EFEITO DA TEMPERATURA E CONDIÇÕES DE ATMOSFERA CONTROLADA
NA ARMAZENAGEM DE MAÇÃS ‘FUJI’ COM INCIDÊNCIA DE PINGO DE MEL
EFFECT OF TEMPERATURE AND CONTROLLED ATMOSPHERE CONDITIONS IN THE STORAGE OF ‘FUJI’
APPLES WITH WATERCORE INCIDENCE
BRACKMANN, Auri; BENEDETTI, Marlova; STEFFENS, Cristiano André; MELLO, Anderson M. de
RESUMO
Com o objetivo de avaliar condições de armazenamento de
maçãs foram conduzidos dois experimentos com a cv. Fuji com
incidência de pingo de mel. A unidade experimental foi composta por
amostras de 70 frutos. O experimento 1 constituiu-se de um bifatorial 2
x 3 (temperatura x condições de armazenamento) com três repetições.
As condições de armazenamento foram: armazenamento refrigerado AR (21,0 kPa O2/0,0 kPa CO2) ; 0,8 kPa O2/0,0 kPa CO2 e 1,1 kPa
O2/0,0 kPa CO2, combinados com as temperaturas de 0 e –0,5ºC. No
experimento 2 foram avaliados os seguintes tratamentos: AR (21,0
kPa O2/0,0 kPa CO2); 1,1 kPa O2/0,0 kPa CO2 e 0,8 kPa O2/0,0 kPa
CO2 e 1 kPa O2/2,0 kPa CO2, todos na temperatura de 0ºC. A UR, em
ambos os experimentos, foi de 96%. As avaliações foram realizadas
após sete meses de armazenamento, na saída da câmara, e após
sete dias de exposição dos frutos a 20ºC. No experimento 1, o uso de
atmosfera controlada diminuiu a degradação dos ácidos, manteve a
cor verde da epiderme, diminuiu a produção de etileno e a respiração,
porém aumentou a incidência de degenerescência senescente. A
condição de 0,8 kPa de O2 manteve a firmeza da polpa mais elevada,
tanto na saída da câmara, quanto após sete dias. Na saída da
câmara, a temperatura de 0ºC apresentou menores valores de acidez
titulável que a de –0,5ºC. No experimento 2, o uso de AC manteve a
firmeza de polpa, a acidez titulável mais elevada e a cor da epiderme
mais verde, além de promover menores valores de produção de
etileno e respiração, porém a ocorrência de degenerescência
senescente foi maior principalmente na condição de 1 kPa de O2 e 2
kPa de CO2.
Palavras-chave: Mallus domestica Borkh, distúrbio fisiológico,
armazenamento refrigerado, atmosfera controlada.
INTRODUÇÃO
A maçã cv. Fuji apresenta excelente sabor e boa
suculência tendo, por isso, grande aceitação no mercado
nacional e internacional. Atualmente a cv. Fuji representa 45%
do total de maçãs produzidas no Brasil. Segundo ARGENTA
et al. (1994), é a cultivar em maior expansão na produção
brasileira sendo, portanto, necessário o seu armazenamento
refrigerado para regular a oferta e colocar o produto no
mercado na entresafra. A conservação desta cv. é bastante
1
variada em função das condições climáticas durante o
desenvolvimento dos frutos. Um dos problemas que pode se
manifestar antes da colheita e durante o armazenamento
refrigerado e que interfere no potencial de armazenamento é a
presença de pingo de mel. Este distúrbio fisiológico
caracteriza-se pela formação de áreas duras com aspecto
vítreo e encharcado na polpa, em regiões próximas aos feixes
vasculares, podendo afetar todo o fruto e ser externamente
visível (CHITARRA & CHITARRA, 1990). O pingo de mel é
causado pela presença de sorbitol e sacarose que se
acumulam nos espaços intercelulares das maçãs não sendo
absorvidos pelas células e,conseqüentemente, metabolizados.
O distúrbio ocorre com mais freqüência nos frutos maiores e
naqueles de colheita mais tardia. Os frutos maiores,
normalmente, têm baixo poder de conservação, e a parte
afetada durante o armazenamento pode tornar-se de uma
coloração escura . As maçãs com incidência de pingo de mel
apresentam problemas no armazenamento em condições de
atmosfera controlada (AC), devido aos maiores índices de
degenerescência
da
polpa.
A
manifestação
de
degenerescência de polpa é influenciada pelo clima, solo,
nutrição do fruto, idade da planta e manejo (FAN,1992). A
intensidade de ocorrência varia, portanto, em função do ano e
local de produção. Outro fator responsável pela suscetibilidade
à degenerescência é a colheita tardia, com um ponto de
maturação muito avançado, motivado pela exigência do
mercado consumidor de maçãs com maior cobertura de
coloração vermelha nos frutos o que só é conseguido na cv.
Fuji Standard com maturação mais avançada.
O uso de AC em comparação à AR, aumenta
consideravelmente
o
período
de
armazenamento,
principalmente quando se utiliza técnicas complementares ao
sistema de AC convencional. Entre estas práticas destacamse o rápido resfriamento dos frutos, uso de concentração ultra
baixa de oxigênio e baixa umidade relativa da câmara.
Segundo a literatura, a degenerescência da polpa e a
escaldadura, duas grandes causas de perdas da cv. Fuji, são
influenciadas por uma série de fatores, entre eles o tempo de
resfriamento dos frutos, temperatura de armazenamento,
concentração de O2 e CO2 em AC e umidade relativa da
UFSM/CCR/Deptº de Fitotecnia – Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita – Campus Universitário – CEP 97105-900 –
Tel. (0xx)55 2208179 – Santa Maria/RS.
1
(Recebido para publicação em 12/07/2001)
R. bras. Agrociência, v.8 n. 1, p. 37-42, jan-abr, 2002
37
BRACKMANN et al. Efeito da Temperatura e Condições de Atmosfera Controlada na Armazenagem de Maçãs ‘Fuji’ ...
câmara (FORTES & PETRI, 1982; LAU et al., 1987).
Em virtude da falta de informações técnicas sobre
armazenamento, cada empresa de maçã adota uma
tecnologia própria de armazenamento das maçãs ‘Fuji’. Há
dúvidas dos produtores quanto a diferença do potencial de
armazenamento entre maçãs com e sem incidência de pingo
de mel. Visando obter informação para a redução das perdas
em função da alta incidência de pingo de mel e objetivando
avaliar condições de conservação de maçãs cv. Fuji com
incidência de pingo de mel foi realizado o presente trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos no ano de 2000 com
maçãs 'Fuji' colhidas em três pomares comerciais de São
Joaquim – SC. Parte das maçãs foi armazenada durante sete
3
meses em minicâmaras de AC com 0,233 m do Núcleo de
Pesquisa em Pós-Colheita da Universidade Federal de Santa
Maria - RS (NPP/UFSM), e a outra parte das maçãs foi
armazenada em ar refrigerado (AR) a 0 e –0,5ºC. As amostras
experimentais foram compostas de 70 frutos, com três
repetições em cada tratamento. Uma amostra (35 frutos) foi
analisada no dia da saída da câmara e outra amostra (35
frutos) foi mantida durante sete dias em uma câmara de
climatização à 20ºC, e posteriormente analisada. O
delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso.
Os frutos foram colhidos com a maturação um pouco
avançada, pois são estes frutos que apresentam maior índice
de pingo de mel e que, por isso, apresentam maiores
dificuldades na conservação. Os frutos no momento da
colheita apresentavam firmeza de polpa de 76,4 N ; acidez
-1
titulável de 3,52 cmol.L e sólidos solúveis totais de 13,3ºBrix.
O índice de pingo de mel (IPM) foi obtido pelo somatório
dos produtos do número de frutos (nf) e respectivo nível de
incidência do distúrbio (1 – sem incidência de pingo de mel; 2
– incidência inicial, com até 5% da polpa afetada; 3 –
incidência leve com mais de 5% até 10% da polpa afetada; 4 –
incidência moderada com mais de 10% até 20% da polpa
afetada e 5 – incidência severa com mais de 20% da polpa
afetada) e dividido pelo número total de frutos (ntf), conforme a
fórmula IPM=( nf x 1 + nf x 2 + nf x 3 + nf x 4 + nf x 5)/ntf.
Sendo considerado fruto com distúrbio aquele que, cortado ao
meio, apresentou áreas de tecido aquoso com aparência
translúcida. O índice de pingo de mel médio entre as amostras
calculado foi de 2,87 na colheita.
A atmosfera foi instalada nas câmaras de AC após a
estabilização da temperatura de armazenamento. A instalação
da atmosfera foi feita através da injeção de N2, produzido por
um gerador de nitrogênio, que funciona pelo principio de
membrana de separação (“Pressure Swing Adsorption –
PSA”). A pressão parcial dos gases (O2 e CO2) das câmaras
de AC foi monitorada com um equipamento totalmente
automatizado da marca Kronenberger, o qual permitiu uma
oscilação máxima de ±0,1 kPa da pressão parcial desejada.
No experimento 1 avaliou-se diferentes pressões parciais
de O2 em duas temperaturas, enquanto que, no experimento
2, avaliou-se diferentes pressões parcias de O2 e CO2. As
condições de armazenamento no experimento 1 foram: AR
(21,0 kPa O2/ 0,0 kPa CO2); 0,8 kPa O2/0,0 kPa CO2; e 1,1
kPa O2/0,0 kPa CO2, combinados com as temperaturas de 0 e
–0,5ºC. Já no experimento 2 foram avaliados os seguintes
tratamentos: AR (21,0 kPa O2/0,0 kPa CO2); 1,1 kPa O2/0,0
kPa CO2 e 0,8 kPa O2/0,0 kPa CO2 e 1 kPa O2/2,0 kPa CO2,
todos na temperatura de 0ºC.
Os parâmetros avaliados foram: firmeza da polpa, sólidos
solúveis totais (SST), acidez total titulável (ATT),
degenerescência senescente e ocorrência de podridões,
obtidas de acordo com a metodologia descrita em MEDEIROS
(1999). Também avaliou-se a cor de fundo da epiderme, a
produção de etileno e CO2.
A cor da epiderme foi determinada com um colorímetro,
marca MINOLTA, modelo CR-310, com a leitura de cores pelo
sistema tridimensional CIE L* a* b*. A leitura foi realizada no
lado do fruto que apresentava ausência de coloração
vermelha, uma vez em cada fruto ,nas duas análises, uma na
saída das câmaras e outra após exposição dos frutos por sete
dias à temperatura de 20ºC. Foram feitas as leituras da cor da
epiderme para avaliar a evolução da degradação da clorofila e
os resultados expressos em a* + b*.
A produção de etileno foi obtida por cromatografia
gasosa através de cromatógrafo, marca Varian Star 3400X .
Como fase estacionária foi usada uma coluna empacotada
com Porapak N de 0,70 m de comprimento e tendo como fase
móvel o Nitrogênio. As temperaturas empregadas foram 90ºC,
140ºC e 200ºC para coluna, injetor e detector,
respectivamente. A partir de uma massa conhecida de frutos,
acondicionada em recipientes de vidro com volume de 5 L
hermeticamente vedados por um período de tempo conhecido,
retirou-se duas amostras de 1 mL dos gases contidos em cada
recipiente com auxílio de seringas descartáveis, volume este
posteriormente injetado individualmente no injetor do
equipamento. Os valores médios foram obtidos em ppm e
-1 -1
posteriormente convertidos e expressos em µLC2H4. Kg .h .
As leituras, em cada frasco foram repetidas duas vezes.
A respiração dos frutos também foi obtida a partir de uma
massa conhecida de frutos acondicionada em recipientes de
vidro com volume de 5 L e hermeticamente vedados, por um
período de tempo de aproximadamente duas horas. Para o
cálculo do CO2 produzido considerou-se o volume interno livre
do recipiente, bem como a massa de frutos neles contida. As
determinações da respiração e produção de etileno dos frutos
foram realizadas 24 horas após a saída dos frutos das
câmaras e após sete dias de exposição dos mesmos à
temperatura de 20ºC.
Os resultados de cada experimento foram analisados
separadamente, sendo que os dados expressos em
percentagem foram transformados pela fórmula arcsen x
antes da análise da variância e as médias dos tratamentos
foram comparadas pelo teste Duncan a 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
EXPERIMENTO 1
Não houve diferença estatística, para o parâmetro
firmeza de polpa, entre as temperaturas e entre as condições
de armazenamento na saída da câmara (Tabela 1). Após sete
dias houve uma redução considerável na firmeza dos frutos na
condição de armazenamento em atmosfera refrigerada
(Tabela 2). Maior retenção da firmeza de polpa em condições
de AC, para maçãs ‘Fuji’, também foi constatada por
WERNER (1989) e FAN (1992). Entre as condições de
atmosfera controlada (AC) a condição de 0 kPa de CO2/0,8
kPa de O2 apresentou maiores valores de firmeza de polpa
após sete dias.
R. bras. Agrociência, v.8 n. 1, p. 37-42, jan-abr, 2002
38
BRACKMANN et al. Efeito da Temperatura e Condições de Atmosfera Controlada na Armazenagem de Maçãs ‘Fuji’ ...
TABELA 1 - Teores de firmeza de polpa, acidez titulável e sólidos solúveis totais de maçãs cv. Fuji com incidência de pingo de mel
após 7 meses de armazenamento refrigerado e em atmosfera controlada. Santa Maria, RS. 2000.
Firmeza
Acidez
SST
Condição de
-1
de Polpa (N)
Titulável (cmol.L )
(°Brix)
Armazenamento
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
(kPa CO2/kPa O2)
0
-0,5
Média
0
-0,5
Média
0
-0,5
Média
AR**
61,31
60,43
60,72a
1,15
1,63
1,39b
15,7
15,5
15,62a
0,0/0,8
65,66
64,61
64,62a
2,00
2,15
2,01a
14,4
14,1
14,13b
0,0/1,1
63,37
66,18
64,98a
1,80
2,21
2,08a
14,2
14,0
14,25b
Média
63,29 A
63,59 A
1,65B
2,00A
14,77 A
14,57 A
CV(%)
5,03
15,42
2,77
•
Tratamentos com médias não seguidas pela mesma letra, maiúscula na vertical e minúscula na horizontal, diferem pelo
teste de Duncan a 5% .
** 21,0 kPa O2/0,0 kPa CO2
TABELA 2 - Teores de firmeza de polpa, acidez titulável e sólidos solúveis totais de maçãs cv. Fuji com incidência de pingo de mel
após 7 meses de armazenamento + 7 dias a 20ºC. Santa Maria, RS. 2000.
-1
Condição de
SST (°Brix)
Firmeza de Polpa (N)
Acidez Titulável (cmol.L )
Armazenamento
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
(kPa CO2/kPa O2)
0
-0,5
Média
0
-0,5
Média
0
-0,5
Média
AR**
52,30
55,34
53,82b
0,94
1,61
1,27b
15,63
15,20
15,42a
0,0/0,8
58,91
57,01
57,96a
2,01
2,01
2,01a
13,93
14,43
14,18b
0,0/1,1
55,06
58,06
56,56ab
2,16
1,87
2,01a
14,47
14,37
14,42b
Média
55,42 A
56,80 A
1,70A
1,83A
14,68 A
14,67 A
CV(%)
4,56
17,36
3,78
* Tratamentos com médias não seguidas pela mesma letra, maiúscula na vertical e minúscula na horizontal, diferem pelo teste de
Duncan a 5% .
** 21,0 kPa O2/0,0 kPa CO2
Na saída da câmara a AC proporcionou maior manutenção
dos valores de acidez total titulável em comparação com o
armazenamento em AR (Tabela 1). ARGENTA & DENARDI
(1994) observaram que em maçãs ‘Fuji’ armazenadas em AC,
há uma perda acentuada da acidez a partir do 7º mês de
armazenamento, enquanto que em AR, a perda se acentua no
3º mês. Com relação ao fator temperatura verificou-se que –
0,5ºC promoveu uma menor degradação de ácidos nos frutos ,
na avaliação na saída da câmara, enquanto que após sete
dias não houve diferença entre temperaturas na manutenção
da acidez e a condição de AC continuou se mostrando mais
eficiente em relação a AR (Tabela 2).
Os valores de SST na saída da câmara foram
menores nos frutos armazenados na condição de AC em
comparação com a condição de AR (Tabela 1). A mesma
situação foi observada na análise após sete dias (Tabela 2).
BRACKMANN & SAQUET (1995) afirmam que
normalmente não se percebe grandes alterações nos SST
durante o armazenamento em AC, pois os açúcares são
substratos de respiração, cujo início de utilização ocorre após
acentuado consumo dos ácidos orgânicos.
Na ocorrência de podridões não houve diferença, na
saída da câmara, entre condições de armazenamento e entre
temperaturas (Tabela 3). Após sete dias a condição de 0 kPa
CO2/0,8 kPa de O2 apresentou maiores valores de frutos com
podridão (Tabela 4). Possivelmente, a pressão parcial de 0,8
kPa de O2 causou estresse aos frutos já bastante maduros
facilitando o ataque de patógenos. Também se verificou
maiores valores de podridão na temperatura de –0,5ºC. Após
exposição dos frutos à temperatura ambiente ocorreu um
rápido desenvolvimento de podridões.
TABELA 3 - Ocorrência de podridões, distúrbios fisiológicos e cor em maçãs cv. Fuji com incidência de pingo de mel após 7
meses de armazenamento refrigerado e em atmosfera controlada. Santa Maria, RS. 2000.
Condição de
Degenerescência senescente (%)
Podridão (%)
Cor (a* + b*)
Armazenamento
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
(kPa CO2/kPa O2)
0
-0,5
Média
0
-0,5
Média
0
-0,5
Média
AR**
3,04
11,60
7,32a
36,19
31,90
34,04a
53,00Aa
50,55Aa
51,77
0,0/0,8
13,63
11,31
12,47a
37,13
27,62
32,37a
44,11Ab
45,18Ab
44,64
0,0/1,1
6,25
10,79
8,52a
25,71
27,62
26,66a
46,07Ab
44,50Ab
45,28
Média
7,64A
11,23A
33,33A
29,05A
47,73
46,74
CV(%)
51,47
18,16
4,10
•
Tratamentos com médias não seguidas pela mesma letra, maiúscula na vertical e minúscula na horizontal, diferem pelo
teste de Duncan a 5% .
** 21,0 kPa O2/0,0 kPa CO2
R. bras. Agrociência, v.8 n. 1, p. 37-42, jan-abr, 2002
39
BRACKMANN et al. Efeito da Temperatura e Condições de Atmosfera Controlada na Armazenagem de Maçãs ‘Fuji’ ...
TABELA 4- Ocorrência de podridões e distúrbios fisiológicos em maçãs cv. Fuji com incidência de pingo de mel após 7 meses de
armazenamento refrigerado e em atmosfera controlada + 7 dias a 20ºC. Santa Maria, RS. 2000.
Degenerescência senescente (%)
Podridão (%)
Cor (a* + b*)
Condição de
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
Armazenamento
(kPa CO2/kPa O2)
0
-0,5
Média
0
-0,5
Média
0
-0,5
Média
AR**
6,37
4,44
5,41b
53,62
69,11
61,37b
50,75Aa
51,88Aa
51,31
0,0/0,8
11,05
15,71
13,39a
81,17
76,43
78,80a
48,29Aa
44,58Bb
46,43
0,0/1,1
25,59
16,86
21,22a
55,05
65,21
60,13b
44,87Aa
44,90Ab
44,88
Média
14,34A
12,34A
63,28A
70,25A
47,97
47,12
CV(%)
25,38
17,20
4,09
* Tratamentos com médias não seguidas pela mesma letra, maiúscula na vertical e minúscula na horizontal, diferem pelo teste de
Duncan a 5% .
** 21,0 kPa O2/0,0 kPa CO2
Na análise após sete dias (Tabela 4), o armazenamento
em AC resultou em maior incidência de degenerescência
senescente. Estando de acordo com as afirmações de
BRACKMANN et al., (1995) e BRACKMANN & SAQUET
(1995) de que o armazenamento em AC predispõe à
degenerescência da polpa de maçã ‘Fuji’. Para o fator
temperatura não se observaram diferenças contrariando
ARGENTA & DENARDI (1994) ao afirmarem que a maçã
‘Fuji’, produzida no Brasil não tolera temperaturas de –0,5 ou
0ºC.
Na saída da câmara os frutos conservados em AR
apresentaram maior produção de etileno em comparação com
os armazenados em AC (Tabela 3); sendo que após sete dias
não foram observadas diferenças para tal variável (Tabela 6).
Quanto à respiração dos frutos observou-se uma considerável
diferença entre as condições de armazenamento na saída da
câmara. Sendo que a condição de AR apresentou maiores
valores para este parâmetro, seguida pela condição de AC de
maior concentração de oxigênio ; enquanto que a condição
com menos oxigênio apresentou menores valores de
respiração.
Tabela 5 - Produção de etileno e respiração em maçãs cv. Fuji com incidência de pingo de mel, na saída da câmara, após 7 meses de
armazenamento refrigerado e em atmosfera controlada. Santa Maria, RS. 2000.
-1 1
-1 1
Respiração (ml CO2 . kg .h )
Condição de
Etileno (µ L C2H4 . kg .h )
Armazenamento
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
(kPa CO2/kPa O2)
0
-0,5
Média
0
-0,5
Média
AR**
18,85
12,86
15,86 a
11,53
10,26
10,88 a
0,0/0,8
1,13
1,04
1,08 b
4,76
6,19
5,48 c
0,0/1,1
3,99
1,39
2,69 b
7,72
7,24
7,48 b
Média
7,99 A
5,10 A
8,00 A
7,89 A
CV(%)
76,74
16,81
* Tratamentos com médias não seguidas pela mesma letra, maiúscula na vertical e minúscula na horizontal, diferem pelo teste de
Duncan a 5% .
** 21,0 kPa O2/0,0 kPa CO2
TABELA 6. Produção de etileno e respiração em maçãs cv. Fuji com incidência de pingo de mel após 7 meses de armazenamento
refrigerado e em atmosfera controlada + 7 dias de exposição a 20ºC. Santa Maria, RS. 2000.
-1 1
-1 1
Respiração (ml CO2 . kg .h )
Condição de
Etileno (µ L C2H4 . kg .h )
Armazenamento
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
(kPa CO2/kPa O2)
0
-0,5
Média
0
-0,5
Média
AR**
22,42
13,20
17,81 a
10,09
10,25
10,17 a
0,0/0,8
10,89
3,26
7,07 a
11,38
3,50
7,44 a
0,0/1,1
3,50
49,76
17,81 a
9,00
24,18
16,59 a
Média
12,27 A
22,07 A
10,16 A
12,64 A
CV(%)
116,52
64,42
* Tratamentos com médias não seguidas pela mesma letra, maiúscula na vertical e minúscula na horizontal, diferem pelo teste de
Duncan a 5% .
** 21,0 kPa O2/0,0 kPa CO2
Os resultados das análises da variância, para
coloração da epiderme, apresentaram significância da
interação entre os fatores temperatura e condição de
armazenamento, nas duas avaliações realizadas (Tabelas 3 e
4). Tanto na saída da câmara quanto após sete dias a
condição de AC manteve os frutos com coloração mais verde.
Sendo que após sete dias a condição de 0 kPa CO2 / 0,8 kPa
de O2 em –0,5ºC apresentou frutos mais verdes do que na
temperatura de 0ºC. Segundo SHARPLES (1982) a baixa
concentração de O2 durante o armazenamento inibe a
degradação da clorofila.
R. bras. Agrociência, v.8 n. 1, p. 37-42, jan-abr, 2002
40
BRACKMANN et al. Efeito da Temperatura e Condições de Atmosfera Controlada na Armazenagem de Maçãs ‘Fuji’ ...
EXPERIMENTO 2
Na saída da câmara as condições de AR e de 0 kPa
CO2/1,1 kPa O2 promoveram menores valores de firmeza de
polpa , não se observando diferenças entre as demais
condições (Tabela 7). Após sete dias observou-se ainda maior
redução de firmeza de polpa na condição de AR e de 0 kPa
CO2/1,1 kPa O2, além de uma menor firmeza na condição de 0
kPa CO2/0,8 kPa O2 , enquanto que a condição de 2,0 kPa
CO2/1,0 kPa O2 proporcionou melhor manutenção dos valores
de firmeza de polpa (Tabela 8). LAU (1985) justifica este
resultado afirmando que o armazenamento em AC inibe a
respiração e a produção de etileno pelos frutos, contribuindo
para uma maior retenção da firmeza de polpa. Enquanto KE et
al. (1991) afirmam que a redução no nível de O2 e a elevação
da concentração de CO2 tendem a reter ainda mais o processo
de perda de firmeza.
Tabela7 - Teores de firmeza de polpa, acidez titulável, sólidos solúveis totais, cor e ocorrência de distúrbios fisiológicos e
podridões, respiração e produção de etileno de maçãs cv. Fuji com incidência de pingo de mel após 7 meses de
armazenamento refrigerado e em atmosfera controlada. Santa Maria, RS. 2000.
Etileno
Firmeza
Acidez
SST Podridão Degenerescência
Cor
Respiração
1 1
(N)
Titulável (cmol/L) (ºBrix)
(%)
Senescente (%) (a* +b*) (ml CO2 . k .h ) (µ L C2H4 . kg-1.h1)
Condição de
Armazenamento
AR**
61,31b
1,15b
15,70a 36,19a
3,04b
53,00a
11,53 a
18,85 a
0% CO2/ 1,1% O2 63,37ab
1,80a
14,23b 25,71a
6,25ab
44,11b
7,72 ab
3,99 b
2,00a
14,37b 37,13a
13,63ab
46,07b
4,76 b
1,13 b
0% CO2/ 0,8% O2 65,66a
2,16a
14,07b 34,29a
41,84a
43,87b
5,04 b
0,23 b
2% CO2/ 1,0% O2 64,61a
CV (%)
1,92
12,77
3,26
17,95
55,60
3,17
27,90
83,40
•
Médias não seguidas pela mesma letra na vertical diferem estatisticamente entre si pelo teste de Duncan a 5%.
** 21,0 kPa O2/0,0 kPa CO2
Tabela 8 -
Teores de firmeza de polpa, acidez titulável, sólidos solúveis totais, cor, ocorrência de distúrbios fisiológicos e
podridões, respiração e produção de etileno de maçãs cv. Fuji com incidência de pingo de mel após 7 meses de
armazenamento refrigerado e em atmosfera controlada + 7 dias a 20ºC. Santa Maria, RS. 2001.
Etileno
Condição de
Firmeza Acidez
SST
Podridão
Degenerescência
Cor
Respiração (ml
1 1
-1 1
Armazenamento
(N)
Titulável (ºBrix)
(%)
Senescente (%)
(a*+b*)
CO2 .k .h )
(µ L C2H4 . kg .h )
(cmol/L)
AR**
52,30c
0,94b
15,63a
53,62a
6,37b
50,75a
10,09a
21,23a
0% CO2/ 1,1% O2 55,06bc
2,16a
14,47ab
55,05a
25,59ab
48,29a
11,38a
8,59b
2,01a
13,93b
81,17a
11,05b
44,87b
9,00a
2,71c
0% CO2/ 0,8% O2 58,91ab
2,09a
14,00b
67,78a
51,35a
43,76b
4,85a
1,36c
2% CO2/ 1,0% O2 59,80a
CV (%)
3,80
17,44
4,28
59,44
39,57
3,40
51,03
19,30
•
Médias não seguidas pela mesma letra na vertical diferem estatisticamente entre si pelo teste de Duncan a 5%.
** 21,0 kPa O2/0,0 kPa CO2
As condições de AC mantiveram maiores os valores de
acidez titulável em comparação com o armazenamento em AR
(Tabela 7). Isto sendo verificado também após sete dias,
quando a redução nos valores de acidez titulável foi ainda
mais pronunciada na condição de AR (Tabela 8). A mais
rápida redução da acidez de maçãs em AR comparando com
AC foi também verificada por CHEN et al. (1985) e ARGENTA
& DENARDI (1994).
Os níveis de SST foram, na saída da câmara, mais
elevados nos frutos armazenados na condição de AR em
comparação com a AC (Tabela 7). Contrariando BENDER
(1989) quando este afirma que as condições de AC mantém
mais altos os valores de SST, devido a uma menor
degradação dos açúcares em conseqüência da redução da
atividade respiratória e metabolismo dos frutos. Já após sete
dias foi verificado novamente a presença de maiores valores
de SST em AR, porém a condição de AC de 0 kPa CO2/1,1
kPa O2 também apresentou valor maior de SST em
comparação às demais condições de AC (Tabela 8).
Na saída da câmara e após sete dias a condição de AR
promoveu frutos menos verdes. Porém após sete dias as
condições de 2,0 kPa CO2/1,0 kPa O2 e de 0 kPa CO2/0,8 kPa
O2 mantiveram os frutos mais verdes (Tabelas 7 e 8).
Os frutos armazenados na condição de AC de 2,0
kPa CO2/1,0 kPa O2 apresentaram maior incidência de
degenerescência senescente, na saída da câmara ; as demais
condições de AC não diferiram entre si, enquanto que a
condição de AR foi a que menos estimulou a ocorrência deste
distúrbio (Tabela 7). BORTOLUZZI (1997) também observou
aumento na incidência deste distúrbio, em maçãs ‘Fuji’, com a
elevação do CO2 . Após sete dias, a condição de 0 kPa
CO2/0,8 kPa O2 em AC, também promoveu menor ocorrência
deste distúrbio não diferindo da condição de AR.
CONCLUSÕES
Com base nos resultados dos dois experimentos concluise que o armazenamento em AC é mais satisfatório que o
armazenamento em AR, para maçãs ‘Fuji’ com incidência de
pingo de mel A condição de AC de 2,0 kPa CO2/1,0 kPa O2
causou uma grande ocorrência de degenerescência
senescente. Quanto à temperatura de armazenamento, ambas
(0 e –0,5ºC) têm efeito semelhante na manutenção de
qualidade e ocorrência de distúrbios fisiológicos e podridões.
ABSTRACT
Two experiments were carried out with the objective of
evaluating storage conditions of ‘Fuji’ apples with watercore incidence.
In the first experiment two temperatures ( -0o,5 and 0ºC) were
combined with three storage conditions (cold storage and 1,1kPa O2 ,
0,8kPa O2 with 0kPa CO2). In the second experiment different
controlled atmospheres (CA) were evaluated : cold storage, 1,1 kPa
O2/0 kPa CO2; 0,8 kPa O2 with 0 kPa CO2 and 1 kPa O2/2 kPa CO2, at
R. bras. Agrociência, v.8 n. 1, p. 37-42, jan-abr, 2002
41
BRACKMANN et al. Efeito da Temperatura e Condições de Atmosfera Controlada na Armazenagem de Maçãs ‘Fuji’ ...
0ºC. The RH, in both experiments, was around 96%. The fruit quality
evaluations were performed after 7 months of storage and after 7 days
at 20ºC. In the first experiment, the CA conditions reduced the loss of
titratable acidity, maintained the greener peel color, reduced the
ethylene production and respiratory activity, but increased the
incidence of flesh breakdown. 0,8 kPa O2 mantained higher flesh
firmness of apples at retrieval from CA storage and after 7 days of
shelf life. At chamber opening, the temperature of 0ºC showed lower
titratable acidity than 0,5ºC. In the second experiment , CA conditions
maintained higher flesh firmness and titratable acidity , resulted in
greener peel color and lower ethylene and CO2 production rates,
however, the incidence of flesh breakdown was higher, specially at the
1 kPa O2 and 2 kPa CO2 atmosphera.
Key words: Mallus domestica Borkh, physiological disorders,
cold storage, controlled atmosphere.
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