrita; é pela ciência que o sujeito se coloca na via de apreensão da verdade, criando-se objetos, denominados por Lacan de latusas, estes só possuem finalidade do gozo, de proporcionarem a vertigem da verdade. Žižek, na esteira das considerações de Lacan sobre o discurso do mestre, ressalta uma espécie de saber que perpassaria o sujeito dando a falsa ideia de que sua busca por significação deve transitar pela via do gozo. Palavras-chave: Discurso. Verdade. Mestre. 38 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário O MESTRE DO CUIDADO E O ENSINO DE FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Antônio Alex Pereira de Sousa Universidade Federal do Ceará Mestrando em Filosofia alexsousa.filosofia@gmail.com RESUMO Os escritos de Michel Foucault (1926-1984) ressoam em diversas áreas do conhecimento. Neste trabalho, interessa-nos a interlocução entre seus últimos escritos sobre a ética e o ensino de filosofia na educação básica, especificamente no Ensino Médio. Na análise sobre o cuidado de si na antiguidade greco-romana, Foucault pontua a importância do personagem responsável pelo cuidado do outro, pois sabe cuidar de si mesmo: o mestre do cuidado, personagem essencial na constituição de uma subjetividade ética. Foucault identifica Sócrates como um dos primeiros mestres do cuidado no campo filosófico e pontua que os filósofos viventes no período helenísticos reformularam e ampliaram a prática do cuidado de si inaugurada pelo mestre de Platão, transformando-a num fenômeno cultural. Aqueles chamados de mestres eram os professores de filosofia. Partindo da análise do mestre do cuidado elaborada por Foucault, faremos uma comparação entre estes professores de filosofia da antiguidade greco-romana e os professores de filosofia no ensino médio na atualidade. Para isso, daremos atenção às práticas desenvolvidas pelos filósofos no cuidado de si que podem ser exercitadas por professores de filosofia no presente, como a escrita filosófica e o exercício do falar a verdade de forma franca, a parresia. A importância deste estudo se verifica na possibilidade das últimas análises de Foucault criarem novos fluxos na educação, especialmente no ensino de filosofia na Educação Básica, sendo relevânte pela possibilidade de criar novos fluxos na educação, especialmente no ensino de filosofia na Educação Básica. Palavras-chave: Mestre do Cuidado. Ensino de Filosofia. Michel Foucault. Prática de si. Ética. 39 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário O VIDEDANÇA NA TERRA DA LUZ – A MÍDIA DA VISIBILIDADE Liliane Luz Alves Centro Universitário Inta/UNINTA-Sobral Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP lililuz@gmail.com RESUMO Esta pesquisa nasce da reflexão acerca da produção de vídeoarte cearense que busca representações da tradição cultural e social do Estado. Buscamos identificar as principais temáticas sociais e culturais que estão sendo retratadas nos vídeos e o que significam no universo de produção do videodança cearense. O objetivo é também analisar como alguns desses vídeos podem ser considerados uma espécie de “profanação” no mercado nacional (AGAMBEN, 2007), representando reivindicações políticas que colaboram para a formação de discussões locais. Os temas são, quase sempre, polêmicos. A Companhia Balé Baião, por exemplo, traz à tona a questão da especulação imobiliária em uma cidade pequena do interior do Ceará. Já o Núcleo de Doc-Dança problematiza os ritos e mitos da religião católica, pois, na região nordestina, a religião é uma característica muito forte. É importante esclarecer que não temos como objetivo relatar a história completa dos videodanças, embora pontuemos algumas experiências como a da pioneira Letícia Parente, que é uma das representantes da primeira geração da videoarte no Brasil. Até hoje, Letícia é uma referência para os artistas contemporâneos. As tentativas de registrar a dança e imagens em movimento da vida cotidiana começam antes do início do século XX, com o advento do cinema, transformando o corpo em dispositivo (FOUCALT,1999) e o dançar um ato político. Palavras-chave: Videodança. Videoarte. Dispositivos. Comunicação. 40 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário OS DESAFIOS DA SAÚDE COLETIVA FRENTE AO PARADIGMA DE SAUDE MENTAL EM TRANSFORMAÇÃO: UMA EXPERIENCIA DE ESTÁGIO Lidia Maria de Aquino Moura Universidade Federal do Piauí Graduanda em Psicologia lidya0676@gmail.com Juliana Rodrigues da Costa Universidade Federal do Piauí Graduanda em Psicologia julianardgs@outlook.com RESUMO Considerando o paradigma da Reforma Psiquiátrica as práticas de cuidado em saúde e em Saúde Mental são entendidas como ambivalentes no que concerne a sua lógica centralizada no sujeito. Tendo em vista que tais práticas funcionam como um dispositivo de enquadramento social normatizador e punitivo conforme nos apresenta Foucault, dessa forma, há uma inclinação a uma perspectiva de saúde dual doença/cura, na qual o cuidado está muito mais associado ao controle e conhecimento de si que reverberam em tecnologias punitivas e compensatórias no tratamento dos sujeitos. Atuar em conjunto com populações em situação de vulnerabilidade reflete no enfrentamento de mecanismos de judicialização, que contrapõe-se à uma postura de ética do cuidado atenta à realidade de cada sujeito, bem como o que o constitui. Considerando que esse cuidado não deve partir de uma lógica de conhecimento de si, sobretudo, comprometido com uma descentralização da subjetividade do sujeito e promoção de saúde, aliada à produção de vida e modos de ser e estar no mundo, esses sendo reconhecidos pelo seu caráter múltiplo. O presente trabalho parte da experiência de estágio Profissional em Saúde Coletiva em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, tendo como perspectiva a reflexão e a implicação em uma ética do cuidado que se propôs na busca por um olhar do sujeito como sendo multideterminado, bem como na descentralização das práticas de saúde no sujeito. Palavras-chave: Saúde Mental. Práticas de cuidado. Judicialização. Tecnologias punitivas. Promoção de Saúde. 41 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário OCUPAR-SE CONSIGO, CUIDAR DE SI MESMO: PRÁTICAS NECESSÁRIAS NO EXERCÍCIO DOCENTE Marta Maria de Lima Sales Universidade Federal de Pernambuco Mestra em educação matemática martinhalima2011@hotmail.com Simone Moura Queiroz Universidade Federal de Pernambuco Doutora em educação matemática simonemq35@gmail.com RESUMO Este texto tem a pretensão de dialogar sobre o cuidado de si, a partir de estudos de Foucault (2010), relacionando tal conceito à docência de matemática. A idealização deste trabalho surgiu das discussões do Grupo de Pesquisa Diferença da UFPE, bem como do nosso desejo em adentrar nesse universo filosófico sob a ótica da educação matemática. Acreditamos que ter cuidado consigo mesmo, ocuparse, cultivar-se é uma prática que todo profissional, especificamente nós, professores de Matemática, precisamos ter, pois, “[...] não é meramente como condição de acesso à vida filosófica, no sentido estrito e pleno do termo, que é preciso cuidar de si mesmo” (FOUCAULT, 2010, p. 10). Então, o que é necessário, primeiramente, para iniciar este exercício do cuidado de si? Para Foucault (2010, p. 9) “O cuidado de si vai ser considerado, portanto, como o momento do primeiro despertar. Situa-se exatamente no momento em que os olhos se abrem [...]”. Este despertar socrático, mencionado, exposto por Platão na Apologia a Sócrates (2012) e Primeiro e Segundo Alcibíades (2015) estudado por Foucault (2011, 2013 e 2014), levanos a refletirmos sobre os acontecimentos que nos perpassam, que nos subjetivam. Assim, o professor que tem o cuidado de si é, antes de tudo, professor de si mesmo, que conhece a si mesmo, é aquele que governa a si mesmo, primeiramente, para em seguida governar os seus alunos. O sujeito da atual modernidade líquida (BAUMAN, 2001) parece preso a tudo que o “afasta de si”, estando acorrentado a grilhões que o impedem a voltar-se para si. E, essa “prisão” não possibilita o conhecimento de si, os impedindo consequentemente de praticar o cuidado de si mesmo. Na tentativa de proporcionar reflexões e conhecimentos sobre o cuidado de si na docência, elaboramos este trabalho, por pensarmos que precisamos discutir, praticar o cuidado de si e levar tais propostas para as instituições de ensino. Assim, acreditamos na relevância de nosso trabalho, a partir das leituras e contribuições trazidas por Foucault (2010), para as escolas e academia por se tratar de um assunto pouco abordado nos ambientes educacionais. Palavras-chave: Cuidado de si. Docência de Matemática. Filosofia da Diferença. Foucault. 42 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário PERMANÊNCIAS, DESLOCAMENTOS E (RE) PRODUÇÕES MIDIÁTICAS EM TORNO DO DISCURSO DA POBREZA Cícero Lourenço da Silva Universidade Regional do Cariri Universidade Federal do Cariri Graduado em Ciências Econômicas Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentável Professor temporário do Curso de Ciências Econômicas (URCA) Cicerolourenco13@gmail.com Francisca Laudeci Martins Souza Universidade Regional do Cariri Universidade Federal do Cariri Professora Associada do Curso de Ciências Econômicas (URCA) Professora do Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável (PRODER) laudecimartins@yahoo.com.br RESUMO A pobreza fabricada, projetada, inventada, estigmatizada, midiatizada é o interesse central da discussão deste estudo. O presente trabalho emerge do interesse em analisar o discurso como elemento de inventividade social, que busca instituir verdades, tendo por pano de fundo os debates forjados em relação à pobreza e o ser pobre. Nosso objetivo foi verificar como os discursos presentes na academia, nas normas e regulamentos da assistência social brasileira, bem como na mídia Folha de São Paulo forjam, classificam, enquadram, atualizam e modelam o conceito de pobreza e do ser pobre, assumindo como recorte o período de 2003 a 2010, período de gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no qual é instituído um enunciado do “Governo da erradicação da Pobreza”. O caminho metodológico deste estudo segue uma abordagem da análise do discurso foucaultiano, adotando como instrumentais analíticos a apropriação dos conceitos de discurso, práticas discursivas e enunciado. A escolha pela análise do discurso em Foucault emerge da vontade de recorrer a outras possibilidades, outras nuances, caminhos outros, muitas vezes desconhecidos e silenciados. Dessa forma, a pesquisa aqui desenvolvida, buscou apresentar as manobras e outras dobras atreladas à pobreza e o ser pobre e, consequentemente, a possibilidade de se escrever um trabalho de caráter pós-estruturalista. Esta pesquisa nos proporcionou observar como se movimenta as engrenagens do discurso, das estratégias de dominação, dos estereótipos criados, da vontade de fixar corpos, de classificar a pobreza e o ser pobre como um ser em constante impotência, sem vez e sem voz. Enfim, a pesquisa aqui empreendida, nos possibilitou ampliar as possibilidades outras de se abordar, visualizar e falar sobre o tema pobreza e o ser pobre. Palavras-chave: Pobreza. Análise do Discurso. Foucault. Assistência Social. Discurso Midiático. 43 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário PONCIÁ VICÊNCIO E OS SIGNIFICADOS DE SER NEGRO NO BRASIL – CONSIDERAÇÕES SOBRE A AMPLIAÇÃO DA CLÍNICA PSICOLÓGICA Sebastiana Sarah Martins Lacerda Universidade Federal do Piauí Graduando em Psicologia sarahmartins882@gmail.com Marcos Martins Lisboa Universidade Federal do Piauí Graduanda em Psicologia mmarcosl-2010@hotmail.com RESUMO Ponciá Vicêncio é uma obra de Conceição Evaristo que retrata a vida de uma mulher caracterizada pelo processo de enlouquecimento, e a vida de sua mãe e irmão, marcadas pela pobreza, escravidão e discriminação racial, pós Brasil colônia. Mesmo sendo uma narrativa de uma história fictícia, a autora relata um cotidiano de processos vividos por milhares de brasileiros até os dias atuais, onde falar de Ponciá é falar de sofrimento, da angústia de existir à margem da sociedade, sendo também pensar em formas de cuidado e de potencialidades para que haja mudança; é falar de saudade e do significado que essa palavra, a mais linda de nossa língua, pode adquirir conforme o que se vive e o que se sente. Tratamos das condições do ser negro no Brasil, do padecer em situação de exclusão social e descaso das instituições públicas, da negação da condição do negro e da afirmação da identidade como forma de potenciar novas construções de sentidos. Fazendo uma leitura dos modos de subjetivação que cruzam tais condições pós escravidão, assim como a análise das instituições de poder que atravessam tais modos de construção de sujeitos, buscamos fazer crítica aos modos de se fazer psicologia hoje, tendo em vista que esta se constitui como um campo de saber-poder elitizado, que negou olhar durante muitos anos para as condições tratadas por Evaristo. Este trabalho nos ajuda a pensar a ampliação do olhar do psicólogo, assim como a ampliação da clínica no contexto social, levando em consideração a complexidade de fatores que envolvem as condições de pobreza e miséria que engendram o processo de ruptura com o real pelas vias da marginalização. Palavras-chave: Loucura. Racismo. Exclusão Social. Formas de cuidado. Clínica Ampliada. 44 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário PROFESSOR-CELULAR-ALUNO: JUDICIALIZAÇÃO E RESISTÊNCIA NA PESQUISA-INTERVENÇÃO Gabrielle Lima Feitosa Universidade Federal do Ceará Mestranda em Psicologia gabriellelimafeitosa@gmail.com Luciana Lobo Miranda Universidade Federal do Ceará Docente do programa de pós-graduação lobo.lu@uol.com RESUMO O trabalho trata de práticas de resistência ante processos de judicialização do cotidiano escolar relacionado ao uso de smartphones em sala de aula. A partir de uma pesquisa-intervenção realizada com 25 professores de uma escola pública em Fortaleza, no projeto “Pesquisando com Professores: a relação mídia e cotidiano escolar”, docentes e gestores discutiram o uso da mídia na escola. Como dispositivo foi criado um curso de extensão de formação de professor que problematizou a mídia como vetor de subjetivação na escola e no fazer pedagógico. As novas tecnologias invadem as fronteiras da instituição promovendo novas práticas disciplinaradoras, mas também abrindo possibilidade de resistência. Segundo Foucault (1999) a escola, assim como as variadas instituições disciplinares, produz relações de poder. Durante as discussões no curso, o celular emerge como um grande gerador de conflito na relação escola-estudante, que devido sua portabilidade e onipresença “recente” na escola, não havia proposta de mediação do uso, decorrendo na sua proibição. Seguindo a lógica das práticas judiciárias, da ênfase nas regras e diretrizes legais (FOUCAULT, 2003) que a escola tem tentado resolver muitos de seus problemas, naturalizando em seu cotidiano a judicialização, utilizando-se do Poder Judiciário para mediar, regrar e punir os efeitos dos desacordos nos contratos e normas sociais do cotidiano das existências(SILVA, C. F. et al, 2015). Na tentativa de controlar os usos dessa tecnologia, os docentes, muitas vezes, sustentavam seus posicionamentos proibicionista através de um discurso jurídico, recorrendo às leis, para conservar seu cotidiano através práticas disciplinadoras. No decorrer do curso, o que antes surgia como uma lei acima das relações, possibilitou uma outra esfera de acordo mais voltado à experiência pedagógica e ao vínculo na relação docente-discente mediado pelo celular, engendrando um processo de desjudicialização do ambiente. As falas e desejos dos alunos com relação ao uso do celular no espaço escolar aos poucos foram incorporadas ao processo da pesquisa, seja através das práticas discursivas dos professores sobre sua experiência cotidiana, seja no processo de criação de um vídeo, onde falas polifônicas de professores e alunos a respeito do celular compuseram esta narrativa audiovisual. Palavras-chave: Judicialização. Resistência. Escola. Pesquisa-Intervenção. 45 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário PSICOLOGIA E SAÚDE MENTAL: UM OLHAR SOBRE A MORTE E A FINITUDE Elaine Maria Silva Moura Centro Universitário Dr. Leão Sampaio Graduanda em Psicologia Elaine.m.s.moura@gmail.com Cristiano Gomes Centro Universitário Dr. Leão Sampaio Graduanda em Psicologia cristianogomes10@live.com RESUMO O presente trabalho, baseado no episódio quatro da terceira temporada do seriado britânico de ficção científica Black Mirror (KOGUT, 2016), tem em sua especificidade como fundo teórico a compressão de finitude associada a vida idosa e saúde mental, considerando na literatura revisada textos que remetessem aos processos de finitude e apagamento do sujeito, ditas por Foucault (1978), como semelhantes a própria loucura. Os cuidados paliativos, têm origem na França do século XIX, nos hospices, onde se acolhiam pessoas doentes e peregrinos que viajavam geralmente com um cunho religioso que cuidavam dos doentes em sua estadia, também início do asilamento da loucura (FÄRBER, 2013; REZENDE; GOMES; MACHADO, 2014; FOUCAULT, 1978). No enredo do episódio “San Junipero”, os asilos e hospitais tinham o papel de auxiliar em cuidados para a morte, concedendo não só a chance dessas pessoas reviverem os seus anos de juventude em um processo terapêutico de realidade virtual, mas também ultrapassar esse último, vivendo eternamente de forma simbólica, já que memórias e sentimentos atrelados as sinapses neuronais eram salvos nesse mundo cibernético, e o ser enquanto biológico era eliminado em um processo através da eutanásia, condição para quem escolhia essa opção de coexistir nessa realidade. Uma construção associada a obra aqui analisada é a morte que Foucault cita ser o grande medo do XV, que como a loucura, ao ser isolada ao campo biomédico passou a ocultar-se da sociedade contemporânea, o sujeito saiu de sua casa para nascer e morrer em hospitais, subsidiando a estigmatização negativa de ambas a algo mítico e invisível ainda atualmente (REZENDE; GOMES; MACHADO, 2014; FOUCAULT, 1978). Por fim, considera-se na análise que a morte atualmente passa de uma condição inerente para algo burlável ou adiável, o sujeito idoso em sua fase do desenvolvimento encontrasse suscetível ao apagamento subjetivo aferido por Foucault ao falar do enlace da morte e da loucura, e o asilar encontram-se em uma dualidade entre o cárcere e o cuidado. Palavras-chave: Finitude. Cuidados Paliativos. Saúde mental. 46 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário QUAL O PODER DO AFETO? DANÇA, CORPO E AFETABILIDADE NOS TEMPOS DE AGORA Márcia Virgínia Mignac da Silva Universidade Federal da Bahia Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP Professora do Programa de Pós-Graduação em Dança/UFBA m.mignac@hotmail.com RESUMO As artes se impregnam pelo horizonte de catástrofe dos tempos de agora. A crise generalizada das democracias e o avanço da moralidade neoliberal, paradoxalmente, redesenham o mundo com novos fluxos. Não à toa, ondas de conservadorismo, de exacerbação de desigualdade de gênero, racismo e fobias como afecções sociais avançam em grande escala. Nem sempre na mesma proporção, da necessidade de garantir a equidade de direitos humanos e a continuidade de diferentes formas de existências. Considerando, um campo de forças complexo, múltiplo e atravessado por enfrentamentos diversos e reversibilidades, urge investigar o papel da dança na produção de outros circuitos de afeto distintos dos biopoderes. Assim, este artigo objetiva substancializar uma discussão do entendimento da dança como uma proposição artístico-política biopotente, ao trazer o corpo para a centralidade das relações e investir na sua capacidade afetiva e de resistência. Para tanto, parte do pressuposto que o corpo é corpomídia (Katz &Greiner, 2005) das questões biopolíticas, entendendo-o como uma coleção de materialidades oriundas da sua co-relação com o ambiente. A escrita do texto prosseguirá com os estudos de Michel Foucault (2006, 2008) e suas reflexões iniciais sobre o conceito de biopolítica, com o intuito de seguir com o desdobramento do termo, feito por pensadores como Giorgio Agamben (2002), André de Macedo Duarte (2017), Peter Pál Pelbart (2003, 2013) e Roberto Esposito (2010). Avançando, se propõe ainda, uma aproximação com a Teoria dos Afetos de Spinoza (2009), para que as questões trazidas, se tornem confluentes na compreensão da afetabilidade. Afinal qual o poder do afeto? Em que medida o corpo que dança responde a convocatória dos afetos? Por fim, o enfoque da discussão culminará no fato do corpo dançante reconhecer-se no ponto de ambivalência dos afetos constituídos. E na condição de sobrevivente, no auge do seu esgotamento, afirma a sua reversibilidade e a potência de agir. Assim, o corpo que dança não recusa a sua despotencialização, mas move-se com ela, transformando-a e afetando outros corpos. Palavras-chave: Dança. Corpo. Biopolítica. Teoria Corpomídia. 47 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário SEXUALIDADE COMO DISPOSITIVO DE CONTROLE E IMPLICAÇÕES PARA A PSICOLOGIA Brenda Caroline Belforte Pereira Universidade Federal do Piauí Graduanda em Psicologia brendabelfort17@gmail.com RESUMO A sexualidade vem sendo construída e desconstruída ao longo do tempo, sofrendo modificações nos seus discursos. As ciências e campos de conhecimento, nesse caso, a Psicologia, participa na produção de discurso das questões que permeiam a sexualidade humana. Os efeitos políticos e sociais do discurso psi narra e dita o que seria a sexualidade normal e esperada, precisando ser, assim, observada para melhor visualizar como esse campo de saber, munido de base teórica e prática, se relaciona com a produção da sexualidade vigente. A sexualidade, como dispositivo, segundo Foucault (2011), foi sendo formado desde o século XVI no Ocidente como uma rede discursiva que age sobre e através dos corpos, não os reprimindo, mas produzindo um saber sobre a sexualidade e uma verdade que deve ser vista como norma, agindo e atravessado o corpo dos indivíduos, sendo estratégia para o controle disciplinar, tanto em nível individual quanto mais genérico. Foucault trata de uma sexualidade que não é substancial e essencialista, pois atração, inclinações sexuais e desejos não são determinados pelo o que é reconhecido como sexualidade, sendo tais concepções produtos de estratégias de poder-saber que os moldam e os reforçam em serviço de uma certa lógica binária e heterossexual produzida. No entanto, a psicologia, embora tenha a sexualidade como um dos seus temas centrais, ainda se comporta de forma arredia frente a discussão acerca dela, mesmo tendo importante papel diante do seu debate, podendo ser conivente com a lógica vigente, seja a fortalecendo ou reproduzindo-a. Como disciplina científica a psicologia tem um dever estético-político, precisando assumir compromisso social e político, se atentando às minorias e a multiplicidade de seres e mesmo de sexualidades, não fortalecendo moldes pré-fixados e tendo contribuição na geração de preconceito, discriminação e invisibilidade, retroalimentando a máquina dos poderes controladores do corpo e de tudo mais que o permeia. Palavras-chave: Sexualidade. Psicologia. Corpo. Foucault. Subjetividade. 48 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário SILÊNCIO, PRECARIEDADE E PERTENCIMENTO NO TRABALHO DE PAULINE BOUDRY E RENATE LORENZ Renata Biagioni Wrobleski Universidade de São Paulo Mestre em História, Crítica e Teoria da Arte Graduanda em Filosofia renataw@usp.br RESUMO A comunicação proposta tem como objetivo discutir possíveis relações entre arte e sexualidade, a partir da análise do trabalho da dupla Pauline Boudry e Renate Lorenz, intitulado Silent. No vídeo que soma 7 minutos, produzido em 2016 e apresentado em 2018 no museu da Fundación Jumex Arte Contemporáneo (Cidade do México), a dupla indaga pertencimento, performance e precariedade desafiando a normalidade, as leis e a economia. Silent é um trabalho que sugere múltiplas análises desde perspectivas diversas. O gênero é performatizado em divergência, como sujeito que não realiza a norma e por existir e reafirmar a própria existência clama, manifesta e persiste. A precariedade em Silent aparece desde a escolha de cenário até a performance de Aérea Negrot, que a realiza primeiramente a partir da partitura de 4´33´´ de John Cage e, em seguida, de uma música composta pela artista para este trabalho. De paetê prateado, a personagem que se manifesta diante de diversos microfones remetendose a épocas distintas também parece vestir-se para uma apresentação que não acontece, beirando dizer algo que por fim não declara, mas canta, indagando em sua música desde o presidente até o visitante do museu que recebe o trabalho. A partir de uma pesquisa bibliográfica e documental, esta comunicação visa contribuir para o esclarecimento das circunstâncias que proporcionam a adoção de estratégias de sublimação das categorias artísticas e agentes sociais não hegemônicos. Palavras-chave: Arte contemporânea. Videoarte. Reconhecimento. Divergência. Fracasso. 49 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário SO-YOU-THINK-YOU-CAN-DANCE: A IMUNIZAÇÃO DOS CORPOS-QUE-DANÇAM COMO REALITY-SHOW-COREOBIOPOLÍTICO Prof. Dr. Joubert de Albuquerque Arrais Docente efetivo – IISCA/UFCA joubert.arrais@ufca.edu.br RESUMO O paradigma da imunização – localizado opositivamente entre a biopolítica e a relação comunidadeimunidade, apresentado por Roberto Esposito (2013, 2008) – colabora para uma outra compreensão do corpo que dança na televisão em situação de avaliação (audições seletivas): o programa reality show So You Think You Can Dance (EUA, 2005-2018), conhecido pela marca SYTYCD. A imunidade, segundo esse paradigma, não é apenas a relação que liga a vida ao poder, mas o poder que conserva a vida e que protege a subjetividade na sua relação com o viver em comunidade (com outros que não eu). O corpo imunizado, segundo o paradigma da imunização, dialoga com o discurso competente proposto por Marilena Chauí (2014, 1981), na medida em que percebemos uma pedagogia midiática da televisão que imuniza os corpos que não seguem os modelos lá consagrados. Ao celebrar as formas da competência, nega outras possibilidades de dançar. Um corpo imunizado é também um corpo de desempenhos por estar sempre em guerra consigo mesmo nesse si-mesmo constantemente convocado para provar algo (HAN, 2015). Nesse sentido, as imagens desses corpos em estado de audição seletiva, evidenciam uma coreopolítica (LEPECKI, 2009) imunizante, que mobilizam esses corpos socialmente, fazendo deles corposmídias (KATZ & GREINER, 2005, 2015) desse reality show televisivo dentro e fora da televisão, transformados, eles próprios, em coreobiopolíticas SYTYCD. Palavras-chave: Corpo e televisão. Dança e biopolítica. Paradigma da imunização. Reality show. Coreobiopolítica. 50 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário SUBJETIVIDADES TRANSGRESSORAS OU A TRANSGRESSÃO DA SUBJETIVIDADE? Elienai Cabral Junior Universidade Federal do Ceará Doutorando em Educação elienaicabraljunior@gmail.com RESUMO Interessa-me compreender o poder performativo e discursivo de produzir subjetividades, de formar a noção de si mesma em uma pessoa de modo irresistível, a ponto dela se descobrir no mundo já sujeitada por ele, como Foucault parece descrever em Vigiar e Punir e O nascimento da biopolítica. O que é esse poder ubíquo e incontornável? E, da mesma maneira que se pode afirmar que há um poder atuando na subjetivação, também há uma reação negativa a ele, uma recusa, uma resistência possível. Mas, se este poder antecede o indivíduo, inaugura sua subjetividade normalizando-o, dando-lhe um lugar no mundo, performativa e discursivamente, e com tal eficiência, que o torna sujeito do mesmo poder que o submete, ou faz dele um ator deste mesmo poder que nele atuou, em que ponto ele cede, onde ele fraqueja para ser resistido? Como a transgressão ao poder é possível? Em A vida psíquica do poder, Judith Butler indica possibilidades. No próprio processo de “condução de condutas” encontramos as fissuras dessa estrutura de poder. Mas, sob a tradição humanista, se esperamos por um ato livre e autônomo, pleno de iniciativa e protagonismo para a resistência ao poder que cria o corpo destruindo-o, uma decepção é inevitável. Ora, se o poder não é externo ao sujeito, o ponto de reviravolta também não é externo ao poder, ele está na dobra que o poder faz sobre si mesmo, ou contra si mesmo, no paradoxo do poder que internaliza e aprisiona o corpo através de uma alma de normatizações, que sujeita, mas em seguida tem no indivíduo o seu imprevisível sujeito. Em Corpos em aliança e a política das ruas, outra indicação de resistência possível, Butler propõe um ponto de encontro, ou um “ponto médio”, na precariedade e contra a precarização das várias minorias, a despeito de tão diversas, distantes e, às vezes, antagônicas politicamente, mas que compõem uma multidão que se reúne para se manifestar, para fazer seus corpos precários aparecerem. Na precariedade, o ponto de encontro, ou um ponto de potência e contra a cultura que descarta vidas como menos vivíveis, ou como vidas não enlutáveis. Palavras-chave: Poder. Subjetividade. Precariedade. Transgressão. Resistência. 51 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário UM OLHAR SOBRE A MULTIDIMENSIONALIDADE DOS PROCESSOS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LOUCURA Guilherme Augusto Souza Prado Universidade Federal do Piauí Professor Doutor adjunto do curso de Psicologia guispra@gmail.com Marcos Antonio de Sousa Rodrigues Moura Universidade Federal do Piauí Graduando em Psicologia marcosantoniosrmoura@gmail.com RESUMO Tomamos como problema para o presente trabalho as formas com as quais a loucura se torna objeto de práticas e saberes para as sociedades ocidentais. Voltando-nos para a obra de Michel Foucault, observamos que a forma estruturada da loucura em nossa cultura é a da exclusão. Tendo em vista que as formas de cuidado e de prestar assistência às pessoas são baseadas no modo como estas são percebidas e marcadas socialmente, é imprescindível questionarmos as dimensões que compõem o diagrama da institucionalização da loucura hoje a fim de construirmos outras formas de lidar com a loucura e outros modos de prestar assistência e tratar os loucos. Ao nos debruçarmos sobre as variadas dimensões da institucionalização da loucura encontramos aspectos e questões místico-religiosas, jurídicas, sociais e culturais. A dimensão místico-religiosa engloba os códigos da igreja e do absolutismo em voga até o século XVIII, que atua como produtora de regimes de verdade. Estes códigos com frequência relacionavam a loucura ao mal enquanto desordem e antinatureza, associando-a à moral da escolha ética e à punição. Juridicamente, a loucura passa a ser codificada no âmbito da plurinormatividade medieval e posteriormente objetivada numa universalização dos códigos jurídico-citadinos durante o Iluminismo. Já o aspecto social da institucionalização da loucura passa das redes de sociabilidade espontânea e não organizadas à captura dos loucos nos saberes e instituições assistenciais e médicas. Por fim, destacamos uma dimensão cultural da loucura que pulsa e se move, denunciando a forma cotidiana de exclusão da mesma. Com isto, visamos elucidar parte das diversas forças que compõem o diagrama da institucionalização da loucura, visando contribuir para a construção de novas formas de lidar com a loucura e novas modalidades de produção de cuidado com os loucos. Palavras-chave: Diagrama. Desinstitucionalização. Loucura. Cuidado. Social. 52 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário UMA ANÁLISE FOUCAULTIANA DE PRÁTICAS MACHISTAS FUNDANTESDO DISCURSO DE MICHEL TEMER “EM COMEMORAÇÃO” DO DIA DA MULHER Ana Caroline Mendes Gadelha Universidade Estadual do Ceará Graduada em Bacharelado em Letras ccarolinegadelha@gmail.com Marcos Roberto do Santos Amaral Universidade Estadual do Ceará Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Secretaria de Educação do Ceará Doutorando em linguística aplicada roberto.amaral@aluno.uece.br RESUMO Neste trabalho estudamos o discurso de Michel Temer “em comemoração” ao dia da mulher, analisando as posições sociais e relações de poder acionadas neste discurso. Nele, utilizamos detidamente o conceito de autor segundo o pensamento foucaultiano, enquanto uma posição social e discursiva depreendida a partir de procedimentos de seleção de diversos valores e pressuposição de atitudes apontados nos enunciados que compõem um discurso. Para tanto, inicialmente, discutimos de que maneira este discurso posiciona a mulher como um sujeito social identificado com tarefas domésticas e o homem como aquele responsável pelas tarefas econômicas e políticas, destacando a decorrente inferiorização social da mulher por isso, já que historicamente este dispositivo é utilizado para marginar sujeitos sociais. Enfatizamos as condições de produção em que este discurso se inscreve e os discursos a que ele se relaciona historicamente. Em seguida, destacamos que, enquanto instancia que legitima ou não representações e atos sociais, o autor neste discurso assume uma posição machista. Por fim, concluímos que no discurso em questão, Michel Temer está exercendo uma relação de poder, reinscrevendo um objeto de poder – a posição social da mulher, considerando que este ato se efetiva na medida em que nesse discurso a mulher é construída como alguém que se limita a afazeres domésticos, especialmente, criação dos filhos, sendo apartada de papeis protagonistas políticos e sociais. Palavras-chave: Michel Temer. Dia da mulher 2017. Machismo. Análise do Discurso. Foucault. 53 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário UMA CONEXÃO ENTRE FILOSOFIA E DANÇA: CORPOS INTENSIVOS EM MOVIMENTO Carla Cavalcante Batista Universidade Federal do Cariri Graduanda em Filosofia Carlafilosofia09@gmail.com RESUMO Este artigo apresenta uma breve ideia de um pensamento-dança. A partir da filosofia de Gilles Deleuze - desde algumas de suas primeiras publicações, principalmente obras em parceria com Félix Guattari, como: Mil Platôs Vol. 1, 3 e 4 e O que é filosofia? - sob uma perspectiva ética-estética dessas obras, construímos uma conexão entre filosofia e dança nos aspectos respectivos entre o corpo e a arte. Pretende-se assim, investigar, dentro desta perspectiva, a relação entre o corpo e a dança nos aspectos relacionados ao pensamento deleuziano sobre corpo-sensação, corpo-criação e pensamento. Para tanto foram rastreados, no contexto do encontro entre Deleuze com as artes e de seus encontros com outros filósofos, em que o influenciaram, assim como o filósofo Félix Guattari e Michel Foucault com incidências, articulações, modulações e vizinhança de conceito sobre a corporeidade que na perspectiva deste artigo encontra-se na conexão entre a filosofia e a dança. Tais conceitos são aqui apresentados e discutidos como os conceitos do corpo sem órgãos, afectos, perceptos, plano de imanência, relacionando assim junto a um corpo em movimento no ato de pensar/sentir/criar uma estética da resistência compondo um encontro criativo entre a filosofia e a dança. É com a filosofia de Deleuze que abordamos um pensamento crítico em que estimula a ultrapassar os limites da filosofia, propondo uma nova maneira de pensar e filosofar, fazendo com que o pensamento também dance sobre as problemáticas filosóficas no que diz respeito ao corpo. Palavras-chave: Filosofia. Dança. Corpo sem órgãos. Percepto. Afecto. 54 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário UMA POSSIBILIDADE DE RELAÇÃO ÉTICA-ESTÉTICA PARRESÍA CÍNICA COMO RESISTÊNCIA Stela Maris da Silva Universidade Estadual do Paraná Campus Curitiba II Faculdade de Artes do Paraná Pontifícia Universidade Católica do Paraná Doutoranda em Filosofia stelamarisdasilva.to@gmail.com RESUMO O objetivo do estudo é pensar com Foucault o estatuto da relação ética e estética. Tal relação é abordada como uma possibilidade na aproximação entre parresía cínica e estética da existência e condição de resistência. Foucault pergunta: “como o cinismo pode dizer no fundo o que diz todo o mundo e tornar inadmissível o próprio fato de dizer?” Dizer cinicamente a verdade não seria uma forma de resistir, ao mesmo tempo deslocar-se, não permanecer o mesmo? As lutas de resistência se dão nas relações de poder se constituindo como estratégia de poder para apreender um novo meio de cuidado de si mesmo. A parresía, verdade original, ou o dizer-a-verdade corajoso, é pratica de si na adoção de uma “verdadeira vida”, é autogoverno que faz resistência às formas de assujeitamento do poder subjetivante. A ética como resistência é um modo de o indivíduo relacionar-se consigo. Pensar a ética como criação do indivíduo como obra de si mesmo, como parresía cínica, pratica e atitude, é condição da estética da existência. Para compreender uma estética da existência é preciso ter coragem, deslocar-se, não permanecer o mesmo. É um exercício para conseguir pensar o que esta aí, mas invisível, para pensar o que não se pensara antes. Foucault cita os artistas e seus estilos de vida para mostrar os modos que descrevem particularmente o papel das lutas de resistência nas relações de poder. Mais especialmente a pintura da Modernidade é apontada por ele como um meio para o jogo parresiático cínico entre o pintor, a obra e o espectador. Palavras-chave: Foucault. Parresía Cínica. Estética da Existência. Resistência. 55 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A RELAÇÃO DO ARTIVISMO COMO ANTI-ESTRUTURA EM TURNER E ESTÉTICA DA EXISTÊNCIA EM FOUCAULT, NUMA CONCEPÇÃO DE ARTE CONTRA O ESTADO: ROMPENDO COM OS MOVIMENTOS SOCIAIS REPRESENTATIVOS E INSTITUCIONAIS QUE CARREGAM CONSIGO O PROBLEMA DO RECONHECIMENTO E A FALTA DX OUTRX NA RESISTÊNCIA CONTRA O ESTADO Bartira Dias de Albuquerque Universidade Federal do Ceará Doutora em Educação bartiradias9@gmail.com RESUMO Objetivo neste artigo pensar acerca do Artivismo político de indivíduos e coletivos autônomos, independentes, como uma anti-estrutura em Turner (1974), no que diz respeito à ruptura que estes fazem tanto com a sociedade, como com as formas tradicionais de se fazer arte e política (institucionalizadas, delimitadas por reinvindicações pautadas na representatividade e no reconhecimento através do Estado), relacionando à reflexão que Foucault (2006) traz em torno da estética da existência, ligada ao cuidado de si, para ampliar a percepção de vida, produzindo subjetividades dadas por suas diferenças e resistências, dentro de uma análise não representativa da arte, ou seja, uma arte contra o Estado que reflito através da análise feita por Els Lagrou (2011). A partir de uma pesquisa tanto bibliográfica quanto autobiográfica, por meio das minhas experiências estéticas e atuações em movimentos sociais feministas e anarquistas, penso acerca do conceito de anti-estrutura em Turner (1974), quando coletivos políticos, bem como indivíduxs autônomos independentes, lançam mão da arte, para manifestarem suas inquietações, provocando a sociedade sobre as questões políticas das quais querem tratar. Tais pessoas e coletivos rompem tanto com a sociedade em termos rituais (TURNER,1974), para mostrarem sua crise e intensificá-la, como com os grupos políticos institucionais (já que as ações de movimentos sociais independentes estão mais preocupadas com um processo que garantam e ampliem a percepção da vida e da liberdade do que a alguma representatividade política), tornando visível suas fissuras, trazendo um novo desfecho para a sociedade, que são modos de vida anti-estrutura. Resultando em uma reflexão sobre a arte enquanto resistência, pertinente a visão perspectivista de arte (CASTRO, 2004) que a expande para uma luta contra o Estado, indo além do reconhecimento e da representividade. Palavras-chave: Artivismo. Representatividade. Anti-estrutura. Resistência. Estética da Existência. 56 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário JOY DIVISION E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS LETRAS: ENTRE A APROPRIAÇÃO LITERÁRIA E A RESSONÂNCIA FILOSÓFICA (1977-1980) Luiz Henrique Severo Martins Universidade Estadual do Ceará – UECE Graduando em História luizhenriquesevero@hotmail.com RESUMO O presente resumo tem por intuito discutir o processo de construção das letras da banda de pós-punk britânica Joy Division, percebendo assim, em que medida existia uma apropriação ou ressonância literária e filosófica para a composição dessas canções. O ex- compositor e vocalista do grupo, Ian Curtis, mostrava-se um ávido e assíduo leitor de obras e autores mundialmente conhecidos, como Franz Kafka (1883-1924), William S. Burroughs (1914-1997), Friedrich Nietzsche (1844-1900), etc. e tomava como base essa leitura de caráter inspiratório para suas letras frente a banda. O grupo inglês que teve apenas três anos de existência, deixou um enorme legado para inumeráveis conjuntos musicais que surgiram a posteriori e foi um dos precursores do movimento conhecido como pós-punk. O intuito deste trabalho é descobrir quem são esses sujeitos sócio históricos atuantes dentro de um determinado contexto e tempo humano; que influência essa matéria social exerceu no modo de ser e pensar desses homens; como essas duas esferas misturam-se e dialogam nessa paisagem; e de que maneira essa apropriação literária exerce uma atuação no processo de construção das letras da banda. O procedimento metodológico da pesquisa busca aporte no pensamento de Paul Ricoeur (2010) acerca da prefiguração, configuração e refiguração de elementos que constituem uma narrativa e a sua leitura por parte do receptor. Noção essa arquitetada e desenvolvida como tríplice mimese. E, por fim, as reflexões de Orlandi (2001) sobre Análise do Discurso, concebendo a linguagem como uma mediação entre o homem e a realidade social. Como resultados possíveis às problemáticas do nosso estudo, percebemos que a ressonância (literária e filosófica), dentro das músicas, alcança certo limite já que o leitor ou receptor insere novos olhares ou narrativas para a sua obra, servindo a leitura daqueles livros enquanto ponto de partida para outras reflexões. Além disso, também pudemos notar a enorme influência que o Joy Division deixou para outras bandas dentro do estilo pós-punk, inclusive em grupos na cidade de Fortaleza. Palavras-chave: Joy Division. Música. Intertextualidade. 57 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário O QUIMERISMO, CIÊNCIA E ÉTICA – NIETZSCHE, LE BRETON E FOUCAULT Marcos Martins Lisboa UFPI – Universidade Federal do Piauí/UFDPar Universidade Federal do Delta do Parnaíba Graduando em Psicologia mmarcosl-2010@hotmail.com RESUMO O quimerismo é uma prática muito recente que vem dividindo a opinião de cientistas das mais diversas esferas do conhecimento. O presente estudo é uma tentativa de reflexão sobre as ambições científicas tratadas por Nietzsche na genealogia da moral, a quantificação do corpo em Le Breton, e as práticas neoliberais tratas por Foucault n’O nascimento da biopolítica. Nietzsche vem questionar a suposta posição da ciência como oposto ao ideal ascético, tão caro às formas religiosas, tendo se tornado a manifestação mais refinada de tal ideal. Sustenta que a ciência passou a ser um esconderijo para a descrença e o remorso, não pensando, dessa forma, numa elevação da condição humana. A partir do momento em que a fé em Deus é negada, se põe em evidencia um novo problema: o valor da verdade; não tendo mais a ciência seu amor à busca pela verdade, esta recai sobre um tipo de ressentimento. Ora, a biologia molecular e a genética hoje operam uma transformação sobre o status antropológico do que vem a ser o humano, pois, na fantasia dos cientistas, é possível fazer o DNA explicar o comportamento e apreender uma totalidade do humano. Essa fantasia dá à cientificidade o caráter que Nietzsche vinha expondo, não apenas de ressentimento para com a verdade, mas de impossibilidade mesmo de apreensão de tal condição de verdade. Ora, se os próprios cientistas sabem de suas limitações técnicas, o que os leva a persistirem nesse discurso? É o que nos trais Foucault, quando nos mostra o que vem a constituir a ordem discursiva dos saberes peritos a respeito da vida - uma discursividade muito mais econômica do que em prol da vida, um discurso que abandonou sua sede de verdade, diria Nietzsche. A lógica discursiva que sustenta as práticas do quimerismo se encontra muito mais na oferta de um serviço a partir de uma demanda, do que na pretensão de promoção de saúde ou de cura, na apropriação do material genético dos vivos para produção de patentes, muito mais do que na preocupação com a manutenção da vida e do cuidado. Palavras-chave: Quimerismo. Neoliberalismo. Ética. Humano. 58 I COLÓQUIO INTERLOCUÇÕES FOUCAULTIANAS - SUBJETIVIDADES: RESISTÊNCIA E EXPERIÊNCIAS ÉTICAS CADERNO DE RESUMOS GT 2 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário BIOPOLÍTICA E ESTADO DE EXCEÇÃO Marcílio Medeiros Silva Graduado em Filosofia marzillios@hotmail.com RESUMO A partir de algumas indicações feitas pelo Filósofo Italiano Giorgio Agamben (que recebe forte influência da filosofia de Michel Foucault), o trabalho procura refazer o percurso que desvela o conceito de vida nua como aquilo que está na origem do pensamento político-jurídico do Ocidente. Fala da distinção subjacente que se encontra na concepção de vida para os gregos (zoé e bíos), passando pela relação entre vida e morte presentes no mundo romano na obscura figura do Homo sacer. Também quer mostrar que todo esse solo percorrido, ao longo dos tempos, pela vida nua, é biopolítico e que o estado de exceção tem se tornado uma constante técnica de governo. Assim, tudo ganha uma atmosfera incerta: vida nua e forma de vida, público e privado, entraram na mais completa zona de indistinção. Há, com isso, um esvaziamento da vida, em todas as suas potencialidades e o que resta é o sobrevivencialismo dos dias atuais. Multiplicam-se por todos os lados os dispositivos de controle oriundos do direito, das mídias, do mercado e do próprio Estado. Para além de um suposto pessimismo, o intento do trabalho é problematizar vários espaços sociais para que, talvez um dia, sejam profanados naquilo que inviabilizam uma vida bela e ao dispor do livre uso dos homens. Palavras-chave: Biopolitica. Vida nua. Estado de exceção. Sobrevivencialismo. 60 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário BIOPOLÍTICA E BIOPODER NA SOCIEDADE DISTÓPICA DE O CONTO DA AIA Marielli Monte Araújo Universidade Federal do Piauí - Parnaíba Graduanda em Psicologia mariellimontee@gmail.com Diêgo Stéfano Araujo Souza Universidade Federal do Piauí - Parnaíba Graduando em Psicologia diegoyyz@outlook.com RESUMO Nas últimas décadas os estudos sobre gênero, a partir dos movimentos feministas, têm colocado nas análises históricas e sociais a perspectiva feminina em evidência. Compreendendo épocas e sociedades por meio do poder exercido sobre as mulheres, entende-se que a constituição de percepções produzidas pelos discursos políticos atuais tendem a legitimar práticas dirigidas a mulher e uma verdade sobre seus corpos. O presente trabalho objetiva estabelecer um diálogo entre filosofia política e literatura a partir de Michel Foucault em História da Sexualidade vol. I (2009) e Margaret Atwood com O Conto da Aia (2017), considerando que a narrativa da autora nos oferece uma reflexão sobre liberdade e direitos humanos pela perspectiva da mulher e o uso dos corpos. Concordamos que esta distopia, marcada por grandes transformações políticas em uma sociedade permeada pela repressão sexual, tem como ponto de partida novos contornos sobre a mulher, podendo ser lida por meio do par de conceitos foucaultianos – biopoder e biopolítica. Segundo este autor. as disciplinas do corpo (biopoder) e as regulações da população (biopolítica) constituem os dois pólos em torno dos quais se desenvolveu a organização do poder sobre a vida, como ocorre na sociedade de Gilead no O Conto da Aia. É com conceito de biopolítica, centrado no corpo espécie, mecânica do ser vivo, suporte dos processos biológicos do nascimento e da mortalidade com “toda uma série de controles reguladores” que surgem e incidem uma maior potência sobre a mulher, este é o principal pilar que sustenta as relações na distopia de Margaret, em que as mulheres férteis são tratadas como escravas sexuais pelos “comandantes” casados com mulheres inférteis. Com o entendimento de biopoder, “técnicas diversas e numerosas para obterem a sujeição dos corpos e o controle das populações”, que é possível perceber que tipos de vida, de corpos e de sujeitos são lugares onde as técnicas atuam exercendo um poder sobre a vida. Dessa maneira, o poder disciplinar nos oferece suporte de conhecimento sobre os processos políticos atuais que atravessam o nosso país. Palavras-chave: Poder. Mulheres. Literatura. Sexualidade. Política. 61 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS EMPRESARIAIS E A RESISTÊNCIA DOS DESVIANTES: BIOPOLÍTICA, HETEROTOPIA E PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA Isaura Caroline Abrantes Silva Centro Universitário Doutor Leão Sampaio Graduanda em Psicologia isauracaroline@hotmail.com José Lusmario Ramos de Oliveira Centro Universitário Doutor Leão Sampaio Graduado em Psicologia llusmario@gmail.com RESUMO A biopolítica aplicada às pessoas em situação de rua incita a produção de sujeitos-mercadoria aos moldes neoliberais, imperando a individualidade e a meritocracia em um sistema socioeconômico excludente e repressor, constituindo homens empresariais. Destarte, a pesquisa é de cunho bibliográfico e apresenta como escopo discutir sobre o entrelaçamento entre biopolítica e pessoas em situação de rua na produção de heterotopias. Ressalta-se a relevância de problematizar as estratégias biopolíticas neoliberais, que incitam a exclusão e repressão social, circunstâncias cotidianas as pessoas em situação de rua. Enquanto isso, sendo de fundamental importância fomentar discussões sobre o aviltamento dos direitos humanos das pessoas em situação de rua, bem como do lugar social de invisibilidade, desvio e marginalização. Assim, conforme Branco (2015), lutando por uma sociedade mais justa inseridos em uma atitude-limite entre as forças de poder e a liberdade. Nesse sentido, de acordo com Foucault (2008) a biopolítica se refere ao governo dos corpos em multidões, atuando na formação de corpos dóceis e submissos. Em complementaridade a isso, o conceito de homos economicus aponta para a construção do homem empresarial, interpelado pela mercantilização da existência e pelo assujeitamento às relações de poder. Nesse seguimento, as pessoas em situação de rua são situadas como desviantes a essa normatização, e por isso, ocupando um lugar de heterotopia conforme Foucault (2006), ao subverter as imposições de empreendedorismo de si mesmo, caracterizando o não-lugar, o espaço da diferença e da exclusão. Portanto, salienta-se que mesmo diante da governamentalidade dos corpos, o exercício de poder é intrínseco a liberdade e a insubmissão, para além de um não-espaço, as heterotopias fundam zonas de confronto e resistência. Palavras-chave: Biopolítica. Pessoas em situação de rua. Heterotopia. 62 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A CONSTRUÇÃO DA RESISTÊNCIA NAS ELEIÇÕES DE 2018 SOB A PERSPECTIVA DA BIOPOLÍTICA Patrícia Oliveira Gomes Faculdade Paraíso do Ceará Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Federal do Ceará Professora de Ciência Política e Teoria Geral do Estado patricia.gomes@fapce.edu.br Marcos Víctor Novais da Silva de França Faculdade Paraíso do Ceará Graduando em Direito marcos.victor@aluno.fapce.edu.br RESUMO Este trabalho tem como objetivo discutir a relação entre público e privado e a construção do poder político por meio do sufrágio, considerando uma perspectiva foucaultiana da biopolítica e do poder expressada nos embates que surgiram no contexto das eleições de 2018 em relação a grupos sociais como mulheres, negros, LGBTQI´s, militantes de esquerda. Na perspectiva tradicional da teoria do Estado, as eleições são o momento ápice da democracia representativa, com a função de produzir governo e legitimar racionalmente o poder político. Portanto, se constituem como o momento da construção do poder na esfera pública. As últimas eleições no Brasil trouxeram à tona perspectiva diferenciada sobre esse processo, na medida em que os discursos em disputa foram reconhecidos como uma ameaça à existência dos grupos acima citados. A disseminação de ideais conservadores sobre modos “normais” de vida e de corpos fez com que o embate político (esfera pública) ocupasse as relações cotidianas (esfera privada), provocando uma instabilidade social que estaria além da função tradicional da política e das eleições. Esse desequilíbrio revela-se artificial ao adotarmos a perspectiva foucaultiana da necessidade de investigar os efeitos da ideologia não apenas como apoderamento da consciência dos indivíduos por um poder externo, mas considerando os efeitos do poder sobre o corpo. Compreende-se que o corpo social não é resultado da a universalidade de vontades, mas a materialidade do poder exercido sobre o corpo dos indivíduos. Laços familiares, representativos de relações verticais, foram rompidos pela não identificação entre a sujeição de corpos e a escolha do voto. O efeito traumático (sentido psicanalítico) produzido teve como saída, em contrapartida, a valorização das relações horizontais no encontro entre semelhantes numa situação de opressão e segregação e construção de mediações para englobar as diversidades. São exemplos o surgimento de movimentos que buscaram garantir/manter seus direitos, como aqueles articulados pela ideia do “#EleNão” ou do lema “se fere a minha existência, serei resistência”. Assim, a discussão sobre o poder político ultrapassou a esfera tradicional do Estado para ocupar a produção de práticas e discursos coletivos que perpassam os corpos de indivíduos cuja identificação ameaça práticas políticas e culturais conservadoras. Palavras-chave: Eleições. Resistência. Poder político. Biopolítica. 63 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A EDUCAÇÃO COMO UM DISPOSITIVO DE CONTROLE: RESISTÊNCIA ATRAVÉS DO CUIDADO DE SI Raianne Monteiro Soares Universidade Federal de Pernambuco Mestranda em Educação raianneee@hotmail.com Simone Moura Queiroz Universidade Federal de Pernambuco Doutora em Educação Matemática simonemq35@gmail.com RESUMO Este trabalho foi elaborado a partir de reflexões realizadas através do Grupo de Pesquisa Diferença (GPD), da Universidade Federal de Pernambuco, e pretende adentrar em conceitos relacionados à dispositivos (FOUCAULT, 2010; DELEUZE, 1990; AGANBEM, 2009) assim como teorias que abordam a subjetivação, resistência e cuidado de si em docentes. Foucault (2011) analisou alguns mecanismos de controle, dentre eles a escola, fazendo um paralelo entre esta e as prisões, discorrendo sobre como o dispositivo sala de aula exerce um papel de vigilância nos discentes. Para Gallo (2003), a educação tem sido constituída através de mecanismos que possibilitam estratégias de controle e disciplinarização por parte dos professores, confirmando a ideia de que os dispositivos direcionam os sujeitos para que possam controlá-los. Neste cenário, propomos uma reflexão acerca do devir docente, como algo crítico, agenciador e transformador, que contrarie as relações de opressão aceitas socialmente. Deste modo, percebe-se a importância do docente em conhecer e exercer o cuidado de si e a coragem da verdade na sua prática profissional, de modo que possa atuar como máquina de resistência, constituindo-se não apenas como orientador dos alunos na exposição de conteúdo disciplinares, mas, em auxiliá-los na busca por autonomia. Enfim, no âmbito da educação, de quais maneiras os professores tornamse resistência ao modelo atual de ensino? Neste contexto, é necessário encontrar alternativas que proporcionem liberdade nas escolas, a partir de uma educação comprometida e disposta a resistir aos mecanismos de controle. Logo, os professores necessitam abandonar os discursos de poder e contribuir com a produção de meios para resistir, através de discussões e reflexões acerca desta temática. Desta maneira, percebe-se a importância deste trabalho que pode colaborar para a construção de novos conhecimentos sobre teorias relevantes, que podem suscitar um olhar novo no cenário educacional. Palavra-chave: Dispositivo sala de aula. Cuidado de Si. Resistência. Foucault. 64 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO DISCIPLINAR E SUAS POLÍTICAS DE RESISTÊNCIA Mateus Pereira Santana Universidade Regional do Cariri Graduando em Ciências Biológicas mateuspereirasantana@hotmail.com Patric Anderson Gomes da Silva Universidade Regional do Cariri Graduando em Ciências Biológicas patricanderson16@icloud.com RESUMO O poder é um conceito que perpassa grande parte da obra de Foucault, permeando os mais diversos setores sociais. Nessa perspectiva, uma forma se destaca no meio escolar, a disciplina, que decorre da influência positiva de exercer poder, portanto molda os indivíduos e consequentemente os sujeita a se tornarem mais dóceis e funcionais pra o sistema. Sob essa égide, temos a escola como o principal meio de disseminar o conhecimento, de tal forma que pode monopolizar o saber e exercer de forma mais intensa o poder que lhe é inerente, como proposto por Foucault alicerçado em Nietzsche. Por tudo isso, temos escola como instituição que segue padrões de dominação consoante com outros modelos que exercem poder, um deles é o presídio. Além disso, podemos comparar diversos fatores como: a estrutura retangular, o principio de clausura, a delimitação funcional dos lugares e até o uso das filas com diversas organizações que exercem poder por facilitar o ato de vigiar e conter os indivíduos. Nesse sentido, na educação tradicional, o principal instrumento pedagógico que permite vigiar e punir de forma eficaz a todos é o uso dos exames, que agem como demonstração de força e poder, validando a disciplina ao coagir toda a hierarquia presente na escola e podendo puni-los. Contudo, à medida que tem reações de poder se tem também resistência, esse fato aliado aos diversos movimentos sociais de minorias fez a disciplina na escola entrar uma crise de eficiência no processo de ensino aprendizagem com os alunos e consequentemente pressionou a instituição a se adequar socialmente aos novos valores sociais e comprometeu as relações de poder. A atuação das políticas de resistência na escola foi benéfica e necessária por quebrar a homeostase do sistema e gerar uma escola mais justa, e libertadora, quebrando a disciplina e tornando o aluno sujeito ativo no seu processo de ensino-aprendizagem. Palavras-chave: Políticas de resistência. Disciplina. Escola. 65 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA DIFERENÇA E SUAS PRÁTICAS DE GOVERNAMENTO Sandra Cristina Moraes de Souza Universidade Federal da Paraíba - UFPB Professora profsandrapsico@hotmail.com Deborah Karollyne Souza de Castro Universidade Federal da Paraíba - UFPB Graduanda em Direito e Filosofia deborahcastro99@gmail.com RESUMO O objetivo deste estudo é a reflexão acerca da emergência do termo inclusão, buscando entendê-lo como um processo social, econômico, histórico e cultural produzido pela modernidade. Ao abordar o termo inclusão, é necessário articulá-lo a outro termo que ganhou espaço e destaque - diferença. A institucionalização da diferença nos leva a refletir sobre as políticas inclusivas e suas práticas de governamento. Nesse sentido, nos sentimos instigados a examinar os discursos inclusivos e os dispositivos biopolíticos de controle que estão invisíveis na população. Ao propor uma aproximação entre os estudos foucaultianos e a inclusão educacional, acreditamos que essa discussão poderá trazer para a educação grandes contribuições. Cabe, então, o seguinte questionamento: Como podemos tomar emprestados os conceitos de Foucault para explicar os sentidos atribuídos ao processo inclusivo no espaço educacional? Esse empréstimo é decorrente das reflexões de Foucault sobre a sociedade moderna e suas instituições, o que possibilita um olhar crítico sobre os sujeitos construídos por tais instituições e sociedade. É relevante dizer que Foucault, em seus escritos, não fala da inclusão explicitamente, mas denuncia o caráter excludente das diversas instituições sociais, por exemplo, o hospício, a escola e a família. As noções de biopolítica e normalização nos ajudam a trazer tais questionamentos sobre a construção do sujeito social. Em síntese, o caminho para os estudos sobre o tema em questão pressupõe um aprofundamento nos meandros que regulam as políticas inclusivas na educação e as práticas de governo que vêm engendrando discursivamente esses saberes e fazeres. Palavras-chave: Inclusão. Biopolítica. Normalização. Governamento. 66 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A INTERSEÇÃO DO PENSAMENTO FOUCAULTIANO NO “ILLÉGALISME” PENALISTA NO CRIVO DO INIMIGO INTERNO Marcelo Soares Mota Universidade Regional do Cariri Graduando em Direito marcelosoaresmota1@email.com RESUMO O Direito para Foucault não é sempre um mesmo direito, não há uma unidade de pensamento. O hodierno artigo visa examinar os estudos de Foucault e as suas relações com direito penal principalmente no que refere-se a sua interseção a criminologia critica. O “illégalisme” remete a ideia de um mecanismo praticado à par da legalidade, aceito em um regime de tolerância. Ademais, a lei não seria criada para impedir tal tipo de comportamento considerado violador das condutas socialmente aceitas, mas para diferenciar as maneiras de se fazer circular a própria lei. Outrossim, fazendo um paralelo com a criminologia critica, a conduta criminal perpassa a compreensão do indivíduo enquanto sujeito submetido ao controle social, o conceito que tem de si mesmo e o da sociedade nivelada. Dessa forma, Ao explorar a potencialidade crítica que surge com o termo, Foucault indaga acerca dos reais objetivos históricos que se realizaram a pretexto do fracasso do cárcere. Portanto, a noção de ilegalismo em Foucault, expõe a estratégia política, usualmente operada pelo Estado, que instrumentaliza a percepção social sobre a violência, fazendo um paralelo ao “Labelling Approach” analisado pelos estudiosos criminalistas. O presente estudo está inserido em termos sociológicos e penais estando fundamentado em pesquisas primárias e secundárias, tendo em suma maioria como método de abordagem dedutivo, estudo qualitativo por meio de artigos científicos e pesquisa bibliográfica que abordam o tema pesquisado. Palavras-chave: Ilegalismo penal. Criminologia. Percepção social. 67 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A QUESTÃO DA VIDA E MORTE NA BIOPOLÍTICA DE FOUCAULT Luis Celestino de França Jr Professor Adjunto da Universidade Federal do Cariri Doutor em Comunicação luis.celestino@ufca.edu.br RESUMOS Em acordo com Roberto Esposito, em “Bios: Biopolítica e Filosofia”, há variações de leituras relacionadas à acepção de ‘biopolítica’ em Michel Foucault, pois tal termo apareceria de diferentes formas desde que foi apresentado pela primeira vez em uma conferência no Brasil, em 1974. Foucault, segundo Esposito, teria se apropriado e requalificado noções anteriores de biopolítica elaboradas por humanistas, cientistas políticos e outros pensadores, apresentando-nos um deslocamento do termo a partir de um contexto em que história e natureza, vida e política passam a se entrelaçar, se demandam e se violentam, modificando-se num embate constante de ações e reações, impulsos e resistências. Portanto, em uma visada foucaultiana, as relações entre os movimentos da vida e os processos da história interferindo-se entre si foram os estopins da implosão dos discursos modernos sobre a soberania. Foucault, com outro olhar interpretativo, vem a romper com uma perspectiva linear de compreensão da categoria vida. A vida, em um jogo de governamentalidade, não pertence nem à ordem da natureza nem à ordem da história, mas no cruzamento das tensões entre ambas. Cabe-nos então perguntar neste trabalho: até que ponto a biopolítica pode se articular tanto com a produção de modos de subjetividades quanto com a dimensão da morte? Até que ponto a biopolítica se articula tanto como uma política da vida, voltada à sua máxima produção, quanto como uma política que também é capaz de reduzir os vivos a existênciasmínimas? Palavras-chave: Subjetividade. Governamentalidade. Vida. Morte. 68 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A VIDA FORA DA JURISDIÇÃO HUMANA: OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO CEARENSES DE 1932 COMO AMBIENTES DE EXCEÇÃO SOB O PARADIGMA BIOPOLÍTICO José Nilton de Menezes Marinho Filho Universidade Regional do Cariri Graduando em Direito niltonmarinho_menezes@gmail.com Djamiro Ferreira Acipreste Sobrinho Universidade Regional do Cariri Docente do Curso de Direito Djamiro.acipreste@urca.br RESUMO O presente trabalho possui como objetivo realizar uma análise de como o Estado utilizou-se da exceção jurídica para reduzir ao mero aspecto biológico, através de uma política de governo (os campos de concentração), aqueles que representaram uma ameaça (os flagelados da seca 1932) à ordem imposta. Para tanto, a pesquisa realizada foi documental, bibliográfica e qualitativa, tendo como método de abordagem o dedutivo, uma vem que partiu-se dos conceitos de estado de exceção e biopolítica e os empregou aos campos de concentração cearenses numa análise baseada em documentos e textos que abordam as temáticas, em uma compreensão pautada na investigação inter-relacionada. Este estudo se justifica por consistir em um instrumento de visibilidade social e científica de fatos que ocorreram no Ceará e que permanecem desconhecidos até hoje da maioria da população. Nas investigações realizadas apurou-se que os campos de concentração cearenses consistiram em agrupamentos humanos de isolamento arquitetados pelo governo estadual em decorrência da seca 1932 que possuíam por finalidade impedir a população do interior de chegar à Fortaleza, que estava sob os ares da Belle Époque. O campo de concentração é o ambiente que surge quando o Estado de exceção torne-se a regra estabelecida, sendo a junção do Poder Soberano à biopolítica que possui como resultado o direito de fazer viver de um determinado grupo social em detrimento do direito de morrer de outro núcleo humano. Este é o espaço político no qual o Estado é o gestor das vidas que ali estão enclausuradas. Neste arquétipo, o conteúdo político da vida passa a ser destituído e os humanos se reduzem ao caráter biológico, o que tem por decorrência a retirada do status de “sujeito de direito”. É necessário, no paradigma biopolítico do Estado de exceção, que os “inimigos” pereçam, haja vista consistem em vidas sacras (matáveis), para que a existência dos “amigos” se desenvolva. Assim, o Estado atuou como soberano nos campos de concentração cearenses, na medida em que, a partir da biopolítica decidiu se vidas possuíam ou não valor, retirando destas todo o seu caráter político e reduzindo-lhes ao aspecto biológico-estático. Palavras-chave: Campos de concentração cearenses. Biopolítica. Estado de exceção. Vida nua. Homo sacer. 69 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A ÉGIDE DA PÓS-VERDADE POLÍTICA NA CONTEMPORANEIDADE: UMA NOVA CRISE POLÍTICA E SUA RELAÇÃO COM O SABER-PODER Valéria Gonçalves de Lucena Centro Universitário Doutor Leão Sampaio Graduanda em Psicologia valeriaglucena@hotmail.com José Lusmario Ramos de Oliveira Centro Universitário Doutor Leão Sampaio Graduado em Psicologia llusmario@gmail.com RESUMO A pós-verdade é uma temática contemporânea que alcançou notoriedade recentemente. Refere-se ao fenômeno percebido a partir de notícias falsas espalhadas nas redes sociais, com uma ligação notória no âmbito político, ocasionando sua eleição em 2016 como a palavra mais influente do ano para o Dicionário de Oxford, na Inglaterra. Atenta-se a importância de refletir sobre as estratégias políticas de maneira crítica, desnudando o véu das manobras de manipulação, defendendo o estado democrático de direito e a equidade social. Desta maneira, busca-se compreender este fenômeno e a interpelação entre saber e poder pormenorizada pela teoria foucaultiana, através de uma revisão bibliográfica. Destarte, Monteiro Filho (2016) afirma que uma pós-verdade política faz parte de um processo de disseminação em massa de informações que, por sua grande quantidade e velocidade, é inevitável o surgimento de inúmeras versões dos fatos, tornando cada vez mais difícil sua verificação. Assim, Koselleck (1999) argumenta que, sem a compreensão das dimensões econômicas e políticas dos fatos, recai-se no único modo que resta para formular opiniões sobre algo: o julgamento moral. Este, acredita, é um processo perigoso por não reconhecer a complexidade real das situações, podendo implicar severamente no julgamento ficando a mercê de dispositivos de controle. No entanto, diferenciando saber de conhecimento para Foucault, Revel (2005) reitera que o conhecimento se refere às questões de teor cognitivo, ou seja, dos processos complexos em construção de natureza racional, que identifica e classifica os objetos sem autonomia do sujeito que apreende. Por outro lado, o saber, é o processo sofrido pelo sujeito do conhecimento, que o modifica enquanto exerce o trabalho na atividade de conhecer e está associado ao poder. Para Foucault (2014), o poder é compreendido a partir de dispositivos históricos e sociais, não tendo apenas um papel coercitivo de proibição, é produtor de subjetividades, formando uma teia de forças imbricadas a modos de resistência. Logo, a pós-verdade incide como forma de saber que culmina sobre relações de poder, influenciando atitudes e comportamentos dos cidadãos e por isso, interferindo nos rumos das decisões políticas, tornando-se massa de manobra e estratégia de controle. Palavras-chave: Pós-verdade. Política. Saber-poder. 70 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário EDUCAÇÃO SUPERIOR E BIOPOLÍTICA: SOBRE A ABERTURA DE CURSOS DE PSICOLOGIA NO ESTADO DO CEARÁ João Silveira Muniz Neto Universidade Federal do Ceará Doutorando em Educação Netomuniz15@yahoo.com.br RESUMO Este resumo trata-se de uma pesquisa ainda incipiente. Assume-se, portanto seus riscos. O Ceará experimenta uma volumosa expansão da oferta de Cursos de Graduação neste século. Propõese, aqui, fazer um esforço analítico acerca dos cursos de Graduação em Psicologia que surgiram no Estado nos últimos anos. A despeito da arbitrariedade dos marcos, toma-se por corte cronológico a década de 2006-2016. Historicamente desabastecido no que diz respeito ao Ensino Superior, o Ceará assiste no século XXI a um alargamento de sua oferta de vagas no ensino superior tanto na criação de cursos de Universidades Públicas quanto por parte da iniciativa privada. É neste contexto que emerge na contemporaneidade cearense um boom de Cursos de Psicologia. Alguns números: existem 28 Graduações em Psicologia em pleno funcionamento, sendo que pelo menos 20 destes Cursos foram instalados somente na atual década. Ora, não é qualquer coisa que pode ser dita em qualquer tempo histórico, já dizia M. Foucault em sua famosa obra A Arqueologia dos Saberes. Os discursos não são entes naturais ou simplesmente dados, são produtos de uma série de contingências históricas e sociais. De tal modo que se um determinado discurso foi pronunciado, isso acontece em função do silenciamento de outros tantos discursos. Em outra obra, Nascimento da Biopolítica, Foucault trata sobre o alargamento espitemológico-político do campo de saber da Economia, que agora tentaria compreender não apenas as relações econômicas em si, mas o comportamento humano a fim de diagnosticar em função de que (não) consumimos determinados produtos. Trata-se aqui, pois, de inflamar o pensamento, e tentar responder à seguinte pergunta: através de qual imagem de pensamento o empresariado da educação superior percebe o campo da Psicologia para, repentinamente, dar-se conta que Cursos de Psicologia poderiam ser financeiramente rentáveis? Palavras-chave: Educação Superior. Formação em Psicologia. Biopolítica. 71 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário “CALUNIADOS, PRESOS, FUZILADOS, GLORIFICADOS”: A VISIBILIDADE QUE A ‘REBELIÃO CRISTERA’ TEVE NA IMPRENSA CATÓLICA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 1920 Talita Kelly Souza de Oliveira Universidade Católica de Pernambuco Graduanda em História Tkso1998@gmail.com Luiz Carlos Luz Marques Universidade Católica de Pernambuco Doutor em História prof.luizcmarques@gmail.com RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo identificar e analisar o discurso que um dispositivo midiático católico, publicado no Rio Grande do Sul, difundiu no Brasil, em 1928, sobre o movimento que estava acontecendo no México, na década de 1920, – conhecido como “rebelião cristera”. Compreendemos o movimento mexicano a partir de uma ótica externa à empregada em seu país de origem apresentando, desse modo, como, a Igreja Católica brasileira, através de um de seus meios de comunicação, influenciou na construção de uma ideia/opinião “coletiva”, em nosso país, a respeito da rebelião, e do processo que acarretou na sentença e execução do Padre jesuíta Miguel Agostín Pro e, seu irmão Humberto. Buscamos entender o porquê de a revista defender a suposição de que as perseguições e execuções se deram por conta de um viés totalmente ideológico – o do anticlericalismo, traço característico, também, dos próceres da nossa “República Velha”. Parece-nos significativo que, dois anos depois, o líder gaúcho da “Revolução de Trinta”, ateu, mas não anticlerical, esposou as teses sociais mais caras à Igreja Católica. Utilizamos como fonte principal fascículos do periódico intitulado “O ECHO: Revista illustrada para a mocidade brasileira”, de março, abril e junho de 1928, observando neles as passagens referentes ao movimento mexicano e o juízo enfático adotado pela revista - induzido ao seu público -, acerca dos eventos ocorridos e sua repercussão. Como referencial teórico utilizaremos a perspectiva de biopoder, biopolítica e normação, do filosofo francês Michel Foucault e, como referencial metodológico utilizaremos a perspectiva da historiadora brasileira Tania Regina de Luca para a análise dos periódicos. Palavras-chave: Igreja Católica. Meios de comunicação. Biopoder. Rebelião cristera. 72 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário APROXIMAÇÕES ENTRE FOUCAULT E MBEMBE: A BIO/NECRO POLÍTICA NO DEVIR SUJEITO DOS QUE NÃO IMPORTAM Laura Henrique Corrêa Universidade Federal de Alfenas Mestranda em Gestão Pública e Sociedade correalaura@hotmail.com RESUMO A influência do pensamento Foucaultiano se mostra cada dia mais evidente entre os pensadores da atualidade. Em uma gama espessa de desdobramentos, Foucault coloca sua “caixa de ferramentas” a disposição para o entendimento contemporâneo das construções sociais, o que é explorado por Achille Mbembe. Desta maneira, este estudo tem o propósito de realizar aproximações entre Foucault e Mbembe, demonstrando que o conceito de biopolítica (Foucault, 2008) do primeiro é a base para a necropolítica (Mbembe, 2018) do segundo, em uma roupagem de limite. Nessa junção, o ponto máximo se coloca onde o valor de mercado é atribuído a múltiplos aspectos da vida, como se pode observar nos efeitos sociais de indiferença, categorias, quantificações, em outras palavras, a forma como se pretende racionalizar o mundo a partir de lógicas empresariais (Mbembe, 2018a). Abre-se então uma nova fissura na maneira histórica de classificação. Os corpos dóceis, reprodutivos e silenciados politicamente (Foucault, 2014), agora devem ser maximizados e/ou eliminados (Mbembe, 2018a). Assim, aspectos que foram relegados à raça ao longo da história, podem ser atribuídos aos não maximizados, e ainda, reiterar sua própria culpa. (Mbembe, 2018a). Esse novo caminhar social, percorre da punição e posteriormente dos governamentos (Foucault 2008; 2014) para a classificação dos que não tem utilidade alguma (Mbembe, 2018). Eis a convergência dos autores, no percurso da biopolítica para a necropolítica. Essa mudança de eixo tem como principal efeito a produção dos sujeitos que não importam. Há, portanto, um caminho bastante delineado nesta denúncia: a tentativa de universalização da condição negra por mecanismos de mercado (Mbembe, 2018a). Em outras palavras, o corpo pobre que não gerar valores econômicos, se torna o que deve ser exaurido e/ou eliminado. Esse seria o mundo vindo a ser negro, uma proliferação das condições desumanas, ou como descreve Mbembe (2018a, p.20) “o devir negro do mundo”. Portanto os resultados confirmam a hipótese que a biopolítica continua presente e em transformação, sendo base para um diagnóstico necropolítico atual da redução das possibilidades do devir humano, como é explorado por Mbembe. Palavras-chave: Biopolítica. Necropolítica. Foucault. Mbembe. Devir. 73 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário BIOPOLÍTICA E DIREITO À SAÚDE NO BRASIL: REFLEXÕES POSSÍVEIS Geovane Gesteira Sales Torres Universidade Federal do Cariri Graduando em Administração Pública geovanesalescrato@gmail.com Maria Laís dos Santos Leite Universidade Federal do Rio Grande do Norte Doutoranda em Psicologia Universidade Federal do Cariri Servidora técnico-administrativa marialaispsi@gmail.com RESUMO A declaração da Alma-Ata, síntese da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada em 1978, representa um dos marcos para o paradigma multidimensional da saúde englobando perspectivas biopsicosocioculturais e, consequentemente, gerando uma inovação no conceito e na organização dos sistemas da área. Todavia, salienta-se, concordando com Foucault, que a Medicina, enquanto uma estratégia biopolítica, configurou-se de maneiras distintas ao longo da história, passando da sua dimensão de Estado, à urbana e, por fim, social. Havendo, então, uma cronologia em que, respectivamente, vigorou o controle estatístico de natalidade/mortalidade, subsequenciado pela administração dos fluidos naturais/fortuitos ocasionadores de doenças no ambiente urbano e, enfim, o domínio dos pobres e trabalhadores mediante sua medicalização. Nesse contexto, objetivase, com este estudo exploratório, analisar pressupostos teóricos que elucidem as relações entre o biopoder e a noção de saúde pública interposta ao longo de distintos contextos históricos no Brasil que antecederam a Constituição Federal de 1988, percebendo as antinomias e confluências existentes entre tais conjunturas. Para tal, realizamos uma revisão bibliográfica do tipo narrativa das obras “Território, Segurança e População”, “Nascimento da Biopolítica” e “Microfísica do Poder” de Michel Foucault, e “Caminhos da saúde pública no Brasil” de Jacobo Finkelman. Ademais, cabe-se destacar que com base nas exemplificações e conceitos foucaultianos sobre biopolítica, procurou-se perceber se e como tais questões se projetaram ao longo do desenvolvimento das políticas públicas de saúde no Brasil. Concluiu-se que apenas após a independência do país, em 1822, surgiram as primeiras instituições de pesquisas e vigilância de saúde, período cujas ações públicas confluem à “medicina de Estado” tratada pelo filósofo francês. Já durante a República Velha (1889-1930), em que a industrialização e excesso populacional geravam caos socioambientais, surgem, entre 1900 e 1920, diversas reformas urbanas e sanitárias, propostas convergentes à “medicina urbana” abordada pelo autor. Em resposta a tais medidas, em que se incluem as campanhas de vacinação, surgem resistências populares à truculência interposta, visto que o intuito maior seria zelar pela saúde de camadas populacionais trabalhadoras no objetivo de manter saudável a mão de obra do projeto de industrialização vigente, aproximando-se assim do que Foucault nomeou como “medicina social”. Palavras-chave: Saúde Pública. Histórico Brasileiro. Biopoder. Políticas públicas de saúde. 74 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário CARACTERIZAÇÕES E PROBLEMATIZAÇÕES A RESPEITO DA MEDICALIZAÇÃO NA ATUALDIADE Guilherme Augusto Souza Prado Universidade Federal do Piauí Professor Doutor adjunto do curso de Psicologia guispra@gmail.com Elaine Soares de Freitas Leitão Universidade Federal do Piauí Graduanda em Psicologia elainesoares30@hotmail.com RESUMO Tomamos para debate o problema da medicalização generalizada e irrestrita da vida e discutiremos a respeito da crítica aos efeitos da medicalização enquanto processo restrito ao saber médico e como relativo à certa maneira de compreender e operar questões em termos de saúde, doença e normalidade. Para tanto, propomos uma visita à obra de Michel Foucault para compreender a maneira pela qual o campo e as fronteiras de ação da medicina foram ampliados e como essa ciência amplia seu foco de atenção. Além de uma análise das críticas tecidas por dois estudiosos dedicados ao tema, Ivan Illich e Peter Conrad, a fim de compreendermos as implicações na vida dos indivíduos, conhecermos o alcance e desdobramentos de suas pesquisas e os possíveis diálogos ou distanciamentos entre as variadas concepções do fenômeno da medicalização. Tal análise, orientada por uma perspectiva crítica, se justifica à medida em que a distensão e aplicação generalizada de procedimentos médicos e relativos às demais ciências da saúde a uma variedade heterogênea de problemas não necessariamente da ordem da saúde e da doença é antes de tudo ordenada e fixada nos parâmetros de normalidade. Assim, a crítica inicialmente cunhada por Illich é pautada na denúncia do imperialismo médico como causa predominante dos processos de medicalização, o que reflete no surgimento de patologias decorrentes da atuação da medicina sobre a vida num processo multifacetado denominado iatrogênia. Por outro lado, Conrad busca enaltecer aspectos mais abrangentes do tema. Ele entende o fenômeno da medicalização enquanto processo irrestrito, colocando não apenas a figura do médico em questão, tematizando a racionalidade, a linguagem e as formas de intervenção medicalizantes aplicadas a fatos e problemas da vida ordinária como problemática. Com isto, apresentamos um quadro introdutório relativo ao tema da medicalização, a fim de compreender sua complexidade, percorrendo diferentes usos e sentidos que o termo adquire. Entendendo que as distintas acepções do problema não são necessariamente excludentes, elas indicam, todavia, um distanciamento entre os autores da compreensão do fenômeno, ponto importante para o horizonte de pesquisa atual, que deve se voltar para o nível das relações e tecnologias de poder implicadas nos desdobramentos contemporâneos da medicalização. Palavras-chave: Medicalização. Illich. Iatrogenia médica. Normalização. Genealogia. 75 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário CONVERGÊNCIAS ENTRE GOVERNABILIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS Maria Laís dos Santos Leite Universidade Federal do Rio Grande do Norte Doutoranda em Psicologia Universidade Federal do Cariri Servidora técnico-administrativa marialaispsi@gmail.com Geovane Gesteira Sales Torres Universidade Federal do Cariri Graduando em Administração Pública geovanesalescrato@gmail.com RESUMO Dentre os conceitos e teorias que Michel Foucault se dedicou ao longo de sua vasta e relevante obra, destacamos neste percurso de pesquisa os estudos do autor acerca dos diferentes modelos de governamentalidade: desde a forma arcaica de governamentalidade presente no antigo poder pastoral, passando pela moderna racionalidade governamental posta em funcionamento do século XVI ao século XVIII pela razão de Estado, até chegar ao tipo liberal concebido em meados do século XVIII e sua inflexão neoliberal atuante até nossos dias. Foucault, em meados dos anos 70, dedica-se a analisar a relação entre as práticas governamentais e a criação de uma racionalidade política que, para além do modelo jurídico, incide sobre a população e o território, dedicando-se com base nestas conjecturas a examinar as diversas racionalidades políticas desenvolvidas na história do Ocidente. Nesse âmbito, a pesquisa realizada objetiva analisar as relações entre o conceito foucaultiano de governabilidade e a noção de política pública. Para alcançar os objetivos, realizou-se uma pesquisa bibliográfica do tipo narrativa das obras “Microfísica do Poder”, “Nascimento da Biopolítica” e “Território, Segurança e População”, de Michel Foucault e “Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos”, de Leonardo Secchi; “Políticas públicas no Brasil” organizada por Gilberto Hochman, Marta Arretche e Eduardo Marques e ainda: “A política pública como campo multidisciplinar” organizada por Eduardo Marques e Carlos Farias e o Guia de Políticas Públicas de Xun Wu et al. Conclui-se que as confluências existentes entre os conceitos de governabilidade e política pública dizem respeito, sobretudo, a três aspectos: multiplicidade de áreas de incidência, variedade de atores e amplos instrumentos de concretização de interesses. Portanto, a governabilidade preconiza: 1) Três tipos de governo; 2) Várias esferas de incidência e atores; 3) Estratégias – instrumentos – no jogo político. Já a noção de política pública pressupõe: 1) Distintos campos nos quais se buscam resolver problemas públicos; 2) Diferentes protagonistas nos seus fluxos; 3) Recursos humanos, materiais e cognitivos intuindo exercer influência nos processos. Palavras-chave: Governabilidade. Racionalidade governamental. Políticas públicas. Governo das pessoas e das coisas. 76 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário DA SOCIEDADE DISCIPLINAR À SOCIEDADE DE CONTROLE: FORMAS DE RESISTÊNCIA CONTRA UMA FORMA DE VIDA FASCISTA Michelle Fernandes de Araujo Universidade Federal da Paraíba Mestre em Filosofia michellearaujof@gmail.com RESUMO Trata-se de apresentar uma questão que nosso tempo histórico nos coloca, a saber, como podemos pensar formas de resistência em relação às formas de opressão no contexto do Biopoder (FOUCAULT, 1975), e como que estas formas de opressão modulam nossa subjetividade. Como que as novas relações de poder se instalaram na vida em toda sua dimensão ética e estética? Se o Biopoder tomou conta da vida em sua dimensão macropolítica e micropolítica, podemos resistir? Há outras formas de vida possíveis? Neste trabalho, abordaremos em um primeiro momento a contextualização históricofilosófica da sociedade disciplinar, marcada pelas formas de punição à luz do pensador Michel Foucault, para em um segundo momento problematizarmos a sociedade de controle que se investe cada vez mais e de forma elaborada, novas tecnologias de controle. Há um poder fascista que se instala na gestão dos corpos no âmbito de todas as formas de ser, sentir e agir; como nos alertará Gilles Deleuze: ‘Os anéis de uma serpente são ainda mais complexos que os buracos de uma toupeira’ (DELEUZE, 1990). Neste sentido, propomos uma reflexão dos aspectos gerais relativos à contemporaneidade a partir da genealogia dos dispositivos disciplinares, pontuando o deslocamento tanto das formas de punição como das relações de poder, no caso da sociedade disciplinar; para por fim, pensarmos novos modos de resistência, existência e de engajamento artístico e político que nos distancie de uma forma de vida fascista no âmbito da sociedade de controle. Palavras-chave: Biopoder. Sociedade. Controle. Resistência. 77 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário ESPETACULARIZAÇÃO DA INTIMIDADE E SUBJETIVAÇÃO DA PERFORMANCE DE CAMGIRLS: ANÁLISE DO CASO DREAD HOT Caio Lucas do Carmo Prado Universidade Federal do Ceará Graduando em Psicologia clucasprado@gmail.com Raimundo Cirilo de Sousa Neto Universidade Federal do Ceará Graduando em Psicologia xrcirilox@gmail.com RESUMO Objetivamos discutir relevantes fenômenos psicossociais da contemporaneidade à luz do caso da camgirl – que são mulheres protagonistas da atividade de exibição do corpo ou de prática de sexo online através de filmagens com webcams – e youtuber Dread Hot, fomentando reflexões para a superação de uma pedagogia pornográfica acrítica, a qual produz subjetividades sexuais docilizadas e roteirizadas. Para compreensão do caso, foram analisados vídeos e comentários no canal de YouTube QG da Dread, assim como visualização da atividade de Dread nas redes sociais e na plataforma de câmeras privativas, leitura de notícias acerca do consumo de pornografia no Brasil e sobre o cotidiano de camgirls, sendo isso articulado com visões sociais referentes aos regimes contemporâneos de visibilidade, extimidade e espetacularização. Entendemos, portanto, que a educação sexual acrítica, disseminada massivamente, constitui um modus operandi do prazer pela performance normalizadora e espetacularizada do sexo em vídeos de conteúdo pornográfico e outras ferramentas. Mesmo diante de inúmeras forças tensionadoras incidindo sobre os padrões repetitivos que produzem roteiros sobre o sexo, pouco se diferenciam os papéis dos sujeitos envolvidos. Assim, evidenciamos a necessidade, tanto da compreensão das composições e ressonâncias destes fenômenos no corpo social, quanto da afirmação da potência da proposta de uma educação sexual e uma pornografia críticas, ou seja, comprometidas com o desejo de cada sujeito em sua singularidade. Palavras-chave: Subjetivação. Espetacularização. Pornografia. Educação sexual. 78 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário FOUCAULT, PODER DISCIPLINAR E PENALIDADE NA SOCIEDADE MODERNA Cristhiane Lins Bezerra de Almeida Universidade Regional do Cariri Pós-graduanda em Direito Cosntitucional cris_lba@yahoo.com.br RESUMO As investigações genealógicas do poder realizadas por Foucault marcam um importante deslocamento em relação à tradição filosófico-política de compreensão do poder, que tende sempre a associá-lo à questão do Estado, privilegiando este como a própria expressão do poder, de onde o poder se irradia por todo o corpo social. Para Foucault, Estado e poder não são sinônimos. Foucault subverte essa maneira tradicional de entender o poder, propondo um novo olhar sobre ele, uma maneira de concebê-lo que não se limita ao Estado, mas que tenta localizá-lo em outros lugares do corpo social, em suas formas mais regionais e concretas. Foucault percebe que inúmeras instituições presentes na sociedade são investidas por formas de exercício de poder que não estão circunscritas ao Estado, embora possam ser apropriadas por ele a fim de garantir sua sustentabilidade e efetividade. A partir da análise genealógica do poder empreendida por Foucault no livro Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões, o objetivo desse trabalho é entender em que termos o processo de suavização da punição foi possível, compreender como se deu a emergência da instituição prisão como forma geral de punição a partir do final do século XVIII e início do século XIX, tornando-se tão rapidamente aceita, substituindo os objetivos dos reformadores e a lógica da teoria penal. Pretende-se ainda tratar como essa forma moderna de exercício do poder, a qual Foucault nomeia disciplina, investiu os corpos em um processo de dominação e sujeição responsável por torná-los dóceis e úteis (redução da resistência política, maximização do aproveitamento econômico), aptos ao modo de vida das sociedades capitalistas, e qual é o papel dos mecanismos punitivos nesse processo, que, mais do que regras emanadas formalmente do direito, têm uma função social muito mais complexa. Por fim, compreender como o direito penal opera dentro desse processo de sujeição dos corpos, peculiar à sociedade moderna, em que o par poder-saber, segundo Foucault, é essencial para a efetividade dessa forma de exercício do poder. Palavras-chave: Foucault. Poder. Estado. Punição. Disciplina. 79 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário GENEALOGIAS DA INTERNAÇÃO EM GOFFMAN E FOUCAULT E AS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS NO BRASIL Willian dos Santos Souza Universidade Federal do Piauí Graduando em Psicologia szawillian@gmail.com Guilherme Augusto Souza Prado Universidade Federal do Piauí Professor adjunto do curso de Psicologia guispra@gmail.com RESUMO A prática de internação tem diversas características que variam conforme o arranjo de forças e interesses que a organiza. Goffman retrata como a internação é vivenciada pelos internos, de dentro de espaços disciplinadores, denominados Instituições Totais. Ao passo que discutir a tecnologia disciplinar, Michel Foucault aponta para a distribuição dos indivíduos no espaço, a administração do tempo e a correlação entre corpo e gesto, destarte um corpo bem disciplinado é a base de um gesto eficiente, útil na medida da sua docilidade. Assim, localizamos o problema da atual expansão das chamadas Comunidades Terapêuticas, caracterizadas como instituições totais disciplinares, para tomar como objeto o Relatório de Inspeção Nacional em Comunidades Terapêuticas – 2017, a partir das discussões levantadas nas obras de Erving Goffman e Foucault. Com isto, visamos analisar parte da multiplicidade de forças políticas e sociais imbricadas na retomada das práticas autoritárias de internação no campo da saúde mental. Realizado em parceria pelo Ministério Público e o Conselho Federal de Psicologia, encontramos no Relatório problemáticas descritas por Goffman e Foucault com relação ao controle do tempo e à aplicação de punições como forma de disciplinarização dos internos. Enquanto uma espécie de reedição do modelo manicomial, tais estabelecimentos regularmente desrespeitam direitos humanos básicos, aplicando de maneira indiscriminada castigos e maus tratos, capazes de atingir o patamar da violência, tortura e morte. Neste âmbito, destacamos o proeminente interesse da Associação Brasileira de Psiquiatria na reconfiguração e ampliação da internação compulsória, que hoje ocorre através de medida judiciária, seguindo na maior parte das vezes o formalismo as normas do código penal brasileiro, indo radicalmente contra as premissas da Reforma Psiquiátrica, alimentando um discurso assentado no risco e periculosidade encarnados pelos sujeitos internados. Por fim, é notório como o modelo asilar tem recobrado forças nos últimos anos, principalmente por meios legislativos, encontrando na internação compulsória uma forma de ocupar os espaços dominados pelo saber médico. Assim, as Instituições Totais, repaginadas em suas roupagens e arquiteturas, resgata as características das que denunciadas por Goffman e Foucault. Palavras-chave: Internação. Goffman. Foucault. Instituições Totais. Comunidades Terapêuticas. 80 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário GRAFFITI E JUVENTUDES: NOTAS DE UMA GOVERNAMENTALIDADE A ESPREITA Tadeu Lucas de Lavor Filho Universidade Federal do Ceará Mestrando em Psicologia tadeulucaslf@gmail.com Luciana Lobo Miranda Universidade Federal do Ceará Professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia lobo.lu@uol.com.br RESUMO O presente trabalho trata de apresentar uma discussão fruto de uma pesquisa de mestrado em andamento em Psicologia sobre o graffiti, juventudes e escola com implicações do conceito de governamentalidade de Michel Foucault. Problematizamos a escola como um dispositivo onde subjetividades são produzidas a partir das relações de poder e saber. Entendemos que a racionalidade na escola é constituída por práticas discursivas e não discursivas e através destes, corpos são docilizados. Na escola, as produções de graffiti autorizadas e não autorizadas estão presente nos muros, portas de banheiros, lousas, fachadas, nas paisagens, cadeiras, dentre outros espaços de registros in lócus. Entende-se de forma geral por graffiti, as produções de artes com estrutura estética de riscos, símbolos, imagens e letras (GITAHY, 1999). Tais produções são apropriadas pelos jovens e passam a ser engendradas na cultura escolar em que ambas podem sinalizar registros de liberdades, desejos e histórias de vidas (MARTINS, 2010). Foucault ao introduzir o conceito de governamentalidade possibilitou uma lente problematizadora ampliada na analítica do poder. Colocamos em cheque a produção ética que essa analítica produz interesses instituintes sobre a vida e as condutas, possibilitando ler a sociedade sobre o prisma de uma soberania para modos de vida disciplinar e de segurança. A governamentalidade diz de uma arte do governo de condutas, as quais estão sempre a favor de um regime, sistema, prática social e constituição ética subjetiva (FOUCAULT, 2008). Problematizamos as práticas de graffiti incorporadas pela chancela de pedagogização nas escolas com as juventudes. Nesse ínterim, esta analítica se insere na pedagogia no cerne da modernidade produzindo condições de formação educativa pautadas em duas vertentes: por um lado, o governo com aplicação na ordem e no estabelecimento de condutas e formações morais, e por outro a disciplina com uma emergência direta a instrução e efeitos políticos, implicando diretamente na produção de subjetividades (NOGUEIRA-RAMIREZ, 2011). Através dessa lente teórica, tensionamos no plano do cotidiano as experiências onde o graffiti tem sido operacionalizado a favor de uma governamentalidade da juventude e do espaço escolar, onde tem produzido os modos de subjetivação juvenis. Palavras-chave: Graffiti. Escola. Juventudes. Governamentalidade. Subjetividade. 81 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário JORNALISMO E BIOPOLÍTICA: COMUNICAÇÃO CONSTRANGIDA Prof. Dr. Joubert de Albuquerque Arrais Docente efetivo – IISCA/UFCA joubert.arrais@ufca.edu.br RESUMO O ano de 2017 antecipou muito do que estamos constatando em 2019 e que vivemos, recentemente, em 2018: um jornalismo sob coerção biopolítica. Lembremos que o projeto neoliberal é corporal (FOUCAULT, 1994), no sentido de ser no corpo que ele se consolida, ou seja, é a realidade biopolítica da sociedade capitalista que se faz somática/corporalmente como discurso. No que foi dito sobre a performance La Béte (“O bicho”), do coreógrafo brasileiro Wagner Schwartz, há dois anos, ela se tornou dispositivo biopolítico do corpo nu. Foi nessa performance (um trecho descontextualizado) que se instaurou uma falsa polêmica. A partir de uma foto em que uma criança, na presença da mãe, também artista, tocou seu corpo nu. O artista foi acusado de pedófilo por um jornalismo descomprometido com a apuração e checagem. A maioria das matérias não falaram que a mãe da criança é uma artista de dança, a coreógrafa Elisabeth Finger, e não uma mãe comum, desavisada. Nessa ação, o corpo assume certas significações sociais que denunciam sua precariedade codependente da precariedade da sociedade. Nisso corpo e sociedade estão juntos, expostos e modelados por forças que se articulam social e politicamente (BUTLER, 2015). Nesse sentido, defendemos a hipótese de que o jornalismo precarizado pela sociedade da qual faz parte transforma sua noticiabilidade em uma comunicação constrangida no que, de fato, poderia comunicar enquanto vínculo (SODRÉ, 2006). Assim, o corpo-artista torna-se, ele próprio, um reality show desse jornalismo. Por isso nos parece crucial discutir as práticas e relatos entrelaçados dos agentes jornalísticos e dos artísticos, a partir do texto opinativo “Como fabricar monstros para garantir o poder em 2018”, de uma coluna de política (BRUM, El Pais, 2017), e da entrevista “Fui morto na internet como se fosse um zumbi da série The Walking Dead”, do artista supracitado para esta coluna (SCHWARTZ, 2018), ambas como evidências de um não saber viver, diante de constatações de um não poder morrer. Palavras-chave: Jornalismo e comunicação. Jornalismo e biopolítica. Comunicação constrangida. 82 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário LOUCURA, LÓGICA MANICOMIAL E HIGIENIZAÇÃO SOCIAL: ENTRE O ENCARCERAMENTO E A RESISTÊNCIA José Lusmario Ramos de Oliveira Centro Universitário Doutor Leão Sampaio Graduado em Psicologia llusmario@gmail.com Isaura Caroline Abrantes Silva Centro Universitário Doutor Leão Sampaio Graduanda em Psicologia isauracaroline@hotmail.com RESUMO Recentemente, no Brasil, tem-se notado um forte movimento que retorna à lógica de resolutividade das demandas sociais através do enrijecimento das condutas e estratégias. O seguinte texto propõe discutir, através de uma revisão bibliográfica, sobre a higienização social velada nas lógicas de encarceramentos, padronizações e controles, com o principal subterfúgio a proteção da sociedade e/ ou dos próprios indivíduos considerados loucos. Portanto, diante do atual cenário social e político que apresenta ascensão de ideologias e práticas conservadoras, arbitrou-se essencial fazer um resgate das teorias foucaultianas sobre o encarceramento e a história da loucura, dialogando com o biopoder e as formas de resistência, contribuindo assim para reflexões de formas de relações libertárias e autônomas. Neste sentido, Butler (2015) argumenta sobre corpos passíveis de violência ao serem colocados à margem do que é tido como normalidade. Normalidade esta que classes dominantes, através dos dispositivos de poder, criam ao se sentirem ameaçadas, formando mecanismos para se proteger por meio da higienização social e aprisionamento dos desviantes (FOUCAULT, 1972). No entanto, as relações de poder se instauram não só por classes dominantes e dispositivos de poder e controle, instauram-se e validam-se também nas relações cotidianas da base social, desviando do pensamento que apenas os líderes e os dispositivos exercem poder, pois atravessa todo corpo social (FOUCAULT, 2014). Diante disto, faz-se importante refletir sobre as sutis formas de domesticação e disciplinamento dos corpos quando se trata da loucura, visando formas micropolíticas de emancipação e autonomia social. Palavras-chave: Loucura. Lógica manicomial. Higienização Social. Resistência. 83 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário MEDICALIZAÇÃO DOS CORPOS E O BIO-PODER NA ESSENCIALIZAÇÃO DOS CORPOS FEMININOS DIANTE DA LEI N° 9.263/12/1996 Maria Clara Arraes Peixoto Rocha Graduanda em Direito mariaclararochaa@outlook.com RESUMO Este trabalho propõe-se a tencionar sobre a lei que trata do planejamento familiar e a esterilização voluntária n° 9.263/12/96, na qual a legislação afirma que a realização do procedimento cirúrgico só é permitida por pessoas com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos ou, pelo menos, com dois filhos vivos, e na vigência de sociedade conjugal, a esterilização subordina-se da aprovação expressa de ambos os cônjuges. Em virtude disso, a questão deste estudo pretende focalizar nos questionamentos que correspondem à vida reprodutiva das mulheres, refletindo desse modo na sua liberdade decisória sobre o próprio corpo, seus direitos civis e sociais. Desse modo, a pesquisa qualitativa se utilizou de análises bibliográficas e documentais, como a averiguação da Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 5.097, com intuito de levantar discussões e esclarecimentos no que tange as teorias de planejamento familiar, heteronormatividade, relações entre corpo e poder, além das hipóteses relacionadas às concepções da imagética da figura feminina ser associada à maternidade compulsória. No intuito de denotar que esse dispositivo legal obstaculiza inúmeras mulheres de dispor desse método contraceptivo, ocasionando em muitos casos em gravidezes indesejadas. As circunstâncias e motivações do estudo se consistem numa sequência de situações, fatos ou ações que, envolvem as vivências e lutas das mulheres por tratamento igualitário no ordenamento civil, evidenciando-se assim, urgente e necessária atenção ao tema. Palavras-chave: Direitos Fundamentais. Autonomia Feminina. Bio-poder. 84 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário MORTE IMPUNE E LUTO PROIBIDO EM GIORGIO AGAMBEN E JUDITH BUTLER Reginaldo Oliveira Silva Universidade Estadual da Paraíba – UEPB rgnaldo@uol.com.br RESUMO Giorgio Agamben tece a genealogia da “vida nua”, no percurso que vai do homo sacer ao Muselmann, do primeiro paradigma da política ocidental à fabricação do morto-vivo em Auschwitz, como vida insacrificável e impunemente matável. Judith Butler segue argumento semelhante ao desenvolver o conceito de “vida precária”, com o qual problematiza a seperação entre vulnerabilidade universal e formas de produção da precariedade, a distinção entre vidas cujas perdas importam e as indignas de pranto e luto. A finalidade da presente reflexão consiste em aproximar as concepções dos dois autores, sob a hipótese de que em ambos trata-se da fabricação de vidas matáveis, sobre as quais pesa a proibição do luto. Palavras-chave: Agamben. Butler. Vida nua. Vida precária. Vulnerabilidade. Enquadramento. 85 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário O BIG DATA E A GOVERNAMENTALIDADE ALGORÍTMICA: NOVAS FORMAS DE PODER, DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA Francisca Alana Araújo Aragão Universidade Federal do Ceará Mestranda em Psicologia alanaaraujopsi@gmail.com Dr. Pablo Severiano Benevides Universidade Federal do Ceará Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia pabloseverianobenevides@hotmail.com RESUMO O trabalho discute a governamentalidade algorítmica a partir da análise de iniciativas brasileiras com o uso do Big Data, associado à emergência de uma nova racionalidade, de uma nova discursividade e de seus efeitos para os modos de governo e subjetivação nas sociedades contemporâneas. Abordaremos essas questões a partir das seguintes iniciativas: Govdata, um projeto do Governo Federal para tomada de decisões e estabelecimento de políticas públicas embasadas em dados; Detecta, técnica de policiamento preditivo implementada no Brasil para identificação de padrões de crimes praticados em cada região a partir dos registros realizados; Experian Serasa, marca brasileira de análises e informações para decisões de crédito e apoio a negócios. O Big Data hoje funciona como conjunto exponencial de dados que tem o propósito de mineração de dados e criação de perfis. A partir disso, Rouvroy introduz a noção de uma governamentalidade algorítmica: um governo através dos dados. Tratarse-ia, pois, de um desdobramento da governamentalidade neoliberal através da coleta, agregação e análise automatizada de dados em quantidade massiva de modo a modelizar, prever e afetar, por antecipação, os comportamentos possíveis. Dessa forma, o conhecimento não é mais produzido sobre o mundo “concreto”, “empírico” ou “observável”, mas a partir de um mundo digitalizado. Em seus usos, as correlações de dados reivindicam a condição de evidência, veracidade e rigor. Contudo, O’Neil e Crawford argumentam que a confiança depositada na neutralidade dos dados legitima a reprodução de estereótipos e coadunam com a atualização das formas de controle e constrangimentos dos sujeitos. O caráter axiomático de suas conclusões é afirmado sob pretexto de esterilizadas de toda subjetividade, ideologia e normatividade. O que estabelece, assim, um regime de verdade que atualiza a função de dominar aleatoriedades e controlar os riscos da população. A noção de que “os dados falam por si” aparece como condição de possibilidade para o uso das correlações como critério de tomada de decisão nos mais diversos âmbitos.. Estamos, portanto, diante de uma nova relação com o conhecimento e de uma transmutação na ordem do saber que já vem manifestando seus efeitos nos modos de governo e subjetivação presentes da sociedade brasileira contemporânea. Palavras-chave: Big Data. Governamentalidade Algorítmica. Subjetivação. Racionalidade Neoliberal. 86 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário O ESTADO E A POLÍTICA NA VISÃO DE FOUCAULT: UMA ABORDAGEM INTRODUTÓRIA Francisco Aristides Martins Furtado Universidade Estadual Vale do Acaraú Graduando em Filosofia aristidesfurtado@gmail.com Mária Tânia Rodrigues Universidade Estadual Vale do Acaraú Graduada em Filosofia maratania14@hotmail.com RESUMO A seguinte pesquisa aborda aulas ministradas no College de France, de janeiro a abril de 1978 pelo filósofo francês Michel Foucault. De início, buscaremos explicar o termo utilizado pelo autor como a razão de Estado, partindo do problema do biopoder, a fim de chegarmos ao pressuposto dos mecanismos de poder como ponto de partida para nossa investigação, saindo do soberano e procurando uma forma de governo que governe, controle e assegure a população. Na visão foucaultiana, a soberania se dá em um território, e este tem emergência de tecnologia de segurança. Já a disciplina é envolvida em cada sujeito, em seu corpo, surgindo assim uma combinação sujeito-objeto. O principal objetivo dessa pesquisa é tentar especificar essa nova tecnologia de poder, que tem por objeto a população, obtida através de mecanismos disciplinares e cuja tecnologia visa a segurança indissociável estudada nas obras a seguir por Foucault. A metodologia utilizada foi a leitura de algumas obras do autor como “Em defesa da sociedade”, “Segurança, território, população” e alguns textos base, de comentadores. Ao fim, concluímos que, para Foucault, o estado com todo seu poder vai ser o grande construtor da conjuntura política, iniciada em outra época, mas revisto por ele através das relações sociais. O fim do pastorado para a chegada de um governo político. Contudo, não esqueçamos de que essa é apenas uma pesquisa com dados iniciais dos resultados aos quais chegou Foucault com relação a sua análise das estruturas da sociedade contemporânea, e que jamais poderemos conceituar essa análise referente aos mecanismos de poder como uma teoria geral do poder. Palavras-chave: Poder. Razão de estado. Sociedade. 87 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário O NEOLIBERALISMO E AS MUTAÇÕES DO PODER OU PARA ALÉM DO PODER BIOPODER: DIÁLOGOS ENTRE FOUCAULT E BYUNG-CHUL HAN Heribaldo Lopes Maia Neto Universidade Federal de Pernambuco Graduando em História maia.heribaldo@gmail.com Raíza Catherine Cavalcanti Romero Universidade Federal de Pernambuco Graduada em Psicologia raizaromero8@gmail.com RESUMO A categoria de biopoder, desenvolvida por Michel Foucault, dá conta de explicar a dinâmica do controle social no capitalismo – em sua época industrial. Técnicas disciplinares visam o controle dos corpos no espaço, nos gestos e até memso na alma. Buscavam criar um sujeito obediente e adaptado ao mundo do capitalismo industrial em suas mínimas nuances: no trabalho, na vida familiar, na sexualidade e, principalmente, no campo discursivo. Essas técnicas de poder, por um lado criaram e administraram um sujeito produtivo para a acumulação de capital e, por outro lado, minimizaram as possibilidades de resistência política, isso graças a uma topologia do poder ao mesmo tempo translúcida, duluída, altamente enraizada e onipresente no corpo social. Contudo, levando em consideração que o mundo contemporâneo mudou bastante e que não fazia parte da pretenção de Foucault dar conta da totalidade da dinâmica do movimento da História em sua teoria, podemos analisar que tais mudanças, principalmente as associadas com o surgimento do neoliberalismo, apotam para uma nova dinâmica do poder – que apesar de não anular as proposições foucaultianas, nos apontam para uma nova topologia do poder, chamada pelo pensador germano-coreano Byung-Chul Han de psicopoder. O objetivo é abrir um diálogo possível ente Foucault e Han para: 1) mostrar que Foucault não pretendia tornar sua teoria atemporal e universal, por isso devemos rever os processos históricos afim de analisar as possíveis mudanças no poder, 2) partindo de Han, fazer um diagnóstico do mundo contemporâneo e as dinâmicas do psicopoder e 3) apontar como ambas as analíticas do poder não são excludentes, mas complementares e frutos de processos históricos específicos. Palavras-chave: Poder. Neoliberalismo. Disciplina. Biopoder. Psicopoder. 88 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário “PAI, AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE DE VINHO TINTO DE SANGUE”: BIOPODER, FASCISMO E DOMESTICAÇÃO DOS CORPOS Isaura Caroline Abrantes Silva Centro Universitário Doutor Leão Sampaio Graduanda em Psicologia isauracaroline@hotmail.com José Ricardo de Sousa Santana Centro Universitário Doutor Leão Sampaio Graduado em Psicologia josericardopsi1@gmail.com RESUMO Ademais, para Goodman (1994) compreende que as forças repressoras são atitudes socialmente construídas e por isso possuem uma função social, configuram-se nas mãos do fascismo como uma tentativa de manter o contrato social. Ao mesmo tempo enfatiza a importância da experiência. Então é de suma importância que se indague: o atual contrato social é de fato o melhor possível? A importância do estudo é justificável devido a atual conjuntura sócio-política, observando-se a ascensão do fascismo contemporâneo, do conservadorismo e de relações repressivas em governos totalitários. Desse modo, esse estudo se propõe a ser um ato libertário de contraposição a um sistema normativo de poder centralizado. O objetivo da pesquisa é problematizar a relação entre fascismo, biopoder e domesticação dos corpos. Para isso, utilizando-se das teorizações foucaultianas e de explorações sobre o fascismo a partir de uma revisão bibliográfica. Destarte, de de mobilização e utilização do desejo das massas, atentando para o fato de que o fascismo se acordo com Foucault (2013), é necessário refletir sobre como a presença do fascismo como forma encontra em cada um e em todos, incidindo sobre as condutas cotidianas, fazendo com que o poder seja amado, desejando também a dominação e a exploração. Em complementaridade a isso, conforme Foucault (2014) ressalta-se que o biopoder - governo dos corpos -, se divide em anátomo política (disciplina das condutas dos dos corpos individuais) e biopolítica (governamentabilidade de multidões no quesito docilidade-utilidade), ambos interligados ao fascismo. Mergulhado em um campo político, o corpo é alvo de relações de poder e dominação, de vigilância e punição, circunstâncias em que a violência se organiza de forma direta e física e/ou sutilmente elaborada e tecnicamente organizada em um sistema de sujeição às normas, submissão e exploração produtiva. Todavia, como aponta Revel (2005) a partir das elucubrações foucaultianas, a resistência é atrelada a transgressão, inseparável das relações de poder, responsável por criar espaços agonísticos de luta e de transformação. Conclui-se como uma ética possível, que esta incentive a criar espaços de variabilidade experiencial como também acolhimento ao estranho, tanto quanto um ato libertário como uma forma de resistência a essa dimensão moral. Palavras-chave: Biopoder. Fascismo. Domesticação dos corpos. 89 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário POLÍTICA CULTURAL E GOVERNAMENTALIDADE: A PRODUCÃO DE UM SABER-PODER SOBRE O SISTEMA NACIONAL DE CULTURA Alexandre Barbalho Universidade Estadual do Ceará Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea alexandrealmeidabarbalho@gmail.com RESUMO Compreendendo governamentalidade ou biopolítica como o exercício do poder do Estado sobre o corpo coletivo da população, em especial por meio de políticas públicas, o presente trabalho discute a formação de um saber sobre o Sistema Nacional de Cultura (SNC) de modo a dotá-lo de um poder e assim ser incorporado pelos gestores, produtores e criadores culturais como uma política legítima. O referido Sistema vem sendo implementado pelo Ministério da Cultura desde o primeiro governo Lula (2003-2006) e busca articular em lógica sistêmica as políticas culturais federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal, por meio da participação não apenas dos gestores públicos, mas também da sociedade. O trabalho procura, portanto, responder as seguintes questões: quais as condições históricas e discursivas que possibilitaram a emergência do SNC como um saber e uma política pública? Como o SNC se tornou inteligível e como alguém pôde apropriar-se e falar dele? Como procedimento teóricometodológico, recorreu-se à perspectiva arqueológica proposta por Michel Foucault, o que demandou constituir um corpus coerente de documentos a partir do acúmulo de discursos sobre o Sistema de modo a estabelecer a história dessa prática discursiva, a do SNC, e a instauração de sua positividade. Os discursos foram trabalhados desde o interior, identificando e agrupando um conjunto de elementos, estabelecendo relações e reunindo-os segundo níveis de pertinência. Para análise desse domínio discursivo, foi preciso compreender o enunciado na sua singularidade, aquilo que explica porque só ele pôde ocupar seu lugar: suas condições históricas de existência, seus limites, suas correlações com outros enunciados e os enunciados que exclui. Nesse sentido, identificou-se quem falava sobre o SNC, ou seja, o titular do discurso. Em seguida se descreveu os lugares institucionais do discurso; onde ele obtinha sua legitimidade e seu ponto de aplicação; e, por fim, como os discursos se relacionavam. O intuito foi desvendar a rede conceitual do SNC que se formou a partir das regularidades intrínsecas do seu discurso e como o Sistema se transformou em um tema, com determinada organização de conceitos, agrupamento de objetos e tipos de enunciação, e em uma estratégia discursiva. Palavras-chave: Política Cultural. Sistema Nacional de Cultura. Arqueologia. Discurso. 90 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário PRAZERES ARTIFICIAIS Debora Klippel Fofano Universidade Federal do Ceará Doutoranda em Educação - Filosofia e Sociologia da Educação deborafofano@hotmail.com RESUMO O desejo ingênuo de opor-se a todas as formas de violência, da física e direta ao extermínio em massa, do terror à violência ideológica, dos racismos à citação ao ódio, não vai além da preocupação da atitude neoliberal que coaduna com o domínio biopolítico. S. Žižek é um autor que joga luz em algumas questões como as que apresentamos nesse trabalho, ao afirmar, por exemplo: “A caridade é a máscara humanitária que dissimula o rosto da exploração econômica”. Nesse contexto, percebemos o ponto que a violência toca a política, a biopolítica e a pós política, e essas noções se sobrepõem, restando a administração da vida, afirmando ao nível zero a política. Tomando por base o filosofo Agamben, Žižek redesenha o que é biopolítica e a pós-política. É uma política que tem a pretensão de abandonar os combates ideológicos para se centrar, na gestão e na administração especializadas, por sua vez a biopolítica teria como seu objetivo a regulação da segurança e do bem-estar das vidas humanas. Como nos lembra Peter Pál Pelbart , Žižek nos expõe a uma espécie de espetáculo anêmico da vida se arrastando como uma sombra de si mesma, visto que almejamos uma existencia asséptica, indolor, prolongada ao máximo, onde até os prazeres são controlados e artificializados: café sem cafeína, cerveja sem álcool, sexo sem sexo, guerra sem baixas, política sem política, a pós política, a era da pós verdade. Todos nós que arrastamos nossa sombra de vida como mortos vivos. Por isso que em tempos atuais, em uma séria crítica a pós-modernidade, a única maneira de introduzir paixão em alguns sujeitos é mobilizar pelo medo: medo da criminalidade, imigração, depravação, catástrofes, surgindo assim uma liderança de uma multidão paranoica que se deixa conduzir pela ideia de tolerância e benevolência aparente. Sendo assim entendemos que tratar de ideologia e violência relacionadas nesse sentido, é assumir uma postura crítica e pensar em um ato político que possa radicalmente mudar o estatuto epistêmico em que o processo de vida se encontra, levando-se em consideração o contexto do capital e da biopolítica para não cair nas armadilhas do tipo citadas. Palavras-chave: Ideologia. Violência. Biopolítica. Artificial. 91 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário RACISMO EM FOUCAULT E MBEMBE: UMA ABORDAGEM DECOLONIAL Leandro Alves Universidade Federal do Ceará Mestrando em Educação alvaresleandro10@gmail.com RESUMO Este trabalho aborda a visão de Michel Foucault sobre o racismo, apresentada no curso Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975/1976), como uma tecnologia destinada a permitir o exercício do biopoder. Sua genealogia intra-europeia ocidental no cruzamento entre a teoria biológica do século XIX e o discurso do poder, o direito soberano de “fazer morrer e deixar viver” estabelecido através de cesuras no contínuo biológico a que se direciona o biopoder. O racismo, entendido por Foucault como a condição para o exercício do direito de matar em um Estado biopolítico, aparece, para Mbembe, como a base para a necropolítica ou, de maneira resumida, a submissão da vida ao poder da morte e tem suas primeiras ranhuras na modernidade/colonialidade do potentado colonial, no espaço econômico, disciplinar e punitivo da plantation e da colônia. Após essa primeira abordagem do racismo na teoria foucaultiana e de Mbembe, apresentamos uma genealogia alternativa do racismo perspectivada no pensamento de Quijano, Grosfoguel, Dussel, Wallerstein e Boaventura de Souza Santos, autores do chamado “giro decolonial” que pensam a constituição da modernidade/colonialidade fora dos centros ocidentais e a partir do ponto de vista do Sul Global. Para essa corrente de estudiosos, o decolonialismo é entendido como uma proposta epistêmica, teórica e política que pensa a genealogia do sistemamundo moderno capitalista como intrínseca à experiência colonial e a ideia de raça. Colocada como um dispositivo organizador do sistema-mundo moderno/colonial, a raça aparece como elemento básico que intersecciona os pontos de toque e as linhas de fuga entre racismo, escravidão, colonialismo e capitalismo. Por fim, essa intersecção é exposta a partir do que Mbembe chamou de devir-negro do mundo, a condição a que foram submetidas as pessoas de origem africana no regime de escravidão euroamericano, denominadas negras pela efabulação/dominação do colonizador, e a possibilidade, cada vez mais normalizada dentro do regime neoliberal, de aplicabilidade dessa condição as humanidades subalternas, os precarizados do mercado e da dívida, submetidas as práticas biopolíticas e as premissas constantes de acumulação primitiva e de superexploração econômica dos seres humanos no regime do capital. Palavras-chave: Racismo. Biopolítica. Necropolítica. Modernidade/Colonialidade. Decolonialismo. 92 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário FUNDAMENTALISMO NO GOVERNO BOLSONARO: DISCURSOS E CONTRADISCURSOS Sandson de Souza Costa Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN/GEDUERN) Sandson314@gmail.com Francisco Paulo da Silva fpaulinhos@gmail.com Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN/GEDUERN) RESUMO O Governo Bolsonaro vem demonstrando uma tendência fundamentalista que se marca em seus discursos e ação política. Isso tem se manifestado de forma recorrente em enunciados que discursivizam o professor e a educação como propagadores de ideias que ameaçam a concepção de familia, o modelo de Estado e Sociedade defendidos pe por esse governo.Com foco nesse contexto, este trabalho se propõe a analisar elementos que caracterizam o discurso fundamentalista que subjaz à produção discursiva deste Governo sobre o professor e a eduação. Fundamentado na Análise do Discurso, especialmente nas contribuições de Michel Foucault para o estudo do discurso, do poder e das resistências, foram selecionados, como corpus, enunciados que circularam em postagens do Twiter de representantes do governo e de seus opositores, de modo a descrever e interpretar mecanismos constitutivos do interdiscurso das formações discursivas em confronto político na atualidade. A análise torna-se relevante, a medida que possibilita conhecer os elementos caracterizadores desses discursos e as estratégias utilizadas em cada uma dessas formações discursivas. Uma análise preliminar do corpus indica que, do ponto de vista do Governo, se verifica a presença de um discurso fundamentalistareligioso, conservador e moralista, que objetiva denegrir a imagem do professor e da educação, e do ponto de vista da oposição, se inscreve um discurso de resistência na luta pela valorização do professor e em defesa da educação como prática da liberdade e da constituição ética do sujeito. Palavras-chave: Discurso. Fundamentalismo. Professor. Educação. Resistências. 93 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário TECNOLOGIAS DOS “BONS COSTUMES”: ESPAÇOS, CORPOS E PROSTITUIÇÃO EM FORTALEZA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX José Humberto Carneiro Pinheiro Filho Universidade Federal de Pernambuco Doutorando em História hpf1808@gmail.com RESUMO Nas primeiras décadas do século XX, certos usos de corpos e espaços na cidade de Fortaleza emergiam como “problema” em discursos e práticas. Um deles foi nomeado e classificado de prostituição. Uma articulação de formas materiais e não materiais, textuais e não textuais para nomear, classificar e gerir corpos e espaços como prostituição na primeira metade do século XX em Fortaleza configurou-se em textos jornalísticos, reclamações na imprensa, registros jurídicos, administrativos e ações policiais. Penso essa articulação discursiva e não discursiva a partir da hipótese de um funcionamento da cidade pornotópica. Ou seja, a classificação dos usos dos corpos e dos lugares do chamado “comércio sexual” em Fortaleza no período definido acima e sua produção de noções de “(des)ordem urbana” e de subjetividades numa relação de corpos e espaços da sexualidade na e como cidade. Com essa perspectiva, pretende-se contribuir para pensar a história de um espaço urbano como uma biotecnologia do sexo, como dispositivos da sexualidade, com suas configurações legais, normativas e técnicas na constituição de visibilidades, dizibilidades e significados sexuais nas práticas urbanas. Os sujeitos classificados nessa cidade pornotópica poderiam se refazer (escapar) colocando-se em outras definições de trajetórias ou mesmo de classificações, como subjetividades que não seriam (ou não seriam exclusivamente) de prostitutas, por exemplo, não se reconhecendo nessas disposições, e espaços que seriam reconhecidos como estabelecimentos comerciais ou quartos para dormir, e não prostíbulos. Palavras-chave: Fortaleza. Sexualidade. Corporeidade. Espacialidade. 94 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário A MORTE DO REI E À ESPREITA DA VIGÍLIA: OLHARES E FUGAS José Wagner de Almeida Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE RESUMO O presente artigo apresenta uma discussão referente as questões da biopolítica no Brasil no início do século XXI, tomando como foco de análise categorial o fenômeno do avanço da extrema direita no país - assentado numa narrativa moral judaica cristã, com composição hibrida, política-economia e sexualidade. Foucault nos serve neste trabalho com sua obra – O nascimento da Biopolítica – ao nos esclarecer as teias e construções discursivas de agentes e agencias, teologicamente estruturado para esclarecer, convencer e formar. Defendemos a hipótese de que não há uma cisão entre o pensar e a construção discursiva do discurso referente, mas uma manifestação consentida pelos sujeitos dispostos a obedecer e comprometer-se com um imperativo que é mercadológico, assentado numa racionalidade econômica neoliberal. É nessa consideração que entra a história do duplo papel indispensável para a análise dos discursos: a relação saber/poder como imperativo regulador produzindo desta forma, sujeitos da construção de “regimes de verdade”. Palavras-chave: Biopolítica no Brasil. Construções discursivas. Análise dos discursos. Regimes de verdade. 95 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário BIOPOLÍTICA E CUIDADO DE SI NA FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL E CONTINUADA: O DISCURSO OFICIAL E O ACADÊMICO Marcos de França Universidade Regional do Cariri Doutor em Linguística marcos.franca@urca.br RESUMO Entre as políticas públicas de governo voltadas para a educação, está aquela da edição das Diretrizes Curriculares para a formação de professores na graduação (a formação inicial) e a preocupação com a formação de quem já está no campo de trabalho (a formação continuada). Essa constatação se deu no âmbito de nossa pesquisa de doutorado ao analisarmos os documentos referidos. Verificamos que o discurso norteador do documento oficial, visto como uma ação biopolítica, aponta para um cuidado de si que deve ser assumido pelo professor em formação, pelo professor formador e pelo professor atuante no Ensino Básico. Temos por objetivo, portanto, discutir a formação docente no curso de Letras-português licenciatura a partir da análise de alguns projetos pedagógicos de curso (PPC) de Universidades públicas. Nossa discussão é no sentido de mostrar que nos referidos PPC, por força das orientações das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Letras (DCCL), há uma tendência, estabelecida pelos jogos de verdade que o momento histórico-político impõe, para que o profissional das letras seja um professor-pesquisador e que cuide de sua formação profissional buscando estar sempre em contínuo processo de formação. Nesse sentido, percebemos que se quer induzir o sujeito-professor àquilo que Foucault denominou de governo de si, ou seja, cuidar melhor de si, como profissional, para cuidar melhor dos outros, os sujeitos-alunos. Palavras-chave: Biopolítica. Cuidado de Si. Formação Docente. 96 I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário DIRECIONAMENTOS IDEOLÓGICOS E DISPUTA DE PODER NAS RELAÇÕES ENTRE MÍDIA E SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: O JUDICIÁRIO COMO AGENTE POLÍTICO David Barbosa de Oliveira Universidade Federal do Ceará Doutor em Direito dvdbarol@gmail.com RESUMO Essa pesquisa se propõe a investigar, no atual contexto, como o discurso midiático direciona os julgamentos da mais alta corte de justiça do país, bem como observar como essas decisões desse tribunal são representadas por três periódicos: Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo e O Globo. Acreditamos que esses periódicos são replicados nas redes sociais e fomentam a opinião pública nacional. É certo que esse é um fenômeno novo que põe o judiciário em um papel de destaque no campo político. A relação entre mídia e judiciário se intensificou, nos últimos anos, e as idas de Ministros às câmeras a fim de influir em julgamentos e pautar a vida política nacional é um fenômeno que não pode permanecer alheio aos estudos jurídicos e políticos. Para dar conta desse escopo, utilizaremos o referencial teórico em Foucault e metodológico na Análise de Discurso Crítica para, por meio de uma investigação discursiva, evidenciarmos, a construção dos sentidos da atuação do STF junto a mídia e vice-versa, identificando as estratégias ideológicas, as relações de poder que lhe transpassam e o interdiscurso jurídico midiático. Deste modo, temos como objetivos: entender quais as formas de política exercidas pelo e no judiciário, em um sistema neoliberal, que tipos de agenciamento e cartografias podem ser feitas, bem como perceber de que modo o judiciário gerencia o poder e o governo. Para alcançar esses escopos utilizamos metodologia de cunho qualitativo pautada na tríade básica: observação, pesquisa em arquivos e entrevistas. Por fim, buscamos com essa investigação contribuir para a compreensão de que as tramas ideológicas e os direcionamentos dos discursos midiáticos possam ser visto de forma crítica e que possamos dar o trato devido a mudança social com o ingresso de um novo agente político no Brasil: o judiciário. Palavras-chave: Mídia. Análise do Discurso. Judiciário. Direcionamentos ideológicos. 97