ALESSANDRA CARREIRO BAPTISTA
ANÁLISE DA PAISAGEM E IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS SUSCETÍVEIS A
MOVIMENTOS DE MASSA NA APA PETRÓPOLIS – RJ: SUBSÍDIO AO
PLANEJAMENTO URBANO
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de PósGraduação Engenharia Civil para
obtenção do título de Magister
Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2005
ALESSANDRA CARREIRO BAPTISTA
ANÁLISE DA PAISAGEM E IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS SUSCETÍVEIS A
MOVIMENTOS DE MASSA NA APA PETRÓPOLIS – RJ: SUBSÍDIO AO
PLANEJAMENTO URBANO
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de PósGraduação em Engenharia Civil, para
obtenção do título de Magister
Scientiae.
APROVADA: 21 de fevereiro de 2005.
Prof. Carlos Ernesto G. Reynaud Schaefer
(Conselheiro)
Prof. Eduardo Antônio Gomes Marques
(Conselheiro)
Prof ª.Christianne de Lyra Nogueira
Prof. Dario Cardoso de Lima
Prof ª Maria Lúcia Calijuri
(Orientadora)
1
DEDICATÓRIA
Às minhas avós, Odete da Silva Carreiro (in memoriam) e Sebastiana
de Oliveira (in memoriam), pelos ensinamentos e pelo exemplo de vida.
DEDICO
Ao meu pai, João
À minha mãe, Maria
À minha irmã, Aline
Ao meu avô, Braz e a todos os meus tios e primos
Às minhas amigas, Karla e Andréia
Às minhas “nenenzinhas”, Roliça e Sativa
Aos meus “meninos”, Simon e Ravel
OFEREÇO
ii
AGRADECIMENTOS
A Deus, princípio de tudo.
À Universidade Federal de Viçosa e ao Departamento de Engenharia Civil, pela
oportunidade de realizar o Curso.
À muito querida e admirável Profª Maria Lúcia Calijuri, minha orientadora, exemplo de
dedicação e ética profissional, pela indicação e estímulo.
Aos conselheiros Carlos Ernesto G. R. Schaefer e Eduardo Marques, pela paciência,
amizade e compreensão.
Aos professores Dario Cardoso de Lima e Christianne de Lyra Nogueira, membros da
banca, pelas valiosas sugestões e contribuições.
Ao Engenheiro Laura de Simone Borma, por ceder, gentilmente, grande parte do
material utilizado neste trabalho.
À Prefeitura Municipal de Petrópolis, representada por Luís Cláudio, pelos
esclarecimentos e material cedido.
Aos meus amigos do SIGEO, André, Aníbal, Othávio, Pedro, Samuel, Sandra e
Wilson, pela motivação, além das importantes contribuições à realização deste
trabalho.
Aos amigos Engenheiros Agrimensores Rogério Mercandelle Santana e Ronaldo M.
dos Santos, pelo conhecimento do software ArcINFO a mim repassado.
Ao engenheiro Agrimensor, Karla de Souza Cabral, pela preciosa ajuda com o
software Spring, além da sua amizade e carinho.
Á minha estrela especial que ri, Andréia, pela amizade verdadeira, estaremos sempre
juntas.
Aos meus pais, meus maiores amores, pelo carinho e compreensão.
À Emília, presente de Deus em minha vida e a todos meus amigos, próximos ou
distantes.
Aos colegas do Programa de Pós-Graduação em engenharia Civil, pela troca de idéias
e de experiências;
Aos professores e funcionários do Departamento de Engenharia Civil da UFV, pelo
excelente convívio.
À Cristina, secretária do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, pelo apoio
administrativo e pela sua competência profissional.
À CAPES, pela concessão da bolsa de estudos.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho.
iii
BIOGRAFIA
ALESSANDRA CARREIRO BAPTISTA, filha de João Baptista e Maria Carreiro
Baptista, nasceu em 30 de agosto de 1975, na cidade de Nova Friburgo, RJ.
Em setembro de 2002, graduou-se em Engenharia de Agrimensura pela Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa – MG.
Em março de 2003, iniciou o Curso de Mestrado em Engenharia Civil, área de
concentração em Geotecnia Ambiental, pela Universidade Federal de Viçosa, Viçosa –
MG.
iv
CONTEÚDO
Página
LISTA DE QUADROS .................................................................................
viii
LISTA DE FIGURAS ...................................................................................
ix
RESUMO.....................................................................................................
xii
ABSTRACT .................................................................................................
xiii
INTRODUÇÃO GERAL ...............................................................................
1
CAPÍTULO 1 ...............................................................................................
3
CARACTERIZAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA NA APA PETRÓPOLIS ..
3
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................
3
1.1. Considerações gerais.......................................................................
1.2. A APA Petrópolis ..............................................................................
1.3. O crescimento da população e a expansão urbana .........................
3
4
7
2. MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................
11
2.1. Desenvolvimento da metodologia ....................................................
2.1.1. Seleção e aquisição de imagens................................................
2.1.2. Pré-processamento – correção geométrica ...............................
2.1.3. Definição das classes – legendas ..............................................
2.1.4. Análise das características das classes .....................................
2.1.5. Amostras significativas das classes a serem analisadas ...........
2.1.6. Aplicação da técnica de classificação ........................................
2.2. Classificação supervisionada – Algoritmo da Máxima
Verossimilhança ...............................................................................
11
12
12
13
13
13
13
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................
15
3.1. Análise dos resultados .....................................................................
3.2. Avaliação dos impactos ambientais causados pelo crescimento
urbano .............................................................................................
3.2.1. Ocupação das encostas e topos de morros ...............................
3.2.2. Cortes e aterros que comprometem a estabilidade do solo .......
3.2.3. Ocupação ao longo dos recursos hídricos .................................
3.2.4. Remoção da cobertura vegetal ..................................................
15
24
24
26
28
29
4. CONCLUSÕES .......................................................................................
35
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................
36
v
14
Página
CAPÍTULO 2 ...............................................................................................
37
SUSCETIBILIDADE DAS ÁREAS DE RISCO A MOVIMENTOS DE
MASSA NA APA PETRÓPOLIS..................................................................
37
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................
37
1.1. Considerações gerais.......................................................................
1.2. Agentes e causas dos movimentos de massa .................................
1.3. Localização da área de estudo ........................................................
37
38
42
2. MATERIAL E MÉTODOS........................................................................
45
2.1. Desenvolvimento da metodologia ....................................................
2.1.1. MDEHC – Modelo digital de elevação hidrograficamente
consistente..................................................................................
2.1.2. Carta de classes de declividades...............................................
2.1.3. Mapa de uso do solo X declividades..........................................
45
46
47
47
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..............................................................
48
3.1. Mapas temáticos ..............................................................................
48
4. CONCLUSÕES .......................................................................................
61
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................
63
CAPÍTULO 3 ...............................................................................................
65
ANÁLISE ESTRATÉGICA DE DECISÃO APLICADA À SELEÇÃO DE
ÁREAS PARA A EXPANSÃO URBANA .....................................................
65
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................
65
1.1. Considerações gerais.......................................................................
1.2. Organização espacial das cidades e os fatores que direcionam o
seu crescimento ...............................................................................
1.3. Localização da área de estudo ........................................................
65
67
70
2. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................
72
2.1. Desenvolvimento da metodologia ....................................................
2.1.1. Processo de análise ...................................................................
2.1.2. Descrição dos fatores.................................................................
2.1.2.1. Distância dos cursos d’água (F1) ........................................
2.1.2.2. Pedologia (F2) .....................................................................
2.1.2.3. Geologia (F3) ......................................................................
2.1.2.4. Geomorfologia (F4) .............................................................
2.1.2.5. Uso do solo (F5) ..................................................................
2.1.2.6. Zoneamento Ambiental (F6) ................................................
2.1.2.7. Classes de declividades (F7) ..............................................
2.1.2.8. Distância do sistema viário (F8) ..........................................
2.1.2.9. Distância das áreas urbanizadas (F9) .................................
73
74
74
76
76
78
78
79
81
82
82
82
vi
Página
2.1.3. Agregação dos fatores ...............................................................
82
2.1.4. Cenários finais............................................................................
84
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..............................................................
88
4. CONCLUSÕES .......................................................................................
91
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................
92
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................
94
vii
LISTA DE QUADROS
Página
CAPÍTULO 1
Quadro 1
Fluxograma das atividades .............................................................. 12
Quadro 2
Uso da terra na APA Petrópolis, para os anos de 1985, 2001 e
2004 ................................................................................................. 15
CAPÍTULO 2
Quadro 1
Agentes e causas dos escorregamentos ......................................... 40
Quadro 2
Fatores deflagradores dos movimentos de massa .......................... 42
Quadro 3
Distribuição das classes de declividades em toda extensão da
APA Petrópolis ................................................................................. 48
CAPÍTULO 3
Quadro 1
Restrições utilizadas nas análises ................................................... 73
Quadro 2
Fatores utilizados na análise. Funções fuzzy adotadas e seus
respectivos pontos de controle......................................................... 76
Quadro 3
Quadro contendo as classes de solo, as características do
relevo, da cobertura vegetal, pressão de uso antrópico e as
áreas com declividades até 2% sujeitas à inundações. O quadro
também apresenta o resultado do cruzamento entre todos os
temas e a adequabilidade para cada nova classe ........................... 77
Quadro 4
Quadro contendo o resultado do cruzamento entre a classes
geológicas e as classes de declividades e a adequabilidade para
cada nova classe.............................................................................. 78
Quadro 5
Quadro contendo as classes geomorfológicas e a
adequabilidade correspondente. ...................................................... 79
Quadro 6
Classes de vegetação e uso atual das terras .................................. 80
Quadro 7
Quadro contendo as zonas e suas adequabilidades ....................... 81
Quadro 8
Importância relativa entre os fatores ................................................ 83
Quadro 9
Importância relativa entre os fatores e os pesos ponderados
84
calculados de acordo com a matriz de atribuição ............................
Quadro 10
Resumo dos cenários finais propostos ............................................ 86
viii
LISTA DE FIGURAS
Página
CAPÍTULO 1
Figura 1
A APA Petrópolis........................................................................... 5
Figura 2
Relevo de morros e montanhas, vistos do alto da Torre de TV .... 6
Figura 3
Principais rios da APA Petrópolis: Rio Piabanha, Rio
Quitandinha e Rio Palatinato......................................................... 7
Figura 4
Divisões de quarteirões do Plano Koeler, Vila Imperial de
8
Petrópolis, 1846, com o arruamento atual ....................................
Figura 5
Morro da Glória, Petrópolis .......................................................... 9
Figura 6
Imagem classificada, 1985............................................................ 16
Figura 7
Imagem classificada, 2001............................................................ 17
Figura 8
Imagem classificada, 2004............................................................ 18
Figura 9
Fotosseqüência de paisagens da APA Petrópolis . ...................... 20
Figura 10
Área de depósito de colúvio e tálus no sopé do Pico da Maria
Bonita (a); paredões rochosos no Vale dos Esquilos, bairro
Retiro (b). ...................................................................................... 21
Figura 11
Condomínio de luxo no Vale da Boa Esperança, Petrópolis (a);
sítio de pequena produção em Caxambú, também em
Petrópolis (b). ................................................................................ 22
Figura 12
Núcleo urbano de Corrêas, Petrópolis (a); loteamento irregular
no Quitandinha, Petrópolis (b)....................................................... 23
Figura 13
Planta de Petrópolis com divisões dos lotes, 1868 ....................... 25
Figura 14
Ocupação intensa no morro da Glória, em Corrêas, Petrópolis.... 26
Figura 15
Ocupação em encosta no bairro Santa Isabel .............................. 28
Figura 16
Rio Santo Aleixo, travessia da adutora que abastece Magé (a);
rio Itamarati, vista à montante do local de captação de água
para abastecimento (b) ................................................................. 29
Figura 17
Sub-habitação dentro do rio na Ponte de Ferro, Cascatinha,
Petrópolis ...................................................................................... 30
Figura 18
Vista do reservatório da barragem sobre o rio Bonfim.................. 31
ix
Página
Figura 19
Ocupação do Morro do moinho (a); ocupação recente, na
margem da BR-040, trecho entre o Quitandinha e Bingen (b) .... 33
Figura 20
Cascatinha, Petrópolis (a); bairro Roseiral, em Petrópolis (b)..... 34
CAPÍTULO 2
Figura 1
Moradia desprovida de estrutura executada sem controle
técnico, além da precariedade na coleta do esgoto domiciliar e
do lixo (a); corte no morro Cremerie (b)....................................... 39
Figura 2
Localização da APA Petrópolis, no contexto das formações
geológicas do Brasil..................................................................... 42
Figura 3
Encosta bastante erodida ........................................................... 43
Figura 4
Cicatriz de escorregamento na BR-040....................................... 44
Figura 5
Vista transversal de uma depressão espúria de um MDE (a) e
da depressão espúria preenchida (b) .......................................... 47
Figura 6
Mapa hidrográfico sobre o modelo de sombreamento analítico .. 50
Figura 7
Carta de classes de declividades ................................................ 51
Figura 8
Mapa de acidentes ocorridos sobre o arruamento e a carta de
classes de declividades ............................................................... 52
Figura 9
Mapa de uso e ocupação do solo sobre o modelo de
sombreamento analítico............................................................... 53
Figura 10
Serra Estrela ................................................................................ 49
Figura 11
Campo de matacões na estrada Petrópolis-Teresópolis. ............ 54
Figura 12
Cicatriz de deslizamento em depósito de tálus, Vila do rio
Itamarati ....................................................................................... 55
Figura 13
Ocupação de terrenos de colúvios e tálus no Alto da Serra (a)
e nas encostas da Estrada da Saudade, bairro Quissamã (b). ... 56
Figura 14
Cicatrizes de escorregamentos de terra no alto do morro, no
bairro Floresta.............................................................................. 57
Figura 15
Mapa de uso e ocupação do solo ................................................ 58
CAPÍTULO 3
Figura 1
Localização da APA Petrópolis, no contexto do Estado do Rio
de Janeiro .................................................................................... 70
Figura 2
Área rururbana em Petrópolis, Vale da Boa Esperança .............. 71
Figura 3
Funções do conjunto fuzzy .......................................................... 75
x
Página
Figura 4
Espaço estratégico de decisão OWA...........................................
85
Figura 5
Posição dos cenários finais no espaço estratégico de decisão ...
86
Figura 6
Cenários finais..............................................................................
87
Figura 7
Proposta 1 ....................................................................................
89
Figura 81
Proposta 2 ....................................................................................
90
xi
RESUMO
BAPTISTA, Alessandra Carreiro, M.S., Universidade Federal de Viçosa, fevereiro de
2005. Análise da paisagem e identificação de áreas suscetíveis a movimentos
de massa na APA Petrópolis – RJ: subsídio ao planejamento urbano.
Orientadora: Maria Lúcia Calijuri. Conselheiros: Eduardo Antônio Gomes Marques e
Carlos Ernesto Reynauld Schaefer.
A Área de Proteção Ambiental da Região Serrana de Petrópolis - APA
Petrópolis (RJ) apresenta características potenciais para o desenvolvimento de áreas
de risco, pois se posiciona em região de topografia acidentada e mostra-se em
processo acelerado e desordenado de urbanização, principalmente, em terras
petropolitanas. Este trabalho, implementado em três capítulos, teve como objetivos: (1)
a caracterização da expansão urbana; (2) a apresentação de um diagnóstico geral do
risco geológico; (3) a proposição de áreas para a expansão urbana que não agravem o
problema dos movimentos de massa. Para isso, e tendo como base o Zoneamento
Ambiental da APA Petrópolis, foram apontados os processos geológicos-geotécnicos
existentes, sua principais causas e fatores físico-antrópicos condicionantes, e a partir
dos dados digitais existentes, as informações foram analisadas e classificadas como
fatores ou restrições para o processo denominado Análise Multicritério, através dos
quais foram gerados cenários finais para a tomada de decisão. Pretende-se, assim,
gerar subsídios para a busca de soluções e futuras intervenções, por parte do poder
público municipal.
xii
ABSTRACT
BAPTISTA, Alessandra Carreiro, M.S., Universidade Federal de Viçosa, February of
2005. Landscape analysis as well as identification of vunerable areas to mass
movements in the EPA (Environmental Protected Areas) – Petrópolis Region
(Southeast Brazil): Input for further urban planning. Adviser: Maria Lúcia
Calijuri. Committee Members: Eduardo Antônio Gomes Marques and Carlos
Ernesto Schaefer.
The Environmental Protection Area - EPA (Southeast Brazil) presents potential
characteristics for developing mass movements risk areas a it is located in a region
with steep topography which has been suffering an accelerated and disordered
occupation. This work has the aim of (1) characterize urban occupation increase (2)
present a general evaluation of geological risk and (3) propose areas for future urban
occupation with no or minimal mass movements risk. Based upon an Environmental
Zoning of Petrópolis EPA the existing geological-geotechnical processes and their
main physical and anthropic causes and factors were pointed out. Digital data were
analyzed and classified as factors or restrictions through out a so called Multi-Criteria
Analysis process, which has generated final “scenes” for hierarquization and decision.
The methodology used allows the production of reliable data that can be used by local
authorities for future decisions and urban planning.
xiii
INTRODUÇÃO
O uso inadequado e desordenado do solo urbano leva a um crescente processo de
degradação das paisagens, trazendo como conseqüências a diminuição da qualidade
de vida e a deflagração de acidentes que levam a perdas humanas e materiais. Isso
faz com que temas como a expansão urbana, risco geológico e acidentes “naturais”
despertem um interesse cada vez maior de especialistas, principalmente entre os
profissionais que trabalham junto ao meio físico e antrópico.
Desde os primórdios do processo de urbanização, a estrutura das cidades está
impregnada das características comportamentais do sistema geológico, as quais
determinam o desempenho do meio físico, seja de modo sutil ou ostensivo. Dessa
forma, os assentamentos antigos ajustam-se a fatores geoderivados, como a presença
de água, a conformação do relevo, a natureza e a disponibilidade de materiais de
construção (CARVALHO e PRANDINI, 1998).
Um dos problemas mais sérios enfrentados pelas cidades brasileiras, principalmente
as de porte médio, é a expansão urbana desordenada, agravada pela falta de
planejamento. Em 1940, a população urbana representava 30% da população total;
em 1970, ela já alcançava 55% e em 2000, passava de 80% (MELLO, 2002).
SILVA (1993) e LIMA (1998) afirmam que o maior problema para as cidades
brasileiras não é o seu crescimento em si, mas sim a concentração na distribuição da
população. Afirmam, ainda, que as cidades com população entre 100 mil e 500 mil
habitantes poderão apresentar grande número de problemas, uma vez que possuem
uma maior participação relativa da população brasileira. Assim, recomendam um
planejamento adequado, já no presente, para evitar problemas futuros.
Entretanto, observa-se a inadequabilidade das normas à realidade dos terrenos em
relação a suas aptidões, marcando a falência das políticas urbanas, uma vez que tais
políticas tendem a impor à natureza os projetos padrões, em vez de adequá-los à
natureza dos terrenos.
No Brasil, são freqüentes os casos de escorregamentos em regiões urbanizadas,
provocando, periodicamente, grandes prejuízos econômicos e sociais.
Tais processos compreendem os movimentos gravitacionais de massa, as diversas
formas de erosão, o solapamentos de margens ribeirinhas, o assoreamento de cursos
d’água, a inundação e os colapsos e subsidências. A gravidade desses processos é
avaliada em função das características do local onde ocorrem, ou seja, em função de
variáveis como tipo de solo, pluviosidade, geometria das encostas, presença ou
ausência de vegetação, tipos litológicos, comportamento antrópico, entre outros.
1
Desse modo, o planejamento ou o gerenciamento territorial requer um bom
diagnóstico da área de interesse, o qual deve abranger a caracterização fisiográfica,
biológica e humana do local ou região, bem como as inter-relações entre esses
fatores, possibilitando a compreensão de sua dinâmica, indicando suas limitações e
potencialidades, para que se estabeleçam restrições legais adequadas e se subsidiem
os planos e projetos de intervenção, sejam estes de cunho preventivo ou corretivo.
Nesse contexto, encontra-se a APA Petrópolis, alvo desse estudo, administrada pelo
IBAMA, situada em área de Mata Atlântica, apresentando diversidade e riqueza de
recursos naturais relativamente bem conservados nos contrafortes da Serra do Mar,
sofrendo, porém, fortes impactos na área compreendida no vale do Piabanha, onde se
situa a cidade de Petrópolis.
Este estudo teve como embasamento teórico o documento contendo o Zoneamento
Ambiental da Área de Proteção Ambiental da Região Serrana de Petrópolis – APA
Petrópolis. Esse documento foi realizado em duas etapas: a primeira, conforme
proposta aprovada pelo IBAMA, foi realizada em 1998 com recursos do Orçamento da
União, em parceria com o IBAMA, através do seu Comitê Gestor. Nessa etapa, foram
efetuados os estudos básicos de caracterização e diagnóstico dos meios físico,
biótico, sócio-econômico e cultural. Na segunda etapa, concluída em 2001, a análise
dos dados e sua integração permitiram a elaboração de mapas básicos (solos,
geologia, geomorfologia, uso do solo, dentre outros), culminando na formação do
banco de dados georreferenciados elaborado pelo Instituto de Ecologia e Tecnologia
do Meio Ambiente – ECOTEMA e a Prefeitura Municipal de Petrópolis, com recursos
do Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA.
O presente trabalho teve por objetivo detectar e diagnosticar os fatores de risco nos
movimentos de massa, confrontando declividade e unidades geotécnicas, a partir de
uma base de dados georreferenciada e integrada em um SIG, permitindo, assim, a
abstração de indicadores potenciais para tais fenômenos e a caracterização de
possibilidades de um melhor ordenamento do uso do solo urbano, com o mapeamento
de áreas adequadas à expansão urbana.
Para tanto, o estudo está estruturado em três capítulos: o primeiro utilizou-se de
técnicas de sensoriamento remoto para identificar e caracterizar a evolução urbana, a
partir da classificação de imagens orbitais, em épocas distintas. O segundo, a partir
dos mapas básicos e da geração de novos temas, avaliou os processos da dinâmica
superficial na APA Petrópolis, diagnosticando os riscos ocasionados por estes,
analisando fatores físicos e antrópicos relevantes. E, para finalizar, o terceiro capítulo
contemplou o mapeamento de áreas adequadas à expansão urbana, utilizando a
avaliação multicritério como método de suporte à tomada de decisão.
2
CAPÍTULO 1
CARACTERIZAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA NA APA PETRÓPOLIS
1. INTRODUÇÃO
1.1.
Considerações gerais
O desenho das cidades, bem como a formação da paisagem urbana, é decorrente,
dentre outros fatores, da interação das atividades sociais e o meio ambiente, podendose considerar a forma urbana como o produto das ações do homem sobre o meio
natural, tornando-se necessário estabelecer, na configuração da paisagem urbana,
uma relação harmônica entre esse meio e os objetos construídos.
A maneira como o homem atua sobre o território e o torna um espaço humanizado, e
conseqüentemente define a paisagem, é proveniente de uma série de fatores. A forma
do espaço natural, a princípio, é o fator determinante na situação das aglomerações
sobre a superfície terrestre. Condicionantes como o solo, o clima, a formação
geológica e a vegetação afetam diretamente a escolha do local para se iniciar um
assentamento. Desse modo, entende-se que as características do espaço natural
constituem um dos primeiros reguladores a fornecer as diretrizes da configuração da
paisagem urbana (MELLO, 2002).
Segundo SANTOS et al. (1998), os processos de urbanização das cidades há muito
vêm ocorrendo de forma desordenada, à margem de um planejamento criterioso e que
deve considerar, além das necessidades vitais do homem, a fragilidade e as
características do ambiente no qual ele se instala. Planejar a ocupação e o uso do solo
sem conhecer as suas limitações e potencialidades pode significar, na melhor das
hipóteses, a imputação de prejuízos financeiros aos empreendedores, sejam eles
públicos ou privados.
O município de Petrópolis, principal constituinte da APA Petrópolis, pode ser citado
como exemplo, pois teve seu crescimento de forma espontânea, sem planejamento
mais efetivo, mesmo possuindo diretrizes prévias, criando situações de confronto entre
o suporte natural e os objetos construídos.
3
A proteção do meio ambiente constitui-se em uma prioridade, após séculos de
utilização irracional dos recursos naturais e a crescente especulação imobiliária.
Políticas voltadas para a proteção do meio ambiente são desenvolvidas pelas
autoridades, mas mostram-se insuficientes, levando ao comprometimento da
distribuição da vegetação dentro das cidades, bem como a ocupação de áreas,
ambientalmente frágeis como as áreas de mananciais e encostas.
Nesse contexto, as Unidades de Conservação são determinadas áreas do território
nacional destinadas à proteção de seus atributos naturais. A Área de Proteção
Ambiental - APA constitui-se em uma modalidade de Unidade de Conservação.
Indicada para os municípios, as APA's não requerem que a área seja de domínio
público, o que torna a sua implantação facilitada com a participação das comunidades
na gestão do meio ambiente local.
As APA's não inviabilizam a propriedade privada e suas diferentes formas de utilização
econômica sustentável. Ao contrário, as atividades econômicas sustentáveis
praticadas nas propriedades inseridas nas APA's podem ter um tratamento
empresarial diferenciado, colocando o meio ambiente em perspectiva estratégica.
Tais áreas contam com prioridade para obtenção de créditos e financiamentos oficiais
e reconhecimento pelas condutas conservacionistas praticadas em seu interior.
1.2.
A APA Petrópolis
Petrópolis é uma das quatro glebas disjuntas que constituem a APA Petrópolis, criada
em 1982, pelo Decreto Federal 87.561, de 13/09/82 e oficializada em 1992. É a
primeira APA federal criada no país. Foi instituída com o intuito de ampliar o
conhecimento e facilitar o entendimento sobre as origens da ocupação das terras
envolvidas pela APA, notadamente as terras petropolitanas, e sua influência nas áreas
subjacentes a sua periferia, bem como sua evolução até os dias atuais e levando-se
em consideração as terras limites com os municípios de Duque de Caxias, Magé e
Guapimirim que têm a sua porção dentro da Unidade de Conservação (Figura 1),
FNMA/INSTITUTO ECOTEMA (2001).
4
Fonte: APA Petrópolis, 2001
Figura 1 – A APA Petrópolis.
A APA Petrópolis tem na sua posição geográfica, em torno da latitude 22° 30’S, na
influência marítima e nas correntes de circulação atmosférica perturbadas, além dos
contrastes morfológicos de seu relevo, os elementos condicionantes de suas
características climáticas.
As precipitações mais elevadas são registradas nos meses de dezembro, janeiro e
fevereiro, coincidindo com a chegada das frentes frias e a incidência do maior índice
de radiação.
A precipitação é maior na vertente oriental e no início do reverso da Serra,
decrescendo para o norte da área. Não chega a ocorrer déficit hídrico acentuado,
mesmo verificando-se uma estação mais seca nos meses de inverno.
São freqüentes as chuvas intensas de verão, com grande precipitação por unidade de
tempo, que são responsáveis por deslizamentos, quase sempre com vítimas quando
ocorrem na área urbana. Isto devido às frentes frias que penetram rapidamente
encontrando alto índice de umidade e condições de circulação, que produzem
5
violentos aguaceiros ou permanecem estacionárias, saturando o solo com a
precipitação contínua, provocando tais deslizamentos (FNMA/INSTITUTO ECOTEMA,
2001).
A APA Petrópolis está inserida na Região Fitoecológica da Floresta Ombrófila Densa,
conhecida nesta faixa litorânea como Mata Atlântica, apresentando fitofisionomias
desde florestal até campestre (graminóide), ocorrendo em paisagens essencialmente
naturais (floresta e vegetação rupestre) ou em áreas fortemente antropizadas
(urbanas), como ilustra a Figura 2.
Fonte: FNMA/ECOTEMA, 2001
Figura 2 – Relevo de morros e montanhas, vistos do alto da Torre de TV.
A Floresta Ombrófila Densa, com suas formações Submontana, Montana e Alto
Montana, é a cobertura vegetal clímax da região, em estágios inicial, intermediário e
avançado de sucessão secundária nas áreas antropizadas. Nos solos rasos e/ou junto
aos afloramentos rochosos, a vegetação gramínio-herbácea, arbustiva em alguns
trechos, é identificada como vegetação rupestre (FNMA/INSTITUTO ECOTEMA,
2001).
Em função da Serra dos Órgãos, a APA Petrópolis tem sua hidrografia dividida em
dois sistemas principais de drenagem: o primeiro, situado na encosta atlântica, é
formado por cursos d’água pequenos e jovens, que nascem nos locais mais altos da
Serra dos Órgãos e correm para a Baía de Guanabara. O segundo sistema localiza-se
na encosta interna da Serra dos Órgãos e é constituído por rios que atravessavam
6
grande extensão da APA, correndo para o rio Paraíba do Sul. Na vertente interna
encontram-se os principais rios, com destaque para o principal deles, o Piabanha
(Figura 3).
Figura 3 – Principais rios da APA Petrópolis: Rio Piabanha, Rio Quitandinha e Rio
Palatinato.
Quanto às áreas antropizadas, grande parte da APA é ocupada por núcleos urbanos e
suburbanos, com áreas em expansão urbana, com reflorestamentos, pastagens e
lavouras, espaços com múltiplas atividades ao longo das rodovias, sítios em geral e
residências em condomínios de alto padrão construtivo.
São significativos os afloramentos rochosos por toda a área, principalmente ao norte,
ora totalmente desnudos, ora cobertos por musgos, liquens e bromélias.
7
3.1.
O crescimento da população e a expansão urbana
A história da ocupação da APA Petrópolis confunde-se com a própria história de
Petrópolis, distinguindo-se, assim, três fases distintas de evolução: a primeira
referente ao período de 1725 a 1843, ou Território Pré-Colonial Petropolitano, no qual
ocorreu o condicionamento e a ocupação das futuras terras petropolitanas, a segunda,
referente ao período de 1843 a 1857, ou Território Colonial de Petrópolis, no decorrer
do qual se verificou a implantação e evolução da Imperial Colônia de Petrópolis; a
terceira, de 1857 em diante, ou Território Municipal de Petrópolis, quando se consolida
a formação e ocupação urbana, a partir do Plano Koeler, e inicia-se a emancipação
política do território petropolitano (FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001).
A decisão da Coroa Portuguesa, tomada em 1698, para a abertura do Caminho Novo,
ligando as Minas de Ouro de Minas Gerais à Baia de Guanabara, fez com que o
homem branco penetrasse, conquistasse e ocupasse o território.
Dentro desta conjuntura é que o engenheiro Major Julio Frederico Koeler concebeu a
idéia de criação de uma colônia agrícola-industrial, estabelecendo-a no eixo rodoviário
que estava sendo modernizado para integração da Província de Minas Gerais à Corte,
projeto acolhido com simpatia pelo então Imperador D. Pedro II (Figura 4).
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 4 – Divisões de quarteirões do Plano Koeler, Vila Imperial de Petrópolis, 1846,
com o arruamento atual.
8
A partir de 1845, a colônia recebeu o primeiro contingente de imigrantes alemães, o
que o estimulou a ampliar a base territorial do projeto que teve início com a doação da
Fazenda Quitandinha a D. Pedro II, em 1846, cuja integração constituiu o embrião da
Imperial Fazenda de Petrópolis.
Dez anos após, os movimentos de emancipação político-administrativos têm êxito e
Petrópolis é elevada à categoria de cidade, pela Lei Provincial Nº 961, de 29 de
setembro de 1857, instalando-se o Município em 17 de junho de 1859.
No período compreendido entre 1845 e 1950 houve um intenso crescimento
populacional proveniente de pessoas originárias de outros países e de outras cidades
do Estado do Rio de Janeiro e do Estado de Minas Gerais.
A atividade fabril estimulada a partir de meados do séc. XIX com o fracasso da colônia
agrícola e com as restrições à atividade madeireira, além do apoio da Coroa Imperial,
transformaram Petrópolis, que viu sua população crescer e ocupar novos espaços.
Segundo Gonçalves e Guerra (2001), foi a partir da década de 60 até o início de
década de 80 que o crescimento populacional tornou-se expressivo. Nesse período,
foram verificadas as maiores taxas de crescimento populacional e identificados os
maiores
problemas
ambientais,
decorrentes
do
crescimento
acelerado
e
o
empobrecimento da população em função da crise que afetou as indústrias locais,
mais acentuadamente na década de 70. A população de baixo poder aquisitivo passou
a ocupar as encostas que até então estavam preservadas por sua vegetação e devido
às limitações impostas pelo relevo (Figura 5).
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 5 – Morro da Glória, Petrópolis.
9
Considerando-se que já em 1991, 71% de toda a população da APA Petrópolis estava
contida no principal núcleo urbano do Município de Petrópolis, o Distrito Sede, os
dados históricos da expansão urbana levam-nos à constatação de um crescimento
desordenado em direção às áreas periféricas do principal núcleo urbano e, também,
aos demais Distritos de Petrópolis. Esse processo também foi observado nos demais
municípios.
A partir de meados da década de 80, a população passou a concentrar-se nos 1o e 2o
distritos,
Petrópolis
e
Cascatinha
respectivamente.
Entretanto,
a
expansão
populacional já se fazia presente nos 3o e 4o distritos (Itaipava e Pedro do Rio) com a
transformação da região, até então caracterizada por sítios e moradias de lazer, em
áreas mais intensamente ocupadas por condomínios e residências de uma população
oriunda dos bairros de classe média da cidade do Rio de Janeiro.
A cidade de Petrópolis e os núcleos urbanos ocupados pelos Municípios de Duque de
Caxias, Magé e Guapimirin, envolvidos pela APA, não fogem à regra do rápido
crescimento populacional observado na maioria das cidades dos países em
desenvolvimento e, principalmente, no Brasil, onde a taxa de urbanização atinge hoje
cerca de 80%. Verifica-se que esse crescimento não foi acompanhado pela expansão
e melhoria das infra-estruturas, que contribuem decisivamente para a qualidade de
vida, e nem foi objeto de políticas públicas que evitassem os impactos negativos sobre
os recursos naturais, que vêm tornando-se escassos diante da forma desordenada de
sua expansão sobre a periferia (FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001).
As áreas mais desvalorizadas ou de preservação permanente, como topos de morros
e margens de rios, passaram a ser ocupadas por famílias operárias, que não tinham
onde morar ou não foram contempladas nem pelos grandes empreendedores
imobiliários nem pelo poder público, com moradias próprias e adequadas. Essas
famílias foram atraídas pela construção civil, em decorrência de um “boom” do
mercado imobiliário na região.
Os demais municípios que compõem a APA apresentaram uma dinâmica semelhante,
principalmente Guapimirim, com acentuado crescimento populacional e ocupação de
áreas verdes até então preservadas (FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001).
10
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A grande variabilidade espacial das características físicas contidas na APA Petrópolis
coloca em evidência o uso de dados de sensoriamento remoto como provedor de uma
base de dados através de imagens de satélites.
A expansão urbana foi caracterizada por meio da classificação de imagens orbitais, de
onde foram extraídas informações para o reconhecimento de padrões e objetos
homogêneos.
Para este fim, foram utilizadas três imagens orbitais (órbita-ponto 217,076 – sistema
Landsat e órbita-ponto 151,125 – do programa sino-brasileiro:CBERS). A primeira, do
Landsat 5-TM, com data de 05 de agosto de 1985 e a segunda, do Landsat 7-ETM+,
com data de 06 de agosto de 2001 e a terceira do CBERS, 31 de agosto de 2004.
Todas as imagens foram trabalhadas no sistema de tratamento de imagens do
software GIS Idrisi, Version Kilimanjaro, maio de 2003, © The Clark Labs for
Cartographic Tecnology and Geographic Analysis. Este software foi escolhido por ser
didático, por possuir uma interface gráfica de fácil entendimento e pelo custo
relativamente baixo.
O software Spring versão 4.1, Instituto de Pesquisas Espaciais – INPE, Copyright ©
2004 foi utilizado para o georreferenciamento da imagem CBERS, tendo como base o
mapa da malha viária cedido pelo FNMA/ECOTEMA, na escala 1:25.000.
A interpretação visual e a extração das amostras de treinamento foram feitas a partir
da composição das bandas 3, 4 e 5. Apenas estas três bandas foram selecionadas
para o processamento das imagens, pois, segundo Ribeiro (2001), as classes de uso
da terra são melhor distinguidas por tais bandas, uma vez que possuem um menor
grau de correlação, diminuindo a redundância entre os dados. Também foi utilizado o
Mapa de Vegetação e Uso Atual das Terras, cedido pelo FNMA/ECOTEMA, na escala
1:25.000. Este mapa serviu de referência para a coleta das amostras de treinamento.
O software ArcGIS 8.1, © Environmental Systems Research Institute, Inc foi utilizado
para execução do layout final das imagens raster para ilustração e posterior
impressão.
2.1.
Desenvolvimento da metodologia
A metodologia sugerida segue o fluxograma apresentado no Quadro1.
11
Quadro 1 – Fluxograma das atividades.
2.1.1. Seleção e aquisição das imagens
As imagens utilizadas estavam disponíveis no formato Geotif, para os anos 1985,
1988, 2000, 2001 e 2004. As imagens referentes aos anos 1985, 2001 e 2004 foram
preferidas, em razão da existência de menor porcentagem de nuvens.
2.1.2. Pré-processamento – correção geométrica
Segundo o IBGE (2001), a correção geométrica produz o georreferenciamento da
imagem, ou seja, estabelece uma relação geométrica entre os pixels da imagem e as
coordenadas cartográficas da área correspondente. Através da correção geométrica a
imagem adquire propriedades de um mapa, com todos os pixels referenciados a um
sistema de Projeção Cartográfica.
Para este trabalho, não houve a necessidade de se proceder a uma correção
geométrica rigorosa das imagens Landsat, visto que tais imagens já possuiam um préprocessamento, com a correção geométrica da imagem baseada nos parâmetros da
órbita do satélite, além de já estarem georreferenciadas.
12
A imagem CBERS foi georreferenciada no software Spring, tendo a malha viária como
base para os pontos de controle. Utilizou-se o módulo de registro em tela, que
consistiu em uma transformação geométrica que relacionou as coordenadas de
imagem (linha, coluna) com as coordenadas de um sistema de referência. Neste
trabalho, o sistema de referência utilizado foi o sistema de coordenadas planas da
projeção UTM/SAD 69. O registro apenas usou transformações geométricas simples
para estabelecer um mapeamento entre as coordenadas de imagem e as coordenadas
geográficas.
2.1.3. Definição das classes – legendas
Com base nas respostas espectrais, nas características texturais dos elementos
contidos nas imagens e principalmente na contextualização da mancha urbana,
procurou-se definir as classes de uso do solo e cobertura natural da terra apoiando-se
nas classes possíveis de serem observadas e obtidas através de imagens orbitais.
2.1.4. Análise das características das classes
Definidas as classes de interesse, passou-se à observação das características
espectrais destas classes e à aplicação das técnicas de classificação, considerando
duas categorias, as classes bem definidas espectralmente e as classes extraídas por
interpretação visual.
2.1.5. Amostras significativas das classes a serem analisadas
A escolha das amostras é uma etapa importante do processo que pode comprometer
os resultados da classificação.
As amostras foram retiradas pela interpretação visual das imagens, auxiliadas pelo
mapa de vegetação e uso das terras, do ano de 2000, escala 1:25000, disponível em
formato digital.
13
2.1.6. Aplicação da técnica de classificação
Para a classificação das classes, utilizou-se a Classificação Supervisionada por
Máxima
Verossimilhança.
Foram
retiradas
as
amostras
de
treinamento
correspondentes às classes de interesse e utilizando-se o algoritmo da Máxima
Verossimilhança obteve-se a classificação de todas as classes.
As assinaturas espectrais utilizadas na classificação foram: formações florestais,
pastagem, afloramento rochoso, agricultura, área urbana, solo exposto e cobertura de
nuvens.
2.2.
Classificação
Supervisionada
–
Algoritmo
da
Máxima
Verossimilhança
O processo de classificação digital tem por finalidade associar números digitais (DN)
aos pixels de uma imagem com códigos de temas específicos. O resultado desse
processo é apresentado por meio de classes espectrais, ou seja, áreas que possuem
características espectrais semelhantes. O processo de classificação digital transforma
níveis de cinza de diversas bandas espectrais em um número reduzido de classes
representadas em uma única imagem.
Na classificação supervisionada, deve-se conhecer previamente a área de estudo e
definir as amostras de treinamento, que representarão o comportamento médio de
cada classe. Essas amostras foram utilizadas como padrões de variabilidade espacial
no processo de classificação.
O método da Máxima Verossimilhança (Moreira, 2001) é um dos mais aplicados para
a classificação supervisionada no tratamento de dados de satélites. A probabilidade de
um pixel pertencer a uma determinada classe é definida a partir do contorno de cada
classe. Esses contornos apresentam um ajuste baseado em uma distribuição normal
ou Gaussiana das amostras de treinamento. Esse método representa um avanço em
relação ao método da distância Euclidiana.
14
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1.
Análise dos resultados
Foram realizadas três classificações supervisionadas pelo algoritmo da Máxima
Verossimilhança, uma para a imagem de 05/08/1985, outra para a imagem
06/08/2001 e para a imagem 31/08/2004, como mostram as Figuras 6, 7 e 8.
O levantamento do uso da terra é de grande importância, na medida em que os
efeitos do uso desordenado causam deterioração no ambiente. A expressão
"uso do solo" pode ser entendida como a forma pela qual o espaço está sendo
ocupado pelo homem.
No período entre 1985 e 2004, o processo de urbanização foi acompanhado de
profundas alterações no uso e ocupação do solo, como mostra o Quadro 2.
Quadro 2 – Uso da terra na APA Petrópolis, para os anos de 1985, 2001 e 2004.
ÁREA EM km2
CLASSES
1985
2001
2004
Mata
346,75
306,60
320,86
Pastagem
33,38
48,16
37,80
Afloramento Rochoso
41,21
56,00
44,04
Agricultura
78,57
78,06
89,29
Área Urbana
68,85
97,75
100,91
Solo Exposto
2,23
5,26
1,90
Nuvem
23,81
2,97
-
TOTAL
594,80
594,80
594,80
15
16
17
18
Mais de 50% da área de proteção ambiental se encontra ainda com cobertura
vegetal natural, composta em sua maioria por extensos fragmentos florestais,
sendo a classe “Formações Florestais” composta, principalmente, pelas áreas
da Reserva Ecológica da Alcobaça, Serra da Maria Comprida, pelo trecho da
Fazenda Inglesa-Rocio e morrotes no perímetro urbano municipal, em
Petrópolis; pelo Parque Municipal da Taquara no Município de Duque de
Caxias e pelo trecho ao longo do córrego Itacolomi, em Magé. A área protegida
é coberta por diferentes tipos de vegetação que variam das densas florestas à
vegetação rasteira.
A floresta ombrófila densa é a comunidade clímax da região, integrante da
Mata Atlântica, tem sua maior expressão nas serras onde nascem os rios e
córregos que vertem para a Baixada ou ainda as florestas das cabeceiras do
córrego do Meio e o rio da Cidade que deságuam na bacia do rio Paraíba do
Sul. Diversas manchas de florestas, de vários tamanhos, também estão
dispersos por toda a APA. Em princípio, a distinção desses tipos diferentes não
foi considerada essencial, e a vegetação foi então generalizada em uma classe
apenas.
A Figura 9 ilustra algumas formações vegetais: a região do vale do rio
Piabanha, Carangola. O Pico do Alcobaça se sobressai na foto, ao fundo,
montanhas do Parque da Serra dos Órgãos (a); picos e penedos da Serra da
Maria Comprida (b).
19
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 9 – Fotosseqüência de paisagens da APA Petrópolis.
A classe “Pastagem” engloba todas as feições diferentes das demais
classificadas e não somente áreas típicas de pastagens, como são as
correspondentes à cobertura vegetal graminóide e gramíneo-herbácea, de
origem antrópica, utilizada, principalmente, para o criatório de animais bovinos
e eqüinos.
Os afloramentos rochosos (Figura 10) são superfícies de rochas expostas
apresentando, por vezes, pequenas áreas recobertas por fina camada de
materiais decompostos (solos incipientes), a vegetação é gramíneo-herbácea e
arbustiva em alguns trechos.
20
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 10 – Área de depósito de colúvio e tálus no sopé do Pico da Maria Bonita (a);
paredões rochosos no Vale dos Esquilos, bairro Retiro (b).
Afastados dos principais centros urbanos, estão os sítios de pequena
produção, com agricultura de subsistência e criação de pequenos animais, cuja
produção excedente é comercializada na vizinhança e os sítios de lazer ou
condomínios de luxo, onde a distância não compromete o nível de qualidade de
vida, o que vem a ser compensado pela tranqüilidade e pela natureza ainda
preservada (Figura 11).
A imagem CBERS possui padrões espectrais (cores e textura) diferentes das
imagens Landsat, além de possuir resolução de 20m, contrastando com a
resolução de 30m das imagens Landsat. Apesar das diferenças entre as áreas
encontradas para as classes na imagem CBERS, observou-se uma coerência
na classe “Área Urbana”, que é a classe de maior relevância para este estudo.
21
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 11 – Condomínio de luxo no Vale da Boa Esperança, Petrópolis (a); sítio de
pequena produção em Caxambú, também em Petrópolis (b).
A classe “Cobertura de Nuvens” foi criada para que não houvesse
superposição entre esta e “Solo Exposto”, encontrado, principalmente, em área
urbana.
A mancha urbana, representativa do crescimento da ocupação, apresenta em
Petrópolis características bastante significativas das transformações antrópicas
pelas quais a cidade passou entre os anos de 1985 e 2004 (Figura 12).
A ocupação pode ser, também, caracterizada por uma ocupação desordenada,
mas em áreas não adensadas, seja por invasões ou por ocupação “orientada”,
22
onde foi feito um parcelamento e distribuição de lotes sem critérios urbanísticos
ou dentro das regulamentações municipais, com o agravante ainda de serem
em áreas protegidas por lei.
Nos Distritos petropolitanos envolvidos pela APA e nos núcleos urbanos dos
demais municípios, a ocupação apresenta um nível acentuado de habitações
com características de sub-habitação e favelização, em áreas até então
valorizadas pelo mercado imobiliário.
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 12 – Núcleo urbano de Corrêas, Petrópolis (a); loteamento irregular no
Quitandinha, Petrópolis (b).
23
3.2.
Avaliação dos impactos ambientais causados pelo crescimento
urbano
Como este capítulo enfoca a construção da paisagem pela expansão urbana,
procurou-se listar e analisar as atividades que têm como conseqüência
impactos negativos à paisagem local:
•
•
•
•
ocupação das encostas e topos de morro;
cortes e aterros que comprometem a estabilidade do solo;
ocupação ao longo dos recursos hídricos;
remoção da cobertura vegetal.
3.2.1. Ocupação das encostas e topos de morros
A região onde se encontra situada a área urbana da APA Petrópolis tem sua
topografia formada por relevo acidentado com grandes desníveis altimétricos,
tornando-se um obstáculo para o crescimento da cidade.
Pode-se considerar que até por volta de 1900 eram poucos os recursos que o
homem possuía para alterar o meio físico. O próprio material utilizado nas
edificações não permitia grandes transformações no território. As edificações
eram produzidas utilizando-se materiais encontrados na própria região. Por
isso, eram escolhidos locais onde fosse mais fácil executar as construções, ou
seja, em áreas planas, como ilustra a planta de Petrópolis de 1868 (Figura 13),
os lotes seguiam-se ao longo dos rios e tinham mais profundidade que largura
(55mX110m).
24
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 13 – Planta de Petrópolis com divisões dos lotes, 1868.
Observa-se que até 1960 a existência de vales que possibilitassem a expansão
dos núcleos urbanos, principalmente em Petrópolis, evitou a ocupação das
encostas dos morros, não havendo, portanto, impactos negativos diretos sobre
a topografia local.
A partir de 1970, a cidade de Petrópolis entrou num processo de urbanização
acelerado, principalmente depois da construção da rodovia Rio-Juiz de Fora
(atual BR 040) em meados de 1970 e mesmo possuindo códigos e decretos
que regulamentassem a forma de ocupação, essa se deu de forma
desordenada. Como os fundos dos vales já se encontravam urbanizados,
passou-se a ocupar as encostas desses vales, como ilustra a Figura 14, onde
se observa uma antiga voçoroca tratada com concreto projetado e escadas de
drenagem.
25
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 14 – Ocupação intensa no morro da Glória, em Corrêas, Petrópolis.
3.2.2. Cortes e aterros que comprometem a estabilidade do solo
As características naturais de uma região influenciam decisivamente o
processo de expansão urbana e a determinação do uso do solo adequado para
certa área. De acordo com o tipo de solo estão relacionadas características
relativas à resistência a cargas, umidade, plasticidade, permeabilidade, etc.,
que devem ser levadas em conta na elaboração de projetos destinados à
execução de obras da construção civil.
Segundo o estudo elaborado para o Zoneamento Ambiental da APA Petrópolis
realizado pelo FNMA/ECOTEMA (2001), a composição pedológica dos solos
da APA é formada de seis classes de solos:
26
•
LVa1 - Latossolo Vermelho-Amarelo alumínico A moderado e proeminente
textura argilosa fase floresta ombrófila densa relevo forte ondulado.
•
(declividade de 20 a 30%).
LVa2 - Associação Latossolo Vermelho-Amarelo A moderado e proeminente +
Cambissolo Háplico Tb A moderado ambos alumínicos textura argilosa fase
floresta tropical perenifólia relevo forte ondulado e montanhoso. (declividade de
•
30 a 60%).
LVa3 - Associação Latossolo Vermelho-Amarelo + Cambissolo Háplico Tb A
moderado ambos álicos A moderado textura argilosa + Solos Litólicos Tb
distróficos A proeminente textura média fase floresta ombrófila densa relevo
•
forte ondulado e montanhoso. (declividade de 30 a 60%).
CX - Associação Cambissolo Háplico substrato sedimentos colúvio-aluvionares
+ Argissolo Vermelho-Amarelo
ambos
Tb distróficos A moderado e
proeminente textura indiscriminada fase floresta ombrófila densa de várzea
•
relevo ondulado e forte ondulado. (declividade de 15 a 25%).
RU - Associação Neossolos Flúvicos + Gleissolos Háplicos ambos Tb
distróficos A moderado e proeminente textura indiscriminada fase floresta
ombrófila densa de várzea relevo plano e suave ondulado. (declividade de 0 a
•
8%).
AR - Associação Afloramento de Rocha + Neossolos Litólicos Tb distrófico A
moderado textura média fase vegetação rupestre e floresta ombrófila densa
relevo montanhoso e escarpado. (declividade de 45 a 100%).
Dos tipos de formação de solo apresentados, a classe CX é a mais erodível. O
alto índice pluviométrico da região e a remoção da cobertura vegetal natural
vêm contribuindo para o aumento da água superficial de escoamento, o que
por sua vez, desencadeia processos erosivos e escorregamentos de solo e
rochas.
A ocupação das encostas, posteriormente à década de 70, é o fator que
oferece maior risco ambiental. Até então, as construções, por estarem situadas
em áreas relativamente planas, não requeriam grande movimentação de terra,
não comprometendo, portanto, a estrutura natural do solo. A Figura 15 mostra
os cortes no talude para construção de casas, deixando o solo exposto,
tornando-o mais suscetível à erosão e aos movimentos de massa.
27
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 15 – Ocupação em encosta no bairro Santa Isabel.
3.2.3. Ocupação ao longo dos recursos hídricos
A localização das cidades próximas a cursos hídricos pode ser verificada ao longo da
história das civilizações. Assim, como as demais cidades do Brasil, Petrópolis e os
municípios constituintes da APA Petrópolis estão localizados próximos de fontes de
abastecimento de água, necessária à sobrevivência humana.
A construção do caminho, em 1698, atravessando o atual rio Paraíba do sul, seguindo
em direção à Baía da Guanabara, o “Caminho Novo”, “Estrada Real” ou “Caminho do
Comércio” encurtou a viagem entre o Rio de Janeiro e Vila Rica de 73 para 25 dias,
partindo do porto da Estrela, no fundo da Baía da Guanabara, até a Fazenda do
Córrego Seco, acompanhando daí em diante o curso do rio Piabanha, chegando em
Cebolas, distrito de Paraíba do sul (FNMA/ECOTEMA, 2001). Desde então, as vilas
foram sendo erguidas ao longo dos trechos dos rios.
Em 1893 foi promulgado o primeiro Código de Posturas do Município de Petrópolis e
em 1900, são incluídos oito artigos dedicados à proteção e preservação dos rios,
mananciais e matas. Entretanto, mais tarde, mesmo que tais leis objetivassem a
preservação dos recursos naturais, foram permitidas construções nas encostas e nas
margens dos cursos d’água, à revelia da legislação.
28
Com o processo de urbanização acelerado, a partir da década de 70, o
descumprimento da lei levou a níveis extremos a magnitude dos impactos que vinham
sendo causados. O aumento da população levou ao aumento da quantidade de esgoto
lançado nos corpos d’água. Uma vez que os terrenos adjacentes aos rios já haviam
sido loteados, a concentração populacional da área central da cidade de Petrópolis e
dos fundos de vale levou a uma grande ocupação da região do entorno, comandada
pela especulação imobiliária que negligenciava a não-ocupação nas distâncias
previstas por lei, como ilustram as Figuras 16 e 17.
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 16 – Rio Santo Aleixo, travessia da adutora que abastece Magé (a); rio
Itamarati, vista à montante do local de captação de água para
abastecimento (b).
29
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 17 – Sub-habitação dentro do rio na Ponte de Ferro, Cascatinha, Petrópolis.
A preservação ambiental das áreas a montante e ao longo dos mananciais, além da
proteção contra o lançamento de detritos nos leitos dos rios são medidas de suma
importância para garantir a qualidade de vida na APA, uma vez que na região, são
escassos os cursos d’água com disponibilidade hídrica em condições de serem
aproveitados para o consumo humano.
Segundo o FNMA/ECOTEMA (2001), no sentido de controlar a poluição dos corpos
d’água por efluentes domésticos, a Cia Águas do Imperador vem desenvolvendo um
programa de instalação de redes coletoras de esgotos e a construção de estações de
tratamento (ETE). Fazem parte deste programa a ETE do Palatinato com capacidade
para atender 50.000 habitantes e a construção, em desenvolvimento, de 115 km de
rede coletora que atendem à bacia do rio Palatinato, parte do Centro da cidade de
Petrópolis, às regiões de Valparaiso, Saldanha Marinho e Quitandinha. Encontra-se
também em construção a ETE de Itaipava com capacidade para atender 16.000
habitantes e 60 km de rede coletora que atenderão às localidades de Itaipava e
Nogueira. Fazem ainda parte deste programa para implantação a partir de 2010, as
ETE’s de Piabanha, Cascatinha e Independência.
30
A qualidade da água de um manancial varia no tempo e no espaço. A qualidade da
água de um rio, ao longo de seu curso, pode variar em função da região que
atravesse. Com o passar do tempo, na medida em que se processa a ocupação
urbana de uma área, a tendência é de piorar a qualidade de seus corpos d’água, a
menos que se tomem medidas de preservação e/ou restrições de uso.
A ocupação das encostas e a conseqüente remoção da cobertura vegetal contribuem
para o aumento da água de escoamento superficial. Este fato acarreta a condução de
impurezas para os cursos d’água e para as vias situadas nos fundos de vale. Na APA
Petrópolis, as encostas são ocupadas predominantemente por bairros residenciais,
como conseqüência, os poluentes trazidos pela água de chuva são sólidos
sedimentáveis de vários tipos e tamanhos, provenientes de cortes no terreno, lixo
doméstico e lixo das obras de construção civil. Os principais impactos causados por
esse fator são a excessiva turbidez da água e o assoreamento como mostra a Figura
18-a, onde se observa o grande assoreamento na margem direita do Rio Piabetá, com
destaque para a ocupação por moradias na margem esquerda (Figura 18-b).
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 18 – Vista do reservatório da barragem sobre o rio Bonfim.
31
3.2.4. Remoção da cobertura vegetal
Entende-se que, no processo de transformação do território, é inevitável a remoção da
vegetação existente, mas existem critérios e limites para minimizar os impactos
adivindos desse procedimento.
Os maciços florestais presentes na APA são entremeados por vegetação rupestre, que
ocorre próxima aos afloramentos rochosos e por vegetação secundária, nos estágios
inicial e intermediário de sucessão vegetal. A vegetação secundária ocorre nas áreas
onde foram marcantes as atividades antrópicas ou os fenômenos naturais, como
queda de árvores e deslizamentos de encostas.
O estágio inicial de sucessão vegetal secundária é expressivo em toda APA
Petrópolis, entretanto, sofre freqüentes modificações em função de queimadas,
levando ao esgotamento do solo.
A ocupação dos fundos de vale foi transformando a paisagem. A vegetação foi sendo
removida, dando lugar a pastagens e cultivos agrícolas. Em 16 anos, a área
representada por pastagens aumentou em 14,78 km2, ou seja, 0,92 km2/ano,
aproximadamente.
A mancha urbana cresceu em 1,80 km2/ano, enquanto as formações florestais tiveram
uma redução 2,50 km2/ano, entre os anos de 1985 e 2001.
O crescimento acelerado e desordenado acarretou a supressão indiscriminada da
cobertura vegetal do solo, não poupando as encostas, topos de morro e margens dos
rios (Figura 19).
A vegetação encontra-se intrinsecamente relacionada com os impactos ambientais
originados pela ocupação das encostas e das áreas frágeis em virtude da composição
do solo e conformidade do relevo.
32
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 19 – Ocupação do Morro do moinho (a); ocupação recente, na margem da BR040, trecho entre o Quitandinha e Bingen (b).
Além de ser um elemento fundamental para a estabilidade do ecossistema urbano, a
vegetação apresenta-se como componente evidente na paisagem urbana. A nãopreservação
de
áreas
verdes,
como
conseqüência
da
ocupação
aleatória,
comprometeu o controle e a harmonia visual da APA.
Em estudo realizado para o Zoneamento Ambiental pelo Instituto Ecotema (2001),
considerando-se que, em 1991, 71% de toda a população da APA Petrópolis estava
contida no principal núcleo urbano do Município de Petrópolis, os dados históricos da
expansão urbana levaram à constatação de um crescimento desordenado em direção
a áreas periféricas do principal núcleo urbano e, também, aos demais Distritos de
Petrópolis. Esse processo também foi verificado nos demais municípios, atingindo os
núcleos urbanos dos Municípios de Duque de Caxias e Magé, especificamente nos
33
distritos envolvidos pela APA, e, notadamente, os de Imbariê e Xerém, no primeiro, e
Inhomirin, no segundo.
Parcela significativa da população ocupa, hoje, as encostas e áreas de declividade
superior a 45% (Figura 20-b), além das várzeas dos rios e fundos de vales, de forma
descriteriosa, irregular e ilegal (Figura 20-a).
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 20 – Cascatinha, Petrópolis (a); bairro Roseiral, em Petrópolis (b).
34
4. CONCLUSÕES
As imagens de satélite Lansat e CBERS constituíram-se em um instrumento
satisfatório para a obtenção do uso e ocupação do solo, em escala regional,
ressaltando a alta performance do software Idrisi no emprego de técnicas de
sensoriamento remoto e o uso de imagens orbitais pelos custos mais baixos e pelas
informações nelas contidas. Cumpre, ressaltar, entretanto, que para a obtenção de
mapas temáticos em escalas maiores ou para a demarcação de características
superficiais do terreno, recomenda-se recursos de sensoriamento remoto com uma
melhor resolução espacial.
A interpretação das imagens orbitais em três datas permitiu a análise comparativa de
alterações ocorridas em características superficiais do terreno. Foram detectadas
alterações em características de uso e ocupação do solo.
Alterações ocasionadas pelas atividades antrópicas refletiram um aumento da área
urbana em torno a 42%, entre 1985 e 2001 e a 3%, entre 2001 e 2004, motivado,
principalmente, pela expansão na área urbana de Petrópolis e ao longo dos eixos
rodoviários mais ao sul da APA. As áreas identificadas como pastagem e formações
florestais também sofreram alterações significativas, com uma diminuição em torno de
57% e 18%, respectivamente, nos últimos 19 anos. O aumento da mancha urbana e a
redução da vegetação existente, além de possibilitar a comprovação da evolução e
crescimento da população, também possibilitaram o entendimento dos impactos
ambientais existentes na APA Petrópolis.
O crescimento populacional e a falta de um planejamento efetivo trouxeram como
conseqüência uma ocupação desordenada do território, onde a população de baixa
renda foi afastada para as regiões periféricas, áreas abandonadas pela especulação
imobiliária, tais como as encostas íngremes dos morros ou as áreas protegidas dos
mananciais.
A ocupação das áreas urbanas e sua dinâmica ao longo do tempo são informações
importantes para que as demandas da população e da cidade possam ser previstas de
forma rápida e eficiente.
O padrão de uso do solo urbano muda rapidamente em resposta às forças
econômicas, sociais e ambientais. A caracterização de mudanças no uso do solo é um
dos instrumentos para promover um gerenciamento adequado dos problemas que
acompanham o crescimento.
35
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO,E. T.; PRANDINI, F. L. Áreas urbanas. In: OLIVEIRA, A. M. S.; BRITO, S.
N. A. Geologia de engenharia. São Paulo: ABGE, 1998. p. 487.
FNMA/INSTITUTO ECOTEMA. Zoneamento Ambiental da APA Petrópolis.
Petrópolis, 2001. 451p.
GONÇALVES, L. F .H.; GUERRA, A. J. T. Movimento de massas na cidade de
Petrópolis (Rio de Janeiro). In: GUERRA, A. J. T.: CUNHA, S. P. (Eds) Impactos
ambientais urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 189-252p.
IBGE, Introdução ao processamento digital de imagens. Manual técnico em
geociências. Rio de Janeiro, n. 9, 2001. 92p.
LIMA, R. S. Expansão urbana e acessibilidade – O caso das cidades médias
brasileiras. 1998. 91 f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.
MELLO, F. A. O. Análise do processo de formação da paisagem urbana de
Viçosa, Minas Gerais. 2002. 92p. Dissertação (Mestrado) – Curso de PósGraduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.
MOREIRA, M. A. Fundamentos do sensoriamento remoto e metodologias de
aplicação. São José dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), 2001.
PETRÓPOLIS. Prefeitura Municipal de Petrópolis. Plano Diretor de Petrópolis. Lei
Nº 4.870, de 05 de novembro de 1991. Petrópolis, 1991. 83p.
RIBEIRO, C. B. M. Sensoriamento Remoto aplicado à detecção de mudanças na
cobertura do solo de uma bacia hidrográfica. 2001. 191p. Dissertação (Mestrado)
– Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, COPPE, Rio de Janeiro.
SANTOS, G T.; BUENO, L. S.; PAULINO, L. A.; VIEIRA, S. J. A utilização de SIG’s
nos estudos geotécnicos. In: COBRAC- CONGRESSO BRASILEIRO DE
CADASTRO TÉCNICO MULTIFINALITARIO, 3, 1998, Florianipolis. Anais...
Disponível
em:
<http://geodesia.ufsc.br/Geodesia-online/arquivo/cobrac98>.
Acesso em : 02 de março de 2004.
SILVA, A. N. R. O custo do solo urbano ocioso e uma nova sistemática de
tributação de propriedade. 1993. 137p. Tese (Doutorado) – Curso de PósGraduação em Engenharia Civil, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, São Carlos.
36
CAPÍTULO 2
SUSCETIBILIDADE DAS ÁREAS DE RISCO A MOVIMENTOS DE MASSA
NA APA PETRÓPOLIS
1. INTRODUÇÃO
1.1.
cONSIDERAÇÕES GERAIS
A partir do início do século XX, a expansão populacional, a utilização indiscriminada
dos
recursos
urbanos
naturais
e
a
industrialização,
cresceram
em
ritmo
surpreendente. Com o passar dos anos, observou-se, sempre com a atuação decisiva
do
homem,
a
aceleração
desses
processos
considerados
modificadores
e
desequilibradores da paisagem (Cunha e Guerra, 1996; Mendes 2001).
Desde os primórdios do processo de urbanização, as estruturas das cidades estão
impregnadas das características comportamentais do sistema geológico, as quais
determinam, o desempenho do meio físico, seja de modo sutil ou ostensivo. Dessa
forma, os assentamentos antigos ajustam-se aos fatores geoderivados, como a
presença de água, a conformação do relevo, a natureza e a disponibilidade de
materiais de construção (Carvalho e Prandini, 1998).
Sendo assim, tem-se buscado a transformação da administração urbana em direção a
seu contínuo e crescente interesse no crescimento sustentável, priorizando o aspecto
ambiental. A legislação ambiental brasileira dispõe de alguns instrumentos à
disposição do Poder Público e da sociedade na proteção do meio ambiente. As
Unidades de Conservação, in casu, as APA’s são exemplos destes instrumentos.
Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) têm sido utilizados com eficácia
comprovada na simulação da realidade do espaço geográfico, na integração das
informações espaciais, ou na geração de mapas (Ball, 1994). Inserido neste contexto,
o planejamento urbano tem sido uma das áreas em que se tem observado maior
desenvolvimento das aplicações do SIG, decorrente essencialmente, da grande
concentração de conflitos no meio urbano. (Denègre, 1994).
37
1.2.
Agentes e causas dos movimentos de massa
A Organização das Nações Unidas – ONU declarou os anos 90 como a “Década
Internacional de Redução dos Desastres Naturais”, objetivando o estímulo à
implantação de ações para redução da possibilidade de ocorrência de acidentes e
propôs um modelo de abordagem estruturado em cinco etapas: identificação dos
riscos, análise de risco, medidas de prevenção de acidentes, planejamento para
situações de emergência e informações públicas e treinamento. Para que se alcance
uma redução dos acidentes naturais e induzidos é necessário conhecer a freqüência,
as características e a magnitude dos processos geológicos.
No Brasil, os freqüentes casos de escorregamentos em regiões urbanizadas têm
provocado, periodicamente, grandes prejuízos econômicos e sociais. Em decorrência
disso, a legislação brasileira, com a Constituição de 1988, fixou normas para uma
ocupação racional do solo, exigindo a elaboração de Planos Diretores para municípios
com população superior a 20.000 habitantes. Entretanto o que se observa é a
completa negligência às restrições legais, agravada pela falta de fiscalização dos
órgãos competentes.
Os movimentos de massa são processos gravitacionais, envolvendo sedimentos, solos
e blocos de rocha a partir da desestabilização de terrenos inclinados ou encostas.
Estes movimentos podem assumir diferentes magnitudes, desde movimentos lentos
de solos, os rastejos, a outros rápidos e catastróficos, corridas de lama ou areia;
rolamentos e quedas de matacões ou blocos de rochas e deslizamentos de
sedimentos e solos (Infanti Jr. e Fornasari Filho, 1998).
O processo envolvido nas movimentações de massas rochosas ou de solo, mais
comumente associado às encostas, compreende uma série de condicionantes
complexos, desde a sua causa até o efeito final que é o próprio movimento. É fato
comum que as movimentações ocorrem sob a influência de fatores geológicos,
topográficos, climáticos e, certamente, sob a influência da ação antrópica (Natali,
1999).
Os agentes condicionantes, causadores e deflagradores dos movimentos de massa
têm sido definidos e classificados, de forma semelhante, por diversos autores.
Entretanto, de forma mais clássica, Terzaghi (1950) enumerou as causas dos
escorregamentos em três níveis:
•
causas externas, ligadas às ações externas que alteram o estado de tensão
atuante no maciço, que são: aumento da inclinação do talude; deposição de
material ao longo da crista do talude e efeitos sísmicos;
38
•
causas internas, englobando aquelas que atuam reduzindo a resistência ao
cisalhamento do solo sem ferir o seu aspecto geométrico visível: aumento da
•
pressão na água intersticial e o decréscimo da coesão;
causas intermediárias, relativas às ações que não se enquadram em nenhuma
das classificações anteriores: a liquefação espontânea, erosão interna e o
rebaixamento do nível de água.
Do ponto de vista das ações antrópicas, o IPT (1991) considera que as principais
causas de escorregamentos induzidos são o lançamento e concentração de águas
pluviais, o lançamento de águas servidas, vazamentos na rede de abastecimento de
água ou fossa sanitária, declividade, e altura excessiva de cortes, execução
inadequada de aterros, além da deposição de lixo e a remoção inadequada da
cobertura vegetal (Figura 1).
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 1 – Moradia desprovida de estrutura executada sem controle técnico, além da
precariedade na coleta do esgoto domiciliar e do lixo (a); corte no morro
Cremerie (b).
39
Esta constatação traz à tona a necessidade de se proceder a um programa de
educação ambiental e uma política voltada para o planejamento que atue
efetivamente, prevenindo, dessa forma, a ocorrência de catástrofes futuras.
Apoiados nos trabalhos de Terzaghi (1950) e Freire (1964), Guidicini e Nieble (1976),
classificaram os agentes condicionantes em predisponentes e efetivos e as causas
foram classificadas em internas, externas e intermediárias e estão apresentadas no
(Quadro 1).
Quadro 1 – Agentes e causas dos escorregamentos.
AGENTES E CAUSAS DOS ESCORREGAMENTOS
•
PREDISPONENTES
A
G
E
N
T
E
S
Complexo geológico, complexo morfológico, complexo
climático-hidrológico, gravidade, calor solar, tipo de
vegetação original.
•
PREPARATÓRIOS
EFETIVOS
•
IMEDIATOS
INTERNAS
C
A
U
S
A
S
EXTERNAS
•
•
•
•
•
•
INTERMEDIÁRIAS
•
•
•
•
Pluviosidade, erosão pela água e
pelo vento, congelamento e
degelo, variação de temperatura,
dissolução química, oscilação de
nível do lençol freático, ação de
animais e humana, inclusive
desfloramento.
Chuvas intensas, fusão do gelo e
neve, erosão, terremotos, ondas,
ventos, ação do homem, outros.
Efeitos das oscilações térmicas.
Redução dos parâmetros de
intemperismo.
resistência
por
Mudanças na geometria do sistema
Efeitos de vibrações
Mudanças naturais na inclinação das camadas.
Elevação do nível piezométrico em massas
“homogêneas”.
Elevação da coluna d’água em descontinuidade.
Rebaixamento rápido do lençol freático.
Erosão subterrânea retroprogressiva (piping).
Diminuição do efeito de coesão aparente.
Fonte: GUIDICINI e NIEBLE, 1976.
40
Varnes (1978) agrupa os fatores responsáveis pela deflagração dos escorregamentos,
conforme mostra o Quadro 2.
Quadro 2 – Fatores deflagradores dos movimentos de massa.
AÇÃO
FATORES
•
•
•
REMOÇÃO DE MASSA
(lateral ou de base)
AUMENTO
DA
SOLICITAÇÃO
•
•
•
•
•
SOBRECARGA
SOLICITAÇÕES
DINÂMICAS
•
PRESSÕES LATERAIS
REDUÇÃO
DA
RESISTÊNCIA
CARACTERÍSTICAS
INERENTES AO
MATERIAL
(geometria, estruturas,
textura, etc.)
MUDANÇAS OU
FATORES
VARIÁVEIS
(mudanças nas
características do
material)
•
•
•
FENÔMENOS
GEOLÓGICOS/ANTRÓPICOS
Erosão, escorregamentos.
Cortes.
Peso da água de chuva, granizo,
neve, etc.
Acúmulo de material.
Peso da vegetação.
Construção de estruturas, aterros, etc.
Terremotos, ondas, vulcões, etc.
Explosões,
tráfegos,
sismos
induzidos.
Água em trincas, congelamento,
material expansivo.
Características geomecânicas do
material, estado de tensões iniciais.
Intemperismo (redução da coesão,
ângulo de atrito).
Elevação do NA.
Para este trabalho será enfatizada a classificação de Augusto Filho (1995), que
agrupou os movimentos de massa em quatro grandes classes e processos:
•
•
•
•
Rastejos ou Creeps.
Quedas ou Falls, Tombamentos
Corridas ou Flows.
Escorregamentos propriamente ditos ou Landslides.
Cada um desses grupos admite subdivisões, com extensas classificações e
terminologias específicas.
41
1.3.
Localização da área de estudo
A região onde se localiza a APA Petrópolis faz parte da porção sudeste da Plataforma
Brasileira, representada pelo Domínio Tectônico Cinturão Móvel Atlântico (Figura 2).
Figura 2 – Localização da APA Petrópolis, no contexto das formações geológicas do
Brasil.
A APA Petrópolis está situada dentro do Domínio Morfoestrutural das Faixas de
Dobramentos Remobilizados, incluindo a Região Geomorfológica Escarpas e
Reversos da Serra do Mar. Caracteriza-se por um relevo acidentado com grandes
desníveis altimétricos onde as cotas variam entre 500-1800 metros.
O controle estrutural sobre a morfologia é mostrado por linhas de falhas, blocos
deslocados, escarpas, relevos e vales alinhados coincidindo com os dobramentos e/ou
falhas. A resistência das rochas é traduzida nas formas de dissecação, sobressaindo
escarpas rochosas, patamares com cumes arredondados, pontiagudos e desnudos,
pontões, linhas de cristas e cumeadas e vales marcantes e profundos ao longo de
zonas fraturadas.
42
A morfologia geral está, assim, intimamente relacionada com as características
litoestruturais das rochas e às condições climáticas da região.
O relevo é suportado por rochas pré-cambrianas com predominância de rochas
granitóides, gnáissico-migmatíticas e graníticas. Os afloramentos de rocha são muito
abundantes na área. A presença de intenso fraturamento nas rochas, além de
condicionar escarpas, paredões, vales fechados, favorece a atuação do intemperismo,
atingindo maiores profundidades e formando mantos de alteração mais espessos em
determinados locais, principalmente onde a foliação das rochas é desenvolvida e a
quantidade de minerais escuros – biotita e anfibólio – é maior, em contraste, granitos
mais pobres em ferro constituem os principais relevos salientes da APA pela maior
resistência. A Figura 3 mostra uma encosta bastante erodida, com espesso manto de
alteração, vegetação esparsa e a presença de blocos de rocha.
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 3 – Encosta bastante erodida.
Na base das escarpas, na meia-encosta e nas proximidades dos afloramentos
rochosos, distribuem-se blocos de rocha (rocha sã e semi-alterada) resultantes do
desmoronamento de placas rochosas limitadas por fraturas e situadas nas partes mais
elevadas (áreas de fornecimento de blocos).
43
Freqüentemente esses blocos acabam se acumulando ao longo do talvegue de
pequenas linhas de drenagem, entulhando-as parcialmente e dando origem à
acumulação de massas de tálus e colúvios, em geral de grandes proporções.
A Região Geomorfológica representada pela Unidade Geomorfológica Serra dos
Órgãos caracteriza-se também pelo notável controle estrutural sobre a drenagem,
tanto em relação aos cursos d'água que descem a escarpa em direção ao mar quanto
aos que se dirigem para o rio Paraíba do Sul orientados, via de regra, pelas fraturas.
Os rios oriundos da escarpa principal voltada para o Atlântico possuem cabeceiras
inseridas nas encostas íngremes e festonadas, apresentando vales subparalelos entre
si. Os rios que drenam para o Paraíba do Sul, no reverso da Serra do Mar, seguem
lineações
de
falhas
e
juntas
segundo
a
direção
preferencial
NE-SW
(FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001).
A evolução natural do relevo montanhoso está ligada a desmoronamentos e
escorregamentos das encostas, que são favorecidos pela ausência de vegetação. Em
muitas áreas, principalmente em locais urbanizados, as encostas são desmatadas,
apresentando solo parcialmente exposto, propiciando a instabilidade local. Em
algumas áreas localizadas às margens de vias de acesso, como na BR-040 entre
Quitandinha e Bingen (Figura 4), as encostas estão desmatadas e desprotegidas,
necessitando de cuidados especiais para sua manutenção.
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 4 – Cicatriz de escorregamento na BR-040.
44
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para este trabalho, foram utilizados os seguintes materiais:
•
•
mapas topográficos do IBGE, em escala 1:50.000, de 1978, em formato digital;
mapa geológico (escala 1:50.000), mapa de suscetibilidade aos fenômenos
naturais e mapa de vegetação e uso atual das terras (2000), na escala
•
1:25.000, também no formato digital, cedidos pelo Instituto ECOTEMA;
•
cedido pela Prefeitura de Petrópolis;
•
Cartographic Tecnology and Geographic Analysis;
•
Institute, Inc;
mapa contendo alguns acidentes geológicos (2000), em escala 1:10.000,
software GIS Idrisi 32, version Kilimanjaro, maio de 2003, © The Clark Labs for
software ArcGIS/ArcGRID, version 8.1, © Environmental Systens Research
Plano Diretor de Petrópolis, de 2003 (Lei n° 6.070, de 18 de dezembro de
2003, versão revista e atualizada da Lei 4.870 de 05 de novembro de 1991),
•
cedida pela Prefeitura de Petrópolis.
•
Petrópolis - LUPOS, de 25 de maio de 1998.
Lei n° 5.393, de Uso, Parcelamento e Ocupação do Solo do Município de
Lei n° 6.766, Lei Federal que dispões sobre o parcelamento do solo urbano, de
19 de dezembro de 1979.
2.1.
Desenvolvimento da metodologia
A partir dos dados acima mencionados, foram elaborados o Modelo digital de
Elevação Hidrograficamente Consistente – MDEHC, a Carta Clinográfica e o Modelo
de Sombreamento Analítico, como descritos a seguir.
45
2.1.1. MDEHC
–
Modelo
Digital
de
Elevação
Hidrograficamente
Consistente e Modelo de Sombreamento Analítico
Nas últimas duas décadas, diversos algoritmos têm sido implementados em módulos
específicos dos sistemas de informações geográficas com a finalidade de automatizar
a extração de características morfométricas da superfície terrestre, a partir dos
modelos digitais de elevação, dentre as quais se destaca o delineamento de bacias
hidrográficas e da respectiva rede de drenagem. As vantagens da automação em
relação aos procedimentos manuais são a maior eficiência e confiabilidade dos
processos, a reprodutibilidade dos resultados e a possibilidade de armazenamento e
compartilhamento dos dados digitais (Chaves, 2002).
A eficiência da extração dessas informações e de outras, derivadas a partir destas,
medida em termos de precisão e de exatidão, está diretamente relacionada com a
qualidade do modelo digital de elevação e do algoritmo utilizado. O modelo digital deve
representar o relevo de forma fidedigna e assegurar a convergência do escoamento
superficial para e ao longo da drenagem mapeada, garantindo assim a sua
consistência hidrológica.
Assim, para este trabalho foi utilizado o TOPOGRID/ArcGRID, o que permitiu a
imposição da hidrografia ao modelo digital de elevação (MDE). A resolução utilizada
foi de 10m, tendo-se em vista a escala de trabalho e o tempo para sua geração.
Após a geração do MDE, foi feito o trabalho de preenchimento das depressões
espúrias. As depressões são células cercadas por células com maiores valores de
elevação. Sua presença em um MDE produz a descontinuidade do escoamento
superficial descendente para uma célula vizinha (Figura 5). Por definição, as
depressões incluem áreas planas e depressivas. Algumas delas podem ser naturais,
como os sumidouros observados em região de Karst, mas a maioria delas é
considerada espúria, decorrentes do próprio processo de geração do MDE
(amostragem e interpolação) e da truncagem dos valores interpolados para números
inteiros na saída do modelo (Chaves, 2002).
46
(a)
(b)
Fonte: CHAVES, 2002.
Figura 5 – Vista transversal de uma depressão espúria de um MDE (a) e da
depressão espúria preenchida (b).
O Modelo de Sombreamento Analítico foi obtido a partir do MDEHC gerado.
2.1.2. Carta de classes de declividades
A carta clinográfica, obtida a partir do MDEHC, foi subdividida em quatro classes:
classe 1, de 0 a 15%; classe 2, de 15 a 30%, classe 3, de 30 a 45% e a classe 4, para
declividades maiores que 45%. As faixas foram definidas de acordo com a legislação
vigente, Lei Federal n° 6.766/79 que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano.
Segundo esta lei, em declividades maiores que 45% não deve haver ocupação e os
loteamentos e desmembramentos urbanos só serão autorizados em declividades de
até 30% (Cunha, 1991).
2.1.3. Mapa de uso do solo X declividades
Esse mapa foi obtido a partir da tabulação cruzada do mapa de uso do solo com a
carta de classes de declividades. Foram selecionadas, no entanto, as áreas com
declividades superiores a 30%, que constitui o limite para a ocupação de encostas,
sem a necessidade de projetos especiais.
47
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Do estudo do meio físico, no caso com enfoque geomorfológico, gerou-se mapas
temáticos, os quais possuem relevância significativa no planejamento da ocupação
urbana de novas áreas, ou na reestruturação de áreas antigas, considerando as
demandas ambientais naturais da área e seus limites de utilização. A partir da análise
e do cruzamento dos dados referentes à susceptibilidade natural e da pressão de uso
antrópico foi possível estabelecer as áreas sujeitas a processos de movimentos de
massa.
3.1.
Mapas temáticos
Os mapas temáticos, apresentados a seguir, são:
•
•
•
•
•
Mapa hidrográfico sobre o modelo de sombreamento analítico (Figura 6);
Carta de classes de declividades (Figura 7)
Mapa de acidentes ocorridos sobre o arruamento e a Carta de Classes de
declividades (Figura 8);
Uso e ocupação do solo sobre o modelo de sombreamento analítico (Figura 9);
Uso e ocupação do solo X declividades (Figura 15).
Para a carta de classes de declividades, observa-se a seguinte distribuição (Quadro
3):
Quadro 3 – Distribuição das classes de declividades em toda extensão da APA
Petrópolis.
CLASSES DE
DECLIVIDADES
ÁREA (KM2)
ÁREA
RELATIVA (%)
0 – 15%
60,04
10,10
15 – 30%
122,33
20,56
30 – 45%
141,53
23,80
> 45%
270,86
45,54
48
Observa-se que quase 70% da área total da APA possui declividades superiores a
30%. Este é um fator natural que, associado à concentração populacional e chuvas
concentradas, traduz um risco potencial de movimentos de massa muito elevado.
Pelos mapas temáticos do uso do solo X ocupação urbana, pode-se traçar um paralelo
da relação existente entre o aumento da população e as ocorrências dos movimentos
de massa. Observa-se que à medida que se interioriza pela APA, o número de
eventos diminui. O contrário acontece nas áreas de maior adensamento populacional.
Entretanto, mesmo em áreas não ocupadas é possível observar a ocorrência, muito
comum, de movimentos de massa naturais, resultantes dos processos de evolução
natural da encosta. Esses processos resultam de uma predisposição natural, função
da litologia existente e do controle estrutural, que gera elevadas declividades em áreas
muito extensas, como ilustra a Figura 8.
Valores altos de amplitude de relevo e declividade das encostas propiciam maior
intensidade dos processos morfodinâmicos e mais elevada suscetibilidade à erosão e
escorregamentos de terra. Em relevos menos enérgicos verificam-se menores
volumes e velocidades de escoamento das águas pluviais, implicando em
suscetibilidades menos elevadas.
A região da APA Petrópolis é caracterizada pela presença de unidades litológicas
diferentes, sobressaindo os litotipos gnáissicos, migmatíticos, granitóides e graníticos.
Além da resistência desigual das rochas aos agentes erosivos, a presença de fraturas
(falhas e juntas) também contribuem para a alteração diferencial das rochas. A Figura
10 ilustra cicatrizes de escorregamento e queda de blocos de rocha na Serra Estrela.
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 10 – Serra Estrela.
49
50
51
52
53
Os solos residuais, quando erodidos e transportados, classificam-se como colúvios (à
meia encosta) ou tálus (meia encosta/sopé das elevações) quando contém blocos de
rocha inclusos na sua massa como mostra a Figura 11, área altamente suscetível a
rolamento de blocos, ao fundo observa-se um paredão rochoso com suscetibilidade à
queda de blocos.
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 11 – Campo de matacões na estrada Petrópolis-Teresópolis.
O rolamento de blocos ou matacões pode ser desencadeado por solapamento em sua
base de apoio, decorrente da erosão, descalçamento por escavação ou evolução dos
processos de intemperismo. Podem ocorrer rolamentos de matacões de grande porte,
mesmo na ausência de chuvas (FNMA/ECOTEMA, 2001).
Esses movimentos podem ocorrer, também, a partir de desplacamentos nos maciços
rochosos muito fraturados. A Figura 12 ilustra um bloco com estabilidade precária.
54
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 12 – Cicatriz de deslizamento em depósito de tálus, Vila do rio Itamarati.
O transporte desses materiais encosta abaixo se dá por gravidade, através de rastejo,
deslizamentos de massa ou queda de blocos. Nas zonas de relevo mais íngreme,
surgem com mais freqüência os depósitos de tálus com blocos semi-arredondados e
angulosos ou matacões de dimensões variadas (Figura 13).
55
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 13 – Ocupação de terrenos de colúvios e tálus no Alto da Serra (a) e nas
encostas da Estrada da Saudade, bairro Quissamã (b).
Os escorregamentos de solo e rocha são mais representativos nas grandes massas
de tálus, cujos constituintes são fragmentos soltos dispostos de maneira desordenada.
Os blocos de rocha, geralmente, encontram-se envolvidos por uma matriz arenoargilosa, proveniente do mesmo processo de acumulação por gravidade ou oriunda de
processo de alteração dos próprios blocos rochosos. Nos locais onde ocorre um
contato abrupto do tálus com a rocha sã ou alterada, forma-se uma superfície
inclinada que favorece os escorregamentos, fazendo, muitas vezes, a rocha aflorar.
56
Segundo estudos realizados pelo FNMA/INSTITUTO ECOTEMA (2001), na maioria
dos casos de instabilidade verificados, o equilíbrio do manto de decomposição das
rochas foi rompido por desmatamento e/ou escavações; ou ainda adição de aterros
inadequados para a ocupação de terrenos de encosta sem cuidados técnicos; ou
acompanhamento
deficiente
das
obras
em
geral,
por
fim,
ausência
ou
subdimensionamento do sistema de drenagem e proteção (Figura 14).
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 14 – Cicatrizes de escorregamentos de terra no alto do morro, no bairro
Floresta.
A intervenção antrópica vem agravar as condições naturais pré-existentes, já frágeis,
provocando deslizamentos de pequenas e grandes proporções.
57
58
A região em que se incere a APA Petrópolis é formada por unidades geoambientais
vulneráveis a desequilíbrios do meio ambiente, quer seja por processos naturais ou
pela ação do homem. Assim, as práticas que provocam acidentes nas encostas, como
cortes e aterros inadequados, retirada de vegetação, lançamento de água ou bloqueio
das linhas d’água naturais por lixo ou entulho, devem estar sujeitas ao controle e
fiscalização dos órgãos públicos e da comunidade.
Outro aspecto importante a ser considerado são os indicadores sócio-econômicos, tais
como padrão construtivo da moradia, forma de ocupação e acompanhamento técnico
empregado. Esta relação implica no uso de material impróprio e na utilização de
técnicas não adequadas à região. Os tipos de habitação presentes na APA nem
sempre utilizam, em maior ou menor grau, as técnicas disponíveis e os elementos
construtivos exigidos pelas condições naturais de clima, relevo, tipo de solo,
intempéries etc. O fator econômico nem sempre é o responsável. A explicação pode
estar na cultura local, tornando tradicional o desuso de material, equipamento e
tecnologia, por desconhecimento ou negligência.
A integração do ambiente natural e construído e a segurança nas áreas mais
declivosas são de responsabilidade conjunta do poder público e dos cidadãos que
vivem e ocupam esses espaços urbanos. A responsabilidade social dos moradores
concretiza-se pelo conhecimento do risco e mudança de hábitos, adotando práticas
adequadas de preservação do ambiente natural.
O processo de materialização do espaço urbano, quando conduzido de forma não
planejada, provoca fortes impactos ambientais, no qual a sociedade é o principal
agente. No Brasil, os principais processos associados a desastres naturais são as
inundações e os movimentos de massas, sendo que a este último relaciona-se o maior
número de vítimas fatais.
A prevenção dos riscos urbanos é uma atribuição municipal. Com a missão de
elaborar uma nova política de desenvolvimento urbano no País, o Ministério das
Cidades, criado em janeiro de 2003, elaborou uma ação específica de apoio à
prevenção e erradicação de riscos, parte do programa de “Urbanização, Regularização
e Integração de Assentamentos Precários”.
Petrópolis está entre os municípios que solicitaram apoio do Ministério das Cidades
em 2004 e que foram priorizados por apresentarem maiores níveis de risco e cujas
administrações já desenvolvem ações de prevenção de risco e realizaram algum
diagnóstico do problema por meio do mapeamento dos riscos.
59
Em um estudo de apoio à prevenção de riscos em assentamentos precários – Análise
das operações realizadas no primeiro semestre do ano de 2004, realizado pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia, Petrópolis está entre as cidades que mais fez
vítimas fatais em escorregamentos, aparecendo em primeiro lugar no quadro de
“Vítimas fatais devidas a processos de escorregamentos”, com 258 mortes, no período
entre 1988 e 2004.
60
4. CONCLUSÕES
A forma de ocupação e o uso social do espaço são fatores determinantes para a
configuração do meio ambiente urbano, o qual por sua vez, determina, em resposta, o
nível de qualidade de vida. Na APA Petrópolis fica evidente a precariedade da infraestutura urbana e das moradias nas novas áreas ocupadas, vizinhas aos bairros já
consolidados.
Os principais processos geológicos presentes na APA são o escorregamento e as
quedas de blocos, ocorrendo, dominantemente, em solos transportados. Os seus
principais agentes predisponentes são o fator morfológico (relevo acidentado) e o fator
climático. Os agentes efetivos preparatórios são a pluviosidade, a erosão pela água e
as ações humanas, ao passo que os agentes efetivos imediatos são as chuvas
intensas e, também, as intervenções antrópicas. As chuvas ocorrem, em geral, de
outubro a março, período em que ocorre a maioria dos escorregamentos.
A principal ação humana é a execução de cortes nas encostas, pela abertura de lotes
ou ruas. Os taludes produzidos possuem altura e inclinação geralmente elevadas,
ficando desprotegidos da vegetação original. As principais causas são a redução dos
parâmetros de resistência por intemperismo (causa interna), as mudanças na
geometria do sistema (causa externa) e a diminuição do efeito da coesão devido à
saturação do solo (causa intermediária).
O processo erosivo também ocorre de maneira superficial, formando sulcos profundos,
contribuindo para a ocorrência de escorregamentos, quando se observa o
descalçamento
das
camadas
de
solos
sobrejacentes
(solos
maduros
e/ou
coluvionares).
Dessa forma, observou-se que a grande ocorrência de movimentos de massa na APA
Petrópolis agrava-se, entre outros fatores, devido à concentração urbana desordenada
em áreas de risco e ao relevo acidentado. Existem, de fato, construções feitas de
forma insegura, em locais impróprios, porém há também várias ocorrências de
movimentos de massa em áreas nobres, áreas que não poderiam ser ocupadas por se
localizarem em encostas muito íngremes, com convergência de fluxos ou pela
ocorrência de tálus.
Há severas restrições do meio físico ao crescimento da ocupação humana na APA
Petrópolis, demonstrando a necessidade de severas restrições ao crescimento urbano.
Entretanto, pouco se faz em relação às ações de recuperação de áreas atingidas,
como a utilização de técnicas preventivas: deslocamento da população das áreas de
risco; fiscalização de ocupações irregulares, entre outras.
61
Um aspecto importante a se enfatizar é o impacto negativo com que se apresenta a
paisagem urbana, evidenciado pelo aspecto degradado do solo no entorno das
construções nas encostas, as quais são desmatadas e escavadas, expondo, muitas
vezes, um solo de alta erodibilidade.
O uso da tecnologia SIG torna possível a integração e manipulação de dados, de
forma rápida e eficaz, na geração de informações para subsidiar tanto o diagnóstico
quanto o gerenciamento, sem necessariamente acarretar em investimentos elevados.
62
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUGUSTO FILHO, O. Escorregamentos em encostas naturais e ocupadas: análise e
controle. In: BRITAR, O. Y. (Coord.). Curso de geologia aplicada ao meio
ambiente. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Divisão de Geologia,
1995. p. 77-100.
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345-349.
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N. A. Geologia de engenharia. São Paulo: ABGE, 1998. p. 487.
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escavação. São Paulo: Edgard Blücher, 1976. 167p.
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OLIVEIRA, A. M. S.; BRITO, S. N. A. Geologia de engenharia. São Paulo: ABGE,
1998. p. 487.
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS – IPT. Manual de uso e ocupação de
encostas. São Paulo: 1991. 25p.
63
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parcelamento e ocupação do solo. Petrópolis – RJ, 1998.
PETRÓPOLIS. Prefeitura Municipal de Petrópolis. LEI N° 6.070/2003 – Revisão do
Plano Diretor de Petrópolis. Petrópolis – RJ, 2003.
MENDES, R. M. Mapeamento geotécnico da área central urbana de São José do
Rio Preto (SP) na escala de 1:10.000, como subsídio ao planejamento urbano.
2001. 245p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Curso de PósGraduação em Engenharia Civil, Universidade Estadual de São Carlos, São
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NATALI, P. P. Carta Preliminar de risco de escorregamento para a área urbana de
Ponte Nova – MG. 1999. 112p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa,
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TERZAGHI, K. 1950. Mecanismos de escorregamentos de terra. Trad. de Ernesto
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VARNES, D. J. 1978. Slope movements types and processes. In: Landslides analysis
and control. Washington: National Academy of Sciences. p. 11-33.
64
CAPÍTULO 3
ANÁLISE ESTRATÉGICA DE DECISÃO APLICADA À SELEÇÃO DE ÁREAS
PARA EXPANSÃO URBANA
1. INTRODUÇÃO
1.1.
Considerações gerais
O desenvolvimento urbano se processa de acordo com uma de duas diretrizes
básicas: a partir de um núcleo central, definido segundo condicionantes físicas; ou a
partir da expansão de outros núcleos, em áreas antes destinadas à agricultura ou
outros fins (MELLO, 2002).
O processo de expansão das cidades brasileiras, realizado através do parcelamento
do
solo,
é
marcado,
notadamente,
pela
implantação
de
empreendimentos
habitacionais periféricos promovidos tanto pelo setor privado – os loteamentos –
quanto pelo poder público – os conjuntos habitacionais. Este fenômeno, que em sua
maioria, ocorre de forma desordenada, ocupando áreas desfavoráveis a esse tipo de
uso, é uma das atividades de grande impacto sobre o ambiente, além de gerar pesado
ônus ao poder público e riscos à população.
Nas
parcelas
da
cidade
produzidas
informalmente,
onde
predominam
os
assentamentos populares e a ocupação desordenada, a combinação dos processos
de construção do espaço com as condições precárias de vida urbana gera problemas
sócio-ambientais e situações de risco, que afetam tanto o espaço físico quanto a
saúde pública: desastres provocados por erosão, enchentes, deslizamentos;
destruição indiscriminada de florestas e áreas protegidas; contaminação do lençol
freático ou das represas de abastecimento de água; epidemias provocadas por
umidade e falta de ventilação nas moradias improvisadas, ou por esgoto e águas
servidas que correm a céu aberto, entre outros (Groinstein, 2001).
A APA Petrópolis, notadamente a cidade de Petrópolis, com 286 537 habitantes
(IBGE, 2001), se situa no universo das cidades de porte médio não metropolitanas que
vem passando por um processo de desenvolvimento acelerado. Do ponto de vista
territorial, o acelerado crescimento da cidade vem resultando em um processo de
ocupação predatório e extensivo, originando a formação de favelas, ocupações ilegais
de terra em área de preservação. Além disso, a autoconstrução destaca-se como a
65
forma mais utilizada de produção de moradias, erguidas em condições precárias em
bairros afastados do centro.
O processo de expansão urbana, intensificado a partir dos anos 60, atingindo o seu
auge no final dos anos 70 e início dos 80 e a ocupação e o parcelamento de solos
muitas vezes inadequados a este tipo de uso estão intimamente relacionados com a
proliferação dos movimentos de massa na APA, constituindo o principal problema
ambiental do município, seguido das enchentes.
Pode-se enumerar diversos fatores responsáveis pelo aumento das feições erosivas e
movimentos de massa relacionados ao processo de expansão urbana: construção de
loteamentos e conjuntos habitacionais em locais não apropriados sob o ponto de vista
geotécnico, com deficiência de infra-estrutura; deficiência do sistema de drenagem de
águas pluviais e servidas, tanto nas formas de captação como na dissipação; traçado
inadequado do sistema viário, agravado, muitas vezes, pela falta de pavimentação,
guias e sarjetas; e, principalmente, a ausência de um controle efetivo, por parte da
Prefeitura, sobre as obras de infra-estrutura dos loteamentos para a população de
baixa renda.
O crescimento e expansão das áreas urbanizadas no Brasil não têm considerado
aspectos fundamentais, que trazem transtornos e custos para a sociedade e para o
ambiente, como a prevenção dos riscos geológicos e hidrológicos urbanos. Observase a inoperância de um planejamento que contemple a interdisciplinaridade do meio
urbano e a perspectiva de soluções em longo prazo.
Inserido neste contexto, os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) vêm sendo
amplamente utilizados em trabalhos que demandam a articulação de uma grande
gama de informações espacializáveis, sendo capazes de trabalhar integradamente os
componentes do meio. Podem analisar bases de dados que incluem informações
cartográficas, espectrais (obtidas por sensores remotos), observações de campo,
resultados de entrevistas ou censos, lidando, portanto, com todos os tipos de
informações necessárias à decisão: básicas, históricas, atuais e futuras. Em um SIG,
estas atribuições podem ser encadeadas ou combinadas, por meio da tomada de
decisão, freqüentemente baseada na seleção e hierarquização de alternativas de ação
(Pivello et al.,1999).
Os SIGs, ao oferecer capacidades únicas na automatização, gestão e análise de
dados espaciais para a tomada de decisão, têm papel importante na análise de
problemas de decisão multicritério. A avaliação multicritério oferece uma vasta coleção
de técnicas e procedimentos que permitem revelar as preferências de decisores e
incorporá-las em tomadas de decisão baseadas num SIG, entre as quais estão as
lógicas Booleana e Fuzzy (Rodrigues et al., 2002).
66
Estas análises são feitas com o cruzamento de diferentes informações que resultarão
em áreas contendo atributos condizentes com o modelo adotado. Sob o aspecto da
lógica Booleana, esse é o princípio da simultaneidade, no qual vários procedimentos
matemáticos, que suportam as diversas relações topológicas entre os objetos
espaciais, são representados por um SIG, associados sempre a um atributo ou não
(Braghin e Silva, 1997). A lógica Fuzzy distingue-se da lógica Booleana por permitir a
utilização de um intervalo entre os limites 0 e 1 ou 0 e 255, e não apenas estes, como
ocorre no caso binário. Trata-se de uma lógica que utiliza valores contínuos, e não
discretos, tornando-se necessária uma representação por conjuntos descritos por
funções matemáticas (Sui, 1992)
1.2.
Organização espacial das cidades e os fatores que direcionam seu
crescimento
De acordo com Villaça (2001), o espaço é um atributo de todos os valores de uso.
Dessa forma, tanto um objeto quanto o seu uso exigem lugares e, portanto, definem
espaços. O espaço da cidade é formado pela justaposição de diferentes usos da terra.
Conforme o uso é definida a área central, onde normalmente se concentram as
atividades comerciais, de serviços, bem como as áreas residenciais, as industriais, as
de expansão, dentre outras (Corrêa, 1993).
Apesar de se tratarem de áreas com características distintas, os processos sociais que
acontecem na cidade determinam as articulações entre essas áreas, organizando-as
espacialmente. As inter-relações acontecem de forma dinâmica e se dão por meio dos
transportes e das comunicações, sendo, portanto, dependentes da disponibilidade de
infra-estrutura. Villaça (2001) coloca o transporte de pessoas como fator determinante
na estruturação do espaço urbano. Por isso, torna-se importante para o crescimento
das cidades a acessibilidade a determinada área, ou seja, a conexão de determinado
local da cidade com o restante da malha urbana.
Por esse motivo, as vias de circulação desempenham importante papel no
crescimento físico da cidade.
Considerando a terra como mercadoria, observa-se que a acessibilidade e a
localização têm influência direta na sua valoração.
Segundo Lefebvre (1999), a valoração do terreno urbano tem início pela transmissão
patrimonial do solo por meio da sua renda fundiária, da renda absoluta derivada de
67
sua posse. Esse valor se estende, entretanto, ao potencial do espaço, do subsolo e
dos volumes acima do solo que estão sendo intercambiados, ou seja, do espaço social
como um todo e das estruturas e objetos que o constituem.
O reflexo disso na configuração das cidades é a alteração do valor de uso da terra em
virtude da concentração dos meios de produção, ou seja, das facilidades permitidas
pela aglomeração, de acordo com a localização do terreno. Quanto mais próxima dos
núcleos de produção, mais valor adquire a terra, refletindo no seu preço. Mudanças de
uso ou transformações urbanas alteram o valor da localização, causando a oscilação
do preço.
De acordo com Santos (1993) e Mello (2002), a dinâmica social cria o sítio social,
superposto ao sítio natural. O funcionamento da sociedade transforma seletivamente
os lugares, adequando-os as suas necessidades. Por isso, determinados pontos ou
artérias tornam-se mais atrativos e adquirem maior valor.
Essas considerações acerca da acessibilidade explicam a tendência do crescimento
urbano em torno das vias de transporte, quer ao longo das rodovias, quer ao redor das
estações ferroviárias.
A estrutura do sítio natural é outro importante elemento que influencia a expansão
urbana. Os elementos naturais, como as serras, os rios e as zonas de proteção de
recursos naturais, na maioria das vezes, funcionam como obstáculos ao crescimento,
causando o adensamento em determinadas áreas.
Mota (1981) e Mello (2002) enfatizaram a relação entre o desenvolvimento urbano
com o espaço natural. Para os autores, a cidade deve ser vista como um ecossistema
formado por dois sistemas independentes: o sistema natural, composto pelo meio
físico e biológico, e o sistema cultural, que consiste no homem e em suas atividades.
De fato, esses dois sistemas coexistem sob ações de causa e efeito. Se por um lado,
o sistema cultural é um modelo dinâmico, que vive em constante alteração, por outro,
o sistema cultural influencia o natural, que também repercute no cultural. O clima, o
relevo, os tipos de formações do solo, os recursos hídricos e a cobertura vegetal
influem no processo de urbanização e são influenciados por esse.
O relevo é o principal elemento a condicionar o processo de urbanização. A
declividade dos terrenos de uma região tende a conduzir o crescimento urbano ao
longo dos vales, seguindo áreas de menor cota, ou seja, o crescimento tende a se
processar mais no sentido do vale do que transversalmente a ele. Com o avanço
tecnológico, o homem tem conseguido transpor os obstáculos impostos pelo relevo,
principalmente por meio das movimentações de terras, causando impactos sobre a
paisagem e o meio ambiente.
68
As condições geológicas podem ser favoráveis ou apresentar limitações a
determinado tipo de solo. Algumas formações geológicas se mostram mais aptas à
construção civil no que diz respeito à resistência das cargas, umidade, capacidade de
absorção, etc. outras devem ser destinadas a áreas de lazer, como os parques. Solos
frágeis devem ter cobertura vegetal mantida para evitar impactos negativos ao meio
ambiente. São, portanto, uma barreira ao crescimento urbano.
Os cursos d’água são um atrativo para as aglomerações humanas. O núcleo original
das cidades normalmente surge às margens dos rios, em virtude da necessidade da
água para atividades biológicas e produtivas. A manutenção do volume de água nos
cursos d’água faz parte do ciclo hidrológico, circulando através do ar, do solo, e do
subsolo. Por isso, a ocupação urbana deve evitar transformações no meio natural que
interfiram no ciclo hidrológico e, conseqüentemente, na quantidade de água.
O fenômeno da ocupação urbana está intrinsecamente relacionado com a remoção da
cobertura vegetal original do solo. A vegetação, por sua vez, interfere em todos os
demais elementos que estruturam o espaço natural. Ela contribui para a retenção e a
estabilização dos solos, previne contra a erosão, integra o ciclo hidrológico, ameniza o
aumento da temperatura e de poluição do ar, contribui no aspecto estético da
paisagem e serve com habitat para inúmeras espécies animais. Por isso, sua remoção
deve ser planejada de forma a ser redistribuída e/ou incorporada ao ambiente urbano.
69
1.3.
Localização da área de estudo
Situada na Serra do Mar, a APA Petrópolis estende-se sobre terrenos dos municípios
de Petrópolis, Magé, Guapimirim e Duque de Caxias, em altitudes que variam dos 100
aos
1967m
(Serra
da
Maria
Comprida),
abrangendo
uma
superfície
de
aproximadamente 595 km2 (Figura 1).
Figura 1 – Localização da APA Petrópolis, no contexto do Estado do Rio de Janeiro.
Nos principais vales fluviais – rios Piabanha, da Cidade, das Araras, Itamarati, Cuiabá
ocorrem
depósitos
aluviais
quaternários
constituindo
planícies
alongadas
e
lateralmente restritas (FNMA/ECOTEMA, 2001).
A atração turística da região resulta tanto da procura pelos monumentos e sítios
históricos do município, quanto pela aprazibilidade dos seus ambientes naturais.
O crescente número de emigrantes, veranistas ou não, resulta tanto dos benefícios e
facilidades oferecidos pelo grande centro urbano em que se constitui o município de
Petrópolis, da proximidade e rápido acesso à cidade do Rio de Janeiro, quanto pelos
70
ambientes preservados e tranqüilos dos vales e encostas dos velhos e novos núcleos
rururbanos1, como ilustra a Figura 2.
Fonte: FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001.
Figura 2 – Área rururbana em Petrópolis, Vale da Boa Esperança.
Na APA existem inúmeras nascentes protegidas por florestas, cujos rios e córregos
que se formam vertem para a Baía de Guanabara e para a bacia do rio Paraíba do
Sul. Estes cursos d’água abastecem comunidades residentes dentro e fora da APA e
são, juntamente com a cobertura vegetal, os principais atrativos turísticos das áreas
não urbanas. A presença de grandes maciços florestais nos vales e encostas, cuja
exuberância e estado de preservação são atrativos para os turistas que neles se
estabelecem por meio de condomínios e pousadas.
1
De acordo com o Art. 2º da LUPOS, o Município de Petrópolis se divide em Zonas que são diferenciadas
por suas características gerais de uso e ocupação do solo, são elas: Rural (ZRL), Rururbana (ZRB),
Urbana (ZRU) e Proteção Especial (ZPE).
71
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para este trabalho foi considerado o Plano Diretor do Município de Petrópolis, por ser
essa a cidade de maior expressão dentro da APA e a Lei de Lehmann (Lei Federal
6.766 de 19 de dezembro de 1979). Para fins de planejamento, o município utiliza,
entre outros instrumentos e nos termos do Estatuto das Cidades, o Plano Diretor de
Petrópolis, a Lei de Uso, Parcelamento e Ocupação do Solo (LUPOS) e o Zoneamento
Ambiental Municipal, que considera as recomendações da Área de Proteção ambiental
de Petrópolis/APA Petrópolis.
Os materiais utilizados na realização deste trabalho foram:
•
Mapa geológico, produzido pelo FNMA/ECOTEMA (2001), na escala 1:50.000,
•
em formato digital.
•
1:50.000, em formato digital.
•
1:50.000, em formato digital.
•
(2001), na escala 1:25.000, em formato digital.
•
escala 1:25.000, em formato digital.
•
1:25.000, em formato digital.
•
formato digital.
Mapa geomorfológico, produzido pelo FNMA/ECOTEMA (2001), na escala
Mapa de classes de solos, produzido pelo FNMA/ECOTEMA (2001), na escala
Mapa de vegetação e uso atual das terras, produzido pelo FNMA/ECOTEMA
Mapa do Zoneamento Ambiental, produzido pelo FNMA/ECOTEMA (2001), na
Mapa do arruamento, produzido pelo FNMA/ECOTEMA (2001), na escala
Mapa da hidrografia, produzido pelo IBGE (1978), na escala 1: 50.000, em
•
Carta de declividades gerado para o capítulo anterior.
•
Cartographic Tecnology and Geographic Analysis;
•
Institute, Inc;
software GIS Idrisi 32, version Kilimanjaro, maio de 2003, © The Clark Labs for
software ArcGIS/ArcGRID, version 8.1, © Environmental Systens Research
Plano Diretor de Petrópolis, de 2003 (Lei n° 6.070, de 18 de dezembro de
2003, versão revista e atualizada da Lei 4.870 de 05 de novembro de 1991),
•
cedida pela Prefeitura de Petrópolis.
•
Petrópolis - LUPOS, de 25 de maio de 1998.
Lei n° 5.393, de Uso, Parcelamento e Ocupação do Solo do Município de
Lei n° 6.766, Lei Federal que dispões sobre o parcelamento do solo urbano, de
19 de dezembro de 1979.
72
3.1.
Desenvolvimento da metodologia
As análises espaciais foram realizadas utilizando-se o módulo MCE do GIS Idrisi
Kilimanjaro como sistema de apoio à tomada de decisão, usando critérios múltiplos
para selecionar as áreas mais adequadas para a expansão urbana, na área de estudo,
de forma a não agravar os movimentos de massa recorrentes na APA Petrópolis. O
módulo MCE foi utilizado para avaliar e agregar os critérios oriundos de informações
existentes ou geradas.
Os critérios podem ser fatores ou restrições. Os fatores são limitações relativas que
definem algum grau de aptidão para as regiões geográficas, enquanto as restrições
são limitações absolutas que limitam o espaço de análise.
As restrições estão apresentadas no Quadro 1.
Quadro 1 – Restrições utilizadas nas análises.
ID
DESCRIÇÃO
R1
Declividades superiores a 45%
R2
Distância mínima de 15m (“buffer”) de qualquer curso d’água (de acordo
com a Lei de Uso Parcelamento e Ocupação do Solo de Petrópolis).
R3
Distância mínima de 15m (“buffer”) do sistema viário (de acordo com a
Lei Federal 6766/79 e com a Lei de Uso Parcelamento e Ocupação do
Solo de Petrópolis).
R4
Distância mínima de 50m (“buffer”) das falhas geológicas (de acordo
com a Lei de Uso Parcelamento e Ocupação do Solo de Petrópolis).
R5
Zonas de proteção do patrimônio natural e de conservação do
patrimônio natural (de acordo com o Plano Diretor de Petrópolis).
73
Os fatores utilizados nas análises foram:
•
•
As zonas contidas no Zoneamento ambiental.
•
Distância de áreas já urbanizadas.
•
Classes de declividades.
•
Geologia.
•
Distância das rodovias.
•
Geomorfologia.
•
Classes de solos.
•
Uso do solo.
Distância dos cursos d’água.
2.1.1. Processo de análise
Os fatores, em uma primeira etapa, foram agregados através da combinação linear
ponderada (WLC), considerando seus respectivos pesos. Na segunda etapa, os
fatores, juntamente com as restrições foram agregados através da combinação de
média ponderada ordenada, que considera dois conjuntos de pesos, permitindo
controlar o nível de compensação entre os fatores e o nível de risco na determinação
da adequabilidade.
2.1.2. Descrição dos fatores
Para converter os fatores em imagens padronizadas a uma escala de adequabilidade,
foram utilizadas as funções dos conjuntos fuzzy, em bytes, variando de zero (áreas
menos adequadas) a 255 (áreas mais adequadas). Em alguns casos, os fatores foram
reescalonados para valores categóricos de adequabilidade (Quadro 2). A Figura 3
mostra as funções membros do conjunto fuzzy utilizadas neste trabalho.
74
Fonte: adaptado de Corrêa, 2003.
Figura 3 – Funções do conjunto fuzzy.
75
Quadro 2 – Fatores utilizados na análise. Funções fuzzy adotadas e seus respectivos
pontos de controle.
ID
DESCRIÇÃO
dmín
Ponto de Controle
Função Fuzzy
a
b
c
d
Linear
F1
Distância mínima de 15m de
qualquer curso d’água .
15m
15
m
monotônica
200
m
200
m
200
m
crescente
F2
Pedologia
-
Escala [0-255]
-
F3
Geologia
-
Escala [0-255]
-
F4
Geomorfologia
-
Escala [0-255]
-
F5
Uso do Solo
-
Escala [0-255]
-
F6
Zoneamento Ambiental
-
Escala [0-255]
-
F7
Declividade máxima de 45% .
F8
F9
0%
Sigmoidal
Simétrica
Linear
Áreas muito distantes do sistema
viário oneram sensivelmente os 15 m monotônica
custos de implantação de infradecrescente
estruturas.
Áreas mais próximas ao centro
urbano são mais valorizadas e
diminuem
os
custos
de
implementação de infra-estrutura.
2.1.2.1.
0%
5%
20%
45%
0m
5881m
5881m
5881m
0m
6.846m
6.846m
6.846m
Linear
0m
monotônica
decrescente
Distância dos cursos d’água (F1)
O valor 3630m foi obtido após a aplicação do módulo Distance na imagem de recursos
hídricos, produzindo uma superfície contínua de valores de distância Euclidiana. Como
a APA é bem servida de recursos hídricos, fixou-se um patamar de estabilização em
200m, pois uma distância excessiva da água pode significar maiores custos em infraestruturas.
2.1.2.2.
Pedologia (F2)
As classes pedológicas foram reescalonadas a valores categóricos de adequabilidade.
Para isso, entretanto, foi elaborado um mapa que conjugasse as classes de solos
quanto ao risco de erosão, o relevo, a cobertura vegetal, a pressão de uso antópico e
áreas sujeitas à inundação. Esses temas foram cruzados no módulo Crosstab e
reclassificados com diferentes valores de adequabilidade, conforme a Quadro 3.
76
Quadro 3 – Quadro contendo as classes de solo, as características do relevo, da cobertura vegetal, pressão de uso antrópico e as áreas com declividades até 2% sujeitas à inundações. A tabela também
apresenta o resultado do cruzamento entre todos os temas e a adequabilidade para cada nova classe.
Classes de
Fragilidade/
Adequabilidade
Característica do Relevo
Tipo de Solo
Cobertura Vegetal
Muito Baixa/
250
Elevações rochosas sob forma de montanhas
com algumas escarpas, onde vários
penhascos ocorrem com rocha aflorante.
Topos angulosos e arredondados, vertentes
convexas e retilíneas. Altitude média de 1.200
m.
(Ar) Associação
Afloramento de
Rocha + Neossolos
Litólicos.
Floresta ombrófila densa. São expressivas as florestas
das cabeceiras do córrego do Meio e rio da Cidade, que
deságuam na bacia do rio Paraíba do Sul, além de
diversas manchas, de vários tamanhos, dispersos por
toda APA. Também abrange áreas de estágio médio de
sucessão vegetal secundária.
Baixa/
200
Relevo colinoso, forte ondulado, com topos
arredondados e angulosos, vertentes
convexas, vales abertos e fechados, alvéolos
colúvio-aluvionares restritos. Atitude média
variando entre 700 e 900 m.
(Ad) Associação
Neossolos Flúvicos
+ Gleissolos
Háplicos;
(LVA1) Latosssolo
Vermelho-Amarelo
No relevo forte ondulado e montanhoso, com
declividades entre 30 a 60% e cobertura vegetal de
floresta ombrófila densa pouco alterada, o que constitui
uma eficiente cobertura protetora dos solos. Já no relevo
plano e suave ondulado, ocorre a cobertura original de
floresta ombrófila densa, bastante alterada. Nestas
regiões, ainda ocorre o estágio inicial de sucessão.
Média/
150
Relevo caracterizado por encostas de
transição, sulcadas por vales subparalelos com
interflúvios lineares de topos angulosos,
vertentes convexas e retilíneas, vales fechados
a abertos. Patamares arredondados e
desnudos. Declividades 45-75% (montanhoso)
e 20-45% (forte ondulado).
(LVA2) Associação
Latossolo
Vermelho-Amarelo
+ Cambissolo
Abrande regiões desde afloramento rochoso e vegetação
rupestre, passando por pastagens.
Alta/
100
Relevo montanhoso à forte ondulado, de topos
arredondados e angulosos, vertentes convexas
e retilíneas, com declividades entre 20 e 45%.
Presença de tálus junto às encostas rochosas,
colúvios espessos e matacões à meia encosta.
Muito Alta/
80
Relevo montanhoso a escarpado, topos
angulosos, encostas e vertentes retilíneas com
declividades acentuadas, entre 40 e 70%.
(LVA3) Associação
Latossolo
Vermelho-Amarelo
+ Cambissolo +
Solos Litólicos
(Cd) Associação
Cambissolo +
Argissolo VermelhoAmarelo
Floresta ombrófila densa, estágios médio e inicial de
sucessão vegetal secundária, reflorestamento com
espécies exóticas, disseminados por toda a APA,
entretanto suas maiores expressões estão em Araras e
Itaipava. Pastagens e áreas agrícolas. Afloramento de
rochas, ora completamente desnudos, ora cobertos por
vegetação rupestre.
Constituída por cobertura vegetal graminóide e gramíneoherbácea, de origem antrópica, afloramentos rochosos,
vegetação rupestre. Em depressões rochosas ou falhas,
onde o solo é mais desenvolvido, apresenta-se como
vegetação arbustiva, característica de um processo de
sucessão vegetal primária. As florestas aparecem de
forma fragmentada.
77
Pressão de Uso Antrópico
Sítios de lazer e residências em condomínios de alto padrão
construtivo e Sítios de pequena produção: esses sítios têm
origem em grandes propriedades que foram subdivididas ou
são frutos de herança. Como se localizam, em geral, em locais
aprazíveis, são ladeados por sítios ou condomínios de luxo e
muitas das vezes por estes absorvidos. Todavia há ausência de
escolas, postos de saúde, comércio e não raramente
calçamento das ruas.
Sítios de lazer e residências em condomínios de alto padrão
construtivo: apresentam geralmente boa infra-estrutura, com
abastecimento de água, iluminação, arborização, preservação
ambiental, segurança e acesso restrito às pessoas
credenciadas.
Sítios de pequena produção, como se localizam, em geral, em
locais aprazíveis, são ladeados por sítios ou condomínios de
luxo e muitas das vezes por estes absorvidos.
Esta classe também abrange os sítios de lazer e os sítios de
pequena produção, além de áreas em expansão urbana, que se
constitui de superfícies adjacentes ou internas às áreas
urbanas. Trata-se, principalmente, de terrenos baldios,
loteamentos e superfícies terraplenadas e áreas de influência
das vias de circulação, em trechos que distam entre 20 e 30m
da hidrografia.
Risco de Inundação
A rede de drenagem é controlada por
fraturas entalhando vales profundos.
Devida a sua ocorrência em grandes
altitudes, o risco de inundação é nulo.
Quando ocorrem em baixas declividades,
distam em 30m das margens do rio, não
sendo propenso às inundações.
Existe o risco de inundação somente em
áreas muito próximas (10m) aos rios que
cortam a paisagem agrícola.
Engloba desde sítios de lazer e de pequena produção a áreas
fortemente antropizadas.
Áreas sujeitas à inundação devido ao alto
grau de antropização de algumas áreas, o
que diminui a infiltração e aumenta o
escoamento superficial. Este quadro é
agravado nos meses de outubro a abril,
devido a intensas preciptações, de curta
duração.
Sítios de lazer e de pequena produção, mas principalmente
área urbana e de influência das vias de circulação.
Condições mais desfavoráveis nos fundos
de vales, quadro agravado pelo forte grau
de ocupação urbana, onde as classes mais
desfavorecidas constroem suas casas às
margens dos rios.
Considerando-se as áreas mais propícias para a expansão urbana em função das
classes encontradas, quanto mais favoráveis essas características nas unidades de
mapeamento, maior sua aptidão. Considerou-se, de acordo com os dados obtidos do
Crosstab, a classe de fragilidade muito baixa a mais adequada e a muito alta, a menos
adequada.
2.1.2.3.
Geologia(F3)
Assim como a pedologia, as classes geológicas foram reescalonadas a valores
categóricos de adequabilidade, com o diferencial de conjugar também classes de
declividades, similarmente ao que foi feito com a pedologia (Quadro 4).
considerando-se as áreas mais propícias aquelas que apresentam a Unidade Granito
de Nova Friburgo e declividades baixas (0 a 5%). A Unidade Rio Negro Migmatítico e a
Unidade Rio Negro Granitóide associadas a altas declividades (maiores que 45%)
foram consideradas as menos adequadas.
Quadro 4 – Quadro contendo o resultado do cruzamento entre a classes geológicas e
as classes de declividades e a adequabilidade para cada nova classe.
RESULTADO DO CROSSTAB
ADEQUABILIDADE
GR/0-5%
255
BGR/0-5%; GRT/0-5%; GR/5-15%; BGR/5-15%; GR/15-30%.
200
MG-GN/0-5%; GRT/5-15%; BGR/15-30%; GR/30-45%
150
Qa/0-5%; MG-GN/5-15%; GRT/15-30%; MG-GN/15-30%;
BGR/30-45%; GRT/30-45%; GR/>45%; BGR/>45%
100
MG-GN/30-45%; GRT/>45%; MG-GN/>45%
50
Nota: MG/GN: Unidade Rio Negro Migmatítico; GRT: Unidade Rio Negro Granitóide; BGR:
Batólito Serra dos Órgãos; GR: Unidade Granito Nova Friburgo; Qa: Depósitos Aluviais.
2.1.2.4.
Geomorfologia (F4)
As classes geomorfológicas foram reescalonadas a valores categóricos de
adequabilidade conforme mostra o Quadro 5.
78
Considerando-se as áreas menos adequadas aquelas que apresentam a unidade
Montanhas Assimétricas e a unidade Escarpas Abruptas, pois ambas são sustentadas
por migmatitos e granitóides, possuem encostas rochosas de declividades
acentuadas. O relevo caracteriza-se como montanhoso, com desníveis altimétricos
entre 360 e 450 metros e entre 200 e 300 metros para as Montanhas Assimétricas e
Escarpas Abruptas, respectivamente.
Como áreas mais propícias foram consideradas aquelas que apresentam a Unidade
Colinas Altas. Essa unidade possui substrato rochoso constituído principalmente por
biotita-gnaisses, migmatitos e granitóides. O biotita-gnaisse é o tipo litológico mais
propenso a formar manto de alteração mais espesso, dando origem a solos do tipo
Latossolo e, secundariamente, Cambissolo (FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, 2001).
Quadro 5 – Quadro contendo as classes geomorfológicas e a adequabilidade
correspondente.
UNIDADES DE
DESCRIÇÃO
RELEVO
MA (Montanhas
Assimétricas)
EA (Escarpas
Abruptas)
MS (Morros com
Elevações rochosas sob a forma de montanhas com
algumas escarpas, onde vários penhascos ocorrem
com rocha aflorante sem vegetação. Declividades
entre 45 e 75%.
Escarpas abruptas, sulcadas por vales de rios
torrenciais, separados por espigões. Declividades
maiores do que 75%.
ADEQUABILIDADE
0
0
Relevo montanhoso com declividades entre 20 e
45%.
150
Declividades entre 45 e 75% (montanhoso) e
declividades entre 20 e 45% (forte ondulado).
100
CA (Colinas Altas) Relevo colinoso, forte ondulado, com declividades
entre 20 e 45%.
VE (Vales
Os vales contêm depósitos restritos de aluvião e
geralmente grandes concentrações de blocos
Estruturais)
rolados ao longo do talvegue.
200
Serras Restritas)
EE (Escarpas
com Espigões)
2.1.2.5.
180
Uso do solo (F5)
Os valores de adequabilidade foram distribuídos dentro das classes de uso do solo de
acordo com as características viáveis à expansão urbana e proximidade aos núcleos
urbanos existentes. Às áreas utilizadas como pastagem e expansão urbana foram
atribuídos os maiores valores de adequabilidade (Quadro 6).
79
Quadro 6 – Classes de vegetação e uso atual das terras.
CLASSES DE USO DO
DESCRIÇÀO*
ADEQUABILIDADE
Áreas subjacentes ou internas às áreas urbanas,
principalmente, terrenos baldios, loteamentos e
superfícies terraplenadas.
250
Áreas Agrícolas (Ag)
Terras onde se desenvolve a horticultura.
50
Afloramento Rochoso
Superfícies de rochas expostas, apresentando, por
vezes, pequenas áreas cobertas por fina camada de
materiais decompostos (solos incipientes).
Construções residenciais, industriais, comerciais, ruas,
praças e outros espaços construídos pelo homem.
SOLO*
Áreas de Expansão
(Ae)
(Ar)
Área Urbana
Estágio Inicial de
Sucessão Vegetal
Secundária (E1)
Estágio Intermediário
de Sucessão Vegetal
Secundária (E2)
Floresta Ombrófila
Densa (F1)
Área de Influência das
Vias de Circulação (Iv)
Pastagem (Pt)
Reflorestamento (Re)
Sítios de Pequena
Produção (Sp)
80
0
Cobertura vegetal envolvendo comunidades de
substituição de fisionomias graminóide, herbácea e
arbustiva.
150
Cobertura vegetal envolvendo
substituição
de
fisionomias
fechadas.
comunidades de
arbório-arbustivas
50
Integrante da Mata Atlântica, constitui a comunidade
clímax da região.
0
Extensas áreas com obras de contenção de encostas,
que servem para manter em bom estado as margens
das rodovias, mesclam-se com ruínas, pequenos
comércios, pequenas residências, depósitos de
entulhos e pequenas áreas reflorestadas.
Cobertura vegetal graminóide e gramíneo-herbácea,
de origem antrópica, utilizada, principalmente, para o
criatório de gado.
Comunidades arbóreas constituídas de espécies
exóticas, como o pinus, eucalipto, araucária e cipestre.
Propriedades de classe média e média-baixa, utilizada,
em sua maioria, como residências, apresentando a
criação de pequenos animais, pomares e agricultura
de subsistência, cuja produção excedente é
comercializada na vizinhança.
80
220
0
120
Sítios de Lazer e
Residências em
Condomínios de Luxo
(Sr)
Vegetação Rupestre
(Vr)
Áreas utilizadas por pessoas da classe média-alta e
alta. Essas propriedades são utilizadas tanto para
lazer quanto para residência fixa ou de longa
temporada.
180
Comunidades vegetais vizinhas aos afloramentos
rochosos.
50
*Fonte: FNMA/ECOTEMA, 2001.
80
2.1.2.6.
Zoneamento Ambiental (F6)
O Zoneamento Ambiental é o instrumento que estabelece a ordenação do território de
uma APA, mediante a identificação de unidades ambientais (zonas) de comportamento
interno similar com relação aos elementos dos meios físico, biótico e sócio-cultural,
elencando as diretrizes de uso com vistas à conservação e/ou proteção dos seus
recursos naturais e humanos, objetivando a sustentabilidade do desenvolvimento
(FNMA/ECOTEMA, 2001).
As zonas foram reescalonadas a valores categóricos de adequabilidade de acordo
com a aptidão de cada zona para a expansão urbana, conforme mostra o Quadro 7,.
Quadro 7 – Quadro contendo as zonas e suas adequabilidades.
ZONAS*
ZRA1
ZRS1
ZRN2
ZRN2*
ZCO1
ZCO1*
ZCN2
ZCR2
ZEU2
ZPC3
ZPP3
DESCRIÇÀO*
ADEQUABILIDADE
Zona de Recuperação Social e Natural - Compreende áreas com o
meio social degradado, assentadas sobre superfícies, geralmente,
degradadas ou legalmente proibidas.
Zona de Recuperação Social - Compreende áreas onde o meio social
apresenta-se degradado, assentado sobre áreas com suscetibilidade
natural média, não havendo impedimentos naturais ou legais à sua
ocupação.
Zona de Recuperação Natural - Compreende áreas degradadas sob o
ponto de vista natural.
Subzona de Recuperação Natural e de Expansão Restrita da Ocupação
– Compreende áreas com suscetibilidade natural Média a Alta até Alta,
com parcelas degradadas sob ponto de vista natural, em parte
passíveis de ocupação mediante cuidados especiais.
Zona de Consolidação da Ocupação das Áreas Construídas –
Compreende áreas já ocupadas, devendo ser objeto de consolidação
e/ou melhorias do uso e conservação do patrimônio sócio-históricocultural.
Subzona de Consolidação da Ocupação das Áreas Construídas –
Compreende igualmente áreas já ocupadas, porém assentadas sobre
terrenos de alta suscetibilidade natural.
Zona de Consolidação da Ocupação das Áreas Não Construídas Não
Agrícolas – Compreende áreas de influência de vias de circulação e
áreas ocupadas com sítios de lazer, excluindo-se as construções.
Zona de Consolidação da Ocupação das Áreas Não Construídas
Agrícolas – Compreende áreas agrícolas e sítios de pequena produção.
Zona de Expansão da Ocupação com Áreas Construídas –
Compreende áreas apropriadas para a expansão com a ocupação
urbana e rururbana, em terrenos com suscetibilidade natural Média.
Zona de Proteção do Patrimônio Natural - Conservação - Compreende
áreas pouco ou muito pouco antropizadas, indicadas para conservação,
caracterizando áreas de uso restrito.
Zona de Proteção do Patrimônio Natural - Preservação - Compreende
áreas pouco ou muito pouco antropizadas, indicadas para a
preservação permanente, caracterizando áreas vedadas ao uso. Incluise aqui as ZVS (Zonas de Vida Silvestre) e as áreas dos Parques,
Reservas e RPPNs inseridos na APA.
50
100
50
120
180
150
120
50
230
0
0
*Fonte: FNMA/ECOTEMA, 2001.
81
2.1.2.7.
Classes de declividades (F7)
As classes de declividades foram padronizadas através da função fuzzy linear
simétrica, com os pontos de controle conforme mostrado no Quadro 2.
A adequabilidade, inicialmente, é crescente, variando de 0 a 5%, onde atinge o valor
máximo de adequabilidade que se mantém até declividades 20%, declividade máxima
permitida para as vias em trecho de extensão máxima de 100m, quando começa a
decrescer até atingir adequabilidade nula em 45%.
Apesar da Lei de Uso, Parcelamento e Ocupação do Solo de Petrópolis (LUPOS)
permitir a ocupação em declividades de até 100%, salvo o incremento de declividades,
determinado pelo fator de acréscimo em áreas e testadas mínimas, entretanto, a
declividade de 45% é a declividade máxima permitida por Lei Federal (Lei Lehmann)
prevendo a execução de projetos especiais.
Áreas com declividades superiores a 45% podem ser ocupadas, uma vez que existem
recursos técnicos para isso. Porém, podem exigir custos muito elevados, o que muitas
vezes inviabiliza a sua ocupação.
2.1.2.8.
Distância do sistema viário (F8)
O valor 5881m foi obtido após a aplicação do módulo Distance na imagem das
rodovias. A adequabilidade decresce com a distância, áreas mais próximas às
rodovias são mais adequadas por questões de operacionalidade, facilitando a ligação
com as novas vias.
2.1.2.9.
Distância das áreas urbanizadas (F9)
Como se objetiva a alocação de áreas adequadas para a expansão urbana, é
importante que essas áreas estejam próximas ao núcleo urbano existente, devido às
questões operacionais e de infra-estrutura.
2.1.3. Agregação dos fatores
Os fatores foram agregados, numa primeira etapa, usando o procedimento da
Combinação Linear Ponderada (WLC) através da qual cada fator padronizado é
multiplicado pelo seu peso correspondente, são somados e a soma é dividida pelo
82
número de fatores. A combinação ponderada é calculada para cada pixel na imagem e
permite a compensação entre os fatores. A análise posiciona-se entre o risco extremo
(OR) e o risco mínimo (AND).
O valor de compensação ou ponderação indica a importância relativa dos fatores e
regula a compensação entre eles. No GIS Idrisi Kilimanjaro, o módulo Weight compara
pares de fatores em termos de sua importância relativa e depois de todas as
combinações possíveis, calcula um conjunto de pesos cuja somatória é 1 e uma razão
de consistência.
O Quadro 8 explicita a distribuição das importâncias relativas, objetivando a expansão
urbana com redução de risco dos movimentos de massa.
Quadro 8 – Importância relativa entre os fatores.
FATORES F6 F8 F9 F4 F7 F2 F3 F5 F1
F6
1
F8
1
1
F9
1
1
F4
1/2 1/2 1/2 1
F7
1/2 1/2 1/2 1/2 1
F2
1/2 1/2 1/2 1/2 1/2 1
F3
1/2 1/2 1/2 1/3 1/3 1/2 1
F5
1/2 1/2 1/2 1/3 1/3 1/3 1/3 1
F1
1/2 1/2 1/2 1/3 1/3 1/3 1/3 1
1
1
NOTA: F1: distância dos cursos d´água; F2: pedologia; F3: geologia; F4: geomorfologia;
F5: uso do solo; F6: zoneamneto ambiental; F7: classes de declividades; F8: distância do
sistema viário; F9: distância das áreas urbanizadas.
Numa Segunda etapa, os fatores e as restrições foram agregados pelo processo da
Média Ponderada Ordenada (OWA), no qual são aplicados aos fatores um segundo
conjunto de pesos, permitindo controlar o nível total de compensação entre os fatores
e também o nível de risco na determinação da adequabilidade. As restrições
permanecem como máscaras boolean.
O segundo conjunto de pesos permite controlar o nível total de compensação entre os
fatores e o nível de risco na determinação da adequabilidade. O fator com menor
adequabilidade recebe o primeiro order weight, e assim sucessivamente, ou seja, os
fatores são ponderados com base em sua ordem, do mínimo para o máximo.
83
Segundo EASTMAN et al. (1998), em um processo de decisão envolvendo três
fatores, se for aplicado todo o peso ao fator com menor adequabilidade, o resultado
será uma solução conservadora, de aversão ao risco, semelhante ao operador lógico
AND (todos os critérios devem ser satisfeitos). Por outro lado, se todo o peso for
atribuído ao fator com maior adequabilidade, a solução será de risco elevado,
equivalente ao operador lógico OR (pelo menos um dos critérios deve ser satisfeito).
Se for atribuído um conjunto de pesos iguais a todos os fatores, resultaria em uma
solução de risco médio e compensação total, análogo ao operador WLC, que nada
mais é que um caso particular de OWA.
Para o cálculo dos pesos ponderados, foi utilizado o módulo Weight, para o qual foram
atribuídos os valores de importância relativa entre os fatores (Quadro 9).
Quadro 9 – Importância relativa entre os fatores e os pesos ponderados calculados de
acordo com a matriz de atribuição.
FATORES F6 F8 F9 F4 F7 F2 F3 F5 F1 PESOS
F6
1
0,1580
F8
1
1
F9
1
1
F4
1/2 1/2 1/2 1
0,1375
F7
1/2 1/2 1/2 1/2 1
0,1181
F2
1/2 1/2 1/2 1/2 1/2 1
0,0943
F3
1/2 1/2 1/2 1/3 1/3 1/2 1
0,0770
F5
1/2 1/2 1/2 1/3 1/3 1/3 1/3 1
0,0495
F1
1/2 1/2 1/2 1/3 1/3 1/3 1/3 1
0,1580
0,1580
1
1
0,0495
NOTA: valor 1: mesma importância de um item sobre outro; valor 1/2: importância
intermediária, entre igualmente e moderadamente menos importante; valor 1/3: importância
moderadamente menor de um fator sobre outro.
2.1.4. Cenários finais
As restrições booleanas e os fatores foram agregados pelo procedimento OWA,
variando os níveis de compensação gerando cenários finais de adequabilidade. Dentre
as infinitas possibilidades de variação dos níveis de riscos e grau de compensação, as
que representam risco extremo (análise otimista e ausência de compensação) e
aversão ao risco (análise pessimista ou conservadora), não foram consideradas, pois
não estão em conformidade com os objetivos propostos. A Figura 4 explicita o espaço
84
estratégico de decisão OWA, onde se percebe, que além do dos casos particulares
citados, qualquer combinação de pesos ordenados é possível, desde que o somatório
dos mesmos seja a unidade. O risco assumido e o grau de compensação podem ser
calculados pelas expressões 1 e 2.
Modificado de RAMOS e MENDES, 2001.
Figura 4 – Espaço estratégico de decisão OWA.
R=
1 n
∑ (n − 1)Oi
n −1 i
1
n∑ oi −
n
i
C = 1−
(n − 1)
n
Equação 1
2
Equação 2
Fonte: EASTMAN et al., 1998.
Onde:
R = risco
C = compensação
Oi = peso ordenado na posição i
n= número de fatores
Os cenários finais, propostos a partir da variação dos níveis de risco e grau de
compensação, estão apresentados no Quadro 10 e representados na Figura 6.
85
Quadro 10 – Resumo dos cenários finais propostos.
POSIÇÀO E VALOR DOS PESOS ORDENADOS
CENÁRIOS
RISCO COMPENSAÇÃO
1°
2°
3°
4°
5°
6°
7°
8°
9°
C1
0,2000 0,1800 0,1600 0,1400 0,1200 0,0800 0,0600 0,0400 0,0200
0,68
0,81
C2
0,1600 0,1400 0,1300 0,1200 0,1100 0,1000 0,0900 0,0800 0,0700
0,58
0,91
C3
0,1111 0,1111 0,1111 0,1111 0,1111 0,1111 0,1111 0,1111 0,1111
0,50
1,00
C4
0,0300 0,0600 0,0900 0,1200 0,3000 0,1600 0,1200 0,0800 0,0400
0,48
0,75
C5
0,0200 0,0400 0,0600 0,0800 0,1200 0,1400 0,1600 0,1800 0,2000
0,32
0,81
C6
0,0750 0,0750 0,0750 0,0750 0,4000 0,0750 0,0750 0,0750 0,0750
0,50
0,68
NOTA: C1: cenário 1; C2: cenário 2; C3: cenário 3; C4: cenário 4; C5: cenário 5; C6: cenário 6.
A Figura 5 mostra os cenários finais no espaço estratégico de decisão.
Figura 5 – Posição dos cenários finais no espaço estratégico de decisão.
86
87
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Aproximações WLC e OWA resultam em imagens contínuas de adequabilidade, que
tornam a seleção de sites, específica para um determinado fim, problemática.
Na análise de risco, o número de áreas adequadas obtidas com o processo de
agregação foi tanto menor quanto menor o risco assumido. O contrário também foi
verificado, quanto maior o risco, maior o número de áreas adequadas. Raciocínio
idêntico é válido para o grau de compensação. Assim, quanto menor a compensação
entre os fatores, menor o número de área adequadas ao fim do processo de
agregação.
Os níveis de risco e graus de compensação assumidos para os cenários finais são
descritos a seguir:
C1: risco inferior ao médio e alta compensação;
C2: risco inferior ao médio e alta compensação;
C3: risco médio e compensação total;
C4: risco superior ao médio e alta compensação;
C5: risco superior ao médio e alta compensação;
C6: risco médio e compensação superior à média.
De posse dos cenários finais, com áreas classificadas em níveis contínuos de
adequabilidade, foram aplicados dois novos critérios a fim de se obter áreas contíguas,
individualizadas, que possam ser utilizadas para a expansão urbana. Os critérios
utilizados foram:
•
•
•
Área superior a 10 hectares;
Adequabilidade mínima de 190 para a proposta a partir do cenário 4;
Adequabilidade mínima de 215 para a proposta a partir do cenário 5.
Para a obtenção das áreas adequadas, foi aplicada a macro SITSELECT nas imagens
C4 e C5. A macro usa vários módulos Idrisi para produzir dois mapas de sites. O
primeiro mapa mostra cada site com identificador único para cada área, o segundo
mapa mostra sites usando valores originais contínuos de adequabilidade. A macro
também apresenta uma estatística sobre cada site selecionado, incluindo o valor
médio da adequabilidade, a variação dos valores, desvio padrão e área em hectares.
Como resultado temos a Proposta 1 (figura 7), com áreas superiores a 10 hectares e
adequabilidade mínima de 190 e a Proposta 2 (Figura 8), também com áreas
superiores a 10 hectares e adequabilidade mínima de 215.
88
89
90
A escolha dos cenários 4 e 5, como propostas para a expansão urbana, se deu pela
observação dos graus de risco e compensação. A alta compensação equilibra-se ao
maior risco, garantindo a coerência das propostas. Isso se comprova pela
conformidade entre as áreas encontradas e as áreas para expansão urbana contidas
na ZEU2 (Zona de expansão da ocupação com áreas construídas), segundo o
Zoneamento Ambiental, realizado pelo FNMA/INSTITUTO ECOTEMA, e suas
diretrizes de uso para o ordenamento do território abrangido pela APA Petrópolis.
A principal diferença entre as propostas apresentadas neste trabalho e o que foi feito
para o Zoneamento está na consideração de áreas próximas às áreas já urbanizadas.
Isso é de fundamental importância, principalmente, porque a população concentrada
nos limites da APA pode ser considerada uma população essencialmente urbana,
tendo em vista que as maiores concentrações localizam-se nos primeiro e segundo
Distritos, que correspondem ao Centro Histórico da cidade de Petrópolis e seus bairros
periféricos. A cidade de Petrópolis possui, ainda, a integração de seus principais
bairros via centro da cidade, o que reitera a necessidade da expansão urbana se dar
próxima aos núcleos urbanos.
Sendo a APA Petrópolis uma APA de características urbanas, outro aspecto
importante considerado foi o da infra-estrutura urbana, vinculada à capacidade de
acesso aos serviços básicos por parte da população. Como agravante, em uma área
já bastante atingida por movimentos de massa, a abertura de novas ruas para
loteamentos sem o cuidado imediato da instalação de sistemas adequados de
drenagem de águas de superfície (guias, sarjetas, esgotos pluviais, valas
impermeabilizadas e mesmo pavimentação) leva, inevitavelmente, à formação de
sulcos que se transformarão em novas problemáticas, bem como o processo de
erosão, uma vez removidos o revestimento vegetal e a camada superficial do solo,
pois o processo de urbanização, por si só, pressupõe a remoção da vegetação natural.
O processo de expansão urbana pode ser entendido como resultado de uma dinâmica
de conflitos e negociações entre os fatores naturais e antrópicos envolvidos, onde
diferentes interesses vão se associar de acordo com o problema.
A abordagem integrada de todos os fatores utilizados neste trabalho assume uma
dimensão ambiental, direcionando a APA Petrópolis para o equacionamento desses
problemas, que estão além das ações de regularização, mas que também deverão
incorporar os diferentes interesses envolvidos e a participação social nas decisões.
91
4. CONCLUSÕES
O crescimento da população se depara com a redução do número de áreas
adequadas à expansão urbana nos municípios.
Nos morros da principal cidade da APA - Petrópolis, a ocupação desordenada vem
acumulando riscos e prejuízos ambientais, que se evidenciam em desastres cada vez
mais numerosos e na geração de paisagens urbanas cada vez mais comprometidas e
deterioradas.
Essa constatação demonstra a estreita relação existente entre as características da
ocupação urbana de encostas e a manutenção ou incremento de suas condições de
estabilidade, além das características do tipo de ocupação e os aspectos de custos
associados às implantações.
Utilizando-se a macro desenvolvida no Software GIS Idrisi, Version Kilimanjaro,
denominada siteselect, foi possível encontrar os melhores locais (adequabilidade
acima de 190 e 215, para os cenários 4 e 5, respectivamente) que apresentam áreas
superiores a 10 ha;
Foram encontradas 11 áreas entre 10 e 66 ha que apresentam adequabilidade
superior a 190 e 15 áreas entre 10 e 34 há com adequabilidade superior a 215.
Os resultados obtidos, no presente estudo, revelam o SIG como uma ferramenta útil e
ágil na integração de informações espaciais para tomada de decisão no processo de
avaliação e seleção de áreas aptas à expansão urbana.
O presente trabalho propõe uma metodologia simples de análise espacial que agrega
critérios ambientais, operacionais e sócio-econômicos de dados digitais (mapas
cartográficos e temáticos e imagem de satélite) espacialmente georreferenciados.
Espera-se que a metodologia venha orientar a avaliação e seleção de áreas potenciais
à expansão urbana, visando, sobretudo, a redução de custos operacionais e
ambientais, fundamental em uma região como a APA Petrópolis, formada por
unidades geoambientais vulneráveis a desequilíbrios do meio ambiente, quer seja por
processos naturais ou pela ação do homem.
92
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Pesquisa Metalogenética. Caderno de Informação Georeferenciadas,1:2, 1997.
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EASTMAN, J. R.; JIANG, H.; TOLEDANO, J. Multi-criteria and multi-objective
decision making for land allocation using GIS. In: Beint, E.; Nijkamp, P (Eds),
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processos insustentáveis. In: São Paulo em Perspectiva. vol.15 no.1 São Paulo.
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Plano Diretor de Petrópolis. Petrópolis – RJ, 2003.
93
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VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP:
Lincoln Institute, 2001. 373p.
94
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tentou-se mostrar, ao longo do presente trabalho, um diagnóstico inicial e básico das
situações de risco de movimentos de massa na APA Petrópolis, Rio de Janeiro. Para
isso, identificou e caracterizou a evolução urbana, a partir da classificação de imagens
orbitais; avaliou os processos da dinâmica superficial, analisando fatores físicos e
antrópicos relevantes e, utilizando a avaliação multicritério,.elaborou o mapeamento de
áreas adequadas à expansão urbana, cumprindo, dessa forma, os objetivos
inicialmente propostos.
Na APA Petrópolis, a ocorrência dos movimentos de massa também é uma
conseqüência do modelo de ocupação, aliado ao desmatamento e à instabilidade
natural do meio, onde não foram utilizadas práticas de construção e conservação do
solo. Em geral, as áreas de risco envolvem populações de baixa renda que ocupam
porções de declive acentuado das encostas, sem os devidos critérios.
Os efeitos das ocupações problemáticas das encostas não se restringem a elas,
afetando também as áreas de baixadas e cursos d’água, através do carreamento de
solo, gerando assoreamentos e propiciando inundações. A ocupação inadequada de
encostas é resultado de um descaso institucional com o desenvolvimento urbano,
expressado pela desconsideração dos condicionantes físicos.
Para resolver o problema, medidas estruturais são necessárias, entretanto, além de
onerosas, não são uma solução eficaz e sustentável quando não estão atreladas à
medidas não estruturais.
Em áreas ainda não urbanizadas, existem medidas de controle que podem ser usadas
antes da ocupação. Essas medidas podem evitar que, no futuro, as medidas
estruturais se tornem imprescindíveis.
No caso das áreas urbanas, a noção de meio ambiente é bastante complexa, uma vez
que o homem, muitas vezes, não é capaz de perceber o quanto suas atividades, seu
comportamento e anseios, influenciados por padrões culturais ou por aspectos
políticos e sócio-econômicos, podem interferir na sua qualidade de vida.
A questão do risco geológico-geotécnico é o resultado da ocupação de áreas
inadequadas, quer seja pela viabilidade econômica, pela especulação imobiliária, ou
ainda pela falta de uma política que atue de forma efetiva, voltada para o planejamento
urbano.
De modo geral, percebe-se que a diminuição na magnitude dos impactos ambientais
depende do disciplinamento do uso e ocupação do solo, preservando as
características do terreno, da drenagem e da vegetação natural. A paisagem
95
desconfigurada é fruto do crescimento espontâneo, sem o cumprimento da
legislação.Trabalhos como este são importantes para que locais com características
distintas sejam tratados de forma também distinta, avaliando-se tanto seus aspectos
físicos quanto os sociais.
Entretanto, cabe salientar que, para qualquer pesquisa que se faça envolvendo áreas
urbanas são necessários materiais cartográficos que ilustrem o maior número de
dados sobre a área e em escala mais adequada que a utilizada neste trabalho, 1:
10.000 seria o ideal, permitindo um nível de detalhamento maior dos critérios
ambientais, operacionais e sócio-econômicos considerados. A escassez de dados
sobre a área, em escala maior que a utilizada, limitou o detalhamento desta pesquisa.
Nesse contexto, os sistemas de informação geográfica transformaram-se em uma
grande ferramenta de análise, nos trabalhos de planejamento urbano. No caso de
Petrópolis, a cidade de maior expressão dentro da APA Petrópolis, sugere-se que o
estudo realizado para os 70% do território pertencente a APA seja estendido ao
restante do Município, uma vez que os problemas aqui abordados são pertinentes a
toda Petrópolis.
Propõe-se também a caracterização geotécnica de campo e de laboratório para os
solos da área de estudo, de modo a disponibilizar um banco de dados extensivo
objetivando seu uso em projetos locais de engenharia, direcionados à estabilidade de
taludes e engenharia de fundações.
Ainda, como sugestão para trabalhos futuros, propõe-se o estudo da viabilidade
definitiva das áreas selecionadas para a expansão urbana, com levantamentos
adicionais de caráter local. Esses estudos visam a verificação in situ das
potencialidades de cada área para a priorização de cada uma delas, bem como o
levantamento do valor venal das terras, uma vez que a valorização excessiva das
terras torna-se um fator complicador a mais.
Sugere-se a inclusão na análise desenvolvida neste trabalho de outros fatores, tais
como os sugeridos anteriormente, a fim de gerar novas imagens de adequabilidade.
96