UMA NOVA FILOSOFIA PEDAGÓGICA
Marcelo Bolshaw Gomes1
1. Introdução
A ‘Educação Midiática’ é um movimento mundial contemporâneo, que se
desenvolve em vários países com características específicas. Em comum, a necessidade
de uma adequação institucional entre mídia e escola, ou ainda entre a mídia e o
aprendizado social (dentro e fora do entorno escolar). A educação midiática, também
conhecida como alfabetização midiática, refere-se à capacidade de analisar, avaliar e
compreender criticamente os meios de comunicação e suas mensagens. Em um mundo
cada vez mais saturado de informações provenientes de várias fontes, a educação
midiática tornou-se uma habilidade essencial para os indivíduos navegarem com
sucesso na sociedade contemporânea.
A educação midiática envolve o desenvolvimento de habilidades para acessar,
analisar, avaliar e criar mensagens em uma variedade de formas de mídia, incluindo
notícias, publicidade, entretenimento, redes sociais e outras plataformas. O objetivo
principal da educação midiática é capacitar os indivíduos a serem consumidores críticos
e produtores responsáveis de conteúdo midiático. Isso inclui a compreensão de como
as mensagens são construídas, quem as produz, como são distribuídas e quais impactos
podem ter na sociedade. A educação midiática desenvolve habilidades como análise
crítica, pensamento crítico, interpretação de mensagens, reconhecimento de viés,
discernimento entre fatos e opiniões, e habilidades de produção de mídia.
Os currículos de educação midiática podem abordar uma variedade de tópicos,
incluindo ética na comunicação, diversidade e representação na mídia, alfabetização
digital, segurança online e compreensão de como as plataformas de mídia funcionam.
Com a predominância da comunicação digital, a educação midiática frequentemente se
concentra em questões relacionadas à internet, redes sociais, notícias online,
desinformação e fake news.
1
Professor do Programa de Pós Graduação em Estudos da Mídia da UFRN.
A educação midiática também enfatiza a importância da representação inclusiva
de grupos diversos na mídia, promovendo a compreensão da diversidade cultural,
étnica, de gênero e outros aspectos da sociedade. A ideia de ‘igualdade’ é equitativa e
proporcional, não subtraindo as diferenças ou impondo maiorias em nome do coletivo.
Muitos sistemas educacionais incorporaram a educação midiática em seus
currículos, abordando essas habilidades em disciplinas como literatura, ciências sociais
e até mesmo em aulas específicas de educação midiática. Através da educação
midiática, os indivíduos são capacitados a tomar decisões informadas, a questionar
fontes de informação e a participar ativamente na sociedade digital. A educação
midiática é fundamental para equipar as pessoas com as habilidades necessárias para
participar de forma crítica e consciente na era da informação, onde o acesso à mídia é
ubíquo e as mensagens são abundantes e variadas. Sem tais habilidades cognitivas e
tecnológicas para vida midiática, a pessoa será culturalmente excluída e relegada
socialmente a condição de subalterno, não apenas do ponto de vista econômico, pela
exploração do trabalho manual, mas, sobretudo, pela reprodução das desigualdades
sociais em todos os níveis.
A difusão das tecnologias da informação não resultou e não resultará
em desemprego. Mas, as relações sociais entre o capital e o trabalho
sofreram uma transformação profunda. A mão-de-obra está
desagregada em seu desempenho, fragmentada em sua organização,
diversificada em sua existência e dividida em sua ação coletiva. Capital
e trabalho tendem cada vez mais a existir em diferentes espaços e
tempos: o espaço de fluxos e o espaço dos lugares, tempo instantâneo
de redes computadorizadas versus tempo cronológico da vida
cotidiana. O Capital é global; o trabalho, local (Castells,1999, p. 499).
A educação midiática é importante tanto para que o capitalismo global forme as
elites de diferentes países como também para os que lutam ampliação democrática da
atual sociedade de redes. Entre as correntes progressistas da Educação Midiática atual,
o movimento latino-americano da Educomunicação ocupa lugar de destaque.
2. Educomunicação
O argentino Mario Kaplún (1998) desenvolveu, na década de 70, experiências de
rádio e TV críticos e participativos com comunidades agrícolas. A iniciativa atesta a
característica política do movimento latino (Bona; Conteçote; Costa, 2007).
Barbas (2012), inspirada em Paulo Freire, enfatiza o caráter dialógico da
Educomunicação, atribuindo a esta a capacidade, por meio do intercâmbio simbólico,
de construção coletiva, colaborativa, participativa, criativa e transformadora. A
Educomunicação é ainda um paradigma teórico de orientação de práticas sócioeducativo-comunicacionais, com o objetivo de criar e fortalecer ecossistemas
comunicativos abertos e democráticos nos espaços educativos; é a interface
Comunicação/Educação, constituindo-se como um campo transdisciplinar dialógico2.
Conjunto de conhecimentos e ações que visam desenvolver
Ecossistemas comunicativos abertos, democráticos e criativos em
espaços culturais, midiáticos e educativos formais (escolares), não
formais (desenvolvidos por ONGs) e informais (meios de comunicação
voltados para a educação), mediados pelas linguagens e recursos da
comunicação, das artes e tecnologias da informação, garantindo-se as
condições para a aprendizagem e o exercício prático da liberdade de
expressão (ABL, 2024).
Soares (2005, 2008, 2014, 2018, 2000, 2020, 2022) é o principal pesquisador
responsável pelo desenvolvimento da Educomunicação, tanto como teoria (adaptando
os conceitos de ‘autonomia’ de Paulo Freire, de ‘dialogia’ de Mikhail Bakhtin e de
‘mediação’ de Jesus Martin-Barbero) quanto como prática pedagógica, principalmente
através do curso de licenciatura da USP3 e da rede municipal de ensino de São Paulo4.
Exemplos práticos de Educomunicação são o uso de rádio escola, web rádio virtual,
jornal comunitário, videogames didáticos, softwares de aprendizagem on-line, podcast,
blogs, fotografia, produção de notícias para veiculação em mídias comunitários.
O movimento corresponde há quatro demandas atuais (Almeida, 2024, p. 11):
a) em âmbito internacional, os media studies, chamados aqui no Brasil de mídiaeducação ou educação para a mídia, que subsidiam os estudos educomunicativos na”;
b) a pedagogia da comunicação, que congrega textos e autores (como Freinet, Vygostky,
entre outros) que problematizam a influência entre os dois campos;
c) arte-educação, reunindo textos do campo das artes e da educação, servindo de base
para a área de expressão comunicativa por meio da arte; e
d) gestão da comunicação, deriva da interseção entre disciplinas da administração
(como marketing) e da comunicação social (relações públicas e publicidade).
2
Resumido do site da ABPEducom: <https://abpeducom.org.br/>
3
https://www.eca.usp.br/graduacao/licenciatura-em-educomunicacao
4
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/educomunicacao/
O uso de tecnologia para fins educacionais de formas equivocadas - como a EAD
(a educação tradicional a distância com turmas gigantes) e a gamificação que se utiliza
da ludicidade para formar pessoas competitivas – não tem nada de ‘libertadoras’, são
adaptações da tecnologia da comunicação para o aperfeiçoamento do status quo. Não
se trata de como usar o celular na sala de aula, mas, sim, de como usar o celular para
mudar os hábitos, de como usar a tecnologia para se libertar do enquadramento social
e não de ser melhor condicionado socialmente através de máquinas. Apenas
incorporando as pedagogias voltadas para o desenvolvimento cognitivo (Montessori,
em relação à motricidade; Vygotsky, em relação às interações; Freinet, em relação à
comunicação) pode-se pensar em tecnologia na educação.
A Educomunicação é bastante diferente das chamadas Tecnologia de
Informações e Comunicação (TIC). As TIC veem a comunicação (as “mídias sociais”) de
forma instrumental, colocando ênfase nos conteúdos e efeitos produzidos em uma
estratégia para tornar o aprendizado mais atraente para o aluno. A TIC substitui o
quadro negro pelo telão interativo como ferramenta. Já a Educomunicação coloca a sua
ênfase no processo construtivista, em que o aluno incorpora a tecnologia a si e é sujeito
do conhecimento que produz.
Do ponto de vista teórico, a dois pontos que considero importantes de ressaltar:
o conceito de ‘ecossistema educacional’ e a prática de ‘intervenções pedagógicas’
coletivas em escolas, comunidades e instituições.
3. Ecossistema educacional
O conceito de sistema mudou muito no decorrer do tempo. De um “espaço em
que os elementos interagem entre si” do funcionalismo (Parsons) para um “conjunto de
relações auto organizadas para autonomia em relação ao exterior” (Maturana e
Luhmann), houve um longo percurso. No começo, os sistemas tendiam à homeostase,
ao equilíbrio interno. Com a cibernética, os sistemas se organizavam contra a entropia,
para resistir ao caos. Hoje, a autopoesis - a autonomia sistêmica através da auto-ecoorganização (da complexidade internas de seus feedbacks e da diversificação de
entradas e saídas) - é o objetivo dos sistemas. É o que faz de sistema, sistema.
Nesse novo paradigma, todos os fatores estão conectados, os sistemas não se
excluem. Aliás, a diferença entre um sistema e outro, é apenas de perspectiva e ênfase,
uma vez que se trata de uma única realidade. A ideia de um ecossistema educacional,
por exemplo, não se limita as instituições escolares, mas também observa o aprendizado
social em outros ambientes, como a família e a comunidade. Até mesmo instituições de
outros sistemas (econômicas, repressivas, mídia) participam indiretamente através de
restrições (perdas, punições, constrangimentos) e de incentivos (financeiros, culturais,
simbólicos) do ecossistema educacional. O ecossistema é complexo e integral. Ele faz
parte de outros ecossistemas e outros ecossistemas podem ter interseções com ele.
O ecossistema de uma escola municipal faz parte dos ecossistemas comunitário,
regional, nacional e global. Também faz parte do ecossistema de ensino como um todo,
que envolve as secretarias municipal e estadual, a rede privada do local, as
universidades, o ministério da educação e vários institutos.
Além de fazer parte de outros ecossistemas maiores, existem ainda
acoplamentos estruturais, conexões horizontais entre sistemas. A própria ideia de
‘Educomunicação’ é ecossistemática, porque representa uma prática de interface
transversal (e interseção) entre dois sistemas com objetivos distintos.
Muitas conexões sistêmicas não são evidentes. A cultura, por exemplo, é um dos
fatores invisíveis mais importantes para entender o ecossistema educacional. Pode-se
observar sua influência tanto em relação aos professores (se têm uma cultura de
excelência ou de sobrevivência em relação à formação continuada) e das famílias dos
alunos (em termos de formação e acesso à informação).
Qualquer espaço de interação que gere aprendizado podem ser considerado
‘ecossistema educacional’. Uma cozinha, um time de futebol, uma família. Porém, a
classificação clássica é que existem ecossistemas escolares, comunitários e corporativos.
Para Educomunicação, o ecossistema educacional deve ser um ambiente de
aprendizagem que valorize a individualidade e promova a autonomia e engajamento
crítico dos alunos. A ideia central é que, através de intervenções pedagógicas e
midiáticas, possa-se melhorar os ecossistemas educativos.
4. A intervenção educomunicativa
A Educomunicação é uma abordagem que integra processos de comunicação e
educação para promover o aprendizado de forma colaborativa e participativa. As
intervenções educomunicativas são ações socioculturais que visam atuar em situações
de conflito e desigualdade. O objetivo, mais do que ensinar, é conscientizar as pessoas
do contexto e torna-las protagonistas de suas próprias vidas. Eis porque se considera
herdeira de Paulo Freire. Ele também utilizava o letramento alfabético como uma
ferramenta necessária à conscientização do contexto social. Hoje, alguns exemplos das
ferramentas da intervenção educomunicativa são: Rádio escola, Web rádio virtual,
Jornal comunitário, Videogames, Softwares de aprendizagem on-line, Podcasts, Blogs e
Fotografia. Todas essas técnicas de letramento midiático, no entanto, não visam apenas
a constituição de uma competência midiática5, mas são sobretudo constitutivas de uma
formação cidadã dos alunos.
Existem, conforme Soares (2014c, sete áreas simultâneas de intervenção
Educomunicativa: 1) Educação para a Comunicação (EC); 2) Pedagogia da Comunicação
(PC); 3) Gestão da Comunicação (GC); 4) Mediação Tecnológica na Educação (MTE); 5)
Produção Midiática Educativa (PME); 6) Expressão Comunicativa através da Arte (ECA);
e 7) epistemologia da Educomunicação (EE). Recentemente se apresentou a proposta
de duas novas áreas de intervenção: educação para a Transcendência e Direitos
Humanos (Almeida, p. 22).
O primeiro passo é o Diagnóstico. Problemas como violência escolar e
dificuldades de convivência são diagnósticos inadequados. O ideal é começar a partir de
um levantamento de dados (como, por exemplo, a quantidade e locais de brigas
ocorridas). O diagnóstico tem um efeito terapêutico realizado a partir de falas dos
envolvidos e também utilizando rodas de conversa para levantar como o problema está
ocorrendo. Porém, o mais importante é o mapeamento dos fluxos de comunicação do
ecossistema. Onde não há comunicação? Quais conflitos precisam se tornar diálogos?
Quais problemas são estruturais e quais são apenas passageiros?
5
A competência midiática é formada pela competência digital, pela competência audiovisual e pela
competência informacional – segundo o currículo Alfamed de formação de professores em educação
midiática (Aguaded et al., 2021, p. 14).
A segunda etapa é o Planejamento. Para tanto, é preciso escrever um projeto de
intervenção detalhando três aspectos.
Apresentação consiste em elucidar o problema, que deverá ser esmiuçado a partir do
diagnóstico. Assim, essa etapa do projeto é apenas uma pequena explicação do que está
acontecendo e dos motivos pelos quais é preciso realizar a intervenção.
Intervenção pedagógica é formada pelas ações que se pretende fazer para modificar a
situação apresentada. São utilizadas aqui as sete áreas de intervenção.
Metodologia É preciso traçar Objetivos (semestrais e anuais) para serem realizados,
bem como quantifica-los em Metas e elaborar Estratégias de como realiza-los. Também
é necessário um Cronograma - para indicar em quanto tempo o projeto será realizado
e quando será colocada em prática cada uma das etapas
A terceira fase do projeto corresponde a Execução das Ações e a observação de
seus resultados imediatos; e a quarta e última etapa é a Avaliação. Além de analisar os
parâmetros da Metodologia (Objetivos, Metas, Estratégias e Prazos) em relação às sete
áreas de intervenção, uma avaliação educomunicativa deve auferir ganhos e perdas
simbólicos na auto-organização do ecossistema, deve ser uma auto avaliação coletiva,
com ampla participação na análise e interpretação dos resultados.
Comunicação
Social
Educação
Educomunicação
Administração/
Comunicação
Social
ÁREAS
Educação para a Pedagogia da
comunicação
comunicação
Expressão
pelas artes
Produção
midiática
Mediação
tecnológica na
educação
Epistemologia
da educomunicação
Gestão da
comunicação
FOCO PRINCIPAL
Capacitar os
participantes Usar recursos da
Dialogar,
para a prática da comuni- cação
usando as
comunicação para facilitar a
linguagens
dialógica, usan- construção de
artísticas.
do - ou não - as conhecimento.
tecnologias.
Produzir
conteúdo
midiático com
intencionalidade
educativa.
Inserir as
tecnologias na
educação.
Estudar a
educomunicação.
Implantar e
otimizar flu- xos
de comu- nicação
em ecossistemas
comunicativos
Comunica- ção
de valo-res e
Educaçãopara Educação pela Comunica-ção concei-tos,
a comunicação. comunicação. pela emoção.
usando
produtos
midiáticos.
Educação a
distância,
comunicação
mediada por
tecnologia.
VALO-RES
Artes
ATIVIDADES
CAMPO
FUNDANTE
Tabela 1 – Áreas de intervenção educomunicativas
Media studies
Educação
Diagnóstico,
Divulgação,
planejamento,
pesquisa,
implementa- ção
estudo sobrea e avalia- ção de
educomuecossis-temas
nicação.
comunicativos
.
Igualdade de acesso, relação dialógica horizontalizada entre todos os envolvidos, com tomadas dedecisão
participativa.
Fonte: Almeida, 2024, p. 37
A intervenção educomunicativa NÃO é uma interdição, uma invasão, uma
imposição ou uma interrupção nos processos institucionais. Ela atua esclarecendo os
problemas e oferecendo alternativas, acrescentando mais que corrigindo.
E há ainda os três grandes campos institucionais de aplicação da
Educomunicação (Almeida, p. 20): a escola, a mídia e o terceiro setor.
EDUCOMUNICAÇÃO CORPORATIVA – A utilização das estratégias da Educomunicação
nas empresas e instituições governamentais. A Educomunicação socioambiental foi
resultante de um trabalho corporativo no ministério do meio ambiente.
EDUCOMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA – A utilização das estratégias da Educomunicação
não apenas em comunidades territoriais, mas também em sindicatos, associações,
movimentos sociais.
EDUCOMUNICAÇÃO ESCOLAR – A utilização das estratégias da Educomunicação no
ensino médio, no ensino básico, no ensino superior, como também em cursos livres de
teatro, dança, línguas, etc.
Essas sete áreas de atuação são aplicadas, de modo diferente e desigual, a cada
campo institucional. Assim, no ambiente corporativo, a GC e a PME podem ser mais
importantes; no espaço comunitário, as áreas de atuação de EC da ECA são mais
comuns; enquanto PC e EE são assuntos mais voltados para o campo educacional.
Porém, de uma forma geral, a GC trata de como o comunicação é administrada
pela organização, quanto se gasta com comunicação, quais os recursos disponíveis,
quais são subutilizados. Além de um diagnóstico específico, cada área tem também um
planejamento e uma avaliação próprias. A TME trata de como a organização utiliza a
tecnologia: existem redes? O treinamento é audiovisual? Quais são os clientes (outputs)
e fornecedores (inputs) do ecossistema? A PME e ECA muitas vezes surgem como
soluções para os problemas encontrados: criar um mural na frente da sala do diretor,
um grupo de zap para os professores, um jornal da escola para os pais, conteúdo
audiovisual para as aulas, um podcast para disciplina tal. A expressão comunicativa
através da arte e a produção midiática devem responder as demandas ou as ausências
de comunicação. EE, EC e PC são áreas mais informativas. A Epistemologia representa
ações de divulgação dos conceitos e da teoria da Educomunicação, para que os
integrantes da organização saibam do que se trata. Já a Educação para Comunicação é
trata de ensinar a assistir criticamente à mídia; e, no sentido contrário, a Pedagogia
enfatiza o lado comunicacional do aprendizado e a necessidade de treinamento.
Planilha de Intervenção Educomunicativa – Diagnóstico, Planejamento e Avaliação
Área de intervenção
Objetivo
Metas
Estratégias
GC
TME
PME
ECA
EE
EC
PC
Elaborado pelo autor
5. Considerações finais
Existem várias iniciativas globais e locais que promovem a educação midiática.
Essas iniciativas visam desenvolver habilidades críticas em relação ao consumo e
produção de mídia, capacitando as pessoas a navegar no mundo da informação de
maneira mais consciente. Algumas iniciativas incluem: Media Smarts (Canadá) ; Media
Literacy Now (Estados Unidos); BBC Own It (um aplicativo do Reino Unido); MediaWise
(organização Internacional sem fins lucrativos); Digital Citizenship Education (Europa).
Center for Media Literacy (Estados Unidos); #ThinkBeforeSharing (Filipinas): Edukasi
Media (Indonésia). Essas iniciativas são exemplos de esforços em todo o mundo para
promover a educação midiática em diversas comunidades. Elas variam em escopo,
público-alvo e abordagem, mas compartilham o objetivo comum de capacitar as pessoas
a se tornarem consumidores críticos e participantes responsáveis na era digital.
A Educação Midiática é estratégica em relação a inclusão social. Inclusão dos
portadores de deficiência de diferentes tipos, uma vez que a tecnologia abre a
possibilidade de sua integração plena, como também no sentido de diversidade cultural
de nosso país, para que não se reproduzam culturalmente desigualdades sociais.
Para tanto, a formação inicial e continuada de professores que atuam na
educação brasileira precisa ser preparada. A midiatização da escola começa com a de
seus professores e gestores. E essa é a missão da Educomunicação: a midiatização
escolar. Ou melhor a inclusão da escola em uma sociedade midiatizada. Seu objetivo é
formar profissionais que atuem como agentes dessa midiatização.
Enquanto a Educação Midiática em geral trata de treinar alunos para conviver
criticamente com a mídia, a Educomunicação abrange ainda três áreas distintas conexas:
a TEM (mediações externas e internas, redes e bancos de dados), a ECA (Arte-Educação)
e a GC (treinamento audiovisual e marketing). Não se trata apenas de educação para
mídia, mas também de desenvolver habilidades técnicas, artísticas e administrativas.
No Brasil, como dissemos, as principais iniciativas visando promover a Educação
Midiática, capacitando indivíduos a compreender, analisar criticamente e utilizar de
forma consciente os meios de comunicação, são de cunho educomunicacional:
Licenciatura em Educomunicação, na ECA-USP; Bacharelado em Educomunicação, da
Universidade Federal de Campina Grande; Coleção Educomunicação, da editora
Paulinas; Série Comunicação e Educação, da editora Editus; Revista Comunicação &
Educação; Grupo de Pesquisa em Educomunicação, da Associação Ibero-Americana de
Comunicação (Assibercom / Ibercom); Lei nº 13.941, de 29 de dezembro de 20046,
instituidora, no município de São Paulo, do programa Educom: Educomunicação pelas
ondas do rádio; Programa Mais Educação, que abre espaço, entre as suas dez áreas de
atividades opcionais, para as escolas desejosas de participar do programa Ensino Médio
Inovador, introduzindo o “macrocampo Educomunicação”; e A própria Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB), que proclama a necessidade de se pensar as
relações entre comunicação e educação.
Em âmbito nacional, nos últimos 20 anos, foram publicadas 291 investigações
específicas sobre Educomunicação. O banco de teses da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), fundada pelo Ministério da
Educação (MEC), informa que, nos últimos 20 anos, foram publicados 37 trabalhos de
pós-doutorado, 41 teses de doutorado e 213 dissertações de mestrado, num total de
291 investigações sobre Educomuicação.
O conjunto de teses foi produzido em 90 programas de pós-graduação, em áreas
como educação, comunicação, psicologia, informática, entre outras, em 87
universidades de todo o país6. Entre o ano de 2000 e 2014, foram defendidas, 110
dissertações e teses doutorais sobre o conceito, em centros de pós-graduação em
Comunicação, em Educação e nas diferentes áreas das Ciências Humanas e Sociais 7.
Também ressalte-se a importância estratégica para o entrelaçamento da produção
ibero-americana sobre Comunicação/Educação de revistas especializadas como
“Comunicar” (Grupo Comunicar, 1993); “Comunicação & Educação” (Universidade de
São Paulo, Brasil, 1994) e “Aularia” (Grupo Comunicar, 2012).
“A sociedade civil criou a Educomunicação e a academia a sistematizou”. A
Educomunicação não é uma pedagogia ou uma metodologia de ensino. Ela é uma
filosofia, uma prática social e um movimento. A educomunicação é uma área que nasce
motivada por determinado quadro histórico, aquele no qual vicejavam as ditaduras
latino-americanas dos anos 1960. Ela é um continuação da filosofia pedagógica freiriana,
trabalhando com alfabetização das linguagens para despertar a consciência do contexto.
Referências
ABL. Educomunicação. Disponível em: https://www.academia.org.br/nossalingua/nova-palavra/educomunicacao . Acesso em: 21mar. 2024.
AGUADED, I.; SANTOS, V. M.; CHIBÁS-ORTIZ, F.; VIZCAÍNO-VERDÚ, A. (Coords.)
Currículo Alfamed de formação de professores em educação midiática. Instituto
Palavra Aberta/Alfamed. 2021.
ALMEIDA, Lígia Beatriz Carvalho de. Projetos de intervenção em educomunicação
[recurso eletrônico]. Campina Grande: EDUFCG, 2024.
APARICI, R. (Coord.) Educomunicación: más allá del 2.0. Barcelona: Gedisa, 2010.
BARBAS, A. Educomunicación: desarrollo, enfoques y desafíos en un mundo
interconectado. Foro de Educación, n. 14, p. 157-175, 2012.
BONA, N.; CONTEÇOTE, M. L.; COSTA, L. Kaplún e a comunicação popular. Anuário
Unesco/Metodista de comunicação regional, Ano 11, n.11, p. 169-184, jan./dez. 2007.
6
7
Todas as pesquisas estão acessíveis em: < https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses >
Duas pesquisas fizeram metarrelatos sobre esse trabalho: uma dissertação de mestrado analisou os
papers apresentados a congressos das áreas científicas da Comunicação (Intercom e Compós) e da
Educação (Anped), enquanto um tese de doutorado analisou as dissertações e teses defendidas sobre o
tema, no mesmo período, nos centros de pós-graduação em todo o país.
CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura - a sociedade
em rede. Volume 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
COSTA, Elisangela (2018). Educação Midiática: estudo comparado entre as redes de
educação dos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro, in Educomunicação e políticas
públicas: um estudo comparativo entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro,
doutorado, PPGCOM, 2018. Acessível:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-03122018-144842/ptbr.php .
KAPLÚN, M. Una pedagogía de la comunicación. Madrid: Ediciones de la Torre, 1998.
SOARES, Ismar de Oliveira. Concepção dialógica e as NTICs: a educomunicação e os
ecossistemas comunicativos. NCE- Núcleo de Comunicação e Educação ECA/USP, São
Paulo, 2005. Disponível em: <
https://pt.scribd.com/document/81445957/CONCEPCAO-DIALOGICA-E-AS-NTICS-AEDUCOMUNICACAO-E-OS-ECOSSISTEMAS-COMUNICATIVOS >
______ . “Planejamento de Projetos de Gestão Comunicativa”, in COSTA, Cristina.
Gestão da Comunicação, projetos de intervenção. Paulinas, pg. 27-54..
______ “Educomunicação e Educação Midiática: vertentes históricas de aproximação
entre comunicação e educação”, in Comunicacão e Educação (USP), v. 19, N. 2, p. 1526, 2014. ISSN 01046829. Acesso:
http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/72037/87468
_______ “Educomunicação, paradigma indispensável à renovação curricular no ensino
básico no Brasil”, in Comunicação & Educação, Ano XXIII, número 1, jan./jun. 2018, pg
07-24. https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/144832
_______. Educomunicação: um campo de mediações. Comunicação & Educação. São
Paulo: CCA/ECA-USP/Segmento. Ano VII, set./dez. de 2000.
______ “Comunicação e Educação no contexto da crise das instituições
paradigmáticas: a emergência da educomunicação”, in PRATA, Nair e PESSOA, Sônia
Caldas (orgs). Fluxos comunicacionais e crise da democracia. São Paulo,
Intercom,2020, pg. 44-63. ISBN: 978-65-990485-4-8. Acesso:
http://www.portcom.intercom.org.br/ebooks/arquivos/fluxos30112020.pdf
______ “Comunicação e a pedagogia libertadora de Paulo Freire”, in PRATA, NAIR &
LIM, Fábia (Orgs) Comunicação e Resistência: práticas de liberdade para a cidadania.
São Paulo: Intercom, 2022, pg. 99-121. ISBN 978-85-8208-133-4. Acesso: <
http://www.portcom.intercom.org.br/ebooks/arquivos/comunicacao-e-resistenciapraticas-de-liberdade-para-a-cidadania1409.22.pdf