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“China y el renacimiento de África”, en J. Vadell (org.), A expansão econômica e geopolítica da China no século XXI. Editora PUC Minas, Belo Horizonte, 2018, págs. 139-183.

© 2018 Os Autores. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Grão-Chanceler • Dom Walmor Oliveira de Azevedo Reitor • Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães Vice-reitora • Patrícia Bernardes Pró-reitor de Pesquisa e de Pós-graduação • Sérgio de Morais Hanriot Editora PUC Minas Diretor: Paulo Agostinho Nogueira Baptista Coordenação editorial: Cláudia Teles de Menezes Teixeira Comercial: Maria Aparecida dos Santos Mitraud Revisão: Michel Gannam Capa, projeto gráico e diagramação EDITORA D’PLÁCIDO Conselho editorial: Edil Carvalho Guedes Filho, Eliane Scheid Gazire, Flávio de Jesus Resende, Jean Richard Lopes, Leonardo César Souza Ramos, Lucas de Alvarenga Gontijo, Luciana Kind do Nascimento, Luciana Lemos de Azevedo, Márcio de Vasconcelos Serelle, Pedro Paiva Brito, Rita de Cássia Fazzi, Rodrigo Baroni de Carvalho, Sérgio de Morais Hanriot, William César Bento Régis. Editora PUC Minas Rua Dom Lúcio Antunes, 180 Coração Eucarístico 30535-630 Belo Horizonte MG Fone: (31) 3319-9904 editora@pucminas.br www.pucminas.br/editora Todos os direitos reservados pela Editora PUC Minas. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a autorização prévia da Editora. Letícia Robini de Souza - capa (Imagem de Kazimir Malevich [Black cross on a red oval, 1927 - Detalhe] Licenciado pelo Wikiart. Bárbara Rodrigues da Silva - diagramação Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais E96 A expansão econômica e geopolítica da China no século XXI: diferentes dimensões de um mesmo processo / organizador Javier Vadell. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2018. 288 p.:il. Bibliograia. ISBN 978-85-8229-076-7 1. Geopolítica - China. 2. Planejamento regional. 3. Relações internacionais - Aspectos sociais - China. I. Vadell, Javier. II. Título. CDU:911.3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 7 Javier Vadell 1. A NOVA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS CHINESA E A ASCENSÃO DO PAÍS: O CONCEITO DE TIANXIA 13 Marcos Costa Lima 2. O SONHO CHINÊS VERSUS O SONHO AMERICANO NO REORDENAMENTO MUNDIAL: MESMA CAMA?; SONHOS DISTINTOS? 43 Li Xing Timothy Shaw 3. INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO CHINÊS NA UNIÃO EUROPEIA 73 Yuan Ma Henk Overbeek 4. EL PAPEL DE CHINA EN EL ACTUAL PROCESO DE RECONFIGURACIÓN GEOECONÓMICA Y GEOPOLÍTICA EN AMÉRICA LATINA. UN ANÁLISIS DE SUS IMPLICACIONES EN LAS DINÁMICAS DE LA COOPERACIÓN SUR-SUR 103 Giuseppe Lo Brutto 5. CHINA Y EL RENACIMIENTO DE ÁFRICA 139 Rafael Domínguez 6. A REEMERGÊNCIA CHINESA E OS CONFLITOS TERRITORIAIS NO MAR DO SUL DA CHINA 185 Mariana Burger 7. O BRASIL E A CHINA NA ATUALIDADE: PERSPECTIVAS SOBRE O APROFUNDAMENTO DA COOPERAÇÃO DESIGUAL A PARTIR DO COMÉRCIO, DOS INVESTIMENTOS E DO CRÉDITO 205 Javier Vadell Pedro Neves 8. A INTERNACIONALIZAÇÃO DO RENMINBI E A ASCENSÃO DO PODER MONETÁRIO CHINÊS 235 Aline Regina Alves Martins 9. O ATUAL MOMENTO DO DESENVOLVIMENTO CHINÊS: PLANEJAMENTO REGIONAL, INVESTIMENTO E COMÉRCIO INTERNACIONAL 259 Alexandre Cesar Cunha Leite SOBRE OS AUTORES 285 INTRODUÇÃO Javier Vadell A edição do livro A expansão econômica e geopolítica da China no século XXI: diferentes dimensões de um mesmo processo foi possível graças ao produtivo debate ocorrido no III Seminário sobre as Potências Médias, organizado pelo Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas e pelo Instituto de Estudos da Ásia (IEA) da Universidade Federal de Pernambuco, com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em agosto de 2016, no Campus Coração Eucarístico da PUC Minas. O Grupo de Pesquisa sobre as Potências Médias (GPPM) da PUC Minas vem organizando seminários e participando de diversos eventos, encontros e simpósios sobre essa temática. Nessa oportunidade, a jornada esteve dedicada a um assunto da maior relevância nas relações internacionais. Trata-se dos desdobramentos do processo de ascensão da República Popular da China (RPC), especiicamente nas suas dimensões econômicas e políticas. A ascensão, a emergência – ou reemergência – da China na economia e na política internacional constituem um dos maiores e mais importantes acontecimentos dos últimos 15 anos nas relações internacionais e marcarão deinitivamente o século XXI. Como destaca Li Xing 7 (LI, 2016), desde a chegada ao poder de Deng Xiaoping em inais da década de 1970, o governo chinês sob a sua liderança esteve determinado a promover o grande objetivo de desenvolvimento nacional, resumido em: desenvolver a economia nacional, incrementar a produção e a produtividade, elevar a qualidade e standard de vida da população e promover a legitimidade da liderança do Partido Comunista da China (PCC). A estratégia adotada durante o período das reformas na década de 1980 até os anos 2000 fundamentou-se no ditado de Deng Xiaoping: “observe cautelosamente, mantenha o baixo peril, espere seu momento, enquanto obtenha algo que foi realizado”1. Como lembra Li Xing, a expressão idiomática é “Tao Guang Yang Hui”, que signiica “oculte o brilho e cresça na escuridão”2, que em outros termos seria manter um peril baixo no decorrer do processo de reformas e crescimento, uma escolha estratégica de “esperar o momento quando a China estiver pronta para se airmar na esfera global e estar preparada para realizar o desaio” (LI, 2016). O debate a respeito do modelo de desenvolvimento da RPC a partir do começo da liderança de Deng Xiaoping é motivo de debates e controvérsias. Não obstante, ele não seguiu os postulados neoliberais e não aderiu ao Consenso de Washington. O modelo, denominado de “socialismo com características chinesas”, seguiu uma trajetória sui generis, produto de suas características territoriais, demográicas e sociais, nunca renunciando à soberania no seu processo de ascensão. Após o fim da Guerra Fria, a grande expansão da globalização neoliberal adquiriu duas características essenciais: por um lado, como destaca Overbeek (2016, 1 2 “Watch cautiously, keep a low proile, bide your time, while also get something accomplished.” “To hide brightness, and to nourish obscurity.” 8 p. 311), uma acelerada expansão e intensificação da acumulação capitalista. Com maior precisão, “expansão refere à propagação espacial das relações capitalistas”, que implica a incorporação de regiões aos “circuitos de circulação de capital”. Por outro lado, a intensificação significa o processo de aprofundamento da commodification das economias capitalistas mediante as quais “novas esferas da existência humana estão sujeitas aos propósitos do lucro privado e da disciplina das relações do mercado” (OVERBEEK, 2016, p. 311). Esse processo de expansão e intensificação não é unívoco nas diferentes geografias do globo, mas está atravessado e condicionado pelas contradições próprias do processo de acumulação capitalista, pelas dinâmicas e particularidades políticas regionais e nacionais e pelo grau de aceitação e implementação nas sociedades. Embora as reformas de abertura econômica terem sido implementadas em grande parte dos países como uma onda incontrolável, o caso da RPC surge como um modelo de desenvolvimento muito peculiar nesse cenário, condicionado pelos fatores apontados. No ano de 2001, um ano após a RPC ter ingressado à Organização Mundial do Comércio (OMC), o PCC inaugurou oicialmente a sua política de going-out (PARELLO-PLESNER, 2016; FRIEDBERG, 2006; CUI, 2016), estimulando o comércio e os investimentos externos, assim como a internacionalização de empresas chinesas. Em 2009, a RPC formulou uma estratégia de política externa que identiicava as relações com o Sul Global como prioritárias (LEI, 2015), levando em consideração: a) a prioridade de associações estratégicas com os países do Sul Global (JIANG, 2015); b) a crescente importância dos vínculos econômicos; e c) a possibilidade de alianças com os países do Sul Global nas diferentes instituições e organizações internacionais. 9 Nesse cenário de ascensão econômica e política, este livro aborda algumas dimensões que valem a pena salientar. No Capítulo 1, o professor Marcos Costa Lima explora o conceito chinês de Tianxia e suas implicações para as relações internacionais. O texto apresenta uma relexão a partir de um conceito que forma parte de uma visão de mundo de um povo com uma história de mais de 5.000 anos. Costa Lima salienta a tripla acepção da expressão “Todos sob o Céu”, ou Tianxia: 1) a terra, ou o mundo sob o céu; 2) “os corações de todas as pessoas” (民心); e 3) “a vontade geral do povo” e suas complexas imbricações com o pensamento ocidental e as relações internacionais. O Capítulo 2, de Li Xing e Timothy Shaw, foca na complexa, interdependente e delicada relação entre os Estados Unidos e a República Popular de China. O título remete ao imaginário, o “sonho” de ambas potências mundiais em face das transformações no reordenamento econômico e político global. Yuan Ma e Henk Overbeek abordam, no Capítulo 3, a crescente interdependência econômica entre a RPC e a União Europeia, especiicamente nos novos padrões no desenvolvimento do investimento externo direto (IED) chinês na União Europeia. Examinam-se e analisam-se as mudanças dos dados de fusões e aquisições (M&A) da base de dados Thomas SDC no período 2002-2014. O Capítulo 4 é dedicado às relações China com o Sul Global. Giuseppe Lo Brutto explora as implicações das condições atuais da relação RPC com a América Latina e o Caribe e as suas consequências diretas nas dinâmicas da Cooperação Regional Sul-Sul num cenário de crise na região, recuo dos governos de esquerda e mudanças das estratégias econômicas globais dos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump. 10 O Capítulo 5 apresenta uma continuidade em relação ao anterior, mas com foco nas relações China-África. Rafael Domínguez realiza um balanço do papel da China no renascimento econômico e geoestratégico da África Continental e Subsaariana no decorrer do século XXI. O Capítulo 6 apresenta uma problemática ríspida na política exterior da RPC, o caso do Mar do Sul da China. Mariana Burger analisa um dos maiores focos de tensão regional e os desaios da potência asiática que, embora apresente e desenvolva o discurso de desenvolvimento pacíico, não renuncia à assertividade frente a essa questão de soberania nacional. Javier Vadell e Pedro Neves analisam, no Capítulo 7, a evolução do relacionamento econômico e seu aprofundamento entre Brasil e a RPC no século XXI a partir do comércio bilateral, dos investimentos chineses e dos empréstimos dos principais bancos da China. O Capítulo 8 aborda o poder monetário global da RPC e o processo gradual, embora irme de internacionalização do renmimbi. Finalmente, o livro fecha com um capítulo dedicado ao peculiar modelo de desenvolvimento chinês. Alexandre Cesar Cunha Leite descreve e analisa a condição atual do desenvolvimento chinês, passando por alguns aspectos considerados como essenciais, tomando fatores de ordem interna da dinâmica do desenvolvimento para culminar com algumas relexões sobre o transbordamento desse processo para o cenário internacional. REFERÊNCIAS CUI, S. China’s New Commitments to LAC and its Geopolitical Implications. In: SHOUJUN, C.; PÉREZ-GARCÍA, M. (Eds.). China and Latin America in Transition. New York: Palgrave Macmillan, 2016. 11 FRIEDBERG, A. L. “Going out”: China’s Pursuit of Natural Resources and iMPLICATIONS for the PRC’s Grand Strategy. Seattle, Wash.: The National Bureau of Asian Research, 2006. JIANG, S. China’s New Leadership and the New Development of China-Latin America Relations. China Quarterly of International Strategic Studies, v. 1, p. 133-153, 2015. LEI,Y. China’s Strategic Partnership with Latin America: a Fulcrum in China’s rise. International Afairs, v. 91, p. 1047-1068, 2015. LI, X. The Expansion of China’s Global Hegemonic Strategy: Implications for Latin America. Journal of China and International Relations, v. 4, p. 1-26, 2016. OVERBEEK, H. Globalizing China: A Critical Political Economy Perspective on China’s Rise. In: CAFRUNY, A.;TALANI, L. S.; POZO MARTIN, G. (Ed.). The The Palgrave Handbook of Critical International Political Economy. London: Palgrave Macmillan, 2016. PARELLO-PLESNER, J. China’s Risk Map in the South Atlantic. Foreign and Security Policy Paper [online], p. 1-13, 2016. Disponível em: <http://www.gmfus.org/ile/7799/download>. Acesso em: 20 abr. 2018. 12 A NOVA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS CHINESA E A ASCENSÃO DO PAÍS: O CONCEITO DE TIANXIA Marcos Costa Lima INTRODUÇÃO Reletir sobre uma sociedade como a chinesa, com mais de 5.000 anos de história, é sempre um grande desaio. Por mais que se queira ter um conhecimento abrangente de sua história, de sua ilosoia, de sua cultura, a sensação é quase sempre de incerteza ou de dúvida, ainda mais quando não se domina a língua, quando, sendo orientado por uma ontologia e epistemologia ocidentais, pode-se cometer uma compreensão distorcida do país e de sua gente. Portanto, iniciar estas relexões com esse alerta é uma tentativa de aguçar o sentido crítico do leitor, mas também de uma declaração de humildade do autor. Como disse Shakespeare em Hamlet: “Há muito mais coisas entre o céu e a terra do que imagina a nossa vã ilosoia”. Este artigo tem a intenção de aprofundar o conceito de Tianxia3, bastante discutido entre acadêmicos chineses 3 Tianxia é uma palavra chinesa e um conceito cultural chinês antigo que denota o mundo geográico em sua totalidade ou o reino metafísico dos mortais e foi associado mais tarde com a soberania política. Na China antiga, Tianxia denotou as terras, o espaço e a área divinamente nomeados ao imperador por princípios de ordem universais e bem deinidos. O centro desta terra foi distribuído diretamente à corte imperial, formando o centro de uma visão de 13 1 das ciências humanas, e que volta à cena, sobretudo em razão da ascensão do país4, agora como participante decisivo e fundamental da nova ordem internacional. O conceito de Tianxia, portanto, forma a base de uma visão de mundo do povo chinês não só no passado, mas também no presente. Embora os chineses estejam familiarizados com o conceito, uma deinição clara para os ocidentais não tem sido fácil de formular. Para mim, é sem dúvidas que a ascensão chinesa e o lugar que hoje a China ocupa no contexto internacional têm levado os intelectuais chineses e suas lideranças políticas a discutirem com maior intensidade a política externa chinesa vis-à-vis a comunidade internacional. Também, a debaterem a necessidade de aiar seus instrumentos teóricos de análise, de discutir e avaliar as abordagens ocidentais no campo das relações internacionais que começaram a inluir nos debates chineses desde a abertura. 4 mundo que centrou-se na corte imperial e foi concêntrica externamente a oiciais de mais alta patente e menores e então aos cidadãos comuns, tidos como estados tributários e inalmente terminando com a franja “bárbaros”. A expressão “ascensão chinesa” ou “ascensão da China” foi primeiramente utilizada pelo renomado professor Yan Xuetong da Universidade de Tsinghua, em seu controvertido livro que se intitula International Environment of China’s Rise, publicado pela Tianjing Renmin Chubanshe in 1998, e depois em seu artigo “The Rise of China in Chinese Eyes”, publicado pelo Journal of Contemporary China (v. 10, n. 26, p. 33-44, 2001). O conceito foi utilizado em termos da história chinesa e de seu ambiente internacional, mas também em termos de uma perspectiva de política internacional da China e de suas estratégias estabelecidas por lideranças chinesas para o presente e o futuro. A noção, contudo, de “ascensão chinesa, causou debates internos no país após a publicação do livro em 1998. O governo chinês de Jiang Zemin rejeitou o conceito e a palavra “ascensão” (Jueqi) foi proibida de aparecer em documentos oiciais. O conceito de “ascensão pacíica” foi posteriormente reintroduzido em 2003 no Boao Forum por Zheng Bijian, chairman do Fórum de Reforma da China. 14 Como foi sintetizado por Jabbour e De Paula (2017), o processo de desenvolvimento econômico chinês é um dos fenômenos mais impressionantes do mundo desde, sobretudo, o início dos anos 1970. A China teve um crescimento médio do PIB nos últimos 35 anos de 9,5% ao ano, sendo que a renda per capita no período passou de US$ 250, em 1980, para US$ 9.040, em 2014. A dimensão da relação investimento/PIB (45,6% em 2015) foi espetacular. As reservas cambiais (US$ 3,1 trilhões em dezembro de 2016) e o volume de comércio externo (35,9% do PIB) são feitos extraordinários e que têm alterado a lógica da hegemonia dos Estados Unidos da América, que evidentemente passam a pesar a ascensão chinesa como uma forte possibilidade5. Esse espetacular avanço chinês pode ser percebido nas ilustrações que apresento a seguir: Gráico 1 – Crescimento econômico médio (2005-2011) Fonte: COSTA LIMA, 2016. 5 Ver o debate estabelecido entre Mearsheimer (University of Chicago) e Yan Xiatong (Tsiang Hua University), disponível em <https:// youtu.be/wBrA2TDcNto> (“Pode a China crescer paciicamente?”, novembro de 2013). 15 A força do Gráico 1 é evidenciar que o crescimento mundial tem sido obtido, sobretudo, a partir da China e da Índia entre 2005 e 2011 (COSTA LIMA, 2016). A Tabela 1, extraída de Madison (mais abrangente no tempo), apresenta o crescimento do PIB entre 1971 e 2008, por regiões e países em desenvolvimento e industrializados.Veriica-se o forte desempenho da Ásia, entre os países em desenvolvimento, e uma queda acentuada entre os países industrializados. Tabela 1 – Crescimento do PIB 1971-2008 de regiões e países em desenvolvimento e industrializados Dados de 1971 a 2008 Países em desenvolvimento Ásia África América Latina Países industrializados Mundo 19711980 5,23 5,31 4,01 5,57 3,34 3,82 19811990 4,07 5,60 2,22 1,34 2,89 3,08 19912000 4,93 5,76 2,67 3,19 2,58 3,06 20012008 6,41 7,26 5,01 3,52 1,91 4,20 Fonte: MADISON, 2007. Retomando o io da argumentação, parece-nos evidente que a política externa chinesa não está alheia ao vertiginoso crescimento econômico chinês, mas, ao contrário, produz um movimento no sentido de se ter maior clareza sobre qual seria a melhor estratégia internacional da China no contexto de sua emergência. Se tomarmos os quatro pontos considerados como estruturais por Susan Strange para a análise da construção de um processo de hegemonia – i) segurança; ii) produção; iii) inanças; iv) conhecimento –, a China estaria bem representada em todos eles. 16 A legitimidade do Partido Comunista é, em boa medida, pressionada pelo “rejuvenescimento da nação”, um conceito que inclui a airmação chinesa sobre as ilhas em disputa, mas também sobre o espaço aéreo e a expansão sobre os mares do Sul e do Leste. Esse conceito contempla parte da estratégia militar chinesa e, em certa medida, gera contradições internacionais, ao crescer a insegurança de outros países na região e no mundo. E internamente fragiliza o conceito de Tianxia e da busca da harmonia, como veremos na sequência. O presidente Xi Jiping tem amplamente demonstrado seu interesse em perseguir esses objetivos, em parte acelerando a transformação do exército de liberação do povo em uma força de padrão mundial com operações muito além da Ásia. Em um ambiente econômico mundial menos exuberante, deve também crescer em importância a necessidade de Beijing manter em paz o seu ambiente regional, expandindo seu comércio e investimentos com os vizinhos e também com a África e a América Latina. Ao mesmo tempo, o gigantesco projeto One Belt One Road, estimado em mais de US$ 1 trilhão de investimentos em projetos de infraestrutura e que demandará muitos anos para sua implementação, criará um cinturão econômico poderoso na Eurásia, também articulado com sua face marítima da Silk Road, que representará uma forte alocação de mão de obra chinesa para o empreendimento. Barry Buzan (2010) acredita, diferentemente de Mearsheimer, que a China poderá manter sua ascensão paciicamente, entendendo que a versão chinesa é viável, mas que se tornará mais difícil quando o ritmo de crescimento da China for diminuindo. A China terá que pensar seriamente, tanto em seus desaios internos quanto externos, em um mundo no qual se tornou um dos grandes players. Esse processo, numa crise 17 sem perspectiva de terminar, criará fortes tensões, com os Estados Unidos, o Japão, no momento em que não pode repetir os seus feitos extraordinários desde 1978. Mas, se há um país melhor posicionado entre as grandes potências para enfrentar os desaios da contemporaneidade, é a China. Contudo, ela não poderá manter uma distância confortável dos problemas hoje enfrentados pelo Ocidente, pelo fato de ter se tornado um grande poder. Desde a vitória de 1949, o marxismo foi a escola de pensamento dominante no país e só nos anos 1990 as traduções de clássicos ocidentais passaram a constituir um quadro de referência mais amplo, quando foram traduzidas obras de Morgenthau, Waltz e Gilpin (QIN, 2009). Nessa dinâmica, a academia chinesa acaba recorrendo a seus clássicos, pois, em se tratando de uma cultura mais que milenar, retomam uma sabedoria internacionalista de rica e densa raiz cultural chinesa.Assim, autores da dinastia pré-Qin (221 a. C.) foram revisitados (QIN, 2009). Como airmou Daniel Bell (2011): “Yan (Xuetong) makes use of the analytical tools of modern international relations theory to sharpen understanding of the international political philosophy of pre-Qin thinkers. But the pre-Qin thinkers can help to improve modern theories”. E o próprio Yan Xuetong é ainda mais assertivo quando airma:“What pre-Qin thinkers have to say about international relations is all grounded in policy, their thought is oriented toward practical political policies” (YAN, 2011). Assim, autores como Guanzi (645 a. C.), Lao Zi (604531 a. C.), Confúcio (551-479 a. C.), Mencius (372-289 a. C.), Xunzi (310-220 a. C.), Hanfeizi (279-233 a. C.) têm suas obras analisadas por Xuetong, evidentemente tendo como parâmetro as teorias das relações internacionais do Ocidente.Voltaremos a esses autores posteriormente. Ren Xiao (2009) faz relexões importantes sobre o tema, dizendo que a Academia Chinesa de Relações In18 ternacionais tem hoje uma maior autoconsciência e um sentido crescente de autonomia e expressa que os novos desenvolvimentos da matéria na China estão em explorar a construção de uma “Escola Chinesa” de estudos de relações internacionais. O argumento vem somar a um amplo e denso discurso internacional centrado nos estudos pós-coloniais, com raízes na Índia, na América Latina, na África. Para Xiao, em 1987, durante a primeira conferência nacional sobre teoria das relações internacionais que houve em Shangai, Huan Xiang, então diretor-geral do China Center for International Studies e, por longo tempo, um consultor e orientador dos líderes chineses na questão, colocou o problema da necessidade de que a China tivesse sua própria teoria de relação internacional, ou uma relação internacional com características chinesas (XIAO, 2009, p. 293). As relações internacionais surgiram na China como uma disciplina acadêmica autônoma no início dos anos 1980. Nas últimas décadas, o campo se tornou vigoroso, em que pesem diversas inibições e constrangimentos ideológicos. Mas o país pode hoje disputar como uma das maiores comunidades epistêmicas no mundo em termos de número de estudantes, faculdades e centros de pesquisa, analistas políticos e praticantes. A década de 1990 também assistiu à americanização dos estudos chineses em relações internacionais, e muitas academias chinesas tomaram por empréstimo conceitos desenvolvidos a partir de experiências ocidentais para desenvolver o campo na China. Muitas delas acabaram por descobrir que a aplicação mecânica desses conceitos não ajudaria na compreensão do comportamento chinês nas relações internacionais. Yonghian Zheng (2010), em prefácio ao livro que edita e homenageia a igura do historiador Wang Gungwu, lança duas questões centrais, ou dois objetivos: 1) qual a extensão na qual as teorias de relações internacionais existentes são 19 bem-sucedidas ou fracassam em lançar luz sobre o comportamento chinês?; 2º O segundo objetivo maior foi o de explorar como a China se comportou e tem se comportado diferentemente de outros poderes, ou seja, o que distingue a China do Ocidente? Tem afetado os assuntos mundiais: “A Comunidade internacional, especialmente os grandes poderes como os EUA, o Japão e a União Europeia estão ansiosos sobre a ascensão chinesa. Enquanto este ascenso é inevitável, permanece incerto como uma China mais forte se comportará nos assuntos mundiais” (ZHENG, 2010, p. XV). Para ele, o estudo das relações internacionais na China vive um ponto crítico, pois esse país está ascendendo muito rapidamente para se tornar um grande poder mundial e sua ascensão permanece uma incógnita. Ao mesmo tempo, entende que existem muitas inadequações na teoria das relações internacionais que não ajudam a entender o comportamento internacional da China – e sabe-se que os parâmetros do liberalismo e do realismo não são capazes de enquadrar o país em suas dimensões. De todo modo, a China mantém irmemente o que considera seus quatro pilares em matéria de política externa: 1) manutenção de sua integridade territorial; 2) reconhecimento pela comunidade internacional da política de “Uma só China”; 3) propiciar o desenvolvimento econômico do país; e 4) incrementar seu prestígio no âmbito internacional. Esses pontos estariam concretizados na tese da ascensão pacíica, de Hu Jintao (2015, p. 4). AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA CHINA Um dos mais prestigiados analistas de relações internacionais chinesas, Qin Yaqing, tem airmado que uma das questões mais importantes para ele nos dias atuais é 20 se os chineses deveriam continuar aceitando a dominação do discurso ocidental nas relações internacionais e, mais particularmente, nas ciências sociais em geral. Qin airmou em entrevista: I think Chinese ideas, Chinese cultures, and Chinese narratives can make contributions to the knowledge ediice of IR and the social sciences. So I think this is an important debate to which the Chinese ideas and narratives can contribute. That does not mean that they will replace others, they simply add something new, something non-Western, so that we can enrich the whole knowledge of IR and the social sciences (REUTZFELDT, 2011). Em seu estudo “Development of International Relations Theory in China: Progress Through Debates” (QIN, 2011), Qin argumentou que o primeiro debate resolveu a questão sobre se a China se funda numa revolução proletária ou é um estado-nação normal. O segundo debate discutiu, sobretudo, se a China deveria ser um ator hobbesiano ou lockiano, e o terceiro debate tratou inalmente de uma questão fundamental sobre se o rápido crescimento chinês produziria uma ascensão com características violentas ou se seria um membro pacíico da comunidade internacional. Para Qin, os 30 anos de desenvolvimento das teorias das relações internacionais também mostrou um fato, a saber, que essas, especialmente as produzidas nos Estados Unidos, eram dominantes em escala mundial. Os dados estatísticos comprovavam que nesse período basicamente foram utilizadas as três teorias mais reconhecidas nos Estados Unidos – o realismo, o liberalismo e o construtivismo –, e que os debates ocorridos na China haviam sido moldados por essas três teorias (QIN, 2009). 21 No início do século XXI, com a China ampliando sua integração com o resto do mundo e passando a ocupar um lugar central como segunda economia mundial, veriicouse um forte desenvolvimento da teoria das relações internacionais no país, que estimulou os acadêmicos chineses a criarem algo próprio, embora não substituindo a teoria das relações internacionais ocidental, mas a enriquecendo-a com a tradição e a história chinesa (ZI, 2003; XIAO, 2009; QIN, 2004). Para boa parte dos acadêmicos chineses em relações internacionais, passa a ser razoável pensar que num mundo em acelerada mudança na ordem mundial, nas instituições e na cultura, o que a China e sua cultura poderiam contribuir teoricamente para construir essa nova ordem.Tanto o conceito de harmonia quanto o de Tianxia são enraizados na cultura chinesa por milênios. Qin apresenta em detalhes o desenvolvimento da teoria das relações internacionais através de debates na China desde 1979. O primeiro girava em torno da abertura chinesa para o mundo, consolidando a teoria da paz e do desenvolvimento. O segundo, iniciado no princípio dos anos 1990, centrou foco na melhor forma de realizar o interesse nacional do país, caracterizando-se como uma discussão entre realistas e liberais.Aqui, as discussões giravam em torno das lógicas hobbesianas e aquelas do estado liberal (Locke). Trabalhos como os de Keohane, Nye e Rosenau foram traduzidos e tiveram muita aceitação. Qin chega a dizer que, nos anos 1990, 37% dos artigos relacionados às relações internacionais eram orientados pelo realismo. Já o terceiro debate, quando, segundo Qin, os acadêmicos chineses já dominam as três escolas teóricas, ocorreu na virada do século XX para o XXI e tem seu centro na questão do peaceful rise. Os realistas entendiam que seria impossível para qualquer grande poder ascender paciicamente, enquanto liberais e construtivistas admitiam 22 a ascensão pacíica, os primeiros centrados no papel das instituições internacionais e os segundos na maior interação com a sociedade internacional. Esse foi um período em que a escola construtivista passa a ser considerada como uma opção teórica, e, em 2003, aqueles adotaram essa corrente já eram majoritários sobre os realistas e liberais. Portanto, na direção de construir uma escola chinesa da teoria das relações internacionais, os acadêmicos chineses têm feito um grande esforço para o seu estabelecimento de terem uma disciplina acadêmica independente. Yan Xiatong, um dos acadêmicos mais respeitados no campo, passou a classiicar os pensadores chineses clássicos nas conigurações teóricas do Ocidente – por exemplo, Mencius, discípulo de Confúcio, visto como um idealista; Xunzi e Hanfeizi, como realistas (YAN, 2001). Ainda sobre os debates que nortearam a academia chinesa e os ajustes que foram realizados na política externa do país, está Xu Jin (2016). Pesquisador do World Economics and Politics, da Chinese Academy of Social Sciences, ele é mais detalhista que Qin no tocante às mudanças da diplomacia chinesa e aos debates internos que as provocaram o que torna importante apresentar aqui sua argumentação. Jin (2016) nos fala de que a política externa chinesa sofreu cinco transições desde 1979. Ele aprofunda a questão sobre qual seria o relacionamento entre a política externa chinesa, endógena e exogenamente e, ainda, quais seriam as inluências dessas mudanças sobre os acadêmicos chineses e entre as propostas políticas governamentais, quais seriam mais amplamente aceitas. Para ele, a Academia Chinesa de Relações Internacionais não tem demonstrado uma visão uniicada ou majoritária nos assuntos internacionais, ou com relação às políticas exteriores do país. Como a política externa chinesa é geralmente guiada por um conjunto de elites e de burocratas proissionais, ele cita Shambaugh e sua categorização 23 sobre a relação internacional chinesa, que se estruturaria em sete escolas: i) nativista (a nova esquerda nos debates políticos internos); ii) realista com características chinesas; iii) a principal escola de poder; iv) Ásia em primeiro lugar; v) a Escola do Sul Global; vi) multilateralismo seletivo; e vii) globalismo. De 1978 a 2012, conforme Jin (2016), as principais ideias do governo chinês foram: 1) paz; 2) desenvolvimento; 3) cooperação; 4) de baixo peril; 5) prioridade à economia; 6) interesse nacional; 7) multipolarização; e 8) globalismo. Por suposto, essas oito ideias não eram excludentes, mas lideravam o processo. Jin (2016) nos fala que os cinco ajustes diplomáticos ocorridos corresponderam a cinco debates na academia chinesa desde 1979. O primeiro deles se deu em meados de 1980, quando Deng Xiaoping e o Comitê Central do Partido Comunista julgaram que o tema do período seria uma conjugação de paz e desenvolvimento. O segundo deles entendeu que o “interesse nacional”, por si só, era irrelevante para as classes sociais. Em meados dos anos 1990, o governo chinês entendeu que a estrutura internacional existente era de “um superpoder” e demais poderes com hierarquias inferiores. No verão de 2004, ocorreu o quarto debate, quando foi alterado o objetivo de “ascensão pacíica” para o “desenvolvimento pacíico”. Em 2013, o presidente Xi Jinping apresentou o lema “esforço para realização” como o novo princípio básico da diplomacia chinesa. No contexto da academia chinesa, os cinco debates diziam respeito a: 1) se o tema do momento era de fato paz e desenvolvimento; 2) se o “interesse nacional” estava interligado com a estrutura social de classe; 3) o debate sobre a estrutura do sistema internacional após a Guerra Fria; 4) o debate sobre ascensão pacíica ou desenvolvimento pacíico; e, inalmente, 5) o debate sobre se a China deveria ou não se colar ao princípio diplomático de “manter 24 um baixo peril” ou se deveria esperar os desdobramentos internacionais no tempo. Esses temas são resultantes das alterações da situação internacional e de como os chineses as entendiam. Até os anos 1980 pode-se dizer que a inluência de Mao Tsé-Tung ainda se fazia notar, mas, no início dos anos 1990, com o im da União Soviética e a grande mudança que ocorre no ambiente internacional, a China manteve a ideia de Deng de peace (Oriente-Ocidente) e economic development (Norte-Sul). Esse debate voltou à cena entre 1990 e 2002, quando a OTAN se lançou no Kosovo ameaçando a República Federal da Iugoslávia, aliada chinesa, e quando os Estados Unidos bombardearam neste país a embaixada chinesa. Quando a Iugoslávia foi invadida pela OTAN, icou evidente para os chineses que paz e desenvolvimento eram mais objetivos para se lutar do que uma realidade de fato. O acadêmico Zhang Ruizhang, baseando-se em premissas realistas, criticou asperamente aqueles que acreditavam ser o tempo de paz e desenvolvimento. Para ele, quando a balança de poder ou hegemonia estava para colapsar, então era mais provável ocorrer guerra e turbulência. Para He Fang, a escola pessimista estava superestimando a guerra do Kosovo e seus impactos na situação mundial. Em 2000 a revista World Afairs se reairmou enquanto peace & development. Em 2002, no 16º Congresso Nacional do CPC, reiterou esse julgamento. Dessa forma, chegou ao im o debate acadêmico. Diz Jin (2016) que, mesmo sendo o marxismo a ideologia oicial da China desde 1949, o governo chinês quase não implantou nenhuma política externa baseada no marxismo desde 1978. Houve muitos desacordos entre acadêmicos chineses em como entender a estrutura internacional pós-Guerra Fria (1991). Muitos disseram que o mundo entraria num esquema multipolar e os Estados 25 Unidos em relativo declínio; poucos acreditavam numa era unipolar. Em 2008, com a crise inanceira, deu-se um novo grande debate, em que a questão central da diplomacia chinesa girava entre desenvolvimento pacíico ou ascensão pacíica. Jin (2016, p. 482-484) levanta seis questões para futuros debates entre acadêmicos chineses e a diplomacia que são importantes, pois descortina o ambiente e as dúvidas sobre o futuro lugar da China nas relações internacionais. A primeira delas pergunta “quanto tempo o princípio de ‘manter um baixo peril’ permanecerá válido?”. Para Jin (2016), os dois lemas conjuntos “manter o baixo peril” e “lutar por realizações” têm permanecido válido por mais de 30 anos para diplomatas e acadêmicos. Porém, o governo Xi Jinping tem dito que a diplomacia deve mudar para o lema “lutar por realizações”. A segunda dela pergunta “se o atual princípio de prioridade para as relações China-Estados Unidos prevalecerá?”. O autor chama a atenção de que muito frequentemente essas relações têm passado por fortes tensões e se não seria importante dar maior prioridade às relações da China com seus vizinhos. Esse seria um dos pontos mais sensíveis entre os seis assinalados. Eu acrescentaria que, à medida que as realizações chinesas ganharem projeção, as escaramuças tenderão a se ampliar. A terceira questão giraria em torno da pergunta: “Quais seriam as perspectivas para o novo modelo de relações entre a China e os Estados Unidos?”. Um desdobramento da segunda, pois há muitas controvérsias na academia chinesa a respeito que se pergunta sobre se a melhor posição diplomática chinesa seria o “balanceamento” com todos os grandes poderes. A quarta questão é sobre o desenvolvimento da atual estrutura internacional. Jin (2016) airma que é consenso 26 entre acadêmicos da área se a China só se tornará um superpoder em 2049, quando atingir o the two strategic one hundred year goals6. Outros acadêmicos acreditam que a China atingirá a posição de grande potência já em 2023. A quinta questão é sobre se a China renunciará a sua política de “não alinhamento”. Questão mais que relevante, pois a China, desde o período de Deng Xiaoping, tem adotado este como um conceito-guia. Finalmente,“deveria a diplomacia servir ao propósito de construção econômica, ou se alinhar ao ‘grande rejuvenescimento’ do país?”. Uma larga maioria de acadêmicos entende que a diplomacia deve servir ao propósito da construção econômica. Contudo, Xi Jinping tem destacado que o objetivo da diplomacia deveria ser aquele de servir e se submetes aos “dois objetivos dos 100 anos” e atingir assim o “rejuvenescimento” do país. Para Xi Jinping, a construção econômica não necessariamente atende aos pré-requisitos do “rejuvenescimento”, que compreende uma melhoria substantiva e abrangente na força nacional, em aspectos essenciais como políticos, econômicos, militar e cultural, com o objetivo de ampliar amizades e construir alianças e lealdades. Independente do que venha a acontecer, esta última questão é decisiva, pois nenhum país atingiu um lugar de grande potência ou mesmo de hegemon sem aprofundar não apenas do softpower, mas uma visão mais compreensiva da política internacional. Essas questões revelam, a meu ver, duas coisas: primeiro, que é a certeza e a determinação de que tanto a academia de relações internacionais quanto diplomatas e governo já entendem que a China, em médio prazo, ocupará a posição de uma grande potência. Em segundo lugar, as inquietações que permeiam os membros do governo e academia no 6 “As duas estratégias para os objetivos dos cem anos.” 27 sentido de acertar o discurso em torno das “duas estratégias para atingir o objetivo dos cem anos”. Essa inquietação está presente, como veremos, no esforço material e intelectual do país em se mostrar como uma potência coniável aos vizinhos e aos demais países, não mais como low proile, mas como um país que pelo esforço coletivo alçou-se ao lugar que hoje ocupa e de buscar, nos seus pensadores, a continuidade de sua tradição, sem esquecer, como disse o historiador Wang Gungwu: What China is doing in foreign relations cannot be separeted from two underlying factors. One is that there has been a long tradition of thinking strategically among both civil and military leaders that still guide the Chinese leaders and is likely to continue to do so for a long while.The other is a fundamental idea in Chinese thinking, the prevalence and inevitability of change, something like, “the only proposition that does not change is that everything is subject to change”. (GUNGWU, 2009, p. 21) O conceito de Tianxia responde à possibilidade de a China vir a alterar os rumos da ordem mundial, num sentido de justiça, civilização e de harmonia. EM TORNO DO CONCEITO DE TIANXIA O ilósofo contemporâneo Zhao Tingyang (2013) tem, a meu ver, uma das mais consistentes interpretações sobre Tianxia. Para ele, Tianxia foi um conceito político nas dinastias Shang e Zho (1600 a. C.-256 a. C). Assim, no período intitulado Primavera e Outono 770(a. C.-221 a. C.), o confucionismo começou a enfatizar seu signiicado moral, embora Tianxia ainda permanecesse um conceito político. Do período da dinastia Qin em diante (221 a. C.), o conceito moralmente orientado começou a se divorciar 28 de sua origem política, tornando-se um puro símbolo e uma visão da moralidade. Do ponto de vista de Zhao, o mundo ainda é um não mundo ou é um mundo que fracassou politicamente. Ainda não se tornou um mundo de unidade, mas permanece sendo um mundo conduzido pelo caos hobbesiano. A idade moderna é uma idade de nações, na qual para o entendimento de Zhao, Tianxia só pode ser entendida como uma teoria internacional, e não uma teoria mundial. Zhao utiliza as Nações Unidas como um exemplo dos mais signiicativos para as relações internacionais na história moderna. Mas, ao mesmo tempo, vem demonstrar a inabilidade das Nações Unidas para lidar efetivamente com os conlitos mundiais. Como não há uma ilosoia política que sirva de fundação para uma instituição mundializada, Zhao argumenta que a teoria chinesa de Tianxia é a melhor ilosoia para a governança global, assim ele vem detalhar a interpretação de Tianxia. A expressão “Todos sob o Céu” (Tianxia) representa, em primeiro lugar, a terra, ou o mundo sob o céu. O segundo signiicado é “os corações de todas as pessoas” (民 心), ou ainda “a vontade geral do povo”. Um imperador não aprecia realmente seu império de “Todos sob o Céu”, mesmo que ele conquiste uma extraordinária vastidão de domínios, a não ser que receba o sincero e verdadeiro apoio do povo dessas terras. O terceiro signiicado é “ético e/ou político, é uma instituição mundial, é um mundo ou um sistema universal, uma utopia do mundo como uma família”. O ilósofo chinês argumenta que a mais larga unidade política no Ocidente é e tem sido o estado-nação, desde Westfalia7, enquanto na teoria chinesa esta mesma unidade 7 O Tratado de Westfália designa uma série de tratados que encerraram a Guerra dos Trinta Anos que foi uma guerra, sobretudo, entre 29 é a estrutura do mundo ou da sociedade. Com base nessa metodologia, o império de “Todos sob o Céu” não quer dizer um país, mas sim um mundo institucional, uma civilização. Portanto, o “Todos sob o Céu” é um mundo amplamente deinido, com harmonia, comunicação e cooperação entre todas as nações, garantido por suas instituições em comum acordo. Com base nessa interpretação, nada nem ninguém podem ser excluídos ou afastados por causa de sua incompatibilidade com os outros, já que nada é considerado como estrangeiro. Zhao também aponta que essa política chinesa objetiva uma boa sociedade de ordem pacíica que requer uma consistência ética e política e transitividade. Isto quer dizer uma efetiva ordem política de Tianxia para os estados e, por derivação, para as famílias, assim como para assegurar a uniformidade da sociedade. Inversamente, e mais baseado em Confúcio, é uma ordem ética. Nessa perspectiva,Tianxia pode ser entendida como uma família (家庭方式/家庭性), ou seja, nada mais que uma grande família. O que indica integridade e harmonia, e nada que seja contrário a isso será politicamente aceito. Além disso, esse sistema necessita ter legitimidade ética e deve reletir a vontade geral do povo. católicos e protestantes que marcou a Europa de 1618 a 1648 e que buscava reduzir a força dos Habsburgos. O tratado também reconheceu oicialmente as Províncias Unidas e a Confederação Suíça. O Tratado Hispano-Neerlandês, que pôs im à Guerra dos Oitenta Anos, foi assinado no dia 30 de janeiro de 1648 (em Münster). Já o Tratado de Westfália, assinado em 24 de outubro de 1648, em Osnabrück, foi assinado por Fernando III, sacro-imperador romano-germânico, e pelos demais príncipes alemães, de um lado, e a França e a Suécia, de outro. Celebrou o im do conlito entre estas duas últimas potências e o Sacro Império. O Tratado dos Pirineus (1659), que encerrou a guerra entre França e Espanha, também costuma ser considerado parte da Paz de Westfália. 30 Para Xu Bijun (2014), o conceito de Tianxia desenvolvido por Zhao não é igual ao antigo conceito cultural chinês. Segundo ele,Tianxia forma a base de concepção de mundo do povo chinês não apenas no passado, mas também nos tempos atuais. Embora não exista uma deinição universal, ele nos apresenta duas versões em que é possível identiicar alguns de seus elementos-chave. Corresponde tanto ao “mundo” quanto à China. O professor Li Xiaiang sumariza sua deinição e o núcleo duro do conceito em quatro pontos: 1) é o mundo geográico; 2) os princípios universais de ordem Tian (céu) e o povo – em que o povo denota a terra ou os espaços do imperador, e este representa o elo de ligação entre o povo e o céu. Os corações do povo representam o desejo do céu. Portanto, há um provérbio chinês que diz: “Aquele que ganha o coração do povo tem o direito de governar Tianxia”. 3) Existe um centro neste mundo que caminha concentricamente para fora, para outros lugares e povos; 4) Tianxia sempre esteve associada com civilização (XU, 2014, p. 97). Uma segunda deinição apresentada é a de Mou Fasong (XU, 2014). Ele considera que, além dos aspectos geográicos, Tianxia também representa: 1) o coração de todas as pessoas, um conceito que pode ser encontrado em grandes obras da literatura clássica, como Lao Tzu, Chuang Tzu, o Livro das Mutações, Xun Tzu e Mencius; 2) justiça e civilização. Tianxia precisa ter ritos comuns, cultura, linguagem e estilo de vida. Muito presente em Confúcio (apud XU, 2014, p. 97), Anne Cheng (2008) detalha a noção de ritual no confucionismo a qual está muito próximo da acepção budista:“A fórmula tornada célebre: ‘Vencer seu ego para reintegrar-se no sentido dos ritos’, indica a necessidade de uma ascese para disciplinar a tendência ao egocentrismo e para interiorizar ritualmente a humanidade de suas relações com os outros”. Portanto, bem distante da acepção ocidental dos ritos. 31 Embora Zhao Tingyang faça a sua leitura, os elementos que desenvolve estão próximos de uma citação de Confúcio: “O bom mestre é aquele que, repetindo embora o antigo, é capaz de ali encontrar algo novo” (CHENG, 2008, p. 89). Assim, a ilosoia do Tianxia compreende, segundo ele, que o mundo em que vivemos está à deriva e o conceito de mundo ocidental, nada mais é que uma acepção geográica. Ele carece de uma identidade política por falta de unidade política. Ele airma que o mundo não poderá ser ediicado, salvo se na condição de ser organizado, regulado por uma instituição mundial ela mesma fundada sobre uma nova visão de mundo, sobre uma nova ilosoia política para o mundo. Em termos históricos, a dinastia Zhou8, de grande valor – a começar pelo Duque de Zhou –, legitimou seu domínio invocando o Mandato do Céu – noção segundo a qual o líder (o “ilho do céu”) governava por direito divino, mas a perda do trono indicaria que ele havia perdido o tal direito. O Mandato do Céu estabelecia que os Zhou assumiam ascendência divina (Tian-Huang-Shangdi). Baixo os Zhou, através da conquista e colonização, gradualmente estenderam a cultura chinesa pelas terras bárbaras das planíces centrais. Para o ilósofo, essa dinastia havia desenvolvido um certo número de ideias admiráveis, segundo ele, em matéria de política. Os princípios essenciais são: i) as verdadeiras soluções aos problemas de política mundial passam por um sistema-mundo aceito universalmente e justiicado poli8 A dinastia Zhou, também conhecida como Chou, Chow e Jou, foi uma das primeiras dinastias chinesas. Calcula-se que o início desta dinastia tenha se dado com a queda da sinastia Shang, no inal do século X a. C. ou século IX a. C., e seu término com a ascensão da dinastia Qin (221 a. C.). A dinastia Zhou foi a dinastia com maior duração em toda a história chinesa, e a tecnologia da Era do Ferro foi introduzida na China neste período. 32 ticamente, muito mais do que pelo recurso a força; ii) um sistema-mundo universal se justiica politicamente se ele é dotado de uma instituição política que governe para o benefício de todos os povos e de todas as nações e que seja capaz de produzir a maior quantidade de bens partilhados; iii) um sistema universal mundial funciona se ele permite criar harmonia entre todas as nações e as culturas. Segura e forte em seus princípios, a dinastia Zhou criou um sistema de mundo sob o nome de “Todos sob o Céu”, ou Tianxia. Anne Cheng (2008, p. 57), ao tratar da dinastia Zhou, airma que a nova ordem que instaurou apoiou-se numa mensagem político-religiosa bastante clara, a saber, recusar qualquer laço de parentesco entre a divindade e uma família real especíica. O exercício do poder não era mais o apanágio de uma e mesma linhagem, por simples transmissão hereditária. O Mandato do Céu era suscetível de ser modiicado, de passar de uma linhagem a outra, considerada mais digna de governar. Não é por nada que encontramos em Confúcio airmações do tipo: “Trata o povo com consideração e serás venerado, bom ilho para com teus pais, bom príncipe para com teus súditos, e serás servido com lealdade, honra os homens de valor, educa os menos competentes, e todos ver-se-ão estimulados ao bem”. Um outro conceito que vem associado à Tianxia, segundo Zhao (2008), é aquele de “relação” ou do relacional. Do ponto de vista da relação, falar de uma coisa “tal qual ela é” não possui nenhum sentido, porque uma coisa não é jamais “tal qual ela é” por ela mesma, mas deve ser feita tal ou qual em virtude de certas relações onde ela é implicada. A “coisa” não é mais que uma convenção linguística para a comodidade da representação muito mais do que uma presença real. As relações são condição ontológica para que uma coisa se apresente enquanto tal, portanto 33 sua existência pressupõe a coexistência, em que o estatuto da coexistência decide sobre a existência. Essa lógica ilosóica, de acordo com Zhao, é a chave que permite de compreender a harmonia como princípio de relação entre as coisas. A estratégia de busca da harmonia é, assim, muito mais que uma simples cooperação. O jogo harmonioso requer uma maneira harmoniosa de jogar muito mais do que um simples respeito às regras9. A concepção metafísica chinesa, centrada sobre as relações, modiica o objetivo do jogo. Ele terá, doravante, por objetivo de desenvolver relações harmoniosas entre todos os jogadores, a im de maximizar os bens de todos, muito mais do que os interesses de um só. Portanto, muito mais do que pensam os realistas no Ocidente, que estruturam seu pensamento a partir da anarquia do sistema internacional,Tianxia, segundo Zhao (2006; 2008; 2013), para além de signiicar a terra ou os territórios situados sobre o céu, além de representar a escolha comum de todos os povos do mundo, ou um acordo universal “do coração” de todos os povos, representa um sistema político mundial dotado de uma instituição mundial que permitiria e garantiria a ordem universal se constituindo assim no objetivo maior da política. O pensamento chinês considera que a harmonia é a condição ontológica necessária para que as coisas existam e se 9 Uma boa análise crítica do pensamento de Zhao está em Feng (2010): “He is perhaps the irst modern Chinese scholar to have systematically theorized the tianxia, without committing the fallacies of Radical Confucianism, which wants to take China back into the ancient society in toto, or those of New Confucianism, which claims that Chinese culture has every ingredient of modernity already, even liberal democracy. From Zhao’s works one can also glimpse the rising intellectual tide among Chinese scholars in rethinking China’s international role. Zhao’s project itself remains incomplete. But it has at least succeeded in stirring up a Chinese imagining of the future world order”. 34 desenvolvam: “criar a harmonia de todas as nações e de todos os povos”, diz Zhao (2006). Na mesma direção caminha James C. Hsiiung (2010), ao desacreditar de visões unilaterais e as afasta como “universalidades falhas” do liberalismo ocidental. Ele contrasta os valores abraâmicos (bíblicos/ocidentais ou judaicos-cristãos) com o confucionismo e resume os princípios confucianos em quatro pontos: 1) uma abordagem peculiar sobre a natureza humana; 2) uma concepção sobre o homem em sociedade como sendo de índole positiva e sujeita ao aperfeiçoamento; 3) contrariamente à ideologia abraâmica que está enraizada no pecado, a tradição confuciana está predicada na visão de que a natureza humana é corrigível, ou potencialmente disposta para o bem; e 4) é uma tradição que extrapola os ensinamentos de Confúcio (551 a. C.-479 a. C). Mencius (372-289 a. C.), herdeiro espiritual de Confúcio, por exemplo, desenvolveu uma elaborada teoria do humanismo confuciano inspirada na noção de bondade inata da natureza humana. Sua interpretação é consistente com a de Confúcio de que aquilo que determina a natureza humana é o efeito condicionante do ambiente humano (a sociedade), incluindo a educação moral. Duas proposições decorrem desse prognóstico da natureza humana: que a sociedade pode gerar inluências corruptoras e que o homem encontra sua realização não no isolamento, mas no seu ambiente social. O conceito de “homem em sociedade” começa com a premissa da igualdade humana natural e que a prescrição de que uma boa educação (um valor agregado) ajudará os indivíduos a atingir seus respectivos ideais. Uma elite propriamente educada deve ser contemplada com um senso de missão, e seria uma incumbência do governo intervir na ajuda do coletivo social em sua busca de realização e de gerar o desenvolvimento macrossocial. 35 Para consegui-lo, o Estado precisa ser ao mesmo tempo forte, eiciente e amigo dos cidadãos. O Estado tem que ser benevolente. Só um governo assim pode transcender qualquer interesse particular e afastá-los, de modo que não deva pensar apenas em si próprio, mas, sobretudo, em adiantar o coletivo e o eu coletivo. A resultante dessa variável é uma hierarquia de indivíduos de diversos potenciais e realizações Essas diferenças alteram pontos de vista opostos entre as visões hobbesiana e confuciana. A comparação entre Hobbes e Confúcio sobre o Estado está em que, no Ocidente, a partir de Hobbes, o Estado não se engaja na educação moral como os gregos e os confuncianos advogavam. Para Confúcio, o Estado tem que ser o agente cuja função é manter a sociedade longe das inluências corruptoras. Assim, o Estado busca a educação moral de suas pessoas (por extensão da ênfase confuciana no familismo, na família extendida, que é frequentemente o agente prático da educação moral). Anne Cheng (2008) diz que Confúcio foi um fenômeno cultural chinês, surgido no século V a. C. e que se manteve por mais de 2.500 anos e se confunde com o destino de toda a civilização chinesa. Trata-se de um pensamento que é uma aposta universal no homem. Para Confúcio, a vida do espírito e do corpo constituem uma totalidade indissociável. A educação não representa apenas o aspecto livresco, mas também a experiência, e se aprende sobretudo no intercambio, na relação. O objetivo prático da educação seria o de servir a comunidade e de gerar homens bons. As elites instruídas têm a responsabilidade de governar para o povo.A sabedoria suprema (ren) ou o senso do humano é uma qualidade que só se adquire em relação com os outros. A reciprocidade e a solidariedade são a chave para o ren, que também representa a consciência do outro, o respeito pelo outro e aquilo que garante a harmonia das relações humanas. É necessária uma adequação 36 entre o que se diz e o que se faz. Essa integridade é que torna o homem digno de coniança. Para Confúcio, a relação pai-ilho fundamenta a relação política entre príncipe e súdito. O seu pensamento sempre trabalhou no duplo registro da cultura moral pessoal que visa à santidade interior e da missão de “organizar o país”, um ideal institucional. Governar para ele é encarnar o ren. O governante impõe-se pela benevolência e não pela força. Há uma ordem de prioridade: velar para que o povo tenha víveres suicientes, armas e coniança. Se fosse necessário renunciar a uma dessas coisas, qual seria? Confúcio diria as armas. E se fosse necessário renunciar às duas coisas? Diz ele, os víveres. E, continua, desde sempre os homens estão sujeitos à morte, mas um povo sem coniança será incapaz de sustentar-se. Há uma passagem dos Analectos que dá bem a ideia do que é governar:“Trata o povo com consideração e serás venerado, ser bom ilho para com teus pais, bom príncipe para com teus súditos, e serás servido com lealdade, honra os homens de valor, educa os menos competentes, e todos ver-se-ão estimulados ao bem” (CHENG, 2008, p. 86). Ou seja, o soberano não está aí para coagir, mas para transformar no sentido da harmonização e a educação dos súditos é uma condição fundamental. Essas passagens, tanto aquelas contemporâneas apresentadas pelo ilósofo Zhang Tingyang, quanto uma breve passagem pelo pensamento de Confúcio, nos fazem, como ocidentais, estranhar as deinições da política, quer como utopias, quer como ingenuidade, ou mesmo como ausência de sentido pragmático e utilitário. São premissas diametralmente opostas, mas que são recolocadas a partir da ascensão chinesa e que, no mínimo, nos obriga a rever as certezas ocidentais sobre o que deve ser a arte de governar e que há outras construções do pensamento que não as momentaneamente dominantes. 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este capítulo procurou, a partir da ideia e do conceito de ascensão chinesa, indicar qual tem sido o debate que se trava na Academia Chinesa de Relações Internacionais e nas ciências sociais, seja pelos três debates (QIN, 2009) ou os cinco ajustes realizados pela diplomacia daquele país, de 1978 ao período atual de Xi Jinping. Também busquei aqui explicitar as discussões entre acadêmicos e diplomatas chineses sobre a necessidade, estimulada pelo processo de ascensão, de retomar os conceitos dos pensadores antigos chineses, veriicando-se uma profunda e densa matriz cultural própria. Após 30 anos de dominação por cânones das relações internacionais ocidentais, percebem uma inadequação com a sua tradição. Daí o movimento de produzir uma teoria das relações internacionais com característica chinesa. O conceito de Tianxia, associado àquele de harmonia, está enraizado na cultura chinesa e pode trazer uma imensa contribuição à maneira predominante, maquiavélica, hobbesiana e neorelista de pensar as relações políticas internacionais. Aqui sobressai a contribuição do ilósofo Zhao Tingyang de entender que o mundo, em seu caos e crise atual, nunca esteve tão necessitado de uma compreensão de fato mundial, que para ele é inerente ao conceito de Tianxia. Além disso, iz algumas breves incursões sobre o pensamento de Confúcio, que, segundo Cheng (2008), se confunde com o destino da civilização chinesa. A benevolência do imperador, o governar com legitimidade, o atender às necessidades do povo é que o torna de fato “um ilho dos céus”, é o que lhe dá o senso do justo e do ren ou o senso do humano. Finalmente, a certeza que transparece, seja no governo, seja na diplomacia e na academia chinesa, de que a China está caminhando para se tornar uma grande 38 potência num prazo não superior a 50 anos. O fato de o país estar buscando uma política internacional com características próprias, baseada em premissas generosas como a ilosoia política do Tianxia, associada a uma visão de harmonia e de benevolência dos que governam, é algo positivo. Essas premissas, não tomadas apenas como ilosoia ou como devaneio romântico, podem vir a se concretizarem ou a exercerem uma forte inluência sobre a comunidade mundial. Seria uma boa perspectiva no contexto de um mundo que tem dado sinais muito concretos de que estamos hoje muito próximos da barbárie e da destruição física do planeta. 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Li Xing Timothy Shaw PERGUNTAS INICIAIS DA PESQUISA Desde que a China adotou seu programa de reforma econômica em 1978, o país cresceu para tornar-se a segunda maior economia mundial e a terceira potência em termos militares. Durante muitos anos, formuladores de política, acadêmicos, comentaristas e uma gama de formadores de opinião estadunidenses envolveram-se em um debate acalorado e interminável sobre se China, que, em 2016, representaria uma ameaça ou uma oportunidade para a ordem mundial liderada pelos Estados Unidos da. Nos últimos anos, a antinomia “ameaça-oportunidade” ganhou novo destaque com o alarme de ameaça por parte do Pentágono (BRESLIN, 2007; JOHNSTONE, 2003). Os alarmes de ameaça chinesa necessitam de uma boa compreensão das dimensões complexas e implicações da ascensão mundial da China. Qual tipo de nação a China será em 2025 ou em 2050? Poderá ascender paciicamente (MEARSHEIMER, 2014)? Será uma potência destrutiva ou construtiva? Uma força de continuidade e/ou uma força para a mudança? A ascensão chinesa como potência regional e global será pacíica ou a emergência de nova 43 2 grande potência na Ásia levará inevitavelmente ao conlito? A urgência na relexão tentando encontrar algumas respostas para essas questões é reforçada pela intensiicação do conlito em andamento entre China e Estados Unidos no Mar do Sul da China. Existe alguma possibilidade de que os Estados Unidos e a China entrem em guerra nos próximos anos ou na próxima década? Poderão escapar da “Armadilha de Tucídides?” – uma metáfora da história da Grécia antiga que nos lembra dos perigos envolvidos quando uma nova potência desaia a potência dominante (como Atenas ameaçou Esparta na Grécia antiga, ou como a Alemanha o fez com o Reino Unido no século passado)? Existem vários problemas entre os dois países: questões não tradicionais de segurança como acibernética, a propriedade intelectual, os direitos humanos, a questão de Taiwan, Coreia do Norte, as questões ambientais, as disputas comerciais, Hong Kong, Tibete, o desaquecimento da economia chinesa etc. Atualmente, ambos os países estão exacerbados pelos conlitos tradicionais em torno do Mar do Sul da China. Além disso, a questão mais imediata é como Pequim e Washington podem evitar uma “colisão estratégica”, ou seja, uma situação contraditória na qual o esforço de um Estado em reforçar a própria segurança pode causar a insegurança do outro. CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS E TEÓRICAS Esta seção tem por objetivo fornecer uma estrutura para a compreensão dos dilemas de segurança entre China e Estados Unidos. Conceitualmente, ela tem como inspiração dois provérbios chineses que denotam as complexas relações entre a China e os Estados Unidos. “Dormindo na mesma cama com sonhos distintos” é uma expressão idiomática chinesa que descreve uma situação na qual uma relação baseada em um “casamento de conveniência” é construída 44 no pragmatismo sem uma base de valores sólidos. A teoria da transição de poder é normalmente associada à escola realista, uma vez que tem como foco as relações de poder. “Montar no Tigre” é uma outra expressão idiomática com implicações dialéticas – empoderar-se ao montar nas costas do tigre e ao mesmo tempo achar muito perigoso tentar desmontar. As implicações dessas duas metáforas chinesas pretendem denotar que tanto a China quanto os Estados Unidos encontram-se em um período de transição entre “dormir na mesma cama” (expansionismo antissoviético) para “sonhos distintos” (o programa de modernização chinesa por meio da integração ao sistema mundial capitalista comandado pelos Estados Unidos vis-à-vis o objetivo norte-americano de democratizar ou ocidentalizar a China), e, posteriormente, ao estágio atual de “montar o tigre”, no qual ambos os lados estão presos em uma relação complicada e complexa sem aparente saída. Em segundo lugar, a teoria da transição de poder (ORGANSKI; KUGLER, 1980) entende a política internacional como uma hierarquia de estados com graus lutuantes e instáveis de cooperação e competição. Ela pretende prever períodos de intensiicação de conlitos dentro do sistema internacional ao diferenciar hegemonas globais e potenciais desaiantes. Segundo essa teoria, a possibilidade de conlito armado entre China e Estados Unidos sofrerá uma escalada durante o período de transição, que resulta de duas circunstâncias interrelacionadas: 1) a grande potência ascendente passa a dominar e substituir o papel dominante do hegemon em declínio porque está insatisfeita com a ordem existente e está disposta a arriscar a mudá-la; 2) o hegemon em declínio luta para conter a potência em ascensão de todas as formas para enfraquecer o oponente o máximo possível. No entanto, ao colocar a China num contexto histórico/comparativo relacionado a experiências passadas de transições pacíicas e violentas de 45 teorias pertinentes de relações internacionais, Steve Chan (2007) argumenta de forma contrária à visão prevalecente da transição de poder. A teoria da transição de poder é intrinsecamente compartilhada pela teoria realista de relações internacionais representada por Mearsheimer (2010), defensor do realismo, que descreveu o desaio chinês ao poder norte-americano na Ásia como uma ilustração acurada da possibilidade de conlito militar devido ao alto grau de incerteza e desconiança entre um estado revisionista e uma potência de status quo. No entanto, discordando tanto das hipóteses da teoria da transição de poder quanto do argumento realista, acadêmicos liberais são geralmente otimistas em relação à transição de poder em uma ordem mundial coninada em um sistema baseado em regras com instituições internacionais bem desenvolvidas. O liberalismo percebe a ordem mundial liberal liderada pela hegemonia norte-americana como benigna e globalmente benéica. A ordem mundial liberal é percebida como integrativa e expansiva por permitir a possibilidade de “mudança para cima” e aumentar a “área de manobra” para retardatários. A ordem liberal pode ser caracterizada como um sistema global aberto baseado em regras e instituições que enfatiza normas de não discriminação e de abertura de mercados (IKENBERRY, 2008; 2011). De acordo com essa linha de entendimento, o sucesso econômico da China é condicionado à expansão e intensiicação da interação ao sistema capitalista global. O motivo pelo qual a China é atualmente uma vencedora na era da globalização é exatamente porque seu crescimento econômico e acumulação de riqueza foram gerados de dentro, não de fora, do sistema capitalista mundial (IKENBERRY, 2008). Consequentemente, como potência emergente, o interesse nacional e o comportamento da política externa da China cada vez mais reletem e abraçam o status quo. 46 A teoria do sistema capitalista mundial apresenta outra interpretação para transição de poder na ordem global. Conceitua a ordem capitalista mundial como imbuída de características fundamentais especíicas, em primeiro lugar, por desigualdades intrínsecas nas quais os estados-nações possuem diferentes estágios de desenvolvimento dentro de uma economia global aparentemente uniicada. Hierarquias distintas na divisão mundial de trabalho e alterações desiguais nas vantagens comparativas de competição e competitividade dotam o sistema de contradições e conlitos inerentes.Além disso, o sistema é caracterizado por uma série histórica de ciclos, ou seja, prosperidade econômica ou crise, mobilidade para cima e para baixo.Ademais, essa série de ritmos cíclicos é seguida pela ascensão de novos avalistas (novos hegemons) no sistema mundial, cada um deles apresentando seu próprio padrão de controle (WALLERSTEIN, 1997), por exemplo, do império otomano ao colonialismo do raj britânico e, posteriormente, o imperialismo estadunidense. Dessa forma, a ascensão da China como novo avalista não seria um problema, uma vez que a ascensão e a queda de potências emergentes são entendidas como parte de ritmos cíclicos do sistema mundial e também condicionadas às características fundamentais do sistema: modo de produção e lógica de acumulação de capital. Dessa maneira, o problema será quando a “China governará o mundo” (JACQUES, 2012) com seu próprio padrão de controle, que poderá desencadear conlitos com o hegemon anterior (Estados Unidos), que moldou e desenvolveu a ordem mundial da pós-guerra. A “CAMA” HISTÓRICA DAS RELAÇÕES CHINA-ESTADOS UNIDOS ESTÁ MUDANDO Os pilares que sustentaram a fundação das relações China-Estados Unidos sofreram uma série de transformações 47 desde o im da Guerra Fria. Por um lado, o colapso da União Soviética erodiu a aliança estratégica China-Estados Unidos. Após o declínio da União Soviética e seu bloco “socialista real”, ou o “Segundo Mundo”, a “carta chinesa” perdeu seu valor estratégico de forma que qualquer reaproximação dos Estados Unidos com a China deixou de ser uma necessidade. A China não mais era vista como indispensável na balança de poder da ordem bipolar da Guerra Fria. Por outro lado, o desaparecimento da ameaça soviética, juntamente à crescente multipolarização da economia mundial, incluindo a ascensão das multinacionais de mercados emergentes (NOLKE, 2014), reduziu o papel vital do guarda-chuva de segurança sobre a Europa e a Ásia. Como resultados desses acontecimentos, “a amálgama da segurança que tradicionalmente estimulava os aliados do pós-guerra a resolver suas divergências não mais existia” (BERGSTEN, 2001, p. 21). Desde o início do milênio as relações econômicas entre China e Estados Unidos mudaram de tal forma que o peso das relações bilaterais está pendendo em direção a Pequim: hoje a China tornou-se o maior credor norte-americano, o segundo maior parceiro comercial, o terceiro maior mercado de exportações e a maior fonte de importações. Além disso, durante as últimas três décadas, o rápido crescimento da economia chinesa passou a causar impacto mundial, no montante de IED, nos preços das commodities e moedas, no comércio e na cadeia global de suprimentos, na integração regional, nas relações internacionais que destacam o meio ambiente, na ecologia e na segurança energética. Nos últimos anos, a performance econômica de Pequim e sua política em matéria inanceira, valor de moeda, comércio, segurança, questões ambientais, gerenciamento de recursos, segurança alimentar, matérias-primas e preços de commodities inevitavelmente apresentam implicações mundiais que estão ligadas às economias de milhões 48 de pessoas fora das fronteiras chinesas, especialmente do resto do Sul Global. O esforço da presença regional e global da China é evidente na defesa chinesa da Iniciativa Chiang Mai (CHIN, 2015), no Banco de Desenvolvimento dos BRICS, no Banco de Investimento e Infraestrutura Asiático (BAII) etc. e, recentemente, na revitalização da Nova Rota da Seda por meio da estratégia One Belt, One Road (OBOR); e em 2016, ao desempenhar o papel da presidência do G20, o que Gregory Chin e Hugo Dobson (2016) sugerem como sendo o alvorecer da liderança mundial chinesa na Ásia, seguindo papel similar desempenhado pela Coreia do Sul em 2010.Além disso, o BAII passou a fornecer empréstimos oicialmente em 2016, em cooperação com outros bancos internacionais consolidados, como o Banco Mundial, ADB, EBRD etc.: US$ 1,5 bilhões iniciais para infraestrutura na Ásia Central e no Paquistão. Tais papéis podem ser contrastados com a construção de ilhas para defesa/ataque no Mar do Sul da China. Além disso, a China, assim como os Estados Unidos, não pode se eximir do nexo crescente de “água-energia-alimento” (WEF) (DI MUZIO; OLVADIA, 2016), que inclui empresas estatais (XU, 2012), particularmente as petrolíferas estatais (TAYLOR, 2014). Nessa direção, a China investiu US$ 40 bilhões no Fundo da Rota da Seda, US$ 20 bilhões no Fundo de Investimentos China-CELAC para América Latina, bem como US$ 10 bilhões no Fundo de Investimentos China-LAC. Isso impulsionado pelos dois novos “bancos mundiais de investimentos, o NDB e o AIIB” (KAMAL; GALLAGHER, 2016, p. 3) – ver mais no último parágrafo desta seção. Kamal e Gallagher (2016, p. 4) entendem que: Não há dúvida que a China aumentou de forma maciça a escala de inanciamento para o desenvolvimento em países em todo o mundo. 49 Também, nota-se que os bancos de desenvolvimento apoiados pela China atribuem ênfase diferente à política de desenvolvimento, com foco em infraestrutura e transformações estruturais, daquelas apoiadas pelo sistema ocidental. A escala das intervenções chinesas ofusca a dos demais BRICS, assim como os Estados do Golfo, Coreia do Sul, Turquia etc., e o impacto no Sul Global, incluindo as relações Sul-Sul, é problemático. Prates e Perufo (2016, p. 4) indicam que o giro na arquitetura econômica global não vai na direção das economias emergentes ou Sul-Sul, mas só na direção da China: […] a inclusão doYuan na cesta da Direto Especial de Saque (DES) do FMI simboliza a modiicação mais signiicativa no cenário monetário internacional pós-crise: o reconhecimento do poder monetário da China […] a maioria das novas instituições inanceiras internacionais dependem da China e majoritariamente reletem apenas o poder da China mais do que a diversiicação de poder das economias emergentes como um bloco. A China, como uma economia bastante estatocêntrica, está limitada em relação aos “tipos de diplomacia” que podem desenvolver sistemas menos estatizados, como os Estados Unidos, que podem promover o soft power em uma miríade de formas de diplomacia, não importando o quão contraditórias possam ser: celebridade/cultural/guerrilha/ econômica/ajuda/tecnológica/track two, compatíveis com outras “variedades de capitalismo” e inúmeras formas de sociedade civil. A Índia também detém uma maior gama de soft power que pode exercer, desde Bollywood à tecnologia global e às redes de negócios. Dessa forma, é mais difícil para a China lidar com as crescentes questões não tradicionais de segurança. 50 O SONHO AMERICANO Internamente, o “sonho americano” representa ideais de liberdade, igualdade e oportunidade, além da busca pela felicidade pessoal e conforto material; externamente, ele se idealiza na extensão dos seguintes princípios: promover a paz, a ordem social e a prosperidade para toda a espécie humana, o que é visto por Nicholas Hagger (2011) como uma ordem mundial visionária liderada pelos Estados Unidos, de pleno otimismo e esperança. A China é imutável Dessa forma, uma das percepções mais marcantes na política estadunidense acerca das implicações da ascensão chinesa e seus objetivos políticos de longo prazo no leste da Ásia é de que Pequim aspira à restauração da ordem sinocêntrica na região, além de querer transformar a ordem mundial liderada pelos Estado Unidos. Desde a Guerra do Ópio, o governo dos Estados Unidos promoveu, de fato, o status quo político, a fragmentação territorial e estimulou lideranças autoritárias que pudessem proteger seus interesses. Essa concepção pode ser encontrada em um dos volumes da The Atlantic Monthly de 1899 (“The Break-Up of China”) e levantou umas das questões cruciais para os Estados Unidos, que é também signiicativa nos dias atuais: como desintegrar a China ou torná-la um país ocidentalizado. Independentemente dos Estados Unidos negarem ou reconhecerem essa política, a China acredita nisso. Missionários pioneiros ocidentais, da Europa e dos Estados Unidos, fracassaram em seus esforços de converter os chineses em cristãos. Na própria história e civilização da China, o país foi conquistado e governado por minorias como os mongóis e manchus, que tentaram alterar características fundamentais da cultura chinesa, mas, posteriormente, foram eles mesmos mudados e sinicizados. 51 Após os protestos estudantis de 4 de junho de 1989, formuladores de política estadunidenses airmaram que a causa do problema entre a China e os Estados Unidos era a ausência de democracia e direitos humanos na China. No entanto, desde o triunfo da Revolução Chinesa em 1949 até a normalização das relações entre a China e os Estados Unidos, os confrontos entre ambos os países eram considerados um produto da “ameaça de segurança” chinesa. Após tentarem isolar a China, os Estados Unidos enxergavam a política externa chinesa, isto é, seu engajamento ativo na arena internacional, exportadora da revolução comunista e apoiadora dos movimentos de libertação nacional (na África e Ásia, no Movimento dos Países Não Alinhados e nas relações Sul-Sul) como uma ameaça a ser contida. Tanto a Guerra da Coreia como a Guerra do Vietnã se enquadram nessa dimensão da disputa. A alteração na política estadunidense, desde a ênfase colocada nos fatores externos de segurança que condicionavam as relações China-Estados Unidos, até o foco atual nos fatores domésticos (transformação do sistema político chinês), é a chave para a compreensão do “problema” entre a China e os Estados Unidos. No entanto, esses aspectos formam parte de uma mesma estratégia estadunidense para a China. Durante a era comunista e de socialismo maoísta, a China adotou um caminho para o desenvolvimento independente e autossuiciente. Isso foi visto pela aliança capitalista liderada pelos Estados Unidos como uma ameaça, tendo em vista sua projeção como potencial modelo econômico e ideológico. No passado, o principal objetivo da política maoísta era desaiar e superar a hierarquia desigual do sistema econômico mundial. Por ironia, o protocapitalismo de Deng, aliado ao autoritarismo político, passou também a ser visto como ameaça por sua ambição em ter acesso à parcela maior da riqueza mundial e aos recursos, ser responsável de criar problemas ambientais e resistir às 52 demandas políticas estadunidenses. De fato, tal ameaça é inerente ao funcionamento do capitalismo global! Defendendo sua hegemonia na ordem capitalista global A hegemonia da ordem mundial moldada pelos Estados Unidos tinha como principal objetivo manter padrões de relacionamento global em um sistema capitalista global que iria sempre produzir e reproduzir grandes desigualdades e continuaria a gerar vantagens, benefícios e privilégios dessa disparidade global em benefício dos Estados Unidps e de outros estados ocidentais centrais. Esse objetivo oculto, porém central da arquitetura norte-americana no pós-guerra, foi explicitado por George Kennan:10 Nós detemos o 50% da riqueza mundial mas apenas 6,3 por cento da população […] Nesse caso não podemos ser objeto de inveja e ressentimento […] nossa verdadeira tarefa para o próximo período é criar um padrão de relacionamento que nos garanta manter essa posição de disparidade. […] Nós deveríamos parar de falar sobre melhoria dos padrões de vida, direitos humanos e democratização. Não está distante o dia em que teremos que lidar com conceitos honestos de poder. Quanto menos formos diicultados por slogans idealistas, melhor. (KENNAN, 1976) O memorando acima revela de forma clara que, mesmo que não houvesse ameaça comunista, os Estados Unidos enfrentariam um grande problema para sustentar a ordem e a segurança globais. A principal característica 10 George Kennan foi chefe da Equipe de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado. Suas citações foram retiradas do texto completo da seção Policu Planning Staf/23 (KENNAN, 1948). O artigo completo foi publicado em 1976, na Foreign Relations of the United States, v. 1, n. 2, 1948. 53 do objetivo estratégico de Washington, conforme indicado pelo memorando, foi facilitar o acesso dos Estados Unidos e aliados ocidentais aos mercados, mão de obra e matériaprima no Terceiro Mundo, objetivos anteriores à Guerra Fria (MCSHERRY, 2000, p. 29). O principal objetivo estratégico de Washington para o século XXI é manter a ordem neoliberal internacional e servir ao propósito de não esperar pela “chegada de uma nova grande ameaça, mas moldar o ambiente internacional para prioritariamente prevenir a chegada de uma nova ameaça” (KAGAN; KRISTOL, 2000, p. 61). Esse objetivo está intimamente conectado a uma crença que há muito domina a política externa de Washington: “os principais interesses da nação são alcançados em um mundo relativamente estável, abertamente hospitaleiro ao capital internacional e geralmente predisposto a aderir às prioridades políticas e estratégicas dos Estados Unidos” (KLARE, 2000, p. 9). Montando o tigre do mercado chinês Atualmente, a principal corrente de políticos e acadêmicos estadunidenses concorda que se deve conter a ascensão chinesa, enquanto a comunidade empresarial investe em seu vasto mercado. Desse modo, como resultado percebe-se que se, por um lado, os Estados Unidos empenham-se em limitar o comportamento chinês ao conjunto de regras estabelecidas, sem prejudicar seu acesso ao vasto mercado potencial chinês, por outro, a acumulação de poder por parte da China, devido à sua participação crescente no mercado global, permite a ela desaiar a ordem mundial liderada pelos Estados Unidos. Os Estados Unidos alegam ter derrotado o socialismo chinês, mas, ao mesmo tempo, vêm reproduzindo intensas contradições no protocapitalismo chinês. Contrariando as expectativas estadunidenses acerca das reformas no mercado chinês que tiveram início há mais de 20 anos, a China, como força econômica em 54 ascensão, começa a inluenciar o mercado global. Além disso, em alguns casos, vem tentando seguir seus próprios interesses e ditar suas próprias regras, apresentando um grande desaio ao sistema internacional existente. É paradoxal que o atual capitalismo chinês, comparado à anterior fase socialista, resulta ser potencialmente mais “ameaçador” à ordem dominada pelos Estados Unidos em termos realistas do que os anteriores desaios ideológicos. A ameaça da população chinesa de 1,4 bilhões em termos de consumo de recursos e acumulação de capital é mais real do que o “choque de civilizações” de Samuel Huntignton. Enquanto os Estados Unidos sonham com o poder de compra de 1,4 bilhões de pessoas, esquece que um capitalismo nascente e em ebulição assume formas selvagens e pode produzir resultados inesperados. A economia de mercado aberta na China leva às pessoas a buscarem todas as oportunidades possíveis de obter lucro ou apenas sobreviver. Muito do “mau comportamento” do mercado de Pequim é consequência do seu processo de reforma econômica. Por exemplo, a “violação de regras” por Pequim em propriedade intelectual é um exemplo típico da contradição de que, por um lado, os Estados Unidos desejam ver a economia de mercado destruir o autoritarismo estatal chinês, mas, por outro, práticas de busca de lucro de forma irregular resultantes de economia capitalista prematura são extremamente danosas aos interesses comerciais dos Estados Unidos e devem ser impedidas por meio da intervenção estatal. Fato é que os Estados Unidos vêm aumentando seu poder de barganha, mas, ao mesmo tempo, vêm se tornando dependente do mercado chinês, bem como do luxo de exportações baratas para seus centros de compras. A “síndrome” da China Os Estados Unidos estão sofrendo atualmente a “síndrome da China”, um sintoma caracterizado por 55 um misto de ansiedade psicológica, histeria emocional e demonização empática. Durante as últimas décadas, o fascínio ou a irritação inluenciaram as políticas dos Estados Unidos em relação à China. A academia e o jornalismo ocidentais sempre produziram sentimentos ambivalentes que variavam de uma aprovação descomedida, ou otimismo excessivo, a uma repulsa injustiicada e pessimismo profundo. Houve análises que apresentavam grandes expectativas acerca da “segunda revolução” chinesa durante a maior parte da década de 1980; não obstante, as fortes críticas surgem com o fracasso chinês na liberalização política, após a queda do muro de Berlim e, recentemente, notam-se inúmeras especulações que partem da airmação do conceito de um “poder parcial” mundial (SHAMBAUGH, 2013) até as projeções extremamente exageradas, há 10 anos, da ascensão da ameaça chinesa ao status de superpotência (FISHMAN, 2006). De tempos em tempos, observadores e políticos ocidentais utilizam de forma seletiva sucessos e fracassos chineses para justiicar suas teorias e preconceitos preexistentes. O discurso político estadunidense tem como certo que a liberalização política e comercial trará liberdade e pluralismo e, eventualmente, levará o país a uma democracia nos moldes ocidentais. No entanto, esse discurso é baseado em percepções bastante equivocadas e supõe que a liderança comunista chinesa será extinta pelas reformas econômicas sem precedentes e pela integração à economia mundial. Porém, isso é um grande erro de cálculo, já que ignora uma dialética fundamental: por um lado, o progresso econômico afetou o poder e a inluência do Partido Comunista, tornando-o politicamente vulnerável a reveses econômicos. Por outro lado, no entanto, os ganhos econômicos e o aumento no padrão de vida da população diminuíram a demanda social por liberalização política e criariam uma nova legitimidade para o partido e para o 56 Estado. A crescente classe média na China também é vulnerável a enfermidades não comunicáveis, como a diabetes. O dilema essencial que os Estados Unidos enfrentam é que Washington encontra diiculdades em aceitar o status emergente da China, e em acomodá-la no sistema internacional vigente. Não obstante, os Estados Unidos estão dispostos a envolver a China nas instituições internacionais sem contrariar a ordem mundial vigente, na esperança de que aceite as “regras internacionais”. O sonho chinês A busca existencial para se reairmar como nação e entidade política forte e próspera tem sido a preocupação fundamental na história moderna da China. Desde a derrota na Guerra do Ópio no início da década de 1840, questões acerca de poder e riqueza nacionais, sobrevivência da nação e identidade cultural tornaram-se preocupações centrais de todos os chineses, especialmente dos intelectuais e revolucionários pioneiros. A China no século XX foi caracterizada por repetidas mudanças, de crises até fracassos no seu rápido crescimento e modernização. Desde o começo da reforma econômica, na década de 1970, as políticas “pragmáticas” chinesas deram grande ênfase ao comércio e à economia, mais do que na política e na ideologia, o que se traduziu no fortalecimento de relações com todo o mundo capitalista, incluindo os Estados vizinhos. O século XX foi marcado pela luta ininterrupta da China para realizar o “sonho chinês”, isto é, o grande rejuvenescimento histórico da nação chinesa. Memória histórica vis-à-vis pragmatismo econômico Apesar da noção do “sonho chinês” ter se tornado um slogan nacional na China, especialmente quando o 57 governo e o próprio presidente o promovem nacional e globalmente, é historicamente reconhecido que o legado do conceito surgiu no inal do século XIX, quando o “Reino do Meio” da dinastia Qing desintegrou-se de maneira vergonhosa diante do poder militar dos invasores europeus. A nostalgia histórica e cultural que envolve o sonho chinês foi uma das forças motoras dos revolucionários pioneiros para a realização do rejuvenescimento histórico da China (LI, 2015). A dura realidade que a China terá que engolir é que, após “o século de humilhações”11, e do sofrimento inesquecível da sua “mentalidade de vítima”12, a liderança pós-Mao teve que se voltar para o Ocidente em busca de tecnologia, investimento e cooperação. Uma contradição fundamental nota-se entre a desconiança que a China tem do Ocidente e do Japão, devido às suas experiências históricas, e o intenso desejo de fazer parte do clube dos países ocidentais avançados, além de obter empréstimos, aprender e participar de transações comerciais, transferência de tecnologia etc. O grande avanço chinês em termos de 11 12 A noção do “século de humilhações” refere-se ao período entre a Primeira Guerra do Ópio Sino-Britânica (1839) e o inal da Guerra Civil Chinesa (1949), período em que a incursão política, a exploração econômica e a agressão militar por imperialistas ocidentais estrangeiros são consideradas os principais fatores externos que destruíram a glória histórica da civilização chinesa e humilharam a nação. A noção de mentalidade de vítima está conectada à experiência dolorosa durante o “século de humilhações” (ver nota 4) durante o qual a China sofreu mais de um século de humilhações nas mãos de potências ocidentais e do Japão. Desde então, a nação chinesa ainda sente o peso desse legado histórico, que dominou a mentalidade da China em suas relações com o mundo ocidental. É um dos principais motivos que instigaram as revoluções no século XX, incluindo a revolução comunista, e formatou a política externa e relações internacionais desde a fundação da República Popular em 1949. 58 crescimento econômico foi possível devido ao seu maior envolvimento no sistema capitalista global. Os ganhos econômicos de Pequim pela transformação econômica global são inseparáveis da sua dependência do mercado global. Montando no tigre da “lógica do capital” e do “mecanismo de mercado” A abordagem e o padrão do desenvolvimento econômico chinês assemelham-se, historicamente, ao modelo do Japão e dos países asiáticos recentemente industrializados, isto é, aprofundando as relações estruturais com países industrializados ocidentais e dependência de comércio, investimento e inanciamento externos. Ao analisarmos o “sucesso” do crescimento econômico chinês, constataremos facilmente que investidores e empresários ocidentais dominaram os setores mais dinâmicos da economia. Em outras palavras, o rápido crescimento econômico chinês foi conduzido com o apoio de investimento externo e joint-ventures. A ascendência de um estrato neoliberal com orientação externa aprofundará a dependência e reforçará a dependência a grupos com vínculos externos enquanto a inluência do sentimento nacionalista criará políticas “intermediárias” que tenderão a deinir os termos e as condições para associações entre capital público e privado, investidores domésticos e estrangeiros, bem como formas de inanciamento. O crescimento pró-mercado estimula maiores concessões para induzir que luxos de capital atendam a enorme demanda por recursos e a busca por mercados externos. Ademais, a integração com o mercado global signiica dependência excessiva de suas forças de produção às lutuações do mercado global. A hipótese da reforma econômica chinesa tomou como certo que o vínculo externo da economia da China à economia global iria reforçar as elites governantes e 59 promoveria expansão interna. A rápida industrialização, sob esse ponto de vista, deveria atrair investimento externo ao reduzir custos de “bem-estar social” e apoiar-se na mão de obra barata. Como consequência, as relações de poder entre capital e trabalho tornaram-se cada vez mais desequilibradas, levando ao fato que o crescimento econômico está intimamente conectado à legitimidade política e disputa de poder. O papel positivo do Estado e a exploração da mão de obra barata são, por um lado, um dos fatores que levaram ao sucesso do crescimento econômico chinês; enquanto, por outro lado, também são as raízes de sérios problemas internos: corrupção e desigualdade, que causam instabilidades políticas e sociais. Dessa forma, o sucesso da reforma de mercado chinesa não é objeto de dúvida, não obstante está levando ao surgimento de problemas sérios que anteriormente eram considerados “doenças ocidentais”. Muitos dos problemas sociais, econômicos e políticos do país como corrupção, polarização, divisão social, banditismo são, na verdade, consequências das reformas de mercado. A China quer manter a estabilidade social e resistir à interferência e inluência cultural estadunidense, ao mesmo tempo que cria forças de mercado que se orientam na direção oposta. Enquanto importa produtos e tecnologia norte-americanos, ao mesmo tempo luta para impedir a “poluição espiritual” estadunidense. A China está ganhando força econômica, mas perdendo independência. A ascensão chinesa por meio da participação ativa na economia política global está, ao mesmo tempo, traduzindo-se em maior vulnerabilidade e dependência. Comercialização, globalização vis-à-vis características chinesas Muitas das contradições chinesas nas suas relações exteriores, principalmente em relação aos Estados Unidos, repousam na “política de portas abertas” de Pequim versus 60 a arraigada “identidade chinesa” que expõem duas facetas contraditórias da China: entrar no mercado capitalista global enquanto preserva suas “características chinesas” e identidade política/nacional. A China quer que os Estados Unidos entendam suas “características chinesas” no atual processo de integração à ordem capitalista global impulsionada por seu crescimento econômico sustentável e o subsequente aumento de poder militar. A intenção de Pequim é utilizar o poder estatal para acumular inluência suiciente visando alterar as regras existentes e atender à direção desejada. No entanto, isso pode causar sérias contradições no que se refere à estrutura política e econômica chinesa e na sua interação com o mundo capitalista externo. A combinação de “neoliberalismo” e “nacionalismo” vem causando ambiguidades no planejamento político e ideológico da China. A nova elite chinesa parece aceitar o neoliberalismo estadunidense no que se refere ao papel do mercado e na relação entre as forças produtivas e as relações de produção, mas, ao mesmo tempo, busca preservar seu discurso político e a sua “identidade” chinesa. A aceitação da ideologia da economia de mercado capitalista é, em essência, contraditória à organização social e política chinesa. O resultado é que o Partido Comunista e o governo debatem e engajam-se em um discurso político no nível da superestrutura, nas suas relações internas e externas e se fundamentam em uma ideologia de “características chinesas”. No entanto, essa ideologia é constantemente desaiada pelas consequências da adoção de uma estratégia de desenvolvimento orientada para o mercado que afeta a legitimidade do establishment político. Nesse sentido, parece que a situação que o Estado autocrático chinês enfrenta é que a mudança não será fruto apenas da determinação das lideranças, mas da interação da sociedade como um todo, bem como as reações tanto da liderança como da sociedade ao ambiente global. 61 O SONHO CHINÊS VERSUS O SONHO AMERICANO O núcleo do sonho chinês, como expresso pelo presidente chinês Xi Jinping, é conseguir o “rejuvenescimento nacional”. De acordo com o proeminente acadêmico chinês Ye Zicheng, que explicou a essência do sonho chinês: “se a China não se tornar uma potência mundial, o rejuvenescimento da nação chinesa será incompleto.Apenas quando se tornar uma potência mundial poderemos dizer que o rejuvenescimento total da nação chinesa terá sido conquistado” (WHYTE, 2015). A China entende que as potências dominantes atuais distorceram e ignoraram o papel histórico desempenhado por ela nos 15 séculos durante os quais deteve superioridade econômica e tecnológica em relação à civilização ocidental antes da sua conquista e declínio no século XIX. A superioridade e os avanços chineses no decorrer da história, que desempenharam um papel indispensável na ascensão do capitalismo e na industrialização da Europa, foram estudados e documentados no brilhante The Eastern Origins of Western Civilization (2004), de John Hobson. Como Petras (2015) salienta, “é especialmente importante enfatizar como a China, a potência tecnológica mundial entre 1100 e 1800, tornou possível a emergência do Ocidente. Foi apenas ao tomar emprestado e assimilar as inovações chinesas que o Ocidente pode realizar a transição para a o capitalismo moderno e o imperialismo econômico”. Em contrapartida ao nacionalismo chinês, o “excepcionalismo estadunidense”, autoidentiicado com as suas várias expressões, como “o império de liberdade”, “uma cidade brilhante na montanha”, “a última melhor esperança da Terra”, “o líder do mundo livre” e “a nação indispensável”, acredita que os Estados Unidos detêm um lugar e papel únicos na história da humanidade (WALT, 62 2011). A essência por trás do “excepcionalismo estadunidense” pressupõe que seus valores, normas, sistema sociopolítico, modelo de organização socioeconômica e história são, ao mesmo tempo, únicos e universais, uma vez que representam “o im da história” (FUKUYAMA, 1992). A noção também implica que os Estados Unidos são predestinados e têm o direito a desempenhar o papel de liderança no cenário mundial. O sonho norte-americano é enraizado em uma forte ideologia neoliberal que se consolida com fundação e liderança da ordem mundial liberal. Com base na premissa de que tal ordem liberal é expansiva e integrativa, abraçando a participação econômica global e a ascensão de novas economias emergentes, ela se caracteriza como um sistema internacional aberto baseado em normas e instituições que enfatizam a não discriminação e abertura de mercado (IKENBERRY, 2008). A ordem liberal é percebida como resiliente e capaz de acomodar novos players. Portanto, conlitos ou guerras não são inevitáveis, porque as potências emergentes também têm interesse na condução do mundo de acordo com suas preferências (GREEN; KLIMAN, 2011). Se a China for trazida para essa ordem liberal, suas regras e instituições fundamentais “modelarão Pequim mais do que serão modeladas por ela” (FONTAINE, RAPP-HOOPER, 2016). Se Pequim não for moldada e se tornar um desaiante revisionista, a ordem liderada pelos Estados Unidos estará fadada ao colapso (FONTAINE, RAPP-HOOPER, 2016). A partir do novo milênio, a ascensão da China e seu impacto na ordem existente liderada pelos Estados Unidos têm sido o maior foco das ciências sociais em geral e dos estudos sobre desenvolvimento, relações internacionais e economia política internacional, em particular, contemplando as principais publicações nos últimos anos (LI, 2010; LI; CHRISTENSEN, 2012; LI; FARAH, 2013; LI, 2014; 63 CHRISTENSEN; LI, 2016; LI; SHAW, 2013; 2014). Os desaios chineses à ordem liberal existente são reais, tanto em nível estrutural quanto ideológico. O modelo chinês, conhecido normalmente como “consenso de Pequim” (RAMO, 2004), fez com que muitas lideranças ocidentais, formuladores de política e de opinião questionassem a universalidade de seu próprio sistema. Thomas Friedman, colunista de política internacional do New York Times, admitiu abertamente a efetividade do sistema político chinês em que “um partido pode impor diiculdades política, mas também políticas fundamentais necessárias para levar uma sociedade adiante no século XXI” (FRIEDMAN, 2009). Até John Williamson, um dos principais arquitetos do “Consenso de Washington”, admitiu em um artigo de 2012 que o Consenso de Pequim parece ter recebido reconhecimento global às custas do Consenso de Washington (KURLANTZICK, 2013). Uma montanha com ou sem dois tigres? De que maneira esses sonhos distintos afetam ou aumentam a desconiança e as suspeitas nas relações China-Estados Unidos, especialmente em questões de segurança? De acordo com a análise dos autores mencionados, os confrontos por trás do “rejuvenescimento nacional” e do “excepcionalismo estadunidense” de Washington levam à “Armadilha de Tulcídides”13, um dilema de soma-zero, em que os ganhos de um são considerados perdas para o outro. De alguma forma, esse raciocínio coincide com a lógica da teoria da transição de poder, ao supor que o crescimento do 13 No século V a. C., quando a rápida ascensão de Atenas foi percebida como ameaça mortal à predominância centenária de Esparta no Peloponeso, a consequência levou à guerra. O grande historiador grego Tulcídides, notou heuristicamente: foi a ascensão de Atenas e o medo que incutiu em Esparta que tornou a guerra inevitável. 64 poder econômico e militar da China provavelmente levará à guerra, uma vez que essa desconiança estimula o temor e o erro de cálculo por parte dos Estados Unidos (PEMPEL, 2015). Segundo essa perspectiva, ambos os atores calculam maneiras de deixar o principal concorrente à margem. Um exemplo resultante da falta de coniança estratégica entre as duas potências é o grande “entusiasmo” chinês vis-à-vis o “cinismo” estadunidense acerca do conceito14 de “Novo Tipo de Relações entre Grandes Potências”, do presidente chinês Xi Jingping (LI; XU, 2014). Segundo essa perspectiva chinesa, a expressão “novo tipo” implica um novo padrão histórico de rivalidade entre grandes potências, que não levaria às guerras mundiais. Em relação à utilização da expressão “grandes potências”, esta serve para enfatizar as relações de igualdade entre os dois Estados. No entanto, visto a partir da dimensão estadunidense, as diiculdades em aceitar a retórica chinesa envolvem: 1) como os aliados regionais dos Estados Unidos interpretarão a aceitação da doutrina chinesa; 2) a questão de potência ativa ou passiva que deinirá a nova estrutura geopolítica; 3) a maneira chinesa de deinir “interesses fundamentais” nacionais (LI; XU, 2014). Essa situação é resumida por um provérbio chinês: “uma montanha não pode ser ocupada simultaneamente por dois tigres”, o que implica a impossibilidade de dois Estados poderosos cooperarem entre sim, e a inevitabilidade da 14 O conceito foi promovido pelo presidente Xi Jiping em 2014, durante o Diálogo Econômico e Estratégico China-Estados Unidos, em julho, e posteriormente na cúpula com Obama em meados de novembro. Os princípios-chave da estrutura são: 1) ausência de clonlitos ou confrontos, por meio da ênfase no diálogo e no tratamento das intenções estratégicas de cada um de forma objetiva; 2) respeito mútuo, incluindo “os interesses nacionais fundamentais” e preocupações vitais fundamentais de cada um; e 3) cooperação com benefício mútuo ao abandonar a mentalidade de jogo de soma-zero e promover áreas de interesse mútuo. 65 competição de soma-zero. Atualmente, os sonhos chineses e estadunidenses empurram na direção de uma estratégia em que os esforços de um em aumentar a própria segurança leva à insegurança do outro. Ao rever a história mundial dos últimos 500 anos, Allison (2015) constatou que em 12 de 16 casos15, guerras eram inevitáveis quando uma potência em ascensão era percebida como ameaça pela potência existente. Ele entende que, apesar de uma guerra entre a China e os Estados Unidos parecer remota, as lições vindas da Primeira Guerra Mundial nos lembram da “capacidade humana para loucura” (ALLISON, 2015). De acordo com a nossa argumentação, o dilema da “montanha sem dois tigres” se desdobrará num confronto de longo prazo entre a potência ascendente e a potência dominante. Isso continuará representando uma variação periódica nas relações China-Estados Unidos, na qual ambos serão puxados e empurrados por restrições estruturais como, por exemplo, a mudança na ordem material e as relações de poder sobre as quais as relações China-Estados Unidos foram fundadas e, em segundo lugar, pelo dilema ideacional, isto é, as diferentes expectativas acerca das quais cada lado deseja que as relações bilaterais se desenvolvam em determinada direção. Reletindo a partir dos debates apresentados, as relações da China com a ordem liderada pelos Estados Unidos têm sido controversas por décadas. O debate inicial acerca do papel da China e sua posição como free rider, que deveria ser transformada em stake-holder, passa a ser a respeito da posição da China como potência de status quo ou “revisionista” na ordem mundial. Por potência de status quo entende-se até que ponto Pequim aceita a ordem 15 Pesquisadores da Harvard’s Kennedy School’s Belfer Center coletaram precedentes e analogias que levaram a ensinamentos históricos para entender o que cientistas políticos deinem por “desaio hegemônico”. 66 mundial como um sistema de regras e normas e torna-se um parceiro ao subscrever à ordem global. Por “revisionista” denota-se o fato de que as instituições inanceiras lideradas pela China – o Banco dos BRICS, o AIIB e o Fundo da Nova Rota da Seda – são vistas como bons exemplos que demonstram “o desaio de Pequim ao sistema Bretton Woods” (FINANCIAL TIMES, 2014). OBSERVAÇÕES FINAIS Este artigo pretendeu analisar o nexo entre a ordem mundial existente, liderada pelos Estados Unidos, e a ascensão da China, interdependentemente entrelaçados na essência do relacionamento, embora periodicamente em conlito. As contradições da interdependência sino-estadunidenses e suas interações reforçam potenciais constrangimentos, bem como conlitos. Ambos os lados aparentam estar montando o tigre em uma situação típica de “dilema do prisioneiro”. Nossa conclusão reforça o argumento de que as relações sino-estadunidenses são e continuarão baseadas em um processo dialético de fortalecimento e enfraquecimento, declínio e crescimento, como compreendido pelo antigo conceito confuciano chinês de yin e yang.Vistas a partir dessa perspectiva, as relações sino-estadunidenses continuarão em estado de movimento de luxo e reluxo, mais do que avanços e retraídas propositais, como as posições deterministas tendem a sugerir. A ordem mundial liderada pelos Estados Unidos deve entender que a ascensão econômica chinesa tem como premissa a expansão e integração com o sistema internacional, e que os fatores domésticos e externos de conquistas econômicas da China são interligados e mutuamente dependentes. As oportunidades e os desaios trazidos pela ascensão chinesa estão diretamente conectados ao nexo entre externalidades e internalidades intrínsecas ao processo de transformação histórica da China e seu ressurgimento recente. Tanto a China como os Estados Unidos estão 67 presos ao vínculo interno-externo interconectado a uma resposta desaiadora: lutas internas são iniciadas por desaios externos, enquanto desaios internos são respondidos por transformações externas. Para que uma relação sólida entre a China e os Estados Unidos possa se desenvolver, visando a paz e à estabilidade global, os dois países necessitam um entendimento claro e realista acerca da existência dessas contradições e suas relações, tanto com o excepcionalismo estadunidense como com o sonho chinês. Para que se possam evitar potenciais confrontos, tanto Pequim como Washington terão que moderar seus sonhos exclusivos, suas percepções sobre segurança global e sobre a sociedade humana (LI, 2015; YU, 2015), para conviver num lugar comum. No futuro próximo, cada um deles terá que encontrar seu próprio papel regional e global onde possam se aceitar e coexistir. Para que isso possa ser feito, ambas as nações terão que enfrentar um período considerável de lutas, ajustes e tensões que incluirão crescentes desigualdades (BRESLIN, 2007). REFERÊNCIAS ALLISON, Graham. Thucydides Trap Case File, 16 major cases of rise vs. rule. 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A China se beneiciou do IED internamente desde 1978 com a implementação da Reforma e da Política Aberta. O luxo de capital estrangeiro acelerou fortemente desde o início da década de 1990. Embora o IED externo tenha começado muito mais cedo em quantidades muito pequenas, houve um aumento dramático deste a partir do início dos anos 2000, coincidindo com a adesão da China à Organização Mundial do Comércio (OMC) em dezembro de 2001. A adesão à OMC representou algo como um divisor de águas. Nesse contexto, as empresas chinesas foram encorajadas a investir no exterior para “promover as exportações de commodities e de serviços de trabalho” (HUANG; WILKES, 2011, p. 10; SALIDJANOVA, 2011)18. Para promover isso, 16 17 18 Este artigo é baseado, mas substancialmente revisado e atualizado, em nosso artigo anterior sobre o mesmo assunto (MA; OVERBEEK, 2015). Tradução de Bárbara Lopes Campos. “promote commodities and labor services exports”. 73 3 e cumprir com as regras da OMC, o governo chinês liberalizou os procedimentos de veriicação e aprovação para o IED em 2004 com o desenvolvimento da política Going Global. Essas políticas têm sido muito bem-sucedidas: a China tornou-se o terceiro maior investidor global depois dos Estados Unidos e Japão (UNCTAD, 2013). No início de 2015, a China tornou-se um exportador de capital líquido pela primeira vez em sua história (XINHUA, 2015). Embora tenha havido uma atenção crescente na literatura para o crescimento do IED chinês, até agora tem tido relativamente pouco foco especiicamente na análise dos padrões de investimento chineses na Europa. Notavelmente depois de 2008, a Europa tornou-se o destino de mais rápido crescimento para o investimento externo chinês (MOFCOM; NBS; SAFE, 2014). Este artigo, portanto, visa examinar as mudanças de padrões do IED chinês na UE nos últimos anos e explorar possíveis explicações para os desenvolvimentos observados. Examina primeiro os padrões do IED chinês na UE desde 2002 em dois períodos, antes da crise inanceira (2002-2008) e a após a crise inanceira (2009-2016). Em seguida, tenta explicar os motivos que levaram a essas mudanças, tanto da perspectiva doméstica chinesa quanto de uma perspectiva internacional. Identiicamos fatores de atração e impulso que contribuem para uma mudança no padrão do IED chinês para a Europa. Os dois principais fatores de atração são a subvalorização de ativos privados fortes no contexto da crise da dívida soberana da Zona do Euro e o ambiente de investimento comparativamente amigável na UE quando comparado com os Estados Unidos. Os fatores de impulsão são os desejos chineses de reduzir a dependência das exportações e do dólar americano. 74 O PAPEL DA UE NO QUADRO GLOBAL DOS IED DA CHINA Os primeiros investimentos externos chineses foram registrados em 1979. Durante a década de 1980, o luxo anual de IED da China permaneceu muito baixo. Da década de 1990 ao ano de 2004, ele percorreu o nível de US$ 2 bilhões, enquanto que desde 2004 houve um aumento acentuado (Figura 1) (ver DE BUELE;VAN DEN BULCKE, 2010). No inal de 2015, os luxos de IED chineses atingiram US$ 128 bilhões, representando 8,7% dos luxos mundiais de IED e ocupando o terceiro lugar no mundo depois dos EUA e Japão (UNCTAD, 2016). Figura 1 – Fluxo externo de IED global e da China, 1982-2016 Fonte: UNCTAD, 2013. Em termos da distribuição geográica do IED chinês, como mostra a Figura 2, a Ásia atraiu cerca de 70% do estoque de IED chinês, enquanto outras regiões juntas apenas representam um quarto.As ações da África e da Oceania são estáveis em 3-4% e 2-3%, respectivamente, enquanto a participação da América Latina caiu de 18% para 11% de 2008 a 2015. Enquanto a parcela da América do Norte aumentou 3%, a parcela da Europa aumentou 5%, ascendendo a 8% do estoque total de IED chinês em 2015. Desde 2008, a Europa tem sido o destino de maior crescimento. 75 Figura 2 – Estoque de IED da China por região, 2008/2015 Fonte: MOFCOM; NBS; SAFE, 2009; 2016. Entre os países europeus, a UE foi o destino mais importante, representando 76% do estoque total de IED chinês na Europa em 2015 (MOFCOM; NBS; SAFE, 2016). O IED chinês na UE começou na década de 1980, desenvolvendo-se lentamente nos próximos 20 anos. No século XXI, como mostra a Tabela 1, embora a UE tenha recebido uma proporção modesta do IED externo global da China, o montante aumentou rapidamente entre 2004 e 2015, sendo que o estoque de IED foi quase 120 vezes maior que em 2004. Tabela 1 – Fluxos de IED chinês e estoques na UE, 2004-2015 (USD bilhão e crescimento %) 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Fluxo Soma 0.073 0.185 0.129 1.044 0.467 2.966 5.963 7.561 6.120 4.524 9.789 5.480 Externo YOY % mu152.0 -30.3 711.1 -55.3 535.1 101.0 26.8 -19.1 -26.1 116.3 -44.0 dança Ação 1.3 1.5 0.7 3.9 0.8 5.3 8.7 10.1 7.0 4.2 7.9 3.8 Estoque Soma 0.54 0.77 1.28 2.94 3.17 6.28 12.50 20.29 31.54 40.10 54.21 64.40 Ação 1.2 1.3 1.7 2.5 1.7 2.6 3.9 4.7 5.9 6.1 6.1 5.9 Nota:YOY – ano para ano. Fonte: MOFCOM; NBS; SAFE, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015; MOFCOM; NBS; SAFE, 2016. 76 Embora os luxos chineses de IED para a UE lutuem bastante de ano para ano, eles começaram a acelerar a partir de 2005. Os luxos anuais para a UE foram inferiores a US$ 1 bilhão antes de 2007 e diminuíram em 2008, mas subiram para quase US$ 3 bilhões em 2009 e continuaram a aumentar para US$ 7,5 bilhões em 2011. No entanto, eles diminuíram 19,1% em 2012 e 26,1% em 2013, enquanto houve um grande aumento em 2014 (116,3%), seguido de uma queda de 44% em 2015. Em geral, tanto os luxos e os estoques chineses de IED na UE aumentaram consideravelmente desde a crise inanceira global em 2008 (Figura 3), mostrando a necessidade de analisar as novas características do IED chinês na UE no período pós-crise inanceira. Figura 3 – Fluxos e estoque de IED chinês na UE, 2004-2015 Fonte: MOFCOM; NBS; SAFE, 2005-2016. IED CHINÊS NA UE: PADRÕES EM MUDANÇA As estatísticas de IED compreendem tanto greenield investments e fusões e aquisições (M&A). Nesta seção, examinamos mais detalhadamente os dados disponíveis sobre M&A. Este artigo explora as mudanças em termos das tendências da distribuição geográica e setorial e do envolvimento de investidores com diferentes estruturas de propriedade em dois períodos: 2002-2008 e 2009-2016. 77 M&A CHINESAS NA UE: CRESCIMENTO RÁPIDO COM FLUTUAÇÕES Foram registradas 440 operações completas de fusões e aquisições no período 2002-2016 na base de dados Thomas SDC. Como mostra a Figura 4, no período 2002-2007, o número anual de negócios concluídos foi de cerca de 10, subindo para 16 nos anos de 2007 a 2010, enquanto o período 2011-2016 viu um novo rápido aumento do número de aquisições. Os negócios concluídos atingiram 34 em 2011, 43 e 44 em 2012 e 2013, respectivamente, saltando para 72 em 2014, 80 em 2015 e 104 em 2016. Ao mesmo tempo, o valor anual das fusões e aquisições lutuou fortemente: no período 2002-2008 entre 0 e US$ 6,0 bilhões; no período 2009-2016 lutuando a um nível médio substancialmente maior, entre US$ 2,57 bilhões em 2010 e um máximo de US$ 14,66 bilhões em 2014. Figura 4 – M&A chinesas completadas na UE, 2002-2016 Fonte: Thomas SDC database. DISTRIBUIÇÃO DE M&A CHINESAS NA UE: CAMINHO VELHO E NOVAS ESTRATÉGIAS A distribuição geográica das fusões e aquisições chinesas na UE segue o mesmo caminho que os investidores 78 anteriores. Os investidores chineses concentraram-se principalmente nos “Estados-membros principais”19, como Reino Unido, Bélgica, Itália, Holanda, Alemanha e França no período 2002-2008, dos quais o Reino Unido atraiu mais de 60% das aquisições, seguido pela Bélgica (27,6%). No entanto, como mostra a Tabela 2, no período 2009-2016, as M&A chinesas tendem a se espalhar mais amplamente. Embora os principais Estados-membros tenham atraído mais de 60% do valor total das aquisições chinesas, a participação diminuiu acentuadamente. O Reino Unido ainda é o destino número 1, com 77 negócios concluídos, atraindo quase um terço do valor total das M&A chinesas. França, Alemanha e Holanda começaram a alcançar, atraindo 15%, 12% e 8%, respectivamente, do valor total com um número crescente de negócios. Dois novos recursos aparecem no período pós-crise inanceira. Primeiro, o investimento em Estados semiperiféricos aumentou rapidamente. Por exemplo, Itália, Irlanda, Espanha, Portugal e Grécia atraíram mais de um quinto do valor total do investimento chinês com um número crescente de negócios, logo após os principais Estados-membros. Em segundo lugar, os Estados-membros periféricos gradualmente também se tornaram um destino popular. Por exemplo, sete aquisições no valor de US$ 2,1 bilhões foram concluídas na Hungria e um acordo avaliado em US$ 0,4 bilhão foi realizado na Eslováquia. Enquanto isso, República Tcheca, Polônia, Chipre, Estônia, Lituânia e Romênia se tornaram novos destinos para M&A chineses. 19 Neste artigo, classiicamos os Estados-membros da UE como “Estados-membros principais” (EU-15, menos Irlanda), “Estados-membros semiperiféricos” (os chamados PIIGS, isto é, Portugal, Irlanda, Itália, Grécia, Espanha) e “Estados-membros periféricos”, ou seja, os que se juntaram à UE após 2004 (Bulgária, Croácia, Chipre, República Tcheca, Estónia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia). 79 Tabela 2 – Países de destino de M&A chinesas completadas na UE, 2002-2008, 2009-2016 M&A chinesas na UE 2002-2008 M&A chinesas na UE 2009-2016 N. Destino Ação Valor de no classiicamerção inc. cado Dívida líquida do alvo ($ mil) 1 Reino Unido 7,107.00 62.2 17 Reino Unido 15,339.90 28.5 77 2 Bélgica 3,152.90 27.6 3 França 8,279.10 15.4 61 6,304.10 11.7 90 4,427.40 8.2 24 Valor de classiicação inc. N. de acordos Destino Alemanha Holanda Ação no mercado N. de acordos Dívida líquida do alvo ($ mil) 3 Itália 770.4 6.7 6 4 Holanda 251 2.2 5 107.4 0.9 17 Itália 4,372.70 8.1 44 35.6 0.3 6 2,572.00 4.8 5 0 0 1 Irlanda Espanha Hungria Suécia Portugal 2,556.40 4.8 28 2,134.60 4 7 1,957.70 3.6 16 1,896.50 3.5 4 Bélgica 1,487.70 2.8 7 903.5 1.7 9 399.8 0.7 1 318 305.6 0.6 0.6 9 1 236.3 0.4 3 174.8 0.3 9 99.1 0.2 9 5 6 7 Alemanha França Dinamarca 8 Hungria 0 0 1 9 Portugal 0 0 1 10 Espanha 0 0 1 11 Luxemburgo Eslováquia Áustria Grécia Finlândia República Tcheca Dinamarca 12 13 14 15 16 17 18 19 Polônia 59 0.1 1 20 Chipre 30 0.1 1 21 Estônia 0 0 1 80 M&A chinesas na UE 2002-2008 N. Destino Ação Valor de no classiicamerção inc. cado Dívida líquida do alvo ($ mil) M&A chinesas na UE 2009-2016 Valor de classiicação inc. N. de acordos Destino Ação no mercado N. de acordos Dívida líquida do alvo ($ mil) 22 Lituânia 0 0 2 23 Romênia 0 0 3 Total da indústria 53,853.90 100 412 Total 11,424.30 100 58 Fonte: Thomas SDC database. DISTRIBUIÇÃO SETORIAL: DE INDÚSTRIAS FINANCEIRAS E DE RECURSOS NATURAIS À DIVERSIDADE Na Tabela 3 fornecemos uma visão geral das fusões e aquisições chinesas na UE por setor em dois períodos. Isso demonstra que as aquisições chinesas nas indústrias inanceiras e de recursos naturais representaram 85% do valor total no período 2002-2008. No entanto, após a crise inanceira, as aquisições se diversiicaram. Medido pelo valor total, a infraestrutura foi a indústria mais atrativa, atraindo 13% do investimento chinês, seguindo as indústrias de serviços (serviços empresariais 8,8%, imóveis 7% e seguro 5,4%). As menores ofertas foram concluídas na indústria de fabricação (maquinário 54, equipamentos eletrônicos 33, e transporte 30), em que três indústrias representaram 8% do valor total das M&A chinesas respectivamente.A indústria de alimentos e a indústria química atraiu 7% e 6%, respectivamente, enquanto as aquisições no setor de petróleo e gás caíram para pouco mais de 3%.Assim, após a crise inanceira, as empresas chinesas começaram a investir em uma gama mais ampla e diversiicada de indústrias do que antes. 81 Tabela 3 – Top 10 setores da M&A chinesas na EU, 2002-2008, 2009-2006 Fonte: Thomas CDC database. PAPEL DOS INVESTIDORES POR PROPRIEDADE As empresas chinesas com diferentes propriedades revelam diferentes padrões de IED. Na Europa, os investidores chineses incluem empresas estatais (State-Owned Enterprises, ou SOEs), o fundo estatal de riqueza soberana (China Investment Corporation, ou CIC20), as empresas 20 A China estabeleceu a Corporação de Investimentos da China (CIC) em 2007 para administrar parte de suas reservas cambiais. Embora o status de um Fundo Soberano de Riqueza (SWF) como agente do IED possa ser questionado (com o objetivo do controle frequentemente estando ausente), seguimos a prática estabelecida na maioria das bibliotecas para incluir o CIC em visões gerais do IED. 82 com estruturas de propriedade híbridas e as empresas totalmente privadas e individuais. Combinando as informações fornecidas pela Tabela 4 e pela Figura 5, consideramos que as entidades estatais não têm monopólio sobre o envolvimento de IED na UE. No período 2002-2008, as empresas não estatais se tornaram jogadoras cada vez mais importantes com negócios concluídos, embora o valor total desses negócios ainda é relativamente baixo. No período 2009-2015, as entidades estatais continuam a ser grandes investidores na UE devido a uma série de grandes investimentos. Enquanto isso, inspirado na Going Global Policy e pela nova iniciativa estratégica One Belt, One Road (OBOR) lançada em 2013, o fundo de riqueza soberana da China (CIC), os bancos de políticas da China e outras entidades comerciais encontraram mais oportunidades para injetar capital do Estado na Europa (HANEMAAN; HUOTARI, 2016). Em suma, as empresas públicas estão claramente envolvidas em negócios de maior valor, mas as empresas não estatais, no entanto, se tornaram jogadores importantes no IED chinês desde a proclamação da política Global de Going e da iniciativa OBOR. Tabela 4. IED da China na EU pela Propriedade dos Investidores, 2000-2011 Número de acordos (USD milhão e número de acordos) Todos os Greenield % ação M&A % ação acordos Controlado pelo governo Empresas estatais Fundos soberanos Privado e público % ação 148 35% 66 46% 214 37% 148 35% 64 44% 212 37% 0 0% 2 1% 2 0 280 65% 79 54% 359 63% 428 146 Total de investimento (USD mn) 83 573 Número de acordos (USD milhão e número de acordos) Todos os Greenield & ação M&A % ação acordos Controlado pelo governo Empresas estatais Fundos soberanos Privado e público % ação 2,738 52% 12,413 79% 15,151 72% 2,738 52% 8,814 56% 11,552 55% 0 0% 3,599 23% 3,599 17% 2,569 48% 3,238 21% 5,807 28% 5,307 15,650 20,968 Fonte: ROSEN; HANEMANN, 2012, p. 46. Figura 5 – Participação do IED chinês na UE pelo tipo de investidor 2000-2015 Fonte: Rhodium Group (HANEMAAN; HUOTARI, 2016, p. 6). EXPLICANDO PADRÕES DE MUDANÇA O IED pode ser explicado por referência aos objetivos gerais perseguidos pelos agentes envolvidos, e o IED chinês não é diferente: os principais fatores são o acesso a matérias-primas e fontes de energia; aquisição de tecnologia, know-how e nome de marcas; e a busca de mercados – seja para evadir a concorrência doméstica ou 84 para contornar as barreiras internacionais ao comércio. Além disso, muitas vezes é sugerido que considerações geopolíticas e geoeconômicas por parte do Estado chinês também desempenham um papel (ver SALIDJANOVA, 2011, p. 6-13 para uma visão geral). No entanto, neste artigo, como dito anteriormente, temos um objetivo mais modesto: nos concentramos na crescente importância da Europa como destino de IED chinês observada desde o início da crise inanceira global em 2008. Na análise acima, mostramos que, no período pós-crise inanceira, em primeiro lugar, as fusões e as aquisições chinesas na UE aumentaram mais rapidamente, mas com menos lutuações; em segundo lugar, o “núcleo da UE” continua a ser o principal destino, mas a “UE semiperiférica” é um novo alvo para o IED chinês; em terceiro lugar, o investimento vai para setores mais diversiicados; em quarto lugar, as empresas estatais ainda são signiicativas, enquanto as empresas privadas estão desempenhando um papel crescente, e a CIC é um novo investidor. Após um exame mais minucioso, ica claro que fatores de atração e fatores de impulsão desempenham um papel. FATORES DE ATRAÇÃO Privatização forçada na UE Inluenciada pela crise das hipotecas sub-prime americanas, a UE sofreu uma crise da dívida soberana desde 2009, com a Grécia rebaixada para a classiicação de crédito mais baixa do mundo pela Standard & Poor’s. Os mercados de ações europeus entraram em queda, a economia europeia estagnou, o euro caiu fortemente em relação ao dólar americano e, em geral, a Zona do Euro enfrentou o teste mais severo desde a sua fundação em 1999. Além disso, ao aceitar os pacotes de ajuda inanceira da UE e do FMI, Chipre, Grécia, Irlanda e Portugal foram 85 obrigados a tomar medidas para reduzir substancialmente os déicits orçamentários e a dívida pública. Condições similares foram impostas à Espanha. A privatização das empresas estatais constitui um componente chave comum dos planos de recuperação para esses países. Os aeroportos de Madri (Barajas) e Barcelona (El Prat) foram privatizados, com a decisão do governo espanhol de derrubar os ativos estatais para “reduzir a pesada lacuna orçamentária da Espanha” (DOMÍNGUEZ, 2011)21. O governo português arrecadou € 3,3 bilhões através de privatizações até 2012 (COSTA, 2012). O governo grego acelerou planos para vender ativos estatais sob pressão da Troika após os resgates em 2010 e 2012 (POGGIOLI, 2013). Quando os governos estão sob uma pressão tão intensa, os ativos para venda provavelmente serão subvalorizados. Nos últimos anos, tais circunstâncias atraíram claramente novos investidores estrangeiros, inclusive chineses, para os países em questão. Um quinto das aquisições chinesas foi, de fato, completado em Estados semiperiféricos nos períodos pós-crise inanceira. Outro bom exemplo é a gigante chinesa do transporte marítimo, a China Ocean Shipping Corporation (COSCO): adquiriu os direitos de operar os dois principais terminais de contêineres no porto do Piraeus, fora de Atenas, na Grécia. Esse contrato de 35 anos foi adquirido por US$ 4,2 bilhões em 2009, o maior negócio até o momento no sul da UE. Com um crescimento rápido nos primeiros dois anos de operação, a COSCO e outras empresas chinesas foram convidadas a assumir uma participação maior nos planos globais de privatização do governo grego (então previstos para € 50 bilhões) (FU, 2012). Em novembro de 2013, a COSCO assinou um contrato para investir mais US$ 309 milhões no porto (XINHUA, 2013). Além disso, ela tem demonstrado um grande interesse em licitação para 21 “narrow Spain’s hefty budget gap”. 86 a privatização da Autoridade Portuária do Pireu (67% das ações) planejada pelo governo grego desde 2014. Essa oferta continuou, mesmo quando o processo de privatização foi suspenso pelo novo governo grego, baseado em Syriza (SHI, 2015). A COSCO inalmente conseguiu a participação de controle com um investimento de € 368,5 milhões em 2016 (STAMOULI, 2016). Como resultado dessas consequências da crise da dívida soberana da Zona do Euro, a Grécia, a Irlanda, a Espanha e Portugal tornaram-se rapidamente novos destinos para o IED chinês. Pode-se esperar que a pressão para privatizar continuará a ser exercida em países com alta dívida pública com em relação ao PIB, como a Grécia e a Itália. AMBIENTE DE INVESTIMENTO RELATIVAMENTE AMIGÁVEL Outra razão para aumentar o IED chinês na UE é o ambiente de investimento relativamente amigável da Europa em comparação com os Estados Unidos. Geralmente, as aquisições globais chinesas concentram-se principalmente nos recursos naturais. Após o fracasso em adquirir a Unocal pela China National Ofshore Oil Company em 2005, os investidores chineses foram cautelosos em investir nos Estados Unidos por causa de seu protecionismo político (ZHANG, 2014). Na UE, no entanto, as empresas chinesas têm permissão para adquirir recursos de petróleo e gás e US$ 5,7 bilhões foram gastos em aquisições no setor de petróleo e gás de 2002 a 2014 (fonte: banco de dados Thomas SDC). O investimento crescente na infraestrutura também indica a atitude positiva para com os investidores chineses por parte dos governos europeus. Mais de US$ 5 bilhões foram gastos apenas em 2012 (HANEMANN; LYSENKO, 2013), incluindo a aquisição pela China Investment Corporation de uma participação de 10% no aeroporto de Heathrow em Londres (BBC NEWS BUSINESS, 2012). Mais de 87 um quarto do investimento chinês no período pós-crise passou para maquinário. As empresas chinesas precisam urgentemente de ativos de fabricação avançados (como habilidades de gerenciamento e tecnologia) para modernizar e internacionalizar. Por outro lado, as empresas da UE acolheram os investidores chineses comprando tecnologia e adquiriram experiência de gestão deles: seja bem-vindo novo cliente em tempos de recessão. Por exemplo, a Geely Automobile Corporation adquiriu com sucesso a Volvo e a Beijing Automotive Company comprou ativos tecnológicos da Saab em 2009. A indústria de alta tecnologia é uma área recentemente emergente para o investimento estrangeiro chinês na UE. As empresas chinesas de alta tecnologia, como a Huawei Technology Corporation (Huawei) e Zhongxing (ZTE), encontraram diiculdades severas de acesso ao mercado de serviços de TI nos Estados Unidos, onde foram invocadas considerações de segurança nacional (CHEN; ATHREYE, 2009). No entanto, eles foram recebidos mais calorosamente na UE. Pegue a Huawei, por exemplo, que opera na Europa através do investimento em fusões e aquisições e greenields. Inspirado na declaração do governo britânico “aberto para negócios”, Ren Zhengfei, fundador da Huawei, anunciou um plano de investimento de £ 1,2 bilhão em uma reunião com o primeiro-ministro britânico David Cameron (PFANNER, 2012). Em 2016, a Huawei empregou mais de 10.000 funcionários, dos quais 1.570 estão trabalhando em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em 18 sites de P&D em oito países europeus (Bélgica, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Suécia e Reino Unido) (HUAWEI EUROPE, 2016). Enquanto isso, a Huawei planeja dobrar as suas equipes de P&D europeias e criar 5.500 postos de trabalho adicionais na Europa até 2017 (HUAWEI, 2014). Além disso, a Huawei enviará esforços para expandir o seu negócio de smartphones 88 na Europa. Em dezembro de 2016, no Nordeste europeu, a cota de mercado é superior a 15% e superior a 10% na Europa Ocidental. Em alguns países do norte da Europa, o smartphone da Huawei tem mantido a liderança no mercado (HUAWEI, 2017). A Europa tornou-se o maior mercado estrangeiro da Huawei. Resumindo, podemos ver que a crise na UE ofereceu uma oportunidade atrativa para os investidores chineses; enquanto isso, tanto os governos quanto as empresas da UE apresentaram uma atitude relativamente positiva em relação ao investimento chinês em comparação com os Estados Unidos. Recentemente, no entanto, os sinais começaram a indicar que o clima acolhedor na Europa pode estar esfriando. Na Alemanha, em particular, a tentativa dos chineses de adquirir “algumas das tecnologias mais valorizadas do país” levaram a uma reação (CHAZAN; WAGSTYL, 2016; KYNGE, 2016). FATORES DE IMPULSÃO Going Global A política Going Global foi o principal fator de impulso que promoveu o IED chinês na Europa, especialmente no período pós-crise inanceira (FREEMAN, 2013, p. 7-11). Em resposta à crise inanceira asiática em 1997 sobre as exportações da China, Going Global (zou chu qu, 走出去) foi primeiramente mencionado em 1999: pretendia que as empresas chinesas tivessem acesso a recursos baratos no exterior para reduzir os custos de produção e promover as exportações (HUANG;WILKES, 2011). Em 2001, a política Going Global foi incorporada no 10º Plano Quinquenal (2000-2005) para incentivar o investimento no exterior, a im de criar empresas multinacionais competitivas e marcas internacionais e ajustar a estrutura industrial doméstica (BERNASCONI89 OSTERWALDER; JOHNSON; ZHANG, 2013). Em conexão com a adesão da China à OMC, a Going Global foi oicialmente mencionada no 16º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês em 2002. Essa política foi aprovada pelo presidente Jiang Zemin como uma nova fase signiicativa da Reforma e da Política Aberta. Geralmente, essa política tem como objetivo incentivar a internacionalização das empresas nacionais e a criação de marcas mundiais, com crédito, seguros e outros serviços facilitadores de apoio do governo (JIANG, 2002). Em 2004, o Conselho de Estado publicou a “Decisão sobre a reforma do sistema de gestão de investimentos”. Essa decisão dá às empresas mais liberdade na tomada de decisões de investimento e estimula um aumento dramático do IED chinês. No período pós-crise inanceira, as empresas chinesas foram encorajadas ainda mais fortemente a realizar investimentos no exterior. No que diz respeito ao IED na UE, três elementos da Going Global Policy são de particular importância. Papel de empresas privadas Os principais atores do sistema econômico chinês são empresas estatais (SOE), que também são proeminentes no IED chinês. Elas foram pioneiras a investirem no exterior para obter recursos, mercados e ativos estratégicos com apoio inanceiro e através de processos administrativos eicientes do governo (por exemplo, COSCO e China Merchants Group). De acordo com estatísticas do Ministério do Comércio da República Popular da China (MOFCOM), mais de 60% dos negócios foram concluídos pelas empresas estatais, especialmente aqueles que buscam recursos e ativos estratégicos. No entanto, apesar do domínio das empresas públicas no IED chinês, as empresas privadas se tornaram uma força emergente devido ao procedimento de autorização 90 liberalizado, que permite e incentiva o investimento no exterior das empresas privadas. Especialmente desde a crise inanceira global, as empresas privadas tornaram-se muito ativas e bem-sucedidas na realização de investimentos no exterior e, às vezes, têm mais vantagens do que as empresas públicas na obtenção de fundos estrangeiros. A aquisição bem-sucedida da Volvo pela Zhejiang Geely Holding Group (Geely) é um exemplo. Inligidos pela crise inanceira, os ativos subavaliados na indústria automotiva atraíram as empresas automotivas chinesas. Enquanto isso, em 2009, com o “Programa de Reestruturação e Rejuvenescimento da Indústria Automotiva”, o governo chinês promoveu a reestruturação da indústria automotiva incentivando as empresas chinesas a realizarem M&A de saída. A Geely conquistou com sucesso 100% da Volvo Car, com US$ 1,8 bilhão, permitindo adequar a tecnologia avançada e a marca internacional da Volvo. A Geely recebeu apoio administrativo e inanceiro completo do governo chinês e dos bancos nacionais, como o Departamento de Zhejiang do Banco da China e o Banco de Exportação e Importação da China, concedendo empréstimos (WU, 2010). Por isso, graças a políticas governamentais favoráveis e ao inanciamento lexível, as empresas privadas estão desempenhando um papel cada vez mais importante no IED. REDUZINDO DEPENDÊNCIA NO DÓLAR ESTADUNIDENSE A exportação tem sido uma trajetória signiicativa para o crescimento do PIB chinês, especialmente porque a China aderiu à OMC. De 2001 a 2007, a participação das exportações aumentou de 22,6% para 38,4% do PIB (Banco Mundial de Dados, 2015) e um excedente de exportação surgiu após 2004, atingindo 7,4% do PIB em 2007 (ZHU; KOTZ, 2011). Em 2009, a China tornou-se o maior exportador do mundo, superando a Alemanha. 91 A economia chinesa foi impulsionada pelo crescimento liderado pelas exportações, sustentado pela política cambial ixa do governo – mantendo o yuan vinculado ao dólar americano (para a relação entre política cambial e investimento estrangeiro, ver: SAUVANT; DAVIES, 2010). Esse modelo de crescimento liderado por exportações levou a China a acumular enormes reservas cambiais. No inal de 2014, estes ascenderam a US$ 3,8 trilhões, dos quais aproximadamente dois terços foram detidos em dólares americanos, o resto em outras moedas e em ouro. A maioria das reservas em dólares americanos foi investida em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Por exemplo, no inal de junho de 2011, a China detinha US$ 1,3 trilhão de títulos do Tesouro dos Estados Unidos (WANG; FREEMAN, 2013). Sustentando uma grande quantidade de reservas em dólares americanos, a China é vulnerável ao risco de depreciação do dólar americano e pressões inlacionárias sobre sua economia doméstica. Para reduzir a dependência do dólar americano, o governo chinês toma diversas medidas para se diversiicar em ativos não monetários. A Corporação de Investimento da China (CIC) foi criada com US$ 200 bilhões do Ministério das Finanças em 2007, com o objetivo de diversiicar “ambos fora dos ativos dos EUA (na Europa e na Ásia), bem como dentro dos ativos denominados em dólares” (OVERBEEK, 2012, p. 155)22. No contexto da crise da dívida soberana europeia, o governo chinês indicou que a CIC compraria títulos soberanos dos Estados-membros semiperiféricos da União Econômica e Monetária (EMU) (no valor de cerca de US$ 30 bilhões) (WEI, 2012). No entanto, logo aconteceu que a CIC não tinha intenção de comprar títulos do governo europeu, mas buscou outras 22 “both away from US assets (in Europe and Asia) as well as within US dollar denominated assets”. 92 oportunidades de investimento (MARTINEZ, 2012). Por um lado, a CIC ajudou as empresas chinesas a expandirem seus investimentos na UE ao injetar capital em um fundo mútuo China-Bélgica (CHEN, 2012). Por outro lado, é ativa como um novo investidor na UE para realizar investimentos em projetos de construção de infraestrutura, principalmente localizados no Reino Unido e na França. Ao desempenhar um papel ativo na promoção do IED chinês na Europa, a CIC contribui para uma maior diversiicação internacional dos negócios chineses e para reduzir a dependência da China do dólar americano. GANHANDO ACESSO AO MERCADO Como discutimos anteriormente, o crescimento do PIB chinês tem sido bastante dependente das exportações, o que foi ativamente aprimorado pela política governamental. As exportações da China para a UE, no entanto, inevitavelmente sofreram um golpe da crise inanceira e das subsequentes políticas de austeridade. Embora a diminuição da demanda nos mercados europeus tenha causado a queda das exportações em 6,2% da China para a UE ano a ano em 2012, atingindo US$ 334 bilhões (LI, 2013), a China ainda correu um superávit comercial com a UE. Como consequência, uma contração protecionista surgiu na UE, impulsionada pelos temores de que a China compre a Europa ou inveje seus mercados. A Comissão Europeia cobrou direitos contra fabricantes chineses de painéis solares e contra fabricantes de equipamentos de telecomunicações Huawei e ZTE Corp., argumentando que receberam subsídios ilegais do governo chinês (BILBY, 2013; STEARNS, 2013). Com essa resposta protecionista, o investimento direto como uma forma alternativa de acesso ao mercado da UE recebeu uma atenção crescente. Assim, o 12º Plano Quinquenal (2011-2015) airmou que o governo “apoiaria a realização de cooperação em 93 investimentos em tecnologia de pesquisa e desenvolvimento no exterior e incentivaria as principais empresas da indústria transformadora a realizar investimentos externos para criar canais de marketing e vendas internacionalizados e famosas marcas23” (BERNASCONI-OSTERWALDER et al., 2013, p. 13). Com o apoio dessa política, a Huawei conseguiu obter acesso ao mercado da UE através da criação dos centros de P&D mencionados anteriormente. NOVA INICIATIVA ESTRATÉGICA ONE BELT, ONE ROAD Em 2013, em parte em resposta à política do pivô para a Ásia dos Estados Unidos, a nova administração chinesa anunciou uma nova iniciativa importante, a chamada Nova Rota da Seda ou a invenção de um One Belt, One Road (OBOR) (WANG, 2016). Ela abrange investimentos maciços de infraestrutura na Ásia Central e Central, Oriente Médio e África Oriental e potencialmente vinculados a iniciativas na Rússia e na Europa (Plano Juncker), onde estão os mercados de exportação mais importantes da China. A OBOR pretende oferecer oportunidades de investimento para o capital chinês sobreacumulado, respondendo ao déicit de investimentos em infraestrutura massiva geralmente reconhecido globalmente. O Banco de Investimento Asiático de Infraestrutura (AIIB), iniciado pela China, inanciado por mais de 50 países, também proporcionará oportunidades de investimento para as corporações chinesas em uma escala potencialmente muito grande. Em suma, a maior liberalização da política Going Global, reforçada pelas novas iniciativas OBOR e AIIB, explica 23 “support the carrying out of technology R&D investment cooperation abroad and encourage leading enterprises in the manufacturing industry to conduct outward investment to create internationalized marketing and sales channels and famous brands”. 94 como as empresas estatais e privadas poderiam lucrar na chance de investir na UE na busca de ativos estratégicos, como tecnologia avançada e marcas valiosas. O fundo de riqueza soberano chinês (CIC) apoia essa internacionalização das empresas chinesas, ajudando assim a reduzir a dependência unilateral do mercado dos Estados Unidos e dos ativos denominados em dólares americanos. Finalmente, as empresas chinesas conseguem desenvolver alternativas às exportações para os mercados europeus investindo diretamente em instalações produtivas e centros de pesquisa na Europa. Estes três elementos empurram positivamente as empresas chinesas a investir na UE. CONCLUSÃO Existem algumas novas características do IED chinês no período pós-crise. Essas mudanças, que representam a crescente popularidade da Europa como destino da IED chinês, são causadas por fatores de atração e impulso. As fusões e aquisições chinesas na UE cresceram rapidamente, particularmente nos países semiperiféricos e periféricos da UE, principalmente por causa da atração de ativos públicos subvalorizados sendo privatizados devido à crise da Zona do Euro. Enquanto isso, o ambiente de investimento relativamente amigável (em comparação com os Estados Unidos) atrai o investimento chinês para uma variedade de setores avançados. Em termos de fatores de impulso, indicamos que a liberalização na Going Global Policy é a força motriz mais sólida, enquanto a necessidade de reduzir a dependência do dólar americano e dos mercados dos Estados Unidos proporcionou outro poderoso estímulo ao IED chinês na Europa. Apesar da contínua desaceleração econômica na Europa e na China, portanto, a nossa previsão é que a UE continue a ser um destino de rápido crescimento para o IED chinês por alguns anos. 95 REFERÊNCIAS BBC News Business. China fund buys 10% stake in London’s Heathrow airport. 2012. Disponível em: <http://www.bbc.com/ news/business-20163907>. Acesso em: 20 set. 2015. BERNASCONI-OSTERWALDER, N.; JOHNSON, L.; ZHANG, J. Chinese Outward Investment: An Emerging Policy Framework. Winnipeg: The Institute for Sustanable Development, 2013. BILBY, E. Exclusive: EU threatens trade duties against China’s Huawei, ZTE - sources. 2013. 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UN ANÁLISIS DE SUS IMPLICACIONES EN LAS DINÁMICAS DE LA COOPERACIÓN SUR-SUR Giuseppe Lo Brutto COOPERACIÓN SUR-SUR EN AMÉRICA LATINA, ASPECTOS DE SU PANORAMA ACTUAL FRENTE A LOS CAMBIOS EN LAS RELACIONES POLÍTICAS Y ECONÓMICAS INTERNACIONALES Hacia el ocaso de la segunda década del siglo XXI, América Latina (AL) se dirige precipitadamente hacia un cambio en el mapa geopolítico experimentando una baja en los ritmos de crecimiento medio a nivel del conjunto de la región, mismos que se encontraron por debajo del crecimiento promedio de los países de la Organización para la Cooperación y el Desarrollo Ecónomico (OCDE) en 201524 por segundo ão consecutivo (OCDE/CAF/ CEPAL, 2015). 24 Según los datos de la OCDE la tasa de crecimiento promedio de los países pertenecientes a esta organización fue de 1.9% en 2014, 2.2% en 2015 y 1.7% en 2016. http://www.oecd.org/centrodemexico/ estadisticas/ 103 4 Tabla 1 – Tasa de crecimiento del Producto Interno Bruto (PIB) total anual a precios constantes de los principales países de América Latina País 2014 2015 Argentina -2.5% 2.5% -3.8% Brasil 0.1% Bolivia 5.5% 4.8% Chile 1.9% 2.3% Colombia 4.4% 3.1% Ecuador 4% 0.2% Perú 2.4% 3.3% Paraguay 4.7% 3.0% Uruguay 3.2% 1% Venezuela -3.9% -5.7% América Latina 0.9% -0.5% Fuente: Elaboración propia partir de los datos de CEPAL, consultado el 6 de marzo de 2017, http://interwp.cepal.org/sisgen/ConsultaIntegrada. asp?idIndicador=2207&idioma=e Esto podría signiicar retrocesos con relación a las conquistas que una década anterior le permitieran tener la aspiración de concretar un modelo de desarrollo propio y una mayor autonomía de inserción en los esquemas de la economía mundial. En este sentido, el actual contexto restringe las aspiraciones y posibilidades, por un lado, de tener un papel importante en las relaciones y políticas internacionales y, por otro lado, en el ámbito de la Cooperación Sur-Sur (CSS) regional para plantear una verdadera alternativa al ver reducidos sus alcances económicos y políticos. Durante las pasadas dos décadas, los procesos integracionistas regionales se han caracterizado por el choque entre aquellos que pugnaron por una alternativa a los modelos tradicionales de integración y aquellos que buscaron su continuidad. A tal propósito, los modelos de cooperación regional basados en la búsqueda del establecimiento de 104 nuevas relaciones de poder, se distinguieron por su abierta oposición al neoliberalismo y por ende a los Estados Unidos (MORENO et al., 2014). Como resultado de la superación del regionalismo abierto25, que distinguió a las décadas de los ochenta y los noventa, y de la implantación de un regionalismo estratégico en la región a través los procesos de integración como la Alianza Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América – Tratado de Comercio de los Pueblos (ALBA-TCP), la Unión de Naciones Suramericanas (UNASUR), la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribẽos (CELAC) y el mayor impulso al Mercado Común del Sur (MERCOSUR), los esquemas de Cooperación Sur-Sur de principios de milenio representaron una experiencia única.Todas estas expresiones de reconiguración regional posibilitaron su reposicionamiento con un mayor protagonismo y autonomía para la construcción de un mundo multipolar y pluricéntrico que ha planteado, como uno de sus mayores retos, el eiciente control y gestión regional de los recursos naturales. Sin embargo, no se podrían entender estas dinámicas sin analizar el papel que China jugó en la región ya que, como sẽala Fornillo, “…el ascenso chino inaugura un deliberado pluricentrismo global en un entorno competitivo de escasez, de talante interimperial”. (FORNILLO, 2016, p. 14) No cabe duda que este panorama ha sido favorecido por el impulso que la República Popular China (RPC) ha dado hacia la construcción de un nuevo orden internacional, multipolar y multilateral. En este sentido, con el ingreso de China a la Organización Mundial del Comercio (OMC) en el ão 2001, se vio acelerado el proceso de 25 Favorece el libre mercado sin medidas proteccionistas, impulsando la Inversión Extranjera Directa (IED) y la orientación al crecimiento exógeno. 105 integración de este gigante asiático a los diversos estadios del comercio internacional, lo que llevaría al aumento de la demanda de materias primas y, al mismo tiempo, al incremento de sus precios a nivel mundial –denominado como Consenso de las Commodities (SVAMPA, 2013)–. Esta situación propiciaría la captación de un importante lujo de ingresos hacia la región latinoamericana, principalmente en aquellos países con mayores reservas naturales a través del denominado neoextractivismo26, que representaría para los gobiernos de izquierda o progresistas la base de su fortalecimiento económico y político regional, así como la reducción de los índices de pobreza en sus territorios. Sin embargo, se estaría también consolidando en palabras de Svampa y Slipak un “Consenso de Beijing” que estructuraría una neodependencia (SVAMPA; SLIPAK, 2015), mostrando a la vez un crecimiento muy dependiente de las materias primas. En este contexto, a lo largo de la primera década del siglo XXI ha sido posible observar el posicionamiento de un nuevo tipo de cooperación en contraposición al denominado mainstream eurocentrista (LO BRUTTO; GONZÁLEZ, 2015, p. 4) que, incluso inmerso en la mayor crisis multidimensional de la economía mundial, incrementaría los lujos de CSS en una multiplicidad de ámbitos involucrando a cada vez más actores. Esta cooperación Sur-Sur estaría fundamentada básicamente en el diálogo político y en los acuerdos comerciales. Tales elementos incidirían 26 Dentro de la gestión de los gobiernos progresistas latinoamericanos, se ha consolidado la importancia de los sectores extractivistas como un pilar de su desarrollo lo que ha llevado a nueva modalidad de este, en donde la búsqueda de su inserción global subordinada al capitalismo transnacional, ha fragmentando territorios, generado impactos sociales y ambientales, orientando los procesos productivos a la eicacia, maximización de rentas y externalización de sus impactos. 106 en una nueva inaciarización de las relaciones Sur-Sur. Por ello, es primordial comprender que la CSS se ha caracterizado por realizarse entre los denominados países del Sur Global27 con un objetivo político orientado a fortalecer su autonomía, sus relaciones bilaterales y multilaterales con la clara inalidad de lograr obtener un mayor protagonismo en la toma de decisiones en los diferentes escenarios internacionales, reconociendo que es posible afrontar de una manera más efectiva problemas comunes al cooperar. Por lo anterior, puede considerarse que la CSS ha sido un concepto clave de organización que engloba un conjunto de prácticas en pos de los cambios históricos experimentados en la región, mismos que se han fomentado desde la visión del beneicio mutuo y de la solidaridad entre los desfavorecidos del sistema mundial. Es en este contexto que el debate sobre la “decadencia de Occidente” y el “ascenso del resto” así como del “papel histórico de las potencias emergentes” toma un nuevo signiicado (GRAY; GILLS, 2016, p. 557) derivado sobre todo del nuevo papel que China juega en la economía mundial y de la conexión que posee con los países del sur global, especialmente con la región latinoamericana. En ese sentido, la CSS es considerada para China como el instrumento que puede contribuir a la transformación del orden internacional promoviendo la independencia económica, social y política de todos los países involucrados (HARRIS; ARIAS, 2016, p. 520). En cuanto a AL, el principal objetivo de dicha relación sería aprovechar todo el potencial de la misma teniendo siempre presente como principios ordenadores el beneicio mutuo y el desarrollo común. 27 Concepto que se reiere a los países periféricos que se sitúan al Sur de los países centrales o desarrollados geográicamente ubicados al norte del globo. 107 Sin embargo, parece importante remarcar que pensar en el papel de AL en esta reconiguración hegemónica regional y global signiicaría también que, para comprender el rol que el gigante asiático juega en la región más allá de las evidentes desigualdades que genera, es necesario considerar que “…el eje de acumulación radicado en China se completa y estabiliza en el vínculo que traza con Rusia y con el sudeste asiático” (FORNILLO, 2016, p. 23) y, sobre todo, tener presente el lugar que la región tendría en el nuevo proyecto chino denominado “Nueva ruta de la seda”28. Por ello, parece cada vez más explícita la manera en que esta CSS se relaciona directamente con el comercio creciente y con el aumento en los lujos de inversión extranjera directa (IED) así como en los términos en que ambos factores están transformando la dinámica de la economía mundial. Por tanto, se vuelve necesario plantear que las relaciones Sur-Sur hoy en día se sustentan en la necesidad de consolidar mecanismos e instrumentos que aseguren la soberanía sobre la gestión, preservación y explotación de los recursos naturales a través de acciones estratégicas eicaces que formen parte de la geopolítica de las diversas iniciativas de integración vigentes. Estas, sobre todo, serían el medio principal que China utilizaría para impulsar su propio proyecto de globalización Sur-Sur tal como ha mostrado con mayor fuerza el presidente Xi en la última reunión en el Word Economic Forum Annual Meeting en Davos en enero de 2016, defendiendo la economía global y criticando el proteccionismo que encarna el nuevo 28 La Nueva Ruta de la Seda, se enfocará a reforzar las relaciones con sus vecinos geográicos inmediatos, desplazando algunas de las sinergias hasta ahora enfocadas en la región latinoamericana. Representa un mercado de mayores alcances para el país asiático, y a la vez ofrecerá un espacio económico ideal para la reproducción del capital real y especulativo. 108 presidente de los Estados Unidos de América (EE.UU.), el conservador Donald Trump. En este sentido, parece importante cerrar este apartado sẽalando que el papel de China, como un importante proveedor mundial de ayuda exterior y de inversión extranjera para los países en desarrollo, es el producto del milagroso crecimiento económico de este país durante un período de poco más de tres décadas que, junto con el impulso de convertirse en un actor importante en los asuntos mundiales y lograr esto a través de medios económicos en lugar de militares (COPPER, 2016), ha cambiado el escenario del actual modelo de globalización, convirtiéndose en un actor fundamental en el ajedrez internacional. Para conseguir este objetivo, tal como sẽala Lu (2014), China continuará aumentando la contribución de la ayuda externa intentando optimizar la estructura de su política de asistencia y ayudando de esta manera a los países beneiciarios a mejorar el bienestar de sus pueblos y su capacidad de desarrollo independiente. CHINA EN EL PROCESO DE RECONFIGURACIÓN GEOPOLÍTICO Y GEOECONÓMICO LATINOAMERICANO ACTUAL China representa hoy el mayor consumidor mundial de hidrocarburos. En este sentido, la región latinoamericana ha constituido en los útlimos 15 ãos una fuente de recursos muy importante para el gigante asiático. Durante la pasada década, la RPC asumió un rol relevante e indiscutible en la arquitectura de la economía y política mundial, resultado de las dinámicas geopolíticas del sistema mundo capitalista que han propiciado que el gran dragón se prospecte como una de las principales potencias en este nuevo milenio. En este contexto, AL asumió paralelamente un papel más dinámico derivado del denominado “giro a la izquierda” que experimentó con 109 el inicio del nuevo siglo y que cuestionó el rol predominante de la hegemonía estadounidense en la región; situación que le permitió generar un acercamiento importante, incluso estando inmersos en la más grande crisis multidimensional (2008) que la economía mundial haya experimentado (LO BRUTTO; SPATARO, 2016). Pero es, sobre todo, el ingreso de China a la Organización Mundial del Comercio (OMC) en 2001 lo que ha propiciado el incremento del comercio entre ambos actores de manera exponencial. Tabla 2 – Principales inversiones chinas en América Latina 2005-2014 (en millones de dólares) País Acción Monto Nicaragua Construcción del canal interóceanico HKND 50,000 Costa Rica China National Petroleum Company preveé ampliar la única planta de reinación de petróleo 1,300 Venezuela China National Petroleum Company invierte en la Faja Petrolifera del Orinoco 28,000 Perú MMG LTD adquiere la mina de Cobre las Bambas 7,000 Brasil SINOPEC adquiere a la española REPSOL en 2010 7,100 Argentina China National Corporation compra la petrolera Bridas 3,100 Fuente: Elaboración propia a partir de datos del FMI/BID/CEPAL (2015). China se ha transformado en un socio comercial clave para América Latina, y si hace 15 ãos el comercio con el Imperio del medio era prácticamente inexistente en 2009 ya suponía un 7,6% de las exportaciones y un 9,5% de las importaciones de América Latina. Es importante mencionar que el intercambio total entre China y AL ascendió en 2013 a 292, 000 millones 110 de dólares y que la inversión por sector ha sido entre 2005 y 2014 un 84% en el sector primario; un 12% en el sector manufacturero y un 4% en el sector servicios. Tal como sẽala la CEPAL (2015) entre 2000 y 2014, la proporción de China en las importaciones de la región creció de un poco más del 2% a un 16%, mientras que su participación en las exportaciones ascendió de un 1% a un 9%, alcanzando el 10% en 2013. En consecuencia, en 2014, China y la Unión Europea (UE) tuvieron prácticamente la misma participación en el comercio de bienes de la región con el mundo, un 12.4% y un 12.5%, respectivamente. (OCDE/CAF/CEPAL, 2015, p. 99) Gracias a esta relación, AL ha encontrado las condiciones y recursos tanto económicos como políticos que le han permitido sobrellevar los estragos que trajo consigo el proceso de reconiguración geopolítico, geoestratégico y geoeconómico (LO BRUTTO; GONZÁLEZ, 2014). El continente latinoamericano se está enfrentando al reto de superar la dependencia neoextractivista que, sin embargo, ha también permitido que las relaciones Sur-Sur y los esquemas de integración transformaran el panorama geopolítico regional pasando de una fase de acumulación neoliberal basada en los dictados del Consenso de Washington a una fase posneoliberal con todas las contradicciones que de ello derivan. En ese sentido, “…el principal factor en la actual expansión del capitalismo y del imperialismo hoy en día es la extraordinaria ganancia acumulada en respuesta a la gran demanda de recursos no renovables por parte de los mercados emergentes asiáticos, (…) la enorme práctica extractiva permite crear las condiciones para otro largo periodo de acumulación a larga escala y para inversiones de largo plazo que favorecen la desposesión”. (VELTMEYER; PETRAS, 2014, p. 4-5) Por lo tanto, el cambio del actual orden económico mundial que está desplazando la hegemonía hacia el corazón de Asia representa para AL un gran desafío en términos 111 de la construcción de nuevas relaciones Sur-Sur y de su inserción en la economía mundial. China es hoy para la región uno de los socios comerciales más dinámicos que tiene como objetivo asegurar el acceso a los recursos naturales, abrir nuevos mercados y consolidar su inluencia geopolítica. La vinculación económica bilateral de China con América Latina en este comienzo de milenio ha crecido a un ritmo del 30% promedio anual (los 12, 600 millones de dólares del ão 2000 se multiplicaron por 20 transformándose en 261, 500 millones en 2013). Por tal motivo, “… el crecimiento de la región en este nuevo siglo no se explica sin China”. (FORNILLO, 2016, p. 50-51) En ese sentido, el gigante asiático ha logrado consolidar su presencia en AL al congregar inversiones multimillonarias con acuerdos bilaterales y multilaterales que lo hacen uno de los partners comerciales más importantes de la región permitiéndole, en esta reconiguración multipolar de la economía mundial, consolidarse tanto en el plano internacional como en el latinoamericano. Esta región se beneicia así de manera directa al ver reforzada su capacidad de independencia en la arquitectura global, teniendo acceso a una de sus principales fuentes de inanciamiento y apoyo político, como parte de la estrategia china de internacionalización indiscriminante29. El vínculo sino-latinoamericano ha despertado acercamientos elogiosos que lo han visto, en clave económica, como un contexto de oportunidades para desarrollarse de manera innovadora y competitiva (ROSALES, 2010; 2011), o bien como la chance para conformar una relación estratégica sobre la base de la libertad de mercado. (CEPAL, 2010) 29 Estrategia que plantea el establecimiento de relaciones de intercambio y colaboración con cualquier país, independiente de la existencia de ainidades o diferencias. 112 Con relación a la composición de los intercambios comerciales entre ambas partes, estos se componen, para el caso latinoamericano, principalmente de materias primas y productos no manufacturados así como por la importación de productos chinos de alta composición industrial y tecnológica, situación que no es beneiciosa en el largo plazo, ya que si bien permite obtener importantes ingresos para la continuidad de los proyectos nacionales, paralelamente les condena a la reprimarización económica poniendo en tensión su capacidad emancipadora. En ese sentido, tal como sẽala Slipak (2014), la disparidad en los intercambios entre AL y China corroe los intercambios interindustriales regionales que habían crecido con fuerza desde la creación del MERCOSUR, en particular entre Argentina y Brasil. Empero, esta dinámica no ha logrado sostenerse constantemente a lo largo del tiempo, ya que si bien posterior a la crisis del ão 2008 los intercambios comerciales entre ambas partes lograrían presentar signos de recuperación, esto no permitió alcanzar saldos positivos en la balanza comercial latinoamericana a consecuencia de una notable reducción del lujo de ingresos provenientes del dragón asiático. Esto último, es resultado de la desaceleración económica china a partir del ão 2013, de la caída de los precios internacionales de las materias primas a partir del ão 2014 y de la caída de los precios del petróleo en 2015 como consecuencia de su sobreoferta30, así como del mayor desarrollo de la eiciencia energética y de la contracción de la economía mundial (Graicos 1 y 2). De hecho, 2014 fue el primer ão de este siglo en el que las exportaciones de América Latina y el Caribe a China descendieron tras haber aumentado, incluso en 2009 y 2013, cuando los envíos al resto del mundo experimentaban una caída (OCDE/CAF/CEPAL, 2015, p. 98). 30 Derivado del incremento de la producción de países como Estados Unidos, Rusia, Libia, Nigeria, Sudan del Sur,Yemen e Irak. 113 Gráico 1 – América Latina y el Caribe: Comercio de Bienes con China 2000-2014 (en millones de dólares) Fuente: Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL, 2015). Sobre la base de Naciones Unidas y la base de datos estadísticos sobre el comercio de mercaderías (COMTRADE). Los datos para 2014 provienen de fuentes oiciales de 16 países: Argentina, Bolivia (E.P.), Brasil, Chile, Colombia, Costa Rica, Ecuador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguay, Perú, Uruguay y Venezuela (R.B.). Gráico 2 – OPEP, Precio Promedio de Canasta de Referencia (ORB) 2003-2015 (en dólares) Fuente: Elaboración propia con base a los datos de la Organización de Países Exportadores de Petróleo (OPEP). La Canasta de Referencia fue introducida en 2005, actualmente considera para su cálculo: 114 Sahara Blend (Algeria), Girassol (Angola), Oriente (Ecuador), Iran Heavy (Republica Islámica de Iran), Basra Light (Iraq), Kuwait Export (Kuwait), Es Sider (Libia), Bonny Light (Nigeria), Qatar Marine (Qatar), Arab Light (Arabia Saudita), Murban (EAU) and Merey (Venezuela). http://www.opec.org/opec_web/en/data_graphs/40.htm Según datos de la CEPAL (2015), América Latina sólo creció el 1% en 2014, frente al 5% de la década del 2000, mostrando cómo la disminución del comercio con China de estos últimos dos ãos afecta de manera importante el crecimiento económico regional, aunque también es cierto que se constatan importantes diferencias entre países. (OCDE/CAF/CEPAL, 2015, p. 17). Por lo tanto, es imperante para AL plantearse la necesidad de generar y establecer condiciones que le permitan transitar hacia un estadio superior de desarrollo, es decir, hacia un Post Consenso de las Commodities, orientado a la superación de las condiciones de subordinación de la producción primaria y su comercialización, diversiicando y modernizando su propia estructura productiva. Con relación al peso que las relaciones sino-latinoamericanas representan en las dinámicas de la CSS regional, a continuación se presentan una serie de elementos que se consideran cardinales para lograr su comprensión. Para el periodo 2006-2010, el gobierno chino, en su Undécimo Plan Quinquenal, estableció como imperativo el incremento de la ayuda a otros países en desarrollo. Ello, como una forma de colaborar con la estrategia nacional de going global, que principalmente tiene el objetivo de garantizar el suministro de energía y recursos, así como internacionalizar efectivamente a las empresas chinas. En este sentido, es importante tener presente que la cooperación china se rige por la norma del beneicio mutuo y la ganancia compartida hacia los destinatarios de la ayuda. Otra estrategia de cooperación es la orientada a la oferta de créditos a los países latinoamericanos, cuyo papel 115 es fundamental principalmente a partir de inales de la primera década de este siglo cuando China aprovechó el contexto internacional de contracción de recursos crediticios para aumentar su inluencia. Esto se tradujo en que los bancos chinos prestarían, tan solo en 2008, alrededor de 1, 000 millones de dólares a los países de América del Sur, alcanzando en 2009 los 18, 000 millones de dólares y llegando a los 36, 000 millones de dólares en 2010. Un estudio del Instituto de Gobernanza Económica Global de la Universidad de Boston, establece que durante los ãos de 2005-2013, China otorgó 102, 000 millones de dólares en préstamos a América Latina (NIETO, 2015) posicionándole por encima de los préstamos otorgados por el Fondo Monetario Internacional (FMI) y el Banco Mundial (BM) durante ese mismo periodo. Es importante destacar que el grueso de los préstamos que actualmente China ofrece a los países latinoamericanos se ha orientando a la inversión en extracción de commodities agrícola, mineras y energéticas; por lo que la RPC se presenta en la región como un riesgo latente que amenaza mantener la continuidad del patrón de producción primario y la consecuente desposesión de las comunidades más vulnerables (NOYOLA, 2015, p. 2), evidenciando las ambiciones de Pekín de incrementar su inluencia global (DYER; ANDERLINI; SENDER, 2011). Para 2016, Brasil se ha convertido en el país latinoamericano al que las entidades inancieras del gigante asiático han concedido más créditos31, rebasando de esta manera a Venezuela que había sido el país en el que más se habían concentrado. Esto demuestra la gran capacidad estrátegica que el dragón asiático tiene en la región. En tal sentido, parece importante traer a colación cómo, el 16 de julio de 2014, el presidente Xi Jinping, en su discurso titulado “Dar 31 http://economia.elpais.com/economia/2017/03/03/actualidad/1488579001_928598.html, consultado el 4 de marzo de 2017. 116 mayor esplendor a la amistad tradicional para componer una nueva página histórica de cooperación” ante el Senado de Brasil, sẽalaba que: “…mirando al futuro, avancemos tomados de la mano y codo a codo para crear conjuntamente un futuro más hermoso de la asociación estratégica integral entre China y Brasil, componer conjuntamente una magníica épica de la asociación de cooperación integral China-América Latina”. China ha irmado asociaciones estratégicas con Argentina, Brasil, Chile, México y Venezuela y tres Tratados de Libre Comercio con Chile, Costa Rica y Perú, manteniendo de esta manera importantes superávits comerciales con los países de la región e invirtiendo cuantiosas sumas en la extracción de recursos naturales con el objetivo de consolidar las inversiones y la integracion comercial. El enfrentamiento entre EE.UU. y China en sus respectivas búsquedas para crear una red de integración regional que los favorezca, y sobre la cual el uno o el otro puedan dominar la agenda sustantiva y controlar las adhesiones, ha dejado a los forasteros peleando por encontrar un lugar en este escenario de integración cambiante. (OCDE/CAF/ CEPAL, 2015, p. 133) En términos de su participación en los acuerdos multilaterales de la región, China volvió un país activo en el MERCOSUR desde el 2012, en la Alianza del Pacíico desde el 2013 y en el Acuerdo sobre Comercio de Servicios – o TISA (por su siglas en inglés) desde el 2014. El comercio total (importaciones más exportaciones) de bienes entre China y MERCOSUR pasó de 85, 136 millones dólares a 114, 499 millones de dólares entre el 2010 y el 201432. En ese sentido, China se ha convertido en uno de los principales socios comerciales de los países del MERCOSUR, incluso de Paraguay, que mantiene 32 Informe MERCOSUR n. 20, 2014/2015. 117 relaciones diplomáticas con Taiwán y como resultado se encuentra políticamente aislado de la República Popular de China. Gráico 3 – Exportaciones e importaciones MERCOSUR-China Fuente: DNII con base a Trade Map. Las exportaciones del MERCOSUR a China están altamente concentradas en bienes primarios y manufacturas basadas en recursos naturales. El 75% de estas exportaciones se concentran en 4 productos: Tabla 3 – Productos de exportación del MERCOSUR a China Producto % de participación en la exportación Exportaciones millones de US$ Frijol de soja 44% 25.4 Minerales metalíferos 22% 12.7 Aceite de crudo de petróleo 6% 3.6 Pasta de madera 3% 1.7 Fuente: IADB, 2014/15. 118 En cambio, las principales importaciones del MERCOSUR han sido productos industriales con alto contenido tecnológico y están más diversiicadas, destacandose en 2014 la importación de teléfonos celulares. (VALLE, 2016) En cuanto a la participación de China como observador en un proyecto como la Alianza del Pacíico (AP), organización ya a punto de desaparecer por la reciente salida de los Estados Unidos del Trans Paciic Partnership (TPP), podríamos decir que el gigante asiático demepẽó un papel muy limitado debido a que su participación se redujo a la actividad de coherencia regulatoria (DUSSEL-PETERS; GALLAGHER, 2013). La relexión en torno a la participación en este organsimo, nos lleva a pensar el papel que China ha jugado en los últimos ãos como socio comercial de los EE.UU. tras su adhesión a la OMC, sugiriendo que la presencia del dragón asiático en este organismo se ha derivado basicamente de su estrategia comercial con los Estados Unidos. Tal como sẽala la CEPAL (2015), China ha incrementado recientemente su participación en acuerdos con posibles efectos para AL, entre ellos se encuentra el Trade in Service Agreement (TISA), acuerdo multilateral que reúne a 24 países miembros de la OMC. Los países participantes en él concentran el 70% del comercio global de servicios (Estados Unidos y Unión Europea incluidos) y 8 de ellos son latinoamericanos (Chile, Colombia, Costa Rica, México, Panamá, Paraguay, Perú y Uruguay). Es importante sẽalar que la RPC todavía no está participando formalmente en las negociaciones aunque a mediados de 2014 informó de su intención de unirse a ellas, ante lo que la UE la ha respaldado. (OCDE/CAF/CEPAL, 2015, p. 136). Desde la crisis inanciera del 2008, China se ha propuesto reestructurar su alcance inanciero global a través de importantes iniciativas inancieras de ayuda e inversión así como mediante la internacionalización del yuan 119 renminbi (GAO; YU, 2011). En cuanto a AL en julio de 2015 el gigante asiático creó, junto a los otros miembros de los BRICS33, el nuevo Banco de Desarrollo con sede en Shanghaí. Con esto se ha pretendido asumir un papel determinante en la economía mundial con el propósito de revertir las dinámicas de la geopolítica y de las instituciones económicas y inancieras mundiales como el FMI y el BM, y, al mismo tiempo, mejorar el comercio entre las cinco potencias realizando las transacciones en monedas locales y desarrollar mecanismos para acabar con el capital especulativo y promover la inversión productiva. En este sentido, es importante sẽalar cómo la RPC escogió a Chile como su plataforma inanciera para expandir su moneda en América Latina, en una búsqueda por incrementar su cooperación e inversiones en toda la región. Esto demuestra como los líderes chinos han apostado hacia la constitución de nuevos organismos multilaterales en la región en su afán de lograr su objetivo de consolidarse como la nueva hegemonía a nivel global. Uno de los países que ha recurrido de manera importante a los recursos crediticios chinos es Ecuador, el cual recibió 2, 000 millones de dólares como pago anticipado de envíos de petróleo en dos operaciones anunciadas en 2009 y 2010 ãadiendo uno por 3, 000 millones de dólares en 2011, convirtiéndole en un importante destino de sus envíos de petróleo. Además, en noviembre de 2016, ambos países irmaron 11 convenios de cooperación y una declaración conjunta de 10 puntos34, teniendo a la fecha más de 200 instrumentos bilaterales suscritos. En ese mismo sentido, se sẽala el inanciamiento otorgado por el gigante asiático hacia este país andino para la construcción 33 34 Brasil, Rusia, India, China y Sur África. http://www.eltelegrafo.com.ec/noticias/politica/2/ecuador-y-china-irmaron-11-convenios-bilaterales-en-carondelet 120 de la hidroeléctrica Coca Coco Sinclair por 2, 200 millones de dólares. Otro país que ha recibido prestámos por parte del gigante asiático es Venezuela a quien el Banco de Desarrollo de China, desde el ão 2007, ha otorgado préstamos por aproximadamente 42, 500 millones de dólares; mismos que han sido garantizados con las mayores reservas mundiales de petróleo que equivalen a aproximadamente el 23% de todos los préstamos concedidos por dicho banco al extranjero (FUENTEALBA, 2013, p. 182-187). En abril de 2011, China publicaría su Libro Blanco sobre ayuda al extranjero en el que se contabilizaron los lujos de ayuda al exterior por un total de 39, 300 millones de dólares para el periodo que va de 1950 a 2009, correspondiendo un 45.7% a África, un 32.8% a Asia, un 12.7% a Latinoamérica y un 4% a Oceanía. En Junio 2012, el Primer Ministro de China Wen Jiabao realizaría una de las más fructíferas giras de trabajo por Brasil, Argentina, Uruguay y Chile, que contempló: i) la propuesta para la creación de un Foro de Cooperación Política de Alto Nivel con AL que vería su materialización en un foro regular con la CELAC; ii) la oferta de un fondo de cooperación por 5, 000 millones de dólares, y iii) una línea de crédito por 10, 000 millones de dólares para el desarrollo de infraestructura. En Julio de 2014, el actual presidente chino Xi Jinping realizó una gira de trabajo por latinoamérica durante la cual visitó Brasil, Argentina,Venezuela y Cuba. En Brasil, asistió a la Sexta Cumbre de Líderes de los BRICS celebrada en la ciudad de Fortaleza, posteriormente asistió a la primera Cumbre de Líderes junto con Brasil y los líderes de la CELAC. Otros acuerdos celebrados durante dicha gira de trabajo fueron: la irma de 38 acuerdos con la República Bolivariana de Venezuela que ayudaría a consolidar su alianza 121 estratégica; con la ex presidenta de la Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, irmaría varios acuerdos por 7, 500 millones de dólares para la construcción de dos represas hidroeléctricas y paa la renovación de su línea ferroviaría, clave para el transporte de granos con el gobierno chino. Este último, es un hecho de gran relevancia si se toma en cuenta que esta nación argentina no poseía acceso al crédito externo y se encontraba al borde de una cesación de pagos. De la misma manera, los bancos centrales de ambos países cerrarían un acuerdo de tres ãos por el equivalente a 11, 000 millones de dólares que permitirá “fortalecer el nivel de reservas de la Republica de Argentina y facilitar la inversión en moneda local al tiempo que promueve el intercambio bilateral”. (LA JORNADA, 2014) En enero de 2015, durante la primera reunión ministerial entre China y CELAC en Beijing, se establecieron como principos de colaboración: la igualdad de trato y la sólida cooperación para construir una fuerte base política; el mutuo beneicio impulsando el principio del ganar-ganar; el uso de los esquemas bilaterales y multilaterales; y, inalmente, tener una cooperación incluyente y abierta a los distintos intereses de las partes. En ese sentido, el presidente Xi auspició que otros organizaciones multilaterales de la región pudiesen sumarse a esta cooperación, lo que hace visible cómo la CSS sería un objetivo estratégico importante para el gigante asiático en su política de ayuda. Durante el mismo Foro CELAC-China35 de 2015, el presidente Xi Jinping se comprometería a realizar 35 Este Foro representa uno de los más importantes avances en materia de cooperación integral entre China y la región latinoamericana, principalmente no solo porque abarca al país asiático y a los 33 miembros latinoamericanos, sino también porque incluyen a otras organizaciones regionales tales como: la Comisión Económica para América Latina y el Caribe, el Banco Interamericano de Desarrollo y el Banco de Desarrollo de América Latina. 122 inversiones por 250, 000 millones de dólares en AL durante los próximos 10 ãos. Ellos se sumarían al incremento en los intercambios comerciales experimentados durante el mismo periodo, los cuales se prevé alcancen una cifra cercana a los 500, 000 millones de dólares, como una medida que potencialice el debilitamiento de la inluencia norteamericana en la región (INFOLATAM, 2015); también se realizaría la irma de tres documentos clave: a) el Plan de Cooperación entre China y América Latina (2015-2019) conocido como el 3x3 que comprende el desarrollo de los rubros de logística, energía e informática, considerando la participación de los sectores privados, públicos y sociales, apoyándose para ello en la expansión de tres canales inancieros que implican el acceso a fondos, créditos y seguros, y que, además, contempla el desarrollo de cadenas completas industriales –maquinaria, siderurgia, química, alimentos y materiales de construcción–; b) se establecieron los reglamentos de esta alianza, sus mecanismos de coordinación y operación; y inalmente, c) se irmaría la Declaración de Beijing que establece el consenso político entre ambas partes y su dirección y normativas de cooperación global (PUENTES, 2015). Otro aspecto a considerar son las inversiones, las cuales para el ão 2010 posicionaban a China como la tercera fuente de IED en la región con aproximadamente 15, 251 millones de dólares frente a los 7, 336 millones de dólares de las inversiones del periodo previo (1990-2009) –siendo los dos grandes receptores de estas inversiones Brasil y Argentina–; dinámica que continuaría incrementándose hasta llegar a un monto total de 98, 900 millones de dólares para inales del ão 2014 (PUEBLO EN LÍNEA, 2015). De las inversiones chinas conirmadas en América Latina aproximadamente el 92% se ha dirigido a la extracción de recursos naturales particularmente en los rubros de minería, petróleo, gas y productos agrícolas (BRUCKMAN, 2012, 123 p. 125) y el 8% restante a infraestructura y manufacturas (CEPAL, 2010). Estos rubros, que sirven principalmente para el sector energía son fundamentales en la estrategia del dragón asiático para suminsistrarse de recursos que le permitan garantizar su continuo desarrollo y liderazgo a lo largo y ancho del globo. Según los datos del Worldwide Chinese Investments & Construction, AL ha recibido en este rubro entre el 2005 y el 2016 una inversión de 83, 200 millones dólares distribuidos de la siguiente manera: Tabla 4 – Inversión china en América Latina en el rubro energético (en millones de dólares) País Monto Argentina $15, 470 Brasil $38, 150 Bolivia $1, 230 Chile $ 190 Colombia $1, 650 Ecuador $9, 790 Perú $3, 790 Venezuela $12, 420 Fuente: Elaboración propia a partir de los datos de Worldwide Chinese Investments & Construction, https://www.aei.org/ china-global-investment-tracker/ , consultado el 6 de marzo de 2017. Las relaciones particularmente entre China y Venezuela han representado, desde el primer lustro del presente siglo, una cooperación en materia de inversión ascendente de carácter estratégico que se orientaba principalmente a los sectores: energético, transportes (ferrocarriles), industria y agricultura. Sin embargo, la evidencia demuestra que la rama energética era sin duda la más privilegiada propiciando que Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) y 124 la China National Petroleum Corporation conformaran una empresa mixta destinada al área de servicios petroleros de exploración y a la construcción de pozos de producción en el país; situación completamente comprensible cuando se observa que el 12% del total del petróleo que importa China proviene de América Latina, del cual aproximadamente el 46% proviene Venezuela (TERÁN, 2014, p. 6). En el actual contexto de la caída de los precios del petróleo y el relevo gubernamental en la nación bolivariana, es imprescindible observar los giros que darán las relaciones entre estos países ante el cambio en la dinámica en que se venían desenvolviendo su relación. Es importante sẽalar también cómo dentro de la Comunidad Andina, Perú es el país que más exporta a China, seguido de Colombia, siendo los minerales de cobre, plomo, hierro y sus concentrados, los más requeridos. Tabla 5 – Exportaciones de la Comunidad Andina hacia China (en millones de dólares) País Exportaciones (millones de dólares) Perú 6, 681 50.5% Colombia 5,622 42.5% % de participación Ecuador 503 3.8% Bolivia 423 3.2% Fuente: COMUNIDAD ANDINA, 2014. En cuanto a Argentina, tal como sẽala Valle (2016), en 2004 ambas partes irmaron una asociación estratégica sobre cooperación en materia de comercio e inversiones y el dragón asiático se transformó en el segundo socio comercial de este país. Entre 2002 y 2010 las exportaciones de Argentina hacia China se incrementaron en un 23,2% (Secretaría de Economía Política, 2011). Entre 2001 y 125 2010 aumentó la producción de hidrocarburos exportados a China de 9 a 18% (Embajada de China en Argentina, 2011). Las relaciones económicas y políticas crecieron de manera muy fuerte partir de 2004 y en 2015 y en Beijing se irmaron 15 acuerdos bilaterales. En ese sentido, se destaca el proyecto de construcción de dos reactores nucleares. Se menciona también, que en 2016 el presidente Macri se reunió con el presidente Xi Jinping y se planteó la necesidad de evaluar acuerdos irmados con el gobierno anterior, entre ellos dos represas en Santa Cruz y dos centrales nucleares. (VALLE, 2016) En cuanto a Bolivia, se sẽala que el país andino dispone de importantes reservas certiicadas de gas natural y petróleo. Empresas chinas explotan yacimientos petrolíferos a cambio de un apoyo en infraestructura en la industria petrolera. A partir del desgaste de las relaciones políticas y diplomáticas entre Bolivia y Estados Unidos, este pais andino enfocó su estrategia hacia China. En ese sentido, el intercambio bilateral pasó de 736 a 2, 245 millones de dólares de 2010 a 2015, periodo en el que las exportaciones bolivianas se duplicaron y las exportaciones de China a Bolivia crecieron 3 veces y medio en el mismo tiempo. En cuanto a la iteracción entre China y Brasil, en 2004 el primero ratiicó un acuerdo sobre energía de 10, 000 millones de dólares; en 2010 los entonces presidentes Hu Jintao y Lula da Silva acordaron el Plan de Acción Conjunta 2010-2014 para el fortalecimiento de la asociación estratégica, irmada desde 1993; en 2011 las empresas SINOPEC y PETROBRAS establecieron un acuerdo de desarrollo estratégico; para 2012, China se convirtió no sólo en el primer comprador de las exportaciones brasilẽas, sino también en su principal proveedor. Finalmente, el comercio bilateral total se incrementó de 2010 a 2015 pasando de 56, 380 a 78, 000 millones de dólares, representando de esta manera un alza del 38%. (VALLE, 2016) Además, en 126 Brasil y Perú, China se encuentra inanciando el desarrollo de una conexión ferroviara bioceánica entre ambos países. Para los ines de esta importante relación, se sẽala también la construcción de un puerto temporal en el Pacíico para permitir el paso de grandes buques en Nicaragua, país que otorgó a la irma china HKND Group la concesión del control del canal por 50 ãos, con la posibilidad de 50 más de prórroga. Es pertinente resaltar que el limitado sector exportador latinoamericano hacia China le ha llevado a afrontar las consecuencias des-industrializadoras del llamado Efecto China36, donde nueve de las diez principales importaciones provenientes del país asiático hacia AL son manufacturadas, principalmente de los sectores de electrónica y vehículos. Por tanto, el crecimiento económico de las principales economías de la región ha dependido del boom de las commodities impulsado por el incremento en la demanda China en una fase especíica de su desarrollo. Sin embargo, la sincronización de los ciclos económicos entre la economía china y las economías latinoamericanas, fruto de los importantes nexos económicos y comerciales, puede dejar de ser una oportunidad para convertirse en un riesgo. Tal situación quedó evidenciada cuando, a partir del ão 2011, el crecimiento de este importante socio comercial y inanciero asiático no mantuvo el rango de los dos dígitos. (VERDES-MONTENEGRO, 2014, p. 8) No cabe duda que el comercio y las inversiones juegan un papel determinante en el aprovechamiento de las potencialidades de complementación económica entre ambos espacios, mostrando, por un lado, el interés chino de 36 Entre los ãos 2002 y 2008, el auge de los precios de los productos básicos hizo que aumentaran notablemente los ingresos derivados de las exportaciones de América Latina, en parte debido al incremento de la demanda china de esos productos. 127 asegurarse mercados y suministros crecientes de materias primas y, por el otro, la necesidad de AL de expandir y desarrollar nuevos espacios mercantiles para sus productos. De esta manera, la región se insertaría en la dinámica del Consenso Asiático37, al buscar desarrollar una relación de poder entre ambas partes frente a los cambios económicos globales, que les permitan aprovechar las ventajas de sus posibilidades de integración y de comercio complementario. A MANERA DE CONCLUSIÓN La presencia de China en AL responde a una reconiguración de la economía mundial que establece las bases de un nuevo escenario multipolar, el cual pone en tela de juicio la hegemonía estadounidense a nivel global y, particularmente, con relación al continente latinoamericano. (LO BRUTTO; GONZALEZ, 2014) Frente a un complejo escenario que se disputa entre la multipolaridad y la centralidad, la reconiguración geopolítica y geoeconómica global juega un papel determinante en el rumbo de las relaciones Sino-latinoamericanas, generando un profundo cuestionamiento sobre el futuro de la estrategia de la CSS a nivel regional. La nueva crisis y el in del ciclo político de la izquierda a nivel regional, aunado a la nueva política de los Estados Unidos del presidente Trump que ha, de hecho, dado por terminado el TPP y la AP, afecta de manera directa a las dinámicas de la CSS en las que el diálogo político y los acuerdos comerciales tomarán cada vez más un papel determinante en las futuras relaciones Sur-Sur y en los 37 Proceso dinámico comercial y de inversión que genera una red de poder o coordinación global, orientada al extractivismo de materias primas en las regiones del Sur y del Este económico geográico, que representa un nuevo tipo de relaciones Norte-Sur y Sur-Sur. (Vadell, Ramos, y Neves, 2014:97-98). 128 procesos de integración. Tras la euforia de comienzos del milenio, la CSS no solo está en crisis sino, al mismo tiempo, se encuentra en una fase de estancamiento en la que el papel económico y político del dragón asiático a nivel regional no basta para darle un empuje capaz de revertir su situación actual. Asimismo, el esquema neoextractivista que acompãa a la CSS en AL hoy y los mecanismos de integración en los que se sustenta serían la prueba del fracaso para superar el patrón de acumulación regional basado en los recursos naturales que, al mismo tiempo y en palabras de Zibechi (2015), dan mayor poder a las multinacionales. Los objetivos a futuro de China están sentados en el 13 Five-year Plan que se centra en el reforzamiento de sus inversiones en el extranjero y en la diversiicación de su comercio con los países en desarrollo para apoyar la ampliación tecnológica de sus industrias y la de sus economías (HARRIS; ARIAS, 2016, p. 544). La búsqueda de estos objetivos futuros podría fomentar la cooperación económica Sur-Sur a largo plazo y la solidaridad política con los países de AL, especialmente con aquellos que comparten intereses económicos, sociales y políticos. Por lo que, será fundamental que los países de América Latina logren establecer una estrategia común con el dragón asiático velando, de esta manera, por el papel que la región podría desempẽar en los esquemas de la economía mundial. En ese sentido, se sẽalan a continuación algunas situaciones que la CSS regional deberá enfrentar en el marco de su relación con China: • La incapacidad de cumplimiento de compromisos por parte de los países latinoamericanos que hace apenas un par de ãos se vieron altamente beneiciados por los recursos chinos, vía préstamos garantizados con petróleo, pero que por la situación actual han deteriorado su capacidad de cumplimiento. 129 • La nueva dinámica de crecimiento “hacia dentro” de China, como una estrategia para enfrentar el actual contexto global fortaleciendo su estructura económica interior, a través de los planes “Sociedad Prospera 2020 y Made in China”. • La Nueva Ruta de la Seda que se enfocará en reforzar las relaciones con sus vecinos geográicos inmediatos, desplazando algunas de las sinergias hasta ahora enfocadas en la región latinoamericana. Ésta, representa un mercado de mayores alcances para el país asiático y a la vez ofrecerá un espacio económico ideal para la reproducción del capital real y especulativo. Este proyecto involucraría a toda Asia, a los países del Golfo y Medio Oriente, Norte de África y la Unión Europea, conectándose con el Pasillo de Transporte Euroasiático y el Plan Juncker. Este último fenomeno será un gran reto para la cooperación Sino-latinoamericana sobre todo para entender el nuevo papel que podría representar la región para la RPC. De esta manera, frente a los cambios en el actual proceso de globalización, una nueva relación de AL con China que no se sustente solamente en el patrón primario-exportador podría ser una estrategia regional para dar un nuevo contenido a la CSS. Por ello, una América del Sur autónoma debería disẽar una estrategia de relación con China que apunte a su inserción creativa en el concierto de la economía y de la política global a partir de un modelo de desarrollo autocentrado, sustentable, alternativo y de potencialidad local. (FORNILLO, 2016, p. 51-54); y, al mismo tiempo, negociar como frente común con la nueva administración Trump a través de los mecanismos de integración existentes. Por ende, la relación con China podría basarse en esquemas de integración fuertes con un mayor y efectivo 130 principio en el que la solidaridad de la CSS sea una actitud basada en los sentimientos y relaciones que persiguieran el logro de ines comunes, el reconocimiento y consideración de principios morales, así como el respeto a la soberanía, la equidad y el mutuo beneicio. Hoy es imposible desentenderse del descomunal poder global de China. El dragón asiático se relaciona con una AL que intenta insertarse de distintas manera en este tambaleante y obsoleto orden global. Por lo tanto, el problema principal para América Latina en su relación con China es que “…padece con el gigante asiático negociaciones bilaterales y desiguales, y no posee un peso industrial capaz de negociar en términos igualitarios”. (FORNILLO, 2016, p. 51-54) Para concluir, la alianza China-América Latina puede ser vista como estratégica y complementaria por los gobiernos latinoamericanos que puede, al mismo tiempo, implicar una relación de dependencia y de comercio desigual. Esta relación, podría cambiar drásticamente las relaciones Norte-Sur dando un mayor peso político y económico a las relaciones Sur-Sur que responden mayormente a principios de solidaridad, aunque no por ello dejan de estar sujetas a los patrones de acumulación capitalista en la arquitectura internacional. En tal sentido, lo anterior puede entenderse como expresión del nuevo multilateralismo estratégico. REFERENCIAS ALTEMANI, de Oliveira H. China-Brasil: perspectivas de cooperación Sur-Sur. Nueva Sociedad, n. 203, p. 138-147, 2006. BRUCKMAN, M. Recursos Naturales y la Geopolítica de la Integración Sudamericana. Mariátegui, Perú: Instituto Perúmundo/ Fondo Editorial J.C., 2012 BESCHLOSS, M. Our Documents: 100 milestone documents from the National Archive Oxford: Oxford University Press, 2003. 131 CARDOZO, G. China y ALC: Planeamiento estratégico y cooperación. Centro Argentino de Estudios Internacionales Programa Asia-Paciico, n. 13, 2007. CEPAL. La República Popular China y América Latina y el Caribe: Hacia una relación estratégica. Santiago de Chile: Comisión Económica para América Latina y el Caribe, 2010. CEPAL. La República Popular China y América Latina y el Caribe: Hacia una nueva fase en el vínculo económico y comercial. 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Aunque África es la segunda más baja prioridad internacional en la actual política exterior de China, sólo por delante de América Latina, el continente “hermano” –con una participación en el comercio exterior y en la cartera de inversión extranjera directa de China del 5% y el 4% respectivamente– ha sido privilegiado en la diplomacia de prestigio de China desde 2000 –la mitad de su ayuda va a parar a África–, atrayendo con ello una atención desproporcionada y generalmente hostil por parte del complejo occidental gobierno-empresas-medios occidental38. En cambio, la importancia de China para África, como principal socio comercial, y, según los cálculos expuestos más adelante, segunda fuente de inversión extranjera, crédito público y ayuda al desarrollo, dibujan 38 Véase Sun (2014, p. 13-15), Junbo y Frasheri (2014, p. 187, 192), Pigato y Tang (2015, p. 24), Campayo y Zhao (2016, p. 68-71) y Wang y Miao (2016, p. 161). Un ejemplo patético de hostilidad en Tifen (2014). 139 5 una relación desequilibrada que las autoridades chinas están buscando compensar desde que se publicó el China’s second Africa policy paper (CHINESE GOVERNMENT, 2015), por medio de una nueva asociación estratégica integral para promover la industrialización africana, que puede convertirse en la gran oportunidad para sacar al continente de su histórica dependencia estructural. El capítulo parte de un marco teórico-conceptual vigilante con los discursos autorreferenciales tanto de la cooperación para el desarrollo (que enmarca a los países africanos en la condición de subalternos) como de la “amenaza china”, que, en realidad, es tal para los intereses del binomio EEUU-UE39, sin caer en el extremo opuesto del “sinocentrismo” (PARK, 2016, p. 630-632). A partir de este planteo se atiende a las implicaciones geoestratégicas de la relación sino-africana en el contexto de la “carrera por África” como “última frontera del capitalismo” que inició a ines de la década de 1990 y en la que se vieron implicados, junto con China, EEUU, UE, Japón, los otros BIC y varios emergentes más, buscando apalancar su inluencia en el contexto de una reconiguración del orden económico y político mundial40. El capítulo analiza la evolución estilizada del desarrollo africano –entendido a la manera clásica, hoy heterodoxa, como crecimiento económico sostenido con transformación productiva y elevación de los niveles de bienestar (WHITFIELD, 2012, p. 241)– desde la independencia, y a continuación repasa la relación estratégica de China con 39 40 Hirono y Suzuki (2014, p. 445-451, 455, 459),Visentini (2014, p. 42), Corkin (2014, p. 51, 58), Junbo y Frasheri (2014, p. 199) y Zhang et al. (2015, p. 7-9). Power y Mohan (2010, p. 470-474, 488), Wang y Zou (2014, p. 1128-1130),Visentini (2014, p. 43-44), Abdenur (2015, p. 258-260), Mouron et al. (2016, p. 28-34), Xing (2016, p. 78), Bradley (2016) y Van der Merwe (2016). 140 África desde el lanzamiento del Foro de Cooperación China-África (FOCAC) en 2000 y su impacto en la geopolítica mundial con respecto a EEUU, las potencias coloniales (UE y Japón) y otras emergentes. El trabajo cierra con unas relexiones inales sobre las esperanzadoras perspectivas de la relación entre China y África. ENTRE LA EMERGENCIA Y EL CRECIMIENTO: AFRO-REALISMO En lo que va del siglo XXI África ha pasado de ser el continente sin esperanza del discurso del afro-pesimismo a la nueva frontera del crecimiento mundial con el discurso de la emergencia de África o sus “leones emergentes”41. Pero teniendo en cuenta que el desarrollo económico tiene tres elementos en su deinición (crecimiento económico sostenido, transformación productiva estructural y mejora de los niveles de bienestar), la trayectoria de África ofrece una imagen matizada entre la emergencia, que implica cambio estructural42, y el mero crecimiento del PIB per cápita. El aumento del PIB per cápita sin cambio estructural (industrialización) no es sostenible y, por ello, puede comprometer la consolidación futura de las mejoras del nivel de bienestar (SYLLA, 2014, p. 13; TAYLOR, 2016a, p. 11; TAYLOR, 2016c, p. 256). En términos de crecimiento, la evolución de África desde la década de 1960 se puede caracterizar por dos rasgos principales: i) un cuarto de siglo perdido durante el período 41 42 Además de los trabajos de Radelet (2010) y MGI (2010), las principales referencias están en Wang y Zhou (2014, p. 1124), Mateos (2015, p. 5-11), Taylor (2016a, p. 8-9; 2016b, p. 40) y Xing (2016, p. 89). La emergencia es el “crecimiento sostenido de la producción industrial de un Estado y el fortalecimiento de la capacidad de esas industrias de ser competitivas a escala global” (AMIN, 2014, p. 43). 141 de ajustes estructurales del Consenso de Washington, encajado entre el crecimiento de los ãos 60 (lento en relación a la economía mundial y las regiones en desarrollo de Asia y América Latina y el Caribe, pero más dinámico que el de China) y el resurgir del continente en la primera década del siglo XXI; y ii) una performance muy positiva durante este último período en comparativa diacrónica (con la década de 1960) y sincrónica (con la economía mundial y América Latina y el Caribe), coincidiendo con la nueva relación con una China en plena fase de aceleración de su desarrollo (Cuadro 1). Cuadro 1 – Evolución del PIB per cápita de África en comparativa histórica internacional, 1960-2010 ($ internacionales de 1990) PIB per cápita 1960 1970 1980 1990 2000 2010 América Latina y C. 3.018 3.985 5.437 5.065 5.873 6.767 Asia 1.026 1.530 2.030 2.783 3.788 6.307 China 662 778 1.061 1.871 3.421 8.032 África 1.055 1.335 1.515 1.425 1.509 2.034 Mundo 2.764 3.725 4.511 5.149 6.057 7.814 Tasa de variación acumulativa anual 196070 197080 198090 199000 2000-10 América Latina y C. 2,82 3,16 -0,71 1,49 1,43 Asia 4,08 2,87 3,20 3,13 5,23 China 1,63 3,15 5,84 6,22 8,91 África 2,38 1,27 -0,61 0,57 3,03 Mundo 3,03 1,93 1,33 1,64 2,58 Fuente: elaboración propia a partir The Maddison-Project, http:// www.ggdc.net/maddison/maddison-project/home.htm, 2013 version. Esa misma imagen se repite en el caso de África Subsahariana con matizaciones temporales y espaciales que: i) revelan la gravedad del cuarto de siglo perdido 142 durante el Consenso de Washington en el grupo de los 48 países frente a los del Norte de África (donde los impactos de tales políticas fueron menos intensos); y ii) acotan la buena perfomance del siglo XXI a un período (2000-08) en que efectivamente África Subsahariana vivió su emergencia aparente (con crecimientos superiores a la economía mundial y América Latina y el Caribe), para desacelerarse a partir de la crisis inanciera mundial y el in del boom de los commodities (2014), momento en que la región vuelve a un crecimiento débil (por debajo del registrado en la década de 1960 e inferior al de la economía mundial), una pauta muy similar a la de América Latina y el Caribe (la otra región afectada por el in del boom), aunque algo más dinámica que Norte de África y Oriente Medio (en proceso de descomposición política y económica tras el estallido de la primavera árabe) (Cuadro 2). Cuadro 2 – Tasas de variación acumulativa anual del PIB per cápita de las regiones en desarrollo de la economía mundial Tasas 196069 197079 198089 199099 200008 200916 América Latina y Caribe 2,4 3,1 -0,8 1,5 2,3 1,3 Asia del Sur 1,8 0,3 3,2 3,3 5,4 5,4 Asia del Este y Pacíico 1,3 4,4 6,1 7,1 8,0 6,6 N. de África y Oriente M. - 2,8 -0,4 1,8 2,7 0,9 África Subsahariana 1,8 0,3 -1,0 -0,5 2,4 1,3 Mundo 3,4 2,1 1,4 1,2 1,7 2,5 Fuente: para 1960-2008 Sundaram et al. (2011, p. 2) y para 2009-16 elaboración propia a partir de World Development Indicators, http:// data.worldbank.org/data-catalog/world-development-indicators (PIB per cápita en PPP en $ constantes de 2011). 143 En términos de cambio estructural, las series históricas son bastante deicientes, dependiendo de las fuentes usadas para el período inicial. El VAB del sector manufacturero de África habría aumentado del 6,3% al 15,3% entre 1970 y 1990 (UNCTAD, 2011, p. 15), para luego caer al 13,5% en 2000, en el típico proceso de desindustrialización prematura (e incluso negativa, al ir acompãada de reducciones del PIB per cápita) resultante de las políticas de ajuste estructural, para bajar hasta el 10% en 2015, a consecuencia del auge primario-exportador del gran último ciclo de los commodities43. Para África Subsahariana, el VAB del sector manufacturero aumentó del 5% al 15% entre 1960 y 1975 (TIMMER et al., 2014, p. 9), pero cayó al 13% en 2000 y de ahí al 10% en 2013 (UNDP, 2016, p. 77). Sin embargo, los datos de UNIDO retrasan el inicio de la caída (y de la desindustrialización prematura) al inicio de los 2000 para todo el continente y al segundo lustro de la década de 1990 para África Subsahariana, donde la desindustrialización tendría el agravante de ser negativa (Cuadro 3). Cuadro 3 – VAB sobre PIB a precios corrientes, 1970-2013 (en %) 197074 197579 198084 198589 199094 199599 200004 200509 201013 África 12,2 10,8 10,5 13,8 15,2 15,1 12,5 11,2 10,7 ASS 11,7 10,7 11,2 12,9 14,2 13,2 11,8 9,9 9,1 Fuente: UNIDO, 2015, p. 33. Aunque las cifras oiciales de la contabilidad nacional africana se han visto cuestionadas en los últimos ãos por 43 Por eso en los países exportadores de petróleo de África-54, la caída fue mucho más pronunciada, con una media del 13% de VAB manufacturero en la década de 1980, 8% en la de 1990 y 5% para el período 2000-2008 (SUNDARAM et al., 2011, p. 6). Los datos del texto en en AfDB/AU/UNECA (2009, p. 44; 2016, p. 54), UNCTAD (2016, p. 64, 66, 76) y Asche y Grimm (2017, p. 1). 144 la mala calidad de los datos y la fragilidad de los cálculos que supuestamente llevarían a la sobre-estimación del crecimiento durante los 2000 (JERVEN, 2014, p. 9-10; OBENG-ODOOM, 2017), y también se ha criticado el propio discurso de la emergencia porque encubre una realidad que es mayormente de reconstrucción y estabilización44, lo cierto es que a partir de indicadores de nutrición, salud, educación y consumo de los hogares se observa lo contrario: una mejora todavía mayor que la que se deriva de la variación del PIB per cápita y que se remonta a 1990 (YOUNG, 2012, p. 698), mejora que parece coherente con las problemáticas cifras de reducción de pobreza (PINKOVSKIY; SALA-i-MARTIN, 2014, p. 330). A la vista de estos datos parecería que el proceso de desarrollo que inició en la década de los 1960 al amparo de las políticas de industrialización por sustitución de importaciones ha vuelto a retomarse con fuerza desde inicios del 2000, liderado ahora por las exportaciones; y de la misma manera que el cuarto de siglo perdido se ha atribuido a las políticas de ajuste estructural del Consenso de Washington –que fueron particularmente virulentas y deletéreas en África Subsahariana (HOOGVELT, 1987; NYERERE, 1987, p. 151)-, el renacimiento de África ha sido endosado al estrechamiento de la relación con China vía comercio e inversiones, que habría contribuido hasta 44 A partir de una muestra de 49 países africanos, Sylla (2014, p. 10-12) ha calculado que: i) 19 países (9,4% del PIB total de la muestra) estuvieron en reconstrucción entre 2000 y 2010 (no lograron superar en 2010 el PIB per cápita que habían alcanzado en distintos momentos de las décadas de 1960 a 1990); ii) 16 (58,9% del PIB) no superaron la tasa de variación del PIB per cápita del 1,5% acumulativo anual entre 1980 y 2010, cifra que se considera como la norma de convergencia con el registro de los países de Europa occidental entre 1820 y 1998; y iii) sólo 14 países (31,7%) se pueden considerar en fase de emergencia, dado que su PIB per cápita superó la tasa del 1,5% acumulativo anual entre 1980 y 2010. 145 un 20% al crecimiento económico africano tras la entrada del gigante asiático en la OMC45. Sin embargo, la desindustrialización prematura ha desatado un debate entre los que atribuyen a China el proceso de reprimarización exportadora que reproduciría lógicas dependentistas centro-periferia causantes de la maldición de los recursos naturales (con desindustrialización, mala gobernanza y acumulación por desposesión)46, y aquellos que, por el contrario, consideran que África Subsahariana está en plena transformación productiva, como muestra la reducción del peso relativo del VAB y la población del sector agrario, lo que ha generado incrementos importantes de la productividad laboral (DIAO, 2017, p. 6-7), y no encuentran evidencia de que China propicie la maldición de los recursos, constatando, en cambio, el impacto positivo, aunque modesto, en el crecimiento africano toda vez que los efectos favorables de las exportaciones de productos primarios compensan los negativos de las importaciones de productos manufacturados chinos47. La buena recepción de la presencia de China entre la opinión pública africana en los últimos ãos parece avalar esta segunda posición (y, de paso, patentiza que el sesgo sinófobo de los medios occidentales es más bien para consumo interno): el último Afrobarómetro para 36 países del 45 46 47 Véase Sundaram et al. (2011, p. 2-4), Ubi (2014, p. 264),Visentini (2014, p. 47), Junbo y Frasheri (2014, p. 197), Pigato y Tang (2015, p. 1-2); Doku et al. (2017, p. 170) y Mu et al. (2017, p. 21). Dussort (2015, p. 25), Sylla (2014, p. 22), Fig (2015) y Taylor (2016a, p. 9-10; 2016b, p. 39-43). La evolución de la participación de las exportaciones de materias primas y productos agrícolas de África Subsahariana a China pasó del 84% para el promedio 1996-2001 al 89% para el promedio 2002-2007 y 2008-2011 (PIGATO y TANG, 2015, p. 69). Véase Busse et al. (2014, p. 23),Wang y Zou (2014, p. 1125), Dollar (2016, p. 2), Su et al. (2016, p. 33) y Xing (2016, p. 100). 146 continente (que no incluye a países como Angola, República del África Central, Congo, República Democrática del Congo, Guinea Ecuatorial o Etiopía, en los que la gran inluencia de China probablemente mejoraría los resultados obtenidos) muestra que China pisa los talones a EEUU como modelo más popular de desarrollo (24% frente a 30%), sobrepasa a EEUU como poder más inluyente (23% frente a 22%) y se acerca a la viejas potencias coloniales de la UE (28%); la inluencia de China es netamente positiva para casi dos tercios de los 54.000 entrevistados (63%) y sólo para un 15% negativa, con un 56% que opinan que la ayuda de China respondió a las necesidades de sus países (19% que no), destacando muy favorablemente las inversiones en infraestructuras, desarrollo empresarial y la relación calidad-precio de los productos chinos (LEKORWE et al., 2106, p. 2, 14, 18). Con datos de 2015, la percepción más favorable de China a nivel mundial, por detrás de Rusia (79%), se dio en África Subsahariana (70%), frente al 57% de la opinión de Asia-Pacíico y América Latina, 52% de Oriente Medio, 41% de la UE (pero con 34% en Alemania) y 38% de EEUU (WIKE et al., 2015, p. 28-29). CHINA MARCANDO EL PASO EN LA ÚLTIMA FRONTERA La relación entre China y África tiene un antes y un después de la celebración en 2000 del I FOCAC, de cuyas implicaciones geoestratégicas se ha dicho que elevó a África “a niveles comparables con los del Congreso de Berlín (1884-1885)” (LECHINI, 2013, p. 118-119). Dicha relación cabe entenderla, pues, en el contexto de la “carrera por África” entre China y otras potencias (POWER; MOHAN, 2010, p. 488; XING, 2016, p. 78), relación que, para su cabal entendimiento, hay que ver en perspectiva histórica (HIRONO; SUZUKI, 2014, p. 548). En el discurso del presidente de Sudáfrica, Thabo Mbeki, sobre el 147 “renacimiento de África” no hubo ni una sola mención a China en el mismo ão en el que ésta obtuvo su reconocimiento diplomático sudafricano (MBEKI, 1998), lo cual es sólo una falsa pista sobre la verdadera intensidad de las relaciones sino-africanas anteriores. La presencia de la República Popular en África tiene una larga data y se enmarca en la cooperación económica de China (envuelta luego en la retórica de la Cooperación Sur-Sur) con los países del Tercer Mundo. Primero en alianza con la URSS de acuerdo a la estrategia del frente unido contra el imperialismo48, y, desde 1960, de manera autónoma, jugando al contrapeso y luego a la equidistancia entre el “imperialismo” (EEUU) y el “revisionismo” soviético, a favor de los movimientos de liberación nacional. En el momento del cambio de orientación desde la ideología revolucionaria de Mao Zedong (1949-1976) a la de la modernización y la política exterior de apertura impulsada por Deng Xiaoping desde 1978 con el binomio paz-desarrollo, China tenía ya relaciones diplomáticas con 44 países africanos49. Para entonces China había desplegado su cooperación económica en África ayudando a países con un ingreso per cápita más alto que el suyo –y sin interrumpir esa ayuda ni siquiera en los momentos más críticos (1959-1962)– como ayuda bilateral (donaciones a fondo perdido y préstamos sin interés), atada para proyectos de 48 49 Ello explica que Egipto (entonces la República Árabe Unida con Siria) fuera en 1956 el primer país africano con el que China estableció relaciones diplomáticas, apoyando con 4,7$ millones su defensa del control sobre el Canal de Suez.Véase Fernando (2007, p. 363). Sobre estos aspectos véase Adie (1962, p. 202, 209-213), Roch (1980, p. 518, 521, 534, 540-542, 559, 571; 1985, p. 111-112, 119), Connelly (1991: 297, 303-304), Power y Mohan (2010, p. 478), Alden (2012, p. 40), Fernando (2007, p. 363-368), Wang y Zhou (2014, p. 1117), Ubi (2014, p. 245), Dreher y Fuchs (2015, p. 991-992), Sun (2014, p. 4, 6), Hanauer y Morris (2015, p. 19) y Bradley (2016, p. 882). 148 resultados rápidos, y guiada por objetivos político-diplomáticos (romper primero el cerco internacional impuesto por las potencias occidentales, y luego la política de reconocimiento de Una sola China para aislar a Taiwán) (ROCH, 1980, p. 534, 540-541; ZHAO, 2014, p. 1035; DREHER; FUCHS, 2015, p. 91). Estos dos elementos (ayuda atada y Una sola China) resultarían las características más estables de la ayuda china hasta la actualidad. China elaboró su doctrina de cooperación económica en el contexto de la Primera Conferencia de Países Afroasiáticos (BANDUNG, 1955), a partir del acuerdo sino-indio del ão anterior basado en los cinco principios de la coexistencia pacíica de Zhou Enlai, y, tras participar en la creación de la Organización de Solidaridad Afroasiática (1957), ratiicó el espíritu de Bandung durante la gira del primer ministro Zhou Enlai por diez países africanos en 1963-1964, en la que, desde Ghana, invocó los ocho principios de la cooperación que todavía guían la cooperación china en la actualidad50. Si bien el enfrentamiento de entonces con la URSS impidió la celebración de una Segunda Conferencia de Países Afroasiáticos, la posterior incorporación de China a Naciones Unidas (y al Consejo de Seguridad como miembro permanente) en 1972, en parte gracias al apoyo del grupo de países africanos recién independizados (26 de los 76 votos que favorecieron a China contra Taiwán fueron de países africanos), contribuyó a conigurar el discurso de la teoría de los tres mundos de 1974 (el de las superpotencias-tigres-de-papel, sus aliados desarrollados y los países en desarrollo de la periferia o Tercer Mundo) y, para mediados de esa década, un tercio 50 Deshpande (1975, p. 93), Shinde (1978, p. 52-61), Roch (1980, p. 522, 524, 539-540), Power y Mohan (2010, p. 476-477), Sun (2014, p. 3-4), Hanahuer y Morris (2015, p. 19), Zhang et al. (2015, p. 9) y Dasgupta (2016). 149 (1.500$ millones) de la ayuda acumulada comprometida por China (4.500$ millones) había sido destinada a África, principalmente como ayuda económica y técnica51. El proyecto estrella de la cooperación china de entonces fue el ferrocarril Tanzania-Zambia, construido entre 1970 y mediados de 1976, por valor de 500$ millones (3.200$ millones actualizados a 2017) y con un trazado de 1.860 km., que constituyó la vía de comunicación terrestre más importante de África Subsahariana durante mucho tiempo (FERNANDO, 2007, p. 365, 368; MOURON et al., 2016, p. 31; ROCHA, 2016, p. 100)52. China tuvo una activa participación en la agenda para el establecimiento del Nuevo Orden Económico Internacional (NOEI) tanto en la III y IV UNCTAD (1972 y 1976) como en la Asamblea General de Naciones Unidas, y, si bien no se incorporó al G77 (ROCH, 1980, p. 556; CONNELLY, 1991, p. 309-311), siguió promoviendo –durante los ãos más difíciles de la década de 1980– la Cooperación Sur-Sur (CSS) como elemento cohesionador para mantener viva la llama del NOEI y como aporte constitutivo al Principio de la política exterior independiente (y anti-hegemónica) proclamado en 1982 y concretado con la visita del ministro Zhao Ziyang a 11 países africanos ese mismo ão (CONNELLY, 1991, p. 304, 31; POWER; MOHAN, 2010, p. 477; UBI, 2014, p. 246). Como recogen 51 52 Roch (1980, p. 526, 528-529, 533, 538, 559; 1985, p. 114-115), Connelly (1991, p. 302-303), Sun (2014, p. 4), Hanauer y Morris (2014, p. 7). La ayuda china para este proyecto estratégico llegó tras la negativa a inanciarlo por parte del Banco Mundial, Naciones Unidas, EE.UU, el Reino Unido y la URSS, y se instrumentó mediante un crédito a interés cero, pagable a 30 ãos (en dinero o especie) y con un período de gracia de 15 ãos. El valor de esta ayuda resultó equivalente al 0,44% del PIB de China en 1970 y con esa operación China deinió su posición en África durante la Guerra Fría. Sobre estos detalles véase la extraordinaria investigación de Wei (2015). 150 las conclusiones de la I Conferencia Sur-Sur de Beijing (1983), promovida por la Academia China de Ciencias Sociales y la Fundación del Tercer Mundo, el objetivo de la CSS debía “ser liberarse gradualmente de la dependencia económica respecto de los países desarrollados”, con una llamada a los países del Sur a cerrar ilas y “permanecer siempre vigilantes ante los intentos de socavar su unidad”, así como a dar prioridad a la cooperación inanciera realizando los estudios de factibilidad para operar el Banco para Países en Desarrollo propuesto por el G77 (MEDINA, 1983, p. 678, 680-683). Ni qué decir tiene que estos planteamientos fueron coincidentes con las demandas africanas sobre “autodeterminación nacional y colectiva” que desde la presidencia de la Comisión del Sur impulsó después Julius Nyerere (1987, p. 151; TANDON, 2016, p. 257). Tras los sucesos de Tiananmen (1989), China, a in de resistir las sanciones occidentales y contrarrestar la diplomacia del dólar de Taiwán, inició una ofensiva diplomática por los países del Tercer Mundo, dentro de los cuales los africanos tuvieron un papel preponderante53, papel que se reforzó a partir de 1993, ão en que China se convirtió en importador neto de petróleo y Japón lanzó la Conferencia Internacional de Desarrollo Africano de Tokio (TICAD por su siglas en inglés) que después sería copiada por China (ALDEN, 2012, p. 25; CÁCERES; EAR, 2012, p. 48). A partir de 1995, China procedió a reformar su cooperación económica, empaquetando las donaciones a fondo perdido y los préstamos sin interés, junto con créditos concesionales, inversión extranjera directa (de su empresas estatales) y acuerdos comerciales54, de manera que ya estaba muy 53 54 Véase Connelly (1991, p. 313), Alden (2012, p. 36), Sun (2014, p. 4-5), Zhao (2014, p. 1035) y Dreher y Fuchs (2015, p. 992-993). Brautigam (2011, p. 205), Ubi (2014, p. 251), Sun (2014, p. 7-8), Lin y Wang (2014, p. 7-8, 2015, p. 14-15) y Dreher y Fuchs (2015, 151 bien preparada para la nueva carrera por África que se iba a desatar en el segundo lustro de la década de 1990, con la visita de Jiang Zemin a la región en 1996 (donde lanzó la idea del FOCAC) y la introducción a su regreso de esta gira africana de la estrategia Going Out, estrategia que sería deinitivamente aprobada por el Comité Central del PCC en 2000 incorporándose al X Plan Quinquenal 2001-2005 para consolidarse como estrategia nacional permanente de Going Global (SUN, 2014, p. 6; GU, 2016, p. 26). Entre tanto, en 1999 se celebró la Conferencia Ministerial EEUU-África bajo el lema Asociación para el siglo XXI, que el presidente Clinton había lanzado un ão antes durante su gira por seis países africanos. Pero, frente a EEUU o las antiguas potencias coloniales (UE y Japón), China sumaba, a las ventajas del acervo histórico de su relacionamiento con el continente “hermano”, cuatro insumos fundamentales en la competencia de la carrera por África. El primero son los valores confucianos fuertemente desarrollistas de diligencia y disciplina colectivas, orientación a resultados, capacidad por selección meritocrática, y austeridad del modo de vida de sus gerentes y trabajadores expatriados (socializados en “tragar amargura” frente a los cooperantes occidentales que absorben gran parte del dinero de la ayuda en sus extravagancias lujosas), tendencia a privilegiar en los acuerdos las relaciones personales sobre los contratos escritos y preferencia por la autonomía del autoempleo, aspectos estos dos últimos muy bien adaptados a la informalidad institucional africana55. El segundo insumo es una historia común de padecimientos de las agresiones y de la dominación 55 p. 993). Véase Cornejo (1997, p. 524, 529-530), Corkin (2014, p. 54), Lee (2014, p. 60-61), Hanauer y Morris (2014, p. 16), Zhao (2014, p. 1036) y Park (2015, p. 635-636). 152 imperiales de las potencias occidentales (y Japón) que ha favorecido la solidaridad estratégica entre China y África en la mayoría de asuntos internacionales (con énfasis en el respeto a la soberanía nacional, los derechos económicos, sociales y culturales y el derecho al desarrollo, y la democracia proyectada a las relaciones entre Estados), así como la visión compartida del desarrollo como industrialización y autodeterminación económica y como derecho humano de tercera generación. El tercer insumo es una tradición de cooperación sin condicionalidades políticas (cláusulas democráticas), frente a la creciente injerencia en los asuntos internos de los países del Comité de Ayuda al Desarrollo (CAD) en África, vía imposición de recetas del Consenso de Washington o de su sucesor Davos, que hicieron el trabajo sucio para que luego las empresas chinas pudieran aprovecharse sin, lógicamente, ser responsables de semejantes recetas. Por ultimo, el cuarto insumo es un nuevo modelo de desarrollo o Consenso de Beijing, que, con su énfasis en el papel del Estado, la inversión en infraestructuras y la mezcla de autoritarismo y eicacia, facilitaría el éxito de muchos de los llamados “Estados fallidos”, una vez que el éxito de China demostró que la calidad institucional es producto, no causa, del desarrollo, con el doble dividendo para China de mejorar la legitimación exterior de su sistema político y evidenciar, de paso, que los valores occidentales no tienen el pretendido carácter universal que se les atribuye56. 56 Power y Mohan (2010, p. 475), Domínguez (2012, p. 261), Agaba y Genyi (2013, p. 46-47, 50-51), Lechini (2013, p. 122), Lee (2014, p. 34), Zhao (2014, p. 1036), Corkin (2014, p. 54-56, 61-63), Wang y Zou (2014, p. 1126), Xiaoyun (2014, p. 55-61), Sun (2014, p. 3, 6, 12), Hanauer y Morris (2014, p. 10, 23), Junbo y Frasheri (2014, p. 199), Zhang et al. (2015, p. 9-11, 23-24, 33) y Mason (2017, p. 86). Sobre el tema especíico de los derechos humanos, véase Nathan (1994, p. 623, 638-639), Zhishang (2011, p. 409), Zhengquing et al. (2017, p. 37) y Domínguez (2017, p. 12-13) 153 La cooperación económica (CSS) de China fue así la herramienta de poder blando que permitió participar en la carrera por África. Para 2009, China había dirigido a África el 46,7% de su ayuda contabilizada desde 1950 y en las cifras de 2010-2012 África concentró el 51,8% (BRAUTIGAM, 2011, p. 207-208; DOMÍNGUEZ, 2015, p. 13; PIGATO; TANG, 2015, p. 24). Esta carrera por África, en competencia con otras potencias, se desató en un momento de inlexión del unipolarismo de EEUU, simbolizado en el continente africano por la Nueva Asociación por el Desarrollo de África (NEPAD, por sus siglas en inglés), iniciativa patrocinada por Sudáfrica en 2000, que buscaba un relacionamiento más equilibrado con los países desarrollados priorizando la inversión en infraestructuras como cuello de botella crítico para el desarrollo (AFRICAN UNION, 2001, p. 22-27; AGABA; GENYI, 2013, p. 48). Como luego demostró el FMI, esa inversión podría tener el mayor impacto en el crecimiento potencial del comercio africano, con una contribución del 42% frente a otras medidas asociadas a la buena gobernanza, como el imperio de la ley, con una contribución del 29% (DOLLAR, 2016, p. 27), y mientras China entendió el mensaje africano (contribuyendo con el 34% de la inanciación oicial para la construcción de las infraestructuras de África Subsahariana) (LIN; WANG, 2015, p. 13), las potencias occidentales optaron por la buena gobernanza –que les permitía seguir con sus políticas (neo) colonialistas– y los sectores sociales que daban trabajo a su industria de la ayuda. El ão del lanzamiento del NEPAD (2000), el Congreso de EEUU aprobó la AGOA (African Growth and Oportunity Act), un programa de preferencias comerciales no recíprocas, envuelto en la retórica del desarrollo por medio de la expansión de la economía de mercado y la democracia, y acompãado de ayuda para comercio (trade capacity building) muy condicionada políticamente 154 (en términos de buena gobernanza y alineamiento a los intereses económicos y de política exterior de EEUU), así como un mecanismo de diálogo político anual (Foro de Comercio y Cooperación Económica EEUU-África) con el objetivo de profundizar las relaciones comerciales y de inversión con el continente (WILLIAMS, 2015, p. 1, 5-6). A través de la Millenium Challenge Corporation y USAID, EEUU canalizó para esta iniciativa unos 600$ millones anuales entre 2006 y 2011 (que después se vieron drásticamente reducidos hasta 191$ millones en 2012), para infraestructuras relacionadas al comercio (51% de los fondos entre 2011 y 2013), proyectos de agricultura comercial (15%) y facilitación de comercio (11%). Hasta 2011, más del 80% de las importaciones estadounidenses sujetas a la AGOA y al Sistema Generalizado de Preferencias de los países de África Subsahariana fueron petróleo57, aunque esa cuota cayó al 69% en 2014 en paralelo al descenso de más del 80% del valor de las importaciones desde 2011. Para revertir esa tendencia y renovar la AGOA (cuya autorización por el Congreso terminó en 2015, ão en que se aprobó extenderla hasta 2025), el XIII Foro de Comercio y Cooperación Económica EEUUÁfrica, celebrado en Washington en 2014, se envolvió en un mecanismo de diálogo político de alto nivel, el US-Africa Leaders Summit, con la presencia por primera vez de 50 jefes de Estado y de Gobierno africanos (WILLIAMS, 2015, p. 6-7, 9, 12; TIFFEN, 2014). En todo el período de vigencia de la primera autorización de la AGOA (200057 En 2011, 33.000$ millones de los 57.000$ millones de stock de inversión extranjera directa de EEUU en África estaban colocados en recursos energéticos y minería (HANAUER y MORRIS, 2014, p. 11). Ese mismo ão fue en el que la entonces Secretaria de Estado, Hillary Clinton, denunció desde Zambia el “nuevo colonialismo” de China en razón de que sólo buscaba extraer de África sus recursos naturales (DOLLAR, 2016, p. 9). 155 2015), los presidentes de EEUU viajaron a África una vez por cada uno de sus mandatos, lo que evidencia la baja –de hecho, mínima– prioridad que representaba la región para EEUU (SUN, 2014, p. 15), que restringió su cooperación en el continente a los temas de sector privado y seguridad58. En contraste, China lanzó el FOCAC (Beijing 2000) como instrumento de diálogo político al máximo nivel y concreción de su estrategia Going Out, instrumento que fue elevado –con su correspondiente policy paper, el China’s Africa Policy de 2006– a la categoría de Asociación Estratégica con la Unión Africana (UA) en Beijing 2006 (III FOCAC)59, luego reforzado en sus elementos de soft power y reorientado hacia el cambio estructural en Beijing 2012 (V FOCAC), y, en último término, ampliado sustancialmente en su enfoque (hacia la industrialización) y compromisos 58 59 Durante el inal del segundo mandato de Bush se aprobó el Comando Uniicado África (AFRICOM, por su siglas en inglés), con capacidad operativa en todos los países africanos, excepto Egipto, y base en Alemania; el AFRICOM incluyó dentro de sus operaciones a la Asociación Contraterrorista Subsahariana, en la que se integran países considerados no democráticos como Chad, Mali, Mauritania y Argelia (HANAUER; MORRIS, 2014, p. 46-47; MATEOS, 2015, p. 19-20). En 2005, China envió representantes a la UA, la Comunidad para el Desarrollo del África Austral (SADC por sus siglas en inglés), la Comunidad Económica de Estados de África Occidental (ECOWAS) y el Mercado Común del África Oriental y Austral (COMESA) (WANG; ZOU, 2014, p. 1119). Hasta ese momento China solo tenía una asociación estratégica con Egipto (1999), Sudáfrica (2004) y Nigeria (2005). A partir de 2008 celebraría anualmente el Diálogo Estratégico UA-China y irmó acuerdos de asociación estratégica con Angola (2010) y Argelia (2014). En 2010 la relación con Sudáfrica fue elevada a la categoría de asociación estratégica integral para facilitar su incorporación al club de los BRIC(S), arrastrando en realidad a los 15 países de la SADC, que en 2015 agrupaban a 277 millones de habitantes y el 38% del PIB de África Subsahariana (FERNANDO, 2007, p. 369; ZHONPING; JING, 2014, p. 19; WANG; ZOU, 2014, p. 1119; BRADLEY, 2016, p. 882-883). 156 inancieros en Johannesburgo 2015 (VI FOCAC), previo anuncio del China’s second Africa policy paper. El presidente Hu Jintao visitó cuatro veces el continente africano en su mandato (2003-2013) recorriendo 18 países; y su sucesor, Xi Jinping, inauguró su primera gira internacional en 2013 visitando tres países africanos; y tras la visita de su primer ministro Le Kekiang a la UA en 2014, Xi Jinping volvería a África en 2015 para el VI FOCAC, donde anunció inanciación por 60.000$ millones y en 2016 para conmemorar el 50 aniversario de establecimiento de relaciones diplomáticas con Egipto60. En cuanto a los compromisos inancieros, el FOCAC pasó de la cancelación de una parte de los créditos libres de interés para 31 países pobres altamente endeudados (HIPC por sus siglas en ingles) y menos desarrollados (LDC) africanos en 2000, a su liquidación en 2006, 2009 (IV FOCAC, Sharm el-Sheij) y 2015 de los créditos libres de interés que expiraran el ão anterior respectivo; los 3.000$ millones de crédito concesional y 2.000$ millones de crédito preferencial de 2006 aumentaron a 10.000$ millones de crédito concesional y 1.000$ millones de crédito preferencial para pymes en 2009; y se creó una línea de crédito (que empaqueta donaciones y crédito concesional y preferencial) de 20.000$ millones en 2012, ampliada a 35.000$ millones en 2015, con 5.000$ millones adicionales en subvenciones sin interés y otros 10.000$ de crédito concesional para pymes. En el frente del comercio y la inversión, las primeras promesas de otorgamiento de preferencias no recíprocas a los LDC africanos de 2000 se concretaron para 190 productos libres de aranceles y cuotas en 2003 (III FOCAC, Addis Abeba), 440 en 2006, 95% de los productos en 2009, y 97% en 2012, con objetivos de incremento del comercio 60 http://english.mofcom.gov.cn/article/newsrelease/signiicantnews/201702/20170202515699.shtml. 157 sino-africano de 30.000$ millones en 2003 a 100.000$ en 2006 (que llegaron a 220.000$ millones en 2014 y se pretenden elevar a los 400.000$ para 2020). El despliegue de la institucionalidad en 2000 (Centros binacionales de promoción de inversiones y comercio tanto en los países africanos como en China y Consejo Empresarial ChinaÁfrica) continuó con la creación del Fondo de Desarrollo China-África, con una dotación inicial de 5.000$ millones, y el lanzamiento de cinco Zonas Económicas Especiales de 2006, la reposición de otros 5.000$ millones para el Fondo de Desarrollo en 2012, y 10.000$ millones adicionales en 2015, a los que ãadieron otros 10.000$ millones de un nuevo Fondo de Cooperación Industrial para la construcción de “capacidades de producción” (parques industriales y centros regionales y nacionales de formación profesional); y también en 2015 se adelantó la promesa de alcanzar para 2020 un stock de inversión directa china en África de 100.000$ millones desde los 32.400$ millones de 2014. Para la construcción de capacidades (desarrollo humano en la jerga del CAD), al Fondo Africano de Desarrollo de Recursos Humanos creado en 2000 se unió el programa de formación de 10.000 técnicos africanos de 2003, ampliado a 15.000, más el envío de 100 expertos agrícolas, la creación de 10 Centros de Extensión Agrícola, 30 Centros de Prevención de la Malaria, 100 escuelas rurales, el envío de 300 jóvenes voluntarios y el incremento de las becas anuales para estudiantes africanos de 2.000 a 4.000 en 2006. En 2009 el programa de formación de técnicos africanos se elevó a 20.000, se duplicó el número de Centros de Extensión Agrícola, se enviaron 50 equipos de técnicos agrícolas para la formación de 2.000 expertos africanos, se amplió el número de becas anuales hasta 5.500, se construyeron 50 Escuelas de Amistad China-África formándose 1.500 profesionales para su atención, y se lanzaron 100 proyectos de ciencia y tecnología que recibieron otros tantos doctores 158 africanos en China. En 2012 continuó la extensión del programa de formación de técnicos africanos hasta los 30.000, se prometió el envío de 1.500 médicos, se elevó el número de becas a 18.000, se patrocinaron otros 100 programas académicos y se lanzó el Programa de Talentos Africanos. En 2015 se incluyó el objetivo de formar a 200.000 técnicos y expertos africanos (40.000 con pasantías en China) y se ampliaron las becas a 30.000 (2.000 para realizar estudios universitarios). Dentro del proceso de reforzamiento de los elementos de soft power, se pasó de los anuncios a favor de la cooperación medioambiental de 2000 y la promoción del turismo chino en África de 2003, a acciones muy concretas, entre las que destacan: la red de Institutos Confucio (desde la apertura del primero en 2004, actualmente hay 46 en 32 países africanos de los 516 en 142 países a nivel mundial); la construcción de la sede de la UA en 2006; la Iniciativa de Asociación de Cooperación por la Paz y la Seguridad China-África de 2012, que convirtió a la UA en miembro permanente del FOCAC y responsable del diálogo estratégico entre las ocho Comunidades Económicas Regionales Africanas y China (dotándola de 95$ millones para operar en su nueva sede de 50.000 m2, construida a fondo perdido por China), así como la donación de 60$ millones para una fuerza permanente africana de respuesta a crisis y la formación de 1.000 especialistas africanos en comunicación de 201561. 61 Los tres párrafos anteriores están basados en las declaraciones inales y los planes de acción de los respectivos FOCAC (http://www. focac.org/eng/), en los policy papers de 2006 y 2015, así como en los balances y análisis de Eom et al. (2016, p. 1, 3-5), Carey et al. (2016), Bradley (2016, p. 891), Zhang et al. (2015, p. 13), Pigato y Tang (2015, p. 34), Ubi (2014, p. 247-249, 253-254, 261-262), Zhonping y Jing (2014, p. 19), Zhao (2014, p. 1037-1038, 1046), Wang y Zou (2014, p. 1117, 1119, 1125, 1131), Hanauer y Morris (2014, p. 20-21, 39-40, 45, 75-85), Lechini (2013, p. 121-123), Alden (2012, p. 36-38), Domínguez (2012, p. 267, 272-273) y Brautigam 159 China aprovechó muy bien en estos ãos el espacio estratégico dejado por EEUU en África tras el atentado de las Torres Gemelas a in de reforzar su “ascenso pacíico” hacia la condición de superpotencia, a través de la adquisición de capital, tecnología y recursos por medios comerciales y no militares (BIJIAN, 2005, p. 20). De manera que la carrera de China por África no solo estuvo motivada por la búsqueda de fuentes de energía, recursos naturales y materias primas, o la exploración de nuevos mercados para sus empresas62, sino también por motivaciones defensivas frente a las críticas occidentales de violaciones de derechos humanos y, sobre todo, por consideraciones geopolíticas de mucho mayor alcance, vinculadas a la estrategia de Una sola China, y la reconiguración del orden económico y político mundiales sobre nuevas bases multipolares, de ahí la creciente cooperación militar con el bloque africano (que cuenta con 54 de los 193 miembros de la Asamblea General de Naciones Unidas) y de ahí también el involucramiento chino en la resolución de conlictos, las operaciones de paz y desminado, el combate a la piratería o la reconstrucción posbélica63. Todo este formidable despliegue diplomático convirtió a China en el primer socio comercial de África Subsahariana en 2012, con un 24% del comercio total ya en 2013, partiendo del 2% en 1995: como fuente de importaciones China desplazó a Alemania y EEUU en 2006, y como destino de las exportaciones africanas desplazó a sus 62 63 et al. (2010). Para los Institutos Confucio, véase Akhataruzzaman y Lien (2017) y van deer Heever (2017). Véase Cáceres y Ear (2012, p. 48), Alden (2012, p. 23-30), Zhao (2014, p. 1035), Wang y Zhou (2014, p. 1113-1115), Sun (2014, p. 6) y Hanauer y Morris (2014, p. 6). Nathan (1994, p. 639-640),Wang y Zhou (2014, p. 1115-1123), Su (2014, p. 3, 5, 9-11), Hanauer y Morris (2014, p. 6-9, 23, 41-44) y Park (2016, p. 639). 160 competidores en 2013 pasando de una cuota de mercado del 6% en 2003 al 27% en esa última fecha (la UE-25 cayó del 37% al 23% y EEUU del 21% al 10%) (DOLLAR, 2016, p. 20, 22; PIGATO; TANG, 2015, p. 5-6). China logró situarse por delante de Japón en términos de lujo y stock de inversión extranjera directa en 2005 en África Subsahariana y actualmente es el cuarto mayor inversor por lujo y stock, por detrás de EEUU, Reino Unido y Francia, si bien algunas fuentes multiplican su cifras de stock (32.350$ millones en 2014) por un factor de 2,5, teniendo en cuenta que una gran parte se hace desde centros ofshore, de manera que por este cálculo China se situaría por delante de EEUU y solo sería superada por el bloque de la UE (PIGATO; TANG, 2015, p. 9, 12-13, 28-29; EOM et al., 2016, p. 2-3). Además, China acumuló entre 2000 y 2014 una cartera de crédito público en África Subsahariana a través del Exim Bank, el China Development Bank y otras fuentes oiciales por valor de 86.269$ millones, frente a los aproximadamente 105.000$ del Banco Mundial, que podría quedar relegado a una segunda fuente de inanciación pública en el futuro inmediato (HWANG et al., 2016). Finalmente, con el aporte de 14.100$ millones en ayuda (contando los créditos preferenciales a la exportación) que le situarían al mismo nivel que el segundo donante del CAD por detrás de EEUU (KITANO; HARADA, 2016, p. 1058), China se ha colocado en África como el gran proveedor de CSS (sin condicionalidades), en directa competencia con la cooperación condicionada de EEUU y la viejas potencias coloniales64: proyectando la cifra del 64 Entre 1999 y 2014, se produjeron 239 suspensiones de la Ayuda Oicial al Desarrollo en forma de apoyo presupuestario de 18 donantes del CAD (bilaterales y multilaterales) en 40 países; el 43% de las suspensiones fueron por casos de corrupción, 35% por violaciones de los derechos humanos, fraudes electorales o golpes de Estado, y el 22% por no cumplir condicionalidades de política 161 51,8% del total de la ayuda China a África del período 2010-2012 a las cifras asimilables a la Ayuda Oicial al Desarrollo (AOD) estimadas para 2013 de 7.092$ millones por Kitano y Harada (2016, p. 1058), China habría otorgado ayuda a los países de África por valor de 3.674$ millones en esa fecha, lo que la convertiría en el sexto donante por detrás de EEUU (8.979$ millones), la Asociación Internacional de Desarrollo (6.072$ millones), la Comisión Europea (5.973$ millones), Emiratos Árabes Unidos (4.761$ millones) y Reino Unido (3.922$ millones)65. Pero si se contabilizan los créditos a la exportación como ayuda, entonces China se situaría en el segundo lugar muy cerca de EEUU. En este punto, la evidencia empírica contradice las críticas occidentales de que China da preferencia a países especialmente ricos en recursos naturales, con peor calidad institucional o regímenes autoritarios (lo que conirma tanto el principio de no interferencia como lo infundado de los temores de que China subvierta los supuestos esfuerzos de otros donantes a favor de la democracia y la buena gobernanza), y, más bien parecería darse un comportamiento similar al de los grandes donantes del CAD en cuanto a la asignación de la ayuda por intereses propios de carácter comercial y político (DREHER; FUCHS, 2015, p. 1010, 1013, 1018-1019; AIDOO; HESS, 2015, p. 120-121; BROICH, 2017, p. 3, 34). La gran diferencia es que la naturaleza atada de la ayuda china disminuye las posibilidades de corrupción y favoritismo en comparación con la ayuda occidental en las fases de implementación de los proyectos 65 económica impuestas por los donantes. Entre los países con más de cinco sanciones (12), 10 fueron de África Subsahariana, y de los 12 países que incurrieron en múltiples infracciones (3 o más) 10 fueron también subsaharianos (MOLENARES et al. 2017, p. 147, 150). Los datos están disponibles en https://www.oecd.org/dac/stats/ documentupload/2%20Africa%20-%20Development%20Aid%20 at%20a%20Glance%202015.pdf. 162 (DREHER et al., 2014, p. 30; LIN; WANG, 2107, p. 91). Quizá por ello, los mayores donantes del CAD en África asignaron para el período 2000-2011 mayores niveles de ayuda programable en los países donde la inluencia de China fue creciente, orientándose desde los sectores sociales hacia las infraestructuras económicas a in de asimilarse al estilo chino (KILAMA, 2016, p. 530, 541), en otra manifestación más de la convergencia inversa del CAD con China que marca el signo de los tiempos en el mundo de la cooperación66. En el ão de inicio de la Agenda de Desarrollo Sostenible 2030, que estará operativa para el período 2016-2030, China se ha convertido en “la inluencia principal en el mundo de la arquitectura internacional del desarrollo” (CAREY et al., 2016). Durante la aprobación de esa agenda en septiembre de 2015 China anunció un fondo de CSS de 2.000$ millones para la implementación de los ODS, y otro especíico de 3.000$ millones para la la lucha contra el cambio climático. Con su iniciativa The Belt and Road (BRI por sus siglas en inglés), lanzada por Xi Jinping en 2013 y oicializada en 2015, y las instituciones inancieras ya en operación para apoyarla67, China pretende integrar verticalmente la Ruta terrestre de la Seda de Eurasia con la nueva Ruta marítima de la Seda que conecta el Mar de China con el Océano Índico, el Golfo Pérsico, el Mar de Arabia y el Mediterráneo, con sendos brazos hacia el Pacíico por Oriente y las regiones costeras con el Índico de 66 67 Domínguez (2013, p. 37-38), Murray y Overton (2016, p. 13-15), Besharati (2017). New Development Bank (con 50.000$ millones que esperan duplicarse) y Asian Infrastructure Investment Bank (con 100.000 $ millones) de carácter multilateral, y el Fondo de la Ruta de la Seda de 2014 (con 40$ mil millones) y los bancos de desarrollo nacionales de China (que en 2013 hicieron préstamos internacionales por valor de 373.000$ millones) de carácter bilateral.Véase, las cifras en Callaghan y Hubbard (2016, p. 118-119) y Domínguez (2016, p. 78). 163 África, en las que se encuentran viejos aliados como Tanzania, país con el que China cerró en 2015 acuerdos ferroviarios por valor de 9.000$ millones para la exportación por el puerto de Dar el Salam, a los que hay que sumar los 10.000$ millones del acuerdo para la construcción del mayor puerto de la región del África Austral en Bagamoyo y el megaproyecto del corredor LAPSSET (que une el puerto de Lamu en Kenya con un ferrocarril que enlaza Etiopía y Sudán del Sur) valorado en 25.500$ millones, así como el anuncio de ampliación del nuevo Canal de Suez68. El alcance transcontinental de la BRI muestra que China, en esta segunda oleada de su desarrollo hacia el exterior, pretende inluir de manera decisiva en la distribución del poder mundial (sin olvidar la presión sobre Taiwán al que sólo le quedan dos aliados en el continente) y que en ese propósito de carácter geoestratégico “África en su totalidad” es la primera vez que resulta incluida en un proyecto de integración megarregional (ROCHA et al., 2016, p. 89, 94-97; SUN, 2014, p. 5). Con esta última jugada del ajedrez mundial, como la que en su momento resultó el FOCAC, China va a seguir marcando el paso al resto de los operadores en el continente, que desde 2000 han ido a remolque de China: EEUU con la AGOA, que no se convirtió en diálogo político de alto nivel hasta el US-Africa Leaders Summit de 2014, donde Obama anunció compromisos por 33.000$ millones; la UE, con la enmarãada institucionalidad del Acuerdo de Cotonú (en crisis existencial ante su término en 2020), no tuvo preparada su Estrategia Conjunta África-UE hasta 2007, y de cara a la V Conferencia UE-África de ines de 2017 anunció un Plan Europeo de Inversión Exterior 68 Carey et al. (2106), Lehmacher (2016), Jiang (2016, p. 1), Domínguez (2016, p. 78-79), Summers (2016, p. 1630-1631, 1638), Mouron et al. (2016, p. 30), Rocha (2016, p. 96, 102) y UNECA (2014, p. 21). 164 que pretende movilizar, a partir del uso de la AOD para apalancar otros fondos, unos 46.000$ millones para África y otros países vecinos, aunque sujetos a todo tipo de condicionalidades positivas y negativas a in de controlar manu policial y militar las temidas migraciones; y Japón elevó la categoría del TICAD a asociación estratégica en 2008 después de que China, que había copiado ese modelo para el FOCAC, lo hiciera en 2006, y prometió en el V TICAD (Tokio 2013) 32.000$ millones de ayuda para África en el siguiente quinquenio, que se quedaron en 30.000$ millones en el VI TICAD (Nairobi 2016) (MACKIE et al., 2017; WANG; ZOU, 2014, p. 1130). Del grupo de los BIC, India simplemente “mimetizó el comportamiento de China en relación a África”, con el India-Africa Summit (“facsímil” del FOCAC) del que se llevan realizadas tres ediciones desde 2008; mientras que Brasil, que operó inicialmente desde la Comunidad de Países de Lengua Portuguesa (1996), procuró envolverse en el diálogo trilateral con la IBSA (2003) y birregional desde la UNASUR –una vez que China lanzó dentro del III FOCAC (2003) el Foro Macao para la Cooperación Económica y Comercial entre China y los Países de Lengua Portuguesa– con la Asociación Estratégica África-América del Sur y su Foro de Cooperación correspondiente, que ha realizado tres ediciones desde 2006. El panorama lo completan dos emergentes: con la Iniciativa de Corea para el Desarrollo de África (2006), que dio lugar al Foro Corea-África de Seúl reconvertido luego en el Foro de Inversión Corea-África (2015); y, de mucho más calado (que en parte explica la limitada presencia de Rusia, con un solo viaje oicial del presidente Mevdevev en 2006), la Conferencia TurquíaÁfrica, que se lanzó en 2008, reconvertida en Asociación con la Unión Africana en 201469. China detonó, pues, la carrera 69 Véase Taylor et al. (2016, p. 107, 121),Visentini (2014, p. 50), Seifert (2016, p. 136), Abdenur (2015, p. 261), Shamilov (2016, p. 202),Wang 165 por África con el resultado de ampliar el espacio político y económico de maniobra para los países africanos frente a las viejas potencias coloniales (UE y Japón) y EEUU: la amenaza china es que China empoderó a África70. REFLEXIONES FINALES POR EL CAMBIO ESTRUCTURAL Para integrar al continente africano en su proyecto megarregional de la BRI, el primer ministro Li Kequiang presentó la estrategia de industrialización como ventana de oportunidad para África durante la visita que realizó a la UA en 2014, en la que anticipó los lineamientos de la nueva política de China en África, luego recogidos en el segundo policy paper de 2015 previo a la celebración del VI FOCAC de Johannesburgo. Una rápida comparativa entre los dos documentos de 2006 y 2015 (Cuadro 4) permite deducir que China respondió de manera proactiva a las demandas y críticas que surgieron desde África a medida que se intensiicó la relación comercial y de inversión, como reconoce tanto la literatura pro-occidental como la sinóila71. Cuadro 4 – Frecuencias semánticas en los dos policy papers sobre China en África CONCEPTOS 70 71 características y objetivos del desarrollo Policy paper 2006 Policy paper 2015 support (de demandas africanas e intereses chinos) 22 168 friends/friendly/friendship 13 38 y Zou (2014, p. 1128-1129), Ozkan (2016, p. 219-220), Elmorsy (2016, p. 4-6) y Domínguez (2012, p. 253; 2015, p. 17). Power y Mohan (2010, p. 489), Domínguez (2012, p. 273, 275), Visentini (2014, p. 60), Xing (2016, p. 90-91, 100), Swelung (2017). Para la primera véase Wang y Zou (2014, p. 1117-1124) y Hanauer y Morris (2014, p. 73-86). Para la segunda Zhao (2014, p. 1044-1051) y Campayo y Zao (2016, p. 71). 166 CONCEPTOS características y objetivos del desarrollo Policy paper 2006 Policy paper 2015 share/shared (intereses) 0 15 partner/partnership 2 14 trust 5 10 win-win 1 9 pragmatic cooperation 3 7 solidarity 1 5 peace/peacefull/peacekeeping 16 27 sustainable 2 20 características y objetivos del desarrollo poverty 0 15 independent/independence 7 14 industrialization 0 10 stability 5 9 agricultural modernization 0 8 climate change 1 5 Y esa respuesta se basó no sólo en acentuar la retórica performativa característica de la cooperación del CAD (más apoyo, amistad, asociación, intereses más compartidos, conianza, mutuo beneicio, solidaridad), sino con una batería de nuevas propuestas a demanda de los africanos, que incluye cosas más concretas que las narrativas occidentales de sostenibilidad y lucha contra la pobreza: si en 2000 el NEPAD reclamó inversión en infraestructuras, en 2013 la UA se planteó tímidamente el cambio estructural (“transformación económica”) en la Agenda 2063 aprobada en 2013, pero en el primer Plan de Acción decenal para desarrollar esta agenda acordado en Addis Abeba antes del VI FOCAC (2015) se habla de “transformar, crecer e industrializar nuestras economías por medio del beneicio y la agregación de valor a los recursos naturales”, con un “Plan de Acción de Desarrollo Industrial Africano” y 167 “políticas industriales” y “macroeconómicas” orientadas a la “industrialización” (AFRICAN UNION, 2015, p. 6, 15). Fue este primer Plan de Acción decenal sobre el que China construyó explícitamente su segundo policy paper y el Plan de Acción de Johannesburgo (CAREY et al., 2016). En este punto el contraste con el recién propuesto Plan Marshall con África del Ministerio de Cooperación Económica y Desarrollo de Alemania no puede ser más ilustrativo: el documento no contiene mención alguna a la industrialización (excepto una referencia a la “diversiicación económica”). Endosa la vieja retórica de “dejar atrás” la relación donantes receptores, con algunas airmaciones estupefacientes, como que África y Europa tienen “una historia compartida”, eso sí, reconociendo a modo de mea culpa, que “incluso hoy, la riqueza de los países industrializados se basa, en parte, en la explotación incontrolada de los pueblos y recursos del continente africano”. Por los demás, el Plan Marshall con África no tiene memoria presupuestaria (solo apela a que la AOD servirá para apalancar fondos privados), y es el enésimo plan business as usual descoordinado de la UE (con un Estado miembro que sustituye la falta de liderazgo de la Comisión) y que si bien plantea tres pilares72 anuncia que la V Conferencia UE-África de ines de 2017 deberá concretarse en una Nueva Asociación UE-África para la Paz y la Seguridad (BMZ, 2017, p. 4, 6-7, 10-11, 14-15, 20). Frente a esta incapacidad maniiesta de la UE para salir de su jaula de hierro neocolonial y con la privatización y militarización de su ayuda en ciernes (el control migratorio y la lucha contra el terrorismo son las auténticas prioridades: la última también compartida por EEUU, tras el anuncio 72 i) Actividad económica, comercio (que ahora ya no será “libre” sino “justo”) y empleo; ii) Paz y seguridad; y iii) Democracia e imperio de la ley (incluyendo la retirada de las leyes que prohíben la operación de las ONG) (BMZ, 2017, 12-13, 22). 168 de Trump al Congreso de aumento del gasto militar “para volver a ganar guerras”), el desarrollo pacíico de China podría concretarse en un relacionamiento más equilibrado con África. Ello sería el resultado de los cambios que están teniendo en los dos lados de la relación: en la demanda (África), la aparición del bono demográico al completarse su primera transición, y una posición cada vez más asertiva de la UA; en la oferta (China), la segunda transición demográica y los aumentos de los costes salariales que han llevado a sus empresas a iniciar la deslocalización en lo que es un proceso de internacionalización cada vez menos controlado por el Estado (GU et al., 2016, p. 24-25). Se calcula que 2.200 empresas chinas están actualmente operando en África Subsahariana, la gran mayoría privadas, y que hay más de 1 millón de trabajadores chinos en África (PIGATO; TANG, 2015, p. 1; SUN, 2014, p. 28; DOLLAR, 2016, p. xii, 72-76). Ya en 2011, el 45% de la inversión extranjera china en África era de carácter privado, de manera que muchas de las críticas contra las prácticas laborales y ambientales chinas –que recientemente han mejorado a juicio de la crítica occidental y serán más exigentes con la operación del Asian Infrastructure Investment Bank (FUES; GRIMM, 2017; CALLAGHAN; HUBBARD, 2016, p. 133-135; GABUSI, 2017, p. 30; LIN; WANG, 2017, p. 153)– cabe atribuirlas al sector privado que escapa a la supervisión del gobierno de la República Popular: en 2013, el sector privado ya acumulaba el 53% de los 1.217 proyectos de inversión de China identiicados en bases de datos internacionales en África, con una elevada concentración en la industria (31%) y los servicios (39%) (SHEN, 2015, p. 84-85, 87-88; JIANG, 2016, p. 2). La intensiicación de la relación económica China-África se aceleró después de 2001 cuando el modelo de crecimiento de China (en pleno cambio estructural) se volvió más intensivo en recursos naturales y el país entró 169 en la OMC. Con una economía relativamente pobre en tales recursos y una población en edad de trabajar en plena expansión, China contaba con una ventaja comparativa en manufacturas, frente a África, relativamente rica en recursos naturales y con una población en edad de trabajar (536 millones, el 54% de la población total) signiicativamente menor que la China (927 millones, el 71% de la población total), que es lo que determinó el patrón de comercio de recursos naturales por productos manufacturados con una notable mejora de los términos de intercambio para los africanos (DOLLAR, 2016, p. xiii; LIN; WANG, 2014, p. 7). Pero dado que en China la población en edad de trabajar ha tocado techo, contribuyendo con ello a estrechar el mercado de trabajo y elevar los salarios, el viejo modelo de crecimiento centrado en las exportaciones y la inversión se está reorientando (es el llamado oicialmente “reequilibrio”) hacia el consumo interno y las actividades de servicios menos intensivas en naturaleza que la industria, con una mayor internacionalización del capital chino, que ya se encontró con los rendimientos decrecientes al interior de su economía por la sobrecapacidad instalada tanto en infraestructuras como en industria, sector este último que ha empezado a deslocalizarse hacia países con menores costes laborales73. En este contexto, se estima que África doble su población actual de 1.200 millones para 2050, lo que signiica que el 54% del crecimiento de la población mundial se dará en este continente, que va demandar 20 millones de puestos de trabajo anuales en los próximos 20 ãos, que subirán a 30 millones anuales después: en 2055 África tendrá 1.428 millones de personas en edad de trabajar y China 667 millones (DOLLAR, 2016, p. xiv, 80-82; BMZ, 73 Véase Dollar (2016, p. xiii-xiv), Rocha (2016, p. 103), Jiang (2016, p. 4), Pigato y Tang (2015, p. 2) y Mu et al. (2017, p. 22). 170 2017, p. 10)74. Si se dan las condiciones requeridas para el acceso a la educación (superando el cuello de botella del “personal profesional caliicado inadecuado” que correctamente identiica el policy paper de 2015), África podría alcanzar, merced a su bono demográico, un crecimiento potencial del 2,3% acumulativo anual entre 2010 y 2100 que permitiría multiplicar por 7,7 el PIB per cápita de 2010 (DRUMMOND et al., 2014, p. 18). Ello promete para las empresas chinas un enorme mercado, no solo de trabajo, que ya han empezado a explorar: si para los empresarios privados chinos en África el acceso al mercado local ha sido un factor “predominante” de su decisión de inversión, esta se contempla en muchos casos como una segunda oportunidad ante la saturación del mercado chino y los bajos costes salariales africanos, lo que se traduce en beneicios de entre 25%-30% en África, 3 o 4 veces más altos que en China (SHEN, 2015, p. 94, p. 102). No es de extrãar que África sea el destino preferido de las empresas chinas para aventurarse por primera vez en el exterior, con el 35% de los empresarios encuestados mostrando esa preferencia por encima del resto de las localizaciones (WANG; MIAO, 2016, p. 32). La poética oicial dominante para envolver todo este proceso ha sido bautizada con el lema “escalar la misma montãa de la transformación estructural” (LIN; WANG, 2015, p. 20). La hipótesis de que las cadenas de valor más intensivas en trabajo de baja cualiicación (la industria textil) de China migrarán a África, como ya lo hicieron 74 Para 2100, el 80% del crecimiento demográico mundial entre 2010 y 2100: de los 4.000 millones de personas en que aumentará la población entre esas fechas, 3.200 millones serán africanos, alcanzando el pico de su dividendo demográico en 2090, cuando la participación de la población africana en edad de trabajar alcanzará el 64% del total y nada menos que el 41% de la población mundial en edad de trabajar será africana (DRUMMOND et al., 2014, p. 4; TIFFEN, 2014). 171 antes a Vietnam y Bangladesh, abre una enorme ventana de oportunidad para el continente africano, aunque solamente una pequẽa fracción de las cadenas lo haga, dado el tamão gigante de la economía China, que sería, más que un modelo, un gran catalizador para el desarrollo africano (SUN, 2014, p. 6; XING, 2016, p. 97; ZHAO, 2014, p. 1048; ELMORSY, 2016, p. 15; MU et al. 2017, p. 22). Se calcula que en los próximos ãos China, que en 2022 como máximo se graduará como país desarrollado (LIN, 2017, p. 117), va a exportar 85 millones de puestos de trabajo: si solamente el 12% fuera hacia África, el impacto en la industrialización del continente resultaría enorme por ese efecto lying geese; es más, con que el 1% del VAB de la industria textil de China fuera transferido a África se produciría un 47% de aumento del empleo industrial africano75. Esto es lo que Lin y Wang (2015, p. 6) denominan “aprendizaje conjunto y co-transformación”. La pregunta es si la “globalización Sur-Sur” (MOHAN, 2013, p. 1268) que impulsa China en África, o la “globalización inclusiva” como algunos autores describen la BRI (LIU; DUNFORD, 2016, p. 336), se concretará de esta manera tan armoniosa e integradora o será simplemente una “diversiicación de la dependencia” que atrapará África en estructuras de producción de bajo valor ãadido (TAYLOR, 2016c, p. 253). La respuesta a ese interrogante depende de muchos factores, pero el empoderamiento que China ha introducido en África, donde se celebrará (Sudáfrica) la próxima Cumbre de los BRICS a ines de 2018, podría usarse por parte de la élites de los países africanos para “encontrar en su interior nuevas fuentes de desarrollo” (NYERERE, 1987, p. 151), o dicho de otra manera, para propiciar el cambio estructural sin el cual el desarrollo es imposible. 75 Xiaoyun (2014, p. 56), Zhao (2014, p. 1047-1048), Shen (2015, p. 104) y Lin y Wang (2015, p. 13; 2017, p. 131). 172 REFERENCIAS ABDENUR, A.E. China in Africa,Viewed from Brazil. Journal of Asian Studies, v. 74, n. 2, p. 257-267, 2015. ADIE, W.A.C. China, Russia, and the Third World. The China Quarterly, v. 11, p. 200-213, 1962. AfDB; AU; UNECA. African Statistical Yearbook 2009. African Development Bank, African Union and United Nations Economic Commission for Africa, 2009. AfDB; AU; UNECA. African Statistical Yearbook 2016. 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A ideia de ascensão pacíica, posteriormente desenvolvimento pacíico, procura esclarecer para a sociedade internacional que o crescimento chinês, tanto em termos políticos como em termos econômicos, não deve ser entendido como ameaça aos demais estados, mas ocorrerá dentro de um ambiente de paz e de estabilidade. Além disso, o conceito de “sonho chinês” remete à busca do bem-estar e prosperidade não só na China, mas também ao desejo de levar a cooperação, a estabilidade e o desenvolvimento a todos os povos (LI, 2015). O novo papel a ser desempenhado pela China leva ao temor de que seu reposicionamento seja associado a conlitos, o que provoca a expectativa de grande alteração na estrutura de poder mundial. Um dos possíveis cenários aventados envolve a ocorrência de conlitos entre China e seus vizinhos. O Mar do Sul da China é um dos principais focos de atrito, uma vez que disputas territoriais marcam 185 6 o relacionamento entre os países da região. Até a década de 1960 os conlitos estavam diretamente relacionados aos direitos de pesca, que constitui a base alimentar da população local. A partir de então, com a descoberta de petróleo e gás natural, as disputas acirraram, já que Estados da região reclamam direitos territoriais sobre áreas que se sobrepõem. Diante desse cenário, o presente estudo analisará de que forma o reposicionamento da China repercute na situação atual dos conlitos territoriais no Mar do Sul da China. A REEMERGÊNCIA CHINESA NO CENÁRIO INTERNACIONAL O rápido crescimento econômico chinês durante as últimas décadas e o reposicionamento da China na sociedade internacional despertaram uma série de preocupações sobre a maneira como se portaria e quais seriam seus objetivos. Trata-se de civilização de mais de quatro mil anos e que, durante a maior parte desse período, foi grande potência asiática, em termos econômicos, populacionais e tecnológicos. Durante os últimos dois mil anos, a China usufruiu do status de superpotência por várias vezes, inclusive durante as dinastias Han,Tang e o início da dinastia Ming (YAN, 2001). Desde o Império Romano até o inal do século XVIII, a China manteve constantes superávits nas relações comerciais com o continente Europeu (OVERBEEK, 2015) e, por volta de 1820, detinha 30% do PIB mundial (YAN, 2001). Assim, considerar a retomada chinesa após o “século de humilhações”76 um fenômeno de mera ascensão seria analisar apenas um recorte histórico não representativo. 76 Para os chineses, o “século de humilhações” refere-se ao período que se seguiu à Guerra do Ópio (1840) até a fundação da República Popular da China em 1949, quando airmam terem sido oprimidos pelas grandes potências. 186 Yan entende a atual retomada chinesa como um processo que vem desde o conceito de “rejuvenescimento da China”, lançado por Sun Yatsen e que teve continuidade com Mao Zedong, Deng Xiaoping e Jiang Zemin. Essa formulação pode ser compreendida sob dois aspectos: o primeiro seria o reposicionamento chinês em seu lugar natural no sistema internacional, ou seja, voltar ao lugar de grande potência; a segunda acepção está relacionada à ideia de fazer jus ao que a China representa, o que não implica retirar vantagens dos demais Estados (YAN, 2001, p. 1-2). Kissinger reforça essa concepção ao qualiicar a China não como ascendente, mas como uma “potência que retorna”77 após ter sido deslocada de sua posição natural (KISSINGER, 2012, p. 546). Deve-se considerar também que, para os chineses, a palavra rejuvenescimento tem conotação similar à ascensão (YAN, 2006, p. 13). O propósito da política externa chinesa é fazer com o que o país retome o seu lugar natural. Dessa forma, dentro da perspectiva chinesa, desde o início do século XX, ocorre um processo de retomada de longo prazo, com foco no desenvolvimento, que não deve ser percebido como ameaça. O conceito de “ascensão pacíica” foi elaborado por Zheng78 no intuito de demonstrar à sociedade internacional que o efetivo crescimento chinês somente ocorreria em um ambiente de estabilidade, cooperação e segurança. A ideia era oferecer um contraponto à teoria ocidental da 77 78 Returning Power. Zheng Bijian é acadêmico, foi membro do comitê central do Partido Comunista e sempre teve acesso às lideranças do partido. Trata-se de igura inluente no meio político chinês, foi responsável por escrever discursos fundamentais de Deng Xiaoping e foi assessor de Hu Jintao. Como articulador político respeitado, foi instrumental para que o conceito de “ascensão pacíica” tivesse aceitação e passasse a ser diretriz da política externa da China (GLASER; MEDEIROS, 2007). 187 “ameaça chinesa”79. Para tanto, airmava-se não só que a China almejava a paz como oportunidade de ascensão internacional, mas também deveria promover mudanças internas que repercutiriam de forma positiva em termos mundiais, tais como enfrentar questões ambientais, manutenção da estabilidade política e promoção do desenvolvimento social (THORNTON, 2005). O discurso proferido por Zheng no Fórum de Bo’ao para Ásia em 2003 foi o marco para incorporação da expressão ao discurso oicial chinês. Em sua fala, Zheng buscou esclarecer como a ascensão chinesa deve ser entendida e como interpretar essa ascensão dentro do ambiente de relações entre China e Ásia. Nesse contexto, a China procuraria maior inserção na economia global, trabalharia para que obtivesse desenvolvimento autônomo e a paz, sem jamais almejar a hegemonia (ZHENG, 2003, p. 15). Ocorre que o conceito de ascensão pacíica sofreu uma série de ataques, uma vez que foi compreendido como propósito chinês de crescimento e alteração da ordem internacional que necessariamente conduziria à instabilidade nas áreas econômica e de segurança. Uma parte substantiva dos autores que sustentavam essa posição associou imediatamente a ascensão chinesa ao caminho percorrido pela Alemanha na Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Apesar das intenções do governo chinês ao reforçar o conceito no discurso oicial, esse foi objeto de críticas não só fora do país, mas também internamente. Opositores internos airmavam que o conceito de ascensão pacíica (和平崛起)fazia com que a China se apresentasse como fraca, outros entendiam ser o conceito muito simplista para um mundo complexo e havia ainda os que airmavam ser impossível a ascensão, já que 79 China Threat. 188 seria impedida por demais potências e, mesmo se houvesse a possibilidade, não aconteceria de forma pacíica (THONRTON, 2005, p. vi). Críticos ao conceito, no exterior, airmavam ser impossível a ascensão pacíica de uma grande potência. Segundo Mearsheimer, a China tentará obter o domínio da Ásia para tornar-se um hegemona local. No entanto, antes mesmo que isso aconteça, os Estados Unidos, assim como izeram com a ex-União Soviética, não medirão esforços para conter a ascensão chinesa e a enfraquecerão (MEARSHEIMER, 2005, p. 9). Dessa forma, por mais que a ascensão pacíica estivesse ocorrendo nos últimos 30 anos, nos moldes explicitados pelo governo chinês, o conceito foi objeto de suspeitas e críticas. Em 2004, também no Fórum de Bo’ao para a Ásia, a expressão desenvolvimento pacíico (和平发展) tomou o lugar de ascensão pacíica e passou a ser adotada no discurso oicial. Em 2005, em discurso proferido durante 60a AGNU, Hu Jintao reforçou o posicionamento chinês em dar prioridade à paz, cooperação e desenvolvimento. Airmou a necessidade de adoção de um novo conceito de segurança “caracterizado pela coniança mútua, benefício mútuo, igualdade e cooperação” (JINTAO, 2005). Também no ano de 2005, o governo chinês divulgou um white paper denominado “A rota do desenvolvimento pacíico chinês”, no qual não mais havia menção à terminologia “ascensão pacíica” e explicitava as intenções do país em sua trajetória em direção ao desenvolvimento. Segundo o documento, o povo chinês trabalha para que a China seja um país “próspero, poderoso, democrático, civilizado e harmonioso” (STATE…, 2005). A China posiciona-se no documento como o maior país em desenvolvimento do mundo, que enfrenta uma série de diiculdades. Acredita que o próprio crescimento acarretará um ambiente de prosperidade e paz internacional. 189 O discurso chinês apoia o desenvolvimento pacíico dentro de postura histórica e cultural. Assim, há ênfase no confucionismo a partir da perspectiva de não agressão e busca de harmonia. Hu Jintao airmou que a China, “desde os tempos antigos, tem tido uma excelente tradição de sinceridade, benevolência, bondade e coniança para com os vizinhos. O objetivo da política externa da China é manter a paz mundial e promover o desenvolvimento comum” (JINTAO, 2004). A perspectiva chinesa entende a história como um contínuo de quedas e ajustes de forma que a melhor postura a ser adotada é crescer em harmonia (KISSINGER, 2012). Ainda dentro do aspecto histórico, as comemorações dos 600 anos das expedições de Zheng He estavam intrinsecamente ligadas à consolidação da ideia de paciismo chinês. Entre 1404 e 1433, a frota comandada por Zheng He, composta por mais de 200 navios e quase 30 mil homens, partiu do sudeste asiático e chegou à África, utilizando-se de equipamentos com tecnologia mais avançada do que disponível no continente europeu (CHENG, 2012). O governo chinês celebrou a bravura, a nobreza e o patriotismo imbuídos nesses eventos e deu especial destaque ao fato de que, em momento algum, havia o intuito de ocupação ou exploração de outros territórios. Como consta de documentos oiciais, o que Zheng He “trouxe para o mundo exterior foi paz e civilização, o que relete plenamente a boa-fé do antigo povo chinês em reforçar os intercâmbios com os países relevantes e seus povos” (STATE…, 2005). O intuito, além de salientar a imagem de tradição paciista chinesa, foi de estabelecer contraste com a expansão marítima europeia que subjugou povos nativos e conquistou territórios. Há, portanto, preocupação em enfatizar que o crescimento chinês não levará à expansão territorial. O discurso chinês busca reforçar, principalmente para os países vizinhos, que o 190 desenvolvimento acontecerá por meio de cooperação e que eventuais disputas serão resolvidas por meio de negociação, de forma amigável. Outro conceito fundamental para o desenvolvimento pacíico, com base no confucionismo, é o de “sociedade harmoniosa”. Elaborado durante o governo Jiang Zemin e implementado no governo Hu Jintao foi, a princípio, utilizado para questões internas, reletindo a preocupação como o aumento da desigualdade social que possivelmente levaria à protestos e instabilidade política. A ideia foi transposta para o âmbito internacional ao abranger também o intuito de promoção de paz e cooperação internacionais e, dentro desse contexto passou a ser denominada “mundo harmonioso”. A partir dessa perspectiva, o governo chinês evitava tomar posicionamentos contundentes nas questões internacionais, como o objetivo principal de garantir um ambiente de estabilidade (KISSINGER, 2012). O desenvolvimento pacíico tem ainda por base os cinco princípios da coexistência pacíica: respeito à integridade territorial e soberania; não interferência nos assuntos internos; igualdade e benefício mútuo; não agressão; e coexistência pacíica. Os princípios foram apresentados pela primeira vez em 1953, quando uma delegação indiana foi a Pequim para negociação acerca do Tibete (CHENG, 2012). Os princípios foram incorporados ao acordo e desde então servem de norte para a política externa chinesa. No mesmo ano, por ocasião da visita de Zhou Enlai à India, os dois primeiros-ministros airmaram que se aplicam não apenas às relações China-Índia, mas se estendem a toda Ásia e ao mundo (CHENG, 2012). Desde então, cinco princípios são reairmados, individualmente ou em conjunto, para justiicar o posicionamento Chinês em questões internacionais. Em junho de 2014, Xi Jinping proferiu discurso comemorativo aos 60 anos do estabelecimento dos cinco princípios de cooperação pacíica intitulado “Levar adiante 191 os Cinco Princípios de Coexistência Pacíica para construir um mundo melhor por meio da cooperação win-win”80 (XI, 2014, [s.p.], tradução nossa). Em sua mensagem, Xi Jinping defende o desenvolvimento pacíico chinês ao airmar que: A China não subscreve à noção de que um país deve buscar a hegemonia quando cresce em força. Hegemonia ou militarismo simplesmente não estão nos genes dos chineses. China vai inabalavelmente perseguir o desenvolvimento pacíico, porque é bom para a China, bom para a Ásia e bom para o mundo. Nada pode enfraquecer o compromisso da China para desenvolvimento pacíico.A China defende irmemente seus interesses de soberania, segurança e desenvolvimento e apoio a outros países, países em desenvolvimento em particular, em fazer o mesmo. A China não interfere nos assuntos internos de outros países, nem impõe sua vontade aos outros. Nunca buscará a hegemonia, não importa o quão forte possa tornar-se81 (XI, 2014, [s.p.], tradução nossa). Existe, portanto, preocupação do governo em enfatizar que o desenvolvimento não levará à busca de hegemonia em rebater as teorias de “ameaça chinesa”. No white paper, 80 81 “Carry forward the Five Principles of Peaceful Coexistence to build a better world through win-win cooperation”. “China does not subscribe to the notion that a country is bound to seek hegemony when it grows in strength. Hegemony or militarism is simply not in the genes of the Chinese. China will unswervingly pursue peaceful development, because it is good for China, good for Asia and good for the world. Nothing can ever weaken China’s commitment to peaceful development. China irmly upholds its sovereignty, security and development interests and supports other countries, developing countries in particular, in doing the same. China neither interferes in other countries’ internal afairs nor imposes its will on others. It will never seek hegemony no matter how strong it may become.” 192 “o desenvolvimento pacíico chinês” publicado em 2011, o governo mais uma vez reforça o conceito ao airmar que o crescimento do país ocorrerá por recursos próprios e que “nunca se envolve em agressões ou expansão, nunca busca a hegemonia, e continua a ser uma força irme para defender a paz e a estabilidade regional e mundial” (STATE…, 2011). Yan salienta que existem duas possíveis consequências da ascensão chinesa: a repetição de uma ordem hegemônica nos termos criados pelos Estados Unidos ou o estabelecimento de uma nova ordem. Para que isso aconteça, será necessária não só a alteração da estrutura de poder, mas também das normas internacionais (YAN, 2011). Em termos globais, o comportamento da China pode ser observado na forma como lida com mecanismos multilaterais: participação ativa em organizações já estabelecidas onde enxerga a possibilidade de defesa de seus interesses ou estímulo à criação de novas organizações multilaterais em que possa, de fato, exercer inluência para consecução de seus objetivos. Apesar de manter política externa multidirecional, o peso da atuação chinesa é voltado para questões regionais (KAVALSKI, 2009). Uma das estratégias adotadas pode ser resumida na seguinte postura: “participar ativamente, demonstrar limites, oferecer garantias, abrir mercados, fomentar interdependência, criar interesses comuns e reduzir conlitos” (ZHANG; TANG, 2005). Dessa forma, a participação mais ativa em fóruns regionais é uma maneira eiciente de colocar em prática essas pretensões. O regionalismo chinês desenvolve-se no contexto de “comunidade de prática”82, em que um grupo de atores, durante certo período, adota determinadas práticas, formais ou informais, para atingir objetivos comuns. Nesse ambiente, a China adota o discurso de “harmonia na diversidade”83 82 83 “community of practice”. “harmony in diversity”. 193 (KAVALSKI, 2009) que relete a percepção de respeito aos demais atores e a busca pela solução pacíica de controvérsias. Além disso, há a recusa em participar de organizações coletivas de segurança ou estabelecer alianças formais. Dessa forma, reluta em participar de organizações com órgãos de adjudicação independentes ou que tenham tribunais que admitam como parte atores não estatais (PALTIEL, 2009). A aspiração chinesa de reemergência paciica é reforçada no discurso aplicado às relações regionais no contexto das disputas do Mar do Sul da China. No entanto, intensiicação de laços regionais não impediu que, nos anos de 2009 e 2010, a China se indispusesse com boa parte de seus vizinhos e passasse a adotar posições mais “assertivas” (SWAINE, 2010, p. 1-19). Assim, houve atritos com Vietnã e Filipinas, além das controversas construções de bases aéreas em regiões disputadas. Apesar desses incidentes, a China insiste na solução pacíica dos conlitos e utiliza-se de foros regionais como mecanismo de pressão para assegurar seus interesses. OS CONFLITOS NO MAR DO SUL DA CHINA O Mar do Sul da China é composto por mais de 200 ilhas, rochedos e recifes de corais agrupados principalmente nos arquipélagos Paracels e Spratly. Essas formações são objeto de disputas por parte da China, Vietnã, Filipinas, Malásia e Brunei, uma vez que as supostas zonas contíguas se sobrepõem. Na região em disputa estão aproximadamente 11 bilhões de barris de petróleo, 58 trilhões de metros cúbicos de gás natural, onde, além de importantes reservas de peixe, transitam 5,3 trilhões de dólares do comércio mundial (SCHONHARDT; CHATURVEDI, 2016). A China reivindica cerca de 90% da região e, na história recente, começou a demarcar seus limites em 1949, durante o governo nacionalista do Kuomintang, ao inserir nos mapas 194 uma linha de 11 traços. Em 1953, houve uma reavaliação da área e a linha passou a ter nove traços onde se localiza o atual pleito chinês. Na Convenção de São Francisco de 1951, que pôs im à Segunda Guerra Mundial, o Japão renunciava toda área em questão, que estava sob seu domínio. Ocorre, no entanto, que não icou determinado a quem pertenceriam as ilhas. Nesse momento, a China passava pelo caos interno, com a derrota o Partido Nacionalista e tomada de poder pelo Partido Comunista e, assim, não tinha condições de agir para ocupar os territórios que julgava seus. Ao mesmo tempo, os países da região, que também reivindicavam as ilhas, movimentavam-se para tomar posse. O pleito chinês baseia-se, principalmente no que entende ser o direito histórico sobre a região. Nesse sentido utiliza-se de fatos como o protesto diplomático contra os britânicos, que aportaram navios nas Ilhas Spratly em 1877 ou ainda o tratado de limites assinado com a França em 1887, que designava a região como domínio chinês. No entanto, as ilhas foram incorporadas à Indochina pela França em 1933, e, em 1939, o Japão ocupou boa parte do arquipélago (BUSZYNKI; SAZLAN, 2007, p. 145). Ocorre que, com base no Direito Internacional, requer-se ocupação contínua e efetiva, e o pleito baseado em fatos históricos não é o suiciente para que se determine a posse do território. A China entende ainda que foi injustiçada quando da assinatura da Carta de São Francisco, uma vez que a delegação dos Estados Unidos na Conferência não permitiria a posse dos territórios por um Estado comunista (BUSZYNKI; SAZLAN, 2007, p. 147). O Vietnã também pleiteia parte signiicativa da região com base, principalmente, em direitos históricos. Assim, airma que as Ilhas Paracels eram parte de seu território do século XVI ao século XIX; além disso, airma que as Ilhas Spratly foram incorporadas ao seu território em 1933, 195 pela França. Apesar do Vietnã do Norte ter declarado em 1958 que os territórios pertenciam à China, quando da reuniicação do país, em 1975, repudiou a declaração anterior e ocupou 13 ilhas no arquipélago Spratly. Em 1977, o Vietnã estabeleceu na região das ilhas ocupadas uma zona econômica exclusiva de 200 milhas náuticas; além disso, conseguiu comprovar ocupação efetiva de mais de 20 ilhas no arquipélago de Spratly a partir de 1989 (BUSZYNKI; SAZLAN, 2007, p. 146). Os demais Estados envolvidos na disputa territorial utilizam-se, principalmente, dos conceitos de plataforma continental e áreas contíguas estabelecidas na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar84 (UNCLOS) de 1982.Assim é o caso das Filipinas em relação a algumas ilhas no arquipélago Spratly que são consideradas zonas contíguas a seu território. Essas ilhas foram objeto de protesto quando da incorporação francesa em 1933, com respaldo dos Estados Unidos, que ocupavam as Filipinas à época. Em 1956, as Ilhas Spratly foram ocupadas pelos Estados Unidos e designadas como território ilipino, passando a ser denominadas Kalayaan. Em 1978, o governo ilipino publicou decreto incorporando ilhas em Spratly/Kalayaan e estabelecendo, a partir delas, zona econômica exclusiva de 200 milhas náuticas. O pleito da Malásia também tem por base o direito internacional. Em 1979 estendeu sua plataforma continental de forma que parte das Spratly fosse incorporada a seu território. A partir de 1983 passou a ocupar recifes e suas demandas territoriais passaram a se sobrepor às das Filipinas e tensões entre os dois Estados aumentaram. Os dois Estados estabeleceram um fait accompli, mas, até o presente, não há solução deinitiva sobre a controvérsia. Apesar de não ter efetivado demanda formal, Brunei se encaixa na região em disputa pelo fato de que sua 84 Também denominada Convenção de Montego Bay. 196 zona econômica exclusiva, assim como determinada na UNCLOS, adentra o arquipélago Spratly, em região reivindicada tanto pela Malásia como pelo Vietnã. A Malásia iniciou exploração de petróleo na região que considera de seu domínio, mas que adentrava a zona econômica exclusiva de Brunei e tensões escalaram na região. As partes chegaram a um acordo em 2009. As disputas territoriais entre a China e quatro Estados-membros da ASEAN levaram a que a associação se tornasse palco de negociações e ao estabelecimento de acordos acerca do Mar do Sul da China. A ASEAN buscava uma aproximação com a China em uma relação de benefício mútuo que, de alguma forma, controlasse o que julgavam ser uma postura agressiva chinesa. A China, por sua vez, buscava reforçar suas relações com os países da região e demonstrar suas pretensões pacíicas. Nesse sentido, o Fórum Regional da ASEAN tornou-se o principal mecanismo de diálogo acerca das questões que envolvem o Mar do Sul da China (CHEN;YANG, 2013, p. 268). Um dos principais documentos resultantes desse diálogo foi a Declaração de Conduta das Partes no Mar do Sul da China (DOC). Nos termos da declaração, os países da região reairmaram seu compromisso de respeitar a UNCLOS e o direito internacional. Além disso, asseguraram que as eventuais controvérsias acerca dos limites territoriais na região seriam resolvidas de forma pacíica,“por meio de consultas e negociações amigáveis entre os Estados soberanos diretamente envolvidos, de acordo com os princípios universalmente reconhecidos do direito internacional” (DOC, 2002, [s.p.]), inclusive a UNCLOS. Apesar dos esforços da ASEAN e China em manter a estabilidade da região, tensões pontuais têm se tornado frequentes. Além da diiculdade em deinir limites territoriais na região, considerando pleitos de direitos históricos e ocupação efetiva, a UNCLOS apresenta alguns artigos 197 que tornam a questão ainda mais complexa. O artigo 121, que trata do regime das ilhas, declara que “os rochedos, que por si próprios não se prestam à habitação humana ou à vida econômica, não devem ter zona econômica exclusiva nem plataforma continental” (ONU, 1982). Ocorre, no entanto, que parte substantiva das reivindicações territoriais diz respeito a rochedos e recifes onde não há possibilidade de subsistência humana. Uma das principais controvérsias envolvendo a China na região está na ocupação de formações rochosas a partir de onde se constroem ilhas artiiciais. Ao agir dessa forma, Pequim transforma esses territórios em ilhas, dentro do disposto na UNCLOS. Assim, pretende garantir a comprovação de ocupação efetiva, a possibilidade de determinação de mar territorial, zona econômica exclusiva e plataforma continental, além de garantir a segurança em pontos estratégicos da região. Apesar de veementes protestos de Vietnã e Filipinas, a China prossegue com a construção de infraestrutura, que inclui duas pistas de pouso e decolagem nos recifes Subi e Mischief, no arquipélago Spratly. Pequim airma que o uso das instalações é exclusivamente civil. Em fevereiro de 2016, apesar da negativa da China, foi noticiada a instalação de uma bateria de mísseis HQ-9 nas ilhas Woody/Yongxing Dao, no arquipélago Paracels (BBC, 2016). Esses mísseis têm a capacidade de atingir aeronaves, bem como mísseis balísticos ainda em curso. A possível militarização da região gerou protestos do Vietnã, Taiwan e Japão, apoiados pelos Estados Unidos (FOREIGN POLICY, 2016). Outra questão que recentemente elevou o nível de tensão na região foi a controvérsia envolvendo a China e as Filipinas. As tensões recentes entre os dois Estados quanto aos limites territoriais tiveram origem em 1995, quando a China iniciou construção no coral de Mischief. Apesar de não chegarem a um acordo formal, as relações 198 se estabilizaram e ambas as partes assinaram a DOC da ASEAN em 2002. Em 2011, novos atritos ocorreram em virtude da interferência de navios chineses em prospecção realizada pelas Filipinas na região denominada Reed Bank, próxima à ilha ilipina da Palawan. Logo após o incidente, as Filipinas abriram licitações para consórcios de exploração de petróleo, o que gerou protestos chineses. As tensões aumentaram e várias notas de protesto de ambas as partes foram emitidas, até que a imprensa chinesa noticiou a possibilidade de ação militar. Em 2012, navios chineses e ilipinos se confrontaram na região do Atol de Scarborough. Um acordo de retirada mútua foi realizado, mas, pouco tempo depois, navios chineses retornaram à região, onde continuam posicionados. Em janeiro de 2013, as Filipinas decidiram dar entrada no procedimento arbitral, junto à Corte Permanente de Arbitragem (CPA), conforme previsto na UNCLOS. A China rejeitou o procedimento arbitral e devolveu a notiicação feita para as Filipinas. Apesar dos protestos chineses, o tribunal foi composto e as Filipinas apresentaram memorial em 2014 após o aumento das tensões entre os dois Estados na região denominada Second Thomas Shoal. A China novamente rejeitou a arbitragem e se recusou a apresentar seu memorial. A decisão da CPA foi proferida em 12 de julho de 2016 e deu ganho de causa às Filipinas de forma unânime. A Corte entendeu que a China não detém direito histórico sobre o território compreendido nas nove linhas. A decisão da Corte gerou veementes protestos por parte da China, que prontamente repudiou a sentença. Pequim segue no sentido de chamar ao diálogo e resolver a disputa por meio de negociações e consultas, nos termos estabelecido na DOC (ZHONG, 2016).Apesar da inquietação causada na região logo após o anúncio da sentença, o posicionamento de 199 Manila evitou maiores desgastes. O novo presidente ilipino, Rodrigo Duterte, que tomou posse em 30 de junho de 2016, tem posição mais favorável e sinalizou mudanças nas relações com Pequim. Duterte enviou o ex-presidente das Filipinas, Fidel Ramos, a Hong Kong no início de agosto para iniciar negociações a respeito das ilhas em disputa. A China busca a solução dos conlitos por meio de acordos bilaterais na região. Apesar das controversas construções, segue com discurso de não militarização da região e reairma suas intenções pacíicas. Utiliza-se de foros regionais como a ASEAN para buscar apoio em suas pretensões ao mesmo tempo que bloqueia declarações conjuntas contrárias a seus interesses. Por seu turno,Vietnã, Filipinas e, em menor escala, Brunei e Malásia buscam, via ASEAN, vincular a China a normas que limitariam, principalmente, as construções nos arquipélagos da região. Essas tentativas têm sido frustradas não só pela negativa de Pequim realizar acordos multilaterais, mas também pelo desinteresse dos demais membros em afrontar a China (HAYTON, 2014). CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve como objeto a reemergência chinesa na ordem internacional contemporânea e seus desdobramentos na região do Mar do Sul da China. Para que se possa compreender o reposicionamento da China, faz-se necessário conhecer os conceitos da política externa, que tem por base princípios como paz e harmonia, fundamentados no confucionismo. A evolução desses conceitos, intimamente ligados à história chinesa, chega aos dias de hoje com os cinco princípios da coexistência pacíica, a ideia de ascensão/desenvolvimento pacíico com o propósito de alcançar o “sonho chinês”. Tendo em vista a apreensão causada acerca de como a China se reposicionará no sistema internacional, o discurso do governo chinês coloca ênfase nas pretensões pacíicas 200 e no propósito de desenvolvimento. Dessa forma, Pequim passa a tomar postura mais ativa em foros multilaterais ali buscando suporte para a consecução de seus objetivos. Uma vez que o principal foco de interesse chinês é regional, há uma crescente participação em foros asiáticos. A intensiicação do regionalismo chinês na Ásia está diretamente ligada às disputas territoriais no Mar do Sul da China. A região é alvo de disputa principalmente com Vietnã, Filipinas, Malásia e Brunei e as tensões vêm aumentando nas últimas décadas. A China tornou-se mais atuante nos foros regionais, em que busca impedir movimentações contrárias a seus interesses, ao mesmo tempo que traça alianças. Em termos dos conlitos na região, a ASEAN é o principal organismo de articulação regional. Episódios recentes na região disputada demonstram a complexidade das questões envolvidas e a diiculdade em solucioná-las. Apesar da postura assertiva na defesa de seus interesses, que inclui construções de bases em arquipélagos locais, Pequim mantém o discurso baseado em ideais pacíicos e a busca pelo diálogo e negociações para pôr im aos conlitos. O Mar do Sul da China é diretamente impactado pela reemergência chinesa. Ali a pretensão de alcançar o desenvolvimento pacíico e, consequentemente, o “sonho chinês” é constantemente colocada à prova. REFERÊNCIAS CHEN, Ian Tsung-Yen; YANG, Alan Hao. A Harmonized Southeast Asia? Explanatory typologies of ASEAN countries’ strategies to the rise of China. The Paciic Review, v. 26, n. 3, p. 265-288, 2013. CHENG, JosehY. S. Convincing the World of China’s Tradition to Pursue Universal Harmony. Journal of Chinese Political Science, Association of Chinese Political Studies, v. 17, p. 165-185, Feb. 2012. GLASER, Bonnie S.; MEDEIROS, Evan S. The Changing Ecology of Foreign Policy-Making. In: China: the ascension and 201 demise of the theory of “peaceful rise”. 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A partir das primeiras discussões e construções políticas em torno das ações voltadas para o Sul Global, ambos os Estados têm aumentado os eixos de cooperação, os quais têm fortalecido as suas relações econômicas na última década e meia. Sobre os eixos de cooperação, presume-se uma série de formas capazes que estreitar os Estados em um processo amplo de coordenação de ações em setores especíicos. Essa consideração pode ser compreendida por um enquadramento dos interesses dos Estados. Assim, esse enquadramento organiza-se pela economia (comércio, investimentos e crédito), política internacional (inserção nas agendas multilaterais e a conformidade com os temas de segurança) e pela política regional (cooperação bilateral e agendas recortadas nos fóruns BRICS e China-CELAC). Esses enquadramentos são nortes de agenda política entre os Estados e, ainda, podem ser reorganizados conforme a orientação da própria República Popular da China (RPC) a partir do Fórum China-CELAC, como salientado 205 7 por Leite e Ramos (2017). Assim, os temas antes separados convergem em uma agenda única: relações políticas, agenda de comércio e investimentos em infraestrutura, além da multiplicação de ações para energia e mineração. Por certo, os eixos do crescente vínculo se dão nas dimensões: econômica (comércio, investimentos e crédito); política (agenda multilateral, bilateral em segurança, cultura e educação); e regional (conforme o novo regionalismo a partir dos estreitamentos cooperativos no marco do Sul Global). Frente a essa breve observação acerca dos interesses que unem o Brasil e a China na atualidade, o presente capítulo tem como objetivo analisar esta construção em dois grandes atos. Observa-se, logo, um aprofundamento das relações materiais entre ambos os governos nos últimos 15 anos. Em segundo lugar, este capítulo avança em uma discussão sobre a importância desse vínculo e suas implicações regionais. Nesses termos, a primeira seção faz uma discussão sobre a importância da China para a América Latina na atualidade. Pretende-se avaliar as condições de interdependência entre as econômicas a partir de um viés crítico que possibilita compreender possíveis efeitos relacionados aos avanços desta relação dentro do marco do go global/going out da RPC. Por im, em referência ao movimento go global/ going out, a América Latina e o Caribe (ALC) entra no hall das regiões de destaque ao interesse chinês em um amplo processo, guiado pelo aprofundamento comercial. Como destacado por Heidelberg e Sangmeister (2008), Medeiros e Cintra (2015) e Strauss (2012), a ALC está no foco das grandes buscas de China no mundo. A segunda seção aborda a interação Brasil-China como aprofundamento da cooperação chinesa no marco do projeto go global/going out. A exposição desta relação será guiada por três grandes eixos: o comércio, os investimentos e o crédito. O valor agregado dos três eixos indica 206 um saldo de US$ 450 bilhões para a economia brasileira. Apesar de não se observar uma integração direta entre os eixos, presume-se um incremento na cooperação político-econômica entre ambos os atores. A AMÉRICA LATINA E O CARIBE E O CAPITAL CHINÊS: O EFEITO COMERCIAL A ALC tem atravessado um novo paradigma político-econômico na história. Nascida em um contexto de ordenamentos produtivos e inanceiros no cerne da dinamização econômica europeia, a região se reorienta à Ásia e, especiicamente, à condição político-econômica chinesa. Em menos de duas décadas, a pujante economia chinesa sai de uma condição secundária para ocupar uma posição de destaque para a região. Apesar da relação chinesa no espaço latino-americano não pressupor os mesmos mecanismos de inserção, a China é o principal ator para inserção econômica internacional dos países da América Latina. Nesse sentido, enquanto o nosso passado se remonta às demandas e às oportunidades advindas do eixo norte do capitalismo global, o século XXI reorienta-nos, seguindo uma lógica mais ampla, conforme indicado por Gunder-Frank (1998). A reorientação latino-americana precisa ser compreendida no cerne da economia global, ou, conforme airma Gunder-Frank (1998), a partir da compreensão sobre como os centros dinâmicos da economia alteram e determinam a ordem da produção, do comércio, do crédito e dos investimos no sistema internacional. Por certo, no quadro econômico proposto por Gunder-Frank há, logo, espaço para Arrighi (1996) e as demais preocupações acerca das transições hegemônicas históricas. Alterações que se organizam a partir das mudanças nas ordens de acumulação no sistema internacional. Há diferenças entre ambos os autores, 207 mas a ascensão global chinesa, por certo, avalia-se com prudência, sob o ângulo da defesa de um reordenamento sistêmico, em favor de uma nova condição econômica sinocêntrica na história. Entretanto, no Sul Global, há um reordenamento político econômico de grande importância para os diversos projetos de desenvolvimento e crescimento das nações subdesenvolvidas e em desenvolvimento. E este reordenamento passa pelas transformações asiáticas. As décadas inais do século XX, e os principais eventos globais atidos a este período, não indicaram a coniguração sino-latino-americana da atualidade. Gálvez (2012) aponta para a ausência da China na região nas décadas passadas. Em pouco mais de uma década a China migra da quase ausência para a posição principal nas relações econômicas com a ALC. São os efeitos materiais do going out chinês que determinam a pegada chinesa na região (ARMONY; STRAUSS, 2012). Assim, é possível airmar que, após a orientação acerca do desenvolvimento harmonioso, via Jiang Zemin, na década de 1990, a América Latina estreita seu laços com o gigante asiático (ODGAARD, 2013; SHIXUE, 2006). Em caráter histórico, a proximidade chinesa representa uma quarta etapa histórica de inserção da região no capitalismo global. Gallagher (2016), seguindo essa discussão, identiica três grandes momentos da região no capitalismo global. O primeiro, com o superciclo de crescimento da Europa, a partir da segunda metade do século XIX. Nesse momento, a elevada demanda por matéria-prima contribuiu para a elevação dos preços das mercadorias. Nesse contexto, a ALC se inseriu numa fase especíica de circulação e concentração do capital como produtora de matérias-primas. A segunda etapa é demarcada pelas práticas voltadas para a substituição de importações, erguidas no marco do Estado de bem-estar social. É nesse período que nos países desenvolvidos se alterna a ordem liberal clássica para as linhas do 208 liberalismo controlado, em uma plataforma comercial-econômica multilateral, como defende Ruggie (1982).A terceira etapa representa a ordem via Consenso de Washington, imbuída da ideologia neoliberal que constituiu os ajustes após a crise da dívida externa, conforme o entendimento dos credores e das organizações inanceiras internacionais. Após cada uma dessas etapas, é possível avaliar alternâncias na região que caminha conforme o paradigma econômico-político internacional. Nesse sentido, a ALC se insere nas superestruturas institucionais do capitalismo global como uma região agregada, a qual intercambia relações com os centros da acumulação de capital, conforme os interesses e demandas organizadas em cada período histórico. Essa observação sobre a orientação secundária permite recuperar a preocupação de Amin (1976) sobre as extroversões das economias periféricas. Nesse sentido, avalia-se a extroversão da ALC enquanto uma marca das nações subdesenvolvidas com orientação produtiva primária como condição ixa para participação dentro do capitalismo global. A quarta etapa indica uma mudança de eixo de inserção. Todavia, a sua substância não permite defender que a relação sino-latino-americana implica um rompimento das estruturas históricas de atraso e de subdesenvolvimento. A partir de Ferchen (2011, 2012), observa-se que em quatro décadas de crescimento chinês os latino-americanos passam a comungar da onda chinesa apenas nos últimas 15 anos. Há um risco no envolvimento econômico com a China, entretanto, na atualidade, este envolvimento implica uma relação estratégica. Não Obstante, em um olhar mais amplo não se observa uma substituição quanto à forma de envolvimento das nações latino-americanas no quadro do capitalismo global. Altera-se o eixo, mas a substância político-econômica apresenta verossimilhanças, seja para o Brasil, assim como para os demais Estados que têm na economia chinesa um paradoxo. E por esse paradoxo une-se o salva209 mento das contas nacionais do presente com a reprodução de uma nova escala de dependência em longo prazo. A ordem deste paradoxo é irmada a partir das reformas que guiaram a China para um status socialista de mercado.Vincula-se ao desenvolvimento pacíico a égide da internacionalização do capitalismo chinês, o qual determina a promoção de um desenvolvimento e de uma prosperidade conjunta aos Estados do Sul Global85: O objetivo geral da China de prosseguir com o desenvolvimento pacíico é promover o desenvolvimento e a harmonia no país e prosseguir a cooperação e a paz internacionalmente. Especiicamente, isso signiica que a China se esforçará para tornar a vida melhor para o seu povo e contribuir para o progresso humano através do trabalho árduo, da inovação e da reforma realizada pelo povo chinês e pelas crescentes relações de longo prazo e promover a igualdade e cooperação mutuamente benéica com outros países. Isto se tornou um compromisso nacional que se manifesta nas estratégias de desenvolvimento nacional, e os progressos realizados no decurso do desenvolvimento da China.86 (CHINA, 2011, p. 5, tradução nossa) 85 86 O Peaceful Development chinês é um argumento de resposta do governo chinês às airmações sobre os demais termos sobre o crescimento da China, atidos em: peaceful rising, new rising/late rasing e re-emergence “China’s overall goal of pursuing peaceful development is to promote development and harmony domestically and pursue cooperation and peace internationally. Speciically, this means that China will endeavor to make life better for its people and contribute to human progress through hard work, innovation and reform carried out by the Chinese people and growing long term friendly relations and promoting equality and mutually beneicial cooperation with other countries.This has become a national commitment which is manifest in strategies for national development, and progress made in the course of China’s development.” 210 Em outro documento é pontuada a importância dada pelo governo chinês ao quadro do desenvolvimento pacíico/harmonioso. Assim, via o Policy Paper de entendimento da China sobre a América Latina e o Caribe, lançado em 2008 e atualizado em 2016, sela-se a unidade sino-latino-americana dos tempos atuais (CHINA, 2016; CREUTZFELDT, 2014). Nesses termos: Como o maior país em desenvolvimento do mundo, a China está empenhada no caminho do desenvolvimento pacíico e na estratégia de abertura de win-win. Está pronta a levar a cabo uma cooperação amigável com todos os países com base nos Cinco Princípios da Coexistência Pacíica e construir um mundo harmonioso de paz duradoura e prosperidade comum. Os países da América Latina e do Caribe são uma parte importante do mundo em desenvolvimento e uma força importante na arena internacional. Sob novas circunstâncias, o desenvolvimento das relações entre a China e os países da América Latina e do Caribe enfrenta novas oportunidades. Ao emitir este documento de política sobre a América Latina e o Caribe, o governo chinês pretende esclarecer os objetivos da política da China nesta região, esboçar os princípios orientadores para a cooperação futura entre os dois lados em vários campos e sustentar o sólido, contínuo e global das relações da China com a América Latina e o Caribe87. (CHINA, 2008, p. 1) 87 “As the largest developing country in the world, China is committed to the path of peaceful development and the win-win strategy of opening-up. It is ready to carry out friendly cooperation with all countries on the basis of the Five Principles of Peaceful Coexistence and build a harmonious world of durable peace and common prosperity. Latin American and Caribbean countries are an important part of the developing world and a 211 É neste ritmo de argumentos que o governo lista as cinco grandes áreas da cooperação de aproximação chinesa à ALC. A proposta de um jogo de ganhos mútuos – win-win – se soma à lógica do desenvolvimento pacíico. Essa união permite à China reorganizar a sua internacionalização. Essa reorganização apresenta um forte eixo de integração entre os interesses domésticos e internacionais chineses, criando no internacional o espaço para se lograr os objetivos do Estado. Nesse arranjo, o aprofundamento das relações com a ALC pode se dividir em cinco grandes tópicos: a cooperação política, a cooperação econômica, a cooperação intercultural, a cooperação sobre a paz, a segurança e os assuntos judiciais e a cooperação para relação com as organizações regionais latino-americanas. Esses tópicos ainda se subdividem, mas todos presumem um resultado voltado para o aprofundamento das relações da China com a ampla região. O Fundo para a Cooperação China, América Latina e Caribe, no marco do Fórum China-CELAC, sedimenta esse aprofundamento. O Fundo, ainda, executado com aporte de capital via as duas principais estruturas bancárias chinesas frente à internacionalização: o China Development Bank (CDB) e o China Exim Bank (CEXIM), com capital gerenciado pelo BID. É preciso compreender que a relação comercial entre China e ALC não se conigura como uma atividade isolada. Há outras major force in the international arena. Under new circumstances, the development of relations between China and Latin American and Caribbean countries is faced with new opportunities. In issuing this policy paper on Latin America and the Caribbean, the Chinese Government aims to further clarify the goals of China’s policy in this region, outline the guiding principles for future cooperation between the two sides in various ields and sustain the sound, steady and all-round growth of China’s relations with Latin America and the Caribbean.” 212 variáveis econômico-política entre os demais atores, o que permite associar o comércio com os transbordamentos em outros cenários, como nos investimentos e nos créditos chineses para a região. Uma primeira observação sobre a relação comercial China-CELAC, conforme a CEPAL, indica uma relação contínua na construção de uma densa interdependência. A despeito da relevante discussão acerca da reprimarização das economias latino-americanas (MOREIRA, 2005), há espaço para um posicionamento que a antecede: o crescimento relativo das importações chinesas sobre a ALC em referência ao mundo. No quadro geral, a China apresenta uma baixa importação dos produtos latino-americanos. Entre 2001 e 2017, a ALC apresentou um média de 5,32% sobre as importações globais chinesas. Apesar de a região ter triplicado a sua participação no hall das importações chinesas, no período recortado (2001 – 2,74% / 2016 – 6,41%), figuram-se incertezas sobre essa relação. Há um amplo quadro de variáveis que intervém nesse processo, mas o elemento que primeiro precisa ser observado no âmbito da interveniência é o aumento da demanda chinesa por commodities (JARAMILLO; LEHMANN; MORENO, 2009). Apesar do aumento desta demanda, as perspectivas do Fórum China-CELAC indicam outras possibilidades. Conforme o gráfico que segue, entre 2001 e 2006 a ALC representa uma participação reduzida nas importações chinesas. A partir do momento no qual a China aumenta a sua expansão creditícia para a região, em 2005, a participação passa a ganhar novos contornos. E essa nova etapa guia a ALC e a China para um aprofundamento de relações, as quais institucionalizam-se a partir do fórum de cooperação China-CELAC em 2015 (DUSSEL PETERS, 2015). 213 Gráico 1 – Importações China-América Latina, valores relativos (%) Fonte: Elaborado pelos autores com base em ITC Trade (2017). Ainda, no marco da apresentação da estrutura comercial, o estudo da CEPAL (2015), conforme quadro a seguir, reúne a relação comercial dos países da região com a China. À frente nessa relação,Argentina, Brasil, Chile, México, Peru e Venezuela somam, entre 2012 e 2015, US$ 79 bilhões em exportações para a China. É por via dessas construções que neste século XXI a China se tornou a principal parceira econômica da região. Em uma observação recortada ao quadro comercial, a China, seguida por Estados Unidos, Alemanha, Japão e Holanda, encabeçam a lista dos principais destinos das exportações latino-americanas. Apesar deste breve capítulo não aprofundar nos termos qualitativos da estrutura de exportação, os dados comparados entre esses países ajudam a tecer a importância chinesa para a região. Conforme os dados apresentados pelo Comtrade (UN) e pelo ITC Trade, a ALC apresenta um valor agregado acima dos US$ 300 bilhões em exportação, no período entre 2001 e 2016. Os cinco países listados representam 36% deste mercado. Logo, dos US$ 76 bilhões registrados pelos líderes em exportação dos produtos chineses, a China 214 apresenta 29% deste mercado. Assumindo a liderança sobre os destinos das exportações latino-americanas, a China indica relações distintas com cada um dos Estados da região. Seguindo essa perspectiva, a próxima seção avança para discutir a questão comercial, mas associadas a dois outros grandes valores para compreender a presença da China na América Latina, a partir do Brasil: investimentos e crédito. Tabela 1 – Exportações América Latina-China (milhões US$) Fonte: Elaborada pelos autores com base em CEPAL (2015) e COMTRADE (2017). O BRASIL E A CHINA NA CONTEMPORANEIDADE O Brasil é um espaço estratégico para o capital chinês, constituindo o quarto destino dos investimentos externos diretos (IED) da RPC (SCISSORS, 2017). Com a maior estrutura produtiva, e líder na oferta de commodities na região, o Brasil lidera os vínculos comerciais com a China. Além disso, o Brasil é o segundo destino dos créditos chineses para a região (MYERS; 215 GALLAGHER, 2017). Créditos, em sua grande parte, alocados pelo CDB, em projetos voltados para o quadro da infraestrutura. Nesse sentido, comércio, crédito e investimentos são três eixos que permitem Brasil e a China aprofundar uma relação estratégica. Em uma breve síntese, o saldo positivo na balança comercial agregada (2001-2016) aponta US$ 391 bilhões de superávit para o Brasil; à ordem do crédito, US$ 36 bilhões com movimentações registradas entre 2007 e 2016, com alocações em projetos de infraestrutura; e, por im, quanto aos investimentos, uma alocação de capital somando US$ 46 bilhões, entre 2009 e 2016, que transitam em três grandes áreas: energia, minério e agricultura. Frente ao quadro das exportações, o Brasil e a China se diferenciam em um jogo de extrema complexidade. A partir dos dados expostos no quadro que segue, observa-se um aumento signiicativo nas relações comerciais entre ambos os atores às vésperas e a partir da crise inanceira mundial de 2008. O aprofundamento dessas relações não caminha sozinho, tendo em vista que os luxos de crédito e os luxos de investimento seguem uma verossimilhança e proporcionalidade. Frente aos agregados comerciais expostos, a despeito de qualquer implicação acerca das diferenças das pautas de exportação de cada Estado, o Brasil apresenta um saldo positivo na balança comercial. Entretanto, essa condição positiva deve ser relativizada, tendo em vista que as participações brasileiras, na ordem de importações globais da China, não permitem airmar a existência de um equilíbrio nas relações. As importações globais chinesas, em 2016, compuseram US$ 1 trilhão e 500 bilhões. Nesse espaço, o Brasil ocupa a nona posição, no ranking global de importações da China. Lideram o ranking a República da Coreia, com US$ 159 bilhões, e o Japão, com US$ 145 bilhões. 216 Tabela 2 – Balança comercial Brasil-China (milhões US$) Fonte: Elaborada pelos autores com base em MDIC (2017). Os investimentos chineses para o Brasil, desde 2007, indicam outro tipo de atividade de importância elevada para o aprofundamento das relações entre ambos os países. Antes de listar a ordens desses dados, é preciso compreender a diferença entre os tipos de investimentos existentes na contemporaneidade. Assim, a consideração sobre os investimentos é compartilhada pela UNCTAD e pelo FMI.Ambas as organizações defendem o IED enquanto o movimento de capital de uma nacionalidade a outra, com um im duradouro, e com interesse de participação em uma empresa (IMF, 2004). Logo, equivale-se às alocações de capital em nacionalidades distintas, que vem a se diferenciar na forma na qual a propriedade do capital é apresentada. Para as OIs, o IED equivale à ordem de investimento transfronteiriço com o capital na ordem de propriedade direta; e o investimento externo indireto (IEI) equivale à mesma prática de investimento, mas organizado/orientado por agentes secundários e/ou subsidiários, que guiam o processo. Nesse sentido, é possível compreender que as expressões sobre os investimentos se norteiam quanto ao meio da propriedade. 217 Por uma outra perspectiva, os investimentos podem ser redeinidos conforme o im. Essa organização metodológica sobre os termos permite compreender a existência dos IEDs com distinção aos IEIs. Ainda, é possível airmar que o capital como um único elemento, mas esta divisão permite avaliar resultados distintos sobre o seu movimento global. Logo, o IED indica o im do capital alocado em sua ordem produtiva; e o IEI indica o im do capital alocado em sua ordem especulativa. Essa primária distinção permite compreender que o capital vinculado a uma nação pode, em seu caráter de internacionalização ou transnacionalização, gerar resultados distintos. Enquanto o primeiro investimento presume a reprodução do capital produtivo, implicado em renda/consumo/tributações, o segundo investimento presume a reprodução da renda, implicada em uma perene condição para a expansão dos juros. Apesar de ambas produzirem valor/riqueza, o fazem em tempos distintos (CHESNAIS, 1995; BRUNHOFF, 1995). É por meio desta consideração que a Tabela 2 ganha relevância. Em uma breve observação, os investimentos de China nas IlhasVirgens Britânicas e nas Ilhas Cayman superam grande parte dos demais países da América do Sul. Essa imagem é signiicativa, pois indica a necessidade em se diferenciar os investimentos quanto ao im, e não frente à observância da propriedade. Tabela 3 – Investimentos China-América do Sul (bilhões US$) Fonte: Elaborada pelos autores com base em UNCTAD e MOFCOM (2010). 218 Avaliando os movimentos do capital chinês para a América Latina e, sobretudo, para o Brasil, há como avaliar as diferenças entre ambas as categorias apresentadas. Os IED de China para o Brasil reletem um resultado especíico do capitalismo chinês. Conforme Leite e Ramos (2017), a presença da RPC, à frente das decisões e projeções das principais empresas e bancos, ajuda a compreender essa ofensividade na internacionalização do capital. Ainda, conforme Gallagher (2016), o capital chinês na região em geral e no Brasil em particular tem se multiplicado em aquisições de greenield, desenvolvimento de projetos conjuntos e joint-ventures. Os IED da China no Brasil, logo, traçam algumas especiicidades. A chegada do capital chinês amplia as oportunidades voltadas para a estrutura produtiva dentro do Brasil, como em toda América Latina (CUNHA; XAVIER, 2010; GONZALEZ-VICENTE, 2012; HONGBO, 2014). Entretanto, em uma primeira observação, a maior parte dos IED caminha para os setores de commodities e de energia da economia brasileira. Somente os setores de energia, metais e agricultura equivalem a 85% do capital investido entre 2007 e 2016, em um montante de 38 bilhões de dólares. A Tabela 4 lista os projetos e os demais recortes de investimento. E na esteira desses dados, Leite e Ramos (2017) são felizes em presumirem que a China não desassocia a arena político-econômica internacional da nacional. De outra forma, a China tem privilegiado os objetivos econômicos domésticos a partir do palco internacional. Essa condição pragmática permite que o Estado crie um projeto dual (nacional-internacional) como uma plataforma integrada para o seu desenvolvimento. Dessas aquisições, destacam-se os movimentos da Lenovo em 2012 sobre a Digibras/CCE, com mais de US$ 100 milhões na aquisição. No palco dos automóveis, no mesmo ano, há a entrada dos investimentos para abrir mercado para a JAC Motors. No quadro da agricultura, a aquisição da Noble Agri Limited, transformada em COFCO 219 Noble Agri, buscando liderar o mercado de processamento de cana no marco dos biocombustíveis. Ainda no ramo da agricultura e no marco dos biocombustíveis, a participação e a combinação de capitais em 57% com compra parcial da Fiagril. Esse movimento foi determinado pela Hunan Dakang Pasture Farming Co. Ltd., empresa que é atualmente controlada pelo Shanghai Pengxin Group. Esses e outros exemplos, listados na tabela apresentada, se remetem ao movimento em IED no quadro produtivo nacional. Tabela 4 – Investimentos chineses – Brasil (milhões US$) Fonte: Elaborada pelos autores com base em AEI (2017). 220 Por im, as atividades que mais causam interesse partem dos créditos da China para o Brasil. Como destacado, os valores, até o momento, chegam a US$ 30 bilhões. E todos os empréstimos caminham para espaços próximos atrelados aos investimentos externos chineses. Assim, infraestrutura, energia e metais são os destaques dos movimentos desse crédito chinês. O Brasil tem nos bancos chineses um suporte que outrora fora ocupado pelo Banco Mundial. Na atualidade, os bancos chineses e o Banco Mundial não rivalizam no processo de alocação dos recursos. O Banco Mundial atua em projetos voltados para as demandas dos governos estaduais, a atender objetivos especíicos para o bem-estar dos grupos sociais em algumas regiões do Brasil. Assim, entre os investimentos no setor hídrico em São Paulo, em 2010, aos recursos destinados ao setor agrícola em Santa Catarina, em 2011, o Banco Mundial reorganiza as suas ações junto aos governos estaduais do Brasil. Outra característica desses empréstimos da atualidade é em relação ao montante de capital. Assim, entre 2001 e 2016, os empréstimos do Banco Mundial ao Brasil foram US$ 10 bilhões, com uma taxa agregada de 2% de juros (WORLD BANK, 2015). Avaliando a ação chinesa para o Brasil, os créditos compõem interesses mútuos frente a sua consolidação. Pelo lado brasileiro, há uma alternativa para o capitalismo nacional. Essa alternativa permite o Estado acessar montantes creditícios em condições distintas, as quais asseguram em energia e em mineração a celebração dos atos de transferência. Essa estreiteza permite o Estado brasileiro e o Estado chinês negociarem com um espaço de barganha reduzido e voltado aos interesses de ambos os governos. Sobre as atuações dos bancos chineses no Brasil, especiicamente o CDB e o CEXIM, há uma clara diferença na condução dos empréstimos face às organizações internacionais inanceiras. A expansão creditícia, tanto para o Brasil 221 quanto para os demais países da América Latina, baseia-se nas diretrizes do governo da RPC. Essa condução alinha instituições domésticas, como a Comissão Reguladora Bancária, o Conselho de Estado e o Banco Popular da China. Após esse alinhamento, observa-se uma coordenação de atividades, as quais são executadas pelos braços inanceiros para a internacionalização do capital chinês. São estruturas políticas distintas que movem as OFIs e os Policys Banks da China e, portanto, resulta em condições creditícias diferenciadas. Frente a essas condições, a securitização das commodities é algo que se apresenta como condição dupla ao governo chinês. Em primeiro lugar, assegura os recursos necessários para o desenvolvimento econômico do Estado; em segundo lugar, permite manter um acesso direto para a circulação do seu capital inanceiro com investimentos em infraestrutura. Essa segunda condição importa, pois, a partir das aplicações em infraestrutura, a China consegue internacionalizar a construção de uma prática que foi relevante para a rolagem dos títulos podres gerados dentro do setor bancário-inanceiro ao longo da década de 1990. Em 2004, com a visita do ministro do Comércio da RPC, Bo Xi Lai, a RPC e o Brasil celebraram um ato de concordância e reconhecimento do status econômico da China. Neste ato constitutivo dos interesses, os posicionamentos de ambos os governos indicam esta importância: As Partes estimularão o comércio bilateral e a cooperação no setor de investimentos. Os Governos dos dois países e suas respectivas instituições facilitarão a cooperação nas seguintes áreas: infraestrutura, energia, gás natural, proteção ambiental, meios de transporte, biotecnologia e mineração, entre outras áreas. Para isso, as Partes deverão dar plena implementação a todos os Memorandos de Entendimento de cooperação assinados entre as instituições governamentais dos dois países. (BRASIL, 2004, p. 2) 222 O documento de 2004 prepara o espaço para o volume de capitais chineses que desembarcará no Brasil posteriormente.Apesar desse documento indicar um peril comercial, aponta-se o movimento dos interesses para outros setores. Assim, em função dessa construção, a partir de 2007, os créditos chineses começam seu constante crescimento na economia brasileira. Tabela 5 – Empréstimos China-Brasil (bilhões US$) Fonte: Elaborada pelos autores com base em Inter-American Dialogue (2017). No ano de 2006, ambos os governos irmaram o ato para cooperação no setor de infraestrutura. Há um movimento para a elaboração de atividades, as quais conjugam os campos de energia elétrica, recursos hídricos, petróleo e gás natural (BRASIL, 2006). Esse importante movimento antecede a recepção do primeiro crédito chinês no desenvolvimento do gasoduto GASENE.Vale lembrar que esse desenvolvimento permitiu a união entre a região Nordeste e a região Sudeste, frente o objetivo da produção e, principalmente, da distribuição do gás. Ainda, no marco dessa atividade, os créditos permitiram a cooperação entre os grandes bancos nacionais de desenvolvimento. O BNDES, pelo Brasil, e o CDB, pela China. Esse acordo inicial também permitiu a criação de uma Subcomissão de Energia 223 e Recursos Minerais, a atuar como braço setorizado da Comissão Sino-Brasileiro de Alto Nível e Concertação e Cooperação. Há, nesse sentido, um estreitamento de diversos eixos: o governamental, pelas celebrações de interesses mútuos; o inanceiro, entre as instituições inanceiras nacionais, por meio da combinação de crédito; o técnico-institucional, por meio da criação da Subcomissão, voltada para as organizações contratuais e operativas do processo (BRASIL, 2006). Frente ao capital voltado para o petróleo, em 2009, acorda-se, por memorando de entendimento, a uniicação dos interesses no entorno do pré-sal (BRASIL, 2009a). É a partir desse documento que os interesses chineses sobre o petróleo brasileiro são deinidos. Esse documento inicial guia a um novo trato, que conduziu a organização de um protocolo de exploração. E neste documento as partes selam os seus interesses em: a) expansão da comercialização de petróleo entre Brasil e China, dando preferência ao fornecimento de petróleo de forma estável e de longo prazo para a China de acordo com os contratos pertinentes. A comercialização de petróleo será executada pela SINOPEC e assegurada por um compromisso de inanciamento à Petrobras pelo Banco de Desenvolvimento da China (China Development Bank Corporation); b) cooperação entre as empresas brasileiras e chinesas, de acordo com as condições de mercado e em conformidade com a legislação brasileira, relativa à exploração e desenvolvimento dos blocos de petróleo e gás no Brasil; c) obtenção de bens e serviços, pelas empresas brasileiras, de fornecedores de produtos e serviços chineses, de acordo com as condições de mercado, e em conformidade com a legislação brasileira. A compra de bens e serviços será as- 224 segurada pelo compromisso de inanciamento à Petrobras pelo Banco de Desenvolvimento da China (China Development Bank Corporation); e d) promoção de investimentos chineses no Brasil, incluindo a associação com companhias brasileiras com o objetivo de fornecer serviços e mercadorias para o setor de petróleo (BRASIL, 2009b, p. 2-3). Essa construção ainda é reforçada por um Comunicado Conjunto, elaborado e apresentado a partir da visita do presidente Lula à China, sob Hu Jintao. Frente a esse documento, ambos os presidentes saudaram o Protocolo em Energia e Mineração. Além dessa celebração, reforçaram a importância da cooperação inanceira entre os grandes bancos dos Estados, principalmente nas estreitas relações monetárias, além das ações conjuntas para o desenvolvimento (BRASIL, 2009c, p. 2). Esses movimentos, aclarados por meio dos documentos citados, auxiliam os passos iniciais desse processo de expansão creditícia para o Brasil a partir de 2007. Apesar do período posterior a 2009 apresentar uma ação mais ofensiva dos créditos chineses, é importante analisar investimentos, créditos e comércio para discutir essa equivalência temporal para aprofundamento das relações econômicas entre Brasil e China. Frente às novas características dos acordos pós-2009, percebe-se a composição de planos em longo prazo. Essa percepção indica o início de uma longa jornada que ainda virá, a partir das trajetórias apresentadas na atualidade. Há, por certo, uma dependência de trajetória na relação econômica entre o Brasil e a China. Essa dependência saltou aos passos de uma leitura institucionalista das relações externas. Exige-se avaliar um quadro mais amplo, o qual opera com múltiplas variáveis para tratar da correlata interação econômica entre os Estados. 225 Em suma, frente às indicações de longo prazo, quatro planos apresentam a solidiicação da cooperação creditícia entre ambos Estados: o Plano de Ação Conjunta entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China, 2010-2014; o Comunicado Conjunto entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China, de abril de 2011; o Plano Decenal de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China; e por im o Plano de Ação Conjunta entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China, 2015-2021. Em caráter geral, cada um dos quatro documentos permite avaliar uma evolução gradativa no aprofundamento da cooperação econômica. Assim, o primeiro documento reirma a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), tida como ponto de comunicação direta entre os governos. É por meio desse documento que se alinha a cooperação interministerial das nações (BRASIL, 2010). Em um segundo momento, o Comunicado Conjunto de 2011, entre Dilma Roussef e Hu Jintao, aprofunda o entendimento monetário-inanceiro, elevado o renminbi (RBM) como ferramenta para o equilíbrio iscal brasileiro. Mas a parte mais interessante deste documento perpassa pelo alinhamento das nações para cooperação conjunta no quadro inanceiro internacional. E esta cooperação perpassa, ainda, pelo reconhecimento dos esforços do Financial Stability Board (FSB) e da International Organization of Security Comissions (IOSCO), nas construções políticas para o reforço do Regime da Basileia (BRASIL, 2011). Já o terceiro documento listado aponta para outro quadro da cooperação entre o Brasil e a China: o Planto Decenal 2012-2021. Esta complementariedade não presume uma ordem de dependência estrutural, mas uma contingência material, jurídica na formação de um 226 ombudsman para reforçar a interação entre os atores. Este ombudsman aloca-se em diversos setores, como: Ciência, Tecnologia, Inovação e Cooperação Espacial; Minas, Energia, Infraestrutura e Transportes; Investimentos e Cooperação Industrial e Financeira; Cooperação Econômica e Comercial; Cooperação Cultural, Educacional e Intercâmbio entre os povos (BRASIL, 2012). Por im, o Projeto de Cooperação de 2015 renova o Plano 2010-2014. E por este novo documento é apresentada a demanda para a construção de um planejamento estratégico, lançado para médio e longo prazo. Por isso é possível avaliar que, no diálogo entre estes atos bilaterais com os créditos listados, vive-se um primeiro momento de cooperação inanceira entre o Brasil e a China. Presume-se essa condição e avalia-se a sua importância em função dos interesses apresentados pelo Plano Decenal 2012-2021. Neste plano, almeja-se um alinhamento político que perpassaria tanto pelas posições conjuntas nos fóruns multilaterais, como OMC, G20, BASIC, BRICS e outros, quanto no aprofundamento das relações da China com toda a região, no marco do Fórum China-CELAC. Assim, observa-se que o Brasil é um ator política e economicamente para a RPC. Frente aos elementos apresentados nesta seção, airma-se que a China e o Brasil não apresentam ações isoladas e acidentais, no cerne das práticas creditícias, dos investimentos e das relações comerciais. Decerto, há uma pluralização e uma maior complexidade dos interesses de ambos os atores. Por meio dessa pluralização há um aprofundamento da cooperação econômicas entre os governos que permite indicar os caminhos para transbordamentos futuros.. CONSIDERAÇÕES FINAIS A recente chegada da China na América Latina e, sobretudo, no Brasil indica a construção de um passo inicial 227 que tende a reservar grandes resultados para os atores nacionais envolvidos nesse complexo ato de cooperação. O presente capítulo almejou avançar com a discussão sobre as condições materiais que tem guiado o aprofundamento da China com a região e com o Brasil. O início deste processo perpassa pelas transformações econômicas chinesas, as quais lançam, na virada do século, a RPC em um forte projeto de internacionalização do seu capital.A despeito dos investimentos e do crédito chinês serem apresentados a partir de 2005/2006 para o Brasil e para a região, a construção da ordem do going out/going global institucionalizara seu processo de saída. Ao se observar a relação de China com a região, este capítulo buscou apresentar uma reorientação da América Latina a partir das elevadas demandas chinesas pelas commodities, caras para o seu processo de desenvolvimento econômico. Esse novo envolvimento da região latino-americana com a China permite, em caráter histórico, compreender uma nova etapa de entrada e de participação das economias latino-americanas dentro do capitalismo global. Essa observação foi realizada a partir dos argumentos de Gunder Frank, ainda no século XX, a destacar a importância da China na organização dos centros dinâmicos em uma economia mundial. A despeito dessa importante e nova entrada da América Latina no capitalismo global, a partir da via asiática, apresentou-se uma ordem crítica sobre esta relação. A primeira consideração perpassa pela relação desigual e a baixa participação da ALC no agregado das importações chinesas. Apesar de se observar, a partir de 2009, um aumento relativo dessa participação, os produtos latino-americanos não ocupam uma posição de destaque no quadro de importações da China. Essa consideração indica uma situação de interdependência assimétrica. Por essa assimetria se observa um aumento da relevância da China para região em caráter distinto da importância da ALC para a China. 228 Aprofundando essa relação, a segunda seção permitiu compreender uma condição equivalente. Nessa condição, em termos comerciais, enquanto o Brasil tem na China a principal parceria no comércio internacional, a China tem no Brasil um importante parceiro, mas atrás de outros oito grandes países no sistema internacional.Todavia, as questões comerciais precisam ser avaliadas em um contexto mais amplo, o qual permite considerar outros movimentos de capital como estruturas que tendem a aprofundar o grau de interdependência entre ambas as economias. Nesses termos, os IED e o crédito para os projetos em infraestrutura reforçam a presença da China na região e no Brasil de maneira bem destacada, e ainda indicam, frente aos acordos apresentados, a construção de um passo inicial e seguro entre ambos os governos. Por certo, a pegada chinesa na região, assim como no Brasil, indica uma relação estratégica, a qual permite pressupor avanços para as próximas décadas. Todavia, a despeito de o Brasil e da América Latina apresentarem os recursos demandados e os espaços para os investimentos e expansões creditícias, os resultados sobre esta densa interação ainda é incerta. Apesar dessa incerteza, o quarto movimento de entrada do Brasil e da América Latina no capitalismo global tende a apresentar um revigoramento da extroversão das economias da região. Mas essa conclusão exige décadas de avanço da cooperação chinesa, por mais que os indícios da atualidade permitam avaliar, em termos críticos, presentes ameaças como a reprimarizacão e o aumento da vulnerabilidade das econômicas latino-americanas no sistema internacional. REFERÊNCIAS AEI – American Enterprise Institute. Disponível em: <https:// www.aei.org/china-global-investment-tracker/>. Acesso em: 12 abr. 2017. 229 AMIN, S. Unequal development : an essay on the social formations of peripheral capitalism. Marxist Theory and Contemporary Capitalism, p. 440, 1976. ARMONY, A. C.; STRAUSS, J. C. China Quarterly: From Going Out (zou chuqu) to Arriving In (desembarco): Constructing a New Field of Inquiry in China – Latin America Interactions From Going Out (zou chuqu ) to Arriving In (desembarco): Constructing a New Field of Inquiry in Chin. The China Quarterly, v. 209, p. 1-17, 2012. BRASIL, R. F. do. 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A República Popular da China (RPC) ascendeu na última década à condição de segunda maior economia do mundo e maior país exportador do planeta. Como o peso da moeda chinesa internacionalmente ainda não acompanha seu gigantismo econômico, o país tem buscado a internacionalização gradual do renminbi, sem que isso signiique uma abertura completa de sua economia às instabilidades da economia internacional. Contudo, apesar das análises econômicas desse processo, pouca atenção tem sido dada para a política das relações monetárias chinesas. A internacionalização está ocorrendo; as questões que aparecem são: o quanto está internacionalizando, o quão rápido e em qual extensão (HELLEINER; KIRSHNER, 2014). Além do fato da sua moeda não refletir a importância da RPC na economia internacional, a crise de 2008 foi também um fator fundamental que demonstrou ao Partido Comunista Chinês (PCC) as fragilidades de um país que não possui uma moeda conversível, 235 8 bem como de uma nação muito dependente do dólar americano para realizar qualquer transação econômica internacional. A um país que tem seu desenvolvimento fundamentado na capacidade de exportação, o uso de uma outra moeda nacional para realizar trocas econômicas se torna pouco estratégico. Com a crise de 2008, o papel do dólar como moeda-chave internacional passou a ser questionado. A ampla dependência da economia internacional em relação à moeda estadunidense levou ao surgimento de incertezas acerca do funcionamento da economia contemporânea, caso o Estado emissor da principal moeda de transação internacional entrasse em uma profunda recessão. Nesse contexto, portanto, despertou-se uma preocupação generalizada com o intuito de controlar os efeitos da crise e de proteger o sistema monetário e inanceiro internacional contra novas recessões – talvez mais profundas e desestabilizadoras. Logo, a RPC, que desde o inal dos anos 1990 já apresentava insatisfação perante a ordem monetária existente – destacando sua preocupação com a volatilidade das taxas cambiais e a instabilidade da moeda estadunidense –, ganhou espaço para se posicionar de modo mais ativo frente à instabilidade da ordem econômica com o estouro da crise do subprime em 2008 (CHIN, 2014). Uma das ações mais importantes que o gigante asiático passou a adotar para diminuir sua vulnerabilidade e dependência em relação à moeda-chave internacional correspondeu ao processo, sem precedentes históricos, de expansão gradual do uso de sua própria moeda internacionalmente. Assim, este capítulo ter por objetivo principal apresentar algumas das principais políticas chinesas que visam à ampliação do uso internacional do renmimbi, buscando compreender como os avanços no processo 236 de internacionalização de sua moeda podem representar aumento de seu poder monetário nas relações monetárias internacionais. Neste capítulo, poder monetário é pensado como “autonomia”, isto é, capacidade de agir sem restrições, independentemente das inluências externas e como “inluência”, que se traduz na habilidade de mudar o comportamento de outros atores (COHEN, 2008; 2009; 2015). POLÍTICAS PARA INTERNACIONALIZAÇÃO DO RENMINBI O uso de uma moeda nas transações econômicas internacionais se relaciona diretamente com seu grau de conversibilidade. Esse conceito se associa à capacidade que uma moeda tem de ser convertida (trocada) diretamente no exterior por bens, serviços ou outras moedas. Obstáculos cambiais ou comerciais, variações nas taxas de câmbio são elementos que fundamentalmente inluenciam o grau de conversibilidade de uma dada moeda. Ciente das limitações as quais a RPC possui quanto à conversibilidade do renminbi, o país vem adotando ações no sentido de aumentar gradativamente o uso de sua moeda internacionalmente. Dentre as vantagens de possuir uma moeda conversível estão: diminuir a vulnerabilidade à variação nas taxas de câmbio; reduzir os custos de transação e de aquisição de capital; facilidade na emissão de títulos de dívida aceitos internacionalmente (que pode se tornar uma boa fonte de recursos internacional); adquirir maior peso político (por exemplo, com a entrada do renminbi na cesta de moedas que compõe os Direitos Especiais de Saque – a “moeda” do FMI), dentre outros (IMF, 2013). Logo, principalmente após a crise de 2008, a RPC passou a adotar diversas ações políticas para facilitar o uso 237 transfronteiriço do renminbi. Dentre elas, neste capítulo destacamos as seguintes: Programa-piloto de Liquidação do Comércio Transfronteiriço em Renminbi: expansão da moeda chinesa no uso comercial Uma das primeiras ações chinesa em torno da internacionalização do renminbi se dá com o “Programa-Piloto de Liquidação do Comércio Transfronteiriço em Renminbi, lançado em 2009. Ele tem como objetivo incentivar e ampliar o uso do renminbi em transações comerciais internacionais, ou seja, usar a moeda chinesa para liquidação do comércio transfonteiriço sem a intermediação do dólar. Dentre os objetivos a serem alcançados com a internacionalização do renminbi nas trocas comerciais, estão: otimização da gestão de risco das taxas cambiais, não estando expostas às lutuações na taxa de câmbio; economia de custos de conversão, já que não será mais necessário converter duas moedas em uma terceira (em geral, o dólar) para a realização de trocas internacionais, o que poderia acarretar em uma mudança no valor real da mercadoria; economia de custos de origem cambial na transação de produtos, já que sendo transacionados em uma única moeda, os produtos não estarão sujeitos às lutuações cambiais do mercado; benefícios ao comércio e aos investimentos em renminbi, que serão por sua vez mais seguros – assegurados pelo Estado – podendo apresentar maior liquidez (BANK OF CHINA, 2012, p. 12). Sua expansão está se dando de forma gradual. Inicialmente, Xangai, Guangzhou (Cantão), Shenzhen, Dongguan e Zhuhai estavam autorizadas a atuarem no programa. As contrapartes, por sua vez, se limitavam 238 aos países da ASEAN, Hong e Macau, e a expectativa era de que o renminbi fosse usado em no máximo 28% das exportações e 16,8% das importações chinesas. A partir de 2011, a autorização foi ampliada para todas as cidades da RPC, bem como qualquer país ou região administrativa poderia ser a contraparte no comércio liquidado em renminbi. Nesta ampliação, de 2011, a expectativa é de que até 100% das exportações e importações chinesas sejam liquidadas na moeda local (CINTRA; MARTINS, 2013). Em 2010, clientes coorporativos e institucionais foram autorizados a conduzir, em Hong Kong, transações em renminbi com qualquer propósito, sem limitações de liquidações comerciais, transferências de fundos de ofshore em renminbi entre bancos em contas mantidas fora do território chinês, troca de serviços em renminbi que incluem “serviços de conversões comerciais”, oferecidos por bancos, e “serviços de conversões não comerciais”, oferecidos por bancos participantes com posição suiciente de fundos em renminbi; recebimento de cheques e cartões de créditos para serviços em Hong Kong; transferências de fundos para dentro ou fora do território chinês, que estejam em conformidade com as regras e requerimentos da RPC (BANK OF CHINA, 2012, p. 4). Em 2011, com o “Anúncio de Expansão da Lista de Regiões para o Programa Piloto”, o acordo entrou em sua terceira fase e foi expandido para incluir todas as províncias e municípios na RPC. Em março de 2012, inserido no programa, foi lançada a “Advertência sobre Questões de Administração de Empresas Envolvidas em Acordos Comerciais em Renmimbi para Exportação de Mercadorias”, que estabeleceu que todas as empresas com direitos de importação-exportação tinham, a partir daquele momento, permissão de liquidar as 239 exportações de mercadorias em renminbi (BANK OF CHINA, 2012, p. 10). Dos resultados já possíveis de se analisar, demonstra-se que quase 1/5 de todas as trocas comerciais chinesas foram formalizadas em sua própria moeda em 2014 (em 2009, quase 100% das operações de comércio eram fechadas em dólar); houve um aumento de 67 bilhões de iuanes em 2010 para 3,27 trilhões de iuanes em 2014 na escala de liquidação de comércio internacional em renminbi; um terço das instituições inanceiras do mundo está ativamente usando esta moeda para efetuar os pagamentos na RPC e em Hong Kong – embora grande parte dos acordos comerciais tem sido com Hong Kong (SWIFT, 2016). Zona Piloto de Livre Comércio de Xangai Em agosto de 2013, a RPC deu um importante passo rumo à liberalização de sua economia e à internacionalização de sua moeda ao criar a Zona Piloto de Livre Comércio de Xangai. A Zona Piloto visa à expansão da abertura e à reforma inanceira interna, além de desenvolver um sistema convergente com as normas internacionais para comércio e investimento (CHINA [SHANGUAI], 2016, p. 1): “a regulatory environment on cross border investment and trading that is in line with international practices, enhance China’s economic position globally, and contribute to achieving the revival of the Chinese People’s China Dream”. Com a zona de livre comércio é possível lexibilizar, a partir dela, algumas transações transfronteiriças denominadas em renminbi. Pretende-se que seja um centro internacional para transações inanceiras, provendo serviços de compensação transfronteiriços em renminbi para residentes da zona de livre comércio, funcionando para empréstimos ofshore em renminbi pelos seus membros, promovendo recolhimento e pagamento nesta moeda de 240 comércio e serviços entre membros e suas iliais onshore e ofshore (Chan, 2014). Empresas não inanceiras e instituições inanceiras não bancárias estabelecidas nessa zona de livre comércio podem também obter inanciamento em renminbi fora da RPC, mesmo que dentro de certos limites. Ademais, empresas chinesas com ligações internacionais que precisam mover renminbi para e a partir de suas subsidiárias no exterior. Sistema de pagamento internacional chinês Em outubro de 2015, a RPC criou o Sistema de Pagamento Internacional Chinês (The China International Payment System – CIPS) com o intuito de incentivar ainda mais a internacionalização do renminbi, para além dos mercados ofshore. Esse sistema de transferência de dinheiro pretende ser um canal de pagamento eiciente e seguro para serviços de compensação e liquidação para o comércio, investimento, inanciamento e outros negócios transfronteiriços em renminbi. Até o momento, 19 bancos já foram autorizados a usarem esse sistema, dentre eles o Citibank, Deutsche Bank e HSBC (SWIFT, 2016). O CIPS, denominado em renminbi, nasce em paralelo à Sociedade para Transferências Financeiras Interbancárias Globais (SWIFT), em que ocorre a maioria das transferências internacionais, sistema denominado em dólares americanos. Para alguns especialistas, o CIPS irá colaborar com o SWIFT. Já para outros representa um sistema de pagamento que irá contrapor o SWIFT, controlado pelos americanos, e auxiliar na diminuição da preponderância do dólar. Acordos bilaterais de swaps cambiais Outra importante ferramenta para ampliar o uso internacional de sua moeda corresponde aos acordos 241 de swaps cambiais. Com esses acordos, visa-se fornecer às autoridades monetárias estrangeiras acesso à liquidez em renminbi, permitindo-se, em alguns casos, que ele seja a moeda de faturação e compensação das transações, incentivando-os, por sua vez, a autorizar o uso da moeda por bancos e empresas nacionais (EICHENGREEN; KAWAI, 2014). Com esses mecanismos de pagamentos em moedas locais, é possível oferecer mais segurança e incentivar o comércio com essas nações ao resguardar os agentes econômicos diante de grandes oscilações cambiais, além de incentivar o uso do renminbi no lugar do dólar americano (COHEN, 2014, p. 42). Tabela 1 – Acordos bilaterais de swap de moeda com o renminbi promovidos pelo Banco Popular da China Data do acordo Economia Valor Bilhões em CNY (bilhões em dólar) 01/03/2009* Belarus 20.0 (2.9) 01/04/2009* Argentina 70.0 (10.2) Abr. 2011 Nova Zelândia 25.0 (3.8) Abr. 2011 Uzbequistão 7.0 (0.1) Jun. 2011 Cazaquistão 6.5 (1.0) Out. 2011 Coreia do Sul (acordo estendido) 360.0 (56.6) Nov. 2011 Hong Kong (acordo estendido) 400.0 (63.0) Dez. 2011 Tailândia 70.0 (11.0) Dez. 2011 Paquistão 10.0 (1.6) Jan. 2012 Emirados Árabes 35.0 (5.5) 242 Informação extra Acréscimo de swap a partir do valor de CNY 180 bilhões de dez. 2008 Mar. 2012 Mongólia (acordo estendido) 10.0 (1.6) Mar. 2012 Austrália 200.0 (31.6) Jun. 2012 Ucrânia 15.0 (2.3) Mar. 2013 Brasil 190.0 (30.3) Mar. 2013 Cingapura (acordo estendido) 300.0 (47.8) Jun. 2013 Reino Unido 200.0 (32.4) Set. 2013 Hungria 10.0 (1.6) Set. 2013 Albânia 2.0 (0.3) Set. 2013 Islândia (acordo estendido) 3.5 (0.6) Out. 2013 Indonésia (acordo estendido) 100.0 (16.3) Out. 2013 Zona do Euro 350.0 (57.0) Acréscimo de swap a partir do valor de CNY 200 bilhões de jan. 2009 Acréscimo de swap a partir do valor de CNY 80 bilhões de fev. 2009 Acréscimo de swap a partir do valor de CNY 5 bilhões de maio 2011 Acréscimo de swap a partir do valor de CNY 150 bilhões de jul. 2010v Fontes: EICHENGREEN; KAWAI, 2014, tradução livre. Observações: (i) O gráico acima foi desenvolvido por Eichengreen e Kawai (2014) com base nas informações disponíveis nos sites do Banco Popular da China e do Asia Regional Integration Center (ARIC). (ii) Os valores em dólar foram calculados com base na cotação dólar-iuane/renminbi na época em que os acordos foram assinados. (iii) Os asteriscos (*) indicam que esses acordos provavelmente expiraram uma vez que eles têm duração de três anos a não ser que eles tenham sido renovados. Em 2014, acordos bilaterais de swap foram renovados com: Nova Zelândia (CNY 25 bilhões); Coreia do Sul (CNY 360 bilhões); Mongólia (CNY 15 bilhões); Cazaquistão (CNY 7 bilhões); Tailândia (CNY 70 bilhões); Hong Kong (CNY 400 bilhões); Argentina (CNY 70 243 bilhões). Assinou novos acordos de swap: Suíça (CNY 150 bilhões); Sri Lanka (CNY 10 bilhões); Paquistão (CNY 10 bilhões); Catar (CNY 35 bilhões em acordo estendido); Canadá (CNY 200 bilhões em acordo estendido); Rússia (CNY 150 bilhões); com Reino Unido renovou por mais três anos CNY 350 bilhões. Até 2015, a RPC havia assinado acordos de swap cambial com 31 países, num total de mais de US$ 500 bilhões (Eichengreen, Kawai, 2014; LI, 2015). Entrada do renminbi na cesta dos Direitos Especiais de Saque Além desses fatores, no ano de 2015 ações importantes foram colocadas em prática que buscam consolidar o processo de internacionalização do renminbi. Em agosto, a RPC modiicou as regras para determinar o valor do renminbi, passando a considerar também as forças de mercado – num sinal de uma maior abertura econômica. Essa alteração levou à desvalorização recorde da moeda chinesa, que trouxe muitos alvoroços à economia internacional. Contudo, é preciso entender esse fator não como um ponto de fragilidade da economia chinesa (como muito foi colocado pela imprensa internacional), mas sim uma estratégia para uma maior abertura econômica e ampliação do uso de sua moeda internacionalmente. Um dos motivos dessa mudança levou à outra importante decisão desejada pelos chineses: a entrada do renminbi na cesta de moedas que compõem os Direitos Especiais de Saque (DES), a “moeda” do FMI, tornando-se a primeira moeda de um país emergente a integrar a cesta (já composta pelo dólar, libra, iene e euro). Com esta última decisão, o renminbi amplia as possibilidades de angariar maior poder 244 monetário no âmbito multilateral. Para o FMI, a decisão relete o crescimento do uso e comercialização da moeda chinesa internacionalmente. Ademais, Cristine Lagarde, diretora-gerente do Fundo, aiança como a inclusão dará suporte ao crescimento e à estabilidade da RPC e da economia global (FMI, 2015). O ingresso do renminbi na cesta de moedas entrou em vigor em outubro de 2016 e se tornou a terceira moeda com maior peso, com 10,92%. O dólar tem 41,73%; o euro, 30,93%; o iene, 8,33%; e a libra, 8,09%. Com o avanço do renminbi como moeda-reserva, a RPC ampliará a integração de sua economia ao sistema inanceiro global (FMI, 2015). A entrada da RPC no rol das principais moedas do mundo lhe dá mais peso nas decisões, na conformação e mudanças das regras e normas do sistema monetário internacional (como uma possível reforma do sistema) incluso das principais instituições multilaterais da ordem monetária global. Ao ter uma importante moeda-reserva, a RPC terá mais benefícios nos mercados internacionais. Ademais, segundo o diretor do Departamento de Finanças do FMI, Andrew Tweedie, “a inclusão do renminbi também vai aumentar a atratividade dos DES como um ativo de reserva internacional, diversiicando a cesta e tornar os DES mais representativos das principais moedas do mundo” (FMI, 2015, p. 1). O FMI, ao aceitar a entrada do renminbi na cesta, reconheceu a importância da RPC na economia global, mesmo que a moeda chinesa não atendesse a um dos critérios para a inclusão de sua moeda, a saber: a plena conversibilidade, já que a RPC adota um câmbio flutuante administrado. Dessa forma, admite-se a decisão de cunho político da instituição. Contudo, essa inclusão traz também responsabilidades aos chineses. A entrada do renminbi na cesta levará o governo chinês 245 a perder capacidade de controle sobre sua moeda. O Fundo aposta na continuidade das reformas que a RPC vem fazendo em direção a uma economia cada vez mais aberta e baseada nas regras de mercado e o que inclui, especificamente, a transformação do renminbi em uma moeda plenamente conversível, por meio da abertura de sua conta capital – permitindo que o mercado influencie de forma mais ativa o câmbio. A recente reforma sobre o cálculo do valor do renminbi citada acima caminha nesse sentido. A longo prazo, essa inclusão poderá ter relexos na inluência dos Estados Unidos sobre a RPC e poderá diminuir a capacidade de os americanos em utilizarem o dólar como instrumento de coerção (como a forma de sanção econômica, por exemplo). Esse importante apoio para a internacionalização do renminbi poderá levar a médio prazo a uma diversiicação das reservas internacionais, o que por sua vez poderá diminuir a competitividade internacional das instituições inanceiras americanas, reduzir a demanda internacional por ativos denominados em dólar e aumentar os custos de se emprestar em dólar. PODER MONETÁRIO CHINÊS O governo chinês se tornou um importante ator nas relações monetárias internacionais nos anos recentes, seja pelo processo de internacionalização do renminbi, pelo poder de voto da RPC após a reforma de quotas do FMI (para terceira maior quota), seja pela quantidade de reservas internacionais (estimada em US$ 4 trilhões) e outros fatores (HELLEINER; KIRSHNER, 2014). Dados de junho de 2016 mostram que o renminbi foi a sexta moeda mais usada como meio de pagamento; 40% das instituições inanceiras (de 110 países) usaram renminbi para pagamentos com a 246 RPC e Hong Kong e mais de 160 países o utilizam em suas transações comerciais. Ademais, é possível ver o aumento da participação do renminbi ao analisarmos o mercado de moedas. O renminbi tinha participação ínima no mercado até 2007, com uma quota de 0,5 em 200% nas transações (numa operação cambial há duas moedas; dessa forma, a quota total é 200%) e ocupava o 17º lugar no ranking. Mas em 2013 a moeda chinesa já ocupava a nona posição enquanto moeda mais transacionada (BIS, 2013). Dados do SWIFT (2017a) mostram que em 2015 foi a sexta moeda mais comercializada. Dados de janeiro de 2017 também divulgados pelo SWIFT mostram que a participação do renminbi como moeda usada em pagamentos internacionais caiu de 2,31% em dezembro de 2015 para 1,68% em dezembro de 2016. Dessa forma, a moeda saiu de quinto para sexto lugar como moeda mais utilizada como meio de pagamento. O valor dos pagamentos em renminbi decresceu 15,08% em dezembro de 2016, comparando-se com novembro de 2016. Por seu turno, globalmente, o valor dos pagamentos nas demais moedas aumentou 0,67% (SWIFT, 2017b). Algumas das razões para esse decréscimo são a desaceleração da economia chinesa, medidas regulatórias de fluxos de capitais e a maior volatilidade da taxa de câmbio do renminbi. Contudo, afirma Michael Moon do SWIFT, o processo de internacionalização do renminbi continuará se beneficiando de importantes transformações no sistema financeiro chinês, como o CIPS e outros centros offshore de compensação em renminbi (SWIFT, 2017a). A Tabela 2 demonstra que a moeda chinesa, enquanto meio de pagamento, manteve a sua posição (de dezembro de 2016 a janeiro de 2017) como sexta moeda mais usada como meio de pagamento internacional, com uma participação de 1,68%. 247 Tabela 2 – Participação do renminbi como moeda de pagamento internacional Dezembro de 2015 Dezembro de 2016 Janeiro de 2017 USD 1º 43,89% USD 1º 42,09% USD 1º 40,72% EUR 2º 29,39% EUR 2º 31,30% EUR 2º 32,87% GBP 3º 8,43% GBP 3º 7,20% GBP 3º 7,49% JPY 4º 2,78% JPY 4º 3,40% JPY 4º 3,06% CNY 5º 2,31% CAD 5º 1,93% CAD 5º 1,87% CAD 6º 1,70% CNY 6º 1,68% CNY 6º 1,68% CHF 7º 1,56% AUD 7º 1,55% CHF 7º 1,53% AUD 8º 1,50% CHF 8º 1,53% AUD 8º 1,50% HKD 9º 1,17% HKD 9º 1,31% HKD 9º 1,15% SEK 10º 0,93% SEK 10º 1,06% SEK 10º 1,01% SGD 11º 0,85% THB 11º 0,93% THB 11º 1,00% THB 12º 0,81% SGD 12º 0,85% SGD 12º 0,89% NOK 13º 0,66% NOK 13º 0,64% NOK 13º 0,67% PLN 14º 0,51% PLN 14º 0,51% PLN 14º 0,50% ZAR 15º 0,39% MYR 15º 0,43% DKK 15º 0,46% MXN 16º 0,37% DKK 16º 0,40% MYR 16º 0,40% DKK 17º 0,37% ZAR 17º 0,38% ZAR 17º 0,40% NZD 18º 0,32% MYN 18º 0,35% NZD 18º 0,33% TRY 19º 0,24% NZD 19º 0,33% MXN 19º 0,32% HUF 20º 0,21% RUB 20º 0,26% TRY 20º 0,28% Fonte: SWITF, 2017a; SWIFT, 2017b. 248 Ademais, dentre as 15 principais economias nas quais foram realizados pagamentos em renminbi (sejam centros ofshore ou não, como o caso do Japão, Holanda e Bélgica), observa-se a busca pela RPC pela diversidade de regiões do planeta. Embora Hong Kong seja disparadamente o principal centro ofshore de compensação em renminbi, há a busca pelo fortalecimento de demais centros, como Reino Unido e Estados Unidos (Tabela 3). Tabela 3 – Quinze maiores economias com pagamentos em renminbi (jan. 2017) Hong Kong 72,90% Reino Unido 6,05% Singapura 4,60% Estados Unidos 2,94% Taiwan 2,40% França 1,71% Rep. da Coreia 1,66% Austrália 0,92% Japão 0,81% Alemanha 0,61% Bélgica 0,31% Macau 0,29% Luxemburgo 0,28% Holanda 0,26% Canadá 0,25% Fonte: SWITF, 2017b. Como citado anteriormente, apesar dessa pequena queda, a internacionalização do renminbi segue a passos irmes, se consolidando por meio de políticas chinesas 249 que visam, dentre outros elementos, reformar e modernizar seu sistema inanceiro nacional. Dessa forma, a RPC procura adquirir poder nas relações monetárias internacionais. Ao dar atenção para a política das relações monetárias internacionais chinesas, é importante compreender como a internacionalização do renminbi se relete em uma maior autonomia chinesa e como este país passa/ou pode inluenciar mais a dinâmica da ordem monetária. Essa maior autonomia e inluência nas relações monetárias internacionais denomina-se “poder monetário” (COHEN, 2008; 2009; 2015). A RPC se encontra cada vez mais na posição de credora na economia internacional, o que faz com que o país fortaleça seus laços inanceiros com diferentes nações por meio de sua capacidade de crédito e amplie seu poder frente a eles (ainal, não é recomendável disputas com credores). Ao mesmo tempo, com as políticas de internacionalização do renminbi, o país incentiva a demanda pela aquisição de sua moeda globalmente. Neste contexto, a RPC vem angariando o que Cohen (2008) chama de “poder como autonomia” (uma das duas faces do poder monetário), pois, nesta posição credora, desencorajam-se pressões externas sobre as políticas monetárias, como, por exemplo, políticas de gerenciamento das taxas cambiais internas. Ademais, sua imensa reserva lhe permite adiar ou diminuir os custos de ajustes de balanço de pagamentos. De fato, “não há dúvida de que a RPC adquiriu um novo poder por conta do seu status de credor e sua provisão de inanças no balanço de pagamentos. Quando a [RPC] tem oferecido tais inanças diretamente aos países, a sua inluência sobre estes países tem sido reforçada” (HELLEINER; KIRSHNER, 2014, p. 3). 250 Como apontado no início deste capítulo, o uso internacional de uma moeda nacional traz uma série de vantagens para o país emissor, como, por exemplo, a possibilidade de redução dos custos de transação e de aquisição de capital. Isso ocorre porque grande parte das transações internacionais ocorre em dólar americano (por ser a moeda-chave do sistema), mas, com a possibilidade de se fazer e receber pagamentos internacionais na sua própria moeda, diminuem-se os custos de convertê-la frente ao dólar e se perder recursos com as variações cambiais. Como a RPC é o maior país exportador do mundo, o que lhe garante um grande número de parceiros comerciais, a ampliação da demanda por sua moeda como meio de pagamento também incentiva o aumento do renminbi como moeda-reserva e unidade de conta88. A partir do momento em que se torna viável o pagamento em moeda local, a unidade monetária desses contratos pode passar a ser em renminbi, da mesma forma que contratos denominados nesta moeda incentivam o pagamento nela mesma. Assim, cria-se uma rede de pagamentos internacional denominada em renminbi. Investir e realizar grande parte dos pagamentos internacionais com a própria moeda que emite é um privilégio restrito a poucos países. Nesse contexto, por meio das reformas internas que buscam a abertura de capital com a criação de mercados ofshore de ativos inanceiros denominados em renminbi, a entrada da moeda chinesa na cesta de moeda dos DES e, entre outras medidas citadas neste capítulo, o país incrementa a demanda de sua moeda como reserva de valor. Ou seja, os países passam a querer reter renminbi em suas reservas internacionais como forma de diversiicar as suas 88 Uma moeda exerce tradicionalmente três funções: enquanto meio de pagamento, reserva de valor e unidade de conta. 251 riquezas, o que amplia ainda mais o incentivo para o uso desta moeda também como unidade de conta e meio de pagamento internacional. Essa maior demanda do renminbi como moeda-reserva, por sua vez, torna mais atrativo os títulos de dívida chineses por parte de investidores (inclusive países), o que facilita a captação de recursos internacionais por parte da RPC. Assim, um país, ao possuir grande parte de sua dívida denominada em sua própria moeda, ao poder comprar, vender e investir na moeda que ele mesmo emite, lhe dá capacidade de exercer poder enquanto autonomia nas relações monetárias internacionais. Como as economias nacionais estão vinculadas financeiramente por meio de seus balanços de pagamentos, poder como autonomia se refere tanto à capacidade de adiar quanto à capacidade de repassar para outros atores os custos de ajustes de balanço de pagamentos89. O superávit de um país representa o déficit de outro. Logo, desequilíbrios excessivos automaticamente geram pressões mútuas para ajustes a fim de ajudar a mover o balanço de pagamentos de volta ao equilíbrio. Mas nenhum governo quer ser forçado a se comprometer com objetivos de políticas domésticas para o bem de se restaurar o equilíbrio externo, ferindo sua autonomia política (COHEN, 2009; 2015). Para restabelecer o equilíbrio, países deficitários podem ser coagidos a desvalorizarem suas moedas e a reduzirem seus gastos, em detrimento do crescimento econômico e do emprego. Por outro lado, os países superavitários podem sofrer pressão para aumento de suas taxas de câmbio, prejudicando sua competitividade internacional, além de 89 Meio de pagamento se refere aos luxos de capitais que entram e saem de um país gerado por meio do comércio e investimentos (COHEN, 2009). 252 poderem sofrer com uma inflação indesejada (COHEN, 2009). É preferível que se repassem aos demais países os sacrifícios de um ajuste. Por isso, afirma Cohen (2015) que o fundamento último do poder monetário está na capacidade de evitar custos de ajuste, para manter o espaço político do Estado o mais livre possível de restrições estrangeiras. Logo, quanto maior esta capacidade de evitar custos de ajustes requeridos pelos desequilíbrios globais, maior será o poder monetário. E como a internacionalização de uma moeda representa uma melhoria de acesso ao crédito externo, para os países dos quais suas moedas nacionais exercem papel de moeda internacional, o poder de atrasar o custo de ajuste é ampliado (COHEN, 2015). Ao mesmo tempo, Cohen (2009; 2015) afirma que poder como autonomia é um pré-requisito para a influência. Somente se um Estado é realmente hábil em evitar o peso dos ajustes domesticamente ele estará apto para exercer influência alhures. O que interessa para exercer poder no exterior é a liberdade prática de ação política domesticamente. Como as relações monetárias são inerentemente recíprocas, um potencial para influência é adquirido automaticamente sempre que a independência política é alcançada (COHEN, 2009; 2015). Poder como inluência se manifesta na habilidade de mudar o comportamento de outros atores, fazendo com que um país A faça com que B aja de acordo com suas vontades. Ou seja, a capacidade de controle é explorada para adquirir diretamente objetivos políticos ou econômicos. Para Cohen (2009), é fundamental a diferença entre os dois tipos de poderes nas relações monetárias internacionais. Podemos notar que as políticas chinesas de internacionalização do renminbi vêm viabilizando a busca de 253 maior autonomia na ordem monetária internacional ao diminuir sua dependência em relação ao dólar. É o que faz por meio do programa-piloto, dos acordos de swaps cambiais, do grande acúmulo de reservas cambiais, da Zona Piloto de Livre Comércio de Xangai e do Sistema de Pagamento Internacional Chinês, citados ao longo deste capítulo. Ademais, as relações monetárias são intrinsicamente recíprocas, logo, poder como autonomia pode se traduzir em poder como inluência, seja sobre regulação inanceira e gerenciamento de crises nos mercados inanceiros, seja na habilidade de moldar preferências de demais atores. Contudo, apesar de ser ainda menos evidente como a ampliação da demanda pelo renminbi vem proporcionando à RPC maior poder de inluência nas demais economias, aposta-se que o gigante asiático vem agindo neste sentido. Não somente pelas políticas mencionadas, mas também pela inclusão do renminbi na cesta de moedas dos DES, nota-se como o país intenta, por meio do aumento da demanda por sua moeda, inluenciar a ordem monetária internacional. Como já debatido, a entrada do renminbi no rol das moedas mais inluentes não só proporcionará mais coniança e espaço de aceitabilidade para sua moeda, como poderá dar também maior poder de decisão à RPC nos mais importantes fóruns decisórios do regime monetário internacional. É preciso acompanhar de perto as ações monetárias chinesas no sentido de compreender as suas reais conquistas no campo monetário. Mas as políticas discutidas neste capítulo apontam para a busca de uma maior autonomia nas relações monetárias internacionais. O quanto essa autonomia se traduzirá em maior inluência nas relações monetárias internacionais – a outra face do poder monetário – ainda demandará tempo. No entanto, seja como ator mantenedor da ordem existente, como 254 reformador ou ainda como desaiador das regras basilares da ordem monetária vigente, a RPC vem indubitavelmente adquirindo poder no regime monetário global (Helleiner; Kirshner, 2014). E a ascensão do poderio monetário chinês não vem sendo liderada pelas forças de mercado, mas sim pelas políticas estatais. REFERÊNCIAS BANK OF CHINA (Hong Kong). Cross-Border RMB Services for Corporate Customers. 2012. BIS – Bank for International Settlements. Triennial Central Bank Survey Foreign exchange turnover in April 2013: preliminary global results. Monetary and Economic Department, sept. 2013. CHAN, B. Internationalisation of the RMB in the Shanghai Free Trade Zone: A Step Forward. Linklaters LLP Shanghai Oice. Apr. 2014. Disponível em: <http://www.linklaters.com/Insights/ AsiaNews/LinkstoChina/Pages/Internationalisation-RMB-in-Shanghai-Free-Trade-Zone.aspx>. Acesso em: 23 jan. 2017. CHIN, G. China’s Rising Monetary Power. In HELLEINER, E; Kirshner, J. (Eds.). The great wall of money: power and politics in China’s international monetary relations. Ithaca: Cornell University Press, 2014. CHINA (SHANGUAI) Pilot Free Trade Zone. 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Disponível em: <https://www.swift.com/>. 257 O ATUAL MOMENTO DO DESENVOLVIMENTO CHINÊS: PLANEJAMENTO REGIONAL, INVESTIMENTO E COMÉRCIO INTERNACIONAL Alexandre Cesar Cunha Leite CONSIDERAÇÕES INICIAIS Diferentemente da maioria dos textos que tratam (e reletem a respeito) do avanço político e econômico chinês nas últimas décadas, seja observando seus aspectos internos e seu transbordamento para a política externa, seja na descrição e análise das consequências de suas ações em nível global, este texto não tem como frase de abertura a expressão “após aproximadamente 30 anos de crescimento econômico contínuo”. Há motivos que sustentam esta opção e que sugerem uma singela crítica à opção de vislumbrar exclusivamente o crescimento econômico de uma nação. O primeiro motivo está relacionado ao objeto deste texto, a saber: o desenvolvimento. Ao estabelecer que o objeto a ser tratado é o desenvolvimento, parte-se do reconhecimento de que o crescimento é um componente relevante90, porém não a 90 Deve-se entender que a taxa de crescimento econômico, mensurado pelo PIB (GDP), não pode ser a medida exclusiva da evolução de um país. Assim, entender os elementos que contribuem para o desenvolvimento, para além do crescimento do produto nacional. Logo, a taxa de crescimento é um indicador relevante para desempenho, mas não para avaliar o desenvolvimento econômico de uma nação. 259 9 essência e nem o im do que se propõe analisar. O segundo motivo é que, após este longo período de crescimento econômico91, passa a ser relevante observar se (e como) o crescimento econômico observado nas três décadas que passaram gerou para a China a possibilidade de realizar o salto qualitativo. Entende-se aqui por salto qualitativo a passagem da consideração de indicadores quantitativos de desempenho, tal como a taxa de crescimento do produto, para indicadores qualitativos de desempenho que compreendem desde a melhoria na geração e distribuição de renda (ADELMAN, 1972), modiicações no modo de produção, com maior geração e absorção de tecnologia, introdução de inovações (SCHUMPETER, 1982), de forma que haja maior produtividade geral, maior (e mais acesso à) oferta de bens e serviços à população, derivando em melhorias nas estruturas e condições sociais (FURTADO, 1964). Ainda, a forma de participação no luxo de mercadorias e capitais no cenário internacional podem representar um vetor mais relevante para se analisar a evolução da China do que sua série histórica de crescimento econômico. Por im, há indicadores sociais e esforço de planejamento socioeconômico que podem dizer mais sobre o estado do desenvolvimento chinês. Isto posto, ica estabelecido o marco que dará norte ao texto. Trata-se de um texto que busca descrever e analisar a condição atual do desenvolvimento chinês, passando por alguns aspectos considerados como essenciais, 91 É importante observar que o crescimento econômico chinês tem arrefecido nos últimos anos. Segundo a Trading Economics (http:// www.tradingeconomics.com/china/gdp-growth-annual), consultada em 2017, a taxa de crescimento do PIB chinês em 2015 foi de 6,9%, enquanto a valor calculado para 2016 apresentou redução para 6,7%. Cabe salientar que ainda se constitui em uma expressiva taxa de crescimento econômico. Porém, não é o comportamento deste indicador que deine exclusivamente o estado do desenvolvimento chinês. 260 tomando fatores de ordem interna como princípio e base da dinâmica do desenvolvimento. Posteriormente, em um segundo momento, pretende-se expandir a leitura para o transbordamento da dinâmica de desenvolvimento chinês para o cenário internacional. E, assim, compreender como na estratégia chinesa caminham pari passu os ambientes doméstico e externo. Logo, parte-se aqui do pressuposto de que o desenvolvimento chinês deriva de bases decisórias domésticas que consideram a presença no cenário internacional imprescindível para sua continuidade. Assim sendo, foca-se aqui em duas questões que irão nortear o texto: i) qual a atual condição de desenvolvimento chinês, focado em uma compreensão do seu desenvolvimento regional; e ii) como as variáveis investimento e comércio externo evoluíram para, atualmente, participar intensivamente da dinâmica de desenvolvimento da China. Após esses dois tópicos, encerra-se o texto com as considerações inais. O DESENVOLVIMENTO INTERNO E O PLANEJAMENTO REGIONAL INTEGRADO: A CHINA OBSERVADA POR DENTRO É de conhecimento público que a China, a despeito do signiicativo crescimento econômico observado nas últimas três décadas, permanece como um país de base agrária. Um dos pontos centrais na estratégia de progresso nacional de Deng Xiaoping estava relacionado à percepção da importância da zona rural e no seu crescimento, uma vez que a China é um país de população rural, apesar de possuir uma parcela relativamente pequena de área cultivável. Deve-se salientar que as reformas foram realizadas de forma gradual e em etapas. A atividade rural e sua posterior mecanização e desenvolvimento afetaram o crescimento da China. Ademais, o tamanho e a relevância da população e 261 da produção rural chinesa têm peso suiciente para constranger o Partido Comunista Chinês (PCC) a ter atenção a este grande grupo populacional. Em outras palavras, o governo chinês teria conseguido ceder, em algum grau, o controle econômico para as localidades, sem recorrer às privatizações. Este processo de descentralização, todavia, não extingui a planiicação econômica, comandada ainda pelo governo central. Assim, enquanto o governo central manteve o controle político e legal, os governos locais obtiveram a liberdade de tomar decisões e fazer inovações econômicas (LEITE, 2011, p. 30). Contudo, a relevância do setor rural não pode conduzir a conclusão de que o crescimento econômico chinês tem base produtiva no setor agrário e muito menos que o desenvolvimento chinês seja sustentado pelo setor supracitado. Desenvolvimento faz-se com evolução. E a evolução consiste no aprimoramento das condições de produção. No caso chinês, a evolução produtiva passa pela mecanização e industrialização da produção agrária, mas, simultaneamente, no investimento de uma base produtiva industrial. Faz toda diferença compreender que a China como um país de base agrária obteve sucesso em complementar sua estrutura produtiva, associando a gestão da capacidade de realizar investimentos (via participação efetiva na geração e no movimento de capitais) e de alterar sua posição no luxo do comércio internacional. São duas bases internas relevantes para que se possa apreender o desenvolvimento chinês. O que atualmente pode ser observado na China é resultado de um processo de criação das condições básicas para que os ganhos acumulados ao longo destas três décadas de crescimento transformassem o processo 262 produtivo, originando as condições para a passagem do estágio tradicional e rudimentar (ROSTOW, 1978) para o estágio no qual o crescimento das suas atividades em nível acima da média dos demais países permite a passagem para o estágio em que os obstáculos ao desenvolvimento são gradualmente superados. É o momento em que o estoque de capital acumulado associado à presença do Estadopromotor resulta em incentivos para o desenvolvimento dos setores produtivos como um todo integrado. Assim, setor agrícola e indústria estabelecem uma relação de unidade. No caso chinês tal relação é dotada de grande importância no processo de planejamento do desenvolvimento. Esta importância está diretamente relacionada (entre outros fatores que virão na sequência) à geograia e clima do território chinês. A China é dividida em quatro grandes macrorregiões (conforme ilustra a Figura 1). Atualmente, as principais atividades econômicas chinesas concentram-se na região costeira (Eastern Coastal Region) e na região central (Central Region). Os principais motivos dessa concentração são: i) a concentração populacional; ii) as condições climáticas; iii) as condições geográicas; e iv) a posição das duas principais cidades que constituem os marcos políticos e polos econômicos do país (Beijing e Shanghai). São aspectos complementares que auxiliam a explicação da concentração populacional e de atividades econômicas mais dinâmicas nessas duas regiões o fato de boa parte da região oeste da China ser imprópria para atividades agrícolas (grande parte da região é desértica, logo encerra uma grande demanda de capital investido) e a região norte e extremo nordeste conter zonas restritas (de baixa condição econômica, reduzido volume de recursos naturais e condições climáticas e geográicas desfavoráveis) e zonas “proibidas” por ser áreas legais de proteção de reservas naturais (IGSNRR, 2016). 263 Figura 1 – As quatro macrorregiões da China Fonte: Institute of Geographic Sciences and Natural Resources Research (IGSNRR), Chinese Academy of Sciences (CAS). Coletado pessoalmente em 11/2015. Há, contudo, um esforço de planejamento para o desenvolvimento das regiões oeste, norte e extremo nordeste. Esse planejamento passa pela Academia Chinesa de Ciências92 que aglutina conhecimento gerado nos seus diversos institutos constituintes. Em linhas gerais (e tomando as três regiões acima citadas), as ações direcionadas para estas regiões são: i) implantar e desenvolver setores da indústria que possam utilizar a mão de obra existente na região e os recursos naturais disponíveis; ii) manter o uso racional do espaço voltado 92 CAS – Chinese Academy of Sciences – é composto por um conjunto de institutos de pesquisa nas mais diversas áreas cujo objetivo e dotar a administração pública chinesa de conhecimento e informação que possa balizar seu processo de planejamento, elaboração de projetos, tomada de decisão e implementação de ações nas áreas de saúde pública, meio ambiente, desenvolvimento regional, mobilidade populacional entre outras. 264 a produção agrícola, realizando um processo de industrialização e modernização da produção agrícola (LEITE, 2013); iii) criar uma infraestrutura básica de transporte (ferrovias e rodovias) fazendo a ligação a rede de transporte das demais regiões do país (LIU et al., 2009); iv) por meio das SOEs, criar projetos-pilotos de transformação estrutural da base produtiva integrada ao setor agrícola; v) para tanto, faz-se necessário elaborar uma política de cuidado do solo de forma que seja evitada a desertiicação desses espaços; vi) estimular a produção de veículos e maquinário direcionada à produção local (em primeiro lugar) e para exportação; e, por im, vii) fornecer serviços básicos a população local (educação, saúde, vocacional e treinamento técnico). Cabe observar que, para que essas ações se tornem concretas, deve haver um esforço de planejamento estrutural que associa os objetivos nacionais e regionais internos e estabelece a direção prioritária do investimento. Ou seja, sem a participação ativa do Estado na atividade econômica isto não seria possível. Dai (2016, p. 265) denomina este processo como “China-style inclusive development strategy”. Segundo Dai (2016), a despeito do crescimento econômico expressivo ao longo das últimas três décadas (taxa média de crescimento do PIB 1978-2013 de 9,9%), observou-se o crescimento da desigualdade entre as regiões. É interessante notar que ao longo dessas três décadas a renda das famílias cresceu em média 7,0% a.a., resultando em uma redução do número de habitantes em condição de pobreza (600 milhões de habitantes) segundo Dai (2016, p. 264). Mas esse progresso alcançado ainda não foi suiciente para aliviar a preocupação dos policy-makers chineses para a situação da disparidade regional93. 93 Vale a indicação do artigo referenciado de Dai (2016). O texto mostra a taxa de contribuição das regiões (via principais cidades e 265 Há, ainda hoje, uma signiicante disparidade entre as regiões rural e urbana (investimento e geração de renda). Conforme apresentado, existe um conjunto de medidas de planejamento e investimento prioritário em regiões especíicas para que se atenuem tais desigualdades. A preocupação nítida do governo chinês é que, mantida esta relação desigual entre as regiões (e, consequentemente, sua dinâmica econômica), ocorra um crescimento de tensões políticas e sociais originadas em parcelas da sociedade chinesa, principalmente nas 56 minorias étnicas espalhadas por essas regiões. O desaio que se coloca diante do governo chinês é como tornar o crescimento mais inclusivo e como “disparar” mecanismos de desenvolvimento que estejam em sintonia com a estratégia de desenvolvimento inclusivo, por sequência, reduzindo as disparidades regionais. A literatura indica que a “construção de uma sociedade harmoniosa” (The 11th Five Year Plan) concedeu prioridade a este objetivo. Ao passo que o 17º Congresso do Partido Comunista Chinês (2007) elaborou o desenho estratégico da ação pautada no discurso feito por Hu Jintao em 200594. Fato é que a preocupação do governo chinês não é infundada. A existência de disparidades regionais além de causar um diferencial signiicativo de renda obtida por parcelas da população e criar insatisfação popular contra o governo, deriva em problemas mais concretos e imediatos como a mobilidade de pessoas das 94 províncias) para a composição do produto total chinês. “A harmonious society should feature democracy, the rule of law, equity, justice, sincerity, amity and vitality. Such a society will give full scope to people’s capacity and creativity, enable all the people to share the social wealth brought by reform and development, and forge an ever closer relationship between the people and government. These things will thus result in China’s lasting stability and unity.” (HU, 2005) 266 zonas rurais para os centros urbanos. Mesmo a existência do sistema Hokou95 (e sua lexibilização em períodos mais recentes) não tem sido suiciente para exercer o controle da mobilidade da mão de obra (LI, 2014)96 causando o inchaço em áreas urbanas (várias delas com populações acima dos 20 milhões de habitantes). Logo, é imprescindível ao governo chinês transformar as fontes do crescimento econômico em fontes de desenvolvimento. A acumulação gerada em períodos de crescimento elevado obrigatoriamente deve derivar em instrumentos estratégicos de desenvolvimento, na sua essência investimento. Aqui opta-se por tratar de duas variáveis de destaque na literatura econômica e, simultaneamente, chave para o processo de desenvolvimento chinês: o investimento e o comércio externo. INVESTIMENTO E COMÉRCIO INTERNACIONAL: DUAS VARIÁVEIS-CHAVE PARA O DESENVOLVIMENTO CHINÊS Ao planejar sua estratégia de desenvolvimento, o governo chinês estabelece eixos prioritários para a 95 96 O sistema Hokou consiste em um regime de controle da mobilidade do trabalho na China. Sua origem está na estratégia que os governos têm adotado desde os antigos regimes, como o da dinastia Qing (1644-1911). Com a Revolução de 1949, um sistema similar foi estabelecido, então denominado (sistema) Hukou. O sistema Hokou tinha (na sua criação) três objetivos principais: 1) desencorajar a movimentação dos habitantes do campo para as cidades; 2) ajudar o governo a alocar a força de trabalho geograicamente; 3) facilitar o controle sobre criminosos e inimigos do governo – como os membros do Kuomingtang. “‘three one hundred million people’ question: settle 100 million farmers in cities and towns, transform living conditions of 100 million people living in shanty towns and urban villages, urbanize 100 million people in the Midwest.” 267 intervenção política. Assim, no que concernem às políticas de desenvolvimento chinesas do período pós-1990, Leite (2011, p. 86) aponta quatro grandes eixos: i) dado o reconhecimento da força de uma economia global de escala crescente, assim a China deveria mirar seu empenho de crescimento em um modelo intensivo no lugar do modelo extensivo de crescimento dos períodos precedentes. Seguindo esse eixo, viu-se como primordial a participação da China na economia global, consequentemente um projeto de inserção internacional próprio, diferenciado da recomendação liberal; ii) o entendimento de que a população deveria ter um maior poder de compra, tal como um padrão de vida melhor que seria resultado de uma maior e mais eiciente produção de mercadorias somada a admissão de princípios pragmáticos de planejamento econômico e social; iii) a China deveria aderir as regras do PCC; IV) o país deveria adotar e nutrir uma diplomacia de paz, além de buscar uma inserção internacional pacíica. Conforme sustenta Liseng (2004), Deng Xiaoping foi o responsável por mudanças profundas nas esferas da sociedade chinesa, entre elas economia, cultura e política. O investimento é a variável chave do desenvolvimento. Contudo, o caso chinês reserva particularidades. A primeira diz respeito a quem organiza e controla os recursos destinados ao desenvolvimento. É a capacidade de governança do aparato estatal chinês que cria, mobiliza e realiza a gestão dos recursos produtivos. O processo de acumulação de capital tem uma intensiva participação do aparelho de Estado chinês, o que também influencia significativamente o tipo de desenvolvimento obtido ao longo de anos de crescimento econômico. As reformas colocadas em curso no projeto de modernização chinês focaram, simultaneamente, na criação de uma rede doméstica de ganhos (inclusão e acesso a bens e serviços era essencial) e na adequação 268 da sua estrutura a existência de um mercado (doméstico e externo) como um mecanismo a ser usado a favor dos objetivos políticos e econômicos chineses. O estabelecimento de zonas econômicas especiais, o direcionamento dos investimentos para setores estratégicos e a associação do Estado chinês a essas atividades integradas sinalizam que o controle e, sobretudo, a decisão política e econômica centralizada são fatores distintivos do caso chinês. A posse de recursos produtivos e a significativa participação do governo no movimento de recursos externos permite que este atue em espaços nos quais as economias periféricas ocidentais confiaram à iniciativa privada (FURTADO, 1974; CHANG, 2004; REINERT, 2016). O processo de desenvolvimento chinês não segue os ditames propostos na virada neoliberal do Consenso de Washington. Em termos de desenvolvimento, o governo chinês estabelece a estratégia, considera a existência do mercado, mas usa esta estrutura a seu favor, tomando em conta seus objetivos. Este comportamento pode indicar uma operação da gestão pública mais adequada à proposta de crescer e desenvolver, ultrapassando as barreiras e obstáculos colocados pelas nações desenvolvidas (CHANG, 2004; REINERT, 2016). Os investimentos realizados, além de concentrarem-se em áreas prioritárias e estratégicas delimitadas pelo governo chinês, não se restringiram ao ambiente doméstico. Parcela signiicativa do investimento chinês é realizado na criação de infraestrutura, capacidade produtiva, rede logística doméstica e fornecimento de bens essenciais para a população97. Contudo, outro montante relevante 97 Ainda assim, observa-se na China o problema de desigualdades regionais e desvios na distribuição de renda almejada. 269 apresenta-se na forma de investimentos no exterior. Os continentes africano e latino-americano (GALLAGHER, 2016)98 tornaram-se, principalmente após o marco de 2001, destino preferencial dos investimentos chineses. Antes disto, na década de 1990, a China já expandia seus investimentos no seu entorno regional, numa proposta geoeconômica de integração regional. Consequência desse movimento é a forte presença chinesa na região da Ásia Pacíico e Ásia Central. Ainda no que concerne à política de investimentos chinesa, é necessário abordar brevemente que os investimentos realizados internamente são diretamente inluenciados pela atração de capital estrangeiro. A China, já ao inal dos anos 1980, estabelecia uma estrutura legal para garantir e estimular a entrada de capital estrangeiro (MANTZOPOULOS; SHEN, 2011). Com essa iniciativa, a China torna-se polo atrativo de capital direcionado às suas atividades produtivas. Mas a política chinesa guarda uma distinção de outros casos de políticas de atração de capital estrangeiro. Os denominados joint capital ventures (JCV) constituíam concessões legais para empresas, indivíduos e/ou grandes corporações internacionais para atuarem no mercado chinês em atividades previamente delimitadas pelo governo e com parceria nos ganhos proporcionados pelo capital. A formação das joint-ventures99, aplicada de 98 99 Gallagher denomina de Latin America-China Boom. Segundo o IPEA, as joint-ventures são que um tipo de associação entre duas ou mais empresas que se associam em prol de adquirir benefícios em determinado setor, mediante a alguma atividade.Vale destacar que essa associação não afeta a identidade de ambas as empresas. Ainda segundo o IPEA, “A China facilita a entrada no país para companhias que formem joint-ventures com empresas chinesas do mesmo setor, de modo a facilitar a transferência de tecnologia. Caso algum empreendedor queira se estabelecer na China sem se associar a nenhuma companhia local, enfrentará barreiras quase in- 270 uma forma distinta, uma vez que o governo chinês, além de ser a instituição reguladora, era uma parte interessada na negociação e, atuando como agente econômico, constituiu uma importante ferramenta para conversão e direcionamento do capital investido (LEITE, 2011)100. O luxo inicial de investimentos externos recebidos pela China concentrou-se nos setores de manufaturas e construção civil. É compreensível a escolha do destino. Um país com demanda reprimida por bens de consumo duráveis e não duráveis, cujo setor industrial ainda se estabelecia, associado ao objetivo prioritário de uniformizar o acesso a bens e serviços à população, tornar-se-ia atrativo ao capital estrangeiro (e suas expectativas de retorno). No que concerne ao setor de construção civil não é estranho dado a sua elevada demanda de mão de obra e a vasta disponibilidade desta no país. Gradualmente, a partir dos anos 1990, o capital começa a luir para o setor de serviços, principalmente os subsetores de comunicação, transporte e inanceiro. transponíveis”. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desaios/ index.php?option=com_content&id=2110:catid=28&Itemid=23>. 100 A primeira legislação relativa às joint ventures da gestão pós-Mao é de 1979, debatida na Segunda Sessão do Fifth People’s Congress. Esta legislação passou por diversas discussões e atualizações até a 18ª Sessão do Ninth People’s Congress no qual icou estabelecido em prol de uma maior abertura à presença estrangeira nos processos de cooperação econômica e transferência de tecnologia, assim como estimular o desenvolvimento econômico do país, a República Popular da China permitiria empresas, indivíduos e outras organizações estrangeira a estabelecer atividades no país. Ainda, empresas de capital estrangeiro só poderiam estabelecer-se no país, se e somente se, suas atividades forem benéicas ao desenvolvimento econômico da China, promovendo a evolução do setor produtivo industrial, a indústria exportadora chinesa e fortalecendo a geração e transferência de tecnologia avançada (MANTZOPOULOS; SHEN, 2011, p. 62-63). 271 Segundo Mantzopoulos e Shen (2011), a China obteve múltiplos ganhos com a entrada de capital estrangeiro. O primeiro deles consiste na modernização de equipamentos industriais, da disseminação de novas técnicas de produção e no aprimoramento do setor de produção de bens para exportação – voltarei a este tópico mais adiante. Esse mesmo fluxo de investimento estimulou (e complementou o esforço do governo chinês) os setores no que concerne a adoção de maior tecnologia no processo produtivo. Ganharam assim a produção e, consequentemente, o setor produtor de mercadorias voltadas ao mercado externo. Os autores supracitados sugerem que os investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento (R&D) foram positivamente afetados pelo estímulo à presença de capital estrangeiro. Qu et al. (2016) sugerem que o efeito do crescimento do IDE afeta positivamente o desempenho das empresas, principalmente em seu esforço de inovação e desenvolvimento de novas tecnologias. Os autores supracitados mostram que há um vetor positivo na relação entrada de capital estrangeiro e aumento de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (R&D). O resultado é uma gradual mudança do perfil da produção chinesa. O made in China que anteriormente conduzia à percepção de um produto de baixa qualidade já não faz mais justiça ao que é produzido na China atualmente. O próximo passo do setor produtivo chinês é agregar ao made in China o developed in China. O segundo fator signiicativo para a distinção chinesa no atual cenário global e para seus propósitos de desenvolvimento diz respeito ao tratamento das variáveis relativas ao comércio internacional. A China tem logrado sucesso na evolução do seu padrão exportador. Ou seja, a estratégia de exportação e o tipo de mercadoria 272 exportada pela China foi gradualmente progredindo. Em sua fase inicial, sua importação caracterizava-se por uma grande demanda de insumos importados (minério, derivados agrícolas, bens alimentícios e óleo bruto) de diversos mercados ao redor do globo. Adicionalmente, a China era demandante de mercadorias manufaturadas não produzidas internamente. Esta composição constituía-se em uma forma de compor a oferta interna e evitar que o país passasse, novamente, por períodos de carestia e que o custo da produção interna não fosse impactado pela insuiciência de insumos produtivos. Consequentemente, a despeito de uma fase inicial de déicit comercial contraído com os principais exportadores dos bens acima citados, a sequência dos acontecimentos leva a crer que este período e o resultado inicial era parte de um propósito maior (ver tabela com a evolução temporal do luxo comercial chinês). Esses insumos importados tornaram-se a base da cadeia produtiva chinesa, portanto, essencial para seu processo de produção, modernização e crescimento. De certa maneira a China acabou tornando-se um consumidor contumaz de bens primários, principalmente de países latino-americanos e de países africanos (LIMA, 2016;VADELL, 2013; GALLAGHER; PORZECANSKY, 2010; JENKINS, 2015), entre outros. Simultaneamente, a China era tida como a grande exportadora de produtos manufaturados de baixa intensidade em inovação e tecnologia. Consiste no aperfeiçoamento do seu setor produtivo, sustentado em uma política de intervenção do Estado associado às estratégias de desenvolvimento (hierarquia de setores, mobilidade de mão de obra, gestão do custo de produção, criação de infraestrutura produtiva, entre outras) à base da mudança no tipo de mercadorias produzidas, sua qualidade e, portanto, no padrão do papel desempenhado pelas 273 variáveis comerciais. A exportação é uma fonte de geração de divisas e uma variável alternativa de impulso ao crescimento econômico, sendo assim responsável pelo processo de acumulação de capital (geração ex post de capital para investimento). A importação permanece com a função de complementar a oferta interna seja de insumo (prioridade estratégica), seja de mercadorias (não produzidas internamente). A reforma da estrutura comercial chinesa data do início dos anos 1980. Nesse período estava claro para os tomadores de decisão estatais que a China necessitava de reservas. Empresas estatais chinesas (SOEs) foram então conduzidas pelo governo a destinar a produção ao mercado externo101. Simultaneamente, a partir dos anos de 1983 e 1984, o governo chinês permite que as empresas exportadoras retivessem 50% de seus ganhos na forma de divisas conversíveis. Um outro instrumento relevante na alteração do perfil exportador chinês foi o estabelecimento das agências de comércio exterior (foreign trade agencies). Era responsabilidade das agências representar, autorizar e assinar os acordos de importação e exportação. Uma função importante, porém pouco ressaltada, era a descentralização operacional relacionada ao comércio externo. Já ao final da década de 1980 era possível observar uma fase adiante da alteração do modus operandi comercial chinês. Segundo Mantzopoulos e Shen (2011), via as agências, o governo descentralizava e dava agilidade financeira ao fluxo comercial. Ainda, criava-se um link entre as fases de produção e distribuição, tornando mais dinâmica e menos burocrática a relação entre produção e exportação. E, por fim, liberava o governo central de 101 Naquelas cidades cuja produção/produtos tinha características exportadoras. 274 decisões micro, permitindo que este concentrasse na coordenação e regulação macro das atividades exportadores, principalmente. Em 1988, o comércio exterior, sob gestão do Ministery of Foreign Economic Relations and Trade (MOFERT) – o que posteriormente passaria a ser conhecido como Ministery of Foreign Trade and Economic Cooperation (MOFTEC) –, em decreto, tornou universal o sistema de agências de comércio por considerar que a descentralização e a universalização do programa traria um forte impacto no luxo comercial chinês. E de fato esse impacto foi observado. Percebe-se, nos dados abaixo, a evolução do luxo comercial chinês (Tabela 1). Esse luxo foi gradualmente crescendo, principalmente após o marco de 2001 e a aceitação da entrada chinesa à OMC. Tabela 1 – Fluxo total de comércio chinês (em US$ bilhões) Fluxo total de comércio chinês em US$ bi 1992 1998 2001 2009 2015 Importações 80,58 140,23 243,55 1.005,55 1.681,67 Exportações 84,94 183,80 266,09 1.201,64 2.281,85 Fonte: UN Comtrade Database, 2016. Vale ressaltar, para além dos mecanismos operacionais, a geograia do luxo comercial chinês. Atualmente a China constitui-se como principal parceiro comercial regional. Sua política de abertura comercial (open door policy) teve como primeiro foco seu entorno regional. Num curto período de tempo, a China já igurava como o principal parceiro 275 comercial do Japão. Em 2008, o montante negociado entre a China e os países do continente asiático atingiam 53,3% do total. Neste mesmo ano, 40% das exportações chinesas tinham como destino o continente asiático102. Em 2013, segunda a mesma fonte, o montante exportado pela China para este mesmo mercado já havia alcançado o volume de 43%. O mesmo roteiro serve para outros mercados. A China tem atualmente (dados de 2013/2014) ampla participação no mercado norte americano. Em 2013 a China foi responsável por 24% do total de exportações do continente norte americano. Os dados de 2014 indicam que o montante exportado permaneceu em 24% do total. O foco chinês desde a sua aceitação na OMC são os continentes africanos e latino-americano103. E nestes continentes os dados de participação chinesa não fogem do padrão. Contudo, é interessante retornar a uma questão apresentada no início deste tópico. O tipo de mercadoria exportada pela China para esses mercados tem relevância na análise do desenvolvimento alcançado pelo país. Como resultado de uma política de investimento direcionada estrategicamente pelos governos ao longo das últimas décadas, a China hoje é exportadora de produtos de maior valor agregado (Figura 1). Dados retirados do Observatório de Complexidade Econômica (<http://atlas.media.mit.edu/en/>). 103 Em 2001, a China exportava para a América do Sul e África, respectivamente, 1,5% e 1,4% do seu total de exportações. Em 2008, estes mesmos atores regionais recebiam respectivamente, 3,3% e 3,1% do montante exportado pela China para o mundo. Em 2013 e 2014, mantendo os espaços, 4,4% e 3,9% e 4,2% e 4,2%. Fonte: http://atlas.media.mit.edu/en/visualize/tree_map/hs92/export/ chn/show/all/2014/. 102 276 Figura 1 – Tipologia e participação de mercadorias no total exportado pela China 2001-2014 (em %) Fonte: The Observatory of Economic Complexity (2017) Observa-se que houve uma alteração na tipologia das mercadorias exportadas pela China. Ou seja, não foi apenas uma expansão comercial. Consistiu em uma expansão comercial com agregação de valor às mercadorias comercializadas. Não é de causar estranhamento o projeto de expansão e diversiicação de suas redes de transporte. Como se pode observar na Figura 2, o projeto logistico chinês congrega os objetivos de expandir e diversiicar suas redes de transporte e comerciais, com o objetivo de levar desenvolvimento a certas regiões do país que constituem metas de desenvolvimento local. Um exemplo é a região oeste da China, aqui exempliicada pela cidade de Chongqing. Com a consecução deste projeto, somado aos projetos de infraestrutura direcionados à África e América Latina, ambos com inanciamento chinês, o país expande sua 277 rede logistica, comercial e ainda garante investimentos em infraestrutura local interna em regiões foco dos projeto domésticos de desenvolvimento (como apresentado no primeiro tópico). Figura 2 – As redes de transporte terrestres e marítimas. Obs.: 1) em azul escuro duas linhas principais em direção à oeste – Chongqing é um dos novos polos de desenvolvimento regional; 2) em roxo está delimitado o projeto da ferrovia que fará a travessia pelo território chinês e a ligação com a Europa; 3) uma outra rota terrestre chega até o litoral da Tailândia; e 4) em cinza encontra-se demarcada a rota marítima. Fonte: IGSNRR, 2016. A observação do projeto das redes logísticas chinesas mostra um propósito de distribuição de mercadorias que atenderiam a todos os mercados continentais. Rotas terrestres e marítimas somadas atendem ao objetivo de integrar e desenvolver as regiões oeste e extremo noroeste104 ao centro dinâmico do desenvolvimento chinês. 104 O desenvolvimento e maior integração da região noroeste chinesa ainda atende ao objetivo de dirimir questões territoriais (inclusive de cunho separatista) e questões relativas à segurança territorial. Já rotas marítimas atendem às metas de defesa de espaços hoje palco de disputas com países da região. São exemplos o Estreito de Malaca 278 Simultaneamente, permitiriam o transporte de mercadorias (e passageiros) aos mercados europeu (passando pela Ásia Central) e africano. Projeto semelhante vem sendo constituído para o mercado latino-americano (uma estrutura de transporte ferroviário que corta o continente e um canal de passagem de embarcações que substituiria o Canal do Panamá são exemplos). Percebe-se, tomando por base as informações expostas, que o projeto chinês supera a manutenção da sua taxa de crescimento econômico. A afirmação aqui não atribui caráter secundário ao crescimento econômico. Análises já foram realizadas (LEITE, 2011; LYRIO, 2010) mostrando o quão relevante é para a manutenção do PCC no poder e para a estabilidade política chinesa manter um crescimento econômico em um nível de inclusão e acesso a bens e serviços pela população chinesa. Contudo, a inclusão e acesso ao consumo dá-se no nível da expansão da renda que tem, entre outras fontes, os ganhos gerados nos setores de produção para exportação e na política de investimentos do Estado chinês. Essas duas variáveis, juntas, respondem por parcela significativa do atual desenvolvimento chinês, sendo ambas foco da política participativa do governo no planejamento e coordenação das decisões e ações pública e privada. CONSIDERAÇÕES FINAIS O texto que ora se encerra teve como foco o atual estágio do desenvolvimento chinês à luz da observância do seu planejamento doméstico regional e da análise de duas variáveis chave para o desenvolvimento econômico e as ilhas artiiciais do Mar do Sul da China (CÁCERES, 2014; HAYTON, 2014). 279 chinês: o peril do investimento e a alteração no padrão do comércio externo chinês. Observou-se que (i) é parte do plano de ação chinês levar desenvolvimento para áreas de menor dinamismo e mais distantes dos polos de concentração de atividades industriais.A estratégia envolve o aprimoramento da atividade agrícola via mecanização e/ou industrialização do processo de produção agrária. Desenvolver áreas rurais é essencial para o controle populacional nas grandes cidades e para a manutenção de parcela da população em áreas rurais com elevação da sua renda auferida. Percebe que tal estratégia sugere ainda que o governo chinês está atento ao problema atual de desigualdade regional e de concentração de renda. E (ii) ao fazer uso eiciente do montante de capital acumulado (interno e na captação de capital estrangeiro) na forma de investimento doméstico e de projeção para mercados internacionais. Parte dessa estratégia é alcançada via processo de inserção internacional chinesa. No bojo desse movimento de inserção encontram-se a elevação do luxo comercial e a mudança qualitativa no tipo de mercadoria exportada e o luxo de investimentos chineses em mercados emergentes, tal como os continentes africano e latino-americano. Assim, pode-se observar que, para além da contabilidade do crescimento econômico chinês, há indicadores de desenvolvimento consideráveis a ser analisados ao longo das três décadas de crescimento econômico chinês. O país, ainda de peril agrário, tem obtido sucesso, a despeito de obstáculos consideráveis, atingindo níveis superiores de desenvolvimento. REFERÊNCIAS ADELMAN, Irma. Teorias do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Forense, 1972. 280 CÁCERES, S. B. China’s Strategic Interests in the South China Sea: Power and Resources. New York: Routledge, 2014. CHANG, Ha-Joon. Chutando a escada: estratégia de desenvolvimento em perspectiva histórica. São Paulo: UNESP, 2004. DAI, Erbiao. China’s inclusive development strategy and it’s efect on regional disparity. Journal of Chinese Economic and Business Studies, v. 14, n. 3: Structural Change, Industrial Upgrading and China’s Economic Transformation, p. 263-278, 2016. FURTADO, Celso. Dialética do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1964. FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. São Paulo: Círculo do Livro, 1974. GALLAGHER, Kevin. The China Triangle: Latin America’s China Boom and the Fate of Washington Consensus. 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Professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas, líder do Grupo de Pesquisa sobre as potências médias, editor da Revista Estudos Internacionais e bolsista de produtividade de Pesquisa CNPQ – Nível 2. E-mail: javier.vadell@pucminas/javier.vadell@gmail.com Alexandre Cesar Cunha Leite Docente e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (PPGRI/UEPB). Docente do Programa de Pós-Graduação em Gestão Púbica e Cooperação Internacional da Universidade Federal da Paraíba (PGPCI/UFPB). Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Ásia Pacíico (GEPAP/UEPB/CNPq), pesquisador do Grupo de Pesquisa em Potências Médias (GPPM/PUCMINAS/ CNPq) e do Instituto de Estudos Ásia (IEA/UFPE). E-mail: alexccleite@gmail.com Aline Regina Alves Martins Professora do curso de Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação e Ciência Política da Universidade Federal de Goiás (UFG). A autora agradece ao Núcleo de Estudos Globais (NEG) da UFG, em especial aos bolsistas de iniciação cientíica Isaque Elias Portilho 285 e Letícia Rosa pela ajuda na aquisição de dados e fontes. E-mail: alinemartins.ufg@gmail.com Giuseppe Lo Brutto PhD en Economía Política del Desarrollo. Profesor-investigador del Posgrado en Sociología del Instituto de Ciencias Sociales y Humanidades “Alfonso Vélez Pliego” (ICSyH) de la Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (BUAP). Miembro del Sistema Nacional de Investigadores de México (SNI). Coordinador del Grupo de Investigación en Cooperación Sur-Sur e Integraciones Regionales de la Red Espãola de Estudios del Desarrollo (GICSS-REEDES). E-mail: giuseloby@msn.com Henk Overbeek Professor Emérito de Relações Internacionais do Departamento de Ciência Política e Administração Pública, da Vrije Universiteit Amsterdam. E-mail: h.w.overbeek@vu.nl Li Xing Professor e diretor do Centro de Pesquisa em Desenvolvimento e Relações Internacionais da Aalborg University, Dinamarca. É também editor-chefe do Journal of China and International Relations. E-mail: xing@cgs.aau.dk Marcos Costa Lima Professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutor pela Unicamp e pós-doutorado pela Université Paris VIII – Villetaneuse. Coordena na UFPE o Instituto de Estudos da Ásia. E-mail: marcosfcostalima@gmail.com Mariana Burger Doutoranda em Relações Internacionais pela PUC-Minas. Mestre em Relações Internacionais pela Tsinghua University. Mestre em Direito Internacional pela UFMG. 286 Especialista em Global Afairs pela NYU. E-mail: burgermariana@gmail.com Pedro Neves Professor de Relações Internacionais do UNIBH. E-mail: neveshpedro@gmail.com Rafael Domínguez Director de la Cátedra de Cooperación Internacional y con Iberoamérica, Departamento de Economía, Universidad de Cantabria. ORCID: orcid.org/0000-0002-59380023. E-mail: rafael.dominguez@unican.es Timothy Shaw Professor da University of Massachusetts, Boston, professor emérito da University of London e professor da Aalborg University, Dinamarca. Editor da série de livros de International Political Economy da editora Palgrave Macmillan & Routledge. E-mail: timothy.shaw@umb.edu Yuan Ma Departamento de Ciência Política e Administração Pública, da Vrije Universiteit Amsterdam. E-mail: yuan. ma@vu.nl 287 Este livro foi impresso em papel Of-Set 75g, pela Paulinelli Serviços Gráicos Ltda.