MULHERES CIENTISTAS E OS TRÓPICOS.
UMA VISÃO PRELIMINAR
ANA CRISTINA MARTINS
Investigadora Auxiliar do Instituto de Investigação Científica Tropical.
ana.martins@iict.pt ; ana.c.martins@zonmail.pt
“Recognizing that science is inherently social, political, and ideological,
scientists would by necessity have to ask themselves
about the social, political, and ideological goals of their science.”
(Sheffield, 106, p. 201)
Resumo: A história das mulheres na ciência em Portugal impõe-se cada vez, sob influência da tradição anglosaxónica neste domínio. Urgindo desvelar nomes e ações da ciência tropical no feminino, cruzaremos história,
história da cultura e mentalidades, história da ciência e da técnica, sociologia da ciência e estudos de género,
como paradigma de análise de um tema cada vez mais caro para quem se debruça sobre temáticas congéneres.
Palavras-chave: Mulher; Ciência Tropical; História da Ciência; Portugal; Século XX.
Abstract: The history of women in science in Portugal must be increased under the influence of Anglo-Saxon
tradition in this field. Being necessary to disclose female names and practices in tropical science, we will
cross history, culture and history of mentalities, history of science and technology, sociology of science and
gender studies, as a paradigm for the analysis of a topic that is becoming more interesting for those studying
similar themes.
Keywords: Woman; Tropical science; History of science; Portugal; 20th century.
INÍCIO
Os estudos de género demandam uma visão global acrescida, considerando o contexto
em que assomaram, em finais de 50, inícios de 60, quando da segunda grande vaga
feminista. Um novel académico que interessou o psicanalista francês Jacques Lacan (19011981) e a filósofa pós-estruturalista norte-americana Judith Butler (1956-), empenhada em
interpretar as questões de género como produtos culturais (Sheffield, 2006). Franqueava-se,
assim, o caminho à afirmação e aumento desta área do saber, atraindo, primeira e
compreensivelmente, o universo feminino. Propagaram-se frentes de trabalho, arrancando
ao anonimato contornos ocultos ou mais desconhecidos, para recolocar os feitos femininos
1
no seu lugar histórico. Desmancharam-se, então, pacotes de manuscritos perdidos sob a
poeira do tempo e a indiferença dos homens, percorrendo papéis, em demanda do singular e
do notável, em nome de memórias que, de outro modo, permaneceriam obscurecidas.
Sobretudo, quando a palavra era a da ciência e da tecnologia, tradicionalmente dominadas
por homens e por eles pensadas, realizadas e fruídas por homens. Os social studies of
science tomaram, pois, novo fôlego, prostrando a fabulação da ciência como universal e
incontestável, evidenciando quanto as mulheres tinham ido além de colaboradoras,
protagonizando episódios insuspeitos (Nelson and Nelson, 1996). De ora em diante,
desdobraram-se artigos, biografias e conferências, em deleite pela historiografia francesa de
60 e crítica khuniana à a-historicidade popperiana do processo científico (Martins, 2012a;
Martins, 2012b).
MULHERES ZOÓLOGAS OU O INÍCIO DE UM PRO(CESSO)JETO HISTÓRICO
Diferentemente das botânica, geologia, paleontologia e arqueologia (Cohen, 2004), a
zoologia nunca foi, propriamente, aceite em termos sociais, no feminino. As razões seriam
múltiplas, mas o facto de lidar com a vida e a morte, quantas vezes mergulhadas em
sangue, terá ditado o seu afastamento deste domínio do saber, apesar do seu carácter
iminentemente prospetivo, de recolha e observação (Burek and Higgs, 2007, p. 131).
Centrada na colheita de animais, a investigação zoológica coadunar-se-ia mais ao papel
atribuído, tradicionalmente, à mulher, na sua segunda etapa, executada em gabinete, onde o
rigor e a minúcia de procedimentos eram palavras de ordem, distinguindo-se na reunião de
informação sobre cada espécime e sua catalogação. Nada, ou muito pouco, comparável a
outras mulheres que marcaram algumas das ciências atrás enunciadas (Harris e
MacNamara, 1984), identificando, inventariando, categorizando (Sheffield, 2006, p. 64) e
acondicionando exemplares colhidos, enquanto ilustravam, quantas vezes, edições de seus
maridos (Rossiter, 1982, p. 393), associando-lhe a atividade da tradução e da docência
básica (Martin, 2011, p. 12).
Mas, tudo, ou quase tudo realizado por estas mulheres permaneceu no anonimato, na
incerteza, nos bastidores. Com efeito, o conhecimento sobre os seus contributos científicos
escasseou durante demasiado tempo. Excessivamente, por ser parte de um todo
enriquecedor de uma história comum, e não apenas a da ciência e tecnologia. Conhecer os
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seus nomes, ações e cooperações, significa enriquecermos saberes acerca da sociedade, da
cultura e das mentalidades dos tempos e dos espaços em que se moveram. Felizmente, o
cenário historiográfico ocidental das últimas décadas tem sobrepujado esta insuficiência,
realistando mulheres dedicadas às ciências que abraçaram quando jovens.
Em Portugal, estamos a dar, ainda, os primeiros passos nesta direção. Não que o país
seja vazio de curiosidade ou de experiências que visem o mesmo objetivo deste universo de
historiadores iniciado pelo olhar anglo-saxónico. Pelo contrário, várias ações têm sido
concretizadas no sentido de analisar o papel da mulher na sociedade portuguesa. Mormente,
na viragem para o século XX, quando o pensamento republicano acalentou tantas
esperanças quanto à conquista de direitos proclamados e exigidos pelo medrante
movimento sufragista que tocou, de igual modo, as faldas do sentir feminista nacional.
Sucede, no entanto, que a maioria dos estudos pioneiros levados a efeito entre nós, neste
quadrante académico, privilegiou o lado educador e assistencial da mulher portuguesa,
numa mimetização, mesmo que inconsciente, das atribuições que lhe foram sendo
secularmente impostas por um registo judaico-cristão. Mas, os últimos anos têm rasgado
novas perspetivas nos estudos das mulheres. Desses novos horizontes, ressaltam os
relativos à história da ciência e da técnica, permitindo controverter preconceções quanto à
contribuição diminuta e circunstancial na produção de conhecimento científico.
Nomeadamente, quando o olhar se centra nos finais de Oitocentos, primeiras décadas de
Novecentos. Como em quase tudo, tudo parecia ter sido moldado por homens, por serem
deles os discursos prevalecentes a cada instante significativo do desenrolar dos
acontecimentos. Urge, por conseguinte, vocalizar sons emudecidos por preceitos oficiosos,
tomados como garante de uma determinada ordem social, sonorizando saberes, quereres e
fazeres há muito esquecidos pela voragem impiedosa do tempo, bastando, para tal, folhear
revistas da especialidade, programas e atas de encontros científicos, há muito, realizados
para reiterarmos a sua presença ativa e produtiva1.
O momento de principiar um projeto específico sobre mulheres na ciência em Portugal
é, precisamente, o atual. Porque se desdobram investigações sobre a história e filosofia da
ciência e da técnica entre nós; porque se multiplicam estudos sobre mulheres nos mais
1
Caso do Bulletin de la Société Portugaise des Scicenes Naturelles, em cuja edição de 1922-1924,
encontramos, por exemplo, os nomes das zoólogas Josima Lima Ribeiro e Maria Josefina Varela da Costa.
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diversos campos de atuação; porque os contributos de mulheres para a produção de
conhecimento ainda rareia entre nós; porque o IICT – Instituto de Investigação Científica
Tropical tem aprofundado o domínio da historiografia científica; deu-se início a um
programa de trabalhos nesta matéria, visando reconstituir, a longo prazo, a vida e obra das
mulheres que marcaram o saber tropical, por ser esta a missão do IICT e o seu “ADN”, no
quadro geral das instituições de ciência no país.
Neste longo processo, acompanharemos o caminho, por vezes, espinhoso atravessado
por nossas protagonistas até serem reconhecidas como cientistas, depois de ingressarem ou
montarem redes próprias de investigação, traçando, por vezes, um mundo (quase) colateral
que as declarasse nas áreas selecionadas individualmente. Testemunharemos quanto se
esforçaram, em muitos casos, bastante mais do que os seus pares masculinos, para que os
mesmos saberes e competências lhes fossem reconhecidos. Confirmaremos, de igual modo,
um denominador (quase) comum a muitas delas: o partilharem a vida com quem dirigia as
missões e os centros de investigação onde carimbaram os seus nomes para a posteridade,
num exemplo de como, apesar dos esforços pessoais, era, ainda, por via do casamento que
se impunham como cientistas. Pelo menos, numa fase inicial das suas carreiras. Mas,
mesmo quando conseguiam libertar-se destas malhas mais estreitas, procurando, com
perseverança e competência, garantir a liberdade científica almejada, sacrificavam a vida
familiar numa sociedade adversa a uma opção congénere (Rayner-Canham, 2008). Cenário
protagonizado, ao mesmo tempo que sobrepujado, por Marie Curie (1867-1934) (Ogilvie,
2004), quando as teorias freudianas desencarceravam e espartilhavam, antagonicamente,
anelos e rotinas femininas (Fausto-Sterling, 1985).
A JUNTA DAS MISSÕES GEOGRÁFICAS E DE INVESTIGAÇÕES COLONIAIS:
UM BREVÍSSIMO OLHAR2
Fundada em 1936, no âmbito do Ministério das Colónias (MC), a Junta das Missões
Geográficas e de Investigações Coloniais (JMGIC) caracterizava um longo período de
trabalhos e discussões iniciado em 1875, com a criação da Sociedade de Geografia de
Lisboa. Portugal agitava-se, então, num contexto europeu oposto à administração de seus
2
Assunto analisado parcialmente em: MARTINS, Ana Cristina, Mulheres cientistas e os Trópicos:
(in)visibilidades da primeira metade do Novecentos português, Atas do Congresso Internacional Espaços e
Atores da Ciência em Portugal (sécs. XVIII-XX). Lisboa: FCSH, 2012 (no prelo).
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territórios ultramarinos. Em particular, Angola e Moçambique, ambicionados por
engrandecidos impérios industriais e comerciais, provocando uma política interna colonial
regeneradora. Seguiram-se, por conseguinte, as comissões Central Permanente de
Geografia (1876), agregada ao Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar; Central de
Geografia (1880) e de Cartografia (CC) (1883). Designadas a (re)conhecer holisticamente
as geografias de tão distantes domínios, (re)afizeram-se às agendas deliberadas a cada
passo, segundo prioridades firmadas, a primeira das quais a (re)definição fronteiriça
(Martins, 2010b).
Abarcada pela agenda republicana, a CC passou a órgão consultivo da 6.ª Repartição
da Secretaria das Colónias, até transitar para a Direção dos Serviços Diplomáticos,
Geográficos e de Marinha, pela reforma do MC (1919), num avigoramento do processo de
demarcação das fronteiras coloniais. Avocava-se, assim, o interesse político da investigação
científica articulada. Em concreto, num panorama internacional inverso da República
portuguesa. A reforma da administração central Ultramarina (1920) incorporou-a na
repartição dos Estudos Geográficos (EG) da Direção Técnica do Fomento, pertencente à
Direção-geral dos Serviços Centrais da Secretaria do MC. Manteve, todavia, as prévias
constituição e funções (1893 e 1902), somadas (1924) aos recursos dos EG e saberes
universitários. Solvendo-se politicamente, amoldava-se a investigação científica nas
colónias como inextrincável do incremento e asseveração do país. Agendaram-se, por isso,
conferências, dando-se à estampa opúsculos condenando o letargo governamental, saídos
da pena de autoridades, como o geólogo coimbrão Anselmo Ferraz de Carvalho (18781955), o engenheiro silvicultor Raul Guardado, o veterinário Cristiano Sheppard Cruz
(1892-1951) e o botânico, também de Coimbra, Luís W. Carrisso (1886-1937). Em
conjunto, acautelavam o dever de conhecer as colónias a partir de elementos recolhidos em
missões orientadas por especialistas que minguavam entre nós. Somente, assim, se nortearia
a política colonial pela necessidade de rentabilizar os territórios de além-mar.
Conjuntamente a vozes tão peritas, quanto estas, as exposições de temário colonial e a
premência de autonomizar, económica e financeiramente, geografias administradas por
Lisboa, persuadiram o Governo a fundar a JMGIC. Mas, o seu historial não foi tão linear
como se previa e ambicionava. Conseguiu, porém, adaptar-se às circunstâncias,
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aperfeiçoando sempre que as ânsias internacionais constrangiam o país a inovar o seu
relacionamento com as colónias.
Neste quadro mais abrangente da produção científica ao serviço de uma determinada
política colonial, ainda que procurando, sempre, conciliar ciência pura e ciência de
aplicação prática, a zoologia assomou como área estruturante, como o eram outras, a
exemplo da botânica, geologia e antropologia. Agora que as demarcações fronteiriças
estavam, basicamente, cumpridas, havia que passar à segunda fase de conhecimento que
permitisse ocupar, em definitivo, as colónias, alicerçando-a na ciência. Perante esta nova
premência, a zoologia tinha, como as demais áreas do saber, de ultrapassar o lugar
secundário que ocupava face à premência de (re)delimitar fronteiras basilares à
administração colonial e presença militar. Fora, é certo, contemplada em programas
anteriores. Disso nos dá testemunho o “Questionário para as Autoridades Administrativas”
(1897), da responsabilidade da CC, destinado a recolher informação diversificada,
incluindo faunística. Instrução a incluir (1912) nas diversas explorações científicas
propostas pela SGL enquanto esteios do conhecimento fulcral a uma agenda colonial
concertada, constituindo, para o efeito, no seu seio, uma Comissão Especial de Estudo dos
Problemas Coloniais.
Dividida em subcomissões, de acordo com as áreas científicas, esta Comissão entendia
que as Explorações Botânicas e Zoológicas deviam estudar, detalhadamente, na metrópole,
a flora e a fauna dos territórios de além-mar, estabelecendo, para o efeito, normas de
coletar, acondicionar e enviar os espécimes para Lisboa. Mas, se os intuitos económicos
eram, então, já evidentes, foram-no ainda mais quando da publicação do Plano da Junta das
Missões Geográficas e de Investigações Coloniais (1945), ao definir objetivos muito
precisos neste âmbito, ancorando-os na investigação científica, atentos que estariam ao teor
do African Research Survey (1929), projeto levado a efeito nos anos 30 para averiguar
formas interdisciplinares de aplicar a ciência aos problemas identificados no continente
africano (Tilley, 2011), tão importante num contexto de, ainda, pós-guerra e de crash novaiorquino. Procurando cotejar a ciência nos trópicos portugueses a parâmetros mundiais e
principiando pelos estudos do solo, o Plano sublinhava a relevância da zoologia e botânica
para aferir potencialidades várias, incluindo agrícolas, antes de elencar os saberes
proporcionados pelas ciências humanas e sociais, definindo Moçambique, Angola e a
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Guiné como as grandes prioridades do momento. Não bastava, por conseguinte, ocupar os
territórios ultramarinos; urgia desenvolvê-los a partir do profundo conhecimento científico
carreado sobre os mesmos (Martins, 2011).
Mais do que favorável, o contexto político nacional e internacional exigia uma
estrutura científica modelar. Assim se entende melhor o surgimento de centros específicos
de investigação no quadro da JMGIC. Similar, em termos funcionais, a museus de história
natural existentes além-fronteiras e baseando-se no lisboeta, o Centro de Zoologia (CZ) da
JMGIC concentrou-se, de início, na inventariação da biodiversidade dos territórios a
explorar, achando-se, para o efeito, na taxonomia, pelo que parte significativa dos seus
investigadores eram sistematas especializados. Compreende-se, pois, a ausência, quase
total, à época, de publicações resultantes de análises comparativas de materiais colhidos
noutros territórios. Particularidade ultrapassada, gradualmente, sobretudo graças à forte
ligação de Fernando Frade Viegas da Costa (1898-1983) ao Jardim Zoológico de Lisboa,
valendo-lhe a observação de animais vivos (conquanto em cativeiro) e as primeiras
investigações em áreas de aplicação, como a parasitologia, interligando ciência pura e
ciência aplicada mediante procedimentos taxonómicos (Pinheiro, 2010).
AMÉLIA VAZ DUARTE BACELAR. UMA MULHER NA ZOOLOGIA DA JMGIC
Desde o início, que a JMGIC acolheu mulheres cientistas citadas pela sua proficiência
científica e técnica. Apesar isso, tem perdurado um mutismo atroador acerca do seu
trabalho. Provavelmente, pelo papel iminentemente maternal assentido pelo Estado Novo à
mulher. Por isso, também, despontavam enquanto consortes de investigadores, coletores e
preparadores, cujo saber reunido a seu lado provaria, em pleno, o seu enquadramento no
novo organismo governamental. Mas, aos poucos, houve quem, de entre estas pioneiras,
fizesse vingar os seus nomes, animadas por seus maridos que lhes abriam portas à produção
científica, após concluírem os seus percursos universitários em Coimbra e, mais tarde, em
Lisboa e no Porto. Ainda que receosamente, algo mudava neste âmbito, possivelmente em
razão, também, do republicanismo inquieto desde finais de Oitocentos.
Entre as primeiras colaboradoras de estudos sobre a África portuguesa, constavam,
precisamente, amadoras e especialistas em zoologia e botânica, duas áreas prioritárias para
os desígnios coloniais do regime. Mas, se a botânica servia de base afirmativa de mulheres
na ciência, por ser um exercício socialmente mais admissível, a zoologia não o era. Pelo
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menos, por enquanto. Por isso, também, se tornava, ainda, surpreendente que uma mulher
se especializasse em zoologia, deslocando-se, efetivamente, ao terreno, não se
circunscrevendo às quatro paredes de um gabinete de trabalho. Algumas destas primeiras
licenciadas em zoologia acabaram por escrever os seus cognomes em anais científicos. No
início, contudo, das suas carreiras, alcançaram-no mercê do apoio dos seus maridos. Foi o
caso de Amélia Vaz Duarte Bacelar (1890-1976).
Com o curso de Ciências Histórico-Naturais da Faculdade de Ciências da Universidade
de Lisboa (FCUL), Amélia Bacelar entrou, como Naturalista, no quadro do Museu
Zoológico e Antropológico (MZA3) (Museu Bocage), anexo àquele estabelecimento de
ensino superior, num momento em que poucas eram as mulheres a laborar no seu interior.
Teve, aí, oportunidade de observar e trabalhar coleções procedentes do Real Museu da
Ajuda (1858), com as quais se compunha parte expressiva dos gabinetes de História Natural
existentes na antiga Escola Politécnica,
em cujas instalações desenrolavam os
seus dias. Entre a multiplicidade destas
coleções, destacavam-se as colhidas, entre outros, por José Alberto de Oliveira Anchieta
(1832-1897), J. Bethencourt Ferreira (1866-?) e Albert Monard (1886-1952), estudadas,
agora, por alguns dos seus sucessores. Destes, a própria Amélia Bacelar, nomeadamente ao
publicar Aracnídeos portugueses, precedido de outros trabalhos seus:
Era meu desejo […] encetar a publicação dos Aracnídios Portuguêses com um catálogo que encerrasse
todas as espécies descritas ou citadas até então de Portugal. // […] não é certamente completo, mas
espero aperfeiçoá-lo […] , com o que se me for deparando, e o auxilio de todos quantos, interessados
pelas nossas publicações precedentes, nos têm aplanado dificuldades e fornecido elementos de real valor
(Bacelar, 1928, p. 170)
Os interessados pelo seu labor não eram individualidades de pouca relevância. Antes
pelo contrário. O que, numa primeira abordagem, nos faz crer numa inteligente rede de
conhecimentos que soube integrar e tecer, ao mesmo tempo que o apreço que detinham
sobre os resultados que cumulava. Entre eles, encontramos o médico e naturalista Artur
Ricardo Jorge (1886-1975), diretor do Museu Bocage; Bernardo Aires, diretor do Museu
Zoológico da Universidade de Coimbra; Augusto Nobre (1865-1946), diretor do Museu
Zoológico da Universidade do Porto; o poderoso histologista e fisiologista Marck Anahory
3
Secção Zoológica e Antropológica do Museu Nacional de História Natural.
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Athias (1875-1946), diretor do Instituto de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Lisboa,
etc; além da especialista alemã em aracnídeos, Maria Dahl (1872-1972), da Universidade
de Kiel, e Domènec Ventalló, do Museu de História Natural de Barcelona.
Independentemente destes dados, retirados dos seus próprios escritos, sabemos ainda
pouco acerca do seu percurso até abraçar missões zoológicas traçadas pela JMGIC,
enquanto prosseguia a investigação referente a Portugal continental, incluindo ilhas
autónomas. Podemos, no entanto, começar pela própria titulação “Naturalista”, ao perpetuar
um sentido anterior da prática zoológica e de ciências conviventes, enquadrado no conceito
de História Natural, ainda significativamente centrado no estudo morfológico e filogénico,
apesar do interesse crescente pela experimentação que dominaria a investigação. Em rigor,
tratava-se de um termo Sete e Oitocentista bem presente na primeira metade de
Novecentos, possivelmente em razão da coeva ideia assaz abrangente de zoologia. Não
surpreende, portanto, que, de um modo geral, as primeiras zoólogas fossem identificadas
como ”biologists, naturalists, or specimen collectors and museum curators.” (Wayne, 201,
p. 174); estas últimas, por maior consentaneidade à sua presumida feminilidade.
Conhecemos, no entanto, o suficiente da obra de Amélia Bacelar para intuir que as suas
opções académicas terão sido concretizadas graças a um apoio familiar ainda inusual na
nossa sociedade de então, mormente por se tratar de um ambiente ditado por fortes
tradições monárquicas que pouco se coadunariam a uma feminilidade submergida em
labores científicos. Principalmente zoológicos. Exigindo (re)aberturas corpóreas e lidando
de perto com a vida e a morte, a zoologia entendia-se como foro (quase) exclusivo do
homem, ancestralmente acostumado a abeirar-se do fim existencial de cada um dos seus
antepassados, na ânsia de (sobre)viver a contendas militares e fustigações naturais. Fatores
que ensombraram sempre o quotidiano de suas ligações avoengas, enquanto fios condutores
de memórias a manter para perpetuar os seus próprios seres, sentires e fazeres.
Não nos equivocaremos, na totalidade, ao interpretar Amélia Bacelar como
representante de outras mulheres cientistas produzindo, não na experimentação, mas na
quantificação, executando tarefas monótonas, porém essenciais, como a classificação,
acondicionamento e exposição de espécimes. Por isso, também, e porquanto
(presumidamente) coadunável ao espírito feminino, lhes atribuíam funções museológicas,
entendendo-se, por conseguinte, a sua expressiva representatividade na botânica, zoologia
9
(embora menos) e antropologia, por serem áreas mais compatíveis a este cenário moldado
por seus pares homens (Kass-Simon and Farnes, 1993: 107). Mais do que isso, eram cargos
considerados intelectualmente menos exigentes, donde executáveis com maior destreza por
quem, na ótica masculina, seria menos apto a teorizações e experimentações (Kass-Simon
and Farnes, 1993: 252). Mas, estes lugares ocupados, de modo (quase) esmagador, por
mulheres, significaria, tão-só, serem os que lhe entreabriam as portas da ciência, de modo
mais célere e consensual. Não obstante, o material reunido por nós até ao momento, faz-nos
entrever uma Amélia Bacelar pouco enquadrada neste paradigma. Com efeito, o gabinete
não devia satisfazê-la em pleno, por vermo-la em missões zoológicas no terreno e na
primeira linha quando a palavra de ordem era a deslocação a África. Neste sentido,
diferenciava-se de outras mulheres que, investigando, também, no quadro da JMGIC, nunca
viajaram ao mundo subsaariano, por ele deambulando através de materiais colhidos por
outrem. Uma das explicações para este caso algo incomum no panorama científico nacional
poderá residir, contudo, no facto de ter casado com um zoólogo, sendo que a história da
ciência nos fornece múltiplos exemplos de zoólogos preferindo colegas para suas
companheiras (Rossiter, 1984, p. 393), provavelmente pelas exigências de carreira inerentes
que seriam, assim, compreendidas e cumpridas com maior facilidade.
Com efeito, Fernando Frade, a quem Amélia Bacelar terá devido parte do seu percurso
numa ciência tão cerrada, à componente feminina, provinha de uma forte tradição familiar
na zoologia, na medida em que os Conservadores dos Museus Botânico e Zoológico (=
Bocage) (1858) eram seus tios. Terminando, como Amélia Bacelar, o Curso de Ciências
Histórico-Naturais (1916-1921), FCUL, foi nomeado (1924), também ele, e por concurso,
Naturalista daquele mesmo Museu, ao mesmo tempo que colaborava com o Jardim
Zoológico de Lisboa (1884) e lecionava Zoologia e Antropologia, uma conjugação de
saberes herdada de Oitocentos quanto ao entendimento do lugar do homem na Natureza.
Início auspicioso, confirmado pela obra que deixou, de reconhecimento nacional e
internacional, valendo-lhe a direção da prestigiada Sociedade Portuguesa de Ciências
Naturais; a nomeação para vogal da JMGIC (1940) (Rodrigues, 2010); a direção do
respetivo CZ, fundado em 1948, na esteira da primeira grande reformulação interna da
JMGIC. Assim se reiterava o prestígio académico de alguém que era também membro da
(já) incontornável Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, enquanto participava
10
em encontros da maior relevância, como o I Congresso Nacional de Ciências Naturais e o
XII Congresso Internacional de Zoologia, patrocinado pelo Instituto para a Alta Cultura
(1936-1952).
Amélia Bacelar dispunha, por conseguinte, das condições essenciais a um trajeto
promissor na zoologia. Assim permitissem o seu saber e empenho, demonstrados, ademais,
na missão de estudo efetuada em 1938, patrocinada pelo IAC, ao British Museum, às
Linnean Society e Royal Society, assim com ao Musée National d’Histoire Naturelle de
Paris (Rollo et al., 2012, p. 137). A vontade, essa, parecia ilimitada perante a possibilidade
de continuar a colaborar com o seu marido, após experiências cumuladas por ambos no
Museu Bocage. Sendo F. Frade vogal da JMGIC, o Ministro das Colónias, Francisco José
Vieira Machado (1898-1972), pretendeu (1944) nomeá-la Adjunta da Missão Zoológica da
Guiné; a Amélia Bacelar, Naturalista do Museu Zoológico e Antropológico da FCUL
(IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 1, 7.07.1944). A sua designação coincidia, por
exemplo, com a contratação, no mesmo ano, da botânica Ester Pereira de Sousa (1907-?)
para estudar o material botânico colhido pela 1.ª Missão Zoológica da Guiné, numa
demonstração mais de como os trabalhos eram desejavelmente conduzidos em paralelo,
quando não em simultâneo, de modo a rentabilizar recursos materiais e a obter um quadro
holístico das mesmas regiões4. Aceitando, aparentemente, sem hesitações e restrições,
Amélia Bacelar declarou, então, como qualquer outro funcionário público, pela sua “honra
que estou integrada na actual Constituição Política da República Portuguesa, com activo
repudio do comunismo e de todas as ideias subversivas, nos termos do decreto n.º 27.003”
(IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 3, 8.08.1944).
Tratava-se da primeira grande missão zoológica da JMGIC a África, no cumprimento
dos objetivos contidos na criação daquele mesmo organismo, perspetivando a ocupação
efetiva do Ultramar, escorada no conhecimento profundo das suas existências, valências e
potencialidades, assim como no 15.º do Decreto-lei n.º 33.613, de 17 de Abril de 1944, o
4
Mendes Correia (1888-1960) testemunha quanto se procurava capitalizar recursos materiais e humanos
das missões, fazendo, sempre que possível e desejável, coincidir, no terreno, investigadores de diferentes
especialidades: “Almoçamos em Mansôa [entre os Fulas] na casa do Administrador Sr. Bull, que esteve na
Escola Superior Colonial em Lisboa e me mostra as Raças do Império. São também convivas o Sr. Dr. Frade,
da Faculdade de Ciências de Lisboa e chefe da missão zoológica, e a sua colaboradora e esposa, D. Amélia
Bacelar Frade. Contam-se imensas coisas dos trabalhos das duas missões.” (Correia, 1947: 97); “Em Mansôa,
despedimo-nos do administrador sr. Bull e do sr. Dr. Frade e esposa, da missão zoológica, com os quais várias
vezes nos havíamos encontrado. No caminho encontrámos duas brigadas da missão geográfica em trabalhos
também na Guiné.” (Id., Ibid: 108)
11
qual mandava criar Missões Zoológicas às Colónias. Faziam, ainda, parte da Missão
Bernardo Coelho Gonçalves, Naturalista da Estação de Biologia Marítima (Aquário Vasco
da Gama, Ministério da Marinha), e Pedro Ferreira Marques, Coletor do MZA da FCUL,
adjuntos e ajudantes de trabalhos de preparação, devidamente dispensados, para o efeito,
pelas respetivas tutelas ministeriais (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 5,
12.09.1944). Parecia que nem a 2.ª Guerra Mundial adiava o trabalho, à semelhança,
ademais, do que sucedera com colheitas botânicas em Moçambique (Mendonça e Sousa,
1968, p. 117-191).
Regressando à metrópole em meados de 1945, a 2.ª campanha desta Missão não
terminara, todavia, o trabalho, pois as colheitas continuavam, por mão de pessoal da
Colónia devidamente industriado, para o efeito, pela Missão. Era, no entanto, razão
suficiente para que o, então, presidente da JMGIC, o geólogo e antigo Ministro do
Comércio e Comunicações5, José Bacelar Bebiano (1894-1967), advogasse o retorno, à
Guiné, do Chefe da Missão, F. Frade, e do Adjunto da mesma, a Naturalista do Museu
Bocage, Amélia Bacelar, o que sucedeu em novembro e dezembro desse mesmo ano
(IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 13, 9.08.1945). Testemunho único e na
primeira pessoa, o relatório da Missão, assinado por Amélia Bacelar e Bernardo Gonçalves,
extravasa o estrito universo da zoologia ao agregar observações botânicas, etnográficas e
antropológicas, detalhando os trabalhos diários, ressaindo a investigação dos ecossistemas
das espécies elencadas na Convenção de Londres, relativa à proteção da fauna e da flora em
estado selvagem (1933)6 (Pinheiro, 2010), no seguimento da qual o Governo aprovou a
Proteção da Flora e Fauna Africanas, a aplicar na Guiné Portuguesa e restantes colónias.
Prosseguindo no estudo dos materiais colhidos na Guiné, Amélia Bacelar foi
transferida (Abril de 1948) para a Missão Zoológica a Moçambique (MZM), financiada
com verba extraída do Fundo de Fomento (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 31,
[?].04.1948) (decreto n.º 34 446, de 1947). Ademais, tal sucedeu imediatamente a seguir à
fundação do CZ, continuando o enfoque assentado naquela antiga Província Ultramarina,
desde os primórdios da CC. Posição compreensível face ao determinado pela comissão do
plano de sua valorização económica, assente numa abordagem holística das suas valências.
5
6
De 18 de abril a 11 de junho e de 10 a 19 de outubro de 1928.
Na esteira do I Congresso Internacional para proteção da Natureza, realizado em Paris (1923).
12
Aceitava-se, pois, que um conhecimento mais profundo da riqueza zoológica dessa
geografia africana contribuiria para o desenvolvimento das suas gentes e, por inerência, do
império a firmar (Martins, 2010a), no mesmo ano em que a União Internacional para a
Proteção da Natureza era constituída. Enquanto isso, e urgindo estreitar colaboração com
outras missões, mormente de agricultura, silvicultura, botânica e pecuária, para valorizar o
território, as Missões deviam atuar nas mesmas áreas, a fim de “prospetar a fauna
entomológica das culturas agrícolas e florestais, analisar a ecologia das pastagens e a fauna
para estudos de proteção, e as lagoas do litoral a sul do Save.” (Pinheiro, 2010, p. 141).
Entretanto, a integração de Amélia Bacelar nestas Missões começou a desaprouver à
tutela do MZA. Com efeito, o próprio diretor geral do Ensino Superior e das Belas Artes,
Mário de Andrade (1912-?), dirigiu-se ao colega responsável pelo Ministério das Colónias,
demonstrando-lhe o seu profundo descontentamento com a situação criada, ansiando
ultrapassá-la pelo que prejudicava os serviços do museu a cujo quadro Amélia Bacelar
pertencia. Relembrava, por isso, tê-la dispensado,
na convicção de que tal missão não importaria o afastamento da dita Naturalista, do serviço
deste Museu, por prazo superior a um ano e, mesmo assim, de que os benefícios para o Museu
compensariam os prejuízos. // A missão prolongou-se desde então até hoje (de Missão
Zoológica à Guiné Portuguesa passou a Missão Zoológica de Moçambique), a despeito da
minha insistência reiterada, junto da comissionada, por que voltasse ao serviço do Museu,
sempre na esperança que esse regresso se daria em breve (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º
207. Doc. 4, 13.05.1949)
O mais gravoso, porém, seria o facto de que “nenhum benefício adveio para este
Museu da participação da Naturalista nas referidas Missões.” (Ibid.). Neste entretanto,
chegara-lhe um ofício do MC, transcrevendo comunicação sobre o mesmo assunto, da
responsabilidade da Comissão Executiva da JMGIC. Nele se esclarecia passar Amélia
Bacelar a auferir, a partir de 1 de Abril de 1949, de vencimento retirado do orçamento da
MZM. Perante este dado, M. de Andrade não deixou de interpretar tal resolução como
significando um afastamento que entrou já no seu 5.º ano, “da dita Naturalista, do serviço
deste Museu, por prazo indeterminado, sine die.” (Ibid.). Ora,
Como o afastamento da dita Naturalista causa graves prejuízos aos serviços deste Museu
(Secção Zoológica e Antropológica do Museu Nacional de História Natural), de efeitos tanto
mais sensíveis quanto é certo que o quadro dos Naturalistas deste Museu é extremamente
reduzido, tenho a honra de vir solicitar de V. Ex.ª se digne obter das instancias competentes
13
que a referida Naturalista, no caso de não regressar ao serviço deste Museu, seja colocada em
situação que permita promover o preenchimento do lugar de uma maneira estável e eficaz
(Ibid.)
Assim se pretendia distanciar, em definitivo, Amélia Bacelar do quadro do Museu ao
qual concernia. Mas, assim, também se almejava conter o créscimo de um Ministério que
parecia sobrepor-se a interesses de outrens, numa evidência do relevo aditado do programa
científico na agenda colonial do Estado Novo, ao mesmo tempo que se inferiam mal-estares
face a uma tutela assegurada por alguém da envergadura, estatuto e carisma de Teófilo
Duarte (1898-1958). Questionado sobre a matéria, F. Frade retorquiu superiormente, na
qualidade de diretor do CZ da JMGIC. Resposta que não terá sido difícil nem morosa de
redigir, considerando a proximidade da situação em causa:
Solicitada a indicar qual tem sido a sua colaboração no serviço a que pertence (Museu
Bocage), esclareceu que a situação de comissionada no Ministério das Colónias, desde 1944,
tomou parte em três campanhas de campo (2 na Guiné e 1 em Moçambique); e, nos intervalos
dessas campanhas, executou os respectivos trabalhos de gabinete, não deixando, no entanto,
embora legalmente dispensada do serviço, de frequentar o seu laboratório no Museu, para
elaboração de um estudo sobre Lepidópteros africanos, entregue ao Senhor Director do Museu
Bocage, para publicação, em Maio de 1948 antes de partir para a campanha de Moçambique.
Portanto, durante o período de comissionada, elaborou e contribuiu para as seguintes
publicações: // - Relatório da Missão Zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna
da Guiné Portuguesa” // - Lepidópteros africanos // Na continuação do referido estudo tem a
mesma Naturalista continuado a trabalhar no seu gabinete do Museu (Ibid.)
Perante esta exposição, parecia não haver substância de facto para as críticas desferidas
por M. de Andrade. Mas, possivelmente, antevendo um crescendo de animosidade e
interpelações, F. Frade defensou que “A situação actual do funcionário visado permite a sua
substituição interina no cargo de Naturalista do Museu, por período mais ou menos largo
conforme foi consentida a continuação da Comissão de serviço em que se encontra.“
(Ibid.). Não existindo, contudo, na legislação possibilidade de a colocar em situação estável
no MC, e sendo a sua colaboração imprescindível ao êxito dos trabalhos em curso na
JMGIC, o diretor do CZ propôs que a continuação da sua comissão de serviço fosse
autorizada por período não inferior a 5 anos, “durante o qual o seu lugar no Museu poderá
ser preenchido de modo eficaz.” (Ibid.). Não teve, porém, força suficiente para obstar à
exposição de M. de Andrade, tendo Amélia Bacelar regressado ao serviço do Museu, por
determinação do próprio Ministro das Colónias, que assim cedia aos argumentos do
responsável maior pelo quadro de pessoal ao qual pertencia a Naturalista (Ibid.). O que não
14
impediu que prosseguisse a colaborar com a Junta, agora já de Investigações do Ultramar
(JMGIU), mesmo que o fizesse de modo algo indireto, conciliando interesses de ambas as
instituições. Assim se entende que, em 1953, redigisse Algumas aranhas de Moçambique,
onde descortinamos boa parte do que seria o seu método de trabalho e probidade
intelectual, ao nomear quem a coadjuvava na investigação:
Embora desde há muito tempo tivesse delineado o presente trabalho, só agora chegou a
oportunidade de o aprontar para publicação, após as consultas bibliográficas e os confrontos
necessários no Laboratório (Vermes e Crustáceos) do Museu de História Natural de Paris,
onde passei boa parte das minhas férias trabalhando, graças às facilidades sempre
amavelmente concedidas pelo Prof. L. Fage7. À colaboração do Sr. J. Jesus devo a perfeita
apresentação dos desenhos que esbocei à câmara clara(Bacelar, 1955, p. 1. Nossos itálicos)
Por conseguinte, Amélia Bacelar não se limitava a fazer um levantamento exaustivo da
bibliografia existente sobre o tema trabalhado, como se preocupava, como demais pares, a
cotejar os espécimes estudados com outros existentes em espaços estrangeiros, a eles se
deslocando, para o efeito, e sempre que necessário, utilizando o período de férias a que
tinha direito. Tal era a sua entrega à ciência. Mas, os horizontes de África não a libertavam
por completo, independentemente das verdadeiras razões que lhe subjaziam. Recorrendo,
de novo, a dias de férias, Amélia Bacelar visitou (1954) a ilha de São Tomé para ampliar
as coleções dos nossos estudos, coincidindo com parte do tempo em que a Missão
Científica de São Tomé começara a prospetar (Bacelar, 1958, p. 47).
Em meados de Julho de 1955, Amélia Bacelar partiu de novo. Dessa feita, para
Moçambique, como Agregada da campanha desse ano da MZM (IICT/SSEA. Proc.
Individual n.º 207. Doc. 16, [?].07.1955). Surgia, pois, já não como “naturalista”, mas
como “agregada” ou “benévola” do CZ, com equiparação a bolseira do Instituto de Alta
Cultura (1952-1976), organismo responsável pela política cultural e de investigação
científica durante boa parte do Estado Novo, configurando-se o recurso, por excelência,
para quem procurasse investigar fora das malhas institucionais de primeira pertença. Dois
anos volvidos, pretendeu associar-se, em Angola, e a expensas próprias, ao grupo de
Estudos Agrícolas do Ultramar, dependentes do CZ. Juntava-se, por conseguinte, a outros
investigadores que, como Ester Pereira de Sousa, contribuíram, mesmo que fugazmente,
para o desenvolvimento de projetos neste âmbito, que ganhava relevância pelo auxílio
7
Louis Fage (1883-1964), aracnologista francês.
15
estimável concedido às economias provinciais mediante o progresso agrícola. A junção
entre ciência e economia era, pois, cada vez mais patente e avocada. Devidamente
autorizada, partiu no início de Julho de 1957, em Paquete da Companhia Colonial de
Navegação (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 17, 27.06.1957), beneficiando
apenas dos transportes naquela Província (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 16,
29.05.1958) e de despesas comportáveis pelo orçamento (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º
207. Doc. 16, 30.04.1959). Tudo, justificado com carência de especialistas a obter junto de
organismos, como o MZA. Entretanto, foi destas Brigadas de Estudos Agronómicos do
Ultramar (1958-1960) que brotou, por mão inicial do engenheiro-agrónomo Hélder José
Lains (1921-1984), a Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar (1960-1965), de
acordo, mais ou menos formal, com os Planos de Fomento (19538-1958 e 1959-1964) da
agricultura, energia hidráulica e indústrias de base. A ligação entre ciência e economia era,
sem dúvida, mais evidente e assumida.
Neste entrementes, deslocou-se, com a F. Frade, a Angola, por lhes interessar, há
muito, o seu estudo zoológico, “a que procedemos em Luso, parte do ano de 1958 e parte
em 1959, trazendo a Lisboa apenas uma meia dúzia, para cuja determinação se carecia de
exame comparativo e de consultas bibliográficas no Centro de Zoologia da Junta de
Investigações do Ultramar.” (Frade e Amélia, 1961, p. 117. Nossos itálicos); numa
comprovação, mais, da interseção (quase) permanente entre trabalhos executados no MZA
e no CZ.
Em 1963, o CZ passou a designar-se Missão de Estudos Zoológicos, autonomamente
da área científica e geográfica à qual se reportasse, agregando brigadas com desiderandos
próprios ou multidisciplinares. Nesta medida, os investigadores principiaram a deslocar-se
aos territórios ultramarinos a título individual ou em pequenas equipas, por períodos
bastante mais curtos, confiando parte substancial dos trabalhos a organismos locais,
passados que estavam vários anos sobre a criação dos institutos de Investigação Científica
de Angola e de Moçambique. De novo, surgiu Amélia Bacelar, como elemento basilar dos
8
Ano em que o então presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower (1890-1969) apresentou,
no discurso proferido na Assembleia Geral da ONU, o programa Átomos para a Paz, a primeira iniciativa
política de desenvolvimento – ao mesmo tempo que de controlo - da tecnologia nuclear para fins
(aparentemente) pacíficos. Iniciativa que colheu frutos no seio da comunidade científica internacional,
acolhendo Genebra, dois anos volvidos (1955), a Conferência sobre os Usos Pacíficos da Energia Atômica.
Deve-se, contudo, analisar estas diligências num quadro mais abrangente de estadística internacional,
justificativa da necessidade de demonstrar o potencial tecnológico e científico ocidental.
16
estudos a conduzir no terreno, perante a vasta experiência colhida nesses contextos tão
longínquos de Lisboa. Por isso, se requereu a sua junção à Missão, como testemunho de
quem, não sendo remunerado, continuava a realizar o seu trabalho com a mesma
responsabilidade, sendo favorecida somente com “o disposto nos artigos 30.º e 37.º do
decreto-lei n.º 35.395, assim como dos transportes nas Províncias Ultramarinas,
acompanhando nos seus deslocamentos o pessoal científico da Missão.” (IICT/SSEA. Proc.
Individual n.º 207. Doc. 16, 26.07.1963):
30. º : “Poderão ser admitidos como agregados os cientistas ou técnicos, especializados nos
trabalhos a empreender pelas missões, que o solicitem com o fim de adquirirem experiência de
investigação no ultramar. // Os agregados têm unicamente direito a passagens por conta do
Estado, mediante o compromisso de subordinarem a sua acção às determinações do chefe da
missão. // $2.º . A violação intencional ou culposa do compromisso prescrito no parágrafo
anterior importará a obrigação de restituir a importância das passagens concedidas. // Art.º 37.º
: Todo o pessoal que se encontre ao serviço das missões terá direito, no ultramar, a
hospitalização, assistência médica e medicamentos nas mesmas condições em que o tiver o
funcionalismo público da colonia onde as missões se encontram operando (Ibid.)
ZOOLOGIA NO FEMININO,
ENQUANTO PARADIGMA DA MULHER NO SABER TROPICAL
A história da ciência no feminino, ou das mulheres na ciência, potencia o
(re)conhecimento do papel de quem, por ser mulher, permaneceu no esquecimento, e cujas
causas exigem avaliação (Fox Keller, 1985). Afastando os reposteiros que pesaram sobre os
seus nomes, é possível e necessário divisá-las na vontade inquebrantável de escolher a sua
própria demanda, sacrificando, quantas vezes, aspetos pessoais. Tenacidade que lhes
permitiu romper o anonimato, integrando redes de conhecimentos fundamentais à
(sobre)vivência de seus projetos. Mas, nem sempre assim sucedeu com todas as
protagonistas. Muitas esmoreceram, abandonando carreiras, enquanto outras emudeceram
no fundo de baús e prateleiras empoeiradas, enaltecendo os seus pares masculinos.
As duas últimas décadas têm, felizmente, ultrapassado esta ignorância ou
desmerecimento, entrecruzando história, filosofia e sociologia da ciência com história das
mulheres para, em conjunto, (re)compor-se o (in)visível nesta atuação essencial à
humanidade. Aferem-se, por isso, ascendentes sociais, políticos, económicos, e outros mais,
na seleção de instituições de ensino frequentadas; de áreas e temas de investigação; do
objeto de estudo; de paradigmas e procedimentos; de validação de resultados; de
17
interpretação de dados e respetivas conclusões; de perspetivas para análises futuras. Assim
se totalizará um outro historial mais amplo: o da ocidentalidade murada no
desenvolvimento científico-tecnológico. Haverá, por conseguinte, que recuperar nomes e
feitos neste domínio, para que a história, a história da cultura e das mentalidades, e a
história da ciência e da tecnologia, possam ser preenchidas em pleno. Por isso, urge avançar
nesta busca, recompondo redes familiares; formações académicas; atividades e redes
profissionais; outputs científicos e legados intelectuais.
Amélia Bacelar é apenas um exemplo de mulheres cientistas que, seguras da sua
ciência e vontade, perseveraram, auxiliando nomes grados das suas próprias especialidades.
Não obstante, o tempo esqueceu-as; ou, antes, os homens olvidaram-nas. Mesmo quantas,
como Amélia Bacelar, não se limitaram a permanecer em Lisboa, catalogando e estudando
as coleções colhidas no além-mar. É tempo de recolocá-las nos respetivos cronogramas,
sobretudo de quem, como a nossa visada, somou deslocações a outros herbários, bibliotecas
e arquivos, a par de missões que lhe conferiram um conhecimento apreciável do terreno.
Amélia Bacelar que, como Ester Pereira de Sousa, nunca prescindiu de assinar o seu
apelido de solteira, como forma de se individualizar perante o marido, testemunha bem as
mulheres que vêm servindo de base ao projeto agora apresentado. No conjunto, este caso
faz prever uma fonte informativa a explorar, nela recolhendo nomes e ações capitais ao
historial completo destas Missões, reconhecendo-lhes contribuições para o Saber Tropical,
neste caso, zoológico. Resgatando, a par e passo, os seus nomes, tributá-las-emos nos
trabalhos concretizados acerca do além-mar. Alargaremos, deste modo, os estudos de
género enquanto parte indissociável da história da ciência, cultura e mentalidades, talhando
uma página mais do nosso projeto “Mulheres cientistas nos Trópicos”, a decorrer no IICT,
desde finais de 2011.
Lisboa, Primavera de 2012
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