ANAIS
I COLÓQUIO INTERLOCUÇÕES FOUCAULTIANAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI
Juazeiro do Norte
SUBJETIVIDADE:
SUBJETIVIDADES:
RESISTÊNCIA
RESISTÊNCIAEE
EXPERIÊNCIAS
EXPERIÊNCIAS
ÉTICAS
ÉTICAS
Realização:
Apoio:
Realização:
Mídia e
Biopolítica
ORGANIZADORES
Regiane Lorenzetti Collares
Luis Celestino de França Jr.
Fernando Sepe Gimbo
Leda Mendes Gimbo
I COLÓQUIO INTERLOCUÇÕES FOUCAULTIANAS
SUBJETIVIDADES: RESISTÊNCIA E EXPERIÊNCIAS ÉTICAS
Universidade Federal do Cariri
Juazeiro do Norte-CE
2019
ORGANIZADORES
Regiane Lorenzetti Collares
Luis Celestino de França Jr.
Fernando Sepe Gimbo
Leda Mendes Gimbo
COMITÊ CIENTÍFICO
Camila do Espírito Santo Prado de Oliveira
Luiz Manoel Lopes
Natacha Muriel Lopez Gallucci
Nilo César Batista da Silva
Patrick de Oliveira Almeida
DIAGRAMAÇÃO
Lázaro Almeida Galvão
NORMALIZAÇÃO
Ana Paula Lucio Pinheiro
REVISÃO FINAL
Natália Brito Bessa
C719a
Universidade Federal do Cariri
Colóquio Interlocuções Foucaultianas.
Anais do I Colóquio Interlocuções Foucaultianas [recurso digital] / Organização: Regiane
Lorenzetti Collares; Luis Celestino de França Jr.; Fernando Sepe Gimbo; Leda Mendes
Gimbo. – Juazeiro do Norte-CE: Universidade Federal do Cariri, 2019.
97 p. E-pub.
ISBN: 978-85-67915-45-6
Universidade Federal do Cariri – curso de Filosofia, Pró-reitoria de Pesquisa, Pósgraduação e Inovação, Juazeiro do Norte, 2019.
1. Subjetividades. 2. Resistência. 3. Experiências Éticas. 4. Interlocuções Foucaultianas. I.
Título. II. Colllares, Regiane Lorenzetti. III. França Jr., Luis Celestino de.
CDD 100
SUMÁRIO
GT 1
A EXPERIMENTAÇÃO IMAGÉTICA NO DEVIR-FÍLMICO, UM ATRAVESSAMENTO ÉTICOESTÉTICO E POLÍTICO...................................................................................................................................... 11
A SUBJETIVAÇÃO EM FOUCAULT: UM EM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO....................................... 12
A UNIVERSIDADE ENQUANTO PRISÃO: LIBERDADE OU VIGILÂNCIA E PUNIÇÃO?.................... 13
A VONTADE DE SABER: O REMATE DA HIPÓTESE REPRESSIVA NA HISTÓRIA DA
SEXUALIDADE I.................................................................................................................................................. 14
A HETEROTOPIA DO CORPO NEGADO...................................................................................................... 15
A POLÍTICA COMO MEDIADOR DE PUNIÇÕES AOS MEMBROS DA COMUNIDADE
LGBTQ PORTADORES DO HIV....................................................................................................................... 16
A PRODUÇÃO DISCURSIVA DE ESPAÇOS-AFETOS NÔMADES NO PROGRAMA
VIVA A PALAVRA: CARTOGRAFIAS JUVENIS DE REEXISTÊNCIA E PAZ EM
TERRITÓRIOS DE VIOLÊNCIA URBANA...................................................................................................... 17
A VIGÍLIA DE SI: SUBJETIVIDADE E RESISTÊNCIA NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO........................... 18
A PARRESIA COMO PRÁTICA DE SI: PLATÃO EM UMA EXPERIÊNCIA DE LIBERDADE................ 19
ALETURGIAS DEMOCRITIANAS NAS CARTAS DO PSEUDO-HIPÓCRATES..................................... 20
ARTE E VIDA EM OBRA: A EXISTÊNCIA ESTÉTICA DE MICHEL FOUCAULT EM
RUBIANE MAIA................................................................................................................................................... 21
BIOTECNOLOGIAS E PRÁTICAS DE SI: UMA ANÁLISE FOUCAULTIANA SOBRE
UMA DOULA E A ÉTICA DO CUIDADO...................................................................................................... 22
CARNAVALIZAÇÃO E PARRESÍA NO CONTO HISTÓRIAS DE ALEXANDRE:
CONSTRUINDO APROXIMAÇÕES ENTRE BAKHTIN E FOUCAULT..................................................... 23
CENTRO POP: UMA EXPERIÊNCIA DE IMERSÃO NOS SUJEITOS E SUAS TECNOLOGIAS.......... 24
CORPO DÓCIL: PODER E DISCIPLINA DO CORPO NO BALÉ CLÁSSICO E NA
DANÇA MODERNA........................................................................................................................................... 25
CORPO MORAL X CORPO ÉTICO: A SUPERAÇÃO DA SERVIDÃO E A CONQUISTA DA
LIBERTAÇÃO POR NOVAS EXISTÊNCIAS CORPÓREAS.......................................................................... 26
CUIDADO FAMILIAR E A SAÚDE MENTAL: UMA VISÃO FOUCAULTINA DO CUIDADO NA
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL.............................................................................................................................. 27
DISPOSITIVO ESCOLA E OS DESAFIOS DA PROFISSÃO DOCENTE NA
CONTEMPORANEIDADE................................................................................................................................. 28
DIÁLOGOS ENTRE O CORAÇÃO E A HISTÓRIA DA LOUCURA:
NISE DA SILVEIRA E MICHEL FOUCAULT................................................................................................... 29
ENTRE SIMULACROS, IMAGENS-LIMITE.................................................................................................... 30
EXPERIMENTO ARTAUD: UMA INVESTIGAÇÃO POLÍTICA, O TEATRO COMO PRÁTICA DE SI.. 31
FESTIVAIS FORTALEZA CIDADE MARGINAL:
EXPERIÊNCIAS ARTÍSTICAS E SINGULARIZAÇÕES SUBJETIVAS........................................................ 32
FORCAOS: DO “FAÇA VOCÊ MESMO” AO APOIO DO PODER PÚBLICO (1999–2004)................ 33
GENEALOGIA: UMA TÁTICA METODOLÓGICA PARA ABORDAR AS RELAÇÕES DE PODER..... 34
INSURREIÇÃO MICROPOLÍTICA DE UM REISADO TRANSVIADO EM
JUAZEIRO DO NORTE-CE............................................................................................................................... 35
MOVIMENTO ANARCO-PUNK DE FORTALEZA:
UMA ETNOGRAFIA DAS PRÁTICAS DE LIBERDADE............................................................................... 36
NUS, NUDES E PELADÕES:
O DISCURSO ARTÍSTICO LEGITIMA PADRÕES DE DESEMPENHO?.................................................. 37
O DISCURSO DO MESTRE: UM ENCONTRO NA FRONTEIRA ENTRE FOUCAULT E LACAN....... 38
O MESTRE DO CUIDADO E O ENSINO DE FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA........................... 39
O VIDEDANÇA NA TERRA DA LUZ – A MÍDIA DA VISIBILIDADE....................................................... 40
OS DESAFIOS DA SAÚDE COLETIVA FRENTE AO PARADIGMA DE SAUDE MENTAL EM
TRANSFORMAÇÃO: UMA EXPERIENCIA DE ESTÁGIO........................................................................... 41
OCUPAR-SE CONSIGO, CUIDAR DE SI MESMO:
PRÁTICAS NECESSÁRIAS NO EXERCÍCIO DOCENTE.............................................................................. 42
PERMANÊNCIAS, DESLOCAMENTOS E (RE) PRODUÇÕES MIDIÁTICAS EM
TORNO DO DISCURSO DA POBREZA......................................................................................................... 43
PONCIÁ VICÊNCIO E OS SIGNIFICADOS DE SER NEGRO NO BRASIL – CONSIDERAÇÕES
SOBRE A AMPLIAÇÃO DA CLÍNICA PSICOLÓGICA................................................................................ 44
PROFESSOR-CELULAR-ALUNO: JUDICIALIZAÇÃO E RESISTÊNCIA NA PESQUISAINTERVENÇÃO................................................................................................................................................... 45
PSICOLOGIA E SAÚDE MENTAL: UM OLHAR SOBRE A MORTE E A FINITUDE.............................. 46
QUAL O PODER DO AFETO? DANÇA, CORPO E AFETABILIDADE NOS TEMPOS DE AGORA... 47
SEXUALIDADE COMO DISPOSITIVO DE CONTROLE E IMPLICAÇÕES PARA A PSICOLOGIA.... 48
SILÊNCIO, PRECARIEDADE E PERTENCIMENTO NO TRABALHO DE
PAULINE BOUDRY E RENATE LORENZ........................................................................................................ 49
SO-YOU-THINK-YOU-CAN-DANCE: A IMUNIZAÇÃO DOS CORPOS-QUE-DANÇAM
COMO REALITY-SHOW-COREOBIOPOLÍTICO.......................................................................................... 50
SUBJETIVIDADES TRANSGRESSORAS OU A TRANSGRESSÃO DA SUBJETIVIDADE?.................. 51
UM OLHAR SOBRE A MULTIDIMENSIONALIDADE DOS PROCESSOS DE
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LOUCURA..................................................................................................... 52
UMA ANÁLISE FOUCAULTIANA DE PRÁTICAS MACHISTAS FUNDANTESDO DISCURSO DE
MICHEL TEMER “EM COMEMORAÇÃO” DO DIA DA MULHER............................................................ 53
UMA CONEXÃO ENTRE FILOSOFIA E DANÇA: CORPOS INTENSIVOS EM MOVIMENTO........... 54
UMA POSSIBILIDADE DE RELAÇÃO ÉTICA-ESTÉTICA PARRESÍA CÍNICA COMO RESISTÊNCIA..................................................................................................... 55
A RELAÇÃO DO ARTIVISMO COMO ANTI-ESTRUTURA EM TURNER E ESTÉTICA DA
EXISTÊNCIA EM FOUCAULT, NUMA CONCEPÇÃO DE ARTE CONTRA O ESTADO (...)................ 56
JOY DIVISION E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS LETRAS:
ENTRE A APROPRIAÇÃO LITERÁRIA E A RESSONÂNCIA FILOSÓFICA (1977-1980).................... 57
O QUIMERISMO, CIÊNCIA E ÉTICA – NIETZSCHE, LE BRETON E FOUCAULT................................. 58
GT 2
BIOPOLÍTICA E ESTADO DE EXCEÇÃO....................................................................................................... 60
BIOPOLÍTICA E BIOPODER NA SOCIEDADE DISTÓPICA DE O CONTO DA AIA............................ 61
A CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS EMPRESARIAIS E A RESISTÊNCIA DOS DESVIANTES:
BIOPOLÍTICA, HETEROTOPIA E PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA.................................................... 62
A CONSTRUÇÃO DA RESISTÊNCIA NAS ELEIÇÕES DE 2018 SOB
A PERSPECTIVA DA BIOPOLÍTICA................................................................................................................ 63
A EDUCAÇÃO COMO UM DISPOSITIVO DE CONTROLE:
RESISTÊNCIA ATRAVÉS DO CUIDADO DE SI............................................................................................ 64
A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO DISCIPLINAR E SUAS POLÍTICAS DE RESISTÊNCIA.................. 65
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA DIFERENÇA E SUAS PRÁTICAS DE GOVERNAMENTO................ 66
A INTERSEÇÃO DO PENSAMENTO FOUCAULTIANO NO “ILLÉGALISME”
PENALISTA NO CRIVO DO INIMIGO INTERNO......................................................................................... 67
A QUESTÃO DA VIDA E MORTE NA BIOPOLÍTICA DE FOUCAULT..................................................... 68
A VIDA FORA DA JURISDIÇÃO HUMANA: OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO
CEARENSES DE 1932 COMO AMBIENTES DE EXCEÇÃO SOB O PARADIGMA BIOPOLÍTICO... 69
A ÉGIDE DA PÓS-VERDADE POLÍTICA NA CONTEMPORANEIDADE:
UMA NOVA CRISE POLÍTICA E SUA RELAÇÃO COM O SABER-PODER............................................ 70
EDUCAÇÃO SUPERIOR E BIOPOLÍTICA:
SOBRE A ABERTURA DE CURSOS DE PSICOLOGIA NO ESTADO DO CEARÁ................................. 71
“CALUNIADOS, PRESOS, FUZILADOS, GLORIFICADOS”: A VISIBILIDADE QUE
A ‘REBELIÃO CRISTERA’ TEVE NA IMPRENSA CATÓLICA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 1920.. 72
APROXIMAÇÕES ENTRE FOUCAULT E MBEMBE: A BIO/NECRO POLÍTICA NO
DEVIR SUJEITO DOS QUE NÃO IMPORTAM............................................................................................. 73
BIOPOLÍTICA E DIREITO À SAÚDE NO BRASIL: REFLEXÕES POSSÍVEIS........................................... 74
CARACTERIZAÇÕES E PROBLEMATIZAÇÕES A RESPEITO DA
MEDICALIZAÇÃO NA ATUALDIADE............................................................................................................ 75
CONVERGÊNCIAS ENTRE GOVERNABILIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS......................................... 76
DA SOCIEDADE DISCIPLINAR À SOCIEDADE DE CONTROLE:
FORMAS DE RESISTÊNCIA CONTRA UMA FORMA DE VIDA FASCISTA........................................... 77
ESPETACULARIZAÇÃO DA INTIMIDADE E SUBJETIVAÇÃO DA
PERFORMANCE DE CAMGIRLS: ANÁLISE DO CASO DREAD HOT.................................................... 78
FOUCAULT, PODER DISCIPLINAR E PENALIDADE NA SOCIEDADE MODERNA........................... 79
GENEALOGIAS DA INTERNAÇÃO EM GOFFMAN E FOUCAULT E AS
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS NO BRASIL .......................................................................................... 80
GRAFFITI E JUVENTUDES: NOTAS DE UMA GOVERNAMENTALIDADE A ESPREITA.................... 81
JORNALISMO E BIOPOLÍTICA: COMUNICAÇÃO CONSTRANGIDA................................................... 82
LOUCURA, LÓGICA MANICOMIAL E HIGIENIZAÇÃO SOCIAL:
ENTRE O ENCARCERAMENTO E A RESISTÊNCIA.................................................................................... 83
MEDICALIZAÇÃO DOS CORPOS E O BIO-PODER NA ESSENCIALIZAÇÃO DOS
CORPOS FEMININOS DIANTE DA LEI N° 9.263/12/1996..................................................................... 84
MORTE IMPUNE E LUTO PROIBIDO EM GIORGIO AGAMBEN E JUDITH BUTLER........................ 85
O BIG DATA E A GOVERNAMENTALIDADE ALGORÍTMICA:
NOVAS FORMAS DE PODER, DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA............................................................... 86
O ESTADO E A POLÍTICA NA VISÃO DE FOUCAULT: UMA ABORDAGEM INTRODUTÓRIA....... 87
O NEOLIBERALISMO E AS MUTAÇÕES DO PODER OU PARA ALÉM DO PODER BIOPODER:
DIÁLOGOS ENTRE FOUCAULT E BYUNG-CHUL HAN............................................................................ 88
“PAI, AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE DE VINHO TINTO DE SANGUE”:
BIOPODER, FASCISMO E DOMESTICAÇÃO DOS CORPOS................................................................... 89
POLÍTICA CULTURAL E GOVERNAMENTALIDADE: A PRODUCÃO DE UM SABER-PODER
SOBRE O SISTEMA NACIONAL DE CULTURA........................................................................................... 90
PRAZERES ARTIFICIAIS.................................................................................................................................... 91
RACISMO EM FOUCAULT E MBEMBE: UMA ABORDAGEM DECOLONIAL...................................... 92
FUNDAMENTALISMO NO GOVERNO BOLSONARO: DISCURSOS E CONTRADISCURSOS........ 93
TECNOLOGIAS DOS “BONS COSTUMES”: ESPAÇOS, CORPOS E PROSTITUIÇÃO EM
FORTALEZA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX............................................................................ 94
A MORTE DO REI E À ESPREITA DA VIGÍLIA: OLHARES E FUGAS...................................................... 95
BIOPOLÍTICA E CUIDADO DE SI NA FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL E CONTINUADA:
O DISCURSO OFICIAL E O ACADÊMICO.................................................................................................... 96
DIRECIONAMENTOS IDEOLÓGICOS E DISPUTA DE PODER NAS RELAÇÕES ENTRE MÍDIA E
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: O JUDICIÁRIO COMO AGENTE POLÍTICO...................................97
I COLÓQUIO INTERLOCUÇÕES
FOUCAULTIANAS - SUBJETIVIDADES:
RESISTÊNCIA E EXPERIÊNCIAS ÉTICAS
CADERNO DE
RESUMOS
GT 1
I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A EXPERIMENTAÇÃO IMAGÉTICA NO DEVIR-FÍLMICO,
UM ATRAVESSAMENTO ÉTICO-ESTÉTICO E POLÍTICO
Francisco Harley de Oliveira Almeida
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Graduando em Antropologia
harley.almeida@gmail.com
Gisele Soares Gallicchio
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
UNILAB, IH, Docente
gisoaresgal@gmail.com
RESUMO
O devir-fílmico consiste numa expressão audiovisual que transversaliza ciência, filosofia e arte, Uma
experimentação lançada pela cartografia esquizoanalítica conforme a perspectiva da filosofia da
diferença de Gilles Deleuze e Félix Guattari, atravessando as coordenadas em outras direções, inúmeras
direções, sentidos e vetores, assinalando o processo cartográfico, não obedecendo à orientação das
coordenadas, assinalando as intensidades vividas, captando os efeitos das forças humanas e não
humanas. Dessa maneira, transgride o território identitário. Quando a experimentação imagética
perpassa as fronteiras e as linhas de existência, resistentes nas margens, imargens assinalam modos de
vida. Territórios (geográfico, político e existencial) cujos limites não coincidem, nem se correspondem
numa sobreposição precisa definida como unidade. Territórios instituídos por margens moventes, pelas
forças do fora que dão consistência e assinalam sua multiplicidade. O devir-fílmico enquanto máquina
de experimentação ensaia seus signos em variações de corpos, corpos do devir, corpos de potência.
Corpos que se relacionam tencionando forças. Essas e outras marcações trazem a noção de um fora
que é por muitas vezes da ordem do imperceptível. Desse modo, a arte torna-se inseparável da vida,
permeando as relações cotidianas, inventando algo novo entre seus componentes, novas posturas e
concepções encarnadas nas práticas. Esta é a potência de uma dimensão estética que corta e se conecta
a uma dimensão ética e política, produzindo aberturas para novos universos referenciais.
Palavras-chave: Devir-fílmico. Multiplicidade. Diferença. Experimentação.
11
I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A SUBJETIVAÇÃO EM FOUCAULT:
UM EM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO
Maria Aparecida de Santana Silva
Universidade Federal do Cariri
Mestranda em Ensino de Ciência e Matemática-UFPE
cydasantana13@hotmail.com
Juliana Andrade da Silva
Universidade Federal de Pernambuco
Mestranda em Ensino de Ciência e Matemática-UFPE
julianandrade91@hotmail.com
RESUMO
Na busca em adentrar nos desafios que os alunos do terceiro ano do ensino médio enfrentam nas suas
escolhas profissionais e pessoais ao término do curso, nossa proposta neste trabalho é apresentar uma
pesquisa realizada com vinte e cinco alunos de uma escola do ensino médio da cidade de Chã GrandePernambuco, com base referencial de Foucault o sujeito e os modos de subjetivação, identificamos
através de aplicação de questionários alguns modos de subjetivação encontradas nas suas tomadas de
decisões, no decorrer do curso. Em uma análise crítica-reflexiva foi percebido que muitas escolhas dos
alunos se deu por parte de processos de subjetivação no decorrer do ensino médio, o que nos levou a
acreditar que escolhas equivocadas e subjetivadas podem ser um dos principais responsáveis da evasão
universitária e que ainda muitos jovens não acreditam que o ensino superior possa ser o caminho para
o sucesso profissional. Desta maneira esse trabalho busca apresentar os modos de subjetivação pela
escolha ou não escolha da sua carreira profissional. Mostrando que as subjetivações e os modos de
subjetivação que constitui as decisões desses alunos, são capazes de definirem o seu modo de vida. É
importante que possamos forma jovem críticos e que tenham o cuidado de si, para decidirem de forma
coerente e positiva sua vida profissional.
Palavras-chave: Subjetivação. Foucault. Ensino médio.
12
I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A UNIVERSIDADE ENQUANTO PRISÃO:
LIBERDADE OU VIGILÂNCIA E PUNIÇÃO?
Paulo Rossi Cavalcanti Neto
Universidade Federal do Cariri
Graduando em Jornalismo
Paulorossicavalcanti@gmail.com
RESUMO
Adentrando no espaço da Universidade Federal do Cariri muito do que é pensado e exposto por Foucault
em ‘Vigiar e Punir’ é revelado aos olhos ainda hoje. As paredes recém-pintadas e ‘blindadas’ para que
se evitem pichações ou quaisquer formas de arte/resistência que não sejam ‘higiênicas’ o suficiente
expõem uma realidade inquietante por trás do vazio esbranquiçado: um modelo de poder baseado
em prisões. Situações semelhantes ocorrem em várias Universidades Brasil afora. Apesar da ausência
de sirene, os alunos parecem movidos por uma espécie de alarme interno que os orientam quanto aos
horários das aulas. Pontuais, devem chegar e prestar atenção enquanto chamadas são feitas. Acima de
25%, reprovação. Atrasados precisam correr ao Restaurante Universitário e engolir a comida nos pouco
minutos que têm. A ideia defendida de um jornalismo humano, por exemplo, logo é descartada quando
problemas de saúde surgem naqueles que mal podem digerir. Não há tempo, apenas a arquitetura
sistemática produzida afim de controlar, aceita pela sociedade através de coerção baseado no princípio
de que vigiar é mais produtivo que punir, segundo Foucault. Na escola, período anterior à Academia,
há sirene, condicionando e disciplinando de forma efetiva o corpo, que deve ser sempre controlado por
meio de recompensas e punições. As semelhanças entre Universidade e prisão passam a fazer ainda
mais sentido. Ordem. Padrão. Hierarquia através de guardas, professores, alunos, servidores, pró-reitores,
reitor. Paredes que separam essas hierarquias em blocos, salas. Tal qual facções, pessoas são divididas
em cursos, setores, unidades acadêmicas. A ideia condicionada de fardamento vinda da escola é tão
forte que mesmo diante da liberdade de se vestir, é escolhido por vezes confeccionar fardas dos cursos.
O banho de sol é a hora do intervalo em que há tempo para uma socialização mínima. Há o refeitório
e tanto o tempo na prisão quanto o tempo na academia objetivam a liberdade ao final. Sob vigilância
e punição, que liberdade resta à Universidade, que tanto se intitula livre? O que isso demonstra de nós
enquanto sociedade? Questões que há 44 anos eram levantadas e que ainda hoje não encontraram
respostas capazes de libertar mentes sistematicamente encarceradas.
Palavras-chave: Vigiar. Punir. Foucault. Universidade. Prisão.
13
I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A VONTADE DE SABER:
O REMATE DA HIPÓTESE REPRESSIVA NAHISTÓRIA DA SEXUALIDADE I
Guilherme Macedo Silva
Universidade Federal do Cariri-UFCA
Graduando em filosofia
guedesguilherme996@gmail.com
RESUMO
Até o século XVII teríamos vivido num tempo em que os discursos sobre o sexo pairavam nus por todas
as partes, “as práticas não procuravam o segredo; as palavras eram ditas sem reticências excessiva e as
coisas eram feitas sem demasiado disfarce” (FOUCAULT, 2017). Assim se ordenavam os sujeitos até o
momento em que o sexo é engolfado por uma burguesia vitoriana que violentamente o encerra. Ao
sexo começa-se a perguntar coisas. Normatizam-no em uma forma em que ele só sirva para respeitar
funções que já passam a lhe ser intrínsecas, cria-se um imaginário moral a sua volta que só o permite
à luz de uma série de restrições bem demarcadas pelo o que se entende do que é lícito e do que não
é; os sexos se proíbem de maneira que só exista uma forma indiscutida e cristalizada de “o sexo”, e
se proíbe também vigia e pune todas as tentativas de ser, de dizer ou de fazer sexo que estejam fora
da nuança das intenções dessa lei e de suas pretensões. Em nossa experiência de sociedade desde o
século XVII as preocupações em torno do sexo se intensificam na medida em que suas razões e múltiplas
formas de aparecer vão sendo notadas, agora ao sexo não se confere só uma questão simples e unívoca,
pelo contrário, multiplicaram-se os discursos e os saberes que incidem neste dispositivo. A hipótese
repressiva vem a reboque quando Foucault percebe uma nova forma de produção discursiva que o
realoca, ao sexo não se diz simplesmente “não”, ou melhor, se isso for dito, de longe ele não é encerrado
aqui. Nisso tudo, num plano bastante ousado de um saber/poder procurou-se e incitou a todo custo
e em todas as sociedades alcançar uma verdade sobre o sexo. A vontade de saber quando a hipótese
repressiva cai por terra desenha um sistema de co-participação desses corpos sexuais com os jogos de
verdade que os atravessam e moldam. É isto que o texto pretende explorar.
Palavras-chave: Sexualidade. Discurso. Hipótese Repressiva.
14
I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A HETEROTOPIA DO CORPO NEGADO
Jonatá dos Reis Lima
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Graduando em Filosofia
jonatalimafinancas@gmail.com
Roberta Calini Gomes Pereira
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Graduanda em Filosofia
robertacalini36@gamil.com
RESUMO
O artigo busca analisar a relação presente de corpos que a todo o momento são negados e direcionados
a outro lugar, como o caso hermafrodita analisado por Michel Foucault, onde o corpo é sempre
disciplinado a uma normatização da sociedade, a presente análise do poder, conduzindo a discursão
a um desnudamento do corpo, tirar as roupagens que o limita e o subordina. Frente ao estudo
desenvolvido por Foucault, a análise da compreensão do real relacionado ao espaço, ele concebe a
heterotopia, lugares que estão fora de todos os “outros lugares”, muito embora sejam localizáveis. Ou
seja, há lugares existentes no real que podemos localizar sua presença física, na sociedade, mas que ao
mesmo tempo são excluídos ou produzidos de forma a excluir. São espaços/lugares concebidos como
(in)existentes afim de não interferir na sociedade normatizada. Assim a análise se apresenta diante
do caso da hermafrodita Herculine Barbin, do corpo apresentado como monstruoso, transgressor,
“errado”, sendo conduzida a busca incessante do “sexo verdadeiro”. São dispositivos como a medicina, a
religião, que encerram uma natureza do corpo, “qual o verdadeiro sexo que se esconde sob aparências
confusas”. A discussão é direciona ao desnudamento do corpo, análise feita entre Diógenes o cínico,
que se opunha a teoria essencialista do homem em Platão onde o corpo é direcionado a cárcere e
prisão da alma, e a coreógrafa alemã Pina Bausch, a denuncia da subordinação do corpo diante a dança,
a repetição, presente no artigo Corpo Escandaloso: o cinismo em Pina Bausch (FANTINI & PORTO).
Há o que poderíamos fazer referencia a Foucault de Utopia do corpo, o uso acessório de máscaras,
maquiagem, vestimentas, retórica, onde o corpo se subordina frente a outro em meio de esconder suas
falhas. E assim como na dança, o corpo é disciplinado a se comportar diante da sociedade. Dessa forma,
percebe-se em Foucault o direcionamento do corpo, do físico, como parâmetro das relações.
Palavras-chave: Heterotopia. Sociedade Normatizada. Corpo. Michel Foucault.
15
I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A POLÍTICA COMO MEDIADOR DE PUNIÇÕES AOS MEMBROS DA
COMUNIDADE LGBTQ PORTADORES DO HIV
Leanderson Dias da Silva
Universidade Federal do Piauí – Campus Parnaíba
Graduando em Psicologia
lean0071@hotmail.com
Joaquim João de Araújo Filho
Universidade Federal do Piauí – Campus Parnaíba
Graduando em Psicologia
dearaujojoaquim88@gmail.com
RESUMO
O processo de crescimento da sociedade ao longo dos anos implica no aumento de diferenças étnicosociais, dentre elas as de cor, gênero e sexualidade. Com isso, as inúmeras produções de subjetividade
trazem consigo dialéticas à respeito do espaço ocupado pelo indivíduo, não só o físico, mas também
espaço político que lhe confere representatividade. Diante da expansão cultural e do processo de
globalização, a diversidade subjetiva acaba se tornando alvo de grupos autointitulados dominantes,
estes, formados basicamente por pessoas carregadas de preconceitos e intolerâncias. Tendo em
vista que a política e seus mecanismos mediam o comportamento humano através da educação, a
mesma também atua como “carrasco” para minorias de baixa representatividade política, através de
políticas de inserção falhas e educação de base inconsistente. Este trabalho busca mostrar através
de conceitos foucaultianos de vigia e punição, bem como as relações de poder, a perspectiva LGBTQ,
mais especificamente dos portadores do vírus HIV, à respeito das políticas públicas e sua eficiência no
processo de inclusão social, tomando como base a situação atual dos indivíduos que, além de sofrerem
discriminação e exclusão social por assumirem sua identidade sexual, ainda têm que lidar com a
estigmatização dentro da própria comunidade em que estão inseridos. Outrossim, realizou-se analogias
diante de embasamento teórico e revisão bibliográfica sobre os grupos que são tidos como “vigias”
(não-portadores de HIV dentro da comunidade e as campanhas de conscientização contra a AIDS) e os
que atuam como “punidores”.
Palavras-chave: LGBTQ. Política. Foucault. Relações de poder.
16
I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A PRODUÇÃO DISCURSIVA DE ESPAÇOS-AFETOS NÔMADES NO
PROGRAMA VIVA A PALAVRA: CARTOGRAFIAS JUVENIS DE
REEXISTÊNCIA E PAZ EM TERRITÓRIOS DE VIOLÊNCIA URBANA
Claudiana Nogueira de Alencar
Universidade Estadual do Ceará
Professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada-POSLA
claudiana.alencar@uece.br
RESUMO
Em uma perspectiva interdisciplinar, este trabalho busca aliar os estudos da linguística aplicada (LA),
mais especificamente da pragmática cultural (ALENCAR, 2014, 2018), com a filosofia da diferença
(FOUCAULT, 1999, 2010; DERRIDA, 1995; DELEUZE E GUATTARI, 1995, DELEUZE, 2011), para entender
como as práticas discursivas em vivências auto-organizativas de política, de arte e cultura constituem
novas formas de vida, modos de resistir e reexistir das juventudes, diante da violência urbana nas grandes
cidades. A pesquisa foi realizada em vivências cartográficas do Programa Viva a Palavra. Com o objetivo
de enfrentar a violência contra as juventudes, o “Programa Viva a Viva: circuitos de linguagem, paz e
resistência da juventude negra da periferia de Fortaleza” tem articulado ensino, pesquisa e extensão
para produzir cartografias das práticas de letramento de reexistência (SOUSA, 2011) das juventudes da
periferia de Fortaleza em diversos jogos de linguagem (saraus, contação de histórias, batalhas de rap,
slam, círculos de leitura, círculos de paz etc). Este trabalho traz alguns resultados de nossa pesquisa
participante em cartografias das práticas discursivas e culturais, dos fluxos, redes e socialidades com
jovens da periferia de Fortaleza realizadas nos três subprojetos do Programa Viva Palavra (Palavras
de Paz; Palavras de Resistência e Palavras de Esperança). Ao analisar os discursos constituídos nessas
cartografias, percebemos que os diversos coletivos e movimentos sociais de juventude da periferia
agregam sentidos de afeto às formas construídas que se articulam para criar localidades/translocalidades
urbanas. Consideramos as translocalidades pelo nomadismo, as travessias rizomáticas desses jovens
pela cidade. Essas localidades criam redes de afetos (SILVA, 2019) em seus deslocamentos pelas periferias
e regiões da cidade. Nas práticas discursivas organizativas e auto-organizativas de cultura e arte que
inventa afetos (GORCZEVSKI, 2017), percebemos uma Fortaleza plural e diversificada em contraste com
a cidade violenta que é construída nas páginas da grande mídia.
Palavras-chave: Práticas discursivas. Cartografia. Juventudes. Reexistência. Translocalidades.
17
I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A VIGÍLIA DE SI: SUBJETIVIDADE E
RESISTÊNCIA NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO
Joaquim João de Araújo Filho
Universidade Federal do Piauí – Campus Parnaíba
Graduando em Psicologia
dearaujojoaquim88@gmail.com
Leanderson Dias da Silva
Universidade Federal do Piauí – Campus Parnaíba
Graduando em Psicologia
lean0071@hotmail.com
RESUMO
A universidade surge como centro intelectual/científico e com um alto potencial de produção da
subjetividade. No entanto, por fazer parte da sociedade disciplinar proposta por Foucault, o espaço
universitário, assim como outras instituições, mantém e exercita o controle disciplinar. Nessa perspectiva
o ensino universitário é regido pelo processo de disciplinação, no qual ser disciplinado gera recompensas
e desvios de conduta são punidos com micropenalidades. Ainda nesse contexto, a sujeição presente
nesse processo gera no estudante a reprodução da vigilância e punição, a qual é aplicada em si mesmo.
Desse modo a subjetividade como produto de si é aos poucos substituída por experiências produzidas
pela máquina panóptica. Porém, em meio a essa destituição de poder do sujeito, surgem múltiplas
formas de se quebrar a máquina e produzir subjetividade no espaço Universitário. Esse estudo tem por
finalidade analisar a partir do pensamento de Foucault, presente nas obras Vigiar e Punir, Microfísica
do Poder e A hermenêutica do sujeito, aspectos do poder disciplinar dentro da universidade, bem
como entender o processo de autovigília do estudante e verificar a existência de formas de produção
de subjetividade e resistência. A universidade apesar de ser espaço de produção segue um padrão
disciplinar voltado à manutenção de poder, para Foucault o processo de disciplina, nesse espaço, se dá
através do isolamento do indivíduo, a partir do qual ele é vigiado, catalogado e controlado. Tal prática
permite a máquina realizar a manutenção constante de seu poder. O indivíduo por sua vez passa a
ser figura importante nessas relações, pois passam a absorver pra si comportamentos disciplinados,
vigiam-se constantemente e se punem. O cuidado de si passa a ser subjugado e práticas controladas
se inserem. Em contrapartida a esse processo de controle, inúmeros movimentos sociais, artísticos
e culturais surgem permitindo o sujeito universitário assumir uma postura de luta contra a máquina
disciplinar. O sujeito universitário encontra-se em um ambiente que busca controlá-lo e ele por vezes se
vê subjugado e reproduzindo práticas de vigília. No entanto, o mesmo estudante que é controlado, por
vezes foge da disciplina e se torna produtor de inúmeras formas de resistência.
Palavras-chave: Foucault. Disciplina. Subjetividade. Resistência. Universidade.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A PARRESIA COMO PRÁTICA DE SI:
PLATÃO EM UMA EXPERIÊNCIA DE LIBERDADE
Bruno Balbino
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Graduando em Filosofia
brunobalbinolc@gmail.com
Gleicy Kelly
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Graduanda em Filosofia
gleicykm@outlook.com
RESUMO
Platão, quando jovem sempre teve vontade de ingressar na política, mas por conta das contradições
que ele se deparou na sua juventude em relação à política, fez até mesmo ele que era tão ávido por
ajudar na condição política de Atenas, viesse a se desanimar. A morte de seu mestre e amigo Sócrates foi
a última gota desse desânimo com a política de Atenas. Em umas das viagens de Platão para Siracusa,
ele vê a possibilidade de transformar o discurso pensado (logos) em atividade filosófica (érgon). Em
seu primeiro contato com a cidade, Platão se encontra com Dion, e é a partir daí que vemos a primeira
amostra de uma Parresia, uma fala franca, no qual, Platão percebe que nasce uma Philia, uma amizade
que possibilita uma espécie de Kairós, um momento oportuno para aplicação da sua filosofia. No seu
contato com Dionísio, Platão não se curva diante a tirania mostrando qual deve ser a atitude do sábio
perante tal forma de governo nefasta. Aqui nos deparamos com mais um exemplo de parresia, dessa vez
uma cena exemplar de parresia, como denominou Foucault em O governo de si e dos outros. Na cena
destacada pelo filósofo como exemplar, Platão, quando indagado por Dionísio acerca do que procurava,
responde que foi a Siracusa encontrar um “homem de bem”, fazendo com que o tirano deduzisse que
esse homem não seria ele. Dessa forma, a parresia aqui encontra-se no ato de Platão enfrentar um tirano
e dizer-lhe a verdade.
Palavras-chave: Parresia. Liberdade. Verdade.
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ALETURGIAS DEMOCRITIANAS NAS CARTAS DO
PSEUDO-HIPÓCRATES
Ibrahim Camilo Ede Campos
Universidade Federal de Alagoas
Doutorando em Educação
icec.campos@gmail.com
Walter Matias Lima
Universidade Federal de Alagoas
Professor (PPGE)
waltermatias@gmail.com
RESUMO
Na aula de 01 de fevereiro de 1984, do último curso de Foucault proferido no Collège de France, intitulado
Le courage de la vérité, declinam-se, no bojo das formas aletúrgicas, quatro modalidades fundamentais
do dizer-a-verdade: a profética, a parrésica, a da sabedoria e a do ensinador técnico. O escopo deste
trabalho é relacionar tais modalidades à luz das narrativas epistolares fictícias da obra Sobre o riso e a
loucura ou O riso de Demócrito, texto helenístico atribuído a Hipócrates de Cós. O riso de Demócrito,
expresso na arte, na poesia, na filosofia, na retórica e na literatura, ao longo dos séculos, é um dos
poucos referentes éticos na história da filosofia ocidental que enaltecem a onipotência dissolutória dessa
faculdade humana contra as veleidades, ilusórias quanto nocivas. Atitude filosófica de efeito concentrado,
o riso democritiano reverbera nas quatro modalidades acima referidas, servindo o presente estudo,
além de enaltecer o riso, abafado pelo logocentrismo na tradição filosófica, como uma inflexão teórica
de jaez exemplificativo que junge a derrisão ética à verdade, ilustrando, desse modo, a articulação entre
as formas aletúrgicas a partir das Cartas do Pseudo-Hipócrates. Não há, segundo Demócrito, razões
morais boas ou más para a insurgência do riso derrisório, mas apenas uma: a insensatez, a frivolidade,
a inconstância e a ganância que preenche as pessoas, as quais se atormentam inutilmente buscando
uma plenitude inalcançável, em caminho contrário daquele conducente à ataraxia e à autarquia. Os
referenciais teóricos utilizados foram as aleturgias analisadas por Foucault no referido Curso, assim
como a narrativa literário-filosófica das Cartas do pseudo-Hipócrates, que articula elementos de ordem
epistemológica e aletúrgica próprias ao pensamento helenístico. A pesquisa realizada foi de ordem
qualitativa, básica e exploratória, mediante suporte bibliográfico. Conclui-se que as quatro modalidades
do dizer-a-verdade estão presentes na narrativa pseudoepigráfica, as quais se combinam com estruturas
epistemológicas, servindo o riso como elemento primário de intersubjetividade ética.
Palavras-chave: Formas aletúrgicas. Demócrito. Pseudo-Hipócrates. Riso.
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ARTE E VIDA EM OBRA: A EXISTÊNCIA ESTÉTICA DE
MICHEL FOUCAULT EM RUBIANE MAIA
Lindomberto Ferreira Alves
Universidade Federal do Espírito Santo
Mestrando em Teoria e História da Arte (PPGA-UFES)
lindombertofa@gmail.com
RESUMO
O objetivo deste artigo é situar em perspectiva as intenções poéticas reveladas de aproximação entre
arte, vida e obra no decurso dos doze anos de carreira da artista multimídia contemporânea Rubiane
Maia, a partir das reflexões em torno da relação entre arte e vida promovidas pelo filósofo e historiador
francês Michel Foucault. Considerado um dos mais respeitáveis nomes das artes visuais capixabas
surgidos nos últimos 15 anos, e um dos mais importantes expoentes da história recente das artes no
Brasil – com projeções nacional e internacional – não são poucos os fatos e feitos que evidenciam a
consistência da trajetória de Rubiane Maia no âmbito da produção nacional em arte visual. Só para
citar alguns, ela foi um dos oito artistas brasileiros selecionados pela artista sérvia Marina Abramović
para integrar a exposição “Terra Comunal – Marina Abramović + MAI”, no Sesc Pompeia, SP, Brasil,
em 2015. No ano seguinte, Rubiane Maia recebeu o prêmio de menção honrosa em “Fotografia em
diálogo com experimentação artística”, pelo curta-metragem “EVO”, durante o 23˚ Festival de Cinema
de Vitória; e, em 2017, recebeu sua primeira indicação à 8ª edição do “Prêmio PIPA - A Janela para a arte
contemporânea brasileira” – organizada entre o Instituto PIPA e o MAM – Rio. Visando delimitar um
recorte mais circunscrito no âmbito desta perspectiva, o argumento que intencionamos desenvolver
passa, essencialmente, pela discussão da influência que a concepção de “estética da existência”, de Michel
Foucault (1984 & 1985), teria sobre os processos criativos que perpassam as proposições e produções
da artista Rubiane Maia. Dito de outra forma, pretende-se, aqui, verificar até que ponto as reflexões
oriundas das reflexões filosóficas de Foucault – de modo especial, aquelas que nelas dizem respeito às
estreitas relações entre arte e vida – alicerçam os caminhos trilhados pela artista na concepção de seus
trabalhos em arte; como, também, averiguar em que medida essa concepção figura como eixo balizar
das práticas artísticas contemporâneas que buscam articular, com maior ou menor efetividade, formas
de resistências à fetichização da imagem e ao entorpecimento e neutralização do sensível na arte.
Palavras-chave: Michel Foucault. Estética da existência. Rubiane Maia. Arte e vida.
Arte contemporânea brasileira.
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BIOTECNOLOGIAS E PRÁTICAS DE SI:
UMA ANÁLISE FOUCAULTIANA SOBRE UMA DOULA E
A ÉTICA DO CUIDADO
Aqueme Siqueira de Sousa
Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Graduanda em Psicologia
aqueme-siqueira@hotmail.com
Marcos Martins Lisboa
Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Graduando em Psicologia
mmarcosl-2010@hotmail.com
RESUMO
As biotecnologias têm desempenhado um papel central em torno do que se apresenta como práticas
de si no contemporâneo. Estas se mostram como condições de existência que produzem significativas
transformações nos modos dos sujeitos se relacionarem consigo mesmos, com os outros e com o
mundo, o que forja modos de subjetivação. O corpo atravessado pelas biotecnologias comporta sentidos
particulares que se edificam nas interfaces entre saúde, vida, vigilância e cuidado de si. Na perspectiva
de um cuidado que não se refere às práticas hegemônicas do saber dito científico, têm se instituído as
práticas das doulas, que utilizam-se de técnicas outras para prestar atenção às mulheres grávidas ou
parturientes, em prol da maior humanização do cuidado ao corpo das mulheres e bebês, assim como
visando ao empoderamento destas no que diz respeito á crítica ao poder médico e combate a violência
obstétrica. Não somente nesse sentido, também algumas doulas têm utilizado as novas tecnologias da
informação, como formas de propagar conhecimento, assim como modo de tornar visíveis seus serviços.
Em tal pesquisa utilizamo-nos dos conceitos-ferramentas da cartografia como forma de apreensão
do conhecimento; esta teve como foco a observação sistemática de uma conta em especial muito
visibilizada, da usuária pública do Instagram @ericadpaula, afim de cartografar os sentidos que o corpo
adquire uma vez atravessado pela visibilidade e pelas práticas de cuidado não hegemônicas prestados
pela doula e psicóloga em questão. Foram identificados tais sentidos: o corpo como vitrine, um corpo
empoderado; corpo energético, corpo fisiossemântico. Apesar do ambiente midiatizado restrito, tais
práticas têm demonstrado uma profunda inserção nos modos de subjetivação no contemporâneo, o
que, cremos, dá a nossa pesquisa determinada relevância no que tange ao conhecimento sobre novas
formas de cuidado. É fato que tais biotecnologias permitem insurgências frente a soberania do saber
médico, possibilitando sobretudo modos de vida inéditos e a revelia do modelo dominante. Entretanto,
após uma análise cuidadosa do espaço de promoção dessa modalidade de cuidado, notou-se uma
captura desse dispositivo frente a lógica de mercado, padronizando e serializando o que deveria ser
singular.
Palavras-chave: Biotecnologias. Análise Foucaultiana. Ética do cuidado.
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CARNAVALIZAÇÃO E PARRESÍA NO CONTO HISTÓRIAS DE ALEXANDRE:
CONSTRUINDO APROXIMAÇÕES ENTRE BAKHTIN E FOUCAULT
Nathalia Viana da Mota
Universidade Estadual do Ceará
Mestranda em Linguística Aplicada
nathalia.viana@aluno.uece.br
Prof. Dr. João Batista Costa Gonçalves
Universidade Estadual do Ceará
Co-orientador
joao.goncalves@uece.br
RESUMO
A proposta deste trabalho é reforçar o olhar transdisciplinar entre os estudos linguísticos (Bakhtin, 1987;
2002) e filosóficos (Foucault, 2011) com vistas a promover um diálogo entre a categoria bakhtiniana da
Carnavalização e a categoria foucaultiana da Parresía, a partir da análise do discurso literário no conto
Histórias de Alexandre, de Graciliano Ramos. Essas aproximações teóricas se fundamentam quando
Bakhtin (1987, p. 264), ao definir uma das funções do carnaval, enquanto “imagens da festa popular”,
afirma que essas imagens são “ativas e triunfantes”, que elas “misturam-se organicamente também à ideia
de verdade, livre e lúcida”. Verdade que derrota o medo e busca alcançar a mudança e a renovação. Por
sua vez, Foucault (2011, p. 164), ao definir o cinismo enquanto o ápice da parresía, enquanto “escândalo
da verdade”, diz que o carnaval estudado por Bakhtin “pertence certamente a essa manifestação da
vida cínica”, “a vida que escandalosamente manifesta a verdade”. Nesse sentido, tomando como objeto
de análise o conto Histórias de Alexandre, defenderemos o personagem “cego-preto-Firmino” como a
representação de um sujeito que “destrona o rei” ao “dizer a verdade” e assim, em busca de sua libertação
contra o opressor (o personagem Alexandre), realiza o exercício da carnavalização e da parresía como
princípios de uma vida ética. Assim, diante do exposto, escolhemos o GT1 - Subjetividades: experiências
éticas, arte e movimentos coletivos - para empreendermos nossa fecunda proposta.
Palavras-chave: Carnavalização. Parresía. Bakhtin. Foucault.
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CENTRO POP: UMA EXPERIÊNCIA DE IMERSÃO NOS
SUJEITOS E SUAS TECNOLOGIAS
Antônio Lucas Beserra Alencar
Graduando em Psicologia
Universidade Federal Delta do Parnaíba (UFDPAR)
lucasalencarfotografia@gmail.com
Mariana Marinho de Abreu
Graduanda em Psicologia
Universidade Federal Delta do Parnaíba (UFDPAR)
mariimarinhoa@gmail.com
RESUMO
O presente trabalho é referente a experiência de estágio desenvolvida durante o Estágio Profissional II
em Saúde Coletiva, no dispositivo Centro Pop do município de Parnaíba-PI, e visa retratar como se deu
o processo de inserção no âmbito desse serviço, seu modo de funcionamento, as atividades realizadas
durante esse período e o papel do Psicólogo frente esse campo de atuação. O estágio profissional II em
Psicologia e Saúde Coletiva é um componente curricular do curso de Psicologia que tem como objetivo o
fomento de ações de promoção de saúde, saúde mental e cidadania em instituições de educação, saúde
e assistência social e possibilita ao estudante uma proximidade com a realidade dos serviços públicos.
O campo objeto desse trabalho, corresponde ao Centro Pop serviço da assistência social que atende
um público bem especifico, a população em situação de rua. No decorrer deste período atividades
voltadas para práticas de Redução de Danos foram ministradas, uma roda de conversa sobre cidadania
e direito fora feita, trabalhou-se subjetividade tendo como instrumento o Lambe Lambe e uma oficina
de fotografia, além da exibição de filmes e músicas. Buscou compreender o funcionamento da rede,
havendo articulação com outros dispositivos como CREAS, CAPS II e CAPSIII. Alguns tensionamentos
acerca das práticas dos profissionais e de particularidades do serviço também são foco deste trabalho,
autores como Xavier e Araújo (2014), Benevides (2005) e Méllo (2018) vem servir como embasamento
para compreender a sociedade moderna e contemporânea, bem como o capitalismo e sua influência
na valorização do que é do indivíduo em relação a coletividade, no uso de tecnologias que assujeitam a
partir da disciplinarização e normalização dos corpos, os modos de vida de cada indivíduo.
Palavras-chave: Estágio profissional. Saúde Coletiva. Centro Pop.
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CORPO DÓCIL: PODER E DISCIPLINA DO CORPO NO
BALÉ CLÁSSICO E NA DANÇA MODERNA
Beatriz de Almeida Martins
Universidade Federal da Paraíba
Graduada em Filosofia
beatrizmartinsgnr80@gmail.com
RESUMO
O objetivo deste trabalho é abordar a dicotomia entre o balé clássico e a dança moderna, para tal,
utilizaremos os conceitos de “poder”, “disciplina” e “docilidade” utilizados por Foucault (2011) para
apresentar essa diferença e ruptura do balé com a dança, no entanto, partiremos de uma visão política
do balé clássico, enquanto um corpo que dança para outro, e, portanto, molda-se para uma vigilância,
em seguida, apontar a dança moderna como uma fuga desse aprisionamento do “corpo clássico”, que
apesar de não fugir da disciplina por completo, foge do alinhamento que existe no balé clássico. Para
isso, usaremos como base uma das maiores influências da dança moderna, a dançarina revolucionária
Isadora Duncan. Todo corpo que está inserido em um campo social, é imediatamente introduzido
num espaço político e a sua relação com outro mantém esse círculo de poder. No entanto, algumas
modificações são realizadas sobre o corpo, para que ele possa se adequar ao meio. Ele é corrigido para
melhorar suas atividades e principalmente, a serviço da sociedade (como um militar, um operário, uma
bailarina). Em Vigiar e Punir, Foucault (2011) apresenta esse controle comportamental e físico que o
homem sofre como resultado do poder disciplinar, que se preocupa em normalizar a sociedade e que
pra isso, necessita de corpos dóceis, que são corpos passíveis de modificação, correção, moldagem,
manipulação e adequação. Portanto, a disciplina é, para Foucault (2011), uma forma sutil de controlar o
corpo, de moldá-lo por necessidade e mantendo então, uma relação de poder. No balé clássico os corpos
são totalmente moldados para agradar a outrem, enquanto que na dança moderna o estranhamento da
liberdade dos passos e dos movimentos, tem a capacidade de chocar o público e transmitir a ele uma
mensagem. Enquanto a Isadora na dança moderna, não se preocupou com a estruturação do seu corpo,
mas com a beleza natural que a acompanha em cada curva.
Palavras-chave: Corpo. Disciplina. Docilidade. Foucault. Poder.
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CORPO MORAL X CORPO ÉTICO: A SUPERAÇÃO DA SERVIDÃO E
A CONQUISTA DA LIBERTAÇÃO POR NOVAS EXISTÊNCIAS CORPÓREAS
Raimundo Cirilo de Sousa Neto
Universidade Federal do Ceará
Graduando em Psicologia
xrcirilox@gmail.com
Caio Lucas do Carmo Prado
Universidade Federal do Ceará
Graduando em Psicologia
clucasprado@gmail.com
RESUMO
A partir de investigações acerca das concepções e construções socio-históricas e filosóficas do corpo,
atentamo-nos às formas de exercício de poder evidenciadas e correlacionamo-as com as repercussões
investidas pela moral e pela ética, o que nomeamos de Corpo Moral e Corpo Ético. Considerando que
o corpo é um locus de teorização, investimento e produção de onde partem e culminam pressupostos
morais e exercícios éticos, evidenciamos uma insurgência do corpo contra o poder, isso sendo
possível por meio de uma mudança de eixo da descoberta de si para a reinvenção de si, através da
experimentação inquieta, incapturável e criadora. Confrontando as imagens de moral e ética, somos
capazes de criar o lugar de debate e, até mesmo, da reinvenção dos limites democráticos. Como caminho,
destacamos a arte como um exercício ético do corpo, estratégia de resistência e impulsionadora de
novas possibilidades, analisando o caso do artista cearense Ari Areia com sua performance em Histórias
Cruzadas - peça teatral que retratava a situação de invisibilidade e marginalização de pessoas travestis e
transsexuais. A apresentação nos mostra um momento de confronto entre um corpo que experimenta
novas formas de denúncia e um outro que reage a isso de forma violenta e impositiva, cria-se o espaço
para o fazer político. Portanto, temos o Corpo Ético não como fim, mas como abertura, como meio e
como possibilidade de reinvenção criativa da democracia. Isto é, como caminho importante, apesar de
dificultoso, para a superação da servidão e conquista da libertação. Ou seja, com o Corpo Ético, que busca
liberdade e possibilita novas experiências corpóreas, questionamos e desestabilizamos a prevalência
dada ao Corpo Moral, que nos normatiza e nos dociliza. A partir dessa provocação, compreendemos a
potência de uma co-ativação desses corpos, criando para si, um corpo que pelo conflito, reinventa-se a
todo instante.
Palavras-chave: Corpo. Moral e Ética. Novas Corporeidades. Arte.
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CUIDADO FAMILIAR E A SAÚDE MENTAL:
UMA VISÃO FOUCAULTINA DO CUIDADO NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Mikaelly da Silva Soares
Universidade Federal do Piauí – UFPI
Graduanda em Psicologia
missoares96@gmail.com
RESUMO
Os avanços das formas de compreensão da saúde, a partir das reformas Sanitária e Psiquiátrica no Brasil,
acarretaram mudanças importantes. Em saúde mental, essas mudanças são tidas como conquistas,
principalmente por quebrar com o enrijecido processo de institucionalização das pessoas acometidas
por sofrimento psíquico, implantando uma rede de dispositivos que atuam como meio de circulação
para quem está em tratamento, diferentemente do modelo hospitalocentrico, focado na medicação e
no cárcere. A Luta Antimanicomial, na prática conhecida por Reforma Psiquiátrica, ação que teorizou e
materializou uma grande mudança no atendimento das pessoas com sofrimento psíquico, buscando
a criação de uma rede de serviços e estratégias territoriais e comunitárias solidárias e libertárias, tem
papel fundamental nessas mudanças. Considerando os princípios da Reforma, e a atual conjuntura
política que o país tem atravessado é importante pensar, problematizar e discutir as relações de poder
construídas dentro dos serviços de saúde. O presente trabalho objetiva pontuar, compreender alguns
aspectos presentes na relação entre usuário, família e serviços que trabalham com saúde mental, tais
como implicações dessa relação e expressões sociais que a perpassam. O cuidado familiar pode ser
entendido como um conjunto de ações que contribuem para a promoção de saúde, como o auxílio
com cuidados básicos, higiene, alimentação, o controle de medicamentos e incluindo o apoio social,
ou seja a família agir como ponto de referência dos usuários dos serviços de saúde, podendo participar
ativamente das ações propostas nos dispositivos. O contexto social de pobreza, violência e outras
vulnerabilidades estão associados a maneira como o sofrimento psíquico é encarado, assim entender o
contexto e as expressões que envolvem os modos de vida dos usuários, como parceira do cuidado, sendo
esse um dos princípios dos dispositivos como o CAPS, estimulando a ideia de corresponsabilização do
cuidado. Entendendo que modelo psicossocial tem como maior objetivo a inserção dos usuários em
suas famílias e comunidades, buscando o reconhecimento da autonomia e a garantia de direitos dos
mesmos, a inserção da família no processo terapêutico, e o incentivo de ações de autocuidado para os
cuidadores são encaminhamentos que precisam fazer parte do plano de trabalho do serviço.
Palavras-chave: Cuidado. Família. Saúde Mental.
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DISPOSITIVO ESCOLA E OS DESAFIOS DA
PROFISSÃO DOCENTE NA CONTEMPORANEIDADE
Luana Rafaela da Silva Costa
Universidade Federal de Pernambuco
Pós-Graduanda no PPGECM
lr.luanarafaela@gmail.com
Simone Moura Queiroz
Universidade Federal de Pernambuco
Doutora em Educação Matemática
simonemq35@gmail.com
RESUMO
Esta pesquisa apresenta um exercício reflexivo fruto de discussões promovidas pelo Grupo de Pesquisa
Diferença (GPD) da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste – UFPE/CAA,
partindo do que Foucault denominou de sociedade disciplinar (FOUCAULT, 2011), direcionamos nossa
pesquisa visando enfatizar o funcionamento da instituição escolar (GALLO, 2003; VEIGA-NETO, 2011), e
como essa tenta adaptar-se à sociedade contemporânea, operando em seu interior transitando entre
dispositivo disciplinar e dispositivo de controle (DELEUZE, 2008) frente à crise escolar atual que nega e
resiste quanto a essas funções. Por vezes o professor é responsabilizado pelas interações que acontecem
ou deixam de acontecer em sala de aula, desconsiderando outras variáveis, assim são direcionadas forças
hierárquicas reafirmando o comprimento de metas definidos por prazos e regras internos e externos
inerentes à sua profissão. Com isso, tecendo relações com a Filosofia da Diferença através dos autores
como Foucault (2009, 2010a, 2010b, 2012), Agamben (2011), Deleuze (1994, 2009, 2011) Deleuze e
Guattari (2011), Rolnik (2011), buscando deslocar conceitos como subjetivação, linhas de força, poder e
resistência, processos de constituição da subjetividade, desterritorialização, desejo, dentre outros, para
a educação, problematizando a autonomia e a constituição do professor na tentativa de identificar os
inúmeros desafios próprios à docência, buscando através do cuidado de si (FOUCAULT, 2009, 2010b),
uma possibilidade de repensar o estilo de vida, diante das afetações e rotas de fuga produzidas em
meio à construção da subjetividade docente e suas resistências, visando estimular uma prática ativa e
interventiva na relação consigo mesmo e com o outro.
Palavras-chave: Dispositivo escola. Profissão docente. Autonomia. Educação.
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DIÁLOGOS ENTRE O CORAÇÃO E A HISTÓRIA DA LOUCURA:
NISE DA SILVEIRA E MICHEL FOUCAULT
Paulo Junior Alves Pereira
Universidade Federal do Cariri
Graduando em Jornalismo
p.junior.pj405@gmail.com
Gabriela Bernardo da Silva Evangelista
Universidade Federal do Cariri
Graduanda em Jornalismo
gabriela_bse@hotmail.com
RESUMO
A psiquiatra Nise da Silveira, alagoana, certamente nunca esteve defronte a Foucault, entretanto, cada
um a seu modo deixou sua marca na compreensão do ser louco e da loucura. Foucault nos entrega
um caminho, nos apresenta a interpretações socais sobre aqueles que vivem o ato da loucura, nos traz
representações imagéticas, estas, construídas segundo o olhar dos que, em tese, vivem a sanidade. E
na experiência da sanidade discutem, internamente, a dualidade entre o fascínio e a repulsa perante a
imagem do louco. Nise, flui de outros modos, inserida em ambientes que buscavam tratar a loucura,
trazer sanidade ao que era considerado insano, ela percebe acepções diferentes neste caminho.
Amanda Mont’Alvão, em texto publicado no Huffpost Brasil, define Nise como alguém que enxergou
a riqueza das pessoas que estavam no meio do caminho, entre a existência e a dignidade. Já Christian
Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da USP, apresenta a psiquiatra como alguém que
deu voz e que permitiu o reconhecimento do engenho interior, que é louco, mas não insano. Nise
trabalhava o inconsciente através da arte, ela notou que as artes plásticas, especialmente a pintura,
serviam como porta de expressão aos pacientes, ou clientes, permitindo que eles usassem a arte como
meio de fala, método de demonstração ao mundo de seus sentimentos, medos, angústias, para dizer
a quem visse suas obras quais eram seus conflitos internos. Foucault, em “A História da Loucura”, adota
uma representação construtiva da imagem, como detentora de protagonismo no âmbito do dizer,
no exercício da transmissão de mensagens. No entanto, ele também afasta a pintura do contexto da
linguagem, devido a sua capacidade de assumir sentidos e significados. Foucault aponta, ainda, a
possibilidade de esvaziamento da imagem, fazendo com que ela assuma unicamente a face do enigma,
da descoberta. Logo, ela deixa o lugar de ensinamento e assume o posto do fascínio. Nise da Silveira e
Michael Foucault dialogam na concepção do papel da imagem, dentro da compreensão da loucura e do
louco, ambos assumem a imagem como ambiente de prestígio, de multiplicidade, capaz de assegurar
voz àqueles considerados inábeis ao convívio social.
Palavras-chave: Foucault. Nise da Silveira. Loucura. Imagem. Pintura.
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ENTRE SIMULACROS, IMAGENS-LIMITE
Saulo de Araújo Lemos
Universidade Estadual do Ceará
Doutor em Literatura Comparada
saulo.lemos@uece.br
RESUMO
Ao longo da história da filosofia, como se sabe, a imagem deixa de estar amarrada a uma ontologia
sem a qual ela supostamente não teria legitimidade e passa a existir por ela mesma, conforme um
percurso em que as noções de linguagem e sujeito foram confrontadas com a fragilidade metafísica em
pretensamente se sustentavam. Conforme o percurso da obra de Foucault ao longo dos anos de 1960,
no que ela se prepara ao questionamento biopolítico da última fase, este trabalho buscará descrever
o que denominamos imagens-limite da contemporaneidade, observando o caráter de limiar potencial
entre si, e também particular a cada uma, das diversas artes a partir da era da reprodutibilidade
técnica. Gilles Deleuze, pensando a filosofia com a interferência do cinema, identificou e catalogou
algumas apresentações de imagem que este produzia; as imagens-movimento e imagens-tempo
são o que a arte cinematográfica teria ensinado, como pensamento, à produção artística do século
XX em diante. Em uma leitura da ficção de Maurice Blanchot, Michel Foucault afirma que ela não é
propriamente feita com imagens, mas com os interstícios que há entre elas, de modo a constituir um
devir de espaço-tempo com o que é exterior àquela ficção, com o que para ela é limite, palavra cara ao
vocabulário foucaultiano. A imagem-limite seria então manifesta como parte de elaborações culturais
que se produzem simultaneamente na medida em que seu convívio é impossível, o que configura o
mecanismo da transgressão, deslocado pela “morte de Deus” e combalido pelo ciclo histórico geral das
modernidades. Sendo imagens como simulacro, elas podem mobilizar potências de produção estética
e política, bem como corriqueiramente se desdobrar no que Deleuze identifica como “clichês”, diluições
da imagem, do que resultam as performances discursivas-homicidas-midiáticas de certo fascismos
recentes e a supremacia costumeira do mercado. As artes, em seu pendor para o que nelas é limite
sinestésico, bem como exercício sinestésico, não-normativo, da sexualidade, talvez possam interferir
como produção de vida díspar frente a isso.
Palavras-chave: Imagens. Limite. Interstícios. Artes. Michel Foucault.
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EXPERIMENTO ARTAUD: UMA INVESTIGAÇÃO POLÍTICA,
O TEATRO COMO PRÁTICA DE SI
Judson Forlan G. Cabral
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Doutorando em Ciências Sociais
judporo@gmail.com
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é abordar o estudo acerca do teatro do artista francês Antonin Artaud
como um teatro político na exata medida em que ele é entendido como um espaço de experimentação
de si. Para isso, são utilizados alguns conceitos presentes na obra de Michel Foucault, a saber: Poder,
Cuidado de si, Estética da existência, Subjetividade, entre outros. Artaud com seu teatro e estilo de vida
abalou os diversos programas morais e instituições pelas quais a vida era balizada. Fez da sua vida e
arte um combate. Por conta disso, sofreu diversos tipos de punições. Artaud foi um corpo dissidente.
Fez da sua arte teatral um lugar de ação sobre a vida. O teatro como prática de si. A sua obra teatral foi
fundamental para que ele pudesse traçar uma vida que se colocava além ou aquém de certa perspectiva
de estilo vigente com seus mecanismos normalizadores. A vida de Artaud, assim como a de Michel
Foucault, foram vidas que de certa forma traçaram sobre a existência maneiras outras de estar nela.
Instituíram uma estética da existência `a medida que fizeram das vidas uma obra de arte. Portanto, o
presente trabalho enfatiza a vida e sua dimensão política, ou melhor, a sua dimensão micropolítica,
entendida aqui na qualidade de uma vida que se rascunha pelo experimento, criando possibilidades de
interferir com os próprios corpos e discursos sobre a realidade e o imaginário social. O teatro, no caso
de Artaud, foi fundamental para isso.
Palavras-chave: Artaud. Teatro. Poder. Subjetividade. Estética da Existência.
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FESTIVAIS FORTALEZA CIDADE MARGINAL:
EXPERIÊNCIAS ARTÍSTICAS E SINGULARIZAÇÕES SUBJETIVAS
Vitor Mendonça Torres
Universidade Estadual do Ceará – UECE
Graduando em História
vitortorresm@hotmail.com
RESUMO
A pesquisa aqui apresentada tem por objetivo cartografar os processos de singularização subjetiva
que atravessam os festivais Fortaleza Cidade Marginal e sua relação frente às subjetividades sociais
dominantes em nosso espaço-tempo atual. Realizado pela primeira vez em 2015 pelo cantor Jonnata
Araújo e o produtor audiovisual André Moura Lopes, os festivais tiveram como território de ação as
artes, priorizando um tripé formador do evento, a música, a poesia e a performance, apesar do adjetivo
relativo a marginalidade está presente no nome do evento, é nas artes ali apresentadas, que essa linha
se expressa intensamente, viciados, travestis e desvalidos são (en)cantados pelos que lá se expressam.
Em concordância com a análise do deslocamento do capitalismo para instâncias extra fábrica,
permeando todas a relações sociais e produzindo subjetivações modelizantes em larga escala no corpo
social como afirma Guattari (1996), a pesquisa analisa, usando como metodologia entrevistas com os
organizadores, artistas e público participante, categorias que durante as cinco edições vão se tornando
cada vez mais amalgamadas, e dialogando com as performances artísticas apresentadas no Festival,
como uma ética marginal se desenvolve, guia a criação do evento e dialoga com vida dos realizadores
do Marginal nas metrópoles biopolíticas, cuja a produção de outros possíveis, principalmente através
de experiências artísticas, se vê cada vez mais potente e caçada. Das questões propostas na pesquisa,
é chegada a conclusão de que os festivais Fortaleza Cidade Marginal trazem em sua produção tanto
organizativa como nas artes ali expostas, um desejo coletivo de singularização das vivencias e relações,
onde o homem de bem, trabalhador e cidadão é abandonado, e as figuras marginalizadas pela própria
sociedade que as produzem emergem nas experiências e sensibilidades artísticas ali partilhadas e
afirmam uma ligação diferente ao olhar e entender o modo que vivemos.
Palavras-chave: Subjetividades. Experiências Artísticas. Singularização.
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FORCAOS: DO “FAÇA VOCÊ MESMO” AO APOIO DO
PODER PÚBLICO (1999–2004)
Teorgenes Pereira do Nascimento
Universidade Estadual do Ceará
Graduando em História
teo.nascimento@aluno.uece.br
RESUMO
O trabalho aqui apresentado tem como objetivo entender o processo de mudança do ForCaos de um
festival independente para um festival amparado pelo apoio público – e também privado -, no período
de 1999 a 2004. Realizado em Fortaleza desde 1999, geralmente é organizado no mês de julho, e em
vários lugares da cidade. Caracteriza-se por dar espaço para as bandas de todo o Estado, assim como
para os grupos que são de outros lugares do país, fazendo assim, um intercâmbio entre os diferentes
cenários da música pesada brasileira. Além de tudo, o ForCaos foi criado no intuito de ser uma alternativa
ao Fortal, evento de grande porte realizado também na capital cearense e na mesma época do ano
que o evento underground, porém, o Axé Music é o gênero musical mais explorado. Caracterizado
pelos trios elétricos, o Fortal faz acontecer no meio do ano em Fortaleza o famigerado “Carnaval fora
de época”. Um aspecto que caracteriza o contexto do final dos anos 1990 na cidade de Fortaleza é a
ausência de políticas públicas voltadas para a cultura, em específico, para o gênero do rock, tal ausência
não foi algo que intimidou os membros do ACR – Associação Cultural Cearense do Rock, organização
que idealiza e realiza o festival - na busca de fazer acontecer o evento. Com muita dificuldade, pegando
uma coisa emprestada ali e outra acolá, foi organizada a primeira edição. Ao analisarmos a trajetória
do nosso objeto, percebemos o caráter da resistência muito presente, pois além de fazer parte de um
circuito underground, luta contra adversidades do próprio Estado, como a dificuldade de liberação
de verbas, lançamento de editais, pagamento dos artistas, entre outras. Nossa principal hipótese de
trabalho consiste na ideia de que o ForCaos, apesar de ser financiado pela primeira vez em 2004, apenas
sua 6ª edição, pelo Banco do Nordeste, nunca lhe foi rejeitado o apoio do poder público por parte de
sua realização, a Associação Cultural Cearense de Rock. Essa fase consiste num período que vai desde os
anos 80, com o surgimento de uma cena underground com diversas vertentes do Rock.
Palavras-chave: ForCaos. Underground. Rock.
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GENEALOGIA: UMA TÁTICA METODOLÓGICA PARA
ABORDAR AS RELAÇÕES DE PODER
Marina Felipe de Oliveira Costa
Universidade Federal do Ceará
Graduada em Filosofia
marinafelipee@gmail.com
RESUMO
Tal estudo se desenvolve metodologicamente por meio da pesquisa bibliográfica das obras de Foucault,
identificando-se os conceitos de genealogia, poder e práticas punitivas. Sob a perspectiva genealógica,
cuja característica principal é a inteligibilidade da guerra, destaca-se, no estudo, o histórico das
metamorfoses jurídicas, as relações de força e poder inerentes a tais processos, cuja análise somente
é realizada pela ótica da batalha, considerando as relações de poder e dominação. Aqui veremos que,
para Foucault, a genealogia serve de tática e ferramenta metodológica para uma análise crítica do
poder, da história e do sujeito. Seu exercício se dá através de uma abordagem histórica das práticas
sociais sem fazer referência a qualquer essência central do poder, tampouco a noções de destino ou de
continuidade. Utiliza a história para entender as relações de poder, o jogo entre essas forças, seu local
de emergência e suas relações de dominação singulares. Portanto, faremos a exposição da definição de
genealogia e das suas implicações metodológicas no estudo do poder.
Palavras-chave: Genealogia. Resistência. Poder.
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INSURREIÇÃO MICROPOLÍTICA DE UM REISADO TRANSVIADO EM
JUAZEIRO DO NORTE-CE
Ribamar José de Oliveira Junior
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Mestrando em Ciências Sociais
ribaeomar@gmail.com
Lore Fortes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
lorefortes4@gmail.com
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a insurreição micropolítica de um possível Reisado
transviado (BENTO, 2017) na cidade de Juazeiro do Norte, interior do Ceará. Para tanto, busca-se levar
em consideração o viés de encantamento da manifestação tradicional popular, evidenciada por
Barroso (2013), para esboçar nos caminhos metodológicos sentimentais de Rolnik (1989), cartografias
do desencantamento capazes de perceber, dentro do eixo de precariedade e performatividade, como
os corpos dissidentes na cultura popular regional partem de uma potência de criação na condição
micropolítica. Considera-se que o artivismo das dissidências sexuais de gênero (COLLING, 2018) produz
uma potencialização de acontecimentos nas cenas da performance da dança, ou seja, o impulso de
preservação da vida anuncia mundos por vir através de uma mobilização de inconscientes. O modo
de operação dos corpos tidos como ilegíveis pelos códigos da cultura popular, ainda pautada no ideal
de cabra macho dentro do recorte de Nordeste, como explica Albuquerque Junior (1999), parece
afirmar uma vida possível de ser vivida através de uma essência germinativa ativada por um saberdo-corpo (ROLNIK, 2016), desertando relações de poder e de disciplina dos corpos (FOUCAULT, 1987).
Se o brincante transviado pode construir para si um outro corpo fora dos esquemas regulatórios e das
dinâmicas do abuso na bússola moral da tradição popular, compreende-se que territórios relacionais
temporários são produzidos em sinergias coletivas na mesma medida em que requerem comunidades
transviadas em multidão nos cortejos dos grupos. Desse modo, o Reisado aparece posicionado
em reapropriações coletivas antes tidas como abjetas na constituição de campos de emergência
de acontecimentos políticos. Ao trazer os grupos do bairro João Cabral, analisa-se, a partir da teoria
performativa da assembleia de Butler (2018), como alianças biotecnomágicas nos Reisados fazem do
brincante transviado um ciebòrgue (ROSA, 2017) hacker das redes normativas do gênero.
Palavras-chave: Reisado. Gênero. Cultura. Tradição. Micropolítica.
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MOVIMENTO ANARCO-PUNK DE FORTALEZA:
UMA ETNOGRAFIA DAS PRÁTICAS DE LIBERDADE
Marina dos Santos Rodrigues Mendes
Universidade Federal do Ceará
Graduanda em Ciências Sociais
marinamende@hotmail.com
RESUMO
O objetivo deste trabalho é compreender as relações tecidas entre sujeitos que constroem o movimento
anarco-punk da cidade de Fortaleza/CE, observando os significados atribuídos ao que designa-se
ser e pertencer ao movimento anarco-punk, as ações socioculturais e políticas articuladas por esse
movimento, ações que criam ressonâncias, confabulando práticas de liberdade que contestam o modo
de vida capitalista e que permeiam seus modos de vida. Dissolvendo as identidades e afastando-se da
imagem do movimento anarco-punk apenas como forma de desvio social e entretenimento juvenil,
procurei pensar o movimento como “afirmação da vida” (Nietzsche), que não se opõe diretamente ao
Estado, mas como criação de formas de viver em conflito com os modos legisladores da vida. Para tanto,
usarei a heterotopia foucaultiana como base para pensar as práticas do movimento anarco-punk na
criação de espaços que fogem da lógica do capital dentro da sociedade de controle. Foucault no artigo
chamado “Outros espaços” escrito em 1967, nos apresenta o conceito heterotopia e os seus princípios.
As heterotopias são imanentes às sociedades, não pensando as suas formas de modo universal, mas
como singularidades de acordo com contextos diversos. Para o autor, as heterotopias são a criação de
espaços que desviam das normas sociais dentro dos centros de poder, criando assim zonas de liberdade
no presente, desligando-se de ideais utópicos e realizando essa utopia no agora, com as condições do
presente. Pensando a ética do movimento como forma de vazamentos de “abscessos sociais” (Artaud),
que criam sociabilidades libertárias, ou seja, que criam heterotopias.
Palavras-chave: Anaco-punk. Heterotopia. Sociabilidade. Contracultura.
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NUS, NUDES E PELADÕES: O DISCURSO ARTÍSTICO
LEGITIMA PADRÕES DE DESEMPENHO?
Iara Cerqueira Linhares de Albuquerque
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Professor Adjunto
iacerqueira@hotmail.com
RESUMO
Uma performance encenada torna-se acontecimento biopolítico no campus da Universidade Estadual
de Londrina, cuja nudez é descrita nas redes sociais como “os peladões da UEL”, e perversamente
mimetizados. Mobilizados pela temática do holocausto nazista, o corpo envolvido nesse processo
de criação faz ressoar experiências pessoais que se potencializam como mídia de si mesmo, ou seja,
corposmídias dessas pessoalidades experenciadas. Em tempos de internet, convivemos com postagens
de corpos expostos cuja consequência dessa nudez direciona a um comportamento reativo. Muitos se
mostram conservadores de um modo de vida que tem no corpo apresentado no seu estado natural um
campo de indignação. Nessa realidade, os vigias dos corpos em redes digitais replicam informações
que culminam em discursos preconceituosos, perversos e descontextualizados. Ao mesmo tempo,
esses ditos corpos-artistas da performance publicitam esses discursos e legitimam padrões na atual
sociedade de desempenho (BYUNG-CHUL, 2015) em que não é prudente pensar a dança fora dessa
moldura (KATZ, 2014). Seria, então, esta performance configurada como uma dança com/de corpos
nus ou de corpos expostos? Enquanto performance em dança, uma vez que busca romper expandindo
esse pensamento do corpo (KATZ, 2005), problematizamos essa discussão com a proposta teórica da
Vida Expandida (CASTELLS, 2013) e a olhamos a partir da Teoria Corpomídia (KATZ & GREINER, 2005).
Busca-se refletir em relação a essa ação criminalizada, dirigida à performance em Londrina, a partir de
Foucault (2008), com sua discussão sobre práticas discursivas e a implicabilidade biopolítica do corpo e,
possibilitar um olhar crítico quanto aos discursos produzidos nas redes, local que os poderes se fazem
impregnar.
Palavras-chave: Nudez. Corpomídia. Redes digitais. Biopolítica.
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O DISCURSO DO MESTRE: UM ENCONTRO NA
FRONTEIRA ENTRE FOUCAULT E LACAN
Raianne Ferreira Lima
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio
Pós-graduanda em Teoria Psicanalítica
raiannelima@gmail.com
Yan Ferreira de Alencar
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio
Graduado em Psicologia
yanfalencar@gmail.com
RESUMO
Busca-se abordar o discurso do mestre como um ponto de encontro na fronteira entre o pensamento
de Foucault e a psicanálise de Lacan. Por um lado, Foucault designa o discurso como uma forma de
captação da verdade na linguagem, assim, a malha social é compreendida pela sua sustentação a partir
de relações de poder e saber. Sendo assim, o poder atravessa cada sujeito, forjando verdade e colidindo-a
à dinâmica dos discursos. Instaura-se daí um jogo de verdade, suscetível às dinâmicas de um poder
descentrado, disposto em uma microfísica, compondo modos de subjetivação. Por outro lado, a teoria
dos discursos em Lacan aponta para uma posição de cada sujeito no laço social, oscilando em suas
quatro posições a partir da dimensão da verdade, a saber, discurso do mestre, da histérica, do analista
e universitário. Ao designar o discurso do mestre, Lacan compreende que o significante “mestre” ocupa
o lugar de agente e o sujeito o lugar da verdade (recalcada), então, o mestre é aquele que comanda.
Nesta nossa abordagem, o foco cabe ao discurso do mestre, pois esta forma de discurso se aproxima
dos jogos de verdade mantidos por relações de saber e poder, tal qual formula Foucault, por exemplo,
em uma ordem de discurso da ciência. Assim, para o discurso do mestre, é apontada por Lacan uma via
ilusória de acesso à verdade direta e irrestrita; é pela ciência que o sujeito se coloca na via de apreensão
da verdade, criando-se objetos, denominados por Lacan de latusas, estes só possuem finalidade do
gozo, de proporcionarem a vertigem da verdade. Žižek, na esteira das considerações de Lacan sobre o
discurso do mestre, ressalta uma espécie de saber que perpassaria o sujeito dando a falsa ideia de que
sua busca por significação deve transitar pela via do gozo.
Palavras-chave: Discurso. Verdade. Mestre.
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O MESTRE DO CUIDADO E O ENSINO DE
FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Antônio Alex Pereira de Sousa
Universidade Federal do Ceará
Mestrando em Filosofia
alexsousa.filosofia@gmail.com
RESUMO
Os escritos de Michel Foucault (1926-1984) ressoam em diversas áreas do conhecimento. Neste trabalho,
interessa-nos a interlocução entre seus últimos escritos sobre a ética e o ensino de filosofia na educação
básica, especificamente no Ensino Médio. Na análise sobre o cuidado de si na antiguidade greco-romana,
Foucault pontua a importância do personagem responsável pelo cuidado do outro, pois sabe cuidar
de si mesmo: o mestre do cuidado, personagem essencial na constituição de uma subjetividade ética.
Foucault identifica Sócrates como um dos primeiros mestres do cuidado no campo filosófico e pontua
que os filósofos viventes no período helenísticos reformularam e ampliaram a prática do cuidado de
si inaugurada pelo mestre de Platão, transformando-a num fenômeno cultural. Aqueles chamados
de mestres eram os professores de filosofia. Partindo da análise do mestre do cuidado elaborada por
Foucault, faremos uma comparação entre estes professores de filosofia da antiguidade greco-romana
e os professores de filosofia no ensino médio na atualidade. Para isso, daremos atenção às práticas
desenvolvidas pelos filósofos no cuidado de si que podem ser exercitadas por professores de filosofia
no presente, como a escrita filosófica e o exercício do falar a verdade de forma franca, a parresia. A
importância deste estudo se verifica na possibilidade das últimas análises de Foucault criarem novos
fluxos na educação, especialmente no ensino de filosofia na Educação Básica, sendo relevânte pela
possibilidade de criar novos fluxos na educação, especialmente no ensino de filosofia na Educação
Básica.
Palavras-chave: Mestre do Cuidado. Ensino de Filosofia. Michel Foucault. Prática de si. Ética.
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O VIDEDANÇA NA TERRA DA LUZ –
A MÍDIA DA VISIBILIDADE
Liliane Luz Alves
Centro Universitário Inta/UNINTA-Sobral
Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP
lililuz@gmail.com
RESUMO
Esta pesquisa nasce da reflexão acerca da produção de vídeoarte cearense que busca representações da
tradição cultural e social do Estado. Buscamos identificar as principais temáticas sociais e culturais que
estão sendo retratadas nos vídeos e o que significam no universo de produção do videodança cearense.
O objetivo é também analisar como alguns desses vídeos podem ser considerados uma espécie de
“profanação” no mercado nacional (AGAMBEN, 2007), representando reivindicações políticas que
colaboram para a formação de discussões locais. Os temas são, quase sempre, polêmicos. A Companhia
Balé Baião, por exemplo, traz à tona a questão da especulação imobiliária em uma cidade pequena do
interior do Ceará. Já o Núcleo de Doc-Dança problematiza os ritos e mitos da religião católica, pois, na
região nordestina, a religião é uma característica muito forte. É importante esclarecer que não temos
como objetivo relatar a história completa dos videodanças, embora pontuemos algumas experiências
como a da pioneira Letícia Parente, que é uma das representantes da primeira geração da videoarte
no Brasil. Até hoje, Letícia é uma referência para os artistas contemporâneos. As tentativas de registrar
a dança e imagens em movimento da vida cotidiana começam antes do início do século XX, com o
advento do cinema, transformando o corpo em dispositivo (FOUCALT,1999) e o dançar um ato político.
Palavras-chave: Videodança. Videoarte. Dispositivos. Comunicação.
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OS DESAFIOS DA SAÚDE COLETIVA FRENTE AO PARADIGMA DE
SAUDE MENTAL EM TRANSFORMAÇÃO: UMA EXPERIENCIA DE ESTÁGIO
Lidia Maria de Aquino Moura
Universidade Federal do Piauí
Graduanda em Psicologia
lidya0676@gmail.com
Juliana Rodrigues da Costa
Universidade Federal do Piauí
Graduanda em Psicologia
julianardgs@outlook.com
RESUMO
Considerando o paradigma da Reforma Psiquiátrica as práticas de cuidado em saúde e em Saúde
Mental são entendidas como ambivalentes no que concerne a sua lógica centralizada no sujeito. Tendo
em vista que tais práticas funcionam como um dispositivo de enquadramento social normatizador
e punitivo conforme nos apresenta Foucault, dessa forma, há uma inclinação a uma perspectiva de
saúde dual doença/cura, na qual o cuidado está muito mais associado ao controle e conhecimento de
si que reverberam em tecnologias punitivas e compensatórias no tratamento dos sujeitos. Atuar em
conjunto com populações em situação de vulnerabilidade reflete no enfrentamento de mecanismos
de judicialização, que contrapõe-se à uma postura de ética do cuidado atenta à realidade de cada
sujeito, bem como o que o constitui. Considerando que esse cuidado não deve partir de uma lógica
de conhecimento de si, sobretudo, comprometido com uma descentralização da subjetividade do
sujeito e promoção de saúde, aliada à produção de vida e modos de ser e estar no mundo, esses sendo
reconhecidos pelo seu caráter múltiplo. O presente trabalho parte da experiência de estágio Profissional
em Saúde Coletiva em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, tendo como perspectiva a
reflexão e a implicação em uma ética do cuidado que se propôs na busca por um olhar do sujeito como
sendo multideterminado, bem como na descentralização das práticas de saúde no sujeito.
Palavras-chave: Saúde Mental. Práticas de cuidado. Judicialização. Tecnologias punitivas.
Promoção de Saúde.
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OCUPAR-SE CONSIGO, CUIDAR DE SI MESMO:
PRÁTICAS NECESSÁRIAS NO EXERCÍCIO DOCENTE
Marta Maria de Lima Sales
Universidade Federal de Pernambuco
Mestra em educação matemática
martinhalima2011@hotmail.com
Simone Moura Queiroz
Universidade Federal de Pernambuco
Doutora em educação matemática
simonemq35@gmail.com
RESUMO
Este texto tem a pretensão de dialogar sobre o cuidado de si, a partir de estudos de Foucault (2010),
relacionando tal conceito à docência de matemática. A idealização deste trabalho surgiu das discussões
do Grupo de Pesquisa Diferença da UFPE, bem como do nosso desejo em adentrar nesse universo
filosófico sob a ótica da educação matemática. Acreditamos que ter cuidado consigo mesmo, ocuparse, cultivar-se é uma prática que todo profissional, especificamente nós, professores de Matemática,
precisamos ter, pois, “[...] não é meramente como condição de acesso à vida filosófica, no sentido estrito
e pleno do termo, que é preciso cuidar de si mesmo” (FOUCAULT, 2010, p. 10). Então, o que é necessário,
primeiramente, para iniciar este exercício do cuidado de si? Para Foucault (2010, p. 9) “O cuidado de si vai
ser considerado, portanto, como o momento do primeiro despertar. Situa-se exatamente no momento
em que os olhos se abrem [...]”. Este despertar socrático, mencionado, exposto por Platão na Apologia a
Sócrates (2012) e Primeiro e Segundo Alcibíades (2015) estudado por Foucault (2011, 2013 e 2014), levanos a refletirmos sobre os acontecimentos que nos perpassam, que nos subjetivam. Assim, o professor
que tem o cuidado de si é, antes de tudo, professor de si mesmo, que conhece a si mesmo, é aquele
que governa a si mesmo, primeiramente, para em seguida governar os seus alunos. O sujeito da atual
modernidade líquida (BAUMAN, 2001) parece preso a tudo que o “afasta de si”, estando acorrentado
a grilhões que o impedem a voltar-se para si. E, essa “prisão” não possibilita o conhecimento de si,
os impedindo consequentemente de praticar o cuidado de si mesmo. Na tentativa de proporcionar
reflexões e conhecimentos sobre o cuidado de si na docência, elaboramos este trabalho, por pensarmos
que precisamos discutir, praticar o cuidado de si e levar tais propostas para as instituições de ensino.
Assim, acreditamos na relevância de nosso trabalho, a partir das leituras e contribuições trazidas por
Foucault (2010), para as escolas e academia por se tratar de um assunto pouco abordado nos ambientes
educacionais.
Palavras-chave: Cuidado de si. Docência de Matemática. Filosofia da Diferença. Foucault.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
PERMANÊNCIAS, DESLOCAMENTOS E (RE) PRODUÇÕES MIDIÁTICAS
EM TORNO DO DISCURSO DA POBREZA
Cícero Lourenço da Silva
Universidade Regional do Cariri
Universidade Federal do Cariri
Graduado em Ciências Econômicas
Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentável
Professor temporário do Curso de Ciências Econômicas (URCA)
Cicerolourenco13@gmail.com
Francisca Laudeci Martins Souza
Universidade Regional do Cariri
Universidade Federal do Cariri
Professora Associada do Curso de Ciências Econômicas (URCA)
Professora do Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável (PRODER)
laudecimartins@yahoo.com.br
RESUMO
A pobreza fabricada, projetada, inventada, estigmatizada, midiatizada é o interesse central da discussão
deste estudo. O presente trabalho emerge do interesse em analisar o discurso como elemento de
inventividade social, que busca instituir verdades, tendo por pano de fundo os debates forjados em
relação à pobreza e o ser pobre. Nosso objetivo foi verificar como os discursos presentes na academia,
nas normas e regulamentos da assistência social brasileira, bem como na mídia Folha de São Paulo
forjam, classificam, enquadram, atualizam e modelam o conceito de pobreza e do ser pobre, assumindo
como recorte o período de 2003 a 2010, período de gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
no qual é instituído um enunciado do “Governo da erradicação da Pobreza”. O caminho metodológico
deste estudo segue uma abordagem da análise do discurso foucaultiano, adotando como instrumentais
analíticos a apropriação dos conceitos de discurso, práticas discursivas e enunciado. A escolha pela
análise do discurso em Foucault emerge da vontade de recorrer a outras possibilidades, outras nuances,
caminhos outros, muitas vezes desconhecidos e silenciados. Dessa forma, a pesquisa aqui desenvolvida,
buscou apresentar as manobras e outras dobras atreladas à pobreza e o ser pobre e, consequentemente,
a possibilidade de se escrever um trabalho de caráter pós-estruturalista. Esta pesquisa nos proporcionou
observar como se movimenta as engrenagens do discurso, das estratégias de dominação, dos
estereótipos criados, da vontade de fixar corpos, de classificar a pobreza e o ser pobre como um ser em
constante impotência, sem vez e sem voz. Enfim, a pesquisa aqui empreendida, nos possibilitou ampliar
as possibilidades outras de se abordar, visualizar e falar sobre o tema pobreza e o ser pobre.
Palavras-chave: Pobreza. Análise do Discurso. Foucault. Assistência Social. Discurso Midiático.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
PONCIÁ VICÊNCIO E OS SIGNIFICADOS DE SER NEGRO NO BRASIL –
CONSIDERAÇÕES SOBRE A AMPLIAÇÃO DA CLÍNICA PSICOLÓGICA
Sebastiana Sarah Martins Lacerda
Universidade Federal do Piauí
Graduando em Psicologia
sarahmartins882@gmail.com
Marcos Martins Lisboa
Universidade Federal do Piauí
Graduanda em Psicologia
mmarcosl-2010@hotmail.com
RESUMO
Ponciá Vicêncio é uma obra de Conceição Evaristo que retrata a vida de uma mulher caracterizada
pelo processo de enlouquecimento, e a vida de sua mãe e irmão, marcadas pela pobreza, escravidão
e discriminação racial, pós Brasil colônia. Mesmo sendo uma narrativa de uma história fictícia, a autora
relata um cotidiano de processos vividos por milhares de brasileiros até os dias atuais, onde falar de
Ponciá é falar de sofrimento, da angústia de existir à margem da sociedade, sendo também pensar em
formas de cuidado e de potencialidades para que haja mudança; é falar de saudade e do significado
que essa palavra, a mais linda de nossa língua, pode adquirir conforme o que se vive e o que se sente.
Tratamos das condições do ser negro no Brasil, do padecer em situação de exclusão social e descaso das
instituições públicas, da negação da condição do negro e da afirmação da identidade como forma de
potenciar novas construções de sentidos. Fazendo uma leitura dos modos de subjetivação que cruzam
tais condições pós escravidão, assim como a análise das instituições de poder que atravessam tais
modos de construção de sujeitos, buscamos fazer crítica aos modos de se fazer psicologia hoje, tendo
em vista que esta se constitui como um campo de saber-poder elitizado, que negou olhar durante
muitos anos para as condições tratadas por Evaristo. Este trabalho nos ajuda a pensar a ampliação do
olhar do psicólogo, assim como a ampliação da clínica no contexto social, levando em consideração a
complexidade de fatores que envolvem as condições de pobreza e miséria que engendram o processo
de ruptura com o real pelas vias da marginalização.
Palavras-chave: Loucura. Racismo. Exclusão Social. Formas de cuidado. Clínica Ampliada.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
PROFESSOR-CELULAR-ALUNO: JUDICIALIZAÇÃO E
RESISTÊNCIA NA PESQUISA-INTERVENÇÃO
Gabrielle Lima Feitosa
Universidade Federal do Ceará
Mestranda em Psicologia
gabriellelimafeitosa@gmail.com
Luciana Lobo Miranda
Universidade Federal do Ceará
Docente do programa de pós-graduação
lobo.lu@uol.com
RESUMO
O trabalho trata de práticas de resistência ante processos de judicialização do cotidiano escolar
relacionado ao uso de smartphones em sala de aula. A partir de uma pesquisa-intervenção realizada com
25 professores de uma escola pública em Fortaleza, no projeto “Pesquisando com Professores: a relação
mídia e cotidiano escolar”, docentes e gestores discutiram o uso da mídia na escola. Como dispositivo
foi criado um curso de extensão de formação de professor que problematizou a mídia como vetor de
subjetivação na escola e no fazer pedagógico. As novas tecnologias invadem as fronteiras da instituição
promovendo novas práticas disciplinaradoras, mas também abrindo possibilidade de resistência.
Segundo Foucault (1999) a escola, assim como as variadas instituições disciplinares, produz relações
de poder. Durante as discussões no curso, o celular emerge como um grande gerador de conflito na
relação escola-estudante, que devido sua portabilidade e onipresença “recente” na escola, não havia
proposta de mediação do uso, decorrendo na sua proibição. Seguindo a lógica das práticas judiciárias,
da ênfase nas regras e diretrizes legais (FOUCAULT, 2003) que a escola tem tentado resolver muitos
de seus problemas, naturalizando em seu cotidiano a judicialização, utilizando-se do Poder Judiciário
para mediar, regrar e punir os efeitos dos desacordos nos contratos e normas sociais do cotidiano das
existências(SILVA, C. F. et al, 2015). Na tentativa de controlar os usos dessa tecnologia, os docentes,
muitas vezes, sustentavam seus posicionamentos proibicionista através de um discurso jurídico,
recorrendo às leis, para conservar seu cotidiano através práticas disciplinadoras. No decorrer do curso, o
que antes surgia como uma lei acima das relações, possibilitou uma outra esfera de acordo mais voltado
à experiência pedagógica e ao vínculo na relação docente-discente mediado pelo celular, engendrando
um processo de desjudicialização do ambiente. As falas e desejos dos alunos com relação ao uso do
celular no espaço escolar aos poucos foram incorporadas ao processo da pesquisa, seja através das
práticas discursivas dos professores sobre sua experiência cotidiana, seja no processo de criação de um
vídeo, onde falas polifônicas de professores e alunos a respeito do celular compuseram esta narrativa
audiovisual.
Palavras-chave: Judicialização. Resistência. Escola. Pesquisa-Intervenção.
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PSICOLOGIA E SAÚDE MENTAL:
UM OLHAR SOBRE A MORTE E A FINITUDE
Elaine Maria Silva Moura
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Graduanda em Psicologia
Elaine.m.s.moura@gmail.com
Cristiano Gomes
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
Graduanda em Psicologia
cristianogomes10@live.com
RESUMO
O presente trabalho, baseado no episódio quatro da terceira temporada do seriado britânico de ficção
científica Black Mirror (KOGUT, 2016), tem em sua especificidade como fundo teórico a compressão
de finitude associada a vida idosa e saúde mental, considerando na literatura revisada textos que
remetessem aos processos de finitude e apagamento do sujeito, ditas por Foucault (1978), como
semelhantes a própria loucura. Os cuidados paliativos, têm origem na França do século XIX, nos
hospices, onde se acolhiam pessoas doentes e peregrinos que viajavam geralmente com um cunho
religioso que cuidavam dos doentes em sua estadia, também início do asilamento da loucura (FÄRBER,
2013; REZENDE; GOMES; MACHADO, 2014; FOUCAULT, 1978). No enredo do episódio “San Junipero”, os
asilos e hospitais tinham o papel de auxiliar em cuidados para a morte, concedendo não só a chance
dessas pessoas reviverem os seus anos de juventude em um processo terapêutico de realidade virtual,
mas também ultrapassar esse último, vivendo eternamente de forma simbólica, já que memórias e
sentimentos atrelados as sinapses neuronais eram salvos nesse mundo cibernético, e o ser enquanto
biológico era eliminado em um processo através da eutanásia, condição para quem escolhia essa opção
de coexistir nessa realidade. Uma construção associada a obra aqui analisada é a morte que Foucault cita
ser o grande medo do XV, que como a loucura, ao ser isolada ao campo biomédico passou a ocultar-se
da sociedade contemporânea, o sujeito saiu de sua casa para nascer e morrer em hospitais, subsidiando
a estigmatização negativa de ambas a algo mítico e invisível ainda atualmente (REZENDE; GOMES;
MACHADO, 2014; FOUCAULT, 1978). Por fim, considera-se na análise que a morte atualmente passa de
uma condição inerente para algo burlável ou adiável, o sujeito idoso em sua fase do desenvolvimento
encontrasse suscetível ao apagamento subjetivo aferido por Foucault ao falar do enlace da morte e da
loucura, e o asilar encontram-se em uma dualidade entre o cárcere e o cuidado.
Palavras-chave: Finitude. Cuidados Paliativos. Saúde mental.
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QUAL O PODER DO AFETO? DANÇA, CORPO E
AFETABILIDADE NOS TEMPOS DE AGORA
Márcia Virgínia Mignac da Silva
Universidade Federal da Bahia
Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP
Professora do Programa de Pós-Graduação em Dança/UFBA
m.mignac@hotmail.com
RESUMO
As artes se impregnam pelo horizonte de catástrofe dos tempos de agora. A crise generalizada das
democracias e o avanço da moralidade neoliberal, paradoxalmente, redesenham o mundo com novos
fluxos. Não à toa, ondas de conservadorismo, de exacerbação de desigualdade de gênero, racismo
e fobias como afecções sociais avançam em grande escala. Nem sempre na mesma proporção, da
necessidade de garantir a equidade de direitos humanos e a continuidade de diferentes formas de
existências. Considerando, um campo de forças complexo, múltiplo e atravessado por enfrentamentos
diversos e reversibilidades, urge investigar o papel da dança na produção de outros circuitos de afeto
distintos dos biopoderes. Assim, este artigo objetiva substancializar uma discussão do entendimento
da dança como uma proposição artístico-política biopotente, ao trazer o corpo para a centralidade das
relações e investir na sua capacidade afetiva e de resistência. Para tanto, parte do pressuposto que o
corpo é corpomídia (Katz &Greiner, 2005) das questões biopolíticas, entendendo-o como uma coleção
de materialidades oriundas da sua co-relação com o ambiente. A escrita do texto prosseguirá com os
estudos de Michel Foucault (2006, 2008) e suas reflexões iniciais sobre o conceito de biopolítica, com
o intuito de seguir com o desdobramento do termo, feito por pensadores como Giorgio Agamben
(2002), André de Macedo Duarte (2017), Peter Pál Pelbart (2003, 2013) e Roberto Esposito (2010).
Avançando, se propõe ainda, uma aproximação com a Teoria dos Afetos de Spinoza (2009), para que
as questões trazidas, se tornem confluentes na compreensão da afetabilidade. Afinal qual o poder do
afeto? Em que medida o corpo que dança responde a convocatória dos afetos? Por fim, o enfoque da
discussão culminará no fato do corpo dançante reconhecer-se no ponto de ambivalência dos afetos
constituídos. E na condição de sobrevivente, no auge do seu esgotamento, afirma a sua reversibilidade
e a potência de agir. Assim, o corpo que dança não recusa a sua despotencialização, mas move-se com
ela, transformando-a e afetando outros corpos.
Palavras-chave: Dança. Corpo. Biopolítica. Teoria Corpomídia.
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SEXUALIDADE COMO DISPOSITIVO DE CONTROLE E
IMPLICAÇÕES PARA A PSICOLOGIA
Brenda Caroline Belforte Pereira
Universidade Federal do Piauí
Graduanda em Psicologia
brendabelfort17@gmail.com
RESUMO
A sexualidade vem sendo construída e desconstruída ao longo do tempo, sofrendo modificações nos
seus discursos. As ciências e campos de conhecimento, nesse caso, a Psicologia, participa na produção de
discurso das questões que permeiam a sexualidade humana. Os efeitos políticos e sociais do discurso psi
narra e dita o que seria a sexualidade normal e esperada, precisando ser, assim, observada para melhor
visualizar como esse campo de saber, munido de base teórica e prática, se relaciona com a produção
da sexualidade vigente. A sexualidade, como dispositivo, segundo Foucault (2011), foi sendo formado
desde o século XVI no Ocidente como uma rede discursiva que age sobre e através dos corpos, não os
reprimindo, mas produzindo um saber sobre a sexualidade e uma verdade que deve ser vista como
norma, agindo e atravessado o corpo dos indivíduos, sendo estratégia para o controle disciplinar, tanto
em nível individual quanto mais genérico. Foucault trata de uma sexualidade que não é substancial e
essencialista, pois atração, inclinações sexuais e desejos não são determinados pelo o que é reconhecido
como sexualidade, sendo tais concepções produtos de estratégias de poder-saber que os moldam e os
reforçam em serviço de uma certa lógica binária e heterossexual produzida. No entanto, a psicologia,
embora tenha a sexualidade como um dos seus temas centrais, ainda se comporta de forma arredia frente
a discussão acerca dela, mesmo tendo importante papel diante do seu debate, podendo ser conivente
com a lógica vigente, seja a fortalecendo ou reproduzindo-a. Como disciplina científica a psicologia tem
um dever estético-político, precisando assumir compromisso social e político, se atentando às minorias
e a multiplicidade de seres e mesmo de sexualidades, não fortalecendo moldes pré-fixados e tendo
contribuição na geração de preconceito, discriminação e invisibilidade, retroalimentando a máquina
dos poderes controladores do corpo e de tudo mais que o permeia.
Palavras-chave: Sexualidade. Psicologia. Corpo. Foucault. Subjetividade.
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SILÊNCIO, PRECARIEDADE E PERTENCIMENTO NO TRABALHO
DE PAULINE BOUDRY E RENATE LORENZ
Renata Biagioni Wrobleski
Universidade de São Paulo
Mestre em História, Crítica e Teoria da Arte
Graduanda em Filosofia
renataw@usp.br
RESUMO
A comunicação proposta tem como objetivo discutir possíveis relações entre arte e sexualidade,
a partir da análise do trabalho da dupla Pauline Boudry e Renate Lorenz, intitulado Silent. No vídeo
que soma 7 minutos, produzido em 2016 e apresentado em 2018 no museu da Fundación Jumex Arte
Contemporáneo (Cidade do México), a dupla indaga pertencimento, performance e precariedade
desafiando a normalidade, as leis e a economia. Silent é um trabalho que sugere múltiplas análises
desde perspectivas diversas. O gênero é performatizado em divergência, como sujeito que não realiza a
norma e por existir e reafirmar a própria existência clama, manifesta e persiste. A precariedade em Silent
aparece desde a escolha de cenário até a performance de Aérea Negrot, que a realiza primeiramente a
partir da partitura de 4´33´´ de John Cage e, em seguida, de uma música composta pela artista para este
trabalho. De paetê prateado, a personagem que se manifesta diante de diversos microfones remetendose a épocas distintas também parece vestir-se para uma apresentação que não acontece, beirando dizer
algo que por fim não declara, mas canta, indagando em sua música desde o presidente até o visitante do
museu que recebe o trabalho. A partir de uma pesquisa bibliográfica e documental, esta comunicação
visa contribuir para o esclarecimento das circunstâncias que proporcionam a adoção de estratégias de
sublimação das categorias artísticas e agentes sociais não hegemônicos.
Palavras-chave: Arte contemporânea. Videoarte. Reconhecimento. Divergência. Fracasso.
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SO-YOU-THINK-YOU-CAN-DANCE: A IMUNIZAÇÃO DOS
CORPOS-QUE-DANÇAM COMO REALITY-SHOW-COREOBIOPOLÍTICO
Prof. Dr. Joubert de Albuquerque Arrais
Docente efetivo – IISCA/UFCA
joubert.arrais@ufca.edu.br
RESUMO
O paradigma da imunização – localizado opositivamente entre a biopolítica e a relação comunidadeimunidade, apresentado por Roberto Esposito (2013, 2008) – colabora para uma outra compreensão do
corpo que dança na televisão em situação de avaliação (audições seletivas): o programa reality show
So You Think You Can Dance (EUA, 2005-2018), conhecido pela marca SYTYCD. A imunidade, segundo
esse paradigma, não é apenas a relação que liga a vida ao poder, mas o poder que conserva a vida e que
protege a subjetividade na sua relação com o viver em comunidade (com outros que não eu). O corpo
imunizado, segundo o paradigma da imunização, dialoga com o discurso competente proposto por
Marilena Chauí (2014, 1981), na medida em que percebemos uma pedagogia midiática da televisão que
imuniza os corpos que não seguem os modelos lá consagrados. Ao celebrar as formas da competência,
nega outras possibilidades de dançar. Um corpo imunizado é também um corpo de desempenhos
por estar sempre em guerra consigo mesmo nesse si-mesmo constantemente convocado para provar
algo (HAN, 2015). Nesse sentido, as imagens desses corpos em estado de audição seletiva, evidenciam
uma coreopolítica (LEPECKI, 2009) imunizante, que mobilizam esses corpos socialmente, fazendo deles
corposmídias (KATZ & GREINER, 2005, 2015) desse reality show televisivo dentro e fora da televisão,
transformados, eles próprios, em coreobiopolíticas SYTYCD.
Palavras-chave: Corpo e televisão. Dança e biopolítica. Paradigma da imunização. Reality show.
Coreobiopolítica.
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SUBJETIVIDADES TRANSGRESSORAS OU
A TRANSGRESSÃO DA SUBJETIVIDADE?
Elienai Cabral Junior
Universidade Federal do Ceará
Doutorando em Educação
elienaicabraljunior@gmail.com
RESUMO
Interessa-me compreender o poder performativo e discursivo de produzir subjetividades, de formar a
noção de si mesma em uma pessoa de modo irresistível, a ponto dela se descobrir no mundo já sujeitada
por ele, como Foucault parece descrever em Vigiar e Punir e O nascimento da biopolítica. O que é esse
poder ubíquo e incontornável? E, da mesma maneira que se pode afirmar que há um poder atuando
na subjetivação, também há uma reação negativa a ele, uma recusa, uma resistência possível. Mas, se
este poder antecede o indivíduo, inaugura sua subjetividade normalizando-o, dando-lhe um lugar no
mundo, performativa e discursivamente, e com tal eficiência, que o torna sujeito do mesmo poder que
o submete, ou faz dele um ator deste mesmo poder que nele atuou, em que ponto ele cede, onde ele
fraqueja para ser resistido? Como a transgressão ao poder é possível? Em A vida psíquica do poder, Judith
Butler indica possibilidades. No próprio processo de “condução de condutas” encontramos as fissuras
dessa estrutura de poder. Mas, sob a tradição humanista, se esperamos por um ato livre e autônomo,
pleno de iniciativa e protagonismo para a resistência ao poder que cria o corpo destruindo-o, uma
decepção é inevitável. Ora, se o poder não é externo ao sujeito, o ponto de reviravolta também não é
externo ao poder, ele está na dobra que o poder faz sobre si mesmo, ou contra si mesmo, no paradoxo
do poder que internaliza e aprisiona o corpo através de uma alma de normatizações, que sujeita, mas
em seguida tem no indivíduo o seu imprevisível sujeito. Em Corpos em aliança e a política das ruas,
outra indicação de resistência possível, Butler propõe um ponto de encontro, ou um “ponto médio”,
na precariedade e contra a precarização das várias minorias, a despeito de tão diversas, distantes e, às
vezes, antagônicas politicamente, mas que compõem uma multidão que se reúne para se manifestar,
para fazer seus corpos precários aparecerem. Na precariedade, o ponto de encontro, ou um ponto de
potência e contra a cultura que descarta vidas como menos vivíveis, ou como vidas não enlutáveis.
Palavras-chave: Poder. Subjetividade. Precariedade. Transgressão. Resistência.
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UM OLHAR SOBRE A MULTIDIMENSIONALIDADE DOS
PROCESSOS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LOUCURA
Guilherme Augusto Souza Prado
Universidade Federal do Piauí
Professor Doutor adjunto do curso de Psicologia
guispra@gmail.com
Marcos Antonio de Sousa Rodrigues Moura
Universidade Federal do Piauí
Graduando em Psicologia
marcosantoniosrmoura@gmail.com
RESUMO
Tomamos como problema para o presente trabalho as formas com as quais a loucura se torna objeto
de práticas e saberes para as sociedades ocidentais. Voltando-nos para a obra de Michel Foucault,
observamos que a forma estruturada da loucura em nossa cultura é a da exclusão. Tendo em vista que as
formas de cuidado e de prestar assistência às pessoas são baseadas no modo como estas são percebidas
e marcadas socialmente, é imprescindível questionarmos as dimensões que compõem o diagrama da
institucionalização da loucura hoje a fim de construirmos outras formas de lidar com a loucura e outros
modos de prestar assistência e tratar os loucos. Ao nos debruçarmos sobre as variadas dimensões da
institucionalização da loucura encontramos aspectos e questões místico-religiosas, jurídicas, sociais
e culturais. A dimensão místico-religiosa engloba os códigos da igreja e do absolutismo em voga
até o século XVIII, que atua como produtora de regimes de verdade. Estes códigos com frequência
relacionavam a loucura ao mal enquanto desordem e antinatureza, associando-a à moral da escolha
ética e à punição. Juridicamente, a loucura passa a ser codificada no âmbito da plurinormatividade
medieval e posteriormente objetivada numa universalização dos códigos jurídico-citadinos durante
o Iluminismo. Já o aspecto social da institucionalização da loucura passa das redes de sociabilidade
espontânea e não organizadas à captura dos loucos nos saberes e instituições assistenciais e médicas.
Por fim, destacamos uma dimensão cultural da loucura que pulsa e se move, denunciando a forma
cotidiana de exclusão da mesma. Com isto, visamos elucidar parte das diversas forças que compõem o
diagrama da institucionalização da loucura, visando contribuir para a construção de novas formas de
lidar com a loucura e novas modalidades de produção de cuidado com os loucos.
Palavras-chave: Diagrama. Desinstitucionalização. Loucura. Cuidado. Social.
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UMA ANÁLISE FOUCAULTIANA DE PRÁTICAS MACHISTAS FUNDANTESDO
DISCURSO DE MICHEL TEMER “EM COMEMORAÇÃO” DO DIA DA MULHER
Ana Caroline Mendes Gadelha
Universidade Estadual do Ceará
Graduada em Bacharelado em Letras
ccarolinegadelha@gmail.com
Marcos Roberto do Santos Amaral
Universidade Estadual do Ceará
Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Secretaria de Educação do Ceará
Doutorando em linguística aplicada
roberto.amaral@aluno.uece.br
RESUMO
Neste trabalho estudamos o discurso de Michel Temer “em comemoração” ao dia da mulher, analisando
as posições sociais e relações de poder acionadas neste discurso. Nele, utilizamos detidamente o conceito
de autor segundo o pensamento foucaultiano, enquanto uma posição social e discursiva depreendida
a partir de procedimentos de seleção de diversos valores e pressuposição de atitudes apontados nos
enunciados que compõem um discurso. Para tanto, inicialmente, discutimos de que maneira este
discurso posiciona a mulher como um sujeito social identificado com tarefas domésticas e o homem
como aquele responsável pelas tarefas econômicas e políticas, destacando a decorrente inferiorização
social da mulher por isso, já que historicamente este dispositivo é utilizado para marginar sujeitos
sociais. Enfatizamos as condições de produção em que este discurso se inscreve e os discursos a que
ele se relaciona historicamente. Em seguida, destacamos que, enquanto instancia que legitima ou não
representações e atos sociais, o autor neste discurso assume uma posição machista. Por fim, concluímos
que no discurso em questão, Michel Temer está exercendo uma relação de poder, reinscrevendo um
objeto de poder – a posição social da mulher, considerando que este ato se efetiva na medida em que
nesse discurso a mulher é construída como alguém que se limita a afazeres domésticos, especialmente,
criação dos filhos, sendo apartada de papeis protagonistas políticos e sociais.
Palavras-chave: Michel Temer. Dia da mulher 2017. Machismo. Análise do Discurso. Foucault.
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UMA CONEXÃO ENTRE FILOSOFIA E DANÇA:
CORPOS INTENSIVOS EM MOVIMENTO
Carla Cavalcante Batista
Universidade Federal do Cariri
Graduanda em Filosofia
Carlafilosofia09@gmail.com
RESUMO
Este artigo apresenta uma breve ideia de um pensamento-dança. A partir da filosofia de Gilles Deleuze
- desde algumas de suas primeiras publicações, principalmente obras em parceria com Félix Guattari,
como: Mil Platôs Vol. 1, 3 e 4 e O que é filosofia? - sob uma perspectiva ética-estética dessas obras,
construímos uma conexão entre filosofia e dança nos aspectos respectivos entre o corpo e a arte.
Pretende-se assim, investigar, dentro desta perspectiva, a relação entre o corpo e a dança nos aspectos
relacionados ao pensamento deleuziano sobre corpo-sensação, corpo-criação e pensamento. Para tanto
foram rastreados, no contexto do encontro entre Deleuze com as artes e de seus encontros com outros
filósofos, em que o influenciaram, assim como o filósofo Félix Guattari e Michel Foucault com incidências,
articulações, modulações e vizinhança de conceito sobre a corporeidade que na perspectiva deste artigo
encontra-se na conexão entre a filosofia e a dança. Tais conceitos são aqui apresentados e discutidos
como os conceitos do corpo sem órgãos, afectos, perceptos, plano de imanência, relacionando assim
junto a um corpo em movimento no ato de pensar/sentir/criar uma estética da resistência compondo
um encontro criativo entre a filosofia e a dança. É com a filosofia de Deleuze que abordamos um
pensamento crítico em que estimula a ultrapassar os limites da filosofia, propondo uma nova maneira
de pensar e filosofar, fazendo com que o pensamento também dance sobre as problemáticas filosóficas
no que diz respeito ao corpo.
Palavras-chave: Filosofia. Dança. Corpo sem órgãos. Percepto. Afecto.
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UMA POSSIBILIDADE DE RELAÇÃO ÉTICA-ESTÉTICA PARRESÍA CÍNICA COMO RESISTÊNCIA
Stela Maris da Silva
Universidade Estadual do Paraná Campus Curitiba II
Faculdade de Artes do Paraná
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Doutoranda em Filosofia
stelamarisdasilva.to@gmail.com
RESUMO
O objetivo do estudo é pensar com Foucault o estatuto da relação ética e estética. Tal relação é abordada
como uma possibilidade na aproximação entre parresía cínica e estética da existência e condição de
resistência. Foucault pergunta: “como o cinismo pode dizer no fundo o que diz todo o mundo e tornar
inadmissível o próprio fato de dizer?” Dizer cinicamente a verdade não seria uma forma de resistir,
ao mesmo tempo deslocar-se, não permanecer o mesmo? As lutas de resistência se dão nas relações
de poder se constituindo como estratégia de poder para apreender um novo meio de cuidado de si
mesmo. A parresía, verdade original, ou o dizer-a-verdade corajoso, é pratica de si na adoção de uma
“verdadeira vida”, é autogoverno que faz resistência às formas de assujeitamento do poder subjetivante.
A ética como resistência é um modo de o indivíduo relacionar-se consigo. Pensar a ética como criação
do indivíduo como obra de si mesmo, como parresía cínica, pratica e atitude, é condição da estética
da existência. Para compreender uma estética da existência é preciso ter coragem, deslocar-se, não
permanecer o mesmo. É um exercício para conseguir pensar o que esta aí, mas invisível, para pensar
o que não se pensara antes. Foucault cita os artistas e seus estilos de vida para mostrar os modos que
descrevem particularmente o papel das lutas de resistência nas relações de poder. Mais especialmente
a pintura da Modernidade é apontada por ele como um meio para o jogo parresiático cínico entre o
pintor, a obra e o espectador.
Palavras-chave: Foucault. Parresía Cínica. Estética da Existência. Resistência.
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A RELAÇÃO DO ARTIVISMO COMO ANTI-ESTRUTURA EM TURNER E ESTÉTICA DA
EXISTÊNCIA EM FOUCAULT, NUMA CONCEPÇÃO DE ARTE CONTRA O ESTADO:
ROMPENDO COM OS MOVIMENTOS SOCIAIS REPRESENTATIVOS E INSTITUCIONAIS
QUE CARREGAM CONSIGO O PROBLEMA DO RECONHECIMENTO E A FALTA DX
OUTRX NA RESISTÊNCIA CONTRA O ESTADO
Bartira Dias de Albuquerque
Universidade Federal do Ceará
Doutora em Educação
bartiradias9@gmail.com
RESUMO
Objetivo neste artigo pensar acerca do Artivismo político de indivíduos e coletivos autônomos,
independentes, como uma anti-estrutura em Turner (1974), no que diz respeito à ruptura que estes fazem
tanto com a sociedade, como com as formas tradicionais de se fazer arte e política (institucionalizadas,
delimitadas por reinvindicações pautadas na representatividade e no reconhecimento através do
Estado), relacionando à reflexão que Foucault (2006) traz em torno da estética da existência, ligada ao
cuidado de si, para ampliar a percepção de vida, produzindo subjetividades dadas por suas diferenças
e resistências, dentro de uma análise não representativa da arte, ou seja, uma arte contra o Estado
que reflito através da análise feita por Els Lagrou (2011). A partir de uma pesquisa tanto bibliográfica
quanto autobiográfica, por meio das minhas experiências estéticas e atuações em movimentos sociais
feministas e anarquistas, penso acerca do conceito de anti-estrutura em Turner (1974), quando coletivos
políticos, bem como indivíduxs autônomos independentes, lançam mão da arte, para manifestarem
suas inquietações, provocando a sociedade sobre as questões políticas das quais querem tratar. Tais
pessoas e coletivos rompem tanto com a sociedade em termos rituais (TURNER,1974), para mostrarem
sua crise e intensificá-la, como com os grupos políticos institucionais (já que as ações de movimentos
sociais independentes estão mais preocupadas com um processo que garantam e ampliem a percepção
da vida e da liberdade do que a alguma representatividade política), tornando visível suas fissuras,
trazendo um novo desfecho para a sociedade, que são modos de vida anti-estrutura. Resultando em
uma reflexão sobre a arte enquanto resistência, pertinente a visão perspectivista de arte (CASTRO, 2004)
que a expande para uma luta contra o Estado, indo além do reconhecimento e da representividade.
Palavras-chave: Artivismo. Representatividade. Anti-estrutura. Resistência. Estética da Existência.
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JOY DIVISION E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS LETRAS: ENTRE A
APROPRIAÇÃO LITERÁRIA E A RESSONÂNCIA FILOSÓFICA (1977-1980)
Luiz Henrique Severo Martins
Universidade Estadual do Ceará – UECE
Graduando em História
luizhenriquesevero@hotmail.com
RESUMO
O presente resumo tem por intuito discutir o processo de construção das letras da banda de pós-punk
britânica Joy Division, percebendo assim, em que medida existia uma apropriação ou ressonância
literária e filosófica para a composição dessas canções. O ex- compositor e vocalista do grupo, Ian Curtis,
mostrava-se um ávido e assíduo leitor de obras e autores mundialmente conhecidos, como Franz Kafka
(1883-1924), William S. Burroughs (1914-1997), Friedrich Nietzsche (1844-1900), etc. e tomava como
base essa leitura de caráter inspiratório para suas letras frente a banda. O grupo inglês que teve apenas
três anos de existência, deixou um enorme legado para inumeráveis conjuntos musicais que surgiram a
posteriori e foi um dos precursores do movimento conhecido como pós-punk. O intuito deste trabalho é
descobrir quem são esses sujeitos sócio históricos atuantes dentro de um determinado contexto e tempo
humano; que influência essa matéria social exerceu no modo de ser e pensar desses homens; como
essas duas esferas misturam-se e dialogam nessa paisagem; e de que maneira essa apropriação literária
exerce uma atuação no processo de construção das letras da banda. O procedimento metodológico da
pesquisa busca aporte no pensamento de Paul Ricoeur (2010) acerca da prefiguração, configuração e
refiguração de elementos que constituem uma narrativa e a sua leitura por parte do receptor. Noção
essa arquitetada e desenvolvida como tríplice mimese. E, por fim, as reflexões de Orlandi (2001) sobre
Análise do Discurso, concebendo a linguagem como uma mediação entre o homem e a realidade social.
Como resultados possíveis às problemáticas do nosso estudo, percebemos que a ressonância (literária
e filosófica), dentro das músicas, alcança certo limite já que o leitor ou receptor insere novos olhares
ou narrativas para a sua obra, servindo a leitura daqueles livros enquanto ponto de partida para outras
reflexões. Além disso, também pudemos notar a enorme influência que o Joy Division deixou para
outras bandas dentro do estilo pós-punk, inclusive em grupos na cidade de Fortaleza.
Palavras-chave: Joy Division. Música. Intertextualidade.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
O QUIMERISMO, CIÊNCIA E ÉTICA –
NIETZSCHE, LE BRETON E FOUCAULT
Marcos Martins Lisboa
UFPI – Universidade Federal do Piauí/UFDPar
Universidade Federal do Delta do Parnaíba
Graduando em Psicologia
mmarcosl-2010@hotmail.com
RESUMO
O quimerismo é uma prática muito recente que vem dividindo a opinião de cientistas das mais diversas
esferas do conhecimento. O presente estudo é uma tentativa de reflexão sobre as ambições científicas
tratadas por Nietzsche na genealogia da moral, a quantificação do corpo em Le Breton, e as práticas
neoliberais tratas por Foucault n’O nascimento da biopolítica. Nietzsche vem questionar a suposta
posição da ciência como oposto ao ideal ascético, tão caro às formas religiosas, tendo se tornado a
manifestação mais refinada de tal ideal. Sustenta que a ciência passou a ser um esconderijo para a
descrença e o remorso, não pensando, dessa forma, numa elevação da condição humana. A partir do
momento em que a fé em Deus é negada, se põe em evidencia um novo problema: o valor da verdade;
não tendo mais a ciência seu amor à busca pela verdade, esta recai sobre um tipo de ressentimento. Ora,
a biologia molecular e a genética hoje operam uma transformação sobre o status antropológico do que
vem a ser o humano, pois, na fantasia dos cientistas, é possível fazer o DNA explicar o comportamento
e apreender uma totalidade do humano. Essa fantasia dá à cientificidade o caráter que Nietzsche
vinha expondo, não apenas de ressentimento para com a verdade, mas de impossibilidade mesmo de
apreensão de tal condição de verdade. Ora, se os próprios cientistas sabem de suas limitações técnicas,
o que os leva a persistirem nesse discurso? É o que nos trais Foucault, quando nos mostra o que vem
a constituir a ordem discursiva dos saberes peritos a respeito da vida - uma discursividade muito mais
econômica do que em prol da vida, um discurso que abandonou sua sede de verdade, diria Nietzsche. A
lógica discursiva que sustenta as práticas do quimerismo se encontra muito mais na oferta de um serviço
a partir de uma demanda, do que na pretensão de promoção de saúde ou de cura, na apropriação do
material genético dos vivos para produção de patentes, muito mais do que na preocupação com a
manutenção da vida e do cuidado.
Palavras-chave: Quimerismo. Neoliberalismo. Ética. Humano.
58
I COLÓQUIO INTERLOCUÇÕES
FOUCAULTIANAS - SUBJETIVIDADES:
RESISTÊNCIA E EXPERIÊNCIAS ÉTICAS
CADERNO DE
RESUMOS
GT 2
I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
BIOPOLÍTICA E ESTADO DE EXCEÇÃO
Marcílio Medeiros Silva
Graduado em Filosofia
marzillios@hotmail.com
RESUMO
A partir de algumas indicações feitas pelo Filósofo Italiano Giorgio Agamben (que recebe forte influência
da filosofia de Michel Foucault), o trabalho procura refazer o percurso que desvela o conceito de vida
nua como aquilo que está na origem do pensamento político-jurídico do Ocidente. Fala da distinção
subjacente que se encontra na concepção de vida para os gregos (zoé e bíos), passando pela relação
entre vida e morte presentes no mundo romano na obscura figura do Homo sacer. Também quer mostrar
que todo esse solo percorrido, ao longo dos tempos, pela vida nua, é biopolítico e que o estado de
exceção tem se tornado uma constante técnica de governo. Assim, tudo ganha uma atmosfera incerta:
vida nua e forma de vida, público e privado, entraram na mais completa zona de indistinção. Há, com
isso, um esvaziamento da vida, em todas as suas potencialidades e o que resta é o sobrevivencialismo
dos dias atuais. Multiplicam-se por todos os lados os dispositivos de controle oriundos do direito, das
mídias, do mercado e do próprio Estado. Para além de um suposto pessimismo, o intento do trabalho é
problematizar vários espaços sociais para que, talvez um dia, sejam profanados naquilo que inviabilizam
uma vida bela e ao dispor do livre uso dos homens.
Palavras-chave: Biopolitica. Vida nua. Estado de exceção. Sobrevivencialismo.
60
I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
BIOPOLÍTICA E BIOPODER NA
SOCIEDADE DISTÓPICA DE O CONTO DA AIA
Marielli Monte Araújo
Universidade Federal do Piauí - Parnaíba
Graduanda em Psicologia
mariellimontee@gmail.com
Diêgo Stéfano Araujo Souza
Universidade Federal do Piauí - Parnaíba
Graduando em Psicologia
diegoyyz@outlook.com
RESUMO
Nas últimas décadas os estudos sobre gênero, a partir dos movimentos feministas, têm colocado nas
análises históricas e sociais a perspectiva feminina em evidência. Compreendendo épocas e sociedades
por meio do poder exercido sobre as mulheres, entende-se que a constituição de percepções produzidas
pelos discursos políticos atuais tendem a legitimar práticas dirigidas a mulher e uma verdade sobre
seus corpos. O presente trabalho objetiva estabelecer um diálogo entre filosofia política e literatura a
partir de Michel Foucault em História da Sexualidade vol. I (2009) e Margaret Atwood com O Conto da
Aia (2017), considerando que a narrativa da autora nos oferece uma reflexão sobre liberdade e direitos
humanos pela perspectiva da mulher e o uso dos corpos. Concordamos que esta distopia, marcada por
grandes transformações políticas em uma sociedade permeada pela repressão sexual, tem como ponto
de partida novos contornos sobre a mulher, podendo ser lida por meio do par de conceitos foucaultianos
– biopoder e biopolítica. Segundo este autor. as disciplinas do corpo (biopoder) e as regulações da
população (biopolítica) constituem os dois pólos em torno dos quais se desenvolveu a organização do
poder sobre a vida, como ocorre na sociedade de Gilead no O Conto da Aia. É com conceito de biopolítica,
centrado no corpo espécie, mecânica do ser vivo, suporte dos processos biológicos do nascimento
e da mortalidade com “toda uma série de controles reguladores” que surgem e incidem uma maior
potência sobre a mulher, este é o principal pilar que sustenta as relações na distopia de Margaret, em
que as mulheres férteis são tratadas como escravas sexuais pelos “comandantes” casados com mulheres
inférteis. Com o entendimento de biopoder, “técnicas diversas e numerosas para obterem a sujeição
dos corpos e o controle das populações”, que é possível perceber que tipos de vida, de corpos e de
sujeitos são lugares onde as técnicas atuam exercendo um poder sobre a vida. Dessa maneira, o poder
disciplinar nos oferece suporte de conhecimento sobre os processos políticos atuais que atravessam o
nosso país.
Palavras-chave: Poder. Mulheres. Literatura. Sexualidade. Política.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS EMPRESARIAIS E A RESISTÊNCIA DOS DESVIANTES:
BIOPOLÍTICA, HETEROTOPIA E PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA
Isaura Caroline Abrantes Silva
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio
Graduanda em Psicologia
isauracaroline@hotmail.com
José Lusmario Ramos de Oliveira
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio
Graduado em Psicologia
llusmario@gmail.com
RESUMO
A biopolítica aplicada às pessoas em situação de rua incita a produção de sujeitos-mercadoria aos moldes
neoliberais, imperando a individualidade e a meritocracia em um sistema socioeconômico excludente e
repressor, constituindo homens empresariais. Destarte, a pesquisa é de cunho bibliográfico e apresenta
como escopo discutir sobre o entrelaçamento entre biopolítica e pessoas em situação de rua na produção
de heterotopias. Ressalta-se a relevância de problematizar as estratégias biopolíticas neoliberais, que
incitam a exclusão e repressão social, circunstâncias cotidianas as pessoas em situação de rua. Enquanto
isso, sendo de fundamental importância fomentar discussões sobre o aviltamento dos direitos humanos
das pessoas em situação de rua, bem como do lugar social de invisibilidade, desvio e marginalização.
Assim, conforme Branco (2015), lutando por uma sociedade mais justa inseridos em uma atitude-limite
entre as forças de poder e a liberdade. Nesse sentido, de acordo com Foucault (2008) a biopolítica se
refere ao governo dos corpos em multidões, atuando na formação de corpos dóceis e submissos. Em
complementaridade a isso, o conceito de homos economicus aponta para a construção do homem
empresarial, interpelado pela mercantilização da existência e pelo assujeitamento às relações de poder.
Nesse seguimento, as pessoas em situação de rua são situadas como desviantes a essa normatização,
e por isso, ocupando um lugar de heterotopia conforme Foucault (2006), ao subverter as imposições
de empreendedorismo de si mesmo, caracterizando o não-lugar, o espaço da diferença e da exclusão.
Portanto, salienta-se que mesmo diante da governamentalidade dos corpos, o exercício de poder é
intrínseco a liberdade e a insubmissão, para além de um não-espaço, as heterotopias fundam zonas de
confronto e resistência.
Palavras-chave: Biopolítica. Pessoas em situação de rua. Heterotopia.
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A CONSTRUÇÃO DA RESISTÊNCIA NAS ELEIÇÕES DE
2018 SOB A PERSPECTIVA DA BIOPOLÍTICA
Patrícia Oliveira Gomes
Faculdade Paraíso do Ceará
Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Federal do Ceará
Professora de Ciência Política e Teoria Geral do Estado
patricia.gomes@fapce.edu.br
Marcos Víctor Novais da Silva de França
Faculdade Paraíso do Ceará
Graduando em Direito
marcos.victor@aluno.fapce.edu.br
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo discutir a relação entre público e privado e a construção do poder
político por meio do sufrágio, considerando uma perspectiva foucaultiana da biopolítica e do poder
expressada nos embates que surgiram no contexto das eleições de 2018 em relação a grupos sociais
como mulheres, negros, LGBTQI´s, militantes de esquerda. Na perspectiva tradicional da teoria do Estado,
as eleições são o momento ápice da democracia representativa, com a função de produzir governo e
legitimar racionalmente o poder político. Portanto, se constituem como o momento da construção do
poder na esfera pública. As últimas eleições no Brasil trouxeram à tona perspectiva diferenciada sobre
esse processo, na medida em que os discursos em disputa foram reconhecidos como uma ameaça à
existência dos grupos acima citados. A disseminação de ideais conservadores sobre modos “normais” de
vida e de corpos fez com que o embate político (esfera pública) ocupasse as relações cotidianas (esfera
privada), provocando uma instabilidade social que estaria além da função tradicional da política e das
eleições. Esse desequilíbrio revela-se artificial ao adotarmos a perspectiva foucaultiana da necessidade
de investigar os efeitos da ideologia não apenas como apoderamento da consciência dos indivíduos
por um poder externo, mas considerando os efeitos do poder sobre o corpo. Compreende-se que o
corpo social não é resultado da a universalidade de vontades, mas a materialidade do poder exercido
sobre o corpo dos indivíduos. Laços familiares, representativos de relações verticais, foram rompidos
pela não identificação entre a sujeição de corpos e a escolha do voto. O efeito traumático (sentido
psicanalítico) produzido teve como saída, em contrapartida, a valorização das relações horizontais no
encontro entre semelhantes numa situação de opressão e segregação e construção de mediações para
englobar as diversidades. São exemplos o surgimento de movimentos que buscaram garantir/manter
seus direitos, como aqueles articulados pela ideia do “#EleNão” ou do lema “se fere a minha existência,
serei resistência”. Assim, a discussão sobre o poder político ultrapassou a esfera tradicional do Estado
para ocupar a produção de práticas e discursos coletivos que perpassam os corpos de indivíduos cuja
identificação ameaça práticas políticas e culturais conservadoras.
Palavras-chave: Eleições. Resistência. Poder político. Biopolítica.
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A EDUCAÇÃO COMO UM DISPOSITIVO DE CONTROLE:
RESISTÊNCIA ATRAVÉS DO CUIDADO DE SI
Raianne Monteiro Soares
Universidade Federal de Pernambuco
Mestranda em Educação
raianneee@hotmail.com
Simone Moura Queiroz
Universidade Federal de Pernambuco
Doutora em Educação Matemática
simonemq35@gmail.com
RESUMO
Este trabalho foi elaborado a partir de reflexões realizadas através do Grupo de Pesquisa Diferença
(GPD), da Universidade Federal de Pernambuco, e pretende adentrar em conceitos relacionados à
dispositivos (FOUCAULT, 2010; DELEUZE, 1990; AGANBEM, 2009) assim como teorias que abordam a
subjetivação, resistência e cuidado de si em docentes. Foucault (2011) analisou alguns mecanismos de
controle, dentre eles a escola, fazendo um paralelo entre esta e as prisões, discorrendo sobre como o
dispositivo sala de aula exerce um papel de vigilância nos discentes. Para Gallo (2003), a educação tem
sido constituída através de mecanismos que possibilitam estratégias de controle e disciplinarização
por parte dos professores, confirmando a ideia de que os dispositivos direcionam os sujeitos para que
possam controlá-los. Neste cenário, propomos uma reflexão acerca do devir docente, como algo crítico,
agenciador e transformador, que contrarie as relações de opressão aceitas socialmente. Deste modo,
percebe-se a importância do docente em conhecer e exercer o cuidado de si e a coragem da verdade
na sua prática profissional, de modo que possa atuar como máquina de resistência, constituindo-se
não apenas como orientador dos alunos na exposição de conteúdo disciplinares, mas, em auxiliá-los
na busca por autonomia. Enfim, no âmbito da educação, de quais maneiras os professores tornamse resistência ao modelo atual de ensino? Neste contexto, é necessário encontrar alternativas que
proporcionem liberdade nas escolas, a partir de uma educação comprometida e disposta a resistir aos
mecanismos de controle. Logo, os professores necessitam abandonar os discursos de poder e contribuir
com a produção de meios para resistir, através de discussões e reflexões acerca desta temática. Desta
maneira, percebe-se a importância deste trabalho que pode colaborar para a construção de novos
conhecimentos sobre teorias relevantes, que podem suscitar um olhar novo no cenário educacional.
Palavra-chave: Dispositivo sala de aula. Cuidado de Si. Resistência. Foucault.
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A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO DISCIPLINAR E
SUAS POLÍTICAS DE RESISTÊNCIA
Mateus Pereira Santana
Universidade Regional do Cariri
Graduando em Ciências Biológicas
mateuspereirasantana@hotmail.com
Patric Anderson Gomes da Silva
Universidade Regional do Cariri
Graduando em Ciências Biológicas
patricanderson16@icloud.com
RESUMO
O poder é um conceito que perpassa grande parte da obra de Foucault, permeando os mais diversos
setores sociais. Nessa perspectiva, uma forma se destaca no meio escolar, a disciplina, que decorre da
influência positiva de exercer poder, portanto molda os indivíduos e consequentemente os sujeita a
se tornarem mais dóceis e funcionais pra o sistema. Sob essa égide, temos a escola como o principal
meio de disseminar o conhecimento, de tal forma que pode monopolizar o saber e exercer de forma
mais intensa o poder que lhe é inerente, como proposto por Foucault alicerçado em Nietzsche. Por tudo
isso, temos escola como instituição que segue padrões de dominação consoante com outros modelos
que exercem poder, um deles é o presídio. Além disso, podemos comparar diversos fatores como: a
estrutura retangular, o principio de clausura, a delimitação funcional dos lugares e até o uso das filas
com diversas organizações que exercem poder por facilitar o ato de vigiar e conter os indivíduos. Nesse
sentido, na educação tradicional, o principal instrumento pedagógico que permite vigiar e punir de
forma eficaz a todos é o uso dos exames, que agem como demonstração de força e poder, validando a
disciplina ao coagir toda a hierarquia presente na escola e podendo puni-los. Contudo, à medida que
tem reações de poder se tem também resistência, esse fato aliado aos diversos movimentos sociais de
minorias fez a disciplina na escola entrar uma crise de eficiência no processo de ensino aprendizagem
com os alunos e consequentemente pressionou a instituição a se adequar socialmente aos novos
valores sociais e comprometeu as relações de poder. A atuação das políticas de resistência na escola foi
benéfica e necessária por quebrar a homeostase do sistema e gerar uma escola mais justa, e libertadora,
quebrando a disciplina e tornando o aluno sujeito ativo no seu processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Políticas de resistência. Disciplina. Escola.
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A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA DIFERENÇA E
SUAS PRÁTICAS DE GOVERNAMENTO
Sandra Cristina Moraes de Souza
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Professora
profsandrapsico@hotmail.com
Deborah Karollyne Souza de Castro
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Graduanda em Direito e Filosofia
deborahcastro99@gmail.com
RESUMO
O objetivo deste estudo é a reflexão acerca da emergência do termo inclusão, buscando entendê-lo
como um processo social, econômico, histórico e cultural produzido pela modernidade. Ao abordar
o termo inclusão, é necessário articulá-lo a outro termo que ganhou espaço e destaque - diferença.
A institucionalização da diferença nos leva a refletir sobre as políticas inclusivas e suas práticas
de governamento. Nesse sentido, nos sentimos instigados a examinar os discursos inclusivos e os
dispositivos biopolíticos de controle que estão invisíveis na população. Ao propor uma aproximação
entre os estudos foucaultianos e a inclusão educacional, acreditamos que essa discussão poderá trazer
para a educação grandes contribuições. Cabe, então, o seguinte questionamento: Como podemos tomar
emprestados os conceitos de Foucault para explicar os sentidos atribuídos ao processo inclusivo no
espaço educacional? Esse empréstimo é decorrente das reflexões de Foucault sobre a sociedade moderna
e suas instituições, o que possibilita um olhar crítico sobre os sujeitos construídos por tais instituições
e sociedade. É relevante dizer que Foucault, em seus escritos, não fala da inclusão explicitamente, mas
denuncia o caráter excludente das diversas instituições sociais, por exemplo, o hospício, a escola e a
família. As noções de biopolítica e normalização nos ajudam a trazer tais questionamentos sobre a
construção do sujeito social. Em síntese, o caminho para os estudos sobre o tema em questão pressupõe
um aprofundamento nos meandros que regulam as políticas inclusivas na educação e as práticas de
governo que vêm engendrando discursivamente esses saberes e fazeres.
Palavras-chave: Inclusão. Biopolítica. Normalização. Governamento.
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A INTERSEÇÃO DO PENSAMENTO FOUCAULTIANO NO
“ILLÉGALISME” PENALISTA NO CRIVO DO INIMIGO INTERNO
Marcelo Soares Mota
Universidade Regional do Cariri
Graduando em Direito
marcelosoaresmota1@email.com
RESUMO
O Direito para Foucault não é sempre um mesmo direito, não há uma unidade de pensamento. O hodierno
artigo visa examinar os estudos de Foucault e as suas relações com direito penal principalmente no que
refere-se a sua interseção a criminologia critica. O “illégalisme” remete a ideia de um mecanismo praticado
à par da legalidade, aceito em um regime de tolerância. Ademais, a lei não seria criada para impedir tal
tipo de comportamento considerado violador das condutas socialmente aceitas, mas para diferenciar as
maneiras de se fazer circular a própria lei. Outrossim, fazendo um paralelo com a criminologia critica, a
conduta criminal perpassa a compreensão do indivíduo enquanto sujeito submetido ao controle social,
o conceito que tem de si mesmo e o da sociedade nivelada. Dessa forma, Ao explorar a potencialidade
crítica que surge com o termo, Foucault indaga acerca dos reais objetivos históricos que se realizaram
a pretexto do fracasso do cárcere. Portanto, a noção de ilegalismo em Foucault, expõe a estratégia
política, usualmente operada pelo Estado, que instrumentaliza a percepção social sobre a violência,
fazendo um paralelo ao “Labelling Approach” analisado pelos estudiosos criminalistas. O presente
estudo está inserido em termos sociológicos e penais estando fundamentado em pesquisas primárias
e secundárias, tendo em suma maioria como método de abordagem dedutivo, estudo qualitativo por
meio de artigos científicos e pesquisa bibliográfica que abordam o tema pesquisado.
Palavras-chave: Ilegalismo penal. Criminologia. Percepção social.
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A QUESTÃO DA VIDA E MORTE NA
BIOPOLÍTICA DE FOUCAULT
Luis Celestino de França Jr
Professor Adjunto da Universidade Federal do Cariri
Doutor em Comunicação
luis.celestino@ufca.edu.br
RESUMOS
Em acordo com Roberto Esposito, em “Bios: Biopolítica e Filosofia”, há variações de leituras relacionadas
à acepção de ‘biopolítica’ em Michel Foucault, pois tal termo apareceria de diferentes formas desde que
foi apresentado pela primeira vez em uma conferência no Brasil, em 1974. Foucault, segundo Esposito,
teria se apropriado e requalificado noções anteriores de biopolítica elaboradas por humanistas,
cientistas políticos e outros pensadores, apresentando-nos um deslocamento do termo a partir de um
contexto em que história e natureza, vida e política passam a se entrelaçar, se demandam e se violentam,
modificando-se num embate constante de ações e reações, impulsos e resistências. Portanto, em uma
visada foucaultiana, as relações entre os movimentos da vida e os processos da história interferindo-se
entre si foram os estopins da implosão dos discursos modernos sobre a soberania. Foucault, com outro
olhar interpretativo, vem a romper com uma perspectiva linear de compreensão da categoria vida. A vida,
em um jogo de governamentalidade, não pertence nem à ordem da natureza nem à ordem da história,
mas no cruzamento das tensões entre ambas. Cabe-nos então perguntar neste trabalho: até que ponto a
biopolítica pode se articular tanto com a produção de modos de subjetividades quanto com a dimensão
da morte? Até que ponto a biopolítica se articula tanto como uma política da vida, voltada à sua máxima
produção, quanto como uma política que também é capaz de reduzir os vivos a existênciasmínimas?
Palavras-chave: Subjetividade. Governamentalidade. Vida. Morte.
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A VIDA FORA DA JURISDIÇÃO HUMANA: OS CAMPOS DE
CONCENTRAÇÃO CEARENSES DE 1932 COMO AMBIENTES DE
EXCEÇÃO SOB O PARADIGMA BIOPOLÍTICO
José Nilton de Menezes Marinho Filho
Universidade Regional do Cariri
Graduando em Direito
niltonmarinho_menezes@gmail.com
Djamiro Ferreira Acipreste Sobrinho
Universidade Regional do Cariri
Docente do Curso de Direito
Djamiro.acipreste@urca.br
RESUMO
O presente trabalho possui como objetivo realizar uma análise de como o Estado utilizou-se da exceção
jurídica para reduzir ao mero aspecto biológico, através de uma política de governo (os campos de
concentração), aqueles que representaram uma ameaça (os flagelados da seca 1932) à ordem imposta.
Para tanto, a pesquisa realizada foi documental, bibliográfica e qualitativa, tendo como método de
abordagem o dedutivo, uma vem que partiu-se dos conceitos de estado de exceção e biopolítica e os
empregou aos campos de concentração cearenses numa análise baseada em documentos e textos que
abordam as temáticas, em uma compreensão pautada na investigação inter-relacionada. Este estudo
se justifica por consistir em um instrumento de visibilidade social e científica de fatos que ocorreram no
Ceará e que permanecem desconhecidos até hoje da maioria da população. Nas investigações realizadas
apurou-se que os campos de concentração cearenses consistiram em agrupamentos humanos de
isolamento arquitetados pelo governo estadual em decorrência da seca 1932 que possuíam por finalidade
impedir a população do interior de chegar à Fortaleza, que estava sob os ares da Belle Époque. O campo
de concentração é o ambiente que surge quando o Estado de exceção torne-se a regra estabelecida,
sendo a junção do Poder Soberano à biopolítica que possui como resultado o direito de fazer viver de
um determinado grupo social em detrimento do direito de morrer de outro núcleo humano. Este é o
espaço político no qual o Estado é o gestor das vidas que ali estão enclausuradas. Neste arquétipo, o
conteúdo político da vida passa a ser destituído e os humanos se reduzem ao caráter biológico, o que
tem por decorrência a retirada do status de “sujeito de direito”. É necessário, no paradigma biopolítico
do Estado de exceção, que os “inimigos” pereçam, haja vista consistem em vidas sacras (matáveis), para
que a existência dos “amigos” se desenvolva. Assim, o Estado atuou como soberano nos campos de
concentração cearenses, na medida em que, a partir da biopolítica decidiu se vidas possuíam ou não
valor, retirando destas todo o seu caráter político e reduzindo-lhes ao aspecto biológico-estático.
Palavras-chave: Campos de concentração cearenses. Biopolítica. Estado de exceção. Vida nua.
Homo sacer.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
A ÉGIDE DA PÓS-VERDADE POLÍTICA NA CONTEMPORANEIDADE:
UMA NOVA CRISE POLÍTICA E SUA RELAÇÃO COM O SABER-PODER
Valéria Gonçalves de Lucena
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio
Graduanda em Psicologia
valeriaglucena@hotmail.com
José Lusmario Ramos de Oliveira
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio
Graduado em Psicologia
llusmario@gmail.com
RESUMO
A pós-verdade é uma temática contemporânea que alcançou notoriedade recentemente. Refere-se ao
fenômeno percebido a partir de notícias falsas espalhadas nas redes sociais, com uma ligação notória no
âmbito político, ocasionando sua eleição em 2016 como a palavra mais influente do ano para o Dicionário
de Oxford, na Inglaterra. Atenta-se a importância de refletir sobre as estratégias políticas de maneira
crítica, desnudando o véu das manobras de manipulação, defendendo o estado democrático de direito
e a equidade social. Desta maneira, busca-se compreender este fenômeno e a interpelação entre saber e
poder pormenorizada pela teoria foucaultiana, através de uma revisão bibliográfica. Destarte, Monteiro
Filho (2016) afirma que uma pós-verdade política faz parte de um processo de disseminação em massa
de informações que, por sua grande quantidade e velocidade, é inevitável o surgimento de inúmeras
versões dos fatos, tornando cada vez mais difícil sua verificação. Assim, Koselleck (1999) argumenta que,
sem a compreensão das dimensões econômicas e políticas dos fatos, recai-se no único modo que resta
para formular opiniões sobre algo: o julgamento moral. Este, acredita, é um processo perigoso por não
reconhecer a complexidade real das situações, podendo implicar severamente no julgamento ficando
a mercê de dispositivos de controle. No entanto, diferenciando saber de conhecimento para Foucault,
Revel (2005) reitera que o conhecimento se refere às questões de teor cognitivo, ou seja, dos processos
complexos em construção de natureza racional, que identifica e classifica os objetos sem autonomia do
sujeito que apreende. Por outro lado, o saber, é o processo sofrido pelo sujeito do conhecimento, que o
modifica enquanto exerce o trabalho na atividade de conhecer e está associado ao poder. Para Foucault
(2014), o poder é compreendido a partir de dispositivos históricos e sociais, não tendo apenas um papel
coercitivo de proibição, é produtor de subjetividades, formando uma teia de forças imbricadas a modos
de resistência. Logo, a pós-verdade incide como forma de saber que culmina sobre relações de poder,
influenciando atitudes e comportamentos dos cidadãos e por isso, interferindo nos rumos das decisões
políticas, tornando-se massa de manobra e estratégia de controle.
Palavras-chave: Pós-verdade. Política. Saber-poder.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
EDUCAÇÃO SUPERIOR E BIOPOLÍTICA: SOBRE A ABERTURA DE
CURSOS DE PSICOLOGIA NO ESTADO DO CEARÁ
João Silveira Muniz Neto
Universidade Federal do Ceará
Doutorando em Educação
Netomuniz15@yahoo.com.br
RESUMO
Este resumo trata-se de uma pesquisa ainda incipiente. Assume-se, portanto seus riscos. O Ceará
experimenta uma volumosa expansão da oferta de Cursos de Graduação neste século. Propõese, aqui, fazer um esforço analítico acerca dos cursos de Graduação em Psicologia que surgiram no
Estado nos últimos anos. A despeito da arbitrariedade dos marcos, toma-se por corte cronológico a
década de 2006-2016. Historicamente desabastecido no que diz respeito ao Ensino Superior, o Ceará
assiste no século XXI a um alargamento de sua oferta de vagas no ensino superior tanto na criação de
cursos de Universidades Públicas quanto por parte da iniciativa privada. É neste contexto que emerge
na contemporaneidade cearense um boom de Cursos de Psicologia. Alguns números: existem 28
Graduações em Psicologia em pleno funcionamento, sendo que pelo menos 20 destes Cursos foram
instalados somente na atual década. Ora, não é qualquer coisa que pode ser dita em qualquer tempo
histórico, já dizia M. Foucault em sua famosa obra A Arqueologia dos Saberes. Os discursos não são entes
naturais ou simplesmente dados, são produtos de uma série de contingências históricas e sociais. De tal
modo que se um determinado discurso foi pronunciado, isso acontece em função do silenciamento de
outros tantos discursos. Em outra obra, Nascimento da Biopolítica, Foucault trata sobre o alargamento
espitemológico-político do campo de saber da Economia, que agora tentaria compreender não apenas
as relações econômicas em si, mas o comportamento humano a fim de diagnosticar em função de
que (não) consumimos determinados produtos. Trata-se aqui, pois, de inflamar o pensamento, e tentar
responder à seguinte pergunta: através de qual imagem de pensamento o empresariado da educação
superior percebe o campo da Psicologia para, repentinamente, dar-se conta que Cursos de Psicologia
poderiam ser financeiramente rentáveis?
Palavras-chave: Educação Superior. Formação em Psicologia. Biopolítica.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
“CALUNIADOS, PRESOS, FUZILADOS, GLORIFICADOS”:
A VISIBILIDADE QUE A ‘REBELIÃO CRISTERA’ TEVE NA
IMPRENSA CATÓLICA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 1920
Talita Kelly Souza de Oliveira
Universidade Católica de Pernambuco
Graduanda em História
Tkso1998@gmail.com
Luiz Carlos Luz Marques
Universidade Católica de Pernambuco
Doutor em História
prof.luizcmarques@gmail.com
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo identificar e analisar o discurso que um dispositivo midiático católico,
publicado no Rio Grande do Sul, difundiu no Brasil, em 1928, sobre o movimento que estava acontecendo
no México, na década de 1920, – conhecido como “rebelião cristera”. Compreendemos o movimento
mexicano a partir de uma ótica externa à empregada em seu país de origem apresentando, desse modo,
como, a Igreja Católica brasileira, através de um de seus meios de comunicação, influenciou na construção
de uma ideia/opinião “coletiva”, em nosso país, a respeito da rebelião, e do processo que acarretou na
sentença e execução do Padre jesuíta Miguel Agostín Pro e, seu irmão Humberto. Buscamos entender
o porquê de a revista defender a suposição de que as perseguições e execuções se deram por conta de
um viés totalmente ideológico – o do anticlericalismo, traço característico, também, dos próceres da
nossa “República Velha”. Parece-nos significativo que, dois anos depois, o líder gaúcho da “Revolução de
Trinta”, ateu, mas não anticlerical, esposou as teses sociais mais caras à Igreja Católica. Utilizamos como
fonte principal fascículos do periódico intitulado “O ECHO: Revista illustrada para a mocidade brasileira”,
de março, abril e junho de 1928, observando neles as passagens referentes ao movimento mexicano
e o juízo enfático adotado pela revista - induzido ao seu público -, acerca dos eventos ocorridos e sua
repercussão. Como referencial teórico utilizaremos a perspectiva de biopoder, biopolítica e normação,
do filosofo francês Michel Foucault e, como referencial metodológico utilizaremos a perspectiva da
historiadora brasileira Tania Regina de Luca para a análise dos periódicos.
Palavras-chave: Igreja Católica. Meios de comunicação. Biopoder. Rebelião cristera.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
APROXIMAÇÕES ENTRE FOUCAULT E MBEMBE:
A BIO/NECRO POLÍTICA NO DEVIR SUJEITO DOS QUE NÃO IMPORTAM
Laura Henrique Corrêa
Universidade Federal de Alfenas
Mestranda em Gestão Pública e Sociedade
correalaura@hotmail.com
RESUMO
A influência do pensamento Foucaultiano se mostra cada dia mais evidente entre os pensadores da
atualidade. Em uma gama espessa de desdobramentos, Foucault coloca sua “caixa de ferramentas”
a disposição para o entendimento contemporâneo das construções sociais, o que é explorado por
Achille Mbembe. Desta maneira, este estudo tem o propósito de realizar aproximações entre Foucault
e Mbembe, demonstrando que o conceito de biopolítica (Foucault, 2008) do primeiro é a base para a
necropolítica (Mbembe, 2018) do segundo, em uma roupagem de limite. Nessa junção, o ponto máximo
se coloca onde o valor de mercado é atribuído a múltiplos aspectos da vida, como se pode observar nos
efeitos sociais de indiferença, categorias, quantificações, em outras palavras, a forma como se pretende
racionalizar o mundo a partir de lógicas empresariais (Mbembe, 2018a). Abre-se então uma nova
fissura na maneira histórica de classificação. Os corpos dóceis, reprodutivos e silenciados politicamente
(Foucault, 2014), agora devem ser maximizados e/ou eliminados (Mbembe, 2018a). Assim, aspectos que
foram relegados à raça ao longo da história, podem ser atribuídos aos não maximizados, e ainda, reiterar
sua própria culpa. (Mbembe, 2018a). Esse novo caminhar social, percorre da punição e posteriormente
dos governamentos (Foucault 2008; 2014) para a classificação dos que não tem utilidade alguma
(Mbembe, 2018). Eis a convergência dos autores, no percurso da biopolítica para a necropolítica. Essa
mudança de eixo tem como principal efeito a produção dos sujeitos que não importam. Há, portanto,
um caminho bastante delineado nesta denúncia: a tentativa de universalização da condição negra por
mecanismos de mercado (Mbembe, 2018a). Em outras palavras, o corpo pobre que não gerar valores
econômicos, se torna o que deve ser exaurido e/ou eliminado. Esse seria o mundo vindo a ser negro,
uma proliferação das condições desumanas, ou como descreve Mbembe (2018a, p.20) “o devir negro
do mundo”. Portanto os resultados confirmam a hipótese que a biopolítica continua presente e em
transformação, sendo base para um diagnóstico necropolítico atual da redução das possibilidades do
devir humano, como é explorado por Mbembe.
Palavras-chave: Biopolítica. Necropolítica. Foucault. Mbembe. Devir.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
BIOPOLÍTICA E DIREITO À SAÚDE NO BRASIL:
REFLEXÕES POSSÍVEIS
Geovane Gesteira Sales Torres
Universidade Federal do Cariri
Graduando em Administração Pública
geovanesalescrato@gmail.com
Maria Laís dos Santos Leite
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Doutoranda em Psicologia
Universidade Federal do Cariri
Servidora técnico-administrativa
marialaispsi@gmail.com
RESUMO
A declaração da Alma-Ata, síntese da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde,
realizada em 1978, representa um dos marcos para o paradigma multidimensional da saúde englobando
perspectivas biopsicosocioculturais e, consequentemente, gerando uma inovação no conceito e na
organização dos sistemas da área. Todavia, salienta-se, concordando com Foucault, que a Medicina,
enquanto uma estratégia biopolítica, configurou-se de maneiras distintas ao longo da história,
passando da sua dimensão de Estado, à urbana e, por fim, social. Havendo, então, uma cronologia
em que, respectivamente, vigorou o controle estatístico de natalidade/mortalidade, subsequenciado
pela administração dos fluidos naturais/fortuitos ocasionadores de doenças no ambiente urbano e,
enfim, o domínio dos pobres e trabalhadores mediante sua medicalização. Nesse contexto, objetivase, com este estudo exploratório, analisar pressupostos teóricos que elucidem as relações entre o
biopoder e a noção de saúde pública interposta ao longo de distintos contextos históricos no Brasil que
antecederam a Constituição Federal de 1988, percebendo as antinomias e confluências existentes entre
tais conjunturas. Para tal, realizamos uma revisão bibliográfica do tipo narrativa das obras “Território,
Segurança e População”, “Nascimento da Biopolítica” e “Microfísica do Poder” de Michel Foucault, e
“Caminhos da saúde pública no Brasil” de Jacobo Finkelman. Ademais, cabe-se destacar que com
base nas exemplificações e conceitos foucaultianos sobre biopolítica, procurou-se perceber se e como
tais questões se projetaram ao longo do desenvolvimento das políticas públicas de saúde no Brasil.
Concluiu-se que apenas após a independência do país, em 1822, surgiram as primeiras instituições de
pesquisas e vigilância de saúde, período cujas ações públicas confluem à “medicina de Estado” tratada
pelo filósofo francês. Já durante a República Velha (1889-1930), em que a industrialização e excesso
populacional geravam caos socioambientais, surgem, entre 1900 e 1920, diversas reformas urbanas e
sanitárias, propostas convergentes à “medicina urbana” abordada pelo autor. Em resposta a tais medidas,
em que se incluem as campanhas de vacinação, surgem resistências populares à truculência interposta,
visto que o intuito maior seria zelar pela saúde de camadas populacionais trabalhadoras no objetivo de
manter saudável a mão de obra do projeto de industrialização vigente, aproximando-se assim do que
Foucault nomeou como “medicina social”.
Palavras-chave: Saúde Pública. Histórico Brasileiro. Biopoder. Políticas públicas de saúde.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
CARACTERIZAÇÕES E PROBLEMATIZAÇÕES A RESPEITO DA
MEDICALIZAÇÃO NA ATUALDIADE
Guilherme Augusto Souza Prado
Universidade Federal do Piauí
Professor Doutor adjunto do curso de Psicologia
guispra@gmail.com
Elaine Soares de Freitas Leitão
Universidade Federal do Piauí
Graduanda em Psicologia
elainesoares30@hotmail.com
RESUMO
Tomamos para debate o problema da medicalização generalizada e irrestrita da vida e discutiremos
a respeito da crítica aos efeitos da medicalização enquanto processo restrito ao saber médico e como
relativo à certa maneira de compreender e operar questões em termos de saúde, doença e normalidade.
Para tanto, propomos uma visita à obra de Michel Foucault para compreender a maneira pela qual
o campo e as fronteiras de ação da medicina foram ampliados e como essa ciência amplia seu foco
de atenção. Além de uma análise das críticas tecidas por dois estudiosos dedicados ao tema, Ivan
Illich e Peter Conrad, a fim de compreendermos as implicações na vida dos indivíduos, conhecermos
o alcance e desdobramentos de suas pesquisas e os possíveis diálogos ou distanciamentos entre as
variadas concepções do fenômeno da medicalização. Tal análise, orientada por uma perspectiva crítica,
se justifica à medida em que a distensão e aplicação generalizada de procedimentos médicos e relativos
às demais ciências da saúde a uma variedade heterogênea de problemas não necessariamente da
ordem da saúde e da doença é antes de tudo ordenada e fixada nos parâmetros de normalidade. Assim,
a crítica inicialmente cunhada por Illich é pautada na denúncia do imperialismo médico como causa
predominante dos processos de medicalização, o que reflete no surgimento de patologias decorrentes
da atuação da medicina sobre a vida num processo multifacetado denominado iatrogênia. Por outro lado,
Conrad busca enaltecer aspectos mais abrangentes do tema. Ele entende o fenômeno da medicalização
enquanto processo irrestrito, colocando não apenas a figura do médico em questão, tematizando a
racionalidade, a linguagem e as formas de intervenção medicalizantes aplicadas a fatos e problemas
da vida ordinária como problemática. Com isto, apresentamos um quadro introdutório relativo ao tema
da medicalização, a fim de compreender sua complexidade, percorrendo diferentes usos e sentidos
que o termo adquire. Entendendo que as distintas acepções do problema não são necessariamente
excludentes, elas indicam, todavia, um distanciamento entre os autores da compreensão do fenômeno,
ponto importante para o horizonte de pesquisa atual, que deve se voltar para o nível das relações e
tecnologias de poder implicadas nos desdobramentos contemporâneos da medicalização.
Palavras-chave: Medicalização. Illich. Iatrogenia médica. Normalização. Genealogia.
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CONVERGÊNCIAS ENTRE GOVERNABILIDADE E
POLÍTICAS PÚBLICAS
Maria Laís dos Santos Leite
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Doutoranda em Psicologia
Universidade Federal do Cariri
Servidora técnico-administrativa
marialaispsi@gmail.com
Geovane Gesteira Sales Torres
Universidade Federal do Cariri
Graduando em Administração Pública
geovanesalescrato@gmail.com
RESUMO
Dentre os conceitos e teorias que Michel Foucault se dedicou ao longo de sua vasta e relevante
obra, destacamos neste percurso de pesquisa os estudos do autor acerca dos diferentes modelos de
governamentalidade: desde a forma arcaica de governamentalidade presente no antigo poder pastoral,
passando pela moderna racionalidade governamental posta em funcionamento do século XVI ao século
XVIII pela razão de Estado, até chegar ao tipo liberal concebido em meados do século XVIII e sua inflexão
neoliberal atuante até nossos dias. Foucault, em meados dos anos 70, dedica-se a analisar a relação
entre as práticas governamentais e a criação de uma racionalidade política que, para além do modelo
jurídico, incide sobre a população e o território, dedicando-se com base nestas conjecturas a examinar
as diversas racionalidades políticas desenvolvidas na história do Ocidente. Nesse âmbito, a pesquisa
realizada objetiva analisar as relações entre o conceito foucaultiano de governabilidade e a noção de
política pública. Para alcançar os objetivos, realizou-se uma pesquisa bibliográfica do tipo narrativa
das obras “Microfísica do Poder”, “Nascimento da Biopolítica” e “Território, Segurança e População”,
de Michel Foucault e “Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos”, de Leonardo
Secchi; “Políticas públicas no Brasil” organizada por Gilberto Hochman, Marta Arretche e Eduardo
Marques e ainda: “A política pública como campo multidisciplinar” organizada por Eduardo Marques
e Carlos Farias e o Guia de Políticas Públicas de Xun Wu et al. Conclui-se que as confluências existentes
entre os conceitos de governabilidade e política pública dizem respeito, sobretudo, a três aspectos:
multiplicidade de áreas de incidência, variedade de atores e amplos instrumentos de concretização de
interesses. Portanto, a governabilidade preconiza: 1) Três tipos de governo; 2) Várias esferas de incidência
e atores; 3) Estratégias – instrumentos – no jogo político. Já a noção de política pública pressupõe: 1)
Distintos campos nos quais se buscam resolver problemas públicos; 2) Diferentes protagonistas nos
seus fluxos; 3) Recursos humanos, materiais e cognitivos intuindo exercer influência nos processos.
Palavras-chave: Governabilidade. Racionalidade governamental. Políticas públicas.
Governo das pessoas e das coisas.
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DA SOCIEDADE DISCIPLINAR À SOCIEDADE DE CONTROLE:
FORMAS DE RESISTÊNCIA CONTRA UMA FORMA DE VIDA FASCISTA
Michelle Fernandes de Araujo
Universidade Federal da Paraíba
Mestre em Filosofia
michellearaujof@gmail.com
RESUMO
Trata-se de apresentar uma questão que nosso tempo histórico nos coloca, a saber, como podemos
pensar formas de resistência em relação às formas de opressão no contexto do Biopoder (FOUCAULT,
1975), e como que estas formas de opressão modulam nossa subjetividade. Como que as novas
relações de poder se instalaram na vida em toda sua dimensão ética e estética? Se o Biopoder tomou
conta da vida em sua dimensão macropolítica e micropolítica, podemos resistir? Há outras formas de
vida possíveis? Neste trabalho, abordaremos em um primeiro momento a contextualização históricofilosófica da sociedade disciplinar, marcada pelas formas de punição à luz do pensador Michel Foucault,
para em um segundo momento problematizarmos a sociedade de controle que se investe cada vez
mais e de forma elaborada, novas tecnologias de controle. Há um poder fascista que se instala na gestão
dos corpos no âmbito de todas as formas de ser, sentir e agir; como nos alertará Gilles Deleuze: ‘Os
anéis de uma serpente são ainda mais complexos que os buracos de uma toupeira’ (DELEUZE, 1990).
Neste sentido, propomos uma reflexão dos aspectos gerais relativos à contemporaneidade a partir da
genealogia dos dispositivos disciplinares, pontuando o deslocamento tanto das formas de punição
como das relações de poder, no caso da sociedade disciplinar; para por fim, pensarmos novos modos
de resistência, existência e de engajamento artístico e político que nos distancie de uma forma de vida
fascista no âmbito da sociedade de controle.
Palavras-chave: Biopoder. Sociedade. Controle. Resistência.
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ESPETACULARIZAÇÃO DA INTIMIDADE E SUBJETIVAÇÃO DA
PERFORMANCE DE CAMGIRLS: ANÁLISE DO CASO DREAD HOT
Caio Lucas do Carmo Prado
Universidade Federal do Ceará
Graduando em Psicologia
clucasprado@gmail.com
Raimundo Cirilo de Sousa Neto
Universidade Federal do Ceará
Graduando em Psicologia
xrcirilox@gmail.com
RESUMO
Objetivamos discutir relevantes fenômenos psicossociais da contemporaneidade à luz do caso da
camgirl – que são mulheres protagonistas da atividade de exibição do corpo ou de prática de sexo online
através de filmagens com webcams – e youtuber Dread Hot, fomentando reflexões para a superação de
uma pedagogia pornográfica acrítica, a qual produz subjetividades sexuais docilizadas e roteirizadas.
Para compreensão do caso, foram analisados vídeos e comentários no canal de YouTube QG da Dread,
assim como visualização da atividade de Dread nas redes sociais e na plataforma de câmeras privativas,
leitura de notícias acerca do consumo de pornografia no Brasil e sobre o cotidiano de camgirls, sendo
isso articulado com visões sociais referentes aos regimes contemporâneos de visibilidade, extimidade e
espetacularização. Entendemos, portanto, que a educação sexual acrítica, disseminada massivamente,
constitui um modus operandi do prazer pela performance normalizadora e espetacularizada do sexo em
vídeos de conteúdo pornográfico e outras ferramentas. Mesmo diante de inúmeras forças tensionadoras
incidindo sobre os padrões repetitivos que produzem roteiros sobre o sexo, pouco se diferenciam
os papéis dos sujeitos envolvidos. Assim, evidenciamos a necessidade, tanto da compreensão das
composições e ressonâncias destes fenômenos no corpo social, quanto da afirmação da potência da
proposta de uma educação sexual e uma pornografia críticas, ou seja, comprometidas com o desejo de
cada sujeito em sua singularidade.
Palavras-chave: Subjetivação. Espetacularização. Pornografia. Educação sexual.
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FOUCAULT, PODER DISCIPLINAR E
PENALIDADE NA SOCIEDADE MODERNA
Cristhiane Lins Bezerra de Almeida
Universidade Regional do Cariri
Pós-graduanda em Direito Cosntitucional
cris_lba@yahoo.com.br
RESUMO
As investigações genealógicas do poder realizadas por Foucault marcam um importante deslocamento
em relação à tradição filosófico-política de compreensão do poder, que tende sempre a associá-lo à
questão do Estado, privilegiando este como a própria expressão do poder, de onde o poder se irradia por
todo o corpo social. Para Foucault, Estado e poder não são sinônimos. Foucault subverte essa maneira
tradicional de entender o poder, propondo um novo olhar sobre ele, uma maneira de concebê-lo que
não se limita ao Estado, mas que tenta localizá-lo em outros lugares do corpo social, em suas formas
mais regionais e concretas. Foucault percebe que inúmeras instituições presentes na sociedade são
investidas por formas de exercício de poder que não estão circunscritas ao Estado, embora possam ser
apropriadas por ele a fim de garantir sua sustentabilidade e efetividade. A partir da análise genealógica
do poder empreendida por Foucault no livro Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões, o
objetivo desse trabalho é entender em que termos o processo de suavização da punição foi possível,
compreender como se deu a emergência da instituição prisão como forma geral de punição a partir do
final do século XVIII e início do século XIX, tornando-se tão rapidamente aceita, substituindo os objetivos
dos reformadores e a lógica da teoria penal. Pretende-se ainda tratar como essa forma moderna de
exercício do poder, a qual Foucault nomeia disciplina, investiu os corpos em um processo de dominação
e sujeição responsável por torná-los dóceis e úteis (redução da resistência política, maximização do
aproveitamento econômico), aptos ao modo de vida das sociedades capitalistas, e qual é o papel dos
mecanismos punitivos nesse processo, que, mais do que regras emanadas formalmente do direito, têm
uma função social muito mais complexa. Por fim, compreender como o direito penal opera dentro desse
processo de sujeição dos corpos, peculiar à sociedade moderna, em que o par poder-saber, segundo
Foucault, é essencial para a efetividade dessa forma de exercício do poder.
Palavras-chave: Foucault. Poder. Estado. Punição. Disciplina.
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GENEALOGIAS DA INTERNAÇÃO EM GOFFMAN E FOUCAULT E
AS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS NO BRASIL
Willian dos Santos Souza
Universidade Federal do Piauí
Graduando em Psicologia
szawillian@gmail.com
Guilherme Augusto Souza Prado
Universidade Federal do Piauí
Professor adjunto do curso de Psicologia
guispra@gmail.com
RESUMO
A prática de internação tem diversas características que variam conforme o arranjo de forças e interesses
que a organiza. Goffman retrata como a internação é vivenciada pelos internos, de dentro de espaços
disciplinadores, denominados Instituições Totais. Ao passo que discutir a tecnologia disciplinar, Michel
Foucault aponta para a distribuição dos indivíduos no espaço, a administração do tempo e a correlação
entre corpo e gesto, destarte um corpo bem disciplinado é a base de um gesto eficiente, útil na medida
da sua docilidade. Assim, localizamos o problema da atual expansão das chamadas Comunidades
Terapêuticas, caracterizadas como instituições totais disciplinares, para tomar como objeto o Relatório
de Inspeção Nacional em Comunidades Terapêuticas – 2017, a partir das discussões levantadas nas
obras de Erving Goffman e Foucault. Com isto, visamos analisar parte da multiplicidade de forças
políticas e sociais imbricadas na retomada das práticas autoritárias de internação no campo da saúde
mental. Realizado em parceria pelo Ministério Público e o Conselho Federal de Psicologia, encontramos
no Relatório problemáticas descritas por Goffman e Foucault com relação ao controle do tempo
e à aplicação de punições como forma de disciplinarização dos internos. Enquanto uma espécie de
reedição do modelo manicomial, tais estabelecimentos regularmente desrespeitam direitos humanos
básicos, aplicando de maneira indiscriminada castigos e maus tratos, capazes de atingir o patamar da
violência, tortura e morte. Neste âmbito, destacamos o proeminente interesse da Associação Brasileira
de Psiquiatria na reconfiguração e ampliação da internação compulsória, que hoje ocorre através de
medida judiciária, seguindo na maior parte das vezes o formalismo as normas do código penal brasileiro,
indo radicalmente contra as premissas da Reforma Psiquiátrica, alimentando um discurso assentado no
risco e periculosidade encarnados pelos sujeitos internados. Por fim, é notório como o modelo asilar tem
recobrado forças nos últimos anos, principalmente por meios legislativos, encontrando na internação
compulsória uma forma de ocupar os espaços dominados pelo saber médico. Assim, as Instituições
Totais, repaginadas em suas roupagens e arquiteturas, resgata as características das que denunciadas
por Goffman e Foucault.
Palavras-chave: Internação. Goffman. Foucault. Instituições Totais. Comunidades Terapêuticas.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
GRAFFITI E JUVENTUDES:
NOTAS DE UMA GOVERNAMENTALIDADE A ESPREITA
Tadeu Lucas de Lavor Filho
Universidade Federal do Ceará
Mestrando em Psicologia
tadeulucaslf@gmail.com
Luciana Lobo Miranda
Universidade Federal do Ceará
Professora do Programa de
Pós-graduação em Psicologia
lobo.lu@uol.com.br
RESUMO
O presente trabalho trata de apresentar uma discussão fruto de uma pesquisa de mestrado em andamento
em Psicologia sobre o graffiti, juventudes e escola com implicações do conceito de governamentalidade
de Michel Foucault. Problematizamos a escola como um dispositivo onde subjetividades são produzidas
a partir das relações de poder e saber. Entendemos que a racionalidade na escola é constituída por
práticas discursivas e não discursivas e através destes, corpos são docilizados. Na escola, as produções de
graffiti autorizadas e não autorizadas estão presente nos muros, portas de banheiros, lousas, fachadas,
nas paisagens, cadeiras, dentre outros espaços de registros in lócus. Entende-se de forma geral por
graffiti, as produções de artes com estrutura estética de riscos, símbolos, imagens e letras (GITAHY, 1999).
Tais produções são apropriadas pelos jovens e passam a ser engendradas na cultura escolar em que
ambas podem sinalizar registros de liberdades, desejos e histórias de vidas (MARTINS, 2010). Foucault
ao introduzir o conceito de governamentalidade possibilitou uma lente problematizadora ampliada
na analítica do poder. Colocamos em cheque a produção ética que essa analítica produz interesses
instituintes sobre a vida e as condutas, possibilitando ler a sociedade sobre o prisma de uma soberania
para modos de vida disciplinar e de segurança. A governamentalidade diz de uma arte do governo
de condutas, as quais estão sempre a favor de um regime, sistema, prática social e constituição ética
subjetiva (FOUCAULT, 2008). Problematizamos as práticas de graffiti incorporadas pela chancela de
pedagogização nas escolas com as juventudes. Nesse ínterim, esta analítica se insere na pedagogia
no cerne da modernidade produzindo condições de formação educativa pautadas em duas vertentes:
por um lado, o governo com aplicação na ordem e no estabelecimento de condutas e formações
morais, e por outro a disciplina com uma emergência direta a instrução e efeitos políticos, implicando
diretamente na produção de subjetividades (NOGUEIRA-RAMIREZ, 2011). Através dessa lente teórica,
tensionamos no plano do cotidiano as experiências onde o graffiti tem sido operacionalizado a favor
de uma governamentalidade da juventude e do espaço escolar, onde tem produzido os modos de
subjetivação juvenis.
Palavras-chave: Graffiti. Escola. Juventudes. Governamentalidade. Subjetividade.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
JORNALISMO E BIOPOLÍTICA:
COMUNICAÇÃO CONSTRANGIDA
Prof. Dr. Joubert de Albuquerque Arrais
Docente efetivo – IISCA/UFCA
joubert.arrais@ufca.edu.br
RESUMO
O ano de 2017 antecipou muito do que estamos constatando em 2019 e que vivemos, recentemente, em
2018: um jornalismo sob coerção biopolítica. Lembremos que o projeto neoliberal é corporal (FOUCAULT,
1994), no sentido de ser no corpo que ele se consolida, ou seja, é a realidade biopolítica da sociedade
capitalista que se faz somática/corporalmente como discurso. No que foi dito sobre a performance
La Béte (“O bicho”), do coreógrafo brasileiro Wagner Schwartz, há dois anos, ela se tornou dispositivo
biopolítico do corpo nu. Foi nessa performance (um trecho descontextualizado) que se instaurou uma
falsa polêmica. A partir de uma foto em que uma criança, na presença da mãe, também artista, tocou
seu corpo nu. O artista foi acusado de pedófilo por um jornalismo descomprometido com a apuração e
checagem. A maioria das matérias não falaram que a mãe da criança é uma artista de dança, a coreógrafa
Elisabeth Finger, e não uma mãe comum, desavisada. Nessa ação, o corpo assume certas significações
sociais que denunciam sua precariedade codependente da precariedade da sociedade. Nisso corpo
e sociedade estão juntos, expostos e modelados por forças que se articulam social e politicamente
(BUTLER, 2015). Nesse sentido, defendemos a hipótese de que o jornalismo precarizado pela sociedade
da qual faz parte transforma sua noticiabilidade em uma comunicação constrangida no que, de fato,
poderia comunicar enquanto vínculo (SODRÉ, 2006). Assim, o corpo-artista torna-se, ele próprio, um
reality show desse jornalismo. Por isso nos parece crucial discutir as práticas e relatos entrelaçados dos
agentes jornalísticos e dos artísticos, a partir do texto opinativo “Como fabricar monstros para garantir
o poder em 2018”, de uma coluna de política (BRUM, El Pais, 2017), e da entrevista “Fui morto na internet
como se fosse um zumbi da série The Walking Dead”, do artista supracitado para esta coluna (SCHWARTZ,
2018), ambas como evidências de um não saber viver, diante de constatações de um não poder morrer.
Palavras-chave: Jornalismo e comunicação. Jornalismo e biopolítica. Comunicação constrangida.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
LOUCURA, LÓGICA MANICOMIAL E HIGIENIZAÇÃO SOCIAL:
ENTRE O ENCARCERAMENTO E A RESISTÊNCIA
José Lusmario Ramos de Oliveira
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio
Graduado em Psicologia
llusmario@gmail.com
Isaura Caroline Abrantes Silva
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio
Graduanda em Psicologia
isauracaroline@hotmail.com
RESUMO
Recentemente, no Brasil, tem-se notado um forte movimento que retorna à lógica de resolutividade
das demandas sociais através do enrijecimento das condutas e estratégias. O seguinte texto propõe
discutir, através de uma revisão bibliográfica, sobre a higienização social velada nas lógicas de
encarceramentos, padronizações e controles, com o principal subterfúgio a proteção da sociedade e/
ou dos próprios indivíduos considerados loucos. Portanto, diante do atual cenário social e político que
apresenta ascensão de ideologias e práticas conservadoras, arbitrou-se essencial fazer um resgate das
teorias foucaultianas sobre o encarceramento e a história da loucura, dialogando com o biopoder e as
formas de resistência, contribuindo assim para reflexões de formas de relações libertárias e autônomas.
Neste sentido, Butler (2015) argumenta sobre corpos passíveis de violência ao serem colocados à
margem do que é tido como normalidade. Normalidade esta que classes dominantes, através dos
dispositivos de poder, criam ao se sentirem ameaçadas, formando mecanismos para se proteger por
meio da higienização social e aprisionamento dos desviantes (FOUCAULT, 1972). No entanto, as relações
de poder se instauram não só por classes dominantes e dispositivos de poder e controle, instauram-se
e validam-se também nas relações cotidianas da base social, desviando do pensamento que apenas
os líderes e os dispositivos exercem poder, pois atravessa todo corpo social (FOUCAULT, 2014). Diante
disto, faz-se importante refletir sobre as sutis formas de domesticação e disciplinamento dos corpos
quando se trata da loucura, visando formas micropolíticas de emancipação e autonomia social.
Palavras-chave: Loucura. Lógica manicomial. Higienização Social. Resistência.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
MEDICALIZAÇÃO DOS CORPOS E O BIO-PODER NA ESSENCIALIZAÇÃO DOS
CORPOS FEMININOS DIANTE DA LEI N° 9.263/12/1996
Maria Clara Arraes Peixoto Rocha
Graduanda em Direito
mariaclararochaa@outlook.com
RESUMO
Este trabalho propõe-se a tencionar sobre a lei que trata do planejamento familiar e a esterilização
voluntária n° 9.263/12/96, na qual a legislação afirma que a realização do procedimento cirúrgico só
é permitida por pessoas com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos ou, pelo menos,
com dois filhos vivos, e na vigência de sociedade conjugal, a esterilização subordina-se da aprovação
expressa de ambos os cônjuges. Em virtude disso, a questão deste estudo pretende focalizar nos
questionamentos que correspondem à vida reprodutiva das mulheres, refletindo desse modo na
sua liberdade decisória sobre o próprio corpo, seus direitos civis e sociais. Desse modo, a pesquisa
qualitativa se utilizou de análises bibliográficas e documentais, como a averiguação da Ação Direta de
Inconstitucionalidade n° 5.097, com intuito de levantar discussões e esclarecimentos no que tange as
teorias de planejamento familiar, heteronormatividade, relações entre corpo e poder, além das hipóteses
relacionadas às concepções da imagética da figura feminina ser associada à maternidade compulsória.
No intuito de denotar que esse dispositivo legal obstaculiza inúmeras mulheres de dispor desse
método contraceptivo, ocasionando em muitos casos em gravidezes indesejadas. As circunstâncias e
motivações do estudo se consistem numa sequência de situações, fatos ou ações que, envolvem as
vivências e lutas das mulheres por tratamento igualitário no ordenamento civil, evidenciando-se assim,
urgente e necessária atenção ao tema.
Palavras-chave: Direitos Fundamentais. Autonomia Feminina. Bio-poder.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
MORTE IMPUNE E LUTO PROIBIDO EM
GIORGIO AGAMBEN E JUDITH BUTLER
Reginaldo Oliveira Silva
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB
rgnaldo@uol.com.br
RESUMO
Giorgio Agamben tece a genealogia da “vida nua”, no percurso que vai do homo sacer ao Muselmann,
do primeiro paradigma da política ocidental à fabricação do morto-vivo em Auschwitz, como vida
insacrificável e impunemente matável. Judith Butler segue argumento semelhante ao desenvolver
o conceito de “vida precária”, com o qual problematiza a seperação entre vulnerabilidade universal e
formas de produção da precariedade, a distinção entre vidas cujas perdas importam e as indignas de
pranto e luto. A finalidade da presente reflexão consiste em aproximar as concepções dos dois autores,
sob a hipótese de que em ambos trata-se da fabricação de vidas matáveis, sobre as quais pesa a proibição
do luto.
Palavras-chave: Agamben. Butler. Vida nua. Vida precária. Vulnerabilidade. Enquadramento.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
O BIG DATA E A GOVERNAMENTALIDADE ALGORÍTMICA:
NOVAS FORMAS DE PODER, DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA
Francisca Alana Araújo Aragão
Universidade Federal do Ceará
Mestranda em Psicologia
alanaaraujopsi@gmail.com
Dr. Pablo Severiano Benevides
Universidade Federal do Ceará
Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia
pabloseverianobenevides@hotmail.com
RESUMO
O trabalho discute a governamentalidade algorítmica a partir da análise de iniciativas brasileiras com o
uso do Big Data, associado à emergência de uma nova racionalidade, de uma nova discursividade e de
seus efeitos para os modos de governo e subjetivação nas sociedades contemporâneas. Abordaremos
essas questões a partir das seguintes iniciativas: Govdata, um projeto do Governo Federal para tomada
de decisões e estabelecimento de políticas públicas embasadas em dados; Detecta, técnica de
policiamento preditivo implementada no Brasil para identificação de padrões de crimes praticados em
cada região a partir dos registros realizados; Experian Serasa, marca brasileira de análises e informações
para decisões de crédito e apoio a negócios. O Big Data hoje funciona como conjunto exponencial
de dados que tem o propósito de mineração de dados e criação de perfis. A partir disso, Rouvroy
introduz a noção de uma governamentalidade algorítmica: um governo através dos dados. Tratarse-ia, pois, de um desdobramento da governamentalidade neoliberal através da coleta, agregação
e análise automatizada de dados em quantidade massiva de modo a modelizar, prever e afetar, por
antecipação, os comportamentos possíveis. Dessa forma, o conhecimento não é mais produzido sobre
o mundo “concreto”, “empírico” ou “observável”, mas a partir de um mundo digitalizado. Em seus usos,
as correlações de dados reivindicam a condição de evidência, veracidade e rigor. Contudo, O’Neil e
Crawford argumentam que a confiança depositada na neutralidade dos dados legitima a reprodução de
estereótipos e coadunam com a atualização das formas de controle e constrangimentos dos sujeitos. O
caráter axiomático de suas conclusões é afirmado sob pretexto de esterilizadas de toda subjetividade,
ideologia e normatividade. O que estabelece, assim, um regime de verdade que atualiza a função de
dominar aleatoriedades e controlar os riscos da população. A noção de que “os dados falam por si”
aparece como condição de possibilidade para o uso das correlações como critério de tomada de decisão
nos mais diversos âmbitos.. Estamos, portanto, diante de uma nova relação com o conhecimento e de
uma transmutação na ordem do saber que já vem manifestando seus efeitos nos modos de governo e
subjetivação presentes da sociedade brasileira contemporânea.
Palavras-chave: Big Data. Governamentalidade Algorítmica. Subjetivação. Racionalidade Neoliberal.
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I Colóquio Interlocuções Foucaultianas - Subjetividades: Resistência e Experiências Éticas | Sumário
O ESTADO E A POLÍTICA NA VISÃO DE FOUCAULT:
UMA ABORDAGEM INTRODUTÓRIA
Francisco Aristides Martins Furtado
Universidade Estadual Vale do Acaraú
Graduando em Filosofia
aristidesfurtado@gmail.com
Mária Tânia Rodrigues
Universidade Estadual Vale do Acaraú
Graduada em Filosofia
maratania14@hotmail.com
RESUMO
A seguinte pesquisa aborda aulas ministradas no College de France, de janeiro a abril de 1978 pelo
filósofo francês Michel Foucault. De início, buscaremos explicar o termo utilizado pelo autor como a razão
de Estado, partindo do problema do biopoder, a fim de chegarmos ao pressuposto dos mecanismos de
poder como ponto de partida para nossa investigação, saindo do soberano e procurando uma forma
de governo que governe, controle e assegure a população. Na visão foucaultiana, a soberania se dá
em um território, e este tem emergência de tecnologia de segurança. Já a disciplina é envolvida em
cada sujeito, em seu corpo, surgindo assim uma combinação sujeito-objeto. O principal objetivo dessa
pesquisa é tentar especificar essa nova tecnologia de poder, que tem por objeto a população, obtida
através de mecanismos disciplinares e cuja tecnologia visa a segurança indissociável estudada nas
obras a seguir por Foucault. A metodologia utilizada foi a leitura de algumas obras do autor como “Em
defesa da sociedade”, “Segurança, território, população” e alguns textos base, de comentadores. Ao fim,
concluímos que, para Foucault, o estado com todo seu poder vai ser o grande construtor da conjuntura
política, iniciada em outra época, mas revisto por ele através das relações sociais. O fim do pastorado
para a chegada de um governo político. Contudo, não esqueçamos de que essa é apenas uma pesquisa
com dados iniciais dos resultados aos quais chegou Foucault com relação a sua análise das estruturas da
sociedade contemporânea, e que jamais poderemos conceituar essa análise referente aos mecanismos
de poder como uma teoria geral do poder.
Palavras-chave: Poder. Razão de estado. Sociedade.
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O NEOLIBERALISMO E AS MUTAÇÕES DO PODER OU PARA ALÉM DO PODER
BIOPODER: DIÁLOGOS ENTRE FOUCAULT E BYUNG-CHUL HAN
Heribaldo Lopes Maia Neto
Universidade Federal de Pernambuco
Graduando em História
maia.heribaldo@gmail.com
Raíza Catherine Cavalcanti Romero
Universidade Federal de Pernambuco
Graduada em Psicologia
raizaromero8@gmail.com
RESUMO
A categoria de biopoder, desenvolvida por Michel Foucault, dá conta de explicar a dinâmica do controle
social no capitalismo – em sua época industrial. Técnicas disciplinares visam o controle dos corpos no
espaço, nos gestos e até memso na alma. Buscavam criar um sujeito obediente e adaptado ao mundo
do capitalismo industrial em suas mínimas nuances: no trabalho, na vida familiar, na sexualidade e,
principalmente, no campo discursivo. Essas técnicas de poder, por um lado criaram e administraram
um sujeito produtivo para a acumulação de capital e, por outro lado, minimizaram as possibilidades
de resistência política, isso graças a uma topologia do poder ao mesmo tempo translúcida, duluída,
altamente enraizada e onipresente no corpo social. Contudo, levando em consideração que o mundo
contemporâneo mudou bastante e que não fazia parte da pretenção de Foucault dar conta da
totalidade da dinâmica do movimento da História em sua teoria, podemos analisar que tais mudanças,
principalmente as associadas com o surgimento do neoliberalismo, apotam para uma nova dinâmica do
poder – que apesar de não anular as proposições foucaultianas, nos apontam para uma nova topologia
do poder, chamada pelo pensador germano-coreano Byung-Chul Han de psicopoder. O objetivo
é abrir um diálogo possível ente Foucault e Han para: 1) mostrar que Foucault não pretendia tornar
sua teoria atemporal e universal, por isso devemos rever os processos históricos afim de analisar as
possíveis mudanças no poder, 2) partindo de Han, fazer um diagnóstico do mundo contemporâneo e
as dinâmicas do psicopoder e 3) apontar como ambas as analíticas do poder não são excludentes, mas
complementares e frutos de processos históricos específicos.
Palavras-chave: Poder. Neoliberalismo. Disciplina. Biopoder. Psicopoder.
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“PAI, AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE DE VINHO TINTO DE SANGUE”:
BIOPODER, FASCISMO E DOMESTICAÇÃO DOS CORPOS
Isaura Caroline Abrantes Silva
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio
Graduanda em Psicologia
isauracaroline@hotmail.com
José Ricardo de Sousa Santana
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio
Graduado em Psicologia
josericardopsi1@gmail.com
RESUMO
Ademais, para Goodman (1994) compreende que as forças repressoras são atitudes socialmente
construídas e por isso possuem uma função social, configuram-se nas mãos do fascismo como uma
tentativa de manter o contrato social. Ao mesmo tempo enfatiza a importância da experiência. Então é
de suma importância que se indague: o atual contrato social é de fato o melhor possível? A importância
do estudo é justificável devido a atual conjuntura sócio-política, observando-se a ascensão do fascismo
contemporâneo, do conservadorismo e de relações repressivas em governos totalitários. Desse modo,
esse estudo se propõe a ser um ato libertário de contraposição a um sistema normativo de poder
centralizado. O objetivo da pesquisa é problematizar a relação entre fascismo, biopoder e domesticação
dos corpos. Para isso, utilizando-se das teorizações foucaultianas e de explorações sobre o fascismo
a partir de uma revisão bibliográfica. Destarte, de de mobilização e utilização do desejo das massas,
atentando para o fato de que o fascismo se acordo com Foucault (2013), é necessário refletir sobre como
a presença do fascismo como forma encontra em cada um e em todos, incidindo sobre as condutas
cotidianas, fazendo com que o poder seja amado, desejando também a dominação e a exploração. Em
complementaridade a isso, conforme Foucault (2014) ressalta-se que o biopoder - governo dos corpos
-, se divide em anátomo política (disciplina das condutas dos dos corpos individuais) e biopolítica
(governamentabilidade de multidões no quesito docilidade-utilidade), ambos interligados ao fascismo.
Mergulhado em um campo político, o corpo é alvo de relações de poder e dominação, de vigilância e
punição, circunstâncias em que a violência se organiza de forma direta e física e/ou sutilmente elaborada
e tecnicamente organizada em um sistema de sujeição às normas, submissão e exploração produtiva.
Todavia, como aponta Revel (2005) a partir das elucubrações foucaultianas, a resistência é atrelada a
transgressão, inseparável das relações de poder, responsável por criar espaços agonísticos de luta e de
transformação. Conclui-se como uma ética possível, que esta incentive a criar espaços de variabilidade
experiencial como também acolhimento ao estranho, tanto quanto um ato libertário como uma forma
de resistência a essa dimensão moral.
Palavras-chave: Biopoder. Fascismo. Domesticação dos corpos.
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POLÍTICA CULTURAL E GOVERNAMENTALIDADE:
A PRODUCÃO DE UM SABER-PODER SOBRE
O SISTEMA NACIONAL DE CULTURA
Alexandre Barbalho
Universidade Estadual do Ceará
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea
alexandrealmeidabarbalho@gmail.com
RESUMO
Compreendendo governamentalidade ou biopolítica como o exercício do poder do Estado sobre o
corpo coletivo da população, em especial por meio de políticas públicas, o presente trabalho discute
a formação de um saber sobre o Sistema Nacional de Cultura (SNC) de modo a dotá-lo de um poder e
assim ser incorporado pelos gestores, produtores e criadores culturais como uma política legítima. O
referido Sistema vem sendo implementado pelo Ministério da Cultura desde o primeiro governo Lula
(2003-2006) e busca articular em lógica sistêmica as políticas culturais federais, estaduais, municipais
e do Distrito Federal, por meio da participação não apenas dos gestores públicos, mas também da
sociedade. O trabalho procura, portanto, responder as seguintes questões: quais as condições históricas
e discursivas que possibilitaram a emergência do SNC como um saber e uma política pública? Como o
SNC se tornou inteligível e como alguém pôde apropriar-se e falar dele? Como procedimento teóricometodológico, recorreu-se à perspectiva arqueológica proposta por Michel Foucault, o que demandou
constituir um corpus coerente de documentos a partir do acúmulo de discursos sobre o Sistema de
modo a estabelecer a história dessa prática discursiva, a do SNC, e a instauração de sua positividade. Os
discursos foram trabalhados desde o interior, identificando e agrupando um conjunto de elementos,
estabelecendo relações e reunindo-os segundo níveis de pertinência. Para análise desse domínio
discursivo, foi preciso compreender o enunciado na sua singularidade, aquilo que explica porque só ele
pôde ocupar seu lugar: suas condições históricas de existência, seus limites, suas correlações com outros
enunciados e os enunciados que exclui. Nesse sentido, identificou-se quem falava sobre o SNC, ou seja,
o titular do discurso. Em seguida se descreveu os lugares institucionais do discurso; onde ele obtinha
sua legitimidade e seu ponto de aplicação; e, por fim, como os discursos se relacionavam. O intuito
foi desvendar a rede conceitual do SNC que se formou a partir das regularidades intrínsecas do seu
discurso e como o Sistema se transformou em um tema, com determinada organização de conceitos,
agrupamento de objetos e tipos de enunciação, e em uma estratégia discursiva.
Palavras-chave: Política Cultural. Sistema Nacional de Cultura. Arqueologia. Discurso.
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PRAZERES ARTIFICIAIS
Debora Klippel Fofano
Universidade Federal do Ceará
Doutoranda em Educação - Filosofia e Sociologia da Educação
deborafofano@hotmail.com
RESUMO
O desejo ingênuo de opor-se a todas as formas de violência, da física e direta ao extermínio em massa,
do terror à violência ideológica, dos racismos à citação ao ódio, não vai além da preocupação da atitude
neoliberal que coaduna com o domínio biopolítico. S. Žižek é um autor que joga luz em algumas
questões como as que apresentamos nesse trabalho, ao afirmar, por exemplo: “A caridade é a máscara
humanitária que dissimula o rosto da exploração econômica”. Nesse contexto, percebemos o ponto
que a violência toca a política, a biopolítica e a pós política, e essas noções se sobrepõem, restando
a administração da vida, afirmando ao nível zero a política. Tomando por base o filosofo Agamben,
Žižek redesenha o que é biopolítica e a pós-política. É uma política que tem a pretensão de abandonar
os combates ideológicos para se centrar, na gestão e na administração especializadas, por sua vez
a biopolítica teria como seu objetivo a regulação da segurança e do bem-estar das vidas humanas.
Como nos lembra Peter Pál Pelbart , Žižek nos expõe a uma espécie de espetáculo anêmico da vida
se arrastando como uma sombra de si mesma, visto que almejamos uma existencia asséptica, indolor,
prolongada ao máximo, onde até os prazeres são controlados e artificializados: café sem cafeína, cerveja
sem álcool, sexo sem sexo, guerra sem baixas, política sem política, a pós política, a era da pós verdade.
Todos nós que arrastamos nossa sombra de vida como mortos vivos. Por isso que em tempos atuais,
em uma séria crítica a pós-modernidade, a única maneira de introduzir paixão em alguns sujeitos é
mobilizar pelo medo: medo da criminalidade, imigração, depravação, catástrofes, surgindo assim uma
liderança de uma multidão paranoica que se deixa conduzir pela ideia de tolerância e benevolência
aparente. Sendo assim entendemos que tratar de ideologia e violência relacionadas nesse sentido, é
assumir uma postura crítica e pensar em um ato político que possa radicalmente mudar o estatuto
epistêmico em que o processo de vida se encontra, levando-se em consideração o contexto do capital
e da biopolítica para não cair nas armadilhas do tipo citadas.
Palavras-chave: Ideologia. Violência. Biopolítica. Artificial.
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RACISMO EM FOUCAULT E MBEMBE:
UMA ABORDAGEM DECOLONIAL
Leandro Alves
Universidade Federal do Ceará
Mestrando em Educação
alvaresleandro10@gmail.com
RESUMO
Este trabalho aborda a visão de Michel Foucault sobre o racismo, apresentada no curso Em defesa da
sociedade: curso no Collège de France (1975/1976), como uma tecnologia destinada a permitir o exercício
do biopoder. Sua genealogia intra-europeia ocidental no cruzamento entre a teoria biológica do século
XIX e o discurso do poder, o direito soberano de “fazer morrer e deixar viver” estabelecido através de
cesuras no contínuo biológico a que se direciona o biopoder. O racismo, entendido por Foucault como
a condição para o exercício do direito de matar em um Estado biopolítico, aparece, para Mbembe, como
a base para a necropolítica ou, de maneira resumida, a submissão da vida ao poder da morte e tem
suas primeiras ranhuras na modernidade/colonialidade do potentado colonial, no espaço econômico,
disciplinar e punitivo da plantation e da colônia. Após essa primeira abordagem do racismo na teoria
foucaultiana e de Mbembe, apresentamos uma genealogia alternativa do racismo perspectivada no
pensamento de Quijano, Grosfoguel, Dussel, Wallerstein e Boaventura de Souza Santos, autores do
chamado “giro decolonial” que pensam a constituição da modernidade/colonialidade fora dos centros
ocidentais e a partir do ponto de vista do Sul Global. Para essa corrente de estudiosos, o decolonialismo
é entendido como uma proposta epistêmica, teórica e política que pensa a genealogia do sistemamundo moderno capitalista como intrínseca à experiência colonial e a ideia de raça. Colocada como um
dispositivo organizador do sistema-mundo moderno/colonial, a raça aparece como elemento básico
que intersecciona os pontos de toque e as linhas de fuga entre racismo, escravidão, colonialismo e
capitalismo. Por fim, essa intersecção é exposta a partir do que Mbembe chamou de devir-negro do
mundo, a condição a que foram submetidas as pessoas de origem africana no regime de escravidão euroamericano, denominadas negras pela efabulação/dominação do colonizador, e a possibilidade, cada
vez mais normalizada dentro do regime neoliberal, de aplicabilidade dessa condição as humanidades
subalternas, os precarizados do mercado e da dívida, submetidas as práticas biopolíticas e as premissas
constantes de acumulação primitiva e de superexploração econômica dos seres humanos no regime do
capital.
Palavras-chave: Racismo. Biopolítica. Necropolítica. Modernidade/Colonialidade. Decolonialismo.
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FUNDAMENTALISMO NO GOVERNO BOLSONARO:
DISCURSOS E CONTRADISCURSOS
Sandson de Souza Costa
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN/GEDUERN)
Sandson314@gmail.com
Francisco Paulo da Silva
fpaulinhos@gmail.com
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN/GEDUERN)
RESUMO
O Governo Bolsonaro vem demonstrando uma tendência fundamentalista que se marca em
seus discursos e ação política. Isso tem se manifestado de forma recorrente em enunciados que
discursivizam o professor e a educação como propagadores de ideias que ameaçam a concepção de
familia, o modelo de Estado e Sociedade defendidos pe por esse governo.Com foco nesse contexto,
este trabalho se propõe a analisar elementos que caracterizam o discurso fundamentalista que subjaz
à produção discursiva deste Governo sobre o professor e a eduação. Fundamentado na Análise do
Discurso, especialmente nas contribuições de Michel Foucault para o estudo do discurso, do poder e
das resistências, foram selecionados, como corpus, enunciados que circularam em postagens do Twiter
de representantes do governo e de seus opositores, de modo a descrever e interpretar mecanismos
constitutivos do interdiscurso das formações discursivas em confronto político na atualidade. A análise
torna-se relevante, a medida que possibilita conhecer os elementos caracterizadores desses discursos
e as estratégias utilizadas em cada uma dessas formações discursivas. Uma análise preliminar do corpus
indica que, do ponto de vista do Governo, se verifica a presença de um discurso fundamentalistareligioso, conservador e moralista, que objetiva denegrir a imagem do professor e da educação, e do
ponto de vista da oposição, se inscreve um discurso de resistência na luta pela valorização do professor
e em defesa da educação como prática da liberdade e da constituição ética do sujeito.
Palavras-chave: Discurso. Fundamentalismo. Professor. Educação. Resistências.
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TECNOLOGIAS DOS “BONS COSTUMES”:
ESPAÇOS, CORPOS E PROSTITUIÇÃO EM FORTALEZA NA
PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX
José Humberto Carneiro Pinheiro Filho
Universidade Federal de Pernambuco
Doutorando em História
hpf1808@gmail.com
RESUMO
Nas primeiras décadas do século XX, certos usos de corpos e espaços na cidade de Fortaleza emergiam
como “problema” em discursos e práticas. Um deles foi nomeado e classificado de prostituição. Uma
articulação de formas materiais e não materiais, textuais e não textuais para nomear, classificar e gerir
corpos e espaços como prostituição na primeira metade do século XX em Fortaleza configurou-se em
textos jornalísticos, reclamações na imprensa, registros jurídicos, administrativos e ações policiais.
Penso essa articulação discursiva e não discursiva a partir da hipótese de um funcionamento da cidade
pornotópica. Ou seja, a classificação dos usos dos corpos e dos lugares do chamado “comércio sexual”
em Fortaleza no período definido acima e sua produção de noções de “(des)ordem urbana” e de
subjetividades numa relação de corpos e espaços da sexualidade na e como cidade. Com essa perspectiva,
pretende-se contribuir para pensar a história de um espaço urbano como uma biotecnologia do sexo,
como dispositivos da sexualidade, com suas configurações legais, normativas e técnicas na constituição
de visibilidades, dizibilidades e significados sexuais nas práticas urbanas. Os sujeitos classificados nessa
cidade pornotópica poderiam se refazer (escapar) colocando-se em outras definições de trajetórias
ou mesmo de classificações, como subjetividades que não seriam (ou não seriam exclusivamente) de
prostitutas, por exemplo, não se reconhecendo nessas disposições, e espaços que seriam reconhecidos
como estabelecimentos comerciais ou quartos para dormir, e não prostíbulos.
Palavras-chave: Fortaleza. Sexualidade. Corporeidade. Espacialidade.
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A MORTE DO REI E À ESPREITA DA VIGÍLIA:
OLHARES E FUGAS
José Wagner de Almeida
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE
RESUMO
O presente artigo apresenta uma discussão referente as questões da biopolítica no Brasil no início do
século XXI, tomando como foco de análise categorial o fenômeno do avanço da extrema direita no
país - assentado numa narrativa moral judaica cristã, com composição hibrida, política-economia e
sexualidade. Foucault nos serve neste trabalho com sua obra – O nascimento da Biopolítica – ao nos
esclarecer as teias e construções discursivas de agentes e agencias, teologicamente estruturado para
esclarecer, convencer e formar. Defendemos a hipótese de que não há uma cisão entre o pensar e a
construção discursiva do discurso referente, mas uma manifestação consentida pelos sujeitos dispostos
a obedecer e comprometer-se com um imperativo que é mercadológico, assentado numa racionalidade
econômica neoliberal. É nessa consideração que entra a história do duplo papel indispensável para
a análise dos discursos: a relação saber/poder como imperativo regulador produzindo desta forma,
sujeitos da construção de “regimes de verdade”.
Palavras-chave: Biopolítica no Brasil. Construções discursivas. Análise dos discursos.
Regimes de verdade.
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BIOPOLÍTICA E CUIDADO DE SI NA
FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL E CONTINUADA:
O DISCURSO OFICIAL E O ACADÊMICO
Marcos de França
Universidade Regional do Cariri
Doutor em Linguística
marcos.franca@urca.br
RESUMO
Entre as políticas públicas de governo voltadas para a educação, está aquela da edição das Diretrizes
Curriculares para a formação de professores na graduação (a formação inicial) e a preocupação com a
formação de quem já está no campo de trabalho (a formação continuada). Essa constatação se deu no
âmbito de nossa pesquisa de doutorado ao analisarmos os documentos referidos. Verificamos que o
discurso norteador do documento oficial, visto como uma ação biopolítica, aponta para um cuidado
de si que deve ser assumido pelo professor em formação, pelo professor formador e pelo professor
atuante no Ensino Básico. Temos por objetivo, portanto, discutir a formação docente no curso de
Letras-português licenciatura a partir da análise de alguns projetos pedagógicos de curso (PPC) de
Universidades públicas. Nossa discussão é no sentido de mostrar que nos referidos PPC, por força das
orientações das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Letras (DCCL), há uma tendência, estabelecida
pelos jogos de verdade que o momento histórico-político impõe, para que o profissional das letras
seja um professor-pesquisador e que cuide de sua formação profissional buscando estar sempre em
contínuo processo de formação. Nesse sentido, percebemos que se quer induzir o sujeito-professor
àquilo que Foucault denominou de governo de si, ou seja, cuidar melhor de si, como profissional, para
cuidar melhor dos outros, os sujeitos-alunos.
Palavras-chave: Biopolítica. Cuidado de Si. Formação Docente.
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DIRECIONAMENTOS IDEOLÓGICOS E DISPUTA DE PODER NAS
RELAÇÕES ENTRE MÍDIA E SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:
O JUDICIÁRIO COMO AGENTE POLÍTICO
David Barbosa de Oliveira
Universidade Federal do Ceará
Doutor em Direito
dvdbarol@gmail.com
RESUMO
Essa pesquisa se propõe a investigar, no atual contexto, como o discurso midiático direciona os
julgamentos da mais alta corte de justiça do país, bem como observar como essas decisões desse tribunal
são representadas por três periódicos: Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo e O Globo. Acreditamos
que esses periódicos são replicados nas redes sociais e fomentam a opinião pública nacional. É certo
que esse é um fenômeno novo que põe o judiciário em um papel de destaque no campo político. A
relação entre mídia e judiciário se intensificou, nos últimos anos, e as idas de Ministros às câmeras a fim
de influir em julgamentos e pautar a vida política nacional é um fenômeno que não pode permanecer
alheio aos estudos jurídicos e políticos. Para dar conta desse escopo, utilizaremos o referencial teórico
em Foucault e metodológico na Análise de Discurso Crítica para, por meio de uma investigação
discursiva, evidenciarmos, a construção dos sentidos da atuação do STF junto a mídia e vice-versa,
identificando as estratégias ideológicas, as relações de poder que lhe transpassam e o interdiscurso
jurídico midiático. Deste modo, temos como objetivos: entender quais as formas de política exercidas
pelo e no judiciário, em um sistema neoliberal, que tipos de agenciamento e cartografias podem ser
feitas, bem como perceber de que modo o judiciário gerencia o poder e o governo. Para alcançar esses
escopos utilizamos metodologia de cunho qualitativo pautada na tríade básica: observação, pesquisa
em arquivos e entrevistas. Por fim, buscamos com essa investigação contribuir para a compreensão de
que as tramas ideológicas e os direcionamentos dos discursos midiáticos possam ser visto de forma
crítica e que possamos dar o trato devido a mudança social com o ingresso de um novo agente político
no Brasil: o judiciário.
Palavras-chave: Mídia. Análise do Discurso. Judiciário. Direcionamentos ideológicos.
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