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Tesser, C. D. & et. al. (2020).
CAPACITAÇÃO EM AURICULOTERAPIA PARA PROFISSIONAIS DO SUS EM 20162017: PERFIL DOS PARTICIPANTES, DO SEU ENVOLVIMENTO NO CURSO E
PERCEPÇÃO SOBRE A PRÁTICA
COURSE OF AURICULOTHERAPY IN UNIFIED HEALTH SYSTEM IN 2016-2017:
PROFILE OF PARTICIPANTS, THEIR INVOLVEMENT IN THE COURSE AND
PERCEPTION OF THE PRACTICE
Charles Dalcanale Tesser
Melissa Costa Santos
Emiliana Domingues Cunha da Silva
Ari Ojeda Ocampo Moré
Fátima Terezinha Pelachini Farias
Lúcio José Botelho
Universidade Federal de Santa Catarina
Resumo
O objetivo deste artigo é descrever o perfil dos matriculados, de sua participação no curso e da prática
da auriculoterapia pelos egressos de um curso semipresencial de auriculoterapia ofertado a profissionais
da atenção primária à saúde brasileira, em 2016-2017. Foi enviado um questionário eletrônico após o
curso a 5.703 matriculados, respondido por 2.982 profissionais (52%). A maioria eram mulheres (86%),
relativamente jovens (idade média= 36,8 anos), enfermeiras (35%), fisioterapeutas (14%), psicólogas
(8%) e médicas (7%). Concluíram a etapa a distância 95% dos respondentes e sentiram-se aptos a
praticar auriculoterapia após o curso 79% deles; sendo que 73% o fizeram. Destes, 93% referiram boa
aceitação pelos usuários e 96% relataram perceber boa efetividade clínica. O curso é uma iniciativa
educacional indutora da prática da auriculoterapia em quase 3/4 dos egressos. A disseminação em larga
escala do curso pode viabilizar a integração da auriculoterapia ao cuidado convencional na atenção
primária à saúde.
Palavras-chave: Auriculoterapia. Medicina Tradicional Chinesa. Atenção Primária à Saúde. Educação
a Distância. Terapias Complementares.
Capacitação em auriculoterapia. Revista Revise, v.05, fluxo contínuo (2020): Dossiê experiências de
integração ensino serviço nas Práticas Integrativas e Complementares, p.1-18.
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Tesser, C. D. & et. al. (2020).
Abstract
The aim of this article is to describe the participation in a semi-present auriculotherapy course offered to
professionals of higher level of primary health care in Brazil, and the beginning of this practice by
graduates, in the period 2016-2017. An electronic questionnaire was sent after the course to the 5703
enrolled participants. 2982 professionals answered (52%). Most were women (86%), relatively young
(mean age of 36.8 years). The most present professions were nurses (35%), physiotherapists (14%),
psychologists (8%) and doctors (7%). 95% of the respondents completed the stage and felt able to
practice auriculotherapy after the course 79% of them; 73% did so.. Of these, 93% reported good
acceptance by users and 96% reported good clinical effectiveness. The course is an educational initiative
that induces auriculotherapy practice in most graduates. with good acceptance. Its large-scale
dissemination can make it possible to integrate auriculotherapy with clinical care in primary health care.
Keywords: Auriculotherapy. Medicine, Chinese Traditional. Primary Health Care. Education, Distance.
Complementary Therapies.
Introdução
Nas últimas décadas ocorreu uma progressiva revalorização das medicinas tradicionais,
complementares e integrativas (MTCI), grande aumento na sua investigação científica (TREISTERGOLTZMAN E PELEG, 2015) e sua crescente institucionalização nos sistemas de saúde (SS)
(WHO, 2013), sobretudo na atenção primária à saúde (APS) (TESSER, 2018; MCWHINNEY
2009), com discussões sobre sua integração nesses serviços (KRUG et al., 2016, SHARP et al.,
2018).
Os modos de inserção das MTCI nos SS são diversificados. Nos países ocidentais, elas estão
mais presentes nos serviços privados que nos públicos. Isso introduz desigualdades no acesso às
MTCI e suscita questões éticas, pois elas são geralmente marginais nos sistemas públicos de saúde
(NISSEN et al., 2013). Não há dados sobre a oferta de MTCI nos serviços privados brasileiros, mas
Capacitação em auriculoterapia. Revista Revise, v.05, fluxo contínuo (2020): Dossiê experiências de
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estima-se haver desigualdade no acesso às MTCI também no Brasil. Desde o início do Sistema
Único de Saúde (SUS), existem experiências de oferta de MTCI, sobretudo na APS, intensificadas
após a promulgação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) em
2006 (TESSER et al, 2018; BRASIL, 2006). Práticas Integrativas e Complementares (PIC) é a
designação do governo brasileiro para as MTCI, e por isso doravante usaremos esta expressão.
Houve grande aumento da diversidade das PIC no SUS, ampliadas recentemente para 29
modalidades, incluindo a auriculoterapia (BRASIL, 2017, 2018).
A auriculoterapia é uma PIC comumente associada à medicina tradicional chinesa
(MTC)/acupuntura e consiste em estimulação física de pontos do pavilhão auricular: uma técnica de
baixo custo e rápida, cujo aprendizado requer pouco tempo, conforme experiência de cursos
presenciais oferecidos aos profissionais da APS em Florianópolis, SC (SANTOS; TESSER, 2012).
A auriculoterapia é relativamente bem estudada, do ponto de vista científico, quanto a alguns de
seus modos de ação (MERCANTE et al., 2018), eficácia para vários problemas comuns na APS
(YEH et al., 2014; VAS et al., 2014) e segurança (TAN et al, 2014).
Desde 2016, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), estimulada e financiada pelo
Ministério da Saúde, vem ministrando um curso semipresencial de auriculoterapia. Ao que
sabemos, essa iniciativa específica de financiamento não estava prevista originalmente na PNPIC.
Todavia, podemos considerá-la com ela coerente e mesmo dela decorrente, já que sua segunda
diretriz é o “desenvolvimento de estratégias de qualificação em PIC para profissionais no SUS, em
conformidade com os princípios e diretrizes estabelecidos para educação permanente” (BRASIL,
2006, p. 25).
O curso tem o objetivo de capacitar profissionais de nível superior da APS para a prática da
auriculoterapia. As edições realizadas em 2016 e 2017 abrangeram quase todo o país. Nesse
período, concluíram o curso 4.273 profissionais, atuantes em 1022 municípios, com aulas
presenciais em 25 municípios de 22 estados brasileiros. O curso de auriculoterapia tem 80 horasaula e é dividido em duas etapas: uma inicial a distância (EaD), de 75 horas-aula, estruturada em
cinco módulos sequenciais, e uma etapa presencial única subsequente, com uma aula prática de 5
horas. A etapa presencial ocorre após a finalização do EaD, reunindo turmas de 40 a 60 alunos que
seguem um roteiro de inspeção, palpação e aplicação de sementes vegetais nos pavilhões
Capacitação em auriculoterapia. Revista Revise, v.05, fluxo contínuo (2020): Dossiê experiências de
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auriculares uns nos outros, revisão de conteúdos essenciais do curso e discussão de casos clínicos.
Detalhes sobre o curso, seu conteúdo, suas estratégias e opções pedagógicas estão descritos em
relato publicado dessa experiência educacional (TESSER et al., 2019).
A obtenção de dados sobre os participantes - seu perfil e seu envolvimento nas atividades do
curso (vídeo-aulas, leitura das apostilas e uso dos outros materiais audiovisuais disponibilizados) - e
sobre suas percepções a respeito da prática dessa técnica nos serviços, da sua aceitação pelos
usuários e dos resultados clínicos obtidos pode trazer informações importantes para orientação de
melhorias no curso e fornecer feedback sobre seus primeiros resultados quanto à inserção potencial
dessa técnica nos processos de cuidado; os quais podem envolver frequentemente a auriculoterapia,
se houver expertise respectiva disseminada na rede de serviços de APS.
O objetivo deste trabalho é descrever o perfil dos matriculados, do seu envolvimento no
curso e da prática da auriculoterapia pelos egressos do curso semipresencial de auriculoterapia
ofertado a profissionais da atenção primária à saúde brasileira pela UFSC, incluindo as edições de
2016 e 2017.
Métodos
Trata-se de um estudo descritivo exploratório baseado em pesquisa realizada via convite por
correio eletrônico enviado a todos os profissionais que frequentaram o curso semipresencial de
auriculoterapia da UFSC em 2016 e 2017, independentemente de o terem concluído ou não. O
convite foi enviado após um mês do encerramento da última edição do curso em 2017 (sendo uma
mensagem de reforço enviada a cada semana, por três semanas consecutivas após o convite).
O convite continha um link para um questionário on line no software QuestionPro com 35
questões fechadas, sete delas com opção “outra resposta” em aberto, para digitação livre em espaço
limitado a duas linhas. O questionário foi concebido e elaborado pela equipe organizadora do curso,
pré-testado em residentes do Hospital Universitário da UFSC e de Medicina de Família e
Comunidade de Florianópolis, que tinham realizado o curso previamente. Não foram identificados
instrumentos validados ou publicados para serem adaptados ou tomados como modelos,
provavelmente devido à originalidade do curso.
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integração ensino serviço nas Práticas Integrativas e Complementares, p.1-18.
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As variáveis investigadas no questionário foram organizadas como quantitativas, contínuas
e discretas e qualitativas. O questionário continha três blocos de questões: a) perfil do profissional;
b) participação no curso e uso do material didático EaD; c) uso da auriculoterapia após o curso e
percepção dos egressos sobre a aceitação dos usuários e resultados clínicos da técnica.
O bloco a) foi subdividido em perfil profissional e perfil do contato prévio ao curso com as
PIC. O perfil profissional levantava: a idade do profissional; sua formação de graduação; o tempo
de formado; o tempo de trabalho na atenção básica; o município em que atuava na APS à época do
curso; o serviço em que atuava (equipe de Saúde da Família (eSF), centro de saúde tradicional [sem
eSF], Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) ou outro (digitado em campo aberto); o local de
realização da etapa presencial do curso e o ano em que frequentou o curso. O perfil do contato
prévio com as PIC investigava: a existência ou não de disciplina (obrigatória ou optativa) sobre PIC
no curso de graduação do profissional; se praticava ou não alguma PIC no seu serviço antes do
curso e qual; se outro profissional praticava ou não auriculoterapia ou outra PIC no serviço antes do
curso e qual.
O bloco b), sobre o envolvimento do profissional no curso, indagava: se concluiu ou não a
etapa EAD do curso e, se não, qual o principal motivo (com opção ‘outro’ para digitação em campo
aberto); a frequência com que estudou as apostilas dos módulos, assistiu as videoaulas e usou a
‘orelha interativa’ (um recurso audiovisual composto de pequenos vídeos legendados e narrados,
desenvolvido para estudo da localização, ação e técnica de aplicação dos 30 principais pontos
reflexos da orelha, desenvolvido especialmente para a etapa EAD do curso); e o quão apto se
considerou ao final do curso para praticar auriculoterapia.
O bloco c), sobre o uso da auriculoterapia após o curso, perguntava ao profissional: se após
o final do curso iniciou a prática de auriculoterapia na APS e se não iniciou, qual o principal motivo
(com opção ‘outro’, de digitação livre); se iniciou a prática da auriculoterapia, qual a frequência
aproximada com que a praticava logo após o curso e à data da coleta; quais os momentos em que o
fez na APS (atendimentos clínicos individuais comuns, atendimentos individuais específicos para
auriculoterapia, atividades coletivas ou outros - com digitação em campo aberto); se registra ou não
em prontuário cada vez que pratica auriculoterapia; se registra no e-SUS - prontuário eletrônico do
SUS - usando o código da sessão de auriculoterapia (03.09.05.004-9) nos procedimentos realizados
Capacitação em auriculoterapia. Revista Revise, v.05, fluxo contínuo (2020): Dossiê experiências de
integração ensino serviço nas Práticas Integrativas e Complementares, p.1-18.
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na consulta; se não registra o uso da auriculoterapia, qual o principal motivo; se após o curso
formou-se ou não um grupo ou rede de profissionais no município ou serviço praticantes de
auriculoterapia ou outras PIC com os quais pode trocar experiências; qual a aceitação da
auriculoterapia pelos pacientes (se praticou a auriculoterapia após o curso) (variando de
extremamente mal aceita até extremamente bem aceita); na percepção empírica do profissional,
qual a efetividade da auriculoterapia (se praticou a auriculoterapia após o curso) (variando de
extremamente inefetiva até extremamente efetiva); e, por fim, qual a resposta do profissional a um
colega de trabalho da atenção básica que lhe perguntasse se deve ou não fazer o curso (variando de
‘não recomendaria’ até ‘recomendaria enfaticamente que sim’).
O convite e a coleta dos dados ocorreram entre 27 de outubro e 27 de novembro de 2017. O
tempo médio de preenchimento do instrumento de coleta foi de 9 minutos (calculado pelo software
usado). Foram convidados os 5.703 profissionais efetivamente matriculados, dos quais responderam
52,4% (n=2.982), sendo essa a amostra.
A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva simples. No caso das
questões em que havia uma alternativa para 'outra' resposta, com redação em campo aberto, essas
respostas foram categorizadas e agrupadas por semelhança, e quando parte delas estava incluída nas
alternativas já dadas, esta parte foi redistribuída. A pesquisa foi provada no Comitê de Ética em
pesquisa da UFSC (CAAE: 70289517.4.0000.0121). Os resultados considerados mais importantes
foram selecionados para apresentação e discussão neste momento.
Resultados
Dos 2.982 respondentes, 506 (17%) responderam parcialmente o questionário e 2.476 (83%)
o responderam completamente. A Tabela 1 mostra que a maioria eram mulheres (86%), com média
de idade de 36,8 anos (variaram de 23 a 69 anos). Os profissionais mais presentes foram
enfermeiros (35%), fisioterapeutas (14%), psicólogos (8%) médicos (7%) e nutricionistas (7%). A
maioria dos profissionais tem relativamente pouco tempo de serviço na APS: 70% trabalham a
menos de 10 anos. O local de atuação da grande maioria dos participantes foi a APS (82,2%). Os
17,8% restantes atuavam na gestão (6%), em serviços especializados (4,9% - sobretudo unidades de
reabilitação física ou serviços especializados em saúde mental), eram residentes em formação (3%),
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ensinavam em universidades (1,5%) ou atuavam em serviços especializados em PIC (cerca de 1%)
(respostas categorizadas a posteriori).
Tabela 1. Perfil dos profissionais da atenção primária brasileira que frequentaram o curso
semipresencial de auriculoterapia da UFSC em 2016/2017
Sexo
Feminino
Masculino
Idade (anos)
21-30
31-40
41-50
51-60
> 60
Profissão
Enfermeiro
Fisioterapeuta
Psicólogo
Médico
Nutriconista
Farmacêutico
Dentista
Educador Físico
Fonoaudiólogo
Terapeuta ocupacional
Outras
Total
N
2407
389
2796
%
86,09
13,91
100
Total
768
1211
535
247
35
2796
27,47
43,32
19,13
13,75
1,25
100
998
34,62
412
14,29
238
8,26
209
7,25
204
7,08
168
5,83
161
5,58
111
3,85
85
2,95
100
3,47
197
6,83
Total
2883
100
Tempo de serviço na atenção primária à saúde (APS)
1-5 anos
1437
52,19
6-10 anos
681
24,72
11-15 anos
311
11,28
16-20 anos
179
6,51
21-25 anos
71
2,58
26-30 anos
38
1,37
31-35 anos
20
0,73
Não trabalhou na APS
17
0,62
Total
2754
100
Local de atuação
Equipe de Saúde da Família
1103 N 39,86
Centro de Saúde tradicional
257
9,29
Equipe de NASF*
886
32,02
Outra
521
18,83
* NASF: Núcleo Ampliado de Saúde da Família.
Fonte: Elaboração dos autores
Em relação ao contato com ou prática de PIC anteriormente ao curso, a Tabela 2 mostra que
72,9% dos respondentes não praticavam nenhuma e 35,6% deles conviviam com outros
profissionais que praticavam alguma PIC no seu serviço, sendo a mais frequente a auriculoterapia
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(25,6% desses casos). Apenas 16% dos profissionais referiram existir alguma disciplina sobre PIC
na sua graduação, que em pouco mais da metade dos casos (55%) era optativa.
Tabela 2. Contato prévio dos profissionais participantes do curso semipresencial de
auriculoterapia da UFSC em 2016/2017 com Práticas Integrativas e Complementares (PIC)
Teve disciplina sobre PIC na graduação:
%
Sim
446
16,19
Não
2308
83,81
Total
2754
100
Se sim na anterior, a disciplina sobre PIC era:
Optativa
245
54,93
Obrigatória
201
45,07
Total
446
100
Praticava alguma PIC antes do curso?
Sim
751
27,31
Não
1999
72,90
Total
2750
100
Se 'sim' na anterior, qual PIC praticava:
Fitoterapia/plantas medicinais
209
12,05
Auriculoterapia
183
10,55
Shantala
134
7,72
Meditação (qualquer)
133
7,67
Acupuntura
106
6,11
Lian gong
100
5,76
Reiki
96
5,53
Massagem
90
5,19
Outras
694
39,62
Total (podia assinalar várias)
1735
100
Colega de trabalho praticava alguma PIC antes?
Sim
976
35,61
Não
1765
64,39
Total
2741
100
Se 'sim', na anterior, qual PIC o colega praticava antes?
Auriculoterapia
738
25,63
Acupuntura
389
13,51
Lian Gong
223
7,75
Outras
1529
53,11
Total (podia assinalar várias)
2879
100
Fonte: Elaboração dos autores
A Tabela 3 mostra o envolvimento dos alunos no curso: 95% dos respondentes concluiu a
etapa EAD, sendo que aproximadamente 70% (69,2%) dos matriculados concluíram o curso no
período. Os principais motivos relatados pelos 5% que não concluíram a etapa EaD foram: falta de
tempo (2,3%); razões pessoais (1,3% - doença, gestação, plantão, outros compromissos) e
problemas de acesso à plataforma EaD (0,8%) (respostas categorizadas a posteriori). Quanto ao uso
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do material didático na etapa EaD, 81,6% responderam que usaram as apostilas do curso, sempre ou
muitas vezes: 91,6% assistiram todas ou a maioria das vídeo-aulas e 75,2% usaram sempre ou
muitas vezes a 'orelha interativa'.
Tabela 3. Envolvimento dos alunos nas atividades da etapa a distância do curso
semipresencial de auriculoterapia da UFSC em 2016/2017
Completou a etapa EAD com sucesso:
N
%
Total
2562
136
2698
94,96
5,04
100
Total
1220
959
415
66
9
2669
45,71
35,93
15,55
2,47
0,34
100
2061
385
150
46
27
2669
77,22
14,42
5,62
1,72
1,01
100
Total
909
699
296
122
112
2138
42,52
32,69
13,84
5,71
5,24
100
5 = Plenamente apto / seguro
4
para praticar
3
2
1 = Inapto / inseguro para praticar
Total
903
1194
459
58
55
2669
33,83
44,74
17,20
2,17
2,06
100
Sim
Não
Usou as apostilas dos módulos:
Sempre
Muitas vezes
Algumas vezes
Poucas vezes
Nunca
Assistiu as vídeo-aulas dos módulos:
Todas
A maioria
Algumas
Poucas
Nenhuma
Total
Estudou na orelha interativa:
Sempre
Muitas vezes
Algumas vezes a pouco
Muito pouco
Nunca
Considerou-se ao final do curso:
Fonte: Elaboração dos autores
Após o curso, 78,6% dos respondentes relataram que se sentiam plenamente ou
moderadamente aptos e seguros para iniciar a prática (Tabela 3); e 72,6% o fizeram nos seus
serviços (Tabela 4). Após processamento das respostas digitadas, notou-se que dos que não
iniciaram, as principais razões relatadas foram alheias ao curso: falta de oportunidade para praticar
Capacitação em auriculoterapia. Revista Revise, v.05, fluxo contínuo (2020): Dossiê experiências de
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e de insumos, além de motivos dispersos (falta de tempo, falta de autorização ou apoio dos gestores,
não estar atuando na APS, estar aguardando autorização ou em planejamento, entre outros). Apenas
15,8% dos egressos que não iniciaram a prática da auriculoterapia atribuíram isso a sentirem-se
inseguros (Tabela 4).
Tabela 4. Uso da auriculoterapia na atenção primária à saúde (APS) pelos egressos do curso
semipresencial de auriculoterapia da UFSC em 2016/2017
Iniciou a prática após o curso:
Sim
Não
Total
Se não iniciou, qual o principal motivo para isso?
Não tenho insumos
Não tenho oportunidade para praticar
Sinto-me inseguro para praticar
Não tenho tempo
Falta apoio dos(s) gestor(es)
Não estou na APS (licença/exoneração/gestão)
Em planejamento
Vários
Aguardando liberação do gestor (local ou SS)
Os usuários não aceitam
Total
Frequência aproximada com que pratica:
1 = raramente em bem poucos usuários por mês
2
3
4
5 = diariamente em vários usuários por dia
Total
Em média, você usa auriculoterapia em:
Não uso auriculoterapia
(-) de 5 usuários por semana
6 a 15 usuários por semana
(+) de 15 usuários por semana
Total
Momentos em que pratica auriculoterapia:
Em atendimentos clínicos individuais comuns
Em atendimentos individuais específicos de
Em atividades coletivas
Outros (escreva na linha abaixo):
Total (podia assinalar várias )
Registra no serviço o uso da auriculoterapia:
Sim
Não
Total
N
1938
731
2669
%
72,61
27,39
100
14
7
13
2
93
91
52
34
19
13
7
2
59
0
796
253
616
570
307
2542
24,92
22,37
15,76
15,42
8,81
5,76
3,22
2,20
1,19
0,34
100
689
722
809
322
2542
27,10
28,40
31,83
12,67
100
1091
1003
975
267
3336
32,70
30,07
29,23
8,00
100
1613
929
2542
63,45
36,55
100
31,31
9,95
24,23
22,42
12,08
100
Fonte: Elaboração dos autores
Capacitação em auriculoterapia. Revista Revise, v.05, fluxo contínuo (2020): Dossiê experiências de
integração ensino serviço nas Práticas Integrativas e Complementares, p.1-18.
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Dos profissionais que iniciaram a prática da auriculoterapia na APS após o curso, 28,4%
referiram aplicar a técnica em menos de 5 usuários por semana, 31,8% em 6 a 15 usuários por
semana e 12,7% em mais de 15 usuários por semana. Quanto ao contexto de aplicação, 32,7%
praticam auriculoterapia em atendimentos individuais convencionais; 30,1% em atendimentos
individuais específicos para auriculoterapia; e 29,2% em atividades coletivas. Esta questão permitia
assinalar mais de uma alternativa e havia uma opção aberta 'outros' (8% das respostas), na qual
destacaram-se o uso da auriculoterapia para cuidado aos colegas (2,5%) e o uso em atendimentos
domiciliares (1,4%) (Tabela 4).
A Tabela 5 mostra que a aceitação da auriculoterapia pelos usuários foi relatada por 93%
dos respondentes como boa (48,8% relatou ser ‘extremamente bem aceita’ e 44,3% ‘bem aceita').
Além disso, 94% acham que na sua percepção clínica a efetividade da auriculoterapia é ótima
(42,5%) ou moderada (51,6%). Sobre se recomendariam a um colega da APS que fizesse o curso,
86,6% responderam ‘enfaticamente que sim’ e 11,9% ‘moderadamente que sim’, correspondendo
estas duas alternativas a 98,5% das respostas.
Tabela 5. Aceitação dos usuários da atenção primária e resultados clínicos na percepção dos
profissionais egressos do curso semipresencial de auriculoterapia da UFSC em 2016/2017
Aceitação da auriculoterapia pelos pacientes é:
N
%
Extremamente mal aceita
11
0,51
Pouco aceita
32
1,49
Indiferente
106
4,95
Bem aceita
1044
48,76
Extremamente bem aceita
948
44,28
Total
2141
100
Na sua observação empírica, a auriculoterapia é:
Extremamente inefetiva
8
0,38
Moderadamente inefetiva
3
0,14
Neutra
114
5,44
Moderadamente efetiva
1081
51,55
Extremamente efetiva
891
42,49
Total
2097
100
Recomendação a um colega de trabalho sobre fazer o curso:
Não recomendaria
5
0,20
Recomendaria pouco
6
0,24
Nem a favor nem contra
26
1,05
Recomendaria moderadamente que sim
294
11,87
Recomendaria enfaticamente que sim
2145
86,63
Total
2476
100
Fonte: Elaboração dos autores
Capacitação em auriculoterapia. Revista Revise, v.05, fluxo contínuo (2020): Dossiê experiências de
integração ensino serviço nas Práticas Integrativas e Complementares, p.1-18.
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Tesser, C. D. & et. al. (2020).
Discussão
Os resultados obtidos apontam para a incorporação inicial da técnica pelos egressos, já que
quase 80% dos respondentes sentiram-se preparados para aplicar auriculoterapia e quase três
quartos dos egressos iniciaram a sua prática. Isso indica que o curso tem um bom potencial
formador, que se disseminado poderia talvez produzir uma integração da auriculoterapia na APS. A
auriculoterapia pode ser utilizada em conjunto com os tratamentos convencionais ou como
alternativa de tratamento em muitas situações comuns (VAS et al., 2014; TAN et al., 2014; BLACK
et al., 2011; YANG et al., 2017). Na APS são muito frequentes as condições dolorosas agudas e
crônicas (MILLS et al., 2016), os quadros ansiosos e depressivos e os sintomas inespecíficos ou
medicamente inexplicáveis (medical unexplain sytmptoms - MUPS) (JCP-MH, 2017). A
auriculoterapia pode auxiliar no manejo dessas condições. Por isso, o curso é uma iniciativa
educacional plenamente justificada.
Niemtzow, Belard e Nogier (2015) relataram haver protocolo de ensino de auriculoterapia
para profissionais de saúde do serviço militar dos Estado Unidos da América (EUA), conhecido
como “Battlefield Acupuncture”, cujos treinamentos variam de 4 a 8 horas de ensino presencial,
usando acupuntura auricular. Niemtzow et al. (2018) registraram uma experiência exitosa de
treinamento presencial para 2.712 profissionais de saúde do serviço militar norte-americano, com 4
horas, em 70 locais daquele país. Os profissionais treinados, a maior parte médicos de família e
comunidade, relataram altos índices de satisfação com o treinamento, ao seu término. Tsai et al.
(2016), em uma série de casos, demonstraram que o treinamento prático presencial em
auriculoterapia (duração de uma hora) de médicos que trabalham em emergências de Nova Yorque
e La Jolla (Califórnia) auxiliou estes profissionais no manejo de condições álgicas. Há vários cursos
a distância ou semipresenciais de auriculoterapia, no Brasil e fora dele. Na maioria, são cursos
privados pagos, produzidos independentemente. Um desses cursos, organizado por renomado
pesquisador, oferece 12 horas de video-aulas a distância e duas horas presenciais práticas (ACI,
2018). O curso aqui tematizado tem maior carga horária teórica e presencial que os demais; é o que
mais formou profissionais; é o único ofertado gratuitamente a profissionais da APS e o único
Capacitação em auriculoterapia. Revista Revise, v.05, fluxo contínuo (2020): Dossiê experiências de
integração ensino serviço nas Práticas Integrativas e Complementares, p.1-18.
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Tesser, C. D. & et. al. (2020).
desenvolvimento em ambiente universitário, com material didático inédito, elaborado por
acupunturistas com experiência prévia em APS (TESSER et al., 2019).
Dentre os alunos do curso, os profissionais de enfermagem das equipes de APS foram a
categoria profissional mais frequente, seguida dos profissionais mais comuns dos Núcleos de Apoio
à Saúde da Família (os de fisioterapia, psicologia e nutrição) e da medicina e odontologia. Eram
profissionais geralmente jovens, com pouco tempo de trabalho na APS.
O fato de aproximadamente um quarto dos respondentes praticarem previamente alguma
PIC e um terço deles atuarem em serviços em que se praticava alguma PIC (sendo a mais frequente
a auriculoterapia) sugere que a presença das PIC na APS suscita interesse nos profissionais, e que a
prática dos egressos do curso nos serviços provavelmente tem papel ativo na geração da procura
pelo curso.
A evasão do curso foi de 30%; o que está dentro do esperado no Brasil para um curso de
extensão gratuito de curta duração, com mais de 90% da carga horária em EaD auto-instrucional
(CENSO EAD.BR, 2016). Os motivos para não finalização da etapa EaD foram alheios ao curso na
grande maioria dos casos, com uma parte menor relacionados a problemas de acesso à plataforma
EaD. Sabe-se que há precária conectividade em muitas regiões mais longínquas do Brasil.
O volume de usuários que recebem auriculoterapia dos egressos variou, provavelmente
conforme o contexto e o profissional. A distribuição semelhante do uso da auriculoterapia entre os
atendimentos clínicos convencionais, específicos de auriculoterapia e grupais pode estar
relacionado ao seu baixo custo, sua realização rápida e simples, factível em consultórios, sala de
espera, grupos terapêuticos, etc.
As discussões sobre a institucionalização de várias PIC alertam para uma subvalorização dos
aspectos cognitivos das PIC, decorrentes da imposição de padrões teóricos e metodológicos
biomédicos (GALE, 2014; KIDD, 2013), afastando os praticantes nativos das PIC e desqualificando
os saberes subjacentes a elas (HOLLENBERG; MUZZIN, 2010). No processo de interação da
biomedicina com as PIC, os praticantes das PIC padecem pela sua relativa externalidade
institucional (em relação aos profissionais convencionais) e epistemológica (em relação aos saberes
e técnicas biomédicas) (SHARP et al., 2018). Nossos resultados não esclarecem sobre as relações
entre profissionais convencionais e praticantes de PIC, mas iluminam a possibilidade de
Capacitação em auriculoterapia. Revista Revise, v.05, fluxo contínuo (2020): Dossiê experiências de
integração ensino serviço nas Práticas Integrativas e Complementares, p.1-18.
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Tesser, C. D. & et. al. (2020).
enriquecimento conceitual/simbólico e terapêutico dos profissionais convencionais da APS com
saberes/técnicas de PIC, no caso, a auriculoterapia.
Algumas PIC podem e devem ser inseridas na APS pela via de seu exercício pelos
profissionais convencionais, o que já acontece em vários locais (WHO, 2013). Para isso ocorrer
mais largamente, os profissionais convencionais precisam aprender alguma PIC. O nosso curso
viabilizou aprendizado sobre auriculoterapia de modo básico, mas suficientemente robusto para
induzir o início da prática na maioria dos egressos. Para além dos méritos próprios do curso,
provavelmente esse êxito foi facilitado pela maior abertura dos profissionais da APS às PIC,
comparativamente aos de outros serviços biomédicos, devido à maior afinidade desse ambiente com
as PIC (WHO, 2013; TESSER, 2018; MCWHINNEY, 2009).
Chamou a atenção o relato de grande aceitação dos usuários e principalmente os bons
resultados clínicos da auriculoterapia percebidos pelos respondentes. Novos estudos em serviços de
APS com vários profissionais praticantes de auriculoterapia poderão esclarecer melhor a natureza
da contribuição desta técnica para o cuidado.
Apesar da proporção de respostas ao convite poder ser considerado muito satisfatória ou até
alta (52,4% dos convidados via correio eletrônico responderam), um viés da pesquisa foi
perceptível por meio da discrepância entre os 5% dos respondentes que não concluíram a etapa
EAD, e os 30% dos matriculados que não concluíram o curso. Houve, provavelmente, um vício de
seleção, em que os que concluíram o curso participaram mais da pesquisa do que os que não
concluíram. Por isso, os motivos identificados para a evasão do EaD podem não ser representativos
do conjunto total dos matriculados. Todavia, isso não invalida os outros dados, principalmente os
relativos aos egressos.
Uma limitação do curso é a apresentação apenas introdutória da MTC. O uso de pontos
auriculares baseado nos cinco movimentos (ou elementos) é discutido e operacionalizado, porém
não são abordados outros métodos diagnósticos da MTC. Esta limitação deveu-se ao espaço/tempo
restritos e ao ambiente autoinstrucional. Mesmo assim, os relatos dos alunos, em avaliação escrita
ao final da etapa presencial, indicam maior dificuldade de compreensão no módulo de MTC,
comparativamente aos demais, mas avaliação positiva desse módulo. Tal opção pedagógica visou
Capacitação em auriculoterapia. Revista Revise, v.05, fluxo contínuo (2020): Dossiê experiências de
integração ensino serviço nas Práticas Integrativas e Complementares, p.1-18.
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Tesser, C. D. & et. al. (2020).
agregar conhecimento inicial para compreensão e manejo do processo saúde-doença sob a ótica de
uma outra 'racionalidade médica', conforme Luz e Barros (2012).
Considerações finais
O curso de formação em auriculoterapia investigado foi exitoso, contou com bom
envolvimento dos alunos e induziu o início dessa prática na APS em quase três quartos dos
participantes do estudo. Isso sugere que a amplificação e disseminação da oferta desse curso pode
induzir em larga escala a integração da auriculoterapia na APS, melhorando a equidade no acesso a
esta PIC. Entre 2018 e 2019, aproximadamente mais cinco mil profissionais concluíram o curso,
que seguirá sendo ofertado nos próximos dois anos. Novas pesquisas são necessárias para avaliar o
impacto e o significado da inserção em larga escala da auriculoterapia na prática dos profissionais
convencionais da APS.
Contribuições dos autores: CDT, MCS, EDCS, AOOM, FTPF e LJB contribuíram igualmente na
concepção e planejamento da pesquisa e na construção do instrumento de coleta. CDT realizou a
coleta de dados, a primeira análise, apresentação e discussão dos resultados, e a redação da primeira
versão desses trechos. Os demais autores contribuíram igualmente na análise, discussão e revisão
crítica dos resultados e discussão, bem como na redação das demais partes do manuscrito; todos
aprovaram a redação da versão final.
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