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Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea

2021

Catálogo da exposição "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea", co-organizado por Jaider Esbell e Paula Berbert.

Amazoner Arawak Jaider Esbell Mario Flores Taurepang Carmézia Emiliano Luiz Matheus Diogo Lima Bartô Isaiais Miliano Yaka Huni Kuin Vernon Foster Davi Kopenawa Rita Sales Huni Kuin Bu’ú Kennedy Arissana Pataxó Charles Gabriel Fanor Xirixana Rivaldo Tapyrapé Isael Maxakali Ailton Krenak Daiara Tukano Carlos Papá Joseca Yanomami MAHKU Denilson Baniwa Armando Mariano Marubo Bernaldina José Pedro Sueli Maxakali Antonio Brasil Marubo Paulino Joaquim Marubo Dalzira Xakriabá Yermollay Caripoune Elisclésio Makuxi Gustavo Caboco Nei Leite Xakriabá INDEX SUMÁRIO SCAN THE QR CODE TO ACCESS ALL THE CATALOG CONTENT IN ENGLISH APRESENTAÇÃO Elizabeth Machado Cauê Alves 3 4 ONHEMOMBE´U Elizabeth Machado Cauê Alves 3 4 Pandon de Surarî: a história antiga do Moquém 6 Omo bem´u ymã guaré Moquém 7 GUEROAYVUA HAPU’A ENSAIOS NHEMBO’E Jaider Esbell O’ma’kon – Bicharada – Reunião de bichos 10 Jaider Esbell O’ma’kon – Mymba kuery – Mymba kuery nhemboaty 10 Paula Berbert Pedagogias da transformação 20 Paula Berbert Nhembo’e aty ojererova 20 Pedro Cesarino Desenhos Moquém 28 Pedro Cesarino Ipará-moquém ra´ã anga 28 Ailton Krenak Tudo o que o olho vê 40 Ailton Krenak Opa mba´e jaexá va´e 40 Cristine Takuá Sementes de transformação 46 Cristine Takuá Nhenhoty Ojeapoa aguã 46 Denilson Baniwa Ñewíeda: the anthropomorphic get along gang 52 Denilson Baniwa Ñewíeda: the anthropomorphic get along gang 52 Maria Inês de Almeida Jardim do pensamento 58 Maria Inês de Almeida Yvyra guyre nhemonguetaa 58 Naine Terena A hora da grande caçada 64 Naine Terena Kova´e ára ma jeporaka guaxu oikota 64 IMBAVYKY VA’E KUERY OEINOIN TEXTOS ARTISTAS CONVIDADOS Arissana Pataxó Carlos Papá Charles Gabriel Isael Maxakali Nei Leite Xakriabá Rita Sales Huni Kuin Sueli Maxakali Vernon Foster Yermollay Caripoune 72 78 80 84 86 92 104 108 114 Arissana Pataxó Carlos Papá Charles Gabriel Isael Maxakali Nei Leite Xakriabá Rita Sales Huni Kuin Sueli Maxakali Vernon Foster Yermollay Caripoune 72 78 80 84 86 92 104 108 114 OBRAS EXPOSTAS LISTA DE OBRAS CRÉDITOS 120 194 204 HEMBIAPO OJEKÁ HEMBIAPO NHEME’EM 120 194 204 Este catálogo é resultado do esforço de uma vida dedicada à arte indígena contemporânea e à transformação do mundo desolado em que vivemos. A presença de Jaider passa a ser com a da constelação Surarî – mais um brilho a nos guiar em seu espaço de descanso no firmamento. Kova’e kuatia ma ojeapo oyvara rete overõ nhea’ã ko ombavyky nhande kuery pe vyma ayn ojererova arupi vyma yvy javere nhandeae’i nhande kuai. Oiko've'i jave rupi vyma onhemonhevãin tevema Surarî – ha’eva’ema omoexankã heravyvy nda ombo katu vyma imbaraete aguã py oin. Jaider Esbell (1979 – 2021) Imagem da capa: reprodução serigráfica da obra TARTARUGA, de Sueli Maxakali (p.185) Ipiré’ã: hembiapo mba’emo ra’ã anga ombo ombojaá py vy ma TARTARUGA, Sueli Maxakali (p.185) I N D Í G A E N C O N T E M P O R Â N T R A M O Q M _ S U R A R Î É . U A E E 3 Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Fundação Bienal de São Paulo e Museu de Arte Moderna de São Paulo apresentam O Museu de Arte Moderna de São Paulo, em paralelo às reflexões sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo de 1922, promovidas pelo museu ao longo do ano de 2021, inaugura a mostra Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea. A mostra é fruto de uma parceria realizada com a Fundação Bienal de São Paulo e tem curadoria do artista Jaider Esbell. O MAM e a Bienal compartilham uma mesma história. Além da Bienal ter nascido no museu em 1951, as suas primeiras seis edições foram realizadas pelo MAM. Com valores e objetivos em comum, é uma satisfação que duas instituições tão importantes para a história da cultura brasileira estejam próximas novamente. Para o MAM, integrar a rede de instituições culturais da cidade de São Paulo ligadas à 34ª Bienal de São Paulo certamente irá contribuir para que sua missão seja cumprida com excelência. Simultaneamente, o MAM apresenta uma ampla programação online nos seus canais digitais voltada ao público de todas as idades, além de cursos e propostas de práticas artísticas que vão levar arte para o maior número de pessoas possível. A mostra Moquém_Surarî não apenas amplia a visibilidade da arte indígena contemporânea como também sinaliza o interesse do MAM em valorizar a cultura de povos ancestrais que, nos últimos 500 anos, têm tido sua existência ameaçada. MOQUÉM_SURARÎ: ARTE INDÍGENA CONTEMPORÂNEA 4 DE SETEMBRO A 28 DE NOVEMBRO DE 2021 4 ARA PYAU JEUPITY OUARE 28 ARA PYAU JEOPITYV 2021 CURADORIA_MONGUERAÁ/ Jaider Esbell ASSISTÊNCIA_MOIRUM VA´ERÃ/ Paula Berbert CONSULTORIA_OIKUAA VA´ERÃ/ Pedro Cesarino parceria realização ELIZABETH MACHADO Presidente da Diretoria do Museu de Arte Moderna de São Paulo_Huvixa onhangareko va’e ymã guare mbavyky ayn guiguare São Paulo pygua Ymã guaré moim porã ty ayn gui gua São Paulo py, jojo ramo he´yn oin mby´a mbovy ma´enty rei he´yn ma oiko ará rakygue mbavyky ayn gui gua he´i va´e São paulo py, 1922 guive ma oin, ayn ma oin ta mbavyky he´i va´e oexauká guã Moquém Surarî: Nha de kuery mbavyky ayn gua. Kova´e tembiapó ma oiko Nhemo pyrõ Nhemimty javiré São Paulo pygua reve nho pytyvõ vy ha´e vyma oin nhomom guerá ramia in mbavyky kuaa va´e Jaider Esbell. MAM ha´e nhemity javiré há´e jorami rei gua oguereko jogueroayvuá. Nhemity javiré ma oikoypy raka´e ymã guaré moim porã ty py 1951 jave, ijypy guima mboapy meme ranhe ojapo tembiapó. Oguereko peteim mby´a, ha´e ve vaipa katu mokoi mba´eapopy varã onhemoi ru ramo teko pindorama pygua joupive´i ju ikuai aguã MAM pe ma ha´e javi omba´eapo va´epygua rã tekó rãmy kuery São Paulo tetã py ikuai va´e omoiru mba ramo oin mba porã vaipa ta. Ha´rami vy MAM oguereko heta mba´e tembiapó ha´e javi ve pe, tujá kue pe ha´e kyringue pe, ombo´e ha´egui ome´en mbavyky regua re tembiapó vy ogueraá heta raia py Tembipó jexauká Moquém Surarî ma ojapó oejauká rive aguã he´yn nhade kuery imbavyky va´e ojapó va´e, oejauká havi aguã MAM oguereko mby´a omboeté ve aguã nhande kuery reko ymã guare, mba´eiko 500 ma´enty re ma nhandekuaia ijavaeté ramo. DESCENDENTES DE MAKUNAÍMA No atual momento que o Brasil vive, ocasião em que as ameaças aos povos indígenas têm se intensificado, apresentar a mostra Moquém_ Surarî: arte indígena contemporânea, com curadoria de Jaider Esbell e em parceria com a 34ª Bienal de São Paulo, é de fundamental importância para chamar atenção para a produção artística de povos indígenas e para seus saberes. Dada a impossibilidade de separar as diversas dimensões que a arte possui, como a política, a simbólica ou a estética, a mostra e este catálogo são um gesto relevante, não apenas no campo da visualidade. Ambos colaboram para a valorização da cultura dos povos ancestrais, o reconhecimento de sua originalidade, suas narrativas e seus universos. A presença dessa exposição na programação do Museu de Arte Moderna de São Paulo indica uma postura institucional que desconstrói pressupostos coloniais. Moquém_ Surarî inaugura um diálogo direto com artistas indígenas que permitirá ao MAM repensar e ampliar sua política de aquisição de acervo, incluindo grupos étnicos sub-representados ou negligenciados ao longo da história. Inteiramente concebidas por um artista indígena, a mostra e a edição desse catálogo, pela primeira vez na história do MAM, trazem textos traduzidos para o guarani mbya. Destacar o idioma original da região em que o museu está instalado, abranger um grupo maior de falantes de uma língua indígena, é também um modo de contribuir para a ampliação da bibliografia sobre arte indígena e o fortalecimento da língua guarani. A exposição apresenta trabalhos em diferentes suportes e linguagens – como desenhos, pinturas, fotografias e esculturas –, de artistas dos povos Baniwa, Guarani Mbya, 4 Huni Kuin, Karipuna, Klamatah-Modoc, Krenak, Marubo, Makuxi, Patamona, Pataxó, Tapirapé, Taurepang, Tikmũ’ũn/Maxakali, Tukano, Xakriabá, Xirixana, Wapichana e Yanomami. Além do texto do curador e artista Jaider Esbell, o catálogo conta com a colaboração de Paula Berbert, assistente de curadoria, Pedro Cesarino, consultor do projeto, e Cristine Takuá, assessora pedagógica que colaborou ao longo dos meses que antecederam a exposição na formação dos educadores do MAM para o atendimento aos visitantes. A publicação traz ainda textos dos artistas, pensadores ou pesquisadores, a maior parte de origem indígena: Ailton Krenak, Arissana Pataxó, Carlos Papá, Charles Gabriel, Denilson Baniwa, Isael Maxakali, Maria Inês de Almeida, Naine Terena, Nei Xakriabá, Rita Huni Kuin, Sueli Maxakali, Vernon Foster e Yermollay Caripoune, que elaboram um panorama reflexivo que tem tudo para se tornar referência incontornável sobre arte indígena contemporânea. A exposição e o catálogo ampliam a reflexão não apenas sobre a arte, mas também sobre o pensamento cosmológico ameríndio. Ambos ajudam a transformar o museu e o país num espaço mais diverso. As narrativas dos descendentes de Makunaíma, contadas por eles mesmos, certamente abrem outras perspectivas para além daquelas imaginadas pelos artistas e intelectuais modernistas que foram centrais para a fundação do MAM. 5 MAKUNAIMA JAPYRE KUERY Ayn kova’e Pindorama re onhemoingo opamba’e nhande kuery re, ombojexavai aguã ojeapo oovy, kova’e onhemombe’u há’e oexauka aguã ma Moquem Surarī: aý gua nhande rembiapo Jaider Esbell há’e 34° nhemity nhavõ São Paulo pygua reve nhoirum, kova’e ma oguerojeapo pavē pé ojekuaa pota aguã, nhande kuery rembiapo re ha’e oikuaa ve aguã avei. Kova’e tembiapo ma nonhemboja’o´i Nhande ruvixa reko gui, kova’e kuaxia jexauka va’e ma há’evea rupi gua, há’e javive pe varã kova’e nhandereko nhembojerovia aguã, ojexaa kuaa ju aguã, nhandeayvu, ara rupa ae javi re. Kova’e onhemoingo oexauka opamba’é tembiapo regua nhemoin porã ty py varã. Ha’egui ha’e kuery pe omoexakã aguã ayn gua rupi ve aguã. Moquem Surarī omonhepyrū jogueroayvu aguã nhande kuery hembiapo va’e kuery reve anhõ. Ha’e vy py MAM pe omoexakã oikuaa pota ha’e omboeta ve aguã omba’e mba’e. Ha’egui omoim aguã avei onhemombo rei va’e kuery pe. Kova’e ome’ē peteim nhande hembiapo kuaa va’e pe oexauka aguã nhande ayvu py ipara va’e. Oexauka aguã kova’e ymã guare moin porã typy varã, ojopy aguã avei nhande kuery gui oayvu heta ve ijayvu va’e ha’egui onhepytyvõ aguã nhande kuery hembiapo va’e kuery pe omombaraete aguã nhande ayvu re. Kova’e hembiapo joegua he´yn. Oexauka aguã ta’anga, jegua, ta’anga pe’aá gui gua, yvyra gui gua, ma kova’e kuery rembiapo, Baniwa, Mbya, Huni Kuin, Karipuna, Klamatah Modoc, Krenak, Marubo, Makuxi, Patamona, Pataxo, Tapirape, Taurepang, Tikmu’ū/Maxakali, tukano, xakriaba, xirixana, Wapixana, há’e Yanomami avei. CAUÊ ALVES CAUÊ ALVES Curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo Nhomogueraa Ruvixa Ymãguare moin porã ty ayn guigua mbavyky São Paulo pygua Jaider Esbell kuaxia gui ve, Paulo Berbert oipytyvō ta avi, Pedro Cesarino, há’e kuaxia há’evea rami pa oīa oikuaa pota va’e ma Cristine Takua. Are ma há’e onhemoingo kova’e rã rupi mbovy jaxy re nhombo’e nhombo’ea va’e kuery pe marã rami pa MAM kuery onhangareko aguã oexa xe va’e kuery pe. Kova’e oexaukaa rupi ogueru avei kuaxia para amboae kuery rembiapo, onhemomby’a rexakaã há’e oikuaa pota va’e kuery, heta nhande kuery gui ikuai: Ailton Krenak, Arissana Pataxó, Carlos Papá, Charles Gabriel, Denilson Baniwa, Isael Maxakali, Maria Inês de Almeida, Naine Terena, Nei Xakriabá, Rita Huni Kuin, Sueli Maxakali, Vernon Foster ha’e Yermollay Caripoune, kova’e kuery ma oguerojeapo ha’ejavi rupi varã indigenas rembiapo ayn gua ojexauka aguã. Kova’e ojexaukaa ma Tembiapo regua re anhoe’yn pavē nhembopy’a arandu ko ara rupa regua há’ejavi ve reko avei. Kova’e kuery joupive nhopytyvō Ymã guaré moin porã ty py varã há’e apy jaikoa py oin aguã. Makunaima japyre pyre kuery ijayvu ha’e omombe’u va’é kue. Kova’e gui py omoexakã MAM pe ojapo va’ekue’i kuery pe. PANDON DE SURARÎ: A HISTÓRIA ANTIGA DO MOQUÉM* Um homem deixou Moquém, o Moquém ficou abandonado, sem dono. Então Moquém virou gente. Depois que virou gente, Moquém ficou pensando em como ia ficar. Ele pensava para onde o seu dono foi. O dono do Moquém tinha falado que ia subir para o céu. Por isso, Moquém pensava em subir para o céu atrás de seu dono. O Moquém falava para si mesmo: — Como será que eu posso subir para o céu? Enquanto o Moquém pensava, um passarinho chamado Ma’tapiri1 o encontrou e disse: — Ei, cunhado! O Moquém respondeu: — Ei! — O que é que você tem, cunhado? – perguntou Ma’tapiri — Eu estou muito triste. — Por que você está triste? — Porque o meu dono me deixou sozinho no mundo. Então eu estou pensando em ir atrás dele, pensando como eu posso subir ao céu. — Sim, te levo! — Então me ajuda logo! — Sim, eu vou te ajudar – falou o passarinho. — Você pode me aguentar? — Sim, eu posso te aguentar. Segura nas minhas asas que eu vou levar você para o céu. Ma’tapiri deixou Moquém no céu e falou: — Agora fica aqui no céu. Eu te trouxe porque estava triste. — Sim! Eu vou ser a chuva do Moquém para que os jovens Makuxi saibam que a chuva do Moquém está chovendo. Até hoje Moquém vive perto da Estrela da Manhã. Essa é a história do Moquém, é assim que as velhas contam. * Texto adaptado a partir de uma narrativa de Eduína Makuxi, contada no 48º episódio do programa “Vamos aprender Makuxi”. Esse programa esteve no ar entre 2003 e 2008 na rádio Monte Roraima de Boa Vista (RR) e era produzido por professores da língua makuxi e pela Pastoral Indígena da Diocese de Roraima. 1 • Ma’tapiri é o nome makuxi que designa o pequeno gavião nativo dos lavrados amazônicos, cuja classificação taxonômica na ciência ocidental é Falco sparverius. 6 7 OMO BEM´U YMÃ GUARÉ MOQUÉM * Nda ija vei ma. Ha’e vy py nhande rami onhembojera. Nhande rami onhembojera rire Moquém oikuaa pota ma oiko vy mba’exa pa oin tá. Oikuaa pota marupipa ija oo. Moquém já ijayvu ae ma raka’e yvate oo aguã. Ha’e vy py Moquém oikuaa pota hakykue oo aguã avei oja rakykue. Ha’e vy py Moquém ojeupe ae ijayvu oiny. — Mba’exa nda’u ajiupi tá ara re? Ha’e ramia já re, peteim guyra’i MA’TAPIRI1 oexa ijayvu: — Tovaja! Moquém ombovai: — Mba’e? — Mba’e tu rereko, tovaja? MA’TAPIRI oporandu — Xeporiau aiko vy — Mba’ere tu ndeporiau? — Xere onhangareko’i va’e xereja Xeanho’in apy yvy py aiko. Ha’e vy py a ikuai pota aa aguã hakykue, aikuaa pota Mba’exa pa yvate ajiupi avy aguã. — Hem, torogueraa vy rã! — Xepytyvõ voi vy rã! — Hem, roipytyvõ tae tu- He’i je guyra’i — Xere ndepo’aka rã nhi’ã? — Xepo’aka rã rima- Ejopy xepepo re rogueraa aguã yvate. Ma’tapiri Moquém pe oeja yvate vy ijayvu — Ay ma epyta ta’u apy yvate-Xee rogueru ndeporiau reiny vy py. — Hē, xee ma aiko ta Moquém oky va’é. Kyringue ve Makuxi kuery regua oikuaa aguã Moquém rima oky oiny. Ha’e vy py ay peve Moquém jaxy tata’i vy’i ry oiko. Kova’e ma Moquém regua mombe´u, virami ma vaimi’in kuery omombe’u. * Kova’e kaxo ma Eduina Makuxi omombe’u va’ekue, omombe’u raka’é 48º onhemoingo jave < Jaa nhanhembo’é Makuxi> Kova’e oexauka jave ma 2003, 2008 nhaendu va’é ty py oaxa Monte Roraima Boa Vista pygua(RR) Makuxi ayvu py nhombo’e va’e kuery ha’e yvy po kuery nhanderu re onhembo’é va’e kuery reve ojapo va’e kue. 1 • Ma’tapiri Heryma makuxi ovemombe’u Kyrin’in taguato apygua mopotin ka’aguy ovy pygua, ha’epy mboja’o nhembo’e yvy mboaegui ou va’e Falco sparverius. 8 9 O’MA’KON – BICHARADA – REUNIÃO DE BICHOS Jaider Esbell O’MA’KON – MYMBA KUERY – MYMBA KUERY NHEMBOATY 10 11 Eu vou te convidar a ir por aqui, pois, confesso, não sei organizar meus pensamentos e contemplar o que se espera de um escrito curatorial sem me referenciar na própria trajetória. Quem sabe no final do texto não nos encontraremos mais curiosos que agora, pois a ideia nunca é esgotar a constância. Pegue seu remo, a canoa precisa estar em movimento. Roenoi ta Kova’e rupi jaa nhainy aguã, anhemombe’u ete’i avei, ndaikuai mba’exa pa anhemomby’aa pavē pe pa há’e vea rami nho pa amoī, xereko anhemombe’u he’y re. Xapy’a rei ramo Kova’e kuaxia para opa’ia py jajokuaa pota ve rã. Kova’e mby’a ma nhemokane’ō he’ý aguã, ejopy ya pyvua enhemongu’e eiko vy. Quando finalmente tive o merecimento da grande reconexão com o universo, eu estava na praia, em um braço de rio, lá nas nossas terras, a terra de Makunaimî. Era noite, o céu estava estrelado, tinha fogueira e o pajé era jovem como eu. Ele vinha de muitas andanças, traçava a mais difícil das artes, a de transitar entre mundos. Preparamos a cerimônia, fizemos de um jeito que deu certo e foi assim que meu contrabatismo, um dos tantos que possivelmente viverei, aconteceu. Já havia conhecido um pouco do mundo amplo, visto que busco estar em movimento desde muito cedo, mas aquele acesso foi de muita revelação. Tanto que, ainda hoje, passados alguns anos, me escuto sentindo ainda a candura na voz da grande mãe me acolhendo no ventre. Minhas andanças por tantos cantos talvez tivessem me preparado para enxergar e sentir aquilo que a colonização tirara dos nossos povos quando aqui chegaram, a alma maior. Eu agora posso entender melhor o sentido desses encontros que ocorrem sempre, desde sempre, mas que, pela urgência da derrocada humanitária sobre a ecologia, é preciso que nos exibamos em simultâneo. É preciso falar, escrever, performar, atuar, enfeitiçar, pois, em matéria de arte para nós, povos indígenas, a obra não basta. É que estamos de fato em uma grande e, quem sabe, definitiva jornada no mundo dominante para compor a gênese de mais uma passagem plena – da inconsciência coletiva à substituição de nós por outras experiências supraexistenciais. Seria mesmo complexo caso não estivéssemos seguindo uma a’ka – a claridade que nos guia por seus próprios sinais aos acessos irrestritos à nossa raiz ancestral. Estou tentando dizer que os saberes milenares dos povos originários são tecnologias indispensáveis para somar com a ideia de tecnologia de ponta, como softwares, e que só juntos podemos estender nossa permanência no universo. Mas, para se chegar lá, é preciso que percorramos todos os efeitos coloniais que se resumem na Axy py ma mamo ete gui xemboaxya nho, ye’ē py aiko jave, yaka vy’i ry, ore yvy re, Makunaimī yvy re. Pytum jave, jaxy tata’i jave, oin tata endy avei, karai ma peteī kunumi xerami. Há’e ma ou mbovy jejuataa gui, hembiporu omopopē axy rei va’e ara rupa, yvyrupa arandu regua. Rojapo rojapyxaka aguã, peteim rami porã’in oxē aguã, peixa mbovy reie’yn pa mirami aiko ju rã Kova’e rupi. Aikuaa rei ae ma mba’exapa yvyrupa reko ha’e vy ma aikuaa pota voi ma aiko vy, ha’e py mae onhemoexakã ve. Há’e ramo are teim ayn peve aendu teri nhandexy tenonde rye pypy aikoa. Mbovy mborai gui mae ajereko katu ve vy ma aexa, aendu mba’exa pa yvypo kuery oipe’a pa nhande gui apy ovãe jave. Ayn xee aikuaa porã ve ma mba’exa pa onhemoingo raka’e. Há’e rami ae jepi vy ma aý nhandeayvu rã nhambopara, jajapo, jaiko, nhanhemoatyrō, há’e vy ma nhade nhande kuery nhande rembiporu nhande rembiapo anho’in ndaikatui. Jaiko ma apy yvypo kuerya rupi oje rami rei jaxa javy-oyvara py rupi nhande mboekovia amboae re haxi rei rã gue a’ka rupi ndajaai va’e rire- hexakã va’e nhane pytyvō guexakã marae’yn gui nda’e veia rupi jepe ombotape, nhande reko ypy re ju. Amombe’u nhi’ã aiko vy, nhande arandu ma imarã va’e’yn, nda’e vei jaeja, heta va’e kuery mba’e reve joupive jaremo vy rae ma nhande kuaí apy yvy vai re. Kova’e py nhavaē aguã ma jaguata rã yvypo kuery reko py, há’e kuery reko ma nhande arandu nombojeroviai, nhande arandu ma ha’e kuery pe noin porãin, omba’é arandu mby’a omoim xe vy. A’ka, nhemoexakaã ma nhade rape rã ombopyy pyy ve jexakaa re, kova’e ae py jexakare ae ma jaikuaa aguã rami opamba’e onhemoingo ramo. Kovae py ome’em jaexauka ete aguã nhembiporu, jajapo ae ma jakuapy, yvypo kuery rovai nhande rembiapo ae py jaraa, xee arova eravy, kova’e nhemboaty ague ague, rupi desqualificação de nossos conhecimentos e que invertamos a lógica da finitude que insiste em emplacar o pensamento branco. A’ka, que é essa claridade, se amplia quando podemos entendê-la como uma guiança capaz de nos alertar, com uma fina capacidade de discernir sobre os efeitos desses alcances, possibilitando que partilhemos por diversos meios de expressão, o que, na prática, é o que estamos fazendo: política contracolonial pura, em artes. Rememorando meus deslocamentos, especialmente os encontros fruto dessas movidas, me vejo, e ainda me sinto, criança, deitado com irmãos e primos sobre um couro velho de vaca, olhando para o infinito a navegar na grande imensidão universal. Meu avô estava conosco e foi ele mesmo que, já fragmentado de corpo e memória, nos trouxe aspectos de nossa cosmologia. Ele falava do tempo perfeito, o tempo da constante criação. Aqueles momentos afetuosos eram recorrentes e quanto mais eu ouvia mais eu ia me aproximando de uma outra possibilidade que não o viver alheio ou avulso, modo como me parece suceder aos sujeitos deslocados com as invasões coloniais. Acreditei, portanto, desde lá, que há caminhos vastos para as entradas de volta aos ninhos, mas que tais entradas estavam ai’kutaasa’nai, ou seja, encharcadas de tanto que mexeram no equilíbrio essencial de nossa cosmo-identidade. Não dá pra andar direito no encharcado, é preciso andar devagar, pé ante pé. É preciso enxugar para enxergar o lugar por onde andar. – Aase! Aase! – Vamos! Vamos! Era, e ainda é, o que dizia, e ainda diz, aquela voz interior que me aquece, que não me esquece. Vamos então por estes caminhos, antes ainda vagos para nossa pouca compreensão. Isso que a língua dominante limita ao nos fazer crer que o caminho e o caminhar sejam algo que se faça unicamente pelo ato literal de andar com os pés no chão, seguindo um rumo já pronto. Aase, na língua do meu povo, é um convite a percorrer caminhos outros. Tais caminhos são mesmo abstratos, pois são caminhos que levam às raízes essenciais de nossa constituição. Apenas as entradas para esses lócus estão na superfície, e as entradas, meus parentes, são nossos próprios corpos. Sabiam? ! Para se adentrar nessa dimensão que tento nos levar é preciso ascender aos céus ou intersectar-se na terra - a mais completa memória de nós. xee aexa, aendu teri, kyrín rami, anhenō joapy há’e xerentarã kuery reve, vaka Pire ary, mombyry rei ama’ē vy aa ara rupa ae javi re. Xeramoi ore rupive ae oiko arandu rekove ogueru ore vy pe. Ara rupa naimaraī regua, jypy’i onhembojera jave. Iporã va’e memea rupi aiko, aendu vy, xee anhemboja ve avy, ambos ikuaia rami he’yn, amboae kuery reko aexa ojererova va’e kue yvypo kuery ovaē jave. Há’e vy ma arovia tape oin jaike ju aguã nhande raity’i py ju. Nhande raity’i ma mbovye’ý gui onhemomyī mba há’e vea rami onhemoī aguã nhande reko arandu rupi. Nda’evei jaguata porã aguã inhakya rupi, mbegue rupi nhande py jarova rova já vy. Nhamombiru ranhe jaexa porã ve aguã mamo jaikoa rupi. – Aase! Aase! – Jaá ma! Jaá ma! Va’egue, ayn teim ma, ijayvua ma, va’eri ijayvu, ou ijayvua ma mby’a gui jemboaku, nanxemboe xarai. Jaá vy kova ‘e taperupi, guevema oin oguepaá kova’ere anhembo jekuaá. Há’ evyma nhandeayvua ijoapy virami ojere raá aguã kova’e taperupi jaguataá ma toó heravy vyma peteim rupi vy ayn he’yn reaema jaguataá kova’e rupi tapere, oguataá jepe voi oin maba. Aase, ayvu ma pavem ijayvua, ha’e vyma oenoin ojyry aguã tape amboerupi. Tapere vyma oin. Ojerere rovya haema, há’e va’ema tape nhandereraá nhandeyvará retepy vy kova’e jeraja reguare oin. Taperivema oin hera jeguataá vyma peteim hendapy nhevãe mbegue, taperupi, xerentarã kuery, ha’e voima nhandeyvara haema. Peikua nhin’ã?! Jaike aguã reguare vyma ikatu pareia py nhandereraá aipotama onhemonhendy yvare ojokoa – yvyre vy – omonyen mba vyma ma’endu’a nhandevype hem, jaá meme katu. Nhanhemombe’ireve jejeupity, há’evyma jaru nhaeangu reve vy a’ka, henxãare, axa ajuvy vy heta tataypy rupi, ha’e nda aiko pavem rupiguarei vy amo’ã pateim imbavykya guã, ha’e jave, jojorami jeguapya xeyvara retere voi jeapo. Mba’eta ovenõeapy krã, ha’epy voi yjapyre gue oaxa va’e kuere, nhanderaja nhande vype jooramia-kuery peteim makuxa voi oin mbarã. Ayn peve oikuaá ma va’eri ore, roendu mavy amboe ayn teim nhõenoia py vy aipoe’i jaá vi! he’iva’e nhamoim rum aguãe’yn a’ka, hexãkã, va’eri ajepe’a aguãre vyma há’e nhavõ vyma nhandeyvatea ra’e, nhamboa’eve mba’e paá nhandere xarai, oguearupivy, Xaexa 12 13 Assim, segui andando. Secretamente fui avançando, sempre buscando estar atento à a’ka, a claridade. Passei por tantos lugares, me fiz em tantos personagens até constituir a persona, o artista que, no momento, até assenta bem no meu corpo coletivo. É que me foi tirado, desde gerações anteriores, o direito essencial de ser eu-povo, um makuxi por completude. Hoje já sou bem mais nós, embora ainda ouça outros convites de Vamos! São convites recorrentes, não para seguir a’ka, a claridade, mas para que me afaste cada vez mais de nossa identidade, aceitando sem questionar o esquecimento, o apagamento, deixando de lado essa teimosia em ser makuxi e aceitando de bom grado ser um autêntico brasileiro. É que, quando eu estava nos primeiros anos da escola, os meus colegas, bem instruídos pela colonialidade, me convidavam para esquecer aquela minha insistência em ser indígena. Quando eu me negava a me negar, eles me batiam. Sim, eu apanhei de outras crianças, mas lutei e também bati nelas, pois sabia que não estava só e tinha minha razão. E’ki’pa’pî! Sujo! Eles me achavam sujo. Me diziam mesmo que ser indígena não era bom, portanto, para eu fazer parte daquele mundo, o mundo deles, eu deveria deixar de ser índio. Índio foi, e ainda é, para muita gente, sinônimo de coisa sem serventia. Ainda ouço disso, se lhe interessa saber, aqui nesses espaços privilegiados das artes europeizantes. Teimei, sarei os olhos roxos das porradas, lavei todas as lágrimas e decidi não mais sofrer da porta de mim para dentro. Seria a arte que acredito fazer meu escudo ou seria ela minha curandeira? Seria eu uma espécie de piya’san, um pajé, um curador? Eu sinto essa cura cada vez que ponho uma peça “de arte” no mundo. Será que a arte que a gente opera cura quem não está mais em si? Poderia a arte dos indígenas devolver a alma dos herdeiros dos invasores? A montanha de cristal, o Monte Roraima, ou o tronco da grande árvore Wazaka’ye, uma vez me disse muitas coisas. Quando lá estive, também como rota de meu retorno, ascendi, ou fui ascendido. Fui tomado pelas mãos quando me disseram, os de lá, que meus pés estavam precisando de um repouso e as entidades do lugar me levaram para os galhos invisíveis para comer de outras frutas. Tais seres me disseram: não procure em vão, o que tu és está aqui. javy vyma nhamboyke heravy nanhae ndua Makuxi jaikovy nhamboa’eve iporã vya nda virami vy anhetem gua pindorama vy. Há’e, xee aiko krã mboae peteim ma’entyre anhembo’eapy vy, xerupive gua kuery, nhemoingo porã jepema yvy mboegui guapy, xereõi xemboexarai aguãpy pea marã oikoa reguare ha’e nhandeva’e aikoare. Anhembe’u nhandeva’eri aikoa vyma, ha’e kuery xenumpã. Hem, xee anhenumpã kyringue mboe kuery gui, va’eri ajoguero’a vy ainumpã havi há’e kueryre, aikuaávi arekoa xereko’ia vya. E’ki’pa’pî! ky’a! ha’e rami xerenõin iky’a. ha’erami vy nda ijayvu nhanderami aikoare vy iporãe’yn va’erami xerexa. Ha’erami teim, xee aikori yvy javere voi ain, ha’e kuery mba’e yvyre ma vy, haexa nhande’i va’e pygua nhande’i va’e ma, ayn teim ma, pavem pe, mba’everãe’yn jaiko. Aendu teri ayn peve, reikaá xeramo ma, apy oin ikatu pendevype hanhõ’in oin mbavyky yvy mboegui gua. Anhea’ã aikorã texaovy xeunga guereve, ajoy texay mbyvyguepa ha’evy rima anhea’ã ndajexavai xeivy xeyvy rõkem re Xeyvyim repy. Mbavyky anhin’ã ambojerovia trã aiporu ajejokoa rami trã anhemomguerá aávi? Trã xee peteim omyin va’e rivevi vy piya’san, peteim xamoim, peteim nhomomgueraá? Xee haendu amoim nhavõ peteim regua “mbavyky” yvyre vy. Mba’ere nda’u mbavyky onhõ momguerá etepa vy nda’u noin vei hexe? Nhande mbavyky nda’u omboa’eve nhen’em nhomoxemba va’e kuery regua guery repa? Yvyty re oin ita rexãnkã, Monte Roraima py, trã amboekoviavi yvyra já’eare Wazaka’ye, peteim gue ijayvua mba’e nunga retare. Ha’epy aiko javema, voi ma ajepeguavóaty rupi ajevya, amoendy vy, trã anhemoendyvi. Ajejopy vy xepore vy ma ijayvua krã xevype vy nda, ha’e guimae, xepyre voi nhekontevem peteimre vy jepytu’ua mba’e jakuery oin apy vy jereraá krã mboae yvyra rankã jaexae’yn va’ere ho’u amboae hi’á aguã. Ijayvu omyim va’e kuery vy: ekaeme riveme, mba’eretu apy reim. Orema jexaá ma ijoapy va’e’yn hexãnkã peva’ema oin há’eve’yn apy ndoguerovyi okanhya. va’eri peguejy ramo, xemoirum reguataá rupi, aikuaá matu hetama, oiko, omonkãnhyma ha’e javive mavy peé mombyryre onhemojeapoju vy ha’e omyim riae vy nda pyntuem tekovere vy oin rie vy oarõ. Somos espelhos infinitos a irradiar aquilo que está fora do alcance da extinção. Mas quando desceres, siga caminhando, pois é certo que muitos, de fato, perderam completamente o horizonte da reconstituição e é o movimento contínuo que oxigena a vida que está sempre a esperar. Depois de tanto falar aparentemente de mim, parentes, leitores, vamos ampliar a questão, pois não se trata aqui de trazer um texto estrutural, formal e clássico de um curador de arte. É preciso que sempre se lembrem que a nossa performação no espaço hegemônico da arte, digo, da arte de matriz europeia, é fazer, trazer, apresentar e até mesmo cocriar uma outra possibilidade onde não incorramos no erro básico de descrever ou interpretar qualquer trabalho reunido nesta mostra como uma peça avulsa de seu todo. Deixem os artistas falarem, ou silenciem o suficiente para que as obras falem o que o mundo de fato precisa escutar. Assim, eu, enquanto um indígena, tal qual meus pares artistas e coletivos de artistas indígenas curados nessa exposição, queremos muito mais desestruturar qualquer sentido ou tentativa de tradução, deixando muito aberto o campo para que as obras, como parte de nossos corpos, falem ou expressem o que exatamente tenha que ser dito. Mi’kî, a formiga, nunca anda só. A formiga andarilha tem bem levantadas suas antenas para manter constante comunicação. Quando o bicho quer pegá-la, mi’kî entra na terra. E não era disso que falávamos acima? Ou, quando não dá pra entrar na terra, mi’kî cria asas e voa para que o vento lhe mostre o destino certo onde deixar os ovos que ela tem na barriga, sua própria população. Acredito que seja um pouco disso que trata a curadoria dessa exposição: o movimento de mundos plurais que acontecem paralelamente ao fluxo dominante e, invariavelmente, asseguram como tecnologias acabadas (estado da arte) as estruturas de nossa plataforma comum, os vários céus e as várias terras funcionando regularmente para todos, para todas, para tudo e para sempre. Um outro sistema de arte possível pode estar sendo semeado. É o sistema próprio das artes dos povos originários que se minimiza para caber no mundo restritivo desquali e desquantificante do pensamento arcaico do mundo moderno, o insustentável domínio do pensamento branco. Foi pensando em expansão, trânsito, movimento, coletividade, tecnologia, fluxo, Ha’erire ma ijayvu riae maramo anhenxã’ã xerema tavy, xerentarã kuery, kuatia reroayvua kuery, nhambo tuvixa ve ha’eregua, mba’erepa noin ogueru aguã kuatia para omboupa aguã, virami mboja’opyre rami vy nhomomgueraá mbavykya. Onhenkontevem riaema ima’endu’a aguã nhanemba’ere vy overõ nhemboajayty katu ojey regua mbavyky, xeayvu ju, mbavyky ma yvy mboe gui, ojeapo, jaru, jaexauka vy joupive jajapo peteim rupivy nda ojejou heravy vy nda’u mamopa noin já’a vampy ha’e jejavy voi oin heravya aguã vy nda onhenxã’ã vy mba’eapo joupive kova’epy vy jexauka hejegua vyma pavem pe ju. Ojeja imabavyky va’epe ijayvua aguã, trã okyrinrin vy jeopity vy ijayvu aguã py onhaem vy onhekontevem vy oikoma vy oendu aguã. Virami ma, xee, nhande’i va’erivy, imbavyky va’e’i rivy jojo rami joapy roin vy mbavyky kuery vy nhande’iva’e kuery nhomomguerá kova’re omboyjy vy, roipotama vy rombovaipa xevea roendo nhea’ãma okueroayvu kuaá aguã, oejama nhumrupi vy oipe’a heta ojapoague, oja’o vyma nhandeyvara rete, ijayvu ojexaukamavy mba’e ete’itu jaroayvu ta. Mi’kî, tay ma, ndo guatai ha’eae. Tay ma oguata reiva’e oin omompu’ãrei oakãpykã heravyma vy omombyta riaevy nonhemo kanhyiu kai. Omyim va’e kuery ojopy xea ramoma, mi’kî oike yvy guyre ha’ere’yn ma nhandeayvu kuri yvatere? Trã, nda’evei oike aguã yvyre ramo ma, mi’kî ipepó va’eri vy oveve ovy mba’etu yvytu oejauka rembiexarã mamo oin oeja va’ekue hupi’a guyepy oguereko va’e, ojeupema onhemboe tave. Arovia nda kova’epy vy kyrin’in vy nda nhemomgueraá kova’e nhemboyjyre: o nhemomyin vy yvy javere vy oiko nda joyvyre ojereraá vy onhevãe mavy onhemoymba va’ekuery ma ojejopy vy mba’erepa nhemonhe mbojaitya opama(mbavyky yvyre guare)overõ mompu’ã nhemoe ndaá mba’exa nda’u, heta yvare ha’e heta yvyre hevovo onhembojeja heravy ma pavem pe, ha’e javi pe há’e pavem pe riea vy. Peteim mboae rupi vy nda irajavy mbavyky japy’arei vyma oin onhemoaim iraja ojeupeae mbavyky vetarã kuery apyguaé kuery onhemoyvyin vy oja aguã rami yvy javere omboapyare ijapua há’e onhemboapu’a onhemonguetaa vy nda ymã rupi yvy javere ayn gua, nonhemogarui kuavei onheymba va’e kuery jurua. 14 15 estratégia, ação integrada e tantas outras ondas positivas que propus que nossa exposição se chamasse Moquém_Surarî. É que me parece mesmo que, ao menos aqui no Brasil, estamos vivendo esse momento. Um moquém não se faz só. É preciso que haja gente esperando em casa, nas comunidades, para que os caçadores se empenhem. É preciso que haja fome de vida para que os bichos apareçam e se entreguem ao abate para servir de nutrição, de alento e instrução. O’ma’kon é uma reunião de bichos, uma grande bicharada. São eles nossos professores. Não somos mais que eles. É preciso negar a supremacia humana sobre a diversidade de formas de vida. Pois não é mesmo fantástico que o jirau onde os alimentos são defumados para suportar as intempéries da longa viagem seja abandonado para trás por seus donos, os homens? Que essa tecnologia sinta saudade e saia também à procura de parte de si por todos os cantos da Terra e que, não o encontrando, tenha vontade de ir procurar no céu, onde também não o encontra, e resolva se tornar uma constelação para continuar servindo aos Makuxi para avisar quando virão as chuvas, a estação das boas plantações! Para mim, o que nós artistas indígenas estamos fazendo é isso. Estamos saindo de nossas comunidades, guetos, favelas, e indo caçar, como sempre fazemos, recorrendo aos nossos mestres, a bicharada. Que eles nos ensinem mais uma vez e que nos sirvam para que sirvamos de um novo alimento ao mundo empobrecido, exaurido e profundamente carente, a vida da atualidade. Aquela sala expositiva, com pouco mais de algumas centenas de metros quadrados, este catálogo, com algumas poucas páginas, e os pequenos espaços na grande mídia nunca serão suficientes para que preenchamos o vazio existencial que se estabeleceu, ou que foi tornado nos mundos, tanto os nossos como os dos invasores, pois, no fim, estamos no mesmo barco e ele está fazendo água muito mais rápido do que podemos retirar. É muito delicado estar nesse lugar da observação. Ao mesmo tempo, é muito fácil atuar daqui, pois o que não nos falta são ensinamentos, isso que nos deixaram nossos antecessores. É preciso resistir, sempre. Iwiî – matar, para nós é muito fácil. Mas estamos cansados de guerras. Ixere’ku, o fel, é muito amargo, mas, ainda assim, é um remédio muito bom, cura doenças fatais se Onhemonguetavy ombo tuvixa, mba’eru, omyin, jojoramivy, nhemojaityma, nhemonheem, jekuaa potavy, nhepyrun jojavire heta amboae overopuã vy nda omoin heravy vyma omboyxy há’evy oenoin Moquém_Surarî. Há’e vy ojekua jevy vy ma kyrin’in apy Pindorama py, jaiko apy há’e vyma. Peteim moquém noin vei vyma. Nhekotevem oiko nhande rami oarõ ngoopy, pee hetarã kuery apy, iporaka va’e kuery jepe oiko katu aguã rupi vy. Onhekom tevem ko omyin ojekua aguã há’e onheme’em ojejuka aguã nhanemoe vyata aguã, jekuapota jejapua. O’ma’kon há’e nhemboaty omyin va’e kuery, tuvixa omyin va’e kuery vy. Há’e kuery ma nhanembo’ea kuery. Nhandema há’e kuery arupi gua’e yn ma. Onhekotevema jeapu vy nda onhemboyva teve ma tekore. Há’e vyrima onhembo’a evema vy mavy omo nhimbepa tembi’u há’e omombiru tata ary xapy’a rei py ary puku re oguata vy oeja taky kuery oja, ava kuery? Mba’e kova’e nhembojaity toendu xanga’u há’e tomxe há’e toeka ojeguigua kuery gui vyma toporai yvyre mba’ere, ndojoui mavy, oendu xea ao aguã oekavy yvare, mamo ndavy noin ko ojou, ojevy aguã py ojeupevy opyta nhoembiguai aguã Makuxi omombe’u aguã raka’etu ou oky, ary nhavon nhenhoty porã aguã! Xevy pema, ha’e orevype ma mbavyky nhande kuery pe orema rojapo kova’e. Orema roem ore rekoagui vyma, tetã inre, aa jeporakavy, rojapo riaema vy, roporandu ore nhemboea kuery pe vy, omyin va’e kuery. Há’e kuery tanha nembo’ei eme peteim gueju ore kuery rome em vy rima onheme em jevy vy tembi’u yvy javere onhemomboriau kuery pe, inkãnky kuery pevy nda, toikovea ayn guiguare. Pee ma oguy nhavangaá typy, hetaveare vy nda ipukuveare vy joguepy vyma, kova’e ombojekua, mbovy’ire vy kuatire, kyrin gue’ire ikature há’e tuvixaveare vy ojekuaá va’ere vyma omboa’eve vyma omonye naenyevei va’ekue opyta heravy vyma ojejou ma, ojeapo va’ekuere yvy javere, nhomoxem va’e kuery voi ma oin vyma, ha’e gui, opaapy, ore kuery voima kanuã ha’e ojapo yy pojavave vy hetave vy tove tojaraa apy yy togueraá. Ha’evyma axyreima japyta aguã apy nhendeporexa aguã. Va’erima, haxy vaipa jaikoa aguã apyguimba’erepa ndoatai nhanembo’ea kuery jepe, kova’erupi oejavy kova’e nhane’ymã guare kury. tratadas a tempo. Vivemos há séculos essa amargura e não queremos repetir a dominação que nos aflige. Queremos manter a vida viva, viável, pois, dizem os bichos nossos professores, assim deve ser. Assim o chamado se fez. Que viessem povos de todos os cantos, desde os extremos, os povos de perto apagados, esquecidos, sem terra, sem teto, sem água, sem voz. Que viessem e se apresentassem. Que respeitosamente entrassem pela porta da frente dos museus e se instalassem, também por vontade e necessidade próprias. Que exemplificássemos com muita elegância e humildade que é possível partilhar a existência, a ciência, que proporcionássemos mais e mais saudáveis experiências. Então, está feito o moquém. Uma reunião magistral de cosmologias que cooperam entre si em mútuos apoios e reinvindicações. Marcamos, antes de tudo, que para que contemos mais de nossas essências é preciso que nos devolvam nossos arquivos engavetados a sete chaves nas instituições, nas igrejas. Que a urgência ecológica nos auxilie em dizer que não precisamos, embora seja preciso, que derrubemos estátuas pesadíssimas que sufocam nossos solos sagrados. Estes monumentos coloniais colossais que suplantaram nossos sítios sagrados, nossos cemitérios, o lugar de nossas roças. As roças que também nos ensinaram como fazer, tal qual nossos professores, a bicharada. Importante que constem nos anais que a exposição Moquém_Surarî é uma negação à individualidade. Que é um esforço plural de aproximação, mas nunca de tentativa de tradução. Que não foi nem um pouco fácil dialogar com a instituição. Que estamos minimamente conscientes de que o nosso papel enquanto um ascensor de mundo é nos recolhermos ao canto e deixarmos que cada um ou cada uma aqui reunidos possa fazer a sua própria autoapresentação. O que mais poderia nos motivar se o mundo da individualidade já provou ser inviabilizante? Se a ciência também já se mostrou imprópria? A ideia da arte, essa palavra ainda aleatória, pode nos ser útil se moquearmos ela, aos nossos modos, para pô-la a serviço de nossas urgências. Tais urgências não são os pseudoprivilégios que muitos não indígenas ainda acham que temos. Nossas urgências são as urgências globais, locais e cósmicas. São urgências laborais, operacionais e Nhenkotevema taimbaraete, riae. Iwiî - tojuka, orevype haxy vaipama. Va’eri orema orekane’õma nhorairõ gui. Ixere’ku, iró, vaipa Iró, va’eri, teim nda, moã iporã vaipa, jaguerá mba’eaxy gui vaiguegui jaguerá aguã jaiko ayn. Jaiko mavy ymã guive haema irore jaiko ndoroipota veima ayn oiko nhanemonheymba va’e kuery je omoin oakãre aguã. Roipotama vy opyta tekoa jaikoa, há’e veri, va’eri, ijayvua omyin va’e jepe nhenembo’ea, há’evyma oje, virami heryvy ojeapo. Touake nhetarã kury pavem oporai aguã, koo rupi vy ojekuaá heravya tentará há’e’ipy oguepama, exarai, yjyvy he’yn re, ndaoi, ndajyyi, nda’ijyryvivei, touake tonhemombe’u. Mba’epa tonhomboete toike tokuapy okengui ymã guare moiporãtypy gui tonhemboó, toin xea toendu nhenkotevem vy jepe ojeupe. Onhemo mboriau’i vyare ma heta onhemoporã rei aguã japy’arei ramo opmboja’o heravy vyma, nhembo’ea porã va’e kuery jepe hexãin mbavea jepe topyta jaikuaávea aguã. Há’evy, ojeapo moquém. Peteim nhemboatyre nhembo’eva’e kuery voima nhopytyvõ havei joexa kuaa va’e kuery ma oporã ndu oguapy vyma. O’anga, há’e yn mbovema ba’epa romombe’u oreyvara guigua há’e va’ema nhenkotevem ome enju aguã oremba’e onhomia guegui jepe’aá py mba’eapo rendapy guama, opy ramingua, nhenkontevem mavy ka’a guyre nanhamomky’ai aguã nhenkotevema, jaity omo’ã mbyre, há’e nhenkontevem rupi vyma ipoyi vai heravy vyma yvy porã’in. kova’ema omonhemopu’ã mbyre yvy mboegui ou va’e kue onhoty va’e gue vyrima iporã, nhanemba’e yvyra rupama, peteim hendapy kokuepy. Kokuepy voima orembo’e havi voi Mba’e jajapo, ko nhanembo’ea kuery, omyin va’e kuery. Há’eva’ema há’ve vaipama virami onhembo jexaukaá Moquém_Surarî peteim ha’e nda’ijapui há’e kuery hae ojeupe. Mba’etu onhea’ã pavem pe vy onhemboja ve aguã py ju onhe’ã anga ogueroayvu, mab’epa ndaxy vaipai vyma jogueroayvu omba’eapoa kuery. Orema roin rum xã’in oreakã re opytaá arandu ore ma kuatire pende yvyre pende kuai haja otrema romo no’õ mavy mborai roeja heravy vyma peteim pe onhemboatya py ojapoa aguã ojeupe Imba’eae nhemombe’uvya. Mba’ere nda’u ombo’a’eve heravya aguã yvy revy ojeupe hae omboa’eve heravy nda onhemomjejauka? Onhembo’e 16 17 cotidianas, como chegar na pré-escola e transformá-la em um lugar de trocas justas. É que, assim como está, o sistema da arte dominante ainda assusta nossos pais, nossos avós. Queremos, e desconfio que podemos, despertar juntos para uma outra consciência, a coletividade efetiva, não mais essa que reforça a racialidade, o racismo, o revanchismo. Por fim, a imagem derradeira que me surge em mente é de um peya’, um balneário, um lugar onde poderemos nos banhar, um lugar para levar e lavar as nossas almas. Um lugar para deixar nossos corpos flutuarem, um lugar para espelhar o céu que há em nossos rostos, o grande espelho da vida em harmonia. Morrîpenan! porã va’e kuery oejaukama vy há’eve yn va’e? Mbavyky re onhemomby’a vyryma há’e vevy moquém reaguarã nhenkotevem. Há’evyma nhenkontevemavy ojeanhõ py ju omombyta heta jurua- kuery ayn peve ojou jareko. Nhanemba’e nhenkontevem yvyre javerevy, oin ojejapyxakaá. Voima nhenkontevem ojeapoa, ojejapovyare guiare vym nhemoingoapy gua, mara mipa nhavãe ojerá-ovya oin aguã nhemboekovi jo’irami. Mb’ere, virami rein, ojerajama mbavyky onhemoymba va’e kuery ayn peve onhemondyi yvy re, nhaneramoim. Roipoata, há’e ndajeroviai vi omboa’evevy ma, omomyin joupive vy nda amboae onhe’ã mba’e kuaá gui, jojo ramivy joe’i, noin mavy onhea’ã oje kueryre, ndapoayvui, há’e vyma nhorainrõ. Há’e pyma, in’ã o’atyrã ramingua oin vy ryma nhaneakãmy opyta ouvy peteim peya’, oinju, ikatua mamontu ore kuery rojauta, peteim ikatuapy jaraá aguã nhande nhe’em. Peteim ikatuapy jaeja nhenemba’e nhadeyvara rete, petein ikatuapy vyma yvare hae nhanderova, ojekuá nhane’ã aá tuvixa jaje kuaá tekoa tory’ire nhain mavya. Morrîpenan! Fui posto curador da exposição Moquém_ Surarî. O mundo mudou radicalmente bem exatamente nesse tempo, mas, para nós, continua o mesmo, só que um pouco melhor, pois o’ma’kon, a bicharada professora, está, de fato, muito feliz e então também estamos! Xemoingo nhemonguraá há’e nhemboyxy Moquém_Surarî. Yvyma ova ivaireve vyma há’epyete’i vyma ary py, va’eri, orevype, ootema teim vy, va’eri há’eveve nho, mba’eta o’ma’kon, omyin va’e kueryma nhombo’eva’e, oin, oiko, ovy’a vaipa, há’evyma roin apy! MESTRA BERNALDINA MAKUXI, ETERNA VOVÔ (1945–2020) XEJARY BERNALDINA MAKUXI, NDOPAIRÃ XEJARY MERINÁ (1945–2020) PEDAGOGIAS DA TRANSFORMAÇÃO Paula Berbert NHEMBO’E ATY OJEREROVA 20 21 PARA UM COMEÇO DE CONVERSA AYVU NHAMBOYPY AGUÃ Arte indígena contemporânea. Esses termos, conjugados nessa ordem, têm provocado muita curiosidade e algum estranhamento junto às instituições de arte e seus profissionais, e ainda nos pesquisadores e público interessado. Essa surpresa, que muitas vezes também vem acompanhada de certa suspeição de legitimidade, fundamenta-se em desgastados pares de oposição que ainda contornam o Ocidente moderno em seu próprio imaginário, diferenciando-o dos povos que lhe constituem alteridade. A estes o Ocidente atribuiu a natureza, o mito, a oralidade, a tradição e os artefatos; reservando para si mesmo a cultura, a história, a escrita, a contemporaneidade e a arte.1 Ao revelar os aspectos etnocêntricos que fundamentam a própria noção ocidental de arte, aponta-se também para a existência de uma outra acepção para essa ideia, da qual derivam maneiras próprias de expressão, de pensamento estético e de relação com a vida, sendo, portanto, ontologicamente autônomas quanto às práticas e metodologias do sistema da arte metropolitana. Estamos falando de outra arte, da arte indígena. Assim a ordem dos fatores faz mesmo toda a diferença, pois o que está em questão são agenciamentos artísticos que são indígenas antes de serem contemporâneos. Isso porque tais proposições se dão em continuidade com um arcabouço originário dos povos da terra, isto é, com seus modos milenares de relacionalidade, como o xamanismo e a guerra, e seus correspondentes expressivos.2 E é a agência coetânea do artista indígena, vivendo no trânsito entre Mbavyky nhande kuery ayn gua. Ha’e va’ere ma nhamandu vyma joiguerará ma vya ombaeapo pygua kuery oikuaxea oin ramo nda oparupie jepe voi m ajo gueraá vy onguãe vyma oejaukama. Ogueroataá vy haipo’i xee ayn anhemopyrõta apygui he’i vy omboypy kova’re ayn guigua ramia aguã rupi ju opyta ma vyma ojereraá ko mamoetegui ojeroja py ou ayn magui jepe ojereraá kuaá aguãpy ju ojexauka nhande kuery pe varã ramiju oin heravy vyma ojepytaxó ouvy, nhandeayvu ramo ma hetá rei re va’e rã nhandeayvu, mba’eiko ogueru hetá mba’e avi oikuaapota va’e kuery Gui ha’egui mba’eapo va’e kuery ha’e gui pave rei teri má oguereko teri onhexa’ã rei a1. Nhamombe’u tá apy amboae régua mavyky va’e kuery re, mbavyky Nhande kuery re. Ha’e rami vy ma amboae rupi rei ramo ma ha’e ve vaipa. Mba’eiko ayn gua re nhandeayvu he’yn re pa nhande kuery arte py yma guare rai py ogueru. Ha’e gui yma ve guare ete ramo vy pa ha’e Kuery yvy regua re meme rei ete py arte ojapo ogueraa ve heravy xamoi kuery ombo’e va’e kue gui2. Ha’e vy aema omboje’á yma guare re ha’e gui ayn guare reve. Mbavykyre ma nhandeayvu ayn gua re anho he’yn, yma guare reve regua guive ramo py jaikuaa potá ramo koropi hetá vi aema imbavyky va’e kuery ikuai nhande kuery gui yvyvy mboe gui ou va’e kuery ojea katy anho he’yn aepy ikuai, apy rupi 1 � Sobre isso ver: Cesarino, Pedro de Niemeyer. Conflitos de pressupostos na Antropologia da Arte. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 32, n. 93, São Paulo, 2016. 2 � A este respeito, argumenta Jaider Esbell: “Aquelas pinturas deixadas nas rochas são códigos dizendo cavem, aprofundem, usem seus recursos para o autoconhecimento, para a autonomia. E que recursos seriam esses? Memórias, xamanismo e outras habilidades extrassensoriais. (... ). O Xamã e seu ofício aliado às habilidades artísticas, como ritos, cantos, danças, performances e, claro, o desenho, modo mais ilustrativo de repassar a informação que deveria ser concebida por todo o grupo em cada situação em particular. Aqui temos pistas contundentes de como a arte esteve manifestada desde sempre entre os povos primeiros. A arte presta-se ao sentido prático da vida, sendo uma habilidade xamânica para orientar sobre locais de caça, modos de guerrear ou modos de usar recursos para curas ou mesmo feitiços contra inimigos”. (Esbell, Jaider. Índios: identidades, artes, mídias e conjunturas. Jaider Esbell. Coleção Tembetá. Rio de Janeiro: Azougue, 2019, p. 83). 1 � Há’e va’e reaema: Cesariano, Pedro de Niemeyer. Nhomontare’yn nhoverõ ma’em are vy Joeko re onhembo’e va’e mbavyky. Kuatia Pindorama pygua Onhembo’eve va’e kuery joapyre ikaui va’e kuery, v. 32, n. 93, São Paulo, 2016 2 � Kova’e nhembotere ma vy, ijayvu Jaider Esbell: ” Há’e va’e omopytã va’ekue itare va’e ma oexa jaikuaá aguã vyma eje’o he’i, eikeve, eiporu ve renhemimbo porua reikaá reguare vy ma, jaiko kuaá re guapy ju nhain. H’e mba’etu kova’e nhembiporu? Ma’endu’a, opyrupigua trã amboae kokuaá onhemonhendua mombyry Xamoim ma oguereko joupive gua ayn vy mbavyky, mongaraia tyrã, mborai, jeroky, onhembojejauka, há’e vy ko, omboaxa vevy rima oexauka heravy vy omombe’u ve vy rima omboparaá omombe’uve ju pavem pe vy teim teim pe vy ouvy. Apy já’exe ramo ko taperupi yypa’ure vy mbavyky jepe opyta heravy vy ojejauka nhanerentarã kuerype ayn guie yn haema. Mbavykyma há’eve- jaikuaá ramo nhandere kore vy há’e vyma ojeporu kuaá nhaneramoim kuery gui vyma nhemongueta jeporaka aguã oin, nhorairõ rami ju oikuaá oiporu aguã nhembiporu oguerá aguã ojapopyregui ko oayvu he’yn va’egui”. Esbell, Jaider. Nhandeva’e: onhemoete kuaá mavy Mbavyky, ojekuaa va’erupi vy joupive’irã. Jaider Esbell. mono’õ Tembetá. Rio de janeiro: Azougue, 2019, p. 83). mundos, que vai produzir também o elo entre tempos, de modo que o ancestral é contemporâneo, e vice-versa. A arte dita assim apenas contemporânea, sem anunciar sua própria raiz, é na verdade tributária de uma tradição bastante específica, de ascendência moderna, ocidental, metropolitana, europeia, branca, colonial. Assim, a ideia de uma “arte contemporânea indígena” implicitamente sugere que a arte (ocidental) contemporânea se tornaria também indígena ao englobar, ao trazer para dentro de si mesma inclusive as produções de artistas indígenas. E não é disso que se trata, estamos diante de formas distintas de se pensar e de se fazer arte, a indígena e a ocidental. Suas práticas e sistemas estão hoje em diálogo, mas não se confundem nem se reduzem uma à outra.3 Falamos então da arte indígena contemporânea, e não de uma vertente particular da arte contemporânea que seria indígena. Arte indígena contemporânea e não arte contemporânea indígena. Percebem a diferença? DAS VACAS AO MOQUÉM Em dezembro de 2019, Jaider Esbell recebeu um segundo convite dos curadores da Bienal de São Paulo. Depois de ter sido chamado a compor como artista a 34ª edição dessa importante mostra, a proposta era que ele ampliasse sua participação no evento, organizando uma exposição própria que seria realizada em uma das instituições parceiras da programação expandida da Bienal. Ainda sem a definição sobre o espaço que acolheria seu futuro projeto, Jaider se lançou ao desafio com a certeza de que não faria sentido, como membro indissociável de suas comunidades de origem, elaborar uma proposta individual. Ele sabia, desde o primeiro instante, que estava diante da oportunidade de organizar uma exposição coletiva de arte indígena contemporânea. As costuras institucionais continuaram e dias depois chegou a confirmação de que tal proposição seria realizada junto ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, um outro espaço eminente para o sistema da arte não indígena. O ponto de partida para elaborar uma proposta de exposição era inequívoco para Jaider: a série coletiva Vacas nas Terras 3 � Sobre os sentidos dessa distinção ver: Sobre a Arte Indígena Contemporânea. Jaider Esbell. Coleção Tembetá. Rio de Janeiro: Azougue, 2019, p. 49-50. voi ma hetá vi ikuai jaikuaa potá ramo. Ha’e rami vy arte Nhande kuery ayn gua re nhandeayvu ramo ma ha’e javi arte ikuai va’e ma Nhande kuery mba’e meme ikuai. Joramigua he’yn re py nhama’en ta. Joramigua he’yn va’e ri petei tavy ndovare vei Ju amboae gui3. Nhandeayvu mavy nhande mbavyky va’e ayn gua re, ha’e vy ma nhande kuery má ayn anho he’yn aema oiko va’eri. Nhande kuery ma ayn gua ja’ea py voi ma nhandeayvu kuaa rã. Pexá kuaa pa? VAKA’I GUI VA’E MOQUÉM Dezembro 2019 jave ma, Jaider oguereko ju ma amoboae tembiapó Monkoi jerare de São Paulo py. 34ª jave oenoi krã mboae artista rami rive ma curador rami ju oiko vy oguereko petei tembiapó tuvixá ve va’e ju ogueroguata mombyry ve aguã, ha’e rami vy ma ha’e ojapó aguã petei nhemboyxyapy omba’e ae monkoi jerare hirū kuery arupi. Ndojporavoi teri reve mamo ete i rãpa ojapó aguã va’e ri Jaider onhemonby’á ma ojapo aguã mavy ixupe ramo nda’evei rei ta merami ha’e anho i ojapo ramo. Ha’e e oexá ramo py ha’e va’e oiko rami ha’e rã oenoi aguã amboae kuery artista kuery oexauka aguã nguembiapó Kuery. Omboypy ma aguã vy ha’e ndojavy jei Jaider: Peteim já’o rupi vyma joaramipy oapy guei ikuai Makunaimî: vai mbyrere onhemoma’em4. Ha’e va’e Kuery imbavyky Roraima gui ogueru, ha’e ramo jaexá ramo Peteim rei oguereko ojeito ojapóa nhande va’e kuery gui - oexauka meme rei yma guare guare yvy re meme ijayvu, mba’exa pa omboypy ague, ha’e gui oexauka avi nhande rája re oma’em va’e kuery va’ere joguero’aa ka’aguy omoin Porã aguã re 3 � Há’evy rima nhaendu kova’e jaexa opaá: mbavyky nhande kueryayn reguarema. Jaider Esbell. Mono’õ Tembetá. Rio de janeiro: Azougue, 2019, p. 49-50. 4 � Gueima Makunaimî yvyre ikuai: jaipoaá vaigue ojeporu virami vy nda ao’ã vyrima oikuaá ogueraá vea omombvy yvyrakuá 2013 jaider gui vyma imbavyky va’e nhande kuery Roraima py, nhoenoin-vy mba’eapo japoague opyta heravy vy omombe’u nhomoemba va’e kuery gueija kuery apyguae yvypygua oikuapota va’e nhande kuery imbaraete yvy mboe va’e guigua guerygui. Kova’e ma mba’eapoama oin porã Peteim nhoãitim pavem tekoare ikuai va’e nhenkotevem omoim porã aguã ojapo va’e kue peteim hendapy vy nhomboayvu okuapya aguã ikuai imbavyky va’e kuery oikoatã vy ojapo peteim jeyxya Jaider Esbell mbavyky Nhandeva’e kuery Ayn gui guare, voima 2013, py tetãre Boa Vista (RR). 22 23 de Makunaimî: de malditas a desejadas.4 Tal escolha se deve ao fato de que esse conjunto de trabalhos corporifica as experiências de articulação de uma coletividade de artistas indígenas em Roraima, ao mesmo tempo em que evidencia particularidades da produção artística dos sujeitos indígenas – a relação de suas poéticas com a memória do pertencimento ancestral à terra, os aspectos coletivos de seus regimes de criação, a implicação indissociável com a luta em defesa dos direitos originários e ambientais, isto é, seu sentido artivista. A questão que se colocava era construir um argumento curatorial que amarrasse as obras daquela série aos trabalhos de outros artistas e contextos que Jaider também gostaria de apresentar na mostra. Foi com a tarefa de auxiliá-lo nessa empreitada que desembarquei em Boa Vista no final de janeiro de 2020. Imergimos em nossa pesquisa curatorial na comunidade do Maturuca, um dos centros políticos da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Chegamos lá para acompanhar a programação organizada pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), que celebrava os 40 anos do projeto “Uma vaca para um índio”. Esse projeto é um marco na história da resistência à invasão colonial na região. Contraefetuando a alegação coronelista dos invasores, de que só deveria ter terra quem tivesse gado, lideranças makuxi em conjunto com setores progressistas da Igreja Católica passaram a arrecadar fundos para que cada comunidade tivesse seu próprio rebanho e com ele pudesse defender o território da avidez dos fazendeiros. Depois de assegurar seu espaço devido, protegido por vacas agora indígenas, a comunidade em questão deveria doar um rebanho de igual tamanho a uma outra comunidade vizinha – Vacas nas terras de Makunaimî: de malditas a desejadas, vamos entendendo o porquê. Fomos recebidos no Maturuca por uma de suas moradoras mais ilustres, Bernaldina José Pedro, Meriná Eremú, liderança histórica 4 � A série Vacas nas terras de Makunaimî: de malditas a desejadas resulta da provocação curatorial lançada em 2013 por Jaider a um grupo de artistas indígenas em Roraima, convidando-os a produzir obras que abordassem a história da invasão pecuária em seus territórios originários e as estratégias indígenas de resistência à colonização. Este conjunto de trabalhos serviu de mote para o 1º Encontro de Todos os Povos, evento que reuniu em três edições a produção de artistas indígenas do estado. A necessidade de abrigar essas obras e ter um espaço para acolher a produção e a articulação desses artistas impulsionou a criação da Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea, também em 2013, na cidade de Boa Vista (RR). guive. Ha’e rami vy Jaider pe aipytyvõ aguã aa karamboae Boa Vista re Janeiro 2020 jave. Ha’e rire ma romboypy tekoá Maturuca py Yvy Nhande kuery pegua Raposa Serra Do Sol mbyté regua re. Ha’e rovaen roikuaa potá aguã Nhemonguetaá Nhande kuery mba’e Roraima ojapó va’e re, ha’e py oguerovy’a pave 40 ma’em tyre mbavyky jepeare “Peteim teim pema guei opyta nhande kuerype” va’e ojapó ramo. Ha’e projeto ma ha’e ve vaipa va’e oiko raka’e. Vaka oguereko okuapy yvy operdê rive he’yn aguã fazendeiro Kuery pe. Ha’e rami petei tei ome’en joupe vaka’i - guei nhande kuery yvyre Makunaimî: nda’ei va’e ojerea’eapy oin, jaikuaa ma mba’e re pa ha’e rami. Ha’e py orerõ karamboae Bernardina José Pedro, Meriná Eremú, huvixá yma guare ha’e py gua, mborai regua oikuaa pa va’e, ha’e gui arte nguentarã Kuery regua. Ha’i Bernal orererovy’a reve ore movae heko’i aema. Ha’e reve aema roendu opamba’e re ijayvu okuapy ramo joguero’a yma va’e kue te ijayvu okuapy ramo guaré yvy regua re ha’e nhandereko re, ha’e gui roendu avi ayvu ayvu ayn Gui ramo nhande kuery omombaeté xe va’e Kuery ova’en ve ma jogueruvy aeri ijayvua aramo. Ha´e aexá pa ma vy ma aikuaa veju mba´e pa Jaider omombe´u xe ra´e vaka regua re ijayvu mavy MAM py - ooin hetá mba´e regua re Makuxi kuery reve. Boa Vista re rojevy ju jave ma aa arõ vy Pedro Cesarino Joe onhembo’e va’e USP py gua ovãe ramo orereve omba´eapó aguã.5 Yxypy xypy gui ma roexauká guei regua re ha´e gui romombe´u ixupe Maturuca py roaxá va´e kue kue re. Ha´e rire amboae rupi ju romba´eapó. Roexá rokuapy jaider ojapo va´e kue kue re ju arte indígena re ijayvu ramo. Mba´eiko hetá mba´e regua re oxexauká va´e rã ramo jepe pe py petei arandu rupi ta py rogueraa vacas va´e oin ovy aguã. Roexá exá roikovy jave ma hetá mba´e rire ma Jaider ogueru oexauká aguã Makuxi ayvu re onhembo´ea regua. ha´e py ma roexá petei ojeapo vyma Jaje’oi Nhanhembo’e Makuxi py va´e regua, 2003 ha´e 2008 oiko raka´e. Ha´e va´e ma Tupã ra’yre onhembo’e va’e Nhandeva’e hery Diocese 5 � Nhomomguerá kuery Moquém ha’e va’ema kyrin’in iparare vyma omboaxave heravy Jaider, Pedro há’e xee. Ha’e kuery voima monguetapyre meme mavy oikuaá pota ha’e omoenta heravy moin nhembo’epava’e kuery Ojapoa Onhe-mbo’eve Jeupya mavy ovãe Joe onhembo’e va’e joupe varã USP. daquela maloca, grande conhecedora dos cantos, dos rezos e das artes tradicionais de seu povo. Vó Bernal nos acolheu com a alegria e o entusiasmo que lhes eram característicos. E foi ao lado dela que assistimos às inúmeras assembleias que rememoraram a luta secular em defesa das terras e da cultura, e presenciamos ainda debates sobre os desafios para a continuidade dessas lutas neste momento em que forças de morte se atualizam e intensificam suas violências contra os povos originários. Conhecendo tudo isso um pouco mais de perto pude perceber de outro modo a trajetória de Jaider, a série das Vacas e a possibilidade de organizar a exposição no MAM – variações e efeitos das estratégias políticas makuxi, metamorfoses nas linguagens da resistência, pedagogias da transformação. De volta a Boa Vista foi a nossa vez de recepcionar uma visita, o antropólogo da Universidade de São Paulo, Pedro Cesarino, que havia chegado para compor conosco a equipe de curadoria.5 Em nossas primeiras tardes de trabalho, apresentamos a ele a série das Vacas e compartilhamos as experiências incríveis que vivemos durante os dias no Maturuca. Nossa pesquisa curatorial continuou num outro mergulho, concentrando-nos agora no acervo da Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea para ampliar a seleção de trabalhos para a exposição. Procurávamos também uma linha curatorial que alinhavasse como um conjunto a série das Vacas às demais obras que estávamos escolhendo. Enquanto examinávamos dezenas de pinturas, desenhos e fotografias, Jaider nos apresentou um material a partir de onde estava estudando o idioma makuxi. Trata-se do programa Vamos Aprender Makuxi, transmitido pela rádio Monte Roraima entre os anos de 2003 e 2008. A iniciativa foi organizada pela Pastoral Indígena da Diocese de Roraima e por professores da língua indígena. Cada episódio era baseado em um aspecto da cultura makuxi, que servia de contexto para lições sobre o vocabulário, as conjugações verbais e a pronúncia, sempre acompanhadas, entre um bloco e outro e também no encerramento, por cantos tradicionais. Ouvimos ininterruptamente cada um dos muitos episódios do programa durante 5 � A equipe curatorial da Moquém é um segundo contexto de partilha entre Jaider, Pedro e mim. Eles também são os coorientadores da pesquisa de doutorado que desenvolvo no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da USP. de Roraima ha´e gui nhombo´ea kuery ojapó raka´e. Petei tei py ijayvu Makuxi reko regua re, ha´e vy ma omee jepi lição Makuxi kuery ayvu regua re ha´e rire omombaapy ma mborai ju omonhendu. Roendu pa rai ha´e javi eté rai rombaepó rokuapy reve ha´e va´e regua. Ha´e rire ma rojevy rai´i ma jave ma Jaider omoi ma petei mote exposição py guarã: Moquém. 48 a pygua re ma oendueté ra´e. Pandon de Surarî re ijayvu va´e kaújo omombe´u Moquém ymã guare re,6 ha´e vy ma oenduká ju orevype. PANDEMIA HA´E GUI MARCO TEMPORAL Ha´e rire ma MAM pygua kuery pe roexaká pa ma projeto Moquém Surarî rire´i orerembiapó ombopyta pa ma Covid-19 oiko ramo. Ha´e rami mba rei ma nadevei ju rojapó aguã, ni mova´e ve ma py ndoroikuaai mararami va´e rã pa tembiapó oguata ovy. Ha´e rire mbovy jaxy rei he´yn ma oaxá ovyare ma ha´e va´e mbaeaxy okueraa ma oreretarã kuery, oreirun kuery pave oaxá ha´e ramingua, mba´eiko nhanderuvixá ve rami oin va´e voi aepy mba´eaxy nhamboaxá oa joupe aguã rami rive oiko. Haxy pa oiny ramo jepe ma nhande mbaraeté nhande py´a guaxu katu paven rei, jajopy jopó´i re javy´a katu ha´i Bernaldina oejá va´e kue kue rupi. 2021 omboypys rema jokutu aguã poã oin ma ramo ma ore kuery oreayvu ju ma rojapó aguã Moquém Surarî. Tenondé re ikuai va´e kuery Cristine Takua ha´e ma Maxakali oiko Rio Silveiras py nhombo´e a py omba´e apó va´e, romboypy ma rojogueroayvu pave rei reve MAM py gua kuery reve rojapó tembiapó ha´e javi ve reve. Roikuaa porã vy he´yn ha´e ve rã pa oexá xe va´e kuery oú ete aguã va´e ri rojapó tema rive. Ha´e gui romoi avi Mbya py onhemombe´u oiny aguã petei tein arte mba´e regua re ijayvu oinya omombe´u aguã, mba´eiko Mbya kuery haepy São Paulo ijayvua ve tetã re tavy. Ha´e va´e oiko nho aguã ma roguerovy´a vaipa. Ogueroayvu va’e kuery Carlos Papá, Marcos Morreira ha´e Valdemir Martíns Veríssimo, ha´e gui articulação ojapó va´e Cris Takua ha´e gui oreipytyvõ va´e 6 � Pexa kuatia para Pandon mba’e Surarî, kuatia jarova 7 kova’re hae jexaukarea 24 25 nossas jornadas de trabalho. E dias antes de Pedro e eu retornarmos a São Paulo, Jaider propôs um mote para exposição: Moquém. O 48º episódio daquele programa de rádio havia lhe chamado a atenção. Era o episódio sobre o Pandon de Surarî, a história antiga do Moquém,6 que ele nos convidou a ouvir novamente. A aparente simplicidade da narrativa desvela o requinte da cosmovisão makuxi, que a partir de belíssimas imagens-síntese trata de questões fundamentais para o entendimento da arte indígena contemporânea: os sentidos estéticos da utilidade; o aspecto coletivo das práticas; as complexidades movimentadas pelo trânsito de pessoas, objetos e saberes entre diferentes dimensões espaço-temporais; a potência da produção de alianças entre diversos; as traduções formais que reproduzem a memória em múltiplos dispositivos. Está tudo ali, o Pandon de Surarî é uma evidência prática de que as cosmovisões indígenas constituem filosofias sofisticadas, completas e atuais. Essa história tradicional nos serviria de fundamento para construir um argumento curatorial que busca relacionar os trabalhos dos 34 artistas que compõem a exposição a partir dos elementos acima destacados. PANDEMIA E MARCOS TEMPORAIS Semanas depois de apresentarmos o projeto da Moquém_Surarî para as equipes do MAM, nosso trabalho foi interrompido pela crise sanitária da covid-19. Com os calendários suspensos, os orçamentos congelados e as perspectivas temerosas impostas pela pandemia, não havia mais condições para realizar a exposição. Assim, diante desse cenário incerto, ela chegou mesmo a ser cancelada. E nos meses que se seguiram, como milhares pelo país afora, também choramos a partida precoce de familiares e amigos, vítimas de uma gestão de saúde pública que estimulou o contágio. Tempos duríssimos em que os fios do propósito quase nos escapam das mãos, exigindo muita concentração no pensamento: “a alegria é a maior das teimosias”, nos recordamos tantas vezes da lição sublime deixada pela mestra Bernaldina. No início de 2021, o início da vacinação e o entendimento 6 � Ver o texto Pandon de Surarî neste mesmo catálogo. kue Nhexyrõ Jaider Esbell de mabavyky Contemporânea. Moquém surarî ma ojepe´a krã mboae Ara ymã ijypyare de 2021 re, 34 Nhepyrum re Monkoim nheminty nhavõ São Paulo py reve ha´e jave aevi oin nhemboaty tuvixá va´e Brasilía py Ikuai onhemboó ranhe Nhorain rõ teko vere oin jave. Hetá mba´e oaxá oiny ramo jepe apy rojapó tema, rojogueroayvu tema ramo Jaider oexá ramo ha´eve ha´e va´e avi nhamoin aguã koropi he´i momyin nhande kuery opu´ã ma Marco Temporal rovai re ha´e gui Omba’eapo nhandere vy Lei n. º 490 rovai re mba´eiko ha´e va´e projeto rupi ramo oguerova pa vy ma nhande yvy rã re nhandekuai ve va´e kuery pe noin porãi, ha´e vy py nhande yvy rami ovaré ta Mba’eapoa rendapy Nhembojarue’yn typy vy ma onhe’ã mbaré ikuai okuapy va´e ara py nhande yvy rã ome´en aema ma va´e kue ma ovaré ta, ha´e rã ha´e va´e oaxá rire ju nhandekuai va´e kue pe ma ndaeve vei ma rã. Ha´e rami rei ramo nhanporandu mbovy kue rã tu jajapo reparação yma guive ma nhande kuery omomba nhe´an rire? MOQUEAR [N]PETEIM YMÃ GUARE MBAVYKY AYN GUIGUA RE Nhanhemomby´a ta jajapo aguã petei tembiapó mbavyky nhande kuery ayn guare ikuai va’e pe vy omba’eapoa regua re ramo tei ke jaikuaa potá pa´i ramo ma ha´e ve rã. Ha´e rami vy ma oreayvu ha´evete ta aepy MAM py ojejapó aguã Moquém Surarî mba´eiko yma guive ma nhamomba nhea´an jakuapy rire py jajapo rãema reparação ha´e kuery pe: Jaipe´á javy nahnde va´e kuery ikuai ve aguã nhande mbyté rupi, jaejá vi aguã ha´e kuery ogueru aguã arandu anhetegua nahnde mbyte rupi. Mba´e rã pa kova´e kue gui oikoa ma ndajaikuaai. Va´eri amboae kuery instituições voi ma aipota ranga ova´en ve´i nho mbavyky nhandeva’e. Amboae kuerya py nha´ã oin oexauká aguã mbavyky nhande py? Mba´e jave ha´e mba´exa tu ojapo ta? Hetá mba´e oin nhaporandu aguã va´eri jareko tavi aepy cuidado ha´e ramingua reve opa rive aguã he´yn. moquém surarî imbaraeté riae aguã. construído junto ao MAM e à Bienal sobre a relevância estética e política da exposição possibilitaram que perseverássemos na realização de Moquém_Surarî. Revisitamos as propostas que elaboramos um ano antes para ajustá-las a um contexto cingido e adverso. Prosseguimos com o projeto partindo de uma de suas frentes mais importantes, as ações educativas. Coordenados por Cristine Takuá, pensadora maxakali que atua há anos nas escolas guarani mbya da Terra Indígena Rio Silveira, em Bertioga (SP), demos início à formação interna dos educadores do MAM e ao planejamento das ações educativas voltadas para o público externo. Sem saber ao certo como poderiam se dar as visitações e as programações presenciais no museu, ficou nítida para nós a importância de ampliar os registros e as reflexões sobre a exposição. Por tal razão, estendemos o escopo deste catálogo, criando uma sessão para os textos de artistas e apresentando imagens das mais de 140 obras que compõem a mostra. Com o desejo de contribuir para a elaboração de materiais de referência voltados para a educação indígena, nos lançamos ao desafio de apresentar essa publicação traduzida para o guarani mbya, língua indígena mais falada no estado de São Paulo e em sua capital. Um sonho que se tornou possível graças à dedicação carinhosa dos tradutores Carlos Papá, Marcos Morreira e Valdemir Martins Veríssimo, às articulações de Cris Takuá e ao apoio material da Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea. Moquém_Surarî foi finalmente aberta em setembro de 2021, junto à 34ª edição da Bienal de São Paulo, e ao mesmo tempo em que acontecia também uma das maiores mobilizações indígenas da história, o acampamento Luta Pela Vida, em Brasília. No calor dos acontecimentos, durante as muitas entrevistas que deu no decorrer daqueles dias, Jaider analisou a relação entre aqueles eventos: múltiplas estratégias do movimento indígena na luta contra os marcos temporais da colonialidade. Na Esplanada dos Ministérios, confrontavam o marco temporal da ocupação, na forma do Projeto de Lei n. º 490, que prevê uma mudança radical na compreensão sobre o direito originário à terra, passando a entender como terras indígenas os locais habitados por esses povos na data da promulgação da Constituição Federal. Na prática isso significaria legalizar o saque colonial dos territórios ancestrais, legitimando o esbulho histórico das terras indígenas. No 26 27 Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Pavilhão da Bienal acontecia um embate análogo, direcionado a outros marcos temporais da colonialidade, aqueles que organizam as narrativas hegemônicas da história da arte e que até pouco tempo atrás negavam aos povos indígenas o seu justo reconhecimento enquanto sujeitos contemporâneos, produtores de pensamento e de sentido estético. Em todos esses espaços ecoa uma pergunta inadiável: quantas camadas de reparação é preciso fazer diante de mais de cinco séculos de guerra colonial? MOQUEAR [N]UM MUSEU DE ARTE MODERNA Pensar sobre uma exposição de arte indígena contemporânea a partir do entendimento de que vivemos numa guerra colonial em curso nos ajuda a melhor dimensionar os fatos. É nesse sentido que ressaltamos a importância da realização de Moquém_ Surarî no MAM, um passo inicial naquilo que um museu pode colaborar na imensa tarefa coletiva de reparação histórica à colonização: abrir espaço para que os povos da terra se façam presentes, abrir passagem para que a potência de seus pensamentos e de suas artes se expressem. O que poderá se desdobrar a partir daqui ainda é incerto, trata-se de um problema que precisa ser encarado de forma efetiva por essa e por todas as instituições que têm se colocado a perspectiva de reunir diferentes sistemas de arte. Suas grades de programação irão acolher novos projetos de arte indígena? Como e quando isso será feito? Quais serão os espaços expositivos e as possibilidades orçamentárias oferecidas? As ações educativas absorverão como pauta permanente a reflexão sobre essas temáticas, buscando se relacionar diretamente com as comunidades indígenas e suas demandas específicas? E as políticas de aquisições para os acervos, serão redefinidas diante da imensa lacuna em relação às produções dos artistas indígenas? A natureza dessas questões exige uma atenção contínua, assim como é necessário um cuidado assíduo para manter constante o fogo do moquém. Como nos tempos imemoriais de Surarî, estamos diante da possibilidade – e da urgência – da transformação. DESENHOS MOQUÉM Pedro Cesarino IPARÁ-MOQUÉM RA´Ã ANGA 28 29 Os desenhos reunidos em Moquém_Surarî testemunham a profundidade temporal através da qual a arte indígena contemporânea deve ser compreendida, a despeito de sua exclusão sistemática pelas narrativas da história da arte brasileira. As obras de Jaider Esbell, Yermollay Caripoune, Joseca Yanomami, Rivaldo Tapirapé, Isael Maxakali, Vernon Foster, Ailton Krenak, Armando Mariano Marubo, Antonio Brasil Marubo e Paulino Joaquim Marubo são tributárias de uma longa tradição gráfica que remonta à inscrição de corpos, cerâmicas, cestarias e pedras, aqui atualizada para suportes e técnicas com as quais artistas indígenas vão se confrontando ao longo da história colonial. A obra de Vernon Foster é, nesse sentido, emblemática. Ela remete à produção da assim chamada ledger art realizada por povos originários das planícies da América do Norte, que criaram um vasto conjunto iconográfico em cadernos aos quais tinham acesso quando aprisionados pelos colonizadores estrangeiros ao longo do século XIX. Se o papel e o lápis são duas das principais armas introduzidas pelo genocídio e epistemicídio colonizador, haja vista sua relação direta com a escrita e a desvalorização dos conhecimentos e estéticas indígenas, a capacidade de resistência e de transformação dos povos nativos não deixa de oferecer um contraponto notável. Não por acaso, nos cadernos a que tinham acesso, desenhistas lakota e de outros povos da região prolongavam a tradição temporal de pinturas rupestres datadas do começo da era cristã. Ao tomar para si as técnicas introduzidas pelo invasor não indígena, artistas diversos não apenas traduzem para o papel esquemas gráficos e narrativos já praticados em outras mídias como também inauguram um novo gênero capaz de subverter, pela beleza e pelo sentido, a violência do colonizador. Nas terras baixas da América do Sul, produções figurativas em objetos análogos a livros são incomuns, como no caso das tradições hieroglíficas e pictográficas de civilizações da América Central como a Maya e a Asteca. Com a introdução da escrita alfabética pela escola, pela academia e por outras instituições metropolitanas, uma expressão híbrida se estabelece sobretudo através da atuação de artistas homens, já que a elaboração de corpos cobertos por padrões (sejam eles de carne, de palha ou de cerâmica) costuma ser um conhecimento majoritariamente feminino. Mã nhemoiruma nhe´ã anga Moquém Surari oexama vy jeopityma ayn yma guare revevyma oin heravy vyma mbavyky aygui guare mavy nhanhemonhe xa´ã uka nhemboykere hapy. Iraja omombe´u heravya imba´e mombe´ua mbavyky pindorama pygua re. Jaider Esbell ombo jeguaká Karipoune, Joseca Yanomami, Rivaldo Tapirapé, Isael Maxakali, Vernon Foster, Ailton Krenak, Armando Mariano Marubo, Antonio Brasil Marubo há’egui Paulino Joaquim Marubo há´e kuery ma guero mboapyre vyma oguereko puku morõ jekuaa omonhemompu´ã teterami, nhae´um gui ajaka gui ha´e ita gui, apyma peteirami oin yru tembiapoaty rami vy hembiapo kua kuery nhandeva´e kuery va´e nhovaitim va´erã rupi vy mba´e mombe´ua ta ko yvy pa´um gui ou va´e guepe. Ombo jeguaká va´e kue Vernon Foster há´e, kova´e remavy ombojerovia nhetengua. Ha´e omovaem hembiapoa vampy oin vy omboery ledger art enhemoigo vy nhande kuery nhum ró vyrupi gua America do Norte, ikuai va´e ojapo raka´e joupive morõ jekuaa vampy omoin kuatiapy oikuaa kuaa´i va´e kuery yvy mboe gui ouva´e kuery ombo´a okuapy jave raka´e ymã XIX. Va´eri kuatia há´e yvyra´i mboparáty há´e va´ema oin mokoin hendarupi jeporu nhande juka pa aguã rupi oiporu ko yvy mboe gui ou va´e kuery há´e kuery ma ombojerovia kuatia para vyma nomboetei nhande kuery mba´e rembiapo vy teim ogueropo´á ka ay peve ojererova pa teim nhande kuery yvy javere ndoejai oguero´a´eve amboe hendagui gua nhentarã ogueraa puku teko nhemopytãvã ymã guare Nhanderu pe oporandu ypy oguapy jave ha´e vyma ojeupe omba´eapo okuapy nhanetarã kuery yvyre, imbavyky kua kuery ma omombe´u kuaa kuatiare rerive vy mbojekuaa há´e omombe´u heravy vy ombojekuaa aguã py movaem vyma omoenonde avi há´e ombopyau heravy vy ogueroete guive vy, omo porã heravy vy nda, joguereko axy okuapy yvy mboegui ou va´ekue. Ko yvy mbere America do Sul, mba´eapo nhevanga mba´emorei ojapo kuatiare vy oexã´ã he´yarupigua oin vy, kuekorã rami ju oeja ouvy omboetave ombojekuave tekore vy America mbyte gui vy Maya ha´e Asteca. Oexauka heravy vy ko ojou ombopara aguã vy ijayvua jejou nhembo´ea vampy oin, há´evy onhombo´e Os três desenhistas marubo (Paulino, Antonio e Armando) são xamãs e narradores que não possuíam praticamente nenhuma familiaridade com papéis, lápis e canetas ao serem apresentados a tais materiais por mim. Entretanto, dominaram rapidamente a técnica do desenho e produziram um repertório notável pela sua afinidade íntima com as estruturas de composição de cantos e de longas narrativas. Sem nenhum acordo prévio, adotaram em seus desenhos signos gráficos uniformes, rigorosos e coerentes (círculos, corpos humanos, traços) que indicam nomes de pessoas e de lugares, bem como os trajetos percorridos por espíritos e ancestrais nos tempos em que a terra era jovem. Estabeleceram, portanto, uma expressão que pode ser considerada como pictográfica e, neste sentido, próxima das tradições consolidadas dos livros astecas, pois elas são traduções visuais de esquemas de composição oral já dominados pelos três xamãs. Armando, Paulino e Antonio não fizeram seus desenhos para que fossem expostos como obras de arte em museus. Ainda que cientes da importância de divulgar seus trabalhos e o universo de seu povo, sua intenção é distinta daquela que permeia as obras dos outros artistas aqui contemplados, embora com elas compartilhem traços comuns. São esses traços que definem os critérios para a compreensão de uma história da arte indígena ainda não compreendida: estruturas narrativas, uso esquemático de signos gráficos dispostos ora contra fundos monocromáticos, ora em meio à saturação do campo visual (horror vacui), alteração dos limites da figura humana. O pano de fundo narrativo parece ser constante em muitas das obras reunidas em Moquém_Surarî, em especial nos desenhos de Joseca Yanomami e de Jaider Esbell, que a ele adiciona também outras camadas de experiência não acessíveis pela linguagem e capazes de extrapolar as fronteiras do humano. É que narrativas são também espaços vividos e não exatamente histórias encerradas em livros. Daí a intensidade das cores que fazem de corpos adornados seres poderosos mais do que humanos (Rivaldo Tapirapé, Acelino Tuin/ Movimento de Artistas Huni Kuin) ou, ainda, a precisão e fluidez do traço que torna possível visualizar silhuetas de outra forma acessíveis apenas pela experiência xamânica (Jaider Esbell). Conseguimos, assim, compreender algumas das características fundamentais de aty ju ojejou onhebojekuaa aguã oje´a vy nhembopyta kova´erupi vyma ava kue ynbavyky kuakuery, oikuaa eravy vyma ko nhanderete ojao´i iraja vãrupigua ju oin vy (To´o mba´e, trã nhum gui trã nhae´um gui) ha´e va´ema opyta kunhague ogueraá aguã oikuaa peve. Mboapy mba´emo ra´ã nga ojapo va´e marubo (Paulino, Antonio ha´e Armando) ojapy xaka va´e omombe´u kuatia re´y oikuaa há´e vy omoenonde kuaa vy, yvyra´i omboparaty virami vy oikontevema há´e vyrima ojeapo xevype aguã rami. Jeopity, oguereko kuaa pojava vy imba´eapo ouvy kuaa mba´emo ojapo oexa oguapya aguã py ju omoin heravy vy ojee omboytaju heru vyvy oguero porai puku ha´e oguero ayvu. Va´eri novaem peteim rami py, ha´evy ojou ju mba´emo omboje kuaa heravy aguã rami, iraja anhetengua (ikora, nhanderete, tyky) há´eva´ema omombe´u teryrã ramim ju, há´evyrima nhemonha ju ko ymã ikuai va´e kuery nhe´em ju kó yvy ipyau ranguarere. Omombyta vy, há´evy, jexa kuaare vyma virami ju oin há´eva´erima ombopara raka´e itare guãrã ju, há´evy rima opyta ju, amboe tekorã rami oin vy omboypy heravy kuatiare asteka, há´e va´ema ojexauka texarupi guarã rami ju oeja heravy vy jaroayvu py oo mboapy ojapyxaka´i va´e. Armando, Paulino há´e Antonio ndojapoi nhe´ã nga oin aguã imba´vyky kuaa vy ojapo py. Nhemboetevea regua oikuaa tein há´e yvy javere hetarã kuery reko, overoen xã kã ojapo heravy vy oguerova amboae rembia po, oikuaa mba´emo para amboae reko. Kova´e mba´emo japoa onhemoexyrõ mba´e xapa oikuaa aguã nhande kuery mba´e vyky ymã jave guare ijayvu aguã rupi ogueraa vy, omobe´u aguã ojouvy omboe tave nherõ koteve mombyry ogueroayvu, oexaukaa py ogueroayvu paven oexaa py, oguerova pa marami nhanderete oo ovy aguã. Ijayvu aguã rupi ma ojekua ramõ joaky kue kykue heta imba´vyky ikuai Moquem Surari py, a´he va´e tein ojekuaa Joseca yanomami há´e gui Jaider Esbell, ha´e kuery omoin havi amboae mboae oikuavea va´e ndoguerekoi ayvu ha´e guy ojapo kuaa vy oikuaa aguã mamopa onheboja´o nhadeyvarete. Ha´e ramo ijayvu rupi ma ikatu ague vy ma ndopai kuatia para re ha´e ramo mba´emo pyntã raxy ojapo va´e hetere inhakaregua onhebojeguapa, mbaraete ve aguã nhandeyvarete gui (Rivaldo Tapirapé, 30 31 uma produção artística cuja longa trajetória não se inicia no ambiente da arte contemporânea global, antes se vale deste ambiente para apresentar a sua originalidade e reivindicar para si o lugar que lhe foi roubado. 31 Acelino Tuin/mba´vy ky kuaa va´e meme nhomboaty huni kuin), ha´e nunga, amboae ojejapo ojexa aguã hi´ã amboae rami ju ha´e va´e rive oikuaa vea va´e oguero japyxakave va´e (Jaider Esbell). Roguerovy, há’e vy, ijayvu aguã rupi ogueraa vy petein rami gua anhetengua mba´emo ojapoa regua mba´vyky mombyry guata ma nomboypyi ka´aguy re ayngui gua ko yvy javere ha´e’y rirema anhetengua kova´e ka´aguy re oexauka aguã ka’aguy anhete guare oguerova aguã ixupe yvy imonda va’e kuery. 31 PATAMARES CELESTES • Antonio Brasil Marubo O desenho apresenta os patamares interligados por um caminho-espírito utilizado por xamãs para seus deslocamentos, bem como pelos espíritos-chefes de maloca, que estão nas portas de suas casas portando lanças. De baixo para cima, estão presentes os seguintes patamares ou “mundos” (shavá): 1. Morada do Céu Morte; 2. Morada do Céu Sangue; 3. Morada do Céu Azulão; 4. Morada do Céu Desenho; 5. Morada do Céu Azulão, duplo; 6. Morada do Céu Sangue; 7. Morada do Céu Azulão, duplo; 8. Morada do Céu Desenho; 9. Morada do Céu-Névoa. 30 YVATE RE RENDA • Antonio Brasil Marubo Ko ipará va’e ma oguereko tape xamoi Kuery oiporu va’e oguata okuapy aguã, nhe’e ruvixá kuery, okenda renondé re nhogueno’ã ha’e Kuery ohy’y reve oin va’e. Yvy gui yvaté peve ma oin yvyrupá joramigua he’yn (Shavá) 1. Yva manõ retã; 2. Tuguy retã; 3. Hovy retã, mokoi rei va’e; 4. Ipará va’e retã; 5. Hovy retã mokoi rei va’e; 6. Tuguy retã; 7. Hovy retã mokoi rei va’e; 8. Ipará va’e retã; 9. Yvytin retã. 30 PATAMARES TERRESTRES • Antonio Brasil Marubo O desenho apresenta os patamares atravessados pelo caminho-espírito, bem como pelos espíritos-donos de malocas com suas respectivas lanças. De baixo para cima: 1. Morada da Terra Morte; 2. Morada da Terra Branco; 3. Morada da Terra Japó; 4. Morada da Terra Sangue; 5. Morada da Terra Adorno; 6. Morada da Terra Arara; 7. Morada da Terra Desenho; 8. Morada da Terra Névoa. YVYRE RENDA • Antonio Brasil Marubo Ipará va’e ma oexauka jojoramingua he’yn tape nhe’e Kuery oóaty. Yvy gui ojeupi ovy; 1. Yvy manõ retã; 2. Yvy tiim retã; 3. Japó retã; 4. Tuguy retã; 5. Adorno retã; 6. Gua’á retã; 7. Ipará va’e retã; 8. Yvytin retã; 33 33 O CAMINHO-MORTE TAPE ROGUE O desenho traduz partes do longo canto do Caminho dos Mortos. No desenho, vemos o caminho partir desta terra (a maloca cinzenta da base). Em um círculo vermelho, está a colina que inicia o caminho, atravessado por troncos-morte, ossos de anta-morte, ossos e costelas de cobras-morte. No início e no centro do caminho está o duplo do morto; nas bordas, escurecidos, estão os espectros-morte e fogo-morte, em amarelo. À esquerda de quem parte, o caminho é ladeado por mamão-morte, banana-morte, batata-doce-morte, pupunha-morte e capim-morte. À direita, segue a abóbora-morte, a mandioca-morte, o milho-morte, o abacaxi-morte, o inhame-morte e o ingá-morte. Cruzando o caminho após esta sequência de alimentos está o tronco de samaúma-morte. Em seguida, está o tronco de taboca-morte e o cesto-morte (círculo colorido), que gira e desnorteia o morto desavisado. À direita, em vermelho, está o cacau-morte e à esquerda, em cinza, outro cacau-morte. O círculo cinzento à direita é um cupinzeiro, no qual um duplo incauto se transformou. Em preto, no meio do caminho, estão as crianças-morte. Seguem à direita os frutos manichi-morte e yae-morte, além dos espectros-morte, desenhados em azul nas beiras do trajeto. O caminho segue ladeado por frutas, tais como maracujá-morte (à direita) e sapota-morte (à esquerda). Dividindo o caminho, está o rio-morte e o tronco-morte, que engana o duplo que o tenta atravessar. Atrapalhado, o duplo que cai nas águas será retalhado por caranguejo, camarão e concha-morte. Em seguida, à direita, uma árvore que contém em seus galhos jenipapo-morte, sapota- Ipará va’e ma oexauka petei tapé Porã he’y. Ipará tapé yvygui ijypy. Petei ikorá pyntã va´e gui omboypy taé, hakã-manõ gue, mboré manõgue kangue, mboi manõgue kangue. Ijapypy ha´egui mbyté py ma oin mokoi manõgue, ijyke pyntyn rei are oin hetá manõgue ijurei va´e. ijykue katy ma ikuai mba´emo á. Ha´egui ijyke rovai katy ma ha´e rami avi. Tapé oó meme ovy yvyra´á ikuai reve ijyke jyke rupi ikuai Maracuja, sapota. Omboja´ó ovy tapé va´e ma oin Yakã jokoré va´e oaxá xe va´e. Nhomoagueko rei va´e juma oin yxa ha´e gui pirapo. Ha´e gui ijyke rema oin ju jenipapo yvypy japota ha´e gui bacuri ha´e gui ijykue re ma oin mombeua iju va´e gui pyntã va´e. petei va´e oike mbyte py vy ma uru kore´a ijapua oikuaa vy ma hembiárã hexe. Ijyke re oin avi pindó, ha´e gui ijykue re oin ju yvyrá hi´á jojoramingua he´yn va´e ha´en rei va´e meme tavy, iju va´e ma bacuri ha´e gui mbyte katygua ma juu meme. Ha´e gui ma urtiga yvyré ma oin ka´i hu´un va´e onhearõ oiny va´e. Malocaján Veshko oarõavi oiny petei va´e rei oike aguã oguypy, rire ma omombe´u kya py onheno aguã ha´e rire ma onhemo ramo ma omombó ojá guaxu py yy opupu va´e oin apy ikangue kague rei va´e oin apy ha´e gui tetékue oin apy. Kunhague omanõgue oarõ okuapy yvy´ã re onamo ramo va´e kue. Ijyke re açaí omboty oiny petei kunhague va´e mbo´y mbo´y reve. Ijykue rovai re ma oin avi oguapy oiny va´e ikuapy petei xingyré omanõ ramo va´e oarõapy. Mbyté py ma oin Txao oiko porã i va´e kue pe oexauká aguã tapé porã mamorupi pa oó aguã. Yvate ve´i juma oin Kunhague tome papagaio kuery. • Armando Mariano Marubo • Armando Mariano Marubo 32 33 -morte e bacuri-morte; à esquerda, caucho-morte, amarelo e vermelho. A pessoa dentro de um círculo no meio do caminho é Coruja Morte, que conhece as mentiras do morto e o flecha. Em seguida, à direita, coqueiro-morte. À esquerda, a árvore de frutos incolores é da fruta adocicada ãcho-morte; os frutos amarelos são bacuri-morte e, no meio do caminho, estão os espinhos-morte. Em seguida, ladeados pelas gigantescas urtigas-morte, em cujo centro está a maloca sobre a qual Macaco Preto Morte espera os duplos para devorá-los. O dono da maloca, Veshko, espera a pessoa entrar, convida para deitar na rede e a joga então em seu caldeirão fervente repleto de ossos e cadáveres. As Mulheres Morte aguardam o morto safado nas duas colinas representadas pelos círculos que as envolvem. À direita, o açaí-morte prende a mulher fútil com suas miçangas e adornos de aruá. À esquerda, sentado dentro de seu buraco, Tatu Morte aguarda pelo morto. No centro está Txao Morte, uma pessoa boa que mostrará ao passante bem sucedido o caminho a ser percorrido dali em diante. As mulheres Tome-Papagaio estão logo acima. Daí em diante, a pessoa percorrerá seu caminho até o “pedaço de cobra-morte”, nome para as colinas a partir das quais se chega nas malocas dos duplos dos olhos, que vivem no final do trajeto. 32 Ha´gui rire ma omonõ ramo va´e oó meme rã ovy mboi manõ oin ape ve. Ha´e gui ma ja opa ma, tapé opa peve. 32 MBA´EMO RUVIXÁ • Armando Mariano Marubo Mba´emo ruvixá, Armando mba´e aevi va´e ma amboae tembiapó regua ju avi. Yvyve katy ma oin nhamandu ouá, yvaté ve´i katy ma oin nhamandu oguejyá, mbyté ve´i katy ma oin ju kuaray mbyté jaeá. Minhõ kuery ma mba´e mo ra´y ja, onhemboja´ó jogueravy petei tei nguetã meme, ha´e yn vyma petei tei ipra´i are. Ha´e kuery ma oiko´ia re ha´e mamo rupi ta ikuaiare ha´egui mamo pa opytaáre onhangareko va´e. Yvyrá kuery ma nhe´e kuery omoingo va´e, hakã re ojere´i va´e oexaukáa rami. Ha´e va´e gui ma nhe´e oguatá ovy nguetã peve ova´en aguã yvyrá rakã re oin arami. 34 35 OS MESTRES DOS ANIMAIS • Armando Mariano Marubo Os mestres dos animais, também de Armando, é outro esquema cartográfico. Abaixo está a região do sol nascente; acima, a do sol poente. À esquerda, a região sul e, à direita, a região norte. No meio da composição, está o sol do meio-dia. Os Minshõ, donos dos animais, se distribuem por estas regiões, em suas respectivas moradas, distinguidas pelas cores. Os donos dos animais estão representados por esquemas pictográficos que traduzem os YVY RAPYTÁ • Paulino Joaaquim Marubo [HENONDÉ RE] Ipará va´e oexauká mba´e mo yvy yvtin rei va´e ojapó va´e kuery. Ha´e kuery hetymã va´e yn, mba´eiko yvytu rupi rive py ikuai yvyrá raimbé reve oakã regua reve ha´e guii ombovy xivi raingue reve. Omboery rire ma Paulino oexauká petei regua seguintes momentos: surgimento, trajeto e estabelecimento. As árvores são aquelas que dão surgimento aos espíritos, como indica o círculo traçado em seus troncos. A partir daí, o espírito percorre um caminho que leva à sua morada (maloca ou aldeia), metaforizada como um tronco de árvore. 34 35 nguembi´u, mboré yvytin rei va´e ha´e yvyre oiko va´e. Marubo py ombopará va´e kue gui: Onhemongaru Rapé, Mata-Pasto ha´e gui Ayahuasca/koa voã, koin nesa, vari nesa, tao ipo/ ino nesa, kana nesa, Yvy yvytin rei va´e ojapó va´e kuery aeju aema ojapó pa raka´e ha´e kuery/ kova´e ma mboré vytin eté ra´e” [HAKYGUE RE] Jaexá ma yvy yvytin rei va´e regua, irundy meme yakã omongorá ha´e hapytá omopu´ã va´e (oexauká yvaté katy ha´e gui yvy katy). Marubo py ipará va´e kue: Kova´e ma yvy ojerá ague. kova´e ma yakã yvy omongorá va´e. Yma gui ve ma ha´e kuery ojopy yvy yvyti rei va´e” PILARES TERRESTRES • Paulino Joaquim Marubo [FRENTE] O desenho mostra os espíritos demiurgos fazedores da Terra Névoa, último dos patamares terrestres. Eles não têm pernas, pois permanecem sempre suspensos no vento portando as suas lanças, bem como cocares e colares de dentes de onça. Após nomeá-los, Paulino apresenta também alguns dos vegetais psicoativos que lhes servem de alimento, além da anta-névoa existente naquele mundo outro. Tradução do trecho em marubo: “As suas drogas de alimentação são o Lírio Névoa, o Mata-Pasto Névoa, o Rapé Névoa e a Ayahuasca Névoa / Koa Voã, Koin Nesa, Vari Nesa, Tao Ipo / Ino Nesa, Kana Nesa, são mesmo as pessoas que foram há tempos fazendo com o vento a Terra Névoa / Esta é mesmo a Anta Névoa”. [VERSO] Vemos aí cosmograma da Terra Névoa, cercada por um rio e por pilares que a sustentam (representados pelos traços verticais e horizontais). Tradução do trecho em marubo: “Este é o surgimento da terra. Este é o rio que dá a volta na terra. Há tempos eles a assentaram, segurando-a com o Vento da Terra Névoa”. 36 37 34 35 36 37 • Paulino Joaquim Marubo 39 POVO DA TERRA-NÉVOA OGUY’I KANA VOÃ MBA´E [FRENTE] [HENONDÉ RE] • Paulino Joaquim Marubo Paulino desenhou alguns dos animais existentes na Terra Névoa (faixa superior), tais como a onça névoa (koin kamã), o pássaro névoa (koin chai) e a cobra névoa (koin rono). Na faixa intermediária, estão três dos habitantes daquela terra, com suas lanças, pinturas corporais, bandoleiras e colares de dentes de onça (na figura da direita, de contornos amarelo). Na faixa inferior, estão os habitantes do rio Névoa, também com suas lanças, colares e bandoleiras (em uma das figuras, em vermelho). Tradução do trecho em marubo: “Morada da Terra Névoa, Povo da Terra Névoa, o seu lugar de despertar”. [VERSO] YVY YVYTI REI VA´E IKUAI VA´E 38 Estão aí os habitantes da Morada da Terra Névoa diante de suas malocas, portando lanças, cocares e colares de dentes de onça. 38 39 • Paulino Joaquim Marubo Paulino oiporu Armando oiporu va´e kue regua aevi ombopará vy: Yvy katy ma oexauká Kana Voã oikoague ha´e gui ijyvyrygua, jogueroguatá jogueravy ngoorã ojapó peve (ijyke katy Iju rei va´e ma oin Kana Voã; Hovai katy ma oin hi´y Roin Iso) [HAKYGUE RE] Marubo py ipará va´e: “Kova´e ma maloca Kana Voã mba´e ha´e rã amboae ma Roin Isso/ Hexeve oiko va´e kue ma Kana Voã ri´y Roin Isso/ Kana Võa ha´e gui Koin Voã ma joagui he´yn onhembojerá/ Ha´e kuery ma yvytu rupi onhembojerá va´e gue/ Peikuaa pa? Xapy´a ramo ma xeayvu rive merami rã…” 40 41 [HENONDÉ RE] Paulino ojapó amomngue mongue´i mba´e mo ra´y yvy yvytin rei va´e re ikuai va´e ojapó xivi, nguyra´i, mboi. Ha´e gui oin avi ha´e rupi ikuai va´e rangaa, yvy raimbé reve gua, mbo´y reve gua ha´e ojepyaxá va´e regua reve. Ipará va´e kue Marubo: “Yvytin rei va´e retã gua, mamo gui pa oikoá”. [HAKYGUE RE] Upema Yvy yvyti rei va´e ikuai va´e inhakã regua reve, ombo´y reve xivi raingue guigua re ikuai. A MALOCA DE KANA VOÃ KANÃ MARI [FRENTE] [HENONDÉ RE] • Paulino Joaquim Marubo Paulino se utilizou do mesmo esquema pictográfico empregado por Armando em seus desenhos: abaixo, o círculo representa o lugar de surgimento do demiurgo Kana Voã e de seus pares, que percorrem então um trajeto até se estabelecerem em suas casas (à esquerda, em amarelo, está Kana Voã; à direita, seu sobrinho Roin Iso). • Paulino Joaquim Marubo Marubo py ipará va´e: “ Kana Voã ma nguaigui ve va´e. Kanã Mari ma ha´e rire juma oú/ Kova´e ma Kanã Mari takykue ma oú va´e kue. Yva ha´e yvy ojapó va´e kue/ Nami aema Kanã mari. Hexegua hetá kaújo oin/kova´e ma maloca Kanã Mari mba´e. Kova´e onhembojerá aguã” [VERSO] Tradução do trecho em marubo: “Essa é a maloca de Kana Voã, a outra é de Roin Isso / Aquele que surgiu junto com ele é o sobrinho de Kana Voã, Roin Isso / Kana Voã e Koin Voã não surgiram mesmo do néctar da terra / Pikashea, Otxoko, essas pessoas não surgiram mesmo do néctar da terra / Eles surgiram mesmo na espiral de vento da Terra Névoa / Vocês entenderam? Talvez pareça bobagem o que digo... ”. [HAKYGUE RE] 36 37 42 Kanã Mari kuery ma yvy ombovaipá raka´e rire Kana Voã opjapó porã ve ju ijyvyry gua kuery reve. Ha´e rire aema Kana voã kuery ju huvixá kuery rami ikuai. Nhe´e kuery ma oiko petei ikorá py ha´e rire ma ojeoi nguetã jogueravy. 42 SERRARAM JACARÉ ANTIGAMENTE • Paulino Joaquim Marubo 40 41 YMA RAMO MA PA’I KUERY OJAYÁ DEMIURGOS KANÃ MARI • Paulino Joaquim Marubo [FRENTE] Tradução do trecho em marubo: “Kana Voã é gente mais velha. Kanã Mari surgiu depois / Este é Kanã Mari que surgiu depois. Fazedor do céu e da terra / Assim é mesmo Kanã Mari. Há sobre ele muitas histórias / Esta é a maloca de Kanã Mari. Isto é para fazer surgimento”. • Paulino Joaquim Marubo Paulino oexauka oporai jave yma gua kuery ikuaiague (Wenía). Oguata ovy are, yma gua kuery oexá petei pa’i ponte py itui ramo, ivaikue va’e hetá tembi’u okupe re oguereko va’e reve oaxá ovy yy guaxu Rovai re (Amazonas). Huvixá Kuery ha’e gui tujá kue ve ranhe tá oaxá aguã rami jogueroayvu. Ha’e vy ponte mbyté rupi ma jogueraa rire yxyryvi ojayá, ramo yy py ho’a pa vy yy rupi kyxé ramingua ikuai va’e ary ho’á vy omano mba. Paulino representou aí um dos momentos do canto de surgimento dos antepassados (Wenía). Em um determinado momento da viagem, os antepassados se deparam com a Ponte Jacaré, um monstro repleto de alimentos plantados em suas costas, que atravessa as duas margens do grande rio noa (Amazonas). Os chefes e pajés decidem atravessar primeiro. Quando os insensatos estão no meio da ponte monstruosa, cortam o seu pescoço, assim fazendo com que eles caiam nas águas e sejam mortos pelas lâminas aquáticas. 43 ENCONTRARAM A PONTE JACARÉ ANTIGAMENTE • Paulino Joaquim Marubo • Paulino Joaquim Marubo Paulino oexauka yma gua kuery ojoú ju va’ekue ponte pa’i va’e, oaxá jogueravy yy guaxu rovai re. • Paulino Joaquim Marubo Paulino ojapó Vari Mãko rangaa, xamoi raka’e yma ramo va’e kue. 45 46 NGUYRA’I RUPI’Á HO’Ú PA OKUAPY RAKA’E Kova’e iparáa py ma Paulino oexauka nguyra’i rupi’á ho’ú pa okuapy raka’e ojoú vy va’e kue joa joapy. Ha’e Kuery aema ojepotá raka’e koti re. 43 OJOÚ JU PONTE PA’I YMA MA RIRE XAMOI VARI MÃKO • Paulino Joaquim Marubo [VERSO] Os demiurgos Kanã Mari foram responsáveis por estragar a terra outrora melhor feita por Kana Voã e seus pares. Estão aí desenhados como chefes que portam suas lanças e seus adornos corporais. No desenho do verso, o mesmo esquema pictográfico é empregado: os espíritos têm seu surgimento em um círculo para, em seguida, percorrerem um trajeto que levará às suas moradas. 44 Paulino mostra aí os antepassados responsáveis por encontrar a Ponte Jacaré, que atravessa as duas margens do grande rio noa. 44 47 38 39 inimigos o atacam e o pajé fica com corpo crivado de flechas. Ele resiste durante algum tempo, até ser esquartejado. Seu duplo sobrevive e segue cantando belos cantos. 48 PAJÉ VARI MÃKO XAMOI SAMAÚMA Paulino desenhou Vari Mãko, um pajé que viveu nos tempos antigos. Xamoi Samaúma oguata oikovy raka’e nguajy kuerey reve nguembiarã oekaa rupi. Oexá má koti’i Kuery ramo vy oó hakykue ranga vy hovaigua rópy rive ju ova’en. Hovaigua Kuery ma oexá vy ojapi pa nguyrapa py. Oiko ve’i ranhe va’e kue ombojaó pa ramo omanõ’i. Hupive gua oiko ve i ma oporai Porã riae Ju. • Paulino Joaquim Marubo 45 46 • Paulino Joaquim Marubo 48 COMERAM OVOS DO PÁSSARO-QUEIXADA ANTIGAMENTE • Paulino Joaquim Marubo Nestes desenhos, Paulino mostra os antigos que encontraram os ovos do pássaro queixada, que são comidos em uma refeição coletiva. Os antigos então se transformam nos atuais porcos queixada. 47 PAJÉ SAMAÚMA • Paulino Joaquim Marubo Pajé Samaúma viajava com suas filhas em busca de caça. Ao encontrar porcos do mato, decide se embrenhar por uma trilha que, no entanto, levava à casa de inimigos. Os TAGUATÓ RE HEMBIÁ MA RA’E • Paulino Joaquim Marubo Kaújo omombe’u vy má yma gua kuery ojoú okuapy raka’e taguató nhande kuery re okaru va’e. Ha’e vy ma ymã gua kuery ojuká raka’e taguató zarabatana py ojapi pa vy. FLECHARAM GAVIÃO • Paulino Joaquim Marubo A história narra o encontro dos antigos com um gavião gigante que devorava os humanos. Os antigos decidem então matar o gavião com suas zarabatanas. TUDO O QUE O OLHO VÊ Ailton Krenak OPA MBA´E JAEXÁ VA´E 40 41 GENEALOGIA JOARAMI VARA RUPIGUA Uma vasta produção de sentidos, artefatos e imagens instituem os acervos dos povos originários no continente americano. O imaterial é onde está a criação invisível a olho nu. Vastas paisagens de desertos, montanhas, florestas e rios transmutam em “visíveis sinais” que o olho vê. Ritos e celebrações cotidianas tecem as malhas, aos pés das montanhas dormem as pedras que sonham outras paisagens por vir. Um remo, um balaio, tramas e mensagens para curar o dia, artefatos. Adornos para o mundo ficar repleto de beleza. Artistas de plástico1: Com esse sugestivo título, um coletivo de sujeitos criadores de imagens e artefatos que falam por si reuniu obras em múltiplas configurações de materiais e suportes diversos, em espaços de exibição pública, mas também muros, paredes e vielas da cidade de Boa Vista, fazendo coro com Jaider Esbell, questiona ARTES plásticas ¡Mira! Artes Visuais Contemporâneas dos Povos Indígenas2 traz obras de criadores de regiões da vasta bacia amazônica, Peru, Bolívia, Brasil e Colômbia, inaugurada em Belo Horizonte no ano de 2014 e também itinerante por países andinos. Dja Guatá Porã: Rio de Janeiro indígena, no Museu de Arte do Rio, em 2017, com abordagem multimídia e discursos onde autores circulam questionamentos descolonizadores da narrativa estabilizada das artes e registros gráficos, convoca a pensar outras possíveis visões da história. Dezenas e centenas de materiais em arranjos múltiplos configuram paisagens surpreendentes, encadeando outras leituras de eventos e fatos históricos fixados por uma narrativa hegemônica em que ARTE e memória se confrontam. A persistência de novos sujeitos reivindicando lugar e suas expressões plurais, saltando do silêncio à fala, já insinua a crescente presença de uma produção cada vez mais significativa de coletivos formados por autores de povos originários, determinados a instituir discursos contra-hegemônicos. Uma década que se pronuncia, para esses criadores desde suas origens, informados por uma urgência temporal de “fazer o papel falar” – na expressão de Valdelice Veron, no docu- Heta mba´e ikuai nhande kuery ojapó va´ekue kova´e yvyapy nhanderovai katyre. oin ojexauka yvy tyre ymã guare kuery mba´e jaexá aguã py mba´emo hayvi omoatã vy yvytyapyre mavy ikaturei ndajai va´e ma oin avi. ka´aguy, yvy´ã vy´ã ha´egui yakã va´e aema oin vy ma oguero porai´i vy ma ita jepe ojeroexara´u aguã py omoexãkã va´eri ha´e pyma oin ju oipykuia, ajaká, oipoká heravy vy ma ayvu ombou ha’e vy jaguerá aguã py nhavãe vy ma oin ju ha’epy ankãrengua oguereko va´eri ndajaexá kuaai. Mborai ha´e vy´a vy´a oiko. ha´e rami vy ko nhande yvy omoporã vaipa. Imbavyky kuaá kuatia rexãkãre1: kova´e rami omboery va´e kuery ma ojapó tembiapó ha´e gui onhemboaty vy ogueroayvu ha’e rima ho’ã anga ju vy yrúrã peteim guigua rue’yn vy ojejou, va’eri ikorá omopu’ã tentã Boa Vista, yvyry rupi vy ojapo mborai Jaider Esbell, ha’e vyrima onhemo porã nduju vy oexauká aguã imbavykya kuatia rexãkã rupi. !Ma’en! Ambavyky Ma’em ayn guigua kuery nhanerentarã kury nhande kuery2: Ha´e va´e ma ogueru hetá tembiapó Ka’aguy hovy gui, Peru gui, Bolívia gui, Pindorama gui ha´e gui Colômbia regua gui, Belo Horizonte py onhepyrun 2014 ha’e jave voi paven yvy rupare ikuai va’e andino kuery. Dja Guatá Porã: Nhande kuery Rio de Janeiro re, ymã guare moiporã aty py mbavyky oin Rio py, vy 2017, oguerojeapo grã mbovypa ojekuaáre vy ijayvu mamopa ojapoaré ikuai ha’e oporãndu yvy mboegui ogueroayvua mavy oikuaxe. Ogueropyta mbavyky mavy oejavy peteim jexauka, oenoin mavy nhemongueta amboe jexauka aguã mombe’ua. Hetareima oin jaiporua aguã va’e ojou tembiapo opaixa gua anga ma’em porã ve vyy nda ombovy’a aguãpy hovaem, há’evy ogueruju amboae jeroayvua peteim hendapy vy nhemobe’ua opyta jogueroayvua mavy ojeguivaem mavy MBAVYKY ha’e ma’endu’a jepe ojeapi. overõnhea’ã jevy vy ha’e oipotaá ju peteim hendapy onhembojekuaá joaramivya py, 1 � Ver o catálogo do projeto em: https://issuu.com/ talitaoliveiras/docs/cat__logo_artista_de_pl__stico_vers. 2 � Para informações sobre este projeto desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa Literaterras da Universidade Federal de Minas Gerais, ver: https://projetomira.wordpress.com/. 1 � Pexa vã mba’eapoa kuatire vara: https://issuu.com/talitaoliveiras/docs/cat__logo_artista_ de_pl__stico_vers. 2 � Onhemomb’uta ko omba’eapo regua vyma peteim oikuapota va’e viramivy nda Kuatia omboayvu Onhemonhembo’e pa typy Nhembojae’yn py gua Minas Geras py, toexa: https://projetomira.wordpress.com/. mentário Índio Cidadão3, artistas indígenas desenham, trançam, tecem, pintam, moldam e também gravam, em diferentes suportes, suas expressões de mundo e abrem diálogos plurais com o chamado sistema da arte. Por espaços de galerias e museus, bienais e coleções particulares, estas obras falam linguagens das águas e florestas, vazam de histórias étnicas revelando mitos e elementos próprios de cosmovisões. Uma disposição para voar em constelações reúne criadores de gerações e contextos ecológicos e culturais tão diversos quanto o lavrado de Roraima, mata atlântica e caatinga, as montanhas e florestas. Há décadas que alguns desses criadores têm feito circular suas obras, na ilustração de publicações científicas, artísticas e didáticos materiais. O grupo MAHKU, Movimento de Artistas Huni Kuin, um dos coletivos mais difundidos em suas produções, dentro e fora do Brasil, mostra seus trabalhos inovadores na França, e espaços destacados na Europa, como a Fundação Cartier-Bresson. Desde a década de 1980, os desenhos de Joseca Yanomami dialogam em sintonia com a grandeza da obra de Claudia Andujar, sua incentivadora e inspirada apoiadora, que lhe apresentou a primeira caneta para desenho em sua aldeia na floresta. Os trabalhos de Joseca Yanomani articulam diálogos entre fotografia documental e desenhos de incomparável carga de sentidos. Seus trabalhos estão integrando coleções no Instituto Inhotim, em Minas Gerais, e coleções em museus também na Europa e nos Estados Unidos. Entre estes engajados artistas, as mulheres como Carmézia Emiliano, com vasta produção já em circulação, revelada em 1996, com obra que evoca a identidade makuxi da autora, que segue inspirando novas gerações entre as aldeias do lavrado roraimense a perpetuar seus imaginários de seres profundamente informados pela ancestralidade. Arissana Pataxó teve obra sua na ¡Mira! com repercussão singular por seu discurso com imagens de potência denunciadora, mesmo carregada de beleza, uma linha recorrente desta artista dedicada à tarefa de educadora, como seus pares que em nenhum caso têm a exclusiva atenção voltada à produção do que se entende por “arte”. “Artistas de plástico”, assim, pode soar como uma observação sobre essa aproximação da criação de sentidos por meio das diversas 3 � Documentário disponível em: https://www.camara.leg. br/tv/432678-indio-cidadao/. Último acesso em 16/09/21. opó kyrinrin ayvu gui huvy vy okakuaá ojeupe vy ma tembiapo peteim gue jepe oin ma jojoapyare ojeapoma jogueruvy. Hetá ma´enty ma oaxá ovy ijypyre, jogueroayvua ague gui tembiapó nhexyrõ ojeapo vy onhemombe’u ary vai gui vy nhenkõtevem gui vy “kuatia omboayvu” nhemboekovy - Valdenice Veron ijayvu oeja peteim rupi vy Nhande’i va’e Tetã reguá3 va´e py imbavyky va’e’i nhande va´e kuery, ojapó, ombopará jojorami he´yn ogueru aguã mbavykya rupi heta va´e kuery reve jogueroayvu aguã. Ikatureiapy omboyxy heravya typy, ymã guare moim porãty py terá mokoim ma’em tyrema oin ha´e oje oikaá ramivy ma oexa japyxakaá. Inkyre’yimgui oveve ouvy vy onhevaim mba re vy nda omboatya oguereko vy ma omba´e ae va´e teim ma ijayvu yy regua ha´e ka´aguy regua re vy, ogueroayvu mo’ãreguare vy ka’a guy rekorema heta oin yvy ombojerea rami vy Nhe’enry ha’e ka’a guy ye’enre ikuai v’e yvy’ãre peteim teim nhande kuery ikuai va´e kaújo gui meme ogueru. Ogueru joá joágui he´yn ka´aguy regua gui. Hetá ma´enty re mavi amongue omba´eapó va´e kuery ojapó omboparáa rupi ogueru oexauká aguã pyma onhembo’e porã reia va’e guery, mbavyky va’e kuery ha´e gui kuatiare jererekoa tembiporú. MAHKU, Onhemomyia de imbavyky va’e kuery. Huni Kuin, pygua kuery ma oguereko tembiapó ko Brasil py anho he´yn ogueraa, ougueraa França re ha´egui ova´en Fundação Cartier-Bresson py guive. 1980 guive ma Joseca Yanomami ojapó va’ekue jorami rei ojekuaa Cláudia Andujar reve mba’eiko ha’e py ombojerovia ha’e gui oinpytyvõ ixupe, ha’e ma oexauka ijypy’i kuatia mboparaá ogue rekoa ka’aguy re oin va’e py. Joseca Yanomami rembiapó ma ma ogueru Nhane’ã venõea ha’e ipará Pará va’e jojoramingua he’yn. Ha’e rembiapó ma oguereko reta comboaty ymã guare moin porãty py rupi vy instituto Inhotim py, Minas gerais py, ha’egui Europa rupi ha’e gui Estados Unidos rupi avi. Ha’e va’e rupi ikuai kunhangue ojapó va’e arte Carmézia Emiliano rami oguereko reta Raí va’e mbavyky, 1996 py ojekuaa va’e kue Makuxi Kuery kuerey regua ojapó jave, ha’e rire ayn reve teri ome’en mbaraeté mby’a 3 � Mombe’utaá ma oin jakuaxe va’epe: https: //www. camara.leg.br/tv432678-indio-cidadao/. Opa’i va’e ma 16/09/21. 42 43 técnicas de que estas pessoas se utilizam, desde a cerâmica, a tecelagem e a confecção de artefatos de palha e madeira, com a disposição constante pela busca da beleza, acrescida em muitos casos da determinação em denunciar as reiteradas violências coloniais, suas marcas racializantes e excludentes. A curadoria de Véxoa: nós sabemos4, entre 2020 e 2021, com Naine Terena, também uma criadora de expressão nas criações artísticas, proporcionou uma ampla representação de lugares distintos da criação de sentidos, com Denilson Baniwa, Daiara Tukano, Jaider Esbell enunciando a disposição por ocupar outros espaços de representação do mundo da criação artística. Gustavo Caboco, em colaborações que visam desde a publicação de textos e outras linguagens gráficas, performances e ocupações públicas, reafirma a multiplicidade deste amplo coletivo, que desenha constelações e antes de supor a configuração de um grupo ou geração de artistas originários emergente, propõe outras alianças entre seres humanos e não humanos. Seres rios e montanhas em conversação, dispostos a circular também entre mundos. Visam pluriversos, criam empenas nas paisagens urbanas, assim como murais de reflorestar cidades, florescer em calçadas de concreto e paralelepípedos. SOMOS CAÇADORES DE BELEZA, ÁVIDOS POR BELEZA, CAÇAMOS BELEZA EM TUDO5 Um convite a pensar a Arte Indígena em evento no Masp reuniu curadores, pesquisadores e poucos artistas indígenas em torno do episódio Histórias indígenas do seminário Histórias brasileiras, organizado por Lília Schwartz em 2017. Contou com Aristóteles Barcelos Neto, Claudia Andujar, Davi Kopenawa, Edson Kayapó, Els Lagrou, Joseca Yanomami, Luís Donisete Benzi Grupioni, Luisa Elvira Belaunde, Lux Vidal, Milton Guran e Pedro de Niemeyer Cesarino. Tive também a oportunidade de fala nessa ocasião. Corajoso gesto que abriu diálogos entre especialistas que lidam com a produção e circulação das expressões artísticas de sujeitos pertencentes a várias etnias no Brasil, evitando claramente o sentido antropológico da abordagem. Proporcionou falas a 4 � Sobre Véxoa: https://pinacoteca.org.br/programacao/ vexoa-nos-sabemos/. Último acesso em 16/09/21. 5 � Referência ao livro Lugar onde a terra descansa, de Ailton Krenak e Adriana Moura. guaxu amobae Kuery pe ojapó avi aguã tembiapó ymã guare’i re oma’en vy. Arissana Pataxó, ma hembiapó! MA’EM! py ogueru oexauka ojekua va’e omembe’u ojapó reve, Iporã vaipa ramo xepe. “Imbavyky va’e kuatia renxãkã regua”, ha’e rami nhandeayvu ramo ma hetá mba’e rupi nhamombe’u mba’eiko hetá mba’e rupi aepy ha’e Kuery ombaeapó, yapó Gui mba’e mo ojapó va’e, yvyrá pire guigua, oexá raxa vy Iporã ve rai va’e ojapó aguã, ogueru aguã denúncias hetá va’e Kuery ojapó va’e kuere regua re. Véxoa nhomongueraá ojapó vy nda: 2020 ha’e gui 20214, re ma Naine Terena, hembiapó va’e avi onhembojekuaá vy nda oejauka aguã ramivy ymbavyky va’e jepe oipuru peteim hendapy vy nda ogueromombe’u jepara jekuarupi vy ma, onhembojekuaá heravy maombe’u ha’e jojoarami vy oinvy jepema omo’ãnga heravy vyma onhembojere vy imbavyky kuaá kuery jepe omexãkã heravy vyma imbavyky va’e kuery ogueru hetá regua oexauka aguã Denilson Baniwa, Daiara Tukano ha’e gui Jaider Esbell reve ojapó aguã heta mbyté rupi arte ojapó va’ekue ha’e oexauka aguã. Gustavo Caboco, ojapó reta publicações omboparáeté rive va’e kue ha’e gui opamba’e regua tembiapo apyguae ri nhenkontevem rupi vyma houve uve va’epeju opyta ouvy aguã rupiju oin heravy joapy nhain, nhande tekoaxy´i kuerype ha’e omyin va’epe voi. Yakã ha’e gui yvy’ã regua kuery voi jogueroguatá xe avi kova’e yvy rupi. Tentã rupi onhembo ka’aguy ju aguã, tape ita guigua rupi ipoty pa’i ju aguã vyma nhema’em porã ju oin tentãrevy ma ha’e kuery rive ma há’e va’e oin, omongorá tenta ka’a guyre. ORE MA ROEXÁ IPORÃ VA’E, ROIKO IPORÃ VA’E DE, ROEKA MBA’EMO PORÃ OPAMBA’ERE5 Nhoenõin onhemo mby’a aguã mbavyky nhande kuery mba’ere vy ojapo peteim hendapy MASP nheno’õ joguerá kuery, oikuaá pota va’e kuery Nhande kuery mbavykyre ma nhamonby’a aguã ma oin 4 � Véxoa regua: https://pinacoteca.org.br/ programação/vexoa-sabemos/. Opa’i va’e ma 16/09/21 5 � Ombe’u mavy mamontu oin yvy onhemo cane’õ guaá, Aiton Krenak há’e Adriana Moura. partir da experiência de realizadores de obras em circulação nas diversas mídias e suportes tais como a grande obra de Claudia Andujar, que apresentou sua experiência inaugural com as imagens de potência surpreendente em transitar de uma cosmovisão yanomami não figurativa, ao instituir uma galeria de imagens com seres mágicos, xapiri e heróis culturais do universo das oralidades, antes não representados graficamente. Assistido por Sandra Benites, Luisa Elvira Belaunde, Els Lagoru e Lux Vidal, estes diálogos animaram outro momento, agora de mote próprio e curadoria coletiva, proporcionado pelo Instituto Goethe de São Paulo, dentro da série Diálogos do Sul, que acolheu a proposta de um seminário6 que expressasse as várias perspectivas de atores indígenas como Jaider Esbell, Denilson Baniwa, Bu’ú Kennedy, Sandra Benites, Miguel Verá Mirim, Arissana Pataxó, Edgar Kanaykõ, Cristine Takuá, Carlos Papá, Daiara Tukano, Ibã Sales-Huni Kuin, além de observadores também convidados desta conversa inaugural, pensando a produção cultural indígena e o sistema da arte. Um painel único reunindo curadores e gestores de museus e galerias como MAM, Masp e Pinacoteca, além de gestores culturais, como Ticio Escobar, ex-ministro da Cultura do Paraguai. Foi uma visada sobre a cena que antecede os convites em 2020 de Sandra Benites a integrar a curadoria do Masp, como também ao anúncio da curadoria de Naine Terena na celebrada exposição Véxoa, na Pinacoteca, em São Paulo, provocando novas observações da visão desses criadores sobre ARTE. Conceito estabilizado na cultura ocidental, como exercício de sujeitos destacados de seus vários contextos culturais, e que se descolam visivelmente das realidades de suas origens sociais, o que não tem correspondência com as ideias de criadores indígenas. krã mboae MASP py, ogueru, Mongueraá Kuery, ha’e oikuaá pota va’e kuery ha’e gui mboaty’i imbavyky va’e nhande va’e kuery omombe’ua nhande kuery onhemoim nhemombe’ua Pindorama pygua, Lília Schwartz ojapó jave 2017 re. Ha’e jave ikuai Aristóteles Barcelos Neto, Cláudia Andujar, Davi Kopenawa, Edson Kayapó, Els Lagrou, Joseca Yanomami, Luíz Donisete Benzi Grupioni, Luisa Elvira Belaunde, Lux Vidal, Milton Guran ha’e gui Pedro de Niemeyer Cesarino. Mby’a Porã reve ojapo vy ogueru ayvu especialista Kuery reve artes hetá nhande kuery reve. Sandra Benites, Luisa Elvira Balaunde, Els Lagoru ha’e gui Lux Vidal oexá ogkuapy rire aema ayn gui Instituto Goethe São Paulo, py oin jogueroayvu ko ka’aruagui vy ma, ogueru peteim onhevaim6 ma vya ome’en aguã imbavyky kua kuery pe oexauka aguã nguembiapó ramo ma imbavykyva’e kuery Jaider Esbell, Denilson Baniwa, Bu’u Kennedy, Sandra Benites, Miguel Verá Mirim, Arissana Pataxó, Edgar Kanaykõ, Cristine Takua, Carlos Papá, Daiara Tukano, Ibá Sales-Huni Kuin, ha’e gui amboae kuery oenoi va’e kue kue jogueroayvu aguã imbavyky va’e nhandekuery regua re. Peteim’in tembiapó ojejapó MAM, MASP ha’egui pinacoteca reve ha’e gui Ticio Escobar ministro da cultura Paraguai py oiko va’e kue. Ha’e va’e oin Sandra Benites curadoria py oike’yn i re MASP py, ha’egui Naine Terena oenoi ojapó aguã ogueraá Vexoá py pinacoteca py ramo ma São Paulo re texá ngatu oiko tembiapo ojapó va’e kuery re. MBAVYKY, TEMBIAPÓ HA’E OJEAPÓ Refletir sobre criação, produção e disseminação cultural indígena, respondendo à crescente demanda por parte dos museus e instituições de arte no Brasil e no mundo por adquirir ou expor “arte indígena”, nos coloca frente a um problema com implicações estéticas, éticas e políticas. A ênfase da visão ocidental de arte, na qual confina-se o Jaexá ramo tembiapó nhande kuery reko re gua re va’e ma oiko mba’eiko oin raxa py ymã guare moiporãtypy oin nhande Kuery Pindorama re ha’e gui yvyrupá ha’e javi oexauka xe va’e arte nhande kuery ojapó va’e kue “Nhande kuery mbavyky” re haxy parei ramo jepe nhemondea rupi vyma, nhamboete nhanderuvixa kuery. Virami joupive ojereraá aguã pyju onhemoingo heravy vyma tembiapo ojereraá ma vy ko onhembo’e heravya vãpy ju onhenoin Jojoramingua he’yn nhande kuery reko regua re oexauka ramo. 6 � Informações em https://www.goethe.de/ins/br/lp/prj/eps/ epd/pt16506451.htm. 6 � Oveporandu ma https://www.goethe.de/ins/br/lp/prj/ eps/epd/pt16506451.htm. ARTE, TRABALHO E CRIAÇÃO 44 45 exercício da criação enquanto atividade específica, separada das demais esferas da vida cotidiana, contrasta com as práticas dos diferentes povos indígenas. Os mecanismos de produção e disseminação do sistema da arte, bem como sua insistência na predominância do objeto, pouco se preocupam com questões de agenciamento e coletividade, com linguagens e urgências, ou com ritmos e condições de produção diferentes daqueles aos quais o establishment está habituado. Essa discussão se deu também no encontro facilitado pelo Instituto Goethe de São Paulo, em dezembro de 2017, por um coletivo de indígenas, dedicados a questões de criação, produção e disseminação cultural, e não indígenas que trabalham na interface entre arte e política, especialmente com as operações do sistema da arte que neutralizam a potência política das práticas artísticas e seu poder de contágio, assim como as operações artísticas de resistência a esta instrumentalização. No amplo universo dos povos originários nada se assemelha a essa ideia de ARTE. Como entendi da expressão de Davi Kopenawa Yanomami, que nos visitou na instalação de uma obra coletiva guiado por Bené Fonteles, e viu uma coluna onde estava aplicado um grafismo com a inserção de sua frase: – Omama foi o primeiro artista.7 Uma revelação que vincula a ideia do artista com a criação mítica de mundos, cosmovisões e pluriversos, onde os espíritos ancestrais exibem “suas luminescências” – nos altos cumes da floresta, para além de uma comunicação entre iguais, convoca a todos os Seres da Criação. Assim, nada surpreende que Jaider Esbell evoque sua pertinência como neto de Makunaimî. Pois é assim, em simbiose com não humanos vivendo as cosmopoéticas ancestrais que operam estes mediadores de mundos. A arte dá entrada a essas conversas criativas, capazes de também encantar a existência, ampliando a subjetividade e vínculos profundos com Gaia, o organismo supraplanetário que nos habita e hospeda. Moquém evoca assim em simplicidade o que a intacta retina abarca em profusão de cores, criando formas para o espírito que se abre em fluxos atemporais. Constelações em reconhecimento de afins, em exercícios de construir paisagens de sentido capaz de tecer narrativas confluentes. Um jirau para estender histórias secando ao vento e sol. Oguerojeraá ma tembiapo mavy nda jaikuaá aguã vyma nda oeja krãmboae vyma ogueru ju vy peteim kove vara rupi vyma oin ojepy’apya ha’e vyma nhenkontevem rupi vyma ovaem jogueruvy mbavyky ojejapó ha’e gui oguerotaeravy má hetá mba’e rupi oaxá ovy jojoramingua he’yn ayvu, nhemomby’a. Ha’e va’e ramingua ré ayvu oin karamboae 2017 re Instituto Goethe py oin jave nhemboaty nhande kuery heta ikuai jave ojapó va’e hetá mba’e regua kuery ha’e Juruá Kuery opena va’e nhanderuvixa kuery, ha’e gui imbavyky va’e kuery re jepe. Nhande kuery aranduá mbyté rupi oin MBAVYKY. Ha’e rami vyma ojekuaá mavy nda oin nhemba’ea poa gui vyma ojexauka aguãpy ju ogueraá há’e gui jepe vyma onhenhõty voi heravy vyma apygua kury pe voi oje’oi mavy nda ojekuaá ouvy vy nda oguerekoju vyma há’kuery voi kova’e rãre vyma ojeroguata heravy aexá Davi Kopenawa ijayvua re ore poú jave Bené Fonteles oexá petei ipará va’e vy aipo he’i: – Omama aema mbavyky pygua ijypygua7. Petei jexauka ojekuaa artista ideia reve heta mba’ere yma guare re guive ova’en. Ka’aguy re yvaté vaté gui nhoenoi mba’e mo ojera ha’e kue kue. Ha’e rami vy Jaider Esbell Makunaimî ramyminõ oiko vy ha’e rami rei avi aranduá oguereko. Ha’e rami vy aema. Moquém oje’a pa vy aema aradu hetá ikuai, yma guare arandu jogueroayvu. Ayn guivema ou jo gueravy vyma nda ouvy ma jogueru ha’e opyta guive vyma ndoo kuaveivy ojexavai ha’evy rima ombotuvixa ve heravy vyma onhembojera vy ju oma’em vaipa jave vy oexa ma ko yvyre ikuai va’e kuery jepe jogueru aguã, há’e vyrima oaxa jogueruvy vy nda yvy javere ikuai raka’e ymã gua kuery jave ojejapo nhema’em porã voi oiko havei vyrima oiko há’e javire vyma ayn peve ojekua ouvy vyma jogueroayvua jepe hexãkã raka’e yvytu rupi ipiru ha’e Kuaray gui. 7 � Kopenawa, Davi; Albert, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 7 � Kopenawa, Davi, Albert, Bruce. Yvate ho’a: Nhaneramoim yanomami ijayvua. São Paulo Kuatia para inrum, 2015. SEMENTES DE TRANSFORMAÇÃO Cristine Takuá NHENHOTY OJEAPOA AGUÃ 46 47 A arte indígena contemporânea Traz a potência da cura O eco da política em sua ampla concepção Criativa e transformadora O artista indígena é um semeador Com seus saberes e fazeres ancestrais Toca a alma e decoloniza a mente Há séculos moldada por uma Monocultura do pensamento O artista indígena tem a possibilidade de metamorfosear as relações Entre o céu e a terra Entre o visível e o invisível Nos mostrando outros caminhos Outras realidades possíveis Num manancial intelectual e criativo Que habita na complexa e bela existência dos mais de trezentos povos indígenas Que resistem há séculos com seus cantos, Rezas, artes e filosofias. A estética da floresta é múltipla E dialoga com saberes ancestrais Que não estão nos livros e nem nos museus Vivemos uma criminalização epistêmica. Uma violência contra as ideias Contra o pensar que está adoecendo escurecendo a humanidade Querem nos calar! Mas nossos cantos ecoarão pelas quatro Direções dessa Terra! ! ! Assim como o fogo a tudo transforma, o sopro do vento purifica e a chuva molha a terra e as plantas florescem, nós caminhamos semeando sabedoria em nossas crianças e jovens, seguindo os ensinamentos de nossos antepassados. Sabemos que atualmente vivemos uma emergente e complexa crise humana, que se reflete nas relações sociais, políticas e ambientais, as quais nos levam a questionar e a repensar o ser e o saber, resultando numa conscientização de que temos que reaprender a pensar, agir e caminhar no mundo. No entanto, os seres humanos, numa incessante busca de compreensão, dominação, ordenação e controle sobre o meio e sobre si mesmos, acabaram por desestruturar a natureza e acelerar o seu desequilíbrio. Os povos indígenas vêm há muitos séculos mostrando ao mundo o que é ser sustentável. A relação com os outros seres da floresta é uma relação de respeito. Somos parte de uma grande teia, onde Imbavyky va´e guery ãy guigua guery Ogueru mbaraete jagueraá Nhande ruvixa guery ojere roayvu ma vy ombyavate Nhepyrum ojeapoa aguã Ko nhande kuery imbavyky va´e kuery onhoty ma Ko onhemo mba´e kuaá gui vyma ãy guie yn Guigua gui vy ma yvy mboe gui ou va´e gue jepe nhane mboete aguã Ãy guie ymã nhanemboeko rova vy nhanemo akã mby´a mboe Ko nhande guery imbavyky va´e ma oguereko omboape joupive ´i ojereraá aguã Ko yvatere há´e yvyrupi Vy ma jaexa va´erupi ha´e jaexa va´erupi gua avi Orema roexauka avi amboae tape avi Amboe jojo rami guae yn avi Oin va´e teko ojeapoa jojoa rami ojere raá aguã Há´evy rima japyta porã heravy aguã py nhavãe javy aguã ko mboapy retá py nhande guery oin apy Mborai py ovem rombaraete ymã guive, Tarova py, imbavykyapy, arandu rekopy Ka á guy reko ogueru mbovy porã gue rei Jajoguero ayvu ymã guare arandu py Va´eri dipoi kuatiare ha´e gui noin ymã guare moin porã typy voi Ayn ma nhande rexaxei va´earupi jaiko Nhane mboje xavai ko nhaneakã há´e mby´arekore Nhanemonguetaare voi ijayvurei há´e vyrima imba´eaxy pama pytum guyrema tekoaxy ikuai Nhanemo kyrimrim xe Va´eri nhemboraima irundy javerupi onhendu va´erã Kova´e yvy javere! ! ! Mba´emo ma onhembo jera tata ramiae avi, yvytu rupi ipytuem va´e voi omoatyrõ mba ma yvy inhakyn oky gui vy yvyra roky jepe henhoin, ore ma roguata romoain ore arakuaá ko kyringue pe há´e ypyau guery pe voi rogueraá orembo´eague ore ramoim ymã guare guery oeja va´eguere. Ore ma roikuaá ayn roikoa ma nhekotevem ma tekoaxy´i guery gui ipojava jaikoa na´inporã vei ramo, joapy rei he´yn nhain vy, mburuvixa guery gui Ka´aguyre opena va´eguerygui, oporandu oikuaá xe magui pa jaikuaá regua, oeka ma vy oguero japyxakaá nhanhemomby´aá jepe oguerova xe okuapy, jepojava há´e jeguata yvy javere ma, tekoaxy´i guery, overõ nha´ã mbare ikuai oikaá vam rupi vy, ojopy here kovy, oguereko ma vy oipotaá rupi overõ nhia´ã ojeupe avi vy, ha´e vy rima onhemongaru Ka´aguyre vy inhakuã ha´e tudo está ligado, tudo se relaciona. Os saberes e fazeres ancestrais estão totalmente conectados a essas tramas da grande teia da vida. A arte indígena contemporânea traz em sua potência a possibilidade de criar pontes entre mundos e permitir que todos se reconectem com uma memória ancestral, a memória do rio, das árvores, das montanhas, da terra e de todos os seres que estão resistindo junto com nós humanos. Nesse momento em que todos estão passando por um processo de transformação, sentimos a necessidade de metamorfosear as relações e reaprender a caminhar de forma mais leve e suave sobre a terra. Muitos são os movimentos que estão desabrochando nos meios culturais, trazendo um pulsar que dá sentido a todos, um convite para que todos reflitam sobre suas duras pegadas aqui na Terra e consigam mudar as direções, decolonizar a mente há séculos moldada por uma visão eurocêntrica e reducionista. Se faz urgentemente necessário repensar os museus, os espaços culturais que abrigam e dialogam com as artes visuais. E também repensar a educação! Muitos dos desequilíbrios, do racismo e do preconceito que existem ainda hoje no Brasil são resultado desse modelo de educação colonial. Precisamos metamorfosear os currículos e ampliar os diálogos sobre a utilidade da escola e o verdadeiro sentido de transmissão de saberes. Uma escola que não prioriza a multiplicidade dos conhecimentos é esvaziada de direção. Penso numa escola viva, que valoriza o potencial de cada um em sua complexa essência, que dialoga sobre valores de ser e estar nos territórios de forma equilibrada, que fala das muitas artes, de diversas formas de cura, dos cantos e encantos da vida que pulsa a cada novo dia. Uma escola que estabelece relações epistemológicas, artísticas e espirituais com todas as formas de vida. Convivemos há séculos com a negação das filosofias indígenas, das artes indígenas, das histórias e espiritualidades indígenas. Uma violência contra memórias ancestrais, contra o pensar em suas múltiplas formas, que reflete sobre essa pesada realidade que afeta a humanidade. Consequentemente, lideranças da floresta estão sendo perseguidas e até mesmo assassinadas, com o objetivo de calarem suas vozes, de enfraquecer e desequilibrar os saberes ancestrais dos povos nativos que habitam nosso país. nda´ijojai ouvy. Nhande kuery ma ou raka´e ymã yvy ymã gui vy oexauka yvy javere marami pa nhama´enty vy jepe jaikuaá ka´aguy ra´y´i ikuaia ma vy jareko nhemboete. Nhande guery ma jaiko ayn kya tuvixa va´epy, ha´e pyma oin inxã joapy, joó rami oo. Oje arakuaá ma ojeapo ymã guare py. Há´ejavive peteim rami oin vy joipeve tuvixa va´e kya teko rami vy Imbavyky va´e nhadnde guery ayn gua ogueru ma peteim mbaraete vy onhe´ãnga mavy ojapo yaxaá vy ko yvy javere oeja pavem pe vy jerojapyxaká aguã peteim ma´em ndu´a ymã guerere, ma´em ndu´a ma yy, yvyra gui, yvyty re, ha´e yvy ma pavem mba´e ha´e gui jojo rami jaje´oi avi vy ma ko tekoaxy´i reve jaá. ha´e rami vy ma jojo rami jajogueraá hera vy há é pyma jaxa hera vy jajerova vam, nhaem kontevema vy nhanhemboapeá joapy nhaim hera vy há´e jaikuaá ve heravy jaguata heravy vyma tape voi nda´i poii há´vi yvyre. Mbovy reipa onhemomyim ha´e onhembojera mavy nhombyteoy tekorã, ogueru peteim o tytya pavem pe vara rami oin, apoenoin pavem peju aguã ha´e jejapyxaka ko pypo raxy ma apy yvypy oguerova nda´u amboe katy, yvy mboe guigua guery akã jepe ojererova ymã guare gui oeja va´eguegui ojexa vy yvy mboe guigua guery ma omboapy vevy. ha´evy rima jekuaá pota voi nhemongueta aguã ko ymã guare nehemoim porã typy. Há é vyrima tekorupi guarã jogueroayvu há é onhemoingo ejekua va é rupi vy imbavyky kuaá. Ha´e jeguapota ju ha´epy nhembo´e! Vaipavy onhembo jejoja, ndojoayvui ndojoejaxeia oiko ayn peve teimo in apy pindorama py há´e va´ema ojekuaá nhembo´eapy voi oeja yvy mboegui gua. Nhekontevema nhanhemboape maba´e pa jeporu aguã jarekoa nhamovain ve heravy aguã nhembo´ea typy há´e va´ema anhetem guama onheremombe´u arandua. Peteima nhembo´ea typyma ndoejai pavem arandu rupigua vy ma yrugue opyta quii katy. Anhemonguetá mavy ajouxe nhembo´eaty tekove regua, omboete peteim mbaraete ojeé oguereko oyvara guigua, jogueroayvu ma anhetem guagui ma vy omboete aguã oyvy ijoja aguã, ijayvua mbavykyre vy, joó ramie yn jagueraá oin, ijyke jykerupi oin ma nhandereko otyty nhamandu oexape nhavõ. peteim nhembo´eama omombyta hera vyma jexakuaá teko. Mbavykya ha´e jarojapyxakaá regua vyma nhade rekopy jaraá nhande kuaima ymã guivema teko arandua nhande guery pegua ndoikua xei vy ma, ha´e omombe´ua ha´e nhade guery jajapyxakaá. Ojerojexavai nhemoma´em ndu´a ymã guarere vy onhemonguetá hetarupi vy, oguerojapyxaka mavy ipoyi hetema vy ojeupitypama ha´e 48 49 Nos processos educativos, e não só neles, mas também nas relações humanas, existe a falta do afeto e da concentração, do cuidado e da atenção. Existe um processo espiritual estético dos povos indígenas que se espalha por todos os lados de forma livre, caminha pela terra e para além do que são as fronteiras políticas dos Estados-nação. Nele estão presentes todas as concepções de existência, que através de uma potência criativa a tudo transforma. Muitas são as simbologias e comunicações invisíveis presentes na criação artística. E, em todos os territórios, há uma forte energia que impulsiona a relação entre a arte e a natureza. A arte indígena contemporânea tece pontes de encontros entre o tempo: o antigo tradicional e o novo metamorfoseado das inspirações íntimas de cada artista. Mas a arte em si, que habita no dia a dia de todas as culturas, reflete-se na essência de suas próprias realidades. Um coletivo de mulheres tecelãs produz, com o algodão, formas múltiplas, linguagens indescritíveis que se comunicam com seres sagrados e nos revelam saberes que há muitos séculos transmitem conhecimentos de uma ciência que não habita nos livros, mas está presente em visões espirituais que se transformam em elementos criativos de suas produções. O fazer artístico está totalmente relacionado à existência da vida da floresta, às fibras de embaúba que tecidas podem servir de elemento de cura ou ser úteis para quem as possui, ao barro que produz a cerâmica moldada e criada para ser e estar junto nas relações cotidianas, à taquara e ao cipó imbé que trançados produzem cestos, à caxeta que esculpida se transforma em seres animais da mata: cotias, pacas, corujas, onças, jiboias, uma infinidade de criações profundamente sensíveis. Os sentidos que ecoam dessas produções criativas estão totalmente relacionados à necessidade de preservação das florestas. Sem floresta não há arte, pois esta brota da própria natureza e dos conhecimentos ancestrais que habitam nas percepções e intuições de cada artista. O ativismo presente nas produções contemporâneas de arte reflete a luta e resistência dos povos indígenas. Nos últimos anos, houve um significativo impulso da literatura, do cinema, do teatro, das expressões de intercâmbio entre povos, a nos revelar a Arte como um elemento fundamental, que tekoaxy´i guerype. Ha´erami mbarei ramo, huvixa´i rami ikaui va´e ka´aguyre jepe onhemo nhauka aguã py ovãe. Ojejukauka guive, ijayvua omokanhy aguã guive, omo kangy ha´e nda´i jojai aguã py onvãe in´arandu guery apygua guery ikuai va´e ymã guivema oin nhade yvyre. Nhombo´ea jogueraáre vyma ojeupe yn, va´eri tekoaxy´i guery pe voi oin aguã nhemboja, oikoma joo ramie yn Joguerojapyxakaá, jekuaá pota ha´e ma´em atã. Oikoma japyxakaá joarupigua heravy vyma nhandeguery onhemoain heravy vyma jovaigui vy oipotaá rupi, oguata yvyrupi vy ijoapya rupigua re yn ju oma´em heravy vyma huvixa guery Ko nhadere onhemo pena va´e gury. Hexe oin tema ha´e javi overõ jejapyxakaá voi ogueroa´evea, ixugui guery gui vy imbaraete jeapoa ha´e vy rima ojeapo ouvy. Hetama omomba´e ma ojapo mbavyky gui. Yvy javere, ha´e imbaraete va´e takuyvytu vy ma otyty joupive aguã vyma joapy imabavukya ka´aguyre. Mbavyky ma nhadeguery ayn guigua guery omoatã oaxa ouvya vy nho vãin tim aryre: inhymã guery ma ipyau vy onhemboape ojejoukuaá vy onhemoin vy ma peteim mbavyky va´e. Va éri mbavyky ma ojeupe opyta ko´me nhavõ pavem rekopy, oguerojapyxaka vy oyvara gui vy nda ojeupe ramo ojekuaá heravy. Joupive gua kunhangue mandyju moatã va´eguery, mandy juma, ombo jekuaá oparupi vy ogueroayvua anhetem guarupi vy ma joupe joarupi ijayvu ko omyin va´e nhe´em reve vy oejauka mba´e kuaá ymã guive haema omboaxa ayvu oikuaárupi gua vyma onhemo´ã arandu pygua opyta kuatiare, va´eri omo mba´e texa pyjo japyxakaáre vy overo jeapo mavy mb´emo ojeopo ouvy aguã py ju oin temboiapo rã. Ojapo ma mbavyky vy nda há´e javire joapy oin vy moingove teko ka´aguyre, amba´y rayvi gui ojapo nhemoatã vy jeporu aguã mba´emo omonguera aguãrupi ojeporu ha´e oiporu, yapogui ojapo ha´e nhae´um gui hembiapo ha´e va´ema joupive opyta ouvy aguã oikoarupi, ha´e Takuá ha´e yxypo vembepi oipoká vy ojapo ajaka, yvyra jovy tim re ojapo mba´emo vy nda omyin va´e ka´aguyre ikuai va´e ojapo: akuti, jaixa, uru kure´a, xivi, timbó boi, nda´i joapyi ojejapoa aguã ojekuaá ojeopity aguã vy nonhembojaru´i reve vy virami ojere raá vy nda omo´ã gue heravy vy nda hembiapo oikuaá ouvy ve aguã py ju oin vy onhekontevem ka´aguy nonhemomyin. Ka´aguy he´yn rema dipoi mbavyky, mba´eta henhoin ka´aguy gui hae ha´e onhemo´arandu ymã guare gui possibilita afetar e transformar a população brasileira, ainda hoje mergulhada no preconceito da desinformação. O processo de colonização deixou sequelas demasiadamente profundas na estrutura da sociedade não indígena. Através da educação e da arte, enxergamos possibilidades de romper essas barreiras coloniais e ultrapassar os campos da imaginação, curar a mente moldada e limitada na aparência. Porém, a educação brasileira hoje enfrenta sérios desafios. Na verdade, não somente hoje, há um tempo estamos observando o quanto a educação vem sendo limitada no seu compromisso com o próprio educar. Porque, quando olhamos o currículo das escolas, percebemos que muitas vezes a escola se propõe a ensinar conteúdos que são vazios de sentido para a vida que, principalmente nas cidades, gera competitividade, coloca às vezes como lema “ser alguém na vida”, significa acessar o mercado de trabalho e ganhar dinheiro. Já a educação escolar indígena não prioriza esse acesso ao mercado de trabalho, muito menos a competição, mas uma escola que fortaleça os nossos territórios, que coloque em primeiro lugar o respeito ao próximo, não só aos humanos, mas a todos os seres. O respeito com a floresta, com o rio, com as árvores, as abelhas, as formigas. Então, a educação brasileira tem deixado muito a desejar nesse sentido, porque ela não tem contribuído para formar cidadãos realmente conscientes, que respeitem a diversidade que existe em nosso país. Somos um país diverso, com mais de 300 povos, mais de 200 línguas sendo faladas, mas muitos desconhecem. Para os povos indígenas, a natureza é quem dá sentido à vida. Tudo em seu equilíbrio. Como uma teia que nos envolve e nos direciona, nos mostrando o caminho de luz a trilhar em busca de sabedoria. Cada sinal que recebemos tem um significado para nossa vida. O canto de um pássaro pode indicar algo, os trovões que passam são sinal de que algo está para acontecer, as formigas no meio do caminho, as formas das nuvens, a direção do vento, enfim, muitos presságios nos são transmitidos pelos sinais da natureza, que com sua delicadeza e sabedoria vai nos guiando e nos ensinando como bem viver em equilíbrio, respeito e harmonia. Toda essa complexa crise de relações que os humanos hoje estão vivendo nada mais é do que o reflexo de séculos de uma caminhada mal feita, pois antes todos haema onhembo pytá oikuaá heravya rupi peteim imbavyky va´ema ndopyta kuaai vy hembiapo ayn guigua tembiapo mongueta há’e joguero’á vy imbaraete vy pavem nhande kuery pe. Peteim nhemityre ma, oiko grã mboae ha´everei va´e otyty kuyatia para, ha´e gui ojeguaa va´erupi gua, onhevã anga jaukapy, onhembovai ha´e nhonhemboekovia va´e nhade guery meme, vyma oejauka ombavyky marã mba´emorei yjypyarupi gua, vyma ombo´a´eve ojou ojapo pavem ayvurupi vy pindorama py, va´eri ayn peve oike ndojoayvui ha´e oikuaá vye yn. Yvy mboe gui oeja va´e gue gui rive omokaremba vyma oike heravy vy omopu´ã jojorupi guarã rami nhaderami guarei kuery nhembo´ea imbavykya, oexa ramoma vy ojejauka omondo aguã py oin omongorá yvy mboegui ou va´e guery mba´e onhokuã heravy virami onhemoakã ikatureia rupi, mamonguerá ha´e ojapo ijapya ha´e onhembo jekuaá Va´eri, nhembo´ea pindorama py ayn nhoa´ã nhembojarua rupie yn vy. Va´eri anhetem ayn, guevema roexa heravy virami oin nhombo´ea ou oiny onhemboapyare oin oiny koó ha´e oguereko gupive omba´eae nhembo´ea, nhama´em maramo ojerereraá nhembo´ea, roikuaá potá ramo mbovy guemapa nhembo´eaty omoin nhanembo´e mavy hetarei va´eri hugue aá´evyrima ko nhadereko, tentãre ma vy nhain vy, joegui nhain porã reivexe, amoguepy nhamoin ayvu vy” jaiko amongue tekopy”, ha´e va´ema jaiporu kuaá aguã jurua rembiaporupi vara ipireva´ere jajekorova aguã ha´e nhande nhembo´ea pygua ma nhanandereroayvui ha´e ramiavã ko jurua mba´eaporupi ndajaikoi nanhanhokuãi nhaderupive gua, nhanhembo´eama nhanemombaraete yvyre jaikoa, pemoin tenondere nhemboete nhanderupive gua, nhade tekoaxy´i kuery anhõ he´yn omyin ma va´e guive ka´aguy, yy, yvyra, heiru, tay. ha´e va´ema nhanhembo´ea pindorama oeja heta jaipotaá rami vy nhaendu, ha´ema ndoejai ouvy nda tentãre gua guery jepe oikuaá heravya aguã, tomboete opamba´e ikuai´i va´e apy nhadeyvy py. Nhandeyvyrema jojo ramigua he´yn vy, mbopy reta nhade kuai, mokoin reta ayvu jareko va´eri heta ndoikuaai. Nhande kuery pema, ka´aguy nhadereraá tekovepe. ha´e javi ijoja ouvy. Há’e vyma kya onhemoigo heravy vyma peteim rupi jaá, oejauka tape omoataendy tape ogueru aguã mba´ekuaá aguã. Rojopy nhavõ peteim kuave´em orerekorã py. Há´e guyra´i nhe´en voima omombe´u tekorã, hyapú va´e voi omombe´u avi mba´epa oikorã, tay´iguery tape mbyterupi oguata, marã mipa 50 51 viviam na natureza, com a natureza e da natureza. E hoje as pessoas se desinseriram do meio, usam e abusam da natureza para sobreviver ou aliviar seu ego de consumo. Muitos esquecem que fazemos parte dessa imensa teia, que não deve e nem pode ser separada. O ensinamento e a força que as artes indígenas trazem para o mundo são de atravessar portais e permitir uma reconexão com os seres da floresta. Muitos dos desenhos, das formas, dos cantos produzidos são materializações do mundo dos espíritos, que precisam ser escutados e respeitados. Atualmente, existe uma crescente demanda por parte de instituições de arte e museus no Brasil e no mundo por adquirir ou expor arte indígena. Com isso nos vemos frente a muitas questões com implicações éticas, espirituais, políticas e estéticas. Pois a valorização da visão ocidental da arte, que restringe o exercício da criação enquanto atividade específica, separada das demais camadas da vida cotidiana, é conflitante e contrasta com as práticas dos diversos povos indígenas, que vivem e entendem a arte de forma coletiva. Se faz necessário repensar os acervos e os diálogos que se tecem nos espaços onde se propõe estabelecer comunicação com as artes indígenas. Portanto, como os grãos germinam, brotam e florescem, as pessoas precisam conhecer suas origens, a fala que habita em cada semente. Todo ser que consegue escutar a voz do silêncio ouve as suas verdades. Há uma ponte existente entre o conhecimento visível, letrado e o saber que habita nas profundidades dos cantos, danças, trançados e em toda a complexidade da arte e espiritualidade dos povos ancestrais. Porém é necessário romper as barreiras da aparência. Porque enquanto alguns ficarem se baseando e presos no não ser das coisas (aparência), jamais chegarão à dimensão maior do verdadeiro conhecimento, da sabedoria dos que sabem e conseguem sentir sua própria sombra. arai oiny, marã katypa yvytu, oiny, heta ma oin jaikaá potaramo oin onhemombe´ua ko ka´aguyre, ha´eae voi jepe onhemoyvyin´in in´arandu ouvy vy ojereraá nhanembo´e heravy teko porã ijoja ouvy aguã nhemboete tory’ia rupi. Ha´e javire ma jojoarupi vy tekoaxy ayn ikuaia rupi rive´ima joguerá heravy vyma oin ko nhadeyvy rupare inhymã are vyma jeguata vai, va´erima gueve guare gueryma ka´aguyre ikuai porã raka´e, ka´aguy reve ka´aguygui. Ayn ma nhade guery nhanhemombyry mbytegui, oiporu ombojaru ka´aguy oikove vy nda onhembo´yve okarua aguã rami oin vy. Hetama hexarai va´e ha´e joapy rima nhain kya tuvixapy, nda´e veima nhanhemombyry aguã. Teko mbo´ema oin mbaraete nhande kuery rembiapo ogueru yvy javere omboaxa onkem vy omboaxavy peteim japyxaka ka´a guyre gua omyin va´ere. Hetama a´anga, virami, ijykere oin vy hembiapo ombojaity vy yvy javere ojapyxakavy, oikontevem oendu nhemboetea. Ayn guima, oiko peteim okakuaa heravy va´e vy nda tembiapore opena va´e guery ymã guare omoin porãty py Pindorama ha´e yvy javere ojopy onvenoem nhade guery mbavyky. Kova´erema roexa heta tenondere nda´eveirei hekoe reguare vygua, japyxakaá, mburuvixa tekore oikaa pota va´e. Omboeteve texapyxó yvy mboe gui ou mbavyky, ha´e va´e ma ojoko ojeporuka ombo tuvixa tembiapo peteim rami vy oja´o tekorã guivy ma oikoarupi ogueraá, haxyarupi ojexa vy oiko kuaá heravy vyma pavem nhande guery pe, ikuai va´e oikuaá mbavyky ha´eramivy joapy ikuai. Ha´evy nhekontevem jejou nhemngueta tembiapogue ha´e jogyueroayvua omoatã mamorã ombo´a´eveapy vy joapy oin vy nhade guery tembiapo reve oin. Ha´evyma, mba´emo rami henhoin, hoky´i ka´a guyre, pavem ma toikuaá magui pa jaju raka´e, ayvuma opyta peteim mba´emo ra´yin rami vy. Pavema japyá rei ramo oendurã ayvu okyrin rin vy, pendu anhetem guare. Nhemboaxaá oin arandu oin arupi vy ndajaexai, kuatia para ma jaikuaá ha´e opyta yguyrete mborai, jeroky, jepoka ha´e javirupi vy Ikora onhembojekuaá rupi vy. Mba´ere nda´u amongue opyta mavy onhemboty ha´eae vy opamba´erami vy (onhembojekuaá) ha´e vyrima novãein rã nda´i joapyia voi tuvija anhentem gua ara kuaá revy vyma oikuaá ha´e oendu kuaá o´ã arandu voi. ÑEWÍEDA: THE ANTHROPOMORPHIC GET ALONG GANG1 1 • ALGO COMO “ARMANDO O MOQUÉM A TURMA DE ANTROPOMORFIZADOS SE DÁ BEM”. ÑEWÍEDA: THE ANTHROPOMORPHIC GET ALONG GANG1 1 • ALGO COMO “ARMANDO O MOQUÉM A TURMA DE ANTROPOMORFIZADOS SE DÁ BEM”. 52 53 Não me importo: vou contente toscamente improvisando na minha frauta de barro. Ha´eramo tein ha´e javive ojojairei, ndogueroiaai kova´e nhemombe´ua xeuare, Tovete katu: avy´a reve aata ha´e ramove ojapo nhaixa´a he´y aguerupi Xee mimby yapo guigua reve. (BACELLAR, 1998, P. 23) (BACELLAR, 1998, P. 23) – – O mel entra em tudo que é doce, entra em tudo para que fique melhor na vida: acalmar nossos espíritos, tirar energias negativas. Vestir o mel é uma forma de se blindar das coisas negativas que nos rodeiam. Estar banhado com o mel é estar com a roupa do mel – fazer com que nosso corpo e o mel sejam um só. Primeiro porque a abelha é brava, guerreira e, ao mesmo tempo, doce, como são os povos indígenas. Ei oike opa mba´e hen´en va´e re, oike ha´e javire oin porã aguã teko py: ombopiro´y nhande nhen´en, omboi mbaraete porã ein va´e omoi ei ha’e va´e ma ha´erami mavy overa mba´emo porã ein nhande mbojere. Nhain ajau ei py mavy ei hao reve ain – ojapo aguã nhande rete ha´e ei petein rami aguã. Jipy ma kavy ma ivaija, xondaria ha´egui, he’i, mbya kuery rami há´e. (TERENA, 2021, P. 31) (TERENA, 2021, P. 31) E mesmo que toda a gente fique rindo, duvidando destas estórias que narro, MELIPONA SCUTELLARIS: CONSTRUÇÃO DE COLMEIAS E NÃO APIÁRIOS EIRU PINDORAMA PYGUA: OJAPO HETARÃ EIRU YVYMBOAE PYGUA RAMIN HE´Y As linhas que cachoeiram a partir deste ponto trazem em suas águas memórias que carrego comigo até o céu desabar. Aos mestres Feliciano Lana e Higino Tenório que ensinaram a olhar para as águas e nelas singrar até o mar. O desaparecimento do narrador com o nascimento da modernidade ocidental ainda não chegou nas aldeias do Rio Negro, me desculpe Walter Benjamin. A capacidade de intercambiar experiências e as transformar em flechas que perfuram os ouvidos ainda é viva em nós. A narração é o mel que veste e articula uma nova comunidade de ouvintes: a arte ocidental. E como mel, pode ser alucinógeno, veneno ou cura. Dependendo da abelha que o vomitou nas cápsulas do favo. O artista-abelha que está sendo colocado em colmeias pelo Brasil, sendo nativobrasileira, não tem ferrão. Produz mel medicinal que ajuda a curar as feridas e queimaduras coloniais, a partir de suas próprias Inxã rupi yakã xyry, oou arandu kue´i ma jaraa xereve koo yvypy re iguepeve. Huvixa Feliciano Lana ha´e Higino Tenório ombo´e yy re oma´e aguã nhama´e puku ravy yyguaxu re omombe´u va´e okanhyague oikoague aynguigua kuery yvy mboare. Novaein teri tekoa Rio Negro py, xapy´a vy Walter Benjamin. Ojekuavee rovy nhemboekoia oaxague ha´e gui ojapo aguã hu´y oaxa aguã ijapyxa re ha´e tein oikove teri nhandere. Omobe´u va´e kue ei onhemonde ha´e jopive gua. Oendu va´e: mba´evyky yvy mboaeregua. Ha´e ei rami, ha´ve avei nhanemoakã avã, ha´e omoguera a. Mava´erã eiru ombojevy ei rentã ryru py. Eiru bavyky kuaa omoi eiru jeroguata pindorama rupi, pindorama rengua ete yvy rupa, re ndoguerekoi ipopia. Ojapo ei moã rami oipytyvõ omoguera aguã okaiague yvy mboaere regua kuery, ha´e onhembo pereagui. Ivoty omomendaa ka´aguy Ñewíeda: the anthropomorphic get along gang1 Denilson Baniwa 1 � Algo como “armando o moquém a turma de antropomorfizados se dá bem”. Ñewíeda: the anthropomorphic get along gang1 1 � Há´evy virami ‘’omo nhexyrõ moquém joapy gua joekore onhembo´e va´e kury ma joguero vy´a. cicatrizes. Polinizando uma floresta inteira que agora é descoberta por curadores, galeristas e críticos. Sem ferrão, artistas-abelhas defendem-se mordendo seus predadores. Devorando o outro para que exista a possibilidade da progênie. Em comunicação com outras abelhas, criam narrativas que Benjamin amaria escutar. Operárias de sua comunidade, abrem caminhos para outras abelhas. O devir do mel contra a cana-de-açúcar colonial. Abelhas como Feliciano Lana, Higino Tenório, Gabriel Gentil juntam para em memória construir uma história que os artistas indígenas contemporâneos possam vestir de mel a História da Arte. Como Luiz Bacellar, mesmo que toda gente branca ria e duvide das histórias que narramos, não importa, improvisaremos em nossas frautas de pã. ha´ejavi ayn gui oikuaa nhomongueraa gui, mba´vykyro oin va´e iraja, ipopia reve´y eiru ba´vyky kuaa kuery ojepyvy oixu´u hovaigua kuery. Joe okaru vy ikuai aguã ijupe ramo ojee regua kuery ikuai ve aguã. Amboae kuery reve oje´a ramo, ojapo omombe´ua va´e Benjamin oayu va´e rã. Mba´eapo va´e ojeegua rery, oipe´a tape amboae eiru kuery pe. Ei jojorami he´yn heéa takua re´en ku´i kue yy mboae regua rovai. Eiru rami Feliciano Lana, Higino Tenório, Gabriel Gentil omboje´a arandu kue´i ojapo ymã kuaa kue´i mba´vyky kuaa ayn guigua kuery nhandekuery onhemonde ei py nhemombe´ua py mba´vyky. Luiz Bacellar, aheramo tein pave jurua ojojai ha´egui ndogue roiai mobe´ua re tein Nhemboeteve, jekuapota ranko houa rami mimby pã. DONOS E DUPLOS: QUER LAMBER O MEL, ME COMPRA FLORES ANTES IJKUERY MOKOIN: OERE XE EI, XEVY EJOGUA´I RANHE YVOTY Vamos anotar essas questões para o momento. Falamos aqui do tempo em que tudo poderia ser tudo. Falamos de um tempo em que as coisas mudavam de forma sob outras circunstâncias. É desse tempo que vem Makunaima. Aliás, ele vem de um tempo anterior. Ayma nhambopara ayn varã. Nhandeu apy ara ha´e vy ha´ejavi rangue ha´ejavi. Nhandeu ara reve oguerovaa mbaexa pa amboa´e. nhembojere jepia kova´e ara oou Makunai. Ha´é gui, ha´e oou amboa´e aragui. (ESBELL, 2018, P. 21) (ESBELL, 2018, P. 21) É preciso entender que quando se trata de índio2 não é de bom tom entrar na roça alheia e pegar uma fruta sem pedir permissão ao dono da plantação. Cruzar a fronteira do parentesco e “caçar nos territórios de um chefe vizinho pode levar a complicações de ordem geopolítica” (Cesarino, 2010, p. 149). Então qual seria o motivo de ter aceito a arte ocidental entrar em nossas malocas e dela roubar objetos e decoração para construir turning point na carreira de diversos artistas brancos, ao ponto de mudarem a própria História da Arte? Ainda é preciso compreender outros aspectos da arte indígena. Enquanto na arte ocidental o autor da obra é o próprio artista, esta afirmação não funciona no mundo indígena, pois em vários casos, o Jekuapota jaikuaa aguãpy ha´erami opyta nhande vype2, daevei jaike aguã roka py ha´egui jajopy yvyra´a nhamporadu he´y re ija pe. Oaxa aguã mboja´o nhanerentara kuery yvy raky kue oo huvixa yvy´i ma oguera´a haxy ve tembiguai teko jogueroau are (Cesarino, 2010, p149). Havy mbaexatu mba´eixa pa oikoa ojeja mba´e vyky yvy mboaere oike aguã nhande oin ha´e gui imonda mba´emo rei ha´e ooguy ombojegua ojapo aguã ary ovaa reguare oguataa regua ba´vyky kuaa kuery jurua kuery, opyta aguã ojapo imba´e vyky kua va´e? Há’e tein oinkonteve oikuaa ve aguã amboakue mbaevyky mbya mba´e. ha´erami reve amboae yvyregua 2 � Aqui uso “índio” como provocação. Poderia usar indígena, originário, entre outras formas de apresentar os povos que originalmente ocuparam este território. A palavra pouco importa quando o objetivo maior é a retomada. Aliás, em retomadas, quanto menos identificados estivermos, menos chances de retaliações. 2 � Apy jeporu “nhande va’e” Mba’eta nhapenarei. Jaiporu rangue nhandeva, apyguae amboae rami rei nhanemoenonde xerentarã kuery pe apyguae vy nda apy yvyre. Ayvu ma kyrin ma mba’eyn mba’ere nda’u jarojevy apy vy ma jaru. Va’eri nda, jaruju jevy, mava’eve ndoexai vy ma vy roiko mavy, opareima vy nda jaupiapy 54 55 dono da arte não é o artista que a reproduz em tela ou corpo. Existem vários donos da arte, a Jiboia por exemplo. Em um evento realizado no Rio de Janeiro, o mestre Ibã Huni Kuin3 foi questionado sobre como ele havia aprendido a desenhar e pintar, se ele havia tido um professor de artes. De pronto ele respondeu: quem me ensinou foi a Jiboia. Sem entender nada, a pessoa que havia perguntado insistia em querer saber quem havia lhe ensinado a pintar. E a resposta era a mesma: quem me ensinou a pintar foi a Jiboia. Estabelecer filiações, influências, escolas, tradições são procedimentos que organizaram a disciplina e, apesar de todas as tentativas de repensá-la em termos menos evolucionistas e canônicos, o “demônio das origens” sempre permanece à espreita. [... ] O exercício de refletir a respeito desses modos de pensar, compreender e criar, alheios àqueles que a disciplina da história da arte naturalizou, é fundamental para seu processo de autocrítica, de provincialização (em oposição ao movimento de globalização), descanonização. (PITTA, 2021, P. 39) Ainda não cabe ao Ocidente compreender “saberes” que não passem pelo aval da Academia. Por outro lado, a pragmática do mundo branco lhe dá direito à Academia para entrar em nossas roças e delas roubar pequenos cachos de arte que encontram pelo caminho, a isso dão nomes de pesquisa, coleta de dados ou prática artística. De modo que cabe aos artistas indígenas uma resposta, que veio da captura da arte ocidental para que, como espelho, o Ocidente se reflita e crie uma crítica das práticas coloniais que atualmente ainda são aceitas institucionalmente. A arte ocidental, mixada a partir de práticas culturais indígenas, torna-se o duplo do artista indígena. Onde o dono da arte e o artista reelaboram a resposta em forma e 3 � Ibã Huni Kuin (Isaías Sales) é um txana, mestre dos cantos na tradição do povo Huni Kuin. Ao tornar-se professor na década de 1980, aliou os saberes de seu pai Tuin Huni Kuin aos conhecimentos ocidentais, passando a pesquisar na escrita a sua tradição junto com seus alunos. Ingressou na universidade (Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, AC) em 2008 e criou o projeto “Espírito da Floresta” visando, com seu filho Bane, pesquisar processos tradutórios multimídia para esses cantos, compondo o coletivo MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin. mbavyky mbaé ae mbavyky japoá, kova´e ijeu anhente guarupi ma mbya rentã py ndojopyi, hetá nhomboyurei apy, mba´emo re, ombavyky va´e ma ndojapoi ojeapo ajukue moata mbyre re ha´e tete re. Oikoma hetá mbavyky. Mboi guaxu reguã gua´u. Peteín nhemboaty Rio de Janeiro py, huvixa Ibã Huni Kuin3 oo ijeu ha re´i mbaeixa pa omboxekua rangã ha´egui omopyntã áre, mbavyky regua. Haé vy ma ije´u xembo´ete va´ekue ma mboi guaxu. Mba´eve ndoi kuaai tein mbara ha´eva e oporandu va´é kue oporandu veju oikua aguã mova´epa ombo´e omopyntã aguã. Ha´eramiae: ha´e kuerami haeju ijeu mboi guaxu haema xemboe amopyntã aguã. Nhanhemoiru vy omboeuka aguã nhandereko mbo´e i rupi vy ojapo nhembo´ea, opaixa ma onhenha´ã nhanhemogueta ve mbeguei ve rupi jererua monhepyrun mo´ãmba, ha´eanhã monhepyrunvy kova´e va´erã raka´e. [... ] vorenha´ã nhemonguetavy nhemboete mirami nhemogueta, ha´e vy oikuaa heravy vy ojopoi, nhomoirun heravy vy ha´e nhambo´aje nhemobe´u aguã py mbavyky onhembopyta, ha´ema anhenteguã nhemboguata jeuarei rupi, jaiko´a yvy rupi(ha´egui guata yvy javere ), omboyraija rive (PITTA, 2021, P39) Ha´erami tein amboae yvy regua kuery oikotevea ‘’arandu’’ ndovaxai va´e omboa´eve rapytere. va´e ri tein, oike aguã nhande roka re ha´egui ha´e re imonda kyringue´i mba´evyky japoa ojou henonde re, ha´e omboery, mba´emo jae kaa, omboaty mbavyky japokua. Ha´erami ma ópa mbya mbavyky japokua kuery re, ha´e vyma oou oguera aguã mbavyky amboa´e yvy mba´era, epeko rami, amboa´e yvy re o ma´engui oikuapa gui iraja yvy mboae py guaguery omboete ojapo petein tein nhemboaty. 3 � Ibã Huni Kuin (Isaías Sales) oporai’i va’e, mborai ruvixa Huni kuin rekopy. Ojevy vy nhombo’ea py 80 py, nhomuirum vy ijarakuaa guu reve vy Tuin Huni Kuin yvy mboaegui ogueru oikuaa aguã, oikua xevevy oaxaá kuatia parapy guekopy vy joupive. Jogueraa nhembo’ea ve aguã py (Univrsidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, AC) há’e 2008 nhepyrum Mba’ea poa Nhe’e Ka’aguy re oma’em, gua’y reve Bane, nhemboeve vy jekuapota vy nhoverõ mombe’u ojekuaa va’e rupi gua vy oporai, joorami vy MAHKU – Omyin Mbavyky va’e Huni Kuin. conceitos que rompem o que é tradicional e contemporâneo. Ao artista branco cabe suas práticas e se ainda insistem em serem “influenciados” pelos índios, que agora o façam em parceria, não mais do lugar de salvador da cultura indígena. Do artista que dá voz e silencia. ELE É DESCENDENTE DE JAPONÊS? ABAIXO DOS TRÓPICOS TUDO É CÃO DE COMPANHIA É muito comum as pessoas quando querem se aproximar de mim perguntar: você é japonês? Por acaso você não é irmão do Tanaka? Diante de minha negativa o estranho continua: Se não é japonês, embora pareça com um, só pode ser chileno, boliviano, peruano. Usted habla español? E novamente nego a pergunta e o meu interlocutor parece ficar assim meio, meio desnorteado. Ora se você não é japonês e se você não é chileno, boliviano, peruano então você só pode ser índio. (MUNDURUKU, 2020) A presença indígena na sociedade foi tão invisibilizada que ainda não somos reconhecidos dentro do mundo por aqueles que se acostumaram com a ideia de que lugar de índio é na floresta, bem longe da modernidade. Por não nos caber a posse de ferramentas que nos foram negadas, demora um tempo até que nos reconheçam capazes de estarmos em lugares que antes não pisaríamos. O artista indígena carrega o fardo do ineditismo, do representar todos os povos indígenas do mundo (mesmo que ele não consiga), cabe a ele responder a todas as perguntas para as quais a arte ocidental ainda não tem respostas. É exigida a famigerada resiliência. Não deveria. Até que nossa presença seja evidente ao ponto de não sermos confundidos por outros estereótipos raciais, a mim e aos outros artistas indígenas que vestem seus duplos antropomorfizados apenas deveria caber o protagonismo de, como ñewíeda4, construir a sustentação para que o moquém esteja firme, e nele assar o banquete antropofágico que trazemos em nossas mãos, ainda que seja de dois em dois anos ou em centenários. 4 � Ñewíeda, em baniwa a armação feita de três varas montadas em forma de triângulo para sustentar o moquém. Mba´vyky japoa amboae yvy regua kuery, ha´e gui mbya reko, ojejapo aguã mokõin mbya mbavyky. Ha´evy mbavyky ja ma ojaapoveravy omobeu aguã haveapy omboi ba´e pa há´eregua ete guá ha´egui. jurua imbavyky va´e re oin imba´e nhembo´ekua há´etein onhea ãn reí “ojeko mbo´e aguã” mbya kurey, ayn ma ojapo joapy, va´eri nda´evei ha´evaé gueraá jepeá mbya reko. Ha´e mbavyky ome´en ayu ha´egui omo kyririn. HEXA PIKUA VA´E REGUA KUERY PA? YVY VEKATY PENTEIN HENDA PY OJAPO OGUEROAYU ARÃ JAGUA PE Ha´e rami riae xereve onhemboja xea va´e opo randu aguã: ndee nha´ã hexa pikua´i regua? ndee nha´a tanaka regua? Ndajouporãi iare ae´xa ty he´y ijeutema: ndee hexa pikua´i va´e he´y riramo, yvy mboae kuery ramirei tein, chileno, boliviano, peruano. ndee nha´ã ddeu espanhol py. Ha´e ramõ anyin ha´eju oporanduague pe ha´e omombe´u porã ve va´e oguatariverei va´e. kua nde´yma hexa pikua´i ha´e vy ha´e ramo ndee ma chileno, boliviano, peruano ha´e´yn ramo ma dee nhande´i va´e ju reiko Nhande kuery ko jurua kuery reko py ramo nhamovyyin vaipa vy ha´e kuery oikuaa rupi vy oexa´a ha´e kuery nhande yvy rupa rupi vy ma ha´e kuery ogueroayu nhande kuery manje nhanderekoa ka´a guyre, mombyry ayn guigua gui ramo. Ha´e rami vy nhande mboyke koo jaiporu kuaa va´e gui nhandererova xe vy, hare vaipa hagui maema jaikuaa heravy aguã py ma nhavae nhavarama jaikuapotarã varã jaikoaty rupi he´y guive jaiko. Nhandekuery mba´vy ky kuaa va´e ojaxei heruvy vy, jypy ramo va´e mirami ju ogueru, vy pavê mba´e yvyjave re nhande (kuery pyju opyta ha´e vy rima ipoyi), ha´e vy rima onheporandu va´e ra ha´e javi re vy mba´vy kya yvy mboae pygua ayn peve ndojoui omombe´u aguã. Ombopytu raxy ha´e ndojevy kuavi guive. Ha´e rami he´yn rangue. Jaikuaa porã peve rangue ha´e rami vy nhavaen aguã jekorea he´y aguã py nhain aguã ha´e rami vy py nhananemboykey aguã py nhain, xee ha´egui amboae mbya imbavyky va´e omoin imba´e mokoin gue onhemboape ha´e rive 56 57 REFERÊNCIAS BACELLAR, Luiz. Frauta de Barro. Quarteto / Obra reunida. Organização e estudo crítico por Tenório Telles. Manaus: Editora Valer, 1998. BACELLAR, Luiz. Sol de Feira. 3 ed. Manaus: Editora Puxirum, 1985. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. In: CAPISTRANO, Tadeu (Org. ). Benjamin e a obra de arte: técnica, imagem, percepção. Tradução: Marijane Lisboa e Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. p. 11-42. rãngue opa re, mba´eixa ñewíeda4, ojapo onhembaraete mba´erã Moquém oin hantã aguã, ha´egui ha´e va´ere oexy ha´e jareko va´e nhandepopy, ha´etein ma mokoin mokoin ha´e´yrã hetaa re. PETEIM RUPI VARÃ BACELLAR, Luiz. Frauta de Barro. Yrundy / Nhembiapo Joapy. Nhemoirun Nhembo’e iraja por Tenório Telles. Manaus: Editora Valer, 1998. BENJAMIN, Walter. O Narrador: Considerações Sobre a Obra de Nikolai Leskov. Obras escolhidas I. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2012. BACELLAR, Luiz. Kuaray mba’emo venoenoa. 3 ed. Manaus: Editora Puxirum, 1985. CESARINO, P. N. Donos e Duplos: relações de conhecimento, propriedade e autoria entre Marubo. Revista de Antropologia, v. 53, n. 1, 2010, p. 147-197. BENJAMIN, Walter. Tembiapo mbavyky javeramo monhemonha. Benjamin e a Obra de Arte: Jejapokuaa, ojekua va’e, onhenhandua. Trad. Marijane Lisboa. Tadeu ESBELL, Jaider. Makunaima, o meu avô em mim! Iluminuras, v. 19, n. 46. Porto Alegre, 2018. FOLHA DE S. PAULO. Banqueiro José Olympio, à frente da Bienal, perdeu sua esperança com Bolsonaro. Disponível em: https: //www1. folha. uol. com. br/ilustrada/2021/03/ banqueiro-jose-olympio-a-frente-da-bienal-perdeu-suaesperanca-com-bolsonaro. shtml Último acesso em 18/07/2021. MUNDURUKU, Daniel. Japonês, peruano ou índio. 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JARDIM DO PENSAMENTO YVYRA GUYRE NHEMONGUETAA 58 59 Este meu jardim não tem muro, nem casas à volta, está disposto a crescer à medida que eu o atravessar, uma, duas, três, centenas de vezes. É um lugar? É uma fonte que comunica com o espaço? É um texto a ler? É o jardim que o pensamento permite? Maria Gabriela Llansol Com esta epígrafe quero iniciar uma pequena reflexão sobre as artes visuais contemporâneas dos povos indígenas, porque a imagem de um jardim selvagem, colhida na obra da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol (1931-2008), serviu-me mais ou menos de lanterna, desde o início de minha aproximação de terras indígenas. O que uma professora universitária branca poderia encontrar nas aldeias-florestas de signos que configuram as línguas dos índios? Digo línguas, usando o conceito semiológico do antropólogo Gersem Baniwa, que considera as múltiplas linguagens (visuais, sonoras, verbais) como aspectos de uma língua (a “pura língua” segundo Walter Benjamin? A que permanece, intraduzível, nas traduções?): Maria Inês de Almeida Assim, para os Baniwa é também o meio pelo qual se comunicam com outros seres do mundo e com o próprio mundo, uma vez que, para eles, a comunicação entre os seres é o segredo para o equilíbrio do mundo cósmico. Escassez de caça, por exemplo, pode ser resultado de uma falta ou uma ineficiência de comunicação entre os pajés e os espíritos superiores das caças. Mas essa comunicação com o universo não é exclusividade dos pajés. Todos os humanos, segundo as cosmologias indígenas, devem permanentemente manter essa comunicação. A comunicação, a linguagem e o diálogo são, portanto, essencialmente da ordem espiritual e transcendental. (…) Diferentemente do pensamento evolucionista, os povos indígenas concebem as línguas como parte inerente ao processo original de criação. A capacidade de construir uma língua é um dom recebido no processo de criação do mundo. Cada povo recebeu, em potência, uma língua de comunicação. Mas a língua indígena é um patrimônio em permanente construção, manutenção, mudança, aperfeiçoamento, atualização e complementação. Pode-se dizer que, Koa’ema Yvyra nhemonguetaa, a ndaipoi ojejoko va’e rã Kova’e oiko iporã va’e, nin katy ojere rupi oin teim, ndaxereko pityi axa ramo jave, mokoi, mboapy, heta kue teim. Oīa ty ae ma? oīa gui ae omoexaka mba oia py? Peteim kuaxia nhemboayvu aguã pa? Yvyra nhemonguetaa ma oeja? Maria Gabriela Llansol Kova’e mboypy nhexyrõ ma vy anhepyrum tá mba’exa pa tembiapo jaexaa aguã ayn nhande kuery rembiapo, Maria Gabriela llansol ( 1931-2008) ombopara va’é kue gui. Xevy pe omoexakã rei ve, tekoa rupi anhemboja aiko jave. Mba’exa tu xee yvy po kuery regua anhombo’ea rupi gua aexa rã tekoa- ka’aguy re oī va’e ayvu? Gersem Baniwa mby’a nhemoexakaa rupi rei há’e ma tekore opena va’e oiko, ha’e heta ayvu oīa oexauka( onhendu va’e ayvu, ta’anga ojejapo va’e) kova’e ma nhandeayvua meme rami ae( ayvu anhetengua) Walter Benjamin mba’e’ia rami? Kova’e ayvu namboekovia aguã amboe ayvu rupi haxy rei ma nambopara? Peixa vy ae ma Baniwa kuery nhe’ē marae’y va’e reve jogueroayvu, há’e gui ko yvy vai re ikuai va’e reve avei. Kova’e ayvu nhendu rupi ma nonhemombe’ui Peixa vy ae ma Baniwa kuery nhe’en marae’yn va’é kuery reve jogueroayvu há’e ko yvy vai re ikuai reve avei. Kova’e ayvu ma nonhemobe’u´i mava’e ve pe ara rupa jeko mongueta va’é kue. Ayn rei nhi’ã jeporaka’i aguã amongue py rive ma, karai kuery noporandu vei ma mymba’i kuery ija ete pe. Kova’e nhe’en neporandu ma karai kuery pe anhoe’yn. Nhande kuery avei nhaporandu. Kova’e ayvu ma jareko heruvy. Jypy’i opamba’e nembojera jave voi. Peteim teim ayvu oguereko vy ma, peteim rami oveno’ã aguã. nhande kuery ma oayvu ae oguereko, há’e gui ae avei onhemoī porã ve ovy, aý gua rupi guive ombojoapy eravy oiny. Pavē nhande kuery ayvu rupi ma nhe’en kuery ayvu gui ae. Yvy rupa reko onhemoim porã ve ovy, há’e rami ae avei nhande ayvua.1 1 � BANIWA, Gersen Luciano. Ayvu, nhembo’ea ma ha’e javire rupi vy oarõ reima vy nda indígena. Revista de Educação Pública, v. 26, n. 62/1 (Ara pyau mbytere. 2017) Cuiaba re. EdUFMT, 2017, p. 298. segundo algumas mitologias indígenas, o mundo é resultado de um processo contínuo de comunicação dialógica e dialética dos seres criadores e criaturas. O mundo está sempre em construção e, junto, as línguas.1 Um jardim selvagem é onde as ervas daninhas, as medicinais, as comestíveis e as simplesmente belas se encontram numa harmonia invisível para olhos ocidentalizados. Enxergar aldeias indígenas, atravessar as fronteiras de nossa desgraçada e sofrida civilização urbana, entrar na floresta de signos, de tão difícil leitura para forasteiros, será a condição sine qua non do pensamento no Brasil, esse país sempre fragmentado de muitas línguas? Sem o exercício da tradução impossível, sem o contato com mundos irredutíveis à língua portuguesa, acho que não haveria nenhuma literatura ou arte brasileiras. Pensemos então na grande revolução imagética que constituem as mirações da ayahuasca e os yãmĩy do povo Maxakali. Existentes-não-reais, seria o termo llansoliano para essas virtuais figuras dos mundos indígenas. Figuras que resistem ao lugar de “personagens”, nos pactos ficcionais de uma civilização que a tudo assimila e reduz ao cinza do realismo — este modus operandi que joga as obras de arte no ethos judaico-cristão: o homem, imagem e semelhança do onipotente Deus, a quem este deu a prerrogativa de inventar cópias mal ou bem sucedidas. Ao reverso desse humanismo totalizante, os indígenas criam figuras, em suas obras, que entram no estético convívio como vivos no meio de vivos, sem hierarquias. Com as obras que os indígenas expõem na cidade – sobreimpressão textual da aldeia no mundo urbano e moderno – chegam as línguas dos povos, aquelas que devem ser desdobradas e lidas. Assim, pinturas, esculturas, filmes, desenhos, fotografias, que se apresentam na contemporaneidade como manifestações indígenas, a meu ver, deveriam ser vistas como irrupção de mundos com suas línguas, intervenções bárbaras. Estética orgânica, marginal e, à sua maneira, épica. Vozes e paisagens das aldeias chegam às cidades para anunciar uma boa nova: humanos selvagens resistem no jardim que o pensamento permite. 1 � BANIWA, Gersen Luciano. Língua, educação e interculturalidade na perspectiva indígena. Revista de Educação Pública, v. 26, n. 62/1 (maio/ago. 2017) Cuiabá, EdUFMT, 2017, p. 298. Moã porã ikuai va’ea rupi nai maraim oinya py yvy pó kuery oexa aguã rupi he’ý oin. Jaexa nhande kuery rekoa, tetã rekoaxy jaeja jaxa jaike javy aguã ka’aguy re, haxy rei ma jaiko rive’i va’é pe exakaa aguã. Kova’e onhemoim Sine Qua Non onhemomby’a apy Pindorama py. Apy ma heta ayvu oin? Kova’e ayvu rupi ma noronhea’ãin ramo haxy nhamboaxa aguã heta va’e kuery ayvu py. Ayvu anhetengua nonhemboaxai va’é rire aý kuaxia re noin rangue va´eri tembiapo regua ma noin rangue. Jaexa nhande gui arandu ve va’é reko yxypo ygua memoexakaa rupi há’e yãmīy maxakali mba’e. Nhande kuery reko py ma oikuaa oiko ve va’e, anhetengua va’e, há’e ndaipoi va’e. Heta va’e kuery ramie’yn há’e kuery ma yvy rupi gua rive oikuaa gueixa re rive’i oikuaa, Cristão, judaiko kuery oikuaa rami rive. Ava ra’angaa ma nhanderu ra’angaa rami ae, ojeko mongueta gue rupi ae iporã va’é há’e iporae’ý va’e avei. Nhande kuery ma hembiapo ojapo oiko ve va’e va’e mbyte rupi. Nhande kuery tetã py hembiapo oexauka aguã mba ’exa pa tekoa oin a tetã reko rupi mbyte rupi-pavē ayvu ovaē aguã, omboayvu vy ombojoja rei aguã rami, peixa rami jeguaa, yvyra gui gua, ta’anga, ta’anga pe’aa gui gua, jaexa aguã ojapo va’e kue oexauka aý ikuai va’e kuery pe, indígenas kuery gueko oexauka, aexa ramo mbovy ayvu oī vy ojejapo rangue mba’emo onhangareko há’e onhemokanhy he’yn aguã. Kova’e ayvu iporã tekoa gui ojereraa tetã re omombe’u nhemombyau poraa. Nhande kuery jaikove nemomby’a porãa oin a rupi. Maio 2013 py ma aru kuaxia para re ombopara va’e kue hembiapo va’e kuery ojapo va’é kue ekue nhembo’ea rupi gua, MIRA! aý gua nhande kuery rembiapo. Mba’emo jekuaa potaa oguerojeapo va’e kue ma Literaterras centro cultural UFMG, aa Iquitos re, São Tomás há’e Peva peve, há’e py ma aexa Pablo taricuarima Cocama regua: Brus Rubio Bora regua; Santiago Yachuarcani, ta’y Rember reve, há’e ta’yxy Nereyda Lopes Huitoto regua. Ngoo guekoa py avãe, xe kuaxia amboparaa vae kue arojeapo aguã rupi aiko jave. Kova’e gui ae ma xevy pe onhemoexakã aexa aguã mba’exa pa indígenas kuery rembiapo onhemboayvua. 60 61 Quando, em maio de 2013, estive buscando as obras dos artistas que participaram do projeto de pesquisa, ensino e extensão MIRA! Artes visuais contemporâneas dos povos indígenas, realizado pelo Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas Literaterras e o Centro Cultural UFMG, fui à região de Iquitos, especialmente Santo Tomás e Pevas, onde me encontrei com os artistas Pablo Taricuarima, do povo Cocama; Brus Rubio, do povo Bora; Santiago Yahuarcani, seu filho Rember e sua mulher Nereyda López, do povo Huitoto. Conhecer a casa, a aldeia, a família desses artistas, assim como de todos os demais que pude visitar na realização do projeto, foi uma experiência que mudou minha forma de ler as artes visuais indígenas. Depois de visitar a aldeia da família Yahuarcani, quando eu já estava embarcando no porto de Pevas, seguindo no rio Ampyacu para Pucaurquillo, onde vive a família Churay (do pintor Brus Rubio), Santiago me alcançou e me entregou uma folha de caderno escrita à mão com o texto que, transcrito e traduzido, foi usado como legenda de uma de suas obras (“El corazon de los varones del caucho”) na exposição ¡Mira! : Entre 1903 e 1935, ocorreram atos de barbárie que marcaram o presente e o passado dos povos indígenas. Durante mais de 30 anos, os indígenas padeceram o horror da morte, exercido pela Peruvian Amazon Company ou “Casa Arana”, um empreendimento que se constituiu para a exploração do caucho, ou borracha, nas selvas do Amazonas. Para exercer essas atividades, Julio Cesar Arana construiu um centro de coleta em La Chorrera, Putumayo, atualmente território colombiano, que foi a sucursal mais importante do empório caucheiro. Nesse lugar, a empresa liderou o genocídio em que mais de 40 mil (ou talvez 70 mil) indígenas de diferentes povos foram exterminados, simplesmente por não cumprir com a cota de caucho que lhes era exigida. Homens, mulheres, crianças e anciãos viveram esses anos sob ameaças, assassinatos e torturas: foram marcados a ferro com as iniciais C. A., da “Casa Arana” ; malocas inteiras foram incendiadas com indígenas em seu interior. Os pais eram acorrentados e encarcerados junto com seus filhos – os pais e as mães deixados morrer sem alimento, por inanição, enquanto seus filhos viam Yahuarcani avaē rire ma, aa ju ma Peva katy, yy Ampyacu rupi, Pucaurquillo, churay, ikuaia py (Brus Rubio rentarã kuey ikuaia rupi) Santiago ma xerupity vy kuaxia ome’ē ombopara va’ekue amboae ayvu py ojapo pa va’é kue (Corazon de Los Varones Del Caucho) MIRA omoin oexaukaa py. 1903 há’e 1935 py nhande kuery ojexavaia gue. 30 ma’etý re nhande kuery ojexavai omano okua py omboetavea rupigua oiko já ve Peruvian Amazon Compani “Arana koty” Amazonas py karamboe. Kova’e omba’eapo aguã rupi ma Julio Cesar Arana ojapo peteim koty la chorrera, Putumayo, ayn colombiano yvy rã rupi. Kova’e onhemoingo jave ma 40, 70, mil nhande kuery pe ojuka pa, joegua he’ý he’yn nhande kuery pe omomba. Omba’eapoatypy gua mba’e’ia rupi ndojapoi xei vy. Avakue, kunhangue kyri-ngue’i há’e xeramoi kuery pe ombojexa vai, ojuka avei, kuarepoxi py guive guete re ombopara C. A “Arana Koty” nhande kuery roo omoendy pa ipypy ikuai jave. Tuu kuery pe omoxã há’e omboty ngua’y kuery reve-Tuu kuery há’e oxy kuery pe oexa okaru he’y reve omano okua py aguã. Ta’y kuery oexa ikangy pa’i ramo. 50 ipoyi mombe’ua nome’em ramo ipo, ipy ojaya. Mombyry gui ogueru ipoyi va’e, okarue’y re, hoy’u he’yn re, há’e ramia rupi omano’ in okua py, omboy’u pa avei naepytyeī vei peve, ombopia rupi mbovye’ý omano. Omboy’u pa, oijyryvi’o, guete oipe’ã mba jagua pe ome’ē ho’u aguã. Amboe kuery ma oiko ve reve oapy pa, guexa gui ve ovenoē há’e omombo tepoxi kua py typy vea py. Kunhangue ma mba’e hapoja há’e mba’eapoja rembiguai kuery oguero’a. Amongue ma oiko ve reve omombo ytu guaxu py Lachorrera amboae kuery okanhý mba. Kova’e ma ojeaxa gue ay peve axy teri. Xera’y Rember Yahuarcani há’e gui xee ma Huitoto Áimenu japyre kue’i. Ampyaku rupi aa ainy vy xepy’a re amoin vy ombojexa vaia gue re nga’u kuery Kova’e yy porã rupi. Há’e py mae aikuaa hembiapo kuaa va’é ogueru jaexa aguã mbovy’i oiko ve va’é ka’aguy regua’i, nhuū ndy regua, tekoa rupi gua, tetã iporyau’i ikuaia pygua, ma’etý reguao nhemboguata seu padecimento. Ocorriam mutilações de mãos e braços pela não entrega dos 50 quilos de caucho exigidos. Obrigados a percorrer 80 quilômetros, carregando enormes pesos, sem comer e nem beber, alguns morriam. Por afogamentos e açoites, tantos faleceram. Houve afogamentos e degolações, corpos esquartejados e dados aos cães, como comida. Outros foram queimados vivos, tiveram seus olhos arrancados com fios ou foram jogados em fossas de 15 a 20 metros de profundidade. Meninas indígenas foram estupradas por seus patrões e capatazes. Alguns foram jogados vivos na catarata de La Chorrera e outros desapareceram. Para os descendentes, esses são danos não concluídos e feridas abertas até hoje. Meu filho Rember Yahuarcani e eu somos descendentes do povo Huitoto Áimenu. Navegando no Ampyacu em direção à aldeia Bora, imaginei o choque da escravidão imposta pelos caucheros naquele rio belíssimo. Entendi como as artes plásticas nos fazem enxergar um pouco as restantes vidas nas florestas, nas caatingas, nos pampas, nas aldeias, nas periferias das cidades, nos seringais, nas plantações… Sempre em trânsito, os índios, buscando se engajar no comércio, na escola, no Estado, finalmente, nas artes contemporâneas ocidentais, para nelas inserir suas línguas (palavras, ritmos, vozes, imagens, movimentos). A lição de história dada por Santiago – filho de Martha Yahuarcani, a desde menina heroica líder que veio de La Chorrera para Pevas – mudou a curadoria da exposição ¡Mira!,2 determinando a organização das obras (pinturas, desenhos, cerâmicas, esculturas, colagens, vídeos, fotografias) de forma a contemplarem, além das cosmovisões e das paisagens, o tema da violência. Este relato de uma experiência com artistas indígenas na UFMG quer servir para trazer à exposição Moquém_Surarî a reflexão sobre como estão imbricadas as éticas e as estéticas, as histórias e as cosmologias, as artes e as ciências. Quando os artistas Isael e Sueli Maxakali, Nei Xakriabá e Ibã Huni Kuin realizavam estudos e pesquisas conosco no 2 � ¡Mira! Artes Visuais Contemporâneas dos Povos Indígenas foi um projeto coordenado por Maria Inês de Almeida entre 2013 e 2015. Este projeto se desdobrou em uma importante exposição homônima no Espaço de Conhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais entre setembro de 2013 e janeiro de 2014. Ver mais em: https://projetomira.wordpress.com/. Último acesso em 10/09/21 Nota da editora. riaea rupi índios kuery onhea’ã mba’emo ojoguaa rupi, nhembo’eaty, heta va’e kuery ruvixaa rupi, yvypo kuery rembiapoa rupi guive, há’e py onhemoī aguã nhande ayvu (ayvu, ayvu nhendu va’e, ta’angaa, guata) Santiago kaxo gui ma ome’ē nhande arakuaa aguã-Martha Yahuarcani ra’y. Ixy ma kyrī gui ve ovixa’i rami ae ma oiko há’e ma ou La chorrera gui Pevas katy gua-MIRA2 py oexauka omoī porã ve aguã, ae vea rami pora’ī ojapo opamba’e joegua he’ý he’ý tembiapo omoī (jegua, ta’anga, nhae’ū gui gua, ta’anga pe’aa gui gua, ta’anga jexaukaa regua gui), Kova’e ae javive oupity pa aguã, ara rupa reko regua, ka’aguy mirim regua, jexavai regua avei. Kova’e ma aikuaa nhande kuery hembiapo meme gui ajopy UFMG py. Ogueru okua py oexauka aguã MOQUEM SURARĪ py varã. Onhemoexakã mba’exa pa Kova’e reko, kaxo, ara rupa reko, tembiapo regua jaikuaa aguã. Isael há’e Sueli Maxakali, Nei Xakriaba, Ibã Huni Kuin, onhembo’e okua py jave ore reve Literaterras, Faculdade há’e Formação Intercultural py. Há ‘e py upive kuery aiko vy aexa ojera vy pindorama py ipyau’i kuery jogueru tekoa gui, tetã re onhembo’é aguã mba’exa tu “jurua” kuery onhembo’e (ipara py, jeguaa heta va’e kuery mba’é py): mbovy maetý rire ma mburuvia kuery, arandu jovai gui, mokoi ayvu rupi ma ikuai vy ma onhemoexakã ma tenonde rã América Latina py. Ovixa’i kuery rupi, Universidade py nhombo’ea va’e kuery, ore kuery avei “nhande nhembopyau rapyta reko” reve roo roiny. Ore vy pe ore moin, hexakã mba marupipa roiko aguã. Kova’e rupi roiko aguã ma roenoī ta indígenas kuery nhembo’eaty rami. Há’e vy ma ayn Univerdade pygua kuery ome’ē ve aguã nhande kuery pe onhembo’e aguã. Omba’eapoa ae javi, joupive meme nhombo’ea kuery, oikuaa potaa va’é kuery indígenas kuey, yvy pó kuery avei. Joo py meme ikuai aguã Universidade rupi. Há’e kuery ae py omoin tape ymã guare rupi nhande kuery pe. Kova’e ae rupi ma Ministério da Educação 2 � MA’EM! mbavyky nhema’em re vy ayn guiguare vy nhande kuery” voi ma mba’eapoa re ogueraá vyma Maria Inês de almeida vyrima 2013 e 2015. kova’ema mba’eapo ojera vy oin nhenkotevem vyrima jexauka ombovya regua ikatureiapy ogueraá ijarakuaá vy nhembo’ea typy vy nhanderuvixa kuery mnba’epy Minas Gerais py vyma ara pyau ouare vy 2013 arapyaure 2014 ha’eva’ema pexarã: https://projetomira.wordpress.com/. opa’iva’ema oaxa 10/09/21. 62 63 Literaterras, durante o curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas (na Faculdade de Educação daquela universidade), tive oportunidade de acompanhar um processo que considero fundamental para o surgimento, no Brasil, de um cenário da arte contemporânea, em que talentosos jovens são designados, apoiados e enviados por suas comunidades às cidades para aprender novas linguagens e técnicas com os “brancos” (escrita alfabética, pintura com materiais industrializados, webdesign, cinema, fotografia, etc. ). Generalizando, nos últimos 30 anos, com a força das lideranças indígenas, a interculturalidade e o bilinguismo passaram a ser conceitos refletidos nos avanços das ciências humanas em toda a América Latina. Seguindo tais líderes, como professores universitários, nos metemos nessas “transformações indígenas”, nos colocando mutuamente num espaço, claro, transitório, mas também definitivo, de uma virada epistemológica que não convém subestimar. Quero chamar esse espaço de Escola Indígena. Reafirmo aqui o papel fundamental da universidade pública brasileira na legitimação das artes visuais indígenas contemporâneas. As articulações e parcerias que certas políticas públicas propiciaram entre educadores, pesquisadores e artistas indígenas e não indígenas, nos espaços universitários, são responsáveis pela abertura de muitos museus e galerias para os povos indígenas. Como exemplos dessas políticas, temos o Programa das Licenciaturas Indígenas, criado no Ministério da Educação em 2006, e o sistema de cotas para o ingresso no Ensino Superior, instituído na prática desde 2004 (primeiro na Universidade de Brasília) e regulamentado pelo MEC em 2012. No centenário da Semana de Arte Moderna, o MAM se alinha a esse passo de letra na História do Brasil e mostra o que o Abaporu, com seu pé enorme, anda escrevendo. Mais de uma centena de obras de artistas indígenas, em várias linguagens e suportes, expostas neste espaço público referencial para o imaginário brasileiro, sem dúvida, diz muito da corrosão nacional que nem os modernistas podiam prever. A nação brasileira teima em não se firmar em cima dos massacres dos povos originários; as fissuras, os trincos, as explosões, tudo diz de um real que não pode ser suturado. E cada obra da Moquém_Surarî, sob a batuta do neto de Makunaimî, Jaider Esbell, vem dos confins destoar no coro das metrópoles. 2006 py ojapo raka’e Oipe’amavy nhande, onhembo’e va’e kuery oike rive aguã 2004 py( Universodade py ranhe oin) MEC ma oexa kuaa 2012 py mae. Pindorama py kaxo oi va’e regua ipara va’e onhemoī aguã mbavyky ayn guigua, MAM py ho’ara ovaē jave rupi varã, oexauka aguã mba’exa pa Abaporu ipy guaxu reve ombopara oiko vy, nhande kuery rembiapo heta rei tá ikuai. Yvypo kuery Pindorama pygua kuery ma onhemombaraete xei okua py ombojexa vaia gue rupi pavē onhemombe’u nda’evei onhemboguejy aguã Moquém Surarī rembiapo gui ijayvu ndovy’aia tetã re onhemoingo katu ramo Makunaimī ramamino Jaider Esbell. A HORA DA GRANDE CAÇADA Naine Terena KOVA´E ÁRA MA JEPORAKA GUAXU OIKOTA 64 65 A grande caçada já vem sendo preparada há algumas décadas, para não dizer séculos. Vem sendo preparada de geração em geração, através de corpos que surgem na terra, de tempo em tempo, carregando as energias cosmológicas que movimentam e fazem com que a ancestralidade se mantenha firme diante do caos. Podemos observar isso, se pensarmos nos diferentes momentos cunhados para se abordar a história indígena no país, em que observamos a ascensão de líderes e agentes capazes de manter o diálogo com a sociedade não indígena, de forma a fazer valer o reconhecimento de sua existência e resistência. Não que sejam pessoas especiais, ou diferentes das outras pessoas indígenas. Povos indígenas resistem porque existem. Ou existem porque resistem? Para todos os momentos cunhados por estudiosos da temática, verifica-se que junto desses grupos de indígenas/líderes agenciadores das falas, novos artefatos foram incorporados por eles e por seus povos, para fortalecer esse diálogo. Pelos mesquinhos, tais incorporações são consideradas aculturações, mas, para os caçadores, são estratégias. Em produção própria, falo de um quarto momento da história indígena no Brasil, em que a ascensão das tecnologias de comunicação as faz presentes agora como elementos essenciais de luta e principalmente para a conexão com os não indígenas. A abertura do espaço virtual para a criação de narrativas foi o prato cheio para algumas gerações se apoderarem dessas linguagens e fazerem delas as armas para suas caçadas. Cito em especial, o movimento indígena organizado, que se adequou à linguagem tanto da comunicação como das artes dos não indígenas para se fazer ouvir, possuindo uma agência própria de divulgação de notícias. Este quarto momento narra o domínio total dos mecanismos de comunicação para a produção de seus próprios textos, a expansão de narrativas e a construção de denúncias que fogem à nossa dimensão geográfica, se espalhando pelo mundo, mobilizando olhares para o Brasil. A ascensão de grupos indígenas na rede mundial de computadores representa a ousadia dos povos brasileiros em assumir total responsabilidade pelas suas falas, contrariando discursos que promovem a ideia de que esses indígenas organizados seriam manipulados por instituições não indígenas. Ojeporaka ja´ea ma oiko ayngui eyn, yma gui ve haema oiko, nhandeayvu ymã guare ramie´yn opyta aguã. Oiko katua ymã ymã guive haema, tete gui yvy re oiko va´e haema, mbovy ara pyau gui haema, ojaxei heravy mbaraete honxã nhandeyva ogueroguata ha´e ojapo ymarã guare rupi oin hatã ve´i aguã koo opaixa guarei oin teim. ha´e va´e havei jaexa aguã kova´e, peteim ramie´y teim nhaneakã va´eri nhanhemboete nhanderovaja tomo mbe´u mbya kuery reko regua apy pintorama pygua re, ha´e vy jaexaa ha´egui nhande ma nhae noin peteim ayvurupi kó jurua guery reve, ha´e ramia ha´e japo omboete aguã oexa kua aguã oikoa há´e imbaraetea. Jurua kuery hete´ie´yn teim, amboae rei´i mbya kuery igui. Mbya kuery imbaraete mba´e tari oikoramo. Terã oiko mba´erã imbaraete ramo rive? Ha´ejavi nhanderovaja onhembo´erai va´e, oexa aguã kova´e-joupive nhemboaty´i mbya kuery rive/mburuvixa guery mboguataá ayvu py, tembiapo va´e omoin mbya há´ekuery ventarã guerype, mirami omo mbaraete jogueroayvua kova´e. iporayvu va´e´y guery reve, kova omoin ma djerovaá jurua rekopy va´eri, ojepokara kuery pe, onhemoigo kuaa rupi vy. imba´eae ojapo va´e kue, xee xayvu irundy kueare vy mombe´ua gue mbya pindorama pygua, mba´exa tu ojapo tembiporu ayvu yvytu rupigua nhanderupity pama ayn ramõ há´eva´egui vyma jaiporu nhanhoa´ã vampy nhavaem yvytu xã rupi nhandeayvu kó jurua kuery reve. Há´evy ojepe´a peteim henda py ojereroayvu aguã vy yvytu javere há´evy nha´embé henye aguã py onherenovaem ijapyre kuerype há´e vy oikuaa oiporu aguã kova´e ayvu ojeporaka aguã rami ju okuereko. Ha´evy xema´em ndu´a, nhomboguataa mbya nhemboaty pavy, ha´evy ojepokua ayvu ha´e gui ijeayvu kuaa vei mba´vyky kuaa gui jurua kuery onheendu aguã, oguereko ovy mboguata mba´eae. Nhemobe´u ojeupe kova´e ma irundya nhemobe´ua rupi gua vy há´e javirupi omboupity nhemonguetaá kó nhembiapoá kuatia ombo paraá apy, nhembotuvixa nhemobe´ua ha´e gui ojejapo nhomobe´ua, tu ojava ma nhande gui vy ojeupity aguã yvy javere ko yvyre, onhemovaim kó yvy rupare, overenkontevem pindorama re vy. Se os grupos dominantes pensaram que os povos se manteriam no espaço de isolamento a eles impostos, mal podiam esperar que, ao reconhecer as diferentes maneiras de conexão com o “outro”, esses indígenas prontamente aprenderiam a manusear, montar, criar, dialogar, a partir do conhecimento dos grupos dominantes. Já me disse um velho ancião terena, que fazia questão de que todos os seus netos estudassem, pois precisavam entender como falavam os “brancos”. Esta introdução é bastante pertinente para conversar sobre Moquém_Surarî, justamente porque estamos falando de uma grande reunião de caçadores-praticantes-pensantes de estratégias de contato, lembrando que a intenção de contato dos povos indígenas certamente são mais humanas do que as propostas empregadas pelo colonizador para iniciar o diálogo com os originários no episódio da invasão e nos demais episódios que transcorrem até os dias atuais. Isso se dá também pelo fato de que os colonizadores tinham o intuito da dominação (os novos colonizadores também! ). Os povos indígenas, em seu lugar, têm a intenção da expansão de saberes e laços que Moquém nos deixa explícito. Neste quarto momento, em que falo da plena utilização das tecnologias de comunicação pelos povos, agrega-se a força das muitas maneiras de expandir esses diálogos. Por enquanto, eu falava das ferramentas de mídias que produzem notícias jornalísticas, num embate forte, com grupos de poderes que dominam os veículos noticiosos nacionais. Porém, nele se inscrevem também os grupos de indígenas que, de maneira individual ou coletiva, trazem a expansão de saberes e conhecimentos a partir de outros campos de atuação. Englobo aqui, além dos realizadores audiovisuais ou de mídias de notícias (agora, também temos uma enxurrada de youtubers e influencers), os escritores e artistas indígenas contemporâneos. Cada um desses grupos encontra nas ferramentas deste momento as maneiras de dialogar, encontrar, seduzir, caçar formas de conexões. O interessante é que, se observarmos, está tudo “junto e misturado”, embora eu tenha me referido a grupos no instante anterior. Mas vemos as habilidades de criação dos personagens indígenas em diferentes Nhomboaty mbya kuery ayvu xã yvy rupa re ha´exavi nhakuãre oin oexauka nonhere rontim nhandekery pindorama pygua anhentem guare ijayvua aguã, ndoipotai ayvu amboae rupi oguerova ague kova´e mbya kuery moin porã mbá va´e nhomboaty apy va´e kuepy oguerova xe. Mbya kuery he´y rive. Ha´vy amboae kue perata rai va´e oenxa´ã vy nhande rentarã kuery ikuai ae rampo mombyry rupi há´e onhenboty okuapy rampo he´i vy noin porãi, nda´evei oarõ aguã mba´rã, oexauka aguã joorami he´y he´y ixã yvytu regua oo oiny vy ‘‘amboae’’, kova´e kuery mbya oikokatu pa reve onhombo´e omo pu´ã, ombo tuvixa, jokueroayvu, omboja´o ja´o, ombotuvixa, jogueroayu, ha´e guive ju oikuave ravy joupive gua jurua guery rembi guaia. Xevy pe ma peteim xamoin terena ijayvu karã mboae, há´e onverõ nhea´ã tamomino kuery ha´ejavi onhembo´e aguã, ha´eteim teim oikuaa mba´eixa pa “jurua” Kova´e ombojera oguero je kuaa ma vy ijayvu katu aguã Moquém_Surarî re, há´e vyma virami oin nhandeayvu ma tuvixa nhemboaty regua ojeporaka-nhembo´e-onhemo nhexã´ã marami pá oin nhevaem, nhanemandu´a reve nhevaem aguã kó nhande kuery ma guive ma vy oin tete reko jareko nda´ei yvy mboae gui guae´y omoin va´e kue ma jareko nhanhe mboayvua. Há´e vy ma oiko nhande yvy re oike va´e kuery ãy peve ikuai há´e oiko paven yvy rupi ikuai ãy teim. Há´e vy py yvy mboae gui ou va´e kuery ojere reko catu vy nhandere ju ija okuapy aguã rami ju oin (Ipyau kue) yvy mboae guigua! ). Nhande kuery ma, oguereko oin aguã py oin, oguere ko peteim rupivy vy nda há´e vy omoxã arandu Moquém oeja jaikuaa aguã rupi ju. Há´e irundy kuea mavy, ha´e vy ma xeayvu ojeporu aguã yvytu rupi onhembo jera uka vy nhandeayvu yvytu rupi aguã pavem, o nhea´ã mbaraete opaixa rei teim ombo tuvixa ve ayvu heravy vy. nde´i teri, xeayvu ma vy jeporua tembi poru yvy turupi oo va´e ojeopo mavy omo mbe´u joe kore ijayvu va´e, ko mboruvixa kuery onhemo mba´e va´e joe ijayvu va´e guataá. Va´eri, exe onhemobo paraá havei pavem nhande kuery pe, ojeupe aeae trã jopype joapyre vy, ogueru arandu vaipa vy oikuaa aguã vy nda amboae ikatua rupi vy ogueru ju vy. Yvy javere vy apy, oje kuaa va´e rupi vy ma yvytu rupi joe ijayvu va´e kuery jepe (aygui, voi jarekó peteim vy onheem oje kuaa va´epy o jererova 66 67 campos. “Escrevedores”, artistas visuais, cantores, comunicadores. Porque o bom caçador tem a ampla visão do universo em que está sua caçada. A educação indígena permite a sagacidade e estimula os sentidos. Faz com que os indivíduos caminhem entre os diferentes céus, as diferentes terras, e refaçam sempre que necessário tais caminhos. Em Moquém_Surarî você pode perceber isso. O diálogo expandido faz desse encontro de caçadores uma grande caçada coletiva. É a reunião da força de resistência, expressa em cada obra que compõe a exposição. Jaider Esbell resolveu liderar a caçada, convidando caçadores fortes, potentes, conscientes de sua condição de pertencentes a um grupo forte de atores sociais. Neste quarto momento, que se desenha desde o século XX e adentrou o século XXI, acredito serem os artistas indígenas desta arte contemporânea os caçadores capazes de formalizar uma comunicação com aqueles que até então não eram o que chamam de “nossos pares”. Nossos pares, até então, eram vistos como os militantes, as “ONGs”, os antropólogos, missionários e pesquisadores. A arte indígena avança sobre outros tempos, outros formatos, outros agentes. Inclusive avança para encontrar aqueles que não estão dentro dessas redes fortes, geralmente formadas por estudiosos da temática indígena. Ela espanta e causa curiosidade acerca de sua existência não arqueológica/não antropológica. Ela chega via sensibilidade ao vendedor de balas da Avenida Paulista, que um dia viu, pintado na mureta de uma instituição, um desenho de Denilson Baniwa. O vendedor de doces sentou-se ao meu lado e disse que aquilo lhe agradava. Também, quando me encontrei com os excluídos da Cracolândia, que disseram reconhecer uma força magnética no “ser” indígena. De exclusão em exclusão, é preciso dialogar. A arte indígena tem uma potência de se fazer existir diante de um público que não são os até então considerados aliados a nós. A arte, em si, encontra a dimensão do encontro. O que vemos nesta exposição é a diversidade de suportes para a construção e distribuição de narrativas. Artistas indígenas de diferentes regiões fazem o contato desde a produção de telas à gravura em metal. De desenhos à tecelagem. Da fotografia ao livro-objeto. A variedade de suportes é aguã py, kuatia ombo para kuaa há´e imba vyky´a va´e kuery nhande kuery ayn guigua kuery. Peteim kova´e joapy gua ojou tembiporu vy nhomongueta aguã rupi vy ojou ayn mavy nda, ojou, nheron xã, oporaka yvy turupi heravy aguã. Va ´eri xee ajou porã, aexa ramo, oin mbarei”, ijó para pa”, já´ e xe ramo he´ia rami nhemboaty krã mboae kueve ve. Roexa ramo ojeapo kuaa rei nhande kuery ikuaia opa rupi. “Kuatia mbo paraá”, imbavyky va´e jexaá kuery, o porai va´e, omo bem´u va´e kuery mba´ere pa há´e rami oporaka porã vy jexaá hexankã yvy javere vy o jeporaka. Nhembo´ea nhandepy vy onhembo jera ipojava aguã rami ju oin. Há´e vy o guata ma vy ojeupe mavy oo amboae mboere yvatere vy, amboe mboe yvyre, há´e vy onhembo tape nhavõ vy ma. Moquém surarî rei kuaá hera vy ma aguã pyma oin. Onhemboeta va´e kue ojapo kova´e nhemboaty gui ma ojepokara petein tuvixa va´e jupive. kova´e ma joguero´ayvu mbara´ete, jexauka oiny teim teim rembiapo kue omoi jexaukaá py. Jaider Esbell onhemo tenonde koo jeporaka py, oenoin ojepokaá kuery Imbara´ete va´e, onhenhandu kuaa koo va´e teta mbaraete rupi gua ta´ã anga re hembiapo Koo ayn´in ete´i, ojejapo ta´ã anga ymã guive XX há´e “ojereroike ouvy vy XXI, harovia ete mbya mbavyky rembiapo re koo mbavyky ayn gua re ojeporaka va´e kuery ayvu reko oguere koma koo nhande jovai he´y he´i hava´e reve “joapy guari”. Nhane maba´e joorami vy, tenonderupi ikuai va´e kuery “ONGs”, joekó re onhe mbo´e va´e kuery, joekó rovaá rupi ikuai va´e kuery há´e oikuaa pota kã tuin´in va´e kuery, mbyamabvyky rembiapo ooxa´ve amboae temintyn, amboae regua, opamba´e regua. Oaxa ovy avi ojou ãguã koo imbaraete va´e kuery rupi ikuai he´yn va´e guive, kova´e rede py ikuai onhembo´e va´e nhande kuery jopiare va´e re onhembo`e va´e kuery. Ha`e ma nhemomdyi ha`e jaikuaa xea havi oguereko oikoa re ymã jeporu va´e kue nhenoeá /nhandereko re onhemboe va`e harypi he´yn. He´e ovaem mba`e nhemboaxya rupi mba´emo omboekovia tetã mbyte rapepy peteingue oexa hi`ã anga peteim oo kora re, Denilson Baniwa ra´ã anga He´en va´e omboekovia vy, oguapy xeyvyre aipo he`i, kova`e nunga xeapo porã. Ha`e gui ajojou mombo pyre cracolandia pygua kuery reve, ijayvu vy haipoe´i oikuaa oexa kuaá havi vy peteim mbaraete koo mbya kuery gui. Nhemboi representativa deste quarto momento – nós, indígenas, dominamos todas as formas de nos comunicarmos com os não indígenas – desde os nossos fazeres tradicionais até os seus fazeres tradicionais. E assim se constroem as estratégias dessa caçada. Se os símbolos e elementos oriundos da cultura indígena são pouco compreensíveis para o não indígena, faz-se necessário apoderar-se das linguagens deste outro para nos fazermos compreender. As cores, formas, construções, constituições, carregam as muitas vozes que se quer fazer ecoar. Ouvi a liderança Thiago Karai Jekupé dizer, durante o “Levante pela Terra”, “que a carta que leu foi escrita com a caneta dos brancos, mas carrega o espírito de todos os indígenas” (Brasília, junho de 2021). Recorro a essa fala do Karai Jekupé para fazer uma explanação ao visitante desta exposição. Embora os variados suportes encontrados nas obras sejam em grande parte relacionados às tecnologias do não indígena (a fotografia e o vídeo, por exemplo), é necessário observar cada produção com um pouco mais de abertura para que não se pense que, mesmo utilizando os códigos da sociedade ocidental, trata-se de uma obra ocidentalizada. O que quero salientar é que é muito comum observar as produções indígenas a partir das escolas e cânones ocidentais, principalmente porque muitas delas já se utilizam de artifícios oriundos do universo não indígena para sua confecção. É disso talvez que esta caçada esteja falando. Da dimensão das produções aqui agregadas e um novo “tempo” para se ver a arte indígena. É preciso escapar um pouco das camadas já solidificadas para a apreensão das obras de arte, e tentar evitar que as utilizemos como demarcadores de leitura das diversas obras aqui encontradas. Os artistas indígenas produziram obras desta exposição (em sua grande maioria) a partir dos suportes do “branco”, mas nelas estão impregnados os espíritos indígenas (se assim eu parafraseasse Thiago Karai Jekupé, para a leitura dessas obras de arte). Exemplifico a necessidade das trocas, se observarmos as entrevistas realizadas com artistas de Roraima. Seria o audiovisual neste momento a maneira mais dinâmica e acessível de levar ao público essas narrativas. Ou ainda os registros fotográficos de Arissana Pataxó e Sueli Maxakali, que trazem o movimento do espírito feminino das mulheres de seus respectivos povos. onhemboi, teko tenve hayvu reko gui. Mbya rembiapo oguereko mbaraete ojejapo aguã peteim teta py nhaneinru kuery he´y ea va`e kuery pe voi opyta havi ayn Tembiapo, ojejouká há´e onhevaim tim vy. Koo jaexa va`e tembiapo jexauka py heta tape ojejapo aguã ha´e onheme´em omombe´u heravya. Nhande kuery imbavyky va´e pavem gui rei ojapo omombe`u ajukue moatã mbyre gui ojapoa ombo pará rangaa ita rykure. Ta´ã anga mandyju moataá. Nhane´ã ra´anga mboia kuatia para. Heta regua jexaukuaa oim koo va´e irundya re – ore, mbya kuery, roi kuaaa heta regua koo heta va´e kuery reve oreayvu aguã – koo orerembiapo há´e rupi há´e pende rembiapo rupi havi. Virami vy ojejapo ovy tape koo jeporakaa re. Mba´emo ra´anga mba´emo mbya kuery reko gui gua rupigua ndoikuai ramo jurua kuery, jejapo tema rojopy mboae ayvu ore roendo kuaa aguã. Heta pytã, heta mba´e, heta tembiapo, ogueraa heta nhe´em onhenduka xe va´e hoendu tenondegua´i Thiago Karai jekupe ijayvu, nhemboatya py “Pepu´ã yvype”, “kuatia para ogueroayvu va´e jurua rembiapo py ombo pará, vá´eri pavem mbya kuery nhe´em oguereko” (Brasilia, junho de 2021). Aru koo ayvu Karai Jekupe mba´e ajapo aguã petein nhemombe´u koo tembiapo jexauka py ou va´e pe. Heta mbae ojejou kova´e tembiapo re heta vema koo jurua kuery rembiapo rupi arandurupi (nhane´ã ranga mboia), va´eri oiko teven jaexapota peteim teim tembiapo nhaenxa`ã uka hera vya aguã py nhenerenó vaem, teim vy heta va´e mba´e kuaa oiporu teim, jurua rembiapo he´yn. Mba`e pa xehayvu xema jaexa mbya rembiapo koo cãnomes há´e nhemboea rupi ogueroayvu heravy vy heta va´e kuery harupi, hetama py oiporu tembiporu jurua gui gua heta va´e mba´e gui vembiapo re. Kova´e jeporaka ndavy kova´e xeayvu ainy. Marã mipa tembiapo ojeporu heravy nda´u “ara” pyau jaexa aguã mbya rembiapo. Há´e rami aguã ma jaeja ranhe rã jaikuaá va`e haema jaexa kuaá aguã mbya rembiapo. Mbya kuery hembiapo va´e ojapo kova´e mba´e jexauka (hetavema) nhepyrum tembiporu “jurua” gui, va´eri hexema mbya kuery nhe´em oim (kova´e rami mboyvu Thiago karai jekupe, kova´e tembiapo re). Amombe´u teko tevem nhemboekovia, jaexa pota ramo kova´e 68 69 Por fim me chama a atenção o txaísmo proposto por Esbell. Uma das maiores inquietações que perpassam o fazer de uma caçada grandiosa como essa. A exposição agrega muitos olhares, e alguns deles percorrem o caminho do que Jaider considera como o txaísmo. Costumo repetir o mantra de que o racismo não se combate com a intolerância e, nas palavras do próprio Jaider, temos aqui um convite urgente para criar novas formas de relação, na produção de multiplicidades. Jaider fala muito melhor do que eu, a partir da expansão do txaísmo/alianças afetivas, que precisamos melhorar a ideia de relações e abater o senso comum quando “colocamos tudo e todos na mesma sacola”. Moquém_Surarî é o ápice do compartilhamento sugerido por Jaider, ao se esquivar da proposição de uma exposição individual e transformá-la num grande encontro/caçada. Todos em busca de expandir um diálogo para além dos seus pares. Se os “velhos do sistema” já sucumbem, é preciso fazer um encontro com o tempo/ espaço daqueles que vêm surgindo neste novo tempo. E para isso é necessário retirar da sacola e fazer a separação de tudo aquilo que se conseguiu durante a caçada. Aquilo que não nos servirá de consumo, por vezes, poderá germinar. Ao propor o conceito txaísmo, Jaider está mostrando diversos caminhos para a caçada dessa arte indígena contemporânea. Reúne guerreiros com especialidades diferentes, peculiares, afetivamente conectadas. Daí um destaque para a forte aliança que Jaider mantém com Paula Berbert e Pedro Cesarino não somente nesta, mas também em outras produções. A manutenção das peculiaridades dos processos de escutas e lugares para falar com e não por é uma chave importante para se entender essa relação com os “cunhados/txais”. O tempo do não indígena falar pelos indígenas, a partir de suas proposições, já passou. É chegado o momento da produção coletiva, respeitando os modos de entender as relações dos povos originários. Relações que não focam apenas nas questões humanas, mas num entrelaçar com o universo cosmológico e ambiental. Não existe uma maneira de se entender o fazer da arte indígena, sem reconhecer o tempo/espaço de onde surgem os artistas. Não é possível pensar e interpretar condições de produção, sem ara ma há´e vete ndaxyi ve jaraa aguã teta pe koo mombe´ua kue. Há`e gui hi`ã mboi pyre Arissana Pataxó há´e Sueli Maxakali, ogueru koo nhemongu´e Kunhangue nhe´em rupi peteim teim oenoi aguã koo txaísmo Esbell oexauka va´e. Koo peteim nheangeko oin va´e gui ma oaxa oiny ojapova´e tuvixa koo jeporaka. Koo tembiapo jexauka ma oexauka retave, há´e amonguema oo tape koo Jaider oikuaa ramo txaismo. Areko tema koo xereve heravy vy ayvu joporavo rei aguã ma nanha mombai ndajapy xakai rei vy, he`ia rami Jaider, roguereko peteim tenoím jejapo aguãpyau nhepena, jejapo tembiapo hetarupi. Jaider ijayvu porã ve xee gui, ijypy ojepe´a ve Txaísmo hagui/ joapy´apy nheno´ã vy, nda teko teven nhemo pena porã ve há´e` “nhamboyru opamba´e há´e paven peteim voxa vy”. Moquém _Surarî ma omboaxa ve Jaider, onheboy ke vy koo mba´e jexauka peteim regua gui há´e ombojera tuvixa nhemboaty/ jeporaka. Pavem oeka oipe´a ve peteim nhemongeta oinrum pe´yn Koo “ymã ve guare “ ma oikuae ma, teko teven ojejapo nhemboaty koo ayn gua ou va´e koo ara pyavu re gua pe. há´e rami aguã ma nhanoem jurã jeporavo rã opamba´e koo jeporaka re ojejou va´e kue gui. Ndajaiporui já´ua py, henhoi´in va´e rã hera rupi. Omombe´u koo txaímo regua, Jaider oexauka heta tape jeporaka tembiapo mbya ayn gua. Omono´on kyre´yin mba kuery heta mba´e py overõ mbaraete va´e, teim regua re inxa kuapy. Há´evy koo nhemoirun porã jaider oguereko Paula Berbet há´e Pedro Cesarino reve, kova`e tembiapo hanho he`yn amboae voi. Oimen va´e omoã tyrõ tei rami ojejapo oendua mamo pa ijayvu rã mbaexa pa mbae jepe`a ramo he`ym iporã hete jaexa kuaa ãguã koo “tovaj re jaikoa/txaís” ara jurua ijayvu mbya re, oikuaa rupi rive oaxama. Há`e ovaema koo tembiapo jupive gua, nhamboete há`e kuery mbae kuaa nhandeypy kuery. Nhemopena nhadereko re hanho he`yn, ombaxa xa koo yvaguyre há`e ka´a guy re. Ndaipoi petein rami jaexa ãguã tembiapo mbya, ndajai kuaai ramo ara ka`e/ mamo gui pa ojekua mbya ta´ãga re hembiapo va`e. nda`e vei jaikuaa ãguã mbae xapa ojapo, nhae xa´ã koo nhembo´ea ta´ã angare heta va´e rupi oupity iporã a tembiapo mbya, tembiapo ojejapo tembiporu jurua kuery mba´e calcar nas relações extensivas entre os seres humanos e não humanos. Pensar que as escolas de arte tradicionais ocidentais por si sós e por sua linha do tempo irão alcançar a estética da produção indígena, seja essa produção construída com os suportes não indígenas, seja ela carregada das tecnologias indígenas, é um erro. O txaísmo talvez seja uma das formas de adentrar esse universo, entendendo que o artista indígena, ainda que faça um percurso individual, nunca estará só. Porque sua tinta está carregada de seus antepassados, pulsando para que esteja sempre vivo no outro. A modelagem na cerâmica expande a relação com a natureza, fortalecendo um diálogo contínuo com ela. Não é o simples extrair a matéria-prima pela matéria-prima. O entendimento de mundo precisa ser como atravessar uma ponte, observando toda a paisagem. Os txais que têm se proposto a fazer isso, esvaziando quase sempre seus conceitos já cristalizados, encontram-se nas relações de reciprocidade e reconhecimento, como cita o próprio Jaider Esbell. Os indígenas, por sua vez, recolhem os aprendizados. Mais do que isso, vemos em Moquém_Surarî muitas mãos preparando os instrumentos mais sofisticados para uma grande caçada. Não a caçada que fará o abate pelo abate, ou o abate pelo comércio em si. Mas a caçada que representa a coletividade e dela se almeja fortalecer e nutrir todos como um todo – a nutrição dos txais, dos guerreiros e guerreiras indígenas, dos seres encantados que se fazem presentes, ainda que não visíveis. rupi, tarã mbya rembiporu rupi, peteim´in ojavyare. Koo Txaísmo ma peteim rupi jaike aguã koo mbytepy, jaikuaa aguã ta´ã angare hembiapo mbya, há´e hae oo teim, há´e hanho´in he´y oiko. Mba´e katigua henye oguereko vy nhanderenta rã yma guare kuery, otyty kuapy oiko ve aguã amboae re. Mba´e jejapo nhae´um ma oipe´a ve nhapena koo ka´aguyre, mbaraete ayvu oitema hexeve. Mba´emo nhanõea rive pyreima Ixugui nanhanõei rã ma. Jaikuaá aguã marã mipa yvy teko teven yy ryvõvõ jaaxa harami, jaexa pota ijavire. Txaís kuery ha´e rami ojapo, ovenõe mba kuerei mba´e oikuaa va´e hae ombo´i ta´i pa rire, ojejou meme rei koo jooramia py joexa kuaa py, He´ia rami Jaider Esbel. Mbya kuery, ma, omono´õ oikuaa va`e. ijara ka ave aguã vy, jaexa ma Moquém_SurarÎ py heta ipo oguereko katu popygua iporã gueve peteim tuvixa va´e jeporaka vy. Jeporaka joity va´e pe´yn ju tavy, tarã joity omboekovia rã pe´yn. Pee jeporaka jupive jexaukaá há´e gui jaipota mbaraete nhamongaru pavempe pavengui txaís rembi´u, kyre´yi ma kuery, koo nheem kuery apy ikuai, ndajaexai va`e teim. 70 71 72 Arissana Pataxó 73 MÃGUTXI PATAXÓ: PEGANDO OURIÇO (SÉRIE), 2014 O primeiro sinal de terra avistado pela esquadra de Cabral, o Monte Pascoal, é terra pataxó. Como diz um canto no nosso povo “De cima daquele monte lá do alto avisto o mar”. Quem sabe, 500 anos atrás, um Pataxó lá do alto não tenha avistado os sinais das primeiras caravelas quando se aproximaram do nosso mar antes de os portugueses avistarem o nosso monte... Para entendermos a presença indígena nesse hahãw, precisamos começar a escutar a “história do Brasil” de outro lugar, a começar lá de cima do monte, e não daquele mar. A presença pataxó até hoje nessas terras demonstra a força, luta e garra de um povo que sobreviveu resistindo e guardando este hahãw, provavelmente há mais de 500 anos. Foi deste território que por muitos séculos tiraram seu sustento – coletando, pescando, plantando, colhendo, caçando e fazendo moquém –, o que garantiu a sobrevivência de gerações. MÃGUTXI PATAXÓ: OURIÇO OJOPY OIKOVY, 2014 Ijypy gua yvy Cabral oaxuá re oexa, Montre Pascoal, Pataxó kuery yvy re. Oremborai rupi roporaia rami “pee yvaté gui roexá pará”. Ymã 500 ma´etyn takykue katy peteim Pataxó oexá rã raka´e ha´e yvaté gui apyká py jogueru va´e kuery ovaem rai´i jave nhande yy rembe re, juruá kuery oexá he´yn re nhade yvy… Jaikuaa aguã nhande kuery ikuaia kova´e hahãw re, ma nhaendu ve ramo “mombe´ua Pindorama” regua amboae gui, yvaté oin va´ekue gui, nda´ei yy rupi oú va´e gui rive. Pataxó kuery ikuaia ayn peve vy oexauká mbaraeté, mby´á guaxu nhande kuery mbaraeté, ikuai ha´e omoin porã kova´e hahãw, 500 ma´enty voi haré ve ju. Kova´e yvy gui aema ymã ve ramo ikuai porã raka´e, pira´i ojopoi vy, onhoty mba´emo, nguyra´i ha´e mba´emo ra´y omboa´á vy ha´e ojapo moquém - ha´e va´e nunga gui ma ayn peve ikuai aguã oin nho raka´e. Mãgutxi Pataxó: pegando ouriço é uma série de fotografias que traz uma atividade regularmente realizada pelo povo Pataxó. Foram capturadas nas praias da Terra Indígena Coroa Vermelha, que é circundada por recifes onde habitam diversos mariscos e crustáceos que enriquecem a alimentação cotidiana do povo Pataxó. Coletar, assar e comer o ouriço sempre foi uma prática muito comum entre as famílias pataxó que vivem no litoral baiano. A Jokana que aparece nas imagens é minha imamakã, Meruka. Ela nasceu no Território Indígena Barra Velha em um período em que a área ainda não era demarcada como Terra Indígena e passava por conflitos. Havia a presença do Instituto Brasileiro de Defesa Florestal, que ali se instalou desde a década de 1940, na tentativa de fazer do hahãw pataxó, um parque florestal. Mais tarde, na década de 60, isso veio a se tornar uma realidade. Durante esse processo de sobreposição do Parque Nacional de Monte Pascoal sobre o território tradicionalmente ocupado pelos Pataxó, o mar, o mangue e os recifes foram lugares sagrados para as famílias pataxó. Era destes espaços que extraíram “o seu Mãgutxi Pataxó: kui´in ojopy ma hi´ã omboi va´ekue ogueru mba´emo Pataxó kuery rembiapó. Omboi Pará rembe re nahnde kuery yvy Coroa Vermelha ha´e py ma opamba´e yy rupigua ikuai pataxó kuery rembi´u guive. Omono´õ, oexy ha´e ho´u kui´in ha´e va´e ma pataxó kuery rembi´u ete´i aema pará rembe re ikuai va´e. Jokana ma ojekuaa vi hi´ã omboi va´e kue py, ha´e ma xe imamakã, Meruka. Ha´e ma oiko´i karamboae nhande yvy Barra Velha py, yvy omboja´o pyrepy he´e yn teri j ave nhande kuery yvy rami ha´e oin raka´e joguero´á eté. Oin jave Instituto Pindorama pygua hoepy va´e ka´aguare gua, ha´e kuery ma ova´en raka´e 1940 jave, ojapó nhea´ã aguã Pataxó hahãw Parque rami. Ha´e rire ma 60 re ma, ha´e va´e oiko eté. Ha´e rami oiko, Ka´aguy apyguare onhemopena va´e Monte Pascoal omoingo yvy pataxó kuery oiporu va´e ary rupi, Pará rembé re ikuai opamba´e va´e ma Pataxó kuery reko rupi ojeporu va´e meme. ha´e gui aema ojoú ha´e ojopy guembi´u rã mba´eiko ka´aguy re ikuaia re py nda´evei mba´e ra´y ombo´a aguã, mba´emo onhoty 74 75 sustento”, já que na mata que sempre habitaram não mais podiam caçar, nem fazer roça, nem extrair qualquer tipo de vegetais e cipós para as atividades cotidianas. Minha mãe conta que foi uma época difícil. Assim como todo o povo, ela viveu uma infância com grande escassez de alimento, tendo que recorrer ao que o mangue e o mar ainda podiam lhes oferecer, já que viver e sobreviver da mata era considerado um crime ambiental. Para driblar a escassez de alimento, a união fazia a diferença. Ela conta que naquela época tudo era partilhado, pois quando conseguiam pegar alguma caça (ainda que às escondidas), peixes e mariscos dividiam com os parentes, que também retribuíam com o que tivessem: farinha, beiju, peixe etc. Minha mãe, assim como a maioria dos mais velhos de sua idade, não teve oportunidade de frequentar escola, por isso ajudava e acompanhava os pais nas tarefas diárias. Ela conta que não gostava muito de cuidar das tarefas de casa, preferia acordar cedo, ainda de madrugada, para ir com seu pai ver se alguma caça tinha caído na armadilha que colocaram no dia anterior. aguã, yvyra´á ojopy aguã jepe nda´evei yxypó ete ve voi nda´evei omboi aguã. Xexy omombe´u ha´e jave haxy ve raka´e. Ha´e javi rupi arami, ha´e oiko kyrin vy tembi´u oata raxa karuai vaipa rupi, ha´e rami ramo oó Pará rembe rupi mba´emo omono´õ vy, mba´eiko ka´aguy regua re ta okaru´i ramo jurua kuerype ojavyjuma ramo. Karuai oaxá aguã nhopytyvõ mba ha´e javi ve. Ha´e va´e javi ve´i nhomboja´ó mba´emo ra´y ombo´á nhemi vy rive, pira´ojopoi vy nhomboja´ó avi, ha´e ramo amboae kuery voi oguereko´i va´e ogueru avi: avaxi ku´i, mandi´ó ku´i, mbeju´i pira´i ramo guive. Xexy amboae kuery rami tujá kue ve rami ndoui raka´e onhembo´e vy, ndoguerekoi oó aguã vy xejaryi kuery reve oiko oipytvõ aguã tembiapó ojapo oikovy. Ha´e omombe´u vy ma ndojapo jei raka´e oxy ha´e nguu reve ngoo rupi mba´emo ojapoa rupi, ovy voi jave´i rive, nhamadu oexapé jave, oó aguã nguu reve oma´en vy mondé ojapó va´e kue py ho´á para re´en mba´e mo ra´y. Hoje os tempos mudaram, nasci em uma nova época, na era da energia, da televisão. Mas, sempre que posso, paro para ouvir as histórias que ela conta dos momentos vividos em outros tempos. Acredito que são essas memórias compartilhadas a cada nova geração, com suas singularidades, que fortalecem o nosso povo e que dão lugar a outras histórias, as histórias contadas a partir de outro lugar: do “monte” e, quem sabe, ao pé de algum moquém. Ayn gui ma ova pa ma, aiko amboae pa ma jave, tataendy oiko ma jave, ojekuaa va´e rupi oiko ma jave. Va´e ri ha´e ve´i nhavõ aendu ha´e omombe´u ramo ha´e mba´exa pa oiko raka´e ague. Xexv´ype ramo ma ha´e nunga re imaendu´a vy omombe´u ayn nhandekuai va´e pe ramo omombaraeté nhande kuery ome´e avi nhandevype nhande voi jaraa aguã ha´e nhande avi nhamombe´u aguã amboae gui ju: hetare gui, mova´e pa oikuaa, amongue moquém yvypy oin va´e. 76 78 79 DESABROCHAR DA MATA ATLÂNTICA Para nós, Guarani Mbya, o escuro é responsável por todo o universo, tudo que é criado brota do escuro: a terra, a água, as montanhas, nós todos. Da origem de nossa ancestralidade seguimos conservando nossa memória, cuidando do nosso território sagrado, Nhe’ery, que nos ensina a cada dia a conviver com todos os seres em harmonia. Seguimos com as crianças, nossos rezadores e rezadoras entoando cantos sagrados para que a floresta continue viva e que continuemos tendo as plantinhas que curam, as frutinhas que alimentam e a alegria que motiva o nosso caminhar junto ao Bem Viver. NHE’ERY JERA Carlos Papá Ore Mbya kueryma, roikuaa pytun ymã ombojera raka’e Yvy Rupa ha, ’e javi, mba’emo oiko va’e pytungui: Yvy ma, ha’egui yy, ha’egui Yvyty, ha’e nhande kuery. Nhandeypy kuery oeja jaiko kuaa aguã rami raka’e, ha’evyma nhanhagareko porã aguã rami nhandererekoa maraē y rami oeja: Nhe’ery, ha’e vy ma nhanemboé nhamboete aguã omyi va’e ha’e javi. Rojogueraa kryringue reve, ha’e opora’i va’e kuery reve mborai romonhendu rokuapy aguã py roī, ha’e vyma moã ka’aguy ikuai aguã roikō tevē arupi roiko, ha’e yva’a ikuai arupi ronhemoingo ha’e vyma oremoexai orembo vy’a ha’e oexauka Teko Porã. 80 Charles Gabriel 81 O HOMEM E O MOQUÉM* No meio das serras, tão longe, morava há poucos anos um casal que, já na velhice, teve um filho. Passando os anos o menino foi crescendo e ficando cada vez mais esperto e, todas as tardes, seus pais contavam histórias sobre os lugares onde eles já haviam viajado, e sempre ele respondia: — Um dia eu irei por lá também, pai. Ele já estava crescido, um rapaz forte, trabalhador e muito inteligente. Ele começou a pensar como seria sua vida mais na frente, pois também queria construir sua família e queria seguir o exemplo do seu pai, mas, ao contrário dele, teria mais filhos. Certa vez o rapaz decidiu se aventurar no mundo e conhecer novos horizontes, descobrir o que tinha atrás das serras e muito além. No dia seguinte pegou suas poucas coisas e saiu com rumo ignorado. Ele passou o dia todo andando e não encontrava nada mais além que a natureza bela, mas por onde passava fazia um desenho na pedra para identificar que tinha andado por aquele lugar. Então no final da tarde, antes de chegar em uma mata, encontrou um pequeno riacho com AVA HA`E MOQUÈM* *O artista Charles Gabriel também escreveu este texto em makuxi, sua língua materna. Essa versão está reproduzida na contracapa deste catálogo. Nota do editor. *Imbavyky va’e Charles Gabriel voi ombo para havi raka’e makuxi, oayvua pyae Kova’ema omboayvu ha’e hembiapo imbotya rovaire vy ipara opytaá. Yvy´ã vy´ã mbyte rupi, mombyry, peteim omenda´iva´e joguereko, tuja´i ma va´e ri oguereko peteim mintã´in. Ma´enty oaxá ovya re ava´i tuja ve ha´e oiko kuaa ve ovy, ha´e ka´aru nhavõ re ixy kuery omombe´u mamo mamo rupi ma pa ha´e kuery jogueroguata´i raka´e, ha´e ramo ha´e ombovai xevai: — Xeru, ha´e ramo ma peteim ara aguata vi va´e rã ha´e rupi Ha´e tuja ma, kunumi mbaraeté, hembiapó jevai ha´e in´ã arandu guive. Ha´e omoin opy´á re mba´exa regua rei oiko tenondé ve re, ha´e voi omendá xe, ha´e ta´y xe avi nguu rami oiko xe vy, va´e ri nguu gui ta´y reta ve xe guive. Peteim ara py ha´e oó mombyry rupi oiko ju ranhe oiko aguã. Ha´rami vy omba´e rei rei ojopy vy oó ma, mamo pa oó oiny a oikuua vy he´yn. Oó ma vy oguata petei ara ha´e javi re ndojoui ha´e ndoexai mba´eve´i ma, ka´aguy ha´e yvyra vyra´i rive oexá, va´eri oó arupi ombopará para´i meme ita re oikuaa aguã mamo rupi pa oexá ra´e ague oikuaá aguã. Ha´e rire ka´aru rai ma jave ma ka´aguy re oike yn re ojoú yy xyry´in hexakã porã rei´i va´e, ha´e vy omoatyrõ´i ma oke´i águas claras e azuis, e decidiu arrumar um canto para dormir por ali mesmo. Antes de ir procurar algo para comer, encontrou, em cima de uma pedra, peixe assado e pensou consigo se tinha alguém naquele lugar. Mas, mesmo assim, pegou o peixe e comeu, pois estava com muita fome. Chegando a noite, atou sua rede no alto de uma árvore e a lua estava muito bonita. Quando mais tarde ele começou a escutar um barulho no mato, era o dono daquele peixe que ele havia comido, um bicho que ele nunca tinha visto antes. O bicho parou naquele lugar e chegou com muito mais peixes nas mãos, colocou de novo em cima da pedra e apanhou muitas folhas, ele fez fogo e assou os peixes, depois embrulhou os peixes nas folhas, amarrou com cipó, e deixou ali em cima da pedra, e voltou para dentro da mata. O rapaz, admirado com isso, foi embora naquela mesma noite, andou a noite toda e, já pela manhã, chegou em cima de uma serra. Lá viu uma casa. Então o rapaz decidiu passar por lá para conhecer e o pessoal recebeu o viajante. Ele contou a sua história, de como havia parado naquele lugar. O dono da casa convidou o rapaz para pescar, e então no dia seguinte saíram rumo ao rio que tinha lá próximo. aguã. Oó he´yn re oeka vy mba´emo ho´u aguã ojoú pira mbixy ita ary oin ramo vy ha´e oexa´ã ramo oin a ta reguarei merami amboae va´e ha´e py. Va´e ri ojopy te ma rive pira´i ho´ú aguã okaruxe vaipa ma vy. pytun ovãe ovy yvyra re omoi mba ma kya´i vy onheno ma ha´e jaxy endy ma oiny. Ha´erire pytun are ve jave ma oendu ka´aguy rupi onhendu nhendu ramo, pira oexy vy oexá va´e kue ma ovãe, oexá va´e ty regua he´yn. Ha´evy ha´e opytá pira´i oejá ague py ogueru ve ha´e gui ma tata omoendy ha´e oexy pa ju pira´i, ha´e rire ma mba´emo rogue´i py pira´i omhovã pa´i, xypo´i py ojokua pa ha´e gui oejá ju ita´ary vy ma ha´e oó ju ka´aguy re. Ha´e ramo ava´i va´e ha´e va´e pytun re ae ju avi oguata ovy, oó meme pytun ha´e javi re oguata, ha´e ko´emba´i ma jave ovãe ma yvy´ã re. Ha´e py oexá peteim oó. Ha´e vy ha´e ovãe ha´e va´e oó py ramo ha´e py ikuai va´e kuery omovãe avi. Ha´e oguero ayvu ymã guareré ojegua, mba´exa vy pa ha´e ovãe ra´e ha´e kuery apy. Oó ja oenoi ava´i va´e pira ojopoi aguã joupive, ha´e vy ko´engue jogueraá joupive yakã re ha´e i py oin va´e py. Yakã py ovãe ma vy pira ojopoi reta, kunhangue pira´i 82 83 Chegando no local eles pescaram muito, as mulheres iam tratando os peixes, mas antes de terminar de tratar todos os peixes, o dono da casa pediu que o rapaz fizesse o que tinha aprendido no meio da viagem: assou os peixes e depois pegou folhas de bananeira e enrolou todos os peixes nelas. Aquilo era inédito para aquelas pessoas que o observavam, viram que era um jeito simples de armazenar a carne. No outro dia o rapaz seguiu viagem e, por onde ele passava, ensinava o jeito que armazenava o alimento. Muitas pessoas gostaram da ideia, mal sabiam eles que aquilo que o rapaz tinha aprendido com o bicho da mata chamava Surarî (Moquém). Depois de um tempo, o rapaz decidiu voltar para visitar seus pais. Quando chegou lá, contou toda a história de sua viagem, principalmente o acontecido do peixe assado daquele jeito que o bicho da mata fazia. Seu pai contou que o bicho que o rapaz viu se chamava Surarî (Moquém). Então, desde esse dia, o rapaz decidiu chamar aquele jeito de assar e de conservar o peixe de Surarî (Moquém). E por isso a maioria das pessoas hoje usa esse nome, surarî (moquém), para se referir àquele jeito de assar e de conservar o peixe. oigue´o okuapy, rire ma oigue´o mbae he´yn re irun ijayvu ava´i va´e pe ojapo aguã mba´e pa oikuaa ra´e ogutaa rupi: Pira´i oexy, ha´e rire ojopy paková rogue rire oimama mba ju pira´i. Ha´e nunga oexá ramo ju amboae kuery pe, ndaxyi´i ju xo´ó oimoin porã aguã. Ko´engue ava´i va´e oó juma oaja ovy a rupi ombo´e meme mba´exa pa tembi´u omoin porã. paven rei ojou porã ha´e va´e ramingua va´eri mava´e ve ma ndoikuaai ava´i va´e oikuaa ha´e nunga ka´aguy rupi gua gui Surarî (Moquém). Hare rire ma ava´i va´e ojevy nguu kueryapy oipouu vy. Ha´e py ovãe vy omombe´u pa mba´epa oiko ra´e oguataa rupi, mba´e pa pira mbixy oexá ague ka´aguy rupi gua ojapo ramo. Ha´e ramo tuu omobe´u vy ma ka´aguy rupi gua Surarî (Moquém) hery he´i tuu. Ha´e rire guive ava´i va´e Surarî (Moquém) omboery pira mbixy ha´e omoin porã a. 84 Isael Maxakali 85 NOSSOS DESENHOS TÊM CANTO Sou Isael Maxakali. Moro aqui na Aldeia Hãmkãim, no município de Ladainha, Minas Gerais. Quero falar um pouquinho sobre a nossa arte, os nossos desenhos. Eu gosto muito do meu trabalho porque eu quero fortalecer a nossa cultura, a nossa arte indígena também. Aqui todos nós desenhamos, temos cantos, temos pinturas. Por isso eu fiz desenhos para a exposição Moquém_Surarî: para colocar no museu e o não índio conhecer o meu trabalho também. Eu estou fortalecendo a nossa cultura. Porque quando eu faço desenho, para mim parece que o desenho está vivo, só falta andar. Todos os desenhos têm história, têm canto. Todos os bichos que existem, os antepassados, já não existem mais, os bichos grandes, jacaré, anta, capivara, sucuri. E hoje nós estamos fazendo os desenhos dos bichos, o desenho representa o bicho grande. Os nossos cantos preservam o nome de bichos que não existem mais. Por isso nós estamos trabalhando e fazendo muitos desenhos para exposições também. Nós temos que mostrar o nosso conhecimento diferente, o conhecimento do povo Maxakali. Bay. ORE TA´Ã ANGA OIM MBORAI Xeema isael Maxakali aiko apy tekoa Hãmkãim, Ladainha tetã, Minas Gerais py. Xeayvu xe mboapy`i koo ore rembiapo, ore ta´ãga. Xee ajou porã raxa xe rembiapo há´e teim amobaraete xe ore reko, ore mbya rembiapo. Apy paven ta´ã anga rojapo, roguereko mborai, mba´e pytãa. Há´é vy japo ta´ã anga koo mba´ejexauka Moquém_Surarî: omoin omoin porã ymã guare atypy py heta va´e kuery oikuaa aguã xerembiapo. Xee amobaraete ore reko. Ta´ã anga ajapora ramo, xevype he´iarami oiko ve merami, oata ma oguata. Ijavi ta´anga ma oguereko omombeúa, oin mborai. Há´e javi mymba ikuai va´e, yma guare, ndoikovei ma, mymba tuvixa va´e, he´xa karen va´e, tapi(mbore), capi´yva, kuriju. Ayma jajapo mymba ra´ã anga, ta´ã anga jexauka mymba ka´aguy tuvixa va´e. Ore mborai omoin porã mymba rery ndoiko vei ma ãy. Há´e ramo rojapo heta ta´ã anga koo mba´e jexauka aguã. Nhande Ma jaxauka rã nhande arandu amboaea, arandu Maxakali regua. Bay! Há´evete! 86 87 REATIVANDO SABERES E PRÁTICAS Sou Vanginei Leite Silva, conhecido como Nei Leite Xakriabá, professor indígena, pesquisador e artista. Moro na Aldeia Barreiro Preto, Terra Indígena Xakriabá, no município de São João das Missões, Minas Gerais. Estamos vivendo nessas três últimas décadas, a partir da homologação do nosso território e da implantação da escola indígena, um movimento de retomada cultural com o objetivo de garantir a recuperação e transmissão desse patrimônio cultural às gerações mais novas, escapando, assim, do perigo de elas serem apartadas desses conhecimentos ancestrais devido às ações do colonizador. E a escola indígena tem sido uma das aliadas a essa luta desde quando passaram a contratar somente servidores do próprio povo e adotaram metodologias direcionadas para uma educação diferenciada, tendo como prioridade o fortalecimento das práticas tradicionais. Os professores passaram a fazer o curso de Magistério Indígena, que foi uma conquista da luta dos povos diante a Secretaria de ARANDU MBA’EKUAA NHEMOKYRE’YIN Nei Leite Xakriabá Xee ma Vanginei Leite Silva, xerenoim rive vy ma Nei Leite Xakriaba, nhombo’ea ha’e mba’emo oikuaa pota va’e, mba’emo tembiapo regua va’e avei. Ain tekoa Barreiro Preto py, Xakriaba yvy re. Tetã ma são João das Missões, Minas Gerais pygua. Ore yvy, ore vy pe ma omboaxa ramo mae ore kuery ore kuai ma nhembo’eaty romopu’ã ha’egui ore reko romombaraete jevy ju aguã roexauka aguã kyringue ve kuery pe, hexarai he´yn aguã xeramoi kuery arandu yvy pó kuery opamba’e ojapo ramo jepe. Nhembo’eaty oin rire ma ore pytyvõ avei kova’e rupi nhemombaraete aguã ore reko, ha’e vy ma ore regua ete’i anho’in omba’eapo aguã rami, ha’e vy ma ojapo nhandereko rupi rei onhembo’e aguã. Ha’e rami vy ma nhombo’ea kuery ojapo ju onhembo’é porã ve aguã, kova’é nhemboé ma oin aguã ma rojoguero’a nhembo´eare opena va´e kuery reve Minas Gerais pygua reve. Kova’e rire ma rojapo ju nhembo’e aguã ju kyringue nhombo’ea Estado de Educação de Minas Gerais, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais. Em seguida, criamos também o curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas, da Faculdade de Educação da UFMG (FIEI/FaE-UFMG), que resultou em várias pesquisas e pesquisadores de nossos próprios povos. Desse modo a instituição escola passou a ter mais sentido para nós, formando pesquisadores indígenas alimentados pela ideia de pertencimento e preparados para viver na sua terra e também transitar no mundo dos não indígenas sem abandonar suas raízes. Tudo isso contribuiu assim para nos conscientizarmos cada vez mais do direito à cultura, à diferença e à diversidade cultural, que eram antes desmotivados pela escola anterior não indígena. Para reativarmos algumas práticas culturais do nosso povo, que estavam adormecidas, fazemos as retomadas. “Retomada” é uma palavra usada para as retomadas de terra, ou seja, ocupações das terras nossas anteriormente invadidas por fazendeiros ou posseiros, para tomá-las de volta. Nas retomadas culturais, tomamos de volta as va’é kuery pe Faculdade da Educação UFMG (FIEI/ FaE-UFMG) py. Kova’e gui py oxē mba’emo oikuaa pota va’é rã erã. Kova’e rupi rei vy py ayn nhembo’eaty ore vy pe oin porã. Nhande kuery oxē oikuaa pota va’e rã marami pa oiko kuaa aguã guekoa rupi ha’e heta va’e kuery mbyte rupi oiko ramo jepe gueko ete’i gui omombo rei he’yn aguã. Kova’e gui ae py virami ore vy pe nhemoexakã ve nhandereko re. Kova’e’yn mbove py heta va’é kuery nhombo’eaty naikyre’yin Kova’e re. Ore reko rupi ore kyre’yin ju aguã ma rojapo opamba’e’i ‘rojopy jevy ju aguã ‘ kova’e ayvu ma ojeporu nhande yvy jajopy ju aguã nhande rekoa va’é heta va’é kuery ojopy pa va’e kue. Ore reko py rei rojevy ju aguã py ma rojapo jevy ju ma yma guare rami, ore reko, ore rembiapo aguã, jegua ha’e ore ayvu ete’i py guive. Nhombo’ea rami aiko aguã xerekoa py jave mae ronhepyrū ramo ju nhae’um regua re. Ha’e gui nhombo’eaty Rogério Godoy ombo’e xakriaba nhae’um re anho’ī hembiapo va’é kuery pe jave avei. Kova’e gui ae ma anhembo’e eravy avei nhae’um ete’i 88 89 práticas antigas, os costumes, as práticas artísticas, a pintura corporal, ou a língua. A retomada da produção de cerâmica aconteceu a partir do momento em que fui escolhido para ser professor indígena em minha aldeia na disciplina de arte e também a partir de uma oficina realizada pelo professor Rogério Godoy com os artistas ceramistas xakriabá. Esta oficina foi parte de uma das ações decorrentes do meu estudo sobre a Cerâmica Tradicional Xakriabá, realizado durante o Curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas pela FaE-UFMG. Até então os ceramistas produziam algumas peças de cerâmica, mas já não as queimavam mais e por isso as peças não tinham muita utilidade, já que não ficavam firmes, ou se desmanchavam com o tempo. Na minha pesquisa com a cerâmica, fui aprendendo cada vez mais as técnicas de modelagem e a queima tradicionais e, ao mesmo tempo, buscando agregar valor à peça transferindo os traços da nossa pintura corporal para ela. Procurei ir melhorando os acabamentos e criando tampas para as moringas com figuras de animais do xakriaba regua, nhombo’ea kuery onhembo’e jave FaE-UFMG py. Amongue rive’i ma nhae’um gui gua mba’emo ojapo va’e ikuai, ndoapy vei ma ha’e vy py ivaipa voi. Nhae’um regua aikuaa pota jave rupi mae aikuaa ve ma avei avy, marami pa jajapo aguã mba’e mo, japy aguã avei yma guare rami. Ha’e ramia rupi amoin ore jegua ambopara eravy nhae’um re. Anhea’ã ajapo porã ve aguã marami pa mymba jai´ity pygua ra’anga ajapo, mba’e mo mbotya’i re amoī aguã. Xexy xembo’e marami pa ajapo aguã mymba ra’anga’i. Xekyrim jave aexa va’e kue mymba’i ajapo avei. Xekyrim jave ma xetuty xembo´e rive vy xerenoin vy ^^tatu’i^^ Ha’e gui ae py xevy pe oin ajapo aguã y´á ropeky jere´i -tatu. Xe kunhataim aiko jave ajopy xe vai Taguato ra’y’i. Há’e rami py ajapo avei y´á ropeky jere´i -taguato ra’anga. Xe kyrim guive aendu ijayvua ramo xivi para re. Peteim xivi para iporã ete, ha’e vy py ayn peve ore ramoim kuery reve nhonhe’ē rendu. Ha’e vy py ajapo avei y´á ropeky jere´i xivi para ra’anga. Xeru ma amongue ojeporaka’i vy oo jave ogueru jepi xo’o cerrado, nativos da nossa terra. Como já havia aprendido com minha mãe a modelar com o barro algumas figuras de animais da nossa região, resolvi colocar nas moringas essas tampas, representando alguns dos animais que marcaram minha infância. Quando criança recebi pelo meu tio, por ser pequeno, um apelido de “tatu bolinha”, daí surgiu a inspiração para fazer a Moringa Tatu. Durante minha adolescência passei a pegar filhotes de gaviões e a domesticá-los. E assim surgiu a ideia da Moringa Gavião. Desde muito novo ouvia meus parentes falando da onçacabocla ou Iaiá cabocla, uma onça encantada, nossa protetora que ainda nos dias de hoje se comunica com nossos pajés. Resolvi então criar a Moringa Onça. Como meu pai era caçador e sempre trazia de suas caçadas essa ave para nos alimentar, pensei em fazer a Moringa Jacu, já que me remetia a muitas lembranças da infância. A coleta do barro está relacionada às quadras da lua e ao ciclo das chuvas. Durante o tempo do broto, da lua minguante e muito nova, o barro está fraco, racha muito, o que indica que não é tempo de buscá-lo. O broto começa ka’aguy’i ore mongaru aguã, ha’e vy ma ajapo avei y´á ropeky jere´i-nhakupē ra’anga. Kova’e ma xe kyrim aiko jave xemaedu’a. Nhae’um ma nhanoē aguã ma ama’ē ranhe mba’exa gua jaxy re pa ha’e ve, ha’e oky re avei nham’ē. Jaxy nhepytū re ha’e jaxy ra’y jave ma nhae’um na´in porã in, onhepe’ã mba rã, nda’evei Kova’e jaxy re jaru aguã nhae’um. Agosto re ma mba’emo yky’i enhoim mba ju ma hogue’i ipyau pa ju ma, henhoim’in va’é rã va’é kue ekue henhoim mba rire ma oky are ju rã. Peixa jave ma xakriaba kuery ndojapoi há’e naembiapoi nhae’um re. Kokue rã rupi rive ikuai, oky ete rei kova’e jaxy re. Kunhangue ndojapoi avei gueko py ikuai jave. Opoko ramo opamba’e guete re oendu mba’eaxy. Mba’emo jaipota vy ma jaxy ha’e oky re raē ma jaikuaa pota, jajerure ija kuery pe. Nhae’um ma jaru rã mba’emo enhoim mbove ha’egui henhoim mba rire, jaxy onhepytū jave avi. Jaxy ma mba’emo renhoim yvyrupa re oiko va’e va’e re onhangareko, yvyrupa ma nhandere ipoaka. Xakriaba kuery ma hembiapo ve nhae’um gui anho rei, nhae’um re ha’e yvy re ma jaxy ae onhangareko. 90 91 no mês de agosto, quando as plantas começam a renovar suas folhas, e termina alguns dias depois das primeiras chuvas do tempo das águas. As águas são o período chuvoso. Durante essa época, os Xakriabá quase não fazem peças de barro porque estão ocupados nos roçados, porque é o período chuvoso. As mulheres não pegam no barro durante os dias em que estão menstruadas, pois neste período a relação com o barro pode provocar doença no corpo. É a lua e a chuva quem nos falam o tempo certo de pedir para a Mãe Terra permissão para buscar o barro debaixo do chão. O barro tem que ser buscado antes ou depois que passar os tempos do broto, o tempo da lua minguante e dos três primeiros dias da lua nova. Assim como a lua possui autoridade sobre a terra, a terra tem autoridade sobre nós. Os objetos da cerâmica xakriabá são produzidos do barro, o barro é a terra que está sob os cuidados da Lua. 92 Rita Sales Huni Kuin 93 A ORIGEM DA AYAHUASCA DO POVO HUNI KUIN ATRAVÉS DE YUBE INU E YUBE SHANU A partir do momento que meu pai, Ibã Huni Kuin, fundou o Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU), trabalhando nas obras de pintura e contando nas músicas os mitos do nosso povo, começou a despertar em mim de querer fazer vários desenhos diferentes sobre as mesmas músicas ou histórias. Foi aí então que comecei a observar as árvores, o rio, as pessoas, e comecei a pintá-las. Foi um desafio grande, minha professora era a própria natureza, principalmente quando não tinha nenhum incentivo de ninguém. Teve momentos em que eu observava as pinturas de outras pessoas, lindas e coloridas, e me sentia incapaz de fazer igual. Por isso passei uns tempos sem fazer pinturas, ficava só observando! Em 2009 veio um artista do Rio de Janeiro e trouxe algum material de pintura, eu o vi entregando para alguns artistas da comunidade para fazer pinturas para uma exposição. Me arrisquei de ir lá e me oferecer para pintar também. Fiz, entrei, fui remunerada e fiquei muito feliz. Naquele momento AYAHUASCA YJYPY HUNI KUIN KUERY PE YUBE INU HA´E YUBE SHANU GUI Xeru, Ibã Huni Kuin ojapó nhemomyi imbavyky kua guery Huni Kuin (MAHKU) ombaeapó nhembopará re ha´e mboarai oporai vy omombe´u ore roikuaá va´e rupi gua, ha´e ramo xevoi xekyre´yn ajapó aguã mborai ha´egui amb opará aguã ha´e roikuaá va´e rupi gua omombe´u va´kue regua regua re. Ha´e rire aema ama´en gatu yvyrá re, yakã re, nahnde kuery re rire ma ajapo ma jegua. Haxy rei ijypy gui, mba´eiko xembo´ea aema ka´aguy´i ha´egui movãe ve ma naxepytyvõi ramo gui ve. Amomgue py ma amobae kuery jegua ojapó va´ekue re ama´en ramo iporã vaipa´i ipará porã ve ju ramo xevype ramo haxy ve ta merami ajapó aguã ha´e kuery rami. ha´e rami vy ma haré rai ju ndajapó vei jegua, ama´en gatu rive ju aikovy. 2009 jave ma oú karamboae petemi imbavyky va´eguery Rio De janeiro pygua ha´e vy ogueru mba´emo jegua ojapó aguã ha´evy ome me´en imbavyky va´e kuery comecei novamente a despertar pelas pinturas, comecei a fazer o que a minha visão me mostrava, e não o que as pessoas queriam que eu fizesse. Aos poucos eu e minha irmã, Yaka Huni Kuin, começamos a pintar. Nossa maior dificuldade foi encontrar os materiais quando faltavam, pois moramos em uma pequena cidade no Acre, onde tudo é muito de difícil acesso e distante. Mesmo assim, não desistimos de nosso sonho de sempre fazer o melhor da gente! Sempre mantivemos a confiança, dando firmeza uma para outra para não desistirmos! Conforme o tempo foi passando hoje tenho as minhas pinturas como uma das minhas melhores inspirações, pois além de ter paixão pelo que faço, as pinturas são sempre a minha terapia. Enquanto eu faço as minhas obras, eu voo na minha imaginação, sempre buscando algo novo para deixar registrado na tela, pois para mim as pinturas não são apenas histórias e músicas, são as histórias da nossa ancestralidade, de energias e recordações passadas a cada geração. Hoje eu amo o que eu faço, além de ser meu sustento, é também onde sempre busco as respostas para um novo trabalho! apy ikuai va´e pe ojapó aguã mbavyky ha´e ojapó aguã oguero xauka aguã. ha´e ramo xee aa vi ajopy vi ajapó aguã jegua. Ha´erire ma ajpó rire ma omboepy´i ju xevype ramo avy´a vaipa. Ha´e va´e gui kue ma xee ajapó juma vi xee ajapó xe arami xee aexáa rami amboae kuery oipotaa ramingua he´yn ju. Mbeguei´i rupi ma xee ha´e xekypy´y Yaka Huni Kuin rojapó rovy jegua. Orevy pe haxy ve va´e rojoú aguã mba´emo rojapó aguã oatá java jave mba´eiko ore roiko tetã’i kyrin’i va’e py Acre py ha’e gui mombyry guive opamba’e gui. Va’e ri ha’e rami rei tein ore rojapo tema ndoroeja tema rivei aguã. Roguereko xerovia ha´egui ronhopyvõ jovai gui ndoroejai aguã! ha´e vy mbovy ara rei he´yn ma ayn areko jeguas xemba´e meme, mba´eiko ha´a va´e aema ajapó xevai´i va´e. Ajapó nhavõ re xee xeakã py ramo aveve mombyry, aeká mba´emo pyau ambopará aguã, mba´eiko jevype ramo ma jegua roikuaá rupi gua ha´e mboarai anho he´yn merami, ha´e va´e py kaújo nhande arandu yma guare gui ve aema ha´egui nhema´endu´a ha´egui mbaraeté mby´a guaxu nhamboaxá javy va´e gui ve ma. ayn gui ma 94 95 Entre as várias pinturas que eu faço, a principal é a pintura sobre a história do Yube Inu e Yube Shanu, o índio caçador e a mulher-jiboia, que é a história do surgimento da Ayahuasca! Vou contar essa história para vocês. Em uma aldeia morava uma comunidade indígena, lá um índio sempre ia caçar. Certo dia ele saiu novamente e encontrou muitas pegadas de vários animais que naquele local passavam devido à fartura de alimentos. Na beira do lago havia um pé de jenipapo com muitos frutos, por causa disso vários animais circulavam ali. Quando o índio chamado Yube Inu chegou ao local, percebeu essa circulação. Para ele, um caçador, aquilo era um prato cheio. Então Yube Inu fez uma tocaia, que é um esconderijo de caçador para esperar a presa chegar sem que ela perceba. Yube Inu esperou... até um momento que ficou cansado e começou a tirar um cochilo. Quando ouviu um barulho vindo na sua direção, rapidamente levantou-se e olhou pela pequena brecha, viu uma anta. Esperou a anta chegar mais perto para tentar matá-la. Porém foi surpreendido quando viu que a anta não era um animal comum, era diferente. A anta pegou três frutas de jenipapo ajapó xevai xerembiapó ha´e gui aema ayn gui ajoú ipire´i va´e ha´e gui ajoú mba´emo pyau re xerembiapó aguã. Heta regua jegua ajapo va´e ri kaújo Yube Inu, Ava´i va´e mba´emo ombo´á va´e, ha´e gui Yube Shanu, Kunha mboi va´e regua, ha´e va´e ma Ayahuasca ijypy ague regua! Tamombe´u havy pendevype roikuaá va´e re regua. Peteim tekoa py ma ikuai raka´e heta nhande kuery, ha´e py oiko raka´e petei ava´i va´e mba´emo ra´y ombo´a´i va´e. Peteim ara ma ha´e oó juma ka´aguy re vy oexá reta mba´emo pypó mba´eiko okaru vy ikuaiaty rupi oiko ramo. Yakã rembe re oin petei yvyrá jenipapo hi´a reta oiny, ha´e ramo heta mba´emo ra´y ikuai. Ha´evy petei nhade´i va´e Yube Inu hery va´e ovãe, ha´epy oexá mba´emmo ra´y oaxá okuapy ramo. Ixupé mba´emo ra´y ombo´a jevai va´e pe ramo ha´e py ha´eve vaipa ma ra´e. Ha´e rire ma ha´e onhemi aguã ojapo ma, mba´emo rei ovãe vy oexá he´yn aguã. Yube Inu iporarõ ma… Ha´erire ma ikane´õ vy ma oke ma ra´e. Ha´e rire ma oendu ma ipiru piru nhendu ouvy ha´e oin a katy ramo ve´i hexákua ma ikua´i gui do chão e jogou em três direções diferentes dentro do lago, esperou alguns segundos e começaram a sair bolhas de dentro da água. Então surgiu uma mulher branca de cabelos longos pretos, e saiu do lago para a terra. Surpreso, Yube Inu ficou observando silenciosamente da tocaia, vendo tudo que estava acontecendo! Ao sair da água, a mulher-jiboia, chamada Yube Shanu, teve uma relação de amor com a anta. Logo depois Yube Shanu voltou para o lago e a anta foi embora! O caçador Yube Inu saiu da sua tocaia e repetiu a mesma cena que a anta, porém ao perceber que Yube Shanu, a mulher-jiboia, viria ao seu encontro, ele se escondeu atrás do pé de jenipapo. Ao sair da água Yube Shanu perguntou: — Quem me chamou que não está aqui? Aparece! Quero ver você! Yube Inu apareceu devagar e se apresentou a ela: — Fui eu! Eu vi o que a anta fez, fiquei curioso para saber! E fiz também para saber quem é você! E ela se apresentou: — Eu sou Yube Shanu! E você, quem é? — Eu sou Yube Inu! oexá peteim Mboré´i. Ha´evy ma oarõ mbore´i ova´en ve´i aguã hembia nhea´ã aguã hexe. Ha´e rire ma ha´e onhemondyi rai mba´eiko oexá ramo py mbore´i amboae rei merami ramo. Ha´e rire ma mbore´i ojopy mboapy jenipapo á´i yvy gui rire ma omombó joá katy he´yn yakã katy, oarõ xapy´a´i rire ma yy opupu pupu ma yakã re. Ha´e rire peteim kunha ipire ju´i va´e oen yakã gui. Onhemondyi rai vy Yube Inu onhemi reve oma´en tema mba´e pa oikoa re! Yakã gui oen vy kunha mboi va´e Yube Shanu hery va´e ojexáupi ma mbore reve. Ha´e rire ma Yube Shanu ojevy ju yy re ha´e gui mbore oó ju avi! Ha´e rire ma Yube Inu oen ju onhemi ague gui vy ha´e ju ojapó mbore´i ojapó ague rami ha´e ri Yube Shanu, kunha mboi va´e oen taramo ve ha´e anhemi ju jenipapo yvypy py. Yy gui oen Yube Shanu vy ma ijayvu: — Mova´e tu xerenoi ha´e gui ndaipoi ju? Ejekuaa ma! Roexá xe ma! He´i Yube Inu ojekuaa mbeguei´i vy onhemombe´u ixupe: — Xee ma! aexá ma mbore ojapó ramo, aikuaa xe avi 96 97 E ela falou: — Você é como eu! Quero namorar você! Tiveram relação, a mulher-jiboia se apaixonou por Yube Inu, e ele também se apaixonou por ela. Yube Shanu falou: — Tenho que ir, minha família está me esperando. — Você veio de onde? – perguntou o índio-caçador. — Eu sou lá do fundo das águas desse lago! E quem é você? — Eu sou daqui, eu vim caçar e encontrei a anta fazendo esse encantamento com você! — Você é casado? Vamos morar comigo, vou te levar! Então a mulher-jiboia colheu algumas ervas medicinais da mata e passou nos olhos do Yube Inu e foram juntos para o lago. Sob o encanto da erva, o caçador percebeu que já não pertencia mais ao mundo em que vivia. Quando chegou no mundo das águas, percebeu que era tudo diferente do seu mundo anterior. Yube Inu foi recebido como um estranho, afinal era um humano no mundo aquático das jiboias, dos peixes e todos aqueles que respiram debaixo d’água. Chegando lá, ele foi apresentado como novo esposo de Yube Shanu e as famílias ficaram muito contentes, mas xevoi! Ha´egui ajapó aikuaa xe vy mava´e tu ndee! Ha´e onhemombe´u avi: — Xee ma Yube Shanu! Havy ndee, mova´e tu? He´i — Xee ma Yube Inu! He´i Ha´e ramo kunha va´e aipo he´i — Ndee tu xee rami aeri! Apena xe ma ndereé! He´i Ha´e vy ma opena joé, Kunha Mboi va´e ija´éte Yube Inu re, ha´gui ava´i va´e voi ija´éte avi hexe. Ha´evy Yube Shanu aipo he´i: — Xee aá ju tama, xeretarã kuery xerarõ ma. He´i — Mamo gui tu reju? - Oporandu ava´i va´e. — Xee ma yy guyry gua! Havy mova´tu ndee? — Xee ma apy guae, mba´emo re xerembiá vy aju vy aexá mba´e pa mbore ojapo rã ndere! — Remendá va´e pa ndee? Jaa xereve eiko, rogueraa raema! Ha´e vy ma kunha mboi va´e ojopy poã poã´i ha´egui omboaxá Yube Inu rexá rupi rire ma jogueraa yy re. Oipoanõ rire ma ava´i va´e oikuaa ramo oiko ague rami ve´yn ma. Yy guyry ova´en vy oexá ramo amboae pa os peixes como a arraia, o mandi, o peixe elétrico, que chamamos também de puraqué, e outros não gostaram nada dessa ideia! Ao longo do tempo, Yube Inu e Yube Shanu tiveram dois filhos. Porém todos os trabalhos realizados por ela e por sua família sempre eram segredo para o índio. Mesmo que ele estivesse lá há bastante tempo, já tinha até filhos, os trabalhos ainda eram de sigilo total, pois o pessoal tinha medo de revelar os seus segredos ao mundo humano. Afinal Yube Inu não era um deles, embora fosse marido da mulherjiboia, não deixava de ser um estranho. Por isso ele era sempre proibido de comungar Nixi Pae, a ayahuasca, junto com eles. Yube Shanu sempre falava que o caçador não estava preparado ainda para isso! Um certo dia, cansado de esconderem tudo dele e já sabendo de várias coisas, pois observava de longe, Yube Inu decidiu não obedecer mais a esposa e confrontou ela para tomar dessa medicina que tanto escondiam. Então a mulher-jiboia o levou, serviu a medicina ayahuasca, o Nixi Pae. Quando ele começou a sentir a miração, na rei ju oiko´i ague pyarami he´yn ju. Yube Inu ovaen ramo amboae´i rami ju oexá okuapy mba´éiko ha´e py nhande´i va´e va´eri oó yyguy re oiko vy. Ha’e py ovaen ramo omombe’u ma vy Yube Shanu mé marity ra’e ramo nhoetarã Kuery oguerovy’a pave, ha’e va’eri amongue mongue’i má ndojoú porãi. Haré ma joguereko vy oguereko mokoi mitã’i. Ha’evy tavy mba’emo tembiapó Yube Shanu regua Kuery ojapo va’e ma nomombe’ui ava’i pe. Haré vaipa ma teim ixupe nomombe’ui ni ndoexaukai guive, ta’y mokoi ma oikovy tein, mba’eiko yy guyry rupigua kuery py okyje oexauka aguã. Yube Inu py ha’e Kuery ramingua he’yn, kunha mboi re omendá tein py amboae’i ae tevoi py ava’i. Ha’e vy aepy ndoejai ha’e ho’anga aguã Nixi Pae, Ayuhuasca ixupé. Yube Shanu ijayvu riae vy ha’e nda’evei teri ho’anga aguã He’i. Peteim ara, py ma mba’emo onhomi rei riae ha’e ivai ma, ha’e py oikuaa pa rei aema oexá mombyry jepi va’e vy, Noendu rive vei ma ngua’yxy pe ho’u xe vy poã onhomi rei okuapy va’e. 98 99 sua visão começaram a aparecer coisas pequenas como borboletas, lagartas e outros bichinhos da mata! Quando finalmente a força chegou forte, revelou a ele que o mundo onde ele vivia já não era mais o que ele pensava. E sua esposa e o restante das jiboias também estavam na força, e todos já sabiam que Yube Inu descobriu o segredo do mundo das jiboias, que estava sabendo de muitas coisas que aprendeu durante a convivência. Então planejavam matar Yube Inu, na tentativa de que ele não passasse aqueles conhecimentos para a família da terra. Ainda na força, Yube Inu viu que estava sendo engolido por sua própria mulher! E ele gritou, na força, pedindo socorro porque estava sendo devorado pelas jiboias! Veio sua mulher, Yube Shanu, e também seu sogro, e cantaram uma música para curá-lo, porque aquilo não passava de uma miração, e estava tudo bem! No dia seguinte ele estava sempre triste, pensativo sobre a visão que havia tido na força da ayahuasca, pois para ele era tudo realidade. Yube Inu resolveu sair para caçar na tentativa de fugir de volta para casa na terra, onde ele havia deixado sua mulher e seus filhos! Ha’e ramo ta´yxy ogueraa ma ha’e gui omoin má ixupé ayuhuasca oy’ú aguã. Oy’ú rire ma oexá merami mba vy oexá popo’i, mbii ha’e gui opamba’e ka’aguy re gua’i! Ha’e rire poã imbaraeté ve re ju oú vy ma oexauka pa ma ixupe ramo ha’e oexá mamo rupi pa oiko ague, ha’e gui ha’e rupi ma ha’e oexa’ã rupi ve’yn ma oin ra’e. Ha’egui ta’yxy voi oin avi amomboae mboi Kuery reve vy oexá pa avi ava’i oexá va’ekue kue mba’eiko haré ma oiko vy py ja oikuaa pa ma vaipa’i ma aepy mboi Kuery retã re oikoapy. Ha’e vy ma ava’i va’e ojuká xe ma okuapy Yube Inu pe, mba’emo oexá va’ekue ha’e gui oikuaa oikovy va’ekue nomboaxái aguã nguentarã Kuery pe yvy re ikuai va’e pe. Poã ho’u rire oka´u rei teri reve Yube Inu oexá ramo ta’yxyae omokõ ma ovy! Ha’e rami rei ramo ha’e ojapukai ma mboi Kuery omokõ ta maramo! Ha’e ramo tayxy, Yube Shanu oú ha’e gui hatyvu, ha’e vy oporai omboaxá pa aguã mba’eiko oexá merami mba rive ma ra’e, mba’eve rei aema ra’e! Ko’engue juma ha’e ndovy’ai rei, ojepy’apy rei oikovy, ayuhuasca ho’ú vy oexá va’e kuere, ixupé Quando ele estava na nascente de um igarapé, sentado, pensando em como voltar, de repente apareceu um homem bem moreno, que na verdade é um peixe encantado chamado Ixkin, que chegou perto e perguntou: — O que faz por aqui? Yube Inu respondeu: — Estou aqui perdido, tentando voltar para casa, pois a minha mulher e a família dela na verdade são um bando de jiboias e estão querendo me matar! Me ajuda! Me leva de volta para casa? Ixkin respondeu: — Vamos! Eu ajudo você a fugir daqui! Você está vendo esse meu cabelo todo quebrado? Pois é! Seus filhos e sua mulher, que você deixou na terra, estão passando fome! Eles quase me comeram, por pouco me salvei aqui no oco de um pau no meio do rio! Eles queriam me pegar e eu fugi! Vou te ajudar, sobe aqui nas minhas costas, que ajudo você chegar até sua verdadeira família! Ao chegar junto com sua família verdadeira, Yube Inu passou vários dias contando as histórias e os mistérios do mundo ramo py anhetegua meme aepy oexá. Yube Inu oó ju ma ka’aguy re hembiá vy, ojavá xe’i vy oó ju aguã ngoóeté’i re, ngua’yxy ha’e ngua’y Kuery oejá ague py! Ha’e vy ha’e oin ri yy rembé re ojepy’apy oiny mba’epa ojevy Ju aguã ngoó katy jave ma ovãe petei ava va’e kamba rei’i va’e Ixkin hery va’e, ha’e vy oporandu ixupe: — Mba’e tu rejapo koropi? Yube Inu ombovai: — Apy akanhy aikovy, aá nha’ã juma aikovy xeró katy, mba’eiko xera’yxy ha’egui hetarã Kuery mboi meme ha’egui xejuká xe ma okuapy! Xepytyvõ! Xereraá ju xeró katy? Ixkin ombovai: — Jaa má! Roipytyvõ raema rejava aguã apy gui! Rexá nha’ã xe’á ope ope’i va’e? Ndera’yxy ha’e ndera’y Kuery yvy re rexá pa va’e kue ma ikaruai raxa ma okuapy! Ha’e Kuery xe’u rai ma, haxy py ma aá jepe kuri yvyrá ho’á va’ekue py anhemi vy rive! Xejopy xe va’ekue aá jepe Ju! Va’e ri ejeupi xekupe torogueraá ju neretarã kuery etei ikuaia py! 100 101 das jiboias. O caçador compartilhou tudo que vivenciou durante aquele tempo nas águas, desde os pequenos detalhes, até as coisas mais importantes. Enquanto isso, sua outra família estava se preparando para sair a procurá-lo, e planejavam matar Yube Inu quando o encontrassem. Sua família verdadeira não deixava ele sair, nem para usar o banheiro, na tentativa de protegê-lo, com medo de que acontecesse alguma coisa! Ele fazia as necessidades fisiológicas, tomava banho e comia suas refeições diárias sem sair de casa! Até que um dia Yube Inu resolveu sair um pouco, quando de repente vem uma jiboinha, um dos seus filhos mais novos, cantando o seguinte: Sirim sirim sirim – e acabou engolindo o dedim do seu pé na tentativa de engolir o pai! Veio o segundo filho fazendo a mesma coisa: Sirim sirim sirim – e engoliu o dedão do pé! Por fim veio Yube Shanu, a mulherjiboia, que engoliu Yube Inu até a cintura, conforme a visão que ele teve na força da ayahuasca! Porém ele se apoiou entre uma árvore e outra, se segurou e gritou pedindo ajuda de outros parentes: Ovãe juma nguentarã Kuery ete’iapy vy ma Yube Inu kaújo omombe’uare oin mbovy ara rei he’yn mboi Kuery retã regua re. Ha’e omombe’u pa katui’in. Ha’e rami aja amobae hetarã ramingua Kuery oiko katu ma okuapy oeka aguã ixupe, ojoú mavy ojuká aguã rami onhemonby’á okuapy. Hetarã etei ndojejai oen oen aguã, jaí py pó aguã mavoi, oguerokyje vy! Ha’erami okuaru ha’e ojaú, okaru oguypy meme! Ha’e rire ma peteim ara ha’e oen japy´a´i raga vy oexá petei mboi’i, ta’y ijapyre kue ma oú ra’e vy oporai: Sirim Sirim Sirim - ha’e vy omokõ ipynxá peteim, nguu pe omokõ mba nhea’ã vy! Ha’e rire ma amboae mboi ju oú ha’e kue rami ju ojapo ypynxã Rovai Ju omokõ, ha’e rire opa’iapy ma Yube Shanu ju oú vy ma omokõ iku’á peve ayuhuasca ho’ú jave oexá ague rami! Va’eri ha’e ojejopy yvyrá re vy ojapukai nguentarã Kuery pe oipytyvõ aguã: — Xepytyvõ apy! Mboi kuery xemokõ ta má!!! Ha’e javi ve jogueru onhãmba reve, ha’e rami mboi Kuery opoi ju ha’egui ojeoi pa ju. Yube Inu ogueraa — Por favor, me ajudem! As cobras estão me engolindo!!! Vieram todos correndo para socorrer, as jiboias soltaram e foram embora. Yube Inu foi levado na rede até sua casa, onde recebeu todos os cuidados necessários. Mas ele sabia que iria morrer, porque a parte do corpo que foi engolida estava apodrecendo. E conforme os dias foram passando, ele foi explicando sobre a pouca experiência que teve no contato com a ayahuasca. Até que chegou o momento de Yube Inu fazer sua passagem, mas antes disso explicou que ao completar sete dias era para ele ser visitado, pois dos membros do corpo iriam nascer plantas medicinais, incluindo principalmente o Jagube e a Chacrona. Yube Inu explicou como tirar, fazer a mistura, preparar e comungar, ensinou as músicas a serem cantadas, mas o resto ele iria explicar na força, pois ele seria a própria força da medicina: — Quem provar dessa medicina, estará comigo! Vai aprender cada vez mais, pois irei ensinar vocês na força! Depois de uma semana cumpriram o que foi dito, pois antes ele ensinou tudo o que aprendeu no mundo das jiboias: as pinturas, as canções, os segredos e tudo mais! ju okuapy kya py hoó peve, ha’e py opena’i okuapy aguã. Va’eri ha’e oikuaa mavoi opa’i rãa, mba’eiko omokõ ague peve py hu’umba ma. Ha’erire peteim teim ara oaxa ovy ramo ha’e omombe’u mba’exagua pa oaxa raka’e ayuhuasca ho’ú jave. Ha’erire ma ovãe ma Yube Inu oó’i má aguã, ha’e vy ma ha’e omombe’u mboapy meme petei ara rire ma ojeoi aguã oipoú aguã, mba’eiko hete kue’i gui ma henhoi va’e rã poã poã’i, Jagube ha’e gui Chacrona. Yube Inu omembe’u mba’exa pa heterã Kuery ojapo aguã poã, mba’e mborai rãpa oporai, ha’e amboae ramingua mingua ma poã ho’ú rire mara omombe’u: — Kova’e poã ho’u va’e ma xereve rã oiko! Oikuaa pa rã mba’emo regua, xee raema ambo’e! Ha’e vy ma mboapy meme petei ara rire ma oporandu va’ekue ojapo ma, ha’e py omombe’u paema rire mboi kuery retã re oexá va’ekue kue: jegua, mborai ha’e opa mba’e! Ha’e rire aema ayn oiko kova’e poã, ha’e javi ve ombojerovia’i va’e pe omo´ã randu ve ovy aguã! 102 103 É por isso que hoje em dia existe essa medicina sagrada para todos aqueles que acreditam, e quanto mais estudamos, mais aprendemos com ela! Haux Haux! Viva Yube Inu! É por isso que em minhas obras de pintura que me inspiram a fazer é sobre essa história do surgimento da ayahuasca através de Yube Inu e Yube Shanu! Haux Haux! H´e vete Yube Inu! Ha’e vy aema xee jegua ajapo va’e py aexauká ha’e va’e regua, ayuhuasca ijjypy ague regua Yube Inu ha’e Yube Shanu gui! 104 Sueli Maxakali 105 NOSSAS IMAGENS, NOSSA CULTURA Meu nome é Sueli Maxakali, sou da Aldeia Hãmkãim. Mas quando eu comecei a trabalhar com imagens, eu morava na Aldeia Verde. Eu vou falar um pouquinho sobre meu trabalho que está na exposição Moquém_Surarî e também sobre quando eu comecei a trabalhar. Foi assim. A primeira coisa, quando eu peguei na máquina, eu comecei a tirar foto com as meninas da Aldeia Verde para fazer um livro, Koxuk xop/Imagem: fotografias tikmũ’ũn de Aldeia Verde (2009). Foi quando tivemos essa ideia de fazer um livro. As fotos que escolhi para o livro são tipo imagem, koxuk. Eu escolhi aquelas fotos porque elas parecem muito quando desenhamos, parecem uma imagem de espírito, de yãmĩy. Pode parecer que está um pouquinho borrado, mas nós tivemos que escolher daquele jeito, para poder mostrar nossa cultura. Fotografia, em nossa língua maxakali, também chama koxuk. Ao mesmo tempo, para nós, espírito é koxuk e também yãmĩy. ORE Ã, ORE REKO Xerery ma Sueli Maxakali, xee ma tekoa Hãmkaim. Anhepyrun mba´eapo koo hi´ã ranga re, jave, xee aiko tekoa hovy py teri. Xe ayvu ta mboapy`i xerembiapore oin va´e koo mba´e jexauka py guare Moquém_Surarî ha´e ara ka´e pa anhenpyrun koo tembiapo. Virami ma Yjy pyre ma, ajopy te´ã mboia gui, amboypy te´ã aipe´a kunhangue´i gui krã mboae Tekoa hovy pygua reve ojejapo aguã peteim kuatia pará, Koxuk xop / há´ã anga: hi`ã anga tekoa hovy (2009). Há´e pyma hexakã peteim kuatia pará rojapo ãguã. Hi´ã ranga aiporavo kuatia re varã ma koo hi´ã, koxuk, aiporavo há´e va´e ma há´e teim ojekua reta rei ta´ã anga japoa rami rei, há´e vy nda hi´ã ojekua mba´emo nhe´en va´e rami. Ndojekua porai merami oje´o rei merami, va`eri roiporavo há´e rami teim, roexauka aguã ore reko. Nho´ã mboia gui, ore ayvu py maxakali, roenoi koxuk. Va´eri. Ore vype, nhe´en há´égui hi´ã. Há´e vy ma roiporavo tema. Nhenpyrun tembiapo. Há´e rire rojapo kuatia. Ymã kuare moin porã Então tivemos que escolher. Começamos a trabalhar. Depois fizemos cartazes para o Museu do Índio. Nós fizemos uma exposição lá também. E isso ajudou bastante para mostrar os nossos yãmĩy fora da aldeia. Isso também foi importante para o pessoal ter mais conhecimento sobre algumas espécies de bichos que hoje, aqui no Vale do Mucuri, acabaram. Vejo que ainda tem poucos bichos, eles se adaptaram dentro da água poluída, como a gente vê às vezes algum kegmaih. Para nós, kegmaih é um espírito também. Kegmaih é um espírito que, quando a gente derruba, passa massa de mandioca nele para ele poder levantar. Kegmaih é tartaruga. Como a gente vê, em Teófilo Otoni mesmo, onde tem água poluída e tem um monte de kegmaih. A gente vê que são muitas as espécies que estão sofrendo pela violência toda contra os bichos, e a gente se preocupa muito com isso. Também queria dizer que nosso povo está na luta pela terra para poder voltar nosso yãmĩy, para ele ficar bem forte, e voltar também nossa mata, que é mîmputax. Quando nós falamos mîmputax é o espírito da madeira que tem dentro aty py nhande kuery pe. Roxauka há´e py guive. Há´e orepytyvon vaipa´í roxauka aguã ore mba´e nhe´en okakaty ve. Há´e voi Iporã hete há´e hetave guive oikuaa ve koo mymba ka´aguy regua ãyn, koo Vale do Mucuri, opama. Haexa ma mboapy`i ma mymba ka´aguy, há´e kuery ojepokuaa yy ky´apy, Há´e rami ore roexa amongue kedmaih. Ore vype ma nhe´en porã havi Kegmanih ma nhee havi, jaity maramo, emboaxa mandi´ó hapomo hexe marã há´e opu´ã ju aguã. Kegmaih ma karumbe. Ore roexa harami, Teófilo otoni, mano rã oin yy ky´á oin heta kegmaih. Roexa heta regua mymba ka´águy. Ojexavai okuapy koo mba´e vai mymba re, ore jojepy´a py raxa kova´e re. Xeayvu xe havi ore xeregua kuery ikuai joguero´a vi yvy re ojevy aguã ore mba´e nhe´em há´e imbaraete aguã, ojevy aguã ka´aguy orevype, ore mba´e nhe´en. Ore ayvu maramo mba´e nhe´en ro´e maramo yvyra nhe´en ka´a guyre ikuai va´e pe, ãyn opama ovy Mba´emo vai oiko ramoi. Mba´emo nhe´en ma orevy pe iporã hete va´e Kegmaih, nhe´en ka´aguy re ikuai, oexa há´e kuery. 106 107 do mato, que hoje está acabando por causa da violência contra as matas também. E os yãmĩy para nós são muito importantes. Kegmaih, espírito, ficam tudo dentro da mata, eles vêm de dentro da mata. Mas hoje estão acabando. As fotos também são muito importantes. Tirar foto hoje é diferente do que você via antigamente, por isso é muito importante registrar. Hoje em dia as fotos estão mudando cada vez mais. É muito importante a gente tirar fotos, fazer mais livros, fazer mais escola. Ter a terra para fazer escola-floresta para fazer mais atividades, fazer mais livros. Tudo isso é muito importante para nossas crianças. As fotos, os quadros fazem as crianças de fora da aldeia verem também, para diminuir mais o preconceito. Porque ainda existe muito preconceito contra nós, indígenas Maxakali. Bay! Va´e ri ayma. Opa ovy ma Ta´ã anga nhemboi iporã havi. Ta´ã anga ãyn jaipe´a mbaoe rami jaexayma guare rami ve´yn, há´e rupi iporã hete nhamoiporã. Ayn ta´ã anga voi hovapa ve ovy ve. Iporã hete jaipe´a ta´ã anga, jajapo ve kuatia pará, jejapove nhembo´ea. Jareko yvy jejapo aguã nhembo´ea ka´aguyre jejapove aguã tembiapo, kuatia pará há´e va´e javi ma iporã hete nhane kuyringue pe. ta´ã anga, mba´emo rã´ã anga ojapo kuyringueoka rupi (jurua kuery) oexa aguã, há´e rami orerexa porã ve´i aguã. Oin tery Ndorerexa porãia orere, mbya Maxakali. Bay! Há´e vete! 108 Vernon Foster 109 ARTE INDÍGENA CONTEMPORÂNEA A arte está aí desde que a humanidade existe. Sendo relativamente novo no mundo da arte, enquanto artista, só posso dar o meu ponto de vista, pois a arte está nos olhos de quem a vê. Enquanto uma pessoa conhecedora da história e do folclore da cultura ameríndia, achei isso não apenas emocionante, mas um importante meio de preservação. Alguns dos antigos aspectos de uma cultura deram lugar à passagem do tempo, mas é por diversos meios que essa cultura continua viva à medida que cultivamos seu significado. O trabalho da arte também foi feito com a intenção de preservar a cultura para futuras gerações. Talvez os antigos soubessem que algum dia a exploração de nosso povo poria em risco seu modo de vida. Portanto, o que vemos hoje na sociedade moderna não é apenas a arte em si, mas revela a vida como ela era, a cada dia, em momentos e em eventos especiais. Olhar para um pedaço gasto de pele de búfalo pode nos mostrar como eram habilidosas as pessoas em criar coisas para sobreviver. Havia aqueles que eram tão sofisticados em suas técnicas e criatividade que hoje poderiam ser vistos MBAVYKY NHANDE KUERY REGUA AYN GUA Mbavyky ma oiko ijypy’i gui ve. Xee ma ayn gui ramo aiko mbavyky kuaa rami vy ndaikuaapai vy ma xee aexáa rive amombe’u kuaa, mba’eiko arte py petei tei nhama’en va’e aema jaexá. Ha’e rã oikuaa pa ma va’e ma amomboae rami ju oexá, va’e ri xevype ramo ma avy’a vaipa ha’egui kova’e rupi raema nhamoiporã. Amongue yma guare ma okanhy mba’e ve ma, va’eri heta mba’e rupi ma nhamoingó teri nhande Arandu. Tembiapó arte regua ma ojejapó nhande aranduá nhamboajá aguã kyringue ve pe. Xapya’a ramo ma ymãgua kuery oikuaa rei mavoi ra raka’e mba’emo nhandererekoaxy va’e rã vy omoiaxy pa ve nhadereko’iá. Vaka ramingua pire kue re nhama’en vy ma jaexá mba’exa ymã gua kuery ojapó raka’e ikuai porã aguã. Amongue’i ma ojapó porã raxa ramo Picasso ha’e Van Gogh ramieté ojapó. Xapy´a ramo ma xeayvu porã raxa rive rã va´e ri ha´e kuery ma ojapó porã vaipa ramo rive ri. Amongue ma ndojapó porãin va´eri ovaré raxa como um Picasso ou um Van Gogh indígenas. Talvez isso 110 seja extremo, mas de toda maneira a arte era feita com grande orgulho e cuidado. Às vezes, de modo muito rudimentar e não tão bela quanto outras, mas tão importante quanto. Enquanto artista, como muitos outros, comecei a admirar outras obras e comecei até mesmo a tentar copiar, do que sou culpado, mas por fim cada um acaba encontrando seu estilo próprio e único. Eu lutei para achar meu estilo. Talvez isso seja uma constante. Eu pintei esboços simples de tinta a óleo, acrílico, cená1 � Ledger designa o livro razão, fiscal ou de contabilidade, que deu nome à rios, retratos, até mesmo reproduções prática artística desenvolvida a partir do século XIX pelos povos indígenas abstratas com qualidade de museu de norte-americanos das Grandes Planícies, na qual as folhas de papel utensílios diários, instrumentos musidos ledgers abandonados pelos colonos estadunidenses eram utilizadas como cais de pedras lascadas e muito mais. suporte para seus desenhos e pinturas. Muitas das coisas dessa natureza, com “Contagem de inverno” (waniyetu wówapi, na língua lakota), por sua as quais fui criado, eram dadas, presen- vez, é uma prática pictográfica desses povos indígenas das Planícies que teadas ou trocadas, o que são meio de tradicionalmente consistia na inscrição sobre o couro de animais de séries de manter vivos os antigos costumes. desenhos e pinturas que registravam, a partir da primeira queda de neve no ano, Fiquei interessado nos estilos antigos conhecidos como os acontecimentos naturais e culturais significativos para a coletividade. contagem de inverno e, mais tarde, como arte ledger1. Esta ae tema. Xee ma amboae kuery rami ae amboypy, amboae kuery ojapó va´e kuere ranhe ama´en, ha´e gui ajapó nhea´an ha´e raminguaete´i va´eri haré ma jave ma nhande ae jajoú mba´exa rei pa jajapó aguã nhande mba´e ae rami. Xee ma haxypy ajoú xemba´e ae tembiapó ajapó aguã. Amboypy vyma xee ajapó gua´u´i rive, ndajapó porãi ae va´e ri. Ajapó xe va’e ma ymã guare kuery ojapó va’e regua ara ymã oi papaá ha’e rire ma mbavyky ledger1 re ju. Ha’e va’e regua ma ojejapó mba’e mo pire ary rupi 1 � Ledger kuatia nhangareko va’ea ha’e jaipaparia, há’e va’ema oenõi hajukue moataa rami ojapó va’e kuere. Ha’e va’e regua jeporuambavykyre oikuaá heravya vyma ymãguarevy XIX nhande kuery mbavyky rema ojekuaa meme mba’e pa oiko raka’e nhaderovaigui gua yvy bem rupigua guery kuatia roguere rupi ledger oeja tekoá ikuaia rupi amongue py ma: Nhande kuery raka’e yvy mboegui ouva’e kuery jepe exarai raka’e yró’y ramo (waniyetu joguero’a ague, nhemomogarai, jaxy tata’i oaxá va’e wówapi, lakota ayvupy), há’e pyma kue re ha’e gui okya terã anyin pa a rive ojekuaa. Ha’e oin mba’emo ranga nhembo jegua. omombe’u nhande reko marami pa re ma rire Búfalo Pire ha’e gui guaxu’i pire haxy pa rei oin raka’e vyma omyin va’e v’ere vyma angare hembiapo aguã py ovãe jereama ojejoú aguã jogueraa mombyry ve maramo. Hembyré vy nda onhembo jegua raka’e vyma ou mombyrygui há’e vyrima mba’emo kue’i aema ojoú okuapy raka’e Ledgers yma guare, pirere gui ojeaó vyrima nõe ndui yro’y guive vyma há’e kuery jepe ikuai há’e ome’en raka’e Londres re oó va’e Kuery pe, ha’e gui vearami vyma in’ã arandu raka’e Kyre’yin mba kuery pe. Hetá ha’e ramingua mbavyky vyaema oikuaá jojorami ijoja. 111 era feita sobre couros curtidos como sobre uma grande tela. As representações frequentemente mostravam o que estava acontecendo dentro da comunidade à época, tal como: batalhas indígenas, cerimônias, a passagem de estrelas ou padrões climáticos e simples feitos de realização pessoal. Na virada do século, couros de búfalo e de veado não eram mais tão abundantes devido à expansão para o oeste. O que restou foi encontrado em velhos ledgers, presentes que foram dados aos dignitários, até mesmo visitantes de Londres e, é claro, os soldados levaram sua parte de lembranças. Muito desse tipo de arte pode ser encontrado em vários museus ao redor do mundo. Por volta de 1800, começaram a passar carroças de colonos por terras indígenas, frequentemente deixando carroças quebradas ou abandonadas ao longo das trilhas. Os indígenas começaram a examinar os restos do que era deixado para ver se poderiam utilizar quaisquer objetos descartados. Frequentemente eram encontrados registros financeiros, cadernos de música e de notas, jornais ou diários pessoais. Não demorou muito para que os zeladores da contagem jajoú aguã ha’e ve hetá ymã guare moin porã ty py rupi. 1800 rupi ma Juruá Kuery oaxaxá ma okuapy nhande kuery yvy rupi, ha’e rami vy ma amongue oejá mba’eru ivaipa ramo ha’e yn vyma oejá riveté tape tape rupi. Ha’e ramo nhande kuery ojeoi oma’en vy mba’emo oejá paá va’ekue xapy’a ramo ojoú reguarei mba’e mo oipuru va’e rã vy. Va’e ri ojoú ve ma kuatia pará anho’in raxa. Haré vaipa he’yn re ma Ledger ojeporu ve ma mbavyky ojapó okuapy aguã ha’e rire aema ayn ramo mbavyky Ledger rami omboery. Ha’e rire ma yvy mongoraa guepy He’i va’e oiko jave ma ndoejaai vei ma raka’e mbavyky ojapó okuapy aguã rire aema ha’e regua okanhy mba. Kue’i gui ma aema iraja ma’emty nhavõ 1970 py oiko va’e Kue gui 2 � American Indian Religious rive ma ha’e pa rei Ju nhande Freedom Act, 1978, pyma oguerova raka’e mburuvixa kuery nhande kuery ojapó aguã mbavyky ha’e gui kueryre onhemoma’emagui oin vy ho’anga guepy o irajare ngueko py ikuai aguã2. Ha’e vy ma onhemompena vyrima nhande kuery oikoxearamia vyrima teko japyakaá omboypy ma Ledger ayn gua. Yma há’e virami overõmporã ndua oin, guare’i heko ogueru ju vy ombopyau oguero poraia, ojapyakaá rupi vara oguereko oguero porai aguã, oje ju mbavyky nhanderoai katy gua. rerekopy. de inverno começassem a usar ledgers para fazer sua arte, 112 tornando-se conhecida como arte ledger. Mais tarde, durante a era das reservas, todos os tipos de arte e expressão foram proibidos e essas técnicas perdidas no tempo. Foi apenas bem recentemente, devido à Lei da Liberdade Religiosa dos Indígenas Americanos, aprovada nos anos 1970, que todas as formas de cultura e de tradições ameríndias puderam florescer novamente2. Com isso, surgiu a arte ledger contemporânea. O estilo antigo trouxe uma nova abordagem para o mundo da arte ameríndia. Essa arte retornou por meio de outra geração de artistas, incluindo a mim mesmo. Pintar de um jeito muito simples formas por vezes distorcidas que se somam a um aspecto abstrato, com poucos detalhes e situando o assunto na sociedade moderna, como o vemos hoje. Por exemplo: pintar índios 2 � O American Indian Religious Freedom andando na traseira de um velho modelo T Sedan com suas Act, de 1978, foi uma mudança na política indigenista estadunidense que marcou vestes indígenas completas de quando foram levados para o reconhecimento dos direitos civis dos povos indígenas à sua liberdade religiosa, a Europa. Ou indígenas em trajes completos carregando isto é, à expressão de suas cerimônias, guarda-chuvas. O fundo se torna infinito. rezas, rituais, cantos, danças e tradições. Ha’e va’e mbavyky ojevy ju amboae Kuery yma gua kuery gui ha’e gui xevype voi. Nhambopará rive’i Iporã raxa vaipa va’e yn tein ma amongue mbavyky ma omaerei He’i va’e regua oiko ogueru oexauka avião mba’emo rei regua, ayn jaikoa rupi oiko va’e regua. Peija: Jajapó nhande kuery mba’eyru yma T sedan rakykue ikuai va’e nhande’i va’e rami onhemondé va’e Yvy mboae re ogueraa jave. Ha’e rami he’yn vy ma onhemondé pa reve ha’e gui oky’ã reve. Amongue py ma aexá ramo ajapó vy amoboje’á rei reve ajapó. Mbavyky kuaa rami aiko vy ma xee amongue ajexá ramo kuatia rami ajopy vy ambopará aguã ha’e ma xee amboypy ma. Xee ndaikuaieté mba’e pa areko xeakã re. Va’e ri ha’e rei tavy nostálgico rei ramo ju tavy. Xee ajapó xerembiapó jave ma, xapy’a ramo nhande’i va’e vy ma xee anhenhandu ha’e va’e oiapy, oikoapy, mba’exa pa heté, mba’e pa opy’a re oguereko, mba’exagua rei pa ha’e oiko ha’e gui mba’ere ojerovia. Ha’e va’e areko pa rire ma amboypy ma xerembiapó Ledger regua. Aeká Ledger yma guare livraria rupi, loja yma guare guare’i oin 113 Às vezes me pego fazendo uma pintura em um misto de humor ou de seriedade. Como artista, me sento com uma tela ou um pedaço de papel à minha frente e começo a criar. Eu realmente não sei o que tenho em mente. O processo emocional pelo qual eu passo é um tanto nostálgico. Quando desenho ou pinto o retrato de um índio, eu tento me colocar naquele período e captar a realidade que meu sujeito vivia naquele período, não apenas no aspecto físico, mas emocional, social e espiritual. Uma vez que consigo imaginar tudo isso, daí posso começar o projeto de minha arte ledger. Procurei ledgers velhos em livrarias, lojas de antiguidades e de livros de música. Quanto mais velho o papel, melhor a arte. Eu sinto que isso traz um jeito antigo à vida. A arte ledger está crescendo em popularidade entre entusiastas e amadores indígenas. Não importam as mudanças, haverá sempre um lugar para a arte indígena. Enquanto tivermos arte, teremos sempre uma cultura. A arte não pertence a um homem ou colecionador, como muitos costumes, a arte pertence ao povo. aty rupi ha’e gui kuatia pará mborai regua re ipará va’e rupi guive. Yma guaré ve kuatia ramo arte voi Iporã ve. Ha’e va’e regua ajapó vy ma ymã guare’i py ju merami ajevy. Mbavyky ledger ma tuvixá ve ovy ojapó rive’i Kuery pe ha’e gui ojapó eté va’e Kuery va’e Kuery pe. Oaxaxá tein ma oin kuerei raema nhande kuery mbavyky. Mbavyky jareko nhavõ re ma jareko rã nhandereko. Mbavyky py peteim mba’e anho he’yn, paven mba’e aepy. Yermollay Caripoune 114 1. MITO DO CRIADOR TEMERÕ’Q, 2019 1 115 • Yermollay Caripoune (Aldeia Santa Isabel, Terra Indígena Uaça, AP, 1976) MITO DO CRIADOR TEMERÕ’Q No princípio havia só Temerõ’q, o pai primeiro. Cansado de certezas e isolamento, fez surgir o gêmeo oposto de si mesmo, Laposié. Temerõ’q deu a ele o poder da transformação. Laposié vestiu seu manto de pele e foi para os três mundos. O mundo de cima, dos espíritos e das almas, o mundo do meio, onde vivemos, e o mundo de baixo, que é o mundo das águas, onde vivem os animais que são como nós, são gente. Laposié vestiu seu manto de pele e se transformou em Aramary, cobra sobrenatural e monstruosa, o sedutor das moças, e foi para o mundo das águas. Ele ia de um mundo para o outro engravidando as mulheres, que geravam filhos de bichos. Laposié é transformado em Aramary, uma criatura que desce das alturas, equilibrada pela proteção dos seres, nascendo o amor e do amor, a compreensão. Aramary levou para o mundo das águas uma moça e transformou-a em cobra. Essa mulher passou muito tempo OMO BEM´U TEMEÕ`REGUA Ijypy ma oiko raka´e Temeõ´q rive´i nhanderu tenondégua. Ikane´õ ma ha´e anho´in ma oiko agui vy ombojera ojeramingua´i, Laposié. Temerõ´q ome´en ixupé ombojera avi aguã. Laposié omoin opire ha´e gui ma oó mboapy yvyrupá re. Yvyrupá yvatégua, nhe´e kuery ikuaia py, ha´e yvyrupá mbytegua re, ha´e apy nhandekuaia re, yvyrupá yvy ve katygua py, yryrupá yy retã, ha´e mba´emo ra´y nhande rami ikuaia py. Laposié omoin opire vy ojeapó Aramary re, mboi guaxu re, kunhague mbovy´aa re, ha´e vy oó yvyrupá yy retã re. ha´e oaxaxá ovy kunhague ombopuru´á ovy, ha´e vy kunhague oguereko´i vy mitã´i ramo ivaikue´i va´e meme Laposié ojeapó Aramary re, ha´evy oguejy yvatégui, oiko joayvu ete va´egui ha´e ikuai porã. Aramary ogueraá yvyrupá yy retã re petei kunha va´e ha´egui ojapó mboi ju. Ha´e va´e kunha va´e oiko hare vaipa yvyrupá yy retã re, ha´e rire ma haxy py ojava Aramary gui vy ojevy ju guekoá re yvyrupá mbyte pygua 116 117 vivendo no mundo das águas, mas conseguiu fugir de Aramary e voltou para sua aldeia no mundo do meio. Esta mulher estava com o seu corpo todo marcado com belas pinturas. Ela falou que estava numa aldeia muito linda e que não dava vontade de sair de lá. Então ensinou outras mulheres da aldeia o segredo sobrenatural do Aramary, e falou o segredo do seu manto de pele, que chamava de Adamnã, e como ele se transformava em lindas marcas coloridas e brilhantes, que tinham o poder de sedução mortal. Quando o Aramary chegou na sua casa, no mundo das águas, ele não viu sua mulher e ficou furioso. Então, veio para o mundo do meio olhar sua mulher que tinha fugido dele. Quando ele chegou na aldeia, à noite, teve uma surpresa, os homens e mulheres estavam todos pintados como ele. Então, o Aramary se transformou num lindo moço para pegar a mulher, mas ele não conseguiu porque os homens da aldeia já conheciam o seu segredo e o flecharam. Mas as flechas não o perfuravam, aí ele se transformou rapidamente e mergulhou para o mundo de cima, transformou-se em Laposié. Chegou de madrugada e atingiu a mulher com sua flecha sobrenatural, re. Kunha va´e rete re heta ipará porã va´e oin reve ovãe Ha´e omombe´u vy ma oiko raka´e petei tekoá iporã raxa va´e py, ni ndajaju je veiapy oiko raka´e. Ha´e omombe´u ha´e ombo´e Aramary regua re vy omombe´u Aramary pire regua re vy Adamnã omboery vy omombe´u mba´exa pa ha´e ipará porã vy hendy rei va´e re, ha´e rami vy ha´e kunhague ombovy´a vaikue rei. Ha´erire Aramary ngoó py ovãe jave, yvyrupá yy retã re jave ha´e ndoexai nguembireko vy ivai raxa. Ha´evy oú yvyrupá mbyte regua re ovãe vy nguembireko ojavá ha´e kue re. Ha´e vy pytun jave ovãe vy onhemo ndyi mba´eiko avakue ha´e kunhague ha´e javi ve ma rity ha´e rami meme ombopará ra´e ngueté´i kuery. Ha´e rami Aramary ojeapó petei ava´i va´e rami iporã vaipa´i va´e re kunha va´e ojopy ju aguã, ha´e ri ha´e va´e ndojapoi mba´eiko ja avakue pave aema oikuaa pa hexe guavy guyrapá hu´y opoiima. Ha´e ri hu´y ndoikuei ipire re, ha´e vy ha´e ojeapó pojava vy ópo yvyrupá yvatégua re Laposié re ju ojeapó. Ko´en rai jave ova´en vy opoiju hu´y oguyrapá py kunha va´e vy ojuká kya matando-a na sua rede. Então, transformou-se na cabeceira do rio Kuripí e fez muitos pés de jenipapo do Aramary. Temerõ’q viu tudo isso e ficou furioso. Expulsou-os para o mundo do meio e tirou do Laposié o seu manto de transformação. Temerõ’q transformou Laposié num menino. Sendo assim, no mundo do meio não tinha mãe, nem pai. Podia contar só com as irmãs para retornar para o mundo de cima. Neste percurso ele estava com muita fome, e disse para suas irmãs procurarem comida, então elas disseram: — Não vamos fazer beiju. Mesmo contrariadas resolveram fazer, pois o menino estava com muita fome e ficava tirando pedaço de beiju cru. O menino voltou a tirar mais um pedaço de beiju, sua irmã irritada apertou sua mão no forno quente, queimando-o. O menino ficou triste com a mão queimada e com fome. Então, começou a chorar e foi embora para o mato. Produziu um arco e muitas flechas. Como o céu era baixo, ele começou a flechar para o céu e acertou a grande estrela Warukamã. Animado, começou a flechar uma atrás da outra, até ser criada uma corda de flechas. Suas irmãs gritavam py oin jave. Ha´e rire ma ha´e ojeapó yakã Kurupi re vy ombojera reta jenipapo Aramary va´e. Temerõ´q oexá pa vy ivai raxa. Omodouká yvyrupá mbyte gua re ha´e gui omboi pa ju Laposié gui mba´emo re ojeapóa. Temerõ´q ojapó Laposié ava´i kyrin va´e rami ju. Ha´e vy aema yvyrupá mbyte regua py ndaipoi ha´i kuery. Heindy kuery re rive ma oma´en yvyrupá yvatégua re ojevy ju aguã. Tapé rupi ooá rupi karuai ramo heindy kuery oporandu tembi´ú ojoú aguã ramo ha´e kuery aipo he´i: — Beiju ndorojapó mo´ain he´i. Ha’e rire ma ojapo nho ju mba’eiko ava’i va’e okaru xe vaipa ma ramo ha’egui beiju pyryguá rive omboi ramo. Ha’erire ma omboiju ta ramo heindy ivai ma vy ava’i va’e pó oapy ma tata py. Ha’e vy ava’i va’e onhemboaxyeté ipó okai reve ha’e gui ikaruai ma vy. Ha’e vy ojae´ó reve oó meme ka’aguy re. Ojapo guyrapá ha’e gui heta havi hu’y ojapó. Yvatéa yvyi’in rei ramo ha’e katy hembia oikovy vy raga vy jaxy Tatá Warukamã ju onhyvõ. Ovy’a rei raga vy omombo 118 119 para ele vir comer os beijus que estavam prontos. Ele respondeu que não queria, mas estava indo embora. Então, o menino começou a subir na corda de flecha subindo em direção ao céu. Quando estava a uma certa altura, soltou um grito muito forte. Suas irmãs, avistaram ele subindo, e pegaram um tarubá, conseguindo subir uma certa altura atrás dele. Então, seguraram-no por sua perna e, com o peso delas, conseguiram arrancar uma perna do menino. Mas ele continuou subindo e suas irmãs caíram e entraram no mundo das águas, transformando-se em sapos. Então, o menino chegou ao céu, devolvendo a Temerõ’q o seu manto da transformação. Laposié ou as Sete Estrelas falou do céu para suas irmãs: — Quando mandar a chuva, vocês vão chorar. Elas são os sapos que choram com saudades de seu irmão. É por isso que os sapos, e também os lagartos, as cobras, as árvores, descascam, perdem a sua pele, porque responderam Laposié. Hoje Laposié serpenteia no céu, que é a sua casa. Ele se transformou em estrelas. omombo tema joakykue kykue’i. Ha’rami aja ma heindy Kuery ojapukai tema okuapy oú ma aguã beiju ho’u aguã ojy pa ma ramo. Ha’e rami rei aja ava’i va’e ojeupi ma ovy yvaté katy hu’y omombo va’e kue kue rupi. Ha’e rire ma yvaté vaipa’i ma ojeupia gui ma ojapukai ma. Heindy Kuery oexá ava’i va’e ojeupi ramo vy ojopy tarubá re ojeupi avi jogueravy ha’evea peve’i hakykue. Ha’evy ojopy nho ranga tein hetyma re ranga vy ipoyi vy ava’i retyma petei omboi rive ju. Va’e ri ava’i ojeupi tema ovyaja ma heindy Kuery ho’a pa ju Yvyrupa yy retã re vy ju’i rami ju ojeapo okuapy. Ha’evy ma ava’i ova’en ma Yvaté vy ome’en Ju Temerõ’q pe ojeapoaty. Laposié terã mboapy meme petei jaxy Tatá rire ma yvaté Gui aipo he’i: — Oky amondouká jave ma, pende pejae’ó ta He’i. Ha’e Kuery ma ju’i kuery ojae’ó va’e okyvy re ndovy’ai vy. Ha’e rami rire aema ju’i, teju, mboi, yvyrá opire omboekovia mba’eiko Laposié onhe’e rendu vy aema Ayn gui ma Laposié yvaté oin, ha’e py aema hoó oiny. Ha’e ojeapó jaxy Tatá rami. OBRAS EXPOSTAS HEMBIAPO 120 (Normandia, RR, 1979 – 2021) 2. MALDITA E DESEJADA, 2012 2 121 • Jaider Esbell (Normandia, RR, 1979 – 2021) 3. METAMORFOSE, 2012 | 4. VOVÓ COM MEDO DAS VACAS, 2012 | 5. O CURUMIM ESCONDIDO, 2012 6. ESCONDERIJO DAS MENINAS, 2012 | 7. FUGINDO DAS VACAS, 2012 | 8. SAPO BOI, 2012 9. FAZENDEIRO, 2012 | 10. FUGINDO PARA AS MONTANHAS, 2012 122 • Jaider Esbell 4 5 3 123 7 6 10 9 8 (Maloca da Malacacheta, Terra Indígena Malacacheta, RR, 1973) 11. VACA FLECHADA, 2013 124 • Amazoner Arawak 11 (Maloca do Orinduque, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1969) 12. UMA VACA PARA UM ÍNDIO, 2013 125 • Bartô 12 (Maloca do Japó, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1960) 13. SEM TÍTULO_DIPOI, 2012 126 • Carmézia Emiliano 13 (Normandia, RR, 1987) 14 14. VACAS NO LUAR, 2013 127 • Diogo Lima (Boa Vista, RR, 1997) 128 • Luiz Matheus 15. GRILAGEM, 2013 15 (Comunidade Sorocaima I, Terra Indígena São Marcos, RR, 1977) 129 • Mario Flores Taurepang 16. BOI TAUPERANG, 2013 16 (Mutum, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1971) 17. CABEÇA DA VACA, 2013 130 • Isaiais Miliano 17 (Fronteira entre Brasil e Colômbia, 1978) 19 18. SEMÊ HORI TÉ’É MOMORI HORI NUN DI’AH, 2011 19. YE’PÁ MAHSÜN KÜN ÑA’Ã TÜO’ÑARÃ, 2012 18 131 • Bu’ú Kennedy (Itabirinha de Mantena, MG, 1953) 20. SEM TÍTULO, 2019 DIPOI, 2019 21. CABOCLO D’ÁGUA, 1993 21 20 22 22. FESTA NA FLORESTA, 1998 132 • Ailton Krenak (Porto Seguro, BA, 1983) 23—29. SEM TÍTULO (série Mãgutxi Pataxó - pegando ouriço), 2014 DIPOI (joapya Mãgutxi Pataxó pegando ouriço), 2014 134 • Arissana Pataxó 23 24 25 135 29 28 27 26 (Região do Alto Rio Ituí, Terra Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? ) 30. PATAMARES TERRESTRES, 2004 31 (Região do Alto Rio Ituí, Terra Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? ) 32 33 30 32. OS MESTRES DOS ANIMAIS, 2005 33. O CAMINHO-MORTE, 2005 137 • Armando Mariano Marubo 31. PATAMARES CELESTES, 2004 136 • Antonio Brasil Marubo (Região do Alto Rio Ituí, Terra Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? ) 35 34—35. PILARES TERRESTRES, 2005 36—37. POVO DA TERRA-NÉVOA, 2005 34 36 37 138 • Paulino Joaquim Marubo 38—39. A MALOCA DE KANA VOÃ, 2005 | 40—41. DEMIURGOS KANÃ MARI, 2005 | 42. SERRARAM JACARÉ ANTIGAMENTE, 2005 | 43. ENCONTRARAM A PONTE JACARÉ, 2005 | 44. PAJÉ VARI MÃKO, 2005 45—46. COMERAM OVOS DO PÁSSARO-QUEIXADA ANTIGAMENTE, 2005 | 47. PAJÉ SAMAÚMA, 2005 48. FLECHARAM GAVIÃO, 2005 42 40 38 43 41 39 47 45 140 (Região do Alto Rio Ituí, Terra Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? ) • Paulino Joaquim Marubo 44 141 48 46 (Redmond, Estados Unidos, 1955) 49. THE SACRED, 2020 142 • Vernon Foster 49 143 (Maloca do Flechal, região das Serras do Uiramutã, RR, 1945–2020) 50—61. WENNE (TIPOIA), 2020 144 • Bernaldina José Pedro 51 54 53 50 52 145 57 61 60 56 55 59 58 (Kunai’ken, região da Maloca do Tapá, Guiana, 1979) 62. MAIKAN PISI WEI TÎPÎ PÎKKÎRÎ (Terra dos netos de Amooko Makunaimî: Raposa Serra do Sol), 2016 146 • Charles Gabriel 62 (Curitiba, RR*, 1989) 63—64. ENCONTRO COM “CABOCOS”, 2017 63 64 147 • Gustavo Caboco (São Paulo, SP, 1982) 65. ÑOHKÕA MAHSÃ: A ESTRELA QUE NÃO QUERIA DESCER DO CÉU, 2021 66. ÑOHKÕA MAHSÃ: O SONO DA ESTRELA, 2021 65 66 67 67. ÑOHKÕA MAHSÃ: A MÚSICA DA ESTRELA, 2021 148 • Daiara Tukano (São Paulo, SP, 1982) 68. KUMURÔ, 2021 68 150 • Daiara Tukano (Aldeia Barreiro Preto, Terra Indígena Xakriabá, MG, 1981) 69. MORINGA ONÇA IAIÁ, 2020 70. MORINGA TATU, 2020 71. MORINGA JACU, 2020 72. MORINGA GAVIÃO CARIJÓ, 2020 70 69 72 71 152 • Nei Leite Xakriabá 73. TATU, 2020 74. COTIA, 2020 75. ONÇA, 2020 76. ANTA, 2020 77. ONÇA, 2020 78. GATO DO MATO COM LAGARTO NA BOCA, 2020 79. TAMANDUÁ BANDEIRA, 2020 80. TATU SENTADO, 2020 76 75 74 73 80 79 78 77 153 (Aldeia Pindaíbas, Terra Indígena Xakriabá, MG, 1962) • Dalzira Xakriabá (São Sebastião, SP, 1970) 154 • Carlos Papá 81. NHE’ERY JERA (Desabrochar da Mata Atlântica), 2021 81 (Aldeia Darí, Rio Negro, AM, 1984) 82—83. KE_EROA NHOA, NHINÍKO HÓTSHOME KAAKÓ KARO NHOA (fiquei com raiva e levantei-me para falar), 2021 155 • Denilson Baniwa 82 83 (Maturuca, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1982) 85 86 84—103. SEM TÍTULO (série Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020 DIPOI (joapya Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020 84 156 • Elisclésio Makuxi 84—103. SEM TÍTULO (série Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020 DIPOI (joapya Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020 90 89 88 87 94 93 92 91 98 97 96 95 (Maturuca, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1982) 158 • Elisclésio Makuxi 159 (Maturuca, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1982) 100 84—103. SEM TÍTULO (série Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020 DIPOI (joapya Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020 99 101 103 102 160 • Elisclésio Makuxi (Santa Helena de Minas, MG, 1978) 104. MĪMÃNÃM (PAU DE RITUAL TEM CANTO), 2021 | 105. MÃYÕN (SOL TEM CANTO), 2021 106. MÃ’ÃY (JACARÉ TEM CANTO), 2021 | 107. MÃMXEKA YÕG HÃM ÃGTUX (HISTÓRIA DO PEIXE GRANDE), 2021 108. XŪNĪM YÕG KUTEX (CANTO DO MORCEGO), 2021 | 109. XAKUXUX (URUBU-REI), 2020 | 110. MÃMXEXEX YÕG KUTEX (CANTO DO MARTIM-PESCADOR), 2021 | 111. MÃMXEXEX YÕG KUTEX XI HÃM ÃGTUX (HISTÓRIA DO CANTO DO MARTIM-PESCADOR), 2021 | 112. KAXÕY YÕG HÃM ÃGTUX (HISTÓRIA DO LOUVA-A-DEUS), 2021 113. XŪNĪM XATIX (MORCEGO TEM CANTO), 2021 105 109 108 113 112 104 163 106 162 • Isael Maxakali 107 111 110 (Normandia, RR, 1979 – 2021) 114. TXAÍSMO, 2019 164 • Jaider Esbell 165 114 (Normandia, RR, 1979 – 2021) 115—116. SEM TÍTULO (subsérie Transformação / Ressurgência de Makunaima / série Transmakunaimî), 2017 DIPOI (Mbojoapya Transformação / Ressurgência de Makunaima / Joapya Transmakunaimî), 2017 117—118. SEM TÍTULO (subsérie Transformação / Ressurgência de Makunaima / série Transmakunaimî), 2018 DIPOI (Mbojoapya Transformação / Ressurgência de Makunaima / Joapya Transmakunaimî), 2018 115 118 117 167 116 166 • Jaider Esbell (Normandia, RR, 1979 – 2021) 120. O XERIMBABO DO PAJÉ, 2019 168 119. A LUTA DA VACA COM MAKUNAIMÎ, 2018 • Jaider Esbell 119 169 120 (Normandia, RR, 1979 – 2021) 124. ASSEMBLEIA GERAL, 2019 125. FESTA DO NATAL NO CÉU, 2019 126. DESFILE DE KANAIMÉS, 2019 121 124 123 126 125 171 122 170 121. MULHER PESCANDO, 2018 122. GENEALOGIA DO MACACO, 2018 123. BENZIMENTO DA VOVÓ TATU (KAIKAN), 2019 • Jaider Esbell (Normandia, RR, 1979 – 2021) 172 • Jaider Esbell 127—139. O XAMÃ, 2017 • Davi Kopenawa (Toototobi, Terra Indígena Yanomami, AM, 1956) • Fanor Xirixana (Sikamabiu, Terra Indígena Yanomami, RR, 1968) 127 173 131 130 129 128 135 134 133 132 139 138 137 136 (Uxi u, Terra Indígena Yanomami, RR, 1971) 174 • Joseca Yanomami 140—144. SEM TÍTULO_DIPOI, 2016 141 140 175 144 143 142 145. NAI MÃNPU YUBEKÃ, 2017 176 • MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin) // Acelino Tuin (Aldeia Três Fazendas, Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, AC, 1975) 145 177 (Aldeia Chico Curumim, Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, AC, 1994) 146. YUBE NAWA AINBU (MULHERJIBÓIA ENCANTADA), 2019 147. YAME AWA KAWANAI (A CURA DO ESPÍRITO), 2019 148. BARNẼBURU KENE BÊNI (ARANHA TROUXE A TECELAGEM), 2019 178 • Rita Sales Huni Kuin 146 179 148 147 (Aldeia Chico Curumim, Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, AC, 1994) 149. YUBE INU YUBE SHANU, 2021 150. NETE BEKUN (A MULHER QUE TRANSFORMOU AS MEDICINAS), 2021 180 • Yaka Huni Kuin 149 181 150 (Santa Teresinha, MT, 1979) 182 • Rivaldo Tapyrapé 151—157. SEM TÍTULO_DIPOI, 2017 151 183 154 153 157 152 156 155 (Santa Helena de Minas, MG, 1976) 158. ANDORINHA (série Yãmiy / homemespírito), 2019 ANDORINHA (joapya Yãmiy / homemespírito), 2019 159—165. TARTARUGA (série Yãmiy / homem-espírito), 2019 TARTARUGA (joapya Yãmiy / homemespírito), 2019 184 • Sueli Maxakali 158 161 159 165 164 163 185 162 160 (Aldeia Santa Isabel, Terra Indígena Uaça, AP, 1976) 166. CONSTELAÇÃO ESCORPIÃO SWARÃ, 2019 167. SEM TÍTULO_ DIPOI, 2019 186 • Yermollay Caripoune 166 187 167 188 A EXPOSIÇÃO OMBOEXAUKA 188 189 190 191 192 194 LISTA DE OBRAS OJEKÁ HEMBIAPO 194 195 • Ailton Krenak Itabirinha de Mantena, MG, 1953 • Amazoner Arawak Maloca da Malacacheta, Terra Indígena Malacacheta, RR, 1973 21 CABOCLO D’ÁGUA 1993 22 FESTA NA FLORESTA 1998 20 SEM TÍTULO_DIPOI 2019 11 VACA FLECHADA 2013 Nanquim sobre papel-arroz Mbovya kuatiare 38 x 38 cm Acrílica e urucum sobre placa de madeira Nhobovya urucu reve yvyrape rupi 100 x 70 cm Posca sobre papel Nhenoi kuatiare 42 x 30 cm Óleo sobre tela Nhandy ajuguere moatã mbyrere 75 x 94, 2 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea • Antonio Brasil Marubo Região do Alto Rio Ituí, Terra Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea • Arissana Pataxó Porto Seguro, BA, 1983 31 PATAMARES CELESTES 2004 30 PATAMARES TERRESTRES 2004 Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino • Armando Mariano Marubo Região do Alto Rio Ituí, Terra Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? 23 – 29 SEM TÍTULO_DIPOI (SÉRIE_ JOAPYA MÃGUTXI PATAXÓPEGANDO OURIÇO) 2014 Fotografia sobre papel algodão Nhane´ã Mandyjure 30 x 42 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui • Bartô Maloca do Orinduque, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1969 • Bernaldina José Pedro Maloca do Flechal, região das Serras do Uiramutã, RR, 1945–2020 12 UMA VACA PARA UM ÍNDIO 2013 50 – 61 WENNE (TIPOIA) 2020 33 O CAMINHO-MORTE 2005 32 OS MESTRES DOS ANIMAIS 2005 Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 120 x 22 cm Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 60 x 22 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 163, 5 x 125, 5 cm Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea Tecelagem em algodão Tukambi mandujuguigua Dimensões variadas Jooramie ‘y ikatu Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea 196 • Bu’ú Kennedy Fronteira entre Brasil e Colômbia, 1978 18 SEMÊ HORI TÉ’É MOMORI HORI NUN DI’AH 2011 19 YE’PÁ MAHSÜN KÜN ÑA’Ã TÜO’ÑARÃ 2012 Madeira Yvyra Ø 80 cm Madeira Yvyra 90 x 90 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui • Charles Gabriel Kunai’ken, região da Maloca do Tapá, Guiana, 1979 • Daiara Tukano São Paulo, SP, 1982 62 MAIKAN PISI WEI TÎPÎ PÎKKÎRÎ (TERRA DOS NETOS DE AMOOKO MAKUNAIMÎ: RAPOSA SERRA DO SOL) 2016 68 KUMURÔ 2021 Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 56 x 56 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 200 x 100 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção José Luis P. Sousa José Luis P. Sousa mba´e 197 • Dalzira Xakriabá Aldeia Pindaíbas, Terra Indígena Xakriabá, MG, 1962 • Carlos Papá São Sebastião, SP, 1970 • Carmézia Emiliano Maloca do Japó, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1960 81 NHE’ERY JERA (DESABROCHAR DA MATA ATLÂNTICA) 2021 13 SEM TÍTULO_DIPOI 2012 75 ONÇA 2020 77 ONÇA 2020 79 TAMANDUÁ BANDEIRA 2020 73 TATU 2020 Óleo sobre tela Nhandy ajuguere moatã mbyrere 64 x 94 cm Argila Nhae um 13 x 14 x 28 cm Argila Nhae um 13 x 14 x 28 cm Argila Nhae um 8 x 4 x 18 cm Argila Nhae um 7 x 7 x 21 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui • Denilson Baniwa Aldeia Darí, Rio Negro, AM, 1984 • Diogo Lima Normandia, RR, 1987 • Elisclésio Makuxi Maturuca, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1982 82 – 83 KE_EROA NHOA, NHINÍKO HÓTSHOME KAAKÓ KARO NHOA (FIQUEI COM RAIVA E LEVANTEI-ME PARA FALAR) 2021 14 VACAS NO LUAR 2013 84 – 103 SEM TÍTULO_DIPOI (SÉRIE_ JOAPYA ANNA SENKAMANTO, ANNA KOMANTO – NOSSO TRABALHO, NOSSA VIDA) 2020 Vídeo Video 9’47’’ Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea 65 ÑOHKÕA MAHSÃ: A ESTRELA QUE NÃO QUERIA DESCER DO CÉU 2021 67 ÑOHKÕA MAHSÃ: A MÚSICA DA ESTRELA 2021 Caneta hidrográfica sobre papel Yvyra´i paraa kuatiare 29, 7 x 21 cm Caneta hidrográfica sobre papel Yvyra´i paraa kuatiare 29, 7 x 21 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui 80 TATU SENTADO 2020 Argila Nhae um 15 x 8 x 27 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Vídeo Video 42’18’’ Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Roraima > Paraná: Esse é o deslocamento vivido pela família de Gustavo Caboco. Caneta hidrográfica sobre papel Yvyra´i paraa kuatiare 29, 7 x 21 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea Posca sobre papel Nhenoi kuatiare 29, 7 x 42 cm Coleção José Luis P. Sousa José Luis P. Sousa mba´e • Gustavo Caboco Curitiba, RR*, 1989 • Dalzira Xakriabá Aldeia Pindaíbas, Terra Indígena Xakriabá, MG, 1962 66 ÑOHKÕA MAHSÃ: O SONO DA ESTRELA 2021 Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 65 x 55 cm 76 ANTA 2020 74 COTIA 2020 Argila Nhae um 13 x 7 x 25 cm Argila Nhae um 13 x 7 x 28 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui 78 GATO DO MATO COM LAGARTO NA BOCA 2020 63 – 64 ENCONTRO COM “CABOCOS” 2017 Argila Nhae um 12 x 10 x 19 cm Gravura em metal Jepara itaovã 60 x 10 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Curitiba > Terra Indígena Canauanim: Esse é o caminho de retorno à terra criado por Gustavo Caboco e por sua família. Curitiba – RR: porque não há limites para a fronteira wapichana. *Kurity, RR*, 1989 Roraima > ha´egui Paraná: Kova`ema oguero jepea vetarâ kuery Gustavo Caboco gui Kurity > Nhande kuery rekoa Canauanim: Koa´e tapema ojevy aguã Gustavo Caboco omoin Kurity – Nhande Canauanim remoa: Kova’e tapema nhadere rojevyjua tekoapy Custavo rentarã kuery omoī ojapo va’e kue. Kurity - RR mba’e retu noī yvy ja’oa Wapixana pé 198 199 • Isael Maxakali Santa Helena de Minas, MG, 1978 112 KAXÕY YÕG HÃM ÃGTUX (HISTÓRIA DO LOUVA-A-DEUS) 2021 Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 21 x 29, 7 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui 111 MÃMXEXEX YÕG KUTEX XI HÃM ÃGTUX (HISTÓRIA DO CANTO DO MARTIM-PESCADOR) 2021 Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 21 x 29, 7 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui 106 MÃ’ÃY (JACARÉ TEM CANTO) 2021 • Jaider Esbell Normandia, RR, 1979 – 2021 107 MÃMXEKA YÕG HÃM ÃGTUX (HISTÓRIA DO PEIXE GRANDE) 2021 110 MÃMXEXEX YÕG KUTEX (CANTO DO MARTIM-PESCADOR) 2021 Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 21 x 29, 7 cm Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 21 x 29, 7 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea 105 MÃYÕN (SOL TEM CANTO) 2021 104 MĪMÃNÃM (PAU DE RITUAL TEM CANTO) 2021 109 XAKUXUX (URUBU-REI) 2020 6 ESCONDERIJO DAS MENINAS 2012 Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 21 x 29, 7 cm Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 42 x 29, 7 cm Lápis de cor sobre papel Yvyra´i nhyvyim mopytãa kuatxia 21 x 29, 7 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 106 x 105 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 21 x 29, 7 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui 119 A LUTA DA VACA COM MAKUNAIMÎ 2017 Posca e acrílica sobre tela Nhenoi paraty ajukue moatã mbyrere 100 x 100 cm 124 ASSEMBLEIA GERAL 2019 Posca sobre papel Nhenoi kuatiare 42 x 30 cm Coleção particular Nhomba´e pá moi porã 123 BENZIMENTO DA VOVÓ TATU (KAIKAN) 2019 Posca sobre papel Nhenoi kuatiare 42 x 30 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui 126 DESFILE DE KANAIMÉS 2019 Posca e lápis de cor sobre papel Nhenoi yvyra´ire mopy tã kuatiare varã 42 x 30 cm Coleção particular Nhomba´e pá moi porã 9 FAZENDEIRO 2012 125 FESTA DO NATAL NO CÉU 2019 7 FUGINDO DAS VACAS 2012 Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 106 x 105 cm Posca sobre papel Nhenoi kuatiare 42 x 30 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 105 x 105 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea • Isaiais Miliano Mutum, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1971 113 XŪNĪM XATIX (MORCEGO TEM CANTO) 2021 108 XŪNĪM YÕG KUTEX (CANTO DO MORCEGO) 2021 Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 21 x 29, 7 cm Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 21 x 29, 7 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui 17 CABEÇA DA VACA 2013 Escultura em cedro doce de Roraima Yvyra jo´o yary gui hẽ´ẽva´e Roraima py 82 x 26, 5 x 13 cm Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea 10 FUGINDO PARA AS MONTANHAS 2012 Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 104 x 106 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui 122 GENEALOGIA DO MACACO 2018 2 MALDITA E DESEJADA 2012 3 METAMORFOSE 2012 Posca sobre papel Nhenoi kuatiare 42 x 30 cm Acrílica sobre lona Acrilica nhovã moatã mbyrere 400 x 400 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 110 x 106 cm Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui 200 201 • Jaider Esbell Normandia, RR, 1979 – 2021 121 MULHER PESCANDO 2018 5 O CURUMIM ESCONDIDO 2012 8 SAPO BOI 2012 Posca sobre papel Nhenoi kuatiare 42 x 30 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 64 x 104 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 106 x 105 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui 115 SEM TÍTULO_DIPOI (SUBSÉRIE_MBOJOAPYA TRANSFORMAÇÃO / RESSURGÊNCIA DE MAKUNAIMA / SÉRIE_JOAPYA TRANSMAKUNAIMÎ) 2017 Posca e acrílica sobre tela Nhenoi paraty ajukue moatã mbyrere 100 x 100 cm • Joseca Yanomami Uxi u, Terra Indígena Yanomami, RR, 1971 • Luiz Matheus Boa Vista, RR, 1997 • MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin) // Acelino Tuin Aldeia Três Fazendas, Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, AC, 1975 140 – 144 SEM TÍTULO_DIPOI 2016 15 GRILAGEM 2013 145 NAI MÃNPU YUBEKÃ 2017 Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 42 x 30 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 112 x 142 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 122 x 144 cm Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui 116 SEM TÍTULO_DIPOI (SUBSÉRIE_MBOJOAPYA TRANSFORMAÇÃO / RESSURGÊNCIA DE MAKUNAIMA / SÉRIE_JOAPYA TRANSMAKUNAIMÎ) 2017 117 SEM TÍTULO_DIPOI (SUBSÉRIE_MBOJOAPYA TRANSFORMAÇÃO / RESSURGÊNCIA DE MAKUNAIMA / SÉRIE_JOAPYA TRANSMAKUNAIMÎ) 2018 118 SEM TÍTULO_DIPOI (SUBSÉRIE_MBOJOAPYA TRANSFORMAÇÃO / RESSURGÊNCIA DE MAKUNAIMA / SÉRIE_JOAPYA TRANSMAKUNAIMÎ) 2018 Posca e acrílica sobre tela Nhenoi paraty ajukue moatã mbyrere 100 x 100 cm Posca e acrílica sobre tela Nhenoi paraty ajukue moatã mbyrere 100 x 100 cm Posca e acrílica sobre tela Nhenoi paraty ajukue moatã mbyrere 100 x 100 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui • Mario Flores Taurepang Comunidade Sorocaima I, Terra Indígena São Marcos, RR, 1977 • Nei Leite Xakriabá Aldeia Barreiro Preto, Terra Indígena Xakriabá, MG, 1981 114 TXAÍSMO 2019 16 BOI TAUPERANG 2013 72 MORINGA GAVIÃO CARIJÓ 2020 71 MORINGA JACU 2020 Posca e lápis de cor sobre algodão Nhenoi yvyra´i mopy tã guã mandyjure 168 x 105 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 81 x 102. 1 cm Argila Nhae um 33 x Ø 20 cm Argila Nhae um 33 x Ø 20 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção particular Nhomba´e pá moi porã Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea • Jaider Esbell, Normandia, RR, 1979 –2021, Davi Kopenawa, Toototobi, Terra Indígena Yanomami, AM, 1956 e Fanor Xirixana, Sikamabiu, Terra Indígena Yanomami, RR, 1968 4 VOVÓ COM MEDO DAS VACAS 2012 120 O XERIMBABO DO PAJÉ 2019 Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 104 x 96 cm Posca sobre papel Nhenoi kuatiare 42 x 30 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui • Paulino Joaquim Marubo Região do Alto Rio Ituí, Terra Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? 127 – 139 O XAMÃ 2017 69 MORINGA ONÇA IAIÁ 2020 70 MORINGA TATU 2020 38 – 39 A MALOCA DE KANA VOÃ 2005 Caneta hidrográfica sobre papel Yvyra´i paraa kuatiare 5, 1 x 4, 1 cm Argila Nhae um 33 x Ø 20 cm Argila Nhae um 33 x Ø 20 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino 45 – 46 COMERAM OVOS DO PÁSSARO-QUEIXADA ANTIGAMENTE 2006 Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino 202 203 • Paulino Joaquim Marubo Região do Alto Rio Ituí, Terra Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? 40 – 41 DEMIURGOS KANÃ MARI 2005 43 ENCONTRARAM A PONTE JACARÉ ANTIGAMENTE 2006 47 PAJÉ SAMAÚMA 2006 151 – 152 SEM TÍTULO_DIPOI 2017 153 – 157 SEM TÍTULO_DIPOI 2017 Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 42 x 30 cm Lápis de cor e caneta hidrográfica sobre papel Yvyra i nhyvyi pytaa 30 x 21 cm Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino 44 PAJÉ VARI MÃKO 2006 34 – 35 PILARES TERRESTRES 2005 36 – 37 POVO DA TERRA NÉVOA 2005 Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 100 x 100 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 100 x 100 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui 42 SERRARAM JACARÉ ANTIGAMENTE 2006 Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm Acervo de pesquisa_ Nhemoi porã kuapota aguã Pedro Cesarino 158 ANDORINHA (SÉRIE_ JOAPYA YÃMIY / HOMEMESPÍRITO) 2009 159 – 165 TARTARUGA (SÉRIE_ JOAPYA YÃMIY / HOMEM-ESPÍRITO) 2009 Fotografia sobre papel algodão Nhane´ã Mandyjure 26, 7 x 40 cm Fotografia sobre papel algodão Nhane´ã Mandyjure 26, 7 x 40 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui • Vernon Foster Redmond, Estados Unidos, 1955 • Yaka Huni Kuin Aldeia Chico Curumim, Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, AC, 1994 49 THE SACRED 2020 150 NETE BEKUN (A MULHER QUE TRANSFORMOU AS MEDICINAS) 2021 Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 47 x 37 cm Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 100 x 100 cm Coleção do artista Jeporavô mbavyky va´egui Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui • Yermollay Caripoune Aldeia Santa Isabel, Terra Indígena Uaça, AP, 1976 • Rita Sales Huni Kuin Aldeia Chico Curumim, Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, AC, 1994 147 YAME AWA KAWANAI (A CURA DO ESPÍRITO) 2021 • Sueli Maxakali Santa Helena de Minas, MG, 1976 48 FLECHARAM GAVIÃO 2006 Caneta hidrográfica, lápis de cor e giz pastel sobre papel Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare 30 x 22 cm 148 BARNẼBURU KENE BÊNI (ARANHA TROUXE A TECELAGEM) 2021 • Rivaldo Tapyrapé Santa Teresinha, MT, 1979 146 YUBE NAWA AINBU (MULHER-JIBOIA ENCANTADA) 2021 Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 100 x 100 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui 166 CONSTELAÇÃO ESCORPIÃO SWARÃ 2019 Posca sobre papel Nhenoi kuatiare 42 x 30 cm Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea 167 SEM TÍTULO_DIPOI 2019 Posca sobre papel Nhenoi kuatiare 42 x 30 cm Acervo_Moim porã aty Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea 1 MITO DO CRIADOR TEMERÕ’Q 2019 Acrílica sobre papel Nhapomo kuatiare 29, 7 x 42 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui 149 YUBE INU YUBE SHANU 2021 Acrílica sobre tela Acrilica ajuguere moatã mbyrere 100 x 100 cm Coleção da artista Jeporavô mbavyky va´egui 204 CRÉDITOS NHEME’EM 204 205 EXPOSIÇÃO MBOYXY EXHIBITION REALIZAÇÃO_MONHẼ PYRUM_REALIZATION_ Museu de Arte Moderna de São Paulo Fundação Bienal de São Paulo CURADORIA_MONGUERAÁ_ CURATORSHIP_ Jaider Esbell ASSISTÊNCIA_MOIRUM VA´ERÃ_ASSISTANCE_ Paula Berbert CONSULTORIA_OIKUAA VA´ERÃ_CONSULTANCY_ Pedro Cesarino PRODUÇÃO_JAPÓ KUAA VA´E_PRODUCTION_ MAM Curadoria PROJETO EXPOGRÁFICO_ MONHẼ_PYRUM VA´E_ EXHIBITION DESIGN_ Álvaro Razuk ASSISTENTES_PYTYVÔAA_ ASSISTANTS_ Daniel Winnik Ligia Zilbersztejn PROJETO GRÁFICO_ MENHẼ PYRUM VA´E_ GRAPHIC DESIGN_ Estúdio Campo – Paula Tinoco e Roderico Souza ESTAGIÁRIA_TEMBIGUI NHEMBO´E_INTERN_ Bruna Sade FORMAÇÃO EDUCATIVA_ OIKUAA MBO´EA RUPI GUA_ EDUCATORS’ TRAINING_ Cristine Takuá (Instituto Maracá) EXECUÇÃO DO PROJETO EXPOGRÁFICO_OJAPO KUAA VA´E NHẼ PYRUM_ EXECUTION OF EXHIBITION DESIGN_ Cenotech cenografia CONSERVAÇÃO_ NHANGAREKO VA´E_ CONSERVATION_ Thalita Noce MONTAGEM_MBOJOAPY VA´E_INSTALLATION_ Manuseio TRANSPORTE_MBA´EYRU OJOU VA´E_SHIPPING_ ArtQuality TRADUÇÃO PARA O INGLÊS_ INCREIPY COMOMBE´U VA´E_ ENGLISH TRANSLATION_ Idjahure Kadiwel ASSESSORIA DE IMPRENSA_ NHOIPYTYVÕ IMPRENSA_ VA´E_PRESS OFFICE_ A4&Holofote CATÁLOGO MBA’E VOITU CATALOG REALIZAÇÃO_MONHẼ PYRUM_REALIZATION_ Museu de Arte Moderna de São Paulo Fundação Bienal de São Paulo CONCEPÇÃO E EDIÇÃO_ JEAYAÁ NDAJE_CONCEPTION AND EDITION_ Jaider Esbell Paula Berbert CONSULTORIA_KUAREIA AGUÃ_CONSULTANT_ Enoque Raposo Pedro Cesarino COORDENAÇÃO EDITORIAL_ NHEMOENONDE NDAJE AGUÃ_EDITORIAL COORDINATION_ Renato Schreiner Salem PROJETO GRÁFICO_ MENHẼ PYRUM VA´E_ GRAPHIC DESIGN_ Estúdio Campo – Paula Tinoco e Roderico Souza ESTAGIÁRIA_TEMBIGUI NHEMBO´E_INTERN_ Bruna Sade TRADUÇÃO PARA O GUARANII MBYA_NHANDE MBYAPY OMOMBE´U VA´E_GUARANI MBYA TRANSLATION_ Carlos Papá (Carlos Fernandes Guarani) Marcos Morreira Valdemir Martins Veríssimo TRADUÇÃO PARA O MAKUXI_ JAROAYVU MAKUXIPYMAKUXI_ MAKUXI TRANSLATION_ Charles Gabriel Enoque Raposo TRADUÇÃO PARA O INGLÊS_ INCREIPY COMOMBE´U VA´E_ ENGLISH TRANSLATION_ Idjahure Kadiwel TEXTOS_MBOPARAA_TEXTS_ Jaider Esbell Paula Berbert Pedro Cesarino REVISÃO E PREPARAÇÃO DO PORTUGUÊS_JAROAVYU JURUAPY AVYU_PORTUGUESE PROOFREADING AND TEXT PREPARATION_ Mauríicio Ayer TRADUÇÃO PARA O GUARANII MBYA_NHANDE MBYAPY OMOMBE´U VA´E_GUARANI MBYA TRANSLATION_ Carlos Papá (Carlos Fernandes Guarani) REVISÃO E PREPARAÇÃO DO INGLÊS_JAROAVYU JURUAPY AVYU_ENGLISH PROOFREADING AND TEXT PREPARATION_ Dominique Makins Bennett FOTOS_ NHO’Ã_PHOTOS_ Everton Ballardin EXCETO_NYEM_EXCEPT_ Bartô (p. 19), Karina Bacci (p. 173), Yermollay Capiroune (p. 115) APOIO_PYTYVÔ_SUPPORT_ Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea TRATAMENTO DE IMAGEM E IMPRESSÃO_NHAMOATYRÕ OJEKUAÁ VE NHANE’Ã_PHOTO RETOUCHING AND PRINTING_ Ipsis AGRADECIMENTOS_ GUERO JARURÁ VA´E_ ACKNOWLEDGMENTS_ aos Encantados_nhanemboje pokua_to the Enchanted_ ao grande avô Makunaimî_ avô Makunaimî kueryre_to the great grandfather Makunaimî_ à Zenilda Sarmento (mãe) e toda à família Esbell_Zenilda Sarmento (ixyma) ha’egui Esbell retarã kuery_to Zenilda Sarmento (mother) and the entire Esbell family_ à mestra Bernaldina José Pedro_ huvixa Bernaldina José Pedro_to master Bernaldina José Pedro_ às/aos artistas que compuseram a constelação de Moquém_Surarî_pe/ imbavyky va’e kuery pe oexauka mavy kuera’e Moquém_Surarî_to the artists who composed the Moquém_Surarî constellation_ a toda equipe do MAM_ MAM pygua kuery pe_to all MAM’s team_ Alvaro Tukano Anaí Vera Ana Paula Pedroso Anna Heloisa Segatta Barbara Jimenez Carlos Papá Cauê Alves Conselho Indígena de Roraima Cristine Takuá Daiara Tukano Daniel Dinato Daniel Jabra Eloise Zadig Enoque Raposo Equipe Manuseio Galeria Millan Jacopo Visconti José Luis P. Sousa José Olympio Pereira Laura Berbert Lêda Leitão Martins Luvan Tukano Marcelo Camacho Mirela Estelles Parmênio Citó Patrícia Pinto Lima Paula Amaral Paulo Miyada Rafaela Campos Raquel Blaque Raul Loureiro Rosângela Tugny Roberto Romero Salim Esbell Shirlene Tukano Silvana Costa Walter Gomes INSTITUCIONAL OPENAVA’EA INSTITUCIONAL PRESIDENTE DE HONRA_ NHADE RUVIXA XAROVY’A_ HONORARY PRESIDENT_ Milú Villela DIRETORIA_NHANDERE OPENAÁ VA’E_ MANAGEMENT BOARD_ PRESIDENTE_ NHANDERUVIXA_ PRESIDENT_ Elizabeth Machado VICE-PRESIDENTE_ NHANDERUVIXAYVY REGUA_ VICE PRESIDENT_ Daniela Montingelli Villela DIRETORA JURÍDICA_ NHANDERAJARE OPENAÁ_ LEGAL DIRECTOR_ Tatiana Amorim de Brito Machado DIRETOR FINANCEIRO_ PERATARE OPENAÁ_ FINANCIAL DIRECTOR_ Sérgio Eduardo Costa Rebêlo DIRETOR ADMINISTRATIVO_ IJERAJARE OPENAÁ_ MANAGING DIRECTOR_ Telmo Giolito Porto DIRETORES_OPENAÁ VA’E_ DIRECTORS_ Camila Granado Pedroso Horta Eduardo Saron Nunes Sérgio Silva Gordilho Simone Frossard Ikeda CONSELHO DELIBERATIVO_ NHOMONGUETAÁ OEJAREIA_ADVISORY BOARD_ PRESIDENTE_ NHANDERUVIXA_ PRESIDENT_ Geraldo José Carbone VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO_ NHANDERUVIXAYV REGUA_ VICE PRESIDENT_ Henrique Luz CONSELHEIROS_ NHOMONGUETA VA’E_ MEMBERS_ Adolpho Leirner Alfredo Egydio Setúbal Andrea Chamma Andrea Paula Barros Carvalho Israel da Veiga Pereira Anna Maria Gouveia Guimarães Antonio Hermann Dias de Azevedo Caio Corrêa Najm Caio Luiz de Cibella de Carvalho Carlos Eduardo Moreira Ferreira Carmen Aparecida Ruete de Oliveira Danilo Santos de Miranda Eduardo Brandão 206 Eduardo Saron Nunes (licenciado para diretoria até assembleia geral de 2024_ oejapyreve ma openaá va’e ara ymã mbytere 2024_on leave to management board until 2024 general meeting) Fábio Luiz Pereira de Magalhães Fernando Moreira Salles Francisco Pedroso Horta Gabriela Baumgart Georgiana Rothier Pessoa Cavalcanti Faria Helio Seibel Israel Vainboim Jean-Marc Etlin Jorge Frederico M. Landmann Karla Meneghel Leo Slezynger Luís Terepins Marcos Adolfo Fernamo Amaro Maria Fernanda Lassalvia P. de Mello Maria Regina Pinho de Almeida Mariana Guarini Berenguer Mário Henrique Costa Mazzilli Martin Grossmann Michael Edgard Perlman Neide Helena de Moraes Paulo Gaio de Castro Júnior Paulo Proushan Paulo Setúbal Neto Peter Cohn Priscila Fonseca da Cruz Roberto B. Pereira de Almeida Rodolfo Henrique Fischer Rolf Gustavo R. Baumgart Salo Davi Seibel Sérgio Ribeiro da Costa Werlang Sergio Silva Gordilho (licenciado para diretoria até assembleia geral de 2022_ oejapyreve ma openaá va’e ara ymã mbytere 2022_on leave to management board until 2022 general meeting) Simone Schapira Wajman Susana Leiner Steinbruch Telmo Giolito Porto (licenciado para diretoria até assembleia geral de 2022_ oejapyreve ma openaá va’e ara ymã mbytere 2022_on leave to management board until 2022 general meeting) Vera Sarnes Negrão COMITÊ CULTURAL E DE COMUNICAÇÃO_ NHANDEREKORE GUA RE OMOMBE’U ATYA_ CULTURAL AND COMMUNICATION COMMITTEE_ COORDENAÇÃO_ JOGUEREKOA’I ATY_ COORDINATOR_ Fábio Luiz Pereira de Magalhães COMITÊ_JOGUEREKORE_ MEMBERS_ Andrea Paula Barros Carvalho Israel da Veiga Pereira Caio Luiz Cibella de Carvalho Camila Granado Pedroso Horta Eduardo Saron Nunes Elizabeth Machado Jorge Frederico M. Landmann Maria Fernanda Lassalvia P. de Mello Maria Regina Pinho de Almeida Martin Grossmann Neide Helena de Moraes Sérgio Silva Gordilho COMITÊ DE GOVERNANÇA_ JOGUEREKORE VY NHANDERUVI KUERY_ GOVERNANCE COMMITTEE_ COORDENAÇÃO_ JOGUEREKOA’I ATY_ COORDINATOR_ Mário Henrique da Costa Mazzilli COMITÊ_JOGUEREKO’I ATY _MEMBERS_ Alfredo Egydio Setúbal Andrea Chamma Anna Maria Gouvea Guimarães Antonio Hermann Dias de Azevedo Elizabeth Machado Geraldo José Carbone Henrique Luz Marcos Fernamo Amaro Mariana Guarini Berenguer Tatiana Amorim de Brito Machado Sérgio Ribeiro da Costa Werlang COMITÊ FINANCEIRO E DE CAPTAÇÃO_ JOGUEREKOA’I PERATA RE VY PERATARE OPENA VA’E_ FINANCIAL AND FUNDRAISING COMMITTEE COMITÊ_ JOGUEREKOA’I ATY_MEMBERS_ Caio Corrêa Najm Daniela Montigelli Villela Elizabeth Machado Francisco Pedroso Horta Gabriela Baumgart Georgiana Rothier Pessoa Cavalcante Faria Geraldo José Carbone Helio Seibel Jean-Marc Etlin Luís Terepins Sérgio Eduardo Costa Rebêlo COMITÊ DE NOMEAÇÃO_ JOGUEREJOA’I ATY NHOMBOERY VA’E_ NOMINATION COMMITTEE_ Alfredo Egydio Setúbal Elizabeth Machado Geraldo José Carbone Henrique Luz CONSELHO FISCAL_ NHOMONGUETA ONHANGAREKOA_ FISCAL BOARD_ TITULARES_HA’ETE_ STANDING MEMBERS_ Demétrio de Souza Reginaldo Ferreira Alexandre Susana Hanna Stiphan Jabra (presidente_nhanderuvixa_ president) SUPLENTES_NHANDERUVIXA REKOAVIAÁ_ALTERNATES_ Magali Rogéria de Moura Leite Maria Cristina de Freitas Archilla Walter Luís Bernardes Albertoni COMISSÃO DE ARTE_ PORAVÕ PYRE MABAVYKY_ ART COMMISSION_ Claudinei Roberto da Silva Cristiana Tejo Vanessa K. Davidson ASSOCIADOS PATRONOS_ HUVIVA’I KUERY JERERAÁ_ ASSOCIATE PATRONS_ Adolpho Leirner Alfredo Egydio Setúbal Antonio Hermann Dias de Azevedo Carlos Eduardo Moreira Ferreira Carmen Aparecida Ruete de Oliveira Daniela Montingelli Villela Danilo Santos de Miranda Eduardo Brandão Eduardo Salomão Neto Eduardo Saron Nunes Fernando Moreira Salles Francisco Pedroso Horta Georgiana Rothier P. Cavalcanti Faria Geraldo José Carbone Helio Seibel Henrique Luz Israel Vainboim Jean-Marc Etlin Leo Slezynger Mariana Guarini Berenguer Mário Henrique Costa Mazzilli Michael Edgard Perlman Neide Helena de Moraes Paulo Proushan Paulo Setúbal Neto Peter Cohn Raul Alves Pereira Netto Roberto B. Pereira de Almeida Rodolfo Henrique Fischer Rolf Gustavo R. Baumgart Salo Davi Seibel Sérgio Ribeiro da Costa Werlang Simone Schapira Wajman INCENTIVADORES DA ARTE_ MBAVYKYRE IJAYVU VA’E_ART SUPPORTERS_ COORDENAÇÃO_ JEGUERO MBOJA’O VA’E_ COORDINATOR_ Patricia Chaccur ANALISTA_OMA’EM VA’E REI VA’E_ ANALYST_ Juliene Campos Braga Botelho Lanfranchi MEMBROS_HÁ’E PYGUA_ MEMBERS_ Ana Cristina Medeiros Haberfeld Ana Eliza e Paulo Setúbal Adrienne e Nelson Jobim Alfredo Egydio Setúbal Alisson Mendonça Antônia Bergamin e Mateus Ferreira Beatriz Yunes Guarita Claudia e Nelson Davis Daniela M. Villela Daniel Augusto Motta Fernanda Maria de Castro Marques Glaucia e Peter Cohn Guilherme Simões de Assis Lara Donatoni Matana Luciana Caravello Luiz Lara Marcia Lerro Pimenta Marcia P. S. Feldon Maria da Conceição Cavalheiro Alves de Queiroz Mariana Guarini Berenguer Marjorie e Geraldo Carbone Marilia Chede Razuk Milú Villela Odete Lima Krause Regina Pinho de Almeida Rolf Gustavo R. Baumgart Salo Davi Seibel Sandra e José Luiz Setúbal Sérgio Ribeiro da Costa Werlang Silvana Maria Hofig Ramos Thalita Cefali Zaher Thiago Gomide Vilma Eid Vivian F. S. M. Cecco NÚCLEO CONTEMPORÂNEO_ JOAPY IKAUIATY AYN GUI GUAÁ_CONTEMPORARY ART NUCLEUS_ COORDENAÇÃO_JOGURO MBOJA’O VA’E_ COORDINATOR_ Camila Granado Pedroso Horta ANALISTA_MA’EM REI_ ANALYST_ Juliene Campos Braga Botelho Lanfranchi MEMBROS_HÁ’E PYGUA_ MEMBERS_ Adriana Dequech Sola Alaide Cristina Barbosa Ulson Quercia Alexandre de Castro e Silva Ana Carmen Longobardi Ana Eliza Setúbal Ana Lopes Ana Paula Cestari Ana Paula Vilela Vianna Ana Serra Ana Teresa Sampaio Andrea Gonzaga Andrea Johannpeter Ângela Akagawa Antônio de Figueiredo Murta Filho Antônio Marcos Moraes Barros Beatriz Freitas Fernandes Távora Filgueiras Beatriz Yunes Guarita Bianca Cutait Camila Horta Camila Mendez Camila Siqueira Camila Yunes Guarita Carolina Alessandra Guerra Filgueiras Carolina Massad Cury Cinara Ruiz Cintia Rocha Claudia Maria de Oliveira Sarpi Cleusa de Campos Garfinkel Cristiana Rebelo Wiener 207 Cristiane Quercia Tinoco Cabral Cristiano Biagi Cristina Baumgart Cristina Canepa Cristina Tolovi Daniela M. Villela Daniela Steinberg Berger Dany Rappaport Dany Saadia Safdie Eduardo Mazilli de Vassimon Esther Cuten Schattan Esther D’Amico Constantino Fabio Cimino Fernanda Boghosian Rossi Fernanda Mil-Homens Costa Flávia Regina de Souza Oliveira Florence Curimbaba Franco Pinto Bueno Leme Gustavo Clauss Heloisa Désirée Samaia Ida Regina Guimarães Ambroso Marques Ilaria Garbarino Affricano Isabel Ralston Fonseca de Faria Janice Mascarenhas Marques José Eduardo Nascimento Judith Kovesi Juliana Neufeld Lowenthal Karla Meneghel Lucas Cimino Luciana Lehfeld Daher Luis Felipe Sola Luisa Malzoni Strina Maguy Etlin Marcio Alaor Barros Maria das Graças Santana Bueno Maria Julia Freitas Forbes Maria Lúcia Alexandrino Segall Maria Teresa Igel Mariana de Souza Sales Marina Berti Yunes Marina Lisbona Marta Tamiko Takahashi Matushita Milena Dayan Liberman Mônica Mangini Monica Vassimon Morris Safdie Murillo Cerello Schattan Nadja Cecilia Silva Mello Isnard Natalia Jereissati Nicolas Wiener Patricia Magano Patricia Mendonça Barros Paula Almeida Schmeil Jabra Paula Furlanetto Paula Regina Depieri Paulo Proushan Paulo Setúbal Neto Philippe Racy Takla Raquel Steinberg Regina de Magalhães Bariani Renata Castro e Silva Ricardo Trevisan Rodolfo Viana Rodrigo Editore Rosa Amélia de Oliveira Penna Marques Moreira Rosana Aparecida Soares de Queiroz Visconde Ruy Hirschheimer Sabina Lowenthal Samantha Abuleac Steinberg Sandra C. de Araújo Penna Sérgio Ribeiro da Costa Werlang Silvio Steinberg Sonia Regina Grosso Sonia Regina Opice Teresa Cristina Bracher Titiza Nogueira Vera Lucia Freitas Havir Wilson Pinheiro Jabur Yara Rossi COLABORADORES_PYTYVÕ VA’E KURY_STAFF_ CURADOR-CHEFE_ NHOMONGUERÁNHANDERUVIXA_ CHIEF CURATOR_ Cauê Alves SUPERINTENDENTE EXECUTIVA_JOERE OPENA VA’E PERATARE VY_ CHIEF OPERATING OFFICER_ Gisele Regina ACERVO_MONO’Õ_ COLLECTION_ COORDENAÇÃO_ JOGUERO MBOJA’O VA’E_ COORDINATION_ Claudia Guidi Falcon ASSISTENTES_TEMBIGUAI_ ASSISTANTS_ Camila Gordillo de Souza Bárbara Blanco Bernardes de Alencar TÉCNICO EM MANUSEIO_ OMOATYRÕ VA’E_ ART HANDLER_ Igor Ferreira Pires ADMINISTRAÇÃO_IRAJARE GUA_ADMINISTRATION_ COORDENAÇÃO_ JOGUEREKO MBOJ’O VA’E_ COORDINATION_ Danielle Leonor Pacheco Medina COMPRAS_OJOGUA_ PURCHASING_ ANALISTA_MA’EM REI_ ANALYST_ Fernando Ribeiro Morosini FINANCEIRO_PERATARE GUA_ FINANCIAL_ ANALISTAS_MA’EM REI _ANALYSTS_ Diogo Silva Barros Renata Noé Peçanha da Silva ASSISTENTE_TEMBIGUAI_ ASSISTANT_ Jefferson da Silva Borges Fernandes ASSISTÊNCIA À CURADORIA E SUPERINTENDÊNCIA_ NHOMONGUERAÁRE OIPYTYVÕ HA’E HEMBIAGUAI_ CURATORSHIP AND SUPERINTENDENT ASSISTANT_ Thaïs Brito ASSISTÊNCIA À PRESIDÊNCIA_ NHANDERUVIXA REMBIGUAI_ MANAGEMENT BOARD ASSISTANT_ Daniela Reis BIBLIOTECA_KUATIA RUPA _LIBRARY_ BIBLIOTECÁRIA_KUATIA RUPAÁ_LIBRARIAN_ Léia Carmen Cassoni ASSISTENTE_TEMBIGUAI_ ASSISTANT_ Renan Brigeiro Lima COMUNICAÇÃO_ JOGUEOAYVARE_ COMMUNICATIONS_ COORDENAÇÃO_ JOGUERO MBO’O VA’E_ COORDINATION_ Eloise Zadig Pereira Gomes de Martins ANALISTA_OMA’EM REI_ ANALYST_ Deri Andrade DESIGNER_ OMBOJEKUAREI VA’E_ DESIGNER_ Beatriz Falleiros Nunes PRODUÇÃO E EDIÇÃO DE VÍDEO_OJEKUAÁ VA’E RUPIGUA_VIDEOMAKER_ Marina Paixão (PJ) CURADORIA_ NHOMONGUERÁ VA’E_ CURATORSHIP_ MUSEÓLOGO_YMÃ GUARE OPENA VA’E_ MUSEOLOGIST_ Pedro Nery EDUCATIVO_ NHEMBO’EATY_ EDUCATION_ COORDENAÇÃO_JOGUERO MBOJA’O VA’E_ COORDINATION_ Mirela Agostinho Estelles ANALISTA_OMA’E REI _ANALYST Maria Iracy Ferreira Costa EDUCADORES_NHOMBO’E VA’E KUERY_EDUCATORS_ Amanda Harumi Falcão Amanda Silva dos Santos Barbara Ganizev Jimenez Fernanda Vargas Zardo Gregório Ferreira Contreras Sanches Leonardo Barbosa Castilho ESTAGIÁRIAS_ NHOEMBIGUAI_ INTERNS_ Cristina Naiara Fernandes Luna Souto Ferreira CURSOS_NHEMBO’EVE_ COURSES_ EDUCADORA_KUNHA NHOMBO’E VA’E_ EDUCATOR_ Barbara Ganizev Jimenez ANALISTA DE CURSOS_ OMA’EM REI VA’EVEA_ COURSES ANALYST_ Jorge Augusto de Oliveira JURÍDICO_OMBOA’EVE VA’E_LEGAL_ ADVOGADA_NHOMBOA’E VE VA’E_LAWYER_ Olívia Bonan (PJ) – BS&A Borges Sales & Alem Advogados ESTAGIÁRIA_KUANHA TEMBIGUAI_INTERN_ Mei Jou (PJ) NEGÓCIOS_MBOEKOVIAÁ_ BUSINESS_ Laura Pinheiro Brunello CLUBE DE COLECIONADORES_ MONO’Õ ATY PYGUA KUERY_COLLECTORS’ CLUBS_ ASSISTENTE_TEMBIGUAI_ ASSISTANT_ Monique Marquezin Alves EVENTOS_ NHOMBOATYATY_ EVENTS_ ANALISTA_MA’E REI_ ANALYST_ Juliene Campos Braga Botelho Lanfranchi LOJA_MBA’MO KUA_SHOP_ ANALISTA_MA’E REI_ ANALYST_ Fabiana Martins de Almeida Luan Carlos (PJ) PROGRAMA DE SÓCIOS_ JOUPIVEGUA NHOIRUM_ MEMBERS PROGRAM_ ANALISTA_MA’E REI_ ANALYST_ Daniela Reis PARCERIAS E PROJETOS_NHOPYTYVÕ MBA’EAPOARE_ PARTNERSHIPS AND PROJECTS_ COORDENAÇÃO_ JOGUERO MBOJA’O VA’E_ COORDINATION_ Kenia Maciel Tomac PARCERIAS_NHOPYTYVÕ_ PARTNERSHIPS_ ANALISTA_MA’EM REI_ ANALYST_ Mariana Rojas Duailibi ASSISTENTE_TEMBIGUAI_ ASSISTANT_ Isabela Marinara Dias PROJETOS CULTURAIS_ TEKORE MBA’EAPORE_ CULTURAL PROJECTS_ ANALISTA_MA’EM REI_ ANALYST_ Deborah Balthazar Leite ASSISTENTE_TEMBIGUAI_ ASSISTANT_ Valbia Juliane dos Santos Lima 208 PROJETOS INCENTIVADOS_ MBA’EAPORE IJAYVUARE_ CULTURAL INCENTIVE LAW PROJECTS_ Sirlene Ciampi (PJ) PATRIMÔNIO_ NHANEMBA’E_ PREMISES AND MAINTENANCE_ COORDENAÇÃO_ JOGUERO MBOJA’O VA’E_ COORDINATION_ Estevan Garcia Neto OFICIAL DE MANUTENÇÃO_ OIPORAVÔ MOÃ TYRÕ ATY_ MAINTENANCE OFFICIAL_ Alekiçom Lacerda TÉCNICO DE MANUTENÇÃO_MOÃ TYRÕ ATY OIKUAÁ_ MAINTENANCE TECHNICIAN_ Carlos José Santos ASSISTENTE_TEMBIGUAI_ ASSISTANT_ Venicio Souza (PJ) COORDENAÇÃO_ JOGUERO MBOJA’O VA’E_ COORDINATION_ Karine Lucien Decloedt ASSISTENTE_TEMBIGUAI_ ASSISTANT_ Débora Cristina da Silva Bastos TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO_JAIKUA AGUÃ TEMBIPORURE_ INFORMATION TECHNOLOGY_ COORDENAÇÃO_ JOGUERO MBOJA’O VA’E_ COORDINATION_ Nilvan Garcia ANALISTA_MA’EM REI_ ANALYST_ Guido Peters (PJ) MANTENEDORES_ OMBOPYTA VA’E KUERY_ SPONSORS_ ICTS Montana Química PIRELLI PARCERIAS INSTITUCIONAIS _NHOPYTYVÕ OMBA’EAPOA_ INSTITUTIONAL PARNERSHIPS_ Africa Aliança Francesa Ana Silvia Matte Consultoria e Meritor Recursos Humanos BMA BMI Canson Cinema Belas Artes Cultura e Mercado Deca FIAP Gusmão & Labrunie Propriedade Intelectual Hospital Israelita Albert Einstein Hugo Boss Orfeu Cafés Especiais Senac PARCERIAS DE MÍDIA_ NHOPYTYVÕA OJEKUA VA’E PYGUA_MEDIA PARNERSHIPS_ Arte! Brasileiros Arte que Acontece Canal Arte 1 Editora Trip Eletromidia Folha de S. Paulo Inner Editora JCDecaux Piauí Quatro Cinco Um BILHETERIA_KUATIA’I_ TICKET OFFICE Flávio Andrade (PJ) BOMBEIRO CIVIL_ JOGUERO RERAÁ JEPE VA’E_FIRE BRIGADE André Luiz (PJ) Marcelo Santos (PJ) PLAYER OFICIAL_ MBOJEREA ANHETENGUA_ OFICIAL PLAYER_ Spotify PROGRAMAS EDUCATIVOS_ NHOMBO’EA PYGUA JEAPOAREA_ EDUCATIONAL PROGRAMS_ ARTE E ECOLOGIA_ MBAVYKYA KA’A GUI_ ART AND ECOLOGY Havaianas DOMINGO MAM_ DOMINGO MAM_ MAM SUNDAY_ TozziniFreire Advogados FAMÍLIA MAM_ MAM RETARÃ_MAM FAMILY_ PwC IGUAL DIFERENTE_ JOO RAMI VY VY JOO RAMIE YN_ EQUAL DIFFERENT_ Banco Votorantim PROGRAMA DE VISITAÇÃO_ PYGUAREVY JOPOUATY_ VISITING PROGRAM_ Pinheiro Neto Advogados MARCENARIA NO MAM_ YVYRARE OMBA’EAPOA VA’E_CARPENTRY AT MAM Leo Madeiras e Leo Social LIMPEZA_MOÃ TYRÕ_ CLEANING_ Tejofran Este livro foi composto pela fonte Helvetica Neue e impresso em papéis Pop’set Extra Black 400 g/m2 (capa), Pólen bold 90 g/m2 e Eurobulk 135 g/m2 (miolo), em novembro de 2021, pela gráfica Ipsis. SEGURANÇA PATRIMONIAL _OPENA VA’E NHOMBA’ERE VA’E_PROPERTY INSURANCE_ Power Segurança PRODUÇÃO DE EXPOSIÇÕES_OJAPO VA’E NHEMBOYXY_EXHIBITIONS PRODUCTION_ COORDENAÇÃO EXECUTIVA_JOGUERO MBOJA’O HUVIXA_ EXECUTIVE COORDINATION_ Paula Amaral PRODUÇÃO_JAPÓ KUAA VA´E_PRODUCTION_ Ana Paula Pedroso Santana Patricia Pinto Lima ASSISTENTE_TEMBIGUAI_ ASSISTANT_ Marina do Amaral Mesquita PRODUTOR INTERINO_ MBA’EAPO INTERINO_ INTERIM PRODUCER_ Pedro Henrique Lopes (PJ) RECURSOS HUMANOS_ NHANDEVYPE GUA VA’E_ HUMAN RESOURCES_ PLATINA_YJYRANTÃ_ PLATINUM_ BNP Paribas Havaianas XP Private OURO_YVYJU_GOLD_ Alupar Banco Votorantim Credit Suisse EMS Havan KPMG Leo Madeiras e Leo Social Lojas Renner S. A. Marsh McLennan Pinheiro Neto Advogados PwC TozziniFreire Advogados Verde Asset Management Vivo PRATA_ ITA JY_SILVER_ Banco Safra Bloomberg Philanthropies Bompack Emporium São Paulo Grupo Comporte MUSEU DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea. Elizabeth Machado (apresentação) ; Cauê Alves, et all. (textos) ; Jaider Esbell (curadoria e texto) ; Paula Berbert (assistente) ; Pedro Cesarino (consultor) ; Renato Salem (coord. editorial) ; Carlos Papá (Carlos Fernandes Guarani) (tradução – Guarani mbya) ; Idjahure Kadiwel (tradução – inglês) ; Maurício Ayer e Dominique Makins Bennett (revisão) ; Estúdio Campo (designer gráfico). São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2021 208 p. il. : Textos em Português, Guarani mbya e Inglês. Exposição realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo de 4 de setembro a 28 de novembro de 2021. ISBN 978-65-990406-6-5 1. Museu de Arte Moderna de São Paulo. 2. Título. 3. Arte Indígena Contemporânea Século XXI – Brasil. I. Almeida, Maria Inês de. II. Baniwa, Denilson. III. Caripoune, Yermollay. IV. Foster, Vernon. V. Gabriel, Charles. VI. Huni Kuin, Rita. VII. Krenak, Ailton. VIII. Maxakali, Isael. IX. Maxakali, Sueli. X. Pataxó, Arissana. XI. Papá, Carlos. XII. Takuá, Cristine. XIII. Terena, Naine. XIV. Xakriabá, Nei. CDU: 7. 031(81) CDD: 704. 0398 WARAYO MOROOPAI SURARÎ Wî´kon ponan ami´ke tî´noopî yarakrîron koman´pîtî epîtîîpî amo´ko pe ko´ko pe siman tiwim tîn rekondon eporîîpî to´ya. Mîîkîrî ayennta komîîpî epunennpe tîwîrî komunya ekaremepîtîiîpî itunya tamînauron pataakon taasarîîpî pontoni, eta yeeka´pe taapî ya “mîîrîrî poro nîrî assase uttî”. Awennpasa wanîîpî, essen akamaikoope meruntî´ke. Mîîkîrî esenumenka sipiatîîpî ononrantîî tî´komantoopî, ti noopîton eporîpî esenumen´kaapî tiyun waranntî, tuuke timunku yamîîtton eporîpî esunumenka´tî. Tiwin wei yai attî’pî pataaporo asaase morî pata era’mai wî’poro aminke pu’kuru. Tiaron wei yai epa’ka’pî mararon temanne kon pokonpe mîrîrî tenerama’pî pata poro. Tiwin wei taasarî pî ko’mî’pî morî manne terama’pî iwaapî pata poro, tîîse taasarî’pî poro î’rî kon rî menu ku’pî tî’pîiya tî’konpî o’non poro taasarîpî era’mapa mîrîrî pataapo. Terepamî rape ko’mîya, si’mîrikî iwîîtî morî awainan rora eporî’pîiya yu’ya moroopai mîrîrî pata ya tîpaata’se’ton eporî’pîya tîweetunpa. Tîwentamo’kato’ton iwaiya rapo, moro’ sura’tîsa eporî’pîiya tî’po, mîrîrî pî eesenumenka’pî anî’ wanîîpî manni’ pataapo, mîrîrî warantî tîîse rî moro’ sura’tîsa pî awentamo’ka’pî, iwanpe tuwane’nin. Ewaronya tette ewa’tî’pîiya kawîine yei pona, morîrîîpe kapoi wanî’pî ewaron ya, tîîko’mansa’pe moro’ puusa’ tenanî’pî esa’ asarî eta’pîiya yu’ya, o’ma tenerama’pî pepîn. O’ma ereepamî’pî manni’ pata’sem pona mararîîpra moro’ yamî’tîrî’pîiya yu’ yare pona tî’po innîrî moroopai apo’ po’tî’pîiya, to’ puru’pîiya, innî’ to’ wontî’pîiya yu’yare ke moroopai yairomî’pîya si’na’ke moroopai tî’pona itîrî’pîiya mîrîrî tîpo attî’pî yu’ya. Mîrîrî tera’mai warayo’ wîtî’pî, mîrîrî perî ewaronya, ewaronya taasarîîpe tîpo eremapîya eerepamî’pî wî’pona moroopai wîttî erama’pîiya mîîkîrî wîtî’pî mîrîrî wîttî poro era’maima, moro mîrîrî wîttî ta tîîko’mansenan eporî’pîiya. Mîîkîrî ya tîpantoni ekaremeekî’pî manni’ pataapo taasarî’pî. Wîttî esa’ ya mîîkîrî warayo’ eta’pî konoi’pî tuutîkonpa, moroopai tiaron wei yai to’ wîtî’pî irenka’, terepamîkonpe mararîîpra moro’yamî’ yapiisî’pî to’ya wîri’sanyamî’ya inkamoro moro’yamî’ we’ka tanne, moro’yamî’ we’ka yareetî’ka to’ya tanne, ta’pî warayo’ya wîri’sanyamî’pî. Teesenupa’pî ekaremeekî’pîiya yu’ya pî taasarîîpe teesenupa’pî, mîrîrî pata ta’pîiya wîri’sanyamî’pî yu’ yareeke paruru ye’ yare ke moro’yamî’ wontî’pîiya. Mîrîrî erama’pî pemonkonyamî’ya morîîpe pu’kuru. Tiaron wei yai attî’pî moroopai tiaron pataapo taasarî pe mannankan pemonkonyamî’ yenuupapî aasaarî ko’mî’pî. Marariipra pemonkonyamî’ya mîrîrî morî esenumenkanto’ kupî’pî tîwaakariikonpe, tîîse mîrîrî epu’tî to’ya pra awanî’pî. Tiaronpensa attî’pî tiyun, tisan pia’, terepamî pe tîpantoni ekaremeekî’pîiya, pataaporo taasarî’pî pantoni, surarî pantoni. Sîrîrî tîpoose mîrîrî surarî yapurînennan pemonkonyamî’. (Charles Gabriel) ISBN 978–65–990406–6–5