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2020 by Atena Editora
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Copyright do Texto © 2020 Os autores
Copyright da Edição © 2020 Atena Editora
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Prof. Me. Sebastião André Barbosa Junior – Universidade Federal Rural de Pernambuco
Profª Ma. Silene Ribeiro Miranda Barbosa – Consultoria Brasileira de Ensino, Pesquisa e
Extensão
Profª Ma. Solange Aparecida de Souza Monteiro – Instituto Federal de São Paulo
Prof. Me. Tallys Newton Fernandes de Matos – Faculdade Regional Jaguaribana
Profª Ma. Thatianny Jasmine Castro Martins de Carvalho – Universidade Federal do Piauí
Prof. Me. Tiago Silvio Dedoné – Colégio ECEL Positivo
Prof. Dr. Welleson Feitosa Gazel – Universidade Paulista
Meio ambiente: impacto do convívio entre vegetação, animais e homens
2
Editora Chefe:
Bibliotecária:
Diagramação:
Correção:
Edição de Arte:
Revisão:
Organizadoras:
Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira
Janaina Ramos
Camila Alves de Cremo
Vanessa Mottin de Oliveira Batista
Luiza Alves Batista
Os Autores
Taliane Maria da Silva Teófilo
Tatiane Severo Silva
Francisca Daniele da Silva
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M514
Meio ambiente: impacto do convívio entre vegetação,
animais e homens 2 / Organizadoras Taliane Maria da
Silva Teófilo, Tatiane Severo Silva, Francisca Daniele
da Silva. – Ponta Grossa - PR: Atena, 2020.
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5706-482-5
DOI 10.22533/at.ed.825201310
1. Meio ambiente. I. Teófilo, Taliane Maria da Silva. II.
Silva, Tatiane Severo. III. Silva, Francisca Daniele da. IV.
Título.
CDD 577
Elaborado por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166
Atena Editora
Ponta Grossa – Paraná – Brasil
Telefone: +55 (42) 3323-5493
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contato@atenaeditora.com.br
APRESENTAÇÃO
A coleção “Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais
e Homens” é uma obra dividida em dois volumes que aborda de forma ampla
aspectos diversos do meio ambiente distribuídos ao longo de seus capítulos, como o
desenvolvimento sustentável, questões socioambientais, educação ambiental, uso
e tratamento de resíduos, saúde pública, entre outros.
As questões ambientais são temas importantes e que necessitam de
trabalhos atualizados, como os dispostos nesta obra. Os capítulos apresentados
servem como subsídios para formação e atualização de estudantes e profissionais
das áreas ambientais, agrárias, biológicas e do público geral, por se tratar de temas
de interesse global.
A divulgação científica é de fundamental importância para universalização do
conhecimento, desse modo gostaríamos de enfatizar o papel da Atena editora por
proporcionar o acesso a uma plataforma segura e consistente para pesquisadores
e leitores.
Taliane Maria da Silva Teófilo
Tatiane Severo Silva
Francisca Daniele da Silva
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1....................................................................................................... 1
TRILHAS ECOLÓGICAS POR UMA ABORDAGEM CRÍTICA DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
Rhuann Carlo Viero Taques
Stephany Caroline de Souza Martins
Maristela Procidonio Ferreira
Patricia Carla Giloni-Lima
DOI 10.22533/at.ed.8252013101
CAPÍTULO 2..................................................................................................... 12
INDISSOCIABILIDADE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO : FEIRA ECOLÓGICA
UPF – MAIS QUE UM MERCADO DE ORGÂNICOS NA UNIVERSIDADE
Claudia Petry
Elisabeth Maria Foschiera
Lísia Rodigheri Godinho
Rodrigo Marciano da Luz
Isabel Cristina Lourenço da Silva
Maddalena Bruna Capello Fusaro
Tarik Ian Reinehr
Fabiane Bernardini Favaretto
Bruno de Oliveira Jacques
Solange Maria Longhi
DOI 10.22533/at.ed.8252013102
CAPÍTULO 3..................................................................................................... 21
PROJETO HORTA VITAL: DESAFIOS DO CONTROLE DE PRAGAS NA HORTA
COMUNITÁRIA EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE
Altacis Junior de Oliveira
Monica Tiho Chisaki Isobe
Herena Naoco Chisaki Isobe
Daniela Soares Alves Caldeira
Marcella Karoline Cardoso Vilarinho
Marcia Cruz de Souza Rocha
Gustavo Ferreira da Silva
Givanildo Rodrigues da Silva
Cyntia Beatriz Magalhães Farias
Taniele Carvalho de Oliveira
Larissa Chamma
DOI 10.22533/at.ed.8252013103
CAPÍTULO 4..................................................................................................... 26
RIQUEZA DE INSETOS GALHADORES NO ESPÍRITO SANTO (REGIÃO
SUDESTE, BRASIL)
Valéria Cid Maia
DOI 10.22533/at.ed.8252013104
SUMÁRIO
CAPÍTULO 5..................................................................................................... 34
EXTRATO AQUOSO DE Campomanesia adamantium (MYRTACEAE) (CAMBESS.)
O. BERG AFETA O DESENVOLVIMENTO DE TRAÇA-DAS-CRUCÍFERAS
Silvana Aparecida de Souza
Isabella Maria Pompeu Monteiro Padial
Irys Fernanda Santana Couto
Mateus Moreno Mareco da Silva
Emerson Machado de Carvalho
Rosilda Mara Mussury
DOI 10.22533/at.ed.8252013105
CAPÍTULO 6..................................................................................................... 45
INOCULAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA DE DIFERENTES Bacillus spp ISOLADOS E
ASSOCIADOS EM CONDICIONADOR DE SOLO CLASSE A
Brener Magnabosco Marra
Andreia Monteiro Alves
Jéssyca Ketterine Carvalho
Andressa Alves Silva Panatta
Rafael Ricardo Adamczuk
Jeferson Klein
Fernando Mateus Gerling
Cleide Viviane Buzanello Martins
DOI 10.22533/at.ed.8252013106
CAPÍTULO 7..................................................................................................... 55
FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS GRANULADOS NA PRODUÇÃO DE
MUDAS DE ESPÉCIES FLORESTAIS EM DOIS TIPOS DE TUBETES
Aline Assis Cardoso
Michel de Paula Andraus
Eliana Paula Fernandes Brasil
Wilson Mozena Leandro
Jéssika Lorrine de Oliveira Sousa
Ana Caroline da Silva Faquim
Joyce Vicente do Nascimento
Carolline de Moura Ferro
Welldy Gonçalves Teixeira
Caio Fernandes Ribeiro
Álisson Assis Cardoso
DOI 10.22533/at.ed.8252013107
CAPÍTULO 8..................................................................................................... 86
CONTROLE DE QUALIDADE DE FOLHAS DE AMOREIRA (MORUS ALBA L.)
COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE CAMPO GRANDE -MS
Lilliam May Grespan Estodutto da Silva
Eduarda Pimenta da Silva
Higor Cristaldo da Silva
Karla de Toledo Candido Muller
Ana Paula de Araújo Boleti
SUMÁRIO
Ludovico Migliolo
DOI 10.22533/at.ed.8252013108
CAPÍTULO 9..................................................................................................... 99
DIEFFENBACHIA SCHOTT. E A SAÚDE PÚBLICA: ETNOTOXICOLOGIA E
ACIDENTES DOMÉSTICOS COM PLANTAS NA ZONA OESTE DA CIDADE RIO
DE JANEIRO
Luiz Gustavo Carneiro-Martins
Karen Lorena Oliveira-Silva
João Gabriel Gouvêa-Silva
Jeferson Ambrósio Gonçalves
Claudete da Costa Oliveira
Ygor Jessé Ramos
João Carlos da Silva
Sonia Cristina de Souza Pantoja
DOI 10.22533/at.ed.8252013109
CAPÍTULO 10..................................................................................................112
FUNGOS PATOGÊNICOS HUMANOS TRANSMITIDOS POR MORCEGOS EM
RESIDÊNCIAS URBANAS
Bianca Oliveira Silva
Flávia Franco Veiga
Tânia Salci
Melyssa Negri
Henrique Ortêncio Filho
DOI 10.22533/at.ed.82520131010
CAPÍTULO 11................................................................................................. 126
MONITORAMENTO E AÇÕES PARA O CONTROLE DE AGENTES
ZOONÓTICOS EM COMUNIDADES ADJACENTES A UMA FLORESTA
URBANA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Isabel Cristina Fábregas Bonna
Maria Alice do Amaral Kuzzel
Marina Carvalho Furtado
Helena Medrado Ribeiro
Caroline Lacorte Rangel
Leandro Batista das Neves
Rosângela Rodrigues e Silva
Rodrigo Caldas Menezes
Luciana Trilles
Flavia Coelho Ribeiro Mendonça
Flavia Passos Soares
Ricardo Moratelli
DOI 10.22533/at.ed.82520131011
CAPÍTULO 12................................................................................................. 153
TRABALHO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL: ANÁLISE
SOCIOAMBIENTAL DA INTEGRAÇÃO DA FORÇA FEMININA NO SETOR
SUMÁRIO
TERCIÁRIO DE MATO GROSSO DO SUL
Daniel Massen Frainer
Ailene de Oliveira Figueiredo
DOI 10.22533/at.ed.82520131012
CAPÍTULO 13................................................................................................. 176
ENSINO-PESQUISA-EXTENSÃO NA FORMAÇÃO INTEGRAL - EXPERIÊNCIAS
DO CURSO DE OCEANOGRAFIA DA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Kátia Naomi Kuroshima
Camila Burigo Marin
Ana Lúcia Berno Bonassina
José Matarezi
Manoela Tormen Criveletto Canalli Pacheco
DOI 10.22533/at.ed.82520131013
CAPÍTULO 14................................................................................................. 189
CHAVE DE DETERMINAÇÃO ILUSTRADA E GUIA FOTOGRÁFICO DE ESPÉCIES
DE FABACEAE
Fabieli Debona
Berta Lúcia Pereira Villagra
DOI 10.22533/at.ed.82520131014
SOBRE AS ORGANIZADORAS.................................................................... 202
ÍNDICE REMISSIVO....................................................................................... 203
SUMÁRIO
doi
CAPÍTULO 1
TRILHAS ECOLÓGICAS POR UMA ABORDAGEM
CRÍTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Data de aceite: 01/10/2020
Data de submissão: 31/07/2020
Rhuann Carlo Viero Taques
Universidade Estadual do Centro Oeste
(Unicentro)
Guarapuava - PR
http://lattes.cnpq.br/8250506102496790
Stephany Caroline de Souza Martins
Universidade Estadual do Centro Oeste
(Unicentro)
Guarapuava - PR
http://lattes.cnpq.br/2063138219245608
Maristela Procidonio Ferreira
Secretaria Municipal de Meio Ambiente de
Guarapuava (SEMAG)
Guarapuava - PR
http://lattes.cnpq.br/6594004469363061
Patricia Carla Giloni-Lima
Universidade Estadual do Centro Oeste
(Unicentro)
Guarapuava - PR
http://lattes.cnpq.br/6684589993372601
RESUMO: Vivemos em meio a uma crise
socioambiental fruto da dicotômica relação
sociedade/natureza. Diante disto, a Educação
Ambiental (EA) em sua macrotendência crítica
apresenta-se como um campo do conhecimento
que permite a transformação das relações e
injustiças sociais que conduzem as disparidades
nas problemáticas ambientais. Com o intuito de
ressignificar a relação ser sociedade/natureza,
a Prefeitura Municipal de Guarapuava/PR por
meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente
(SEMAG) com a participação de crianças e
adolescentes das escolas municipais locais
desenvolveu o projeto Parque Escola. Nele,
trabalhou a relação entre aspectos sociais,
culturais, históricos, políticos e ambientais
regionais e globais por meio de duas trilhas
ecológicas. As abordagens nas trilhas a
partir de contextualizações socioambientais
pela abordagem crítica da EA contribuíram
com a formação de um pensamento crítico
e potencialmente transformador nos sujeitos
participantes. Por meio das trilhas, os educadores
ambientais proporcionaram a identificação de
complexas relações do ser humano para consigo
ou para com o ambiente a sua volta, contribuindo
para a construção de um novo modelo societário
pautado na sustentabilidade ambiental e justiça
social.
PALAVRAS-CHAVE: Socioambiental, justiça
social, sustentabilidade ambiental, Parque
Municipal das Araucárias.
ECOLOGICAL TRAILS FOR A CRITICAL
APPROACH TO ENVIRONMENTAL
EDUCATION
ABSTRACT: We live in the midst of a socioenvironmental crisis resulting from the
dichotomous relationship between society and
nature. In view of this, Environmental Education
(EE) in its critical macro trend presents itself as a
field of knowledge that allows the transformation
of relationships and social injustices that lead to
disparities in environmental issues. In order to
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 1
1
give a new meaning to the relationship between society and nature, the Municipality
of Guarapuava/PR through the Municipal Environment Secretariat (SEMAG) with the
participation of children and adolescents from local municipal schools developed the
Parque Escola project. In it, worked the relationship between social, cultural, historical,
political, regional, and global environmental aspects through two ecological trails. The
approaches on the trails from socio-environmental contextualization through the critical
approach of EE contributed to the formation of critical and potentially transformative
thinking in the participating subjects. Through the trails, environmental educators
provided the identification of complex human relationships with themselves or with the
environment around them, contributing to the construction of a new corporate model
based on environmental sustainability and social justice.
KEYWORDS: Socio environmental, social justice, environmental sustainability, Parque
Municipal das Araucárias.
INTRODUÇÃO
Vivemos diante de uma crise socioambiental fruto da dicotômica relação
sociedade e natureza. Diante disto, a Educação Ambiental (EA) apresenta-se como
um campo do conhecimento que, abarcando as mais diversas áreas do saber, pode
proporcionar reflexões e ações que busquem o enfrentamento desta realidade
(CARVALHO, 2008). Maia (2015) explicita que a EA possibilita o resgate de
valores morais e éticos perdidos historicamente nos processos de desenvolvimento
das sociedades contemporâneas que permitiram o estabelecimento das crises
ambientais. O autor ressalta, que diante disto, a EA não é tão somente uma “forma”
de educação ou uma educação “para”. Não é simplesmente uma ferramenta ou
instrumento para resolução e gestão de problemáticas envolvendo a natureza.
Trata-se de uma dimensão essencial da educação que fundamenta-se no respeito a
uma esfera de interações pessoais, sociais e ambientais (SAUVÉ, 2005).
Diante disto, nos espaços não formais de educação1 as trilhas ecológicas
ou interpretativas têm sido bastante utilizadas nos processos de ressignificação
da relação do homem com o ambiente que o cerca. Rocha et al. (2016) e Souza
(2014) entendem as trilhas como fundamentais nos processos de sensibilização dos
sujeitos, já que estes, de acordo com estudos de neurociência, só compreendem
determinadas problemáticas por meio da emoção (FRANCO et al., 2019). Neiman
(2008), relata que ao visitar um espaço diferente do seu cotidiano, as pessoas
ampliam a possibilidade de reflexão, por meio do contato com o novo, proporcionando
condições de reelaborar valores e conceitos. Desta forma, Carvalho e Bóçon (2004)
retratam que as trilhas ecológicas se constituem significativo elemento cultural e
1 A educação não formal é aquela que acontece fora do âmbito escolar (ongs, museus, centros comunitários,
culturais e esportivos, projetos sociais, etc.). Ela é desenvolvida de forma socioeducativa, levando em conta
problemáticas e assuntos inseridos no contexto social e familiar (SILVA e PERRUDE, 2013).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 1
2
socioambiental, possibilitando a compreensão do meio natural e suas inter-relações
com as sociedades contemporâneas. Souza (2014) e Taques et al., (2019) acreditam
que o contato do homem com o meio ambiente por meio das trilhas pode se tornar
um espaço de reflexões acerca da valorização do ser humano enquanto sujeito
incluso a natureza, principalmente se o guia ou professor estiver preparado para
despertar de forma crítica a problemática ambiental em todas as suas dimensões:
social, econômica, política e histórica.
Contanto, o foco em questões ecológicas durante os passeios por trilhas faz
com que estas dimensões fiquem veladas em meio a discursos que não as aferem
como partes de um corpus que é o meio ambiente, estimulando uma concepção
ingênua sobre o mesmo. Diante disto, este estudo objetivou a apresentação de
uma abordagem socioambiental, ou ainda, crítica de meio ambiente por meio de
trilhas ecológicas. Em um primeiro momento, a partir de uma revisão bibliográfica,
contextualizamos a EA desde seu princípio até sua concepção crítica, fomentada pela
legislação brasileira. Posteriormente, como um relato de experiência, apresentamos
as trilhas ecológicas a partir desta EA crítica no projeto Parque Escola desenvolvido
pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Guarapuava.
REVISITANDO A EA CRÍTICA
A EA como um campo do conhecimento possui características polissêmicas
típicas por compreender as mais diversas (inter)relações entre as áreas do saber
humano. As primeiras discussões em torno de si surgiram a partir de movimentos
de contraculturas em todo o mundo na década de 70. Dentre os novos valores
idealizados e manifestados pelos revolucionários da época, estava uma espécie
de ecologismo que buscava incluir questões ambientais nos âmbitos políticos em
vista da degradação da natureza pelas ações antrópicas (CARVALHO, 2008). As
discussões em torno desta problemática se acentuaram a partir de processos de
redemocratização nos países de primeiro mundo nos anos 80 e 90 que teciam
críticas ao modelo socioeconômico vigente (Ibid., 2008).
O debate ecológico desenvolvido nestes anos foi o precursor da criação da
EA que surgiu como uma alternativa para a construção de uma nova relação da
sociedade com a natureza, por possibilitar debates que culminassem na atenção
da sociedade para com as problemáticas ambientais. Desta forma, a EA é fruto de
questionamentos socioambientais, estando, portanto, diretamente relacionada com
as dimensões políticas e econômicas das sociedades contemporâneas (MAIA, 2015).
No Brasil, a EA ganhou bastante relevância por meio da Lei Federal n° 6.938/81,
(BRASIL, 1981), a qual instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente. No Artigo 2°
da referida lei a EA é considerada essencial para o enfrentamento de problemáticas
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 1
3
ambientais, devendo ser ofertada enquanto conteúdo transversal nas disciplinas
dos ensinos fundamentais e médios nos espaços formais de educação. No ano
de 1999 a EA foi de fato institucionalizada por meio da implementação da Política
Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Esta, ofereceu subsídios às sociedades
para que pudessem cobrar sua efetividade nos ambientes educacionais formais
ou não (BRASIL, 1981) a destacando como um processo pelo qual o indivíduo e
a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente e é um bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (MAIA,
2015).
Diante do desenvolvimento da EA no Brasil e no mundo, variadas abordagens
foram se concretizando de acordo com as bases filosóficas e epistemológicas com
que eram fundamentadas. Estas diferentes abordagens possuem características e
metodologias que podem confluir ou destacarem-se umas das outras. Pois então, de
acordo com suas especificidades e objetivos surgem macrotendências em detrimento
da classificação das abordagens da EA. Sauvé (2005), por exemplo, categorizou 15
correntes de EA baseadas em suas diferenças relacionadas à concepção de meio
ambiente, a intenção e enfoque privilegiados e os exemplos e métodos utilizados
para sua ação. As correntes são divididas em dois grandes grupos de acordo com a
cronologia do seu surgimento. Algumas das mais antigas são as correntes naturalista,
conservacionista ou recursista, resolutiva, sistêmica, científica, entre outras. As mais
recentes são: holística, biorregionalista, crítica, etnográfica, da sustentabilidade etc.
Por outro lado, Layrargues e Lima (2014) classificaram as diferentes formas de
conceber e praticar a EA em três macrotendências relacionadas a modelos político
pedagógicos: a conservadora, a pragmática e a crítica. Cada uma dessas contempla
ampla diversidade de posições. A vertente conservadora se manifesta mediante a
corrente conservacionista, comportamentalista, da alfabetização ecológica e do
autoconhecimento que se distanciam de relações sociais, políticas e econômicas
e, assim, dificilmente levam à mudança social. A macrotendência conservadora se
baseia nos conceitos da Ecologia, enaltece a dimensão afetiva referente à natureza,
prioriza a transformação individual por meio de adestramentos e mudanças sem
reflexões, camufla a alienação ao sistema e ao paradigma dominante. Por fim, a
EA em sua macrotendência crítica se destaca por proporcionar uma reconceituação
do que é EA e seu papel na sociedade. De acordo com Guimarães (2016) esta
ressignificação de modo algum busca mostrar alguma evolução desta vertente
crítica sobre a outras, mas sim demonstra a sua contraposição e superação destas.
A EA crítica tem como base epistemológica e filosófica a teoria crítica
desenvolvida e fomentada pela Escola de Frankfurt no início do século XX. Por ela,
cientistas sociais como Walter Benjamin, Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 1
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Marcuse buscaram desenvolver uma abordagem materialista - de caráter marxista e
multidisciplinar (porque agrega contribuições de várias ciências: Sociologia, Filosofia,
Psicologia Social e Psicanálise) - da sociedade industrial e dos fenômenos sociais
contemporâneos. Desta forma, tecem suas críticas à ordem política e econômica
baseada no acúmulo do capital que vigora aos moldes de um aparato tecnológico e
incide na sociedade o seu condicionamento padronizado, homogêneo e, sobretudo,
sem a perspectiva de emancipação dos sujeitos por meio da conscientização de
seus papeis sociais e políticos (LAYRARGUES e LIMA, 2014).
A partir disto, compreende-se que o desenvolvimento do sistema capitalista
ampliou as possibilidades de mercantilizar progressivamente os bens da natureza
subsumidos à necessidade de reprodução do capital, vale dizer, ao lucro (TREIN,
2012). A reprodução do lucro a partir da natureza, por bem dizer que já é bastante
problemática por si só, não é igualmente distribuída entre os sujeitos de modo a
acarretar o acúmulo de capital na mão de poucos e, consequentemente, na divisão de
classes. Esta divisão de classes, por meio da perspectiva Marxista, é a circunstância
chave para ocorrência dos conflitos e desigualdades sociais que imperam na crise
socioambiental em que vive atualmente as sociedades contemporâneas. Deste
modo, todas as problemáticas ambientais tornam-se apenas pano de fundo onde
refletem-se ou projetam-se as problemáticas de ordens sociais.
Diante disto, a EA crítica também denominada de emancipatória e
transformadora, enfatiza aspectos históricos da relação do ser humano para com
a natureza, evidenciando fundamentos que levam a superioridade do homem,
enquanto sujeito, e das estruturas de acumulação do capital e busca o combate
político das disparidades e injustiças socioambientais (GUIMARÃES, 2016).
Loureiro e Layrargues (2013) ressaltam que as práticas de EA crítica, inclusive as
pedagógicas, são divergentes da prática educativa tradicional. Entende-se como
tradicionais, segundo o autor, aquelas marcadas por uma organização curricular
fragmentada e hierarquizada, pautadas pela neutralidade do conhecimento
transmitido e produzido, pela pura racionalidade e com finalidades desinteressadas
quanto às implicações sociais de suas práticas.
A EA crítica, portanto, inclui nos debates ambientais os mecanismos da
reprodução social e de que a relação do ser humano para com a natureza é mediada
por valores de classes historicamente construídos (LAYRARGUES e LIMA, 2014).
Desta forma, suas abordagens pedagógicas nos ambientes formais ou não formais
de educação devem, sem sombra de dúvidas, problematizar os contextos societários
regionais e globais em sua interface com a natureza. “Por essa perspectiva não
é possível conceber os problemas ambientais dissociados dos conflitos sociais;
afinal, a crise ambiental não expressava problemas da natureza, mas problemas
que se manifestavam na natureza” (Ibid. 2014, p. 07). Isto se dá porque a EA
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 1
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crítica não compreende o meio ambiente apenas como a natureza (assim como
a macrotendência conservadora) ou seus recursos (macrotendência pragmática),
mas inclui a ele questões como a erradicação da miséria, justiça e inclusão social,
qualidade de vida, respeito aos seres e outras características que justificam uma
atitude crítica e a busca da transformação do atual modelo de desenvolvimento
econômico-social (MEC, 2013).
As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Ambiental (DCNEA)
almejam a implementação de reflexões e ações de uma EA crítica nas práxis
pedagógicas das escolas. Desta forma, a legislação em si preza pela capacidade
da EA em acrescentar à formação dos sujeitos não apenas nos conteúdos de
ordens ambientais, mas também a relação destes com as mais diversas áreas do
conhecimento. Assim, em um processo formativo crítico, a EA fortalece uma postura
ética, política, social participativa e responsável dos indivíduos para com suas
realidades em um processo de construção e transformação de um novo modelo de
sociedade com mais sustentabilidade ambiental e justiça social.
TRILHA ECOLÓGICA POR UMA ABORDAGEM CRÍTICA
Apesar do destaque pela legislação brasileira (MEC, 2013) da necessidade de
se trabalhar a EA em sua perspectiva crítica pelos ambientes formais de educação,
estes ainda, majoritariamente tratam das esferas ambientais como dissociadas das
sociais. Morais e Vieira (2017) realizaram uma análise dos trabalhos nos anais do
XVI Encontro Paranaense de Educação Ambiental realizado em Curitiba no ano de
2017, com a finalidade de apresentar um panorama das pesquisas em EA na escola.
Os autores verificaram que em meio a diversidade de temáticas e metodologias,
a grande maioria dos trabalhos eram pautados por concepções de ambientes
naturalistas associados a projetos que visitam áreas protegidas com rios, matas por
meio de práticas pedagógicas que propõem um olhar para o lugar físico e biológico,
com foco apenas na fauna e flora. Deste modo, a inserção da EA nas escolas tem
priorizado os aspectos ecológicos do meio ambiente tendo como consequência
um distanciamento de suas (inter)relações para com as esferas sociais, no sentido
de uma identidade ecológica. Estudos feitos por Reigota (2006) e Sauvé (2005)
assinalam que as percepções naturalistas colaboram com o pensamento que o ser
humano é somente um observador que contempla e protege a natureza, sem a
clareza de pertencer-se e identificar-se a este meio.
Diante desta problemática e na tentativa de ressignificar a relação ser
humano/natureza, a Prefeitura Municipal de Guarapuava/PR por meio da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente (SEMAG) desenvolve atividades e trabalhos para com
as escolas municipais locais. Dentre as ações e projetos, destaca-se o Parque
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 1
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Escola que busca relacionar aspectos sociais, culturais, históricos e políticos a
aspectos ambientais por meio de duas trilhas ecológicas.
As trilhas, encontram-se na Unidade de Conservação (UC) do Parque
Municipal das Araucárias (PMA) (Figura 1). Este, localiza-se no Município de
Guarapuava/PR em uma área remanescente de Floresta Ombrófila Mista (FOM).
Ambas possuem o mesmo percurso inicial em meio a mata, porém, acabam por
ramificar-se aproximadamente a 700 metros de distância. Um dos caminhos passeia
em meio as espécies de Araucária (Araucária angustifolia), enquanto o outro
proporciona margear o rio Manjolo que passa pela UC. Deste modo, a Trilha das
Araucárias possui 1.076 metros de extensão, enquanto a Trilha do rio possui 1.214
metros.
Figura 1. Localização do Parque Municipal das Araucárias e suas trilhas ecológicas.
O projeto Parque Escola garante que todas as visitas às trilhas ecológicas
do PMA sejam acompanhadas por educadores ambientais da SEMAG. Desta forma,
estes garantem que esta experiência se torne um instrumento pedagógico de EA
crítica. Para isto, quando determinado grupo de estudantes chega ao PMA, antes de
adentrar as trilhas, estes são encaminhados a um espaço da SEMAG para que se
fomente um debate acerca da dicotômica relação sociedade/natureza. Neste debate,
aspectos históricos, políticos, sociais e econômicos do Município de Guarapuava
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 1
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são explanados pelos educadores ambientais, a fim de garantir que não haja
dissociação do ambiente e ser humano. Dentre os conteúdos abordados podem-se
destacar: dinâmica populacional, má distribuição de renda, infraestruturas básicas
de saúde, educação e segurança, uso e ocupação do solo e, por fim, atividades
potencialmente poluidoras.
Para que todos estes aspectos socioeconômicos sejam (inter)relacionados
com o ambiente em geral, partimos do princípio já explicitado neste estudo de que
as problemáticas ambientais são frutos de problemáticas sociais. Essa relação
também é inversa e retroativa, já que as desigualdades sociais enfrentadas pelos
moradores de Guarapuava – assim como de todo Brasil e do mundo – são fruto
da exploração insustentável da natureza pelos detentores dos grandes meios de
produção. Estes, baseiam suas ações destrutivas nas práticas que acumulam
capital e geram desigualdades socioeconômicas (GUIMARÃES, 2016). É fato de
que a profundidade e complexidade destas reflexões propostas variam de acordo
com a faixa etária e escolaridade das turmas que visitam as trilhas ecológicas do
PMA. Porém, a SEMAG procura deixar claro que a sociedade e meio ambiente não
são dissociáveis, contribuindo para o fomento de um pensamento crítico, mesmo
nos sujeitos mais jovens. De acordo com Vigotski (2010) deve-se considerar sempre
o meio, a realidade e o contexto em relação a cada ser para que o aprendizado seja
significativo. Desta forma, se torna possível perceber como ele entende e apreende
determinada situação, como interpreta, toma consciência, se relaciona afetivamente,
o que significa o meio através de sua vivência, em determinada faixa etária, pois
a vivência é uma unidade que revela elementos do meio e da personalidade do
sujeito. O autor, ainda destaca a relação das crianças para com o meio ambiente,
explicitando-a como dinâmica e dialética, pois por meio da vivência, o meio influencia
a criança, norteia seu desenvolvimento, a criança se modifica, muda sua atitude e
sua compreensão e, uma vez modificada, recebe novas influências, que irão nortear
novos desenvolvimentos (Ibid., 2010).
Durante o percurso da trilha paradas em pontos estratégicos com espécimes
do Pinheiro do Paraná (Araucaria angustifolia), Erva-Mate (Ilex paraguariensis) e
Imbuia (Ocotea porosa) são realizadas. Estas paradas acompanham explanações
dos educadores ambientais que buscam demonstrar a importância destas espécies
endêmicas da FOM para o ser humano. Isto se dá porque, anualmente, vegetais
como estes proporcionam a movimentação da economia e do turismo de toda região
centro-sul do Paraná, dando subsídios para a subsistência de diversas famílias de
Guarapuava. A contextualização da relação sociedade/natureza para com o contexto
regional dos sujeitos faz com que este conhecimento se torne, nas palavras de
Morin (2015), pertinente. Em outros termos, faz com que seja dotado de sentido a
ponto de proporcionar aos sujeitos uma identificação pessoal, o que no contexto da
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 1
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EA crítica, é fundamental pois proporciona o auto reconhecimento dos indivíduos
enquanto seres inclusos ao meio ambiente e a natureza, e não enquanto seres que
de nada lhe aferissem (CARVALHO, 2008).
Ainda durante os percursos das trilhas, contextualizações e socializações
de aspectos ecológicos da mata são proporcionadas pelos educadores ambientais.
Neste sentido, as abordagens dos serviços ecossistêmicos oferecidos pela FOM
são de grande valia. De acordo com a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA,
2005) serviços ecossistêmicos podem ser definidos como benefícios que os seres
(inclusive os humanos) obtêm das atividades naturais ecossistêmicas. Estes podem
ser classificados em quatro categorias: Serviços de Provisionamento (alimentos,
água, lenha, fibras, princípios ativos e recursos genéticos); Serviços de Suporte
(formação de solos, produção primária, ciclagem de nutrientes e processos
ecológicos); Serviços Culturais (espiritualidade, lazer, inspiração, educação e
simbolismos); e, Suporte de Regulação (regulação do clima, controle de doenças,
controle de enchentes e desastres naturais, purificação da água, purificação do ar
e controle de erosão.
Diante desta associação, dos aspectos ambientais e sociais, por meio
das trilhas ecológicas busca-se expor que o direito à uma boa qualidade de vida
e a um ambiente saudável é uma questão de cidadania. Neste sentido, tenta-se
não apresentar meios para combater a degradação ambiental por meio de ações
pragmáticas e tecnicistas2 que percebam a natureza apenas enquanto recurso,
mas sim propor reflexões, em um curto espaço de tempo de visitação ao PMA,
que intrigue ou incomode os sujeitos mediante a um sistema socioeconômico que
priva, justamente este direito de qualidade de vida socioambiental de muitos em
detrimento do lucro capital de poucos. Assim, o desenvolvimento de uma consciência
socioambiental instiga um espírito de responsabilidade individual e coletiva, pois os
sujeitos - que estão sendo educados para com o ambiente - sentem-se inclusos e
potenciais agentes transformadores do meio e realidade em que vivem (TAQUES
et al., 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, concluímos que o projeto Parque Escola da SEMAG
trabalha na sensibilização de crianças e adolescentes da comunidade de Guarapuava,
PR mediante as problemáticas socioambientais regionais. Consideramos que as
reflexões e (inter)relações propostas durante a visita as trilhas ecológicas do PMA
confluem com os princípios de uma EA crítica pois contribuem para a formação
de um pensamento crítico nos sujeitos, que os torna capazes de identificar as
2 Ver Tozoni-Reis e Campos (2014).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 1
9
dependências e retroações do ser humano para com a natureza diante de seus
aspectos sociais, culturais, históricos e políticos. Compreendemos que desta forma,
o referido projeto auxilia na construção de um novo modelo societário que pautase no respeito ao ser humano, consequentemente, ao meio ambiente por meio da
justiça social e sustentabilidade ambiental.
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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 1
11
CAPÍTULO 2
doi
INDISSOCIABILIDADE ENSINO, PESQUISA E
EXTENSÃO : FEIRA ECOLÓGICA UPF – MAIS QUE
UM MERCADO DE ORGÂNICOS NA UNIVERSIDADE
Tarik Ian Reinehr
Data de aceite: 01/10/2020
Data de submissão: 07/07/2020
Claudia Petry
Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo - RS
http://lattes.cnpq.br/9891091654711296
https://orcid.org/0000-0002-4187-1449
Elisabeth Maria Foschiera
Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo - RS
http://lattes.cnpq.br/5446037022090750
Lísia Rodigheri Godinho
Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo - RS
http://lattes.cnpq.br/6015786502843300
Rodrigo Marciano da Luz
Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo – RS
http://lattes.cnpq.br/5311710777204959
Isabel Cristina Lourenço da Silva
Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo - RS
http://lattes.cnpq.br/9633429641515448
http://orcid.org/0000-0001-6626-1818
Maddalena Bruna Capello Fusaro
Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo – RS, Brasil
Universitá degli Studi di Padova
Padova, Italia
https://orcid.org/0000-0002-9484-7565
Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo - RS
http://lattes.cnpq.br/6655235322747647
https://orcid.org/0000-0001-9363-8131
Fabiane Bernardini Favaretto
Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo – RS
http://lattes.cnpq.br/6434648411408579
https://orcid.org/0000-0002-2339-0449
Bruno de Oliveira Jacques
Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo - RS
http://lattes.cnpq.br/5449711114708491
Solange Maria Longhi
Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo - RS
http://lattes.cnpq.br/3575134540065011
RESUMO: Busca-se relatar aqui a experiência
da instalação da feira ecológica de Passo Fundo
dentro do campus universitário da Universidade
de Passo Fundo. Iniciando timidamente em
2015 a partir de uma demanda da comunidade
acadêmica, ela se consolidou tendo já edições
semanais durante os semestres letivos em
2019. Esse espaço busca com ferramentas da
educação ambiental e da agroecologia, auxiliar
na construção das sociedades sustentáveis,
atuando tanto na economia solidária e campesina
junto aos agricultores quanto atender critérios
da soberania e segurança alimentar exigidas
pelo consumidor. E assim, em 2020, com o
evento da pandemia da COVID 19, oprojeto
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 2
12
da feira ecológica ainda consegue se reinventar para cumprir suas funções de
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, agora de forma remota digital.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, inseparabilidade, Sustentabilidade,
economia solidária, soberania alimentar.
INDISSOCIABILITY TEACHING, RESEARCH AND EXTENSION: UPF
ECOLOGICAL FAIR – MORE THAN AN ORGANIC MARKET IN THE
UNIVERSITY
ABSTRACT: We seek to report here the experience of installing the ecological fair
of Passo Fundo within the university campus of the University of Passo Fundo. The
projet beggin timidly in 2015 from a demand from the academic community, it has
consolidated itself with weekly editions during 2019. This space seeks with tools of
environmental education and agroecology, to assist in the construction of sustainable
societies, acting both in the economy solidarity with farmers when meeting criteria
of sovereignty and food security required by the consumer. And so, in 2020, with the
pandemic event of COVID 19, the ecological fair project still manages to reinvent itself
to fulfill its functions of inseparability between teaching, research and extension, now
in a digital remote way.
KEYWORDS: Environmental Education, inseparability, Sustainability, solidary
economy, food sovereignty.
1 | INTRODUÇÃO
O projeto Feira Ecológica UPF, construído na perspectiva de um processo
de formação pautado na indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão,
reafirma o compromisso social da Universidade e, dialeticamente, se faz e se
refaz na direção da missão institucional, de “produzir e difundir conhecimentos
que promovam a melhoria da qualidade de vida e formar cidadãos competentes,
com postura crítica, ética e humanista, preparados para atuarem como agentes de
transformação” (PPI 2006-2015, p. 26).
Tendo como objetivo central promover a formação integral do estudante
a partir de uma proposta de ações indissociáveis, que oportunizem a vivência e
o reconhecimento de outras realidades de desenvolvimento socioeconômico,
enfatizando a agroecologia e educação ambiental, efetivando assim um processo
de formação integral e significativo, bem como a construção de uma identidade
cidadã. Além de ser uma obrigatoriedade da universidade que consta no artigo 207
da Constituição Brasileira (BRASIL, 1988), o princípio da indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão está na gênese do papel das universidades, conforme
Boaventura de Souza Santos (2011). O autor defende que essas instituições devem
ser construídas em diálogo com outros conhecimentos, de forma transdisciplinar e
com responsabilidade social, promovendo alternativas de pesquisa, de formação,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 2
13
de extensão e de organização da universidade como bem público, de forma que
em sua especificidade esta contribua na identificação e na solução de problemas
nacionais e globais.
Promover o diálogo sobre o assunto consiste em estratégia fundamental para
se avançar na construção de uma Política Alimentar que atenda às necessidades
e demandas acerca de um projeto sustentável. Assim, as ações do Projeto Feira
Ecológica UPF tem se constituído em um espaço de sensibilização e formação
para a comunidade acadêmica e regional, no sentido de fortalecer processos de
formação acerca da educação socioambiental, sustentabilidade e formação integral,
além de integrar também grupos do Fórum Regional de Economia Solidária.
Este capítulo aqui apresentado então, continua uma importante abordagem
já iniciada (PETRY et al., 2017; PETRY & FOSCHIERA, 2017), trazendo então o
histórico da feira ecológica na UPF, a partir do diálogo interno sobre a agroecologia
e alguns dos principais resultados obtidos até os dias atuais, em plena pandemia
de COVID 19.
2 | HISTÓRICO
A concepção metodológica que orienta o Projeto Feira Ecológica UPF parte
de uma proposta emancipatória e cidadã, exigindo planejamento, organização e
sistematização para sua execução. Fundamenta-se, teórica e metodologicamente
nas políticas da Agenda 21 e de Segurança Alimentar e Nutricional, com ações de
caráter interdisciplinar, contemplando as diretrizes para o trabalho com a educação
socioambiental. A partir dos encontros do Fórum de Estudantes, realizados na UPF
e promovidos pela Reitoria em 2015, houve a constituição de uma comissão de
estudantes, com o apoio de funcionários da Divisão de Extensão, que promoveu
debates fomentando uma nova política alimentar, articulada aos projetos e programas
de extensão e de pesquisa da UPF, resultando na efetivação de edições da Feira
Ecológica e da Economia Solidária no campus da universidade.
Como estratégias foram elencadas algumas frentes de atuação: a)
sensibilização, b) formação, c) monitoramento e avaliação e d) proposta da
implantação de uma incubadora da Feira Ecológica de Passo Fundo. Promover o
diálogo sobre o assunto consiste em estratégia fundamental na construção de uma
política de alimentação que atenda necessidades e demandas já problematizadas
pelos estudantes e comunidade acadêmica em geral. Nesse sentido houve uma
força tarefa interna da instituição no sentido de envolver projetos e programas de
extensão (Fazendo a Lição de Casa, Comunidades Sustentáveis) bem como projetos
de Pesquisa (Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica/NEA), e
políticas internas como a RISU/PAI, Política de Responsabilidade Social Universitária
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 2
14
e Política Ambiental Institucional e PPI (Projeto Pedagógico Institucional).
Como a UPF encontra-se num importante centro do agronegócio de
commodities (principalmente soja e trigo) com um curso de agronomia voltado à
essa formação, é necessário fazer um histórico de como a agroecologia começou a
ser debatida academicamente na instituição, culminando no sucesso desse projeto
institucional da feira ecológica. O NEA da região do Planalto Norte do Rio Grande do
Sul, sediado na UPF, dentro da agronomia, nasceu de um projeto aprovado junto ao
governo brasileiro em 2013, cujo edital atendeu a Política Nacional da Agroecologia
e da Produção orgânica/PNAPO (BRASIL, 2012). Desse modo, nasceu com
parceiros de apoio nacional e regional: CNPq, CETAP, Núcleo Planalto da Rede
Ecovida, COONALTER e a própria Feira Ecológica da cidade de Passo Fundo,
constituindo-se em um fórum regional de estudo e de debate sobre segurança e
soberania alimentar, agrobiodiversidade e agroecologia (PETRY et al., 2018).
Buscando atender interesses dos agricultores e da população demandante
(consumidores), o NEA auxilia na divulgação de conhecimento sobre benefícios
dos alimentos orgânicos, produção de alimentos orgânicos e manejo de
agroecossistemas sustentáveis. Especificamente atua divulgando os benefícios
das sementes crioulas (estimulando a troca de sementes), das plantas medicinais e
alimentícias não convencionais (PANC) e das frutas nativas. o ensaio e utilização de
insumos produzidos localmente (on farm) desde que sejam permitidos na legislação
da produção orgânica (biofertilizantes, fragmentos lenhosos, homeopatia e pós de
rocha). Assim, as atividades de pesquisa em agroecologia se realizam envolvendo
estagiários de graduação e bolsistas de iniciação científica, e acadêmicos
mestrandos e doutorandos dos Programas de Pós-graduação em Agronomia e de
Ciências Ambientais da UPF. Portanto, a existência do NEA no espaço acadêmico
é um dos pilares técnicos (ligado ao conhecimento agronômico) do projeto da feira
ecológica da UPF.
3 | RESULTADOS
Buscando dialogar com o consumidor, no ano de 2015 foram realizadas pela
equipe do NEA, 36 atividades de extensão (palestras, oficinas e visitas), envolvendo
2.038 pessoas. Em 2019, foram 14 palestras para cerca de mil pessoas. As edições
da feira ecológica no campus I da UPF foram crescendo, inicialmente em 2015
foram quatro, depois nove em 2016, sendo ainda quinzenais em 2017 (Figura 1) e
2018, tiveram cerca de 15 edições respectivamente nesses anos.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 2
15
Figura 1 – Material de divulgação para o agendamento das feiras ecológicas no
campus I da UPF no segundo semestre de 2017
Fonte: Setor de Marketing da UPF
Em 2019, as edições começaram a ser semanais, totalizando 30 edições.
Em 2020, houveram apenas duas edições pois em seguida houve o decreto da
quarentena pela COVID 19. Desde o início do processo, várias edições foram
concomitantes à eventos envolvendo questões ambientais (Figura 2). Por exemplo,
no Fórum de Extensão do MERCOSUL, houve roda de conversa sobre agroecologia
e economia solidária, com outras entidades internacionais participantes bem como
a organizadora parceira, UNICEM. As edições de Seminários regionais de plantas
bioativas também tiveram a feira ecológica junto com as exposições. Escolas de
ensino fundamental também incluíram a feira em suas visitas ao campus da UPF.
Na agronomia, o ensino em agroecologia está vinculado à feira com atividades
dentro de disciplinas eletivas que ocorreram concomitantes com cursos de extensão
gratuitos (além da disciplina de “Agroecologia”, tem-se “Plantas Medicinais,
Aromáticas e Condimentares” e também “Paisagismo Avançado”). Também, entre
2015 e 2018, foram feitas atividades dentro dos cursos de extensão em agroecologia
(presencial e EaD), ambos ofertados gratuitamente para a comunidade local graças
aos recursos do projeto aprovado do NEA-UPF em 2013. Como anteriormente dito,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 2
16
efetua-se com frequência ensaios avaliando as sementes crioulas orgânicas (Figura
2) e a feira é um dos locais de devolução destes resultados à sociedade e aos
agricultores produtores.
Figura 2 – Visão geral da feira ecológica da UPF, com seus produtos, material de
divulgação e os consumidores locais
Fonte: organizado pelo NEA-UPF
As feiras ecológicas organizadas nos campus universitários contribuem, não
somente para a organização produtiva e econômica das famílias agricultoras, mas
também para a formação das(os) estudantes, nas dimensões técnicas e sociais. A
experiência com a feira ecológica da UPF se relaciona ao alcance e impacto que
os projetos de ensino-pesquisa-extensão podem proporcionar aos aprendizados de
todos, além de construir novas sociabilidades. A seguir, alguns depoimentos dos
acadêmicos da pós-graduação e da graduação.
“Em meu caso pessoal, a Feira proporcionou uma relação mais
próxima com as famílias que são os sujeitos de pesquisa da minha
tese de doutorado, permitindo ampliar as relações de confiança,
necessárias à pesquisa social. Espaços de comercialização como a
feira, nos possibilitam uma relação próxima às famílias agricultoras,
onde conhecemos quem produz nossos alimentos, gerando uma rede
de confiança, baseada na reciprocidade.”(Isabel da Silva, engenheira
agrônoma doutoranda do PPGAGRO - UPF)
De acordo com Sabourin (2012) as feiras agroecológicas são exemplos
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 2
17
de mercados de proximidade, que geram laços sociais e sociabilidades, devido a
relação direta existente entre produtor e consumidor.
“A feira ecológica da UPF me proporcionou a mais perfeita união entre
produtor e acadêmico. Nós alunos da agronomia temos constante
contato com pesquisas, assim como muito embasamento teórico e foi
a experiência da feira o que proporcionou sensação de êxito após o
contato com os produtores e seus relatos das experiências práticas.
Não podemos negar o quão benéfico é a Feira ecológica dentro da
Universidade, pois devido à nossa vida corrida como acadêmicos,
ter esse momento (e este espaço) para poder adquirir alimentos
saudáveis e benéficos à nossa saúde é de extrema importância.”
(Tarik Reinehr, acadêmico de agronomia UPF)
Segundo Verona (2009) quando realizou sua pesquisa em Chapecó,
Santa Catarina, apenas duas pessoas na faixa etária dos 20 anos faziam o uso de
alimentos orgânicos em sua dieta. Mas hoje se observa que a tendência mundial é
de jovens cada vez mais preocupados com a saúde deles e do planeta, consumindo
alimentos orgânicos, rastreados e que atenderam critérios éticos e que respeitaram
o bem estar animal. E consumidores universitários se encontram nessa faixa etária
e são muito sensíveis a estas causas.
Após março de 2020, o povo brasileiro compreendeu forçosamente o
processo da democracia da globalização após a decretação mundial de pandemia
pela COVID 19. No municipío de Passo Fundo, onde está localizado o campus 1 da
UPF, a quarentena foi decretada a partir de 17 de março de 2020. A partir daquele
momento se iniciou as atividades remotas de ensino, pesquisa e extensão. Após
duas edições presenciais da feira ecológica no campus 1, a equipe do Projeto da
Feira, coordenada pelo professor Rodrigo Luz, continuou auxiliando os agricultores
orgânicos a comercializarem on line seus produtos, prestando assessoria em relação
à legislação, bem como auxiliando na organização e comercialização das cestas.
Esse cuidado com o consumidor será sempre reconhecido, sobretudo na dificuldade
da pandemia, como bem nos retrata o depoimento de uma intercambista italiana:
“Em momentos difíceis se torna necessário enriquecer e fortalecer o
próprio corpo e a mente. Portanto de fundamental importância são
as nossas escolhas alimentares. Muitas vezes pode parecer difícil
achar alimentos de qualidade e com uma origem orgânica, mas a
feira ecológica da UPF fornece exatamente isso. A minha experiencia
com a feira não se limitou somente aos muros da universidade; ela
continuou acontecendo também durante a pandemia com as entregas
diretamente em casa. A feira ecológica pode ensinar muito sobre a
qualidade dos produtos orgânicos: não sempre perfeição é sinal
de qualidade. Temos todos que aprender que a natureza na sua
imperfeição é perfeita, e os produtos da feira ecológica da UPF são
perfeitamente imperfeitos”(Maddalena Fusaro, paisagista, mestranda
da Universidade de Padova, Itália, com bolsa sanduíche no primeiro
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 2
18
semestre de 2020 no PPGAGRO - UPF)
Assim, através do espaço e da ferramenta “feira ecológica da UPF” se
confirma que a universidade e sociedade conseguem transformar o conhecimento
produzido - através de ações inseparáveis (e dorenavantes, também remotas) de
ensino, pesquisa e extensão universitária, - recriando suas funções e atuações, mas
sempre tendo como objetivo mátrio a valorização das respostas e/ou expressões
dos sujeitos e movimentos sociais locais.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq-MAPA-MDA-MCTI-MPA-MEC pelos recursos ao NEA na chamada
81-2013. À VREAC-UPF e a Coonalter pela implementação da Feira Ecológica na
UPF. À CAPES e à UPF pelas bolsas de estudos na Pós-graduação.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, CASA CIVIL. Institui a Política Nacional de
Agroecologia e Produção Orgânica. Decreto n.7794, de 20/08/2012. Brasília, DF:
Presidência da República, Casa Civil, 2012.
DALMOLIN, Bernadete Maria; MORETTO, Clenir Maria (Orgs.). Política de responsabilidade
social 2013/2016. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2014.
PETRY et al., Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão: feira ecológica UPF.
Revbea, São Paulo, V. 12, N o 3 – Caderno I - Anais do IX FBEA, 2017.
PETRY, C.; FOSCHIERA, E.M. Indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão a partir das
contribuições da Agroecologia e Economia Solidária. In: Diálogos de saberes e fazeres: uma
releitura dos 25 anos da trajetória da educação ambiental brasileira..1 ed.São José: ICEP,
2017, p. 311-318.
PETRY, C.; BORTOLUZZI, E. C. ; FOSCHIERA, E. M. ; FOSCHIERA, L. A. ; LONGHI, S. M. ;
DUTRA, C. B. ; PRIMEL, A. ; SZIMAINSKI, R. M. ; GARCIA, N. B. U. ; SILVA, I. C. L. ; SILVA,
G. O. ; BERNARDINI, F. F. ; SANTOS, F. L. ; HARTMANN, R. . NEA-UPF CONSOLIDANDO A
REDE AGROECOLÓGICA DE CIDADÃOS SAUDÁVEIS NO PLANALTO MÉDIO GAÚCHO: DO
CONSUMIDOR CONSCIENTE AO AGRICULTOR AGROECOLÓGICO. Revista Brasileira de
Agroecologia (Online), v. 13, p. 8-17, 2018.
SABOURIN, E. A Construção social dos mecanismos de qualificação e certificação entre
reciprocidade e troca mercantil. REDD – Revista Espaço de Diálogo e Desconexão,
Araraquara, v. 4, n. 2, jan/jul. 2012. DOI: https://doi.org/10.32760/1984-1736/REDD/2012.
v4i2.5178
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 2
19
SANTOS, Boaventura de Souza. A Universidade do Século XXI: para uma reforma
democrática e emancipatória da universidade. 3a ed. São Paulo: Cortez, 2011.
UPF. Planejamento Pedagógico Institucional da UPF 2006 – 2015. PPI.
VERONA, L. A. F.; DIZ, O. M.; HEMP, S.; NESI, C. O perfil dos consumidores de produtos
orgânicos da feira da cidade de Chapecó–SC. Rev. Bras. de Agroecologia, v.4, n2, 2009.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 2
20
CAPÍTULO 3
doi
PROJETO HORTA VITAL: DESAFIOS DO CONTROLE
DE PRAGAS NA HORTA COMUNITÁRIA EM UMA
UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE
Taniele Carvalho de Oliveira
Data de aceite: 01/10/2020
Data de submissão: 21/07/2020
Altacis Junior de Oliveira
Universidade do Estado de Mato Grosso
Cáceres-Mato Grosso.
http://lattes.cnpq.br/4906198714074608
Universidade do Estado de Mato Grosso
Cáceres-Mato Grosso
Larissa Chamma
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”
Botucatu – São Paulo
Monica Tiho Chisaki Isobe
Universidade do Estado de Mato Grosso
Cáceres-Mato Grosso
Herena Naoco Chisaki Isobe
Universidade do Estado de Mato Grosso
Cáceres-Mato Grosso
Daniela Soares Alves Caldeira
Universidade do Estado de Mato Grosso
Cáceres-Mato Grosso
Marcella Karoline Cardoso Vilarinho
Universidade do Estado de Mato Grosso
Cáceres-Mato Grosso
Marcia Cruz de Souza Rocha
Universidade do Estado de Mato Grosso
Cáceres-Mato Grosso
Gustavo Ferreira da Silva
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”
Botucatu – São Paulo
Givanildo Rodrigues da Silva
Universidade do Estado de Mato Grosso
Cáceres-Mato Grosso
Cyntia Beatriz Magalhães Farias
Universidade do Estado de Mato Grosso
Alta Floresta-Mato Grosso
RESUMO: O projeto Promoção da qualidade
de vida, saúde, educação e cultivo de hortaliças
na área de abrangência da USF Vitória Régia Horta Vital, vinculado aos cursos de Agronomia e
Enfermagem da Universidade do Estado de Mato
Grosso, atua em parceria com uma unidade básica
de saúde em Cáceres-MT. O cultivo em hortas
comunitárias tem sido uma política alternativa
de melhoria das condições alimentares das
famílias utilizado pela atenção básica de saúde
como uma estratégia de redução das carências
nutricionais e mudanças de hábitos alimentares
com o fim de promover a saúde das comunidades
assistidas. O objetivo desse trabalho foi relatar os
desafios do manejo de controle de pragas para a
produção de hortaliças no sistema agroecológico
na horta urbana comunitária do projeto. Foi
realizado o levantamento das principais pragas
e sua persistência, o possível controle indicado e
os resultados alcançados, no período de agosto
de 2015 a maio de 2017. As principais pragas
encontradas foram cochonilhas, pulgões, cupins,
formigas, lagartas, caramujo africano; e de
plantas daninhas foram tiririca e beldroega. Para o
controle de insetos foi utilizado caldas (bordalesa,
fumo, alho) e de cultivo de plantas repelentes,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 3
21
como o gergelim, cravo de defunto, arruda e losna. O controle de caramujo africano foi
realizado por meio de catação e aplicação de cal virgem como barreira no entorno da
horta. E para as plantas daninhas foi realizado o manejo manual utilizando o arranquio
e a capina. O relato de experiência desse trabalho mostrou a grande importância
em produzir alimentos saudáveis para comunidade envolvida na horta comunitária
horta vital. O controle agroecológico das pragas encontradas nas hortaliças como
couve, quiabo, pimentão e rabanete, teve resultado parcial devido infestação estar
muito severa. Já para as hortaliças almeirão, rúcula, beterraba, cenoura, jiló, berinjela,
cebolinha e salsa, o controle agroecológico foi eficaz mostrando bons resultados.
PALAVRAS-CHAVE: Hortaliças, controle agroecológico, insetos.
GARDEN VITAL PROJECT: PEST CONTROL CHALLENGES IN
COMMUNITY GARDEN AT BASIC HEALTH UNIT
ABSTRACT: The project “Promotion of quality of life, health, education and vegetable
cultivation in the coverage area of the USF Vitória Régia - Garden Vital”, linked to
Agronomy and Nursing courses at the State University of Mato Grosso, works in
partnership with a basic health unit in Cáceres-MT. Cultivation in community gardens
has been an alternative policy for improving family eating conditions used by primary
health care as a strategy to reduction of nutritional deficiencies and changes in
eating habits in order to promote the health of assisted communities. The aim of this
research was to report the challenges of pest control management for the production
of vegetables in the agroecological system in the project’s community urban garden.
Main pests and their persistence were surveyed, the possible control indicated
and the results achieved, from august 2015 to may 2017. The main pests found
were mealybugs, aphids, termites, ants, caterpillars, african snails; and weed were
nutsedge and purslane. To control the insects, it were used a mixture (bordeaux,
tobacco, garlic) and cultivation of repellent plants, such as sesame, marigold, rue and
wormwood. Control of african snails was carried out by picking and applying lime as
a barrier around the garden. And for weeds, manual handling was carried out using
pluck and weeding. Experience report this work showed a great importance in food
products for the community involved in a community garden. Agroecological control
of pests found in vegetables such as cabbage, okra, sweet pepper and, radish had a
partial result because the infestation was very severe. Chicory, arugula, beet, carrot,
jilo, eggplant, chive and parsley had an effective agroecological control.
KEYWORDS: Vegetables, agroecological control, insects.
1 | INTRODUÇÃO
O cultivo de hortaliças em hortas comunitárias tem sido uma política alternativa
de melhoria das condições alimentares das famílias utilizado pela atenção básica de
saúde como uma estratégia de redução das carências nutricionais e mudanças de
hábitos alimentares com o fim de promover a saúde das comunidades assistidas.
Desse modo, é indispensável o cultivo de alimentos saudáveis garantindo uma boa
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 3
22
nutrição e bem-estar físico, já que possuem diversos nutrientes essenciais para o
metabolismo humano (FERNANDES et al. 2013).
O projeto de extensão Promoção da qualidade de vida, saúde, educação
e cultivo de hortaliças na área de abrangência da USF Vitória Régia - Horta Vital,
vinculado aos cursos de Agronomia e Enfermagem da Universidade do Estado de
Mato Grosso, atua em parceria com uma unidade básica de saúde em CáceresMT, produzindo hortaliças convencionais e não convencionais, com o intuito de
fornecer alimentos mais saudáveis para toda equipe envolvida do projeto, além da
comunidade pertencente a USF do Bairro Vitória Régia, Cáceres – Mato Grosso.
Nos dias atuais é crescente a criação de projetos de extensão que fazem o uso
de espaço público para realização de ações em prol da comunidade envolvida. Assim,
a criação de hortas comunitárias têm sido um diferencial na vida das comunidades
de vulnerabilidade social, pois melhora os hábitos de consumo, contribuindo para
uma alimentação mais saudável, pois é cultivada de forma agroecológica, com
qualidade, rica em vitaminas e minerais, além disso, a comunidade consomem
hortaliças frescas (FERNANDES et al. 2013; COSTA et al. 2015).
O manejo das culturas cultivadas na horta comunitária do projeto Horta –
Vital encontra-se desafios principalmente no controle de pragas e doenças, pois
se usa o controle agroecológico, e muitas vezes quando o nível de infestação está
elevado, pode ser que o controle não seja eficaz, sendo necessário a entrada de
alternativas de manejos de controle como cultural, manual ou outro manejo biológico
que seja eficaz (BRANCO e ALCÂNTARA, 2011).
Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi relatar os desafios do manejo
de controle de pragas para a produção de hortaliças no sistema agroecológico na
horta urbana comunitária do projeto Horta Vital, Cáceres – Mato Grosso.
2 | METODOLOGIA
A priori, foi realizado um levantamento das principais pragas e sua
persistência, o possível controle indicado e os resultados alcançados, no período
de agosto de 2015 a maio de 2017. As principais pragas encontradas na horta vital
foram cochonilhas, pulgões, cupins, formigas, lagartas, caramujo africano e as
principais plantas daninhas: tiririca e beldroega.
Com as informações das principais pragas encontradas, começou um estudo
visando encontrar possíveis alternativas de controle de forma agroecológica, com a
finalidade de controlar ou minimizar o nível de infestação nas culturas cultivadas na
horta comunitária horta vital.
O controle dos insetos foi realizado com a utilização de caldas (bordalesa,
fumo, alho) e de cultivo de plantas repelentes, como o gergelim, cravo de defunto,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 3
23
arruda e losna. O controle de caramujo africano foi realizado por meio de catação
e aplicação de cal virgem como barreira no entorno da horta. E para as plantas
daninhas foi realizado o manejo manual utilizando o arranquio e a capina.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
No sistema agroecológico utilizado verificou-se que ocorreu o controle
parcial das pragas em algumas hortaliças como couve, quiabo, pimentão, rabanete
e mostarda com infestações mais severas. As pragas foram recorrente o que levou
a uma reestruturação do planejamento da horta, utilizando princípios de manejo
como espaçamento adequado, utilização de cultivares adaptados ao clima local,
adubação correta e rotação de cultura, para diminuir as condições favoráveis ao
desenvolvimento das pragas.
Já para o almeirão, rúcula, beterraba, cenoura, jiló, berinjela, cebolinha e
salsa, o controle agroecológico foi eficaz mostrando bons resultados, pois diminui
drasticamente a infestação das pragas existentes nessas culturas, chegando a
inexistência das mesmas.
O relato de experiência observou-se que a produção de hortaliças na horta
comunitária constituiu um desafio relevante, pois o controle de pragas utilizando
princípios agroecológicos mostrou pouca eficácia para algumas espécies, ocorrendo
a persistência das pragas, o que acarretou baixa produtividade nas espécies com
alta infestação.
Algumas pragas afetaram a produção de várias espécies, prejudicaram o
incentivo ao consumo das hortaliças produzidas na horta vital, visto que a população
da área de abrangência da unidade de saúde, em estudos anteriores mostrou
um baixo consumo de hortaliças e pouca diversidade, restringida ao consumo de
algumas espécies como alface, tomate e cebolinha.
4 | CONCLUSÃO
O relato de experiência desse trabalho mostrou a grande importância em
produzir alimentos saudáveis para comunidade envolvida na horta comunitária horta
vital.
O controle agroecológico das pragas encontradas nas hortaliças como couve,
quiabo, pimentão, rabanete, teve resultado parcial devido a infestação estar muito
severa.
Já para as hortaliças almeirão, rúcula, beterraba, cenoura, jiló, berinjela,
cebolinha e salsa, o controle agroecológico foi eficaz mostrando bons resultados.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 3
24
REFERÊNCIAS
BRANCO, C. M. e ALCÂNTARA, F. Hortas urbanas e periurbanas: o que nos diz a literatura
brasileira? Revista Horticultura Brasileira, v.29, n.3. Brasília, jul. - set, 2011.
COSTA, C. G. A. et al.; Hortas comunitárias como atividade promotora de saúde: uma
experiência em Unidades Básicas de Saúde. Scielo, 2015.
FERNANDES, R. et al.; Benefícios da Implantação do Programa Hortas Comunitárias em
Maringá – Paraná. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research. Vol.4 n.1, p.79-82,
2013.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 3
25
doi
CAPÍTULO 4
RIQUEZA DE INSETOS GALHADORES NO
ESPÍRITO SANTO (REGIÃO SUDESTE, BRASIL)
Data de aceite: 01/10/2020
RICHNESS OF GALL-INDUCING INSECTS
IN ESPÍRITO SANTO (SOUTHEAST
REGION, BRAZIL)
Data de submissão: 08/07/2020
Valéria Cid Maia
Museu Nacional
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/3425008572187545
RESUMO: Poucos inventários faunísticos sobre
insetos galhadores foram conduzidos no Espírito
Santo, de forma que a riqueza desta guilda
ainda é pouco conhecida neste estado. Com
base na literatura e em dados novos obtidos
dos herbários do Jardim Botânico do Rio de
Janeiro e do Museu Nacional, 33 espécies
de Cecidomyiidae indutoras de galhas são
assinaladas para o Espírito Santo, 10 delas pela
primeira vez. Estes insetos estão associados a
15 famílias botânicas, sendo que Myrtaceae e
Nyctaginaceae se destacam por hospedar um
maior número de espécies indutoras de galhas.
Os registros incluem áreas de restinga e/ou
formações florestais de 13 municípios capixabas,
10 deles acrescidos no presente estudo à área
de distribuição dos Cecidomyiidae.
PALAVRAS-CHAVE: Cecidomyiidae, Diptera,
galha, planta hospedeira, Mata Atlântica.
ABSTRACT: Few fauna inventories on gallinducing insects were performed in Espírito
Santo. Thus, the richness of this guild is little
known in the state. Based on literature plus
new data obtained from the Jardim Botânico do
Rio de Janeiro and Museu Nacional herbaria,
33 gall-inducing species of Cecidomyiidae are
recorded in Espírito Santo, ten of them for the
first time. These midges are associated with
15 plant families. Among them, Myrtaceae and
Nyctaginaceae sheltered the highest number of
cecidomyiid species. Records included areas of
restingas or/and forest formations, totaling 13
municipalities, ten added to the Cecidomyiidae
distribution area in the present study.
KEYWORDS: Cecidomyiidae, Diptera, gall, hostplant, Atlantic forest.
1 | INTRODUÇÃO
O Estado do Espírito Santo tem 45.597
km
2
de extensão. No passado, antes da
colonização do Brasil pelos portugueses, 90%
da área deste estado era ocupada por Mata
Atlântica, mas atualmente sua cobertura original
está restrita a apenas 8% (IPEMA 2005), sendo
que a maior parte destes remanescentes
são pequenas unidades de conservação ou
pequenos fragmentos em propriedades privadas
(Pinto et al. 2009).
Apesar
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
de
sua
alta
Capítulo 4
diversidade
e
26
elevado nível de endemismo (Fonseca, 1985), a Mata Atlântica vem sofrendo
intensa degradação, constituindo o bioma mais ameaçado do país. Entretanto, foi
reconhecida como Patrimônio Mundial pela ONU, como Sítio Natural do Patrimônio
Mundial pela UNESCO, e como Patrimônio Nacional pela Constituição Federal do
Brasil de 1988 (Fundação SOS Mata Atlântica & INPE, 2009)
No estado do Espírito Santo, a fauna de insetos galhadores é pouco estudada,
com dados publicados apenas para formações florestais em Santa Teresa (Maia et
a. 2014) e para áreas de restinga em Guarapari (Bregonci et al. 2010 e Maia 2020)
e Conceição da Barra (Maia 2020), totalizando 23 espécies galhadoras da família
Cecidomyiidae (Diptera).
Os objetivos deste trabalho são ampliar o conhecimento sobre a riqueza e
distribuição destes galhadores no Espírito Santo.
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
Dados da literatura foram obtidos através de busca na database “Web of
Science” usando “Galls/Galhas” e “Espírito Santo” como palavras-chave, além de
buscas “on line” usando o “Google LLC”.
Como cada espécie cecidógena induz uma galha morfologicamente única em
sua planta hospedeira (Isaías et al. 2013), a presença da galha indica a presença
da espécie galhadora. Com base nesta especificidade, exsicatas de plantas com
registros de galhas de insetos depositadas nos herbários do Museu Nacional
e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro foram examinadas com auxílio de uma
lupa. Foram investigadas apenas as galhas cujo indutor e planta hospedeira se
encontram identificados em nível de espécie, permitindo assim um maior refinamento
taxonômico do presente estudo. As exsicatas com galhas foram fotografadas como
material-testemunha, assim como as suas etiquetas e número de tombo, e os dados
de sua localidade foram compilados. Por comparação com as ocorrências obtidas
da literatura, novos registros foram assinalados.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados três artigos científicos sobre insetos galhadores ou sobre
galhas de insetos no Espírito Santo: Bregonci et. 2010, Maia et al. 2014 e Maia
2020. Estas publicações somam 23 espécies de Cecidomyiidae (Diptera) no estado.
Nos herbários investigados, foram examinadas 3.922 exsicatas de 14 espécies de
plantas hospedeiras distribuídas em 11 famílias botânicas. Deste total, 37 foram
coletadas no Espírito Santo e apresentaram galhas de insetos, todas induzidas por
Cecidomyiidae (Diptera). Outras ordens de insetos também incluem representantes
galhadores, como Hemiptera, Thysanoptera, Coleoptera, Lepidoptera e Hymenoptera,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 4
27
mas galhas induzidas pelos mesmos não foram encontradas no material examinado,
provavelmente porque são menos frequentes.
Somando os dados publicados com os dados dos herbários, tem-se que 33
espécies de 18 gêneros de Cecidomyiidae ocorrem no Espírito Santo (Tabela 1).
Entre eles, Dasineura Rondani, 1840 e Lopesia Rübsaamen, 1908 se destacam pelo
maior número de espécies, com sete e cinco, respectivamente. Dasineura é o gênero
de Cecidomyiidae mais especioso no mundo (Gagné & Jaschhof, 2017) e Lopesia o
mais diversificado na Mata Atlântica. Estes galhadores foram obtidos de 15 famílias
de plantas, com destaque para Myrtaceae e Nyctaginaceae, por hospedarem a
maior quantidade de espécies cecidógenas, seis e cinco, respectivamente.
Em vários levantamentos florísticos da Mata Atlântica, as Myrtaceae são
indicadas como a família mais rica ou como uma das mais ricas (Wagner & Fiaschi,
2020). Além disso, representam a segunda família mais frequente em inventários
de galhas realizados neste bioma, sendo que em 49% dos mesmos, elas são
destacadas como super hospedeiras (Araújo et al. 2019). As Nyctaginaceae devem
a sua riqueza de galhas a uma única espécie de planta, Guapira opposita (Vell.)
Reich., apontada também em vários inventários como super hospedeira.
Dez espécies e seis gêneros de Cecidomyiidae, até então sem ocorrência no
estado, foram acrescidos à riqueza capixaba. Na literatura, dados compilados sobre
a riqueza de espécies são conhecidos apenas para o Rio de Janeiro, com mais de
100 espécies registradas (Maia & Barros. 2009), mas a quantidade de inventários de
galhas realizados neste estado (13) é bem superior à quantidade de levantamentos
na região capixaba (3). Portanto, a riqueza de insetos galhadores no Espírito Santo
pode aumentar à medida que novas áreas sejam investigadas.
Os Cecidomyiidae foram obtidos de áreas florestais (Colatina, Itaguaçu,
Linhares, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá e Santa Teresa) e de áreas de
restinga (Anchieta, Aracruz, Guarapari, Conceição da Barra, Presidente Kennedy,
São Mateus e Vila Velha).
Registros prévios de Cecidomyiidae eram conhecidos de apenas três
municípios deste estado: Santa Teresa, Guarapari e Conceição da Barra. Com
o presente estudo, dez municípios foram acrescidos à área de distribuição dos
Cecidomyiidae: Anchieta, Aracruz, Colatina, Itaguaçu, Linhares, Presidente Kennedy,
Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, São Mateus e Vila Velha.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 4
28
Espécie galhadora
Planta Hospedeira
Localidades
Referências
Família
Espécie
Asphondylia
cordiae Möhn, 2001
Boraginaceae
Varronia
curassavica Jacq.
AnchietaPiúma*
(R143182)
Este estudo
Asphondylia serrata
Maia, 2004
Asteraceae
Eremanthus
erythropappus
(DC.) Macleish
Santa Teresa*
(RB295882)
Este estudo
Bruggmannia
acaudata Maia,
2004
Nyctaginaceae
Guapira opposita
(Vell.) Reitz
Santa Teresa
Maia et al.,
2014
Bruggmannia
elongata Maia &
Couri, 1993
Nyctaginaceae
Guapira opposita
Conceição da
Barra
Guarapari
Santa Teresa
Maia, 2020
Bruggmannia
robusta Maia &
Couri, 1993
Nyctaginaceae
Conceição da
Barra
Maia, 2020
Guarapari
Maia, 2020
Santa Teresa
Maia et
al., 2014
Guapira opposita
Maia, 2020
Maia et al.,
2014
Bruggmanniella
Malpighiaceae
byrsonimae (Maia &
Couri, 1993)
Byrsonima sericea
DC.
Linhares*
(RB450920)
Este estudo
Burseramyia
braziliensis Maia &
Fonseca, 2011
Fabaceae
Swartzia
langsdorffii
Raddi
Santa Teresa
Maia et
al., 2014
Clusiamyia
granulosa
Maia,1996
Clusiaceae
Clusia hilariana
Schltdl.
Guarapari
Bregonci et
al., 2010
Este estudo
Cordiamyia
globosa Maia,
1996
Boraginaceae
Varronia
curassavica
Jacq.
Conceição da
Barra
Guarapari
Maia, 2020
Couridiplosis vena
Maia, 2004
Euphorbiaceae
Croton floribundus
Spreng.
Santa
Leopoldina*
(RB440351)
Este estudo
Dactylodiplosis
heptaphylii Maia,
2004
Burseraceae
Protium
heptaphyllum
(Aubl.)
Marchand
Santa
Leopoldina*
(RB440250)
Este estudo
Dasineura
byrsonimae
Maia, 2010
Malpighiaceae
Byrsonima sericea
Conceição da
Barra
Guarapari
Maia, 2020
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Santa Maria
de Jetibá*
(RB01103056)
Presidente
Kennedy*
(RB00581414)
Bregonci et
al. 2010
Maia 2020
Bregonci et
al. 2010
Capítulo 4
29
Dasineura
couepiae
Maia, 2001
Chrysobalanaceae
Couepia ovalifolia
(Schott) Benth. ex
Hook.f.
Guarapari
Dasineura globosa
Maia, 1995
Myrtaceae
Eugenia
astringens
Cambess.
Aracruz*
(RB737253)
Este estudo
Dasineura
marginalis Maia,
2005
Myrtaceae
Eugenia
astringens
Conceição da
Barra*
(RB561360)
São Mateus*
(RB462864)
Guarapari*
(RB356421/
RB374279)
Este estudo
Dasineura
myrciariae
Maia, 1993
Myrtaceae
Myrciaria
floribunda
(H.West ex Willd.)
O.Berg
Guarapari
Bregonci et
al., 2010
Este estudo
Dasineura
ovalifoliae Maia &
Fernandes,
2011
Erythroxylaceae
Erythroxylum
ovalifolium Peyr.
Santa Teresa
Maia et
al., 2014
Dasineura tavaresi
Maia, 1995
Myrtaceae
Neomitranthes
obscura (DC.) N.
Silveira
Guarapari
Bregonci et al.
2010
Epihormomyia
miconiae Maia,
2001
Melastomataceae
Miconia
cinnamomifolia
(DC.) Laudin
Santa Teresa
Novo registro
RB493591
Lopesia
erythroxyli
Rodrigues &
Maia, 2010
Erythroxylaceae
Erythroxylum
ovalifolium
Santa Teresa
Maia et
al., 2014
Lopesia grandis
Maia, 2001
Fabaceae
Dalbergia
ecastaphyllum (L.)
Taub.
Conceição da
Barra
Guarapari
Presidente
Kenedy*
(RB486143)
Aracruz*
(RB165145)
São Mateus*
(RB450948)
Maia, 2020
Maia, 2020
Este estudo
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
São Mateus*
(RB 746948/
RB745547)
Conceição
da Barra*
(RB423518/
RB374368/
RB535849/
RB561400)
São Mateus*
(RB561401)
Vila Velha*
(RB262635)
Linhares*
(RB439930/
RB377618/
RB413042)
Bregonci et
al., 2010
Este estudo
Capítulo 4
30
Lopesia marginalis
Maia, 2001
Chrysobalanaceae
Couepia ovalifolia
São Mateus*
(RB745547)
Linhares*
(RB282202)
Itaguaçu*
(RB56596)
Este estudo
Lopesia similis
Maia, 2004
Burseraceae
Protium
heptaphyllum
Conceição da
Barra
Guarapari
Vila Velha*
(RB547521)
Colatina*
(RB62941)
Maia, 2020
Lopesia simplex
Maia, 2002
Burseraceae
Protium icicariba
(DC.) Marchand
Guarapari
Vila Velha*
(RB178623/
RB178643)
Bregonci et
al., 2010
Este estudo
Manilkaramyia
notabilis
Maia, 2001
Sapotaceae
Manilkara
subsericea (Mart.)
Dubard
Guarapari
Bregonci et
al., 2010
Mayteniella
distincta Maia,
2001
Celastraceae
Monteverdia
obtusifolia (Mart.)
Bira
Guarapari
Presidente
Kennedy*
(RB311268/
RB311270)
Maia, 2020
Este estudo
Neolasioptera
cerei
Rübsaamen,
1905
Cactaceae
Hylocereus
setaceus
(Salm-Dyck)
R.Bauer
Guarapari
Conceição da
Barra
Maia, 2020
Neolasioptera
eugeniae Maia,
1993
Myrtaceae
Eugenia uniflora
L.
Conceição da
Barra
Guarapari
Maia, 2020
Maia, 2020
Parazalepidota
clusiae Maia, 2001
Clusiaceae
Clusia fluminense
Tr. & Pl.
Vila Velha*
(RB187111)
Este estudo
Pisphondylia
braziliensis
Couri & Maia,
1992
Nyctaginaceae
Guapira opposita
Santa Teresa
Maia et
al., 2014
Proasphondylia
guapirae Maia,
1993
Nyctaginaceae
Guapira opposita
Santa Teresa
Maia et
al., 2014
Stephomyia
rotundifoliorum
Maia, 1993
Myrtaceae
Eugenia
astringens
Conceição da
Barra
Maia, 2020
Maia, 2020
Tabela 1. Lista atualizada das espécies de Cecidomyiidae (Diptera) galhadores do
Espírito Santo. Os novos registros estão assinalados com asterisco e entre parênteses
consta o número do voucher referente à exsicata com galha.
4 | CONCLUSÃO
A fauna de insetos galhadores do Espírito Santo é representada, até o
momento, apenas pela família Cecidomyiidae, com 33 espécies registradas em 13
municípios. Dasineura e Lopesia são os gêneros com maior riqueza de espécies e
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 4
31
Myrtaceae e Nyctaginaceae são as famílias vegetais que abrigam maior quantidade
de espécies galhadoras.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
pelo suporte financeiro (Proc. 301481/2017-2), e aos curadores de herbário, Dra.
Rafaela Forzza (Jardim Botânico do Rio de Janeiro) e Dr. Ruy José Válka Alves
(Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro).
REFERÊNCIAS
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Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, vol. 91, e20180162, 2019.
BREGONCI, J. M.; POLYCARPO. P.V. & MAIA, V.C. Galhas de insetos do Parque Estadual
Paulo César Vinha (Guarapari, ES, Brasil). Biota Neotropica, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 265274, 2010.
FONSECA, G.A.B. The vanishing Brazilian Atlantic Forest. Biological Conservation,
Montpellier, vol. 34, p. 17-34, 1985.
FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA & INPE. Atlas dos remanescentes florestais da Mata
Atlântica e ecossistemas associados no período de 2005–2008. São Paulo, 2009.
GAGNÉ, R. J. & JASCHHOF, M. A catalog of the Cecidomyiidae (Diptera) of the world. 4rd
Edition. Digital, Washington, 762 p., 2017.
IPEMA. Conservação da Mata Atlântica no Estado do Espírito Santo: cobertura florestal e
unidades de conservação. Vitória: IPEMA, 152 p., 2005.
ISAIAS, R.M.S., CARNEIRO, R.G.S., OLIVEIRA, D. & SANTOS, J.C. Illustrated and annotated
checklist of Brazilian gall morphotypes. Neotropical Entomology, vol. 42, no. 3, p. 230-239,
2013.
MAIA, V. C. Insetos galhadores em áreas de Restinga no Espírito Santo, Brasil. In: Mônico, AT,
Koch, ED, Freitas J, Rodrigues, LN, Lopes, MM & Betzel, RL (Eds.). Anais do VIII Simpósio
sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica (SIMBIOMA), “Museu de Biologia Professor Mello
Leitão: sete décadas conhecendo a biodiversidade da Mata Atlântica”. Santa Teresa, p. 359365, 2020
MAIA, V. C. & BARROS, G.P.S.. Espécies de Cecidomyiidae (Diptera) registradas no Estado
do Rio de Janeiro, Brasil. Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, vol. 67, n.3-4, p. 211220, 2009.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 4
32
MAIA, V. C., CARDOSO, J. L. T. & BRAGA, J. M. A. Insect galls from Atlantic Forest areas of
Santa Teresa, Espírito Santo, Brazil: characterization and occurrence. Boletim do Museu de
Biologia Mello Leitão, Espírito Santo, vol. 33, p. 47-129, 2014.
PINTO, I.S., LOSS, A.C.C., FALQUETO, A. & LEITE, Y.L.R. Pequenos mamíferos não
voadores em fragmentos de Mata Atlântica e áreas agrícolas em Viana, Espírito Santo, Brasil.
Biota Neotropica, São Paulo, vol. 9, n. 3, p. 355-360, 2009.
WAGNER, M. A. & FIASCHI, P. Myrtaceae from the Atlantic forest subtropical highlands of São
Joaquim National Park (Santa Catarina, Brazil). Rodriguésia, vol. 71, e04032017. https://doi.
org/10.1590/2175-7860202071006, 2020.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 4
33
CAPÍTULO 5
doi
EXTRATO AQUOSO DE Campomanesia adamantium
(MYRTACEAE) (CAMBESS.) O. BERG AFETA O
DESENVOLVIMENTO DE TRAÇA-DAS-CRUCÍFERAS
Data de aceite: 01/10/2020
Data de submissão: 07/07/2020
Silvana Aparecida de Souza
Universidade Federal da Grande Dourados
Dourados - MS
http://lattes.cnpq.br/2352792856211597
Isabella Maria Pompeu Monteiro Padial
Universidade Federal da Grande Dourados
Dourados - MS
http://lattes.cnpq.br/7362505763391533
Irys Fernanda Santana Couto
Universidade Federal da Grande Dourados
Dourados - MS
http://lattes.cnpq.br/5270037959460724
Mateus Moreno Mareco da Silva
Universidade Federal da Grande Dourados
Dourados - MS
http://lattes.cnpq.br/5273056161022824
Emerson Machado de Carvalho
Universidade Federal do Sul da Bahia
Itabuna - BA
http://lattes.cnpq.br/7341724276580365
Rosilda Mara Mussury
Universidade Federal da Grande Dourados
Dourados - MS
http://lattes.cnpq.br/8308188020990220
RESUMO: As hortaliças da família Brassicaceae
vem assumindo um papel importante no Brasil
devido a sua composição nutricional. Dentre os
problemas fitossanitários que causam perdas
significativas nas culturas da Brássicas, a Plutella
xylostella (L. 1758) (Lepidoptera: Plutellidae),
se destaca pela sua resistência à inseticidas
sintéticos, devido a sua alta capacidade de
dispersão e sua elasticidade genética. Logo,
se faz necessário a adaptação dos métodos
de controle para a elaboração de um plano de
manejo integrado para a espécie. O interesse
de inserir os inseticidas botânicos no Manejo
Integrado de Pragas é crescente por reduzirem
os riscos ambientais, o custo da produção, a
grande dependência dos inseticidas sintéticos,
além de serem fontes de novas fitotoxinas.
Campomanesia
adamantium
(Myrtaceae)
(Cambess.) O. Berg é uma planta nativa do
Cerrado Brasileiro com efeito antioxidante,
contudo seu potencial inseticida ainda não
foi testado. Em estudos fitoquímicos, notouse a presença de flavonoides, quercetina,
taninos, saponinas e compostos fenólicos,
compostos previamente descritos com atividade
inseticida. Sendo assim, o trabalho buscou
avaliar a bioatividade do extrato aquoso de C.
adamantium sobre P. xylostella. O extrato atuou
negativamente sobre o ciclo do inseto, reduzindo
a duração e sobrevivência larval, a biomassa
pupal e a sobrevivência dos ovos. Em suma, o
extrato aquoso se mostrou efetivo no controle de
P. xylostella, principalmente na fase larval, fase
na qual é considerada praga.
PALAVRAS-CHAVE: Manejo Integrado de
Pragas, Pequenos produtores, Brassicaceae.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 5
34
AQUEOUS EXTRACTS OF Campomanesia adamantium (MYRTACEAE)
(CAMBESS.) O. BERG AFFECTS THE DEVELOPMENT OF
DIAMONDBACK MOTH
ABSTRACT: The vegetables of the Brassicaceae family have been assuming an
important role in Brazil due to their nutritional composition. Among the phytosanitary
problems that cause significant losses in Brassicaceae crops, Plutella xylostella
(L. 1758) (Lepidoptera: Plutellidae), stands out for its resistance to synthetic
insecticides due to its high. Therefore, it is necessary to adapt the control methods
for the elaboration of an integrated management plan for the species. The interest in
inserting botanical insecticides in Integrated Pest Management is growing because
they reduce environmental risks, the cost of production, the great dependence on
synthetic insecticides, besides being sources of new phytotoxins. Campomanesia
adamantium (Myrtaceae) (Cambess.) O. Berg is a native plant of the Brazilian Cerrado
with antioxidant effect, however its insecticide potential had not yet been tested. In
phytochemical studies, the presence of flavonoids, quercetin, tannins, saponins and
phenolic compounds, previously described compounds with insecticide activity, were
noted. Thus, the work sought to evaluate the bioactivity of the aqueous extract of C.
adamantium on P. xylostella. The extract acted negatively on the insect cycle, reducing
the duration and larval survival, the pupal biomass and the survival of eggs. In short,
the aqueous extract proved effective in controlling P. xylostella, especially in the larval
phase, a phase in which it is considered a pest.
KEYWORDS: Integrated Pest Management, Small producers, Brassicaceae.
1 | INTRODUÇÃO
A família das Brássicas é composta por espécies economicamente
importantes, como hortaliças, forragens, produtoras de óleo e entre outros,
principalmente quando o tema é segurança alimentar. Enquanto na maior parte dos
países ocorre seu consumo local, em algumas regiões, como o sul do Canadá,
os produtos são distribuídos por todo o país. Sua produção vem aumentando nos
últimos 40 anos, ficando logo atrás da soja e do algodão, como umas das mais
importantes plantas na produção de óleo vegetal (SANTOS, 2006, RAKOW, 2004).
Sua cultura é afetada diretamente por diversas pragas agrícolas, sendo a
principal delas Plutella xylostella (Linnaeus 1758) (Lepidoptera: Plutellidae), também
conhecida como “traça-das-crucíferas”. Essa mariposa possui ampla distribuição
pelas propriedades rurais, ciclo curto e elevada capacidade reprodutiva, e, quando
em estado de larva soma custos com manejo em até 5 bilhões de dólares anualmente
(ZALUCKI et al., 2012).
Embora o controle químico ainda seja o mais utilizado (DE BORTOLI et al.,
2013), diferentes alternativas começaram a ser investigadas para compor o sistema
de Manejo Integrado de Pragas, uma tecnologia que busca manter o ecossistema
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 5
35
mais próximo do equilíbrio, aderindo diferentes tipos de práticas de controle em um
mesmo agroecossistema. Nesse panorama, os bioinseticidas vegetais se encontram
como uma boa opção para compor o MIP, uma vez que as plantas produzem
metabólitos não essenciais, também conhecidos como metabólitos secundários,
utilizados para sua própria defesa no meio-ambiente, e, essas substâncias podem
vir a afetar diversas pragas agrícolas (TAIZ & ZEIGER, 2013; KRINSKI et al., 2014;
SPARKS et al., 2017).
O Cerrado compõe o segundo maior bioma de todo o Brasil e devido a sua
elevada diversidade biológica, que é representada em quase 50% por uma flora
endêmica, esse bioma é atualmente, um dos hotspots em biodiversidade no mundo.
No entanto, em 2004, 55% de toda sua área nativa já havia sido transformada por
ação humana (BORLAUG, 2002; DIAS, 1992; MACHADO et al., 2004; MENDONÇA
et al., 1998; MYERS et al., 2000; SILVA & BATES, 2002), mas dados do Projeto
de Monitoramento do Desmatamento (Prodes) do Cerrado, feito pelo Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia mostram que
o desmatamento do Cerrado no período de agosto de 2018 a julho de 2019 ficou 2,26%
menor, na comparação com o período anterior, mas aumentou 15% dentro de unidades de
conservação. Desde 2016, o Brasil não apresentava índices tão altos de desmatamento em
UCs nesse bioma, que teve redução após o pico em 2015, e voltou a crescer em 2017 e
2018 (http://cerrado.obt.inpe.br/).
A espécie Campomanesia adamantium (Myrtaceae) (Cambess.) O. Berg
ocorre em fisionomias campestres de cerrado, sendo encontrada na região do
Estado de São Paulo e Mato Grosso do Sul, além da fruta ser consumida in natura,
dentro seu uso medicinal encontra-se sua atuação contra dores estomacais e
infecções urinárias (PIVA, 2002; COUTINHO et al., 2008).
Nesse sentido, visando não apenas o impulsionamento de novas tecnologias
as lavouras de pequenos produtores, mas também ao incentivo da pesquisa e
preservação da fauna e flora do Cerrado brasileiro, o objetivo desse trabalho foi
testar potencial inseticida de C. adamantium sobre o ciclo de vida de P. xylostella.
2 | MÉTODOS
As folhas de Campomanesia adamantium foram coletadas na fazenda
Coqueiro no município de Dourados-MS (22°14’ S, longitude de 54° 9’ W e 452m
de altitude), no período das 7 às 9 h. As espécies foram identificadas com base na
comparação com exsicatas depositadas no herbário da Universidade Federal da
Grande Dourados, com o seguinte número de registro: Campomanesia adamantium:
5695. Após a coleta, as folhas foram higienizadas em água corrente e posteriormente
foram secas em estufa de circulação forçada de ar à 45°C durante 3 dias, até que
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 5
36
estivessem completamente secas. As folhas secas foram trituradas em moinho
industrial para a obtenção de um pó fino e foram armazenados sob proteção de luz
em temperatura ambiente.
A técnica utilizada para a elaboração do extrato foi a maceração, onde utilizouse 4g da matéria vegetal para 40 mL de água destilada, resultando na concentração
de 10%. A solução permaneceu sob refrigeração durante 24 horas e após esse
período foi filtrado com o auxílio do tecido Voil (Figura 1).
Figura 1. Processo de confecção de extratos aquosos de Campomanesia adamantium.
(PADIAL, I. M. P. M., 2019).
As lagartas utilizadas no experimento foram retiradas da criação-estoque do
Laboratório de Interação Inseto-Planta (LIIP) da Universidade Federal da Grande
Dourados (Figura 2). A criação foi estabelecida através de lagartas e pupas coletadas
em hortas orgânicas nos municípios de Dourados e Itaporã, Mato Grosso do Sul
através da metodologia adaptada de Barros et al. (2012) e mantida sob condições
constantes de temperatura (25 ± 2°C), umidade relativa (70 ± 5%) e fotoperíodo (12
h).
Os adultos utilizados no experimento foram alimentados com algodão
embebido de mel diluído em água destilada à 10% e como substrato de oviposição
foram utilizados discos de couve de 9cm de diâmetro sobre disco de papel filtro.
Este conjunto foi trocado diariamente.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 5
37
Os discos com os ovos foram transferidos para gaiolas plásticas transparentes,
onde as lagartas permaneceram desde a eclosão dos ovos até o empupamento, e
então alimentadas com folhas de couve orgânica (Brassica oleraceae var. acephala)
previamente higienizada com hipoclorito de sódio a 5%.
Figura 2. Metodologia utilizada para criação de Plutella xylostella com dieta natural em
condições controladas de laboratório (PADIAL, I. M. P. M., 2019).
Para avaliar a bioatividade do extrato aquoso (Figura 3), discos de couve
de 4cm² foram imersos no extrato aquoso de C. adamantium durante 1 minuto e
após a retirada do excesso de umidade, foram transferidos para placas de Petri (5
cm Ø) com um disco de papel filtro umedecido e uma lagarta neonata (n=50). As
placas de Petri foram fechadas com papel filme e foram furadas para a entrada de
ar. Diariamente houve a substituição dos discos mais velhos e a cada dois dias os
discos de papel filtro foram trocados. As lagartas permaneceram na placa de Petri
até atingirem o estágio de pupa ou até a sua morte, caracterizada pela falta de
movimento.
As pupas foram transferidas para tubos de ensaios e após 24 horas foram
pesadas em uma balança analítica. As pupas permaneceram nos tubos de ensaio
até a emergência dos adultos e a sexagem das mariposas para a determinação dos
casais.
Para a avaliação da fase reprodutiva, casais oriundos de cada tratamento
(n=5) e que emergiram no mesmo dia, foram individualizados em gaiolas plásticas
transparentes com discos de papel filtro umedecido sob disco de couve como
substrato de oviposição e diariamente foram contabilizados o número de ovos e
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 5
38
após 3 ou 4 dias o número de lagartas eclodidas.
Os Parâmetros analisados foram: Duração e sobrevivência larval e pupal,
biomassa pupal, longevidade de machos e fêmeas, número de ovos e a sobrevivência
dos ovos.
Figura 3. Metodologia utilizada avaliação de efeito inseticida do extrato aquoso sobre
o ciclo de Plutella xylostella em condições controladas de laboratório (PADIAL, I. M. P.
M., 2019).
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 10 repetições
de 5 subamostras (Figura 4). Os resultados foram submetidos à análise de variância
e as médias comparadas pelo teste de t (P≤0,05).
Figura 4. Disposição do experimento de ciclo de Campomanesia adamantium. sobre
Plutella xylostella com 10 repetições e 5 subamostras (PADIAL, I. M. P. M., 2019).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 5
39
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
As lagartas tratadas com discos de couve imersos no extrato obtiveram
redução de 18% na duração larval e 37,5% na sobrevivência larval. Em relação
a biomassa pupal, o extrato provocou uma redução de 48% quando comparado
ao controle (Tabela 1). Concomitantemente, o extrato apresentou uma redução de
42,6% na sobrevivência dos ovos provenientes de adultos que tiveram contato com
o extrato na fase imatura (Tabela 2).
Observa-se que as principais pragas agrícolas são da ordem Lepidoptera,
principalmente durante estágio de larva, fase em que a praga possui hábito fitófago,
que acarreta prejuízos econômicos e que também são aplicados vários métodos
de controle (CARDOSO et al., 2010). Particularmente, Plutella xylostella consegue
infligir uma elevada taxa de dano pois sua fase larval é numerosa e de difícil controle,
principalmente no início, uma vez que as larvas neonatas possuem hábito minador
(CAPINERA, 2008; CARDOSO et al., 2010). Sendo assim, a redução da duração
larval implica em uma menor exposição das larvas à cultura e consequentemente,
um menor consumo de área foliar e preservação do valor econômico.
Duração
Larval (Dias)
Sobrevivência
Larval (%)
Duração
Pupal (Dias)
Sobrevivência
Pupal (%)
Biomassa
Pupal (mg)
Controle
7,96 ±0.14 a
n= 50
96,00 ±2.60 a
n= 50
6,25 ±0.14 a
n= 47
99,00 ±1.00 a
n= 46
4,80 ±0.00015 a
n= 46
C.
adamantium
6,58 ±0.26 b
n= 50
60,00 ±6.29 b
n= 50
4,99 ±0.55 a
n= 30
97,00 ±6.67 a
n= 28
2,50 ±0.00028 b
n= 28
C.V (%)
9,32
20,16
22,43
15,95
10,96
Tabela 1. Duração (dias) e sobrevivência (%) das fases larval e pupal, biomassa pupal
(mg) de Plutella xylostella tratadas com extrato aquoso de Campomanesia adamantium
(25 ± 2°C; 55 ± 5 UR; 12h fotofase).
*Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si ao nível de significância
a 5% de probabilidade quando comparadas pelo teste de t. n=número de insetos
A biomassa pupal é influenciada diretamente pelo desempenho do inseto
enquanto larva (MARONEZE & GALLEGOS, 2009) e, pode ser tomada como
um indicador de fecundidade, afetando diretamente o número de ovos (COSTA
et al., 2004). Dessa forma, a queda no peso das pupas pode estar diretamente
ligada na dificuldade do inseto converter o alimento ingerido em biomassa, e
consequentemente, isso pode causar a redução no número de ovos viáveis.
A redução da sobrevivência larval e da sobrevivência dos ovos é um resultado
de extrema importância, pois além de eliminar a praga no período de interesse
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 5
40
econômico, reduz o número de adultos o que decorre em uma queda na capacidade
reprodutiva, seja por uma má digestibilidade da couve tratada ou por uma possível
repelência alimentar. Nesse sentido, mais experimentos devem ser conduzidos
para que tais dúvidas sejam esclarecidas. A redução na sobrevivência dos ovos
ocasionada pela alimentação na fase imatura é um resultado muito importante no
campo, uma vez que, ao reduzir o número de ovos viáveis o número de lagartas
eclodindo também diminui, e consequentemente, reduz os prejuízos aos produtores.
Longevidade
Machos
Longevidade
Fêmea
Número de
Ovos
Sobrevivência
Dos ovos
Controle
18,60 ±2.04 a
n= 5
12,60 ±1.36 a
n= 5
204,00 ±16.28 a
n= 5
0,89 ±0.0037 a
n= 5
C.
adamantium
13,60 ±2.20 a
n= 5
10,40 ±2.13 a
n= 5
168,00 ±55.97 a
n= 5
0,51 ±0.14 b
n= 5
C.V (%)
29,49
34,84
39,64
31,39
Tabela 2. Longevidade de adultos machos e fêmeas, número de ovos, sobrevivência
dos ovos (%) e fecundidade de Plutella xylostella tratadas com extrato aquoso de
Campomanesia adamantium (25 ± 2°C; 55 ± 5 UR; 12h fotofase).
*Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si ao nível de significância
a 5% de probabilidade quando comparadas pelo teste de t. n=número de insetos.
Em estudos prévios sobre a composição química de C. adamantium
observou-se a presença de quercetina, compostos fenólicos flavonoides, taninos
e saponinas (FERREIRA et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2016). Todos os compostos
listados acima são citados na literatura com ação inseticida através da antibiose
ou antixenose (PERES et al., 2017; CASTRO et al., 2010; TAIZ & ZEIGER, 2013;
JOHANN et al., 2010).
Taninos atuam desestimulando a alimentação de insetos através de proteínas
capazes de desativar enzimas digestivas, dificultando a assimilação de compostos
ingeridos e podendo causar danos no desenvolvimento do inseto (TAIZ & ZEIGER,
2013), reduzindo significativamente o crescimento e a sobrevivência de insetos
(HOLETZ et al., 2005). Já os flavonoides, são um grupo abrangente que pode estar
relacionado a diversos distúrbios no comportamento, desenvolvimento e reprodução
do inseto, podendo também interferir em sua alimentação, sendo um repelente
alimentar (REYES-CHILPA et al., 1995). A quercetina, é um flavonoide, que pode
interferir diretamente no peso e na sobrevivência de pupas (GAZZONI et al., 1997)
ou até mesmo na biologia do inseto (PERES et al. 2017).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 5
41
Saponinas possuem tanto atuações positivas como negativas referentes a
interação inseto-planta (HARMATHA, 2000). Seus efeitos inseticidas são descritos
principalmente como de repelência alimentar, além de poder também, provocar
queda na capacidade de metabolizar compostos ingeridos e causar perda de peso
quando inserida em algumas dietas artificiais (OLESZEK et al., 1999; AGRELL et
al., 2003). Especificamente para Plutella xylostella, lepidóptero que se alimenta
exclusivamente de Brássicas durante o período larval, foi relatado em literatura
que há uma espécie do gênero (Barbarea vulgaris) em que ela não é capaz de
se alimentar, e tal atuação é relacionada a presença de saponinas triterpênicas,
extraídas da planta em laboratório (SERIZAWA et al., 2001; SHINODA et al., 2002).
4 | CONCLUSÃO
O extrato aquoso de C. adamantium afetou a fase imatura e a sobrevivência
dos ovos de P. xylostella, reduzindo os danos nas culturas de Brássicas e
consequentemente número de indivíduos à campo. Sendo assim, os extratos
vegetais aquosos são uma alternativa viável dentro do manejo integrado de pragas,
uma vez que não exigem tecnificação para a produção do mesmo além do baixo
custo, tornando-se viável para pequenos produtores.
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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 5
44
CAPÍTULO 6
doi
INOCULAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA DE DIFERENTES
Bacillus spp ISOLADOS E ASSOCIADOS EM
CONDICIONADOR DE SOLO CLASSE A
Cleide Viviane Buzanello Martins
Data de aceite: 01/10/2020
Data de submissão: 21/07/2020
Unioeste - PPGCA
Toledo - Paraná
http://lattes.cnpq.br/0380880522220338
Brener Magnabosco Marra
UFSJ – DQBIO
Ouro Branco - Minas Gerais
http://lattes.cnpq.br/9255872550182540
Andreia Monteiro Alves
Unioeste - PPGCA
Toledo - Paraná
http://lattes.cnpq.br/6602770037256223
Jéssyca Ketterine Carvalho
Unioeste - PPGCA
Toledo - Paraná
http://lattes.cnpq.br/5233857963198951
Andressa Alves Silva Panatta
Unioeste - PPGCA
Toledo - Paraná
http://lattes.cnpq.br/6083736852689135
Rafael Ricardo Adamczuk
Compostec Soluções Ambientais Ltda
Toledo - Paraná
Jeferson Klein
Compostec Soluções Ambientais Ltda
Toledo - Paraná
http://lattes.cnpq.br/5580565564066726
Fernando Mateus Gerling
Compostec Soluções Ambientais Ltda
Toledo - Paraná
http://lattes.cnpq.br/2280001193187552
RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar a
inoculação e sobrevivência de quatro diferentes
espécies de Bacillus. isolados ou associados em
um condicionador de solo classe A. O ensaio
foi conduzido em esquema fatorial (6 X 5): fator
(inoculação): I1 – Ausência de micro-organismos;
I2 – inoculação de Bacillus amyloliquefaciens; I3
– inoculação de Bacillus subtilis; I4 – inoculação
de Bacillus licheniformis; I5 – inoculação
de Bacillus pumilus; e I6 – inoculação com
associação dos quatro micro-organismos; fator
(tempo): T1 – tempo 0 dias; T2 – tempo 1 dias;
T3 – tempo 2 dias; T4 – tempo 4 dias; T5 – tempo
8 dias. A contagem das bactérias (Bacillus spp.),
presentes no condicionador foi determinado
pela inoculação em meio PCA e incubadas
por 24 horas a 30º e expressas em unidades
formadoras de colônias (UFC). A inoculação com
B. amyloliquefaciens, e B. pumilus apresentou
comportamento quadrático significativo em
função do período de inoculação ao nível de 1%
e Bacillus subtilis 5%. A inoculação de quatro
diferentes espécies de Bacillus isolados ou em
associação em condicionador de solo classe
A, mostrou-se viável independentemente da
espécie utilizada durante todo o período de 8
dias.
PALAVRAS-CHAVE: Condicionador de solo;
Bacillus spp; inoculação, associação de microorganismos.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 6
45
ABSTRACT: The objective of this work was to evaluate the inoculation and survival of
four different species of Bacillus sp. isolated or associated in soil conditioner. The test
was conducted in a factorial scheme (6 x 5): factor (inoculation): I1 - Absence of microorganisms; I2 - Bacillus amyloliquefaciens inoculated; I3 - Bacillus subtilis inoculated;
I4 - Bacillus licheniformis inoculated; I5 - Bacillus pumilus inoculated; and I6 - four
Bacillus sp. inoculated , and factor time: T1 - time 0 days; T2 - time 1 days; T3 - time 2
days; T4 - time 4 days; T5 - time 8 days. The bacteria count (Bacillus spp.), Present in
the conditioner was determined by incubation in DYG’S medium and incubated for 72
hours at 30º and expressed in colony forming units (UFC). B. amyloliquefaciens, and
B. pumilus inoculated showed significant difference as a function of inoculation period
at 1% and Bacillus subtilis 5%. Inoculation of four different species of Bacillus sp.,
isolated or in combination in soil conditioner, was viable for 8 days.
KEYWORDS: Soil conditioner; Bacillus spp; inoculation; association of microorganisms.
1 | INTRODUÇÃO
Conhecido por ser um dos maiores celeiros produtores de soja, a região
Oeste do Paraná apresenta em seu agronegócio alto dados do Produto Interno Bruto
(PIB); alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e grande produção de milho e
soja. A região possuí também um grande parque agroindustrial de transformação de
proteína vegetal em proteína animal, provenientes da suinocultura, bovinocultura,
avicultura e piscicultura bem desenvolvidas. Para isso, um elevado número de
frigoríficos e abatedouros foram implantados gerando enorme produção de resíduos
agropecuários e agroindustriais, especialmente os resíduos orgânicos classe II.
Diariamente é produzido um grande volume de resíduos orgânicos
agropecuários e agroindustriais classe II em Toledo-PR e região, representando um
enorme passivo ambiental para esta pujante agroindústria. Diante deste cenário, a
empresa Compostec Soluções Ambientais, desde 2004, coleta, destina e trata estes
resíduos por meio da compostagem biológica com revolvimento em Toledo-PR.
Diferentes definições podem ser atribuídas para o processo da compostagem,
que é um processo controlado de degradação de matéria orgânica realizada
por micro-organismos. Este processo pode ocorrer na presença ou ausência de
oxigênio, de uma biomassa diversificada em estado sólido e úmido com relação
de carbono e nitrogênio em torno de 30 (SIQUEIRA e ASSAD, 2015). A primeira
etapa, denominada mesofílica, é caracterizada pela intensa atividade metabólica e
aumento da temperatura. Em seguida, ocorre a bioestabilização caracterizada pelo
platô de temperatura máxima, e na fase final ocorre a maturação ou humificação e
mineralização dos nutrientes (COSTA et al., 2015). O resultado final da compostagem
é um material rico em matéria orgânica e nutrientes, que vem despertando interesse
dos produtores rurais devido a performance agronômica e ao baixo custo (CARON
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 6
46
et al., 2015).
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em sua
Instrução Normativa (IN) DAS nº 35/2006, define o condicionador de solo como
produto que promove a melhoria das propriedades físicas, químicas e físicoquímicas, e/ou atividade biológica do solo, tendo como garantia apenas a Capacidade
de Retenção de Água (CRA), no mínimo em 60%, Capacidade de Troca Catiônica
(CTC), no mínimo em 200 mmolc/kg e umidade máxima de 20%. Ainda na mesma IN,
para obter a classificação Classe A, o condicionador de solo deve ser proveniente
exclusivamente de matéria prima de origem vegetal, animal ou de processamentos
agropecuários e/ou agroindustriais, em que não seja utilizado no processo o sódio
(Na+), metais pesados ou compostos orgânicos sintéticos potencialmente tóxicos.
Outros fatores agronômicos importantes presentes no condicionador de solo,
mesmo que não seja exigido pelo MAPA como garantia, são: 1) teores de macro
nutrientes primários (1%) e secundários (1%); 2) teores de micronutrientes (0,1%);
3) carbono orgânico total (20%); 4) aminoácidos livres (1%); 6) teores de ácido
húmicos e fúlvicos (15%).
Porém devido ao aumento do interesse dos produtores rurais em utilizar
insumos que elevam a atividade biológica e carregarem micro-organismos
de interesse agrícola, algumas empresas estão investindo na inoculação de
condicionadores de solo (CARON et al., 2015).
Acredita-se que devido a todos os componentes presentes no condicionador
de solo classe A, principalmente os níveis superiores a 20 % de Composto Orgânico
Total (C.O.T.), elevada capacidade de troca catiônica e diversidade de macro e
micronutrientes, estes contribuem no crescimento e manutenção microbiológica
(SIQUEIRA e ASSAD, 2015). Entretanto, o Brasil ainda não possuiu nenhum registro
de produto que tenha a presença de micro-organismos em condicionadores de solo
classe A.
Entre os micro-organismos de interesse agrícola destaca-se o gênero Bacillus,
por apresentar alta biodiversidade biotecnológica e taxas de crescimento, além
da grande capacidade de produzir e excretar substâncias metabólicas (TEJERAHERNÁNDEZ et al., 2011). Outra característica importante atribuída a este grupo
são a possibilidade destes em realizar o controle biológico em campo (LEÓN et
al., 2009), solubilização de diferentes nutrientes (SILVA FILHO e VIDOR, 2001) e a
produção de fatores de crescimento para as plantas.
A espécie Bacillus amyloliquefaciens é conhecida por habitar naturalmente
o solo, associando-se ao ambiente rizosférico e endofíticos de diferentes plantas
(MENG et al., 2012). Alguns autores descrevem sua importância como sendo um
micro-organismo que apresenta a capacidade de promover o crescimento das
plantas seja pela liberação de metabólitos ou estimulando as plantas a produzir
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 6
47
tais substâncias, ou na proteção das plantas podendo ser um eficiente controlador
de nematóides e fungos (BURKET-CADENA et al., 2008 e ALFONZO et al.; 2012).
Outros estudos demonstram que este micro-organismo também pode solubilizar
nutriente como o fósforo (PAZ et al., 2012). Interações com outros micro-organismos
também são relatadas, principalmente com o Bacillus subtilis.
Já a espécie B. subtilis, é um bactéria Gram-positiva, não apresenta
patogenicidade a espécies humana, conhecida e utilizada mundialmente na produção
de enzimas extracelulares. Seus esporos possuem diversos atributos que fazem
destes tolerar adversidades do meio, podendo manter vivos por longos períodos. A
utilização de B. subtilis pelo homem com finalidade agrícola é antiga, sendo suas
primeiras descrições obtidas pelos japoneses (SCHALLMEY et al., 2004). No Brasil,
estudos conduzidos há mais de 20 anos, já descrevem que a interação destes
com a cultura da soja proporcionam incremento da nodulação e rendimento de sua
produtividade em campo (ARAUJO e HUNGRIA, 1999). Mais tarde, a descoberta
da produção de fitohormônios e antibióticos poderiam comprovar seus efeitos, visto
que os hormônios contribuem com o aumento dos pelos radiculares e que está
diretamente relacionado ao aumento da nodulação (ARAUJO et al., 2005).
O Bacillus licheniformis é uma espécie que apresenta excelentes condições
de sobrevivência no solo brasileiro, sendo viáveis por longos períodos. É importante
para a indústria mundial, por ser uma das maiores fontes de protease alcalina
comercial. No Brasil passou a ganhar maior interesse na agricultura logo após
a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), aprovar um nematicida
microbiológico à base deste ingrediente ativo em 2017 (Resolução 160 de 20 de
Janeiro de 2017).
Já o Bacillus pumilus é conhecido como um eficiente agente de biocontrole,
possui ação de inibir o desenvolvimento de patógenos em superfície foliar por
excretar diferentes metabólitos sensibilizadores do sistema de defesa das plantas
(D´AGOSTINO e MORANDI, 2009). Em crucífera, esta espécie foi descrita como
sendo eficaz contra podridão negra (LUNA et al., 2002).
Porém, ainda são raros estudos contendo a sobrevivência isolada e em
interação destes quatro micro-organismos em um condicionador de solo no Brasil.
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a inoculação e sobrevivência de quatro
diferentes espécies de Bacillus. isolados ou associados em um condicionador de
solo classe A.
2 | MÉTODOS
O condicionador de solo classe A utilizado neste ensaio foi produzido pela
Compostec Soluções Ambientais, utilizando como matérias primas diferentes
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 6
48
resíduos agropecuários e agroindustriais, tais como: cinzas de caldeira; resíduo
de ração; resíduos de cereais; lodo de flotador, compostagem de aves; gordura;
resíduos de incubatório; condimentos; lácteos, borra de óleo vegetal; farinha de
carne; algodão; resíduo de amido; mucosa de animais; resíduo de peixe e resíduo
de madeira, dentre outros. Estes foram formulados buscando balanço nutricional de
relação de carbono e nitrogênio de 20/1.
Os materiais foram homogeneizados e revolvidos periodicamente, sendo
controlada a temperatura e mantendo a umidade durante o processo entre 40 a
60%. O processo teve a duração de 180 dias. Amostras do condicionador de solo
foram coletadas e encaminhadas ao laboratório Primorlab, onde foram submetidas
à digestão sulfúrica. Segundo a metodologia da Embrapa (2009) foi realizada a
destilação por arraste de vapores, determinando-se os macronutrientes primários
e secundários, expressos em porcentagem; e dos micronutrientes essenciais,
expressos em mg kg-1 (Tabela 01).
Parâmetros
Teores
Nitrogênio total
1,9%
Fósforo Total
3%
Potássio Total
1,9%
Carbono Orgânico Total
18%
Capacidade de Troca Catiônica
230 cmol/dm3
Potencial Hidrogeniônico (pH)
6,8
Capacidade de Retenção de Água
110%
Cálcio Total
7,5%
Magnésio Total
1%
Manganês Total
0,5%
Zinco Total
0,1%
Cobre Total
0,05%
Ferro Total
0,01%
Tabela 01: Dados referentes aos parâmetros da análise físico-química do condicionador
de solo classe A produzido pela Compostec Soluções Ambientais, 2020.
No Laboratório de Microbiologia da Unioeste, Campus de Toledo/PR, amostras
de 2,25 gramas foram colocadas em tubo de ensaio de 10 mL e autoclavadas em
dois intervalos de 30 minutos em temperatura de 121ºC. Após autoclavado, o
condicionador de solo classe A foi inoculado em câmara de fluxo laminar com um
volume de 250 µL de Bacillus spp. conforme os tratamentos abaixo.
O ensaio foi constituído dos seguintes tratamentos:
Primeiro fator (inoculação): I1 – Ausência de micro-organismos (água
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 6
49
deionizada e esterilizada); I2 – inoculação de Bacillus amyloliquefaciens; I3
– inoculação de Bacillus subtilis; I4 – inoculação de Bacillus licheniformis; I5 –
inoculação de Bacillus pumilus; e I6 – inoculação com associação dos quatro microorganismos.
Segundo fator (tempo): T1 – tempo 0 dias; T2 – tempo 1 dias; T3 – tempo 2
dias; T4 – tempo 4 dias; T5 – tempo 8 dias.
A contagem dos micro-organismos para determinação da população em
número de células por grama foi realizada através da determinação das unidades
formadoras de colônias em ágar padrão para contagem (PCA). Para tanto foi
adicionado 1,0 g de cada tratamento a um Erlenmeyer contendo 9 mL de solução
solução salina 0,85% (p/v). Após agitação por 30 minutos, em uma mesa agitadora,
foram feitas diluições decimais em série, de 10-1 a 10-10. Em seguida, alíquotas de
1,0 mL de cada diluição foram transferidas pelo método pour plate em placas de
Petri a seguir 15-20 mL do meio PCA fundido e resfriado à 45°C foi adicionado
e as placas foram suavemente deslizadas em movimentos em forma de “8” para
homogeneização do inóculo ao meio de cultura. As placas foram acondicionadas
em saco plástico com o objetivo de evitar o ressecamento do meio de cultura (Olsen
& Bakken, 1987; Sorheim et al., 1989) e incubadas em duas estufas BOD, com
temperaturas a 28°C, em ausência de luz. A temperatura da estufa de incubação
foi verificada diariamente, utilizando-se, além do termômetro de cada estufa, um
termômetro de máxima e mínima. As contagens foram feita e,24 horas em um
contador de colônias com 6x de aumento,. Foram consideradas apenas as contagens
que variaram de 30 a 300 colônias (Clark , 1965; Schortemeyer et al., 1996).
O ensaio foi conduzido em delineamento em blocos casualizados em
esquema fatorial (6 x 5), em que o primeiro fator foi a inoculação e o segundo fator
tempo, com três repetições, totalizando 90 unidades amostrais. Os resultados foram
submetidos à análise de variância e regressão linear ou quadrática utilizando-se o
programa computacional GENES da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da análise físico-químicas do condicionador de solo classe A
foram: 1) teores de macro nutrientes primários (N: 1,23%, P: 1,19% e K: 0,63%);
2) teores de macronutrientes secundários (Ca: 4,90% Mg: 0,38% e S: 0,91%); 3)
teores de micronutrientes essenciais (Zn: 5062,50; Cu: 221,00; Fe: 6479,50; Mn:
2295,00; e B: 10,75 mg kg-1 por elemento analisado); 4) Carbono Orgânico Total:
22,09%: 5) pH: 6,68; 6) condutividade elétrica: 3,39 mS cm-1; 7) CRA: 74,00% e
CTC: 545,00 mmolc kg-1. Os resultados de CRA e CTC estão de acordo com a IN
DAS Nº 35/2006 – MAPA para condicionador de solo classe A. Ao analisar os níveis
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 6
50
de nutrientes, este condicionador de solo poderia também estar registrado como
Fertilizante Orgânico Composto Classe A conforme a IN DAS Nº 23/2005.
Os níveis acima de 22% de C.O.T., demonstram que o condicionador é uma
boa fonte de carbono e energia para os micro-organismos principalmente durante
a fase inicial e pela facilidade operacional de aplicação/distribuição do insumo na
lavoura. Estes resultados estão de acordo com aqueles descritos por SIQUEIRA
e ASSAD (2015), em que descreve a função do carbono orgânico no crescimento
microbiológico.
A inoculação com Bacillus amyloliquefaciens, e Bacillus pumilus apresentou
comportamento significativo em função do período de inoculação no condicionador
de solo classe A ao nível de 1%. Já Bacillus subtilis apresentou interação significativa
ao nível de 5% (Tabela 02). Por outro lado, a inoculação com Bacillus licheniformis
não apresentou interação significativa em função do tempo de inoculação. Como
esperado o tratamento com ausência de micro-organismos não apresentou
crescimento.
Horas após a inoculação
Dados da regressão
0
24
48
96
192
Equação
R2
I1
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0
0,00ns
I2
12,55
35,70
17,70
75,65
96,50
-980,92x2 + 643598x + 1E+07
0,87**
I3
25,65
1,29
57,50
148,50
85,00
-8259x2 + 2E+06x - 6E+06
0,71*
I4
39,00
104,95
32,10
16,80
8,88
843,34x2 - 477215x + 7E+07
0,41ns
I5
36,00
37,78
74,25
61,75
113,50
229,51x2 + 341485x + 4E+07
0,85**
I6
23,70
146,00
167,50
211,25
41,95
-19401x2 + 4E+06x + 4E+07
0,96**
Tabela 02: Médias da Unidade Formadora de Colônia (UFC) e resultados da regressão
de diferentes micro-organismos inoculados em condicionador de solo classe em função
do período após a inoculação
Não significativo (ns), ou significativo a 1 (*) e 5% (**), (p≤0,05). Tratamentos utilizados:
– Ausência de micro-organismos (água deionizada e esterilizada); I2 – inoculação
de Bacillus amyloliquefaciens; I3 – inoculação de Bacillus subtilis; I4 – inoculação
de Bacillus licheniformis; I5 – inoculação de Bacillus pumilus; e I6 – inoculação com
associação dos quatro micro-organismos.
A esterilização mostrou-se eficiente, pois até o final das 196 horas não
foi observado nenhuma Unidade Formadora de Colônia (UFC) viável conforme
observado no tratamento controle (Tabela 02). Da mesma forma, a determinação da
UFC dos tratamentos inoculados independentemente do tipo de micro-organismo
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 6
51
ou sua associação apresentaram valores acima de 1x106 UFC, mantendo os microorganismos vivos desde o momento da inoculação, e demonstrando que a inoculação
foi realizada com sucesso independentemente da espécie e/ou associação (Tabela
02).
A associação dos micro-organismos foi eficiente, pois se mantiveram em
desenvolvimento até 96 horas (Tabela 02). Períodos superiores há 96 horas estão
sendo avaliados ainda, entretanto estes dados não fazem parte deste trabalho.
No último período houve redução na população e algumas hipóteses podem ser
discutidas. Estes resultados demonstram a importância de novas investigações
para contribuir na compreensão do comportamento dos micro-organismos e dos
condicionadores de solo.
4 | CONCLUSÃO
A inoculação de quatro diferentes espécies de Bacillus spp. isolados ou em
associação em condicionador de solo classe A, mostrou-se viável independentemente
da espécie utilizada durante todo o período de 8 dias avaliado.
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18 jun. 2020.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 6
54
CAPÍTULO 7
doi
FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS GRANULADOS
NA PRODUÇÃO DE MUDAS DE ESPÉCIES
FLORESTAIS EM DOIS TIPOS DE TUBETES
Data de aceite: 01/10/2020
Aline Assis Cardoso
http://lattes.cnpq.br/4270933743190484
Michel de Paula Andraus
http://lattes.cnpq.br/9595136781464277
Eliana Paula Fernandes Brasil
http://lattes.cnpq.br/7324619074753727
https://orcid.org/0000-0003-4474-4653
Wilson Mozena Leandro
http://lattes.cnpq.br/9052207260053937
https://orcid.org/0000-0002-3141-1588
Jéssika Lorrine de Oliveira Sousa
http://lattes.cnpq.br/6547884826431259
Ana Caroline da Silva Faquim
http://lattes.cnpq.br/0791648753335083
Joyce Vicente do Nascimento
http://lattes.cnpq.br/5548884686226950
Carolline de Moura Ferro
http://lattes.cnpq.br/1031234618378429
Welldy Gonçalves Teixeira
http://lattes.cnpq.br/9166644492226296
Caio Fernandes Ribeiro
http://lattes.cnpq.br/8407646305334454
Álisson Assis Cardoso
http://lattes.cnpq.br/8216536516894987
https://orcid.org/0000-0003-2687-2352
RESUMO: O adubo organomineral é viável
tanto para os pequenos e médios quanto para
os grandes produtores e empresários rurais.
Além do benefício financeiro com a redução de
gastos, e o benefício físico e biológico do solo,
com o maior aporte de nutrientes e matéria
orgânica, a adubação organomineral também
tem uma vantagem ambiental. Este adubo é
produzido a partir de resíduos orgânicos como
restos de culturas e subprodutos da indústria.
Com relação às características físicas do solo,
a adubação orgânica aumenta a retenção de
água durante a seca e a drenagem em períodos
chuvosos, reduzindo os riscos de enxurrada
e, consequentemente, de erosão. Isso é
possível devido ao aumento da porosidade
total, à redução da densidade e do grau de
compactação do solo e à resistência à erosão
hídrica e eólica. Além disso, esse tipo de
adubação aumenta a população da microflora
e da microfauna, elevando, assim, a atividade
microbiológica. Mudas de espécies florestais
nativas produzidas em viveiro são usadas com
objetivos ambientais, tais como recuperação
de áreas degradadas e recomposição de áreas
de preservação permanente (APP). A produção
de fertilizantes organo-mineral é o resultado de
ações planejadas no sentido de reaproveitar os
resíduos agroindustriais de forma sustentável
e ecologicamente correta. Neste sentido, esta
pesquisa tem como objetivo geral estudar
fertilizantes organomineral granulado com uso
de biocatalisador acelerador a fim de ser usado
na produção de mudas de espécies florestais,
avaliando seus atributos químicos, mensurando
os aspectos fitotécnicos e a concentração de
nutrientes nas plantas de espécies florestais.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
55
Avaliando a condução em sistema convencional (tubetes de polipropileno) em
comparação aos tubetes biodegradáveis.
PALAVRAS-CHAVE: Preservação ambiental, adubação sustentável, resíduos
agroindustriais.
ABSTRACT: Organomineral fertilizer is viable both for small and medium-sized
farmers and for large rural producers and entrepreneurs. In addition to the financial
benefit with the reduction of expenses, and the physical and biological benefit of the
soil, with the greatest supply of nutrients and organic matter, organomineral fertilization
also has an environmental advantage. This fertilizer is produced from organic waste
such as crop residues and industry by-products. About the physical characteristics of
the soil, organic fertilization increases water retention during drought and drainage in
rainy periods, reducing the risk of runoff and, consequently, erosion. This is possible
due to increased total porosity, reduced density and degree of compaction of the soil
and resistance to water and wind erosion. In addition, this type of fertilization increases
the population of microflora and microfauna, thus increasing microbiological activity.
Seedlings of native forest species produced in greenhouses are used for environmental
purposes, such as the recovery of degraded areas and the restoration of permanent
preservation areas (PPA). The production of organo-mineral fertilizers is the result
of actions planned to reuse agro-industrial waste in a sustainable and ecologically
correct manner. In this sense, this research has the general objective of studying
granulated organomineral fertilizers with the use of accelerating biocatalyst in order
to be used in the production of forest species seedlings, evaluating their chemical
attributes, measuring phytotechnical aspects and the concentration of nutrients in
forest species plants. Evaluating conduction in a conventional system (polypropylene
tubes) compared to biodegradable tubes.
KEYWORDS: Environmental preservation, sustainable fertilizing, agro-industrial
waste.
1 | INTRODUÇÃO
O adubo organomineral é viável tanto para os pequenos e médios quanto
para os grandes produtores e empresários rurais. Além do benefício financeiro com
a redução de gastos, e o benefício físico e biológico do solo, com o maior aporte
de nutrientes e matéria orgânica, a adubação organomineral também tem uma
vantagem ambiental. Este adubo é produzido a partir de resíduos orgânicos como
restos de culturas e subprodutos da indústria (Royo, 2010).
São vários os benefícios para o solo com a aplicação de adubos orgânicos, pois
eleva a capacidade de troca de cátions (CTC), o pH, o transporte e disponibilidade de
micronutrientes, bem como reduz os teores de manganês, alumínio tóxico e acidez
do solo (Rodrigues, 1994; Cardoso & Oliveira, 2002). Apesar de essa interação estar
relacionada ao solo, as plantas são beneficiadas diretamente por essas alterações
químicas provenientes da adubação orgânica.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
56
Com relação às características físicas do solo, a adubação orgânica aumenta
a retenção de água durante a seca e a drenagem em períodos chuvosos, reduzindo
os riscos de enxurrada e, consequentemente, de erosão (Taiz & Zeiger, 2009). Isso
é possível devido ao aumento da porosidade total, à redução da densidade e do
grau de compactação do solo e à resistência à erosão hídrica e eólica (Celik et al.,
2004; Leroy et al., 2008). Além disso, esse tipo de adubação aumenta a população
da microflora e da microfauna, elevando, assim, a atividade microbiológica (Costa
et al., 1986).
A adição de adubos orgânicos aumenta a respiração microbiana, sendo esse
fator um indicativo da atividade microbiológica do solo. Contudo, vale ressaltar que
diferentes compostos orgânicos influenciam de diferentes formas na elevação da
microbiota do solo (Severino et al., 2004).
A crescente pressão ambientalista leva as indústrias a buscarem alternativas
para o destino dos resíduos gerados pelos processos industriais. Os custos de
construção e manutenção de aterros industriais e os riscos ambientais que estes
podem representar têm aumentado o interesse de vários tipos de indústrias em
estudar a viabilidade de aplicação de resíduos na agricultura. Entre os resíduos
agroindustriais com potencial de utilização como substrato, destacam-se o bagaçode-cana, a torta de filtro, entre outros. Estes resíduos de cana-de-açúcar encontramse em alta disponibilidade nas regiões de plantio e já foram testados com sucesso
na produção de mudas de espécies florestais e frutíferas (Serrano et al., 2006).
Mudas de espécies florestais nativas produzidas em viveiro são usadas com
objetivos ambientais, tais como recuperação de áreas degradadas e recomposição
de áreas de preservação permanente (APP). Atualmente, destaca-se como uma
alternativa viável, devido à intensa devastação das florestas nativas, como a
Mata Atlântica, onde as espécies de maior valor econômico foram praticamente
extintas, em razão da exploração desordenada para fins energéticos, madeireiro e
agropecuário (SEAG, 1989).
De acordo com Gonçalves & Poggiani (1996), a boa formação de mudas
destinadas à implantação de povoamentos florestais para a produção de madeira
e de povoamentos mistos para fins de preservação ambiental e, recuperação de
áreas degradadas, está relacionada com o nível de eficiência dos substratos. A
germinação de sementes, a iniciação do crescimento radicular e da parte aérea estão
associados à boa capacidade de aeração, drenagem, retenção e disponibilidade
de água apresentada pelos substratos. Essas características são altamente
correlacionadas entre si: as duas primeiras estão diretamente relacionadas com a
macroporosidade, enquanto retenção de água e os nutrientes estão relacionados
com a microporosidade e superfície específica do substrato.
A produção de fertilizantes organo-mineral é o resultado de ações planejadas
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
57
no sentido de reaproveitar os resíduos agroindustriais de forma sustentável e
ecologicamente correta.
Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo geral estudar fertilizantes
organomineral granulado com uso de biocatalisador acelerador a fim de ser usado
na produção de mudas de espécies florestais, avaliandos seus atributos químicos,
mensurando os aspectos fitotécnicos e a concentração de nutrientes nas plantas
de espécies florestais. Avaliando a condução em sistema convencional (tubetes de
polipropileno) em comparação aos tubetes biodegradáveis.
2 | REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Cultura de Eucalyptus Grandis
O Brasil possui características singulares de produção florestal por ser
detentor da segunda maior cobertura florestal do mundo, considerando florestas
nativas e plantadas, enquanto a Rússia detém o primeiro lugar (FAO, 2015). Esse
potencial possibilita a produção de produtos madeireiros e não madeireiros, tanto
pelas florestas plantadas, quanto pelas florestas nativas, por meio das concessões
florestais – Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei 11.284/2006). Especificamente
sobre as florestas plantadas, o Brasil possui 2,5% da área mundial (FAO, 2015),
com aproximadamente 7,5 milhões de hectares (IBÁ, 2015).
O eucalipto é uma espécie vegetal de porte arbóreo pertencente à família
Myrtaceae, gênero Eucalyptus. Tem sua origem na Austrália, Nova Guiné, Indonésia
e Timor. As várias espécies vegetais caracterizam-se por apresentar um rápido
crescimento, facilidade no processo de propagação e possibilidade de uso múltiplo
da madeira produzida, como observado por Simões (1968). Possuem uma boa
adaptação às condições climáticas brasileiras. Devido a essas características
e vantagens, na década de 1950 o eucalipto passou a ser usado também como
matéria-prima para a produção de celulose e papel (Garcia & Pereira, 2010).
A partir de 1965, a produção de florestas de eucalipto apresentou considerável
aumento, principalmente devido aos incentivos fiscais para reflorestamento
concedidos pelo governo brasileiro aos produtores rurais, culminando em um
incremento do setor econômico florestal (Valverde, 2007).
O eucalipto, originário da Austrália, vem sendo utilizado em programas de
reflorestamento. Em diversos países essas plantações visam sua utilização em
indústrias de celulose, farmacêutica e de produtos de higiene. As espécies de
eucalipto apresentam características adequadas para o uso em escala comercial,
como rápido crescimento, alta produção de celulose e resistência às adversidades
das condições ambientais e às doenças (Santos, 2001).
Segundo Castro (2009), o eucalipto caracteriza-se por apresentar qualidades
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
58
interessantes ao setor florestal, como rápido crescimento, facilidade com programas
de manejo e melhoramento, grande diversidade de espécies, o que amplia a faixa
de adaptação a diferentes condições edafoclimáticas, além de possuir uma elevada
produção de sementes e facilidade em propagação vegetativa. Trata-se de um
gênero com potencial de múltiplos usos no meio agroflorestal pelos seus atrativos
para a silvicultura.
Introduzido no Brasil no ano de 1868, o eucalipto, proveniente da Austrália,
era utilizado apenas como planta decorativa e na formação de quebraventos. Com
o desenvolvimento dos programas de reflorestamento, o eucalipto, com mais de
600 espécies, passou a ser utilizado comercialmente para a produção de madeira,
sendo uma das essências florestais com maior área plantada no País, apresentando
altos níveis de melhoramento genético, de produtividade e qualidade da madeira
(Souza et al., 2008). Dentre as espécies de eucalipto, a espécie E. grandis é a mais
utilizada, ocupando 55% das áreas cultivadas com eucaliptos, seguido das espécies
E. saligna, com 17%, E. urophylla, com 9% e E. viminalis, com 2%. (Andrade et al.,
2006; SBS, 2008).
Segundo a ABRAF (2011), o mercado florestal Brasileiro das últimas décadas
pode ser dividido em três grandes fases. A primeira ocorreu entre as décadas de 1960
e 1980, período no qual foi atribuída a formação da base florestal em que entraram em
cena os incentivos fiscais e o início dos processos de industrialização, sem, contudo
haver uma alta produtividade do setor. A segunda fase ocorrem entre as décadas de
1980 e 2000, período que se observou um incremento do extrativismo com ênfase
na sustentabilidade, produtividade, crescimento na área de melhoramento genético,
negócios, diversidades de uso, competitividade, preocupação socioambiental e
consolidação do processo e industrialização. E, por fim, a terceira fase ocorrem
entre as décadas de 2000 a 2010, em que há um aumento no desenvolvimento
sustentável, ampliação de novas fronteiras florestais, novos produtos e processos,
fortalecimento da biotecnologia e consolidação do Brasil no mercado internacional
no setor de florestas plantadas.
A elevada utilização do eucalipto nos reflorestamentos ocorre devido a sua
diversidade de espécies, adaptabilidade em várias regiões e climas e seu potencial
de produção, pois contribui para diminuir a pressão do desmatamento das áreas
de preservação e reservas legais de matas nativas e também auxilia na captura de
dióxido de carbono na atmosfera, diminuindo o efeito estufa (Garay et al., 2004).
A eucaliptocultura, buscando suprir a demanda de madeira, teve grande
impulso nos últimos 30 anos, em virtude da vasta rede experimental instalada por
órgãos públicos e empresas particulares. A área destinada ao plantio de eucalipto
no Brasil apresentou crescimento médio de 6,03% ao ano entre 2006 e 2012,
chegando a 5.102.030 ha de área plantada, sendo o estado de Goiás responsável
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
59
por, aproximadamente, 38.081 ha desse total (ABRAF, 2013).
2.2 Cultura da Acacia mangium
A Acacia mangium é uma leguminosa pertencente à Família Mimosaceae.
O gênero Acacia apresenta um grande número de espécies. Inicialmente a espécie
foi descrita como Mangium montanum Rumph e também como Acacia glauscenses
sensu Kanehira e Hatusima (Catie, 1992). Elas são divididas principalmente em dois
grupos. Um grupo consiste em árvore ou arbustos com espinhos e folhas pequenas.
São pertencentes ao outro grupo, as acácias australianas, que são principalmente
sem espinhos, e não apresentam folhas quando adultas, o que se vê como folha na
verdade é o pecíolo (Chaturvedi, 1998).
Segundo Joker (2000), os frutos são do tipo vagem, espiralados ou torcidos,
marrons, curtos, deiscentes, com sementes pretas, pequenas, pendentes na
vagem por um filamento amarelo, formadas de setembro a novembro. O tempo de
floração varia do ambiente natural para as plantações. As sementes são elipsóides
e pequenas, em torno de quatro mm de comprimento, contendo, em média, 95.000
sementes kg-1, apresentando tegumento duro e de coloração preta lustrosa (Lima &
Garcia, 1996).
A Acacia mangium é uma espécie natural da região noroeste da Austrália
(Queensland), Papua Nova Guiné e leste da Indonésia (Ilhas Molucas, Sula e Aru)
(Lemmens et al., 1995; Tonini & Vieira, 2006). O gênero Acacia possui mais de
1.300 espécies largamente distribuídas nas regiões tropicais e subtropicais do globo
(Rossi et al., 2003). Segundo Smiderle et al. (2005), a maior parte das espécies é
encontrada no hemisfério sul e o principal centro de diversidade é a Austrália. A
maioria das espécies produtoras de madeira é encontrada na Papua Nova Guiné
(Lemmens et al., 1995). Em seu ambiente natural ocorrem em agrupamentos puros
e densos, sugerindo que podem ser plantadas em monoculturas sem problemas
sérios de pragas e doenças (NRC, 1983).
Segundo Turnbull (1984), as leguminosas das espécies Acacia mangium e
auriculiformis são originárias do nordeste da Austrália e Nova Guiné. As condições
climáticas tropicais são quentes e úmidas ou subúmidas, com precipitação média
anual de 1.000 mm a 2.000 mm, podendo ser inferior para a espécie A. mangium.
Os indivíduos dessas espécies atingem alturas entre 25 m e 30 m e se desenvolvem
bem em solos oxídicos argilosos, de baixa fertilidade e ácidos, podendo a espécie A.
mangium tolerar inclusive solos com impedimento de drenagem sazonal.
Uma característica notável é a habilidade de A. mangium para crescer em
solos com pH baixo, como 4,2. Esta característica se torna importante, pois essas tais
terras ácidas são difundidas nas regiões trópicais e esse é um atributo que distingue
essa acácia de outras leguminosas, como a leucena que requer um pH acima de
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
60
5,5 (NRC, 1983). De acordo com Turnbull (1984), a A. mangium é tolerante a solos
ácidos e de baixa fertilidade, também tolera áreas dominadas pelas gramíneas do
gênero Imperata, sendo utilizada para controle desta (Chatuverdi, 1998).
De acordo com Chaturvedi (1998), essa espécie sobrevive em terrenos
rochosos, erodidos, em terras rasas, infecundas e ácidas. Assim, a espécie destacase em programas de recuperação de áreas degradadas e representa uma opção
silvicultural para o Brasil (Balieiro et al., 2004). O interesse também, parte por ela
apresentar significativa capacidade de adaptação às condições edafoclimáticas
brasileiras (Andrade et al., 2000).
O crescimento de A. mangium é afetado basicamente por fatores químicos
do solo (Catie, 1992), e por causa de sua folhagem densa e raízes superficiais, a
espécie é suscetível ao vento (Mackey,1996).
Seu tronco ereto possui coloração cinza-parda, com casca pouco saliente
e levemente sulcado longitudinalmente. Quanto à ramificação, apresenta-se fina,
horizontal, espaçada, formando copa ovalada com folhagem densa. A madeira de
A. mangium é considerada dura, de cerne marrom-claro e alburno creme-claro,
podendo ser facilmente serrada, aplainada e polida (Lelles et al., 1996). O peso
específico de A. mangium aumenta em relação ao aumento da idade (Wahyudi et
al., 1999).
O aproveitamento da madeira é direcionado, principalmente, para polpa
de celulose. Porém, a espécie possui aptidão para produção de moirões e uso na
construção civil, (Balieiro et al., 2004), além de possibilitar a produção de carvão e
outros produtos como MDF, aglomerados e compensados (Schiavo & Martins, 2003).
Em plantios silviculturais existem estudos que podem levar ao aproveitamento de
sua madeira para movelaria de baixo custo (Barbosa, 2002). As folhas da acácia
podem ser usadas como forragem na alimentação de animais (Lelles et al.,1996).
A espécie apresenta também grande potencial de uso em programas de
reflorestamento e recuperação de áreas com solos pobres ou degradados, tais como
as áreas de encostas e de mineração (Schiavo & Martins, 2003). Também pode ser
utilizada como quebra-ventos e sombreamento (Balieiro et al., 2004).
Entre as leguminosas arbóreas, Acacia mangium Willd destaca-se pela
rusticidade e adaptabilidade às condições adversas de solo e clima, pelo rápido
crescimento, elevada produção de biomassa e capacidade de formar simbioses com
microrganismos do solo (Colonna et al., 1991).
As sementes de acácia apresentam dormência tegumentar que representa
uma dificuldade na produção de mudas em programas de reflorestamento. Devido
à dormência causada pelo tegumento impermeável à água, considerável número de
sementes de acácia pode permanecer sem germinar durante os testes de germinação
ou em sementeiras destinadas à formação de mudas (Smiderle et al., 2005). Esses
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
61
autores indicam para superação de dormência da semente, considerando o menor
tempo de resposta para a germinação, o uso de água a 100 °C por um minuto, pela
facilidade de padronização operacional, sendo desnecessário manter as sementes
imersas por período adicional de 12 horas em água a temperatura ambiente
(27ºC). As sementes começam a germinar em dois a três dias após a semeadura e
completam o processo em dez dias (Azevedo et al., 1998).
Para Lima & Garcia (1996), o método de imersão das sementes em água
a temperatura de 80 ºC, mostrou-se eficiente na superação da dormência de A.
mangium.
2.3 Cultura de Khaya ivorensis
Entre as espécies exploradas em larga escala pelo setor madeireiro, e sob
ameaça de extinção, encontra-se o mogno (S. macrophylla), conhecida também
como aguana, araputango, cedro, mogno-brasileiro (Lorenzi, 1998; Sudam, 1979).
A área de ocorrência natural do mogno se estende desde o México, passando
pela costa atlântica da América Central, até um amplo arco do sul da Amazônia
venezuelana, equatoriana, colombiana, peruana, boliviana e brasileira (Veríssimo
& Grogam, 1998). Sua madeira pode ser utilizada para construções de mobiliário
maciço e de luxo, folheado, rodapé, contraplacado e molduras, construção naval,
painéis, pisos, marcenaria de interior e exterior, revestimento exterior, embarcações
leves e artesanato. Árvore de porte alto, o mogno pode alcançar mais de 50 m de
altura e seu tronco pode atingir até 3 m de diâmetro (Lorenzi, 1998).
O mogno brasileiro é uma das espécies de maior valor madeireiro do mundo.
Em 2001, um metro cúbico de mogno serrado de qualidade superior era vendido
por cerca de US$ 1,200 (preço FOB - Free on board). Por causa dessa importância,
o mogno tem sido intensamente extraído nas últimas décadas em sua área de
ocorrência natural na América tropical, desde o México até o Brasil (Lugo, 1999;
Snook, 1996; Veríssimo et al., 1995; Rodan et al., 1992).
Entre 1971 e 2001, o Brasil exportou aproximadamente quatro milhões de
metros cúbicos de mogno (S. macrophylla) serrado, sendo que cerca de 75% desse
total de madeira foi exportada para os Estados Unidos e Inglaterra. A exploração
total é estimada em 5,7 milhões de metros cúbicos serrados, e cerca de 1,7 milhão
de metros cúbicos foi consumido no mercado nacional nesse período. O valor bruto
estimado dessa produção, considerando um preço médio histórico de US$ 700.00 o
metro cúbico, seria cerca de US$ 3.9 bilhões (5,7 milhões de m 3 x US$ 700.00 o m
3
) (Perez & Bacha, 2007).
Segundo Lemmens (2008), a espécie Khaya ivorensis (A. Chev) teve sua
origem e distribuição a partir da Costa do Marfim e de Camarões, leste e sul de
Cabinda (Angola) e, possivelmente, também ocorre na Guiné, Libéria, República
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
62
Centro Africano e Congo. É uma espécie amplamente cultivada nas plantações
dentro da sua área natural de distribuição, mas também na Ásia e América tropical.
Ocorre desde 0 a 450 m de altitude, normalmente em vales úmidos, suportando
inclusive inundações durante o período das chuvas. Entretanto, é muito sensível ao
período de estiagem (Grogan et al., 2002,).
Segundo Falesi & Baena (1999), o mogno africano (K. ivorensis) tem sido uma
das espécies preferidas pelos reflorestadores no estado do Pará. É uma árvore de
grande importância para a região amazônica, devido ao seu alto valor no comércio
internacional e crescimento relativamente rápido, promovendo a recuperação de
áreas alteradas, além de oferecer resistência a algumas pragas, como a broca do
ponteiro (H. grandella) (Verzignassi et al., 2009; Lemmens, 2008).
As espécies arbóreas exóticas mais requisitadas pelos pequenos produtores e
empresários que desejam aumentar seus plantios florestais, de acordo com Sabogal
(2006), são a teca (Tectona grandis L.) e o mogno-africano (K. ivorensis). Esse último
por ser a madeira altamente valorizada para móveis, armários, caixas decorativas e
folhas de madeira, e também é comumente usado para caixilhos de janelas, painéis,
portas e escadas. É adequado para a construção leve, piso luz, construção naval,
carrocerias, cabos, escadas, artigos esportivos, instrumentos musicais, brinquedos,
equipamentos de precisão, tornearia escultura, e para fabricação de violões, por ser
considerada de boas características acústicas.
Tradicionalmente, a madeira é utilizada para canoas. Sua madeira também
é utilizada como lenha e para a produção de carvão vegetal. A casca, de sabor
amargo, é amplamente utilizada na medicina tradicional. A decocção da casca
é usada para tratar tosse, febre e anemia, sendo aplicada externamente para o
tratamento de feridas, úlceras e tumores, e como um paliativo para tratar dores
reumáticas e lombalgia. Brotos e folhas jovens são aplicadas externamente como
um anódino. As sementes são utilizadas na produção de sabão. Na Nigéria, as
árvores de K. ivorensis são localmente mantidas em plantações de cacau para servir
como árvores de sombra (Lemmens, 2008).
Segundo Lemmens (2008), uma árvore de floresta natural, com um diâmetro
de tronco de 80 cm, produz, em média, 6,6 m³ de madeira, e uma árvore de 160
cm de diâmetro produz cerca de 17,9 m³. Em plantações com idade de 30 anos, na
África Tropical, a produção anual de madeira é de 2 a 4 m³.ha-1. Em solos de boa
qualidade, na Costa do Marfim, um estande de 31 anos de idade, com 70 árvores
por hectare (com média de 37 a 40 m de altura e 57 cm de diâmetro) produziu 8
m³.ha-1 .ano-1.
2.4 Produção de mudas de espécies florestais
A demanda cada vez maior por mudas de espécies florestais a um menor
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
63
custo fez com que a qualidade das mudas fosse relegada a segundo plano (Gomes
et al., 1991).
Mudas de espécies florestais nativas produzidas em viveiro são usadas com
objetivos ambientais, tais como recuperação de áreas degradadas e reflorestamento
de matas ciliares. Atualmente, destaca-se como uma alternativa viável, devido à
intensa devastação das florestas nativas, como a Mata Atlântica, onde as espécies
de maior valor econômico foram praticamente extintas, em razão da exploração
desordenada para fins energéticos, madeireiro e agropecuário (SEAG, 1989).
De acordo com Gonçalves & Poggiani (1996), a boa formação de mudas
destinadas à implantação de povoamentos florestais para a produção de madeira
e de povoamentos mistos para fins de preservação ambiental e, recuperação de
áreas degradadas, está relacionada com o nível de eficiência dos substratos. A
germinação de sementes, a iniciação do crescimento radicular e da parte aérea estão
associados à boa capacidade de aeração, drenagem, retenção e disponibilidade
de água apresentada pelos substratos. Essas características são altamente
correlacionadas entre si: as duas primeiras estão diretamente relacionadas com a
macroporosidade, enquanto retenção de água e os nutrientes estão relacionados
com a microporosidade e superfície específica do substrato.
Diversos materiais de origem vegetal e animal têm sido utilizados no preparo
de compostos orgânicos para produção de mudas. A escolha do substrato, quando
da sua formulação, deve ser feita em função da disponibilidade de materiais, suas
características físicas e químicas, seu peso e custo (Toledo, 1992). É necessário,
portanto, testar substratos de fácil aquisição, alternativos à vermiculita, por ser essa
de elevado custo (Gomes et al., 1991).
A utilização de um substrato que promova um rápido crescimento inicial das
mudas é fundamental para melhorar a tecnologia de produção na fase de viveiro,
com uma expectativa de atender a demanda de mudas para um mercado em franca
expansão (Morais et al., 1996).
Com o intuito de obter melhor produtividade dos plantios, têm-se procurado
definir os melhores recipientes, substratos, dosagens e tipos de fertilizantes para
produção de mudas de melhor qualidade (Carneiro, 1995).
Os tubetes de plásticos convencional apresentam várias vantagens, como
por exemplo, simplificam as operações, agilizam o processo de produção e possuem
baixos custos pelo reaproveitamento dos tubetes. Mas, em contrapartida, necessitam
de um sistema adequado para o seu armazenamento, de uma limpeza rigorosa para
não contaminar a muda e causar uma má qualidade nas árvores quando no campo.
A reutilização do tubetes também causam rebarbas na parte inferior do mesmo,
causando problemas de enovelamento das raízes da parte basal das mudas. E, de
acordo com Iatauro (2004), há uma “taxa de redução negativa” na produtividade
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
64
das mudas quando em campo, pelo um estresse das mudas durante sua remoção e
acondicionamento no solo.
Segundo Iatauro (2001), os tubetes elaborados com material biodegradável
apresentam diversos pontos favoráveis. Como por exemplos, é possível diferenciar
o recipiente pela possibilidade de incorporação de adubo na formulação, também
a introdução de fungicidas e inseticidas que causam perdas em viveiros. Walker et.
al., (2011) afirmam que os recipientes de papel apresentam uma boa durabilidade
quando bem produzidos, também apresentam uma boa permeabilidade da raiz, não
necessita retirar as mudas dos tubetes, porém apresentam um custo mais elevado
quando comparado com o custo do tubete de plástico rígido.
2.5 Potencial e uso florestal de espécies florestais
2.5.1
Eucalipto
A partir de 1965, a produção de florestas de eucalipto apresentou considerável
aumento, principalmente devido aos incentivos fiscais para reflorestamento
concedidos pelo governo brasileiro aos produtores rurais, culminando em um
incremento do setor econômico florestal (Valverde, 2007).
Segundo Castro (2009), o eucalipto caracteriza-se por apresentar qualidades
interessantes ao setor florestal, como rápido crescimento, facilidade em programas
de manejo e melhoramento, grande diversidade de espécies - o que amplia a faixa
de adaptação a diferentes condições edafoclimáticas, além de possuir uma elevada
produção de sementes e facilidade em propagação vegetativa. Trata-se de um
gênero com potencial de múltiplos usos no meio agroflorestal pelos seus atrativos
para a silvicultura.
Introduzido no Brasil no ano de 1868, o eucalipto, proveniente da Austrália,
era utilizado apenas como planta decorativa e na formação de quebraventos. Com
o desenvolvimento dos programas de reflorestamento, o eucalipto, com mais de 600
espécies, passou a ser utilizado comercialmente para a produção de madeira, sendo
atualmente a essência florestal com maior área plantada no País, apresentando
altos níveis de melhoramento genético, de produtividade e qualidade da madeira
(Souza et al., 2008). Dentre as espécies de eucalipto, a espécie E. grandis é a mais
utilizada, ocupando 55% das áreas cultivadas com eucaliptos, seguido das espécies
E. saligna, com 17%, E. urophylla, com 9% e E. viminalis, com 2%. (Andrade et al.,
2006; SBS, 2008).
2.5.2
Acácia
De acordo com Chaturvedi (1998), essa espécie sobrevive em terrenos
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
65
rochosos, erodidos, em terras rasas, infecundas e ácidas. Assim, a espécie destacase em programas de recuperação de áreas degradadas (RAD) e representa uma
opção silvicultural para o Brasil (Balieiro et al., 2004).
O aproveitamento da madeira é direcionado, principalmente, para polpa de
celulose. Porém, a espécie possui aptidão para produção de moirões, construção
civil, (Balieiro et al., 2004) além de possibilitar a produção de carvão e outros produtos
como MDF, aglomerados e compensados (Schiavo & Martins, 2003). Em plantios
silviculturais existem estudos que podem levar ao aproveitamento de movelaria de
baixo custo (Barbosa, 2002). As folhas da acácia podem ser usadas como forragem
na alimentação de animais (Lelles et al.,1996).
Apresenta também grande potencial de uso em programas de reflorestamento
e recuperação de áreas com solos pobres ou degradados, como as áreas de
encostas e de mineração (Schiavo & Martins, 2003). A espécie também pode ser
utilizada como quebra-ventos (Balieiro et al., 2004) e para sombreamento.
Entre
as
leguminosas
arbóreas,
Acacia
mangium
destaca-se
pela
rusticidade e adaptabilidade às condições adversas de solo e clima, pelo rápido
crescimento, elevada produção de biomassa e capacidade de formar simbioses com
microrganismos do solo (Colonna et al., 1991).
As plantas leguminosas, em razão da grande diversidade de espécies,
versatilidade de usos potenciais e de seu papel na dinâmica dos ecossistemas,
especialmente quanto ao suprimento e ciclagem de nitrogênio (N), têm sido
indicadas para a recuperação de áreas degradadas (Franco et al., 1994; Kondo &
Resende, 2001).
As sementes de acácia apresentam dormência tegumentar que representa
uma dificuldade na produção de mudas em programas de reflorestamento (Smiderle
et al., 2005).
2.5.3
Mogno
Entre as espécies exploradas em larga escala pelo setor madeireiro, e sob
ameaça de extinção, encontra-se o mogno (S. macrophylla), conhecida também
como aguana, araputango, cedro, mogno-brasileiro (Lorenzi, 1998; Sudam, 1979).
A área de ocorrência natural do mogno se estende desde o México, passando
pela costa atlântica da América Central, até um amplo arco do sul da Amazônia
venezuelana, equatoriana, colombiana, peruana, boliviana e brasileira (Veríssimo
& Grogam, 1998). Sua madeira pode ser utilizada para construções de mobiliário
maciço e de luxo, folheado, rodapé, contraplacado e molduras, construção naval,
painéis, pisos, marcenaria de interior e exterior, revestimento exterior, embarcações
leves e artesanato. Árvore de porte alto, o mogno pode alcançar mais de 50 m de
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
66
altura e seu tronco pode atingir até 3 m de diâmetro (Lorenzi, 1998).
O mogno brasileiro é uma das espécies de maior valor madeireiro do mundo.
Em 2001, um metro cúbico de mogno serrado de qualidade superior era vendido
por cerca de US$ 1,200 (preço FOB - Free on board). Por causa dessa importância,
o mogno tem sido intensamente extraído nas últimas décadas em sua área de
ocorrência natural na América tropical, desde o México até o Brasil (Lugo, 1999;
Snook, 1996; Veríssimo et al., 1995; Rodan et al., 1992). Entre 1971 e 2001, o
Brasil exportou aproximadamente quatro milhões de metros cúbicos de mogno (S.
macrophylla) serrado, sendo que cerca de 75% desse total de madeira foi exportada
para os Estados Unidos e Inglaterra. A exploração total é estimada em 5,7 milhões
de metros cúbicos serrados, e cerca de 1,7 milhão de metros cúbicos foi consumido
no mercado nacional nesse período. O valor bruto estimado dessa produção,
considerando um preço médio histórico de US$ 700.00 o metro cúbico, seria cerca
de US$ 3.9 bilhões (5,7 milhões de m 3 x US$ 700.00 o m 3) (Perez & Bacha, 2007).
As espécies arbóreas exóticas mais requisitadas pelos pequenos produtores e
empresários que desejam aumentar seus plantios florestais, de acordo com Sabogal
(2006), são a teca (Tectona grandis L.) e o mogno-africano (K. ivorensis). Esse último
por ser a madeira altamente valorizada para móveis, armários, caixas decorativas e
folhas de madeira, e também é comumente usado para caixilhos de janelas, painéis,
portas e escadas. É adequado para a construção leve, piso luz, construção naval,
carrocerias, cabos, escadas, artigos esportivos, instrumentos musicais, brinquedos,
equipamentos de precisão, tornearia escultura, e para fabricação de violões, por ser
considerada de boas características acústicas.
Tradicionalmente, a madeira é utilizada para canoas. Sua madeira também
é utilizada como lenha e para a produção de carvão vegetal. A casca, de sabor
amargo, é amplamente utilizada na medicina tradicional. A decocção da casca
é usada para tratar tosse, febre e anemia, sendo aplicada externamente para o
tratamento de feridas, úlceras e tumores, e como um paliativo para tratar dores
reumáticas e lombalgia. Brotos e folhas jovens são aplicadas externamente como
um anódino. As sementes são utilizadas na produção de sabão. Na Nigéria, as
árvores de K. ivorensis são localmente mantidas em plantações de cacau para servir
como árvores de sombra (Lemmens, 2008).
2.6 Qualidade de mudas de espécies florestais
Os critérios na seleção das mudas para o plantio são baseados em parâmetros
que, na maioria das vezes, não determinam as reais qualidades, uma vez que o
padrão de qualidade varia de acordo com a espécie, e para uma mesma espécie,
entre diferentes sítios ecológicos (Carneiro, 1995), além do tipo de transporte para
o campo, da distribuição e do plantio. Existem várias razões para a utilização de
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
67
testes para definir o padrão de qualidade de mudas, agregando a elas alguns
valores (Munson, 1986) que, de acordo com os critérios adotados, são muitas vezes
exigidos pelo mercado.
Na determinação da qualidade das mudas prontas para o plantio, os
parâmetros utilizados baseiam-se ou nos aspectos fenotípicos, denominados de
morfológicos, ou nos internos das mudas, denominados de fisiológicos. Tanto a
qualidade morfológica quanto a fisiológica das mudas dependem da carga genética
e da procedência das sementes, das condições ambientais e dos métodos e das
técnicas de produção, das estruturas e dos equipamentos utilizados e, por fim, do
tipo de transporte dessas para o campo (Parviainen, 1981).
Os parâmetros morfológicos são atributos determinados física ou visualmente,
devendo ser ressaltado que algumas pesquisas têm sido realizadas com o intuito
de mostrar que os critérios que adotam essas características são importantes para
o sucesso do desempenho das mudas após o plantio no campo (Fonseca, 2005).
De forma semelhante, Carneiro (1995) descreveu que as mudas com padrão
de qualidade são fundamentais para o desempenho do povoamento após o plantio,
mencionando parâmetros como altura, diâmetro do colo, peso seco da parte aérea
e radicular, peso seco total, Índice de Qualidade de Dickson, entre outros, frisando
que as duas características mais importantes para avaliar a qualidade de mudas são
altura e diâmetro.
Variáveis qualitativas para avaliação da qualidade do torrão, também vem
sendo utilizada, como a facilidade de retirada do tubete e agregação das raízes ao
substrato, principalmente quando a causa de variação é o substrato (Wendling et
al., 2007).
2.6.1
Altura da parte aérea e diâmetro do colo
A altura da parte aérea combinada com o diâmetro do coleto constitui um dos
mais importantes parâmetros morfológicos para estimar o crescimento das mudas
após o plantio definitivo no campo (Carneiro, 1995).
É sabido que a altura da parte aérea é de fácil medição e, portanto, sempre
foi utilizada com eficiência para estimar o padrão de qualidade de mudas nos
viveiros (Carneiro, 1995; Gomes, 2001 e Caldeira et al., 2008), sendo considerada,
também, como um dos mais importantes parâmetros para estimar o crescimento no
campo (Mexal & Lands, 1990 e Reis et al., 1991), além do que sua medição não
acarreta a destruição das mudas, sendo tecnicamente aceita como uma boa medida
do potencial de desempenho das mudas (Mexal & Lands, 1990).
No entanto, o uso da altura das mudas de espécies florestais como único meio
de avaliação do padrão de qualidade, pode apresentar deficiências no julgamento
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
68
quando se espera um alto desempenho dessas, principalmente nos primeiros meses
após o plantio. Porém, para mudas sem nenhuma restrição ao crescimento normal,
a altura ainda é um excelente parâmetro em todo tipo de viveiro (Gomes, 2001).
Para Gomes & Paiva (2004) o diâmetro de colo, sozinho ou combinado com
a altura é uma das melhores características para avaliar a qualidade da muda,
quanto maior o diâmetro, melhor será o equilíbrio do crescimento com a parte aérea,
principalmente quando se exige rustificação das mudas.
Segundo Gomes & Paiva (2006), as mudas devem apresentar o diâmetro
do colo maior para melhor equilíbrio de crescimento da parte aérea, principalmente
quando se exige maior rustificação delas. O padrão de qualidade das mudas
prontas para o plantio possui alta correlação com o diâmetro do colo e isso pode
ser observado nos aumentos das taxas de sobrevivência e crescimento das mudas
no campo.
Conforme observado por Gomes et al., (2002), a relação altura/diâmetro do
colo, apresenta uma boa contribuição para uma avaliação da qualidade de mudas
de Eucalyptus grandis (eucalipto), sendo essas características fáceis e viáveis de
mensuração, além de não destruir as mudas.
2.6.2
Biomassa seca radicial e aérea
A biomassa seca, segundo Gomes & Paiva (2004), deve sempre ser
considerada visto que indica a rusticidade de uma muda; quanto maior, mais
rustificada será. A biomassa seca tem sido considerada como um parâmetro para
caracterizar a qualidade de mudas; muitas vezes este parâmetro não é viável, pois
requer a destruição de mudas, além de ser necessário o uso de estufa e balança
de precisão, mas, mesmo assim, indica a rusticidade das mudas (Gomes & Paiva,
2006). Este parâmetro é uma boa indicação de capacidade de resistência das
plantas (Carneiro, 1995).
A quantificação da biomassa radicular, segundo Novaes (1998), sob o ponto
de vista fisiológico, é de grande importância, visto estar diretamente relacionada à
sobrevivência e ao crescimento inicial em campo, devido à sua função de absorção
de água e nutrientes.
Ao analisar a contribuição relativa das variáveis mensuradas no viveiro para
a avaliação da qualidade de mudas de Eucalyptus grandis aos 120 dias, Gomes et
al., (2002) observaram que a biomassa seca total contribui com 43,39 %, seguido da
biomassa seca aérea (28,60 %) e biomassa seca radicial (11,78 %).
2.6.3
Determinação da agregação da raiz ao substrato
A facilidade de retirada do tubete (FRT) e a agregação das raízes ao
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
69
substrato (AGR) são técnicas para avaliar a qualidade da muda no momento da
expedição e manuseamento da mesma. A FRT e a AGR são fatores importantes
considerados na escolha do tipo de substrato a ser adotado em escala comercial
na produção de mudas, visto que determina a rapidez de sua preparação antes
do plantio ou venda, além de que, em substratos difíceis de serem retirados da
embalagem, ocorre a desintegração do torrão. Quanto mais agregado o substrato
está ao sistema radicial, mais fácil se tornam todas as etapas posteriores, além
do fato que um sistema radicial bem agregado ao substrato resulta em pegamento
maior e crescimento mais rápido no plantio (Wendling et al., 2007).
Segundo Sturion et al. (2000), a FRT e AGR são técnicas que para além
de propiciar boas condições para o adequado crescimento das mudas, o substrato
deve apresentar uma estrutura que não dificulte sua retirada no momento do plantio
das mudas e que o torrão não se destrua.
A facilidade de retirada do tubete, segundo Wendling et al. (2007), é de
grande importância no momento da expedição das mudas, visto que determina a
rapidez de preparação das mudas e além do que, em substratos difíceis de serem
retirados, pode ocasionar a desintegração do torrão. Segundo Trigueiro & Guerrini
(2003) deve-se, porém, ficar atento ao fato que mudas com baixo enraizamento
podem apresentar grande facilidade de retirada do tubete, mesmo não apresentando
boa qualidade radicial.
O substrato para produzir mudas em tubetes deve ser agregado o suficiente
para que o torrão em volta da muda não se rompa quando a embalagem for retirada
para plantio ou transporte, ocasionando exposição das raízes ao ressecamento e
dificultando a pega e a sobrevivência das mudas. No entanto, se o substrato for
muito coeso haverá dificuldade em sua retirada da embalagem, podendo romper as
raízes ou provocar danos no crescimento radicial das mudas (Wendling & Delgado,
2008).
2.7 Métodos para superação da dormência
Espécies que produzem sementes dormentes representam problema
para os viveiristas, pois, o tegumento impermeável restringe a entrada de água e
oxigênio, característica que promove resistência física ao crescimento do embrião
e, consequentemente, retarda a germinação (Moussa et al., 1998). Os mesmos
autores afirmam que a dormência é prejudicial à produção de mudas em virtude do
longo tempo para que ocorra a germinação, e favorece, também, o ataque de fungos
e acarreta grandes perdas.
As sementes de acácia apresentam dormência tegumentar que representa
uma dificuldade na produção de mudas em programas de reflorestamento. Devido
à dormência causada pelo tegumento impermeável à água, considerável número
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
70
de sementes de acácia pode permanecer sem germinar durante os testes de
germinação ou em sementeiras destinadas à formação de mudas (Smiderle et al.,
2005).
Para a superação de dormência da semente, de A. mangium considerando
o menor tempo de resposta para a germinação, indica-se o uso de água a 100 °C
por um minuto, por facilidade de padronização operacional, sendo desnecessário
manter as sementes imersas por período adicional de 12 horas em água a
temperatura ambiente (27 ºC). As sementes começam a germinar em dois a três
dias após a semeadura e completam o processo em dez dias (Azevedo et al., 1998).
Lima & Garcia (1996) observaram que o método de imersão das sementes em água
a temperatura de 80 ºC, mostrou-se eficiente na superação de dormência de A.
mangium.
2.8 Composição de substrato
O substrato pode ser constituído por material de origem mineral ou orgânica,
de apenas um ou diversos produtos em misturas. Turfa e produtos de compostagem
vegetal são exemplos de material tradicional, já consagrados pelo uso há quase
um século. Fibra de coco semidecomposta, espumas fenólicas e lã de rocha fazem
parte da diversificação de produtos usados mais recentemente (Kampf, 2000).
Os substratos são utilizados no mundo todo para o cultivo de plantas,
principalmente no cultivo de flores e mudas de hortaliças, citros, espécies florestais,
e fumo, estando em franco desenvolvimento nas várias regiões do Brasil. As
indústrias produtoras de substratos utilizam materiais das mais diversas fontes,
existindo, portanto, uma grande diversidade de formulações com substratos ou seus
componentes, fornecendo diferentes características físicas e químicas que irão
influenciar na disponibilidade dos nutrientes, no manejo e monitoramento.
Substrato é o meio de desenvolvimento do sistema radicular, servindo de
suporte e podendo ser fonte de nutrientes. Pode ser formado por um único material
ou pela mistura de dois ou mais materiais como: fibra de coco, casca de pínus ou
casca de arroz carbonizada (Takane et al., 2010)
O tipo de mistura, bem como a proporção de componentes de diferentes
grupos, deve ser preparado objetivando o ajuste das propriedades físicas, uma
vez que as químicas, em geral, podem ser facilmente modificadas com práticas de
adubação e manejo de irrigação (Wendling et al., 2002).
Vários são os materiais que podem ser usados na composição do substrato
para produção de mudas de espécies florestais, como casca de arroz carbonizada,
serragem, turfa, vermiculita, composto orgânico, esterco bovino, moinha de carvão,
material de subsolo, bagaço de cana, acícula de pinus, areia lavada e diversas
misturas desses materiais (Costa et al., 2005). Entretanto, Guerrini & Trigueiro
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
71
(2004) afirmaram que se justifica o uso de, no máximo, três componentes em uma
mistura de substratos para propagação de mudas florestais. Essa afirmação é
reforçada pelos maiores custos e, consequentemente, menor viabilidade econômica
de um substrato com diversos componentes.
Para Fermino (1996), a elaboração de substratos como um mercado potencial
utilizando resíduos da agroindústria, já que podem fornecer matérias-primas para a
composição desses substratos.
A vemiculita é um dos principais componentes entre as misturas do substrato.
Quimicamente, é um silicato hidratado de alumínio, magnésio e ferro (Silva, 2006),
podendo ser encontrado no mercado em diferentes tipos granulométricos (extrafina,
fina, média e grossa). A inclusão da vermiculita expandida na composição dos
substratos aumenta sua capacidade de retenção de água, pois esse mineral absorve
até cinco vezes o seu volume em água. Além disso, contém também potássio e
magnésio disponíveis e possui elevada capacidade de troca catiônica (Filgueira,
2003).
A vermiculita é um mineral praticamente inerte, de estrutura variável, muito
leve, constituído de lâminas ou camadas justapostas, com grande aeração, alta
capacidade de troca catiônica e retenção de água. Pode ser usada pura ou em
misturas para promover maior aeração e porosidade a outros substratos menos
porosos. Outra aplicação que tem sido recomendada é na parte superior do tubete,
onde funciona como isolante térmico, diminuindo também a perda de água através
da evaporação (Wendling & Gatto, 2002).
Segundo Genro (2004), a vermiculta pode reter 350 litros de água por metro
cúbico, e pode conter 8% de K assimilável e 12% de Mg assimilável, sendo o seu
pH próximo de neutro de 7 a 7,2.
A fibra de coco se origina de desfibramento industrial das cascas de coco,
o qual gera um material leve e homogêneo, intercalado por fibrilas, de altíssima
porosidade total (94 - 96%) e elevada capacidade de aeração (20-30%). Essa
elevada porosidade total permite que a fibra de coco alie uma ótima aeração a uma
boa capacidade de retenção de água, cerca de três a quatro vezes o seu peso.
Apresenta, ainda, alta estabilidade física, pois se decompõe muito lentamente, e alta
característica de molhabilidade, isto é, não repele a água entre uma irrigação e outra,
o que traz grandes vantagens no manejo da irrigação para o produtor (Almeida,
2005). Segundo Wendling & Gatto (2002) a fibra de coco apresenta uma tendência
de fixar cálcio e magnésio e liberar potássio no meio e o seu pH é ligeiramente ácido
- 6,3-6,5.
O resíduo da casca de coco maduro vem sendo indicado como substrato
agrícola,
principalmente,
por
apresentar
uma
estrutura
física
vantajosa,
proporcionando alta porosidade e alto potencial de retenção de umidade, e por ser
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
72
biodegradável. É um meio de cultivo 100% natural, indicado para germinação de
sementes, propagação de plantas em viveiros e no cultivo de flores e hortaliças.
Em mistura com outros materiais ou pura, a fibra de coco tem uma demanda por
nitrogênio, que pode ser compensada pelo viveirista, via fertirrigação, e uso de
adubos de liberação lenta ou controlada. Quando é adequadamente processada,
a fibra de coco é pasteurizada, o que representa uma enorme vantagem para a
produção de mudas, por não se tratar de um material fossilizado (como as turfas)
nem compostado (como as cascas de pinus) (Malvestiti, 2003).
É preciso considerar que a fibra de coco, assim como a vermiculita, é quase
inerte, porém, em misturas equilibradas ajuda a formar um substrato coeso e ao
mesmo tempo naturalmente poroso, muito propício ao crescimento do sistema
radicial (Taveira, 2008).
Por meio da comparação da fibra de coco com outros tipos de substratos,
Carrijo et al. (2004), mostraram leve superioridade da fibra de coco na produção
comercial de tomate, produzindo aproximadamente uma tonelada a mais de frutos
comerciais que o pó de serra ou serragem em três anos de avaliação.
A utilização de composto orgânico de casca de Pinus spp., como meio de
crescimento das mudas, permite obter um resíduo orgânico resultante da colheita
florestal, evitando outros destinos possíveis desse material, como a queima em
caldeiras ou simplesmente como lixo. Essa utilização contribui, também, com a
devolução de nutrientes ao solo, ao realizar-se o plantio, assim como uma diminuição
na remoção de solo para produzir mudas (Pezzuti et al., 1999).
Segundo Hoppe et al. (2004), a casca de pinus é um material que quando
no estado cru, provoca problemas de deficiência de nitrogênio e de fitoxicidade. Por
isso, precisa passar pela compostagem. Sua densidade aparente é de 0,1 a 0,45
g.cm-3, a porosidade total é superior a 80%-85%, a capacidade de retenção de água
é baixa a média, sendo sua capacidade de aeração muito elevada e o pH varia de
medianamente ácido a neutro.
A casca de arroz carbonizada é resultante da combustão incompleta da
casca de arroz sob alta temperatura e condições de baixo oxigênio. É um produto
extremamente leve, estéril, de fácil manuseio, alta porosidade, boa aeração e baixa
capacidade de retenção de água (Wedling & Gatto, 2002).
Segundo Gonçalves & Poggiani (1996), a casca de arroz apresenta as
seguintes características: drenagem rápida e eficiente, exigindo constantes regas
quando usada pura; baixa capacidade de retenção de umidade; boa homogeneidade
no tamanho das partículas; baixa densidade; material biologicamente estéril e baixo
custo.
Esse material tem sido utilizado como substrato, pois é estável física e
quimicamente, sendo assim, mais resistente à decomposição. Isso também confere
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
73
a vantagem de o substrato ser utilizado no segundo ano de produção (Melo et al.,
2006).
Segundo Souza (1993), a casca de arroz carbonizada é considerada um
bom substrato para germinação de sementes e enraizamento de estacas por
apresentar as seguintes características: permite a troca de ar na base das raízes,
é suficientemente firme e densa para fixar a semente ou estaca, é leve e porosa
permitindo boa aeração e drenagem, tem volume constante seja seca ou úmida, é
livre de plantas daninhas, nematóides e patógenos, não necessita de tratamento
químico para esterilização, em razão de ter sido esterilizada com a carbonização.
Ao avaliar as alterações das propriedades físico-hídricas de substratos
comerciais, misturados com a casca de arroz carbonizada em diferentes proporções,
Klein et al. (2002), observaram que esta pode ser utilizada para melhorar as
propriedades físico-hídricas de substratos, propiciando melhor porosidade.
2.9 Resíduos agroindustriais para produção de subtratos
A geração de resíduos e subprodutos é inerente a qualquer setor produtivo.
(Embrapa, 2008), entretanto esses resíduos e subprodutos não podem ser
considerados como lixo, pois possuem valor econômico agregado por possibilitarem
reaproveitamento no próprio processo produtivo (Pelizer et al., 2007).
A crescente pressão ambientalista leva as indústrias a buscarem alternativas
para o destino dos resíduos gerados pelos processos industriais. Os custos de
construção e manutenção de aterros industriais e os riscos ambientais que estes
podem representar têm aumentado o interesse de vários tipos de indústrias em
estudar a viabilidade de aplicação de resíduos na agricultura (Amaral et al., 1996).
Entre os resíduos agroindustriais com potencial de utilização como substrato,
destacam-se o bagaço-de-cana e a torta de filtro. Estes resíduos encontram-se em
alta disponibilidade nas regiões de cultivo de cana-de-açúcar e já foram testados
com sucesso na produção de mudas de espécies florestais e frutíferas (Leles et al.,
2000, Chaves et al., 2004; Serrano et al., 2006).
Resíduos de agroindústrias são recursos orgânicos em potencial para
obtenção de compostagem e, consequentemente, adubação devido à sua riqueza
em nutrientes, melhorando as propriedades físicas, físico-químicas e biológicas do
solo, refletindo em aumento da produtividade das culturas (Sharma et al., 1997).
De acordo com Brito (2006), a partir da década de 1990 até os dias atuais,
o processo de utilização de resíduos orgânicos para geração de fertilizantes tem
despertado um novo interesse, principalmente pela falta de locais para destinação
correta desses resíduos e devido às pressões exercidas para utilização de
métodos com menor impacto ambiental, visando o atendimento aos princípios do
desenvolvimento sustentável.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
74
No tocante aos resíduos, os principais fatores que afetam sua aplicação
ao solo são: a composição química, características físicas, aspectos sanitários,
quantidade gerada e o regime de liberação. Em relação ao solo, deve-se considerar,
prioritariamente, todas aquelas características responsáveis pela capacidade do
solo em desativar e estabilizar os resíduos, através de mecanismos físicos, químicos
e biológicos. Entre essas podese citar: textura, estrutura, permeabilidade, pH e a
capacidade de troca catiônica.
O composto orgânico de resíduos apresenta boa capacidade com relação às
melhorias das características físicas, químicas e biológicas do solo, causando efeitos
positivos no crescimento e desenvolvimento de plantas. O êxito no estabelecimento
de uma cultura depende de vários fatores, entre os quais se podem destacar a
qualidade das sementes e a escolha e manejo correto do substrato (Backes &
Kampf, 1991).
Para serem utilizados como substrato, os compostos devem possuir boas
propriedades físicas, como alta capacidade de reter a umidade e drenar o excesso
de água (Corti & Crippa, 1998). Devem, também, promover de forma adequada o
fornecimento de oxigênio e a eliminação do CO2 (Wrap, 2004).
De acordo com Kiehl (1998), a qualidade do composto pode ser analisada
de acordo com as diferentes referências: a qualidade vista pelo produtor, a exigida
pela legislação e a vista pelo agricultor. Porém, em todas essas esferas, há, sem
exceção, a preocupação comum no que diz respeito à umidade, à concentração de
NPK e matéria orgânica e ao conteúdo de inertes (Kiehl, 2004).
A utilização de resíduos da agroindústria, disponíveis regionalmente, como
componente para substratos pode propiciar a redução de custos, assim como
auxiliar na redução da poluição decorrente do acúmulo desses materiais no meio
ambiente (Fermino, 1996).
Segundo Wendling et al., (2002), não se conhece nenhum substrato de uso
universal, pois cada espécie ou grupo de espécies vegetais apresenta características
fisiológicas próprias, ou seja, existem espécies que tem preferencias por uma
determinada faixa de pH, salinidade ou outro fator limitante ao seu crescimento.
Substratos produtivos devem ser férteis, porém um substrato fértil pode não ser
necessariamente produtivo, pois há que se considerar outras características
(Wendling et al., 2002).
Segundo Gonçalves et al. (2000), os substratos adequados para a
propagação de mudas através de semente ou estaca podem ser obtidos a partir
da mistura de 70 a 80 % de um componente orgânico (esterco bovino, casca de
eucalipto ou pinus, bagaço de cana, composto orgânico de lixo urbano, húmus de
minhoca e outros resíduos), com 20 a 30 % de um componente usado para elevar
a macroporosidade (casca de arroz carbonizada, cinza de caldeira de biomassa,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
75
bagaço de cana carbonizado).
Utilizando biossólido proveniente de uma estação de tratamento de esgoto,
casca de arroz carbonizada e um substrato comercial, Trigueiro & Guerrini (2003),
constatou que doses iguais ou superiores a 70% de biossólidos foram prejudiciais
ao desenvolvimento das mudas de Eucalyptus grandis; a dose contendo 50%
de biossólido mais 50% de casca de arroz carbonizada apresentou os melhores
resultados, semelhante ao substrato comercial concluindo que o uso deste biossólido
é viável, do ponto de vista econômico/ambiental.
52 misturas, constituídas por vermiculita, moinha de carvão vegetal,
composto orgânico (esterco bovino - 40% e capim gordura - 60%), turfa, terra de
subsolo e esterco bovino. A espécie estudada foi o Eucalyptus grandis e o parâmetro
pesquisado foi a altura da parte aérea. O melhor resultado foi constituído pela
mistura de composto orgânico (80%) e moinha de carvão (Gomes et al., 1985)
Para Maia (1999), testando alguns dos resíduos gerados no processo de
produção de celulose e papel (casca de pinus e lodo proveniente das estações
de tratamento de efluentes industriais), para a produção de Pinus, preparou 14
substratos contendo estes Componentes com diferentes proporções de solo,
constatou-se a presença do solo no substrato é dispensável e que o lodo, devido
provavelmente à sua baixa porosidade, não deve ser utilizado isoladamente, apesar
da sua relativa fertilidade. A mistura com casca de pinus melhorou os resultados,
pois aumentou a porosidade e a aeração do substrato.
2.10 Fertilizante organomineral
O fertilizante organomineral possui características dos fertilizantes, tanto
orgânicos quanto minerais. De acordo com Capítulo III da Instrução Normativa nº 25,
de 23 de julho de 2009, seção V, art. 8º, § 1º, os organominerais devem apresentar,
no mínimo: 8% de carbono orgânico; capacidade de troca catiônica de 80 mmolc
kg-1 ; 10% de macronutrientes primários isolados (nitrogênio, fosfóro e potássio) ou
em misturas (NP, NK, PK ou NPK); 5% de macronutrientes secundários e umidade
máxima de 30%. Essa atualização na legislação foi de grande importância para
os produtores, pois assim há uma garantia mínima do produto que será adquirido,
auxiliando no planejamento da adubação.
O adubo organomineral é viável tanto para os pequenos e médios quanto
para os grandes produtores e empresários rurais. Além do benefício financeiro com
a redução de gastos, e o benefício físico e biológico do solo, com o maior aporte
de nutrientes e matéria orgânica, a adubação organomineral também tem uma
vantagem ambiental. Este adubo é produzido a partir de resíduos orgânicos como
restos de culturas e subprodutos da indústria (Royo, 2010).
São vários os benefícios para o solo com a aplicação de adubos orgânicos, pois
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
76
eleva a capacidade de troca de cátions (CTC), o pH, o transporte e disponibilidade de
micronutrientes, bem como reduz os teores de manganês, alumínio tóxico e acidez
do solo (Rodrigues, 1994; Cardoso & Oliveira, 2002). Apesar de essa interação estar
relacionada ao solo, as plantas são beneficiadas diretamente por essas alterações
químicas provenientes da adubação orgânica.
Com relação às características físicas do solo, a adubação orgânica aumenta
a retenção de água durante a seca e a drenagem em períodos chuvosos, reduzindo
os riscos de enxurrada e, consequentemente, de erosão (Taiz & Zeiger, 2009). Isso
é possível devido ao aumento da porosidade total, à redução da densidade e do
grau de compactação do solo e à resistência a erosão hídrica e eólica (Celik et al.,
2004; Leroy et al., 2008). Além disso, esse tipo de adubação aumenta a população
da microflora e da microfauna, elevando assim a atividade microbiológica (Costa et
al., 1986).
A adição de adubos orgânicos aumenta a respiração microbiana, sendo esse
fator um indicativo da atividade microbiológica do solo. Contudo, vale ressaltar que
diferentes compostos orgânicos influenciam de diferentes formas na elevação da
microbiota do solo (Severino et al., 2004).
A base do adubo é a compostagem de matéria orgânica que é a mistura de
sobras da atividade agropecuária como bagaço de cana, palha de café, palha de
milho, restos de horta agrícola, serragem e cama de frango. Essa matéria-prima é
misturada à fontes minerais e fica pronta para ser aplicada diretamente no solo. Um
grande problema enfrentado pelos produtores antes era que essa compostagem
precisaria de muito tempo para ficar pronta, cerca de três meses.
O uso do
acelerador de decomposição proporcionou, em cerca de dez dias, o processo de
compostagem. Muito vantajoso, em comparação ao período convencional de três
meses de compostagem (Royo, 2010).
REFERÊNCIAS
ABRAF - Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. Anuário Estatístico da
ABRAF. Florestas Plantadas no Brasil. Brasília, 2011. Disponível em <http://www.abraflor.org.
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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 7
85
doi
CAPÍTULO 8
CONTROLE DE QUALIDADE DE FOLHAS DE
AMOREIRA (MORUS ALBA L.) COMERCIALIZADAS
NA CIDADE DE CAMPO GRANDE -MS
Data de aceite: 01/10/2020
Data de submissão: 06/07/2020
Lilliam May Grespan Estodutto da Silva
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
Campo Grande - Mato Grosso do Sul
http://lattes.cnpq.br/953551489855255
Eduarda Pimenta da Silva
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
Campo Grande - Mato Grosso do Sul
http://lattes.cnpq.br/5446059447463513
Higor Cristaldo da Silva
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
Campo Grande - Mato Grosso do Sul
http://lattes.cnpq.br/6048301841084634
Karla de Toledo Candido Muller
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
Campo Grande - Mato Grosso do Sul
http://lattes.cnpq.br/ 4802739381481846
Ana Paula de Araújo Boleti
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
Campo Grande - Mato Grosso do Sul
http://lattes.cnpq.br/6133307424221004
Ludovico Migliolo
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
Campo Grande - Mato Grosso do Sul
http://lattes.cnpq.br/0805599101682606
Devido às suas propriedades antioxidantes,
antimicrobianas e anti-hiperglicêmicas, as folhas
de Morus alba L. são usadas popularmente para
fins terapêuticos na forma de chá pela população
local. Neste estudo, realizamos o controle da
qualidade físico-química e microbiológica das
folhas de M. alba, comercializado em cinco
localidades da cidade de Campo Grande
- MS, Brasil. Parâmetros como análise de
etiquetas e embalagens; análise macroscópica
e
características
organolépticas;
análise
fitoquímica; controle de qualidade físico-química
e microbiológica utilizando farmacopéico e não
farmacopéico foram métodos utilizados. Entre as
amostras submetidas à análise de embalagens
e rótulos, todas estavam em desacordo com as
especificações. Nas análises macroscópicas e
organolépticas, as amostras B e C mostraram
organismos que não são inerentes às folhas M.
alba. A análise fitoquímica mostrou a presença
de flavonoides, saponina, triterpenos e alcaloides
em todas as amostras. Os resultados do controle
físico-químico e microbiológico de bactérias
aeróbicas foram de acordo com as especificações
e, para fungos, o resultado foi superior ao limite
recomendado. Diante disso, este estudo destaca
a importância de um rigoroso controle de
qualidade das plantas medicinais.
PALAVRAS-CHAVE: Planta medicinal, controle
microbiológico, análise fitoquímica, qualidade
dos produtos.
RESUMO: Os produtos terapêuticos precisam
passar por rigorosa análise de controle de
qualidade para garantir um produto seguro.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
86
QUALITY CONTROL OF MULBERRY LEAVES (MORUS ALBA L.)
COMMERCIALIZED IN THE CITY OF CAMPO GRANDE –MS
ABSTRACT: Therapeutic products need to undergo rigorous quality control analysis in
order to ensure a safe product. Dueto its antioxidant, antimicrobial and antihyperglycemic
properties leaves Morus alba L. are used popularly for therapeutic purposes in the
form of tea by the local population. In this study, we perform the physicochemical
and microbiological quality control of the leaves of M.alba,commmercialized in five
locations in the city of Campo Grande – MS, Brazil. Parameters aslabel and packaging
analysis; macroscopic analysis and organoleptic characteristics; phytochemical
analysis; physicochemical and microbiological quality control using pharmacopoeic
and non-pharmacopoeic were methods used. Among the samples submitted to the
packaging and label analysis, all were in disagreement with the specifications. In
macroscopic and organoleptic analyzes samples B and C showed organisms that are
not inherent to the leaves M. alba. The phytochemical analysis showed the presence
of flavonoids, saponin, triterpenes and alkaloids in all samples. The results of the
physicochemical and microbiological control for aerobic bacteria were according to the
specifications and for fungi the result was above the recommended limit. Given this,
this study highlights the importance of strict quality control of medicinal plants.
KEYWORDS: Medicinal plant, microbiological control, phytochemical analysis,
products quality.
1 | INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define plantas medicinais como
“qualquer planta que possua substâncias em um ou mais órgãos que possam ser
utilizados para fins terapêuticos” (OMS, 2002). No Brasil, uma planta medicinal ou
suas partes, que passa pelos processos de coleta, estabilização e secagem, e pode
ser inteira, triturada ou pulverizada, de acordo com a Farmacopeia Brasileira e a
Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 48 , de 16 de março de 2004, da Agência
Nacional de Vigilância Santaria (Anvisa).
O uso de plantas medicinais é tão primitivo quanto o surgimento das primeiras
organizações humanas na Terra. Esses grupos desenvolveram a ciência de aplicar a
atividade de cura a essas plantas. Assim, essa prática estava sendo transferida de
geração em geração, tornando-se uma tradição (Rossato et al., 2011, Dutra et al.,
2016). Assim, o uso de plantas medicinais pela população está aumentando devido
ao baixo custo e fácil acesso, além de fatores culturais que têm alta influência no uso
intensivo e irracional desses medicamentos (Dutra et al., 2016).
Portanto, torna-se necessário o controle da qualidade desses produtos,
pois pode causar riscos à saúde se inadequadamente preparado, armazenado e
utilizado (Anvisa, 2010). Os riscos à saúde causados pela má qualidade de um
produto são enormes, são frequentes as reações adversas e interações com outros
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
87
medicamentos alopáticos (Miranda et al., 2012). A supervisão eficaz de plantas
medicinais não apenas garante um produto de qualidade, mas também a segurança
da saúde dos usuários. Assim, os parâmetros analisados devem atender aos critérios
exigidos pela legislação e monografia vigentes (Marone et al. 2007).
Morus alba é uma planta nativa da Ásia, conhecida como “amoreira branca”,
introduzida no Brasil e muito popular do ponto de vista medicinal (Gryn-Rynko et al.,
2016) Na medicina tradicional chinesa é usada no tratamento do colesterol, bem
como atividades sedativas, expectorantes, analgésicas, anticâncer, antioxidantes e
antimicrobianas (Aw & Dacayanan, 2012, Arfan et al., 2012, Gryn-Rynko et al., 2016).
Em todo o mundo, as folhas de M. alba são conhecidas por serem fitoquímicas
ricas, suas propriedades antidiabéticas, antibacterianas,
cardiovasculares,
hipolipidêmicas, antioxidantes, antiaterogênicas e anti-inflamatórias (Devi et al.,
2013, Chan et al., 2016, Gryn-Rynko et al., 2016, Yimam et al., 2019).
Vale ressaltar que o chá de folhas de M. Alba é preparado a partir de
materiais frescos ou secos na forma de infusão (Castellani, 1999). O objetivo do
presente estudo foi realizar um controle de qualidade físico-química e microbiológica
de folhas de M. alba, comercializadas em cinco locais da cidade de Campo Grande
- MS, Brasil.
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Planta
Cinco amostras foram obtidas aleatoriamente de folhas de Morus alba L., em
diferentes estabelecimentos de Campo Grande - MS. As amostras foram classificadas
em A, B, C, D e E, que correspondem, respectivamente, à amostra adquirida em
farmácia de manipulação, supermercado municipal, vendedor ambulante, loja de
produtos naturais e mercado de bairro. Os experimentos foram realizados nos
laboratórios de bromatologia, farmacognosia e microbiologia do bloco “Biosaúde” da
Universidade Católica Dom Bosco - UCDB. Para maior confiabilidade e resolução
dos dados, todas as análises seguiram metodologias específicas e estudos foram
realizados em triplicata.
2.2 Análise das etiquetas e embalagens
Todas as amostras foram submetidas a análises de embalagem que incluíam
os rótulos, os quais foram observados em conformidade com o RDC N °. 10 (Anvisa,
2010).
2.3 Análise macroscópica e característica organoléptica
As amostras foram submetidas a quarteamento e analisadas com auxílio de
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
88
uma lupa eletrônica, observando corpos estranhos. Os materiais estranhos foram
então classificados em partes do organismo ou organismo do qual as folhas de M.
Alba pertencem e aquelas que não são inerentes às folhas.
2.4 Controle de qualidade físico-química das folhas de M. Alba
2.4.1
Determinação do valor do pH
Inicialmente as folhas foram reduzidas no fragmento. Um processo de infusão
extrativa preparou uma solução a 1% (p/v) das folhas de M. alba por 5 minutos em
placa de aquecimento. A solução foi deixada esfriar por 15 minutos e depois filtrada
usando algodão. O pH da solução foi verificado em um medidor de pH previamente
calibrado (Brasil, 2010).
2.4.2
Determinação do teor de cinzas
Os níveis de cinzas totais e perdas por secagem foram determinados de
acordo com os métodos descritos pela Farmacopeia Brasileira (2010), 2,0 g de folhas
de M. alba foram incineradas e subsequentemente calcinadas em um forno mufla
aquecido a 550 °C até a cinza. Em seguida, foi deixado esfriar em um exsicador e
a massa da piscina foi determinada. Foi calculado o percentual de cinzas totais em
relação à massa das folhas (Brasil, 2010).
2.4.3
Determinação de cinzas insolúveis em ácido
Os resíduos obtidos da determinação do total de cinzas (análise anterior)
foram fervidos durante 5 minutos com 25 mL de ácido clorídrico (~70 g/L); coletar a
matéria insolúvel em um cadinho sinterizado ou em um papel de filtro sem cinzas,
lavar com água quente e inflamar a cerca de 500 °C até um peso constante. Calcular
o conteúdo em mg de cinza insolúvel em ácido por g de material seco ao ar (Brasil,
2010).
2.4.4
Determinação do teor de umidade
O teor de umidade das folhas dessecadas foi calculado (Brasil, 2010), 4,0 g
de folhas de M. alba foram incineradas e subsequentemente calcinadas a 105 °C
por 5 horas. Após esse período, as pesagens foram realizadas (Brasil, 2010).
2.4.5
Análise granulométrica
Para padronizar o tamanho das partículas em pó das folhas, 15 g de amostra
foram submetidas por passagem através de peneiras correspondentes de malha de
0,150; 0,250; 0,300; 0,850 e 1,18 mm e o coletor usando um analisador de tamanho
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
89
de partícula por 30 minutos. Após esse processo, as frações foram removidas das
peneiras e coletor e quantificadas quanto às suas proporções (Brasil, 2010).
2.4.6
Análise Fitoquímica
Na caracterização fitoquímica da planta foram realizados testes clássicos de
identificação dos principais metabólitos secundários: inicialmente foi preparado um
extrato etanólico, no qual 1 g das folhas das amostras foram trituradas, o extrato foi
preparado na proporção de 1:25 com álcool a 96% . Após, a mistura foi deixada em
repouso e o extrato foi filtrado, onde foi preparado para análise.
1.
esteroides / triterpenos (reação de Lieberman-buchard): 2 mL do extrato,
2 mL de clorofórmio foram adicionados a um tubo de ensaio e, em
seguida, a solução foi pingada em um funil de algodão com sulfato de
sódio anidro e, em seguida, após a transferência de 1 mL de filtrado para
um tubo de ensaio juntamente com 3 gotas de ácido sulfúrico e agitado,
se a solução for positiva, é observada a formação de azul para verde.
2.
Flavonoides (reação de cianidina ou Shinoda, reação de cloreto férrico
e reação de cloreto de alumínio): foram adicionados 2 mL de extrato,
0,5 cm de fita de magnésio e 2 mL de ácido clorídrico concentrado. ,
esperava-se ferver, se positivo, for observada a formação de marrom a
vermelho.
3.
índice de saponinas e espuma: 2 mL de extrato, 2 mL de clorofórmio, 5
mL de água destilada, homogeneizada, filtrada e agitada no vórtex por 3
minutos em um tubo de ensaio. espumando, espuma densa.
4.
taninos (reação com cloreto férrico e acetato de chumbo): foram
adicionados 2 mL de extrato da solução alcoólica de cloreto de ferro,
agitada em vórtice, se for observada formação positiva. do precipitado
azul aos taninos solúveis ou dos taninos verdes aos condensados.
5.
alcaloides (solúveis em meio ácido e meio básico: reação de Dragendorff):
foram adicionados 2 mL de extrato a 1% de hidróxido de sódio, 2 mL de
água destilada, 2 mL de clorofórmio a um funil de separação. A fração
aquosa foi descartada e foram adicionados ácido clorídrico a 1% e 2
mL de água destilada. A fração clorofórmio foi descartada e o reagente
Dragendorff foi adicionado e foi observada a formação de precipitado
insolúvel e floculento (Simões, et al., 2017).
2.5 Controle de qualidade microbiológica
O controle de qualidade microbiológica foi realizado de acordo com a 5ª
edição da Farmacopeia Brasileira (Brasil, 2010), conforme metodologia de análise
de produtos não esterilizados. A análise foi adaptada porque não foi realizada a
busca por microrganismos mais específicos exigidos pelo compêndio farmacopéico.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
90
2.5.1
Número total de microrganismos e fungos mesofílicos
A análise foi realizada por diluições: 1:10, 1:100 e 1:1000 da amostra em
tampão fosfato pH 7,2. Após a diluição, as amostras foram submetidas a vórtice.
Para a contagem do número total de bactérias, foi utilizado o ágar Müeller Hinton
e, para fungos e ágar de levedura, o PDA. Com a alça bacteriológica, 10 µL das
amostras diluídas foram inoculadas em cada uma das placas de Petri pela técnica
de depleção de estrias. As placas contendo ágar Müeller Hinton foram incubadas
a 35 °C por 3 dias e as placas contendo PDA Agar a 25 °C por 7 dias. Após o
crescimento, os números de unidades formadoras de colônias por grama (UFC/g)
de amostra foram contados e calculados.
2.6 Análise de dados
Os resultados foram apresentados em tabelas para melhor interpretação dos
dados obtidos, e os dados foram comparados com as especificações recomendadas
pela legislação vigente. Assim, aprovando ou desaprovando as amostras em
questão, quanto à sua qualidade
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre as 5 amostras obtidas de M. alba, apenas as amostras A, B e E foram
submetidas à análise de etiquetas e embalagens, pois as demais amostras C e
D são provenientes de vendedores ambulantes, que dispensam seus produtos
livremente nas calçadas e venda. a granel e não seguem os parâmetros exigidos
pela legislação vigente, expressos na Tabela 1 (Anvisa, 2010). Todas as amostras
foram reprovadas após análise de rótulo e embalagem. As amostras C e D não
apresentaram dados exigidos pela RDC N ° 10 (Anvisa, 2010).
A amostra A não mostrou indicação terapêutica, reações adversas e contraindicação. No entanto, era o mais adequado dentro dos requisitos em comparação
com as outras amostras. A amostra B não forneceu informações sobre o farmacêutico
responsável e número de CRF (conselho regional de farmácia), indicação terapêutica,
dosagem, modo de uso, reações adversas e contra-indicação. A amostra E, dentro
do parâmetro e comparada com as demais amostras, foi a que apresentou menos
dados necessários, apenas a presença do nome comercial, lote, validade, data de
fabricação e códigos de barras foi observada, faltando as demais informações.
De acordo com os resultados expressos na Tabela 1, foi possível concluir
que todas as amostras analisadas não apresentaram integridade em relação
aos dados solicitados, sendo consequentemente reprovadas nas análises de
rótulos e embalagens. No estudo de Braghini et al. (2015), todas as 40 amostras
analisadas continham o nome comercial, o nome e o endereço do laboratório,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
91
CNPJ, farmacêutico responsável e registro no conselho de classe, lote, validade e
data de fabricação, peso e nomenclatura botânica de cada produto, demonstrando
progresso na cumprimento da legislação. neste estudo, as informações sobre a
forma farmacêutica e a via de administração estavam presentes em apenas 16
amostras e apenas 8 amostras possuíam número de registro na Anvisa, posologia
individualizada e possíveis riscos de ingestão (Braghini et al., 2015).
De acordo com os resultados e informações da Tabela 1, observou-se
que nenhuma das cinco amostras apresentou informações sobre indicações
terapêuticas, reações adversas e contra-indicações. Mostrou os riscos de exposição
da população, pois a falta dessas informações deixa o consumidor suscetível a
vários problemas de saúde.
As análises macroscópicas e organolépticas das amostras A, D e E mostraram
apenas partes do organismo ou organismo que pertencem à planta. As amostras B
e C exibiram organismos que não são inerentes à planta. Foi possível identificar
que as amostras B e C foram reprovadas de acordo com a Farmacopeia Brasileira
(Brasil, 2010), uma vez que requer a isenção de contaminação por fungos, insetos
e outros animais. Nessas duas amostras, a presença desses contaminantes foi
identificada e em uma das amostras o inseto estava vivo.
Observou-se a presença de solo, pequenos fragmentos de plástico,
possivelmente provenientes das embalagens e fios de cabelo, como conseqüência
da não utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e das boas
práticas do manipulador, responsável pela higiene e envasamento de plantas. A
maioria das amostras, principalmente de uma loja de produtos naturais, vendida a
granel, apresentou um grande número de pedúnculos capitulares. Os pedúnculos
não contêm constituintes ativos e contribuem para aumentar o peso da amostra,
causando danos ao consumidor.
Os resultados da análise físico-química de controle de qualidade e da
análise fitoquímica das folhas de M. alba são apresentados na Tabela 2. Dessa
forma, verificou-se que todas as amostras apresentaram conformidade quanto aos
parâmetros de qualidade exigidos. Na análise fitoquímica preliminar, foi identificada a
presença de flavonóides, saponinas, triterpenos e alcalóides em todas as amostras.
A análise granulométrica visa determinar o grau de divisão da amostra
medindo o tamanho médio das partículas e a superfície de contato disponível, para
que haja interação com o solvente, essencial para preparações intermediárias de
outras formas farmacêuticas líquidas, como corantes e extratos (Cunha et al. , 2017).
Seguindo os requisitos de descrição exigidos, as amostras A e B foram classificadas
como poeira grossa, enquanto as amostras C, D e E foram classificadas como pós
muito grosseiros. Isso é desejável, pois nos processos extrativos, pós muito finos
favorecem a formação de agregados de poeira que prejudicam a penetração de
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
92
solventes e, consequentemente, a extração (Severo et al., 2013).
A análise do teor de umidade mostra grande importância na garantia da
qualidade das folhas de M. alba, pois altos níveis desse conteúdo podem favorecer
o crescimento microbiano e até promover alterações nos componentes das plantas
devido a reações de hidrólise (Marques et al., 2010). Todas as amostras foram
aprovadas para esta análise, apresentando teor de umidade dentro do limite
estabelecido por Sonaglio et al., (2007). Através dos resultados expressos na Tabela
2, foi possível estabelecer que todas as amostras não excederam o teor máximo de
14% do total de cinzas, sendo aprovadas para esta análise (Brasil, 2010).
O teor de cinzas permite a verificação de impurezas inorgânicas não voláteis
que podem ser o produto do metabolismo da planta ou componentes presentes como
contaminantes de fármacos (Simões et al., 2010). A amostra C foi a que apresentou
maior teor em relação às demais amostras, sendo indicativa de inadequação durante
os procedimentos de coleta, secagem e transporte dessa amostra, apresentando-se,
contudo, dentro do limite recomendado pela Farmacopeia Brasileira (BrasiL, 2010).
O teor recomendado de cinzas insolúveis em ácido pela Farmacopeia
Brasileira (Brasil, 2010) é de no máximo 3%, todas as amostras obtiveram resultados
abaixo do limiar requerido. Assim, as amostras foram aprovadas, garantindo que
não apresentem contaminação por materiais estranhos, como sílica e constituintes
de sílicos, no fármaco vegetal (Couto et al., 2009).
Os resultados do teste de pH dos extratos da amostra mostraram que as
amostras A, B e D têm um caráter mais neutro, ao contrário da amostra C resultou
em um caráter básico e a amostra E apresentou um caráter ácido. Essa diferença
nos resultados entre as amostras pode ser devida à presença de alguns compostos
ácidos ou básicos do material vegetal. Fatores como o pH e a presença de produtos
químicos contaminantes podem afetar a qualidade do medicamento, influenciando
sua estabilidade (Pereira, 2009).
A análise fitoquímica mostrou a presença de flavonóides, saponina,
triterpenos e alcalóides em todas as amostras. A presença de flavonóides também
foi apresentada nos estudos desenvolvidos por Raman et al. (2016) após avaliação
do teor de flavonóides nos frutos de M. alba.
O estudo de Silva et al. (2017) relataram a presença de saponinas e
alcalóides, semelhante aos resultados deste estudo. No entanto, este mesmo
estudo confirmou a presença de taninos, o que não foi identificado no presente
estudo. Essa divergência de metabólitos secundários pode ser explicada pelo fato
de existirem vários tipos de amoreira e também por fatores ontogenéticos como
clima, temperatura, solo, região, entre outros que interferem significativamente nos
ativos dessas plantas.
Os resultados da análise microbiana mostraram que as amostras não estavam
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
93
de acordo com as especificações da Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 10
(Anvisa, 2010), conforme mostrado na Tabela 3. Observou-se que, mesmo com
o crescimento de bactérias aeróbias, as amostras apresentado dentro dos limites
de especificação. No entanto, as amostras falharam na especificação exigida para
fungos, apresentando um limite superior aos padrões impostos.
A contaminação por fungos pode levar à destruição, alteração dos ingredientes
ativos e à produção de substâncias tóxicas. Como os fungos podem se espalhar
pelo ar atmosférico, pode haver contaminação das plantas antes e após a colheita,
bem como durante o processamento (Carvalho, et al., 2009).
As metodologias adotadas foram adequadas para avaliar a qualidade das
folhas de M. alba. Todas as análises realizadas neste estudo são importantes e
devem ser recomendadas para o controle de qualidade das folhas de M. alba,
comercializadas em Campo Grande - MS, garantindo que o consumidor esteja
utilizando produtos isentos de fatores. , o que pode representar riscos para sua
saúde.
4 | CONCLUSÃO
Os resultados apresentados mostraram que as folhas de M. alba
comercializadas na cidade de Campo Grande-MS apresentam qualidade referente
aos aspectos físico-químicos e microbiológicos, garantindo a segurança do
consumidor. No entanto, vale ressaltar que altos resultados de contaminação por
fungos podem causar efeitos nocivos à saúde do consumidor, pois são produtores
de micotoxinas e, dependendo da forma de preparação do chá, podem persistir.
Todas as amostras falharam na análise da rotulagem das embalagens, apontando
que há falta de informações para o consumidor, deixando-o suscetível a vários riscos
à saúde. A falta de supervisão rigorosa a esse respeito pode justificar o resultado
apresentado, pois esse comportamento foi observado em outros estudos, o que
indica a ausência de uma vigilância mais presente. Algumas amostras mostraram
contaminantes macroscópicos, como cabelos, insetos e plásticos.
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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
96
PARÂMETROS
A
B
C
D
E
Nome comercial
S
S
N
N
S
Número do registro na Anvisa
S
S
N
N
N
Nome do Lab. endereço
S
S
N
N
N
CNPJ
S
S
N
N
N
Farmacêutico responsável e nº CRF
S
N
N
N
N
Lote, validade e data de fabricação
S
S
N
N
S
Peso ou volume
S
S
N
N
N
Indicação Terapêutica
N
N
N
N
N
Posologia e método de uso
S
N
N
N
N
Reações adversas e contra indicações
N
N
N
N
N
Cuidados de conservação
S
S
N
N
N
Parte da planta usada
S
N
N
N
N
Nomenclatura botânica
S
N
N
N
N
Forma farmacêutica e rota de
administração
S
N
N
N
N
Código de barras
S
S
N
N
S
Tabela 1 –Análise de etiquetas e embalagens de folhas de M. alba.
Nota: S –Mostra os resultados necessários, N –Não mostra os dados requeridos.
Fonte: ANVISA, RDC 10/2010.
Tabela 2. Resultados da análise físico-química de controle de qualidade e análise
fitoquímica de folhas de M. alba
Fonte: * Farmacopeia Brasileira, 5th edition (2010); ** Sonaglio et al., (2007).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
97
Tabela 3 – Análise Microbiológica de folhas de M. alba.
Fonte: Anvisa, RDC 10/2010.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 8
98
doi
CAPÍTULO 9
DIEFFENBACHIA SCHOTT. E A SAÚDE PÚBLICA:
ETNOTOXICOLOGIA E ACIDENTES DOMÉSTICOS
COM PLANTAS NA ZONA OESTE DA CIDADE RIO
DE JANEIRO
João Carlos da Silva
Data de aceite: 01/10/2020
Luiz Gustavo Carneiro-Martins
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
de Janeiro
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/4105787837579061
Karen Lorena Oliveira-Silva
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
de Janeiro
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/3119214959675945
João Gabriel Gouvêa-Silva
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
de Janeiro
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/5121790934571369
Jeferson Ambrósio Gonçalves
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
de Janeiro
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/2215688672248520
Claudete da Costa Oliveira
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
de Janeiro
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/2542263326143652
Ygor Jessé Ramos
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
de Janeiro
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/3271824948370332
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
de Janeiro
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/3139601494783305
Sonia Cristina de Souza Pantoja
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
de Janeiro
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/6332069617001501
RESUMO: Este estudo objetiva identificar o
conhecimento popular de moradores da Zona
Oeste na cidade do Rio de Janeiro sobre a
toxicidade dos vegetais conhecidos popularmente
como “comigo-ninguém-pode”, que se inserem
como algumas espécies do gênero Dieffenbachia
spp. Foi realizada uma pesquisa de abordagem
direta por meio de aplicação de questionários,
sendo o grupo amostral consistido da seleção
aleatória de moradores de bairros da Zona
Oeste do Rio de Janeiro. Entrevistamos 354
pessoas, sendo a maioria de 67% representada
pelas mulheres. Foi possível observar que dos
entrevistados, 53% não possuem conhecimento
de plantas tóxicas, porém 73% reconheceram
espécies do gênero Dieffenbachia spp. Dos
entrevistados, 47% responderam possuir algum
conhecimento sobre a toxicidade desta planta,
porém apenas 2% relataram acidentes com
estes vegetais. Quando questionados sobre a
possibilidade de um eventual acidente, 29%
informaram que existe a possibilidade de ocorrer
acidentes. Apesar de possuírem conhecimento
basal a despeito desse vegetal, houve poucos
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
99
casos de acidentes ou casos em que tenham tido notícia. Pode-se afirmar que a
maioria dos entrevistados subestima a possibilidade de um acidente ou não o
consideram perigoso a ponto de causar acidentes. Os entrevistados possuem pouco
conhecimento sobre a toxicidade da planta, mesmo acreditando em informações
equivocadas a despeito desse vegetal, o que potencialmente pode promover aumento
dos casos de intoxicação e consequentemente suas subnotificações.
PALAVRAS-CHAVE: Plantas Tóxicas; Toxicidade Vegetal; Dieffenbachia; comigoninguém-pode.; Subnotificação.
DIEFFENBACHIA SCHOTT. AND PUBLIC HEALTH: ETHNOTOXICOLOGY
AND DOMESTIC ACCIDENTS WITH PLANTS IN THE WEST ZONE OF
RIO DE JANEIRO
ABSTRACT: This study aim of identify the popular knowledge of the residents of
the West Zone in the city of Rio de Janeiro about the toxicity of the plant popularly
known as “Comigo-ninguém-pode”, that includes some species of Dieffenbachia spp.
Research of direct approach was realized applying questionnaires and the sample
group consisted on the random selection of the residents of the West Side of Rio
de Janeiro. We interviewed 354 people, with the women representing the majority
of 67%, of the interviewed, 53% don’t possess the knowledge about toxic plants, but
73% recognized species of Dieffenbachia spp. of the interviewed, 47% answered to
have some knowledge about the toxicity of this plant, but only 2% related accidents.
When they were asked about a possibility of an accident, 29% answered that the
possibility exists. Even though they have a basic knowledge about this plant, only a
few cases of accident or cases that they have known about. Can be affirmed that the
majority underestimates the possibility of an accident or don’t even consider the plant
dangerous enough to cause accidents. The interviewed have a vague idea about the
toxicity of this plant, which potentially promotes the increase of intoxication cases and
consequently the subnotification of these cases.
KEYWORDS: Toxic Plants; Vegetable Toxicity; Dieffenbachia; comigo-ninguém-pode;
Subnotification.
1 | INTRODUÇÃO
Plantas possuidoras de beleza são potencialmente perigosas para indivíduos
que não tem a informação para identificar e manejar a espécie em questão. Essas
plantas são frequentemente encontradas pelos arredores de residências de maneira
espontânea, assim como na utilização ornamental (Soares et al., 2007). Estes
fatores, quando aliados, tornam determinadas espécies vegetais perigosas para
animais domésticos e seres humanos.
No Brasil, de acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde
(OMS), cerca de 2% dos casos de envenenamentos ocorrem com plantas,
ocupando o nono lugar dos casos de intoxicação. Todavia, esses dados não são
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
100
precisos, visto que grande parte das intoxicações por plantas é de baixa gravidade
e, como consequência, muitos registros deixam de ser realizados devido à falta de
necessidade de se recorrer aos hospitais, contribuindo para uma lacuna nessas
estatísticas em saúde, gerando subnotificação de valor para Saúde Pública (Campos
et al., 2016).
A desinformação da população quanto ao uso adequado dessas plantas,
quer seja no uso ornamental, religioso, cosmético e medicinal que muitas vezes são
administradas sem orientação ou acompanhamento profissional qualificadoconfigura
uma das principais causas de intoxicação, aumentando assim os riscos de saúde.
(Jones, 1990; Kennel et al., 1996; Silveira et al., 2008).
No Brasil, durante o ano de 2013, do total de óbitos ocorridos por intoxicação
de natureza diversa ou acidentes por animais, 0,23% teve como causa a intoxicação
por plantas, que em maioria são acidentais (SINITOX, 2013). Na Região Sudeste,
os casos de intoxicação humana por plantas ocuparam o 11º lugar de 1996 a 2013,
sendo os casos de envenenamento por medicamentos o campeão das intoxicações.
Observa-se também que maior parte dos casos são, em especial, se concentrava na
faixa etária entre 1 e 9 anos, seguido de uma elevada taxa na faixa etária entre 10 e
29 anos e que foram pouquíssimos os casos de óbito (0,23%) registrados.
Na Região Sudeste, além de “comigo-ninguém-pode”, as plantas do gênero
Dieffenbachia spp. são conhecidas como “aningá-do-pará”, “bananeira-d’água”,
“cana-de-imbé”, “cana-marona”, “canamarrom”, “cana-da-mudez” (Camargo, 1998).
Segundo o Programa Nacional de Informações sobre Plantas Tóxicas
(2008) os mecanismos de toxicidade das Dieffenbachia spp. estão relacionados
com a presença desubstâncias inorgânicas e orgânicas. Estudos mostram que
os mecanismos de toxicidade são múltiplos e incluem drusas e ráfides de oxalato
de cálcio, associadas a lipídios, alcalóides e proteínas, tendo suas ocorrências no
interior de células presentes no parênquima de todos os órgãos, no colênquima
caulinar e nos meristemas da raiz (Ferreira et al., 2006; Silva e Takemura, 2006;
Nelson et al., 2007).
Diferentes estudos apontam a importância do uso do comigo-ninguém-pode
para proteção do lar (Camargo, 1998; Fonseca-Cruel e Peixoto, 2004; Pasa et al.,
2005; Kreutz et al., 2006; Maciel e Guarim-Neto, 2006). Existem trabalhos que
destacam a importância do uso ritualístico do comigo-ninguém-pode (Camargo,
1998; Frug, 2003; Maciel e Guarim-Neto, 2006). Alguns estudos etnobotânicos
destacam a importância ornamental dessas plantas (Silva e Andrade, 2005; Moura
e Andrade, 2007), como também seus usos medicinais (Pilla et al., 2006; Leão et
al. 2007).
O presente estudo tem por objetivo analisar o conhecimento de moradores
da zona oeste do Rio de janeiro em relação à toxicidade das plantas do gênero
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
101
Dieffenbachia spp., assim como, avaliar a ocorrência de casos de intoxicação
acidental.
2 | METODOLOGIA
2.1 Caracterização da área e da população
A Zona Oeste do município do Rio de Janeiro é uma área geográfica (Latitude:
-22°90’ 35”; Longitude: 43° 12’ 35”) no estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Localizase a oeste do Maciço da Tijuca. Divide-se em duas grandes regiões separadas pelo
Maciço da Pedra Branca, maior formação rochosa do Rio de Janeiro, com cerca de
1.025 metros de altitude sudoeste e noroeste. Abrange um total de 41 bairros que
juntos abrigam uma população de cerca de 3 milhões de habitantes (2011).
Apenas residentes da Zona Oeste do município foram selecionados como
critério de inclusão, adotando como critério de exclusão os não-residentes.
Osmoradores da Zona Oeste do Rio de Janeiro foram selecionados
aleatoriamente por bairros, sendo estes dos bairros: Taquara, Realengo, Bangu,
Bairro Jabour, Jardim Sulacap, Campo Grande, Magalhães Bastos, Jacarepagua,
Padre Miguel, Praça Seca, Vila Militar, Vila Valqueire, Jardim Bangu e Deodoro.
2.2 Levantamento Etnotoxicológico
A metodologia empregada neste trabalho foi baseada nas propostas
para estruturação de artigos com abordagens etnodirigidas apresentadas por
Albuquerque e Hanazaki (2006) e nos métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica
(Albuquerque e Lucena, 2004). A abordagem consistiu-se em entrevistas qualitativas
e quantitativas, por meio da aplicação de questionários acerca do reconhecimento
de espécies da família Araceae, do gênero Dieffenbachia spp, sendo o vegetal
vulgarmente conhecido como comigo-ninguém-pode na maioria das regiões urbanas
do país.
Foi realizado uma pesquisa de abordagem direta, por meio da aplicação de
um questionário estruturado,dispondo de 14 perguntas redigidas em folha de papel
A4, no período de 14 de setembro à 14 de novembro de 2015, exclusivamente à
moradores de bairros da zona oeste do município do Rio de Janeiro. Para auxiliar na
coleta de dados, e identificação das espécies botânicas pelos entrevistados, foram
utilizadas imagens da espécie Dieffenbachia spp. com suas sinonímias botânicas
(Figura 1).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
102
Figura 1. Imagens de espécies do gênero Dieffenbachia spp. apresentadas aos
entrevistados.
Inicialmente foram feitas perguntas a fim de caracterizar o perfil dos
indivíduos entrevistados, tais como idade e sexo. Posteriormente, foram realizadas
perguntas objetivas a fim de averiguar o conhecimento e a utilização de plantas
medicinais por parte dos entrevistados, inicialmente questionando a existência
de plantas medicinais nas residências; para quais finalidades eram empregadas;
se possuíam algum conhecimento sobre plantas tóxicas ou conhecimento sobre
a “comigo-ninguém-pode”; se já haviam recebido informações sobre a toxicidade
dessa planta em questão; se já tiveram acidentes envolvendo a espécie botânica; se
era do conhecimento a possibilidade de ocorrer acidentes com esta planta na própria
residência; se tinham conhecimento sobre como poderia ocorrer os acidentes;
se tinham conhecimento sobre qual deveria ser a conduta realizada em casos de
acidentes com a planta; se consideravam que o vegetal é atrativo e por fim qual a
parte da planta que mais acreditavam ser tóxica.
No término desta atividade o entrevistado recebeu um folder sobre os riscos
de uso de plantas tóxicas.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistadas 354 pessoas e pode-se observar que as mulheres
representam maior número dos entrevistados (67%) e a respeito da faixa etária, a
maioria está representadapor pessoas entre 37 a 45 anos de idade (34,18%).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
103
Faixa Etária
17-25
26-36
37-45
46-55
Total
Masculino
Feminino
Total
N°
%
N°
%
N°
%
45
38,46
49
20,67
94
26,55
29
24,78
38
16,03
67
18,92
24
20,51
97
40,92
121
34,18
19
16,23
53
22,36
72
20,33
117
100
237
100
354
100
Tabela 1 – Prevalência de entrevistados da Zona Oeste do município do Rio de Janeiro
baseados em sexo e faixa etária.
Fonte: Próprio autor
Entretanto, apesar de 67% dos entrevistados serem mulheres, os dados de
intoxicação por plantas de 2003 à 2013 do SINITOX indicam que não há diferenças
significativas de intoxicação utilizando o sexo como parâmetro de avaliação, sendo
que existem ligeiramente mais casos de intoxicações em indivíduos do sexo
masculino.
Alguns estudos etnobotânicos associam que o gênero feminino tende a ter
maior conhecimento e cuidado com plantas medicinais. De acordo com Miranda
et al. (2011), as mulheres geralmente possuem mais conhecimento sobre plantas
medicinais pois em sua maioria são destinadas aos afazeres domésticos, havendo
maior contato com plantas cultivadas na região. No estudo conduzido por Alves et al.
(2015) demonstram que os homens que foram questionados sobre o conhecimento
da preparação de plantas medicinais afirmaram que as mulheres da comunidade
eram as mais preparadas para a função.
Todavia, é importante ressaltar que o conhecimento feminino a despeito
de plantas medicinais serem superior ao dos homens não é um padrão, visto que
fatores como a profissão e tradições familiares ou religiosas podem influenciar no
nível de conhecimento sobre plantas medicinais de cada indivíduo independente do
gênero.
Na tabela 2 é possível observar as respostas dos entrevistados acerca de
posse, conhecimento e possível interesse acerca da espécie botânica. Foi obtida a
informação de que 71% dos entrevistados possuem plantas em casa, com finalidades
ornamentais (63%), medicinais (29%), religiosas entre outras (8%). Entretanto, 53%
dos entrevistados não possuem conhecimento sobre plantas tóxicas, no entanto
73% reconheceram espécies do gênero Dieffenbachia spp.
No Brasil, a maioria dos centros especializados em tratamento de
intoxicações estão situados na região Sudeste somando 16 ao todo. Apenas no
ano de 2000, foram registrados 33.512 casos de intoxicação humana, sendo 712
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
104
casos relacionados a plantas consideradas tóxicas, porém, sem nenhum registro de
casos de óbito. No ano de 2013, o número de notificações foi reduzido para 23.625,
tendo sido registrado um óbito. No intervalo de tempo, a maioria das ocorrências
registradas foram em zona urbana devido à maior concentração de serviços de
saúde (SINITOX, 2013).
Foi observado que 53% dos entrevistados não possuem conhecimento sobre
a toxicidade das plantas, evidenciando a necessidade de haver mais atividades
de educação em saúde voltadas para o uso e manipulação de plantas tóxicas. De
acordo com Mendieta et al. (2014), a educação em saúde é um meio de promover
qualidade de vida e autonomia do indivíduo, sendo possível minimizar e impedir a
ocorrência de casos de intoxicação ou de agravos à saúde decorrentes do uso de
qualquer medicamento, neste caso, o uso indevido das espécies botânicas.
Na tabela 2 foi demonstrado que, apesar de 73% dos entrevistados
afirmarempossuir algum conhecimento sobre a “comigo-ninguém-pode” apenas
47% tem conhecimento sobre a toxicidade do vegetal, no entanto, apenas 2%
relataram já ter tido algum acidente com este vegetal.
Sim
Não
%
%
Possui plantas em casa?
71
29
Possui conhecimento sobre plantas tóxicas?
47
53
Possui conhecimento sobre a “comigo-ninguém-pode”?
73
27
Já recebeu informações sobre a toxicidade dessa planta?
47
53
Já teve algum acidente com essa planta?
2
98
Há possibilidade de acidentes envolvendo esta planta em sua residência?
29
71
Já tomou conhecimento de casos de intoxicação grave por essa planta?
14
86
Acha esse vegetal atrativo?
41
59
Perguntas
Tabela 2 – Perguntas objetivas realizadas aos entrevistados na Zona Oeste do
município do Rio de Janeiro.
Fonte: Próprio autor
Foi questionado se existe a possibilidade de ocorrer acidentes nas residências
dos referidos entrevistados envolvendo a planta “comigo-ninguém-pode” com
os moradores, crianças ou animais. Neste caso foi informado que 29% afirmam
a possibilidade de ocorrer acidentes em uma proporção de 37% de ocorrer com
crianças, 46% com animais domésticos e 17% com ambos.
Estatisticamente, a maior parte do número de intoxicações acidentais se dá
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
105
no interior das residências, e as crianças são as principais vítimas (Martins e Geron,
2014). Dados do SINITOX (2013) demonstram que a maior parte dos casos se
concentram na faixa etária entre 1 a 9 anos de idade. Este fato pode estar relacionado
com negligência ou falta de conhecimento dos responsáveis, principalmente quando
não há o devido planejamento na escolha das espécies botânicas que irão compor
o ambiente.
É válido ressaltar que o comportamento exploratório-manipulativo em
crianças, que acabam por levar objetos a boca com freqüência, contribui para
que esta faixa etária componha maior parte dos casos. Além da incapacidade
dos responsáveis de controlar a presença de espécies vegetais potencialmente
tóxicas em estabelecimentos públicos e privados. Entretanto, o fato de 73% dos
entrevistados serem capazes de reconhecer espécies do gênero Dieffenbachia
spp. é um fator positivo que propicia melhores condições para notificar intoxicações
causadas por essa espécie botânica.
De acordo com Campos et al. (2016) a não obrigatoriedade das notificações
desses eventos toxicológicos é um dos fatores que permite a subnotificação
de intoxicações com plantas no Brasil. Isto, aliado a ausência de profissionais
adequados para a identificação de plantas tóxicas no local de atendimento ou durante
o diagnóstico médico e em conjunto com a falta de informação dos pacientes sobre
a origem do quadro de intoxicação pode favorecer subnotificações.
Segundo Oliveira et al. (2003) e Vasconcelos et al. (2009), em estudos
acerca de casos de intoxicação e conhecimento sobre casos de intoxicação, a
comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia spp.) foi a mais citada. Logo, os entrevistados
foram abordados sobre o conhecimento de casos gravesenvolvendo essa espécie
botânica e a forma de tratamento primário a ser aplicada. Foi constatado que 14%
dos entrevistados já tomaram conhecimento sobre casos graves de intoxicação
com a planta; a primeira providência seria o socorro médico (49%), seguido de
cuidados paliativos em casa (24%) tais como ingestão ou lavagem do local com
água em abundância, a utilização do azeite de oliva tanto para ingestão quanto para
uso tópico, utilização de gorduras de origem vegetal ou animal para interromper o
processo de irritabilidade; enquanto (27%) não saberiam o que fazer.
Foram identificadas incoerências sobre a informação das pessoas acerca
da toxicidade das espécies do gênero. Por exemplo, a maioria das pessoas não
souberam informar corretamente sobre a toxicidade da espécie botânica, possuindo
ideias deturpadas sobre os aspectos e partes tóxicas da espécie vegetal.
Percebe-se que existem poucos estudos relacionados ao conhecimento
popular associado a plantas tóxicas em áreas urbanas, evidenciando a necessidade
de haver mais estudos a fim de assegurar estratégias apropriadas para prevenção
de acidentes com as espécies desse gênero.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
106
Tão importante quanto saber que determinado vegetal é tóxico e pode
apresentar riscos ao manuseá-lo, é reconhecê-lo corretamente e, neste aspecto,
nos deparamos com barreiras como: a nomenclatura vulgar, o conhecimento
ecológico e regional por parte da população. Essas barreiras atrapalham de maneira
significativa a identificação e o tratamento de casos de intoxicação por esse vegetal.
As diversas espécies do gênero Dieffenbachia spp. apresentam folhagem
extremamente exuberante. Apesar de suas poucas variações de cores, a
padronização apresentada por essas espécies se apresenta como grande atrativo a
animais e crianças, o que ocasiona o aumento no índice de acidentes.
No gráfico 1 pode-se observar a parte da planta que os entrevistados
acreditam ser mais tóxica. Foi constatado que 39,28% dos entrevistados acreditam
que a folha é a parte mais tóxica do vegetal; 27,68% que toda a planta é tóxica;
5,39% que o caule é parte mais tóxica; 1,12% que a flor é mais tóxica; 1,12%
acreditam que o caule é a parte mais tóxica do vegetal. Uma parcela significativa
dos entrevistados (25,42%) não sabia qual era a parte mais tóxica.
Gráfico 1 – Parte da planta que entrevistados da Zona Oeste do Município do Rio de
Janeiro acreditam ser mais tóxica.
Fonte: Próprio autor.
Oliveira e Akisue (1997) destacam que toda planta é potencialmente tóxica
e, conforme Rodrigues e Copatti (2009), as plantas tóxicas apresentam substâncias
que, por suas propriedades naturais, físicas ou químicas, modificam o conjunto
funcional-orgânico em vista de sua incompatibilidade vital, levando o organismo vivo
a diversas reações biológicas.
Todas as partes das plantas do gênero. apresentam igual toxicidade por
possuírem os mesmos princípios ativos, que ocasiona nos seguintes sintomas,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
107
conforme ingestão e/ou contato podem causar sensação de queimação, edema
(inchaço) de lábios, boca e língua, náuseas, vômitos, diarreia, salivação abundante,
dificuldade de engolir e asfixia; o contato com os olhos pode provocar irritação e
lesão da córnea.
Segundo Pinillos et al. (2003), as intoxicações por plantas são comuns tanto
pelo consumo de espécies tóxicas por erro de identificação, como pela quantidade
ingerida em excesso, sem contar o consumo negligente das crianças quando
ingerem partes de plantas coloridas e atrativas durante as brincadeiras
Seguindo este critério, os entrevistados foram indagados sobre o que
acreditam a respeito de “comigo-ninguém-pode” ser uma planta atrativa a ponto
de ocasionar acidentes domésticos. Foi constatado que 41% dos entrevistados
relataram que sim, representando uma quantidade significativa.
O vegetal vulgarmente descrito como “comigo-ninguém-pode”, (Dieffenbachia
spp.), é amplamente difundido nos ambientes cotidianos dos entrevistados, sendo
citado nas próprias residências, na casa de amigos e parentes, ambientes de
trabalho, vias públicas e instituições frequentadas por eles. Os entrevistados,
inclusive, relataram sobre a utilização do vegetal para finalidades diversas além das
ornamentais, em especial o uso ritualístico descrito pelo senso comum.
4 | CONCLUSÃO
A maioria dos entrevistados mesmo que não possuam plantas em casa, ou
nunca tenham recebido formalmente uma informação sobre Dieffenbachia spp.,
conhecem o vegetal apenas pelo seu nome vulgar “comigo-ninguém-pode”. Mesmo
possuindo conhecimento basal a despeito desse vegetal, a maioria subestima a
possibilidade de acidentes ou não o consideram perigoso a ponto de causar
acidentes.
Todavia, a vaga idéia dos entrevistados sobre a toxicidade da planta, mesmo
que equivocadamente acreditem que seu risco se limite apenas nas folhas, torna
suscetível a possibilidade de ocorrência acidentes e subnotificação destes, visto que
51% dos entrevistados não recorreriam ao socorro médico como primeira alternativa
no caso de acidente.
A educação em saúde voltada tanto à população, quanto aos profissionais de
saúde, pode ser de grande utilidade para fornecer mais informações sobre plantas
tóxicas e, consequentemente, diminuir os casos de subnotificação desses acidentes.
Eventualmente, espera-se criar um registro informativo sobre as questões
avaliadas durante o desenvolvimento do trabalho, para que se aplique da mesma
forma à população com o intuito de diminuir os riscos de acidentes, e caso ocorram,
serem tratados de forma consciente e devidamente notificados.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
108
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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 9
111
CAPÍTULO 10
doi
FUNGOS PATOGÊNICOS HUMANOS
TRANSMITIDOS POR MORCEGOS EM
RESIDÊNCIAS URBANAS
Data de aceite: 01/10/2020
Data de submissão: 14/07/2020
Bianca Oliveira Silva
Universidade Estadual de Maringá
Maringá – Paraná
http://lattes.cnpq.br/9141414129000114
Flávia Franco Veiga
Universidade Estadual de Maringá
Maringá – Paraná
http://lattes.cnpq.br/2522073483695767
Tânia Salci
Centro Universitário Integrado
Campo Mourão – Paraná
http://lattes.cnpq.br/2170357235249639
Melyssa Negri
Universidade Estadual de Maringá
Maringá – Paraná
http://lattes.cnpq.br/5815874228908993
Henrique Ortêncio Filho
Universidade Estadual de Maringá
Maringá – Paraná
http://lattes.cnpq.br/5127355557632855
RESUMO: Muitas espécies de morcegos
translocam-se entre áreas rurais, florestais e
urbanas, então podem promover a disseminação
e transmissão de vários agentes infecciosos,
tornando-se uma questão de saúde pública.
De acordo com as escassas informações sobre
zoomicoses relacionadas aos morcegos, este
trabalho objetivou investigar leveduras isoladas
de fezes de morcegos presentes em residências
urbanas. O estudo ocorreu na cidade de Maringá
em residências que possuíam morcegos no
forro, onde as amostras foram coletadas do ar e
das fezes, e processadas de três formas. Após
realizar a coleta em nove residências, duas foram
consideradas ideais para prosseguir com as
análises. Foram encontrados fungos filamentosos
em ambas as residências independente do
processamento empregado, já para leveduras
o processamento que foi realizado após a
decantação das amostras demonstrou-se o mais
eficiente para isolar os agentes.
PALAVRAS-CHAVE:
Cryptococcus
spp.,
Molossus molossus, Zoomicoses.
HUMAN PATHOGENIC FUNGI
TRANSMITTED BY BATS IN URBAN
RESIDENCES
ABSTRACT: Many species of bats move
between rural, forest and urban areas, so they
can promote the spread and transmission of
various infectious agents, becoming a public
health issue. According to the scarce information
about zoonosis by fungal related to bats, this
study aimed to investigate yeasts isolated from
bat feces present in urban residences. The study
took place in the city of Maringá in residences that
had bats in the ceiling, where the samples were
collected from the air and feces, and processed in
three ways. After conducting the collection in nine
residences, two were considered ideal to proceed
with the analyzes. Filamentous fungi were found
in both residences regardless of the processing
used, whereas for yeasts the processing that was
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 10
112
carried out after decanting the samples proved to be the most efficient to isolate the
agents.
KEYWORDS: Cryptococcus spp., Molossus molossus, Zoonosis.
1 | INTRODUÇÃO
Muitas espécies de morcegos sobrevivem nas áreas urbanas, pois os prédios
e o reflorestamento propiciam vários abrigos a esses animais. Além disso, nesse
espaço os morcegos também encontram alimentos disponíveis como insetos, flores
e frutas, aproximando-os dos seres humanos (DIAS et al., 2011b; NUNES; ROCHA;
CORDEIRO-ESTRELA, 2017). A ordem Chiroptera desempenha papéis importantes
nos ecossistemas como polinizadores, dispersores de sementes e insetos de controle,
uma vez que fazem parte da cadeia alimentar (FRICK; KINGSTON; FLANDERS,
2019). Essas características também promovem a disseminação e transmissão de
vários agentes infecciosos a partir dos Chiroptera, sendo que essa proximidade com
o ambiente urbano alerta para a maior possibilidade de contágio de zoonoses para
o homem, como vírus, bactérias e micoses, tornando-se uma questão de saúde
pública e requerendo atenção na vigilância epidemiológica (LI et al., 2018). Muitos
estudos investigaram a presença de agentes infecciosos relacionados a zoonoses,
no entanto, o conhecimento sobre leveduras com potencial patogênico em habitats
de Chiroptera é limitado (DA PAZ et al., 2018; DIAS et al., 2011b).
Os morcegos costumam abrigar-se em cavernas, telhados e viver em
rebanhos, estando em constante movimento entre áreas urbanas, rurais e florestais.
Estes locais têm presenças de diversos fungos, sendo os morcegos um reservatório
ou fonte de infecção de micoses (DIAS et al., 2011b).
Diferentes fungos ambientais que podem estar presentes nas fezes dos
morcegos, são descritos por serem patógenos de animais e seres humanos, como os
fungos termodimórficos Histoplasma capsulatum; Blastomyces sp., Paracoccidioides
brasiliensis, fungos filamentosos como, Fusarium sp., Aspergillus spp., Penicillium
spp., Cladosporium sp., Microsporum spp., Trichophyton spp., Paecilomyces variotii,
e importantes leveduras como, Cryptococcus spp., Rhodotorula sp., Candida spp.
(BOTELHO et al., 2012; DA PAZ et al., 2018; DIAS et al., 2011b; GROSE; TAMSITT,
1965; KAJIHIRO, 1965; NOVÁKOVÁ; KOLAŘÍK, 2010; RANDHAWA et al., 1985;
REISS; MOK, 1979; ROGERS; BENEKE, 1964; SUGITA et al., 2005; TAYLOR;
STOIANOFF; FERREIRA, 2013; VANDERWOLF et al., 2013).
A relação entre fungos patogênicos e fezes de morcegos está presente na
literatura relacionada a florestas e cavernas, no entanto, ainda existem lacunas
epidemiológicas relacionadas ao ambiente urbano, principalmente em relação às
leveduras com potencial patogênico nesses excrementos (BOTELHO et al., 2012;
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 10
113
DIAS et al., 2011a; ELLABIB et al., 2016; YAMAMURA et al., 2013). Existem registros
de endemias causadas por Cryptococcus spp., onde o mesmo fungo foi isolado
e identificado, tanto em pacientes quanto em morcegos e suas fezes presentes
no ambiente urbano (DA PAZ et al., 2018). Esses dados são relevantes, uma vez
que a frequência de micoses oportunistas e invasivas causadas por leveduras
ambientais com potencial patogênico aumentou significativamente. Essa incidência
está relacionado a altas taxas de morbimortalidade e, diretamente, ao aumento
da população de pacientes imunossuprimidos em risco de desenvolver infecções
fúngicas graves, como a criptococose (FISHER et al., 2012; SEYEDMOUSAVI et
al., 2015). Ciente da falta de informações sobre as zoomicoses relacionadas aos
morcegos, necessidade de estudos que complementam os dados epidemiológicos
e a importância de associar fatores relacionando morcegos como vetores de fungos
com potencial patogênico, este estudo teve como objetivo investigar leveduras
isoladas de fezes de morcegos presentes em residências urbanas.
2 | MÉTODOS
Comitê de ética
Todos os procedimentos empregados foram realizados de acordo com a
licença permanente para a coleta de material zoológico do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade - ICMBio (CEUA) sob o número: 17869-3 (data
de emissão: 14/09/2012), da Universidade Estadual de Maringá e da Secretaria
Municipal de Saúde.
Área de estudo
O estudo foi realizado em Maringá (23° 25’ S e 51° 56’ O), localizado no
terceiro platô paranaense na região sul do Brasil, noroeste do estado do Paraná
(Figura 1).
Amostragem
Para a detecção dos fungos foram coletadas fezes de morcegos no ambiente
urbano. Com base nas informações fornecidas pelos moradores da cidade após
contato com o Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura de Maringá, que
mantém parceria com o Grupo de Estudos em Ecologia de Mamíferos e Educação
Ambiental (GEEMEA) da Universidade Estadual de Maringá. Foram estabelecidos
critérios de inclusão para este estudo: a) residências que relataram morcegos;
b) residências que relataram morcegos em que os proprietários autorizassem a
realização da pesquisa; c) presença de morcegos habitando o forro da casa; d) forro
da casa permanentemente fechado; e) viabilidade dos pesquisadores de entrar e se
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 10
114
deslocar dentro do forro da casa sem nenhum perigo aos mesmos.
Coleta das amostras
O material foi coletado no inverno, período matutino, com uso adequado de
equipamentos de proteção individual. Os forros das residências foram caracterizadas
em dois tipos: abertos, quando tinham um lado do ambiente totalmente aberto, e
fechado; quando eram totalmente fechados, sendo o único acesso por uma porta.
Os locais no forro que apresentavam acúmulo de excrementos de morcegos eram
designados como locais adequados para coleta. Quando o forro tinha um ou
dois locais, foi considerado insatisfatório, ao apresentar de três a seis locais, foi
considerado regular e acima disto, satisfatório (Tabela 1). Anterior às coletas, os
morcegos foram capturados, manipulados com luvas de raspa couro, e em seguida
foi realizada a identificação taxonômica dos mesmos (BARROZO et al., 2009;
BURLES et al., 2009a; RIBEIRO et al., 2018).
Foram determinados quatro locais de amostragem com base nos locais
onde foram visualizados excrementos. De cada ponto foi coletado duas amostras
de aproximadamente 10 g de fezes. Antes de coletar as amostragens das fezes,
foi colocado uma amostragem do ar com uma placa de Petri contendo o meio
Sabouraud Dextrose Agar (SDA, Himedia, Mumbai Índia) com cloranfenicol 1%,
exposta por 15 minutos. Após as coletas, os morcegos foram liberados e o material
enviado ao Laboratório de Micologia Médica da Universidade Estadual de Maringá
para processamento microbiológico.
Processamento de amostras para isolamento de fungos
Para isolar potenciais leveduras patogênicas das fezes, primeiramente
1g de fezes puras (1 g) foram maceradas com 30 mL de solução salina estéril a
0,85% e homogeneizada. Na sequência, três diferentes processamentos foram
realizados (A, B e C), conforme figura 1. Os ensaios foram feitos em duplicatas.
Para o processamento A, um total de 100 μL da solução foram semeadas em
SDA e incubados por cinco dias a 25 ºC, sendo verificados diariamente. Para o
procedimento B, a amostra decantou por 30 minutos, após, 100 μL do sobrenadante
foram semeados em SDA e em meio de cultura Ágar Níger incubadas a 25 °C, 37 °C
e em temperatura ambiente, sendo verificadas diariamente. Para o processamento
C, 1,5 mL do sobrenadante foi centrifugado a 13000 rpm por 5 minutos e um volume
de 100 μL do precipitado foi semeado em SDA, incubados por cinco dias a 25 ºC,
sendo verificados diariamente. As placas de Petri que haviam sido expostas ao ar
foram incubadas em temperatura ambiente e verificadas diariamente.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 10
115
Figura 1. Esquema metodológico para o processamento de amostras fecais de
morcegos para isolamento de fungos.
3 | RESULTADOS
Esta região é subtropical temperada, com temperatura média anual de 20 a 21
°C, com média máxima entre 27 a 28 °C e mínima entre 16 e 17 °C. De acordo com
o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica da Secretaria
Municipal de Saneamento Básico e Meio Ambiente, Maringá, a precipitação média
anual é alta, geralmente entre 1500 mm e 1600 mm, bem distribuída ao longo do
ano.
Em relação aos morcegos, as espécies Molossus molossus (residências I, IV,
VII e IX) e Molossus rufus (residência III) foram as únicas encontradas nos abrigos
visitados, no entanto, havia residências nas quais nenhum animal estava presente
no momento da coleta. Porém, havia sinais de restos de comida, pelos e fezes,
caracterizando que os morcegos usavam o ambiente como abrigo.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 10
116
Residência
Número de
morcegos
Tipo de forro da
residência
Distribuição de fezes no
ambiente
I
1
Fechado
Regular
II
0
Fechado
Insatisfatório
III
19
Aberto
Regular
IV
19
Aberto
Insatisfatório
V
0
Fechado
Satisfatório
VI
0
Fechado
Insatisfatório
VII
2
Fechado
Insatisfatório
VIII
0
Fechado
Regular
IX
1
Fechado
Satisfatório
Tabela 1. Tipo de forro ocupado por morcegos e distribuição de fezes no ambiente.
A partir dos fatores de inclusão, foram considerados satisfatórios em todos os
critérios e consideradas as amostras coletadas das residências V e IX. Os resultados
dos ensaios testados foram obtidos após três dias de incubação das placas,
mostrados na Tabela 2. Nas placas do processamento A, houve o crescimento de
colônias de fungos filamentosos bem delimitadas, que não impediram o isolamento
de leveduras, mesmo sendo mínima a presença de colônias de leveduras. Nas
placas do processamento B, houve o crescimento de colônias filamentosas bem
mais delimitadas quando comparada com o processamento anterior, sendo este
tratamento que permitiu o isolamento do maior número de colônias de leveduras.
Nas placas de processamento C, a presença de contaminantes filamentosos não
ocorreu em 100% das culturas em SDA, no entanto, as colônias do tipo levedura
eram escassas (Tabela 2).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 10
117
Residência
Presença de crescimento
Processamento*
V
IX
Fungos filamentosos
Leveduras
Bactérias
A
Positivo
Negativo
Positivo
A
Positivo
Negativo
Positivo
B
Positivo
Negativo
Positivo
B
Positivo
Positivo
Positivo
C
Positivo
Negativo
Negative
C
Positivo
Negativo
Negativo
A
Positivo
Negativo
Negativo
A
Positivo
Negativo
Negativo
B
Positivo
Positivo
Negativo
B
Positivo
Positivo
Positivo
C
Positivo
Negativo
Positivo
C
Positivo
Negativo
Negativo
Tabela 2. Crescimento de microrganismos em SDA após diferentes processamentos de
fezes de morcegos, incubados a 25 ºC por 72 horas.
* Cada processamento foi realizado em duplicata.
Leveduras do gênero Candida spp. e Cryptococcus spp. foram isolados das
fezes na residência V; no entanto, na residência IX, eles estavam presentes no ar.
Rhodotorula spp. estava presente apenas na casa V, em ambas as amostras (fezes
e ar). As demais leveduras identificadas vieram apenas da amostra de ar e das
fezes. As cepas isoladas neste estudo foram de casas (V e IX), caracterizadas por
apresentar pouco ou nenhum morcego colonizando o forro no momento da coleta
das amostras (Tabela 3).
Residência
V
Candida spp.
Fezes
Ar
x
IX
Cryptococcus spp.
Rhodotorula spp.
Fezes
Fezes
Ar
Leveduras
não
identificadas
x
x
x
Ar
x
x
x
x
x
Tabela 3. Leveduras isoladas de ambientes habitados por morcegos.
4 | DISCUSSÃO
A ordem Chiroptera é distribuída em todo o mundo, os morcegos são
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 10
118
encontrados em todos os continentes, com exceção da Antártica. Eles são os únicos
mamíferos capazes de voar e deslocar-se por longas distâncias nas migrações
sazonais. Essas características, juntamente a sua longa vida útil e capacidade de
habitar diversos nichos ecológicos, tornam os morcegos uma das espécies mais
bem-sucedidas da terra. O Brasil é o segundo país com o maior número de espécies,
com 178 (15,9%) dos exemplares conhecidos (BERNARD; AGUIAR; MACHADO,
2011; NOGUEIRA et al., 2014; RIBEIRO et al., 2018).
A identificação a nível espécies pode ser importante para entender a
transmissão da zoonose, uma vez que as características sociais e fisiológicas dos
morcegos são condicionadas por hábitos, como se abrigar em cavernas, telhados e
viver em rebanhos. Esses hábitos fornecem contatos constantes com uma infinidade
de diferentes microrganismos, incluindo vírus, bactérias, fungos e parasitas. Vários
desses agentes infecciosos são comuns em humanos e animais domésticos. Os
fungos representam um grupo clinicamente importante de microrganismos em
todo o mundo. Existe uma associação considerável entre estes e os morcegos,
principalmente na análise de excrementos desses animais encontrados em cavernas
e florestas, sendo que recentemente surgiram novas pesquisas em áreas urbanas
(DA PAZ et al., 2018; GONZÁLEZ-GONZÁLEZ et al., 2014; HANCE; GARNOTEL;
MORILLON, 2006). Assim, o fato de viverem nesse constante movimento entre
áreas selvagens e urbanas, pode propiciar a disseminação desses microrganismos
de um ambiente para outro; portanto, dentro da vigilância epidemiológica, podem
ser reservatórios e fontes de zoonoses (DIAS et al., 2011b; NUNES; ROCHA;
CORDEIRO-ESTRELA, 2017). Neste estudo, foi realizada a avaliação dos prováveis
ambientes dos morcegos em casas urbanas.
Inicialmente as residências foram classificadas de acordo com acesso ao
forro, podendo ser aberto ou fechado, nossos resultados mostram que o fato de estar
fechado não influencia a presença de morcegos no ambiente. Na Tabela 1, vemos
que a maior parte das residências que tivemos acesso, o forro era fechado e mesmo
assim fezes de morcegos foram detectadas no ambiente, o que caracteriza o uso do
habitat pelos animais. No entanto, é importante observar que, ao compararmos as
residências III e IV, onde os forros são abertos, foi encontrada a maior quantidade
de animais presentes no ambiente no momento da coleta, com um total de 19
morcegos em cada local, provavelmente porque o acesso seja facilitado pela própria
arquitetura.
Molossus foi o gênero de morcegos encontrado neste estudo, estes morcegos
são insetívoros (DA PAZ et al., 2018; REIS et al., 2006) e podem ser atraídos por
insetos que ficam próximos a luzes artificiais em áreas urbanas, locais onde podem
encontrar abrigos artificiais em telhados e tetos (DE LUCCA et al., 2013; RIBEIRO
et al., 2018). Esses dados corroboram com os resultados encontrados aqui, onde
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 10
119
as espécies identificadas estavam presentes em uma área com alta densidade
populacional, em uma cidade altamente urbanizada que fornece abrigos artificiais
e suprimentos alimentares suficientes para manutenção dos mesmos (BURLES et
al., 2009b; RIBEIRO et al., 2018). Além disso, existem desequilíbrios ambientais
resultantes da ação antrópica nos ecossistemas, o que força os morcegos a se
adaptar e desenvolver em centros urbanos (DA PAZ et al., 2018).
As Infecções fúngicas associadas a zoonoses são importantes e devem ser
consideradas na saúde pública (MORETTI et al., 2013; SEYEDMOUSAVI et al., 2015).
Nesse contexto, é notável que algumas doenças fúngicas com potencial zoonótico
merecem atenção adequada, sendo que novos conhecimentos epidemiológicos são
importantes para entender e combater melhor essas doenças, para isso, é essencial
conhecer a distribuição desses microrganismos no ambiente. Como podemos
observar na Tabela 2, a presença de diferentes gêneros são detectáveis no ambiente
e nas fezes dos morcegos. Fungos filamentosos estavam presentes em todas as
técnicas utilizadas, ocupando uma parte considerável da área da placa. Estes fungos
podem ser verdadeiros patógenos ou oportunistas (GUARRO; GENÉ; STCHIGEL,
1999; SEYEDMOUSAVI et al., 2015), quase todos são capazes de sobreviver no
ambiente por períodos prolongados, mas os verdadeiramente patogênicos têm
como vantagem evolutiva usar um vertebrado como vetor durante uma parte de
seu ciclo de vida, sendo frequentemente um animal não humano (HUBÁLEK, 2003).
As amostras ambientais têm como característica a presença de uma
variedade de fungos filamentosos, cuja dispersão das estruturas reprodutivas pode
ocorrer mesmo pelo ar atmosférico, pelos conhecidos fungos anemófilos (GUARRO;
GENÉ; STCHIGEL, 1999). Estes frequentemente contaminam amostras biológicas,
predominando no meio de cultura devido ao rápido desenvolvimento e/ou produção
de substâncias antimicrobianas que podem inibir o crescimento de outros fungos de
interesse clínico. As fezes são amostras biológicas com quantidades consideráveis
de agentes microbianos que podem se sobrepor em uma cultura ao rastrear um
determinado agente que está sendo investigado (SEYEDMOUSAVI et al., 2015,
2018).
A associação de fezes e meio ambiente, acabam dificultando ainda mais
o isolamento de certos microrganismos, como no caso, leveduras potencialmente
patogênicas humanas contidas nas fezes de morcegos encontradas em forros de
residências. Diferentes técnicas foram realizadas para melhorar o isolamento de
leveduras e conforme mostrado na Tabela 2. Em geral, independentemente do
processamento utilizado na amostra, houve baixo número de leveduras isoladas,
esse fato pode ser consequência da interferência, principalmente, de fungos
filamentosos. Além disso, o cultivo direto de amostras ambientais pode ser
influenciado pelo clima, como resultado de menor esporulação do fungo durante o
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 10
120
período de amostragem, ou da adequação da profundidade da amostra obtida ou
mesmo da ausência do fungo no estudo local (BARROZO et al., 2009, 2010).
O processo B foi mais vantajoso que os demais para o isolamento de fungos
de levedura. Este processo foi caracterizado por sedimentação, que, por gravidade,
fez com que as partículas se depositem no fundo do tubo. Entretanto, como o
resultado obtido foi mais eficiente em relação aos demais tratamentos, sugere-se
que a forma da amostra decantada (processo B) proporcionou melhor crescimento
da levedura, ou seja, maior isolamento e menos contaminantes (FILIÚ et al., 2002;
REIS et al., 2006).
As amostras submetidas ao processo C apresentaram apenas crescimento
bacteriano, bem como no Processo A. A centrifugação, que tem o princípio da
sedimentação celular, deve ser eficiente para separar os componentes da suspensão
por meio das diferenças na densidade. No entanto, o fato de o sedimento celular
concentrar todos os microrganismos pode ter dificultado o desenvolvimento da
levedura no meio de cultura. Além disso, a centrifugação do sobrenadante, em vez
da suspensão inicial, também deve ser considerada, sugerindo uma redução no
número de leveduras presentes no processo C em comparação com A e B.
Em relação à presença de leveduras isoladas, foram identificados três
gêneros: Candida, Cryptococcus e Rhodotorula (Tabela 3). Estes são comumente
encontrados no ambiente e têm potencial patogênico em humanos e animais (DA
PAZ et al., 2018). As duas vias de dispersão dos fungos analisados (ar atmosférico
e morcegos) estão estritamente relacionadas à alta produção de propágulos de
disseminação, principalmente esporos de origem assexuada. Esses quando atingem
um substrato com condições adequadas, germinam e iniciam um novo ciclo (ZAITZ
et al., [s.d.]).
É importante notar que, embora Candida spp. ser considerada parte da
microbiota de seres humanos saudáveis, também considera-se oportunista sob
condições de imunossupressão. A candidíase pode ser superficial, afetando a pele,
as membranas do trato gastrointestinal e urogenital, além disso sua disseminação
pode levar à candidemia ou infecção localizada dos órgãos internos(NUCCI;
ANAISSIE, 2001; VANDERWOLF et al., 2013).
Embora a maioria das leveduras isoladas de fezes e do ar atmosférico
não sejam as mesmas, observou-se que alguns fungos, como Rhodotorula e
Cryptococcus, foram isolados nas duas amostragens. Rhodotorula já era esperado,
porque representa um fungo anemófilo, disperso principalmente pelo ar, embora
também use outras formas de dispersar (ZAITZ et al., [s.d.]). A associação entre
morcegos Molossus molossus em áreas urbanas e Cryptococcus spp. já foi
reportada na literatura (DA PAZ et al., 2018).Inicialmente, o gênero Cryptococcus
foi considerado de leveduras saprofíticas ambientais que não causam infecções
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 10
121
em humanos ou animais(KWON-CHUNG et al., 2017), no entanto, já sabe-se
que a criptococose é uma doença fúngica que afeta principalmente pacientes
imunocomprometidos e com menos frequência imunocompetentes (ELLABIB et al.,
2016; PARK et al., 2009; SEYEDMOUSAVI et al., 2018).
Considerando
que
C.
neoformans
infecta
principalmente
pacientes
imunocomprometidos, C. gattii pode afetar pessoas com sistema imunológico intacto
(ABREU et al., 2017), o fungo está presente no meio ambiente e o mecanismo de
transmissão ao ser humano ainda não está totalmente elucidado. Provavelmente a
infecção é adquirida através da exposição aos Cryptococcus presentes no ambiente,
como esporos ou leveduras desidratadas, capazes de penetrar nos alvéolos
pulmonares e causar doenças(ELLABIB et al., 2016; LIN, 2009). Vale destacar o
caso ocorrido na região norte do Brasil, onde houve óbito por meningite criptocócica,
sendo as fezes de morcego a provável fonte de infecção. Nesse caso, o paciente foi
infectado após limpar o sótão de sua casa sem o uso de equipamento de proteção
individual adequado (ELLABIB et al., 2016; LIN, 2009).
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Capítulo 10
125
doi
CAPÍTULO 11
MONITORAMENTO E AÇÕES PARA O CONTROLE
DE AGENTES ZOONÓTICOS EM COMUNIDADES
ADJACENTES A UMA FLORESTA URBANA NO
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Rodrigo Caldas Menezes
Data de aceite: 01/10/2020
Data de submissão: 12/08/2020
Isabel Cristina Fábregas Bonna
Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/8566046605739485
Maria Alice do Amaral Kuzzel
Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/2948859206351028
Instituto Nacional de Infectologia Evandro
Chagas, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/2811769356300005
Luciana Trilles
Instituto Nacional de Infectologia Evandro
Chagas, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/2775706789652317
Flavia Coelho Ribeiro Mendonça
Marina Carvalho Furtado
Escola Politécnica de Saúde Joaquim
Venâncio, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/9975175721872316
Helena Medrado Ribeiro
Campus Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/8200646785415918
Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/1363591652483486
Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/4106125088090932
Caroline Lacorte Rangel
Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/6075654213704604
Leandro Batista das Neves
Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/5770486779219275
Rosângela Rodrigues e Silva
Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/1880168547409610
Flavia Passos Soares
Ricardo Moratelli
Fiocruz Mata Atlântica, FIOCRUZ
Rio de Janeiro – RJ
http://lattes.cnpq.br/1067399121895452
RESUMO: O Campus Fiocruz Mata Atlântica
(CFMA), localizado na vertente leste do Maciço
da Pedra Branca, sobrepõe-se ao Parque
Estadual da Pedra Branca e sua zona de
amortecimento, na Colônia Juliano Moreira, em
Jacarepaguá. O CFMA abrange todo o Setor 1
da CJM, onde concentra suas ações em saúde
urbana e ambiental. A região compreende uma
área de elevada biodiversidade sob forte pressão
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
126
antrópica, podendo provocar um desequilíbrio ecológico. Esses fatores, juntamente
com a possibilidade de contato com patógenos de animais silvestres, a alta densidade
humana e condições sanitárias inadequadas podem aumentar o risco de transmissão
ou emergência de doenças infecciosas e parasitárias O objetivo desta contribuição
é apresentar ações e resultados do monitoramento de agentes zoonóticos em
animais domésticos e no ambiente, para o planejamento específico de intervenções
visando ao controle das zoonoses e de vigilância ambiental. Essas atividades são
desenvolvidas em parceria com grupos de pesquisa de unidades da Fiocruz, que
são referência no diagnóstico das zoonoses estudadas na região. Outras estratégias
incluem orientações à população sobre imunizações e cuidados com animais
domésticos em área de floresta, confecção de panfletos e vídeos informativos,
projetos educativos com crianças da região e a circulação de matérias em um boletim
informativo direcionado para as comunidades locais. Este é um trabalho contínuo de
promoção da saúde no CFMA, com base no conceito de Saúde Única para vigilância e
controle de doenças, no qual equipes multidisciplinares atuam junto às comunidades
do CFMA. Como resultado parcial foram encontrados agentes infecciosos com
potencial zoonótico em cães e gatos como os helmintos ancilostomídeos e Toxocara
sp. e o fungo Sporothrix spp. As helmintíases foram tratadas e os tutores orientados.
Foram diagnosticados casos de esporotricose felina e canina, com o isolamento do
fungo e acompanhamento clínico. Não foram encontrados casos de leishmanioses
visceral e tegumentar, também não foram isolados agentes fúngicos causadores de
micoses sistêmicas, como Cryptococcus sp. Identificamos fatores socioeconômicos,
ambientais e ecológicos que podem contribuir para o desencadeamento de surtos
de doenças infecciosas. Dentre esses, destacam-se a presença de animais
domésticos abandonados e soltos na região, que circulam livremente facilitando
a introdução de novos agentes e aumentando o risco de transferência de agentes
infecciosos entre animais silvestres, humanos, ambiente e animais domésticos e
de produção (subsistência). Em estudos recentes na área do CFMA, envolvendo
animais domésticos e silvestres, foram identificados agentes de potencial zoonótico
como Coxiella e Bartonella spp., tripanosomatídeos em quirópteros, helmintos em
marsupiais do gênero Didelphis, Leishmania spp., Sporothrix spp.; detecção de
anticorpos anti- Toxoplasma gondii, Leptospira spp. e Leishmania spp. em animais
domésticos; entre outros, o que reforça a necessidade de uma vigilância em saúde na
região. As ações são planejadas de forma a atender às normas internas da Fiocruz
quanto a biossegurança, qualidade ambiental e do trabalho, para que as pesquisas e
o desenvolvimento científico na área contribuam para a promoção da saúde e para o
desenvolvimento sustentável da região com a preservação do patrimônio ambiental.
Esse pode ser um modelo institucional a ser replicado em outros locais de fragmento
de floresta em áreas urbanas que sofram fortes pressões antrópicas.
PALAVRAS-CHAVE: Promoção da saúde, Saúde Única, zoonoses.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
127
MONITORING AND ACTIONS FOR THE CONTROL OF ZOONOTIC
AGENTS IN COMMUNITIES ADJACENT TO AN URBAN FOREST IN THE
MUNICIPALITY OF RIO DE JANEIRO
ABSTRACT: The Fiocruz Mata Atlântica (CFMA) Campus, located on the eastern
slope of the Massif da Pedra Branca, overlaps the Pedra Branca State Park and its
buffer zone, at Colônia Juliano Moreira, in Jacarepaguá.The CFMA covers the entire
Sector 1 of the CJM, where it focuses its actions on urban and environmental health.
The region comprises an area of high biodiversity under strong anthropic pressure,
which can cause an ecological imbalance. These factors, together with the possibility
of contact with wild animal pathogens, the high human density and inadequate sanitary
conditions can increase the risk of transmission or emergence of infectious and
parasitic diseases.The purpose of this contribution is to present actions and results of
the monitoring of zoonotic agents in domestic animals and in the environment, for the
specific planning of interventions aimed at the control of zoonoses and environmental
surveillance. These activities are developed in partnership with research groups
from Fiocruz units, which are a reference in the diagnosis of zoonoses studied in the
region. Other strategies include orientations to the population on immunizations and
care for domestic animals in the forest area, making pamphlets and informational
videos, educational projects with children in the region and the circulation of materials
in a newsletter aimed at local communities. Other strategies include orientations to
the population on immunizations and care for domestic animals in the forest area,
making pamphlets and informational videos, educational projects with children in
the region and the circulation of materials in a newsletter guided by the communities
themselves. This is an ongoing work to promote health at the CFMA, based on the
one health concept for disease surveillance and control, in which multidisciplinary
teams work with the CFMA communities. As a partial result, infectious agents with
zoonotic potential were found in dogs and cats such as hookworm helminths and
Toxocara sp. and the fungus Sporothrix spp. Helminthiasis was treated, and tutors
were instructed. Cases of feline and canine sporotrichosis were diagnosed, with
isolation of the fungus and clinical follow-up. No cases of visceral and cutaneous
leishmaniasis were found, nor were fungal agents causing systemic mycoses, such
as Cryptococcus sp. Socioeconomic, environmental, and ecological factors have been
identified that may contribute to the outbreak of infectious diseases. Among these, we
highlight the presence of abandoned and released domestic animals in the region,
which circulate freely facilitating the introduction of new agents and increasing the
risk of transfer of infectious agents between wild animals, humans, the environment
and domestic and production animals (subsistence). In recent studies in the CFMA
area, involving domestic and wild animals, agents of zoonotic potential were identified,
such as Coxiella and Bartonella spp., Trypanosomatids in chiropterans, helminths
in marsupials of the genus Didelphis, Leishmania spp., Sporothrix spp; detection of
anti-Toxoplasma gondii antibodies, Leptospira spp. and Leishmania spp. in domestic
animals; among others, which reinforces the need for health surveillance in the region.
The actions are planned in order to meet Fiocruz’s internal rules regarding biosafety,
environmental and work quality, so that research and scientific development in the
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
128
area contribute to health promotion and sustainable development in the region with
the preservation of the environment’s heritage. This may be an institutional model to
be replicated in other places of forest fragment in urban areas that are under strong
anthropic pressure.
KEYWORDS: Health promotion, One Health, zoonosis.
1 | INTRODUÇÃO
Agradecemos a todos que contribuem ou contribuíram para o
desenvolvimento destes estudos, em especial a Gilson Antunes,
coordenador executivo do Programa de Desenvolvimento do
Campus Fiocruz Mata Atlântica (PDCFMA), pelo incansável trabalho
de condução das equipes que desempenham importantes ações
para a construção de um território sustentável e saudável nessas
comunidades com vulnerabilidade social.
O Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz Mata Atlântica
(PDCFMA) atua na promoção da saúde, por meio de equipes multidisciplinares
das áreas de Saúde Ambiental e Saúde Urbana, em comunidades do Setor 1 da
Colônia Juliano Moreira (CJM), onde o Campus Fiocruz Mata Atlântica (CFMA) está
localizado.
A Área de Saúde Ambiental do PDCFMA atua na gestão do ambiente,
conservação da biodiversidade e resolutividade de questões locais na interface
entre biodiversidade e saúde na vertente leste do Maciço da Pedra Branca, onde
localiza-se o CFMA e seu remanescente de floresta de baixada e submontana. Suas
atividades são desenvolvidas sob a premissa da Saúde Única, onde saúde humana,
animal e ambiental estão conectadas (DESTOUMIEUX-GARZÓN et al., 2018; WHO,
2017).
As principais ações em Vigilância em Saúde no território envolvem o
levantamento e o monitoramento de agentes infecciosos circulantes em animais
domésticos e silvestres, com especial atenção aos agentes infecciosos zoonóticos;
e as ações informativas e educativas geradas a partir dos resultados encontrados no
monitoramento e no levantamento, além das demandas espontâneas dos moradores
das comunidades, com a manutenção de um canal contínuo de comunicação. O
objetivo é entender os cenários ecológicos que favorecem a circulação desses
agentes infecciosos zoonóticos entre a fauna doméstica, silvestre e os humanos, para
que o conhecimento estabelecido in loco subsidie o planejamento de intervenções
contínuas para minimizar o risco de surtos de zoonoses em escala local.
Organizar os serviços de saúde a partir das necessidades do território
(territorialização) é uma ação importante para a base do trabalho das equipes de
atenção básica na prática da Vigilância em Saúde, com ações conjuntas, no âmbito
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
129
individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção
de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde
(BRASIL, 2010; BRASIL, 2017c).
Aqui, apresentamos uma síntese das atividades da Vigilância em Saúde
realizadas nas comunidades adjacentes a uma floresta urbana no município do Rio
de Janeiro, Setor 1 da CJM, para o monitoramento de agentes infecciosos circulantes
em animais domésticos. Essas atividades são desenvolvidas em colaboração com
os Laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz, que formam uma Rede Colaborativa
para o diagnóstico e o isolamento dos agentes infecciosos.
1.1 Caracterização do território
A CJM localiza-se na Baixada de Jacarepaguá, ocupando parte da região
entre os contrafortes que definem a vertente leste do Maciço da Pedra Branca.
A CJM compreende, atualmente, cinco setores. Dentre esses, o Setor 1 ocupa a
região de fundo de vale, que se conecta ao remanescente de vegetação do Maciço
da Pedra Branca, protegido pelo Parque Estadual da Pedra Branca, em sua maior
parte. Este trabalho concentra-se no Setor 1 da CJM, que abrange o CFMA e cinco
comunidades sob elevada vulnerabilidade social. O Setor 1 caracteriza-se como
uma faixa de transição entre um grande remanescente de vegetação e vetores
de ocupação urbana densa e desordenada, que se estendem pela Baixada de
Jacarepaguá. Essa é uma das regiões de maior crescimento demográfico do estado
do Rio de Janeiro, com alguns de seus bairros apresentando os piores índices de
desenvolvimento humano (IDH) do município (FIOCRUZ, 2017).
A pressão antrópica na região do Maciço da Pedra Branca resulta em contínua
redução de sua cobertura vegetal, principalmente nas áreas de borda de floresta,
afetando a biodiversidade sob diversos aspectos, dentre os quais destacam-se
reduções populacionais ou mesmo extinções locais de populações naturais. Essa
redução da diversidade biológica pode desencadear diversos efeitos em cascata na
regulação dessas populações naturais e nos processos ecológicos, como o aumento
do risco de transmissão ou emergência de doenças infecciosas e parasitárias em
humanos.
Não obstante, a presença de animais domésticos e de criação (cães, gatos,
equinos, bovinos, suínos e aves), geralmente mantidos soltos no território da CJM,
contribui para o cenário de intensa interação entre humanos, animais domésticos e
fauna silvestre nativa e introduzida, compondo um ambiente favorável à transmissão
de agentes infecciosos de potencial zoonótico.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
130
1.1.1 Caracterização das condições socioambientais do Setor 1
da Colônia Juliano Moreira
Parte do Setor 1 (área da União gerida pela Superintendência de Patrimônio
da União – SPU RJ), onde estão localizadas as comunidades de baixa renda, é
definida como uma Área de Especial Interesse Social (AEIS), mediante lei municipal
específica nº 4885 de 25 de julho de 2008, aprovada pela Prefeitura do Rio de
Janeiro. Essa área possui um projeto de regularização fundiária e urbanística
aprovado e acompanhado mediante cooperação técnica entre o PDCFMA e a SPURio, com base no reconhecimento do direito social à moradia digna, consagrado
pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Cidade (FIOCRUZ, 2016).
Até 2016, no Setor 1, residiam 220 famílias com cerca de 800 moradores
em comunidades de pequeno porte: Caminho da Cachoeira (99 famílias), Fincão
(41 famílias), Sampaio Correia/Viana do Castelo (67 famílias), Faixa Azul/Remédios
(13 famílias). A maioria apresenta um perfil socioeconômico de baixa renda, sendo
constituída por idosos sem suporte de parentes, mulheres chefes de família ou
famílias muito numerosas (com vários filhos e/ou netos), em geral, com baixa
escolaridade e sem vínculo empregatício formal (FIOCRUZ, 2016). Desde então,
esses números não aumentaram de forma considerável, a despeito da forte pressão
de ocupação nos demais setores da CJM.
Além da vulnerabilidade social, há uma situação de extrema precariedade
sanitária, habitacional e ambiental, já que esta área não é atendida pela rede formal
de coleta de esgoto e abastecimento de água potável da Companhia Estadual de
Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), tampouco pelo sistema de drenagem
de águas pluviais, gerando um grave problema de saúde pública, especialmente em
algumas áreas de baixio, devido à contaminação do solo e das águas, alagamentos
e insalubridade de muitas moradias. A água de abastecimento de grande parte das
famílias do Setor 1 ainda é proveniente do reservatório da cachoeira (abastecido
pelas águas formadas no Maciço da Pedra Branca) e não possui tratamento. Além
disso, há ainda o problema do lixo, que é agravado pela ação de animais que
circulam no território, em especial cavalos, cães e gatos (FIOCRUZ, 2014).
Como mencionado, a maioria das habitações apresenta precárias condições
de habitabilidade, fatores estes que colocam em risco a segurança e a saúde das
famílias, aumentando a susceptibilidade ao contágio por agentes infecciosos.
1.2 Vigilância em Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS)
A vigilância em saúde pública caracteriza-se como a observação sistemática
e contínua da frequência, da distribuição e dos determinantes dos eventos de saúde,
tais como epidemias e endemias, e suas tendências para conhecer o processo de
saúde-doença na população (CDC, 1998; OPAS, 2010). A vigilância é essencial
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
131
para as atividades de prevenção e controle de doenças e é uma ferramenta na
alocação de recursos do sistema de saúde, assim como na avaliação do impacto
de programas e serviços de saúde. As etapas incluem: coleta de dados, análise dos
dados, interpretação e difusão da informação. Na coleta dos dados, as atividades
envolvem operacionalização das diretrizes normativas, identificação, notificação e
classificação de casos e validação dos dados. As atividades de identificação dos
casos e notificação cabem às equipes de saúde. As demais atividades da etapa de
coleta e as etapas de análise dos dados, interpretação e difusão da informação,
cabem às autoridades de saúde municipais, estaduais e nacionais (OPAS, 2010).
Dentre as doenças de importância em saúde pública e que são alvo de ações
de vigilância, estão as zoonoses. As ações e os serviços de saúde voltados para
vigilância, prevenção e controle de zoonoses e acidentes causados por animais
peçonhentos e venenosos de relevância para a saúde pública foram estabelecidas
na portaria de consolidação Nº 5, de 28 de setembro de 2017 (BRASIL, 2017a). Em
suma, essas ações e serviços são: a) educação em saúde com vistas à guarda ou
posse responsável de animais; b) vacinação animal contra zoonoses; c) diagnóstico
laboratorial de zoonoses e identificação das espécies de animais de relevância para
a saúde pública; d) recomendação e adoção de medidas de biossegurança que
impeçam ou reduzam o risco de transmissão de zoonoses e de acidentes causados
por animais peçonhentos e venenosos; e) controle da população de animais; f)
coleta, recebimento, acondicionamento, conservação e transporte de espécimes
ou amostras biológicas para os laboratórios responsáveis pela identificação ou
diagnóstico laboratorial de zoonoses; g) gerenciamento de resíduos gerados pelas
ações de vigilância de zoonoses; h) eutanásia; i) recolhimento e transporte de animais,
j) recepção de animais vivos e de cadáveres de animais; k) manutenção e cuidados
básicos de animais recolhidos em estabelecimento responsável por vigilância de
zoonoses; l) destinação adequada dos animais recolhidos; m) investigação, por
meio de necropsia, coleta e encaminhamento de amostras laboratoriais ou outros
procedimentos pertinentes, de morte de animais suspeitos de zoonoses (BRASIL,
2017a).
A Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ) é a estrutura física e técnica
vinculada ao SUS responsável pela execução de parte ou da totalidade das
atividades referentes à vigilância, prevenção e controle de zoonoses, previstas nos
Planos de Saúde e Programações Anuais de Saúde, podendo estar organizada de
forma municipal, regional e/ou estadual. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2016)
divide as zoonoses em três sub-grupos: zoonoses monitoradas por programas
nacionais de vigilância e controle do Ministério da Saúde; zoonoses consideradas de
relevância regional ou local; e zoonoses emergentes ou reemergentes. As zoonoses
monitoradas por programas nacionais de vigilância e controle do Ministério da
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
132
Saúde são: peste, leptospirose, febre maculosa brasileira, hantavirose, doença de
Chagas, febre amarela, febre de chikungunya e febre do Nilo Ocidental. As zoonoses
consideradas de relevância regional ou local são: toxoplasmose, esporotricose,
ancilostomíase, toxocaríase (larva migrans cutânea e visceral), histoplasmose,
criptococose, complexo equinococose-hidatidose, entre outras. As ações, atividades
e estratégias de vigilância de zoonoses visam eliminar ou diminuir os riscos de
transmissão à população humana (SOUZA et al., 2019). Elas devem ser precedidas
da avaliação da magnitude, da transcendência, do potencial de disseminação, da
gravidade, da severidade e da vulnerabilidade referentes ao processo epidemiológico
de instalação, transmissão e manutenção de zoonoses, considerando a população
exposta, a espécie animal envolvida, a área afetada (alvo), em tempo determinado
(BRASIL, 2016).
Ações de vigilância por meio de inquéritos sorológicos realizados em
animais domésticos e silvestres de comunidades de florestas urbanas no Brasil
confirmam a circulação frequente de zoonoses. Ornellas et al. (2020), em um
levantamento prévio entre os anos de 2012 e 2014 no território do CFMA, por
meio de um inquérito sorológico em fauna doméstica nessa área antropizada de
floresta urbana, encontraram soropositividades para Toxoplasma gondii, Leptospira
spp. e Leishmania infantum de 37,2%, 6,2% e 1,2%, respectivamente. Em estudo
de amostras fecais de animais domésticos e silvestres de áreas urbanizada com
fragmentos de floresta Amazônica, foi encontrada uma prevalência de 27,5% do
vírus Rotavírus A, causador de gastroenterite em humanos e animais (BARROS
et al., 2018). Em área de Mata Atlântica de um parque florestal do estado de São
Paulo e de área antropizada do entorno, o inquérito sorológico para pesquisa de
agentes causadores de zoonoses em animais domésticos e silvestres revelou a
ocorrência de soropositividade para Brucella spp. em queixadas, catetos, onça
pintada, cães domésticos e bovinos; e de Leptospira spp. em queixadas, catetos,
onça pintada, bovinos, ovinos, suínos domésticos e equinos (NAVA et al., 2008).
Na recente epidemia de febre amarela com ciclo de transmissão silvestre no Brasil,
entre 2017–2018, a vigilância da doença em primatas não humanos, sobretudo em
comunidades de floresta urbana, foi fundamental para as ações de prevenção e
controle da febre amarela, impedindo a ocorrência do ciclo de transmissão urbana da
doença (BRASIL, 2017b, MOUTINHO et al., 2020). Dessa forma, em comunidades
de florestas urbanas deve haver uma ação de vigilância contínua e sistemática
orientando as ações de prevenção e controle de zoonoses, que podem ter uma
rápida propagação com impactos em escala local, nacional e internacional.
Portanto, as ações deste estudo tiveram o objetivo de conhecer o território
(dados socioambientais e epidemiológicos); levantar e monitorar agentes zoonóticos
circulantes em animais domésticos e no ambiente; e desenvolver ações informativas
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
133
e educativas sobre prevenção e cuidados gerais com a saúde humana, animal e
ambiental. As ações incluem uma rede colaborativa de parceiros das unidades da
Fiocruz, referência no diagnóstico das zoonoses estudadas na região. Este é um
trabalho contínuo de promoção da saúde nas comunidades do Setor 1 da CJM com
base no conceito de Saúde Única.
2 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E LEVANTAMENTO DE AGENTES COM
POTENCIAL ZOONÓTICO NO SETOR 1 DA COLÔNIA JULIANO MOREIRA
(2018–2019)
Foi realizado um inquérito epidemiológico em saúde, com o levantamento
e o monitoramento de agentes zoonóticos em animais domésticos e de criação no
Setor 1 da CJM. Foram realizadas buscas ativas nos domicílios (cada residência
foi considerada um ponto de amostragem) para: o levantamento de dados sócioepidemiológicos; a avaliação clínica; e a coleta de material biológico dos animais
domésticos. Após a coleta, o material seguiu para a Unidade de Processamento de
Amostras Biológicas do CFMA, onde foi processado e, posteriormente, encaminhado
aos laboratórios parceiros da Fiocruz.
2.1 Agentes infecciosos com potencial zoonótico
As zoonoses, doenças que circulam entre humanos e outros vertebrados,
representam uma ameaça crescente à saúde global (WHO, 2020a). Segundo Jones
et al. (2008), ao longo da maior parte da segunda metade do século XX, as zoonoses
corresponderam a 60% dos eventos de doenças emergentes infecciosas, contra
20% associados a patógenos resistentes a medicamentos e outros 20% associados
a vetores. Mais de 70% destes eventos esteve relacionado a áreas com elevada
diversidade biológica, nas quais humanos estavam em amplo contato com a biota
local. Assim, locais onde comunidades vivam sob condições sanitárias precárias e
estejam em contato ou tenham animais domésticos e de criação em contato com
a fauna silvestre, tendem a ser mais susceptíveis à emergência dessas zoonoses.
Da mesma forma, ambientes naturais desestruturados pela intervenção humana
também aumentam o contato entre humanos e agentes infecciosos de origem
silvestre, o que eleva o risco de emergência de doenças infecciosas e parasitárias.
Dentro deste contexto, em 2018 e 2019, foram coletados materiais biológicos
dos animais domésticos para o diagnóstico e/ou o isolamento dos seguintes agentes
infecciosos associados às seguintes doenças:
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
134
2.1.1 Zoonoses helmínticas em comunidades com vulnerabilidade
social (urbanas, rurais e/ou florestais)
As principais zoonoses helmínticas caninas de importância na saúde
pública são a toxocaríase humana e seus distúrbios: larva migrans visceral (LMV);
neurotoxocaríase (NT); larva migrans ocular (LMO); larva migrans cutânea (LMC) e
as equinococoses (hidatidoses). O ciclo de vida dos agentes etiológicos é favorecido
pelo crescente número de cães, sejam eles domiciliados, peridomiciliados ou
errantes; pela falta de assistência veterinária e posse responsável; e pelo contexto
de vulnerabilidade socioambiental ao qual muitas comunidades humanas que
vivem em latitudes tropicais e subtropicais estão sujeitas, marcado sobretudo pela
ausência de saneamento básico e de hábitos de higiene adequados (CASSENOTE
et al., 2011; DEPLAZES et al., 2011; WINDERS & MENKIN-SMITH, 2019; WANG et
al., 2020).
A toxocaríase humana ocorre quando há ingestão acidental de ovos
embrionados, presentes no solo ou na água ou em vegetais crus, de nematoides do
gênero Toxocara, em especial Toxocara canis WERNER, 1782 com manifestações
clínicas posteriores, incluindo meningoencefalites ou cegueira (GLICKMA &
SCHANTZ, 1981; MAGNAVAL et al., 2020). No duodeno, as larvas eclodem,
atravessam a parede intestinal e ganham a circulação sanguínea, sendo capazes de
migrar pelo corpo e chegar a outros órgãos, como fígado, coração, pulmão, cérebro e
músculos. Todavia, o parasito não alcança seu desenvolvimento no tecido humano,
e a patologia é ocasionada pela reação inflamatória local (toxocaríase comum ou
encoberta), podendo levar a comprometimento neurológico (NT) ou ocular (LMO).
Em contrapartida, as larvas também liberam antígenos glicoproteicos solúveis
alergênicos durante a migração extra intestinal e ocasionam distúrbios sistêmicos,
caracterizando a LMV (SUGANE & OSHIMA, 1983; MAGNAVAL et al., 2020; WANG
et al., 2020).
A LMC, conhecida como “bicho geográfico”, é a uma dermatite humana
provocada pela migração de larvas de nematoides no estrato da pele, e as espécies
comuns em cães e gatos, Ancylostoma braziliense FARIA, 1909 e Ancylostoma
caninum ERCOLANI, 1859, são as mais relatadas (GUIMARÃES et al., 2005;
CASSENOTE et al., 2011). A infecção se dá quando as larvas penetram na pele não
protegida após contato direto com solo ou areia contaminados, causando prurido no
local da penetração, geralmente nos pés, pernas, glúteos ou dorso, com característico
desenvolvimento de um túnel filiforme subcutâneo de cor vermelho-amarronzada,
com um trajeto sinuoso. O desconforto e risco de infecções bacterianas justificam o
tratamento (PODDER et al., 2016; MAXFIELD & CRANE, 2019).
As equinococoses são doenças crônicas e incapacitantes que afetam
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
135
principalmente o fígado e os pulmões, e os sinais e sintomas dependem do órgão
acometido. Icterícia, dor e desconforto abdominal ocorrem quando há cistos
hepáticos; e no caso de cistos nos pulmões, tosse, dor no peito e hemoptise. Os cistos
cheios de “líquido hidático” se desenvolvem e crescem, causando principalmente
compressão em estruturas vizinhas. A ruptura de cistos pode causar febre, urticária
e reações anafiláticas. As pessoas se infectam ao consumirem acidentalmente
água, alimentos ou solo contaminados com ovos de Echinococcus spp. (CASULLI
et al., 2019).
A equinococose cística (EC) causada pelo estágio larvar (metacestoide) do
Echinococcus granulosus BATSCH, 1786 tem ampla distribuição mundial e no Brasil
é comum no estado do Rio Grande do Sul. E. granulosus é considerado um complexo
de espécies com status taxonômico incerto, sendo denominado E. granulosus senso
latu constituído pelos genótipos Echinococcus granulosus sensu stricto (G1-3),
Echinococcus ortleppi (G4); Echinococcus equinus (G5), Echinococcus felidis e o
grupo E. canadensis (G6-7, G8, G10) (CASULLI et al., 2019). No contexto da EC, o
cão doméstico é o principal hospedeiro definitivo, enquanto bovinos e ovinos atuam
como hospedeiros intermediários (FARIAS et al., 2004). A equinococose policística
(EP), causada pelo Echinococcus vogeli RAUSCH & BERNSTEIN, 1972, também
tem o cão doméstico como reservatório do parasito no ambiente peridomiciliar,
sendo endêmica na região neotropical e, no Brasil, relacionada à região amazônica.
A maioria dos estudos relata a detecção da forma larval em pacas, Cuniculus paca,
e no ser humano, ambos hospedeiros intermediários natural e acidental do E. vogeli,
respectivamente (D’ALESSANDRO et al., 1981; D’ALESSANDRO & RAUSCH,
2008; D’ALESSANDRO, 1997; NOYA-ALARCÓN et al., 2011; ALMEIDA et al.,
2013; MAYOR et al., 2015; ALMEIDA et al., 2015; DEBOURGOGNE et al., 2017;
BITTENCOURT-OLIVEIRA et al., 2018).
Os cenários que propiciam o desenvolvimento dessas doenças se
estabelecem quando o indivíduo humano é contaminado com ovos embrionados
de Echinococcus spp., ou quando os ovos de T. canis, A. braziliense ou A. caninum
encontram condições favoráveis para se embrionarem e suas larvas se tornam
infectantes. Os cães domésticos desempenham papel central nessa contaminação
ambiental uma vez que eliminam e disseminam ovos dos parasitos pelas fezes.
Apesar da disponibilidade de anti-helmínticos eficientes para cães, essas doenças
persistem em áreas endêmicas, sobretudo em países com ausência de programas
de controle ou, quando presentes, ineficazes (DEPLAZES et al., 2011; NEVES et
al., 2017).
As diferenças de prevalência das doenças são discrepantes entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento, e os fatores de maior risco incluem pobreza,
latitude, solo contaminado, idade jovem e alta concentração de cães. A toxocaríase,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
136
por exemplo, em países em desenvolvimento, é relatada com soroprevalência acima
de 80% em crianças em partes da Nigéria, enquanto que nos Estados Unidos, as
estimativas de soroprevalência variam de 5% a 15%, onde aproximadamente 10.000
casos clínicos são diagnosticados anualmente (BERRETT et al., 2017; FARMER et
al., 2017; WINDERS & MENKIN-SMITH, 2019).
Por sua vez, as equinococoses são zoonoses negligenciadas que infectam
mais de um milhão de pessoas no mundo, sendo a EC mais prevalente em locais
com de comunidades pobres. A EP, com elevada subnotificação, está relacionada a
ambientes rurais florestais onde ocorrem os hospedeiros silvestres do ciclo natural
do E. vogeli e a prática da caça para subsistência (NEVES et al., 2017; CASULLI
et al., 2019).
No levantamento das zoonoses helmínticas em cães e gatos domésticos no
Setor 1 da CJM foram observados agentes infecciosos com potencial zoonótico,
como helmintos ancilostomídeos e Toxocara sp. Os exames parasitológicos foram
realizados pela equipe do Laboratório de Helmintos Parasitos de Vertebrados,
Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ. As helmintíases foram, individualmente, tratadas
e os tutores orientados quanto a medidas preventivas.
2.1.2
Esporotricose
Esporotricose é uma micose subcutânea de distribuição mundial que acomete
humanos e animais (BRASIL, 2019a). É uma doença emergente causada por fungos
do complexo Sporothrix schenckii, tais como S. brasiliensis, S. schenckii, S. globosa
e S. luriei. Nas últimas duas décadas houve intenso crescimento do número de
casos de esporotricose no Brasil, em particular no Rio de Janeiro, que caracteriza-se,
atualmente, como uma região hiperendêmica (PEREIRA, et al., 2014), tendo como
agente etiológico o fungo S. brasiliensis. Essa espécie é considerada altamente
patogênica para humanos e animais (RODRIGUES, et al., 2016; GREMIÃO, et al.
2017; GREMIÃO, et al. 2020).
As infecções ocorrem tipicamente por inoculação do fungo na pele ou
mucosa, em acidentes com espinhos ou lascas de madeira, contato com solo,
plantas ou matéria orgânica contaminados. Alternativamente, a transmissão pode
ser entre animais (de gato para gato ou de gato para cão) ou zoonótica (de gato
para humano), através de mordedura ou arranhadura (GREMIÃO, et al. 2017).
Cães aparentemente não atuam diretamente na transmissão de Sporothrix spp.,
possivelmente devido à baixa carga fúngica comumente observada em lesões
nessa espécie (SCHUBACH et al., 2006).
As principais formas clínicas da doença em humanos são: cutânea,
caracterizada por lesões na pele; linfocutânea, com formação de nódulos subcutâneos
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
137
no trajeto de vasos linfáticos da região afetada; extracutânea, com acometimento de
outros órgãos que não a pele; e disseminada, quando há acometimento de vários
órgãos (BRASIL, 2019a). Em gatos as manifestações clínicas mais frequentes da
esporotricose são: múltiplas lesões (úlceras e/ou nódulos) na pele, acometendo
principalmente a região da cabeça, em especial o nariz; acometimento de
membranas mucosas, principalmente do trato respiratório; linfangite e linfadenite.
São comuns sinais clínicos respiratórios como espirros, dispneia e secreção nasal.
O prognóstico depende do número e extensão das lesões, sendo pior quando há
comprometimento respiratório. Depende ainda da condição clínica geral do animal
e da persistência do tutor, visto que o tratamento é longo e requer cuidado diário
(GREMIÃO, et al., 2015).
As medidas de prevenção e controle da esporotricose incluem o uso de
equipamentos de proteção individual para o manuseio do solo e matérias vegetais
possivelmente contaminados, assim como para o manuseio de animais doentes;
diagnóstico precoce, tratamento e isolamento de animais doentes; incineração
do corpo do animal em caso de óbito, evitando a contaminação do solo (BRASIL,
2019a). A notificação de casos suspeitos ou confirmados em humanos e animais é
compulsória em regiões endêmicas para esporotricose como o estado do Rio de
Janeiro (SESRJ e FIOCRUZ, 2011).
Entre 2018 e 2019 foram diagnosticados dois casos de esporotricose em
gatos do Setor 1 da CJM e 35 casos em gatos do entorno. Os animais foram
tratados e receberam acompanhamento ambulatorial mensal até a cura clínica.
Um caso suspeito de esporotricose em cão foi encaminhado ao Laboratório de
Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos (Lapclin-Dermzoo)
do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, FIOCRUZ, para excluir
a possibilidade de LT (diagnóstico diferencial), onde emitiram laudo da anatomia
patológica com resultado negativo para as formas amastigota de Leishmania spp.,
negativo para micobactérias e confirmaram a infecção por Sporothrix sp. Este animal
foi acompanhado clinicamente e terapeuticamente até a alta médica. Em todos os
casos, os tutores dos animais foram orientados quanto aos cuidados e a prevenção
da esporotricose.
2.1.3
Leishmanioses
As leishmanioses são doenças causadas por mais de 20 espécies de
protozoários do gênero Leishmania, transmitidos para humanos e outros vertebrados
por meio da picada de fêmeas de insetos da subfamília Phlebotominae, conhecidos
popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras e birigui (BRASIL, 2019b).
Aproximadamente 70 espécies animais, incluindo humanos, já foram apontadas
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
138
como hospedeiros de Leishmania. As leishmanioses afetam principalmente pessoas
em situações vulneráveis, estando associadas à desnutrição, deslocamento
populacional, condições habitacionais ruins, comprometimento do sistema imune
e baixa renda. A ocorrência de leishmanioses está também associada a mudanças
ambientais como desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação,
urbanização e mudanças climáticas (WHO, 2020b).
As principais formas clínicas das leishmanioses são leishmaniose visceral
(LV), também conhecida como calazar; e leishmaniose tegumentar (LT), que inclui
as formas cutânea e mucosa ou mucocutânea (BRASIL, 2019b). Atualmente, mais
de 1 bilhão de pessoas vivem em áreas endêmicas para leishmanioses e estão em
risco de infecção. Estima-se que anualmente ocorram 30.000 novos casos de LV e
mais de 1 milhão de novos casos de LT no mundo (WHO, 2020b). Em 2018, 20%
dos novos casos de LV reportados à Organização Mundial da Saúde ocorreram no
Brasil e o país estava entre os sete com maior incidência de LT no mundo (RUIZPOSTIGO et al., 2020).
A LV é uma doença sistêmica crônica que pode levar a óbito mais de 90%
dos casos não tratados. As principais manifestações clínicas da LV são: febre,
hepatomegalia, esplenomegalia, emagrecimento, fraqueza e anemia. O agente
etiológico nas Américas é a Leishmania (Leishmania) infantum (considerada
sinônimo sênior para L. (L.) chagasi) e os vetores no Brasil são Lutzomyia longipalpis
(principalmente), Lu. cruzi e, possivelmente, Lu. migonei. Em ambiente urbano, o
cão doméstico (Canis lupus familiaris) é apontado como principal reservatório do
parasito. Raposas (Lycalopex vetulus e Cerdocyon thous) e marsupiais (Didelphis
spp.) são exemplos de reservatórios silvestres (BRASIL, 2019b). Anteriormente típica
de áreas rurais, a LV vem sofrendo uma mudança em seu cenário epidemiológico
e atualmente ocorre predominantemente em áreas urbanas centrais e periféricas,
frequentemente associada a condições sanitárias precárias (MARCHI et al., 2019;
MARCONDES & DAY, 2019).
A LT é uma doença crônica que tem como principal manifestação clínica
úlceras na pele e/ou em mucosas, que podem ser únicas, múltiplas, disseminadas
ou difusas, acometendo principalmente nariz, boca e garganta. Diferentes espécies
de Leishmania são agentes etiológicos de LT, sendo as principais no Brasil: L.
(Viannia) braziliensis, L. (V.) guyanensis e L. (L.) amazonensis, e seus vetores:
Lu. intermedia, Lu. whitmani, Lu. umbratilis, Lu. wellcomei, Lu. flaviscutellata e Lu.
migonei (BRASIL, 2019b). A LT já foi descrita em diversas espécies de animais
silvestres, sinantrópicos e domésticos. Diferentemente do que é descrito na LV, cão
doméstico não é considerado reservatório das espécies de Leishmania causadoras
de LT. Antes considerada uma doença de animais silvestres e ocasionalmente de
pessoas em contato com florestas, a LT atualmente tem ocorrência crescente em
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
139
zonas rurais, áreas de desmatamento e regiões periurbanas brasileiras (BRASIL,
2019b; MARCHI, et al., 2019).
As leishmanioses são doenças de notificação compulsória. Casos humanos
confirmados devem ser investigados quanto à origem da infecção (autóctones ou
importados) e devem ser notificados ao Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN) (BRASIL, 2019b). Casos caninos e felinos devem ser notificados
aos serviços públicos de saúde do local provável de infecção.
As medidas de prevenção e controle das leishmanioses incluem: diagnóstico
precoce e tratamento de casos humanos; investigação entomológica e medidas
de controle ambiental e proteção individual contra vetores; ações de educação
em saúde e vigilância em cães domésticos. O inquérito sorológico canino é
recomendado em áreas endêmicas para LV e receptivas (onde há a presença de
vetores, porém sem confirmação de casos humanos ou caninos). O Ministério da
Saúde do Brasil recomenda a eutanásia de cães com diagnóstico sorológico ou
parasitológico de LV (BRASIL, 2019b). Essa medida é controversa e apontada por
alguns pesquisadores como ineficaz no controle da LV (COURTENAY, et al., 2002;
DANTAS-TORRES et al., 2018). Apesar da recomendação de eutanásia, tutores
podem optar pelo tratamento de cães infectados, desde que não sejam utilizados
medicamentos recomendados para tratamento em humanos (BRASIL, 2008; MAPA,
2016). Não há recomendação de inquérito para diagnóstico de LT em cães, porém,
faz-se necessária a identificação da espécie de Leishmania nos casos provenientes
de áreas de ocorrência concomitante de LV e LT (BRASIL, 2019b).
Entre 2018 e 2019 não foram encontrados casos suspeitos de leishmaniose
visceral canina (LVC) na região do estudo e todos os testes rápidos (TR DPP®
Leishmaniose Visceral Canina, Bio-Manguinhos) realizados no Setor 1 da CJM
foram negativos. Também não foram diagnosticados casos de LT.
2.1.4
Criptococose, micose sistêmica
Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii são os dois complexos de
espécies de leveduras agentes da criptococose, infecção sistêmica responsável
por cerca de 624 mil mortes ao ano (KWON-CHUNG et al., 2017). A infecção é
adquirida por meio da inalação de células desidratadas presentes em diversas
fontes ambientais. Após atingir o pulmão, a infecção pode disseminar para vários
órgãos, podendo causar meningite ou meningoencefalite. Estima-se que, por ano,
existam cerca de um milhão de casos de meningite criptocócica em todo o mundo,
sendo 80% desses casos na África.
A maioria dos casos está relacionada à pacientes com AIDS causada pelo
C. neoformans, e frequentemente este diagnóstico é feito simultaneamente com o
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
140
diagnóstico da criptococose. Pode-se ainda sugerir que a criptococose funciona como
“sinalização” para a suspeita de AIDS (PARK et al., 2009; MEYA et al., 2010). Além do
mais, ocupa a terceira posição como infecção fúngica que mais acomete pacientes
transplantados, visto que indivíduos submetidos à terapia imunossupressora ou
quimioterápica apresentam grande risco de contrair a infecção (SINGH & FORREST,
2009). A criptococose também pode ocorrer como uma infecção endêmica primária
que acomete imunocompetentes causada por C. gattii.
A letalidade da criptococose varia entre diferentes países e depende de
diversos fatores como a disponibilidade de terapia antiretroviral (ART), antifúngicos,
bem como o tempo de diagnóstico após início dos sintomas. Na África, apesar do
aumento da disponibilidade da ART e anfotericina B, a letalidade varia entre 17 e
62% (SOW et al., 2013). No Brasil, apesar da ART ser disponibilizado pelo Ministério
da Saúde, a letalidade na primeira semana pode chegar a 51% (PAPALARDO et
al., 2007, MORA et al., 2010), o que pode ser atribuído ao avançado estado de
imunodepressão na admissão do paciente e ao diagnóstico tardio. Em países
desenvolvidos, como os da Europa e América do Norte, esses números são menores,
chegando a 32% e 26% respectivamente.
Em cães e gatos, normalmente a cavidade nasal é o local inicial de infecção.
Na maioria dos casos é apenas uma colonização subclínica sem invasão do epitélio
(DUNCAN et al., 2006). O período de incubação varia de meses a anos, e a fonte
de infecção permanece desconhecida. A exposição ambiental e a colonização
assintomática do trato respiratório são mais comuns do que a doença clínica
(MALIK et al., 1997), e casos assintomáticos por C. gattii têm sido reconhecidos
em 4,3% de gatos, 1,1% de cachorros e em 2% de animais silvestres (esquilos) no
Canadá (DUNCAN et al., 2006; BARTLETT et al., 2008). O gato possui uma notável
suscetibilidade aos agentes da criptococose e pode ser sentinela para a exposição
humana (TRIVEDI et al., 2011).
O aumento dos casos potencialmente fatais e a emergência de epidemias
justificam a necessidade da vigilância epidemiológica da doença. São reconhecidos
cinco sorotipos e oito tipos moleculares principais para os agentes da criptococose:
os sorotipos A, AD e D, e os tipos moleculares VNI a VNIV, para C. neoformans; e
sorotipos B e C, e os tipos moleculares VGI a VGIV, para C. gattii, e recentemente,
centenas de subtipos moleculares (ST) foram descobertos a partir do sequenciamento
de diversos loci. Estes STs apresentam diferenças clínicas e eco-epidemiológicas
importantes, como variações na distribuição geográfica, prevalência, virulência,
resistência aos antimicrobianos, taxas de mortalidade e prognóstico da infecção,
justificando, assim, sua significância e necessidade de monitoramento dos genótipos
circulantes e consolidação da vigilância epidemiológica em nosso País.
Não foram isolados agentes fúngicos causadores de micoses sistêmicas,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
141
como Cryptococcus spp. em cães e gatos domésticos no Setor 1 da CJM. Os
procedimentos para o isolamento do fungo foram realizados no Laboratório
de Micologia do INI/Fiocruz. Como perspectivas futuras, realizaremos estudos
ambientais para fungos sistêmicos no Setor 1 da CJM.
3 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Florestas urbanas no Brasil, mesmo quando protegidas por unidades de
preservação, sofrem diferentes pressões antrópicas associadas ao crescimento
urbano desordenado, o que se soma às desigualdades sociais e falta de ações
do poder público no tocante a uma política de habitação, fiscalização, educação e
saneamento. Como consequência, áreas de conservação e as florestas adjacentes
que compõem suas zonas de amortecimento são invadidas e desmatadas em busca
de moradia e especulação imobiliária.
Nas florestas urbanas, é comum encontrar áreas no seu entorno com
diferentes graus de ocupação e urbanização. São encontradas tanto áreas com
ruas asfaltadas, fornecimento de água potável encanada e rede de esgoto, com
recolhimento regular de lixo; como áreas com moradias precárias, com ruas sem
asfalto, sem água tratada, rede de esgoto, recolhimento regular de lixo; bem como
áreas com características rurais, com criação de animais de produção e plantações
de frutas e vegetais (ORNELLAS et al., 2020). Essa situação ambiental, com
proximidade de habitações às florestas, bem como as ações de desmatamento
e ocorrência de vulnerabilidade social, caracterizadas por moradias precárias,
adensamento populacional, falta de água tratada e saneamento, desnutrição, baixa
escolaridade, falta de hábitos de higiene e falta de acesso aos serviços de saúde,
entre outros levam a cenários de contato de humanos, vetores, animais domésticos
e silvestres e agentes infeciosos, o que potencializa os riscos de emergência e
reemergência de zoonoses. A urbanização pode ser um fator que aumenta o risco
de ocorrência de zoonoses, uma vez que há um rápido crescimento e aumento da
densidade da ocupação humana, aumento do movimento de pessoas e animais,
maior complexidade nas cadeias de valor em torno de produtos de origem animal,
migração rural-urbana, desigualdades entre cidades e mudanças no uso da terra
(AHMED et al., 2019).
De acordo com Willcox e Ellis (2006), o papel das florestas e do manejo
florestal no surgimento de doenças infecciosas dos seres humanos parece envolver
três dinâmicas separadas, mas que interagem, são elas: (i) mudança no uso da terra
e expansão de populações humanas em áreas florestais, resultando em exposição
de populações de humanos e animais domésticos não imunes a patógenos (ou seja,
aqueles que ainda não foram expostos à fauna desses microparasitas), ocorrendo
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
142
naturalmente entre a fauna silvestre; (ii) desmatamento e alteração de florestas
produzindo um aumento na abundância ou dispersão de patógenos por influenciar na
abundância e distribuição de hospedeiros e vetores; e (iii) alteração das funções ecohidrológicas como infiltração, pico de descarga e escoamento superficial da água,
que facilitam a sobrevivência e o transporte de patógenos em bacias hidrográficas.
A transmissão dos agentes causadores de zoonoses nas comunidades adjacentes
a florestas urbanas pode ocorrer tanto pelo contato direto entre humanos e animais
domésticos, silvestres e sinantrópicos, quanto pela ingestão de água e alimentos
contaminados, assim como por insetos vetores como mosquitos, flebotomíneos,
pulgas e carrapatos.
Desde o inicio das atividades na região, bactérias, vírus e protozoários,
incluindo tripanosomatideos, de potencial patogênico para humanos foram
identificados no território do CFMA e adjacências, por diversos grupos, em
pesquisas realizadas em parceira com a Área de Saúde Ambiental do PDCFMA (e.g.,
FERREIRA et al., 2018; HORTA et al., 2018; RANGEL et al., 2019; GONÇALVESDE-OLIVEIRA et al., 2020; ORNELLAS et al., 2020). Portanto, esses resultados e as
características ambientais e sociais do território reforçam a importância da Vigilância
em Saúde para a promoção da saúde. A integração entre a Vigilância em Saúde e a
Atenção Primária à Saúde é condição obrigatória para a construção da integralidade
na atenção e para o alcance dos resultados, com desenvolvimento de um processo
de trabalho condizente com a realidade local (BRASIL, 2017; BRASIL, 2017c).
O médico veterinário é considerado um profissional da área da saúde pelo
Ministério da Saúde (BRASIL, 1997), sendo imprescindível a sua atuação na saúde
pública por meio da vigilância, controle e prevenção de zoonoses. Esse profissional,
independentemente de sua especialidade, deve notificar a ocorrência de zoonoses
ou a simples suspeita dela aos órgãos competentes. No caso de doenças de
notificação obrigatória, essa notificação às autoridades de saúde competentes é
um dever previsto no Código de Ética Profissional, Resolução CFMV nº 1138, de
16 de dezembro de 2016 (CFMV, 2016). Portanto, o médico veterinário deve estar
atento às listas atualizadas de doenças compulsórias dos órgãos públicos da saúde
e agricultura, nas quais há diversas enfermidades zoonóticas e de transmissão
vetorial associadas direta ou indiretamente às atividades dos médicos veterinários
(MOUTINHO, 2016; BRASIL, 2020). Para esse profissional, existem duas listas
de doenças de notificação obrigatória a nível federal, sendo uma do Ministério da
Saúde e a outra do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
A lista do Ministério da Saúde está descrita na Portaria Nº 1.061, de 18 de maio
de 2020 (BRASIL, 2020). A lista do MAPA está descrita na Instrução Normativa
nº 50, de 24 de setembro de 2013 (BRASIL, 2013). Ademais, na atividade de
notificação de zoonoses, é fundamental a articulação entre os serviços públicos
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
143
de vigilância e os médicos veterinários de diversos setores e campos de atuação,
para que seja identificada oportuna e precocemente a introdução de uma zoonose
em uma determinada área ou seu risco iminente (BRASIL, 2016). Essa atuação
na saúde pública reforça a importância desse profissional, que pela sua formação
possui habilidades para atuar utilizando a abordagem de Saúde Única sobre a tríade
ambiente, humanos e demais animais, o que é essencial para prevenir e controlar as
zoonoses (KHAN, 2006; MOUTINHO, 2016). Ainda dentro da abordagem de saúde
única, é importante ressaltar que o sucesso da atuação do médico veterinário está
relacionado a sua comunicação, colaboração e coordenação de atividades com
médicos humanos, outros profissionais da saúde, ecólogos e cientistas sociais,
dentre outros, tanto no campo da clínica, da saúde pública, como no da pesquisa
(KHAN, 2006; DIZINGIRAI et al., 2017; DESTOUMIEUX-GARZÓN et al., 2018).
Como reconhecimento da importância do médico veterinário na saúde pública e da
atuação interdisciplinar de profissionais da área de saúde, sobretudo no controle
de zoonoses, o Ministério da Saúde possibilitou a inclusão do médico veterinário
no Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF), a partir de 2011 (BRASIL, 2011;
MOUTINHO, 2016). O NASF faz parte do Sistema Único de Saúde e visa aperfeiçoar
a Atenção Básica, fornecendo base de apoio especializada e matricial às equipes da
Estratégia de Saúde da Família (BRASIL, 2013; MOUTINHO, 2016).
Como perspectiva futura para as ações em comunidades com vulnerabilidade
social, destacamos a inclusão de novos parceiros (laboratórios referência no
diagnóstico de agentes zoonóticos) e novas comunidades do entorno do Setor 1 da
CJM.
Por fim, é importante destacar a crise sanitária mundial que estamos
vivenciando, a qual vem causando um impacto sem precedentes na história atual
das sociedades, causada pela pandemia do COVID-19. Frente a esta situação,
pesquisadores e especialistas em todo o mundo se uniram na missão de construir
conhecimento para o enfrentamento desta pandemia, com ações conjuntas como
programas e campanhas de iniciativas nacionais e internacionais. Considerando a
transmissão direta por fômites e a proximidade de animais domésticos e humanos,
que se destaca a possibilidade de cães e gatos domésticos serem sentinelas,
carreadores ou reservatórios do novo coronavírus, podendo desempenhar ou
não um papel na epidemiologia da doença. Shi et al. (2020) identificaram furões
e gatos como altamente suscetíveis. Além destes, cães podem se infectar,
mas são menos suscetíveis, e animais de produção, como aves e suínos, não
apresentaram suscetibilidade a esse agente. Frente ao conhecimento estabelecido,
não é possível descartar a possibilidade desses animais atuarem como uma fonte
de infecção desse vírus para os humanos. Assim, convém evitar o contato de
pessoas infectadas com esses animais, pois foi verificado que podem carrear o
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
144
vírus agindo como fômites. Esse risco de transmissão é considerado baixo, mas
são necessários alguns cuidados com os animais de companhia, a fim de evitar
diferentes doenças infecciosas, incluindo a infecção por SARS-CoV-2. É importante
manter a higiene, lavando as mãos antes e depois de interagir com esses animais,
evitar a aproximação desses animais com pessoas doentes e limitar o contato do
animal com pessoas fora do domicílio. Dessa forma, são necessários mais estudos,
a fim de; não criar pânico na população com consequente abandono, maus tratos e
eutanásia desnecessária desses animais (CDC, 2019 RISTOW et al., 2020). Além
disso, esses animais abandonados podem ser um grave problema de saúde pública,
especialmente para o aumento da incidência de importantes zoonoses, como a raiva
e as leishmanioses (OPAS, 2020).
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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 11
152
doi
CAPÍTULO 12
TRABALHO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
SUSTENTÁVEL: ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA
INTEGRAÇÃO DA FORÇA FEMININA NO SETOR
TERCIÁRIO DE MATO GROSSO DO SUL
Data de aceite: 01/10/2020
Daniel Massen Frainer
http://lattes.cnpq.br/6910455102814572
https://orcid.org/0000-0003-0813-214X
Ailene de Oliveira Figueiredo
http://lattes.cnpq.br/8591447066310316
https://orcid.org/0000-0001-7066-576X
RESUMO : O objetivo deste artigo é analisar
a evolução da integração da força de trabalho
feminina em suas relações sociais, ambientais e
econômicas, e a responsabilidade socioambiental
das empresas como cidadania econômica na
esfera regional. Analisa a ocupação no setor
terciário do Estado de Mato Grosso do Sul,
descrevendo as mudanças ocorridas em razão
das mudanças tecnológicas, flexibilização
produtiva e das relações de trabalho, redução
na oferta de emprego no setor terciário, o
qual reconhecidamente, é qualificado como
setor de maior precarização das relações de
trabalho. Nesta perspectiva, examina o conceito
da igualdade nos empregos verdes, o qual
possui formulação ampla, para todo e qualquer
emprego, relacionando a todas as convenções
internacionais que trata sobre o tema, a
responsabilidade socioambiental das empresas
(RSE) no acesso emprego, e seus reflexos no
desenvolvimento regional. A metodologia utilizada
é analítico descritiva quantitativa, utiliza para
tanto, dados secundários obtidos por meio do
RAIS-CAGED e IBGE-PNAD, no período 20022018. Os resultados evidenciaram um aumento
populacional das mulheres, e estagnação da
força feminina no mercado de trabalho regional,
mesmo sendo o setor responsável pelo maior
crescimento de ocupações.
PALAVRAS-CHAVE: Economia do Trabalho;
Gênero; Empregos Verdes; Desenvolvimento
Regional
Sustentável;
Responsabilidade
Socioambiental das Empresas (RSE).
ABSTRACT: The aim of this article is to analyze
the evolution of the integration of the female
workforce in their social, environmental, and
economic relations, and the socio-environmental
responsibility of companies as economic
citizenship in the regional sphere. It analyzes
the occupation in the tertiary sector of the state
of Mato Grosso do Sul, describing the changes
that occurred due to technological changes,
productive flexibility and labor relations, reduction
in the provision of employment in the tertiary
sector, which recognized, is qualified as a sector
of greater precarization of labor relations. In this
perspective, it examines the concept of equality
in green jobs, which has broad formulation for
any and all jobs, relating to all the international
conventions dealing with the topic, the socioenvironmental Responsibility of companies
(CSR) Access to employment, and its reflections
on regional development. The methodology
used is quantitative descriptive analytical, uses
for both, secondary data obtained through the
RAIS-CAGED and IBGE-PNAD, in the period
2002-2018. The results evidenced a population
increase of women, and stagnation of female
strength in the regional labor market, even being
the sector responsible for the greater growth of
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
153
occupations.
KEYWORDS: Economy of Labor; Gender; Green Jobs; Sustainable Regional
Development; Corporate Socio-environmental Responsibility (CSR).
1 | INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é analisar a integração da força de trabalho feminina
em suas relações socioambientais e econômicas no setor terciário de Mato Grosso
do Sul, e a responsabilidade socioambiental das empresas, descrevendo a relação
de ocupação feminina no âmbito regional, amparados pelo conceito de empregos
verdes e a implementação da responsabilidade socioambiental empresarial (RSE)
no meio ambiente do trabalho como parâmetro ético na promoção do princípio da
igualdade.
Com o declínio dos modelos tayloristas e fordistas de organização do
trabalho, o qual foi motivado por uma concepção flexibilizada dos processos
produtivos, surgiu então um novo padrão organizacional intitulado toyotismo. A
produção em massa foi abandonada, emergindo, a título da redução de custos, a
ideia da produção vinculada a demanda. Os trabalhadores dedicados à atividadefim, objeto social do empreendimento, passaram a ser estimulados por mecanismos
de competição: suas retribuições seriam mais elevadas na medida que alcançassem
ou superassem metas preestabelecidas, e aqueles que não se adaptassem eram
dispensados, e, mediante novas contratações, realocados em outra empresas para
que realizassem atividades-meio, isto é, atividades secundárias ou instrumentais da
atividade fim.
Numa análise setorizada da economia, o setor terciário, é conceituado como:
“aquele que incorpora atividades que não produzem nem modificam objetos físicos
(produtos ou mercadorias) e que terminam no momento em que são realizadas.”
(VARGAS, 2001), sugerem a análise de seu ambiente, localização e de seus
trabalhadores, sob a lume dos princípios universais, e precarização generalizada
das relações de trabalho inaugurado a partir da reforma trabalhista.
A elaboração e a promoção da responsabilidade social das empresas
(RSE) na implementação do trabalho decente, ora qualificado como empregos
verdes, estabelece padrões éticos destinados às empresas com a assunção de
compromissos que tem como princípio central, o da promoção e firmamento do
conceito de igualdade na diferença, nas dimensões de acesso, manutenção e
promoção no trabalho da mulher.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
154
2 | METODOLOGIA
Esse artigo aborda o tipo de pesquisa descritiva, que tem como conceito a
caracterização de determinado fenômeno ou população, interpretando-os. Segundo
(VERGARA, 2000), trata-se da mais tradicional tipologia de pesquisa, caracterizada
pela descrição de um fenômeno sobre determinado período, e/ou comportamento de
suas variáveis, e após esse recorte temporal, analisa-se as causas que influenciaram
a sua ocorrência, e que podem ser diferentes das pesquisadas anteriormente.
O estudo abrangeu igualmente a pesquisa exploratória bibliográfica quanto
ao estudo teórico, e análise dos dados secundários extraídos por meio de relatórios
e por órgãos e institutos que pesquisam dados econômicos. Objetiva-se uma análise
estatística para o alcance dos resultados e consequentemente, para a consecução
dos objetivos propostos pela pesquisa. Os dados obtidos estão alicerçados em
pesquisas realizadas pelo IBGE na base dados do Sistema de Contas Nacionais
e Pesquisa Nacional de Amostra por município (PNAD), ambos do IBGE ano 2018.
A PNAD Contínua é elaborada por meio de amostra por domicílios colhidos da
amostra-mestra por setores censitários, e encerrada em dezembro de 2018.
A pesquisa infere as características gerais da população com mineração de
dados na vertente de ocupação e diferenciais entre gênero, informações econômicas
disponibilizadas pelo IBGE e pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(CAGED). Foi instituído pela Lei n. 4.923/65 para registro de “admissões e dispensas
de empregados nas empresas abrangidas pelo sistema da “Consolidação das Leis
do Trabalho” (BRASIL, 1965), no recorte temporal 2002-2018.
Tem como a finalidade direcionar políticas públicas de geração de bem-estar
social, com necessidade de mineração de dados para o Governo Federal por meio
do Ministério do Trabalho e Emprego. Reformulado em 2007, adotou-se a Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS), que se trata de um relatório de informações
socioeconômicas elaborado por pessoas jurídicas e outros empregadores formais
e entregue anualmente. Este relatório trata dos vínculos empregatícios da
administração pública e privada, e empregadores cadastrados no Instituto Nacional
de Seguridade Social (INSS), fornecendo informações estatísticas para tomada de
decisões governamentais.
3 | MEDIAÇÃO
TEÓRICA:
DESENVOLVIMENTO
ECOLOGIA,
FEMINISMO
E
Os pensadores mais antigos trouxeram a discussão acerca da gestão de
bens e serviços nas sociedades, tratando de questões como filosofia da moral ou
política. Entretanto, com o surgimento das fábricas e da produção de bens em massa,
instaurou-se uma nova era de organização econômica, que fazia uma análise do
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
155
todo, isto é, a economia de mercado. Esse mecanismo cria oportunidade de lucro
para produtores que competem entre si para fornecer mais produto. Na segunda
metade do século XX, novas áreas da economia se incorporaram às teorias, a
psicologia, sociologia e, ao mesmo tempo, os cientistas concluíram que a crescente
riqueza econômica ocorria à custa do ambiente, na forma de alterações climáticas
potencialmente desastrosas.
Na esteira de tais mudanças, o Programa de Meio Ambiente das Nações
Unidas (PNUMA – United Nations Enviroment Programme, UNEP), define economia
verde como “aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e da igualdade
social, ao mesmo tempo que reduz significativamente os riscos ambientais e das
limitações ecológicas, isto é, uma economia socialmente inclusiva, de baixo-carbono
e eficiente no uso dos recursos ambientais.
Segundo Seroa Mota & Dubeux (2011), “economia verde é a proposta de
conjunto de instrumentos para o alcance do desenvolvimento sustentável”. A UNEP
(2011) propõe como “objetivo-chave de uma transição para a economia verde é
eliminar os trade-off entre crescimento econômico e investimento, e os ganhos de
qualidade ambiental e inclusão social”.
Ao se discutir a inclusão social, o desenvolvimento teórico feminista, no
início dos anos 1970, veio a consolidar análises diversas. Desde a fundação da
Associação Internacional para a Economia Feminista (IAFFE) na década de 1990,
aeconomia feminista se tornou um campo de estudos em que são desenvolvidas
pesquisas acadêmicas e promovem a criação de espaço político por meio de
movimentos sociais, das Organizações Não Governamentais (ONG’s) e de
associações de mulheres trabalhadoras. Combina argumentos com o feminismo
contra o racismo, pós-colonial, pós-moderno, com economia marxista e economia
ecologista (TEIXEIRA, 2017).
Pérez Orozco (2005) estabelece diferenciais entre “economias feministas
conciliatórias”, as quais não rompem com a lógicas mercantis de produção, e têm
como ponto de partida a redefinição dos princípios entre economia e trabalho, a
análise econômica por meio de diferenciais nas relações de gênero, bem como
analisa as causas das divisões desiguais. As “economias “rupturistas”, partem da
análise das experiências e possui como marco inicial, isto é, como uma categoria
de análise primária, a sustentabilidade humana.” Neste contexto social, econômico
e ambiental complexo, vem se firmando, segundo Teixeira (2017), “a construção de
um novo marco conceitual reconhecido como economia feminista”, que segundo a
autora, “irá formular a crítica a economia predominante, a partir do reconhecimento
de sua estreiteza ao focar métodos matemáticos, fenômenos repletos de conexões”.
As autoras propõem que a Economia passe a ser definida por uma
preocupação com a sustentabilidade da vida em todas as esferas em que se realiza
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
156
e não unicamente pelo mercado. Substituindo-se a racionalidade econômica pelo
que é necessário para a implantação da sustentabilidade humana. O campo de
estudo sobre o feminismo, segundo Hughes (1989), está alicerçado na ecologia
humana que possui quatro eixos fundantes : a economia, o estado, a cultura e o
parentesco. A partir deste eixo são concebidos subsistemas sociais: democracia,
nacionalismo, conexão entre racismo e homofobia, o feminismo, economia feminista
o ecofeminismo, que formam os eixos argumentativos situados entre os campos da
economia capitalista e da família e/ou parentesco.
Figura 1. Eixos fundantes dos sistemas e subsistemas da Ecologia Humana.
Fonte: Hughues, 1989.
Siliprandi (2000) elabora fundamentos que estruturam o Ecofeminismo como
parte integrante da Economia feminista, e o define como “uma escola de pensamento
que tem orientado movimentos ambientalistas e feministas desde a década de 70,
em várias partes do mundo, procurando fazer uma interconexão entre a dominação
do ambiente e a dominação das mulheres, podendo ser considerada mais como
uma corrente que trabalha com mulheres dentro do movimento ambientalista.
Segundo Rocha (2006), as intituladas de ecoideologias buscam contribuir
para uma crítica ecológica mais consistente, sem, contudo, pressupor a existência
de um tipo ideal de militante. Em uma análise concreta, não é possível estabelecer
tais rupturas, sem que sejam estudadas as dinâmicas econômicas nas formas em
que se estabelecem, e sob a lume dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
(ODS), recomenda-se uma análise como parte integrante da economia ecológica.
A Economia ecológica se caracteriza por uma área de estudo transdisciplinar que
analisa ecossistemas naturais e Economia, sendo diferenciada quanto a Economia
ambiental, que está fundamentada na Economia neoclássica.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
157
4 | A RELAÇÃO CONCEITUAL ENTRE IGUALDADE DE GÊNEROS E
EMPREGOS VERDES
As Ciências Sociais e Humanas o conceituam o ambiente como certas
condições externas a um fenômeno e fazem uso dos adjetivos econômico, cultural
e político (REIS, VELHO, 1997). A Geografia entende o ambiente “como o suporte
físico imediato ou o sistema de objetos que percebemos a nossa volta (HOLZER,
1997). O Direito o define como “produto das interrelações dos subsistemas naturais,
econômico e sociais” (GIANNUZZO, 2010).
O meio ambiente pode ser classificado: meio ambiente físico, constituído
pelo solo, água, ar atmosférico, flora e fauna; meio ambiente cultural; pelos
valores históricos, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico existentes em um
determinado país; o meio ambiente artificial em que está inserido o espaço urbano
construído pelo ser humano, englobando o conjunto de edificações, e espaços
urbanos públicos, e o meio ambiente do trabalho, local de realização de atividade
laboral.
O Pnuma na Conferência Rio+20, em 2009, definiu o conceito de economia
verde, como um sistema econômico cuja atividades em todos os setores –
investimento, produção, comercialização, distribuição e consumo, respeitem os
limites dos ecossistemas, com a finalidade de preservar o meio ambiente.
Na relação economia e trabalho, a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), define o trabalho decente como promoção de oportunidades
para que homens e mulheres possam ter uma atividade decente e produtiva em
condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana, suficiente em
oportunidades e renda, direitos, participação e reconhecimento, estabilidade familiar
e desenvolvimento pessoal, justiça e igualdade de gênero. Tal definição apresenta
diferentes dimensões, estabelecendo meios para o alcance de um desenvolvimento
sustentável inclusivo, resumindo a transformação pela qual perpassam as
economias, as empresas, os ambientes de trabalho e os mercados de trabalho.
Orienta-se para o desenvolvimento de uma economia sustentável, que proporcione
simultaneamente, um trabalho decente e com baixo consumo de carbono.
Toda atividade econômica está atrelada à base legislativa regulatória, em
caráter interno e externo. O arcabouço legislativo brasileiro, representado pela
internalização dos preceitos contidos nos documentos internacionais da OIT, que
preveem o conceito de igualdade desde sua fundação em 1919, cuja cumulação
com a Convenção Para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra
a Mulher (CEDAW), delimitam e definem standarts para mitigação de práticas e de
condições de trabalho que constituam discriminação contra a mulher e pautam uma
agenda para a ação dos estados membros com a finalidade de inclusão econômica.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
158
Internamente, a Constituição Federal de 1988, define em seu artigo 6º
como direitos sociais: educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção a maternidade e à infância e
a assistência aos desamparados. A urbanização ampliou o mercado de trabalho,
em um processo de individuação feminina como trabalhadora (OLIVEIRA, 1997),
e o segmento terciário abriu inicialmente possibilidades para o trabalho feminino
independente da família, processo que se reproduz até os dias atuais (BRUSCHINI,
1998). Os direitos sociais e o trabalho assim como outros tem alicerce no conceito
de emprego decente.
A afirmação da igualdade como objetivo, traz a lume a condição feminina, a
desigualdade de gêneros e o desnivelamento social e econômico entre homens e
mulheres são acirrados no meio ambiente laboral, em que são menos remuneradas,
mesmo sendo chefes de família e possuindo maior escolaridade, ocupam cargos de
menor relevância econômica e social, tornando-se um desafio a implementação dos
direitos de segunda1 e terceira2 geração não apenas a nível nacional, mas no âmbito
do desenvolvimento regional.
O princípio da igualdade de gênero, segundo Lima (2011, p. 45, 49), “é um
desdobramento do princípio da igualdade, que tem fundamento na dignidade da
pessoa humana, é sustentáculo fundamental do Estado democrático e princípio
crucial estruturação do sistema político e jurídico”. Sendo certo que há uma
diferença entre o princípio da igualdade e o princípio da não discriminação, que
segundo Thome (2012), este é espécie e aquele é gênero, sendo o princípio da não
discriminação, o conteúdo mínimo da igualdade.
Os Direitos Sociais trabalhistas na Constituição Federal de 1989 possuem
sintonia no que tange ao combate à discriminação contra mulher e aos parâmetros
protetivos internacionais como promoção da igualdade através de políticas
compensatórias – artigo 7º XX (previsão de proteção mercado de trabalho da mulher,
mediante incentivos específicos em lei), e de vertente repressivo-punitiva – art. 7º,
XXX, por meio da proibição da discriminação contra a mulher em que é proibida
formalmente a diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (CALIL, 2000).
A promulgação da Constituição Federal de 1989 promove ganhos
constitucionais: a) a igualdade entre homens e mulheres, inclusive no âmbito da
família, b) o reconhecimento da união estável como entidade familiar, c) a proibição
1 Ligados ao valor igualdade, os direitos fundamentais de segunda geração são os direitos sociais, econômicos e culturais. São direitos de titularidade coletiva e com caráter positivo, pois exigem a atuação do Estado.
2 Ligados ao desenvolvimento e progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, bom como
ao direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade. São os direitos transindividuais, em rol
exemplificativo, destinados à proteção do gênero humano.( https://www.lfg.com.br/conteudos/artigos/direito-constitucional/quais-sao-os-direitos-de-primeira-segunda-terceira-e-quarta-geracao-denise-cristina-mantovani-cera, acesso em 15/04/2016.)
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
159
da discriminação no mercado de trabalho por motivo de sexo ou estado civil (art. 7º
XXX), regulamentado pela Lei 9.292 de 13 de abril de 1995 que proíbe a exigência
de atestado de gravidez e esterilização e outras práticas discriminatórias para
efeitos admissionais ou de permanência da relação jurídica de trabalho); d) proteção
especial da mulher no mercado de trabalho mediante incentivos específicos,
art. 7º, XX regulamentado pela Lei 9.799 de 26 de maio de 1999, que insere na
Consolidação das Leis do Trabalho regras sobre o acesso da mulher no mercado de
trabalho; d) o planejamento familiar como uma decisão livre para o casal, devendo
o Estado propiciar os recursos científicos e educacionais para o exercício deste
direito - art. 226§7º, Lei 10.224 de 15/05/2001, que dispõe sobre assédio, Lei 11.770
- licença-maternidade por 180 dias, Licença paternidade Lei Nº 13.257, de 8 de
março de 2016. Este conjunto leis tutelam o meio ambiente de trabalho da mulher,
constituindo um sistema de freios e contrapesos reconhecidos internacionalmente
(BASSO, POLIDO, 2012).
A OIT fundamenta o conceito e que o trabalho decente como promoção de
oportunidades para que homens e mulheres possam ter uma atividade decente e
produtiva em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana,
suficiente em oportunidades.
Todos estes conteúdos são, em diferentes dimensões, meios de atingir
um desenvolvimento sustentável inclusivo. O emprego decente é conceituado
inicialmente como “um trabalho produtivo, adequadamente remunerado, exercido
em condições de liberdade, igualdade e segurança e que seja capaz de garantir uma
vida digna para os trabalhadores e trabalhadoras e suas famílias, sendo assegurado
o
direito
a
organização
sindical”
(https://www.ilo.org/brasilia/publicacoes/
WCMS_229627/lang--pt/index.htm).
Com o avanço teórico sobre o desenvolvimento sustentável, foi elaborado
o conceito de empregos verdes, foram definidos como “postos de trabalho nos
setores da agricultura, indústria, construção civil, instalação e manutenção, bem
como atividades científicas, técnicas, administrativas e de serviços que contribuem
substancialmente para a preservação ou restauração da qualidade ambiental”(OIT,
2008).
Em sequência a esta definição, associa a determinadas condições de
trabalho, e relaciona o conceito de empregos verdes com condições de trabalho.
Devendo ser respaldado em empregos adequados, salários adequados, condições
de igualdade e segurança, que traduz as modificações da economia, empresas, de
ambientes de trabalho, e dos mercados de trabalho, na direção a uma economia
sustentável, que viabilize um trabalho decente com baixo consumo de carbono (OIT,
2009).
Bakker e Young (2011) formulam classificações distintas de empregos
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
160
verdes a classificação das atividades de Proteção e Despesas Ambientais
(CEPA), formulada pela Eurostat (Escritório de Estatística da União Européia); da
NAICS (North American Industry Classification System), formulada pelo Escritório
Estatístico do Trabalho (Bureau Labor Statistics), e finalmente da OIT. Estes dois
últimos, NICAS e OIT baseiam em análise setorial e evidenciam as atividades
com potencial de geração de empregos verdes, enquanto a CEPA demonstra as
atividades recorrentes de gastos com proteção ambiental, isto é, atividades e
setores diretamente relacionados à preservação ambiental.
A OIT classifica os empregos verdes em quatro categorias: verdes e decentes,
verdes, mas não decentes, decentes, mas não verdes, e nem verdes nem decentes,
e condensa a transição dos ambientes de trabalho, das empresas, dos mercados de
trabalho no objetivo do desenvolvimento sustentável. Entende como fundamental o
desenvolvimento de um diálogo internacional e nacional sobre meio ambiente, setor
do trabalho e governos, a fim de mitigar as alterações do clima (Stern, 2006).
Na visão do mercado, que se refere à formulação inicial, os empregos verdes
se relacionam às atividades fim, tais como os trabalhos em atividade agrícola,
industrial, dos serviços e da administração que construam para preservação ou
restauração da qualidade ambiental.
No conceito elaborado pela OIT, observa-se uma abrangência maior que
a visão do mercado, ao incluir a questão das condições de igualdade como um
dos qualificadores centrais do emprego verde. Tornando-se conceito econômico
abrangente para todo e qualquer emprego, isto é, uma economia só será conceituada
como desenvolvida e sustentável, se os empregos atenderem os critérios intitulados
como verdes. Enlaça com todas as convenções internacionais, CEDAW inclusive.
5 | PERFIL DO MERCADO DE TRABALHO NO SETOR TERCIÁRIO DE
MATO GROSSO DO SUL
Ao longo do tempo, o setor de serviços passou a ser motivo de estudos,
principalmente a partir de meados do século XX, devido a crescentes aumentos
na participação do produto do setor terciário no produto total dos países (BANCO
MUNDIAL, 2011). Na década de 70, segundo Haddad (1989), a proporção entre
setores se manteve praticamente inalterado em razão da participação ostensiva
do Estado na economia. Na década de 80, a indústria permaneceu estagnada,
ocorrendo um crescimento do setor de serviços, principalmente em São Paulo, em
razão da expansão do setor financeiro (PEREIRA, 1989).
Malthus (1983), segundo Kon (2015), utiliza a expressão “trabalho mais
produtivo” ou “menos produtivo” e considera que as ocupações não ligadas a
agricultura e à indústria são tidas como trabalhos menos produtivos. Em Marx (1867),
uma atividade era considerada produtiva se esta auferisse lucro, independentemente
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
161
de ser concreto. Para Silva e Meirelles (2005), Marx vai além em relação a Smith
(2013), vez que conclui pela viabilidade do setor de serviços serem produtivas.
A reflexão de Marx possui a lógica econômica de seu tempo, fundamentada
na produção industrial. A doutrina utilitarista desenvolve uma perspectiva
diferenciada sobre a representatividade econômica dos serviços. Kon (2015)
avalia a representatividade dos serviços: “o papel dos serviços é mais do que
atuar na complementação das atividades manufatureiras, mas antes de tudo é um
pré-requisito para o desenvolvimento, ao intensificar a capacidade de inovação,
produção circulação, distribuição e regulação das atividades produtivas no contexto
econômico.” (KON, 2013, p. 84).
Conforme Silva e Meirelles (2006), Say (1803), definia que os processos
produtivos não são geradores de matéria concreta, mas sim de utilidade, sendo
este o motor da economia e o fator gerador de riqueza. Logo, os serviços seriam
considerados produtivos se estes fossem geradores de utilidade e riqueza, isto
é, que permitisse a aquisição de novos bens e um complemento para as demais
atividades, que apesar de importante, não possui um dinamismo próprio. O mercado
de trabalho e sociedade constituem um objeto de estudo dinâmico e complexo,
as persistentes desigualdades firmadas no ambiente econômico se firmam como
entraves ao desenvolvimento humano em escala global.
O desenvolvimento sustentável segundo Oliveira (2011), é fundamentado nos
pilares econômico, social e ambiental. Tal amplitude, sugere a análise das políticas
públicas, função essencial do Estado. Com a finalidade de direcionar políticas
públicas de geração de bem-estar social, necessidade mineração de dados para o
Governo Federal por meio do Ministério do Trabalho e Emprego, à partir de 2007,
elaborou a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o qual trata-se de um
relatório de informações socioeconômicas elaborado por pessoa jurídicas e outros
empregadores anualmente. Este relatório trata dos vínculos empregatícios da
administração pública e privada, e empregadores cadastrados no Instituto Nacional
de Seguridade Social (INSS), fornecendo informações estatísticas para tomada de
decisões governamentais.
O estudo das características do mercado de trabalho por meio dos setores da
economia viabiliza a análise dos diferentes componentes do sistema econômico, e
para Erber (2002), os estudos setoriais se situam entre as análises das empresas ou
atividades econômicas assemelhadas em seus elementos. Segundo Alonso (2005),
entende que todo tipo de produto oriundo do trabalho é produtivo, que os bens
ocupam o topo da hierarquia são os serviços do trabalho e da terra e sua visão da
complementaridade das atividades terciárias, ao longo da cadeia produtiva, é de
fácil percepção. Logo, segundo Kon (2004) é conceituado como serviço, a atividade
em que o processo de produção seja intangível e a relação de produção e consumo
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
162
seja simultânea e interativa e a qual resulte num produto igualmente intangível e
inestocável.
A partir dos anos 2000, Cardoso (2009) afirma que o mercado de trabalho se
reestruturou e nomeia cinco fatores fundamentais para recuperação dos empregos
formais entre os anos de 2000 e 2005: a expansão do crédito interno; aumento
e diversificação das exportações; difusão do Regime Tributário Simplificado, para
micro e pequenas empresas; o aumento e descentralização do gasto público social
e ações diretas de intermediação de mão-de-obra e de fiscalização do Ministério do
Trabalho e Emprego.
Em análise regional, o desenvolvimento do Estado de Mato Grosso do Sul,
numa perspectiva de nacional, deve ser entendido como um processo de expansão
da fronteira agrícola para a região, deu-se fundamentalmente em razão da pressão
populacional das regiões sul e sudeste. Com a sua criação na década de 70, o
Estado definiu um conjunto de políticas atrativas ao desenvolvimento econômico
regional, especialmente voltado a agricultura e pecuária. O setor secundário de Mato
Grosso do Sul possui baixa relevância em relação ao contexto nacional, estando
restrito à produção de celulose. Estabeleceu-se assim uma divisão nacional do
trabalho, em que Mato Grosso do Sul assume posição de fornecedor de matériasprimas e alimentos, posição historicamente ocupada pelo Brasil em relação aos
países desenvolvidos.
5.1 Segmentação Setorial: percurso de integração de mão de obra
feminina
Segundo Kon (2016), a economia estuda a força de trabalho como
componente no processo de produção e integrante do seu corpo teórico, inclui fatores
que repercutem nos setores produtivos e nas ocupações e, consequentemente na
remuneração.
A incorporação da mão de obra feminina pelo mercado de trabalho iniciou a
partir da 2ª Grande Guerra (BIROLI, MIGUEL, 2014). Desde então, assume posições
subordinadas aos homens na hierarquia empresarial (MARUANI, HIRATA, 2003) e
esta prática, “retrata a desigualdade de gênero, o qual considerado por organismos
multilaterais como um embaraço para o desenvolvimento de uma sociedade mais
sustentável que se baseie em princípios que garantam justiça socioambiental”
(MARANHÃO, 2013).
Segundo Hirata e Maruani, a estrutura ocupacional feminina é caracterizada
por dois segmentos diferenciados em termos de qualificação e prestígio,
consequentemente de remuneração refletem que:
[...]Por um lado, ocupações que teriam menos prestígio e oferecem
menor remuneração, tais como serviços administrativos e em serviços
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
163
de turismo, serventia, higiene e beleza e auxílio à saúde. De outro
lado, as ocupações de nível superior nas áreas jurídicas, do ensino e
das artes, e que englobam as Famílias Ocupacionais3 , e são relativos
a atividades de apoio administrativo, comerciárias, e são alocadas
em chefia intermediária, indicando um padrão de feminização e de
rendimentos mediano. (2003, p. 337)
No contexto regional, a formação do Estado de Mato Grosso do Sul é
recente, constituído por 74 municípios divididos em 11 regiões, população de 2
2.648.037 habitantes, ainda possui vazios geográficos, porém mantém um IDH de
0,729 (IBGE, 2010).
Na análise da distribuição de renda da trabalhadora feminina, deve ser
considerado a influência da raça/cor, sendo duplamente desfavorável às mulheres
da raça negra (BIROLI, 2017). O percurso da mulher brasileira no trabalho é
considerado tardio. A partir da década de 70, passa a integrar o mercado de trabalho
de forma mais importante tendo sido alocada mais fortemente no setor de serviços.
Um dos indicadores em relação ao trabalho feminino, se refere às ocupações
que registram uma concentração de mão de obra em determinadas atividades,
todas consideradas de pouco prestígio e de baixa remuneração. Segundo Moraes
(1990), a afirmação desta assimetria, tanto em ocupação e remuneração de forma
recorrente, “corresponde a ideologia de que o trabalho remunerado da mulher ainda
é considerado complementar no orçamento familiar”. Em análise setorial, o terciário
é o mais importante do Estado de Mato Grosso do Sul, sob o aspecto local, a mão
de obra feminina ocupa majoritariamente no comércio varejista.
O setor de serviços, segundo estudiosos, é responsável pela geração e
crescimento da pobreza e desigualdade. Tal observação se sustenta na qualidade de
postos de trabalho e salários gerados no setor é baixa na maioria dos seguimentos
que compõem o setor.
6 | INDICADORES TEÓRICOS E EMPÍRICOS DO MERCADO DE
TRABALHO DAS MULHERES NO SETOR TERCIÁRIO DE MATO GROSSO
DO SUL
A atividade econômica no Estado, segundo dados do IBGE é caracterizada
preponderantemente pela atividade primária e terciária. O desempenho do emprego
sofreu drástica queda em 2011 e 2012 como reflexo da crise econômica.
A organização do trabalho no setor terciário está fundamentada no trabalho
em processo, isto é, na intermediação, pois se trata de atividade que não cria,
mas intermedia mercadorias e serviços. Castells (1999), observa que em países
avançados, “a locação da força de trabalho no setor se expandiu, que a evolução
3 A nomenclatura Família Ocupacional é utilizada na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) e correspondem a níveis de agregação das ocupações.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
164
do mercado de trabalho pós-industrial, este setor vem absorvendo a mão de obra
excedente em razão do aumento da produtividade no campo e na indústria”. O
setor terciário em Mato Grosso do Sul é caracterizado pela maior participação de
empresas de porte micro a médio chegando a 50% do total dos empregos formais
(Tabela 1).
Tamanho
Estabelecimento
2013
2014
2015
2016
2017
Participação
De 1 a 4
44.623
46.880
47.482
47.733
47.602
10,59%
De 5 a 9
45.013
46.211
46.935
47.565
47.635
10,59%
De 10 a 19
47.072
48.110
49.082
48.338
48.368
10,76%
De 20 a 49
52.011
54.165
54.659
52.095
53.782
11,96%
De 50 a 99
30.130
31.112
30.838
30.353
30.238
6,72%
De 100 a 249
35.979
35.725
33.997
34.866
34.706
7,72%
De 250 a 499
33.074
32.488
29.431
30.974
31.030
6,90%
De 500 a 999
45.880
42.058
43.887
38.609
42.489
9,45%
1000 ou Mais
94.111
113.983
114.766
107.537
113.859
25,32%
427.893
450.732
451.077
438.070
449.709
100,00%
Total
Tabela 1 – Número de empregados formais em Mato Grosso do Sul por porte de
empresa de 2013 a 2017
Fonte:Elaboração própria a partir da RAIS vários anos.
Como se depreende da tabela acima, o tamanho dos estabelecimentos
demonstra estabilidade na geração de postos de trabalho. Deve ser considerado
que a população de Mato Grosso do Sul é de 2.748.023 cresceu 7,04%, de 1.249
milhão em 2012 para 1,337 em 2016 de mulheres e se encontra ascensão, podendo
afirmar quantitativamente que o grau de exclusão econômica vem sendo ampliado.
Nos últimos, anos mais pessoas estão se declarando negras (pretas e pardas
segundo critério de análise do IBGE. Em 2016, eram 1.452 milhão de negros, acima
dos 1,131 de brancos. As variações perspectivas foram de 15,14% (1,262 milhão
de pessoas negras em 2012 e de -3,74 de brancos (1,175 milhão em 2012). A
participação das mulheres dentro da força de trabalho em cerca de 43% durante o
período de analise mantendo de 2013 a 2018 essa parcela. O mesmo ocorre com
a participação das mulheres na população em idade ativa chega a 1,37 milhões em
2018, participando também com 43% na população ocupada (Gráfico 2)
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
165
Gráfico 2 – População de mulheres na força de trabalho de Mato Grosso do Sul de
2013 a 2018
Fonte: Elaborado a partir da PNADC/T do IBGE.
Em 2018, de acordo com as informações da PNADC/T, as mulheres
representavam 51,39%, em idade de trabalhar na força de trabalho, cerca de 630
mil compondo a força de trabalho, representando 43,96% da força de trabalho. A
desocupação entre elas chegava a 40 mil e se ampliou durante o período chegando
a 75 mil no primeiro trimestre de 2017 reduzindo para 50 mil no final de 2018. O
gráfico da PNAD contínua acima, demonstra que a mão de obra feminina do setor
terciário firma o entendimento que as mesmas se encontram na informalidade, e
que ocupadas ou que procuraram trabalho, permanece praticamente estável no
decurso do tempo. Entretanto, as taxas de desocupação das mulheres sempre
foram para toda a série da pesquisa maiores que os homens chegando a 7,9% no
quarto trimestre de 2018, embora em todo o período a pior taxa de desocupação
tenha ocorrido no primeiro trimestre de 2017 onde chegou a 12,5% (Gráfico 3).
Gráfico 3 – Taxa de desocupação por sexo na força de trabalho de Mato Grosso do Sul
de 2014 a 2018
Fonte: Elaborado a partir da PNADC/T do IBGE.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
166
Em termos de emprego formal, a evolução dessa ocupação no mercado
de trabalho formal as mulheres participam também em menor proporção, mas há
uma tendência de aumento na participação, mesmo que pequena, nos últimos anos
(Gráfico 4).
Gráfico 4 – Evolução do número de trabalhadores formais por gênero em Mato Grosso
do Sul de 2002 a 2017
Fonte: Elaborado a partir da RAIS.
Segundo as informações acima, a crise de 2014, alcança o mercado de
trabalho aumentando as taxas de desocupação e com queda do total de emprego
formal na economia de cerca de 2,17% de 2014 a 2017, sendo que para as mulheres
a queda foi maior (-2,84%) enquanto que para os homens teve menor redução
(-1,69%).
O setor de serviços, é responsável pela maior parte da geração e crescimento
tanto em termos de produto como de emprego. Tal observação se sustenta na
qualidade de postos de trabalho e salários gerados no setor é baixa na maioria dos
seguimentos que compõem o setor.
A atividade econômica no Estado é caracterizada preponderantemente pela
atividade terciária, proporciona o seguinte quadro de empregos geral (Gráfico 5).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
167
Gráfico 5 – Participação do emprego formal por setores de atividades em Mato Grosso
do Sul de 2006 a 2017
Fonte: Elaborado a partir da RAIS vários anos.
O desempenho do emprego sofreu reflexos da crise econômica com queda
dos empregos, mas em termos de composição não houve uma alteração significativa
nas participações ficando estáveis durante o processo de queda e recuperação da
economia do estado. Os serviços permanecem sendo o principal setor com 50,7%
de participação em 2017, embora tenha perdido relativamente participação de
2006 a 2013 chega em 2017 com o mesmo patamar de participação em 2006. Já a
agropecuária teve queda na participação saindo de 13,2% do emprego formal para
10,8% em 2017.
O que explica o movimento a baixa integração da mão de obra feminina e
baixa progressão da feminização do emprego, permanece a lógica de segmentação
praticamente estável, apesar do incremento populacional já demonstrado,
concluindo-se pelo aumento de mão de obra feminina ociosa. Além de ser claro que
apenas metade das mulheres são produtivas.
7 | A PROMOÇÃO DA IGUALDADE E
SOCIOAMBIENTAL DAS EMPRESAS (RSE)
A
RESPONSABILIDADE
A Declaration on International Investment and Multinational Enterprises/
OCDE, com objetivo de criar orientações às empresas que operam em vários
mercados, inclui conceitos e princípios gerais como por exemplo de Direitos
Humanos, a observação da legislação local, a OIT define que o trabalho decente
como promoção de oportunidades para que homens e mulheres possam ter uma
atividade decente e produtiva em condições de liberdade, equidade, segurança e
dignidade humana, suficiente em oportunidades e renda, direitos, participação e
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
168
reconhecimento, estabilidade familiar e desenvolvimento pessoal, justiça e igualdade
de gênero. Todas este conteúdo são as diferentes dimensões como meio de atingir
um desenvolvimento sustentável inclusivo.
Para Servais (2005), o respeito a igualdade e não discriminação como
minimum labour standarts, incorpora o conceito de responsabilidade socioambiental
das empresas (RSE). De iniciativa da OCDE em 1976, a formação do capital humano
(SERVAIS, 2005, p.28-29).
Santos (1994), estabelece que:
“compreender a economia de um país é necessário dar uma enorme
atenção aos estudos urbanos e buscar a metodologia mais adequada
para captar a real significação da cidade, da rede de cidades, do
território, da Nação[...] A circulação dos produtos e mercadorias,
dos homens e das ideias ganhou uma total expressão, dentro do
processo global de produção, que a urbanização passou a ser um
dado fundamental na compreensão do funcionamento da economia” (
SANTOS, 1994, p. 117).
A atividade econômica está atrelada à função social da empresa, o
reconhecimento da tutela do meio ambiente do trabalho implica na gestão ambiental
não se limitando ao recolhimento de impostos e geração de empregos.
No Brasil, segundo Sucupira (2000), a responsabilidade socioambiental das
empresas foi inaugurada pela Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas
(ADCE) na década de 60, em 1977 ganha destaque como tema do 2º Encontro
Nacional de Dirigentes Cristãos de Empresas, e em 1984 foi publicado o primeiro
balanço social de uma empresa da área agrícola. Em 1997 o IBASE instituiu o Selo
Balanço Social para fomentar a participação das empresas.
O Instituto Ethos (2013), conceitua a RSE como:
[...] forma de gestão que se define pela relação ética e transparente
da empresa com todos os públicos com os quais se relaciona e
pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos
ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a
diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais”.
Neste novo sistema, as empresas são agentes sociais. Segundo Di Pietro
(2018):
[...] a partir das mudanças estruturais provocadas pelo impacto da
globalização econômica nas relações de trabalho, especialmente na
saúde, na segurança e na qualidade de vida do trabalhador, e da
proteção constitucional assegurada como um novo paradigma para a
valorização do trabalho humano, sob um contexto mais abrangente,
novos mecanismos para proteger e implementar o equilíbrio no habitat
laboral são exigidos, em busca da promoção da sustentabilidade no
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
169
meio ambiente de trabalho: “ Ele envolve toda atividade que gerar
ou contribuir para a degradação do meio ambiente do trabalho,
comprometendo a saúde, a segurança e a qualidade de vida do
trabalhador”.
A abordagem de empresa socialmente responsável é fundada em princípios:
transparência em seus objetivos, investimento no bem-estar de seus colaboradores
e dependentes, desenvolvimento da comunidade, preservação do meio ambiente e
o desenvolvimento da cidadania individual.
O trabalho feminino na ótica socioambiental, e seus reflexos no
desenvolvimento sustentável, positivas e/ou negativas para o mesmo, a
responsabilidade social empresarial (RSE) não pode ser limitada ao cumprimento
da legislação trabalhista. As questões de âmbito social, ambiental e humana
permanecem como não relevantes e/ou subjacentes aos objetivos empresariais, os
quais hodiernamente se sobrepõem a questões como meio ambiente do trabalho
equilibrado capaz de proporcionar qualidade de vida ao trabalhador(a) e efetividade
dos direitos tutelados. O desenvolvimento sustentável só é e se torna possível com
as contribuições recíprocas entre sociedade civil e setores públicos e privado.
Segundo Dray (2016), “o papel desempenhado pelas empresas na promoção
da igualdade e no progresso social e territorial é, pois, cada vez mais uma realidade
– as empresas can be part of the solution, not just a problem”, e constata que a ideia
da ética no negócios e a criação dos labor standarts que afirmem a cidadania do
trabalhador no local de trabalho.
8 | CONCLUSÃO
Os resultados da presente pesquisa demonstram que integração das
mulheres na força de trabalho ainda está abaixo de cinquenta por cento da população
economicamente ativa, e em descendência, em razão do aumento da população
feminina, sugerindo a necessidade de desenvolvimento de políticas sociais que
viabilizem sua integração econômica.
As questões sobre a economia verde são recentes, sendo tratado inicialmente
na Conferência Rio-92, foram fortalecidos na Conferência Rio +20, em 2012. No que
tange a formulação sobre a “economia verde”, uma gama de estudiosos questiona
o emprego do termo em prejuízo ao “desenvolvimento sustentável”, tornando-o
vinculado a estratégias com orientação preponderantemente econômica, afastandose da efetividade protetiva ambiental e sustentabilidade. Entretanto, o termo sugere
uma mudança de padrões econômicos, e novas formulações de emprego e renda, e
vai além da exclusivamente da relação objetiva da proteção ambiental.
O estudo numa perspectiva regional como parte de um processo capitalista,
fomentam vias alternativas, com objetivo de que sejam identificados os entraves
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 12
170
de um desenvolvimento econômico equilibrado, para a compreensão da dinâmica
não só entre regiões, mas, segundo Argwala e Singh (1969), da disponibilidade do
capital humano para superação do processo de subdesenvolvimento.
A relevância do estudo da igualdade de gênero no processo de criação,
acesso e manutenção de empregos verdes se dá em razão da relação ambiente
e ser humano, que se estabelecem em concreto de forma diferenciada. Segundo
estudos da CEPAL realizados em Havana, 2018, expõe claramente sobre os custos
das desigualdades, que não são apenas conjecturas éticas, mas um imperativo
para a “revertir esa situación y explorar más plenamente las complementariedades
que existen entre igualdad, eficiência produtiva e sostenibilidad ambiental” (https://
repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/43442/6/S1800059_es.pdf).
Os novos modelos de geração de postos de trabalho, fundada em
consonância com o meio ambiente, atividade econômica e incremento de direitos
sociais, constituem uma nova ordem global para o firmamento do desenvolvimento
sustentável. Entretanto, no Brasil iniciou-se uma reengenharia da estrutura
empresarial, instaurando de forma definitiva, a precarização das relações de trabalho
por meio de diversas modalidades de terceirização. A precarização, tão presente
no cotidiano econômico feminino, atinge de forma relevante e instaura retrocessos
sociais para o alcance da Justiça Social.
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Capítulo 12
175
doi
CAPÍTULO 13
ENSINO-PESQUISA-EXTENSÃO NA FORMAÇÃO
INTEGRAL - EXPERIÊNCIAS DO CURSO DE
OCEANOGRAFIA DA UNIVERSIDADE DO VALE DO
ITAJAÍ
Data de aceite: 01/10/2020
Data de submissão: 14/07/2020
Kátia Naomi Kuroshima
Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI
Itajaí - SC
http://lattes.cnpq.br/8537824513641643
https://orcid.org/0000-0002-4261-9878
Camila Burigo Marin
Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI
Itajaí - SC
http://lattes.cnpq.br/2214161392302174
https://orcid.org/0000-0002-3901-0033
Ana Lúcia Berno Bonassina
Universidade do Vale do Itajaí - Univali
Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do
Paraná
Curitiba - Paraná
http://lattes.cnpq.br/7708343878134526
https://orcid.org/0000-0001-5279-0823
José Matarezi
Universidade do Vale do Itajaí - Univali
Itajaí - SC
http://lattes.cnpq.br/3554616369612517
Manoela Tormen Criveletto Canalli Pacheco
Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI
Itajaí - SC
https://orcid.org/0000-0002-2215-1489
RESUMO: A indissociabilidade entre o Ensino,
a Pesquisa e a Extensão como eixo norteador
e fundamental da Universidade no Brasil,
mesmo amparada pela Constituição Brasileira
de 1988, é ainda uma tarefa árdua e distante
de ser alcançada. Muitas instituições ainda
priorizam um dos três eixos, em detrimento dos
demais, ou se trabalham uma relação dual, com
dificuldades para a complementação deste tripé.
Este desequilíbrio é resultado de uma herança
histórica da formação universitária brasileira
onde o conhecimento científico tornou-se um
conhecimento privilegiado para a vida em
sociedade contemporânea. A fragmentação se
distancia da formação integral do estudante e
da missão fundamental de uma universidade, e
portanto, precisamos refletir sobre a necessidade
urgente da integração dos saberes, assim como
da integração entre ensino-pesquisa-extensão
e o seu impacto na formação que parta das
necessidades e expectativas do sujeito e de
suas relações pessoais, com o outro e o meio.
Trazendo à luz da sustentabilidade ambiental, a
fragmentação reflete numa sociedade totalmente
desconectada do meio ambiente, com uma vida
insustentável, consumista, egóica e descartável,
em todas as suas relações, com ele próprio,
com o outro e com o meio, resultando nesta
atual situação, sem precedentes. Assim, este
estudo traz algumas experiências de sucesso
observadas junto ao Curso de Oceanografia
da UNIVALI. Experiências que surgiram na
prática, a partir das vivências imersas em uma
comunidade estudantil e popular que anseiam
por uma formação interdisciplinar e humanista
numa perspectiva, crítica, emancipatória e
transformadora, capaz de ampliar a autonomia
para a sua autotransformação e a transformação
do outro e do meio em que vive, ou seja, na sua
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
176
transdisciplinaridade.
PALAVRAS-CHAVE: Interdisciplinaridade; Pertencimento; Alteridade; Conhecimento;
Conhecimento Sensível.
TEACHING-RESEARCH-EXTENSION IN INTEGRAL EDUCATION –
EXPERIENCES OF THE OCEANOGRAPHY COURSE OF UNIVERSIDADE
DO VALE DO ITAJAÍ
ABSTRACT: The indissociability between Teaching, Research and Extension as
the guiding and fundamental axis of the university in Brazil, even supported by the
Brazilian Constitution of 1988, is still an arduous and distant task to be achieved. Many
institutions prioritize one of the three axes, to the detriment of the other ones, or work
in a dual relationship, with difficulties to complement this tripod. This asymmetry is the
result of a historical legacy of Brazilian university education where scientific knowledge
has become a privileged knowledge for life in contemporary society. Fragmentation is
far from the integral formation of the student and the fundamental mission of a university,
and therefore we need to reflect on the urgent need for the integration of knowledge,
as well as the integration between teaching-research and extension and its impact
on the formation that starts from the needs and expectations of the subject and its
relationships, as the other and the environment. Bringing to the light of environmental
sustainability, fragmentation reflects into a society disconnected from the environment,
with an unsustainable, consumerist, egoic and disposable life in all its relations, with
itself, with the others and with the environment, resulting in this current unprecedented
situation. Thus, this study brings some experiences of successes observed at UNIVALI
Oceanography Course. Experiences that have emerged in practice, from the immersed
experiences in a student and popular community that yearn for an interdisciplinary and
humanistic formation in a critical, emancipatory and transforming perspective, capable
of expanding the autonomy for its self-transformation and the transformation of the
other and of the environment in which it lives, that is, transdisciplinarity.
KEYWORDS: Interdisciplinarity; Belonging; Otherness; Sensitive knowledge;
Intelligible knowledge.
1 | INTRODUÇÃO
A indissociabilidade entre Ensino-Pesquisa-Extensão na Universidade é um
princípio da qualidade da construção do conhecimento e do saber científico orientada
pelas problemáticas cotidianas, do contrário, podem levar ao reducionismo verificado
frequentemente na prática universitária, se distanciando da formação integral.
Por outro lado, a sociedade vem exigindo profissionais que dêem respostas às
demandas contemporâneas direcionadas pelas questões éticas, sociais e políticas,
e desenvolva-as de forma criativa, inovadora e “saiba fazer”, fundamentada em
conhecimentos científicos (ALMEIDA; SÁ, 2013).
Desafio constante às Instituições de Ensino Superior (IES), especialmente,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
177
às IES Comunitárias, como é o caso da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).
Assim, a formação acadêmica objetiva trabalhar habilidades teóricas e práticas,
sem negligenciar a convivência e a sensibilidade humana, convergindo para a
formação interdisciplinar e humanista numa perspectiva, crítica, emancipatória e
transformadora, capaz de ampliar a autonomia e a “potência de agir”, integrando
conhecimentos sensível e inteligível (DUARTE-JR, 2000). Mais recentemente,
algumas das exigências legais reforçam essa perspectiva: a inserção curricular
das Políticas de Educação Ambiental (Lei nº 9.795, de 27/04/1999), entre outras.
Antecipando-se a essa normatização, o curso de Oceanografia/UNIVALI, desde
sua origem (1992), prioriza ações articuladas por projetos integrados de “ensinopesquisa-extensão-gestão”
em
diversas
áreas
oceanográficas:
Maricultura,
Qualidade de Água, Conservação Marinha e Costeira, Gerenciamento Costeiro,
Gestão Pesqueira, Gestão Portuária, Educação Ambiental para Gestão Participativa
e Monitoramento Ambiental Voluntário.
A situação ambiental atual, é um espelho de decisões equivocadas tomadas
no passado, devido sobretudo a ausência de conhecimento científico, ressaltando
a constante evolução da ciência, em todas as áreas, não sendo diferente nas
questões ambientais, bastante discutidas atualmente. Assim, devemos reduzir
os impactos negativos desses erros, herdados por gerações, e optar por novas
escolhas, trabalhando para a conscientização dos problemas ambientais e partir
do nosso modo de vida (POTT; ESTRELA, 2017). Este estilo de vida insustentável
e acelerado, do consumo excessivo e descartável, fragmentando as necessidades
humanas das necessidades da natureza tem gerado os desequilíbrios ambientais.
Nesse contexto, o homem precisa voltar à sua visão de ser natureza, compreendendo
seu pertencimento e papel no equilíbrio do ecossistema transformando seus
comportamentos, atitudes e valores (JARA; 2001 apud SÁ; 2005).
A educação e o conhecimento científico se tornam imprescindíveis para
alcançar tal objetivo, no entanto, dificultado pela sua fragmentação (TORRE;
ZWIEREWICZ, 2009). A integração dos saberes estimula o desenvolvimento integral
do sujeito, fazendo com que estudantes observem, elaborem e explorem suas ideias,
a partir do seu conhecimento prévio e ampliando com o conhecimento científico.
Assim, a Extensão possui o caráter social e humanista, valorizando o saber popular;
a Pesquisa colabora para o aumento e compreensão conceitual acerca da natureza,
levando a processos de ensino-aprendizagens com investigações científicas e
oportunidades para reflexão (FONSECA, 2011; SANTOS, 2005).
Neste percurso de formação, entre pertencimentos e identidades possíveis,
qual o lugar do conhecimento, do pensamento complexo, de outras racionalidades
e alteridades, do diálogo de saberes, da atitude interdisciplinar, da solidariedade, do
respeito à vida, do saber cuidar, enfim, para a descoberta do novo? Como criar ou
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
178
garantir os espaços e tempos na formação destes jovens que propiciem tais lugares?
Em que condições, tais espaços se tornam lugares de identidade e pertencimento?
Como afetam a construção da identidade profissional?
Certamente o envolvimento com atividades extraclasses, com projetos de
pesquisa e de extensão, de forma integrada, propiciam aos jovens vivenciarem
e experienciarem novas formas de agir, interagir, dialogar e sentirpensarem as
relações vitais que estabelecem consigo, com os outros e com o mundo vivo e que
afetam a sua formação humana e profissional. Tendo como o sentirpensar, a fusão
de duas interpretações da realidade, onde o pensamento e o sentimento trabalham
juntos resultando ao mesmo tempo na ação de sentir e pensar (MORAES; TORRE,
2004).
Durante todas essas atividades, os acadêmicos tomam contato com
realidades diversas; estabelecendo relações com as comunidades envolvidos nos
projetos de extensão; inserem-se numa relação de engajamento, responsabilidade
individual e compromisso com o coletivo, nas quais assumem o seu protagonismo
e criam vínculos envolvendo pessoas e instituições, desenvolvendo o sentimento
de pertencimento e identidade profissional. Aprendem a conviver e trabalhar em
equipe vivenciando éticas e estéticas próprias de cada equipe, e são estimulados
a colocar em prática o conhecimento que fundamentam cada um dos projetos.
Passam a incorporar o exercício da reflexão a partir das ações realizadas, criando
o pertencimento de uma práxis própria em sua formação enquanto processo
identitário. Entretanto, segundo Makiuchi (2005):
...”o compromisso e o engajamento não são anteriores – anterior é
o Outro. Assim, uma tal educação não desenha, a priori, ações de
“engajamento”, de “problematização” ou de “diálogo” baseadas na
possibilidade de conhecer a realidade. Se há algum conhecimento
da realidade possível implicando na possibilidade de transformação
social e política, ele será sempre resposta ao Outro, à alteridade que
nos apela, resposta como acolhimento, ação e responsabilidade. Por
isso, a esta educação chama-se de Educação para a Responsabilidade
e tem na alteridade o fundamento de sua pedagogia” (MAKIUCHI,
2005, pp 31-32).
Reafirma ainda que:
“A educação na perspectiva de uma pedagogia da alteridade cria
espaços para que o modo humano de se relacionar com e no mundo
seja responsável, isto é, espaços para a emergência do discurso
crítico, do diálogo dos saberes e do encontro de alteridades.
Espaços que carreguem o germe da comunidade, do fortalecimento
de identidades locais como resistência a pasteurização do mercado
permitindo a criação de laços de pertencimento e cuidado, laços
ativos, cuja própria existência já é transformação” (MAKIUCHI, 2005,
p 33).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
179
Pela sua obra máxima “EU-TU” e “Do Diálogo e do Dialógico”, Martin Buber
nos provoca a vivenciar um profundo e verdadeiro encontro com a vida e os níveis
de realidades, onde o respeito à alteridade, a partilha solidária e as relações são
essenciais para o exercício do diálogo. E Paulo Freire coloca a comunicação e a
interlocução como formas de contraposição à dominação ideológica que se pratica
com facilidade, permitindo a construção de uma educação através do pensamento
crítico (Freire, 2002).
Assim criam-se lugares de pertencimento, identidade e alteridade, num
movimento contínuo de inter-retro-ação ao longo da formação integral. “O lugar é a
menor unidade de todas e se trata da mais íntima do ser humano [...] onde a vida
acontece, local em que o sentimento de pertencimento surge ancorado [...] onde
encontramos o conforto de uma relação afetiva e experiencial” (CARDOSO et. al.
2017). Esse lugar de reconhecimento de si, de outrem e do lugar onde se vive é dado
pela qualidade das relações que se dão como pessoas que se expõe a experiência
conforme Bondía (2002). É justamente a vivência nos laboratórios e projetos de
pesquisa-extensão que possibilita a esses jovens se exporem a experiência do viver
e do aprender, enquanto protagonistas para a formação de uma/um profissional
oceanógrafa/o.
Os lugares que são criados e recriados, transformam e são transformados
pelo tempo, conhecimento e pelos envolvidos, se constituem como espaços de
criação e aprendizagem, de aprimoramento e compartilhamento. Muitos são os
espaços que serão apresentados neste capítulo, estes que através destes projetos
nasceram, se transformaram e transformaram-nos.
2 | O PROJETO DE EXTENSÃO OCEANOS
O Projeto de Extensão Oceanos emergiu das pesquisas realizadas pelo
Laboratório de Oceanografia Química da Univali, sobre “qualidade de água”, desde
1994. Os questionamentos e as curiosidades vindas da população, durante as
atividades de campo inquietavam os pesquisadores e estudantes envolvidos nestas
pesquisas. A comunidade local manifestava interesse pelo “material de estudo”
almejando outros saberes; e os pesquisadores, no entanto, oriundos de instituições
onde o ensino e a pesquisa foram priorizados, em detrimento do contato com a
comunidade local, apresentavam inúmeras dificuldades para manter um diálogo num
patamar que permitisse a troca de conhecimentos. Estas instituições, ao priorizar
o ensino e a pesquisa, apesar de produzir muito conhecimento científico, incorre
no risco de perder a compreensão ético-político-social, considerando a sociedade
como o destinatário final desse saber científico (SANTOS, 2005), e desta forma,
perde-se o verdadeiro sentido da própria pesquisa.
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
180
Assim, a partir destas inquietações e provocações surgiram as primeiras
atividades de extensão sobre a qualidade de água, deste grupo, em 2003. Iniciouse com eventos que promoviam a popularização da ciência, ou seja, uma forma
de recriar o conhecimento científico tornando acessível à população (GERMANO
e WOJCIECH, 2006). Os eventos aconteciam sempre em datas comemorativas
alusivos à água - Dia do Meio Ambiente, Dia Mundial da Água, e durante a Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia. Nestes eventos, a população levava a amostra
de água na qual tinha interesse em conhecer a sua qualidade química e participava
dos procedimentos laboratoriais de análises, assim, o laudo era construído de
forma colaborativa. Depois, assuntos como qualidade, uso racional, tratamento
e preservação da água, eram discutidos e apresentados na forma de palestras,
teatros e musicais (FOPPA et al., 2004; TEIXEIRA et al, 2006), de acordo com
a metodologia da pesquisa ação participativa segundo Thiollent (2002). Estas
atividades, continuaram acontecendo em eventos esporádicos, em todo o litoral norte
catarinense, culminando no “Espaço Sustentabilidade”, uma estande estruturada
como um “Espaço Estruturante de Educação Ambiental” durante a “Volvo Ocean
Race”, em 2015, que recebeu 320 mil visitantes (VIEIRA et al, 2018).
Estes eventos, realizados ao longo de 12 anos, apesar de apresentar uma boa
divulgação científica, atingindo mais de 10 municípios, superando 500 mil pessoas
direta ou indiretamente, não parecia estar atingindo plenamente os objetivos da
extensão universitária, ou seja, atuando como uma via de mão dupla entre a
universidade e a sociedade, promovendo uma mudança não apenas social, mas
também na própria comunidade universitária (SANTOS, 2005), neste caso, nos atores
envolvidos nestes projetos de extensão universitária. E menos ainda na efetivação
da tríade ensino-pesquisa-extensão, uma vez que, apesar de fortemente vinculada
às atividades de ensino, ao colocar na prática os conhecimentos trabalhados em
sala de aula, havia ainda uma lacuna entre a extensão com a pesquisa e o ensino.
Assim, a partir de 2015, iniciou-se a segunda fase deste projeto. Criou-se
uma parceria com a Escola de Surf da Secretaria de Educação do Município de
Balneário Camboriú, envolvendo seus estudantes com a oceanografia através das
atividades de educação ambiental, em encontros semanais de 30 minutos, realizados
com estudantes de diferentes idades e níveis de conhecimentos, que apesar de
apresentarem um gosto pelo oceano, a partir do surf, manifestavam inúmeras outras
curiosidades, que se tornavam temas de estudos destes encontros. Novos desafios
surgiram com esta modalidade: a areia da praia virou sala de aula, possibilitando
aulas práticas em tempo integral, porém, o excesso de estímulos externos (ruídos
e movimentações) favoreciam a distração dos estudantes. A necessidade da
reinvenção de novos instrumentos e ferramentas pedagógicas com criatividade,
intensificou a integração da tríade ensino-pesquisa-extensão. Estes encontros
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
181
aconteceram ao longo de dois anos, sempre com atividades diferenciadas, mas
com continuidade nos assuntos.
Após este período, o Projeto de Extensão Oceanos começou a trabalhar
com jovens entre 14 e 24 anos, em situação de vulnerabilidade socioeconômica,
vinculados ao Instituto Crescer, instituição responsável pelo aprimoramento didático
profissional destes jovens para ingressarem no mercado de trabalho como Jovens
Aprendiz. Os estudantes participavam das atividades do Instituto Crescer, que
aconteciam nos espaços da universidade (Univali), quatro vezes por semana, no
contraturno do seu período escolar. Os 250 estudantes divididos em oito turmas
igualitárias, participavam mensalmente das atividades promovidas pelo Projeto
de Extensão Oceanos, que eram repetidas oito vezes, ocupando os estudantes e
professores deste projeto ao longo de duas semanas consecutivas. As outras duas
semanas do mês eram utilizados para o planejamento e avaliação, respectivamente,
para a semana que antecedia ou posterior à realização das atividades, seguindo
a metodologia de gestão PDCA (Plan, Do, Check e Act) muito utilizado para a
melhoria de processos e produtos (VENKATRAMAN, 2007) e concomitante, seguiase as metodologias pedagógicas das escolas criativas, o qual eram realizados
planejamentos em conjunto com os professores do IC (TORRE; ZWIEREWICZ,
2009).
As atividades realizadas desta forma evidenciaram a aprendizagem mútua
que ocorreu no processo entre os estudantes do Instituto Crescer e os acadêmicos
e professores do Projeto de Extensão Oceanos, os seus relatos mostraram a
importância da prática, ou seja, da extensão promovendo a sinergia entre o ensino,
a pesquisa e a extensão
3 | O PROJETO DE EXTENSÃO ÁGUA VIVA: DO RECURSO AO
PATRIMÔNIO
Da água surgiu a vida, da água dependem todas as formas de vida.
Sabendo que a água é tão importante, por que não tratamos a água com
tal estima? A água nos conecta, percorre diferentes territórios, países, estados,
municípios e bairros, porém esta conexão por vezes provoca conflitos de usos e
discórdias entre diferentes atores sociais. Este é o caso do Rio Perequê em Santa
Catarina e de tantas outras bacias hidrográficas, que possuem usos múltiplos e
muitas vezes sofrem com perdas em termos de quantidade e qualidade de água.
Os conflitos de uso da água na bacia hidrográfica do Rio Perequê e sua
influência nas praias dos municípios de Itapema e Porto Belo (SC) motivaram a
criação do Projeto de Extensão Água Viva: do Recurso ao Patrimônio, em 2015.
Experiências pretéritas como aluna extensionista no Projeto de Extensão Oceanos,
foram a base fundamental para recriar e reconduzir este projeto quase 10 anos
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
182
depois. Experiências estas, fundamentais não apenas na recriação deste projeto,
mas para a aproximação entre comunidade, comitê de bacia hidrográfica e
universidade.
Em seu primeiro ano, o projeto foi direcionado para a capacitação de
professores do ensino médio das escolas municipais de Itapema e de líderes
comunitários como multiplicadores. Eram realizados encontros formativos abordando
especialmente questões relacionadas a poluição das águas, causas, consequências
e soluções. Logo no primeiro ano, surgiram demandas para atendimento de outros
grupos diversificados, não apenas professores em outros municípios. Assim o
projeto foi ganhando um caráter mais lúdico, não apenas aproximando a ciência da
comunidade, mas também fazendo isso de uma forma mais leve. Logo no primeiro
ano, começaram a surgir personagens e atividades para ajudar na comunicação
com jovens e crianças (ZINNKE et al., 2018).
Em 2016 e 2017, o projeto atuou mais fortemente em parceria com o Comitê
da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas, Biguaçu e contíguas levando suas atividades
também para outros municípios desta bacia. Além disso, nestes mesmos anos o
projeto deu início à um trabalho contínuo com jovens em situação de vulnerabilidade
socioeconômica do Parque Dom Bosco no município de Itajaí. A parceria com esses
jovens do grupo de contraturno de dança, resultou numa transformação não só
da relação destes com a água, mas na forma como o projeto passou a intervir,
modificando os diferentes atores como profissionais e pessoas. Nos entregamos
para uma forma de fazer mesclando “arte e ciência”, incorporando a comunicação e
o aprendizado pelo movimento.
Eis que em 2018, surge uma nova forma do projeto que permanece até
o presente. Devido à essa vivência e a demanda de discussões sobre a água e
a poluição com diferentes realidades sociais e faixas etárias, foi desenvolvido
um espetáculo de dança e ciência que nos permite através da arte utilizar uma
linguagem universal e acessível. Foi criado um espetáculo no contexto de uma
Tese de Doutorado, com a temática da polução dos oceanos pelos plástico, onde
os dados levantados in situ e resultados de pesquisas pretéritas da situação global,
serviram de base para a construção desta nova forma de polinização.
Cientistas viraram bailarinos para demonstrar a realidade, os problemas da
poluição que vivenciam in situ nas bacias hidrográficas, nos oceanos e ao analisar
amostras no laboratório, uma forma de expressar aquilo que artigos científicos não
são capazes de fazer, uma forma de sensibilizar e chamar as pessoas para a ação.
O conhecimento não é estritamente racional, têm por base emoções e sentimentos
(MORAES; LA TORRE, 2004), os afetos que tornam possível uma mudança de
perspectiva essencial para a formação de um cidadão crítico, reflexivo capaz de
tomar atitudes disruptivas frente às questões ambientais (SPINOZA, 2009).
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
183
Com o espetáculo intitulado “Onda de Desperdício: Os Perigos Visíveis e
Invisíveis do lixo no Mar”, o projeto alcançou outros estados e realizou intervenções
também na Índia.
4 | O PROJETO INTERGERAÇÃO - RESPONSABILIDADE
INTERGERACIONAL AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE: É POSSÍVEL?
As experiências vividas em meio a comunidade, são transformadoras. Da
vivência com os Projetos de Extensão Oceanos e Água Viva, surge um outro olhar
para com o ambiente universitário e uma necessidade de alinhamento entre o que
se faz e o que se pratica enquanto universidade.
Não só os extensionistas, mas as Instituições de Ensino Superior devem
praticar o que ensinam (TAUCHE; BRANDLI, 2006). Para Simkins e Nolan (2004),
a gestão ambiental nas universidades pode melhorar as percepções do público
se evidenciar sua responsabilidade socioambiental, além de servir de modelo e
exemplo à comunidade estudantil que o frequenta, bem como atuar como difusor
de boas práticas.
Para Kruger e colaboradores (2011), a discussão sobre gestão ambiental,
responsabilidade social e sustentabilidade não é recente e tem ganhado espaço e
força nos últimos anos, a partir das exigências de uma sociedade contemporânea,
atenta a novos padrões de produção e consumo. A partir disso, muitas universidades
no mundo começaram a se preocupar com a sustentabilidade dos seus campi.
O projeto entre 2016 e 2017, visou a realização de um diagnóstico dos
aspectos e gastos ambientais da Escola do Mar, Ciência e Tecnologia, na UNIVALI,
campus Itajaí, objetivando ao consumo racional e sustentável, por meio do
envolvimento da comunidade acadêmica e local na elaboração e implementação
de espaços e estruturas educadoras e projetos sustentáveis no próprio campus da
UNIVALI como em Itajaí e região.
Na escola sustentável, o espaço físico cuida e educa, pois tanto as
edificações quanto o entorno são desenhados para proporcionar melhores
condições de aprendizagem e de convívio social. As edificações integram-se com a
paisagem natural e o patrimônio cultural local, incorporando tecnologias e materiais
adaptados às características de cada região e de cada bioma. Isso resulta em maior
conforto térmico e acústico, eficiência energética, uso racional da água, diminuição
e destinação adequada de resíduos e acessibilidade facilitada (BRASIL, 2012).
Na formação dos estudantes envolvidos neste projeto, estas ações
contribuíram para evidenciar as relações dos impactos das mais diversas atividades
para com os recursos hídricos e oceanos, demonstrando a necessidade de uma
formação transdisciplinar, com responsabilidade socioambiental, saindo do campo
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
184
teórico para a prática
5 | O PROJETO DE EXTENSÃO SALA VERDE ITAJAÍ - OBSERVATÓRIO
DE EDUCAÇÃO, SAÚDE, CIDADANIA E JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL DO
VALE DO ITAJAÍ (SC)
O projeto “Sala Verde de Itajaí”, integra ações de extensão-ensinopesquisa-gestão realizadas desde 2007 sob coordenação técnica do Laboratório
de Educação Ambiental (LEA) da Escola do Mar, Ciência e Tecnologia (EMCT) da
UNIVALI. O objetivo geral da “Sala Verde de Itajaí” está alinhado com o Projeto
Sala Verde do Departamento de Educação Ambiental (DEA), que consiste em
estimular a implantação de espaços interativos que atuem como potenciais Centros
de Informação e Formação Socioambiental contribuindo com o enraizamento das
políticas públicas socioambientais e de Educação Ambiental. Tem a UNIVALI como
instituição proponente, por meio de edital do Ministério do Meio Ambiente (MMA),
sua origem está no Projeto Sala Verde do Departamento de Educação Ambiental
(DEA). É uma das políticas públicas federais de Educação Ambiental (EA) destinada
a subsidiar e apoiar os educadores ambientais e coletivos educadores, de forma
descentralizada e transversal, em todo o país.
Estruturada como polo de convergência e difusão de informações, a Sala
Verde de Itajaí dá suporte ao desenvolvimento do “observatório” bem como da
ambientalização curricular dos cursos de graduação e ações de extensão universitária.
Seu acervo encontra-se reunido no LEA e na Biblioteca Central Comunitária (BCC)
do Campus de Itajaí, disponível à comunidade em geral. Seu espaço é dedicado a
programas, projetos e ações voltadas à questão socioambiental, reunindo atividades
culturais e educativas.
Uma das suas atividades é Circuito Tela Verde (CTV) de iniciativa do MMA e
Secretaria da Cultura, criada em 2008 pela Política e Programa de Educomunicação
Socioambiental do Brasil (OG/PNEA, 2005), com o objetivo de atender à demanda dos
espaços educadores por material audiovisual para se trabalhar a EA, democratizando
o acesso à produção audiovisual independente sobre questões socioambientais. A
metodologia do CTV inicia pela exibição de audiovisuais específicos ao encontro,
seguidos de “rodas de diálogo” mediada com avaliação, e sistematização final.
Além disso, estes espaços cumprem com a demanda para formação em EA para
coletivos educadores fortalecendo processo de gestão participativa e de políticas
públicas, permitindo a participação de forma legítima nos processos locais de
gestão por meio da Formação em Educação Ambiental para Gestão Participativa
e Política Pública. Estes espaços promovem o diálogo aberto e a troca de saberes,
de forma participativa, assumindo que cada participante carrega consigo além de
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
185
sua identidade, sua cultura e seus conhecimentos, com valores equivalentes como
elementos importantes, em processos de construção de conhecimentos, de forma
coletiva, por meio dos Círculos de Cultura de Paulo Freire (TONSO, 2013).
Soma-se ainda o Espaço Sala Verde de Exposições, que visa acolher
e movimentar exposições temáticas tanto internas como externas à instituição.
Este “espaço e estrutura educadora” (MATAREZI, 2005) tem o intuito de provocar
diferentes estéticas no ambiente acadêmico, interagindo no cotidiano dos estudantes
e da comunidade de Itajaí e região, sob o olhar da perspectiva emancipadora da
arte, da arte-educação e da Arte-Educação-Ambiental.
A Educomunicação da Sala Verde Itajaí vem documentando e disponibilizando
vídeos das atividades comunitárias no canal do LEA no Youtube (https://www.
youtube.com/channel/UCtiiSuP9e7Av0nLBPrPQZRg),
com
livre
acesso
pela
internet. Este trabalho dá visibilidade, voz e vez, aos atores sociais, além de apoiar
os parceiros internos e externos à instituição, via extensão.
AGRADECIMENTOS
A Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UNIVALI e à EMCT
pelo apoio financeiro e logístico para a execução dos Projetos de Extensão. A
Escola de Surf Municipal da Secretaria de Educação do Município de Balneário
Camboriú e Instituto Crescer - Movimento Cidadania e Juventude do município de
Itajaí, parceiras do Projeto de Extensão Oceanos. Ao Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Paraná. A todos os bolsistas e voluntários dos Projetos de
Extensão, professores e funcionários da UNIVALI que ao longo destes anos todos,
participaram efetivamente do planejamento e execução das atividades descritas
neste capítulo. À CAPES pelo apoio financeiro.
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Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 13
188
doi
CAPÍTULO 14
CHAVE DE DETERMINAÇÃO ILUSTRADA E GUIA
FOTOGRÁFICO DE ESPÉCIES DE FABACEAE
Data de aceite: 01/10/2020
SPECIES IDENTIFICATION KEY
ILLUSTRATED AND PHOTO GUIDE OF
FABACEAE SPECIES
Data de submissão: 25/06/2020
Fabieli Debona
Universidade Federal da Fronteira Sul
Realeza – PR
http://lattes.cnpq.br/2647661358462804
Berta Lúcia Pereira Villagra
Universidade Federal da Fronteira Sul
Realeza – PR
http://lattes.cnpq.br/6497159422628805
RESUMO: O Herbário Real está localizado no
sudoeste do Paraná, além de ser recente, a
região conta com pouca informação sobre sua
Flora. Fabaceae, considerada umas das maiores
e mais relevantes famílias das Angiospermas,
é a mais numerosa no Herbário. A partir dos
espécimes depositados foram analisadas e
confeccionadas descrições sucintas, chave
de determinação de espécies ilustrada e
guia fotográfico colorido. Foram identificadas
27 espécies entre nativas e exóticas, são
apresentadas chave de determinação de espécies
com ilustração botânica, guia fotográfico das
principais características de Fabaceae. Esses
resultados trazem ferramentas para que o ensino
de botânica seja mais eficiente unindo a prática
do reconhecimento das espécies da localidade à
literatura construída regional.
PALAVRAS-CHAVE: Ilustração, chave de
determinação, guia fotográfico, Fabaceae.
ABSTRACT: Herbarium Real is located in
the southwest of Paraná, in addition to being
recent, the region has little information about its
flora. Fabaceae, considered one of the largest
and most relevant families of Angiosperms, is
the most numerous in the Herbarium. From the
deposited specimens were analyzed and made
brief descriptions, species determination key
illustrated and colorful photo guide. Twenty-seven
species were identified (native and exotic), a key
for determining species with botanical illustration,
a photographic guide of the main characteristics
of Fabaceae is presented. These results bring
tools for the teaching of botany to be more
efficient, combining the practice of recognizing
the species of the locality with the regional
constructed literature.
KEYWORDS: Illustration, species determination
key, photo guide, Fabaceae.
1 | INTRODUÇÃO
A botânica é uma ciência estudada a
milhares de anos e os seus conhecimentos
informais
vêm
se
acumulando
desde
os
primórdios da história da humanidade como
foi constatado pelos registros arqueológicos
e acervos pertencentes a povos indígenas
primitivos (OLIVEIRA, 2003).
Ao longo de sua trajetória, a botânica
teve mudanças em suas formas de pensamento,
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Capítulo 14
189
constituindo uma trajetória que influenciou as concepções de estruturas dos
currículos com o intuito de sistematizar os seres vivos, buscando novas formas de
identificação e de classificação. A taxonomia, a morfofisiologia, o uso e a distribuição
das plantas são os focos do estudo botânico (DEMIZU et al., 2017).
É possível perceber, muitas vezes, o grande desinteresse por assuntos da
área da botânica, sendo tratada como algo indiferente por alunos e muitas vezes
por professores. Esta desvalorização tem como causas a precariedade de materiais,
métodos ou tecnologias que despertem a curiosidade do aluno. Além disso, outra
causa do desinteresse por parte dos estudantes, pode estar relacionado aos
métodos tradicionais de ensino, que muitas vezes não irão despertar e instigar a
curiosidade da mesma forma que se os conteúdos forem trabalhados de forma mais
prática e dinâmica (CORRÊA et al, 2016).
Uma importante família botânica é Fabaceae, considerada umas das maiores
e mais relevantes famílias das Angiospermas, ficando atrás somente de Asteraceae
e Orchidaceae, apresenta 751 gêneros e 19.500 espécies amplamente distribuídas
no espaço geográfico, estando ausente somente na Antártida e tendo uma maior
distribuição nas regiões tropicais (LPWG, 2013; LEWIS et al, 2005). No Brasil
ocorrem 2.756 espécies (ZAPPI and BFG, 2015) e no Paraná, 124 gêneros e 521
espécies de Fabaceae (Kaehler et al., 2014).
A família Fabaceae é tratada como sendo apenas uma, sendo dividida em três
subfamílias monofiléticas: Cercideae, Mimosoideae, Faboideae (Papilionoideae); e
uma parafilética: Caesalpinioideae. Porém, há algumas discussões e alguns autores
reconhecem três famílias distintas: Caesalpiniaceae, Fabaceae, Mimosaceae. No
entanto, esse posicionamento não é aceito, já que a cada novo estudo é comprovado
que essas três famílias não formam um agrupamento monofilético (SOUZA e
LORENZI, 2008).
De acordo com Souza e Lorenzi (2008), além de ser uma das maiores
famílias, também é de grande importância do ponto de vista econômica. Entre
muitas espécies, destacam-se, o feijão (Phaseolus vulgaris), o amendoim (Arachis
hypogaea), a soja (Glycine max) e a ervilha (Pisum sativum).
Fabaceae tem larga utilização ornamental, sendo a família de maior destaque
na arborização urbana. Dentre as espécies estão o flamboyant (Delonix regia), a
pata-de-vaca (Bauhinia variegata), o alecrim-de-campinas (Holocalyx balansae),
entre outros. Essa família também produz madeiras de alta qualidade, incluindo o
pau-brasil (Caesalpinia echinata), que deu nome ao Brasil e foi responsável pelo
primeiro ciclo econômico (SOUZA, 1984). Além desta espécie, outras se destacam,
como o jatobá (Hymenaea spp.), o jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra) e a garapa
(Apuleia leiocarpa) (SOUZA e LORENZI, 2008).
Segundo Corby (1981), uma outra importância econômica de Fabaceae
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Capítulo 14
190
que ganha muito destaque, diz respeito a sua capacidade de fixação de nitrogênio
quando em associação com bactérias do solo do grupo dos rizóbios. Essa relação
simbiótica ocorre nas raízes das plantas hospedeiras, onde ocorre a formação de
estruturas nodulares que formam um sítio adequado para reações bioquímicas e
enzimáticas, permitindo a fixação de nitrogênio que irá suprir às necessidades da
planta. A ocorrência de nodulações é mais comum em Mimosoideae e Faboideae e
mais rara em Caesalpinioideae.
De acordo com Souza e Lorenzi (2008), Fabaceae pode se apresentar como
erva, arbusto, árvore ou trepadeira. Suas folhas geralmente são alternas, raramente
são opostas, geralmente compostas com estípulas. Além disso, a inflorescência
geralmente é racemosa, as flores podem ser vistosas ou não, geralmente são
bixessuadas, actinomorfas ou zigomorfas, diclamídeas e raramente monoclamídeas.
O fruto dessa família geralmente é do tipo legume, podendo apresentar outras
formas, como drupa, sâmara, folículo, craspédio ou lomento.
As subfamílias de Fabaceae apresentam variações morfológicas entre
si, sendo que Faboideae é a mais numerosa e apresenta características mais
derivadas. Segundo Polhill & Raven (1981), essa subfamília é representada por
gêneros lenhosos no hemisfério sul e trópicos, e por gêneros herbáceos em regiões
de clima temperado. Além disso, algumas características se destacam, como flores
que tem um tempo prolongado de vida, zigomorfismo e poucos óvulos.
Observando a importância das espécies da família Fabaceae e a necessidade
dos professores da educação básica desenvolverem atividades que possam dar ao
aluno a possibilidade de relacionar o conhecimento adquirido em sala de aula com
situações do cotidiano, viu-se a necessidade de criar estratégias que auxiliem nessa
construção de conhecimento. Dessa forma, esse trabalho objetivou a elaboração
de um guia ilustrado e uma chave de identificação didática, como ferramentas para
escolares.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O levantamento das espécies foi desenvolvido no Herbário REAL (UFFS,
campus Realeza). A família foi escolhida devido a grande importância econômica
e cultural no município, além de estar presente no nosso cotidiano. As espécies
foram classificadas de acordo com a sua origem, se nativas ou exóticas. A partir
disso, foram elaboradas sinopses a partir da mensuração das partes dos vegetais,
comparação das variações dos espécimes por espécie e consulta a bibliografia
especializada, e análise em lupa. As sinopses serviram de base para criação da
chave de identificação dicotômica das espécies. Para a chave de identificação foram
elaborados ilustrações didáticas das espécies que foram digitalizadas. Para o guia
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Capítulo 14
191
fotográfico colorido as exsicatas foram fotografadas e editadas para destacar partes
dos exemplares mais relevantes no processo de determinação das espécies.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontradas 27 espécies de Fabaceae no herbário REAL, sendo que
dessas, 8 são exóticas e 19 são nativas. Além disso, às espécies que mais estão
presentes são Leucaena leucocephala (exótica), com 5 exemplares, Dalbergia
frutescens (nativa), Delonix regia (nativa) e Parapiptadenia rigida (nativa) com 3
exemplares de cada.
Como resultado foi possível realizar a descrição sucinta das 27 espécies de
Fabaceae, a confecção de uma chave de identificação ilustrada (Figura 1), bem
como a criação de um guia ilustrado com fotos dos detalhes das espécies (Anexo).
A grande importância da Botânica foi discutida por Salatino e Buckeridge
(2016), que em suas discussões abordam a cegueira botânica (termo criado por
Wandersee e Schussler em 2002), presente na sociedade e fortemente notada
nas escolas. Trata-se da dificuldade de notar às plantas no nosso cotidiano, não
reconhecendo seus aspectos biológicos exclusivos e considerando-as inferiores aos
animais.
Uma das consequências da cegueira botânica é que os professores não
tiveram formação adequada para ensinar Botânica, o que torna o processo de ensinoaprendizagem mais difícil e entediante. Além disso, como mostrado por Kinoshita et
al. (2006), na maior parte das vezes, os conteúdos de Botânica são trabalhados de
forma tradicional, priorizando a memorização e reprodução de nomes e conceitos,
sem haver questionamentos, o que não torna o conhecimento significativo. Como
mostrado por Salatino e Buckeridge (2016), o ensino de Botânica se torna mais
prazeroso quando realizado de forma prática, já que desperta o interesse dos jovens.
Dessa forma, a utilização de aulas práticas para identificação de plantas é uma
ferramenta muito válida, e pode ter como apoio, materiais como o guia ilustrado e a
chave de determinação de espécies ilustrada, desenvolvidos no presente trabalho.
Segundo Figueiró-Leandro (2007), as chaves dicotômicas de identificação
são ferramentas que auxiliam na botânica taxonômica, visto que estas agrupam
conjuntos de elementos semelhantes que englobam características vegetativas
e reprodutivas para identificação das plantas, que é uma necessidade base para
pesquisa nas demais áreas da biodiversidade.
Ademais a ilustração científica mostra a capacidade do pintor em observar
e ilustrar precisamente, representando características singulares do objeto que
se observava, dando forma ao que é invisível a muitos olhos (ALMEIDA, 2014),
auxiliando o aprendizado de taxonomia aos escolares e divulgando a botânica.
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Figura 1. Chave de determinação ilustrada de Fabaceae presentes na Coleção do
Herbário Real, UFFS, campus Realeza.
AGRADECIMENTOS
À Empresa Metropolitana de Água e Energia (EMAE P&B 00393/0010 2017)
pela bolsa concedida ao primeiro autor. À Universidade Federal da Fronteira Sul por
proporcionar projetos como o Herbário Real.
REFERÊNCIAS
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taxonomia Botânica. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Feira de Santana,
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Capítulo 14
196
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em: 20 jun. 2020.
ANEXOS
Estudo de Fabaceae do Herbário Real (UFFS, campus Realeza)
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
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198
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
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201
SOBRE AS ORGANIZADORAS
TALIANE MARIA DA SILVA TEÓFILO: Possui graduação em Agronomia pela
Universidade Federal Rural do Semiárido (2007), e mestrado em Fitotecnia (2009)
pela mesma instituição. Atuou como engenheira agrônoma na área da fruticultura
irrigada, realizando atividades de planejamento, organização e acompanhamento de
auditorias de certificação, nos âmbitos de segurança alimentar e sócio-ambientais
(2010 – 2016). Atuou como professora do Curso Técnico em Agropecuária/ Fruticultura
na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2017 – 2018), onde ministrou as
disciplinas de Topografia, Ovinocaprinocultura, Agroecologia, Fitopatologia, Gestão
Rural, Extenção Rural e Cooperativismo, Irrigação e Culturas anuais. Atualmente
a autora cursa o doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do
Semiárido, onde realiza pesquisas na área de comportamento de herbicidas no solo,
ecotoxicologia de herbicidas e manejo integrado de plantas daninhas em espécies
cultivadas.
TATIANE SEVERO SILVA: Engenheira Agrônoma pela Universidade Estadual do
Maranhão - UEMA/CESI (2014). Mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal
Rural do Semi-Árido – UFERSA (2017-2019). Atualmente cursa Doutorado pelo
Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia na Universidade Federal Rural do SemiÁrido. Na área de Agronomia tem suas pesquisas relacionadas com os seguintes
temas: interações entre plantas daninhas e plantas cultivadas, comportamento
de herbicidas no ambiente, manejo integrado de plantas daninhas, seletividade de
herbicidas, ecotoxicologia e biologia molecular.
FRANCISCA DANIELE DA SILVA: Possui graduação em Gestão Ambiental pela
Universidade Potiguar (2011). Atuou como Gestora Ambiental na elaboração,
implantação e monitoramento de Sistemas de Gestão da Qualidade e Meio Ambiente
e atividades de planejamento, auditora interna em auditorias de certificações nacionais
e internacionais, tais como: NBRs ISO 9001, 14001, OHSAS18001, ISO 2200,
sempre atuando nos âmbitos de segurança alimentar e socioambientais no setor
do Agronegócio, Indústria e tecnologias limpas (2007-2018). Assistente de logística
em empresa irlandesa e capacitação na língua inglesa (2018-2020). Perita Judicial
Ambiental e atualmente cursa Mestrado em Ambiente, Sociedade e Tecnologia pela
Universidade Federal Rural do Semi-Árido.
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Sobre as organizadoras
202
ÍNDICE REMISSIVO
A
Adubo organomineral 55, 56, 76
Adubos orgânicos 56, 57, 76, 77
Agentes infecciosos 112, 113, 119, 127, 129, 130, 131, 134, 137
Agroecologia 12, 13, 14, 15, 16, 19, 20, 174, 202
Alimentos saudáveis 18, 22, 24
Ambiente urbano 113, 114, 139
Atividade biológica 47
B
Bactéria 48
Bioinseticidas 36
Botânica 92, 97, 103, 104, 106, 109, 110, 111, 189, 190, 192, 196, 197, 198
C
Ciência 36, 44, 78, 80, 81, 83, 87, 110, 172, 176, 178, 181, 183, 184, 185, 186, 187,
189
Condições alimentares 21, 22
Conhecimento científico 176, 178, 180, 181
Construção do conhecimento 177
Controle biológico 47
D
Desequilíbrios ambientais 120, 178
E
Educação ambiental 1, 2, 4, 6, 10, 11, 12, 13, 19, 114, 174, 178, 181, 185, 187, 188
Educadores ambientais 1, 7, 8, 9, 185
Empregos verdes 153, 154, 158, 160, 161, 171
Espécies exóticas 78
Espécies nativas 80
F
Fauna 6, 26, 27, 31, 36, 122, 129, 130, 133, 134, 142, 143, 150, 158
Flora 6, 36, 43, 111, 158, 189, 198
Formação interdisciplinar 176, 178
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Índice Remissivo
203
Formações florestais 26, 27
Fungos 48, 70, 83, 84, 86, 91, 92, 94, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120,
121, 137, 142
H
Herbário 32, 36, 189, 191, 192, 196, 198
I
Injustiças sociais 1
Intoxicação 100, 101, 102, 104, 105, 106, 107
Inventários faunísticos 26
M
Mata Atlântica 26, 27, 28, 32, 33, 57, 64, 83, 116, 126, 128, 129, 133, 148, 150
Microrganismos 53, 61, 66, 90, 91, 118, 119, 120, 121
P
Plantas medicinais 15, 16, 44, 86, 87, 88, 95, 96, 103, 104, 109, 111
Produção de hortaliças 21, 23, 24
Produto seguro 86
Q
Qualidade físico-química 86, 88, 89
Qualidade microbiológica 90
R
Resíduos orgânicos 46, 53, 55, 56, 74, 76
Responsabilidade socioambiental 153, 154, 168, 169, 172, 184
S
Sociedades sustentáveis 12
Sustentabilidade 1, 4, 6, 10, 13, 14, 59, 156, 157, 169, 170, 176, 181, 184
Meio Ambiente: Impacto do Convívio entre Vegetação, Animais e Homens 2
Índice Remissivo
204