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Indissociabilidade Ensino, Pesquisa e Extensão : Feira Ecológica Upf – Mais Que Um Mercado De Orgânicos Na Universidade

2020

Editora Chefe Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira Assistentes Editoriais Natalia Oliveira Bruno Oliveira Flávia Roberta Barão Bibliotecária Janaina Ramos Projeto Gráfico e Diagramação Natália Sandrini de Azevedo Camila Alves de Cremo Luiza Alves Batista Maria Alice Pinheiro Imagens da Capa Shutterstock Edição de Arte Luiza Alves Batista Revisão Os Autores 2020 by Atena Editora Copyright © Atena Editora Copyright do Texto © 2020 Os autores Copyright da Edição © 2020 Atena Editora Direitos para esta edição cedidos à Atena Editora pelos autores. Todo o conteúdo deste livro está licenciado sob uma Licença de Atribuição Creative Commons. Atribuição-Não-ComercialNãoDerivativos 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0). O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores, inclusive não representam necessariamente a posição oficial da Atena Editora. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. A Atena Editora não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados nesta obra. Todos os manuscritos foram previamente submetidos à avaliação cega pelos pares, membros do Conselho Editorial desta Editora, tendo sido aprovados para a publicação. Conselho Editorial Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Prof. Dr. Alexandre Jose Schumacher – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná Prof. Dr. Américo Junior Nunes da Silva – Universidade do Estado da Bahia Prof. Dr. Antonio Carlos Frasson – Universidade Tecnológica Federal do Paraná Prof. Dr. Antonio Gasparetto Júnior – Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Prof. Dr. Antonio Isidro-Filho – Universidade de Brasília Prof. Dr. Carlos Antonio de Souza Moraes – Universidade Federal Fluminense Profª Drª Cristina Gaio – Universidade de Lisboa Prof. Dr. Daniel Richard Sant’Ana – Universidade de Brasília Prof. Dr. Deyvison de Lima Oliveira – Universidade Federal de Rondônia Profª Drª Dilma Antunes Silva – Universidade Federal de São Paulo Prof. Dr. Edvaldo Antunes de Farias – Universidade Estácio de Sá Prof. Dr. Elson Ferreira Costa – Universidade do Estado do Pará Prof. Dr. Eloi Martins Senhora – Universidade Federal de Roraima Prof. Dr. Gustavo Henrique Cepolini Ferreira – Universidade Estadual de Montes Claros Profª Drª Ivone Goulart Lopes – Istituto Internazionele delle Figlie de Maria Ausiliatrice Prof. Dr. Jadson Correia de Oliveira – Universidade Católica do Salvador Prof. Dr. Julio Candido de Meirelles Junior – Universidade Federal Fluminense Profª Drª Lina Maria Gonçalves – Universidade Federal do Tocantins Prof. Dr. Luis Ricardo Fernandes da Costa – Universidade Estadual de Montes Claros Profª Drª Natiéli Piovesan – Instituto Federal do Rio Grande do Norte Prof. Dr. Marcelo Pereira da Silva – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Profª Drª Maria Luzia da Silva Santana – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Profª Drª Paola Andressa Scortegagna – Universidade Estadual de Ponta Grossa Profª Drª Rita de Cássia da Silva Oliveira – Universidade Estadual de Ponta Grossa Prof. Dr. Rui Maia Diamantino – Universidade Salvador Prof. Dr. Urandi João Rodrigues Junior – Universidade Federal do Oeste do Pará Profª Drª Vanessa Bordin Viera – Universidade Federal de Campina Grande Prof. Dr. William Cleber Domingues Silva – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Prof. Dr. Willian Douglas Guilherme – Universidade Federal do Tocantins Ciências Agrárias e Multidisciplinar Prof. Dr. Alexandre Igor Azevedo Pereira – Instituto Federal Goiano Profª Drª Carla Cristina Bauermann Brasil – Universidade Federal de Santa Maria Prof. Dr. Antonio Pasqualetto – Pontifícia Universidade Católica de Goiás Prof. Dr. Cleberton Correia Santos – Universidade Federal da Grande Dourados Profª Drª Daiane Garabeli Trojan – Universidade Norte do Paraná Profª Drª Diocléa Almeida Seabra Silva – Universidade Federal Rural da Amazônia Prof. Dr. Écio Souza Diniz – Universidade Federal de Viçosa Prof. Dr. Fábio Steiner – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Prof. Dr. Fágner Cavalcante Patrocínio dos Santos – Universidade Federal do Ceará Profª Drª Girlene Santos de Souza – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Prof. Dr. Jael Soares Batista – Universidade Federal Rural do Semi-Árido Prof. Dr. Júlio César Ribeiro – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Profª Drª Lina Raquel Santos Araújo – Universidade Estadual do Ceará Prof. Dr. Pedro Manuel Villa – Universidade Federal de Viçosa Profª Drª Raissa Rachel Salustriano da Silva Matos – Universidade Federal do Maranhão Prof. Dr. Ronilson Freitas de Souza – Universidade do Estado do Pará Profª Drª Talita de Santos Matos – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Prof. Dr. Tiago da Silva Teófilo – Universidade Federal Rural do Semi-Árido Prof. Dr. Valdemar Antonio Paffaro Junior – Universidade Federal de Alfenas Ciências Biológicas e da Saúde Prof. Dr. André Ribeiro da Silva – Universidade de Brasília Profª Drª Anelise Levay Murari – Universidade Federal de Pelotas Prof. Dr. Benedito Rodrigues da Silva Neto – Universidade Federal de Goiás Profª Drª Débora Luana Ribeiro Pessoa – Universidade Federal do Maranhão Prof. Dr. Douglas Siqueira de Almeida Chaves -Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Prof. Dr. Edson da Silva – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Profª Drª Eleuza Rodrigues Machado – Faculdade Anhanguera de Brasília Profª Drª Elane Schwinden Prudêncio – Universidade Federal de Santa Catarina Profª Drª Eysler Gonçalves Maia Brasil – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira Prof. Dr. Ferlando Lima Santos – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Profª Drª Gabriela Vieira do Amaral – Universidade de Vassouras Prof. Dr. Gianfábio Pimentel Franco – Universidade Federal de Santa Maria Prof. Dr. Helio Franklin Rodrigues de Almeida – Universidade Federal de Rondônia Profª Drª Iara Lúcia Tescarollo – Universidade São Francisco Prof. Dr. Igor Luiz Vieira de Lima Santos – Universidade Federal de Campina Grande Prof. Dr. Jefferson Thiago Souza – Universidade Estadual do Ceará Prof. Dr. Jesus Rodrigues Lemos – Universidade Federal do Piauí Prof. Dr. Jônatas de França Barros – 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Abrãao Carvalho Nogueira – Universidade Federal do Espírito Santo Prof. Me. Adalberto Zorzo – Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza Prof. Me. Adalto Moreira Braz – Universidade Federal de Goiás Prof. Dr. Adaylson Wagner Sousa de Vasconcelos – Ordem dos Advogados do Brasil/Seccional Paraíba Prof. Dr. Adilson Tadeu Basquerote Silva – Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí Prof. Me. Alexsandro Teixeira Ribeiro – Centro Universitário Internacional Prof. Me. André Flávio Gonçalves Silva – Universidade Federal do Maranhão Profª Ma. Andréa Cristina Marques de Araújo – Universidade Fernando Pessoa Profª Drª Andreza Lopes – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Acadêmico Profª Drª Andrezza Miguel da Silva – Faculdade da Amazônia Profª Ma. Anelisa Mota Gregoleti – Universidade Estadual de Maringá Profª Ma. Anne Karynne da Silva Barbosa – Universidade Federal do Maranhão Prof. Dr. Antonio Hot Pereira de Faria – Polícia Militar de Minas Gerais Prof. Me. Armando Dias Duarte – Universidade Federal de Pernambuco Profª Ma. Bianca Camargo Martins – UniCesumar Profª Ma. Carolina Shimomura Nanya – Universidade Federal de São Carlos Prof. Me. Carlos Antônio dos Santos – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Prof. Ma. Cláudia de Araújo Marques – Faculdade de Música do Espírito Santo Profª Drª Cláudia Taís Siqueira Cagliari – Centro Universitário Dinâmica das Cataratas Prof. Me. Clécio Danilo Dias da Silva – Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof. Me. Daniel da Silva Miranda – Universidade Federal do Pará Profª Ma. Daniela da Silva Rodrigues – Universidade de Brasília Profª Ma. Daniela Remião de Macedo – Universidade de Lisboa Profª Ma. Dayane de Melo Barros – Universidade Federal de Pernambuco Prof. Me. Douglas Santos Mezacas – Universidade Estadual de Goiás Prof. Me. Edevaldo de Castro Monteiro – Embrapa Agrobiologia Prof. Me. Eduardo Gomes de Oliveira – Faculdades Unificadas Doctum de Cataguases Prof. Me. Eduardo Henrique Ferreira – Faculdade Pitágoras de Londrina Prof. Dr. Edwaldo Costa – Marinha do Brasil Prof. Me. Eliel Constantino da Silva – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Prof. Me. Ernane Rosa Martins – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás Prof. Me. Euvaldo de Sousa Costa Junior – Prefeitura Municipal de São João do Piauí Profª Ma. Fabiana Coelho Couto Rocha Corrêa – Centro Universitário Estácio Juiz de Fora Prof. Dr. Fabiano Lemos Pereira – Prefeitura Municipal de Macaé Prof. Me. Felipe da Costa Negrão – Universidade Federal do Amazonas Profª Drª Germana Ponce de Leon Ramírez – Centro Universitário Adventista de São Paulo Prof. Me. Gevair Campos – Instituto Mineiro de Agropecuária Prof. Me. Givanildo de Oliveira Santos – Secretaria da Educação de Goiás Prof. Dr. Guilherme Renato Gomes – Universidade Norte do Paraná Prof. Me. Gustavo Krahl – Universidade do Oeste de Santa Catarina Prof. Me. 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Juliana Thaisa Rodrigues Pacheco – Universidade Estadual de Ponta Grossa Profª Drª Kamilly Souza do Vale – Núcleo de Pesquisas Fenomenológicas/UFPA Prof. Dr. Kárpio Márcio de Siqueira – Universidade do Estado da Bahia Profª Drª Karina de Araújo Dias – Prefeitura Municipal de Florianópolis Prof. Dr. Lázaro Castro Silva Nascimento – Laboratório de Fenomenologia & Subjetividade/UFPR Prof. Me. Leonardo Tullio – Universidade Estadual de Ponta Grossa Profª Ma. Lilian Coelho de Freitas – Instituto Federal do Pará Profª Ma. Liliani Aparecida Sereno Fontes de Medeiros – Consórcio CEDERJ Profª Drª Lívia do Carmo Silva – Universidade Federal de Goiás Prof. Dr. Lucio Marques Vieira Souza – Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura de Sergipe Prof. Me. Luis Henrique Almeida Castro – Universidade Federal da Grande Dourados Prof. Dr. Luan Vinicius Bernardelli – Universidade Estadual do Paraná Prof. Dr. Michel da Costa – Universidade Metropolitana de Santos Prof. Dr. Marcelo Máximo Purificação – Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior Prof. Me. Marcos Aurelio Alves e Silva – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo Profª Ma. Maria Elanny Damasceno Silva – Universidade Federal do Ceará Profª Ma. Marileila Marques Toledo – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Prof. Me. Ricardo Sérgio da Silva – Universidade Federal de Pernambuco Profª Ma. Renata Luciane Polsaque Young Blood – UniSecal Prof. Me. Robson Lucas Soares da Silva – Universidade Federal da Paraíba Prof. Me. Sebastião André Barbosa Junior – Universidade Federal Rural de Pernambuco Profª Ma. Silene Ribeiro Miranda Barbosa – Consultoria Brasileira de Ensino, Pesquisa e Extensão Profª Ma. Solange Aparecida de Souza Monteiro – Instituto Federal de São Paulo Prof. Me. Tallys Newton Fernandes de Matos – Faculdade Regional Jaguaribana Profª Ma. Thatianny Jasmine Castro Martins de Carvalho – Universidade Federal do Piauí Prof. Me. Tiago Silvio Dedoné – Colégio ECEL Positivo Prof. Dr. Welleson Feitosa Gazel – Universidade Paulista Meio ambiente: impacto do convívio entre vegetação, animais e homens 2 Editora Chefe: Bibliotecária: Diagramação: Correção: Edição de Arte: Revisão: Organizadoras: Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira Janaina Ramos Camila Alves de Cremo Vanessa Mottin de Oliveira Batista Luiza Alves Batista Os Autores Taliane Maria da Silva Teófilo Tatiane Severo Silva Francisca Daniele da Silva Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M514 Meio ambiente: impacto do convívio entre vegetação, animais e homens 2 / Organizadoras Taliane Maria da Silva Teófilo, Tatiane Severo Silva, Francisca Daniele da Silva. – Ponta Grossa - PR: Atena, 2020. Formato: PDF Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web Inclui bibliografia ISBN 978-65-5706-482-5 DOI 10.22533/at.ed.825201310 1. Meio ambiente. I. Teófilo, Taliane Maria da Silva. II. Silva, Tatiane Severo. III. Silva, Francisca Daniele da. IV. Título. CDD 577 Elaborado por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166 Atena Editora Ponta Grossa – Paraná – Brasil Telefone: +55 (42) 3323-5493 www.atenaeditora.com.br contato@atenaeditora.com.br APRESENTAÇÃO A coleção “Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens” é uma obra dividida em dois volumes que aborda de forma ampla aspectos diversos do meio ambiente distribuídos ao longo de seus capítulos, como o desenvolvimento sustentável, questões socioambientais, educação ambiental, uso e tratamento de resíduos, saúde pública, entre outros. As questões ambientais são temas importantes e que necessitam de trabalhos atualizados, como os dispostos nesta obra. Os capítulos apresentados servem como subsídios para formação e atualização de estudantes e profissionais das áreas ambientais, agrárias, biológicas e do público geral, por se tratar de temas de interesse global. A divulgação científica é de fundamental importância para universalização do conhecimento, desse modo gostaríamos de enfatizar o papel da Atena editora por proporcionar o acesso a uma plataforma segura e consistente para pesquisadores e leitores. Taliane Maria da Silva Teófilo Tatiane Severo Silva Francisca Daniele da Silva SUMÁRIO CAPÍTULO 1....................................................................................................... 1 TRILHAS ECOLÓGICAS POR UMA ABORDAGEM CRÍTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Rhuann Carlo Viero Taques Stephany Caroline de Souza Martins Maristela Procidonio Ferreira Patricia Carla Giloni-Lima DOI 10.22533/at.ed.8252013101 CAPÍTULO 2..................................................................................................... 12 INDISSOCIABILIDADE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO : FEIRA ECOLÓGICA UPF – MAIS QUE UM MERCADO DE ORGÂNICOS NA UNIVERSIDADE Claudia Petry Elisabeth Maria Foschiera Lísia Rodigheri Godinho Rodrigo Marciano da Luz Isabel Cristina Lourenço da Silva Maddalena Bruna Capello Fusaro Tarik Ian Reinehr Fabiane Bernardini Favaretto Bruno de Oliveira Jacques Solange Maria Longhi DOI 10.22533/at.ed.8252013102 CAPÍTULO 3..................................................................................................... 21 PROJETO HORTA VITAL: DESAFIOS DO CONTROLE DE PRAGAS NA HORTA COMUNITÁRIA EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE Altacis Junior de Oliveira Monica Tiho Chisaki Isobe Herena Naoco Chisaki Isobe Daniela Soares Alves Caldeira Marcella Karoline Cardoso Vilarinho Marcia Cruz de Souza Rocha Gustavo Ferreira da Silva Givanildo Rodrigues da Silva Cyntia Beatriz Magalhães Farias Taniele Carvalho de Oliveira Larissa Chamma DOI 10.22533/at.ed.8252013103 CAPÍTULO 4..................................................................................................... 26 RIQUEZA DE INSETOS GALHADORES NO ESPÍRITO SANTO (REGIÃO SUDESTE, BRASIL) Valéria Cid Maia DOI 10.22533/at.ed.8252013104 SUMÁRIO CAPÍTULO 5..................................................................................................... 34 EXTRATO AQUOSO DE Campomanesia adamantium (MYRTACEAE) (CAMBESS.) O. BERG AFETA O DESENVOLVIMENTO DE TRAÇA-DAS-CRUCÍFERAS Silvana Aparecida de Souza Isabella Maria Pompeu Monteiro Padial Irys Fernanda Santana Couto Mateus Moreno Mareco da Silva Emerson Machado de Carvalho Rosilda Mara Mussury DOI 10.22533/at.ed.8252013105 CAPÍTULO 6..................................................................................................... 45 INOCULAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA DE DIFERENTES Bacillus spp ISOLADOS E ASSOCIADOS EM CONDICIONADOR DE SOLO CLASSE A Brener Magnabosco Marra Andreia Monteiro Alves Jéssyca Ketterine Carvalho Andressa Alves Silva Panatta Rafael Ricardo Adamczuk Jeferson Klein Fernando Mateus Gerling Cleide Viviane Buzanello Martins DOI 10.22533/at.ed.8252013106 CAPÍTULO 7..................................................................................................... 55 FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS GRANULADOS NA PRODUÇÃO DE MUDAS DE ESPÉCIES FLORESTAIS EM DOIS TIPOS DE TUBETES Aline Assis Cardoso Michel de Paula Andraus Eliana Paula Fernandes Brasil Wilson Mozena Leandro Jéssika Lorrine de Oliveira Sousa Ana Caroline da Silva Faquim Joyce Vicente do Nascimento Carolline de Moura Ferro Welldy Gonçalves Teixeira Caio Fernandes Ribeiro Álisson Assis Cardoso DOI 10.22533/at.ed.8252013107 CAPÍTULO 8..................................................................................................... 86 CONTROLE DE QUALIDADE DE FOLHAS DE AMOREIRA (MORUS ALBA L.) COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE CAMPO GRANDE -MS Lilliam May Grespan Estodutto da Silva Eduarda Pimenta da Silva Higor Cristaldo da Silva Karla de Toledo Candido Muller Ana Paula de Araújo Boleti SUMÁRIO Ludovico Migliolo DOI 10.22533/at.ed.8252013108 CAPÍTULO 9..................................................................................................... 99 DIEFFENBACHIA SCHOTT. E A SAÚDE PÚBLICA: ETNOTOXICOLOGIA E ACIDENTES DOMÉSTICOS COM PLANTAS NA ZONA OESTE DA CIDADE RIO DE JANEIRO Luiz Gustavo Carneiro-Martins Karen Lorena Oliveira-Silva João Gabriel Gouvêa-Silva Jeferson Ambrósio Gonçalves Claudete da Costa Oliveira Ygor Jessé Ramos João Carlos da Silva Sonia Cristina de Souza Pantoja DOI 10.22533/at.ed.8252013109 CAPÍTULO 10..................................................................................................112 FUNGOS PATOGÊNICOS HUMANOS TRANSMITIDOS POR MORCEGOS EM RESIDÊNCIAS URBANAS Bianca Oliveira Silva Flávia Franco Veiga Tânia Salci Melyssa Negri Henrique Ortêncio Filho DOI 10.22533/at.ed.82520131010 CAPÍTULO 11................................................................................................. 126 MONITORAMENTO E AÇÕES PARA O CONTROLE DE AGENTES ZOONÓTICOS EM COMUNIDADES ADJACENTES A UMA FLORESTA URBANA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Isabel Cristina Fábregas Bonna Maria Alice do Amaral Kuzzel Marina Carvalho Furtado Helena Medrado Ribeiro Caroline Lacorte Rangel Leandro Batista das Neves Rosângela Rodrigues e Silva Rodrigo Caldas Menezes Luciana Trilles Flavia Coelho Ribeiro Mendonça Flavia Passos Soares Ricardo Moratelli DOI 10.22533/at.ed.82520131011 CAPÍTULO 12................................................................................................. 153 TRABALHO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL: ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA INTEGRAÇÃO DA FORÇA FEMININA NO SETOR SUMÁRIO TERCIÁRIO DE MATO GROSSO DO SUL Daniel Massen Frainer Ailene de Oliveira Figueiredo DOI 10.22533/at.ed.82520131012 CAPÍTULO 13................................................................................................. 176 ENSINO-PESQUISA-EXTENSÃO NA FORMAÇÃO INTEGRAL - EXPERIÊNCIAS DO CURSO DE OCEANOGRAFIA DA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Kátia Naomi Kuroshima Camila Burigo Marin Ana Lúcia Berno Bonassina José Matarezi Manoela Tormen Criveletto Canalli Pacheco DOI 10.22533/at.ed.82520131013 CAPÍTULO 14................................................................................................. 189 CHAVE DE DETERMINAÇÃO ILUSTRADA E GUIA FOTOGRÁFICO DE ESPÉCIES DE FABACEAE Fabieli Debona Berta Lúcia Pereira Villagra DOI 10.22533/at.ed.82520131014 SOBRE AS ORGANIZADORAS.................................................................... 202 ÍNDICE REMISSIVO....................................................................................... 203 SUMÁRIO doi CAPÍTULO 1 TRILHAS ECOLÓGICAS POR UMA ABORDAGEM CRÍTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Data de aceite: 01/10/2020 Data de submissão: 31/07/2020 Rhuann Carlo Viero Taques Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro) Guarapuava - PR http://lattes.cnpq.br/8250506102496790 Stephany Caroline de Souza Martins Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro) Guarapuava - PR http://lattes.cnpq.br/2063138219245608 Maristela Procidonio Ferreira Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Guarapuava (SEMAG) Guarapuava - PR http://lattes.cnpq.br/6594004469363061 Patricia Carla Giloni-Lima Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro) Guarapuava - PR http://lattes.cnpq.br/6684589993372601 RESUMO: Vivemos em meio a uma crise socioambiental fruto da dicotômica relação sociedade/natureza. Diante disto, a Educação Ambiental (EA) em sua macrotendência crítica apresenta-se como um campo do conhecimento que permite a transformação das relações e injustiças sociais que conduzem as disparidades nas problemáticas ambientais. Com o intuito de ressignificar a relação ser sociedade/natureza, a Prefeitura Municipal de Guarapuava/PR por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAG) com a participação de crianças e adolescentes das escolas municipais locais desenvolveu o projeto Parque Escola. Nele, trabalhou a relação entre aspectos sociais, culturais, históricos, políticos e ambientais regionais e globais por meio de duas trilhas ecológicas. As abordagens nas trilhas a partir de contextualizações socioambientais pela abordagem crítica da EA contribuíram com a formação de um pensamento crítico e potencialmente transformador nos sujeitos participantes. Por meio das trilhas, os educadores ambientais proporcionaram a identificação de complexas relações do ser humano para consigo ou para com o ambiente a sua volta, contribuindo para a construção de um novo modelo societário pautado na sustentabilidade ambiental e justiça social. PALAVRAS-CHAVE: Socioambiental, justiça social, sustentabilidade ambiental, Parque Municipal das Araucárias. ECOLOGICAL TRAILS FOR A CRITICAL APPROACH TO ENVIRONMENTAL EDUCATION ABSTRACT: We live in the midst of a socioenvironmental crisis resulting from the dichotomous relationship between society and nature. In view of this, Environmental Education (EE) in its critical macro trend presents itself as a field of knowledge that allows the transformation of relationships and social injustices that lead to disparities in environmental issues. In order to Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 1 1 give a new meaning to the relationship between society and nature, the Municipality of Guarapuava/PR through the Municipal Environment Secretariat (SEMAG) with the participation of children and adolescents from local municipal schools developed the Parque Escola project. In it, worked the relationship between social, cultural, historical, political, regional, and global environmental aspects through two ecological trails. The approaches on the trails from socio-environmental contextualization through the critical approach of EE contributed to the formation of critical and potentially transformative thinking in the participating subjects. Through the trails, environmental educators provided the identification of complex human relationships with themselves or with the environment around them, contributing to the construction of a new corporate model based on environmental sustainability and social justice. KEYWORDS: Socio environmental, social justice, environmental sustainability, Parque Municipal das Araucárias. INTRODUÇÃO Vivemos diante de uma crise socioambiental fruto da dicotômica relação sociedade e natureza. Diante disto, a Educação Ambiental (EA) apresenta-se como um campo do conhecimento que, abarcando as mais diversas áreas do saber, pode proporcionar reflexões e ações que busquem o enfrentamento desta realidade (CARVALHO, 2008). Maia (2015) explicita que a EA possibilita o resgate de valores morais e éticos perdidos historicamente nos processos de desenvolvimento das sociedades contemporâneas que permitiram o estabelecimento das crises ambientais. O autor ressalta, que diante disto, a EA não é tão somente uma “forma” de educação ou uma educação “para”. Não é simplesmente uma ferramenta ou instrumento para resolução e gestão de problemáticas envolvendo a natureza. Trata-se de uma dimensão essencial da educação que fundamenta-se no respeito a uma esfera de interações pessoais, sociais e ambientais (SAUVÉ, 2005). Diante disto, nos espaços não formais de educação1 as trilhas ecológicas ou interpretativas têm sido bastante utilizadas nos processos de ressignificação da relação do homem com o ambiente que o cerca. Rocha et al. (2016) e Souza (2014) entendem as trilhas como fundamentais nos processos de sensibilização dos sujeitos, já que estes, de acordo com estudos de neurociência, só compreendem determinadas problemáticas por meio da emoção (FRANCO et al., 2019). Neiman (2008), relata que ao visitar um espaço diferente do seu cotidiano, as pessoas ampliam a possibilidade de reflexão, por meio do contato com o novo, proporcionando condições de reelaborar valores e conceitos. Desta forma, Carvalho e Bóçon (2004) retratam que as trilhas ecológicas se constituem significativo elemento cultural e 1 A educação não formal é aquela que acontece fora do âmbito escolar (ongs, museus, centros comunitários, culturais e esportivos, projetos sociais, etc.). Ela é desenvolvida de forma socioeducativa, levando em conta problemáticas e assuntos inseridos no contexto social e familiar (SILVA e PERRUDE, 2013). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 1 2 socioambiental, possibilitando a compreensão do meio natural e suas inter-relações com as sociedades contemporâneas. Souza (2014) e Taques et al., (2019) acreditam que o contato do homem com o meio ambiente por meio das trilhas pode se tornar um espaço de reflexões acerca da valorização do ser humano enquanto sujeito incluso a natureza, principalmente se o guia ou professor estiver preparado para despertar de forma crítica a problemática ambiental em todas as suas dimensões: social, econômica, política e histórica. Contanto, o foco em questões ecológicas durante os passeios por trilhas faz com que estas dimensões fiquem veladas em meio a discursos que não as aferem como partes de um corpus que é o meio ambiente, estimulando uma concepção ingênua sobre o mesmo. Diante disto, este estudo objetivou a apresentação de uma abordagem socioambiental, ou ainda, crítica de meio ambiente por meio de trilhas ecológicas. Em um primeiro momento, a partir de uma revisão bibliográfica, contextualizamos a EA desde seu princípio até sua concepção crítica, fomentada pela legislação brasileira. Posteriormente, como um relato de experiência, apresentamos as trilhas ecológicas a partir desta EA crítica no projeto Parque Escola desenvolvido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Guarapuava. REVISITANDO A EA CRÍTICA A EA como um campo do conhecimento possui características polissêmicas típicas por compreender as mais diversas (inter)relações entre as áreas do saber humano. As primeiras discussões em torno de si surgiram a partir de movimentos de contraculturas em todo o mundo na década de 70. Dentre os novos valores idealizados e manifestados pelos revolucionários da época, estava uma espécie de ecologismo que buscava incluir questões ambientais nos âmbitos políticos em vista da degradação da natureza pelas ações antrópicas (CARVALHO, 2008). As discussões em torno desta problemática se acentuaram a partir de processos de redemocratização nos países de primeiro mundo nos anos 80 e 90 que teciam críticas ao modelo socioeconômico vigente (Ibid., 2008). O debate ecológico desenvolvido nestes anos foi o precursor da criação da EA que surgiu como uma alternativa para a construção de uma nova relação da sociedade com a natureza, por possibilitar debates que culminassem na atenção da sociedade para com as problemáticas ambientais. Desta forma, a EA é fruto de questionamentos socioambientais, estando, portanto, diretamente relacionada com as dimensões políticas e econômicas das sociedades contemporâneas (MAIA, 2015). No Brasil, a EA ganhou bastante relevância por meio da Lei Federal n° 6.938/81, (BRASIL, 1981), a qual instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente. No Artigo 2° da referida lei a EA é considerada essencial para o enfrentamento de problemáticas Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 1 3 ambientais, devendo ser ofertada enquanto conteúdo transversal nas disciplinas dos ensinos fundamentais e médios nos espaços formais de educação. No ano de 1999 a EA foi de fato institucionalizada por meio da implementação da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Esta, ofereceu subsídios às sociedades para que pudessem cobrar sua efetividade nos ambientes educacionais formais ou não (BRASIL, 1981) a destacando como um processo pelo qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente e é um bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (MAIA, 2015). Diante do desenvolvimento da EA no Brasil e no mundo, variadas abordagens foram se concretizando de acordo com as bases filosóficas e epistemológicas com que eram fundamentadas. Estas diferentes abordagens possuem características e metodologias que podem confluir ou destacarem-se umas das outras. Pois então, de acordo com suas especificidades e objetivos surgem macrotendências em detrimento da classificação das abordagens da EA. Sauvé (2005), por exemplo, categorizou 15 correntes de EA baseadas em suas diferenças relacionadas à concepção de meio ambiente, a intenção e enfoque privilegiados e os exemplos e métodos utilizados para sua ação. As correntes são divididas em dois grandes grupos de acordo com a cronologia do seu surgimento. Algumas das mais antigas são as correntes naturalista, conservacionista ou recursista, resolutiva, sistêmica, científica, entre outras. As mais recentes são: holística, biorregionalista, crítica, etnográfica, da sustentabilidade etc. Por outro lado, Layrargues e Lima (2014) classificaram as diferentes formas de conceber e praticar a EA em três macrotendências relacionadas a modelos político pedagógicos: a conservadora, a pragmática e a crítica. Cada uma dessas contempla ampla diversidade de posições. A vertente conservadora se manifesta mediante a corrente conservacionista, comportamentalista, da alfabetização ecológica e do autoconhecimento que se distanciam de relações sociais, políticas e econômicas e, assim, dificilmente levam à mudança social. A macrotendência conservadora se baseia nos conceitos da Ecologia, enaltece a dimensão afetiva referente à natureza, prioriza a transformação individual por meio de adestramentos e mudanças sem reflexões, camufla a alienação ao sistema e ao paradigma dominante. Por fim, a EA em sua macrotendência crítica se destaca por proporcionar uma reconceituação do que é EA e seu papel na sociedade. De acordo com Guimarães (2016) esta ressignificação de modo algum busca mostrar alguma evolução desta vertente crítica sobre a outras, mas sim demonstra a sua contraposição e superação destas. A EA crítica tem como base epistemológica e filosófica a teoria crítica desenvolvida e fomentada pela Escola de Frankfurt no início do século XX. Por ela, cientistas sociais como Walter Benjamin, Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 1 4 Marcuse buscaram desenvolver uma abordagem materialista - de caráter marxista e multidisciplinar (porque agrega contribuições de várias ciências: Sociologia, Filosofia, Psicologia Social e Psicanálise) - da sociedade industrial e dos fenômenos sociais contemporâneos. Desta forma, tecem suas críticas à ordem política e econômica baseada no acúmulo do capital que vigora aos moldes de um aparato tecnológico e incide na sociedade o seu condicionamento padronizado, homogêneo e, sobretudo, sem a perspectiva de emancipação dos sujeitos por meio da conscientização de seus papeis sociais e políticos (LAYRARGUES e LIMA, 2014). A partir disto, compreende-se que o desenvolvimento do sistema capitalista ampliou as possibilidades de mercantilizar progressivamente os bens da natureza subsumidos à necessidade de reprodução do capital, vale dizer, ao lucro (TREIN, 2012). A reprodução do lucro a partir da natureza, por bem dizer que já é bastante problemática por si só, não é igualmente distribuída entre os sujeitos de modo a acarretar o acúmulo de capital na mão de poucos e, consequentemente, na divisão de classes. Esta divisão de classes, por meio da perspectiva Marxista, é a circunstância chave para ocorrência dos conflitos e desigualdades sociais que imperam na crise socioambiental em que vive atualmente as sociedades contemporâneas. Deste modo, todas as problemáticas ambientais tornam-se apenas pano de fundo onde refletem-se ou projetam-se as problemáticas de ordens sociais. Diante disto, a EA crítica também denominada de emancipatória e transformadora, enfatiza aspectos históricos da relação do ser humano para com a natureza, evidenciando fundamentos que levam a superioridade do homem, enquanto sujeito, e das estruturas de acumulação do capital e busca o combate político das disparidades e injustiças socioambientais (GUIMARÃES, 2016). Loureiro e Layrargues (2013) ressaltam que as práticas de EA crítica, inclusive as pedagógicas, são divergentes da prática educativa tradicional. Entende-se como tradicionais, segundo o autor, aquelas marcadas por uma organização curricular fragmentada e hierarquizada, pautadas pela neutralidade do conhecimento transmitido e produzido, pela pura racionalidade e com finalidades desinteressadas quanto às implicações sociais de suas práticas. A EA crítica, portanto, inclui nos debates ambientais os mecanismos da reprodução social e de que a relação do ser humano para com a natureza é mediada por valores de classes historicamente construídos (LAYRARGUES e LIMA, 2014). Desta forma, suas abordagens pedagógicas nos ambientes formais ou não formais de educação devem, sem sombra de dúvidas, problematizar os contextos societários regionais e globais em sua interface com a natureza. “Por essa perspectiva não é possível conceber os problemas ambientais dissociados dos conflitos sociais; afinal, a crise ambiental não expressava problemas da natureza, mas problemas que se manifestavam na natureza” (Ibid. 2014, p. 07). Isto se dá porque a EA Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 1 5 crítica não compreende o meio ambiente apenas como a natureza (assim como a macrotendência conservadora) ou seus recursos (macrotendência pragmática), mas inclui a ele questões como a erradicação da miséria, justiça e inclusão social, qualidade de vida, respeito aos seres e outras características que justificam uma atitude crítica e a busca da transformação do atual modelo de desenvolvimento econômico-social (MEC, 2013). As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Ambiental (DCNEA) almejam a implementação de reflexões e ações de uma EA crítica nas práxis pedagógicas das escolas. Desta forma, a legislação em si preza pela capacidade da EA em acrescentar à formação dos sujeitos não apenas nos conteúdos de ordens ambientais, mas também a relação destes com as mais diversas áreas do conhecimento. Assim, em um processo formativo crítico, a EA fortalece uma postura ética, política, social participativa e responsável dos indivíduos para com suas realidades em um processo de construção e transformação de um novo modelo de sociedade com mais sustentabilidade ambiental e justiça social. TRILHA ECOLÓGICA POR UMA ABORDAGEM CRÍTICA Apesar do destaque pela legislação brasileira (MEC, 2013) da necessidade de se trabalhar a EA em sua perspectiva crítica pelos ambientes formais de educação, estes ainda, majoritariamente tratam das esferas ambientais como dissociadas das sociais. Morais e Vieira (2017) realizaram uma análise dos trabalhos nos anais do XVI Encontro Paranaense de Educação Ambiental realizado em Curitiba no ano de 2017, com a finalidade de apresentar um panorama das pesquisas em EA na escola. Os autores verificaram que em meio a diversidade de temáticas e metodologias, a grande maioria dos trabalhos eram pautados por concepções de ambientes naturalistas associados a projetos que visitam áreas protegidas com rios, matas por meio de práticas pedagógicas que propõem um olhar para o lugar físico e biológico, com foco apenas na fauna e flora. Deste modo, a inserção da EA nas escolas tem priorizado os aspectos ecológicos do meio ambiente tendo como consequência um distanciamento de suas (inter)relações para com as esferas sociais, no sentido de uma identidade ecológica. Estudos feitos por Reigota (2006) e Sauvé (2005) assinalam que as percepções naturalistas colaboram com o pensamento que o ser humano é somente um observador que contempla e protege a natureza, sem a clareza de pertencer-se e identificar-se a este meio. Diante desta problemática e na tentativa de ressignificar a relação ser humano/natureza, a Prefeitura Municipal de Guarapuava/PR por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAG) desenvolve atividades e trabalhos para com as escolas municipais locais. Dentre as ações e projetos, destaca-se o Parque Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 1 6 Escola que busca relacionar aspectos sociais, culturais, históricos e políticos a aspectos ambientais por meio de duas trilhas ecológicas. As trilhas, encontram-se na Unidade de Conservação (UC) do Parque Municipal das Araucárias (PMA) (Figura 1). Este, localiza-se no Município de Guarapuava/PR em uma área remanescente de Floresta Ombrófila Mista (FOM). Ambas possuem o mesmo percurso inicial em meio a mata, porém, acabam por ramificar-se aproximadamente a 700 metros de distância. Um dos caminhos passeia em meio as espécies de Araucária (Araucária angustifolia), enquanto o outro proporciona margear o rio Manjolo que passa pela UC. Deste modo, a Trilha das Araucárias possui 1.076 metros de extensão, enquanto a Trilha do rio possui 1.214 metros. Figura 1. Localização do Parque Municipal das Araucárias e suas trilhas ecológicas. O projeto Parque Escola garante que todas as visitas às trilhas ecológicas do PMA sejam acompanhadas por educadores ambientais da SEMAG. Desta forma, estes garantem que esta experiência se torne um instrumento pedagógico de EA crítica. Para isto, quando determinado grupo de estudantes chega ao PMA, antes de adentrar as trilhas, estes são encaminhados a um espaço da SEMAG para que se fomente um debate acerca da dicotômica relação sociedade/natureza. Neste debate, aspectos históricos, políticos, sociais e econômicos do Município de Guarapuava Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 1 7 são explanados pelos educadores ambientais, a fim de garantir que não haja dissociação do ambiente e ser humano. Dentre os conteúdos abordados podem-se destacar: dinâmica populacional, má distribuição de renda, infraestruturas básicas de saúde, educação e segurança, uso e ocupação do solo e, por fim, atividades potencialmente poluidoras. Para que todos estes aspectos socioeconômicos sejam (inter)relacionados com o ambiente em geral, partimos do princípio já explicitado neste estudo de que as problemáticas ambientais são frutos de problemáticas sociais. Essa relação também é inversa e retroativa, já que as desigualdades sociais enfrentadas pelos moradores de Guarapuava – assim como de todo Brasil e do mundo – são fruto da exploração insustentável da natureza pelos detentores dos grandes meios de produção. Estes, baseiam suas ações destrutivas nas práticas que acumulam capital e geram desigualdades socioeconômicas (GUIMARÃES, 2016). É fato de que a profundidade e complexidade destas reflexões propostas variam de acordo com a faixa etária e escolaridade das turmas que visitam as trilhas ecológicas do PMA. Porém, a SEMAG procura deixar claro que a sociedade e meio ambiente não são dissociáveis, contribuindo para o fomento de um pensamento crítico, mesmo nos sujeitos mais jovens. De acordo com Vigotski (2010) deve-se considerar sempre o meio, a realidade e o contexto em relação a cada ser para que o aprendizado seja significativo. Desta forma, se torna possível perceber como ele entende e apreende determinada situação, como interpreta, toma consciência, se relaciona afetivamente, o que significa o meio através de sua vivência, em determinada faixa etária, pois a vivência é uma unidade que revela elementos do meio e da personalidade do sujeito. O autor, ainda destaca a relação das crianças para com o meio ambiente, explicitando-a como dinâmica e dialética, pois por meio da vivência, o meio influencia a criança, norteia seu desenvolvimento, a criança se modifica, muda sua atitude e sua compreensão e, uma vez modificada, recebe novas influências, que irão nortear novos desenvolvimentos (Ibid., 2010). Durante o percurso da trilha paradas em pontos estratégicos com espécimes do Pinheiro do Paraná (Araucaria angustifolia), Erva-Mate (Ilex paraguariensis) e Imbuia (Ocotea porosa) são realizadas. Estas paradas acompanham explanações dos educadores ambientais que buscam demonstrar a importância destas espécies endêmicas da FOM para o ser humano. Isto se dá porque, anualmente, vegetais como estes proporcionam a movimentação da economia e do turismo de toda região centro-sul do Paraná, dando subsídios para a subsistência de diversas famílias de Guarapuava. A contextualização da relação sociedade/natureza para com o contexto regional dos sujeitos faz com que este conhecimento se torne, nas palavras de Morin (2015), pertinente. Em outros termos, faz com que seja dotado de sentido a ponto de proporcionar aos sujeitos uma identificação pessoal, o que no contexto da Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 1 8 EA crítica, é fundamental pois proporciona o auto reconhecimento dos indivíduos enquanto seres inclusos ao meio ambiente e a natureza, e não enquanto seres que de nada lhe aferissem (CARVALHO, 2008). Ainda durante os percursos das trilhas, contextualizações e socializações de aspectos ecológicos da mata são proporcionadas pelos educadores ambientais. Neste sentido, as abordagens dos serviços ecossistêmicos oferecidos pela FOM são de grande valia. De acordo com a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA, 2005) serviços ecossistêmicos podem ser definidos como benefícios que os seres (inclusive os humanos) obtêm das atividades naturais ecossistêmicas. Estes podem ser classificados em quatro categorias: Serviços de Provisionamento (alimentos, água, lenha, fibras, princípios ativos e recursos genéticos); Serviços de Suporte (formação de solos, produção primária, ciclagem de nutrientes e processos ecológicos); Serviços Culturais (espiritualidade, lazer, inspiração, educação e simbolismos); e, Suporte de Regulação (regulação do clima, controle de doenças, controle de enchentes e desastres naturais, purificação da água, purificação do ar e controle de erosão. Diante desta associação, dos aspectos ambientais e sociais, por meio das trilhas ecológicas busca-se expor que o direito à uma boa qualidade de vida e a um ambiente saudável é uma questão de cidadania. Neste sentido, tenta-se não apresentar meios para combater a degradação ambiental por meio de ações pragmáticas e tecnicistas2 que percebam a natureza apenas enquanto recurso, mas sim propor reflexões, em um curto espaço de tempo de visitação ao PMA, que intrigue ou incomode os sujeitos mediante a um sistema socioeconômico que priva, justamente este direito de qualidade de vida socioambiental de muitos em detrimento do lucro capital de poucos. Assim, o desenvolvimento de uma consciência socioambiental instiga um espírito de responsabilidade individual e coletiva, pois os sujeitos - que estão sendo educados para com o ambiente - sentem-se inclusos e potenciais agentes transformadores do meio e realidade em que vivem (TAQUES et al., 2019). CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, concluímos que o projeto Parque Escola da SEMAG trabalha na sensibilização de crianças e adolescentes da comunidade de Guarapuava, PR mediante as problemáticas socioambientais regionais. Consideramos que as reflexões e (inter)relações propostas durante a visita as trilhas ecológicas do PMA confluem com os princípios de uma EA crítica pois contribuem para a formação de um pensamento crítico nos sujeitos, que os torna capazes de identificar as 2 Ver Tozoni-Reis e Campos (2014). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 1 9 dependências e retroações do ser humano para com a natureza diante de seus aspectos sociais, culturais, históricos e políticos. Compreendemos que desta forma, o referido projeto auxilia na construção de um novo modelo societário que pautase no respeito ao ser humano, consequentemente, ao meio ambiente por meio da justiça social e sustentabilidade ambiental. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n° 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em <www.planalto.gov.br>. Acesso em 22/07/2020. BRASIL. 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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 1 11 CAPÍTULO 2 doi INDISSOCIABILIDADE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO : FEIRA ECOLÓGICA UPF – MAIS QUE UM MERCADO DE ORGÂNICOS NA UNIVERSIDADE Tarik Ian Reinehr Data de aceite: 01/10/2020 Data de submissão: 07/07/2020 Claudia Petry Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo - RS http://lattes.cnpq.br/9891091654711296 https://orcid.org/0000-0002-4187-1449 Elisabeth Maria Foschiera Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo - RS http://lattes.cnpq.br/5446037022090750 Lísia Rodigheri Godinho Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo - RS http://lattes.cnpq.br/6015786502843300 Rodrigo Marciano da Luz Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo – RS http://lattes.cnpq.br/5311710777204959 Isabel Cristina Lourenço da Silva Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo - RS http://lattes.cnpq.br/9633429641515448 http://orcid.org/0000-0001-6626-1818 Maddalena Bruna Capello Fusaro Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo – RS, Brasil Universitá degli Studi di Padova Padova, Italia https://orcid.org/0000-0002-9484-7565 Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo - RS http://lattes.cnpq.br/6655235322747647 https://orcid.org/0000-0001-9363-8131 Fabiane Bernardini Favaretto Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo – RS http://lattes.cnpq.br/6434648411408579 https://orcid.org/0000-0002-2339-0449 Bruno de Oliveira Jacques Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo - RS http://lattes.cnpq.br/5449711114708491 Solange Maria Longhi Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo - RS http://lattes.cnpq.br/3575134540065011 RESUMO: Busca-se relatar aqui a experiência da instalação da feira ecológica de Passo Fundo dentro do campus universitário da Universidade de Passo Fundo. Iniciando timidamente em 2015 a partir de uma demanda da comunidade acadêmica, ela se consolidou tendo já edições semanais durante os semestres letivos em 2019. Esse espaço busca com ferramentas da educação ambiental e da agroecologia, auxiliar na construção das sociedades sustentáveis, atuando tanto na economia solidária e campesina junto aos agricultores quanto atender critérios da soberania e segurança alimentar exigidas pelo consumidor. E assim, em 2020, com o evento da pandemia da COVID 19, oprojeto Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 2 12 da feira ecológica ainda consegue se reinventar para cumprir suas funções de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, agora de forma remota digital. PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, inseparabilidade, Sustentabilidade, economia solidária, soberania alimentar. INDISSOCIABILITY TEACHING, RESEARCH AND EXTENSION: UPF ECOLOGICAL FAIR – MORE THAN AN ORGANIC MARKET IN THE UNIVERSITY ABSTRACT: We seek to report here the experience of installing the ecological fair of Passo Fundo within the university campus of the University of Passo Fundo. The projet beggin timidly in 2015 from a demand from the academic community, it has consolidated itself with weekly editions during 2019. This space seeks with tools of environmental education and agroecology, to assist in the construction of sustainable societies, acting both in the economy solidarity with farmers when meeting criteria of sovereignty and food security required by the consumer. And so, in 2020, with the pandemic event of COVID 19, the ecological fair project still manages to reinvent itself to fulfill its functions of inseparability between teaching, research and extension, now in a digital remote way. KEYWORDS: Environmental Education, inseparability, Sustainability, solidary economy, food sovereignty. 1 | INTRODUÇÃO O projeto Feira Ecológica UPF, construído na perspectiva de um processo de formação pautado na indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, reafirma o compromisso social da Universidade e, dialeticamente, se faz e se refaz na direção da missão institucional, de “produzir e difundir conhecimentos que promovam a melhoria da qualidade de vida e formar cidadãos competentes, com postura crítica, ética e humanista, preparados para atuarem como agentes de transformação” (PPI 2006-2015, p. 26). Tendo como objetivo central promover a formação integral do estudante a partir de uma proposta de ações indissociáveis, que oportunizem a vivência e o reconhecimento de outras realidades de desenvolvimento socioeconômico, enfatizando a agroecologia e educação ambiental, efetivando assim um processo de formação integral e significativo, bem como a construção de uma identidade cidadã. Além de ser uma obrigatoriedade da universidade que consta no artigo 207 da Constituição Brasileira (BRASIL, 1988), o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão está na gênese do papel das universidades, conforme Boaventura de Souza Santos (2011). O autor defende que essas instituições devem ser construídas em diálogo com outros conhecimentos, de forma transdisciplinar e com responsabilidade social, promovendo alternativas de pesquisa, de formação, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 2 13 de extensão e de organização da universidade como bem público, de forma que em sua especificidade esta contribua na identificação e na solução de problemas nacionais e globais. Promover o diálogo sobre o assunto consiste em estratégia fundamental para se avançar na construção de uma Política Alimentar que atenda às necessidades e demandas acerca de um projeto sustentável. Assim, as ações do Projeto Feira Ecológica UPF tem se constituído em um espaço de sensibilização e formação para a comunidade acadêmica e regional, no sentido de fortalecer processos de formação acerca da educação socioambiental, sustentabilidade e formação integral, além de integrar também grupos do Fórum Regional de Economia Solidária. Este capítulo aqui apresentado então, continua uma importante abordagem já iniciada (PETRY et al., 2017; PETRY & FOSCHIERA, 2017), trazendo então o histórico da feira ecológica na UPF, a partir do diálogo interno sobre a agroecologia e alguns dos principais resultados obtidos até os dias atuais, em plena pandemia de COVID 19. 2 | HISTÓRICO A concepção metodológica que orienta o Projeto Feira Ecológica UPF parte de uma proposta emancipatória e cidadã, exigindo planejamento, organização e sistematização para sua execução. Fundamenta-se, teórica e metodologicamente nas políticas da Agenda 21 e de Segurança Alimentar e Nutricional, com ações de caráter interdisciplinar, contemplando as diretrizes para o trabalho com a educação socioambiental. A partir dos encontros do Fórum de Estudantes, realizados na UPF e promovidos pela Reitoria em 2015, houve a constituição de uma comissão de estudantes, com o apoio de funcionários da Divisão de Extensão, que promoveu debates fomentando uma nova política alimentar, articulada aos projetos e programas de extensão e de pesquisa da UPF, resultando na efetivação de edições da Feira Ecológica e da Economia Solidária no campus da universidade. Como estratégias foram elencadas algumas frentes de atuação: a) sensibilização, b) formação, c) monitoramento e avaliação e d) proposta da implantação de uma incubadora da Feira Ecológica de Passo Fundo. Promover o diálogo sobre o assunto consiste em estratégia fundamental na construção de uma política de alimentação que atenda necessidades e demandas já problematizadas pelos estudantes e comunidade acadêmica em geral. Nesse sentido houve uma força tarefa interna da instituição no sentido de envolver projetos e programas de extensão (Fazendo a Lição de Casa, Comunidades Sustentáveis) bem como projetos de Pesquisa (Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica/NEA), e políticas internas como a RISU/PAI, Política de Responsabilidade Social Universitária Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 2 14 e Política Ambiental Institucional e PPI (Projeto Pedagógico Institucional). Como a UPF encontra-se num importante centro do agronegócio de commodities (principalmente soja e trigo) com um curso de agronomia voltado à essa formação, é necessário fazer um histórico de como a agroecologia começou a ser debatida academicamente na instituição, culminando no sucesso desse projeto institucional da feira ecológica. O NEA da região do Planalto Norte do Rio Grande do Sul, sediado na UPF, dentro da agronomia, nasceu de um projeto aprovado junto ao governo brasileiro em 2013, cujo edital atendeu a Política Nacional da Agroecologia e da Produção orgânica/PNAPO (BRASIL, 2012). Desse modo, nasceu com parceiros de apoio nacional e regional: CNPq, CETAP, Núcleo Planalto da Rede Ecovida, COONALTER e a própria Feira Ecológica da cidade de Passo Fundo, constituindo-se em um fórum regional de estudo e de debate sobre segurança e soberania alimentar, agrobiodiversidade e agroecologia (PETRY et al., 2018). Buscando atender interesses dos agricultores e da população demandante (consumidores), o NEA auxilia na divulgação de conhecimento sobre benefícios dos alimentos orgânicos, produção de alimentos orgânicos e manejo de agroecossistemas sustentáveis. Especificamente atua divulgando os benefícios das sementes crioulas (estimulando a troca de sementes), das plantas medicinais e alimentícias não convencionais (PANC) e das frutas nativas. o ensaio e utilização de insumos produzidos localmente (on farm) desde que sejam permitidos na legislação da produção orgânica (biofertilizantes, fragmentos lenhosos, homeopatia e pós de rocha). Assim, as atividades de pesquisa em agroecologia se realizam envolvendo estagiários de graduação e bolsistas de iniciação científica, e acadêmicos mestrandos e doutorandos dos Programas de Pós-graduação em Agronomia e de Ciências Ambientais da UPF. Portanto, a existência do NEA no espaço acadêmico é um dos pilares técnicos (ligado ao conhecimento agronômico) do projeto da feira ecológica da UPF. 3 | RESULTADOS Buscando dialogar com o consumidor, no ano de 2015 foram realizadas pela equipe do NEA, 36 atividades de extensão (palestras, oficinas e visitas), envolvendo 2.038 pessoas. Em 2019, foram 14 palestras para cerca de mil pessoas. As edições da feira ecológica no campus I da UPF foram crescendo, inicialmente em 2015 foram quatro, depois nove em 2016, sendo ainda quinzenais em 2017 (Figura 1) e 2018, tiveram cerca de 15 edições respectivamente nesses anos. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 2 15 Figura 1 – Material de divulgação para o agendamento das feiras ecológicas no campus I da UPF no segundo semestre de 2017 Fonte: Setor de Marketing da UPF Em 2019, as edições começaram a ser semanais, totalizando 30 edições. Em 2020, houveram apenas duas edições pois em seguida houve o decreto da quarentena pela COVID 19. Desde o início do processo, várias edições foram concomitantes à eventos envolvendo questões ambientais (Figura 2). Por exemplo, no Fórum de Extensão do MERCOSUL, houve roda de conversa sobre agroecologia e economia solidária, com outras entidades internacionais participantes bem como a organizadora parceira, UNICEM. As edições de Seminários regionais de plantas bioativas também tiveram a feira ecológica junto com as exposições. Escolas de ensino fundamental também incluíram a feira em suas visitas ao campus da UPF. Na agronomia, o ensino em agroecologia está vinculado à feira com atividades dentro de disciplinas eletivas que ocorreram concomitantes com cursos de extensão gratuitos (além da disciplina de “Agroecologia”, tem-se “Plantas Medicinais, Aromáticas e Condimentares” e também “Paisagismo Avançado”). Também, entre 2015 e 2018, foram feitas atividades dentro dos cursos de extensão em agroecologia (presencial e EaD), ambos ofertados gratuitamente para a comunidade local graças aos recursos do projeto aprovado do NEA-UPF em 2013. Como anteriormente dito, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 2 16 efetua-se com frequência ensaios avaliando as sementes crioulas orgânicas (Figura 2) e a feira é um dos locais de devolução destes resultados à sociedade e aos agricultores produtores. Figura 2 – Visão geral da feira ecológica da UPF, com seus produtos, material de divulgação e os consumidores locais Fonte: organizado pelo NEA-UPF As feiras ecológicas organizadas nos campus universitários contribuem, não somente para a organização produtiva e econômica das famílias agricultoras, mas também para a formação das(os) estudantes, nas dimensões técnicas e sociais. A experiência com a feira ecológica da UPF se relaciona ao alcance e impacto que os projetos de ensino-pesquisa-extensão podem proporcionar aos aprendizados de todos, além de construir novas sociabilidades. A seguir, alguns depoimentos dos acadêmicos da pós-graduação e da graduação. “Em meu caso pessoal, a Feira proporcionou uma relação mais próxima com as famílias que são os sujeitos de pesquisa da minha tese de doutorado, permitindo ampliar as relações de confiança, necessárias à pesquisa social. Espaços de comercialização como a feira, nos possibilitam uma relação próxima às famílias agricultoras, onde conhecemos quem produz nossos alimentos, gerando uma rede de confiança, baseada na reciprocidade.”(Isabel da Silva, engenheira agrônoma doutoranda do PPGAGRO - UPF) De acordo com Sabourin (2012) as feiras agroecológicas são exemplos Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 2 17 de mercados de proximidade, que geram laços sociais e sociabilidades, devido a relação direta existente entre produtor e consumidor. “A feira ecológica da UPF me proporcionou a mais perfeita união entre produtor e acadêmico. Nós alunos da agronomia temos constante contato com pesquisas, assim como muito embasamento teórico e foi a experiência da feira o que proporcionou sensação de êxito após o contato com os produtores e seus relatos das experiências práticas. Não podemos negar o quão benéfico é a Feira ecológica dentro da Universidade, pois devido à nossa vida corrida como acadêmicos, ter esse momento (e este espaço) para poder adquirir alimentos saudáveis e benéficos à nossa saúde é de extrema importância.” (Tarik Reinehr, acadêmico de agronomia UPF) Segundo Verona (2009) quando realizou sua pesquisa em Chapecó, Santa Catarina, apenas duas pessoas na faixa etária dos 20 anos faziam o uso de alimentos orgânicos em sua dieta. Mas hoje se observa que a tendência mundial é de jovens cada vez mais preocupados com a saúde deles e do planeta, consumindo alimentos orgânicos, rastreados e que atenderam critérios éticos e que respeitaram o bem estar animal. E consumidores universitários se encontram nessa faixa etária e são muito sensíveis a estas causas. Após março de 2020, o povo brasileiro compreendeu forçosamente o processo da democracia da globalização após a decretação mundial de pandemia pela COVID 19. No municipío de Passo Fundo, onde está localizado o campus 1 da UPF, a quarentena foi decretada a partir de 17 de março de 2020. A partir daquele momento se iniciou as atividades remotas de ensino, pesquisa e extensão. Após duas edições presenciais da feira ecológica no campus 1, a equipe do Projeto da Feira, coordenada pelo professor Rodrigo Luz, continuou auxiliando os agricultores orgânicos a comercializarem on line seus produtos, prestando assessoria em relação à legislação, bem como auxiliando na organização e comercialização das cestas. Esse cuidado com o consumidor será sempre reconhecido, sobretudo na dificuldade da pandemia, como bem nos retrata o depoimento de uma intercambista italiana: “Em momentos difíceis se torna necessário enriquecer e fortalecer o próprio corpo e a mente. Portanto de fundamental importância são as nossas escolhas alimentares. Muitas vezes pode parecer difícil achar alimentos de qualidade e com uma origem orgânica, mas a feira ecológica da UPF fornece exatamente isso. A minha experiencia com a feira não se limitou somente aos muros da universidade; ela continuou acontecendo também durante a pandemia com as entregas diretamente em casa. A feira ecológica pode ensinar muito sobre a qualidade dos produtos orgânicos: não sempre perfeição é sinal de qualidade. Temos todos que aprender que a natureza na sua imperfeição é perfeita, e os produtos da feira ecológica da UPF são perfeitamente imperfeitos”(Maddalena Fusaro, paisagista, mestranda da Universidade de Padova, Itália, com bolsa sanduíche no primeiro Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 2 18 semestre de 2020 no PPGAGRO - UPF) Assim, através do espaço e da ferramenta “feira ecológica da UPF” se confirma que a universidade e sociedade conseguem transformar o conhecimento produzido - através de ações inseparáveis (e dorenavantes, também remotas) de ensino, pesquisa e extensão universitária, - recriando suas funções e atuações, mas sempre tendo como objetivo mátrio a valorização das respostas e/ou expressões dos sujeitos e movimentos sociais locais. AGRADECIMENTOS Ao CNPq-MAPA-MDA-MCTI-MPA-MEC pelos recursos ao NEA na chamada 81-2013. À VREAC-UPF e a Coonalter pela implementação da Feira Ecológica na UPF. À CAPES e à UPF pelas bolsas de estudos na Pós-graduação. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, CASA CIVIL. Institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Decreto n.7794, de 20/08/2012. Brasília, DF: Presidência da República, Casa Civil, 2012. DALMOLIN, Bernadete Maria; MORETTO, Clenir Maria (Orgs.). Política de responsabilidade social 2013/2016. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2014. PETRY et al., Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão: feira ecológica UPF. Revbea, São Paulo, V. 12, N o 3 – Caderno I - Anais do IX FBEA, 2017. PETRY, C.; FOSCHIERA, E.M. Indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão a partir das contribuições da Agroecologia e Economia Solidária. In: Diálogos de saberes e fazeres: uma releitura dos 25 anos da trajetória da educação ambiental brasileira..1 ed.São José: ICEP, 2017, p. 311-318. PETRY, C.; BORTOLUZZI, E. C. ; FOSCHIERA, E. M. ; FOSCHIERA, L. A. ; LONGHI, S. M. ; DUTRA, C. B. ; PRIMEL, A. ; SZIMAINSKI, R. M. ; GARCIA, N. B. U. ; SILVA, I. C. L. ; SILVA, G. O. ; BERNARDINI, F. F. ; SANTOS, F. L. ; HARTMANN, R. . NEA-UPF CONSOLIDANDO A REDE AGROECOLÓGICA DE CIDADÃOS SAUDÁVEIS NO PLANALTO MÉDIO GAÚCHO: DO CONSUMIDOR CONSCIENTE AO AGRICULTOR AGROECOLÓGICO. Revista Brasileira de Agroecologia (Online), v. 13, p. 8-17, 2018. SABOURIN, E. A Construção social dos mecanismos de qualificação e certificação entre reciprocidade e troca mercantil. REDD – Revista Espaço de Diálogo e Desconexão, Araraquara, v. 4, n. 2, jan/jul. 2012. DOI: https://doi.org/10.32760/1984-1736/REDD/2012. v4i2.5178 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 2 19 SANTOS, Boaventura de Souza. A Universidade do Século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da universidade. 3a ed. São Paulo: Cortez, 2011. UPF. Planejamento Pedagógico Institucional da UPF 2006 – 2015. PPI. VERONA, L. A. F.; DIZ, O. M.; HEMP, S.; NESI, C. O perfil dos consumidores de produtos orgânicos da feira da cidade de Chapecó–SC. Rev. Bras. de Agroecologia, v.4, n2, 2009. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 2 20 CAPÍTULO 3 doi PROJETO HORTA VITAL: DESAFIOS DO CONTROLE DE PRAGAS NA HORTA COMUNITÁRIA EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE Taniele Carvalho de Oliveira Data de aceite: 01/10/2020 Data de submissão: 21/07/2020 Altacis Junior de Oliveira Universidade do Estado de Mato Grosso Cáceres-Mato Grosso. http://lattes.cnpq.br/4906198714074608 Universidade do Estado de Mato Grosso Cáceres-Mato Grosso Larissa Chamma Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Botucatu – São Paulo Monica Tiho Chisaki Isobe Universidade do Estado de Mato Grosso Cáceres-Mato Grosso Herena Naoco Chisaki Isobe Universidade do Estado de Mato Grosso Cáceres-Mato Grosso Daniela Soares Alves Caldeira Universidade do Estado de Mato Grosso Cáceres-Mato Grosso Marcella Karoline Cardoso Vilarinho Universidade do Estado de Mato Grosso Cáceres-Mato Grosso Marcia Cruz de Souza Rocha Universidade do Estado de Mato Grosso Cáceres-Mato Grosso Gustavo Ferreira da Silva Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Botucatu – São Paulo Givanildo Rodrigues da Silva Universidade do Estado de Mato Grosso Cáceres-Mato Grosso Cyntia Beatriz Magalhães Farias Universidade do Estado de Mato Grosso Alta Floresta-Mato Grosso RESUMO: O projeto Promoção da qualidade de vida, saúde, educação e cultivo de hortaliças na área de abrangência da USF Vitória Régia Horta Vital, vinculado aos cursos de Agronomia e Enfermagem da Universidade do Estado de Mato Grosso, atua em parceria com uma unidade básica de saúde em Cáceres-MT. O cultivo em hortas comunitárias tem sido uma política alternativa de melhoria das condições alimentares das famílias utilizado pela atenção básica de saúde como uma estratégia de redução das carências nutricionais e mudanças de hábitos alimentares com o fim de promover a saúde das comunidades assistidas. O objetivo desse trabalho foi relatar os desafios do manejo de controle de pragas para a produção de hortaliças no sistema agroecológico na horta urbana comunitária do projeto. Foi realizado o levantamento das principais pragas e sua persistência, o possível controle indicado e os resultados alcançados, no período de agosto de 2015 a maio de 2017. As principais pragas encontradas foram cochonilhas, pulgões, cupins, formigas, lagartas, caramujo africano; e de plantas daninhas foram tiririca e beldroega. Para o controle de insetos foi utilizado caldas (bordalesa, fumo, alho) e de cultivo de plantas repelentes, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 3 21 como o gergelim, cravo de defunto, arruda e losna. O controle de caramujo africano foi realizado por meio de catação e aplicação de cal virgem como barreira no entorno da horta. E para as plantas daninhas foi realizado o manejo manual utilizando o arranquio e a capina. O relato de experiência desse trabalho mostrou a grande importância em produzir alimentos saudáveis para comunidade envolvida na horta comunitária horta vital. O controle agroecológico das pragas encontradas nas hortaliças como couve, quiabo, pimentão e rabanete, teve resultado parcial devido infestação estar muito severa. Já para as hortaliças almeirão, rúcula, beterraba, cenoura, jiló, berinjela, cebolinha e salsa, o controle agroecológico foi eficaz mostrando bons resultados. PALAVRAS-CHAVE: Hortaliças, controle agroecológico, insetos. GARDEN VITAL PROJECT: PEST CONTROL CHALLENGES IN COMMUNITY GARDEN AT BASIC HEALTH UNIT ABSTRACT: The project “Promotion of quality of life, health, education and vegetable cultivation in the coverage area of the USF Vitória Régia - Garden Vital”, linked to Agronomy and Nursing courses at the State University of Mato Grosso, works in partnership with a basic health unit in Cáceres-MT. Cultivation in community gardens has been an alternative policy for improving family eating conditions used by primary health care as a strategy to reduction of nutritional deficiencies and changes in eating habits in order to promote the health of assisted communities. The aim of this research was to report the challenges of pest control management for the production of vegetables in the agroecological system in the project’s community urban garden. Main pests and their persistence were surveyed, the possible control indicated and the results achieved, from august 2015 to may 2017. The main pests found were mealybugs, aphids, termites, ants, caterpillars, african snails; and weed were nutsedge and purslane. To control the insects, it were used a mixture (bordeaux, tobacco, garlic) and cultivation of repellent plants, such as sesame, marigold, rue and wormwood. Control of african snails was carried out by picking and applying lime as a barrier around the garden. And for weeds, manual handling was carried out using pluck and weeding. Experience report this work showed a great importance in food products for the community involved in a community garden. Agroecological control of pests found in vegetables such as cabbage, okra, sweet pepper and, radish had a partial result because the infestation was very severe. Chicory, arugula, beet, carrot, jilo, eggplant, chive and parsley had an effective agroecological control. KEYWORDS: Vegetables, agroecological control, insects. 1 | INTRODUÇÃO O cultivo de hortaliças em hortas comunitárias tem sido uma política alternativa de melhoria das condições alimentares das famílias utilizado pela atenção básica de saúde como uma estratégia de redução das carências nutricionais e mudanças de hábitos alimentares com o fim de promover a saúde das comunidades assistidas. Desse modo, é indispensável o cultivo de alimentos saudáveis garantindo uma boa Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 3 22 nutrição e bem-estar físico, já que possuem diversos nutrientes essenciais para o metabolismo humano (FERNANDES et al. 2013). O projeto de extensão Promoção da qualidade de vida, saúde, educação e cultivo de hortaliças na área de abrangência da USF Vitória Régia - Horta Vital, vinculado aos cursos de Agronomia e Enfermagem da Universidade do Estado de Mato Grosso, atua em parceria com uma unidade básica de saúde em CáceresMT, produzindo hortaliças convencionais e não convencionais, com o intuito de fornecer alimentos mais saudáveis para toda equipe envolvida do projeto, além da comunidade pertencente a USF do Bairro Vitória Régia, Cáceres – Mato Grosso. Nos dias atuais é crescente a criação de projetos de extensão que fazem o uso de espaço público para realização de ações em prol da comunidade envolvida. Assim, a criação de hortas comunitárias têm sido um diferencial na vida das comunidades de vulnerabilidade social, pois melhora os hábitos de consumo, contribuindo para uma alimentação mais saudável, pois é cultivada de forma agroecológica, com qualidade, rica em vitaminas e minerais, além disso, a comunidade consomem hortaliças frescas (FERNANDES et al. 2013; COSTA et al. 2015). O manejo das culturas cultivadas na horta comunitária do projeto Horta – Vital encontra-se desafios principalmente no controle de pragas e doenças, pois se usa o controle agroecológico, e muitas vezes quando o nível de infestação está elevado, pode ser que o controle não seja eficaz, sendo necessário a entrada de alternativas de manejos de controle como cultural, manual ou outro manejo biológico que seja eficaz (BRANCO e ALCÂNTARA, 2011). Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi relatar os desafios do manejo de controle de pragas para a produção de hortaliças no sistema agroecológico na horta urbana comunitária do projeto Horta Vital, Cáceres – Mato Grosso. 2 | METODOLOGIA A priori, foi realizado um levantamento das principais pragas e sua persistência, o possível controle indicado e os resultados alcançados, no período de agosto de 2015 a maio de 2017. As principais pragas encontradas na horta vital foram cochonilhas, pulgões, cupins, formigas, lagartas, caramujo africano e as principais plantas daninhas: tiririca e beldroega. Com as informações das principais pragas encontradas, começou um estudo visando encontrar possíveis alternativas de controle de forma agroecológica, com a finalidade de controlar ou minimizar o nível de infestação nas culturas cultivadas na horta comunitária horta vital. O controle dos insetos foi realizado com a utilização de caldas (bordalesa, fumo, alho) e de cultivo de plantas repelentes, como o gergelim, cravo de defunto, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 3 23 arruda e losna. O controle de caramujo africano foi realizado por meio de catação e aplicação de cal virgem como barreira no entorno da horta. E para as plantas daninhas foi realizado o manejo manual utilizando o arranquio e a capina. 3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO No sistema agroecológico utilizado verificou-se que ocorreu o controle parcial das pragas em algumas hortaliças como couve, quiabo, pimentão, rabanete e mostarda com infestações mais severas. As pragas foram recorrente o que levou a uma reestruturação do planejamento da horta, utilizando princípios de manejo como espaçamento adequado, utilização de cultivares adaptados ao clima local, adubação correta e rotação de cultura, para diminuir as condições favoráveis ao desenvolvimento das pragas. Já para o almeirão, rúcula, beterraba, cenoura, jiló, berinjela, cebolinha e salsa, o controle agroecológico foi eficaz mostrando bons resultados, pois diminui drasticamente a infestação das pragas existentes nessas culturas, chegando a inexistência das mesmas. O relato de experiência observou-se que a produção de hortaliças na horta comunitária constituiu um desafio relevante, pois o controle de pragas utilizando princípios agroecológicos mostrou pouca eficácia para algumas espécies, ocorrendo a persistência das pragas, o que acarretou baixa produtividade nas espécies com alta infestação. Algumas pragas afetaram a produção de várias espécies, prejudicaram o incentivo ao consumo das hortaliças produzidas na horta vital, visto que a população da área de abrangência da unidade de saúde, em estudos anteriores mostrou um baixo consumo de hortaliças e pouca diversidade, restringida ao consumo de algumas espécies como alface, tomate e cebolinha. 4 | CONCLUSÃO O relato de experiência desse trabalho mostrou a grande importância em produzir alimentos saudáveis para comunidade envolvida na horta comunitária horta vital. O controle agroecológico das pragas encontradas nas hortaliças como couve, quiabo, pimentão, rabanete, teve resultado parcial devido a infestação estar muito severa. Já para as hortaliças almeirão, rúcula, beterraba, cenoura, jiló, berinjela, cebolinha e salsa, o controle agroecológico foi eficaz mostrando bons resultados. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 3 24 REFERÊNCIAS BRANCO, C. M. e ALCÂNTARA, F. Hortas urbanas e periurbanas: o que nos diz a literatura brasileira? Revista Horticultura Brasileira, v.29, n.3. Brasília, jul. - set, 2011. COSTA, C. G. A. et al.; Hortas comunitárias como atividade promotora de saúde: uma experiência em Unidades Básicas de Saúde. Scielo, 2015. FERNANDES, R. et al.; Benefícios da Implantação do Programa Hortas Comunitárias em Maringá – Paraná. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research. Vol.4 n.1, p.79-82, 2013. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 3 25 doi CAPÍTULO 4 RIQUEZA DE INSETOS GALHADORES NO ESPÍRITO SANTO (REGIÃO SUDESTE, BRASIL) Data de aceite: 01/10/2020 RICHNESS OF GALL-INDUCING INSECTS IN ESPÍRITO SANTO (SOUTHEAST REGION, BRAZIL) Data de submissão: 08/07/2020 Valéria Cid Maia Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/3425008572187545 RESUMO: Poucos inventários faunísticos sobre insetos galhadores foram conduzidos no Espírito Santo, de forma que a riqueza desta guilda ainda é pouco conhecida neste estado. Com base na literatura e em dados novos obtidos dos herbários do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e do Museu Nacional, 33 espécies de Cecidomyiidae indutoras de galhas são assinaladas para o Espírito Santo, 10 delas pela primeira vez. Estes insetos estão associados a 15 famílias botânicas, sendo que Myrtaceae e Nyctaginaceae se destacam por hospedar um maior número de espécies indutoras de galhas. Os registros incluem áreas de restinga e/ou formações florestais de 13 municípios capixabas, 10 deles acrescidos no presente estudo à área de distribuição dos Cecidomyiidae. PALAVRAS-CHAVE: Cecidomyiidae, Diptera, galha, planta hospedeira, Mata Atlântica. ABSTRACT: Few fauna inventories on gallinducing insects were performed in Espírito Santo. Thus, the richness of this guild is little known in the state. Based on literature plus new data obtained from the Jardim Botânico do Rio de Janeiro and Museu Nacional herbaria, 33 gall-inducing species of Cecidomyiidae are recorded in Espírito Santo, ten of them for the first time. These midges are associated with 15 plant families. Among them, Myrtaceae and Nyctaginaceae sheltered the highest number of cecidomyiid species. Records included areas of restingas or/and forest formations, totaling 13 municipalities, ten added to the Cecidomyiidae distribution area in the present study. KEYWORDS: Cecidomyiidae, Diptera, gall, hostplant, Atlantic forest. 1 | INTRODUÇÃO O Estado do Espírito Santo tem 45.597 km 2 de extensão. No passado, antes da colonização do Brasil pelos portugueses, 90% da área deste estado era ocupada por Mata Atlântica, mas atualmente sua cobertura original está restrita a apenas 8% (IPEMA 2005), sendo que a maior parte destes remanescentes são pequenas unidades de conservação ou pequenos fragmentos em propriedades privadas (Pinto et al. 2009). Apesar Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 de sua alta Capítulo 4 diversidade e 26 elevado nível de endemismo (Fonseca, 1985), a Mata Atlântica vem sofrendo intensa degradação, constituindo o bioma mais ameaçado do país. Entretanto, foi reconhecida como Patrimônio Mundial pela ONU, como Sítio Natural do Patrimônio Mundial pela UNESCO, e como Patrimônio Nacional pela Constituição Federal do Brasil de 1988 (Fundação SOS Mata Atlântica & INPE, 2009) No estado do Espírito Santo, a fauna de insetos galhadores é pouco estudada, com dados publicados apenas para formações florestais em Santa Teresa (Maia et a. 2014) e para áreas de restinga em Guarapari (Bregonci et al. 2010 e Maia 2020) e Conceição da Barra (Maia 2020), totalizando 23 espécies galhadoras da família Cecidomyiidae (Diptera). Os objetivos deste trabalho são ampliar o conhecimento sobre a riqueza e distribuição destes galhadores no Espírito Santo. 2 | MATERIAIS E MÉTODOS Dados da literatura foram obtidos através de busca na database “Web of Science” usando “Galls/Galhas” e “Espírito Santo” como palavras-chave, além de buscas “on line” usando o “Google LLC”. Como cada espécie cecidógena induz uma galha morfologicamente única em sua planta hospedeira (Isaías et al. 2013), a presença da galha indica a presença da espécie galhadora. Com base nesta especificidade, exsicatas de plantas com registros de galhas de insetos depositadas nos herbários do Museu Nacional e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro foram examinadas com auxílio de uma lupa. Foram investigadas apenas as galhas cujo indutor e planta hospedeira se encontram identificados em nível de espécie, permitindo assim um maior refinamento taxonômico do presente estudo. As exsicatas com galhas foram fotografadas como material-testemunha, assim como as suas etiquetas e número de tombo, e os dados de sua localidade foram compilados. Por comparação com as ocorrências obtidas da literatura, novos registros foram assinalados. 3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontrados três artigos científicos sobre insetos galhadores ou sobre galhas de insetos no Espírito Santo: Bregonci et. 2010, Maia et al. 2014 e Maia 2020. Estas publicações somam 23 espécies de Cecidomyiidae (Diptera) no estado. Nos herbários investigados, foram examinadas 3.922 exsicatas de 14 espécies de plantas hospedeiras distribuídas em 11 famílias botânicas. Deste total, 37 foram coletadas no Espírito Santo e apresentaram galhas de insetos, todas induzidas por Cecidomyiidae (Diptera). Outras ordens de insetos também incluem representantes galhadores, como Hemiptera, Thysanoptera, Coleoptera, Lepidoptera e Hymenoptera, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 4 27 mas galhas induzidas pelos mesmos não foram encontradas no material examinado, provavelmente porque são menos frequentes. Somando os dados publicados com os dados dos herbários, tem-se que 33 espécies de 18 gêneros de Cecidomyiidae ocorrem no Espírito Santo (Tabela 1). Entre eles, Dasineura Rondani, 1840 e Lopesia Rübsaamen, 1908 se destacam pelo maior número de espécies, com sete e cinco, respectivamente. Dasineura é o gênero de Cecidomyiidae mais especioso no mundo (Gagné & Jaschhof, 2017) e Lopesia o mais diversificado na Mata Atlântica. Estes galhadores foram obtidos de 15 famílias de plantas, com destaque para Myrtaceae e Nyctaginaceae, por hospedarem a maior quantidade de espécies cecidógenas, seis e cinco, respectivamente. Em vários levantamentos florísticos da Mata Atlântica, as Myrtaceae são indicadas como a família mais rica ou como uma das mais ricas (Wagner & Fiaschi, 2020). Além disso, representam a segunda família mais frequente em inventários de galhas realizados neste bioma, sendo que em 49% dos mesmos, elas são destacadas como super hospedeiras (Araújo et al. 2019). As Nyctaginaceae devem a sua riqueza de galhas a uma única espécie de planta, Guapira opposita (Vell.) Reich., apontada também em vários inventários como super hospedeira. Dez espécies e seis gêneros de Cecidomyiidae, até então sem ocorrência no estado, foram acrescidos à riqueza capixaba. Na literatura, dados compilados sobre a riqueza de espécies são conhecidos apenas para o Rio de Janeiro, com mais de 100 espécies registradas (Maia & Barros. 2009), mas a quantidade de inventários de galhas realizados neste estado (13) é bem superior à quantidade de levantamentos na região capixaba (3). Portanto, a riqueza de insetos galhadores no Espírito Santo pode aumentar à medida que novas áreas sejam investigadas. Os Cecidomyiidae foram obtidos de áreas florestais (Colatina, Itaguaçu, Linhares, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá e Santa Teresa) e de áreas de restinga (Anchieta, Aracruz, Guarapari, Conceição da Barra, Presidente Kennedy, São Mateus e Vila Velha). Registros prévios de Cecidomyiidae eram conhecidos de apenas três municípios deste estado: Santa Teresa, Guarapari e Conceição da Barra. Com o presente estudo, dez municípios foram acrescidos à área de distribuição dos Cecidomyiidae: Anchieta, Aracruz, Colatina, Itaguaçu, Linhares, Presidente Kennedy, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, São Mateus e Vila Velha. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 4 28 Espécie galhadora Planta Hospedeira Localidades Referências Família Espécie Asphondylia cordiae Möhn, 2001 Boraginaceae Varronia curassavica Jacq. AnchietaPiúma* (R143182) Este estudo Asphondylia serrata Maia, 2004 Asteraceae Eremanthus erythropappus (DC.) Macleish Santa Teresa* (RB295882) Este estudo Bruggmannia acaudata Maia, 2004 Nyctaginaceae Guapira opposita (Vell.) Reitz Santa Teresa Maia et al., 2014 Bruggmannia elongata Maia & Couri, 1993 Nyctaginaceae Guapira opposita Conceição da Barra Guarapari Santa Teresa Maia, 2020 Bruggmannia robusta Maia & Couri, 1993 Nyctaginaceae Conceição da Barra Maia, 2020 Guarapari Maia, 2020 Santa Teresa Maia et al., 2014 Guapira opposita Maia, 2020 Maia et al., 2014 Bruggmanniella Malpighiaceae byrsonimae (Maia & Couri, 1993) Byrsonima sericea DC. Linhares* (RB450920) Este estudo Burseramyia braziliensis Maia & Fonseca, 2011 Fabaceae Swartzia langsdorffii Raddi Santa Teresa Maia et al., 2014 Clusiamyia granulosa Maia,1996 Clusiaceae Clusia hilariana Schltdl. Guarapari Bregonci et al., 2010 Este estudo Cordiamyia globosa Maia, 1996 Boraginaceae Varronia curassavica Jacq. Conceição da Barra Guarapari Maia, 2020 Couridiplosis vena Maia, 2004 Euphorbiaceae Croton floribundus Spreng. Santa Leopoldina* (RB440351) Este estudo Dactylodiplosis heptaphylii Maia, 2004 Burseraceae Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Santa Leopoldina* (RB440250) Este estudo Dasineura byrsonimae Maia, 2010 Malpighiaceae Byrsonima sericea Conceição da Barra Guarapari Maia, 2020 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Santa Maria de Jetibá* (RB01103056) Presidente Kennedy* (RB00581414) Bregonci et al. 2010 Maia 2020 Bregonci et al. 2010 Capítulo 4 29 Dasineura couepiae Maia, 2001 Chrysobalanaceae Couepia ovalifolia (Schott) Benth. ex Hook.f. Guarapari Dasineura globosa Maia, 1995 Myrtaceae Eugenia astringens Cambess. Aracruz* (RB737253) Este estudo Dasineura marginalis Maia, 2005 Myrtaceae Eugenia astringens Conceição da Barra* (RB561360) São Mateus* (RB462864) Guarapari* (RB356421/ RB374279) Este estudo Dasineura myrciariae Maia, 1993 Myrtaceae Myrciaria floribunda (H.West ex Willd.) O.Berg Guarapari Bregonci et al., 2010 Este estudo Dasineura ovalifoliae Maia & Fernandes, 2011 Erythroxylaceae Erythroxylum ovalifolium Peyr. Santa Teresa Maia et al., 2014 Dasineura tavaresi Maia, 1995 Myrtaceae Neomitranthes obscura (DC.) N. Silveira Guarapari Bregonci et al. 2010 Epihormomyia miconiae Maia, 2001 Melastomataceae Miconia cinnamomifolia (DC.) Laudin Santa Teresa Novo registro RB493591 Lopesia erythroxyli Rodrigues & Maia, 2010 Erythroxylaceae Erythroxylum ovalifolium Santa Teresa Maia et al., 2014 Lopesia grandis Maia, 2001 Fabaceae Dalbergia ecastaphyllum (L.) Taub. Conceição da Barra Guarapari Presidente Kenedy* (RB486143) Aracruz* (RB165145) São Mateus* (RB450948) Maia, 2020 Maia, 2020 Este estudo Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 São Mateus* (RB 746948/ RB745547) Conceição da Barra* (RB423518/ RB374368/ RB535849/ RB561400) São Mateus* (RB561401) Vila Velha* (RB262635) Linhares* (RB439930/ RB377618/ RB413042) Bregonci et al., 2010 Este estudo Capítulo 4 30 Lopesia marginalis Maia, 2001 Chrysobalanaceae Couepia ovalifolia São Mateus* (RB745547) Linhares* (RB282202) Itaguaçu* (RB56596) Este estudo Lopesia similis Maia, 2004 Burseraceae Protium heptaphyllum Conceição da Barra Guarapari Vila Velha* (RB547521) Colatina* (RB62941) Maia, 2020 Lopesia simplex Maia, 2002 Burseraceae Protium icicariba (DC.) Marchand Guarapari Vila Velha* (RB178623/ RB178643) Bregonci et al., 2010 Este estudo Manilkaramyia notabilis Maia, 2001 Sapotaceae Manilkara subsericea (Mart.) Dubard Guarapari Bregonci et al., 2010 Mayteniella distincta Maia, 2001 Celastraceae Monteverdia obtusifolia (Mart.) Bira Guarapari Presidente Kennedy* (RB311268/ RB311270) Maia, 2020 Este estudo Neolasioptera cerei Rübsaamen, 1905 Cactaceae Hylocereus setaceus (Salm-Dyck) R.Bauer Guarapari Conceição da Barra Maia, 2020 Neolasioptera eugeniae Maia, 1993 Myrtaceae Eugenia uniflora L. Conceição da Barra Guarapari Maia, 2020 Maia, 2020 Parazalepidota clusiae Maia, 2001 Clusiaceae Clusia fluminense Tr. & Pl. Vila Velha* (RB187111) Este estudo Pisphondylia braziliensis Couri & Maia, 1992 Nyctaginaceae Guapira opposita Santa Teresa Maia et al., 2014 Proasphondylia guapirae Maia, 1993 Nyctaginaceae Guapira opposita Santa Teresa Maia et al., 2014 Stephomyia rotundifoliorum Maia, 1993 Myrtaceae Eugenia astringens Conceição da Barra Maia, 2020 Maia, 2020 Tabela 1. Lista atualizada das espécies de Cecidomyiidae (Diptera) galhadores do Espírito Santo. Os novos registros estão assinalados com asterisco e entre parênteses consta o número do voucher referente à exsicata com galha. 4 | CONCLUSÃO A fauna de insetos galhadores do Espírito Santo é representada, até o momento, apenas pela família Cecidomyiidae, com 33 espécies registradas em 13 municípios. Dasineura e Lopesia são os gêneros com maior riqueza de espécies e Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 4 31 Myrtaceae e Nyctaginaceae são as famílias vegetais que abrigam maior quantidade de espécies galhadoras. AGRADECIMENTOS Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelo suporte financeiro (Proc. 301481/2017-2), e aos curadores de herbário, Dra. Rafaela Forzza (Jardim Botânico do Rio de Janeiro) e Dr. Ruy José Válka Alves (Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro). REFERÊNCIAS ARAÚJO, W. S., FERNANDES, G. W. & SANTOS. J. C. An overview of inventories of gallinducing insects in Brazil: looking for patterns and identifying knowledge gaps. Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, vol. 91, e20180162, 2019. BREGONCI, J. M.; POLYCARPO. P.V. & MAIA, V.C. Galhas de insetos do Parque Estadual Paulo César Vinha (Guarapari, ES, Brasil). Biota Neotropica, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 265274, 2010. FONSECA, G.A.B. The vanishing Brazilian Atlantic Forest. Biological Conservation, Montpellier, vol. 34, p. 17-34, 1985. FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA & INPE. Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica e ecossistemas associados no período de 2005–2008. São Paulo, 2009. GAGNÉ, R. J. & JASCHHOF, M. A catalog of the Cecidomyiidae (Diptera) of the world. 4rd Edition. Digital, Washington, 762 p., 2017. IPEMA. Conservação da Mata Atlântica no Estado do Espírito Santo: cobertura florestal e unidades de conservação. Vitória: IPEMA, 152 p., 2005. ISAIAS, R.M.S., CARNEIRO, R.G.S., OLIVEIRA, D. & SANTOS, J.C. Illustrated and annotated checklist of Brazilian gall morphotypes. Neotropical Entomology, vol. 42, no. 3, p. 230-239, 2013. MAIA, V. C. Insetos galhadores em áreas de Restinga no Espírito Santo, Brasil. In: Mônico, AT, Koch, ED, Freitas J, Rodrigues, LN, Lopes, MM & Betzel, RL (Eds.). Anais do VIII Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica (SIMBIOMA), “Museu de Biologia Professor Mello Leitão: sete décadas conhecendo a biodiversidade da Mata Atlântica”. Santa Teresa, p. 359365, 2020 MAIA, V. C. & BARROS, G.P.S.. Espécies de Cecidomyiidae (Diptera) registradas no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, vol. 67, n.3-4, p. 211220, 2009. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 4 32 MAIA, V. C., CARDOSO, J. L. T. & BRAGA, J. M. A. Insect galls from Atlantic Forest areas of Santa Teresa, Espírito Santo, Brazil: characterization and occurrence. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão, Espírito Santo, vol. 33, p. 47-129, 2014. PINTO, I.S., LOSS, A.C.C., FALQUETO, A. & LEITE, Y.L.R. Pequenos mamíferos não voadores em fragmentos de Mata Atlântica e áreas agrícolas em Viana, Espírito Santo, Brasil. Biota Neotropica, São Paulo, vol. 9, n. 3, p. 355-360, 2009. WAGNER, M. A. & FIASCHI, P. Myrtaceae from the Atlantic forest subtropical highlands of São Joaquim National Park (Santa Catarina, Brazil). Rodriguésia, vol. 71, e04032017. https://doi. org/10.1590/2175-7860202071006, 2020. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 4 33 CAPÍTULO 5 doi EXTRATO AQUOSO DE Campomanesia adamantium (MYRTACEAE) (CAMBESS.) O. BERG AFETA O DESENVOLVIMENTO DE TRAÇA-DAS-CRUCÍFERAS Data de aceite: 01/10/2020 Data de submissão: 07/07/2020 Silvana Aparecida de Souza Universidade Federal da Grande Dourados Dourados - MS http://lattes.cnpq.br/2352792856211597 Isabella Maria Pompeu Monteiro Padial Universidade Federal da Grande Dourados Dourados - MS http://lattes.cnpq.br/7362505763391533 Irys Fernanda Santana Couto Universidade Federal da Grande Dourados Dourados - MS http://lattes.cnpq.br/5270037959460724 Mateus Moreno Mareco da Silva Universidade Federal da Grande Dourados Dourados - MS http://lattes.cnpq.br/5273056161022824 Emerson Machado de Carvalho Universidade Federal do Sul da Bahia Itabuna - BA http://lattes.cnpq.br/7341724276580365 Rosilda Mara Mussury Universidade Federal da Grande Dourados Dourados - MS http://lattes.cnpq.br/8308188020990220 RESUMO: As hortaliças da família Brassicaceae vem assumindo um papel importante no Brasil devido a sua composição nutricional. Dentre os problemas fitossanitários que causam perdas significativas nas culturas da Brássicas, a Plutella xylostella (L. 1758) (Lepidoptera: Plutellidae), se destaca pela sua resistência à inseticidas sintéticos, devido a sua alta capacidade de dispersão e sua elasticidade genética. Logo, se faz necessário a adaptação dos métodos de controle para a elaboração de um plano de manejo integrado para a espécie. O interesse de inserir os inseticidas botânicos no Manejo Integrado de Pragas é crescente por reduzirem os riscos ambientais, o custo da produção, a grande dependência dos inseticidas sintéticos, além de serem fontes de novas fitotoxinas. Campomanesia adamantium (Myrtaceae) (Cambess.) O. Berg é uma planta nativa do Cerrado Brasileiro com efeito antioxidante, contudo seu potencial inseticida ainda não foi testado. Em estudos fitoquímicos, notouse a presença de flavonoides, quercetina, taninos, saponinas e compostos fenólicos, compostos previamente descritos com atividade inseticida. Sendo assim, o trabalho buscou avaliar a bioatividade do extrato aquoso de C. adamantium sobre P. xylostella. O extrato atuou negativamente sobre o ciclo do inseto, reduzindo a duração e sobrevivência larval, a biomassa pupal e a sobrevivência dos ovos. Em suma, o extrato aquoso se mostrou efetivo no controle de P. xylostella, principalmente na fase larval, fase na qual é considerada praga. PALAVRAS-CHAVE: Manejo Integrado de Pragas, Pequenos produtores, Brassicaceae. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 5 34 AQUEOUS EXTRACTS OF Campomanesia adamantium (MYRTACEAE) (CAMBESS.) O. BERG AFFECTS THE DEVELOPMENT OF DIAMONDBACK MOTH ABSTRACT: The vegetables of the Brassicaceae family have been assuming an important role in Brazil due to their nutritional composition. Among the phytosanitary problems that cause significant losses in Brassicaceae crops, Plutella xylostella (L. 1758) (Lepidoptera: Plutellidae), stands out for its resistance to synthetic insecticides due to its high. Therefore, it is necessary to adapt the control methods for the elaboration of an integrated management plan for the species. The interest in inserting botanical insecticides in Integrated Pest Management is growing because they reduce environmental risks, the cost of production, the great dependence on synthetic insecticides, besides being sources of new phytotoxins. Campomanesia adamantium (Myrtaceae) (Cambess.) O. Berg is a native plant of the Brazilian Cerrado with antioxidant effect, however its insecticide potential had not yet been tested. In phytochemical studies, the presence of flavonoids, quercetin, tannins, saponins and phenolic compounds, previously described compounds with insecticide activity, were noted. Thus, the work sought to evaluate the bioactivity of the aqueous extract of C. adamantium on P. xylostella. The extract acted negatively on the insect cycle, reducing the duration and larval survival, the pupal biomass and the survival of eggs. In short, the aqueous extract proved effective in controlling P. xylostella, especially in the larval phase, a phase in which it is considered a pest. KEYWORDS: Integrated Pest Management, Small producers, Brassicaceae. 1 | INTRODUÇÃO A família das Brássicas é composta por espécies economicamente importantes, como hortaliças, forragens, produtoras de óleo e entre outros, principalmente quando o tema é segurança alimentar. Enquanto na maior parte dos países ocorre seu consumo local, em algumas regiões, como o sul do Canadá, os produtos são distribuídos por todo o país. Sua produção vem aumentando nos últimos 40 anos, ficando logo atrás da soja e do algodão, como umas das mais importantes plantas na produção de óleo vegetal (SANTOS, 2006, RAKOW, 2004). Sua cultura é afetada diretamente por diversas pragas agrícolas, sendo a principal delas Plutella xylostella (Linnaeus 1758) (Lepidoptera: Plutellidae), também conhecida como “traça-das-crucíferas”. Essa mariposa possui ampla distribuição pelas propriedades rurais, ciclo curto e elevada capacidade reprodutiva, e, quando em estado de larva soma custos com manejo em até 5 bilhões de dólares anualmente (ZALUCKI et al., 2012). Embora o controle químico ainda seja o mais utilizado (DE BORTOLI et al., 2013), diferentes alternativas começaram a ser investigadas para compor o sistema de Manejo Integrado de Pragas, uma tecnologia que busca manter o ecossistema Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 5 35 mais próximo do equilíbrio, aderindo diferentes tipos de práticas de controle em um mesmo agroecossistema. Nesse panorama, os bioinseticidas vegetais se encontram como uma boa opção para compor o MIP, uma vez que as plantas produzem metabólitos não essenciais, também conhecidos como metabólitos secundários, utilizados para sua própria defesa no meio-ambiente, e, essas substâncias podem vir a afetar diversas pragas agrícolas (TAIZ & ZEIGER, 2013; KRINSKI et al., 2014; SPARKS et al., 2017). O Cerrado compõe o segundo maior bioma de todo o Brasil e devido a sua elevada diversidade biológica, que é representada em quase 50% por uma flora endêmica, esse bioma é atualmente, um dos hotspots em biodiversidade no mundo. No entanto, em 2004, 55% de toda sua área nativa já havia sido transformada por ação humana (BORLAUG, 2002; DIAS, 1992; MACHADO et al., 2004; MENDONÇA et al., 1998; MYERS et al., 2000; SILVA & BATES, 2002), mas dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento (Prodes) do Cerrado, feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia mostram que o desmatamento do Cerrado no período de agosto de 2018 a julho de 2019 ficou 2,26% menor, na comparação com o período anterior, mas aumentou 15% dentro de unidades de conservação. Desde 2016, o Brasil não apresentava índices tão altos de desmatamento em UCs nesse bioma, que teve redução após o pico em 2015, e voltou a crescer em 2017 e 2018 (http://cerrado.obt.inpe.br/). A espécie Campomanesia adamantium (Myrtaceae) (Cambess.) O. Berg ocorre em fisionomias campestres de cerrado, sendo encontrada na região do Estado de São Paulo e Mato Grosso do Sul, além da fruta ser consumida in natura, dentro seu uso medicinal encontra-se sua atuação contra dores estomacais e infecções urinárias (PIVA, 2002; COUTINHO et al., 2008). Nesse sentido, visando não apenas o impulsionamento de novas tecnologias as lavouras de pequenos produtores, mas também ao incentivo da pesquisa e preservação da fauna e flora do Cerrado brasileiro, o objetivo desse trabalho foi testar potencial inseticida de C. adamantium sobre o ciclo de vida de P. xylostella. 2 | MÉTODOS As folhas de Campomanesia adamantium foram coletadas na fazenda Coqueiro no município de Dourados-MS (22°14’ S, longitude de 54° 9’ W e 452m de altitude), no período das 7 às 9 h. As espécies foram identificadas com base na comparação com exsicatas depositadas no herbário da Universidade Federal da Grande Dourados, com o seguinte número de registro: Campomanesia adamantium: 5695. Após a coleta, as folhas foram higienizadas em água corrente e posteriormente foram secas em estufa de circulação forçada de ar à 45°C durante 3 dias, até que Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 5 36 estivessem completamente secas. As folhas secas foram trituradas em moinho industrial para a obtenção de um pó fino e foram armazenados sob proteção de luz em temperatura ambiente. A técnica utilizada para a elaboração do extrato foi a maceração, onde utilizouse 4g da matéria vegetal para 40 mL de água destilada, resultando na concentração de 10%. A solução permaneceu sob refrigeração durante 24 horas e após esse período foi filtrado com o auxílio do tecido Voil (Figura 1). Figura 1. Processo de confecção de extratos aquosos de Campomanesia adamantium. (PADIAL, I. M. P. M., 2019). As lagartas utilizadas no experimento foram retiradas da criação-estoque do Laboratório de Interação Inseto-Planta (LIIP) da Universidade Federal da Grande Dourados (Figura 2). A criação foi estabelecida através de lagartas e pupas coletadas em hortas orgânicas nos municípios de Dourados e Itaporã, Mato Grosso do Sul através da metodologia adaptada de Barros et al. (2012) e mantida sob condições constantes de temperatura (25 ± 2°C), umidade relativa (70 ± 5%) e fotoperíodo (12 h). Os adultos utilizados no experimento foram alimentados com algodão embebido de mel diluído em água destilada à 10% e como substrato de oviposição foram utilizados discos de couve de 9cm de diâmetro sobre disco de papel filtro. Este conjunto foi trocado diariamente. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 5 37 Os discos com os ovos foram transferidos para gaiolas plásticas transparentes, onde as lagartas permaneceram desde a eclosão dos ovos até o empupamento, e então alimentadas com folhas de couve orgânica (Brassica oleraceae var. acephala) previamente higienizada com hipoclorito de sódio a 5%. Figura 2. Metodologia utilizada para criação de Plutella xylostella com dieta natural em condições controladas de laboratório (PADIAL, I. M. P. M., 2019). Para avaliar a bioatividade do extrato aquoso (Figura 3), discos de couve de 4cm² foram imersos no extrato aquoso de C. adamantium durante 1 minuto e após a retirada do excesso de umidade, foram transferidos para placas de Petri (5 cm Ø) com um disco de papel filtro umedecido e uma lagarta neonata (n=50). As placas de Petri foram fechadas com papel filme e foram furadas para a entrada de ar. Diariamente houve a substituição dos discos mais velhos e a cada dois dias os discos de papel filtro foram trocados. As lagartas permaneceram na placa de Petri até atingirem o estágio de pupa ou até a sua morte, caracterizada pela falta de movimento. As pupas foram transferidas para tubos de ensaios e após 24 horas foram pesadas em uma balança analítica. As pupas permaneceram nos tubos de ensaio até a emergência dos adultos e a sexagem das mariposas para a determinação dos casais. Para a avaliação da fase reprodutiva, casais oriundos de cada tratamento (n=5) e que emergiram no mesmo dia, foram individualizados em gaiolas plásticas transparentes com discos de papel filtro umedecido sob disco de couve como substrato de oviposição e diariamente foram contabilizados o número de ovos e Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 5 38 após 3 ou 4 dias o número de lagartas eclodidas. Os Parâmetros analisados foram: Duração e sobrevivência larval e pupal, biomassa pupal, longevidade de machos e fêmeas, número de ovos e a sobrevivência dos ovos. Figura 3. Metodologia utilizada avaliação de efeito inseticida do extrato aquoso sobre o ciclo de Plutella xylostella em condições controladas de laboratório (PADIAL, I. M. P. M., 2019). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 10 repetições de 5 subamostras (Figura 4). Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de t (P≤0,05). Figura 4. Disposição do experimento de ciclo de Campomanesia adamantium. sobre Plutella xylostella com 10 repetições e 5 subamostras (PADIAL, I. M. P. M., 2019). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 5 39 3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO As lagartas tratadas com discos de couve imersos no extrato obtiveram redução de 18% na duração larval e 37,5% na sobrevivência larval. Em relação a biomassa pupal, o extrato provocou uma redução de 48% quando comparado ao controle (Tabela 1). Concomitantemente, o extrato apresentou uma redução de 42,6% na sobrevivência dos ovos provenientes de adultos que tiveram contato com o extrato na fase imatura (Tabela 2). Observa-se que as principais pragas agrícolas são da ordem Lepidoptera, principalmente durante estágio de larva, fase em que a praga possui hábito fitófago, que acarreta prejuízos econômicos e que também são aplicados vários métodos de controle (CARDOSO et al., 2010). Particularmente, Plutella xylostella consegue infligir uma elevada taxa de dano pois sua fase larval é numerosa e de difícil controle, principalmente no início, uma vez que as larvas neonatas possuem hábito minador (CAPINERA, 2008; CARDOSO et al., 2010). Sendo assim, a redução da duração larval implica em uma menor exposição das larvas à cultura e consequentemente, um menor consumo de área foliar e preservação do valor econômico. Duração Larval (Dias) Sobrevivência Larval (%) Duração Pupal (Dias) Sobrevivência Pupal (%) Biomassa Pupal (mg) Controle 7,96 ±0.14 a n= 50 96,00 ±2.60 a n= 50 6,25 ±0.14 a n= 47 99,00 ±1.00 a n= 46 4,80 ±0.00015 a n= 46 C. adamantium 6,58 ±0.26 b n= 50 60,00 ±6.29 b n= 50 4,99 ±0.55 a n= 30 97,00 ±6.67 a n= 28 2,50 ±0.00028 b n= 28 C.V (%) 9,32 20,16 22,43 15,95 10,96 Tabela 1. Duração (dias) e sobrevivência (%) das fases larval e pupal, biomassa pupal (mg) de Plutella xylostella tratadas com extrato aquoso de Campomanesia adamantium (25 ± 2°C; 55 ± 5 UR; 12h fotofase). *Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si ao nível de significância a 5% de probabilidade quando comparadas pelo teste de t. n=número de insetos A biomassa pupal é influenciada diretamente pelo desempenho do inseto enquanto larva (MARONEZE & GALLEGOS, 2009) e, pode ser tomada como um indicador de fecundidade, afetando diretamente o número de ovos (COSTA et al., 2004). Dessa forma, a queda no peso das pupas pode estar diretamente ligada na dificuldade do inseto converter o alimento ingerido em biomassa, e consequentemente, isso pode causar a redução no número de ovos viáveis. A redução da sobrevivência larval e da sobrevivência dos ovos é um resultado de extrema importância, pois além de eliminar a praga no período de interesse Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 5 40 econômico, reduz o número de adultos o que decorre em uma queda na capacidade reprodutiva, seja por uma má digestibilidade da couve tratada ou por uma possível repelência alimentar. Nesse sentido, mais experimentos devem ser conduzidos para que tais dúvidas sejam esclarecidas. A redução na sobrevivência dos ovos ocasionada pela alimentação na fase imatura é um resultado muito importante no campo, uma vez que, ao reduzir o número de ovos viáveis o número de lagartas eclodindo também diminui, e consequentemente, reduz os prejuízos aos produtores. Longevidade Machos Longevidade Fêmea Número de Ovos Sobrevivência Dos ovos Controle 18,60 ±2.04 a n= 5 12,60 ±1.36 a n= 5 204,00 ±16.28 a n= 5 0,89 ±0.0037 a n= 5 C. adamantium 13,60 ±2.20 a n= 5 10,40 ±2.13 a n= 5 168,00 ±55.97 a n= 5 0,51 ±0.14 b n= 5 C.V (%) 29,49 34,84 39,64 31,39 Tabela 2. Longevidade de adultos machos e fêmeas, número de ovos, sobrevivência dos ovos (%) e fecundidade de Plutella xylostella tratadas com extrato aquoso de Campomanesia adamantium (25 ± 2°C; 55 ± 5 UR; 12h fotofase). *Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si ao nível de significância a 5% de probabilidade quando comparadas pelo teste de t. n=número de insetos. Em estudos prévios sobre a composição química de C. adamantium observou-se a presença de quercetina, compostos fenólicos flavonoides, taninos e saponinas (FERREIRA et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2016). Todos os compostos listados acima são citados na literatura com ação inseticida através da antibiose ou antixenose (PERES et al., 2017; CASTRO et al., 2010; TAIZ & ZEIGER, 2013; JOHANN et al., 2010). Taninos atuam desestimulando a alimentação de insetos através de proteínas capazes de desativar enzimas digestivas, dificultando a assimilação de compostos ingeridos e podendo causar danos no desenvolvimento do inseto (TAIZ & ZEIGER, 2013), reduzindo significativamente o crescimento e a sobrevivência de insetos (HOLETZ et al., 2005). Já os flavonoides, são um grupo abrangente que pode estar relacionado a diversos distúrbios no comportamento, desenvolvimento e reprodução do inseto, podendo também interferir em sua alimentação, sendo um repelente alimentar (REYES-CHILPA et al., 1995). A quercetina, é um flavonoide, que pode interferir diretamente no peso e na sobrevivência de pupas (GAZZONI et al., 1997) ou até mesmo na biologia do inseto (PERES et al. 2017). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 5 41 Saponinas possuem tanto atuações positivas como negativas referentes a interação inseto-planta (HARMATHA, 2000). Seus efeitos inseticidas são descritos principalmente como de repelência alimentar, além de poder também, provocar queda na capacidade de metabolizar compostos ingeridos e causar perda de peso quando inserida em algumas dietas artificiais (OLESZEK et al., 1999; AGRELL et al., 2003). Especificamente para Plutella xylostella, lepidóptero que se alimenta exclusivamente de Brássicas durante o período larval, foi relatado em literatura que há uma espécie do gênero (Barbarea vulgaris) em que ela não é capaz de se alimentar, e tal atuação é relacionada a presença de saponinas triterpênicas, extraídas da planta em laboratório (SERIZAWA et al., 2001; SHINODA et al., 2002). 4 | CONCLUSÃO O extrato aquoso de C. adamantium afetou a fase imatura e a sobrevivência dos ovos de P. xylostella, reduzindo os danos nas culturas de Brássicas e consequentemente número de indivíduos à campo. Sendo assim, os extratos vegetais aquosos são uma alternativa viável dentro do manejo integrado de pragas, uma vez que não exigem tecnificação para a produção do mesmo além do baixo custo, tornando-se viável para pequenos produtores. REFERÊNCIAS AGRELL, J. ; OLESZEK, W. ; STOCHMAL, A. ; OLSEN, M., ANDERSON, P. Herbivoreinduced responses in alfalfa (Medicago sativa). J. Chem. 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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 5 44 CAPÍTULO 6 doi INOCULAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA DE DIFERENTES Bacillus spp ISOLADOS E ASSOCIADOS EM CONDICIONADOR DE SOLO CLASSE A Cleide Viviane Buzanello Martins Data de aceite: 01/10/2020 Data de submissão: 21/07/2020 Unioeste - PPGCA Toledo - Paraná http://lattes.cnpq.br/0380880522220338 Brener Magnabosco Marra UFSJ – DQBIO Ouro Branco - Minas Gerais http://lattes.cnpq.br/9255872550182540 Andreia Monteiro Alves Unioeste - PPGCA Toledo - Paraná http://lattes.cnpq.br/6602770037256223 Jéssyca Ketterine Carvalho Unioeste - PPGCA Toledo - Paraná http://lattes.cnpq.br/5233857963198951 Andressa Alves Silva Panatta Unioeste - PPGCA Toledo - Paraná http://lattes.cnpq.br/6083736852689135 Rafael Ricardo Adamczuk Compostec Soluções Ambientais Ltda Toledo - Paraná Jeferson Klein Compostec Soluções Ambientais Ltda Toledo - Paraná http://lattes.cnpq.br/5580565564066726 Fernando Mateus Gerling Compostec Soluções Ambientais Ltda Toledo - Paraná http://lattes.cnpq.br/2280001193187552 RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar a inoculação e sobrevivência de quatro diferentes espécies de Bacillus. isolados ou associados em um condicionador de solo classe A. O ensaio foi conduzido em esquema fatorial (6 X 5): fator (inoculação): I1 – Ausência de micro-organismos; I2 – inoculação de Bacillus amyloliquefaciens; I3 – inoculação de Bacillus subtilis; I4 – inoculação de Bacillus licheniformis; I5 – inoculação de Bacillus pumilus; e I6 – inoculação com associação dos quatro micro-organismos; fator (tempo): T1 – tempo 0 dias; T2 – tempo 1 dias; T3 – tempo 2 dias; T4 – tempo 4 dias; T5 – tempo 8 dias. A contagem das bactérias (Bacillus spp.), presentes no condicionador foi determinado pela inoculação em meio PCA e incubadas por 24 horas a 30º e expressas em unidades formadoras de colônias (UFC). A inoculação com B. amyloliquefaciens, e B. pumilus apresentou comportamento quadrático significativo em função do período de inoculação ao nível de 1% e Bacillus subtilis 5%. A inoculação de quatro diferentes espécies de Bacillus isolados ou em associação em condicionador de solo classe A, mostrou-se viável independentemente da espécie utilizada durante todo o período de 8 dias. PALAVRAS-CHAVE: Condicionador de solo; Bacillus spp; inoculação, associação de microorganismos. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 6 45 ABSTRACT: The objective of this work was to evaluate the inoculation and survival of four different species of Bacillus sp. isolated or associated in soil conditioner. The test was conducted in a factorial scheme (6 x 5): factor (inoculation): I1 - Absence of microorganisms; I2 - Bacillus amyloliquefaciens inoculated; I3 - Bacillus subtilis inoculated; I4 - Bacillus licheniformis inoculated; I5 - Bacillus pumilus inoculated; and I6 - four Bacillus sp. inoculated , and factor time: T1 - time 0 days; T2 - time 1 days; T3 - time 2 days; T4 - time 4 days; T5 - time 8 days. The bacteria count (Bacillus spp.), Present in the conditioner was determined by incubation in DYG’S medium and incubated for 72 hours at 30º and expressed in colony forming units (UFC). B. amyloliquefaciens, and B. pumilus inoculated showed significant difference as a function of inoculation period at 1% and Bacillus subtilis 5%. Inoculation of four different species of Bacillus sp., isolated or in combination in soil conditioner, was viable for 8 days. KEYWORDS: Soil conditioner; Bacillus spp; inoculation; association of microorganisms. 1 | INTRODUÇÃO Conhecido por ser um dos maiores celeiros produtores de soja, a região Oeste do Paraná apresenta em seu agronegócio alto dados do Produto Interno Bruto (PIB); alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e grande produção de milho e soja. A região possuí também um grande parque agroindustrial de transformação de proteína vegetal em proteína animal, provenientes da suinocultura, bovinocultura, avicultura e piscicultura bem desenvolvidas. Para isso, um elevado número de frigoríficos e abatedouros foram implantados gerando enorme produção de resíduos agropecuários e agroindustriais, especialmente os resíduos orgânicos classe II. Diariamente é produzido um grande volume de resíduos orgânicos agropecuários e agroindustriais classe II em Toledo-PR e região, representando um enorme passivo ambiental para esta pujante agroindústria. Diante deste cenário, a empresa Compostec Soluções Ambientais, desde 2004, coleta, destina e trata estes resíduos por meio da compostagem biológica com revolvimento em Toledo-PR. Diferentes definições podem ser atribuídas para o processo da compostagem, que é um processo controlado de degradação de matéria orgânica realizada por micro-organismos. Este processo pode ocorrer na presença ou ausência de oxigênio, de uma biomassa diversificada em estado sólido e úmido com relação de carbono e nitrogênio em torno de 30 (SIQUEIRA e ASSAD, 2015). A primeira etapa, denominada mesofílica, é caracterizada pela intensa atividade metabólica e aumento da temperatura. Em seguida, ocorre a bioestabilização caracterizada pelo platô de temperatura máxima, e na fase final ocorre a maturação ou humificação e mineralização dos nutrientes (COSTA et al., 2015). O resultado final da compostagem é um material rico em matéria orgânica e nutrientes, que vem despertando interesse dos produtores rurais devido a performance agronômica e ao baixo custo (CARON Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 6 46 et al., 2015). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em sua Instrução Normativa (IN) DAS nº 35/2006, define o condicionador de solo como produto que promove a melhoria das propriedades físicas, químicas e físicoquímicas, e/ou atividade biológica do solo, tendo como garantia apenas a Capacidade de Retenção de Água (CRA), no mínimo em 60%, Capacidade de Troca Catiônica (CTC), no mínimo em 200 mmolc/kg e umidade máxima de 20%. Ainda na mesma IN, para obter a classificação Classe A, o condicionador de solo deve ser proveniente exclusivamente de matéria prima de origem vegetal, animal ou de processamentos agropecuários e/ou agroindustriais, em que não seja utilizado no processo o sódio (Na+), metais pesados ou compostos orgânicos sintéticos potencialmente tóxicos. Outros fatores agronômicos importantes presentes no condicionador de solo, mesmo que não seja exigido pelo MAPA como garantia, são: 1) teores de macro nutrientes primários (1%) e secundários (1%); 2) teores de micronutrientes (0,1%); 3) carbono orgânico total (20%); 4) aminoácidos livres (1%); 6) teores de ácido húmicos e fúlvicos (15%). Porém devido ao aumento do interesse dos produtores rurais em utilizar insumos que elevam a atividade biológica e carregarem micro-organismos de interesse agrícola, algumas empresas estão investindo na inoculação de condicionadores de solo (CARON et al., 2015). Acredita-se que devido a todos os componentes presentes no condicionador de solo classe A, principalmente os níveis superiores a 20 % de Composto Orgânico Total (C.O.T.), elevada capacidade de troca catiônica e diversidade de macro e micronutrientes, estes contribuem no crescimento e manutenção microbiológica (SIQUEIRA e ASSAD, 2015). Entretanto, o Brasil ainda não possuiu nenhum registro de produto que tenha a presença de micro-organismos em condicionadores de solo classe A. Entre os micro-organismos de interesse agrícola destaca-se o gênero Bacillus, por apresentar alta biodiversidade biotecnológica e taxas de crescimento, além da grande capacidade de produzir e excretar substâncias metabólicas (TEJERAHERNÁNDEZ et al., 2011). Outra característica importante atribuída a este grupo são a possibilidade destes em realizar o controle biológico em campo (LEÓN et al., 2009), solubilização de diferentes nutrientes (SILVA FILHO e VIDOR, 2001) e a produção de fatores de crescimento para as plantas. A espécie Bacillus amyloliquefaciens é conhecida por habitar naturalmente o solo, associando-se ao ambiente rizosférico e endofíticos de diferentes plantas (MENG et al., 2012). Alguns autores descrevem sua importância como sendo um micro-organismo que apresenta a capacidade de promover o crescimento das plantas seja pela liberação de metabólitos ou estimulando as plantas a produzir Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 6 47 tais substâncias, ou na proteção das plantas podendo ser um eficiente controlador de nematóides e fungos (BURKET-CADENA et al., 2008 e ALFONZO et al.; 2012). Outros estudos demonstram que este micro-organismo também pode solubilizar nutriente como o fósforo (PAZ et al., 2012). Interações com outros micro-organismos também são relatadas, principalmente com o Bacillus subtilis. Já a espécie B. subtilis, é um bactéria Gram-positiva, não apresenta patogenicidade a espécies humana, conhecida e utilizada mundialmente na produção de enzimas extracelulares. Seus esporos possuem diversos atributos que fazem destes tolerar adversidades do meio, podendo manter vivos por longos períodos. A utilização de B. subtilis pelo homem com finalidade agrícola é antiga, sendo suas primeiras descrições obtidas pelos japoneses (SCHALLMEY et al., 2004). No Brasil, estudos conduzidos há mais de 20 anos, já descrevem que a interação destes com a cultura da soja proporcionam incremento da nodulação e rendimento de sua produtividade em campo (ARAUJO e HUNGRIA, 1999). Mais tarde, a descoberta da produção de fitohormônios e antibióticos poderiam comprovar seus efeitos, visto que os hormônios contribuem com o aumento dos pelos radiculares e que está diretamente relacionado ao aumento da nodulação (ARAUJO et al., 2005). O Bacillus licheniformis é uma espécie que apresenta excelentes condições de sobrevivência no solo brasileiro, sendo viáveis por longos períodos. É importante para a indústria mundial, por ser uma das maiores fontes de protease alcalina comercial. No Brasil passou a ganhar maior interesse na agricultura logo após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), aprovar um nematicida microbiológico à base deste ingrediente ativo em 2017 (Resolução 160 de 20 de Janeiro de 2017). Já o Bacillus pumilus é conhecido como um eficiente agente de biocontrole, possui ação de inibir o desenvolvimento de patógenos em superfície foliar por excretar diferentes metabólitos sensibilizadores do sistema de defesa das plantas (D´AGOSTINO e MORANDI, 2009). Em crucífera, esta espécie foi descrita como sendo eficaz contra podridão negra (LUNA et al., 2002). Porém, ainda são raros estudos contendo a sobrevivência isolada e em interação destes quatro micro-organismos em um condicionador de solo no Brasil. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a inoculação e sobrevivência de quatro diferentes espécies de Bacillus. isolados ou associados em um condicionador de solo classe A. 2 | MÉTODOS O condicionador de solo classe A utilizado neste ensaio foi produzido pela Compostec Soluções Ambientais, utilizando como matérias primas diferentes Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 6 48 resíduos agropecuários e agroindustriais, tais como: cinzas de caldeira; resíduo de ração; resíduos de cereais; lodo de flotador, compostagem de aves; gordura; resíduos de incubatório; condimentos; lácteos, borra de óleo vegetal; farinha de carne; algodão; resíduo de amido; mucosa de animais; resíduo de peixe e resíduo de madeira, dentre outros. Estes foram formulados buscando balanço nutricional de relação de carbono e nitrogênio de 20/1. Os materiais foram homogeneizados e revolvidos periodicamente, sendo controlada a temperatura e mantendo a umidade durante o processo entre 40 a 60%. O processo teve a duração de 180 dias. Amostras do condicionador de solo foram coletadas e encaminhadas ao laboratório Primorlab, onde foram submetidas à digestão sulfúrica. Segundo a metodologia da Embrapa (2009) foi realizada a destilação por arraste de vapores, determinando-se os macronutrientes primários e secundários, expressos em porcentagem; e dos micronutrientes essenciais, expressos em mg kg-1 (Tabela 01). Parâmetros Teores Nitrogênio total 1,9% Fósforo Total 3% Potássio Total 1,9% Carbono Orgânico Total 18% Capacidade de Troca Catiônica 230 cmol/dm3 Potencial Hidrogeniônico (pH) 6,8 Capacidade de Retenção de Água 110% Cálcio Total 7,5% Magnésio Total 1% Manganês Total 0,5% Zinco Total 0,1% Cobre Total 0,05% Ferro Total 0,01% Tabela 01: Dados referentes aos parâmetros da análise físico-química do condicionador de solo classe A produzido pela Compostec Soluções Ambientais, 2020. No Laboratório de Microbiologia da Unioeste, Campus de Toledo/PR, amostras de 2,25 gramas foram colocadas em tubo de ensaio de 10 mL e autoclavadas em dois intervalos de 30 minutos em temperatura de 121ºC. Após autoclavado, o condicionador de solo classe A foi inoculado em câmara de fluxo laminar com um volume de 250 µL de Bacillus spp. conforme os tratamentos abaixo. O ensaio foi constituído dos seguintes tratamentos: Primeiro fator (inoculação): I1 – Ausência de micro-organismos (água Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 6 49 deionizada e esterilizada); I2 – inoculação de Bacillus amyloliquefaciens; I3 – inoculação de Bacillus subtilis; I4 – inoculação de Bacillus licheniformis; I5 – inoculação de Bacillus pumilus; e I6 – inoculação com associação dos quatro microorganismos. Segundo fator (tempo): T1 – tempo 0 dias; T2 – tempo 1 dias; T3 – tempo 2 dias; T4 – tempo 4 dias; T5 – tempo 8 dias. A contagem dos micro-organismos para determinação da população em número de células por grama foi realizada através da determinação das unidades formadoras de colônias em ágar padrão para contagem (PCA). Para tanto foi adicionado 1,0 g de cada tratamento a um Erlenmeyer contendo 9 mL de solução solução salina 0,85% (p/v). Após agitação por 30 minutos, em uma mesa agitadora, foram feitas diluições decimais em série, de 10-1 a 10-10. Em seguida, alíquotas de 1,0 mL de cada diluição foram transferidas pelo método pour plate em placas de Petri a seguir 15-20 mL do meio PCA fundido e resfriado à 45°C foi adicionado e as placas foram suavemente deslizadas em movimentos em forma de “8” para homogeneização do inóculo ao meio de cultura. As placas foram acondicionadas em saco plástico com o objetivo de evitar o ressecamento do meio de cultura (Olsen & Bakken, 1987; Sorheim et al., 1989) e incubadas em duas estufas BOD, com temperaturas a 28°C, em ausência de luz. A temperatura da estufa de incubação foi verificada diariamente, utilizando-se, além do termômetro de cada estufa, um termômetro de máxima e mínima. As contagens foram feita e,24 horas em um contador de colônias com 6x de aumento,. Foram consideradas apenas as contagens que variaram de 30 a 300 colônias (Clark , 1965; Schortemeyer et al., 1996). O ensaio foi conduzido em delineamento em blocos casualizados em esquema fatorial (6 x 5), em que o primeiro fator foi a inoculação e o segundo fator tempo, com três repetições, totalizando 90 unidades amostrais. Os resultados foram submetidos à análise de variância e regressão linear ou quadrática utilizando-se o programa computacional GENES da Universidade Federal de Viçosa (UFV). 3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da análise físico-químicas do condicionador de solo classe A foram: 1) teores de macro nutrientes primários (N: 1,23%, P: 1,19% e K: 0,63%); 2) teores de macronutrientes secundários (Ca: 4,90% Mg: 0,38% e S: 0,91%); 3) teores de micronutrientes essenciais (Zn: 5062,50; Cu: 221,00; Fe: 6479,50; Mn: 2295,00; e B: 10,75 mg kg-1 por elemento analisado); 4) Carbono Orgânico Total: 22,09%: 5) pH: 6,68; 6) condutividade elétrica: 3,39 mS cm-1; 7) CRA: 74,00% e CTC: 545,00 mmolc kg-1. Os resultados de CRA e CTC estão de acordo com a IN DAS Nº 35/2006 – MAPA para condicionador de solo classe A. Ao analisar os níveis Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 6 50 de nutrientes, este condicionador de solo poderia também estar registrado como Fertilizante Orgânico Composto Classe A conforme a IN DAS Nº 23/2005. Os níveis acima de 22% de C.O.T., demonstram que o condicionador é uma boa fonte de carbono e energia para os micro-organismos principalmente durante a fase inicial e pela facilidade operacional de aplicação/distribuição do insumo na lavoura. Estes resultados estão de acordo com aqueles descritos por SIQUEIRA e ASSAD (2015), em que descreve a função do carbono orgânico no crescimento microbiológico. A inoculação com Bacillus amyloliquefaciens, e Bacillus pumilus apresentou comportamento significativo em função do período de inoculação no condicionador de solo classe A ao nível de 1%. Já Bacillus subtilis apresentou interação significativa ao nível de 5% (Tabela 02). Por outro lado, a inoculação com Bacillus licheniformis não apresentou interação significativa em função do tempo de inoculação. Como esperado o tratamento com ausência de micro-organismos não apresentou crescimento. Horas após a inoculação Dados da regressão 0 24 48 96 192 Equação R2 I1 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0 0,00ns I2 12,55 35,70 17,70 75,65 96,50 -980,92x2 + 643598x + 1E+07 0,87** I3 25,65 1,29 57,50 148,50 85,00 -8259x2 + 2E+06x - 6E+06 0,71* I4 39,00 104,95 32,10 16,80 8,88 843,34x2 - 477215x + 7E+07 0,41ns I5 36,00 37,78 74,25 61,75 113,50 229,51x2 + 341485x + 4E+07 0,85** I6 23,70 146,00 167,50 211,25 41,95 -19401x2 + 4E+06x + 4E+07 0,96** Tabela 02: Médias da Unidade Formadora de Colônia (UFC) e resultados da regressão de diferentes micro-organismos inoculados em condicionador de solo classe em função do período após a inoculação Não significativo (ns), ou significativo a 1 (*) e 5% (**), (p≤0,05). Tratamentos utilizados: – Ausência de micro-organismos (água deionizada e esterilizada); I2 – inoculação de Bacillus amyloliquefaciens; I3 – inoculação de Bacillus subtilis; I4 – inoculação de Bacillus licheniformis; I5 – inoculação de Bacillus pumilus; e I6 – inoculação com associação dos quatro micro-organismos. A esterilização mostrou-se eficiente, pois até o final das 196 horas não foi observado nenhuma Unidade Formadora de Colônia (UFC) viável conforme observado no tratamento controle (Tabela 02). Da mesma forma, a determinação da UFC dos tratamentos inoculados independentemente do tipo de micro-organismo Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 6 51 ou sua associação apresentaram valores acima de 1x106 UFC, mantendo os microorganismos vivos desde o momento da inoculação, e demonstrando que a inoculação foi realizada com sucesso independentemente da espécie e/ou associação (Tabela 02). A associação dos micro-organismos foi eficiente, pois se mantiveram em desenvolvimento até 96 horas (Tabela 02). Períodos superiores há 96 horas estão sendo avaliados ainda, entretanto estes dados não fazem parte deste trabalho. No último período houve redução na população e algumas hipóteses podem ser discutidas. Estes resultados demonstram a importância de novas investigações para contribuir na compreensão do comportamento dos micro-organismos e dos condicionadores de solo. 4 | CONCLUSÃO A inoculação de quatro diferentes espécies de Bacillus spp. isolados ou em associação em condicionador de solo classe A, mostrou-se viável independentemente da espécie utilizada durante todo o período de 8 dias avaliado. REFERÊNCIAS ALFONZO, A.; PICCOLO, S.L.; CONIGLIARO, G.; VENTORINO, V.; BURRUANO, S.; MOSCHETTI, G. Antifungal peptides produced by Bacillus amyloliquefaciens AG1 active against grapevine fungal pathogens. Annals of Microbiology, Milão, v.62, n.4, p.1593-1599, 2012. 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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 6 54 CAPÍTULO 7 doi FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS GRANULADOS NA PRODUÇÃO DE MUDAS DE ESPÉCIES FLORESTAIS EM DOIS TIPOS DE TUBETES Data de aceite: 01/10/2020 Aline Assis Cardoso http://lattes.cnpq.br/4270933743190484 Michel de Paula Andraus http://lattes.cnpq.br/9595136781464277 Eliana Paula Fernandes Brasil http://lattes.cnpq.br/7324619074753727 https://orcid.org/0000-0003-4474-4653 Wilson Mozena Leandro http://lattes.cnpq.br/9052207260053937 https://orcid.org/0000-0002-3141-1588 Jéssika Lorrine de Oliveira Sousa http://lattes.cnpq.br/6547884826431259 Ana Caroline da Silva Faquim http://lattes.cnpq.br/0791648753335083 Joyce Vicente do Nascimento http://lattes.cnpq.br/5548884686226950 Carolline de Moura Ferro http://lattes.cnpq.br/1031234618378429 Welldy Gonçalves Teixeira http://lattes.cnpq.br/9166644492226296 Caio Fernandes Ribeiro http://lattes.cnpq.br/8407646305334454 Álisson Assis Cardoso http://lattes.cnpq.br/8216536516894987 https://orcid.org/0000-0003-2687-2352 RESUMO: O adubo organomineral é viável tanto para os pequenos e médios quanto para os grandes produtores e empresários rurais. Além do benefício financeiro com a redução de gastos, e o benefício físico e biológico do solo, com o maior aporte de nutrientes e matéria orgânica, a adubação organomineral também tem uma vantagem ambiental. Este adubo é produzido a partir de resíduos orgânicos como restos de culturas e subprodutos da indústria. Com relação às características físicas do solo, a adubação orgânica aumenta a retenção de água durante a seca e a drenagem em períodos chuvosos, reduzindo os riscos de enxurrada e, consequentemente, de erosão. Isso é possível devido ao aumento da porosidade total, à redução da densidade e do grau de compactação do solo e à resistência à erosão hídrica e eólica. Além disso, esse tipo de adubação aumenta a população da microflora e da microfauna, elevando, assim, a atividade microbiológica. Mudas de espécies florestais nativas produzidas em viveiro são usadas com objetivos ambientais, tais como recuperação de áreas degradadas e recomposição de áreas de preservação permanente (APP). A produção de fertilizantes organo-mineral é o resultado de ações planejadas no sentido de reaproveitar os resíduos agroindustriais de forma sustentável e ecologicamente correta. Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo geral estudar fertilizantes organomineral granulado com uso de biocatalisador acelerador a fim de ser usado na produção de mudas de espécies florestais, avaliando seus atributos químicos, mensurando os aspectos fitotécnicos e a concentração de nutrientes nas plantas de espécies florestais. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 55 Avaliando a condução em sistema convencional (tubetes de polipropileno) em comparação aos tubetes biodegradáveis. PALAVRAS-CHAVE: Preservação ambiental, adubação sustentável, resíduos agroindustriais. ABSTRACT: Organomineral fertilizer is viable both for small and medium-sized farmers and for large rural producers and entrepreneurs. In addition to the financial benefit with the reduction of expenses, and the physical and biological benefit of the soil, with the greatest supply of nutrients and organic matter, organomineral fertilization also has an environmental advantage. This fertilizer is produced from organic waste such as crop residues and industry by-products. About the physical characteristics of the soil, organic fertilization increases water retention during drought and drainage in rainy periods, reducing the risk of runoff and, consequently, erosion. This is possible due to increased total porosity, reduced density and degree of compaction of the soil and resistance to water and wind erosion. In addition, this type of fertilization increases the population of microflora and microfauna, thus increasing microbiological activity. Seedlings of native forest species produced in greenhouses are used for environmental purposes, such as the recovery of degraded areas and the restoration of permanent preservation areas (PPA). The production of organo-mineral fertilizers is the result of actions planned to reuse agro-industrial waste in a sustainable and ecologically correct manner. In this sense, this research has the general objective of studying granulated organomineral fertilizers with the use of accelerating biocatalyst in order to be used in the production of forest species seedlings, evaluating their chemical attributes, measuring phytotechnical aspects and the concentration of nutrients in forest species plants. Evaluating conduction in a conventional system (polypropylene tubes) compared to biodegradable tubes. KEYWORDS: Environmental preservation, sustainable fertilizing, agro-industrial waste. 1 | INTRODUÇÃO O adubo organomineral é viável tanto para os pequenos e médios quanto para os grandes produtores e empresários rurais. Além do benefício financeiro com a redução de gastos, e o benefício físico e biológico do solo, com o maior aporte de nutrientes e matéria orgânica, a adubação organomineral também tem uma vantagem ambiental. Este adubo é produzido a partir de resíduos orgânicos como restos de culturas e subprodutos da indústria (Royo, 2010). São vários os benefícios para o solo com a aplicação de adubos orgânicos, pois eleva a capacidade de troca de cátions (CTC), o pH, o transporte e disponibilidade de micronutrientes, bem como reduz os teores de manganês, alumínio tóxico e acidez do solo (Rodrigues, 1994; Cardoso & Oliveira, 2002). Apesar de essa interação estar relacionada ao solo, as plantas são beneficiadas diretamente por essas alterações químicas provenientes da adubação orgânica. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 56 Com relação às características físicas do solo, a adubação orgânica aumenta a retenção de água durante a seca e a drenagem em períodos chuvosos, reduzindo os riscos de enxurrada e, consequentemente, de erosão (Taiz & Zeiger, 2009). Isso é possível devido ao aumento da porosidade total, à redução da densidade e do grau de compactação do solo e à resistência à erosão hídrica e eólica (Celik et al., 2004; Leroy et al., 2008). Além disso, esse tipo de adubação aumenta a população da microflora e da microfauna, elevando, assim, a atividade microbiológica (Costa et al., 1986). A adição de adubos orgânicos aumenta a respiração microbiana, sendo esse fator um indicativo da atividade microbiológica do solo. Contudo, vale ressaltar que diferentes compostos orgânicos influenciam de diferentes formas na elevação da microbiota do solo (Severino et al., 2004). A crescente pressão ambientalista leva as indústrias a buscarem alternativas para o destino dos resíduos gerados pelos processos industriais. Os custos de construção e manutenção de aterros industriais e os riscos ambientais que estes podem representar têm aumentado o interesse de vários tipos de indústrias em estudar a viabilidade de aplicação de resíduos na agricultura. Entre os resíduos agroindustriais com potencial de utilização como substrato, destacam-se o bagaçode-cana, a torta de filtro, entre outros. Estes resíduos de cana-de-açúcar encontramse em alta disponibilidade nas regiões de plantio e já foram testados com sucesso na produção de mudas de espécies florestais e frutíferas (Serrano et al., 2006). Mudas de espécies florestais nativas produzidas em viveiro são usadas com objetivos ambientais, tais como recuperação de áreas degradadas e recomposição de áreas de preservação permanente (APP). Atualmente, destaca-se como uma alternativa viável, devido à intensa devastação das florestas nativas, como a Mata Atlântica, onde as espécies de maior valor econômico foram praticamente extintas, em razão da exploração desordenada para fins energéticos, madeireiro e agropecuário (SEAG, 1989). De acordo com Gonçalves & Poggiani (1996), a boa formação de mudas destinadas à implantação de povoamentos florestais para a produção de madeira e de povoamentos mistos para fins de preservação ambiental e, recuperação de áreas degradadas, está relacionada com o nível de eficiência dos substratos. A germinação de sementes, a iniciação do crescimento radicular e da parte aérea estão associados à boa capacidade de aeração, drenagem, retenção e disponibilidade de água apresentada pelos substratos. Essas características são altamente correlacionadas entre si: as duas primeiras estão diretamente relacionadas com a macroporosidade, enquanto retenção de água e os nutrientes estão relacionados com a microporosidade e superfície específica do substrato. A produção de fertilizantes organo-mineral é o resultado de ações planejadas Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 57 no sentido de reaproveitar os resíduos agroindustriais de forma sustentável e ecologicamente correta. Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo geral estudar fertilizantes organomineral granulado com uso de biocatalisador acelerador a fim de ser usado na produção de mudas de espécies florestais, avaliandos seus atributos químicos, mensurando os aspectos fitotécnicos e a concentração de nutrientes nas plantas de espécies florestais. Avaliando a condução em sistema convencional (tubetes de polipropileno) em comparação aos tubetes biodegradáveis. 2 | REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Cultura de Eucalyptus Grandis O Brasil possui características singulares de produção florestal por ser detentor da segunda maior cobertura florestal do mundo, considerando florestas nativas e plantadas, enquanto a Rússia detém o primeiro lugar (FAO, 2015). Esse potencial possibilita a produção de produtos madeireiros e não madeireiros, tanto pelas florestas plantadas, quanto pelas florestas nativas, por meio das concessões florestais – Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei 11.284/2006). Especificamente sobre as florestas plantadas, o Brasil possui 2,5% da área mundial (FAO, 2015), com aproximadamente 7,5 milhões de hectares (IBÁ, 2015). O eucalipto é uma espécie vegetal de porte arbóreo pertencente à família Myrtaceae, gênero Eucalyptus. Tem sua origem na Austrália, Nova Guiné, Indonésia e Timor. As várias espécies vegetais caracterizam-se por apresentar um rápido crescimento, facilidade no processo de propagação e possibilidade de uso múltiplo da madeira produzida, como observado por Simões (1968). Possuem uma boa adaptação às condições climáticas brasileiras. Devido a essas características e vantagens, na década de 1950 o eucalipto passou a ser usado também como matéria-prima para a produção de celulose e papel (Garcia & Pereira, 2010). A partir de 1965, a produção de florestas de eucalipto apresentou considerável aumento, principalmente devido aos incentivos fiscais para reflorestamento concedidos pelo governo brasileiro aos produtores rurais, culminando em um incremento do setor econômico florestal (Valverde, 2007). O eucalipto, originário da Austrália, vem sendo utilizado em programas de reflorestamento. Em diversos países essas plantações visam sua utilização em indústrias de celulose, farmacêutica e de produtos de higiene. As espécies de eucalipto apresentam características adequadas para o uso em escala comercial, como rápido crescimento, alta produção de celulose e resistência às adversidades das condições ambientais e às doenças (Santos, 2001). Segundo Castro (2009), o eucalipto caracteriza-se por apresentar qualidades Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 58 interessantes ao setor florestal, como rápido crescimento, facilidade com programas de manejo e melhoramento, grande diversidade de espécies, o que amplia a faixa de adaptação a diferentes condições edafoclimáticas, além de possuir uma elevada produção de sementes e facilidade em propagação vegetativa. Trata-se de um gênero com potencial de múltiplos usos no meio agroflorestal pelos seus atrativos para a silvicultura. Introduzido no Brasil no ano de 1868, o eucalipto, proveniente da Austrália, era utilizado apenas como planta decorativa e na formação de quebraventos. Com o desenvolvimento dos programas de reflorestamento, o eucalipto, com mais de 600 espécies, passou a ser utilizado comercialmente para a produção de madeira, sendo uma das essências florestais com maior área plantada no País, apresentando altos níveis de melhoramento genético, de produtividade e qualidade da madeira (Souza et al., 2008). Dentre as espécies de eucalipto, a espécie E. grandis é a mais utilizada, ocupando 55% das áreas cultivadas com eucaliptos, seguido das espécies E. saligna, com 17%, E. urophylla, com 9% e E. viminalis, com 2%. (Andrade et al., 2006; SBS, 2008). Segundo a ABRAF (2011), o mercado florestal Brasileiro das últimas décadas pode ser dividido em três grandes fases. A primeira ocorreu entre as décadas de 1960 e 1980, período no qual foi atribuída a formação da base florestal em que entraram em cena os incentivos fiscais e o início dos processos de industrialização, sem, contudo haver uma alta produtividade do setor. A segunda fase ocorrem entre as décadas de 1980 e 2000, período que se observou um incremento do extrativismo com ênfase na sustentabilidade, produtividade, crescimento na área de melhoramento genético, negócios, diversidades de uso, competitividade, preocupação socioambiental e consolidação do processo e industrialização. E, por fim, a terceira fase ocorrem entre as décadas de 2000 a 2010, em que há um aumento no desenvolvimento sustentável, ampliação de novas fronteiras florestais, novos produtos e processos, fortalecimento da biotecnologia e consolidação do Brasil no mercado internacional no setor de florestas plantadas. A elevada utilização do eucalipto nos reflorestamentos ocorre devido a sua diversidade de espécies, adaptabilidade em várias regiões e climas e seu potencial de produção, pois contribui para diminuir a pressão do desmatamento das áreas de preservação e reservas legais de matas nativas e também auxilia na captura de dióxido de carbono na atmosfera, diminuindo o efeito estufa (Garay et al., 2004). A eucaliptocultura, buscando suprir a demanda de madeira, teve grande impulso nos últimos 30 anos, em virtude da vasta rede experimental instalada por órgãos públicos e empresas particulares. A área destinada ao plantio de eucalipto no Brasil apresentou crescimento médio de 6,03% ao ano entre 2006 e 2012, chegando a 5.102.030 ha de área plantada, sendo o estado de Goiás responsável Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 59 por, aproximadamente, 38.081 ha desse total (ABRAF, 2013). 2.2 Cultura da Acacia mangium A Acacia mangium é uma leguminosa pertencente à Família Mimosaceae. O gênero Acacia apresenta um grande número de espécies. Inicialmente a espécie foi descrita como Mangium montanum Rumph e também como Acacia glauscenses sensu Kanehira e Hatusima (Catie, 1992). Elas são divididas principalmente em dois grupos. Um grupo consiste em árvore ou arbustos com espinhos e folhas pequenas. São pertencentes ao outro grupo, as acácias australianas, que são principalmente sem espinhos, e não apresentam folhas quando adultas, o que se vê como folha na verdade é o pecíolo (Chaturvedi, 1998). Segundo Joker (2000), os frutos são do tipo vagem, espiralados ou torcidos, marrons, curtos, deiscentes, com sementes pretas, pequenas, pendentes na vagem por um filamento amarelo, formadas de setembro a novembro. O tempo de floração varia do ambiente natural para as plantações. As sementes são elipsóides e pequenas, em torno de quatro mm de comprimento, contendo, em média, 95.000 sementes kg-1, apresentando tegumento duro e de coloração preta lustrosa (Lima & Garcia, 1996). A Acacia mangium é uma espécie natural da região noroeste da Austrália (Queensland), Papua Nova Guiné e leste da Indonésia (Ilhas Molucas, Sula e Aru) (Lemmens et al., 1995; Tonini & Vieira, 2006). O gênero Acacia possui mais de 1.300 espécies largamente distribuídas nas regiões tropicais e subtropicais do globo (Rossi et al., 2003). Segundo Smiderle et al. (2005), a maior parte das espécies é encontrada no hemisfério sul e o principal centro de diversidade é a Austrália. A maioria das espécies produtoras de madeira é encontrada na Papua Nova Guiné (Lemmens et al., 1995). Em seu ambiente natural ocorrem em agrupamentos puros e densos, sugerindo que podem ser plantadas em monoculturas sem problemas sérios de pragas e doenças (NRC, 1983). Segundo Turnbull (1984), as leguminosas das espécies Acacia mangium e auriculiformis são originárias do nordeste da Austrália e Nova Guiné. As condições climáticas tropicais são quentes e úmidas ou subúmidas, com precipitação média anual de 1.000 mm a 2.000 mm, podendo ser inferior para a espécie A. mangium. Os indivíduos dessas espécies atingem alturas entre 25 m e 30 m e se desenvolvem bem em solos oxídicos argilosos, de baixa fertilidade e ácidos, podendo a espécie A. mangium tolerar inclusive solos com impedimento de drenagem sazonal. Uma característica notável é a habilidade de A. mangium para crescer em solos com pH baixo, como 4,2. Esta característica se torna importante, pois essas tais terras ácidas são difundidas nas regiões trópicais e esse é um atributo que distingue essa acácia de outras leguminosas, como a leucena que requer um pH acima de Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 60 5,5 (NRC, 1983). De acordo com Turnbull (1984), a A. mangium é tolerante a solos ácidos e de baixa fertilidade, também tolera áreas dominadas pelas gramíneas do gênero Imperata, sendo utilizada para controle desta (Chatuverdi, 1998). De acordo com Chaturvedi (1998), essa espécie sobrevive em terrenos rochosos, erodidos, em terras rasas, infecundas e ácidas. Assim, a espécie destacase em programas de recuperação de áreas degradadas e representa uma opção silvicultural para o Brasil (Balieiro et al., 2004). O interesse também, parte por ela apresentar significativa capacidade de adaptação às condições edafoclimáticas brasileiras (Andrade et al., 2000). O crescimento de A. mangium é afetado basicamente por fatores químicos do solo (Catie, 1992), e por causa de sua folhagem densa e raízes superficiais, a espécie é suscetível ao vento (Mackey,1996). Seu tronco ereto possui coloração cinza-parda, com casca pouco saliente e levemente sulcado longitudinalmente. Quanto à ramificação, apresenta-se fina, horizontal, espaçada, formando copa ovalada com folhagem densa. A madeira de A. mangium é considerada dura, de cerne marrom-claro e alburno creme-claro, podendo ser facilmente serrada, aplainada e polida (Lelles et al., 1996). O peso específico de A. mangium aumenta em relação ao aumento da idade (Wahyudi et al., 1999). O aproveitamento da madeira é direcionado, principalmente, para polpa de celulose. Porém, a espécie possui aptidão para produção de moirões e uso na construção civil, (Balieiro et al., 2004), além de possibilitar a produção de carvão e outros produtos como MDF, aglomerados e compensados (Schiavo & Martins, 2003). Em plantios silviculturais existem estudos que podem levar ao aproveitamento de sua madeira para movelaria de baixo custo (Barbosa, 2002). As folhas da acácia podem ser usadas como forragem na alimentação de animais (Lelles et al.,1996). A espécie apresenta também grande potencial de uso em programas de reflorestamento e recuperação de áreas com solos pobres ou degradados, tais como as áreas de encostas e de mineração (Schiavo & Martins, 2003). Também pode ser utilizada como quebra-ventos e sombreamento (Balieiro et al., 2004). Entre as leguminosas arbóreas, Acacia mangium Willd destaca-se pela rusticidade e adaptabilidade às condições adversas de solo e clima, pelo rápido crescimento, elevada produção de biomassa e capacidade de formar simbioses com microrganismos do solo (Colonna et al., 1991). As sementes de acácia apresentam dormência tegumentar que representa uma dificuldade na produção de mudas em programas de reflorestamento. Devido à dormência causada pelo tegumento impermeável à água, considerável número de sementes de acácia pode permanecer sem germinar durante os testes de germinação ou em sementeiras destinadas à formação de mudas (Smiderle et al., 2005). Esses Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 61 autores indicam para superação de dormência da semente, considerando o menor tempo de resposta para a germinação, o uso de água a 100 °C por um minuto, pela facilidade de padronização operacional, sendo desnecessário manter as sementes imersas por período adicional de 12 horas em água a temperatura ambiente (27ºC). As sementes começam a germinar em dois a três dias após a semeadura e completam o processo em dez dias (Azevedo et al., 1998). Para Lima & Garcia (1996), o método de imersão das sementes em água a temperatura de 80 ºC, mostrou-se eficiente na superação da dormência de A. mangium. 2.3 Cultura de Khaya ivorensis Entre as espécies exploradas em larga escala pelo setor madeireiro, e sob ameaça de extinção, encontra-se o mogno (S. macrophylla), conhecida também como aguana, araputango, cedro, mogno-brasileiro (Lorenzi, 1998; Sudam, 1979). A área de ocorrência natural do mogno se estende desde o México, passando pela costa atlântica da América Central, até um amplo arco do sul da Amazônia venezuelana, equatoriana, colombiana, peruana, boliviana e brasileira (Veríssimo & Grogam, 1998). Sua madeira pode ser utilizada para construções de mobiliário maciço e de luxo, folheado, rodapé, contraplacado e molduras, construção naval, painéis, pisos, marcenaria de interior e exterior, revestimento exterior, embarcações leves e artesanato. Árvore de porte alto, o mogno pode alcançar mais de 50 m de altura e seu tronco pode atingir até 3 m de diâmetro (Lorenzi, 1998). O mogno brasileiro é uma das espécies de maior valor madeireiro do mundo. Em 2001, um metro cúbico de mogno serrado de qualidade superior era vendido por cerca de US$ 1,200 (preço FOB - Free on board). Por causa dessa importância, o mogno tem sido intensamente extraído nas últimas décadas em sua área de ocorrência natural na América tropical, desde o México até o Brasil (Lugo, 1999; Snook, 1996; Veríssimo et al., 1995; Rodan et al., 1992). Entre 1971 e 2001, o Brasil exportou aproximadamente quatro milhões de metros cúbicos de mogno (S. macrophylla) serrado, sendo que cerca de 75% desse total de madeira foi exportada para os Estados Unidos e Inglaterra. A exploração total é estimada em 5,7 milhões de metros cúbicos serrados, e cerca de 1,7 milhão de metros cúbicos foi consumido no mercado nacional nesse período. O valor bruto estimado dessa produção, considerando um preço médio histórico de US$ 700.00 o metro cúbico, seria cerca de US$ 3.9 bilhões (5,7 milhões de m 3 x US$ 700.00 o m 3 ) (Perez & Bacha, 2007). Segundo Lemmens (2008), a espécie Khaya ivorensis (A. Chev) teve sua origem e distribuição a partir da Costa do Marfim e de Camarões, leste e sul de Cabinda (Angola) e, possivelmente, também ocorre na Guiné, Libéria, República Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 62 Centro Africano e Congo. É uma espécie amplamente cultivada nas plantações dentro da sua área natural de distribuição, mas também na Ásia e América tropical. Ocorre desde 0 a 450 m de altitude, normalmente em vales úmidos, suportando inclusive inundações durante o período das chuvas. Entretanto, é muito sensível ao período de estiagem (Grogan et al., 2002,). Segundo Falesi & Baena (1999), o mogno africano (K. ivorensis) tem sido uma das espécies preferidas pelos reflorestadores no estado do Pará. É uma árvore de grande importância para a região amazônica, devido ao seu alto valor no comércio internacional e crescimento relativamente rápido, promovendo a recuperação de áreas alteradas, além de oferecer resistência a algumas pragas, como a broca do ponteiro (H. grandella) (Verzignassi et al., 2009; Lemmens, 2008). As espécies arbóreas exóticas mais requisitadas pelos pequenos produtores e empresários que desejam aumentar seus plantios florestais, de acordo com Sabogal (2006), são a teca (Tectona grandis L.) e o mogno-africano (K. ivorensis). Esse último por ser a madeira altamente valorizada para móveis, armários, caixas decorativas e folhas de madeira, e também é comumente usado para caixilhos de janelas, painéis, portas e escadas. É adequado para a construção leve, piso luz, construção naval, carrocerias, cabos, escadas, artigos esportivos, instrumentos musicais, brinquedos, equipamentos de precisão, tornearia escultura, e para fabricação de violões, por ser considerada de boas características acústicas. Tradicionalmente, a madeira é utilizada para canoas. Sua madeira também é utilizada como lenha e para a produção de carvão vegetal. A casca, de sabor amargo, é amplamente utilizada na medicina tradicional. A decocção da casca é usada para tratar tosse, febre e anemia, sendo aplicada externamente para o tratamento de feridas, úlceras e tumores, e como um paliativo para tratar dores reumáticas e lombalgia. Brotos e folhas jovens são aplicadas externamente como um anódino. As sementes são utilizadas na produção de sabão. Na Nigéria, as árvores de K. ivorensis são localmente mantidas em plantações de cacau para servir como árvores de sombra (Lemmens, 2008). Segundo Lemmens (2008), uma árvore de floresta natural, com um diâmetro de tronco de 80 cm, produz, em média, 6,6 m³ de madeira, e uma árvore de 160 cm de diâmetro produz cerca de 17,9 m³. Em plantações com idade de 30 anos, na África Tropical, a produção anual de madeira é de 2 a 4 m³.ha-1. Em solos de boa qualidade, na Costa do Marfim, um estande de 31 anos de idade, com 70 árvores por hectare (com média de 37 a 40 m de altura e 57 cm de diâmetro) produziu 8 m³.ha-1 .ano-1. 2.4 Produção de mudas de espécies florestais A demanda cada vez maior por mudas de espécies florestais a um menor Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 63 custo fez com que a qualidade das mudas fosse relegada a segundo plano (Gomes et al., 1991). Mudas de espécies florestais nativas produzidas em viveiro são usadas com objetivos ambientais, tais como recuperação de áreas degradadas e reflorestamento de matas ciliares. Atualmente, destaca-se como uma alternativa viável, devido à intensa devastação das florestas nativas, como a Mata Atlântica, onde as espécies de maior valor econômico foram praticamente extintas, em razão da exploração desordenada para fins energéticos, madeireiro e agropecuário (SEAG, 1989). De acordo com Gonçalves & Poggiani (1996), a boa formação de mudas destinadas à implantação de povoamentos florestais para a produção de madeira e de povoamentos mistos para fins de preservação ambiental e, recuperação de áreas degradadas, está relacionada com o nível de eficiência dos substratos. A germinação de sementes, a iniciação do crescimento radicular e da parte aérea estão associados à boa capacidade de aeração, drenagem, retenção e disponibilidade de água apresentada pelos substratos. Essas características são altamente correlacionadas entre si: as duas primeiras estão diretamente relacionadas com a macroporosidade, enquanto retenção de água e os nutrientes estão relacionados com a microporosidade e superfície específica do substrato. Diversos materiais de origem vegetal e animal têm sido utilizados no preparo de compostos orgânicos para produção de mudas. A escolha do substrato, quando da sua formulação, deve ser feita em função da disponibilidade de materiais, suas características físicas e químicas, seu peso e custo (Toledo, 1992). É necessário, portanto, testar substratos de fácil aquisição, alternativos à vermiculita, por ser essa de elevado custo (Gomes et al., 1991). A utilização de um substrato que promova um rápido crescimento inicial das mudas é fundamental para melhorar a tecnologia de produção na fase de viveiro, com uma expectativa de atender a demanda de mudas para um mercado em franca expansão (Morais et al., 1996). Com o intuito de obter melhor produtividade dos plantios, têm-se procurado definir os melhores recipientes, substratos, dosagens e tipos de fertilizantes para produção de mudas de melhor qualidade (Carneiro, 1995). Os tubetes de plásticos convencional apresentam várias vantagens, como por exemplo, simplificam as operações, agilizam o processo de produção e possuem baixos custos pelo reaproveitamento dos tubetes. Mas, em contrapartida, necessitam de um sistema adequado para o seu armazenamento, de uma limpeza rigorosa para não contaminar a muda e causar uma má qualidade nas árvores quando no campo. A reutilização do tubetes também causam rebarbas na parte inferior do mesmo, causando problemas de enovelamento das raízes da parte basal das mudas. E, de acordo com Iatauro (2004), há uma “taxa de redução negativa” na produtividade Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 64 das mudas quando em campo, pelo um estresse das mudas durante sua remoção e acondicionamento no solo. Segundo Iatauro (2001), os tubetes elaborados com material biodegradável apresentam diversos pontos favoráveis. Como por exemplos, é possível diferenciar o recipiente pela possibilidade de incorporação de adubo na formulação, também a introdução de fungicidas e inseticidas que causam perdas em viveiros. Walker et. al., (2011) afirmam que os recipientes de papel apresentam uma boa durabilidade quando bem produzidos, também apresentam uma boa permeabilidade da raiz, não necessita retirar as mudas dos tubetes, porém apresentam um custo mais elevado quando comparado com o custo do tubete de plástico rígido. 2.5 Potencial e uso florestal de espécies florestais 2.5.1 Eucalipto A partir de 1965, a produção de florestas de eucalipto apresentou considerável aumento, principalmente devido aos incentivos fiscais para reflorestamento concedidos pelo governo brasileiro aos produtores rurais, culminando em um incremento do setor econômico florestal (Valverde, 2007). Segundo Castro (2009), o eucalipto caracteriza-se por apresentar qualidades interessantes ao setor florestal, como rápido crescimento, facilidade em programas de manejo e melhoramento, grande diversidade de espécies - o que amplia a faixa de adaptação a diferentes condições edafoclimáticas, além de possuir uma elevada produção de sementes e facilidade em propagação vegetativa. Trata-se de um gênero com potencial de múltiplos usos no meio agroflorestal pelos seus atrativos para a silvicultura. Introduzido no Brasil no ano de 1868, o eucalipto, proveniente da Austrália, era utilizado apenas como planta decorativa e na formação de quebraventos. Com o desenvolvimento dos programas de reflorestamento, o eucalipto, com mais de 600 espécies, passou a ser utilizado comercialmente para a produção de madeira, sendo atualmente a essência florestal com maior área plantada no País, apresentando altos níveis de melhoramento genético, de produtividade e qualidade da madeira (Souza et al., 2008). Dentre as espécies de eucalipto, a espécie E. grandis é a mais utilizada, ocupando 55% das áreas cultivadas com eucaliptos, seguido das espécies E. saligna, com 17%, E. urophylla, com 9% e E. viminalis, com 2%. (Andrade et al., 2006; SBS, 2008). 2.5.2 Acácia De acordo com Chaturvedi (1998), essa espécie sobrevive em terrenos Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 65 rochosos, erodidos, em terras rasas, infecundas e ácidas. Assim, a espécie destacase em programas de recuperação de áreas degradadas (RAD) e representa uma opção silvicultural para o Brasil (Balieiro et al., 2004). O aproveitamento da madeira é direcionado, principalmente, para polpa de celulose. Porém, a espécie possui aptidão para produção de moirões, construção civil, (Balieiro et al., 2004) além de possibilitar a produção de carvão e outros produtos como MDF, aglomerados e compensados (Schiavo & Martins, 2003). Em plantios silviculturais existem estudos que podem levar ao aproveitamento de movelaria de baixo custo (Barbosa, 2002). As folhas da acácia podem ser usadas como forragem na alimentação de animais (Lelles et al.,1996). Apresenta também grande potencial de uso em programas de reflorestamento e recuperação de áreas com solos pobres ou degradados, como as áreas de encostas e de mineração (Schiavo & Martins, 2003). A espécie também pode ser utilizada como quebra-ventos (Balieiro et al., 2004) e para sombreamento. Entre as leguminosas arbóreas, Acacia mangium destaca-se pela rusticidade e adaptabilidade às condições adversas de solo e clima, pelo rápido crescimento, elevada produção de biomassa e capacidade de formar simbioses com microrganismos do solo (Colonna et al., 1991). As plantas leguminosas, em razão da grande diversidade de espécies, versatilidade de usos potenciais e de seu papel na dinâmica dos ecossistemas, especialmente quanto ao suprimento e ciclagem de nitrogênio (N), têm sido indicadas para a recuperação de áreas degradadas (Franco et al., 1994; Kondo & Resende, 2001). As sementes de acácia apresentam dormência tegumentar que representa uma dificuldade na produção de mudas em programas de reflorestamento (Smiderle et al., 2005). 2.5.3 Mogno Entre as espécies exploradas em larga escala pelo setor madeireiro, e sob ameaça de extinção, encontra-se o mogno (S. macrophylla), conhecida também como aguana, araputango, cedro, mogno-brasileiro (Lorenzi, 1998; Sudam, 1979). A área de ocorrência natural do mogno se estende desde o México, passando pela costa atlântica da América Central, até um amplo arco do sul da Amazônia venezuelana, equatoriana, colombiana, peruana, boliviana e brasileira (Veríssimo & Grogam, 1998). Sua madeira pode ser utilizada para construções de mobiliário maciço e de luxo, folheado, rodapé, contraplacado e molduras, construção naval, painéis, pisos, marcenaria de interior e exterior, revestimento exterior, embarcações leves e artesanato. Árvore de porte alto, o mogno pode alcançar mais de 50 m de Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 66 altura e seu tronco pode atingir até 3 m de diâmetro (Lorenzi, 1998). O mogno brasileiro é uma das espécies de maior valor madeireiro do mundo. Em 2001, um metro cúbico de mogno serrado de qualidade superior era vendido por cerca de US$ 1,200 (preço FOB - Free on board). Por causa dessa importância, o mogno tem sido intensamente extraído nas últimas décadas em sua área de ocorrência natural na América tropical, desde o México até o Brasil (Lugo, 1999; Snook, 1996; Veríssimo et al., 1995; Rodan et al., 1992). Entre 1971 e 2001, o Brasil exportou aproximadamente quatro milhões de metros cúbicos de mogno (S. macrophylla) serrado, sendo que cerca de 75% desse total de madeira foi exportada para os Estados Unidos e Inglaterra. A exploração total é estimada em 5,7 milhões de metros cúbicos serrados, e cerca de 1,7 milhão de metros cúbicos foi consumido no mercado nacional nesse período. O valor bruto estimado dessa produção, considerando um preço médio histórico de US$ 700.00 o metro cúbico, seria cerca de US$ 3.9 bilhões (5,7 milhões de m 3 x US$ 700.00 o m 3) (Perez & Bacha, 2007). As espécies arbóreas exóticas mais requisitadas pelos pequenos produtores e empresários que desejam aumentar seus plantios florestais, de acordo com Sabogal (2006), são a teca (Tectona grandis L.) e o mogno-africano (K. ivorensis). Esse último por ser a madeira altamente valorizada para móveis, armários, caixas decorativas e folhas de madeira, e também é comumente usado para caixilhos de janelas, painéis, portas e escadas. É adequado para a construção leve, piso luz, construção naval, carrocerias, cabos, escadas, artigos esportivos, instrumentos musicais, brinquedos, equipamentos de precisão, tornearia escultura, e para fabricação de violões, por ser considerada de boas características acústicas. Tradicionalmente, a madeira é utilizada para canoas. Sua madeira também é utilizada como lenha e para a produção de carvão vegetal. A casca, de sabor amargo, é amplamente utilizada na medicina tradicional. A decocção da casca é usada para tratar tosse, febre e anemia, sendo aplicada externamente para o tratamento de feridas, úlceras e tumores, e como um paliativo para tratar dores reumáticas e lombalgia. Brotos e folhas jovens são aplicadas externamente como um anódino. As sementes são utilizadas na produção de sabão. Na Nigéria, as árvores de K. ivorensis são localmente mantidas em plantações de cacau para servir como árvores de sombra (Lemmens, 2008). 2.6 Qualidade de mudas de espécies florestais Os critérios na seleção das mudas para o plantio são baseados em parâmetros que, na maioria das vezes, não determinam as reais qualidades, uma vez que o padrão de qualidade varia de acordo com a espécie, e para uma mesma espécie, entre diferentes sítios ecológicos (Carneiro, 1995), além do tipo de transporte para o campo, da distribuição e do plantio. Existem várias razões para a utilização de Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 67 testes para definir o padrão de qualidade de mudas, agregando a elas alguns valores (Munson, 1986) que, de acordo com os critérios adotados, são muitas vezes exigidos pelo mercado. Na determinação da qualidade das mudas prontas para o plantio, os parâmetros utilizados baseiam-se ou nos aspectos fenotípicos, denominados de morfológicos, ou nos internos das mudas, denominados de fisiológicos. Tanto a qualidade morfológica quanto a fisiológica das mudas dependem da carga genética e da procedência das sementes, das condições ambientais e dos métodos e das técnicas de produção, das estruturas e dos equipamentos utilizados e, por fim, do tipo de transporte dessas para o campo (Parviainen, 1981). Os parâmetros morfológicos são atributos determinados física ou visualmente, devendo ser ressaltado que algumas pesquisas têm sido realizadas com o intuito de mostrar que os critérios que adotam essas características são importantes para o sucesso do desempenho das mudas após o plantio no campo (Fonseca, 2005). De forma semelhante, Carneiro (1995) descreveu que as mudas com padrão de qualidade são fundamentais para o desempenho do povoamento após o plantio, mencionando parâmetros como altura, diâmetro do colo, peso seco da parte aérea e radicular, peso seco total, Índice de Qualidade de Dickson, entre outros, frisando que as duas características mais importantes para avaliar a qualidade de mudas são altura e diâmetro. Variáveis qualitativas para avaliação da qualidade do torrão, também vem sendo utilizada, como a facilidade de retirada do tubete e agregação das raízes ao substrato, principalmente quando a causa de variação é o substrato (Wendling et al., 2007). 2.6.1 Altura da parte aérea e diâmetro do colo A altura da parte aérea combinada com o diâmetro do coleto constitui um dos mais importantes parâmetros morfológicos para estimar o crescimento das mudas após o plantio definitivo no campo (Carneiro, 1995). É sabido que a altura da parte aérea é de fácil medição e, portanto, sempre foi utilizada com eficiência para estimar o padrão de qualidade de mudas nos viveiros (Carneiro, 1995; Gomes, 2001 e Caldeira et al., 2008), sendo considerada, também, como um dos mais importantes parâmetros para estimar o crescimento no campo (Mexal & Lands, 1990 e Reis et al., 1991), além do que sua medição não acarreta a destruição das mudas, sendo tecnicamente aceita como uma boa medida do potencial de desempenho das mudas (Mexal & Lands, 1990). No entanto, o uso da altura das mudas de espécies florestais como único meio de avaliação do padrão de qualidade, pode apresentar deficiências no julgamento Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 68 quando se espera um alto desempenho dessas, principalmente nos primeiros meses após o plantio. Porém, para mudas sem nenhuma restrição ao crescimento normal, a altura ainda é um excelente parâmetro em todo tipo de viveiro (Gomes, 2001). Para Gomes & Paiva (2004) o diâmetro de colo, sozinho ou combinado com a altura é uma das melhores características para avaliar a qualidade da muda, quanto maior o diâmetro, melhor será o equilíbrio do crescimento com a parte aérea, principalmente quando se exige rustificação das mudas. Segundo Gomes & Paiva (2006), as mudas devem apresentar o diâmetro do colo maior para melhor equilíbrio de crescimento da parte aérea, principalmente quando se exige maior rustificação delas. O padrão de qualidade das mudas prontas para o plantio possui alta correlação com o diâmetro do colo e isso pode ser observado nos aumentos das taxas de sobrevivência e crescimento das mudas no campo. Conforme observado por Gomes et al., (2002), a relação altura/diâmetro do colo, apresenta uma boa contribuição para uma avaliação da qualidade de mudas de Eucalyptus grandis (eucalipto), sendo essas características fáceis e viáveis de mensuração, além de não destruir as mudas. 2.6.2 Biomassa seca radicial e aérea A biomassa seca, segundo Gomes & Paiva (2004), deve sempre ser considerada visto que indica a rusticidade de uma muda; quanto maior, mais rustificada será. A biomassa seca tem sido considerada como um parâmetro para caracterizar a qualidade de mudas; muitas vezes este parâmetro não é viável, pois requer a destruição de mudas, além de ser necessário o uso de estufa e balança de precisão, mas, mesmo assim, indica a rusticidade das mudas (Gomes & Paiva, 2006). Este parâmetro é uma boa indicação de capacidade de resistência das plantas (Carneiro, 1995). A quantificação da biomassa radicular, segundo Novaes (1998), sob o ponto de vista fisiológico, é de grande importância, visto estar diretamente relacionada à sobrevivência e ao crescimento inicial em campo, devido à sua função de absorção de água e nutrientes. Ao analisar a contribuição relativa das variáveis mensuradas no viveiro para a avaliação da qualidade de mudas de Eucalyptus grandis aos 120 dias, Gomes et al., (2002) observaram que a biomassa seca total contribui com 43,39 %, seguido da biomassa seca aérea (28,60 %) e biomassa seca radicial (11,78 %). 2.6.3 Determinação da agregação da raiz ao substrato A facilidade de retirada do tubete (FRT) e a agregação das raízes ao Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 69 substrato (AGR) são técnicas para avaliar a qualidade da muda no momento da expedição e manuseamento da mesma. A FRT e a AGR são fatores importantes considerados na escolha do tipo de substrato a ser adotado em escala comercial na produção de mudas, visto que determina a rapidez de sua preparação antes do plantio ou venda, além de que, em substratos difíceis de serem retirados da embalagem, ocorre a desintegração do torrão. Quanto mais agregado o substrato está ao sistema radicial, mais fácil se tornam todas as etapas posteriores, além do fato que um sistema radicial bem agregado ao substrato resulta em pegamento maior e crescimento mais rápido no plantio (Wendling et al., 2007). Segundo Sturion et al. (2000), a FRT e AGR são técnicas que para além de propiciar boas condições para o adequado crescimento das mudas, o substrato deve apresentar uma estrutura que não dificulte sua retirada no momento do plantio das mudas e que o torrão não se destrua. A facilidade de retirada do tubete, segundo Wendling et al. (2007), é de grande importância no momento da expedição das mudas, visto que determina a rapidez de preparação das mudas e além do que, em substratos difíceis de serem retirados, pode ocasionar a desintegração do torrão. Segundo Trigueiro & Guerrini (2003) deve-se, porém, ficar atento ao fato que mudas com baixo enraizamento podem apresentar grande facilidade de retirada do tubete, mesmo não apresentando boa qualidade radicial. O substrato para produzir mudas em tubetes deve ser agregado o suficiente para que o torrão em volta da muda não se rompa quando a embalagem for retirada para plantio ou transporte, ocasionando exposição das raízes ao ressecamento e dificultando a pega e a sobrevivência das mudas. No entanto, se o substrato for muito coeso haverá dificuldade em sua retirada da embalagem, podendo romper as raízes ou provocar danos no crescimento radicial das mudas (Wendling & Delgado, 2008). 2.7 Métodos para superação da dormência Espécies que produzem sementes dormentes representam problema para os viveiristas, pois, o tegumento impermeável restringe a entrada de água e oxigênio, característica que promove resistência física ao crescimento do embrião e, consequentemente, retarda a germinação (Moussa et al., 1998). Os mesmos autores afirmam que a dormência é prejudicial à produção de mudas em virtude do longo tempo para que ocorra a germinação, e favorece, também, o ataque de fungos e acarreta grandes perdas. As sementes de acácia apresentam dormência tegumentar que representa uma dificuldade na produção de mudas em programas de reflorestamento. Devido à dormência causada pelo tegumento impermeável à água, considerável número Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 70 de sementes de acácia pode permanecer sem germinar durante os testes de germinação ou em sementeiras destinadas à formação de mudas (Smiderle et al., 2005). Para a superação de dormência da semente, de A. mangium considerando o menor tempo de resposta para a germinação, indica-se o uso de água a 100 °C por um minuto, por facilidade de padronização operacional, sendo desnecessário manter as sementes imersas por período adicional de 12 horas em água a temperatura ambiente (27 ºC). As sementes começam a germinar em dois a três dias após a semeadura e completam o processo em dez dias (Azevedo et al., 1998). Lima & Garcia (1996) observaram que o método de imersão das sementes em água a temperatura de 80 ºC, mostrou-se eficiente na superação de dormência de A. mangium. 2.8 Composição de substrato O substrato pode ser constituído por material de origem mineral ou orgânica, de apenas um ou diversos produtos em misturas. Turfa e produtos de compostagem vegetal são exemplos de material tradicional, já consagrados pelo uso há quase um século. Fibra de coco semidecomposta, espumas fenólicas e lã de rocha fazem parte da diversificação de produtos usados mais recentemente (Kampf, 2000). Os substratos são utilizados no mundo todo para o cultivo de plantas, principalmente no cultivo de flores e mudas de hortaliças, citros, espécies florestais, e fumo, estando em franco desenvolvimento nas várias regiões do Brasil. As indústrias produtoras de substratos utilizam materiais das mais diversas fontes, existindo, portanto, uma grande diversidade de formulações com substratos ou seus componentes, fornecendo diferentes características físicas e químicas que irão influenciar na disponibilidade dos nutrientes, no manejo e monitoramento. Substrato é o meio de desenvolvimento do sistema radicular, servindo de suporte e podendo ser fonte de nutrientes. Pode ser formado por um único material ou pela mistura de dois ou mais materiais como: fibra de coco, casca de pínus ou casca de arroz carbonizada (Takane et al., 2010) O tipo de mistura, bem como a proporção de componentes de diferentes grupos, deve ser preparado objetivando o ajuste das propriedades físicas, uma vez que as químicas, em geral, podem ser facilmente modificadas com práticas de adubação e manejo de irrigação (Wendling et al., 2002). Vários são os materiais que podem ser usados na composição do substrato para produção de mudas de espécies florestais, como casca de arroz carbonizada, serragem, turfa, vermiculita, composto orgânico, esterco bovino, moinha de carvão, material de subsolo, bagaço de cana, acícula de pinus, areia lavada e diversas misturas desses materiais (Costa et al., 2005). Entretanto, Guerrini & Trigueiro Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 71 (2004) afirmaram que se justifica o uso de, no máximo, três componentes em uma mistura de substratos para propagação de mudas florestais. Essa afirmação é reforçada pelos maiores custos e, consequentemente, menor viabilidade econômica de um substrato com diversos componentes. Para Fermino (1996), a elaboração de substratos como um mercado potencial utilizando resíduos da agroindústria, já que podem fornecer matérias-primas para a composição desses substratos. A vemiculita é um dos principais componentes entre as misturas do substrato. Quimicamente, é um silicato hidratado de alumínio, magnésio e ferro (Silva, 2006), podendo ser encontrado no mercado em diferentes tipos granulométricos (extrafina, fina, média e grossa). A inclusão da vermiculita expandida na composição dos substratos aumenta sua capacidade de retenção de água, pois esse mineral absorve até cinco vezes o seu volume em água. Além disso, contém também potássio e magnésio disponíveis e possui elevada capacidade de troca catiônica (Filgueira, 2003). A vermiculita é um mineral praticamente inerte, de estrutura variável, muito leve, constituído de lâminas ou camadas justapostas, com grande aeração, alta capacidade de troca catiônica e retenção de água. Pode ser usada pura ou em misturas para promover maior aeração e porosidade a outros substratos menos porosos. Outra aplicação que tem sido recomendada é na parte superior do tubete, onde funciona como isolante térmico, diminuindo também a perda de água através da evaporação (Wendling & Gatto, 2002). Segundo Genro (2004), a vermiculta pode reter 350 litros de água por metro cúbico, e pode conter 8% de K assimilável e 12% de Mg assimilável, sendo o seu pH próximo de neutro de 7 a 7,2. A fibra de coco se origina de desfibramento industrial das cascas de coco, o qual gera um material leve e homogêneo, intercalado por fibrilas, de altíssima porosidade total (94 - 96%) e elevada capacidade de aeração (20-30%). Essa elevada porosidade total permite que a fibra de coco alie uma ótima aeração a uma boa capacidade de retenção de água, cerca de três a quatro vezes o seu peso. Apresenta, ainda, alta estabilidade física, pois se decompõe muito lentamente, e alta característica de molhabilidade, isto é, não repele a água entre uma irrigação e outra, o que traz grandes vantagens no manejo da irrigação para o produtor (Almeida, 2005). Segundo Wendling & Gatto (2002) a fibra de coco apresenta uma tendência de fixar cálcio e magnésio e liberar potássio no meio e o seu pH é ligeiramente ácido - 6,3-6,5. O resíduo da casca de coco maduro vem sendo indicado como substrato agrícola, principalmente, por apresentar uma estrutura física vantajosa, proporcionando alta porosidade e alto potencial de retenção de umidade, e por ser Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 72 biodegradável. É um meio de cultivo 100% natural, indicado para germinação de sementes, propagação de plantas em viveiros e no cultivo de flores e hortaliças. Em mistura com outros materiais ou pura, a fibra de coco tem uma demanda por nitrogênio, que pode ser compensada pelo viveirista, via fertirrigação, e uso de adubos de liberação lenta ou controlada. Quando é adequadamente processada, a fibra de coco é pasteurizada, o que representa uma enorme vantagem para a produção de mudas, por não se tratar de um material fossilizado (como as turfas) nem compostado (como as cascas de pinus) (Malvestiti, 2003). É preciso considerar que a fibra de coco, assim como a vermiculita, é quase inerte, porém, em misturas equilibradas ajuda a formar um substrato coeso e ao mesmo tempo naturalmente poroso, muito propício ao crescimento do sistema radicial (Taveira, 2008). Por meio da comparação da fibra de coco com outros tipos de substratos, Carrijo et al. (2004), mostraram leve superioridade da fibra de coco na produção comercial de tomate, produzindo aproximadamente uma tonelada a mais de frutos comerciais que o pó de serra ou serragem em três anos de avaliação. A utilização de composto orgânico de casca de Pinus spp., como meio de crescimento das mudas, permite obter um resíduo orgânico resultante da colheita florestal, evitando outros destinos possíveis desse material, como a queima em caldeiras ou simplesmente como lixo. Essa utilização contribui, também, com a devolução de nutrientes ao solo, ao realizar-se o plantio, assim como uma diminuição na remoção de solo para produzir mudas (Pezzuti et al., 1999). Segundo Hoppe et al. (2004), a casca de pinus é um material que quando no estado cru, provoca problemas de deficiência de nitrogênio e de fitoxicidade. Por isso, precisa passar pela compostagem. Sua densidade aparente é de 0,1 a 0,45 g.cm-3, a porosidade total é superior a 80%-85%, a capacidade de retenção de água é baixa a média, sendo sua capacidade de aeração muito elevada e o pH varia de medianamente ácido a neutro. A casca de arroz carbonizada é resultante da combustão incompleta da casca de arroz sob alta temperatura e condições de baixo oxigênio. É um produto extremamente leve, estéril, de fácil manuseio, alta porosidade, boa aeração e baixa capacidade de retenção de água (Wedling & Gatto, 2002). Segundo Gonçalves & Poggiani (1996), a casca de arroz apresenta as seguintes características: drenagem rápida e eficiente, exigindo constantes regas quando usada pura; baixa capacidade de retenção de umidade; boa homogeneidade no tamanho das partículas; baixa densidade; material biologicamente estéril e baixo custo. Esse material tem sido utilizado como substrato, pois é estável física e quimicamente, sendo assim, mais resistente à decomposição. Isso também confere Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 73 a vantagem de o substrato ser utilizado no segundo ano de produção (Melo et al., 2006). Segundo Souza (1993), a casca de arroz carbonizada é considerada um bom substrato para germinação de sementes e enraizamento de estacas por apresentar as seguintes características: permite a troca de ar na base das raízes, é suficientemente firme e densa para fixar a semente ou estaca, é leve e porosa permitindo boa aeração e drenagem, tem volume constante seja seca ou úmida, é livre de plantas daninhas, nematóides e patógenos, não necessita de tratamento químico para esterilização, em razão de ter sido esterilizada com a carbonização. Ao avaliar as alterações das propriedades físico-hídricas de substratos comerciais, misturados com a casca de arroz carbonizada em diferentes proporções, Klein et al. (2002), observaram que esta pode ser utilizada para melhorar as propriedades físico-hídricas de substratos, propiciando melhor porosidade. 2.9 Resíduos agroindustriais para produção de subtratos A geração de resíduos e subprodutos é inerente a qualquer setor produtivo. (Embrapa, 2008), entretanto esses resíduos e subprodutos não podem ser considerados como lixo, pois possuem valor econômico agregado por possibilitarem reaproveitamento no próprio processo produtivo (Pelizer et al., 2007). A crescente pressão ambientalista leva as indústrias a buscarem alternativas para o destino dos resíduos gerados pelos processos industriais. Os custos de construção e manutenção de aterros industriais e os riscos ambientais que estes podem representar têm aumentado o interesse de vários tipos de indústrias em estudar a viabilidade de aplicação de resíduos na agricultura (Amaral et al., 1996). Entre os resíduos agroindustriais com potencial de utilização como substrato, destacam-se o bagaço-de-cana e a torta de filtro. Estes resíduos encontram-se em alta disponibilidade nas regiões de cultivo de cana-de-açúcar e já foram testados com sucesso na produção de mudas de espécies florestais e frutíferas (Leles et al., 2000, Chaves et al., 2004; Serrano et al., 2006). Resíduos de agroindústrias são recursos orgânicos em potencial para obtenção de compostagem e, consequentemente, adubação devido à sua riqueza em nutrientes, melhorando as propriedades físicas, físico-químicas e biológicas do solo, refletindo em aumento da produtividade das culturas (Sharma et al., 1997). De acordo com Brito (2006), a partir da década de 1990 até os dias atuais, o processo de utilização de resíduos orgânicos para geração de fertilizantes tem despertado um novo interesse, principalmente pela falta de locais para destinação correta desses resíduos e devido às pressões exercidas para utilização de métodos com menor impacto ambiental, visando o atendimento aos princípios do desenvolvimento sustentável. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 74 No tocante aos resíduos, os principais fatores que afetam sua aplicação ao solo são: a composição química, características físicas, aspectos sanitários, quantidade gerada e o regime de liberação. Em relação ao solo, deve-se considerar, prioritariamente, todas aquelas características responsáveis pela capacidade do solo em desativar e estabilizar os resíduos, através de mecanismos físicos, químicos e biológicos. Entre essas podese citar: textura, estrutura, permeabilidade, pH e a capacidade de troca catiônica. O composto orgânico de resíduos apresenta boa capacidade com relação às melhorias das características físicas, químicas e biológicas do solo, causando efeitos positivos no crescimento e desenvolvimento de plantas. O êxito no estabelecimento de uma cultura depende de vários fatores, entre os quais se podem destacar a qualidade das sementes e a escolha e manejo correto do substrato (Backes & Kampf, 1991). Para serem utilizados como substrato, os compostos devem possuir boas propriedades físicas, como alta capacidade de reter a umidade e drenar o excesso de água (Corti & Crippa, 1998). Devem, também, promover de forma adequada o fornecimento de oxigênio e a eliminação do CO2 (Wrap, 2004). De acordo com Kiehl (1998), a qualidade do composto pode ser analisada de acordo com as diferentes referências: a qualidade vista pelo produtor, a exigida pela legislação e a vista pelo agricultor. Porém, em todas essas esferas, há, sem exceção, a preocupação comum no que diz respeito à umidade, à concentração de NPK e matéria orgânica e ao conteúdo de inertes (Kiehl, 2004). A utilização de resíduos da agroindústria, disponíveis regionalmente, como componente para substratos pode propiciar a redução de custos, assim como auxiliar na redução da poluição decorrente do acúmulo desses materiais no meio ambiente (Fermino, 1996). Segundo Wendling et al., (2002), não se conhece nenhum substrato de uso universal, pois cada espécie ou grupo de espécies vegetais apresenta características fisiológicas próprias, ou seja, existem espécies que tem preferencias por uma determinada faixa de pH, salinidade ou outro fator limitante ao seu crescimento. Substratos produtivos devem ser férteis, porém um substrato fértil pode não ser necessariamente produtivo, pois há que se considerar outras características (Wendling et al., 2002). Segundo Gonçalves et al. (2000), os substratos adequados para a propagação de mudas através de semente ou estaca podem ser obtidos a partir da mistura de 70 a 80 % de um componente orgânico (esterco bovino, casca de eucalipto ou pinus, bagaço de cana, composto orgânico de lixo urbano, húmus de minhoca e outros resíduos), com 20 a 30 % de um componente usado para elevar a macroporosidade (casca de arroz carbonizada, cinza de caldeira de biomassa, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 75 bagaço de cana carbonizado). Utilizando biossólido proveniente de uma estação de tratamento de esgoto, casca de arroz carbonizada e um substrato comercial, Trigueiro & Guerrini (2003), constatou que doses iguais ou superiores a 70% de biossólidos foram prejudiciais ao desenvolvimento das mudas de Eucalyptus grandis; a dose contendo 50% de biossólido mais 50% de casca de arroz carbonizada apresentou os melhores resultados, semelhante ao substrato comercial concluindo que o uso deste biossólido é viável, do ponto de vista econômico/ambiental. 52 misturas, constituídas por vermiculita, moinha de carvão vegetal, composto orgânico (esterco bovino - 40% e capim gordura - 60%), turfa, terra de subsolo e esterco bovino. A espécie estudada foi o Eucalyptus grandis e o parâmetro pesquisado foi a altura da parte aérea. O melhor resultado foi constituído pela mistura de composto orgânico (80%) e moinha de carvão (Gomes et al., 1985) Para Maia (1999), testando alguns dos resíduos gerados no processo de produção de celulose e papel (casca de pinus e lodo proveniente das estações de tratamento de efluentes industriais), para a produção de Pinus, preparou 14 substratos contendo estes Componentes com diferentes proporções de solo, constatou-se a presença do solo no substrato é dispensável e que o lodo, devido provavelmente à sua baixa porosidade, não deve ser utilizado isoladamente, apesar da sua relativa fertilidade. A mistura com casca de pinus melhorou os resultados, pois aumentou a porosidade e a aeração do substrato. 2.10 Fertilizante organomineral O fertilizante organomineral possui características dos fertilizantes, tanto orgânicos quanto minerais. De acordo com Capítulo III da Instrução Normativa nº 25, de 23 de julho de 2009, seção V, art. 8º, § 1º, os organominerais devem apresentar, no mínimo: 8% de carbono orgânico; capacidade de troca catiônica de 80 mmolc kg-1 ; 10% de macronutrientes primários isolados (nitrogênio, fosfóro e potássio) ou em misturas (NP, NK, PK ou NPK); 5% de macronutrientes secundários e umidade máxima de 30%. Essa atualização na legislação foi de grande importância para os produtores, pois assim há uma garantia mínima do produto que será adquirido, auxiliando no planejamento da adubação. O adubo organomineral é viável tanto para os pequenos e médios quanto para os grandes produtores e empresários rurais. Além do benefício financeiro com a redução de gastos, e o benefício físico e biológico do solo, com o maior aporte de nutrientes e matéria orgânica, a adubação organomineral também tem uma vantagem ambiental. Este adubo é produzido a partir de resíduos orgânicos como restos de culturas e subprodutos da indústria (Royo, 2010). São vários os benefícios para o solo com a aplicação de adubos orgânicos, pois Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 7 76 eleva a capacidade de troca de cátions (CTC), o pH, o transporte e disponibilidade de micronutrientes, bem como reduz os teores de manganês, alumínio tóxico e acidez do solo (Rodrigues, 1994; Cardoso & Oliveira, 2002). Apesar de essa interação estar relacionada ao solo, as plantas são beneficiadas diretamente por essas alterações químicas provenientes da adubação orgânica. Com relação às características físicas do solo, a adubação orgânica aumenta a retenção de água durante a seca e a drenagem em períodos chuvosos, reduzindo os riscos de enxurrada e, consequentemente, de erosão (Taiz & Zeiger, 2009). Isso é possível devido ao aumento da porosidade total, à redução da densidade e do grau de compactação do solo e à resistência a erosão hídrica e eólica (Celik et al., 2004; Leroy et al., 2008). Além disso, esse tipo de adubação aumenta a população da microflora e da microfauna, elevando assim a atividade microbiológica (Costa et al., 1986). A adição de adubos orgânicos aumenta a respiração microbiana, sendo esse fator um indicativo da atividade microbiológica do solo. Contudo, vale ressaltar que diferentes compostos orgânicos influenciam de diferentes formas na elevação da microbiota do solo (Severino et al., 2004). A base do adubo é a compostagem de matéria orgânica que é a mistura de sobras da atividade agropecuária como bagaço de cana, palha de café, palha de milho, restos de horta agrícola, serragem e cama de frango. Essa matéria-prima é misturada à fontes minerais e fica pronta para ser aplicada diretamente no solo. Um grande problema enfrentado pelos produtores antes era que essa compostagem precisaria de muito tempo para ficar pronta, cerca de três meses. O uso do acelerador de decomposição proporcionou, em cerca de dez dias, o processo de compostagem. Muito vantajoso, em comparação ao período convencional de três meses de compostagem (Royo, 2010). REFERÊNCIAS ABRAF - Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. Anuário Estatístico da ABRAF. Florestas Plantadas no Brasil. Brasília, 2011. Disponível em <http://www.abraflor.org. br/estatisticas/ABRAF11/ABRAF11-BR.pdf>. Acesso em agosto de 2012. ABRAF - Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. Anuário Estatístico da ABRAF. Ano base: 2012. Brasília, 2013. 148 p. Disponível em <file:///C:/Users/User/ Downloads/anuario-ABRAF-2013.pdf>. Acesso em julho de 2015. ALMEIDA, L. S. Avaliação morfológica de mudas de Allophylus edulis (A. St.-Hil., A. Juss. & Cambess.) Radl. 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COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE CAMPO GRANDE -MS Data de aceite: 01/10/2020 Data de submissão: 06/07/2020 Lilliam May Grespan Estodutto da Silva Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Campo Grande - Mato Grosso do Sul http://lattes.cnpq.br/953551489855255 Eduarda Pimenta da Silva Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Campo Grande - Mato Grosso do Sul http://lattes.cnpq.br/5446059447463513 Higor Cristaldo da Silva Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Campo Grande - Mato Grosso do Sul http://lattes.cnpq.br/6048301841084634 Karla de Toledo Candido Muller Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Campo Grande - Mato Grosso do Sul http://lattes.cnpq.br/ 4802739381481846 Ana Paula de Araújo Boleti Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Campo Grande - Mato Grosso do Sul http://lattes.cnpq.br/6133307424221004 Ludovico Migliolo Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Campo Grande - Mato Grosso do Sul http://lattes.cnpq.br/0805599101682606 Devido às suas propriedades antioxidantes, antimicrobianas e anti-hiperglicêmicas, as folhas de Morus alba L. são usadas popularmente para fins terapêuticos na forma de chá pela população local. Neste estudo, realizamos o controle da qualidade físico-química e microbiológica das folhas de M. alba, comercializado em cinco localidades da cidade de Campo Grande - MS, Brasil. Parâmetros como análise de etiquetas e embalagens; análise macroscópica e características organolépticas; análise fitoquímica; controle de qualidade físico-química e microbiológica utilizando farmacopéico e não farmacopéico foram métodos utilizados. Entre as amostras submetidas à análise de embalagens e rótulos, todas estavam em desacordo com as especificações. Nas análises macroscópicas e organolépticas, as amostras B e C mostraram organismos que não são inerentes às folhas M. alba. A análise fitoquímica mostrou a presença de flavonoides, saponina, triterpenos e alcaloides em todas as amostras. Os resultados do controle físico-químico e microbiológico de bactérias aeróbicas foram de acordo com as especificações e, para fungos, o resultado foi superior ao limite recomendado. Diante disso, este estudo destaca a importância de um rigoroso controle de qualidade das plantas medicinais. PALAVRAS-CHAVE: Planta medicinal, controle microbiológico, análise fitoquímica, qualidade dos produtos. RESUMO: Os produtos terapêuticos precisam passar por rigorosa análise de controle de qualidade para garantir um produto seguro. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 86 QUALITY CONTROL OF MULBERRY LEAVES (MORUS ALBA L.) COMMERCIALIZED IN THE CITY OF CAMPO GRANDE –MS ABSTRACT: Therapeutic products need to undergo rigorous quality control analysis in order to ensure a safe product. Dueto its antioxidant, antimicrobial and antihyperglycemic properties leaves Morus alba L. are used popularly for therapeutic purposes in the form of tea by the local population. In this study, we perform the physicochemical and microbiological quality control of the leaves of M.alba,commmercialized in five locations in the city of Campo Grande – MS, Brazil. Parameters aslabel and packaging analysis; macroscopic analysis and organoleptic characteristics; phytochemical analysis; physicochemical and microbiological quality control using pharmacopoeic and non-pharmacopoeic were methods used. Among the samples submitted to the packaging and label analysis, all were in disagreement with the specifications. In macroscopic and organoleptic analyzes samples B and C showed organisms that are not inherent to the leaves M. alba. The phytochemical analysis showed the presence of flavonoids, saponin, triterpenes and alkaloids in all samples. The results of the physicochemical and microbiological control for aerobic bacteria were according to the specifications and for fungi the result was above the recommended limit. Given this, this study highlights the importance of strict quality control of medicinal plants. KEYWORDS: Medicinal plant, microbiological control, phytochemical analysis, products quality. 1 | INTRODUÇÃO A Organização Mundial da Saúde (OMS) define plantas medicinais como “qualquer planta que possua substâncias em um ou mais órgãos que possam ser utilizados para fins terapêuticos” (OMS, 2002). No Brasil, uma planta medicinal ou suas partes, que passa pelos processos de coleta, estabilização e secagem, e pode ser inteira, triturada ou pulverizada, de acordo com a Farmacopeia Brasileira e a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 48 , de 16 de março de 2004, da Agência Nacional de Vigilância Santaria (Anvisa). O uso de plantas medicinais é tão primitivo quanto o surgimento das primeiras organizações humanas na Terra. Esses grupos desenvolveram a ciência de aplicar a atividade de cura a essas plantas. Assim, essa prática estava sendo transferida de geração em geração, tornando-se uma tradição (Rossato et al., 2011, Dutra et al., 2016). Assim, o uso de plantas medicinais pela população está aumentando devido ao baixo custo e fácil acesso, além de fatores culturais que têm alta influência no uso intensivo e irracional desses medicamentos (Dutra et al., 2016). Portanto, torna-se necessário o controle da qualidade desses produtos, pois pode causar riscos à saúde se inadequadamente preparado, armazenado e utilizado (Anvisa, 2010). Os riscos à saúde causados pela má qualidade de um produto são enormes, são frequentes as reações adversas e interações com outros Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 87 medicamentos alopáticos (Miranda et al., 2012). A supervisão eficaz de plantas medicinais não apenas garante um produto de qualidade, mas também a segurança da saúde dos usuários. Assim, os parâmetros analisados ​​devem atender aos critérios exigidos pela legislação e monografia vigentes (Marone et al. 2007). Morus alba é uma planta nativa da Ásia, conhecida como “amoreira branca”, introduzida no Brasil e muito popular do ponto de vista medicinal (Gryn-Rynko et al., 2016) Na medicina tradicional chinesa é usada no tratamento do colesterol, bem como atividades sedativas, expectorantes, analgésicas, anticâncer, antioxidantes e antimicrobianas (Aw & Dacayanan, 2012, Arfan et al., 2012, Gryn-Rynko et al., 2016). Em todo o mundo, as folhas de M. alba são conhecidas por serem fitoquímicas ricas, suas propriedades antidiabéticas, antibacterianas, cardiovasculares, hipolipidêmicas, antioxidantes, antiaterogênicas e anti-inflamatórias (Devi et al., 2013, Chan et al., 2016, Gryn-Rynko et al., 2016, Yimam et al., 2019). Vale ressaltar que o chá de folhas de M. Alba é preparado a partir de materiais frescos ou secos na forma de infusão (Castellani, 1999). O objetivo do presente estudo foi realizar um controle de qualidade físico-química e microbiológica de folhas de M. alba, comercializadas em cinco locais da cidade de Campo Grande - MS, Brasil. 2 | MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Planta Cinco amostras foram obtidas aleatoriamente de folhas de Morus alba L., em diferentes estabelecimentos de Campo Grande - MS. As amostras foram classificadas em A, B, C, D e E, que correspondem, respectivamente, à amostra adquirida em farmácia de manipulação, supermercado municipal, vendedor ambulante, loja de produtos naturais e mercado de bairro. Os experimentos foram realizados nos laboratórios de bromatologia, farmacognosia e microbiologia do bloco “Biosaúde” da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB. Para maior confiabilidade e resolução dos dados, todas as análises seguiram metodologias específicas e estudos foram realizados em triplicata. 2.2 Análise das etiquetas e embalagens Todas as amostras foram submetidas a análises de embalagem que incluíam os rótulos, os quais foram observados em conformidade com o RDC N °. 10 (Anvisa, 2010). 2.3 Análise macroscópica e característica organoléptica As amostras foram submetidas a quarteamento e analisadas com auxílio de Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 88 uma lupa eletrônica, observando corpos estranhos. Os materiais estranhos foram então classificados em partes do organismo ou organismo do qual as folhas de M. Alba pertencem e aquelas que não são inerentes às folhas. 2.4 Controle de qualidade físico-química das folhas de M. Alba 2.4.1 Determinação do valor do pH Inicialmente as folhas foram reduzidas no fragmento. Um processo de infusão extrativa preparou uma solução a 1% (p/v) das folhas de M. alba por 5 minutos em placa de aquecimento. A solução foi deixada esfriar por 15 minutos e depois filtrada usando algodão. O pH da solução foi verificado em um medidor de pH previamente calibrado (Brasil, 2010). 2.4.2 Determinação do teor de cinzas Os níveis de cinzas totais e perdas por secagem foram determinados de acordo com os métodos descritos pela Farmacopeia Brasileira (2010), 2,0 g de folhas de M. alba foram incineradas e subsequentemente calcinadas em um forno mufla aquecido a 550 °C até a cinza. Em seguida, foi deixado esfriar em um exsicador e a massa da piscina foi determinada. Foi calculado o percentual de cinzas totais em relação à massa das folhas (Brasil, 2010). 2.4.3 Determinação de cinzas insolúveis em ácido Os resíduos obtidos da determinação do total de cinzas (análise anterior) foram fervidos durante 5 minutos com 25 mL de ácido clorídrico (~70 g/L); coletar a matéria insolúvel em um cadinho sinterizado ou em um papel de filtro sem cinzas, lavar com água quente e inflamar a cerca de 500 °C até um peso constante. Calcular o conteúdo em mg de cinza insolúvel em ácido por g de material seco ao ar (Brasil, 2010). 2.4.4 Determinação do teor de umidade O teor de umidade das folhas dessecadas foi calculado (Brasil, 2010), 4,0 g de folhas de M. alba foram incineradas e subsequentemente calcinadas a 105 °C por 5 horas. Após esse período, as pesagens foram realizadas (Brasil, 2010). 2.4.5 Análise granulométrica Para padronizar o tamanho das partículas em pó das folhas, 15 g de amostra foram submetidas por passagem através de peneiras correspondentes de malha de 0,150; 0,250; 0,300; 0,850 e 1,18 mm e o coletor usando um analisador de tamanho Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 89 de partícula por 30 minutos. Após esse processo, as frações foram removidas das peneiras e coletor e quantificadas quanto às suas proporções (Brasil, 2010). 2.4.6 Análise Fitoquímica Na caracterização fitoquímica da planta foram realizados testes clássicos de identificação dos principais metabólitos secundários: inicialmente foi preparado um extrato etanólico, no qual 1 g das folhas das amostras foram trituradas, o extrato foi preparado na proporção de 1:25 com álcool a 96% . Após, a mistura foi deixada em repouso e o extrato foi filtrado, onde foi preparado para análise. 1. esteroides / triterpenos (reação de Lieberman-buchard): 2 mL do extrato, 2 mL de clorofórmio foram adicionados a um tubo de ensaio e, em seguida, a solução foi pingada em um funil de algodão com sulfato de sódio anidro e, em seguida, após a transferência de 1 mL de filtrado para um tubo de ensaio juntamente com 3 gotas de ácido sulfúrico e agitado, se a solução for positiva, é observada a formação de azul para verde. 2. Flavonoides (reação de cianidina ou Shinoda, reação de cloreto férrico e reação de cloreto de alumínio): foram adicionados 2 mL de extrato, 0,5 cm de fita de magnésio e 2 mL de ácido clorídrico concentrado. , esperava-se ferver, se positivo, for observada a formação de marrom a vermelho. 3. índice de saponinas e espuma: 2 mL de extrato, 2 mL de clorofórmio, 5 mL de água destilada, homogeneizada, filtrada e agitada no vórtex por 3 minutos em um tubo de ensaio. espumando, espuma densa. 4. taninos (reação com cloreto férrico e acetato de chumbo): foram adicionados 2 mL de extrato da solução alcoólica de cloreto de ferro, agitada em vórtice, se for observada formação positiva. do precipitado azul aos taninos solúveis ou dos taninos verdes aos condensados. 5. alcaloides (solúveis em meio ácido e meio básico: reação de Dragendorff): foram adicionados 2 mL de extrato a 1% de hidróxido de sódio, 2 mL de água destilada, 2 mL de clorofórmio a um funil de separação. A fração aquosa foi descartada e foram adicionados ácido clorídrico a 1% e 2 mL de água destilada. A fração clorofórmio foi descartada e o reagente Dragendorff foi adicionado e foi observada a formação de precipitado insolúvel e floculento (Simões, et al., 2017). 2.5 Controle de qualidade microbiológica O controle de qualidade microbiológica foi realizado de acordo com a 5ª edição da Farmacopeia Brasileira (Brasil, 2010), conforme metodologia de análise de produtos não esterilizados. A análise foi adaptada porque não foi realizada a busca por microrganismos mais específicos exigidos pelo compêndio farmacopéico. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 90 2.5.1 Número total de microrganismos e fungos mesofílicos A análise foi realizada por diluições: 1:10, 1:100 e 1:1000 da amostra em tampão fosfato pH 7,2. Após a diluição, as amostras foram submetidas a vórtice. Para a contagem do número total de bactérias, foi utilizado o ágar Müeller Hinton e, para fungos e ágar de levedura, o PDA. Com a alça bacteriológica, 10 µL das amostras diluídas foram inoculadas em cada uma das placas de Petri pela técnica de depleção de estrias. As placas contendo ágar Müeller Hinton foram incubadas a 35 °C por 3 dias e as placas contendo PDA Agar a 25 °C por 7 dias. Após o crescimento, os números de unidades formadoras de colônias por grama (UFC/g) de amostra foram contados e calculados. 2.6 Análise de dados Os resultados foram apresentados em tabelas para melhor interpretação dos dados obtidos, e os dados foram comparados com as especificações recomendadas pela legislação vigente. Assim, aprovando ou desaprovando as amostras em questão, quanto à sua qualidade 3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO Entre as 5 amostras obtidas de M. alba, apenas as amostras A, B e E foram submetidas à análise de etiquetas e embalagens, pois as demais amostras C e D são provenientes de vendedores ambulantes, que dispensam seus produtos livremente nas calçadas e venda. a granel e não seguem os parâmetros exigidos pela legislação vigente, expressos na Tabela 1 (Anvisa, 2010). Todas as amostras foram reprovadas após análise de rótulo e embalagem. As amostras C e D não apresentaram dados exigidos pela RDC N ° 10 (Anvisa, 2010). A amostra A não mostrou indicação terapêutica, reações adversas e contraindicação. No entanto, era o mais adequado dentro dos requisitos em comparação com as outras amostras. A amostra B não forneceu informações sobre o farmacêutico responsável e número de CRF (conselho regional de farmácia), indicação terapêutica, dosagem, modo de uso, reações adversas e contra-indicação. A amostra E, dentro do parâmetro e comparada com as demais amostras, foi a que apresentou menos dados necessários, apenas a presença do nome comercial, lote, validade, data de fabricação e códigos de barras foi observada, faltando as demais informações. De acordo com os resultados expressos na Tabela 1, foi possível concluir que todas as amostras analisadas não apresentaram integridade em relação aos dados solicitados, sendo consequentemente reprovadas nas análises de rótulos e embalagens. No estudo de Braghini et al. (2015), todas as 40 amostras analisadas continham o nome comercial, o nome e o endereço do laboratório, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 91 CNPJ, farmacêutico responsável e registro no conselho de classe, lote, validade e data de fabricação, peso e nomenclatura botânica de cada produto, demonstrando progresso na cumprimento da legislação. neste estudo, as informações sobre a forma farmacêutica e a via de administração estavam presentes em apenas 16 amostras e apenas 8 amostras possuíam número de registro na Anvisa, posologia individualizada e possíveis riscos de ingestão (Braghini et al., 2015). De acordo com os resultados e informações da Tabela 1, observou-se que nenhuma das cinco amostras apresentou informações sobre indicações terapêuticas, reações adversas e contra-indicações. Mostrou os riscos de exposição da população, pois a falta dessas informações deixa o consumidor suscetível a vários problemas de saúde. As análises macroscópicas e organolépticas das amostras A, D e E mostraram apenas partes do organismo ou organismo que pertencem à planta. As amostras B e C exibiram organismos que não são inerentes à planta. Foi possível identificar que as amostras B e C foram reprovadas de acordo com a Farmacopeia Brasileira (Brasil, 2010), uma vez que requer a isenção de contaminação por fungos, insetos e outros animais. Nessas duas amostras, a presença desses contaminantes foi identificada e em uma das amostras o inseto estava vivo. Observou-se a presença de solo, pequenos fragmentos de plástico, possivelmente provenientes das embalagens e fios de cabelo, como conseqüência da não utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e das boas práticas do manipulador, responsável pela higiene e envasamento de plantas. A maioria das amostras, principalmente de uma loja de produtos naturais, vendida a granel, apresentou um grande número de pedúnculos capitulares. Os pedúnculos não contêm constituintes ativos e contribuem para aumentar o peso da amostra, causando danos ao consumidor. Os resultados da análise físico-química de controle de qualidade e da análise fitoquímica das folhas de M. alba são apresentados na Tabela 2. Dessa forma, verificou-se que todas as amostras apresentaram conformidade quanto aos parâmetros de qualidade exigidos. Na análise fitoquímica preliminar, foi identificada a presença de flavonóides, saponinas, triterpenos e alcalóides em todas as amostras. A análise granulométrica visa determinar o grau de divisão da amostra medindo o tamanho médio das partículas e a superfície de contato disponível, para que haja interação com o solvente, essencial para preparações intermediárias de outras formas farmacêuticas líquidas, como corantes e extratos (Cunha et al. , 2017). Seguindo os requisitos de descrição exigidos, as amostras A e B foram classificadas como poeira grossa, enquanto as amostras C, D e E foram classificadas como pós muito grosseiros. Isso é desejável, pois nos processos extrativos, pós muito finos favorecem a formação de agregados de poeira que prejudicam a penetração de Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 92 solventes e, consequentemente, a extração (Severo et al., 2013). A análise do teor de umidade mostra grande importância na garantia da qualidade das folhas de M. alba, pois altos níveis desse conteúdo podem favorecer o crescimento microbiano e até promover alterações nos componentes das plantas devido a reações de hidrólise (Marques et al., 2010). Todas as amostras foram aprovadas para esta análise, apresentando teor de umidade dentro do limite estabelecido por Sonaglio et al., (2007). Através dos resultados expressos na Tabela 2, foi possível estabelecer que todas as amostras não excederam o teor máximo de 14% do total de cinzas, sendo aprovadas para esta análise (Brasil, 2010). O teor de cinzas permite a verificação de impurezas inorgânicas não voláteis que podem ser o produto do metabolismo da planta ou componentes presentes como contaminantes de fármacos (Simões et al., 2010). A amostra C foi a que apresentou maior teor em relação às demais amostras, sendo indicativa de inadequação durante os procedimentos de coleta, secagem e transporte dessa amostra, apresentando-se, contudo, dentro do limite recomendado pela Farmacopeia Brasileira (BrasiL, 2010). O teor recomendado de cinzas insolúveis em ácido pela Farmacopeia Brasileira (Brasil, 2010) é de no máximo 3%, todas as amostras obtiveram resultados abaixo do limiar requerido. Assim, as amostras foram aprovadas, garantindo que não apresentem contaminação por materiais estranhos, como sílica e constituintes de sílicos, no fármaco vegetal (Couto et al., 2009). Os resultados do teste de pH dos extratos da amostra mostraram que as amostras A, B e D têm um caráter mais neutro, ao contrário da amostra C resultou em um caráter básico e a amostra E apresentou um caráter ácido. Essa diferença nos resultados entre as amostras pode ser devida à presença de alguns compostos ácidos ou básicos do material vegetal. Fatores como o pH e a presença de produtos químicos contaminantes podem afetar a qualidade do medicamento, influenciando sua estabilidade (Pereira, 2009). A análise fitoquímica mostrou a presença de flavonóides, saponina, triterpenos e alcalóides em todas as amostras. A presença de flavonóides também foi apresentada nos estudos desenvolvidos por Raman et al. (2016) após avaliação do teor de flavonóides nos frutos de M. alba. O estudo de Silva et al. (2017) relataram a presença de saponinas e alcalóides, semelhante aos resultados deste estudo. No entanto, este mesmo estudo confirmou a presença de taninos, o que não foi identificado no presente estudo. Essa divergência de metabólitos secundários pode ser explicada pelo fato de existirem vários tipos de amoreira e também por fatores ontogenéticos como clima, temperatura, solo, região, entre outros que interferem significativamente nos ativos dessas plantas. Os resultados da análise microbiana mostraram que as amostras não estavam Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 93 de acordo com as especificações da Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 10 (Anvisa, 2010), conforme mostrado na Tabela 3. Observou-se que, mesmo com o crescimento de bactérias aeróbias, as amostras apresentado dentro dos limites de especificação. No entanto, as amostras falharam na especificação exigida para fungos, apresentando um limite superior aos padrões impostos. A contaminação por fungos pode levar à destruição, alteração dos ingredientes ativos e à produção de substâncias tóxicas. Como os fungos podem se espalhar pelo ar atmosférico, pode haver contaminação das plantas antes e após a colheita, bem como durante o processamento (Carvalho, et al., 2009). As metodologias adotadas foram adequadas para avaliar a qualidade das folhas de M. alba. Todas as análises realizadas neste estudo são importantes e devem ser recomendadas para o controle de qualidade das folhas de M. alba, comercializadas em Campo Grande - MS, garantindo que o consumidor esteja utilizando produtos isentos de fatores. , o que pode representar riscos para sua saúde. 4 | CONCLUSÃO Os resultados apresentados mostraram que as folhas de M. alba comercializadas na cidade de Campo Grande-MS apresentam qualidade referente aos aspectos físico-químicos e microbiológicos, garantindo a segurança do consumidor. No entanto, vale ressaltar que altos resultados de contaminação por fungos podem causar efeitos nocivos à saúde do consumidor, pois são produtores de micotoxinas e, dependendo da forma de preparação do chá, podem persistir. Todas as amostras falharam na análise da rotulagem das embalagens, apontando que há falta de informações para o consumidor, deixando-o suscetível a vários riscos à saúde. A falta de supervisão rigorosa a esse respeito pode justificar o resultado apresentado, pois esse comportamento foi observado em outros estudos, o que indica a ausência de uma vigilância mais presente. Algumas amostras mostraram contaminantes macroscópicos, como cabelos, insetos e plásticos. REFERÊNCIAS Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução - RDC nº 10, de 9 de março de 2010. Ministério da Saúde, p.1-11, 2010. Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução – RDC n° 48, de 16 de março de 2004. Ministério da Saúde, p.1-7, 2004. 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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 96 PARÂMETROS A B C D E Nome comercial S S N N S Número do registro na Anvisa S S N N N Nome do Lab. endereço S S N N N CNPJ S S N N N Farmacêutico responsável e nº CRF S N N N N Lote, validade e data de fabricação S S N N S Peso ou volume S S N N N Indicação Terapêutica N N N N N Posologia e método de uso S N N N N Reações adversas e contra indicações N N N N N Cuidados de conservação S S N N N Parte da planta usada S N N N N Nomenclatura botânica S N N N N Forma farmacêutica e rota de administração S N N N N Código de barras S S N N S Tabela 1 –Análise de etiquetas e embalagens de folhas de M. alba. Nota: S –Mostra os resultados necessários, N –Não mostra os dados requeridos. Fonte: ANVISA, RDC 10/2010. Tabela 2. Resultados da análise físico-química de controle de qualidade e análise fitoquímica de folhas de M. alba Fonte: * Farmacopeia Brasileira, 5th edition (2010); ** Sonaglio et al., (2007). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 97 Tabela 3 – Análise Microbiológica de folhas de M. alba. Fonte: Anvisa, RDC 10/2010. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 8 98 doi CAPÍTULO 9 DIEFFENBACHIA SCHOTT. E A SAÚDE PÚBLICA: ETNOTOXICOLOGIA E ACIDENTES DOMÉSTICOS COM PLANTAS NA ZONA OESTE DA CIDADE RIO DE JANEIRO João Carlos da Silva Data de aceite: 01/10/2020 Luiz Gustavo Carneiro-Martins Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/4105787837579061 Karen Lorena Oliveira-Silva Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/3119214959675945 João Gabriel Gouvêa-Silva Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/5121790934571369 Jeferson Ambrósio Gonçalves Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/2215688672248520 Claudete da Costa Oliveira Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/2542263326143652 Ygor Jessé Ramos Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/3271824948370332 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/3139601494783305 Sonia Cristina de Souza Pantoja Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/6332069617001501 RESUMO: Este estudo objetiva identificar o conhecimento popular de moradores da Zona Oeste na cidade do Rio de Janeiro sobre a toxicidade dos vegetais conhecidos popularmente como “comigo-ninguém-pode”, que se inserem como algumas espécies do gênero Dieffenbachia spp. Foi realizada uma pesquisa de abordagem direta por meio de aplicação de questionários, sendo o grupo amostral consistido da seleção aleatória de moradores de bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Entrevistamos 354 pessoas, sendo a maioria de 67% representada pelas mulheres. Foi possível observar que dos entrevistados, 53% não possuem conhecimento de plantas tóxicas, porém 73% reconheceram espécies do gênero Dieffenbachia spp. Dos entrevistados, 47% responderam possuir algum conhecimento sobre a toxicidade desta planta, porém apenas 2% relataram acidentes com estes vegetais. Quando questionados sobre a possibilidade de um eventual acidente, 29% informaram que existe a possibilidade de ocorrer acidentes. Apesar de possuírem conhecimento basal a despeito desse vegetal, houve poucos Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 99 casos de acidentes ou casos em que tenham tido notícia. Pode-se afirmar que a maioria dos entrevistados subestima a possibilidade de um acidente ou não o consideram perigoso a ponto de causar acidentes. Os entrevistados possuem pouco conhecimento sobre a toxicidade da planta, mesmo acreditando em informações equivocadas a despeito desse vegetal, o que potencialmente pode promover aumento dos casos de intoxicação e consequentemente suas subnotificações. PALAVRAS-CHAVE: Plantas Tóxicas; Toxicidade Vegetal; Dieffenbachia; comigoninguém-pode.; Subnotificação. DIEFFENBACHIA SCHOTT. AND PUBLIC HEALTH: ETHNOTOXICOLOGY AND DOMESTIC ACCIDENTS WITH PLANTS IN THE WEST ZONE OF RIO DE JANEIRO ABSTRACT: This study aim of identify the popular knowledge of the residents of the West Zone in the city of Rio de Janeiro about the toxicity of the plant popularly known as “Comigo-ninguém-pode”, that includes some species of Dieffenbachia spp. Research of direct approach was realized applying questionnaires and the sample group consisted on the random selection of the residents of the West Side of Rio de Janeiro. We interviewed 354 people, with the women representing the majority of 67%, of the interviewed, 53% don’t possess the knowledge about toxic plants, but 73% recognized species of Dieffenbachia spp. of the interviewed, 47% answered to have some knowledge about the toxicity of this plant, but only 2% related accidents. When they were asked about a possibility of an accident, 29% answered that the possibility exists. Even though they have a basic knowledge about this plant, only a few cases of accident or cases that they have known about. Can be affirmed that the majority underestimates the possibility of an accident or don’t even consider the plant dangerous enough to cause accidents. The interviewed have a vague idea about the toxicity of this plant, which potentially promotes the increase of intoxication cases and consequently the subnotification of these cases. KEYWORDS: Toxic Plants; Vegetable Toxicity; Dieffenbachia; comigo-ninguém-pode; Subnotification. 1 | INTRODUÇÃO Plantas possuidoras de beleza são potencialmente perigosas para indivíduos que não tem a informação para identificar e manejar a espécie em questão. Essas plantas são frequentemente encontradas pelos arredores de residências de maneira espontânea, assim como na utilização ornamental (Soares et al., 2007). Estes fatores, quando aliados, tornam determinadas espécies vegetais perigosas para animais domésticos e seres humanos. No Brasil, de acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 2% dos casos de envenenamentos ocorrem com plantas, ocupando o nono lugar dos casos de intoxicação. Todavia, esses dados não são Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 100 precisos, visto que grande parte das intoxicações por plantas é de baixa gravidade e, como consequência, muitos registros deixam de ser realizados devido à falta de necessidade de se recorrer aos hospitais, contribuindo para uma lacuna nessas estatísticas em saúde, gerando subnotificação de valor para Saúde Pública (Campos et al., 2016). A desinformação da população quanto ao uso adequado dessas plantas, quer seja no uso ornamental, religioso, cosmético e medicinal que muitas vezes são administradas sem orientação ou acompanhamento profissional qualificadoconfigura uma das principais causas de intoxicação, aumentando assim os riscos de saúde. (Jones, 1990; Kennel et al., 1996; Silveira et al., 2008). No Brasil, durante o ano de 2013, do total de óbitos ocorridos por intoxicação de natureza diversa ou acidentes por animais, 0,23% teve como causa a intoxicação por plantas, que em maioria são acidentais (SINITOX, 2013). Na Região Sudeste, os casos de intoxicação humana por plantas ocuparam o 11º lugar de 1996 a 2013, sendo os casos de envenenamento por medicamentos o campeão das intoxicações. Observa-se também que maior parte dos casos são, em especial, se concentrava na faixa etária entre 1 e 9 anos, seguido de uma elevada taxa na faixa etária entre 10 e 29 anos e que foram pouquíssimos os casos de óbito (0,23%) registrados. Na Região Sudeste, além de “comigo-ninguém-pode”, as plantas do gênero Dieffenbachia spp. são conhecidas como “aningá-do-pará”, “bananeira-d’água”, “cana-de-imbé”, “cana-marona”, “canamarrom”, “cana-da-mudez” (Camargo, 1998). Segundo o Programa Nacional de Informações sobre Plantas Tóxicas (2008) os mecanismos de toxicidade das Dieffenbachia spp. estão relacionados com a presença desubstâncias inorgânicas e orgânicas. Estudos mostram que os mecanismos de toxicidade são múltiplos e incluem drusas e ráfides de oxalato de cálcio, associadas a lipídios, alcalóides e proteínas, tendo suas ocorrências no interior de células presentes no parênquima de todos os órgãos, no colênquima caulinar e nos meristemas da raiz (Ferreira et al., 2006; Silva e Takemura, 2006; Nelson et al., 2007). Diferentes estudos apontam a importância do uso do comigo-ninguém-pode para proteção do lar (Camargo, 1998; Fonseca-Cruel e Peixoto, 2004; Pasa et al., 2005; Kreutz et al., 2006; Maciel e Guarim-Neto, 2006). Existem trabalhos que destacam a importância do uso ritualístico do comigo-ninguém-pode (Camargo, 1998; Frug, 2003; Maciel e Guarim-Neto, 2006). Alguns estudos etnobotânicos destacam a importância ornamental dessas plantas (Silva e Andrade, 2005; Moura e Andrade, 2007), como também seus usos medicinais (Pilla et al., 2006; Leão et al. 2007). O presente estudo tem por objetivo analisar o conhecimento de moradores da zona oeste do Rio de janeiro em relação à toxicidade das plantas do gênero Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 101 Dieffenbachia spp., assim como, avaliar a ocorrência de casos de intoxicação acidental. 2 | METODOLOGIA 2.1 Caracterização da área e da população A Zona Oeste do município do Rio de Janeiro é uma área geográfica (Latitude: -22°90’ 35”; Longitude: 43° 12’ 35”) no estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Localizase a oeste do Maciço da Tijuca. Divide-se em duas grandes regiões separadas pelo Maciço da Pedra Branca, maior formação rochosa do Rio de Janeiro, com cerca de 1.025 metros de altitude sudoeste e noroeste. Abrange um total de 41 bairros que juntos abrigam uma população de cerca de 3 milhões de habitantes (2011). Apenas residentes da Zona Oeste do município foram selecionados como critério de inclusão, adotando como critério de exclusão os não-residentes. Osmoradores da Zona Oeste do Rio de Janeiro foram selecionados aleatoriamente por bairros, sendo estes dos bairros: Taquara, Realengo, Bangu, Bairro Jabour, Jardim Sulacap, Campo Grande, Magalhães Bastos, Jacarepagua, Padre Miguel, Praça Seca, Vila Militar, Vila Valqueire, Jardim Bangu e Deodoro. 2.2 Levantamento Etnotoxicológico A metodologia empregada neste trabalho foi baseada nas propostas para estruturação de artigos com abordagens etnodirigidas apresentadas por Albuquerque e Hanazaki (2006) e nos métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica (Albuquerque e Lucena, 2004). A abordagem consistiu-se em entrevistas qualitativas e quantitativas, por meio da aplicação de questionários acerca do reconhecimento de espécies da família Araceae, do gênero Dieffenbachia spp, sendo o vegetal vulgarmente conhecido como comigo-ninguém-pode na maioria das regiões urbanas do país. Foi realizado uma pesquisa de abordagem direta, por meio da aplicação de um questionário estruturado,dispondo de 14 perguntas redigidas em folha de papel A4, no período de 14 de setembro à 14 de novembro de 2015, exclusivamente à moradores de bairros da zona oeste do município do Rio de Janeiro. Para auxiliar na coleta de dados, e identificação das espécies botânicas pelos entrevistados, foram utilizadas imagens da espécie Dieffenbachia spp. com suas sinonímias botânicas (Figura 1). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 102 Figura 1. Imagens de espécies do gênero Dieffenbachia spp. apresentadas aos entrevistados. Inicialmente foram feitas perguntas a fim de caracterizar o perfil dos indivíduos entrevistados, tais como idade e sexo. Posteriormente, foram realizadas perguntas objetivas a fim de averiguar o conhecimento e a utilização de plantas medicinais por parte dos entrevistados, inicialmente questionando a existência de plantas medicinais nas residências; para quais finalidades eram empregadas; se possuíam algum conhecimento sobre plantas tóxicas ou conhecimento sobre a “comigo-ninguém-pode”; se já haviam recebido informações sobre a toxicidade dessa planta em questão; se já tiveram acidentes envolvendo a espécie botânica; se era do conhecimento a possibilidade de ocorrer acidentes com esta planta na própria residência; se tinham conhecimento sobre como poderia ocorrer os acidentes; se tinham conhecimento sobre qual deveria ser a conduta realizada em casos de acidentes com a planta; se consideravam que o vegetal é atrativo e por fim qual a parte da planta que mais acreditavam ser tóxica. No término desta atividade o entrevistado recebeu um folder sobre os riscos de uso de plantas tóxicas. 3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistadas 354 pessoas e pode-se observar que as mulheres representam maior número dos entrevistados (67%) e a respeito da faixa etária, a maioria está representadapor pessoas entre 37 a 45 anos de idade (34,18%). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 103 Faixa Etária 17-25 26-36 37-45 46-55 Total Masculino Feminino Total N° % N° % N° % 45 38,46 49 20,67 94 26,55 29 24,78 38 16,03 67 18,92 24 20,51 97 40,92 121 34,18 19 16,23 53 22,36 72 20,33 117 100 237 100 354 100 Tabela 1 – Prevalência de entrevistados da Zona Oeste do município do Rio de Janeiro baseados em sexo e faixa etária. Fonte: Próprio autor Entretanto, apesar de 67% dos entrevistados serem mulheres, os dados de intoxicação por plantas de 2003 à 2013 do SINITOX indicam que não há diferenças significativas de intoxicação utilizando o sexo como parâmetro de avaliação, sendo que existem ligeiramente mais casos de intoxicações em indivíduos do sexo masculino. Alguns estudos etnobotânicos associam que o gênero feminino tende a ter maior conhecimento e cuidado com plantas medicinais. De acordo com Miranda et al. (2011), as mulheres geralmente possuem mais conhecimento sobre plantas medicinais pois em sua maioria são destinadas aos afazeres domésticos, havendo maior contato com plantas cultivadas na região. No estudo conduzido por Alves et al. (2015) demonstram que os homens que foram questionados sobre o conhecimento da preparação de plantas medicinais afirmaram que as mulheres da comunidade eram as mais preparadas para a função. Todavia, é importante ressaltar que o conhecimento feminino a despeito de plantas medicinais serem superior ao dos homens não é um padrão, visto que fatores como a profissão e tradições familiares ou religiosas podem influenciar no nível de conhecimento sobre plantas medicinais de cada indivíduo independente do gênero. Na tabela 2 é possível observar as respostas dos entrevistados acerca de posse, conhecimento e possível interesse acerca da espécie botânica. Foi obtida a informação de que 71% dos entrevistados possuem plantas em casa, com finalidades ornamentais (63%), medicinais (29%), religiosas entre outras (8%). Entretanto, 53% dos entrevistados não possuem conhecimento sobre plantas tóxicas, no entanto 73% reconheceram espécies do gênero Dieffenbachia spp. No Brasil, a maioria dos centros especializados em tratamento de intoxicações estão situados na região Sudeste somando 16 ao todo. Apenas no ano de 2000, foram registrados 33.512 casos de intoxicação humana, sendo 712 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 104 casos relacionados a plantas consideradas tóxicas, porém, sem nenhum registro de casos de óbito. No ano de 2013, o número de notificações foi reduzido para 23.625, tendo sido registrado um óbito. No intervalo de tempo, a maioria das ocorrências registradas foram em zona urbana devido à maior concentração de serviços de saúde (SINITOX, 2013). Foi observado que 53% dos entrevistados não possuem conhecimento sobre a toxicidade das plantas, evidenciando a necessidade de haver mais atividades de educação em saúde voltadas para o uso e manipulação de plantas tóxicas. De acordo com Mendieta et al. (2014), a educação em saúde é um meio de promover qualidade de vida e autonomia do indivíduo, sendo possível minimizar e impedir a ocorrência de casos de intoxicação ou de agravos à saúde decorrentes do uso de qualquer medicamento, neste caso, o uso indevido das espécies botânicas. Na tabela 2 foi demonstrado que, apesar de 73% dos entrevistados afirmarempossuir algum conhecimento sobre a “comigo-ninguém-pode” apenas 47% tem conhecimento sobre a toxicidade do vegetal, no entanto, apenas 2% relataram já ter tido algum acidente com este vegetal. Sim Não % % Possui plantas em casa? 71 29 Possui conhecimento sobre plantas tóxicas? 47 53 Possui conhecimento sobre a “comigo-ninguém-pode”? 73 27 Já recebeu informações sobre a toxicidade dessa planta? 47 53 Já teve algum acidente com essa planta? 2 98 Há possibilidade de acidentes envolvendo esta planta em sua residência? 29 71 Já tomou conhecimento de casos de intoxicação grave por essa planta? 14 86 Acha esse vegetal atrativo? 41 59 Perguntas Tabela 2 – Perguntas objetivas realizadas aos entrevistados na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. Fonte: Próprio autor Foi questionado se existe a possibilidade de ocorrer acidentes nas residências dos referidos entrevistados envolvendo a planta “comigo-ninguém-pode” com os moradores, crianças ou animais. Neste caso foi informado que 29% afirmam a possibilidade de ocorrer acidentes em uma proporção de 37% de ocorrer com crianças, 46% com animais domésticos e 17% com ambos. Estatisticamente, a maior parte do número de intoxicações acidentais se dá Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 105 no interior das residências, e as crianças são as principais vítimas (Martins e Geron, 2014). Dados do SINITOX (2013) demonstram que a maior parte dos casos se concentram na faixa etária entre 1 a 9 anos de idade. Este fato pode estar relacionado com negligência ou falta de conhecimento dos responsáveis, principalmente quando não há o devido planejamento na escolha das espécies botânicas que irão compor o ambiente. É válido ressaltar que o comportamento exploratório-manipulativo em crianças, que acabam por levar objetos a boca com freqüência, contribui para que esta faixa etária componha maior parte dos casos. Além da incapacidade dos responsáveis de controlar a presença de espécies vegetais potencialmente tóxicas em estabelecimentos públicos e privados. Entretanto, o fato de 73% dos entrevistados serem capazes de reconhecer espécies do gênero Dieffenbachia spp. é um fator positivo que propicia melhores condições para notificar intoxicações causadas por essa espécie botânica. De acordo com Campos et al. (2016) a não obrigatoriedade das notificações desses eventos toxicológicos é um dos fatores que permite a subnotificação de intoxicações com plantas no Brasil. Isto, aliado a ausência de profissionais adequados para a identificação de plantas tóxicas no local de atendimento ou durante o diagnóstico médico e em conjunto com a falta de informação dos pacientes sobre a origem do quadro de intoxicação pode favorecer subnotificações. Segundo Oliveira et al. (2003) e Vasconcelos et al. (2009), em estudos acerca de casos de intoxicação e conhecimento sobre casos de intoxicação, a comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia spp.) foi a mais citada. Logo, os entrevistados foram abordados sobre o conhecimento de casos gravesenvolvendo essa espécie botânica e a forma de tratamento primário a ser aplicada. Foi constatado que 14% dos entrevistados já tomaram conhecimento sobre casos graves de intoxicação com a planta; a primeira providência seria o socorro médico (49%), seguido de cuidados paliativos em casa (24%) tais como ingestão ou lavagem do local com água em abundância, a utilização do azeite de oliva tanto para ingestão quanto para uso tópico, utilização de gorduras de origem vegetal ou animal para interromper o processo de irritabilidade; enquanto (27%) não saberiam o que fazer. Foram identificadas incoerências sobre a informação das pessoas acerca da toxicidade das espécies do gênero. Por exemplo, a maioria das pessoas não souberam informar corretamente sobre a toxicidade da espécie botânica, possuindo ideias deturpadas sobre os aspectos e partes tóxicas da espécie vegetal. Percebe-se que existem poucos estudos relacionados ao conhecimento popular associado a plantas tóxicas em áreas urbanas, evidenciando a necessidade de haver mais estudos a fim de assegurar estratégias apropriadas para prevenção de acidentes com as espécies desse gênero. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 106 Tão importante quanto saber que determinado vegetal é tóxico e pode apresentar riscos ao manuseá-lo, é reconhecê-lo corretamente e, neste aspecto, nos deparamos com barreiras como: a nomenclatura vulgar, o conhecimento ecológico e regional por parte da população. Essas barreiras atrapalham de maneira significativa a identificação e o tratamento de casos de intoxicação por esse vegetal. As diversas espécies do gênero Dieffenbachia spp. apresentam folhagem extremamente exuberante. Apesar de suas poucas variações de cores, a padronização apresentada por essas espécies se apresenta como grande atrativo a animais e crianças, o que ocasiona o aumento no índice de acidentes. No gráfico 1 pode-se observar a parte da planta que os entrevistados acreditam ser mais tóxica. Foi constatado que 39,28% dos entrevistados acreditam que a folha é a parte mais tóxica do vegetal; 27,68% que toda a planta é tóxica; 5,39% que o caule é parte mais tóxica; 1,12% que a flor é mais tóxica; 1,12% acreditam que o caule é a parte mais tóxica do vegetal. Uma parcela significativa dos entrevistados (25,42%) não sabia qual era a parte mais tóxica. Gráfico 1 – Parte da planta que entrevistados da Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro acreditam ser mais tóxica. Fonte: Próprio autor. Oliveira e Akisue (1997) destacam que toda planta é potencialmente tóxica e, conforme Rodrigues e Copatti (2009), as plantas tóxicas apresentam substâncias que, por suas propriedades naturais, físicas ou químicas, modificam o conjunto funcional-orgânico em vista de sua incompatibilidade vital, levando o organismo vivo a diversas reações biológicas. Todas as partes das plantas do gênero. apresentam igual toxicidade por possuírem os mesmos princípios ativos, que ocasiona nos seguintes sintomas, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 107 conforme ingestão e/ou contato podem causar sensação de queimação, edema (inchaço) de lábios, boca e língua, náuseas, vômitos, diarreia, salivação abundante, dificuldade de engolir e asfixia; o contato com os olhos pode provocar irritação e lesão da córnea. Segundo Pinillos et al. (2003), as intoxicações por plantas são comuns tanto pelo consumo de espécies tóxicas por erro de identificação, como pela quantidade ingerida em excesso, sem contar o consumo negligente das crianças quando ingerem partes de plantas coloridas e atrativas durante as brincadeiras Seguindo este critério, os entrevistados foram indagados sobre o que acreditam a respeito de “comigo-ninguém-pode” ser uma planta atrativa a ponto de ocasionar acidentes domésticos. Foi constatado que 41% dos entrevistados relataram que sim, representando uma quantidade significativa. O vegetal vulgarmente descrito como “comigo-ninguém-pode”, (Dieffenbachia spp.), é amplamente difundido nos ambientes cotidianos dos entrevistados, sendo citado nas próprias residências, na casa de amigos e parentes, ambientes de trabalho, vias públicas e instituições frequentadas por eles. Os entrevistados, inclusive, relataram sobre a utilização do vegetal para finalidades diversas além das ornamentais, em especial o uso ritualístico descrito pelo senso comum. 4 | CONCLUSÃO A maioria dos entrevistados mesmo que não possuam plantas em casa, ou nunca tenham recebido formalmente uma informação sobre Dieffenbachia spp., conhecem o vegetal apenas pelo seu nome vulgar “comigo-ninguém-pode”. Mesmo possuindo conhecimento basal a despeito desse vegetal, a maioria subestima a possibilidade de acidentes ou não o consideram perigoso a ponto de causar acidentes. Todavia, a vaga idéia dos entrevistados sobre a toxicidade da planta, mesmo que equivocadamente acreditem que seu risco se limite apenas nas folhas, torna suscetível a possibilidade de ocorrência acidentes e subnotificação destes, visto que 51% dos entrevistados não recorreriam ao socorro médico como primeira alternativa no caso de acidente. A educação em saúde voltada tanto à população, quanto aos profissionais de saúde, pode ser de grande utilidade para fornecer mais informações sobre plantas tóxicas e, consequentemente, diminuir os casos de subnotificação desses acidentes. Eventualmente, espera-se criar um registro informativo sobre as questões avaliadas durante o desenvolvimento do trabalho, para que se aplique da mesma forma à população com o intuito de diminuir os riscos de acidentes, e caso ocorram, serem tratados de forma consciente e devidamente notificados. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 108 REFERÊNCIAS Albuquerque U.P e Hanazaki N. As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico: fragilidades e perspectivas. Revista Brasileira de Farmacognosia.João Pessoa, v. 16 (Supl.): 678-689, 2006. ISSN 1981-528X Albuquerque U.P e Lucena R.F.P. (Orgs.). Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. Recife: Editora Livro Rápido. 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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 9 111 CAPÍTULO 10 doi FUNGOS PATOGÊNICOS HUMANOS TRANSMITIDOS POR MORCEGOS EM RESIDÊNCIAS URBANAS Data de aceite: 01/10/2020 Data de submissão: 14/07/2020 Bianca Oliveira Silva Universidade Estadual de Maringá Maringá – Paraná http://lattes.cnpq.br/9141414129000114 Flávia Franco Veiga Universidade Estadual de Maringá Maringá – Paraná http://lattes.cnpq.br/2522073483695767 Tânia Salci Centro Universitário Integrado Campo Mourão – Paraná http://lattes.cnpq.br/2170357235249639 Melyssa Negri Universidade Estadual de Maringá Maringá – Paraná http://lattes.cnpq.br/5815874228908993 Henrique Ortêncio Filho Universidade Estadual de Maringá Maringá – Paraná http://lattes.cnpq.br/5127355557632855 RESUMO: Muitas espécies de morcegos translocam-se entre áreas rurais, florestais e urbanas, então podem promover a disseminação e transmissão de vários agentes infecciosos, tornando-se uma questão de saúde pública. De acordo com as escassas informações sobre zoomicoses relacionadas aos morcegos, este trabalho objetivou investigar leveduras isoladas de fezes de morcegos presentes em residências urbanas. O estudo ocorreu na cidade de Maringá em residências que possuíam morcegos no forro, onde as amostras foram coletadas do ar e das fezes, e processadas de três formas. Após realizar a coleta em nove residências, duas foram consideradas ideais para prosseguir com as análises. Foram encontrados fungos filamentosos em ambas as residências independente do processamento empregado, já para leveduras o processamento que foi realizado após a decantação das amostras demonstrou-se o mais eficiente para isolar os agentes. PALAVRAS-CHAVE: Cryptococcus spp., Molossus molossus, Zoomicoses. HUMAN PATHOGENIC FUNGI TRANSMITTED BY BATS IN URBAN RESIDENCES ABSTRACT: Many species of bats move between rural, forest and urban areas, so they can promote the spread and transmission of various infectious agents, becoming a public health issue. According to the scarce information about zoonosis by fungal related to bats, this study aimed to investigate yeasts isolated from bat feces present in urban residences. The study took place in the city of Maringá in residences that had bats in the ceiling, where the samples were collected from the air and feces, and processed in three ways. After conducting the collection in nine residences, two were considered ideal to proceed with the analyzes. Filamentous fungi were found in both residences regardless of the processing used, whereas for yeasts the processing that was Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 112 carried out after decanting the samples proved to be the most efficient to isolate the agents. KEYWORDS: Cryptococcus spp., Molossus molossus, Zoonosis. 1 | INTRODUÇÃO Muitas espécies de morcegos sobrevivem nas áreas urbanas, pois os prédios e o reflorestamento propiciam vários abrigos a esses animais. Além disso, nesse espaço os morcegos também encontram alimentos disponíveis como insetos, flores e frutas, aproximando-os dos seres humanos (DIAS et al., 2011b; NUNES; ROCHA; CORDEIRO-ESTRELA, 2017). A ordem Chiroptera desempenha papéis importantes nos ecossistemas como polinizadores, dispersores de sementes e insetos de controle, uma vez que fazem parte da cadeia alimentar (FRICK; KINGSTON; FLANDERS, 2019). Essas características também promovem a disseminação e transmissão de vários agentes infecciosos a partir dos Chiroptera, sendo que essa proximidade com o ambiente urbano alerta para a maior possibilidade de contágio de zoonoses para o homem, como vírus, bactérias e micoses, tornando-se uma questão de saúde pública e requerendo atenção na vigilância epidemiológica (LI et al., 2018). Muitos estudos investigaram a presença de agentes infecciosos relacionados a zoonoses, no entanto, o conhecimento sobre leveduras com potencial patogênico em habitats de Chiroptera é limitado (DA PAZ et al., 2018; DIAS et al., 2011b). Os morcegos costumam abrigar-se em cavernas, telhados e viver em rebanhos, estando em constante movimento entre áreas urbanas, rurais e florestais. Estes locais têm presenças de diversos fungos, sendo os morcegos um reservatório ou fonte de infecção de micoses (DIAS et al., 2011b). Diferentes fungos ambientais que podem estar presentes nas fezes dos morcegos, são descritos por serem patógenos de animais e seres humanos, como os fungos termodimórficos Histoplasma capsulatum; Blastomyces sp., Paracoccidioides brasiliensis, fungos filamentosos como, Fusarium sp., Aspergillus spp., Penicillium spp., Cladosporium sp., Microsporum spp., Trichophyton spp., Paecilomyces variotii, e importantes leveduras como, Cryptococcus spp., Rhodotorula sp., Candida spp. (BOTELHO et al., 2012; DA PAZ et al., 2018; DIAS et al., 2011b; GROSE; TAMSITT, 1965; KAJIHIRO, 1965; NOVÁKOVÁ; KOLAŘÍK, 2010; RANDHAWA et al., 1985; REISS; MOK, 1979; ROGERS; BENEKE, 1964; SUGITA et al., 2005; TAYLOR; STOIANOFF; FERREIRA, 2013; VANDERWOLF et al., 2013). A relação entre fungos patogênicos e fezes de morcegos está presente na literatura relacionada a florestas e cavernas, no entanto, ainda existem lacunas epidemiológicas relacionadas ao ambiente urbano, principalmente em relação às leveduras com potencial patogênico nesses excrementos (BOTELHO et al., 2012; Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 113 DIAS et al., 2011a; ELLABIB et al., 2016; YAMAMURA et al., 2013). Existem registros de endemias causadas por Cryptococcus spp., onde o mesmo fungo foi isolado e identificado, tanto em pacientes quanto em morcegos e suas fezes presentes no ambiente urbano (DA PAZ et al., 2018). Esses dados são relevantes, uma vez que a frequência de micoses oportunistas e invasivas causadas por leveduras ambientais com potencial patogênico aumentou significativamente. Essa incidência está relacionado a altas taxas de morbimortalidade e, diretamente, ao aumento da população de pacientes imunossuprimidos em risco de desenvolver infecções fúngicas graves, como a criptococose (FISHER et al., 2012; SEYEDMOUSAVI et al., 2015). Ciente da falta de informações sobre as zoomicoses relacionadas aos morcegos, necessidade de estudos que complementam os dados epidemiológicos e a importância de associar fatores relacionando morcegos como vetores de fungos com potencial patogênico, este estudo teve como objetivo investigar leveduras isoladas de fezes de morcegos presentes em residências urbanas. 2 | MÉTODOS Comitê de ética Todos os procedimentos empregados foram realizados de acordo com a licença permanente para a coleta de material zoológico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio (CEUA) sob o número: 17869-3 (data de emissão: 14/09/2012), da Universidade Estadual de Maringá e da Secretaria Municipal de Saúde. Área de estudo O estudo foi realizado em Maringá (23° 25’ S e 51° 56’ O), localizado no terceiro platô paranaense na região sul do Brasil, noroeste do estado do Paraná (Figura 1). Amostragem Para a detecção dos fungos foram coletadas fezes de morcegos no ambiente urbano. Com base nas informações fornecidas pelos moradores da cidade após contato com o Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura de Maringá, que mantém parceria com o Grupo de Estudos em Ecologia de Mamíferos e Educação Ambiental (GEEMEA) da Universidade Estadual de Maringá. Foram estabelecidos critérios de inclusão para este estudo: a) residências que relataram morcegos; b) residências que relataram morcegos em que os proprietários autorizassem a realização da pesquisa; c) presença de morcegos habitando o forro da casa; d) forro da casa permanentemente fechado; e) viabilidade dos pesquisadores de entrar e se Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 114 deslocar dentro do forro da casa sem nenhum perigo aos mesmos. Coleta das amostras O material foi coletado no inverno, período matutino, com uso adequado de equipamentos de proteção individual. Os forros das residências foram caracterizadas em dois tipos: abertos, quando tinham um lado do ambiente totalmente aberto, e fechado; quando eram totalmente fechados, sendo o único acesso por uma porta. Os locais no forro que apresentavam acúmulo de excrementos de morcegos eram designados como locais adequados para coleta. Quando o forro tinha um ou dois locais, foi considerado insatisfatório, ao apresentar de três a seis locais, foi considerado regular e acima disto, satisfatório (Tabela 1). Anterior às coletas, os morcegos foram capturados, manipulados com luvas de raspa couro, e em seguida foi realizada a identificação taxonômica dos mesmos (BARROZO et al., 2009; BURLES et al., 2009a; RIBEIRO et al., 2018). Foram determinados quatro locais de amostragem com base nos locais onde foram visualizados excrementos. De cada ponto foi coletado duas amostras de aproximadamente 10 g de fezes. Antes de coletar as amostragens das fezes, foi colocado uma amostragem do ar com uma placa de Petri contendo o meio Sabouraud Dextrose Agar (SDA, Himedia, Mumbai Índia) com cloranfenicol 1%, exposta por 15 minutos. Após as coletas, os morcegos foram liberados e o material enviado ao Laboratório de Micologia Médica da Universidade Estadual de Maringá para processamento microbiológico. Processamento de amostras para isolamento de fungos Para isolar potenciais leveduras patogênicas das fezes, primeiramente 1g de fezes puras (1 g) foram maceradas com 30 mL de solução salina estéril a 0,85% e homogeneizada. Na sequência, três diferentes processamentos foram realizados (A, B e C), conforme figura 1. Os ensaios foram feitos em duplicatas. Para o processamento A, um total de 100 μL da solução foram semeadas em SDA e incubados por cinco dias a 25 ºC, sendo verificados diariamente. Para o procedimento B, a amostra decantou por 30 minutos, após, 100 μL do sobrenadante foram semeados em SDA e em meio de cultura Ágar Níger incubadas a 25 °C, 37 °C e em temperatura ambiente, sendo verificadas diariamente. Para o processamento C, 1,5 mL do sobrenadante foi centrifugado a 13000 rpm por 5 minutos e um volume de 100 μL do precipitado foi semeado em SDA, incubados por cinco dias a 25 ºC, sendo verificados diariamente. As placas de Petri que haviam sido expostas ao ar foram incubadas em temperatura ambiente e verificadas diariamente. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 115 Figura 1. Esquema metodológico para o processamento de amostras fecais de morcegos para isolamento de fungos. 3 | RESULTADOS Esta região é subtropical temperada, com temperatura média anual de 20 a 21 °C, com média máxima entre 27 a 28 °C e mínima entre 16 e 17 °C. De acordo com o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica da Secretaria Municipal de Saneamento Básico e Meio Ambiente, Maringá, a precipitação média anual é alta, geralmente entre 1500 mm e 1600 mm, bem distribuída ao longo do ano. Em relação aos morcegos, as espécies Molossus molossus (residências I, IV, VII e IX) e Molossus rufus (residência III) foram as únicas encontradas nos abrigos visitados, no entanto, havia residências nas quais nenhum animal estava presente no momento da coleta. Porém, havia sinais de restos de comida, pelos e fezes, caracterizando que os morcegos usavam o ambiente como abrigo. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 116 Residência Número de morcegos Tipo de forro da residência Distribuição de fezes no ambiente I 1 Fechado Regular II 0 Fechado Insatisfatório III 19 Aberto Regular IV 19 Aberto Insatisfatório V 0 Fechado Satisfatório VI 0 Fechado Insatisfatório VII 2 Fechado Insatisfatório VIII 0 Fechado Regular IX 1 Fechado Satisfatório Tabela 1. Tipo de forro ocupado por morcegos e distribuição de fezes no ambiente. A partir dos fatores de inclusão, foram considerados satisfatórios em todos os critérios e consideradas as amostras coletadas das residências V e IX. Os resultados dos ensaios testados foram obtidos após três dias de incubação das placas, mostrados na Tabela 2. Nas placas do processamento A, houve o crescimento de colônias de fungos filamentosos bem delimitadas, que não impediram o isolamento de leveduras, mesmo sendo mínima a presença de colônias de leveduras. Nas placas do processamento B, houve o crescimento de colônias filamentosas bem mais delimitadas quando comparada com o processamento anterior, sendo este tratamento que permitiu o isolamento do maior número de colônias de leveduras. Nas placas de processamento C, a presença de contaminantes filamentosos não ocorreu em 100% das culturas em SDA, no entanto, as colônias do tipo levedura eram escassas (Tabela 2). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 117 Residência Presença de crescimento Processamento* V IX Fungos filamentosos Leveduras Bactérias A Positivo Negativo Positivo A Positivo Negativo Positivo B Positivo Negativo Positivo B Positivo Positivo Positivo C Positivo Negativo Negative C Positivo Negativo Negativo A Positivo Negativo Negativo A Positivo Negativo Negativo B Positivo Positivo Negativo B Positivo Positivo Positivo C Positivo Negativo Positivo C Positivo Negativo Negativo Tabela 2. Crescimento de microrganismos em SDA após diferentes processamentos de fezes de morcegos, incubados a 25 ºC por 72 horas. * Cada processamento foi realizado em duplicata. Leveduras do gênero Candida spp. e Cryptococcus spp. foram isolados das fezes na residência V; no entanto, na residência IX, eles estavam presentes no ar. Rhodotorula spp. estava presente apenas na casa V, em ambas as amostras (fezes e ar). As demais leveduras identificadas vieram apenas da amostra de ar e das fezes. As cepas isoladas neste estudo foram de casas (V e IX), caracterizadas por apresentar pouco ou nenhum morcego colonizando o forro no momento da coleta das amostras (Tabela 3). Residência V Candida spp. Fezes Ar x IX Cryptococcus spp. Rhodotorula spp. Fezes Fezes Ar Leveduras não identificadas x x x Ar x x x x x Tabela 3. Leveduras isoladas de ambientes habitados por morcegos. 4 | DISCUSSÃO A ordem Chiroptera é distribuída em todo o mundo, os morcegos são Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 118 encontrados em todos os continentes, com exceção da Antártica. Eles são os únicos mamíferos capazes de voar e deslocar-se por longas distâncias nas migrações sazonais. Essas características, juntamente a sua longa vida útil e capacidade de habitar diversos nichos ecológicos, tornam os morcegos uma das espécies mais bem-sucedidas da terra. O Brasil é o segundo país com o maior número de espécies, com 178 (15,9%) dos exemplares conhecidos (BERNARD; AGUIAR; MACHADO, 2011; NOGUEIRA et al., 2014; RIBEIRO et al., 2018). A identificação a nível espécies pode ser importante para entender a transmissão da zoonose, uma vez que as características sociais e fisiológicas dos morcegos são condicionadas por hábitos, como se abrigar em cavernas, telhados e viver em rebanhos. Esses hábitos fornecem contatos constantes com uma infinidade de diferentes microrganismos, incluindo vírus, bactérias, fungos e parasitas. Vários desses agentes infecciosos são comuns em humanos e animais domésticos. Os fungos representam um grupo clinicamente importante de microrganismos em todo o mundo. Existe uma associação considerável entre estes e os morcegos, principalmente na análise de excrementos desses animais encontrados em cavernas e florestas, sendo que recentemente surgiram novas pesquisas em áreas urbanas (DA PAZ et al., 2018; GONZÁLEZ-GONZÁLEZ et al., 2014; HANCE; GARNOTEL; MORILLON, 2006). Assim, o fato de viverem nesse constante movimento entre áreas selvagens e urbanas, pode propiciar a disseminação desses microrganismos de um ambiente para outro; portanto, dentro da vigilância epidemiológica, podem ser reservatórios e fontes de zoonoses (DIAS et al., 2011b; NUNES; ROCHA; CORDEIRO-ESTRELA, 2017). Neste estudo, foi realizada a avaliação dos prováveis ambientes dos morcegos em casas urbanas. Inicialmente as residências foram classificadas de acordo com acesso ao forro, podendo ser aberto ou fechado, nossos resultados mostram que o fato de estar fechado não influencia a presença de morcegos no ambiente. Na Tabela 1, vemos que a maior parte das residências que tivemos acesso, o forro era fechado e mesmo assim fezes de morcegos foram detectadas no ambiente, o que caracteriza o uso do habitat pelos animais. No entanto, é importante observar que, ao compararmos as residências III e IV, onde os forros são abertos, foi encontrada a maior quantidade de animais presentes no ambiente no momento da coleta, com um total de 19 morcegos em cada local, provavelmente porque o acesso seja facilitado pela própria arquitetura. Molossus foi o gênero de morcegos encontrado neste estudo, estes morcegos são insetívoros (DA PAZ et al., 2018; REIS et al., 2006) e podem ser atraídos por insetos que ficam próximos a luzes artificiais em áreas urbanas, locais onde podem encontrar abrigos artificiais em telhados e tetos (DE LUCCA et al., 2013; RIBEIRO et al., 2018). Esses dados corroboram com os resultados encontrados aqui, onde Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 119 as espécies identificadas estavam presentes em uma área com alta densidade populacional, em uma cidade altamente urbanizada que fornece abrigos artificiais e suprimentos alimentares suficientes para manutenção dos mesmos (BURLES et al., 2009b; RIBEIRO et al., 2018). Além disso, existem desequilíbrios ambientais resultantes da ação antrópica nos ecossistemas, o que força os morcegos a se adaptar e desenvolver em centros urbanos (DA PAZ et al., 2018). As Infecções fúngicas associadas a zoonoses são importantes e devem ser consideradas na saúde pública (MORETTI et al., 2013; SEYEDMOUSAVI et al., 2015). Nesse contexto, é notável que algumas doenças fúngicas com potencial zoonótico merecem atenção adequada, sendo que novos conhecimentos epidemiológicos são importantes para entender e combater melhor essas doenças, para isso, é essencial conhecer a distribuição desses microrganismos no ambiente. Como podemos observar na Tabela 2, a presença de diferentes gêneros são detectáveis no ambiente e nas fezes dos morcegos. Fungos filamentosos estavam presentes em todas as técnicas utilizadas, ocupando uma parte considerável da área da placa. Estes fungos podem ser verdadeiros patógenos ou oportunistas (GUARRO; GENÉ; STCHIGEL, 1999; SEYEDMOUSAVI et al., 2015), quase todos são capazes de sobreviver no ambiente por períodos prolongados, mas os verdadeiramente patogênicos têm como vantagem evolutiva usar um vertebrado como vetor durante uma parte de seu ciclo de vida, sendo frequentemente um animal não humano (HUBÁLEK, 2003). As amostras ambientais têm como característica a presença de uma variedade de fungos filamentosos, cuja dispersão das estruturas reprodutivas pode ocorrer mesmo pelo ar atmosférico, pelos conhecidos fungos anemófilos (GUARRO; GENÉ; STCHIGEL, 1999). Estes frequentemente contaminam amostras biológicas, predominando no meio de cultura devido ao rápido desenvolvimento e/ou produção de substâncias antimicrobianas que podem inibir o crescimento de outros fungos de interesse clínico. As fezes são amostras biológicas com quantidades consideráveis de agentes microbianos que podem se sobrepor em uma cultura ao rastrear um determinado agente que está sendo investigado (SEYEDMOUSAVI et al., 2015, 2018). A associação de fezes e meio ambiente, acabam dificultando ainda mais o isolamento de certos microrganismos, como no caso, leveduras potencialmente patogênicas humanas contidas nas fezes de morcegos encontradas em forros de residências. Diferentes técnicas foram realizadas para melhorar o isolamento de leveduras e conforme mostrado na Tabela 2. Em geral, independentemente do processamento utilizado na amostra, houve baixo número de leveduras isoladas, esse fato pode ser consequência da interferência, principalmente, de fungos filamentosos. Além disso, o cultivo direto de amostras ambientais pode ser influenciado pelo clima, como resultado de menor esporulação do fungo durante o Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 120 período de amostragem, ou da adequação da profundidade da amostra obtida ou mesmo da ausência do fungo no estudo local (BARROZO et al., 2009, 2010). O processo B foi mais vantajoso que os demais para o isolamento de fungos de levedura. Este processo foi caracterizado por sedimentação, que, por gravidade, fez com que as partículas se depositem no fundo do tubo. Entretanto, como o resultado obtido foi mais eficiente em relação aos demais tratamentos, sugere-se que a forma da amostra decantada (processo B) proporcionou melhor crescimento da levedura, ou seja, maior isolamento e menos contaminantes (FILIÚ et al., 2002; REIS et al., 2006). As amostras submetidas ao processo C apresentaram apenas crescimento bacteriano, bem como no Processo A. A centrifugação, que tem o princípio da sedimentação celular, deve ser eficiente para separar os componentes da suspensão por meio das diferenças na densidade. No entanto, o fato de o sedimento celular concentrar todos os microrganismos pode ter dificultado o desenvolvimento da levedura no meio de cultura. Além disso, a centrifugação do sobrenadante, em vez da suspensão inicial, também deve ser considerada, sugerindo uma redução no número de leveduras presentes no processo C em comparação com A e B. Em relação à presença de leveduras isoladas, foram identificados três gêneros: Candida, Cryptococcus e Rhodotorula (Tabela 3). Estes são comumente encontrados no ambiente e têm potencial patogênico em humanos e animais (DA PAZ et al., 2018). As duas vias de dispersão dos fungos analisados (ar atmosférico e morcegos) estão estritamente relacionadas à alta produção de propágulos de disseminação, principalmente esporos de origem assexuada. Esses quando atingem um substrato com condições adequadas, germinam e iniciam um novo ciclo (ZAITZ et al., [s.d.]). É importante notar que, embora Candida spp. ser considerada parte da microbiota de seres humanos saudáveis, também considera-se oportunista sob condições de imunossupressão. A candidíase pode ser superficial, afetando a pele, as membranas do trato gastrointestinal e urogenital, além disso sua disseminação pode levar à candidemia ou infecção localizada dos órgãos internos(NUCCI; ANAISSIE, 2001; VANDERWOLF et al., 2013). Embora a maioria das leveduras isoladas de fezes e do ar atmosférico não sejam as mesmas, observou-se que alguns fungos, como Rhodotorula e Cryptococcus, foram isolados nas duas amostragens. Rhodotorula já era esperado, porque representa um fungo anemófilo, disperso principalmente pelo ar, embora também use outras formas de dispersar (ZAITZ et al., [s.d.]). A associação entre morcegos Molossus molossus em áreas urbanas e Cryptococcus spp. já foi reportada na literatura (DA PAZ et al., 2018).Inicialmente, o gênero Cryptococcus foi considerado de leveduras saprofíticas ambientais que não causam infecções Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 121 em humanos ou animais(KWON-CHUNG et al., 2017), no entanto, já sabe-se que a criptococose é uma doença fúngica que afeta principalmente pacientes imunocomprometidos e com menos frequência imunocompetentes (ELLABIB et al., 2016; PARK et al., 2009; SEYEDMOUSAVI et al., 2018). Considerando que C. neoformans infecta principalmente pacientes imunocomprometidos, C. gattii pode afetar pessoas com sistema imunológico intacto (ABREU et al., 2017), o fungo está presente no meio ambiente e o mecanismo de transmissão ao ser humano ainda não está totalmente elucidado. Provavelmente a infecção é adquirida através da exposição aos Cryptococcus presentes no ambiente, como esporos ou leveduras desidratadas, capazes de penetrar nos alvéolos pulmonares e causar doenças(ELLABIB et al., 2016; LIN, 2009). Vale destacar o caso ocorrido na região norte do Brasil, onde houve óbito por meningite criptocócica, sendo as fezes de morcego a provável fonte de infecção. Nesse caso, o paciente foi infectado após limpar o sótão de sua casa sem o uso de equipamento de proteção individual adequado (ELLABIB et al., 2016; LIN, 2009). REFERÊNCIAS ABREU, D. P. B. DE et al. 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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 10 125 doi CAPÍTULO 11 MONITORAMENTO E AÇÕES PARA O CONTROLE DE AGENTES ZOONÓTICOS EM COMUNIDADES ADJACENTES A UMA FLORESTA URBANA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Rodrigo Caldas Menezes Data de aceite: 01/10/2020 Data de submissão: 12/08/2020 Isabel Cristina Fábregas Bonna Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/8566046605739485 Maria Alice do Amaral Kuzzel Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/2948859206351028 Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/2811769356300005 Luciana Trilles Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/2775706789652317 Flavia Coelho Ribeiro Mendonça Marina Carvalho Furtado Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/9975175721872316 Helena Medrado Ribeiro Campus Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/8200646785415918 Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/1363591652483486 Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/4106125088090932 Caroline Lacorte Rangel Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/6075654213704604 Leandro Batista das Neves Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/5770486779219275 Rosângela Rodrigues e Silva Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/1880168547409610 Flavia Passos Soares Ricardo Moratelli Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ Rio de Janeiro – RJ http://lattes.cnpq.br/1067399121895452 RESUMO: O Campus Fiocruz Mata Atlântica (CFMA), localizado na vertente leste do Maciço da Pedra Branca, sobrepõe-se ao Parque Estadual da Pedra Branca e sua zona de amortecimento, na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. O CFMA abrange todo o Setor 1 da CJM, onde concentra suas ações em saúde urbana e ambiental. A região compreende uma área de elevada biodiversidade sob forte pressão Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 126 antrópica, podendo provocar um desequilíbrio ecológico. Esses fatores, juntamente com a possibilidade de contato com patógenos de animais silvestres, a alta densidade humana e condições sanitárias inadequadas podem aumentar o risco de transmissão ou emergência de doenças infecciosas e parasitárias O objetivo desta contribuição é apresentar ações e resultados do monitoramento de agentes zoonóticos em animais domésticos e no ambiente, para o planejamento específico de intervenções visando ao controle das zoonoses e de vigilância ambiental. Essas atividades são desenvolvidas em parceria com grupos de pesquisa de unidades da Fiocruz, que são referência no diagnóstico das zoonoses estudadas na região. Outras estratégias incluem orientações à população sobre imunizações e cuidados com animais domésticos em área de floresta, confecção de panfletos e vídeos informativos, projetos educativos com crianças da região e a circulação de matérias em um boletim informativo direcionado para as comunidades locais. Este é um trabalho contínuo de promoção da saúde no CFMA, com base no conceito de Saúde Única para vigilância e controle de doenças, no qual equipes multidisciplinares atuam junto às comunidades do CFMA. Como resultado parcial foram encontrados agentes infecciosos com potencial zoonótico em cães e gatos como os helmintos ancilostomídeos e Toxocara sp. e o fungo Sporothrix spp. As helmintíases foram tratadas e os tutores orientados. Foram diagnosticados casos de esporotricose felina e canina, com o isolamento do fungo e acompanhamento clínico. Não foram encontrados casos de leishmanioses visceral e tegumentar, também não foram isolados agentes fúngicos causadores de micoses sistêmicas, como Cryptococcus sp. Identificamos fatores socioeconômicos, ambientais e ecológicos que podem contribuir para o desencadeamento de surtos de doenças infecciosas. Dentre esses, destacam-se a presença de animais domésticos abandonados e soltos na região, que circulam livremente facilitando a introdução de novos agentes e aumentando o risco de transferência de agentes infecciosos entre animais silvestres, humanos, ambiente e animais domésticos e de produção (subsistência). Em estudos recentes na área do CFMA, envolvendo animais domésticos e silvestres, foram identificados agentes de potencial zoonótico como Coxiella e Bartonella spp., tripanosomatídeos em quirópteros, helmintos em marsupiais do gênero Didelphis, Leishmania spp., Sporothrix spp.; detecção de anticorpos anti- Toxoplasma gondii, Leptospira spp. e Leishmania spp. em animais domésticos; entre outros, o que reforça a necessidade de uma vigilância em saúde na região. As ações são planejadas de forma a atender às normas internas da Fiocruz quanto a biossegurança, qualidade ambiental e do trabalho, para que as pesquisas e o desenvolvimento científico na área contribuam para a promoção da saúde e para o desenvolvimento sustentável da região com a preservação do patrimônio ambiental. Esse pode ser um modelo institucional a ser replicado em outros locais de fragmento de floresta em áreas urbanas que sofram fortes pressões antrópicas. PALAVRAS-CHAVE: Promoção da saúde, Saúde Única, zoonoses. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 127 MONITORING AND ACTIONS FOR THE CONTROL OF ZOONOTIC AGENTS IN COMMUNITIES ADJACENT TO AN URBAN FOREST IN THE MUNICIPALITY OF RIO DE JANEIRO ABSTRACT: The Fiocruz Mata Atlântica (CFMA) Campus, located on the eastern slope of the Massif da Pedra Branca, overlaps the Pedra Branca State Park and its buffer zone, at Colônia Juliano Moreira, in Jacarepaguá.The CFMA covers the entire Sector 1 of the CJM, where it focuses its actions on urban and environmental health. The region comprises an area of ​​high biodiversity under strong anthropic pressure, which can cause an ecological imbalance. These factors, together with the possibility of contact with wild animal pathogens, the high human density and inadequate sanitary conditions can increase the risk of transmission or emergence of infectious and parasitic diseases.The purpose of this contribution is to present actions and results of the monitoring of zoonotic agents in domestic animals and in the environment, for the specific planning of interventions aimed at the control of zoonoses and environmental surveillance. These activities are developed in partnership with research groups from Fiocruz units, which are a reference in the diagnosis of zoonoses studied in the region. Other strategies include orientations to the population on immunizations and care for domestic animals in the forest area, making pamphlets and informational videos, educational projects with children in the region and the circulation of materials in a newsletter aimed at local communities. Other strategies include orientations to the population on immunizations and care for domestic animals in the forest area, making pamphlets and informational videos, educational projects with children in the region and the circulation of materials in a newsletter guided by the communities themselves. This is an ongoing work to promote health at the CFMA, based on the one health concept for disease surveillance and control, in which multidisciplinary teams work with the CFMA communities. As a partial result, infectious agents with zoonotic potential were found in dogs and cats such as hookworm helminths and Toxocara sp. and the fungus Sporothrix spp. Helminthiasis was treated, and tutors were instructed. Cases of feline and canine sporotrichosis were diagnosed, with isolation of the fungus and clinical follow-up. No cases of visceral and cutaneous leishmaniasis were found, nor were fungal agents causing systemic mycoses, such as Cryptococcus sp. Socioeconomic, environmental, and ecological factors have been identified that may contribute to the outbreak of infectious diseases. Among these, we highlight the presence of abandoned and released domestic animals in the region, which circulate freely facilitating the introduction of new agents and increasing the risk of transfer of infectious agents between wild animals, humans, the environment and domestic and production animals (subsistence). In recent studies in the CFMA area, involving domestic and wild animals, agents of zoonotic potential were identified, such as Coxiella and Bartonella spp., Trypanosomatids in chiropterans, helminths in marsupials of the genus Didelphis, Leishmania spp., Sporothrix spp; detection of anti-Toxoplasma gondii antibodies, Leptospira spp. and Leishmania spp. in domestic animals; among others, which reinforces the need for health surveillance in the region. The actions are planned in order to meet Fiocruz’s internal rules regarding biosafety, environmental and work quality, so that research and scientific development in the Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 128 area contribute to health promotion and sustainable development in the region with the preservation of the environment’s heritage. This may be an institutional model to be replicated in other places of forest fragment in urban areas that are under strong anthropic pressure. KEYWORDS: Health promotion, One Health, zoonosis. 1 | INTRODUÇÃO Agradecemos a todos que contribuem ou contribuíram para o desenvolvimento destes estudos, em especial a Gilson Antunes, coordenador executivo do Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz Mata Atlântica (PDCFMA), pelo incansável trabalho de condução das equipes que desempenham importantes ações para a construção de um território sustentável e saudável nessas comunidades com vulnerabilidade social. O Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz Mata Atlântica (PDCFMA) atua na promoção da saúde, por meio de equipes multidisciplinares das áreas de Saúde Ambiental e Saúde Urbana, em comunidades do Setor 1 da Colônia Juliano Moreira (CJM), onde o Campus Fiocruz Mata Atlântica (CFMA) está localizado. A Área de Saúde Ambiental do PDCFMA atua na gestão do ambiente, conservação da biodiversidade e resolutividade de questões locais na interface entre biodiversidade e saúde na vertente leste do Maciço da Pedra Branca, onde localiza-se o CFMA e seu remanescente de floresta de baixada e submontana. Suas atividades são desenvolvidas sob a premissa da Saúde Única, onde saúde humana, animal e ambiental estão conectadas (DESTOUMIEUX-GARZÓN et al., 2018; WHO, 2017). As principais ações em Vigilância em Saúde no território envolvem o levantamento e o monitoramento de agentes infecciosos circulantes em animais domésticos e silvestres, com especial atenção aos agentes infecciosos zoonóticos; e as ações informativas e educativas geradas a partir dos resultados encontrados no monitoramento e no levantamento, além das demandas espontâneas dos moradores das comunidades, com a manutenção de um canal contínuo de comunicação. O objetivo é entender os cenários ecológicos que favorecem a circulação desses agentes infecciosos zoonóticos entre a fauna doméstica, silvestre e os humanos, para que o conhecimento estabelecido in loco subsidie o planejamento de intervenções contínuas para minimizar o risco de surtos de zoonoses em escala local. Organizar os serviços de saúde a partir das necessidades do território (territorialização) é uma ação importante para a base do trabalho das equipes de atenção básica na prática da Vigilância em Saúde, com ações conjuntas, no âmbito Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 129 individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde (BRASIL, 2010; BRASIL, 2017c). Aqui, apresentamos uma síntese das atividades da Vigilância em Saúde realizadas nas comunidades adjacentes a uma floresta urbana no município do Rio de Janeiro, Setor 1 da CJM, para o monitoramento de agentes infecciosos circulantes em animais domésticos. Essas atividades são desenvolvidas em colaboração com os Laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz, que formam uma Rede Colaborativa para o diagnóstico e o isolamento dos agentes infecciosos. 1.1 Caracterização do território A CJM localiza-se na Baixada de Jacarepaguá, ocupando parte da região entre os contrafortes que definem a vertente leste do Maciço da Pedra Branca. A CJM compreende, atualmente, cinco setores. Dentre esses, o Setor 1 ocupa a região de fundo de vale, que se conecta ao remanescente de vegetação do Maciço da Pedra Branca, protegido pelo Parque Estadual da Pedra Branca, em sua maior parte. Este trabalho concentra-se no Setor 1 da CJM, que abrange o CFMA e cinco comunidades sob elevada vulnerabilidade social. O Setor 1 caracteriza-se como uma faixa de transição entre um grande remanescente de vegetação e vetores de ocupação urbana densa e desordenada, que se estendem pela Baixada de Jacarepaguá. Essa é uma das regiões de maior crescimento demográfico do estado do Rio de Janeiro, com alguns de seus bairros apresentando os piores índices de desenvolvimento humano (IDH) do município (FIOCRUZ, 2017). A pressão antrópica na região do Maciço da Pedra Branca resulta em contínua redução de sua cobertura vegetal, principalmente nas áreas de borda de floresta, afetando a biodiversidade sob diversos aspectos, dentre os quais destacam-se reduções populacionais ou mesmo extinções locais de populações naturais. Essa redução da diversidade biológica pode desencadear diversos efeitos em cascata na regulação dessas populações naturais e nos processos ecológicos, como o aumento do risco de transmissão ou emergência de doenças infecciosas e parasitárias em humanos. Não obstante, a presença de animais domésticos e de criação (cães, gatos, equinos, bovinos, suínos e aves), geralmente mantidos soltos no território da CJM, contribui para o cenário de intensa interação entre humanos, animais domésticos e fauna silvestre nativa e introduzida, compondo um ambiente favorável à transmissão de agentes infecciosos de potencial zoonótico. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 130 1.1.1 Caracterização das condições socioambientais do Setor 1 da Colônia Juliano Moreira Parte do Setor 1 (área da União gerida pela Superintendência de Patrimônio da União – SPU RJ), onde estão localizadas as comunidades de baixa renda, é definida como uma Área de Especial Interesse Social (AEIS), mediante lei municipal específica nº 4885 de 25 de julho de 2008, aprovada pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Essa área possui um projeto de regularização fundiária e urbanística aprovado e acompanhado mediante cooperação técnica entre o PDCFMA e a SPURio, com base no reconhecimento do direito social à moradia digna, consagrado pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Cidade (FIOCRUZ, 2016). Até 2016, no Setor 1, residiam 220 famílias com cerca de 800 moradores em comunidades de pequeno porte: Caminho da Cachoeira (99 famílias), Fincão (41 famílias), Sampaio Correia/Viana do Castelo (67 famílias), Faixa Azul/Remédios (13 famílias). A maioria apresenta um perfil socioeconômico de baixa renda, sendo constituída por idosos sem suporte de parentes, mulheres chefes de família ou famílias muito numerosas (com vários filhos e/ou netos), em geral, com baixa escolaridade e sem vínculo empregatício formal (FIOCRUZ, 2016). Desde então, esses números não aumentaram de forma considerável, a despeito da forte pressão de ocupação nos demais setores da CJM. Além da vulnerabilidade social, há uma situação de extrema precariedade sanitária, habitacional e ambiental, já que esta área não é atendida pela rede formal de coleta de esgoto e abastecimento de água potável da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), tampouco pelo sistema de drenagem de águas pluviais, gerando um grave problema de saúde pública, especialmente em algumas áreas de baixio, devido à contaminação do solo e das águas, alagamentos e insalubridade de muitas moradias. A água de abastecimento de grande parte das famílias do Setor 1 ainda é proveniente do reservatório da cachoeira (abastecido pelas águas formadas no Maciço da Pedra Branca) e não possui tratamento. Além disso, há ainda o problema do lixo, que é agravado pela ação de animais que circulam no território, em especial cavalos, cães e gatos (FIOCRUZ, 2014). Como mencionado, a maioria das habitações apresenta precárias condições de habitabilidade, fatores estes que colocam em risco a segurança e a saúde das famílias, aumentando a susceptibilidade ao contágio por agentes infecciosos. 1.2 Vigilância em Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) A vigilância em saúde pública caracteriza-se como a observação sistemática e contínua da frequência, da distribuição e dos determinantes dos eventos de saúde, tais como epidemias e endemias, e suas tendências para conhecer o processo de saúde-doença na população (CDC, 1998; OPAS, 2010). A vigilância é essencial Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 131 para as atividades de prevenção e controle de doenças e é uma ferramenta na alocação de recursos do sistema de saúde, assim como na avaliação do impacto de programas e serviços de saúde. As etapas incluem: coleta de dados, análise dos dados, interpretação e difusão da informação. Na coleta dos dados, as atividades envolvem operacionalização das diretrizes normativas, identificação, notificação e classificação de casos e validação dos dados. As atividades de identificação dos casos e notificação cabem às equipes de saúde. As demais atividades da etapa de coleta e as etapas de análise dos dados, interpretação e difusão da informação, cabem às autoridades de saúde municipais, estaduais e nacionais (OPAS, 2010). Dentre as doenças de importância em saúde pública e que são alvo de ações de vigilância, estão as zoonoses. As ações e os serviços de saúde voltados para vigilância, prevenção e controle de zoonoses e acidentes causados por animais peçonhentos e venenosos de relevância para a saúde pública foram estabelecidas na portaria de consolidação Nº 5, de 28 de setembro de 2017 (BRASIL, 2017a). Em suma, essas ações e serviços são: a) educação em saúde com vistas à guarda ou posse responsável de animais; b) vacinação animal contra zoonoses; c) diagnóstico laboratorial de zoonoses e identificação das espécies de animais de relevância para a saúde pública; d) recomendação e adoção de medidas de biossegurança que impeçam ou reduzam o risco de transmissão de zoonoses e de acidentes causados por animais peçonhentos e venenosos; e) controle da população de animais; f) coleta, recebimento, acondicionamento, conservação e transporte de espécimes ou amostras biológicas para os laboratórios responsáveis pela identificação ou diagnóstico laboratorial de zoonoses; g) gerenciamento de resíduos gerados pelas ações de vigilância de zoonoses; h) eutanásia; i) recolhimento e transporte de animais, j) recepção de animais vivos e de cadáveres de animais; k) manutenção e cuidados básicos de animais recolhidos em estabelecimento responsável por vigilância de zoonoses; l) destinação adequada dos animais recolhidos; m) investigação, por meio de necropsia, coleta e encaminhamento de amostras laboratoriais ou outros procedimentos pertinentes, de morte de animais suspeitos de zoonoses (BRASIL, 2017a). A Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ) é a estrutura física e técnica vinculada ao SUS responsável pela execução de parte ou da totalidade das atividades referentes à vigilância, prevenção e controle de zoonoses, previstas nos Planos de Saúde e Programações Anuais de Saúde, podendo estar organizada de forma municipal, regional e/ou estadual. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2016) divide as zoonoses em três sub-grupos: zoonoses monitoradas por programas nacionais de vigilância e controle do Ministério da Saúde; zoonoses consideradas de relevância regional ou local; e zoonoses emergentes ou reemergentes. As zoonoses monitoradas por programas nacionais de vigilância e controle do Ministério da Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 132 Saúde são: peste, leptospirose, febre maculosa brasileira, hantavirose, doença de Chagas, febre amarela, febre de chikungunya e febre do Nilo Ocidental. As zoonoses consideradas de relevância regional ou local são: toxoplasmose, esporotricose, ancilostomíase, toxocaríase (larva migrans cutânea e visceral), histoplasmose, criptococose, complexo equinococose-hidatidose, entre outras. As ações, atividades e estratégias de vigilância de zoonoses visam eliminar ou diminuir os riscos de transmissão à população humana (SOUZA et al., 2019). Elas devem ser precedidas da avaliação da magnitude, da transcendência, do potencial de disseminação, da gravidade, da severidade e da vulnerabilidade referentes ao processo epidemiológico de instalação, transmissão e manutenção de zoonoses, considerando a população exposta, a espécie animal envolvida, a área afetada (alvo), em tempo determinado (BRASIL, 2016). Ações de vigilância por meio de inquéritos sorológicos realizados em animais domésticos e silvestres de comunidades de florestas urbanas no Brasil confirmam a circulação frequente de zoonoses. Ornellas et al. (2020), em um levantamento prévio entre os anos de 2012 e 2014 no território do CFMA, por meio de um inquérito sorológico em fauna doméstica nessa área antropizada de floresta urbana, encontraram soropositividades para Toxoplasma gondii, Leptospira spp. e Leishmania infantum de 37,2%, 6,2% e 1,2%, respectivamente. Em estudo de amostras fecais de animais domésticos e silvestres de áreas urbanizada com fragmentos de floresta Amazônica, foi encontrada uma prevalência de 27,5% do vírus Rotavírus A, causador de gastroenterite em humanos e animais (BARROS et al., 2018). Em área de Mata Atlântica de um parque florestal do estado de São Paulo e de área antropizada do entorno, o inquérito sorológico para pesquisa de agentes causadores de zoonoses em animais domésticos e silvestres revelou a ocorrência de soropositividade para Brucella spp. em queixadas, catetos, onça pintada, cães domésticos e bovinos; e de Leptospira spp. em queixadas, catetos, onça pintada, bovinos, ovinos, suínos domésticos e equinos (NAVA et al., 2008). Na recente epidemia de febre amarela com ciclo de transmissão silvestre no Brasil, entre 2017–2018, a vigilância da doença em primatas não humanos, sobretudo em comunidades de floresta urbana, foi fundamental para as ações de prevenção e controle da febre amarela, impedindo a ocorrência do ciclo de transmissão urbana da doença (BRASIL, 2017b, MOUTINHO et al., 2020). Dessa forma, em comunidades de florestas urbanas deve haver uma ação de vigilância contínua e sistemática orientando as ações de prevenção e controle de zoonoses, que podem ter uma rápida propagação com impactos em escala local, nacional e internacional. Portanto, as ações deste estudo tiveram o objetivo de conhecer o território (dados socioambientais e epidemiológicos); levantar e monitorar agentes zoonóticos circulantes em animais domésticos e no ambiente; e desenvolver ações informativas Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 133 e educativas sobre prevenção e cuidados gerais com a saúde humana, animal e ambiental. As ações incluem uma rede colaborativa de parceiros das unidades da Fiocruz, referência no diagnóstico das zoonoses estudadas na região. Este é um trabalho contínuo de promoção da saúde nas comunidades do Setor 1 da CJM com base no conceito de Saúde Única. 2 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E LEVANTAMENTO DE AGENTES COM POTENCIAL ZOONÓTICO NO SETOR 1 DA COLÔNIA JULIANO MOREIRA (2018–2019) Foi realizado um inquérito epidemiológico em saúde, com o levantamento e o monitoramento de agentes zoonóticos em animais domésticos e de criação no Setor 1 da CJM. Foram realizadas buscas ativas nos domicílios (cada residência foi considerada um ponto de amostragem) para: o levantamento de dados sócioepidemiológicos; a avaliação clínica; e a coleta de material biológico dos animais domésticos. Após a coleta, o material seguiu para a Unidade de Processamento de Amostras Biológicas do CFMA, onde foi processado e, posteriormente, encaminhado aos laboratórios parceiros da Fiocruz. 2.1 Agentes infecciosos com potencial zoonótico As zoonoses, doenças que circulam entre humanos e outros vertebrados, representam uma ameaça crescente à saúde global (WHO, 2020a). Segundo Jones et al. (2008), ao longo da maior parte da segunda metade do século XX, as zoonoses corresponderam a 60% dos eventos de doenças emergentes infecciosas, contra 20% associados a patógenos resistentes a medicamentos e outros 20% associados a vetores. Mais de 70% destes eventos esteve relacionado a áreas com elevada diversidade biológica, nas quais humanos estavam em amplo contato com a biota local. Assim, locais onde comunidades vivam sob condições sanitárias precárias e estejam em contato ou tenham animais domésticos e de criação em contato com a fauna silvestre, tendem a ser mais susceptíveis à emergência dessas zoonoses. Da mesma forma, ambientes naturais desestruturados pela intervenção humana também aumentam o contato entre humanos e agentes infecciosos de origem silvestre, o que eleva o risco de emergência de doenças infecciosas e parasitárias. Dentro deste contexto, em 2018 e 2019, foram coletados materiais biológicos dos animais domésticos para o diagnóstico e/ou o isolamento dos seguintes agentes infecciosos associados às seguintes doenças: Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 134 2.1.1 Zoonoses helmínticas em comunidades com vulnerabilidade social (urbanas, rurais e/ou florestais) As principais zoonoses helmínticas caninas de importância na saúde pública são a toxocaríase humana e seus distúrbios: larva migrans visceral (LMV); neurotoxocaríase (NT); larva migrans ocular (LMO); larva migrans cutânea (LMC) e as equinococoses (hidatidoses). O ciclo de vida dos agentes etiológicos é favorecido pelo crescente número de cães, sejam eles domiciliados, peridomiciliados ou errantes; pela falta de assistência veterinária e posse responsável; e pelo contexto de vulnerabilidade socioambiental ao qual muitas comunidades humanas que vivem em latitudes tropicais e subtropicais estão sujeitas, marcado sobretudo pela ausência de saneamento básico e de hábitos de higiene adequados (CASSENOTE et al., 2011; DEPLAZES et al., 2011; WINDERS & MENKIN-SMITH, 2019; WANG et al., 2020). A toxocaríase humana ocorre quando há ingestão acidental de ovos embrionados, presentes no solo ou na água ou em vegetais crus, de nematoides do gênero Toxocara, em especial Toxocara canis WERNER, 1782 com manifestações clínicas posteriores, incluindo meningoencefalites ou cegueira (GLICKMA & SCHANTZ, 1981; MAGNAVAL et al., 2020). No duodeno, as larvas eclodem, atravessam a parede intestinal e ganham a circulação sanguínea, sendo capazes de migrar pelo corpo e chegar a outros órgãos, como fígado, coração, pulmão, cérebro e músculos. Todavia, o parasito não alcança seu desenvolvimento no tecido humano, e a patologia é ocasionada pela reação inflamatória local (toxocaríase comum ou encoberta), podendo levar a comprometimento neurológico (NT) ou ocular (LMO). Em contrapartida, as larvas também liberam antígenos glicoproteicos solúveis alergênicos durante a migração extra intestinal e ocasionam distúrbios sistêmicos, caracterizando a LMV (SUGANE & OSHIMA, 1983; MAGNAVAL et al., 2020; WANG et al., 2020). A LMC, conhecida como “bicho geográfico”, é a uma dermatite humana provocada pela migração de larvas de nematoides no estrato da pele, e as espécies comuns em cães e gatos, Ancylostoma braziliense FARIA, 1909 e Ancylostoma caninum ERCOLANI, 1859, são as mais relatadas (GUIMARÃES et al., 2005; CASSENOTE et al., 2011). A infecção se dá quando as larvas penetram na pele não protegida após contato direto com solo ou areia contaminados, causando prurido no local da penetração, geralmente nos pés, pernas, glúteos ou dorso, com característico desenvolvimento de um túnel filiforme subcutâneo de cor vermelho-amarronzada, com um trajeto sinuoso. O desconforto e risco de infecções bacterianas justificam o tratamento (PODDER et al., 2016; MAXFIELD & CRANE, 2019). As equinococoses são doenças crônicas e incapacitantes que afetam Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 135 principalmente o fígado e os pulmões, e os sinais e sintomas dependem do órgão acometido. Icterícia, dor e desconforto abdominal ocorrem quando há cistos hepáticos; e no caso de cistos nos pulmões, tosse, dor no peito e hemoptise. Os cistos cheios de “líquido hidático” se desenvolvem e crescem, causando principalmente compressão em estruturas vizinhas. A ruptura de cistos pode causar febre, urticária e reações anafiláticas. As pessoas se infectam ao consumirem acidentalmente água, alimentos ou solo contaminados com ovos de Echinococcus spp. (CASULLI et al., 2019). A equinococose cística (EC) causada pelo estágio larvar (metacestoide) do Echinococcus granulosus BATSCH, 1786 tem ampla distribuição mundial e no Brasil é comum no estado do Rio Grande do Sul. E. granulosus é considerado um complexo de espécies com status taxonômico incerto, sendo denominado E. granulosus senso latu constituído pelos genótipos Echinococcus granulosus sensu stricto (G1-3), Echinococcus ortleppi (G4); Echinococcus equinus (G5), Echinococcus felidis e o grupo E. canadensis (G6-7, G8, G10) (CASULLI et al., 2019). No contexto da EC, o cão doméstico é o principal hospedeiro definitivo, enquanto bovinos e ovinos atuam como hospedeiros intermediários (FARIAS et al., 2004). A equinococose policística (EP), causada pelo Echinococcus vogeli RAUSCH & BERNSTEIN, 1972, também tem o cão doméstico como reservatório do parasito no ambiente peridomiciliar, sendo endêmica na região neotropical e, no Brasil, relacionada à região amazônica. A maioria dos estudos relata a detecção da forma larval em pacas, Cuniculus paca, e no ser humano, ambos hospedeiros intermediários natural e acidental do E. vogeli, respectivamente (D’ALESSANDRO et al., 1981; D’ALESSANDRO & RAUSCH, 2008; D’ALESSANDRO, 1997; NOYA-ALARCÓN et al., 2011; ALMEIDA et al., 2013; MAYOR et al., 2015; ALMEIDA et al., 2015; DEBOURGOGNE et al., 2017; BITTENCOURT-OLIVEIRA et al., 2018). Os cenários que propiciam o desenvolvimento dessas doenças se estabelecem quando o indivíduo humano é contaminado com ovos embrionados de Echinococcus spp., ou quando os ovos de T. canis, A. braziliense ou A. caninum encontram condições favoráveis para se embrionarem e suas larvas se tornam infectantes. Os cães domésticos desempenham papel central nessa contaminação ambiental uma vez que eliminam e disseminam ovos dos parasitos pelas fezes. Apesar da disponibilidade de anti-helmínticos eficientes para cães, essas doenças persistem em áreas endêmicas, sobretudo em países com ausência de programas de controle ou, quando presentes, ineficazes (DEPLAZES et al., 2011; NEVES et al., 2017). As diferenças de prevalência das doenças são discrepantes entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, e os fatores de maior risco incluem pobreza, latitude, solo contaminado, idade jovem e alta concentração de cães. A toxocaríase, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 136 por exemplo, em países em desenvolvimento, é relatada com soroprevalência acima de 80% em crianças em partes da Nigéria, enquanto que nos Estados Unidos, as estimativas de soroprevalência variam de 5% a 15%, onde aproximadamente 10.000 casos clínicos são diagnosticados anualmente (BERRETT et al., 2017; FARMER et al., 2017; WINDERS & MENKIN-SMITH, 2019). Por sua vez, as equinococoses são zoonoses negligenciadas que infectam mais de um milhão de pessoas no mundo, sendo a EC mais prevalente em locais com de comunidades pobres. A EP, com elevada subnotificação, está relacionada a ambientes rurais florestais onde ocorrem os hospedeiros silvestres do ciclo natural do E. vogeli e a prática da caça para subsistência (NEVES et al., 2017; CASULLI et al., 2019). No levantamento das zoonoses helmínticas em cães e gatos domésticos no Setor 1 da CJM foram observados agentes infecciosos com potencial zoonótico, como helmintos ancilostomídeos e Toxocara sp. Os exames parasitológicos foram realizados pela equipe do Laboratório de Helmintos Parasitos de Vertebrados, Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ. As helmintíases foram, individualmente, tratadas e os tutores orientados quanto a medidas preventivas. 2.1.2 Esporotricose Esporotricose é uma micose subcutânea de distribuição mundial que acomete humanos e animais (BRASIL, 2019a). É uma doença emergente causada por fungos do complexo Sporothrix schenckii, tais como S. brasiliensis, S. schenckii, S. globosa e S. luriei. Nas últimas duas décadas houve intenso crescimento do número de casos de esporotricose no Brasil, em particular no Rio de Janeiro, que caracteriza-se, atualmente, como uma região hiperendêmica (PEREIRA, et al., 2014), tendo como agente etiológico o fungo S. brasiliensis. Essa espécie é considerada altamente patogênica para humanos e animais (RODRIGUES, et al., 2016; GREMIÃO, et al. 2017; GREMIÃO, et al. 2020). As infecções ocorrem tipicamente por inoculação do fungo na pele ou mucosa, em acidentes com espinhos ou lascas de madeira, contato com solo, plantas ou matéria orgânica contaminados. Alternativamente, a transmissão pode ser entre animais (de gato para gato ou de gato para cão) ou zoonótica (de gato para humano), através de mordedura ou arranhadura (GREMIÃO, et al. 2017). Cães aparentemente não atuam diretamente na transmissão de Sporothrix spp., possivelmente devido à baixa carga fúngica comumente observada em lesões nessa espécie (SCHUBACH et al., 2006). As principais formas clínicas da doença em humanos são: cutânea, caracterizada por lesões na pele; linfocutânea, com formação de nódulos subcutâneos Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 137 no trajeto de vasos linfáticos da região afetada; extracutânea, com acometimento de outros órgãos que não a pele; e disseminada, quando há acometimento de vários órgãos (BRASIL, 2019a). Em gatos as manifestações clínicas mais frequentes da esporotricose são: múltiplas lesões (úlceras e/ou nódulos) na pele, acometendo principalmente a região da cabeça, em especial o nariz; acometimento de membranas mucosas, principalmente do trato respiratório; linfangite e linfadenite. São comuns sinais clínicos respiratórios como espirros, dispneia e secreção nasal. O prognóstico depende do número e extensão das lesões, sendo pior quando há comprometimento respiratório. Depende ainda da condição clínica geral do animal e da persistência do tutor, visto que o tratamento é longo e requer cuidado diário (GREMIÃO, et al., 2015). As medidas de prevenção e controle da esporotricose incluem o uso de equipamentos de proteção individual para o manuseio do solo e matérias vegetais possivelmente contaminados, assim como para o manuseio de animais doentes; diagnóstico precoce, tratamento e isolamento de animais doentes; incineração do corpo do animal em caso de óbito, evitando a contaminação do solo (BRASIL, 2019a). A notificação de casos suspeitos ou confirmados em humanos e animais é compulsória em regiões endêmicas para esporotricose como o estado do Rio de Janeiro (SESRJ e FIOCRUZ, 2011). Entre 2018 e 2019 foram diagnosticados dois casos de esporotricose em gatos do Setor 1 da CJM e 35 casos em gatos do entorno. Os animais foram tratados e receberam acompanhamento ambulatorial mensal até a cura clínica. Um caso suspeito de esporotricose em cão foi encaminhado ao Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos (Lapclin-Dermzoo) do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, FIOCRUZ, para excluir a possibilidade de LT (diagnóstico diferencial), onde emitiram laudo da anatomia patológica com resultado negativo para as formas amastigota de Leishmania spp., negativo para micobactérias e confirmaram a infecção por Sporothrix sp. Este animal foi acompanhado clinicamente e terapeuticamente até a alta médica. Em todos os casos, os tutores dos animais foram orientados quanto aos cuidados e a prevenção da esporotricose. 2.1.3 Leishmanioses As leishmanioses são doenças causadas por mais de 20 espécies de protozoários do gênero Leishmania, transmitidos para humanos e outros vertebrados por meio da picada de fêmeas de insetos da subfamília Phlebotominae, conhecidos popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras e birigui (BRASIL, 2019b). Aproximadamente 70 espécies animais, incluindo humanos, já foram apontadas Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 138 como hospedeiros de Leishmania. As leishmanioses afetam principalmente pessoas em situações vulneráveis, estando associadas à desnutrição, deslocamento populacional, condições habitacionais ruins, comprometimento do sistema imune e baixa renda. A ocorrência de leishmanioses está também associada a mudanças ambientais como desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação, urbanização e mudanças climáticas (WHO, 2020b). As principais formas clínicas das leishmanioses são leishmaniose visceral (LV), também conhecida como calazar; e leishmaniose tegumentar (LT), que inclui as formas cutânea e mucosa ou mucocutânea (BRASIL, 2019b). Atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas vivem em áreas endêmicas para leishmanioses e estão em risco de infecção. Estima-se que anualmente ocorram 30.000 novos casos de LV e mais de 1 milhão de novos casos de LT no mundo (WHO, 2020b). Em 2018, 20% dos novos casos de LV reportados à Organização Mundial da Saúde ocorreram no Brasil e o país estava entre os sete com maior incidência de LT no mundo (RUIZPOSTIGO et al., 2020). A LV é uma doença sistêmica crônica que pode levar a óbito mais de 90% dos casos não tratados. As principais manifestações clínicas da LV são: febre, hepatomegalia, esplenomegalia, emagrecimento, fraqueza e anemia. O agente etiológico nas Américas é a Leishmania (Leishmania) infantum (considerada sinônimo sênior para L. (L.) chagasi) e os vetores no Brasil são Lutzomyia longipalpis (principalmente), Lu. cruzi e, possivelmente, Lu. migonei. Em ambiente urbano, o cão doméstico (Canis lupus familiaris) é apontado como principal reservatório do parasito. Raposas (Lycalopex vetulus e Cerdocyon thous) e marsupiais (Didelphis spp.) são exemplos de reservatórios silvestres (BRASIL, 2019b). Anteriormente típica de áreas rurais, a LV vem sofrendo uma mudança em seu cenário epidemiológico e atualmente ocorre predominantemente em áreas urbanas centrais e periféricas, frequentemente associada a condições sanitárias precárias (MARCHI et al., 2019; MARCONDES & DAY, 2019). A LT é uma doença crônica que tem como principal manifestação clínica úlceras na pele e/ou em mucosas, que podem ser únicas, múltiplas, disseminadas ou difusas, acometendo principalmente nariz, boca e garganta. Diferentes espécies de Leishmania são agentes etiológicos de LT, sendo as principais no Brasil: L. (Viannia) braziliensis, L. (V.) guyanensis e L. (L.) amazonensis, e seus vetores: Lu. intermedia, Lu. whitmani, Lu. umbratilis, Lu. wellcomei, Lu. flaviscutellata e Lu. migonei (BRASIL, 2019b). A LT já foi descrita em diversas espécies de animais silvestres, sinantrópicos e domésticos. Diferentemente do que é descrito na LV, cão doméstico não é considerado reservatório das espécies de Leishmania causadoras de LT. Antes considerada uma doença de animais silvestres e ocasionalmente de pessoas em contato com florestas, a LT atualmente tem ocorrência crescente em Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 139 zonas rurais, áreas de desmatamento e regiões periurbanas brasileiras (BRASIL, 2019b; MARCHI, et al., 2019). As leishmanioses são doenças de notificação compulsória. Casos humanos confirmados devem ser investigados quanto à origem da infecção (autóctones ou importados) e devem ser notificados ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) (BRASIL, 2019b). Casos caninos e felinos devem ser notificados aos serviços públicos de saúde do local provável de infecção. As medidas de prevenção e controle das leishmanioses incluem: diagnóstico precoce e tratamento de casos humanos; investigação entomológica e medidas de controle ambiental e proteção individual contra vetores; ações de educação em saúde e vigilância em cães domésticos. O inquérito sorológico canino é recomendado em áreas endêmicas para LV e receptivas (onde há a presença de vetores, porém sem confirmação de casos humanos ou caninos). O Ministério da Saúde do Brasil recomenda a eutanásia de cães com diagnóstico sorológico ou parasitológico de LV (BRASIL, 2019b). Essa medida é controversa e apontada por alguns pesquisadores como ineficaz no controle da LV (COURTENAY, et al., 2002; DANTAS-TORRES et al., 2018). Apesar da recomendação de eutanásia, tutores podem optar pelo tratamento de cães infectados, desde que não sejam utilizados medicamentos recomendados para tratamento em humanos (BRASIL, 2008; MAPA, 2016). Não há recomendação de inquérito para diagnóstico de LT em cães, porém, faz-se necessária a identificação da espécie de Leishmania nos casos provenientes de áreas de ocorrência concomitante de LV e LT (BRASIL, 2019b). Entre 2018 e 2019 não foram encontrados casos suspeitos de leishmaniose visceral canina (LVC) na região do estudo e todos os testes rápidos (TR DPP® Leishmaniose Visceral Canina, Bio-Manguinhos) realizados no Setor 1 da CJM foram negativos. Também não foram diagnosticados casos de LT. 2.1.4 Criptococose, micose sistêmica Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii são os dois complexos de espécies de leveduras agentes da criptococose, infecção sistêmica responsável por cerca de 624 mil mortes ao ano (KWON-CHUNG et al., 2017). A infecção é adquirida por meio da inalação de células desidratadas presentes em diversas fontes ambientais. Após atingir o pulmão, a infecção pode disseminar para vários órgãos, podendo causar meningite ou meningoencefalite. Estima-se que, por ano, existam cerca de um milhão de casos de meningite criptocócica em todo o mundo, sendo 80% desses casos na África. A maioria dos casos está relacionada à pacientes com AIDS causada pelo C. neoformans, e frequentemente este diagnóstico é feito simultaneamente com o Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 140 diagnóstico da criptococose. Pode-se ainda sugerir que a criptococose funciona como “sinalização” para a suspeita de AIDS (PARK et al., 2009; MEYA et al., 2010). Além do mais, ocupa a terceira posição como infecção fúngica que mais acomete pacientes transplantados, visto que indivíduos submetidos à terapia imunossupressora ou quimioterápica apresentam grande risco de contrair a infecção (SINGH & FORREST, 2009). A criptococose também pode ocorrer como uma infecção endêmica primária que acomete imunocompetentes causada por C. gattii. A letalidade da criptococose varia entre diferentes países e depende de diversos fatores como a disponibilidade de terapia antiretroviral (ART), antifúngicos, bem como o tempo de diagnóstico após início dos sintomas. Na África, apesar do aumento da disponibilidade da ART e anfotericina B, a letalidade varia entre 17 e 62% (SOW et al., 2013). No Brasil, apesar da ART ser disponibilizado pelo Ministério da Saúde, a letalidade na primeira semana pode chegar a 51% (PAPALARDO et al., 2007, MORA et al., 2010), o que pode ser atribuído ao avançado estado de imunodepressão na admissão do paciente e ao diagnóstico tardio. Em países desenvolvidos, como os da Europa e América do Norte, esses números são menores, chegando a 32% e 26% respectivamente. Em cães e gatos, normalmente a cavidade nasal é o local inicial de infecção. Na maioria dos casos é apenas uma colonização subclínica sem invasão do epitélio (DUNCAN et al., 2006). O período de incubação varia de meses a anos, e a fonte de infecção permanece desconhecida. A exposição ambiental e a colonização assintomática do trato respiratório são mais comuns do que a doença clínica (MALIK et al., 1997), e casos assintomáticos por C. gattii têm sido reconhecidos em 4,3% de gatos, 1,1% de cachorros e em 2% de animais silvestres (esquilos) no Canadá (DUNCAN et al., 2006; BARTLETT et al., 2008). O gato possui uma notável suscetibilidade aos agentes da criptococose e pode ser sentinela para a exposição humana (TRIVEDI et al., 2011). O aumento dos casos potencialmente fatais e a emergência de epidemias justificam a necessidade da vigilância epidemiológica da doença. São reconhecidos cinco sorotipos e oito tipos moleculares principais para os agentes da criptococose: os sorotipos A, AD e D, e os tipos moleculares VNI a VNIV, para C. neoformans; e sorotipos B e C, e os tipos moleculares VGI a VGIV, para C. gattii, e recentemente, centenas de subtipos moleculares (ST) foram descobertos a partir do sequenciamento de diversos loci. Estes STs apresentam diferenças clínicas e eco-epidemiológicas importantes, como variações na distribuição geográfica, prevalência, virulência, resistência aos antimicrobianos, taxas de mortalidade e prognóstico da infecção, justificando, assim, sua significância e necessidade de monitoramento dos genótipos circulantes e consolidação da vigilância epidemiológica em nosso País. Não foram isolados agentes fúngicos causadores de micoses sistêmicas, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 141 como Cryptococcus spp. em cães e gatos domésticos no Setor 1 da CJM. Os procedimentos para o isolamento do fungo foram realizados no Laboratório de Micologia do INI/Fiocruz. Como perspectivas futuras, realizaremos estudos ambientais para fungos sistêmicos no Setor 1 da CJM. 3 | CONSIDERAÇÕES FINAIS Florestas urbanas no Brasil, mesmo quando protegidas por unidades de preservação, sofrem diferentes pressões antrópicas associadas ao crescimento urbano desordenado, o que se soma às desigualdades sociais e falta de ações do poder público no tocante a uma política de habitação, fiscalização, educação e saneamento. Como consequência, áreas de conservação e as florestas adjacentes que compõem suas zonas de amortecimento são invadidas e desmatadas em busca de moradia e especulação imobiliária. Nas florestas urbanas, é comum encontrar áreas no seu entorno com diferentes graus de ocupação e urbanização. São encontradas tanto áreas com ruas asfaltadas, fornecimento de água potável encanada e rede de esgoto, com recolhimento regular de lixo; como áreas com moradias precárias, com ruas sem asfalto, sem água tratada, rede de esgoto, recolhimento regular de lixo; bem como áreas com características rurais, com criação de animais de produção e plantações de frutas e vegetais (ORNELLAS et al., 2020). Essa situação ambiental, com proximidade de habitações às florestas, bem como as ações de desmatamento e ocorrência de vulnerabilidade social, caracterizadas por moradias precárias, adensamento populacional, falta de água tratada e saneamento, desnutrição, baixa escolaridade, falta de hábitos de higiene e falta de acesso aos serviços de saúde, entre outros levam a cenários de contato de humanos, vetores, animais domésticos e silvestres e agentes infeciosos, o que potencializa os riscos de emergência e reemergência de zoonoses. A urbanização pode ser um fator que aumenta o risco de ocorrência de zoonoses, uma vez que há um rápido crescimento e aumento da densidade da ocupação humana, aumento do movimento de pessoas e animais, maior complexidade nas cadeias de valor em torno de produtos de origem animal, migração rural-urbana, desigualdades entre cidades e mudanças no uso da terra (AHMED et al., 2019). De acordo com Willcox e Ellis (2006), o papel das florestas e do manejo florestal no surgimento de doenças infecciosas dos seres humanos parece envolver três dinâmicas separadas, mas que interagem, são elas: (i) mudança no uso da terra e expansão de populações humanas em áreas florestais, resultando em exposição de populações de humanos e animais domésticos não imunes a patógenos (ou seja, aqueles que ainda não foram expostos à fauna desses microparasitas), ocorrendo Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 142 naturalmente entre a fauna silvestre; (ii) desmatamento e alteração de florestas produzindo um aumento na abundância ou dispersão de patógenos por influenciar na abundância e distribuição de hospedeiros e vetores; e (iii) alteração das funções ecohidrológicas como infiltração, pico de descarga e escoamento superficial da água, que facilitam a sobrevivência e o transporte de patógenos em bacias hidrográficas. A transmissão dos agentes causadores de zoonoses nas comunidades adjacentes a florestas urbanas pode ocorrer tanto pelo contato direto entre humanos e animais domésticos, silvestres e sinantrópicos, quanto pela ingestão de água e alimentos contaminados, assim como por insetos vetores como mosquitos, flebotomíneos, pulgas e carrapatos. Desde o inicio das atividades na região, bactérias, vírus e protozoários, incluindo tripanosomatideos, de potencial patogênico para humanos foram identificados no território do CFMA e adjacências, por diversos grupos, em pesquisas realizadas em parceira com a Área de Saúde Ambiental do PDCFMA (e.g., FERREIRA et al., 2018; HORTA et al., 2018; RANGEL et al., 2019; GONÇALVESDE-OLIVEIRA et al., 2020; ORNELLAS et al., 2020). Portanto, esses resultados e as características ambientais e sociais do território reforçam a importância da Vigilância em Saúde para a promoção da saúde. A integração entre a Vigilância em Saúde e a Atenção Primária à Saúde é condição obrigatória para a construção da integralidade na atenção e para o alcance dos resultados, com desenvolvimento de um processo de trabalho condizente com a realidade local (BRASIL, 2017; BRASIL, 2017c). O médico veterinário é considerado um profissional da área da saúde pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1997), sendo imprescindível a sua atuação na saúde pública por meio da vigilância, controle e prevenção de zoonoses. Esse profissional, independentemente de sua especialidade, deve notificar a ocorrência de zoonoses ou a simples suspeita dela aos órgãos competentes. No caso de doenças de notificação obrigatória, essa notificação às autoridades de saúde competentes é um dever previsto no Código de Ética Profissional, Resolução CFMV nº 1138, de 16 de dezembro de 2016 (CFMV, 2016). Portanto, o médico veterinário deve estar atento às listas atualizadas de doenças compulsórias dos órgãos públicos da saúde e agricultura, nas quais há diversas enfermidades zoonóticas e de transmissão vetorial associadas direta ou indiretamente às atividades dos médicos veterinários (MOUTINHO, 2016; BRASIL, 2020). Para esse profissional, existem duas listas de doenças de notificação obrigatória a nível federal, sendo uma do Ministério da Saúde e a outra do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A lista do Ministério da Saúde está descrita na Portaria Nº 1.061, de 18 de maio de 2020 (BRASIL, 2020). A lista do MAPA está descrita na Instrução Normativa nº 50, de 24 de setembro de 2013 (BRASIL, 2013). Ademais, na atividade de notificação de zoonoses, é fundamental a articulação entre os serviços públicos Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 143 de vigilância e os médicos veterinários de diversos setores e campos de atuação, para que seja identificada oportuna e precocemente a introdução de uma zoonose em uma determinada área ou seu risco iminente (BRASIL, 2016). Essa atuação na saúde pública reforça a importância desse profissional, que pela sua formação possui habilidades para atuar utilizando a abordagem de Saúde Única sobre a tríade ambiente, humanos e demais animais, o que é essencial para prevenir e controlar as zoonoses (KHAN, 2006; MOUTINHO, 2016). Ainda dentro da abordagem de saúde única, é importante ressaltar que o sucesso da atuação do médico veterinário está relacionado a sua comunicação, colaboração e coordenação de atividades com médicos humanos, outros profissionais da saúde, ecólogos e cientistas sociais, dentre outros, tanto no campo da clínica, da saúde pública, como no da pesquisa (KHAN, 2006; DIZINGIRAI et al., 2017; DESTOUMIEUX-GARZÓN et al., 2018). Como reconhecimento da importância do médico veterinário na saúde pública e da atuação interdisciplinar de profissionais da área de saúde, sobretudo no controle de zoonoses, o Ministério da Saúde possibilitou a inclusão do médico veterinário no Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF), a partir de 2011 (BRASIL, 2011; MOUTINHO, 2016). O NASF faz parte do Sistema Único de Saúde e visa aperfeiçoar a Atenção Básica, fornecendo base de apoio especializada e matricial às equipes da Estratégia de Saúde da Família (BRASIL, 2013; MOUTINHO, 2016). Como perspectiva futura para as ações em comunidades com vulnerabilidade social, destacamos a inclusão de novos parceiros (laboratórios referência no diagnóstico de agentes zoonóticos) e novas comunidades do entorno do Setor 1 da CJM. Por fim, é importante destacar a crise sanitária mundial que estamos vivenciando, a qual vem causando um impacto sem precedentes na história atual das sociedades, causada pela pandemia do COVID-19. Frente a esta situação, pesquisadores e especialistas em todo o mundo se uniram na missão de construir conhecimento para o enfrentamento desta pandemia, com ações conjuntas como programas e campanhas de iniciativas nacionais e internacionais. Considerando a transmissão direta por fômites e a proximidade de animais domésticos e humanos, que se destaca a possibilidade de cães e gatos domésticos serem sentinelas, carreadores ou reservatórios do novo coronavírus, podendo desempenhar ou não um papel na epidemiologia da doença. Shi et al. (2020) identificaram furões e gatos como altamente suscetíveis. Além destes, cães podem se infectar, mas são menos suscetíveis, e animais de produção, como aves e suínos, não apresentaram suscetibilidade a esse agente. Frente ao conhecimento estabelecido, não é possível descartar a possibilidade desses animais atuarem como uma fonte de infecção desse vírus para os humanos. Assim, convém evitar o contato de pessoas infectadas com esses animais, pois foi verificado que podem carrear o Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 144 vírus agindo como fômites. Esse risco de transmissão é considerado baixo, mas são necessários alguns cuidados com os animais de companhia, a fim de evitar diferentes doenças infecciosas, incluindo a infecção por SARS-CoV-2. É importante manter a higiene, lavando as mãos antes e depois de interagir com esses animais, evitar a aproximação desses animais com pessoas doentes e limitar o contato do animal com pessoas fora do domicílio. Dessa forma, são necessários mais estudos, a fim de; não criar pânico na população com consequente abandono, maus tratos e eutanásia desnecessária desses animais (CDC, 2019 RISTOW et al., 2020). Além disso, esses animais abandonados podem ser um grave problema de saúde pública, especialmente para o aumento da incidência de importantes zoonoses, como a raiva e as leishmanioses (OPAS, 2020). REFERÊNCIAS AHMED, S.; D’ÁVILA, J.D.; ALLEN, A.; HAKLAY M. et al. Does urbanization make emergence of zoonosis more likely? Evidence, myths and gaps. Environment and Urbanization, Londres, v.31, p. 443-460, 2019. ALMEIDA, F.; OLIVEIRA, F.; NEVES, R.; SIQUEIRA, N.; RODRIGUES-SILVA, R.; DAIPERTGARCIA, D.; MACHADO-SILVA, J.R. 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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 11 152 doi CAPÍTULO 12 TRABALHO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL: ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA INTEGRAÇÃO DA FORÇA FEMININA NO SETOR TERCIÁRIO DE MATO GROSSO DO SUL Data de aceite: 01/10/2020 Daniel Massen Frainer http://lattes.cnpq.br/6910455102814572 https://orcid.org/0000-0003-0813-214X Ailene de Oliveira Figueiredo http://lattes.cnpq.br/8591447066310316 https://orcid.org/0000-0001-7066-576X RESUMO : O objetivo deste artigo é analisar a evolução da integração da força de trabalho feminina em suas relações sociais, ambientais e econômicas, e a responsabilidade socioambiental das empresas como cidadania econômica na esfera regional. Analisa a ocupação no setor terciário do Estado de Mato Grosso do Sul, descrevendo as mudanças ocorridas em razão das mudanças tecnológicas, flexibilização produtiva e das relações de trabalho, redução na oferta de emprego no setor terciário, o qual reconhecidamente, é qualificado como setor de maior precarização das relações de trabalho. Nesta perspectiva, examina o conceito da igualdade nos empregos verdes, o qual possui formulação ampla, para todo e qualquer emprego, relacionando a todas as convenções internacionais que trata sobre o tema, a responsabilidade socioambiental das empresas (RSE) no acesso emprego, e seus reflexos no desenvolvimento regional. A metodologia utilizada é analítico descritiva quantitativa, utiliza para tanto, dados secundários obtidos por meio do RAIS-CAGED e IBGE-PNAD, no período 20022018. Os resultados evidenciaram um aumento populacional das mulheres, e estagnação da força feminina no mercado de trabalho regional, mesmo sendo o setor responsável pelo maior crescimento de ocupações. PALAVRAS-CHAVE: Economia do Trabalho; Gênero; Empregos Verdes; Desenvolvimento Regional Sustentável; Responsabilidade Socioambiental das Empresas (RSE). ABSTRACT: The aim of this article is to analyze the evolution of the integration of the female workforce in their social, environmental, and economic relations, and the socio-environmental responsibility of companies as economic citizenship in the regional sphere. It analyzes the occupation in the tertiary sector of the state of Mato Grosso do Sul, describing the changes that occurred due to technological changes, productive flexibility and labor relations, reduction in the provision of employment in the tertiary sector, which recognized, is qualified as a sector of greater precarization of labor relations. In this perspective, it examines the concept of equality in green jobs, which has broad formulation for any and all jobs, relating to all the international conventions dealing with the topic, the socioenvironmental Responsibility of companies (CSR) Access to employment, and its reflections on regional development. The methodology used is quantitative descriptive analytical, uses for both, secondary data obtained through the RAIS-CAGED and IBGE-PNAD, in the period 2002-2018. The results evidenced a population increase of women, and stagnation of female strength in the regional labor market, even being the sector responsible for the greater growth of Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 153 occupations. KEYWORDS: Economy of Labor; Gender; Green Jobs; Sustainable Regional Development; Corporate Socio-environmental Responsibility (CSR). 1 | INTRODUÇÃO O objetivo deste artigo é analisar a integração da força de trabalho feminina em suas relações socioambientais e econômicas no setor terciário de Mato Grosso do Sul, e a responsabilidade socioambiental das empresas, descrevendo a relação de ocupação feminina no âmbito regional, amparados pelo conceito de empregos verdes e a implementação da responsabilidade socioambiental empresarial (RSE) no meio ambiente do trabalho como parâmetro ético na promoção do princípio da igualdade. Com o declínio dos modelos tayloristas e fordistas de organização do trabalho, o qual foi motivado por uma concepção flexibilizada dos processos produtivos, surgiu então um novo padrão organizacional intitulado toyotismo. A produção em massa foi abandonada, emergindo, a título da redução de custos, a ideia da produção vinculada a demanda. Os trabalhadores dedicados à atividadefim, objeto social do empreendimento, passaram a ser estimulados por mecanismos de competição: suas retribuições seriam mais elevadas na medida que alcançassem ou superassem metas preestabelecidas, e aqueles que não se adaptassem eram dispensados, e, mediante novas contratações, realocados em outra empresas para que realizassem atividades-meio, isto é, atividades secundárias ou instrumentais da atividade fim. Numa análise setorizada da economia, o setor terciário, é conceituado como: “aquele que incorpora atividades que não produzem nem modificam objetos físicos (produtos ou mercadorias) e que terminam no momento em que são realizadas.” (VARGAS, 2001), sugerem a análise de seu ambiente, localização e de seus trabalhadores, sob a lume dos princípios universais, e precarização generalizada das relações de trabalho inaugurado a partir da reforma trabalhista. A elaboração e a promoção da responsabilidade social das empresas (RSE) na implementação do trabalho decente, ora qualificado como empregos verdes, estabelece padrões éticos destinados às empresas com a assunção de compromissos que tem como princípio central, o da promoção e firmamento do conceito de igualdade na diferença, nas dimensões de acesso, manutenção e promoção no trabalho da mulher. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 154 2 | METODOLOGIA Esse artigo aborda o tipo de pesquisa descritiva, que tem como conceito a caracterização de determinado fenômeno ou população, interpretando-os. Segundo (VERGARA, 2000), trata-se da mais tradicional tipologia de pesquisa, caracterizada pela descrição de um fenômeno sobre determinado período, e/ou comportamento de suas variáveis, e após esse recorte temporal, analisa-se as causas que influenciaram a sua ocorrência, e que podem ser diferentes das pesquisadas anteriormente. O estudo abrangeu igualmente a pesquisa exploratória bibliográfica quanto ao estudo teórico, e análise dos dados secundários extraídos por meio de relatórios e por órgãos e institutos que pesquisam dados econômicos. Objetiva-se uma análise estatística para o alcance dos resultados e consequentemente, para a consecução dos objetivos propostos pela pesquisa. Os dados obtidos estão alicerçados em pesquisas realizadas pelo IBGE na base dados do Sistema de Contas Nacionais e Pesquisa Nacional de Amostra por município (PNAD), ambos do IBGE ano 2018. A PNAD Contínua é elaborada por meio de amostra por domicílios colhidos da amostra-mestra por setores censitários, e encerrada em dezembro de 2018. A pesquisa infere as características gerais da população com mineração de dados na vertente de ocupação e diferenciais entre gênero, informações econômicas disponibilizadas pelo IBGE e pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Foi instituído pela Lei n. 4.923/65 para registro de “admissões e dispensas de empregados nas empresas abrangidas pelo sistema da “Consolidação das Leis do Trabalho” (BRASIL, 1965), no recorte temporal 2002-2018. Tem como a finalidade direcionar políticas públicas de geração de bem-estar social, com necessidade de mineração de dados para o Governo Federal por meio do Ministério do Trabalho e Emprego. Reformulado em 2007, adotou-se a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que se trata de um relatório de informações socioeconômicas elaborado por pessoas jurídicas e outros empregadores formais e entregue anualmente. Este relatório trata dos vínculos empregatícios da administração pública e privada, e empregadores cadastrados no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), fornecendo informações estatísticas para tomada de decisões governamentais. 3 | MEDIAÇÃO TEÓRICA: DESENVOLVIMENTO ECOLOGIA, FEMINISMO E Os pensadores mais antigos trouxeram a discussão acerca da gestão de bens e serviços nas sociedades, tratando de questões como filosofia da moral ou política. Entretanto, com o surgimento das fábricas e da produção de bens em massa, instaurou-se uma nova era de organização econômica, que fazia uma análise do Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 155 todo, isto é, a economia de mercado. Esse mecanismo cria oportunidade de lucro para produtores que competem entre si para fornecer mais produto. Na segunda metade do século XX, novas áreas da economia se incorporaram às teorias, a psicologia, sociologia e, ao mesmo tempo, os cientistas concluíram que a crescente riqueza econômica ocorria à custa do ambiente, na forma de alterações climáticas potencialmente desastrosas. Na esteira de tais mudanças, o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA – United Nations Enviroment Programme, UNEP), define economia verde como “aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, ao mesmo tempo que reduz significativamente os riscos ambientais e das limitações ecológicas, isto é, uma economia socialmente inclusiva, de baixo-carbono e eficiente no uso dos recursos ambientais. Segundo Seroa Mota & Dubeux (2011), “economia verde é a proposta de conjunto de instrumentos para o alcance do desenvolvimento sustentável”. A UNEP (2011) propõe como “objetivo-chave de uma transição para a economia verde é eliminar os trade-off entre crescimento econômico e investimento, e os ganhos de qualidade ambiental e inclusão social”. Ao se discutir a inclusão social, o desenvolvimento teórico feminista, no início dos anos 1970, veio a consolidar análises diversas. Desde a fundação da Associação Internacional para a Economia Feminista (IAFFE) na década de 1990, aeconomia feminista se tornou um campo de estudos em que são desenvolvidas pesquisas acadêmicas e promovem a criação de espaço político por meio de movimentos sociais, das Organizações Não Governamentais (ONG’s) e de associações de mulheres trabalhadoras. Combina argumentos com o feminismo contra o racismo, pós-colonial, pós-moderno, com economia marxista e economia ecologista (TEIXEIRA, 2017). Pérez Orozco (2005) estabelece diferenciais entre “economias feministas conciliatórias”, as quais não rompem com a lógicas mercantis de produção, e têm como ponto de partida a redefinição dos princípios entre economia e trabalho, a análise econômica por meio de diferenciais nas relações de gênero, bem como analisa as causas das divisões desiguais. As “economias “rupturistas”, partem da análise das experiências e possui como marco inicial, isto é, como uma categoria de análise primária, a sustentabilidade humana.” Neste contexto social, econômico e ambiental complexo, vem se firmando, segundo Teixeira (2017), “a construção de um novo marco conceitual reconhecido como economia feminista”, que segundo a autora, “irá formular a crítica a economia predominante, a partir do reconhecimento de sua estreiteza ao focar métodos matemáticos, fenômenos repletos de conexões”. As autoras propõem que a Economia passe a ser definida por uma preocupação com a sustentabilidade da vida em todas as esferas em que se realiza Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 156 e não unicamente pelo mercado. Substituindo-se a racionalidade econômica pelo que é necessário para a implantação da sustentabilidade humana. O campo de estudo sobre o feminismo, segundo Hughes (1989), está alicerçado na ecologia humana que possui quatro eixos fundantes : a economia, o estado, a cultura e o parentesco. A partir deste eixo são concebidos subsistemas sociais: democracia, nacionalismo, conexão entre racismo e homofobia, o feminismo, economia feminista o ecofeminismo, que formam os eixos argumentativos situados entre os campos da economia capitalista e da família e/ou parentesco. Figura 1. Eixos fundantes dos sistemas e subsistemas da Ecologia Humana. Fonte: Hughues, 1989. Siliprandi (2000) elabora fundamentos que estruturam o Ecofeminismo como parte integrante da Economia feminista, e o define como “uma escola de pensamento que tem orientado movimentos ambientalistas e feministas desde a década de 70, em várias partes do mundo, procurando fazer uma interconexão entre a dominação do ambiente e a dominação das mulheres, podendo ser considerada mais como uma corrente que trabalha com mulheres dentro do movimento ambientalista. Segundo Rocha (2006), as intituladas de ecoideologias buscam contribuir para uma crítica ecológica mais consistente, sem, contudo, pressupor a existência de um tipo ideal de militante. Em uma análise concreta, não é possível estabelecer tais rupturas, sem que sejam estudadas as dinâmicas econômicas nas formas em que se estabelecem, e sob a lume dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), recomenda-se uma análise como parte integrante da economia ecológica. A Economia ecológica se caracteriza por uma área de estudo transdisciplinar que analisa ecossistemas naturais e Economia, sendo diferenciada quanto a Economia ambiental, que está fundamentada na Economia neoclássica. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 157 4 | A RELAÇÃO CONCEITUAL ENTRE IGUALDADE DE GÊNEROS E EMPREGOS VERDES As Ciências Sociais e Humanas o conceituam o ambiente como certas condições externas a um fenômeno e fazem uso dos adjetivos econômico, cultural e político (REIS, VELHO, 1997). A Geografia entende o ambiente “como o suporte físico imediato ou o sistema de objetos que percebemos a nossa volta (HOLZER, 1997). O Direito o define como “produto das interrelações dos subsistemas naturais, econômico e sociais” (GIANNUZZO, 2010). O meio ambiente pode ser classificado: meio ambiente físico, constituído pelo solo, água, ar atmosférico, flora e fauna; meio ambiente cultural; pelos valores históricos, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico existentes em um determinado país; o meio ambiente artificial em que está inserido o espaço urbano construído pelo ser humano, englobando o conjunto de edificações, e espaços urbanos públicos, e o meio ambiente do trabalho, local de realização de atividade laboral. O Pnuma na Conferência Rio+20, em 2009, definiu o conceito de economia verde, como um sistema econômico cuja atividades em todos os setores – investimento, produção, comercialização, distribuição e consumo, respeitem os limites dos ecossistemas, com a finalidade de preservar o meio ambiente. Na relação economia e trabalho, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), define o trabalho decente como promoção de oportunidades para que homens e mulheres possam ter uma atividade decente e produtiva em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana, suficiente em oportunidades e renda, direitos, participação e reconhecimento, estabilidade familiar e desenvolvimento pessoal, justiça e igualdade de gênero. Tal definição apresenta diferentes dimensões, estabelecendo meios para o alcance de um desenvolvimento sustentável inclusivo, resumindo a transformação pela qual perpassam as economias, as empresas, os ambientes de trabalho e os mercados de trabalho. Orienta-se para o desenvolvimento de uma economia sustentável, que proporcione simultaneamente, um trabalho decente e com baixo consumo de carbono. Toda atividade econômica está atrelada à base legislativa regulatória, em caráter interno e externo. O arcabouço legislativo brasileiro, representado pela internalização dos preceitos contidos nos documentos internacionais da OIT, que preveem o conceito de igualdade desde sua fundação em 1919, cuja cumulação com a Convenção Para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW), delimitam e definem standarts para mitigação de práticas e de condições de trabalho que constituam discriminação contra a mulher e pautam uma agenda para a ação dos estados membros com a finalidade de inclusão econômica. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 158 Internamente, a Constituição Federal de 1988, define em seu artigo 6º como direitos sociais: educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção a maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. A urbanização ampliou o mercado de trabalho, em um processo de individuação feminina como trabalhadora (OLIVEIRA, 1997), e o segmento terciário abriu inicialmente possibilidades para o trabalho feminino independente da família, processo que se reproduz até os dias atuais (BRUSCHINI, 1998). Os direitos sociais e o trabalho assim como outros tem alicerce no conceito de emprego decente. A afirmação da igualdade como objetivo, traz a lume a condição feminina, a desigualdade de gêneros e o desnivelamento social e econômico entre homens e mulheres são acirrados no meio ambiente laboral, em que são menos remuneradas, mesmo sendo chefes de família e possuindo maior escolaridade, ocupam cargos de menor relevância econômica e social, tornando-se um desafio a implementação dos direitos de segunda1 e terceira2 geração não apenas a nível nacional, mas no âmbito do desenvolvimento regional. O princípio da igualdade de gênero, segundo Lima (2011, p. 45, 49), “é um desdobramento do princípio da igualdade, que tem fundamento na dignidade da pessoa humana, é sustentáculo fundamental do Estado democrático e princípio crucial estruturação do sistema político e jurídico”. Sendo certo que há uma diferença entre o princípio da igualdade e o princípio da não discriminação, que segundo Thome (2012), este é espécie e aquele é gênero, sendo o princípio da não discriminação, o conteúdo mínimo da igualdade. Os Direitos Sociais trabalhistas na Constituição Federal de 1989 possuem sintonia no que tange ao combate à discriminação contra mulher e aos parâmetros protetivos internacionais como promoção da igualdade através de políticas compensatórias – artigo 7º XX (previsão de proteção mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos em lei), e de vertente repressivo-punitiva – art. 7º, XXX, por meio da proibição da discriminação contra a mulher em que é proibida formalmente a diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (CALIL, 2000). A promulgação da Constituição Federal de 1989 promove ganhos constitucionais: a) a igualdade entre homens e mulheres, inclusive no âmbito da família, b) o reconhecimento da união estável como entidade familiar, c) a proibição 1 Ligados ao valor igualdade, os direitos fundamentais de segunda geração são os direitos sociais, econômicos e culturais. São direitos de titularidade coletiva e com caráter positivo, pois exigem a atuação do Estado. 2 Ligados ao desenvolvimento e progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, bom como ao direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade. São os direitos transindividuais, em rol exemplificativo, destinados à proteção do gênero humano.( https://www.lfg.com.br/conteudos/artigos/direito-constitucional/quais-sao-os-direitos-de-primeira-segunda-terceira-e-quarta-geracao-denise-cristina-mantovani-cera, acesso em 15/04/2016.) Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 159 da discriminação no mercado de trabalho por motivo de sexo ou estado civil (art. 7º XXX), regulamentado pela Lei 9.292 de 13 de abril de 1995 que proíbe a exigência de atestado de gravidez e esterilização e outras práticas discriminatórias para efeitos admissionais ou de permanência da relação jurídica de trabalho); d) proteção especial da mulher no mercado de trabalho mediante incentivos específicos, art. 7º, XX regulamentado pela Lei 9.799 de 26 de maio de 1999, que insere na Consolidação das Leis do Trabalho regras sobre o acesso da mulher no mercado de trabalho; d) o planejamento familiar como uma decisão livre para o casal, devendo o Estado propiciar os recursos científicos e educacionais para o exercício deste direito - art. 226§7º, Lei 10.224 de 15/05/2001, que dispõe sobre assédio, Lei 11.770 - licença-maternidade por 180 dias, Licença paternidade Lei Nº 13.257, de 8 de março de 2016. Este conjunto leis tutelam o meio ambiente de trabalho da mulher, constituindo um sistema de freios e contrapesos reconhecidos internacionalmente (BASSO, POLIDO, 2012). A OIT fundamenta o conceito e que o trabalho decente como promoção de oportunidades para que homens e mulheres possam ter uma atividade decente e produtiva em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana, suficiente em oportunidades. Todos estes conteúdos são, em diferentes dimensões, meios de atingir um desenvolvimento sustentável inclusivo. O emprego decente é conceituado inicialmente como “um trabalho produtivo, adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, igualdade e segurança e que seja capaz de garantir uma vida digna para os trabalhadores e trabalhadoras e suas famílias, sendo assegurado o direito a organização sindical” (https://www.ilo.org/brasilia/publicacoes/ WCMS_229627/lang--pt/index.htm). Com o avanço teórico sobre o desenvolvimento sustentável, foi elaborado o conceito de empregos verdes, foram definidos como “postos de trabalho nos setores da agricultura, indústria, construção civil, instalação e manutenção, bem como atividades científicas, técnicas, administrativas e de serviços que contribuem substancialmente para a preservação ou restauração da qualidade ambiental”(OIT, 2008). Em sequência a esta definição, associa a determinadas condições de trabalho, e relaciona o conceito de empregos verdes com condições de trabalho. Devendo ser respaldado em empregos adequados, salários adequados, condições de igualdade e segurança, que traduz as modificações da economia, empresas, de ambientes de trabalho, e dos mercados de trabalho, na direção a uma economia sustentável, que viabilize um trabalho decente com baixo consumo de carbono (OIT, 2009). Bakker e Young (2011) formulam classificações distintas de empregos Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 160 verdes a classificação das atividades de Proteção e Despesas Ambientais (CEPA), formulada pela Eurostat (Escritório de Estatística da União Européia); da NAICS (North American Industry Classification System), formulada pelo Escritório Estatístico do Trabalho (Bureau Labor Statistics), e finalmente da OIT. Estes dois últimos, NICAS e OIT baseiam em análise setorial e evidenciam as atividades com potencial de geração de empregos verdes, enquanto a CEPA demonstra as atividades recorrentes de gastos com proteção ambiental, isto é, atividades e setores diretamente relacionados à preservação ambiental. A OIT classifica os empregos verdes em quatro categorias: verdes e decentes, verdes, mas não decentes, decentes, mas não verdes, e nem verdes nem decentes, e condensa a transição dos ambientes de trabalho, das empresas, dos mercados de trabalho no objetivo do desenvolvimento sustentável. Entende como fundamental o desenvolvimento de um diálogo internacional e nacional sobre meio ambiente, setor do trabalho e governos, a fim de mitigar as alterações do clima (Stern, 2006). Na visão do mercado, que se refere à formulação inicial, os empregos verdes se relacionam às atividades fim, tais como os trabalhos em atividade agrícola, industrial, dos serviços e da administração que construam para preservação ou restauração da qualidade ambiental. No conceito elaborado pela OIT, observa-se uma abrangência maior que a visão do mercado, ao incluir a questão das condições de igualdade como um dos qualificadores centrais do emprego verde. Tornando-se conceito econômico abrangente para todo e qualquer emprego, isto é, uma economia só será conceituada como desenvolvida e sustentável, se os empregos atenderem os critérios intitulados como verdes. Enlaça com todas as convenções internacionais, CEDAW inclusive. 5 | PERFIL DO MERCADO DE TRABALHO NO SETOR TERCIÁRIO DE MATO GROSSO DO SUL Ao longo do tempo, o setor de serviços passou a ser motivo de estudos, principalmente a partir de meados do século XX, devido a crescentes aumentos na participação do produto do setor terciário no produto total dos países (BANCO MUNDIAL, 2011). Na década de 70, segundo Haddad (1989), a proporção entre setores se manteve praticamente inalterado em razão da participação ostensiva do Estado na economia. Na década de 80, a indústria permaneceu estagnada, ocorrendo um crescimento do setor de serviços, principalmente em São Paulo, em razão da expansão do setor financeiro (PEREIRA, 1989). Malthus (1983), segundo Kon (2015), utiliza a expressão “trabalho mais produtivo” ou “menos produtivo” e considera que as ocupações não ligadas a agricultura e à indústria são tidas como trabalhos menos produtivos. Em Marx (1867), uma atividade era considerada produtiva se esta auferisse lucro, independentemente Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 161 de ser concreto. Para Silva e Meirelles (2005), Marx vai além em relação a Smith (2013), vez que conclui pela viabilidade do setor de serviços serem produtivas. A reflexão de Marx possui a lógica econômica de seu tempo, fundamentada na produção industrial. A doutrina utilitarista desenvolve uma perspectiva diferenciada sobre a representatividade econômica dos serviços. Kon (2015) avalia a representatividade dos serviços: “o papel dos serviços é mais do que atuar na complementação das atividades manufatureiras, mas antes de tudo é um pré-requisito para o desenvolvimento, ao intensificar a capacidade de inovação, produção circulação, distribuição e regulação das atividades produtivas no contexto econômico.” (KON, 2013, p. 84). Conforme Silva e Meirelles (2006), Say (1803), definia que os processos produtivos não são geradores de matéria concreta, mas sim de utilidade, sendo este o motor da economia e o fator gerador de riqueza. Logo, os serviços seriam considerados produtivos se estes fossem geradores de utilidade e riqueza, isto é, que permitisse a aquisição de novos bens e um complemento para as demais atividades, que apesar de importante, não possui um dinamismo próprio. O mercado de trabalho e sociedade constituem um objeto de estudo dinâmico e complexo, as persistentes desigualdades firmadas no ambiente econômico se firmam como entraves ao desenvolvimento humano em escala global. O desenvolvimento sustentável segundo Oliveira (2011), é fundamentado nos pilares econômico, social e ambiental. Tal amplitude, sugere a análise das políticas públicas, função essencial do Estado. Com a finalidade de direcionar políticas públicas de geração de bem-estar social, necessidade mineração de dados para o Governo Federal por meio do Ministério do Trabalho e Emprego, à partir de 2007, elaborou a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o qual trata-se de um relatório de informações socioeconômicas elaborado por pessoa jurídicas e outros empregadores anualmente. Este relatório trata dos vínculos empregatícios da administração pública e privada, e empregadores cadastrados no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), fornecendo informações estatísticas para tomada de decisões governamentais. O estudo das características do mercado de trabalho por meio dos setores da economia viabiliza a análise dos diferentes componentes do sistema econômico, e para Erber (2002), os estudos setoriais se situam entre as análises das empresas ou atividades econômicas assemelhadas em seus elementos. Segundo Alonso (2005), entende que todo tipo de produto oriundo do trabalho é produtivo, que os bens ocupam o topo da hierarquia são os serviços do trabalho e da terra e sua visão da complementaridade das atividades terciárias, ao longo da cadeia produtiva, é de fácil percepção. Logo, segundo Kon (2004) é conceituado como serviço, a atividade em que o processo de produção seja intangível e a relação de produção e consumo Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 162 seja simultânea e interativa e a qual resulte num produto igualmente intangível e inestocável. A partir dos anos 2000, Cardoso (2009) afirma que o mercado de trabalho se reestruturou e nomeia cinco fatores fundamentais para recuperação dos empregos formais entre os anos de 2000 e 2005: a expansão do crédito interno; aumento e diversificação das exportações; difusão do Regime Tributário Simplificado, para micro e pequenas empresas; o aumento e descentralização do gasto público social e ações diretas de intermediação de mão-de-obra e de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego. Em análise regional, o desenvolvimento do Estado de Mato Grosso do Sul, numa perspectiva de nacional, deve ser entendido como um processo de expansão da fronteira agrícola para a região, deu-se fundamentalmente em razão da pressão populacional das regiões sul e sudeste. Com a sua criação na década de 70, o Estado definiu um conjunto de políticas atrativas ao desenvolvimento econômico regional, especialmente voltado a agricultura e pecuária. O setor secundário de Mato Grosso do Sul possui baixa relevância em relação ao contexto nacional, estando restrito à produção de celulose. Estabeleceu-se assim uma divisão nacional do trabalho, em que Mato Grosso do Sul assume posição de fornecedor de matériasprimas e alimentos, posição historicamente ocupada pelo Brasil em relação aos países desenvolvidos. 5.1 Segmentação Setorial: percurso de integração de mão de obra feminina Segundo Kon (2016), a economia estuda a força de trabalho como componente no processo de produção e integrante do seu corpo teórico, inclui fatores que repercutem nos setores produtivos e nas ocupações e, consequentemente na remuneração. A incorporação da mão de obra feminina pelo mercado de trabalho iniciou a partir da 2ª Grande Guerra (BIROLI, MIGUEL, 2014). Desde então, assume posições subordinadas aos homens na hierarquia empresarial (MARUANI, HIRATA, 2003) e esta prática, “retrata a desigualdade de gênero, o qual considerado por organismos multilaterais como um embaraço para o desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável que se baseie em princípios que garantam justiça socioambiental” (MARANHÃO, 2013). Segundo Hirata e Maruani, a estrutura ocupacional feminina é caracterizada por dois segmentos diferenciados em termos de qualificação e prestígio, consequentemente de remuneração refletem que: [...]Por um lado, ocupações que teriam menos prestígio e oferecem menor remuneração, tais como serviços administrativos e em serviços Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 163 de turismo, serventia, higiene e beleza e auxílio à saúde. De outro lado, as ocupações de nível superior nas áreas jurídicas, do ensino e das artes, e que englobam as Famílias Ocupacionais3 , e são relativos a atividades de apoio administrativo, comerciárias, e são alocadas em chefia intermediária, indicando um padrão de feminização e de rendimentos mediano. (2003, p. 337) No contexto regional, a formação do Estado de Mato Grosso do Sul é recente, constituído por 74 municípios divididos em 11 regiões, população de 2 2.648.037 habitantes, ainda possui vazios geográficos, porém mantém um IDH de 0,729 (IBGE, 2010). Na análise da distribuição de renda da trabalhadora feminina, deve ser considerado a influência da raça/cor, sendo duplamente desfavorável às mulheres da raça negra (BIROLI, 2017). O percurso da mulher brasileira no trabalho é considerado tardio. A partir da década de 70, passa a integrar o mercado de trabalho de forma mais importante tendo sido alocada mais fortemente no setor de serviços. Um dos indicadores em relação ao trabalho feminino, se refere às ocupações que registram uma concentração de mão de obra em determinadas atividades, todas consideradas de pouco prestígio e de baixa remuneração. Segundo Moraes (1990), a afirmação desta assimetria, tanto em ocupação e remuneração de forma recorrente, “corresponde a ideologia de que o trabalho remunerado da mulher ainda é considerado complementar no orçamento familiar”. Em análise setorial, o terciário é o mais importante do Estado de Mato Grosso do Sul, sob o aspecto local, a mão de obra feminina ocupa majoritariamente no comércio varejista. O setor de serviços, segundo estudiosos, é responsável pela geração e crescimento da pobreza e desigualdade. Tal observação se sustenta na qualidade de postos de trabalho e salários gerados no setor é baixa na maioria dos seguimentos que compõem o setor. 6 | INDICADORES TEÓRICOS E EMPÍRICOS DO MERCADO DE TRABALHO DAS MULHERES NO SETOR TERCIÁRIO DE MATO GROSSO DO SUL A atividade econômica no Estado, segundo dados do IBGE é caracterizada preponderantemente pela atividade primária e terciária. O desempenho do emprego sofreu drástica queda em 2011 e 2012 como reflexo da crise econômica. A organização do trabalho no setor terciário está fundamentada no trabalho em processo, isto é, na intermediação, pois se trata de atividade que não cria, mas intermedia mercadorias e serviços. Castells (1999), observa que em países avançados, “a locação da força de trabalho no setor se expandiu, que a evolução 3 A nomenclatura Família Ocupacional é utilizada na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) e correspondem a níveis de agregação das ocupações. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 164 do mercado de trabalho pós-industrial, este setor vem absorvendo a mão de obra excedente em razão do aumento da produtividade no campo e na indústria”. O setor terciário em Mato Grosso do Sul é caracterizado pela maior participação de empresas de porte micro a médio chegando a 50% do total dos empregos formais (Tabela 1). Tamanho Estabelecimento 2013 2014 2015 2016 2017 Participação De 1 a 4 44.623 46.880 47.482 47.733 47.602 10,59% De 5 a 9 45.013 46.211 46.935 47.565 47.635 10,59% De 10 a 19 47.072 48.110 49.082 48.338 48.368 10,76% De 20 a 49 52.011 54.165 54.659 52.095 53.782 11,96% De 50 a 99 30.130 31.112 30.838 30.353 30.238 6,72% De 100 a 249 35.979 35.725 33.997 34.866 34.706 7,72% De 250 a 499 33.074 32.488 29.431 30.974 31.030 6,90% De 500 a 999 45.880 42.058 43.887 38.609 42.489 9,45% 1000 ou Mais 94.111 113.983 114.766 107.537 113.859 25,32% 427.893 450.732 451.077 438.070 449.709 100,00% Total Tabela 1 – Número de empregados formais em Mato Grosso do Sul por porte de empresa de 2013 a 2017 Fonte:Elaboração própria a partir da RAIS vários anos. Como se depreende da tabela acima, o tamanho dos estabelecimentos demonstra estabilidade na geração de postos de trabalho. Deve ser considerado que a população de Mato Grosso do Sul é de 2.748.023 cresceu 7,04%, de 1.249 milhão em 2012 para 1,337 em 2016 de mulheres e se encontra ascensão, podendo afirmar quantitativamente que o grau de exclusão econômica vem sendo ampliado. Nos últimos, anos mais pessoas estão se declarando negras (pretas e pardas segundo critério de análise do IBGE. Em 2016, eram 1.452 milhão de negros, acima dos 1,131 de brancos. As variações perspectivas foram de 15,14% (1,262 milhão de pessoas negras em 2012 e de -3,74 de brancos (1,175 milhão em 2012). A participação das mulheres dentro da força de trabalho em cerca de 43% durante o período de analise mantendo de 2013 a 2018 essa parcela. O mesmo ocorre com a participação das mulheres na população em idade ativa chega a 1,37 milhões em 2018, participando também com 43% na população ocupada (Gráfico 2) Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 165 Gráfico 2 – População de mulheres na força de trabalho de Mato Grosso do Sul de 2013 a 2018 Fonte: Elaborado a partir da PNADC/T do IBGE. Em 2018, de acordo com as informações da PNADC/T, as mulheres representavam 51,39%, em idade de trabalhar na força de trabalho, cerca de 630 mil compondo a força de trabalho, representando 43,96% da força de trabalho. A desocupação entre elas chegava a 40 mil e se ampliou durante o período chegando a 75 mil no primeiro trimestre de 2017 reduzindo para 50 mil no final de 2018. O gráfico da PNAD contínua acima, demonstra que a mão de obra feminina do setor terciário firma o entendimento que as mesmas se encontram na informalidade, e que ocupadas ou que procuraram trabalho, permanece praticamente estável no decurso do tempo. Entretanto, as taxas de desocupação das mulheres sempre foram para toda a série da pesquisa maiores que os homens chegando a 7,9% no quarto trimestre de 2018, embora em todo o período a pior taxa de desocupação tenha ocorrido no primeiro trimestre de 2017 onde chegou a 12,5% (Gráfico 3). Gráfico 3 – Taxa de desocupação por sexo na força de trabalho de Mato Grosso do Sul de 2014 a 2018 Fonte: Elaborado a partir da PNADC/T do IBGE. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 166 Em termos de emprego formal, a evolução dessa ocupação no mercado de trabalho formal as mulheres participam também em menor proporção, mas há uma tendência de aumento na participação, mesmo que pequena, nos últimos anos (Gráfico 4). Gráfico 4 – Evolução do número de trabalhadores formais por gênero em Mato Grosso do Sul de 2002 a 2017 Fonte: Elaborado a partir da RAIS. Segundo as informações acima, a crise de 2014, alcança o mercado de trabalho aumentando as taxas de desocupação e com queda do total de emprego formal na economia de cerca de 2,17% de 2014 a 2017, sendo que para as mulheres a queda foi maior (-2,84%) enquanto que para os homens teve menor redução (-1,69%). O setor de serviços, é responsável pela maior parte da geração e crescimento tanto em termos de produto como de emprego. Tal observação se sustenta na qualidade de postos de trabalho e salários gerados no setor é baixa na maioria dos seguimentos que compõem o setor. A atividade econômica no Estado é caracterizada preponderantemente pela atividade terciária, proporciona o seguinte quadro de empregos geral (Gráfico 5). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 167 Gráfico 5 – Participação do emprego formal por setores de atividades em Mato Grosso do Sul de 2006 a 2017 Fonte: Elaborado a partir da RAIS vários anos. O desempenho do emprego sofreu reflexos da crise econômica com queda dos empregos, mas em termos de composição não houve uma alteração significativa nas participações ficando estáveis durante o processo de queda e recuperação da economia do estado. Os serviços permanecem sendo o principal setor com 50,7% de participação em 2017, embora tenha perdido relativamente participação de 2006 a 2013 chega em 2017 com o mesmo patamar de participação em 2006. Já a agropecuária teve queda na participação saindo de 13,2% do emprego formal para 10,8% em 2017. O que explica o movimento a baixa integração da mão de obra feminina e baixa progressão da feminização do emprego, permanece a lógica de segmentação praticamente estável, apesar do incremento populacional já demonstrado, concluindo-se pelo aumento de mão de obra feminina ociosa. Além de ser claro que apenas metade das mulheres são produtivas. 7 | A PROMOÇÃO DA IGUALDADE E SOCIOAMBIENTAL DAS EMPRESAS (RSE) A RESPONSABILIDADE A Declaration on International Investment and Multinational Enterprises/ OCDE, com objetivo de criar orientações às empresas que operam em vários mercados, inclui conceitos e princípios gerais como por exemplo de Direitos Humanos, a observação da legislação local, a OIT define que o trabalho decente como promoção de oportunidades para que homens e mulheres possam ter uma atividade decente e produtiva em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana, suficiente em oportunidades e renda, direitos, participação e Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 168 reconhecimento, estabilidade familiar e desenvolvimento pessoal, justiça e igualdade de gênero. Todas este conteúdo são as diferentes dimensões como meio de atingir um desenvolvimento sustentável inclusivo. Para Servais (2005), o respeito a igualdade e não discriminação como minimum labour standarts, incorpora o conceito de responsabilidade socioambiental das empresas (RSE). De iniciativa da OCDE em 1976, a formação do capital humano (SERVAIS, 2005, p.28-29). Santos (1994), estabelece que: “compreender a economia de um país é necessário dar uma enorme atenção aos estudos urbanos e buscar a metodologia mais adequada para captar a real significação da cidade, da rede de cidades, do território, da Nação[...] A circulação dos produtos e mercadorias, dos homens e das ideias ganhou uma total expressão, dentro do processo global de produção, que a urbanização passou a ser um dado fundamental na compreensão do funcionamento da economia” ( SANTOS, 1994, p. 117). A atividade econômica está atrelada à função social da empresa, o reconhecimento da tutela do meio ambiente do trabalho implica na gestão ambiental não se limitando ao recolhimento de impostos e geração de empregos. No Brasil, segundo Sucupira (2000), a responsabilidade socioambiental das empresas foi inaugurada pela Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE) na década de 60, em 1977 ganha destaque como tema do 2º Encontro Nacional de Dirigentes Cristãos de Empresas, e em 1984 foi publicado o primeiro balanço social de uma empresa da área agrícola. Em 1997 o IBASE instituiu o Selo Balanço Social para fomentar a participação das empresas. O Instituto Ethos (2013), conceitua a RSE como: [...] forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais”. Neste novo sistema, as empresas são agentes sociais. Segundo Di Pietro (2018): [...] a partir das mudanças estruturais provocadas pelo impacto da globalização econômica nas relações de trabalho, especialmente na saúde, na segurança e na qualidade de vida do trabalhador, e da proteção constitucional assegurada como um novo paradigma para a valorização do trabalho humano, sob um contexto mais abrangente, novos mecanismos para proteger e implementar o equilíbrio no habitat laboral são exigidos, em busca da promoção da sustentabilidade no Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 169 meio ambiente de trabalho: “ Ele envolve toda atividade que gerar ou contribuir para a degradação do meio ambiente do trabalho, comprometendo a saúde, a segurança e a qualidade de vida do trabalhador”. A abordagem de empresa socialmente responsável é fundada em princípios: transparência em seus objetivos, investimento no bem-estar de seus colaboradores e dependentes, desenvolvimento da comunidade, preservação do meio ambiente e o desenvolvimento da cidadania individual. O trabalho feminino na ótica socioambiental, e seus reflexos no desenvolvimento sustentável, positivas e/ou negativas para o mesmo, a responsabilidade social empresarial (RSE) não pode ser limitada ao cumprimento da legislação trabalhista. As questões de âmbito social, ambiental e humana permanecem como não relevantes e/ou subjacentes aos objetivos empresariais, os quais hodiernamente se sobrepõem a questões como meio ambiente do trabalho equilibrado capaz de proporcionar qualidade de vida ao trabalhador(a) e efetividade dos direitos tutelados. O desenvolvimento sustentável só é e se torna possível com as contribuições recíprocas entre sociedade civil e setores públicos e privado. Segundo Dray (2016), “o papel desempenhado pelas empresas na promoção da igualdade e no progresso social e territorial é, pois, cada vez mais uma realidade – as empresas can be part of the solution, not just a problem”, e constata que a ideia da ética no negócios e a criação dos labor standarts que afirmem a cidadania do trabalhador no local de trabalho. 8 | CONCLUSÃO Os resultados da presente pesquisa demonstram que integração das mulheres na força de trabalho ainda está abaixo de cinquenta por cento da população economicamente ativa, e em descendência, em razão do aumento da população feminina, sugerindo a necessidade de desenvolvimento de políticas sociais que viabilizem sua integração econômica. As questões sobre a economia verde são recentes, sendo tratado inicialmente na Conferência Rio-92, foram fortalecidos na Conferência Rio +20, em 2012. No que tange a formulação sobre a “economia verde”, uma gama de estudiosos questiona o emprego do termo em prejuízo ao “desenvolvimento sustentável”, tornando-o vinculado a estratégias com orientação preponderantemente econômica, afastandose da efetividade protetiva ambiental e sustentabilidade. Entretanto, o termo sugere uma mudança de padrões econômicos, e novas formulações de emprego e renda, e vai além da exclusivamente da relação objetiva da proteção ambiental. O estudo numa perspectiva regional como parte de um processo capitalista, fomentam vias alternativas, com objetivo de que sejam identificados os entraves Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 170 de um desenvolvimento econômico equilibrado, para a compreensão da dinâmica não só entre regiões, mas, segundo Argwala e Singh (1969), da disponibilidade do capital humano para superação do processo de subdesenvolvimento. A relevância do estudo da igualdade de gênero no processo de criação, acesso e manutenção de empregos verdes se dá em razão da relação ambiente e ser humano, que se estabelecem em concreto de forma diferenciada. Segundo estudos da CEPAL realizados em Havana, 2018, expõe claramente sobre os custos das desigualdades, que não são apenas conjecturas éticas, mas um imperativo para a “revertir esa situación y explorar más plenamente las complementariedades que existen entre igualdad, eficiência produtiva e sostenibilidad ambiental” (https:// repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/43442/6/S1800059_es.pdf). Os novos modelos de geração de postos de trabalho, fundada em consonância com o meio ambiente, atividade econômica e incremento de direitos sociais, constituem uma nova ordem global para o firmamento do desenvolvimento sustentável. Entretanto, no Brasil iniciou-se uma reengenharia da estrutura empresarial, instaurando de forma definitiva, a precarização das relações de trabalho por meio de diversas modalidades de terceirização. A precarização, tão presente no cotidiano econômico feminino, atinge de forma relevante e instaura retrocessos sociais para o alcance da Justiça Social. REFERÊNCIAS ALONSO, J. A. F. Diferenciais de produtividade do trabalho em atividades do setor terciário nas aglomerações urbanas do RS: 1985-2002. Disponível em http://www.fee.tche. br/sitefee/downloads/jornadas2/e8-02.pdf . Acesso em 15/03/2019. BAKKER, L. B., YOUNG, C. E. F. Caracterização do Emprego Verde no Brasil. Revista Economia & Ecologia, UFRJ, Rio de Janeiro, 2012. BASSO, Maristela; POLIDO, Fabrício B. Pasquot. A Convenção da OIT sobre liberdade Sindical de 1948: recomendações para adequação do Direitos Interno Brasileiro aos princípios e regras internacionais do trabalho. Revista do Tribunal do Trabalho. 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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 12 175 doi CAPÍTULO 13 ENSINO-PESQUISA-EXTENSÃO NA FORMAÇÃO INTEGRAL - EXPERIÊNCIAS DO CURSO DE OCEANOGRAFIA DA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Data de aceite: 01/10/2020 Data de submissão: 14/07/2020 Kátia Naomi Kuroshima Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI Itajaí - SC http://lattes.cnpq.br/8537824513641643 https://orcid.org/0000-0002-4261-9878 Camila Burigo Marin Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI Itajaí - SC http://lattes.cnpq.br/2214161392302174 https://orcid.org/0000-0002-3901-0033 Ana Lúcia Berno Bonassina Universidade do Vale do Itajaí - Univali Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Paraná Curitiba - Paraná http://lattes.cnpq.br/7708343878134526 https://orcid.org/0000-0001-5279-0823 José Matarezi Universidade do Vale do Itajaí - Univali Itajaí - SC http://lattes.cnpq.br/3554616369612517 Manoela Tormen Criveletto Canalli Pacheco Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI Itajaí - SC https://orcid.org/0000-0002-2215-1489 RESUMO: A indissociabilidade entre o Ensino, a Pesquisa e a Extensão como eixo norteador e fundamental da Universidade no Brasil, mesmo amparada pela Constituição Brasileira de 1988, é ainda uma tarefa árdua e distante de ser alcançada. Muitas instituições ainda priorizam um dos três eixos, em detrimento dos demais, ou se trabalham uma relação dual, com dificuldades para a complementação deste tripé. Este desequilíbrio é resultado de uma herança histórica da formação universitária brasileira onde o conhecimento científico tornou-se um conhecimento privilegiado para a vida em sociedade contemporânea. A fragmentação se distancia da formação integral do estudante e da missão fundamental de uma universidade, e portanto, precisamos refletir sobre a necessidade urgente da integração dos saberes, assim como da integração entre ensino-pesquisa-extensão e o seu impacto na formação que parta das necessidades e expectativas do sujeito e de suas relações pessoais, com o outro e o meio. Trazendo à luz da sustentabilidade ambiental, a fragmentação reflete numa sociedade totalmente desconectada do meio ambiente, com uma vida insustentável, consumista, egóica e descartável, em todas as suas relações, com ele próprio, com o outro e com o meio, resultando nesta atual situação, sem precedentes. Assim, este estudo traz algumas experiências de sucesso observadas junto ao Curso de Oceanografia da UNIVALI. Experiências que surgiram na prática, a partir das vivências imersas em uma comunidade estudantil e popular que anseiam por uma formação interdisciplinar e humanista numa perspectiva, crítica, emancipatória e transformadora, capaz de ampliar a autonomia para a sua autotransformação e a transformação do outro e do meio em que vive, ou seja, na sua Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 176 transdisciplinaridade. PALAVRAS-CHAVE: Interdisciplinaridade; Pertencimento; Alteridade; Conhecimento; Conhecimento Sensível. TEACHING-RESEARCH-EXTENSION IN INTEGRAL EDUCATION – EXPERIENCES OF THE OCEANOGRAPHY COURSE OF UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ABSTRACT: The indissociability between Teaching, Research and Extension as the guiding and fundamental axis of the university in Brazil, even supported by the Brazilian Constitution of 1988, is still an arduous and distant task to be achieved. Many institutions prioritize one of the three axes, to the detriment of the other ones, or work in a dual relationship, with difficulties to complement this tripod. This asymmetry is the result of a historical legacy of Brazilian university education where scientific knowledge has become a privileged knowledge for life in contemporary society. Fragmentation is far from the integral formation of the student and the fundamental mission of a university, and therefore we need to reflect on the urgent need for the integration of knowledge, as well as the integration between teaching-research and extension and its impact on the formation that starts from the needs and expectations of the subject and its relationships, as the other and the environment. Bringing to the light of environmental sustainability, fragmentation reflects into a society disconnected from the environment, with an unsustainable, consumerist, egoic and disposable life in all its relations, with itself, with the others and with the environment, resulting in this current unprecedented situation. Thus, this study brings some experiences of successes observed at UNIVALI Oceanography Course. Experiences that have emerged in practice, from the immersed experiences in a student and popular community that yearn for an interdisciplinary and humanistic formation in a critical, emancipatory and transforming perspective, capable of expanding the autonomy for its self-transformation and the transformation of the other and of the environment in which it lives, that is, transdisciplinarity. KEYWORDS: Interdisciplinarity; Belonging; Otherness; Sensitive knowledge; Intelligible knowledge. 1 | INTRODUÇÃO A indissociabilidade entre Ensino-Pesquisa-Extensão na Universidade é um princípio da qualidade da construção do conhecimento e do saber científico orientada pelas problemáticas cotidianas, do contrário, podem levar ao reducionismo verificado frequentemente na prática universitária, se distanciando da formação integral. Por outro lado, a sociedade vem exigindo profissionais que dêem respostas às demandas contemporâneas direcionadas pelas questões éticas, sociais e políticas, e desenvolva-as de forma criativa, inovadora e “saiba fazer”, fundamentada em conhecimentos científicos (ALMEIDA; SÁ, 2013). Desafio constante às Instituições de Ensino Superior (IES), especialmente, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 177 às IES Comunitárias, como é o caso da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Assim, a formação acadêmica objetiva trabalhar habilidades teóricas e práticas, sem negligenciar a convivência e a sensibilidade humana, convergindo para a formação interdisciplinar e humanista numa perspectiva, crítica, emancipatória e transformadora, capaz de ampliar a autonomia e a “potência de agir”, integrando conhecimentos sensível e inteligível (DUARTE-JR, 2000). Mais recentemente, algumas das exigências legais reforçam essa perspectiva: a inserção curricular das Políticas de Educação Ambiental (Lei nº 9.795, de 27/04/1999), entre outras. Antecipando-se a essa normatização, o curso de Oceanografia/UNIVALI, desde sua origem (1992), prioriza ações articuladas por projetos integrados de “ensinopesquisa-extensão-gestão” em diversas áreas oceanográficas: Maricultura, Qualidade de Água, Conservação Marinha e Costeira, Gerenciamento Costeiro, Gestão Pesqueira, Gestão Portuária, Educação Ambiental para Gestão Participativa e Monitoramento Ambiental Voluntário. A situação ambiental atual, é um espelho de decisões equivocadas tomadas no passado, devido sobretudo a ausência de conhecimento científico, ressaltando a constante evolução da ciência, em todas as áreas, não sendo diferente nas questões ambientais, bastante discutidas atualmente. Assim, devemos reduzir os impactos negativos desses erros, herdados por gerações, e optar por novas escolhas, trabalhando para a conscientização dos problemas ambientais e partir do nosso modo de vida (POTT; ESTRELA, 2017). Este estilo de vida insustentável e acelerado, do consumo excessivo e descartável, fragmentando as necessidades humanas das necessidades da natureza tem gerado os desequilíbrios ambientais. Nesse contexto, o homem precisa voltar à sua visão de ser natureza, compreendendo seu pertencimento e papel no equilíbrio do ecossistema transformando seus comportamentos, atitudes e valores (JARA; 2001 apud SÁ; 2005). A educação e o conhecimento científico se tornam imprescindíveis para alcançar tal objetivo, no entanto, dificultado pela sua fragmentação (TORRE; ZWIEREWICZ, 2009). A integração dos saberes estimula o desenvolvimento integral do sujeito, fazendo com que estudantes observem, elaborem e explorem suas ideias, a partir do seu conhecimento prévio e ampliando com o conhecimento científico. Assim, a Extensão possui o caráter social e humanista, valorizando o saber popular; a Pesquisa colabora para o aumento e compreensão conceitual acerca da natureza, levando a processos de ensino-aprendizagens com investigações científicas e oportunidades para reflexão (FONSECA, 2011; SANTOS, 2005). Neste percurso de formação, entre pertencimentos e identidades possíveis, qual o lugar do conhecimento, do pensamento complexo, de outras racionalidades e alteridades, do diálogo de saberes, da atitude interdisciplinar, da solidariedade, do respeito à vida, do saber cuidar, enfim, para a descoberta do novo? Como criar ou Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 178 garantir os espaços e tempos na formação destes jovens que propiciem tais lugares? Em que condições, tais espaços se tornam lugares de identidade e pertencimento? Como afetam a construção da identidade profissional? Certamente o envolvimento com atividades extraclasses, com projetos de pesquisa e de extensão, de forma integrada, propiciam aos jovens vivenciarem e experienciarem novas formas de agir, interagir, dialogar e sentirpensarem as relações vitais que estabelecem consigo, com os outros e com o mundo vivo e que afetam a sua formação humana e profissional. Tendo como o sentirpensar, a fusão de duas interpretações da realidade, onde o pensamento e o sentimento trabalham juntos resultando ao mesmo tempo na ação de sentir e pensar (MORAES; TORRE, 2004). Durante todas essas atividades, os acadêmicos tomam contato com realidades diversas; estabelecendo relações com as comunidades envolvidos nos projetos de extensão; inserem-se numa relação de engajamento, responsabilidade individual e compromisso com o coletivo, nas quais assumem o seu protagonismo e criam vínculos envolvendo pessoas e instituições, desenvolvendo o sentimento de pertencimento e identidade profissional. Aprendem a conviver e trabalhar em equipe vivenciando éticas e estéticas próprias de cada equipe, e são estimulados a colocar em prática o conhecimento que fundamentam cada um dos projetos. Passam a incorporar o exercício da reflexão a partir das ações realizadas, criando o pertencimento de uma práxis própria em sua formação enquanto processo identitário. Entretanto, segundo Makiuchi (2005): ...”o compromisso e o engajamento não são anteriores – anterior é o Outro. Assim, uma tal educação não desenha, a priori, ações de “engajamento”, de “problematização” ou de “diálogo” baseadas na possibilidade de conhecer a realidade. Se há algum conhecimento da realidade possível implicando na possibilidade de transformação social e política, ele será sempre resposta ao Outro, à alteridade que nos apela, resposta como acolhimento, ação e responsabilidade. Por isso, a esta educação chama-se de Educação para a Responsabilidade e tem na alteridade o fundamento de sua pedagogia” (MAKIUCHI, 2005, pp 31-32). Reafirma ainda que: “A educação na perspectiva de uma pedagogia da alteridade cria espaços para que o modo humano de se relacionar com e no mundo seja responsável, isto é, espaços para a emergência do discurso crítico, do diálogo dos saberes e do encontro de alteridades. Espaços que carreguem o germe da comunidade, do fortalecimento de identidades locais como resistência a pasteurização do mercado permitindo a criação de laços de pertencimento e cuidado, laços ativos, cuja própria existência já é transformação” (MAKIUCHI, 2005, p 33). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 179 Pela sua obra máxima “EU-TU” e “Do Diálogo e do Dialógico”, Martin Buber nos provoca a vivenciar um profundo e verdadeiro encontro com a vida e os níveis de realidades, onde o respeito à alteridade, a partilha solidária e as relações são essenciais para o exercício do diálogo. E Paulo Freire coloca a comunicação e a interlocução como formas de contraposição à dominação ideológica que se pratica com facilidade, permitindo a construção de uma educação através do pensamento crítico (Freire, 2002). Assim criam-se lugares de pertencimento, identidade e alteridade, num movimento contínuo de inter-retro-ação ao longo da formação integral. “O lugar é a menor unidade de todas e se trata da mais íntima do ser humano [...] onde a vida acontece, local em que o sentimento de pertencimento surge ancorado [...] onde encontramos o conforto de uma relação afetiva e experiencial” (CARDOSO et. al. 2017). Esse lugar de reconhecimento de si, de outrem e do lugar onde se vive é dado pela qualidade das relações que se dão como pessoas que se expõe a experiência conforme Bondía (2002). É justamente a vivência nos laboratórios e projetos de pesquisa-extensão que possibilita a esses jovens se exporem a experiência do viver e do aprender, enquanto protagonistas para a formação de uma/um profissional oceanógrafa/o. Os lugares que são criados e recriados, transformam e são transformados pelo tempo, conhecimento e pelos envolvidos, se constituem como espaços de criação e aprendizagem, de aprimoramento e compartilhamento. Muitos são os espaços que serão apresentados neste capítulo, estes que através destes projetos nasceram, se transformaram e transformaram-nos. 2 | O PROJETO DE EXTENSÃO OCEANOS O Projeto de Extensão Oceanos emergiu das pesquisas realizadas pelo Laboratório de Oceanografia Química da Univali, sobre “qualidade de água”, desde 1994. Os questionamentos e as curiosidades vindas da população, durante as atividades de campo inquietavam os pesquisadores e estudantes envolvidos nestas pesquisas. A comunidade local manifestava interesse pelo “material de estudo” almejando outros saberes; e os pesquisadores, no entanto, oriundos de instituições onde o ensino e a pesquisa foram priorizados, em detrimento do contato com a comunidade local, apresentavam inúmeras dificuldades para manter um diálogo num patamar que permitisse a troca de conhecimentos. Estas instituições, ao priorizar o ensino e a pesquisa, apesar de produzir muito conhecimento científico, incorre no risco de perder a compreensão ético-político-social, considerando a sociedade como o destinatário final desse saber científico (SANTOS, 2005), e desta forma, perde-se o verdadeiro sentido da própria pesquisa. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 180 Assim, a partir destas inquietações e provocações surgiram as primeiras atividades de extensão sobre a qualidade de água, deste grupo, em 2003. Iniciouse com eventos que promoviam a popularização da ciência, ou seja, uma forma de recriar o conhecimento científico tornando acessível à população (GERMANO e WOJCIECH, 2006). Os eventos aconteciam sempre em datas comemorativas alusivos à água - Dia do Meio Ambiente, Dia Mundial da Água, e durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Nestes eventos, a população levava a amostra de água na qual tinha interesse em conhecer a sua qualidade química e participava dos procedimentos laboratoriais de análises, assim, o laudo era construído de forma colaborativa. Depois, assuntos como qualidade, uso racional, tratamento e preservação da água, eram discutidos e apresentados na forma de palestras, teatros e musicais (FOPPA et al., 2004; TEIXEIRA et al, 2006), de acordo com a metodologia da pesquisa ação participativa segundo Thiollent (2002). Estas atividades, continuaram acontecendo em eventos esporádicos, em todo o litoral norte catarinense, culminando no “Espaço Sustentabilidade”, uma estande estruturada como um “Espaço Estruturante de Educação Ambiental” durante a “Volvo Ocean Race”, em 2015, que recebeu 320 mil visitantes (VIEIRA et al, 2018). Estes eventos, realizados ao longo de 12 anos, apesar de apresentar uma boa divulgação científica, atingindo mais de 10 municípios, superando 500 mil pessoas direta ou indiretamente, não parecia estar atingindo plenamente os objetivos da extensão universitária, ou seja, atuando como uma via de mão dupla entre a universidade e a sociedade, promovendo uma mudança não apenas social, mas também na própria comunidade universitária (SANTOS, 2005), neste caso, nos atores envolvidos nestes projetos de extensão universitária. E menos ainda na efetivação da tríade ensino-pesquisa-extensão, uma vez que, apesar de fortemente vinculada às atividades de ensino, ao colocar na prática os conhecimentos trabalhados em sala de aula, havia ainda uma lacuna entre a extensão com a pesquisa e o ensino. Assim, a partir de 2015, iniciou-se a segunda fase deste projeto. Criou-se uma parceria com a Escola de Surf da Secretaria de Educação do Município de Balneário Camboriú, envolvendo seus estudantes com a oceanografia através das atividades de educação ambiental, em encontros semanais de 30 minutos, realizados com estudantes de diferentes idades e níveis de conhecimentos, que apesar de apresentarem um gosto pelo oceano, a partir do surf, manifestavam inúmeras outras curiosidades, que se tornavam temas de estudos destes encontros. Novos desafios surgiram com esta modalidade: a areia da praia virou sala de aula, possibilitando aulas práticas em tempo integral, porém, o excesso de estímulos externos (ruídos e movimentações) favoreciam a distração dos estudantes. A necessidade da reinvenção de novos instrumentos e ferramentas pedagógicas com criatividade, intensificou a integração da tríade ensino-pesquisa-extensão. Estes encontros Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 181 aconteceram ao longo de dois anos, sempre com atividades diferenciadas, mas com continuidade nos assuntos. Após este período, o Projeto de Extensão Oceanos começou a trabalhar com jovens entre 14 e 24 anos, em situação de vulnerabilidade socioeconômica, vinculados ao Instituto Crescer, instituição responsável pelo aprimoramento didático profissional destes jovens para ingressarem no mercado de trabalho como Jovens Aprendiz. Os estudantes participavam das atividades do Instituto Crescer, que aconteciam nos espaços da universidade (Univali), quatro vezes por semana, no contraturno do seu período escolar. Os 250 estudantes divididos em oito turmas igualitárias, participavam mensalmente das atividades promovidas pelo Projeto de Extensão Oceanos, que eram repetidas oito vezes, ocupando os estudantes e professores deste projeto ao longo de duas semanas consecutivas. As outras duas semanas do mês eram utilizados para o planejamento e avaliação, respectivamente, para a semana que antecedia ou posterior à realização das atividades, seguindo a metodologia de gestão PDCA (Plan, Do, Check e Act) muito utilizado para a melhoria de processos e produtos (VENKATRAMAN, 2007) e concomitante, seguiase as metodologias pedagógicas das escolas criativas, o qual eram realizados planejamentos em conjunto com os professores do IC (TORRE; ZWIEREWICZ, 2009). As atividades realizadas desta forma evidenciaram a aprendizagem mútua que ocorreu no processo entre os estudantes do Instituto Crescer e os acadêmicos e professores do Projeto de Extensão Oceanos, os seus relatos mostraram a importância da prática, ou seja, da extensão promovendo a sinergia entre o ensino, a pesquisa e a extensão 3 | O PROJETO DE EXTENSÃO ÁGUA VIVA: DO RECURSO AO PATRIMÔNIO Da água surgiu a vida, da água dependem todas as formas de vida. Sabendo que a água é tão importante, por que não tratamos a água com tal estima? A água nos conecta, percorre diferentes territórios, países, estados, municípios e bairros, porém esta conexão por vezes provoca conflitos de usos e discórdias entre diferentes atores sociais. Este é o caso do Rio Perequê em Santa Catarina e de tantas outras bacias hidrográficas, que possuem usos múltiplos e muitas vezes sofrem com perdas em termos de quantidade e qualidade de água. Os conflitos de uso da água na bacia hidrográfica do Rio Perequê e sua influência nas praias dos municípios de Itapema e Porto Belo (SC) motivaram a criação do Projeto de Extensão Água Viva: do Recurso ao Patrimônio, em 2015. Experiências pretéritas como aluna extensionista no Projeto de Extensão Oceanos, foram a base fundamental para recriar e reconduzir este projeto quase 10 anos Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 182 depois. Experiências estas, fundamentais não apenas na recriação deste projeto, mas para a aproximação entre comunidade, comitê de bacia hidrográfica e universidade. Em seu primeiro ano, o projeto foi direcionado para a capacitação de professores do ensino médio das escolas municipais de Itapema e de líderes comunitários como multiplicadores. Eram realizados encontros formativos abordando especialmente questões relacionadas a poluição das águas, causas, consequências e soluções. Logo no primeiro ano, surgiram demandas para atendimento de outros grupos diversificados, não apenas professores em outros municípios. Assim o projeto foi ganhando um caráter mais lúdico, não apenas aproximando a ciência da comunidade, mas também fazendo isso de uma forma mais leve. Logo no primeiro ano, começaram a surgir personagens e atividades para ajudar na comunicação com jovens e crianças (ZINNKE et al., 2018). Em 2016 e 2017, o projeto atuou mais fortemente em parceria com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas, Biguaçu e contíguas levando suas atividades também para outros municípios desta bacia. Além disso, nestes mesmos anos o projeto deu início à um trabalho contínuo com jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica do Parque Dom Bosco no município de Itajaí. A parceria com esses jovens do grupo de contraturno de dança, resultou numa transformação não só da relação destes com a água, mas na forma como o projeto passou a intervir, modificando os diferentes atores como profissionais e pessoas. Nos entregamos para uma forma de fazer mesclando “arte e ciência”, incorporando a comunicação e o aprendizado pelo movimento. Eis que em 2018, surge uma nova forma do projeto que permanece até o presente. Devido à essa vivência e a demanda de discussões sobre a água e a poluição com diferentes realidades sociais e faixas etárias, foi desenvolvido um espetáculo de dança e ciência que nos permite através da arte utilizar uma linguagem universal e acessível. Foi criado um espetáculo no contexto de uma Tese de Doutorado, com a temática da polução dos oceanos pelos plástico, onde os dados levantados in situ e resultados de pesquisas pretéritas da situação global, serviram de base para a construção desta nova forma de polinização. Cientistas viraram bailarinos para demonstrar a realidade, os problemas da poluição que vivenciam in situ nas bacias hidrográficas, nos oceanos e ao analisar amostras no laboratório, uma forma de expressar aquilo que artigos científicos não são capazes de fazer, uma forma de sensibilizar e chamar as pessoas para a ação. O conhecimento não é estritamente racional, têm por base emoções e sentimentos (MORAES; LA TORRE, 2004), os afetos que tornam possível uma mudança de perspectiva essencial para a formação de um cidadão crítico, reflexivo capaz de tomar atitudes disruptivas frente às questões ambientais (SPINOZA, 2009). Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 183 Com o espetáculo intitulado “Onda de Desperdício: Os Perigos Visíveis e Invisíveis do lixo no Mar”, o projeto alcançou outros estados e realizou intervenções também na Índia. 4 | O PROJETO INTERGERAÇÃO - RESPONSABILIDADE INTERGERACIONAL AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE: É POSSÍVEL? As experiências vividas em meio a comunidade, são transformadoras. Da vivência com os Projetos de Extensão Oceanos e Água Viva, surge um outro olhar para com o ambiente universitário e uma necessidade de alinhamento entre o que se faz e o que se pratica enquanto universidade. Não só os extensionistas, mas as Instituições de Ensino Superior devem praticar o que ensinam (TAUCHE; BRANDLI, 2006). Para Simkins e Nolan (2004), a gestão ambiental nas universidades pode melhorar as percepções do público se evidenciar sua responsabilidade socioambiental, além de servir de modelo e exemplo à comunidade estudantil que o frequenta, bem como atuar como difusor de boas práticas. Para Kruger e colaboradores (2011), a discussão sobre gestão ambiental, responsabilidade social e sustentabilidade não é recente e tem ganhado espaço e força nos últimos anos, a partir das exigências de uma sociedade contemporânea, atenta a novos padrões de produção e consumo. A partir disso, muitas universidades no mundo começaram a se preocupar com a sustentabilidade dos seus campi. O projeto entre 2016 e 2017, visou a realização de um diagnóstico dos aspectos e gastos ambientais da Escola do Mar, Ciência e Tecnologia, na UNIVALI, campus Itajaí, objetivando ao consumo racional e sustentável, por meio do envolvimento da comunidade acadêmica e local na elaboração e implementação de espaços e estruturas educadoras e projetos sustentáveis no próprio campus da UNIVALI como em Itajaí e região. Na escola sustentável, o espaço físico cuida e educa, pois tanto as edificações quanto o entorno são desenhados para proporcionar melhores condições de aprendizagem e de convívio social. As edificações integram-se com a paisagem natural e o patrimônio cultural local, incorporando tecnologias e materiais adaptados às características de cada região e de cada bioma. Isso resulta em maior conforto térmico e acústico, eficiência energética, uso racional da água, diminuição e destinação adequada de resíduos e acessibilidade facilitada (BRASIL, 2012). Na formação dos estudantes envolvidos neste projeto, estas ações contribuíram para evidenciar as relações dos impactos das mais diversas atividades para com os recursos hídricos e oceanos, demonstrando a necessidade de uma formação transdisciplinar, com responsabilidade socioambiental, saindo do campo Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 184 teórico para a prática 5 | O PROJETO DE EXTENSÃO SALA VERDE ITAJAÍ - OBSERVATÓRIO DE EDUCAÇÃO, SAÚDE, CIDADANIA E JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL DO VALE DO ITAJAÍ (SC) O projeto “Sala Verde de Itajaí”, integra ações de extensão-ensinopesquisa-gestão realizadas desde 2007 sob coordenação técnica do Laboratório de Educação Ambiental (LEA) da Escola do Mar, Ciência e Tecnologia (EMCT) da UNIVALI. O objetivo geral da “Sala Verde de Itajaí” está alinhado com o Projeto Sala Verde do Departamento de Educação Ambiental (DEA), que consiste em estimular a implantação de espaços interativos que atuem como potenciais Centros de Informação e Formação Socioambiental contribuindo com o enraizamento das políticas públicas socioambientais e de Educação Ambiental. Tem a UNIVALI como instituição proponente, por meio de edital do Ministério do Meio Ambiente (MMA), sua origem está no Projeto Sala Verde do Departamento de Educação Ambiental (DEA). É uma das políticas públicas federais de Educação Ambiental (EA) destinada a subsidiar e apoiar os educadores ambientais e coletivos educadores, de forma descentralizada e transversal, em todo o país. Estruturada como polo de convergência e difusão de informações, a Sala Verde de Itajaí dá suporte ao desenvolvimento do “observatório” bem como da ambientalização curricular dos cursos de graduação e ações de extensão universitária. Seu acervo encontra-se reunido no LEA e na Biblioteca Central Comunitária (BCC) do Campus de Itajaí, disponível à comunidade em geral. Seu espaço é dedicado a programas, projetos e ações voltadas à questão socioambiental, reunindo atividades culturais e educativas. Uma das suas atividades é Circuito Tela Verde (CTV) de iniciativa do MMA e Secretaria da Cultura, criada em 2008 pela Política e Programa de Educomunicação Socioambiental do Brasil (OG/PNEA, 2005), com o objetivo de atender à demanda dos espaços educadores por material audiovisual para se trabalhar a EA, democratizando o acesso à produção audiovisual independente sobre questões socioambientais. A metodologia do CTV inicia pela exibição de audiovisuais específicos ao encontro, seguidos de “rodas de diálogo” mediada com avaliação, e sistematização final. Além disso, estes espaços cumprem com a demanda para formação em EA para coletivos educadores fortalecendo processo de gestão participativa e de políticas públicas, permitindo a participação de forma legítima nos processos locais de gestão por meio da Formação em Educação Ambiental para Gestão Participativa e Política Pública. Estes espaços promovem o diálogo aberto e a troca de saberes, de forma participativa, assumindo que cada participante carrega consigo além de Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 185 sua identidade, sua cultura e seus conhecimentos, com valores equivalentes como elementos importantes, em processos de construção de conhecimentos, de forma coletiva, por meio dos Círculos de Cultura de Paulo Freire (TONSO, 2013). Soma-se ainda o Espaço Sala Verde de Exposições, que visa acolher e movimentar exposições temáticas tanto internas como externas à instituição. Este “espaço e estrutura educadora” (MATAREZI, 2005) tem o intuito de provocar diferentes estéticas no ambiente acadêmico, interagindo no cotidiano dos estudantes e da comunidade de Itajaí e região, sob o olhar da perspectiva emancipadora da arte, da arte-educação e da Arte-Educação-Ambiental. A Educomunicação da Sala Verde Itajaí vem documentando e disponibilizando vídeos das atividades comunitárias no canal do LEA no Youtube (https://www. youtube.com/channel/UCtiiSuP9e7Av0nLBPrPQZRg), com livre acesso pela internet. Este trabalho dá visibilidade, voz e vez, aos atores sociais, além de apoiar os parceiros internos e externos à instituição, via extensão. AGRADECIMENTOS A Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UNIVALI e à EMCT pelo apoio financeiro e logístico para a execução dos Projetos de Extensão. A Escola de Surf Municipal da Secretaria de Educação do Município de Balneário Camboriú e Instituto Crescer - Movimento Cidadania e Juventude do município de Itajaí, parceiras do Projeto de Extensão Oceanos. Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná. A todos os bolsistas e voluntários dos Projetos de Extensão, professores e funcionários da UNIVALI que ao longo destes anos todos, participaram efetivamente do planejamento e execução das atividades descritas neste capítulo. À CAPES pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS ALMEIDA, L.P. de; SÁ, S.M. Formação Profissional no Século 21: reflexões sobre aprendizagens a partir da extensão universitária. In: SÍVERES, L. A extensão universitária como um princípio de aprendizagem. Brasília: Liber Livro. 2013. 272p. BONDÍA, J.L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, n. 19, p. 20-28, 2002. BRASIL. 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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 13 188 doi CAPÍTULO 14 CHAVE DE DETERMINAÇÃO ILUSTRADA E GUIA FOTOGRÁFICO DE ESPÉCIES DE FABACEAE Data de aceite: 01/10/2020 SPECIES IDENTIFICATION KEY ILLUSTRATED AND PHOTO GUIDE OF FABACEAE SPECIES Data de submissão: 25/06/2020 Fabieli Debona Universidade Federal da Fronteira Sul Realeza – PR http://lattes.cnpq.br/2647661358462804 Berta Lúcia Pereira Villagra Universidade Federal da Fronteira Sul Realeza – PR http://lattes.cnpq.br/6497159422628805 RESUMO: O Herbário Real está localizado no sudoeste do Paraná, além de ser recente, a região conta com pouca informação sobre sua Flora. Fabaceae, considerada umas das maiores e mais relevantes famílias das Angiospermas, é a mais numerosa no Herbário. A partir dos espécimes depositados foram analisadas e confeccionadas descrições sucintas, chave de determinação de espécies ilustrada e guia fotográfico colorido. Foram identificadas 27 espécies entre nativas e exóticas, são apresentadas chave de determinação de espécies com ilustração botânica, guia fotográfico das principais características de Fabaceae. Esses resultados trazem ferramentas para que o ensino de botânica seja mais eficiente unindo a prática do reconhecimento das espécies da localidade à literatura construída regional. PALAVRAS-CHAVE: Ilustração, chave de determinação, guia fotográfico, Fabaceae. ABSTRACT: Herbarium Real is located in the southwest of Paraná, in addition to being recent, the region has little information about its flora. Fabaceae, considered one of the largest and most relevant families of Angiosperms, is the most numerous in the Herbarium. From the deposited specimens were analyzed and made brief descriptions, species determination key illustrated and colorful photo guide. Twenty-seven species were identified (native and exotic), a key for determining species with botanical illustration, a photographic guide of the main characteristics of Fabaceae is presented. These results bring tools for the teaching of botany to be more efficient, combining the practice of recognizing the species of the locality with the regional constructed literature. KEYWORDS: Illustration, species determination key, photo guide, Fabaceae. 1 | INTRODUÇÃO A botânica é uma ciência estudada a milhares de anos e os seus conhecimentos informais vêm se acumulando desde os primórdios da história da humanidade como foi constatado pelos registros arqueológicos e acervos pertencentes a povos indígenas primitivos (OLIVEIRA, 2003). Ao longo de sua trajetória, a botânica teve mudanças em suas formas de pensamento, Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 189 constituindo uma trajetória que influenciou as concepções de estruturas dos currículos com o intuito de sistematizar os seres vivos, buscando novas formas de identificação e de classificação. A taxonomia, a morfofisiologia, o uso e a distribuição das plantas são os focos do estudo botânico (DEMIZU et al., 2017). É possível perceber, muitas vezes, o grande desinteresse por assuntos da área da botânica, sendo tratada como algo indiferente por alunos e muitas vezes por professores. Esta desvalorização tem como causas a precariedade de materiais, métodos ou tecnologias que despertem a curiosidade do aluno. Além disso, outra causa do desinteresse por parte dos estudantes, pode estar relacionado aos métodos tradicionais de ensino, que muitas vezes não irão despertar e instigar a curiosidade da mesma forma que se os conteúdos forem trabalhados de forma mais prática e dinâmica (CORRÊA et al, 2016). Uma importante família botânica é Fabaceae, considerada umas das maiores e mais relevantes famílias das Angiospermas, ficando atrás somente de Asteraceae e Orchidaceae, apresenta 751 gêneros e 19.500 espécies amplamente distribuídas no espaço geográfico, estando ausente somente na Antártida e tendo uma maior distribuição nas regiões tropicais (LPWG, 2013; LEWIS et al, 2005). No Brasil ocorrem 2.756 espécies (ZAPPI and BFG, 2015) e no Paraná, 124 gêneros e 521 espécies de Fabaceae (Kaehler et al., 2014). A família Fabaceae é tratada como sendo apenas uma, sendo dividida em três subfamílias monofiléticas: Cercideae, Mimosoideae, Faboideae (Papilionoideae); e uma parafilética: Caesalpinioideae. Porém, há algumas discussões e alguns autores reconhecem três famílias distintas: Caesalpiniaceae, Fabaceae, Mimosaceae. No entanto, esse posicionamento não é aceito, já que a cada novo estudo é comprovado que essas três famílias não formam um agrupamento monofilético (SOUZA e LORENZI, 2008). De acordo com Souza e Lorenzi (2008), além de ser uma das maiores famílias, também é de grande importância do ponto de vista econômica. Entre muitas espécies, destacam-se, o feijão (Phaseolus vulgaris), o amendoim (Arachis hypogaea), a soja (Glycine max) e a ervilha (Pisum sativum). Fabaceae tem larga utilização ornamental, sendo a família de maior destaque na arborização urbana. Dentre as espécies estão o flamboyant (Delonix regia), a pata-de-vaca (Bauhinia variegata), o alecrim-de-campinas (Holocalyx balansae), entre outros. Essa família também produz madeiras de alta qualidade, incluindo o pau-brasil (Caesalpinia echinata), que deu nome ao Brasil e foi responsável pelo primeiro ciclo econômico (SOUZA, 1984). Além desta espécie, outras se destacam, como o jatobá (Hymenaea spp.), o jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra) e a garapa (Apuleia leiocarpa) (SOUZA e LORENZI, 2008). Segundo Corby (1981), uma outra importância econômica de Fabaceae Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 190 que ganha muito destaque, diz respeito a sua capacidade de fixação de nitrogênio quando em associação com bactérias do solo do grupo dos rizóbios. Essa relação simbiótica ocorre nas raízes das plantas hospedeiras, onde ocorre a formação de estruturas nodulares que formam um sítio adequado para reações bioquímicas e enzimáticas, permitindo a fixação de nitrogênio que irá suprir às necessidades da planta. A ocorrência de nodulações é mais comum em Mimosoideae e Faboideae e mais rara em Caesalpinioideae. De acordo com Souza e Lorenzi (2008), Fabaceae pode se apresentar como erva, arbusto, árvore ou trepadeira. Suas folhas geralmente são alternas, raramente são opostas, geralmente compostas com estípulas. Além disso, a inflorescência geralmente é racemosa, as flores podem ser vistosas ou não, geralmente são bixessuadas, actinomorfas ou zigomorfas, diclamídeas e raramente monoclamídeas. O fruto dessa família geralmente é do tipo legume, podendo apresentar outras formas, como drupa, sâmara, folículo, craspédio ou lomento. As subfamílias de Fabaceae apresentam variações morfológicas entre si, sendo que Faboideae é a mais numerosa e apresenta características mais derivadas. Segundo Polhill & Raven (1981), essa subfamília é representada por gêneros lenhosos no hemisfério sul e trópicos, e por gêneros herbáceos em regiões de clima temperado. Além disso, algumas características se destacam, como flores que tem um tempo prolongado de vida, zigomorfismo e poucos óvulos. Observando a importância das espécies da família Fabaceae e a necessidade dos professores da educação básica desenvolverem atividades que possam dar ao aluno a possibilidade de relacionar o conhecimento adquirido em sala de aula com situações do cotidiano, viu-se a necessidade de criar estratégias que auxiliem nessa construção de conhecimento. Dessa forma, esse trabalho objetivou a elaboração de um guia ilustrado e uma chave de identificação didática, como ferramentas para escolares. 2 | MATERIAL E MÉTODOS O levantamento das espécies foi desenvolvido no Herbário REAL (UFFS, campus Realeza). A família foi escolhida devido a grande importância econômica e cultural no município, além de estar presente no nosso cotidiano. As espécies foram classificadas de acordo com a sua origem, se nativas ou exóticas. A partir disso, foram elaboradas sinopses a partir da mensuração das partes dos vegetais, comparação das variações dos espécimes por espécie e consulta a bibliografia especializada, e análise em lupa. As sinopses serviram de base para criação da chave de identificação dicotômica das espécies. Para a chave de identificação foram elaborados ilustrações didáticas das espécies que foram digitalizadas. Para o guia Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 191 fotográfico colorido as exsicatas foram fotografadas e editadas para destacar partes dos exemplares mais relevantes no processo de determinação das espécies. 3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontradas 27 espécies de Fabaceae no herbário REAL, sendo que dessas, 8 são exóticas e 19 são nativas. Além disso, às espécies que mais estão presentes são Leucaena leucocephala (exótica), com 5 exemplares, Dalbergia frutescens (nativa), Delonix regia (nativa) e Parapiptadenia rigida (nativa) com 3 exemplares de cada. Como resultado foi possível realizar a descrição sucinta das 27 espécies de Fabaceae, a confecção de uma chave de identificação ilustrada (Figura 1), bem como a criação de um guia ilustrado com fotos dos detalhes das espécies (Anexo). A grande importância da Botânica foi discutida por Salatino e Buckeridge (2016), que em suas discussões abordam a cegueira botânica (termo criado por Wandersee e Schussler em 2002), presente na sociedade e fortemente notada nas escolas. Trata-se da dificuldade de notar às plantas no nosso cotidiano, não reconhecendo seus aspectos biológicos exclusivos e considerando-as inferiores aos animais. Uma das consequências da cegueira botânica é que os professores não tiveram formação adequada para ensinar Botânica, o que torna o processo de ensinoaprendizagem mais difícil e entediante. Além disso, como mostrado por Kinoshita et al. (2006), na maior parte das vezes, os conteúdos de Botânica são trabalhados de forma tradicional, priorizando a memorização e reprodução de nomes e conceitos, sem haver questionamentos, o que não torna o conhecimento significativo. Como mostrado por Salatino e Buckeridge (2016), o ensino de Botânica se torna mais prazeroso quando realizado de forma prática, já que desperta o interesse dos jovens. Dessa forma, a utilização de aulas práticas para identificação de plantas é uma ferramenta muito válida, e pode ter como apoio, materiais como o guia ilustrado e a chave de determinação de espécies ilustrada, desenvolvidos no presente trabalho. Segundo Figueiró-Leandro (2007), as chaves dicotômicas de identificação são ferramentas que auxiliam na botânica taxonômica, visto que estas agrupam conjuntos de elementos semelhantes que englobam características vegetativas e reprodutivas para identificação das plantas, que é uma necessidade base para pesquisa nas demais áreas da biodiversidade. Ademais a ilustração científica mostra a capacidade do pintor em observar e ilustrar precisamente, representando características singulares do objeto que se observava, dando forma ao que é invisível a muitos olhos (ALMEIDA, 2014), auxiliando o aprendizado de taxonomia aos escolares e divulgando a botânica. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 192 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 193 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 194 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 195 Figura 1. Chave de determinação ilustrada de Fabaceae presentes na Coleção do Herbário Real, UFFS, campus Realeza. AGRADECIMENTOS À Empresa Metropolitana de Água e Energia (EMAE P&B 00393/0010 2017) pela bolsa concedida ao primeiro autor. À Universidade Federal da Fronteira Sul por proporcionar projetos como o Herbário Real. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Amauri Sampaio de. O Desenho de Margaret Mee: Contribuições para a taxonomia Botânica. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Feira de Santana, Feira de Santana. 2014. Disponível em: http://tede2.uefs.br:8080/bitstream/tede/101/2/ disserta%C3%A7%C3%A3o%202014.pdf Acesso em: 21 jun 2020. 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ANEXOS Estudo de Fabaceae do Herbário Real (UFFS, campus Realeza) Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 198 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 199 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 200 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Capítulo 14 201 SOBRE AS ORGANIZADORAS TALIANE MARIA DA SILVA TEÓFILO: Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Semiárido (2007), e mestrado em Fitotecnia (2009) pela mesma instituição. Atuou como engenheira agrônoma na área da fruticultura irrigada, realizando atividades de planejamento, organização e acompanhamento de auditorias de certificação, nos âmbitos de segurança alimentar e sócio-ambientais (2010 – 2016). Atuou como professora do Curso Técnico em Agropecuária/ Fruticultura na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2017 – 2018), onde ministrou as disciplinas de Topografia, Ovinocaprinocultura, Agroecologia, Fitopatologia, Gestão Rural, Extenção Rural e Cooperativismo, Irrigação e Culturas anuais. Atualmente a autora cursa o doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semiárido, onde realiza pesquisas na área de comportamento de herbicidas no solo, ecotoxicologia de herbicidas e manejo integrado de plantas daninhas em espécies cultivadas. TATIANE SEVERO SILVA: Engenheira Agrônoma pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA/CESI (2014). Mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA (2017-2019). Atualmente cursa Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia na Universidade Federal Rural do SemiÁrido. Na área de Agronomia tem suas pesquisas relacionadas com os seguintes temas: interações entre plantas daninhas e plantas cultivadas, comportamento de herbicidas no ambiente, manejo integrado de plantas daninhas, seletividade de herbicidas, ecotoxicologia e biologia molecular. FRANCISCA DANIELE DA SILVA: Possui graduação em Gestão Ambiental pela Universidade Potiguar (2011). Atuou como Gestora Ambiental na elaboração, implantação e monitoramento de Sistemas de Gestão da Qualidade e Meio Ambiente e atividades de planejamento, auditora interna em auditorias de certificações nacionais e internacionais, tais como: NBRs ISO 9001, 14001, OHSAS18001, ISO 2200, sempre atuando nos âmbitos de segurança alimentar e socioambientais no setor do Agronegócio, Indústria e tecnologias limpas (2007-2018). Assistente de logística em empresa irlandesa e capacitação na língua inglesa (2018-2020). Perita Judicial Ambiental e atualmente cursa Mestrado em Ambiente, Sociedade e Tecnologia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Sobre as organizadoras 202 ÍNDICE REMISSIVO A Adubo organomineral 55, 56, 76 Adubos orgânicos 56, 57, 76, 77 Agentes infecciosos 112, 113, 119, 127, 129, 130, 131, 134, 137 Agroecologia 12, 13, 14, 15, 16, 19, 20, 174, 202 Alimentos saudáveis 18, 22, 24 Ambiente urbano 113, 114, 139 Atividade biológica 47 B Bactéria 48 Bioinseticidas 36 Botânica 92, 97, 103, 104, 106, 109, 110, 111, 189, 190, 192, 196, 197, 198 C Ciência 36, 44, 78, 80, 81, 83, 87, 110, 172, 176, 178, 181, 183, 184, 185, 186, 187, 189 Condições alimentares 21, 22 Conhecimento científico 176, 178, 180, 181 Construção do conhecimento 177 Controle biológico 47 D Desequilíbrios ambientais 120, 178 E Educação ambiental 1, 2, 4, 6, 10, 11, 12, 13, 19, 114, 174, 178, 181, 185, 187, 188 Educadores ambientais 1, 7, 8, 9, 185 Empregos verdes 153, 154, 158, 160, 161, 171 Espécies exóticas 78 Espécies nativas 80 F Fauna 6, 26, 27, 31, 36, 122, 129, 130, 133, 134, 142, 143, 150, 158 Flora 6, 36, 43, 111, 158, 189, 198 Formação interdisciplinar 176, 178 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Índice Remissivo 203 Formações florestais 26, 27 Fungos 48, 70, 83, 84, 86, 91, 92, 94, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 137, 142 H Herbário 32, 36, 189, 191, 192, 196, 198 I Injustiças sociais 1 Intoxicação 100, 101, 102, 104, 105, 106, 107 Inventários faunísticos 26 M Mata Atlântica 26, 27, 28, 32, 33, 57, 64, 83, 116, 126, 128, 129, 133, 148, 150 Microrganismos 53, 61, 66, 90, 91, 118, 119, 120, 121 P Plantas medicinais 15, 16, 44, 86, 87, 88, 95, 96, 103, 104, 109, 111 Produção de hortaliças 21, 23, 24 Produto seguro 86 Q Qualidade físico-química 86, 88, 89 Qualidade microbiológica 90 R Resíduos orgânicos 46, 53, 55, 56, 74, 76 Responsabilidade socioambiental 153, 154, 168, 169, 172, 184 S Sociedades sustentáveis 12 Sustentabilidade 1, 4, 6, 10, 13, 14, 59, 156, 157, 169, 170, 176, 181, 184 Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2 Índice Remissivo 204