Ponte (sistema nervoso)
A ponte (também chamada de protuberância, protuberância anelar ou ponte de Varólio) é uma estrutura pertencente ao tronco cerebral.
Ponte (sistema nervoso) | |
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Localização da ponte ("pons" na figura) | |
Detalhes | |
Vascularização | artérias pontinas |
Identificadores | |
Latim | pons |
Gray | pág.785 |
MeSH | Pons |
A ponte pertence ao rombencéfalo. Nasce da porção anterior do metencéfalo, recebendo ainda uma contribuição da porção alar do mielencéfalo.
Localização
editarSitua-se anteriormente em relação ao cerebelo, superiormente ao bulbo e inferiormente aos pedúnculos cerebrais (mesencéfalo).
Limites:
- Inferior – sulco bulboprotuberancial
- Superior – sulco pôntico superior
Significância Clínica
editar- Forma a metade superior do pavimento do quarto ventrículo
- Possui diversos núcleos de importantes nervos cranianos, como o trigémeo, motor ocular externo, facial e auditivo.
- Serve como condutor para importantes vias ascendentes e descendentes (e.g. cortico-nuclear, cortico-protuberancial, cortico-espinhal, etc.)
Estrutura
editarA protuberância é constituída por duas porções:
- Protuberância basal – estrutura ventral e que interconecta os dois hemisférios cerebelares através dos pedúnculos cerebelares médios
- Tegmento, que é uma estrutura mais posterior.
Entre o bolbo raquidiano e a protuberância existe a separá-los o sulco bulboprotuberancial. Entre este sulco e a fissura mediana anterior existe um pequeno orifício, designado de buraco cego.
A protuberância apresenta então a protuberância basal, o tegmento, os pedúnculos cerebelares médios e parte do quarto ventrículo.
Na face ventral esta contém um sulco basilar, onde se encontra a artéria basilar; pedúnculos cerebelosos médios lateralmente e para onde convergem as fibras transversas da protuberância. O nervo trigémio (V), entra no tronco cerebral no seu ponto médio, e outros três nervos cranianos entram, no sulco que existe entre a protuberância basal e o bolbo raquidiano (abducente, facial e vestibulococlear). Origem aparente do nervo oculomotor, ao nível do sulco pôntico superior.
O nervo abducente (VI) é o menor e localizado mais medialmente, emergindo no sulco ponticobulbar sobre as pirâmides. O nervo facial (VII) é mais lateral e apresenta duas partes – a raiz motora que é a maior e mais medial e a raiz sensitiva, mais pequena, às vezes referida como nervo intermédio. O nervo vestibulococlear (VIII) é mais lateral que o nervo facial e apresenta também duas partes – a divisão vestibular que é mais medial à divisão coclear.
A parte tegmentar da protuberância apresenta vários núcleos – núcleo abducente, facial e vestibulococlear. Apresenta também o corpo trapezóide que separa a protuberância basal do tegmento e é perfurada pelo lemnisco medial.
Observam-se no tegmento as fibras dos lemniscos que de medial para lateral são:
- Medial;
- Espinhal;
- Trigeminal;
- Lateral – forma parte do sistema auditivo ascendente e termina no colículo inferior do mesencéfalo.
O pedúnculo cerebelar superior, forma muito do tecto do quarto ventrículo na protuberância e emerge do cerebelo para a linha média, entrando lateralmente, junto à junção entre a protuberância e o mesencéfalo. Nesta junção, emerge o nervo troclear (IV) da superfície dorsal do tronco cerebral.
O pedúnculo cerebelar superior é coberto na protuberância rostral por fibras do lemnisco lateral, que formam parte do sistema auditivo ascendente.
Cortes transversais
editarA cada nível do tronco cerebral podem ser identificadas três áreas gerais em corte transversal:
- A área posterior ao espaço ventricular;
- A área anterior ao espaço ventricular;
- As estruturas na superfície anterior do tronco cerebral.
A única parte do tronco cerebral onde a área posterior ao espaço ventricular contém uma quantidade significativa de tecido neuronal é o mesencéfalo – esta região é designada de tecto e é constituída pelos colículos superiores e inferiores. Na protuberância e porção rostral do bolbo o quarto ventrículo é coberto posteriormente pela vela medular superior, pela vela medular inferior e pelo cerebelo.
A área anterior ao espaço ventricular é designada de tegmento e contém a formação reticular, núcleos e feixes dos nervos cranianos, vias ascendentes e descendentes.
Vias ascendentes e descendentes principais: As estruturas na superfície anterior do tronco cerebral contêm fibras descendentes do córtex cerebral para a medula (corticoespinhais), para certos núcleos de nervos cranianos ou para núcleos pônticos que por sua vez projectam fibras para o cerebelo. Estas estruturas incluem os pedúnculos cerebrais, a protuberância basal e as pirâmides do bolbo.
Na protuberância existem portanto três tipos de fibras descendentes:
- Corticoespinhais;
- Corticonucleares – que se dirigem aos núcleos dos nervos cranianos;
- Corticopônticas;
As três maiores vias (corticoespinhal, epinhotalâmico e coluna posterior) estando presentes na medula espinhal estão também presentes no bolbo raquidiano. Dois destes três – o cortinhoespinhal e o espinhotalâmico permanecem na mesma posição relativa com a medula espinhal.
As fibras corticoespinhais' atravessam os pedúnculos cerebrais e a protuberância basal e as pirâmides do bolbo na parte ventral do tronco cerebral. Na junção espinhobulbar a maioria das fibras decussam formando o feixe corticoespinhal lateral.
O tracto espinhotalâmico continua na mesma posição relativa, apresentando-se na porção anterolateral do tegmento. Os feixes da coluna posterior continuam no bolbo para terminar nos núcleos da coluna posterior – gracilis e cuneados. As suas fibras decussam e formam o lemnisco medial que atinge o tálamo. O lemnisco medial começa junto á linha média e desloca-se progressivamente na direcção lateral à medida que se ascende no tronco cerebral.
Porção caudal da protuberância
editarDesde a parede rostral onde os pedúnculos cerebelares inferiores entram posteriormente no cerebelo até à porção rostral dos pedúnculos cerebelares médios.
- O fascículo longitudinal medial continua na mesma posição relativa - adjacente à linha média do pavimento do quarto ventrículo.
- O lemnisco medial já não se localiza junto a linha média (contrariamente ao bolbo)e está agora posterior à formação reticular.
- Os feixes que vão dar origem às pirâmides estão dispersos na protuberância que apresenta fibras longitudinais (essencialmente pirâmidais), fibras transversas e núcleos pônticos. A maioria das fibras orientadas longitudinalmente são fibras corticoespinhais, mas outras são fibras corticopônticas. Estas últimas originam-se em muitas áreas do córtex cerebral e terminam ipsilateralmente no núcleo pôntico. As fibras pós-sinápticas dos núcleos pônticos atravessam a linha média e dirigem-se para o cerebelo através do pedúnculo cerebelar médio.
- O tracto espinhotalâmico e o tracto epinhocerebelar anterior continuam na porção anterolateral do tegmento. Fibras espinhoreticulares relacionam-se com o tracto espinhotalâmico e terminam medialmente às suas fibras, na formação reticular do tronco cerebral.
Porção rostral da protuberância
editarEstende-se da porção rostral dos pedúnculos cerebelares médios até à extremidade caudal do aqueduto cerebral.
- O nervo trigémio está ligado a este nível e o nervo troclear emerge da junção entre a protuberância e o mesencéfalo dorsalmente. O fascículo longitudinal medial é ainda visível. Os pedúnculos cerebelares superiores tornam-se evidentes na parede do quarto ventrículo.
- O lemnisco medial apresenta-se mais achatado e assume uma orientação transversa na junção entre a protuberância basal e o tegmento pôntico. À medida que o lemnisco medial se localiza mais lateralmente, torna-se cada vez mais adjacente ao tracto espinhotalâmico. O tracto corticoespinhal continua longitudinalmente acompanhado por fibras corticopônticas.
- O tracto espinhocerebelar anterior desloca-se posteriormente para a superfície do pedúnculo cerebelar superior para entrar no cerebelo.
Anatomia Descritiva
editarConfiguração Externa
editarA protuberância apresenta uma forma cubóide, achatada no sentido ântero-posterior com direcção próxima da vertical. É constituída por 6 faces:
- 1 anterior
- 2 laterais
- 1 posterior
- 1 superior
- 1 inferior
Face anterior - Convexa vertical e transversalmente. Repousa na goteira basilar do occipital e é formada por estrias transversais que se estendem, horizontalmente, de um pedúnculo cerebeloso médio ao outro. Tem na linha média o sulco basilar onde se relaciona com a artéria basilar – os bordos elevam-se pela passagem das vias córtico-espinhais através da ponte.
Faces laterais - Continuam-se em cima e atrás pelos pedúnculos cerebelosos médios. No limite entre a face anterior e a lateral emergem as raízes motoras e sensitivas do nervo trigémeo (V). Esta emergência faz-se por 2 raízes:
- Uma maior e externa – raiz sensitiva
- Uma menor e interna – raiz motora.
Póstero-superiormente aos pedúnculos cerebelosos médios estão os pedúnculos cerebelosos superiores. A separação destes efectua-se por um sulco oblíquo ântero-superiormente, que se prolonga na face lateral do mesencéfalo.
Face Posterior - Limitada supero-lateralmente pelos pedúnculos cerebelosos superiores, que se reúnem na extremidade superior da protuberância formando um espaço triangular de vértice superior – triângulo superior ou triângulo protuberancial do pavimento do IV ventrículo;
- A face posterior do espaço triangular vai ser ocupada por uma membrana - a válvula de Vieussens. Esta está em continuidade, atrás, com o cerebelo, e, lateralmente, com os pedúnculos cerebelosos superiores;
- Retirando esta membrana, observa-se a metade superior do pavimento do 4º ventrículo, que se continua em baixo com a porção bulbar do pavimento ventricular. A superfície do triângulo protuberancial apresenta o Sulco mediano, que prolonga o sulco mediano do 4º ventrículo;
De cada lado deste sulco, de dentro para fora:
- Eminência mediana de Teres – alongada e cuja porção inferior é mais dilatada (onde se situa o núcleo do nervo Motor Ocular Externo, a raiz do Nervo Facial e ainda constitui o colículo facial)
- Sulco limitante (fosseta superior)
- Área Vestibular – superfície em relevo, continua-se em baixo com a área vestibular do bulbo.
Face superior - Corresponde aos Pedúnculos cerebrais continuando-se com estes. Estas duas formações estão separadas pelo sulco pedúnculo-protuberancial ou Ponto-peduncular e pela diferente direcção das fibras destes órgãos.
Face inferior - Corresponde à base do bulbo raquidiano. Adiante, está separada do bulbo pelo Sulco bulbo-protuberancial. Deste emergem, de interno para externo, o Nervo Motor Ocular Externo ou Abducente (VI), o Nervo Facial (VII) e o Nervo Auditivo ou Vestíbulo-coclear (VIII) Atrás, a demarcação não existe, sendo feita a separação ao nível de uma linha imaginária que une os dois ângulos laterais do IV ventrículo.
Adiante, está separada do bulbo pelo Sulco bulbo-protuberancial de onde emergem, de interno para externo, o Motor Ocular Externo ou Abducente (VI), o Nervo Facial (VII) e o Nervo Auditivo ou Vestíbulo-coclear (VIII)
Configuração Interna
editarA protuberância é dividida, pelas fibras transversalmente dispostas do corpo trapezóide:
- Porção posterior, tegumento
- Porção anterior, porção basal
Para se estudar a estrutura da protuberância, divide-se a mesma através de dois níveis:
- Secção transversal pela porção craniana, ao nível dos núcleos do trigémeo;
- Secção transversal pela porção caudal da ponte, ao nível do colículo facial (eminência redonda) – inclui a raiz do nervo facial
Secção transversal pela porção craniana
editarContém os núcleos sensoriais e motores do trigémeo:
- O núcleo motor do trigémeo está mais interno e abaixo da parte externa do 4º ventrículo dentro da formação reticular e as fibras vão emergir na face anterior da protuberância.
- O núcleo sensorial principal do trigémeo está situado externamente ao núcleo motor e prolonga-se para baixo para o núcleo do tracto espinhal. As fibras sensoriais vão ter um trajecto semelhante ao anterior, no entanto, situam-se externamente.
Encontramos o lemnisco interno (mediano), o qual sofre uma rotação quando passa do bulbo para a protuberância e encontra-se na parte mais anterior do tegumento. O lemnisco interno é acompanhado do lemnisco espinhal e externo, que se encontram mais externamente. O corpo trapezóide é feito de fibras do núcleo coclear e do núcleo do corpo trapezóide que atravessam parte anterior do tegumento. O pedúnculo cerebeloso superior está situado póstero-externamente ao núcleo motor do trigémeo.
Secção transversal pela porção caudal
editar- O núcleo do nervo facial (VII par) vai encontrar-se atrás do lemnisco interno e as suas fibras vão contornar o núcleo do nervo motor ocular externo (VI par) dando origem a uma impressão observável exteriormente a que se dá o nome de colículo facial (ou eminência redonda).
- O fascículo longitudinal interno vai situar-se junto à linha mediana, abaixo do pavimento do 4º ventrículo e permite a conexão dos núcleos do vestibular e coclear, com o núcleo dos nervos que controlam os músculos extra-oculares (pares III, IV e VI).)
- O núcleo vestibular interno vai situar-se externamente ao núcleo do nervo Motor Ocular Externo ou Abducente (VI par craniano) e em íntima relação com o pedúnculo cerebeloso inferior. A parte basal (porção anterior) contém pequenas massas de células nervosas denominadas núcleos pônticos, onde terminam fibras córtico-pônticas. Os axónios destas células formam fibras transversas, que intersectam as vias córtico-espinhais e córtico-nucleares. Atravessam os pedúnculos cerebelosos médios e são distribuídos para o hemisfério cerebeloso. Esta é assim a maior via de comunicação do córtex cerebral com o cerebelo.
- O corpo trapezóide e o lemnisco interno estão situados no mesmo sítio que na secção anterior.
Referências
editar- Nolte, J. The Human Brain: An Introduction to its Functional Anatomy. Mosby; 6th edition, July 2008.
- Standring, S. Gray's Anatomy: The Anatomical Basis of Clinical Practice. Churchill Livingstone; 40th edition, November 2008.
Imagens adicionais
editar-
Esquema mostrando as conexões entre as diversas partes do cérebro.
-
Dissecção mostrando as fibras de projeção do cerebelo.
-
Aspecto do cérebro seccionado no plano sagital mediano.