Estudo ba ropodométrico em idosos submetidos à intervençã o fisiotera pêutica
ESTUDO BAROPODOMÉTRICO EM IDOSOS SUBMETIDOS
À INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA
Pedoba rometric study in elderly a fter physica l
thera py intervention
Fá bio Ma rcon Alfieri 1
Rosa na Ma cher Teodori2
Rina ldo Roberto Jesus de Guirro 3
Resum o
Alterações durante o envelhecimento podem promover mudanças no controle postural. O objetivo deste
trabalho foi verificar os efeitos de um programa regular de intervenção fisioterapêutica sobre a distribuição
da pressão plantar. A intervenção foi aplicada a 29 idosos com idade média de 63,06 ±2,84 anos, durante 3
meses, a qual constou de exercícios de aquecimento, flexibilidade, estimulação proprioceptiva e estimulação
sensorial cutânea plantar. Os exames de baropodometria foram realizados antes e após a intervenção,
utilizando-se de uma plataforma de pressão computadorizada (MatScan-Tekscan® ). Os resultados foram
analisados pelos softwares Statística 6.0 e Graph Pad Instat. As médias foram comparadas pelo teste t de
Student com significância de 5%. Após intervenção verificou-se que a área de contato da superfície plantar
aumentou significativamente para as posições bipodais, tanto com os olhos abertos 7%, quanto com os olhos
fechados 6,5%. Para as posições unipodais com olhos abertos ou fechados não houve diferença significativa.
Com relação ao pico de pressão, somente a posição bipodal com os olhos abertos apresentou diminuição
significativa de 8,5%. Os resultados demonstram que a intervenção proposta foi efetiva quando os voluntários
foram examinados na condição bipodal. Estas mudanças sobre a distribuição da pressão plantar podem
permitir melhora no controle postural em indivíduos idosos, tornando-os menos propensos a quedas.
Palavras-chave: Fisioterapia; Envelhecimento; Baropodometria; Controle postural.
1
2
3
Prof. MS. Fábio Marcon Alfieri – Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Adventista de São Paulo – UNASP.
Profa. Dra. Rosana Macher Teodori – Docente do Programa de Pós-graduação em Fisioterapia da Universidade Metodista de
Piracicaba – UNIMEP Rodovia do Açúcar, km 156 – Piracicaba-SP, Bairro Taquaral - CEP: 13.400-911. PPG-Fisioterapia. e-mail:
rteodori@unimep.br
Prof. Dr. Rinaldo Roberto de Jesus Guirro – Coordenador e Docente do Programa de Pós-graduação em Fisioterapia da
Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP
Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.19, n.2, p. 67-74, abr./jun., 2006
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Fá bio Ma rcon Alfieri; Rosa na Ma cher Teodori; Rina ldo Roberto Jesus de Guirro
Abstra ct
Alterations during the aging may provoke changes in the postural control. The aim of this work was verify
the effects of physiotherapy intervention regular program on the plantar pressure distribution. The
intervention was applied on 29 elders average 63,06 years ( ±2,84) 3 months long, that consisted of warming,
flexibility, proprioceptive stimulation, and plantar cutanea sensorial stimulation exercices. The pedobarometric
tests were accomplished after and before the intervention, using a computerized pressure plataform (MatScanTekscan® ). The results were analised through the Statistica 6.0 and Graph Pad Instat softwares. The average
were compaired by student t test with 5% significance. After the intervention was verified that the plantar
surface contact area rose significantly to the bipodal positions, 7% with opened eyes, and the contact pressure
peak on the bipodal evaluation with closed and opened eyes, and 6,5% with closed eyes. To the unipodals
positions with closed and opened eyes, there were no significant differences. In relation to the pressure pike,
only the bipodal position with opened eyes show significative decreased of 8,5%. The results demonstrate
that the proposed intervention was effective when the volunteers were examined on bipodal position. These
changes on plantar pressure distribution may allow improvement in the elderly people postural control, geting
them less prone to falls.
Keywords: Physical therapy; Aging; Pedobarometry; Postural control.
Intro duçã o
Durante o processo de envelhecimento
ocorrem alterações psicológicas, emocionais, sociais e biológicas na vida das pessoas.
As mudanças biológicas são marcantes,
pois estão presentes em todos os aparelhos e sistemas do corpo. As perdas funcionais podem ser
observadas com maior destaque nos sistemas
cardiorrespiratório, cardiovascular, musculoesquelé tico, e ndócrino, se nsorial (audição, olfato,
gustação, equilíbrio, visão), imunológico e nervoso (1, 2).
Considerando o sistema sômato-sensorial, tanto o sistema nervoso central como o periférico podem sofrer alterações. Neste último, há perda
de fibras mielinizadas e não mielinizadas e diminuição da velocidade de condução nervosa, levando o idoso a ter diminuição da discriminação
sensorial, bem como alteração nas respostas
autonômicas e fluxo sanguíneo às estruturas nervosas. Tais alterações estruturais propiciam, por
exemplo, aumento do limiar de sensibilidade
vibratória nas mãos e pés dos idosos (3).
Além da perda dos receptores, ocorre um
declínio de até 30% nas fibras sensoriais que
inervam os receptores periféricos, podendo ocorrer neuropatias periféricas, o que não é raro em
idosos (4). Existem estimativas de que 1 a cada 5
idosos apresenta evidências de neuropatia periféric a, se ndo que e stas e o utras pe rdas pro prioceptivas aumentam o limiar para a detecção
do movimento e dificultam a reprodução precisa
de movimentos articulares, ou seja, dificulta a
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propriocepção (5). Assim, pessoas idosas são menos sensíveis à vibração, à pressão tátil, à dor e à
temperatura cutânea.
Com a diminuição da sensação plantar,
pode haver limitações sobre o controle do equilíbrio quando este é solicitado de forma imprevisível por mudanças posturais multidirecionais (6).
Em virtude das alterações nos sistemas
visual, vestibular e sômato-sensorial, relacionadas
à estabilidade postural, a capacidade de manutenção do controle postural na posição ortostática pode
estar alterada no idoso, limitando a realização de
suas atividades de vida diária e podendo favorecer quedas.
A literatura reporta que cerca de 30% dos
idosos sofrem quedas ao menos uma vez ao ano,
sendo que alguns apresentam índice de queda ainda maior. Além de fraturas e outros problemas físicos provocados pelas quedas, considera-se o alto
custo, tanto para o indivíduo acometido quanto
para o sistema de saúde, devido aos transtornos
provocados pelas quedas (7, 8, 9, 10).
O exercício físico regular tem sido reportado na literatura como fator favorável à saúde por
diminuir riscos potenciais de doenças, melhorar a
capacidade cardiovascular e locomotora (aumento da densidade mineral óssea, melhora de problemas ósteo-articulares, força muscular, equilíbrio,
dentre outros), aumentando a capacidade funcional e promovendo melhores condições de vida aos
idosos ( 11, 12, 13). A prática regular de exercício
é um fator que não só contribui para a melhoria
nas condições de vida durante o envelhecimento,
mas também fornece estímulos que vão propiciar
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Estudo ba ropodométrico em idosos submetidos à intervençã o fisiotera pêutica
ao idoso melhor capacidade de manutenção do
controle postural.
Desta forma, aplicou-se neste estudo um
programa de intervenção fisioterapêutica com ênfase na estimulação proprioceptiva para investigar
possíveis benefícios à estabilidade postural de idosos sedentários.
Ma teria is e Méto do s
O trabalho foi aprovado por Comitê de
Ética em Pesquisa. Participaram 29 idosos (8 homens e 21 mulheres), com idade média de 63,06
±2,84 anos.
Os critérios para inclusão dos voluntários
foram: ter idade entre 60-70 anos e apresentar índice de massa corporal (IMC) entre 20-30. Foram
excluídos aqueles que realizassem exercício físico
regularmente (2 ou mais vezes por semana), os
portadores de cardiopatias, osteossíntese (sobretudo de membro inferior), portadores de próteses
articulares, aqueles que apresentassem queixas de
tonturas, história de quedas no último ano, indivíduos com diabetes (insulino-dependentes), com
história de fraturas prévias (sobretudo no membro
inferior e coluna vertebral), os que não apresentassem correção visual e os portadores de doenças
neurológicas. Como critério de descontinuação
considerou-se a falta em três ou mais sessões de
intervenção e/ou presença de dor nos membros
inferiores. Todos os participantes realizaram uma
avaliação clínica prévia à intervenção para verificação das condições de saúde.
Utilizou-se para avaliação um sistema de
b aro po do me tria c o mputado rizada ( MatSc anTekscan® ), que consiste de uma Plataforma de Pressão MatScan-Tekscan com 2288 sensores, resolução de 1.4 sensor/cm2, medindo 436mm x 369mm;
um so f twa r e e m a mb ie n te Win do ws c o m
monitoração em tempo real, acoplado a um
microcomputador Pentium II padrão. Este sistema
avaliou a área e o pico de pressão de contato da
superfície plantar, conforme mostra a figura 1.
Figura 1: Ima gem bidimensiona l demonstra ndo a distribuiçã o da á rea de conta to (cm 2 )
e pico de pressã o de conta to pla nta r (Kg/ cm 2 ) a ntes (A) e a pós (B) a intervençã o.
A avaliação baropodométrica foi realizada 24 ho ras ante s do iníc io da inte rve nç ão
fisioterapêutica e 24 horas após o seu término. O
voluntário permanecia sobre a plataforma em posição ortostática, com o olhar horizontal e os membros superiores ao longo do corpo, com base de
sustentação livre.
Os indivíduos foram avaliados nas posições: bipodal com olhos abertos (BA), bipodal com
olhos fechados (BF), unipodal com olhos abertos
(UA) e unipodal com olhos fechados (UF).
A seqüência das posições de coleta foi
estabelecida de forma aleatória para evitar possíveis
adaptações do equilíbrio postural durante a coleta dos
dados, que teve duração de aproximadamente 10 segundos para cada posição, considerando que o sistema realiza a gravação do filme em fra mes (200 quadros durante 10 segundos). Nos testes em posição
unipodal, o voluntário era orientado a flexionar o
joelho do membro contralateral a 90° e, em seguida,
quando necessário, fechar os olhos para que a coleta
fosse iniciada. Cada posição foi coletada 3 vezes.
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O protocolo de intervenção considerou
níveis progressivos de dificuldade por se tratar de
um trabalho que envolveu a prática regular de
exercícios para estimulação proprioceptiva em idosos sedentários, evitando dor, cansaço e até mesmo quedas. O programa teve duração de 3 meses,
com freqüência de três sessões semanais de uma
hora.
A intervenção fisioterapêutica enfatizou
a estimulação sensorial proprioceptiva e vestibular, suprimindo a visão em determinados momentos com o objetivo de suscitar respostas adequadas à melhora da estabilidade postural.
Considerando as características apresentadas por indivíduos idosos, bem como as maneiras pelas quais o controle postural pode ser estimulado, o programa de exercícios aplicado considerou as propostas reportadas na literatura (13,
14, 15, 16, 17).
O programa de intervenção era composto das seguintes fases: a) aquecimento e flexibilidade (10 minutos); b) fortalecimento muscular (15
minuto s) ; c) e xe rcício s de e stimulação pro prioceptiva (30 minutos); d) exercícios de relaxamento (5 minutos).
Para aquecimento , os voluntários realizavam exercícios gerais, como caminhadas rápidas, jogar bolas com os pés e com as mãos, exercícios de dissociação de cinturas, tanto em pé como
em decúbito dorsal; os exercícios de alongamento dos grupos musculares (flexores, extensores,
adutores do quadril, flexores e extensores do joelho, flexores plantares e paravertebrais) foram realizados em decúbito dorsal e em pé. Para fortalecimento muscular foram utilizados distratores
de diferentes resistências, dando ênfase ao fortalecimento dos músculos flexores plantares, extensores
e flexores do joelho, flexores, adutores, abdutores
e extensores do quadril, em decúbito dorsal, na
posição ortostática e sentada. A escolha do grau de
resistência do elástico foi realizada de acordo com
a facilidade para execução do exercício.
Previamente aos exercícios de estimulação
do equilíbrio propriamente dito, os voluntários participavam em conjunto de exercícios que combinavam estimulação sensorial da superfície plantar e
exercícios de equilíbrio dinâmico. Esta etapa teve
duração de 5 minutos nos quais os voluntários realizavam caminhadas para frente, para trás, para os
lados, com os olhos abertos e alguns movimentos
com os olhos fechados, sobre diferentes tipos de
70
superfícies, texturas e densidades, como: isopor,
colchonetes, EVA (etil vinil acetato), colchão casca
de ovo, flutuador de piscina e almofadas com diferentes espessuras. Também era solicitado aos voluntários transpor obstáculos como bastões, cordas,
dentre outros, recebendo comando para caminhar,
ora de forma mais lenta, ora mais rápida.
Para estimulação pr oprioceptiva, os
voluntários cumpriam 3 etapas: a primeira (10 minutos) envolvendo dispositivos como: cama elástica, disco de gel para propriocepção e balancim,
nos quais os voluntários ficavam em apoio bipodal
e unipodal com os olhos abertos e olhos fechados
durante 5-10-15-20 segundos, de acordo com o nível de facilidade para cada participante; a segunda
etapa (10 minutos) constituiu de exercícios sobre
bola suíça (65cm) envolvendo deslocamento láterolateral, ântero-posterior, circundução e de “quicar”,
exercícios apoiando um dos pés sobre a bola e
realizando seu deslocamento, sendo todos os exercícios realizados com e sem o auxílio da visão; a
última etapa (10 minutos) constituiu de exercícios
so bre a prancha de e quilíbrio e o disco de
propriocepção, nos quais os voluntários realizavam deslocamentos látero-laterais, ântero-posteriores em apoio bipodal e unipodal, com e sem o
auxílio da visão.
Para r elax amento foram utilizados exercícios de respiração associados a movimentos ativos lentos das articulações dos membros superiores e inferiores, na posição ortostática.
Para análise estatística foi utilizado o sistema computacional Statística versão 6.0 e Graph
Pad Instat – (DATASET1./SD). Utilizou-se o teste t
de Student para a comparação das médias, sendo
considerado o nível de significância de 5%.
Resulta do s
Analisando a ár ea de c on tato da sup e r fí c i e p l a n t a r , o b s e rvo u - s e a u m e n to
significante nas posições bipodal com olhos
abertos (BA) e bipodal com olhos fechados (BF)
após intervenção. A média do apoio B A passou
de 217,37 ± 37,47cm 2 para 232,72 ± 30,95cm 2
(p=0,003) e no apoio B F que inicialmente era
de 2 1 9 , 7 2 ± 4 0 , 1 0 c m 2 , p asso u p ara 2 3 4 , 4 1
±30,48cm2 (p=0,005). Para as posições unipodais
não houve diferença entre os valores médios
coletados antes e após o programa de inter-
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Estudo ba ropodométrico em idosos submetidos à intervençã o fisiotera pêutica
± 29,57cm 2 e 121,12 ± 17,64cm2 para a posição
ve nç ão , re sultando no s valo re s de 1 2 5 , 9 3
± 25,80cm2 e 132,38 ± 16,03cm 2 para a posição
unipo dal co m o lho s abe rto s ( UA) , e 116,18
unipodal com olhos fechados (UF), conforme
demonstra a figura 2.
Figura 2- Va lo res m édio s da á rea de co nta to da superfície pla nta r (cm 2 ) na s diferentes
posições de a va lia çã o : BA- bipo da l co m o lho s a bertos, BF- bipo da l com o lhos fecha dos,
UA- unipoda l co m o lho s a berto s, UF- unipo da l co m o lho s fecha dos, em rela çã o a o
respectivo pré, utiliza ndo o teste t de Student (n=29; * p<0,05).
300
**
*
250
200
150
100
50
0
BA_Pré
BA-pré
BA_Pós
BA-pós BF_Pré
BF-pré
Na avaliação do pico de pressão de contato observou-se redução significativa nos valores
médios somente no apoio BA, passando de 0,95
±0,23kg/cm2 para 0,87 ±0,13kg/cm2 após intervenção
(p=0,02). Para as outras posições assumidas pelos
BF-pós
BF_Pós UA_Pré
UA-pré
UA-pós
UA_Pós UF_Pré
UF-pré
UF-pós
UF_Pós
voluntários, temos que as médias antes e após a intervenção foram de 0,92 ±0,23 kg/cm2 e 0,86 ±0,15kg/
cm2 para BF; 1,33 ±0,22kg/cm2 e 1,26 ±0,21kg/cm2
para UA e 1,49 ±0,27kg/cm2 e 1,43 ±0,21kg/cm2 para
UF, respectivamente, conforme figura 3.
Figura 3- Va lo res m édio s do pico de pressã o de co nta to da superfície pla nta r (Kg/ cm 2 )
na s diferentes po siçõ es de a va lia çã o : BA- bipo da l co m o lho s a berto s, BF- bipo da l com
olhos fecha do s, UA- unipo da l co m o lho s a berto s, UF- unipo da l co m o lhos fecha dos, em
rela çã o a o respectivo pré, utiliza ndo o teste t de Student (n=29;* p<0,05).
2,000
1,500
*
1,000
0,500
0,000
PP_BA_AN
BA_Pré
BA-pré
PP_BA_D
BA_Pós
BA-pós
PP_BF_AN
BF_Pré
BF-pré
PP_BF_D
PP_UA_AN
PP_UA_D
PP_UF_AN
BF_Pós
UA_Pré UA_Pós
UF_Pré PP_UF_D
UF_Pós
BF-pós
UA- pré
UA-pós UF-pré UF- pós
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Discussã o
As alterações dos sistemas vestibular,
sômato-sensorial e visual durante o processo de
envelhecimento podem refletir sobre o controle
postural. Como o controle postural é responsável pela orientação da postura e manutenção do
equilíbrio, as ações dependentes destas funções
ficam prejudicadas. Visando promover melhora
na capacidade de controle postural, a prática regular de exercício físico vem sendo estudada e
divulgada na literatura científica para demonstrar sua influência sobre o equilíbrio.
Co n side ra n do q ue a s p e rda s p ro prioceptivas durante o envelhecimento aumentam o limiar para a detecção do movimento e
dificultam a reprodução precisa de movimentos
articulares, ou seja, a propriocepção; é possível
que uma forma de intervenção específica como
a estimulação proprioceptiva possa interferir mais
efetivamente sobre o controle do movimento e
a estabilidade postural (5).
O aumento da área de contato na superfície plantar observado neste estudo na posição bipodal após intervenção sugere facilitação
do controle dos movimentos da estabilidade
postural, uma vez que o número de receptores
sensoriais da superfície plantar em contato com
a superfície também aumenta, suprindo o sistema nervoso com informações mais precisas da
periferia. Essa facilitação na posição bipodal com
os olhos abertos favorece a estabilidade para a
realização das atividades de vida diária e marcha, podendo tornar os indivíduos menos propensos a quedas.
O incremento da área de contato favorece melhor distribuição dos picos de pressão
de contato. Segundo Lord (18), altos picos de
pressão sobre os pés são freqüentemente relacionados à necessidade de atenção clínica devido
ao efeito potencial de causar lesões ao tecido
plantar. Perry, Mcllroy, Maki (6) também citam
que como o estímulo sensorial cutâneo plantar
tem importante papel na regulação da marcha e
controle postural, a interferência da presença de
calosidades e de superfícies menos sensíveis
pode alterar a informação plantar e prejudicar o
controle postural, pois afetam as informações
sômato-sensoriais. Observou-se neste estudo que
o aumento da área de contato na superfície plantar permitiu melhor distribuição da pressão de
72
contato, fazendo com que os picos de pressão
de contato diminuíssem para a posição BA. Esse
resultado sugere que a intensidade de pressão
aplicada à determinada área plantar pode ser
melhor distribuída a partir desse tipo de intervenção, tornando os idosos menos propensos a
desenvolver calosidades, que possam vir a interferir com o controle postural.
Considera-se então que o aumento da
área de contato e a diminuição dos picos de pressão de contato na superfície plantar promovidos
por este programa de intervenção poderiam favorecer o controle postural de idosos sedentários e a estabilidade postural, evitando quedas.
Neste trabalho, embora os voluntários
ta mb é m re a liza sse m e x e rc íc io s e m a p o io
unipodal, o programa de intervenção não foi
focalizado neste apoio em virtude das atividades de vida diária serem realizadas em apoio
bipodal. Desta forma, os resultados obtidos são
positivos, pois permitem considerar que o protocolo de intervenção proposto foi efetivo para
melhorar a estabilidade postural de idosos sedentários.
No apoio bipodal com olhos fechados,
verificou-se que a diminuição no valor médio
do pico de pressão de contato após o programa
de intervenção não foi significante como na posição bipodal com olhos abertos, o que permite
ressaltar a importância da visão sobre o controle
postural. Quando utilizadas as condições como
olhos abertos e fechados na avaliação, há uma
reorganização dos diferentes componentes do
controle postural. Em idosos, os sensores visuais são os mais importantes no controle postural
e motor, enquanto que os proprioceptivos e vestibulares são menos utilizados, porém sob condições de olhos fechados, os indivíduos têm que
compensar a privação visual, utilizando as outras fontes sensoriais, explicando o fato de que
nas posições sem o auxílio da visão os resultados tendem a ser piores (19).
Nas avaliações em que há privação das
informações visuais, os resultados são piores em
relação aos testes com olhos abertos (17). Perrin,
Gauchard, Perrot, Jeandel (15) relatam que quando há alteração de alguma parte dos sistemas que
atuam sobre o controle postural, os indivíduos se
tornam mais susceptíveis a quedas. Examinando
um grupo de 65 idosos acima de 60 anos, eles
também verificaram que os dados obtidos com
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Estudo ba ropodométrico em idosos submetidos à intervençã o fisiotera pêutica
os olhos fechados foram piores que aqueles com
os olhos abertos em todos os grupos.
Como o controle postural é dado pela
interação dos sistemas vestibular, visual e sômatosensorial, este estudo buscou estimular a estabilidade corporal por exercícios multissensoriais, visando principalmente promover a melhora do controle postural de idosos por meio de estímulos
sensoriais cutâneo plantares.
A propriocepção e a informação sensorial da superfície plantar são os fatores mais impo rtante s para a manute nç ão do e quilíb rio
postural em condições normais e que a atividade
física aumenta esses estímulos, permitindo maior
eficiência para adaptação postural (15). Perry
Mcllroy, Maki (6) ratificam essa argumentação,
apontando que o estímulo sensorial cutâneo plantar parece representar um importante papel na
regulação da marcha humana e contribui para o
controle postural, especialmente em condições de
mudanças posturais multidirecionais que ocorrem
de forma imprevisível durante a marcha, considerando que as aferências dos mecanorreceptores
plantares fornecem informações detalhadas que
podem facilitar reações compensatórias.
Referência s
Co nclusã o
Este estudo avaliou a influência de um
programa de intervenção fisioterapêutica voltado à estimulação proprioceptiva sobre a estabilidade postural de indivíduos idosos. A análise b aro p o do mé tric a de mo n stro u aume n to
significante da área de contato plantar nas posições de apoio bipodal, bem como diminuição significante do pico de pressão de contato
na superfície plantar. Esses resultados sugerem
aumento das aferências cutâneo-plantares, com
conseqüente facilitação do controle motor e estabilidade postural, o que pode favorecer a estabilidade para realização das atividades diárias e da marcha, tornando os idosos menos propensos a quedas e suas conseqüências. Estudos futuros poderiam demonstrar a influência
deste programa de intervenção sobre a força
muscular dos idosos, uma vez que o incremento nos mecanismos neurais pode refletir em
ganho de força e repercutir sobre o controle
postural, melhorando a qualidade de vida dessa população.
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