Amazoner
Arawak
Jaider Esbell
Mario Flores
Taurepang
Carmézia Emiliano
Luiz
Matheus
Diogo Lima
Bartô
Isaiais Miliano
Yaka Huni Kuin
Vernon Foster
Davi
Kopenawa
Rita Sales
Huni Kuin
Bu’ú
Kennedy
Arissana
Pataxó
Charles
Gabriel
Fanor
Xirixana
Rivaldo
Tapyrapé
Isael
Maxakali
Ailton Krenak
Daiara Tukano
Carlos Papá
Joseca
Yanomami
MAHKU
Denilson Baniwa
Armando Mariano
Marubo
Bernaldina
José Pedro
Sueli
Maxakali
Antonio Brasil
Marubo
Paulino Joaquim
Marubo
Dalzira
Xakriabá
Yermollay
Caripoune
Elisclésio
Makuxi
Gustavo Caboco
Nei Leite
Xakriabá
INDEX
SUMÁRIO
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THE CATALOG
CONTENT IN
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APRESENTAÇÃO
Elizabeth Machado
Cauê Alves
3
4
ONHEMOMBE´U
Elizabeth Machado
Cauê Alves
3
4
Pandon de Surarî:
a história antiga do Moquém
6
Omo bem´u
ymã guaré Moquém
7
GUEROAYVUA HAPU’A
ENSAIOS
NHEMBO’E
Jaider Esbell
O’ma’kon – Bicharada
– Reunião de bichos
10
Jaider Esbell
O’ma’kon – Mymba kuery
– Mymba kuery nhemboaty
10
Paula Berbert
Pedagogias da transformação
20
Paula Berbert
Nhembo’e aty ojererova
20
Pedro Cesarino
Desenhos Moquém
28
Pedro Cesarino
Ipará-moquém ra´ã anga
28
Ailton Krenak
Tudo o que o olho vê
40
Ailton Krenak
Opa mba´e jaexá va´e
40
Cristine Takuá
Sementes de transformação
46
Cristine Takuá
Nhenhoty Ojeapoa aguã
46
Denilson Baniwa
Ñewíeda: the anthropomorphic
get along gang
52
Denilson Baniwa
Ñewíeda: the anthropomorphic
get along gang
52
Maria Inês de Almeida
Jardim do pensamento
58
Maria Inês de Almeida
Yvyra guyre nhemonguetaa
58
Naine Terena
A hora da grande caçada
64
Naine Terena
Kova´e ára ma jeporaka
guaxu oikota
64
IMBAVYKY VA’E
KUERY OEINOIN
TEXTOS ARTISTAS
CONVIDADOS
Arissana Pataxó
Carlos Papá
Charles Gabriel
Isael Maxakali
Nei Leite Xakriabá
Rita Sales Huni Kuin
Sueli Maxakali
Vernon Foster
Yermollay Caripoune
72
78
80
84
86
92
104
108
114
Arissana Pataxó
Carlos Papá
Charles Gabriel
Isael Maxakali
Nei Leite Xakriabá
Rita Sales Huni Kuin
Sueli Maxakali
Vernon Foster
Yermollay Caripoune
72
78
80
84
86
92
104
108
114
OBRAS EXPOSTAS
LISTA DE OBRAS
CRÉDITOS
120
194
204
HEMBIAPO
OJEKÁ HEMBIAPO
NHEME’EM
120
194
204
Este catálogo é resultado do esforço de uma vida dedicada
à arte indígena contemporânea e à transformação do
mundo desolado em que vivemos. A presença de Jaider
passa a ser com a da constelação Surarî – mais um brilho
a nos guiar em seu espaço de descanso no firmamento.
Kova’e kuatia ma ojeapo oyvara rete overõ nhea’ã ko ombavyky
nhande kuery pe vyma ayn ojererova arupi vyma yvy javere
nhandeae’i nhande kuai. Oiko've'i jave rupi vyma onhemonhevãin
tevema Surarî – ha’eva’ema omoexankã heravyvy nda ombo katu
vyma imbaraete aguã py oin.
Jaider Esbell (1979 – 2021)
Imagem da capa: reprodução serigráfica
da obra TARTARUGA, de Sueli Maxakali (p.185)
Ipiré’ã: hembiapo mba’emo ra’ã anga ombo ombojaá
py vy ma TARTARUGA, Sueli Maxakali (p.185)
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M _ S U R A R Î
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A
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E
3
Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura
e Governo do Estado de São Paulo, por meio da
Secretaria de Cultura e Economia Criativa,
Fundação Bienal de São Paulo e Museu de Arte
Moderna de São Paulo apresentam
O Museu de Arte Moderna de São Paulo, em
paralelo às reflexões sobre o centenário da
Semana de Arte Moderna de São Paulo de 1922,
promovidas pelo museu ao longo do ano de
2021, inaugura a mostra Moquém_Surarî: arte
indígena contemporânea.
A mostra é fruto de uma parceria realizada
com a Fundação Bienal de São Paulo e tem
curadoria do artista Jaider Esbell. O MAM e a
Bienal compartilham uma mesma história. Além
da Bienal ter nascido no museu em 1951, as
suas primeiras seis edições foram realizadas
pelo MAM. Com valores e objetivos em comum,
é uma satisfação que duas instituições tão
importantes para a história da cultura brasileira
estejam próximas novamente.
Para o MAM, integrar a rede de instituições
culturais da cidade de São Paulo ligadas à 34ª
Bienal de São Paulo certamente irá contribuir
para que sua missão seja cumprida com
excelência. Simultaneamente, o MAM apresenta
uma ampla programação online nos seus canais
digitais voltada ao público de todas as idades,
além de cursos e propostas de práticas artísticas
que vão levar arte para o maior número de
pessoas possível.
A mostra Moquém_Surarî não apenas
amplia a visibilidade da arte indígena contemporânea como também sinaliza o interesse
do MAM em valorizar a cultura de povos ancestrais que, nos últimos 500 anos, têm tido sua
existência ameaçada.
MOQUÉM_SURARÎ:
ARTE INDÍGENA CONTEMPORÂNEA
4 DE SETEMBRO A
28 DE NOVEMBRO DE 2021
4 ARA PYAU JEUPITY OUARE
28 ARA PYAU JEOPITYV 2021
CURADORIA_MONGUERAÁ/ Jaider Esbell
ASSISTÊNCIA_MOIRUM VA´ERÃ/ Paula Berbert
CONSULTORIA_OIKUAA VA´ERÃ/ Pedro Cesarino
parceria
realização
ELIZABETH
MACHADO
Presidente da Diretoria do Museu de Arte
Moderna de São Paulo_Huvixa onhangareko
va’e ymã guare mbavyky ayn guiguare
São Paulo pygua
Ymã guaré moim porã ty ayn gui gua São
Paulo py, jojo ramo he´yn oin mby´a mbovy
ma´enty rei he´yn ma oiko ará rakygue
mbavyky ayn gui gua he´i va´e São paulo py,
1922 guive ma oin, ayn ma oin ta mbavyky
he´i va´e oexauká guã Moquém Surarî: Nha de
kuery mbavyky ayn gua.
Kova´e tembiapó ma oiko Nhemo
pyrõ Nhemimty javiré São Paulo pygua reve
nho pytyvõ vy ha´e vyma oin nhomom guerá
ramia in mbavyky kuaa va´e Jaider Esbell.
MAM ha´e nhemity javiré há´e jorami rei gua
oguereko jogueroayvuá. Nhemity javiré ma
oikoypy raka´e ymã guaré moim porã ty py
1951 jave, ijypy guima mboapy meme ranhe
ojapo tembiapó.
Oguereko peteim mby´a, ha´e ve vaipa
katu mokoi mba´eapopy varã onhemoi ru ramo
teko pindorama pygua joupive´i ju ikuai aguã
MAM pe ma ha´e javi omba´eapo va´epygua
rã tekó rãmy kuery São Paulo tetã py ikuai
va´e omoiru mba ramo oin mba porã vaipa
ta. Ha´rami vy MAM oguereko heta mba´e
tembiapó ha´e javi ve pe, tujá kue pe ha´e
kyringue pe, ombo´e ha´egui ome´en mbavyky
regua re tembiapó vy ogueraá heta raia py
Tembipó jexauká Moquém Surarî ma ojapó
oejauká rive aguã he´yn nhade kuery imbavyky
va´e ojapó va´e, oejauká havi aguã MAM
oguereko mby´a omboeté ve aguã nhande
kuery reko ymã guare, mba´eiko 500 ma´enty
re ma nhandekuaia ijavaeté ramo.
DESCENDENTES DE MAKUNAÍMA
No atual momento que o Brasil vive, ocasião
em que as ameaças aos povos indígenas têm
se intensificado, apresentar a mostra Moquém_
Surarî: arte indígena contemporânea, com
curadoria de Jaider Esbell e em parceria com
a 34ª Bienal de São Paulo, é de fundamental
importância para chamar atenção para a
produção artística de povos indígenas e para
seus saberes.
Dada a impossibilidade de separar as
diversas dimensões que a arte possui, como
a política, a simbólica ou a estética, a mostra
e este catálogo são um gesto relevante, não
apenas no campo da visualidade. Ambos
colaboram para a valorização da cultura
dos povos ancestrais, o reconhecimento
de sua originalidade, suas narrativas e seus
universos. A presença dessa exposição na
programação do Museu de Arte Moderna de
São Paulo indica uma postura institucional que
desconstrói pressupostos coloniais. Moquém_
Surarî inaugura um diálogo direto com artistas
indígenas que permitirá ao MAM repensar e
ampliar sua política de aquisição de acervo,
incluindo grupos étnicos sub-representados ou
negligenciados ao longo da história.
Inteiramente concebidas por um artista
indígena, a mostra e a edição desse catálogo,
pela primeira vez na história do MAM, trazem
textos traduzidos para o guarani mbya. Destacar
o idioma original da região em que o museu está
instalado, abranger um grupo maior de falantes
de uma língua indígena, é também um modo de
contribuir para a ampliação da bibliografia sobre
arte indígena e o fortalecimento da língua guarani.
A exposição apresenta trabalhos em
diferentes suportes e linguagens – como
desenhos, pinturas, fotografias e esculturas –,
de artistas dos povos Baniwa, Guarani Mbya,
4
Huni Kuin, Karipuna, Klamatah-Modoc, Krenak,
Marubo, Makuxi, Patamona, Pataxó, Tapirapé,
Taurepang, Tikmũ’ũn/Maxakali, Tukano,
Xakriabá, Xirixana, Wapichana e Yanomami.
Além do texto do curador e artista Jaider
Esbell, o catálogo conta com a colaboração de
Paula Berbert, assistente de curadoria, Pedro
Cesarino, consultor do projeto, e Cristine Takuá,
assessora pedagógica que colaborou ao longo
dos meses que antecederam a exposição
na formação dos educadores do MAM para
o atendimento aos visitantes. A publicação
traz ainda textos dos artistas, pensadores
ou pesquisadores, a maior parte de origem
indígena: Ailton Krenak, Arissana Pataxó, Carlos
Papá, Charles Gabriel, Denilson Baniwa, Isael
Maxakali, Maria Inês de Almeida, Naine Terena,
Nei Xakriabá, Rita Huni Kuin, Sueli Maxakali,
Vernon Foster e Yermollay Caripoune, que
elaboram um panorama reflexivo que tem tudo
para se tornar referência incontornável sobre
arte indígena contemporânea.
A exposição e o catálogo ampliam a
reflexão não apenas sobre a arte, mas também
sobre o pensamento cosmológico ameríndio.
Ambos ajudam a transformar o museu e o país
num espaço mais diverso. As narrativas dos
descendentes de Makunaíma, contadas por eles
mesmos, certamente abrem outras perspectivas
para além daquelas imaginadas pelos artistas
e intelectuais modernistas que foram centrais
para a fundação do MAM.
5
MAKUNAIMA JAPYRE KUERY
Ayn kova’e Pindorama re onhemoingo
opamba’e nhande kuery re, ombojexavai
aguã ojeapo oovy, kova’e onhemombe’u
há’e oexauka aguã ma Moquem Surarī: aý
gua nhande rembiapo Jaider Esbell há’e
34° nhemity nhavõ São Paulo pygua reve
nhoirum, kova’e ma oguerojeapo pavē pé
ojekuaa pota aguã, nhande kuery rembiapo
re ha’e oikuaa ve aguã avei. Kova’e
tembiapo ma nonhemboja’o´i Nhande ruvixa
reko gui, kova’e kuaxia jexauka va’e ma
há’evea rupi gua, há’e javive pe varã kova’e
nhandereko nhembojerovia aguã, ojexaa
kuaa ju aguã, nhandeayvu, ara rupa ae javi
re. Kova’e onhemoingo oexauka opamba’é
tembiapo regua nhemoin porã ty py varã.
Ha’egui ha’e kuery pe omoexakã aguã ayn
gua rupi ve aguã.
Moquem Surarī omonhepyrū
jogueroayvu aguã nhande kuery hembiapo
va’e kuery reve anhõ.
Ha’e vy py MAM pe omoexakã oikuaa
pota ha’e omboeta ve aguã omba’e mba’e.
Ha’egui omoim aguã avei onhemombo rei va’e
kuery pe.
Kova’e ome’ē peteim nhande hembiapo
kuaa va’e pe oexauka aguã nhande ayvu
py ipara va’e. Oexauka aguã kova’e ymã
guare moin porã typy varã, ojopy aguã avei
nhande kuery gui oayvu heta ve ijayvu va’e
ha’egui onhepytyvõ aguã nhande kuery
hembiapo va’e kuery pe omombaraete aguã
nhande ayvu re.
Kova’e hembiapo joegua he´yn. Oexauka
aguã ta’anga, jegua, ta’anga pe’aá gui gua,
yvyra gui gua, ma kova’e kuery rembiapo,
Baniwa, Mbya, Huni Kuin, Karipuna,
Klamatah Modoc, Krenak, Marubo, Makuxi,
Patamona, Pataxo, Tapirape, Taurepang,
Tikmu’ū/Maxakali, tukano, xakriaba, xirixana,
Wapixana, há’e Yanomami avei.
CAUÊ ALVES
CAUÊ ALVES
Curador-chefe do Museu
de Arte Moderna de São Paulo
Nhomogueraa Ruvixa Ymãguare moin
porã ty ayn guigua mbavyky São Paulo pygua
Jaider Esbell kuaxia gui ve, Paulo Berbert
oipytyvō ta avi, Pedro Cesarino, há’e kuaxia
há’evea rami pa oīa oikuaa pota va’e ma
Cristine Takua. Are ma há’e onhemoingo
kova’e rã rupi mbovy jaxy re nhombo’e
nhombo’ea va’e kuery pe marã rami pa MAM
kuery onhangareko aguã oexa xe va’e kuery
pe. Kova’e oexaukaa rupi ogueru avei kuaxia
para amboae kuery rembiapo, onhemomby’a
rexakaã há’e oikuaa pota va’e kuery, heta
nhande kuery gui ikuai: Ailton Krenak, Arissana
Pataxó, Carlos Papá, Charles Gabriel, Denilson
Baniwa, Isael Maxakali, Maria Inês de Almeida,
Naine Terena, Nei Xakriabá, Rita Huni Kuin,
Sueli Maxakali, Vernon Foster ha’e Yermollay
Caripoune, kova’e kuery ma oguerojeapo
ha’ejavi rupi varã indigenas rembiapo ayn gua
ojexauka aguã.
Kova’e ojexaukaa ma Tembiapo regua
re anhoe’yn pavē nhembopy’a arandu ko ara
rupa regua há’ejavi ve reko avei. Kova’e kuery
joupive nhopytyvō Ymã guaré moin porã ty py
varã há’e apy jaikoa py oin aguã. Makunaima
japyre pyre kuery ijayvu ha’e omombe’u va’é
kue. Kova’e gui py omoexakã MAM pe ojapo
va’ekue’i kuery pe.
PANDON DE SURARÎ: A HISTÓRIA ANTIGA DO MOQUÉM*
Um homem deixou Moquém, o Moquém ficou
abandonado, sem dono. Então Moquém virou gente.
Depois que virou gente, Moquém ficou pensando em
como ia ficar. Ele pensava para onde o seu dono foi. O
dono do Moquém tinha falado que ia subir para o céu. Por
isso, Moquém pensava em subir para o céu atrás de seu
dono. O Moquém falava para si mesmo:
— Como será que eu posso subir para o céu?
Enquanto o Moquém pensava, um passarinho chamado
Ma’tapiri1 o encontrou e disse:
— Ei, cunhado!
O Moquém respondeu:
— Ei!
— O que é que você tem, cunhado? – perguntou Ma’tapiri
— Eu estou muito triste.
— Por que você está triste?
— Porque o meu dono me deixou sozinho no mundo.
Então eu estou pensando em ir atrás dele, pensando
como eu posso subir ao céu.
— Sim, te levo!
— Então me ajuda logo!
— Sim, eu vou te ajudar – falou o passarinho.
— Você pode me aguentar?
— Sim, eu posso te aguentar. Segura nas minhas asas
que eu vou levar você para o céu.
Ma’tapiri deixou Moquém no céu e falou:
— Agora fica aqui no céu. Eu te trouxe porque estava triste.
— Sim! Eu vou ser a chuva do Moquém para que os jovens
Makuxi saibam que a chuva do Moquém está chovendo.
Até hoje Moquém vive perto da Estrela da Manhã.
Essa é a história do Moquém, é assim que as
velhas contam.
* Texto adaptado a partir de uma narrativa de Eduína
Makuxi, contada no 48º episódio do programa “Vamos
aprender Makuxi”. Esse programa esteve no ar entre 2003
e 2008 na rádio Monte Roraima de Boa Vista (RR) e era
produzido por professores da língua makuxi e pela Pastoral
Indígena da Diocese de Roraima.
1 • Ma’tapiri é o nome makuxi que designa o pequeno
gavião nativo dos lavrados amazônicos, cuja classificação
taxonômica na ciência ocidental é Falco sparverius.
6
7
OMO BEM´U YMÃ GUARÉ MOQUÉM *
Nda ija vei ma. Ha’e vy py nhande rami onhembojera.
Nhande rami onhembojera rire Moquém oikuaa pota
ma oiko vy mba’exa pa oin tá.
Oikuaa pota marupipa ija oo.
Moquém já ijayvu ae ma raka’e yvate oo aguã.
Ha’e vy py Moquém oikuaa pota hakykue oo aguã avei
oja rakykue. Ha’e vy py Moquém ojeupe ae ijayvu oiny.
— Mba’exa nda’u ajiupi tá ara re?
Ha’e ramia já re, peteim guyra’i MA’TAPIRI1
oexa ijayvu:
— Tovaja!
Moquém ombovai:
— Mba’e?
— Mba’e tu rereko, tovaja? MA’TAPIRI oporandu
— Xeporiau aiko vy
— Mba’ere tu ndeporiau?
— Xere onhangareko’i va’e xereja
Xeanho’in apy yvy py aiko. Ha’e vy py a ikuai pota aa aguã
hakykue, aikuaa pota Mba’exa pa yvate ajiupi avy aguã.
— Hem, torogueraa vy rã!
— Xepytyvõ voi vy rã!
— Hem, roipytyvõ tae tu- He’i je guyra’i
— Xere ndepo’aka rã nhi’ã?
— Xepo’aka rã rima- Ejopy xepepo re rogueraa aguã yvate.
Ma’tapiri Moquém pe oeja yvate vy ijayvu
— Ay ma epyta ta’u apy yvate-Xee rogueru ndeporiau
reiny vy py.
— Hē, xee ma aiko ta Moquém oky va’é.
Kyringue ve Makuxi kuery regua oikuaa aguã Moquém
rima oky oiny.
Ha’e vy py ay peve Moquém jaxy tata’i vy’i ry oiko.
Kova’e ma Moquém regua mombe´u, virami ma vaimi’in
kuery omombe’u.
* Kova’e kaxo ma Eduina Makuxi omombe’u va’ekue,
omombe’u raka’é 48º onhemoingo jave < Jaa
nhanhembo’é Makuxi> Kova’e oexauka jave ma 2003,
2008 nhaendu va’é ty py oaxa Monte Roraima Boa
Vista pygua(RR) Makuxi ayvu py nhombo’e va’e kuery
ha’e yvy po kuery nhanderu re onhembo’é va’e kuery
reve ojapo va’e kue.
1 • Ma’tapiri Heryma makuxi ovemombe’u Kyrin’in taguato
apygua mopotin ka’aguy ovy pygua, ha’epy mboja’o
nhembo’e yvy mboaegui ou va’e Falco sparverius.
8
9
O’MA’KON –
BICHARADA –
REUNIÃO DE BICHOS
Jaider Esbell
O’MA’KON –
MYMBA KUERY –
MYMBA KUERY NHEMBOATY
10
11
Eu vou te convidar a ir por aqui, pois,
confesso, não sei organizar meus pensamentos
e contemplar o que se espera de um escrito
curatorial sem me referenciar na própria trajetória. Quem sabe no final do texto não nos
encontraremos mais curiosos que agora, pois a
ideia nunca é esgotar a constância. Pegue seu
remo, a canoa precisa estar em movimento.
Roenoi ta Kova’e rupi jaa nhainy aguã,
anhemombe’u ete’i avei, ndaikuai mba’exa
pa anhemomby’aa pavē pe pa há’e vea rami
nho pa amoī, xereko anhemombe’u he’y re.
Xapy’a rei ramo Kova’e kuaxia para opa’ia
py jajokuaa pota ve rã. Kova’e mby’a ma
nhemokane’ō he’ý aguã, ejopy ya pyvua
enhemongu’e eiko vy.
Quando finalmente tive o merecimento da
grande reconexão com o universo, eu estava
na praia, em um braço de rio, lá nas nossas
terras, a terra de Makunaimî. Era noite, o
céu estava estrelado, tinha fogueira e o pajé
era jovem como eu. Ele vinha de muitas
andanças, traçava a mais difícil das artes, a
de transitar entre mundos.
Preparamos a cerimônia, fizemos de
um jeito que deu certo e foi assim que meu
contrabatismo, um dos tantos que possivelmente viverei, aconteceu. Já havia conhecido
um pouco do mundo amplo, visto que busco
estar em movimento desde muito cedo, mas
aquele acesso foi de muita revelação. Tanto
que, ainda hoje, passados alguns anos, me
escuto sentindo ainda a candura na voz da
grande mãe me acolhendo no ventre.
Minhas andanças por tantos cantos
talvez tivessem me preparado para enxergar
e sentir aquilo que a colonização tirara dos
nossos povos quando aqui chegaram, a
alma maior. Eu agora posso entender melhor
o sentido desses encontros que ocorrem
sempre, desde sempre, mas que, pela
urgência da derrocada humanitária sobre a
ecologia, é preciso que nos exibamos em
simultâneo. É preciso falar, escrever, performar,
atuar, enfeitiçar, pois, em matéria de arte para
nós, povos indígenas, a obra não basta.
É que estamos de fato em uma grande
e, quem sabe, definitiva jornada no mundo
dominante para compor a gênese de mais uma
passagem plena – da inconsciência coletiva
à substituição de nós por outras experiências
supraexistenciais. Seria mesmo complexo caso
não estivéssemos seguindo uma a’ka – a claridade que nos guia por seus próprios sinais aos
acessos irrestritos à nossa raiz ancestral.
Estou tentando dizer que os saberes
milenares dos povos originários são tecnologias indispensáveis para somar com a ideia
de tecnologia de ponta, como softwares,
e que só juntos podemos estender nossa
permanência no universo. Mas, para se
chegar lá, é preciso que percorramos todos
os efeitos coloniais que se resumem na
Axy py ma mamo ete gui xemboaxya nho,
ye’ē py aiko jave, yaka vy’i ry, ore yvy re,
Makunaimī yvy re. Pytum jave, jaxy tata’i
jave, oin tata endy avei, karai ma peteī
kunumi xerami. Há’e ma ou mbovy jejuataa
gui, hembiporu omopopē axy rei va’e ara
rupa, yvyrupa arandu regua.
Rojapo rojapyxaka aguã, peteim rami
porã’in oxē aguã, peixa mbovy reie’yn pa
mirami aiko ju rã Kova’e rupi. Aikuaa rei
ae ma mba’exapa yvyrupa reko ha’e vy ma
aikuaa pota voi ma aiko vy, ha’e py mae
onhemoexakã ve. Há’e ramo are teim ayn
peve aendu teri nhandexy tenonde rye
pypy aikoa.
Mbovy mborai gui mae ajereko katu
ve vy ma aexa, aendu mba’exa pa yvypo
kuery oipe’a pa nhande gui apy ovãe jave.
Ayn xee aikuaa porã ve ma mba’exa pa
onhemoingo raka’e. Há’e rami ae jepi vy
ma aý nhandeayvu rã nhambopara, jajapo,
jaiko, nhanhemoatyrō, há’e vy ma nhade
nhande kuery nhande rembiporu nhande
rembiapo anho’in ndaikatui.
Jaiko ma apy yvypo kuerya rupi oje
rami rei jaxa javy-oyvara py rupi nhande
mboekovia amboae re haxi rei rã gue a’ka
rupi ndajaai va’e rire- hexakã va’e nhane
pytyvō guexakã marae’yn gui nda’e veia
rupi jepe ombotape, nhande reko ypy re ju.
Amombe’u nhi’ã aiko vy, nhande
arandu ma imarã va’e’yn, nda’e vei jaeja,
heta va’e kuery mba’e reve joupive jaremo
vy rae ma nhande kuaí apy yvy vai re.
Kova’e py nhavaē aguã ma jaguata rã yvypo
kuery reko py, há’e kuery reko ma nhande
arandu nombojeroviai, nhande arandu ma
ha’e kuery pe noin porãin, omba’é arandu
mby’a omoim xe vy.
A’ka, nhemoexakaã ma nhade rape
rã ombopyy pyy ve jexakaa re, kova’e
ae py jexakare ae ma jaikuaa aguã rami
opamba’e onhemoingo ramo. Kovae py
ome’em jaexauka ete aguã nhembiporu,
jajapo ae ma jakuapy, yvypo kuery rovai
nhande rembiapo ae py jaraa, xee arova
eravy, kova’e nhemboaty ague ague, rupi
desqualificação de nossos conhecimentos
e que invertamos a lógica da finitude que
insiste em emplacar o pensamento branco.
A’ka, que é essa claridade, se amplia
quando podemos entendê-la como uma
guiança capaz de nos alertar, com uma fina
capacidade de discernir sobre os efeitos
desses alcances, possibilitando que partilhemos por diversos meios de expressão, o
que, na prática, é o que estamos fazendo:
política contracolonial pura, em artes.
Rememorando meus deslocamentos,
especialmente os encontros fruto dessas
movidas, me vejo, e ainda me sinto, criança,
deitado com irmãos e primos sobre um
couro velho de vaca, olhando para o infinito
a navegar na grande imensidão universal.
Meu avô estava conosco e foi ele mesmo
que, já fragmentado de corpo e memória,
nos trouxe aspectos de nossa cosmologia.
Ele falava do tempo perfeito, o tempo da
constante criação.
Aqueles momentos afetuosos eram
recorrentes e quanto mais eu ouvia mais eu
ia me aproximando de uma outra possibilidade que não o viver alheio ou avulso, modo
como me parece suceder aos sujeitos deslocados com as invasões coloniais. Acreditei,
portanto, desde lá, que há caminhos vastos
para as entradas de volta aos ninhos, mas que
tais entradas estavam ai’kutaasa’nai, ou seja,
encharcadas de tanto que mexeram no equilíbrio essencial de nossa cosmo-identidade.
Não dá pra andar direito no encharcado, é
preciso andar devagar, pé ante pé. É preciso
enxugar para enxergar o lugar por onde andar.
– Aase! Aase! – Vamos! Vamos! Era, e
ainda é, o que dizia, e ainda diz, aquela voz
interior que me aquece, que não me esquece.
Vamos então por estes caminhos, antes
ainda vagos para nossa pouca compreensão.
Isso que a língua dominante limita ao nos
fazer crer que o caminho e o caminhar sejam
algo que se faça unicamente pelo ato literal
de andar com os pés no chão, seguindo um
rumo já pronto.
Aase, na língua do meu povo, é um
convite a percorrer caminhos outros. Tais
caminhos são mesmo abstratos, pois são
caminhos que levam às raízes essenciais
de nossa constituição. Apenas as entradas
para esses lócus estão na superfície, e
as entradas, meus parentes, são nossos
próprios corpos. Sabiam? ! Para se adentrar nessa dimensão que tento nos levar é
preciso ascender aos céus ou intersectar-se
na terra - a mais completa memória de nós.
xee aexa, aendu teri, kyrín rami, anhenō
joapy há’e xerentarã kuery reve, vaka Pire
ary, mombyry rei ama’ē vy aa ara rupa ae
javi re. Xeramoi ore rupive ae oiko arandu
rekove ogueru ore vy pe. Ara rupa naimaraī
regua, jypy’i onhembojera jave.
Iporã va’e memea rupi aiko, aendu
vy, xee anhemboja ve avy, ambos ikuaia
rami he’yn, amboae kuery reko aexa
ojererova va’e kue yvypo kuery ovaē jave.
Há’e vy ma arovia tape oin jaike ju aguã
nhande raity’i py ju. Nhande raity’i ma
mbovye’ý gui onhemomyī mba há’e vea
rami onhemoī aguã nhande reko arandu
rupi. Nda’evei jaguata porã aguã inhakya
rupi, mbegue rupi nhande py jarova rova já
vy. Nhamombiru ranhe jaexa porã ve aguã
mamo jaikoa rupi.
– Aase! Aase! – Jaá ma! Jaá ma!
Va’egue, ayn teim ma, ijayvua ma, va’eri
ijayvu, ou ijayvua ma mby’a gui jemboaku,
nanxemboe xarai. Jaá vy kova ‘e taperupi,
guevema oin oguepaá kova’ere anhembo
jekuaá. Há’ evyma nhandeayvua ijoapy
virami ojere raá aguã kova’e taperupi
jaguataá ma toó heravy vyma peteim rupi
vy ayn he’yn reaema jaguataá kova’e rupi
tapere, oguataá jepe voi oin maba.
Aase, ayvu ma pavem ijayvua, ha’e
vyma oenoin ojyry aguã tape amboerupi.
Tapere vyma oin.
Ojerere rovya haema, há’e va’ema
tape nhandereraá nhandeyvará retepy vy
kova’e jeraja reguare oin.
Taperivema oin hera jeguataá vyma
peteim hendapy nhevãe mbegue, taperupi,
xerentarã kuery, ha’e voima nhandeyvara
haema. Peikua nhin’ã?! Jaike aguã reguare
vyma ikatu pareia py nhandereraá aipotama
onhemonhendy yvare ojokoa – yvyre vy –
omonyen mba vyma ma’endu’a nhandevype
hem, jaá meme katu. Nhanhemombe’ireve
jejeupity, há’evyma jaru nhaeangu reve vy
a’ka, henxãare, axa ajuvy vy heta tataypy
rupi, ha’e nda aiko pavem rupiguarei vy
amo’ã pateim imbavykya guã, ha’e jave,
jojorami jeguapya xeyvara retere voi
jeapo. Mba’eta ovenõeapy krã, ha’epy voi
yjapyre gue oaxa va’e kuere, nhanderaja
nhande vype jooramia-kuery peteim
makuxa voi oin mbarã. Ayn peve oikuaá
ma va’eri ore, roendu mavy amboe ayn
teim nhõenoia py vy aipoe’i jaá vi! he’iva’e
nhamoim rum aguãe’yn a’ka, hexãkã, va’eri
ajepe’a aguãre vyma há’e nhavõ vyma
nhandeyvatea ra’e, nhamboa’eve mba’e
paá nhandere xarai, oguearupivy, Xaexa
12
13
Assim, segui andando. Secretamente fui
avançando, sempre buscando estar atento à
a’ka, a claridade. Passei por tantos lugares,
me fiz em tantos personagens até constituir
a persona, o artista que, no momento, até
assenta bem no meu corpo coletivo. É que
me foi tirado, desde gerações anteriores, o
direito essencial de ser eu-povo, um makuxi
por completude. Hoje já sou bem mais
nós, embora ainda ouça outros convites de
Vamos! São convites recorrentes, não para
seguir a’ka, a claridade, mas para que me
afaste cada vez mais de nossa identidade,
aceitando sem questionar o esquecimento, o
apagamento, deixando de lado essa teimosia
em ser makuxi e aceitando de bom grado ser
um autêntico brasileiro.
É que, quando eu estava nos primeiros
anos da escola, os meus colegas, bem
instruídos pela colonialidade, me convidavam
para esquecer aquela minha insistência em
ser indígena. Quando eu me negava a me
negar, eles me batiam. Sim, eu apanhei de
outras crianças, mas lutei e também bati
nelas, pois sabia que não estava só e tinha
minha razão.
E’ki’pa’pî! Sujo! Eles me achavam
sujo. Me diziam mesmo que ser indígena
não era bom, portanto, para eu fazer parte
daquele mundo, o mundo deles, eu deveria
deixar de ser índio. Índio foi, e ainda é,
para muita gente, sinônimo de coisa sem
serventia. Ainda ouço disso, se lhe interessa saber, aqui nesses espaços privilegiados das artes europeizantes. Teimei,
sarei os olhos roxos das porradas, lavei
todas as lágrimas e decidi não mais sofrer
da porta de mim para dentro.
Seria a arte que acredito fazer meu
escudo ou seria ela minha curandeira? Seria
eu uma espécie de piya’san, um pajé, um
curador? Eu sinto essa cura cada vez que
ponho uma peça “de arte” no mundo. Será
que a arte que a gente opera cura quem não
está mais em si? Poderia a arte dos indígenas devolver a alma dos herdeiros dos
invasores? A montanha de cristal, o Monte
Roraima, ou o tronco da grande árvore
Wazaka’ye, uma vez me disse muitas coisas.
Quando lá estive, também como rota de
meu retorno, ascendi, ou fui ascendido. Fui
tomado pelas mãos quando me disseram,
os de lá, que meus pés estavam precisando
de um repouso e as entidades do lugar me
levaram para os galhos invisíveis para comer
de outras frutas. Tais seres me disseram:
não procure em vão, o que tu és está aqui.
javy vyma nhamboyke heravy nanhae ndua
Makuxi jaikovy nhamboa’eve iporã vya nda
virami vy anhetem gua pindorama vy.
Há’e, xee aiko krã mboae peteim
ma’entyre anhembo’eapy vy, xerupive
gua kuery, nhemoingo porã jepema yvy
mboegui guapy, xereõi xemboexarai
aguãpy pea marã oikoa reguare ha’e
nhandeva’e aikoare.
Anhembe’u nhandeva’eri aikoa vyma,
ha’e kuery xenumpã. Hem, xee anhenumpã
kyringue mboe kuery gui, va’eri ajoguero’a
vy ainumpã havi há’e kueryre, aikuaávi
arekoa xereko’ia vya.
E’ki’pa’pî! ky’a! ha’e rami xerenõin
iky’a. ha’erami vy nda ijayvu nhanderami
aikoare vy iporãe’yn va’erami xerexa.
Ha’erami teim, xee aikori yvy javere voi
ain, ha’e kuery mba’e yvyre ma vy, haexa
nhande’i va’e pygua nhande’i va’e ma, ayn
teim ma, pavem pe, mba’everãe’yn jaiko.
Aendu teri ayn peve, reikaá xeramo ma, apy
oin ikatu pendevype hanhõ’in oin mbavyky
yvy mboegui gua. Anhea’ã aikorã texaovy
xeunga guereve, ajoy texay mbyvyguepa
ha’evy rima anhea’ã ndajexavai xeivy xeyvy
rõkem re Xeyvyim repy.
Mbavyky anhin’ã ambojerovia trã
aiporu ajejokoa rami trã anhemomguerá
aávi? Trã xee peteim omyin va’e rivevi
vy piya’san, peteim xamoim, peteim
nhomomgueraá? Xee haendu amoim
nhavõ peteim regua “mbavyky” yvyre vy.
Mba’ere nda’u mbavyky onhõ momguerá
etepa vy nda’u noin vei hexe? Nhande
mbavyky nda’u omboa’eve nhen’em
nhomoxemba va’e kuery regua guery
repa? Yvyty re oin ita rexãnkã, Monte
Roraima py, trã amboekoviavi yvyra
já’eare Wazaka’ye, peteim gue ijayvua
mba’e nunga retare. Ha’epy aiko javema,
voi ma ajepeguavóaty rupi ajevya,
amoendy vy, trã anhemoendyvi. Ajejopy vy
xepore vy ma ijayvua krã xevype vy nda,
ha’e guimae, xepyre voi nhekontevem
peteimre vy jepytu’ua mba’e jakuery oin
apy vy jereraá krã mboae yvyra rankã
jaexae’yn va’ere ho’u amboae hi’á aguã.
Ijayvu omyim va’e kuery vy: ekaeme
riveme, mba’eretu apy reim. Orema jexaá
ma ijoapy va’e’yn hexãnkã peva’ema oin
há’eve’yn apy ndoguerovyi okanhya. va’eri
peguejy ramo, xemoirum reguataá rupi,
aikuaá matu hetama, oiko, omonkãnhyma
ha’e javive mavy peé mombyryre
onhemojeapoju vy ha’e omyim riae vy nda
pyntuem tekovere vy oin rie vy oarõ.
Somos espelhos infinitos a irradiar aquilo
que está fora do alcance da extinção. Mas
quando desceres, siga caminhando, pois é
certo que muitos, de fato, perderam completamente o horizonte da reconstituição e é o
movimento contínuo que oxigena a vida que
está sempre a esperar.
Depois de tanto falar aparentemente
de mim, parentes, leitores, vamos ampliar
a questão, pois não se trata aqui de trazer
um texto estrutural, formal e clássico de um
curador de arte. É preciso que sempre se
lembrem que a nossa performação no espaço
hegemônico da arte, digo, da arte de matriz
europeia, é fazer, trazer, apresentar e até
mesmo cocriar uma outra possibilidade onde
não incorramos no erro básico de descrever
ou interpretar qualquer trabalho reunido nesta
mostra como uma peça avulsa de seu todo.
Deixem os artistas falarem, ou silenciem o
suficiente para que as obras falem o que o
mundo de fato precisa escutar. Assim, eu,
enquanto um indígena, tal qual meus pares
artistas e coletivos de artistas indígenas
curados nessa exposição, queremos muito
mais desestruturar qualquer sentido ou tentativa de tradução, deixando muito aberto o
campo para que as obras, como parte de
nossos corpos, falem ou expressem o que
exatamente tenha que ser dito.
Mi’kî, a formiga, nunca anda só. A
formiga andarilha tem bem levantadas suas
antenas para manter constante comunicação.
Quando o bicho quer pegá-la, mi’kî entra na
terra. E não era disso que falávamos acima?
Ou, quando não dá pra entrar na terra, mi’kî
cria asas e voa para que o vento lhe mostre
o destino certo onde deixar os ovos que ela
tem na barriga, sua própria população.
Acredito que seja um pouco disso que
trata a curadoria dessa exposição: o movimento de mundos plurais que acontecem
paralelamente ao fluxo dominante e, invariavelmente, asseguram como tecnologias
acabadas (estado da arte) as estruturas de
nossa plataforma comum, os vários céus e as
várias terras funcionando regularmente para
todos, para todas, para tudo e para sempre.
Um outro sistema de arte possível pode estar
sendo semeado. É o sistema próprio das
artes dos povos originários que se minimiza
para caber no mundo restritivo desquali e
desquantificante do pensamento arcaico do
mundo moderno, o insustentável domínio do
pensamento branco.
Foi pensando em expansão, trânsito,
movimento, coletividade, tecnologia, fluxo,
Ha’erire ma ijayvu riae maramo
anhenxã’ã xerema tavy, xerentarã
kuery, kuatia reroayvua kuery, nhambo
tuvixa ve ha’eregua, mba’erepa noin
ogueru aguã kuatia para omboupa
aguã, virami mboja’opyre rami vy
nhomomgueraá mbavykya.
Onhenkontevem riaema ima’endu’a
aguã nhanemba’ere vy overõ nhemboajayty
katu ojey regua mbavyky, xeayvu ju,
mbavyky ma yvy mboe gui, ojeapo, jaru,
jaexauka vy joupive jajapo peteim rupivy
nda ojejou heravy vy nda’u mamopa noin
já’a vampy ha’e jejavy voi oin heravya aguã
vy nda onhenxã’ã vy mba’eapo joupive
kova’epy vy jexauka hejegua vyma pavem
pe ju. Ojeja imabavyky va’epe ijayvua
aguã, trã okyrinrin vy jeopity vy ijayvu aguã
py onhaem vy onhekontevem vy oikoma
vy oendu aguã. Virami ma, xee, nhande’i
va’erivy, imbavyky va’e’i rivy jojo rami joapy
roin vy mbavyky kuery vy nhande’iva’e
kuery nhomomguerá kova’re omboyjy vy,
roipotama vy rombovaipa xevea roendo
nhea’ãma okueroayvu kuaá aguã, oejama
nhumrupi vy oipe’a heta ojapoague,
oja’o vyma nhandeyvara rete, ijayvu
ojexaukamavy mba’e ete’itu jaroayvu ta.
Mi’kî, tay ma, ndo guatai ha’eae. Tay ma
oguata reiva’e oin omompu’ãrei oakãpykã
heravyma vy omombyta riaevy nonhemo
kanhyiu kai. Omyim va’e kuery ojopy xea
ramoma, mi’kî oike yvy guyre ha’ere’yn ma
nhandeayvu kuri yvatere? Trã, nda’evei oike
aguã yvyre ramo ma, mi’kî ipepó va’eri vy
oveve ovy mba’etu yvytu oejauka rembiexarã
mamo oin oeja va’ekue hupi’a guyepy
oguereko va’e, ojeupema onhemboe tave.
Arovia nda kova’epy vy kyrin’in vy
nda nhemomgueraá kova’e nhemboyjyre:
o nhemomyin vy yvy javere vy oiko
nda joyvyre ojereraá vy onhevãe mavy
onhemoymba va’ekuery ma ojejopy
vy mba’erepa nhemonhe mbojaitya
opama(mbavyky yvyre guare)overõ
mompu’ã nhemoe ndaá mba’exa nda’u,
heta yvare ha’e heta yvyre hevovo
onhembojeja heravy ma pavem pe, ha’e
javi pe há’e pavem pe riea vy. Peteim
mboae rupi vy nda irajavy mbavyky
japy’arei vyma oin onhemoaim iraja
ojeupeae mbavyky vetarã kuery apyguaé
kuery onhemoyvyin vy oja aguã rami
yvy javere omboapyare ijapua há’e
onhemboapu’a onhemonguetaa vy nda
ymã rupi yvy javere ayn gua, nonhemogarui
kuavei onheymba va’e kuery jurua.
14
15
estratégia, ação integrada e tantas outras
ondas positivas que propus que nossa exposição se chamasse Moquém_Surarî. É que
me parece mesmo que, ao menos aqui no
Brasil, estamos vivendo esse momento. Um
moquém não se faz só. É preciso que haja
gente esperando em casa, nas comunidades,
para que os caçadores se empenhem. É
preciso que haja fome de vida para que os
bichos apareçam e se entreguem ao abate
para servir de nutrição, de alento e instrução.
O’ma’kon é uma reunião de bichos, uma
grande bicharada. São eles nossos professores. Não somos mais que eles. É preciso
negar a supremacia humana sobre a diversidade de formas de vida.
Pois não é mesmo fantástico que o
jirau onde os alimentos são defumados para
suportar as intempéries da longa viagem seja
abandonado para trás por seus donos, os
homens? Que essa tecnologia sinta saudade
e saia também à procura de parte de si por
todos os cantos da Terra e que, não o encontrando, tenha vontade de ir procurar no céu,
onde também não o encontra, e resolva
se tornar uma constelação para continuar
servindo aos Makuxi para avisar quando
virão as chuvas, a estação das boas plantações! Para mim, o que nós artistas indígenas
estamos fazendo é isso. Estamos saindo de
nossas comunidades, guetos, favelas, e indo
caçar, como sempre fazemos, recorrendo aos
nossos mestres, a bicharada. Que eles nos
ensinem mais uma vez e que nos sirvam para
que sirvamos de um novo alimento ao mundo
empobrecido, exaurido e profundamente
carente, a vida da atualidade.
Aquela sala expositiva, com pouco mais
de algumas centenas de metros quadrados,
este catálogo, com algumas poucas páginas,
e os pequenos espaços na grande mídia
nunca serão suficientes para que preenchamos o vazio existencial que se estabeleceu, ou que foi tornado nos mundos, tanto
os nossos como os dos invasores, pois, no
fim, estamos no mesmo barco e ele está
fazendo água muito mais rápido do que
podemos retirar.
É muito delicado estar nesse lugar da
observação. Ao mesmo tempo, é muito fácil
atuar daqui, pois o que não nos falta são
ensinamentos, isso que nos deixaram nossos
antecessores. É preciso resistir, sempre.
Iwiî – matar, para nós é muito fácil. Mas
estamos cansados de guerras. Ixere’ku, o
fel, é muito amargo, mas, ainda assim, é um
remédio muito bom, cura doenças fatais se
Onhemonguetavy ombo tuvixa,
mba’eru, omyin, jojoramivy, nhemojaityma,
nhemonheem, jekuaa potavy, nhepyrun
jojavire heta amboae overopuã vy nda
omoin heravy vyma omboyxy há’evy
oenoin Moquém_Surarî. Há’e vy ojekua
jevy vy ma kyrin’in apy Pindorama py, jaiko
apy há’e vyma. Peteim moquém noin vei
vyma. Nhekotevem oiko nhande rami oarõ
ngoopy, pee hetarã kuery apy, iporaka
va’e kuery jepe oiko katu aguã rupi vy.
Onhekom tevem ko omyin ojekua aguã há’e
onheme’em ojejuka aguã nhanemoe vyata
aguã, jekuapota jejapua.
O’ma’kon há’e nhemboaty omyin
va’e kuery, tuvixa omyin va’e kuery vy.
Há’e kuery ma nhanembo’ea kuery.
Nhandema há’e kuery arupi gua’e yn ma.
Onhekotevema jeapu vy nda onhemboyva
teve ma tekore. Há’e vyrima onhembo’a
evema vy mavy omo nhimbepa tembi’u
há’e omombiru tata ary xapy’a rei py ary
puku re oguata vy oeja taky kuery oja, ava
kuery? Mba’e kova’e nhembojaity toendu
xanga’u há’e tomxe há’e toeka ojeguigua
kuery gui vyma toporai yvyre mba’ere,
ndojoui mavy, oendu xea ao aguã oekavy
yvare, mamo ndavy noin ko ojou, ojevy
aguã py ojeupevy opyta nhoembiguai aguã
Makuxi omombe’u aguã raka’etu ou oky,
ary nhavon nhenhoty porã aguã! Xevy
pema, ha’e orevype ma mbavyky nhande
kuery pe orema rojapo kova’e. Orema
roem ore rekoagui vyma, tetã inre, aa
jeporakavy, rojapo riaema vy, roporandu
ore nhemboea kuery pe vy, omyin va’e
kuery. Há’e kuery tanha nembo’ei eme
peteim gueju ore kuery rome em vy rima
onheme em jevy vy tembi’u yvy javere
onhemomboriau kuery pe, inkãnky kuery
pevy nda, toikovea ayn guiguare.
Pee ma oguy nhavangaá typy,
hetaveare vy nda ipukuveare vy joguepy
vyma, kova’e ombojekua, mbovy’ire
vy kuatire, kyrin gue’ire ikature há’e
tuvixaveare vy ojekuaá va’ere vyma
omboa’eve vyma omonye naenyevei
va’ekue opyta heravy vyma ojejou ma,
ojeapo va’ekuere yvy javere, nhomoxem
va’e kuery voi ma oin vyma, ha’e gui,
opaapy, ore kuery voima kanuã ha’e ojapo
yy pojavave vy hetave vy tove tojaraa apy yy
togueraá. Ha’evyma axyreima japyta aguã
apy nhendeporexa aguã. Va’erima, haxy
vaipa jaikoa aguã apyguimba’erepa ndoatai
nhanembo’ea kuery jepe, kova’erupi
oejavy kova’e nhane’ymã guare kury.
tratadas a tempo. Vivemos há séculos essa
amargura e não queremos repetir a dominação que nos aflige. Queremos manter
a vida viva, viável, pois, dizem os bichos
nossos professores, assim deve ser. Assim
o chamado se fez. Que viessem povos de
todos os cantos, desde os extremos, os
povos de perto apagados, esquecidos, sem
terra, sem teto, sem água, sem voz. Que
viessem e se apresentassem. Que respeitosamente entrassem pela porta da frente
dos museus e se instalassem, também por
vontade e necessidade próprias. Que exemplificássemos com muita elegância e humildade que é possível partilhar a existência, a
ciência, que proporcionássemos mais e mais
saudáveis experiências.
Então, está feito o moquém. Uma
reunião magistral de cosmologias que
cooperam entre si em mútuos apoios e reinvindicações. Marcamos, antes de tudo, que
para que contemos mais de nossas essências é preciso que nos devolvam nossos
arquivos engavetados a sete chaves nas
instituições, nas igrejas. Que a urgência
ecológica nos auxilie em dizer que não
precisamos, embora seja preciso, que derrubemos estátuas pesadíssimas que sufocam
nossos solos sagrados. Estes monumentos
coloniais colossais que suplantaram nossos
sítios sagrados, nossos cemitérios, o lugar
de nossas roças. As roças que também
nos ensinaram como fazer, tal qual nossos
professores, a bicharada.
Importante que constem nos anais que
a exposição Moquém_Surarî é uma negação
à individualidade. Que é um esforço plural
de aproximação, mas nunca de tentativa de
tradução. Que não foi nem um pouco fácil
dialogar com a instituição. Que estamos
minimamente conscientes de que o nosso
papel enquanto um ascensor de mundo é
nos recolhermos ao canto e deixarmos que
cada um ou cada uma aqui reunidos possa
fazer a sua própria autoapresentação.
O que mais poderia nos motivar se
o mundo da individualidade já provou ser
inviabilizante? Se a ciência também já se
mostrou imprópria? A ideia da arte, essa
palavra ainda aleatória, pode nos ser útil se
moquearmos ela, aos nossos modos, para
pô-la a serviço de nossas urgências. Tais
urgências não são os pseudoprivilégios
que muitos não indígenas ainda acham
que temos. Nossas urgências são as
urgências globais, locais e cósmicas.
São urgências laborais, operacionais e
Nhenkotevema taimbaraete, riae.
Iwiî - tojuka, orevype haxy vaipama.
Va’eri orema orekane’õma nhorairõ gui.
Ixere’ku, iró, vaipa Iró, va’eri, teim nda, moã
iporã vaipa, jaguerá mba’eaxy gui vaiguegui
jaguerá aguã jaiko ayn. Jaiko mavy ymã
guive haema irore jaiko ndoroipota veima
ayn oiko nhanemonheymba va’e kuery je
omoin oakãre aguã. Roipotama vy opyta
tekoa jaikoa, há’e veri, va’eri, ijayvua omyin
va’e jepe nhenembo’ea, há’evyma oje,
virami heryvy ojeapo. Touake nhetarã kury
pavem oporai aguã, koo rupi vy ojekuaá
heravya tentará há’e’ipy oguepama,
exarai, yjyvy he’yn re, ndaoi, ndajyyi,
nda’ijyryvivei, touake tonhemombe’u.
Mba’epa tonhomboete toike tokuapy
okengui ymã guare moiporãtypy gui
tonhemboó, toin xea toendu nhenkotevem
vy jepe ojeupe. Onhemo mboriau’i vyare ma
heta onhemoporã rei aguã japy’arei ramo
opmboja’o heravy vyma, nhembo’ea porã
va’e kuery jepe hexãin mbavea jepe topyta
jaikuaávea aguã.
Há’evy, ojeapo moquém. Peteim
nhemboatyre nhembo’eva’e kuery voima
nhopytyvõ havei joexa kuaa va’e kuery
ma oporã ndu oguapy vyma. O’anga, há’e
yn mbovema ba’epa romombe’u oreyvara
guigua há’e va’ema nhenkotevem ome
enju aguã oremba’e onhomia guegui
jepe’aá py mba’eapo rendapy guama, opy
ramingua, nhenkontevem mavy ka’a guyre
nanhamomky’ai aguã nhenkotevema, jaity
omo’ã mbyre, há’e nhenkontevem rupi
vyma ipoyi vai heravy vyma yvy porã’in.
kova’ema omonhemopu’ã mbyre yvy
mboegui ou va’e kue onhoty va’e gue
vyrima iporã, nhanemba’e yvyra rupama,
peteim hendapy kokuepy. Kokuepy
voima orembo’e havi voi Mba’e jajapo, ko
nhanembo’ea kuery, omyin va’e kuery.
Há’eva’ema há’ve vaipama virami
onhembo jexaukaá Moquém_Surarî peteim
ha’e nda’ijapui há’e kuery hae ojeupe.
Mba’etu onhea’ã pavem pe vy onhemboja
ve aguã py ju onhe’ã anga ogueroayvu,
mab’epa ndaxy vaipai vyma jogueroayvu
omba’eapoa kuery. Orema roin rum xã’in
oreakã re opytaá arandu ore ma kuatire
pende yvyre pende kuai haja otrema romo
no’õ mavy mborai roeja heravy vyma
peteim pe onhemboatya py ojapoa aguã
ojeupe Imba’eae nhemombe’uvya.
Mba’ere nda’u ombo’a’eve heravya
aguã yvy revy ojeupe hae omboa’eve
heravy nda onhemomjejauka? Onhembo’e
16
17
cotidianas, como chegar na pré-escola
e transformá-la em um lugar de trocas
justas. É que, assim como está, o sistema
da arte dominante ainda assusta nossos
pais, nossos avós. Queremos, e desconfio
que podemos, despertar juntos para uma
outra consciência, a coletividade efetiva,
não mais essa que reforça a racialidade, o
racismo, o revanchismo.
Por fim, a imagem derradeira que me
surge em mente é de um peya’, um balneário, um lugar onde poderemos nos banhar,
um lugar para levar e lavar as nossas almas.
Um lugar para deixar nossos corpos flutuarem, um lugar para espelhar o céu que há
em nossos rostos, o grande espelho da vida
em harmonia.
Morrîpenan!
porã va’e kuery oejaukama vy há’eve yn
va’e? Mbavyky re onhemomby’a vyryma
há’e vevy moquém reaguarã nhenkotevem.
Há’evyma nhenkontevemavy ojeanhõ py
ju omombyta heta jurua- kuery ayn peve
ojou jareko. Nhanemba’e nhenkontevem
yvyre javerevy, oin ojejapyxakaá. Voima
nhenkontevem ojeapoa, ojejapovyare
guiare vym nhemoingoapy gua, mara mipa
nhavãe ojerá-ovya oin aguã nhemboekovi
jo’irami. Mb’ere, virami rein, ojerajama
mbavyky onhemoymba va’e kuery ayn
peve onhemondyi yvy re, nhaneramoim.
Roipoata, há’e ndajeroviai vi omboa’evevy
ma, omomyin joupive vy nda amboae
onhe’ã mba’e kuaá gui, jojo ramivy
joe’i, noin mavy onhea’ã oje kueryre,
ndapoayvui, há’e vyma nhorainrõ.
Há’e pyma, in’ã o’atyrã ramingua oin
vy ryma nhaneakãmy opyta ouvy peteim
peya’, oinju, ikatua mamontu ore kuery
rojauta, peteim ikatuapy jaraá aguã nhande
nhe’em. Peteim ikatuapy jaeja nhenemba’e
nhadeyvara rete, petein ikatuapy vyma
yvare hae nhanderova, ojekuá nhane’ã aá
tuvixa jaje kuaá tekoa tory’ire nhain mavya.
Morrîpenan!
Fui posto curador da exposição Moquém_
Surarî. O mundo mudou radicalmente
bem exatamente nesse tempo, mas,
para nós, continua o mesmo, só que um
pouco melhor, pois o’ma’kon, a bicharada
professora, está, de fato, muito feliz e então
também estamos!
Xemoingo nhemonguraá há’e nhemboyxy
Moquém_Surarî. Yvyma ova ivaireve vyma
há’epyete’i vyma ary py, va’eri, orevype,
ootema teim vy, va’eri há’eveve nho,
mba’eta o’ma’kon, omyin va’e kueryma
nhombo’eva’e, oin, oiko, ovy’a vaipa,
há’evyma roin apy!
MESTRA BERNALDINA MAKUXI,
ETERNA VOVÔ
(1945–2020)
XEJARY BERNALDINA MAKUXI,
NDOPAIRÃ XEJARY MERINÁ
(1945–2020)
PEDAGOGIAS DA
TRANSFORMAÇÃO
Paula Berbert
NHEMBO’E ATY
OJEREROVA
20
21
PARA UM COMEÇO DE CONVERSA
AYVU NHAMBOYPY AGUÃ
Arte indígena contemporânea.
Esses termos, conjugados nessa ordem,
têm provocado muita curiosidade e algum
estranhamento junto às instituições de arte
e seus profissionais, e ainda nos pesquisadores e público interessado. Essa surpresa,
que muitas vezes também vem acompanhada de certa suspeição de legitimidade,
fundamenta-se em desgastados pares de
oposição que ainda contornam o Ocidente
moderno em seu próprio imaginário, diferenciando-o dos povos que lhe constituem
alteridade. A estes o Ocidente atribuiu a
natureza, o mito, a oralidade, a tradição e
os artefatos; reservando para si mesmo a
cultura, a história, a escrita, a contemporaneidade e a arte.1
Ao revelar os aspectos etnocêntricos
que fundamentam a própria noção ocidental
de arte, aponta-se também para a existência de uma outra acepção para essa
ideia, da qual derivam maneiras próprias de
expressão, de pensamento estético e de
relação com a vida, sendo, portanto, ontologicamente autônomas quanto às práticas
e metodologias do sistema da arte metropolitana. Estamos falando de outra arte, da
arte indígena. Assim a ordem dos fatores faz
mesmo toda a diferença, pois o que está em
questão são agenciamentos artísticos que
são indígenas antes de serem contemporâneos. Isso porque tais proposições se dão
em continuidade com um arcabouço originário dos povos da terra, isto é, com seus
modos milenares de relacionalidade, como o
xamanismo e a guerra, e seus correspondentes expressivos.2 E é a agência coetânea
do artista indígena, vivendo no trânsito entre
Mbavyky nhande kuery ayn gua.
Ha’e va’ere ma nhamandu vyma
joiguerará ma vya ombaeapo pygua
kuery oikuaxea oin ramo nda oparupie
jepe voi m ajo gueraá vy onguãe vyma
oejaukama. Ogueroataá vy haipo’i
xee ayn anhemopyrõta apygui he’i vy
omboypy kova’re ayn guigua ramia
aguã rupi ju opyta ma vyma ojereraá ko
mamoetegui ojeroja py ou ayn magui jepe
ojereraá kuaá aguãpy ju ojexauka nhande
kuery pe varã ramiju oin heravy vyma
ojepytaxó ouvy, nhandeayvu ramo ma
hetá rei re va’e rã nhandeayvu, mba’eiko
ogueru hetá mba’e avi oikuaapota va’e
kuery Gui ha’egui mba’eapo va’e kuery
ha’e gui pave rei teri má oguereko teri
onhexa’ã rei a1.
Nhamombe’u tá apy amboae régua
mavyky va’e kuery re, mbavyky Nhande
kuery re. Ha’e rami vy ma amboae rupi rei
ramo ma ha’e ve vaipa. Mba’eiko ayn gua
re nhandeayvu he’yn re pa nhande kuery
arte py yma guare rai py ogueru. Ha’e gui
yma ve guare ete ramo vy pa ha’e Kuery
yvy regua re meme rei ete py arte ojapo
ogueraa ve heravy xamoi kuery ombo’e
va’e kue gui2. Ha’e vy aema omboje’á yma
guare re ha’e gui ayn guare reve.
Mbavykyre ma nhandeayvu ayn gua
re anho he’yn, yma guare reve regua guive
ramo py jaikuaa potá ramo koropi hetá vi
aema imbavyky va’e kuery ikuai nhande
kuery gui yvyvy mboe gui ou va’e kuery
ojea katy anho he’yn aepy ikuai, apy rupi
1 � Sobre isso ver: Cesarino, Pedro de Niemeyer. Conflitos
de pressupostos na Antropologia da Arte. Revista Brasileira
de Ciências Sociais, v. 32, n. 93, São Paulo, 2016.
2 � A este respeito, argumenta Jaider Esbell: “Aquelas
pinturas deixadas nas rochas são códigos dizendo cavem,
aprofundem, usem seus recursos para o autoconhecimento,
para a autonomia. E que recursos seriam esses? Memórias,
xamanismo e outras habilidades extrassensoriais. (... ). O
Xamã e seu ofício aliado às habilidades artísticas, como
ritos, cantos, danças, performances e, claro, o desenho,
modo mais ilustrativo de repassar a informação que
deveria ser concebida por todo o grupo em cada situação
em particular. Aqui temos pistas contundentes de como
a arte esteve manifestada desde sempre entre os povos
primeiros. A arte presta-se ao sentido prático da vida,
sendo uma habilidade xamânica para orientar sobre locais
de caça, modos de guerrear ou modos de usar recursos
para curas ou mesmo feitiços contra inimigos”. (Esbell,
Jaider. Índios: identidades, artes, mídias e conjunturas.
Jaider Esbell. Coleção Tembetá. Rio de Janeiro: Azougue,
2019, p. 83).
1 � Há’e va’e reaema: Cesariano, Pedro de Niemeyer.
Nhomontare’yn nhoverõ ma’em are vy Joeko re
onhembo’e va’e mbavyky. Kuatia Pindorama pygua
Onhembo’eve va’e kuery joapyre ikaui va’e kuery, v. 32,
n. 93, São Paulo, 2016
2 � Kova’e nhembotere ma vy, ijayvu Jaider Esbell: ”
Há’e va’e omopytã va’ekue itare va’e ma oexa jaikuaá
aguã vyma eje’o he’i, eikeve, eiporu ve renhemimbo
porua reikaá reguare vy ma, jaiko kuaá re guapy ju
nhain. H’e mba’etu kova’e nhembiporu? Ma’endu’a,
opyrupigua trã amboae kokuaá onhemonhendua
mombyry Xamoim ma oguereko joupive gua
ayn vy mbavyky, mongaraia tyrã, mborai, jeroky,
onhembojejauka, há’e vy ko, omboaxa vevy rima
oexauka heravy vy omombe’u ve vy rima omboparaá
omombe’uve ju pavem pe vy teim teim pe vy ouvy. Apy
já’exe ramo ko taperupi yypa’ure vy mbavyky jepe opyta
heravy vy ojejauka nhanerentarã kuerype ayn guie yn
haema. Mbavykyma há’eve- jaikuaá ramo nhandere
kore vy há’e vyma ojeporu kuaá nhaneramoim kuery
gui vyma nhemongueta jeporaka aguã oin, nhorairõ
rami ju oikuaá oiporu aguã nhembiporu oguerá aguã
ojapopyregui ko oayvu he’yn va’egui”. Esbell, Jaider.
Nhandeva’e: onhemoete kuaá mavy Mbavyky, ojekuaa
va’erupi vy joupive’irã. Jaider Esbell. mono’õ Tembetá.
Rio de janeiro: Azougue, 2019, p. 83).
mundos, que vai produzir também o elo entre
tempos, de modo que o ancestral é contemporâneo, e vice-versa.
A arte dita assim apenas contemporânea, sem anunciar sua própria raiz, é na
verdade tributária de uma tradição bastante
específica, de ascendência moderna,
ocidental, metropolitana, europeia, branca,
colonial. Assim, a ideia de uma “arte contemporânea indígena” implicitamente sugere que
a arte (ocidental) contemporânea se tornaria
também indígena ao englobar, ao trazer para
dentro de si mesma inclusive as produções
de artistas indígenas. E não é disso que se
trata, estamos diante de formas distintas de
se pensar e de se fazer arte, a indígena e a
ocidental. Suas práticas e sistemas estão
hoje em diálogo, mas não se confundem nem
se reduzem uma à outra.3
Falamos então da arte indígena contemporânea, e não de uma vertente particular da
arte contemporânea que seria indígena. Arte
indígena contemporânea e não arte contemporânea indígena. Percebem a diferença?
DAS VACAS AO MOQUÉM
Em dezembro de 2019, Jaider Esbell recebeu
um segundo convite dos curadores da Bienal
de São Paulo. Depois de ter sido chamado
a compor como artista a 34ª edição dessa
importante mostra, a proposta era que ele
ampliasse sua participação no evento, organizando uma exposição própria que seria realizada em uma das instituições parceiras da
programação expandida da Bienal. Ainda sem
a definição sobre o espaço que acolheria seu
futuro projeto, Jaider se lançou ao desafio
com a certeza de que não faria sentido, como
membro indissociável de suas comunidades
de origem, elaborar uma proposta individual.
Ele sabia, desde o primeiro instante, que
estava diante da oportunidade de organizar
uma exposição coletiva de arte indígena
contemporânea. As costuras institucionais
continuaram e dias depois chegou a confirmação de que tal proposição seria realizada
junto ao Museu de Arte Moderna de São
Paulo, um outro espaço eminente para o
sistema da arte não indígena.
O ponto de partida para elaborar uma
proposta de exposição era inequívoco para
Jaider: a série coletiva Vacas nas Terras
3 � Sobre os sentidos dessa distinção ver: Sobre a Arte
Indígena Contemporânea. Jaider Esbell. Coleção Tembetá.
Rio de Janeiro: Azougue, 2019, p. 49-50.
voi ma hetá vi ikuai jaikuaa potá ramo.
Ha’e rami vy arte Nhande kuery ayn gua
re nhandeayvu ramo ma ha’e javi arte
ikuai va’e ma Nhande kuery mba’e meme
ikuai. Joramigua he’yn re py nhama’en ta.
Joramigua he’yn va’e ri petei tavy ndovare
vei Ju amboae gui3.
Nhandeayvu mavy nhande mbavyky
va’e ayn gua re, ha’e vy ma nhande kuery
má ayn anho he’yn aema oiko va’eri.
Nhande kuery ma ayn gua ja’ea py voi ma
nhandeayvu kuaa rã. Pexá kuaa pa?
VAKA’I GUI VA’E MOQUÉM
Dezembro 2019 jave ma, Jaider oguereko
ju ma amoboae tembiapó Monkoi jerare
de São Paulo py. 34ª jave oenoi krã mboae
artista rami rive ma curador rami ju oiko
vy oguereko petei tembiapó tuvixá ve
va’e ju ogueroguata mombyry ve aguã,
ha’e rami vy ma ha’e ojapó aguã petei
nhemboyxyapy omba’e ae monkoi jerare
hirū kuery arupi. Ndojporavoi teri reve
mamo ete i rãpa ojapó aguã va’e ri Jaider
onhemonby’á ma ojapo aguã mavy
ixupe ramo nda’evei rei ta merami ha’e
anho i ojapo ramo. Ha’e e oexá ramo py
ha’e va’e oiko rami ha’e rã oenoi aguã
amboae kuery artista kuery oexauka aguã
nguembiapó Kuery.
Omboypy ma aguã vy ha’e ndojavy jei
Jaider: Peteim já’o rupi vyma joaramipy
oapy guei ikuai Makunaimî: vai mbyrere
onhemoma’em4. Ha’e va’e Kuery imbavyky
Roraima gui ogueru, ha’e ramo jaexá ramo
Peteim rei oguereko ojeito ojapóa nhande
va’e kuery gui - oexauka meme rei yma
guare guare yvy re meme ijayvu, mba’exa
pa omboypy ague, ha’e gui oexauka avi
nhande rája re oma’em va’e kuery va’ere
joguero’aa ka’aguy omoin Porã aguã re
3 � Há’evy rima nhaendu kova’e jaexa opaá: mbavyky
nhande kueryayn reguarema. Jaider Esbell. Mono’õ
Tembetá. Rio de janeiro: Azougue, 2019, p. 49-50.
4 � Gueima Makunaimî yvyre ikuai: jaipoaá vaigue
ojeporu virami vy nda ao’ã vyrima oikuaá ogueraá vea
omombvy yvyrakuá 2013 jaider gui vyma imbavyky
va’e nhande kuery Roraima py, nhoenoin-vy mba’eapo
japoague opyta heravy vy omombe’u nhomoemba
va’e kuery gueija kuery apyguae yvypygua oikuapota
va’e nhande kuery imbaraete yvy mboe va’e guigua
guerygui. Kova’e ma mba’eapoama oin porã Peteim
nhoãitim pavem tekoare ikuai va’e nhenkotevem
omoim porã aguã ojapo va’e kue peteim hendapy vy
nhomboayvu okuapya aguã ikuai imbavyky va’e kuery
oikoatã vy ojapo peteim jeyxya Jaider Esbell mbavyky
Nhandeva’e kuery Ayn gui guare, voima 2013, py tetãre
Boa Vista (RR).
22
23
de Makunaimî: de malditas a desejadas.4
Tal escolha se deve ao fato de que esse
conjunto de trabalhos corporifica as experiências de articulação de uma coletividade
de artistas indígenas em Roraima, ao mesmo
tempo em que evidencia particularidades da
produção artística dos sujeitos indígenas – a
relação de suas poéticas com a memória do
pertencimento ancestral à terra, os aspectos
coletivos de seus regimes de criação, a implicação indissociável com a luta em defesa
dos direitos originários e ambientais, isto é,
seu sentido artivista. A questão que se colocava era construir um argumento curatorial
que amarrasse as obras daquela série aos
trabalhos de outros artistas e contextos que
Jaider também gostaria de apresentar na
mostra. Foi com a tarefa de auxiliá-lo nessa
empreitada que desembarquei em Boa Vista
no final de janeiro de 2020.
Imergimos em nossa pesquisa curatorial
na comunidade do Maturuca, um dos centros
políticos da Terra Indígena Raposa Serra do
Sol. Chegamos lá para acompanhar a programação organizada pelo Conselho Indígena
de Roraima (CIR), que celebrava os 40 anos
do projeto “Uma vaca para um índio”. Esse
projeto é um marco na história da resistência
à invasão colonial na região. Contraefetuando
a alegação coronelista dos invasores, de
que só deveria ter terra quem tivesse gado,
lideranças makuxi em conjunto com setores
progressistas da Igreja Católica passaram
a arrecadar fundos para que cada comunidade tivesse seu próprio rebanho e com ele
pudesse defender o território da avidez dos
fazendeiros. Depois de assegurar seu espaço
devido, protegido por vacas agora indígenas,
a comunidade em questão deveria doar um
rebanho de igual tamanho a uma outra comunidade vizinha – Vacas nas terras de Makunaimî: de malditas a desejadas, vamos entendendo o porquê.
Fomos recebidos no Maturuca por uma
de suas moradoras mais ilustres, Bernaldina
José Pedro, Meriná Eremú, liderança histórica
4 � A série Vacas nas terras de Makunaimî: de malditas a
desejadas resulta da provocação curatorial lançada em
2013 por Jaider a um grupo de artistas indígenas em
Roraima, convidando-os a produzir obras que abordassem
a história da invasão pecuária em seus territórios originários
e as estratégias indígenas de resistência à colonização.
Este conjunto de trabalhos serviu de mote para o 1º
Encontro de Todos os Povos, evento que reuniu em três
edições a produção de artistas indígenas do estado. A
necessidade de abrigar essas obras e ter um espaço
para acolher a produção e a articulação desses artistas
impulsionou a criação da Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea, também em 2013, na cidade de
Boa Vista (RR).
guive. Ha’e rami vy Jaider pe aipytyvõ
aguã aa karamboae Boa Vista re Janeiro
2020 jave. Ha’e rire ma romboypy tekoá
Maturuca py Yvy Nhande kuery pegua
Raposa Serra Do Sol mbyté regua re. Ha’e
rovaen roikuaa potá aguã Nhemonguetaá
Nhande kuery mba’e Roraima ojapó va’e
re, ha’e py oguerovy’a pave 40 ma’em tyre
mbavyky jepeare “Peteim teim pema guei
opyta nhande kuerype” va’e ojapó ramo.
Ha’e projeto ma ha’e ve vaipa va’e oiko
raka’e. Vaka oguereko okuapy yvy operdê
rive he’yn aguã fazendeiro Kuery pe. Ha’e
rami petei tei ome’en joupe vaka’i - guei
nhande kuery yvyre Makunaimî: nda’ei
va’e ojerea’eapy oin, jaikuaa ma mba’e re
pa ha’e rami.
Ha’e py orerõ karamboae Bernardina
José Pedro, Meriná Eremú, huvixá yma
guare ha’e py gua, mborai regua oikuaa
pa va’e, ha’e gui arte nguentarã Kuery
regua. Ha’i Bernal orererovy’a reve ore
movae heko’i aema. Ha’e reve aema
roendu opamba’e re ijayvu okuapy ramo
joguero’a yma va’e kue te ijayvu okuapy
ramo guaré yvy regua re ha’e nhandereko
re, ha’e gui roendu avi ayvu ayvu ayn Gui
ramo nhande kuery omombaeté xe va’e
Kuery ova’en ve ma jogueruvy aeri ijayvua
aramo. Ha´e aexá pa ma vy ma aikuaa veju
mba´e pa Jaider omombe´u xe ra´e vaka
regua re ijayvu mavy MAM py - ooin hetá
mba´e regua re Makuxi kuery reve.
Boa Vista re rojevy ju jave ma aa arõ
vy Pedro Cesarino Joe onhembo’e va’e
USP py gua ovãe ramo orereve omba´eapó
aguã.5 Yxypy xypy gui ma roexauká
guei regua re ha´e gui romombe´u ixupe
Maturuca py roaxá va´e kue kue re. Ha´e
rire amboae rupi ju romba´eapó. Roexá
rokuapy jaider ojapo va´e kue kue re ju
arte indígena re ijayvu ramo. Mba´eiko
hetá mba´e regua re oxexauká va´e rã
ramo jepe pe py petei arandu rupi ta py
rogueraa vacas va´e oin ovy aguã. Roexá
exá roikovy jave ma hetá mba´e rire ma
Jaider ogueru oexauká aguã Makuxi ayvu
re onhembo´ea regua. ha´e py ma roexá
petei ojeapo vyma Jaje’oi Nhanhembo’e
Makuxi py va´e regua, 2003 ha´e 2008
oiko raka´e. Ha´e va´e ma Tupã ra’yre
onhembo’e va’e Nhandeva’e hery Diocese
5 � Nhomomguerá kuery Moquém ha’e va’ema kyrin’in
iparare vyma omboaxave heravy Jaider, Pedro há’e
xee. Ha’e kuery voima monguetapyre meme mavy
oikuaá pota ha’e omoenta heravy moin nhembo’epava’e
kuery Ojapoa Onhe-mbo’eve Jeupya mavy ovãe Joe
onhembo’e va’e joupe varã USP.
daquela maloca, grande conhecedora dos
cantos, dos rezos e das artes tradicionais de
seu povo. Vó Bernal nos acolheu com a alegria
e o entusiasmo que lhes eram característicos.
E foi ao lado dela que assistimos às inúmeras
assembleias que rememoraram a luta secular
em defesa das terras e da cultura, e presenciamos ainda debates sobre os desafios para
a continuidade dessas lutas neste momento
em que forças de morte se atualizam e intensificam suas violências contra os povos originários. Conhecendo tudo isso um pouco mais de
perto pude perceber de outro modo a trajetória
de Jaider, a série das Vacas e a possibilidade
de organizar a exposição no MAM – variações
e efeitos das estratégias políticas makuxi,
metamorfoses nas linguagens da resistência,
pedagogias da transformação.
De volta a Boa Vista foi a nossa vez de
recepcionar uma visita, o antropólogo da
Universidade de São Paulo, Pedro Cesarino,
que havia chegado para compor conosco a
equipe de curadoria.5 Em nossas primeiras
tardes de trabalho, apresentamos a ele a
série das Vacas e compartilhamos as experiências incríveis que vivemos durante os
dias no Maturuca. Nossa pesquisa curatorial
continuou num outro mergulho, concentrando-nos agora no acervo da Galeria
Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea para ampliar a seleção de trabalhos
para a exposição. Procurávamos também
uma linha curatorial que alinhavasse como
um conjunto a série das Vacas às demais
obras que estávamos escolhendo. Enquanto
examinávamos dezenas de pinturas, desenhos e fotografias, Jaider nos apresentou um
material a partir de onde estava estudando
o idioma makuxi. Trata-se do programa
Vamos Aprender Makuxi, transmitido pela
rádio Monte Roraima entre os anos de 2003
e 2008. A iniciativa foi organizada pela
Pastoral Indígena da Diocese de Roraima
e por professores da língua indígena. Cada
episódio era baseado em um aspecto da
cultura makuxi, que servia de contexto para
lições sobre o vocabulário, as conjugações
verbais e a pronúncia, sempre acompanhadas, entre um bloco e outro e também
no encerramento, por cantos tradicionais.
Ouvimos ininterruptamente cada um dos
muitos episódios do programa durante
5 � A equipe curatorial da Moquém é um segundo
contexto de partilha entre Jaider, Pedro e mim. Eles
também são os coorientadores da pesquisa de doutorado
que desenvolvo no Programa de Pós-graduação em
Antropologia Social da USP.
de Roraima ha´e gui nhombo´ea kuery
ojapó raka´e. Petei tei py ijayvu Makuxi
reko regua re, ha´e vy ma omee jepi lição
Makuxi kuery ayvu regua re ha´e rire
omombaapy ma mborai ju omonhendu.
Roendu pa rai ha´e javi eté rai rombaepó
rokuapy reve ha´e va´e regua. Ha´e rire ma
rojevy rai´i ma jave ma Jaider omoi ma
petei mote exposição py guarã: Moquém.
48 a pygua re ma oendueté ra´e. Pandon
de Surarî re ijayvu va´e kaújo omombe´u
Moquém ymã guare re,6 ha´e vy ma
oenduká ju orevype.
PANDEMIA HA´E
GUI MARCO TEMPORAL
Ha´e rire ma MAM pygua kuery pe
roexaká pa ma projeto Moquém Surarî
rire´i orerembiapó ombopyta pa ma
Covid-19 oiko ramo. Ha´e rami mba rei
ma nadevei ju rojapó aguã, ni mova´e ve
ma py ndoroikuaai mararami va´e rã pa
tembiapó oguata ovy. Ha´e rire mbovy
jaxy rei he´yn ma oaxá ovyare ma ha´e
va´e mbaeaxy okueraa ma oreretarã
kuery, oreirun kuery pave oaxá ha´e
ramingua, mba´eiko nhanderuvixá ve rami
oin va´e voi aepy mba´eaxy nhamboaxá oa
joupe aguã rami rive oiko.
Haxy pa oiny ramo jepe ma nhande
mbaraeté nhande py´a guaxu katu
paven rei, jajopy jopó´i re javy´a katu
ha´i Bernaldina oejá va´e kue kue rupi.
2021 omboypys rema jokutu aguã poã
oin ma ramo ma ore kuery oreayvu ju ma
rojapó aguã Moquém Surarî. Tenondé re
ikuai va´e kuery Cristine Takua ha´e ma
Maxakali oiko Rio Silveiras py nhombo´e
a py omba´e apó va´e, romboypy ma
rojogueroayvu pave rei reve MAM py gua
kuery reve rojapó tembiapó ha´e javi ve
reve. Roikuaa porã vy he´yn ha´e ve rã
pa oexá xe va´e kuery oú ete aguã va´e ri
rojapó tema rive. Ha´e gui romoi avi Mbya
py onhemombe´u oiny aguã petei tein arte
mba´e regua re ijayvu oinya omombe´u
aguã, mba´eiko Mbya kuery haepy São
Paulo ijayvua ve tetã re tavy. Ha´e va´e
oiko nho aguã ma roguerovy´a vaipa.
Ogueroayvu va’e kuery Carlos Papá,
Marcos Morreira ha´e Valdemir Martíns
Veríssimo, ha´e gui articulação ojapó
va´e Cris Takua ha´e gui oreipytyvõ va´e
6 � Pexa kuatia para Pandon mba’e Surarî, kuatia
jarova 7 kova’re hae jexaukarea
24
25
nossas jornadas de trabalho. E dias antes
de Pedro e eu retornarmos a São Paulo,
Jaider propôs um mote para exposição:
Moquém. O 48º episódio daquele programa
de rádio havia lhe chamado a atenção.
Era o episódio sobre o Pandon de Surarî,
a história antiga do Moquém,6 que ele nos
convidou a ouvir novamente.
A aparente simplicidade da narrativa
desvela o requinte da cosmovisão makuxi,
que a partir de belíssimas imagens-síntese
trata de questões fundamentais para o entendimento da arte indígena contemporânea:
os sentidos estéticos da utilidade; o aspecto
coletivo das práticas; as complexidades
movimentadas pelo trânsito de pessoas,
objetos e saberes entre diferentes dimensões
espaço-temporais; a potência da produção
de alianças entre diversos; as traduções
formais que reproduzem a memória em múltiplos dispositivos. Está tudo ali, o Pandon
de Surarî é uma evidência prática de que as
cosmovisões indígenas constituem filosofias sofisticadas, completas e atuais. Essa
história tradicional nos serviria de fundamento para construir um argumento curatorial que busca relacionar os trabalhos dos 34
artistas que compõem a exposição a partir
dos elementos acima destacados.
PANDEMIA E
MARCOS TEMPORAIS
Semanas depois de apresentarmos o projeto
da Moquém_Surarî para as equipes do MAM,
nosso trabalho foi interrompido pela crise
sanitária da covid-19. Com os calendários
suspensos, os orçamentos congelados e
as perspectivas temerosas impostas pela
pandemia, não havia mais condições para
realizar a exposição. Assim, diante desse
cenário incerto, ela chegou mesmo a ser
cancelada. E nos meses que se seguiram,
como milhares pelo país afora, também
choramos a partida precoce de familiares
e amigos, vítimas de uma gestão de saúde
pública que estimulou o contágio.
Tempos duríssimos em que os fios do
propósito quase nos escapam das mãos,
exigindo muita concentração no pensamento:
“a alegria é a maior das teimosias”, nos
recordamos tantas vezes da lição sublime
deixada pela mestra Bernaldina. No início de
2021, o início da vacinação e o entendimento
6 � Ver o texto Pandon de Surarî neste mesmo catálogo.
kue Nhexyrõ Jaider Esbell de mabavyky
Contemporânea.
Moquém surarî ma ojepe´a krã mboae
Ara ymã ijypyare de 2021 re, 34 Nhepyrum
re Monkoim nheminty nhavõ São Paulo
py reve ha´e jave aevi oin nhemboaty
tuvixá va´e Brasilía py Ikuai onhemboó
ranhe Nhorain rõ teko vere oin jave. Hetá
mba´e oaxá oiny ramo jepe apy rojapó
tema, rojogueroayvu tema ramo Jaider
oexá ramo ha´eve ha´e va´e avi nhamoin
aguã koropi he´i momyin nhande kuery
opu´ã ma Marco Temporal rovai re ha´e
gui Omba’eapo nhandere vy Lei n. º 490
rovai re mba´eiko ha´e va´e projeto rupi
ramo oguerova pa vy ma nhande yvy
rã re nhandekuai ve va´e kuery pe noin
porãi, ha´e vy py nhande yvy rami ovaré
ta Mba’eapoa rendapy Nhembojarue’yn
typy vy ma onhe’ã mbaré ikuai okuapy
va´e ara py nhande yvy rã ome´en aema
ma va´e kue ma ovaré ta, ha´e rã ha´e
va´e oaxá rire ju nhandekuai va´e kue pe
ma ndaeve vei ma rã. Ha´e rami rei ramo
nhanporandu mbovy kue rã tu jajapo
reparação yma guive ma nhande kuery
omomba nhe´an rire?
MOQUEAR [N]PETEIM YMÃ GUARE
MBAVYKY AYN GUIGUA RE
Nhanhemomby´a ta jajapo aguã petei
tembiapó mbavyky nhande kuery ayn
guare ikuai va’e pe vy omba’eapoa regua
re ramo tei ke jaikuaa potá pa´i ramo
ma ha´e ve rã. Ha´e rami vy ma oreayvu
ha´evete ta aepy MAM py ojejapó aguã
Moquém Surarî mba´eiko yma guive
ma nhamomba nhea´an jakuapy rire py
jajapo rãema reparação ha´e kuery pe:
Jaipe´á javy nahnde va´e kuery ikuai
ve aguã nhande mbyté rupi, jaejá vi
aguã ha´e kuery ogueru aguã arandu
anhetegua nahnde mbyte rupi. Mba´e rã
pa kova´e kue gui oikoa ma ndajaikuaai.
Va´eri amboae kuery instituições voi ma
aipota ranga ova´en ve´i nho mbavyky
nhandeva’e. Amboae kuerya py nha´ã
oin oexauká aguã mbavyky nhande py?
Mba´e jave ha´e mba´exa tu ojapo ta?
Hetá mba´e oin nhaporandu aguã va´eri
jareko tavi aepy cuidado ha´e ramingua
reve opa rive aguã he´yn. moquém surarî
imbaraeté riae aguã.
construído junto ao MAM e à Bienal sobre a
relevância estética e política da exposição
possibilitaram que perseverássemos na realização de Moquém_Surarî. Revisitamos as
propostas que elaboramos um ano antes para
ajustá-las a um contexto cingido e adverso.
Prosseguimos com o projeto partindo de
uma de suas frentes mais importantes, as
ações educativas. Coordenados por Cristine
Takuá, pensadora maxakali que atua há anos
nas escolas guarani mbya da Terra Indígena
Rio Silveira, em Bertioga (SP), demos início
à formação interna dos educadores do MAM
e ao planejamento das ações educativas
voltadas para o público externo. Sem saber
ao certo como poderiam se dar as visitações
e as programações presenciais no museu,
ficou nítida para nós a importância de ampliar
os registros e as reflexões sobre a exposição.
Por tal razão, estendemos o escopo deste
catálogo, criando uma sessão para os textos
de artistas e apresentando imagens das mais
de 140 obras que compõem a mostra. Com
o desejo de contribuir para a elaboração
de materiais de referência voltados para a
educação indígena, nos lançamos ao desafio
de apresentar essa publicação traduzida para
o guarani mbya, língua indígena mais falada
no estado de São Paulo e em sua capital.
Um sonho que se tornou possível graças à
dedicação carinhosa dos tradutores Carlos
Papá, Marcos Morreira e Valdemir Martins
Veríssimo, às articulações de Cris Takuá e
ao apoio material da Galeria Jaider Esbell de
Arte Indígena Contemporânea.
Moquém_Surarî foi finalmente aberta
em setembro de 2021, junto à 34ª edição
da Bienal de São Paulo, e ao mesmo tempo
em que acontecia também uma das maiores
mobilizações indígenas da história, o acampamento Luta Pela Vida, em Brasília. No
calor dos acontecimentos, durante as muitas
entrevistas que deu no decorrer daqueles
dias, Jaider analisou a relação entre aqueles
eventos: múltiplas estratégias do movimento
indígena na luta contra os marcos temporais
da colonialidade. Na Esplanada dos Ministérios, confrontavam o marco temporal da
ocupação, na forma do Projeto de Lei n.
º 490, que prevê uma mudança radical na
compreensão sobre o direito originário à terra,
passando a entender como terras indígenas
os locais habitados por esses povos na data
da promulgação da Constituição Federal.
Na prática isso significaria legalizar o saque
colonial dos territórios ancestrais, legitimando
o esbulho histórico das terras indígenas. No
26
27
Museu de Arte Moderna de São Paulo e no
Pavilhão da Bienal acontecia um embate
análogo, direcionado a outros marcos temporais da colonialidade, aqueles que organizam
as narrativas hegemônicas da história da arte
e que até pouco tempo atrás negavam aos
povos indígenas o seu justo reconhecimento
enquanto sujeitos contemporâneos, produtores de pensamento e de sentido estético.
Em todos esses espaços ecoa uma pergunta
inadiável: quantas camadas de reparação é
preciso fazer diante de mais de cinco séculos
de guerra colonial?
MOQUEAR [N]UM
MUSEU DE ARTE MODERNA
Pensar sobre uma exposição de arte indígena contemporânea a partir do entendimento de que vivemos numa guerra colonial
em curso nos ajuda a melhor dimensionar
os fatos. É nesse sentido que ressaltamos
a importância da realização de Moquém_
Surarî no MAM, um passo inicial naquilo que
um museu pode colaborar na imensa tarefa
coletiva de reparação histórica à colonização: abrir espaço para que os povos da
terra se façam presentes, abrir passagem
para que a potência de seus pensamentos e
de suas artes se expressem. O que poderá
se desdobrar a partir daqui ainda é incerto,
trata-se de um problema que precisa ser
encarado de forma efetiva por essa e por
todas as instituições que têm se colocado
a perspectiva de reunir diferentes sistemas
de arte. Suas grades de programação irão
acolher novos projetos de arte indígena?
Como e quando isso será feito? Quais serão
os espaços expositivos e as possibilidades
orçamentárias oferecidas? As ações educativas absorverão como pauta permanente a
reflexão sobre essas temáticas, buscando se
relacionar diretamente com as comunidades
indígenas e suas demandas específicas? E
as políticas de aquisições para os acervos,
serão redefinidas diante da imensa lacuna em
relação às produções dos artistas indígenas?
A natureza dessas questões exige uma
atenção contínua, assim como é necessário
um cuidado assíduo para manter constante o
fogo do moquém. Como nos tempos imemoriais de Surarî, estamos diante da possibilidade – e da urgência – da transformação.
DESENHOS MOQUÉM
Pedro Cesarino
IPARÁ-MOQUÉM RA´Ã ANGA
28
29
Os desenhos reunidos em Moquém_Surarî
testemunham a profundidade temporal
através da qual a arte indígena contemporânea deve ser compreendida, a despeito
de sua exclusão sistemática pelas narrativas
da história da arte brasileira. As obras de
Jaider Esbell, Yermollay Caripoune, Joseca
Yanomami, Rivaldo Tapirapé, Isael Maxakali,
Vernon Foster, Ailton Krenak, Armando
Mariano Marubo, Antonio Brasil Marubo e
Paulino Joaquim Marubo são tributárias de
uma longa tradição gráfica que remonta à
inscrição de corpos, cerâmicas, cestarias
e pedras, aqui atualizada para suportes e
técnicas com as quais artistas indígenas vão
se confrontando ao longo da história colonial.
A obra de Vernon Foster é, nesse
sentido, emblemática. Ela remete à produção
da assim chamada ledger art realizada por
povos originários das planícies da América
do Norte, que criaram um vasto conjunto
iconográfico em cadernos aos quais tinham
acesso quando aprisionados pelos colonizadores estrangeiros ao longo do século XIX.
Se o papel e o lápis são duas das principais
armas introduzidas pelo genocídio e epistemicídio colonizador, haja vista sua relação
direta com a escrita e a desvalorização dos
conhecimentos e estéticas indígenas, a capacidade de resistência e de transformação
dos povos nativos não deixa de oferecer um
contraponto notável. Não por acaso, nos
cadernos a que tinham acesso, desenhistas
lakota e de outros povos da região prolongavam a tradição temporal de pinturas rupestres datadas do começo da era cristã.
Ao tomar para si as técnicas introduzidas pelo invasor não indígena, artistas
diversos não apenas traduzem para o papel
esquemas gráficos e narrativos já praticados
em outras mídias como também inauguram
um novo gênero capaz de subverter, pela
beleza e pelo sentido, a violência do colonizador. Nas terras baixas da América do Sul,
produções figurativas em objetos análogos
a livros são incomuns, como no caso das
tradições hieroglíficas e pictográficas de civilizações da América Central como a Maya
e a Asteca. Com a introdução da escrita
alfabética pela escola, pela academia e por
outras instituições metropolitanas, uma
expressão híbrida se estabelece sobretudo
através da atuação de artistas homens, já
que a elaboração de corpos cobertos por
padrões (sejam eles de carne, de palha ou
de cerâmica) costuma ser um conhecimento
majoritariamente feminino.
Mã nhemoiruma nhe´ã anga Moquém
Surari oexama vy jeopityma ayn yma
guare revevyma oin heravy vyma mbavyky
aygui guare mavy nhanhemonhe xa´ã uka
nhemboykere hapy.
Iraja omombe´u heravya imba´e
mombe´ua mbavyky pindorama pygua re.
Jaider Esbell ombo jeguaká Karipoune,
Joseca Yanomami, Rivaldo Tapirapé, Isael
Maxakali, Vernon Foster, Ailton Krenak,
Armando Mariano Marubo, Antonio
Brasil Marubo há’egui Paulino Joaquim
Marubo há´e kuery ma guero mboapyre
vyma oguereko puku morõ jekuaa
omonhemompu´ã teterami, nhae´um gui
ajaka gui ha´e ita gui, apyma peteirami oin
yru tembiapoaty rami vy hembiapo kua
kuery nhandeva´e kuery va´e nhovaitim
va´erã rupi vy mba´e mombe´ua ta ko yvy
pa´um gui ou va´e guepe.
Ombo jeguaká va´e kue Vernon
Foster há´e, kova´e remavy ombojerovia
nhetengua. Ha´e omovaem hembiapoa
vampy oin vy omboery ledger art
enhemoigo vy nhande kuery nhum ró
vyrupi gua America do Norte, ikuai va´e
ojapo raka´e joupive morõ jekuaa vampy
omoin kuatiapy oikuaa kuaa´i va´e kuery
yvy mboe gui ouva´e kuery ombo´a
okuapy jave raka´e ymã XIX. Va´eri kuatia
há´e yvyra´i mboparáty há´e va´ema oin
mokoin hendarupi jeporu nhande juka
pa aguã rupi oiporu ko yvy mboe gui ou
va´e kuery há´e kuery ma ombojerovia
kuatia para vyma nomboetei nhande
kuery mba´e rembiapo vy teim ogueropo´á
ka ay peve ojererova pa teim nhande
kuery yvy javere ndoejai oguero´a´eve
amboe hendagui gua nhentarã ogueraa
puku teko nhemopytãvã ymã guare
Nhanderu pe oporandu ypy oguapy jave
ha´e vyma ojeupe omba´eapo okuapy
nhanetarã kuery yvyre, imbavyky kua
kuery ma omombe´u kuaa kuatiare rerive
vy mbojekuaa há´e omombe´u heravy
vy ombojekuaa aguã py movaem vyma
omoenonde avi há´e ombopyau heravy vy
ogueroete guive vy, omo porã heravy vy
nda, joguereko axy okuapy yvy mboegui
ou va´ekue. Ko yvy mbere America do Sul,
mba´eapo nhevanga mba´emorei ojapo
kuatiare vy oexã´ã he´yarupigua oin vy,
kuekorã rami ju oeja ouvy omboetave
ombojekuave tekore vy America mbyte gui
vy Maya ha´e Asteca. Oexauka heravy vy
ko ojou ombopara aguã vy ijayvua jejou
nhembo´ea vampy oin, há´evy onhombo´e
Os três desenhistas marubo (Paulino,
Antonio e Armando) são xamãs e narradores
que não possuíam praticamente nenhuma
familiaridade com papéis, lápis e canetas
ao serem apresentados a tais materiais por
mim. Entretanto, dominaram rapidamente a
técnica do desenho e produziram um repertório notável pela sua afinidade íntima com
as estruturas de composição de cantos e
de longas narrativas. Sem nenhum acordo
prévio, adotaram em seus desenhos signos
gráficos uniformes, rigorosos e coerentes
(círculos, corpos humanos, traços) que
indicam nomes de pessoas e de lugares,
bem como os trajetos percorridos por espíritos e ancestrais nos tempos em que a
terra era jovem. Estabeleceram, portanto,
uma expressão que pode ser considerada
como pictográfica e, neste sentido, próxima
das tradições consolidadas dos livros
astecas, pois elas são traduções visuais de
esquemas de composição oral já dominados
pelos três xamãs.
Armando, Paulino e Antonio não fizeram
seus desenhos para que fossem expostos
como obras de arte em museus. Ainda que
cientes da importância de divulgar seus
trabalhos e o universo de seu povo, sua
intenção é distinta daquela que permeia as
obras dos outros artistas aqui contemplados,
embora com elas compartilhem traços
comuns. São esses traços que definem os
critérios para a compreensão de uma história
da arte indígena ainda não compreendida:
estruturas narrativas, uso esquemático de
signos gráficos dispostos ora contra fundos
monocromáticos, ora em meio à saturação
do campo visual (horror vacui), alteração dos
limites da figura humana.
O pano de fundo narrativo parece ser
constante em muitas das obras reunidas em
Moquém_Surarî, em especial nos desenhos de
Joseca Yanomami e de Jaider Esbell, que a ele
adiciona também outras camadas de experiência não acessíveis pela linguagem e capazes
de extrapolar as fronteiras do humano. É que
narrativas são também espaços vividos e não
exatamente histórias encerradas em livros.
Daí a intensidade das cores que fazem de
corpos adornados seres poderosos mais do
que humanos (Rivaldo Tapirapé, Acelino Tuin/
Movimento de Artistas Huni Kuin) ou, ainda, a
precisão e fluidez do traço que torna possível
visualizar silhuetas de outra forma acessíveis
apenas pela experiência xamânica (Jaider
Esbell). Conseguimos, assim, compreender
algumas das características fundamentais de
aty ju ojejou onhebojekuaa aguã oje´a
vy nhembopyta kova´erupi vyma ava kue
ynbavyky kuakuery, oikuaa eravy vyma ko
nhanderete ojao´i iraja vãrupigua ju oin
vy (To´o mba´e, trã nhum gui trã nhae´um
gui) ha´e va´ema opyta kunhague ogueraá
aguã oikuaa peve.
Mboapy mba´emo ra´ã nga ojapo va´e
marubo (Paulino, Antonio ha´e Armando)
ojapy xaka va´e omombe´u kuatia re´y
oikuaa há´e vy omoenonde kuaa vy, yvyra´i
omboparaty virami vy oikontevema há´e
vyrima ojeapo xevype aguã rami. Jeopity,
oguereko kuaa pojava vy imba´eapo ouvy
kuaa mba´emo ojapo oexa oguapya aguã
py ju omoin heravy vy ojee omboytaju
heru vyvy oguero porai puku ha´e oguero
ayvu. Va´eri novaem peteim rami py,
ha´evy ojou ju mba´emo omboje kuaa
heravy aguã rami, iraja anhetengua (ikora,
nhanderete, tyky) há´eva´ema omombe´u
teryrã ramim ju, há´evyrima nhemonha
ju ko ymã ikuai va´e kuery nhe´em ju kó
yvy ipyau ranguarere. Omombyta vy,
há´evy, jexa kuaare vyma virami ju oin
há´eva´erima ombopara raka´e itare guãrã
ju, há´evy rima opyta ju, amboe tekorã
rami oin vy omboypy heravy kuatiare
asteka, há´e va´ema ojexauka texarupi
guarã rami ju oeja heravy vy jaroayvu py
oo mboapy ojapyxaka´i va´e. Armando,
Paulino há´e Antonio ndojapoi nhe´ã nga
oin aguã imba´vyky kuaa vy ojapo py.
Nhemboetevea regua oikuaa tein há´e yvy
javere hetarã kuery reko, overoen xã kã
ojapo heravy vy oguerova amboae rembia
po, oikuaa mba´emo para amboae reko.
Kova´e mba´emo japoa onhemoexyrõ
mba´e xapa oikuaa aguã nhande kuery
mba´e vyky ymã jave guare ijayvu aguã
rupi ogueraa vy, omobe´u aguã ojouvy
omboe tave nherõ koteve mombyry
ogueroayvu, oexaukaa py ogueroayvu
paven oexaa py, oguerova pa marami
nhanderete oo ovy aguã. Ijayvu aguã rupi
ma ojekua ramõ joaky kue kykue heta
imba´vyky ikuai Moquem Surari py, a´he
va´e tein ojekuaa Joseca yanomami há´e
gui Jaider Esbell, ha´e kuery omoin havi
amboae mboae oikuavea va´e ndoguerekoi
ayvu ha´e guy ojapo kuaa vy oikuaa aguã
mamopa onheboja´o nhadeyvarete. Ha´e
ramo ijayvu rupi ma ikatu ague vy ma
ndopai kuatia para re ha´e ramo mba´emo
pyntã raxy ojapo va´e hetere inhakaregua
onhebojeguapa, mbaraete ve aguã
nhandeyvarete gui (Rivaldo Tapirapé,
30
31
uma produção artística cuja longa trajetória
não se inicia no ambiente da arte contemporânea global, antes se vale deste ambiente
para apresentar a sua originalidade e reivindicar para si o lugar que lhe foi roubado.
31
Acelino Tuin/mba´vy ky kuaa va´e meme
nhomboaty huni kuin), ha´e nunga, amboae
ojejapo ojexa aguã hi´ã amboae rami
ju ha´e va´e rive oikuaa vea va´e oguero
japyxakave va´e (Jaider Esbell). Roguerovy,
há’e vy, ijayvu aguã rupi ogueraa vy petein
rami gua anhetengua mba´emo ojapoa
regua mba´vyky mombyry guata ma
nomboypyi ka´aguy re ayngui gua ko yvy
javere ha´e’y rirema anhetengua kova´e
ka´aguy re oexauka aguã ka’aguy anhete
guare oguerova aguã ixupe yvy imonda
va’e kuery.
31
PATAMARES
CELESTES
• Antonio Brasil Marubo
O desenho apresenta os patamares interligados por um caminho-espírito utilizado por
xamãs para seus deslocamentos, bem como
pelos espíritos-chefes de maloca, que estão
nas portas de suas casas portando lanças.
De baixo para cima, estão presentes os
seguintes patamares ou “mundos” (shavá):
1. Morada do Céu Morte; 2. Morada do Céu
Sangue; 3. Morada do Céu Azulão; 4. Morada
do Céu Desenho; 5. Morada do Céu Azulão,
duplo; 6. Morada do Céu Sangue; 7. Morada
do Céu Azulão, duplo; 8. Morada do Céu
Desenho; 9. Morada do Céu-Névoa.
30
YVATE
RE RENDA
• Antonio Brasil Marubo
Ko ipará va’e ma oguereko tape xamoi
Kuery oiporu va’e oguata okuapy aguã,
nhe’e ruvixá kuery, okenda renondé re
nhogueno’ã ha’e Kuery ohy’y reve oin
va’e. Yvy gui yvaté peve ma oin yvyrupá
joramigua he’yn (Shavá) 1. Yva manõ retã;
2. Tuguy retã; 3. Hovy retã, mokoi rei va’e; 4.
Ipará va’e retã; 5. Hovy retã mokoi rei va’e;
6. Tuguy retã; 7. Hovy retã mokoi rei va’e; 8.
Ipará va’e retã; 9. Yvytin retã.
30
PATAMARES
TERRESTRES
• Antonio Brasil Marubo
O desenho apresenta os patamares atravessados pelo caminho-espírito, bem como
pelos espíritos-donos de malocas com suas
respectivas lanças. De baixo para cima: 1.
Morada da Terra Morte; 2. Morada da Terra
Branco; 3. Morada da Terra Japó; 4. Morada
da Terra Sangue; 5. Morada da Terra Adorno;
6. Morada da Terra Arara; 7. Morada da Terra
Desenho; 8. Morada da Terra Névoa.
YVYRE RENDA
• Antonio Brasil Marubo
Ipará va’e ma oexauka jojoramingua he’yn
tape nhe’e Kuery oóaty. Yvy gui ojeupi ovy;
1. Yvy manõ retã; 2. Yvy tiim retã; 3. Japó
retã; 4. Tuguy retã; 5. Adorno retã; 6. Gua’á
retã; 7. Ipará va’e retã; 8. Yvytin retã;
33
33
O CAMINHO-MORTE
TAPE ROGUE
O desenho traduz partes do longo canto do
Caminho dos Mortos. No desenho, vemos o
caminho partir desta terra (a maloca cinzenta
da base). Em um círculo vermelho, está a
colina que inicia o caminho, atravessado por
troncos-morte, ossos de anta-morte, ossos
e costelas de cobras-morte. No início e no
centro do caminho está o duplo do morto;
nas bordas, escurecidos, estão os espectros-morte e fogo-morte, em amarelo. À esquerda
de quem parte, o caminho é ladeado por
mamão-morte, banana-morte, batata-doce-morte, pupunha-morte e capim-morte. À
direita, segue a abóbora-morte, a mandioca-morte, o milho-morte, o abacaxi-morte,
o inhame-morte e o ingá-morte. Cruzando o
caminho após esta sequência de alimentos
está o tronco de samaúma-morte. Em seguida,
está o tronco de taboca-morte e o cesto-morte (círculo colorido), que gira e desnorteia
o morto desavisado. À direita, em vermelho,
está o cacau-morte e à esquerda, em cinza,
outro cacau-morte. O círculo cinzento à direita
é um cupinzeiro, no qual um duplo incauto se
transformou. Em preto, no meio do caminho,
estão as crianças-morte. Seguem à direita os
frutos manichi-morte e yae-morte, além dos
espectros-morte, desenhados em azul nas
beiras do trajeto.
O caminho segue ladeado por frutas,
tais como maracujá-morte (à direita) e sapota-morte (à esquerda). Dividindo o caminho,
está o rio-morte e o tronco-morte, que engana
o duplo que o tenta atravessar. Atrapalhado,
o duplo que cai nas águas será retalhado por
caranguejo, camarão e concha-morte. Em
seguida, à direita, uma árvore que contém
em seus galhos jenipapo-morte, sapota-
Ipará va’e ma oexauka petei tapé Porã he’y.
Ipará tapé yvygui ijypy. Petei ikorá pyntã
va´e gui omboypy taé, hakã-manõ gue,
mboré manõgue kangue, mboi manõgue
kangue. Ijapypy ha´egui mbyté py ma oin
mokoi manõgue, ijyke pyntyn rei are oin
hetá manõgue ijurei va´e. ijykue katy ma
ikuai mba´emo á. Ha´egui ijyke rovai katy
ma ha´e rami avi.
Tapé oó meme ovy yvyra´á ikuai reve
ijyke jyke rupi ikuai Maracuja, sapota.
Omboja´ó ovy tapé va´e ma oin Yakã jokoré
va´e oaxá xe va´e. Nhomoagueko rei va´e
juma oin yxa ha´e gui pirapo. Ha´e gui ijyke
rema oin ju jenipapo yvypy japota ha´e gui
bacuri ha´e gui ijykue re ma oin mombeua
iju va´e gui pyntã va´e. petei va´e oike mbyte
py vy ma uru kore´a ijapua oikuaa vy ma
hembiárã hexe. Ijyke re oin avi pindó, ha´e
gui ijykue re oin ju yvyrá hi´á jojoramingua
he´yn va´e ha´en rei va´e meme tavy, iju va´e
ma bacuri ha´e gui mbyte katygua ma juu
meme. Ha´e gui ma urtiga yvyré ma oin ka´i
hu´un va´e onhearõ oiny va´e. Malocaján
Veshko oarõavi oiny petei va´e rei oike
aguã oguypy, rire ma omombe´u kya py
onheno aguã ha´e rire ma onhemo ramo ma
omombó ojá guaxu py yy opupu va´e oin
apy ikangue kague rei va´e oin apy ha´e gui
tetékue oin apy. Kunhague omanõgue oarõ
okuapy yvy´ã re onamo ramo va´e kue. Ijyke
re açaí omboty oiny petei kunhague va´e
mbo´y mbo´y reve. Ijykue rovai re ma oin
avi oguapy oiny va´e ikuapy petei xingyré
omanõ ramo va´e oarõapy. Mbyté py ma oin
Txao oiko porã i va´e kue pe oexauká aguã
tapé porã mamorupi pa oó aguã. Yvate ve´i
juma oin Kunhague tome papagaio kuery.
• Armando Mariano Marubo
• Armando Mariano Marubo
32
33
-morte e bacuri-morte; à esquerda, caucho-morte, amarelo e vermelho. A pessoa dentro
de um círculo no meio do caminho é Coruja
Morte, que conhece as mentiras do morto e
o flecha. Em seguida, à direita, coqueiro-morte. À esquerda, a árvore de frutos incolores é da fruta adocicada ãcho-morte; os
frutos amarelos são bacuri-morte e, no meio
do caminho, estão os espinhos-morte. Em
seguida, ladeados pelas gigantescas urtigas-morte, em cujo centro está a maloca sobre
a qual Macaco Preto Morte espera os duplos
para devorá-los. O dono da maloca, Veshko,
espera a pessoa entrar, convida para deitar na
rede e a joga então em seu caldeirão fervente
repleto de ossos e cadáveres. As Mulheres
Morte aguardam o morto safado nas duas
colinas representadas pelos círculos que as
envolvem. À direita, o açaí-morte prende a
mulher fútil com suas miçangas e adornos
de aruá. À esquerda, sentado dentro de seu
buraco, Tatu Morte aguarda pelo morto. No
centro está Txao Morte, uma pessoa boa
que mostrará ao passante bem sucedido o
caminho a ser percorrido dali em diante. As
mulheres Tome-Papagaio estão logo acima.
Daí em diante, a pessoa percorrerá seu
caminho até o “pedaço de cobra-morte”,
nome para as colinas a partir das quais se
chega nas malocas dos duplos dos olhos, que
vivem no final do trajeto.
32
Ha´gui rire ma omonõ ramo va´e oó meme
rã ovy mboi manõ oin ape ve. Ha´e gui ma ja
opa ma, tapé opa peve.
32
MBA´EMO
RUVIXÁ
• Armando Mariano Marubo
Mba´emo ruvixá, Armando mba´e aevi
va´e ma amboae tembiapó regua ju avi.
Yvyve katy ma oin nhamandu ouá, yvaté
ve´i katy ma oin nhamandu oguejyá,
mbyté ve´i katy ma oin ju kuaray mbyté
jaeá. Minhõ kuery ma mba´e mo ra´y ja,
onhemboja´ó jogueravy petei tei nguetã
meme, ha´e yn vyma petei tei ipra´i are.
Ha´e kuery ma oiko´ia re ha´e mamo rupi
ta ikuaiare ha´egui mamo pa opytaáre
onhangareko va´e. Yvyrá kuery ma nhe´e
kuery omoingo va´e, hakã re ojere´i va´e
oexaukáa rami. Ha´e va´e gui ma nhe´e
oguatá ovy nguetã peve ova´en aguã
yvyrá rakã re oin arami.
34
35
OS MESTRES DOS ANIMAIS
• Armando Mariano Marubo
Os mestres dos animais, também de Armando,
é outro esquema cartográfico. Abaixo está a
região do sol nascente; acima, a do sol poente.
À esquerda, a região sul e, à direita, a região
norte. No meio da composição, está o sol do
meio-dia. Os Minshõ, donos dos animais, se
distribuem por estas regiões, em suas respectivas moradas, distinguidas pelas cores. Os
donos dos animais estão representados por
esquemas pictográficos que traduzem os
YVY RAPYTÁ
• Paulino Joaaquim Marubo
[HENONDÉ RE]
Ipará va´e oexauká mba´e mo yvy yvtin rei
va´e ojapó va´e kuery. Ha´e kuery hetymã
va´e yn, mba´eiko yvytu rupi rive py ikuai
yvyrá raimbé reve oakã regua reve ha´e
guii ombovy xivi raingue reve. Omboery
rire ma Paulino oexauká petei regua
seguintes momentos: surgimento, trajeto e
estabelecimento. As árvores são aquelas que
dão surgimento aos espíritos, como indica o
círculo traçado em seus troncos. A partir daí,
o espírito percorre um caminho que leva à sua
morada (maloca ou aldeia), metaforizada como
um tronco de árvore.
34
35
nguembi´u, mboré yvytin rei va´e ha´e yvyre
oiko va´e. Marubo py ombopará va´e kue
gui: Onhemongaru Rapé, Mata-Pasto ha´e
gui Ayahuasca/koa voã, koin nesa, vari
nesa, tao ipo/ ino nesa, kana nesa, Yvy
yvytin rei va´e ojapó va´e kuery aeju aema
ojapó pa raka´e ha´e kuery/ kova´e ma
mboré vytin eté ra´e”
[HAKYGUE RE]
Jaexá ma yvy yvytin rei va´e regua, irundy
meme yakã omongorá ha´e hapytá
omopu´ã va´e (oexauká yvaté katy ha´e gui
yvy katy). Marubo py ipará va´e kue: Kova´e
ma yvy ojerá ague. kova´e ma yakã yvy
omongorá va´e. Yma gui ve ma ha´e kuery
ojopy yvy yvyti rei va´e”
PILARES
TERRESTRES
• Paulino Joaquim Marubo
[FRENTE]
O desenho mostra os espíritos demiurgos
fazedores da Terra Névoa, último dos patamares terrestres. Eles não têm pernas, pois
permanecem sempre suspensos no vento
portando as suas lanças, bem como cocares
e colares de dentes de onça. Após nomeá-los, Paulino apresenta também alguns
dos vegetais psicoativos que lhes servem
de alimento, além da anta-névoa existente
naquele mundo outro. Tradução do trecho em
marubo: “As suas drogas de alimentação são
o Lírio Névoa, o Mata-Pasto Névoa, o Rapé
Névoa e a Ayahuasca Névoa / Koa Voã, Koin
Nesa, Vari Nesa, Tao Ipo / Ino Nesa, Kana
Nesa, são mesmo as pessoas que foram há
tempos fazendo com o vento a Terra Névoa /
Esta é mesmo a Anta Névoa”.
[VERSO]
Vemos aí cosmograma da Terra Névoa, cercada
por um rio e por pilares que a sustentam (representados pelos traços verticais e horizontais).
Tradução do trecho em marubo: “Este é o
surgimento da terra. Este é o rio que dá a volta
na terra. Há tempos eles a assentaram, segurando-a com o Vento da Terra Névoa”.
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37
• Paulino Joaquim Marubo
39
POVO DA
TERRA-NÉVOA
OGUY’I KANA
VOÃ MBA´E
[FRENTE]
[HENONDÉ RE]
• Paulino Joaquim Marubo
Paulino desenhou alguns dos animais existentes na Terra Névoa (faixa superior), tais
como a onça névoa (koin kamã), o pássaro
névoa (koin chai) e a cobra névoa (koin
rono). Na faixa intermediária, estão três dos
habitantes daquela terra, com suas lanças,
pinturas corporais, bandoleiras e colares
de dentes de onça (na figura da direita, de
contornos amarelo). Na faixa inferior, estão os
habitantes do rio Névoa, também com suas
lanças, colares e bandoleiras (em uma das
figuras, em vermelho). Tradução do trecho em
marubo: “Morada da Terra Névoa, Povo da
Terra Névoa, o seu lugar de despertar”.
[VERSO]
YVY YVYTI REI
VA´E IKUAI VA´E
38
Estão aí os habitantes da Morada da Terra
Névoa diante de suas malocas, portando
lanças, cocares e colares de dentes de onça.
38
39
• Paulino Joaquim Marubo
Paulino oiporu Armando oiporu va´e kue
regua aevi ombopará vy: Yvy katy ma
oexauká Kana Voã oikoague ha´e gui
ijyvyrygua, jogueroguatá jogueravy ngoorã
ojapó peve (ijyke katy Iju rei va´e ma oin
Kana Voã; Hovai katy ma oin hi´y Roin Iso)
[HAKYGUE RE]
Marubo py ipará va´e: “Kova´e ma maloca
Kana Voã mba´e ha´e rã amboae ma Roin
Isso/ Hexeve oiko va´e kue ma Kana Voã
ri´y Roin Isso/ Kana Võa ha´e gui Koin Voã
ma joagui he´yn onhembojerá/ Ha´e kuery
ma yvytu rupi onhembojerá va´e gue/
Peikuaa pa? Xapy´a ramo ma xeayvu rive
merami rã…”
40
41
[HENONDÉ RE]
Paulino ojapó amomngue mongue´i mba´e
mo ra´y yvy yvytin rei va´e re ikuai va´e
ojapó xivi, nguyra´i, mboi. Ha´e gui oin avi
ha´e rupi ikuai va´e rangaa, yvy raimbé reve
gua, mbo´y reve gua ha´e ojepyaxá va´e
regua reve. Ipará va´e kue Marubo: “Yvytin
rei va´e retã gua, mamo gui pa oikoá”.
[HAKYGUE RE]
Upema Yvy yvyti rei va´e ikuai va´e inhakã
regua reve, ombo´y reve xivi raingue
guigua re ikuai.
A MALOCA DE KANA VOÃ
KANÃ MARI
[FRENTE]
[HENONDÉ RE]
• Paulino Joaquim Marubo
Paulino se utilizou do mesmo esquema pictográfico empregado por Armando em seus
desenhos: abaixo, o círculo representa o
lugar de surgimento do demiurgo Kana Voã
e de seus pares, que percorrem então um
trajeto até se estabelecerem em suas casas
(à esquerda, em amarelo, está Kana Voã; à
direita, seu sobrinho Roin Iso).
• Paulino Joaquim Marubo
Marubo py ipará va´e: “ Kana Voã ma
nguaigui ve va´e. Kanã Mari ma ha´e rire
juma oú/ Kova´e ma Kanã Mari takykue
ma oú va´e kue. Yva ha´e yvy ojapó va´e
kue/ Nami aema Kanã mari. Hexegua hetá
kaújo oin/kova´e ma maloca Kanã Mari
mba´e. Kova´e onhembojerá aguã”
[VERSO]
Tradução do trecho em marubo: “Essa é
a maloca de Kana Voã, a outra é de Roin
Isso / Aquele que surgiu junto com ele é o
sobrinho de Kana Voã, Roin Isso / Kana Voã
e Koin Voã não surgiram mesmo do néctar
da terra / Pikashea, Otxoko, essas pessoas
não surgiram mesmo do néctar da terra / Eles
surgiram mesmo na espiral de vento da Terra
Névoa / Vocês entenderam? Talvez pareça
bobagem o que digo... ”.
[HAKYGUE RE]
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Kanã Mari kuery ma yvy ombovaipá raka´e
rire Kana Voã opjapó porã ve ju ijyvyry gua
kuery reve. Ha´e rire aema Kana voã kuery
ju huvixá kuery rami ikuai. Nhe´e kuery
ma oiko petei ikorá py ha´e rire ma ojeoi
nguetã jogueravy.
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SERRARAM
JACARÉ
ANTIGAMENTE
• Paulino Joaquim Marubo
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YMA RAMO
MA PA’I KUERY
OJAYÁ
DEMIURGOS
KANÃ MARI
• Paulino Joaquim Marubo
[FRENTE]
Tradução do trecho em marubo: “Kana Voã
é gente mais velha. Kanã Mari surgiu depois
/ Este é Kanã Mari que surgiu depois.
Fazedor do céu e da terra / Assim é mesmo
Kanã Mari. Há sobre ele muitas histórias /
Esta é a maloca de Kanã Mari. Isto é para
fazer surgimento”.
• Paulino Joaquim Marubo
Paulino oexauka oporai jave yma gua
kuery ikuaiague (Wenía). Oguata ovy are,
yma gua kuery oexá petei pa’i ponte py
itui ramo, ivaikue va’e hetá tembi’u okupe
re oguereko va’e reve oaxá ovy yy guaxu
Rovai re (Amazonas). Huvixá Kuery ha’e
gui tujá kue ve ranhe tá oaxá aguã rami
jogueroayvu. Ha’e vy ponte mbyté rupi ma
jogueraa rire yxyryvi ojayá, ramo yy py ho’a
pa vy yy rupi kyxé ramingua ikuai va’e ary
ho’á vy omano mba.
Paulino representou aí um dos momentos
do canto de surgimento dos antepassados
(Wenía). Em um determinado momento da
viagem, os antepassados se deparam com
a Ponte Jacaré, um monstro repleto de
alimentos plantados em suas costas, que
atravessa as duas margens do grande rio
noa (Amazonas). Os chefes e pajés decidem
atravessar primeiro. Quando os insensatos
estão no meio da ponte monstruosa, cortam
o seu pescoço, assim fazendo com que
eles caiam nas águas e sejam mortos pelas
lâminas aquáticas.
43
ENCONTRARAM
A PONTE JACARÉ
ANTIGAMENTE
• Paulino Joaquim Marubo
• Paulino Joaquim Marubo
Paulino oexauka yma gua kuery ojoú ju
va’ekue ponte pa’i va’e, oaxá jogueravy yy
guaxu rovai re.
• Paulino Joaquim Marubo
Paulino ojapó Vari Mãko rangaa, xamoi
raka’e yma ramo va’e kue.
45
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NGUYRA’I
RUPI’Á HO’Ú PA
OKUAPY RAKA’E
Kova’e iparáa py ma Paulino oexauka
nguyra’i rupi’á ho’ú pa okuapy raka’e ojoú
vy va’e kue joa joapy. Ha’e Kuery aema
ojepotá raka’e koti re.
43
OJOÚ JU
PONTE PA’I
YMA MA RIRE
XAMOI
VARI MÃKO
• Paulino Joaquim Marubo
[VERSO]
Os demiurgos Kanã Mari foram responsáveis por estragar a terra outrora melhor
feita por Kana Voã e seus pares. Estão
aí desenhados como chefes que portam
suas lanças e seus adornos corporais.
No desenho do verso, o mesmo esquema
pictográfico é empregado: os espíritos têm
seu surgimento em um círculo para, em
seguida, percorrerem um trajeto que levará
às suas moradas.
44
Paulino mostra aí os antepassados responsáveis por encontrar a Ponte Jacaré, que atravessa as duas margens do grande rio noa.
44
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38
39
inimigos o atacam e o pajé fica com corpo
crivado de flechas. Ele resiste durante algum
tempo, até ser esquartejado. Seu duplo
sobrevive e segue cantando belos cantos.
48
PAJÉ
VARI MÃKO
XAMOI
SAMAÚMA
Paulino desenhou Vari Mãko, um pajé que
viveu nos tempos antigos.
Xamoi Samaúma oguata oikovy raka’e
nguajy kuerey reve nguembiarã oekaa
rupi. Oexá má koti’i Kuery ramo vy oó
hakykue ranga vy hovaigua rópy rive ju
ova’en. Hovaigua Kuery ma oexá vy ojapi
pa nguyrapa py. Oiko ve’i ranhe va’e kue
ombojaó pa ramo omanõ’i. Hupive gua
oiko ve i ma oporai Porã riae Ju.
• Paulino Joaquim Marubo
45
46
• Paulino Joaquim Marubo
48
COMERAM OVOS
DO PÁSSARO-QUEIXADA
ANTIGAMENTE
• Paulino Joaquim Marubo
Nestes desenhos, Paulino mostra os antigos
que encontraram os ovos do pássaro queixada, que são comidos em uma refeição
coletiva. Os antigos então se transformam
nos atuais porcos queixada.
47
PAJÉ
SAMAÚMA
• Paulino Joaquim Marubo
Pajé Samaúma viajava com suas filhas em
busca de caça. Ao encontrar porcos do mato,
decide se embrenhar por uma trilha que,
no entanto, levava à casa de inimigos. Os
TAGUATÓ RE
HEMBIÁ MA RA’E
• Paulino Joaquim Marubo
Kaújo omombe’u vy má yma gua kuery
ojoú okuapy raka’e taguató nhande kuery
re okaru va’e. Ha’e vy ma ymã gua kuery
ojuká raka’e taguató zarabatana py ojapi
pa vy.
FLECHARAM
GAVIÃO
• Paulino Joaquim Marubo
A história narra o encontro dos antigos
com um gavião gigante que devorava os
humanos. Os antigos decidem então matar o
gavião com suas zarabatanas.
TUDO O QUE
O OLHO VÊ
Ailton Krenak
OPA MBA´E
JAEXÁ VA´E
40
41
GENEALOGIA
JOARAMI VARA RUPIGUA
Uma vasta produção de sentidos, artefatos e
imagens instituem os acervos dos povos originários no continente americano. O imaterial é
onde está a criação invisível a olho nu. Vastas
paisagens de desertos, montanhas, florestas
e rios transmutam em “visíveis sinais” que o
olho vê. Ritos e celebrações cotidianas tecem
as malhas, aos pés das montanhas dormem
as pedras que sonham outras paisagens por
vir. Um remo, um balaio, tramas e mensagens
para curar o dia, artefatos. Adornos para o
mundo ficar repleto de beleza.
Artistas de plástico1: Com esse sugestivo título, um coletivo de sujeitos criadores
de imagens e artefatos que falam por si reuniu
obras em múltiplas configurações de materiais
e suportes diversos, em espaços de exibição
pública, mas também muros, paredes e vielas
da cidade de Boa Vista, fazendo coro com
Jaider Esbell, questiona ARTES plásticas
¡Mira! Artes Visuais Contemporâneas
dos Povos Indígenas2 traz obras de criadores
de regiões da vasta bacia amazônica, Peru,
Bolívia, Brasil e Colômbia, inaugurada em
Belo Horizonte no ano de 2014 e também
itinerante por países andinos.
Dja Guatá Porã: Rio de Janeiro indígena, no Museu de Arte do Rio, em 2017,
com abordagem multimídia e discursos onde
autores circulam questionamentos descolonizadores da narrativa estabilizada das
artes e registros gráficos, convoca a pensar
outras possíveis visões da história. Dezenas
e centenas de materiais em arranjos múltiplos configuram paisagens surpreendentes,
encadeando outras leituras de eventos e fatos
históricos fixados por uma narrativa hegemônica em que ARTE e memória se confrontam.
A persistência de novos sujeitos reivindicando
lugar e suas expressões plurais, saltando do
silêncio à fala, já insinua a crescente presença
de uma produção cada vez mais significativa
de coletivos formados por autores de povos
originários, determinados a instituir discursos
contra-hegemônicos.
Uma década que se pronuncia, para esses
criadores desde suas origens, informados por
uma urgência temporal de “fazer o papel falar”
– na expressão de Valdelice Veron, no docu-
Heta mba´e ikuai nhande kuery ojapó
va´ekue kova´e yvyapy nhanderovai
katyre. oin ojexauka yvy tyre ymã guare
kuery mba´e jaexá aguã py mba´emo
hayvi omoatã vy yvytyapyre mavy ikaturei
ndajai va´e ma oin avi. ka´aguy, yvy´ã vy´ã
ha´egui yakã va´e aema oin vy ma oguero
porai´i vy ma ita jepe ojeroexara´u aguã
py omoexãkã va´eri ha´e pyma oin ju
oipykuia, ajaká, oipoká heravy vy ma ayvu
ombou ha’e vy jaguerá aguã py nhavãe
vy ma oin ju ha’epy ankãrengua oguereko
va´eri ndajaexá kuaai. Mborai ha´e vy´a
vy´a oiko. ha´e rami vy ko nhande yvy
omoporã vaipa.
Imbavyky kuaá kuatia rexãkãre1:
kova´e rami omboery va´e kuery ma
ojapó tembiapó ha´e gui onhemboaty vy
ogueroayvu ha’e rima ho’ã anga ju vy yrúrã
peteim guigua rue’yn vy ojejou, va’eri ikorá
omopu’ã tentã Boa Vista, yvyry rupi vy
ojapo mborai Jaider Esbell, ha’e vyrima
onhemo porã nduju vy oexauká aguã
imbavykya kuatia rexãkã rupi.
!Ma’en! Ambavyky Ma’em ayn guigua
kuery nhanerentarã kury nhande kuery2:
Ha´e va´e ma ogueru hetá tembiapó
Ka’aguy hovy gui, Peru gui, Bolívia gui,
Pindorama gui ha´e gui Colômbia regua
gui, Belo Horizonte py onhepyrun 2014
ha’e jave voi paven yvy rupare ikuai va’e
andino kuery.
Dja Guatá Porã: Nhande kuery Rio
de Janeiro re, ymã guare moiporã aty py
mbavyky oin Rio py, vy 2017, oguerojeapo
grã mbovypa ojekuaáre vy ijayvu mamopa
ojapoaré ikuai ha’e oporãndu yvy mboegui
ogueroayvua mavy oikuaxe. Ogueropyta
mbavyky mavy oejavy peteim jexauka,
oenoin mavy nhemongueta amboe jexauka
aguã mombe’ua. Hetareima oin jaiporua
aguã va’e ojou tembiapo opaixa gua
anga ma’em porã ve vyy nda ombovy’a
aguãpy hovaem, há’evy ogueruju amboae
jeroayvua peteim hendapy vy nhemobe’ua
opyta jogueroayvua mavy ojeguivaem mavy
MBAVYKY ha’e ma’endu’a jepe ojeapi.
overõnhea’ã jevy vy ha’e oipotaá ju peteim
hendapy onhembojekuaá joaramivya py,
1 � Ver o catálogo do projeto em: https://issuu.com/
talitaoliveiras/docs/cat__logo_artista_de_pl__stico_vers.
2 � Para informações sobre este projeto desenvolvido pelo
Núcleo de Pesquisa Literaterras da Universidade Federal
de Minas Gerais, ver: https://projetomira.wordpress.com/.
1 � Pexa vã mba’eapoa kuatire vara:
https://issuu.com/talitaoliveiras/docs/cat__logo_artista_
de_pl__stico_vers.
2 � Onhemomb’uta ko omba’eapo regua vyma peteim
oikuapota va’e viramivy nda Kuatia omboayvu
Onhemonhembo’e pa typy Nhembojae’yn py gua Minas
Geras py, toexa: https://projetomira.wordpress.com/.
mentário Índio Cidadão3, artistas indígenas
desenham, trançam, tecem, pintam, moldam e
também gravam, em diferentes suportes, suas
expressões de mundo e abrem diálogos plurais
com o chamado sistema da arte.
Por espaços de galerias e museus,
bienais e coleções particulares, estas obras
falam linguagens das águas e florestas,
vazam de histórias étnicas revelando mitos
e elementos próprios de cosmovisões. Uma
disposição para voar em constelações reúne
criadores de gerações e contextos ecológicos
e culturais tão diversos quanto o lavrado de
Roraima, mata atlântica e caatinga, as montanhas e florestas.
Há décadas que alguns desses criadores
têm feito circular suas obras, na ilustração
de publicações científicas, artísticas e didáticos materiais. O grupo MAHKU, Movimento
de Artistas Huni Kuin, um dos coletivos mais
difundidos em suas produções, dentro e fora
do Brasil, mostra seus trabalhos inovadores
na França, e espaços destacados na Europa,
como a Fundação Cartier-Bresson.
Desde a década de 1980, os desenhos
de Joseca Yanomami dialogam em sintonia
com a grandeza da obra de Claudia Andujar,
sua incentivadora e inspirada apoiadora, que
lhe apresentou a primeira caneta para desenho
em sua aldeia na floresta. Os trabalhos de
Joseca Yanomani articulam diálogos entre
fotografia documental e desenhos de incomparável carga de sentidos. Seus trabalhos
estão integrando coleções no Instituto Inhotim,
em Minas Gerais, e coleções em museus
também na Europa e nos Estados Unidos.
Entre estes engajados artistas, as mulheres
como Carmézia Emiliano, com vasta produção
já em circulação, revelada em 1996, com obra
que evoca a identidade makuxi da autora, que
segue inspirando novas gerações entre as
aldeias do lavrado roraimense a perpetuar seus
imaginários de seres profundamente informados pela ancestralidade.
Arissana Pataxó teve obra sua na ¡Mira!
com repercussão singular por seu discurso
com imagens de potência denunciadora,
mesmo carregada de beleza, uma linha
recorrente desta artista dedicada à tarefa de
educadora, como seus pares que em nenhum
caso têm a exclusiva atenção voltada à
produção do que se entende por “arte”.
“Artistas de plástico”, assim, pode soar
como uma observação sobre essa aproximação
da criação de sentidos por meio das diversas
3 � Documentário disponível em: https://www.camara.leg.
br/tv/432678-indio-cidadao/. Último acesso em 16/09/21.
opó kyrinrin ayvu gui huvy vy okakuaá
ojeupe vy ma tembiapo peteim gue jepe oin
ma jojoapyare ojeapoma jogueruvy.
Hetá ma´enty ma oaxá ovy ijypyre,
jogueroayvua ague gui tembiapó nhexyrõ
ojeapo vy onhemombe’u ary vai gui vy
nhenkõtevem gui vy “kuatia omboayvu”
nhemboekovy - Valdenice Veron ijayvu oeja
peteim rupi vy Nhande’i va’e Tetã reguá3
va´e py imbavyky va’e’i nhande va´e kuery,
ojapó, ombopará jojorami he´yn ogueru
aguã mbavykya rupi heta va´e kuery reve
jogueroayvu aguã.
Ikatureiapy omboyxy heravya typy,
ymã guare moim porãty py terá mokoim
ma’em tyrema oin ha´e oje oikaá ramivy
ma oexa japyxakaá. Inkyre’yimgui oveve
ouvy vy onhevaim mba re vy nda omboatya
oguereko vy ma omba´e ae va´e teim ma
ijayvu yy regua ha´e ka´aguy regua re
vy, ogueroayvu mo’ãreguare vy ka’a guy
rekorema heta oin yvy ombojerea rami vy
Nhe’enry ha’e ka’a guy ye’enre ikuai v’e
yvy’ãre peteim teim nhande kuery ikuai va´e
kaújo gui meme ogueru. Ogueru joá joágui
he´yn ka´aguy regua gui.
Hetá ma´enty re mavi amongue
omba´eapó va´e kuery ojapó omboparáa
rupi ogueru oexauká aguã pyma onhembo’e
porã reia va’e guery, mbavyky va’e kuery
ha´e gui kuatiare jererekoa tembiporú.
MAHKU, Onhemomyia de imbavyky va’e
kuery. Huni Kuin, pygua kuery ma oguereko
tembiapó ko Brasil py anho he´yn ogueraa,
ougueraa França re ha´egui ova´en
Fundação Cartier-Bresson py guive.
1980 guive ma Joseca Yanomami
ojapó va’ekue jorami rei ojekuaa
Cláudia Andujar reve mba’eiko ha’e py
ombojerovia ha’e gui oinpytyvõ ixupe,
ha’e ma oexauka ijypy’i kuatia mboparaá
ogue rekoa ka’aguy re oin va’e py. Joseca
Yanomami rembiapó ma ma ogueru
Nhane’ã venõea ha’e ipará Pará va’e
jojoramingua he’yn. Ha’e rembiapó ma
oguereko reta comboaty ymã guare moin
porãty py rupi vy instituto Inhotim py,
Minas gerais py, ha’egui Europa rupi ha’e
gui Estados Unidos rupi avi. Ha’e va’e rupi
ikuai kunhangue ojapó va’e arte Carmézia
Emiliano rami oguereko reta Raí va’e
mbavyky, 1996 py ojekuaa va’e kue Makuxi
Kuery kuerey regua ojapó jave, ha’e rire
ayn reve teri ome’en mbaraeté mby’a
3 � Mombe’utaá ma oin jakuaxe va’epe: https: //www.
camara.leg.br/tv432678-indio-cidadao/. Opa’i va’e ma
16/09/21.
42
43
técnicas de que estas pessoas se utilizam,
desde a cerâmica, a tecelagem e a confecção
de artefatos de palha e madeira, com a disposição constante pela busca da beleza, acrescida
em muitos casos da determinação em denunciar
as reiteradas violências coloniais, suas marcas
racializantes e excludentes.
A curadoria de Véxoa: nós sabemos4,
entre 2020 e 2021, com Naine Terena, também
uma criadora de expressão nas criações artísticas, proporcionou uma ampla representação
de lugares distintos da criação de sentidos,
com Denilson Baniwa, Daiara Tukano, Jaider
Esbell enunciando a disposição por ocupar
outros espaços de representação do mundo
da criação artística. Gustavo Caboco, em
colaborações que visam desde a publicação
de textos e outras linguagens gráficas, performances e ocupações públicas, reafirma a
multiplicidade deste amplo coletivo, que
desenha constelações e antes de supor a
configuração de um grupo ou geração de
artistas originários emergente, propõe outras
alianças entre seres humanos e não humanos.
Seres rios e montanhas em conversação,
dispostos a circular também entre mundos.
Visam pluriversos, criam empenas nas paisagens urbanas, assim como murais de reflorestar cidades, florescer em calçadas de
concreto e paralelepípedos.
SOMOS CAÇADORES DE BELEZA,
ÁVIDOS POR BELEZA,
CAÇAMOS BELEZA EM TUDO5
Um convite a pensar a Arte Indígena em evento
no Masp reuniu curadores, pesquisadores e
poucos artistas indígenas em torno do episódio
Histórias indígenas do seminário Histórias
brasileiras, organizado por Lília Schwartz em
2017. Contou com Aristóteles Barcelos Neto,
Claudia Andujar, Davi Kopenawa, Edson
Kayapó, Els Lagrou, Joseca Yanomami, Luís
Donisete Benzi Grupioni, Luisa Elvira Belaunde,
Lux Vidal, Milton Guran e Pedro de Niemeyer
Cesarino. Tive também a oportunidade de
fala nessa ocasião. Corajoso gesto que abriu
diálogos entre especialistas que lidam com a
produção e circulação das expressões artísticas de sujeitos pertencentes a várias etnias
no Brasil, evitando claramente o sentido antropológico da abordagem. Proporcionou falas a
4 � Sobre Véxoa: https://pinacoteca.org.br/programacao/
vexoa-nos-sabemos/. Último acesso em 16/09/21.
5 � Referência ao livro Lugar onde a terra descansa, de Ailton
Krenak e Adriana Moura.
guaxu amobae Kuery pe ojapó avi aguã
tembiapó ymã guare’i re oma’en vy.
Arissana Pataxó, ma hembiapó! MA’EM!
py ogueru oexauka ojekua va’e omembe’u
ojapó reve, Iporã vaipa ramo xepe.
“Imbavyky va’e kuatia renxãkã regua”,
ha’e rami nhandeayvu ramo ma hetá mba’e
rupi nhamombe’u mba’eiko hetá mba’e
rupi aepy ha’e Kuery ombaeapó, yapó Gui
mba’e mo ojapó va’e, yvyrá pire guigua,
oexá raxa vy Iporã ve rai va’e ojapó aguã,
ogueru aguã denúncias hetá va’e Kuery
ojapó va’e kuere regua re.
Véxoa nhomongueraá ojapó vy nda:
2020 ha’e gui 20214, re ma Naine Terena,
hembiapó va’e avi onhembojekuaá vy
nda oejauka aguã ramivy ymbavyky
va’e jepe oipuru peteim hendapy vy nda
ogueromombe’u jepara jekuarupi vy ma,
onhembojekuaá heravy maombe’u ha’e
jojoarami vy oinvy jepema omo’ãnga
heravy vyma onhembojere vy imbavyky
kuaá kuery jepe omexãkã heravy vyma
imbavyky va’e kuery ogueru hetá regua
oexauka aguã Denilson Baniwa, Daiara
Tukano ha’e gui Jaider Esbell reve ojapó
aguã heta mbyté rupi arte ojapó va’ekue
ha’e oexauka aguã. Gustavo Caboco,
ojapó reta publicações omboparáeté
rive va’e kue ha’e gui opamba’e regua
tembiapo apyguae ri nhenkontevem
rupi vyma houve uve va’epeju opyta
ouvy aguã rupiju oin heravy joapy nhain,
nhande tekoaxy´i kuerype ha’e omyin
va’epe voi.
Yakã ha’e gui yvy’ã regua kuery
voi jogueroguatá xe avi kova’e yvy rupi.
Tentã rupi onhembo ka’aguy ju aguã, tape
ita guigua rupi ipoty pa’i ju aguã vyma
nhema’em porã ju oin tentãrevy ma ha’e
kuery rive ma há’e va’e oin, omongorá
tenta ka’a guyre.
ORE MA ROEXÁ IPORÃ VA’E,
ROIKO IPORÃ VA’E DE, ROEKA
MBA’EMO PORÃ OPAMBA’ERE5
Nhoenõin onhemo mby’a aguã mbavyky
nhande kuery mba’ere vy ojapo peteim
hendapy MASP nheno’õ joguerá kuery,
oikuaá pota va’e kuery Nhande kuery
mbavykyre ma nhamonby’a aguã ma oin
4 � Véxoa regua: https://pinacoteca.org.br/
programação/vexoa-sabemos/. Opa’i va’e ma 16/09/21
5 � Ombe’u mavy mamontu oin yvy onhemo cane’õ
guaá, Aiton Krenak há’e Adriana Moura.
partir da experiência de realizadores de obras
em circulação nas diversas mídias e suportes
tais como a grande obra de Claudia Andujar,
que apresentou sua experiência inaugural com
as imagens de potência surpreendente em
transitar de uma cosmovisão yanomami não
figurativa, ao instituir uma galeria de imagens
com seres mágicos, xapiri e heróis culturais do
universo das oralidades, antes não representados graficamente.
Assistido por Sandra Benites, Luisa
Elvira Belaunde, Els Lagoru e Lux Vidal, estes
diálogos animaram outro momento, agora
de mote próprio e curadoria coletiva, proporcionado pelo Instituto Goethe de São Paulo,
dentro da série Diálogos do Sul, que acolheu a
proposta de um seminário6 que expressasse as
várias perspectivas de atores indígenas como
Jaider Esbell, Denilson Baniwa, Bu’ú Kennedy,
Sandra Benites, Miguel Verá Mirim, Arissana
Pataxó, Edgar Kanaykõ, Cristine Takuá, Carlos
Papá, Daiara Tukano, Ibã Sales-Huni Kuin, além
de observadores também convidados desta
conversa inaugural, pensando a produção
cultural indígena e o sistema da arte. Um
painel único reunindo curadores e gestores de
museus e galerias como MAM, Masp e Pinacoteca, além de gestores culturais, como Ticio
Escobar, ex-ministro da Cultura do Paraguai.
Foi uma visada sobre a cena que antecede os
convites em 2020 de Sandra Benites a integrar a curadoria do Masp, como também ao
anúncio da curadoria de Naine Terena na celebrada exposição Véxoa, na Pinacoteca, em São
Paulo, provocando novas observações da visão
desses criadores sobre ARTE. Conceito estabilizado na cultura ocidental, como exercício de
sujeitos destacados de seus vários contextos
culturais, e que se descolam visivelmente das
realidades de suas origens sociais, o que não
tem correspondência com as ideias de criadores indígenas.
krã mboae MASP py, ogueru, Mongueraá
Kuery, ha’e oikuaá pota va’e kuery ha’e
gui mboaty’i imbavyky va’e nhande va’e
kuery omombe’ua nhande kuery onhemoim
nhemombe’ua Pindorama pygua, Lília
Schwartz ojapó jave 2017 re. Ha’e jave ikuai
Aristóteles Barcelos Neto, Cláudia Andujar,
Davi Kopenawa, Edson Kayapó, Els Lagrou,
Joseca Yanomami, Luíz Donisete Benzi
Grupioni, Luisa Elvira Belaunde, Lux Vidal,
Milton Guran ha’e gui Pedro de Niemeyer
Cesarino. Mby’a Porã reve ojapo vy ogueru
ayvu especialista Kuery reve artes hetá
nhande kuery reve.
Sandra Benites, Luisa Elvira Balaunde,
Els Lagoru ha’e gui Lux Vidal oexá ogkuapy
rire aema ayn gui Instituto Goethe São
Paulo, py oin jogueroayvu ko ka’aruagui
vy ma, ogueru peteim onhevaim6 ma
vya ome’en aguã imbavyky kua kuery
pe oexauka aguã nguembiapó ramo ma
imbavykyva’e kuery Jaider Esbell, Denilson
Baniwa, Bu’u Kennedy, Sandra Benites,
Miguel Verá Mirim, Arissana Pataxó,
Edgar Kanaykõ, Cristine Takua, Carlos
Papá, Daiara Tukano, Ibá Sales-Huni
Kuin, ha’e gui amboae kuery oenoi va’e
kue kue jogueroayvu aguã imbavyky va’e
nhandekuery regua re. Peteim’in tembiapó
ojejapó MAM, MASP ha’egui pinacoteca
reve ha’e gui Ticio Escobar ministro da
cultura Paraguai py oiko va’e kue. Ha’e va’e
oin Sandra Benites curadoria py oike’yn i re
MASP py, ha’egui Naine Terena oenoi ojapó
aguã ogueraá Vexoá py pinacoteca py ramo
ma São Paulo re texá ngatu oiko tembiapo
ojapó va’e kuery re.
MBAVYKY, TEMBIAPÓ
HA’E OJEAPÓ
Refletir sobre criação, produção e disseminação cultural indígena, respondendo à
crescente demanda por parte dos museus
e instituições de arte no Brasil e no mundo
por adquirir ou expor “arte indígena”, nos
coloca frente a um problema com implicações estéticas, éticas e políticas. A ênfase da
visão ocidental de arte, na qual confina-se o
Jaexá ramo tembiapó nhande kuery reko
re gua re va’e ma oiko mba’eiko oin raxa py
ymã guare moiporãtypy oin nhande Kuery
Pindorama re ha’e gui yvyrupá ha’e javi
oexauka xe va’e arte nhande kuery ojapó
va’e kue “Nhande kuery mbavyky” re haxy
parei ramo jepe nhemondea rupi vyma,
nhamboete nhanderuvixa kuery. Virami
joupive ojereraá aguã pyju onhemoingo
heravy vyma tembiapo ojereraá ma vy
ko onhembo’e heravya vãpy ju onhenoin
Jojoramingua he’yn nhande kuery reko
regua re oexauka ramo.
6 � Informações em https://www.goethe.de/ins/br/lp/prj/eps/
epd/pt16506451.htm.
6 � Oveporandu ma https://www.goethe.de/ins/br/lp/prj/
eps/epd/pt16506451.htm.
ARTE, TRABALHO
E CRIAÇÃO
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exercício da criação enquanto atividade específica, separada das demais esferas da vida
cotidiana, contrasta com as práticas dos diferentes povos indígenas.
Os mecanismos de produção e disseminação do sistema da arte, bem como sua
insistência na predominância do objeto, pouco
se preocupam com questões de agenciamento
e coletividade, com linguagens e urgências,
ou com ritmos e condições de produção diferentes daqueles aos quais o establishment está
habituado. Essa discussão se deu também no
encontro facilitado pelo Instituto Goethe de São
Paulo, em dezembro de 2017, por um coletivo
de indígenas, dedicados a questões de criação,
produção e disseminação cultural, e não indígenas que trabalham na interface entre arte e
política, especialmente com as operações do
sistema da arte que neutralizam a potência
política das práticas artísticas e seu poder de
contágio, assim como as operações artísticas
de resistência a esta instrumentalização. No
amplo universo dos povos originários nada se
assemelha a essa ideia de ARTE. Como entendi
da expressão de Davi Kopenawa Yanomami,
que nos visitou na instalação de uma obra
coletiva guiado por Bené Fonteles, e viu uma
coluna onde estava aplicado um grafismo com
a inserção de sua frase:
– Omama foi o primeiro artista.7
Uma revelação que vincula a ideia do
artista com a criação mítica de mundos,
cosmovisões e pluriversos, onde os espíritos
ancestrais exibem “suas luminescências” –
nos altos cumes da floresta, para além de uma
comunicação entre iguais, convoca a todos os
Seres da Criação. Assim, nada surpreende que
Jaider Esbell evoque sua pertinência como
neto de Makunaimî. Pois é assim, em simbiose
com não humanos vivendo as cosmopoéticas
ancestrais que operam estes mediadores de
mundos. A arte dá entrada a essas conversas
criativas, capazes de também encantar a existência, ampliando a subjetividade e vínculos
profundos com Gaia, o organismo supraplanetário que nos habita e hospeda. Moquém
evoca assim em simplicidade o que a intacta
retina abarca em profusão de cores, criando
formas para o espírito que se abre em fluxos
atemporais. Constelações em reconhecimento
de afins, em exercícios de construir paisagens de sentido capaz de tecer narrativas
confluentes. Um jirau para estender histórias
secando ao vento e sol.
Oguerojeraá ma tembiapo mavy nda
jaikuaá aguã vyma nda oeja krãmboae
vyma ogueru ju vy peteim kove vara
rupi vyma oin ojepy’apya ha’e vyma
nhenkontevem rupi vyma ovaem jogueruvy
mbavyky ojejapó ha’e gui oguerotaeravy
má hetá mba’e rupi oaxá ovy jojoramingua
he’yn ayvu, nhemomby’a. Ha’e va’e
ramingua ré ayvu oin karamboae 2017 re
Instituto Goethe py oin jave nhemboaty
nhande kuery heta ikuai jave ojapó va’e
hetá mba’e regua kuery ha’e Juruá Kuery
opena va’e nhanderuvixa kuery, ha’e gui
imbavyky va’e kuery re jepe. Nhande
kuery aranduá mbyté rupi oin MBAVYKY.
Ha’e rami vyma ojekuaá mavy nda oin
nhemba’ea poa gui vyma ojexauka aguãpy
ju ogueraá há’e gui jepe vyma onhenhõty
voi heravy vyma apygua kury pe voi oje’oi
mavy nda ojekuaá ouvy vy nda oguerekoju
vyma há’kuery voi kova’e rãre vyma
ojeroguata heravy aexá Davi Kopenawa
ijayvua re ore poú jave Bené Fonteles oexá
petei ipará va’e vy aipo he’i:
– Omama aema mbavyky pygua
ijypygua7.
Petei jexauka ojekuaa artista ideia reve
heta mba’ere yma guare re guive ova’en.
Ka’aguy re yvaté vaté gui nhoenoi mba’e
mo ojera ha’e kue kue. Ha’e rami vy Jaider
Esbell Makunaimî ramyminõ oiko vy ha’e
rami rei avi aranduá oguereko. Ha’e rami
vy aema. Moquém oje’a pa vy aema aradu
hetá ikuai, yma guare arandu jogueroayvu.
Ayn guivema ou jo gueravy vyma nda ouvy
ma jogueru ha’e opyta guive vyma ndoo
kuaveivy ojexavai ha’evy rima ombotuvixa
ve heravy vyma onhembojera vy ju oma’em
vaipa jave vy oexa ma ko yvyre ikuai va’e
kuery jepe jogueru aguã, há’e vyrima oaxa
jogueruvy vy nda yvy javere ikuai raka’e
ymã gua kuery jave ojejapo nhema’em porã
voi oiko havei vyrima oiko há’e javire vyma
ayn peve ojekua ouvy vyma jogueroayvua
jepe hexãkã raka’e yvytu rupi ipiru ha’e
Kuaray gui.
7 � Kopenawa, Davi; Albert, Bruce. A queda do céu:
palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia
das Letras, 2015.
7 � Kopenawa, Davi, Albert, Bruce. Yvate ho’a:
Nhaneramoim yanomami ijayvua. São Paulo
Kuatia para inrum, 2015.
SEMENTES DE
TRANSFORMAÇÃO
Cristine Takuá
NHENHOTY
OJEAPOA AGUÃ
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A arte indígena contemporânea
Traz a potência da cura
O eco da política em sua ampla concepção
Criativa e transformadora
O artista indígena é um semeador
Com seus saberes e fazeres ancestrais
Toca a alma e decoloniza a mente
Há séculos moldada
por uma Monocultura do pensamento
O artista indígena tem a possibilidade
de metamorfosear as relações
Entre o céu e a terra
Entre o visível e o invisível
Nos mostrando outros caminhos
Outras realidades possíveis
Num manancial intelectual e criativo
Que habita na complexa e bela existência
dos mais de trezentos povos indígenas
Que resistem há séculos com seus cantos,
Rezas, artes e filosofias.
A estética da floresta é múltipla
E dialoga com saberes ancestrais
Que não estão nos livros e nem nos museus
Vivemos uma criminalização epistêmica.
Uma violência contra as ideias
Contra o pensar
que está adoecendo
escurecendo a humanidade
Querem nos calar!
Mas nossos cantos ecoarão pelas quatro
Direções dessa Terra! ! !
Assim como o fogo a tudo transforma,
o sopro do vento purifica e a chuva
molha a terra e as plantas florescem, nós
caminhamos semeando sabedoria em
nossas crianças e jovens, seguindo os
ensinamentos de nossos antepassados.
Sabemos que atualmente vivemos uma
emergente e complexa crise humana, que
se reflete nas relações sociais, políticas
e ambientais, as quais nos levam a
questionar e a repensar o ser e o saber,
resultando numa conscientização de que
temos que reaprender a pensar, agir e
caminhar no mundo. No entanto, os seres
humanos, numa incessante busca de
compreensão, dominação, ordenação e
controle sobre o meio e sobre si mesmos,
acabaram por desestruturar a natureza e
acelerar o seu desequilíbrio.
Os povos indígenas vêm há muitos
séculos mostrando ao mundo o que é ser
sustentável. A relação com os outros seres
da floresta é uma relação de respeito.
Somos parte de uma grande teia, onde
Imbavyky va´e guery ãy guigua guery
Ogueru mbaraete jagueraá
Nhande ruvixa guery ojere roayvu ma
vy ombyavate
Nhepyrum ojeapoa aguã
Ko nhande kuery imbavyky va´e kuery onhoty ma
Ko onhemo mba´e kuaá gui vyma ãy guie yn
Guigua gui vy ma yvy mboe gui ou va´e gue jepe
nhane mboete aguã
Ãy guie ymã nhanemboeko rova vy nhanemo
akã mby´a mboe
Ko nhande guery imbavyky va´e ma oguereko
omboape joupive ´i ojereraá aguã
Ko yvatere há´e yvyrupi
Vy ma jaexa va´erupi ha´e jaexa va´erupi gua avi
Orema roexauka avi amboae tape avi
Amboe jojo rami guae yn avi
Oin va´e teko ojeapoa jojoa rami ojere raá aguã
Há´evy rima japyta porã heravy aguã py
nhavãe javy aguã
ko mboapy retá py nhande guery oin apy
Mborai py ovem rombaraete ymã guive,
Tarova py, imbavykyapy, arandu rekopy
Ka á guy reko ogueru mbovy porã gue rei
Jajoguero ayvu ymã guare arandu py
Va´eri dipoi kuatiare ha´e gui noin ymã guare
moin porã typy voi
Ayn ma nhande rexaxei va´earupi jaiko
Nhane mboje xavai ko nhaneakã há´e
mby´arekore
Nhanemonguetaare voi ijayvurei
há´e vyrima imba´eaxy pama
pytum guyrema tekoaxy ikuai
Nhanemo kyrimrim xe
Va´eri nhemboraima irundy javerupi
onhendu va´erã
Kova´e yvy javere! ! !
Mba´emo ma onhembo jera tata ramiae avi,
yvytu rupi ipytuem va´e voi omoatyrõ mba ma
yvy inhakyn oky gui vy yvyra roky jepe henhoin,
ore ma roguata romoain ore arakuaá ko
kyringue pe há´e ypyau guery pe voi rogueraá
orembo´eague ore ramoim ymã guare guery
oeja va´eguere. Ore ma roikuaá ayn roikoa ma
nhekotevem ma tekoaxy´i guery gui ipojava
jaikoa na´inporã vei ramo, joapy rei he´yn nhain
vy, mburuvixa guery gui Ka´aguyre opena
va´eguerygui, oporandu oikuaá xe magui pa
jaikuaá regua, oeka ma vy oguero japyxakaá
nhanhemomby´aá jepe oguerova xe okuapy,
jepojava há´e jeguata yvy javere ma, tekoaxy´i
guery, overõ nha´ã mbare ikuai oikaá vam rupi
vy, ojopy here kovy, oguereko ma vy oipotaá
rupi overõ nhia´ã ojeupe avi vy, ha´e vy rima
onhemongaru Ka´aguyre vy inhakuã ha´e
tudo está ligado, tudo se relaciona. Os
saberes e fazeres ancestrais estão totalmente conectados a essas tramas da
grande teia da vida.
A arte indígena contemporânea traz
em sua potência a possibilidade de criar
pontes entre mundos e permitir que todos
se reconectem com uma memória ancestral,
a memória do rio, das árvores, das montanhas, da terra e de todos os seres que estão
resistindo junto com nós humanos. Nesse
momento em que todos estão passando por
um processo de transformação, sentimos a
necessidade de metamorfosear as relações e
reaprender a caminhar de forma mais leve e
suave sobre a terra.
Muitos são os movimentos que estão
desabrochando nos meios culturais, trazendo
um pulsar que dá sentido a todos, um convite
para que todos reflitam sobre suas duras
pegadas aqui na Terra e consigam mudar
as direções, decolonizar a mente há séculos
moldada por uma visão eurocêntrica e
reducionista. Se faz urgentemente necessário
repensar os museus, os espaços culturais
que abrigam e dialogam com as artes
visuais. E também repensar a educação!
Muitos dos desequilíbrios, do racismo e do
preconceito que existem ainda hoje no Brasil
são resultado desse modelo de educação
colonial. Precisamos metamorfosear os
currículos e ampliar os diálogos sobre a
utilidade da escola e o verdadeiro sentido de
transmissão de saberes. Uma escola que não
prioriza a multiplicidade dos conhecimentos
é esvaziada de direção. Penso numa escola
viva, que valoriza o potencial de cada um
em sua complexa essência, que dialoga
sobre valores de ser e estar nos territórios
de forma equilibrada, que fala das muitas
artes, de diversas formas de cura, dos cantos
e encantos da vida que pulsa a cada novo
dia. Uma escola que estabelece relações
epistemológicas, artísticas e espirituais com
todas as formas de vida.
Convivemos há séculos com a negação
das filosofias indígenas, das artes indígenas,
das histórias e espiritualidades indígenas.
Uma violência contra memórias ancestrais,
contra o pensar em suas múltiplas formas,
que reflete sobre essa pesada realidade que
afeta a humanidade. Consequentemente,
lideranças da floresta estão sendo perseguidas e até mesmo assassinadas, com o
objetivo de calarem suas vozes, de enfraquecer e desequilibrar os saberes ancestrais
dos povos nativos que habitam nosso país.
nda´ijojai ouvy. Nhande kuery ma ou raka´e ymã
yvy ymã gui vy oexauka yvy javere marami pa
nhama´enty vy jepe jaikuaá ka´aguy ra´y´i ikuaia
ma vy jareko nhemboete. Nhande guery ma jaiko
ayn kya tuvixa va´epy, ha´e pyma oin inxã joapy,
joó rami oo. Oje arakuaá ma ojeapo ymã guare
py. Há´ejavive peteim rami oin vy joipeve tuvixa
va´e kya teko rami vy Imbavyky va´e nhadnde
guery ayn gua ogueru ma peteim mbaraete vy
onhe´ãnga mavy ojapo yaxaá vy ko yvy javere
oeja pavem pe vy jerojapyxaká aguã peteim
ma´em ndu´a ymã guerere, ma´em ndu´a ma yy,
yvyra gui, yvyty re, ha´e yvy ma pavem mba´e
ha´e gui jojo rami jaje´oi avi vy ma ko tekoaxy´i
reve jaá. ha´e rami vy ma jojo rami jajogueraá
hera vy há é pyma jaxa hera vy jajerova vam,
nhaem kontevema vy nhanhemboapeá joapy
nhaim hera vy há´e jaikuaá ve heravy jaguata
heravy vyma tape voi nda´i poii há´vi yvyre.
Mbovy reipa onhemomyim ha´e
onhembojera mavy nhombyteoy tekorã,
ogueru peteim o tytya pavem pe vara rami oin,
apoenoin pavem peju aguã ha´e jejapyxaka ko
pypo raxy ma apy yvypy oguerova nda´u amboe
katy, yvy mboe guigua guery akã jepe ojererova
ymã guare gui oeja va´eguegui ojexa vy yvy
mboe guigua guery ma omboapy vevy. ha´evy
rima jekuaá pota voi nhemongueta aguã ko ymã
guare nehemoim porã typy. Há é vyrima tekorupi
guarã jogueroayvu há é onhemoingo ejekua
va é rupi vy imbavyky kuaá. Ha´e jeguapota
ju ha´epy nhembo´e! Vaipavy onhembo jejoja,
ndojoayvui ndojoejaxeia oiko ayn peve teimo
in apy pindorama py há´e va´ema ojekuaá
nhembo´eapy voi oeja yvy mboegui gua.
Nhekontevema nhanhemboape maba´e pa
jeporu aguã jarekoa nhamovain ve heravy aguã
nhembo´ea typy há´e va´ema anhetem guama
onheremombe´u arandua. Peteima nhembo´ea
typyma ndoejai pavem arandu rupigua vy ma
yrugue opyta quii katy. Anhemonguetá mavy
ajouxe nhembo´eaty tekove regua, omboete
peteim mbaraete ojeé oguereko oyvara
guigua, jogueroayvu ma anhetem guagui ma
vy omboete aguã oyvy ijoja aguã, ijayvua
mbavykyre vy, joó ramie yn jagueraá oin, ijyke
jykerupi oin ma nhandereko otyty nhamandu
oexape nhavõ. peteim nhembo´eama
omombyta hera vyma jexakuaá teko.
Mbavykya ha´e jarojapyxakaá regua
vyma nhade rekopy jaraá nhande kuaima
ymã guivema teko arandua nhande guery
pegua ndoikua xei vy ma, ha´e omombe´ua
ha´e nhade guery jajapyxakaá. Ojerojexavai
nhemoma´em ndu´a ymã guarere vy
onhemonguetá hetarupi vy, oguerojapyxaka
mavy ipoyi hetema vy ojeupitypama ha´e
48
49
Nos processos educativos, e não só neles,
mas também nas relações humanas, existe a
falta do afeto e da concentração, do cuidado
e da atenção.
Existe um processo espiritual estético
dos povos indígenas que se espalha por
todos os lados de forma livre, caminha pela
terra e para além do que são as fronteiras
políticas dos Estados-nação. Nele estão
presentes todas as concepções de existência, que através de uma potência criativa a
tudo transforma. Muitas são as simbologias e
comunicações invisíveis presentes na criação
artística. E, em todos os territórios, há uma
forte energia que impulsiona a relação entre a
arte e a natureza.
A arte indígena contemporânea tece
pontes de encontros entre o tempo: o antigo
tradicional e o novo metamorfoseado das
inspirações íntimas de cada artista. Mas
a arte em si, que habita no dia a dia de
todas as culturas, reflete-se na essência de
suas próprias realidades. Um coletivo de
mulheres tecelãs produz, com o algodão,
formas múltiplas, linguagens indescritíveis
que se comunicam com seres sagrados e
nos revelam saberes que há muitos séculos
transmitem conhecimentos de uma ciência
que não habita nos livros, mas está presente
em visões espirituais que se transformam
em elementos criativos de suas produções.
O fazer artístico está totalmente relacionado
à existência da vida da floresta, às fibras
de embaúba que tecidas podem servir de
elemento de cura ou ser úteis para quem
as possui, ao barro que produz a cerâmica
moldada e criada para ser e estar junto nas
relações cotidianas, à taquara e ao cipó
imbé que trançados produzem cestos, à
caxeta que esculpida se transforma em seres
animais da mata: cotias, pacas, corujas,
onças, jiboias, uma infinidade de criações
profundamente sensíveis.
Os sentidos que ecoam dessas produções criativas estão totalmente relacionados
à necessidade de preservação das florestas.
Sem floresta não há arte, pois esta brota da
própria natureza e dos conhecimentos ancestrais que habitam nas percepções e intuições
de cada artista.
O ativismo presente nas produções
contemporâneas de arte reflete a luta e resistência dos povos indígenas. Nos últimos
anos, houve um significativo impulso da literatura, do cinema, do teatro, das expressões
de intercâmbio entre povos, a nos revelar a
Arte como um elemento fundamental, que
tekoaxy´i guerype. Ha´erami mbarei ramo,
huvixa´i rami ikaui va´e ka´aguyre jepe
onhemo nhauka aguã py ovãe. Ojejukauka
guive, ijayvua omokanhy aguã guive,
omo kangy ha´e nda´i jojai aguã py onvãe
in´arandu guery apygua guery ikuai va´e
ymã guivema oin nhade yvyre. Nhombo´ea
jogueraáre vyma ojeupe yn, va´eri tekoaxy´i
guery pe voi oin aguã nhemboja, oikoma
joo ramie yn Joguerojapyxakaá, jekuaá
pota ha´e ma´em atã.
Oikoma japyxakaá joarupigua heravy
vyma nhandeguery onhemoain heravy vyma
jovaigui vy oipotaá rupi, oguata yvyrupi vy
ijoapya rupigua re yn ju oma´em heravy
vyma huvixa guery Ko nhadere onhemo
pena va´e gury. Hexe oin tema ha´e javi
overõ jejapyxakaá voi ogueroa´evea, ixugui
guery gui vy imbaraete jeapoa ha´e vy rima
ojeapo ouvy. Hetama omomba´e ma ojapo
mbavyky gui. Yvy javere, ha´e imbaraete va´e
takuyvytu vy ma otyty joupive aguã vyma
joapy imabavukya ka´aguyre.
Mbavyky ma nhadeguery ayn guigua
guery omoatã oaxa ouvya vy nho vãin
tim aryre: inhymã guery ma ipyau vy
onhemboape ojejoukuaá vy onhemoin vy
ma peteim mbavyky va´e. Va éri mbavyky ma
ojeupe opyta ko´me nhavõ pavem rekopy,
oguerojapyxaka vy oyvara gui vy nda ojeupe
ramo ojekuaá heravy. Joupive gua kunhangue
mandyju moatã va´eguery, mandy juma, ombo
jekuaá oparupi vy ogueroayvua anhetem
guarupi vy ma joupe joarupi ijayvu ko omyin
va´e nhe´em reve vy oejauka mba´e kuaá ymã
guive haema omboaxa ayvu oikuaárupi gua
vyma onhemo´ã arandu pygua opyta kuatiare,
va´eri omo mba´e texa pyjo japyxakaáre vy
overo jeapo mavy mb´emo ojeopo ouvy aguã
py ju oin temboiapo rã. Ojapo ma mbavyky
vy nda há´e javire joapy oin vy moingove teko
ka´aguyre, amba´y rayvi gui ojapo nhemoatã
vy jeporu aguã mba´emo omonguera aguãrupi
ojeporu ha´e oiporu, yapogui ojapo ha´e
nhae´um gui hembiapo ha´e va´ema joupive
opyta ouvy aguã oikoarupi, ha´e Takuá
ha´e yxypo vembepi oipoká vy ojapo ajaka,
yvyra jovy tim re ojapo mba´emo vy nda
omyin va´e ka´aguyre ikuai va´e ojapo: akuti,
jaixa, uru kure´a, xivi, timbó boi, nda´i joapyi
ojejapoa aguã ojekuaá ojeopity aguã vy
nonhembojaru´i reve vy virami ojere raá vy nda
omo´ã gue heravy vy nda hembiapo oikuaá
ouvy ve aguã py ju oin vy onhekontevem
ka´aguy nonhemomyin. Ka´aguy he´yn rema
dipoi mbavyky, mba´eta henhoin ka´aguy gui
hae ha´e onhemo´arandu ymã guare gui
possibilita afetar e transformar a população
brasileira, ainda hoje mergulhada no preconceito da desinformação. O processo de
colonização deixou sequelas demasiadamente profundas na estrutura da sociedade
não indígena. Através da educação e da arte,
enxergamos possibilidades de romper essas
barreiras coloniais e ultrapassar os campos
da imaginação, curar a mente moldada e limitada na aparência.
Porém, a educação brasileira hoje
enfrenta sérios desafios. Na verdade, não
somente hoje, há um tempo estamos observando o quanto a educação vem sendo
limitada no seu compromisso com o próprio
educar. Porque, quando olhamos o currículo
das escolas, percebemos que muitas vezes
a escola se propõe a ensinar conteúdos
que são vazios de sentido para a vida que,
principalmente nas cidades, gera competitividade, coloca às vezes como lema “ser
alguém na vida”, significa acessar o mercado
de trabalho e ganhar dinheiro. Já a educação
escolar indígena não prioriza esse acesso ao
mercado de trabalho, muito menos a competição, mas uma escola que fortaleça os
nossos territórios, que coloque em primeiro
lugar o respeito ao próximo, não só aos
humanos, mas a todos os seres. O respeito
com a floresta, com o rio, com as árvores,
as abelhas, as formigas. Então, a educação
brasileira tem deixado muito a desejar nesse
sentido, porque ela não tem contribuído para
formar cidadãos realmente conscientes, que
respeitem a diversidade que existe em nosso
país. Somos um país diverso, com mais
de 300 povos, mais de 200 línguas sendo
faladas, mas muitos desconhecem.
Para os povos indígenas, a natureza é
quem dá sentido à vida. Tudo em seu equilíbrio. Como uma teia que nos envolve e nos
direciona, nos mostrando o caminho de luz a
trilhar em busca de sabedoria. Cada sinal que
recebemos tem um significado para nossa
vida. O canto de um pássaro pode indicar
algo, os trovões que passam são sinal de
que algo está para acontecer, as formigas no
meio do caminho, as formas das nuvens, a
direção do vento, enfim, muitos presságios
nos são transmitidos pelos sinais da natureza, que com sua delicadeza e sabedoria vai
nos guiando e nos ensinando como bem viver
em equilíbrio, respeito e harmonia.
Toda essa complexa crise de relações que os humanos hoje estão vivendo
nada mais é do que o reflexo de séculos de
uma caminhada mal feita, pois antes todos
haema onhembo pytá oikuaá heravya rupi
peteim imbavyky va´ema ndopyta kuaai vy
hembiapo ayn guigua tembiapo mongueta
há’e joguero’á vy imbaraete vy pavem nhande
kuery pe.
Peteim nhemityre ma, oiko grã mboae
ha´everei va´e otyty kuyatia para, ha´e gui
ojeguaa va´erupi gua, onhevã anga jaukapy,
onhembovai ha´e nhonhemboekovia va´e
nhade guery meme, vyma oejauka ombavyky
marã mba´emorei yjypyarupi gua, vyma
ombo´a´eve ojou ojapo pavem ayvurupi vy
pindorama py, va´eri ayn peve oike ndojoayvui
ha´e oikuaá vye yn. Yvy mboe gui oeja va´e
gue gui rive omokaremba vyma oike heravy vy
omopu´ã jojorupi guarã rami nhaderami guarei
kuery nhembo´ea imbavykya, oexa ramoma vy
ojejauka omondo aguã py oin omongorá yvy
mboegui ou va´e guery mba´e onhokuã heravy
virami onhemoakã ikatureia rupi, mamonguerá
ha´e ojapo ijapya ha´e onhembo jekuaá
Va´eri, nhembo´ea pindorama py ayn nhoa´ã
nhembojarua rupie yn vy. Va´eri anhetem ayn,
guevema roexa heravy virami oin nhombo´ea
ou oiny onhemboapyare oin oiny koó ha´e
oguereko gupive omba´eae nhembo´ea,
nhama´em maramo ojerereraá nhembo´ea,
roikuaá potá ramo mbovy guemapa
nhembo´eaty omoin nhanembo´e mavy
hetarei va´eri hugue aá´evyrima ko nhadereko,
tentãre ma vy nhain vy, joegui nhain porã
reivexe, amoguepy nhamoin ayvu vy” jaiko
amongue tekopy”, ha´e va´ema jaiporu kuaá
aguã jurua rembiaporupi vara ipireva´ere
jajekorova aguã ha´e nhande nhembo´ea
pygua ma nhanandereroayvui ha´e ramiavã ko
jurua mba´eaporupi ndajaikoi nanhanhokuãi
nhaderupive gua, nhanhembo´eama
nhanemombaraete yvyre jaikoa, pemoin
tenondere nhemboete nhanderupive gua,
nhade tekoaxy´i kuery anhõ he´yn omyin ma
va´e guive ka´aguy, yy, yvyra, heiru, tay. ha´e
va´ema nhanhembo´ea pindorama oeja heta
jaipotaá rami vy nhaendu, ha´ema ndoejai ouvy
nda tentãre gua guery jepe oikuaá heravya
aguã, tomboete opamba´e ikuai´i va´e apy
nhadeyvy py. Nhandeyvyrema jojo ramigua
he´yn vy, mbopy reta nhade kuai, mokoin reta
ayvu jareko va´eri heta ndoikuaai.
Nhande kuery pema, ka´aguy nhadereraá
tekovepe. ha´e javi ijoja ouvy. Há’e vyma kya
onhemoigo heravy vyma peteim rupi jaá, oejauka
tape omoataendy tape ogueru aguã mba´ekuaá
aguã. Rojopy nhavõ peteim kuave´em orerekorã
py. Há´e guyra´i nhe´en voima omombe´u tekorã,
hyapú va´e voi omombe´u avi mba´epa oikorã,
tay´iguery tape mbyterupi oguata, marã mipa
50
51
viviam na natureza, com a natureza e da
natureza. E hoje as pessoas se desinseriram
do meio, usam e abusam da natureza para
sobreviver ou aliviar seu ego de consumo.
Muitos esquecem que fazemos parte dessa
imensa teia, que não deve e nem pode ser
separada. O ensinamento e a força que as
artes indígenas trazem para o mundo são de
atravessar portais e permitir uma reconexão
com os seres da floresta. Muitos dos desenhos, das formas, dos cantos produzidos são
materializações do mundo dos espíritos, que
precisam ser escutados e respeitados.
Atualmente, existe uma crescente
demanda por parte de instituições de arte e
museus no Brasil e no mundo por adquirir
ou expor arte indígena. Com isso nos vemos
frente a muitas questões com implicações
éticas, espirituais, políticas e estéticas. Pois
a valorização da visão ocidental da arte, que
restringe o exercício da criação enquanto
atividade específica, separada das demais
camadas da vida cotidiana, é conflitante
e contrasta com as práticas dos diversos
povos indígenas, que vivem e entendem a
arte de forma coletiva. Se faz necessário
repensar os acervos e os diálogos que se
tecem nos espaços onde se propõe estabelecer comunicação com as artes indígenas.
Portanto, como os grãos germinam,
brotam e florescem, as pessoas precisam
conhecer suas origens, a fala que habita
em cada semente. Todo ser que consegue
escutar a voz do silêncio ouve as suas
verdades. Há uma ponte existente entre
o conhecimento visível, letrado e o saber
que habita nas profundidades dos cantos,
danças, trançados e em toda a complexidade
da arte e espiritualidade dos povos ancestrais. Porém é necessário romper as barreiras
da aparência.
Porque enquanto alguns ficarem se
baseando e presos no não ser das coisas
(aparência), jamais chegarão à dimensão
maior do verdadeiro conhecimento, da sabedoria dos que sabem e conseguem sentir sua
própria sombra.
arai oiny, marã katypa yvytu, oiny, heta ma
oin jaikaá potaramo oin onhemombe´ua ko
ka´aguyre, ha´eae voi jepe onhemoyvyin´in
in´arandu ouvy vy ojereraá nhanembo´e
heravy teko porã ijoja ouvy aguã nhemboete
tory’ia rupi.
Ha´e javire ma jojoarupi vy tekoaxy ayn
ikuaia rupi rive´ima joguerá heravy vyma oin
ko nhadeyvy rupare inhymã are vyma jeguata
vai, va´erima gueve guare gueryma ka´aguyre
ikuai porã raka´e, ka´aguy reve ka´aguygui.
Ayn ma nhade guery nhanhemombyry
mbytegui, oiporu ombojaru ka´aguy oikove vy
nda onhembo´yve okarua aguã rami oin vy.
Hetama hexarai va´e ha´e joapy rima nhain
kya tuvixapy, nda´e veima nhanhemombyry
aguã. Teko mbo´ema oin mbaraete nhande
kuery rembiapo ogueru yvy javere omboaxa
onkem vy omboaxavy peteim japyxaka
ka´a guyre gua omyin va´ere. Hetama a´anga,
virami, ijykere oin vy hembiapo ombojaity
vy yvy javere ojapyxakavy, oikontevem
oendu nhemboetea.
Ayn guima, oiko peteim okakuaa heravy
va´e vy nda tembiapore opena va´e guery ymã
guare omoin porãty py Pindorama ha´e yvy
javere ojopy onvenoem nhade guery mbavyky.
Kova´erema roexa heta tenondere nda´eveirei
hekoe reguare vygua, japyxakaá, mburuvixa
tekore oikaa pota va´e. Omboeteve texapyxó
yvy mboe gui ou mbavyky, ha´e va´e ma ojoko
ojeporuka ombo tuvixa tembiapo peteim rami
vy oja´o tekorã guivy ma oikoarupi ogueraá,
haxyarupi ojexa vy oiko kuaá heravy vyma
pavem nhande guery pe, ikuai va´e oikuaá
mbavyky ha´eramivy joapy ikuai. Ha´evy
nhekontevem jejou nhemngueta tembiapogue
ha´e jogyueroayvua omoatã mamorã
ombo´a´eveapy vy joapy oin vy nhade guery
tembiapo reve oin.
Ha´evyma, mba´emo rami henhoin, hoky´i
ka´a guyre, pavem ma toikuaá magui pa
jaju raka´e, ayvuma opyta peteim mba´emo
ra´yin rami vy. Pavema japyá rei ramo
oendurã ayvu okyrin rin vy, pendu anhetem
guare. Nhemboaxaá oin arandu oin arupi vy
ndajaexai, kuatia para ma jaikuaá ha´e opyta
yguyrete mborai, jeroky, jepoka ha´e javirupi
vy Ikora onhembojekuaá rupi vy.
Mba´ere nda´u amongue opyta mavy
onhemboty ha´eae vy opamba´erami vy
(onhembojekuaá) ha´e vyrima novãein rã nda´i
joapyia voi tuvija anhentem gua ara kuaá revy
vyma oikuaá ha´e oendu kuaá o´ã arandu voi.
ÑEWÍEDA:
THE ANTHROPOMORPHIC
GET ALONG GANG1
1 • ALGO COMO “ARMANDO O MOQUÉM A TURMA
DE ANTROPOMORFIZADOS SE DÁ BEM”.
ÑEWÍEDA:
THE ANTHROPOMORPHIC
GET ALONG GANG1
1 • ALGO COMO “ARMANDO O MOQUÉM A TURMA
DE ANTROPOMORFIZADOS SE DÁ BEM”.
52
53
Não me importo: vou contente
toscamente improvisando
na minha frauta de barro.
Ha´eramo tein ha´e javive
ojojairei, ndogueroiaai
kova´e nhemombe´ua xeuare,
Tovete katu: avy´a reve aata
ha´e ramove ojapo
nhaixa´a he´y aguerupi
Xee mimby yapo guigua reve.
(BACELLAR, 1998, P. 23)
(BACELLAR, 1998, P. 23)
–
–
O mel entra em tudo que é doce, entra
em tudo para que fique melhor na vida:
acalmar nossos espíritos, tirar energias
negativas. Vestir o mel é uma forma de
se blindar das coisas negativas que nos
rodeiam. Estar banhado com o mel é
estar com a roupa do mel – fazer com
que nosso corpo e o mel sejam um só.
Primeiro porque a abelha é brava, guerreira e, ao mesmo tempo, doce, como
são os povos indígenas.
Ei oike opa mba´e hen´en va´e re,
oike ha´e javire oin porã aguã teko
py: ombopiro´y nhande nhen´en,
omboi mbaraete porã ein va´e omoi
ei ha’e va´e ma ha´erami mavy overa
mba´emo porã ein nhande mbojere.
Nhain ajau ei py mavy ei hao reve ain
– ojapo aguã nhande rete ha´e ei
petein rami aguã. Jipy ma kavy ma
ivaija, xondaria ha´egui, he’i, mbya
kuery rami há´e.
(TERENA, 2021, P. 31)
(TERENA, 2021, P. 31)
E mesmo que toda a gente
fique rindo, duvidando
destas estórias que narro,
MELIPONA SCUTELLARIS:
CONSTRUÇÃO DE COLMEIAS
E NÃO APIÁRIOS
EIRU PINDORAMA PYGUA:
OJAPO HETARÃ EIRU YVYMBOAE
PYGUA RAMIN HE´Y
As linhas que cachoeiram a partir deste
ponto trazem em suas águas memórias
que carrego comigo até o céu desabar. Aos
mestres Feliciano Lana e Higino Tenório que
ensinaram a olhar para as águas e nelas
singrar até o mar.
O desaparecimento do narrador com o
nascimento da modernidade ocidental ainda
não chegou nas aldeias do Rio Negro, me
desculpe Walter Benjamin. A capacidade de
intercambiar experiências e as transformar
em flechas que perfuram os ouvidos ainda é
viva em nós. A narração é o mel que veste e
articula uma nova comunidade de ouvintes:
a arte ocidental. E como mel, pode ser alucinógeno, veneno ou cura. Dependendo da
abelha que o vomitou nas cápsulas do favo.
O artista-abelha que está sendo colocado em colmeias pelo Brasil, sendo nativobrasileira, não tem ferrão. Produz mel
medicinal que ajuda a curar as feridas e queimaduras coloniais, a partir de suas próprias
Inxã rupi yakã xyry, oou arandu kue´i ma
jaraa xereve koo yvypy re iguepeve. Huvixa
Feliciano Lana ha´e Higino Tenório ombo´e
yy re oma´e aguã nhama´e puku ravy
yyguaxu re omombe´u va´e okanhyague
oikoague aynguigua kuery yvy mboare.
Novaein teri tekoa Rio Negro py,
xapy´a vy Walter Benjamin. Ojekuavee
rovy nhemboekoia oaxague ha´e gui ojapo
aguã hu´y oaxa aguã ijapyxa re ha´e tein
oikove teri nhandere. Omobe´u va´e kue ei
onhemonde ha´e jopive gua.
Oendu va´e: mba´evyky yvy
mboaeregua. Ha´e ei rami, ha´ve avei
nhanemoakã avã, ha´e omoguera a.
Mava´erã eiru ombojevy ei rentã ryru py.
Eiru bavyky kuaa omoi eiru jeroguata
pindorama rupi, pindorama rengua ete yvy
rupa, re ndoguerekoi ipopia. Ojapo ei moã
rami oipytyvõ omoguera aguã okaiague
yvy mboaere regua kuery, ha´e onhembo
pereagui. Ivoty omomendaa ka´aguy
Ñewíeda: the anthropomorphic get along gang1
Denilson Baniwa
1 � Algo como “armando o moquém a turma de
antropomorfizados se dá bem”.
Ñewíeda: the anthropomorphic get along gang1
1 � Há´evy virami ‘’omo nhexyrõ moquém joapy gua
joekore onhembo´e va´e kury ma joguero vy´a.
cicatrizes. Polinizando uma floresta inteira
que agora é descoberta por curadores, galeristas e críticos. Sem ferrão, artistas-abelhas
defendem-se mordendo seus predadores.
Devorando o outro para que exista a possibilidade da progênie.
Em comunicação com outras abelhas,
criam narrativas que Benjamin amaria escutar.
Operárias de sua comunidade, abrem caminhos para outras abelhas. O devir do mel
contra a cana-de-açúcar colonial. Abelhas
como Feliciano Lana, Higino Tenório, Gabriel
Gentil juntam para em memória construir uma
história que os artistas indígenas contemporâneos possam vestir de mel a História da
Arte. Como Luiz Bacellar, mesmo que toda
gente branca ria e duvide das histórias que
narramos, não importa, improvisaremos em
nossas frautas de pã.
ha´ejavi ayn gui oikuaa nhomongueraa gui,
mba´vykyro oin va´e iraja, ipopia reve´y eiru
ba´vyky kuaa kuery ojepyvy oixu´u hovaigua
kuery. Joe okaru vy ikuai aguã ijupe ramo
ojee regua kuery ikuai ve aguã.
Amboae kuery reve oje´a ramo, ojapo
omombe´ua va´e Benjamin oayu va´e rã.
Mba´eapo va´e ojeegua rery, oipe´a tape
amboae eiru kuery pe. Ei jojorami he´yn
heéa takua re´en ku´i kue yy mboae regua
rovai. Eiru rami Feliciano Lana, Higino
Tenório, Gabriel Gentil omboje´a arandu
kue´i ojapo ymã kuaa kue´i mba´vyky
kuaa ayn guigua kuery nhandekuery
onhemonde ei py nhemombe´ua py
mba´vyky. Luiz Bacellar, aheramo tein
pave jurua ojojai ha´egui ndogue roiai
mobe´ua re tein Nhemboeteve, jekuapota
ranko houa rami mimby pã.
DONOS E DUPLOS:
QUER LAMBER O MEL,
ME COMPRA FLORES ANTES
IJKUERY MOKOIN:
OERE XE EI, XEVY
EJOGUA´I RANHE YVOTY
Vamos anotar essas questões para o
momento. Falamos aqui do tempo em
que tudo poderia ser tudo. Falamos de
um tempo em que as coisas mudavam
de forma sob outras circunstâncias. É
desse tempo que vem Makunaima. Aliás,
ele vem de um tempo anterior.
Ayma nhambopara ayn varã.
Nhandeu apy ara ha´e vy ha´ejavi
rangue ha´ejavi. Nhandeu ara reve
oguerovaa mbaexa pa amboa´e.
nhembojere jepia kova´e ara oou
Makunai. Ha´é gui, ha´e oou
amboa´e aragui.
(ESBELL, 2018, P. 21)
(ESBELL, 2018, P. 21)
É preciso entender que quando se trata de
índio2 não é de bom tom entrar na roça alheia
e pegar uma fruta sem pedir permissão ao
dono da plantação. Cruzar a fronteira do
parentesco e “caçar nos territórios de um
chefe vizinho pode levar a complicações de
ordem geopolítica” (Cesarino, 2010, p. 149).
Então qual seria o motivo de ter aceito a arte
ocidental entrar em nossas malocas e dela
roubar objetos e decoração para construir
turning point na carreira de diversos artistas
brancos, ao ponto de mudarem a própria
História da Arte? Ainda é preciso compreender outros aspectos da arte indígena.
Enquanto na arte ocidental o autor da obra é
o próprio artista, esta afirmação não funciona
no mundo indígena, pois em vários casos, o
Jekuapota jaikuaa aguãpy ha´erami
opyta nhande vype2, daevei jaike
aguã roka py ha´egui jajopy yvyra´a
nhamporadu he´y re ija pe. Oaxa aguã
mboja´o nhanerentara kuery yvy raky
kue oo huvixa yvy´i ma oguera´a haxy ve
tembiguai teko jogueroau are (Cesarino,
2010, p149). Havy mbaexatu mba´eixa
pa oikoa ojeja mba´e vyky yvy mboaere
oike aguã nhande oin ha´e gui imonda
mba´emo rei ha´e ooguy ombojegua
ojapo aguã ary ovaa reguare oguataa
regua ba´vyky kuaa kuery jurua kuery,
opyta aguã ojapo imba´e vyky kua
va´e? Há’e tein oinkonteve oikuaa
ve aguã amboakue mbaevyky mbya
mba´e. ha´erami reve amboae yvyregua
2 � Aqui uso “índio” como provocação. Poderia usar
indígena, originário, entre outras formas de apresentar os
povos que originalmente ocuparam este território. A palavra
pouco importa quando o objetivo maior é a retomada. Aliás,
em retomadas, quanto menos identificados estivermos,
menos chances de retaliações.
2 � Apy jeporu “nhande va’e” Mba’eta nhapenarei.
Jaiporu rangue nhandeva, apyguae amboae rami rei
nhanemoenonde xerentarã kuery pe apyguae vy nda
apy yvyre. Ayvu ma kyrin ma mba’eyn mba’ere nda’u
jarojevy apy vy ma jaru. Va’eri nda, jaruju jevy, mava’eve
ndoexai vy ma vy roiko mavy, opareima vy nda jaupiapy
54
55
dono da arte não é o artista que a reproduz
em tela ou corpo. Existem vários donos da
arte, a Jiboia por exemplo.
Em um evento realizado no Rio de
Janeiro, o mestre Ibã Huni Kuin3 foi questionado sobre como ele havia aprendido
a desenhar e pintar, se ele havia tido um
professor de artes. De pronto ele respondeu:
quem me ensinou foi a Jiboia. Sem entender
nada, a pessoa que havia perguntado insistia
em querer saber quem havia lhe ensinado a
pintar. E a resposta era a mesma: quem me
ensinou a pintar foi a Jiboia.
Estabelecer filiações, influências,
escolas, tradições são procedimentos
que organizaram a disciplina e, apesar
de todas as tentativas de repensá-la em
termos menos evolucionistas e canônicos, o “demônio das origens” sempre
permanece à espreita. [... ] O exercício
de refletir a respeito desses modos de
pensar, compreender e criar, alheios
àqueles que a disciplina da história da
arte naturalizou, é fundamental para seu
processo de autocrítica, de provincialização (em oposição ao movimento de
globalização), descanonização.
(PITTA, 2021, P. 39)
Ainda não cabe ao Ocidente compreender
“saberes” que não passem pelo aval da
Academia. Por outro lado, a pragmática do
mundo branco lhe dá direito à Academia
para entrar em nossas roças e delas roubar
pequenos cachos de arte que encontram pelo caminho, a isso dão nomes de
pesquisa, coleta de dados ou prática artística. De modo que cabe aos artistas indígenas uma resposta, que veio da captura
da arte ocidental para que, como espelho,
o Ocidente se reflita e crie uma crítica das
práticas coloniais que atualmente ainda são
aceitas institucionalmente.
A arte ocidental, mixada a partir de
práticas culturais indígenas, torna-se o duplo
do artista indígena. Onde o dono da arte e
o artista reelaboram a resposta em forma e
3 � Ibã Huni Kuin (Isaías Sales) é um txana, mestre dos
cantos na tradição do povo Huni Kuin. Ao tornar-se
professor na década de 1980, aliou os saberes de seu pai
Tuin Huni Kuin aos conhecimentos ocidentais, passando a
pesquisar na escrita a sua tradição junto com seus alunos.
Ingressou na universidade (Universidade Federal do Acre,
Cruzeiro do Sul, AC) em 2008 e criou o projeto “Espírito da
Floresta” visando, com seu filho Bane, pesquisar processos
tradutórios multimídia para esses cantos, compondo o
coletivo MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin.
mbavyky mbaé ae mbavyky japoá, kova´e
ijeu anhente guarupi ma mbya rentã
py ndojopyi, hetá nhomboyurei apy,
mba´emo re, ombavyky va´e ma ndojapoi
ojeapo ajukue moata mbyre re ha´e tete
re. Oikoma hetá mbavyky.
Mboi guaxu reguã gua´u. Peteín
nhemboaty Rio de Janeiro py, huvixa
Ibã Huni Kuin3 oo ijeu ha re´i mbaeixa pa
omboxekua rangã ha´egui omopyntã áre,
mbavyky regua. Haé vy ma ije´u xembo´ete
va´ekue ma mboi guaxu. Mba´eve ndoi
kuaai tein mbara ha´eva e oporandu va´é
kue oporandu veju oikua aguã mova´epa
ombo´e omopyntã aguã. Ha´eramiae: ha´e
kuerami haeju ijeu mboi guaxu haema
xemboe amopyntã aguã.
Nhanhemoiru vy omboeuka aguã
nhandereko mbo´e i rupi vy ojapo
nhembo´ea, opaixa ma onhenha´ã
nhanhemogueta ve mbeguei ve
rupi jererua monhepyrun mo´ãmba,
ha´eanhã monhepyrunvy kova´e va´erã
raka´e. [... ] vorenha´ã nhemonguetavy
nhemboete mirami nhemogueta, ha´e
vy oikuaa heravy vy ojopoi, nhomoirun
heravy vy ha´e nhambo´aje nhemobe´u
aguã py mbavyky onhembopyta,
ha´ema anhenteguã nhemboguata
jeuarei rupi, jaiko´a yvy rupi(ha´egui
guata yvy javere ), omboyraija rive
(PITTA, 2021, P39)
Ha´erami tein amboae yvy regua kuery
oikotevea ‘’arandu’’ ndovaxai va´e
omboa´eve rapytere. va´e ri tein, oike
aguã nhande roka re ha´egui ha´e re
imonda kyringue´i mba´evyky japoa ojou
henonde re, ha´e omboery, mba´emo jae
kaa, omboaty mbavyky japokua. Ha´erami
ma ópa mbya mbavyky japokua kuery
re, ha´e vyma oou oguera aguã mbavyky
amboa´e yvy mba´era, epeko rami,
amboa´e yvy re o ma´engui oikuapa gui
iraja yvy mboae py guaguery omboete
ojapo petein tein nhemboaty.
3 � Ibã Huni Kuin (Isaías Sales) oporai’i va’e, mborai
ruvixa Huni kuin rekopy. Ojevy vy nhombo’ea py 80 py,
nhomuirum vy ijarakuaa guu reve vy Tuin Huni Kuin yvy
mboaegui ogueru oikuaa aguã, oikua xevevy oaxaá
kuatia parapy guekopy vy joupive. Jogueraa nhembo’ea
ve aguã py (Univrsidade Federal do Acre, Cruzeiro do
Sul, AC) há’e 2008 nhepyrum Mba’ea poa Nhe’e Ka’aguy
re oma’em, gua’y reve Bane, nhemboeve vy jekuapota
vy nhoverõ mombe’u ojekuaa va’e rupi gua vy oporai,
joorami vy MAHKU – Omyin Mbavyky va’e Huni Kuin.
conceitos que rompem o que é tradicional
e contemporâneo. Ao artista branco cabe
suas práticas e se ainda insistem em serem
“influenciados” pelos índios, que agora o
façam em parceria, não mais do lugar de
salvador da cultura indígena. Do artista que
dá voz e silencia.
ELE É DESCENDENTE DE JAPONÊS?
ABAIXO DOS TRÓPICOS TUDO É
CÃO DE COMPANHIA
É muito comum as pessoas quando
querem se aproximar de mim perguntar:
você é japonês? Por acaso você não
é irmão do Tanaka? Diante de minha
negativa o estranho continua: Se não
é japonês, embora pareça com um, só
pode ser chileno, boliviano, peruano.
Usted habla español?
E novamente nego a pergunta e o meu
interlocutor parece ficar assim meio, meio
desnorteado. Ora se você não é japonês
e se você não é chileno, boliviano,
peruano então você só pode ser índio.
(MUNDURUKU, 2020)
A presença indígena na sociedade foi tão
invisibilizada que ainda não somos reconhecidos dentro do mundo por aqueles que se
acostumaram com a ideia de que lugar de
índio é na floresta, bem longe da modernidade. Por não nos caber a posse de ferramentas que nos foram negadas, demora um
tempo até que nos reconheçam capazes de
estarmos em lugares que antes não pisaríamos. O artista indígena carrega o fardo do
ineditismo, do representar todos os povos
indígenas do mundo (mesmo que ele não
consiga), cabe a ele responder a todas as
perguntas para as quais a arte ocidental
ainda não tem respostas. É exigida a famigerada resiliência. Não deveria.
Até que nossa presença seja evidente ao
ponto de não sermos confundidos por outros
estereótipos raciais, a mim e aos outros
artistas indígenas que vestem seus duplos
antropomorfizados apenas deveria caber o
protagonismo de, como ñewíeda4, construir a
sustentação para que o moquém esteja firme,
e nele assar o banquete antropofágico que
trazemos em nossas mãos, ainda que seja de
dois em dois anos ou em centenários.
4 � Ñewíeda, em baniwa a armação feita de três varas
montadas em forma de triângulo para sustentar o moquém.
Mba´vyky japoa amboae yvy regua
kuery, ha´e gui mbya reko, ojejapo aguã
mokõin mbya mbavyky. Ha´evy mbavyky
ja ma ojaapoveravy omobeu aguã
haveapy omboi ba´e pa há´eregua ete guá
ha´egui. jurua imbavyky va´e re oin imba´e
nhembo´ekua há´etein onhea ãn reí “ojeko
mbo´e aguã” mbya kurey, ayn ma ojapo
joapy, va´eri nda´evei ha´evaé gueraá
jepeá mbya reko. Ha´e mbavyky ome´en
ayu ha´egui omo kyririn.
HEXA PIKUA VA´E REGUA KUERY PA?
YVY VEKATY PENTEIN HENDA PY OJAPO
OGUEROAYU ARÃ JAGUA PE
Ha´e rami riae xereve onhemboja
xea va´e opo randu aguã: ndee nha´ã
hexa pikua´i regua? ndee nha´a
tanaka regua?
Ndajouporãi iare ae´xa ty he´y ijeutema:
ndee hexa pikua´i va´e he´y riramo,
yvy mboae kuery ramirei tein, chileno,
boliviano, peruano. ndee nha´ã ddeu
espanhol py. Ha´e ramõ anyin ha´eju
oporanduague pe ha´e omombe´u porã
ve va´e oguatariverei va´e. kua nde´yma
hexa pikua´i ha´e vy ha´e ramo ndee
ma chileno, boliviano, peruano ha´e´yn
ramo ma dee nhande´i va´e ju reiko
Nhande kuery ko jurua kuery reko py ramo
nhamovyyin vaipa vy ha´e kuery oikuaa
rupi vy oexa´a ha´e kuery nhande yvy rupa
rupi vy ma ha´e kuery ogueroayu nhande
kuery manje nhanderekoa ka´a guyre,
mombyry ayn guigua gui ramo. Ha´e rami
vy nhande mboyke koo jaiporu kuaa va´e
gui nhandererova xe vy, hare vaipa hagui
maema jaikuaa heravy aguã py ma nhavae
nhavarama jaikuapotarã varã jaikoaty rupi
he´y guive jaiko. Nhandekuery mba´vy ky
kuaa va´e ojaxei heruvy vy, jypy ramo va´e
mirami ju ogueru, vy pavê mba´e yvyjave
re nhande (kuery pyju opyta ha´e vy rima
ipoyi), ha´e vy rima onheporandu va´e
ra ha´e javi re vy mba´vy kya yvy mboae
pygua ayn peve ndojoui omombe´u aguã.
Ombopytu raxy ha´e ndojevy kuavi guive.
Ha´e rami he´yn rangue. Jaikuaa porã
peve rangue ha´e rami vy nhavaen aguã
jekorea he´y aguã py nhain aguã ha´e rami
vy py nhananemboykey aguã py nhain, xee
ha´egui amboae mbya imbavyky va´e omoin
imba´e mokoin gue onhemboape ha´e rive
56
57
REFERÊNCIAS
BACELLAR, Luiz. Frauta de Barro. Quarteto / Obra reunida.
Organização e estudo crítico por Tenório Telles. Manaus:
Editora Valer, 1998.
BACELLAR, Luiz. Sol de Feira. 3 ed. Manaus: Editora
Puxirum, 1985.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua
reprodutibilidade técnica. In: CAPISTRANO, Tadeu (Org.
). Benjamin e a obra de arte: técnica, imagem, percepção.
Tradução: Marijane Lisboa e Vera Ribeiro. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2012. p. 11-42.
rãngue opa re, mba´eixa ñewíeda4, ojapo
onhembaraete mba´erã Moquém oin hantã
aguã, ha´egui ha´e va´ere oexy ha´e jareko
va´e nhandepopy, ha´etein ma mokoin
mokoin ha´e´yrã hetaa re.
PETEIM RUPI VARÃ
BACELLAR, Luiz. Frauta de Barro. Yrundy / Nhembiapo
Joapy. Nhemoirun Nhembo’e iraja por Tenório Telles.
Manaus: Editora Valer, 1998.
BENJAMIN, Walter. O Narrador: Considerações Sobre a
Obra de Nikolai Leskov. Obras escolhidas I. Trad. Sérgio
Paulo Rouanet. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2012.
BACELLAR, Luiz. Kuaray mba’emo venoenoa. 3 ed.
Manaus: Editora Puxirum, 1985.
CESARINO, P. N. Donos e Duplos: relações de
conhecimento, propriedade e autoria entre Marubo. Revista
de Antropologia, v. 53, n. 1, 2010, p. 147-197.
BENJAMIN, Walter. Tembiapo mbavyky javeramo
monhemonha. Benjamin e a Obra de Arte:
Jejapokuaa, ojekua va’e, onhenhandua. Trad. Marijane
Lisboa. Tadeu
ESBELL, Jaider. Makunaima, o meu avô em mim!
Iluminuras, v. 19, n. 46. Porto Alegre, 2018.
FOLHA DE S. PAULO. Banqueiro José Olympio, à frente da
Bienal, perdeu sua esperança com Bolsonaro. Disponível
em: https: //www1. folha. uol. com. br/ilustrada/2021/03/
banqueiro-jose-olympio-a-frente-da-bienal-perdeu-suaesperanca-com-bolsonaro. shtml Último acesso em
18/07/2021.
MUNDURUKU, Daniel. Japonês, peruano ou índio. Canal
Daniel Munduruku no Youtube. Disponível em: https: //
youtu. be/bTPYu1t0S18. Último acesso: 17/07/2020.
PITTA, Fernanda M. Uma casa de minha. Conceição dos
Bugres: tudo é da natureza do mundo. Org. editorial e
curadoria de Amanda Carneiro e Fernando Oliva. São
Paulo: MASP, 2021.
TERENA, Naine. Uma artista Kaingang (? ). Conceição
dos Bugres: tudo é da natureza do mundo. Org. editorial e
curadoria Amanda Carneiro e Fernando Oliva. São Paulo:
MASP, 2021.
BENJAMIN, Walter. O Narrador: Considerações Sobre a
Obra de Nikolai Leskov. Obras escolhidas I. Trad. Sérgio
Paulo Rouanet. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2012.
CESARINO, P. N. (2010). Donos e Duplos: relações de
conhecimento, propriedade e autoria entre Marubo.
Revista De Antropologia, 53(1), 147-197.
ESBELL, Jaider. Makunaima, o meu avô em mim!
Iluminuras, v. 19, n. 46. Porto Alegre, 2018.
FOLHA DE S. PAULO. Ipire va’eja José Olympio.
Tenondere mokõim my, omokanhy
Nhema’ená Bolsonaro re. https: //www1. folha. uol. com.
br/ilustrada/2021/03/banqueiro-jose-olympio-a-frenteda-bienal-perdeu-sua-esperanca-com-bolsonaro. shtml.
Nhavãe aty 18 ara ymã mbyre 2021.
MUNDURUKU, Daniel. Exapikua va’e, há’e gui peruano,
nhande va’e. Daniel Munduruku ma oin youtube py.
Nhanearõ vy: https: //youtu. be/bTPYult0S18, Omboaxaá
ma 17 ara mbyte pyaure 2020
PITTA, Fernanda M. Petein oo xero. Conceição dos
Bugres: Opa mba’ema ka’aguy gui yvy javere / org
editorial e curadoria Amanda Carneiro e Fernando Oliva.
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. São
Paulo: MASP, 2021.
TERENA, Naine. Uma artista Kaingang (? ). Conceição
dos Bugres: Opa mba’ema ka’aguy gui yvy javere / org
editorial e curadoria Amanda Carneiro e Fernando Oliva.
Ymanguare mbavyky moin porã ty São Paulo py Assis
Chateaubriand. São Paulo: MASP, 2021.
4 � Ñewíeda, baniwa py ma ombojopia pa vyma mboapy
ojokua omomgora mboakua omboupa aguã moquém.
JARDIM DO
PENSAMENTO
YVYRA GUYRE
NHEMONGUETAA
58
59
Este meu jardim não tem muro, nem
casas à volta, está disposto a crescer
à medida que eu o atravessar, uma,
duas, três, centenas de vezes. É um
lugar? É uma fonte que comunica com
o espaço? É um texto a ler? É o jardim
que o pensamento permite?
Maria Gabriela Llansol
Com esta epígrafe quero iniciar uma pequena
reflexão sobre as artes visuais contemporâneas dos povos indígenas, porque a imagem
de um jardim selvagem, colhida na obra da
escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol
(1931-2008), serviu-me mais ou menos de
lanterna, desde o início de minha aproximação de terras indígenas. O que uma
professora universitária branca poderia
encontrar nas aldeias-florestas de signos
que configuram as línguas dos índios? Digo
línguas, usando o conceito semiológico do
antropólogo Gersem Baniwa, que considera
as múltiplas linguagens (visuais, sonoras,
verbais) como aspectos de uma língua (a
“pura língua” segundo Walter Benjamin? A
que permanece, intraduzível, nas traduções?):
Maria Inês de Almeida
Assim, para os Baniwa é também o meio
pelo qual se comunicam com outros seres
do mundo e com o próprio mundo, uma
vez que, para eles, a comunicação entre
os seres é o segredo para o equilíbrio
do mundo cósmico. Escassez de caça,
por exemplo, pode ser resultado de uma
falta ou uma ineficiência de comunicação
entre os pajés e os espíritos superiores
das caças. Mas essa comunicação com
o universo não é exclusividade dos pajés.
Todos os humanos, segundo as cosmologias indígenas, devem permanentemente
manter essa comunicação. A comunicação, a linguagem e o diálogo são,
portanto, essencialmente da ordem espiritual e transcendental. (…) Diferentemente
do pensamento evolucionista, os povos
indígenas concebem as línguas como
parte inerente ao processo original de
criação. A capacidade de construir uma
língua é um dom recebido no processo de
criação do mundo. Cada povo recebeu,
em potência, uma língua de comunicação.
Mas a língua indígena é um patrimônio
em permanente construção, manutenção,
mudança, aperfeiçoamento, atualização
e complementação. Pode-se dizer que,
Koa’ema Yvyra nhemonguetaa, a
ndaipoi ojejoko va’e rã Kova’e oiko
iporã va’e, nin katy ojere rupi oin
teim, ndaxereko pityi axa ramo jave,
mokoi, mboapy, heta kue teim. Oīa ty
ae ma? oīa gui ae omoexaka mba oia
py? Peteim kuaxia nhemboayvu aguã
pa? Yvyra nhemonguetaa ma oeja?
Maria Gabriela Llansol
Kova’e mboypy nhexyrõ ma vy anhepyrum
tá mba’exa pa tembiapo jaexaa aguã ayn
nhande kuery rembiapo, Maria Gabriela
llansol ( 1931-2008) ombopara va’é kue
gui. Xevy pe omoexakã rei ve, tekoa rupi
anhemboja aiko jave. Mba’exa tu xee yvy
po kuery regua anhombo’ea rupi gua aexa
rã tekoa- ka’aguy re oī va’e ayvu? Gersem
Baniwa mby’a nhemoexakaa rupi rei há’e ma
tekore opena va’e oiko, ha’e heta ayvu oīa
oexauka( onhendu va’e ayvu, ta’anga ojejapo
va’e) kova’e ma nhandeayvua meme rami ae(
ayvu anhetengua) Walter Benjamin mba’e’ia
rami? Kova’e ayvu namboekovia aguã
amboe ayvu rupi haxy rei ma nambopara?
Peixa vy ae ma Baniwa kuery nhe’ē
marae’y va’e reve jogueroayvu, há’e gui ko
yvy vai re ikuai va’e reve avei. Kova’e ayvu
nhendu rupi ma nonhemombe’ui
Peixa vy ae ma Baniwa kuery nhe’en
marae’yn va’é kuery reve jogueroayvu
há’e ko yvy vai re ikuai reve avei.
Kova’e ayvu ma nonhemobe’u´i mava’e
ve pe ara rupa jeko mongueta va’é kue.
Ayn rei nhi’ã jeporaka’i aguã amongue
py rive ma, karai kuery noporandu
vei ma mymba’i kuery ija ete pe.
Kova’e nhe’en neporandu ma karai
kuery pe anhoe’yn. Nhande kuery avei
nhaporandu. Kova’e ayvu ma jareko
heruvy. Jypy’i opamba’e nembojera
jave voi. Peteim teim ayvu oguereko
vy ma, peteim rami oveno’ã aguã.
nhande kuery ma oayvu ae oguereko,
há’e gui ae avei onhemoī porã ve ovy,
aý gua rupi guive ombojoapy eravy
oiny. Pavē nhande kuery ayvu rupi ma
nhe’en kuery ayvu gui ae. Yvy rupa
reko onhemoim porã ve ovy, há’e rami
ae avei nhande ayvua.1
1 � BANIWA, Gersen Luciano. Ayvu, nhembo’ea ma
ha’e javire rupi vy oarõ reima vy nda indígena. Revista
de Educação Pública, v. 26, n. 62/1 (Ara pyau mbytere.
2017) Cuiaba re. EdUFMT, 2017, p. 298.
segundo algumas mitologias indígenas,
o mundo é resultado de um processo
contínuo de comunicação dialógica e
dialética dos seres criadores e criaturas.
O mundo está sempre em construção e,
junto, as línguas.1
Um jardim selvagem é onde as ervas daninhas, as medicinais, as comestíveis e as
simplesmente belas se encontram numa
harmonia invisível para olhos ocidentalizados.
Enxergar aldeias indígenas, atravessar as
fronteiras de nossa desgraçada e sofrida civilização urbana, entrar na floresta de signos,
de tão difícil leitura para forasteiros, será a
condição sine qua non do pensamento no
Brasil, esse país sempre fragmentado de
muitas línguas? Sem o exercício da tradução
impossível, sem o contato com mundos irredutíveis à língua portuguesa, acho que não
haveria nenhuma literatura ou arte brasileiras.
Pensemos então na grande revolução
imagética que constituem as mirações da
ayahuasca e os yãmĩy do povo Maxakali.
Existentes-não-reais, seria o termo llansoliano para essas virtuais figuras dos mundos
indígenas. Figuras que resistem ao lugar de
“personagens”, nos pactos ficcionais de uma
civilização que a tudo assimila e reduz ao
cinza do realismo — este modus operandi
que joga as obras de arte no ethos judaico-cristão: o homem, imagem e semelhança do
onipotente Deus, a quem este deu a prerrogativa de inventar cópias mal ou bem sucedidas. Ao reverso desse humanismo totalizante, os indígenas criam figuras, em suas
obras, que entram no estético convívio como
vivos no meio de vivos, sem hierarquias.
Com as obras que os indígenas expõem
na cidade – sobreimpressão textual da aldeia
no mundo urbano e moderno – chegam as
línguas dos povos, aquelas que devem ser
desdobradas e lidas. Assim, pinturas, esculturas, filmes, desenhos, fotografias, que se
apresentam na contemporaneidade como
manifestações indígenas, a meu ver, deveriam ser vistas como irrupção de mundos
com suas línguas, intervenções bárbaras.
Estética orgânica, marginal e, à sua maneira,
épica. Vozes e paisagens das aldeias chegam
às cidades para anunciar uma boa nova:
humanos selvagens resistem no jardim que o
pensamento permite.
1 � BANIWA, Gersen Luciano. Língua, educação e
interculturalidade na perspectiva indígena. Revista de
Educação Pública, v. 26, n. 62/1 (maio/ago. 2017) Cuiabá,
EdUFMT, 2017, p. 298.
Moã porã ikuai va’ea rupi nai maraim
oinya py yvy pó kuery oexa aguã rupi
he’ý oin. Jaexa nhande kuery rekoa,
tetã rekoaxy jaeja jaxa jaike javy aguã
ka’aguy re, haxy rei ma jaiko rive’i va’é
pe exakaa aguã. Kova’e onhemoim Sine
Qua Non onhemomby’a apy Pindorama
py. Apy ma heta ayvu oin? Kova’e
ayvu rupi ma noronhea’ãin ramo haxy
nhamboaxa aguã heta va’e kuery ayvu
py. Ayvu anhetengua nonhemboaxai
va’é rire aý kuaxia re noin rangue va´eri
tembiapo regua ma noin rangue.
Jaexa nhande gui arandu ve va’é
reko yxypo ygua memoexakaa rupi
há’e yãmīy maxakali mba’e. Nhande
kuery reko py ma oikuaa oiko ve va’e,
anhetengua va’e, há’e ndaipoi va’e.
Heta va’e kuery ramie’yn há’e kuery ma
yvy rupi gua rive oikuaa gueixa re rive’i
oikuaa, Cristão, judaiko kuery oikuaa
rami rive. Ava ra’angaa ma nhanderu
ra’angaa rami ae, ojeko mongueta gue
rupi ae iporã va’é há’e iporae’ý va’e avei.
Nhande kuery ma hembiapo ojapo oiko
ve va’e va’e mbyte rupi.
Nhande kuery tetã py hembiapo
oexauka aguã mba ’exa pa tekoa oin a
tetã reko rupi mbyte rupi-pavē ayvu ovaē
aguã, omboayvu vy ombojoja rei aguã
rami, peixa rami jeguaa, yvyra gui gua,
ta’anga, ta’anga pe’aa gui gua, jaexa aguã
ojapo va’e kue oexauka aý ikuai va’e kuery
pe, indígenas kuery gueko oexauka, aexa
ramo mbovy ayvu oī vy ojejapo rangue
mba’emo onhangareko há’e onhemokanhy
he’yn aguã. Kova’e ayvu iporã tekoa gui
ojereraa tetã re omombe’u nhemombyau
poraa. Nhande kuery jaikove nemomby’a
porãa oin a rupi.
Maio 2013 py ma aru kuaxia para
re ombopara va’e kue hembiapo va’e
kuery ojapo va’é kue ekue nhembo’ea
rupi gua, MIRA! aý gua nhande kuery
rembiapo. Mba’emo jekuaa potaa
oguerojeapo va’e kue ma Literaterras
centro cultural UFMG, aa Iquitos re, São
Tomás há’e Peva peve, há’e py ma aexa
Pablo taricuarima Cocama regua: Brus
Rubio Bora regua; Santiago Yachuarcani,
ta’y Rember reve, há’e ta’yxy Nereyda
Lopes Huitoto regua. Ngoo guekoa py
avãe, xe kuaxia amboparaa vae kue
arojeapo aguã rupi aiko jave. Kova’e gui
ae ma xevy pe onhemoexakã aexa aguã
mba’exa pa indígenas kuery rembiapo
onhemboayvua.
60
61
Quando, em maio de 2013, estive
buscando as obras dos artistas que participaram do projeto de pesquisa, ensino e
extensão MIRA! Artes visuais contemporâneas
dos povos indígenas, realizado pelo Núcleo
Transdisciplinar de Pesquisas Literaterras
e o Centro Cultural UFMG, fui à região de
Iquitos, especialmente Santo Tomás e Pevas,
onde me encontrei com os artistas Pablo
Taricuarima, do povo Cocama; Brus Rubio,
do povo Bora; Santiago Yahuarcani, seu filho
Rember e sua mulher Nereyda López, do
povo Huitoto. Conhecer a casa, a aldeia, a
família desses artistas, assim como de todos
os demais que pude visitar na realização
do projeto, foi uma experiência que mudou
minha forma de ler as artes visuais indígenas.
Depois de visitar a aldeia da família
Yahuarcani, quando eu já estava embarcando
no porto de Pevas, seguindo no rio Ampyacu
para Pucaurquillo, onde vive a família Churay
(do pintor Brus Rubio), Santiago me alcançou
e me entregou uma folha de caderno escrita
à mão com o texto que, transcrito e traduzido, foi usado como legenda de uma de
suas obras (“El corazon de los varones del
caucho”) na exposição ¡Mira! :
Entre 1903 e 1935, ocorreram atos de
barbárie que marcaram o presente e o
passado dos povos indígenas. Durante
mais de 30 anos, os indígenas padeceram o horror da morte, exercido pela
Peruvian Amazon Company ou “Casa
Arana”, um empreendimento que se
constituiu para a exploração do caucho,
ou borracha, nas selvas do Amazonas.
Para exercer essas atividades, Julio Cesar
Arana construiu um centro de coleta
em La Chorrera, Putumayo, atualmente
território colombiano, que foi a sucursal
mais importante do empório caucheiro.
Nesse lugar, a empresa liderou o genocídio em que mais de 40 mil (ou talvez 70
mil) indígenas de diferentes povos foram
exterminados, simplesmente por não
cumprir com a cota de caucho que lhes
era exigida. Homens, mulheres, crianças
e anciãos viveram esses anos sob
ameaças, assassinatos e torturas: foram
marcados a ferro com as iniciais C. A.,
da “Casa Arana” ; malocas inteiras foram
incendiadas com indígenas em seu interior. Os pais eram acorrentados e encarcerados junto com seus filhos – os pais e
as mães deixados morrer sem alimento,
por inanição, enquanto seus filhos viam
Yahuarcani avaē rire ma, aa ju ma
Peva katy, yy Ampyacu rupi, Pucaurquillo,
churay, ikuaia py (Brus Rubio rentarã kuey
ikuaia rupi) Santiago ma xerupity vy kuaxia
ome’ē ombopara va’ekue amboae ayvu py
ojapo pa va’é kue (Corazon de Los Varones
Del Caucho) MIRA omoin oexaukaa py.
1903 há’e 1935 py nhande kuery
ojexavaia gue. 30 ma’etý re nhande
kuery ojexavai omano okua py
omboetavea rupigua oiko já ve
Peruvian Amazon Compani “Arana
koty” Amazonas py karamboe. Kova’e
omba’eapo aguã rupi ma Julio Cesar
Arana ojapo peteim koty la chorrera,
Putumayo, ayn colombiano yvy rã rupi.
Kova’e onhemoingo jave ma 40, 70,
mil nhande kuery pe ojuka pa, joegua
he’ý he’yn nhande kuery pe omomba.
Omba’eapoatypy gua mba’e’ia rupi
ndojapoi xei vy. Avakue, kunhangue
kyri-ngue’i há’e xeramoi kuery pe
ombojexa vai, ojuka avei, kuarepoxi py
guive guete re ombopara C. A “Arana
Koty” nhande kuery roo omoendy pa
ipypy ikuai jave. Tuu kuery pe omoxã
há’e omboty ngua’y kuery reve-Tuu
kuery há’e oxy kuery pe oexa okaru
he’y reve omano okua py aguã. Ta’y
kuery oexa ikangy pa’i ramo. 50 ipoyi
mombe’ua nome’em ramo ipo, ipy
ojaya. Mombyry gui ogueru ipoyi va’e,
okarue’y re, hoy’u he’yn re, há’e ramia
rupi omano’ in okua py, omboy’u pa
avei naepytyeī vei peve, ombopia
rupi mbovye’ý omano. Omboy’u pa,
oijyryvi’o, guete oipe’ã mba jagua pe
ome’ē ho’u aguã. Amboe kuery ma
oiko ve reve oapy pa, guexa gui ve
ovenoē há’e omombo tepoxi kua py
typy vea py. Kunhangue ma mba’e
hapoja há’e mba’eapoja rembiguai
kuery oguero’a. Amongue ma oiko ve
reve omombo ytu guaxu py Lachorrera
amboae kuery okanhý mba. Kova’e
ma ojeaxa gue ay peve axy teri. Xera’y
Rember Yahuarcani há’e gui xee ma
Huitoto Áimenu japyre kue’i.
Ampyaku rupi aa ainy vy xepy’a re amoin
vy ombojexa vaia gue re nga’u kuery
Kova’e yy porã rupi. Há’e py mae aikuaa
hembiapo kuaa va’é ogueru jaexa aguã
mbovy’i oiko ve va’é ka’aguy regua’i, nhuū
ndy regua, tekoa rupi gua, tetã iporyau’i
ikuaia pygua, ma’etý reguao nhemboguata
seu padecimento. Ocorriam mutilações
de mãos e braços pela não entrega dos
50 quilos de caucho exigidos. Obrigados
a percorrer 80 quilômetros, carregando
enormes pesos, sem comer e nem beber,
alguns morriam. Por afogamentos e
açoites, tantos faleceram. Houve afogamentos e degolações, corpos esquartejados e dados aos cães, como comida.
Outros foram queimados vivos, tiveram
seus olhos arrancados com fios ou foram
jogados em fossas de 15 a 20 metros de
profundidade. Meninas indígenas foram
estupradas por seus patrões e capatazes.
Alguns foram jogados vivos na catarata
de La Chorrera e outros desapareceram.
Para os descendentes, esses são danos
não concluídos e feridas abertas até hoje.
Meu filho Rember Yahuarcani e eu somos
descendentes do povo Huitoto Áimenu.
Navegando no Ampyacu em direção à aldeia
Bora, imaginei o choque da escravidão
imposta pelos caucheros naquele rio belíssimo. Entendi como as artes plásticas nos
fazem enxergar um pouco as restantes vidas
nas florestas, nas caatingas, nos pampas, nas
aldeias, nas periferias das cidades, nos seringais, nas plantações… Sempre em trânsito,
os índios, buscando se engajar no comércio,
na escola, no Estado, finalmente, nas artes
contemporâneas ocidentais, para nelas inserir
suas línguas (palavras, ritmos, vozes, imagens,
movimentos). A lição de história dada por
Santiago – filho de Martha Yahuarcani, a desde
menina heroica líder que veio de La Chorrera
para Pevas – mudou a curadoria da exposição
¡Mira!,2 determinando a organização das obras
(pinturas, desenhos, cerâmicas, esculturas,
colagens, vídeos, fotografias) de forma a
contemplarem, além das cosmovisões e das
paisagens, o tema da violência.
Este relato de uma experiência com
artistas indígenas na UFMG quer servir para
trazer à exposição Moquém_Surarî a reflexão
sobre como estão imbricadas as éticas e as
estéticas, as histórias e as cosmologias, as
artes e as ciências. Quando os artistas Isael e
Sueli Maxakali, Nei Xakriabá e Ibã Huni Kuin
realizavam estudos e pesquisas conosco no
2 � ¡Mira! Artes Visuais Contemporâneas dos Povos
Indígenas foi um projeto coordenado por Maria Inês de
Almeida entre 2013 e 2015. Este projeto se desdobrou
em uma importante exposição homônima no Espaço de
Conhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais
entre setembro de 2013 e janeiro de 2014. Ver mais em:
https://projetomira.wordpress.com/. Último acesso em
10/09/21 Nota da editora.
riaea rupi índios kuery onhea’ã mba’emo
ojoguaa rupi, nhembo’eaty, heta va’e kuery
ruvixaa rupi, yvypo kuery rembiapoa rupi
guive, há’e py onhemoī aguã nhande ayvu
(ayvu, ayvu nhendu va’e, ta’angaa, guata)
Santiago kaxo gui ma ome’ē nhande
arakuaa aguã-Martha Yahuarcani ra’y.
Ixy ma kyrī gui ve ovixa’i rami ae ma oiko
há’e ma ou La chorrera gui Pevas katy
gua-MIRA2 py oexauka omoī porã ve aguã,
ae vea rami pora’ī ojapo opamba’e joegua
he’ý he’ý tembiapo omoī (jegua, ta’anga,
nhae’ū gui gua, ta’anga pe’aa gui gua,
ta’anga jexaukaa regua gui), Kova’e ae
javive oupity pa aguã, ara rupa reko regua,
ka’aguy mirim regua, jexavai regua avei.
Kova’e ma aikuaa nhande kuery
hembiapo meme gui ajopy UFMG py.
Ogueru okua py oexauka aguã MOQUEM
SURARĪ py varã. Onhemoexakã mba’exa
pa Kova’e reko, kaxo, ara rupa reko,
tembiapo regua jaikuaa aguã. Isael há’e
Sueli Maxakali, Nei Xakriaba, Ibã Huni
Kuin, onhembo’e okua py jave ore reve
Literaterras, Faculdade há’e Formação
Intercultural py. Há ‘e py upive kuery aiko
vy aexa ojera vy pindorama py ipyau’i
kuery jogueru tekoa gui, tetã re onhembo’é
aguã mba’exa tu “jurua” kuery onhembo’e
(ipara py, jeguaa heta va’e kuery mba’é
py): mbovy maetý rire ma mburuvia kuery,
arandu jovai gui, mokoi ayvu rupi ma
ikuai vy ma onhemoexakã ma tenonde
rã América Latina py. Ovixa’i kuery rupi,
Universidade py nhombo’ea va’e kuery, ore
kuery avei “nhande nhembopyau rapyta
reko” reve roo roiny. Ore vy pe ore moin,
hexakã mba marupipa roiko aguã. Kova’e
rupi roiko aguã ma roenoī ta indígenas
kuery nhembo’eaty rami.
Há’e vy ma ayn Univerdade pygua
kuery ome’ē ve aguã nhande kuery pe
onhembo’e aguã. Omba’eapoa ae javi,
joupive meme nhombo’ea kuery, oikuaa
potaa va’é kuery indígenas kuey, yvy
pó kuery avei. Joo py meme ikuai aguã
Universidade rupi. Há’e kuery ae py omoin
tape ymã guare rupi nhande kuery pe.
Kova’e ae rupi ma Ministério da Educação
2 � MA’EM! mbavyky nhema’em re vy ayn guiguare vy
nhande kuery” voi ma mba’eapoa re ogueraá vyma
Maria Inês de almeida vyrima 2013 e 2015. kova’ema
mba’eapo ojera vy oin nhenkotevem vyrima jexauka
ombovya regua ikatureiapy ogueraá ijarakuaá vy
nhembo’ea typy vy nhanderuvixa kuery mnba’epy Minas
Gerais py vyma ara pyau ouare vy 2013 arapyaure 2014
ha’eva’ema pexarã: https://projetomira.wordpress.com/.
opa’iva’ema oaxa 10/09/21.
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Literaterras, durante o curso de Formação
Intercultural de Educadores Indígenas (na
Faculdade de Educação daquela universidade), tive oportunidade de acompanhar um
processo que considero fundamental para o
surgimento, no Brasil, de um cenário da arte
contemporânea, em que talentosos jovens são
designados, apoiados e enviados por suas
comunidades às cidades para aprender novas
linguagens e técnicas com os “brancos”
(escrita alfabética, pintura com materiais
industrializados, webdesign, cinema, fotografia, etc. ). Generalizando, nos últimos 30
anos, com a força das lideranças indígenas,
a interculturalidade e o bilinguismo passaram
a ser conceitos refletidos nos avanços das
ciências humanas em toda a América Latina.
Seguindo tais líderes, como professores
universitários, nos metemos nessas “transformações indígenas”, nos colocando mutuamente num espaço, claro, transitório, mas
também definitivo, de uma virada epistemológica que não convém subestimar. Quero
chamar esse espaço de Escola Indígena.
Reafirmo aqui o papel fundamental da
universidade pública brasileira na legitimação
das artes visuais indígenas contemporâneas. As articulações e parcerias que certas
políticas públicas propiciaram entre educadores, pesquisadores e artistas indígenas e
não indígenas, nos espaços universitários,
são responsáveis pela abertura de muitos
museus e galerias para os povos indígenas.
Como exemplos dessas políticas, temos o
Programa das Licenciaturas Indígenas, criado
no Ministério da Educação em 2006, e o
sistema de cotas para o ingresso no Ensino
Superior, instituído na prática desde 2004
(primeiro na Universidade de Brasília) e regulamentado pelo MEC em 2012.
No centenário da Semana de Arte
Moderna, o MAM se alinha a esse passo de
letra na História do Brasil e mostra o que o
Abaporu, com seu pé enorme, anda escrevendo. Mais de uma centena de obras de
artistas indígenas, em várias linguagens e
suportes, expostas neste espaço público
referencial para o imaginário brasileiro, sem
dúvida, diz muito da corrosão nacional que
nem os modernistas podiam prever. A nação
brasileira teima em não se firmar em cima
dos massacres dos povos originários; as
fissuras, os trincos, as explosões, tudo diz de
um real que não pode ser suturado. E cada
obra da Moquém_Surarî, sob a batuta do
neto de Makunaimî, Jaider Esbell, vem dos
confins destoar no coro das metrópoles.
2006 py ojapo raka’e Oipe’amavy nhande,
onhembo’e va’e kuery oike rive aguã 2004
py( Universodade py ranhe oin) MEC ma
oexa kuaa 2012 py mae.
Pindorama py kaxo oi va’e regua
ipara va’e onhemoī aguã mbavyky ayn
guigua, MAM py ho’ara ovaē jave rupi
varã, oexauka aguã mba’exa pa Abaporu
ipy guaxu reve ombopara oiko vy,
nhande kuery rembiapo heta rei tá ikuai.
Yvypo kuery Pindorama pygua kuery ma
onhemombaraete xei okua py ombojexa
vaia gue rupi pavē onhemombe’u
nda’evei onhemboguejy aguã Moquém
Surarī rembiapo gui ijayvu ndovy’aia tetã
re onhemoingo katu ramo Makunaimī
ramamino Jaider Esbell.
A HORA
DA GRANDE
CAÇADA
Naine Terena
KOVA´E ÁRA
MA JEPORAKA
GUAXU OIKOTA
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65
A grande caçada já vem sendo preparada há algumas décadas, para não dizer
séculos. Vem sendo preparada de geração
em geração, através de corpos que surgem
na terra, de tempo em tempo, carregando
as energias cosmológicas que movimentam
e fazem com que a ancestralidade se
mantenha firme diante do caos. Podemos
observar isso, se pensarmos nos diferentes
momentos cunhados para se abordar a
história indígena no país, em que observamos a ascensão de líderes e agentes
capazes de manter o diálogo com a sociedade não indígena, de forma a fazer valer o
reconhecimento de sua existência e resistência. Não que sejam pessoas especiais, ou
diferentes das outras pessoas indígenas.
Povos indígenas resistem porque
existem. Ou existem porque resistem? Para
todos os momentos cunhados por estudiosos da temática, verifica-se que junto
desses grupos de indígenas/líderes agenciadores das falas, novos artefatos foram
incorporados por eles e por seus povos, para
fortalecer esse diálogo. Pelos mesquinhos,
tais incorporações são consideradas aculturações, mas, para os caçadores, são estratégias. Em produção própria, falo de um quarto
momento da história indígena no Brasil,
em que a ascensão das tecnologias de
comunicação as faz presentes agora como
elementos essenciais de luta e principalmente para a conexão com os não indígenas.
A abertura do espaço virtual para a
criação de narrativas foi o prato cheio para
algumas gerações se apoderarem dessas
linguagens e fazerem delas as armas para
suas caçadas. Cito em especial, o movimento indígena organizado, que se adequou
à linguagem tanto da comunicação como das
artes dos não indígenas para se fazer ouvir,
possuindo uma agência própria de divulgação de notícias.
Este quarto momento narra o domínio
total dos mecanismos de comunicação
para a produção de seus próprios textos, a
expansão de narrativas e a construção de
denúncias que fogem à nossa dimensão
geográfica, se espalhando pelo mundo,
mobilizando olhares para o Brasil.
A ascensão de grupos indígenas na
rede mundial de computadores representa
a ousadia dos povos brasileiros em assumir
total responsabilidade pelas suas falas,
contrariando discursos que promovem a ideia
de que esses indígenas organizados seriam
manipulados por instituições não indígenas.
Ojeporaka ja´ea ma oiko ayngui eyn,
yma gui ve haema oiko, nhandeayvu
ymã guare ramie´yn opyta aguã. Oiko
katua ymã ymã guive haema, tete gui
yvy re oiko va´e haema, mbovy ara pyau
gui haema, ojaxei heravy mbaraete
honxã nhandeyva ogueroguata ha´e ojapo
ymarã guare rupi oin hatã ve´i aguã
koo opaixa guarei oin teim. ha´e va´e
havei jaexa aguã kova´e, peteim ramie´y
teim nhaneakã va´eri nhanhemboete
nhanderovaja tomo mbe´u mbya kuery
reko regua apy pintorama pygua re, ha´e
vy jaexaa ha´egui nhande ma nhae noin
peteim ayvurupi kó jurua guery reve,
ha´e ramia ha´e japo omboete aguã oexa
kua aguã oikoa há´e imbaraetea. Jurua
kuery hete´ie´yn teim, amboae rei´i mbya
kuery igui.
Mbya kuery imbaraete mba´e
tari oikoramo. Terã oiko mba´erã
imbaraete ramo rive? Ha´ejavi
nhanderovaja onhembo´erai va´e, oexa
aguã kova´e-joupive nhemboaty´i mbya
kuery rive/mburuvixa guery mboguataá
ayvu py, tembiapo va´e omoin mbya
há´ekuery ventarã guerype, mirami omo
mbaraete jogueroayvua kova´e. iporayvu
va´e´y guery reve, kova omoin ma djerovaá
jurua rekopy va´eri, ojepokara kuery pe,
onhemoigo kuaa rupi vy. imba´eae ojapo
va´e kue, xee xayvu irundy kueare vy
mombe´ua gue mbya pindorama pygua,
mba´exa tu ojapo tembiporu ayvu yvytu
rupigua nhanderupity pama ayn ramõ
há´eva´egui vyma jaiporu nhanhoa´ã
vampy nhavaem yvytu xã rupi nhandeayvu
kó jurua kuery reve.
Há´evy ojepe´a peteim henda py
ojereroayvu aguã vy yvytu javere há´evy
nha´embé henye aguã py onherenovaem
ijapyre kuerype há´e vy oikuaa oiporu
aguã kova´e ayvu ojeporaka aguã rami
ju okuereko. Ha´evy xema´em ndu´a,
nhomboguataa mbya nhemboaty pavy,
ha´evy ojepokua ayvu ha´e gui ijeayvu
kuaa vei mba´vyky kuaa gui jurua kuery
onheendu aguã, oguereko ovy mboguata
mba´eae. Nhemobe´u ojeupe kova´e
ma irundya nhemobe´ua rupi gua vy
há´e javirupi omboupity nhemonguetaá
kó nhembiapoá kuatia ombo paraá
apy, nhembotuvixa nhemobe´ua ha´e
gui ojejapo nhomobe´ua, tu ojava ma
nhande gui vy ojeupity aguã yvy javere
ko yvyre, onhemovaim kó yvy rupare,
overenkontevem pindorama re vy.
Se os grupos dominantes pensaram
que os povos se manteriam no espaço de
isolamento a eles impostos, mal podiam
esperar que, ao reconhecer as diferentes
maneiras de conexão com o “outro”, esses
indígenas prontamente aprenderiam a
manusear, montar, criar, dialogar, a partir do
conhecimento dos grupos dominantes. Já
me disse um velho ancião terena, que fazia
questão de que todos os seus netos estudassem, pois precisavam entender como
falavam os “brancos”.
Esta introdução é bastante pertinente
para conversar sobre Moquém_Surarî,
justamente porque estamos falando de
uma grande reunião de caçadores-praticantes-pensantes de estratégias de contato,
lembrando que a intenção de contato dos
povos indígenas certamente são mais
humanas do que as propostas empregadas
pelo colonizador para iniciar o diálogo com
os originários no episódio da invasão e nos
demais episódios que transcorrem até os
dias atuais.
Isso se dá também pelo fato de que os
colonizadores tinham o intuito da dominação
(os novos colonizadores também! ). Os povos
indígenas, em seu lugar, têm a intenção da
expansão de saberes e laços que Moquém
nos deixa explícito.
Neste quarto momento, em que falo da
plena utilização das tecnologias de comunicação pelos povos, agrega-se a força
das muitas maneiras de expandir esses
diálogos. Por enquanto, eu falava das ferramentas de mídias que produzem notícias
jornalísticas, num embate forte, com grupos
de poderes que dominam os veículos noticiosos nacionais.
Porém, nele se inscrevem também
os grupos de indígenas que, de maneira
individual ou coletiva, trazem a expansão
de saberes e conhecimentos a partir de
outros campos de atuação. Englobo aqui,
além dos realizadores audiovisuais ou de
mídias de notícias (agora, também temos
uma enxurrada de youtubers e influencers),
os escritores e artistas indígenas
contemporâneos. Cada um desses grupos
encontra nas ferramentas deste momento
as maneiras de dialogar, encontrar, seduzir,
caçar formas de conexões.
O interessante é que, se observarmos,
está tudo “junto e misturado”, embora eu
tenha me referido a grupos no instante anterior. Mas vemos as habilidades de criação
dos personagens indígenas em diferentes
Nhomboaty mbya kuery ayvu xã yvy
rupa re ha´exavi nhakuãre oin oexauka
nonhere rontim nhandekery pindorama
pygua anhentem guare ijayvua aguã,
ndoipotai ayvu amboae rupi oguerova ague
kova´e mbya kuery moin porã mbá va´e
nhomboaty apy va´e kuepy oguerova xe.
Mbya kuery he´y rive.
Ha´vy amboae kue perata rai va´e
oenxa´ã vy nhande rentarã kuery ikuai ae
rampo mombyry rupi há´e onhenboty okuapy
rampo he´i vy noin porãi, nda´evei oarõ aguã
mba´rã, oexauka aguã joorami he´y he´y ixã
yvytu regua oo oiny vy ‘‘amboae’’, kova´e
kuery mbya oikokatu pa reve onhombo´e
omo pu´ã, ombo tuvixa, jokueroayvu,
omboja´o ja´o, ombotuvixa, jogueroayu, ha´e
guive ju oikuave ravy joupive gua jurua guery
rembi guaia. Xevy pe ma peteim xamoin
terena ijayvu karã mboae, há´e onverõ nhea´ã
tamomino kuery ha´ejavi onhembo´e aguã,
ha´eteim teim oikuaa mba´eixa pa “jurua”
Kova´e ombojera oguero je kuaa ma vy ijayvu
katu aguã Moquém_Surarî re, há´e vyma
virami oin nhandeayvu ma tuvixa nhemboaty
regua ojeporaka-nhembo´e-onhemo nhexã´ã
marami pá oin nhevaem, nhanemandu´a reve
nhevaem aguã kó nhande kuery ma guive
ma vy oin tete reko jareko nda´ei yvy mboae
gui guae´y omoin va´e kue ma jareko nhanhe
mboayvua. Há´e vy ma oiko nhande yvy re
oike va´e kuery ãy peve ikuai há´e oiko paven
yvy rupi ikuai ãy teim.
Há´e vy py yvy mboae gui ou va´e
kuery ojere reko catu vy nhandere ju
ija okuapy aguã rami ju oin (Ipyau kue)
yvy mboae guigua! ). Nhande kuery ma,
oguereko oin aguã py oin, oguere ko
peteim rupivy vy nda há´e vy omoxã arandu
Moquém oeja jaikuaa aguã rupi ju.
Há´e irundy kuea mavy, ha´e vy ma
xeayvu ojeporu aguã yvytu rupi onhembo
jera uka vy nhandeayvu yvytu rupi aguã
pavem, o nhea´ã mbaraete opaixa rei teim
ombo tuvixa ve ayvu heravy vy. nde´i teri,
xeayvu ma vy jeporua tembi poru yvy turupi
oo va´e ojeopo mavy omo mbe´u joe kore
ijayvu va´e, ko mboruvixa kuery onhemo
mba´e va´e joe ijayvu va´e guataá.
Va´eri, exe onhemobo paraá havei
pavem nhande kuery pe, ojeupe aeae trã
jopype joapyre vy, ogueru arandu vaipa
vy oikuaa aguã vy nda amboae ikatua
rupi vy ogueru ju vy. Yvy javere vy apy, oje
kuaa va´e rupi vy ma yvytu rupi joe ijayvu
va´e kuery jepe (aygui, voi jarekó peteim
vy onheem oje kuaa va´epy o jererova
66
67
campos. “Escrevedores”, artistas visuais,
cantores, comunicadores. Porque o bom
caçador tem a ampla visão do universo
em que está sua caçada. A educação indígena permite a sagacidade e estimula os
sentidos. Faz com que os indivíduos caminhem entre os diferentes céus, as diferentes
terras, e refaçam sempre que necessário
tais caminhos.
Em Moquém_Surarî você pode perceber
isso. O diálogo expandido faz desse
encontro de caçadores uma grande caçada
coletiva. É a reunião da força de resistência,
expressa em cada obra que compõe a exposição. Jaider Esbell resolveu liderar a caçada,
convidando caçadores fortes, potentes,
conscientes de sua condição de pertencentes a um grupo forte de atores sociais.
Neste quarto momento, que se
desenha desde o século XX e adentrou o
século XXI, acredito serem os artistas indígenas desta arte contemporânea os caçadores capazes de formalizar uma comunicação com aqueles que até então não eram
o que chamam de “nossos pares”. Nossos
pares, até então, eram vistos como os militantes, as “ONGs”, os antropólogos, missionários e pesquisadores.
A arte indígena avança sobre outros
tempos, outros formatos, outros agentes.
Inclusive avança para encontrar aqueles
que não estão dentro dessas redes fortes,
geralmente formadas por estudiosos da
temática indígena. Ela espanta e causa
curiosidade acerca de sua existência não
arqueológica/não antropológica. Ela chega
via sensibilidade ao vendedor de balas da
Avenida Paulista, que um dia viu, pintado
na mureta de uma instituição, um desenho
de Denilson Baniwa. O vendedor de doces
sentou-se ao meu lado e disse que aquilo
lhe agradava. Também, quando me encontrei com os excluídos da Cracolândia, que
disseram reconhecer uma força magnética
no “ser” indígena. De exclusão em exclusão,
é preciso dialogar. A arte indígena tem uma
potência de se fazer existir diante de um
público que não são os até então considerados aliados a nós. A arte, em si, encontra a
dimensão do encontro.
O que vemos nesta exposição é a
diversidade de suportes para a construção e
distribuição de narrativas. Artistas indígenas
de diferentes regiões fazem o contato desde
a produção de telas à gravura em metal.
De desenhos à tecelagem. Da fotografia
ao livro-objeto. A variedade de suportes é
aguã py, kuatia ombo para kuaa há´e
imba vyky´a va´e kuery nhande kuery ayn
guigua kuery. Peteim kova´e joapy gua
ojou tembiporu vy nhomongueta aguã rupi
vy ojou ayn mavy nda, ojou, nheron xã,
oporaka yvy turupi heravy aguã.
Va ´eri xee ajou porã, aexa ramo,
oin mbarei”, ijó para pa”, já´ e xe ramo
he´ia rami nhemboaty krã mboae kueve
ve. Roexa ramo ojeapo kuaa rei nhande
kuery ikuaia opa rupi. “Kuatia mbo paraá”,
imbavyky va´e jexaá kuery, o porai va´e,
omo bem´u va´e kuery mba´ere pa há´e
rami oporaka porã vy jexaá hexankã yvy
javere vy o jeporaka. Nhembo´ea nhandepy
vy onhembo jera ipojava aguã rami ju oin.
Há´e vy o guata ma vy ojeupe mavy oo
amboae mboere yvatere vy, amboe mboe
yvyre, há´e vy onhembo tape nhavõ vy ma.
Moquém surarî rei kuaá hera vy ma
aguã pyma oin. Onhemboeta va´e kue
ojapo kova´e nhemboaty gui ma ojepokara
petein tuvixa va´e jupive. kova´e ma
joguero´ayvu mbara´ete, jexauka oiny teim
teim rembiapo kue omoi jexaukaá py. Jaider
Esbell onhemo tenonde koo jeporaka py,
oenoin ojepokaá kuery Imbara´ete va´e,
onhenhandu kuaa koo va´e teta mbaraete
rupi gua ta´ã anga re hembiapo Koo ayn´in
ete´i, ojejapo ta´ã anga ymã guive XX há´e
“ojereroike ouvy vy XXI, harovia ete mbya
mbavyky rembiapo re koo mbavyky ayn gua
re ojeporaka va´e kuery ayvu reko oguere
koma koo nhande jovai he´y he´i hava´e
reve “joapy guari”. Nhane maba´e joorami
vy, tenonderupi ikuai va´e kuery “ONGs”,
joekó re onhe mbo´e va´e kuery, joekó rovaá
rupi ikuai va´e kuery há´e oikuaa pota kã
tuin´in va´e kuery, mbyamabvyky rembiapo
ooxa´ve amboae temintyn, amboae regua,
opamba´e regua. Oaxa ovy avi ojou ãguã
koo imbaraete va´e kuery rupi ikuai he´yn
va´e guive, kova´e rede py ikuai onhembo´e
va´e nhande kuery jopiare va´e re
onhembo`e va´e kuery. Ha`e ma nhemomdyi
ha`e jaikuaa xea havi oguereko oikoa re
ymã jeporu va´e kue nhenoeá /nhandereko
re onhemboe va`e harypi he´yn. He´e
ovaem mba`e nhemboaxya rupi mba´emo
omboekovia tetã mbyte rapepy peteingue
oexa hi`ã anga peteim oo kora re, Denilson
Baniwa ra´ã anga He´en va´e omboekovia
vy, oguapy xeyvyre aipo he`i, kova`e nunga
xeapo porã. Ha`e gui ajojou mombo pyre
cracolandia pygua kuery reve, ijayvu vy
haipoe´i oikuaa oexa kuaá havi vy peteim
mbaraete koo mbya kuery gui. Nhemboi
representativa deste quarto momento – nós,
indígenas, dominamos todas as formas de
nos comunicarmos com os não indígenas –
desde os nossos fazeres tradicionais até os
seus fazeres tradicionais. E assim se constroem as estratégias dessa caçada. Se os
símbolos e elementos oriundos da cultura
indígena são pouco compreensíveis para
o não indígena, faz-se necessário apoderar-se das linguagens deste outro para nos
fazermos compreender.
As cores, formas, construções, constituições, carregam as muitas vozes que se
quer fazer ecoar. Ouvi a liderança Thiago
Karai Jekupé dizer, durante o “Levante pela
Terra”, “que a carta que leu foi escrita com a
caneta dos brancos, mas carrega o espírito
de todos os indígenas” (Brasília, junho de
2021). Recorro a essa fala do Karai Jekupé
para fazer uma explanação ao visitante desta
exposição. Embora os variados suportes
encontrados nas obras sejam em grande
parte relacionados às tecnologias do não
indígena (a fotografia e o vídeo, por exemplo),
é necessário observar cada produção com
um pouco mais de abertura para que não se
pense que, mesmo utilizando os códigos da
sociedade ocidental, trata-se de uma obra
ocidentalizada. O que quero salientar é que
é muito comum observar as produções indígenas a partir das escolas e cânones ocidentais, principalmente porque muitas delas já se
utilizam de artifícios oriundos do universo não
indígena para sua confecção.
É disso talvez que esta caçada esteja
falando. Da dimensão das produções aqui
agregadas e um novo “tempo” para se ver a
arte indígena. É preciso escapar um pouco
das camadas já solidificadas para a apreensão das obras de arte, e tentar evitar que
as utilizemos como demarcadores de leitura
das diversas obras aqui encontradas.
Os artistas indígenas produziram obras
desta exposição (em sua grande maioria) a
partir dos suportes do “branco”, mas nelas
estão impregnados os espíritos indígenas
(se assim eu parafraseasse Thiago Karai
Jekupé, para a leitura dessas obras de arte).
Exemplifico a necessidade das trocas, se
observarmos as entrevistas realizadas com
artistas de Roraima. Seria o audiovisual neste
momento a maneira mais dinâmica e acessível de levar ao público essas narrativas. Ou
ainda os registros fotográficos de Arissana
Pataxó e Sueli Maxakali, que trazem o movimento do espírito feminino das mulheres de
seus respectivos povos.
onhemboi, teko tenve hayvu reko gui. Mbya
rembiapo oguereko mbaraete ojejapo aguã
peteim teta py nhaneinru kuery he´y ea
va`e kuery pe voi opyta havi ayn Tembiapo,
ojejouká há´e onhevaim tim vy.
Koo jaexa va`e tembiapo jexauka py
heta tape ojejapo aguã ha´e onheme´em
omombe´u heravya. Nhande kuery
imbavyky va´e pavem gui rei ojapo
omombe`u ajukue moatã mbyre gui ojapoa
ombo pará rangaa ita rykure. Ta´ã anga
mandyju moataá. Nhane´ã ra´anga mboia
kuatia para. Heta regua jexaukuaa oim
koo va´e irundya re – ore, mbya kuery,
roi kuaaa heta regua koo heta va´e kuery
reve oreayvu aguã – koo orerembiapo
há´e rupi há´e pende rembiapo rupi havi.
Virami vy ojejapo ovy tape koo jeporakaa
re. Mba´emo ra´anga mba´emo mbya kuery
reko gui gua rupigua ndoikuai ramo jurua
kuery, jejapo tema rojopy mboae ayvu ore
roendo kuaa aguã.
Heta pytã, heta mba´e, heta tembiapo,
ogueraa heta nhe´em onhenduka xe
va´e hoendu tenondegua´i Thiago Karai
jekupe ijayvu, nhemboatya py “Pepu´ã
yvype”, “kuatia para ogueroayvu va´e jurua
rembiapo py ombo pará, vá´eri pavem
mbya kuery nhe´em oguereko” (Brasilia,
junho de 2021). Aru koo ayvu Karai Jekupe
mba´e ajapo aguã petein nhemombe´u
koo tembiapo jexauka py ou va´e pe. Heta
mbae ojejou kova´e tembiapo re heta vema
koo jurua kuery rembiapo rupi arandurupi
(nhane´ã ranga mboia), va´eri oiko teven
jaexapota peteim teim tembiapo nhaenxa`ã
uka hera vya aguã py nhenerenó vaem,
teim vy heta va´e mba´e kuaa oiporu teim,
jurua rembiapo he´yn. Mba`e pa xehayvu
xema jaexa mbya rembiapo koo cãnomes
há´e nhemboea rupi ogueroayvu heravy vy
heta va´e kuery harupi, hetama py oiporu
tembiporu jurua gui gua heta va´e mba´e
gui vembiapo re.
Kova´e jeporaka ndavy kova´e
xeayvu ainy. Marã mipa tembiapo ojeporu
heravy nda´u “ara” pyau jaexa aguã mbya
rembiapo. Há´e rami aguã ma jaeja ranhe
rã jaikuaá va`e haema jaexa kuaá aguã
mbya rembiapo.
Mbya kuery hembiapo va´e ojapo
kova´e mba´e jexauka (hetavema)
nhepyrum tembiporu “jurua” gui, va´eri
hexema mbya kuery nhe´em oim (kova´e
rami mboyvu Thiago karai jekupe, kova´e
tembiapo re). Amombe´u teko tevem
nhemboekovia, jaexa pota ramo kova´e
68
69
Por fim me chama a atenção o txaísmo
proposto por Esbell. Uma das maiores
inquietações que perpassam o fazer de
uma caçada grandiosa como essa. A exposição agrega muitos olhares, e alguns deles
percorrem o caminho do que Jaider considera como o txaísmo. Costumo repetir o
mantra de que o racismo não se combate
com a intolerância e, nas palavras do próprio
Jaider, temos aqui um convite urgente para
criar novas formas de relação, na produção
de multiplicidades.
Jaider fala muito melhor do que eu,
a partir da expansão do txaísmo/alianças
afetivas, que precisamos melhorar a ideia
de relações e abater o senso comum
quando “colocamos tudo e todos na mesma
sacola”. Moquém_Surarî é o ápice do
compartilhamento sugerido por Jaider, ao
se esquivar da proposição de uma exposição individual e transformá-la num grande
encontro/caçada. Todos em busca de expandir
um diálogo para além dos seus pares.
Se os “velhos do sistema” já sucumbem,
é preciso fazer um encontro com o tempo/
espaço daqueles que vêm surgindo neste
novo tempo. E para isso é necessário retirar
da sacola e fazer a separação de tudo aquilo
que se conseguiu durante a caçada. Aquilo
que não nos servirá de consumo, por vezes,
poderá germinar.
Ao propor o conceito txaísmo, Jaider
está mostrando diversos caminhos para a
caçada dessa arte indígena contemporânea.
Reúne guerreiros com especialidades diferentes, peculiares, afetivamente conectadas.
Daí um destaque para a forte aliança que
Jaider mantém com Paula Berbert e Pedro
Cesarino não somente nesta, mas também
em outras produções. A manutenção das
peculiaridades dos processos de escutas e
lugares para falar com e não por é uma chave
importante para se entender essa relação
com os “cunhados/txais”.
O tempo do não indígena falar pelos
indígenas, a partir de suas proposições,
já passou. É chegado o momento da
produção coletiva, respeitando os modos
de entender as relações dos povos
originários. Relações que não focam
apenas nas questões humanas, mas num
entrelaçar com o universo cosmológico
e ambiental. Não existe uma maneira de
se entender o fazer da arte indígena, sem
reconhecer o tempo/espaço de onde
surgem os artistas. Não é possível pensar
e interpretar condições de produção, sem
ara ma há´e vete ndaxyi ve jaraa aguã teta
pe koo mombe´ua kue. Há`e gui hi`ã mboi
pyre Arissana Pataxó há´e Sueli Maxakali,
ogueru koo nhemongu´e Kunhangue
nhe´em rupi peteim teim oenoi aguã
koo txaísmo Esbell oexauka va´e. Koo
peteim nheangeko oin va´e gui ma oaxa
oiny ojapova´e tuvixa koo jeporaka. Koo
tembiapo jexauka ma oexauka retave,
há´e amonguema oo tape koo Jaider
oikuaa ramo txaismo. Areko tema koo
xereve heravy vy ayvu joporavo rei aguã
ma nanha mombai ndajapy xakai rei
vy, he`ia rami Jaider, roguereko peteim
tenoím jejapo aguãpyau nhepena, jejapo
tembiapo hetarupi.
Jaider ijayvu porã ve xee gui, ijypy
ojepe´a ve Txaísmo hagui/ joapy´apy
nheno´ã vy, nda teko teven nhemo pena
porã ve há´e` “nhamboyru opamba´e há´e
paven peteim voxa vy”. Moquém _Surarî
ma omboaxa ve Jaider, onheboy ke vy
koo mba´e jexauka peteim regua gui há´e
ombojera tuvixa nhemboaty/ jeporaka.
Pavem oeka oipe´a ve peteim nhemongeta
oinrum pe´yn Koo “ymã ve guare “ ma
oikuae ma, teko teven ojejapo nhemboaty
koo ayn gua ou va´e koo ara pyavu re
gua pe. há´e rami aguã ma nhanoem jurã
jeporavo rã opamba´e koo jeporaka re
ojejou va´e kue gui. Ndajaiporui já´ua py,
henhoi´in va´e rã hera rupi.
Omombe´u koo txaímo regua, Jaider
oexauka heta tape jeporaka tembiapo
mbya ayn gua. Omono´on kyre´yin mba
kuery heta mba´e py overõ mbaraete
va´e, teim regua re inxa kuapy. Há´evy
koo nhemoirun porã jaider oguereko
Paula Berbet há´e Pedro Cesarino reve,
kova`e tembiapo hanho he`yn amboae voi.
Oimen va´e omoã tyrõ tei rami ojejapo
oendua mamo pa ijayvu rã mbaexa pa
mbae jepe`a ramo he`ym iporã hete jaexa
kuaa ãguã koo “tovaj re jaikoa/txaís”
ara jurua ijayvu mbya re, oikuaa rupi rive
oaxama. Há`e ovaema koo tembiapo jupive
gua, nhamboete há`e kuery mbae kuaa
nhandeypy kuery. Nhemopena nhadereko
re hanho he`yn, ombaxa xa koo yvaguyre
há`e ka´a guy re. Ndaipoi petein rami
jaexa ãguã tembiapo mbya, ndajai kuaai
ramo ara ka`e/ mamo gui pa ojekua mbya
ta´ãga re hembiapo va`e. nda`e vei jaikuaa
ãguã mbae xapa ojapo, nhae xa´ã koo
nhembo´ea ta´ã angare heta va´e rupi
oupity iporã a tembiapo mbya, tembiapo
ojejapo tembiporu jurua kuery mba´e
calcar nas relações extensivas entre os
seres humanos e não humanos.
Pensar que as escolas de arte tradicionais ocidentais por si sós e por sua linha do
tempo irão alcançar a estética da produção
indígena, seja essa produção construída com
os suportes não indígenas, seja ela carregada
das tecnologias indígenas, é um erro.
O txaísmo talvez seja uma das formas
de adentrar esse universo, entendendo que o
artista indígena, ainda que faça um percurso
individual, nunca estará só. Porque sua
tinta está carregada de seus antepassados,
pulsando para que esteja sempre vivo no
outro. A modelagem na cerâmica expande
a relação com a natureza, fortalecendo um
diálogo contínuo com ela. Não é o simples
extrair a matéria-prima pela matéria-prima.
O entendimento de mundo precisa
ser como atravessar uma ponte, observando toda a paisagem. Os txais que têm
se proposto a fazer isso, esvaziando quase
sempre seus conceitos já cristalizados,
encontram-se nas relações de reciprocidade
e reconhecimento, como cita o próprio Jaider
Esbell. Os indígenas, por sua vez, recolhem
os aprendizados. Mais do que isso, vemos
em Moquém_Surarî muitas mãos preparando
os instrumentos mais sofisticados para uma
grande caçada. Não a caçada que fará o
abate pelo abate, ou o abate pelo comércio
em si. Mas a caçada que representa a coletividade e dela se almeja fortalecer e nutrir
todos como um todo – a nutrição dos txais,
dos guerreiros e guerreiras indígenas, dos
seres encantados que se fazem presentes,
ainda que não visíveis.
rupi, tarã mbya rembiporu rupi, peteim´in
ojavyare. Koo Txaísmo ma peteim rupi
jaike aguã koo mbytepy, jaikuaa aguã
ta´ã angare hembiapo mbya, há´e hae
oo teim, há´e hanho´in he´y oiko. Mba´e
katigua henye oguereko vy nhanderenta
rã yma guare kuery, otyty kuapy oiko ve
aguã amboae re. Mba´e jejapo nhae´um
ma oipe´a ve nhapena koo ka´aguyre,
mbaraete ayvu oitema hexeve. Mba´emo
nhanõea rive pyreima Ixugui nanhanõei
rã ma. Jaikuaá aguã marã mipa yvy teko
teven yy ryvõvõ jaaxa harami, jaexa
pota ijavire. Txaís kuery ha´e rami ojapo,
ovenõe mba kuerei mba´e oikuaa va´e
hae ombo´i ta´i pa rire, ojejou meme rei
koo jooramia py joexa kuaa py, He´ia rami
Jaider Esbel. Mbya kuery, ma, omono´õ
oikuaa va`e. ijara ka ave aguã vy, jaexa ma
Moquém_SurarÎ py heta ipo oguereko katu
popygua iporã gueve peteim tuvixa va´e
jeporaka vy. Jeporaka joity va´e pe´yn ju
tavy, tarã joity omboekovia rã pe´yn. Pee
jeporaka jupive jexaukaá há´e gui jaipota
mbaraete nhamongaru pavempe pavengui
txaís rembi´u, kyre´yi ma kuery, koo nheem
kuery apy ikuai, ndajaexai va`e teim.
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71
72
Arissana
Pataxó
73
MÃGUTXI PATAXÓ:
PEGANDO OURIÇO (SÉRIE), 2014
O primeiro sinal de terra avistado pela esquadra de Cabral,
o Monte Pascoal, é terra pataxó. Como diz um canto no
nosso povo “De cima daquele monte lá do alto avisto o
mar”. Quem sabe, 500 anos atrás, um Pataxó lá do alto não
tenha avistado os sinais das primeiras caravelas quando
se aproximaram do nosso mar antes de os portugueses
avistarem o nosso monte... Para entendermos a presença
indígena nesse hahãw, precisamos começar a escutar a
“história do Brasil” de outro lugar, a começar lá de cima do
monte, e não daquele mar.
A presença pataxó até hoje nessas terras demonstra a
força, luta e garra de um povo que sobreviveu resistindo
e guardando este hahãw, provavelmente há mais de
500 anos. Foi deste território que por muitos séculos
tiraram seu sustento – coletando, pescando, plantando,
colhendo, caçando e fazendo moquém –, o que garantiu a
sobrevivência de gerações.
MÃGUTXI PATAXÓ:
OURIÇO OJOPY OIKOVY, 2014
Ijypy gua yvy Cabral oaxuá re oexa, Montre Pascoal,
Pataxó kuery yvy re. Oremborai rupi roporaia rami
“pee yvaté gui roexá pará”. Ymã 500 ma´etyn
takykue katy peteim Pataxó oexá rã raka´e ha´e
yvaté gui apyká py jogueru va´e kuery ovaem rai´i
jave nhande yy rembe re, juruá kuery oexá he´yn
re nhade yvy… Jaikuaa aguã nhande kuery ikuaia
kova´e hahãw re, ma nhaendu ve ramo “mombe´ua
Pindorama” regua amboae gui, yvaté oin va´ekue
gui, nda´ei yy rupi oú va´e gui rive.
Pataxó kuery ikuaia ayn peve vy oexauká mbaraeté,
mby´á guaxu nhande kuery mbaraeté, ikuai ha´e omoin
porã kova´e hahãw, 500 ma´enty voi haré ve ju. Kova´e
yvy gui aema ymã ve ramo ikuai porã raka´e, pira´i
ojopoi vy, onhoty mba´emo, nguyra´i ha´e mba´emo
ra´y omboa´á vy ha´e ojapo moquém - ha´e va´e nunga
gui ma ayn peve ikuai aguã oin nho raka´e.
Mãgutxi Pataxó: pegando ouriço é uma série de fotografias
que traz uma atividade regularmente realizada pelo povo
Pataxó. Foram capturadas nas praias da Terra Indígena
Coroa Vermelha, que é circundada por recifes onde
habitam diversos mariscos e crustáceos que enriquecem
a alimentação cotidiana do povo Pataxó. Coletar, assar e
comer o ouriço sempre foi uma prática muito comum entre
as famílias pataxó que vivem no litoral baiano.
A Jokana que aparece nas imagens é minha imamakã,
Meruka. Ela nasceu no Território Indígena Barra Velha em
um período em que a área ainda não era demarcada como
Terra Indígena e passava por conflitos. Havia a presença
do Instituto Brasileiro de Defesa Florestal, que ali se instalou
desde a década de 1940, na tentativa de fazer do hahãw
pataxó, um parque florestal. Mais tarde, na década de 60,
isso veio a se tornar uma realidade. Durante esse processo
de sobreposição do Parque Nacional de Monte Pascoal
sobre o território tradicionalmente ocupado pelos Pataxó, o
mar, o mangue e os recifes foram lugares sagrados para as
famílias pataxó. Era destes espaços que extraíram “o seu
Mãgutxi Pataxó: kui´in ojopy ma hi´ã omboi va´ekue
ogueru mba´emo Pataxó kuery rembiapó. Omboi Pará
rembe re nahnde kuery yvy Coroa Vermelha ha´e py ma
opamba´e yy rupigua ikuai pataxó kuery rembi´u guive.
Omono´õ, oexy ha´e ho´u kui´in ha´e va´e ma pataxó
kuery rembi´u ete´i aema pará rembe re ikuai va´e.
Jokana ma ojekuaa vi hi´ã omboi va´e kue py, ha´e
ma xe imamakã, Meruka. Ha´e ma oiko´i karamboae
nhande yvy Barra Velha py, yvy omboja´o pyrepy he´e
yn teri j ave nhande kuery yvy rami ha´e oin raka´e
joguero´á eté. Oin jave Instituto Pindorama pygua
hoepy va´e ka´aguare gua, ha´e kuery ma ova´en raka´e
1940 jave, ojapó nhea´ã aguã Pataxó hahãw Parque
rami. Ha´e rire ma 60 re ma, ha´e va´e oiko eté. Ha´e
rami oiko, Ka´aguy apyguare onhemopena va´e Monte
Pascoal omoingo yvy pataxó kuery oiporu va´e ary
rupi, Pará rembé re ikuai opamba´e va´e ma Pataxó
kuery reko rupi ojeporu va´e meme. ha´e gui aema ojoú
ha´e ojopy guembi´u rã mba´eiko ka´aguy re ikuaia re
py nda´evei mba´e ra´y ombo´a aguã, mba´emo onhoty
74
75
sustento”, já que na mata que sempre habitaram não mais
podiam caçar, nem fazer roça, nem extrair qualquer tipo de
vegetais e cipós para as atividades cotidianas.
Minha mãe conta que foi uma época difícil. Assim como
todo o povo, ela viveu uma infância com grande escassez
de alimento, tendo que recorrer ao que o mangue e o mar
ainda podiam lhes oferecer, já que viver e sobreviver da
mata era considerado um crime ambiental. Para driblar a
escassez de alimento, a união fazia a diferença. Ela conta
que naquela época tudo era partilhado, pois quando
conseguiam pegar alguma caça (ainda que às escondidas),
peixes e mariscos dividiam com os parentes, que também
retribuíam com o que tivessem: farinha, beiju, peixe etc.
Minha mãe, assim como a maioria dos mais velhos de sua
idade, não teve oportunidade de frequentar escola, por
isso ajudava e acompanhava os pais nas tarefas diárias.
Ela conta que não gostava muito de cuidar das tarefas de
casa, preferia acordar cedo, ainda de madrugada, para ir
com seu pai ver se alguma caça tinha caído na armadilha
que colocaram no dia anterior.
aguã, yvyra´á ojopy aguã jepe nda´evei yxypó ete ve
voi nda´evei omboi aguã.
Xexy omombe´u ha´e jave haxy ve raka´e. Ha´e javi
rupi arami, ha´e oiko kyrin vy tembi´u oata raxa
karuai vaipa rupi, ha´e rami ramo oó Pará rembe rupi
mba´emo omono´õ vy, mba´eiko ka´aguy regua re ta
okaru´i ramo jurua kuerype ojavyjuma ramo. Karuai
oaxá aguã nhopytyvõ mba ha´e javi ve. Ha´e va´e
javi ve´i nhomboja´ó mba´emo ra´y ombo´á nhemi
vy rive, pira´ojopoi vy nhomboja´ó avi, ha´e ramo
amboae kuery voi oguereko´i va´e ogueru avi: avaxi
ku´i, mandi´ó ku´i, mbeju´i pira´i ramo guive. Xexy
amboae kuery rami tujá kue ve rami ndoui raka´e
onhembo´e vy, ndoguerekoi oó aguã vy xejaryi kuery
reve oiko oipytvõ aguã tembiapó ojapo oikovy. Ha´e
omombe´u vy ma ndojapo jei raka´e oxy ha´e nguu
reve ngoo rupi mba´emo ojapoa rupi, ovy voi jave´i
rive, nhamadu oexapé jave, oó aguã nguu reve
oma´en vy mondé ojapó va´e kue py ho´á para re´en
mba´e mo ra´y.
Hoje os tempos mudaram, nasci em uma nova época,
na era da energia, da televisão. Mas, sempre que posso,
paro para ouvir as histórias que ela conta dos momentos
vividos em outros tempos. Acredito que são essas
memórias compartilhadas a cada nova geração, com suas
singularidades, que fortalecem o nosso povo e que dão lugar
a outras histórias, as histórias contadas a partir de outro
lugar: do “monte” e, quem sabe, ao pé de algum moquém.
Ayn gui ma ova pa ma, aiko amboae pa ma jave,
tataendy oiko ma jave, ojekuaa va´e rupi oiko ma jave.
Va´e ri ha´e ve´i nhavõ aendu ha´e omombe´u ramo ha´e
mba´exa pa oiko raka´e ague. Xexv´ype ramo ma ha´e
nunga re imaendu´a vy omombe´u ayn nhandekuai
va´e pe ramo omombaraeté nhande kuery ome´e avi
nhandevype nhande voi jaraa aguã ha´e nhande avi
nhamombe´u aguã amboae gui ju: hetare gui, mova´e pa
oikuaa, amongue moquém yvypy oin va´e.
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DESABROCHAR
DA MATA ATLÂNTICA
Para nós, Guarani Mbya, o escuro é responsável por todo
o universo, tudo que é criado brota do escuro: a terra,
a água, as montanhas, nós todos. Da origem de nossa
ancestralidade seguimos conservando nossa memória,
cuidando do nosso território sagrado, Nhe’ery, que nos
ensina a cada dia a conviver com todos os seres em
harmonia. Seguimos com as crianças, nossos rezadores e
rezadoras entoando cantos sagrados para que a floresta
continue viva e que continuemos tendo as plantinhas que
curam, as frutinhas que alimentam e a alegria que motiva o
nosso caminhar junto ao Bem Viver.
NHE’ERY
JERA
Carlos Papá
Ore Mbya kueryma, roikuaa pytun ymã ombojera raka’e
Yvy Rupa ha, ’e javi, mba’emo oiko va’e pytungui: Yvy ma,
ha’egui yy, ha’egui Yvyty, ha’e nhande kuery. Nhandeypy
kuery oeja jaiko kuaa aguã rami raka’e, ha’evyma
nhanhagareko porã aguã rami nhandererekoa maraē y rami
oeja: Nhe’ery, ha’e vy ma nhanemboé nhamboete aguã omyi
va’e ha’e javi. Rojogueraa kryringue reve, ha’e opora’i va’e
kuery reve mborai romonhendu rokuapy aguã py roī, ha’e
vyma moã ka’aguy ikuai aguã roikō tevē arupi roiko, ha’e
yva’a ikuai arupi ronhemoingo ha’e vyma oremoexai orembo
vy’a ha’e oexauka Teko Porã.
80
Charles Gabriel
81
O HOMEM E O MOQUÉM*
No meio das serras, tão longe, morava há poucos anos um
casal que, já na velhice, teve um filho. Passando os anos
o menino foi crescendo e ficando cada vez mais esperto
e, todas as tardes, seus pais contavam histórias sobre os
lugares onde eles já haviam viajado, e sempre ele respondia:
— Um dia eu irei por lá também, pai.
Ele já estava crescido, um rapaz forte, trabalhador e muito
inteligente. Ele começou a pensar como seria sua vida mais
na frente, pois também queria construir sua família e queria
seguir o exemplo do seu pai, mas, ao contrário dele, teria
mais filhos. Certa vez o rapaz decidiu se aventurar no mundo
e conhecer novos horizontes, descobrir o que tinha atrás das
serras e muito além. No dia seguinte pegou suas poucas coisas
e saiu com rumo ignorado. Ele passou o dia todo andando e
não encontrava nada mais além que a natureza bela, mas por
onde passava fazia um desenho na pedra para identificar que
tinha andado por aquele lugar. Então no final da tarde, antes
de chegar em uma mata, encontrou um pequeno riacho com
AVA HA`E MOQUÈM*
*O artista Charles
Gabriel também
escreveu este texto
em makuxi, sua
língua materna.
Essa versão está
reproduzida na
contracapa deste
catálogo. Nota
do editor.
*Imbavyky va’e
Charles Gabriel
voi ombo para havi
raka’e makuxi,
oayvua pyae
Kova’ema
omboayvu ha’e
hembiapo imbotya
rovaire vy ipara
opytaá.
Yvy´ã vy´ã mbyte rupi, mombyry, peteim omenda´iva´e
joguereko, tuja´i ma va´e ri oguereko peteim mintã´in. Ma´enty
oaxá ovya re ava´i tuja ve ha´e oiko kuaa ve ovy, ha´e ka´aru
nhavõ re ixy kuery omombe´u mamo mamo rupi ma pa ha´e
kuery jogueroguata´i raka´e, ha´e ramo ha´e ombovai xevai:
— Xeru, ha´e ramo ma peteim ara aguata vi va´e rã ha´e rupi
Ha´e tuja ma, kunumi mbaraeté, hembiapó jevai ha´e in´ã
arandu guive. Ha´e omoin opy´á re mba´exa regua rei oiko
tenondé ve re, ha´e voi omendá xe, ha´e ta´y xe avi nguu
rami oiko xe vy, va´e ri nguu gui ta´y reta ve xe guive. Peteim
ara py ha´e oó mombyry rupi oiko ju ranhe oiko aguã.
Ha´rami vy omba´e rei rei ojopy vy oó ma, mamo pa oó
oiny a oikuua vy he´yn. Oó ma vy oguata petei ara ha´e javi
re ndojoui ha´e ndoexai mba´eve´i ma, ka´aguy ha´e yvyra
vyra´i rive oexá, va´eri oó arupi ombopará para´i meme ita
re oikuaa aguã mamo rupi pa oexá ra´e ague oikuaá aguã.
Ha´e rire ka´aru rai ma jave ma ka´aguy re oike yn re ojoú
yy xyry´in hexakã porã rei´i va´e, ha´e vy omoatyrõ´i ma oke´i
águas claras e azuis, e decidiu arrumar um canto para dormir
por ali mesmo. Antes de ir procurar algo para comer, encontrou,
em cima de uma pedra, peixe assado e pensou consigo se
tinha alguém naquele lugar. Mas, mesmo assim, pegou o peixe
e comeu, pois estava com muita fome. Chegando a noite, atou
sua rede no alto de uma árvore e a lua estava muito bonita.
Quando mais tarde ele começou a escutar um barulho no mato,
era o dono daquele peixe que ele havia comido, um bicho
que ele nunca tinha visto antes. O bicho parou naquele lugar e
chegou com muito mais peixes nas mãos, colocou de novo em
cima da pedra e apanhou muitas folhas, ele fez fogo e assou os
peixes, depois embrulhou os peixes nas folhas, amarrou com
cipó, e deixou ali em cima da pedra, e voltou para dentro da
mata. O rapaz, admirado com isso, foi embora naquela mesma
noite, andou a noite toda e, já pela manhã, chegou em cima de
uma serra. Lá viu uma casa. Então o rapaz decidiu passar por lá
para conhecer e o pessoal recebeu o viajante. Ele contou a sua
história, de como havia parado naquele lugar.
O dono da casa convidou o rapaz para pescar, e então
no dia seguinte saíram rumo ao rio que tinha lá próximo.
aguã. Oó he´yn re oeka vy mba´emo ho´u aguã ojoú pira
mbixy ita ary oin ramo vy ha´e oexa´ã ramo oin a ta reguarei
merami amboae va´e ha´e py. Va´e ri ojopy te ma rive pira´i
ho´ú aguã okaruxe vaipa ma vy. pytun ovãe ovy yvyra re
omoi mba ma kya´i vy onheno ma ha´e jaxy endy ma oiny.
Ha´erire pytun are ve jave ma oendu ka´aguy rupi onhendu
nhendu ramo, pira oexy vy oexá va´e kue ma ovãe, oexá va´e
ty regua he´yn. Ha´evy ha´e opytá pira´i oejá ague py ogueru
ve ha´e gui ma tata omoendy ha´e oexy pa ju pira´i, ha´e rire
ma mba´emo rogue´i py pira´i omhovã pa´i, xypo´i py ojokua
pa ha´e gui oejá ju ita´ary vy ma ha´e oó ju ka´aguy re. Ha´e
ramo ava´i va´e ha´e va´e pytun re ae ju avi oguata ovy, oó
meme pytun ha´e javi re oguata, ha´e ko´emba´i ma jave ovãe
ma yvy´ã re. Ha´e py oexá peteim oó. Ha´e vy ha´e ovãe ha´e
va´e oó py ramo ha´e py ikuai va´e kuery omovãe avi. Ha´e
oguero ayvu ymã guareré ojegua, mba´exa vy pa ha´e ovãe
ra´e ha´e kuery apy.
Oó ja oenoi ava´i va´e pira ojopoi aguã joupive, ha´e vy
ko´engue jogueraá joupive yakã re ha´e i py oin va´e py.
Yakã py ovãe ma vy pira ojopoi reta, kunhangue pira´i
82
83
Chegando no local eles pescaram muito, as mulheres iam
tratando os peixes, mas antes de terminar de tratar todos
os peixes, o dono da casa pediu que o rapaz fizesse o que
tinha aprendido no meio da viagem: assou os peixes e depois
pegou folhas de bananeira e enrolou todos os peixes nelas.
Aquilo era inédito para aquelas pessoas que o observavam,
viram que era um jeito simples de armazenar a carne.
No outro dia o rapaz seguiu viagem e, por onde ele passava,
ensinava o jeito que armazenava o alimento. Muitas pessoas
gostaram da ideia, mal sabiam eles que aquilo que o rapaz tinha
aprendido com o bicho da mata chamava Surarî (Moquém).
Depois de um tempo, o rapaz decidiu voltar para visitar seus
pais. Quando chegou lá, contou toda a história de sua viagem,
principalmente o acontecido do peixe assado daquele jeito
que o bicho da mata fazia. Seu pai contou que o bicho que o
rapaz viu se chamava Surarî (Moquém). Então, desde esse dia,
o rapaz decidiu chamar aquele jeito de assar e de conservar
o peixe de Surarî (Moquém). E por isso a maioria das pessoas
hoje usa esse nome, surarî (moquém), para se referir àquele jeito
de assar e de conservar o peixe.
oigue´o okuapy, rire ma oigue´o mbae he´yn re irun
ijayvu ava´i va´e pe ojapo aguã mba´e pa oikuaa ra´e
ogutaa rupi: Pira´i oexy, ha´e rire ojopy paková rogue
rire oimama mba ju pira´i. Ha´e nunga oexá ramo ju
amboae kuery pe, ndaxyi´i ju xo´ó oimoin porã aguã.
Ko´engue ava´i va´e oó juma oaja ovy a rupi ombo´e meme
mba´exa pa tembi´u omoin porã. paven rei ojou porã ha´e
va´e ramingua va´eri mava´e ve ma ndoikuaai ava´i va´e
oikuaa ha´e nunga ka´aguy rupi gua gui Surarî (Moquém).
Hare rire ma ava´i va´e ojevy nguu kueryapy oipouu vy. Ha´e
py ovãe vy omombe´u pa mba´epa oiko ra´e oguataa rupi,
mba´e pa pira mbixy oexá ague ka´aguy rupi gua ojapo
ramo. Ha´e ramo tuu omobe´u vy ma ka´aguy rupi gua Surarî
(Moquém) hery he´i tuu. Ha´e rire guive ava´i va´e Surarî
(Moquém) omboery pira mbixy ha´e omoin porã a.
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Isael
Maxakali
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NOSSOS DESENHOS TÊM CANTO
Sou Isael Maxakali. Moro aqui na Aldeia Hãmkãim, no município
de Ladainha, Minas Gerais.
Quero falar um pouquinho sobre a nossa arte, os nossos
desenhos. Eu gosto muito do meu trabalho porque eu quero
fortalecer a nossa cultura, a nossa arte indígena também. Aqui
todos nós desenhamos, temos cantos, temos pinturas. Por isso
eu fiz desenhos para a exposição Moquém_Surarî: para colocar
no museu e o não índio conhecer o meu trabalho também.
Eu estou fortalecendo a nossa cultura. Porque quando eu faço desenho, para
mim parece que o desenho está vivo, só falta andar. Todos os desenhos têm
história, têm canto. Todos os bichos que existem, os antepassados, já não
existem mais, os bichos grandes, jacaré, anta, capivara, sucuri. E hoje nós
estamos fazendo os desenhos dos bichos, o desenho representa o bicho
grande. Os nossos cantos preservam o nome de bichos que não existem mais.
Por isso nós estamos trabalhando e fazendo muitos desenhos
para exposições também. Nós temos que mostrar o nosso
conhecimento diferente, o conhecimento do povo Maxakali.
Bay.
ORE TA´Ã ANGA OIM MBORAI
Xeema isael Maxakali aiko apy tekoa Hãmkãim, Ladainha tetã,
Minas Gerais py. Xeayvu xe mboapy`i koo ore rembiapo, ore
ta´ãga. Xee ajou porã raxa xe rembiapo há´e teim amobaraete
xe ore reko, ore mbya rembiapo. Apy paven ta´ã anga rojapo,
roguereko mborai, mba´e pytãa. Há´é vy japo ta´ã anga koo
mba´ejexauka Moquém_Surarî: omoin omoin porã ymã guare
atypy py heta va´e kuery oikuaa aguã xerembiapo. Xee
amobaraete ore reko. Ta´ã anga ajapora ramo, xevype he´iarami
oiko ve merami, oata ma oguata. Ijavi ta´anga ma oguereko
omombeúa, oin mborai. Há´e javi mymba ikuai va´e, yma guare,
ndoikovei ma, mymba tuvixa va´e, he´xa karen va´e, tapi(mbore),
capi´yva, kuriju. Ayma jajapo mymba ra´ã anga, ta´ã anga
jexauka mymba ka´aguy tuvixa va´e. Ore mborai omoin porã
mymba rery ndoiko vei ma ãy. Há´e ramo rojapo heta ta´ã anga
koo mba´e jexauka aguã. Nhande Ma jaxauka rã nhande arandu
amboaea, arandu Maxakali regua.
Bay!
Há´evete!
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REATIVANDO SABERES E PRÁTICAS
Sou Vanginei Leite Silva, conhecido como Nei Leite Xakriabá,
professor indígena, pesquisador e artista. Moro na Aldeia
Barreiro Preto, Terra Indígena Xakriabá, no município de São
João das Missões, Minas Gerais.
Estamos vivendo nessas três últimas décadas, a partir
da homologação do nosso território e da implantação da
escola indígena, um movimento de retomada cultural com
o objetivo de garantir a recuperação e transmissão desse
patrimônio cultural às gerações mais novas, escapando,
assim, do perigo de elas serem apartadas desses
conhecimentos ancestrais devido às ações do colonizador.
E a escola indígena tem sido uma das aliadas a essa luta
desde quando passaram a contratar somente servidores
do próprio povo e adotaram metodologias direcionadas
para uma educação diferenciada, tendo como prioridade
o fortalecimento das práticas tradicionais. Os professores
passaram a fazer o curso de Magistério Indígena, que foi
uma conquista da luta dos povos diante a Secretaria de
ARANDU MBA’EKUAA NHEMOKYRE’YIN
Nei Leite
Xakriabá
Xee ma Vanginei Leite Silva, xerenoim rive vy ma Nei
Leite Xakriaba, nhombo’ea ha’e mba’emo oikuaa
pota va’e, mba’emo tembiapo regua va’e avei. Ain
tekoa Barreiro Preto py, Xakriaba yvy re. Tetã ma são
João das Missões, Minas Gerais pygua. Ore yvy, ore
vy pe ma omboaxa ramo mae ore kuery ore kuai ma
nhembo’eaty romopu’ã ha’egui ore reko romombaraete
jevy ju aguã roexauka aguã kyringue ve kuery pe,
hexarai he´yn aguã xeramoi kuery arandu yvy pó kuery
opamba’e ojapo ramo jepe. Nhembo’eaty oin rire ma
ore pytyvõ avei kova’e rupi nhemombaraete aguã ore
reko, ha’e vy ma ore regua ete’i anho’in omba’eapo
aguã rami, ha’e vy ma ojapo nhandereko rupi rei
onhembo’e aguã. Ha’e rami vy ma nhombo’ea kuery
ojapo ju onhembo’é porã ve aguã, kova’é nhemboé
ma oin aguã ma rojoguero’a nhembo´eare opena
va´e kuery reve Minas Gerais pygua reve. Kova’e rire
ma rojapo ju nhembo’e aguã ju kyringue nhombo’ea
Estado de Educação de Minas Gerais, em parceria com
a Universidade Federal de Minas Gerais. Em seguida,
criamos também o curso de Formação Intercultural para
Educadores Indígenas, da Faculdade de Educação da
UFMG (FIEI/FaE-UFMG), que resultou em várias pesquisas
e pesquisadores de nossos próprios povos. Desse modo
a instituição escola passou a ter mais sentido para nós,
formando pesquisadores indígenas alimentados pela ideia
de pertencimento e preparados para viver na sua terra
e também transitar no mundo dos não indígenas sem
abandonar suas raízes. Tudo isso contribuiu assim para
nos conscientizarmos cada vez mais do direito à cultura,
à diferença e à diversidade cultural, que eram antes
desmotivados pela escola anterior não indígena.
Para reativarmos algumas práticas culturais do nosso
povo, que estavam adormecidas, fazemos as retomadas.
“Retomada” é uma palavra usada para as retomadas de
terra, ou seja, ocupações das terras nossas anteriormente
invadidas por fazendeiros ou posseiros, para tomá-las
de volta. Nas retomadas culturais, tomamos de volta as
va’é kuery pe Faculdade da Educação UFMG (FIEI/
FaE-UFMG) py. Kova’e gui py oxē mba’emo oikuaa
pota va’é rã erã. Kova’e rupi rei vy py ayn nhembo’eaty
ore vy pe oin porã. Nhande kuery oxē oikuaa pota va’e
rã marami pa oiko kuaa aguã guekoa rupi ha’e heta
va’e kuery mbyte rupi oiko ramo jepe gueko ete’i gui
omombo rei he’yn aguã. Kova’e gui ae py virami ore vy
pe nhemoexakã ve nhandereko re. Kova’e’yn mbove
py heta va’é kuery nhombo’eaty naikyre’yin Kova’e re.
Ore reko rupi ore kyre’yin ju aguã ma rojapo opamba’e’i
‘rojopy jevy ju aguã ‘ kova’e ayvu ma ojeporu nhande yvy
jajopy ju aguã nhande rekoa va’é heta va’é kuery ojopy
pa va’e kue. Ore reko py rei rojevy ju aguã py ma rojapo
jevy ju ma yma guare rami, ore reko, ore rembiapo aguã,
jegua ha’e ore ayvu ete’i py guive.
Nhombo’ea rami aiko aguã xerekoa py jave mae
ronhepyrū ramo ju nhae’um regua re. Ha’e gui
nhombo’eaty Rogério Godoy ombo’e xakriaba
nhae’um re anho’ī hembiapo va’é kuery pe jave avei.
Kova’e gui ae ma anhembo’e eravy avei nhae’um ete’i
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práticas antigas, os costumes, as práticas artísticas, a
pintura corporal, ou a língua. A retomada da produção
de cerâmica aconteceu a partir do momento em que fui
escolhido para ser professor indígena em minha aldeia
na disciplina de arte e também a partir de uma oficina
realizada pelo professor Rogério Godoy com os artistas
ceramistas xakriabá. Esta oficina foi parte de uma das
ações decorrentes do meu estudo sobre a Cerâmica
Tradicional Xakriabá, realizado durante o Curso de
Formação Intercultural de Educadores Indígenas pela
FaE-UFMG. Até então os ceramistas produziam algumas
peças de cerâmica, mas já não as queimavam mais e
por isso as peças não tinham muita utilidade, já que não
ficavam firmes, ou se desmanchavam com o tempo.
Na minha pesquisa com a cerâmica, fui aprendendo
cada vez mais as técnicas de modelagem e a queima
tradicionais e, ao mesmo tempo, buscando agregar valor
à peça transferindo os traços da nossa pintura corporal
para ela. Procurei ir melhorando os acabamentos e criando
tampas para as moringas com figuras de animais do
xakriaba regua, nhombo’ea kuery onhembo’e jave
FaE-UFMG py. Amongue rive’i ma nhae’um gui gua
mba’emo ojapo va’e ikuai, ndoapy vei ma ha’e vy py
ivaipa voi. Nhae’um regua aikuaa pota jave rupi mae
aikuaa ve ma avei avy, marami pa jajapo aguã mba’e
mo, japy aguã avei yma guare rami. Ha’e ramia rupi
amoin ore jegua ambopara eravy nhae’um re. Anhea’ã
ajapo porã ve aguã marami pa mymba jai´ity pygua
ra’anga ajapo, mba’e mo mbotya’i re amoī aguã. Xexy
xembo’e marami pa ajapo aguã mymba ra’anga’i.
Xekyrim jave aexa va’e kue mymba’i ajapo avei.
Xekyrim jave ma xetuty xembo´e rive vy xerenoin vy
^^tatu’i^^ Ha’e gui ae py xevy pe oin ajapo aguã y´á
ropeky jere´i -tatu. Xe kunhataim aiko jave ajopy xe vai
Taguato ra’y’i. Há’e rami py ajapo avei y´á ropeky jere´i
-taguato ra’anga. Xe kyrim guive aendu ijayvua ramo
xivi para re. Peteim xivi para iporã ete, ha’e vy py ayn
peve ore ramoim kuery reve nhonhe’ē rendu. Ha’e vy
py ajapo avei y´á ropeky jere´i xivi para ra’anga. Xeru
ma amongue ojeporaka’i vy oo jave ogueru jepi xo’o
cerrado, nativos da nossa terra. Como já havia aprendido
com minha mãe a modelar com o barro algumas figuras
de animais da nossa região, resolvi colocar nas moringas
essas tampas, representando alguns dos animais que
marcaram minha infância. Quando criança recebi pelo
meu tio, por ser pequeno, um apelido de “tatu bolinha”,
daí surgiu a inspiração para fazer a Moringa Tatu. Durante
minha adolescência passei a pegar filhotes de gaviões e a
domesticá-los. E assim surgiu a ideia da Moringa Gavião.
Desde muito novo ouvia meus parentes falando da onçacabocla ou Iaiá cabocla, uma onça encantada, nossa
protetora que ainda nos dias de hoje se comunica com
nossos pajés. Resolvi então criar a Moringa Onça. Como
meu pai era caçador e sempre trazia de suas caçadas essa
ave para nos alimentar, pensei em fazer a Moringa Jacu, já
que me remetia a muitas lembranças da infância.
A coleta do barro está relacionada às quadras da lua e
ao ciclo das chuvas. Durante o tempo do broto, da lua
minguante e muito nova, o barro está fraco, racha muito, o
que indica que não é tempo de buscá-lo. O broto começa
ka’aguy’i ore mongaru aguã, ha’e vy ma ajapo avei y´á
ropeky jere´i-nhakupē ra’anga. Kova’e ma xe kyrim aiko
jave xemaedu’a. Nhae’um ma nhanoē aguã ma ama’ē
ranhe mba’exa gua jaxy re pa ha’e ve, ha’e oky re avei
nham’ē. Jaxy nhepytū re ha’e jaxy ra’y jave ma nhae’um
na´in porã in, onhepe’ã mba rã, nda’evei Kova’e jaxy
re jaru aguã nhae’um. Agosto re ma mba’emo yky’i
enhoim mba ju ma hogue’i ipyau pa ju ma, henhoim’in
va’é rã va’é kue ekue henhoim mba rire ma oky are ju rã.
Peixa jave ma xakriaba kuery ndojapoi há’e naembiapoi
nhae’um re. Kokue rã rupi rive ikuai, oky ete rei kova’e
jaxy re. Kunhangue ndojapoi avei gueko py ikuai jave.
Opoko ramo opamba’e guete re oendu mba’eaxy.
Mba’emo jaipota vy ma jaxy ha’e oky re raē ma jaikuaa
pota, jajerure ija kuery pe. Nhae’um ma jaru rã mba’emo
enhoim mbove ha’egui henhoim mba rire, jaxy onhepytū
jave avi. Jaxy ma mba’emo renhoim yvyrupa re oiko
va’e va’e re onhangareko, yvyrupa ma nhandere ipoaka.
Xakriaba kuery ma hembiapo ve nhae’um gui anho rei,
nhae’um re ha’e yvy re ma jaxy ae onhangareko.
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no mês de agosto, quando as plantas começam a renovar
suas folhas, e termina alguns dias depois das primeiras
chuvas do tempo das águas. As águas são o período
chuvoso. Durante essa época, os Xakriabá quase não
fazem peças de barro porque estão ocupados nos roçados,
porque é o período chuvoso. As mulheres não pegam no
barro durante os dias em que estão menstruadas, pois
neste período a relação com o barro pode provocar doença
no corpo. É a lua e a chuva quem nos falam o tempo certo
de pedir para a Mãe Terra permissão para buscar o barro
debaixo do chão. O barro tem que ser buscado antes ou
depois que passar os tempos do broto, o tempo da lua
minguante e dos três primeiros dias da lua nova. Assim
como a lua possui autoridade sobre a terra, a terra tem
autoridade sobre nós. Os objetos da cerâmica xakriabá
são produzidos do barro, o barro é a terra que está sob os
cuidados da Lua.
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Rita Sales
Huni Kuin
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A ORIGEM DA AYAHUASCA DO POVO HUNI KUIN
ATRAVÉS DE YUBE INU E YUBE SHANU
A partir do momento que meu pai, Ibã Huni Kuin, fundou o
Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU), trabalhando nas
obras de pintura e contando nas músicas os mitos do nosso
povo, começou a despertar em mim de querer fazer vários
desenhos diferentes sobre as mesmas músicas ou histórias.
Foi aí então que comecei a observar as árvores, o rio, as
pessoas, e comecei a pintá-las. Foi um desafio grande, minha
professora era a própria natureza, principalmente quando
não tinha nenhum incentivo de ninguém. Teve momentos em
que eu observava as pinturas de outras pessoas, lindas e
coloridas, e me sentia incapaz de fazer igual. Por isso passei
uns tempos sem fazer pinturas, ficava só observando!
Em 2009 veio um artista do Rio de Janeiro e trouxe algum
material de pintura, eu o vi entregando para alguns artistas
da comunidade para fazer pinturas para uma exposição.
Me arrisquei de ir lá e me oferecer para pintar também. Fiz,
entrei, fui remunerada e fiquei muito feliz. Naquele momento
AYAHUASCA YJYPY HUNI KUIN KUERY PE YUBE
INU HA´E YUBE SHANU GUI
Xeru, Ibã Huni Kuin ojapó nhemomyi imbavyky kua
guery Huni Kuin (MAHKU) ombaeapó nhembopará
re ha´e mboarai oporai vy omombe´u ore roikuaá
va´e rupi gua, ha´e ramo xevoi xekyre´yn ajapó aguã
mborai ha´egui amb opará aguã ha´e roikuaá va´e rupi
gua omombe´u va´kue regua regua re. Ha´e rire aema
ama´en gatu yvyrá re, yakã re, nahnde kuery re rire ma
ajapo ma jegua. Haxy rei ijypy gui, mba´eiko xembo´ea
aema ka´aguy´i ha´egui movãe ve ma naxepytyvõi ramo
gui ve. Amomgue py ma amobae kuery jegua ojapó
va´ekue re ama´en ramo iporã vaipa´i ipará porã ve ju
ramo xevype ramo haxy ve ta merami ajapó aguã ha´e
kuery rami. ha´e rami vy ma haré rai ju ndajapó vei
jegua, ama´en gatu rive ju aikovy.
2009 jave ma oú karamboae petemi imbavyky va´eguery
Rio De janeiro pygua ha´e vy ogueru mba´emo jegua
ojapó aguã ha´evy ome me´en imbavyky va´e kuery
comecei novamente a despertar pelas pinturas, comecei
a fazer o que a minha visão me mostrava, e não o que as
pessoas queriam que eu fizesse. Aos poucos eu e minha
irmã, Yaka Huni Kuin, começamos a pintar. Nossa maior
dificuldade foi encontrar os materiais quando faltavam,
pois moramos em uma pequena cidade no Acre, onde
tudo é muito de difícil acesso e distante. Mesmo assim,
não desistimos de nosso sonho de sempre fazer o melhor
da gente! Sempre mantivemos a confiança, dando firmeza
uma para outra para não desistirmos! Conforme o tempo
foi passando hoje tenho as minhas pinturas como uma das
minhas melhores inspirações, pois além de ter paixão pelo
que faço, as pinturas são sempre a minha terapia. Enquanto
eu faço as minhas obras, eu voo na minha imaginação,
sempre buscando algo novo para deixar registrado na
tela, pois para mim as pinturas não são apenas histórias
e músicas, são as histórias da nossa ancestralidade, de
energias e recordações passadas a cada geração. Hoje eu
amo o que eu faço, além de ser meu sustento, é também
onde sempre busco as respostas para um novo trabalho!
apy ikuai va´e pe ojapó aguã mbavyky ha´e ojapó aguã
oguero xauka aguã. ha´e ramo xee aa vi ajopy vi ajapó
aguã jegua. Ha´erire ma ajpó rire ma omboepy´i ju
xevype ramo avy´a vaipa. Ha´e va´e gui kue ma xee ajapó
juma vi xee ajapó xe arami xee aexáa rami amboae
kuery oipotaa ramingua he´yn ju. Mbeguei´i rupi ma xee
ha´e xekypy´y Yaka Huni Kuin rojapó rovy jegua. Orevy
pe haxy ve va´e rojoú aguã mba´emo rojapó aguã oatá
java jave mba´eiko ore roiko tetã’i kyrin’i va’e py Acre
py ha’e gui mombyry guive opamba’e gui. Va’e ri ha’e
rami rei tein ore rojapo tema ndoroeja tema rivei aguã.
Roguereko xerovia ha´egui ronhopyvõ jovai gui ndoroejai
aguã! ha´e vy mbovy ara rei he´yn ma ayn areko jeguas
xemba´e meme, mba´eiko ha´a va´e aema ajapó xevai´i
va´e. Ajapó nhavõ re xee xeakã py ramo aveve mombyry,
aeká mba´emo pyau ambopará aguã, mba´eiko jevype
ramo ma jegua roikuaá rupi gua ha´e mboarai anho he´yn
merami, ha´e va´e py kaújo nhande arandu yma guare
gui ve aema ha´egui nhema´endu´a ha´egui mbaraeté
mby´a guaxu nhamboaxá javy va´e gui ve ma. ayn gui ma
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Entre as várias pinturas que eu faço, a principal é a pintura
sobre a história do Yube Inu e Yube Shanu, o índio caçador
e a mulher-jiboia, que é a história do surgimento da
Ayahuasca! Vou contar essa história para vocês.
Em uma aldeia morava uma comunidade indígena, lá um índio
sempre ia caçar. Certo dia ele saiu novamente e encontrou
muitas pegadas de vários animais que naquele local
passavam devido à fartura de alimentos. Na beira do lago
havia um pé de jenipapo com muitos frutos, por causa disso
vários animais circulavam ali. Quando o índio chamado Yube
Inu chegou ao local, percebeu essa circulação. Para ele, um
caçador, aquilo era um prato cheio. Então Yube Inu fez uma
tocaia, que é um esconderijo de caçador para esperar a presa
chegar sem que ela perceba. Yube Inu esperou... até um
momento que ficou cansado e começou a tirar um cochilo.
Quando ouviu um barulho vindo na sua direção, rapidamente
levantou-se e olhou pela pequena brecha, viu uma anta.
Esperou a anta chegar mais perto para tentar matá-la. Porém
foi surpreendido quando viu que a anta não era um animal
comum, era diferente. A anta pegou três frutas de jenipapo
ajapó xevai xerembiapó ha´e gui aema ayn gui ajoú ipire´i
va´e ha´e gui ajoú mba´emo pyau re xerembiapó aguã.
Heta regua jegua ajapo va´e ri kaújo Yube Inu, Ava´i va´e
mba´emo ombo´á va´e, ha´e gui Yube Shanu, Kunha mboi
va´e regua, ha´e va´e ma Ayahuasca ijypy ague regua!
Tamombe´u havy pendevype roikuaá va´e re regua.
Peteim tekoa py ma ikuai raka´e heta nhande kuery,
ha´e py oiko raka´e petei ava´i va´e mba´emo ra´y
ombo´a´i va´e. Peteim ara ma ha´e oó juma ka´aguy
re vy oexá reta mba´emo pypó mba´eiko okaru vy
ikuaiaty rupi oiko ramo. Yakã rembe re oin petei yvyrá
jenipapo hi´a reta oiny, ha´e ramo heta mba´emo ra´y
ikuai. Ha´evy petei nhade´i va´e Yube Inu hery va´e
ovãe, ha´epy oexá mba´emmo ra´y oaxá okuapy ramo.
Ixupé mba´emo ra´y ombo´a jevai va´e pe ramo ha´e
py ha´eve vaipa ma ra´e. Ha´e rire ma ha´e onhemi
aguã ojapo ma, mba´emo rei ovãe vy oexá he´yn aguã.
Yube Inu iporarõ ma… Ha´erire ma ikane´õ vy ma oke
ma ra´e. Ha´e rire ma oendu ma ipiru piru nhendu
ouvy ha´e oin a katy ramo ve´i hexákua ma ikua´i gui
do chão e jogou em três direções diferentes dentro do lago,
esperou alguns segundos e começaram a sair bolhas de
dentro da água. Então surgiu uma mulher branca de cabelos
longos pretos, e saiu do lago para a terra.
Surpreso, Yube Inu ficou observando silenciosamente da
tocaia, vendo tudo que estava acontecendo! Ao sair da
água, a mulher-jiboia, chamada Yube Shanu, teve uma
relação de amor com a anta. Logo depois Yube Shanu
voltou para o lago e a anta foi embora! O caçador Yube
Inu saiu da sua tocaia e repetiu a mesma cena que a anta,
porém ao perceber que Yube Shanu, a mulher-jiboia, viria ao
seu encontro, ele se escondeu atrás do pé de jenipapo. Ao
sair da água Yube Shanu perguntou:
— Quem me chamou que não está aqui? Aparece! Quero ver você!
Yube Inu apareceu devagar e se apresentou a ela:
— Fui eu! Eu vi o que a anta fez, fiquei curioso para saber!
E fiz também para saber quem é você!
E ela se apresentou:
— Eu sou Yube Shanu! E você, quem é?
— Eu sou Yube Inu!
oexá peteim Mboré´i. Ha´evy ma oarõ mbore´i ova´en
ve´i aguã hembia nhea´ã aguã hexe. Ha´e rire ma
ha´e onhemondyi rai mba´eiko oexá ramo py mbore´i
amboae rei merami ramo. Ha´e rire ma mbore´i ojopy
mboapy jenipapo á´i yvy gui rire ma omombó joá katy
he´yn yakã katy, oarõ xapy´a´i rire ma yy opupu pupu
ma yakã re. Ha´e rire peteim kunha ipire ju´i va´e oen
yakã gui.
Onhemondyi rai vy Yube Inu onhemi reve oma´en tema
mba´e pa oikoa re! Yakã gui oen vy kunha mboi va´e
Yube Shanu hery va´e ojexáupi ma mbore reve. Ha´e rire
ma Yube Shanu ojevy ju yy re ha´e gui mbore oó ju avi!
Ha´e rire ma Yube Inu oen ju onhemi ague gui vy ha´e ju
ojapó mbore´i ojapó ague rami ha´e ri Yube Shanu, kunha
mboi va´e oen taramo ve ha´e anhemi ju jenipapo yvypy
py. Yy gui oen Yube Shanu vy ma ijayvu:
— Mova´e tu xerenoi ha´e gui ndaipoi ju? Ejekuaa ma!
Roexá xe ma! He´i
Yube Inu ojekuaa mbeguei´i vy onhemombe´u ixupe:
— Xee ma! aexá ma mbore ojapó ramo, aikuaa xe avi
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E ela falou:
— Você é como eu! Quero namorar você!
Tiveram relação, a mulher-jiboia se apaixonou por Yube Inu,
e ele também se apaixonou por ela. Yube Shanu falou:
— Tenho que ir, minha família está me esperando.
— Você veio de onde? – perguntou o índio-caçador.
— Eu sou lá do fundo das águas desse lago! E quem é você?
— Eu sou daqui, eu vim caçar e encontrei a anta fazendo
esse encantamento com você!
— Você é casado? Vamos morar comigo, vou te levar!
Então a mulher-jiboia colheu algumas ervas medicinais da
mata e passou nos olhos do Yube Inu e foram juntos para o
lago. Sob o encanto da erva, o caçador percebeu que já não
pertencia mais ao mundo em que vivia. Quando chegou no
mundo das águas, percebeu que era tudo diferente do seu
mundo anterior. Yube Inu foi recebido como um estranho,
afinal era um humano no mundo aquático das jiboias,
dos peixes e todos aqueles que respiram debaixo d’água.
Chegando lá, ele foi apresentado como novo esposo de
Yube Shanu e as famílias ficaram muito contentes, mas
xevoi! Ha´egui ajapó aikuaa xe vy mava´e tu ndee!
Ha´e onhemombe´u avi:
— Xee ma Yube Shanu! Havy ndee, mova´e tu? He´i
— Xee ma Yube Inu! He´i
Ha´e ramo kunha va´e aipo he´i
— Ndee tu xee rami aeri! Apena xe ma ndereé! He´i
Ha´e vy ma opena joé, Kunha Mboi va´e ija´éte Yube
Inu re, ha´gui ava´i va´e voi ija´éte avi hexe. Ha´evy Yube
Shanu aipo he´i:
— Xee aá ju tama, xeretarã kuery xerarõ ma. He´i
— Mamo gui tu reju? - Oporandu ava´i va´e.
— Xee ma yy guyry gua! Havy mova´tu ndee?
— Xee ma apy guae, mba´emo re xerembiá vy aju vy
aexá mba´e pa mbore ojapo rã ndere!
— Remendá va´e pa ndee? Jaa xereve eiko,
rogueraa raema!
Ha´e vy ma kunha mboi va´e ojopy poã poã´i ha´egui
omboaxá Yube Inu rexá rupi rire ma jogueraa yy re.
Oipoanõ rire ma ava´i va´e oikuaa ramo oiko ague rami
ve´yn ma. Yy guyry ova´en vy oexá ramo amboae pa
os peixes como a arraia, o mandi, o peixe elétrico, que
chamamos também de puraqué, e outros não gostaram
nada dessa ideia!
Ao longo do tempo, Yube Inu e Yube Shanu tiveram dois
filhos. Porém todos os trabalhos realizados por ela e por
sua família sempre eram segredo para o índio. Mesmo que
ele estivesse lá há bastante tempo, já tinha até filhos, os
trabalhos ainda eram de sigilo total, pois o pessoal tinha
medo de revelar os seus segredos ao mundo humano. Afinal
Yube Inu não era um deles, embora fosse marido da mulherjiboia, não deixava de ser um estranho. Por isso ele era
sempre proibido de comungar Nixi Pae, a ayahuasca, junto
com eles. Yube Shanu sempre falava que o caçador não
estava preparado ainda para isso!
Um certo dia, cansado de esconderem tudo dele e já
sabendo de várias coisas, pois observava de longe, Yube Inu
decidiu não obedecer mais a esposa e confrontou ela para
tomar dessa medicina que tanto escondiam.
Então a mulher-jiboia o levou, serviu a medicina ayahuasca,
o Nixi Pae. Quando ele começou a sentir a miração, na
rei ju oiko´i ague pyarami he´yn ju. Yube Inu ovaen
ramo amboae´i rami ju oexá okuapy mba´éiko ha´e py
nhande´i va´e va´eri oó yyguy re oiko vy. Ha’e py ovaen
ramo omombe’u ma vy Yube Shanu mé marity ra’e ramo
nhoetarã Kuery oguerovy’a pave, ha’e va’eri amongue
mongue’i má ndojoú porãi.
Haré ma joguereko vy oguereko mokoi mitã’i. Ha’evy
tavy mba’emo tembiapó Yube Shanu regua Kuery
ojapo va’e ma nomombe’ui ava’i pe. Haré vaipa ma
teim ixupe nomombe’ui ni ndoexaukai guive, ta’y
mokoi ma oikovy tein, mba’eiko yy guyry rupigua
kuery py okyje oexauka aguã. Yube Inu py ha’e Kuery
ramingua he’yn, kunha mboi re omendá tein py
amboae’i ae tevoi py ava’i. Ha’e vy aepy ndoejai ha’e
ho’anga aguã Nixi Pae, Ayuhuasca ixupé. Yube Shanu
ijayvu riae vy ha’e nda’evei teri ho’anga aguã He’i.
Peteim ara, py ma mba’emo onhomi rei riae ha’e ivai
ma, ha’e py oikuaa pa rei aema oexá mombyry jepi
va’e vy, Noendu rive vei ma ngua’yxy pe ho’u xe vy poã
onhomi rei okuapy va’e.
98
99
sua visão começaram a aparecer coisas pequenas como
borboletas, lagartas e outros bichinhos da mata! Quando
finalmente a força chegou forte, revelou a ele que o mundo
onde ele vivia já não era mais o que ele pensava. E sua esposa
e o restante das jiboias também estavam na força, e todos
já sabiam que Yube Inu descobriu o segredo do mundo das
jiboias, que estava sabendo de muitas coisas que aprendeu
durante a convivência. Então planejavam matar Yube Inu, na
tentativa de que ele não passasse aqueles conhecimentos
para a família da terra. Ainda na força, Yube Inu viu que
estava sendo engolido por sua própria mulher! E ele gritou, na
força, pedindo socorro porque estava sendo devorado pelas
jiboias! Veio sua mulher, Yube Shanu, e também seu sogro,
e cantaram uma música para curá-lo, porque aquilo não
passava de uma miração, e estava tudo bem!
No dia seguinte ele estava sempre triste, pensativo sobre a
visão que havia tido na força da ayahuasca, pois para ele era
tudo realidade. Yube Inu resolveu sair para caçar na tentativa
de fugir de volta para casa na terra, onde ele havia deixado
sua mulher e seus filhos!
Ha’e ramo ta´yxy ogueraa ma ha’e gui omoin má ixupé
ayuhuasca oy’ú aguã. Oy’ú rire ma oexá merami mba vy
oexá popo’i, mbii ha’e gui opamba’e ka’aguy re gua’i!
Ha’e rire poã imbaraeté ve re ju oú vy ma oexauka pa ma
ixupe ramo ha’e oexá mamo rupi pa oiko ague, ha’e gui
ha’e rupi ma ha’e oexa’ã rupi ve’yn ma oin ra’e. Ha’egui
ta’yxy voi oin avi amomboae mboi Kuery reve vy oexá
pa avi ava’i oexá va’ekue kue mba’eiko haré ma oiko vy
py ja oikuaa pa ma vaipa’i ma aepy mboi Kuery retã re
oikoapy. Ha’e vy ma ava’i va’e ojuká xe ma okuapy Yube
Inu pe, mba’emo oexá va’ekue ha’e gui oikuaa oikovy
va’ekue nomboaxái aguã nguentarã Kuery pe yvy re
ikuai va’e pe. Poã ho’u rire oka´u rei teri reve Yube Inu
oexá ramo ta’yxyae omokõ ma ovy! Ha’e rami rei ramo
ha’e ojapukai ma mboi Kuery omokõ ta maramo! Ha’e
ramo tayxy, Yube Shanu oú ha’e gui hatyvu, ha’e vy
oporai omboaxá pa aguã mba’eiko oexá merami mba
rive ma ra’e, mba’eve rei aema ra’e!
Ko’engue juma ha’e ndovy’ai rei, ojepy’apy rei
oikovy, ayuhuasca ho’ú vy oexá va’e kuere, ixupé
Quando ele estava na nascente de um igarapé, sentado,
pensando em como voltar, de repente apareceu um homem
bem moreno, que na verdade é um peixe encantado
chamado Ixkin, que chegou perto e perguntou:
— O que faz por aqui?
Yube Inu respondeu:
— Estou aqui perdido, tentando voltar para casa, pois a
minha mulher e a família dela na verdade são um bando de
jiboias e estão querendo me matar! Me ajuda! Me leva de
volta para casa?
Ixkin respondeu:
— Vamos! Eu ajudo você a fugir daqui! Você está vendo
esse meu cabelo todo quebrado? Pois é! Seus filhos e sua
mulher, que você deixou na terra, estão passando fome! Eles
quase me comeram, por pouco me salvei aqui no oco de um
pau no meio do rio! Eles queriam me pegar e eu fugi! Vou te
ajudar, sobe aqui nas minhas costas, que ajudo você chegar
até sua verdadeira família!
Ao chegar junto com sua família verdadeira, Yube Inu passou
vários dias contando as histórias e os mistérios do mundo
ramo py anhetegua meme aepy oexá. Yube Inu oó
ju ma ka’aguy re hembiá vy, ojavá xe’i vy oó ju aguã
ngoóeté’i re, ngua’yxy ha’e ngua’y Kuery oejá ague py!
Ha’e vy ha’e oin ri yy rembé re ojepy’apy oiny mba’epa
ojevy Ju aguã ngoó katy jave ma ovãe petei ava va’e
kamba rei’i va’e Ixkin hery va’e, ha’e vy oporandu ixupe:
— Mba’e tu rejapo koropi?
Yube Inu ombovai:
— Apy akanhy aikovy, aá nha’ã juma aikovy xeró katy,
mba’eiko xera’yxy ha’egui hetarã Kuery mboi meme
ha’egui xejuká xe ma okuapy! Xepytyvõ! Xereraá ju
xeró katy?
Ixkin ombovai:
— Jaa má! Roipytyvõ raema rejava aguã apy gui! Rexá
nha’ã xe’á ope ope’i va’e? Ndera’yxy ha’e ndera’y
Kuery yvy re rexá pa va’e kue ma ikaruai raxa ma
okuapy! Ha’e Kuery xe’u rai ma, haxy py ma aá jepe
kuri yvyrá ho’á va’ekue py anhemi vy rive! Xejopy xe
va’ekue aá jepe Ju! Va’e ri ejeupi xekupe torogueraá ju
neretarã kuery etei ikuaia py!
100
101
das jiboias. O caçador compartilhou tudo que vivenciou
durante aquele tempo nas águas, desde os pequenos
detalhes, até as coisas mais importantes. Enquanto isso, sua
outra família estava se preparando para sair a procurá-lo,
e planejavam matar Yube Inu quando o encontrassem.
Sua família verdadeira não deixava ele sair, nem para usar
o banheiro, na tentativa de protegê-lo, com medo de que
acontecesse alguma coisa! Ele fazia as necessidades
fisiológicas, tomava banho e comia suas refeições diárias
sem sair de casa!
Até que um dia Yube Inu resolveu sair um pouco, quando de
repente vem uma jiboinha, um dos seus filhos mais novos,
cantando o seguinte: Sirim sirim sirim – e acabou engolindo
o dedim do seu pé na tentativa de engolir o pai! Veio o
segundo filho fazendo a mesma coisa: Sirim sirim sirim – e
engoliu o dedão do pé! Por fim veio Yube Shanu, a mulherjiboia, que engoliu Yube Inu até a cintura, conforme a visão
que ele teve na força da ayahuasca! Porém ele se apoiou
entre uma árvore e outra, se segurou e gritou pedindo ajuda
de outros parentes:
Ovãe juma nguentarã Kuery ete’iapy vy ma Yube Inu
kaújo omombe’uare oin mbovy ara rei he’yn mboi
Kuery retã regua re. Ha’e omombe’u pa katui’in. Ha’e
rami aja amobae hetarã ramingua Kuery oiko katu ma
okuapy oeka aguã ixupe, ojoú mavy ojuká aguã rami
onhemonby’á okuapy. Hetarã etei ndojejai oen oen aguã,
jaí py pó aguã mavoi, oguerokyje vy! Ha’erami okuaru
ha’e ojaú, okaru oguypy meme!
Ha’e rire ma peteim ara ha’e oen japy´a´i raga vy oexá
petei mboi’i, ta’y ijapyre kue ma oú ra’e vy oporai:
Sirim Sirim Sirim - ha’e vy omokõ ipynxá peteim, nguu
pe omokõ mba nhea’ã vy! Ha’e rire ma amboae mboi
ju oú ha’e kue rami ju ojapo ypynxã Rovai Ju omokõ,
ha’e rire opa’iapy ma Yube Shanu ju oú vy ma omokõ
iku’á peve ayuhuasca ho’ú jave oexá ague rami! Va’eri
ha’e ojejopy yvyrá re vy ojapukai nguentarã Kuery pe
oipytyvõ aguã:
— Xepytyvõ apy! Mboi kuery xemokõ ta má!!!
Ha’e javi ve jogueru onhãmba reve, ha’e rami mboi
Kuery opoi ju ha’egui ojeoi pa ju. Yube Inu ogueraa
— Por favor, me ajudem! As cobras estão me engolindo!!!
Vieram todos correndo para socorrer, as jiboias soltaram
e foram embora. Yube Inu foi levado na rede até sua casa,
onde recebeu todos os cuidados necessários. Mas ele sabia
que iria morrer, porque a parte do corpo que foi engolida
estava apodrecendo. E conforme os dias foram passando,
ele foi explicando sobre a pouca experiência que teve no
contato com a ayahuasca. Até que chegou o momento de
Yube Inu fazer sua passagem, mas antes disso explicou que
ao completar sete dias era para ele ser visitado, pois dos
membros do corpo iriam nascer plantas medicinais, incluindo
principalmente o Jagube e a Chacrona. Yube Inu explicou
como tirar, fazer a mistura, preparar e comungar, ensinou as
músicas a serem cantadas, mas o resto ele iria explicar na
força, pois ele seria a própria força da medicina:
— Quem provar dessa medicina, estará comigo! Vai
aprender cada vez mais, pois irei ensinar vocês na força!
Depois de uma semana cumpriram o que foi dito, pois antes
ele ensinou tudo o que aprendeu no mundo das jiboias: as
pinturas, as canções, os segredos e tudo mais!
ju okuapy kya py hoó peve, ha’e py opena’i okuapy
aguã. Va’eri ha’e oikuaa mavoi opa’i rãa, mba’eiko
omokõ ague peve py hu’umba ma. Ha’erire peteim
teim ara oaxa ovy ramo ha’e omombe’u mba’exagua
pa oaxa raka’e ayuhuasca ho’ú jave. Ha’erire ma ovãe
ma Yube Inu oó’i má aguã, ha’e vy ma ha’e omombe’u
mboapy meme petei ara rire ma ojeoi aguã oipoú
aguã, mba’eiko hete kue’i gui ma henhoi va’e rã poã
poã’i, Jagube ha’e gui Chacrona. Yube Inu omembe’u
mba’exa pa heterã Kuery ojapo aguã poã, mba’e
mborai rãpa oporai, ha’e amboae ramingua mingua ma
poã ho’ú rire mara omombe’u:
— Kova’e poã ho’u va’e ma xereve rã oiko! Oikuaa pa rã
mba’emo regua, xee raema ambo’e!
Ha’e vy ma mboapy meme petei ara rire ma oporandu
va’ekue ojapo ma, ha’e py omombe’u paema rire
mboi kuery retã re oexá va’ekue kue: jegua, mborai
ha’e opa mba’e!
Ha’e rire aema ayn oiko kova’e poã, ha’e javi ve
ombojerovia’i va’e pe omo´ã randu ve ovy aguã!
102
103
É por isso que hoje em dia existe essa medicina sagrada
para todos aqueles que acreditam, e quanto mais
estudamos, mais aprendemos com ela!
Haux Haux! Viva Yube Inu!
É por isso que em minhas obras de pintura que me inspiram
a fazer é sobre essa história do surgimento da ayahuasca
através de Yube Inu e Yube Shanu!
Haux Haux! H´e vete Yube Inu!
Ha’e vy aema xee jegua ajapo va’e py aexauká ha’e
va’e regua, ayuhuasca ijjypy ague regua Yube Inu ha’e
Yube Shanu gui!
104
Sueli
Maxakali
105
NOSSAS IMAGENS, NOSSA CULTURA
Meu nome é Sueli Maxakali, sou da Aldeia Hãmkãim. Mas
quando eu comecei a trabalhar com imagens, eu morava na
Aldeia Verde. Eu vou falar um pouquinho sobre meu trabalho
que está na exposição Moquém_Surarî e também sobre
quando eu comecei a trabalhar. Foi assim.
A primeira coisa, quando eu peguei na máquina, eu
comecei a tirar foto com as meninas da Aldeia Verde para
fazer um livro, Koxuk xop/Imagem: fotografias tikmũ’ũn
de Aldeia Verde (2009). Foi quando tivemos essa ideia
de fazer um livro. As fotos que escolhi para o livro são
tipo imagem, koxuk. Eu escolhi aquelas fotos porque
elas parecem muito quando desenhamos, parecem
uma imagem de espírito, de yãmĩy. Pode parecer que
está um pouquinho borrado, mas nós tivemos que
escolher daquele jeito, para poder mostrar nossa cultura.
Fotografia, em nossa língua maxakali, também chama
koxuk. Ao mesmo tempo, para nós, espírito é koxuk e
também yãmĩy.
ORE Ã, ORE REKO
Xerery ma Sueli Maxakali, xee ma tekoa Hãmkaim.
Anhepyrun mba´eapo koo hi´ã ranga re, jave, xee aiko
tekoa hovy py teri. Xe ayvu ta mboapy`i xerembiapore
oin va´e koo mba´e jexauka py guare Moquém_Surarî
ha´e ara ka´e pa anhenpyrun koo tembiapo. Virami ma
Yjy pyre ma, ajopy te´ã mboia gui, amboypy te´ã aipe´a
kunhangue´i gui krã mboae Tekoa hovy pygua reve
ojejapo aguã peteim kuatia pará, Koxuk xop / há´ã anga:
hi`ã anga tekoa hovy (2009). Há´e pyma hexakã peteim
kuatia pará rojapo ãguã. Hi´ã ranga aiporavo kuatia re
varã ma koo hi´ã, koxuk, aiporavo há´e va´e ma há´e
teim ojekua reta rei ta´ã anga japoa rami rei, há´e vy
nda hi´ã ojekua mba´emo nhe´en va´e rami. Ndojekua
porai merami oje´o rei merami, va`eri roiporavo há´e
rami teim, roexauka aguã ore reko. Nho´ã mboia gui, ore
ayvu py maxakali, roenoi koxuk. Va´eri. Ore vype, nhe´en
há´égui hi´ã. Há´e vy ma roiporavo tema. Nhenpyrun
tembiapo. Há´e rire rojapo kuatia. Ymã kuare moin porã
Então tivemos que escolher. Começamos a trabalhar.
Depois fizemos cartazes para o Museu do Índio. Nós
fizemos uma exposição lá também. E isso ajudou bastante
para mostrar os nossos yãmĩy fora da aldeia. Isso também
foi importante para o pessoal ter mais conhecimento sobre
algumas espécies de bichos que hoje, aqui no Vale do
Mucuri, acabaram. Vejo que ainda tem poucos bichos, eles
se adaptaram dentro da água poluída, como a gente vê
às vezes algum kegmaih. Para nós, kegmaih é um espírito
também. Kegmaih é um espírito que, quando a gente
derruba, passa massa de mandioca nele para ele poder
levantar. Kegmaih é tartaruga. Como a gente vê, em Teófilo
Otoni mesmo, onde tem água poluída e tem um monte de
kegmaih. A gente vê que são muitas as espécies que estão
sofrendo pela violência toda contra os bichos, e a gente se
preocupa muito com isso.
Também queria dizer que nosso povo está na luta pela terra
para poder voltar nosso yãmĩy, para ele ficar bem forte, e
voltar também nossa mata, que é mîmputax. Quando nós
falamos mîmputax é o espírito da madeira que tem dentro
aty py nhande kuery pe. Roxauka há´e py guive. Há´e
orepytyvon vaipa´í roxauka aguã ore mba´e nhe´en
okakaty ve. Há´e voi Iporã hete há´e hetave guive
oikuaa ve koo mymba ka´aguy regua ãyn, koo Vale
do Mucuri, opama. Haexa ma mboapy`i ma mymba
ka´aguy, há´e kuery ojepokuaa yy ky´apy, Há´e rami ore
roexa amongue kedmaih. Ore vype ma nhe´en porã
havi Kegmanih ma nhee havi, jaity maramo, emboaxa
mandi´ó hapomo hexe marã há´e opu´ã ju aguã.
Kegmaih ma karumbe. Ore roexa harami, Teófilo otoni,
mano rã oin yy ky´á oin heta kegmaih. Roexa heta
regua mymba ka´águy. Ojexavai okuapy koo mba´e vai
mymba re, ore jojepy´a py raxa kova´e re. Xeayvu xe
havi ore xeregua kuery ikuai joguero´a vi yvy re ojevy
aguã ore mba´e nhe´em há´e imbaraete aguã, ojevy
aguã ka´aguy orevype, ore mba´e nhe´en. Ore ayvu
maramo mba´e nhe´en ro´e maramo yvyra nhe´en ka´a
guyre ikuai va´e pe, ãyn opama ovy Mba´emo vai oiko
ramoi. Mba´emo nhe´en ma orevy pe iporã hete va´e
Kegmaih, nhe´en ka´aguy re ikuai, oexa há´e kuery.
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107
do mato, que hoje está acabando por causa da violência
contra as matas também. E os yãmĩy para nós são muito
importantes. Kegmaih, espírito, ficam tudo dentro da mata,
eles vêm de dentro da mata. Mas hoje estão acabando.
As fotos também são muito importantes. Tirar foto hoje é
diferente do que você via antigamente, por isso é muito
importante registrar. Hoje em dia as fotos estão mudando
cada vez mais. É muito importante a gente tirar fotos, fazer
mais livros, fazer mais escola. Ter a terra para fazer escola-floresta para fazer mais atividades, fazer mais livros. Tudo
isso é muito importante para nossas crianças. As fotos, os
quadros fazem as crianças de fora da aldeia verem também,
para diminuir mais o preconceito. Porque ainda existe muito
preconceito contra nós, indígenas Maxakali.
Bay!
Va´e ri ayma. Opa ovy ma Ta´ã anga nhemboi iporã
havi. Ta´ã anga ãyn jaipe´a mbaoe rami jaexayma
guare rami ve´yn, há´e rupi iporã hete nhamoiporã.
Ayn ta´ã anga voi hovapa ve ovy ve. Iporã hete jaipe´a
ta´ã anga, jajapo ve kuatia pará, jejapove nhembo´ea.
Jareko yvy jejapo aguã nhembo´ea ka´aguyre jejapove
aguã tembiapo, kuatia pará há´e va´e javi ma iporã
hete nhane kuyringue pe. ta´ã anga, mba´emo rã´ã
anga ojapo kuyringueoka rupi (jurua kuery) oexa aguã,
há´e rami orerexa porã ve´i aguã. Oin tery Ndorerexa
porãia orere, mbya Maxakali.
Bay!
Há´e vete!
108
Vernon Foster
109
ARTE INDÍGENA CONTEMPORÂNEA
A arte está aí desde que a humanidade existe. Sendo relativamente
novo no mundo da arte, enquanto artista, só posso dar o meu ponto
de vista, pois a arte está nos olhos de quem a vê. Enquanto uma
pessoa conhecedora da história e do folclore da cultura ameríndia,
achei isso não apenas emocionante, mas um importante meio de
preservação. Alguns dos antigos aspectos de uma cultura deram
lugar à passagem do tempo, mas é por diversos meios que essa
cultura continua viva à medida que cultivamos seu significado. O
trabalho da arte também foi feito com a intenção de preservar a
cultura para futuras gerações. Talvez os antigos soubessem que
algum dia a exploração de nosso povo poria em risco seu modo
de vida. Portanto, o que vemos hoje na sociedade moderna não é
apenas a arte em si, mas revela a vida como ela era, a cada dia, em
momentos e em eventos especiais.
Olhar para um pedaço gasto de pele de búfalo pode nos
mostrar como eram habilidosas as pessoas em criar coisas
para sobreviver. Havia aqueles que eram tão sofisticados em
suas técnicas e criatividade que hoje poderiam ser vistos
MBAVYKY NHANDE KUERY REGUA AYN GUA
Mbavyky ma oiko ijypy’i gui ve. Xee ma ayn gui ramo
aiko mbavyky kuaa rami vy ndaikuaapai vy ma xee
aexáa rive amombe’u kuaa, mba’eiko arte py petei tei
nhama’en va’e aema jaexá. Ha’e rã oikuaa pa ma va’e ma
amomboae rami ju oexá, va’e ri xevype ramo ma avy’a
vaipa ha’egui kova’e rupi raema nhamoiporã. Amongue
yma guare ma okanhy mba’e ve ma, va’eri heta mba’e
rupi ma nhamoingó teri nhande Arandu. Tembiapó arte
regua ma ojejapó nhande aranduá nhamboajá aguã
kyringue ve pe. Xapya’a ramo ma ymãgua kuery oikuaa
rei mavoi ra raka’e mba’emo nhandererekoaxy va’e rã vy
omoiaxy pa ve nhadereko’iá.
Vaka ramingua pire kue re nhama’en vy ma jaexá
mba’exa ymã gua kuery ojapó raka’e ikuai porã aguã.
Amongue’i ma ojapó porã raxa ramo Picasso ha’e Van
Gogh ramieté ojapó. Xapy´a ramo ma xeayvu porã raxa
rive rã va´e ri ha´e kuery ma ojapó porã vaipa ramo
rive ri. Amongue ma ndojapó porãin va´eri ovaré raxa
como um Picasso ou um Van Gogh indígenas. Talvez isso
110
seja extremo, mas de toda maneira a arte era feita com
grande orgulho e cuidado. Às vezes, de modo muito rudimentar e não tão bela quanto outras, mas tão importante
quanto. Enquanto artista, como muitos outros, comecei a
admirar outras obras e comecei até mesmo a tentar copiar,
do que sou culpado, mas por fim cada um acaba encontrando seu estilo próprio e único. Eu lutei para achar meu
estilo. Talvez isso seja uma constante. Eu pintei esboços
simples de tinta a óleo, acrílico, cená1 � Ledger designa o livro razão, fiscal
ou de contabilidade, que deu nome à
rios, retratos, até mesmo reproduções
prática artística desenvolvida a partir
do século XIX pelos povos indígenas
abstratas com qualidade de museu de
norte-americanos das Grandes
Planícies, na qual as folhas de papel
utensílios diários, instrumentos musidos ledgers abandonados pelos colonos
estadunidenses eram utilizadas como
cais de pedras lascadas e muito mais.
suporte para seus desenhos e pinturas.
Muitas das coisas dessa natureza, com
“Contagem de inverno” (waniyetu
wówapi, na língua lakota), por sua
as quais fui criado, eram dadas, presen- vez, é uma prática pictográfica desses
povos indígenas das Planícies que
teadas ou trocadas, o que são meio de
tradicionalmente consistia na inscrição
sobre o couro de animais de séries de
manter vivos os antigos costumes.
desenhos e pinturas que registravam, a
partir da primeira queda de neve no ano,
Fiquei interessado nos estilos antigos conhecidos como
os acontecimentos naturais e culturais
significativos para a coletividade.
contagem de inverno e, mais tarde, como arte ledger1. Esta
ae tema. Xee ma amboae kuery rami ae amboypy,
amboae kuery ojapó va´e kuere ranhe ama´en, ha´e
gui ajapó nhea´an ha´e raminguaete´i va´eri haré ma
jave ma nhande ae jajoú mba´exa rei pa jajapó aguã
nhande mba´e ae rami. Xee ma haxypy ajoú xemba´e
ae tembiapó ajapó aguã. Amboypy vyma xee ajapó
gua´u´i rive, ndajapó porãi ae va´e ri.
Ajapó xe va’e ma ymã guare kuery ojapó va’e regua
ara ymã oi papaá ha’e rire ma mbavyky ledger1 re ju.
Ha’e va’e regua ma ojejapó mba’e mo pire ary rupi
1 � Ledger kuatia nhangareko va’ea
ha’e jaipaparia, há’e va’ema oenõi
hajukue moataa rami ojapó va’e kuere. Ha’e va’e regua
jeporuambavykyre oikuaá heravya
vyma ymãguarevy XIX nhande kuery
mbavyky rema ojekuaa meme mba’e pa oiko raka’e
nhaderovaigui gua yvy bem rupigua
guery kuatia roguere rupi ledger oeja
tekoá ikuaia rupi amongue py ma: Nhande kuery
raka’e yvy mboegui ouva’e kuery jepe
exarai raka’e yró’y ramo (waniyetu
joguero’a ague, nhemomogarai, jaxy tata’i oaxá va’e
wówapi, lakota ayvupy), há’e pyma
kue re ha’e gui okya terã anyin pa a rive ojekuaa. Ha’e
oin mba’emo ranga nhembo jegua.
omombe’u nhande reko marami pa
re ma rire Búfalo Pire ha’e gui guaxu’i pire haxy pa rei
oin raka’e vyma omyin va’e v’ere vyma
angare hembiapo aguã py ovãe jereama
ojejoú aguã jogueraa mombyry ve maramo. Hembyré
vy nda onhembo jegua raka’e vyma
ou mombyrygui há’e vyrima mba’emo
kue’i aema ojoú okuapy raka’e Ledgers yma guare,
pirere gui ojeaó vyrima nõe ndui yro’y
guive vyma há’e kuery jepe ikuai há’e
ome’en raka’e Londres re oó va’e Kuery pe, ha’e gui
vearami vyma in’ã arandu raka’e
Kyre’yin mba kuery pe. Hetá ha’e ramingua mbavyky
vyaema oikuaá jojorami ijoja.
111
era feita sobre couros curtidos como sobre uma grande tela.
As representações frequentemente mostravam o que estava
acontecendo dentro da comunidade à época, tal como:
batalhas indígenas, cerimônias, a passagem de estrelas ou
padrões climáticos e simples feitos de realização pessoal.
Na virada do século, couros de búfalo e de veado não eram
mais tão abundantes devido à expansão para o oeste. O
que restou foi encontrado em velhos ledgers, presentes
que foram dados aos dignitários, até mesmo visitantes
de Londres e, é claro, os soldados levaram sua parte de
lembranças. Muito desse tipo de arte pode ser encontrado
em vários museus ao redor do mundo. Por volta de 1800,
começaram a passar carroças de colonos por terras
indígenas, frequentemente deixando carroças quebradas
ou abandonadas ao longo das trilhas. Os indígenas
começaram a examinar os restos do que era deixado para
ver se poderiam utilizar quaisquer objetos descartados.
Frequentemente eram encontrados registros financeiros,
cadernos de música e de notas, jornais ou diários pessoais.
Não demorou muito para que os zeladores da contagem
jajoú aguã ha’e ve hetá ymã guare moin porã ty py rupi.
1800 rupi ma Juruá Kuery oaxaxá ma okuapy nhande
kuery yvy rupi, ha’e rami vy ma amongue oejá mba’eru
ivaipa ramo ha’e yn vyma oejá riveté tape tape rupi.
Ha’e ramo nhande kuery ojeoi oma’en vy mba’emo
oejá paá va’ekue xapy’a ramo ojoú reguarei mba’e
mo oipuru va’e rã vy. Va’e ri ojoú ve ma kuatia pará
anho’in raxa. Haré vaipa he’yn re ma Ledger ojeporu
ve ma mbavyky ojapó okuapy aguã ha’e rire aema ayn
ramo mbavyky Ledger rami omboery. Ha’e rire ma yvy
mongoraa guepy He’i va’e oiko jave ma ndoejaai vei
ma raka’e mbavyky ojapó okuapy aguã rire aema ha’e
regua okanhy mba. Kue’i gui ma aema iraja ma’emty
nhavõ 1970 py oiko va’e Kue gui
2 � American Indian Religious
rive ma ha’e pa rei Ju nhande
Freedom Act, 1978, pyma oguerova
raka’e mburuvixa kuery nhande
kuery ojapó aguã mbavyky ha’e gui
kueryre onhemoma’emagui
oin vy ho’anga guepy o irajare
ngueko py ikuai aguã2. Ha’e vy ma
onhemompena vyrima nhande kuery
oikoxearamia vyrima teko japyakaá
omboypy ma Ledger ayn gua. Yma
há’e virami overõmporã ndua oin,
guare’i heko ogueru ju vy ombopyau oguero poraia, ojapyakaá rupi vara
oguereko oguero porai aguã, oje
ju mbavyky nhanderoai katy gua.
rerekopy.
de inverno começassem a usar ledgers para fazer sua arte,
112
tornando-se conhecida como arte ledger. Mais tarde, durante
a era das reservas, todos os tipos de arte e expressão foram
proibidos e essas técnicas perdidas no tempo. Foi apenas
bem recentemente, devido à Lei da Liberdade Religiosa dos
Indígenas Americanos, aprovada nos anos 1970, que todas
as formas de cultura e de tradições ameríndias puderam
florescer novamente2. Com isso, surgiu a arte ledger
contemporânea. O estilo antigo trouxe uma nova abordagem
para o mundo da arte ameríndia.
Essa arte retornou por meio de outra geração de artistas,
incluindo a mim mesmo.
Pintar de um jeito muito simples formas por vezes
distorcidas que se somam a um aspecto abstrato, com
poucos detalhes e situando o assunto na sociedade
moderna, como o vemos hoje. Por exemplo: pintar índios
2 � O American Indian Religious Freedom
andando na traseira de um velho modelo T Sedan com suas
Act, de 1978, foi uma mudança na política
indigenista estadunidense que marcou
vestes indígenas completas de quando foram levados para
o reconhecimento dos direitos civis dos
povos indígenas à sua liberdade religiosa,
a Europa. Ou indígenas em trajes completos carregando
isto é, à expressão de suas cerimônias,
guarda-chuvas. O fundo se torna infinito.
rezas, rituais, cantos, danças e tradições.
Ha’e va’e mbavyky ojevy ju amboae Kuery yma gua
kuery gui ha’e gui xevype voi.
Nhambopará rive’i Iporã raxa vaipa va’e yn tein ma
amongue mbavyky ma omaerei He’i va’e regua oiko
ogueru oexauka avião mba’emo rei regua, ayn jaikoa rupi
oiko va’e regua. Peija: Jajapó nhande kuery mba’eyru
yma T sedan rakykue ikuai va’e nhande’i va’e rami
onhemondé va’e Yvy mboae re ogueraa jave. Ha’e rami
he’yn vy ma onhemondé pa reve ha’e gui oky’ã reve.
Amongue py ma aexá ramo ajapó vy amoboje’á rei reve
ajapó. Mbavyky kuaa rami aiko vy ma xee amongue
ajexá ramo kuatia rami ajopy vy ambopará aguã ha’e ma
xee amboypy ma. Xee ndaikuaieté mba’e pa areko xeakã
re. Va’e ri ha’e rei tavy nostálgico rei ramo ju tavy. Xee
ajapó xerembiapó jave ma, xapy’a ramo nhande’i va’e vy
ma xee anhenhandu ha’e va’e oiapy, oikoapy, mba’exa
pa heté, mba’e pa opy’a re oguereko, mba’exagua rei
pa ha’e oiko ha’e gui mba’ere ojerovia. Ha’e va’e areko
pa rire ma amboypy ma xerembiapó Ledger regua. Aeká
Ledger yma guare livraria rupi, loja yma guare guare’i oin
113
Às vezes me pego fazendo uma pintura em um misto
de humor ou de seriedade. Como artista, me sento
com uma tela ou um pedaço de papel à minha frente e
começo a criar. Eu realmente não sei o que tenho em
mente. O processo emocional pelo qual eu passo é um
tanto nostálgico. Quando desenho ou pinto o retrato
de um índio, eu tento me colocar naquele período e
captar a realidade que meu sujeito vivia naquele período,
não apenas no aspecto físico, mas emocional, social e
espiritual. Uma vez que consigo imaginar tudo isso, daí
posso começar o projeto de minha arte ledger. Procurei
ledgers velhos em livrarias, lojas de antiguidades e de
livros de música. Quanto mais velho o papel, melhor a
arte. Eu sinto que isso traz um jeito antigo à vida. A arte
ledger está crescendo em popularidade entre entusiastas e
amadores indígenas. Não importam as mudanças, haverá
sempre um lugar para a arte indígena. Enquanto tivermos
arte, teremos sempre uma cultura. A arte não pertence a
um homem ou colecionador, como muitos costumes, a
arte pertence ao povo.
aty rupi ha’e gui kuatia pará mborai regua re ipará va’e
rupi guive. Yma guaré ve kuatia ramo arte voi Iporã ve.
Ha’e va’e regua ajapó vy ma ymã guare’i py ju merami
ajevy. Mbavyky ledger ma tuvixá ve ovy ojapó rive’i
Kuery pe ha’e gui ojapó eté va’e Kuery va’e Kuery pe.
Oaxaxá tein ma oin kuerei raema nhande kuery mbavyky.
Mbavyky jareko nhavõ re ma jareko rã nhandereko. Mbavyky
py peteim mba’e anho he’yn, paven mba’e aepy.
Yermollay
Caripoune
114
1. MITO DO CRIADOR TEMERÕ’Q, 2019
1
115
• Yermollay Caripoune
(Aldeia Santa Isabel, Terra
Indígena Uaça, AP, 1976)
MITO DO CRIADOR TEMERÕ’Q
No princípio havia só Temerõ’q, o pai primeiro. Cansado
de certezas e isolamento, fez surgir o gêmeo oposto
de si mesmo, Laposié. Temerõ’q deu a ele o poder da
transformação. Laposié vestiu seu manto de pele e foi para
os três mundos. O mundo de cima, dos espíritos e das
almas, o mundo do meio, onde vivemos, e o mundo de
baixo, que é o mundo das águas, onde vivem os animais
que são como nós, são gente.
Laposié vestiu seu manto de pele e se transformou em
Aramary, cobra sobrenatural e monstruosa, o sedutor das
moças, e foi para o mundo das águas. Ele ia de um mundo
para o outro engravidando as mulheres, que geravam filhos
de bichos.
Laposié é transformado em Aramary, uma criatura que desce
das alturas, equilibrada pela proteção dos seres, nascendo o
amor e do amor, a compreensão.
Aramary levou para o mundo das águas uma moça e
transformou-a em cobra. Essa mulher passou muito tempo
OMO BEM´U TEMEÕ`REGUA
Ijypy ma oiko raka´e Temeõ´q rive´i nhanderu
tenondégua. Ikane´õ ma ha´e anho´in ma oiko agui vy
ombojera ojeramingua´i, Laposié. Temerõ´q ome´en
ixupé ombojera avi aguã. Laposié omoin opire ha´e gui
ma oó mboapy yvyrupá re. Yvyrupá yvatégua, nhe´e
kuery ikuaia py, ha´e yvyrupá mbytegua re, ha´e apy
nhandekuaia re, yvyrupá yvy ve katygua py, yryrupá yy
retã, ha´e mba´emo ra´y nhande rami ikuaia py.
Laposié omoin opire vy ojeapó Aramary re, mboi guaxu
re, kunhague mbovy´aa re, ha´e vy oó yvyrupá yy retã
re. ha´e oaxaxá ovy kunhague ombopuru´á ovy, ha´e vy
kunhague oguereko´i vy mitã´i ramo ivaikue´i va´e meme
Laposié ojeapó Aramary re, ha´evy oguejy yvatégui,
oiko joayvu ete va´egui ha´e ikuai porã.
Aramary ogueraá yvyrupá yy retã re petei kunha va´e
ha´egui ojapó mboi ju. Ha´e va´e kunha va´e oiko hare
vaipa yvyrupá yy retã re, ha´e rire ma haxy py ojava
Aramary gui vy ojevy ju guekoá re yvyrupá mbyte pygua
116
117
vivendo no mundo das águas, mas conseguiu fugir de
Aramary e voltou para sua aldeia no mundo do meio. Esta
mulher estava com o seu corpo todo marcado com belas
pinturas. Ela falou que estava numa aldeia muito linda e
que não dava vontade de sair de lá. Então ensinou outras
mulheres da aldeia o segredo sobrenatural do Aramary, e falou
o segredo do seu manto de pele, que chamava de Adamnã,
e como ele se transformava em lindas marcas coloridas e
brilhantes, que tinham o poder de sedução mortal.
Quando o Aramary chegou na sua casa, no mundo das
águas, ele não viu sua mulher e ficou furioso. Então, veio para
o mundo do meio olhar sua mulher que tinha fugido dele.
Quando ele chegou na aldeia, à noite, teve uma surpresa, os
homens e mulheres estavam todos pintados como ele. Então,
o Aramary se transformou num lindo moço para pegar a
mulher, mas ele não conseguiu porque os homens da aldeia já
conheciam o seu segredo e o flecharam. Mas as flechas não
o perfuravam, aí ele se transformou rapidamente e mergulhou
para o mundo de cima, transformou-se em Laposié. Chegou
de madrugada e atingiu a mulher com sua flecha sobrenatural,
re. Kunha va´e rete re heta ipará porã va´e oin reve
ovãe Ha´e omombe´u vy ma oiko raka´e petei tekoá
iporã raxa va´e py, ni ndajaju je veiapy oiko raka´e. Ha´e
omombe´u ha´e ombo´e Aramary regua re vy omombe´u
Aramary pire regua re vy Adamnã omboery vy omombe´u
mba´exa pa ha´e ipará porã vy hendy rei va´e re, ha´e
rami vy ha´e kunhague ombovy´a vaikue rei.
Ha´erire Aramary ngoó py ovãe jave, yvyrupá yy retã
re jave ha´e ndoexai nguembireko vy ivai raxa. Ha´evy
oú yvyrupá mbyte regua re ovãe vy nguembireko ojavá
ha´e kue re. Ha´e vy pytun jave ovãe vy onhemo ndyi
mba´eiko avakue ha´e kunhague ha´e javi ve ma rity
ha´e rami meme ombopará ra´e ngueté´i kuery. Ha´e
rami Aramary ojeapó petei ava´i va´e rami iporã vaipa´i
va´e re kunha va´e ojopy ju aguã, ha´e ri ha´e va´e
ndojapoi mba´eiko ja avakue pave aema oikuaa pa
hexe guavy guyrapá hu´y opoiima. Ha´e ri hu´y ndoikuei
ipire re, ha´e vy ha´e ojeapó pojava vy ópo yvyrupá
yvatégua re Laposié re ju ojeapó. Ko´en rai jave ova´en
vy opoiju hu´y oguyrapá py kunha va´e vy ojuká kya
matando-a na sua rede. Então, transformou-se na cabeceira
do rio Kuripí e fez muitos pés de jenipapo do Aramary.
Temerõ’q viu tudo isso e ficou furioso. Expulsou-os para
o mundo do meio e tirou do Laposié o seu manto de
transformação. Temerõ’q transformou Laposié num menino.
Sendo assim, no mundo do meio não tinha mãe, nem pai.
Podia contar só com as irmãs para retornar para o mundo
de cima. Neste percurso ele estava com muita fome, e disse
para suas irmãs procurarem comida, então elas disseram:
— Não vamos fazer beiju.
Mesmo contrariadas resolveram fazer, pois o menino estava
com muita fome e ficava tirando pedaço de beiju cru. O
menino voltou a tirar mais um pedaço de beiju, sua irmã
irritada apertou sua mão no forno quente, queimando-o.
O menino ficou triste com a mão queimada e com fome.
Então, começou a chorar e foi embora para o mato.
Produziu um arco e muitas flechas. Como o céu era baixo,
ele começou a flechar para o céu e acertou a grande estrela
Warukamã. Animado, começou a flechar uma atrás da outra,
até ser criada uma corda de flechas. Suas irmãs gritavam
py oin jave. Ha´e rire ma ha´e ojeapó yakã Kurupi re vy
ombojera reta jenipapo Aramary va´e.
Temerõ´q oexá pa vy ivai raxa. Omodouká yvyrupá
mbyte gua re ha´e gui omboi pa ju Laposié gui
mba´emo re ojeapóa. Temerõ´q ojapó Laposié ava´i
kyrin va´e rami ju. Ha´e vy aema yvyrupá mbyte regua
py ndaipoi ha´i kuery. Heindy kuery re rive ma oma´en
yvyrupá yvatégua re ojevy ju aguã. Tapé rupi ooá rupi
karuai ramo heindy kuery oporandu tembi´ú ojoú aguã
ramo ha´e kuery aipo he´i:
— Beiju ndorojapó mo´ain he´i.
Ha’e rire ma ojapo nho ju mba’eiko ava’i va’e okaru
xe vaipa ma ramo ha’egui beiju pyryguá rive omboi
ramo. Ha’erire ma omboiju ta ramo heindy ivai ma
vy ava’i va’e pó oapy ma tata py. Ha’e vy ava’i va’e
onhemboaxyeté ipó okai reve ha’e gui ikaruai ma
vy. Ha’e vy ojae´ó reve oó meme ka’aguy re. Ojapo
guyrapá ha’e gui heta havi hu’y ojapó. Yvatéa yvyi’in
rei ramo ha’e katy hembia oikovy vy raga vy jaxy
Tatá Warukamã ju onhyvõ. Ovy’a rei raga vy omombo
118
119
para ele vir comer os beijus que estavam prontos. Ele
respondeu que não queria, mas estava indo embora. Então,
o menino começou a subir na corda de flecha subindo em
direção ao céu. Quando estava a uma certa altura, soltou
um grito muito forte. Suas irmãs, avistaram ele subindo, e
pegaram um tarubá, conseguindo subir uma certa altura
atrás dele. Então, seguraram-no por sua perna e, com o
peso delas, conseguiram arrancar uma perna do menino.
Mas ele continuou subindo e suas irmãs caíram e entraram
no mundo das águas, transformando-se em sapos.
Então, o menino chegou ao céu, devolvendo a Temerõ’q o
seu manto da transformação. Laposié ou as Sete Estrelas
falou do céu para suas irmãs:
— Quando mandar a chuva, vocês vão chorar.
Elas são os sapos que choram com saudades de seu
irmão. É por isso que os sapos, e também os lagartos, as
cobras, as árvores, descascam, perdem a sua pele, porque
responderam Laposié.
Hoje Laposié serpenteia no céu, que é a sua casa. Ele se
transformou em estrelas.
omombo tema joakykue kykue’i. Ha’rami aja ma heindy
Kuery ojapukai tema okuapy oú ma aguã beiju ho’u
aguã ojy pa ma ramo. Ha’e rami rei aja ava’i va’e ojeupi
ma ovy yvaté katy hu’y omombo va’e kue kue rupi.
Ha’e rire ma yvaté vaipa’i ma ojeupia gui ma ojapukai
ma. Heindy Kuery oexá ava’i va’e ojeupi ramo vy ojopy
tarubá re ojeupi avi jogueravy ha’evea peve’i hakykue.
Ha’evy ojopy nho ranga tein hetyma re ranga vy ipoyi
vy ava’i retyma petei omboi rive ju. Va’e ri ava’i ojeupi
tema ovyaja ma heindy Kuery ho’a pa ju Yvyrupa yy
retã re vy ju’i rami ju ojeapo okuapy.
Ha’evy ma ava’i ova’en ma Yvaté vy ome’en Ju Temerõ’q
pe ojeapoaty. Laposié terã mboapy meme petei jaxy Tatá
rire ma yvaté Gui aipo he’i:
— Oky amondouká jave ma, pende pejae’ó ta He’i.
Ha’e Kuery ma ju’i kuery ojae’ó va’e okyvy re ndovy’ai
vy. Ha’e rami rire aema ju’i, teju, mboi, yvyrá opire
omboekovia mba’eiko Laposié onhe’e rendu vy aema
Ayn gui ma Laposié yvaté oin, ha’e py aema hoó oiny.
Ha’e ojeapó jaxy Tatá rami.
OBRAS EXPOSTAS
HEMBIAPO
120
(Normandia, RR, 1979 – 2021)
2. MALDITA E DESEJADA, 2012
2
121
• Jaider Esbell
(Normandia, RR, 1979 – 2021)
3. METAMORFOSE, 2012 | 4. VOVÓ COM MEDO DAS VACAS, 2012 | 5. O CURUMIM ESCONDIDO, 2012
6. ESCONDERIJO DAS MENINAS, 2012 | 7. FUGINDO DAS VACAS, 2012 | 8. SAPO BOI, 2012
9. FAZENDEIRO, 2012 | 10. FUGINDO PARA AS MONTANHAS, 2012
122
• Jaider Esbell
4
5
3
123
7
6
10
9
8
(Maloca da Malacacheta, Terra
Indígena Malacacheta, RR, 1973)
11. VACA FLECHADA, 2013
124
• Amazoner Arawak
11
(Maloca do Orinduque, Terra
Indígena Raposa Serra do Sol,
RR, 1969)
12. UMA VACA PARA UM ÍNDIO, 2013
125
• Bartô
12
(Maloca do Japó, Terra Indígena
Raposa Serra do Sol, RR, 1960)
13. SEM TÍTULO_DIPOI, 2012
126
• Carmézia Emiliano
13
(Normandia, RR, 1987)
14
14. VACAS NO LUAR, 2013
127
• Diogo Lima
(Boa Vista, RR, 1997)
128
• Luiz Matheus
15. GRILAGEM, 2013
15
(Comunidade Sorocaima I, Terra
Indígena São Marcos, RR, 1977)
129
• Mario Flores Taurepang
16. BOI TAUPERANG, 2013
16
(Mutum, Terra Indígena Raposa
Serra do Sol, RR, 1971)
17. CABEÇA DA VACA, 2013
130
• Isaiais Miliano
17
(Fronteira entre Brasil e
Colômbia, 1978)
19
18. SEMÊ HORI TÉ’É MOMORI HORI NUN
DI’AH, 2011
19. YE’PÁ MAHSÜN KÜN ÑA’Ã
TÜO’ÑARÃ, 2012
18
131
• Bu’ú Kennedy
(Itabirinha de Mantena, MG, 1953)
20. SEM TÍTULO, 2019
DIPOI, 2019
21. CABOCLO D’ÁGUA, 1993
21
20
22
22. FESTA NA FLORESTA, 1998
132
• Ailton Krenak
(Porto Seguro, BA, 1983)
23—29. SEM TÍTULO (série Mãgutxi
Pataxó - pegando ouriço), 2014
DIPOI (joapya Mãgutxi Pataxó pegando ouriço), 2014
134
• Arissana Pataxó
23
24
25
135
29
28
27
26
(Região do Alto Rio Ituí, Terra
Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? )
30. PATAMARES TERRESTRES, 2004
31
(Região do Alto Rio Ituí, Terra
Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? )
32
33
30
32. OS MESTRES DOS ANIMAIS, 2005
33. O CAMINHO-MORTE, 2005
137
• Armando Mariano Marubo
31. PATAMARES CELESTES, 2004
136
• Antonio Brasil Marubo
(Região do Alto Rio Ituí, Terra
Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? )
35
34—35. PILARES TERRESTRES, 2005
36—37. POVO DA TERRA-NÉVOA, 2005
34
36
37
138
• Paulino Joaquim Marubo
38—39. A MALOCA DE KANA VOÃ, 2005 | 40—41. DEMIURGOS KANÃ MARI, 2005 | 42. SERRARAM JACARÉ
ANTIGAMENTE, 2005 | 43. ENCONTRARAM A PONTE JACARÉ, 2005 | 44. PAJÉ VARI MÃKO, 2005
45—46. COMERAM OVOS DO PÁSSARO-QUEIXADA ANTIGAMENTE, 2005 | 47. PAJÉ SAMAÚMA, 2005
48. FLECHARAM GAVIÃO, 2005
42
40
38
43
41
39
47
45
140
(Região do Alto Rio Ituí, Terra
Indígena Vale do Javari, AM, 19? ? )
• Paulino Joaquim Marubo
44
141
48
46
(Redmond, Estados Unidos, 1955)
49. THE SACRED, 2020
142
• Vernon Foster
49
143
(Maloca do Flechal, região das Serras
do Uiramutã, RR, 1945–2020)
50—61. WENNE (TIPOIA), 2020
144
• Bernaldina José Pedro
51
54
53
50
52
145
57
61
60
56
55
59
58
(Kunai’ken, região da Maloca
do Tapá, Guiana, 1979)
62. MAIKAN PISI WEI TÎPÎ PÎKKÎRÎ
(Terra dos netos de Amooko Makunaimî:
Raposa Serra do Sol), 2016
146
• Charles Gabriel
62
(Curitiba, RR*, 1989)
63—64. ENCONTRO COM
“CABOCOS”, 2017
63
64
147
• Gustavo Caboco
(São Paulo, SP, 1982)
65. ÑOHKÕA MAHSÃ: A ESTRELA QUE
NÃO QUERIA DESCER DO CÉU, 2021
66. ÑOHKÕA MAHSÃ:
O SONO DA ESTRELA, 2021
65
66
67
67. ÑOHKÕA MAHSÃ:
A MÚSICA DA ESTRELA, 2021
148
• Daiara Tukano
(São Paulo, SP, 1982)
68. KUMURÔ, 2021
68
150
• Daiara Tukano
(Aldeia Barreiro Preto, Terra
Indígena Xakriabá, MG, 1981)
69. MORINGA ONÇA IAIÁ, 2020
70. MORINGA TATU, 2020
71. MORINGA JACU, 2020
72. MORINGA GAVIÃO CARIJÓ, 2020
70
69
72
71
152
• Nei Leite Xakriabá
73. TATU, 2020
74. COTIA, 2020
75. ONÇA, 2020
76. ANTA, 2020
77. ONÇA, 2020
78. GATO DO MATO COM
LAGARTO NA BOCA, 2020
79. TAMANDUÁ BANDEIRA, 2020
80. TATU SENTADO, 2020
76
75
74
73
80
79
78
77
153
(Aldeia Pindaíbas, Terra Indígena
Xakriabá, MG, 1962)
• Dalzira Xakriabá
(São Sebastião, SP, 1970)
154
• Carlos Papá
81. NHE’ERY JERA (Desabrochar da
Mata Atlântica), 2021
81
(Aldeia Darí, Rio Negro,
AM, 1984)
82—83. KE_EROA NHOA, NHINÍKO
HÓTSHOME KAAKÓ KARO NHOA (fiquei com
raiva e levantei-me para falar), 2021
155
• Denilson Baniwa
82
83
(Maturuca, Terra Indígena Raposa
Serra do Sol, RR, 1982)
85
86
84—103. SEM TÍTULO (série Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020
DIPOI (joapya Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020
84
156
• Elisclésio Makuxi
84—103. SEM TÍTULO (série Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020
DIPOI (joapya Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020
90
89
88
87
94
93
92
91
98
97
96
95
(Maturuca, Terra Indígena Raposa
Serra do Sol, RR, 1982)
158
• Elisclésio Makuxi
159
(Maturuca, Terra Indígena Raposa
Serra do Sol, RR, 1982)
100
84—103. SEM TÍTULO (série Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020
DIPOI (joapya Anna Senkamanto, Anna Komanto - nosso trabalho, nossa vida), 2020
99
101
103
102
160
• Elisclésio Makuxi
(Santa Helena de Minas, MG, 1978)
104. MĪMÃNÃM (PAU DE RITUAL TEM CANTO), 2021 | 105. MÃYÕN (SOL TEM CANTO), 2021
106. MÃ’ÃY (JACARÉ TEM CANTO), 2021 | 107. MÃMXEKA YÕG HÃM ÃGTUX (HISTÓRIA DO PEIXE GRANDE), 2021
108. XŪNĪM YÕG KUTEX (CANTO DO MORCEGO), 2021 | 109. XAKUXUX (URUBU-REI), 2020 | 110. MÃMXEXEX YÕG
KUTEX (CANTO DO MARTIM-PESCADOR), 2021 | 111. MÃMXEXEX YÕG KUTEX XI HÃM ÃGTUX (HISTÓRIA DO CANTO
DO MARTIM-PESCADOR), 2021 | 112. KAXÕY YÕG HÃM ÃGTUX (HISTÓRIA DO LOUVA-A-DEUS), 2021
113. XŪNĪM XATIX (MORCEGO TEM CANTO), 2021
105
109
108
113
112
104
163
106
162
• Isael Maxakali
107
111
110
(Normandia, RR, 1979 – 2021)
114. TXAÍSMO, 2019
164
• Jaider Esbell
165
114
(Normandia, RR, 1979 – 2021)
115—116. SEM TÍTULO (subsérie Transformação / Ressurgência de Makunaima / série Transmakunaimî), 2017
DIPOI (Mbojoapya Transformação / Ressurgência de Makunaima / Joapya Transmakunaimî), 2017
117—118. SEM TÍTULO (subsérie Transformação / Ressurgência de Makunaima / série Transmakunaimî), 2018
DIPOI (Mbojoapya Transformação / Ressurgência de Makunaima / Joapya Transmakunaimî), 2018
115
118
117
167
116
166
• Jaider Esbell
(Normandia, RR, 1979 – 2021)
120. O XERIMBABO
DO PAJÉ, 2019
168
119. A LUTA DA VACA COM
MAKUNAIMÎ, 2018
• Jaider Esbell
119
169
120
(Normandia, RR, 1979 – 2021)
124. ASSEMBLEIA GERAL, 2019
125. FESTA DO NATAL NO CÉU, 2019
126. DESFILE DE KANAIMÉS, 2019
121
124
123
126
125
171
122
170
121. MULHER PESCANDO, 2018
122. GENEALOGIA DO MACACO, 2018
123. BENZIMENTO DA VOVÓ TATU (KAIKAN), 2019
• Jaider Esbell
(Normandia, RR, 1979 – 2021)
172
• Jaider Esbell
127—139. O XAMÃ, 2017
• Davi Kopenawa
(Toototobi, Terra Indígena
Yanomami, AM, 1956)
• Fanor Xirixana
(Sikamabiu, Terra Indígena Yanomami, RR, 1968)
127
173
131
130
129
128
135
134
133
132
139
138
137
136
(Uxi u, Terra Indígena
Yanomami, RR, 1971)
174
• Joseca Yanomami
140—144. SEM TÍTULO_DIPOI, 2016
141
140
175
144
143
142
145. NAI MÃNPU YUBEKÃ, 2017
176
• MAHKU (Movimento dos Artistas
Huni Kuin) // Acelino Tuin
(Aldeia Três Fazendas, Terra Indígena
Kaxinawá do Rio Jordão, AC, 1975)
145
177
(Aldeia Chico Curumim, Terra
Indígena Kaxinawá do Rio
Jordão, AC, 1994)
146. YUBE NAWA AINBU (MULHERJIBÓIA ENCANTADA), 2019
147. YAME AWA KAWANAI
(A CURA DO ESPÍRITO), 2019
148. BARNẼBURU KENE
BÊNI (ARANHA TROUXE A
TECELAGEM), 2019
178
• Rita Sales Huni Kuin
146
179
148
147
(Aldeia Chico Curumim, Terra Indígena
Kaxinawá do Rio Jordão, AC, 1994)
149. YUBE INU YUBE SHANU, 2021
150. NETE BEKUN (A MULHER QUE
TRANSFORMOU AS MEDICINAS), 2021
180
• Yaka Huni Kuin
149
181
150
(Santa Teresinha, MT, 1979)
182
• Rivaldo Tapyrapé
151—157. SEM TÍTULO_DIPOI, 2017
151
183
154
153
157
152
156
155
(Santa Helena de Minas,
MG, 1976)
158. ANDORINHA (série Yãmiy / homemespírito), 2019
ANDORINHA (joapya Yãmiy / homemespírito), 2019
159—165. TARTARUGA (série Yãmiy /
homem-espírito), 2019
TARTARUGA (joapya Yãmiy / homemespírito), 2019
184
• Sueli Maxakali
158
161
159
165
164
163
185
162
160
(Aldeia Santa Isabel, Terra
Indígena Uaça, AP, 1976)
166. CONSTELAÇÃO ESCORPIÃO
SWARÃ, 2019
167. SEM TÍTULO_ DIPOI, 2019
186
• Yermollay Caripoune
166
187
167
188
A EXPOSIÇÃO
OMBOEXAUKA
188
189
190
191
192
194
LISTA
DE OBRAS
OJEKÁ HEMBIAPO
194
195
• Ailton Krenak
Itabirinha de Mantena,
MG, 1953
• Amazoner Arawak
Maloca da Malacacheta,
Terra Indígena Malacacheta,
RR, 1973
21
CABOCLO D’ÁGUA
1993
22
FESTA NA FLORESTA
1998
20
SEM TÍTULO_DIPOI
2019
11
VACA FLECHADA
2013
Nanquim sobre papel-arroz
Mbovya kuatiare
38 x 38 cm
Acrílica e urucum sobre placa
de madeira
Nhobovya urucu reve
yvyrape rupi
100 x 70 cm
Posca sobre papel
Nhenoi kuatiare
42 x 30 cm
Óleo sobre tela
Nhandy ajuguere
moatã mbyrere
75 x 94, 2 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
• Antonio Brasil Marubo
Região do Alto Rio Ituí, Terra
Indígena Vale do Javari, AM,
19? ?
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
• Arissana Pataxó
Porto Seguro, BA,
1983
31
PATAMARES CELESTES
2004
30
PATAMARES TERRESTRES
2004
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa
nhae´um kuatiare
30 x 22 cm
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa
nhae´um kuatiare
30 x 22 cm
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
• Armando Mariano Marubo
Região do Alto Rio Ituí,
Terra Indígena Vale do Javari,
AM, 19? ?
23 – 29
SEM TÍTULO_DIPOI (SÉRIE_
JOAPYA MÃGUTXI PATAXÓPEGANDO OURIÇO)
2014
Fotografia sobre papel algodão
Nhane´ã Mandyjure
30 x 42 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
• Bartô
Maloca do Orinduque,
Terra Indígena Raposa
Serra do Sol, RR, 1969
• Bernaldina José Pedro
Maloca do Flechal, região
das Serras do Uiramutã,
RR, 1945–2020
12
UMA VACA PARA
UM ÍNDIO
2013
50 – 61
WENNE (TIPOIA)
2020
33
O CAMINHO-MORTE
2005
32
OS MESTRES DOS ANIMAIS
2005
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa
nhae´um kuatiare
120 x 22 cm
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa
nhae´um kuatiare
60 x 22 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
163, 5 x 125, 5 cm
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
Tecelagem em algodão
Tukambi mandujuguigua
Dimensões variadas
Jooramie ‘y ikatu
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
196
• Bu’ú Kennedy
Fronteira entre Brasil e
Colômbia, 1978
18
SEMÊ HORI TÉ’É MOMORI
HORI NUN DI’AH
2011
19
YE’PÁ MAHSÜN KÜN
ÑA’Ã TÜO’ÑARÃ
2012
Madeira
Yvyra
Ø 80 cm
Madeira
Yvyra
90 x 90 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
• Charles Gabriel
Kunai’ken, região da Maloca
do Tapá, Guiana, 1979
• Daiara Tukano
São Paulo, SP, 1982
62
MAIKAN PISI WEI TÎPÎ
PÎKKÎRÎ (TERRA DOS
NETOS DE AMOOKO
MAKUNAIMÎ: RAPOSA
SERRA DO SOL)
2016
68
KUMURÔ
2021
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
56 x 56 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere moatã
mbyrere
200 x 100 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção José Luis P. Sousa
José Luis P. Sousa mba´e
197
• Dalzira Xakriabá
Aldeia Pindaíbas,
Terra Indígena Xakriabá, MG, 1962
• Carlos Papá
São Sebastião,
SP, 1970
• Carmézia Emiliano
Maloca do Japó,
Terra Indígena Raposa Serra
do Sol, RR, 1960
81
NHE’ERY JERA
(DESABROCHAR DA
MATA ATLÂNTICA)
2021
13
SEM TÍTULO_DIPOI
2012
75
ONÇA
2020
77
ONÇA
2020
79
TAMANDUÁ BANDEIRA
2020
73
TATU
2020
Óleo sobre tela
Nhandy ajuguere
moatã mbyrere
64 x 94 cm
Argila
Nhae um
13 x 14 x 28 cm
Argila
Nhae um
13 x 14 x 28 cm
Argila
Nhae um
8 x 4 x 18 cm
Argila
Nhae um
7 x 7 x 21 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
• Denilson Baniwa
Aldeia Darí, Rio Negro,
AM, 1984
• Diogo Lima
Normandia, RR, 1987
• Elisclésio Makuxi
Maturuca, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR, 1982
82 – 83
KE_EROA NHOA, NHINÍKO
HÓTSHOME KAAKÓ KARO
NHOA (FIQUEI COM RAIVA
E LEVANTEI-ME PARA
FALAR)
2021
14
VACAS NO LUAR
2013
84 – 103
SEM TÍTULO_DIPOI
(SÉRIE_ JOAPYA ANNA
SENKAMANTO, ANNA
KOMANTO – NOSSO
TRABALHO, NOSSA VIDA)
2020
Vídeo
Video
9’47’’
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
65
ÑOHKÕA MAHSÃ:
A ESTRELA QUE NÃO
QUERIA DESCER DO CÉU
2021
67
ÑOHKÕA MAHSÃ:
A MÚSICA
DA ESTRELA
2021
Caneta hidrográfica
sobre papel
Yvyra´i paraa kuatiare
29, 7 x 21 cm
Caneta hidrográfica
sobre papel
Yvyra´i paraa kuatiare
29, 7 x 21 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
80
TATU SENTADO
2020
Argila
Nhae um
15 x 8 x 27 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Vídeo
Video
42’18’’
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Roraima > Paraná:
Esse é o deslocamento
vivido pela família de
Gustavo Caboco.
Caneta hidrográfica
sobre papel
Yvyra´i paraa kuatiare
29, 7 x 21 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
Posca sobre papel
Nhenoi kuatiare
29, 7 x 42 cm
Coleção José Luis P. Sousa
José Luis P. Sousa mba´e
• Gustavo Caboco
Curitiba, RR*, 1989
• Dalzira Xakriabá
Aldeia Pindaíbas,
Terra Indígena Xakriabá, MG, 1962
66
ÑOHKÕA MAHSÃ:
O SONO DA ESTRELA
2021
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
65 x 55 cm
76
ANTA
2020
74
COTIA
2020
Argila
Nhae um
13 x 7 x 25 cm
Argila
Nhae um
13 x 7 x 28 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
78
GATO DO MATO COM
LAGARTO NA BOCA
2020
63 – 64
ENCONTRO
COM “CABOCOS”
2017
Argila
Nhae um
12 x 10 x 19 cm
Gravura em metal
Jepara itaovã
60 x 10 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky
va´egui
Curitiba > Terra Indígena
Canauanim: Esse é o
caminho de retorno à terra
criado por Gustavo Caboco
e por sua família.
Curitiba – RR:
porque não há limites para
a fronteira wapichana.
*Kurity, RR*, 1989
Roraima > ha´egui Paraná:
Kova`ema oguero jepea
vetarâ kuery Gustavo
Caboco gui
Kurity > Nhande kuery
rekoa Canauanim:
Koa´e tapema ojevy aguã
Gustavo Caboco omoin
Kurity – Nhande
Canauanim remoa:
Kova’e tapema nhadere
rojevyjua tekoapy
Custavo rentarã kuery
omoī ojapo va’e kue.
Kurity - RR mba’e retu noī
yvy ja’oa Wapixana pé
198
199
• Isael Maxakali
Santa Helena de Minas,
MG, 1978
112
KAXÕY YÕG HÃM
ÃGTUX (HISTÓRIA DO
LOUVA-A-DEUS)
2021
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
21 x 29, 7 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
111
MÃMXEXEX YÕG KUTEX XI
HÃM ÃGTUX (HISTÓRIA DO
CANTO DO MARTIM-PESCADOR)
2021
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
21 x 29, 7 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
106
MÃ’ÃY (JACARÉ
TEM CANTO)
2021
• Jaider Esbell
Normandia, RR,
1979 – 2021
107
MÃMXEKA YÕG HÃM
ÃGTUX (HISTÓRIA DO
PEIXE GRANDE)
2021
110
MÃMXEXEX YÕG KUTEX
(CANTO DO MARTIM-PESCADOR)
2021
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
21 x 29, 7 cm
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
21 x 29, 7 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
105
MÃYÕN
(SOL TEM CANTO)
2021
104
MĪMÃNÃM (PAU DE
RITUAL TEM CANTO)
2021
109
XAKUXUX
(URUBU-REI)
2020
6
ESCONDERIJO
DAS MENINAS
2012
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
21 x 29, 7 cm
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
42 x 29, 7 cm
Lápis de cor sobre papel
Yvyra´i nhyvyim
mopytãa kuatxia
21 x 29, 7 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
106 x 105 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
21 x 29, 7 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
119
A LUTA DA VACA COM
MAKUNAIMÎ
2017
Posca e acrílica sobre tela
Nhenoi paraty ajukue
moatã mbyrere
100 x 100 cm
124
ASSEMBLEIA GERAL
2019
Posca sobre papel
Nhenoi kuatiare
42 x 30 cm
Coleção particular
Nhomba´e pá moi porã
123
BENZIMENTO DA VOVÓ
TATU (KAIKAN)
2019
Posca sobre papel
Nhenoi kuatiare
42 x 30 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
126
DESFILE DE KANAIMÉS
2019
Posca e lápis de cor
sobre papel
Nhenoi yvyra´ire mopy tã
kuatiare varã
42 x 30 cm
Coleção particular
Nhomba´e pá moi porã
9
FAZENDEIRO
2012
125
FESTA DO NATAL NO CÉU
2019
7
FUGINDO DAS VACAS
2012
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
106 x 105 cm
Posca sobre papel
Nhenoi kuatiare
42 x 30 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
105 x 105 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
• Isaiais Miliano
Mutum, Terra Indígena Raposa Serra
do Sol, RR, 1971
113
XŪNĪM XATIX
(MORCEGO TEM CANTO)
2021
108
XŪNĪM YÕG KUTEX
(CANTO DO MORCEGO)
2021
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
21 x 29, 7 cm
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
21 x 29, 7 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
17
CABEÇA DA VACA
2013
Escultura em cedro doce
de Roraima
Yvyra jo´o yary gui hẽ´ẽva´e
Roraima py
82 x 26, 5 x 13 cm
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
10
FUGINDO PARA
AS MONTANHAS
2012
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
104 x 106 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
122
GENEALOGIA DO MACACO
2018
2
MALDITA E DESEJADA
2012
3
METAMORFOSE
2012
Posca sobre papel
Nhenoi kuatiare
42 x 30 cm
Acrílica sobre lona
Acrilica nhovã
moatã mbyrere
400 x 400 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
110 x 106 cm
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
200
201
• Jaider Esbell
Normandia, RR,
1979 – 2021
121
MULHER PESCANDO
2018
5
O CURUMIM ESCONDIDO
2012
8
SAPO BOI
2012
Posca sobre papel
Nhenoi kuatiare
42 x 30 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
64 x 104 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
106 x 105 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
115
SEM TÍTULO_DIPOI
(SUBSÉRIE_MBOJOAPYA
TRANSFORMAÇÃO / RESSURGÊNCIA DE MAKUNAIMA / SÉRIE_JOAPYA
TRANSMAKUNAIMÎ)
2017
Posca e acrílica sobre tela
Nhenoi paraty ajukue
moatã mbyrere
100 x 100 cm
• Joseca Yanomami
Uxi u, Terra Indígena
Yanomami, RR, 1971
• Luiz Matheus
Boa Vista, RR,
1997
• MAHKU
(Movimento dos Artistas Huni Kuin) // Acelino Tuin
Aldeia Três Fazendas, Terra Indígena Kaxinawá
do Rio Jordão, AC, 1975
140 – 144
SEM TÍTULO_DIPOI
2016
15
GRILAGEM
2013
145
NAI MÃNPU YUBEKÃ
2017
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
42 x 30 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
112 x 142 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
122 x 144 cm
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
116
SEM TÍTULO_DIPOI
(SUBSÉRIE_MBOJOAPYA
TRANSFORMAÇÃO / RESSURGÊNCIA DE MAKUNAIMA / SÉRIE_JOAPYA
TRANSMAKUNAIMÎ)
2017
117
SEM TÍTULO_DIPOI
(SUBSÉRIE_MBOJOAPYA
TRANSFORMAÇÃO / RESSURGÊNCIA DE MAKUNAIMA / SÉRIE_JOAPYA
TRANSMAKUNAIMÎ)
2018
118
SEM TÍTULO_DIPOI
(SUBSÉRIE_MBOJOAPYA
TRANSFORMAÇÃO / RESSURGÊNCIA DE MAKUNAIMA / SÉRIE_JOAPYA
TRANSMAKUNAIMÎ)
2018
Posca e acrílica sobre tela
Nhenoi paraty ajukue
moatã mbyrere
100 x 100 cm
Posca e acrílica sobre tela
Nhenoi paraty ajukue
moatã mbyrere
100 x 100 cm
Posca e acrílica sobre tela
Nhenoi paraty ajukue
moatã mbyrere
100 x 100 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
• Mario Flores Taurepang
Comunidade Sorocaima I, Terra Indígena
São Marcos, RR, 1977
• Nei Leite Xakriabá
Aldeia Barreiro Preto, Terra
Indígena Xakriabá, MG, 1981
114
TXAÍSMO
2019
16
BOI TAUPERANG
2013
72
MORINGA GAVIÃO CARIJÓ
2020
71
MORINGA JACU
2020
Posca e lápis de cor
sobre algodão
Nhenoi yvyra´i mopy tã
guã mandyjure
168 x 105 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
81 x 102. 1 cm
Argila
Nhae um
33 x Ø 20 cm
Argila
Nhae um
33 x Ø 20 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção particular
Nhomba´e pá moi porã
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
• Jaider Esbell, Normandia, RR, 1979 –2021, Davi Kopenawa,
Toototobi, Terra Indígena Yanomami, AM, 1956 e Fanor
Xirixana, Sikamabiu, Terra Indígena Yanomami, RR, 1968
4
VOVÓ COM MEDO
DAS VACAS
2012
120
O XERIMBABO
DO PAJÉ
2019
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
104 x 96 cm
Posca sobre papel
Nhenoi kuatiare
42 x 30 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
• Paulino Joaquim Marubo
Região do Alto Rio Ituí, Terra Indígena
Vale do Javari, AM, 19? ?
127 – 139
O XAMÃ
2017
69
MORINGA ONÇA IAIÁ
2020
70
MORINGA TATU
2020
38 – 39
A MALOCA DE KANA VOÃ
2005
Caneta hidrográfica
sobre papel
Yvyra´i paraa kuatiare
5, 1 x 4, 1 cm
Argila
Nhae um
33 x Ø 20 cm
Argila
Nhae um
33 x Ø 20 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa nhae´um
kuatiare
30 x 22 cm
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
45 – 46
COMERAM OVOS DO PÁSSARO-QUEIXADA ANTIGAMENTE
2006
Caneta hidrográfica, lápis de cor
e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare
30 x 22 cm
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
202
203
• Paulino Joaquim Marubo
Região do Alto Rio Ituí, Terra Indígena
Vale do Javari, AM, 19? ?
40 – 41
DEMIURGOS KANÃ MARI
2005
43
ENCONTRARAM A PONTE
JACARÉ ANTIGAMENTE
2006
47
PAJÉ SAMAÚMA
2006
151 – 152
SEM TÍTULO_DIPOI
2017
153 – 157
SEM TÍTULO_DIPOI
2017
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
42 x 30 cm
Lápis de cor e caneta
hidrográfica sobre papel
Yvyra i nhyvyi pytaa
30 x 21 cm
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
Caneta hidrográfica, lápis de cor
e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa nhae´um kuatiare
30 x 22 cm
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa nhae´um
kuatiare
30 x 22 cm
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa nhae´um
kuatiare
30 x 22 cm
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
44
PAJÉ VARI MÃKO
2006
34 – 35
PILARES TERRESTRES
2005
36 – 37
POVO DA TERRA NÉVOA
2005
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa nhae´um
kuatiare
30 x 22 cm
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa nhae´um
kuatiare
30 x 22 cm
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa nhae´um
kuatiare
30 x 22 cm
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere moatã
mbyrere
100 x 100 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere moatã
mbyrere
100 x 100 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
42
SERRARAM JACARÉ
ANTIGAMENTE
2006
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa nhae´um
kuatiare
30 x 22 cm
Acervo de pesquisa_
Nhemoi porã kuapota aguã
Pedro Cesarino
158
ANDORINHA (SÉRIE_
JOAPYA YÃMIY / HOMEMESPÍRITO)
2009
159 – 165
TARTARUGA (SÉRIE_
JOAPYA YÃMIY /
HOMEM-ESPÍRITO)
2009
Fotografia sobre
papel algodão
Nhane´ã Mandyjure
26, 7 x 40 cm
Fotografia sobre
papel algodão
Nhane´ã Mandyjure
26, 7 x 40 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
• Vernon Foster
Redmond, Estados Unidos,
1955
• Yaka Huni Kuin
Aldeia Chico Curumim, Terra Indígena
Kaxinawá do Rio Jordão, AC, 1994
49
THE SACRED
2020
150
NETE BEKUN (A MULHER
QUE TRANSFORMOU AS
MEDICINAS)
2021
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
47 x 37 cm
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
100 x 100 cm
Coleção do artista
Jeporavô mbavyky va´egui
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
• Yermollay Caripoune
Aldeia Santa Isabel, Terra
Indígena Uaça, AP, 1976
• Rita Sales Huni Kuin
Aldeia Chico Curumim, Terra Indígena
Kaxinawá do Rio Jordão, AC, 1994
147
YAME AWA KAWANAI (A
CURA DO ESPÍRITO)
2021
• Sueli Maxakali
Santa Helena de Minas,
MG, 1976
48
FLECHARAM GAVIÃO
2006
Caneta hidrográfica, lápis de
cor e giz pastel sobre papel
Yvyra´i jeparaa nhae´um
kuatiare
30 x 22 cm
148
BARNẼBURU KENE BÊNI
(ARANHA TROUXE A
TECELAGEM)
2021
• Rivaldo Tapyrapé
Santa Teresinha, MT,
1979
146
YUBE NAWA AINBU
(MULHER-JIBOIA
ENCANTADA)
2021
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere moatã
mbyrere
100 x 100 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
166
CONSTELAÇÃO
ESCORPIÃO SWARÃ
2019
Posca sobre papel
Nhenoi kuatiare
42 x 30 cm
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
167
SEM TÍTULO_DIPOI
2019
Posca sobre papel
Nhenoi kuatiare
42 x 30 cm
Acervo_Moim porã aty
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
1
MITO DO CRIADOR
TEMERÕ’Q
2019
Acrílica sobre papel
Nhapomo kuatiare
29, 7 x 42 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
149
YUBE INU YUBE SHANU
2021
Acrílica sobre tela
Acrilica ajuguere
moatã mbyrere
100 x 100 cm
Coleção da artista
Jeporavô mbavyky va´egui
204
CRÉDITOS
NHEME’EM
204
205
EXPOSIÇÃO
MBOYXY
EXHIBITION
REALIZAÇÃO_MONHẼ
PYRUM_REALIZATION_
Museu de Arte Moderna
de São Paulo
Fundação Bienal de
São Paulo
CURADORIA_MONGUERAÁ_
CURATORSHIP_
Jaider Esbell
ASSISTÊNCIA_MOIRUM
VA´ERÃ_ASSISTANCE_
Paula Berbert
CONSULTORIA_OIKUAA
VA´ERÃ_CONSULTANCY_
Pedro Cesarino
PRODUÇÃO_JAPÓ KUAA
VA´E_PRODUCTION_
MAM Curadoria
PROJETO EXPOGRÁFICO_
MONHẼ_PYRUM VA´E_
EXHIBITION DESIGN_
Álvaro Razuk
ASSISTENTES_PYTYVÔAA_
ASSISTANTS_
Daniel Winnik
Ligia Zilbersztejn
PROJETO GRÁFICO_
MENHẼ PYRUM VA´E_
GRAPHIC DESIGN_
Estúdio Campo – Paula
Tinoco e Roderico Souza
ESTAGIÁRIA_TEMBIGUI
NHEMBO´E_INTERN_
Bruna Sade
FORMAÇÃO EDUCATIVA_
OIKUAA MBO´EA RUPI GUA_
EDUCATORS’ TRAINING_
Cristine Takuá
(Instituto Maracá)
EXECUÇÃO DO PROJETO
EXPOGRÁFICO_OJAPO
KUAA VA´E NHẼ PYRUM_
EXECUTION OF
EXHIBITION DESIGN_
Cenotech cenografia
CONSERVAÇÃO_
NHANGAREKO VA´E_
CONSERVATION_
Thalita Noce
MONTAGEM_MBOJOAPY
VA´E_INSTALLATION_
Manuseio
TRANSPORTE_MBA´EYRU
OJOU VA´E_SHIPPING_
ArtQuality
TRADUÇÃO PARA O INGLÊS_
INCREIPY COMOMBE´U VA´E_
ENGLISH TRANSLATION_
Idjahure Kadiwel
ASSESSORIA DE IMPRENSA_
NHOIPYTYVÕ IMPRENSA_
VA´E_PRESS OFFICE_
A4&Holofote
CATÁLOGO
MBA’E VOITU
CATALOG
REALIZAÇÃO_MONHẼ
PYRUM_REALIZATION_
Museu de Arte Moderna
de São Paulo
Fundação Bienal de
São Paulo
CONCEPÇÃO E EDIÇÃO_
JEAYAÁ NDAJE_CONCEPTION
AND EDITION_
Jaider Esbell
Paula Berbert
CONSULTORIA_KUAREIA
AGUÃ_CONSULTANT_
Enoque Raposo
Pedro Cesarino
COORDENAÇÃO EDITORIAL_
NHEMOENONDE NDAJE
AGUÃ_EDITORIAL
COORDINATION_
Renato Schreiner Salem
PROJETO GRÁFICO_
MENHẼ PYRUM VA´E_
GRAPHIC DESIGN_
Estúdio Campo – Paula
Tinoco e Roderico Souza
ESTAGIÁRIA_TEMBIGUI
NHEMBO´E_INTERN_
Bruna Sade
TRADUÇÃO PARA O GUARANII
MBYA_NHANDE MBYAPY
OMOMBE´U VA´E_GUARANI
MBYA TRANSLATION_
Carlos Papá (Carlos
Fernandes Guarani)
Marcos Morreira
Valdemir Martins Veríssimo
TRADUÇÃO PARA O MAKUXI_
JAROAYVU MAKUXIPYMAKUXI_
MAKUXI TRANSLATION_
Charles Gabriel
Enoque Raposo
TRADUÇÃO PARA O INGLÊS_
INCREIPY COMOMBE´U VA´E_
ENGLISH TRANSLATION_
Idjahure Kadiwel
TEXTOS_MBOPARAA_TEXTS_
Jaider Esbell
Paula Berbert
Pedro Cesarino
REVISÃO E PREPARAÇÃO
DO PORTUGUÊS_JAROAVYU
JURUAPY AVYU_PORTUGUESE
PROOFREADING AND TEXT
PREPARATION_
Mauríicio Ayer
TRADUÇÃO PARA O GUARANII
MBYA_NHANDE MBYAPY
OMOMBE´U VA´E_GUARANI
MBYA TRANSLATION_
Carlos Papá (Carlos
Fernandes Guarani)
REVISÃO E PREPARAÇÃO
DO INGLÊS_JAROAVYU
JURUAPY AVYU_ENGLISH
PROOFREADING AND TEXT
PREPARATION_
Dominique Makins Bennett
FOTOS_ NHO’Ã_PHOTOS_
Everton Ballardin
EXCETO_NYEM_EXCEPT_
Bartô (p. 19), Karina Bacci (p.
173), Yermollay Capiroune (p. 115)
APOIO_PYTYVÔ_SUPPORT_
Galeria Jaider Esbell de Arte
Indígena Contemporânea
TRATAMENTO DE IMAGEM E
IMPRESSÃO_NHAMOATYRÕ
OJEKUAÁ VE NHANE’Ã_PHOTO
RETOUCHING AND PRINTING_
Ipsis
AGRADECIMENTOS_
GUERO JARURÁ VA´E_
ACKNOWLEDGMENTS_
aos Encantados_nhanemboje
pokua_to the Enchanted_
ao grande avô Makunaimî_
avô Makunaimî kueryre_to the
great grandfather Makunaimî_
à Zenilda Sarmento (mãe) e
toda à família Esbell_Zenilda
Sarmento (ixyma) ha’egui Esbell
retarã kuery_to Zenilda Sarmento
(mother) and the entire Esbell family_
à mestra Bernaldina José Pedro_
huvixa Bernaldina José Pedro_to
master Bernaldina José Pedro_
às/aos artistas que
compuseram a constelação de
Moquém_Surarî_pe/ imbavyky
va’e kuery pe oexauka mavy
kuera’e Moquém_Surarî_to
the artists who composed the
Moquém_Surarî constellation_
a toda equipe do MAM_
MAM pygua kuery pe_to all
MAM’s team_
Alvaro Tukano
Anaí Vera
Ana Paula Pedroso
Anna Heloisa Segatta
Barbara Jimenez
Carlos Papá
Cauê Alves
Conselho Indígena de Roraima
Cristine Takuá
Daiara Tukano
Daniel Dinato
Daniel Jabra
Eloise Zadig
Enoque Raposo
Equipe Manuseio
Galeria Millan
Jacopo Visconti
José Luis P. Sousa
José Olympio Pereira
Laura Berbert
Lêda Leitão Martins
Luvan Tukano
Marcelo Camacho
Mirela Estelles
Parmênio Citó
Patrícia Pinto Lima
Paula Amaral
Paulo Miyada
Rafaela Campos
Raquel Blaque
Raul Loureiro
Rosângela Tugny
Roberto Romero
Salim Esbell
Shirlene Tukano
Silvana Costa
Walter Gomes
INSTITUCIONAL
OPENAVA’EA
INSTITUCIONAL
PRESIDENTE DE HONRA_
NHADE RUVIXA XAROVY’A_
HONORARY PRESIDENT_
Milú Villela
DIRETORIA_NHANDERE
OPENAÁ VA’E_
MANAGEMENT BOARD_
PRESIDENTE_
NHANDERUVIXA_
PRESIDENT_
Elizabeth Machado
VICE-PRESIDENTE_
NHANDERUVIXAYVY REGUA_
VICE PRESIDENT_
Daniela Montingelli Villela
DIRETORA JURÍDICA_
NHANDERAJARE OPENAÁ_
LEGAL DIRECTOR_
Tatiana Amorim de Brito
Machado
DIRETOR FINANCEIRO_
PERATARE OPENAÁ_
FINANCIAL DIRECTOR_
Sérgio Eduardo Costa
Rebêlo
DIRETOR ADMINISTRATIVO_
IJERAJARE OPENAÁ_
MANAGING DIRECTOR_
Telmo Giolito Porto
DIRETORES_OPENAÁ VA’E_
DIRECTORS_
Camila Granado
Pedroso Horta
Eduardo Saron Nunes
Sérgio Silva Gordilho
Simone Frossard Ikeda
CONSELHO DELIBERATIVO_
NHOMONGUETAÁ
OEJAREIA_ADVISORY
BOARD_
PRESIDENTE_
NHANDERUVIXA_
PRESIDENT_
Geraldo José Carbone
VICE-PRESIDENTE
DO CONSELHO_
NHANDERUVIXAYV REGUA_
VICE PRESIDENT_
Henrique Luz
CONSELHEIROS_
NHOMONGUETA VA’E_
MEMBERS_
Adolpho Leirner
Alfredo Egydio Setúbal
Andrea Chamma
Andrea Paula Barros
Carvalho Israel da Veiga
Pereira
Anna Maria Gouveia
Guimarães
Antonio Hermann Dias
de Azevedo
Caio Corrêa Najm
Caio Luiz de Cibella
de Carvalho
Carlos Eduardo
Moreira Ferreira
Carmen Aparecida Ruete de
Oliveira
Danilo Santos de Miranda
Eduardo Brandão
206
Eduardo Saron Nunes
(licenciado para diretoria até
assembleia geral de 2024_
oejapyreve ma openaá va’e
ara ymã mbytere 2024_on
leave to management board
until 2024 general meeting)
Fábio Luiz Pereira de
Magalhães
Fernando Moreira Salles
Francisco Pedroso Horta
Gabriela Baumgart
Georgiana Rothier Pessoa
Cavalcanti Faria
Helio Seibel
Israel Vainboim
Jean-Marc Etlin
Jorge Frederico M.
Landmann
Karla Meneghel
Leo Slezynger
Luís Terepins
Marcos Adolfo
Fernamo Amaro
Maria Fernanda Lassalvia P.
de Mello
Maria Regina Pinho de
Almeida
Mariana Guarini Berenguer
Mário Henrique
Costa Mazzilli
Martin Grossmann
Michael Edgard Perlman
Neide Helena de Moraes
Paulo Gaio de Castro Júnior
Paulo Proushan
Paulo Setúbal Neto
Peter Cohn
Priscila Fonseca da Cruz
Roberto B. Pereira de Almeida
Rodolfo Henrique Fischer
Rolf Gustavo R. Baumgart
Salo Davi Seibel
Sérgio Ribeiro da Costa
Werlang
Sergio Silva Gordilho
(licenciado para diretoria até
assembleia geral de 2022_
oejapyreve ma openaá va’e
ara ymã mbytere 2022_on
leave to management board
until 2022 general meeting)
Simone Schapira Wajman
Susana Leiner Steinbruch
Telmo Giolito Porto
(licenciado para diretoria até
assembleia geral de 2022_
oejapyreve ma openaá va’e
ara ymã mbytere 2022_on
leave to management board
until 2022 general meeting)
Vera Sarnes Negrão
COMITÊ CULTURAL
E DE COMUNICAÇÃO_
NHANDEREKORE GUA
RE OMOMBE’U ATYA_
CULTURAL AND
COMMUNICATION
COMMITTEE_
COORDENAÇÃO_
JOGUEREKOA’I ATY_
COORDINATOR_
Fábio Luiz Pereira de
Magalhães
COMITÊ_JOGUEREKORE_
MEMBERS_
Andrea Paula Barros
Carvalho Israel da Veiga Pereira
Caio Luiz Cibella
de Carvalho
Camila Granado
Pedroso Horta
Eduardo Saron Nunes
Elizabeth Machado
Jorge Frederico M.
Landmann
Maria Fernanda Lassalvia
P. de Mello
Maria Regina Pinho
de Almeida
Martin Grossmann
Neide Helena de Moraes
Sérgio Silva Gordilho
COMITÊ DE GOVERNANÇA_
JOGUEREKORE VY
NHANDERUVI KUERY_
GOVERNANCE
COMMITTEE_
COORDENAÇÃO_
JOGUEREKOA’I ATY_
COORDINATOR_
Mário Henrique da
Costa Mazzilli
COMITÊ_JOGUEREKO’I ATY
_MEMBERS_
Alfredo Egydio Setúbal
Andrea Chamma
Anna Maria Gouvea
Guimarães
Antonio Hermann Dias
de Azevedo
Elizabeth Machado
Geraldo José Carbone
Henrique Luz
Marcos Fernamo Amaro
Mariana Guarini Berenguer
Tatiana Amorim de Brito
Machado
Sérgio Ribeiro da Costa
Werlang
COMITÊ FINANCEIRO
E DE CAPTAÇÃO_
JOGUEREKOA’I PERATA RE
VY PERATARE OPENA VA’E_
FINANCIAL AND
FUNDRAISING
COMMITTEE
COMITÊ_ JOGUEREKOA’I
ATY_MEMBERS_
Caio Corrêa Najm
Daniela Montigelli Villela
Elizabeth Machado
Francisco Pedroso Horta
Gabriela Baumgart
Georgiana Rothier Pessoa
Cavalcante Faria
Geraldo José Carbone
Helio Seibel
Jean-Marc Etlin
Luís Terepins
Sérgio Eduardo Costa Rebêlo
COMITÊ DE NOMEAÇÃO_
JOGUEREJOA’I ATY
NHOMBOERY VA’E_
NOMINATION COMMITTEE_
Alfredo Egydio Setúbal
Elizabeth Machado
Geraldo José Carbone
Henrique Luz
CONSELHO FISCAL_
NHOMONGUETA
ONHANGAREKOA_
FISCAL BOARD_
TITULARES_HA’ETE_
STANDING MEMBERS_
Demétrio de Souza
Reginaldo Ferreira Alexandre
Susana Hanna Stiphan Jabra
(presidente_nhanderuvixa_
president)
SUPLENTES_NHANDERUVIXA
REKOAVIAÁ_ALTERNATES_
Magali Rogéria de Moura Leite
Maria Cristina de Freitas Archilla
Walter Luís Bernardes Albertoni
COMISSÃO DE ARTE_
PORAVÕ PYRE MABAVYKY_
ART COMMISSION_
Claudinei Roberto da Silva
Cristiana Tejo
Vanessa K. Davidson
ASSOCIADOS PATRONOS_
HUVIVA’I KUERY JERERAÁ_
ASSOCIATE PATRONS_
Adolpho Leirner
Alfredo Egydio Setúbal
Antonio Hermann Dias de
Azevedo
Carlos Eduardo Moreira Ferreira
Carmen Aparecida Ruete de
Oliveira
Daniela Montingelli Villela
Danilo Santos de Miranda
Eduardo Brandão
Eduardo Salomão Neto
Eduardo Saron Nunes
Fernando Moreira Salles
Francisco Pedroso Horta
Georgiana Rothier P.
Cavalcanti Faria
Geraldo José Carbone
Helio Seibel
Henrique Luz
Israel Vainboim
Jean-Marc Etlin
Leo Slezynger
Mariana Guarini Berenguer
Mário Henrique Costa Mazzilli
Michael Edgard Perlman
Neide Helena de Moraes
Paulo Proushan
Paulo Setúbal Neto
Peter Cohn
Raul Alves Pereira Netto
Roberto B. Pereira de Almeida
Rodolfo Henrique Fischer
Rolf Gustavo R. Baumgart
Salo Davi Seibel
Sérgio Ribeiro da Costa
Werlang
Simone Schapira Wajman
INCENTIVADORES DA ARTE_
MBAVYKYRE IJAYVU VA’E_ART
SUPPORTERS_
COORDENAÇÃO_ JEGUERO
MBOJA’O VA’E_
COORDINATOR_
Patricia Chaccur
ANALISTA_OMA’EM VA’E REI
VA’E_ ANALYST_
Juliene Campos Braga
Botelho Lanfranchi
MEMBROS_HÁ’E PYGUA_
MEMBERS_
Ana Cristina Medeiros Haberfeld
Ana Eliza e Paulo Setúbal
Adrienne e Nelson Jobim
Alfredo Egydio Setúbal
Alisson Mendonça
Antônia Bergamin e Mateus
Ferreira
Beatriz Yunes Guarita
Claudia e Nelson Davis
Daniela M. Villela
Daniel Augusto Motta
Fernanda Maria de Castro
Marques
Glaucia e Peter Cohn
Guilherme Simões de Assis
Lara Donatoni Matana
Luciana Caravello
Luiz Lara
Marcia Lerro Pimenta
Marcia P. S. Feldon
Maria da Conceição
Cavalheiro Alves de Queiroz
Mariana Guarini Berenguer
Marjorie e Geraldo Carbone
Marilia Chede Razuk
Milú Villela
Odete Lima Krause
Regina Pinho de Almeida
Rolf Gustavo R. Baumgart
Salo Davi Seibel
Sandra e José Luiz Setúbal
Sérgio Ribeiro da Costa Werlang
Silvana Maria Hofig Ramos
Thalita Cefali Zaher
Thiago Gomide
Vilma Eid
Vivian F. S. M. Cecco
NÚCLEO CONTEMPORÂNEO_
JOAPY IKAUIATY AYN GUI
GUAÁ_CONTEMPORARY ART
NUCLEUS_
COORDENAÇÃO_JOGURO
MBOJA’O VA’E_
COORDINATOR_
Camila Granado Pedroso Horta
ANALISTA_MA’EM REI_
ANALYST_
Juliene Campos Braga
Botelho Lanfranchi
MEMBROS_HÁ’E PYGUA_
MEMBERS_
Adriana Dequech Sola
Alaide Cristina Barbosa Ulson
Quercia
Alexandre de Castro e Silva
Ana Carmen Longobardi
Ana Eliza Setúbal
Ana Lopes
Ana Paula Cestari
Ana Paula Vilela Vianna
Ana Serra
Ana Teresa Sampaio
Andrea Gonzaga
Andrea Johannpeter
Ângela Akagawa
Antônio de Figueiredo Murta Filho
Antônio Marcos Moraes Barros
Beatriz Freitas Fernandes
Távora Filgueiras
Beatriz Yunes Guarita
Bianca Cutait
Camila Horta
Camila Mendez
Camila Siqueira
Camila Yunes Guarita
Carolina Alessandra Guerra
Filgueiras
Carolina Massad Cury
Cinara Ruiz
Cintia Rocha
Claudia Maria de Oliveira Sarpi
Cleusa de Campos Garfinkel
Cristiana Rebelo Wiener
207
Cristiane Quercia Tinoco Cabral
Cristiano Biagi
Cristina Baumgart
Cristina Canepa
Cristina Tolovi
Daniela M. Villela
Daniela Steinberg Berger
Dany Rappaport
Dany Saadia Safdie
Eduardo Mazilli de Vassimon
Esther Cuten Schattan
Esther D’Amico Constantino
Fabio Cimino
Fernanda Boghosian Rossi
Fernanda Mil-Homens Costa
Flávia Regina de Souza Oliveira
Florence Curimbaba
Franco Pinto Bueno Leme
Gustavo Clauss
Heloisa Désirée Samaia
Ida Regina Guimarães
Ambroso Marques
Ilaria Garbarino Affricano
Isabel Ralston Fonseca de Faria
Janice Mascarenhas Marques
José Eduardo Nascimento
Judith Kovesi
Juliana Neufeld Lowenthal
Karla Meneghel
Lucas Cimino
Luciana Lehfeld Daher
Luis Felipe Sola
Luisa Malzoni Strina
Maguy Etlin
Marcio Alaor Barros
Maria das Graças Santana Bueno
Maria Julia Freitas Forbes
Maria Lúcia Alexandrino Segall
Maria Teresa Igel
Mariana de Souza Sales
Marina Berti Yunes
Marina Lisbona
Marta Tamiko Takahashi Matushita
Milena Dayan Liberman
Mônica Mangini
Monica Vassimon
Morris Safdie
Murillo Cerello Schattan
Nadja Cecilia Silva Mello Isnard
Natalia Jereissati
Nicolas Wiener
Patricia Magano
Patricia Mendonça Barros
Paula Almeida Schmeil Jabra
Paula Furlanetto
Paula Regina Depieri
Paulo Proushan
Paulo Setúbal Neto
Philippe Racy Takla
Raquel Steinberg
Regina de Magalhães Bariani
Renata Castro e Silva
Ricardo Trevisan
Rodolfo Viana
Rodrigo Editore
Rosa Amélia de Oliveira Penna
Marques Moreira
Rosana Aparecida Soares de
Queiroz Visconde
Ruy Hirschheimer
Sabina Lowenthal
Samantha Abuleac Steinberg
Sandra C. de Araújo Penna
Sérgio Ribeiro da Costa Werlang
Silvio Steinberg
Sonia Regina Grosso
Sonia Regina Opice
Teresa Cristina Bracher
Titiza Nogueira
Vera Lucia Freitas Havir
Wilson Pinheiro Jabur
Yara Rossi
COLABORADORES_PYTYVÕ
VA’E KURY_STAFF_
CURADOR-CHEFE_
NHOMONGUERÁNHANDERUVIXA_
CHIEF CURATOR_
Cauê Alves
SUPERINTENDENTE
EXECUTIVA_JOERE OPENA
VA’E PERATARE VY_
CHIEF OPERATING
OFFICER_
Gisele Regina
ACERVO_MONO’Õ_
COLLECTION_
COORDENAÇÃO_
JOGUERO MBOJA’O VA’E_
COORDINATION_
Claudia Guidi Falcon
ASSISTENTES_TEMBIGUAI_
ASSISTANTS_
Camila Gordillo de Souza
Bárbara Blanco Bernardes
de Alencar
TÉCNICO EM MANUSEIO_
OMOATYRÕ VA’E_
ART HANDLER_
Igor Ferreira Pires
ADMINISTRAÇÃO_IRAJARE
GUA_ADMINISTRATION_
COORDENAÇÃO_
JOGUEREKO MBOJ’O VA’E_
COORDINATION_
Danielle Leonor Pacheco
Medina
COMPRAS_OJOGUA_
PURCHASING_
ANALISTA_MA’EM REI_
ANALYST_
Fernando Ribeiro Morosini
FINANCEIRO_PERATARE
GUA_ FINANCIAL_
ANALISTAS_MA’EM REI
_ANALYSTS_
Diogo Silva Barros
Renata Noé Peçanha
da Silva
ASSISTENTE_TEMBIGUAI_
ASSISTANT_
Jefferson da Silva Borges
Fernandes
ASSISTÊNCIA À CURADORIA
E SUPERINTENDÊNCIA_
NHOMONGUERAÁRE
OIPYTYVÕ HA’E
HEMBIAGUAI_
CURATORSHIP AND
SUPERINTENDENT
ASSISTANT_
Thaïs Brito
ASSISTÊNCIA À
PRESIDÊNCIA_
NHANDERUVIXA
REMBIGUAI_
MANAGEMENT BOARD
ASSISTANT_
Daniela Reis
BIBLIOTECA_KUATIA RUPA
_LIBRARY_
BIBLIOTECÁRIA_KUATIA
RUPAÁ_LIBRARIAN_
Léia Carmen Cassoni
ASSISTENTE_TEMBIGUAI_
ASSISTANT_
Renan Brigeiro Lima
COMUNICAÇÃO_
JOGUEOAYVARE_
COMMUNICATIONS_
COORDENAÇÃO_ JOGUERO
MBO’O VA’E_
COORDINATION_
Eloise Zadig Pereira Gomes
de Martins
ANALISTA_OMA’EM REI_
ANALYST_
Deri Andrade
DESIGNER_ OMBOJEKUAREI
VA’E_ DESIGNER_
Beatriz Falleiros Nunes
PRODUÇÃO E EDIÇÃO
DE VÍDEO_OJEKUAÁ VA’E
RUPIGUA_VIDEOMAKER_
Marina Paixão (PJ)
CURADORIA_
NHOMONGUERÁ VA’E_
CURATORSHIP_
MUSEÓLOGO_YMÃ
GUARE OPENA VA’E_
MUSEOLOGIST_
Pedro Nery
EDUCATIVO_ NHEMBO’EATY_
EDUCATION_
COORDENAÇÃO_JOGUERO
MBOJA’O VA’E_
COORDINATION_
Mirela Agostinho Estelles
ANALISTA_OMA’E REI
_ANALYST
Maria Iracy Ferreira Costa
EDUCADORES_NHOMBO’E
VA’E KUERY_EDUCATORS_
Amanda Harumi Falcão
Amanda Silva dos Santos
Barbara Ganizev Jimenez
Fernanda Vargas Zardo
Gregório Ferreira Contreras
Sanches
Leonardo Barbosa
Castilho
ESTAGIÁRIAS_
NHOEMBIGUAI_
INTERNS_
Cristina Naiara Fernandes
Luna Souto Ferreira
CURSOS_NHEMBO’EVE_
COURSES_
EDUCADORA_KUNHA
NHOMBO’E VA’E_
EDUCATOR_
Barbara Ganizev Jimenez
ANALISTA DE CURSOS_
OMA’EM REI VA’EVEA_
COURSES ANALYST_
Jorge Augusto de Oliveira
JURÍDICO_OMBOA’EVE
VA’E_LEGAL_
ADVOGADA_NHOMBOA’E VE
VA’E_LAWYER_
Olívia Bonan (PJ) – BS&A
Borges Sales & Alem
Advogados
ESTAGIÁRIA_KUANHA
TEMBIGUAI_INTERN_
Mei Jou (PJ)
NEGÓCIOS_MBOEKOVIAÁ_
BUSINESS_
Laura Pinheiro Brunello
CLUBE DE COLECIONADORES_
MONO’Õ ATY PYGUA
KUERY_COLLECTORS’
CLUBS_
ASSISTENTE_TEMBIGUAI_
ASSISTANT_
Monique Marquezin Alves
EVENTOS_ NHOMBOATYATY_
EVENTS_
ANALISTA_MA’E REI_
ANALYST_
Juliene Campos Braga
Botelho Lanfranchi
LOJA_MBA’MO KUA_SHOP_
ANALISTA_MA’E REI_
ANALYST_
Fabiana Martins de Almeida
Luan Carlos (PJ)
PROGRAMA DE SÓCIOS_
JOUPIVEGUA NHOIRUM_
MEMBERS PROGRAM_
ANALISTA_MA’E REI_
ANALYST_
Daniela Reis
PARCERIAS E
PROJETOS_NHOPYTYVÕ
MBA’EAPOARE_
PARTNERSHIPS AND
PROJECTS_
COORDENAÇÃO_ JOGUERO
MBOJA’O VA’E_
COORDINATION_
Kenia Maciel Tomac
PARCERIAS_NHOPYTYVÕ_
PARTNERSHIPS_
ANALISTA_MA’EM REI_
ANALYST_
Mariana Rojas Duailibi
ASSISTENTE_TEMBIGUAI_
ASSISTANT_
Isabela Marinara Dias
PROJETOS CULTURAIS_
TEKORE MBA’EAPORE_
CULTURAL PROJECTS_
ANALISTA_MA’EM REI_
ANALYST_
Deborah Balthazar Leite
ASSISTENTE_TEMBIGUAI_
ASSISTANT_
Valbia Juliane dos Santos Lima
208
PROJETOS
INCENTIVADOS_
MBA’EAPORE
IJAYVUARE_
CULTURAL INCENTIVE
LAW PROJECTS_
Sirlene Ciampi (PJ)
PATRIMÔNIO_
NHANEMBA’E_
PREMISES AND
MAINTENANCE_
COORDENAÇÃO_
JOGUERO MBOJA’O VA’E_
COORDINATION_
Estevan Garcia Neto
OFICIAL DE MANUTENÇÃO_
OIPORAVÔ MOÃ TYRÕ ATY_
MAINTENANCE OFFICIAL_
Alekiçom Lacerda
TÉCNICO DE
MANUTENÇÃO_MOÃ
TYRÕ ATY OIKUAÁ_
MAINTENANCE
TECHNICIAN_
Carlos José Santos
ASSISTENTE_TEMBIGUAI_
ASSISTANT_
Venicio Souza (PJ)
COORDENAÇÃO_
JOGUERO MBOJA’O VA’E_
COORDINATION_
Karine Lucien Decloedt
ASSISTENTE_TEMBIGUAI_
ASSISTANT_
Débora Cristina da Silva
Bastos
TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO_JAIKUA
AGUÃ TEMBIPORURE_
INFORMATION
TECHNOLOGY_
COORDENAÇÃO_
JOGUERO MBOJA’O VA’E_
COORDINATION_
Nilvan Garcia
ANALISTA_MA’EM REI_
ANALYST_
Guido Peters (PJ)
MANTENEDORES_
OMBOPYTA VA’E KUERY_
SPONSORS_
ICTS
Montana Química
PIRELLI
PARCERIAS INSTITUCIONAIS
_NHOPYTYVÕ OMBA’EAPOA_
INSTITUTIONAL PARNERSHIPS_
Africa
Aliança Francesa
Ana Silvia Matte Consultoria e
Meritor Recursos Humanos
BMA
BMI
Canson
Cinema Belas Artes
Cultura e Mercado
Deca
FIAP
Gusmão & Labrunie
Propriedade Intelectual
Hospital Israelita Albert
Einstein
Hugo Boss
Orfeu Cafés Especiais
Senac
PARCERIAS DE MÍDIA_
NHOPYTYVÕA OJEKUA
VA’E PYGUA_MEDIA
PARNERSHIPS_
Arte! Brasileiros
Arte que Acontece
Canal Arte 1
Editora Trip
Eletromidia
Folha de S. Paulo
Inner Editora
JCDecaux
Piauí
Quatro Cinco Um
BILHETERIA_KUATIA’I_
TICKET OFFICE
Flávio Andrade (PJ)
BOMBEIRO CIVIL_
JOGUERO RERAÁ JEPE
VA’E_FIRE BRIGADE
André Luiz (PJ)
Marcelo Santos (PJ)
PLAYER OFICIAL_
MBOJEREA ANHETENGUA_
OFICIAL PLAYER_
Spotify
PROGRAMAS
EDUCATIVOS_
NHOMBO’EA PYGUA
JEAPOAREA_
EDUCATIONAL PROGRAMS_
ARTE E ECOLOGIA_
MBAVYKYA KA’A GUI_
ART AND ECOLOGY
Havaianas
DOMINGO MAM_
DOMINGO MAM_
MAM SUNDAY_
TozziniFreire Advogados
FAMÍLIA MAM_ MAM
RETARÃ_MAM FAMILY_
PwC
IGUAL DIFERENTE_
JOO RAMI VY VY
JOO RAMIE YN_
EQUAL DIFFERENT_
Banco Votorantim
PROGRAMA DE VISITAÇÃO_
PYGUAREVY JOPOUATY_
VISITING PROGRAM_
Pinheiro Neto Advogados
MARCENARIA NO MAM_
YVYRARE OMBA’EAPOA
VA’E_CARPENTRY AT MAM
Leo Madeiras e Leo Social
LIMPEZA_MOÃ TYRÕ_
CLEANING_
Tejofran
Este livro foi composto pela fonte Helvetica Neue e impresso em
papéis Pop’set Extra Black 400 g/m2 (capa), Pólen bold 90 g/m2 e
Eurobulk 135 g/m2 (miolo), em novembro de 2021, pela gráfica Ipsis.
SEGURANÇA PATRIMONIAL
_OPENA VA’E NHOMBA’ERE
VA’E_PROPERTY
INSURANCE_
Power Segurança
PRODUÇÃO DE
EXPOSIÇÕES_OJAPO VA’E
NHEMBOYXY_EXHIBITIONS
PRODUCTION_
COORDENAÇÃO
EXECUTIVA_JOGUERO
MBOJA’O HUVIXA_
EXECUTIVE COORDINATION_
Paula Amaral
PRODUÇÃO_JAPÓ KUAA
VA´E_PRODUCTION_
Ana Paula Pedroso
Santana
Patricia Pinto Lima
ASSISTENTE_TEMBIGUAI_
ASSISTANT_
Marina do Amaral Mesquita
PRODUTOR INTERINO_
MBA’EAPO INTERINO_
INTERIM PRODUCER_
Pedro Henrique Lopes (PJ)
RECURSOS HUMANOS_
NHANDEVYPE GUA VA’E_
HUMAN RESOURCES_
PLATINA_YJYRANTÃ_
PLATINUM_
BNP Paribas
Havaianas
XP Private
OURO_YVYJU_GOLD_
Alupar
Banco Votorantim
Credit Suisse
EMS
Havan
KPMG
Leo Madeiras e Leo Social
Lojas Renner S. A.
Marsh McLennan
Pinheiro Neto Advogados
PwC
TozziniFreire Advogados
Verde Asset Management
Vivo
PRATA_ ITA JY_SILVER_
Banco Safra
Bloomberg Philanthropies
Bompack
Emporium São Paulo
Grupo Comporte
MUSEU DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO
Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea. Elizabeth Machado
(apresentação) ; Cauê Alves, et all. (textos) ; Jaider Esbell (curadoria e
texto) ; Paula Berbert (assistente) ; Pedro Cesarino (consultor) ; Renato
Salem (coord. editorial) ; Carlos Papá (Carlos Fernandes Guarani)
(tradução – Guarani mbya) ; Idjahure Kadiwel (tradução – inglês) ;
Maurício Ayer e Dominique Makins Bennett (revisão) ; Estúdio Campo
(designer gráfico).
São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2021
208 p. il. :
Textos em Português, Guarani mbya e Inglês.
Exposição realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo
de 4 de setembro a 28 de novembro de 2021.
ISBN 978-65-990406-6-5
1. Museu de Arte Moderna de São Paulo. 2. Título. 3. Arte Indígena
Contemporânea Século XXI – Brasil. I. Almeida, Maria Inês de. II.
Baniwa, Denilson. III. Caripoune, Yermollay. IV. Foster, Vernon. V.
Gabriel, Charles. VI. Huni Kuin, Rita. VII. Krenak, Ailton. VIII. Maxakali,
Isael. IX. Maxakali, Sueli. X. Pataxó, Arissana. XI. Papá, Carlos. XII.
Takuá, Cristine. XIII. Terena, Naine. XIV. Xakriabá, Nei.
CDU: 7. 031(81)
CDD: 704. 0398
WARAYO MOROOPAI SURARÎ
Wî´kon ponan ami´ke tî´noopî yarakrîron koman´pîtî epîtîîpî amo´ko
pe ko´ko pe siman tiwim tîn rekondon eporîîpî to´ya. Mîîkîrî ayennta komîîpî
epunennpe tîwîrî komunya ekaremepîtîiîpî itunya tamînauron pataakon
taasarîîpî pontoni, eta yeeka´pe taapî ya “mîîrîrî poro nîrî assase uttî”.
Awennpasa wanîîpî, essen akamaikoope meruntî´ke. Mîîkîrî esenumenka
sipiatîîpî ononrantîî tî´komantoopî, ti noopîton eporîpî esenumen´kaapî tiyun
waranntî, tuuke timunku yamîîtton eporîpî esunumenka´tî.
Tiwin wei yai attî’pî pataaporo asaase morî pata era’mai wî’poro aminke
pu’kuru. Tiaron wei yai epa’ka’pî mararon temanne kon pokonpe mîrîrî
tenerama’pî pata poro. Tiwin wei taasarî pî ko’mî’pî morî manne terama’pî
iwaapî pata poro, tîîse taasarî’pî poro î’rî kon rî menu ku’pî tî’pîiya tî’konpî
o’non poro taasarîpî era’mapa mîrîrî pataapo. Terepamî rape ko’mîya,
si’mîrikî iwîîtî morî awainan rora eporî’pîiya yu’ya moroopai mîrîrî pata ya
tîpaata’se’ton eporî’pîya tîweetunpa. Tîwentamo’kato’ton iwaiya rapo,
moro’ sura’tîsa eporî’pîiya tî’po, mîrîrî pî eesenumenka’pî anî’ wanîîpî
manni’ pataapo, mîrîrî warantî tîîse rî moro’ sura’tîsa pî awentamo’ka’pî,
iwanpe tuwane’nin.
Ewaronya tette ewa’tî’pîiya kawîine yei pona, morîrîîpe kapoi wanî’pî ewaron
ya, tîîko’mansa’pe moro’ puusa’ tenanî’pî esa’ asarî eta’pîiya yu’ya, o’ma
tenerama’pî pepîn. O’ma ereepamî’pî manni’ pata’sem pona mararîîpra
moro’ yamî’tîrî’pîiya yu’ yare pona tî’po innîrî moroopai apo’ po’tî’pîiya,
to’ puru’pîiya, innî’ to’ wontî’pîiya yu’yare ke moroopai yairomî’pîya
si’na’ke moroopai tî’pona itîrî’pîiya mîrîrî tîpo attî’pî yu’ya. Mîrîrî tera’mai
warayo’ wîtî’pî, mîrîrî perî ewaronya, ewaronya taasarîîpe tîpo eremapîya
eerepamî’pî wî’pona moroopai wîttî erama’pîiya mîîkîrî wîtî’pî mîrîrî wîttî poro
era’maima, moro mîrîrî wîttî ta tîîko’mansenan eporî’pîiya. Mîîkîrî ya tîpantoni
ekaremeekî’pî manni’ pataapo taasarî’pî.
Wîttî esa’ ya mîîkîrî warayo’ eta’pî konoi’pî tuutîkonpa, moroopai tiaron
wei yai to’ wîtî’pî irenka’, terepamîkonpe mararîîpra moro’yamî’ yapiisî’pî
to’ya wîri’sanyamî’ya inkamoro moro’yamî’ we’ka tanne, moro’yamî’ we’ka
yareetî’ka to’ya tanne, ta’pî warayo’ya wîri’sanyamî’pî. Teesenupa’pî
ekaremeekî’pîiya yu’ya pî taasarîîpe teesenupa’pî, mîrîrî pata ta’pîiya
wîri’sanyamî’pî yu’ yareeke paruru ye’ yare ke moro’yamî’ wontî’pîiya.
Mîrîrî erama’pî pemonkonyamî’ya morîîpe pu’kuru.
Tiaron wei yai attî’pî moroopai tiaron pataapo taasarî pe mannankan
pemonkonyamî’ yenuupapî aasaarî ko’mî’pî. Marariipra pemonkonyamî’ya
mîrîrî morî esenumenkanto’ kupî’pî tîwaakariikonpe, tîîse mîrîrî epu’tî to’ya
pra awanî’pî. Tiaronpensa attî’pî tiyun, tisan pia’, terepamî pe tîpantoni
ekaremeekî’pîiya, pataaporo taasarî’pî pantoni, surarî pantoni. Sîrîrî tîpoose
mîrîrî surarî yapurînennan pemonkonyamî’.
(Charles Gabriel)
ISBN 978–65–990406–6–5